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Aulas.
Índice
Apresentação da Disciplina
Aula 1 - O conceito de Texto
Aula 2 - O que é a Bíblia I
Aula 3 - O que é a Bíblia II
Aula 4 - Bíblia e sua linguagem
Aula 5 - Bíblia como Literatura do Mundo Antigo
Aula 6 - Bíblia e oralidade
Aula 7 - Bíblia e seu suporte material
Aula 8 - História e dinâmica da formação dos textos bíblicos
Aula 9 - Bíblia e inspiração I
Aula 10 - Bíblia e inspiração II
Aula 11 - O conceito de Cânon
Aula 12 - A história do Cânon: Bíblia Hebraica
Aula 13 - A História do Cânon do Novo Testamento I
Aula 14 - A História do Cânon do Novo Testamento II
Aula 15 - A autoria dos textos bíblicos
Aula 16 - Pseudepígrafos e Apócrifos
Aula 17 - Bíblia e suas traduções
Aula 18 - Bíblia e Cultura Material
Aula 19 - Bíblia e interpretação I
Aula 20 - Bíblia e interpretação II
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Apresentação da Disciplina
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Objetivo:
- Apresentar o conceito de texto e suas implicações para a leitura e interpretação.
- Compreender as teorias do texto e suas implicações para leitura da Bíblia como
texto e literatura.
Introdução
Ideia 2. No mundo do texto há, também, o autor presente no texto e o leitor por ele
previsto. Neste sentido, o texto é resultado da interação entre produtor e consumidor
previsto.
Na ideia 1, pensa-se o texto como resultado simples para comunicação. Ele estaria
vinculado a pessoas reais que podem, inclusive, ser prescrutadas* pelo pesquisador.
As disciplinas que surgem no Mundo Moderno podem ser inseridas entre aquelas que
pensam ser possível acessar as realidades que nos textos se manifestam. Na ideia 2,
abre-se outra possibilidade no trato com o texto. O autor e o leitor são circunscritos
no próprio texto; são seres de papel.
Veja:
O autor/emissor é aquele que veicula em texto a sua mensagem. Esse, uma vez
produzido, servirá como mecanismo de informação e pressupõe uma relação entre o
que o produz com aquele com quem se fala. Para isso, serão utilizados tipos de
textos, o que chamamos de gênero literário.
Gênero textual
Talvez você não perceba mas, quando nos comunicamos, sempre usamos uma forma
pré-determinada, através da qual podemos nos relacionar.
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Quando lidamos com o texto, precisamos levar em consideração seu gênero literário,
porque revelará sua função e intenção social.
A terceira função do texto é a mnemônica. Como bem diz Lótman, “o texto não é
somente o gerador de novos significados, mas também um condensador de memória
cultural. Um texto tem a capacidade de preservar a memória de seus contextos
prévios ”. Esse processamento se faz possível por meio da tradução de tradições .
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Por isso o texto não é simplesmente um objeto fechado que tem verdades inflexíveis
e estáveis. Pelo contrário, há no texto a potência de sempre gerar novos sentidos.
Ainda, o texto condensa memórias que lhe são anteriores. Um texto tem muitas
vozes e sistemas para além dele.
2. O texto não é fechado. Isso quer dizer que sua leitura precisa levar em
consideração que o leitor participa na formação do sentido. Desta forma, até mesmo
as muitas interpretações feitas a algum texto pode influenciar nossa leitura;
3. O texto não fala sozinho, pois é um conjunto de memórias, com as quais dialoga e
às quais preserva. Por isso, um texto sempre estará no contexto de diálogo com
outros textos.
No fim desta primeira aula, creio que já seja possível perceber como seria aplicada
a nossa disciplina. A Bíblia como um texto precisa ser lida levando em
consideração todas das afirmações que se aplicam a qualquer texto. Contudo, não
entenda mal a expressão “qualquer texto”. Isso simplesmente quer dizer que o
caminho pelo qual a Palavra de Deus se expressa é um texto. Por isso as teorias a
respeito do “texto” e seus sistemas poderão nos ajudar na compreensão do texto
bíblico.
[1] FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça Koch. Linguística textual :
introdução. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1988.
[2] BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral II. Campinas: Pontes, 1989.
[3] LÓTMAN, I. As três funções do texto . Belo Horizonte. FALE; UFMG, 2007.
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Objetivo:
- Apresentar as questões etimológicas e o conteúdo da Bíblia.
- Descrever os seus livros, divisões e sua recepção.
- Expor as particularidades e implicações da Bíblia ser um conjunto de livros.
- Introduzir os conceitos em torno da Bíblia.
Introdução
Depois de entendermos o que é um texto, precisamos nos perguntar a respeito de
algo básico: o que é a Bíblia?
A Bíblia é um dos livros mais lidos, traduzidos e interpretados no mundo. A Divina
Comédia , de Dante; a Ilíada , de Homero; O Banquete , de Platão; Dom Quixote , de
Miguel de Cervantes ou qualquer outro livro da literatura mundial nem de perto
ganhou tanta notoriedade ou recebeu tanta atenção. Por isso, nas últimas décadas,
pesquisas são realizadas para compreender a recepção da Bíblia na cultura. N. Frye,
em Código dos Códigos , confirma esta presença da Bíblia na cultura como fonte e
instrumento estruturante: Minha idéia (sic) inicial era fazer uma inspeção indutiva e
tão completa quanto possível da narrativa e da imagética bíblica. Seguir-se-iam
algumas explicações sobre como estes elementos da Bíblia montaram uma estrutura
imaginativa – um universo mitológico, como gosto de dizer – dentro do qual a
literatura do Ocidente operou até o século XVII, e dentro do qual ela ainda opera em
grande parte [4].
Por isso, a Bíblia é, antes de qualquer coisa, obra da comunidade humana. Diversas
pesquisas foram realizadas a respeito dos seus gêneros, imagens e narrativas, o que
acumulou um conjunto de conteúdo sobre a seu respeito que servem como fonte
para conhecimento de seus textos e ideias.
2. A Bíblia precisa ser lida sempre levando em consideração o pano de fundo das
ideias, relações sociais e até mesmo os outros textos. Nessa perspectiva, desejar
que o texto bíblico seja sempre complementar ou não possua conflitos é deixar de
lado a realidade das mudanças sociais de onde os textos surgem.
Outro fator importante a ser lembrado é que há muita oralidade nos textos bíblicos.
Alguns livros bíblicos tiveram longa vida oral, antes de ganharem a forma final.
Alguns textos, hoje materializados na Bíblia, eram cantados em liturgia, recitados em
sacrifícios ou transmitidos entre as famílias. Por outro lado, alguns tiveram vida
original em forma escrita e ganharam espaço na oralidade. Estes dados nos
garantem que mesmo possuindo o teor de palavra inspirada, o texto bíblico tem seus
conflitos e está intimamente ligado às tramas da história.
Em suma:
- Os diferentes textos da Bíblia foram escritos em tempos diferentes e por pessoas
de diversas perspectivas e de diversos grupos;
- Os livros não têm o mesmo gênero literário, o que dá pluralidade literária à Bíblia;
- Ocasionalmente encontramos repetições, tensões, incoerências ou até contradições
entre um ou outro escrito, especialmente por serem livros diferentes, os quais estão
em um mesmo conjunto ou biblioteca.
[4] FRYE, N. Código dos Códigos . A Bíblia e a Literatura. São Paulo: Bontempo,
2004.
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Introdução
Continuando nossa discussão, precisamos entrar no conteúdo da Bíblia, suas partes,
assuntos etc. Contudo, agora olharemos de maneira superficial e rápida, porque
teremos outras aulas para avaliarmos esse assunto com mais cuidado. Por agora,
basta-nos saber que o texto tem suas idiossincrasias e particularidades.
O Conteúdo da Bíblia
A Bíblia é dividida em duas partes: Antigo Testamento e Novo Testamento. O termo
“testamento” vem do hebraico “berît”, “aliança”, que significa aliança entre Deus e o
povo. Para o judaísmo, a Aliança foi selada entre Deus com o povo por intermédio de
Moisés (como, também, com Noé e Abraão). Para a fé cristã, essa antiga aliança foi
substituída ou renovada plenamente por Cristo (Novo Testamento). Contudo, essa
proposta de divisão já é cheia de influências teológicas. Chamar a primeira parte do
texto sagrado de “Antigo Testamento” é pressupor que há um Novo. Tal postura já
carrega a interpretação cristã da Bíblia, que tem nos livros da Bíblia Hebraica um
texto prévio ou estágio anterior para a nova aliança. Os judeus, naturalmente,
somente reconhecem a Bíblia Hebraica, que nós, cristãos, chamamos de Antigo
Testamento. Inclusive, as primeiras comunidades cristãs não tinham um Novo
Testamento, que é algo bem posterior. Quando em 2Timóteo 3,16 é dito que toda
Escritura é theópneustos (divinamente inspirada), refere-se aos escritos judaicos
lidos desde sempre nas comunidades cristãs com óculos cristológicos*, os quais se
transformam em ponte para compreensão da experiência vivenciada nas
comunidades que seguiam a Cristo.
Nos tempos de Jesus já havia pelo menos duas versões do Antigo Testamento. Uma
em língua hebraica e uma tradução grega. Esta versão grega preservava alguns
livros e alguns complementos a outros livros, os quais não estavam na versão
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Oração de Mardoqueu
2"Senhor, Senhor, rei Todo-poderoso, tudo está sujeito a teu poder e não há
quem se oponha à tua vontade de salvar Israel. 3Sim, tu criaste o céu e a terra e
todas as maravilhas que estão sob o firmamento. 4Tu és o Senhor de tudo e não
há quem te possa resistir, Senhor. 5Tu sabes tudo! Sabes, Senhor, que não foi
por arrogância, orgulho ou vaidade que eu fiz isto, recusando prostrar-me diante
do orgulhoso Amã. 6De boa vontade eu lhe beijaria a planta dos pés para a
salvação de Israel. 7Mas o que eu fiz, era para não colocar a glória de um homem
acima da glória de Deus; e eu não me prostrarei diante de ninguém senão diante
de ti, Senhor; mas não o faço por orgulho. 8E agora, Senhor Deus, rei, Deus de
Abraão, poupa teu povo! Pois tramam a nossa morte, projetam aniquilar tua
antiga herança. 9Não desampares esta porção, que é tua, que para ti resgataste
da terra do Egito! 10Ouve minha oração, sê propício à porção de tua herança e
muda nosso luto em alegria, para que vivamos e cantemos teu nome, Senhor.
