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Sumário

Introdução....................................................................................................................1
1. Memória...................................................................................................................2
1.1. A Memória como Parte Importante da Consciência..........................................2
1.2. O Estresse e a Memória....................................................................................5
1.3. O Estrogênio e a Memória................................................................................5
2. Atenção....................................................................................................................6
2.1. Foco de Atenção...............................................................................................6
2.2. Aspecto Temporal da Atenção..........................................................................6
2.3. Tipos de Atenção.............................................................................................. 7
2.4. Afeto e Atenção.................................................................................................8
2.5. Níveis e Distribuição da Atenção......................................................................9
2.6. Determinates da Atenção................................................................................10
2.7. Tenacidade e Vigilância..................................................................................11
2.8. Cisão da Atenção............................................................................................12
2.9. O Ato de Concentrar a Atenção......................................................................13
2.10. Distração.......................................................................................................14
3. Alteração da Memória............................................................................................16
3.1. Hiperminésia................................................................................................... 16
3.2. Hipomnésia e Amnésia................................................................................... 16
3.3. Tipos de Amnésia............................................................................................17
4. Paramnésias..........................................................................................................19
4.1. Ilusões Mnêmicas............................................................................................19
4.2. Alucinações Mnêmicas....................................................................................19
4.3. Fabulações......................................................................................................20
5. Psicopatologia....................................................................................................... 20
5.1. Transtorno Afetivo Bipolar...............................................................................20
5.2. Estados depressivos.......................................................................................22
5.3. Esquizofrenia...................................................................................................22
5.4. Epilepsia..........................................................................................................23
5.5. Estado Psicorgânicos e Senis.........................................................................23
5.6. Deficiência Mental...........................................................................................24
5.7. Transtornos Neuróticos...................................................................................25
Fonte..........................................................................................................................25
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ATENÇÃO E MEMÓRIA

INTRODUÇÃO

Uma maneira importante pela qual a percepção se torna consciente é através


da Atenção que, em essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns
aspectos ou algumas partes da realidade. Assim sendo, nossa consciência pode,
voluntariamente ou espontaneamente, privilegiar um determinado conteúdo e
determinar a inibição de outros conteúdos vividos simultaneamente. Portanto,
reconhece-se a Atenção como um fenômeno de tensão, de esforço, de
concentração, de interesse e de focalização da consciência.

Atenção pode sofrer alterações em todos os transtornos mentais e emocionais.


Mesmo quando não existam alterações psíquicas tão evidentes, como é o caso da
ansiedade simples, a Atenção pode apresentar oscilações. Uma série de fatores
intra-psíquicos pode modificar a sua eficácia da Atenção mesmo dentro dos limites
da normalidade.

Vários estados emocionais podem alterar a capacidade de Atenção, ora


alterando sua intensidade, ora alterando sua tenacidade ou sua vigilância. Sob a
influência de determinados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias
farmacológicas, a Atenção também pode experimentar alterações em seu
rendimento e em sua eficiência.

A Memória, no sentido estrito, pode ser entendida como a soma de todas as


lembranças existentes na consciência, bem como as aptidões que determinam a
extensão e a precisão dessas lembranças . De modo geral a Memória necessita de
duas funções neuropsiquícas fundamentais; a capacidade de fixação, que é a
função responsável pelo acréscimo de novas impressões à consciência e graças à
qual é possível adquirir novo material mnemônico, e a capacidade de evocação, ou
reprodução, pela qual os traços mnêmicos são revividos e colocados à disposição
livremente da consciência. A Atenção pode ser entendida como uma atitude
psicológica através da qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre um
estímulo específico, seja este estímulo uma sensação, uma percepção,
representação, afeto ou desejo, a fim de elaborar os conceitos e o raciocínio.
Portanto, de modo geral a Atenção parece criar a própria consciência.

Alguns autores consideram a Memória em si, um processo puramente


fisiológico, enquanto a fixação e a evocação mnêmicas das lembranças seriam atos
psíquicos e vividos pelo indivíduo.

Para que uma lembrança seja eficaz é indispensável a compreensão do objeto


sobre o qual se polariza a Atenção, condição essa que depende da afetividade e do
interesse. Kraepelin já afirmava a lembrança poderia persistir por mais tempo quanto
mais claramente (mais compreensivamente) se percebia o estímulo original e quanto
mais numerosas e intensas fossem suas ligações com o resto do conteúdo da
consciência. Portanto, as lembranças perduram por mais tempo quanto mais são
reforçadas pela repetição.
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1. MEMÓRIA

1.1. A Memória como Parte Importante da Consciência

Para estudar os mecanismos da memória é didático fazer analogia com o


mecanismo dos computadores. Tal como os os computadores, nossa mente está
equipada com dois tipos básicos de memória: "a memória imedita" (de trabalho) para
tratar a informação do presente momento, e a memória de longo prazo, usada para
arquivar durante longo tempo.

Ao contrário do que se pode pensar, nosso cérebro não está continuadamente


registando tudo que nos acontece para, num segundo momento, selecionar e apagar
o que não é importante. A maior parte dos estímulos com os quais estamos lidando
permanece por um brevemente tempo na memória, mais precisamente, na memória
imediata ou de trabalho. A analogia que se faz com o computador é com a chamada
memória RAM, ou seja, com a memória de acesso aleatório da máquina (Random
Access Memory).

Depois de algum tempo esses estímulos trabalhados pela memória imediata se


evaporam dando lugar à outros. A memória imediata nos permite realizar os cálculos
de cabeça, permite reter números de telefone durante algum tempo, permite
continuar um diálogo baseado no início da conversa, permite saber o nome do
interlocutor durante algum tempo (diretamente proporcional à importância deste para
nós).

Continuando nossa analogia, podemos dizer que a memória de longo prazo


seria como o disco rígido do computador, registando fisicamente as experiências
passadas na região do cérebro designada córtex cerebral. A córtex, ou a camada
exterior do cérebro, contém aproximadamente dez bilhões de células nervosas, as
quais se comunicam intensamente trocando impulsos eléctricos e químicos.

Sempre que um estímulo atinge nossa consciência, seja uma imagem, som,
ideia, sensação, etc., ativa-se um conjunto destes neurônios, modernamente
chamado de "assembléia neuronal". A teoria baseada nas assembléias neuronais
representa um modelo muito convincente para a formulação de uma hipótese a
respeito da construção da consciência. Segundo essa teoria, o pensamento
consciente é gerado quando vários neurônios de diversas colunas se unem
funcionalmente e, atuando harmonicamente e em conjunto, constroem uma
assembléia, iniciando assim a formação de um determinado estado consciente.
Depois desse novo estado de consciência esses neurônios do conjunto que
participou do estímulo nem sempre retomam o estado original. Eles costumam
fortalecer as ligações uns com os outros, tornando-se mais densamente interligados.
Quando isso acontece constroi-se uma memória consciente, e o que quer que
estimule essa rede ou assembléia trará de volta a percepção inicial sob a forma de
recordação. O que entendemos como recordações são, afinal, padrões de ligação
entre células nervosas. Uma recordação recém-codificada pode envolver milhares
de neurónios abarcando todo o córtex.
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Segundo a teoria dos conjuntos de células envolvidas na consciência e


memória, os neurônios são capazes de se associarem rapidamente, formando
grupos (assembléias) funcionais para realizarem uma determinada tarefa ou
apreenderem um determinado estímulo.

Uma vez que esta tarefa esteja terminada, o grupo se dissolve e os neurônios
estão novamente aptos a se engajarem em outras assembléias, para cumprirem
uma nova tarefa . Portanto, esse conjunto, rede ou assembléia de neurônios dilue-
se, caso não seja reutilizada, mas, se a ativarmos repetidamente, o padrão de
ligações incorpora-se cada vez mais nos padrões de nossos tecidos nervosos.

É devido a essa organização e dissolução dinâmica das assembléias neuronais


que podemos comparar a atividade mnêmica fugaz com a memória RAM do
computador. Há, ainda, um aspecto quantitativo acerca dessa assembléia neuronal,
segundo a qual, quanto maior o número de neurônios recrutados, maior será o
tamanho dessa assembléia e, em conseqüência, maior será a recém criada
consciência ou memória, em termos de intensidade e tempo de duração.
Contrariamente, se for pequeno o número de neurônios recrutados, a memória
resultante será pequena em intensidade e duração.

Os estímulos são registrados na memória de longo prazo mediante repetição


ou através de sua carga afetiva. Enquanto a decisão de armazenar ou diluir uma
informação possa ser voluntária, a eficácia dessa memorização nem sempre
depende de nossa vontade. Quem garante a eficácia da memória, indiretamente da
consciência que se tem do vivido, é um atributo automático do hipocampo.

