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A BELEZA Artigos 17 Agosto, 2013 fossa Nada mais conhecido do que o sentimento do belo; nada mais dificil de definir do que a sua idéia. A Beleza produz dois efeitos nas pessoas: da-lhes prazer e provoca um juizo. O juizo estético é universal, isto é, quando afirmamos que certo objeto é absolutamente belo, todos devem estar de acordo. Aemogao estética é um sentimento agradavel, composto de simpatia, de prazer e de surpresa, que pode ser resumido em admiragao. Segundo S. Tomas de Aquino, a beleza é a ordem, isto é, a unidade na variedade. Poder-se-ia objetar que ha certa ordem, certa regularidade que nada tem a ver com a beleza. Por outro lado, dizia Boileau que “uma bela desordem € 0 efeito da arte” Toda a beleza é essencialmente expressiva; um objeto é belo por causa das idéias e sentimentos que nos sugere. A beleza é expressiva porque exprime a vida e, em particular, a vida da alma. No dizer de Platao, “a graga das formas provém de elas exprimirem, na matéria, as qualidades da alma”. Segundo diz Aristoteles na Poética, “toda a beleza deve-se assemelhar a vida”. A beleza € a expresso da vida, mas nao de uma vida qualquer; ha certas formas de vida que sao diminuidas, disformes ou abortivas da vida, que sao objeto de compaixao, de desgosto, de aversao e até de horror. O que excita em nds a simpatia, a admiracao, o entusiasmo, é a expressdo de uma vida rica, livre e harménica. Assim sendo, podemos definir a beleza como sendo: A expressao de uma vida particularmente rica, livre e harmoniosa, a qual sendo conhecida, estimula agradavelmente o uso de nossas faculdades representativas e emotivas: os sentidos, a imaginagao, a razao e o sentimento. Esta definigao retine e harmoniza todos os elementos essenciais contidos nas definig6es de Aristoteles, de S. Agostinho e de S. Tomas de Aquino. A BELEZA, A VERDADE E O BEM So intimas as relagdes e as analogias entre estas trés idéias, que muitas vezes se empregam para se definirem mutuamente. E conhecida a definicdo falsamente atribuida a Plato: “a beleza é o esplendor da verdade”. Outros definiram: a beleza € 0 esplendor do bem. O bem moral é frequentemente designado sob o nome de belo. De fato, 0 verdadeiro, o belo e o bem, em si mesmos, identificam-se no mesmo ser, do qual sao trés aspectos diferentes. Esta é a razdo porque Deus, sendo Ser absoluto, é também a verdade perfeita, a beleza suprema, e 0 bem infinito; por isso mesmo todo o ser vivente que 6, -e na medida em que é, — é verdadeiro, é belo e é bom Mas, ainda que no ser absoluto estes trés conceitos se identifiquem unidos, em relagdo ao homem eles sao distintos; isto porque o homem os identifica por meio de faculdades diferentes, o que obriga a distingui-los de maneira especifica, a semelhanga do prisma que decompée a luz nas cores elementares. O verdadeiro, percebido pela inteligéncia, 6 0 objeto da ciéncia; o bem, realizado pela vontade, € 0 objeto da moral; e a beleza, conhecida pela imaginagao e sensibilidade superior, é 0 objeto da estética. O SUBLIME, O BONITO E O FEIO O sublime nao é somente o belo no seu grau mais elevado. O sublime distingue-se essencialmente do belo, de acordo com Kant, que diz: “O sublime é a expressao sensivel do infinito”. O belo é a expressao harmoniosa da vida, em particular, da vida humana; 0 cardater do sublime é a intensidade, a ilimitagéo. O sublime pode encontrar-se no caos e até no horrivel, onde a imaginagao se confunde e a razao se espraia a vontade, estando ali como no seu elemento, pois nasceu para o infinito. O bonito, gracioso, lindo ou encantador, é forma inferior do belo. Entre o belo eo bonito nao ha diferenga essencial. “ bonito — diz Ch. Lévéque — ainda é belo, mas belo sem a grandeza, sem a amplitude, sem o brilho da energia do belo em toda a sua intensidade”. Assim, um carvalho secular, um grande lago, podem ser belos; mas um riacho ou uma flor, so sé lindos. O feio opée-se ao belo; o que