Veja nos quadros a seguir uma comparação entre os conteúdos da Bíblia Hebraica
(TaNaK), da Septuaginta (LXX) e da Bíblia Cristã.
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Esses livros foram escritos em pelo menos 3 línguas: Hebraico, Aramaico e Grego.
Os livros do AT (a TaNak) foram escritos em hebraico, mas alguns capítulos de Daniel
(2,4b-7,28) e alguns documentos citados em Esdras (4,8-6,18; 7,12-26) estão em
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Conclusão
O que é a Bíblia? Um conjunto de livros produzidos em uma história de longa
duração, os quais foram reunidos formando uma grande biblioteca. Contudo, como
texto da cultura, a Bíblia tem sobrevivido não somente nos ambientes eclesiásticos,
mas recebe atenção em muitos ambientes acadêmicos e espaços artísticos. Por isso,
podemos falar em texto da cultura, em obra da humanidade. Não é de se estranhar
que um texto tão importante como a Bíblia seja alvo de muitos ataques e admiração.
Sua popularidade e presença pública torna-a susceptível a tudo isso. Nas próximas
lições entraremos em pontos que esclarecerão essa complexidade e darão luz ao
"como" ler e "compreender" as obras que compõem a Bíblia.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Depois de duas aulas já é possível, caro aluno/a, perceber que a Bíblia tem muitas
coisas em comum com obras literárias em geral. Como detentora da Palavra de
Deus, por sua vez, ela torna-se, pela experiência da fé, revelação. Essa afirmação,
tratada e aceita pelas comunidades cristãs como verdadeira, não é desconsiderada
quando dizemos ser a Bíblia "literatura". Por isso, precisamos entrar na linguagem
Bíblica.
O mito, nas ciências humanas, desde a década de 1960, é tratado como “uma
compreensão de mundo”, verdade para aqueles que desejam interpretar a vida e a
origem das coisas. O mito cosmogônico, por exemplo, que apresenta a origem do
mundo e da civilização, é uma proposta de compreensão da realidade dando-lhe
sentido e razão de ser. Tal qual as perspectivas modernas (que interpreta a realidade
com categorias próprias de seu tempo) o mito é outro olhar sobre a vida e as
relações humanas. Os conceitos “histórico” e “verdade” na linguagem mítica
pertencem ao Mundo Antigo e suas categorias. Por isso, acusar a Bíblia de ter mitos
não a desqualifica, mas a insere em outro conjunto de saberes e torna-a detentora
de outras práticas da linguagem. Ficou claro isso? Mito não é mentira. Narrativa
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É comum nas aulas os alunos estarem em crise porque foram informados de que
algumas histórias e personagens da Bíblia não são “históricos”. Quando há essa
discussão, a primeira pergunta que precisa ser feita é: “o que você entende como
histórico?”. O conceito de histórico que temos em nosso tempo surgiu de uma
perspectiva muito recente de comprovação documental e amostragem empírica. As
narrativas e personagens das Escrituras como Adão, Eva, o Dilúvio, Moisés, Elias etc.
não são descritos ou suas histórias lembradas com as preocupações de historicidade
do nosso mundo; o que é óbvio! O que temos são gêneros literários, imaginários e
preocupações que são próprias do Mundo Antigo.
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Antes de qualquer coisa, precisamos nos perguntar pelos gêneros literários dos
textos bíblicos. Temos lendas, etiologias, parábolas, narrativas cosmogônicas etc. As
biografias, artigos científicos etc. são tipos de textos da Modernidade que possuem
preocupações com o que lhes é próprio. Nos textos bíblicos não há as mesmas
intenções. Desta maneira, perguntar se Adão é histórico, se Elias realmente foi
levado pelo carro de fogo ou se o mar vermelho se abriu é um “não pergunta”. Vou
explicar isso. Quando você pergunta sobre a existência ou não destes “fatos” é
esperar de textos do passado expectativas do nosso tempo. Quando as narrativas
que preservam essas histórias foram escritas não se tinha essa preocupação; ou
seja, a existência histórica das imagens desses textos não é a primeira pergunta que
deve ser feita, porque o que eles revelam são experiências e modos de ver o mundo
de onde podemos retirar, como Palavra de Deus, lindas experiências e valores para
vida.
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16Mas, das cidades destes povos, que o Senhor, teu Deus, te dá como
herança, não deixarás com vida nada que tem fôlego.17 Pelo contrário, tu
os destruirás por completo: os heteus, os amorreus, os cananeus, os
perizeus, os heveus e os jebuseus, conforme te ordenou o Senhor teu
Deus; (Deuteronômio 20.16,17)
"Todas as palavras da Bíblia, como toda palavra humana, estão condicionadas por
fatores culturais e limitadas pelos conhecimentos do momento. Fala-se como se
pensa. Nos tempos bíblicos pensavam de outra maneira que nós a respeito do
homem, do mundo e de Deus. Pois bem, se Deus não falou como os humanos,
deveríamos concluir que seus pensamentos e sua fala são perfeitos, pois ele é
perfeito em tudo. Mas na Bíblia encontramos conceitos e conhecimentos iguais aos
das pessoas dos tempos em que se compuseram os escritos bíblicos”.
(Eduardo Arens. A Bíblia sem mitos, p. 295.)
Conclusão
Teríamos muitos outros pontos importantes para serem discutidos. Contudo, uma
coisa pode ser tratada como central desta lição: a linguagem da Bíblia tem íntima
relação com o Mundo Antigo. Seu modo de ver a realidade e maneira de
compreensão são diferentes dos nossos. Isso não significa que a Bíblia seja texto
fadado a ficar no passado, como museu. Pelo contrário, sabermos destas
propriedades da Bíblia ajuda-nos na sua melhor compreensão e aplicação para
vida.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Na aula anterior, tocamos na discussão que aqui faremos. Talvez você se pergunte
pela razão da insistência neste assunto. É simples, e aparentemente óbvio: a Bíblia é
obra do Mundo Antigo. O que isso tem de importante? Ora, a importância está
exatamente no fato de levarmos em consideração o contexto histórico onde ela se
insere. No entanto, não seja rápido em logo dizer que o contexto histórico é
simplesmente a economia, relações sociais, as classes ou políticas dos séculos
antigos. Como contexto histórico, fala-se também em imaginários, memórias, textos
da cultura, discursos etc. A Bíblia como obra do Mundo Antigo precisa levar em
consideração muito mais do que os “quatro lados”, como diriam os exegetas Latino-
Americanos.
O Mundo Antigo
Por Mundo Antigo compreende-se a geografia das terras e período nos quais os
textos bíblicos foram gerados. É comum encontrarmos nome de lugares em toda a
Bíblia. Fala-se em Egito, Babilônia, Pérsia, Israel, Damasco, Moabe, Babilônia, Roma,
Antioquia, Éfeso e etc. Estas localidades marcam não somente lugares, mas também
o contexto histórico, econômico, social e temporal dos textos bíblicos.
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O principal cenário da Bíblia é a terra de Israel, conhecida pelos antigos gregos como
Palestina. Contudo, a história do povo da Bíblia está profundamente vinculada às
relações internacionais com Egito, Canaã, Mesopotâmia etc. Entre o Mar
Mediterrâneo e o Golfo Pérsico estendem-se a região que chamamos de Oriente
Médio, de onde surgiram diversas culturas e povos.
Israel e o Cristianismo têm relações íntimas com estas regiões e povos, e os textos
bíblicos refletem isso. A história de Israel e Judá passa pela relação com estes povos
vizinhos. O povo de Deus, como mostram as pesquisas atuais, surge da região da
Palestina depois de um rompimento com as nações canaanitas (estas informações
serão tratadas no decorrer do curso). Vivendo nas planícies e montanhas desta
região, forma-se como povo entre grandes potências. Na história vão surgindo
impérios como Assírio, Babilônico, Persa, Grego e, depois, Romano. Com o contato
com estas culturas Israel formata seus discursos, teologia e imaginário. O textos
bíblicos são escritos de maneira muito insipiente em tempos do rei Josias (622 a.C),
mas a produção acelerada acontece nos períodos do exílico e pós-exílico, quando a
Babilônia leva cativo um grupo de Judeus e depois, com o Império Persa, há uma
volta em massa para Judá. Não podemos nos esquecer de um período mais recente
conhecido como Segundo Templo, quando alguns textos bíblicos estão em processo
de redação e outros estão surgindo com ideias que serão muito importantes para o
NT.
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Os estudos culturais revelam nos últimos anos a dinâmica da cultura. Sabe-se que
suas fronteiras são porosas, permitindo trocas e circularidades[5] desde as relações
culturais mais antigas[6]. Por isso, podemos perceber que os discursos sobre a
divindade e as teologias que dão vida a fé do povo de Israel não se sustentam a
partir de posições puristas.
Hoje em dia defende-se que Israel originalmente não era um fenômeno étnico não
cananeu. Sabe-se, através da cultura material das regiões da Palestina, que o grupo
que conheceríamos mais tarde em inscrições e na própria Bíblia como Israel, era em
parte continuidade das nações cananeias, talvez como fruto de um “nomadismo
interno”. Esta teoria diz que a origem de Israel está no declínio das cidades e em
seminômades que se assentaram nas montanhas de Efraim, como dizem os autores
do livro “A Bíblia Desenterrada”[7]. Se os escritores bíblicos tentaram diferenciar
Israel e Canaã, as pesquisas cada dia aproxima-os dando-nos fortes indícios de que
a religião vivida por aqueles que hoje chamamos de pagãos da terra prometida,
muito nos ensinou sobre as formas de pensar a divindade. Esta afirmação torna-se
mais contundente ao olharmos os textos de Ugarit, nos quais encontramos
testemunhas do panteão dos cananeus, ou de parte deles, nos conhecidos Ciclos de
Baal. Nestes aparecem expressões tais com El, El Shaday e Asherá. Em Gn 14,18
aparece, por exemplo, a expressão El ‘Elyon, revelando-nos como estamos em
espaços de imaginários religiosos comuns. Precisamos levar em consideração que os
primeiros israelitas designavam seu deus como El, o que mostra participação na
cultural e religião cananeias.
