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PALESTRAS INTRODUTORIAS A TEOLOGIA SISTEMATICA Por HENRY CLARENCE THIESSEN B. D.,PH.D.,D.D. Antigo Chefe do Corpo Docente da Escola de P6s-Graduagao do Wheaton College, Wheaton, Illinois. Autor de Introdugdo ao Novo Testamento IMPRENSA BATISTA REGULAR DO BRASIL Rua Kansas, 770 - Brooklin 04558 - Sao Paulo - SP Telefones: 530-4232 / 61-3239 1989 Titulo em inglés: Introductory Lectures in Systematic Theology Copyright, 1949, by Wm. B. Eerdmans Publishing Company Primeira edi¢do em portugués — 1987 Segunda impressao em portugués — 1989 Traduzido e publicado com a devida autorizagdo Todos os direitos reservados. E proibida a reprodugao deste livro, no todo ou em parte, sem a permiss4o por escrito dos Editores. ‘Batista ‘Regular ANCELICA PARA O BRASIL” RODRIGUES —8-ssorauo—or. Indice do Contetido Introdugao 4 Primeira Edigdo em Portugués... .... T2271 Pee bese anne p esata Nava HMng end EQaRESeRsnaes seaNsGHRP Es EGHENSNarSHBORSSASERENADE “PROLEGOMENA” «0.0.10. eee Capitulo I — A Natureza e Necessidade da Teologia . 1. A Natureza da Teologia 1, Teologia eEtica ............ : 2. Teologia e Religigo .............. 3. Teologia e Filosofia............ A Necessidade da Teologia 1. O Instinto Organizador do Intelecto . 2. A Natureza Difundida da Descrenga de Nossos Dias. 3. A Natureza das Escrituras.............-- 4. O Desenvolvimento de um Carater Crist@o Inicigent 5. As Condigdes para o Servi¢o Cristdo Eficaz. . IL. Capitulo Il — A Possibilidade e Divisdes da Teologia A. A Possibilidade da Teologia 1A Revelagdo de Deus . . 1, A Revelag&o Geral de Deus . 2. A Revelacdo Especial de Deus « II. Os Dons do Homem. 1. Seus Dons Mentais. . . . 2. Seus Dons Espirituais B. As Divisdes da Teologia . . 1. A Teologia Exegética . Il. A Teologia Historica . IIL. A Teologia Sistematica . . tH IV. A Teologia Pritica. . 0.6... cece eee eee rene nee PARTE CRIS MO 2 cereus tee ara aeRO eta coa cee Peoaie dates 23 Capftulo III — Definigdo e Existéncia de Deus. I. A Definigo de Deus . . 1. Os Usos Errados do Termo . 2. Os Nomes Biblicos de Deus. 3. A Formulacao Teolégica da Definiggo A Existéncia de Deus : 1. A Crenga na Existéncia de Deus ¢ Intuitiva. 7 2. A Existéncia de Deus é Assumida nas Escrituras . . 3. A Crenga na Existéncia de Deus é Corroborada por Argumentos I — tii — Capitulo IV — As Opinides do Mundo Nao-Cristfo.... 0.0.2... 02222 eee 1234 I. O Ponto de Vista Ateistico . (/U. 0 Ponto de Vista Agnéstico. Ill. O Ponto de Vista Pantessta . 1. Os Principais Tipos de Panteismo . . . 2. A Refutagio das Teorias Panteistas. IV. O Ponto de Vista Politefsta V. O Ponto de Vista Dualista. . . VI. O Ponto de Vista Deistico. . JIPARTE — BIBLIOLOGIA ... 2.0.0.6. eee eee 44 . O Argumento da Indestrut: IV. O Argumento da Natureza da Biblia V. O Argumento da Influéncia da Biblia VI. O Argumento da Profecia Cumprida . VII. As Reivindicag6es das Préprias Escrituras. Capitulo VI — A Genuinidade, Credibilidade e Canonicidade dos Livros da Biblia . .54 I. A Genuinidade dos Livros da Biblia ..........---.-.- 1, A Genuinidade dos Livros do Velho Testamento . . 2. A Genuinidade dos Livros do Novo Testamento IL. A Credibilidade dos Livros da Biblia. ..... 0.0.0.2... 000002000 e- 1. A Credibilidade dos Livros do Velho Testamento. 2. A Credibilidade dos Livros do Novo Testamento UI. A Canonicidade dos Livros da Biblia... 2.2.0... 6 0.00 e eee 1. A Canonicidade dos Livros do Velho Testamento 2. A Canonicidade dos Livros do Novo Testamento Capitulo VII — A Inspiragdo das Escrituras I. A Definigao de Inspiragdo Il. As Provas de Inspiragao . q 1, A Natureza de Deus........ 2. A Natureza e Afirmag6es da Biblia... . IIL. As ObjegGes a Esta Opiniao da Inspiragao. . 1. Na Ciéncia e na Historia 2. No Milagre e na Profecia. 3. Na Citagdo e na Interpretaggo do Velho Testamento 4. Na Moral e na Religifo. 2 eee WIPARTE—TEOLOGIA. 0.2... 00ers .B Capitulo VIII — A Natureza de Deus: Essénciae Atributos.................74 1. A Esséncia de Deus : 74 1, Espiritualidade .........2.. 74 2. Auto-existéncia. 6... ee eee 76 -iv— 3. Imensidfo 4. Eternidade IL. Atributos de Deus. . . -77 A. Os Atributos Ndo-Morais. 6.6.1... 77 1. Onipresenga. 2.2... eee eee eee eee eee 2. Onisciéncia,.. 6... eee eee we TB 3. Onipoténcia . . . . 79 4, Imutabilidade -80 B. Os Atributos Morais d= Santidade siete certs seeeeeee ree epee gee are Eee eee ane 2. Retidao e Justiga 3. Bondade ...... AAV eT Oade eset eactetitee arate Sean rateiH tater eacaeteteteate Capitulo IX — A Natureza de Deus: Unidadee Trindade ..................86 I. A Uniidade de Deus .................... - 86 Il, A Trindade de Deus........... . 87 1. Insinuagdes no Velho Testamento. -88 2. O Ensino do Novo Testamento. +... 89 3. Algumas Observagbes e Dedugdes Baseadas Nestas Investigactes........ 94 Capitulo X — Os Decretos de Deus... 0. ee eee 96 |. A Definig&o dos Decretos IL. A Prova dosDecretos... 6.6.6... cee eee eee eee eee . III. As Bases dos Decretos ... 2.2.11. eee IV. A Finalidade dos Decretos.... 0.6... cee eee eee ee V. O Contetido e a Ordem dos Dectetos. . 1. No Campo Material e Fisico . . 2. No Campo Moral e Espiritual. . 3. No Campo Social e Politico Capitulo XI — A Obra de Deus: A Criagio I. A Definigdo da Criagfo........ Il. A Prova da Doutrina da Criagio . . 1. O Relato Mosaico da Criagdo. . . . 2, Outras Provas Biblicas da Criagdo........ II. As Teorias Opostas a Doutrina da Criagdo . . . . 1. A Teoria Ateista 2. A Teoria Dualista 3. A Teoria Panteista 4. A Teoria da Criagdo Eterna . . IV. A Hora da Criagdo . V. A Finalidade de Deus na Criagdo . Capitulo XII — As Obras de Deus: Seu Governo Soberano . L.A Doutrina da Preservagdo 1. A Definigdo de Preservagdo . . . 2. A Prova da Doutrina da Preservago . . 3. O Método de Preservagdo IL. A Doutrina da Providéncia ... . 1. A Definigo de Providéncia . . 2. As Provas da Doutrina 3. A Finalidade Para a Qual a Providéncia € Diri ida 4. Os Meios Empregados no Exercicio da Divina Providéncia. 5. As Teorias Opostas 4 Doutrina da Providéncia........ Hated stadt teteeepl 2: 6. A Relagdo da Providéncia a Alguns Problemas Especiais............ 126 TV PARTE — ANGELOLOGIA . Seer tebe eta e ete Hier t sists desire tae st Sete at 128 Capitulo XII — A Origem, Natureza, Queda e Classificagdo dos eal piesa eta 129 I. A Origem dos Anjos. . rao IL. A Natureza dos Anjos. 129 1, Nao Sao Seres Humanos Glorificados . : : ~. 129 2, SdoIncorpéreos ...........- ete » 129 3, S40 um Batalhdo e Nao uma Raga - 130 4, Excedem o Homem em Conhecimento, Apesar de Nao Serem Oniscientes 130 5. Sao Mais Fortes que o Homem, Apesar de Nao Serem Onipotentes 131 Til. A Queda dos Anjos .. .. BL 1. O Fato de Sua Queda . 131 iA Bpoca.de'SumiQueda ite ee caer ey ree 132 3, A Causa de Sua Queda t 132 4, O Resultado de Sua Queda . . . 133 IV. A Classificagdo dos Anjos 133 1, Os Anjos Bons ...... ene eer eeacaec treater eeeeeeeesee ec) Dt Os Anjos Mauser ieee ese 135 Capitulo XIV — A Obra e 0 Destino dos Anjos 139 1.A Obra dos Anjos ..........000005 eee eee eee e139 1. A Obra dos Anjos Bons........ . 139 2. A Obra dos Anjos Maus 141 3. A Obra dos Deménios ..... 142 4. A Obra de Satands.. . . IO Destino dos Anjos 6.0.0... eee eee eee eee 1, O Destino dos Anjos Bons 2. O Destino dos Anjos Maus. 144 3. O Destino de Satands.. 2... 2. eee eee 144 V PARTE ~ ANTROPOLOGIA... 0.0.0... eee 146 Capitulo XV — A Origem e o Cardter Original do Homem.........-...-..- 147 JA Origem do Homem. 0.0... cette eee 147 Il, A Natureza Original do Homem.... 1.2... eee eee 150 1. Nao é uma Semelhanga Fisica... 2.00... . 0 cece eee ee ee ee 150 2. Foi uma Semelhanga Mental ..... 2... 22.2 ISL 3. Foi uma Semelhanga Moral... 0... eee 151 4. Foi uma Semelhanga Social... 6... ee eee eee 152 Capitulo XVI — A Unidade e Constituicdo Permanente do Homem 1. A Unidade do Homem ... 0.0.2... 60.0000 ee eee 1. O Argumento da Historia... eee eee eee ee 2. O Argumento da Fisiologia........... 3. O Argumento da Linguagem............ eee eeeeee 4. O Argumento da Psicologia... 2.6... occ IL. A Constituigéo doHomem ..... 0.0.00 e eee eee 1. A Constituigdo Psicolégica do Homem.......---0 000.0000 e eee 2. A Constituigéo Moral do Homem........-6 0-002 e ee eee eee 3. AOrigem da Alma... 0.2.0.0. e eee eee eee Capitulo XVII — A Queda do Homem: Antecedentes e Problemas I. Antecedentes da Queda .... . 1. A Lei de Deus....... 2. A Natureza do Pecado it II. Problemas Relacionados com a Queda. . 1. Como Péde um Ser Santo Cair? a 2. Como Péde um Deus Justo Permitir que o Homem Fosse Tent do we 174 3. Como Pode um Castigo Tao Grande Ser Vinculado 4 Desobediéncia a uma Ordem Tao Insignificante? ©... 