O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no


centro do cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como
uma espécie de posto de comando. À medida que os neurónios do córtex recebem
informação sensorial, transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do
hipocampo é que os neurónios sensoriais começam a formar uma rede durável
(assembléia). Sem o "consentimento" do hipocampo a experiência desvanece-se
para sempre.

É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na
memória de longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece
depender de duas questões. Primeiro, a informação tem algum significado
emocional, portanto, tem que ter alguma importância afetiva. O nome de uma
pessoa muito atraente tem mais probabilidade de conseguir "autorização" do
hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso computador do que o nome do
jornalita que escreve o obituário do jornal. É assim que nossa consciência se
constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses emotivos.

A segunda atitude do hipocampo é uma imediata analogia, ele avalia é se a


informação que está chegando no cérebro tem relação com alguma coisa que já
esteve por ai, ou que já sabemos. Ao contrário do computador, que armazena
separadamente os factos relacionados, o cérebro procura constantemente fazer
associações.
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Se o estímulo recém chegado tem alguma relação ou correspondência com


algum material já armazenado, esse novo fato terá mais facilidade de agregar-se ao
dinamismo psíquico. Em suma, usamos as assembléias elaboradas pela experiência
passada para captar novas informações.

Através da formação continuada de assembléias neuronais os fenômenos


conscientes se sucederiam, continuamente, cada um diferindo dos demais em
duração e intensidade, de acordo com o tamanho das assembléias. Esse dinamismo
faz com que a substituição de uma vivência consciente pela que se segue seja muito
rápida, conferindo à consciência seu aspecto de continuidade. Aqui devemos
lembrar que, também continuadamente, o hipocampo vai selecionando o que fica na
memória de longo prazo e o que pertence apenas à memória imediata.

De qualquer forma forma-se uma assembléia neuronal e, numa ínfima fração


de tempo, a consciência da vivência se formaria. Essa consciência seria recém
formada a partir da mobilização simultânea de um determinado número de neurônios
por um período de tempo variável e, imediatamente depois de terminada sua função,
seria substituída por outra assembléia (consciência), depois por outra e,
sucessivamente outras. Esses arranjos neuronais obedecem uma estrutura muito
pessoal que, em seu conjunto, acabam por corresponder (ou contribuir para) ao
perfil afetivo e sensibilidade de cada um e, quem sabe até, para a vocação de cada
um. É por isso que um mesmo quadro pode impressionar diferentemente as várias
pessoas que o observam; alguns se sensibilizam com as tonalidades, outros com o
tema, outros até com a combinação quadro-moldura, outros só conseguem
memorizar o preço e assim por diante. Podemos constatar essa experiência
facilmente retirando o quadro da vista das pessoas e pedindo para elas descreverem
o que viram: ... cores fortes.... tema triste.... muito grande.... deve valer muito... e
assim por diante.

Assim sendo, as condições capazes de perturbar o hipocampo acabam por


prejudicar a memória e, conseqüentemente, a integração da consciência. A doença
de Alzheimer destrói gradualmente esse órgão, portanto, destrói a capacidade para
formar novas memórias. O envelhecimento normal também pode causar danos mais
sutis. Alguns estudos sugerem que a massa encefálica decresce, a grosso modo e
variavelmente, de cinco a dez por cento a cada dez anos.

Exceto em casos mais patológicos, como por exemplo na doença de Alzheimer


ou nos problemas vasculares, a idade por si só parece não perturbar a nossa
memória significativamente. A idade, quando muito, torna as pessoas um pouco
mais lentas e menos precisas e, embora as médias apontem para o declínio com a
idade, alguns octogenários continuam mais incisivos e rápidos que os adolescentes.
Evidentemente existem circunstâncias clínicas capazes de prejudicar o rendimento
da memória ao longo dos anos.

A pressão sanguínea elevada cronicamente pode prejudicar a função mental.


Alguns estudos constatam que ao longo dos anos, as pessoas hipertensas perdem
duas vezes mais capacidade cognitiva que aqueles que apresentam tensão
sanguínea normal. Também o excesso de álcool ou o funcionamento deficiente da
glândula tiróide, assim como a depressão, a ansiedade e a simples falta de estímulo
estão associados ao prejuízo da memória.
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1.2. O Estresse e a Memória

Atualmente um novo problema parece estar associado ao desgaste da


capacidade de fixação. É o excesso ou sobrecarga de informação. As informações
dos tempos modernos chegam até nós através dos mais variados meios: jornal,
revista, rádio, televisão, cinema, fax, carta, e-mail, internet, escola, cursos, etc...
Muitas vezes essa avalanche de informações superam nossa capacidade de
apreensão eficaz.

Essa dificuldade de apreensão e, conseqüentemente, de memorização tem


muito a ver com o estresse por excesso de estimulação e solicitação. Evidentemente
que, em curto prazo, o estresse até habilita nosso cérebro a reagir mais prontamente
aos estímulos, sendo essa a função primária da ansiedade do estresse. Em longo
prazo, entretanto, o desgaste supera a eficiência.

Algumas pesquisas na área do estresse calculam que, ao fim de cerca de 30


minutos, os hormônios do estresse (adrenalina e cortizona) começam a desativar as
moléculas que transportam glucose para o hipocampo, deixando assim essa parte
do cérebro com pouca energia. Depois de períodos mais longos, os hormônios do
estresse podem acabar comprometendo seriamente as ligações entre neurónios e
fazendo o hipocampo reduzir ao máximo sua ação, tal como uma espécie de atrofia
funcional. Esta espécie de atrofia funcional é reversível se o estresse for curto, mas
um estado de estresse que demora meses ou anos, pode acabar inutilizando
definitivamente neurónios do hipocampo.

Como vimos acima, quem garante a eficácia da memória, indiretamente da


consciência que se tem do vivido, é um atributo automático do hipocampo, portanto,
havendo dano dessa estrutura cerebral a capacidade de fixação mnêmica estará
prejudicada.

1.3. O Estrogênio e a Memória

As pesquisas que relacionam o estrogênio (hormônio feminino) com a memória


foram estimuladas indiretamente, partindo da observação de que as mulheres que
tomavam estrogênio reduziam o risco de contrair a doença de Alzheimer.

A importância do estrogénio em relação à memória verbal foi testado em


mulheres jovens, antes e depois de serem submetidas a tratamento para tumores
uterinos. Os níveis de estrogênio dessas mulheres decresciam fortemente depois de
12 semanas de quimioterapia, assim como decresciam também os seus resultados
nos testes de retenção da leitura. Mas, quando metade dessas mulheres juntou
estrogênio ao regime terapêutico, a memória melhorou prontamente. As razões para
esse efeito protetor sobre a memória atribuído ao estrogênio ainda não são claras,
mas o hormônio parece catalisar o desenvolvimento de neurônios no hipocampo e
fomentar a produção de acetilcolina, um composto (neurotransmissor) que ajuda as
células cerebrais a se comunicarem. Infelizmente, o uso de estrogênio também tem
riscos, em especial para as mulheres com predisposição para o câncer de mama.
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2. ATENÇÃO

2.1. Foco de Atenção

O aspecto para o qual se dirige a Atenção é chamado de alvo (perceptual e


motor), por isso e apropriadamente, podemos fazer uma analogia didática do
focalizar da consciência com um alvo de tiro. O elemento que, em dado momento,
constitui o objeto de nossa Atenção, ocupa sempre o ponto central do campo da
consciência. O centro desse alvo perceptual corresponde ao grau máximo de
consciência e é denominado foco da Atenção. Aí, tudo o que é focal é percebido
com Atenção em seu redor, porém, existem outros objetos ou fenômenos psíquicos,
os quais, sem ter abandonado o campo da consciência, deixam de ser objeto de
Atenção. Os círculos concêntricos mais próximos exprimem, esquematicamente, a
área subconsciente e o círculo mais afastado o inconsciente.

O elemento que, em dado momento, constitui o objeto de nossa Atenção,


ocupa sempre o ponto central do campo da consciência, portanto, nossa capacidade
para concentrar a atividade da consciência em uma só coisa acaba, forçosamente,
excluindo total ou parcialmente as demais. Entre as partes deste conjunto composto
pela consciência, subconsciente e inconsciente não é possível estabelecer limites de
nítidos.

