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FUNCIONAMENTO DE ÁCIDOS

NUCLÉICOS - TRANSCRIÇÃO

1. AS DIFERENÇAS ENTRE RNA E DNA

Nas células de procariotos e eucariotos há a presença de outro ácido nucléico,


o RNA. Diferentemente do DNA, os RNAs são unifilamentares e compostos por
nucleotídeos cuja pentose é a ribose (Figura 1). A ribose possui no carbono 2´
uma hidroxila livre que é reativa. Desta forma acredita-se que as primeiras
moléculas que surgiram foram os RNAs, desempenhando a função de guardar a
informação hereditária e de catálise. Todavia os RNAs não desempenhavam
nenhuma das duas funções eficientemente. Como molécula para armazenar a
informação hereditária era muito instável quimicamente e facilmente degradada, e
como catalisador enzimático era de baixa especificidade pois os centros ativos só
poderiam ter hidroxilas reativas presentes em apenas quatro tipos de nucleotídeos.
Estes RNAs com capacidade enzimática ainda são encontrados nas células e são
chamados de ribozimas.
Figura 1. Diferenças entre os ácidos nucleicos DNA e RNA. DNAs são
bifilamentares enquanto os RNAs são unifilamentares. A pentose (açúcar) presente
no DNA é a desoxirribose e no RNA é a ribose. As bases nitrogenadas citosina,
guanina e adenina são encontradas em ambos porém timina é específica do DNA e
uracila do RNA. A timina é a 5-metil uracila.

A pentose (açúcar) presente no DNA é a desoxirribose e no RNA é a ribose. As


bases nitrogenadas citosina, guanina e adenina são encontradas em ambos, porém
timina é específica do DNA e uracila do RNA. A timina é a 5-metil uracila. A
mudança de uracila dos RNAs para timina nos DNAs provavelmente se deveu a alta
taxa de mutação espontânea de desaminação da citosina em uracila o que
produziria muitos pareamentos ilegítimos U:G no DNA. Como a uracila não existe
no DNA, o reparo é facilmente realizado. Todavia em eucariotos, um dos
mecanismos de regulação da expressão gênica é por metilação de bases
nitrogenadas no DNA, e a base mais alterada quimicamente é a citosina em 5-metil
citosina. A mutação espontânea de desaminação da 5-metil citosina em timina
produz muitos pareamentos ilegítimos T:G no DNA de eucariotos (hot spot
mutacional). (Figura 2).

Figura 2. Desaminação espontânea da citosina gera uracila e da 5-metil citosina


gera timina.

O conteúdo de RNA total de uma célula eucariótica é mostrado no esquema


abaixo. A maior percentagem de RNAs é não codificadora de proteínas (96%) e
corresponde aos RNAs estruturais (rRNAs e tRNAs) e aos RNAs regulatórios
(snRNAs, snoRNAs e scRNAs), enquanto 4% corresponde aos genes codificadores
de proteínas. Todas as unidades codificadoras de RNA são transcritas a partir do
DNA molde em moléculas de RNA precursoras (Pré-mRNA, pré-rRNA e pré-tRNA)
que têm de ser processadas para gerar as moléculas de RNA maduras e funcionais.
2. AS DIFERENTES CLASSES DE RNA E A TRANSCRIÇÃO GENÉTICA

Nas células há RNAs de diferentes tipos e funções: RNA codificador de


proteína (mRNA), RNA estrutural (rRNA e tRNA) e RNA regulatório (snRNA, snoRNA
e scRNA, entre outros).

2.1 - RNA heterogêneo (hnRNA) ou pré-mRNA

RNA transcrito de 5´→ 3´ com molde no DNA (fita 3´→ 5´) incluindo as
regiões codificadoras de proteínas (exons) e as não-codificadoras intercaladas
(introns), presente no núcleo dos eucariotas. A extremidade 5´ dos hnRNAs é
protegida contra possíveis exonucleases de 5´→ 3´ pela adição de um nucleotídeo
de guanina através de uma ligação incomum entre os dois fosfatos 5´ por um
processo chamado de ‘capping’. Já a extremidade 3´ dos hnRNAs é protegida
contra possíveis exonucleases de 3´→ 5´ pela adição de uma cauda de nucleotídeos
de adenina denominada cauda poli-A. As caudas poli-A são pré-formadas no
núcleo e podem ter diferentes tamanhos dependendo do número de nucleotídeos
de adenina adicionados. Quanto maior, mais estáveis são os mRNAs no citoplasma.

Os RNAs heterogêneos são processados para a retirada dos introns por um


mecanismo denominado de splicing, onde numa mesma reação o intron é cortado
fora e os exons colados. O processo é realizado por um complexo enzimático
denominado de spliceossoma, onde os sítios doadores e aceptores de splice são
reconhecidos (snRNAs), a ligação fosfodiéster entre o nucleotídeo de guanina do
exon e o primeiro do intron é cortada e a extremidade 5´ livre do intron é ligada
covalentemente ao nucleotídeo de adenina no sítio de ramificação interno do
intron formando uma alça. Em seguida, a ligação fosfodiéster entre o nucleotídeo
de guanina do intron e o primeiro do próximo exon no sítio aceptor é cortada e a
extremidade 5´ livre do exon 2 é unida a do exon 1 e o intron liberado na forma de
uma alça que é degradado.

