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Satide como Direito CAPITULO ———— Thereza Maria Magalhaes Moreira Eveline de Castro Correia yrrODUGAO saide, enquanto diteto, € uma preocupagio de todos apmos imerpeland em sua dfesa varios Grgios nacionais emacionas. Nesse ambito, a satide ganha sentido de di- ro humane. Tnendem-se por direitos humanos aqueles inerentes rrera humana, desvinculados de consideragdes espago venporaeligados a concepcoes jusnaturalistas, numa clara srpein: “Sou humano € existo, logo, tenho direitos. Muito se fala em direitos humanos, mas sua regular qubilidade cotidiana € algo controverso, pois requerem taninhos legslaivos para que sejam operacionalizados na pric, ‘Apostivacio de um dircito humano na Constituigio de wn pis 0 ransforma em um direito fundamental. Um di- ‘Ri fundamental € aquele nomeado e especificado no texto consinucional, aquele direito que recebeu da Constituigio sm gau mais elevado de garantia ou seguranga (BONAVI- DES, 2000), sendo, assim, imutivel ou de mutabilidade di ‘aluds, 0 que significa afirmar que a legiferancia (criagio de 2oasles) nao poderia, em regra, aterd-lo. Os direitos fandamentais foram organizados, inicial- mente, m trés dimensOes: | Siode primeira dimensio os direitos civis c politicos, que ‘M por principio fundador a liberdade. 2 Sio de segunda dimensio os direitos socias, econdmicos « {lors que tim por fuleroo principio da igualdade ™? terceira dimensio, tém-se os direitos vinculados a0 desenvolvimento, A paz, ao meio ambiente, todos pauta~ no princfpio da fraternidade sim, os direitos findamentais compreendem aque~ biados 3 liberdade, 3 igualdade e & fraternidade, ided- ds Revolucio Francesa. = ' atualidade, outra dimensio foi acrescentada aos di- "os fandamentaisjé consagrados na literatura 4. A quarta dimensio tem sua existéncia defendida por Bo- navides (2000), que prevé nesta a insergio do direito 4 democracia, 4 informagio ¢ 20 pluralismo, frutos da de~ mocracia no mundo. Para a citada classificagio, alguns autores utilizam 0 ter- ‘mo geracio em lugar de dimensio, mas hé uma predilegio pelo segundo, pois admite a coexisténcia de todas as dimen- sbes de direitos, ao passo que o termo geracio denota que © alcance de um patamar superior de dircitos revela a supera- Gio do anterior. Neste texto, opta-se pelo termo dimensio. O direito fundamental, entio, por sua essencialidade a0 individuo ou a coleuividades, € positivado, é posto na Cons- tituigio do pais. Direitos fundamentais, portanto, referem- -se a0 conjunto de direitos que, em determinado periodo histérico, si considerados capitais no seio de certa socieda~ de politicamente onganizada e assim sio tratados pela Cons- tituigio, com que se tornam passfveis de serem exigidos € exercitados, singular ou coletivamente (BARCHET, 2012; NOVELINO, 2007). Asaiide é um direito fundamental de segunda dimensio, sendo, portanto, positivado na Constituigao brasileira vigen- te fundamentado no prine‘pio da igualdade, que ampara os direitos sociais. A titulo conceitual, é prudente esclarecer que uma Cons- tituigio € a Lei Magna de um pafs, sua Lei Maior € a que serve de orientagio a todas as demais normas nacionais, que nao podem contrarié-la, sob pena de carregarem 0 peso da inconstitucionalidade, que fatalmente as extinguiria. Por sua vvez, lei € uma norma ou conjunto de normas elaboradas votadas pelo Poder Legislativo (no municipio, é representa do pela Camara de Vereadores; no estado, pela Assembleia Legislativa; © na Unido, pelo Senado Federal, representando 108 estados federativos, e pela Cimara Federal, representante do povo, da populacio brasileira — juntos, Senado e Cama 521 522 ¥2 