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Pense: Como o mundo antigo percebia suas divindades femininas e qual a relação com a
Bíblia?
Sua resposta servirá para você perceber o que compreendeu do assunto tratado, não sendo
necessário enviá-la ao tutor, professor, nem postar no sistema.
Conclusão
No decorrer das lições entraremos com mais cuidado nestes assuntos. Contudo, já
podemos perceber que ideias, imaginários, textos, compreensão de mundo,
relações sociais, econômicas e políticas do Mundo Antigo são o pano de fundo
desta literatura tão cara para todos nós que cremos nas Escrituras. Por isso,
precisamos lê-la assim: como texto da antiguidade para que tenhamos bons
resultados para nossa prática de fé hoje.
[5] A ideia de circularidade cultural foi muito bem exposta na obra de Bakhtin, na
qual mostra a interação da cultura não hegemônica (popular) e hegemônica (erudita)
na idade Média e Renascimento. Mesmo que o autor russo estivesse preocupado com
o corte temporal medieval e renascentista, suas pesquisas formam importantíssimas
para diversos estudos culturais, inclusive foram fontes frutíferas para a Nova História
Cultura. Cf.: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:
o contexto de François Rabelais. São Paulo: Annablume, 2002.
[8]DEVER, William G. Did God Have a Wife?Archaeology and Folk Religion in Ancient
Israel. Michingan/Cambridge, UK: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2005. p. 214
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Introdução
Temos uma afirmação muito batida até aqui: a Bíblia como literatura. No entanto,
precisamos entender que estes textos que hoje acessamos tiveram uma longa
história de oralidade. Nos tempos bíblicos a memória era instrumento indispensável
para preservação das tradições. Anedotas, histórias, epopeias, lendas etc. eram
cantadas e contadas e passavam de geração em geração antes de se tornarem
textos escritos.
Oralidade
Em Rm 10,17 é dito que a fé vem da audição. O mesmo Paulo, em 1Co 11, 23ss, e
em muitos outros lugares, faz menção das coisas que recebeu da tradição oral (1 Co
7,10.25; 9,14; 15,3).
Em Dt 6,4-7 lemos:
Era na oralidade que se transmitiam as leis e outros gêneros. O livro de Juízes, por
exemplo, preserva várias histórias dos heróis tribais; os Salmos eram cânticos que
serviam para liturgias; as palavras dos profetas eram anunciadas oralmente e, por
vezes, viravam panfletos como os ditos do profeta Ageu etc. Nos textos do Novo
Testamento encontramos hinos que eram cantados pelas comunidades que foram
utilizados para produção de textos, como, por exemplo, o hino do amor de 1Co 13,
ou hinos cristológicos, como Cl 3,16ss.
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Por isso, na transmissão escrita dos textos bíblicos temos a presença, na linguagem,
nos temas, nas formas e conteúdo de sua existência oral. Milton Schwantes, biblista
brasileiro já falecido, costumava dizer em suas aulas de exegese que “Bíblia é
memória dos pobres”. Esta frase representa uma clara perspectiva de os textos
escritos serem reformulações de tradições que os povos cultivavam.
Conclusão
A cultura da memória é o pano de fundo da Bíblia. Nós, modernos, somos
treinados para o esquecimento, porque armazenamos fotos, escrevemos livros,
enciclopédias, colocamos em HD's de computadores, etc. O mundo da Bíblia, pelo
contrário, é da oralidade. A escrita não era tão comum ou popular, o saber se
estabelecia pela tradição. Narrativas, lendas, etiologias, parábolas, etc., corriam
nas memórias e na boca das comunidades. As Escrituras têm muitas tradições
que, por um logo tempo, passaram pelo estágio oral.
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Introdução
Quando você abre um livro ou abre um artigo na internet e lê acontece aqui um
acesso ao texto, que está preservado em algum espaço ou lugar. O suporte é
exatamente o mecanismo através do qual o texto é veiculado. A Bíblia, como temos
estudado, teve longa duração na oralidade. Contudo, depois ou simultaneamente, foi
ganhando materialidade em textos escritos. Esses, por sua vez, foram preservados
em diversos suportes. Inclusive, existem ciências especializadas em estudar estes
materiais como a manuscritologia*, epigrafia*, paleografia*, a crítica textual* e
outras, as quais auxiliam o estudo dos textos bíblicos.
No entanto, quando falamos em livros não podemos esquecer que somente séculos
depois do primeiro século surgiu o modelo que temos hoje. O material e estrutura
eram outros.
Alguns materiais:
PEDRA
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ÓSTRACOS
PAPÍRO
Os papiros eram feitos à partir dos talos da planta da qual se retira seu nome, muito
comum no Egito. Cortavam-se em tiras finas, sobrepostas umas sobre as outras,
cruzadas. Esses eram enrolados, como o pergaminho. O papiro era um material
muito comum; inclusive, há muitos papiros com porções do Antigo e Novo
testamentos.
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Os Papiros poderiam ser chamados de rolo. Termos técnicos para rolo é sefer (livro)
ou megillâ (rolo). Em Jr 36.2,4 aparece megillat-sefer (rolo do livro). Eles poderiam
ser um pergaminho, também. O leitor deveria desenrolá-lo e depois enrolá-lo. Em Lc
4.17 diz que Jesus anaptúxas (desenrolou) o livro. Em Jr 32,10-14 provavelmente se
refira a um papiro dobrado e selado.
PERGAMINHO
É um suporte para textos feito de couro de animal. Foi em Pérgamo que a técnica se
aperfeiçoou, em torno do Séc. II a.C. Não há pergaminhos preservados do NT
anteriores ao Séc. IV. Em Qumran foram encontrados diversos manuscritos em
pergaminho.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
CÓDICE OU CODEX
O códice aparece no Império Romano no séc. II. Diferente do rolo, poderia
comportar todos os textos da Bíblia em um volume (ex. Códice Leningrado B19a,
Códice Alexandrino), tipo um livro, feito de papiro ou pergaminho. As folhas (fólio)
poderiam ser escritas em cada lado. Por vezes, o texto era estruturado em colunas.
Talvez você pergunte: e como podemos, então, ler os textos originais? O que temos
hoje são os textos originais reconstruídos pela Crítica Textual, que é uma ciência que
se utiliza de técnicas para comprar os manuscritos e chegar, usando diversos
critérios, ao que seria mais original. Para o Novo Testamento, por exemplo, temos
o Novum Testamentum Graece, que está na 28ª edição. Nesta obra temos o
resultado do trabalho dos críticos textuais, além do aparato crítico*, onde se pode
perceber as testemunhas textuais dos manuscritos.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
http://kennerterra.blogspot.com.br/2012/05/anjos-que-tomam-banho-
variacoes.html
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Uma das grandes questões que perturbam o sono daqueles que estudam
academicamente a Bíblia é a dinâmica da formação dos textos. É muito comum
projetarmos para a Bíblia expectativas de autenticidade aplicadas à produção
literária moderna. Explico isso. Um texto costuma ser tratado como autêntico e digno
de aceitação se não for alterado ou mexido. Ele é escrito numa ocasião, durante um
tempo ou em uma sentada, o qual não recebe qualquer mudança. Quando falamos
em Bíblia estamos lidando com um texto que passou por um processo histórico de
formação e escrita, o qual já é natural em sua forma oral, como temos mostrado em
outra lição. Nesta aula trataremos deste a formação histórica e como isso pode nos
ajudar para termos uma concepção equilibrada e piedosa a respeito da Bíblia.
Nessa perspectiva, os relatos bíblicos seriam como exposição direta dos referentes
históricos. As informações seriam como reflexos, quase que contemporâneos das
histórias contadas. Esta perspectiva não teve em consideração alguns detalhes: 1.
Os textos foram escritos anos depois dos fatos e, por vezes, representam menos o
passado do que as situações dos que estão escrevendo; 2. Os textos bíblicos são
antes textos teológicos do que históricos (histórico aqui segundo a perspectiva
moderna). Isso quer dizer que as narrativas estão recheadas das expectativas de fé
dos que escrevem.
Por isso, é comum encontrarmos expressões do tipo “esta parte é uma inserção
posterior”, “uma glosa” (as quais existiam no rodapé dos textos e depois entravam
na obra), “um redator posterior” etc. Estas expressões, que para alguns são pouco
comuns, estão no vocabulário dos estudos acadêmicos dos textos bíblicos. Quando
estudamos a oralidade e os textos bíblicos temos indícios dessa realidade de longa
duração. Assim, temos a realidade de textos como resultado de procedimentos
mnemônicos (memória) e preservação posterior dos textos.
Podemos indicar alguns exemplos que mostram como os textos da Bíblia revelam
processos longos de inserções e releituras. Um clássico está em 1Co 14. 26-39.
26Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação.
Faça-se tudo para edificação. 27 E, se alguém falar em língua
desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua
vez, e haja intérprete. 28 Mas, se não houver intérprete, esteja calado
na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. 29 E falem dois ou três
profetas, e os outros julguem. 30Mas, se a outro, que estiver
assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. 31 Porque
todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos
aprendam, e todos sejam consolados. 32 E os espíritos dos profetas
estão sujeitos aos profetas. 33Porque Deus não é Deus de confusão,
senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. 34 As vossas
mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Os textos não foram escritos “numa sentada”, como se diz, e alguns foram escritos
por comunidades, por várias mãos. Como termina o Evangelho de João: “[...] e
sabemos que o testemunho é verdadeiro” (Jo 21,24). O verbo no plural denuncia
uma obra coletiva, a voz de uma comunidade que se expressa no texto. Desta
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28/02/2022 14:00 Aulas.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Olá, atento/a aluno/a. Até aqui discutimos diversos pontos importantes das
pesquisas a respeito da Bíblia. Agora é hora de entrarmos em um assunto que, por
vezes, foi tratado de irresponsável. Podemos afirmar isso porque, historicamente, em
termos gerais, duas forças se digladiaram em torno do assunto inspiração da Bíblia.
