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A criação de Adão e o simbolismo do cérebro humano como criador da realidade

Em 1475 na comuna italiana de Caprese nascia um dos maiores artistas de todos os


tempos: Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ele desenvolveu seu trabalho por mais de
70 anos, foi pintor, escultor, escritor de poesias, dentre outras coisas.
Dois anos antes de Michelangelo nascer, vinha ao mundo o famoso astrônomo e
matemático polônes Nicolau Copérnico, responsável pela teoria do Heliocentrismo, a qual afirma
que ao contrário do que se pensava na época, a terra não é o centro do universo e sim o sol,
hoje considerada uma das teorias científicas de maior relevância de todos os tempos e um
grande marco para a divisão do que a ciência acreditava até então.
Freud coloca o fato da descoberta de que a terra orbitava ao redor do sol como a
primeira ferida narcisística pois essa traz a simbologia de que o homem não é mais o centro
universal, pondo em cheque toda a teoria abordada pela igreja até então.
Na época em que Copérnico descobriu esse fato, a igreja possuía uma enorme
relevância na sociedade, era ela quem criava códigos de conduta e ditava as leis e impostos a
serem pagos, tudo com a justificativa de que havia um Deus maior que vigiava e punia
severamente aqueles que fossem contra seus mandamentos.
Copérnico formulou sua hipótese durante mais de trinta anos, tendo que interromper
seus estudos constantemente com medo de ser morto pela inquisição que existia na época por
parte da igreja, qualquer pensamento contrário a ideia de que havia um Deus maior que
comandava e controla tudo era seriamente punido com a morte.
Por volta do ano 1508, o papa Julio II encomenda ao artista Michelangelo a pintura de
afrescos no teto da capela Sistina, todas as obras possuíam representações de passagens
bíblicas, dentre elas a mais famosa é o painel intitulado: a criação de Adão.
A criação de adão é a imagem do que seria o criador universal (Deus) criando o primeiro
homem, ou seja dando origem a humanidade. Em um primeiro momento não há nada demais na
pintura, existe nela uma grande concepção religiosa e o reforço a ideia do que a igreja gostaria
que as pessoas vissem na época: o homem sendo criado à imagem e semelhança de seu
criador.
Mas e se a obra quisesse falar algo a mais? E se Michelangelo estivesse querendo
mostrar suas impressões sobre o quê seria de fato o ponto de criação humano?
É fato que o artista era muito religioso, mas também é notável que a figura de Deus na
obra está dentro do que podemos perceber ser um cérebro humano, essa teoria é defendida por
pesquisadores da área da anatomia cerebral, ,mas refutada por estudiosos da arte, que vêem
essa hipótese como apenas uma coincidência simples.
Dentro da teoria dos que defendem a ideia de haver um cérebro escondido na obra de
Michelangelo, os pesquisadores afirmam que o artista tinha um conhecimento enorme no
processo de dissecar cadáveres, na opinião do neurologista Rafael Tamargo “Michelangelo
acreditava que o cérebro constitui uma parte muito importante da anatomia humana e por isso o
artista resolveu colocá-lo na criação do universo porque sabia que o órgão havia sido uma das
invenções mais brilhantes criadas por Deus (CAMARGO apud PEREIRA, 2010).
Havendo uma livre associação de que o cérebro humano está presente na obra de
Michelangelo, podemos pensar que o pintor poderia demonstrar que é nesse órgão que existe
todo o poder de criação do homem e que reside no fundo da mente o processo de enxergar e
validar toda a nossa existência.
É extraordinário pensar que em plena idade média, Michelangelo subverteu a lógica
para colocar o “Deus” habitando o homem e a ideia de que somos responsáveis e criadores de
nossa própria realidade a partir de nossos atos e ações.
Baseando-se ainda em uma livre interpretação da obra, podemos associar o “Deus”
presente na pintura como sendo o Inconsciente formulado por Freud, sendo esse lugar o
responsável por guardar os processos que não compreendemos ainda, nossos sonhos, as
memórias que foram banidas e até mesmo as emoções que reprimimos por algum motivo não
consciente.
É a partir do entendimento do inconsciente que podemos acessar padrões de
autossabotagem e ressignificar traumas e memórias de dor e sofrimento, além de nos
transformarmos como seres humanos.
O inconsciente ainda é um grande objeto de estudo e mesmo nos tempos atuais
continua-se a descobrir cada vez mais mistérios que envolvem essa parte da mente humana,
mas ao percebermos por interpretação livre da obra que há mais de quinhentos anos atrás um
artista talvez tenha previsto que existe em nós uma força criadora e geradora de significados
que faz com que sejamos responsáveis pela criação de nossa realidade é fascinante.

REFERÊNCIAS:
PEREIRA, Cilene. Os cérebros de Michelangelo. 2010. Revista Isto é. Disponível em:
https://istoe.com.br/86963_OS+CEREBROS+DE+MICHELANGELO/. Acesso em: 14
out. 202

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