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@ oven @ Pubicacses @ Verte acumulagtoentravade Acumulagao entravada no Brasil E a crise dos anos 80* Csaba Deak @ descargar soKb iad 20 fe Rev 8.8 1008.10.98 Espago& Debates 323246, 1891 Abstract This paper proposes that the roots of the specificity of Brazilian society reach back to colonial times and that its modern elite society is a result of the establishment, with Independence, of the internal conditions --the sovereign State- to the reproduction of both colonial society and its material basis, colonial production, Colonial production in the nation-State became hindered accumulation, the form taken by the capitalist process in Brazil, consisting in the (endogenously determined) expatriation of a portion of the surplus, which in the extensive stage of accumulation still leaves some room for accumulation, With the exhaustion of the extensive stage (and lower rates of surplus) by the end of the 1970s a decision between surplus expatriation and accumulation is imposed, and this provides a framework for an interpretation of the current crisis, for a cessation of surplus expatriation poses the question of transformation of the elite society itself. An Epilogue provides a preliminary assessment of the first year of the economic reform of 1990 and a summary of economic indicators related to expatriation and accumulation in the recent past is given in Appendix. Sumario Uma interpretacéo da ‘crise dos anos 80" implica na caracterizagdo da especificidade da sociedade brasileira contemporénea --uma sociedade de elite--, cujas raizes remontam & poca colonial. Assim este trabalho enfoca primeiro as transformacées que levaram a constituigdo do Estado brasileiro para captar o processo pelo qual a sociedade colonial que deriva sua formacao e reprodugo de forcas externas, oriundas da metrépole, e cessando essas pela debilitacao de Portugal, cria as condicoes internas pare sua continuada reprodugo. Passa’em seguida a exploracao do processo de acumulacéo entravada com sua dialética interna, em que o imperativo da acumulagdo esté subordinado ao principio da expatriagao de excedente, como proceso precipuo de producao capitalista que forma a base econémica para a reprodugdo ampliada da sociedade de elite no Brasil. Situa ainda o processo de acumulacao entravada enquanto estagio de desenvolvimento, com suas relacdes com os estégios de acumulagdo extensiva e intensiva, permitindo assim a volta & interpretagdo da crise atual, especialmente em sua diversidade de todas as demais crises da histéria brasileira. Um Epflogo esboga uma avaliacéo do primeiro ano da reforma econémica de 1990 e um sumério de indicadores econémicos da histéria recente relativos & expatriagdo e acumulagio é dado em Anexo, O eenceminhamento das ‘questées urbanas' ou, em outros termos, 0 estabelecimento dos niveis de servigo providos pela infraestrutura urbana decorrem do respectivo estégio de desenvolvimento especifico, que impée as condic6es de producao e reproducao social, e em particular, o nivel de subsisténcia da forca de trabalho. Em fungo desse ponto de partida eu esbocei recentemente(") (19886) uma interpretagao da crise dos anos 80, em ‘que preconizava que o esgotamento do estdgio de acumulacdo extensiva no Brasil coloca a questéo da permanéncia da sociedade de elite -como distinta da burguesa-, sociedade essa que vem se reproduzindo sem ruptura desde a época colonial, sendo a natureza da politica urbana condicionada a natureza da sociedade a ser forjada pela crise ora em curso, Retomando aquela interpretaco, procuro aqui explicitar a relacéo da especificidade da sociedade de elite com a base material de sua reproducéo, aprofundando em particular a ruptura com a vise dependentista e ressaltando © caréter auténomo do proceso de reprodugao social no Brasil. Enfocaremos primeiro as transformacies que levaram & constituicdo do Estado brasileiro para captar 0 processo pelo qual a sociedade colonial que deriva sua formacio ¢ reproducdo de forcas externas, oriundas da metrépole, cessando essas pela debilitacSo de Portugal, cria as condicdes internas para sua continuada reprodugio, Passaremos em seguida a exploragio do processo de acumulacao entravada com sua dialética interna, em que o imperativo da acumulacgo esté subordinado a0, principio da expatriacdo de excedente, como processo precipuo de producéo capitalista que assegura a reproducdo ampliada da sociedade de elite no Brasil. Situaremos ainda o processo de acumulacao entravada enquanto estagio de desenvolvimento, com suas relagées com os estagios de acumulagao extensiva e intensiva,(?) permitindo assim um retorno a interpretagao da crise atual, especialmente em sua diversidade de todas as demais crises da histéria brasileira, Na época em que fol escrito (1989), este ensaio tinha necessariamente de se restringir a meras conjecturas quanto as perspectivas de desenrolar da crise dos anos 80, dada a permanéncia do impasse das forcas sociais que se referird no texto, Sua apresentacgo no Seminario Re-pensando 0 Brasil dos anos 80, em novembro de 1990, ja encerra a oportunidade de se interpretar um fato novo, a saber, a eleicéo € 0 inicio de atividades do governo Collor, Este € 0 assunto do Epfiogo: 1990. 1 A génese do Estado brasileiro A lideranga do movimento da Independéncia pelas categorias dominantes, ligadas & terra, aos negécios e altos cargos, garantiram a sobrevivéncia da estrutura colonial de producao. Organizar 0 Estado sem colocar em risco 0 dominio econdmico e social e garantir as relagBes externas de producao seriam seus principais objetivos. Emilia Viotti, "Introducao ao estudo da emancipacéo politica", 1968, A transformacdo da Colénia que com a vinda de D.Jodo VI e do governo de Portugal jé incorporava, ainda que embrionariamente, os processos decisérios préprios de uma nagao-estado, em Estado legalmente constituido, & osso ponto de partida para captar a especificidade do processo de reproduc3o social em curso no Brasil. Jé se disse que descrever a génese de um processo ndo é explicar suas causas: é verdade, mas nosso intuito aqui n3o 6 explicar, e muito menos, explicar ‘causas', sendo de produzir uma interpretado que desvenda a dialética do rocesso em questo. Nosso ponto de apoio sao trabalhos de Nicia Vilela da Luz, Emilia Viotti e de outros, todos da década de sessenta ou mesmo anteriores, e que ndo sé nao foram incorporados, sendo que por seu teor critico e cunho nacionalista foram virtualmente eradicados no decurso da reago que seguiu a tentativa Goulart de dar curso a um processo de desenvolvimento endégeno, da esmagadora maioria dos trabalhos posteriores de interpretacdo da historia brasileira. Quanto ao enfoque da abordagem, interessa-nos especialmente estabelecer as relagGes entre formas estruturais, tais como, Estado e classes sociais, e 0 pracesso de producdo social que as, molda através de seus estagios de desenvolvimento, ‘A produco colonial é constituida e organizada, evidentemente, em fungéo da produgéo de um excedente a ser levado @ metrépole.() x Se ém estagios iniciais de sua constituiggo tal excedente resulta de ws te simples extragdo ou saque, em estgios subsequentes o objetivo de expanséo do excedente impe a implantacdo de um processo de producao propriamente dita que inclui uma parcela local ce producgo para sobrevivéncia e mesmo de reproducéo social, com produgdo de mercadorias. 0 processo de produco/reproducao local @ antagénico a extraco de excedente por parte da metropole, pois que sémente poderia se desenvolver plenamente se pudesse utilizar a 2 © excedente por ele produzido na ampliacdo de sua prépria reproducao. No desenvolver da producdo colonial e da relacao colénia/metrépole, portanto, o principio da extracéo de excedente precisa ser continuamente re-imposto contra a tendéncia para a ampliagao da reprodugao local, que no entanto é a prépria fonte da ampliacdo do excedente retirdvel. A histéria das colénias no capitalismo é precisamente a histéria do desenvolvimento do antagonismo entre a reprodugao local e a sua exploracdo pela respectiva metrépole. A re-imposigao da explorago colonial se deu mediante diversos meios, como represso armada ou -mais eficiente a longo prazo- redugéo da escala da reproducao local mesmo que 20 preco de uma correspondente reducdo da escala da exploracdo. Tal re-imposico conheceu diversos graus de sucesso, que inclui fracassos, dos quais o caso mais notavel foi sem divida a independéncia da colénia norte-americana da Inglaterra meio século antes da época que nos ocupa. ‘Ao chegar no inicio do século XIX, a histéria do Brasil era uma sucesso ininterrupta de re-imposigies da exploragio colonial, re-imposicées essas em que 0 expediente ja mencionado de reducdo da escala da reproducao local era predominante em virtude do enfraquecimento tanto militar como econémico de Portugal a partir do século XVII.