nao significa que Ihe faltem todos os elementos do belo, mas simplesmente que lhe falta algum destes elementos em grau elevado. ABELEZAE AS BELAS ARTES A beleza fala a alma; excita a admiracgao e a simpatia. No dizer de Plotino, admirar é imitar; simpatizar é vibrar em unissono, e nao se pode amar uma coisa sem procurar assemelhar-nos a ela: Amor pares invenit aut facit. O primeiro efeito da beleza é, assim, levar-nos instintivamente a imitagdo e a reproduzi-la em nds. A admiracao, quando atinge determinado grau, estimula a atividade, provoca a exaltagao e, sob certas circunstancias, fecunda a inspiragao. A partir deste momento ja nao é suficiente compreender a sublime linguagem da arte; passa-se a desejar falar essa linguagem, isto é, a exprimir 0 que se sente. Assim, a Arte se apresenta sob a forma reflexa. A criacdo reflexa da beleza pelo homem constitui a propria Arte. De acordo com a forma pela qual exprimem a beleza, as artes dividem-se em Artes Plasticas e Artes Fonéticas. As Artes Plasticas — arquitetura, escultura, pintura, desenho — empregam as formas e as cores. Projetam os objetos nos espago, em trés dimensées, como a escultura e a arquitetura, ou em somente duas, como a pintura e o desenho, suprindo a terceira dimensdo através dos artificios da perspectiva. As Artes Fonéticas — musica, canto, oratéria, poesia, teatro — exprimem a beleza por meio de sons musicais ou de sons articulados. Estas obras de arte se desenvolvem no tempo. Nao estando localizadas no espago, como as artes plasticas, as artes fonéticas sao mais expressivas do que descritivas. Apesar disso, a poesia, devido as metaforas que emprega e devido a imaginagao, que representa as coisas ao vivo, participa grandemente do privilégio das artes plasticas, Aos interessados em aprofundar o conhecimento sobre os conceitos de Beleza recomendamos fortemente a leitura da Estética — O Belo Artistico ou o Ideal de Hegel, filosofo nascido em Stutgart em 1770 e que grandemente influenciou o pensamento filosdfico e politico em todo mundo, a partir de sua morte em 1835. Para terminar, para descontrair, uma pequena historia sobre a Beleza e 0 Belo, escrita pelo Irmo e fildsofo irreverente, Voltaire:Perguntem a um sapo 0 que 6a beleza, o belo admiravel, e ele respondera que a a fémea dele, com os seus dois grandes olhos redondos, salientes, espetados na pequenina cabega, com um focinho largo e achatado, barriga amarela, dorso acastanhado. Perguntem ao diabo, e ele dira que é um belo par de cornichos, quatro garras afiadas e um rabiosque enrolado. Consultem, por fim 0 filésofo, e este respondera com uma algaraviada desconexa, numa giria arrevezada; é-lhes indispensavel algo de conforme o arquétipo do belo. Um dia, assistia eu a uma tragédia na companhia de um fildsofo. “- Como isto € belo! — exclamava ele. Mas onde esta a beleza disto? Perguntei-Ihe. - Esta em que o autor atingiu a finalidade que pretendia”. No dia seguinte, o tal filésofo tomou um purgante que lhe fez grande efeito. “Atingiu a finalidade”, comentei. “Ora, ai esta um purgante belo!” Entaéo percebeu que nao se pode dizer que uma purga é bela e que para darmos a qualquer coisa 0 titulo de beleza sera indispensavel que vos cause admirac4o e prazer. Concordou comigo que a tal tragédia lhe proporcionara esses dois sentimentos, e que consistia nisso 0 belo. Em seguida, fizemos uma viagem pela Inglaterra: ali vimos representar a mesma pega teatral, traduzida na perfeigao; mas aqui os espectadores bocejavam. “Oh! Oh!” exclamou 0 fildsofo, “o belo nao 6 o mesmo para franceses e ingleses”” Concluiu, depois de refletir, que o sentimento do belo é coisa muito relativa, do mesmo modo que aquilo que é decente no Japao é indecente em Roma, e o que esta em moda em Paris é detestado em Pequim; e desistiu de elaborar um longo tratado sobre o belo e sobre a beleza. ANTONIO ROCHA FADISTA M.".1.., Loja Cayru 762 GOERJ / GOB — Brasil

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