Louis Vax - O Fantástico

Você também pode gostar

Você está na página 1de 21
oa ART ET UA UTtetaTuRe Fantastioues aleae engatne v6 cate ‘QUE SAISu3e © oy ruses overran o naner VHA Pratt de soko costs Ovenaeto eites de MENORS DF ouIveIRA Popular 6 samlatmensonate, 4g hs . H enrees da dk Mensiio do “numinosoy. Em a MPREEA_ uM _estio aS eet i suts Bersonagens sia-otel_e pra. malvada ou o principe enown i canister tiem Umvelt we eer, NEO Sulhuetas, Precisas num Be a nossa simpatia. Nio by uw do. itexplicdvel. Ao passo que o feérico colons fore do real um mine mr al ©, por Conseguinte, o escdndalo nao existem; o’tan. Yastieo nutrese dos conflites do real e do “Mas, © par do maravilhoso cor de rosa, existe um maravilhoso negro em que fentés. tieo e feérico se reunem. Podemos imaginar sem dificuldades a elegria num universo elisio—e & mesmo nos pases longingues ¢ Max -LUTHL, ‘Dar ewopavche Votksmarchen, 2 ‘Auth, Dalp Taschenbcher, (900, dos Lemp rectidas que as ts hanum ¢ felleldade porfeitn Possivel sonhar com o mi 8 0 sont PoUuco. Feiticeires, diabos e génios Contos de amas sig quase persona, tasticas, © maravilhoso de L. Tieck rain 2 fantastico quando se torna tertifica. O {9 ico dos romances géticos € um maravith aterrorizante: os castelos assombrades mais inquietantes possivel; mins estes mais tathados na matéria do moto do que nha do real, so concebidos como imaginsrios, or conseguinte, lirea mies agit edo sobre unin antinomin. do fants real € tranquilizador porque 1 contram fastasmas, o imaginétio éo visto no nos ameagar. A atte fantastica di Introduzir terrores imaginérios no sol mundo real 2. as superstigdes pop replo que as narrativas fantasticas, a 1it tura de imaginagtio clentifiea, es quadres, realistas provocam no leitor modeme, ji Povo o conhecia gragas fs lendas que se trane mnltiam de geragfio em goragho, As historias de almas do outro mundo, de lobisomens, de 3 Lutz RUIRICH, Die dese Volk Gicher “Abie (Shadi grave, tN plex 66090, Yamplns ode © MUS othnde trara a agit mthades, cuts one nan Sullts dos loses reu ae ~ Sio na verdade os mes. aictonais ¢ ee dlico antig, Taira ‘odemno no pos. me ol ‘ade. Desde ager ° @ narrative & Babe yee eRe se & tmaginnaas VTe8delra. Sabe que a histoee a the chamar © ouvinte de outrora conhecta wen estado alma ambigu lidade moderna fez rebentar la. pesquisa pa- Tapsicolégica, cientificas, rr um lado, em gosto pela arte pela literatura fantésticas. guntava 2 st pr6. prio se an te £6, € corroborada por diversas testemunhas, acha-se conforme as tradigdes ancestrais ¢ as crencas religiosas, 8, pols, uma narrativa que tentle a reduzir 2 parte da imaginagio, se. nhora do erro e da falsidade. Mas, inversa- mente, uma'narrativa que seduz 6 ume nex L Ver THOMPSON, Moriindes of fltsttersure, 2: e..6 vol, Copenbah, 19858; EB. TAYLOR. Pet Initve Cutrure’ (Harper Torchbooks). io Tall ben aprewntids, ben ent 05 lances tentmnis se wulher que se duzir pes falas, que sabe nientimsa: bem falante. A historia eonh: eu, alias, as ‘Suas fpocas de diivida e os scus momentes de creduiidade. Deve terse nereditads na. fe garlaina época em que se queimavam os bru- x0s, yisto as autoridades acreditarem niseo. do mesmo modo como em tempos se inquletow 2 pat’ dos estadosmatores com a ameaca di discog voadores. A alma popular simples: erédula A meia-noite, eéptica &s da manha, gosta de acreditar para gozar com 0 medo que di e que se oferece a si mesua. Com esta literatura oral aparente-ce uma Wteratura eserita. As ehistéries prodigicsas: floriram nos séculos XVI e XVII', Uma com: pilagdo de 720 paginas, publicada em 1595, por Bosistuau, Tesserant, Hoyer e Belle-Fo rest, Telata. uma centena de prodigios: m: 4B tf no séeulo XIX, Ver ot tshathor de M. JP. SEGUIN. men. Stee eeeadm ©. feslagies divinns Om RalAntens, atAnicns, mmonstros, tree Mores de terra, Bpariedes de