(4) A sociedade local -de porte consideravel, com uma populacao de uns 3 milhdes, ou um quarto da populagdo da Inglaterra- tinha se forjado ao longo de trés séculos em torno da producao colonial ‘em funcdo do que se organizara sua vida', no dizer de Caio Prado Junior. Ela tinha por caracteristica de ser invulgarmente estavel internamente, com fortes grupos sociais da classe dominante Joca/ “interessados em manter a estrutura de produgao baseada no trabalho escravo, destinada 3 exportacgo de produtos tropicais para o mercado europeu" (Viotti, 1968 :122, onde a énfase deve ser colocada sobre o essencial 'manter a estrutura de producéo', mais do que sobre 0 circunstancial ‘exportagao de produtos tropicais’). Nao que no ganhassem qualquer expresso social também os interesses ligados & reproduc local no periodo Imediato que precede a declaragao da Independéncia. Os chamados ‘radicals’ liderados por Goncalves Ledo e que constituiam um grupo que hoje chamar-se-ia de tendancia nacionalista, preconizavam a constituicdo de um Estado de molde burgués (eleicdo direta da Constituinte, liberdade de imprensa etc.) com desenvolvimento desimpedido das forcas produtivas e primazia, portanto, da reproduce ampliada, ou seja, do préprio principio da acumulacao capitalista, Era precisamente em resposta a esses movimentos que os ‘conservadores' se organizaram e formaram, em torno de José Bonifacio, o Apostolado: Realizar a Independéncia com um minimo de alteragdes possiveis na economia e na sociedade era o objetivo de seus componentes, representantes da melhor sociedade da época. 8) Como se sabe, as forgas representadas pelo Apostolado -que Frei Caneca chamou de "um clube de aristocratas servis"- sairiam vitoriosas. Assim o objetivo da constituigao do Estado brasileiro ficou sendo o de assegurar as condigdes da reprodugo do status quo ante, isto é, da sociedade colonial, organizada em fungao da produgao colonial A constituicao de 1824 © arcabouso institucional do novo Estado foi assentado na Constituicao de 1824, de forma liberal e de conteddo elitist. Ainda nas palavras de Viotti: "Resguardava o direito de propriedade em toda sua plenitude,... exclula no entanto [sic] culdadosamente dos direitos politicos as classes trabalhadoras, ...bem como tedos que nao tivessem uma renda liquida anual correspondente a 100$000 em bens de raiz, industria ou emprego" (op.cit, p.123). Diferia também em outro ponte essencial do modelo burgués, a saber, no tocante & (omissdo sobre a) soberania nacional: artigo 178 que garantia as liberdades individuals inspirava-se diretamente na Declaragao dos Direitos do Homem feita pelos revolucionarios franceses em agosto de 1789. Havia parégrafos que eram mera transcrigo. Omitia-se entretanto 2 afirmagao, constante na Declaragao dos Direites do Homem, da soberania da nagao... (op.cil, p.123). Esse fato se refletia igualmente nas atitudes efetivas do novo estado, Em vez de organizar seu préprio exército -que Implicaria em armar uma parte de seu povo, do qual tinha medo-, "o governo de Rio de Janeiro contratou os servicos de oficiais e navios britdnicos e franceses -Grenfell, Cochrane, Labatut (para vencer a resisténcia de tropas comerciantes portugueses de Bahia, Maranhao e Paré)" (op.cit, p.122). A discrepancia entre a forma (burguesa) € © contetido (elitista) do arcabouco institucional seria cuidada pela producgo daquilo que acaba vindo a constituir uma dupla farsa: a ‘adaptacio' ou simples adoco- da ideologia liberal. Se na sociedade burguesa a ideologia liberal esconde a esséncla (2 dominacao de classe), a0 menos ela se apola em algumas aparéncias (decorrentes da igualdade formal na reificacdo das relacdes sociais). 14 no Brasil, retomando palavras de Viotti, estabelece-se uma “flagrante contradicao entre o estatuto legal e a realidade brasileira ...", que no entanto do parece preacupar os legisladores que depois de incluirem na carta os preceitos do liberalismo passaram a declamé-o ‘om frases sonoras ¢ vazias na Cémara eno Senado, Por outro lado, e em seguimento, [uma] elte de letrados, porta-voz das categorias socialmente dominantes,forjaria uma ideologia mascarando as contradigées do sistema ¢ ignorando a distancia entre as disposicées juriicas e a realidade (op.citp. 125), complementando a obra dos legisladores. Faltaria ainda um elo importante nas condicées de reprodugo da sociedade formada na colénia apés a independéncia dessa iiltima. Trata-se da inserco do Brasil nas relacdes econémico-financeiras internacionais, de uma maneira que assegurasse a continuldade do padrSo produtivo da vida econdmica do pals. Fiat divida externa A divida externa foi a solucdo encontrada. Na interpretaglo de Viotti, apesar da ‘simpatia discreta da Coroa Britdnica’, (0) reconhecimento da Independéncia exigiria nao obstante um esforgo penoso junto ao govero inglés que agiu como mediador entre Portugal e Brasil. A anuéncia de Portugal a Independéncia sé foi obtida depois que o Brasil concordou ‘em assumir a divida de dois milhdes de libras esterlinas de um empréstimo feito por Portugal em Londres. (op.cit, p.122) Ou seja: a0 nascer, o Estado brasileiro assumiu uma divida externa que seria um dos principais meios para transformar -aqui, no sentido estrito de dar nova forma a- @ remessa de uma parcela do seu excedente produzido para fora do pais: no caso, o tributo colonial tomou a form de pagamento de juros sobre a divida externa, Para avaliar a ordem de grandeza do valor dessa divida surgida por geracdo espontinea, podemos comparé-la com os investimentos em estradas de ferro na Inglaterra que construfu da ordem de 350 milhas de rede nos primérdios da ‘idade do trem’, entre 1800 e 1825, no valor total de £1,5 milhdo, extensdo essa que seria alcancada pelas linhas férreas brasileiras (presumivelmente, de semelhante valor) por volta de 1864. Ou seja, a divida assumi¢a pagave com folga todos os investimentos naquele novo meio de transporte feitos até aquela data na maior poténcia da época, ou entao cobriria igualmente os investimentos correspondentes no préprio Brasil pelos 40 anos subsequentes. Pagaria ainda pelo custo, para a Inglaterra, de cinco dos vinte cinco anos de Guerras NapoleGnicas, e ¢ equivalente a 2/3 de toda a renda proveniente anualmente do exterior para o mesmo pais na mesma época. Ainda, para se ter uma Idéla de um valor atual correspondente, seria ela equivalente a algo como USS 23 bilh3o como proporcéo das exportagies, brasileiras (metade do total anual), ou a US$ 35 bilhdo, como proporgéo do maior Produto Nacional do mundo (0,7%, entdo da Inglaterra, hoje dos EEUU). Por qualquer critério, pode-se aflancar que constitula uma amarracdo adequada = © que posteriormente foi ainda reforcada por uma politica de comércio exterior pela qual o Brasil sustentava um déficit, nna balanga comercial por um perfodo de quatro décadas, aumentando evidentemente sua divida ainda mais. Independéncia ou dependéncia? Com a constituico do Estado independente, e estando as questées de ordem institucional e econémica resolvidas, opera-se a tranformacdo que permite 2 preservagio da ordem econémica e social. O que era exploracéo colonial torna-se expatriacéo de excedente, O que era determinado de fora passa a ser determinado de dentro, O que era colénia, passa a ser nacdo-Estado, ainda que 'do Terceiro Mundo’, ou 'dependente’. Esse ultimo ponto requer esclarecimento. Em meio a, e apesar de, sua interpretacdo da constituicdo do Estado brasileiro sobre o qual nos apoiamos no que precede, Emilia Viotti escreve em conclusao do ultima de seus parégrafos citados acima Independent de Portugal, 0 pais passou a tutela britnica. (p.122) Ou seja, permeia a interpretacdo a idéia da dependéncia, isto é, a determinacéo externa da natureza do Estado recém constituico e dos processos de reproducdo de sua sociedade, "Teoria de dependéncia’ d parte, a mesma idéia permeia a malaria até mesmo das interpretagées mais poderosas sobre o Brasil. Em outra formulacdo Calo Prado Junior sugere igualmente a idéia de um fracasso frente a circunstancias externas: © Brasil ja com tantas dificuldades para sair deste sistema que Ihe tinham legado trés séculos de formagao colonial, e ‘em fungao do que se organizara sua vida, assistia agora a seu reforgamento ...