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O MARAVILHOSO MILAGRE DE MATT

OS IRMÃOS REED – LIVRO 07


TAMMY FALKNER
O maravilhoso milagre de Matt

1. por Tammy Falkner


Copyright © 2016 por Tammy Falkner
Sinopse:
Dedicação
2. Skylar
3. Matt
4. Skylar
5. Matt
6. Skylar
7. Matt
8. Skylar
9. Matt
10. Skylar
11. Matt
12. Skylar
13. Skylar
14. Matt
15. Skylar
16. Matt
17. Skylar
18. Matt
19. Skylar
20. Matt
21. Skylar
22. Matt
23. Skylar
24. Matt
25. Skylar
26. Matt
27. Skylar
28. Matt
29. Skylar
30. Matt
31. Skylar
32. Matt
33. Skylar
34. Matt
35. Skylar
36. Matt
37. Skylar
38. Matt
39. Skylar
40. Matt
41. Skylar
Leia os demais livros da série Irmãos Reed:
POR TAMMY
FALKNER

Tradução: Andréia Barboza


COPYRIGHT © 2016 POR TAMMY
FALKNER

Copyright © 2014 por Tammy Falkner


Copyright da tradução © 2016 por Andreia Barboza

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma


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SINOPSE:

Tudo o que ele precisava era de um milagre ...


Matthew Reed já teve sua quota de problemas. Mas ele é um Reed e os Reed podem
superar qualquer coisa. Matt trabalha no estúdio de tatuagem da família junto com seus
irmãos. A única coisa que lhe falta é formar a própria família. Então, sua luta contra o
câncer o leva a encontrar uma mulher que pode precisar dele tanto quanto ele precisa
dela.

Ela não precisava de nada...


Skylar Morgan é feliz. Ela tem um namorado. Tudo bem, ele não faz seu coração bater
mais rápido e não a apoia quando ela precisa, mas ela não precisa disso. Ela é feliz
sendo autossuficiente e por não ter muitas responsabilidades. É educada, tem um bom
emprego e dinheiro suficiente para se sustentar. Mas ela sequer havia se dado conta do
que não possuía até conhecê-lo. E conhecê-los. As pessoas que mudarão sua vida para
sempre.
DEDICAÇÃO

Para todos aqueles que foram afetados pelo câncer.


SKYLAR

H oje seria um belo dia se não fosse pelo caixão e as três crianças com rostos
molhados e olhos vermelhos sentadas ao meu lado no banco da frente. O serviço ainda
não foi iniciado e as pessoas continuam vagando para olhar para a minha meia-irmã,
Kendra. Algumas sussurram palavras suaves próximo a ela e chegam a tocar sua mão
fria. Toquei-a também. Essa foi a segunda e última vez que toquei nela. Ela é a irmã que
só conheci no dia em que morreu.
Assusto-me quando o banco balança. Seth, o filho mais velho de Kendra, fica de pé e
grita:
— Vovô!
Vovô? O quê? Ele tem um avô? Olho para cima e vejo meu próprio pai. Ele está aqui?
Hã? Ele envolve Seth em seus braços e o aperta. Então, afasta-se um pouco e olha em
seus olhos.
— Como você está? — ele pergunta baixinho.
Os olhos de Seth viajam em direção ao caixão.
— Estamos bem — diz ele, engolindo em seco. Posso ouvi-lo de onde estou sentada.
Papai segura seu rosto e olha em seus olhos.
— Vai ficar tudo bem — ele fala. — Ela está em um lugar melhor. — Olha por cima do
ombro de Seth, em minha direção. — E vocês têm Skylar agora — ele sussurra. Seth
balança a cabeça.
Um lugar melhor? Quando eu posso ir para lá? Qualquer lugar seria melhor do que
esta igreja, onde meu pai está fazendo uma homenagem a sua filha ilegítima.
Ele caminha até mim e beija minha bochecha.
— Como você está, Sky? — pergunta. Seu tom não é tão amigável comigo como é
com os netos, que eu sequer sabia que ele tinha até poucos dias atrás.
— Tudo bem — resmungo.
Papai se senta e movimenta-se em direção às meninas de Kendra. A menor, que tem
três anos, vai para o seu colo e a mais velha, com cinco, inclina-se para o lado. Ele passa
o braço ao redor de seu corpo e a segura próximo a ele. Ele conhece mais essas crianças
do que a mim. Isso me irrita tanto que até me remexo.
As sobrancelhas dele se erguem em um aviso sutil. Paro de me mover.
Acho que preciso aprender a olhar desse jeito agora que sou mãe.
Sim. Sou mãe. Meu pai apareceu há mais ou menos uma semana, pedindo minha
ajuda. E em um estalo, virei mãe.
— Skylar — papai fala, calmamente. —, preciso que que você faça algo para mim.
Levanto os olhos do meu canelone e forço um sorriso. Eu deveria ter imaginado que
ele queria algo. Jamais teria me convidado para almoçar se não precisasse de mim.
— Recebeu outra multa? — pergunto. Sou uma advogada recém-formada.
— Não — diz ele lentamente. Ele não me olhar nos olhos. — É sobre Kendra.
Deixo meu garfo cair, fazendo um barulho bem alto contra o prato. Luto para pegá-lo
de volta e, em seguida, apoio minhas mãos sobre a mesa.
— O que tem ela? — pergunto.
Sei quem é Kendra. É a filha que ele teve com sua amante. Descobri há alguns anos,
quando minha mãe ficou bêbada e abriu seu coração. E sobrecarregou o meu.
Kendra é a filha que meu pai adora. Sua mãe era a mulher que ele amava. Não
importava o fato de ele ser casado com minha mãe. Não importava que ele teve três
filhos com ela. Não fazia sequer diferença o fato de sermos uma família perfeita que
morava nas colinas e tinha uma linda casa de veraneio em Cape. Nossa família era
perfeita até descobrirmos que ele tinha outra. Alguém que ele realmente amava.
Ele teve uma vida com a mãe de Kendra até ela morrer. Eles compartilharam um
apartamento e tiveram uma filha. Papai ficou entre a casa dela e a nossa por muitos
anos, mas nunca foi muito presente quando estava com a gente Mamãe sempre se sentiu
muito ressentida. Assim, ele se afastou cada vez mais. E ficou com elas.
Então, de repente, um dia ele voltou. Seus olhos estavam avermelhados, e ele se
isolou em seu escritório com uma garrafa de Glenlivet. Não saiu de lá por dias. Quando
finalmente saiu, minha mãe passou uma semana cantarolando “Ding-dong, a cadela está
morta”. Nessa época, Kendra já era adulta e estava casada.
Mas depois daquele dia, tive meu pai de volta. Não entendia muito bem o que havia
acontecido. Na época, eu não sabia que ele tinha outra filha. Outra mulher que amava.
Outra vida. Mas ele tinha. E agora, ele queria falar sobre isso?
— Kendra está morrendo — diz ele. Seus olhos se enchem de lágrimas, mas não
permite que elas caiam. Ele pisca furiosamente, com o rosto avermelhado.
— Oh — murmuro. Como vou responder a isso? Ding-dong, a cadela está morta... — O
que aconteceu?
— Ela está com câncer. Descobriu quando ficou grávida da filha mais nova, Mellie. —
Ele limpa os olhos com um guardanapo de pano e pede ao garçom que lhe traga uma
bebida. — Ela deveria ter feito quimioterapia, mas quis esperar o nascimento de Mellie.
— Ele solta um suspiro. — Se não tivesse ficado grávida, poderia ter feito o tratamento.
Podia ter feito um aborto, mas recusou-se. Ela esperou muito tempo. O câncer vai levar a
melhor e ela não tem ninguém para ficar com as crianças.
Não posso respirar. Sinto meu peito doer e parece que estou prestes a desmaiar.
Papai empurra um copo de água para mim, e eu o levo aos lábios. Dou um gole, engulo e
respiro profundamente. E espero. Porque há mais. Sempre há mais com meu pai.
— Ela tem três filhos. Seth tem dezesseis anos. Joey, cinco. E Mellie tem três. — Ele
cobre minha mão com a sua e aperta. — Eles não têm ninguém além de mim. E não
posso ficar com eles. — Ele se senta e esfrega a ponte de seu nariz. — Você sabe como
sua mãe é — explica.
Sim, e sei como ela foi traída. Sei como ela descobriu sobre sua amante. Sei como ela
odeia o chão que elas pisam. Às vezes, acho que ela me odeia também. É difícil dizer.
Não consigo me convencer de que ela ame algo ou alguém.
Ele me olha nos olhos.
— Preciso que você me ajude. Eles são seus sobrinhos, não importa o que sua mãe te
ensinou.
Estou atordoada. Absolutamente atordoada.
— Você os ama — digo em voz baixa.
Ele balança a cabeça.
— Amo.
— Você a ama. — As palavras saem como rachaduras de trovão.
— Sim.
Inclino-me para trás contra a cadeira.
— Posso te perguntar uma coisa?
Ele balança a cabeça. É um movimento rápido, mas eu vejo.
— O que eles têm que nós não temos? — pergunto. Sequer choro. Apenas pergunto.
Sempre quis saber.
— Sua mãe dificultou bastante que eu fizesse parte da nossa família — diz ele. —
Depois que ela descobriu — Ele levanta a mão para me parar quando abro minha boca
para reclamar. — Espere — diz ele. — Me ouça.
Concordo. Não posso falar mesmo que eu quisesse.
— Amei você e seus irmãos. Mas também amei a mãe de Kendra e deveria ter me
divorciado de sua mãe e ter saído de casa.
— Sem nós — digo.
— Não, eu teria levado vocês comigo se pudesse. Mas não podia. Sua mãe teria me
arruinado financeiramente, e sei que eu superaria isso, mas ela conseguiria a custódia de
vocês. E eu não podia simplesmente deixá-la influenciá-los com seu ódio contra mim sem
ao menos tentar impedir. — Não me lembro de ele impedir nada. Lembro dele como o
homem que eu mal conhecia. Ele aperta as mãos firmemente. — É por isso que nunca saí
de casa totalmente. Sua mãe é meio vingativa, como você sabe. — Ele passa a mão pelo
cabelo branco perfeito. — Às vezes, acho que ela teria aceitado isso se a mãe de Kendra
fosse branca.
O quê? A mãe de Kendra não era branca? Meu pai teve um caso com uma mulher de
raça diferente?
— Se você fizer isso por mim, sua mãe ficará muito zangada com você.
Merda nenhuma! Ela vai me odiar. Mas acho que ela já odeia mesmo.
— Entendo se você disser que não — diz ele com um suspiro. — Mas eles não têm
mais ninguém.
— Onde está o pai deles? — pergunto.
Ele dá de ombros.
— Pais — diz ele, no plural. — O pai de Seth o visita uma ou duas vezes por ano e o
pai das meninas tem uma nova família e não tem tempo para elas.
— Então o que você quer que eu faça? — pergunto. Coloco meu guardanapo no prato.
Meu canelone está fermentando no estômago.
— Quero que você vá buscá-los e fique com eles.
— Você pediu a Tim? Ou Lydia? — Eles são meus irmãos e ambos são mais velhos do
que eu.
Ele balança a cabeça.
— Eles têm suas próprias famílias.
— Eu sei. — Merda, não tenho ninguém. Ninguém além de um namorado que quase
nunca vejo. Minha mãe é uma maluca, e o coração do meu pai pertence a outra família.
— Você é solteira. Seria maravilhosa com eles. — Ele abaixa a voz e olha ao redor do
restaurante. — Você não vai olhar para eles como se fossem crianças mestiças
indesejadas. Você vai amá-los. Sei que vai. — Ele olha para mim. — Será que você
poderia, pelo menos, conhecê-los? Por favor? Sei que seria um desafio. Você teria que
aprender muito, mas Seth tem dezesseis anos. Ele ajuda a cuidar das pequeninas.
Inferno, em dois anos ele pode assumir a custódia sozinho. E é isso que ele quer.
Meu pai parece implorar.
— Nunca te pedi nada — diz ele.
Ele tem razão. Ele nunca me pediu um beijo de boa noite ou qualquer uma das coisas
que os pais desejam. Bem, provavelmente ele pediu à Kendra.
— Tudo bem — digo. Eles são apenas crianças, afinal. E crianças precisam ser
amadas. Eu não fui, mas posso agir melhor com os filhos de Kendra, não posso? Há um
pequeno pedaço dentro de mim que gostaria de deixar meu pai orgulhoso. Para fazê-lo
me amar.
Ele esvazia como um balão, seu corpo relaxa.
— Oh, graças a Deus — diz ele, colocando a mão no peito. Em seguida, se levanta,
segura-me pelos cotovelos e me puxa para si. Não me lembro de algum dia já ter
recebido um abraço dele, e não sei o que fazer. Ele me segura assim, respirando na parte
superior da minha cabeça por um momento. Então, me faz recuar. Seus olhos estão
molhados, com lágrimas não derramadas.
— Obrigado — diz ele. — Muito obrigado.
Concordo. Não posso fazer mais nada. Sinto-me como se alguém tivesse enfiado um
dedo em minha garganta.

Afasto as lembranças quando alguém se senta à minha esquerda. Olho para cima e,
instantaneamente, reconheço Matthew Reed. Ele era amigo de Kendra do centro de
oncologia. Fui até lá pouco antes de Kendra morrer para pegar as crianças. Matt estava
esperando por ela. Ficou com Seth para que ele estivesse ao lado dela quando desse o
último suspiro. Levei as meninas para casa. Não achei que elas precisassem se lembrar
da mãe assim.
Seus olhos azuis olham para os meus, e ele estende a mão para apertar a minha. Não
fala nada. Olho para ele, que veste camiseta azul com uma camisa preta de botão por
cima, calça social e paletó. Ele puxa a gola, e vejo uma de suas tatuagens.
— Você parece bem — falo. Sorrio para ele, porque não sei mais o que fazer.
— Obrigado — ele diz calmamente. Seu cabelo loiro está preso com uma faixa de
couro na nuca, mas uma mecha se solta e ele a prende atrás da orelha. Ele tem uma
série de piercings por toda a orelha e eu os conto mentalmente. Sinto um desejo enorme
de ver seu cabelo solto.
Ele olha para a minha saia preta e blusa branca.
— Você também.
Acho que estava usando algo semelhante na última vez que o vi, mas sorrio mesmo
assim. Ele aperta minha mão e se afasta. Acho que não deveria tê-la segurado por tanto
tempo. Sou uma idiota. Ele se inclina sobre mim e aperta a mão do meu pai.
— Sr. Morgan — diz ele, com um aceno de cabeça. —, sinto muito pela sua perda.
Papai acena, agradecendo e aperta a mão de Matt com força. Volta a falar com as
meninas e elas estão cada vez mais grudadas nele enquanto ele murmura baixinho para
elas.
Matt inclina-se para Seth, que sorri quando ele lhe dá um soquinho na mão. Então, o
pastor vai para a frente da igreja, fecha o caixão e começa o serviço religioso.
Matt pega minha mão novamente e sinto meus olhos arderem pelas lágrimas. Pisco
para ele, que sorri suavemente para mim. Ele aperta minha mão suavemente e escuta o
pastor. Mas não deixa que eu me afaste.
MATT

— E la parece só — Emily fala, dando uma cotovelada em mim. Ela é mulher do meu
irmão, Logan, e é dona de um pedaço do meu coração. Mas, às vezes, sinto vontade de
dar uma cotovelada de volta quando ela me cutuca com as pernas magricelas. — Você
deveria checar como ela está — ela sussurra com veemência. Seu cotovelo levanta
novamente e eu a seguro antes que ela possa me empurrar.
— Tudo bem — resmungo. Levanto-me, pisando nos pés dos meus quatro irmãos
quando passo por eles. Claro, estou no centro do corredor e tenho que passar por todos.
Reagan, a namorada de Pete, estende a mão e aperta a minha quando passo por ela.
Amo Reagan, assim como Emily. Mas Emily é um pouco mais franca. Reagan é famosa
por sua suavidade, já Emily, é o oposto.
Arrumo o paletó e a gravata que Logan me emprestou. Ele ganha muita coisa da
Madison Avenue, a loja de roupas de luxo que pertence ao pai de Emily. Sinto-me como
um macaco velho vestido com um casaco e chapéu, parecido com aqueles que dançam
no carnaval. Dança, macaco, dança.
Sento-me ao lado de Skylar, a meia-irmã de Kendra e aperto sua mão. Ela a segura
um pouco mais de tempo que o necessário, mas não me importo. Ela parece cansada.
Seu pai está sentado ao lado, mas é como se tivesse um oceano entre eles. São apenas
alguns centímetros, mas posso perceber o grande fosso que existe entre os dois.
Cumprimento-o e bato com os nós dos dedos nos de Seth. Estávamos juntos quando
Kendra se foi. Compartilhamos o momento mais duro de sua vida e isso é algo que
jamais esquecerei.
Vi Kendra dar seu último suspiro, e tudo que consegui pensar era em como eu tinha
sorte por não ser eu morrendo ali, naquela cama. Poderia facilmente ter sido eu. Nós dois
fazíamos quimioterapia no mesmo lugar, mas consegui passar por isso e entrei em
remissão. Ela, não.
Ela morreu.
Eu estou vivo.
Olho para Skylar. Ela não se parece em nada com Kendra, que era mestiça; sua pele
era da cor do café, e seus cabelos eram cacheados, mas curtos. Skylar tem a pele clara;
é loira, de olhos azuis. Ela usa um par de óculos de sol incrustado de strass no alto da
cabeça, afastando o cabelo de seu rosto. Ele cai no meio de suas costas em ondas
suaves.
O pastor começa a falar na frente da igreja e Skylar fecha os olhos. Ela aperta as
mãos no colo, e não posso imaginar o que está acontecendo em sua cabeça. Gostaria de
saber.
Seguro sua mão na minha, sem sequer pensar nisso. Entrelaço os dedos nos dela e
aperto sua mão suavemente. Ela me olha e pisca lentamente, seus olhos azuis,
assustados. Mas então, eles suavizam, ela pisca para mim novamente e, desta vez,
realmente olha para mim. Ela aperta minha mão de volta, e eu não a solto. Seguro-a até
que elas comecem a suar.
Fico tão envolvido na sensação da sua mão na minha e no zumbido suave do pastor
que me assusto quando uma tosse me tira do transe. Olho para cima e vejo um homem
alto olhando-me de encontro. Ele cutuca meu joelho.
— Acho que você está no meu lugar — diz ele.
Olho para Skylar e ela parece tão chocada quanto eu. Ela puxa a mão da minha e a
enxuga na saia. Afasto-me e ele se senta ao lado dela, passando o braço ao redor dos
seus ombros. Ela se inclina para pressionar os lábios nos dele. É um beijo rápido, que me
faz pensar quantas vezes ele faz isso e se é sempre assim, tão casto.
Ótimo, agora estou pensando sobre como seria beijá-la. Merda. De onde veio isso?
Finalmente, tiram o caixão da igreja, e seguimos até a sepultura.
Tiro o cravo da minha lapela, coloco-o em cima do caixão e me afasto para ficar com
os meus irmãos por trás da multidão.
Emily enfia o braço no meu.
— Quem é o cara? — ela pergunta, apontando para o homem que está de pé com
Skylar.
Dou de ombros.
— Não faço ideia.
— Será que ela tem namorado? — Reagan pergunta.
Meus irmãos estão silenciosos. Queria que Logan e Pete mandassem que suas garotas
ficassem quietas por alguns minutos e parassem de ser tão intrometidas. Aperto o nariz
de Emily, que faz uma careta.
— Pare de ser tão curiosa — digo a ela.
Passo o braço em torno Reagan e puxo-a para mim. Gosto quando ela fica toda macia
contra meu corpo, porque quando não está assim, está pronta para me derrubar com um
golpe de caratê. Já fui vítima de uma Reagan assustada antes e, particularmente, não
quero estar na mesma posição novamente.
— Você está bem? — ela pergunta em voz baixa.
Dou um suspiro.
— Acho que sim. — Balanço a cabeça. — Ainda não posso acreditar que ela se foi —
digo.
Reagan beija minha bochecha e depois passa o polegar para limpar o batom que deve
ter deixado na minha pele e sorri.
— Estou feliz por você estar melhor — diz ela, calmamente.
Aperto sua mão.
— Eu também.
Mas, merda. Me sinto culpado. Kendra deixou três filhos para trás.
Vejo Skylar caminhando em nossa direção. Emily e Reagan dão um passo para trás.
Os sapatos de salto alto que Skylar está usando afundam na terra, e ela cambaleia um
pouco por causa disso. Estendo a mão para ajudá-la a se estabilizar. Ela para na minha
frente.
— Obrigada por estar lá com ela —diz calmamente.
— Ela era minha amiga — explico. Não sei mais o que dizer.
Ela olha em meus olhos.
— Ela sentiu dor? — pergunta e balança a cabeça. — Tentei falar com Seth sobre isso,
mas ele, praticamente, finge que não existo.
Enfio as mãos nos bolsos.
— Como assim? Ele não está te dando trabalho, não é?
Ela balança a cabeça novamente.
— Não. Ele é perfeito. Leva suas irmãs para a creche de manhã e as pega depois da
escola. Dá banho e comida a elas. Ele não me deixa fazer nada. Acho que o problema
sou eu. — Ela respira pesadamente.
Coço a cabeça. Não sei como dizer a ela o que quero dizer.
— O quê? — ela pergunta, arqueando sobrancelha delicada.
— Kendra pediu para que ele facilitasse as coisas para você — admito. — Quando
estava morrendo, ela disse a ele algumas coisas sobre como ser um bom homem. Abrir
sempre a porta do carro; levar um lenço quando for a um encontro, pois você nunca sabe
quando ela vai chorar; Nunca deixá-la pagar o jantar. — Respiro fundo. — E ela lhe disse
para facilitar as coisas para você.
Sua boca se abre como se ela quisesse dizer algo, mas não sai nada. Ela está sem
palavras.
— O que mais ela disse a ele?
— Apenas coisas normais sobre a morte — digo a ela. Foi duro assistir. Tive que sair
do quarto para não os aborrecer com meus soluços. Perdi algumas coisas em decorrência
disso.
— Não sei o que fazer com as crianças — diz ela.
— Eles realmente não precisam de muito — digo. — Só que você os ame.
— Estou tentando — diz ela.
Quero colocar minha mão na parte de trás de seus cabelos e alisá-los. Aposto que são
macios como seda.
— Hum, acho que deveria apresentar-lhe meu namorado — diz ela. — Quer conhecê-
lo?
Balanço minha cabeça. Vejo-o conversando com o Sr. Morgan e ele não parece
impressionado.
— Quando você, hum, pegou minha mão... — diz ela. — Eu deveria ter dito.
— Por quê? — Olho para ela. Mesmo de salto, ela fica na altura dos meus ombros.
— Eu, hum, não queria que você tivesse a ideia errada.
Desta vez eu é que arqueio as sobrancelhas para ela.
— Por que você acha que segurei sua mão?
Seu rosto cora.
— Não sei ao certo — diz ela.
Envolvo minha mão em seu pulso e aperto suavemente.
— Segurei sua mão porque você estava tremendo — digo. — Só por isso. — Ela está
tremendo agora também, mas não faço nada.
— Oh — ela respira.
Seu telefone está em uma das mãos e eu o pego e adiciono meu número.
— Faça-me um favor? — peço.
Ela olha para mim e, em seguida, para o telefone.
— Ligue para mim se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa. Prometi a ela.
— Ok — ela responde. — Obrigada por tudo. — Seus olhos azuis encontram os meus e
nunca vi ninguém parecer tão perdido. Mas, em seguida, eles se estreitam enquanto sua
atenção se volta para um ponto atrás de mim. — Merda —de repente, ela resmunga.
— O quê? — pergunto, olhando por cima do ombro para o sedan que acabou de parar.
— Minha mãe está aqui — diz ela. Seus ombros caem e vejo uma centelha que não
estava lá um pouco antes. — Pode ficar de olho nas crianças por um minuto? — ela
pergunta.
— Por quê?
— Não tem porquê — diz ela. Ela range os dentes e olha para mim. — Prometa que
não vai deixá-la se aproximar das crianças.
Que porra é essa? Olho para o sedan. A porta se abre e uma versão mais velha — e
muito mais severa — de Skylar sai.
— Tudo bem... — digo lentamente. Ela acena com a cabeça, a espinha reta como aço,
e caminha em direção a sua mãe.
A rigidez em sua postura me faz pensar em minha própria mãe quando Johnny Rickles
chutou minhas costas e depois viu todas as outras crianças rirem. Ela ficou fula quando
viu. É um olhar que diz que qualquer um precisará passar por cima dela antes de se
aproximar das crianças e acho que acabei de conhecer a nova mãe de Seth, Mellie e
Joey. Seu nome é Skylar Morgan, e ela é minúscula, linda e impressionante.
SKYLAR

N ão sei porque ela está aqui, mas sei que não pode ficar. Mamãe empurra o chapéu
preto com véu da frente de seus olhos e sorri para mim.
— Boa tarde, querida — diz ela, inclinando-se apenas o suficiente para não me tocar
enquanto beija o ar perto da minha bochecha. Sua respiração cheira a uísque e ela
balança um pouco sobre os pés.
— O que você está fazendo aqui? — resmungo. Mantenho-a perto do carro e ela fica
de pé, junto à porta aberta. Seu motorista parece desconfortável e, imediatamente, sinto
pena dele.
— Vim prestar meu respeito, querida — diz ela. Sua voz é doce, mas ela não tem uma
gota de bondade.
— Volte para o carro, mãe — digo. Faço um movimento com a mão.
— Isto não é maneira de tratar sua mãe — diz ela. O tom doce deixou sua voz, mas a
máscara permanece lá. Pelo menos, por enquanto.
— Mãe — aviso com um grunhido.
Ela solta um suspiro.
— Só queria prestar meu respeito — diz ela novamente.
— Enviasse um cartão — respondo.
Ela olha pelo cemitério em direção ao túmulo, e seus olhos se estreitam.
— Aquelas são as crianças? — ela pergunta. Seu rosto se contorce como se estivesse
sentindo cheiro de algo ruim.
— Não — eu digo.
— Então, seja boazinha e me diga quem são, querida — diz ela. — Quero conhecê-las.
— Não.
— Rachel — meu pai chama enquanto caminha rapidamente em nossa direção.
— Oh, olá — mamãe murmura.
— Entre no carro, Rachel — diz ele, pegando minha mãe pelo braço e empurrando-a
para dentro.
— Mas... — ela esbraveja. Ele fecha a porta e se dirige ao motorista, que está de pé
perto do carro.
— Dirija — diz ele.
— Sim, senhor — o homem responde e desliza para seu lugar.
— Ligo para você amanhã — papai fala. — Preciso tirá-la aqui — explica ele.
Concordo.
— Por que ela veio? — pergunto, mais para mim do que para ele.
— Porque ela não está no controle desta parte da minha vida — ele murmura.
Olho para ele.
— Você já se perguntou como sua vida seria se não tivesse se casado ela? — deixo
escapar. Não faço ideia de onde veio isso.
Ele aperta os lábios na minha testa muito rapidamente.
— Nunca, porque se não, não teria vocês.
Meu estômago se aperta, e minha cabeça gira.
— O quê?
— Skylar, eu te amo — diz ele. Em seguida, desliza para dentro do carro com minha
mãe e saem do cemitério. Fico olhando até que as luzes traseiras desaparecem ao longe.
— Está tudo bem? — uma voz pergunta, vindo em minha direção. Olho para cima e
vejo Matthew Reed e quatro pessoas que se parecem, notavelmente, com ele.
— Tudo bem — respondo, minha mão acenando alegremente no ar porque eu não sei
o que fazer com ela. — Era a minha mãe tentando se intrometer onde não deveria.
Os olhos de Matt se estreitam, mas ele não diz nada. Ele aponta para os homens ao
seu lado e apresenta um de cada vez.
— Meus irmãos, Paul, Logan, Sam e Pete. — Todos apertam a minha mão. Há três
mulheres com eles também. — Esta é a esposa de Logan, Emily, e Reagan você já
conhece — Conheci Reagan por acidente no dia que Kendra morreu. Dei uma carona a
ela.
A última, uma moça bonita de cabelos pretos e tatuagens até a lateral do pescoço
aproxima-se, estendendo a mão.
— Friday — diz ela.
— Hoje é sábado — respondo.
Ela ri.
— Não, meu nome é Friday — ela esclarece e me sinto envergonhada por fazer
confusão com se nome, que significa sexta-feira. Ela se inclina para o maior dos irmãos —
acho que seu nome é Paul — e envolve um braço nos ombros dele. — Trabalho com
esses cabeçudos no estúdio de tatuagem.
— Estúdio de tatuagem? — pergunto. Devo soar como um papagaio, pois tudo que
pareço ser capaz de fazer é repetir o que todo mundo está dizendo.
— Reed’s — diz Matt. — Todos nós trabalhamos lá.
— Oh — suspiro. Normalmente sou muito mais eloquente do que isso. Pelo menos,
espero que seja.
Olho em volta e vejo que Seth está com suas irmãs. Cada uma delas segura uma de
suas mãos. Todo mundo já deixou o cemitério. Ficamos aqui por tanto tempo assim?
Matt movimenta a mão na direção dos irmãos.
— Estávamos indo comer uma torta — diz ele. — Achamos que você poderia gostar de
ir com a gente.
— Não sei — respondo. Seth aproxima-se com as irmãs e então olho para eles. Ele
parece esperançoso. Não o vi parecer interessado por nada além do bem-estar das
meninas na última semana. Arqueio uma sobrancelha, perguntando-lhe o que ele
gostaria de fazer.
Ele balança a cabeça. Então, olha para longe, quase como se estivesse com medo de
ter esperança. Ele olha para o caixão que está sendo abaixado no túmulo.
— Nós adoraríamos acompanhá-los — eu digo.
Joey olha para o irmão e pergunta:
— Mamãe também vai?
Seth tentou explicar às meninas durante toda a semana que a mamãe se foi, e elas
parecem não conseguir entender o conceito de morte. Continuam esperando que a mãe
entre pela porta.
— Não — Seth diz, e vejo-o engolir em seco. — Mamãe não pode vir.
— Talvez mais tarde — ela diz baixinho, o rosto triste. Ele a segura no colo e ela
coloca a cabeça em seu ombro. Mellie vai ao seu lado, e nós caminhamos na direção dos
carros funerários.
— O Rico’s fica perto daqui — explica Matt, olhando para o carro como se ele fosse
mordê-lo. — Quer nos encontrar lá?
— Vamos caminhar com vocês — diz Seth e todos nós vamos na direção da pizzaria.
Olho em volta, procurando por Phillip, meu namorado, mas ele deve ter ido embora. Isso
não me surpreende nem um pouco. Pego meu telefone e envio-lhe uma mensagem de
texto rápida.
Eu: Onde você está?
Coloco o telefone de volta no bolso.
Seguimos em fila, Matt ao meu lado, no final dela.
— Como vão as coisas? — ele pergunta.
— Terríveis — admito. Sinto lágrimas se formarem em meus olhos. Ele pega um lenço
e o oferece a mim. Levo-o aos olhos. — É muito difícil. As crianças não me conhecem, e
Seth não está realmente interessado em permitir que eu me aproxime das meninas. Ele
sequer permite que eu leia uma história para elas dormirem. Ele cozinha, limpa, lava a
roupa, faz tudo, e eu nunca me senti mais inútil na vida. — Olho para cima e vejo Matt
prestando atenção. Ele está realmente, realmente ouvindo.
— Seth cuida de suas irmãs há muito tempo — ele diz suavemente. — Está
acostumado a fazer tudo sozinho. Ele fez isso enquanto a mãe estava fazendo
quimioterapia. E também durante seus tratamentos. É normal para ele. Ele não se
importa, porque é o que sabe fazer.
— As meninas não param de perguntar quando ela vai voltar, como se ela estivesse
de férias ou no escritório. — Minha garganta está tão embargada que sinto como se fosse
sufocar.
Ele estremece.
— Isso é duro — diz ele.
— Só gostaria de saber o que fazer a partir daqui — admito. Não faço ideia de como
ser mãe. Não sei o que fazer em caso de febre e mal sei trocar uma fralda. Graças a
Deus, a menor já usa o penico na maior parte das vezes. Mas estou aprendendo como
lidar com a fralda por pura necessidade. Se colocá-la torta, você está ferrado.
— Vai ficar com eles? — ele pergunta.
— Não sei o que fazer — admito. — Não sei. Não tenho que voltar ao trabalho ainda.
Eles me deixaram trabalhar de casa. Bem, estou na casa de Kendra.
— Você ainda está hospedada lá? — pergunta ele.
Concordo.
— Por enquanto. Achei que era melhor ficar com eles em um lugar conhecido,
cercados por seus brinquedos, suas próprias camas e até mesmo as coisas da mãe. Pelo
menos, por um tempo.
Matt segura meu cotovelo e me faz parar.
— Skylar — diz ele.
— O quê? — Olho em seus olhos azuis e estou quase assustada com a intensidade de
seu olhar.
— Você pode amá-los? Amá-los de verdade? Porque não é vergonha admitir que não
quer ou não pode cuidar deles. Eles merecem o melhor.
— Eles merecem alguém melhor do que eu — sussurro. — Mas sou tudo que eles têm.
Honestamente, Matt — eu digo —, não posso sequer manter uma planta viva em casa. O
que estou pensando?
Ele tira uma mecha de cabelo da minha testa.
— Quer saber o que acho? — ele pergunta.
— O quê? — Estamos no meio de uma rua movimentada, mas nunca me senti tão
separada do resto do mundo.
— Acho que você pode fazê-lo. Tenho fé em você.
— Por quê? — pergunto. — Você nem me conhece.
— Porque você se importa — diz ele. — Isso é tudo que as crianças precisam. Alguém
que cuide delas.
— Você tem filhos? — pergunto.
Ele balança a cabeça enquanto um véu cai sobre seus olhos.
— Não. Pode me emprestar os seus algumas vezes?
Eu rio.
— Como uma espécie de xícara de açúcar?
Ele balança a cabeça.
— Eu não iria devolver a xícara de açúcar. As crianças, por outro lado... — Ele levanta
e abaixa as mãos como se estivesse pesando suas palavras.
Eu rio.
— Não posso ter filhos — diz ele. — Ou, pelo menos, as chances são pequenas.
Ele coloca uma mão sobre minha boca quando a abro para fazer uma pergunta. Sei
que ele teve câncer, mas não sei que tipo ou qual seu prognóstico.
— Não ser realmente capaz de ter algo parece fazer com que você queira mais ainda
aquilo. — Ele aponta para as costas de Seth. — Veja, você ganhou três de uma vez, e eu
sequer posso ter um. — Ele ri e cutuca meu ombro com o seu. Ele continua andando, e
eu fico ao seu lado. — Como seu namorado se sente sobre eles? — ele pergunta.
Encolho os ombros.
— Não discutimos isso.
— Você não acha que deveria? — Sua testa franze ao olhar para mim.
— É complicado.
Matt respira profundamente
— Tenho uma confissão a fazer — diz ele. — Quer ouvir?
— Claro.
— Na igreja, quando segurei sua mão, não foi só porque você estava tremendo.
Meu coração balança, mas agora chegamos ao restaurante. Ele me conduz pela porta
com uma mão na parte baixa das minhas costas, e o momento da conversa acaba.
Porcaria.
MATT

M eus irmãos são uns idiotas. Já sei disso há muito tempo, mas é muito mais evidente
quando estão todos juntos em um só lugar. E em público. Sam e Pete estão fazendo um
concurso de queda de braço na mesa enquanto esperamos a garçonete trazer a conta.
Mellie e Joey já dormiram. Elas estão enroladas em Seth, em um ângulo que não parece
ser remotamente confortável, mas acho que ele está acostumado com suas irmãs ao
redor de si. Sua mão acaricia, distraidamente, as costas de Mellie e ele olha para ela com
carinho, sorrindo suavemente. Vou até ele e me sento ao seu lado.
— Como vão as coisas, Seth? — pergunto.
Ele encolhe os ombros e desvia o olhar.
— Tudo bem — responde.
Aceno e aguardo um momento. Certifico-me de que ninguém esteja prestando
atenção em nós, então falo o que sinto em meu coração. — Lembro-me de quando minha
mãe morreu. As pessoas ficavam me perguntando se eu estava bem e eu dizia que sim,
mas não estava. Não mesmo.
Seu olhar encontra o meu.
— Sua mãe morreu?
Concordo. Odeio falar sobre mamãe, pois tenho que falar também sobre meu pai.
— Minha mãe morreu. Eu era um pouco mais jovem que você. Então, pouco tempo
depois, nosso pai também nos deixou. — Aceno em direção aos meus irmãos. — Ficamos
os cinco sozinhos.
Seth solta um suspiro.
— Que barra — ele resmunga. Deixa a cabeça cair para trás e, finalmente, consigo
ver. Vejo um pouco da exaustão.
— Barra pesada — respondo. — Mas só podemos jogar com as cartas que temos. —
Aponto para Skylar, que está falando com Reagan, Emily e Friday. Ela é tão linda que
quando sorri tira o meu fôlego. Mas se há uma mulher totalmente fora do meu alcance, é
Skylar Morgan. — Como vão as coisas com sua tia? — pergunto.
— Bem — ele resmunga. Ele olha para ela, mas há mais curiosidade do que carinho.
— Está tentando conhecê-la melhor?
Ele dá de ombros.
— Você deveria dar uma chance a ela — sugiro. — Ela disse que está se sentindo
deixada um pouco de lado.
Seu olhar dispara até os meus novamente.
— Ela falou isso?
Concordo.
— Você acha que ela só vai ficar até que você não precise mais dela?
— Não preciso dela agora.
— Você não pode fazer tudo sozinho, Seth. Ninguém pode.
Ele aponta para o peito.
— Eu posso.
— Você tem dezesseis anos.
Ele contorce o rosto e, honestamente, é a maior expressão de emoção que já vi em
sua face até agora.
— Sei quantos anos tenho. Também sei que prometi à minha mãe que cuidaria delas.
— Seria ruim aceitar ajuda? — pergunto. Então, cutuco seu ombro. — Quando o treino
de luta começa?
— Na semana que vem, mas não vou. — Sua testa franze. — Não tenho tempo.
— De quanto tempo você precisa?
Ele suspira pesadamente.
— São duas horas todos os dias depois da escola. Competições em fins de semana e
uma noite por semana. Mellie e Joey já ficam na creche o dia todo. Não posso deixá-las
com uma babá.
— Você não tem que deixá-las com uma babá. Deixe-as com sua tia. — Aponto para
Skylar, que me pega no flagra, seus olhos se estreitando. Balanço a cabeça para ela. Ela
entende, mas ainda está curiosa. — Ela é a tutora legal, Seth, não você.
Sua voz soa calma quando ele fala, tão baixa que mal posso ouvi-lo, mas entendo
suas palavras.
— Tenho medo de exigir demais dela e ela ir embora. Se isso acontecer, nós seremos
levados para abrigos e ficaremos separados. Ninguém mais nos quer. — Sua mandíbula
endurece. — Sabia que eu perguntei ao meu pai se ele poderia ficar conosco?
Não sabia disso.
— E?
— Ele disse que ficaria comigo, mas com Mellie e Joey, não. — Ele olha para as duas,
seu olhar suavizando, mas ainda está com raiva. — Pode acreditar nisso? Ele as
entregaria a um estranho. Qualquer um que quisesse ficar com elas. Minha mãe ficaria
louca se soubesse disso. — Ele balança a cabeça. — Que barra.
— Barra pesada — digo novamente.
Seth sorri.
— Barra pesada — ele repete.
Pete anda na minha frente e, quando passa, empurro seu quadril. Ele olha para mim.
— Vocês estão falando sobre a minha bunda? — ele pergunta e olha para a bunda,
fazendo um grande gesto. — Tudo bem, caramba, sei que é grande, mas não precisam
falar.
Coloco meu pé em seu traseiro e o empurro. Ele se esconde atrás de Reagan.
— Olha o que ele fez, princesa — diz ele. — Me chutou. — Ele envolve seus braços ao
redor dela e diz: — Chute a bunda dele por mim, está bem? — E a empurra em minha
direção. Todo mundo sabe que Reagan é especialista em artes marciais e ela já me
derrubou mais de uma vez durante treinos. Ergo minhas mãos em sinal de rendição.
— Por favor, não — eu digo. — Eu tive câncer. — Relembro a eles. Ainda tenho
vantagem na hora de comer uma quantidade maior de brownies.
Reagan ri.
— Você não pode mais usar a desculpa do câncer — diz ela. — Dois anos em
remissão. — E ergue dois dedos. — Lembra que fizemos uma festa para comemorar? —
Ela para ao meu lado, e coloco meu braço ao seu redor, puxando-a para beijar sua testa.
Houve um tempo em que ela não conseguia ficar em uma sala lotada sem se sentir
nervosa e ansiosa, mas agora isso não faz mais parte de sua vida. Não desde que seu
agressor foi preso. Ele morreu na cela, então, ela não precisou enfrentá-lo em um
tribunal. Reagan é muito mais autoconfiante agora. Claro, ela não confia plenamente em
todo mundo, mas na maior parte do tempo ela é a nossa princesa. Reagan é namorada
do Pete e parte da família.
Noto que todo mundo começa a se levantar.
— Vocês pagaram a conta? — pergunto.
Paul balança a cabeça. Skylar está tentando empurrar o dinheiro para ele, mas ele
recusa. Depois, tenho que me lembrar de pagar-lhe a parte dela do jantar. Ela protesta,
mas ele a ignora, como nossa mãe nos ensinou. Ela bufa e coloca o dinheiro na bolsa.
— Obrigada por nos convidar — diz. Ela vai até Seth e começa a tirar Mellie de cima
dele, mas eu me aproximo e pego a menina, que está dormindo. Mellie envolve seus
braços em meu pescoço, as pernas na minha cintura e se agarra a mim como se fosse um
daqueles macacos de pelúcia que têm velcro nas mãos. Meu coração aperta um pouco.
Gosto desse sentimento. Gosto muito e meu coração dói porque nunca terei isso.
— Posso levá-la — diz Skylar, estendendo as mãos.
— Já peguei — eu digo e Seth se levanta com Joey no colo. Seguro Mellie um pouco
mais firmemente e ela faz um barulho, ressonando contra meu pescoço. Não tenho
qualquer desejo de afastá-la de mim.
— Vejo você em casa? — Paul pergunta, me lançando um olhar interrogativo.
Concordo. Ele sai com nossos irmãos enquanto Reagan, Emily e Friday se despedem
de Skylar. Ouço alguns murmúrios com palavras de carinho, estimulando-a a ligar para
elas caso precise de ajuda e ela sorri e abraça a todas. Saímos para a calçada, e ela me
diz novamente:
— Posso carregá-la. O apartamento não é muito longe. — Ela levanta as mãos
novamente, e balanço a cabeça, impedindo-a.
— Vou levá-los para casa — digo. Eu me sentiria um idiota se não fizesse isso e sei
que ela jamais seria capaz de carregar Mellie por todo o caminho usando aqueles saltos.
E, secretamente, estou feliz por ter a oportunidade de passar algum tempo com as
crianças.
Ela nos permite entrar no apartamento e Seth caminha em direção ao quarto das
meninas. Afasta a coberta de uma das camas e coloca Joey sobre os lençóis. Ele tira seu
casaco e os sapatos, colocando a coberta sobre ela. Faço o mesmo com Mellie e fico feliz
por não ter que dar banho ou colocar pijamas, pois eu saberia como fazer isso.
— Obrigado pela ajuda — Seth diz, calmamente.
— Quando precisar — respondo. Ele se vira para sair do quarto, mas seguro seu
ombro. — Seth — eu digo. — Você não está sozinho, garoto.
Ele olha para o meu rosto.
— Eu sei — ele responde em voz baixa. — Boa noite. — Ele olha para Mellie e Joey
novamente, apaga luz e fecha a porta atrás de nós.
— Boa noite — eu digo.
Suspiro pesadamente, caminhando de volta para a sala de estar. Seth desaparece em
seu quarto sem fazer nenhum um comentário sequer para Skylar.
Balanço o polegar em direção ao quarto de Seth.
— Você sempre recebe dele o tratamento do silêncio? — pergunto. Sinto vontade de
dar uma palmada em sua bunda, mas ele não é meu filho. E não acho que ele esteja
fazendo isso para ser desrespeitoso. Acho que age assim para aliviar a carga dela. Não
sei se deveria sacudi-lo ou dar-lhe uma medalha.
Ela encolhe os ombros.
— Tudo bem — ela fala, mas sua voz é baixa. — As meninas dormiram? — ela
pergunta.
— Sim — respondo. Sigo-a para a cozinha. Gostaria de poder dizer que vou atrás dela
apenas para que possamos conversar, mas eu meio que gosto de olhar para o seu
traseiro. Ela tirou os saltos e está calçando apenas a meia fina. Eu me pergunto se elas
vão até o meio da coxa, presas por uma daquelas pequenas ligas. Passo a mão no rosto
tentando afastar os pensamentos. Ela tem namorado.
Skylar pega uma garrafa de vinho da geladeira e enche um copo.
— Quer um pouco? — ela pergunta.
Não sou realmente um apreciador de vinho.
— Não, obrigado.
Seus olhos se estreitam. Ela vai até a geladeira e pega uma cerveja.
— Agora eu aceito —digo com uma risada.
— Kendra devia gostar de cerveja — diz ela. — Isso estava na geladeira. — Ela
levanta a taça. — Mães não bebem vinho? — ela pergunta.
— A minha bebia — respondo. Sigo-a para a sala e sento-me em uma extremidade do
sofá. Ela se senta na outra.
— Ela foi uma boa mãe? — ela pergunta.
— A melhor.
— Sorte sua — diz ela com um ruído na parte de trás de sua garganta. — Fui criada
por babás, cozinheiras e governantas. Tinha uma variação constante delas. — Ela deita a
cabeça no encosto do sofá e olha para o teto por um momento. Então, bebe o último
gole do vinho em sua taça e a coloca sobre a mesa lateral. Ela boceja, cobrindo a boca
com delicadeza. — Desculpe-me — diz ela. — Semana longa. — Ela sorri, e minha
respiração falha. Então, me lembro que deveria ter entrado e saído.
— Eu deveria ir — eu digo.
— Não precisa ir embora — diz ela. — É bom ter alguém para conversar.
Resolvo ficar. Não quero ir. Gosto desse silêncio calmo com ela, embora não saiba o
porquê.
— Você quer alguns conselhos não solicitados? — pergunto.
Ela bufa. E é tão bonitinho que não posso deixar de sorrir.
— Vou aceitar todos os conselhos que puder conseguir.
— Diga a Seth que ele deveria fazer o treino de luta.
Suas sobrancelhas arqueiam.
— Luta? — ela pergunta.
Eu concordo.
— Ele ama o esporte. Foi campeão regional de luta livre no ano passado.
Ela se ajeita no sofá.
— Quando começa? — ela pergunta.
— Próxima semana.
— Por que ele não me contou?
— Humm... — Não sei o quanto devo dizer a ela. — Ele tem medo de te dar muito
trabalho e você resolver abrir mãos deles. Se isso acontecer, o Estado irá colocá-los em
um orfanato.
Ela rosna e inclina-se para a frente.
— E você soube disso tudo no jantar?
Concordo com a cabeça e levo minha cerveja aos lábios.
— Eu os conheço há mais tempo — digo.
— Durante quanto tempo você e Kendra saíram? — ela pergunta.
Engasgo com minha cerveja e tusso com o punho fechado em frente a boca por um
minuto.
— O quê?
— Você e Kendra — diz ela novamente. — Por quanto tempo vocês saíram juntos?
— Oh, não saímos — apresso-me em dizer. — Éramos apenas amigos.
— Oh — diz ela. Então, o silêncio cai sobre a sala. Finalmente, ela diz: — Então, luta,
hein? Não é um pouco bárbaro?
Sorrio.
— Não. É estratégia, força e condicionamento. É bom para ele.
— E se ele se machucar?
— Ele é menino. Vai se machucar.
— Você tem todas as respostas, não é? — ela pergunta.
Infelizmente, não tenho nenhuma resposta. Sobre nada.
— Se ele for treinar, tem que sair da escola e ir direto para lá todos os dias. Isso pode
dar-lhe algum tempo para conhecer Mellie e Joey, quando for buscá-las na creche.
Ela balança a cabeça.
— Parece-me um plano.
— Todo mundo precisa de um plano — eu digo com um sorriso. Ela sorri, e sinto uma
pequena vibração em meu coração.
Ouço uma porta se abrir atrás de nós e Seth sai de seu quarto. Ele olha para nós, seu
olhar vai de Skylar para mim e volta para ela.
— Tudo bem? — ele pergunta.
Skylar descansa os cotovelos sobre os joelhos.
— Matt estava me contando sobre a luta — diz ela.
Seth geme e joga a cabeça para trás, me olhando como se desejasse que eu tivesse
mantido minha boca fechada.
— Acho que você deveria fazer — diz ela. Sua voz treme um pouco.
— E as meninas? — ele pergunta.
— O que têm elas? — ela pergunta de volta. — Vou começar a buscá-las todos os
dias.
Seth coça a cabeça.
— Você está bem com isso?
Ela balança a cabeça e sorri para ele.
— Estou, sim.
Seth sorri para ela também.
— Tudo bem — diz ele.
— Você vai me avisar quando tiver jogos para que eu possa assistir? — ela pergunta.
— Campeonatos — Seth e eu falamos ao mesmo tempo.
Ela ri e levanta ambas as mãos em sinal de rendição.
— Campeonatos — ela repete. — Desculpem-me — diz ela, mas está rindo também.
— Então, posso ir aos seus campeonatos? — ela pergunta.
Seth balança a cabeça.
— Claro. — Ele olha para a cozinha como se quisesse se afastar. — Só vou beber um
pouco de água e vou para a cama — ele fala.
— Boa noite — Skylar responde.
Ele olha para trás, por cima do ombro e diz baixinho:
— Boa noite, tia Sky.
Ele se afasta, e eu olho para Skylar. Ela parece um pouco chocada.
— Você está bem? — pergunto.
Ela ri e balança a cabeça.
— Você ouviu isso? — ela pergunta.
— Que ele vai lutar? — Estou um pouco perplexo.
— Não — ela diz baixinho. — Ele me chamou de Tia Sky. — Seus olhos estão um
pouco enevoados, então, aperto seu joelho. Ela cobre minha mão com a sua e olha para
mim. Seu olhar volta-se diretamente para o meu. — Obrigada pela ajuda. — De repente,
o telefone, em seu bolso, emite um som e ela solta minha mão para alcançá-lo. — Meu
namorado — diz ela, mas não parece muito feliz em ter notícias dele.
— Eu deveria ir. — Ela tem uma porra de um namorado, rei dos babacas, se bem me
lembro. Levanto e jogo minha garrafa de cerveja na lixeira. Ela me segue até a porta. —
Ligue-me se precisar de alguma coisa — falo. Ou se você não precisar de nada, quero
acrescentar, mas não falo.
Ela se inclina contra o batente da porta.
— Pode deixar —responde, e eu acredito nela. Só espero que algo terrivelmente
errado aconteça para que ela possa realmente me ligar. Nada de casos de vida ou morte,
ferimentos graves ou algo tão drástico. Talvez um vazamento na pia ou um vaso
sanitário entupido. — Boa noite — ela fala.
— Boa noite — respondo. Ela fecha a porta, e fico ali por um momento, pois não
consigo pensar em qualquer outro lugar que eu gostaria de estar.
A porta se abre de repente, e Sky coloca a cabeça para fora. Ela bate em meu peito, e
eu a seguro, agarrando seus cotovelos. Tento tirar o sorriso do rosto, mas é quase
impossível.
— Você precisa de algo mais? — pergunto com uma risada.
— Você ainda está aqui — diz ela em meu peito. O calor do seu hálito faz coisas
engraçadas dentro de mim. Em mim por inteiro. — Queria te perguntar uma coisa — diz
ela, com a voz entrecortada.
Ela se inclina, encostando um ombro na porta e olha para mim com os olhos tão
claros e azuis que eu poderia cair neles e ficar lá. Ela morde o lábio inferior e, em
seguida, diz rapidamente.
— Quando estávamos caminhando para o restaurante, você comentou que não
segurou a minha mão só porque ela estava tremendo. Fiquei pensando... hum... por que
mais você faria isso?
Levanto o braço e puxo a faixa de couro que segurava meus cabelos, deixando-os cair
em volta do rosto. Então, levo um tempo prendendo-os de volta, mas minha intenção é
só ganhar tempo para descobrir como responder a ela.
Sorrio.
— Mencionei que não foi a única razão, não é?
Ela balança a cabeça, ainda mordiscando o lábio inferior. Suas bochechas estão
rosadas e seus olhos, brilhantes.
Não sei qual a melhor forma para responder, então, abaixo meu rosto e beijo sua
bochecha. Hesito por um breve momento, deixando-a respirar em meu ombro enquanto
sinto seu perfume. Ela tem cheiro de limpeza e de mulher, com uma pitada de citrus. É
de tirar o folego e mal consigo parar de cheirá-la. Inspiro uma última vez e sussurro.
— Fiz isso porque gosto de você.
Ela treme levemente, e vejo os pelos em seus braços se eriçarem. Forço-me a ir
embora. Preciso fazer um esforço enorme para não me virar e olhá-la novamente. Mas
não olho. E continuo andando.