fant; . ; #e do fantamnas, ete. 4 Claudin publicoy em Lignin veiseie Sf Pilces curteutes culos orighcis aparece, Br ce eRe do steulo evan, Tee ie bat thas no céu, de si NS precurcores da célera, divina qi Pos ain parinido © seu voto, 0 diabo cortowthe as Partes vergonhosas ¢ Tapariguinhe com a idade de dois anos ot Porto’ (Paris, 1619). Depois da narrative, multo realista. esta conclusao sublime: «6 se, gredos © jufzos de Deus, como os vossoe abis, ‘Mos S40 profundos I» Nao se trata de contos fantasticos, porque os autores destas narra. tivas es davam como verdadeires. Decerto, a Sua boa {é € suspeita. Muitos, porém, devem ter Julgedo proceder bem pondo pequenas mentiras 20 servigo da Verdade. A tradigio estes contos edificantes perpetuouse até a0 século XX, com fins de educagio religiosa 2 Nos nostos dias, Ch. FORT slats, com humor e talento, uma quantidade de hisériay prodigions (Le lire des dares) 2 cin erent qin Provoca um confllte entre o real ¢ 9 pres! 0 criminoco nép pode t redes ¢, 20 entanty, fol ee eee aera eee eee aoa ome re fas hinciatta ae Pere ea ee eo te ay i | zante, Relvindica o direito & vida, as alegrias do amor, 20 culto vos antigos deuses efeste: dos pelo novo, 4. © horrivel, 0 mecabro’.—© fanths- tico em sentido, restrito exige a irrupgio dum elemento sobrenatural num. mundo submetido: & razio. O horrivel e © macabro tém o seu lugar no mundo natural; e, no entanto, as narrativas atrozes ‘figuram muito natural- 2 A. DERLETH publicou uma antologia da poesia fantéstica. Dark of the moon, Sauk City, 1942. 1 The Pon book of horror storiee'e The second Pen book of horror stories, seleccionadat pot Herbert VAN THAL (1959-60), Best horrar stoves, editadas pot A. Ke CROSS, Londres. mente a0 tao dos contos fantéstices. Una emtologla de Wise © Miss Fraser iuntitula.se: Great Tales of Terror and the Supernatural. Donde vem este parentesco? Assinalemes primeino que o sobrenatural tranquilizatior no tem lugar no conto fan- téstico. Deus, a Virgem, os santos e os anjos, tal como os génfos bons ¢ as fadas boas nao so seres fantésticos. Quanto aos deuses da FAbula, Pa por exemplo, podem tomnar.se fan- tasticos quando encarnam instintos selvagens. Ninguéin, contudo, veria no Telémaco uma historia fantéstica porque uma Minerva, ten- do mudado de sexo por respeito as tradicdes e as amveniénctas, se mantem, pedante e moralista, junto do filho de Ulisses. O vampiro aparenta-se mais a0 criminoso, #0 maniaco sexual, do que as divindades tu- telares. O monstro encama as nossas tendé: cias perversas e homicidas que aspiram vi uma vida propria. Nas narrativas fantasti monstro e vitima encarnam estas dues por- tes: os nossos desejes Inconfessaveis ¢ o horro: que eles nos inspiram, 0 slém do fantéstico 6 um além muito proximo, E quando se revela Nos sere: policiades que pretendemos ser uma tendéncia que a razio no saberia aceitar, sentimo-nes horrificades como perante algo de tao diferente de nés que o julgames vindo de algures. E traduzimos este escintalo «me. GEROCEEAACOO EEE ereeteoe eeenen rare | $8 eneontra a brages com o destina, Fe ca Viti des deuoes, tnvoluntartamenta culpads atormentads pelos remorsos, & trigica pomus enears a humantdade real ¢ pecadora no eeu esforco vio para eicancar a humanlidade idea! © Dr. Jekyll de Stevenson permansce um Personagem trigico enquanto & atormentedo pelo espectéculo da sue degradagio, enquanto ° ese Popular, que J ni co aa | oe die of mona, re nao acabassem por se explicar natu. Publico culto, de facto menos end. @ de saborear como um ecteta @ fantastice ‘Puro; D) As ‘denies dee dois pn imulto protundemente. Nas sansa oe clais o «sobrenaturaly $6 6 apresentado Para SF Suprinido, aparece de peterncin eee f s2m0 se foe invite, espe ee thse que a racio sia primelo eeniane tural, ausente de'infeio, reina como senhor no Gesenlace, Deve insimiarse pouco a poutco, Para que em vez de escandallzar @ racio @ adormeca. A Vénus @'ille, de Mérimée, comesa Como um romance de costumes, Depols aps. Focem pequencs incidents insdlitos que # Fa. 2o explica facilmente, Mas mais 2 raxlo se interessa pelo Jogo, mals se multiplicam os facto ques lev a did de 2 Pera Ver-se-& que os contos de M-R, James se acham construfdos segundo este modelo, 6. 