(Prado Jdnior,1945:134-5), © Chico de Oliveira entitula sua indagacio sobre os processos intemnos da economia brasileira de A economia da dependéncia imperfeita (Oliveira, 1977): dependéncia, ainda que imperteita ... E Nicia Vilela da Luz interpreta as lutas em torno da industrializacao no Brasil como sendo uma luta pela sua industrializacao (Luz,1961). Também Faoro produz colocacdes dubias, como ao notar que "(a) tela comercial, armada nos focos diretores do mercado mundial, no aniquila a autonomia nacional,” ou ao ver no Brasil de 1850 um "pals dependente, mas nao dominado." Trata-se de pér & histéria em pé. Isso requer mals que corregdes de enfoque ou a procura de respostas a questdes que j8 encerram 0 conceito de dependéncia (além do pressuposto de uma comunidade nacional de interesses) a priori, tais como: Porque o Brasil no conseque sair da dependéncia? ou: Porque o Brasil ‘ndo dé certo’? € necessério reconhecer a especificidade da sociedade brasileira tal qual ela & -e no com referéncia a algo que ela 'deveria ser’, ou ‘poderia ter sido'- © explorar a dialética do processo de sua reprodugio. A import&ncia prética de tal enfoque vem do fato de que as interpretagSes alternativas, como o (sub-) desenvolvimentismo, de cunho naturalista, ou 0 dependentismo, ce fliacdo estruturalista levam, além de obstrucdo da andlise, 3 imobllizagao da acdo politica. 34 em 1972 Chico de Oliveira alertou, que a teoria do subdesenvolvimento sentou as bases do ‘desenvolvimentismo' que desviou a atengdo tebrica ea a¢ao politica do problema da luta de classes... A teoria do sub-desenvolvimento foi, assim, a ideologia prépria do chamado periodo populist’ Aalerta referente a teoria do subdesenvolvimento vale igualmente para a teoria da dependéncia, e isso, no obstante 0 fato dessa colacar-se como uma critica daquele. Pois se 0 primeiro coloca as ‘causas’ do subdesenvolvimento na natureza, assim como preconiza desenvolvimento como caminho ‘natural’, o segundo situa a causa da dependéncia no &mbito das relagdes internacionais (imperialismo, trocas desiguais etc.) promovidas a verdadeiro Deus ex machina, A atitude condenatéria da teoria de dependéncia a tal estado de coisas pouco adianta, assim como o reconhecimento de elementos internos (burguesia ‘nacional’, ou 0 préprio Estado) como sécios menores com interesse na manutengo da ‘dependéncia’. Em ambos os casos, no essencial, os males da sociedade brasileira originam-se fora dela e assim, sua solugdo fica fora do alcance dos brasileiros -fato esse que explica o sucesso de que ambas as interpretacdes desfrutavam e 2 facilidade com a qual a ideologia consegula incorporar e neutraliz-las na pratica, dada sua compatibilidade de fato com a manutengio do status quo. A exploracdo da dialética da sociedade brasileira exige conceitos novos, correspondentes especificidade do proceso em questdo, tals como, acumulagdoentravada como distinto tanto de exploracao colonial quanto de acumulacao capitalista em geral, e expatriaco de excedente como distinta de 'produgo para exportacgo' ou ‘troca desigual’. Na histéria em pé, 2 sociedade colonial forjada por forgas externas (da metrépole) constituiu, na Independéncia, as condigées de sua reprodugao por suas préprias forcas, A base institucional dessa reproducao é o Estado, criado precisamente com este fim. Sua base de producio material é a acumulacao entravada e que determinaria sua evolugdo futura. No que segue, esbocamos uma interpretaco dessa tltima, um processo de expatriacao de excedente que toma o lugar da exploracdo colonial. 2 Expatriagao de excedente no estagio extensivo Receava [José da Silva Lisboa, em 1808] pois, que uma politica industrial de auto-suficiéncia ‘causasse danos aos interesses predominantemente agricolas do Brasil Nicia Vilela da Luz A luta pela industrializagao do Brasil, 1961 Embora com a Independéncia a escravidao nao fol abolida, nem tampouco, e apesar de todos os esforcos da Inglaterra, o tréfico de escravos foi extinto, o trabalho assalariado estava se generalizando rapidamente no Brasil, fato esse do qual a Le/ da Terra e a aboliclo do tréfico negreiro, ambas em 1850, constituem apenas 0 reconhecimento a0 nivel institucional, em vista da faléncia de fato do trabalho escravo, Assim, sendo a relagdo salério o préprio fundamento da produgio capitalista, a especificidade do processo de reproducio social no Brasil deve ser definida em relagdo a esse mesmo modo de producéo. Uma sociedade capitalista é movida pelas forcas antagénicas originadas na tendéncia para a generalizaco da forma- mercadoria no mercado unificado dentro do arcabouco de uma naco-Estado, resultando em um processo de acumulacdo auténomo. Os limites 8 generalizagao da forma-mercadoria impdem a intervengao estatal com producdo direta de valores de uso, Tal ¢ a dialética da forma-mercadoria, em que a produgao é organizada pelos processos simulténeos ¢ antagénicos de mercado e de intervenco do Estado, sendo postulada a primazia dos primeiros. No estagio de acumulagio extensiva a expansio da forma-mercadaria procede relativamente cesimpedica predominantemente mediante a extenso da produg3o de mercadorias 4s custas de formas ndo-capltalistas de producdo. 34 no estégio intensivo, em que a expansio da producio fica restrita essencialmente ao aumento da produtividade do trabalho, o antagonismo entre mercado e Estado atinge novo patamar, porque a intervencio do Estado (planejamento, produgao do espaco etc) ~que nega a forma-mercadoria, ainda que seja necesséria para sua preservacdo- se intensifica e @ reassergo da primazia da forma-mercadoria -a negacdo da negacdo- torna-se cada vez mais problematica. 46 0 processo de produclo e reproduséo social no Brasil, como vimos, ficou subordinado na Independéncia aos requisitos da reproduco das condicées de dominacao por uma elite, anteriormente colonial. Ao nivel das relacées socials @ sociedade brasileira se diferencia no capitalismo por ser uma sociedade de elite, como distinta da burguesa, onde a reificacdo das relacdes sociais ndo Puceelape completa, como nem poderia ser, uma vez que no predomina o principio da generalizacio da forma~ mercadoria, No que toce & organizacéo da produsdo, os mesmos requisites se traduzem na primazia da expatriagdo de excedente sobre a acumulaco no mercado interno e assim, sobre a prépria dialética da forma-mercadoria (que demandaria a generalizagso da forma-mercadoria na mais larga escata possivel, sendo limitada téo-sdmente pela ac&o antagénica, se necessaria, do Estado). Uma dialética da acumulacao entravada toma o lugar da dialética da forma-mercadoria, e cuja historia é @ recomposigéo/reimposigéo da primazie da expatriacdo de excedente sobre a acumulagao através de crises sucessivas. As crises so geradas pelo antagonismo entre a expatriagéo de excedente ¢ a acumulagio - de maneira similar 20 préprio processo de exploracao colonial ja discutido, a diferenca que nesse ultimo tals crises eram resolvidas pelo confronto entre forcas internas, de um lado, e externas colonia, do outro lado. No processo de acumulagao entravada uma parte substancial do excedente € continuamente retirada e enviada além das fronteiras, ao invés de ser Incorporada a reproduco ampliada. No entanto, ainda assim hé uma certa acumulaco (correspondente a parte nao expatriada do excedente), sendo essa Ultima uma condigao da expansao do excedente expatriavel, ou seja, imposta pelo préprio principio de maximizacdo do excedente expatriado. Uma vez que 2 produco -e assim, também 2 producdo de excedente- é baseada em trabalho assalariado, a forca de trabalho deve se