26. cece eee 174 Capitulo XVIII — A Queda do Homem: Fato e Conseqiiéncias Imediatas. I. A Origem do Pecado no Ato Pessoal de Ado 1. O Pecado Nao é Eterno. 2. O Pecado Nao se Origina na Limitagdo do Homem. 3. O Pecado Nao se Origina na Sensualidade 4. O Pecado se Originou no Ato Livre de Adio. . . As Conseqiiéncias Imediatas do Pecado de Addo . 1. Seu Efeito Sobre o Relacionamento Deles com Deus 2. Seu Efeito Sobre Sua Natureza. 3. Seu Efeito Sobre Seus Corpos . 4, Seu Efeito Sobre Seu Meio Ambiente . 176 I Capftulo XIX — A Queda do Homem: ea e Conseqiiéncias Raciais.. .. . . 183 I. A Universalidade do Pecado... 0... 66... eee eee eee eee II. A Imputagdo do Pecado . . . 1. A Teoria Pelagiana. . 2. A Teoria Arminiana . 3. A Teoria Federativa . 4. A Teoria da Imputacdo Mediata . Hee rus 186 5. A Teoria Agostiniana... 2... 2... 2. ee es 187 Capitulo XX — A Queda do Homem: A Natureza e Conseqiiéncias Finais Wo Pecado 22. cece ween tte ent teen sete een ence 190 I. A Natureza e Extensfo da Depravagdo. 1.00... ee eee ee eee 190 1. O Significado da Depravagio.........-- 22 ee eee eee eee ee 190 2. A Extensdo da Depravacdo «1... 6. eee eee eee 190 Il. A Natureza e Grau de Culpa 6... 2... 191 —vii— 1. O Significado de Culpa 2. Os Graus da Culpa...... UL. A Natureza e Cardter do Castigo......-...- 0... See Hue i92 1. O Significado do Castigo... 2.6... ee ee eee ee 192 210) Casddee dip Coking deri eae 193 + VIPARTE —SOTERIOLOGIA.......... Eee tee 194 A, A Provistt da Salvagd 0.0.6 eve eee eevee Pee iene 194 Capftulo XXI — 0 Propésito, Plano e Método de Deus . I. O Propésito de Deus 00... ee cece 1. Na Natureza Humana . 2. Nas Escrituras...... II. O Plano de Deus . . 1. A Revelagdo do Plano de Deus... . 2. O Esquema do Plano de Deus. III. Os Métodos de Deus. 1. No Passado. . . . . 2. No Presente . 3. No Futuro Capitulo XXII — A Pessoa de Cristo: Pontos de Vista Histéricos e o Estado Pré-encarnado . I. Opinides Histéricas . . © 1. Os Ebionitas. . @ 2. Os Gnésticos . 3. Os Arianos. ..... 4. Os Apolindrios . . . 5 6 - Os Nestorianos . . . . Os Eutiquianos.... . . 7. A Opinigo Ortodoxa . . IL. O Cristo Pré-encarnado Capitulo XXIII — A Pessoa de Cristo: A Humithagao de Cristo . 1. As Razdes Para a Encarnagdo.........------- 1. Para Confirmar as Promessas de Deus Para Revelar‘o Pai...... pees Para Se Tornar um Sumo Sacerdote Fiel . Para Destruir as Obras do Diabo . Para Nos Dar o Exemplo de uma Vida Santa. 7. Para Preparar para o Segundo Advento . . A Natureza da Encarnacio fa 3. 4. Para Aniquilar 0 Pecado ihe 6. 1. Ele Esvaziou a Si Mesmo. 2. Tornou-se em Semelhanga de Homem . . viii ~ Capitulo XXIV — A Pessoa de Cristo: As Duas Naturezas e o Cardter Me Cristin ITE ete tacit tite ceretadatite tee ete atatsistertctiie atatstatsbeble letersi I. A Humanidade de Cristo... 66... ieee eee eee 1. Ele Teve Nascimento Humano . . . 2. Ele Teve Desenvolvimento Humano 3. Ele Tinha os Elementos Essenciais da Natureza Humana... . 4, Ele Teve Nomes Humanos...... 0.0... 22. ce eee eee 5. Ele Teve as Fraquezas Nao Pecaminosas da Natureza Humana 6. Ele € Repetidamente Chamado de “Homem” . . IL. A Divindade de Cristo... 6.2... 0. .0.005 III. As Duas Naturezas de Cristo 1. A Prova de Sua Unido. . . 2. A Natureza de Sua Unifo . . . IV. O Carater de Cristo ......... . Ele foi Absolutamente Santo... . . Ele Tinha Amor Genuino ...... . Ele foi Verdadeiramente Humilde . . Ele foi Absolutamente Manso . . . Ele foi Perfeitamente Equilibrado. . Ele Viveu uma Vida de Oragao. . . . Ele foi um Trabalhador Incessante NAUVpPwNe Capitulo XXV — A Obra de Cristo: Sua Morte — Importdncia e Interpretagado Erromea. 6. teen ete - 223 I. A Importancia da Morte de Cristo... 0... ce ee 228 1. E Anunciada no Velho Testamento......-.....02.000 eee e eee 223 . E Proeminente no Novo Testamento ........ 2.2.0. 0000 eee eee 224 . Ea Principal Razfo da Encarnago... . 224 . Eo Tema Fundamental do Evangelho . E Essencial para o Cristianismo .... 2.0.0.0... 0c cece eee eee . E Essencial para a Nossa Salvacao. . . E de Interesse Supremo no Céu . . . .. Interpretagdes Erréneas da Morte de Cristo 1, A Teoria do Acidente.......... . sadedat at eeeeeeie ete ete ce dei tat 2, A Teoria do Martin. 60.1... 6c eee tee et eee eee e tees 3. A Teoria da Influéncia Moral 4. A Teoria Governamental. . 5. A Teoria Comercial NAURWH Capftulo XXVI — A Obra de Cristo: Sua Morte — Seu Significado e Extens4o Reais. I. O Significado da Morte de Cristo . eR Viedrin eee 2. E Satisfagao . 3. Bum Resgate IL. A Extensfo da Morte de Cristo. . . 1. Cristo Morteu Pelos Eleitos..... . 2. Cristo Morreu Pelo Mundo Inteiro Capitulo XXVII — A Obra de Cristo: Sua Ressurreigfo e Ascensfo I. A Ressurreigdo de Cristo... 0. cece eee eee 1. A Importancia da Ressurreigo de Cristo 2. ANatureza da Ressurreigo de Cristo... 2.2... eee eee 3. A Credibilidade da Ressurreigao de Cristo 4. Os Resultados da Ressurreigdo de Cristo IL. A Ascensdo de Cristo... 0... eee 1, As Escrituras Ensinam a Ascensdo de Cristo . . 2. Objegdes a Ascensfo de Cristo Ill. A Exaltagdo de Cristo. ...........- : 1, Coisas Contidas na Exaltagdo de Cristo ..... 2. Resultados da Ascensdo e Exaltaco de Cristo. B. A Aplicagdo da Salvagdo Seedo I — Em Seu Princtpio.. 2.2... eee ee 245 Capitulo XXVIII ~ Eleigo e Vocagio. . . . I. A Doutrina da Eleigao . 1. A Definigdo de Eleigao. . 2. A Prova Deste Ponto de Vista de Eleigdo . 3. Objegdes a Este Ponto de Vista de Eleiggo . IL. A Doutrina da Vocagao .. . 1. As Pessoas Chamadas . . . 2. O Objeto do Chamado . 3. O Significado do Chamado . Capitulo XXIX — Conversfo........ I. O Elemento do Arrependimento. 1. A Importancia do Arrependimento. 2. O Significado do Artependimento. 3. Os Meios de Arrependimento. . . If. O Elemento da Fé... . 1. A Importancia da Fé 2. O Significado da Fé . 3. A Fonte da Fé... 4. Os Resultados da Fé Capitulo XXX — Justificagdo e Regeneragao. I. A Doutrina da Justificagfo 6.2... ee eee 1. A Definigdo de Justificagao 2. O Método de Justificagdo .. 2.2.2. eee eee 3. Os Resultados da Justificagao A Doutrina da Regeneragéo. . . . . 1. O Significado da Regenerago . 2. A Necessidade de Regeneragio. 3. Os Meios de Regeneragao . 4. Os Resultados da Regeneragdo I. Capitulo XXXI — Unido com Cristo e Adogdo ... 6.6.6... eee eee eee 1. A Unido do Crente com Cristo 1. A Natureza Dessa Unido . 2. O Método Desta Unido. . 3. As Conseqiiéncias Desta Unido. II. A Adogfo do Crente . . . 1. A Definig&o de Adogao . 2. O Tempo da Adogado .. . 3. Os Resultados da Adogao . Segio If - Em Sua Continuagdo.. 2.6.0 c vce e eee e eee Capitulo XXXII — Santificagdo 6. eee ee I. Definicdo de Santificagao . 1. Separagdo para Deus « . 2. Imputagao de Cristo como Nossa Santidade . eae eer aera re 3, Purificagdo do Mal Moral... 20.00.00 eee eee ee eee 4. Conformidade com a Imagem de Cristo. . . . See MiG Tempo da Sentificapio uae een eee ae ett 1. O Ato Inicial de Santificagdo. 6... eee eee 2. 0 Processo de Santificagao 3. Santificagdo Completae Final........... 00.0000 Til’ (Os Meios delSantiicagsol esr miu secre Capitulo XXXII — Perseveranga . 6... eee ee 276 I, Prova da Doutrina . 6.6... eee 1. O Propésito de Deus 2. A Mediagao de Cristo eed ese atc 3. A Continua Capacidade de Deus de Nos Guardar..............-05 277 4, A Natureza da Mudanga no Crente - ObjegGes ADoutrina........... Perera Bead 1, Induz a Frouxiddo e Indoléncia . 6.6... ee eee 2. Rouba a Liberdade do Homem. ..... 2.6.6.0 0202s eee e eee e ee 3. As Escrituras Ensinam o Contrario.........-.---+ 000-2024 4, Ha Muitas Adverténcias . 2.2... eee eee Capitulo XXXIV — Os Meios da Graca o I.APalavradeDeus......... oe Eee Ree adic eee tee ete ee 1, Bum Meio de Salvagfo. 0.2. eee 2. Eum Meio de Santificagdo ell. OragGo 2.2... eee 1. A Natureza da Oragdo ... . 2. A Relagdo entre Oragdo e Providéncia...........s.s.sscs0eeee 285 3. O Método e Maneira de Orar. 0 eee eee 285 VII PARTE —ECLESIOLOGIA. 00.2020 c ee cee e eee 288 Capitulo XXXV — Introdutério: Definigio e Fundagdo da Igreja............ 290 1. A Definigdo da Igreja. eect eee eee eee 290 —xi- 1. A Igreja Nao é o Judaismo Melhorado e Continuado 2. A Igreja Nao é 0 “Reino”......... BCE 3. A Igreja Nao é uma “Denominagao” - 4. A Igreja é Considerada em Dois Sentidos . Il. A Fundagao da Igreja. . ; 1. AEpoca de sua Fundagai 2. A Fundagdo de Outras Igrejas Lois. Capitulo XXXVI — A Fundagdo da Igreja; a Maneira da Fundacao e a Organizacado Gee er: Cc RaRasaas EEG ETENENSREPEDEEtStSNarEnarEcte isiAiseFsH SES Aenerer erat evanesa Naseer opis nsnarerertstay L A Fandsgto de igi HCE a Hoar Here tete s ele tee tebe ret tee ee . A Igreja Universal TI. A Maneira da Fundagao .. . . Il. A Organizagao das Igrejas . . 1. O Fato da Organizagao 2. Os Oficiais da Igreja.......-... 2. eee eee 3. O Governo da Igreja.... 