De um lado estão os fundamentalistas que, às vezes, quase caem em um tipo de
“bibliolatria”, por conta de suas leituras simplistas e inocentes. Por outro lado, estão
os mais críticos, que em muitas ocasiões não dão à Bíblia nada mais do que o valor
de literatura histórica, sem qualquer importância divina ou de revelação. Esta última
tem suas bases em pesquisas modernas através das quais se percebeu
principalmente as dinâmicas e condicionamentos históricos presentes na origem da
Bíblia. Se por um lado esta é uma postura reducionista, por outro, aquela também
deixa de lado os últimos resultados das pesquisas.
A expressão “inspiração” vem do latim inspirare , que significa “soprar para dentro”.
Em 2Tm 3,16 é dito que toda Escritura é theópneustos (θεόπνευστος ),
inspirada/soprada por Deus. Esta expressão pode gerar um emaranhado de
confusões alimentadas por estereótipos e apologética, comumente superficiais. A
epístola refere-se aos escritos judaicos lidos desde sempre nas comunidades cristãs
com óculos cristológicos. São talvez os textos do Antigo Testamento lidos com
perspectiva cristã. “Toda”( πᾶσα), aqui, é o conjunto até então acessado pelas
comunidades cristãs, que não tinham ainda o Novo Testamento. Nada se fala de
infalibilidade ou inerrância, que são preocupações modernas, à luz do sentido de
“erro” e “acerto” do Mundo Moderno.
Inspiração, então, tem sentido de que a Bíblia é obra do Espirito Santo, que esteve
no processo de sua produção e formação, soprada por Ele. Esta afirmação foi levada
até às últimas consequências por alguns e surgiu a expressão “inspiração verbal” ou
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28/02/2022 14:00 Aulas.
A fé surge das manifestações de Deus na história, a qual foi interpretada como tal
por pessoas de fé. Por isso, quando chegamos ao texto como Palavra de Deus, ele é
mecanismo de comunicação, com seus gêneros literários, perspectivas culturais e
sociais. Então, não sãos os fatos como tais que acessamos, mas sua interpretação.
Não é o relato do êxodo como acontecimento em si que é a verdade, mas o que ele
nos revela sobre Deus.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Inerrância
Inerrância é um conceito tomado como responsável e determinante, para muitos,
especialmente os fundamentalistas, para afirmar a inspiração da Bíblia. Inerrância
significa, aplicado ao texto bíblico, que na Bíblia não há qualquer erro, inclusive em
relação às informações geográficas, culturais, históricas e em termos de afirmações
científicas. Para essa perspectiva de inerrância, se Deus é o autor dos textos, mesmo
que haja a presença das características de cada autor (linguagem, capacidade de uso
da gramática e estilo), todas as informações são factuais e verdadeiras, inclusive a
respeito de informações históricas e funcionamento do mundo natural. Isso seria não
conter erros, ou seja, ser inerrante.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
experiência humana e relação com o mundo. Em suma, falar que a Bíblia contém
erros refere-se a erros de informação. Isso não desqualifica sua inspiração ou autoria
divinas, mas leva em consideração que há a participação humana no processo, o que
a própria Bíblia nos leva a crer.
Palavra de Deus
Em círculos mais fundamentalistas, falar que a Bíblia é a Palavra de Deus tem
sentido de ser ditada por Deus e inerrante. Essa perspectiva seria a razão para
considerá-la inspirada. Por vezes, usam-se as partes de textos bíblicos que
apresentam a introdução “assim falou Javé” dos profetas ou narrativas nas quais
Moisés recebe de Deus ou o próprio Deus escreve as letras (Êx 17, 14; 24,4; Êx
24,12; 31,18; 32,15) para se defender o conceito de Palavra de Deus. Para os que
seguem esta metodologia, usam esses textos como se fossem afirmações Bíblicas de
que as linhas da Bíblia foram ditadas diretamente. O problema começa (começou)
quando alguns provérbios ou outras obras literárias do Mundo Antigo foram
encontrados, e percebeu-se familiaridade com os textos bíblicos, ou, também,
quando os próprios textos das Escrituras demonstram problemas e tensões internas.
Para resolver isso, alguns até diferenciam duas ideias: “Bíblia como Palavra de Deus”
e “Bíblia como lugar que contém a Palavra de Deus”. Este caminho não ajuda muito
na discussão. Em que sentido, então, a Bíblia é Palavra de Deus?
[10] ARENS, E. A Bíblia sem mitos. Uma introdução crítica. São Paulo-SP: Paulus,
2007, p. 290-291.
Agora que você chegou na metade dos estudos desta disciplina, aproveite
para realizar as seguintes atividades:
Fórum 1
Atividade Dissertativa 1
Atividade Objetiva 1
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Olá! Falar de cânon é continuar a discussão iniciada nas últimas aulas. Os livros
canônicos são aqueles considerados inspirados por Deus, os quais ganharam
este status na história da comunidade judaica ou cristã. Para entrarmos no assunto,
precisamos ter em mente o conceito de “Escritura Sagrada”.
Quando falamos neste conjunto de livros que forma a Bíblia, estamos tratando do
cânon. Mas, como essa coleção foi organizada? Por que estes, e não outros? Qual foi
o processo? Como isso influencia na nossa caminhada na comunidade que tem a
Bíblia como fonte de orientação? Estas questões nortearão nossas discussões.
O conceito de cânon
A palavra cânon vem do grego kanon (cf. 2Co 10,13.15.16; Gl 6.16), que por sua
vez procede da raiz qnh, que significa “vara de medir”, “régua” ou “prumo” usado
para construção (cf. Ez 40,5-8; 41,8; 42,16.18-20). Na LXX aparece esta expressão
em 1Macabeus 7,21 no sentido de “medida”, que já poderia ser vista como palavra
para “norma” ou “regra”. No segundo século, a palavra tem sentido de norma e ou
critério da fé. O adjetivo canônico foi usado pela primeira vez referindo-se aos livros
bíblicos no Concílio de Laodiceia (360) e na carta pascoal de Atanásio, em 367. A
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Precisamos tomar cuidado com esta expressão, porque pode parecer que houve um
tipo de reunião institucional ou conjunto pré-estabelecido de proposições através das
quais os livros passariam, como uma peneira, pela avaliação de válidos ou não. Estes
critérios são indícios que se desenvolveram na história da permanência de certos
livros que foram dando a eles peso de norma. As obras eram usadas,
tradicionalmente aceitáveis, o que gerou seu reconhecimento, não como simples
manipulação, o qual possibilitou o recorte.
Mas como estes livros foram separados? Quais foram os critérios? Levando em
consideração o que já falamos sobre “critérios”, podemos indicar como fundamental
critério a identidade entre a fé vivida pela comunidade e a fé que se expressa no
livro. Esse é conhecido como regula fidei. Inclusive, esse critério pode representar a
localidade do cânon, que era utilizado por comunidades cristãs de regiões
específicas.
Os livros que eram usados durante muito tempo (por isso a importância da
antiguidade da obra) e em muitas comunidades locais (caráter universal, aceitação
coletiva) tratados como Palavra de Deus ou venerável, foram ganhando autoridade.
O que percebemos com a Torá, nas comunidades judaicas, e com as cartas paulinas,
nas comunidades cristãs. Contudo, alguns livros eram usados por algumas
comunidades, os quais eram vistos como duvidosos pela ortodoxia. Portanto,
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28/02/2022 14:00 Aulas.
A questão do autor era parte destes critérios, porque alguns livros tinham autoria
não real, mas tradicional ou ficcional como o Evangelho de Maria Madalena ou
Testamento de Abraão. O autor, pelo que parece, desempenhou maior importância
no judaísmo do que no cristianismo. O critério de inspiração divina se aplica mais ao
judaísmo, que percebia o Pentateuco vindo de Deus, os proféticos como oráculos
diretos de Javé etc. No NT alguns já eram vistos como Escrituras (Mc 9,12; Lc 4,21;
At 8,32; Rm 4,3 etc.). Mesmo que tenhamos diferenças no NT entre a teologia de
Mateus e Paulo, das cartas Petrinas e o Apocalipse, ambos são considerados
ortodoxos, porque refletem o Evangelho.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
A TaNak
O cânon judaico de Escrituras ou Bíblia,
“Antigo Testamento” para os cristãos, e
formado por três partes: Torah
(Lei), Nebiim (profetas) e Ketubiim
(Escritos), por isso o acróstico TaNaK.
A Torah é conhecida como Pentateuco
(cinco rolos). Os profetas são divididos
em duas partes (anteriores e
posteriores). Os anteriores, na
organização seguida pelos
protestantes, são conhecidos como livros históricos. Diferentemente do cânon
protestante, não há dois livros de Reis, Samuel ou Crônicas. Eles eram, na versão
hebraica, um rolo cada. Foi na tradução grega, Septuaginta, que estão divididos.
Essa divisão é seguida pela Vulgata e pelas traduções protestantes. Em relação à
terceira parte da TaNaK, os Escritos, esses são os outros livros em geral. Inclusive,
Daniel não está entre os profetas, mas nessa terceira parte.
encontrados rolos de livros judaicos, não se achou o livro de Ester. Entre esses
manuscritos, inclusive, está a Carta Haláquica (4QMMT), onde encontramos o
testemunho mais antigo do cânon, pois se refere ao livro de Moisés, Profetas e Davi.
No Novo Testamento, no séc. I d.C, havia o reconhecimento de dois grandes blocos:
“Leis e os Profetas” (Lc 16,29; Mt 24,24.27; 7.12).