Federal compem 0 Congresso), A lei é de cumprimento obrigatério pela sociedade para manter a ordem e a convi- véncia pacifica entre as pessoas. Por meio de um contrato social, o Estado tutela os direitos fundamentais e deve opera fensor do atval sistema de sate, sabretido os profisionats que neletrabatham. Aatengio atualmente desenvolvida pelos profissionats de sehde No atendimento ao doente se c¢ ee a promo- ‘Siv da satide, 0 que deve ser enfanicamente combatido (LE FEVRE & LEFEVRE, 2004) A busea do direto 4 satide deve ser condiana ¢ abrisir antudes positivas com relagdo ao ser human socral inserndo) em um ambiente © diteno de satide nio deve ser concebido, exclustva mente, no sentido de que uma pessoa estaria rmpossibrhta da de vir a ser prejudicada em sua satide por outra pessoa, mas por virias formas de agressio originanas da comunidade ‘ou mesmo do meto ambiente (DIAS, 2010). Desse modo. a id nora yuridica deve eriar ¢ ampliar direitos para os indi¥ 05, a partir das obrigacdes correspondents. Entreeanto, a norma jurfdica € criada a pa tes socials € politicos eravados no cotidiano. Por isso, ima das formas de enfrentar os desafios da saside com equida- de, exercitando esse diretto 3 sate condiana, consisard em Cconsttuir sujeitos sociais comprometidos com novas Uro~ pias, estabelecendo canais de comunicagio com ourros s= {ertos socials que passem da condicio de ususdries ou dest= {tintos de servigas puiblicos e de politicas de satide para im ppatamar mats elevado, de parceiros ¢ cidadios (PALM, 2008; PAIM & ALMEIDA FILHO, 2000), ( direito 4 satide, para ser garantido, exige acesso uni- e.também, um esta= el, resul- wrir dos emba- versal e uahitirio aos servigos de saide, do de satide resultante de um modo de vida saudi tado de determinantes soctoambientais ¢ condicionantes de savide que expressam as formas de organizagio da sociedade (PAIM, 2008). Dessam — satide € direito rem positivagio a sade como direrto, no caso con ..a melhor inter-relagio entre as duas reas, que nio sio tio distints assim, vir a ‘Opensamento social sobre o Brasil onsecuto legado te5- 10 comprometida com a democranzagio da rico que a gera: isar e an xide tems a seu dispor. Suas possibilidades de at ade brasileira devem ayudar a compreender | Brasileira ¢ a discuar suas perspectvas rerpretr a re a Reforma Sant (PAIM, 2009), Durante 0 desenvol ccanas foram observadas na evolucio legnlatva do conceit ~_ sobreeudo quanto 4 existencta de formas propost~ ipasio dos ususinios do sistema para o patamar considerado utopia Essa Jvimento deste capitulo, algumas La= des: tivas de emanci de parceiros. 0 que ainda epee traz mseguranca juridia 3 cxgtnca da side com direito 528 Quadro 27.2 Evolucio legslativa do conceito de saide no Brasil — 1988-2010 Conceito de sade Dimensio conceit de Sade como ead vg Legistacio ‘Sinop Constnugdo Federal de 5 de Insitura awal Cana Mayne Tho Vill- Capitulo W~ Segio De ‘outubro de 1988, do Brasil ve Sate: Ant 196. Asaude & ditto de tors © Let 8.080, de 19 de setembro dde 1990 (Lei Oxginica da Satide) Norma Operacional Bésica (sop) 92 Norma Operacional Basica (N08) 96, Pacta pela Saude (Ponaria 399/GM de 22 de fevereiro ‘de 2006), ‘acto pela Sade Poraria 699/GM de 30 de marco de 2006) Dispie sobre as condiqBes ara promogdo, protege fe recuperacio da sade, oranizagao e funcionamento dos sevicos correspondentes Normatizaa organizacio| e operacionalizacio da asssiéncia 8 sadde no SUS, Discorre sobre planejamento das acées,financiamento, sistemas de informag30, controle, avaliagio, auditor, municipalizacio para repasse dos recursos ¢ produtividade e qualidade no SUS Promove e consolida ‘o-exercicio do poder publico