2... eee eee eee IE. A Ceia do Senhor ...........--.. 1, O Ensinamento Biblico. 2. O Ensinamento Catélico Romano. 3. O Ensino Luterano e da Igreja Superior Anglicana . 7 7 4. O Ensino Reformado. .. 2.0... eee eee eee eee Capitulo XXXVIII — A Missao e Destino da Igreja. I. A Miss&o da Igreja . Glorificar a Deus... . . Para Edificar a si Propria . Purificar a si Propria. . Para Educar seus Membros . . Para Evangelizar o Mundo. . Para Agir como Forga Restritiva e Iluminadora no Mundo. 7. Para Promover Tudo o que é Bom. |. O Destino da Igreja 1, A Igreja ndo Convertera o Mundo 2. A Igreja Ocupar4 Lugar de Béngdo e Honra NAWAWHE VII PARTE ~ ESCATOLOGIA......-.......--2---- Capitulo XXXIX — A Segunda Vinda de Cristo: Importdncia da Doutrina e Natureza de Sua Vinda 1. A Importéncia da Doutrina 1. Sua Proeminéncia nas Escrituras. 2. E uma Chave para as Escrituras . 3. Ea Esperanga da Igreja. 4. E Incentivo para o Cristianismo Biblico . —xii— 5. Tem Efeito Marcante Sobre Nosso Servigo . . II. A Natureza da Vinda de Cristo......... 1. O Ensinamento Biblico...... i 2. Algumas Interpretag6es Erréneas . Perret Saedadaeae 3. As Fases da Vinda de Cristo... ......-.--+-005 Capitulo XL — A Segunda Vinda de Cristo: O Propésito de Sua Vinda nos Ares . . 324 I. Para Receber os Seus... 6.2... eevee eee ee eee eee 324 1, Os Pré-requisitos 2. AManeira....... Il. Para Julgar e Galardoar 1. O Julgamento do Crente 2. O Galardao dos Crentes . TIL. Para Remover o que Detém Capftulo XLI — A Segunda Vinda de Cristo: 0 Propésito de Sua Vinda a Terra e o Perfodo Entre o Arrebatamento e a Revelagfo................ 331 I. O Propésito da Sua Vinda A Terra... . 2... eee eee eee 331 1. Para Revelar-Se e aos Seus. 2... eee 331 2. Para Julgar a Besta, o Falso Profeta e seus Exércitos.............. 3. Para Prender Satands ©... 6... cee eee eee eee eee 4, Para Salvar Israel... . 5. Para Julgar as NagGes . . 6. Para Livrar e Abencoar a Criacdo . . 7. Para Estabelecer o Seu Reino. 0 Periodo Entre 0 Arrebatamento ¢ a Revelagao 1. A Duracio do Perfodo 2. A Natureza do Periodo. . . 3. O Ator Principal do Perfode . . Capftulo XLII — A Hora da Sua Vinda: Pré-milenar L. OSignificado do Termo............ IL. A Posigao da Igreja Primitiva..............4 Ill. A Prova da Doutrina ... 2.2.2... eee 1. A Maneira e Hora do Estabelecimento do Reino - 340 2. As Béngdos Associadas a Este Reino Futuro........-..........340 3. A Diferenga Entre Receber o Reino e Inauguré-lo............... 340 4. A Promessa aos Apéstolos de Reinarem sobre as Doze Tribos (A Ce Beeaeseensnses eel tse aenarabsstas seeerertedisentrasarcriata a ererirar iota ierersticieir 341 5. A Promessa aos Crentes de que Reinaréo com Cristo ............- 341 6. Predigdo das Condigdes que Existirdo Logo Antes da Sua Volta... . . . 341 ~ . A Ordem dos Acontecimentos.... 6.0.00... ee eee eee eee I. Os Primeiros Ensinamentos Cristaos . . 1 Hermas — xiii — Capftulo XLIV — As Ressurreigdes 1, A Promessa a Igreja de Filadélfia .. 6... 26. .eeeeeeeeeee 345 2. A Natureza da Septuagésima Semana de Daniel... . . wee 346 3. A Natureza e Propésito da Tribulagdo. .... 2.2... - 346 4. Os Vinte e Quatro Ancidos em Relagdo 4 Tribulagdo ..............347 5. A Miss4o do Espirito Santo como Reprimidor............... - 348 6. A Necessidade de um Intervalo Entre o Arrebatamento e a Revelagdo . . . 349 7. As Exortag6es 4 Constante Expectativa da Volta do Senhor.......... 349 I, A Certeza da Ressurrei¢go..........- 1. O Fato e Natureza do Estado Intermedidtio Sere ecet sre ie etait 352 2. O Ensinamento do Velho Testamento Quanto a Ressurreigdo do Corpo . 354 3. O Ensinamento do Novo Testamento Quanto a Ressurreigao do Corpo . 354 . A Natureza da Ressurteigd0. 0.0... cece cece cece eee ee 1. O Fato da Ressurreigdo do Corpo. . . . 2. A Natureza da Ressurreigao do Corpo TH. A Hora das Ressurreiges 2.0.0... cece cece teen Capftulo XLV — Os Julgamentos ... 0000... eee cece eee eee L. A Certeza dos Julgamentos . Il. O Objeto dos Julgamentos. . TIL. O Jui: - TV. Os Varios Julgamentos . . . . Capitulo XLVI — 0 Milenio . L . As Caracteristicas do Milénio. 1. O Julgamento dos Crentes 2. O Julgamento de Israel . 3. O Julgamento da Babilonia ; 4. O Julgamento da Besta, do Falso Profeta e seus Exércitos a - 362 5. O Julgamento das Nagdes .. 2... ee eee 362 6. O Julgamento de Satands e seus ANMJOS. 6... eee cee eee 562 7. O Julgamento dos Mortos Nao-salvos... 22... ee ee eee 363 O Fato de um Milénio . . 1. A Expectativa Humana : 2. A Crenga da Igreja Primitiva . 3. O Ensinamento da Escritura . . . Com Relaco a Cristo... . . Com Relagao a Igreja . . Com Relacdo a Israel ‘ Com Relagao as Nagées . . . Com Relacdo a Stands. . Com Relagao aNatureza. . Com Relagdo as Condigses em Geral NAnVERYWHE Capftulo XLVH ~ O Estado Final... 22... eee 372 I. O Estado Final de Satands.... 6... eee 372 1. Serd Solto de sua Prisfo 6.1... eee eee ee ee 372 2. Serd Finalmente Julgado e Sentenciado..........-...0-.+-005 372 —xiv— II. O Julgamento Final . » 372 IIL. O Reino Final. . 373 IV. A Nova Criagdo. 373 1. O Novo Céue a Nova Terra 373 2. A Nova Jerusalém . 374 —xVv— INTRODUCAO Esta € a primeira edigdo em portugués do Dr. Henry Clarence Thiessen, “Prelegdes em Teologia Sistematica”. E o primeiro volume de Teologia Sistemitica a ser traduzi- do e publicado no Brasil. Em seu escopo, se aproxima em estilo e formato a um li- vro-texto ideal, e de valioso auxilio 4 consulta para todos os sérios estudantes da Pala- vra de Deus. Dr. Thiessen tem o dom de apresentar em uma maneira clara, concisa e erudita as grandes doutrinas da drea de teologia. Este livro é reconhecido e recomendado pe- Jos dirigentes escolares e escolas nos Estados Unidos, e nés estamos convictos de que seré bem recebido pelos professores e alunos de fala portuguesa, e com 0 mesmo en- tusiasmo. Nenhum trabalho é perfeito ou completo e este volume nao é uma excegao, en- tretanto nés sentimos que é o mais precioso livro de Teologia Sistematica acessivel. Sou grato a Deus por Sua béngdo e ajuda na publicagdo deste volume; a Inez McLain por sua valiosa ajuda; a Dna Wanda da Concei¢do pelo excelente trabalho de tradugdo; a minha esposa Thelma, pelas horas gastas no trabalho de leitura e revisio; e a cada um de vocés que tem orado e contribuido, fazendo este projeto possivel. Este livro é dedicado a todos os seminaristas que tem trabalhado através deste material sem os meios adequados para dominar a matéria. E 0 nosso desejo, como foi o do autor, que Deus seja glorificado pelo uso desta obra no preparo de homens para um ministério efetivo de pregagdo do Evangelho de Jesus Cristo. Curitiba, PR — 1986 Rev. Clarence Antrum Nickell PREFACIO Aqueles que j4 conhecem o livro do Dr. H.C. Thiessen, An Outline of Lectures in Systematic Theology, em formato de resumo, se regozijardo com o aparecimento de uma obra mais completa no formato de livro. Quando 0 Dr. Thiessen foi chamado de sua labuta, estava dedicado 4 tarefa de escrever 0 livro. Terminé-lo e revisd-lo desde que ele partiu tem sido a minha tarefa, a pedido da senhora H. C. Thiessen. A primeira terga parte do livro est4 exatamente como ele a escreveu. Aqueles que conhecem o resumo notardo que foi completamente reescrita e arranjada de modo di- ferente. Provavelmente ele teria feito 0 mesmo com o restante do livro se tivesse vivi- do o suficiente para completé-lo. Ele havia feito um esbogo completo dos capitulos e 0 melhor que pude fazer foi seguir 0 esboco e basear-me no material do resumo. Cita- g6es de fontes que nao as do resumo sdo principalmente aquelas que ele havia escrito nas paginas em branco de sua prépria cépia do resumo. Na maior parte, usei apenas aquelas que, a meu ver, reforcavam © argumento, ou ajudavam a tornar mais claro 0 significado. Se fossem apenas notas interessantes, eram rejeitadas. Foi dado o devido crédito nas notas de rodapé a todos os autores citados. Tenho um grande débito para com todos eles, mas especialmente para com Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology (Teologia Sistemdtica) (Philadelphia: The Griffith and Rowland Press, 1906) pela segdo sobre Problemas Relacionados com a Queda, a qual Dr. Thiessen seguiu bem de perto em seu resumo. Minha tarefa principal foi a de revisar o material, verificar citagGes, completar declarages, escrever um pardgrafo ou uma curta segdo aqui e ali, arranjar em capitu- los de acordo com o ésbogo a mao, e assim preparar estas pdginas para o editor. Nenhuma obra do homem é jamais perfeita, mas tomou-se grande cuidado para fazer esta obra tio exata quanto possivel. Toda referéncia das Escrituras, a menos que seja tao conhecida quanto Joao 3: 16, foi verificada. Mas ndo houve tempo sufi- ciente para verificar