expandir e com ela, a massa salarial, por sua vez, deve pelo menos acompanhar a taxa de crescimento da forca de trabalho -mesmo que o nivel salarial seja mantido baixo-, resultando em uma expanso correspondente do mercado interno. Por mais restrito que seja esse mercado, a saber, aos bens de consumo dos trabalhadores assalariados (por razdes as quais voltaremos, uma atrofia crénica é imposta sobre o Departamento I, de melos de produgdo, por um lado, e por outro, a produgao para subsisténcia é histdricamente alta, ainda que em queda com o recuo paulatino das ‘fronteiras' de expansio), 2 esse nivel prevalecem as lels da acumulacao € levantam forcas antagénicas & expatriacio de excedente. ‘Acumulacao desimpedida no mercado interno tanto requereria quanto induziria o pleno desenvolvimento das forcas rodutivas e em particular o fortalecimento da burguesia que em ultima instancia acabaria por desafier a dominacao da elite enquanto classe. Por essa razo a mesma é impedida a todo custo, através do desmantelamento sistematico do desenvolvimento embrionério da industria por uma variedade de meios tals como, medidas fiscais, monetirias e financeiras, complementados por uma politica ‘liberal’ de importacdes centrada nas industrias estratégicas da respectiva época (particulermente, dos meios de producdo, donde a atrofia do Departamento I mencionada acima). Ciclos sucessivos de ‘substituicdo de importacées' so, ainda assim, necessérios devido a restricéo da balanca de pagamentos; quando a mesma se manifesta, as indiistrias dindmicas (que variam de acordo com cada época) séo entregues ao controle de capitais estrangeiros, ou em muitos casos sero constituidas em empresas estatais, que ndo criaro, nem os primeiros nem as segundas, forcas internas que desafiariam a posicdo da elite. O resultado até a virada do século XX ¢ ilustrado por um depoimento da época: Cerca de 85% da atividade comercial nao nos pertencem e nao ficam no pais; 0s fretes de navegagao, os lucros dividendos de bancos, de empresas de seguros de toda espécie, de alugueis de prédios, o salario devido ao trabalho nas fazendas de café etc, e tudo isso em larga escala, aqui nao fica e sai do excesso do valor de nossa produgao agricola sobre o valor qué importamos. Cerzedelo Corréa, 1903 (citin Luz,1961:81) Exemplos mais recentes so 0 caso da industria automobilistica dos anos 1950, intelramente em maos estrangeiras desde o principio, ou da industria eletro-eletrénica durante os anos sessenta, quando uma industria nacional nascente fol levada & faléncia ou depreciacéo através de politica recessiva e ento entregue ao capital estrangeiro (dai ‘entreguismo'). Tais indistrias so protegidas total ou parcialmente de competigdo quer seja interna quer externa, com a consequéncia adicional que por um lado, elas operam a taxas extremamente elevadas de lucro e por outro lado, e 0 que é mais importante, o estimulo ao progresso técnico é removido. Nas crises provocadas quer por uma restricdo da balanca de pagamentos quer pelo excessivo fortalecimento da producdo nacional no periodo antecedente (a um ou outro dos polos entre os quais se tende a acumulacgo entravada) +e tipicamente, em periodos de crise mundial em que se afrouxam os vinculos externos-, as forcas a favor e contra a manutencao do status quo entram em conflito aberto. Tais crises atravessam a historia brasileira em uma aparentemente infindavel sucesso desde a transmigracdo da corte de D.Joo VI (1808) de geracdo em geracéo, dando a aparéncia de uma 'socledade sem histdria’ onde se aplicaria o adagio "Plus ca change, plus c'est la méme chose", como lembra Florestan Fernandes. (A frase de Lampedusa: ‘€ preciso mudar, para que tudo possa permanecer © mesmo’, vem da Ttélia num estdgio em muitos aspectos semelhante,) A histéria parece estancar. De fato, o que ¢ 0 ‘mesmo nessas crises é que elas foram sempre resolvidas até hoje a favor da re-imposico da primazia da expatriacéo de excedente sobre acumulagao. No entanto, acumulacio-com-expatriaclo-de-excedente sé é possivel a taxas muito elevadas de excedente, como aquelas permitidas por um estégio de acumulagao extensiva, em que a taxa de expansdo é igual a taxa de excedente prépriamente dita (dentro da produgdo de mercadorias) mais a taxa de extensdo da produgdo de mais-valia (isto é, da prépria producdo de mercadorias & custa de outras formas de produce), onde a segunda é a parcela mais Substancial. Nessas condigbes, uma parte do excedente € expatriada e ainda assim sobra algum para acumulacio - ainda que acumulagae entravada, (© mesmo néo ocorre com a passagem ao estdgio de acumulagao intensiva, em que a taxa de expanséo se restringe 8 taxa de excedente propriamente dita proventente exclusivamente do aumento da produtividade do trabalho, e 0 excedente resultante ento pode ou bem ser expatriado ou bem ser utilizado em reprodugdo ampliada, isto é, acumulado. Com a exaustéo do estdgio extensivo acumulaco entravada torna-se impossivel. Assim, 0 que no & ‘0 mesmo’ na histsria brasileira sao as condigées em que a primazia da expatriacdo de excedente tem sido re-imposta mesmo durante estégio extensivo, com o paulatino crescimento do peso relative do mercado interno e das forcas socials correspondentes, e decididamente diverso é as condiges em que aquela primazia pode ser reimposta agora, findo aquele estégio. 3A crise atual e as questées urbanas [Outra tarefa gigantesca:] reintegrar o pais dentro (sic) de sua linha histérica Presidente do Brasil, 2junho 1988 ‘A exploracdo da dialética da acumulaco entravada, processo especifico de reproducdo social desde a Independéncia até o fim dos anos 1970, e especialmente sua vinculaco ao estgio extensivo permite uma interpretacao da crise que se Implanta no inicio da década de 80 e que ainda esta por ser resolvida. A exaustdo do estagio extensive no Brasil Implica a exaustdo da acumulacao entravada, e a crise precisa ser resolvida mediante um embate entre as forcas socials: seja, por um lado, a favor da manutengdo da primazia da expatriacdo de excedente -e da sociedade de elite- que no entanto implica agora a anulacio, e néo mais mero retardamento, da acumulaco, vale dizer, da propria reproduc3o ampliada; seja, por outro lado, a favor do principio da acumulacdo com a passagem ao estigio de acumulacdo intensiva, que implica por sua vez a anulagéo da expatriago de excedente -e na transformacao da sociedade que nele se sustenta, As implicagées da resolucdo especifica da crise pera as ‘questées urbanas’ em geral e @ infraestrutura urbana em particular prendem-se as diferencas nas condicdes de reproducSo da forca de trabalho nas duas perspectivas delineadas. A primeira, da manutengo da expatriacéo, significa uma involugSo das forcas produtivas com a cessaglo da reprodugao ampliada, a suspensso do progresso tecnoldgico (deve estar claro que as 'zonas francas'e fiiais de empresas estrangeiras no so focos de irradiacéo de técnica avancada), e o rebaixamento do nivel de subsisténcia do trabalhador. A segunda, acumulaggo desimpedida implica na transigéo para o estagio de acumulaséo intensiva suportada no aumento da produtividade do trabalho e consequentemente, com a elevacdo do nivel de subsisténcia da forca de trabalho, Ora, as aglomeracées urbanas séo o local precipuo da reprodugio social. A elas cabe o papel de assegurar as condigies de reproduc da forga de trabalho, aos niveis requeridos pelo estgio de desenvolvimento da sociedade. No passado, assistimos & miséria urbana que acompanha o estagio de acumulacdo extensiva, e no smente no Brasil, endo em todos os lugares histéricos - recordemos apenas Os miserdvels de Victor Hugo ou Oliver Twist de Dickens, Quanto ao futuro, abrem-se duas perspectivas de encaminhamento da politica urbana de acordo com as alternativas histéricas abertas ao Brasil. Dessas, a primeira na ordem acima citada, ou seja, a reimposi¢ao da expatriacao de excedente, nao vale o papel gasto em seu esbogo. Seria a ‘bolivianizagao’ do pais, conforme preconizado recentemente (1988) por um ministro de Estado. J4 a segunda, ou seja, a transicSo para 0 estdgio intensivo com a transformacdo da ordem elitista em ordem burguesa, deve -conforme eu havia argumentado em outro lugar- impor sobre as aglomeracées urbanas requisitos