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GILLES CISTAC - Metodo J. Geral
GILLES CISTAC - Metodo J. Geral
CURSO
DE
METODOLOGIA JURĺDICA
1
I – O MÉTODO JURÍDICO GERAL
Essas situações que podem aparecer como diferentes não as são por natureza. A
actividade dos juristas situa-se fundamentalmente num relacionamento entre o Direito
e os factos. É sempre aplicar o Direito aos factos ou elaborar o Direito em função dos
factos. É por concretizar esta finalidade que os juristas utilizam diversos métodos
jurídicos para aproximar o Direito dos factos. Por exemplo, pela qualificação jurídica dos
factos ou o silogismo judicial. Esta submissão dos factos sociais às normas jurídicas
será o objecto de uma primeria Secção (SECÇÃO 1).
Além disso, a implementação das normas jurídicas ou das regras de Direito bem
como a sua concepção resultam de um conjunto de operações necessárias à aplicação
do Direito. Assim, é necessário classificar, categorizar e interpretar o Direito para
proceder a sua aplicação numa situação concreta (SECÇÃO 2).
Assim, aparece com clareza a distinção operada pela sociologia do Direito entre o
Direito como "prática" (regras, conceitos, instituições) e o Direito como "conhecimento",
isto é, como um modo específico de apreender os factos sociais numa perspectiva de, a
partir da análise desses factos, induzir consequências jurídicas1.
1
Vide, ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., p. 37.
2
completudine constitui uma manifestação prática desta “totalização” do Direito2; como
refere LOUIS ASSIER-ANDRIEU: "... nada do que é humano é a priori estranho ao
direito"3.
O sistema jurídico para realizar a sua função e suas finalidades uza de vários
instrumentos que os juristas devem conhecer e saber implementar: “Melhor sabe
utilizar, melhor é o jurista”4.
Seria um erro considerar o Direito como uma simples sequência de regras sem
ligações e sem interacções. As regras jurídicas são o fruto da associação de conceitos
mais ou menos numerosos. Assim, uma construção intelectual é necessária para
elaborar os conceitos e realizar a coerência da ordem jurídica.
De uma certa forma, os conceitos jurídicos constituem “as bases racionais das
realidades humanas concretas”5. Será pois necessário estudar esses instrumentos
conceptuais (A). Mas além dos instrumentos conceptuais, a implentação do Direito
pressupõe instrumentos técnicos (B) necessários para a sua efectividade. Finalmente, a
implementação do Direito necessita também instrumentos operacionais (C).
A. Os instrumentos conceptuais
É claro que a construção do conceito jurídico pode ser mas ou menos elaborada.
Assim, através deste esforço de abstracção e de conceptualização dos factos o jurista
2
PERELMAN C., Logique juridique. Nouvelle rhétorique, Paris, Dalloz, 2.ª ed., 1979, n.° 33.
3
ASSIER-ANDRIEU L., op. cit., p. 29.
4
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 49.
5
BERGEL J.L., op. cit., p. 50.
6
LOBO A., Dicionário de Filosofia, Lisboa, Plátano Edições Técnicas, 1999, vide Conceito
7
ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., p. 54.
3
sujeita esses factos ao Direito. Assim, existe uma certa apropriação dos factos pelo
Direito.
Todavia, isto não significa que todos os conceitos têm um alto grau de precisão.
A maioridade, por exemplo, é um conceito jurídico muito preciso. Por exemplo, o Artigo
73 da Constituição da República (1990) precisava : “Os cidadãos maiores de dezoito
anos têm o direito de votar”; mas existe outros conceitos menos preciso ou
indeterminados como os bons costumes ou a ordem pública (Artigo 280.º do Código
Civil) ou a imoralidade (Artigo 128 do Código Civil) que permitem abranger uma
infinidade de situações previsíveis. Os conceitos são, pois, os instrumentos pelos quais
o direito ordena o realidade. Assim, a metodologia jurídica, sem ser a ciência dos
conceitos, caracteriza-se, por tanto, por seu “conceptualismo”13. P. 51 p. 52
a) As normas jurídicas
8
“1. A morte ou incapacidade do declarante, posterior à emissão da declaração, não prejudica a eficácia
desta, salvo se o contrário resultar da própria declaração ...” (o sublinhado é nosso).