todas as citagdes dos varios outros autores. Como o resumo jé passou por trés revisOes, assumi que elas estavam corretas, pois os exemplos escolhi- dos a esmo e examinados estavam corretos. Expressamos profunda gratiddo ao Dr. Milford L. Baker, presidente do California Baptist Theological Seminary, e ao Dr. H. Vernon Ritter, bibliotecdtio no mesmo semi- nério, por sua bondade e cooperagfo. Esse semindtio havia adquirido a biblioteca do Dr. Thiessen quando ele faleceu, mas com cortesia e generosidade cristas, permitiram- “Nos retirar este ou quaisquer outros livros de sua biblioteca e usd-los pelo tempo que deles necessitdssemos. O Dr. Ritter arranjou tempo para pessoalmente localizar muitos dos livros para nés, para que pudéssemos dar completo crédito literdrio as citagOes usa- das. Estendemos também nossos agradecimentos ao Dr. Richard W. Cramer, chefe da Divisio de Estudos Biblicos e filosofia do Westmont College, em Santa Barbara, na -2 California, que preparou o Indice dos Assuntos, Indice dos Autores e Indice das Pala- vras Gregas; a Srta. Goldie Wiens, professora em Shafter, Califérnia, pela preparagdo do Indice das Escrituras. Minha irma, Srta. Kate I. Thiessen, uma professora secundaria em Oklahoma, datilografou todo o manuscrito. Cito do Prefécio do Dr. Thiessen no sumdrio mimeografado, o seguinte: “Espera-se que a presente edigdo estabelega a verdade mais clara e logicamente, e que o Deus Tritino, Pai, Filho e Espirito Santo, seja glorificado através do seu estudo”. Como nas versGes anteriores, a American Standard Version da Biblia foi a que usamos, como a melhor tradugdo dos idiomas hebreu e grego, exceto quando outra verso for especificada. O livro é apresentado com a prece para que seja usado por Deus e util para treinar homens para 0 ministério eficiente do Evangelho. John Caldwell Thiessen Detroit, Michigan, 1949 PROLEGOMENOS CAPITULO | A Natureza e Necessidade da Teologia Até bem recentemente, a Teologia era considerada como a rainha das ciénciase a - Teologia Sistemdtica como a coroa da rainha. Mas hoje em dia a maior parte dos cha- mados estudos teoldgicos nega a idéia de que ela seja uma ciéncia, e ainda mais a idéia de que possa ser a rainha das ciéncias. James Orr jé dizia hd um bom ntimero de anos atrds: “Todos devem estar cientes de que hd nos dias de hoje um grande preconcei- to contra doutrina — ou, como € muitas vezes chamada — “dogma” — na religiao; uma grande desconfianga e avers4o ao pensamento claro e sistematico a respeito de coisas divinas. Os homens preferem, ndo se pode deixar de notar, viver em uma regio de nebulosidade e indefinigdo com relagfo a esses assuntos. Querem que seu pensamento seja fluido e indefinido — algo que possa ser mudado com os tem- pos, e com as novas luzes que eles acham estarem constantemente aparecendo para ilumind-los, continuamente adquirindo novas formas e deixando o que € velho para trés”. James Orr, Sidelights on Christian Doctrine (Comentarios sobre a Dou- trina Crista) (New York; A. C. Armstrong and Sons, 1909), pag. 3. Isto € ainda mais verdadeiro hoje do que quando Orr escreveu essas palavras; co- mo podemos explicar esse estado de coisas? Orr indica a razdo basica: E a divida dos dias de hoje quanto a podermos chegar a qualquer conclusdo neste campo, que possa ser considerada como certa e final. In- fluenciada pela filosofia corrente de pragmatismo, o tedlogo moderno comega com 0 dictum de que em teologia, como em todos os outros campos de pesquisa, a crenga nunca deve ir além do mero estabelecimento de uma premissa bdsica; nunca deve ser enunciada como algo considerado fixo e final. Tendo rejeitado a Biblia como a infa- livel Palavra de Deus e tendo aceitado a idéia de que tudo estd fluindo, o tedlogo mo- derno afirma que ndo seguro formular quaisquer idéias permanentes a respeito de Deus e da verdade teoldgica. Se ele fizer isto hoje, amanhd pode ser obrigado a mudar sua opinido. Por isso, escritores modernos raramente expressam qualquer certeza com respeito a qualquer idéia que ndo seja das mais gerais em teologia. Mas, gracas a Deus, ainda hd muitos que nao se deixam levar por esta filosofia su- bliminar, que ainda créem que ha algumas coisas no mundo que sfo estaveis e perma- nentes. Eles citam a regularidade dos corpos celestiais, das leis da natureza e da cién- cia da matemdtica como sendo as provas basicas para esta crenga. A ciéncia, como sa- bemos, esté comegando a questionar a regularidade até das leis da natureza, mas o crente em Deus experiente vé nessas aparentes irregularidades a intervencdo de Deus e a manifestagdo do Seu Poder milagroso. Ele sustenta que, ao mesmo tempo que a apreensdo da revelagGo divina é progressiva, a revelacdo em si € tao estdvel quanto a propria retidao e verdade de Deus. Ele, portanto, ainda acredita na possibilidade da Teologia e da Teologia Sistemdtica, e ainda as considera t4o favoravelmente quanto os antigos o faziam. E patente o fato de que mesmo o moderno estudante que nao for- —4- mula suas crengas teolégicas, ainda tem idéias razoavelmente definidas a respeito das quest6es principais nesse campo. A razdo para isso se encontra em sua prdpria consti- tuig4o moral e mental. Falaremos disso quando abordarmos a necessidade de Teolo- gia; mas precisamos primeiro discutir a natureza da Teologia. I. A Natureza da Teologia XO termo “teologia” é usado hoje em um sentido restrito e também em um amplo. E derivado de duas palavras gregas, theos e logos, sendo que a primeira significa “Deus” e a segunda “palavra”, “discurso” e “doutrina”. No sentido mais restrito, portanto, teologia pode ser definida como sendo a doutrina de Deus. Mas no sentido mais ampio e mais comum, o termo vem a significar todas as doutrinas cristas, ndo apenas a doutri- na especffica de Deus, mas também as doutrinas que se referem as relagdes que Deus mantém com 0 universo. Neste sentido amplo, podemos, portanto, definir teologia como a ciéncia de Deus e Suas relagdes para com o universo. Para melhor esclarecer essa idéia, precisamos indicar a seguir as diferengas entre teologia e ética, teologia e re- ligido, e teologia e filosofia. 1. Teologia e Etica. Psicologia lida com comportamento; ética, com conduta. E isto é verdadeiro tanto na ética filoséfica quando da cristd. A psicologia indaga o como ¢ 0 porque do comportamente; a ética, a respeito da qualidade moral da condu- ta. A ética pode ser descritiva ou pritica. A ética descritiva examina a conduta hu- mana 4 luz de um padrdo do que é certo ou errado; a ética prdtica se alicerga na ética descritiva, mas mais particularmente enfatiza as razGes para se tentar viver de acordo com tal padréo. Mas, como é patente, de qualquer maneira a ética filos6fica se desen- volve em uma base puramente naturalista e ndo possui doutrina de pecado, de um Sal- vador, de redengdo, regeneragdo, e habitagdo e poder divinos para se alcangar suas me- tas. A ética cristd difere bastante da ética filoséfica. E mais completa pois, enquanto que a ética filosdfica se restringe aos deveres entre homem e homem, a ética crist@ tam- bém inclui os deveres para com Deus. Além disso, é diferente em sua motivagdo. Na ética filosdfica, o motivo é ou he- donista, utilitarista, perfeicionista, ou uma combinagdo de todos estes, como no huma- nismo; mas na ética crista, o motivo € a afei¢do e submissdo voluntdria a Deus. Mesmo assim, a teologia contém muito mais do que aquilo que pertence a ética crist4. Inclui também as doutrinas da trindade, criag4o, providéncia, a queda, a encarnagdo, reden- go e escatologia. Nenhuma dessas pertence propriamente a ética. 