Entro em nosso apartamento e paro quando vejo alguém sentado no sofá conversando
com Paul. Meu irmão se levanta, parecendo muito desconfortável.
— Olha quem apareceu — Paul fala, apontando para o visitante. Minha euforia
termina imediatamente. Todos os bons pensamentos que tive quando saí da casa de Sky
subitamente são jogados contra uma parede de traição e engano.
Seu nome é Kenneth e ele costumava ser meu melhor amigo. Até o momento em que
transou com minha noiva, April.
— Ken — resmungo —, que merda você está fazendo aqui?
Paul fica entre nós, como se pudesse me manter longe caso eu quisesse arrancar um
pedaço dele. E eu realmente quero.
— Bem — diz Ken. —, eu... hum... estava esperando que pudéssemos conversar. —
Ele olha para Paul como se não quisesse dizer nada na frente dele.
Paul para ao meu lado.
— Você quer que eu saia?
Dou de ombros. Posso chutar o traseiro de Ken com ele aqui ou no quarto.
— Você é quem sabe — eu digo.
Vou até a geladeira, pego uma cerveja e abro-a apoiando-a na beira do balcão e
batendo na tampa da garrafa. Atiro a tampinha de metal no centro da lata de lixo.
— Cesta — sussurro para a lata quando a tampa entra.
Vou para o sofá e me sento, descansando os pés sobre a mesinha de centro enquanto
começo a zapear pelos canais da televisão.
— Chame se precisar de mim — diz Paul e, em seguida, desaparece em seu quarto.
Eu não teria que chamá-lo. Ele vai ficar com a orelha colada à porta até Ken ir embora.
Ken senta-se no sofá em frente a mim, seu traseiro junto à beirada. Ele descansa os
cotovelos sobre os joelhos e se inclina em minha direção.
— Por que você está aqui, Ken? — pergunto. Quero que ele fale logo para que
possamos terminar de uma vez com esse encontro longo e desconfortável.
— Bem — ele começa. Então, para e pigarreia, passando a mão para cima e para
baixo na cabeça. Na verdade, seu desconforto me faz sentir um pouco melhor sobre toda
a situação. — Queria falar com você sobre o casamento — diz ele lentamente,
enunciando cuidadosamente.
Finjo indiferença, apesar de não saber do que ele está falando.
— Quem vai se casar? — pergunto.
Era melhor que ele não dissesse que era ele e a porra da April.
— Bem, pedi April em casamento — ele deixa escapar, parecendo ainda pior do que
há um instante. Ele estremece como se estivesse com medo que eu fosse bater nele.
Inferno, eu ainda poderia.
— Parabéns — falo, inexpressivo. Tento não colocar qualquer sentimento em minha
voz, porque se eu o fizesse, estaria gritando, e gritando, e gritando como se fosse um
urso ferido, pois sinto como se alguém estivesse empurrando um ferro em brasa nas
minhas entranhas.
— Queria que você soubesse por mim — diz ele. —, considerando a situação. — Ele
torce as mãos.
— Considerando o fato de que você trepou com a minha namorada — falo e, em
seguida, tomo o último gole da minha cerveja. Acho que ela vai direto para minha
cabeça, já que bebi tão rápido. Mas não me importo.
— Ela estava so... sofrendo — ele gagueja. — Quando soube do seu diagnóstico e
tudo mais, entende? — Ele olha para mim como se estivesse esperando a confirmação.
Vou confirmar que ele é um idiota. Um mentiroso, enganador, filho da puta de melhor
amigo. — Nós meio que nos deixamos levar.
— Você se deixou levar e caiu bem no meio da boceta dela, não é? — Ele levanta a
mão e começa a gaguejar, mas continuo a falar, sem me importar em ouvi-lo. — Entendo
completamente. Aconteceu comigo uma vez ou duas. Provavelmente, nas mesmas noites
que aconteceu com você.
— Matt — diz ele. —, sei que já disse que sinto muito antes, mas, por favor, saiba que
nós não tínhamos a intenção de que isso acontecesse. Nunca quisemos machucar você.
Fiquei machucado por um longo tempo, mas agora estou um degrau acima. Irado soa
muito melhor.
— Quantas vezes você quer que eu o parabenize? — Pergunto.
Ele suspira.
— Só não queria que você ouvisse isso de outra pessoa — ele fala. — Lidei muito mal
com as coisas, mas ainda tenho o maior respeito por você como amigo.
— Obrigado — falo irônico.
— Ah, ouvi dizer que você está em remissão — diz ele. Ele sorri como se estivesse
feliz por mim. — Estou tão feliz por você estar bem.
— Obrigado — grunho. Aparentemente, transformei-me em um homem das cavernas.
Um homem das cavernas que não dá a mínima para esse babaca.
Ele fica de pé.
— Bem, eu provavelmente deveria ir. — Ele estende a mão para mim. Ela fica entre
nós até que ele chega à conclusão de que não vou tocá-lo. Nem fodendo.
— Quando é o casamento? — pergunto, levantando-me.
— Próximo fim de semana — diz ele.
Minha testa franze e eu bufo.
— Tá em cima, hein? Vocês devem estar planejando isso há um bom tempo.
Ele começa a coçar a parte de trás da cabeça novamente.
— Hum ... na verdade, não. Bem, estávamos planejando, mas decidimos mudar a
data com certa urgência. Hum... — Ele olha nos meus olhos como se estivesse esperando
suavizar o golpe. — April está grávida.
Minha respiração falha. Fecho os olhos e inspiro, porque sinto que vou vomitar. Forço-
me a abrir os olhos e vou até a porta. É o máximo que posso fazer para não colocar meu
pé no rabo dele e chutá-lo porta afora.
— Bem... hum... é realmente importante para April termos a sua bênção.
— Você não precisou da minha bênção quando transou com ela — digo. — Por que
precisa dela agora que você a engravidou?
— Ela se sente terrível com a maneira como as coisas aconteceram — diz ele.
— Bom — grunho. — Ela deve se sentir mesmo. — Ela deveria se odiar por cair nos
braços de outro cara enquanto eu estava passando pela quimio e quase morri, porra.
— Ela não é uma pessoa má — diz ele. — Só cometeu um erro. Nós dois erramos.
— Um erro acontece uma vez — explico, levantando um dedo. — Não dezenas de
vezes. — Fora as vezes que não sei. — Depois da primeira vez, é uma escolha, não um
erro.
— Ela só não soube como lidar com a situação.
— Você quer dizer, como me apoiar quando precisei? — Ergo as minhas mãos como se
não quisesse que ele respondesse. Não consigo entender isso. De jeito algum.
— Gostaria que pudéssemos ser amigos novamente — ele fala. Sua voz é quase
suplicante. Isso me faria rir, se não me fizesse querer chorar.
— Nunca vai acontecer — digo. Abro a porta e faço um movimento com a mão para
que ele saia.
Ele se ilumina por um segundo.
— Ei, Paul estava me dizendo que você está saindo com alguém.
Paul fez o quê?
— E?
— Acho que isso é ótimo. Estou feliz por você. — Ele bate a mão no meu ombro e o
aperta até que eu olho em sua direção, pensando em como vou quebrar cada um de seus
dedos. Ele sacode a mão para trás. — Acho que você deveria trazê-la para o casamento.
Vai ser como nos velhos tempos. O que você diz?
Apenas olho para ele.
— Bem — ele diz, sorrindo como se tivesse resolvido o problema da fome no mundo
em uma noite. — Vou me certificar de que April lhe mande mais um convite. Adoraríamos
que você estivesse lá.
O diabinho no meu ombro me insulta.
— Ei, como April se sentiu quando você trepou com a melhor amiga dela? — pergunto.
Os rumores são divertidos quando não são sobre você.
Um músculo em sua mandíbula treme.
— Isso foi um erro.
— Você cometeu um monte deles, não é? — pergunto.
— Sou humano — diz ele.
Ele é um ser humano sem moral ou consciência. No entanto, não posso dizer que April
não teve o que mereceu.
— Se você for ao casamento, eu apreciaria que você não mencionasse essa coisa com
a melhor amiga dela. — Ele desvia o olhar. Aponto para o corredor, e ele vai nessa
direção.
Não digo mais nada. Ele acena ao passar pela porta, e eu a bato atrás dele. Minha
força é tanta que as paredes vibram. Paul sai de seu quarto.
Pego outra cerveja da geladeira e repito a forma de abrir, murmurando “Cesta” em
um sussurro veemente quando a tampinha cai dentro do lixo.
— Você está bem? — pergunta Paul.
— Tudo bem.
— Tem certeza?
— Sim.
— Você não parece bem.
— Foda-se.
Paul solta um suspiro.
— Quanto você ouviu? — pergunto.
Ele estremece.
— Tudo?
Sento-me no sofá sem dizer qualquer coisa que está em minha cabeça. Verdade seja
dita, eu estaria enlouquecido se Paul não estivesse aqui.
— Não posso acreditar que eles querem que você vá ao casamento. — Ele bufa.
— Por que você disse a ele que estou saindo com alguém?
Paul sorri.
— Pareceu apropriado no momento. O bastardo estava sendo todo presunçoso me
dizendo como sua vida é maravilhosa.
— Então você criou uma vida impressionante para mim.
Paul dá de ombros.
— Não me pareceu ruim.
Essa porra dói. Minha vida pode ser solitária, mas é minha. É tudo o que tenho e,
quando você chega perto da morte como eu cheguei, você passa a apreciar cada aspecto
dela.
— Você vai ao casamento? — pergunta Paul.
Dou de ombros.
— Não sei. — Brinco com a espuma da almofada, envolvendo-a em meus dedos.
— Talvez seja bom fazer um encerramento — diz ele.
— Já está encerrado.
— Não está.
Eu me inclino para ele.
— Você quer falar sobre encerramento, Paul? Então vamos falar sobre você e Kelly.
Vamos falar sobre o fato de que você ainda está transando com a mãe da sua filha,
mesmo que vocês dois estejam saindo com outras pessoas.
Paul pressiona os lábios. Em seguida, ele se levanta e vai para o quarto, fechando a
porta suavemente atrás dele. Ele não me dá um soco, que é o que eu mereço. Ele
simplesmente vai embora. Acho que bati muito perto da ferida.
Meu coração dói pelo que fiz a ele. Mas era a única maneira de fazê-lo parar.
Encerramento. Foda-se o encerramento. Essa ferida ainda está aberta, inflamada,
dolorosa e crua. E é tão irritante que não sei o que fazer com ela. Isso nunca vai
melhorar? Não vejo como.
SKYLAR

E u tinha acabado de fechar meus olhos quando o telefone vibra no meu bolso. Não falei
mais com Phillip desde o funeral. Ele simplesmente foi embora. Mas esse é bem o jeito
dele. Em um minuto está lá, no outro, desaparece por um bom tempo. Pego o aparelho e
vejo seu rosto sorridente. Preciso mesmo atender? Suspiro e atendo.
— Olá?
— Skylar, oi — ele fala. Quase posso ver seu sorriso cheio de dentes na minha cabeça
e isso me faz estremecer. Não deveria ser assim, deveria?
— Que bom que você, finalmente ligou — falo.
Posso ouvir o clique de seus sapatos contra o piso.
— Desculpe-me por isso. Tive que voltar ao trabalho. Estou deixando o prédio agora.
— Ouço a batida de uma porta e posso imaginá-lo entrando em seu Mercedes.
— Trabalhando até tarde? — pergunto.
— Sim — ele diz baixinho. Ele fica em silêncio por um momento e isso cai sobre as
ondas celulares.
— Então, no que está trabalhando?
— Um grande caso — ele responde.
— Oh, me conte a respeito.
— Você sabe que não posso.
— Nós dois trabalhamos para a mesma empresa, Phillip! Pelo amor de Deus.
— Sobre isso — ele começa.
Sento-me. Phillip é sócio-gerente do escritório. Ele tem o meu futuro em suas mãos.
— Tivemos uma reunião do conselho hoje para discutir sua situação.
— Oh, sério. — Tento não bufar no final de meu comentário, e quase tenho sucesso,
mas sinto como se alguém tivesse tirado o ar de mim.
— Decidimos que você precisa tirar uma licença para resolver suas coisas.
Sento-me e cruzo as pernas.
— Não acho que essa decisão seja sua.
— Acho que é o melhor para você, Sky — diz ele em voz baixa. — Você precisa se
instalar com as crianças, contratar uma babá, decidir onde vai morar...
— Bem, vamos morar em meu apartamento. Estamos aqui apenas temporariamente,
enquanto as crianças se ajustam.
Há silêncio na linha.
— Por que você não diz o que quer dizer, Phillip?
— Nunca assinei contrato para ser pai, Sky.
— Não assinei um para ser mãe — eu o lembro.
— No entanto, você aceitou a ideia maluca do seu pai.
— Não é uma ideia maluca. As crianças não têm mais ninguém. — Afasto o telefone e
olho para baixo por um momento. — Você está terminando comigo? Por causa disso?
— Estou dando-lhe tempo para descobrir as coisas — diz ele.
— Não preciso de tempo para descobrir as coisas.
Ele faz uma pausa.
— Eu ia te dizer hoje, mas você estava ocupada com a sua mãe.
— Você ia me contar no funeral? — pergunto. — É por isso que você estava lá? —
Deveria ter imaginado que não era porque ele se preocupava comigo ou minha família.
— O que você vai fazer, Sky? — ele finalmente pergunta. — Você realmente vai ficar
com essas crianças? Crianças que não se parecem em nada com a gente? Vai desfilar
com elas em público? Levá-las para Cape em férias? Vai ser a mãe deles? Por que você
não contrata uma babá, pelo amor de Cristo? Seu pai tem dinheiro suficiente.
Levanto-me e começo a andar de um lado para o outro.
— Não posso acreditar nesta merda — falo. — Nunca vi você falar de alguém de forma
preconceituosa. Quando você se tornou esse cara?
— Sou o mesmo cara que sempre fui! — ele grita comigo. — Foi você que mudou.
Quero alguém que possa trabalhar ao meu lado, jogar no meu time e apenas estar
comigo. Não quero crianças entre nós, especialmente, se elas não são nossas.
O silêncio cai novamente. Paro na frente do armário para olhar para o espelho. Há
uma estranha sensação de paz no meu rosto.
— De qualquer maneira, não é como se tivéssemos relações sexuais. Não
conseguimos encontrar tempo. — Ele soa como um garoto de quatro anos.
Faz um tempo.
— Não temos ficado juntos — diz ele.
— Não estamos falando de proximidade — cuspo de volta.
— Será que você, pelo menos, consideraria uma babá? — ele pergunta.
Eu nem sequer preciso pensar sobre isso. Fui criada por um desfile constante de
babás e não vou fazer isso a essas crianças. Não tenho uma única pessoa na minha vida
que possa sentar-se comigo e contar-me histórias sobre minha infância, porque ninguém
estava presente.
— Não — resmungo.
— Por que não? Isso não é nem sua responsabilidade! — ele grita.
— Posso não ser a mãe, mas sou tia. Sou a tia Sky e sou tudo o que eles têm. Eles
não têm qualquer outra pessoa, e sei como é isso. Não vou deixá-los sozinhos. Estarei
aqui para eles sempre que precisarem de mim. Pelo resto da minha vida.
Para dizer a verdade, eu estava bastante assustada sobre a minha situação, pois não
conseguia saber onde estava pisando, mas agora eu sei. Está bem sólido embaixo de
mim.
— Vou ensinar Seth a dirigir, levarei Mellie para as aulas de dança, e Joey vai fazer
ginástica. — Ok, eu soo como uma lunática agora. — Eles podem fazer ou ser o que
quiserem. Porque não estarão sozinhos. — Aponto o dedo para o ar. — Jamais ficarão
sozinhos enquanto eu estiver aqui. Entendeu? Jamais.
Minha voz está falhando e mal consigo controlar a respiração, mas preciso que ele
saiba como me sinto sobre isso. Às vezes, abro a porta do quarto das meninas só para
vê-las respirarem enquanto dormem. É o único momento que consigo chegar perto delas.
— Não contei os dedos das mãos e pés quando eles nasceram, mas posso contá-los
todos os dias quando eles voltam para casa da escola. Posso ser a tia Sky e, um dia,
quando eu ganhar a confiança deles e for sortuda o suficiente para que me amem, talvez
eles queiram ser a minha família.
Quero uma família. Eu quero essas crianças.
— Sky, pense sobre o que você está fazendo — diz ele. — Você está emotiva. Precisa
se sentar e pensar sobre isso. Não faça algo de que você vá se arrepender. Faça uma
lista de prós e contras se precisar.
— Pro: Eles são incríveis — Começo a marcar itens em meus dedos, mesmo que ele
não possa me ver. — Pro: se eles me deixarem amá-los, serei a mulher mais feliz na face
da terra. Além disso, não estou emotiva. Estou perfeitamente racional.
Ele zomba.
— Você não parece racional.
Ergo outro dedo.
— Pro: você já me largou, então, agora posso te dizer que você é realmente ruim na
cama, Phillip. Ruim. Você é egoísta. Se eu nunca mais tiver que ver seu pênis novamente,
serei uma mulher feliz. Muito feliz. Exultante, na verdade.
— Não sou ruim de cama...
— Você é egoísta. E quase não chego ao orgasmo, Phillip. Você sabe disso.
— Não sei — ele murmura.
— Sabe, sim. — Sorrio para mim mesma no espelho. Minha lista de prós supera meus
contras. — Vejo orgasmos em meu futuro sem você, Phillip. Muitos orgasmos.
Ele assobia para mim.
— Contra: pelo resto de sua vida, sempre que você sair com essas crianças em
público, as pessoas vão te olhar de um jeito engraçado. Eles nunca vão ver quem você é.
Verão que essas crianças são pobres órfãos que você adotou. Ou, ainda pior, vão assumir
que você é a mãe deles.
— Não tenho problema com isso. Não me incomoda que sejam mestiços. Amo a cor
da pele deles, os olhos e os cabelos. — Mas preciso aprender a fazer chuquinha no cabelo
das meninas. A textura do cabelo delas é muito diferente do meu. — Amo isso, porque os
amo.
— Você os conheceu na semana passada! — ele grita.
— Mas sinto que meu coração os conhece desde sempre. — O som da risada de Mellie
me faz amolecer. O olhar de pura rendição no rosto de Seth enquanto ele cuida das
meninas me faz derreter. E Joey, quando fica toda suja enquanto come, acho adorável. —
Eu amo essas crianças. E vou lutar até o meu último suspiro para cuidar delas. Então,
nunca mais diga que eles não são bons o suficiente para mim. Na verdade, acho que é o
contrário. Eu não sou boa o suficiente para eles. — Finalmente, uma lágrima cai. Tenho
muito a aprender, mas posso fazê-lo. — Mas eu serei.
— Se sua decisão está tomada — ele resmunga.
— Inequivocamente — atiro de volta.
Ele desliga. Só então desmorono. Apoio as palmas das mãos sobre a cômoda e coloco
meu peso sobre elas, mordendo o lábio inferior quando um soluço sai.
— Tia Sky — ouço da porta.
Olho para cima e passo meus dedos debaixo dos olhos.
— Seth — eu digo. Deus, espero que ele não tenha ouvido nada disso.
— Você está bem? — ele pergunta baixinho e entra no quarto. Afasto o olhar, porque
ainda quero chorar.
Seth me alcança e envolve seu braço ao meu redor, me puxando contra ele. Me
mantém estranhamente presa, mas é bom. Ele me segura perto. Observo que ele já é
alguns centímetros mais alto que eu. Forço-me a não soluçar.
— O que você ouviu? — pergunto baixinho.
— Não ouvi nada sobre orgasmos — diz ele com um sorriso, colocando a mão sobre a
boca.
Solto uma risada.
— Bem, isso é bom.
— E não ouvi nada sobre Phillip ser péssimo de cama. — Ele estremece.
— Ainda melhor. — Olho para ele. — Sinto muito por você ter ouvido tudo isso.
— Não sinta — diz ele, de repente, se parecendo com um jovem adulto. — Estou
contente por ter escutado.
— Bem, eu não estou. Vou tentar ser mais silenciosa da próxima vez.
Ele se senta na beirada da minha cama.
— Ando muito preocupado — ele admite.
Sento-me ao lado dele.
— Eu também.
— Mas acho que, já que não temos mais uma mãe e você não tem família, podemos
fazer isso dar certo. — Ele não olha para mim, e sinto um pouco de tremor em sua voz.
— Acho que podemos, sim.
Ele coloca o braço em volta dos meus ombros.
— Tenho uma pergunta para você.
Presumo que ele queira o meu currículo, que é totalmente inadequado,
especialmente, uma vez que Phillip acha que me colocou de licença.
— O quê? — pergunto.
— Você realmente quer me ensinar a dirigir? — Ele sorri para mim.
Eu rio. É bom rir com Seth.
— Sim, quero, sim. — Empurro seu ombro com o meu. — Foi o zelador que me
ensinou.
— Isso é triste — diz ele, estreitando os olhos.
— Sim. — Eu aceno. — Também acho.
MATT

A cordei na manhã seguinte sabendo que precisava pedir desculpas a Paul. Saí da linha
na noite passada e não posso deixar isso para lá. Espero ele acordar. Geralmente, ele vai
para o estúdio de tatuagem antes de mim, mas a porta do seu quarto ainda está
fechada. Este fim de semana, ele não vai ficar com Hayley, sua filha de cinco ano. Ela
está com Kelly, sua mãe. Então, quando não precisa ficar com ela, ele dorme até mais
tarde. Ela se levanta muito cedo e, embora seja adorável vê-la de pijama, um homem
precisa dormir um pouco às vezes. Trabalhamos até muito tarde na loja, por isso, nem
sempre dormimos oito horas.
Parece que Paul está recuperando o tempo perdido.
Logan mora com Emily; Pete, com Reagan e Sam voltou, de ônibus, para a faculdade
ontem à noite. Dessa forma, agora somos apenas Paul e eu no apartamento, que parece
tranquilo. Tranquilo demais, às vezes. Estou acostumado com o barulho da TV porque
Logan não sabe quando o volume muito alto, já que é surdo; Sam e Pete, os gêmeos,
costumam se embolar no sofá. Agora somo só nós, dois caras velhos, e muito silêncio.
Acho que não gosto muito disso.
Ouço sua porta se abrir e, em seguida, o som dele indo ao banheiro. Não nos
incomodamos em fechar a porta quando não há garotas por aqui. Logo em seguida, ele
entra na cozinha, o cabelo loiro bagunçado para todos os lados. Ele coça a barriga, a
calça de flanela do pijama mostrando a tatuagem com o nome de Kelly. Estou bem
familiarizado com ela, já que fui eu quem fez. E é uma puta tatuagem linda, se me
permite dizer. Mas não tenho nome de mulheres em meu corpo e tenho certeza de que
jamais terei.
— Dia — Paul murmura, servindo-se de uma xícara de café.
— Bom dia — respondo. Abro o jornal e olho para ele, mas não consigo ver as
palavras na página. Posso sentir a vontade de Paul de jogar sua tigela de cereal com mel
em minha cabeça. Inferno, eu mereço.
— Desculpe-me por ontem à noite — murmuro.
Ele não desvia o olhar de seu cereal.
— Não se preocupe com isso.
— Agi como um idiota.
— Eu deveria ter mantido minha boca fechada.
— Eu deveria ter concordado com você. Você estava certo. Não está terminado.
Ele fala com a boca cheia de comida.
— Se estivesse terminado, você não teria agido como se fosse dar um soco no saco
do babaca. O que será que ela vê nele? — ele pergunta.
— Ele não estava morrendo? — É o que acho.
Finalmente, ele olha para mim.
— Isso não é desculpa.
Não, não há nenhuma desculpa para isso.
— E você estava certo sobre Kelly e eu. — Ele continua comendo sem olhar para mim.
— Não quero estar certo sobre isso.
— Que pena. Não sabia que vocês sabiam que nós ficamos juntos.
Balanço minha cabeça.
— Ninguém sabe, só eu.
— Espero que não sejamos óbvios demais. — Ele estremece.
— Não, vi vocês dois juntos quando Logan estava no hospital. O jeito que ela olha
para você... — Vejo seu rosto. — E a maneira como você olha para ela.
Ele finalmente levanta o olhar.
— Nós apenas vamos para a cama de vez em quando. — Dá de ombros. Ele parece
realmente desconfortável e não é assim que costumo ver Paul. — Isso é fácil. E
confortável.
Não sei como é isso. Rio baixinho.
— O quê? — ele pergunta.
— Você fala sobre sexo com Kelly como se estivesse enfiando seu pé em um sapato
velho.
Ele suspira.
— Mas, assim como um sapato velho, ex-namoradas podem ser confortáveis, mas não
conseguem apoiá-lo do jeito que você precisa.
— Ding, ding, ding — ele grita, como se estivesse tocando um sino no ar.
— Hã? — Não tenho nenhuma ideia do que ele está falando.
— Eu já te contei o motivo de nos separarmos?
Ele nunca disse, mas faço ideia. Balanço a cabeça, de qualquer maneira.
— Ela não queria vocês.
— O quê? — Essa era a última coisa que eu esperava.
— Ela estava grávida de Hayley, e eu tinha quase vinte e um. Mamãe e papai tinham
partido, e ela não queria vocês. Eu queria me casar com ela. Mas ela não queria a minha
família.
— Ela fez você escolher?
Ele se levantou e bateu a tigela na pia um pouco forte demais.
— Não havia uma maldita escolha. Vocês eram a minha vida, e eu era tudo o que
vocês tinham. Simples assim.
Paul assumiu nossa paternidade da mesma forma como algumas pessoas arrumam
um trabalho depois da escola. Ele deu tudo o que tinha. Temos apenas um ano de
diferença, mas eu nunca poderia ter feito o que ele fez. Ele desistiu de tudo — até
mesmo da sua própria felicidade — por nós. Deus. Agora me sinto horrível. Nós
arruinamos sua vida.
— Eu não poderia ter tocado as coisas sem você — diz ele. — Quando eu me sentia
fraco, você era forte. E quando eu me sentia forte, você era fraco. — Ele está certo. Nós
nos complementamos.
— Você deu seu tempo com Hayley para nós. — Agora estou chateado.
— Sou o pai dela e sempre serei. Tenho-a pela metade do tempo e isso funciona bem
para nós dois.
Funciona. Realmente funciona.
— E agora, que todo mundo saiu de casa?
— O que tem isso?
— Agora que todo mundo está crescido, por que você não cuida de si mesmo? Tenha
sua própria vida. Você e Kelly continuam saindo. Por que não tornar isso permanente?
Ele balança a cabeça.
— Eu não a amo.
— Mas...
— Gosto dela. Somos amigos. Mas é isso. — Ele dá de ombros. — E ela está saindo
com alguém. Está ficando muito sério.
— Quando foi a última vez que vocês...?
Ele sorri.
— Ontem.
Reviro os olhos.
— Então não pode ser muito sério com esse outro cara.
— Só o fato de que há um outro cara significa que não é sério comigo. — Ele solta um
suspiro. — E eu não a amo. Isso é uma coisa que tenho certeza. Porque só o fato de
pensar na mulher que amo dormindo com outro homem deveria rasgar-me por dentro,
mas isso não acontece. Há algo de errado com isso.
— Ok. — Não sei mais o que dizer a ele.
— Então, com relação a April — ele fala.
— Não quero falar sobre ela.
Ele olha para mim.
— Que pena.
Paul é assim.
— O que você sugere?
— Ela está se casando, cara. É hora de encerrar com ela.
Balanço minhas mãos.
— Estou tentando.
— Você deve ir ao casamento. Tire tudo isso fora de seu sistema. Leve uma garota
sexy com você.
— Onde vou arrumar uma dessas?
Ele olha para mim como se eu tivesse ficado louco.
— Cara, você pode encontrar uma gostosa em qualquer lugar.
Talvez, eu esteja procurando nos lugares errados.
SKYLAR

P asso a segunda-feira inteira resolvendo questões referentes ao meu emprego. Tive


uma reunião com meu supervisor imediato, que fez o máximo para assegurar-me que
meu emprego não estava em perigo, que minha situação foi discutida durante a reunião
apenas como uma forma da diretoria descobrir se poderiam fazer algo mais para me
apoiar. Phillip é um babaca. E o pior é que quase acreditei nele.
Estou feliz por esta situação ter me obrigado a cortar os laços com ele, especialmente
quando me aproximo do bebedouro e o vejo próximo a uma novata. Ela parece um pouco
assustada ao me ver e, rapidamente, caminha para o outro lado.
Phillip começa a caminhar em minha direção, mas eu aceno para ele.
— Nem pense nisso — aviso e continuo andando.
Ele me segue por todo o caminho até o meu carro sem dizer uma palavra. Ele não fala
enquanto me observa colocar, atrapalhada, uma caixa de papéis no carro. Ele não se
oferece para me ajudar. Nem uma vez. Matt ficaria parado enquanto me observava lutar
com uma caixa? Algo me diz que não. Eu realmente não deveria comparar ninguém a
Matt, já que eu não o conheço bem.
— Você não vai mudar de ideia, não é? — Phillip pergunta, cruzando os braços sobre o
peito.
— Mudar de ideia sobre o quê? — pergunto, soprando o cabelo do meu rosto.
— Essas crianças — ele resmunga. — Vai ficar com elas.
Eu rio.
— Na verdade, eles é que vão ficar comigo — respondo.
— Nunca imaginei que você fosse burra.
Solto um gemido baixo. Seu rosto fica vermelho.
— A única burrice que fiz na vida foi sair com você. Babaca — falo baixinho, entrando
no caro. Dou a partida e saio, enquanto ele fica lá me olhando. Minha vontade é de
colocar a mão para fora e acenar com o dedo do meio. Mas sou mãe agora. Mães não
fazem espetáculos públicos, não é? Provavelmente, não. Resolvo fazê-lo em minha
cabeça. Ele deve ter pensado o mesmo, pois parece irritado.
Ligo o rádio em volume alto e dirijo pela cidade. Deveria me sentir mal por nossa
separação, mas não tenho o coração pesado. De modo algum. Na verdade, sinto-me
livre. Preciso que admitir que sinto um pouco de esperança. Tenho a sensação de que
Matthew Reed tem algo a ver com isso.
Deus! Acabei de terminar com alguém por quem achei que estava apaixonada. Não
deveria ter sentimentos por Matt. É muito cedo. Além disso, tenho muita coisa
acontecendo em minha vida para adicionar um novo namorado a ela. Que homem, em
seu juízo perfeito, iria querer a mim e meus três filhos? Bufo com esse pensamento
enquanto paro para pegar as meninas. Uma outra mãe torce o nariz para mim e se afasta
com seu filho rapidamente. Acho que mães também não devem bufar.
Seth disse a Joey e Mellie que eu iria buscá-las na escola hoje, mas não estou
completamente certa de que elas sabem o que está acontecendo quando paro na porta.
Joey se esconde atrás da saia da sua professora e Mellie coloca seu polegar na boca.
Abaixo-me e falo:
— Oi, meninas. — Meu tom é suave. Uma voz suave não irá assustá-las, não é?
Droga. Sou péssima com essa coisa de mãe.
— Sra. Morgan? — a professora pergunta. Liguei para ela semana passada e
conversamos ao telefone sobre nossa situação. Ela foi muito agradável e bastante
compreensiva.
Estendo minha mão.
— Senhorita — corrijo-a. Definitivamente não sou casada e parece que jamais serei.
Ela aperta minha mão e chega para o lado para que Joey saia de trás dela. As
meninas ainda estão no pré e a aula termina sempre no parquinho. Elas, aparentemente,
estão coladas uma à outra como cola. Será que isso é normal? Eu não saberia o que é
normal, a não ser que a normalidade mordesse minha bunda.
— Srta. Morgan, gostaria de fazer uma sugestão... — A professora faz uma careta.
Olho para ela. Joey e Mellie ainda não estão vindo em minha direção. Moramos na
mesma casa e, ainda assim, elas não criaram laços comigo. Joey puxa a saia da
professora e pergunta baixinho:
— Mamãe vem me pegar?
Sinto a dor me atravessar. Não sei como explicar a morte para elas. Seth também
não, aparentemente.
A professora se abaixa e fala:
— Conversamos sobre isso, não foi, Josephine?
Caramba, eu nem sabia que o verdadeiro nome de Joey é Josephine. Que tipo de mãe
eu sou?
Joey apenas pisca para ela.
— Mamãe se foi e não vai voltar — diz a professora.
Os olhos de Joey se enchem de lágrimas e passo pela professora para pegá-la. Ela
vem até mim, pesada e mole como um pano de prato úmido quando a levanto. Ela deita
a cabeça em meu ombro e se aconchega.
— Agradeceria se você não falasse assim da mãe delas — resmungo. Tenho certeza
de que a professora tem boas intenções. Mas, Deus, ela foi meio fria, na minha opinião.
— Elas precisam entender que ela se foi — diz a professora.
Levanto um dedo.
— Shh — assobio em uma advertência nítida. A professora franze os lábios.
— Mamãe não nos deixaria — diz Mellie. Ela dá um passo à frente e pega a minha
mão, os dedos molhados por estarem na boca, mas não me importo. Ela está me tocando
por vontade própria. Somos eu e as meninas contra o mundo.
— É isso mesmo — digo a ela. — Mamãe nunca iria deixá-las de propósito.
— Não lhes dê esperança de que ela vai voltar — adverte a professora.
— Shh — eu corto novamente.
Ela para de falar.
— Mamãe não pode voltar — explico. — Ela não queria ir, mas não teve escolha.
— Mamãe vai voltar — Mellie diz, calmamente.
— Mamãe ama muito vocês — eu lhes digo.
— As meninas precisam de roupas novas — a professora interrompe.
Eu me viro para encará-la.
— O quê?
— Seth vinha cuidando delas há algum tempo, então, eu não disse nada, mas suas
roupas estão ficando muito pequenas. Os sapatos de Mellie estão muito apertados, e as
calças de Joey estão cerca de cinco centímetros mais curtas. As crianças crescem, Srta.
Morgan. Muito.
Mordo minha língua, porque não consigo pensar em nada de bom para dizer, e sou
advogada há um bom tempo para saber que nenhuma resposta será adequada, tendo em
vista o que está em minha cabeça. Porque estou pensando que gostaria que ela fizesse
uma longa caminhada em um pequeno píer sobre o mar gelado.
Quando me transformei em um bárbaro?
— Obrigada por me avisar. Vou cuidar disso — respondo, mantendo a calma. Elas têm
que voltar para cá amanhã.
Olho para as meninas.
— Quem quer ir às compras? — pergunto.
Mellie me olha e sorri.
— Eu — ela fala.
Ouço um sussurro no lado direito do meu ouvido.
— Eu.
MATT

S ão quase sete da noite quando meu telefone toca. Estou finalizando a tatuagem de
um cliente no Reed’s, então, não posso atender. Friday se aproxima e faz um movimento
com a mão em direção ao meu bolso.
— Quer que eu atenda? — ela pergunta.
Levanto a pistola de tinta e fico de pé para que ela possa pegar o aparelho em meu
bolso.
— Por favor — eu digo.
— É melhor eu ter cuidado ou Paul vai ficar roxo de ciúmes — ela brinca enquanto
pega o aparelho em meu bolso.
Paul faz um barulho. Ele está tentando conquistá-la há mais tempo do que posso me
lembrar.
— Acho que ele está é verde de inveja — digo em voz alta.
— Se o verde é o novo roxo — ela brinca e pega meu telefone, colocando-o no ouvido.
Nós não tivemos telefone por muito tempo, porque simplesmente não podíamos pagar.
Mas, no último Natal, o pai de Emily comprou um aparelho para cada um de nós, já que
ele tem mais dinheiro que Deus e nada melhor para fazer com ele. Ele disse que era
muito difícil ter notícias nossas sem eles, mas acho que foi Emily que pediu para que
pudesse tomar conta de nós.
— Telefone do Matt — ela fala. — Oi, Seth — ela responde e franze o rosto. — Sim,
ele está aqui. Espere. — Ela pressiona o botão viva voz.
— Oi, Seth.
— Matt? — Seth parece um pouco sem fôlego.
— O que houve? — pergunto. Abaixo a máquina de tatuar e começo a retirar as luvas.
— Você falou com a tia Sky hoje? — ele pergunta.
— Não — eu respondo. Os pelos em minha nuca ficam imediatamente de pé. — Por
quê?
— Hoje ela foi buscar as meninas pela primeira vez, mas cheguei em casa e não tem
ninguém aqui. E está ficando tarde...
— Não falei com ela — eu digo. — Quer que eu vá até aí? — Já estou seguindo para a
porta da frente e Pete está assumindo com meu cliente.
— Ligue se precisar de nós — Paul fala. Como se ele tivesse que me lembrar. Aceno,
olhando para ele por cima do ombro e ele concorda.
— Ligou para o telefone dela? — pergunto.
— Sim, mas vai diretamente para a caixa postal. E as mensagens de texto que
mandei são entregues, mas não lidas.
— A bateria deve ter acabado, Seth — falo. Não estou preocupado. Bem, talvez um
pouco.
— Ela deveria ter me ligado para dizer onde está — ele murmura, e posso imaginá-lo
puxando seus cabelos em frustração.
— Provavelmente, ela achou que você não estraria em casa — eu digo. — Estou indo
aí para lhe fazer companhia. O que acha de uma pizza? — Adolescentes sempre gostam
de comer pizza.

Paro rapidamente no Rico’s para pegar duas pizzas e levá-las comigo. Quando chego ao
apartamento, vejo Sky tirando as meninas de dentro do carro, em frente ao prédio. Ela
tem várias sacolas de compras nas mãos.
— Precisa de ajuda? — pergunto.
Ela olha para cima e tira o cabelo do rosto com um assopro.
— Matt — ela fala, mas um pequeno sorriso no canto dos seus lábios aparece, e é o
suficiente para tirar meu fôlego. Ela tem namorado, idiota. Não tenha ideias. — O que
está fazendo aqui?
Sorrio.
— Seth me ligou em pânico quando viu que você não estava em casa — admito.
Seu rosto demonstra espanto.
— Oh — diz ela, franzindo a testa. — Por que ele se sentiria assim?
Dou de ombros.
— Ele estava preocupado.
Ela bate a porta do carro, mesmo que ainda tenha mais pacotes lá.
Olho pela janela.
— Deixe-me ajudar com isso.
Ela balança a cabeça.
— Pego mais tarde — diz ela. — Depois que eu acalmar Seth. — Ela olha com tristeza
para mim e levanta as sacolas. — Fomos às compras.
— Estou vendo — eu digo.
Vou até Mellie e me agacho. Ela sobe nas minhas costas e prende-se firmemente. Eu
me levanto e balanço com ela do jeito que faria com minha sobrinha e ela grita e ri.
Ainda estou com as pizzas em uma mão, então, coloco-as em cima do carro.
— Também quero — Joey pede, agarrada à minha perna.
Pego Joey e balanço-as em círculos.
Sky ri.
— Acho que elas gostam de você — diz ela calmamente. Há um olhar de desejo em
seu rosto.
Sou disputado pelas duas.
— Sim, elas gostam de mim. — As duas meninas gritam quando eu giro com elas
novamente. — Afinal — eu brinco —, o que há para não gostar? — Arqueio minha
sobrancelha para ela, brincando como se elas fossem uma mulher por quem eu estivesse
interessado. Mas não havia ninguém há muito tempo.
Seu rosto cora e ela fica linda. Mas não diz nada. Seus olhos viajam pelo meu corpo,
da cabeça aos pés, permanecendo em alguns lugares mais do que em outros. É interesse
o que vejo em seus olhos? Ela lambe os lábios e olha para longe.
— Cuidado — advirto calmamente.
Ela balança a cabeça como se quisesse que eu me calasse. Então eu faço-me calo. Por
enquanto.
Sigo-a para dentro do prédio com as meninas ainda agarradas a mim. Estou
segurando-as, além das pizzas, e elas gritam animadas enquanto entramos no
apartamento.
— Olha o que encontrei — digo em voz alta quando entramos na cozinha. Seth vira, o
rosto sério e ele começa a abrir a boca. Posso apenas imaginar o que está prestes a sair,
então, o corto. — Sua tia Sky foi legal e levou as meninas para fazer compras esta tarde
— falo. Encontro seus olhos e dou-lhe um aviso sutil para manter a boca fechada.
Ele me olha e inclina-se para dizer a Sky:
— Você poderia ter me ligado para que eu não me preocupasse.
— Achei que você não estaria em casa ainda. — Ela olha para o relógio. — Não queria
preocupá-lo, Seth — diz. Ela está sendo sincera. E sabe que o preocupou
desnecessariamente. — Sinto muito por isso — diz ela calmamente.
Dou uma olhada em Seth, e ele solta um suspiro. Ele caminha até ela e envolve-a em
um abraço estranho, como eu o vi dar em sua mãe uma centena de vezes. Ele a levanta
um pouco do chão.
— Fiquei preocupado com você também — ele explica.
Ela sorri e é lindo.
— Obrigada — diz ela. — Minha bateria acabou. Vou me certificar de deixar um
carregador no carro a partir de agora. Não estou acostumada a avisar onde estou a
ninguém. — Ela começa a colocar as sacolas no chão. — Levei as meninas para comprar
roupas — diz ela. Ela olha para Seth. — Espero que esteja tudo bem.
Ele parece um pouco envergonhado.
— A professora delas ficou falando sobre isso por uma semana.
— Meninas — ela chama. — Venham mostrar a Seth o que vocês compraram
enquanto vou descarregar o resto.
Seth olha para mim e, em seguida, para baixo, para os muitos embrulhos que estão
espalhados por todo o lugar.
— Tem mais? — pergunta ele.
Sorrio e passo a mão pelo rosto. Vi tudo o que estava na parte traseira de seu carro.
— Muito mais — eu digo. Sky caminha em direção à porta, e eu balanço o polegar na
direção dela. — Vou ajudar sua tia.
Ele sorri para mim.
— Ajudar? É assim que eles estão chamando isso agora?
Sky já saiu e eu realmente quero ajudá-la.
— Ela tem namorado — eu digo.
Ele balança a cabeça.
— Não mais. Ele terminou com ela ontem. Não foi bonito.
Então ela não tem mais namorado? Meu coração salta. Cacete.
— Ela chorou muito?
Ele balança a cabeça.
— Mas houve uma discussão estranha sobre orgasmos, sexo ruim e ele ser egoísta na
cama. — Ele estremece. — Muito mais do que eu queria ouvir.
— Muito mais do que você deveria estar repetindo também — advirto.
Ele agarra meu ombro.
— Você precisa de toda a ajuda que puder conseguir, cara — diz ele, dando-me um
aperto. Ele sorri.
Faço uma careta para ele, sem que Joey e Mellie vejam e sigo Sky. Ela ainda está
esperando o elevador, então, corro até ela e paro, um pouco sem fôlego. Não tenho
certeza se minha falta de ar é porque estou aliviado por ela não estar mais namorando
ou pela corrida, mas minha aposta é na primeira opção. E estou bem com isso.
SKYLAR

J esus, como ele é lindo! Matt está usando uma camiseta cinza e calça jeans, e seu
cabelo está preso com um elástico. Ele é tão alto que tenho que erguer a cabeça
para olhá-lo. Ele sorri para mim; está respirando com um pouco de dificuldade e, tenho
que admitir, eu também estou.
— Como foi seu dia? — ele pergunta. O elevador abre e nós entramos. Ele encosta o
quadril na caixa de metal e cruza os braços na frente do peito.
Corri do apartamento porque me senti emocionada. É lamentável que uma criança
possa me fazer perder o prumo só por ser bom para mim. Mas quando Seth me abraçou e
disse que ficou preocupado por eu estar atrasada, percebi que faço parte de uma família
e meu coração dobrou de tamanho. Em seguida, meus olhos se encheram de lágrimas e
tive que sair de lá antes que perdesse o controle.
Abro um sorriso sem graça para Matt. Queria que ele tivesse me dado alguns minutos
sozinha, mas agora é tarde. Vou parecer uma idiota na frente de um homem bonito.
A quem estou enganando? Ele é sexy demais! E estou prestes a começar a soluçar.
Por que fico chorosa toda vez que esse homem aparece?
— Sky? — ele pergunta baixinho. — O que está errado?
— Nada — murmuro. Limpo minha garganta, porque há um caroço do tamanho do
Texas nela.
Ele caminha em minha direção e toca o meu queixo com os dedos suaves, inclinando
meu rosto para ele.
— Então por que você está chorando?
— Porque sou uma garota — falo baixinho, como se isso fosse desculpa.
— Mentirosa — diz. Ele segura meu rosto com a palma da mão, as pontas dos dedos
acariciando a pele na frente da minha orelha, para frente e para trás.
— Você vai achar que é besteira — eu digo.
— Tente — ele atira de volta.
— Não. — Fungo e balanço os ombros. — Estou bem, de verdade. Não é nada.
As portas se abrem no térreo e nós saímos, mas em vez de caminhar em direção às
portas da frente, ele pega a minha mão e me puxa para a escada. Fecha a porta, senta-
se no primeiro degrau e dá um tapinha no local ao seu lado.
— Faça uma pausa por um segundo.
Cautelosamente, me sento ao lado dele. Ele se aproxima até que seu quadril toca
meu. Afasto-me, mas ele se aproxima ainda mais. Olho para cima, e não posso deixar de
sorrir para ele.
— Você está em meu espaço — eu advirto.
— Gosto de estar em seu espaço. Eu meio que quero ficar no seu espaço — diz ele
com a voz brincalhona e provocante. Mas então, ele dá um tapinha no ombro. — Deus
não me deu ombros largos apenas para segurar minhas camisetas. — E usa a mão para
empurrar minha cabeça em seu ombro. Ele fica quieto por um momento, mas então, fala:
— Deixe-me segurar um pouco do seu fardo, Sky. Me diga o que há de errado.
Ele senta-se calmamente e apenas respira. Não diz mais nada. Sento-me lá e sinto
seu cheiro. É viril e limpo. É Matt, e gosto disso. Não quero mais chorar. Quero subir em
seu colo e beijá-lo.
— Oh, Deus — solto um gemido.
— Não. Sou apenas Matt — diz ele com uma risada.
Soco seu ombro de brincadeira. Ele finge cair para o lado, mas aproxima-se ainda
mais.
— É por causa do seu namorado? — ele pergunta em voz baixa.
Balanço a cabeça. Eu tinha quase me esquecido de Phillip.
— Não — começo. Mas não consigo formar uma frase. — Não importa.
Ele se endireita calmamente, e então começa a assobiar. Ele não vai me deixar ir sem
uma explicação.
— É só que eu nunca tive uma família. — Não. Eu disse isso. Agora, ele pode sentir
pena de mim. — Então, quando Seth ficou preocupado, não apenas com suas irmãs, mas
comigo também, fiquei um pouco emocionada. — Dou de ombros. Parece ainda mais
estúpido agora que saiu da minha boca. — É isso. Sei que é besteira.
Ele não diz nada. Apenas balança a cabeça.
— Só estou tendo um pouco de dificuldade em encontrar o meu lugar nesta situação.
Mas acho que estou conseguindo.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Então esse era um choro bom? — ele pergunta.
— Sim, era um choro bom. — Um sorriso surge do canto dos meus lábios, embora eu
ainda esteja balançada.
— Certo — ele fala com um aceno de cabeça. E dá um tapinha no ombro. — Quer
chorar um pouco mais? Eu meio que gosto quando você me toca. — Ele sorri e abre os
braços em convite. — E sou realmente bom em abraços também.
Mordo o lábio inferior tentando não rir.
— Vou fingir que é uma tarefa árdua se isso fizer você se sentir melhor. Posso até
gemer em voz alta.
Desta vez eu rio. Não consigo segurar. Ele é tão doce.
— Isso é um não? — ele pergunta.
— Geralmente, não sou assim tão emotiva.
Ele dá de ombros.
— Todas as mulheres dizem a mesma coisa. Isso, geralmente, precede um surto.
— Está me chamando de louca?
Ele balança a cabeça com veemência.
— Definitivamente, não. — Ele sorri. — Posso usar várias palavras para descrevê-la,
mas louca não é uma delas.
Agora estou intrigada.
— Diga.
— Você é incrivelmente linda — ele fala. Seus olhos passeiam pelo meu corpo.
Sinto minha bochecha esquentar.
— E você é inteligente. Leal. E é corajosa, cuidando de três crianças que não são
suas.
Gosto do fato de que ele me acha inteligente. E leal.
— E você não é minha. — Ele se levanta e estende a mão para segurar a minha. —
Então, acho melhor sairmos da escada antes que eu faça algo estúpido como beijar você.
Ele me puxa para cima, e passo a mão minha bunda para me limpar, tentando
descobrir o que fazer.
— Você quer me beijar?
— Mais do que qualquer coisa — diz, rapidamente.
Sorrio e olho para longe dele.
— Bom. — Abro a porta da escada e passo.
— O que isso quer dizer? — ele pergunta, me puxando de volta.
— Nada. — Meu coração está muito mais leve do que estava há poucos minutos.
Provavelmente, porque existem cerca de um milhão de borboletas vibrando ao redor do
meu estomago. — Estou feliz por você querer me beijar, só isso. — Dou de ombros
novamente.
— Então eu posso? —pergunta baixinho. Ele está me seguindo para a rua em direção
ao meu carro. Aperto o botão do alarme para que eu possa abrir a porta. Começo a puxar
as sacolas de compras.
— Pode o quê? — pergunto.
Ele sorri.
— Você sabe.
Minha voz sai em um sussurro.
— Você pode ter que soletrar para mim, Matt.
— E-U-Q-U-E-R-O-T-E-B-E-I-J-A-R — ele soletra, rindo.
Rio também.
— Bom — falo novamente. Pego o último pacote. Ele está carregando a maioria deles,
por isso, a minha carga é bastante leve. Passo por ele e fico na ponta dos pés, beijando-o
muito rapidamente na bochecha. — Obrigada por me ajudar com as sacolas. E pela pizza.
E por vir correndo quando Seth ligou. Espero que ele não tenha arruinado sua noite.
— Você pode deixá-la melhor — ele fala.
Não consigo tirar o sorriso do rosto.
— Você vem? — pergunto.
Ele levanta as sacolas como se não tivesse outra escolha.
— Fuja enquanto pode, Sr. Reed — eu digo, e tento pegar uma sacola dele.
— Acho que não — ele responde.
Meu estômago dá um nó novamente e, sem conseguir evitar, me pergunto onde isso
vai nos levar.
MATT