2.2 - RNA mensageiro (mRNA)

A forma final do RNA codificador de proteína, processado a partir do hnRNA pela


remoção dos introns e proteção das extremidades 5´ (cap) e 3´ (cauda poli-
Adeninas), que vai ser traduzido em proteína no citoplasma.
2.3 - RNA ribossômico (rRNA)

RNAs que se complexam com proteínas para formarem os ribossomos, as


organelas citoplasmáticas aonde se realiza a síntese proteica ou tradução genética.
Os rRNAs formam grampos de RNA fita dupla por complementariedade de bases
intracadeia e alças de RNA fita simples, todas estruturas importantes para ligação
das proteínas ribossômicas. Bases nitrogenadas modificadas quimicamente são
encontradas na estrutura dos rRNAs (edição de bases) e importantes por fazerem
pareamentos de nucleotídeos diferentes dos pareamentos legítimos de Warson e
Crick, A com T e de G com C.
2.4 - RNA transportador (tRNA)

Pequenos RNAs, com estrutura em forma de trevo, que possuem um sítio de


ligação a um aminoácido e outro a uma trinca de bases no mRNA (códon)
denominado anticódon. Bases nitrogenadas modificadas quimicamente são
encontradas na estrutura dos tRNAs (edição de bases).

3. A UNIDADE DE TRANSCRIÇÃO GENÉTICA

A unidade de transcrição é um trecho de DNA que codifica uma molécula de


RNA e contém as sequências necessárias para sua transcrição. O gene inclui uma
sequência promotora a 5' do início da sequência codificadora de RNA (essencial
para a ligação da RNA polimerase e início da transcrição) e uma região terminadora
a 3' do final da sequência codificadora de RNA.

As Unidades de Transcrição do DNA de eucariotos podem estar localizadas


nos dois filamentos sendo que a direção da transcrição é sempre a mesma para
qualquer gene e começa a partir da extremidade 3’ do molde de DNA e a
extremidade 5’ do transcrito de RNA. Assim, genes transcritos em direções
diferentes usam cadeias opostas do DNA como molde.

4. MECANISMO DE TRANSCRIÇÃO GENÉTICA (SÍNTESE DE RNA)

A transcrição é dividida em três estágios: iniciação da maquinaria


transcricional, alongamento da cadeia de RNA e término com desacoplamento da
maquinaria de transcrição.
Iniciação – Montagem do aparato de transcrição no promotor e início da síntese
de RNA; Alongamento – A RNA polimerase se move ao longo do filamento molde
de DNA (fita 3´para 5') adicionando ribonucleotídeos ao filamento crescente de
RNA na extremidade 3´ OH da ribose do nucleotídeo anterior (síntese de RNA é de
5' para 3', similar a síntese de DNA, porém não necessita de primer para início da
síntese); Término – Reconhecimento do sítio de fim da transcrição (terminador) e
separação do RNA do molde de DNA.

Em amarelo na letra (b) as sequências de consenso conservadas (TATA box e


TTGACAT box) no cerne dos promotores de procariotos, onde se ligam fatores de
transcrição basais e a subunidade sigma da RNA polimerase.
Em eucariotos, as sequências de consenso conservadas (TATA box e CAAT box)
no cerne dos promotores são os sítios de ligação dos fatores de transcrição basais
e da subunidade catalítica da RNA polimerase e a sequência GC box mais distante
do sítio de início da transcrição é um elemento regulatório podendo sofrer
metilação das citosinas e alterar a força de interação com as histonas dos
nucleossomas.
O término da transcrição e liberação da cadeia de RNA em eucariotos
ocorre após o reconhecimento de uma sequência de consenso na extremidade 3’
pelo aparato transcricional, clivagem do RNA e adição pela poli-A polimerase da
cauda de poli adeninas na extremidade 3’.
A extremidade livre 5’ do RNA transcrito é processada pela adição de um
nucleotídeo trifosfato de guanina por uma ligação fosfodiéster 5’-5’ com o fosfato
livre do primeiro nucleotídeo do RNA, processo este denominado “capping”.

A remoção dos introns e recomposição dos exons ocorre por um processo


conhecido como “splicing”, onde as junções intron/exon (GU ... AG) e um ponto
interno do intron denominado ponto de ramificação são reconhecidas por
pequenos RNA nucleares (snRNA). No processo, há o reconhecimento do sítio
doador de splice a 5’ (GU), o sítio aceptor de splice a 3’ (AG) e o ponto de
ramificação A pelos snRNA que promovem a clivagem da extremidade do intron a
5’, ligação covalente desta na hidroxila livre 2’ do nucleotídeo de adenina do ponto
de ramificação fazendo uma alça e a clivagem do extremidade a 3’, com a liberação
do intron e ligação dos dois exons.
A remoção dos introns no processo de “splicing” é, então, dependente dos
snRNA expressos em cada tipo celular, podendo haver “splicing” alternativo dos
exons em diferentes tecidos.

Os processamentos dos rRNAs e tRNAs ocorrem por mecanismos diferentes,


onde haverá a participação dos pequenos RNAs nucleolares e reconhecimento dos
inícios e finais dos genes por metilação de nucleotídeos. Os tRNAs também sofrem
clivagens nas extremidades 5’ e 3’ por RNase específica no processo de maturação
da molécula funcional.

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