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Desafios para o Concreto Sustentável - Rev. Bras. Gest. Amb. Sustent. - Vol. 7, No 17, P. 1543-1562 - 31 Dez. 2020
Desafios para o Concreto Sustentável - Rev. Bras. Gest. Amb. Sustent. - Vol. 7, No 17, P. 1543-1562 - 31 Dez. 2020
ISSN 2359-1412
https://doi.org/10.21438/rbgas(2020)071732
ISSN 2359-1412/RBGAS-2020-0138/2020/7/17/32/1543
Introdução
Concreto e argamassas
Os entulhos de concretos e argamassa são classificados como classe A, pela
Resolução CONAMA nº 307/2002 (Brasil, 2002), e são passíveis de reciclagem, podendo
ser classificados como agregados graúdos e miúdos “areia e brita”. E dentre dos materiais
do RCD, os concretos são os mais promissores para a reciclagem e produção de agregados
para a Indústria da Construção Civil.
Cerâmica vermelha
Segundo a Resolução CONAMA nº 307/2002 (Brasil, 2002) material cerâmico é
classificado como classe A de entulho (resíduos recicláveis), podendo ser aproveitados
como agregados miúdos e graúdos “areia e brita” para a Indústria de Construção Civil.
Compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção
civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas
expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno. As lajotas muitas vezes
são enquadradas neste grupo, porém o mais correto é que sejam colocadas em materiais
de revestimento (ABCERAM, 2019).
ao “elo fraco” e a argamassa aderida do agregado reciclado, segundo Hansen (1986), bem
como pesquisas realizadas por Gomes e Brito (2009), Poon et al. (2004), Tam et al. (2005).
Grandes pesquisas vêm sendo conduzidas a respeito da tecnologia do concreto
reciclado. Estudos realizados por Poon et al. (2004) investigaram o efeito da
microestrutura da Zona de Transição (ZT) e a influência da pasta de cimento/agregado na
resistência à compressão do concreto com agregado reciclado (Poon et al., 2004). Uma
análise da micro propriedade do concreto, em um microscópio eletrônico de varredura,
revelou que a zona interfacial da matriz agregado/cimento do concreto reciclado (CR)
consistia principalmente de hidratos soltos e porosos, enquanto a zona interfacial da
matriz agregado/cimento do concreto convencional com agregado natural, consistia
principalmente de hidratos densos. Tam et al. (2005) constataram que a microestrutura
do concreto com agregado reciclado é mais complicada que a do concreto convencional. O
CR possui duas ZT’s: uma entre o agregado reciclado (AR) e a nova matriz de argamassa, e
uma segunda entre a AR e a argamassa velha (velha ZT), (Le et al., 2017; Leite e Monteiro,
2016). A argamassa velha do AR forma o elo fraco no concreto reciclado, que é composto
por uma vasta rede de poros e rachaduras. A Figura 1 apresenta o detalhe da argamassa
aderida ao agregado reciclado.
Os experimentos realizados por Vieira et al. (2016) constatam que a argamassa
velha adere inerentemente às superfícies do agregado original e torna-se parte do
agregado reciclado. Devido à natureza da argamassa, que é menos densa e mais porosa
que o agregado, essa argamassa antiga cria um sistema mais leve no agregado reciclado
(Verian et al., 2018). A presença dessas argamassas velhas acabam aumentando a
capacidade de absorção e diminuindo a massa específica do agregado reciclado, em
comparação com a maioria dos naturais (Kisku et al., 2017).
Segundo Leite (2001), Gomes e Brito (2009) e Cordeiro et al. (2017), o agregado
reciclado apresenta características intrínsecas que afetam o desempenho dos concretos
com ele produzidos. O formato irregular do agregado graúdo britado, a menor massa
específica e a maior porosidade influenciam diretamente nas propriedades dos concretos,
tanto no estado fresco, quanto no endurecido (Silva et al., 2020b).
Neste sentido, diversos autores como Leite (2001), Nagataki et al. (2004), Gomes,
Brito (2009) e Cordeiro et al. (2017), vêm desenvolvendo estudos, principalmente em
agregados reciclados de concreto, na tentativa de suprir e, ou, minimizar os efeitos
negativos decorrentes das características desse material, utilizando para isso, tratamentos
mecânicos, térmicos e químicos, que demandam, muitas vezes, custo e tempo, mas que
levam a resultados satisfatórios.