S uas bochechas estão coradas e ela evita olhar para mim no elevador. Deixei-a seguir
na minha frente pelo corredor, pois ela tem bunda mais bonita e perfeita que já vi e
quero uma desculpa para olhar. Ela está usando um terninho com saia lápis, saltos e um
bonito top.
Ela olha por cima do ombro para mim e morde o lábio inferior, o rosto parecendo
ainda mais otimista. Fico duro imediatamente. Se ela não parar com isso, vou ter que
fazer uma pausa no corredor até que possa entrar. Respiro fundo e paro de olhar para
sua bunda. Em vez disso, olho para as sacolas de roupas que ela me entregou. Elas estão
enfiadas em meus braços, e tenho caixas de sapatos empilhadas nas mãos.
— Comprou a loja toda? — pergunto quando ela abre a porta.
Ela mostra quatro dedos.
— Fui em quatro lojas. Meninas usam muitas coisas. — Ela encolhe os ombros e diz:
— Comprei algumas coisas para Seth também. Só espero que sirvam nele. Tive que
adivinhar o tamanho.
Ele vai adorar isso. O garoto não teve ninguém para cuidar dele em um longo tempo.
Tenho a sensação de que ela poderia ter comprado um casaco de pele cor de rosa e ele
ficaria orgulhoso só porque foi presente.
— Tenho certeza de que vai dar certo.
Ela abre a porta, e eu começo a me livrar dos pacotes. Uma sacola pesada, cheia de
jeans, deixou marcas em meus pulsos. Viro-o para que ela veja.
— Veja o que sua viagem de compras fez comigo — falo brincando.
Ela pega a minha mão na sua e vira meu braço, avaliando de perto. Suas mãos são
macias, e as unhas, cuidadas com perfeição. Ela arrasta o dedo indicador em meu pulso.
— Sinto muito, Matt. Olhe para você: está ferido — Ela ri alto. Sua risada é tão linda.
Não é nada contida. Caramba, adoro isso, especialmente quando ela inclina a cabeça
para trás e, em seguida, começa a rir tanto que até bufa, mas isso só a faz rir ainda mais
alto.
— O que posso fazer para me redimir com você? — ela pergunta.
Levanto o pulso.
— Dar um beijinho para sarar? — sugiro.
Ela segura minha mão e pressiona os lábios em minha pele. Sinto medo de que eu vá
derreter ali mesmo em seu tapete, mas assim que seus lábios me tocam, é como se ela
estivesse soprando uma leve brisa em minha pele. Solto uma risada e a seguro, puxando-
a para mim.
Mas então, uma criança nua sai correndo do banheiro. É Mellie, e eu cubro meus olhos
enquanto ela corre. Seth corre atrás dela, carregando uma toalha. Ele rosna para a irmã
de brincadeira e ela corre se esconder atrás do sofá. Ela passa por mim e consigo agarrá-
la, segurando seu pequeno corpo nu e molhado longe. Caramba, mas ela está
escorregadia. A garotinha ri e sacode os pés, chutando descontroladamente, e faço o
possível para segurá-la.
— Vem cá, garota — Seth rosna e envolve Mellie em uma toalha. Ela ri por todo o
caminho pelo corredor até que ouço a porta fechar.
Sky coloca a mão no meu peito.
— Está todo molhado — diz ela, balançando a cabeça.
— Tudo bem — falo, afastando sua preocupação. — É só um pouco de água. — Eu
esfrego minhas mãos. Elas ainda estão escorregadias. — E sabão. — Rio.
— Deixe-me pegar uma toalha — ela fala e vai em direção à cozinha. — Ainda estou
aprendendo onde as coisas estão. — Ela abre várias gavetas até finalmente encontrar
uma toalha de mão e a entrega para mim. — Sinto muito por ela ter deixado você todo
molhado. Isso sem mencionar a corrida pelada pela casa.
— Você está brincando? — pergunto. Cara, amo essas coisas. Perdi essa comoção em
minha própria casa desde que os meninos mais novos se foram. — Está bem.
— Eu lhe daria uma camiseta para trocar, mas não tenho nada do seu tamanho — diz
ela, fazendo uma careta. — Desculpe-me.
Faço um movimento para puxar a camiseta sobre a cabeça e seus olhos vão direto
para o meu abdômen, arregalando-os quando vê a tatuagem à esquerda do umbigo.
— Uau — ela murmura e cobre a boca com a ponta dos dedos.
A tatuagem é um sapo verde. Mas não é qualquer sapo. Meu irmão, Logan, é um
artista incrível e foi quem a desenhou para mim. É um sapo sobre uma almofada de lírios
com flores que flutuam ao seu redor. Em cima da cabeça do animal, há uma coroa de
espinhos. Eu realmente a amo, mas me sinto cru e exposto agora que ela viu.
— Quer beijar o meu sapo? — pergunto, jogando com a sorte.
Ela lambe os lábios.
— Não faça isso — advirto. Minha voz soa rouca até para mim.
— Isso o quê? — ela sussurra.
Vou em sua direção, olhando muito rapidamente pelo corredor para ver onde as
crianças estão.
— Não lamba os lábios para mim, Sky — eu digo.
Ela faz isso de novo.
— Oops — ela sussurra, mas está sorrindo.
Quero beijá-la, mas preciso saber onde estou pisando.
— Onde está seu namorado? — pergunto. Sei que Seth disse que eles terminaram,
mas quero ouvir isso dela. Não vou tocar em alguém que namora outra pessoa. Tive
desgosto suficiente nessa área para uma vida inteira
— Que namorado? — ela pergunta.
— Não me dê esperança se não houver nenhuma — falo e sorrio. Mas estou falando
sério. Totalmente sério.
— Nós terminamos.
— Você está devastada? — Quero saber como ela está se sentindo.
— Exultante — diz ela.
Graças a Deus. Um arrepio percorre minha espinha, pois eu estou seriamente
interessado nesta mulher. — Tem certeza de que as coisas acabaram?
— Absoluta. — Ela balança a cabeça. Seus olhos não deixam os meus.
— Vou fazer você se apaixonar por mim — aviso.
— Você pode tentar — diz ela calmamente.
Inclino-me e beijo sua bochecha, muito rapidamente, pouco antes de Mellie correr
para a sala. Ela derrapa até parar aos meus pés, deslizando para dentro do cômodo em
seu pijama. Ela agarra minhas pernas com um braço e desliza a palma da mão na mão
de Sky, que afasta uma mecha de cabelo do rosto de Mellie. O olhar, que eu não
esperava, é suave em direção à pequena garota.
— Alguém quer jogar boliche no Wii? — Seth pergunta enquanto caminha até a
cozinha. Ele olha de Sky para mim. — O que eu perdi? — ele pergunta.
— Trouxe um monte de coisas para você da loja. Por que você não dá uma olhada? —
ela pergunta.
Sua testa franze.
— Trouxe algo para mim? — Ele sorri e corre para vasculhar as bolsas.
Ele é um adolescente, e eu tenho experiência com esses ogros. As meninas, nem
tanto. Quando Sky não está olhando, bato em seu ombro e falo:
— Mesmo que você não goste, finja que gosta. Não fira os sentimentos dela.
— Você está brincando? — ele pergunta, levantando uma camiseta. — Essa é ótima!
— Ele pega os sapatos, experimenta e eles cabem. Ela comprou um Van’s, logo, não
poderia dar errado. Ele adorou. — Você não deveria, tia Sky — ele fala.
Seth levanta e vai até ela, que sorri de orelha a orelha. Ele se aproxima e a abraça.
— Obrigado — ele fala.
— Tenho que me acostumar a essa coisa de abraço — ela fala.
— Por quê? — ele pergunta, parecendo confuso. Acho que Sky não costumava receber
muito carinho quando criança.
— É só que... não é algo que estou acostumada — diz ela.
O rosto de Seth demonstra espanto.
— Quer que eu pare? — ele pergunta. — Abraçava minha mãe o tempo todo.
— Se você parar, vou ter que puxar sua orelha, fazer você usar um chapéu engraçado
na escola ou algo assim. Droga, não sei como torturá-lo, mas vou encontrar algo. — Ela
ri, mas posso dizer que está desconfortável.
Ele passa o braço em torno do ombro dela de novo e a aperta. Ela resmunga e ele ri.
— Você é como um rato pequeno — diz ele. — Você sussurrar quando você está com
raiva também?
Ela dá um soco em seu ombro.
— Você vai descobrir se me irritar.
Sky tira os sapatos e anda pela casa de meias. Ela pega uma fatia de pizza e vai se
sentar no sofá. As crianças começam um jogo de boliche no Wii e a convidam para jogar.
— Nunca fiz isso antes — ela avisa.
— É fácil — diz Seth. Ele faz um gesto para a frente. — Vamos. Vou te mostrar.
Ela se levanta, sorrindo, e vou para frente da TV diminuir o som. Sky leva o braço
para trás enquanto eu volto para o sofá e, de repente, o controle voa para fora de sua
mão e bate diretamente no meu nariz.
— Ugh!
Sky coloca a mão sobre boca e geme. Mas então, ela corre até a mim quando vê o
sangue escorrendo pelo meu rosto. Entro na cozinha, porque não quero deixar cair
sangue no tapete.
— Ah — murmuro quando vejo que as crianças não nos seguem. Ela me senta em
uma cadeira e coloca uma toalha debaixo do meu nariz. — Isso dói bra cabete. — Minha
voz sai como se meu nariz estivesse entupido, mas o sangue ainda está pingando, então,
aperto o nariz.
— Sinto muito — ela fala, se ajoelhando na minha frente. Ela descansa os braços em
minhas coxas.
Posso sentir o cheiro da pizza que ela comeu e eu realmente, realmente quero beijá-
la, mas tenho sangue por todo o rosto e mãos.
— Sinto muito — diz ela novamente. — Não sabia que ele iria voar da minha mão
desse jeito.
— Você brecisa abarrar ele no bulso — falo.
— Tenho que amarrá-lo no pulso? — ela repete.
— Para impedi-lo de voar.
— Merda — diz ela novamente. — Sinto muitíssimo.
Ela já disse isso.
De repente, ela se levanta e vai pegar uma toalha molhada. Ela limpa delicadamente
minhas mãos e debaixo do meu nariz, que dói pra cacete. Empurro a cabeça para trás,
mas ela continua limpando.
— Acho que o sangramento parou — diz ela. Mas eu a deixo continuar a me cutucar
só porque gosto de tê-la tão perto. — Quer um pouco de gelo?
Sim, mas preciso dele para o meu pau e não para o nariz.
— Bor fabor — eu digo. Seu rosto está a poucos centímetros do meu. Mas em seguida,
ela vai para a geladeira e volta com um pequeno saco de gelo. Ela, provavelmente,
ficaria ofendida se eu o empurrasse em minhas calças, então, coloco-o contra o nariz.
Apoio o queixo com uma mão e seguro o gelo com a outra.
— Eu realmente não queria bater em você — diz.
Ela parece tão preocupado que tenho medo que comece a chorar. Cara, vivi com
quatro irmãos. Tive mais hemorragias nasais do que posso contar.
— Bou sobrebiber — falo.
Ela se inclina e beija minha bochecha. Quero virar a cabeça e pressionar meus lábios
nos dela, mas não faço.
— Vai be dar um beibinho para sabar?
Ela ri e vira a cabeça, fechando os olhos. Sua risada é tão bonitinha. Ela estremece.
Levanto minha camisa e limpo a ponta do nariz, uma vez que ela pegou minha toalha
molhada. Quando faço isso, seus olhos vão para o meu sapo, e ela se inclina e aperta os
lábios nele. Ela me olha, os olhos azuis arregalados enquanto seus lábios ficam ali por
um segundo. Então, ela levanta e sorri.
— Pronto. Estão melhores?
Porra nenhuma. Estamos apenas começando.
Seth enfia a cabeça na sala. Ele sorri para mim e balança a cabeça.
— Cara — diz. Ele ri. — Essa é a coisa mais triste que já vi.
Tiro o gelo do nariz.
— Dão ri de bim. Bou chutar seu traseiro no boliche, Seth. — Sigo-o para a sala, pego
um controle e tento fingir que ela não balançou meu mundo.
SKYLAR

E stou tão ligada no jogo que sequer percebo o quanto está tarde até que Mellie sobe
em meu colo e adormece. Sei que ela está dormindo, porque sinto a baba escorrer pela
minha perna. Sento-me com cuidado para não a empurrar e puxo-a para os meus braços.
Ela emite um murmúrio sonolento ao lado da minha orelha e se aproxima mais. Respiro
fundo e aproveito, porque esses momentos são raros.
— Certo — diz Matt, agachando-se para desligar o Wii. — Acho que já jogamos
bastante por uma noite. — Ele empurra o ombro de Seth, que o empurra de volta e eles
brincam de brigar no chão. Ele fica sobre Seth e sorri. — Como foi o treino hoje?
Seth se senta e passa a mão pelos cabelos.
— Tudo bem. Teremos um treino aberto na quarta à noite. — Ele olha para Matt. —
Quer ir assistir?
Matt se deita no chão, agindo como se estivesse sem fôlego depois da luta, mas acho
que ele ficou chocado com a pergunta de Seth. Ele pega a bola e começa a lança-la no
ar, pegando-a de volta.
— A que horas? — ele pergunta.
Seth dá de ombros, como se não se importasse.
— Sete, eu acho — ele fala. — Então, você quer ir?
Matt senta-se e acena com a cabeça.
— Se estiver tudo bem para sua tia — diz ele. Matt pisca para mim quando Seth não
está olhando. Mas ele vê e balança a cabeça.
— Pare de paquerar minha tia, cara — ele fala.
— Não é paquera. É... — Ele para e olha para mim. — Droga, não sei como chamar
isso. — Ele parece um pouco desconfortável. Então, ele lança a bola no peito de Seth,
que cai de costas no chão, segurando a barriga.
Joey anda até ele e se senta na barriga de Seth, saltando e rindo enquanto ele geme.
— Por que você ainda está acordada? Já passou da sua hora de dormir.
Ele pega as mãos dela e se levanta, jogando-a sobre o ombro. Ela grita. Ele vem até
mim e a balança na frente do meu rosto.
— Dê um beijo de boa noite na tia Sky — diz ele.
Ela se inclina para frente, toma o meu rosto em suas mãos e beija minha bochecha.
— Boa noite, tia Sky — diz ela calmamente.
Seth aponta para o meu colo.
— Volto em um segundo para pegar essa daí — diz ele.
— Deixe que eu levo — respondo. Levanto-me e carrego Mellie suavemente em meus
braços. Ela se aconchega mais perto de mim, e percebo que ela está suando contra meu
corpo quando sinto o ar refrescante tocar minha pele. Mas eu não trocaria isso por nada.
Seth dá de ombros.
— Tem certeza? — pergunta ele, inclinando a cabeça para o lado.
Concordo com a cabeça e sorrio para ele.
— Se você não se importar, gostaria de colocá-las na cama.
Seth balança a cabeça em direção ao quarto das meninas.
— Claro — diz ele tranquilamente e segue nessa direção.
Ele puxa as cobertas e balança Joey como se ela fosse um avião, fazendo um zumbido
com a boca até colocá-la sobre os lençóis. Ela ri e ele se inclina para beijar sua bochecha.
— Boa noite — diz ele.
Então, ele vem e me ajuda a colocar Mellie, que mal se movimenta enquanto a cubro,
na cama. Dirijo-me para a porta, mas Joey chama e volto-me viro.
— Tia Sky? — ela chama.
Olho para ela e volto para o quarto. Ela parece confortável debaixo de seus
cobertores e não consigo pensar em nada que ela possa precisar.
— Precisa de algo?
— Ela vai fazer você ficar aqui o máximo que puder, pedindo beijos, água e tudo o
mais que ela não precisa — Seth adverte. Ele aponta o dedo para ela e fala: — Vá
dormir.
Vou até a cama e sento-me na beirada, dobrando os cobertores ainda mais
firmemente em torno dela. Ela coloca o braço para fora, apoiando a mão no meu
antebraço.
— Se você vir minha mamãe — ela sussurra —, pode dizer que falei boa noite?
Meu coração se aperta e tenho que fechar os olhos e respirar fundo. Quando me sinto
um pouco mais controlada, sussurro em seu ouvido.
— Você pode conversar com a mamãe sempre que quiser. Ela vai ouvi-la. Assim, você
mesma pode lhe dar boa noite. — Aperto seu nariz de brincadeira.
— Ela pode me ouvir? — sussurra.
Eu aceno.
— Ela pode ouvi-la, mesmo que não esteja mais aqui. — Pisco meus olhos
furiosamente para tentar controlar as lágrimas que estão muito perto de cair. Quando me
transformei numa chorona? Ao mesmo tempo em que me tornei mãe, aparentemente. —
Ela nunca vai deixar você. Eu juro.
— Vou falar com ela, então — diz. Ela sorri e se acomoda no travesseiro, fechando os
olhos.
— Boa noite — sussurro e beijo sua testa, demorando-me por um momento para
sentir seu cheiro de menina.
Seth está esperando por mim no corredor quando eu saio.
— Uau — ele respira.
— O quê? — pergunto. Evito seu olhar, pois ele se parece com alguém que teve seu
tapete puxado.
Ele balança a cabeça.
— Às vezes parece tão fácil seguir em frente sem ela e, em outros momentos, as
memórias e todas as pequenas coisas sobre ela simplesmente nos inundam, sabe?
Não sei. Nunca tive alguém que me amasse como a mãe dele o amou. Não sei o que
é perder a sua âncora ou flutuar, de repente, sem rumo.
— Você também pode falar com ela — eu digo. Ele me segue para a cozinha. — Ela
ainda está aqui para você.
Ele balança a cabeça novamente.
— Gosto de pensar que sim, mas não tenho certeza se acredito nisso. — Ele solta um
suspiro. — Às vezes, me sinto um pouco sozinho.
Meu coração afunda. Achei que, finalmente, estávamos chegando a algum lugar, mas
talvez eu não seja capaz de lhe dar o que ele precisa.
— Vou tentar com mais empenho — falo.
Ele me puxa para seus braços e me aperta, seu antebraço envolvendo minha cabeça
novamente naquele abraço desajeitado. Mas eu gosto.
— Tudo bem? — Matt pergunta da porta. Ele arqueia uma sobrancelha para mim.
Dou um passo para trás e tiro meu cabelo do rosto.
— Tudo bem — respondo, sorrindo para ele. Nãos sei porque, mas é natural ver Matt
por perto. Temos um tipo ímpar de química, que faz minha barriga vibrar, mas me
conforta ao mesmo tempo. Sinto-me em paz com ele. Não consigo definir o que é, mas
quero muito mais.
Ele caminha até Seth e passa o braço em volta da cabeça do menino, prendendo-o e
lhe dá uma espécie de cascudo suave. Seth o empurra, mas ele está sorrindo.
SKYLAR

— V ou para a cama — diz Seth.


— Já? — pergunto e olho para o meu relógio. — É cedo ainda.
Ele olha rapidamente para Matt, que abaixa a cabeça e sorri.
— Estou cansado — ele responde e finge um bocejo. Ele está sorrindo, e Matt coloca a
mão furtivamente sobre a boca para esconder o próprio sorriso. Seth beija minha testa,
dá um soquinho na mão de Matt e vai para o quarto.
Não sei o que fazer sozinha com Matt, então, começo a colocar a louça na máquina de
lavar. Matt pega pratos e copos na mesa e me ajuda.
— Cuidado, ou vou me acostumar a ter você por perto — falo brincando.
Ele olha diretamente nos meus olhos.
— Ótimo. É isso que eu quero.
Minha respiração acelera e tenho que me virar para não ficar de frente para ele.
Coloco as mãos sobre o balcão e pego um fôlego. Mas então, sinto o corpo de Matt por
trás de mim. As mãos dele se apoiam no balcão ao lado das minhas, seus braços
envolvendo meu corpo. Posso senti-lo desde o alto da minha cabeça até os calcanhares
de tão perto que ele está.
— Já está apaixonada por mim? — ele sussurra em voz baixa.
Um sorriso aparece no meu rosto e fico feliz que ele não pode vê-lo.
— Não — respondo, engolindo o nó em minha garganta.
Ele afasta os cabelos da parte de trás do meu pescoço e me beija. De repente, sinto-
me feliz por ele estar atrás de mim, porque meus joelhos estão bambos. Seus lábios são
suaves e quentes, mas insistentes. Ele beija a lateral do meu pescoço e eu inclino a
cabeça, porque é gostoso pra caramba.
— Um dia, você vai querer se casar comigo — ele murmura.
— Você é muito seguro de si mesmo. — Minha voz falha só um pouquinho. Sinto-me
orgulhosa disso.
— Humm humm — ele murmura, e seus lábios deslizam suavemente para o outro
lado do meu pescoço.
De repente, ouço um barulho atrás de nós e Matt salta para longe. Ele está do outro
lado da cozinha em um segundo. Viro-me e olho para cima para encontrar Seth parado
na porta. Ele olha de mim, para Matt e de volta para mim, encarando-me. Finalmente,
ele bufa e fala:
— Cara, você deveria beijá-la logo. Jesus. — Ele caminha até a geladeira, pega uma
garrafa de água e, então, sai da cozinha.
Matt sorri.
— Acho que está na hora de ir embora.
— Não — falo rapidamente. Fecho os olhos. Quando os abro, ele está me encarando
atentamente. — Quero dizer, se você precisa ir, tudo bem. Mas se quiser ficar mais um
pouco...
— Quero ficar — diz ele rapidamente.
— Quer uma cerveja? — pergunto. Acho que ainda tem algumas na geladeira.
— Não — diz ele. — Obrigado.
Encho uma taça de vinho, ocupando minhas mãos.
Ele pega uma garrafa de água e me segue para o sofá. Sento-me em uma ponta, e
ele, na outra. Está muito, muito longe, na minha opinião, mas muito próximo ao mesmo
tempo. Estou ficando louca?
Coloco meus pés para cima do sofá, meus joelhos voltados para a TV, e Matt olha
para as minhas pernas. Puxo um pouco minha saia. Ele geme e coloca a cabeça para
trás, mas está sorrindo.
— Você não sabe como é difícil ficar sentado aqui, enquanto você está aí — ele fala.
— Sei, sim — admito.
Seu olhar encontrar o meu.
— Você está sentindo isso também? — ele pergunta. Seus olhos são tão azuis e tão
profundos que quero mergulhar neles e ficar lá. Jamais tire os olhos de mim, Matt.
Aceno e mordo o lábio inferior para não sorrir.
— Por que você não tem namorada, Matt? — pergunto. E eu realmente quero saber,
pois é incompreensível para mim que ele seja solteiro. Ele é bonito e tão gentil.
Ele sacode o dedo para mim.
— Eu tinha — ele fala.
Me acomodo no sofá e viro, para que meus pés fiquem apontados para ele, minhas
pernas, estendidas. Meus pés quase tocam sua coxa. Então, ele levanta meus pés e
desliza para debaixo deles, chegando mais perto de mim.
— Fui apaixonado por uma garota. Por muito tempo.
— O que aconteceu com ela? — pergunto. Ele começa a fazer cócegas em meus
dedos, e depois, as pontas dos dedos passam pela parte superior do meu pé. É uma
carícia suave e é tão bom que não quero que ele pare. Seus dedos me acariciam
distraidamente quando ele começa a falar.
— Quando recebi o diagnóstico — diz ele —, ela não pôde lidar com a notícia.
— Câncer? — pergunto.
Ele balança a cabeça. Seus dedos se arrastam para cima e para baixo em minha
canela, e ele desliza a mão para acariciar a parte de trás do meu joelho. Eu não o
detenho quando sua mão desliza para baixo da minha saia, embora eu fique tensa. Ele
sorri quando encontra a barra da minha meia e abre o pequeno clipe que a prende às
ligas. Ele repete a ação do outro lado, suas mãos provocando a pele sensível da minha
coxa enquanto rola a meia para baixo. Ele a puxa pelo meu pé e faz o mesmo com o
outro lado. Estou realmente feliz por ter me depilado esta manhã. Mexo os dedos dos pés
para ele, que começa a acariciar-me novamente. Não quero que ele pare nunca.
— Está tudo bem? — Ele pergunta. Mas não está olhando para o meu rosto. Está
olhando para minhas pernas.
— Sim — respiro. — Continue falando. Você foi diagnosticado...
— Fui diagnosticado e o prognóstico não era bom. Passei pela quimioterapia e fiquei
um pouco melhor. Mas então, precisei de uma segunda rodada. As coisas não pareciam
boas e estávamos completamente sem dinheiro. Eu não podia mais trabalhar no estúdio
de tatuagem porque o meu sistema imunológico estava muito fraco, então eu não tinha
fonte de renda. Estava pobre, doente e ela não me amou o suficiente para percorrer esse
caminho comigo. — Ele dá de ombros, mas seu rosto está sério. — Ela me traiu com meu
melhor amigo. — Ele dá de ombros novamente. — E esse é o fim dessa história triste.
— Você ainda a ama? — pergunto. Eu não respiro, esperando por sua resposta.
Ele balança a cabeça e olha para cima.
— A amei por um longo tempo. E não quis um relacionamento com outras pessoas.
Não saio com ninguém desde que terminamos. Mas não estou apaixonado por ela. Sei
disso agora.
— Por que agora? — pergunto.
Ele olha diretamente nos meus olhos e fala:
— Porque eu te conheci e estou muito esperançoso de que você queira algo sério
comigo. Sei que nós acabamos de nos conhecer e tudo mais, mas eu estava falando sério
sobre fazer você se apaixonar por mim. — Ele ri. — Então, você me bateu no nariz esta
noite, e eu soube que tinha que ser.
— O quê? — Não faço ideia do que ele está falando.
— Quando meu irmão, Logan, conheceu Emily, ela lhe deu um soco na cara. E quando
Pete e Reagan começaram a namorar, ela bateu-lhe no nariz. — Ele toca seu nariz
suavemente. — Então, quando você me bateu hoje à noite, eu soube que era para ser. —
Ele sorri. — Espero que você se sinta da mesma maneira, porque eu realmente quero ver
onde isso vai dar.
— Então as mulheres por quem seus irmãos se apaixonaram os machucaram e então
eles souberam que era pra valer?
— Nós meio que temos uma regra. Se uma mulher lhe der um soco na cara, você tem
que se casar com ela. — Ele ri.
— Não o soquei.
— Não tem problema — ele fala. — A regra é nossa, eu decido isso.
Coloco minha taça de vinho sobre a mesa lateral quando percebo que está vazia.
— Mas quero falar algo com você — ele fala. Seu tom é calmo e sério e ele para de
esfregar minha perna. Sua mão envolve meu tornozelo.
— Ok — eu digo, hesitante
— Por causa da quimioterapia, minhas chances de ter filhos são escassas. — Seus
olhos estão cheios de dor. — Provavelmente, não há chance nenhuma. — Ele sacode o
polegar em direção ao corredor. — Você estaria satisfeita só com três filhos?
Arqueio minha cabeça e começo a rir.
— Você acha que preciso de mais do que três?
— Só quero ser completamente honesto com você. Não vou conseguir engravidá-la.
Então, se você quiser ter um bebê, não sou o cara certo para você e não quero alimentar
esperanças.
Faço um gesto para seu colo.
— Tudo... funciona? Certo? — Minhas bochechas coram. Ele levanta meu pé e o
pressiona mais perto de seu zíper.
— Tudo funciona — diz ele em voz baixa. Ele está totalmente duro contra a lateral do
meu pé, e sinto que meu rosto está em chamas de vergonha, mas ele não parece se
importar.
— Tenho uma pergunta para você — falo. Nem sei como expressar isso, mas tenho
que perguntar. — Meus filhos — falo —, não têm cabelos loiros e olhos azuis. Isso seria
um problema para você?
Estamos colocando o carro na frente dos bois totalmente, e me sinto estúpida por
estar fazendo essa pergunta a um homem que acabei de conhecer, mas eu gosto dele.
Gosto muito dele.
— Seus filhos são perfeitos — diz ele. — Eu ficaria honrado em passar tempo com
eles.
— Mas, bem... — Coloco as mãos no rosto. Não consigo tirar o que Phillip me disse da
cabeça. — Mas... você se sentiria bem em sair com eles em público e as pessoas
pensarem que eles são seus? E meus? — Faço um gesto com a mão de mim para ele. —
Não que eu queira te dar meus filhos, mas somos uma espécie de pacote.
— Eu gosto do pacote — diz ele. — E ficaria honrado se qualquer pessoa no mundo
pensasse que essas crianças são minhas quando nosso relacionamento chegar a esse
ponto.
— Isso é um relacionamento? — pergunto. Estou sorrindo como uma tola.
— Ainda não — diz ele. — Agora, sou apenas um cara louco que você acabou de
conhecer, que tirou suas meias e quer tocar seus pés. — Ele olha para os dedos dos meus
pés e os acaricia. Depois, me olha nos olhos. — Agora você já se apaixonou por mim? —
ele pergunta. — Você me bateu na cara, então sou obrigado a casar com você em algum
momento.
Lanço minhas mãos para cima.
— Ou podemos simplesmente sair — digo, com uma risada.
Ele balança a cabeça.
— Isso parece bom. — Ele sorri para mim.
— Por que nenhuma mulher de sorte te conquistou ainda? — pergunto novamente.
— Tenho problemas. — Ele ri, mas depois fica sério. — Tenho problemas de
confiança. Enquanto estou em remissão, vivo cada dia sabendo que posso ficar doente de
novo. Não gosto de perder tempo porque é uma das únicas coisas na vida que não se
pode ter mais. Então, sei que estou indo muito rápido e, provavelmente, estou
assustando você, mas eu sou assim. Amo irremediavelmente quando me apaixono e
espero que você esteja bem com isso.
Eu zombo.
— Não me diga que você já está apaixonado por mim. Você acabou de me conhecer.
Eu teria que chamá-lo de mentiroso.
— Não, não estou apaixonado por você... ainda. Mas pela primeira vez em muito
tempo, quero perseguir esse sentimento e ver onde vai dar.
— Então você vai dar em cima de mim? — pergunto. Meu coração se emociona com a
ideia.
— Ah, sim, pretendo dar em cima de você. Desde que você dê abertura aos meus
avanços. — Sua mão desliza para cima e faz cócegas na parte de trás do meu joelho. Eu
daria abertura a qualquer avanço que ele quisesse fazer. — Só mais uma coisa — ele
fala.
— O quê? — pergunto.
— Quando eu me apaixonar por você, nunca me traia. Se quiser terminar comigo,
fale. Mas não minta para mim ou me traia. Isso vai fazer com que eu te odeie. E tudo o
que quero é amar você. Um dia. Quando nós dois estivermos prontos.
Estou pronta agora. Mas ao mesmo tempo, não estou.
— Pode deixar — falo.
Ele coloca a cabeça para trás, contra o sofá, e se inclina para olhar para mim.
— Posso continuar a brincar com seus pés? — Seus olhos estão cheios de sentimentos
que não entendo, mas gosto. Gosto muito.
Sento-me para a frente e tiro os pés do seu colo. Ele faz beicinho até que, ao invés
dos meus pés, eu me sento em seu colo. Seguro seu rosto e olho em seus olhos.
— Gosto muito de você — eu sussurro.
— Mas não está apaixonada ainda? — ele sussurra de volta, mas suas mãos envolvem
meus quadris e me seguram perto dele.
— Ainda não — respondo.
Ele esfrega o nariz contra o meu, tocando-o suavemente com os olhos fechados. Meus
lábios estão tão perto dele que quase posso sentir seu gosto. Mas, de repente, ele me
pega e me deita no sofá. Ele se levanta, ajeita seu jeans e beija minha testa.
— Tenho que ir — diz ele rapidamente.
— O quê? — Ofego. Estava prestes a beijá-lo.
— Obrigado por me deixar ficar com você e as crianças hoje à noite. Foi muito
divertido jogar boliche com sua família.
De repente, sinto-me vazia e não gosto disso.
— Obrigada por ter vindo assim que Seth ligou. E pela pizza. — E por virar meu
mundo de cabeça para baixo.
Levanto-me e o sigo até a porta. Ele olha para mim e coloca uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha.
— Quero beijar você.
— Pode beijar.
Ele balança a cabeça.
— Ainda não — diz ele. — Vai trabalhar em casa amanhã?
— Não, tenho que ir para o escritório. — Estou trabalhando em um grande caso e
terei uma reunião de equipe.
— Quando posso te ver de novo? — ele pergunta.
Não consigo segurar o sorriso.
— Quando você quer me ver de novo?
— Todos os dias, o dia todo. — Ele ri. Deus, quando esse homem sorri, poderia me
deixar de joelhos. — Posso te ligar?
Eu concordo.
— Bom — diz ele.
Ele se vira e afasta-se de mim. Vou atrás dele no corredor.
— É isso? — pergunto.
— Por enquanto — ele responde, mas está rindo. Ele acena para mim quando as
portas do elevador se fecham e eu encosto contra a parede.
Isso não foi muito agradável. Mas estou sorrindo quando volto para o apartamento.
MATT

D eus, foi difícil. Nunca quis tanto beijar alguém. Mas ela ainda não está pronta para
mim. Eu sei. Ela não está pronta para o que tenho dentro de mim. Droga, nem sei se eu
estou pronto para isso também. Mas quero estar, e isso já é um bom começo.
Volto rapidamente para o Reed’s. Sinto-me mal por ter saído do jeito que saí, bem no
meio de uma tatuagem. Mas Seth precisava de mim e, para ser honesto, eu queria ver
Sky.
É difícil admitir que, com tudo o que passei na vida, eu não a apreciei como deveria.
Tive uma segunda e terceira chances, coisa que a maioria das pessoas nunca vai ter.
Mas, mesmo depois de tudo isso, me acomodei. Ela me faz querer me desacomodar. E
correr atrás do prejuízo.
Entro no estúdio e fico feliz por ver Logan e Pete. Logan é dois anos mais novo que
eu, mas é muito inteligente. Pete, o mais novo, tem vinte e um anos, mas está em um
relacionamento sério, assim como Logan, e sinto vontade de conversar com eles.
— Tudo bem? — Logan pergunta. Ele é deficiente auditivo, mas fala bem. Quando
respondemos, geralmente fazemos sinais e falamos ao mesmo tempo para que ele não
perca nada. Logan não falava há anos. Até que ele conheceu Emily e ela o fez abrir a
boca. Agora, ele raramente se cala.
— Tudo bem — respondo. — Fui na Skylar.
Os olhos de Pete se estreitam para mim.
— O que diabos aconteceu com o seu nariz? — ele pergunta.
Olho no espelho sobre a pia. A pele sob os olhos está um pouco roxa, e imagino que
haja uma boa chance de que meus dois olhos fiquem pretos até amanhã de manhã.
— Skylar me bateu — respondo.
Pete bufa.
— Não acredito nessa porra — ele fala e eu apenas o observo. — Ela realmente bateu
em você?
— Foi um acidente — falo. — Estávamos jogando Wii boliche e o controle voou de sua
mão. — Toco meu nariz. Dói pra caralho.
— Você vai ter que se casar com ela — diz Logan. — É a regra. — Mas ele está rindo.
Eu não estou.
— Sim, acho que vai acontecer — respondo. Não olho para qualquer um deles, pois
sinto que podem ver através de mim. Eles sempre foram capazes disso.
— O quê? — Logan rola sua cadeira na minha direção para que possa olhar
diretamente para mim.
— Você entendeu o que eu disse — respondo.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Só quero ter certeza de que entendi direito.
Empurro sua cadeira com o pé, e ele derrapa pelo chão.
— Você entendeu direito.
— Já? — Pete pergunta. Ele se senta à minha frente. — Você acabou de conhecê-la.
— Quanto tempo se passou até que você tivesse certeza de que queria Reagan? —
pergunto. Não posso empurrar Pete porque ele não está sentado em uma cadeira de
rodinhas.
— Segundos — ele responde sem sequer piscar.
Olho para Logan.
— E você? — pergunto.
— Eu nunca quis Reagan— Logan fala. Pete lhe dá um soco no braço e ele levanta as
mãos em sinal de rendição. — Minutos. — Ele olha para mim. Logan tem um jeito de
olhar como se enxergasse sua alma. Ele tem que ler as pessoas com base em sua
linguagem corporal, e tenho medo do que ele está lendo em mim. — Uau. Você
realmente gosta muito dela.
Eu concordo.
— Sim. — respondo. — Não estou apaixonado por ela — Estava sendo honesto. —,
mas não consigo tirá-la da minha cabeça.
— Você a pegou? — Pete pergunta.
— A peguei? — repito.
Ele faz um gesto bruto com as mãos.
— A pegou — ele fala novamente.
— Deus, não — suspiro. — Eu nem mesmo a beijei.
— Uau — Logan fala novamente.
— Quer parar de falar isso?
— Você quer beijá-la — Pete fala.
— Quero fazer todo tipo de coisas com ela — admito. — Mas ela é especial.
— Uau — Logan fala novamente.
— Pare com isso! — Empurro seu ombro.
— Lembro-me de quando levei Emily para casa. Ela dormiu na minha cama por um
longo tempo antes de termos relações sexuais. Isso não era o principal. O que importava
eram os momentos íntimos, silenciosos. Esses foram os mais importantes. Eles
alimentaram minha alma.
— Sim — falo. — É bem por aí.
— Eu queria transar com ela, mas não até que soubesse que era permanente. — O
comentário é grosseiro e alguém pode achar bruto e indiferente, mas acho que é
honesto.
— Comigo também — Pete fala. — É assim que você sabe que ela é a certa.
Concordo. Não sei mais o que dizer. Pete empurra meu ombro.
— Estou feliz por você?
— Você está me perguntando?
Ele dá de ombros.
— Acho que sim. Não sei o que te dizer. Se ela é a garota, você sabe disso.
— E quanto a April? — Logan pergunta.
— O que tem ela? — Por que ele ia falar da April agora?
— Há pouco tempo ela estava na sua cabeça. Isso mudou? — Logan pergunta.
— Sim. Muito. — Tiro o elástico do cabelo e deixo-o cair em volta do rosto. Passo os
dedos por ele para ganhar tempo. — Não sei como explicar isso.
— Essa é a beleza do amor — Pete canta.
— Não estou apaixonado por ela — reclamo.
— Ainda não. Mas há uma possibilidade.
— Sim. — Muitas possibilidades. Eu sorrio.
— Ela não tem namorado? — Logan pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Não mais. Eles se separaram.
Os olhos de Logan se estreitam, mas ele não diz nada.
— Tive a impressão de que ele não gosta da ideia de criar filhos mestiços. —
Estremeço. Não gosto nem mesmo de dizer isso em voz alta.
— Como você se sente sobre isso? — Logan pergunta.
— Crianças são crianças — falo. Temos sido expostos a tantos tipos de pessoas e,
com a deficiência de Logan, aprendemos, desde cedo, o que é importante na vida. E
agora que Pete trabalha com crianças com deficiência e crianças do centro de detenção
juvenil, que muitas vezes ele traz para casa, estamos ainda mais expostos. Não importa
como o exterior se parece, é o interior que conta. — Eu os quero quase tanto quanto a
quero — admito. — Ficaria honrado em ter um lugar na vida deles. Qualquer lugar que
eles queiram me deixar ter.
Logan ainda parece desconcertado.
— Pare de olhar para mim como se eu estivesse louco.
Logan balança a cabeça.
— Estou surpreso — ele admite.
— Eu também.
Pete bate a mão no meu ombro.
— Quando vamos encontrá-la de novo? — ele pergunta.
— Trazê-la para perto de vocês? — resmungo. — Só se eu fosse louco. Vocês iriam
assustá-la.
Mas com toda a honestidade, eu não poderia gostar de alguém que não possa aceitar
os meus irmãos exatamente como são. Eles são barulhentos, meio grosseiros e peidam
muito, mas todos eles têm coração de ouro. E são meus.
— Vou convidá-la. — Olho ao redor do estúdio. — Terminamos por hoje? —pergunto.
— Nós? — Pete protesta. — Não vi sua bunda fazendo tatuagens esta noite. — Ele dá
de ombros e veste seu casaco. — Vou para casa —fala. Mas, antes de sair, olha para
mim.
— O quê? — pergunto.
Ele sorri.
— Estou tão feliz por você — diz ele, depois ri. — De verdade.
— Cale a boca — implico.
Ele sai, e fico sozinho com Logan.
Ele para de falar e começa a fazer sinais.
“É a garota, hein”?
— Talvez — falo novamente. — Não sei ainda.
Ele balança a cabeça.
“Ótimo”.
— Ótimo o quê?
“Se alguém merece um ‘felizes para sempre’, Matt, esse alguém é você”.
— Cale a boca — resmungo novamente. — Não sei o que dizer sobre isso.
Ele ri.
“Estou indo para casa. Você deveria ir também”.
Aceno e o ajudo a trancar tudo. Então, ele me deixa na rua com um aperto de mão
rápido e um sinal de “eu te amo”. Faço o sinal de volta para ele, que vai embora.
Pego o celular do bolso e procuro o número de Sky. É tarde, mas quero ouvir a voz
dela. É estúpido, eu sei. Mas é o que é.
— Olá — diz ela, com a voz hesitante.
Inclino-me contra o edifício, porque meus joelhos balançam quando falo com ela.
Sinto-me tonto.
— Oi — digo em voz baixa.
— Oi — ela sussurra volta.
— Estava dormindo?
— Não, só estava pensando.
— Sobre o quê?
— Você — ela admite. Meu coração começa a bater mais forte.
— Bons pensamentos? — pergunto.
Quase posso ouvir seu sorriso através do telefone.
— Muito bons.
— Só queria dizer boa noite. — Soa estúpido em voz alta.
— Estou feliz que você tenha ligado — ela responde. — Fiquei realmente feliz.
— Posso te ligar amanhã?
Ela ri.
— Acho bom que ligue mesmo.
— Boa noite, Sky — eu digo.
— Boa noite, Matt.
Desligo a chamada e coloco o telefone no bolso. Não tem ninguém em casa quando
chego. Nem tenho certeza de que Paul está lá. Vou para o meu quarto me preparar para
dormir. Assim que deslizo entre os lençóis, meu telefone toca. Vejo que é o número dela.
— Sky?
— Sim — ela admite.
— Está tudo bem?
— Eu só queria te dizer boa noite — diz ela calmamente.
— Acho que você já disse. — Mas, por dentro, meu coração está batendo como uma
pistola de tatuagem.
— Oh — ela diz baixinho e ri. — Desculpa.
— Você está cansada? — pergunto.
— De modo algum.
Então, falamos até tarde da noite. Falamos até que meus olhos estejam quase se
fechando, mas ainda não quero desligar o telefone.
SKYLAR

P reciso colocar dois palitos em meus olhos para mantê-los abertos hoje. Matt e eu
conversamos até muito tarde ontem à noite, mas cada vez que eu pensava em desligar o
telefone, ele me perguntava algo. Era sempre algo profundo ou provocante. E ele
respondeu às minhas perguntas também.
Agora, sei que ele gosta de qualquer tipo de sorvete com pedaços de chocolate. Ele
ama nozes. E tem essa paixão louca pela vida que eu não sabia que existia. Sua família é
importante para ele, e a minha também. Ele me convidou para um encontro na sexta à
noite, mas pedi a ele para esperar, pois não sei ainda onde Seth estará na sexta.
Mas quero sair com ele. Quero que a gente passe algum tempo a sós, sem os filhos
no outro quarto. Quero beijá-lo e ver se essa paixão é coisa da minha cabeça.
É quase hora do almoço e evitei Phillip com sucesso por toda manhã. Ele tentou se
aproxima de mim uma vez, mas me virei de costas para ele, que foi para outra direção.
Estou trabalhando muito em um caso hoje, deixando minha papelada pronta. Paro e
pressiono a palma das mãos nos olhos. Eu realmente não deveria ter ficado acordada até
tão tarde na noite passada.
Meu telefone toca.
— Sim — atendo.
— Sky — a recepcionista fala calmamente. Levanto o fone.
— Sim — digo novamente. — O que houve?
— Tem um cara realmente bonitão, de pé, na minha frente, perguntando por você —
ela sussurra no telefone.
Que cara bonitão estaria perguntando por mim?
— Como ele é?
— Deve ter cerca de um e oitenta e cinco — ela começa.
— Um e noventa — ouço alguém dizer.
— Oh, um e noventa. — ela fala. — Ele é um grande problema. — Ela ri.
Meu coração salta.
— Qual a cor do cabelo dele?
— Loiro. E bem longo.
É Matt. Ah, Merda. É Matt.
— Já vou aí — falo. Meu coração está batendo como louco. O que Matt está fazendo
aqui? Procuro meus sapatos embaixo da mesa e os calço. Arrumo a saia e passo a mão
pelo cabelo para alisá-lo. Um minuto atrás, ele estava preso com um lápis.
É apenas o Matt, eu digo a mim mesma. É Matt.
— Você quer que eu o mande embora? — a recepcionista pergunta. Ela ri novamente
— Ou posso ficar com ele?
Definitivamente, não. Ele é meu.
— Já estou indo aí — repito. Olho para minha roupa de trabalho. Espero que eu esteja
bem. Acho que é tarde demais para me preocupar com isso.
Vou até a área de recepção e encontro Matt encostado na porta de vidro. Ele se vira
para mim e sorri ao me ver.
— Oi — ele fala em voz baixa.
Vou até a ele, minhas pernas trêmulas.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto, mas estou sorrindo também. Paro na
frente dele, a um abraço de distância A recepcionista está de olho.
— Vim te convidar para almoçar comigo. — Dá de ombros. Ele usa calça jeans e botas
de cadarço. A camiseta preta está esticada sobre o peito largo e combina perfeitamente
com seu jeans. Posso ver suas tatuagens. Uma mecha do seu rabo de cavalo caiu e quero
alcançá-la e colocá-la atrás da orelha.
— Como descobriu onde trabalho? — pergunto. Faço um movimento para ele me
seguir. Murmuro um agradecimento para a recepcionista e ela pisca para mim e levanta o
polegar. Balanço a cabeça e Matt caminha, silenciosamente, atrás de mim.
— Mandei uma mensagem para Seth — diz ele.
— Traidor — falo. Mas por dentro, estou muito feliz.
— Vim em um momento ruim? — ele pergunta e olha para o pulso, mesmo que não
haja relógio nele. — Posso voltar mais tarde.
— Não, não. — Não quero que ele vá embora. Nunca. Eu me inclino contra a beirada
da minha mesa. — Estou feliz que você esteja aqui.
Sua voz é profunda e suave quando responde.
— Pensei em você a manhã toda. — Ele dá de ombros, parecendo um pouco
envergonhado. — Então, quis vir. Mas compreendo totalmente se você estiver ocupada
demais. — Ele olha em meus olhos. — Posso até chorar se você me mandar embora, mas
vou.
Não vou mandá-lo embora. Não mesmo.
— Não quero que você vá — respondo.
Ele sorri.
— Bom. — Ele olha em volta do meu escritório. — Você tem tempo para almoçar?
— Oh! — murmuro. — Achei que você só iria se sentar aí e me deixar olhá-lo. Quer ir
mesmo a algum lugar?
Ele ri.
— Sim. Eu disse que faria você se apaixonar por mim. O almoço é só o primeiro passo.
— Qual é o segundo? — pergunto impulsivamente.
— Se eu te disser, não vai funcionar.
Levanto o polegar e o indicar a dois centímetros de distância um do outro.
— Tenho pouquinho de tempo. — Faço um movimento em direção à minha mesa. —
Estou trabalhando em um caso grande.
— Você pode me contar sobre ele durante o almoço.
Sim, posso. Porque vou com ele.
Pego minha bolsa e a coloco sobre o ombro. Eu o seguiria a qualquer lugar. Vou até
ele e fico na ponta dos pés. Ele se inclina um pouco e coloca o rosto na minha frente. Eu
gemo, mas dou um beijo rápido. Ele cobre o local onde beijei com a mão.
— Vou mantê-lo aqui pelo resto do dia — ele fala.
— Você fala isso para todas as mulheres que conhece? — pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Só preciso dizer a elas como me sinto — ele fala, olhando em meus olhos e tudo o
que vejo é sinceridade.
Ele abre a porta da frente para mim e apoia a mão na base da minha coluna, me
guiando. Deus, estou prestes a derreter. Ao passarmos pela porta, ele segura minha mão
e entrelaça os dedos. Olho para ele.
— Tudo bem? — ele pergunta.
Eu aceno e continuamos assim até chegarmos ao bistrô.
— Você está calada — ele fala, quando o garçom nos leva até a mesa. É um lugar
cheio, mas a comida é incrível e várias pessoas do escritório almoçam aqui. Me acomodo
e ele senta ao meu lado.
Eu me surpreendo.
— Oh — suspiro.
— Está tudo bem? — ele pergunta e enfia uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha.
— Sim — eu digo. — Tudo bem.
Ele olha para o cardápio.
— O que tem de bom? — ele pergunta.
Tenho que me comportar e fingir contar calorias? Ou posso pedir o que realmente
gosto? Olho para o rosto dele. Simplesmente não consigo avaliá-lo.
— O que foi? — ele pergunta.
— Você vai se sentir mal se eu pedir um sanduíche Reuben com fritas? Daqueles bem
gordurosos?
Sua testa franze.
— Por que eu me sentiria mal?
Coloco a mão no estômago.
— Estou faminta.
O garçom retorna e Matt pede dois Reubens com fritas e refrigerantes.
— Acho você adorável, sabia? — Ele vira o rosto para mim enquanto o garçom serve
nossas bebidas.
— Assim como você — falo, enquanto tomo um gole. Ele me observa de perto. — Tem
algo no meu rosto?
— Um sorriso — ele fala. — Gosto disso.
Sorrio ainda mais.
— Eu também.
— Então... Seth tem treino amanhã — ele me lembra. — Você se importa se eu for?
— Seth te convidou, não foi?
Ele balança a cabeça.
— Mas não quero estar em lugar onde não me querem.
Olho em seus olhos.
— Nós queremos você — falo e meu coração acelera.
— Idem — ele fala. — Adoro luta-livre. Todos os meus irmãos praticaram. Inclusive
eu.
— Você não tinha dito que Seth é muito bom nisso?
Ele balança a cabeça.
— Campeão Regional na categoria do seu peso no ano passado — diz ele. — Ele é
muito bom. Bom o suficiente para conseguir uma bolsa de estudos.
— Uau — suspiro. — Isso é incrível.
— A mãe dele deixou dinheiro para a faculdade, certo? — ele pergunta.
Eu concordo. O garçom traz nossa comida e Matt está, aparentemente, confortável
em comer enquanto conversamos.
— Ela deixou uma apólice de seguro muito generosa — digo a ele. — O suficiente
para cuidar deles.
— Ela era muito boa com planejamento — diz — Seu pai também a ajudou muito com
o gerenciamento de dinheiro.
— O que ela fazia para viver? — pergunto. Eu realmente não sei muito sobre a minha
meia-irmã.
— Ela era advogada. Acho que criminalista.
— Colocando bandidos na prisão.
Ele balança a cabeça.
— Quando ela podia.
— Não faço nada tão sério.
— Em que área você atua? — Ele está me dando toda a atenção que não está dando
a esse sanduíche.
— Propriedade intelectual.
Ele balança a cabeça.
— Você vai ter que me contar mais sobre isso algum dia.
— Eu adoraria.
Ele sorri. Então, olha por cima do ombro em direção ao outro lado do salão.
— Seu namorado está aqui — diz, sem olhar para mim.
Olho para trás e vejo Phillip com alguns dos meus colegas. Ele levanta o copo na
minha direção. Se eu estivesse mais perto, jogaria meu refrigerante nele.
— As coisas não terminaram bem, não é?
— Balanço a cabeça, fingindo estar realmente concentrada em meu sanduíche. Mas
realmente não quero falar sobre Phillip.
— Você está triste? — ele pergunta.
— Só por você estar falando sobre isso — respondo.
Ele sorri.
— Entendido. — Sua voz cai para um grunhido abafado. — Quando eu finalmente
chegar em sua cama, prometo não ser egoísta — diz.
Meu coração se agita.
— Você falou com Seth — eu falo. — Vou ter que ter uma conversa com ele sobre
privacidade.
Matt suspira.
— Desculpe-me. Estava apenas brincando. Não vou mais fazer isso. Seth falou muito
por alto sobre o seu rompimento. Ele não estava fofocando nem nada parecido.
— É bom saber.
— Você está brava comigo.
— Envergonhada por você ter conhecimento íntimo da minha vida sexual. — Termino
o sanduíche e limpo minhas mãos. — Tenho que voltar ao trabalho — eu digo.
— Porra, estraguei tudo — diz ele, jogando o guardanapo em seu prato. Enfia a mão
no bolso de trás e puxa a carteira. Ele tira dinheiro suficiente para pagar a conta, além de
deixar uma gorjeta generosa sobre a mesa.
— Deixe-me pagar minha parte — protesto.
— Eu convidei. Eu pago. — Ele apoia a mão na base da minha coluna novamente.
— Então, se eu te convidar, tenho que pagar?
— Não — diz ele. — Eu sou o homem. Eu pago.
Phillip nos observa de perto quando passamos por ele em direção à porta.
Caminhamos tranquilamente em direção ao meu trabalho. Matt não se aproxima mais
e não diz nada. Quando chegamos perto do escritório, digo:
— Obrigada pelo almoço.
— Desculpe-me, arruinei tudo.
— Você não arruinou nada. Só não me sinto confortável em falar sobre isso. Não
agora.
— Eu passei do limite. Me perdoe. Por favor? — Ele não está me tocando, e posso
sentir a divisão entre nós.
— Não há nada a perdoar. — Fico na ponta dos pés, e ele se inclina em minha
direção. Beijo seu rosto, ele se endireita e sorri para mim.
— Obrigado — ele fala.
— Obrigada. De verdade.
Deixo-o em pé na escada.
Meu coração afunda até os dedos dos pés.