2.2. Aspecto Temporal da Atenção

Geralmente, a duração de um determinado foco de Atenção é breve. Existe


constante passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra e isso se dá
por várias razões. De um lado, existe na Atenção, como em todos os processos
psicológicos, uma forma de saciedade. Esta saciedade tende a inibir a continuidade
de Atenção em determinada direção, como se a pessoa estivesse continuadamente
em busca de novidades perceptivas. A Atenção tender a mudar, espontaneamente,
depois de um período de focalização em uma parte da realidade.

Outra razão para a passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra
é obtenção de uma certa organização perceptual. É difícil ou impossível, por
exemplo, organizar o todo a ser percebido com um único olhar. É preciso passos
sucessivos de exploração para que cada parte ou aspecto seja fixado por sua vez.

É importante esses aspectos temporais da organização perceptual e mesmo


caso dos padrões estático de certos estímulos, a percepção adequada envolve,
invariavelmente, mudanças sucessivas de focos de Atenção. Este é um elemento
fundamental para o artista, por exemplo, o qual precisa, construir sua obra de arte
de tal forma que o olho do observador seja dirigido numa direção determinada
através do quadro ou da estátua. Sem esse elemento organizacional não seria
possível a percepção dos detalhes alocados no objeto.
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Mais uma razão para a passagem da Atenção de uma parte da realidade para
outra é a limitação da quantidade de material que pode ser incluída no foco de
Atenção, em cada momento considerado. Um hipotético olho cósmico, se existisse,
poderia apreender simultaneamente completamente tudo de uma determinada
situação mas, o ser humano e os organismos inferiores, entretanto, podem
apreender apenas uma proporção limitada da realidade. Uma forma de estudar o
problema do alcance máximo do foco de Atenção é através da análise da amplitude
da apreensão.

Esta Amplitude da Atenção se refere ao número máximo de objetos que podem


ser percebidos imediatamente. Espalhando um pequeno número de grãos de feijão
numa mesa e olhando de relance, procuramos ver quantos grãos existem.
Verificaremos que cometermos poucos erros quando os grão são em número de
cinco ou seis mas, a partir desse número, começamos a errar mais. Portanto, nossa
Atenção se desloca de tempos em tempos para outras partes da realidade porque é
limitada a capacidade de apreendermos simultaneamente muitas coisas.

Sob este ponto de vista, a atividade mental consiste num vaivém perpétuo de
focalizações da Atenção em acontecimentos interiores, em sensações, em
sentimentos, em idéias e em imagens mentais que se associam ou se repelem,
segundo as leis do dinamismo psíquico. Serão estes diferentes estados de Atenção
que permitem o aspecto dinâmico na atividade da consciência.Em função da
atividade predominante, distinguem-se 3 tipos principais de Atenção: sensorial,
motora e intelectual.

2.3. Tipos de Atenção

Nossos 5 sentidos podem ser ativados conscientemente para focalizar a


Atenção sobre um determinado estímulo. Os condicionamentos, muitas vezes
inconscientes, podem proporcionar uma certa atividade de espera, mais ou menos
orientada, no sentido de confirmar ou não uma determinada expectativa.

Ao acrescentar mais sal na comida, por exemplo, nosso paladar espera, com
certa expectativa, constatar determinado gosto, assim como esperamos ver,
momentos antes, determinada cena de acidente ao constatar a direção e velocidade
de um carro de corridas. Trata-se da espera pré-perceptiva. Outras vezes,
entretanto, quando os resultados fogem completamente da expectativa perceptiva,
acontece uma espécie de choque sensorial que dá origem a um estado de surpresa.

2.3.1. Atenção Motora

Na Atenção motora, a consciência está concentrada na execução de uma


atividade física e muscular pré-programada. Ao olhar para um objeto, por exemplo, a
pessoa se inclina na direção desse objeto, e o mecanismo ocular atua de forma que
os olhos se dirijam ao objeto até que este caia na fóvea; os músculos do cristalino se
acomodam de forma que a imagem fique no foco mais claro, etc.
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Ao ouvir um som baixo a pessoa estica o pescoço para a frente, coloca sua
mão atrás da orelha, e pode fechar os olhos a fim de eliminar os estímulos visuais
concorrentes na tentativa de selecionar um determinado objeto (sonoro) como foco
de sua Atenção. Talvez seja por isso que algumas pessoas têm que tirar os óculos
de sol para prestarem mais Atenção em sons ou imagens.

A Atenção motora se caracteriza também pela tensão estática dos músculos,


juntamente com uma hipervigilância da consciência. Esta atividade de espera
chamada por Pléron de "atividade imobilizante", e exige um grande consumo de
energia.

Veja-se, por exemplo, a brincadeira de tapa nas mãos. Neste joguete um dos
jogadores, aquele que dará os tapas, fica com as mãos espalmadas para cima,
enquanto o outro coloca suas mãos sobre as mãos do primeiro. Repentinamente o
primeiro tentará retirar suas mãos e estapear as mãos do segundo. Vence o mais
rápido. O segundo deve retirar suas mãos, tão logo perceba que o primeiro iniciou o
movimento de estapeá-lo.

O papel da eficiência da Atenção, nesses casos, consiste privilegiar os


elementos automáticos da psicomotricidade, ao mesmo tempo em que reduz os
elementos intelectuais eventualmente atrelados ao movimento. Esta forma de
Atenção representa uma espécie de alerta às atividades musculares que devem
responder prontamente a determinada situação no sentido de favorecer a
adaptação.

2.3.2. Atenção Intelectual

Representa o ato de reflexão e de atividade racional dirigidos na resolução de


qualquer problema conscientemente definido. Apesar da divisão da Atenção em
Atenção Sensorial, Atenção Motora e Atenção Intelectual, de certa forma a Atenção
implica sempre em alguma atividade intelectual, ora orientando os movimentos, ora
dando sentido às percepções.

2.4. Afeto e Atenção

Um dos fatores individuais de maior influência no processo da Atenção


destacam-se as condições do estado de ânimo ou de interesse, os quais podem
facilitar ou inibir a mobilização da Atenção. Portanto, o elemento afetivo tem
significação determinante no processo da Atenção, admitindo-se que a pessoa só
dirige a Atenção aos estímulos que lhe despertam interesse. De fato, ao constarmos
que nossa Memória tem mais afinidade para as coisas que nos despertam maior
interesse, estamos falando antes, que nossa Atenção (indispensável para a
Memória) é mobilizada mais prontamente pela nossa afetividade.

Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos interessa esse
algo, quanto mais desejamos conhecê-lo e compreendê-lo, quanto mais isto nos
proporcione prazer ou satisfação. É por isso que, durante os episódios depressivos,
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onde o prazer e o interesse estão significativamente comprometidos, a Atenção e a


Memória estarão também severamente prejudicadas; por falta de interesse e prazer.

Despertam mais nossa Atenção as coisas com as quais mantemos algum laço
de interesse, alguma predileção. Passeando num shopping as pessoas detém-se
(prestam Atenção) diante das vitrinas que lhes despertam maior interesse, que mais
lhes mobilizam afetivamente. Ao estudarmos a sensopercepção também
constatamos o fenômeno de predileção sensorial de acordo com as tendências
afetivas, como é o caso do artista, capaz de perceber com mais acuidade a obra de
arte. A Atenção seria a principal parte dessa predileção sensorial.

De acordo com o papel que determinado estímulo desempenha ou possa


eventualmente desempenhar na vida pessoal, ele exercerá uma força maior ou
menor de atração sobre a Atenção. A Atenção realiza uma seleção natural de seus
objetivos em função da disposição pessoal, a qual tende a iluminar determinados
objetos. A Atenção está sempre dirigida para algo conscientemente desejado e esse
tipo de disposição da pessoa para com o objeto é chamado interesse. O interesse e
a Atenção estão tão intimamente ligados que não é possível existir Atenção
completamente desprovida de interesse (Stern).

2.5. Níveis e Distribuição da Atenção

Ao estudar a extensão do campo de Atenção, julga-se muito mais importante a


captação de uma totalidade ou captação do todo significativo, que a quantidade de
objetos que a serem captados pela Atenção. Para William Stern, a Atenção é a
condição imediata para a produção de uma realização pessoal e suas características
consistem num esclarecimento consciente, na concentração de uma força psíquica
disponível para o esclarecimento da realidade.

A Atenção da pessoa, num determinado momento pode estar distribuída de


várias maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada num único objeto,
dando-se pouca Atenção ao resto, pode estar difusamente espalhada, sem que uma
parte específica esteja predominantemente em foco ou, por fim, pode estar dividida
entre vários objetos, quando então a pessoa procura prestar Atenção,
simultaneamente, a duas ou mais coisas. Quanto maior a divisão da Atenção entre
objetos, maior a perda de qualidade da Atenção dada a cada parte.

