Você está na página 1de 5
180 As 212 Nar es) 18 As relagdes comunicativas A comunicagao é um tema relevante para estudiosos de varias areas. Neste capitulo, vocé conhecera uma das principais teorias sobre a comunicacio desenvolvidas no con- texto dos estudos linguisticos. Em seguida, entender por que essa teoria € hoje conside- rada insuficiente para explicar a complexidade das interagdes humanas. * Elementos da comunicacao. + Fungdes da linguagem. | * Limites da Teoria da comunicagao. Teoria da comunicacao — = Leia o cartaz de uma campanha promovida pelo Ministério da Satide. Cartaz de divulgacao da Campanha Nacional de. Tncentivo & Doagaa de Orgaos, de 2009, promovida pelo Ministerio da Sade 1. Qual é a finalidade das campanhas institucionais em geral? E dessa em particular? 2. Quem poderia ser 0 pablico-alvo dessa campanha? Justifique. 3. Por que a campanha estimula 0 piblico-alvo a conversar com a familia para ser um doador de 6rgdos? Que elemento nao verbal do texto remete a essa conversa? A anilise do texto da campanha ajuda a perceber que uma situag4o de comunicacao en volve diversos elementos: contetdos, pessoas, relagoes e finalidades. Buscando identificar esses aspectos e a maneira como a linguagem se organiza em funcao deles, em meados do século XX, o linguista russo Roman Jakobson ampliou e reformulou um modelo da Teoria da comunicagao. Seu interesse principal, naquele momento, era in- vestigar as relacdes entre a Linguistica e a Literatura, Para tanto, Jakobson primeiro identi- ficou os elementos envolvidos na situacao de comunicag4o, propondo o que se denomina modelo de comunicacao, > Elementos da comunicacao De acordo com esse modelo, em um ato comunicativo uma pessoa (emissor) envia uma. mensagem a outra (receptor) segundo um cédigo (conjunto de possibilidades de escolha e combinacdo de signos). Emissor e receptor partilhariam um mesmo referente. A mensagem € transmitida por um meio fisico, o canal. Veja um esquema desse modelo, REFERENTE, MENSAGEM EMISSOR RECEPTOR CANAL cO0IGo > FungGes da linguagem Leia a tira do cartunista Laerte Lasse. Gato Gata No primeiro quadrinho, o gatinho pede ao pai que o desculpe. Diante da negativa, ele apela para as emocGes do pai, esperando sensibilizd-Io ao seu pe- dido, Para atingir seu objetivo, portanto, o gatinho procurou adequar sua fala 8 sua finalidade comunicativa A partir do modelo que propos, Jakobson pode mostrar em que medida os elementos da comunicacao estao ligados as finalidades em geral presen- tes nas situagdes comunicativas. Seu estudo resultou, enti, na definigao de seis fumgdes da linguagem. Em cada fungio, um dos elementos da co- municacao ganha destaque. Os textos centrados no referente tém predominancia da funcio referen- cial. Buscando criar efeitos de objetividade, usam em geral a terceira pessoa do discurso, atributos objetivos, argumentos légicos, dados e exemplos. O texto a seguir, extraido de um verbete de enciclopédia, apresenta predomi- nio da fungao referencial, segundo a teoria de Jakobson. Acaré Acard ou caré € 0 nome genérico atribuido a diversos peixes da familia dos ciclideos. A espécie mais comum no Brasil meridional é o acaré-acu [..., que pode atingir até 25 cm de comprimento. Grande Encclopia Bars. 3 Sho Paulo: Basa Planeta Internacional, 2005. p. 39. Os textos centrados no emissor tem predominancia da fungao emo- tiva. Buscando criar efeitos de subjetividade, empregam em geral a pri- meira pessoa, atributos subjetivos, palavras que denotam impresses, opinides ou cmogées ¢ outras marcas de expressividade (pausas, excla magdes, prolongamento de vogais). O poema “O pastor amoroso” exem- plifica essa funcao. ‘Agora que sinto amor Tenho interesse nos perfumes. Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro. Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova. Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia. Sio coisas que se sabem por fora. Mas agora sei com a respiragio da parte de trés da cabeca. Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira. Hoje as vezes acordo e cheiro antes de ver. Peso, Ferando. Poemas complet de Abe Cato Sto Paulo: Nobel, 2008, p. Os textos centrados no receptor tém predominio da fungao apelativa, ou conativa, Com finalidade de convencimento ou persuasio, em geral se dirigiriam diretamente ao receptor, com verbos no imperativo e uso do vo- cativo, como na tira de Laerte (“Ah, pai, desculpa, val") Repertério Jakobson: as fungdes da linguagem Roman Jakobson (1896-1982) foi um dos mais influentes linguis tas do século XX. Inicialmente na Europa e, depois, nos Estados Unidos, estudou as estruturas da lingua e analisou suas relacdes com a criacao artistica. 0 texto em que propée a classificagao das seis funcoes da linguagem fol pu- blicado em 1960. linguista russo Roman Jakobson. Fotografia da década de 1930. 23 Os textos centrados no canal t8m predominancia da funcio fatica. Em- pregam recursos que buscam favorecer ou garantir a manutengao do con- tato comunicativo por meio de certas férmulas ou modos de dizer cristali- zados, como no infeio deste trecho da crénica “O nariz” — Papa. — Sim, minha filha. — Podemos conversar? — Claro que podemos. — E sobre esse seu nariz... Voss, Luis Femando, © nari 6 outta cries So Paulo: Ata, 2002. p. 75 Nos textos centrados no cédigo, predomina a fungao metalinguistica Neles, a mensagem esta voltada para a propria linguagem (verbal ou nao ver~ bal), Palavras e expressdes que indicam a significagao de algo costumam estar presentes em textos com predominio dessa fungio, No verbete a seguir, essas ‘marcas estao subentendidas na relagio entre o termo e o seu significado. corisco s.m. informal Relampago de pouca intensidade. Diciondrio diatico. Sao Paulo: SM, 2007. p. 273, s textos centrados na mensagem tém predominio da funcao poética Buscando produzir um efeito de originalidade, que cause estranhamento no destinatatio, sao resultado de um cuidadoso trabalho de selecao e com- binacdo de signos. * Leia a seguir um trecho da cangao “Socorro”. Socorro, ndo estou sentindo nada. Nem medo, nem calor, nem fogo, Nao vai dar mais pra chorar Nem pra rir, Socorro, alguma alma, mesmo que penada, Me empreste suas penas. Ja nao sinto amor nem dor, Jando sinto nada. Ll Socorro, alguma rua que me dé sentido, em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada, Socorro, eu jé nao sinto nada. Socorro, nao estou sentindo nada. _Awrunts, Amaldo; Ruz, Alle, Disponive em ~hupy/www artaldoaniuines com brinewisec_ discografia sel. php?id6>. Acesso em: 7 nov, 2012 Na cangao, © eu lirico pede socorro por nao “sentir nada’, criando um efeito de estranhamento. Primeiro, pela dificuldade de sc imaginar um scr humano desprovido da capacidade de sentir; segundo, por esse mesmo ser pedir para ser socorrido, para ser salvo dessa condigao. A fungao poética do texto resulta, principalmente, do modo de dizer. E © arranjo particular das palavras no verso, como no jogo entre nada, penada € penas, que cria um efeito estético, atingindo os sentimentos e as emocdes do owvinte ao mesmo tempo que o leva a refletir. Para Jakobson, a funcdo poética encontraria na literatura a sua expresso mais significativa, mas nao estaria restrita aos textos literarios. Peed 0 fabuloso destino de Amélie Poulain (Franca, 2001) Diregao de Jean-Pierre Jeunet Fitha de pais desajeitados que nao the deram muitas oportunidades de conviver com outras pessoas na Infancia, Amélie cresceu construindo para si um mundo particular, pautado por uma logica propria, A imaginagao ocupa grande parte do seu tempo e a faz elaborar planos para unir casas, vingar funcionarios oprimios ¢ levar alegria a pessoas solitérias. A Fungo poética, que predomina no filme, resulta da manelra particular como a narrativa 6 construida, Capa do OVO O fabuloso destino de ‘Amélie Poulain Eee Fo 0 efeito de estranhamento acontece quando a linguagem nos distancia da maneira habitual de apreender a realidade e nos faz vé-la de modo novo, particular. Pratica de linguagem 1. Na tira a seguir, Mafalda presencia o encontro casual de velhos amigos. ATENGHO: no escreva 0 tivo. ‘Responda a todas as questdes no caderno. ono, Toda Mafalda, Sto Paulo: Martins Fontes, 1995, AceNTe TC st exon: Teaa! 2) Que elementos da tira sugerem familiaridade entre os homens? b) Essa familiaridade faz supor a predominancia de qual funcao da linguagem no diélogo? Explique sua resposta. ©) No Giltimo quadrinho, que avaliagao Mafalda parece fazer sobre o contetido