9
“O momento da concepção do filho é fixado, para os efeitos legais, dentro dos primeiros cento e oitenta
dias dos trezentos que precederam o seu nascimento, salvas as excepções dos artigos seguintes” (o
sublinhado é nosso).
10
“1. A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa, quando feita por palavras, escrito
ou qualquer outro meio directo de manifestação da vontade, e tácita, quando se deduz de factos que,
com toda a probabilidade, a revelam ...”.
11
12
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, op. cit., n.º 180 e seguintes.
13
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 51.
4
GEORGES RIPERT ensinava que: “A direcção dos homens exige um conjunto de
regras gerais e permanentes que permitem a cada um de viver em paz com seus
congéneros”14. As normas jurídicas traduzem, conceptualmente, essas “regras gerais e
permanentes” idealizadas pelo referido autor (1) e cumprem funções específicas numa
ordem jurídica (2).
Todavia, a norma jurídica é diferente das outras normas que organizam a vida
social como as normas morais, religiosas, de cortezia ou estéticas. Distingue-se das
outras normas sociais principalmente por suas fontes (autoridades públicas), suas
finalidades (organização da vida social), suas sanções (objectivas estabelecidas pelos
órgãos do Poder público) e pela sua enunciação que é, regra geral, expressa e precisa.
Além deste carácter, a norma jurídica tem, também, um carácter dual: um dever
jurídico ou obrigação e um poder jurídico ou direito.
Toda regra de direito integra um dever. Este pode revestir várias formas
negativa ou positiva: ordens positivas, proibições, obrigação de fazer, reconhecimentos
de faculdades ...18. Todavia, nem apenas as normas jurídicas estabelecem obrigações;
por exemplo, as normas morais estabelecem, também, obrigações. Neste caso o que
faz com que se pode distinguir uma obrigação jurídica de uma obrigação que não tem
este carácter? O que faz com que uma norma jurídica é obrigatória? A “sanção”, como
14
RIPERT G., Les forces créatrices du droit, op. cit., p. 1.
15
JEAMMAUD A., “La règle de droit comme modèle”, D. 1990, Chronique. – XXXI, pp.199-210.
16
VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, RDP 1966, p. 11.
17
BERGEL J.L., op. cit., p. 54.
18
VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, op. cit., p. 19.
5
defendem alguns autores19? MICHEL VIRALLY fiz uma crítica muita interessante deste
fundamento para chegar à conclusão de que “Os traços próprios à obrlgação jurídica
parecem assim resultar não das características da sanção que em regra geral
accompanha-lá, mas do método específico pelo qual é estabelecido a sua validade, isto
é, a validade da norma jurídica que a expressa”20.
Todavia, a norma jurídica não pode ser definida, exclusivamente, pelo seu
carácter obrigatório. Ela tem, também, um carácter “constitutivo”, isto é, “a sua
capacidade a conferir habilitações, a definir direitos ou poderes e a atribuir-lhes”22. Com
este poder constitutivo, “as normas”, escreve MICHEL VIRALLY, “estão habilitadas a,
não só de estabelecer uma hierarquia social, mas, também de criar autoridades e, de
maneira geral, estabelecer instituições. Atribuindo o poder de criar novas normas
jurídicas, o direito adquire, finalmente, esta capacidade (...) de regulamentar a sua
própria criação e mais ainda: de se criar ele-próprio”23. Este poder constitutivo do
Direito, é um elemento essencial e específico do fenómeno jurídico: “nada de
comparável encontra-se em outros sistemas normativos”24.
19
20
VIRALLY M., op. cit., p. 25.
21
VIRALLY M., op. cit., p. 26.
22
VIRALLY M., op. cit., p. 27.
23
VIRALLY M., op. cit., pp. 27-28.
24
VIRALLY M., op. cit., p. 28.
25
Por exemplo, em Direito Público, essas regras consubstanciam nas normas que estabelecem funções
ou instituem órgãos.
6
Pode-se, também, adoptar uma classificação “hartiana” 26 e distinguir entre as
“regras primárias” que estabelecem condutas e as “regras secundárias” que atribuem
poderes ou fixam, criam e executam as “regras primárias”27.
Os direitos subjectivos são poderes concedidos pela ordem jurídica para tutela de
um interesse ou de um núcleo de interesses de uma ou mais pessoas determinadas 29.