2. Teologia e Religiéo. O termo “religido” é usado no maior ntimero de maneiras imagindveis. E usado para as prdticas de fetichismo na Africa, para o canto dos Hindus ante o Absoluto impessoal, para o palavrear dos sacerdotes chintoistas e dos mahdis maometanos, para os sistemas grego e catélico romano, para a propaganda humanitd- ria de John Haynes Holmes, ¢ para a adoragdo e o culto do protestante oxtodoxo. Por isto, alguns preferem no usar o termo para a verdadeira fé crista. Mas esta questdo deve ser decidida por uma definicdo aproximada de religido. Hegel considerou religiféo como um tipo de conhecimento; mas ele ndo percebeu que o tipo de conhecimento do qual falam as Escrituras inclui ndo apenas 0 intelecto, mas também as afeigdes ¢ a vontade. Schleiermacher a considerou como sendo apenas o sentimento de dependéncia, mas se esqueceu que tal sentimento nfo é religioso a ndo ser que possa ser acoplado get A confianga em Deus, apropriacdo dEle e servigo prestado a Ele. Kant a identificou com a ética. Matthew Amold pensava que ela era moralidade tocada por emogao. E Henry N. Wieman diz: “Religido ¢ a aguda percepgdo que o homem tem do reino de possibilidade inatingida e 0 comportamento resultante dessa percepgao”. Mas nenhuma dessas é adequada. Para comegar, a etimologia do termo “religio” é incerta. A derivago que Agostinho fez de religare, “ligar de novo”, o homem a Deus, é duvidosa; 0 mundo pagfo tinha “religio”, mas ndo tinha uma concepgao tao biblica da natureza do pecado e da necessidade que o homem tem de redengdo quanto € subentendido nesta definig&o. Mais provavel é a idéia de Cicero. Ele o deriva de rele- gere, “considerar”, “rever”; em outras palavras, considerar e observar devotadamente, especialmente aquilo que diz respeito a adorac4o dos deuses. Deste ponto de vista, entdo, todas as priticas e sistemas mencionados acima se encaixariam no termo “‘reli- gido”. Mas para Strong, “religido, em sua idéia essencial, ¢ uma vida em Deus, uma vida vivida em reconhecimento de Deus, em comunh4o com Deus, e sob o controle do Espirito de Deus que habita no crente”, A. H. Strong, Systematic Theology (Teologia Sistemdtica) (Philadelphia: The Griffith and Rowland Press, 1907), pdg. 21. Para ele, s6 hd, estritamente, uma religido, a religido crist@. Se adotarmos este ponto de vista, entdo estariamos justificados em usar o termo para a fé e culto protestante ortodoxos, mas a0 mesmo tempo seriamos obrigados a recusélo a todas as outras chamadas “reli- gides”. A relagao entre teologia e religifo é a de efeitos, em esferas diferentes, produzidas pelas mesmas causas. No campo do pensamento sistemdtico, os fatos que se referem a Deus e Suas relagdes com o universo levam a teologia; na esfera da vida individual e coletiva, eles levam 4 religigo. Em outras palavras, na teologia um homem organiza seus pensamentos com referéncia a Deus e ao universo, e na religido ele expressa, em atitudes e agdes, os efeitos que esses pensamentos — produziram nele. 3. Teologia e Filosofia. Teologia e filosofia tém praticamente os mesmos objeti- vos, mas diferem bastante no enfoque que d&o e no método que usam para atingir es- ses objetivos. Ambas buscam uma visio completa do mundo e da vida. Entretanto, enquanto que a teologia parte da crenga na existéncia de Deus e da idéia de que Ele é a causa de todas as coisas, com exce¢do do pecado, a filosofia parte de uma outra coisa dada e com a idéia de que é suficiente para explicar a existéncia de todas as outras coi- sas. Para os fildsofos gregos, esta coisa dada era ou a agua, ou o ar, ou o fogo, ou dto- mos em movimento, ou nous, ou idéias; para os modernos, é a natureza ou a mente, ou a personalidade, ou a vida, ou alguma outra coisa. A teologia ndo apenas parte da cren- ga na existéncia de Deus, mas também afirma que Ele graciosamente Se revelou. A filosofia nega essas duas idéias. Baseado na idéia de Deus e no estudo da revelagao di- vina, 0 tedlogo desenvolve suas idéias a respeito do mundo e da vida; baseado na coisa dada e nos supostos poderes a ela inerentes, o fildsofo desenvolve suas idéias a respeito do mundo e da vida. E claro, portanto, que a teologia se alicerga sobre uma base sélida e objetiva, en- quanto que a filosofia se alicerga apenas nas suposicgdes — e especulagées do fildsofo. No entanto, a filosofia é definitivamente importante para o tedlogo. Em primeirolu- gar, Oferece a ele certo apoio para a posigdo crista. Kant, na base da consciéncia, de- fendeu a existéncia de Deus, liberdade e imortalidade. Henri Bergson defende a idéia de que os homens adquirem conhecimento através da intuigdo tanto como através da raz4o. Varios filésofos tém defendido a independéncia da mente e do cérebro e tém procurado estabelecer as relagdes entre eles. O tedlogo pode usar tais conclusdes filo- séficas para reforgar a posigdo biblica. Em segundo lugar, revela a ele a incapacidade da razdo para resolver os problemas bisicos da existéncia. Enquanto que o tedlogo aprecia toda a ajuda real que recebe da filosofia, ele logo percebe que a filosofia ndo tem uma teoria real das origens e nenhuma doutrina de providéncia, pecado, salvagao, e uma consumagao final. Como todos esses conceitos s4o muito vitais para uma idéia adequada do mundo e da vida, o tedlogo é irresistivelmente conduzido a Deus ¢ a re- velago que ele fez de Si mesmo para tratar dessas doutrinas. E, em terceiro lugar, dé-Ihe a conhecer as idéias do descrente culto. A filosofia é para o descrente o que a f6 cristé € para o crente; ¢ ele se apega a ela com a mesma tenacidade com a qual o crente se apega 4 sua fé. Conhecer a filosofia de alguém é, portanto, ficar de posse da chave necessdria para compreendé-lo e também para lidar com ele. O crente pode nao conseguir ir muito longe com o fildsofo tedrico, mas poderd ajudar aquele que ainda nao estiver totalmente dominado pelas teorias da especulagao. Il. A Necessidade da Teologia Dissemos acima que mesmo aqueles que se recusam a formular suas crengas teolé- gicas possuem idéias bem definidas com relag&o aos principais assuntos da teologia; isto é, algum tipo de crenga teolégica é necessdrio. Isto se deve 4 natureza do intelec- to humano e as preocupag6es prdticas da vida. Vamos, portanto, considerar brevemen- te o porqué desta necessidade, pensando particularmente de sua necessidade para o cristdo. 1. O Instinto Organizador do Intelecto. O intelecto humano nfo se contenta com uma simples acumulagao de fatos: invariavelmente busca uma unificagdo e sistematiza- ¢40 de seu conhecimento. Hocking diz: “Um ser é uma unidade que nfo pode viver para sempre, ou enfrentar o prospecto de viver para sempre, com desordem mental .. . Nao podemos viver vidas completamente racionais até que aquele acordo latente entre nossas diferentes percepg&es possa ser compreendido como um principio que dé unida- de a todas as idéias a respeito do mundo”. Wm. E. Hocking, Types of Philosophy (Ti- pos de Filosofia) (New York: Charles Scribner’s Sons, 1929), pég. 431. Ele estd, é cla- ro, pensando sobre filosofia, mas o argumento é igualmente verdadeiro na teologia. A mente ndo se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relagGes entre essas pessoas e coisas e organizar suas descobertas em forma de um sistema. Orr diz, falando da mente: “Ela nao se contenta com conhecimento fragmentado, mas tem constantes a tendéncia de passar dos fatos para leis, de leis para leis mais elevadas, e destas para as generalizagdes mais elevadas possiveis”. James Orr, The Christian View of God and the World (O Concei- to Crist€o de Deus e do Mundo) (Wm. B. Eerdmans Publ. co., 1948) pag. 6. E Strong diz: “E apenas na proporgdo dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e for- mular aumenta”. Op. cit., pdg. 16. 2. A Natureza Difundida da Descrenca de Nossos Dias. Os perigos que ameacam a igreja véem, nao da ciéncia, mas sim da filosofia. Nossas universidades, faculdades e semindrios esto, na maioria, saturados de atefsmo, agnosticismo, e panteismo. Alguns deles so unitarianos. Através daqueles que se formam nessas instituig6es, as escolas pablicas, os jornais, revistas, rédios e as muitas organizagGes sociais, comerciais, politi- cas e fraternais, esses ensinamentos sdo infundidos em todos os niveis da vida social. Os mais bem instrufdos destes tém um conjunto de idéias relativamente completo egies com relagdo as coisas que os interessam mais de perto. Ora, nfo é bastante citar ver- siculos isolados para homens que defendem as falsas idéias dos dias presentes: preci- samos mostrar a eles que a Biblia é uma solugdo melhor para seus problemas do que aquela que eles adotaram; que Ela tem a resposta para muitos problemas que suas fi- losofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visdo plena e con- sistente do mundo e da vida. O homem que no possui um sistema organizado de pen- samento estd 4 mercé daquele que o tem. Em outras palavras, temos a obrigagdo de ajuntar todos os fatos revelados sobre um dado assunto ou organizé-los sob a forma de um sistema harmonioso se quisermos enfrentar aqueles que estéo profundamente arraigados em algum sistema filosofico de pensamento. 