de performance, alguns a um patamar nitidamente superior aos atuais, ¢ outros inteiramente novos, Tal performance dever naturalmente ser assegurada por uma infraestrutura urbana relativa 2 todos os aspectos da reproducso social, da producao de mercadorias & reproducao da forca de trabalho, Para tomar apenas um exemplo, o transporte urbano nao poderia continuar em seu estado de virtual abandono e preso a técnicas obsoletas. Em particular, o ritmo histérico de implantacdo dos Metrés de Sao Paulo e Rio de Janeiro, equivalente a 2km de linha por ano na primeira dessas cidades, é insuficiente para sequer acompanhar o ritmo de crescimento de sua aglomeragao urbana. Uma altera¢ao qualitativa de tal quadre Implicaria em algo como a quintuplicacao do volume de investimentos para em torno de 0,5% do Produto Nacional por um periodo como 15 anos, para se chegar a uma rede da ordem de 300km de extensdo, o que deixaria o indice de atendimento a nivels ainda baixos segundo padrdes internacionais ~inclusive os latino-americanos-, mas ja seria compativel com uma elevacdo considerdvel da produtividade do trabalho. Consideraces semelhantes valem também para outros elementos de infraestutura, como telefonia e telecomunicacies, saneamento basico ou equipamentos e servicos de satde educacdo. Trata-se, em resumo, de uma mudanga radical endo apenas de grau, com 0 abandono do principio da escassez e sua substituicdo pelo reconhecimento das condigSes da reproducao social enquanto necessidade histérica, correspondente ao respectivo estagio de desenvolvimento. A ideologia promove, como diziamos, uma visio segundo a qual o processo de desenvolvimento é determinado externamente, fugindo ao alcance de membros da sociedade, Fomenta uma luta quixotesca contra inimigos imaginérios, promovidos sb nomes de pseudo-conceites -difundidos pela ‘grande’ imprensa e por boa parte dos intelectuais que, coletivamente, os produziram-, tals como fantasma da inflacéo, espectro da recessao, problema da divida externa, ineficiéncia do Estado, fisiologismo de parlamentares ou atraso da sociedade em substitucSo dos respectivos processos concretos, e que so, na verdade, os préprios instrumentos de manutenco do ‘status quo’. Em contraponto, o enfoque sobre a dialética do processo social brasileiro permite romper a barreira ideolégica e Interpretar a atual crise pelo que ela é: uma crise de reprodugao da sociedade de elite no Ambito da acumuulagao entravada que -e apesar das tentativas de recomposico do status quo ante desde o abandono do II PND ha quase quinze anos-, mantém em aberto a questo mesma que todas as transiges, umas mais, outras menos, 'democréticas! pretenderam evitar, a saber: a questao da transformacao da ordem social, 4 Epilogo: 1990 “Por tras dos principes de 1850, por trés de Austria ¢ Prussia, estava a modema grande burguesia, rapidamente colocando-as sob seu jugo por meio da divida nacional,” Eu sinto ter de dizer que nesse parigrafo excessiva homenagem fo prestada a burguesia alema. Tanto na Austria como na Prissia ela tinha, de fato, a oportunidade de “répidamente ccolocar sob seu jugo" a monarquia "por meio da divida nacional", mas ela ndo se valeu desta ‘portunidade em qualquer dos casos. (..) Essa burguesia nao quer governar. Engels (1874) The Peasant War in Germany, Prefacio As interpretagées que precedem dizem respeito & histéria brasileira e & crise pés-76 da maneira como essa tiltima vinha se desenvolvendo nos anos 80 em geral. A realizacao do Seminario Repensando os anos 1980 no final de 1990 fornece, no entanto, oportunidade para se apontar alguns desdobramentos para além do simples empate de forcas socials que prolongava a crise. As respostas ou mesmo as implicacées da questo colocada pele eventual transformacao radical da economia e da sociedade brasileiras no bojo da transico para o estagio de acumulacdo intensiva foram simplesmente proteladas pelo Imobilismo do Governo Sarney. As indefinigées assim geradas em praticamente todos os nivels e mbitos da organizac3o social, levadas a0 paroxismo no final do mesmo governo e manifestas em hiperinflacao e ‘desassossego social’ iminentes, trouxeram um imponderavel como elemento novo, na forma da eleico de um presidente da repiblica inteiramente fora do espectro politico, vale dizer, dos partidos politicos estabelecidos. © novo governo anunciou no dia de sua posse uma reforma econdmica de tal profundidade que, se efetivamente implantada, leva a transformagao de algumas das caracteristicas seculares mais fundamentals da economia brasileira, referidas acima. Entre as medidas concretas esto o fim do financiamento automatico do déficit publico pela via da emissao de moeda, a unificacéo do planejamento, execugo orcamentaria e politica monetéria, a montagem de um sistema financeiro capaz de crédito de longa maturacdo, e drastica reducSo da imunidade fiscal -tantas condicdes elementares de uma estrutura de produgo regulada sob a primazia do mercado. Nesse mesmo sentido, a reforma Inclul ainda a extingdo (ou o antincio de intengdo para tanto) das muletas para Indiistrias selecionadas (subsidios, cartéis, monopélios, nichos de protec3o), assim como a montagem de sistema de financiamento do comércio exterior (até hoje dependente de crédito de curto prazo levantado na praca de Nova York), e mais geralmente, favorecimento do desenvolvimento do Departamento I (de producdo dos meios de produgao), estimulo ao progresso técnico e correspondente elevacio dos salérios e primazia do mercado interno, No todo, tal reforma, sempre se implantada, equivale & remogo dos entraves auto-impostos 8 acumulacdo na economia brasileira. Por essa razo, de vez que uma tal transformagao implica na transformacao da prépria sociedade -que deve perder seu cardter de elite-, a 'reforma’ equivale também a uma revoluc3o. Uma revolucao ‘por cima’, oriunda que ¢ da ciipula do poder executivo, ¢ deixando a questo maior escancarada: qual a sustentaco -se houver~ para a efetiva implantacSo de tal ‘reforma'? von Bismarck Collor de Mello? Bismarck nunca teve a sombra sequer de uma idéia politica original e era bom apenas em se apropriar de idéias toda-feitas de outrem, Mas tal estreiteza era sua sorte, Sem ela nunca poderia ser ele capaz de perceber @ Historia sob o ponto de vista exclusivamente prussiano. ...Sua forga de vontade nunca o desertou ... e que se transformava frequentemente em pura brutalidade. E era esse, acima de tudo, a chave de seu sucesso. Todas as classes dominantes da Alemanha, tanto os Junkers como os burgueses, haviam perdido suas energias a tal pponto, ser sem-carater tornou-se téo generalizado na Alemanha ‘educada’, que o Unico dentre eles que ainda ostentava forga de vontade, tornou-se par isso sé seu maior expoente - e tirano, segundo cuja misica dangavam até mesmo contra seu melhor juizo natureza. Bismarck realizou os anseios da burguesia alemé contra sua prépria vontade. (...) A Prussia tornou a ser uma Grande Poténcia, @ nao mais a ‘quinta roda' do carro da Europa. A realizagao das aspiragdes nacionais da burguesia la de vento em popa, mas © método escalhido nao fol o método liberal burgués. ... Bismarck executava ‘seu programa nacional com uma velocidade e precisao que os enchia de espanto, Engels, The role of force in history 1888, As reages & reforma econémica -prontamente denominada de ‘Plano, como € habito, j& preconizando seu 'fracasso’, também, como de habito-, iam do espanto, incompreensdo e retérica vazia, a indignagio, édio vociferante sabotagem. Membros individuais da elite (os ‘eleitos') davam vazo descontrolada a sua frustraco nas formas mais variadas e frequentemente pitorescas, enquanto sua ‘grande’ imprensa tratava de defender ‘os trabalhadores' contra 0s efeitos maléficos da reforma cujo sentido era precisamente romper o impasse que jé durava quinze anos, mantido a todo custo em nome da continuidade ¢ do consenso e que jé havia resultado no que nao péde deixar de ser chamado de década perdida. Os partidos politicos de direita foram jogados em total desorientagao, enquanto os ‘de esquerda’ optaram pela oposicao automatica a politica de um governo que sé podia ser visto como ‘de direita’ enquanto se recusavam terminantemente 2 sua andlise concreta. O resultado foi uma