Por outras palavras, “trate-se de prerrogativas individuais, atribuídas a pessoas pela
satisfação de interesses pessoais e garantidos pelos meios do Direito” 30; como escreve
H. COING: “A ordem jurídica reconhece a uma pessoa o livre gozo de um bem: é isto a
essência do significado da concepção do direito subjectivo”31.
26
HART H.L.A., The concept of law, Oxford, 1961, p. 77 e seguintes.
27
BERGEL J.L., op. cit., p. 56 e seguintes.
28
BERGEL J.L., op. cit., p. 58.
29
MELO FRANCO J. e ANTUNES MARTINS H., Dicionário de Conceitos e Princípios Jurídicos, Livraria
Almedina – Coimbra, 1993, vide, Direito sujectivo. Sobre a origem e evolução da noção, vide, COING H.,
"Signification de la notion de droit subjectif", em Le droit subjectif en question, APD, tome IX, 1964, pp.
1-15.
30
BERGEL J.L., op. cit., p. 58.
31
COING H., "Signification de la notion de droit subjectif", op. cit., p. 8.
7
Todo direito subjectivo pressupõe a reunião de quatro elementos: um titular (o
sujeito do direito), um objecto material ou imaterial, uma relação jurídica que consiste
essencialmente em uma liberdade ou um poder de agir, e uma protecção jurídica. A
tutela jurídica dos direitos subjectivos permite, assim, impôr o respeito ou a realização
do seu direito graça a uma acção judicial32.
c) A ordem jurídica
32
BERGEL J.L., op. cit., p. 59.
33
BERGEL J.L., Ibidem
34
BERGEL J.L., Idem
35
COING H., op.cit., p. 8.
36
BERGEL J.L., op. cit., p. 61.
8
As críticas do público em geral incide sobre esses instrumentos técnico-jurídicos.
Com efeito, o público em geral considera esses instrumentos como “artifícios dos
juristas” sem procurar a sua razão de ser.
a) O formalismo jurídico
37
BERGEL J.L., op. cit., p. 62.
38
RAYMOND G., "Da necessidade do Direito do Consumidor", Rev. Jur. da Faculdade de Direito, Dez-
2002.- Vol. V, p. 104 e seguintes.
39
BEAUCHARD J., "Qual Direito do Consumidor?", Rev. Jur. da Faculdade de Direito, Dez-2002.- Vol. V,
p. 116 e seguintes.
9
É sobre tudo no Direito Processual que integra, por natureza, o formalismo,
respeito das formas e dos prazos aparecem como garantia de uma boa justiça porque
são necessários para o respeito dos princípios directores do processo e especialmente,
o princípio do contraditório e o direito de defesa.
b) As ficções
Porque?
C. Os instrumentos operacionais
40
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, op. cit., n.° 282.
10
meios técnicos que a ordem jurídica põe à disposição dos interessados. É o caso, por
exemplo do CONTRATO. São técnicas judiciais que têm como especialidades de
produzir efeitos jurídicos e cujos juristas precisam para actuar no mundo do Direito.
Estes instrumentos operacionais têm por objectivo modificar o ordenamento jurídico.
O Contrato
Para analisar uma questão e caracterizar áreas ### o sistema jurídico utiliza vários
instrumentos muito diversificados que todos os juristas devem conhecer.
O Direito não pode apenas ser um sismples ### de regras. No caso de não evitar
mecanismos para ligar em diversos elementos um conjunto coerente o Direito ficará
impraticável.
Para conseguir isso, é preciso ### intelectual fundamentado como concreto/que
qpermite realizar ou atingir uma ordem;
Contrato:
Para permitir a realização das operações jurídicas ( ### o direito) o sistema jurídico
utilioza mecanismos, trata-se sempre da comunicação de regras, de elementos, meios
técnicos e actos materiais ou jurídicos com ### de obter um resultado determinado:
Estes mecanismos constituem uma aproximação dinâmica do Direito que implicam uma
combinação de vários elementos. Sáo principalmente um conjunto de regras de direito
e de procedimentos organizados com finalidade de uma operação e constituindo um
conjunto ### são quadros atribuidos pelo Direito para a realização de uma operação
jurídica e que constituem instrumentos que o Direito se atribui para a nova aplicação.