3. A Natureza das Escrituras. A Biblia é para o tedlogo o que a natureza é para o cientista, um conjunto de fatos desorganizados ou apenas parcialmente organizados. Deus nao achou necessério escrever a Biblia na forma de Teologia Sistemdtica; é nos- sa tarefa, portanto, ajuntar os fatos dispersos e colocd-los sob a forma de um sistema légico. Ha certamente algumas doutrinas que sao tratadas com relativa extenso em um dnico contexto; mas ndo hd nenhuma que seja ali tratada exaustivamente. Veja como exemplo de uma doutrina ou tema tratados extensivamente em uma passagem, © significado da morte de Cristo nas cinco ofertas de Lv. 1-7; as qualidades da Pala- vra de Deus nos Sl. 19, 119; os ensinamentos da onipresenga e onisciéncia de Deus no Sl. 139; os sofrimentos, morte, e exaltag4o do Servo de Jeové em Is. 53; a restauragdo a Israel de sua adoragdo no templo, e sua terra, em Ez. 40-48; as predigdes referentes aos tempos dos gentios em Dn. 2 e 7; a volta de Cristo a este mundo e os aconteci- mentos imediatamente ligados a ele em Zc. 14; Ap. 19:11 — 22:6; a Carta Magna do reino em Mt. 5-7; 0 desenvolvimento do cristianismo em Mt. 13; a doutrina da pes- soa de Cristo em Joao 1: 1-18, Fl. 2:5-11, Cl. 1: 15-19; Hb. 1: 1-4; os ensinamentos de Jesus referentes ao Espirito Santo em Joao 14-16; o status dos cristdos gentios com teferéncia 4 lei de Moisés em Atos 15: 1-29; Gl.2:1-10; a doutrina da justificagdo pe- la fé em Rm. 1:17 — 5:21; o status presente e futuro de Israel como nagdo em Rm. 9-11; a questéo dos dons do Espirito em I Co. 12, 14; a caracterizagdo do amor em 1Co. 13; a doutrina da ressurreigdo em I Co. 15; a natureza da igreja em Ef. 2,3; as conquistas da fé em-Hb. 11; e o problema do sofrimento no livro de Jé e em I Pedro: Apesar de ser grande a extensdo do tratamento dado ao tema nessas mensagens, em nenhuma delas é o tema tratado plenamente. E necessdrio, portanto, se quisermos conhecer todos os fatos a respeito de qualquer assunto, ajuntar os ensinamentos dis- persos e colocd-los em um sistema ldgico e harmonioso. 4. O Desenvolvimento de um Cardter Cristo Inteligente. H4 duas opinides errd- neas a respeito deste assunto: (1) Hd pouca ou nenhuma relago entre a crenga de um homem e seu cardter e (2) a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiri- tual. O modernista ds vezes acusa o crente ortodoxo do absurdo de defender as cren- as tradicionais da igreja quando ele vive como um pagio. Seu credo, insiste aquele, nao afeta seu cardter e conduta. O modernista, pelo contrdrio, se disp6e a produzir uma vida boa sem 0 credo ortodoxo. Como podemos responder a essa acusagdo? Replicamos que a mera aceitacdo intelectual de um conjunto de doutrinas é insufi- ciente para produzir resultados espirituais, e infelizmente muitas pessoas chamadas ortodoxas possuem nada mais que uma lealdade intelectual para com a verdade. In- sistimos, além disso, que a verdadeira crenga, envolvendo o intelecto, as sensibilida- des e a vontade, ndo possui um efeito sobre o cardter e a conduta. Os homens agem —8- de acordo com aquilo em que realmente créem e nfo de acordo com aquilo em que eles simplesmente dizem crer. Dizer que a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual pode ser verdade apenas se o assunto for tratado como mera teoria. Se for tratado em relagdo 4 vida, se ficar claro que cada um dos atributos de Deus, por exemplo, tem uma in- fluéncia prdtica na conduta; a teologia ndo terd um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual; ao invés disso, servird de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um estimulo 4 uma vida santa. Como poderiam idéias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da Biblia, etc., levar a outra coisa? A teologia nfo apenas nos ensina que tipo de vida deverfamos viver, mas nos inspira a viver dessa maneira. Em outras palavras, a teologia no apenas indica as normas de conduta, mas também nos fornece os motivos para tentarmos viver de acor- do com essas normas. 5. As Condigées para o Servigo Cristdo Eficaz. Ha em muitas igrejas hoje em dia uma aversdo a pregages doutrindrias. O pastor sente que as pessoas exigem algo que Seja oratério, que suscite emog6es que levem a acdo imediata, e que ndo requeira con- centragdo de pensamento. Infelizmente, algumas congregag6es sAo assim, mas Cristo € os apéstolos pregavam doutrina (Marcos 4:2; Atos 2:42; II Timédteo 3:10), e so- mos exortados a pregar doutrina (II Timoteo 4:2; Tito 1:9). Pregagdo oratdria, tex- tual ou atual pode prender a congregagao ao pregador, mas quando o pregador for em- bora, 0 povo vai também. Joseph Parker e T. De Talmadge podem ser citados como homens de grande poder oratério que conseguiram grandes congregagdes através de sua oratéria; mas o City Temple em Londres caiu nas maos de R.J. Campbell, funda- dor da Nova Teologia, logo depois da morte de Parker, e o Brooklyn Tabernacle nas mos de Charles T. Russell e da Sociedade chamada de Watchtower Bible and Tract Society (A Torre de Vigia e Sociedade de Folhetos). Tem sido frequentemente de- monstrado que é apenas na medida em que as pessoas forem completamente instrui- das na Palavra de Deus que elas se tornardo cristdos firmes e trabalhadores eficazes por Cristo. Ha, assim, uma relacdo definitiva entre a pregagdo doutrindria e o servigo cris- tao eficaz. CAPITULO II A Possibilidade e Divisées da Tealogia Dissemos no capitulo anterior que os modernistas nfo escrevem obras sobre Teo- logia, especialmente sobre a Teologia Sistemdtica, por crerem que no podemos nunca chegar a qualquer alto grau de certeza nesses assuntos. Temos, entretanto, em oposi- go a esta opinido, mantido a opinifo de que a Teologia, mesmo a Teologia Sistemsti- ca, € ndo apenas possivel mas muito necessdria. Apresentaremos agora a prova em fa- vor da possibilidade da teologia e entdo indicaremos as divisSes comuns da Teologia. A. A POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA A possibilidade da Teologia advém de duas coisas: A revela¢do de Deus e os dons do homem. A revelagdo de Deus se faz de duas formas: geral e especial; os dons do homem sdo de dois tipos: mentais e espirituais. Vamos estudd-los com algum cuidado. I. A Revelagao de Deus Pascal falou de Deus como um Deus Absconditus (um Deus escondido); mas afir- mou que este Deus escondido se revelou e portanto pode ser conhecido. Isto é verda- de. Certamente, nunca poderfamos conhecer a Deus se Ele no Se tivesse revelado a nés. Mas o que queremos dizer com “revelagdo”? Para nés, é 0 ato de Deus pelo qual Ele Se mostra ou comunica verdade 4 mente; pelo qual Ele torna manifesto as Suas criaturas aquilo que ndo pode ser conhecido de nenhuma outra maneira. A revelagdo pode ocorrer através de um ato nico, instanténeo ou pode se estender por um longo periodo; e esta comunicagdo de Si Préprio e de Sua verdade pode ser percebida pela mente humana em virios graus de plenitude. Trataremos dos argumentos formais em favor da existéncia de Deus no capitulo IIL, mas veremos que a discussdo da revelag&o de Deus é fundamental as provas da Sua existéncia. Precisamos abordar a revelacdo primeiro para provarmos a possibilidade da teologia. Falando de maneira geral, hd duas espécies de revelagdo: Geral e Especial. Vamos consideré-las brevemente. 1. A Revelacdo Geral de Deus. Ela é encontrada na natureza, na histéria e na consciéneia. E comunicada por meio de fenémenos naturais que ocorrem na natureza ou no decorrer da histéria; é enderegada a todas as criaturas inteligentes de modo geral e € acessivel a todas; tem por objetivo suprir a necessidade natural do homem e a per- suasdo da alma para buscar o Deus verdadeiro, Cada uma das trés formas desta revela- go merece uma breve consideracdo. (1) A Revelaggo de Deus na Natureza. Todos os naturalistas que rejeitam a pré- pria idéia de Deus e afirmam que a natureza é auto-suficiente e auto-explicativa nao véem, é claro, revelagdo alguma de Deus na natureza. Tampouco os panteistas real- Mente véem qualquer revelagdo de Deus na natureza. Alguns deles identificam Deus com o “Todo”, o “Universum”, e “Natureza”; outros falam dEle como o Eterno Po- der de Energia que produz todas as mudangas no mundo dos fendmenos, e ainda outros, One como a Razfo que se externa a si propria no universo. Jd que todos eles possuem uma visdo necessitdria do mundo, nao encontram revelagdo alguma de um Deus extra-ter- restre no universo. Nem mesmo os modernos tedlogos da crise aceitam uma revelacdo significativa de Deus na natureza. Barth, por exemplo, afirma que o homem perdeu to completamente a imagem original de Deus que sem uma agdo sobrenatural em cada caso individual, ele ndo pode ter qualquer conhecimento de Deus. Deus tem que criar a capacidade para uma revelagéo e também comunicd-la ao homem. Brunner afirma que embora o homem tenha perdido o contevido desta imagem, nao perdeu a forma dela. Ele, portanto, cré que o homem pode ver algo de Deus na natureza. Os deistas, por outro lado, afirmavam que a natureza € a suficiente revelagdo de Deus. Diziam que ela nos fornece umas poucas verdades simples e imutdveis a respeito de Deus, da virtude, da imortalidade e da recompensa futura de maneira to clara que ne- nhuma revelag& especial é necessdria. No entanto, a filosofia cética e critica mos- trou que nunca houve na natureza uma revelagdo tal como os deistas dizem ter existi- do. O que eles afirmaram