Mesmo que os oráculos proféticos fossem recebidos como voz de Javé, o processo de
estabelecimento do cânon da Bíblia Hebraica tem na Torah seu início. Essa é a razão
do questionamento da aceitação de partes do AT por alguns rabinos, porque não
estavam em sintonia com os cinco primeiros livros, como é o caso de Ezequiel 40-48,
Eclesiastes e Provérbios.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Nos últimos anos, falou-se na academia de uma obra escrita em três ou pelo menos
duas fases, que tem como fundo o livro de Dt: Obra Histórica Deuteronomista (Js,
Sm e Rs). Por isso, acredita-se que o Dt foi inserido em Gn-Nm posteriormente,
separando a Torah e os profetas anteriores. A OHDtr recebeu acréscimos até o pós-
exílio, quando foi finalizada e incluída na coleção dos Nebiim. Os profetas
posteriores também passaram por longo processo de redação, desde os oráculos de
seus porta-vozes, a catalogação de folhetos menores, acréscimos posteriores e
formação dos livros em forma final. Daniel encontra-se entre os profetas somente na
LXX e na Vulgata, pois na Bíblia Hebraica está entre os Escritos. Jonas está entre os
doze porque serviu para completar a cifra 12. Os Nebiim, a partir de 200 a.C, tempo
em que esses textos não recebem mais retorques, vão ganhando caráter de
aceitação e normatividade. Contudo, sabemos que livros como Ez ainda eram aceitos
com reservas, o que é mais comum aos Escritos.
Contudo, devemos tomar cuidado para não entendermos, depois desta exposição,
que estas coleções foram sendo sucedidas linearmente. Pelo contrário, as coleções
paralelas circulavam e alguns dos que depois seriam inseridas entre os Escritos,
eram contados entre os profetas, como é o caso dos Salmos de Davi, até que os
livros narrativos desta terceira parte foram dispostos em ordem cronológica, os livros
atribuídos a Salomão são colocados juntos e os maiores no início do conjunto, tendo
o livro de Crônicas no final.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Para a história da fixação do cânon judaico, alguns citam o concílio em Jâmnia, como
se rabinos tivessem definido ou decidido ali os livros aceitos. Contudo, essa ideia
distorce um pouco a compressão do processo de canonização. Não houve uma
decisão oficial que delimitasse o cânon. Pelo contrário, havia o uso de livros
veneráveis. O enceramento do cânon judaico foi à força do uso e sua aceitação pelas
autoridades rabínicas como textos autorizados para leitura nas sinagogas e para o
ensino. No período de Jâmnia, houve, na verdade, debates a respeito de alguns
livros e se defendeu a importância de livros que ora e outra eram questionados por
alguns, como é o caso de Ct e Ecl. Contudo, afirma Trebolle, “se não se pode afirmar,
portanto, que no fim do séc. I d.C o cânon estivesse completamente fechado, sem
contestação, a corrente rabínica central considerava, todavia, o cânon bíblico
praticamente definido. Então, podemos falar que se reconheceu entre os séc. I a II
d.C os livros que já tinham peso de Escritura, mesmo que alguns fossem
questionáveis. Contudo, mesmo Rt ou Ct (alvos de algumas dúvidas) foram
preservados nas listas posteriores.
Em síntese:
1. Os livros e suas coleções surgiram em longo tempo histórico;
2. Seu reconhecimento e uso foram dando aos textos valor canônico;
3. Algumas listas foram surgindo, as quais discutidas (não definidas) em lugares
como Jamnia;
4. E entre o I e II séc. d.C já havia a afirmação dos livros considerados canônicos e a
lista da TaNaK.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Olá, como podemos compreender a formação da lista do NT? Uma coisa está clara
para nós até aqui: as listas dos livros considerados canônicas nos concílios foram
formadas em longos períodos e sob a tensão de muitas discussões. Esta afirmação
nos reporta a duas coisas: 1) não tivemos apenas uma e definitiva lista de livros
canônicos do NT, como, também, percebe-se na tradição judaica; 2) para a formação
do conjunto dos livros que se tornaram o Novo Testamento, concílios foram reunidos
e determinaram a aceitação dos livros, como aconteceu no Séc. IV.
Como chegamos à lista que hoje usamos como Novo Testamento? Qual era a Bíblia
usada pelos cristãos das origens? Estas questões nortearão nossa aula.
Cânon judaico e o NT
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Paulinas, obras específicas para certas comunidades, algumas delas começaram ser
lidas nas reuniões públicas ao lado daqueles textos judaicos, como, também, alguns
Evangelhos. Inclusive, estes textos começaram a ganhar peso de Escritura por sua
utilização e origem apostólica.
Em 2Pd 3,15-16 são citadas as cartas escritas por Paulo, as quais eram alvo de
distorções por alguns. Isso mostra algumas coisas.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Outra coisa que precisamos levar em consideração é que se hoje há uma lista
fechada do NT em 27 livros, nos primeiros dois séculos, ou até no terceiro, mesmo
que alguns livros já tivessem ganhado peso e eram mais utilizados, circulavam,
também, outras obras, as quais tinham valor e utilização dependendo do lugar
(Egito, Roma, Grécia etc.). Evangelhos, Atos e Apocalipses que não estão na lista
atual do NT eram também lidos e tinham, ora e outra, certa autoridade, como o
Evangelho de Pedro, Apocalipse de Paulo, Pastor de Hermas, Carta de Barnabé e
outros.
Algumas obras que hoje estão na lista do NT, mesmo depois das coleções serem
formadas, continuavam existindo independentes, como o Apocalipse de João,
Hebreus e Atos (antes de ser inserido entre os Evangelhos e a coleção de Paulo).
Com o tempo, cartas paulinas e evangelhos começaram a ser agrupados. Mesmo que
circulando independentes, dois ou mais evangelhos começaram a ser utilizados
juntos e ao mesmo tempo. Mesmo que alguns acreditem que desde Irineu a coleção
dos quatro evangelhos já estava estabelecida, é melhor a concepção de que em
meados do século II a situação fosse ainda bem fluída; em algumas igrejas se
discutia a aceitação de um ou outro evangelho que no fim não entrou no cânon.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Depois, a igreja e seus concílios organizaram as listas canônicas e a lista final que
hoje utilizamos como NT. Na próxima aula continuaremos discutindo esse assunto e
apresentaremos uma síntese dos critérios para exclusão e aceitação dos livros.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Como já observamos na aula anterior, ao lado das obras judaicas, foram sendo
usadas as Cartas Paulinas e Evangelhos. No caso das Cartas Paulinas, elas foram
reunidas e copiadas por comunidades que as aceitavam como valiosas ao
Cristianismo em geral. Isso pode ser confirmado, por exemplo, quando o estilo e as
primeiras Cartas de Paulo começaram a ser copiados e imitados, como vemos nas
Cartas Deuteropaulinas (Cl, Ef, 2Ts, 1-2Tm, Tt).
O processo de separação destas obras pode ser traçado como produção, utilização de
primeira instância, utilização litúrgica, uso, formalizações e formalização final.
Primeiramente, o texto é escrito pelo apóstolo ou comunidades, depois é recebido e
utilizado pelos destinatários, ganha peso de circulação litúrgica, uso para outros
textos e é copiado, torna-se parte de coleções que possuem lugar especial nas
comunidades e, por fim, são canonizados por concílios.
Na primeira fase deste processo, até metade do séc. II, os textos da tradição oral se
tornam texto, estes começam a ser usados ao lado dos textos judaicos, os quais
eram a única fonte textual dos cristãos durante alguns anos, sempre em chave
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Na segunda metade do século II, o cânon ainda está em variável e sem definição.
Pelo contrário, se por um lado surge a necessidade da fixação de uma lista; por
outro, geram-se várias tentativas. A tradição oral fica sob suspeita e incontrolável.
Em cerca de 150-160, Justino Mártir atribui aos Evangelhos valor apostólico, e cita
textos de Mt com a clássica formula “está escrito”, o que era comum para os textos
do judaísmo e “no evangelho está escrito”, dando a estas obras cristãs o valor de
Escritura.
Outros dois documentos valiosos para este assunto no final do segundo século são os
escritos de Irineu, bispo de Lyon, e a lista canônica conhecida como fragmento
Muratoriano ou Cânone Muratori. Irineu defende a canonicidade dos quatro
Evangelhos e defendeu teologicamente o número quatro. Ele cita e confirma At como
canônico, reconhece e valoriza as Cartas Paulinas, inclusive as pastorais, aceita como
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Havia muita disputa entre as regiões e suas respectivas listas e usos dos livros. Os
Evangelhos e as Cartas Paulinas eram um núcleo bem sólido, mas outros textos e
evangelhos eram, ora e outra, avaliados como importantes e até canônicos. Eusébio
de Cesaréia, em sua História Eclesiástica , resume a situação até 325 classificando os
livros em três classes: reconhecidos ou aceitos (homologoumenoi), discutidos
(antilegómenoi ) e heréticos. Entre os aceitos ou reconhecidos pelas Igrejas em geral
como Escritura estão os quatro Evangelhos, At, as Cartas Paulinas (com Hebreus),
1Jo, 1Pd e, com reservas, Ap. Entre os discutidos encontravam-se Tg, Jd, 2Pd, 2 e 3
Jo, e também, Atos de Paulo, Pastor de Hermas, Apocalipse de Paulo, Carta de
Barnabé, Didaqué e Apocalipse de João.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Percebe-se aqui, mesmo que em ordem diferente, a lista que se cristalizaria como
NT. No entanto, ele ainda admite alguns livros não canônicos para instrução e cita
textos da LXX para o cânon cristão do AT.