As Funções do Contrato
11
O contrato é ### tempo
12
CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA E QUALIFICAÇÃO DOS FACTOS
É uma ficção, porque o representado presume-se ter agido ele próprio enquanto que na
realidade ele não agiu directamente.
A ideia é de que "exercício de um Direito pode ser ### de um gozo ou um direito pode
ser exercido pela intromediação de um terceiro como se era efectivamente exercido
pelo seu titular.
Ficção: ANDRIEU p. 56
FUNÇÕES
41
ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op.cit., p. 7.
42
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 9.
13
- Da COMMONLOW = TWIST = Importante não é o representado , mas o
agente que celebra os actos jurídicos - Gestão do património do representado
mas em plena independência.
Por outras palavras para determinar a solução jurídica em relação a uma situação de
facto, é preciso traduzir os factos da língua jurídica, isto é dar um rótulo aos actos e as
coisas.
É preciso traduzir em Direito uma situação de facto, para fazer isto a primeira operação
consiste os factos na linguagem do Direito.
Por outras palavras, para entrar no mundo do Direito os factos precisam de ser
conceptualizados assim, é preciso subssumir nos termos da Lei, isto é, uma certa forma
de confrontar os factos aos conceitos jurídicos estabelecidos pela ordem jurídica para
conhecer aqueles que se identificam aos factos e deduzir as regras jurídicas que devem
ser aplicadas.
Qualquer jurísta em princípio, pratica naturalmente esta operação, isto é, fazer entrar
um facto, uma situação, uma pesoa uma coisa ou um acto numa categoria jurídica
### ou aproximá-lo de um conceito jurídico conhecido para deeduzir o regime jurídico
aplicável - Isto é reconhecer ao facto as características existentes no conceito jurídico =
aplicar o Direito.
14
características comuns ou que obedecem a um regime comum. Assim, as categorias
jurídicas agrupam conceitos jurídicos diferentes mas que têm algo de comum. Assim é
preciso reflectir os conceitos jurídicos ante de determinar os que são as categorias
jurídicas.
Devo analisar o conteúdo de cada situação específica para identificar todos os aspectos
justificativos e identificar todos os conceitos ### desta situação.
Conceito jurídico deve representar um modelo que permite uma comparação para
pemitir estabelecer uma ligação entre situações concretas e o Direito.
43
44
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
45
HERMITTE M.A., "Les concepts mous de la propriété industrielle: passage du modèle de la propriété
foncière au modèle du marché, em EDELMAN B. e HERMITTE, L'Homme, la Nature et le Droit , Paris,
Christian Bourgois, 1988, p. 85 e seguintes, citado por ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55. 45
45
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
45
HERMITTE M.A., "Les concepts mous de la propriété industrielle: passage du modèle de la propriété
foncière au modèle du marché, in EDELMAN B. e HERMITTE, L'Homme, la Nature et le Droit , Paris,
Christian Bourgois, 1988, p. 85 e seguintes, citado por ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
15
Situações:
O raciocínio jurídico tem sempre por objecto confrontar uma situação de facto às
regras de Direito e tem por finalidade procurar a solução jurídica mais adequada.
16
organização têm por objectivo de convencer. Mas, neste processo intelectual, o
raciocínio lógico ocupa um lugar relevante. Ele tem por objectivo de garantir a
consistência da ordem jurídica e a segurança na aplicação do Direito. Por outras
palavras, os raciocínios lógicos no Direito permitem dar uma melhor previsibilidade do
Direito o que contribui para constituir uma garantia de segurança jurídica.
O raciocínio jurídico é complexo (a) porque utiliza, ao mesmo tempo, vários tipos
de raciocínios cuja fusão constitui a particularidade deste. Outro aspecto importante do
raciocínio jurídico é de que, este conjuga rigor lógica (factor de segurança jurídica) e
flexibilidade da argumentação para poder adaptar-se à diversidade das situações de
factos (b).
17
Pelo contrário, a síntese é mais importante na obra doutrinal. Neste caso, a
operação intelectual consiste em reagrupar um conjunto de elementos dispersos do
sistema jurídico para propôr uma visão geral do conjunto. Mas isto é apenas possível
depois de uma actividade de análise das situações de facto ou de regras de Direito.