Conforme vimos acima, a amplitude limitada da apreensão, e o fato de que


quanto maior a divisão da Atenção menor a sua qualidade, acentuam a necessidade
da organização perceptual. Quando algumas partes do campo são organizadas em
todos maiores, a Atenção necessária para percebê-las eficientemente será menor do
que quando as partes são simplesmente observadas separadamente.

Através da organização e do agrupamento de objetos a serem percebidos


podemos estender a amplitude da Atenção. Se separarmos nove grãos de feijão em
três grupos de três grãos, podemos vê-los mais facilmente. Este é um exemplo
simples do princípio segundo o qual a organização tem como função permitir; à
pessoa, dirigir a Atenção para maior quantidade de material.
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Podemos ver a mesma coisa, de maneira mais significativa, no


desenvolvimento de habilidades específicas ou do treinamento.
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Não é necessário prestar Atenção a uma atividade bem treinada, pela simples
razão de que o todo integrado está tão reunido que pode ser realizado sem Atenção
as suas partes isoladas. A inspeção de qualidade numa fábrica, por exemplo, é uma
atividade tão treinada que o funcionário é capaz de ater-se rapidamente à qualquer
coisa que estiver estranha àquilo considerado desejável. Este funcionário
desenvolve seu trabalho muito mais rapidamente que outra pessoa não treinada.
Assim, é possível perceber, com um simples olhar, situações complexas.

A organização dos objetos facilita para que os estímulos se encaixem na


expectativa a ser percebida, sem necessidade de Atenção cuidadosa a cada uma
das partes isoladamente. Isso, naturalmente, permite maior eficiência, embora
também possa provocar erros que passam desapercebidos, quando estes
eventualmente se encaixem bem na organização.

2.6. Determinates da Atenção

Falamos comumente da Atenção como voluntária ou involuntária. A primeira


refere-se a casos onde o indivíduo parece ter liberdade na determinação do foco de
sua Atenção, liberdade em escolher intencionalmente aquilo sobre que prestar
Atenção. Entretanto, ao estudarmos a influência da motivação, do interesse e da
afetividade sobre a Atenção essa simples divisão em voluntária e involuntária ficará
mais complicada. De qualquer forma vamos falar sobre essa divisão.

A Atenção involuntária ou espontânea refere-se a casos em que a pessoa


parece menos o agente de escolha da direção de sua Atenção do que um joguete
nas mãos de forças que a obrigam a atentar para isso ou aquilo. Numa narração
folclórica e acaboclada de um contador de casos goiano , é cômica a passagem
onde diz, diante da censura de sua mulher por ter olhado demais para outra mulher:
"- eu não queria olhar, mas os olhos queriam...".

Alguns determinantes da Atenção involuntária estão relacionados ao afeto e


sentimento dirigidos para o objeto, como é o caso da pessoa faminta dirigir sua
Atenção, irresistivelmente, para o alimento da vitrina do restaurante. Outros
determinantes se ligam a características duradouras dos objetos estimulantes.
Essas características determinantes podem ser tão solicitantes que acabam atraindo
tiranicamente a Atenção, apesar parecer que a pessoa atentou voluntariamente. As
características dos estímulos, que exigem Atenção, foram muito estudadas por
experimentos de laboratório e por técnicas de propaganda. Esses fatores
determinantes do estímulo podem ser sumariados da seguinte maneira:

DETERMINANTE DE... EXEMPLO


intensidade o silvo da sirene do carro de bombeiros
repetição anúncios na televisão
isolamento uma única palavra, na página da revista
movimento e mudança o pisca-pisca no cruzamento da estrada
novidade o desenho exagerado do último modelo de carro
incongruência a mulher fumando um charuto
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2.7. Tenacidade e Vigilância

Já vimos, no capítulo da sensopercepção, que o ato de perceber consiste na


apreensão de uma totalidade e que essa totalidade não representa uma simples
soma do elementos isolados captados pelos órgãos sensoriais. O todo sensorial
caracteriza uma determinada forma, e esta forma percebida pelos sentidos será
qualitativamente diferente daquilo que representa suas partes isoladas.

Para a Atenção, também, somente uma parte das excitações sensoriais


adquire relevo, dando origem à uma forma sobre a qual se polariza a Atenção,
enquanto as partes restantes representam o fundo, menos claro, mais difuso e mais
fluido. Aqui, tanto quanto na sensopercepção, não existem quaisquer elementos
isolados, mas apenas fins totais e integrado para alguma realização pessoal, e serão
"claras" e "nítidas" as percepções contidas no foco da Atenção, "vagas" e "difusas"
aquelas que se encontram além desse foco.

O nível da Atenção depende de vários fatores. Como vimos acima, o principal


desses fatores é a ânimo ou o interesse (em outras palavras, o afeto). Quando nos
encontramos diante de uma variedade de objetos, a Atenção está dispersa e os
diferentes objetos recebem pequenas quantidades de energia e alcançam um grau
médio de Atenção. Mas, ao concentrarmos a Atenção num único objeto, toda a
energia se orienta neste sentido e os demais objetos ficam numa zona obscura. No
entanto, no objeto em que se concentrou a Atenção se descobre uma infinidade de
pormenores que haviam passado desapercebidos quando este se achava imerso
nos demais. Neste caso a Atenção foi polarizada no objeto escolhido.

Isso significa que dentro do campo da Atenção nem todos os estímulos


recebem a mesma conscientização e energia. Vale aqui o alvo inicialmente
exemplificado: em torno de uma zona central especialmente iluminada e
energicamente acentuada, situam-se zonas de fraca intensidade.

Quando estamos dirigindo o foco principal da Atenção deve estar na estrada e


no trânsito à nossa volta. Em nível menos profundo de Atenção estão os
acostamentos da estrada, o ruído do motor, os instrumentos do painel do veículo,
etc. De um modo geral, o campo de visão mais externo, a visão periférica, utiliza a
energia psíquica sem propósito de foco da Atenção, mas apenas como possibilidade
para um eventual foco futuro.

Usando ainda o exemplo de dirigir, há também a Atenção de espera, quando


então procuramos, espreitamos, espiamos ou exploramos, sem nenhum objeto
específico à se focar a Atenção. Digamos que é uma Atenção para as
possibilidades. Nesses casos, o objeto da Atenção ainda não se acha presente, tudo
é indeterminado, não se conhece o onde, nem o quando do que vai ser percebido.
Pode ser que um cachorro atravesse em nossa frente. Esta expectância e incerteza
exige que a Atenção percorra continuamente um campo mais amplo para, no caso
do objeto aparecer, não o deixar escapar e colocá-lo imediatamente em foco. Para
completar esse exemplo temos que entender o que é tenacidade e o que é
vigilância.
13

Bleuler destaca duas qualidades na Atenção: a tenacidade e a vigilância. A


tenacidade é a propriedade de manter a Atenção orientada de modo permanente em
determinado sentido. A vigilância é a possibilidade de desviar a Atenção para um
novo objeto, especialmente para um estímulo do meio exterior. Essas duas
qualidades da Atenção se comportam, geralmente, de maneira antagônica, ou seja,
quanto mais tenacidade sobre um determinado objeto está se dedicando, menos
vigilante estamos em relação à eventuais estímulos a serem apreendidos.

2.8. Cisão da Atenção

É quando os objetos da Atenção opõem-se um ao outro e, por causa disso, não


se pode estabelecer uma unidade.Observação das mais significativas para a
Psicopatologia consiste na noção de "cisão" da Atenção. Este fato pode ocorrer com
relativa freqüência em alguns transtornos psíquicos, criando sérios problemas para a
mente que deve atender, simultaneamente, a objetivos múltiplos ou extremamente
contraditórios. No caso de "cisão", Nos casos mais acentuados, em que se
manifestam outros sintomas concomitantes, a cisão da Atenção pode determinar
uma verdadeira desintegração da mente. Bateson propos a hipótese do "duplo-
vínculo", aplicável às situações insolúveis em que se encontram muitos indivíduos
no contexto familiar.

A situação é descrita como aquela em que uma pessoa transmite à outra duas
mensagens afins, porém contraditórias e incompreensíveis, contendo exigências de
natureza oposta, ao mesmo tempo que trata de impedir que a vítima expresse uma
opinião acerca da incoerência.

O paciente se encontra numa situação singular e insustentável. Não pode


adotar nenhuma atitude sem sofrer pressões e exigências contraditórias vindas,
geralmente, de parte de um ou de ambos os pais. O fato de não saber para que lado
deva se "voltar", para o lado do pai ou da mãe, ocasiona o desmantelamento no
interior de si próprio e, externamente, nas relações interpessoais. Cria-se uma
situação sem saída para os que se encontram a ela vinculados.

