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11/04/2019 - 05:00

Competências essenciais para os conselheiros


Por Vicky Bloch

Em minhas colunas recentes, falei sobre como se preparar para a estreia em um conselho de administração e sobre as
responsabilidades de se assumir esse papel, em especial com relação aos riscos inerentes à função. Hoje, gostaria de dar
continuidade ao tema da governança, sempre sob o ponto de vista dos indivíduos, abordando algumas competências e
conhecimentos necessários para quem atua em conselhos.

Independentemente do histórico e formação de cada conselheiro, determinadas frentes precisam ser minimamente dominadas e
ponto final. Conhecimento mínimo em riscos e compliance, por exemplo, é essencial para todo profissional que atua em
conselhos, pois todos, sem exceção, devem ser capazes de compreender os riscos do negócio, questionar o que é apresentado e
identificar inconsistências.

Da mesma forma, é inaceitável ter como conselheiro de administração alguém que não sabe ler um balanço de empresa,
independentemente da sua formação e experiência de carreira. Grandes casos recentes de corrupção, ou mesmo de importantes
acidentes envolvendo empresas, têm demonstrado à sociedade o tamanho da responsabilidade dos conselheiros (de todos eles) e
os riscos que suas decisões ou omissões podem trazer para as companhias e para si próprios como pessoas físicas.

Respeitando as experiências, especialidades e habilidades de cada profissional, que enriquecem o debate e garantem a
diversidade de pensamento, é importante lembrar também que, nos conselhos, os conhecimentos técnicos devem estar inseridos
em contextos abrangentes. Dessa forma, eles se encaixam dentro de uma discussão de negócios e de estratégia, de forma que suas
contribuições sejam efetivas e suas participações nas reuniões de conselho não sejam limitadas ou com baixa capacidade de
influência. Espera-se, afinal, que todo conselheiro seja capaz de ter seu espaço de relevância e protagonismo no grupo de decisão
da companhia.

Fatos ocorridos nos últimos anos - em especial os grandes escândalos de corrupção - geraram importantes mudanças para os
conselhos de administração. Regras de governança se tornaram mais rígidas, responsabilizações individuais aumentaram e o
perfil dos boards também começou a mudar, se abrindo aos poucos para a diversidade. Apesar de ainda haver uma certa
resistência por parte de organizações tradicionais em que prevalece o modelo tradicional de ter pessoas com mais idade e longa
experiência, não restam mais dúvidas sobre o quanto um grupo que pensa diferente e que traz novas formas de contribuição gera
valor financeiro e aumenta a competitividade do negócio. E este é um movimento que não tem mais volta. Começamos a ver
(ainda que lentamente) uma busca importante pelo aumento da diversidade nos conselhos em todos os aspectos, desde formação,
gênero, raça e idade até a diversidade regional.

Tal mudança traz outro impacto positivo que é a abertura de portas para profissionais de carreiras menos "tradicionais" nesse
território até então dominado por administradores, financistas e engenheiros. Áreas de suporte, como recursos humanos,
comunicação e sustentabilidade, desembarcam aos poucos nos boards, assim como profissionais mais jovens de áreas ligadas,
especialmente, às novas tecnologias. Esta é uma ótima notícia para as empresas, que passam a trazer ares mais frescos, diversos e
modernos para suas discussões estratégicas, assim como é também uma excelente oportunidade para profissionais que
possivelmente nunca vislumbrariam atuar em conselhos.

Acredito que se houver de fato uma dedicação dos conselheiros (inclusive daqueles mais velhos e experientes) para fazer sua lição
de casa e investir nas competências-chave demandadas para sua função e, em paralelo, uma ampliação efetiva na diversidade
dentro desses fóruns, teremos companhias muito mais sólidas, éticas e competitivas. Creio ser este um grande sonho do mercado
no momento em que vivemos.

Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados

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