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Divito Constitucional ¢ Teoria da Constituicao 7.4 Edigéo (20? Reimpressio) J.J. Gomes Canofilho Profesor da Faculdade de Direito de Coimbra ALMEDINA Digitalizado com CamScanner [CA dimensao teorético-constitucional: as teorias sobre 0 poder constituinte 1, John Locke eo ‘supreme powes’ 2, Sigyts € 0 ‘pouvoir constinuant’ 3. Teoria do poder constiruinte e constitucionalismo D. 0 titular do poder constituinte E. O procedimento constituinte 1 Fenomenologia do procedimento constitunte 1, Decisées pré-constituintes 2. Decsbes consiuintes—o acto procedimental constininte 2.1. Assembleia Constinuinte ~ Procedimento ‘Constiuinte represencativo 2) Assembleia Constitunte soberana 'b) Assembleia Constituinte nio soberana ©) Assembleia Constituinte Convengées do povo 2.2. Referendo constimuinte ¢ procedimento E. Vinculagio juridica do poder constituinte A. Aproximagio a Problematica do Poder Constituinte 1. Quatro perguntas © poder consttuinte surgiu no Capitulo Primeiro como uma das categorias politicas mais importantes do constitucionalismo modern. Jusifica. -se esta centalidade politica. Através de quatro perguntas fandamenesis é possivl inmi que a problemétia do poder consttuinte envolve outras quests complera ¢ controvertidas da teora politica, dafilosofia, da citcia politica da ‘teoria da constiuigio € do direito consttucional. Qual ¢entio o “catdloge de perguntas"?? Resumidamente este: 1. O que €0 poder constnuinte? 2, Quem é 0 tinular dese poder? +3. Qual o procedimento ¢ forma do seu exercicio? 4. Existem ou nao limites juridicas e politces quanto a0 exaccio dese poder? ‘A primeira pergunta conduzirnos-é 2 uma sproximagio carac- terizadora do poder constituinte: E, perante a mubiplicdade de enaccitos € dcfinigdes, veremos que, no undo, o poder constituinte se revela sempre como tuma questio de “poder”, de “forga” ou de “autoridade” politica que exé em ‘ondigSes de, numa determinada simagio concre, car, garatir ou eiminat uma Consttuigio entendida como lei fundamental da comunidade politica. A interrogatva formulada em segundo lugar transport-aos 2 exe ciuplenpobenddce quan 60 gin gen fe Sain gale panko politica” capan de mobilizar 2 forga ordenadors do povo no sentido de istic uma Ie fundamental. Veremos que, hoje, o ttlar do poder constinuinte sé pode 1 Ea medal dri poe ver cumin om aren ini “Die Vases ‘ode Genk dele im Verena n AOR 112 (1987, Joos BT, “Coane Maing asc Buope: Rtg the Bot nthe Ope Sa ia Pe Admini a 70995 p11; ‘A. Atao “ConsuugoConiecoel Teh da Dunoon Lat Ne (1997, 5 Digitalizado com CamScanner ser 0 pove, € que 0 povo, na actuaidade, se entende como uma grandeca plune- Utica formada por individuos, associagbes, grupos, igrejas, comunidades, perso- nalidades, instituig6es, veiculadores de intereses, ideas, crencas e valores, plu rns, convergentes ou conflituantes. ‘A terceira pergunta coloca-nos perante a questio do procedimento de -elaboragio ¢ aprovagio de uma constituigéo. De um modo espectico, dscuti- -se-d, aqui, a forma procedimental de acuar do poder constituinte. Deverd ser um procedimento leislaive-constcuinze desenvolvido no scio de uma assembleia consti- tuinte expressa ¢ exclusivamente eleita para proceder & feitura de uma constituigSo? Devers, antes, ser um procedimento referendério-plebixitdris mediante 0 qual 0 povo, através de referendo ou plebiscto, “decide” a aprovacéo, como lei fundamental, de um texto que, para esse fim, foi submetido & sua aprovacio? ‘A imterrogagio formulada em quarto lugar aproxima-nos’ da complexa problemética do contedo e legitimidade de uma constituicio e dos limites do poder constiruintc. Adiante seré explicitada a seguinte tese: 0 poder constituinte, embora se afirme como poder originirio, nfo se exetce num vcuo histérico-cultural. Ele “nfo parte do nada" ¢, por isso, existem certos princ!- pios ~dignidade da pessoa, justia, liberdade, igualdade — através dos quais pode remos aferir da bondade ou maldade intrinsecas de uma constituigio, 2. Phuralidade de abordagens ‘As perguntas acabadas de formular servirio como um roteiro dos tépicos bisicos do tema do poder constituinte: conceito, sujeito, procedimento, limites do poder constiruinte. Estes t6picos convocam formas de abordagem diversas. Assim, sob o ponto de vista hissérico genético, as preacupagbes centram- se na génese ¢ origem histérica do poder constituinte. Em sermos juridico- -filesificos e teordsco-juridicos, os momentos teflexivos mais importantes incidem sobre o fundamento da validade ou pretensio de validade bem como sobre a dignidade de reconhecimento de uma constituigio como lei materialmente justa (problema da legivimidade da constituigdo). A uma perspectia teorbzico- ~ [Nos tempos mais recentes, © poder constituinte surge ainda como “conceito limite” do dirito consisucional nacional. O processo de inczgragio euuropeia tem susctado a questio de saber se & possivel erguer-se uma ordem comunitiria supraconstitucional assente num “poder constituinte europeu” ou, pelo menos, no exercicio do poder consttuinte origindrio dos estados sobera- 2 Che E,W, BocaNORDE, “Die Verfusunggrbende des Veles ~ Ein Grebe des ig EW, BOcRIORDE, Sat, Vofamag, Drmobratie dion sr Vespa and Vefumgrec, Suhamp, FaskSurdM: 1991, p90 € =. 9 Che Micum. Guvio Tas, “A Reeluo Portuguesa eas Fonts de Divi’ aM. BATA Comin, (org), oral Sion Plc ¢Conincon, Lisboa, 1989, . 575 es Digitalizado com CamScanner nos.4 Qualquer que seja a resposta, 0 problema estf posto: é ou niio politica € juridicamente concebivel um poder constiruinte imterdependente ou pésesoberano assente no exercicio em comum do poder constituinte originério dos povos? B. A Dimensao Genttica: Revelar, Dizer ou Criar uma Lei Fundamental 1 Problemitica do poder constituinte e experiéncias constituintes Em livos anteriores, a problemitica da géncse do poder constituinte ra abordada tendo sobretudo em vista 0 chamado paradigma do “pouvoir ‘constituant” da Revolucio Francesa. Hoje, deve reconhecer-se que este porto de partida era reduwor porque esquecia dois outros momentos de gestacio das normas bisicas: 0 constitucionalismo inglés e © constitucionalismo americano. (Os “modelos consttucionais" analisados no Capitulo Primeiro insinuavam jéesta mudanga de perspectiva. Vejamos agora os momentos fundamentais das expe- riéncias constiintes. Antes disso, precisemos o sentido da perspectiva histérico- genética. A constimigéo pensa-se como um texto juridice que, 40 mesmo tempo, fixa a consttuigde politica de um extado. Mas é preciso explicar um fendmeno intrigante da evolugio da semintica constieucional, a saber: a reuniio das

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