Weakland estabeleceu os princípios da situação de duplo-vínculo criada entre


filho-mãe-pai:

1) O indivíduo participa de uma relação bastante intensa, isto é, fazem-no


sentir que é vitalmente importante que possa distinguir com precisão o tipo de
mensagem que lhe está sendo comunicada, a fim de poder responder de forma
adequada.

2) O indivíduo está atrapalhado em uma situação em que a outra pessoa que


participa da relação expressa duas formas de mensagens contraditórias, nas quais
uma é a negação da outra.

3) O indivíduo é incapaz de fazer comentários a respeito das mensagens que


se estão expressando, com o fim de corrigir sua discriminação do tipo de mensagem
a que deve responder, isto é, não pode realizar uma formulação meta-comunicativa".
14

Esta situação de duplo-vínculo implica, naturalmente, a "cisão" da Atenção de


quem se encontra submetido a esta situação anômala e termina operando a
desintegração de uma personalidade em evolução e que não alcançou ainda pleno
desenvolvimento.

O começo de um ato de Atenção consiste não só em dirigir a Atenção para o


estímulo sensorial, mas, ao mesmo tempo, interromper o estado psíquico anterior.
Assim começa uma nova vivência e, se esse processo proporcionava prazer ou não
estava ainda terminado, a interrupção é vivenciada como uma perturbação. Por isso,
admite-se que a dupla Atenção que um jovem deve prestar aos pais, quando ambos
são muito diferentes e expressam opiniões divergentes, contraditórias e conflitantes,
determina, como conseqüência, uma "cisão" no processo de Atenção, que termina
comprometendo, sobretudo, a parte afetiva da pessoa implicada.

2.9. O Ato de Concentrar a Atenção

Alonso Fernandez considera dois aspectos no ato de concentrar a Atenção:


escolher um tema no campo da consciência, elevando-o à um primeiro plano e;
manter esse tema rigorosamente destacado, sem deixar-se desviar por influências
excêntricas do campo da consciência, modificando-o com plena liberdade. Assim
sendo, o individuo lúcido deve dispor de liberdade diante das vivências, tornando
possível o funcionamento normal da capacidade de concentração .

A primeira fase da Atenção representa a redução do campo da consciência. A


percepção, representação ou conceito que se acham eventualmente no centro da
consciência são percebidos, graças à concentração da Atenção, com maior clareza,
nitidez e delimitação. Esse processo de concentração pode ser ativo ou passivo,
dependendo da situação afetiva do momento.

Quanto à intencionalidade da Atenção distinguem-se duas formas: a Atenção


espontânea e a Atenção voluntária. A Atenção espontânea, como o próprio nome
diz, resulta da tendência natural da atividade psíquica em orientar-se
espontaneamente para as solicitações sensoriais e sensitivas necessárias à
adaptação com a realidade, sem que para tal haja necessidade imperiosa da
consciência. Atenção ao andar, ao mastigar antes de engolir, desviar de obstáculos
para não cair, Atenção ao manusear objetos, por exemplo.

A Atenção voluntária é aquela que já exige um certo esforço mental para algum
determinado fim. Esta atividade psíquica permite que as representações e os
conceitos objetos da Atenção permaneçam maior ou menor tempo no campo da
consciência. Prestar Atenção à aula, por exemplo. A afetividade, visto em tópico
anterior, participa inegavelmente na direção da Atenção voluntária.
15

2.10. Distração

Sob o rótulo de distração existem dois estados diferentes. Por excesso ou por
falta de tenacidade. Primeiro, diz respeito à dificuldade da Atenção em fixar-se,
portanto, falta de tenacidade. A dificuldade de tenacidade, por si só, não implica,
como vimos, em prejuízo obrigatório da vigilância. Muito pelo contrário. Nos
transtornos hipercinéticos das crianças observamos, quase sempre, uma hiper-
vigilância acompanhada de hipo-tenacidade. Ela desvia sua Atenção diante de
qualquer estímulo ambiental.

No segundo caso trata-se do contrário, ou seja, de uma concentração ou


tenacidade muito intensa em determinado estímulo, assunto ou representação, que
acaba por impedir a apreensão de tudo que não se refere ao motivo principal da
Atenção, ou seja, por quase abolição da vigilância. É a distração do preocupado, do
sábio ou do estudioso, interessados vivamente e exclusivamente por algum
pensamento.

Na distraibilidade do primeiro caso, por falta de tenacidade, ocorre a diminuição


da Atenção voluntária e a aumento da Atenção espontânea. No segundo caso, ao
contrário, por excesso de tenacidade, como por exemplo na ioga, há aumento da
Atenção voluntária e diminuição da Atenção espontânea. Afetivamente podemos
dizer que nos estados de euforia a distraibilidade é do primeiro tipo e nos casos
depressivos é do segundo, porém, em ambos extremos do humor haverá
certamente prejuízo da Atenção.

Compreendido essas duas maneiras de distraibilidade vamos aos nomes


técnicos:

2.10.1. Hiperprosexia
Apesar do prefixo "hiper", há aqui prejuízo da Atenção. O "hiper" refere-se ao
aumento quantitativo da Atenção. Como, em termos de Atenção, a quantidade pode
ser tida como contrária à qualidade, esse tipo de alteração da Atenção se
caracteriza por uma extrema labilidade da Atenção (voluntária ou tenaz), o que leva
o indivíduo a se interessar, simultaneamente, às mais variadas solicitações
sensoriais, sem se fixar sobre nenhum objeto determinado. Refere-se, pois, a uma
hiperatividade da Atenção espontânea.

Esta super-vigilância acompanhada de sub-tenacidade da Atenção é


observada em estados patológicos acompanhados de excitação psicomotora, como
é o caso do Episódio de Mania (euforia), no Transtorno Hipercinético da Infância,
nas intoxicações exógenas por estimulantes como a cocaína ou anfetaminas, na
embriaguez, na esquizofrenia ou mesmo em pessoas normais passando por
momentos de grande excitação.
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2.10.2. Hipoprosexia

Consiste no enfraquecimento acentuado da Atenção em todos os seus


aspectos, isto é, tanto da Atenção voluntária, quanto da Atenção espontânea
(tenacidade e vigilância). É observada nos estados onde haja obnubilação da
consciência, seja por razões neurológicas ou psiquiátricas. Também na embriaguez
alcoólica aguda ou embriaguez patológica, em casos de psicoses tóxicas, na
amência, nos quadros de demências, na paralisia geral, na esquizofrenia e em
certas reações vivenciais anormais. Os estados depressivos sempre se
acompanham de diminuição da capacidade de concentrar a Atenção,
particularmente nos quadros de depressão ansiosa, que podem chegar, em casos
de estupor melancólico, a uma diminuição acentuada da capacidade de concentrar a
Atenção.

Em enfermos esquizofrênicos inibidos, a Atenção pode estar polarizada para o


mundo interno (introspecção), dando ao examinador a impressão de desinteresse
completo ao mundo exterior. Quando isso acontece falamos em postura autista. Nos
deficientes mentais também se observa déficit da capacidade de Atenção, tanto
mais acentuado quanto maior for o grau de deficiência mental, chegando, em alguns
casos, à ausência completa de Atenção.

2.10.3. Aprosexia

Aprosexia é a falta absoluta de Atenção, dependendo esse tipo de transtorno


de acentuada deficiência intelectual ou de inibição cortical. Esse estado difere da
insuficiente capacidade de concentração de origem afetiva e das manifestações
autistas dos esquizofrênico. Observa-se a aprosexia na amência, no estupor e nos
estados de demências.
17

3. ALTERAÇÃO DA MEMÓRIA

3.1. Hiperminésia

Ocorre Hipermnésia quando lembranças casuais são evocadas com mais


vivacidade e exatidão que normalmente, ou quando se recordam particularidades
que comumente não surgem na consciência. A Hipermnésia pode ser observada em
alguns estados orgânicos, como é o caso das afecções febris toxi-infecciosas.
Nesses casos podem aparecer lembranças da juventude ou da infância ou de fatos
que a pessoa nem sequer tinha mais consciência de sua existência. Também pode
haver Hipermnésia por estimulação hipnótica, onde recordações de particularidades
muito complicadas são revividas com exatidão.

Na Hipermnesia não existe um verdadeiro aumento da memória. O que se


observa é, na realidade, uma maior facilidade na evocação dos elementos
mnêmicos, normalmente limitados a períodos específicos ou a eventualidades
específicas ou, ainda, a experiências revestidas de forte carga afetiva.