ndo passou de verdades abstratas derivadas, ndo da natureza, mas empfestadas de outras religiGes, especialmente do cristianismo. Esta opinido tem sido grandemente substituida pela crenga de que ndo temos revelagao alguma de Deus na natureza. Mas os homens em gerai sempre viam na natureza uma revelagdo de Deus. Os mais bem dotados muitas vezes expressaram suas convicgdes em linguagem semelhan- te a dos salmistas, dos profetas e dos apdstolos (SI, 8:1,3; 19:1,2; Is. 40:12-14, 26; Atos 14: 15-17; Rm. 1:19, 20). Hume foi um cético mas conta-se que ele disse a Ferguson ao andarem juntos numa noite estrelada: “Adam, hd um Deus!” Diz-se que Voltaire orou em meio a uma tempestade alpina. Muitos homens extraordindrios no campo das ciéncias naturais e biologicas testificaram quanto a convicgdo de que a natureza revela Deus: Apontam o universo como uma manifestagdo do poder, gléria, divindade e bondade de Deus. Mas cientistas crist@os tém também mostrado as limi- tagdes da revelagdo de Deus na natureza. Eles tém insistido que, embora deixe o ho- mem sem nenhuma desculpa, esta revelagdo por si sé é insuficiente para a salvacdo; entretanto, tém a missdo de incitar o homem a buscar uma revelagdo mais plena de Deus e Seu plano de salvago, e constitui um chamado geral de Deus para que 0 ho- mem se volte para Ele. (2) A Revelacéo de Deus na Histéria. Tem sido dito muitas vezes: “Waterloo foi Deus!” Qudo diferente teria sido o destino da Europa se Napoledo tivesse vencido em vez de Wellington! Seguramente, nenhum homem de discernimento pode ques- tionar o fato de que o resultado das guerras recentes do mundo tenha sido também uma manifestagdo de Deus na histéria. Assim, poderfamos voltar atrds e falar da der- rota das nagdes corruptas da antiguidade por parte de nagdes mais viris e retas. E bem verdade que os captores também eram geralmente maus; mas eles néo haviam ainda chegado ao grau de maldade a que os conquistados tinham. O salmista faz a arrojada assergdo de que os destinos dos reis e impérios estéo nas maos de Deus. “Porque ndo € do Oriente, ndo é do Ocidente, nem do deserto que vem 0 auxilio. Deus é 0 juiz; aum abate, a outro exalta”. (Sl. 75:6,7, cf; Rm. 13:1). E Paulo declara que Deus “de um sé fez toda raga humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fi- xado 0s tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitagdo; para busca- rem a Deus se, porventura, tateando 0 possam achar” (Atos 17:26, 27). Concordan- do com isto, o sistema cristo encontra na histéria uma revelago do poder e da pro- vidéncia de Deus. -ll- A Biblia fala igualmente de como Deus lidou com o Egito (Ex. 9: 13-17; Rm. 9: 17; Jr. 46:14-26), Assiria (Is. 10:12-19; Ez.31:1-14; Naum 3:1-7), Babilonia (Ir. 50: 1-16; 51: 1-4), Medo-Pérsia (Is. 44:24 — 45:7), Medo-Pérsia e Grécia jun- tas (Dn. 8: 1-8, 15-21), os quatro reinos que vieram depois da queda do império de Alexandre (Dn. 8:9-14, 22-25; 11:5-35), 0 império romano (Dn.7:7, 23). Toda Ela mostra que “a justiga exalta as nag6es, mas o pecado é oprébrio dos povos” (Pv. 14: 34). Mostra também que apesar de Deus poder, para Seus proprios sdbios e santos propésitos, permitir que uma nacdo mais impia triunfe sobre uma menos impia, Ele no fim tratard a mais impia com maior severidade, do que a menos impia (Hc. 2:20) Notamos, mais particularmente, que Deus revelou a Si Mesmo na histéria de Is- rael: no conceito que Israel tinha de Deus e no tratamento que Deus deu a Israel. Quanto ao primeiro, € realmente extraordinério que numa época eri que o mundo inteiro havia mergulhado na desesperanga do politeismo e panteismo, Abrado, Isaque e Jac6, e seus descendentes chegassem ao conhecimento de Deus como um Deus pes- soalmente infinito, santo, revelando a Si mesmo como 0 Criador, Preservador e Gover- nador do universo. Nao apenas isso, mas que eles tivessem chegado ao conceito de como o homem foi originalmente criado a semelhanga de Deus, caiu desta alta posigao e trouxe o pecado, condenagfo e morte sobre si proprio e sua posteridade. E ainda mais que isto, que eles chegassem a compreensdo do propésito redentor de Deus atra- vés do sacrificio, de libertagdo através da morte de um Messias, da Salvagdo para todas as nag6es e de um reino final em retiddo e paz. Estes conceitos so realmente mara- vilhosos! Nao se devem, entretanto, ao “génio religioso” de Israel, mas sim a revela- go de Deus para seu povo. Vemos Deus aparecendo pessoalmente aos patriarcas; dando a conhecer a Si mesmo e Sua vontade por meio de sonhos, visdes e éxtases; comunicando Sua mensagem diretamente a eles; e revelando Seu Santo Cardter na le- gislagdo Mosaica, o sistema de sacrificios, e os servigos do tabernéculo e do Templo. E vista também na histéria da nagdo. Apesar de Israel ser pequeno, viver em um pequeno e obscuro pais, e manter pouco comércio com o resto do mundo, foi mesmo assim um espetdculo para o mundo todo (Dt. 28: 10). Quando Deus ameagou destruir a nagGo no deserto devido ao seu grave pecado — Moisés suplicou-lhe que poupasse 0 povo por causa da maneira como Sua honra ficaria envolvida na destruig#o (Ex. 32: 12; Dt. 9:28). Quando Israel obedeceu a Deus, conquistou sete nagdes maiores que ele (Dt.7:1; 9:1; Josué 6: 12); mas quando seguiu seus proprios caminhos, Deus os en- tregou a nagGes opressoras e A catividade em terras longinquas. Quando ele se arrepen- deu e clamou a Deus, Ele Ihe mandou um libertador e Ihe deu vitéria sobre seus inimi- gos (Livro de Juizes). Davi triunfou sobre todos os seus inimigos, porque andava nos caminhos de Deus (II Sm. 7:9, 11); e todos os reis tementes a Deus gozavam de pros- peridade doméstica ¢ de triunfo na guerra. Mas toda vez que a nagdo se afastava de Deus era castigada pelas secas, pragas e gafanhotos e reveses na guerra. Pode-se real- mente dizer, portanto, que em todas as experiéncias de Israel Deus Se revelou, ¢ nao apenas a na¢do mas, através da nagdo, ao mundo todo. (3) A Revelagdo de Deus na Consciéncia. Ja dissemos que com base na conscién- cia Kant cria em Deus, na liberdade e na imortalidade. Muitos dos moralistas ingleses eram da mesma opinido. Este ¢ o chamado Argumento Moral em favor da existéncia de Deus e serd tratado mais plenamente no Capitulo VI. Nao podemos dar aqui uma de- finigdo completa de consciéncia: isso serd feito com referéncia a nosso estudo a respei- ae to da constitui¢a0 moral do homem (Capitulo XVI). Basta dizer que a consci8ncid nao € inventiva, mas sim discriminativa e impulsiva. Ela julga se um curso de aco proposto em uma atitude estd ou ndo em harmonia com nossos padrGes morais e insta conosco para fazermos aquilo que estiver em harmonia com eles e nos abstermos de particular aquilo que for de encontro a eles. E a presenga no homem desta ciéncia do que é certo e errado, deste algo discrimi- nativo e impulsivo que constitui a revelagdéo de Deus. Nao é auto-imposta, como fica evidenciado pelo fato de que o homem freqiientemente se livraria de suas opiniGes se pudesse; é o reflexo de Deus na alma. Da mesma maneira que 0 espelho e a superfi- cie tranqiiila do lago refletem o sol e revelam no apenas a sua existéncia, mas também até certo ponto sua natureza, assim a consciéncia no homem revela a existéncia de Deus e, até certo ponto, a natureza de Deus. Isto é, nos revela apenas 0 que Ele é, mas também que Ele faz uma distingao clara entre 0 certo e o errado (Rm. 2: 14-16); que Ele sempre faz 0 que é certo; e que Ele também da a criatura racional a responsabi- lidade de sempre fazer 0 que é certo e se abster do que é errado. Também dda enten- der que a transgressdo serd punida. Concluimos, portanto, que na consciéncia temos outra revelagdo de Deus. Suas proibigdes e ordens, suas decisdes e impulsos no teriam qualquer autoridade real so- bre nds se ndo sentissemos que na consciéncia temos de alguma forma a realidade, algo em nossa natureza que todavia estd acima dessa natureza. Em outras palavras, ela re- vela 0 fato de que hd uma lei absoluta do certo e do érrado no universo e de que hd um Legislador Supremo que encarna esta lei em Sua prépria pessoa e conduta. 