gigantesca cortina de fumaca que impedia, a0 nivel politico, qualquer posicionamento mais explicito a favor ou contra o contetide efetive da transformacso preconizada na reforma, Os representantes dos ‘eleitos’ no Congreso (auto-denominados de representantes do 'povo") desdobravam-se em zélos para ‘defender’ os salérios dos mesmos trabalhadores, estando empenhados, de fato, no restabelecimento do status quo ante. Seus 'economistas’ alardeavam os efeitos recessivos do ‘plano! -como se em alguma economia @ producdo pudesse ser reorganizada sem uma queda da taxa de lucro ou de consumo-, preconizavam seu iminente "fracasso’, e pontificavam a dependéncia do pals de investimentos e de tecnologia estrangeiros, re-entoando a ladainha dos ‘liberais' do século passado e de sempre. Aparentemente, tudo como dantes, no quartel de Abranches .. No entanto, apesar da generalizada resisténcia & mudanga, nao emergiu qualquer projeto alternativo e assim, € somente por isso, a reforma vai se implantando aos trancos e barrancos e no reconhecimento recalcitrante da absoluta falta de alternativa, “Alternativa", no caso, seria a continuidade, o 'consenso' -isto é, a manutenco da acumulago entravada, expatriago de excedente e sociedade de elite- e isto, como vimos, é estagio superado devido & exaustéo do estagio de acumulacao predominantemente extensiva, Assim, a reforma é menos um grande designio, um ‘nove projeto para o Brasil! que mera falta de alternativa para o desenvolvimento das forcas produtivas, devido & inviabllizagio de acumulaco com expatriacéo de excedente. © que caracteriza as posiges assumidas, de um lado e outro, é a virtual auséncia de uma ideologia que as acompanhasse. Com todos os problemas da ideologia liberal jé assinalados, ficou ela por demais associada manutencao do status quo para dela ser descolada de repente e poder ser utilizada pelo projeto oposto, e isto, apesar de que por seu contetido, a este teria melhor aderéncia. Em conseauéncia, qualquer organizacao das posicées politicas segundo linhas partidarias (ou 'propostas claras’) fica virtualmente impedida. Dai o carater bonapartista, a aparéncia de uma ‘revolugao por cima’: contra tudo e contra todos, Fernando Otto von Bismarck Collor de Mello vai se mantendo como instrumento de uma transformacao social profunda em fermentacéo, ‘A menos de um ano de seu governo -ao se escrever as linhas deste epilogo, na tentativa de concluir uma Interpretagao da crise dos anos 80- permanece, é claro, em aberto o desfecho do processo em curso, Sabemos que (Wyransformagées sao incubadas por muito tempo em segredo antes de se fazerem sentir violentamente na superficie Um relato certeiro da histéria (econdmica) de determinada época nunca pode ser produzido contemporaneamente, tao- somente em um momento subsequente, Menos ainda seriam autorizadas previsées -que seriam necessariamente profecias- sobre quais das forgas em oposicao prevaleceriam em ditima instancia, ou mais exatamente, como elas mesmas iriam se transformar no processo do préprio conflito e que formas concretas -de organizaco social e de estagio de desenvolvimento- iria tal proceso produzir. O objetivo destas interpretacdes também ndo era mais que caracterizar as tendéncias em jogo, bem como 2 prépria natureza da respectiva transformacao social, ora em questéo. * Este artigo fol republicado em 1989 como o primeiro capitulo de Deak, Csaba & Schiffer, Sueli (1999) O processo de urbanizagao no Brasil, Edusp! Fupam, Sao Paulo Notas = 0 material deste capitulo foi originalmente apresentado no Seminario Re-pensando o Brasil dos anos 80, em novembro de 1990 e publicado em seguida na revista Espaco & Debates (32), como se esclarece nos pardgrafos introdutérios que seguem. A parte revises menores, o texto permanece inalterado, inclusive no uso de expressées que se referem ao tempo, tais coma, ‘atual’ ou ‘recente’ [1] *Preliminares para uma politica urbana”, Deak (1988). [2] Uma interpretacdo da crise brasileira implica necessariamente em uma periodizagio do capitalism. Assinale-se desde jé a oportunidade de atentar para o parentesco, por um lado, e sobretudo a diferenciagéo, por outro, da conceituacgo aqui proposta com respeito a outras periodizacées propriamente ditas ou conceitos Parciais correlatas mais ou menos em voga, tais como, pré-capitalismo, capitalismo monopolista, dependente ou tardio, regimes de acumulacdo extensiva/intensiva, Fordismo ou Fordismo peritérico. [3] A prépria palavra significa em latim simplesmente fazenda (unidade de produgao, no caso, agricola) [4] Isto se refletia, entre outros, na precariedade da estruture produtiva da colénia, se comparada com a colénia americana da Inglaterra que acabou perdendo seu controle. Por outro lado, a relativa fraqueza da es- trutura produtiva de Portugal permitia um desenvolvimento maior da reproduco brasileira local do que nas co- lbnias inglesas onde a Inglaterra seguiu a mesma politica de limitagdo da escala da exploracdo, 0 que es- tabelece uma especificidade do Brasil e também de algumas colénias espanhéis em relacéo as colénias inglesas e também francesas da Africa e da Asia. [5] Prado Jr (1945):134-5. [6] “Eram na maioria fazendeiros, altos funciondrios ou comerciantes respeitaveis. Ligados entre si por lagos de familia ...Constituiam uma verdadeira oligarquia depois da Independéncia, integrando [todos os escaldes governamentais]. Dirigiram o pais até meados do século.” Viotti (1968):118. 7] Citado em Viotti (1968):118. 8] Para a Inglaterra, Deane & Cole (1967), p.230; para o Brasil, Pinto (1968), p.141, [9] 0 custo total das Guerras NapoleSnicas para a Inglaterra fol estimado em £10 milhdo (David Harvey, 1979, em co- munlcago apresentada no Seminario: Crescimento e pobreza urbana, Recife, 1979); a renda externa anual ¢a Inglaterra em 1821, em £3 milhdo (Deane & Cole, 1967:36). 10] Entre 1823 e 1861 a balance comercial brasileira sé no era negativa em seis anos isolados e nesses, ere virtualmen- te nula (Pinto, 1968:144). O déficit acumulaco no periodo chegava a £31 milhdes (Prado Jr, 1945, Anexos) ~ para entao tornar-se positive e nunca mals cessar de alimentar a amortizagao da divida, 11] Faoro (1957):403 e 405 (na segunda citacdo, reticéncias omissas). [12] Oliveira (1972), p.10, 13] Igndcio Rangel jé em 1963 denunciava a ‘iluséo estruturalista’, que apresentava como uma situacdo de escassez aquilo que na verdade, era de abundancia ~no caso, da capacidade produtiva instalada (Rangel, 1963, p.28-35). Mantega faz reparo similar em relacao aos cepalinos e dependentistas cuja politica ‘de verniz naci nalista’ acabava por levar a ‘invaswo da economia brasileira pelos capitais estrangeiros’ (Mantega,1984, pp.39- 76). 14] A Lei da Terra institucionalizava uma pré-condigéo do trabalho assalariado, a saber, a destituigo do trabalhador de seu meio de subsisténcia, enquanto que a efetiva cessago do tréfico negreiro nos anos 1850- 51 (Bethell,1970) era a expresso de que sua concorréncia, o trabalho escravo, tinha seus dias contados. Assim a aboli¢&o da escraviddo em 1888 era pouco mais de mera formalidade, quando havia menos de 800.000 escravos no Brasil, para uma populagio de 14 milhées (Prado Junior, 1945:181): os escravos consti- tuiam menos de 20% da forca de trabalho, e se considerada sua produtividade, seu peso na producdo era menor ainda [15] A dialética da forma-mercadoria e as questdes correlatas aqui resumidas so discutidas em mais detalhes em Deak (1985), especialmente pp.168ss e 2275s, e Dedk (1986). Aqui lembremos apenas que neo-liberalismo consiste precisamente na tentativa quasi-desesperada de combater a tendéncia de expansao do Estado no atual estégio intensivo do capitalismo (vide 'Thatcherismo' e 'Reaganismo’), intelramente sem sucesso, diga-se de passagem: de fato, privatizagdo nao é 0 mesmo que mercadorizacdo: em uma dialética a negacdo da negagdo no restitui a tendéncia negada. [16] Hé uma tese polémica de Perry Anderson (Anderson,1987) severamente criticada por Barratt Brown € outros, segundo a qual na Inglaterra teria havido "por 300 anos, uma hegemonia da aristocracia e da nobreza latifundidria ligadas a uma olgarquia financeira, com uma burguesia industrial subordinada” (no resumo de Barratt Brown, 1988 pp.36-7). Este ndo é o