0 trigico. —B tragico qualquer homem que, mantendo toda a sua dignidade humana, 18 tenta arrancerse ao destino que o quer eras tar apenas para os gozos ferozes e sensuais Quando {4 no passa dum Hyde, dado as mas alegriss, pleno duma vitalidade tremenda, en. tio 6 um ser fantdstico. Ser fentéstico também, © conde Szémioth (em Lokis, de Mérimée), trepando as Arvores, assustando os animals. sedento de sangue humano; torna a ser tré- gico nos momentos de tristeza que se seguer 0s acessas, nas suas interrogacoes ansiosas acerca da duplicidade do homem, no horer que sente por st proprio. A personagem fen tstica &, pots, o homem que abandonou a hu- manidade para se aller A Fera, Para ele, nada de conflites, mas uma alegria selvagem. $6 com ele purtieiparnas devido a0 horror que nos inspira, Para 1d do trégico surge uma poesia que € 2 do sublime, O homem eleva-se 20 nie vol do destino que pretendia esmagar: € 0 lirismo de Augusto e de Policleto. A esta poesia nobre do tragico opbe-se a poesia estranha e mérbida do fantistico. O fantastico é, segundo 19 eoecerotomtecstean Calllols, Jogo cum v medo, i com , Inca tan © horror, mesmo com me ® repugnanela, Gue tornar positivos. centimentes Reena Feta amblvaléncia € uma das constontes ay fantdstico, Nio & fetta de exaltagio, mes de Complacénels. um pouco perverse. O fantastics Passe por ser um género inferior. 7. © humor. —A primeira vista, a Ironia o Rumor dums: parte, o fantastico doutra, ex dias aoume & faa & 0 fogo. Quando se tums histéria de terror & porque o terror se Uisipa: O riso 6 to fatal dos monsine ace farsantes como a manhi € fatal A noite e aos fantasmas, Encarando-as de mals perto, as relagdes entre 0 riso © 0 medo sio mate complenes, Primeiro, porque nos rimes das-histérlas de terror, a'nBo ser para nos vingarmes do meds Que os comecava e invadir? Existe neste riso ulgo de agressivo © de vingativo, As pessoas que fezem pouco do inferno .tém contas a Ajustar com o temor do inferno, senfio o in+ ferno deixé-lns-1a indiferentes, Esta observagdo é sem diivida, véllda para 0s histérias fathiadas, Mas as relagoes podem ser mais subtis, Na sua_,Harsreise, Heinrich Heine apresenta ium tal Saul Ascher, racionalista feroz, negador dos fantasmas, que morre'e s¢ tora fantasma por seu tumo. Ele, porém, s6 aparece para demoristrar por 2 @ mais b que os fantasmas niin existe, E rf mo-nos deste fantasma como do professor de filosofia. de Mollére que se encolerim dopo's de ter dissertado contra a célerm. Mas rime ‘os com Heine, no nos rimes dele. © passa. sparedes de Marcel Aymé € um bom homem, Ingénuo e timorato, apenas dutado da curloen faculdace de atravessar as paredes sem esfor: go. Uma espéce de jtibllo apodera-se tanto do leltor como da personagem: resulta do dom singular de Dutillew! uma série comp! situagées reinadias, © riso nada nem de vingativo. Dutilleul nfo é inquietante, apenas ganha com as suas proe zas um pouco de vaidade. O fantasia de Cati- terville, de Oscar Wilde, & um pobre diabo de alma do outro mundo que os vies maltratam. Oferecemihe dle para untar as correntes, aterrorizam-no de cem maneiras. Dols fan- tasmas We B. Matthews discutem sem parsr. Para que dcixem os vives em paz, propdent -lhes um duelo entre os mortos. Mas. como S80 de sexo diferente, $6 resta cnsiclos, 0 que eles acatam por aceitar, mau grado urna dite renga de idade de dots bons sécutos, Mas existe também um parentesco se ereto entre c riso e o medo. As mnfscaras que fazem