do didlogo entre os amigos? Nesse caso, que funcao da linguagem estaria em primeiro plano na con- versa entre eles? Justifique. Leia a tira, Ossdt tx- 73 4h/ off -fg ‘Gowsts, Femando, Niguel Nausea Fath de Paul, 18 jul 2008. a) 0 rato elaborou um plano para conseguir um queijo. Explique qual era o plano. b) 0 fracasso do plano do rato deveu-se, em parte, a um problema relacionado a um dos ele- mentos da comunicagao descritos por Jakobson. Identifique 0 elemento e explique por que ele comprometeu a eficécia do ato comunicativo. ©) Ainda que o rato tivesse feito uso adequado desse elemento, é possivel afirmar que ele alcancaria sua finalidade comunicativa? Justifique sua resposta Leia este poema de Mario Quintana. Elegia urbana Radios. Tevés. Goo000000000000000000000l0!!! (© domingo é um cachorro escondido debaixo da cama) Quon, Maio, Apontaments de stra sabrenatural. Rio de Janet: Gobo, 1987p. #2 a) Qual é a situagao de comunicacao que os versos do poema sugerem? b) Com base nos dois primeiros versos do poema, identifique quem/o que corresponde a cada elemento de comunicacao na situacao representada. ©) Aque fato 0 Giltimo verso faz referencia? d) Que nogaa o iiltimo verso cria a respeito do domingo? Explique, 25 4. Pratica de linguagem Leia a tira. Tali aster) essa cidade... Cena, A tur do ) Que fungao da linguagem predomina no primeiro quadrinho? b) No segundo quadrinho, é possivel afirmar que a personagem interpretou a “mensagem” do “emissor” para além dessa funcao? Por qué? Leia o texto a seguir para responder As questaes. sao, Salvador: Cedraz, 2007 Brasileiros vao decifrar genomas do papagaio e do sabia-laranjeira Nao todo dia que uma imagem de Zé Carioca ilustra uma apresentacao sobre genomica, mas o malandro arquet{pico da Dis- ney tinha um bom motivo para figurar no Powerpoint de Prancis- co Prosdocimi, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro): tema era o genoma “dele”. Ou melhor, o do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), que esta entre as espécies mais comuns do bicho em cativeiro, O obje- tivo de Prosdocimi e seus colegas vasculhar o DNA da ave em busca de pistas que ajudem a explicar sua proverbial tagarelice. Para atingir esse objetivo, o papagaio-verdadeiro nao é o tinico alvo. O grupo de cientis- tas, batizado de Sisbioaves, pretende sequenciar (grosso modo, “soletrar”) 0 genoma de ou- tras espécies tipicamente brasileiras, como o sabié-laranjeira e o bem-te-vi Em comum, esses bichos possuem o chamado aprendizado vocal ~ a capacidade, similar dos seres humanos, de aprender padroes de vocalizacao ao longo da vida. ea Lots, Renaldo Jost. Brasileiros io deca genomas do papa ¢ do sabia aan, Fahad Pal, 26st 2012. Caderno Coto, p. C9 a) Nas reportagens, a funcdo referencial da linguagem costuma predominar. Isso acontece no texto lido? Justifique. b) A quem se refere a palavra dele, no primeiro parégrafo? Por que ela esté entre aspas? c) Segundo o texto, qual é 0 nome popular do Amazona aestiva? Que efeito de sentido o au- tor do texto cria 20 mencionar esse nome? d) Com base em suas respostas aos itens b e ¢, identifique outra funcao da linguagem pre- sente na reportagem. Justifique sua resposta. e) Compare os dois trechos que mencionam a produgdo sonora dos papagaios. objetivo [...] é vasculhar 0 DNA da ave em busca de pistas que ajudem a explicar sua proverbial tagarelice. [.u] esses bichos possuem [...]a capacidade, similar a dos seres humanos, de aprender padrdes de vocalizagao ao longo da vida ‘A fungao referencial da linguagem predomina em que trecho? No outro trecho, que fungdo da linguagem aparece também? justifique. Vocabulé genoma: conjunto completo de ‘genes contidos deumindividuo ‘ou de uma espécie ‘gendmica clencia que estuda o genoma Powerpoint programa de computador que permite criagio deapresentagies sriticas para rojegio em apatelho multimidia; a propria apresentacio criada nesse conhecido, famoso soletrar: lordem correta Tetras que ‘camper uma palavra (na teportagem, identiticar a sequéncia dos genes que compoer ‘ogenoma da espécie, representados porletras) a ‘agarelar (falar muito sobre coisas sem {mportancia) vocalizagio: cemisedo de sons dda vor, falados ou cantados

Você também pode gostar