Um fenômeno curioso é a Hipermnésia que pode ocorrer em estados que


precedem a morte ou quando a pessoa se defronta com situações extremamente
ameaçadoras à sobrevivência. Na literatura psiquiátrica há algumas referências de
casos onde a pessoa se recorda, em poucos instantes, de todos os acontecimentos
da vida com absoluta clareza.

Algumas pessoas que foram salvas da morte iminente por afogamento


descrevem que no momento da asfixia pareciam ver toda a sua vida passada, nos
seus mais pequenos incidentes. Pareciam ver toda a vida anterior desenrolando-se
em sucessão e com pormenores muito precisos, formando um panorama de toda
existência . Também Jaspers descreve essas situações limites. Perante o infortúnio,
o sofrimento e a morte iminente, diz ele, a existência humana é lançada numa
situação anímica extrema.

3.2. Hipomnésia e Amnésia

A Hipomnésia e a Amnésia podem ser consideradas como graus de hipofunção


da memória, ou seja, são diminuições do número de lembranças evocáveis. A
Amnésia, por sua vez, seria a desaparição completa das representações mnêmicas
correspondentes a um determinado tempo da vida do indivíduo". Bleuler prefere o
termo debilidade da memória ao invés de hipomnesia. Ele diz ainda que a Amnésia
não precisa ser completa, havendo várias gradações entre o nada absoluto e a
lembrança incompleta.

Segundo Jaspers, "amnésias são perturbações da memória que se estendem a


um período de tempo delimitado, do qual nada ou quase nada pode ser evocado
(Amnésia parcial), ou ainda a acontecimentos menos nitidamente delimitados no
tempo". Em seguida, estuda quatro variedades de Amnésia:
18

1. Primeiro - Há profunda obnubilação da consciência mais do que perturbação


da memória. Como nada se pode aprender na obnubilação, nada se pode fixar, ou
seja, como nenhum acontecimento atinge a consciência, não será possível alguma
reprodução.

2. Segundo - Aqui verifica-se ser possível a compreensão durante algum


período de tempo, porém a capacidade de fixação está profundamente diminuída,
não sendo possível reter nada. Isso é comum em psicoses orgânicas, notadamente
na Korsakov.

3. Terceiro - É quando certos acontecimentos podem ser compreendidos


passageiramente, porém as disposições da memória foram destruídas por um
processo orgânico bem delimitado no tempo. É, por exemplo, o que acontece nas
amnesias retrógradas, após graves lesões cerebrais, em que desaparecem
totalmente as experiências das últimas horas ou dias antes do acidente.

4. Quarto - Trata-se de amnésias extremamente acentuadas, normalmente de


origem psicogênica, sendo o principal defeito uma alteração da capacidade de
reprodução, apesar da soma das lembranças existentes estar conservada. Nesses
casos, muitas vezes a solução é conseguida por meio de hipnose

Existem, aliás mais comumente, Amnésias Parciais, onde se verifica o


desaparecimento de algumas lembranças e não de todas elas. Seriam as chamadas
Amnésias Sistematizadas Bleuler. Embora possam ser de causa orgânica, como por
exemplo, após traumatismo cerebral ou envenenamento, a maioria é de natureza
psicogênica. Quando o esquecimento se limita a certos acontecimentos da vida do
indivíduo, mas este continua sendo capaz de lembrar outros fatos vividos na mesma
época, Bleuler chama de Amnésia catatímica.

3.3. Tipos de Amnésia

3.3.1. Amnésia Anterógrada

Amnésia Anterógrada se refere ao esquecimento dos fatos transcorridos depois


da causa determinante do distúrbio e o transtorno mais freqüente desse tipo de
alteração da memória é o de fixação. Costuma ser devido à uma concomitante
perturbação da atenção, tanto da tenacidade quanto da vigilância.

Como a maioria dos casos se deve a alterações orgânicas, é como se


houvesse uma diminuição da receptividade do sistema nervoso aos estímulos. A
Amnésia Anterógrada pode ser observada em lesões cerebrais agudas ou crônicas,
sejam devidas a causas traumáticas, circulatórias ou tóxicas. Os doentes com
Amnésia Anterógrada não podem relembrar os fatos recentes, porém, conservando
a capacidade para recordar acontecimentos passados mais remotamente.
19

Nos estados demenciais os graves defeitos da fixação se acompanham


freqüentemente de fabulações, ou seja, tentativas do paciente preencher as lacunas
mnêmicas com afirmativas completamente aleatórias.

3.3.2. Amnésia Retrógrada

Amnésia Retrógrada é quando ocorre perda da memória para os fatos


ocorridos antes do evento que a causou. Aqui também o dano cerebral, de qualquer
natureza, tem destaque principal entre as causas. Esse tipo de Amnésia se estende
por dias ou semanas anteriores à lesão. Em alguns raros casos, a Amnésia
Retrógrada pode compreender todos os acontecimentos anteriores da vida do
enfermo.

A Amnésia Retrógrada é bastante observada nos quadros neuro-psicológicos


senis, após um ictus circulatório cerebral e nos traumatismos cranianos,
principalmente quando há perda de consciência. Apesar da sintomatologia
exuberante, a Amnésia Retrógrada pode ser reversível, ocorrendo a regressão a
partir dos fatos mais antigos para os mais recentes.

Além de neurológica a Amnésia Retrógrada pode ser psicogênica, em


conseqüência de traumas emocionais intensos. Nesses casos a Amnésia pode
referir-se apenas a determinado período de tempo, limitada a lembranças
relacionadas com acontecimentos angustiantes. Nesses casos, na realidade, não há
um verdadeiro apagamento mnêmico e a dificuldade da evocação resulta de um
mecanismo de defesa (negação).

3.3.3. Amnésia Retroanterógrada


Amnésia Retroanterógrada se refere ao esquecimento dos fatos ocorridos
antes e depois da causa determinante. Trata-se de uma alteração simultânea da
fixação e da evocação. Encontra-se nos casos graves de demências orgânicas e de
traumatismos crânio-encefálicos. O antigo termo psicorrexe, pouco em uso
atualmente, se refere à amnésia de instalação súbita e total, privando o indivíduo da
capacidade de compreensão e de orientação no tempo e no espaço.

3.3.4. Amnésia Transitória

Amnésia Transitória é, como o nome diz, uma síndrome amnésica transitória


que se caracteriza pela incapacidade de fixar os acontecimentos recentes. É
observada com relativa freqüência na convalescença de enfermidades toxi-
infecciosas graves onde, apesar dos pacientes conservarem boa capacidade de
evocação, manifestam sérios transtornos da orientação têmporo-espacial,
fabulações e perseveração. Nestes casos de estados toxi-infecciosos graves
verificamos um empobrecimento mental global e simplificação do pensamento,
amortecimento da vida emocional, indiferença, apatia, falta de iniciativa e
apragmatismo. Em alguns casos, podem surgir síndromes de transição confusional e
do tipo paranóide-alucinatória.
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4. PARAMNÉSIAS

Os distúrbios da qualidade da memória de evocação denominam-se, de modo


geral, paramnesias. Estudam-se neste grupo as seguintes alterações:

1) ilusões mnêmicas;
2) alucinações mnêmicas;
3) fabulações;
4) fenômeno do já visto;
5) criptomnesia;
6) ecmnesia.

4.1. Ilusões Mnêmicas

Tratam-se, as Ilusões Mnêmicas de verdadeiras lembranças fictícias, ou seja, a


recordação vívida de alguma coisa irreal. Nesses casos haveria um acréscimo de
elementos falsos na consciência, os quais resultariam em lembranças fantásticas
como, por exemplo, ter existido antes do universo, ter vivido 10 mil anos, ser mãe de
dezenas de filhos, ter participado da queda da Bastilha ou da Guerra de Tróia e
assim por diante. São algo diferente dos delírios devido ao fato da pessoa poder
descrever minuciosamente as cenas vividas, algo como um acontecimento oniróide.

As Ilusões Mnêmicas são a forma mais freqüente de paramnesia e


desempenham importante papel na psicopatologia, principalmente na sintomatologia
psicótica. Segundo Bleuler, as Ilusõs Mnêmicas constituiriam o principal material
para elaboração dos delírios. Bleuler inclui nas Ilusõs Mnêmicas as lembranças
imprecisas também observadas no alcoolismo agudo e crônico, nos orgânicos e nos
epilépticos.