municipal edo Distrito Federal como iestor da atencao a sadde ‘municipal, redefinindo responsabilidades, _avangando na consolidagio dos principios do SUS Divulga o Pacto pela Saude 2006 Regulamenta as diretrzes ‘operacionais des pactos pela Vida e de Gestio eran Scoot a hime eqemcmieiiimes ie race pottaeeiet aoe estar f Sauide como estado vale ‘Salle como dieito de todo cidado e dever como setor prodiutvo do Fstado, garanivdo pelo acesso gratuito, Universal e equnime a um conjunto de aciese servigos de satide organizados e Ghsinbuidos regionaizadamentee articulados hierarquizadamente, consttuindo um sistema Snico, com gestortnico em cada esfera de governo, de execuco municipalista fem termos operacionaise gerenciais, com ‘obrigatéria panticipagio da sociedade ‘organizada em seu planejamento, execuclo, controle e aaliagao Saide como estado vitae ‘vom setor produtvo O direito 8 sade significa, igualmente, 0 acesso universal eequiime a servigos © acdes cle promogio, protegdo e recuperagio de saie(atendimenta integral. atengao, 2 sadde, conjunto de agbes levadss a eto [elo SUS, em todos os niveis de governo, para o atendimento das demandas pessovis & das exigéncias ambientais, comprcenle és grandes campos: asistncla, intervenes ambicnlas poltcas externas ao setor sade Sua concetizagho pasa pel eplitzagao da said, com car esata de ‘mobil zaio soual ervolvendo 6 conjunta dh sociedad baie, extapotande limites do store vincula so presse de nsttugao da sade como dre de de Sadie PACS) 2 co Programa de Agentes COMM juriea de satide 92 recer infrasifero rivaré nosso caminhar em dite Por isso, € necessina a conceinuacao ‘contcmporaneidade. Por mais que isso Poss P2 ‘ou indcuo, essa definicao objet ¢, consequentemente, com Sere respondidas pelos jutzes em seu exerci tena con» consticio da saide pablia e prvada do pa Tes sua grande maiora, a legslagio brasileira que cone ua ene o fz amparada em sua dimensio de estado ital € srr poduuv, 3 excegdo da Constiuisso Federal que 04% zno campo mais tebrico, de estado vital. No entanto, é nido que muitas legislacdes, tando do tema sade, néo trazem um conceito do termo e* plicito, 0 que prejudica 0 cumprimento normatvo da sa Ge como direito. Além disso, a adocio por essas legislagdes dde um conceito de sade embasado no abstrato conceito da (OMS, como ocorre na CF/B8 ¢ na LOS 8.08019, dificulta « delineamento do que pode ou nao vir a integrar 2 satide de um individvo, no esclarecendo até onde vai o dever do Estado em atender & saiide para todos. Ademais, a auséncia de um delineamento conceitual claro causa inseguranga ¢¢o- ‘némica no financiamento da sade. Além disso, a definigio de prioridades ¢ a obediéncia a principios como equidade, luniversalidade e integralidade no SUS sio pontos nos quais ‘operam forcas socais antagénieas. Por isso, no campo da satide, as hutas sociais, das quis “decorrem em grande parte os direitos sociais,sdo desiguais, por envolverem usuirios e profissionas de sade que pouce ‘ou nada conhecem do mundo jurtdico. (© nido envolvimento legislativo da satide como 4rea do saber prejudica avanigos nessa reac distancia a formacio dos faturos profissionais de sade do mundo juridico que regers sua aruagio e seu campo de trabalho. embora t72- Referéncias Barchet G. Teoria Geral dos Ditetos Fundamentais. r: Drcito Const cre pcenao em 3 de margo de 2012. Disponivel em: tpi. pontodoscancursos com br Bonverder P Curso de Direita Constitucional. 10. ed. S30 Paulo: Ed ‘Malheiros, 2000 rast Portona ministerial 234 (Norma Operacional Bisica = NOB ogas Bross DE, 7 de fevereio de 1992. Acesso em 24 de se- Tambo de 20102. 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