Assim, introduzir e elaborar no Direito hipóteses que não concordam com teorias
estabelecidas e/ou com factos estabelecidos é útil? Será que a “contra-indução” pode
fazer progredir a ciência do Direito, em geral, e a metodologia jurídica em particular?
Pode aparecer que os factos susceptíveis de refutar uma teoria apenas podem
ser evidenciados com a ajuda de uma “alternativa incompatível” para parafrasear PAUL
FEYERABEND47. Nesta perspectiva, pode-se pensar em criar situações de factos que
não correspondem ou que contradizem o modelo factual que decorre da aplicação de
uma teoria fundamentada empiricamente. O objectivo desta abordagem foi evidenciado
por PAUL FEYERABEND quando ensina que “Um científico que deseja alargar no
máximo o conteúdo empírico das suas concepções, e que quer compreender-las tanto
claramente como possível, deve consequentemente introduzir outras concepções: isto é
que este deve adoptar uma metodologia pluralista”48. O jurista deve comparar as ideias
46
FEYERABEND P., op. cit., p. 26 e seguintes.
47
FEYERABEND P., op. cit., p. 26.
48
FEYERABEND P., op. cit., p. 27.
18
com outras ideias e deve tentar melhorar mais do que rejeitar as concepções que foram
vencidas. Essas “contra-concepções” actuarão como testes das concepções dominantes
para medir a sua “resistência” a novas representações/contestações e, finalmente,
avaliar o seu sucesso e sua perenidade. Assim, a contra-indução como “uma medida da
crítica”49 e permite, assim, comparar os conceitos.
Fazendo isto, o jurista pode descobrir que a teoria do acto administrativo não é
tão boa como se admite geralmente para explicar toda a acção da Administração
Pública e que é preciso, ou acrescentar outros dados a este teoria, ou mudar de teoria
explicativa. Ainda como escreve o referido autor: “O conhecimento assim concebido não
é constituído por séries de teorias coerentes que convergem para uma concepção ideal;
não é uma marcha progressiva para a verdade. É antes m océano sempre mais vasto
de alternativas mutualmente incompatíveis ...”50.
No caso da indução, isto significa que é preciso demonstrar até que ponto o
método contra-indutivo pode ser defendido por argumentação.
Regra geral, pode-se afirmar que a aplicação do Direito funda-se num silogismo
de subsumpcão, isto é, a conclusão jurídica é o resultado da aproximação de duas
premissas: a premissa maior que representa a questão de Direito e a premissa menor
que representa a questão de facto. Assim, o raciocínio silogístico relaciona as três
proposições cujas duas primeiras chamam-se premissas e a última conclusão.
49
FEYERABEND P., op. cit., p. 69.
50
FEYERABEND P., Ibidem
19
Fundamentalmente, nas decisões de Justiça, o silogismo exprime a sujeição do
juiz à regra de Direito.
Além disso, as premissas do raciocínio jurídico não têm a certeza das premissas
do raciocínio científico. Ver VIRALLY. Algumas vezes, as premissas do raciocínio jurídico
não têm a certeza das premissas do raciocínio “científico”; por exemplo, algumas vezes,
ignora-se o que de facto aconteceu. A prova não é nitida, pode-se ter dúvidas. No que
concerne as regras de Direito aplicáveis numa determinada situação de facto, a sua
escolha e a sua interpretação podem dar lugar a hesitações.
51
20
De facto, este modo de raciocínio existe em Direito. É nas discussões, nos
debates e nas controvérsias que se encontram a crítica e a refutação que caracterizam
qualquer reflexão e particularmente a reflexão jurídica.
Para ser tecnicamente satisfatório, um sistema jurídico deve ter três qualidades:
deve ser completo, económico e coerente.
Um sistema jurídico deve ser completo significa que este sistema deve ser apto a
regular todas as situações que podem surgir concretamente nessa ordem; ser
ecocómico significa que o sistema jurídica deve ser desprovido de coisas inúteis e
finalmente, o sistema jurídico deve ser coerente significa que este pressupõe a
21
existência de métodos de coordenação apropriados para permitir escolher entre as
regras da ordem jurídica as que são aplicáveis e as combinar.
52
Vide, em particular, HAURIOU M., Précis de droit constitutionnel, Paris, Sirey, 2.ª., 1929, p.34.
53
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 203 e seguintes.
22