rir no Carnaval, no eran prinitivn. mente 0 Tost dos mottos? © Tso perante © (grotesco nio & 0 mesmo que peranite 0 céiiico. Existe também o humor macabro eo hue mor negro caro acs surrealistas. No conto de L. P. Hartley, The travelling grave, 0 humor faxse 80 mesmo tempo subtil e Perverso num Quiproquo acerca dos objectos que compéem Une colecgio: uma personagem Julga que se trata de carmos de criangas, a segunda sabe pan qite se trata de caixdes, As réplleas pres. tam-sé-20 segundo sentido e a ingenuldade faz figura de humor rangente. Poderia, enfim, acrescentarse que qual. quer narrativa humoristica Pressupde da Parte do autor a mentalidade humoristics: do tiso amarelo. Quer horrificar contando uma narrativa na qual no acredita, "8. A utopia '.— 0. utépico ¢ o fantastico tomam.o seu impulso na imaginagio, mas os dois géneros' mazitém-se bem distintes, A uto- Pia veri do. romance e da experiéncia mental. * Ver RL RU’ LU topile et'tes wtopics (PB. F). 1950, 2 # rotmanesea a aventura dion linen que se Perea num mundo diferente do nosso Poe exemplo, uum mimdo cm gue ns pessoas <6 Preocupassem: com a satide moral, nfo com a satide fistea, em que as pessoas lastimassem 0 criminoso e atirassem para @ prisio o doente (Samuel Butler, Erewhon) Estes jogos continuam cerebrais. O autor constréi_um mundo imagindrio paralelo ao nosso, no se compromete, ot muito pouco ‘A sua fexperitncia tem um eavdeter lobatehe usquiaho: svpondo errado um dos axiomas que regem a nossa moral au 0 nosso fisico, po. de crigr um mundo a um tempo fantasista & rigorosb. © leitor compara os valores deste mundo lateral com os seus. Semelhante de- samblentagéo permite encarar & distancia o nosso préprio muntlo, que aprendemos a olhar do exterior em vez de nele participarmos do interior. O amador de utopia parece-se com 0 viajante fildsofo: em presenga de maneiras de pensar, de viver, diferentes das. do. seu melo, lierte.se dos preconceltes, f82 « apren- dlzagem desta tronin benevolente que é a inte- ligéncia, aprende a distinguir o essenrial do acessério, & descobrir o esqueleto duro ¢ aculto dias estruturas por baixo da care superficiat fe mole das apartne!as. (© amador de fantistico nia brinen com a Inteligéneia, mas com o medo. Nin otha de PERHOROCERE COREE ERERAR RHE ES SS EMNSINE Coles 2 a8 seEe5, QUE DIO RAISER & A alegotia, a fadula p 1 a or A doutehin querae wtrutlcknule, brute de tmger unin miensagent vila tans ey fempes, Conhecemos 0 nrreplo especial que dt tudo quanto € prodiglonamente antigo, por conseguinte fundamental, Veremos um Lom cralt usar com habllldade este proceso. Os ccultistas, portm, nio possuem verdadelra Imaginagho ertadora porque a sua fantasia Ubertada, faria perder A doutrina o seu ca. rhcler propriamente doutrinal, embora the confira um cardcter estétleo. 0 ocultista deve, Pols, contentar-se com repetir as teses tradi. Clonais, em particular a dag correspondénclas Uma crianga seré um guerrelro se tiver nas. cldo sob 0 signo de Marte, ¢ morreré Jovem se a sua linha de vida» se acha cortada, Ora, 0 universo fantéstico aparenta-se eo unt. verso magico do ocultismo. Tudo se interpe- netra. Em O homem da arefa de Hoffmann, Nathanaél sabe encontrar o idéntico sob o issemelhante. Coppola e Copélio sio um mesmo individuo: os seus nomes sparentam. -se € lembram a cofpa, a érbita do olho; 0 primeiro arranca os othos vivos as erlancas, 0 segundo transmite esta vida aos seres arti- ficlais. Vé.se que o conto fantastico se limita 2 utilizar para fins estéticos o fundo doutrinal do ocultismo. 