espaco para entrar no mérito dessa questo, no entanto é de se as- sinalar, tendo em vista a busca da especificidade da sociedade brasileira, que seja elite (com Anderson), seja uma fracdo da burguesia ligada ao ‘setor’ externo (com Barratt Brown) aquilo que se contrapde 8 burguesia in- dustrial ligada & produgdo nacional, sua sobrevivéncia/ fortalecimento depende (no que concordam Anderson € Barratt Brown) do fortalecimento dessa Ultima, de maneira que seus interesses de classe so 0 mesmo, @ sa~ ber, acumulagao em produséo. O conflito entre tais fragées de capital é apenas um dos muitos que decorrem das contradicBes do capitalismo, tais como conflitos de interesse entre capitalistas individuais e entre estes capitalistas como classe, mas os interesses de classe acabam prevalecendo (e impdem a primazia do principio da acumulagéo), a0 passo que no Brasil, pelo contrério, a sobrevivéncia da elite depende do ndo-fortalecimento da burguesia, como sera discutido adiante, [17] Referimo-nos aqui a medidas tépicas apenas, tais como uma elevacdo excepcional da taxa de juro ou uma restrigéo excepcional do crédito. Na verdade nunca houve um sistema de crédito no Brasil, nem sistema financeiro digno desse nome, e que sbmente poderia ser assegurado pelo Estado - se se quisesse assegurar condigées de desenvolvimento producao, algo contrério a hipétese, como estamos tentando mostrar. Consequentemente, “enquanto na Europa pagava-se de 4 a 5 por cento (de juros sobre o capital), no Brasil cobrava-se de 8 a 10 por cento” (Luz, 1961:37). 18] Sacrificava-se a producSo dos meios de produc&io em nome de uma ladainha que focalizava os melos de consumo, do tipo: “a finalidade da indistria... é tornar possivel o maximo de consumo... aumentando o poder aquisitivo do homem e diminuindo o prego dos produtos” (Joaquim Murtinho em 1901, cit.in Luz, 1961:87), [19] Como no relato magnifico de Vilela Luz. As crises observam uma periodicidade de 20 @ 30 anos e uma semelhanca espantosa na retérica utilizada, no desenrolar € no resultado. 20] Fernandes (1972):36. 21] Este provavelmente é também o ponto em que as histérias dos paises latino-americanos divergem e a azo que previne contra generalizacées e comparagées de resto atraentes, mas que requereriam uma interpretacdo similar especifica para cada pals. 22] Gazeta Mercantil, 3.6.88:1, [23] Sobre a especificidade do conceito de ‘urbano’, eu argumentava em Deak (1986), que a tinica es- Pecificidade, isto é, sentido, que se pode atribuir a esse termo é aquele que 0 mesmo adquire na expresséo ‘aglomeragdo urbana’, sendo essa Ultima um adensamento dos processos de reprodugdo social, onde algumas contradicdes do capitalismo manifestam-se em conflitos particularmente agudos ou intensos. Séo esses con- flitos que tem sido erigidos em ‘problemas’ ou ‘questées' urbanas em seu préprio direito e analisados enquanto tals por disciplinas fragmentadas como “urbanismo” ou sub-fragmentos de disciplinas ~jé fragmentadas- tais como “economia”, “sociologia”, "geografia” etc. “urbanas”. 24] Dedk (1988) [25] Uma quantificacgo da demanda por transporte coletive para Sao Paulo, assim como uma anélise do investimento para atendé-la, encontram-se no Capitulo 9. 26] Engels (1888):56-8; 61-7. 27] & espantosa a facilidade com a qual se propagam idéias tais como aquela segundo a qual o Brasil ‘precisa’ de investimento (ou empréstimo) estrangelro (para sustentar taxas de crescimento acelerado, ou 'viabilizar o crescimento’) por falta de 'capacidade de poupanga’ interna. Tal concepcao, além de compartilhar @ nogao, ja referida, de que os destinos do pais residem fora dele, ignora o fato elementar de que o investimento externo (‘direto') nunca chegou a 1% (-um-por-cento-) do PIB nas iltimas trés décadas, a excecio de 1973, ano em que estabeleceu o recorde de 1,1% (cf. Tabela 1 em Anexo). jé se disse até que o ‘milagre brasileiro’ também fol ‘financiado' pelo capital estrangeiro, quando o pais manteve uma taxa de investimento de 23-27% do PIB, sustentando uma taxa de crescimento de 9-14%, sem qualquer ‘contribuicéo' externa: o investimento direto jé foi comentado, mas mesmo a ‘entrada liquida de capital’ (que j inclui empréstimos) era virtualmente ula em um primeiro periodo (de fato, acumulou em saldo negativo no quadriénio 1968-71), para em seu auge subir a um pico de 4.5% do PIB em 1972 (e se manter acima de 2% por mais dois anos), inteiramente desne- Cessaria para acelerar 0 crescimento que ja estava acima de 11% ao ano ~e boa parte dela ser simplesmente entesourada na forma de aumento das reservas internacionais, como assinala Cruz (1983) :65ss (ver também itens selecionados das contas nacionais da referida Tabela 1 do Anexo), Contra esse pano de fundo e tals ordens de magnitude, é ridiculo esperar que a taxa de investimento extremamente baixa dos Uitimos anos (14% em 1990 [est]) possa ser elevada a algo como 25% do PIB com base em investimento estrangeiro (que, ademais, nos iltimos anos anda na casa de 3 a 6% negativos). Tal nivel de investimento, necessario para se alcancar uma taxa de crescimento da ordem de 6% ao ano, smente pode ser conseguida com base em uma politica econémica voltada para esse fim, com ~no & demais repetir~ a constituics0 de um sistema financeiro, crédito de longa maturagio, controle de monopélios, subsidio 8s industrias-chave, notadamente aquelas do De- partamento I, dos melos de produgao (ao invés da cana de acicar, por exemplo), politica tarifaria e cambial ativa etc. - vale dizer, 0 exato oposto da politica que histaricamente prevaleceu 28] Em retrospect, poderia parecer que 0 movimento da unificagdo alema sob a lideranga da Priissia, que transformou uma constelago de micro-principados de constituicgo arc ica (monarquia absolutista) em uma ago de primeira grandeza durante o meio século que vai do fim das guerras napoleénicas até 1870, e que desafiava a prépria preponderancia britdnica, era movido por algum grande designio, um projeto geo-politico de grande envergadura, concebido e executado por por alguém ou algum grupo politico ou classe social. Na verdade (ver Engels, 1888, pp.47-9), trata-se mais de um rumo seguido na falta absoluta de alternativas pelo desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. 29] Segundo tirada de Chico de Oliveira (Oliveira, 1990). Bonapartismo é precisamente a implantacdo, por meios néo-burgueses (ou ‘liberais'), de um projeto ndo-hegeménico (por néo estar apoiado em uma ideologia) no interesse da burguesia enquanto classe, mas contra a vontade expressa de seus préprios membros (vide Engels, 1888) [30] Engels (1985) ,p.8, Referén ANDERSON, Perry (1987) "Figures of descent" New Left Review 161:20-77 BARRATT BROWN, Michael (1988) "Away with all the great arches: Anderson's history of British capitalism" New Left Review 187:26-51 BETHELL, Leslie (1970) A aboligdo do trafico de escravos no Brasil (A Gra-Bretanha, o Brasil e a questao do trafico de escravos 1807-1869 Expresso @ CulluralEdusp, Sao Paulo, 1976 ‘CRUZ, Paulo Davidoff (1983) "Notas sobre o endividamento externo brasileiro nos anos setenta” in Belluzzo,Luiz Gonzaga & Coutinho, Renata (Org, 1983) Desenvolvimento capitalista no Brasil, N°2/Ensaios sobre a crise Brasiiense, Sao Paulo DEAK, Csaba (1985) Rent theory and the price of urban land/ Spatial organization in a capitalist economy PhD Thesis, ‘Cambridge DEAK, Csaba (1986) "The market and the State in spatial organization of capitalist production” Comunicagdo apresentada & BISS 1986 -Bartlott International Summer School, Dessau DEAK, Csaba (1988a) "Preliminares para uma politica urbana" Espaco & Debates 24:7-13 DEAK, Csaba (1988) "The ctisis of hindered accumulation in Brazill And questions of urban policy" BARTLETT INTERNATIONAL 'SUNWER SCHOOL, Mexico, Proceedings, London DEAK, Csaba (1990) "Elementos para uma politica de transportes publicas em So Paulo" Espaco & Debates 20:42-55 DEANE, Phylis & COLE, WA (1967) British economic growth 1688-1959 CUP, Cambridge ENGELS, Friedrich (1885) "introduction" to MARX, Karl (1850) The class struggles in France, 1848-50 Progress, Moscou, 1979 ENGELS, Friedrich (1888) The role of force in History Lawrence & Wishart, London, 1968 FAORO, Raimundo (1957) Os donos do poder/ Formagao do patronato