Deixo-me cair pesadamente em minha cadeira. O meu telefone vibra e pressiono o botão
para atender.
— Sim?
— Hum... — diz a recepcionista.
— O que foi? — resmungo.
Mas então, minha porta se abre e Matt entra.
— Ele está a caminho — diz a recepcionista.
— Obrigada pelo aviso — murmuro.
Matt fecha a porta do meu escritório e se aproxima. Fico de pé e ele segura meu
queixo, levantando-o na direção do seu rosto.
— Esqueci uma coisa — fala. Ele está sem fôlego e seus olhos procuram os meus. —
Esqueci de dizer que quero o seu coração mais do que quero seu corpo — diz ele. Seus
olhos observam todo o meu rosto. — Eu fodi com tudo, mas não estou pronto para aquilo
ainda. E reconheço meu erro.
— Matt... — começo, mas ele me corta.
— Te quero mais do que já queria e é difícil até mesmo andar quando estou perto de
você, pois meu pau fica tão duro que poderia martelar pregos com ele.
Sinto meu rosto corar, mas ele não para.
— Eu não deveria falar isso, mas não tenho como evitar. Estou morrendo de vontade
de estar dentro de você. Louco para te segurar perto de mim quando estivermos nus. —
Ele sorri. — Mas, ainda mais do que isso, quero que você me ame. Quero que você me
ame muito, e acabei fazendo as coisas do jeito errado. — Ele finalmente para e respira
fundo. — Por favor, perdoe-me.
— Matt...
— Quando vi seu namorado, tudo em que consegui pensar foi que queria satisfazê-la
muito mais, principalmente porque eu estava louco de ciúmes por ele estar próximo de
você. Talvez eu estivesse tentando tirá-lo da sua cabeça para me colocar no lugar. Ou
talvez, eu seja apenas um idiota. Provavelmente seja isso. Sou um idiota quando se trata
de você. Mas eu posso lidar com isso. Espero que você também possa.
— Matt — eu digo novamente.
— Perdoe-me — ele insiste. — Nunca mais vou fazer isso.
Seguro seu rosto com minhas mãos.
— Pode calar a boca por um minuto? — pergunto.
Ele solta um suspiro.
— Tudo bem.
— Não estou com raiva. Talvez um pouco irritada por Seth ter repetido algo para você
que ouviu em uma conversa privada. Mas isso é entre Seth e eu, e não tem a ver com
você. Vou resolver isso com ele. E não, não estou brava com você. Não há nada a
perdoar.
Ele não diz nada. Só olha nos meus olhos.
— Juro, Matt — asseguro a ele.
— Você me deixou arrasado, mas eu mereci. Já sinto sua falta.
— Não fui a lugar algum. — Solto uma risada.
Uma batida soa na porta do meu escritório. Olho para cima e vejo minha chefe, que
enfiou a cabeça para dentro da sala e está segurando um maço de papéis. Ela olha para
Matt e depois sorri para mim.
— Você está pronta para atender? — ela pergunta.
— Estou indo — falo — Só um minuto.
Ela sai da sala.
— Merda — Matt fala. — Você tem que voltar ao trabalho.
Eu concordo.
— Tenho.
Ele me olha por um momento, como se tivesse algo na ponta da língua para dizer.
Minha chefe aparece novamente.
— Quanto tempo você vai demorar? — ela pergunta.
— Margie — falo e faço um movimento em direção a Matt. — Este é Matt. — Olho nos
olhos dele. — Meu amigo.
Margie sorri e caminha até Matt com sua mão esticada.
— Prazer em conhecê-lo — diz ela. Ele aperta sua mão e ela sai novamente.
— Amigo, não é? — ele fala com um sorriso.
— Sim — respondo.
— Eu gosto disso — ele me diz.
— Eu também. — Não posso esconder meu sorriso.
— Posso te ligar mais tarde? — ele pergunta.
Aceno e ele me beija muito rapidamente na bochecha. Ele sai, e imediatamente sinto
sua falta. Mas ainda assim vou chutar o traseiro de Seth.
Depois da reunião, volto para meu escritório e encontro um buquê de flores na mesa.
Abro o cartão e leio.
Você já está apaixonada por mim?
Ainda não. Mas estou perto. Realmente perto, apesar desses sentimentos me
deixarem apavorada. Meu coração está anulando minha cabeça.
MATT

M erda. Merda. Merda. Fodi com a porra toda. Paro do lado de fora do escritório e olho
para trás, em direção a porta. Quero voltar lá e continuar a pedir desculpas, mas agora
ela está em reunião. Já invadi o local quando não deveria. Merda.
Há uma florista no canto, então, compro flores e peço para entregar a ela. Garotas
gostam de flores, certo? Não é um buquê muito grande, pois não posso me dar ao luxo,
mas escolho algumas rosas vermelhas e a florista faz um belo arranjo. Peço para que
seja entregue com um bilhete.
Você já está apaixonada por mim?
Resmungo. Nem perto disso, especialmente depois do que eu disse.
Não sei o que eu estava pensando. Não sou esse tipo de cara. Não sou abertamente
sexual e fora de controle. Bem, com ela eu poderia ser um pouco. Ontem à noite, quando
tirei suas meias, quase gozei na calça. E quando ela me perguntou se tudo funcionava e
apertei a lateral do seu pé contra meu pau, oh, meu Deus, eu mal pude me segurar.
Mas quero muito mais dela.
Alguém bate no meu ombro, e eu olho para cima. Seu ex-namorado sorri para mim.
Sou alguns centímetros mais alto que ele e gosto disso.
— Perdoe-me — falo. Viro-me para ir embora quando o que realmente quero fazer é
achatá-lo.
— Perdoá-lo pelo quê? — ele pergunta. — Por trepar com a minha namorada?
Mexo meus dedos muito rapidamente porque o que estou prestes a fazer vai doer. Ele
sequer percebe o que acontece. Soco-o diretamente no rosto, e ele cai como um
daqueles palhaços de circo que caem quando alguém finge bater. Ele está lá, esfregando
o queixo.
— Nunca mais fale dela desse jeito — eu falo.
Balanço a mão dolorida. Dói, mas é uma dor boa. Eu estaria disposto a fazer doer
muito mais se ele quisesse se levantar e dizer mais alguma coisa. Ajusto meu jeans
sobre as coxas e me agacho ao lado dele. As pessoas estão parando na rua para nos
olhar, mas não me importo. Ele está deitado em seu terno extravagante, parecendo um
idiota. Provavelmente porque é o que ele é. Ele é um filho da puta estúpido se acha que
pode falar sobre Sky assim. Estendo a mão.
— Quer ajuda para levantar? — pergunto.
Cautelosamente, ele aceita a palma da mão estendida. Ele me permite puxá-lo e faz
um movimento para se limpar.
— Isso é o suficiente — diz ele.
— Sim — aviso. — É sim. Não deixe que isso aconteça novamente.
Ele sabe do que eu estou falando.
— Se você a quisesse, poderia ter ficado com ela. Mas não quis. Então, aja como um
homem.
Ele balança a cabeça, esfregando o queixo.
— Desculpe-me por ter batido em você, cara — falo. Mas não estou arrependido. Eu
faria isso de novo. Mas talvez, agora, ele vá ficar de boca fechada, porra. — Você
terminou com ela, certo? — pergunto. Com a minha história, tenho que saber.
— Sim, terminei — ele responde. — Ainda não estou feliz com isso, mas está
terminado.
Quero perguntar porque terminaram, mas preciso conseguir essa informação com ela.
— Ela é impressionante e bonita. Mas tem alguns problemas.
Levanto a mão para detê-lo.
— Não me diga nada.
— Ela nunca teve alguém que a amasse.
— Agora, ela tem. — Caralho, de onde veio isso?
— Sim, percebi. — Ele esfrega o rosto novamente. — Estava só tentando implicar com
você para tentar afastá-lo dela. — Ele ri. — Tenho que respeitar um homem com esse
gancho de direita e senso de decência. — Ele estende a mão para apertar a minha. —
Boa sorte para você.
Aceito sua mão e aperto com força. Não o suficiente para machucá-lo, mas firme o
suficiente para lhe dar um aviso. Vou acabar com ele se ele fizer algo para machucá-la.
— Problemas com o pai.
— O quê?
— Posso não amá-la o suficiente, mas gosto dela. E sei uma coisa: ela tem problemas
com o pai. Ajude-a com isso e talvez você tenha uma chance com ela.
Não sei por que ele está me dizendo tudo isso.
Ele continua.
— E ela é resistente. Está sempre disposta a se contentar com menos que merece,
porque acha que é o que tem direito. Pelo menos, foi assim comigo. Até que ela resolveu
jogar tudo para o alto por causa de umas crianças que ela acabou de conhecer. Ela não é
a mulher da minha vida, mas isso não significa que ela não possa ser a sua.
Oh, inferno. Agora sei mais do que queria saber. Faço uma nota mental para
desconsiderar tudo o que ele acabou de dizer, porque, provavelmente, é tudo besteira. E
ele ainda é um babaca.
Mas e se não for besteira?
Merda. Agora vou pensar sobre isso.
— Obrigado. — Não sei mais o que dizer a ele.
Ele acena para mim e vai para o edifício.
Caminho até o metrô para que possa ir para o trabalho. Trinta minutos depois, meu
telefone vibra.
Sky: Você bateu nele?
Eu: Sim.
Sky: Sério?
Eu: Sim.
Há uma longa pausa que me preocupa. Mas então, o som de notificação do meu
telefone toca.
Sky: Obrigada.
Sorrio, não consigo segurar.
Eu: O prazer é meu.
Sky: Posso perguntar por que você bateu nele? Ele não quis me dizer.
Eu: Porque ele é um idiota.
Sky: O que ele disse para você?
Eu: Algo que não deveria ter dito.
Sky: Era sobre mim?
Eu: Sim.
Sky: Diga-me o que era. Por favor.
Solto um suspiro e jogo a cabeça para trás.
Eu: Ele me acusou de “trepar” com sua namorada. Então, bati nele.
Sky: Mas... você não está.
Eu: Mas pretendo.
Longa pausa.
Eu: Depois que eu fizer você se apaixonar por mim.
Sky: Isso está indo muito rápido, Matt.
Eu: Quase morri. Duas vezes. Não gosto de perder tempo.
Sky: Oh.
Eu: Gosto de você. E acho que poderia te amar.
Sky: É muito rápido.
Eu: Isso me assusta também, se isso te faz sentir melhor.
Sky: Faz, sim.
Sky: Você vem hoje à noite?
Vou? Quase sinto que preciso me distanciar um pouco.
Eu: Tenho tatuagens marcadas para às cinco, oito e dez. Então, hoje não vai dar.
Sky: :-(
Eu: verte vejo amanhã no jogo de Seth.
Sky: Seria estranho se eu dissesse que já sinto saudades?
Um sorriso surge no meu rosto.
Eu: Não, se você realmente estiver sentindo.
Sky: Obrigado pelas flores. Elas são adoráveis.
Eu: Você já está apaixonada por mim?
Sky: Posso gostar de você por um tempo?
Eu: Por favor, sim.
Sky: Falo com você depois.
Eu: Ok.
São quase dez e meia da noite quando percebo que meu último cliente não vai aparecer.
Fiquei contando as horas, me perguntando se conseguiria ver Sky antes de ela ir para
cama. Não gosto da forma como deixamos as coisas.
— Vá logo vê-la — Logan fala, apontando para a porta. — Dê o fora daqui. Você ficou
olhando para o relógio a noite inteira. Vá. — Ele faz um movimento de empurrar com as
mãos. — Fora. Você está me deixando triste com toda essa ansiedade.
— Você vai para casa logo? — pergunto.
— Sim — ele fala, enquanto se movimenta para pintar um pouco mais a tatuagem,
que está quase pronta. — Só mais alguns minutos. — Ele aponta para a frente da loja
onde Friday está sentada com um livro aberto à sua frente, estudando. — Friday ainda
está aqui. Então, caia fora.
Temos uma regra de não deixar ninguém sozinho na loja.
— Tem certeza? — pergunto. Meu coração começa a bater mais rápido.
— Saia — ele fala e volta a trabalhar na tatuagem.
Pego meu casaco do gancho na parede, visto-o e saio pela porta o mais rápido que
consigo. Posso chegar na Sky antes das onze se eu me apressar. Nem vou ficar muito
tempo. Mas quero vê-la.
Corro para seu apartamento e pego o elevador. Vou até sua porta e bato devagar
para não acordar as crianças. Ouço passos suaves e meu coração tropeça uma batida. Ela
abre a porta e está maravilhosa pra caralho vestindo pijama azul-bebê e pantufas. Então,
faço a única coisa que posso pensar em fazer. Puxo-a para mim. Com um suspiro, ela cai
contra meu peito. Não consigo estar perto o suficiente, então, seguro seu traseiro
firmemente, levanto-a e prendo-a contra mim e giro para que possa pressioná-la contra a
parede. Olho em seus olhos azuis assustados por um momento, e então pressiono meus
lábios em sua boca aberta. Ela congela em meus braços, e eu pressiono com mais
insistência, beijando-a suavemente, mas totalmente. Mordisco o lábio inferior entre os
meus e chupo-o suavemente.
Ela não me beija de volta, não completamente, e não consigo descobrir o que estou
fazendo errado. Ela murmura contra os meus lábios, mas não quero levantar minha
cabeça. Mas então, ouço alguém tossir atrás de nós. Olho por cima meu ombro e vejo um
senhor sentado no sofá. Seu joelho está balançando e seu rosto está um pouco vermelho.
Oh, merda. Seu pai está aqui.
Dei um puta beijo nela. Nosso primeiro beijo. Na frente de seu pai.
— Matt — ela fala baixinho, tocando meus ombros com as palmas das mãos abertas.
— Você pode me colocar no chão?
Dou um passo para trás e coloco-a de pé.
— Merda — suspiro.
SKYLAR

O h, Matt. Por que você fez isso?


O rosto do meu pai está vermelho brilhante, e ele parece querer torcer o pescoço de
Matt. Nunca o vi assim. Nunca.
— Sr. Morgan — Matt fala, apontando para o meu pai. — Não sabia que você estava
aqui — ele fala e, em seguida, joga as mãos para cima, como se não soubesse mais o
que dizer.
— Percebi — meu pai grunhe.
Matt olha para mim como se estivesse à espera de direção. Cubro minha boca com a
mão para esconder o sorriso. Mas não posso parar de pensar naquele beijo. Por mais
horrível que tenha sido, foi perfeito, e tudo que quero fazer é me livrar do meu pai para
que possamos nos beijar novamente.
— Papai veio ver as crianças — falo.
— E você — meu pai completa. Ele ainda está grunhindo. E seu rosto está vermelho
como um tomate. Ele jamais veio me ver antes.
— Eu e as crianças — corrijo.
— É tarde — Matt fala. — Acho melhor eu ir. — Ele se vira em direção à porta. Mas a
última coisa que quero é que ele saia.
Entrelaço meus dedos nos seus e dou um puxão em sua mão. Ele olha em meus
olhos, e juro que posso ver as profundezas de sua alma. Vejo seu desejo, sua confusão e
sua necessidade.
— Não vá — digo baixinho, apertando seus dedos. — Fique.
Ele balança a cabeça. Levo-o para o sofá, e ele se senta, mas está desconfortável pra
caramba e é bem cativante de se ver.
— Estava contando ao meu pai sobre o treino de luta de Seth amanhã. — Sento-me
ao lado de Matt, e ele levanta o braço para colocá-lo no encosto do sofá atrás de mim.
Aconchego-me nele e coloco meus pés em cima do sofá. Tento disfarçar o sorriso, porque
não quero que ninguém saiba como o fato de apenas estar tão perto dele, de propósito,
me deixa vertiginosa.
— Você vai vê-lo lutar, Matt? — papai pergunta. Ele está sendo bem duro com Matt,
que apenas balança a cabeça.
— Estou planejando, senhor — diz ele. — Gosto de assistir aos treinos.
Ele olha para mim, e eu sorrio para ele. Matt me surpreende quando se inclina e beija
a ponta do meu nariz. Faço uma careta de brincadeira para ele, e sinto sua risada.
— Fui a alguns no ano passado — meu pai fala.
Silêncio.
— Você foi?
Ele balança a cabeça.
— Vou sempre que posso. Seth é realmente bom.
Isso tira meu chão. Ele nunca foi às minhas apresentações de dança. Ou aos treinos
de ginástica. Ou a qualquer outra coisa que eu fizesse. Mas ele está fazendo um esforço
pelos meninos, e agora, eles são parte da minha vida. Então, seus esforços me deixam
feliz por eles. Eles merecem ter pessoas que se importam com eles e os amem.
— Tenho certeza de que Seth ficará feliz em vê-lo lá.
— As crianças estão na cama? — Matt pergunta.
— Você deveria ter perguntado isso antes de atacar minha filha — papai resmunga. —
Está tarde.
Matt concorda.
— Eu sei.
— O que aconteceu com seu nariz? — papai pergunta.
Matt sorri.
— Ela me bateu. — Ele balança o polegar em minha direção.
— Garota esperta — meu pai fala e sorri para mim. Ele nunca me olhou com tanto
carinho, e meu coração dá uma guinada com a atrocidade do pensamento. Papai olha de
mim para Matt. — Há quanto tempo vocês estão juntos? — ele pergunta.
Matt arqueia a sobrancelha para mim.
— Pouco tempo — falo baixinho.
Meu pai acena.
— Acho que devo ir — diz ele.
Ele se levanta e veste sua jaqueta. Levanto-me e vou até a porta. Matt vai também e
estende a mão para apertar a mão de meu pai.
— Não desrespeite a minha filha — diz meu pai.
— Sim, senhor — diz Matt. Ele abaixa a cabeça e coloca as mãos nos bolsos,
parecendo muito como o que Seth fez hoje quando o repreendi por falar sobre algo
privado com Matt.
Papai se inclina e me puxa para um abraço rápido. Isso é novo também. Não me
lembro dele fazendo isso antes. Ou, pelo menos, não há um bom tempo.
— Boa noite, pai — falo. — Obrigada por aparecer.
— Vou tentar fazer isso mais vezes — diz ele em voz alta, olhando na direção de Matt.
Matt acena e abaixa a cabeça ainda mais. Eu rio.
— Sua mãe quer falar com você — meu pai fala e meu riso morre.
— Por quê?
Ele respira fundo.
— Ela só quer.
— Vou pensar sobre isso — digo a ele.
Meu pai sai, e eu fecho a porta atrás dele.
Matt cai sobre o sofá e se deita, jogando os braços para o alto.
— Oh, meu Deus — ele murmura, mas está rindo também. Sua barriga vibra com o
riso. — Por que você não me disse que ele estava aqui?
Ele tem uma perna no sofá e outra no chão, então, eu fico de joelhos entre suas
pernas e inclino-me sobre ele, segurando-me com as mãos espalmadas sobre seu peito.
Matt não me deixa ficar assim. Ele me puxa para seu peito e me segura perto de si. Seu
corpo sobe e desce abaixo de mim, firme e sólido.
— Eu teria dito que ele estava aqui se você tivesse me dado tempo. — Rio contra ele.
— Não se atreva a rir — diz ele. — Isso é sério. Seu pai vai me odiar a partir de agora.
— Não me importo com o que ele pensa — falo. Me estico um pouco mais para que
meus lábios fiquem mais perto dele. — Esse foi o pior beijo de todos os tempos —
sussurro dramaticamente.
— Eu sei — ele sussurra de volta. Suas mãos pousam na minha cintura, e ele me
levanta, trazendo minha boca ainda mais perto da dele. Ele levanta a bainha do meu
pijama, e suas mãos quentes tocam minha pele nua. — Nunca mais vou te beijar. Porque
foi horrível.
— Terrível — sussurro, olhando para seus lábios. — Mas acho que nós deveríamos,
sim, tentar de novo.
Matt conecta um braço atrás de mim e nos vira. Ele olha para mim.
— Você acha que isso é engraçado? — ele pergunta. Mas está sorrindo, então, não
estou preocupada.
— Hilário. Você não acha?
Seu rosto se abaixa até que seus lábios pairem sobre os meus.
— Você é tão incrível que faz meu coração doer às vezes — ele fala. Meu coração
acelera, batendo com força no peito.
— Beije-me, Matt — eu sussurro.
Finalmente, seus lábios tocam os meus. O beijo na porta foi cheio de paixão e desejo.
Mas este é macio e quente e tão genuinamente perfeito que me contorço debaixo dele,
tentando me aproximar. Seus lábios deslizam nos meus, macios, úmidos e sedosos. Sua
língua lambe a minha boca e, quando ofego com a sensação, ela entra. Seus quadris
balançam contra o meu, e posso sentir seu comprimento pressionado contra minha
barriga. Ele é duro e enorme, mas ainda é tão gentil. Toco minha língua na sua e,
quando ele tenta se afastar, mordisco seus lábios até que ele geme contra a minha boca
e volta para dentro.
Três batidinhas em meu braço me afastam dos lábios de Matt. Abro os olhos para
encontrar os olhos escuros de Mellie olhando para nós. Matt afasta-se de mim quando
digo algo contra seus lábios. Então, ele percebe que Mellie está lá. Ele se senta e eu me
ajeito para sentar também.
— O que houve, Mellie? — pergunto. Mas então, percebo o que está errado. O cheiro
me atinge, e tenho que cobrir a boca. — Está se sentindo mal? — pergunto.
— Vomitei na minha cama — ela fala tão baixinho que mal posso ouvi-la.
Oh, inferno, o que devo fazer agora?
— Você acordou Seth? — pergunto.
Ela balança a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.
— A porta dele estava trancada.
— Oh, está tudo bem — respondo. Seguro a mãozinha pegajosa, e Matt se levanta
com a gente. — Desculpe — falo para ele.
— Não se preocupe.
— Vejo você amanhã? — pergunto estremecendo, porque me sinto mal.
— Vou ajudá-la — ele fala. — Por que não dá um banho nela enquanto troco os
lençóis?
Ele vai em direção ao armário e procura entre as pilhas de roupas de cama até
encontrar um jogo de lençóis que o agrada.
— Você quer ajudar? — pergunto.
Ele olha para mim como se eu estivesse maluca.
— Claro.
Se eu não estava apaixonada por ele antes, estou muito mais perto agora. Ele sequer
me beijou, mas tenho mil borboletas voando na barriga.
Levo Mellie ao banheiro, dou banho e visto pijamas novos nela. Quando saio do seu
quarto, depois de colocá-la na cama, encontro Matt colocando os lençóis sujos na
máquina de lavar. A porta de Seth se abre, e ele enfia a cabeça para fora.
— O que há de errado? —pergunta.
— Mellie passou mal — sussurro.
— Ela está bem? — Ele entra no quarto dela e sai um minuto mais tarde, depois de
verificá-la. — Desculpe eu não ter ajudado com isso — ele fala timidamente.
— Está tudo bem. Nós cuidamos dela. Volte para a cama — sugiro.
— Deve ter sido algo que ela comeu. Ela não está com febre. — Seth não parece
preocupado.
Provavelmente, foram os cinco biscoitos que deixei que ela comesse após o jantar.
Seth me disse que era má ideia e eu não o ouvi.
— Deve ter sido. Volte para a cama.
Seth olha de mim para Matt e arqueia a sobrancelha.
— Ok — ele diz com um sorriso.
— Cala a boca — Matt resmunga alegremente. Seth balança a cabeça e vai para o seu
quarto, fechando a porta.
— Ele nunca tranca a porta — falo, tentando descobrir o motivo de ele ter feito isso.
Matt sorri.
— Às vezes, os adolescentes precisam trancar suas portas — diz ele. — Confie em
mim, está tudo bem. — Ele coloca as mãos nos meus ombros e me leva de volta para o
sofá.
— Oh, você acha que ele estava fazendo isso? — pergunto. Ainda estou sussurrando.
— É um bom palpite — diz ele com uma risadinha.
— Está vendo? — falo, erguendo minhas mãos — Não sei nada sobre crianças.
— Ele é um adolescente — diz ele. — Primeiramente, você sempre pode pensar que
esse é o motivo.
— Como você sabe tanto?
— Quatro irmãos — ele explica. — Lembra? Isso para não falar que sou um cara. Nós
fazemos isso. — Ele sorri.
— Você quer dizer, quando era mais jovem. — Observo de perto seu rosto.
Seu sorriso fica ainda maior.
— E mais velho.
Meu rosto esquenta. Ele apenas sorri e bate na ponta do meu nariz com o dedo.
Olho para minha camisa.
— Eu meio que estou cheirando a vômito.
— Sim — ele concorda. — Acho que eu também. — Eu o vi lavar as mãos depois de
trocar os lençóis, e eu também lavei, mas ainda assim não é muito sexy.
— Obrigada por me ajudar.
— De nada. Estou feliz por estar aqui.
Matt segura a barra da sua camisa e a puxa sobre a cabeça. Ele está vestindo uma
camiseta branca sem mangas por baixo, então não está nu, mas está mostrando muito
mais pele. Muito mais tatuagens. Muito mais músculos. Matt é grande e amplo, mas alto
e magro. Deixo escapar um pequeno suspiro sonhador.
— Posso ficar mais um pouco? — Matt pergunta.
— Sim, mas preciso me trocar. — Levanto-me e troco a roupa suja por uma camiseta
comprida e um short de dormir. Quando volto, Matt assobia baixinho, olhando para
minhas pernas.
— Lembre-me de fazê-la vomitar em você cada vez que estivermos no sofá.
Sorrio. Sento-me ao seu lado, e ele me puxa para mais perto. Então, ele se deita para
que eu esteja em volta dele. Meu quadril está escondido entre ele e parte de trás do
sofá.
— Não quero ir para casa ainda — diz ele, em voz baixa. Ele coloca minha cabeça em
seu peito, e eu pressiono meu rosto contra ele. Sua mão se instala na parte de trás da
minha cabeça, e ele começa a acariciar meus cabelos.
— Então não vá — falo em voz baixa.
Ele não vai.
Ele enfia os dedos no meu cabelo e acaricia minhas costas com a outra mão, mais e
mais, até que minhas pálpebras ficam pesadas e eu adormeço em seu peito.
Acordo na manhã seguinte, deitada em minha própria cama, as cobertas puxadas até
o queixo. Sento-me e olho ao redor. Ao meu lado, no travesseiro, tem um bilhete. Abro e
leio.
Você já está apaixonada por mim?
MATT

O lho novamente para o relógio na parede e Paul faz uma carranca para mim.
— Você está contando os minutos? — ele pergunta.
Sim, meio que estou.
— Não — resmungo.
Paul apenas revira os olhos.
— Que horas é o treino? — ele pergunta.
— Sete — murmuro enquanto limpo minha área de trabalho. — Quer ir?
Pete sai da parte de trás, onde estava fazendo um piercing.
— Eu quero ir — ele fala e manda o cara que estava atendendo pagar à Friday, que
recebe o dinheiro e o leva até a porta.
— Também quero ir — Friday fala e começa a arrumar suas coisas.
Paul ergue as mãos e pergunta:
— Será que alguém vai trabalhar hoje à noite?
— Não — todos nós falamos ao mesmo tempo.
Logan ri e puxa Emily para o seu lado. Ela cai contra ele e sorri.
— Quer ir? — ela pergunta.
— E você acha que eu perderia a chance de ver Matt sendo puxado pelas bolas? Não
mesmo! — Logan ri quando ameaço ir para cima dele e se esconde atrás de Emily.
Pete continua a zoação.
— Ele deveria colocar uma cordinha no piercing que tem no pau. Assim, ela poderia
puxá-lo por aí. — Ele ajeita seu membro de brincadeira. — Poderia colocar nas bolas
também, cara.
— Pare de falar das minhas bolas — advirto, apontando para as meninas.
Friday sorri para mim.
— Todas nós sabemos que você tem um piercing aí — ela fala, fazendo um
movimento em direção à minha calça.
Faço uma careta, mas não me importo. Todo mundo sabe sobre isso. Fiz o meu logo
depois que Paul fez o dele. Apenas Pete e Logan não têm. Até Sam é perfurado. Logan
tem uma barra na base do seu pênis. Puta merda.
— E pare de falar do meu pinto. — Pego Friday em uma chave de braço e puxo-a
contra mim. Ela grita e tenta segurar minha mão.
— Não desmanche meu cabelo — ela avisa, me bloqueando. — Não é fácil ficar bonita
assim.
Na verdade, Friday é linda de morrer, com seu estilo pin-up dos anos cinquenta. Ela
usa roupas vintage e batom vermelho. Às vezes, acho que ela ganha gorjetas apenas
sorrindo. Mas, às vezes... às vezes vejo uma ponta de tristeza aparecendo em seus olhos.
É um flash rápido. Não sei se mais alguém percebe isso.
Pete digita algo em seu telefone muito rapidamente. Ele finalmente olha para cima.
— Reagan disse que vai nos encontrar lá.
Ótimo. Agora toda a minha família vai comigo passar um tempo com Sky. Uhu. Era de
se imaginar que pelo menos um deles fosse lutar, tendo em vista a comitiva. Bastardos
fofoqueiros.
Pegamos o metrô e chegamos lá quando os meninos estão se aquecendo. Eles correm
em círculo ao redor do tatame enquanto vou me sentar ao lado de Sky, que está nas
arquibancadas com Mellie e Joey sentadas aos seus pés. Ambas estão pintando um livro
de colorir. Elas olham para cima e sorriem quando me veem. Inclino-me no banco e
observo os desenhos. Elas estão colorindo-os com atenção. Isso vai entretê-las por cerca
de cinco minutos. Espero que Sky tenha trazido mais coisas em sua grande bolsa para
distraí-las.
Sento-me no banco ao seu lado e, em seguida, empurro-me contra ela muito
suavemente, até estar pressionado ao seu corpo do ombro ao joelho. Ela se aconchega e
balança a cabeça, o rosto ficando vermelho.
— Oi — falo em voz baixa.
Olho em seus olhos.
— Oi —responde. Ela está tão linda. Deve ter vindo da casa, pois está vestindo calça
jeans e uma camiseta. Há uma jaqueta no assento ao seu lado. — Como foi seu dia? —
ela pergunta.
— Melhor agora que estou com você — admito. Ela sorri e se inclina para mim. Eu me
inclino e sussurro. — Me dá um beijo?
Ela empurra meu ombro.
— Aqui, não. — ela sussurra e olha em volta.
— Por favor — falo, colocando as palmas das mãos juntas, como em oração.
Ela se inclina para frente muito rapidamente e toca seus lábios nos meus. O beijo de
ontem à noite, com nossas línguas se tocando e seu corpo pressionado contra o meu foi
muito incrível, mas esse toque rápido quase o vence.
— Obrigado — falo. Não posso esconder meu sorriso, então, nem tento.
Ela me bate, revirando os olhos.
— Senti sua falta hoje — digo a ela.
Ela olha para cima.
— Obrigada pelo bilhete no travesseiro — ela fala calmamente.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da sua orelha. A maior parte está preso em um
rabo de cavalo adorável, exceto pela mecha que escapou.
— Eu realmente queria ter ficado na cama com você.
Seus olhos encontram os meus.
— Você deveria ter ficado.
Balanço minha cabeça.
— Não queria que Seth achasse que passei a noite. — Essa merda é importante para
as crianças.
Ela balança a cabeça lentamente.
— Foi muito bom ficar abraçado com você no sofá. — Estou ficando duro, então, é
melhor cortar esse papo.
— Você é bom como travesseiro — ela sussurra.
— Apenas como travesseiro? — Finjo puxar uma faca invisível do peito.
Ela me cutuca com o dedo indicador.
— Um bom travesseiro duro — diz ela.
— Duro é bom — falo. Desvio o olhar para onde os meninos estão se aquecendo, pois
preciso me concentrar em algo que não seja ela. Quero-a tanto que mal posso suportar.
Os meninos estão alongando as costas e pescoços, e fazendo alguns movimentos
bastante impressionantes. Seth está com sua equipe e ele se exercita com um rapaz que
deve fazer parte da sua categoria de peso. Ele vira o outro menino de costas, e desejo ir
até lá mostrar-lhe como ele deveria ter feito aquilo. Mas ele não é meu filho e nem sou
seu treinador.
Reagan e Pete sentam-se do outro lado de Sky, e Reagan começa a falar com ela.
Estou feliz por ter alguém aqui para distraí-la, porque tudo que quero é arrastá-la para
uma escada e beijá-la intensamente.
Pete faz um movimento para mim como se estivesse enfiando uma agulha muito
perto do seu pau e, em seguida, dá um puxão como se o estivesse guiando por ali. Olho
para ele, e ele ri. Paul senta-se atrás de nós, com Friday ao seu lado e ri também.
— Calem a boca — resmungo.
Viro-me para assistir ao treino. Seth é realmente muito bom no que faz. Mas gosto de
ver todas as crianças, em todas as categorias de peso. Logan e Emily seguem em nossa
direção e sentam na nossa frente. Agora, Sky tem um Reed de cada lado dela. Mellie e
Joey estão ficando um pouco inquietas e Joey vai mais para baixo das arquibancadas sem
que Sky perceba. Ela ainda não está acostumada a ser mãe. Ela só percebe quando Joey
chega ao último degrau. Então, se levanta para ir atrás dela.
— Vou buscá-la — falo e me levanto. Desço rapidamente os degraus e Joey olha
timidamente para mim. Ela sabe que não passaria despercebida.
Pego-a em meus braços e a levo de volta até Sky. Ela se estica para fora do meu colo
e eu faço um barulho com a boca em sua barriga. Ela ri e a estufa, como se quisesse a
brincadeira novamente. Então, eu faço. Ela ri, e o som é tão feliz que me tira o fôlego.
Sento-me e seguro-a no colo, então, pego meu telefone e abro o Angry Birds. Mostro
a ela como jogar e, rapidamente, ela começa a lançar pássaros. Ela se move do meu colo
para sentar-se ao meu lado, e Mellie se inclina contra ela para assistir. Isso deve entretê-
las por mais algum tempo.
— Por que isso parece tão natural para você? — Sky pergunta baixinho.
— O quê? — pergunto. Estremeço quando um dos meninos faz um movimento terrível
no tatame. — Isso não foi bom — digo a ele, mesmo sabendo que não pode me ouvir.
— Tudo isso — diz.— Você faz tudo tão bem.
Olho para ela.
— O quê?
— Você distraiu Mellie e Joey e está assistindo ao jogo, e aposto que vai conversar
com Seth e dizer-lhe tudo o que ele fez de errado quando chegarmos em casa.
Casa? Eu sorrio.
— Vou para casa com você hoje à noite? — pergunto ao lado de sua orelha.
— Acho bom — ela fala.
Meu coração acelera.
— Certo — suspiro.
Depois de alguns minutos, Logan se vira para falar comigo. Ele fala e faz sinais ao
mesmo tempo, assim como eu.
“O pai dela”, diz ele por sinais, apontando para a porta. Afasto-me alguns centímetros
dela.
— Obrigado pelo aviso — respondo e bato com a mão em seu ombro.
“Por nada” Ele sorri e balança a cabeça. Pete puxa sua corda imaginária. Quero dar
um soco nele.
Meus irmãos estão fazendo apostas sobre os pesos-pesados. Acho que Seth tem cerca
de setenta e dois quilos. Ele é alto e magro, muito parecido comigo, embora eu pese
pouco mais de noventa quilos agora. Paul e Logan são grandes e volumosos e sempre
lutaram nas categorias mais pesadas. Eu era da mesma categoria que Seth.
O pai de Sky senta-se ao nosso lado e eu estendo a mão para apertar a dele. Ele olha
para mim, mas em seguida, Mellie e Joey mostram-lhe o meu telefone, e ele fica
interessado em entretê-las. Sky inclina-se contra meu ombro, observando os combates.
Ela esconde o rosto quando um dos meninos cai no tatame.
— Isso não vai acontecer com Seth, não é? — ela sussurra com veemência.
Dou de ombros.
— Talvez. — Sorrio para ela e aperto seu nariz. — Não se preocupe. Ele está
acostumado a isso.
— Ele não vai se machucar, não é? — ela pergunta.
Seguro sua mão na minha e aperto.
— Pare de se preocupar. Ele vai ficar bem.
Quando é a vez de Seth, ela puxa a mão da minha e senta-se inclinada para frente.
Olha para ele de perto, desviando o olhar para Mellie e Joey a cada poucos segundos
para se certificar de que estão bem. Acho que ela vai chegar a conclusão de que essa
coisa de ser mãe é ainda melhor do que ela jamais imaginou.
Seth aperta a mão de seu oponente, e a campainha soa. Estremeço porque o outro
garoto é, obviamente, mais velho e mais experiente do que ele. Seu adversário tem uma
tatuagem no pescoço, o que significa que ele tem, pelo menos, dois anos a mais.
Seth se vira, e Sky grita e esconde o rosto atrás do meu ombro. Ela olha para cima,
mas vira para mim a cada poucos segundos, quando algo acontece. Seth está alguns
pontos à frente, mas esse garoto poderia, honestamente, imobilizá-lo a qualquer
momento, a menos que Seth tenha sorte. Acho que o garoto está brincando com ele.
— Vamos, Seth — o Sr. Morgan chama. O garoto olha para cima e sorri.
Eles lutam por um segundo e, caramba, Seth tem muita sorte. Ele ganha mais alguns
pontos, e o relógio continua correndo.
Seth o atinge e ganha mais pontos. Sky fica de pé e bate palmas quando eles
levantam seu braço no ar. Ele sorri e vai apertar a mão do técnico adversário. Em
seguida, para na beira do tatame, levanta uma mão para o céu, e diz algo baixinho para
si mesmo. Ou para sua mãe. Não tenho certeza. Em seguida, ele encontra um ponto no
banco de sua equipe e se seca com uma toalha. Estou muito orgulhoso dele. Não que eu
tivesse alguma coisa a ver com isso, mas aquele garoto poderia, facilmente, ter vencido
se Seth não tivesse as habilidades técnicas que tem. Ele fez um trabalho realmente bom.
Sky sorri.
— Acho que gosto de luta — ela fala.
— Diga isso para as marcas de unha no meu braço — provoco.
Sua voz soa como um leve ronronar.
— Depois, vou beijá-las para você sarar.
Friday deve ter ouvido, pois bufa atrás de nós. Sky ri e pisca para mim. Ela se encaixa
com a minha família. E eu me encaixo na dela.
Esperamos até o final do treino para pegar Seth. Seu pai se aproxima e beija-lhe a
testa. Ela se assusta por um segundo, e eu me pergunto o porquê.
— Ele foi muito bem — diz.
Sky concorda.
— Foi, sim.
— Tenho que ver a sua mãe — diz ele.
Os olhos de Sky se estreitam.
— Por quê? Algo está errado?
Ele evita o olhar dela.
— Nada fora do normal — diz ele.
— Oh — Sky respira. Ela não parece chocada, e não tenho ideia do que estão falando.
Ele acena e vai abraçar Seth, Então, vai embora tão rapidamente quanto chegou. Sky fica
ali, segurando Joey com uma mão e Mellie com a outra. As meninas estão ficando
cansadas e chorosas.
— Vocês querem jantar? — pergunta Paul.
Sky balança a cabeça.
— As crianças já comeram e têm que ir para a cama. Mas obrigada pela oferta. Fica
para uma próxima?
— Claro que sim — diz Paul. Ele coloca um braço em volta dos ombros de Friday e os
dois vão embora com Logan, Emily Pete e Reagan.
— Eles estão namorando? — Sky pergunta, apontando para Paul.
Balanço minha cabeça.
— Ele quer, mas acha que ela gosta de meninas — falo. — Paul é o único que não
sabe a verdade.
— Que engraçado.
— Acho que é o motivo pelo qual eles são tão próximos. Seria complicado para eles.
Ele não costuma ser amigo de garotas. — Dou de ombros. — Esse “relacionamento”
funciona para eles.
Seth sai, vestindo um short e agasalho. Ele tomou banho, então não está malcheiroso
como alguns dos outros meninos. Aperto sua mão como os caras fazem. Ele sorri.
— Fez um bom trabalho — eu digo.
— Eu quase fu... — Ele lança um olhar a Sky. — Quase estraguei tudo uma hora.
Eu rio.
— É verdade.
Entramos no carro de Sky e voltamos para o apartamento, com Seth resmungando
sobre ter de se sentar no banco de trás com as meninas. Quando chegamos, o paro por
alguns minutos.
— Você se importa se eu for com vocês para passar algum tempo com Sky? —
pergunto.
Seus olhos estreitam-se para mim.
— Faria alguma diferença se eu não quisesse? — ele pergunta.
— Sim — admito. — Isso é muito importante.
— Nesse caso, não me importo — diz ele. Ele dá um soco no meu braço e corre para
dentro do prédio antes de mim, perseguindo Mellie e Joey no elevador. Ele segura a
porta para nós, e vamos todos juntos.
— Para a banheira — Sky fala assim que chegamos na porta. As meninas correm em
direção ao banheiro.
— Você está ficando muito boa nessa coisa de dar ordens — falo, puxando-a para
mim. Prendo meus dedos nos passadores de sua calça e puxo-a para mais perto.
— Beije-me — ela manda, rindo.
Seth faz um som como se estivesse engasgando. Finjo que vou pegá-lo.
Ele ri.
— Vou ajudar as meninas — diz ele, revirando os olhos.
Finalmente, começo a beijá-la. Ela envolve seus braços no meu pescoço e puxa minha
cabeça em sua direção. Estou quase sem fôlego quando uma criança sai correndo nua
pela cozinha. Eu rio, e nós nos afastamos.
— Vou buscá-la — falo. Pego a toalha que Seth joga e vou atrás de Joey. Pego-a e
levo-a de volta para o banheiro, embrulhada em uma toalha branca macia. Entrego-a
Seth e olho ao redor. Percebo que estou, de repente, onde sempre quis estar. Agora, só
preciso descobrir como tornar isso permanente.
SKYLAR