26 AL Ahyutatrin, presente Ae Ge entrr o funtislien © as divelplina leas que deserevem ¢ Lratam ns doongs tals aio bastante complexa A) Os seus objecthios extiio prixtmos Se 09 fantasmas, por exemplo, niin so seres reals, 22 & sun existineln nfo prde ver es beleclda, oxo a dos acontecimentos historieas, or testemunhas concordantes, podein usufruir duma existencis subjectiva, Os fantasmas serio alucinagies de doentes. Os sentimentes de estranheza, de Influénela, os pressentl- mentos encontram-se tanto entre os herdls- evitimas des contos fantésticos como entre 0s esquizofrénicos, parandicos © pslcasténiccs Bxlste até uma correspondéncia curlosa entre os temes dos delirlos e os da literatura fan- {téstlea. No século passado, 0 hipnotisno ascus: tava os dozntes menteis 20 pass que inspi- rava Hoffmann ¢ Maupassant; hoje 0 tema da viagem césmica provoca. pinicos colectivos @ inspira os autores de ficgao cientificn; B) Bsta aproximacio confere 20 género fantistico uma seriedade que Ihe recusavain os que apenas queriam ver nele fantasin gra- tuita. Os silenistes admiraram muiitas vezes ismeen epecial de 2” RRO ELORESCEHEEEEEERAEREEEE i us deserlgGes tleritins dns pertiirbagdes men. tals, Mos minguém confunatsd Itereocre tone téstlea © Mteratura psiquidtrica, Os iédicos transerevem as narrativas dos. aluelnados tentam compreeridé-tes, pesquisar as origens fisicas e psiquicas das visdes, a {i wat Ges, tim de libertar delas os seus pacientes, Ora, a relagio qutor- vleltor € multo diferente da relagdo doente. “médleo, © doente achase encerrado. no seu mal, presa de alucinagées que o fazem sofver © Was quais nio se pode desembaracar. Mas © seu mundo alueinado impressiona poco as Pessoas normais. O3 leitores de observacdes Médicas nio partilham das alucinagées e dos Pressentimentes dos doentes. Um encontra.se Presa da angustla, 9 outro séreno. O médieo procura acalmar o'seu doente, o contiste quer Perturbar o seu leltor. Nio completamente, come faria um mistificador, mas em metade, no plano estético. Autor e leitor comungam no plano da arte. © alucinado acredita em prin- ciplo nas suas visées, 9 médlco no acredita mesmo nada; pelo contririo, contista fantés- tico e leitor acham-se ligeiramente perturba- dos, Mas para que o estado de poeudoctenga se mantenha, 6 preciso que a matureza das vis6es permanega equivoca: as do herdt-vitima do Horla de Maupassant estio a meio caminho entre as alucinagées solltarias do louco e as aluclnagdes colectivas © everdadelrase que 28 serlam as nassis poreepgies. tape versio dy conto, Maupassant tem 0 de reforyar a narrativa welinicay com pro sobjectivasy. O doente ndo & o tnico atl 0 seu cosheiro sofre do mesmo male perturbacio espalha.se em estado epidém Por, uma provincia do Brasil. O alienista cer lui: «Mio sei se este homem & louco, ou ambos 0 somos... OU se... ot $9 0 No8sO e Util a ciéncla médica -lhe alguns documentes; 2 mredicina lca por sua vez pode prestar servigo 4 cri Uteraria ajudando-a 2 interpretar as obras © estudo mals importante ¢ talver o Hero de Marie Benaparte sobre Edger Pos, Conhece- “se 0 artigo, dlscutivel, mas multas vezes pers- picaz, que Freud consagrow & vestranhers n= quietanter. O Nathanaél do O homem da ereic sofre do compiexo de castzagio, mas aqui hi transferéncia do temor: julga os seus ol! ameagadce em vez dunn outro srgto Imp tante, (Lambrarsed que £d:po punt na six vista a vlolagio dum tabu sexual) Este eon: plexo oripina-se num temor nevrotico do pa! © alguimista Copélio © o vendador de bor metres Coppola ameagan a sin vista, por ci tras palnvrns, desslamno dua vida sexs! normal. da sua noiva Clara. Mas a alusio av Pal & ambigua. Ao Indo do pal mitico ¢ malé. leo, Copélio, hé o pal real, que salva os olhos da crlancn, mas que Copéiio matard. A psleanélise quis mostrar que a arte ¢ 8 literatura fantésticas so colsas sérlas, que Constituem, como o sonho, transposigdes me- tafdriens de proceupagées profundas. Mas 0 seu abuso conduzlu, apesar da adverténcia de Freud a que $6 se visse nas obras documentos clinieos. A obra perde o seu mistério enfettl. gante. Tudo se torna claro e insipido. A pslco- logia das profundezas tornase uma