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D.

João o Primeiro
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

5 Mestre, sem o saber, do Templo


Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender,

Teu nome, eleito em sua fama,


10 É, na ara1 da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
PESSOA, Fernando (2015). Mensagem. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 25.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Interpreta o sentido do segundo verso do poema. (20 pontos)

2. Explicita o valor atribuído a D. João I. (20 pontos)

3. A última quadra alude ao carácter eterno de D. João I na identidade nacional.


3.1. Comenta a afirmação, considerando o contraste entre as expressões “eterna
chama” e “sombra eterna”. (20 pontos)

Todas as faces de Pessoa


Sim, toda a gente conhece Fernando Pessoa. Quem não ouviu versos como “Tudo vale a pena se a
alma não é pequena”? Ou “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”?
Além disso, os menos novos ouviram João Villaret recitar, quase em êxtase, “O Mostrengo que está
no fim do mar/ Na noite de breu ergueu-se a voar”, de tal modo que todos temos a sensação de conhecer
muito bem o mais falado dos nossos poetas modernos.
Mesmo aqueles que foram mais longe, os que leram “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, ou
“Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, os que conseguem recitar a ‘Autopsicografia’ (o poema que
começa com “O poeta é um fingidor”), acham-se já na posse do que seria o essencial daquele homem
franzino, sempre de chapéu na cabeça, tanto nos retratos a óleo (são dois semelhantes pintados por Almada
Negreiros), como na estátua que Lagoa Henriques fez numa mesa em frente à Brasileira, café onde passou
incontáveis horas. Pessoa, no entanto, é interminável. As suas obras completas seriam impossíveis de
publicar, salvo num contexto académico, como está a fazer a Imprensa Nacional Casa da Moeda com a
edição crítica coordenada pelo professor Ivo de Castro. E foi precisamente a esta edição crítica que o
Expresso começou por ir buscar o fundamento da sua obra: a fixação do texto. O autor, emendando e
voltando a emendar, fazendo vários projetos diferentes de poemas, com versões ligeiramente alteradas, não
é fácil de apanhar. O trabalho do professor Ivo de Castro, juntamente com muitos outros pessoanos, com
destaque para o recém-prémio Pessoa Richard Zenith, é justamente o de, sendo fiel ao poeta, fixar ou
unificar aquilo que se entendem ser as palavras escolhidas, nos locais exatos. E uma notícia: alguns destes
poemas e textos que vão ser distribuídos pelo Expresso resultam, pela primeira vez, do consenso alargado
de todos os que se dedicam à obra de Pessoa.
Pode pensar-se que estamos na presença de mais um poeta. Mas nada mais falso. Fernando Pessoa é a
maior personalidade literária de Portugal. Por exemplo, o crítico Harold Bloom, que o considera Walt
Whitman (um dos maiores, senão o maior poeta americano) renascido, inclui-o no escasso cânone dos 26
melhores escritores da civilização ocidental.
A sua dimensão genial foi também sublinhada pelo professor Eduardo Lourenço num dos primordiais
e mais importantes ensaios críticos sobre a sua obra (Pessoa Revisitado, 1973). Mas, longe de estarmos a
tentar convencer cada um acerca do seu génio, pensamos ser melhor colocar à disposição de todos o
essencial da sua obra, de modo que possam aferir por si próprios não só a versatilidade como o enorme
talento de um homem que era muitos.
Se em jovem escreveu a um professor que tivera em Durban e a um colega da mesma escola, sob um
nome falso, dizendo que Fernando Pessoa, entretanto regressado a Lisboa, morrera num incêndio; se, sob o
nome de Alexander Search, publicou os primeiros poemas em inglês, mais tarde cria um engenheiro de
máquinas e depois naval, nascido em Tavira, cujos poemas são assinados Álvaro de Campos (entre os
quais o conhecido “Tabacaria”). Um latinista e monárquico, nascido no Porto, médico de formação, que na
posteridade pessoana é Ricardo Reis. Um guardador de rebanhos (que nunca os guardou) poeta naturalista,
desesperado que se proclama antimetafísico, Alberto Caeiro. Um simples guarda-livros que se encontra
com Pessoa numa Casa de Pasto na Baixa, Bernardo Soares. Todos estes […] tinham biografia, estilos,
idiossincrasias e preferências próprias, chegando a polemizar entre si.
Além disto, temos ainda o Pessoa esotérico, cabalista e astrólogo, o poeta que faz versos de escárnio
a Salazar e ao Estado Novo, que defende a liberdade de se ser homossexual ou que escreve indignado
contra a ilegalização da maçonaria. Além, claro, dos contos policiais, que aliás fecharão esta coleção, a 14
de novembro.
Por trás, apenas um homem franzino de chapéu, tímido, com um único amor conhecido na vida -
Ofélia Maria Queirós Soares, a quem ele escreve cartas, que como todas as cartas de amor “são ridículas”,
como postulou Álvaro de Campos.
MONTEIRO, Henrique. “Todas as faces de Pessoa” [Em linha].
Expresso /Sapo, 15-09-2015 [Consult. em 08-11-2016].

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

1. Este texto tem como principal intenção comunicativa (5 pontos)


(A) apresentar uma edição crítica da obra de Fernando Pessoa.
(B) fazer uma apreciação crítica dos poemas mais emblemáticos de Fernando Pessoa.
(C) sintetizar a biografia de Fernando Pessoa.
2. A referência a versos ou títulos de poemas presente nos versos 1 a 12 tem como
função demonstrar que (5 pontos)
(A) a popularidade de Fernando Pessoa se deve à produção de poesia e de contos policiais.
(B) há textos de Pessoa extremamente conhecidos.
(C) as recitações de poemas de Pessoa por João Villaret são apreciadas pelos jovens.

3. De acordo com a informação apresentada nas linhas 12 (“As suas obras completas”) a
16
(“[…] a fixação do texto.”), (5 pontos)
(A) a obra completa de Fernando Pessoa só pode ser publicada por especialistas.
(B) Ivo Castro é o diretor da Imprensa Nacional da Casa da Moeda.
(C) as obras completas de Fernando Pessoa já foram publicadas diversas vezes, em contexto
académico.
4. De acordo com o autor do texto, uma das mais-valias da publicação em causa é
(5 pontos)
(A) integrar os poemas que Fernando Pessoa escreveu em inglês.
(B) ter sido elogiada pelo crítico Harold Bloom.
(C) incluir textos aprovados pela maioria dos especialistas da obra pessoana.
5. A informação apresentada em “Pode pensar-se que estamos na presença de mais
um poeta.” (l. 23) funciona como (5 pontos)
(A) ponto de vista pessoal, que introduz a argumentação seguinte.
(B) máxima que sintetiza a perspetiva do autor.
(C) contra-argumento que será refutado de seguida.

6. A oração subordinante de que depende a oração iniciada por “Se” (l. 32) é (5 pontos)
(A) “que tivera em Durban” (l. 32).
(B) “Fernando Pessoa […] morrera num incêndio” (ll. 33-34).
(C) “mais tarde cria um engenheiro de máquinas” (ll. 34-35).

7. Na linha 38, os parênteses são utilizados para delimitar


(A) uma alusão intertextual.
(B) um comentário irónico.
(C) a indicação da referência bibliográfica consultada.

8. Identifica a função sintática desempenhada por “um fingidor” (l. 9). (5 pontos)

9. Explicita a relação temporal que se estabelece no enunciado “Se em jovem


escreveu a um professor que tivera em Durban” (l. 33). (5 pontos)

10. Indica o valor modal introduzido pelo termo “claro” (l. 44). (5 pontos)

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