2. A Revelagio Especial de Deus. Com revelagéo especial queremos dizer aqueles atos de Deus pelos quais Ele di a conhecer a Si proprio e a Sua verdade em momentos especiais e a povos especificos. Apesar de dada em momentos especiais e a povos es- pecificos, a revelagao nao fica necessariamente circunscrita apenas aquele momento e povo. Na verdade, os homens s¥o conclamados a proclamar os atos e obras maravilho- sas de Deus entre todos os povos da terra (SI. 105: 1, 2). A revelagdo especial é como se fosse um tesouro a ser partilhado com o mundo inteiro (Lucas 2:10; Mt. 28:19, 20; Atos 1:8). E dada ao homem de varias maneiras: na forma de milagres e profe- cia, na pessoa e trabalho de Jesus Cristo, nas Escrituras e na experiéncia pessoal. Vamos considerar brevemente cada uma delas. (1) A Revelagdo de Deus em Milagres. Um milagre genuino é um acontecimento fora do comum, que realiza uma obra util e revela a presenga e o poder de Deus (Ex. 4:2-5; I Reis 18:24; Joao 5:36; 20:30,31; Atos 2:22); um falso milagre, se no for um simples engano, é um capricho de poder, arquitetado para exibi¢do e ostenta- ¢40, e inferior ao verdadeiro milagre (Ex. 7:11, 12,22; Atos 8:9-11; 13:6-8; Mt. 24: 24; I Ts.2:9; Ap. 13:13). Um milagre verdadeiro é um acontecimento fora do co- mum por nao ser o mero produto das chamadas leis naturais. Em relagdo 4 natureza, os milagres se dividem em dois tipos: aqueles nos quais as leis naturais so intensifica- das ou aumentadas, como no dilivio, em algumas ptagas do Egito, na forga de Sansdo, etc.; e aqueles nos quais toda participacao da natureza fica exclu{da, como no floresci- mento da vara de Aro, a obtengdo de agua da rocha, a multiplicagdo dos paes e dos peixes, a cura dos doentes, a ressurreigdo dos mortos, Um milagre genuino realiza uma obra pratica e benevolente. Diz-se que Origenes aplicou este teste quando soube de milagres praticados por santos homens e por sdbios pagdos: “Em que resultaram? O que estabeleceram? Onde esté a sociedade que foi fun- -13- dada com sua ajuda? O que existe na historia do mundo que eles ajudaram a progre- dir?” Contra Celsus, II 51. E nas Pseudo Homilias Clementinas, Pedro aparece con- trastando os milagres de Cristo com aqueles que se diziam ter sido praticados por Si- mao o magico, e concluindo assim. “Se ele praticar milagres inuiteis, é um agente do mal; mas se praticar coisas titeis, é um lider da bondade.” Veja II XXXI-XXXIV. Nés também cremos que 0 teste de um milagre genufno deve ser sempre: Que obra util ele fez ou faz? Milagres genuinos sfo uma revelaco especial da presenga e do poder de Deus. Provam Sua existéncia, cuidado e poder. Sao ocasises nas quais Deus como que sai de seu esconderijo e mostra ao homem que é um Deus vivo, que ainda est4 no trono do universo e que é suficiente para todos os problemas do homem. Se um milagre ndo produz essa convic¢do no tocante a Deus, ent#o provavelmente nao é um milagre ge- nuino. Mas ha muita oposi¢ao hoje aos ensinamentos que dizem respeito a milagres. To- dos os sistemas naturalistas, panteistas e de{stas rejeitam-nos a priori. Para eles, o uni- verso é uma grande maquina auto-sustentada. Hume objetou que milagres sao impossi- veis pois so violagdes da lei da natureza; e que so incriveis pois contradizem a expe- riéncia humana. Enquiry Concerning Human Understanding (Questdo a Respeito da Compreensdo Humana) (Chicago: The Open Court Publishing Co., 1926) pags. 120, 121. Oferecemos as seguintes réplicas a essa posigao. A primeira posigdo assume incorretamente que as leis da natureza s4o auto-sufi- cientes e sem influéncia, diregao ou manutengdo externas. Afirmamos, em vez disso, que elas ndo sao completamente independentes, pois mero poder ndo pode manter-se asi proprio ou funcionar com um proposito: um poder infinito e inteligente é neces- sdrio para fazer isso; e que Deus participa de todas as operagdes, quer da matéria, quer da mente, sem agredi-las. Nos atos maus, entretanto, Ele participa apenas até o ponto deles serem naturais, e ndo na sua maldade. E se Ele fizer isso na operagdo comum das leis da natureza, porque deverfamos considerar isso como uma violagdo delas se em Suas administragdes extraordindrias Ele as intensifica ou aumenta, neutraliza ou age independentemente delas? A segunda proposta de que milagres sfo incriveis porque contradizem a experién- cia humana, assume erradamente que precisamos basear toda a nossa crenga na expe- riéncia humana presente. Os gedlogos falam sobre grandes atividades glaciais no pas- sado e da formagao de mares e baias por intermédio dessas atividades, e no entanto nao vemos nada disso acontecendo hojé.A revelagdo de Deus na natureza, histéria consciéncia nos deveria levar a esperar milagres em diversas ocasides. Os milagres ndo contradizem a experiéncia humana a menos que contradigam toda a experiéncia huma- na, no passado bem como no presente. Isso deixa bem aberta a porta para bem funda- mentada evidéncia sobre o que realmente aconteceu. Além disso, os gedlogos admitem francamente que a vida nGo existiu eternamente neste planeta. Chamberlain e Salisbury dizem: “Condigdes apropriadas de vida nfo existiam até apds algum desenvolvimento notdvel da atmosfera e da hidrosfera”. T.C. Chamberlain e R.D. Salisbury — Geology (Geologia) (New York: Henry Holt & Co., 1937), IL 407. Nao tém explicagdo para a origem da vida, dizendo que essa n@o é uma questao facil de responder. Mas a vida nfo pode ter vindo de substancia inanimada — a teoria da abiogenese j4 morreu faz tempo — s6 pode ter vindo da vida. A introdugdo da vida ~14— neste planeta é portanto em si mesma uma testemunha da realidade dos milagres“~ E agora, positivamente, dirfamos que a prova dos milagres repousa em testemu- nho. Todos cremos em muitas coisas na base do que consideramos testemunho verda- deiro. ‘Quao pouca histéria conheceriamos se acreditassemos apenas naquilo que pes- soalmente observamos e experimentamos!, Os milagres da Biblia repousam sobre tes- temunho vélido. Nao é possivel examinar aqui a evidéncia para todos eles, nem é ne- cessério. Se conseguirmos provar um dos mais importantes milagres da Biblia, teremos aberto o caminho para que também os outros sejam aceitos. Cremos que a ressurrei¢ao fisica de Cristo é um dos fatos mais bem comprovados da historia. Quase todos os relatos que nos falam sobre ela foram escritos de 20 a 30 dias apés o acontecimento; eles nos asseguram: que Cristo havia realmente morrido e sido sepultado; que apesar de Seus seguidores ndo esperarem que Ele ressuscitasse, muitos deles O viram vivo poucos dias apds a crucificagdo; que eles tinham tanta cer- teza de Sua ressurreigo que corajosa e publicamente declararam esse fato em Jerusa- lém um més ¢ meio apds ela haver ocorrido; que nem naquela época nem em qualquer outra época em que o assunto foi mencionado nos tempos apostélicos ela foi posta em davida; que nenhuma prova em contrario do fato jamais chegou até nds, de qual- quer fonte; que os discipulos sacrificaram sua posigdo social, posses materiais e mesmo sua vida por este testemunho; que Paulo ndo argumenta em favor da ressurrei¢do de Cristo, mas a usa como prova do fato de que todos os crentes ressurgirdo da mesma maneira; e que na igreja, no Novo Testamento e no dia do Senhor, temos testemunho corroboratério da historicidade deste grande acontecimento. E se a ressurreigéo de Cristo é um fato histérico, entéo o caminho para a aceitagao de outros milagres esté aberto. E finalmente, acreditamos que milagres ainda acontecem. Nao so contrdrios nem 4 experiéncia dos dias de hoje. Todos os verdadeiros cristdos testificam a res- peito do fato de que Deus responde a oragdes. Na verdade, esto convencidos de que Deus operou milagres em seu favor ou em favor de alguns de seus amigos. Eles tém certeza de que apenas as leis da natureza ndo podem explicar as coisas que viram com seus proprios olhos e experimentado em suas préprias vidas. Nenhuma quanti- dade de oposig¢do por parte dos descrentes vai jamais persuadi-los a pensar de outra maneira. Mais especificamente, temos o sempre recorrente milagre da regeneragao. {O Etiope nao pode mudar sua pele, nem o leopardo suas manchas, mas 0 Senhor po- de mudar e muda 0 coragdo e remove as manchas do pecador. Diremos mais a respei- to deste milagre sob a revelago de Deus na experiéncia cristd. Basta dizer que respos- tas a oragdes e a experiéncia da regeneraco provam que milagres ainda acontecem. >> (2) A Revelagao de Deus na Profecia. Usamos profecia aqui para indicar a predi- ¢40 de acontecimentos, nao por virtude de mera percep¢ao ou presciéncia humana, mas através de uma comunicagdo direta de Deus. Mas por nao podermos saber se uma declaragao foi assim comunicada a um ho- mem enquanto nao chega a hora de ser cumprida ou quando ficar evidente que nao ser cumprida, o valor imediato da profecia como prova da presenga e da sabedoria de Deus fica dependendo da questdo de se aquele que o pronuncia est4 vivendo em contato com Deus. $6 podemos determinar isso com base em seus outros ensinamentos e vida santa. Quanto 20 cumprimento aparente da profecia, precisamos aplicar ainda certos testes antes de podermos ter certeza de que ela foi genuina. Precisamos determinar, por exemplo, se a profecia estava suficientemente distan- -15—

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