psicolo- gia das chatezas; C) Acrescentemos enfim que se 0 doente se encontra sézinho com a sua perturbagio, © artista, pela actividade crladora, conqulsta um lugar na histérla da cultura. A sua obra no € apenas aterrorizante, & também bela. 12, A metapsiquica?, — Metapsiqulca ¢ fantastico Interessam-se pelos mesmos objectl- ‘vos: percepgfio extra.sensorial, aparigées, in- tersignos, visio através dos corpos opaces. A metapsiquica, porém, pretende ser uma clénela, quer estabelecer se determinada apa rig&o aconteceu realmente. Recorre, portanto, + Ausinalemos o intefetee dot tabalhos de VOLMAT obre Lar pamotonique (B. UF. = sobre Cee AMADOU, Li perepivehototes Y¥O CASTELLAN, La mftopsychique. 30 As téenivas cientifieas: as da histérla e da tn- Vestigagiio JudlelAria '; as clas clénclas expe rimentals e des matemfiticas, Em suma, a ine. tapsiquica quer ser uma clénein como ns ou. tras, mes ocupandose de fenémenos raree, ou cuja existéncia € contestada. Uma vez ex tabelecidos as factos, a sun ambigio seria elaborar teorins que, longe de aumentarem o deslumbramento ingénuo, visariam pelo con- tririo suptimi.to, Deverio integrar-se 10 tema total do snber modifieando as ideins admitidas sobre a percepgio, 0 espaco. 0 tempo, 2 causalidade... contista fantastico nfo procura s se os fenémenos paranormais existem ou nfo, teria até tendéncla para negé-los, visto que. tal como 0 farsante e o charlatto, inventa.cs. A sua faculdade mestra justamente a que 2 cléncla metatision gostaria de atastar: a tma- ginago. As pessoas que acreditam nos Int signos, nas almas do outro mundo, ete., tém uma Imaginagio pobre, estereotipada e soci lzada; de facto, mals mumerosos so 0s tes. temunhos, mais as circunsténcies de tempo € de Ingar se assemetham, mais as mzées de aereditar so fortes. Quem pretende ver fan- 2B J. DINGWALL. K. M. GOLDNEY. 1 McHALL: The haunting of lowes Rorine Tube, 1386 3 MORO e ee LORDS eMeeenenags tastnas niio conformes com as Idelus reeebidas passa fictImente por um fentasista ov por um farsante. Pelo contririo, o contista céplico que se dirige a um piiblico inerédulo imagina livremente a sua narrativa: mais ela & enge. mhosa, mais o leltor fica satisteito. Nao se tata de dissolver a singularidade dum acon. tecimento numa teorla geral mas, pelo con. trirlo, de por em relevo essa singularidade, de buscé.la a todo o prego, numa patavra, de dar mostras de originslidade, de provocar © deslumbramento que a cléncia tendia a suptimir. Assim, pols, se fantéstico e metapsiquica tém o mesmo ponto de partida, orientam-se em dlrecgdes diametralmente opostas. As ve- Ihas superstigies, brotando, deram nascenga a duas disclplinas opostas e complementares, visando satisfazer a dupla necessidade de sa- ber e de sentir. M—Alguns motives fantisticos ' ‘Afirma-se correntemente que a’literatura fantéstica se acha votada a tratar um suimero ‘ Fae 3 crete ee a eager ge suinar oi sre sate Bike 32, i Monttade ve tents foram por veres yelacivnadh pos de C. G. Jung. Com e: na linguagem popular, ¢ vezes @ narrativa: Histé) notar-se que numercses velhos gantes, por exemplo, ou os antes ter perdido a sua virtu: 7 Passo que 4 Hteratura de imoginacin ef fica criou outros, como 0 do sAbie Ioucs outro lado um mesino motive exemplo-— pode ser. fant ico, até elegieco. O moti do que @ maneira com a arte fantistica, ndo esta & ligeda so tives tradicionais| Os acacalamen: s tranhos slo nele fecundes: Bosch e Brueghe! af estéo para o atestar. 