A última vez que meu pai me convidou para almoçar, ele me deu três filhos e uma vida
nova. Estou um pouco preocupada com o que ele quer hoje. Faz uma semana desde o
treino de luta e papai me ligou quatro vezes desde então, só para conversar. Estou tendo
um pouco de dificuldade em me adaptar à presença de um pai em minha vida,
particularmente agora que sou adulta.
Estou trabalhando em casa hoje, então ele virá para o apartamento. Fiz um almoço
simples para nós. Uma batida soa na porta, e vou abrir para ele entrar.
— Oi, pai — falo, quando abro a porta. Ele se inclina para beijar meu rosto e tira o
paletó.
Não fiz alterações no apartamento, mas ele olha em volta e acena com a cabeça.
— O lugar parece bom — diz ele.
— Obrigada? — falo, sem saber porque estou agradecendo.
— Conversei com Seth ontem — ele fala enquanto se senta e abre um guardanapo de
pano em seu colo.
— Ah, é? Sobre o quê?
Ele dá de ombros.
— Nada de importante. Às vezes, gosto de ligar sem um motivo específico.
— Você também costuma ligar para as crianças de Lydia e Tim? — Eles são meus
irmãos, mas são bem mais velhos que eu, e nós nunca fomos próximos. Nem me lembro
os nomes de seus filhos. Isso me faz sentir mal por um segundo, mas afasto o
sentimento rapidamente. Eles não sabem os nomes dos meus filhos também.
Ele balança a cabeça.
— Sim.
— Então é só comigo que você nunca teve um relacionamento? — As palavras saem e
flutuam no ar antes mesmo que eu perceba o que disse. Quero engoli-las de volta, mas é
tarde demais.
— Quando conheci sua mãe, eu estava falido. Fui para a faculdade na Virgínia com
uma bolsa e, um dia, a vi andando descalça na grama. — Ele sorri. — Ela era a coisa
mais linda que já vi. Estava usando um vestido verde florido, e as unhas dos pés estavam
pintadas de rosa. Seu cabelo caía sobre os ombros em uma profusão de cachos.
Nunca vi meu pai sendo nostálgico. Não tenho certeza se gosto.
— Eu era um nerd total e ela era a pessoa com o espírito mais livre que já conheci.
Me apaixonei em segundos.
— O que aconteceu? — pergunto. Paro de comer porque nunca o ouvi falar de si
mesmo antes, e tenho medo de que não continue. Não quero que ele pare, apesar do
fato de esse sentimento ser tão estranho para mim. Na verdade, quero ouvir sobre seu
passado.
— Eu mexia com computadores. Isso era tudo que eu queria fazer, até que a conheci.
Então, a vida tornou-se divertida e brincalhona. Construíamos fortes em nossos quartos
de dormitório e depois passávamos o dia embrulhados dentro deles. — Seu rosto fica um
pouco vermelho e ele tosse. — Foi mágico.
— Essa não parece a mamãe.
Ele faz um barulho.
— Eu sei —fala. — Mas ela era incrível. Nos casamos e, em seguida, sua mãe ficou
grávida de Tim e depois, de Lydia. Nós não tínhamos um tostão no bolso, mas éramos
felizes. Muito felizes. Às vezes, dói só de pensar naqueles dias. Porque, então, as coisas
mudaram.
— Você a traiu.
Seus olhos encaram os meus.
— Não. Isso foi depois.
— Depois do quê?
— Sua mãe ficou grávida pela terceira vez, mas perdeu o bebê. A gravidez estava
muito adiantada. Ela entrou em depressão e foi muito difícil sair. Ao mesmo tempo,
vendi, para uma grande empresa, alguns softwares de computador que tinha feito e, de
repente, ganhamos dinheiro. Sua mãe começou a melhorar. Mas eu trabalhava muito e,
pouco a pouco, ela começou a se afastar de mim. Ela começou a se vestir com
extravagancia e sair para almoçar com alguns amigos que eram realmente ricos. Nós
também fomos ficando cada vez mais ricos.
— Eu não sabia sobre o bebê.
— Então, eu trabalhava o tempo todo para conseguir sustentar sua necessidade de ter
mais coisas, carros maiores, e joias. — Ele balança a cabeça. — A garota que conheci na
grama naquele dia, de repente desapareceu, e trabalhei muito duro para trazê-la de
volta. Eu tinha uma quantidade limitada de tempo e muito menos energia, mas tentei.
Sua mãe me afastava o tempo todo, até que finalmente percebi que estávamos apenas
dividindo uma casa. Não estávamos mais apaixonados. Não éramos mais um casal.
— Foi quando você conheceu a mãe de Kendra.
Ele balança a cabeça.
— Ela trabalhava em meu escritório. Foi terrivelmente inadequado, e eu ainda me
sinto mal sobre isso. Mas o que mais me machucou foi que, quando terminei as coisas,
ela foi contar os meus pecados para sua mãe. E sua mãe simplesmente não ligava mais.
Ela queria manter seu estilo de vida e nada além disso. Então, mantive o relacionamento
com a mãe de Kendra. E sua mãe tornou-se a mulher que é hoje.
— Fria e sem coração.
— Ela não é fria e sem coração — ele protesta. — Ela está apenas... magoada, eu
acho. Não sei. Ela nunca superou aquele bebê. E ela nunca voltou para nós. E nem eu.
— Pai — começo. — Como é que vocês dois acabaram me tendo? Sou quinze anos
mais jovem do que meus irmãos. É como começar uma família totalmente nova.
Ele sorri.
— Foi uma loucura. Um dia, fui para casa, e sua mãe estava no jardim. Ela tinha
sujeira da ponta do nariz até os dedos dos pés. Honestamente, ela estava um pouco
maluquinha naquele dia, parecendo com seu antigo eu. Não sei o que aconteceu, mas foi
como se alguém tivesse virado um interruptor nela. Olhei em seus olhos e vi a mulher por
quem me apaixonei.
Ele sorri.
— Ela me olhou, no meio daquele monte de sujeira e perguntou se eu queria ajudar.
Empurrou uma espátula para mim, e eu tirei casaco e enrolei as mangas da camisa.
Estávamos sujos e, de repente, os irrigadores automáticos ligaram, nos encharcando. Sua
mãe, que geralmente andava toda arrumada e dava um chilique se ficasse molhada ou
suja, simplesmente deixou-se cair na grama e riu. Foi quando percebi que ela estava
sóbria. Estava completamente e totalmente sóbria, e fazia muito tempo que ela não
ficava assim.
— Ela estava no AA e fazendo terapia e eu não tinha notado. Ela não estava tomando
remédios para dor. Sua cabeça estava clara e ela estava rindo e parecia aquela menina
engraçada e inteligente que conheci na faculdade. Mas mais velha e melhor. E eu percebi
que ainda a amava. Me esforcei muito para cortejá-la e fazê-la se apaixonar por mim
novamente. E consegui. Ela me deixou voltar.
— Você parou de ver a mãe de Kendra?
Ele balança a cabeça.
— Não conseguia parar de vê-la totalmente, pois nós tivemos uma filha juntos, mas
terminei o relacionamento. Ela ficou com o coração partido, mas superou. Acho que ela
respeitou o fato de eu querer meu casamento novamente. — Ele dá de ombros. — Ela se
apaixonou e se casou, e o relacionamento não tinha que que ser em segredo. Naquela
época, casais inter-raciais não saíam em público sem alguns olhares muito
desagradáveis. Particularmente, homens brancos ricos que já eram casados. Mas ela
conheceu um homem e se casou. Ela estava feliz. E eu estava feliz com sua mãe. — Ele
sorri. — E você nasceu. Sua mãe ficou em êxtase.
Sorrio.
— Você é um belo mentiroso, pai.
Ele levanta as mãos como se estivesse se rendendo.
— Não estou mentindo. Era como se estivéssemos começando de novo.
Espero, porque ele vai deixar cair a bomba em mim em breve. Posso senti-la
chegando.
— Então, quando você tinha cerca de cinco anos, notei que ela voltou a almoçar com
os velhos amigos e, de repente, começou a me afastar. Ela voltou a beber e ficar
interessada apenas em dinheiro. Não importava o que eu fizesse, ela não aceitava ajuda.
Mas eu fiquei ao lado dela. Nunca a abandonei. Até que a mãe de Kendra morreu, e sua
mãe festejou, mesmo que essa relação tivesse acabado há anos. Nunca fui capaz de
perdoá-la por isso.
— Ding-dong, a cadela está morta — sussurro.
Ele se assusta.
— Você sabia disso?
Aceno e lágrimas enchem meus olhos. Tento segurá-las.
— Ela estava bêbada quando isso aconteceu. Quando me contou, quero dizer.
— Contratei babás para cuidar de você, porque ela simplesmente não era capaz.
Trabalhei muito porque tinha que mantê-la no estilo de vida a que ela estava
acostumada. Olhando para trás, eu deveria tê-la forçado a começar o tratamento. Ela
poderia ter sido uma mãe maravilhosa para você se eu tivesse feito isso.
— Já passou muita água debaixo da ponte, pai — falo. — Nada disso pode ser
alterado agora. — Começo a tirar os pratos da mesa.
— Sua mãe está na reabilitação de novo — ele deixa escapar.
Afundo de volta na cadeira, e os pratos batem no tampo da mesa.
— Agora?
Ele balança a cabeça.
— Sim, agora. Ela foi. Eu a vi ontem. Ela parece estar bem. Como era antes. E quer
falar com você.
Sinto como se alguém tivesse tirado todo o meu ar.
— Achei que você tinha me pedido para ficar com as crianças porque sabia que eu não
me importaria com o fato de você já ter tido um relacionamento com a mãe de Kendra.
Eu poderia muito bem ter lhe dado um tapa.
— Pedi que ficasse com eles porque você tem mais amor para dar do que qualquer
outra pessoa que eu conheço. Eles precisavam de você.
— Não, pai — corrijo. — Eu precisava deles. Eles não me amam ainda, mas acho que
vamos chegar a esse ponto. Tenho esperança de que um dia eles me amem, pois sei que
eu os amo. Todos eles.
— Achei que vocês realmente se apaixonariam.
— Por que o súbito interesse na minha vida, papai? — pergunto. — Telefonemas e
almoços, você aparecendo para assistir aos treinos... não sei o que fazer com tudo isso.
Não sei porque você está fazendo isso. — Bato meu punho na mesa, e os pratos tremem.
— Você não tem que fingir que me ama para que eu os ame.
— Não estou fingindo, Sky. Eu amo você. Sei que estraguei tudo. Mas ainda sou seu
pai, e se você deixar, quero estar ao seu lado.
— Quero. Quero. Quero. — Gesticulo. — Isso é tudo que você faz, pai. Você toma.
Você tomou da mãe de Kendra. Você tomou de Kendra. Você toma das crianças porque
elas te fazem sentir amado. Não há nada como o amor incondicional das crianças. —
Aperto meu punho na frente do coração. — Você pegou da minha mãe.
— Sua mãe tem seus próprios demônios.
— E você também, pai. Chama-se ser um mentiroso infiel.
Ele abre a boca para protestar, mas seguro sua mão.
— Você sabia que não consigo ter um relacionamento saudável com um homem
porque estou constantemente esperando que ele vá embora? Estou sempre esperando e
esperando que ele se vire e vá embora, como você fez. Estou sempre esperando que ele
vá me deixar. E não me importo se ele vá, porque nunca deixo ninguém chegar perto o
suficiente para me machucar.
Jesus Cristo. De onde veio isso?
Levanto-me e, finalmente, colocar os pratos na pia.
— Acho que você deve ir, pai — eu digo. Seguro a beirada do balcão, porque meus
joelhos estão prestes a ceder.
Ouço papai se movimentar. Em seguida, ele se aproxima e beija minha têmpora
muito rapidamente.
— Eu te amo, Sky — diz ele.
Em seguida, ele se vai. E só quando ele sai da sala é que eu desabo. Caio sobre o
sofá e coloco a cabeça em minhas mãos e soluço. Choro porque não pedi nada disso. Não
pedi para ele despejar sua alma na mesa da minha cozinha. Agora, sei o suficiente para
que tenha pena dele, e eu preferia odiá-lo. Preferia sentir absolutamente nada. Ouço um
barulho na porta, e ela se abre. Estou prestes a gritar com papai, mas vejo Seth entrar.
Ele para ao me ver.
— O que há de errado? — pergunta.
Forço um sorriso e enxugo meus olhos com as pontas dos dedos.
— Alergia — respondo. — Por que você está em casa tão cedo?
— Temos aula só até o meio-dia hoje.
— Oh. — Ele deve ter se esquecido de me dizer que saía mais cedo. Mas isso não
importa, pois Joey e Mellie teriam ido para a creche mesmo assim. Levanto-me e tento
sorrir para ele. — Vou tomar um banho.
MATT

P aul senta-se à minha frente na mesa da cozinha, comendo seu cereal com mel. Ele
arremessa um envelope para mim, da pilha de correspondência. Olho para baixo e
observo o envelope. Merda. É o convite.
Abro e finjo lê-lo.
— Você está cordialmente convidado para o casamento da cadela que trepou, por
engano, com seu melhor amigo.
Coloco-o sobre a mesa e aponto para o envelope.
— Olha, ela incluiu toda a família. Vocês podem ir comigo.
— Você vai? — Paul pergunta.
Dou de ombros.
— Não sei porque deveria ir. Não é importante.
Ele sorri.
— Você a esqueceu.
— Inferno, sim, eu a esqueci — respondo. E esqueci mesmo. Estou cem por cento
certo disso. — Tenho absoluta certeza de que estou apaixonado pela Sky.
Eu a vi todas as noites essa semana. Nos dias em que não pude ir ao apartamento à
noite, fui ao seu trabalho e levei-a para almoçar. Não quero ficar um dia sem vê-la. Nós
ainda não passamos da fase dos beijos quentes, mas por mim, está tudo bem.
Paul cerra os olhos.
— Isso foi rápido.
— Pete e Logan disseram que foi assim com eles. — Estalo os dedos. — Rápido.
Paul balança a cabeça.
— Não posso dizer que já senti isso.
Esperemos que um dia ele sinta.
Meu telefone vibra no bolso, e eu o pego. Por que Seth está me ligando no início da
tarde?
— O que manda, Seth? — pergunto. Estou sorrindo ao atender, mas meu sorriso se
desfaz. Ele está quieto. Muito quieto.
— Seth? — chamo.
— Vim para casa mais cedo hoje — diz ele, a voz, um sussurro.
— Certo…
— E a tia Sky estava chorando no sofá.
— Você sabe por quê? — Pego minhas chaves e vou em direção à porta.
— Não sei. Não era um choro bobo. Ela estava soluçando. Sabe quando a pessoa
chega a sacudir os ombros porque mal consegue respirar? Será que ela está na TPM ou
algo assim?
TPM. Suspiro. É melhor que ele não esteja falando isso de onde ela possa ouvi-lo.
— Onde ela está agora? — Já estou andando pela rua em direção a um táxi. Entro e
continuo conversando com Seth enquanto sigo para o seu apartamento.
— Ela disse que ia tomar um banho.
— Ok, abra a porta para mim quando eu chegar aí.
— Não sei o que fazer com uma mulher chorando — ele sussurra com veemência.
Nem eu, mas vamos descobrir.
Ele abre a porta quando eu bato e acena em direção ao quarto de Sky. Bato
levemente na porta. Ela não abre, então, eu testo a maçaneta. Está aberta e eu entro no
quarto. Posso ouvir a água corrente do chuveiro, então, vou nessa direção.
Ela ainda está chorando. Posso ver seus ombros balançando através do vidro
chuveiro. Tudo o que posso pensar é que ela precisa de um abraço apertado e carinho.
Tiro minhas roupas e abro a porta do box. Ela se vira e, ao perceber que sou eu, pula em
meus braços. Ela está completamente nua, todo molhada, mas está chorando, então, não
posso sequer aproveitar.
Fecho a porta do box e nós dois ficamos sob o jato de água. Afasto o cabelo molhado
de seu rosto.
— O que há de errado? — pergunto. Viro para que minhas costas recebam a maior
parte da água.
Ela não fala. Apenas balança a cabeça no meu ombro e se mantém firmemente presa
a mim. Ela soluça no meu pescoço, e eu só a abraço. Não sei mais o que fazer por ela.
Fico tão perdido quanto Seth está quando se trata de mulheres chorando. Acho que todos
os homens ficam. Mas ela parece extremamente infeliz, então, acho que só preciso
apoiá-la.
Finalmente, seus soluços diminuem e percebo que ela tem um rio de rímel escorrendo
pelo rosto. Muito delicadamente, eu a empurro de volta para a água e lavo seu rosto
para tirar a tinta preta. Pego um frasco de xampu e ensaboo seu cabelo. Ela fica tensa
em meus braços, mas não resiste ao meu toque. Ela me deixa cuidar dela. Enxaguo seu
cabelo e esfrego seu corpo com a esponja repleta de sabonete. Tento não olhar para
seus seios, mas é difícil. São peitos e eu sou um cara! Isso sem mencionar o quanto são
perfeitos. Forço-me a não roçar neles e presto atenção ao resto do seu corpo. Ela tem
covinhas sobre a bunda, e eu quero lambê-las, mas não o faço. Em vez disso, desligo a
água, saio, e volto com toalhas.
Ela me deixa envolvê-la e secar um pouco o seu cabelo. Enrolo uma toalha em volta
da minha cintura e a puxo pelos dedos para sua cama. Ela puxa as cobertas, como se
estivesse exausta, e desliza entre os lençóis. Eu me movo para puxar as cobertas até seu
queixo, mas ela solta gemidos de protesto quando tento sair de cima dela.
Ela me deixa envolver meu corpo ao seu redor. Mas então, ela me surpreende e puxa
a toalha, jogando-a no chão. Faço o mesmo com a minha. Estamos nus entre os lençóis
e, oh, meu Deus, não tenho nenhuma ideia do que fazer com ela. Pensei que quando isso
acontecesse eu estaria pronto para fazer amor com ela. Mas isso, obviamente, não é o
que ela precisa agora, para não mencionar que Seth está no outro quarto.
Afasto seu cabelo molhado e ela vira para me encarar.
— Meu pai veio me visitar hoje.
Não digo nada, porque não acho que ela queira que eu fale. Seus mamilos são
pequenos pontinhos pressionados contra o meu peito, e me forço a acariciar levemente
seu braço em vez de tocá-los.
— Ele abriu sua alma para mim. Contou-me sobre todas as coisas horríveis que ele e
minha mãe fizeram um ao outro e o porquê.
Sua voz é suave, mas não fraca. De modo nenhum. Ela soa nasalada e um pouco
rouca por causa do choro.
— Ele me contou sobre quando me tiveram.
Espero que ele não tenha entrado em detalhes privados, porque seria muito estranho.
— Não fui um erro. Mas o que eu disse a ele pode ter sido.
— O que você disse a ele? — pergunto baixinho.
— Disse que é culpa dele o fato de eu não poder me apaixonar.
Eu congelo. Onde isso me deixa?
— Por quê?
— Estou acostumada a ficar sozinha. Se eu não contar com ninguém, nunca vou me
decepcionar.
Eu entendo.
— Mas então, você surgiu.
Puxo sua perna por cima do meu quadril. Meu pau está duro, e ela está ali, mas não
posso fazer isso.
— E? — Pergunto. Corro os dedos do joelho ao quadril e roço sobre seu traseiro nu.
— E acho que me apaixonei por você. Não estou cem por cento certa, mas sei que
gosto muito de você e quero te ter por perto. E agora, estou me acostumando com você,
e tenho medo que você vá quebrar meu coração. Preciso de você, Matt. Preciso que você
me ame também.
Viro-a e fico entre suas coxas. Eu me equilibro nos cotovelos enquanto afasto seus
cabelos molhados da testa.
— Combinado.
Seus olhos encaram os meus.
— Combinado? — ela ecoa.
Concordo com a cabeça e beijo a ponta de seu nariz.
— Quero comer, dormir e respirar você, mulher — falo. Passo meu nariz para cima e
para baixo em seu rosto. Ela treme em meus braços.
Beijo-a rapidamente e ela faz uma carranca.
— Precisar de mim e sentir minha falta não é o mesmo que me amar — ela fala,
mordendo o lábio inferior. Suas sobrancelhas arqueiam. Beijo o vinco entre elas e, em
seguida, aliso-o com meu polegar.
— Você já está apaixonada por mim? — pergunto.
— Você já está apaixonado por mim? — ela repete.
— Sim — digo em voz baixa. — Estou.
— Eu também — ela murmura. Então ela ri e posso sentir sua barriga tremendo sob a
minha. Preciso sair de cima dela ou vou me enterrar em seu corpo.
— Minha mãe está na reabilitação — ela fala. Viro-me e puxo-a para o meu peito.
— Sério?
Ela cruza as mãos em meu peito e repousa o queixo sobre elas.
— Sim.
— Como você se sente sobre isso? — pergunto, enquanto acaricio suas costas nuas.
— O engraçado é que me sinto esperançosa. — Ela solta um suspiro. — Foda, né? Não
importa o que eles façam, ainda os quero na minha vida.
— Você quer o que poderia ser — falo. — Isso é muito normal.
— Quero ser o tipo de mãe que ela não foi. — Ela pisca os belos olhos azuis para
mim.
— Acho que você já está tendo sucesso nisso. — Fico em silêncio por um minuto. —
Sempre disse a mesma coisa. Eu queria ser o pai meu pai não foi. Ele simplesmente
sumiu. Jurei que seria melhor e faria melhor. — Dou de ombros mentalmente. — Agora,
não posso ter filhos, então, acho que não é mais um ponto discutível.
— Não quero te colocar contra a parede — ela fala e estremece. — Mas se chegarmos
a um ponto em que isso entre nós seja permanente...
— Já chegamos — deixo escapar.
Ela ri.
— Você acha que poderia querer ser um pai para os meus filhos? Como um pai de
verdade? Eles têm pais, você sabe disso, mas não são ativos em suas vidas.
Meu coração incha no peito e tenho que piscar com força.
— Sim — falo, engolindo o nó na garganta. — Eu os adotaria se eles quisessem. —
Viro-a de costas e me deito entre suas coxas novamente. Mas só quero olhar para seu
rosto. — Você já é a mãe deles e podemos viver como uma família feliz. Eu já os amo.
Ela afasta meu cabelo do rosto.
— Ama, não é?
— Acho que me apaixonei por eles ao mesmo tempo em que me apaixonei por você.
Em um dia. — Rio, pois estou abrindo minha alma para ela.
Sky balança os quadris debaixo de mim, e eu deslizo através de sua umidade.
— Faça amor comigo, Matt — ela sussurra.
Mas ouvimos um barulho e o som de vozes gritando no corredor.
— Oh, merda — diz ela, correndo para sentar-se. — Seth deve ter ido buscar as
meninas mais cedo. — Ela puxa o lençol de cima de mim, me deixando nu, de costas na
cama. Ela para e olha para o meu pau. — Hum... — Ela aponta para minha
masculinidade, e juro que ela pulsa como se estivesse fazendo um show para Sky. — O
que é isso?
— É o meu pau. E se você não parar de olhar para ele, vou trancar a porta e usá-lo
para fazer coisas maravilhosas com você.
Ela ri.
— Já vi um pau antes — diz ela. — Estou falando do piercing.
— Isso é para você me levar ao céu — falo e rio.
Ela ri e cobre a boca.
— Isso não... atrapalha?
Balanço a cabeça e pego minha boxer.
— Você vai amar. Prometo. Ele tem poderes mágicos.
Ela arqueia a sobrancelha.
— Um piercing tem esse tipo de poder?
— Eu estava falando sobre meu pau. Ele é que tem poderes mágicos. — Ela dá um
passo e ri, vestindo a calcinha. Suspiro. Tão perto da Terra Prometida... — Vou te
mostrar um dia, quando não tivermos crianças por perto.
— Você quer dizer, nunca — ela fala, com uma risada.
Rio também e passo a mão pelo rosto.
— Nunca diga nunca — sussurro. Visto minha boxer e a calça de brim. Logo em
seguida, a porta se abre e Mellie e Joey entram correndo no exato momento em que eu
puxo minha camisa sobre a cabeça. Elas pulam em cima da cama, e meu momento com
Sky termina. Ou ele apenas começou? Inferno, não sei dizer.
SKYLAR

E staciono o carro no centro de reabilitação e encosto minha testa no volante. Não sei
porque estou aqui. Exceto pelo fato de que meu pai me pediu para vir. Eu poderia ter dito
não. Eu deveria ter dito não.
Mas não disse.
Aproximo-me da recepção e falo o número do quarto de minha mãe, mas eles me
levam para o jardim. A enfermeira me deixa do lado de fora das portas duplas e as fecha
atrás de mim. Em frente, tem um grande pátio de tijolos com espreguiçadeiras e um
mobiliário que parece realmente confortável. Olho em volta. Não vejo mamãe. Mas, em
seguida, uma mulher se levanta de uma das espreguiçadeiras, e eu a observo de perto. É
a minha mãe. Seu rosto está sem maquiagem e seu cabelo está solto ao redor dos
ombros, com apenas uma mecha presa e não me lembro de tê-la visto parecer tão
natural.
— Mãe? — chamo. Ela se movimenta em direção a uma cadeira de balanço.
Ela se senta e coloca as pernas para cima, prendendo seus braços em volta dos
joelhos. Ela não se inclina para frente para me dar os beijos no ar que não significam
nada. Não sei como devo agir sem eles. Sento-me e aperto meus joelhos firmemente.
Ela deita a cabeça contra o assento e inclina-o para mim.
— Estou feliz por você ter vindo — diz ela calmamente. — Surpresa, mas feliz. — Ela
sorri.
Sinto-me, imediatamente, abalada porque não há nenhuma malícia ou artifício. E, em
vez de olhar para as minhas roupas, minha maquiagem ou meu cabelo, ela está olhando
para meu rosto. Propositadamente, não me arrumei hoje porque queria decepcioná-la
com minha aparência, na esperança de que ela deixasse meus filhos em paz.
— Por que você está surpresa? — pergunto.
Ela encolhe os ombros.
— Se eu fosse você, não teria vindo. — Ela olha nos meus olhos e meu coração pula
no peito, e então, fica preso em minha garganta. Tenho que engolir em seco para que
ele desça.
Seus pés estão descalços e vejo sua pantufa no chão.
— Chinelo bonito — falo.
Mamãe sorri.
— Seu pai me trouxe. — Ela bufa. Nunca ouvi qualquer ruído vindo do nariz da minha
mãe perfeita. — Eles são confortáveis para a situação em que estou.
— Você está bem? — pergunto.
Ela coloca os pés para baixo, deslizando-os para dentro desses chinelos horrorosos
que ela, normalmente, não usaria em público, nem se estivesse morta, e passa as mãos
para cima e para baixo nos braços.
— Estou melhor hoje. A primeira semana foi meio difícil. Passei os dias vomitando até
quase colocar as tripas para fora.
Minha mãe acabou de dizer a palavra vomitar.
Ela estreita os olhos para mim.
— O que está pensando, Sky?
Balanço a cabeça.
— Nada. — Mesmo que eu pudesse verbalizar isso, ainda não o faria. Durante toda a
minha vida ela foi frágil, e só porque não parece frágil neste segundo não significa que
não seja.
— Seu pai vem todos os dias — diz ela calmamente.
— Ele me disse.
— Fico feliz que vocês dois estejam se falando — ela diz baixinho. Ela está olhando
para mim, realmente olhando para mim, e isso me deixa um pouco inquieta.
— Por que você queria me ver? — pergunto e solto um suspiro. Sinto como se todo o
ar tivesse sido sugado para fora de mim.
— Tenho que reparar tudo que fiz de mal para as pessoas — diz ela com um encolher
de ombros. Ela se estica e pega um maço de cigarros; balança um e o acende. Minha
boca se abre. Não posso evitar.
— Quando você começou a fumar? — pergunto.
Ela sorri e coloca a cabeça para trás novamente, de forma preguiçosa.
— Você não pode levar toda minha amargura, traição e ódio, o álcool e as drogas e
me deixar sem nada — ela fala com uma risada. Mas não há nenhuma alegria no ruído.
— Vou parar. Só preciso passar por isso.
Concordo com a cabeça porque sinto como se ela tivesse me dado um tapa.
— Seu pai me disse que teve uma conversa com você — diz. Ela sopra uma longa
baforada de fumaça que parece não ter fim. — Que contou a você sobre a nossa história.
Eu concordo.
— Ele me disse sobre o bebê e a mãe de Kendra.
Ela não diz nada. Só fuma, deixando a fumaça nos lábios por um segundo, com um
olho fechado.
— Ele disse que você o mandou para o inferno — diz ela sorrindo, parecendo bonita e
insolente.
Um sorriso surge em meus lábios.
— Não disse isso em tantas palavras.
— Você disse a ele que suas escolhas afetaram sua maneira de ver a vida. Com os
homens, em particular. Ou ele entendeu errado?
— Ele tem razão. — Aceno.
— Seu pai não estava sozinho nisso. Sou tão culpada quanto ele, se não mais. — Ela
encolhe os ombros e um sorriso triste atravessa seus lábios. — Eu era uma péssima mãe,
muito profundamente atolada em meus próprios vícios e meus próprios problemas para
ser boa.
— Não preciso de desculpas.
— Sinto muito — ela resmunga. — Você vai recebê-las. — Ela se inclina e apaga o
cigarro. Em seguida, toca meu joelho. — Desculpe-me por não ter agido melhor. Sempre
disse que faria o máximo que pudesse, mas nunca cheguei a esse ponto. Me desculpe. —
Seus olhos observam o ambiente ao redor e, então, voltam a pousar em mim. — Sempre
disse a mim mesma que amanhã eu mudaria. Mas o amanhã nunca veio. — Ela pisca,
tentando afastar as lágrimas. Nunca vi qualquer tipo de emoção no rosto da minha mãe
antes. Geralmente, ela é uma concha vazia.
— O que você quer que eu diga?
Ela balança a cabeça.
— Não há uma coisa certa ou coisa errada a dizer. Você pode me dizer como se sente.
Pode me mandar para o inferno. Faça o que é certo para você, porque eu nunca fiz. — Ela
aponta um dedo para mim. — Você é responsável pela sua felicidade e por cuidar do seu
coração. Só você. Outras pessoas contribuem para isso, certamente, mas você não pode
esperar que ninguém te faça feliz, Sky. Ninguém vai fazer isso por você.
Ela se inclina para trás novamente e coloca os pés para cima.
— Agora, me diga como você se sente — ela fala. — Não se segure.
Respiro fundo e abro a boca para dizer a ela que eu nunca seria tão cruel. Mas o que
sai dos meus lábios é algo totalmente diferente.
— Sinto como se eu não tivesse pais — falo. Vocês dois nunca estavam por perto e,
até mesmo quando você estava, era como se não estivesse. Minhas babás me levaram
para aprender dança e o zelador me ensinou a dirigir. E, cada vez que eu me aproximava
o suficiente de um deles para que pudesse achar que poderiam me amar, você os
mandava embora. Era um castigo duro e cruel. — Coloco a mão no peito, porque, de
repente, está dolorido. — Nunca fiz nada para qualquer um de vocês, exceto existir.
Ficava quieta quando você tinha dor de cabeça ou estava com uma ressaca tão forte que
não conseguia sair da cama. Eu fui uma aluna perfeita, uma adolescente que não fazia
drama. Fiz o máximo para fazer você gostar de mim. Mas você nunca gostou.
Levanto-me e ando de um lado para o outro. Fiquei esperando que ela apontasse
para a cadeira e dissesse que esse tipo de birra não era coisa de uma dama, mas ela não
faz nada. Ela só olha para mim. E está realmente olhando para mim, como nunca a vi
fazer antes. Seus olhos e ouvidos estão abertos. Mas será que seu coração está aberto
também? Sei que eu não deveria, mas um pequeno pedaço de mim ainda tem essa
esperança.
— Fui para a faculdade e estudei direito, como meu pai. Participei de eventos sociais
e entrei para comitês de caridade, assim como você. Atendi a todos os seus pedidos,
apenas para fazer você feliz. E tudo o que pedi em troca foi que alguém me amasse. Mas
você foi incapaz disso.
Ela acende outro cigarro e vejo uma lágrima rolar pelo seu rosto. Ela não a seca nem
a esconde.
— Mãe, nem sei o que dizer a você. Tentei ser a melhor filha que pude durante a vida
toda, mas nem sei se isso significou algo para você. — Sento-me e cruzo as pernas. —
Por que você foi ao funeral? — Meu pé começa a balançar e eu meio que espero que ela
me mande ficar parada. Mas eu não conseguiria, nem se quisesse.
— Eu queria ver o que estava competindo comigo — diz calmamente. — Sempre quis
ver. — Ela solta uma respiração. — Quando Kendra era pequena, eu costumava sentar do
lado de fora do apartamento dela para vê-lo com elas. Ele nunca soube que eu estava lá,
mas não se importaria mesmo. Mandei-o de volta para ela porque estava me sentindo
tão miserável que não conseguia amá-lo, mesmo que ele estivesse sendo sincero comigo.
O vento sopra seus cabelos, soltando-os, e ela enfia uma mecha atrás da orelha.
— Eles são inocentes, assim como você era. Merecem ser amados e, por isso, estou
feliz por estarem com você. Ninguém é mais capaz de amar do que você, Sky. Nunca
duvide disso. Você ama e perdoa como ninguém que já conheci.
— Eu não te perdoei — resmungo.
Ela ri. Isso me assusta e eu aperto os braços da cadeira com tanta força que meus
dedos ficam brancos.
— Se você me perdoasse depois de uma conversa, acharia que você é fraca e tola. E
você não é nenhuma dessas coisas, Sky. Você é forte, corajosa e ama sem restrição. Eu
gostaria de ser mais como você. — Ela ri. — Estou planejando ser mais como você. Tenho
algumas coisas que preciso trabalhar em mim, mas vou chegar lá.
— Como é estar sóbria? — Deixo escapar. Sim, eu quero magoá-la, mas ela merece.
— Difícil — ela fala, dá uma tragada em seu cigarro e o apaga. — Muito difícil. Tudo
machuca. Cada memória. Cada pensamento em minha cabeça dói porque estou cheia de
remorso. Tenho arrependimentos, Sky. Lamento tudo. Gostaria de poder fazer tudo
novamente, mas não posso. Sei que você não confia em mim e, honestamente, não
confio em mim mesma. Então, se você quiser sair daqui e não olhar para trás, eu
entendo.
Ela senta-se calmamente, olhando para os recantos mais distantes do jardim.
— Eu gostaria de encontrar seus filhos — de repente, ela fala.
Começo a protestar.
Ela levanta a mão.
— Agora, não. Quando eu ganhar o direito. Gostaria de conhecê-los. É triste o que
aconteceu com a mãe deles. Ela era uma boa mulher.
— Como você sabe?
— Eu me encontrei com ela algumas vezes. Almoçamos juntas. Uma vez, eu fiquei
bêbada com um martini, ou dez, no almoço e Kendra me levou para casa em seu carro.
Eu não usava meu motorista porque não queria que ele dissesse ao seu pai onde eu
estava indo.
— O que aconteceu? — sussurro.
— Ela era boa e gentil. Me levou para casa e segurou minha cabeça sobre o vaso
sanitário. Então, ela me limpou, me enfiou na cama e pediu desculpas por sua mãe ter
arruinado meu casamento. — Ela ri. — Mas o que ela não sabia era que sua mãe não
estragou nada. Eu estraguei. Arruinei tudo. Me recusei a deixar o amor entrar, pois não
era digna dele.
Não posso nem falar.
— Quando descobri que ela estava morrendo, fui até ela. Ela me falou sobre as
crianças e seus medos. Ela chorou. Eu chorei. Fui para casa e disse a seu pai o que
aconteceu, e disse a ele que ele deveria te pedir para ajudar. Que você tinha mais amor
dentro de você do que qualquer um que já conheci e que essas crianças teriam sorte em
te ter. Então, me mantive bêbada e quase me matei com analgésicos. Porque, te dar
essas crianças significava que eu teria que deixar meu ódio ir embora, e eu não podia
suportar isso. Seu pai me ajudou a atravessar a noite. Então, fiz isso de novo depois do
funeral. Ele teve que chamar a emergência.
— Por que ninguém me contou? — Meu pé começa a balançar novamente.
— Você se importaria? — Ela olha para o meu rosto. — Talvez, inicialmente, você
ficaria preocupada, mas seguiria com sua vida. Eu não valia nada para ninguém, nem
para mim mesma. — Ela encolhe os ombros.
— Eu teria me importado.
Ela bufa de novo.
— Eu não sou nada mais que a mulher que deu à luz a você. A vida toda, nunca te dei
mais nada. Você teria se preocupado, mas seguiria em frente.
Dói pensar nisso. Mas ela está certa.
— Seu pai disse que você tem um namorado — ela fala e sorri.
Eu concordo.
— Matthew — eu digo. Ela não merece os detalhes.
— Aquele com as tatuagens — ela fala. — Ele é muito bonito.
— Ele é bom e gentil — corrijo. Então, sorrio, porque pensar nele me enche de
alegria. — E bonito.
— Você o ama? — ela pergunta.
Aceno minha cabeça.
— Sei muito pouco sobre o amor — falo. — Eu diria que sim, mas não estou muito
certa do que isso significa.
— Sinto muito por ter feito com que você duvidasse tanto de si mesma. Você vale
muito mais que isso — Ela passa a mão no nariz. — Fomos exemplos terríveis.
— Não confio nele com meu coração — admito. — Tenho pavor de amá-lo.
— Tem medo que ele se volte contra você? — ela pergunta. — Ou que ele vá embora?
— Ou que ele me ame até o fim dos tempos — eu digo. Isso é muito assustador, pois
não sei o que fazer.
— Você deveria ir a algumas reuniões da Al-Anon — ela fala — São para famílias de
viciados.
— Ok — eu digo.
Ela bate em minha perna.
— Por você — diz ela. — Não por mim.
Ela acende um novo cigarro. Levanto minha sobrancelha.
Ela ri.
— Nunca me senti tão exposta. É um sentimento novo e assustador. Então, me
perdoe meus vícios. Vou parar quando passar por isso.
— Tudo bem, entendo. Eu acho.
— Não tenha medo de deixá-lo te amar, Sky — ela fala calmamente. — Eu tinha medo
de deixar seu pai me amar. Achei que não o merecia, depois das coisas que fiz quando
estava bebendo. Então eu o excluí. Deixe Matthew entrar. Deixe-o te amar. Aceite o que
ele oferece e deixe-o infiltrar-se em seus ossos. Não o deixe ir. Se ele quebrar seu
coração, pelo menos você vai saber que ainda tem um. Não morra por dentro como eu.
Ame. Aproveite ao máximo o amor das pessoas que a cercam.
As portas do pátio se abrem e uma enfermeira sai.
— Está na hora do grupo — ela fala, apontando para minha mãe.
Mamãe se levanta e se vira para mim. Ela me abraça com força, me segurando perto.
Não me lembro dela ter feito isso antes, e endureço em seus braços.
— Deixe-o entrar e amá-la —sussurra perto do meu ouvido.
Ela sai, e eu caio de volta em minha cadeira. Minhas pernas não têm firmeza. Estou
tremendo muito. É como se tudo que sempre quis tivesse caído em meu colo e eu não
soubesse o que fazer.
Quando, finalmente, consigo, levanto-me e vou para o único lugar onde sei que posso
encontrar a paz. Vou para Matt.
MATT

P aul está com uma merda de humor. Não sei o que está acontecendo com ele, mas
está, particularmente, irritante hoje. Friday parece um pouco irritada também, mas não
sei o que está se passando com ela ou Paul. Ele bate a pistola de tatuagem em uma
mesa próxima, acertando-a com tanta força que chama a atenção até de Logan.
“Que porra é essa?”, Logan pergunta por sinais.
Encolho os ombros. Ele está trabalhando em alguns projetos particularmente
complicados para os catálogos que temos fixados às paredes. Quando não está na
faculdade, na Madison Avenue, ou fazendo tatuagens, ele ocupa seu tempo fazendo
desenhos para que os clientes tenham opção de escolha. Algumas pessoas chegam sem
qualquer ideia do que querem e olham os catálogos até encontrar alguma coisa. Outros,
chegam com modelos na cabeça e então, temos que dar vida a eles. Friday também sabe
desenhar. Ela é quase tão boa quanto Logan. Vi alguns de seus desenhos e são de tirar o
fôlego.
— Cara, você está tentando consertar ou quebrar isso? — Pete pergunta, arqueando a
sobrancelha enquanto olha para Paul. Cada um de nós tem o seu próprio equipamento,
então, particularmente não me importo se Paul quebrar o dele quando tem um acesso de
raiva. Mas prefiro evitar, se pudermos convencê-lo a não fazer.
— Essa porcaria não está funcionando direito — Paul resmunga.
Logan vai até ele e estende a mão. Paul o olha e, em seguida, revira os olhos e tira
as mãos da pistola. Logan mexe nela muito rapidamente e a devolve. Ele não sorri nem
tripudia. Apenas se vira e volta para a mesa de luz — uma mesa especial que ele usa —
e continua seu desenho.
— Odeio você — Paul murmura perto dele.
Sorrio. Não consigo evitar.
— O quê? — Logan pergunta, olhando de mim para Paul.
— Ele disse obrigado — falo.
— Tenho certeza que sim. — Ele olha para Paul. — Que bicho te mordeu? — ele
pergunta.
Pete e eu continuamos quietos. Geralmente, ninguém mexe com Paul quando ele está
irritado. Ficamos quietos até que ele se acalme.
— Ele está irritado porque fez algo estúpido ontem à noite — Friday fala. Ela não olha
para ele, apenas fala. Ela tem mais coragem do qualquer um de nós e vou dizer isso a
ela. — Então, ele quis voltar atrás, mas já era tarde demais. Agora ele se sente culpado.
— Ela suspira e começa a arrumar sua mochila. Ela empurra os livros um por um, usando
muito mais força do que o necessário.
— Onde você está indo? — Paul pergunta irritado. Nuvens de tempestade estão
crescendo em seus olhos.
— Não sei — ela grita de volta. — Talvez eu tenha um encontro. Talvez eu queira
transar. Talvez, eu só queira ter um orgasmo de tremer a terra sem ter que me sentir
culpada por isso dez minutos mais tarde.
— Oh, merda — Pete murmura. Olho para ele, que coloca a mão sobre a boca.
— Espere um minuto e vou levá-la para casa — diz Paul.
— Não, obrigada — Friday resmunga. Ela levanta o braço e acena para nós. — Boa
tarde a todos.
— Você volta amanhã, certo? — Paul grita para ela. Ele parece um pouco perturbado,
até mais do que há um minuto atrás.
Ela não diz nada. Apenas bate a porta com força suficiente para que o chão estremeça
debaixo de mim. Merda. Isso foi estranho.
Paul afunda pesadamente em uma cadeira e deixa cair a cabeça nas mãos, os
cotovelos apoiados nos joelhos. Ele parece muito cansado. Quero apoiá-lo e fazê-lo se
sentir melhor, mas estou receoso.
— Você deveria ir atrás dela — diz Logan.
Paul olha para cima.
— Essa é a última coisa de que ela precisa — diz, em voz baixa. Ele balança a cabeça.
— Não importa. — Se levanta. — Voltem ao trabalho — diz ele para todos nós.
Pete abre a boca para implicar com ele, mas eu aceno que não o faça. Ele olha para
mim e levanta as mãos. O olhar de Pete segue Friday, como se quisesse ter certeza de
que ela está bem. Vejo-o puxar o telefone do bolso e digitar algo muito rapidamente.
Provavelmente está pedindo a Reagan para ver como ela está. Então, olha para mim e
balança a cabeça. Ela vai garantir que Friday esteja bem.
Há uma tensão louca entre Friday e Paul que ninguém entende, nem mesmo eles. Ele
pode ser uma espécie de prostituto, especialmente agora que Kelly está namorando
alguém. Ele dorme com quase todo mundo, mas, nas últimas semanas, não paquerou
nenhuma garota no estúdio e nem saiu para encontros.
O sino sobre a porta tilinta, e eu olho para cima. Meu coração estremece quando a
mulher dos meus sonhos passa pela porta. Sky está delineada pelo sol enquanto está na
frente da janela, e nunca vi uma vista mais bela. Ela parece inquieta e cruza os braços
sob os seios.
— Oi —diz baixinho.
Ela está vestindo jeans e camiseta, e parece tão linda que não posso deixar de
agarrá-la. Cruzo a sala e puxo-a contra mim. Levanto seus braços e coloco-os ao redor do
meu pescoço.
— Estou tão feliz por você estar aqui — falo e realmente quero dizer cada palavra.
Honestamente, ela faz meu estômago ficar em nós. Abaixo a cabeça e beijo-a
rapidamente, mas seus lábios seguem os meus quando tento me afastar. Sua boca é
macia, quente e úmida, e o beijo atinge meu âmago.
Meus irmãos começam a zoação e, finalmente, tenho que levantar a cabeça. Faço
cara feia para eles e ela dá um passo para trás de mim, suas bochechas, rosadas. Ela
acena para meus irmãos. É um movimento rápido e então, esconde o rosto em minha
camisa. Essa mulher é tão bonita que rouba minha respiração e seu rubor é
absolutamente adorável.
Sky segura minha camisa para que eu olhe para ela.
— Já almoçou? —pergunta.
Comi um lanche, mas jamais deixaria passar a oportunidade de sentar-me ao lado
dela por uma hora. Balanço a cabeça.
— Quer sair?
Ela morde o lábio inferior.
— Quer ir lá em casa?
Ela evita meu olhar, e meu coração acelera novamente.
— Almoçar?
Ela balança a cabeça, mas suas bochechas ficam ainda mais coradas e não faço ideia
do que se passa em sua cabeça. Espero que ela esteja pensando o mesmo que eu, e isso
tem a ver com ela nua e eu dentro dela.
— O que tem para o almoço? — pergunto enquanto visto o casaco. Quero saber qual
seu plano e se precisaremos parar para comprar sanduíches ou algo assim.
Ela sorri.
— Eu — ela fala baixinho e seu sorriso se amplia quando segue para a porta da
frente. Sigo-a como um filhotinho de cachorro, porque não posso fazer mais nada.
SKYLAR