A primeira resolução conciliar para fixação do cânon foi no Oriente, no sínodo de
Laodicéia, em 363, quando são enumerados 26 livros canônicos, faltando o
Apocalipse de João. Este depois é reaberto, por conta da carta de Atanásio, e insere-
se o Apocalipse. No Ocidente, o mesmo cânon foi fixado nos concílios de Hipona
(393) e de Cartago (397), e foi reafirmado pelo papa Inocêncio I no ano de 405.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
O processo para canonização foi longo e complexo. Talvez, o principal indício seja sua
relação direta com os apóstolos. Contudo, explícita e implicitamente, foram levadas
em consideração para determinar a canonicidade dos escritos as seguintes
características:
- Origem apostólica: deveriam ser compostos por apóstolos ou por alguém
próximo que garantisse fidelidade à tradição apostólica. Esse critério também era
temporal, porque eliminava da lista textos considerados posteriores.
Coube a igreja, guiada pelo Espírito Santo, o mesmo que tornou possível a existência
dos textos, na figura das comunidades, a preservação dessas que seriam as obras da
revelação.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Para começo de conversa, a maioria dos textos bíblicos é anônima. Ou seja, não há
uma indicação interna no texto para seu autor. Nos livros da Torá, por exemplo,
encontramos Moisés como receptor e anunciador das leis, mas não é dito ser ele o
autor do livro de Êxodo, por exemplo. Além disso, em Gênesis, por sua vez, Moisés
ainda não é protagonista. Quando encontramos no NT a indicação de Moisés como
autor, só é prova de que a tradição colocou em Moisés a responsabilidade de autoria.
O mesmo podemos dizer de Josué, Samuel, Rute, Neemias etc. Estes são
personagens muito importantes nos livros que carregam seu nome. Por isso,
tornaram-se, na tradição, seus autores. Somente algumas cartas de Paulo, Tiago,
mesmo que não se identifique com total certeza, indicam seus autores. Contudo, até
mesmo estas precisam ser avaliadas, como mostraremos. A mesma coisa
encontramos no NT, porque textos como o Evangelho de Marcos, Lucas ou João
recebem esta autoria em seus títulos, mas isso foi orientação da tradição e não
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indicação do próprio texto. Pelo que parece, a preocupação por autoria não era a
mesma que possuímos hoje em dia. Mas isso não seria diferente, porque estamos
lidando com contextos diferentes.
Ainda a respeito dessa discussão, as epístolas Paulinas, mesmo que saiam da pena
de Paulo, preservam, em vários lugares, hinos ou tradições orais das comunidades
cristãs. O caso dos profetas é ainda mais emblemático. Muitos textos que hoje estão
inseridos em quadros temporais e locais (cf. Ag 1.1; 2.1) são trabalhos de redatores,
seus discípulos (?), os quais preservaram e escreveram os anúncios pré-existentes
em oralidade. Outra prática muito comum é a ajuda de um escriba, o amanuense,
que escrevia o que o autor ditava. Em Rm 16,21 fala-se de Tércio, que escrevia o
que Paulo ditava. Este poderia, simplesmente, escrever como, também, parafrasear
ou inserir coisas. Então, de quem falamos quando dizemos “o autor”?
Esses textos, por sua vez, passam depois de escritos por acréscimos ou ganharam
novos contornos. O livro de Isaías, por exemplo, tem três estágios de composição. O
primeiro, conhecido como Proto-Isaías, tem algumas profecias do próprio Isaías e
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Textos pseudepígrafos
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28/02/2022 14:00 Aulas.
As pastorais, por exemplo, indicam que Paulo está escrevendo a Timóteo e Tito (1Tm
1,1; 2Tm 1,1; Tt 1,1). No entanto, a linguagem, as ideias e a estrutura eclesiástica
pressupostas nas pastorais demonstram que Paulo não foi o escritor; chamamos
estas cartas de Deuteropaulinas, porque carregam o nome de Paulo, mas não foram
escritas por ele – ainda, a maneira como as pastorais tratam as mulheres é bem
diferente do que encontramos em Rm ou Gl. Por isso, é comum firmar que o trecho
de 1Co 14,26-39 foi inserido pela mesma escola que produziu as pastorais. Podemos
fazer iguais afirmações a respeito das cartas de 1 e 2 Pedro, que, provavelmente,
por conta do contexto e linguagem, não foram escritas por Pedro, o apóstolo. A
epístola aos Colossenses também se revela como pseudônima, no sentido aqui
descrito, porque provavelmente Paulo não tenha escrito este texto.
Contudo, mesmo que o livro não seja escrito pelo autor indicado no texto,
frequentemente o escritor (ou escritores) compôs sua obra com base nas tradições
provenientes de alguém importante. Por isso, eram apresentadas sob o nome de tal
personagem; ou, o autor literário, seguiu o mesmo espírito e linha de pensamento
que seu personagem ideal preservado no texto. Não se pode negar, também, que o
respaldo moral da personagem indicada garante autoridade ao documento.
O grande escândalo dessa questão se dá pela rápida relação entre valor do texto e
autoria, como se o texto merecesse aceitação por causa daquele que o escreveu.
Como temos apresentado, até mesmo a questão do autor não é tão simples como
imaginávamos. A história da formação do texto, desde a oralidade, mostra que não
há um simples “autor”, uma figura fixa que senta e produz de uma só vez uma obra,
à luz de suas intuições e valores. Esta leitura alimenta a ideia de que inspiração é um
ato único, de uma pessoal, de uma vez só.
Desta forma, não é a autoria do texto que nos importa em si, mas seu conteúdo,
com o qual lidamos e torna-se parte da nossa experiência de fé. Consequentemente,
a Bíblia é Palavra de Deus enquanto expressão de sua revelação e não por causa de
seu autor.
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Introdução
Aqui vamos discutir dois conceitos importantes para os estudos bíblicos. Talvez, você
já tenha ouvido a palavra “apócrifo” referindo-se a textos mentirosos, ficcionais,
fabulosos etc. Por sua vez, a palavra “pseudepígrafo” não é tão corriqueira; é
possível que você tenha lido aqui pela primeira vez. Como é comum aos conceitos,
esses também são muito escorregadios e servem mais para questões pedagógicas do
que esgotamento de suas idiossincrasias. Por isso, vamos fazer definições de
maneira que possam ser aplicadas aos estudos, ou como se faz comumente. O que
é literatura apócrifa? E pseudepígrafa? Elas são importantes? O que isso pode me
ajudar nos estudos bíblicos? Essas serão algumas questões que conduzirão nossa
caminhada na lição.
Como temos dito até aqui, tanto nos judaísmos como nos Cristianismos antigos,
além dos livros que estão inseridos hoje no cânon, foram escritos diversas outras
obras. A Bíblia Hebraica, a mesma seguida pelos protestantes, é parte de um
conjunto de outros livros que, por vezes, e para alguns grupos judaicos e cristãos,
eram tratados como importantes. Dessa forma, a canonização foi um processo longo
no qual alguns textos foram fixados como mais importantes e inspirados, por
critérios já indicados. Contudo, outro grupo perdeu ou nunca possuiu esse status. Os
livros que ficaram de fora do cânon, em termos gerais, são chamados de apócrifos.
Ainda falando dos apócrifos cristãos, foi encontrado, em Nag Hamadi, no Egito, a
partir de 1945, um grupo de textos em copta. Uma coleção de treze códices feitos de
papiros e cobertos com couro, os quais recebeu dos especialistas o nome de
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28/02/2022 14:00 Aulas.
A palavra “apócrifo” é muito geral, porque há texto para além desta lista grega.
Estes são chamados de “pseudepígrafos”, do grego “escritos pseudonímicos”. Essa
expressão refere-se a obras que usam como autor alguma figura importante
(Enoque, Abraão, Isaías etc.). A nomenclatura é problemática porque até mesmo os
livros canônicos são, muitos deles, pseudônimos, porque os autores indicados não
são os históricos. Os pseudepígrafos são de vários gêneros e tipos. Há testamentos,
apocalipses, salmos etc.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Estas obras, hoje em dia, podem ser acessadas especialmente em Inglês, Espanhol e
Alemão. Temos algumas traduções para o Português, mas são cheias de fragilidades.
Para os pseudepígrafos, a obra mais importante é a organizada por James H.
Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, em dois volumes. Há, também
um trabalho em Espanhol, preservado em 5 volumes, Apocrifos del Antigo
Testamento, de A. Diez Macho.
Para o estudo dos apócrifos do Novo Testamento, uma das obras de referência é o
trabalho de Wilhelm Schneemelcher, New Testament Apocrypha, Gospels and Related
Writting, em dois volumes.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Muitos não entendem que estas obras são importantíssimas para os estudos bíblicos.
Para as pesquisas do Antigo Testamento, os manuscritos de Qumran serviram para
descobertas sobre a forma e conteúdo de textos canônicos, como no caso do livro de
Isaías encontrado em Qumran. Além disso, as obras pseudepígrafas circulavam e
algumas ideias cristãs primitivas, especialmente presentes no NT, somente podem
ser entendidas à luz dos imaginários e perspectivas teológicas destes textos – não
podemos nos esquecer do uso cristão desses livros.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Olá, espero que até aqui você tenha percebido com clareza como a Bíblia passou por
diversas fases até sua formação final. Uma vez tornada texto, passou por diversas
traduções. Originalmente o texto bíblico foi escrito em hebraico (AT) e em grego
(NT). Contudo algumas partes da Bíblia Hebraica foram escritas em aramaico: Gn
31,47; Jr 10,11; Dn 2,4–7,28; e duas perícopes em Esdras (4,8–6,18; 7,12-26). No
Novo Testamento, escrito em grego Koiné (“comum”, língua corrente no comércio e
nas cidades helenizadas), há algumas expressões preservadas em aramaico (Marcos
5,41- Talitha qum (ταλιθα κουμ) que significa “criança levanta-te”; Marcos 7.11
Corban (κορβαν); Mc 15, 34 "Eloì, Eloì, lemà sabachthàni, que significa “Deus meu,
Deus meu, por que me abandonaste?” Mt 27,46). Mesmo que ainda se discuta a
respeito da origem hebraica ou aramaica de versões originais de textos do NT, o que
temos é o grego como afirmação de sua língua original. A tradução para as línguas
antigas como copta, eslavo, siríaco, entre outras, e as modernas (alemão, inglês,
espanhol, português etc.) demostram a dinâmica da circulação dos textos bíblicos e
suas comunidades.