1. O lobisomem. — Todos sabemos que os bruxos e bruxas séo considerades cepares de se metamor‘nsearein em lobes, panleres. ga. St. Ole, cawadar pela leitura das tnsioe que wet éa Magia do Tredn. "dar Denison, Feieron Tabi rabncubot, Sivvive e dor Sate: sat Fatah. Opise Dwendes, Gérion Fantgctat'e “ontar dmes to. Gt Mendig Sort A Fly Phd ot Ili dor Dovserran. Falinte, Bia fees a, 912, wal iis. Ver damien’ fe gone ete. (Pars, BORGES’ ¢ Marsoria GUERRERO. Atenel ce Zofia Jamistien, “Meticn. Fons de els weomeonen 18 , n Los, poreas ¢ outros nestmnts rept dtabslleos liulus eruts, ou viclosos. Pode dar. "seo nome icantropla a estas metam; uma rapa- ‘a aranha, Uma perso- Teer, 0° Erekmann-Chetrian tem 0 aspecto fisieo ¢ a crueldade dos gatos, A fela & 0 aspecto de née priprios que Tees & prudéncia, a justicn e a earidade, tudo virtudes que ‘faze dos homane seres racionais agrupados numa comunidade. En- @ toma a forma de animals selvagens ou aprésenta, em determinadas horas, um as- ecto Inquietante. A fera néo é o animal dos 296logos, © animal inocente, mesmo na sua crueldade, A fera fantistiea domesticou a ra 280 para a fazer servit aos seus fins ralvadoe A fera do Gévaudan 6 inteligente, adivin = 8 intultos dos cacadores, realiza as suas mis ‘aegées ‘onde menos se espera. H&, no eel fantastico, nao $6 ae foc na nes sid dum estado superi n Figuece'se iis, com aeree maginns, po pn aque a naturecs fo teria-poie ae ‘tros moles, viscosos © grotese ss | dekana num: 4 2 0 vampires, © do lobisomsen,detan 9 fadbe & minty rantung V0 Pelee no cape els Intersiiog ace jeneln gonna vit, entia og ems na gar. Senta do intel qu, Msrtes ae Morte vive Limite & ng olte tas Olvampiro & um fica, mas fascina, ser ambivatente: hori. ‘além es Prolongou a sun vida para fo, ‘inltes normais, e todos satemos que Js personagens mais inguletantes oe ono & 0 homem que nfo envelnere Ot No tema do vampire, desejo de assessinio comb! desejo de violagio & nem a sua sedugao mulher, o vampiro & © sdtiro, fascinate € ten inido. Para o € a femea insaeldvel: © sedutor cente. ‘em, or. a5 | OR OOaT hAROOMOORAEESESSSESETEES Hflende como espeeticuty dy mulher dere bragada, dn viriuosn metamorfosenda em de- midnio Iitbrico. A mulher, objecto de seducio, torna-se objecto de perdigio, Uma misoginia latente abre passagem sob este tema: a mu- Ther seduziu 0 homem, fé-lo pender a sua fe- licidade, apoderou-se da sua energia, do seu ssangue>. Vamplro metaférico, ela vive da sua vida, do seu trabalho, dos esforges que 0 esgotam e conduzem premeturamente & morte (Thomas Owen, «O perigon em Os caminhos estranhos; «A minha primay em A cave dos sapos; e Balzac, O Sticubo). © vampiro atravessa as paredes sem di- flculdade: € uma maneira de exprimir a omnl- presenga do perigo, © expago torna-se magico, todo ele € contaminado por uma forga malé- fica, Tendo-se j& 0 temor inflltrado no inte: rior da vitima, o wfantasma exteriom dese Jado e temido, acabaré por atingl-la. Quanto 8 propagacéo do vamplrismo, ex- prime ela, sem divida, a contaminagdo do ‘cosmos por um maleficio, Tal um psicasténico teme primeiro uma casa, depois # cidade, de pois toda a terra, o homem territieado pelos vampiros torna-se cimpliee do seu meio © medio necesita de razdes para ter medo, de razées cada vez mals fortes. O vampiro prim tro de irradiagio do tivo no passava do cent ‘nagdo. Tal- maleficlo, @ fornalha de contaminas 36 tambon Ainetamorfose da nes dominios owe © al 2 tina desea o monsta, fcase ee Por otra mnvren 2 gs so ehorefidn © mone cee t honlente do meso ee 2. As pits sepratne dec tain. dade tetcane sor,” grarem na pesalnnae nee espécie de vida indepencente que esear os lage reconals Ce tne wer ition gan eseapanda 2d central, poem-se a viver sma vila p: Num conto de uma nile ene espantosamente zt esti a0 servigo do homem; & ela que o arrasta salvarlhe de Inicio a vida, prs perda, Tucatacs no tema da passe Jé nde é tive: um outro habita sete, Sua boca, age pelas sitas mius Em Sheridan Le Fanu (0 ecres da c vermetha), a mo continua a viver em es de separacic. aterroriznnte, in Num conto de Maupassant (4 acha-se acorrentada a wna pa engin a © hemen que a tem prisioneita $ encontrads extrangtte lado, no pasto que a mio desapiveceu, Fei ela que