M att tropeça nó próprio pé ao sairmos para a rua e tenho que cobrir a boca para não
rir alto. Ele é tão adorável. Qualquer um que não se apaixonasse por ele seria um idiota.
E eu não sou. Pelo menos, hoje, não. Hoje, sou sua namorada. Não sou a filha de uma
viciada em álcool e drogas e de um pai enganador. Encerrei com isso por hoje. Sou a
garota do Matt. E Matt tropeçou no próprio pé para ficar pertinho de mim.
— Ah, está achando engraçado, não é? — ele pergunta, enquanto me puxa para seus
braços e cheira meu pescoço. Em seguida, ele me empurra para trás e olha para mim. —
Por que não está no trabalho? — pergunta, entrelaçando os dedos nos meus. O calor da
sua palma se infiltra em minha pele e me aquece de um jeito diferente de qualquer outro
contato que já experimentei. Ele olha em meus olhos. — Tudo bem?
Viro meu pescoço de um lado para o outro. Não tinha notado como meus ombros
estavam doloridos até que vi Matt. Queria ser uma dessas pessoas que conseguem
estalar o pescoço, isso sempre parece ajudar. Matt coloca as mãos sobre meus ombros,
massageando-os, de frente para mim.
— Você está tão tensa — ele fala, as sobrancelhas arqueando. — O que foi? — Ele me
conhece há poucas semanas, mas já sabe distinguir meu humor. Não estou cem por
cento certa de que gosto disso.
— Fui ver a minha mãe hoje — admito.
Seus olhos se estreitam enquanto ele caminha ao redor do meu carro e abre a porta
para mim. Entro e ele corre pela frente para entrar no banco do carona.
— Como foi? — ele pergunta, após afivelar o cinto de segurança. Liga o rádio e abaixa
o volume, pois deixei-o um pouco alto.
Suspiro.
— Melhor do que eu esperava. Mas agora, não sei o que fazer com tudo isso, sabe?
Ele balança a cabeça. Mas as palavras que saem da sua boca são:
— Não, não realmente. — Ele espera um minuto e, em seguida, fala. — Quero dizer,
minha família tem sua parcela de problemas. Mas não há ninguém que tenha me
abandonado e depois fui visitar em uma clínica de reabilitação.
— Ela não me abandonou — eu começo.
— Ambos a abandonaram, Sky — diz ele em voz baixa. — Tão certo como nosso pai
nos abandonou. Só porque eles têm muito dinheiro e pagaram pessoas para fazerem o
que deveriam ter feito, não os torna melhor.
— Podemos falar de outra coisa? — pergunto. Minha cabeça está começando a doer, e
eu estico meu pescoço novamente.
Matt se aproxima e começa a massagear meu ombro.
— Vou cuidar disso para você quando chegarmos ao seu apartamento — diz ele em
voz baixa.
— O quê? — pergunto, virando a cabeça para olhar para ele.
— Essa dor de cabeça.
Como é que ele sabe que estou com dor de cabeça?
— Não é nada — respondo.
Vamos até meu prédio e eu estaciono em frente. Matt pega minha mão enquanto
caminhamos para dentro. Quando as portas do elevador se abrem, ele me puxa contra si,
e posso sentir seu comprimento pressionado contra o meu traseiro. Meu Deus. Ele está
pronto para o que estamos prestes a fazer.
Passamos pela porta e eu jogo minhas chaves na mesa da cozinha.
— Por que você me trouxe aqui? — ele pergunta. Suas palavras saem como um
relâmpago, mais duras do que ele, provavelmente, pretendia.
— Eu... — Não posso verbalizar isso. Não posso dizer-lhe.
— Você o quê? —pergunta. Ele caminha lentamente em minha direção e acaricia meu
pescoço. É gentil e carinhoso e, ainda assim, posso sentir o quanto me quer. Eu poderia
até mesmo ser capaz de sentir o quanto ele me ama, embora eu ainda não tenha certeza
disso. É real? Não sei o suficiente sobre isso para afirmar. — Por que me trouxe aqui?
Abaixo minha cabeça e empurro a testa contra seu peito. Inspiro seu cheiro e seguro
a respiração. Não quero exalar e deixá-lo ir. É másculo, viril, limpo, e tudo isso é Matt.
— Sinto como se tivesse sido emocionalmente agredida, Matt — falo em voz baixa. —
E quando tudo acabou, eu precisava de alguém que pudesse me fazer sentir segura. —
Olho para ele, e seus olhos azuis sequer piscam. — Precisava de alguém que cuidasse de
mim.
Matt meu puxa para seus braços, coloca um braço sob os meus joelhos e outro atrás
das costas. Eu grito, surpresa. Ele ri e me leva para o quarto. Ele chuta a porta atrás de
nós.
— Quanto tempo temos antes que você tenha que pegar as meninas? — ele pergunta
enquanto se senta ao lado de minha cama e tira suas botas. Ele está se movendo
rapidamente e sorri.
Tiro o tênis e puxo minha camiseta.
— Horas.
Desabotoo minha calça jeans e a tiro. Matt lambe os lábios. Ele puxa meu braço
quando coloco as mãos nas costas para desabotoar o sutiã.
— Devagar — ele fala. — Não quero que a primeira vez que vou fazer amor com você
seja apressada.
Meu coração falha uma batida.
— Ok — digo em voz baixa. Sento-me ao lado da cama e cruzo os braços sobre o
peito. Sinto-me um pouco constrangida, já que não estou usando lingerie sensual. Estou
usando uma calcinha do dia-a-dia e meu velho sutiã confortável.
Matt ergue meu queixo com o dedo.
— Pare de pensar — ele fala e se levanta, desafivelando o cinto e, em seguida, tira-o
da calça de brim. Ele abaixa a calça e não consigo afastar os olhos ao ver a cueca boxer
envolvendo seu... Deus, ele é enorme. — Pare de pensar sobre isso também — ele fala,
rindo. — Deite-se de barriga para baixo.
Ele entra no banheiro e volta com um vidro de hidratante. Engatinho sobre a cama e
coloco a cabeça no travesseiro, meus braços cruzados em baixo. Vejo-o caminhar em
minha direção.
— Deus, você é tão linda —fala em voz baixa. Então, ele se senta ao meu lado e
coloca um pouco de hidratante nas mãos, esfregando-as uma na outra.
— O que você está fazendo? — pergunto.
— Cuidando de você — diz ele.
Suas mãos, lisas e mornas, tocam meus ombros nus. Ele faz pressão com as pontas
dos dedos escorregadios, e é tão bom que um gemido deixa minha garganta. — Está
tudo bem? — ele pergunta.
Gemo novamente e aceno com a cabeça, empurrando meu rosto contra o travesseiro.
— Por favor, não pare — peço.
Ele ri.
— Não vou parar.
Ele ergue as mãos por um minuto para que possa ficar sobre mim, apoiado em meu
traseiro. Ele não solta o peso, mas posso senti-lo duro e latejante sobre a parte inferior
das minhas costas.
— Posso abrir isso? — ele pergunta baixinho, sua voz subitamente áspera e rouca
quando puxa suavemente o fecho do sutiã.
— Sim — murmuro contra o travesseiro.
— O quê? — ele pergunta com uma risada.
Viro meu rosto e respondo baixinho:
— Sim, por favor. — Então, enterro o rosto no travesseiro novamente para que ele
não veja como minha pele está corada.
Ele abre meu sutiã e o tira do caminho. Seus polegares começam a fazer movimentos
milagrosos para cima e para baixo da minha coluna. Afundo no colchão depois de alguns
minutos, me sentindo mole enquanto ele ataca meus músculos um por um, passando
pelo pescoço, ombro e subindo e descendo em meu traseiro. Ele para ao chegar no
elástico da calcinha.
— Não pare — murmuro.
— Diga-me o que aconteceu com sua mãe — diz quando me vê satisfeita e feliz.
— Não quero — murmuro.
Ele levanta as mãos do meu corpo.
— Vou parar agora, então — ele fala e espera.
Ofego.
— Por favor, não pare — imploro.
Nunca tive ninguém que quisesse cuidar de mim assim. Ninguém nunca me fez
massagem ou tentou fazê-lo. Nunca me senti tão... querida? Nem sei o que é, mas sei
que é algo que nunca tive.
— Fale comigo, Sky —pede. Ele se levanta e eu, imediatamente, me viro para ver
para onde está indo, mas ele apenas se move mais para baixo. Suspiro de
contentamento quando ele começa a esfregar a parte de trás das minhas coxas.
Eu falo. Digo-lhe tudo o que aconteceu com a minha mãe enquanto ele faz sua
mágica em meu corpo. Ele resmunga quando é apropriado para a história, e suas mãos
ficam duras quando ele parece ficar irritado, mas, depois suaviza. Ele ouve. E cuida de
mim, tocando todo o meu corpo até os dedos dos pés.
— Eu sabia que elas se conheceram, mas não sabia que era segredo — Matt fala
quando conto sobre Kendra ter almoçado com minha mãe. — Ela gostava de sua mãe, e
realmente lamentava a situação.
Os dedos de Matt engancham na minha calcinha e ele a puxa suavemente. Então
para.
— Está tudo bem? — ele pergunta enquanto tira minha calcinha e respira fundo,
enquanto meu coração acelera.
— Sim — sussurro, sorrindo no travesseiro. Levanto os quadris, e ele puxa a calcinha
pelas minhas pernas. Sei que ele pode ver minha bunda e então, de repente, suas mãos
estão lá. — Deus.
Ele afasta as mãos.
— É demais? — ele pergunta.
— Não é suficiente — digo a ele.
Ele toma fôlego, e suas mãos seguram minha bunda novamente. Ele aperta, sobe,
desce e esfrega, deixando escapar um gemido que parece muito com o que está preso
em minha garganta.
Meus músculos parecem estar moles e eu não conseguiria aguentar mais.
— Vire-se — ele fala em voz baixa e dá um tapinha em meu traseiro. — Espere — ele
fala quando hesito. Então, desliza os dedos entre minhas coxas e toca minha fenda. —
Graças a Deus — ele fala.
— O quê? — pergunto, olhando-o por cima do ombro.
— Você está molhada. Estava esperando que não fosse só eu — ele fala. — Você me
deixa tão excitado que não sei o que fazer em seguida. — Ele abre meus lábios inferiores
com a ponta dos dedos e desliza-os dentro de mim. Empurro de volta contra ele.
— Você pode continuar fazendo isso — sugiro e suspiro enquanto ele empurra para a
frente, acrescentando outro dedo. Ergo mais meus quadris.
Ele ri.
— Não posso fazer qualquer outra coisa. — Ele tira os dedos de dentro de mim e bate
em minha bunda com a mão molhada. — Vire-se.
Puxo o lençol para cobrir o corpo e me viro. Matt vem me beijar. Deus, ele tem gosto
de tudo o que sempre quis. Ele puxa meu lençol, brincando.
— Isso tem que ir embora — ele fala com uma risada.
Agarro o pano.
— Vou ficar nua — sussurro.
— É isso que eu quero —sussurra de volta, de brincadeira. Ele puxa o lençol de novo,
e eu o deixo deslizar para longe de mim. Pego o travesseiro e o coloco sobre o rosto.
Estou envergonhada, mas não quero que ele pare. Acho que o esfaquearia se ele parasse
agora. Meu clitóris está pulsando com tanta força que posso senti-lo em meu corpo todo.
Ele assovia como um estivador quando estou nua. Suas mãos deslizam para cima e
para baixo, suave e gentilmente, mas com uma intensidade que nunca conheci. É quase
como se ele estivesse memorizando as linhas do meu corpo. Ele afasta as mãos e fala:
— Sinto muito. Acho que acabei de babar em você.
Eu rio e levanto o travesseiro para olhá-lo. Mas seus olhos estão sobre meus seios.
Ele os segura com suas mãos grandes e tatuadas.
— Deus, eles são tão perfeitos — Matt fala. Em seguida, coloca um mamilo na boca.
Não é uma lambida suave. É puxão que atinge o meu centro. Ele chupa meu mamilo
enquanto brinca com o outro seio, com as pontas dos dedos. Puxo o travesseiro de volta
para o meu rosto, porque se continuar olhando para ele enquanto ele olha em meus
olhos e me toca, vou explodir.
— Matt, por favor — imploro.
Ele levanta o travesseiro do meu rosto e o atira para fora da cama. Seus olhos são de
um azul profundo
— Eu disse que ia cuidar de você — ele fala. — Paciência. — Sua respiração faz
cócegas em meu umbigo pouco antes de sua língua mergulhar dentro dele.
Matt empurra minhas pernas e se instala entre minhas coxas, exalando e provocando
a pequena faixa de pelos no ápice delas.
— Gosto disso — ele fala, enquanto me acaricia com o polegar. Arqueio os quadris na
direção de seus dedos.
— Matt — imploro. Estou tremendo e implorando. — Por favor. — Oh, merda. Não vou
aguentar.
Seus polegares separam minhas dobras e ele desliza dois dedos dentro de mim.
Levanto a cabeça para vê-lo lamber meu clitóris. Mas não é o suficiente. Contorço-me e
ele me recompensa, empurrando os dedos mais profundamente. Ele os move,
pressionando a outra mão logo acima do meu osso púbico enquanto seus lábios agarram
meu clitóris pulsante.
— Oh, meu Deus.
Ele levanta a cabeça apenas o suficiente para dizer:
— Não. Apenas Matt.
Enfio os dedos em seu cabelo e empurro minha cabeça para trás. Ele volta a lamber
meu clitóris, investindo seus dedos dentro de mim. Aperto os lençóis com força, porque
Matt está prestes a me fazer gozar. Posso o orgasmo se formar. Estremeço e arqueio os
quadris. Então, ele alcança minha carne trêmula.
Eu quebro.
Eu estremeço.
Eu desmorono.
Eu gozo.
E Matt me deixa durante o clímax. Ele me leva ao topo do penhasco e então, me joga
sobre ele. Mas está lá para me pegar quando caio. Seus dedos saem de dentro de mim e
sua sucção suave em meu clitóris se transforma em uma lambida sólida e segura. Ele
absorve cada tremor, cada estremecimento, cada agitação e, quando não aguento mais,
empurro sua cabeça para trás. Ele se afasta e puxa o elástico de seu rabo de cavalo. Fiz
uma bagunça em seu cabelo, mas ele não parece se importar. Matt limpa o rosto no
lençol e, em seguida, vem me beijar. Posso sentir meu gosto em seus lábios, e é bom.
Seu cabelo paira como um véu em torno de nós, mas não consigo nem levantar os braços
para empurrá-lo de volta.
— Você está bem? — ele pergunta.
Solto um grunhido porque as palavras não saem da minha garganta. Elas estão presas
em algum lugar entre meu cérebro saciado e corpo mole.
— Vou considerar isso como um sim — ele fala e cai ao lado do meu corpo nu. Não
posso sequer virar a cabeça para olhar para ele. Ele beija meu rosto e me vira para que
minha bunda fique aninhada em seu colo. — Durma — ele fala. Um braço está sob minha
cabeça, e o outro, ao redor da minha cintura.
Quero cuidar dele também, mas não consigo me mexer.
— Não posso — sussurro. — Tenho que pegar as meninas.
Ele pressiona um beijo contra meu cabelo.
— Vou acordá-la a tempo — ele diz em voz baixa. — Durma.
— Tem certeza? — murmuro. Não é como se eu pudesse me mover, se quisesse.
— Deixe-me cobri-la — ele fala, tocando em meus cabelos. Então, puxa o cobertor
sobre nossos corpos.
— Humm — murmuro. Mas a escuridão já está me envolvendo.
— Amo você — ele fala em voz baixa, enquanto o sono me pega. Deixei Matt entrar.
Deixei a paz entrar em mim pela primeira vez na vida.
MATT

A cordo com um corpo quente e feminino sobre o meu. Abro o olho e vejo uma cabeça
loira inclinando-se para beijar meu peito. Seguro seu cabelo.
— Sky? — Pisco, tentando afastar o sono.
Ela para e olha para mim, arqueando as sobrancelhas.
— Quem mais seria? — ela pergunta.
Ela está sobre mim e se move como se fosse sair de cima de mim, mas seguro seus
braços e a puxo para que possa beijá-la. Ela resiste.
— Quem mais seria? — ela pergunta novamente.
Ela está séria. Porra. Fiz merda.
— Ninguém — falo. Passo a mão pelo rosto. — Eu estava dormindo, e você estava
beijando meu peito, sentada no meu pau no momento em que acordei. Fiquei surpreso.
Só isso.
— Você sabia que era eu, certo?
Sequer preciso pensar sobre a minha resposta.
— Claro. — Eu sabia. Realmente sabia. — Estava apenas confirmando como sou um
filho da puta sortudo, tendo você me olhando enquanto beija meu peito e senta no meu
pau.
Ela bufa e enterra o rosto em meu peito, colocando todo o seu peso sobre mim.
— Não estou sentada no seu pau — diz calmamente. Movimento-me de encontro ao
seu centro, que está escorregadio molhado contra mim.
— Eu sei. Você pode corrigir isso, por favor? — peço, mexendo-me como se estivesse
tentando encaixar seus quadris, mas sei que preciso de um preservativo. Eu posso estar
sonolento, mas não sou idiota.
Ela se levanta um pouco e aponta na direção do meu pau.
— Estou um pouco intimidada com isso — ela sussurra de brincadeira.
Eu rio.
— Por quê? Prometo que não vou te machucar. Vou me certificar de que ele se
comporte. — Abraço-a. Meu coração está repleto de amor e não consigo pensar em nada
que prefira fazer. Bem, claro que quero transar com ela, mas tenho prioridades, mesmo
agora.
— Eu não estava falando sobre suas... partes. — O rosto dela fica todo rosado.
Uma risada irrompe da minha garganta.
— Partes? Você fala de mim como se eu fosse uma máquina de lavar roupa.
— Máquinas de lavar roupa não usam piercings, Matt — ela fala.
— Ah! — suspiro. — Você está falando disso. — Entrelaço meus dedos em seus
cabelos como se fosse um pente. — Isso não morde. Eu juro.
— Eu meio que fiquei olhando enquanto você estava dormindo — ela admite.
— Olhando para o meu rosto, tenho certeza — brinco. — Eu estava babando?
— Não. — Ela balança a cabeça. — Ali em baixo. Ele olhou para mim primeiro — ela
fala.
— Conversei com ele sobre essa merda — resmungo. — Meu pau nunca me escuta.
Pergunte a qualquer cara. Ele vai te dizer o mesmo.
Ela ri contra meu peito.
— Você acorda sempre tão pronto?
Ergo minha cabeça e olho para ela.
— Normalmente, sim — admito. — Coisa de homem.
— Achei que era só para mim.
— Bem, não há mais ninguém ficando com ele — falo. — Então, é para você mesmo.
— Aperto seu bumbum e ela grita.
— Aparentemente, tenho muito a aprender sobre os homens — diz ela.
— Graças a Deus estou disposto a ensiná-la. — rosno, enquanto passo um braço em
volta da cintura dela e a viro, ficando por cima. Olho para seu rosto e meu coração salta
uma batida. Eu a quero tanto, mas tenho medo de ir rápido demais.
Sei o que é fazer sexo por fazer e tenho medo de que seja assim para ela. Para mim,
não é. É muito mais e quero saborear cada segundo. Também quero ter certeza de que
ela sente por mim algo tão forte quanto o que sinto por ela. Se alguém pode quebrar a
porra do meu coração, é Sky. Ela é tudo que sempre quis.
— Você está certa de que está apaixonada por mim, não é? — pergunto enquanto
abaixo a cabeça para beijá-la.
Ela murmura contra meus lábios.
— Tão certa quanto posso estar.
Ergo minha cabeça.
— O que significa isso? — Apoio meus cotovelos em ambos os lados de sua cabeça e
uso os polegares para afastar o cabelo de sua testa.
— Ainda estou aprendendo sobre isso — ela fala. — Não entendo totalmente esse
sentimento, nunca tive isso. Não sei ao certo como analisá-lo.
— Não sei se entendo — admito.
— Eu só... sei que nunca me senti assim com ninguém, especialmente, não tão
rápido. E estou com medo, Matt. Estou aterrorizada. Mas gosto disso. Gosto desses
sentimentos, tanto quanto não gosto. — Ela morde o lábio inferior. — Posso dizer uma
coisa?
— Você pode me dizer qualquer coisa. — Abaixo-me para tocar seu pescoço com os
lábios.
— Você é a única pessoa que eu precisava ver hoje, depois que deixei minha mãe. É o
único que me faz sentir segura. Sinto que posso te dizer qualquer coisa e que você não
vai me julgar. Você largou tudo no Reed’s só para vir comigo, me ouviu, e cuidou de mim
até eu adormecer em cima de você. — Ela estremece. — Desculpe-me por isso.
Rio contra sua pele.
— Você está de brincadeira? Gostei tanto quanto você.
— Mas você não chegou lá... — Ela cora, e é tão bonita que provoca um frio em minha
barriga.
— Posso “chegar lá” a qualquer momento — falo. — Isso é um sonho se tornando
realidade. — Seguro seu seio e o aperto suavemente. Ele é pequeno, mas é meu e estou
apaixonado por ele. Na verdade, pretendo passar muito tempo com ele. Junto com outras
partes escorregadias dela. Tomo um mamilo em minha boca e acaricio-o com a língua.
Ela se contorce debaixo de mim e, se ela se mover mais alguns centímetros, vou entrarei
em seu corpo.
— Matt — ela fala com a voz trêmula. Suas pernas envolvem meus quadris e meu pau
se posiciona em sua abertura. Sei que é arriscado, mas quero bater a cabeça do meu pau
contra seu clitóris e ver se ela vai ficar ainda mais molhada para mim.
Seus olhos se fecham e sua cabeça vira para o lado. Um arrepio a faz tremer, e eu
balanço os quadris.
— Acho que você vai gostar desse piercing que estava te assustando tanto a um
minuto atrás — digo calmamente em seu ouvido. Seus olhos se abrem.
— É assim que ele funciona? — ela sussurra.
— Bem, quero levar todo o crédito se você realmente gostar dele — sussurro e invado
seu calor novamente. Ela treme em meus braços.
— Matt, por favor — diz ela.
— Camisinha? — pergunto. Ela aponta para a mesa de cabeceira, e eu me estico para
alcançá-la. Não quero sair de perto de Sky porque isso é bom pra caralho e mal posso
suportar.
— Nós precisamos de uma? — ela pergunta. Sento-me de joelhos para que eu possa
girá-la enquanto olho para ela à luz do dia, toda exposta, rosada e perfeita pra caralho.
— Seria preciso um milagre para que eu pudesse engravidá-la — falo. Mas preciso
disso, porque se não houver qualquer barreira entre nós, vou gozar assim que entrar
nela. Então, rolo o preservativo em meu eixo e espero que dure tempo suficiente.
Ela ri.
— Quero todas as crianças do mundo inteiro. Todas elas. Meus três, definitivamente,
não são o bastante.
Meu coração quase para. Caio ao seu lado, em vez de em cima dela. Ela rola em
minha direção.
— O que há de errado? — ela pergunta.
— Não brinque com isso — falo. — Se você quer mais filhos, é melhor me dizer agora,
porque eu não posso lhe dar. — Meu coração está batendo como se eu tivesse corrido por
quilômetros, e sinto medo de que ele se quebre como um vaso de vidro que quebrei
quando eu tinha seis anos. Havia pedaços por todos os lugares. Eu me preocupo com sua
saúde, se isso acontecer. Ela será estilhaçada por pedaços do meu coração despedaçado.
Oh, merda. Lanço meu braço sobre os olhos.
Sky sobe em cima de mim, do mesmo jeito que fez antes, suas coxas envolvendo
meus quadris, as mãos no meu peitoral. Ela beija meu peito.
— Desculpe-me, falei besteira — fala. Ela coloca o rosto em meu peito e solta o peso
do seu corpo sobre o meu. Ela está quente, macia e molhada...? Olho para baixo e a vejo
limpando uma lágrima.
Merda.
— Não queria fazer você chorar — digo em voz baixa.
— Não estou chorando por mim, seu idiota — diz. Ela cheira minhas mãos quando
tento limpar as lágrimas.
— Então, por que diabos você está chorando?
— Eu estava chorando por você — ela sussurra.
Merda. Ela pode me desarmar facilmente.
— Pelo fato de eu não poder ter filhos?
Ela bufa.
— Porque você quer ter filhos. — Ela sorri. — Tenho três, Matt. Posso compartilhar
com você, se quiser.
Bem, eu tinha planejado fazer isso de qualquer maneira. Ela se mexe em cima de
mim e está tão úmida e quente que não posso deixar de me esfregar nela.
— Você não vai me mostrar o que esse piercing pode fazer? Você disse que ele é
mágico, não é?
Seguro seus quadris e coloco-a exatamente onde quero.
— Sente-se um pouco para que eu possa chegar perto das coisas.
— Você está chamando minhas partes femininas de coisas? — ela pergunta. Mas não
está mais chorando. Ela está rindo.
Coloco a mão entre nós e levanto meu pau, apontando-o para o seu centro. Ela está
molhada e pronta. Empurro dentro dela e ela suspira.
— Tudo bem? — pergunto.
Seus olhos se fecham e ela coloca o peso sobre as palmas das mãos, que estão
acomodadas em meu peito. Abre um pouco mais as pernas e desliza sobre meu
comprimento muito, muito, muito devagar.
— Um pouco mais — peço. Minha respiração é irregular, e eu mal posso falar.
— Tem mais?
Olho entre nós.
— Sim. — Eu rio.
Ela se abaixa, e eu ergo meu quadril ao mesmo tempo. Desapareço dentro dela, e
tudo o que posso ver é o lugar onde sua pele nua encontra a minha.
— Deus! Espero que isso seja tudo — ele fala, mas está sorrindo. Ela está quente,
macia e sedosa. E é toda minha.
— Não se mova.
— Por que não? — ela pergunta. Em seguida, se inclina e sobe, e eu posso ver onde
estamos unidos. Estou todo molhado por causa dela. Em seguida, ela desce, levando-me
de volta para dentro.
Sky apoia as mãos para que possa acelerar e desacelerar enquanto monta em mim.
Seus seios perfeitos saltam quando ela encontra o ritmo e eu me ergo para prová-los.
Ela me dá um segundo, mas então, me empurra para que eu fique na horizontal.
— Me deixe te amar, Matt — ela fala.
Levanto minhas mãos, colocando-as atrás do pescoço. Não faço isso há muito tempo,
mas posso ver que ela já está perto. Suas coxas tremem e seu ritmo fica instável.
— Quero que você goze — falo.
Sky acelera os movimentos e coloca a mão entre nossos corpos, circulando seu
clitóris. Empurro sua mão para o lado e a substituo pela minha, acariciando-o entre o
polegar e o indicador. Lentamente, sua respiração acelera.
Minhas bolas estão tremendo, mas ela está perto. Sei que não vou ter que esperar
muito quando ela arqueia as costas e sua cabeça cai. Seu corpo é atingido por tremores e
ela aperta meu pau lá dentro, mas não paro. Continuo movendo nossos corpos. Viro-a e
puxo sua perna até o peito, fazendo com que sua parte inferior se incline mais para cima.
Seus olhos se fecham quando as sensações tomam seu corpo e eu bombeio mais uma,
duas, três vezes. Então, gozo dentro dela. Solto sua perna para que eu possa colocar
meus braços ao redor dos seus ombros e puxá-la para mim. Ela vira a cabeça e beija meu
pescoço, movendo seus quadris contra o meu. Gemo ao gozar e ela mantém-se em
movimento até que minhas estocadas se tornam dolorosas. Tenho que parar. Saio de
dentro dela com um silvo e, quando me viro para sair de cima dela, ela segura minha
mão.
— Não vá — ela pede.
— Não vou embora.
Vou até o banheiro tirar o preservativo e me limpar. Volto para a cama e a puxo para
mim, sua cabeça encontrando aquele ponto que foi feito para ela, onde meu pescoço se
une ao ombro.
— Você estava certo — diz ela com uma risadinha. Ela está rindo em meus braços.
Desde quando sexo é engraçado? Levanto a cabeça para olhar para ela.
— Sobre o quê?
— Seu piercing é mágico. — Ela ri mais alto e está macia, quente e saciada em meus
braços. E nada nunca me pareceu tão bom.
— Esse é o meu pau — falo e dou um tapa em seu traseiro.
Ela faz beicinho
— Ah — Ela se senta e me beija, olhando nos meus olhos. — Só por isso, mais tarde
vou fazer você me provar que é seu mesmo.
— Vou provar isso para você agora — rosno enquanto me estico para pegar um novo
preservativo.
Ela grita, ri e abre suas pernas para mim.
Deus, estou completamente apaixonado por ela.
SKYLAR

— Q uer parar de ficar se remexendo? — Seth murmura para mim, revirando os olhos
enquanto bate na porta do apartamento de Matt.
Ajeito minha camisa.
— Estou bem? — pergunto.
Ele revira os olhos de novo e me lança um sorriso exasperado.
— A única reclamação que Matt pode ter é que você está usando muitas roupas. —
Ele bufa.
— Seth! — Eu o repreendo. Ele realmente não deveria falar assim.
— O quê? —pergunta, erguendo as mãos — Ele está acostumado a vê-la de pijama,
só isso que eu quis dizer. Ele pode não saber o que fazer com você usando roupas
normais.
Seu rosto fica vermelho quando percebe o que disse.
— Não importa — ele resmunga e bate de novo. A porta se abre, e um dos irmãos
mais novos de Matt nos deixa entrar. O lugar está completamente cheio de pessoas, mas
acho que a maioria são seus irmãos.
— Qual deles é você? — Seth pergunta. Isso foi um pouco rude, mas eu estava curiosa
também.
— Eu sou Sam — diz ele. — O mais bonito.
Ele aperta a mão de Seth da forma como os homens fazem. Em seguida, abre os
braços para mim. Não sei o que fazer.
— Não toque na minha garota — uma voz soa mais alta que a TV. Olho e sorrio ao ver
Matt sentado no chão, em frente ao sofá. Ele tem um controle de jogo na mão e o está
apertando freneticamente.
— Tarde demais — Sam brinca. — Você está aí e ela está aqui sozinha. — Ele me
envolve em seus braços e me aperta, mas finge me abraçar mais apertado do que
realmente abraça. Acho que está fazendo isso só para implicar com Matt.
— Assuma aqui para mim, Seth — Matt chama, mas não para o jogo.
Seth arqueia a sobrancelha para mim.
— Vá — digo. Ele sorri e vai substituir Matt no chão. Matt passa o controle para ele,
parando por um segundo para olhá-lo.
— Seth vai matar todos os meus homens — diz Matt ficando de pé.
Ele caminha em minha direção, e meu coração acelera. Hoje é sexta-feira, e eu não o
vejo desde que ele deixou meu apartamento ontem, quando tive que buscar as meninas
na escola. Ele tinha que trabalhar até tarde na noite passada, mas está de folga esta
noite. Não podia dizer não quando ele ligou e nos convidou.
Joey puxa minha mão, e olho para ela.
— Oi? — pergunto.
— Tenho que ir ao banheiro — diz ela.
Matt aponta a direção, e sigo com ela. Desculpe-me murmuro por sobre o ombro para
Matt.
Ele sorri e encolhe os ombros.
— Sem problemas — ele fala.
— Posso fazer sozinha — Joey fala quando tento ir ao banheiro com ela. Ela fecha a
porta na minha cara.
— Tudo bem... — digo para mim mesmo.
Eu me viro e dou de cara com o peito de Matt. Ele agarra meus cotovelos para me
firmar, e meu nariz fica contra sua camisa. E eu gosto, porque tem o cheiro dele. E eu
gosto muito de Matt. Muito mesmo.
— Você é cheiroso — eu digo baixinho, minha boca contra seu peito.
Ele inclina a cabeça e cheira a lateral do meu pescoço.
— Você também — ele sussurra. Inclino a cabeça para lhe dar melhor acesso.
De repente, há uma tosse alta diretamente atrás de nós. Matt geme e levanta a
cabeça.
— Será que você pode parar com isso? — ele pede.
Paul apenas ri e balança a cabeça em direção à Mellie, que ainda está segurando
minha mão.
— Há crianças na sala, seus tarados — ele fala e se abaixa, e eu vejo uma menininha
loira ao lado dele.
— Quem é esta? — pergunto e aponto para a menina.
Matt se também se abaixa e ela se senta em seu joelho.
— Sou Hayley — ela fala. Seus olhos são azuis e seus cabelos, loiros, assim como
todos os Reeds. Ela é adorável.
— Minha filha — diz Paul. Ele balança a cabeça em direção a uma porta no corredor.
— Quer levar as meninas para brincar no quarto?
Hayley balança a cabeça e sorri. Elas esperam Joey sair do banheiro e, em seguida,
Hayley dá a mão a Joey e Mellie e as arrasta para seu quarto. Ela fecha a porta com um
grande estrondo.
Paul coça a cabeça.
— Acho que eu deveria me acostumar com isso. Mas não tenho certeza de que posso
— ele fala.
— Elas vão ficar bem lá? — pergunto a Matt. Eu meio que quero ver onde elas estão
brincando.
— Vamos verificar em um segundo — diz Matt. Seu olhar observa a sala, então, abre
uma porta e me empurra para um quarto. Ele a fecha e me vira de costas, contra a
parede, com um leve empurrão. — Senti sua falta — ele sussurra.
Suas mãos seguram meu rosto e ele força o joelho entre minhas pernas, o que é bom,
pois meus joelhos vacilam quando ele me agarra.
— Matt, as crianças.
— Tem gente cuidando delas — ele fala. Seus lábios tocam os meus e ele geme
enquanto sua língua entra em minha boca. Ele tira o meu fôlego a cada toque. Sua língua
se embola com a minha, imitando a forma como ele me lambeu ontem na cama e meu
coração começa a bater mais forte.
Aperto minhas mãos em sua camisa e tento manter-me em pé. Ele se afasta e olha
para o meu rosto.
— Estou feliz por você estar aqui — diz, em voz baixa. Ele afasta meu cabelo da testa
e recua.
— De quem é este quarto? — pergunto. Mas sei imediatamente. Pelos livros
empilhados na mesa de cabeceira e a arrumação, sei que é de Matt.
Ele sorri.
— É meu. Para que outro quarto eu poderia te arrastar? — Ele bufa. — Você não
gostaria de ver o quarto de Paul. Deve ter alguma merda pervertida lá dentro.
— Sério?
Ele sorri.
— Não. Estou brincando. Mas a sua expressão foi impagável. — Ele ri, e eu adoro esse
som.
— A filha de Paul é adorável — falo, passando o dedo nas fotos que estão presas no
espelho da penteadeira. São dele, dos irmãos e das garotas de suas vidas: Reagan, Emily
e Friday. — As meninas vem também ou só eu?
— Elas estarão aqui em breve. Você está brincando? Elas não iriam perder a
oportunidade para te avaliar. — Ele sorri. — Prepare-se.
Elas vão me avaliar? Deixo cair o vidro de perfume que peguei, mas Matt o segura
antes que atinja o chão.
— Pare de se preocupar — diz ele. — Elas são inofensivas. — Ele balança a cabeça
para trás e para a frente, como se estivesse pensando sobre isso. — Bem, eu não diria
que Reagan é inofensiva. Ela pode chutar melhor que a gente. Mas com você, ela será
inofensiva.
Não sei o que dizer sobre isso.
— Não se preocupe — diz ele novamente. — Eles gostam de você. E sabem que amo
você, então, vão se comportar. Prometo.
Meu coração acelera. Ainda não estou acostumada às declarações de Matt.
— Você ainda me ama, certo? — Matt pergunta.
Reviro os olhos, tentando parecer indiferente.
— Nada mudou desde ontem. — Olho para ele, piscando. — Algo mudou para você?
— Sim — ele fala. — Quero você mais do que queria ontem. — Sua voz é macia e
dura, tudo ao mesmo tempo.
Uma batida soa na porta, e ele abre uma fresta
— Você está decente? — Uma voz feminina pergunta.
— Abra a porta e descubra — Matt responde.
A porta se abre lentamente e a cabeça de Emily aparece.
— Oh, graças a Deus.
Matt estreita os olhos para ela.
— O quê?
— Os dois estão vestidos. Achei que seria desconfortável se eu encontrasse vocês nus.
— Então você deveria ter ficado do lado de fora — diz Matt, mas ele a puxa e dá uma
espécie de cascudo nela. Emily resmunga.
— O que você quer? — Matt pergunta.
— Estou fazendo margaritas para Reagan — diz ela. — Vocês querem uma? — Ela
olha de Matt para mim. Nem sei se Matt bebe. Só o vi beber cerveja.
— Sky quer uma — ele fala e balança a cabeça em minha direção.
— Eu estou com as crianças — protesto.
— E tem gente cuidando delas — ele fala e balança a cabeça em direção à Emily. —
Pode fazer uma.
Emily sai do quarto, deixando a porta entreaberta.
— Não posso ficar bêbada — sussurro. — Tenho que ir para casa no final da noite.
Ele me puxa contra si, com os dedos enganchados no meu jeans.
— Estava esperando que você quisesse passar a noite — ele fala. — As meninas
podem acampar com Hayley. Seth pode dormir no sofá. Eu vou dormir com Sam. Ele tem
duas camas de solteiro lá.
Ele vai dormir com Sam?
— Por que diabos eu ficaria se você for dormir com Sam? — reclamo. — Se eu ficar,
você vai dormir comigo.
— Não quero dar mau exemplo para Seth — diz ele em voz baixa.
— É por isso que não foi em casa ontem à noite depois do trabalho? — pergunto.
Parece que estou fazendo beicinho, e meio que estou. Odeio isso, mas é assim que as
coisas são.
— Hum-hum — ele murmura junto à minha orelha. O som vibra direto em meu centro.
— Poderíamos colocar Seth com Sam, e você, inicialmente, no sofá — sugiro. Enterro
meu rosto em seu peito para esconder o embaraço.
— Oh, uma ideia — diz ele, fingindo meditar a respeito. — Vou pensar sobre isso.
— Ou nós poderíamos apenas ir para casa no final da noite. Seria mais fácil.
— Casa? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Casa — digo novamente. — Minha casa. Nossa casa. — Olho para o rosto dele, e
ele sorri para mim. Seus olhos estão claros e focados, e tenho toda a sua atenção.
— Casa — repete em voz baixa. Ele balança a cabeça.
Eu poderia muito bem colocar minhas cartas na mesa, certo?
— Tudo o que posso pensar, desde ontem, é em você dentro de mim. É tão... certo.
— Gemo. — Pareço uma idiota.
Ele pega a minha mão e puxa para baixo, pressionando-a sobre seu comprimento
endurecido.
— Você parece gostosa — diz ele. Seus lábios se arrastam pelo meu queixo em
direção a linha do cabelo. — Você está molhada? — ele pergunta.
— Sim — sussurro de volta. Matt desabotoa meu jeans e abre o zíper lentamente.
— Posso sentir? — ele pergunta.
Concordo com a cabeça contra seu pescoço.
— Sim — sussurro novamente. Tomo o lóbulo da sua orelha entre os dentes e
mordisco. Seus dedos deslizam através do meu calor e vão direto para o meu clitóris.
Caio de costas contra a parede.
— Matt — eu sussurro, tentando alcançar seu pulso. — Não deveríamos estar fazendo
isso.
— Eu sei — diz ele. — Vou ser rápido. Só quero sentir você gozar.
Não posso respirar.
— E você? — pergunto.
Ele ri.
— Isto é para mim. — Seus dedos deslizam através de minha umidade, pressionando
insistentemente e, em seguida, coloca dois dedos dentro de mim e dedilha meu clitóris
com o polegar. Ele não tem espaço para trabalhar dentro de minhas calças jeans, de
modo que seus movimentos são rápidos. Arqueio os quadris, ajudando-o a encontrar um
ritmo.
Abro os olhos e o encaro. Aqueles olhos azuis estão olhando para mim.
— Matt — protesto. Mas é mais um gemido do que um protesto.
— Vou fazer você gozar, Sky — diz ele em voz baixa. — Eu prometo.
Concordo, quase sem conseguir recuperar o fôlego.
— Ok — sussurro. E, em seguida, os tremores começam. Matt se inclina para mim,
pressionando o corpo contra o meu para me segurar. Viro a cabeça em direção a ele e,
assim, enquanto gozo, mordo a pele macia de seu pescoço. Ele hesita, mas rosna e vira a
cabeça para cobrir meus lábios com os seus, afogando meus gritos de liberação com a
língua e os lábios.
— Shh — diz ele contra os meus lábios.
Estou gritando, e nem percebi. Meu corpo treme enquanto eu gozo, gozo, e gozo e
estou quase destruída quando ele, finalmente, para. Ele puxa a mão da minha calcinha,
fecha o zíper e o botão. Em seguida, ri e me beija rapidamente.
— Preciso de um minuto — diz ele. Sua voz é grossa, áspera e muito sexy.
— Você quer que eu saia? — pergunto. — Sério?
Ele me beija, sua boca, persistente.
— Por que você não vai ver as crianças? — ele pergunta. — Te encontro em um
minuto. — Ele me vira, abre a porta, e me empurra para o corredor. Ouço-o cair contra a
porta do outro lado e, em seguida, bate levemente com o punho. Ele ri e rosna meu
nome.
Oh, droga. Ainda estou me sentindo leve e lânguida, e ele acabou de me empurrar
para o corredor. Paul está passando e para de repente. Ele põe a mão sobre os olhos.
— Não estou procurando — ele fala e caminha pelo corredor sem olhar para mim de
novo. Ele abre uma porta, e ouço um monte de gritinhos de meninas. Aparentemente,
elas estão ali. Foi fácil de achar. Sigo com meus joelhos vacilantes, porque, realmente, o
que mais posso fazer?
Estico a cabeça para dentro do quarto, onde Paul está no chão com as três meninas
que o montam como se ele fosse um cavalo. E ele não parece se importar com isso.
Sento-me na beirada da cama de princesa de Hayley. Vejo como Paul brinca com as
meninas, rosnando para elas e girando-as. De repente, ele olha para mim.
— Ei, Sky —fala, em voz baixa. Ele coloca as crianças para o lado e olha para mim.
Realmente olha para mim.
— Sim? — pergunto. Ainda estou meio tonta.
— Tenha cuidado com ele, está bem? — Sua voz é suave, mas forte, e é nítido que
está me alertando.
— O quê? — pergunto. Forço-me para fora da minha neblina e me concentro nele. —
Não sei o que você quer dizer.
Ele começa a arrumar os brinquedos, jogando-os em uma caixa nas proximidades.
— Ele passou por muita coisa — diz Paul. — Não tenho certeza de que poderia
sobreviver a mais um desgosto, sendo o mesmo cara que é agora. Não o destrua, está
bem? — ele diz e suspira.
— Não farei isso — eu digo. Ninguém quer fazer algo assim, não é?
— Ele é especial — diz Paul. — Mesmo antes de ficar doente, ele era diferente do
resto de nós. Ele é bom e gentil, e ainda acredita na bondade do coração. Ele precisa
permanecer assim. Então, não o machuque. — Ele diz a última parte em voz baixa para
que as crianças não possam ouvi-lo.
— Não vou — sussurro. Quero desafiá-lo e perguntar como ele se atreve. Mas posso
ver vulnerabilidade em seus olhos. Posso ver o quão difícil é para ele ter essa conversa
comigo.
Ele balança a cabeça, levanta-se e, em seguida, sai do quarto. Sento-me e observo as
meninas brincarem enquanto organizo meus pensamentos. Preciso de um cesto para
colocá-los, porque minha cabeça, simplesmente, não é grande o suficiente.
MATT

Q uando saio do meu quarto, Sky está com Paul e as meninas no quarto de Hayley.
Preciso de um minuto para me recompor e lavar as mãos. Jogo um pouco de água fria
no rosto também. Demora um minuto para eu me acalmar, e se ela não tivesse falado a
respeito de eu ir com ela para casa esta noite, eu mesmo iria sugerir isso. Nunca mais
quero ter que gozar sozinho, só dentro dela.
Saio do banheiro e sento-me no sofá para ver como Seth está indo com meu jogo. Ele
está jogando contra Logan, que não pode ouvir, então, tem certa dificuldade. Mas,
mesmo assim, ele é um excelente oponente. Ele leva o jogo da mesma forma que leva a
vida, aceitando as sugestões que aparecem ao seu redor. E está ganhando de Seth,
então, parece que está dando certo.
Sento-me ao lado de Emily. Ela vem para perto de mim e deita a cabeça em meu
ombro. Fico abraçado com ela por um segundo e, então, afasto-me. Ela me lança um
olhar estranho.
— O que há de errado? — ela pergunta, franzindo a testa.
Puxo sua cabeça em minha direção e beijo sua testa. Adoro abraçar Emily. Sempre
adorei. Ela é como a irmã que nunca tive e sempre quis. Somos muito ligados desde que
fiz a quimio e ela me ajudou, salvando minha vida e sacrificando a própria liberdade
quando eu não queria que meus irmãos soubessem o quanto eu estava doente. Ela ocupa
um lugar especial no meu coração.
Ela se aproxima de mim como se estivesse determinada a me abraçar. Vejo Sky andar
pelo corredor e seus olhos me encontram no sofá, mas Reagan chama sua atenção,
entregando-lhe uma margarita. Sky a pega e as duas começam a conversar.
— Matt? O que houve?
Respiro fundo.
— Você sabe que eu te amo, certo? — digo baixinho.
— Sim... — ela responde, mas parece nervosa e preocupada. E com razão. Odeio
colocar esse olhar em seu rosto. Mas as coisas mudaram.
— E sabe o quanto amo abraçar você, certo?
Ela sorri e se inclina para mim. Mas eu afasto os ombros.
— Matt? — ela pergunta, chocada.
— Bem, a questão é a seguinte. — Passo a mão pelo rosto. — Eu te amo, Em — digo
e não estou mentindo. Nem um pouco. Ela salvou minha vida, sacrificando tudo o que
amava há dois anos, e fez isso sem nem pensar. Ela estará sempre em meu coração.
— Tudo bem... — diz ela. — Mas? — Ela estende as mãos como se estivesse se
rendendo aos policiais.
Olho para Sky, que levanta seu copo para mim. Ela continua falando com Reagan. Fico
contente, pois preciso ter essa conversa com Emily.
— Eu te amo, Em, mas estou apaixonado por ela. — Aceno em direção à Sky. —
Quero viver com ela até estarmos bem velhinhos; até morrermos
Ela se senta, afastando-se um pouco.
— Oh — ela respira. Emily parece ter levado um tapa. Não temos outro tipo de
sentimento um pelo outro além da amizade e odeio ter que fazer isso. Mas ficamos
sempre abraçados. Acho que estou ferindo os sentimentos de Sky e fico triste porque ela
parece não entender isso.
— Estou apaixonado por ela e tenho medo de que ela se sinta mal ao me ver
agarrado com você.
Sua testa franze ainda mais.
— Então explique a ela o nosso relacionamento — diz, com uma risada. — Ela vai
entender. — Ela se inclina para ficar ao meu lado e eu a empurro um pouco. — Matt —
ela protesta. — Pare de fazer isso.
— Em — eu digo. —, se você continuar aconchegada a mim, ela não poderá se sentar
aqui, e eu quero muito, muito, muito que ela venha.
Seu rosto suaviza.
— Consegue entender agora?
Ela se movimenta em direção à Logan.
— Logan nunca se importou com nosso carinho. Por que ela se importaria?
Honestamente, nunca transaria com Emily. Nem se ela fosse a última mulher no
planeta. Se Logan morresse amanhã, e todas as outras mulheres do planeta também,
ainda assim, não teria nada com ela, já que a amo como irmã. Mas não quero que haja
qualquer confusão. Não quero que Sky se sinta estranha. Balanço a cabeça, pois não sei
o que mais posso dizer a ela.
— Matt — ela diz baixinho. Olho para seu rosto e meu coração quase quebra quando
vejo os olhos cheios de lágrimas. —, você está realmente apaixonado por ela, não é?
Sorrio. Não tenho como evitar.
— Sim — respondo. — Estou. — Cutuco seu ombro com o meu. — Você está bem com
isso?
Ela se inclina como se fosse me abraçar, mas para no meio do caminho.
— Ainda posso abraçá-lo, certo? — ela pergunta. Puxo-a para meus braços e seguro-a
firmemente contra mim. Então, giro-a e coloco-a sem a menor cerimônia no colo de
Logan. Ele olha para ela e sorri, surpreso ao encontrá-la ali.
— Nós estamos bem, certo? — ela pergunta, apontando de mim para ela.
Fico arrepiado.
— Como sempre estivemos — falo. Acaricio seus cabelos.
Sky caminha até mim e se senta ao meu lado. Coloco meu braço sobre o encosto do
sofá, e ela se aconchega à o mim. Nunca me senti tão tranquilo ou em um momento tão
certo quanto este.
Logan desliga o jogo e a TV. Agora que Emily está em seu colo, ela tem toda a sua
atenção. Ele fala comigo por sinais.
“Pode pegar a guitarra de Em?”
Levanto-me e vou até o armário onde Emily guarda a sua guitarra favorita. Reagan
distribui as bebidas enquanto Emily dedilha as cordas.
Emily se inclina, pega a minha mão, que está no joelho, e a beija rapidamente. Meu
coração se aquece. Sky sorri para mim e me olha com curiosidade. Mas ela não está com
raiva. Tenho certeza. Então, ela deita a cabeça no meu ombro, seu corpo colado ao meu.
Ela se encaixa contra mim. Ela se encaixa em minha vida.
Até Pete e Sam param de lutar quando Emily começa a cantar. Ela tem uma voz linda
e desperta uma grande emoção dentro de mim. A sala fica em silêncio e só ouvimos som
de sua voz.
Sky suspira e eu a puxo para mim, colocando-a entre minhas coxas para que ela
possa se inclinar em meu peito. Ela deita a cabeça no meu ombro.
Ouço a porta se abrir. Friday entra no apartamento. Ela olha em volta, e seus olhos
pousam em Paul, que desvia o olhar. Os olhos dela se fecham e ela respira fundo. Mas
então, senta-se no chão ao lado de Sam, e Paul lhe traz uma margarita. Ele se inclina
perto dela e diz algo em seu ouvido. Ela balança a cabeça e morde o lábio inferior. Ele
sorri, e parece em paz por um segundo. Em seguida, sua expressão volta ao que era
antes.
A voz de Emily soa um pouco mais alta e a sala vibra com o som da sua música.
Sinto-me em paz e percebo que é assim que deve ser. Minha luta contra o câncer. Minha
luta com a vida. Minha luta com o amor. Todas as lutas que precisei enfrentar, me
trouxeram até aqui. E não quero estar em outro lugar. Minha família está ao meu redor, a
mulher que amo, em meus braços e nossos filhos estão espalhados pelo apartamento.
Nada pode ficar melhor que isso.
SKYLAR