Precisamos levar em consideração que as traduções são trabalhos que passam pela
criatividade do tradutor. Não é simplesmente um transporte límpido de um sistema
para outro. Por isso, para leitura e trato com a Bíblia, precisamos explicar alguns
detalhes sobre a tradução, as nuanças das versões, além das diferenças dos projetos
de tradução. A Bíblia, antes de qualquer coisa, é consumida como objeto de tradução
para milhares de leitores, que em suas línguas maternas relacionam-se com seus
textos.
Tradução e criatividade
Toda tradução incide sobre a obra com a qual trabalha. Por isso consideramos que a
tradução é criação de novo (s) texto (s). Como bem afirma Maria Elisa Rodrigues
Moreira, “a tradução aparece sempre como uma questão relativa ao fazer literário, e
não apenas como um processo técnico de transposição idiomática”[13].
Falando das dificuldades da tradução, Luis Borges diz que os textos poéticos são
mais desafiadores para os tradutores do que os prosaicos. Depois de ler textos tais
como os apocalípticos não é possível concordar plenamente com isso, porque nestas
obras há um complexo de sensações e movimentos/ações conduzidos pelos verbos,
dentro de vinculações imaginárias, que dificultam a transposição do sentido. Por isso,
podemos aplicar a qualquer tradução as dificuldades citadas pelo escritor argentino:
“cada palavra tem uma significação peculiar, conotações próprias e totalmente
arbitrárias”[14].
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O próprio esquema exposto por Yuri Lotman sobre a linguagem ajuda-nos a pensar a
tradução de um texto como produção criativa de um novo texto. Nas linguagens
artificiais[15] há identidade direta entre mensagem do emissor e mensagem do
receptor. Na tradução de um texto em uma língua para a outra, a distância é
preenchida pela criatividade da tradução. Entre o texto 1 (original) e o texto 2
(tradução) existe somente uma equivalência convencional[16] e por haver
complexidade de códigos entre texto original e texto de tradução, o tradutor é
obrigado a fazer escolhas:
Traduções Antigas
Escrita em hebraico, aramaico e grego, a Bíblia, desde 200 a.C, recebeu diversas
traduções. Estas podem ser divididas em três categorias: traduções antigas, as
medievais e as modernas. As antigas continham trechos do AT e, às vezes também,
do NT, quando estes já existiam. Entres as traduções antigas estão Targum, A
Septuaginta e a Vulgata.
Targum: tradução, mais próxima de uma paráfrase, porque quase reescreve a Biblia
Hebraica. Chamamos de tradução porque transporta para o aramaico os textos
hebraicos, mas o fazem como um comentário. Depois do exílio, o aramaico era a
língua usual. Os mais antigos targumim (plural de targum) foram escritos no sec. II
d.C, mas há indícios de textos aramaicos antes da era cristã. Os dois targumim mais
conhecidos são o Targum Onkelos e o Targum Jonatã bem Uziel, este sobre os
profetas e aqueles a respeito da Torah.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Vulgata: Em 200 a.C, no Ocidente, foi realizada uma tradução do AT, a partir da
LXX, para o Latim, língua oficial do Império Romano, conhecida como Antiga Latina.
Os numerosos textos da Antiga latina apareceram ao redor da segunda metade do
século IV obrigaram uma revisão desta versão latina, que resultou na Vulgata Latina.
Quem ficou incumbido desta tarefa foi Jerônimo (340-420). A Vulgata Latina é o
nome dado para este trabalho realizado por Jerônimo que se tornou o texto modelar.
Seu trabalho começou com uma revisão dos evangelhos da Antiga Latina e depois
passou para o Saltério, conhecido como Saltério Romano. Depois de estudar
hebraico, dedicou-se mesmo aos textos originais. Primeiro traduziu o Saltério.
Continuou sua tradução das Escrituras Hebraicas, finalizando, em 405 d.C., o AT. Os
Apócrifos que estavam na LXX, forma preservados na Antiga Latina, e
permaneceram na Vulgada, não foram todos traduzidos por Jerônimo. Contudo, na
Idade Média, esses foram inseridos na Vulgata Latina, como conhecemos até hoje.
Precisamos ter em mente que na tradução haverá perdas, porque o tradutor sempre
fará escolhas. A sintaxe e os sentidos das palavras são muito estranhos ao
português. Por isso, a tradução pode ser de dois tipos: a formal (literal) ou
a funcional (dinâmica).
Os dois tipos têm seus pontos fortes e fracos. A tradução formal preserva aspectos
do texto original — incluindo sintaxe, expressões idiomáticas e coerência no uso de
termos, de grande valor para acadêmicos e estudos profissionais, mas não é tão
importante para as leituras mais populares das comunidades. Por sua vez, a
tradução dinâmica proporciona acesso direto ao texto, permitindo que o significado
fique claro em uma primeira leitura, sem exigir que o leitor lide com expressões
idiomáticas e sintaxes incomuns. Também, facilita o estudo sério da mensagem do
texto e dá clareza no uso devocional e na leitura em público. Como exemplo de
traduções consideradas formais, podemos citar a Bíblia de Jerusalém, Tradução
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28/02/2022 14:00 Aulas.
A tradução para o português feita por João Ferreira de Almeida passou por longo
processo de revisão. Em 1681 foi publicado o Novo Testamento. Depois de sua
morte, o Antigo Testamento foi terminado e publicado, em 1753. Mesmo quando só
havia o NT e depois, com os dois testamentos, a tradução em português passou por
revisões. A edição de 1898, feita em Lisboa, seria conhecida como Almeida Revista e
Corrigida (ARC). Em 1959, foi publicada no Brasil uma versão revisada da ARC, a
qual era muito usada em países de língua portuguesa. Este trabalho chama-se
Almeida Revista e Atualizada (ARA). Entre as diferenças de linguagem e estilo, a ARA
leva em consideração manuscritos que não eram conhecidos na época da versão
ARC. Uma segunda edição da Revista e Atualizada (ARA) foi publicada em 1993. Por
sua vez, a Revista e Corrigida (ARC) sofreu alguns ajustes em 1995. A Sociedade
Bíblia Trinitariana do Brasil publicou em 1994 a Bíblia Almeida Corrigida e Fiel,
revisada em 2007.
Outras versões foram feitas no Brasil por especialistas, as quais já estão citadas aqui
(NVI, NTLH, BJ. TEB). Quando encontramos Bíblias com nota de rodapé ou estudos,
conhecidas por Bíblia de Estudos, precisamos levar em consideração que as versões
podem ser as mesmas, somente com explicações e introduções são diferentes.
As versões originais
Os textos bíblicos passaram por muitas fases, desde oralidade às muitas cópias, até
chegarem à sua forma final. Os manuscritos circularam por várias mãos e grupos,
gerando diversas variantes, ou seja, textos com conteúdos diferentes, frutos de
cópias que não seguiam exatamente, seja intencionalmente ou não, o texto base.
Por isso, não há o texto “original” saído da pena de Paulo, João etc., mas cópias das
cópias. Com o tempo, as ciências bíblicas desenvolveram critérios e ferramentas para
reconstrução, avaliando e comparando manuscritos, dos textos mais próximos do
original. Essa ciência é conhecida como “Crítica Textual”. O resultado deste trabalho
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28/02/2022 14:00 Aulas.
de reconstrução encontra-se nas chamadas “edições críticas”. Essas são edições dos
textos do Antigo Testamento e do Novo Testamento, que trazem no rodapé o
“aparato crítico”, onde se encontram, codificadas em símbolos, as principais
variações dos manuscritos. Para o Antigo Testamento a Bíblia Hebraica
Stuttgartensia, a edição crítica publicada em Stuttgart, na Alemanha, pela Deutsche
Bibelgeellschaft, tornou-se a versão padrão usada pelas traduções mais modernas.
Para o Novo Testamento, a utilizada como padrão é a edição de Nestle-Aland, que já
está na 28º edição. Essa edição é resultado de pelo menos vinte e oito revisões e
novas publicações do texto. O trabalho começou em 1898, com E. Nestle, que
publicou a primeira edição crítica do NT, a qual foi aprimorada e revisada à luz de
novos manuscritos e trabalhos de pesquisas. Atualmente a comissão responsável é
liderada por K. Aland. Fruto deste trabalho, temos duas edições parecidas, com
aparatos críticos de tamanhos diferentes, mas que seguem a mesma reconstrução
base: o United Bible Societie’s Greek New Testament [UBS] (que está na 5º edição)
e Novum Testamentum Graece (atualmente na 28º edição). Esta é apropriada para o
uso de exegetas, aquela para tradutores. As traduções de diversas Bíblias seguem
estas obras e elas são usadas nos seminários e cursos de Bíblia no mundo inteiro.
São as ferramentas dos exegetas, as quais você usará o tempo todo nas aulas.
Comparação de traduções
Por conta da criatividade da tradução ou mesmo das diferentes edições dos textos
usados como base para as diversas versões, encontramos algumas disparidades de
uma tradução para outra. Por isso, precisamos comparar as traduções. Aqui
mostraremos as propostas de algumas versões para Rm 12,3:
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28/02/2022 14:00 Aulas.
NOTAS
[13] MOREIRA, Maria Elisa Rodrigues. A Questão de Tradução em Jorge Luiz Borges e
Italo Calvino. In: Alea: Estudos Neolatinos 2, Rio de janeiro, vol. 11, Dezembro de
2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-
106X2009000200004&script=sci_arttext#linkinicio. Acesso em: 13 de Mar. 2013.
[14] BORGES, Jorge Luis. Las dos maneras de traducir. In: La prensa, Buenos Aires,
01 ago. 1926. Disponível em: http://webcache.googleusercontent.com/. Acesso em
13 mar. 2013.
[15] Paulo Nogueira ilustra bem este tipo de linguagem usando o exemplo da
gravação de uma música por meio do MP3 que é um código digital. Cf. NOGUEIRA,
Paulo A. religião como texto... p. 17.
[16] LOTMAN, I. Por uma teoria semiótica da cultura. Belo Horizonte: FALE/UFMG,
2007. p.18.