Entre as Ilusõs Mnêmicas se incluem os falsos reconhecimentos, observados


em psicóticos quando, muitas vezes, insistem em identificar o médico ou a
enfermeira como uma pessoa de sua família, a quem até atribuem algum nome de
sua familiaridade. Nesses casos não se trata de alteração da percepção e sim de
formação da Ilusõs Mnêmicas, que leva o paciente a identificar uma pessoa
desconhecida com a lembrança de alguém familiar.

4.2. Alucinações Mnêmicas

Alucinações Mnêmicas são criações imaginativas com aparência de


reminiscências e lembranças, porém, não correspondem a nenhuma imagem de
épocas passadas. Nos psicóticos surgem, freqüentemente, lembranças reais de
vivências irreais que podem atribuir uma história de vida completamente diferente.
São lembranças que não correspondem a nenhum acontecimento vivido.

Pacientes pré-demenciais ou demenciais podem apresentar essas Aucinações


Mnêmicas como cenas acontecidas recentemente. Uma nossa paciente em início de
demenciação insistia que um antigo namorado vinha quase todas as noites visitá-la
de carruagem. Descrevia a cena com detalhes minuciosos.
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Não se trata de realização de sonhos nem tampouco de alucinação dos


sentidos, pois muitos dos acontecimentos são situados no tempo em que o indivíduo
normalmente se ocupava do seu cotidiano. Em outros casos, as alucinações da
memória são menos sistematizadas e constam apenas de particularidades isoladas.

4.3. Fabulações

A Fabulação consiste no relato de temas fantásticos que, na realidade, nunca


aconteceram. Em grande parte, resultam de uma alteração da fixação e de uma
incapacidade para reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia. O
conteúdo das fabulações, como bem salientou Lange, procede do curso habitual da
vida anterior, acontecendo muitas vezes que, achando-se perturbada a capacidade
de localizá-las no tempo, lembranças isoladas autênticas completam erroneamente
as lacunas da memória. Nos casos em que existem alterações dos conceitos e
desorganização da vida instintiva, pode-se observar a produção rica de conteúdos
fabulatórios absurdos e inverosímeis, que, habitualmente, adquirem um aspecto
oniróide. Em outros casos, certas imagens oníricas são rememoradas e atualizadas
como lembranças autênticas.

Enquanto as Fabulações preenchem um vazio da memória e se mostram como


que criadas para este fim, podendo variar de tema e conteúdo, as Alucinações
Mnêmicas não mudam, tal como uma idéia delirante. No sentido mais particular, a
Fabulação é, nos estados em que não há delírio, um sintoma de comprometimento
orgânico.

5. PSICOPATOLOGIA
Vejamos agora como pode se apresentar a Atenção e a Memória em alguns
estados psíquicos mais encontradiços.

5.1. Transtorno Afetivo Bipolar

Nos período de euforia do Transtorno Afetivo Bipolar, a Atenção se caracteriza


por uma exagerada distraibilidade devido a hiper-vigilância e hipo-tenacidade,
portanto, trata-se daquilo que vimos aqui chamar-se Hiperprosexia. Como a Atenção
é muito superficial e dispersa, detendo-se nos estímulos ambientais, o paciente tem
grande dificuldade para concentrar a Atenção em determinado objeto. Nas fases de
leve excitação maníaca, ou nos estados hipomaníacos, os doentes percebem
rapidamente tudo o que ocorre em torno de sua pessoa, inclusive o que carece de
significação, entretanto, a Atenção só consegue manter-se em cada objeto durante
um breve tempo, voltando-se novamente para novas impressões.

Por outro lado, nos estados de depressão há lentidão e dificuldade de


concentrar a Atenção devido à hipo-vigilância e à hipo-tenacidade, ou seja
Hipoprosexia.
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Em alguns pacientes, porém, pode haver aumento da tenacidade da Atenção


sobre seus próprios pensamentos de teor negativo e depressivo. Nesses casos
haveria super-tenacidade e sub-vigilância: dificilmente o enfermo desvia a Atenção
da idéia ou do objeto a que se refere o seu estado mental.

Quanto à Memória nos estados maníacos, sua evocação está, via de regra,
exaltada. Diante da menor solicitação da consciência o eufórico tende a reviver uma
sucessão ininterrupta de idéias e de imagens mnêmicas. Entretanto, as ligações
entre as idéias é fraca e fragmentada.

As combinações dos conceitos e dos juízos se fazem de maneira acidental na


euforia e, na maioria das vezes, estabelecem-se relações secundárias e aleatórias,
de acordo com assonâncias, rimas e jogo de palavras. As idéias se sucedem sem
direção, ao acaso das circunstâncias psicológicas. A Memória das lembranças
afluem à consciência em sucessão torrencial e pode remontar à tempos muito
pregressos.

O pensamento do eufórico é extremamente dinâmico, instável, salta sem


transição de uma idéia a outra (fuga de idéias), as evocações se fazem ao acaso.
Os atos intencionais estão todos nivelados para cima, têm igual interesse de ânimo
e se atualizam com o mesmo grau de consciência. Mundo exterior, impressões
sensoriais, imagens verbais, motoras, tudo se encontra sob o mesmo plano, tudo é
vivido com igual intensidade.

Afetivamente as tendências anteriormente reprimidas dos pacientes em crises


de euforia tendem a liberação, favorecendo a emotividade e a expansividade
exagerada. Os estados afetivos comandam o encadeamento veloz das
representações mnêmicas e estas provocam juízos que se expressam
eloqüentemente. A Memória exaltada proporciona freqüentes retornos de
lembranças agradáveis, suscita pensamentos otimistas, projetos de vida sem uma
ordenação adequada. À medida que a excitação maníaca aumenta de intensidade, a
hiperevocação automática da Memória cresce de modo progressivo.

Com o evoluir do quadro, apesar da pseudo-hiperprodução mental do eufórico,


a evocação eloqüente e automática da Memória, por mais rica e fiel que seja, não
serve mais para nada, pois o doente não mais a controla, não escolhe nada de
prioritário entre as evocações tumultuosas e as representações incoerentes não
podem mais dirigir a atividade no sentido de uma via razoável, prática e objetiva.

Em muitos casos de excitação maníaca observa-se hipermnesia, caracterizada


pela revivescência acentuada de lembranças, que fluem à consciência do enfermo
em verdadeira avalanche mas, ao contrário de um enriquecimento da Memória,
como poderia parecer, há sim um verdadeiro tumulto e uma real desordem da
Memória.

Alguns poucos casos o paciente maníaco está incapacitado para relembrar os


fatos vividos durante a agitação e, dessa forma, passa a apresentar uma amnésia
total ou parcial relativa à fase de agitação maníaca.
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5.2. Estados depressivos

Nos estados depressivos, as funções psíquicas também estão perturbadas em


seu conjunto, tal como dissemos sobre o sintoma da Inibição Global dos deprimidos.
Os sintomas mais destacados são a tristeza vital, a angústia e a inibição da
psicomotilidade. Entretanto, ao lado desses sintomas axiais, os enfermos deprimidos
se queixam de um sentimento de impotência psíquica que os impede de realizar as
suas tarefas habituais, diminuição da capacidade de concentração e
enfraquecimento da vontade. A Memória se acha comprometida em suas
capacidades de fixação e de evocação. Na maioria dos casos, os doentes revelam
redução da atividade voluntária global, além da mnêmica.

Estando a Atenção voluntária (tenacidade) e involuntária (vigilância)


severamente prejudicadas nos quadros depressivos, automaticamente também
estará prejudicada a Memória de Fixação e de Evocação, a primeira pela alterações
da Atenção e a Segunda por desinteresse.

5.3. Esquizofrenia

A alteração da Atenção que se observa na Esquizofrenia é,


predominantemente, da Atenção voluntária, ou seja, da tenacidade. O
esquizofrênico tem dificuldade para ater-se à temas necessários à vida pragmática,
profissional ou social, embora possa estar desperdiçando a energia psíquica
necessária à Atenção, concentrando-se em temas interiores e pertinentes à sua
própria patologia delirante.

No caso da Esquizofrenia, a alteração da Atenção seria uma conseqüência da


alteração da afetividade (embotamento ou empobrecimento) em primeiro lugar, a
qual determinaria, em segundo lugar, alteração vontade, sendo esta última
imprescindível para a manutenção da Atenção. Na Esquizofrenia Paranóide os
pacientes podem ter a Atenção fortemente concentrada em suas alucinações, ou se
sentem forçados a polarizar a Atenção para determinados acontecimentos do
ambiente. Nestes casos, segundo Bleuler, seria uma espécie de vigilância
sistematizada, isto é, uma tendência patológica de relacionar os estímulos do meio
externo às concepções delirantes.