o matnu? Nada mais sabes Mas, morn Préximo do do . Quanto ao detective de Mstabelece ele a um tempo ‘2 NO plano moral, no deseo. horror sobrenatural Tomance policial, © 5 iS alteracSes da causalidade, do espa. $218, 20 tempo. —~O homem aduito forja um Sistema do mundo grosseito mas relative. centeg, EtTRLE: 08 Flos no retomam fs ie, fenles, 0s volos nao se realizam logo que os formulames, os Et ‘Ro mesmo tempo, Que uma destas certezas aparece. contra- tinda por um facto— real ow ilusdrio—e o arrepio do sobrenatural pode nascer. Ora, 0 fantastico nio quer o impossivel s6 porque ele € terrificante, quereo porque ele é impos- sivel. Querer o fantéStico € querer o absurdo © 0 contraditério, O impossivel realizado, dei- xando de ser Impossivel, perde 0 seu carfcler fantastico. O fondgrafo que faz ouvir a voz dos mortos, o telefone que permite a comuni- eagho a distancia, a radioscopla que pennite ver através dos corpes opacos, eo avio que realiza a levitagho deixaram de ser fantasti. 2 | | | | | | Gs Pelo priprio facto de sercu ren O tema fo vainplro, do morto-aiv pernmnesny fon Uésticos porque contrarlam & poseivel, © espago & como se sabe, trldlmensionn homogénio, continuo, Teversivel, comum a todos os homens, Tentemos imaginar um espago descontinuo, individual ou quadridi- ‘menslonel: © fantastico esta muito prixin: Na narrative de Jean Ray intitulada La Tuelle ténébreuse, o nlarradar pergunta onde se encontra wna rua que ninguém conticce: sabe, no entanto, que ela existe, descobre-a Penetra nela—-o que ninguém pudera fazer. Depara com trés cases perfeitamente {dlén tices (0 que contradiz 0 «principio dus ind cemniveis»). Furta um objecto preciasa ¢ ¥. @ encontrar no dia seguinte, no mesmo sitio um objeclo prrteilamente iention. Suhre e: espago, 9 acciin do home nin se sxereey Os velhos contes situavam espaces 1 im regives ine=plarndas; tices est jea contenpordinea imag’na.or fora do sis Mas estas menos impressimantes do quic fas que prelenden descobrir espace de Mhecidos no préprio coragéo de mindo tidiano: ae sentimento do maravitliss junta se 0 do impossivel. £ conhesiclo o prestigin Popular da pretensa equatia aimensins. (tr veernt, A casa da taza) Bi feeeereee: Miserdoets, ¥ Zola, elu con legrlus per vegetagio me de L Fi O erlme dla abate Mouret, de vida © howe a reeneontent ns didas dum paraiso sensual, Umn MOrblda eresce sobre o local do cri- @ Grande-Bretéche de Balzac. Em Michel de Ghelderode, o Jardim abandonado ¢ tim Jardin malade que desenvolve as suas Plantas monstrucsas no lugar cium antigo cemitérlo. Os contins abandonades. da Nova Inglaterra _estig. -Prontas_para acolher_os ‘monstros de Lovecratt ~ irdins abandonados, as ha. bitagdes desertas estio prontas para receber os espectros. Chega um momento em que as rulnas Jé ndo inspiram o sentimento da fuga do tempo, da brevidade da vida humana e das clvilizagées (H. Robert, Chateaubriand). Uma vida nova e selvagem desenvolve-se nos sub. terréneos, nas galerias e nas, torres dos cas tolos fortes. Os deuses antigos retornam para assombrar, jovens e selvagens, as ruinas amor. tathadas dos seus templos (Machen, Lov cralt). Entre as personagens Inguletantes, asti- nalemes 0 antiquarlo (Maupassant, Ghelde. rode, Bosco), que ndo vive apenas no presente ‘tnas'partielpa de certo modo do passado apo- drecido das coisas vethas que compra e vende & sempre velho, @ sua loja profunda, obscure © porirenta, O antiquério é parente priximo 6 | | | | doy erudite versace 1 € mals temty le is, do han rf 8 horda dos monstrus adormiceid ses mortos. C_ Poderiamos aproximar desies temas signo tegressado a9 estado selvagemn~ inserlgdo meio apagada, uma firmula ila sobre «3 los ¢ las 7 guagem \ecida, caracteres. misteriosn Solleltam. @ deeepeionam « most rennin conhecer. Fstn decepsi a tnmstornin ep on thy 19 do mistérie,

Você também pode gostar