N ão entendo porque Emily não está tocando em um grande palco, com ingressos
esgotados pelo mundo, em vez de dedilhando a guitarra e colocando seu coração para
fora na sala de estar dos Reed. Ela tem um talento incrível e eu poderia ficar sentada
aqui o dia todo para ouvi-la. Sua voz é completa, rica e tão emocional que quase traz
uma lágrima ao meu olho.
A cada poucos minutos, ela olha para Logan e sorri para ele. Ele observa sua boca de
perto, e vejo as pontas dos dedos tocarem a base de sua guitarra de vez em quando.
Os braços de Matt me apertam e seus dedos deslizam por baixo da minha camisa
para descansar em minha barriga plana. É tão íntimo que isso faz com que eu me
remexa. Cubro sua mão com a minha e ele mantém seus dedos ali por mais um segundo.
Sua boca está bem ao lado da minha orelha quando ele vira a cabeça e sussurra.
— Aposto que você ainda está molhada.
Meu rosto esquenta e minha barriga faz aquela dancinha por causa dele.
— Pare com isso — sussurro.
De repente, uma bola voa pelo ar e atinge Matt na testa. Ele consegue pegá-la no ar.
É uma bola azul de meia, não é algo que o machucaria. Ele aperta.
— Muito divertido — diz, em direção ao quarto.
— Você vai corromper as crianças — um dos gêmeos diz. Acho que é Sam, mas eles
são tão parecidos que não tenho certeza. Então, vejo o outro aninhado com Reagan, e
tenho quase certeza de que é Sam.
— As crianças estão no outro quarto, idiota — Matt fala e lança a bola de volta para
Sam. Ele desvia e Paul a pega no ar. Ele a joga em direção a Sam, que desvia do alvo.
Seth levanta a mão timidamente.
— Eu sou um garoto e ainda estou aqui — ele nos lembra, de brincadeira. Em
qualquer outro momento, ele não aceitaria entrar na categoria infantil.
Sam levanta a mão também.
— Eu também. Você vai me corromper. — Ele treme de brincadeira. — Toda essa
merda de amorzinho me faz querer vomitar meus cupcakes. — Ele arrota alto e depois
cobre a boca com a mão fechada. — E trabalhei duro nesses cupcakes — ele lembra a
todos.
Matt me cutuca.
— Você já comeu o cupcake? — ele pergunta.
Balanço a cabeça.
— Ainda não.
Ele se levanta e volta da cozinha com dois.
— Você vai gostar — diz ele. — Sam faz os melhores doces. — Ele se senta ao meu
lado, o comprimento da perna pressionada juntamente à minha.
— Ah, cupcake! — Reagan suspira e engatinha até Matt, tentando pegar o dele. Ele ri
e a afasta, mas ela aperta seu pulso e leva o doce até a boca. Ela ri, puxando seu braço,
ainda de boca aberta, e ele se esforça para não deixá-la comer.
— Você pode derrubá-lo, princesa! — Pete grita e ri de onde está sentado, no chão.
Sam bate a palma da mão contra a dele e ri também.
— Rea-gan, Rea-gan, Rea-gan — os irmãos começam a falar. Reagan ainda está
lutando com o pulso de Matt, e ele está fingindo lutar com ela, mas está rindo.
Finalmente, ele desiste e a deixa dar uma mordida, mas quando ela puxa de volta, o
doce vai parar no seu nariz. Ela olha para cima, chocada.
— Oh, você não deveria ter feito isso — ela fala e limpa um pouco do glacê que está
em seu rosto, apontando para Matt. — Sabe o que isso significa? — ela pergunta, mas já
está pulando na direção dele. Ele me passa seu cupcake — ou o que resta dele — e fica
de pé, pulando sobre o encosto do sofá. Ela o segue e persegue-o em torno da ilha de
cozinha, rindo enquanto ele derrapa em suas meias. Ele segura o quadril dela e pede
clemência, mas ela não desiste. — Você é um bebezão — ela fala rindo.
Matt pega outro cupcake e a provoca.
— Quer esse? — Ele ergue a sobrancelha para ela. — Venha — ele desafia.
Cubro minha boca para abafar uma risada. Vi Matt em uma série de situações, mas
esta brincadeira lúdica e a forma como eles estão perseguindo um ao outro me faz
querer cobrir a cabeça e rir em voz alta ao mesmo tempo.
Reagan mergulha quando ele se lança na direção do sofá e do resto de nós. Ela pula
em suas costas e chega perto de seu rosto. Ele agarra-lhe o pulso e a prende longe, mas
então, ele desiste e leva os dedos dela aos lábios, lambendo um pouco de creme. Ele
cantarola uma musiquinha enquanto ela se esforça para se soltar. Finalmente, ela fica
mole em suas costas e deita a cabeça na parte de trás do ombro dele. Seus ombros
tremem silenciosamente enquanto ele ri.
Viro-me rapidamente para Emily e lhe passo meu cupcake não comido. Ela se levanta
e o esfrega no rosto de Matt enquanto Reagan desce das suas costas. Seus olhos se
arregalam e ela ri muito. Reagan pega um pouco de creme da camisa e esfrega na
bochecha dele.
— Ah, é agora — ele rosna e se agacha para atirar Emily por cima do ombro.
Emily protesta, batendo em suas costas, mas fica subitamente séria.
— Ponha-me no chão, Matt — ela geme.
Logan fica de pé e grita para Matt colocá-la no chão. Matt ainda está rindo, sem ter
percebido como eles estão sérios.
— Matt! — Paul grita. A sala fica em silêncio, e Matt se vira com Emily ainda por cima
do ombro para enfrentar Paul. — Coloque-a no chão antes que ela se machuque — ele
fala calmamente.
Logan tira Emily do ombro de Matt e a coloca de pé.
— Desculpe-me — Emily fala timidamente.
— O que há de errado? — Matt pergunta. Ele está sério, apesar do creme espalhado
em seu rosto. Reagan também está toda suja e eles parecem ridículos. — Machuquei
você? — ele pergunta à Emily.
Emily fica séria e olha para Logan como se estivesse pedindo permissão. Ela faz sinais
e fala com ele ao mesmo tempo.
— Devemos dizer a eles? — ela pergunta, mas está sorrindo. Logan sorri também, e
acena com a cabeça.
Emily respira fundo.
— Você não está doente, está? — Matt pergunta, e posso ver em seus olhos o amor
que ele tem pelas garotas de seus irmãos. E, sinceramente, isso me faz amá-lo ainda
mais.
Emily balança a cabeça. Ela sacode o polegar em direção à Logan.
— Seu irmão me deu um tiro certeiro — ela fala.
A sala fica em silêncio. Completamente silenciosa. Seria possível ouvir um alfinete
cair.
— O quê? — Matt pergunta, olhando de Logan para Emily. Ele ainda está cheio de
creme, mas está muito sério. Então, ele aponta para a barriga da Emily.
— Você está grávida? — ele sussurra.
Emily ri e balança a cabeça.
— Estamos grávidos! — ela grita.
— Portanto, nada de jogá-la sobre o ombro — adverte Logan, olhando para todos os
irmãos. Cada um deles fica de pé. De repente, Matt a puxa e envolve seus braços nela.
— Estou tão feliz por você — ouço-o dizer baixinho enquanto ele balança em torno
dela. Ela ri e o aperta, acariciando suas costas.
Matt olha para sua barriga.
— Você vai ser a melhor mãe de todas, Em — ele diz.
— Espero que sim — ela diz baixinho, colocando a mão na barriga. Os outros irmãos
se aproximam para felicitá-los. Eles dão soquinhos em Logan, enquanto Emily recebe
muitos abraços suaves.
— Acho que ela vai nascer linda como o pai — ela fala, mordendo o lábio.
— Ou super talentosa como você — Matt diz com veemência.
Emily sorri para ele, com lágrimas nos olhos.
— Só quero saber uma coisa — Matt fala.
Ele envolve um braço ao redor dos ombros de Emily e olha para ela. Estremeço
quando vejo o que ele está prestes a fazer, mas ela meio que merece. Ele estica o braço
na direção da bancada e pega dois cupcakes.
— O bebê vai gostar mais de chocolate ou baunilha? — ele esfrega o cupcake no rosto
assustado de Emily.
Ele ri e foge dela. Logan passa um dedo pelo rosto da namorada, pegando um pouco
de creme e levando-o aos lábios. Ele ri.
— Cupcakes excelentes Sam — Logan fala.
Sam ri.
— Vou me limpar — Matt fala, gesticulando em direção ao banheiro. Ele entra e fecha
a porta.
— Ele está bem? — Emily pergunta a Paul, parecendo preocupada. Ela pega um pano
de prato e começa a limpar o rosto, seu olhar nunca deixando a direção na qual Matt
passou.
— Ele está bem — diz Paul. Mas seu olhar paira sobre a porta do banheiro.
Não consigo evitar, mas me surpreendo com sua família. Eles se amam e se cuidam.
Olho para Seth, que foi assistir televisão. Eles me lembram de como Seth é com as
meninas. Eles são brincalhões, amorosos e apoiam uns aos outros. De repente, quero ser
parte dessa família mais do que qualquer coisa. Quero ser parte da família de Matt. E
quero que ele seja parte da minha.
MATT

C acete, Emily está grávida. Logan vai ser pai. Emily vai ser mãe. E eu vou ser tio mais
uma vez. Olho para o espelho e engulo em seco para empurrar os sentimentos de volta
para dentro de mim, onde eles podem ficar bem escondidos. Particularmente, não gosto
de transparecer em meu rosto.
Deixo a porta do banheiro aberta, já que entrei só para me limpar. A cereja está
aderindo em minha barba por fazer e é difícil de tirar. Emily bate na porta. Ela está
ridícula toda suja de creme. Ainda mais ridícula que eu. Ela lambe os dedos enquanto
entra no banheiro e pega uma tolha. Não fala nada enquanto se inclina sobre a pia e a
molha, limpando seu rosto.
Seus olhos, finalmente, encontram os meus no espelho.
— Você está bem, Em? — pergunto.
Ela balança a cabeça e continua limpando o rosto.
— Essa anilina azul é difícil de sair. Preciso dizer a Sam para usar uma cor diferente
da próxima vez.
— Ou, da próxima vez, podemos tentar não usá-la no rosto.
Ela desliga a água e se inclina para perto do espelho enquanto continua a esfregar.
— Fale comigo, Em — eu peço.
Ela balança a cabeça.
— Como isso aconteceu? — pergunto.
Um sorriso surge em seus lábios, corando seu rosto.
— Sério, Matt? — ela pergunta.
Reviro meus olhos.
— Não foi isso que eu quis dizer — falo.
— Eu sei o que você quis dizer — ela responde, jogando água no rosto novamente.
Mas ele está limpo, então, acho que ela está apenas à procura de algo para fazer para
manter as mãos ocupadas. — Você se lembra de quando tirei o siso, alguns meses atrás?
Claro que me lembro. Ela ficou parecendo um esquilo por uma semana.
— Sim, os antibióticos — diz ela, encolhendo os ombros.
— Você está feliz, certo? — pergunto.
— Eu não poderia estar mais feliz. — Seus olhos encontram os meus, e sei que ela
não está mentindo.
Afasto sua franja, retirando um pouco de creme dos seus cabelos.
— O que está te incomodando, então? — pergunto.
Ela respira fundo e fecha os olhos.
— E se ele ou ela for como eu? — ela sussurra. Emily tem dislexia e é quase
analfabeta. Ela tem que se esforçar muito para fazer todas as coisas que a maior parte
das pessoas consegue, como ler placas de rua e cardápios em restaurantes.
— E qual o problema? — pergunto baixinho. Quero gritar com ela, lhe dizer o quanto
ela é fabulosa. Quero dizer como ela é sortuda por ter um bebê, e que essa criança terá
muita sorte em ter Logan e ela como pais e vários tios e tias que irão mimá-lo o tempo
todo.
— Só estou com medo — ela fala e balança a cabeça como se quisesse afastar o
pensamento. — Não desejo minha incapacidade de aprendizagem ao meu pior inimigo.
— Se ele ou ela tiver o mesmo, você vai buscar a ajuda necessária para ter sucesso.
— Isso é algo que Emily nunca teve. Ela não teve apoio. Seu pai achava que ela não se
esforçava o suficiente e ninguém lutava por ela, até que ela conheceu Logan.
Ela olha para mim.
— Ele vai ficar bem de qualquer maneira, certo?
Logan perdeu a audição por causa de uma febre, então, eles não têm que se
preocupar com a possibilidade de seu filho herdar sua deficiência auditiva.
— Vai ficar tudo bem — respondo. E não tenho dúvida de minhas palavras, não
mesmo. — Você vai ser uma ótima mãe, Em.
Ela acena e joga a toalha na minha cara. Eu a pego e jogo-a no cesto, junto com a
minha. Ela coloca a mão na barriga.
— É difícil acreditar que tenho uma pequena pessoa crescendo dentro de mim — ela
fala suavemente.
Coloco minhas mãos em seus ombros e a sigo para fora do banheiro, mas ouço um
choro vindo do quarto de Hayley. Olho nessa direção e vejo Joey e Mellie em pé com
Hayley e Mellie parece ter feito xixi na calça.
— Uh oh — falo. Coloco o dedo em meus lábios. — Shh — eu digo. — Não diga a
ninguém. Volto já.
Pego a bolsa que Sky trouxe e tiro roupas limpas para Mellie. Em seguida, pego-a pela
mão para que eu possa levá-la ao banheiro. Não estou muito certo do que fazer quando
ela não me solta e me arrasta, junto com ela, para o banheiro. Deixo-a se limpar e ela
veste as roupas limpas, enquanto me sento na borda da banheira. Isso tudo é novo para
mim. Bom, já fiz isso com Hayley, mas ela vive com a gente e é minha sobrinha. Ela ser
da família faz com que isso seja mais fácil.
Seguro-a na pia para lavar as mãos e penso em ficar de olho nela para manda-la ir ao
banheiro a cada meia hora mais ou menos. Coloco suas roupas no cesto. Vou lavar e
devolver para Sky amanhã. Saímos do banheiro e Mellie sorri para mim e abraça minha
perna logo abaixo do joelho. Ela se senta no meu pé e dou alguns passos com ela colada
a mim como uma bota, seu aperto parecendo velcro. Ela acha divertido e as outras
meninas também querem brincar.
Depois que todas fazem um passeio agarradas as minhas pernas, certifico-me de que
elas se sentem para lanchar e vejo Emily no corredor. Ela me olha de cima a baixo e
assente.
— O quê? — pergunto.
— Nada — ela sussurra, sorrindo como uma tola.
— Diga — repito.
Ela encolhe os ombros. Mas então, olha para o meu rosto.
— Você vai ser o melhor pai do mundo, Matt — ela fala.
Meu coração incha.
— Bom, pelo menos não vou ter que me preocupar com eles serem como eu. — Passo
a mão em minha barriga. — Ser bonito é um grande fardo para carregar.
Ela ri e me dá um soco.
Me curvo, segurando meu estômago e vejo Sky vindo em minha direção.
Ela olha para o quarto de Hayley.
— Só estava indo verificar as meninas — ela fala.
— Já olhei — falo. Sua testa franze e ela parece tão linda que quero beijá-la. — —
Não diga a ninguém, mas Mellie fez xixi na calça — sussurro dramaticamente.
Ela se vira em direção a sua bolsa.
— Oh, é melhor eu pegar algumas roupas — ela fala.
— Já cuidei disso — eu digo e envolvo meus braços em volta dela.
Ela me abraça de volta.
— Você cuidou dela? — Ela coloca o rosto contra meu peito e se aconchega a mim. Eu
poderia ficar assim o dia todo.
— É claro.
Ela murmura algo contra o meu peito que soa como:
— Você é realmente sexy quando cuida de crianças.
— Ei, você deveria me ver quando aspiro o pó. E lavo os pratos. Você não será capaz
de resistir ao meu jeito sexy.
Ela ri e beija meu peito, perto do coração.
Voltamos para a sala e me sento aos pés dela, que está no sofá. Emily pega sua
guitarra depois de Reagan ter se limpado. Ela começa a tocar, e sinto os dedos de Sky
tocarem meu pescoço. Tiro o elástico do cabelo e inclino-me mais para perto dela, que
começa a me acariciar.
Eu realmente preciso de um corte de cabelo, mas depois de ter ficado careca por
tanto tempo, não quero fazer isso. Sinto-me como Sansão, que tirava sua força dos
cabelos. Sei que é besteira, mas é assim que me sinto. O fato dele estar comprido me faz
pensar que estou saudável, que não estou passando por quimioterapia, nem tomando
remédios.
Sky não para de me acariciar, nem mesmo quando a música muda. Tenho a minha
família ao meu redor, e nada nunca foi tão bom.
— Então, quem vai para o casamento amanhã? — Pete pergunta de repente.
Os dedos de Emily erram as notas e ela coloca-os sobre a corda para acalmar o
barulho.
— Pete — ela sussurra.
— O quê? — ele pergunta, erguendo as mãos.
— Que casamento? — Sky pergunta.
Olho para ela.
— Um velho amigo meu vai se casar — respondo.
Pete faz um barulho de sopro com a boca que soa muito parecido com o barulho que
ouvimos um bode fazer, uma vez, em um zoológico. Paul olha para ele, que engole tudo
o que ia dizer em seguida.
— Por que ele iria? — Reagan pergunta à Pete e o olha para como se tivesse crescido
dois chifres nele.
— Para provar que ele su... — Pete grunhe e para quando Reagan dá uma cotovelada
em seu estômago. Honestamente, eu teria chutado suas bolas. — O convite era para
todos nós — Pete resmunga. — Deveríamos, pelo menos, ir e comer e beber tudo que
pudéssemos.
— Você quer ir? — Sky me pergunta.
Balanço a cabeça.
— Na verdade, não.
— Você disse que ele é um velho amigo, certo? — ela pergunta.
Aceno.
— Mais ou menos.
— Acho que você deve ir.
— Você poderia levar Sky junto — Pete falar — Esfregar essa gost... — Ele resmunga
novamente quando Reagan lhe dá um tapa na parte de trás da cabeça.
— Acerte-o nas bolas da próxima vez — digo a Reagan.
— Boa ideia! — ela fala enquanto atira punhais para ele com os olhos. — Suas bolas
serão minhas da próxima vez que você abrir a boca — ela avisa, apontando um dedo em
direção a sua virilha.
— As minhas bolas são suas desde o dia em que te conheci, princesa — diz ele.
Sam faz um ruído de engasgo, fingindo que vai vomitar.
— Então, você quer ir? — Sky pergunta. Queria que ela deixasse isso para lá. Mas
tenho que dizer o que está acontecendo e, honestamente, estou me divertindo tanto que
não quero pensar em April ou Ken. Não quero deixá-los roubar um minuto da minha
felicidade.
Emily dá uma cotovelada em Logan
— Nós poderíamos ir com eles — diz ela. — Para dar apoio moral.
Logan encolhe os ombros. Aparentemente, ele não poderia se importar menos.
— Bem, então parece que vamos — falo, com uma respiração pesada. — Uhu. — falo,
inexpressivamente. — Você tem um vestido para ir? — Olho para Sky.
— Oh, você quer que eu vá com você? — ela pergunta, com os olhos arregalados.
Puxo sua mão até que ela não tenha escolha a não ser inclinar-se para o meu rosto
para que eu possa beijá-la.
— Eu não iria sem você. Venha comigo.
— E as crianças? — ela pergunta.
Friday levanta a mão.
— Eu tomo conta. Não tenho nada melhor para fazer.
Mas Seth a interrompe.
— Eu cuido delas. Nada demais.
— Você não tem outros planos? — Sky pergunta.
Ele balança a cabeça.
— Não. — E evita o olhar dela. — Absolutamente nada. — ele fala. Uma sombra cruza
seu olhar, mas não faço ideia do que é. Vou descobrir mais tarde.
— Então está resolvido — diz Pete. Ele se inclina para trás, um olhar de satisfação no
rosto.
Está longe de estar resolvido. Muito, muito longe de estar resolvido. Mas pelo menos,
Sky estará comigo, o que vai tornar isso suportável.
SKYLAR

M att e Seth me ajudam a descarregar o carro e subir com as meninas. Juro, ser mãe é
muito mais trabalhoso do que eu imaginava. Temos que carregar brinquedos e roupas,
além dos próprios filhos. Matt está com Joey no ombro e Seth carrega Mellie.
As meninas dormiram no apartamento de Matt e decidimos trazê-las para casa, em
vez de deixá-las acordar em um lugar estranho. Além disso, acomodar Seth, eu e Matt
seria complicado. E eu quero acordar na minha própria cama com Matt amanhã de
manhã, se ele quiser ficar, é claro. Não perguntei a ele ainda. Mas é o que quero.
Sei que ele se preocupa em ser um mau exemplo para Seth, mas Seth é quase um
adulto. Acho que vai aceitar bem.
Entramos e os dois colocam as meninas na cama e as cobrem. Dou um beijo nelas,
porque essa já se tornou nossa rotina noturna. Às vezes, ainda me levanto e vou até o
quarto para observá-las dormir, mas já participo do ritual de ir para a cama também.
Gosto de colocá-las para dormir e ouvi-las falar com sua mãe quando pensam que saí do
quarto. É comovente e edificante ao mesmo tempo.
Matt e eu vamos para a cozinha, e ele pega uma garrafa de água da geladeira.
— Foi muito divertido esta noite — falo enquanto coloco alguns pratos na lavadora.
— Também achei — ele fala. — Minha família gosta de você.
— Você já sabia sobre Emily e Logan? Você pareceu surpreso.
Ele bufa.
— Eu não teria jogado-a por cima do meu ombro se soubesse. — Ele estremece um
pouco. — Não queria machucá-la.
— Você está feliz por eles, não está? — pergunto. Observo-o atentamente, porque
Matt é muito expressivo.
— Ah, com certeza. Mas Emily está muito preocupada.
— Com o quê?
— Ela tem dislexia — diz ele. — Tem dificuldade com a leitura.
— Eu sei o que é dislexia.
— Ela tem medo que o bebê também tenha, se tiver seus genes. — Ele encolhe os
ombros. — Ela Só está preocupada, como qualquer nova mãe estaria.
— Você acha que Logan vai conseguir cuidar do bebê? — pergunto. Sempre me
perguntei como as pessoas surdas conseguem conviver com crianças ouvintes.
— Ele tem ajudado Paul a cuidar de Hayley por toda a sua vida — diz ele. — É muito
mais capaz do que as pessoas podem imaginar.
— Oh, não foi isso que eu quis dizer.
Mas ele me corta com um sorriso.
— Eu sei. Entendi.
— Será que ela vai ter que sair da faculdade? — pergunto. Sei que Emily está na
Juilliard.
Ele dá de ombros.
— Não faço ideia, mas eles vão resolver isso. Às vezes, acho que ela foi para a
faculdade apenas para provar que poderia ter sucesso. E tem. Ela está satisfeita. Tudo o
que ela quer fazer é tocar música
— Com a voz que tem, ela deveria estar tocando em grandes shows. — falo. Foi
realmente incrível.
Ele balança a cabeça.
— Ela não quer ser famosa. Só é realmente apaixonada por música. E ama meu
irmão. Então, eu a amo.
Vou até ele, envolvo meus braços em sua cintura e coloco minha cabeça em seu
peito. Minha bochecha repousa sobre seu coração.
— Minha pequena família se encaixa muito bem na sua grande família— digo em voz
baixa.
— Sim. — Ele me coloca de frente para ele com as mãos sobre meus ombros. — Você
estava preocupada com isso?
Dou de ombros.
— Talvez um pouco.
— Fale comigo — diz ele.
— Vocês são tão unidos — eu admito. — Estou com inveja vínculo que vocês têm.
— Você faz parte disso agora. Você sabe, certo? — ele pergunta e os pelos em meus
braços se arrepiam. — Assim como Emily e Reagan. Você é parte da família.
Concordo com a cabeça, contra seu peito. Seth entra na cozinha e encosta seu quadril
no balcão.
— Você se importaria se eu chamasse algum um amigo amanhã à noite enquanto
estou cuidando das meninas? — ele pergunta. Mas não me encara, nem a Matt. Humm.
— Quem é o amigo? — pergunto.
Ele dá de ombros.
— Não sei ainda. Só achei que seria divertido ter alguém para conversar.
— Conversar? — Matt pergunta. — É o que você está planejando fazer?
Seth cora.
— Bem, nós podemos jogar Xbox ou algo assim também.
— Por que você não pensa em quem gostaria de chamar e amanhã conversamos
sobre isso? — pergunto. — Pode ser assim?
Ele faz uma careta, mas concorda. Ele se senta à mesa da cozinha e começa a folhear
uma revista. Matt coloca as mãos nos bolsos e se vira para mim, arqueando as
sobrancelhas. Em seguida, ele se senta em frente à Seth e abre o jornal até que encontra
a seção de palavras cruzadas. Ele e Seth começam a preencher as colunas juntos. Seth ri
quando Matt escreve uma palavra errada. E Matt implica com Seth incessantemente por
sua caligrafia. Eles parecem felizes e confortáveis juntos, então, vou para o quarto tomar
banho e vestir meu pijama.
MATT

O lho para a bunda de Sky enquanto ela caminha até seu quarto sem falar nada. Solto
um suspiro. Quero segui-la, agarrar sua bunda, levantar sua camisa e morder a pele
sensível logo acima de seu quadril. Quero despi-la lentamente. Me remexo na cadeira e
ajeito meu jeans. Seth bufa.
— O quê? — pergunto, tentando parecer inocente.
— Cara, você é tão transparente — ele resmunga, mas está sorrindo. Ele não está
irritado.
— O que é transparente? — pergunto. O quanto a amo? Espero que seja transparente.
O quanto a respeito? Espero que isso seja óbvio. O quanto eu a quero? Acho que é
melhor que isso fique só entre nós dois.
Ele fecha a revista.
— Desculpe-me por ser um empata foda — ele fala.
Isso me aperta o estômago.
— Não fale sobre sua tia dessa forma — reclamo.
Sua testa franze.
— Não disse nada de ruim sobre ela.
— Não fale como se eu estivesse apenas tentando me dar bem com ela. As coisas não
são assim.
Ele acena com a cabeça lentamente.
— Se você diz.
— Seth... — advirto.
— O quê?
Não consigo pensar no que eu deveria dizer a ele, então, tenho que falar a verdade.
— Eu a amo, Seth. Amo muito. E sim, quero me dar bem com ela. Mas também quero
me casar com ela e quero amá-la para sempre. Quero viver com ela e compartilhar todos
os seus altos e baixos. — Tamborilo meus polegares em cima da mesa, tentando
descobrir o que dizer para fazê-lo entender. Ele é uma bomba de hormônios, não pensa a
longo prazo. Mas eu penso. — Então, quando você fala que é um empata foda, me faz
pensar que só estou atrás disso. E não é assim. Eu a respeito. E quero ter certeza de que
você saiba disso.
Seth acena lentamente de novo, como se estivesse pensando sobre o assunto.
— Você se incomodaria se eu a pedisse em casamento? — deixo escapar. Não faço
ideia de onde isso veio, mas está lá.
Sua testa franze mais.
— Você realmente quer se casar com a tia Sky?
Concordo. Quero. Quero muito.
Ele olha ao redor e o músculo em sua mandíbula treme.
— O que acontecerá conosco se vocês se casarem? — ele pergunta.
— Hã? O que você quer dizer?
— Se você e a tia Sky se casarem, ela será sua esposa. Nós estamos nos
acostumando com o fato de ela ser nossa mãe.
Oh, entendi. Merda.
— Ela não pode ser as duas coisas? Mãe e esposa?
Ele dá de ombros.
— Pode?
— A única diferença que vejo é que você teria dois pais em casa em vez de um.
Os olhos de Seth se estreitam.
— Dois pais.
Eu concordo.
— Seth, sei que não sou seu pai, e nunca vou ser. Mas quero ser parte de sua vida.
Da forma que você permitir. — Sei que, em alguns aspectos, ele não vai gostar, mas faz
parte do que os pais precisam fazer. Ser pai tem momentos complicados. — Não quero
tirar Sky de vocês. Eu juro. — É importante que ele entenda essa última parte. Ele
precisa se sentir seguro com ela e sei que ela sempre estará lá para ele e as irmãs.
Inferno, em dois anos, ele estará indo para a faculdade. Não vou ter muito tempo com
ele, não como terei com Joey e Mellie.
— Sua família é muito legal — Seth diz, calmamente.
— Às vezes, eles não são. — Eu rio. Geralmente, eles são.
— Então você vai ficar esta noite? — Seth pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Não.
— Por que não? — Ele parece confuso.
— Porque eu respeito Sky. — Porque não quero que você pense mal dela.
— Como quiser, cara — ele fala e se levanta. — Vou para a cama.
— Boa noite — falo.
Ele entra em seu quarto e fecha a porta. Deixo escapar um suspiro profundo. Deus, há
muita coisa a considerar quando há um adolescente em casa. Ele é impressionável e vai
aprender a tratar as mulheres da forma como sua mãe foi tratada e da forma como Sky
será tratada perto dele no futuro. Estou determinado a ser uma boa influência.
Sky sai de seu quarto, o cabelo úmido ao redor dos ombros.
— Seth foi dormir? —pergunta. Ela está agitada, como se não estivesse
completamente certa do que fazer.
— Sim. — Levanto-me e me apoio contra o balcão. Ela se vira para programar a
cafeteira para amanhã de manhã, e vejo seu traseiro nessas calças de pijama. Quero
agarrá-lo e afundar meus dentes nele. Mas tenho que ir para casa. Gemo para mim
mesmo.
— O que há de errado? — ela pergunta, virando-se para me encarar.
— Belo pijama.
Ela olha para si mesma, sorri, e faz uma pose dramática.
— Você gosta?
Passo a mão pelo meu rosto.
— Gostaria mais se ele estivesse no chão.
Ela congela. O pedaço de pele que posso ver pela abertura da camisa fica corado,
deixando-a rosada.
— Oh — ela suspira, mas sorri, balançando um dedo para mim. — Acho que eles
adorariam estar no chão.
Gemo novamente e atiro a cabeça para trás.
— Não posso.
Ela congela novamente.
— Você não vai ficar?
Balanço a cabeça. Eu sou estúpido. Eu sei.
— Por que não? — ela pergunta em voz baixa.
Aponto para o quarto de Seth.
— Porque temos um adolescente no outro quarto, e preciso dar um bom exemplo para
ele. — Odeio isso. Mas é assim que as coisas são.
— Você está preocupado com Seth?
Concordo com a cabeça.
— Acho que Seth tem idade suficiente para entender.
Balanço a cabeça novamente.
— Eu sei. Mas ele acabou de dizer algo que me incomodou. Não quero que ele pense
que estou com você só por sexo. — Quero fazer sexo, mas isso não vem ao caso.
Ela faz um gesto com as mãos.
— Eu meio que esperava fazer sexo — ela sussurra com veemência e olha em direção
à porta fechada do quarto de Seth. — Ele está na cama. Nunca vai saber.
Aponto para o meu peito.
— Mas eu vou saber.
Ela suspira e seus ombros caem.
— Coloquei perfume e tudo — ela murmura.
Vou até ela e passo meus braços ao redor do seu corpo, cheirando seu pescoço. Posso
sentir o cheiro doce, mas não posso dizer onde ela aplicou o perfume.
— Onde? — pergunto, hesitando quando ouço o tremor em minha voz.
— Você não gostaria de descobrir? — ela pergunta com uma risadinha. Se aproxima
nas pontas dos pés e envolve seus braços em meu pescoço.
Eu a levo para seu quarto enquanto a beijo. Seus lábios estão famintos pelos meus e
ela me beija avidamente. Quero ficar. Quero estar dentro dela, mas não posso.
Pego a bainha de sua camisa e a empurro, gentilmente, pela porta do quarto, ao
mesmo tempo em que puxo a camisa sobre a cabeça.
— Mudou de ideia? — ela pergunta, sem fôlego, cobrindo os seios com as mãos. Eles
incham ao redor dos seus dedos e quero muito beijá-los,
Levo sua camisa até o nariz e a cheiro.
— Vou levar isso comigo porque tem seu cheiro.
— Matt — ela protesta, mas é mais um grunhido brincalhão. — Devolva minha
camisa.
— Se você quer a camisa, tem que me dar sua calcinha — falo.
Olho para baixo.
— Não estou usando calcinha — diz ela, me provocando.
Inclino-me para a frente e beijo sua testa, demorando-me por apenas um momento,
sentindo-a segurar minha camisa.
— Deus, você está me matando — falo. Minhas mãos sobem e descem por suas
costas nuas, e ela ronrona como um gatinho, pressionando os seios contra o meu peito.
— Fique — ela pede baixinho.
Balanço a cabeça. Seguro suas mãos e solto seus dedos da minha camisa, vestindo-a
novamente.
— Se fosse apenas nós dois, você não seria capaz de se livrar de mim.
— Mas não é.
Balanço minha cabeça.
— Boa noite — falo, ficando de pé.
— Boa noite — ela responde, recostando-se na cama.
Saio pela porta da frente e solto um gemido alto. Quero voltar para ela. Mas também
quero fazer isso da maneira certa.
SKYLAR

M att mal sai pela porta da frente, quando ligo para ele. Na verdade, posso ouvir o
som do elevador e o sinal ruim quando ele me atende com nada mais que um gemido.
— Matt — digo em voz baixa.
— Oi — ele resmunga, mas quase posso ouvir o sorriso preguiçoso em sua voz.
— Volte.
Ele respira pesadamente. Em seguida, fala baixinho:
— Se você disser essa palavra mais uma vez...
Minha respiração acelera, e meu coração começa a disparar.
— Matt. — Estou sorrindo como uma tola, mas não me importo. Minha porta está
fechada, e ninguém pode me ver.
— Você ainda está de topless? — Matt pergunta. Sua voz está muito rouca.
Olho para baixo e cruzo os braços sobre os meus seios nus. Acho que estou.
— Sim — respondo.
Ele geme novamente.
— Envie-me uma foto.
— Sou advogada. Não fazemos esse tipo de maluquice. — Isso para não falar que sou
mãe. E mães não fazem isso. Olho para o meu peito e abaixo os braços. — Meus mamilos
estão duros.
— Sky! — ele me repreende, mas está rindo também. — Pare.
— O que há de errado, Matt? — provoco. Ouço-o passar seu endereço para um
motorista de táxi. — Por que você está pegando um táxi? — Ele, normalmente, pega o
metrô.
— Porque quero chegar rápido em casa. — ele responde.
— Por quê? — Ajoelho sobre a cama e engatinho até o centro dela. Eu provavelmente
deveria colocar uma camisa, mas gosto da sensação de ser impertinente e ficar seminua
enquanto converso com Matt.
— Porque quero falar com você até você gozar — ele fala.
— O quê? — pergunto. Meu coração quase sai pela boca
— Você me ouviu. — Ele ri. — A menos que você não queira. — Ele espera pela minha
resposta.
— Também quero que você chegue lá — sussurro.
Ele também sussurra, sua respiração ainda mais pesada.
— Fale comigo sobre outra coisa por alguns minutos — ele fala, rindo. Ouço-o gemer
e então, fica em silêncio. Consigo ouvir os ruídos da rua e um som suave quando ele
começa a cantarolar em meu ouvido. Sorrio. Não consigo evitar.
Depois de uma curta viagem, ouço-o agradecer ao motorista de táxi e bater a porta
do carro. Em seguida, ele sobe os quatro lances de escada até seu apartamento. Ele está
respirando um pouco mais pesado quando chega ao topo, mas não muito.
— Agora não — ouço-o murmurar a alguém.
— Quem era? — pergunto.
— Paul.
— Você precisa falar com ele?
— Tudo que eu preciso agora é fazer com que você goze. Ele pode esperar. — Ouço
suas chaves caindo em algum lugar. — Tranque a porta.
Saio da cama e faço o que ele pede. Minha mão está sobre a maçaneta da porta
enquanto penso sobre o que estou prestes a fazer. Um arrepio percorre minha espinha,
mas eu tranco a porta rapidamente. O clique da chave soa e eu agarro a maçaneta por
um segundo.
— Boa menina — ele fala. Sua voz é suave como seda e desliza pelo meu corpo,
deixando meus joelhos fracos. — Vá deitar na cama de novo.
— Você é meio mandão.
— Eu sei. Você gosta.
Gosto mesmo.
— Como você sabe?
— Porque você está molhada e escorregadia, e seu coração está batendo assim como
o meu. — Ele espera um segundo. — Não é?
Este é Matt. Claro, ele se preocupa com o que eu sinto.
— Sim — eu sussurro.
Ele rosna.
— Tire a parte de baixo.
Seguro o telefone entre o ombro e meu ouvido e engancho os polegares na calça do
pijama, puxando-a para baixo.
— Ok.
— Você está nua?
— Exatamente como no dia em que nasci — digo, soltando uma risadinha nervosa.
— Deus, você é linda.
— Como você sabe?
— Porque sempre vez que fecho meus olhos, você é tudo que vejo. Você está na
minha cabeça, Sky, a cada minuto de cada dia.
Eu estava quente há um minuto, mas agora, estou sem fôlego.
— Seus mamilos estão duros? — Sua cama range quando ele fala.
— Você está na cama? — pergunto.
— Sim. — Ele resmunga. — Ou melhor, sobre ela.
— Eu também.
— Ótimo. Agora, de volta a seus mamilos.
— O que têm eles? — Sorrio.
— Adoro eles. São rosados e perfeitos, e quando tiro seu batom durante o beijo, vejo
que eles são do mesmo tom dos seus lábios. — Ele faz uma pausa. — Toque-os.
— Tocá-los como?
— Não seja suave. Eles devem estar doloridos e duros. — Ele espera. Estou certo?
— Como você sabe?
Ele ri, mas é um som de dor.
— Porque também estou dolorido e duro, Sky.
— Oh.
— Comprima-os levemente, os dois ao mesmo tempo. — Sua respiração fica mais
pesada.
— Matt — eu sussurro. — Não tenho certeza de que posso fazer isso.
— Feche os olhos.
Eu fecho.
— Agora, toque seus mamilos.
Suspiro enquanto meu polegar toca um dos mamilos duros.
— Deus, Sky — ele sussurra.
Ele estava certo. O toque furtivo do meu polegar não é suficiente. Seguro meus seios
e aperto meus mamilos entre o polegar e o indicador. Quase deixo cair o telefone.
— Se eu estivesse aí, iria beliscá-los e depois lamber.
— Matt.
— O quê? — Ele ri.
— O que você está fazendo?
Ele ri novamente.
— O que você acha que estou fazendo?
— A mesma coisa que eu?
— Bem, não tenho seios bonitos para brincar, mas, sim.
— Quanto tempo até que eu possa me mover para o sul? — pergunto.
Mantenho os olhos fechados, esperando que ele ria de mim.
Mas ele não ri.
— Agora.
— Graças a Deus — suspiro.
— Coloque os joelhos para cima e, em seguida, abra-os. Por favor.
Faço como ele pede e me sinto muito exposta, mesmo que não haja ninguém no
quarto comigo.
— É uma boceta linda — ele fala. — Abra-a com os dedos para que eu possa ver.
Meus dedos separam as dobras molhadas, que estão inchadas e doloridas.
— Boa menina —ele fala.
— Como você sabe que fiz o que pediu?
— Porque eu posso ouvir em sua voz, Sky.
Mal posso respirar.
— Ouço cada respiração e suspiro. Ouço até o que você não quer que eu ouça.
— Como o quê?
— Ouço seus medos. Suas dores. Seus desejos e necessidades. Ouço tudo.
Aperto meus olhos bem fechados.
— Ninguém nunca me ouviu antes. — Uma lágrima quente desce lentamente em meu
rosto.
— Eu ouço tudo. — Ele espera alguns segundos. — Toque sua boceta, Sky.
Deslizo os dedos pela minha umidade.
— Mergulhe-os lá dentro e deixe-os molhados.
— Quantos dedos?
Ele rosna.
— Quantos você aguenta?
Deslizo meu dedo médio, bombeando dentro e fora. Depois, adiciono o indicador. E,
quando acho que não consigo suportar mais, abro-me ainda mais, adicionando o anelar.
Estou cheia e preenchida por meus dedos, mas não me importo.
— Três — respondo a ele.
— Jesus.
— O que você quer que eu faça agora, Matt?
— Acaricie seu clitóris. — Ele resmunga, e eu ouço um barulho em sua extremidade
do telefone.
— Você está usando lubrificante?
— Cuspe. — Ele resmunga. — Estou com pressa.
Acaricio meu clitóris em pequenos círculos.
— Não vou durar muito tempo — advirto.
— Graças a Deus — ele rosna.
Meu clitóris está duro e inchado e, oh, tão sensível. Minhas carícias me deixam
querendo mais e mais.
— Mais rápido — ele insiste. — Preciso ouvir você gozar.
— Você está me esperando? — Minha respiração ofega junto com meu coração.
— Sempre — ele suspira.
— Matt — eu grito.
— É isso mesmo — ele insiste. — Diga meu nome.
— Matt, Matt, Matt.
— Sou eu que te completo, Sky. Só eu. — Sua voz é baixa e suave e atinge meu
centro.
— Só você.
— Eu. E você.
Minhas pernas tremem e sei que é hora.
— Sky — ele implora. — Por favor, agora.
Um gemido deixa minha garganta quando meu corpo se curva com o prazer.
— Não pare — pede. Ele resmunga, e posso dizer que está gozando também. — Por
favor, não pare — ele implora.
Gemo baixinho, meu corpo torturado com tremores.
— Não pare — ele fala, sua voz cada vez mais suave.
— Ahh. — Tenho que parar. Meu clitóris está muito sensível, meu corpo destruído.
Diminuo a velocidade dos meus dedos e deixo os pequenos tremores me levarem.
Sensível, paro de esfregar minha boceta enquanto o ouço respirar.
Ficamos assim por um momento, até que o ouço se mover.
— Fique comigo, Matt — peço.
— Não vou deixar você — ele fala com uma risada. — Só preciso me limpar. Estou
todo sujo.
— Oh — suspiro e dou uma risada. Esqueci disso.
— Sim — diz. Ele se move por alguns segundos e, então, ouço sua cama ranger
novamente. Imagino-o recostando-se contra os travesseiros, um sorriso satisfeito no
rosto. — Você está bem? — ele pergunta baixinho.
— Hum-hum — murmuro.
Ele ri.
— E ela está sem palavras depois do orgasmo.
Não consigo segurar a risada. Estou nua, deitada em cima das minhas cobertas, e ele
me fez atingir o clímax pelo telefone.
— Onde você aprendeu a fazer isso?
— Aprendi? — ele pergunta bufando. — Merda, nunca fiz isso antes. A culpa é toda
sua. — Ele ri. — Não posso acreditar que deixei você me corromper assim.
Meu sorriso se amplia.
— Vai ficar comigo até eu dormir?
Ele boceja.
— Você não tem como me impedir.

Acordo e olho para o relógio. São duas horas da manhã e estou nua e gelada em cima
das cobertas. Levanto-me e coloco meu pijama, em seguida, vou ao banheiro e lavo as
mãos. Olho-me no espelho e balanço a cabeça. Algumas semanas atrás, eu era uma
garota, vivendo uma vida de solteira, com um namorado que não se importava comigo.
Agora, tenho três filhos que estou aprendendo a amar além de qualquer coisa que eu
imaginava e tenho Matt. Nunca pensei que poderia sentir por alguém o que sinto por ele.
Eu meio que sinto muito por Phillip. Ele nunca me atingiu a esse ponto, e nunca dei a ele
o que estou disposta a dar a Matt.
Sinto aquele desejo irresistível de ir ver as meninas. Ando pelo corredor até o quarto
delas. A luz noturna, que fica acesa, brilha suavemente. Mellie está descoberta, então,
puxo suavemente a colcha e a cubro. Ela ressona e vira para o outro lado. Joey
raramente se move enquanto dorme, mas puxo sua coberta até o queixo mesmo assim.
Ela não se mexe.
Quero verificar Seth também, mas ele é um adolescente, e tenho receio de abrir sua
porta. Decido não me arriscar.
Entro na sala de estar e vejo a luz de um abajur acesa. Seth me olha por cima do
ombro e fecha o livro que está aberto em seu colo, enfiando-o entre as almofadas.
— Tudo bem? — pergunto. Sento-me na outra extremidade do sofá e coloco meus pés
para cima, debaixo de mim.
— Sim. — Percebo que seus olhos estão molhados, e ele passa a mão debaixo do
nariz.
— O que você está olhando? — pergunto. Meu coração se parte por ele. Ele nunca
chorou após a morte da mãe, pelo menos, não que eu tenha visto.
— Apenas algumas fotos — ele fala sem me olhar nos olhos.
— Posso ver? — Pego o álbum e ele encolhe os ombros. Abro-o na primeira página.
Seth era adorável quando bebê. Sorrio e olho para ele. — Você sempre teve essas
covinhas, hein?
Ele sorri e se senta ao meu lado no sofá.
Observo outra foto e vejo meu pai no álbum. Meu coração quase para. Ele tem o
braço ao redor Kendra em um monte de fotos, e parece muito confortável com ela.
— Vovô vinha muito aqui — ele fala.
Eu concordo. Não sei por que isso me sufoca.
Viro a página.
— Sua mãe era tão bonita.
— Eu sei. — Seu ombro toca meu, e ele inclina-se contra mim, apontando para uma
imagem. — Esse é o meu pai.
Bem, ele não é o que eu esperava. Seu pai é latino.
— Ele falava espanhol conosco o tempo todo.
Olho para ele.
— Você sabe falar espanhol?
Ele balança a cabeça e vira a página.
— Esse é o homem com quem minha avó se casou. Ele era bom.
Esse é o homem que tomou o lugar de meu pai.
— O quanto você sabe sobre tudo isso? — pergunto. Não sei o quanto posso ou não
dizer perto dele.
— O suficiente — ele responde.
— Sua mãe era inteligente e bonita, hein? — falo, olhando para uma foto dela
recebendo um prêmio por algo.
Ele balança a cabeça.
— Mas ela não confiava nos homens.
— Os homens vão embora — eu falo. Mas quero engolir minhas palavras de volta logo
que elas saem.
Ele balança a cabeça.
— Nem todos.
Calmamente, folheio o álbum.
— Matt não iria — ele fala em voz baixa. — Você deve confiar nele.
Solto um suspiro.
— Eu confio. Tanto quanto posso.
Ele balança a cabeça.
— Às vezes, sinto medo de esquecer de como ela era — ele fala em voz baixa.
— Seth... — Não sei se deveria abraçá-lo ou não, então, apenas inclino-me mais
fortemente ao seu lado.
— Está tudo bem. Faz algumas semanas e sei que ela partiu.
Não digo nada, pois não tenho certeza de que ele quer que eu fale.
— Achei que era ruim quando ela estava morrendo, mas dizer adeus a ela depois... foi
ainda pior.
— Você não tem que dizer adeus.
— Todos os dias, tenho que me lembrar que ela se foi. Levanto-me e espero
encontrá-la na cozinha fazendo palavras cruzadas. Ou cozinhando. Ou dançando com
Joey e Mellie. Ou comigo. — Ele sorri. — Ela gostava de ouvir música e dançar.
Ele espera enquanto viro as páginas. Vejo meu pai em várias delas. E isso faz meu
peito doer de uma forma que não consigo evitar.
— Não posso mais ouvir sua voz — ele sussurra. — Quero ouvir a voz dela, tia Sky. —
Sua voz falha e ele coloca a testa em meu ombro. Um tremor o envolve.
Dane-se. Viro-me e envolvo meus braços ao redor dele. Não sei como agir, porque
nunca tive alguém para fazer isso por mim. Ele me puxa para mais perto e soluça em
meu ombro.
Quando finalmente tranquiliza, dou um tapinha em suas costas e sento-me. Volto-me
para o álbum, porque ele parece desconfortável.
— A vida é como um livro, Seth — falo a ele. — Assim como o álbum de fotos. Páginas
passam, mas você pode voltar a elas a qualquer hora, mesmo quando a última página foi
lida. Tudo que você tem a fazer é abri-lo novamente e escolher uma página para reler. —
Não sei se isso é verdade ou não, mas soa bem.
— Se você pudesse reler qualquer página em seu livro, tia Sky, qual seria? — ele me
pergunta suavemente.
— Esta — respondo. Tomo sua mão na minha e aperto-a de leve. Ele não se afasta.
MATT

D ou um puxão em minha gravata, tentando afrouxar a filha da puta. Odeio ter que
vestir a porra de um terno. Logan enfia a cabeça dentro do quarto.
— Está pronto? —pergunta.
Ele está arrumado, com roupas da Madison Avenue que a mãe de Emily nos enviou. A
mulher gosta de nos arrumar e, uma vez que seu marido é dono da empresa, ela tira o
máximo de proveito disso. Logan parece ter saído das páginas de uma revista.
— Pede a Emily para me ajudar a amarrar essa coisa? — peço. Ele acena e vai buscá-
la.
Ela entra no quarto, parecendo a garota de um milhão de dólares. Ela está linda.
Normalmente, ela usa jeans e botas. Lembro-me de quando a conheci. Ela usava roupa
de colegial católica todos os dias e tinha uma mecha azul nos cabelos. Agora, está
usando um salto de quase dez centímetros.
— Tem certeza de que quer ir a esse casamento? — ela me pergunta suavemente
quando começa a amarrar minha gravata.
— Não vejo por que não — falo e olho para baixo. — Tem certeza de que deveria
estar usando essas pernas de pau? E se você tropeçar?
Ela bufa.
— Estou grávida, Matt, não doente. Pare de se preocupar. Juro, você é pior que
Logan.
— Você não quer usar um sapato mais baixo? Isso poderia me fazer sentir melhor.
Ela puxa a gravata para cima, apertando-a contra o meu pescoço.
— Desde quando eu me importo em fazer você se sentir melhor? — ela pergunta, mas
está sorrindo gentilmente para mim.
— Sempre. Você começou a me amar no dia em que me conheceu.
— Você quer dizer, quando estava vomitando as tripas? — responde. Ela é a única
pessoa que soube o quanto eu estava doente naquela época. Ou, pelo menos, eu achava.
Descobri que todos os meus irmãos sabiam; eles estavam apenas tentando me manter
calmo.
— Você me trouxe um balde — eu lembro a ela e o pensamento me faz sorrir.
— E água tônica
— E você se aconchegou comigo no sofá.
Ela olha nos meus olhos.
— E eu ainda faria isso se você deixasse.
— Em — murmuro.
Ela levanta a mão para me impedir.
— Entendi. Eu realmente entendi.
Estreito meus olhos para ela.
— Jura?
Ela balança a cabeça.
— Juro. E estou tão feliz por você — ela diz baixinho. — Quando você volta a fazer
exames? —pergunta. Ela é a única que me perguntou isso.
— No próximo mês — digo a ela. — Como você sabia? — Olho para ela enquanto
organizo os itens em meu armário. Só quero manter minhas mãos ocupadas. Odeio falar
sobre o câncer. Odeio que ele seja uma parte tão grande da minha vida.
Ela encolhe os ombros.
— Eu conheço você, Matt — ela fala. — Quer que eu vá junto? — ela pergunta.
Balanço a cabeça.
— É só um exame de sangue, Em — respondo. Um exame de sangue assustador que
tem o poder de mudar minha vida, mas, ainda assim, é só uma picada de agulha.
Ela balança a cabeça.
— Tudo bem — diz ela. — Mas me diga se você mudar de ideia.
— Pode deixar.
— Você contou à Sky sobre a April, certo? Ela não está indo às cegas para o
casamento, não é?
Eu concordo.
— Contei, sim.
— E ela aceitou bem o fato de ir ao casamento da sua ex?
— Encerramento — falo. Coloco minha carteira no bolso interno do paletó.
— Encerramento — ela repete. — Você está pronto para ir? — ela pergunta e me olha
de cima a baixo. — Você está quase tão bonito quanto Logan, sabia? — Ela sorri para
mim. Coloco meu braço em torno dela e saio do quarto.
— Tire suas mãos da mãe do meu bebê — Logan reclama.
Eu rio, porque essa é a coisa mais ridícula que já ouvi sair de sua boca.
— Obrigue-me — implico.
Ele ri, e saímos pela porta juntos. Eles estão lado a lado, e eu os sigo. Estamos
arrumados demais para o bairro onde moramos e tenho medo de que sejamos assaltados
se ficarmos muito tempo por aqui. Mas o pai de Emily nos emprestou seu motorista e sua
limusine esta noite. Foi muito legal da parte dele. Assim, consigo mimar um pouco Sky.
Seguimos até seu apartamento. Ela me mandou uma mensagem de texto, pedindo
para avisá-la quando estivermos perto para que ela possa nos esperar na rua, mas não
aviso. Vou até seu apartamento e bato. Seth abre a porta
— Porra, cara. Você está todo arrumado. — Ele sorri. — Que bom, porque ela
também.
Ele dá um passo para trás, e é como se estivesse abrindo uma cortina. Sky sai de seu
quarto e caminha em minha direção. Ela está calçando saltos que parecem ainda mais
altos que os de Emily, e não se parece com uma mãe agora. Ela parece uma advogada
elegante, rica e que eu jamais poderia imaginar que teria ao meu lado.
Ela assobia para mim.
— Você está lindo — ela fala e caminha em minha direção segurando um colar. Ela o
coloca em minhas mãos e vira de costas para mim. — Pode colocar isso em mim? — ela
pergunta e levanta o cabelo, que está solto — muito diferente do rabo de cavalo com que
estou acostumado — ,caindo em ondas pelas costas. Ela está usando um vestido que
envolve seu corpo. Sei que já vi tudo o que está debaixo dele, mas não tenho culpa se
meu pau fica feliz quando ela se vira de costas para mim.
Coloco o colar em seu pescoço e me abaixo para beijar a pele macia. Ela ronrona e se
vira para mim.
— Obrigada.
— Estou feliz por você estar aqui — diz Seth. — Tive que olhar quatrocentos e
cinquenta e dois vestidos. E, quando ela finalmente escolheu um, teve que fazer a dança
do sapato.
Arqueio minha sobrancelha.
— Dança do sapato?
Ele coloca um pé no chão e se ergue como um flamingo, imitando a voz de uma
menina.
— Este sapato, ou este aqui? — ele pergunta mudando de pé para pé.
Sky ri e empurra seu ombro.
— Não foi tão ruim assim.
Seth revira os olhos e vai para o sofá. Mellie e Joey estão no chão, brincando com
Barbies.
— Você tem certeza que vai ficar bem, Seth? — ela pergunta, mas ele está sorrindo e
digitando em seu telefone. — Seth! — ela chama em voz alta.
Ele olha para cima.
— O quê?
Ela revira os olhos.
— Tem certeza de que você vai ficar bem?
Ele coloca um braço sobre o encosto do sofá.
— Vamos ficar bem — diz ele, voltando-se para o seu telefone.
— Ligue se você precisar de alguma coisa, ok? Qualquer coisa.
— Tudo bem — diz ele, distraído. Algo está acontecendo, mas não sei o quê.
— Vem alguém para cá, Seth? — pergunto.
Ele olha para cima, o rosto corado.
— Não, ela não pôde vir hoje. — Ele não percebe o erro por um segundo. Em seguida,
se apressa em dizer: — Quero dizer, ele. Não ela.
Agora entendi. Ele queria trazer uma menina.
— Nada de garotas — diz Sky. — Ainda não estou pronta para ser avó.
Seth não desvia os olhos do telefone.
— Seth! — Sky chama.
Ele ergue a cabeça.
— O quê?
— Nada de meninas na casa, a menos que sejam suas irmãs. Você me ouviu?
— Ouvi.
Ela beija Joey e Mellie enquanto paro perto de Seth.
— Você ouviu o que ela disse, certo? — pergunto.
Ele parece um pouco arrependido.
— Sim.
— Bom. — Aponto meu dedo para ele. — Comporte-se.
— Você também — ele fala com um sorriso. — Que horas estarão em casa?
Sky abre a boca, mas eu a corto.
— Daqui a algumas horas.
— Vamos? — Sky pergunta.
Concordo. Coloco minha mão na parte inferior das suas costas e levo-a para fora
depois que ela beija Seth na testa. Ele torce o rosto e, em seguida, volta para seu
telefone.
— Sério, só algumas horas? — ela pergunta quando a porta se fecha.
— Não — respondo. — Só disse aquilo para que ele não saiba a hora que estaremos
em casa. Isso vai diminuir as chances de ele trazer a tal garota para cá.
Ela sorri.
— Ah, excelente ideia.
— Tenho três irmãos mais novos — lembro-a. Olho-a de cima a baixo. — Você está
tão linda — digo a ela.
Suas bochechas ficam rosadas.
— Obrigada — ela fala. — Você poderia ter mandado uma mensagem quando
chegasse aqui. Eu teria descido.
— Minha mãe iria rolar no túmulo se eu não a buscasse na sua porta. — É a verdade.
Ela iria odiar. Ajeito meu paletó. — Ela deu à luz a cinco cavalheiros. — Levanto meu
nariz, brincando.
Sky olha para mim.
— Sim, eu concordo — ela fala baixinho.
Passo um braço em volta da sua cintura e puxo-a contra mim quando as portas do
elevador se fecham. Toco meus lábios nos dela.
— Vou borrar seu batom — advirto.
— Eu o trouxe na bolsa — ela sussurra e, em seguida, passa os braços ao redor do
meu pescoço e me beija. Coloco a mão em sua bunda e levanto-a contra mim. Ela não
parece se importar. Sky geme baixinho contra meus lábios, acelerando o meu coração.
As portas se abrem e eu me afasto. Ela limpa os lábios com o polegar. Pego um lenço
e passo no rosto.
— Estou bem? — pergunto.
Limpo o canto da sua boca, onde a manchei.
— E eu? — ela pergunta.
— Linda — falo.
Pego sua mão e levo-a para fora do prédio. Ela é tão linda que quero que o mundo
inteiro a veja. E o que torna isso ainda melhor é que ela é minha.
Ela para quando vê a limusine.
— Isso é para nós? — ela pergunta.
Aceno e conduzo-a para dentro do carro quando o motorista abre a porta. Ela desliza
ao lado de Emily, que lhe oferece uma taça de champanhe. Ela a segura com uma mão e
apoia a outra em minha perna depois que eu me sento ao seu lado. As pontas dos dedos
desenhando círculos preguiçosos na minha coxa. Coloco minha mão sobre a dela para
fazê-la parar. Ela olha para mim, confusa. Só preciso de um toque dela para deixar meu
pau duro.
Logan ri do outro lado do carro.
— Cale a boca — eu falo e sinalizo ao mesmo tempo.
Ele ri um pouco mais alto.
SKYLAR