Nas esquizofrenias Hebefrênica e Catatônica há grande dificuldade de


Atenção, com notável diminuição da Atenção involuntária por indiferença aos
acontecimentos externos, sendo muito difícil mobilizar a Atenção voluntária do
doente. Nessas psicoses, algumas vezes, pode-se observar uma verdadeira
interceptação da Atenção.

Quantitativamente a Memória, por sua vez, não está perturbada na


esquizofrenia. Entretanto, a fixação e a capacidade de evocação podem se achar
alteradas em função do prejuízo da Atenção e da falta de interesse. Em alguns
casos observam-se, como dissemos, alterações qualitativas da Memória, como são
os casos de Ilusões e Alucinações Mnêmicas.
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5.4. Epilepsia

Na epilepsia, a Atenção sofre a influência da perseveração revelando aumento


da tenacidade. Entretanto, de modo geral, este aumento da tenacidade secundário à
perseveração do epiléptico resulta em prejuízo da extensão dessa tenacidade, isso
em virtude de um interesse circular, repetitivo e pouco prático. Por outro lado, a
tenacidade voluntáriamente invocada para outros temas pode estar severamente
prejudicada, principalmente quando o enfermo concentra a Atenção num tema que
se lhe apresenta obsessivamente muito importante. Quando se promove a variação
rápida de temas, nota-se que a Atenção se fatiga facilmente.

Os epilépticos também estão sujeitos à alguns transtornos da Memória que


merecem atenção especial. A Memória dos epilépticos pode ser insegura,
principalmente em relação à evocação e na localização das lembranças. Na medida
em que a enfermidade progride no tempo, a fixação vai-se tornando cada vez mais
difícil. Com muita freqüência, alguns enfermos apresentam esquecimentos de
nomes, de datas, de acontecimentos da vida cotidiana (fixação), enquanto
conservam de modo perfeito os conhecimentos adquiridos anteriormente
(evocação).

Parece que tais alterações mnêmicas dos peilépticos não têm uma relação
direta com a freqüência das eventuais convulsões, visto serem observadas também
em pacientes cujas crises são controladas pelo tratamento. Alguns autores
consideram que estes fenômenos dependentes de elementos subclínicos e
demonstráveis no EEG através de um traçado elétrico típico, mesmo o paciente não
manifestando alteração clinica.

Nas epilepsias francamente convulsivas, com a evolução da doença aumenta


gradativamente a alteração da Memória, revelada pela perda dos conhecimentos
adquiridos, pelo estreitamento do círculo de interesses e o empobrecimento dos
meios de expressão .

5.5. Estado Psicorgânicos e Senis

Nos estados demenciais há, inegavelmente, um enfraquecimento global e


progressivo de todas as funções intelectuais, incluindo, é lógico, a Atenção e a
Memória. Na Atenção o prejuízo da tenacidade resulta em decréscimo progressivo
da concentração, e a diminuição da vigilância caracteriza uma conseqüente
diminuição da extensão e fatigabilidade rápida da Atenção.

Segundo Bleuler, nos quadros orgânicos senis a Atenção espontânea


(vigilância) é alterada antes e mais intensamente do que a Atenção voluntária
(tenacidade). Por esse motivo, esses pacientes, apesar de darem a impressão de
que estão com a Atenção bem conservada, em termos de tenacidade, costumam
atrapalhar-se no pragmatismo cotidiano, onde a vigilância é de suma importância.
Esse estado, que freqüentemente acomete idosos, não pode ser atribuído à
alteração exclusiva da Memória (que pode estar até bem) mas sim da Atenção.
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Nos quadros francamente orgânicos, como aqueles secundários ao


envelhecimento cerebral, aos problemas circulatórios e aos traumatismos cranianos,
ao contrário dos quadros senis simples onde há alteração da Atenção, verifica-se
alterações da fixação e da evocação da Memória. O distúrbio da fixação é
observado desde o início, evoluindo progressivamente até alcançar uma completa
incapacidade para fixar os acontecimentos novos. Em certos casos, os fatos
recentes são recordados, mas rapidamente são esquecidos.

Especialmente na Demência Senil, a evocação se mostra deficiente e os


pacientes revelam uma tendência progressiva a utilizarem cada vez menos os seus
conhecimentos. Observa-se, nesses casos, a perda da capacidade de evocação,
mais acentuada nos acontecimentos mais recentes e menos grave para os
acontecimentos mais antigos. É comum os demenciados rememorarem com
detalhes histórias muito antigas e não conseguirem evocarem o que comeram no
almoço.

5.6. Deficiência Mental

Em geral a Deficiência Mental se torna manifesta e mais prontamente


diagnosticada através do atraso geral na aprendizagem. Na Deficiência Mental há
comprometimento global da capacidade intelectual e, sobretudo, dificuldade de
concentração (tenacidade) da Atenção. Em todos os graus de deficiência mental a
Atenção é lenta e fatigável e, por causa disso, as características especiais da
Deficiência Mental serão sempre de natureza deficitária, evidenciando-se,
notadamente, as alterações da fixação e da evocação da Memória.

Sendo a alteração primária a da Atenção, em muitos casos, os deficientes


mentais mostram uma excelente capacidade para a reprodução mecânica da
Memória em certas especializações, como por exemplo, acerca de conhecimentos
musicais, matemáticos ou visuais.

Nos estados confusionais, observa-se uma crescente dificuldade na percepção


do mundo objetivo, com diminuição da atividade intelectual, diminuição essa que se
acentua de maneira progressiva até atingir todas as formas de atividade psíquica.
Uma espécie de véu espesso cai sobre a consciência: eis aqui os traços essenciais
da obnubilação da consciência nas psicoses sintomáticas. Dentro desse quadro
sintomatológico, as perturbações da Atenção ocupam o primeiro plano. O
interrogatório clínico não progride, em virtude da incapacidade revelada pelo
enfermo para concentrar a tenção e responder às perguntas de modo acentuado. É
necessário repetir as palavras, pressionar, praticar uma verdadeira estimulação para
conseguir que o olhar perdido ou apagado se volte para o interlocutor. Esta
diminuição da Atenção e da capacidade de concentração é característica; é o
elemento essencial e não representa o resultado de distração, nem a conseqüência
de concentração intelectual ou de polarização afetiva sobre uma idéia ou um
sentimento prevalente. Ela se manifesta também por extenuação rápida das
reações; quando o enfermo, em resultado de um grande esforço, consegue
concentrar a Atenção, ela não se mantém por muito tempo vinculada ao objeto.
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Na obnubilação da consciência, a Atenção do enfermo é vaga e capta o


ambiente de maneira incompleta e inexata.

Na opinião de Walther-Büel, o transtorno da Atenção representa o sintoma


obrigatório na obnubilação da consciência. "O indivíduo obnubilado, por não dispor
de capacidade de concentração suficiente, encontra-se à mercê de suas vivências,
sem poder participar na configuração das mesmas".

5.7. Transtornos Neuróticos

Habitualmente há fatigabilidade e distraibilidade da Atenção nas neuroses. Os


enfermos se queixam de que não podem concentrar a Atenção, porque logo se
sentem fatigados. Embora a capacidade intelectual esteja conservada nos pacientes
com Transtornos Neuróticos, há quase sempre uma alteração da Atenção, a qual
acaba por se refletir, secundariamente, na Memória de fixação.

Os pacientes com Transtornos Neuróticos, sejam eles do tipo Fóbico-Ansioso,


Obsessivo-Compulsivo, Distímicos ou mesmo Histriônicos costumam se queixar de
uma certa fraqueza da Memória. A mesma quesixa que encontramos nos pacientes
leigamente considerados com "Esgotamento". O que significa, nesses casos, é uma
certa dificuldade de fixar os acontecimentos, particularmente a fixação de assuntos
lidos ou de temas de estudo. Observa-se que existe uma oscilação no rendimento
da Atenção tenaz e, conseqüentemente da Memória de fixação, muito
provavelmente ligada à fadiga e ao desinteresse.

Entre os portadores de Transtornos Neuróticos, são os histéricos que mais


costumam apresentar Amnésias Psicogênicas, as quais, como vimos, obedecem a
determinados mecanismos de defesa do ego. Em alguns pacientes, entretanto, o
que poderia ser tomado por um mecanismo de Negação há, na realidade uma
Repressão (outro mecanismo de defesa) por pudor, angústia ou timidez. Nesses
casos, não se trata de uma verdadeira Amnésia Psicogênica.

FONTE

Ballone GJ - Curso de Psicopatologia: Atenção e Memória in. PsiqWeb, Internet,


disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005

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