[17] LOTMAN, I. Por uma teoria semiótica... p. 19.
[18] PAZ, O. Traducción: literatura y literalidad. Barcelona: Tusquets, 1990. p. 12.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Uma das ciências que tem tomado muito espaço nas pesquisas bíblicas é
a arqueologia. Esta ciência analisa a cultura material dos povos para reconstrução do
passado e compreensão de suas práticas e vida. Como reconstrutora do passado, por
algum tempo, especialmente no início de sua formação, tinha-se a impressão de que
era possível com este instrumento reconstruir os fatos de maneira direta e neutra.
Hoje em dia, a arqueologia tem passado por notáveis avaliações epistemológicas e
se percebe como construção criativa, uma narrativa do passado. Para os estudos
bíblicos esta ciência tem se tornado parte constituinte. Como explica José Ademar
Kaefer:
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Arqueologia e Bíblia
A arqueologia no início de sua história nas pesquisas bíblicas estava perpassada por
interesses religiosos e teológicos. Fala-se, inclusive, da postura dos pesquisadores
em entrarem nos sítios com a Bíblia com referência para as escavações; daí a
expressão “Bíblia na mão e a pá na outra”. Nessa perspectiva, fala-se
em arqueologia bíblica, porque a Bíblia seria a indicadora dos trabalhos
arqueológicos. Esta posição vem da ala mais conservadora. Os arqueólogos iam para
as escavações para confirmarem o que os textos diziam.
Esta “nova arqueologia” gerou, pelos menos, duas perspectivas. Uma rotulada
como minimalista, os quais dão pouco crédito às narrativas bíblicas enquanto
fontes históricas, exceto se receberem confirmação arqueológica. Nessa perspectiva,
a arqueologia é fundamental e precede o texto bíblico, o qual somente será
confirmado caso haja prova material. Figuras como Israel Finkelstein, Thomas L.
Thompson, Niels Peter Lemche pertencem a essa fileira. A
perspectiva maximalista, por sua vez, defende a Bíblia como fonte histórica
confiável. Estes, afirmam que aquilo que a arqueologia não conhece não pode ser
tratado como inexistente. Autores como Albright, John Bright, Roland de Vaux e Eilat
Mazar são representantes deste grupo.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
7 gas e milhares de cavaleiros [ou cavalos]. [Eu matei Jeho]rão filho de [Acab]
8 rei de Israel, e matei [Ocoz]ias filho de [Jehorão re]i
9 da Casa de Davi. E transformei [suas vilas em ruínas e tornei]
10 sua terra em [desolação........................ ]
11 outro [.............................................................. e Jehú rei-]
12 nou sobre Is[rael..........................................................e pus] 13 cerco
sobre [............................................................][20]
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
Interpretar é uma exigência básica da vida humana: seja em uma conversa entre
amigos, num sermão do púlpito, nas instruções paternas e maternas ou quando
estamos dirigindo. O mundo onde habitamos convida-nos o tempo todo à sua
compreensão. Mesmo que não percebamos, não é possível fugir do ato de “ler” as
mensagens da cultura. Interpretar é automático e intransponível, e sem
interpretação não conseguiríamos viver e nos relacionar. A Bíblia, como nossa fonte e
instrumento de compreensão da vida, também é lugar no qual realizamos esta
tarefa. Mesmo o crente em Cristo que nunca tenha sentado oficialmente em uma
sala de teologia ou se quer ouvido falar em “exegese”, quando se aproxima das
Escrituras sagradas e a lê naturalmente inicia uma “caminhada hermenêutica”. Como
bem indicou Júlio Zabatiero, “a interpretação da Bíblia é uma prática que tem
diferentes sujeitos, tempos e espaços de realizações. Dominicalmente, pregadores,
pregadoras explicam passagens bíblicas a pessoas que desejam aprender, servir a
Deus e tornar a vida mais feliz”[21]. Neste sentido, a tarefa de compreensão da
Bíblia é fundamental para saúde da igreja, conhecimento das orientações divinas, fé
equilibrada e esperança. Contudo, para que esta realidade se materialize na igreja ou
na vida individual de cada servo de Deus, não basta ser um leitor, é preciso ser
um bom/boa intérprete. Esta afirmação é muito séria, porque permite dizer que
podemos perpetuar, mesmo bem intencionados, alguns erros. É comum encontramos
movimentos e expectativas pessoais extremamente arriscados, simplesmente porque
não há uma boa compreensão do sentido do texto bíblico. Sim, podemos, por causa
dos diferentes sujeitos, tempos e espaços, produzir boas ou más leituras das
Escrituras.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Exegese e Hermenêutica
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Interpretação no Cristianismo
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28/02/2022 14:00 Aulas.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Introdução
A Bíblia é um livro com características peculiares, a começar pelas línguas nas quais
os textos foram escritos. Contudo, esse é simplesmente um exemplo dos desafios
que nós leitores precisamos enfrentar, os quais levam alguns a desistirem de sua
leitura esperando que do púlpito ou de outros ambientes recebam porções de seu
conteúdo.
Estamos lidando com um texto com contextos diferentes! O Contexto histórico das
Escrituras é outro em relação ao nosso. Os homens e mulheres que produziram a
Bíblia viviam no Mundo Antigo, com visão de mundo, imaginários, modos de
produção, organização política, percepção de gênero, etc., bem diferentes do que
observamos em nossos dias. O Contexto literário também era completamente
diferente do nosso. As fraseologias, estratégias e usos de gêneros literários, os
sentidos das palavras, a linguagem e a sua organização pertencem ao Antigo
Oriente. Por isso, um passo importante na tarefa da leitura do texto é esclarecer
suas situações.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
Até o fim do século XIX, o enfoque principal era a intentio auctoris e suas indicações
sociais e históricas. Ou seja, as conexões ao sujeito (sujeitos) da produção do texto
eram a preocupação basilar da prática interpretativa. Para a hermenêutica isso
significava, desde Schleiermacher, compreender as intenções do autor materializadas
na obra literária destinada aos ouvintes/leitores “originais”. Para a exegese bíblica
isso significou, com todas as ferramentas necessárias e disponíveis, ser uma
arqueologia do sentido por meio da qual se busca (buscava?) saber as intenções
primeiras do texto sagrado. Isso significa uma dívida para com o autor (a)/res ou
redatores(as) do texto com o qual se trabalha.
Há muito a exegese tem passado por renovações. Atualmente não podemos pensar,
por exemplo, o método histórico-crítico sem levar em consideração as contribuições
das ciências sociais, das ciências da linguagem, semiótica, etc. Durante muitas
décadas, dizer exegese equivalia a dizer método histórico-crítico : critica textual,
crítica literária, crítica e história das formas e dos gêneros literários, história das
tradições, crítica e história da redação e da composição.
Para nossa tarefa de leitura e interpretação fiel das Escrituras, cabe-nos a iluminação
do Espírito Santo e o auxílio das possíveis metodologias hermenêuticas. Por isso,
podemos agora seguir com alguns detalhes importantes para esta tarefa, na prática.
Interpretação e aplicação
Aqui podemos enumerar algumas indicações metodológicas para interpretarmos a
Bíblia neste processo de compreensão e aplicação de suas verdades. Devemos
começar lidando com texto, depois observar seus contextos e, logo em seguida,
fazer a exposição.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
11) que não podem esgotar nem a lista moral e muito menos as manifestações
listadas. Ou seja, você precisa ler os catálogos como eles desejam ser lidos,
enquanto gênero literário ao qual se encaixa. Assim, quando lemos Gn 1,1-2.4a
ou Ap 13, devem nos perguntar pelo gênero literário desses textos, sua intenção e
para o que é usado. Não é bom usar gêneros que não tenham preocupação com
afirmações históricas para fazer descrições históricas do passado, por exemplo.
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28/02/2022 14:00 Aulas.
texto, basta olharmos a crítica aos profetas e sacerdotes em Jr 23, 9-40, porque
aparece a palavra ra‘ah , mesma expressão usada no anúncio desacreditado por
alguns no nosso texto. Essa lamentação deve ser lida à luz do período de
Jeoquim, antes da deportação, quando sua profecia sobre o dia da destruição, a
dabar de Javé, era desdenhada. Assim, é possível saber o que ele quer dizer
quando fala de ser curado (v.14) ou quando pedia a Deus que envergonhe seus
perseguidores (v.18).
3) PRINCÍPIOS DE EXPOSIÇÃO
Depois de uma leitura atenta ao texto, ficará claro que algumas afirmações que você
tinha sobre ele serão deixadas. Por outro lado, outras perguntas ou questões
pessoais serão respondidas. É preciso, agora, conduzir este texto para o nosso
tempo, atualizá-lo. No entanto, como já disse, não há uma separação rígida, no ato
da interpretação, entre o passado do texto e nosso tempo, a ponto de a atualização
ser um passo posterior sem qualquer relação com o primeiro. Contudo,
metodologicamente, você precisa separar os passos para fazer o caminho. Percebe-
se o que o texto diz para atualizá-lo à vida de hoje. Na exposição do texto, é
necessário, antes de qualquer coisa, aplicar com discernimento os princípios
encontrados no texto.
Na Aplicação dos princípios é preciso tomar cuidado para não fazer relações rápidas
entre o texto e suas imagens com os nossos dias. Quais os valores que podem ser
retiramos? Quais os princípios e práticas para nossos dias? Como ele responde ao
nosso tempo? Contudo, precisamos tomar cuidado com as colagens (transposições
literais dos enunciados para nossa realidade), com as justificações para nossas
posturas (usar a Bíblia para legitimar algumas de nossas escolhas pessoais), com as
interpretações legalistas (interpretar os textos colocando a vida em segundo lugar) e
com os imediatismos e voluntarismos (tem a ver com isolar e absolutizar certos
textos sem levar em consideração que há outras recomendações em outros textos).
Agora que você concluiu a última aula, aproveite para realizar as seguintes
atividades:
Fórum 2
Atividade Dissertativa 2
Atividade Objetiva 2
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28/02/2022 14:00 Aulas.
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