polltco brasileiro Globo, Rio de Janeiro, 1984 FERNANDES, Florestan (1972) “Classes sociais na América Latina" in Fernandes (1972) Capitalismo dependente o classes socials na América Latina Zahar, Sao Paulo, 1981 MANTEGA, Guido (1984) A economia politica brasileira Polis, So Paulo LUZ, Nicia Vilela (1961) 4 luta pela industrializagao do Brasil Alfa-Omega, Sao Paulo, 1975 MOTTA, Carlos Guilherme da (1968) © Brasil em perspectiva Difel, S40 Paulo OLIVEIRA, Francisco (1972) "A economia brasileira: Critica a razdo dualista’ Caderos Cebrap, 2:5-98 OLIVEIRA, Francisco (1977) A economia da dependéncia imperfeita Graal, So Paulo OLIVEIRA, Francisco (1990) "Fernando Otto von Bismarck Collor de Mello" Fotha de SP, 26.3.90:3 PINTO, Virgilio N (1968) "Balango das transformagdes econémicas no século XIX" in Motta (1968) PRADO Ji,Caio (1945) Histéria econdmica do Brasil Brasiliense, S40 Paulo, 1986 VIOTTI da Costa, Emilia (1968) " trodugo ao estudo da emancipagao polltica” in Motta (1968) Balango de pagamentos, Brasil 1959-90 Taxas de acumulacao, investimento e expatriacao Apresentamos aqui alguns itens selecionados das contas nacionais, agrupados de maneira 2 permitir uma avaliacio da evolugao recente da economia brasileira (1959-90) e do papel do capital estrangeiro, ou, em um sentido mais lato, das contas externas do pais, A evolucao do produto nacional é uma boa medida da taxa de acumulacio em si. 0 saldo da conta de capitals, isto é, conta de servicos mais empréstimos menos amortizagées, é uma medida razodvel da expatriacao de excedente (Tabela 1) -que admitiria a alternativa de se considerar o saldo da balanca comercial (exportages menos Importagies) menos a variacdo das reservas internacionais (Tabela 2), desprezando, no entanto, o déficit (ou mais raramente, superdvit) das transagbes correntes. Cruz (1983), por sua vez, deduz os servicos "de alguma forma produtivos" (fretes, seguros etc.) da conta de servicos, desprezando com isto o fato que tais itens so crénicamente rnegativos precisamente para a, ou em funco da, reproducgo do entravamento da acumulagéo. Por essa rezdo, nas ilustragées das Figuras 1-3, a expatriacao é medida pela primeira dessas alternativas. Brasil, 1969-90: TAMAS DE INVESTIMENTO, Fonmao brits de capital fee patcipagéo de cayitl astrangeina (639 aol do) x % " 186 ae | FRCr x 40 p\Piacae) Ke \ A me | VA A . ge Dv \A a KYA 8 Noy | “8 " PacSvisia fn Canons BLE Figura 1 Brasil 1959-90: Taxas de Investimento A Figura 1 representa simplesmente a taxa de investimento, medida pela formacdo bruta de capital fixo- FECF (azul) - -que determina em boa medida, a taxa de acumulacdo futura--, os investimentos externos diretos (vermelho) ¢ a conta de capital (verde), contra’o pane de fundo da evolugio do produto nacional- PIB (pardo), Brasil, 1958-90: EXPATRIAGAO E PIB gaa Efeito da expatriagao sobre ataxa de acum ulacéo (% soanoe do FB) fro goo igs tera. 1979 iggo 9851980 SY Expatriagde ©“ PIB histérise = —~ IB sermexnair Figura 2 Brasil 1959-90: Acumulagao e expatriagao Brasil, 1959-90. EXPATRIACAO E RENDA Efeito da expatriacdo sobte a renda per capite Usb det 960 inikaves) a Bipatiagdo (6 do FB wo STD LB Reiséic) = _-_R feemergabioggo) Figura 3 Brasil 1959-90: Expatriagao e renda As Figuras 2 e 3 poem em relacdo a taxa de expatriagdo de excedente (verde) e o PIB, e aquela e a renda per cépita, respectivamente. Elas apresentam a evoluc3o histérica (azul) de fato e uma evoluclo hipotética 'sem expatriacdo’ (vermetho), do produto nacional e da renda per cdpita, respectivamente, a partir da base de 1959. Se tais curvas chegam a ser indicativos do ‘efeito' da expatriacao, elas levam em conta apenas o efeito imediato, ano a ano, dessa Ultima, sem tais outros como a distribuicdo de renda ou o aumento da produtividade a longo prazo e so assim, meramente ilustratives das ordens de grandeza envolvidas. Tabela 1: BRASIL, 1959-88 PIB, BALANGO DE PAGAMENTOS E TAXA DE INVESTIMENTO (FBCF) US$ Correntes, PIB CONTA DE CAPITAL Expatriagéo Tx inv Tx jur ‘Ano PNB Crreal_Invd. Sorvigos Emprest Amortiz Saldo SIPIB FBCF j/Div (bi) (%a.a) US$ mi US$ mi US$ mi US$ mi US$ mi (%) _(%) (%a.a) m 2 8 (4 6 6 om 8) eB (19 1959 17.14 56 126-873 439-377-187 1.1 185 1960 1956 97 99 471 347-800-525 -27 - 1961 2244 10.3 108 -369 845-326-320. - 1962 2457 53 69 406 343-310-804 4.2 : 1963 25.94 15 30 833-262-364 405-16 : 1964 27.97 37 «28-259 226-271-2764 - 1965 3017 37 70 47 363-304-818 «1 161 = 1966 3254 37 74 $50 508-395-863 1.1 176 1967 35.09 37 76 824 512-447-383 1.1 17.6 1968 40.74 11.2 63 $82 700-809-428 1.1 19.8 0.3 1969 4667 9.0 136 © 630-1201 --701 «8S 19.8 Ot 1970 6352 88 122 818 1510 -687 130 0.2 206 08 1971 626 114 169 980 2037-850 376 08 21.3 2.4 1972 7299 119 337 125 4209-1202 3309 45 222 58 1973 87.96 139 974 -1458 4547 1662 2401 27 236 99 1974 103.64 83 945-2493 6891 1920 3483 3.4 247 13.4 1975 119.06 5.1 1007 3213 6530 -2120 2204 19 258 59 1976 138.02 102 1145 9919 7920 -2888 2258 16 250 67 1977 153.18 4,9 956-4134 8424 4060 1186 08 236 69 1978 173.22 49 1031 6037 13810 6324 3480 2 235 5,7 1979 200.91 68 1685 7778 11882 -7314 -1525 08 229 83 1980 2398 93 1487 -10182 10596 -5010 3079 -13 229 93 1981 250.34 -4,4 1795-13195 15554 -6242 2028 08 21.0 126 1982 275.51 0.6 1370 -17082 12515 6952-10149 -37 195 13.1 1983 281,82 -3.5 861 -19415 6708 -6863-12709 45 169 9.2 1984 308.64 5.1 1123 -13218 10401 -6468 8159 -26 162 104 1985 347.96 83 804 -12877 7078 -8491-13486 39 167 105 1986 986.76 7.6 120 -13694 3109 -11546-22251 58 190 - 1987 4139 3.6 669 -12678 3988 13819-21840 53 183 - 1988 427.11 -0.3 2445 -15030 2845 17087-26827 63 175 - 1989 457.52 3.0 3788 -14800 29612 33985-15385 -341 160 - 1990 466.3 -20 3256 -13783 2337 -7487-15647 34 150 9 - Fontes: [1] De [2] com 1980: Baer (1989):102; valores correntes segundo a inflagao do détar. [2] 1959-63:Baer (1989):61; 1964-70: idem, p.81; 1971-88: IBGE (1989); 1989-80: aprox. [3] 1959-76: IBGE (1968-76: inclui reinvestimento); 1977-90: CjEcon. [a] BCE. [5],{6] 1959-87: IBGE; 1988-90: CjEcon. [] 1965-9: Paiva of al (1987):181; 1970-88: IBGE (1989). [10] Taxa de juro real sobre a divida externa, BAER (1989): 106, Tabela 2: BRASIL, 1959-88 COMERCIO EXTERIOR, RESERVAS INTERNACIONAIS E EXPATRIAGAO DE EXCEDENTE (uss correntes) PIB COMERCIO EXTERIOR RESERVAS EXPATRIACAO(1) Ano US$ Corr Export Import Saldo Variagéo = US$bi Ex/PIB bn USSbi_ USSbi_--USSbi_ [31/12], (13-14) (%) iol oe) 13 [4] 15] (16) 1959 17.14 428 1.21 0.07- 0.0 1960 19.56 127 128-002 -0.02 0.00 = 00 1961 22.44 1401.29 om 0.20 009-04 1962 24.57 421 130 0.08 -0.20 on 04 1963 25.94 4411.29 on 040 001 00 1966-2787 1431.08 0.34 0.01 03513 1965 30.17 160 0.94 066 0.30 03 12 1966 (32.54 4.74 1.30 0.44 -0.10 05447 1967 35.09, 1651.44 o2t 0.20 04142 1968 40.74 188 1.86 0.03 040 007-02 1969 46.67, 231 1.99 0.32 040 0.08 0.2 1970 53.52 274 251 0.23 050 027 05 1971 62.60 290 325 034 0.50 084-13 1972 72.99 399 4.24 = 0.24 2.50 274 38 1973 87.96 620 6.08 0.12 220 208-24 1974 103.64 795 1264 «© -4.69 “110 359-35 1975 119.06 867 1217 3.50 “1.30 2200-18 1976 © 138.02 1013 1228-218 2.60 4750-34 1977 183.18 1212 12.02 0.10 0.66 056-04 1978 173.22 1266 1368) 4.02 484 566-33 1979-20091 1524 1796-272 221 O51 03 1980 239,80 20.13 22:96 = -2.82 2.78 005 00 1981 250.34 23.29 2209 1.20 0.59 081 02 1982 275.51 20.18 19.40, 078 351 429° 16 1983 281.82 21,90 15.43, 6.47 0.57 590 24 tos 308.64 2701 1392 © 13.09 743 566 18 1985 347.98 2564 13.15 12.49 0.38 1287 «37 1986 386,76 22.35 14.04 8,30 4.85 1315 3.4 1987 413.90 2622 1805 11.17 0.70 104728 1988 427.11 3378 1469 19.10 2.08 170240 1989 457.52 34.38 18.26 = 16.12 0.54 1558 3.4 1990 466.30 3141 2041 11.01 0.29 10.71 23 Fontes: [11], [12] 1959-88: IBGE; 1989-90: Gjécon. [14] Da posigao das reservas em 1988. Bacr (1969): 202; em 1960-76: Cruz (1983):61; em 1977-88: IBGE (1989), © em 1989-90: GjEcon (1988-USS8, 54 bilhdes), (em 31/12) Referéncias das fontes citadas: IBGE: Anuério estatistico IBGE (1988) Contas nacionais consolidadas do Brasil G)Econ: Conjuntura Econémica BAER Wemer (1989ed) The Brazilian economy Preager, New York PAIVA, Paulo et ali (1987) Plano Cruzado/ Ataque e defesa, Forense Universitaria, Rio de Janeiro @ Topo @ Pubiicagses

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