Algumas pesquisas procuram otimizar as características dos agregados reciclados
de concreto a partir da incorporação de finos reativos e não reativos, com o objetivo de
envolver a superfície desse material com um cimento ou uma adição que preencha seus
vazios e refine seus poros (Tam et al., 2005; Tam e Tam, 2008).
Nesta vertente da melhoria do desempenho do concreto com agregado reciclado,
acredita-se que resultados satisfatórios possam ser atingidos relacionando-se, entre
outros fatores, a sistematização de sua produção. Ao executar concretos com resíduos de
construção, deve-se levar em conta suas peculiaridades, como a porosidade e a baixa
resistência ao desgaste, visto que são materiais heterogêneos, que variam a cada lote
coletado. Além disso, os concretos com resíduos apresentam peculiaridades em virtude de
suas condições de mistura, concreto de origem e outros (Cordeiro et al., 2017).
O concreto é uma estrutura composta de três fases em escala microscópica,
compreendendo agregado graúdo, matriz de argamassa com agregado fino e zona de
transição (ZT) entre o agregado graúdo e a matriz de argamassa (Poon et al., 2004). A ZT
tem, tipicamente, 10-50 μm de espessura e influencia significativamente as propriedades
do concreto. Conforme indicado na literatura por Tam et al. (2005); Tam e Tam (2008) a
estrutura do concreto reciclado (CR) é muito mais complicada que a do concreto normal. O
CR possui duas ZTs, uma entre o agregado e a nova pasta de cimento (nova ZT) e a outra
entre o agregado e a argamassa antiga anexada (antiga ZT). A argamassa de cimento ligada
e a ZT do agregado formam o elo fraco no CR, que é composto de muitos minúsculos poros
e fissuras, e afetam criticamente a resistência final do CR. Esses poros e fissuras também
absorvem a água, levando a um alto teor de água na nova ZT do CR. Assim, grandes cristais
de hidróxido de cálcio Ca(OH)2 tendem a se formar no poro do agregado, e também
tendem a se acumular na superfície da argamassa aderida “argamassa antiga” (Kong et al.,
2010).
Um estudo comparativo foi realizado por Bastos, Cruz e Woelffel (2016) em blocos
para vedação com resistência, conforme Norma NBR 6136 (ABNT, 2014), de
aproximadamente 3,0 MPa, confeccionados com agregados reciclados RCD-R e agregados
convencionais. A Figura 3 apresenta os valores obtidos para o bloco convencional com o
custo de R$ 1,34 e resistência de 2,0 MPa, comparado ao bloco com agregado reciclado,
cujo qual chegou a um custo de R$ 0,65 e resistência de 6,47 MPa.
Conclusões
O fator preponderante do uso deste material é o elo fraco entre agregado reciclado,
argamassa velha (AD) e argamassa nova. Provocada pela alta porosidade das partículas
recicladas e que podem ter essa argamassa porosa eliminada ou reduzida na fase de
beneficiamento do RCD-R. Diversos estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo de
fortalecer o “elo fraco” do concreto reciclado, de modo a “reduzir a alta porosidade do
agregado reciclado”. Assim, fortalece-se tecnicamente o referencial teórico-científico, com
base em estudos experimentais, para o uso deste material tão promissor com um custo
baixo e com elevado ganho ambiental.
Britadores de eixo vertical e eixo inclinado, na britagem secundária e terciária,
produzem partículas de forma mais quadrada ou arredondada e um aumento na produção
de agregado miúdo e materiais pulverulentos. Isso ocorre devido ao processo mecânico do
eixo rotor que provoca o atrito das partículas na superfície metálica do equipamento e o
atrito com outras partículas, provocando o desgaste e lapidando o agregado. No caso do
agregado reciclado de concreto, há uma maior retirada da argamassa velha “argamassa
aderida” e nos agregados cerâmicos são extraídas as partes mais frágeis, permanecendo
em sua maior parte, agregados resistentes.
O processo de beneficiamento do Resíduo de Construção e Demolição Reciclado
tem forte influência nas propriedades mecânicas do agregado tais como: granulometria,
forma, textura e densidade. As mesmas podem ser controladas favorecendo o uso do
agregado em concretos sustentáveis e melhorando o desempenho do concreto reciclado
aumentando-se, desta forma, o ganho ambiental.
Conflito de interesses
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