A parentemente, Matt conhece todo mundo no casamento. O evento está sendo


realizado em um hotel chique e verdadeiramente belo. A noiva estava linda e eu até me
senti emocionada quando ela começou a caminhar pelo corredor. Matt se contorceu um
pouco quando a cerimônia começou, e acho que foi porque ele não está acostumado a
usar terno. Agora, estamos na recepção — um jantar elegante que eu não estava
esperando. Com espaço para dança. Matt me apresenta a algumas pessoas enquanto
caminhamos. São tantos conhecidos, que não tenho qualquer esperança de guardar seus
nomes.
O padrinho faz um brinde, que faz o salão rugir com risadas. Até mesmo Matt ri e
levanta sua taça em direção aos noivos. Ele se inclina para mim e sussurra perto do meu
ouvido.
— Na noite passada, você fez um barulho no telefone que não consigo tirar da cabeça
— ele fala.
Meu estômago dá um nó.
— Que barulho? — pergunto. Inclino-me e beijo sua bochecha. Eu simplesmente não
consigo evitar.
— Não posso descrevê-lo — diz ele, distraído. — Mas foi quando você chegou lá.
Engasgo com minha própria saliva, e ele ri. Sua mão pousa em minha coxa.
— Quero ouvi-lo novamente — diz ele, suas palavras quentes em minha orelha.
Coloco minha mão sobre sua coxa e o aperto com firmeza. É uma jogada ousada,
assim como a forma como ele está falando comigo.
— Pare de brincar — advirto.
— Quem está brincando? — ele pergunta e olha nos meus olhos.
— Você vai ficar hoje à noite? — pergunto e levanto minhas sobrancelhas para ele.
Ele balança a cabeça.
— Seth — ele responde.
— Agora, quem está brincando? — pergunto. Inclino-me para ele, e meu peito toca
seu braço. Ele levanta um dedo para traçar, levemente, a parte inferior do meu.
Pressiono meus pés um no outro para aliviar a dor repentina.
Ele se levanta, pega minha mão e, então, me puxa para ficar de pé.
— Vamos lá — ele fala.
— Para onde estamos indo? — pergunto quando me arrasta junto com ele. Corro na
ponta dos pés, com meus sapatos demasiadamente altos. Ele não abranda o passo.
Andamos por um corredor, e ele testa as portas até encontrar uma que está aberta.
Quando ela se abre, ele me puxa para dentro e, imediatamente, me encosta contra a
parede. É uma despensa. E eu não me importo.
— Quero ouvir aquele barulho novamente — diz ele contra os meus lábios. Milhares
de borboletas se agitam em minha barriga. — Agora mesmo. — Ele para e olha para o
meu rosto, as mãos acariciando minhas bochechas. — Está tudo bem com você? — ele
pergunta. — Diga-me se não estiver.
Eu concordo. Não posso nem falar.
Matt levanta minha saia, segurando-a até encontrar minha calcinha. Ele enfia os
dedos nela e a puxa para baixo. Um lado paira sobre o meu tornozelo, e ele a deixa lá.
Eu não me importo. Ele desafivela seu cinto, abaixa o zíper rapidamente, enfia a mão no
bolso do paletó e puxa a carteira. Pega uma camisinha, abrindo-a com os dentes. Ele rola
o preservativo sobre seu comprimento com uma careta, e então, me ergue. Coloco
minhas pernas ao redor da sua cintura.
Ele olha nos meus olhos enquanto entra em mim. Minhas costas estão pressionadas
contra a parede, e uma de suas mãos agarra minha bunda nua, me abrindo para sua
penetração enquanto a outra fica apoiada ao lado da minha cabeça. Ele me enche
lentamente, seus olhos azuis olhando nos meus enquanto me empala. Deus, eu me sinto
tão cheia dessa maneira. Ele não para até que nossos corpos se toquem completamente.
Então, ele começa a se mover. Seus lábios tocam os meus e ele fala.
— Eu te amo pra caralho.
Não posso falar. Não posso pensar. Matt bate em meu centro, e eu ajeito meus
quadris para que possa aproveitar mais a cada movimento.
— Sim, esse é o barulho — ele fala, quando perco a respiração. Ele tira minha mão de
seu ombro e a leva para baixo, para onde estamos unidos. — Acaricie sua boceta, Sky —
ele fala.
— Não preciso disso para gozar — eu falo.
— Eu preciso que você goze assim — ele fala. — Por favor.
Sua testa descansa contra a minha e posso sentir cada respiração sua. Estamos
compartilhando o mesmo ar.
Coloco a mão entre nós e aperto a base de seu pau quando ele se retira. Ele para de
se mover.
— Estou muito perto — ele adverte e rosna para mim. — Acaricie sua boceta, Sky.
Começo a acariciar meu clitóris. Já estou perto. Estou tão perto. Ele está me
acariciando por dentro, com seu corpo grande e poderoso enquanto me segura com força
contra a parede. Meu clitóris está duro e sensível, e eu o acaricio rapidamente. Os
grunhidos selvagens de Matt em minha orelha são rápidos e crus e, de repente, sinto-o
me tomar. Seus gemidos continuam enquanto ele bombeia dentro de mim e vibro ao seu
redor, ordenhando seu orgasmo. Ele se acalma e pulsa dentro de mim, seus lábios em
minha têmpora quando termina.
— Sky? — ele sussurra.
— Oi — sussurro de volta.
— Machuquei você? — ele pergunta, franzindo a testa ao sair de dentro de mim. Amo
sua preocupação.
— Não, você não me machucou. Você me fez gozar como louca. — Eu rio, não consigo
segurar. Nunca me senti tão bem. Nunca.
— Eu também. — Ele ri. Desenrolo minhas pernas dos seus quadris e ele me coloca de
pé. Meus sapatos caíram, então, estou descalça sobre o chão frio, mas não me importo.
Minha calcinha ainda está pendurada em volta do meu tornozelo.
Esfrego minhas coxas uma na outra. Tem algo de errado.
— Matt.
— Humm — ele fala, puxando o preservativo. Ele olha para mim timidamente. —
Podemos ter um problema.
— Por que estou toda molhada? — pergunto. Mais molhada do que deveria.
Ele puxa o preservativo para fora e o prende.
— A camisinha estourou — ele fala.
Meu coração palpita.
— O quê?
— Sim.
O que mais me assusta é fato de que ouvir que ele gozou dentro de mim não me
incomoda. Nem um pouco.
— Está tudo bem, Matt.
— Eu sei. — Ele solta um suspiro e joga o preservativo em uma lata de lixo, cobrindo-
o com o que já está lá. — Eu te disse. Seria preciso um milagre para engravidá-la. Fiz
vários exames enquanto estava doente. Você está segura.
— Não estava preocupada — eu digo em voz baixa. Quero passar o resto da minha
vida com este homem.
Ele prende o cinto e levanta o zíper. Em seguida, se inclina para desenganchar minha
calcinha do tornozelo. Ele parece estar realmente tranquilo. Mais calmo do que eu quero
que ele esteja. Não sei o que dizer a ele, porque não sei o que ele está pensando.
— Você quer ir se limpar? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Preciso. — Ele segura minha calcinha e eu a coloco na pequena bolsa que estava
caída no chão. Ele pega meu sapato e calça um pé. Depois, repete o processo com o
outro. Olha para mim e passa a mão em minha perna.
— Matt — falo, mas ele pega a minha mão e me leva para o banheiro das mulheres.
Ele beija minha testa e permanece lá, respirando levemente em meu cabelo.
— Vou esperar por você na sala de jantar — ele fala. — Tudo bem?
Concordo com a cabeça e vou para o banheiro. Entro em um cubículo e me afundo.
Meus joelhos ainda estão tremendo, e não é apenas por ter transado contra a parede de
uma despensa. Tenho medo do que está acontecendo na cabeça de Matt. Não sei o que
seu súbito silêncio significa.
Limpo-me e, assim que começo a vestir minha calcinha, a porta do banheiro se abre.
Uma risada feminina soa.
— Você pode acreditar que ele trouxe alguém? — uma voz pergunta.
— Não posso sequer acreditar que Matt veio, muito menos que trouxe uma mulher
com ele. Talvez ele tenha esquecido a April.
— Matt nunca vai esquecer a April. Não depois do que ela fez.
— Então, quem você acha que é a sua acompanhante?
— Uma garota qualquer — a voz fala. — Alguém que nunca vai significar tanto para
ele quanto April — ela bufa. — Eles têm tanta história.
April é a garota que partiu o coração de Matt.
Meu estômago dá um nó e tenho que piscar para conter as lágrimas.
Matt me trouxe aqui para assistir April, a mulher que ele amou mais do que tudo, se
casar. E ele sequer me disse.
Saio do cubículo quando o som das vozes diminui e ouço a porta se fechar. Retoco
minha maquiagem e limpo minha testa. Sinto como se tivesse levado soco no estômago.
Mas não há nada que eu possa fazer sobre isso agora.
Volto para a mesa e vejo Emily sentada lá. Matt e Logan estão conversando com um
pequeno grupo de homens que eles conhecem. Sento-me ao lado dela, que me olha de
cima a baixo.
— Onde foi que vocês dois se enfiaram? — ela pergunta, sorrindo.
— Num armário no corredor, onde ele me fodeu contra a parede — eu digo.
Emily congela.
— Por alguma razão, não acho que é tão bom quanto parece. O que há de errado? —
Ela olha para Matt como se quisesse chamar sua atenção.
Bato na mesa e ela olha para minha mão.
— April não parece arrependida pelo que fez a Matt — falo e observo a reação dela.
— Oh — ela suspira e coloca a mão no peito. — Eu não tinha certeza de que ele tinha
lhe contado.
Sorrio.
— Ele me disse. — Me contou sobre a garota que partiu seu coração. Só não me
contou que April era a mulher da vida dele. — Por que você acha que ele quis vir hoje à
noite? — pergunto. Tomo um gole da minha água.
— Ele disse que é um encerramento. — Ela olha para onde April está dançando com o
marido.
— Ele realmente a amou, não é? — pergunto, casualmente.
— Ele até escreveu uma carta para ela quando estava para morrer. E me fez prometer
entregar a ela. Prefiro apodrecer no inferno. Mas ele me fez prometer, pois seus irmãos
recusaram-se a fazer isso.
Sorrio, apesar de minhas entranhas estarem rugindo.
Matt chega à mesa e pega minha mão.
— Vem dançar comigo.
Aceno e deixo-o me levar. A música que está tocando é lenta. Ele me leva para a
pista de dança e me puxa para seus braços.
— Algo errado? — ele pergunta.
Balanço minha cabeça e sorrio para ele. Sua testa franze.
— Já teve a chance de parabeniza a noiva? — pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Ainda não. —Seu olhar vagueia para onde ela está dançando com o marido. Viro-
nos nessa direção e, em seguida, solto-me de seus braços. Coloco minha mão no braço
do marido de April.
— Posso interromper? — pergunto, com um sorriso enorme. Ele olha para sua esposa,
e ela dá de ombros. Então, ele vê Matt ao meu lado e seu sorriso diminui, mas disfarça o
mais rápido possível.
— Matt — diz ele.
Matt acena para ele.
Como se compreendesse, o noivo passa a noiva para Matt e dança comigo. Assisto,
com o canto do olho quando Matt diz algo a April e, em seguida, relutantemente puxa-a
para seus braços. Ele faz uma carranca para mim e olha em minha direção, mas dou ao
noivo a minha atenção.
— Tem muita história entre eles — o noivo fala.
— Ouvi dizer.
— Muito generoso da sua parte deixá-la falar com ele.
— Sim.
— Eles terminaram, sabia? — ele pergunta.
Olho e os vejo conversando enquanto dançam.
— Não, não terminaram.
Ele dá um suspiro.
— Eu sei — diz ele. — Isso não te incomoda?
Balanço minha cabeça. Essa porra me mata.
A música para e eu me solto dele. Preciso sair daqui antes que desmorone. Quase
corro pelo corredor em direção à saída. Entro em um táxi que está parado e dou ao
motorista o endereço do meu apartamento. Não quero ir para casa. Droga, quando foi
que o apartamento das crianças se tornou “casa”? Não sei dizer. Mas sei que Matt vai até
lá tentar me encontrar.
Pego meu telefone e disco.
— Oi, pai — falo quando ele atende.
— Sky? — ele pergunta. — Você está bem?
— Ah, sim —minto. — Tudo bem. Estou um pouco constrangida, mas bebi um pouco
além da conta. Seria possível que você ficasse com as crianças hoje? Quero ir para meu
próprio apartamento e me recuperar.
Papai faz uma pausa por um segundo.
— Você quer que eu fique com as crianças.
— Você se importaria? — Coloco minha cabeça contra o assento. — Se não puder, não
tem problema.
— Sem problemas — ele se apressa em dizer. — Eu vou. Vou agora mesmo.
— Obrigada, pai. Mande uma mensagem de texto quando chegar lá para que eu saiba
que está tudo bem?
— Sky — ele fala com a voz hesitante. — Você está bem?
MATT

P or que diabos ela fez isso? E um minuto, Sky estava quente macia em meus braços e,
no seguinte, estou segurando April. Essa última, eu posso ignorar. Mas o fato de que
Kenny está com Sky nos braços me dilacera por dentro.
— Estou feliz por você ter vindo — April diz, suavemente.
Olho para ela, que pisca os olhos castanhos para mim. Houve uma época em que eu
poderia me perder em seu olhar. Inferno, eu me perdi dentro dela.
— Fiquei feliz por ter sido convidado — respondo.
Estou feliz. Não imaginei que ficaria, mas estou. Porque o que havia entre nós, agora
estava, definitivamente, encerrado.
— Você acha que poderíamos ser amigos? — ela pergunta.
Não posso responder a isso. Não vejo como é possível, mas dizer isso poderia ferir
seus sentimentos.
— Eu gostaria de que, pelo menos, não fossemos inimigos — diz ela.
Paro de dançar.
— Acho que você não entende. Eu teria que me importar com o que você faz para que
isso me incomode, mas realmente não posso dizer que me importo.
— Mas você já se importou — ela fala. As pessoas estão olhando para nós.
— Sim, e então você pisou na porra do meu coração. Levei muito tempo para superar
isso. Muito mais tempo do que deveria. Mas percebi uma coisa: eu estava muito mais
apaixonado pela ideia de estar apaixonado, do que realmente estava apaixonado por
você.
Sua respiração acelera.
— Eu não pretendia machucar você. Deus sabe que eu teria feito isso muito antes se
essa fosse a minha intenção. Mas o que eu sentia por você não era forte o suficiente para
durar a vida inteira. Sei disso agora. — Seguro seu antebraço. — Obrigado por me deixar.
Sou mais agradecido por isso do que você imagina, porque o que sentíamos um pelo
outro não era nada comparado ao que sinto por outra pessoa. Então, se você me
convidou para ter certeza de que ainda tem meu coração em uma porra de uma corda,
deixe-me confirmar que você não tem. — Afasto-me dela, mesmo que ela ainda esteja
protestando. — Preciso encontrar Sky.
— Matt — April me chama, agarrando meu braço. — Espere. — Viro-me de volta para
ela. — Eu não tive a intenção de me apaixonar por ele — diz ela.
Eu me aproximo. Não deveria fazer isso. E não faria se não achasse que ela
realmente, realmente precisa saber. Mas já existe um burburinho sobre isso. Ela é a
única pessoa que não sabe. Eu me inclino para perto de seu ouvido.
— Sinto muito que você tenha se apaixonado por ele. Ele não sente o mesmo por
você.
— E você se apaixonou? — ela zomba.
Jogo minha cabeça para trás e rio.
— Na verdade, não. Mas uma coisa é certa. Eu nunca, nunca mesmo, te traí. — Fecho
os olhos e respiro fundo. — Ele transou com sua dama de honra na noite passada —
deixo escapar.
— Isso é baixo, Matt.
— Ele está dormindo com ela há seis meses. Todo mundo sabe disso, menos você. —
Então, eu a deixo no meio do salão.
Quase posso senti-la atrás de mim, devastada e quebrada. Sua dor se irradia pelo ar,
mas eu não paro.
Meu coração está pesado quando volto para a mesa. Vê-la devastada não é tão
libertador quanto se poderia imaginar. Pego meu paletó da cadeira e o visto.
— Viram a Sky? — pergunto a Emily e Logan. Ambos me olham com as bocas abertas.
Emily se recupera primeiro e olha ao redor do salão.
— Ela estava dançando com o noivo um minuto atrás.
“Que diabos foi isso?” Logan pergunta com veemência por sinais. Ele não fala.
“O encerramento”, sinalizo de volta. “Vocês estão prontos para irmos? Encontro vocês
lá fora. Vou atrás da Sky”.
Ando pelo salão de baile, procurando o vestido azul que combina seus olhos. Sinto o
cheiro de seu perfume. Ouço o som da sua voz. Mas ela se foi. Ela não está lá.
Finalmente, vou para o lado de fora e um manobrista se aproxima de mim.
— Táxi, senhor? — ele pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Estou procurando uma mulher — falo. Levanto a mão, indicando sua altura. —
Loira, usando um vestido azul.
— Oh, sim, senhor — diz ele com um aceno de cabeça. — Eu a coloquei em um táxi
há poucos minutos.
— Táxi? — repito.
— Sim, senhor. Ela estava indo para a cidade.
— Por que Sky estaria indo para a cidade? — eu me pergunto. — O apartamento dela
é na parte baixa.
Ele deve ter me ouvido.
— Ela estava um pouco chateada, senhor — diz ele.
— Por que ela estava chateada? — Agarro seu ombro.
Ele dá de ombros.
— Não tenho certeza do motivo, senhor — diz ele.
Logan faz um gesto para mim. Ele entra na limusine com Emily, e eu me inclino para
dentro.
— Não posso ir ainda. Não sei onde Sky está — digo a ele.
— Entra no carro — diz Emily. — Precisamos sair daqui.
Entro e o carro segue.
— O manobrista disse que ela estava indo em direção ao centro.
— O que você fez com ela? — Logan pergunta.
Emily me dá um soco no ombro.
— Sério, você não poderia esperar chegar em casa para fazer sexo com ela? Tinha
que fazer isso no casamento da April?
— Você transou no casamento da April? — Logan pergunta. Ele ofega e eu o chuto na
canela.
— Cale a boca — resmungo.
— Você não disse a ela sobre April, não é? — Emily pergunta, sua voz, suave.
— Eu disse tudo sobre April — eu protesto. — Disse tudo sobre a garota que partiu
meu coração, logo depois que nos conhecemos.
— Mas disse que este era o casamento dela? — Emily se agarra a mim. — Alguma vez
você disse o nome dela?
Não posso responder porque não sei. Ela me dá um soco novamente.
— Pare de me bater — murmuro. Esfrego meu braço porque essa merda dói. —Não
me lembro se disse o nome dela.
— Você não deve ter dito — Emily fala. — E então, ela me interrogou quando você
estava longe. — Seus olhos se fecham e ela faz uma careta. — Pensei que você tinha
contado tudo a ela.
— Contei mas, aparentemente, deixei algo que ela considerava importante de fora.
— É tudo um grande mal-entendido — diz Logan. — Vá até ela e explique tudo.
— Acidentalmente, contei a ela sobre a carta — Emily diz, calmamente.
— Que carta? — pergunto.
Pego meu telefone e envio uma mensagem de texto para Sky.
Eu: Onde você está?
Fico olhando para o telefone como se nele estivessem os segredos do universo.
— A carta que você escreveu para April quando achou que estava morrendo. A que
você me fez prometer dar a ela depois que chutasse o balde.
Arqueio minha sobrancelha.
— Chutasse o balde?
— Dobrasse o cabo da boa esperança? Batesse as botas? Conhecesse o Espírito
Santo? — Ela dá um soco no meu braço novamente. — Por que isso importa?
— Por que você contou a ela sobre a carta? — pergunto. Não estou bravo, apenas
confuso.
— Ela estava falando sobre April. E eu queria que ela soubesse o quanto a odeio,
então, falei sobre a carta. — Ela geme. — Parecia relevante! — ela grita.
— O que você acha que havia nessa carta? — pergunto.
— Você, professando seu amor infinito enquanto estava em seu leito de morte... —
diz ela.
Suspiro.
— Certo. Peça ao seu motorista para me levar ao meu apartamento. Preciso pegar
algo.
— E depois? — ela pergunta.
— Vou atrás Sky.
Ela sorri e dá um tapinha em meu braço.
— Boa.
Só espero que ela me atenda.
Meu telefone bipa.
Sky: Vim para casa. Deixe-me em paz.
Eu: Você não conseguirá fugir e se esconder. Agora, não.
Sky: Consigo, sim.
Eu: Estou indo vê-la.
Sky: Não vou deixar você entrar.
Eu: Sou muito persistente.
Sky: Estou muito magoada.
Eu: Deixe-me consertar isso.
Sky: Você não pode.
Eu: Eu vou.
Vou mesmo. Nem que seja a última coisa que eu faça.

— Estou sim, pai. Mande a mensagem quando chegar. Tenho que ir. — Desligo na cara
dele. E então, e só então, é que me permito chorar.
SKYLAR

M eu apartamento cheira a mofo. Abro uma janela e olho ao redor. Está limpo e muito
vazio. Não há bonecas espalhadas no sofá, nem jogos de tabuleiro sobre a mesa da
cozinha. Não há crianças em qualquer lugar. Eu deveria estar em casa, com meus filhos.
Mas se eu for para lá, terei que enfrentar Matt.
Tomo um banho e visto o meu velho — e pouco atraente — pijama de flanela. Estou
sem maquiagem, com os olhos inchados, e vou parecer uma merda de qualquer jeito
mesmo. Não é como se eu fosse ver alguém. Matt não sabe onde fica meu apartamento.
Tem metade de uma lata de sorvete Chunky Monkey no meu freezer e ainda está na
validade. Nem o coloco em uma tigela. Pego uma colher grande e vou para o sofá. Ligo a
TV e encontro algo estúpido, algo que não vai exigir meu raciocínio.
Já estou na metade quando ouço uma batida na porta. Eu me assusto. Não vou até lá.
Ninguém que eu conheça vem aqui.
Um alerta soa em meu telefone
Matt: Atenda a porta.
Eu: Não. Vá embora.
Meu coração dispara. Ele está aqui. Merda. Coloco meus pés debaixo do corpo e
sento-me na beirada do sofá. Ele vai embora se eu não abrir.
Ele bate de novo e eu, idiota, deixo minha colher cair no chão. Levanto-me e a jogo
na pia. Faz um barulho alto. Vou até a porta, encosto minha orelha contra ela, e tentou
ouvir. Mas não ouço nada.
Matt: Não vou embora.
Eu: Como você me encontrou?
Matt: Seu pai sentiu pena de mim.
Eu: Traidor.
Ouço uma risada pela porta.
Matt: Ele te ama.
Eu: O que você disse a ele?
Matt: Que eu sou um idiota.
Espero.
Matt: Ele concordou.
Um sorriso surge em meus lábios.
Matt: Você está rindo, né?
Não respondo.
Matt: Por favor, me diga que você não está chorando.
Eu: Não mais. Vá para casa, Matt.
Matt: Você primeiro.
Ouço Matt falar, suavemente, através da fresta da porta.
— Você deveria ir para casa, Sky.
Sento-me no chão e coloco a parte de trás da cabeça contra a porta.
— Não posso ir para casa — eu digo.
— Por que não? — ele pergunta, sua voz suave, e acho que ele está também sentado
do outro lado da porta.
— Porque você estará lá.
Ele ri.
— Estou aqui.
Suspiro pesadamente.
— Vá para casa, Matt. Meus sentimentos estão machucados e eu não quero ver você
agora.
— Não é o que você está pensando. Achei que você sabia quem ela era, e você,
obviamente, não sabia. Nunca quis te machucar.
— Você ainda a ama — eu digo.
— Não — ele protesta. — Não amo. Deixei isso muito claro quando você me obrigou a
dançar com ela hoje à noite.
— Você escreveu uma merda de uma carta para ela quando achou que estava
morrendo.
— Argh! — ele grita. — Essa carta vai me assombrar até o dia em que eu morrer.
— Só porque ela diz o que você realmente sente.
Ele ri.
— Ela realmente diz o que eu sentia quando escrevi.
Bato com a parte de trás da cabeça contra a porta. Quero parar de falar sobre isso.
— Quero que você a leia — ele fala.
— Eu não quero lê-la.
— Sim, você quer.
Ouço um barulho, e um envelope desliza debaixo da minha porta. Tem a palavra April
escrita na frente. Empurro-a de volta para ele. Ele ri e a empurra novamente.
— Preciso te dizer uma coisa — diz ele.
— O quê? — pergunto. Não toco na carta. Só a deixo ficar lá, no meu tapete.
— Seth, Mellie e Joey dependem de você. Eles não merecem que você os deixe.
Isso me atinge como um chute no peito.
— Não os deixei.
— Você está aqui para me evitar, e eles estão lá.
Não digo nada, porque ele está certo. Eu os deixei.
— Vou embora se você voltar para casa — diz ele. — Não vou ficar satisfeito, mas eu
te amo e os amo o suficiente para esperar esta noite, para que você possa voltar para
eles. Eles precisam de você. E você precisa deles.
Lágrimas queimam meus olhos, e eu pisco.
— Matt — falo.
— Você vai ler a carta? — ele pergunta.
— Talvez.
Ele ri, e ouço uma fungada.
—Você vai me ligar quando estiver pronta?
— Talvez — digo novamente.
— Vá para casa ficar com as crianças, Sky. Comprometo-me a dar-lhe algum espaço.
Mas leia a carta. Ela pode ajudar.
Com tudo que está acontecendo, ele ainda está pensando em meus filhos. Sinto um
frio no estômago. Ele está do outro lado da porta. Eu poderia abri-la e pular em seus
braços se eu quisesse. Mas não abro. Fico apenas sentada lá até minha bunda estar
cansada e meu pé, dormente. Até que a carta me insulte para abri-la. Fico ali por muito
tempo depois que Matt se foi.
Pego a carta e a seguro para que possa ver o nome escrito nela. Não é para mim. É
para April. É para o amor da vida dele.
Rasgo o envelope e a desdobro. É curta, não tem sequer metade de uma página.
Começo a ler.
Querida April,
Quando te conheci, imediatamente senti como se o sol nascesse e se pusesse em
seus olhos. Ia para a cama, à noite, pensando em você, e acordava, de manhã, com você
em minha mente. Tivemos alguns bons momentos, não é? Eu apreciava as longas
caminhadas que dávamos. Fiquei noites inteiras olhando você dormir em meus braços.
Então, recebi o diagnóstico. Descobri que estava doente e, quando mais precisei que
você estivesse ao meu lado, você trepou com meu melhor amigo. Você não estava lá
para segurar minha mão durante a quimioterapia. Você não estava lá para me ajudar a
passar por tudo, ou me acompanhar nas consultas médicas. Você não estava lá quando
fiquei tão doente que não podia manter minha cabeça erguida. Você estava com ele.
Você estava debaixo dele, em cima dele e com ele, em vez de estar comigo.
Pedi aos meus irmãos que lhe entregassem esta carta, na ocasião da minha morte,
por isso, se você estiver lendo isso, eu já parti. Vivi o resto dos meus dias e, mesmo que
você tenha feito sua escolha, preciso te dizer como me sinto.
Um bom homem pode querer aliviar sua consciência.
Um bom homem pode querer dar-lhe um pouco de paz.
Mas ser bom não era importante para você.
Odeio você. Odeio que você esteja respirando. Odeio que você esteja viva. Odeio que
você seja capaz de rir e que esteja seguindo em frente. Odeio o fato de que, em algum
momento da vida, você vai procriar e trazer ao mundo seres humanos tão — desculpe-me
— tão idiotas quanto você.
Espero que o seu coração acelere quando você receber esta carta. Minhas palavras
finais de amor para você. Hahahahahaha! Até parece.
Estou morto, então, posso dizer o que eu quiser.
E o que quero dizer é:
Odeio você. Espero que você receba exatamente o que você merece na vida.
Com o maior ódio e desdém,
Matthew Reed
PS - Ainda te odeio.

Coloco a mão sobre a boca para abafar o ruído que quer sair. Não tenho certeza do que
é. Pode ser uma risada. Pode ser um suspiro. Mas seja o que for, tira o meu fôlego. Eu
me levanto e vou pegar meu casaco. Sequer troco de roupa. Visto o casaco e um chinelo.
Começou a chover forte, então, chamo um táxi e peço que me leve para casa. Vou voltar
para os meus filhos, porque é onde eu pertenço. E não há nenhuma dúvida em minha
mente que quero ver Matt.
Mas posso esperar até amanhã. Ele estava disposto a desistir e ir para casa para que
eu pudesse fazer o que era melhor para os meus filhos. Ele estará disposto a esperar até
de manhã. Preciso falar com meu pai, de qualquer maneira. E preciso velar o sono de
Joey e Mellie. Talvez, até mesmo o de Seth.
MATT

E ntro no apartamento. Eu deveria ter imaginado que todos eles estariam lá. Não havia
qualquer chance de que eu chegasse em casa e não fosse bombardeado com perguntas.
Um: o que houve no casamento? Dois: como foi com April? Três: Como foi com April e
Sky no mesmo salão? Quatro: Que história é essa de transar com Sky na despensa?
Merda. Paul vai me matar.
Meus irmãos estão sentados na mobília da casa como se fossem blocos de construção.
Os pés de Pete estão na parte de trás do sofá, e a cabeça de Sam está logo abaixo deles.
Paul está na espreguiçadeira e Logan está deitado em outro sofá, sozinho. Ele se senta
primeiro e desliga a TV. Olho para o corredor.
— Onde estão Reagan e Emily?
— Nós as mandamos fazer compras para o bebê — Paul fala, passando a mão pelo
rosto.
Compras para o bebê? Oh, sim. Continuo esquecendo que Emily está grávida. Logan é
um bastardo de sorte. Sei que posso soar ressentido chamando-o assim, quando ele tem
que lidar com o fato de ser surdo todos os dias, mas, mesmo assim. Eu sobrevivi à porra
de um câncer. Deveria ter uma vantagem. Como a paternidade.
— Obrigado — suspiro. Estou feliz por elas não estarem aqui. Elas são tão
intrometidas quanto meus irmãos, mas não tão sutis.
— Ouvi dizer que você teve uma grande noite — Paul fala.
— Nós tivemos um pequeno desentendimento. Isso é tudo. — Pego uma cerveja e,
em seguida, sento-me ao lado de Logan.
— Onde está Sky?
— Espero que ela esteja no apartamento com as crianças.
— Logan nos disse o que aconteceu — diz Paul. — Que azar.
Lanço a tampa da garrafa da cerveja em Logan.
— Você, simplesmente, não consegue manter a boca fechada, não é? — brinco. Mais
ou menos. Levanto as mãos. — Não é como se vocês nunca tivessem transado em
lugares estranhos.
A testa de Paul franze.
— Transar? O que sexo tem a ver com isso?
Logan ri alto.
— Cale a boca — reclamo e chuto sua perna.
Ele ri novamente.
— Eu não contei a eles sobre isso. — Ele coloca a mão sobre a boca e fala rindo. —
Ele transou no armário de casacos.
Tomo um gole da minha cerveja. Um sorriso surge em meus lábios. Inferno, eles já
sabem.
— Numa despensa, na verdade.
— Como foi? — Pete pergunta.
Olho feio para ele.
— Não é da porra da sua conta.
Sam incha o peito e finge ser Paul.
— Você usou preservativo? — Ele ri. Eu não. Não vou contar essa parte a eles.
— Não faz diferença para mim, cara. Todos nós sabemos que eu não posso engravidá-
la, nem que eu queira.
— Você não sabe disso com certeza — diz Paul.
— Sei, sim. Sei que por causa do câncer, nunca vou ter um filho meu. — Levanto um
dedo. — Mas — falo —, Sky já tem três e eles precisam de um pai, então, eu sou um cara
muito feliz.
— É mesmo? — Paul pergunta. Sua testa franze. Ele agarra meu joelho e o aperta. —
Você vai ficar satisfeito com isso?
Tomo outro gole da minha cerveja.
— Vou ter que ficar, não é?
— Se você quiser um pequeno Reed, todos nós podemos doar esperma para você.
Poderíamos misturá-los para que não tenhamos nenhuma ideia de quem é o pai. — Sam
ri.
— Nem fodendo eu deixaria um de vocês engravidar Sky. Não mesmo. —
Absolutamente, não.
— Se algum dia precisar do meu esperma, me avise — diz Sam. — Porra, eu não
tenho namorada. Ficaria feliz em participar. Dê-me uma revista e um copinho de plástico.
— Ele faz um gesto bruto com a mão.
Mas sei que, no fundo, ele está falando sério. Qualquer um deles faria isso por mim,
tenho certeza.
— Serei feliz com as crianças que temos. Eu já amo Seth, Joey e Mellie.
— Você se preocupa com a forma como as pessoas vão agir com você quando o virem
com eles? — Paul pergunta. Ele está agindo como advogado do diabo, tenho certeza,
porque nunca tivemos qualquer problema com relação a pessoas de etnias diferentes.
Vemos as pessoas da forma que devem ser vistas.
— Não me preocupo com isso. Não mesmo. — Essa é a verdade. — Sinto-me
orgulhoso com a ideia de ser pai deles. — Tenho que engolir o nó na garganta de
repente. Paul aperta meu ombro. Isso não ajuda.
— Então, o que aconteceu no casamento? — Sam pergunta. Ele esfrega as mãos
como se estivesse animado.
— Sky ficou com medo. Ela ficou louca quando achou que eu ainda tinha sentimentos
por April. Tive que ir atrás dela e provar que não tenho.
— Emily estragou as coisas ao mencionar a carta? — Logan pergunta. Ele estremece.
— Essa carta me salvou — eu digo, rindo.
— Que carta? — Sam e Pete olham um para o outro.
— Escrevi uma carta a April quando achei que estava morrendo — eu lhes digo. Eles
não faziam ideia. — Escrevi uma para cada um de vocês.
Sam levanta a mão.
— Quero a minha!
— Não. — Balanço minha cabeça. — Eu não morri para que você receba uma carta.
Lide com isso.
— Em sabia sobre as cartas, mas nós não? — Logan pergunta enquanto finge puxar
uma faca em seu peito.
— Ela prometeu entregá-las para mim.
Ele balança a cabeça.
— Você confiava nela. Fico feliz.
— Ela é confiável. — Encolho os ombros. Ele apenas sorri.
Sam se levanta.
— Bem, se não vamos falar sobre gozar em um copo, vou para a cama.
— Eu também — diz Pete. Ele se levanta e puxa as chaves do bolso. — Emily vai
deixar Reagan em casa.
Logan fica de pé.
— Então, é melhor eu ir também — ele diz e sacode meu rabo de cavalo enquanto
passa por mim. Mas então, ele caminha de volta para ficar na minha frente.
“Estou feliz por você”, ele fala por sinais.
Sorrio para ele.
“Obrigado. Preciso falar com você sobre algo. Você acha que pode desenhar uma
tatuagem nova para mim amanhã?”
“Alguma ideia do que você quer?”
“Sei exatamente o que quero. Falaremos sobre isso amanhã.”
Ele balança a cabeça e bagunça meu cabelo porque sabe o quanto essa merda me
incomoda.
Então ficamos só eu e Paul.
— Estou muito orgulhoso de você — diz ele.
Levanto a cabeça.
— Por quê?
Ele encolhe os ombros.
— Foi a transa na despensa, certo? — Bato levemente em meu peito. — Você sabe
que eu tenho habilidades meio loucas escondidas.
Ele ri.
— Você tem habilidades loucas na vida, Matt. — Ele fecha um olho e olha para mim.
— Já pensou em ir para a faculdade? — ele pergunta.
Balanço a cabeça.
— Gosto do que estou fazendo. — Penso nisso por um segundo. — Mas eu poderia
marcar meus compromissos para mais cedo, para que eu pudesse estar em casa à noite.
— Paul já faz isso quando fica com Hayley. Ele trabalha até tarde uma semana e sai mais
cedo na semana seguinte.
— Podemos cobrir. — Ele balança a cabeça. — Tudo o que você precisar, daremos um
jeito para fazer acontecer.
— Obrigado.
— Você sabe que ela ganha mais dinheiro do que você, certo?
Eu rio.
— Sim, eu sei.
— Isso te incomoda?
— Que ela seja bem-sucedida e educada? Não. Não me incomoda em nada. Inferno,
talvez eu fique em casa e seja o Sr. Mamãe.
— Você seria bom nisso. — Ele coloca a cabeça para trás e fecha os olhos.
— Você já pensou em ir para a faculdade? — pergunto. Ele sequer teve a chance de
ir; estava muito ocupado cuidando de nós.
Ele dá de ombros, de repente, parecendo muito desconfortável. Ele remexe seu jeans.
— Nunca tive tempo de pensar nisso.
Oh, ele pensava sobre isso, se a sua evasão é qualquer indicação.
— Você deveria ir. Quando eu for morar com Sky, você vai ficar sozinho com Hayley
aqui. Você nem vai saber o que fazer com toda a calma.
Ele bufa.
— Como se eu pudesse me livrar de vocês.
— Posso te perguntar uma coisa? — pergunto baixinho. Tento não invadir sua
privacidade, mas não posso me impedir.
— Pode perguntar. Não posso prometer que vou responder.
— O que está acontecendo com você e Friday?
Ele geme.
— Nada. Por quê? O que ela te disse?
— Ela não me disse nada. Mas é nítido que existe algo quando vocês estão no mesmo
ambiente. O que você fez com ela?
— Eu a beijei — ele deixa escapar.
Ofego.
— Você beijou Friday? — Bato o punho contra o peito, tentando reiniciar meu coração.
— Bem, nós meio que nos beijamos.
Sorrio.
— Como foi?
— Incrível — ele suspira. Mas então, percebe o que disse e tenta disfarçar. — Quer
dizer, foi bom.
Ele é um péssimo mentiroso.
— Você deveria convidá-la para sair.
Ele balança a cabeça.
— Convidei. Ela disse que não. Ela diz não há anos.
— Você sabe que ela não é lésbica, certo? — pergunto.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Sim. Não graças a você.
Eu rio.
— Desculpe-me por isso.
— Não, não desculpo. — Mas ele está sorrindo. — Ela tem alguns problemas — ele
finalmente diz. — Eu gostaria de saber quais são.
— Que tipo de problemas? — pergunto.
— Não sei. Ela não tem família. É uma menina completamente sozinha. Sabe que ela
não vai para casa nem nas férias?
— Bem, com certeza ela não nasceu de uma folha de repolho. — Fico quieto por um
minuto, porque parece que ele está pensando. — O que aconteceu quando você a beijou?
— Faíscas — diz ele. — Faíscas do caralho. — Ele solta um suspiro.
— E quanto à Kelly?
Seu olhar se ergue.
— O que tem ela?
— Imagino que Friday não gostaria de beijá-lo enquanto você ainda está dormindo
com Kelly. Era esse o problema? — Conseguir informações de Paul é como arrancar os
dentes.
— Não durmo com Kelly desde que você e eu conversamos sobre isso naquela manhã.
Não dormi com ninguém desde que beijei Friday. Não consigo tirá-la da porra da minha
cabeça.
— Então, corre atrás.
Ele balança a cabeça.
— Ela disse que de jeito nenhum. Suas palavras exatas foram: “de jeito nenhum,
Paul. Você é um filho da puta idiota”. Então, ela me disse para eu ir me foder.
Essa é a Friday que conheço. Adorável!
De repente, há uma batida na porta. Dou um pulo para atender, esperando, do fundo
do meu coração, que Sky tenha vindo me ver para ter certeza de que está tudo bem.
Para dizer que me ama e não pode esperar mais um minuto para ficar comigo. Abro a
porta e meu coração capota, mas por um motivo completamente diferente.
Não é Sky que está ali. É April. Ela tem os braços cruzados e está toda molhada. A
maquiagem escorre pelo seu rosto, fazendo-a parecer um guaxinim semiafogado. Ela
ainda está usando seu vestido de casamento, e uma poça está se formando no chão
embaixo dela.
— Posso entrar? — ela pergunta.
Dou um passo para trás e deixo-a passar por mim, diretamente para a minha casa,
diretamente para a minha vida.
SKYLAR

P apai ainda está lavando pratos e limpando a cozinha quando chego em casa. Jogo
minhas chaves sobre a mesa, e ele se vira para mim, esfregando as mãos em um pano
de prato.
— Achei que você só viria para casa amanhã — ele fala.
Encolho os ombros.
— Senti falta das crianças. — Sorrio, porque é a verdade. Realmente sinto falta deles.
— Nunca pensei que iria ouvir você dizer isso. — Ele coloca o pano de prato no balcão
e cruza os braços. — Matt a encontrou?

Concordo. Não preciso dizer mais do que isso.


— O que houve? — ele pergunta.
— Umas coisas — eu digo. — Não importa.
— Claro que importa, Sky — ele protesta.
Não gosto de vê-lo agir assim. Não gosto mesmo. Ele não tem o direito.
— O que lhe dá o direito de me fazer esse tipo de pergunta, pai? — pergunto. As
palavras ficam entre nós, visíveis e palpáveis. — Fiz o que você queria. Assumi sua
responsabilidade. Isso não significa que você tem passe livre na minha vida.
— Não quero passe livre — diz. Ele se vira. — Deixa para lá — murmura.
Solto a respiração que estava segurando.
— O que você quer, papai? — pergunto.
— Não quero um passe livre, Sky — diz ele. — Mas quero entrar. Estou tentando. Sei
que fiz um bom trabalho ao afastar você de mim, mas não quero ir embora agora. — Ele
ergue as mãos como se estivesse se rendendo. — Então, o que aconteceu com Matt?
— Ele foi me ver — admito. — Ele foi até o meu apartamento. Por que você lhe deu o
meu endereço?
Ele ri.
— O garoto estava destruído. Eu não poderia ficar sentado aqui e deixá-lo sofrer.
— Por que você se preocupa com o sofrimento de Matt? — Cruzo meus braços e olho
para ele.
— Afastei-me do sofrimento da sua mãe por um longo tempo. E do seu. E agora que
estou tentando agir diferente, você não consegue me dar uma chance.
— Sim, consigo. — Soo como Mellie quando ela não consegue o que quer.
Ele ri.
— Sei que você pode. E espero que a gente consiga aproveitar essa oportunidade. —
Ele espera alguns segundos. — Você sabe que ele foi me ver, certo? — ele pergunta.
Reviro os olhos.
— Não sou surda, pai. Você me disse isso.
— Não hoje, Sky. Ontem. Ele foi me ver.
Vou até a geladeira e pego uma garrafa de água. Aparentemente, o Chunky Monkey
me deixou sedenta.
— Por que Matt foi te procurar?
— Ele queria pedir minha permissão para se casar com você.
Deixo minha garrafa cair e ela rola pelo chão.
— Ele queria o quê?
— Você não é surda, Sky — ele fala.
— Não é engraçado, pai. — Mas um sorriso toma todo o meu rosto. — Ele realmente
pediu isso?
Ele sorri também.
— Sim, pediu. Disse a ele que vocês deveriam namorar, com calma, como os jovens
fazem, mas ele me disse que não podia fazer isso enquanto houvesse crianças
impressionáveis na casa. Ele disse que quer que Seth aprenda a tratar as mulheres da
maneira como ele trata você, e que Joey e Mellie aprendam a tratar os homens da forma
como você o trata. Então, ele quer casar com você e fazer as coisas certas.
Meu coração se aquece.
— Ele não me pediu ainda. — Mas sei qual será a minha resposta. Sinto meu anelar
ser tocado pela ponta do meu polegar. Quero usar o anel de Matt. Quero que ele seja
meu marido.
Papai sorri.
— Você o ama, hein? — ele pergunta.
— Sim — respondo. — Amo muito.
— Imaginei. Eu o conheci quando Kendra estava doente. Ele parece ser uma pessoa
maravilhosa. Bom e gentil. E persistente. — Ele estreita os olhos para mim.
Eu rio.
— Ele, definitivamente, é persistente. Mas sabe o que mais amo nele, papai? —
pergunto.
Ele arqueia uma sobrancelha em vez de responder.
— Amo o fato de que ele estava disposto a desistir de resolver as coisas e ir para casa
esta noite pelo bem das crianças.
— Não entendo. — Ele parece confuso.
— Fui para o meu apartamento porque não queria enfrentá-lo. Ele foi até lá e disse
que iria embora se eu voltasse para as crianças, porque elas não merecem que eu as
deixe. Ele pensou na necessidade delas antes da dele. Ele se afastou. E isso me faz amá-
lo ainda mais.
Papai se aproxima e me dá um abraço desajeitado. Ele não é tão bom nisso como
Seth, mas está tentando. E ganha pontos por tentar.
Olho para ele.
— Você disse sim a ele, papai? — pergunto baixinho.
Ele afasta o cabelo do meu rosto.
— Sim, Sky. Eu disse.
Sorrio.
— Estou feliz.
— Eu também. Que bom que você o conheceu. Fico feliz de que ele seja capaz de
amar você como você merece. — Ele beija minha testa. — Bem — ele continua —, já que
estou aqui, quer ir vê-lo? Eu estava planejando passar a noite.
Ver Matt? Mordisco o lábio inferior e penso sobre isso.
— Você se importaria?
Ele me puxa para perto e beija minha testa novamente.
— Eu me importaria se você não fosse. Vá buscar sua felicidade, garota. Você merece
isso.
Antes de ir, vou até o quarto olhar Mellie e Joey e, como a porta de Seth está meia
aberta, olho seu quarto também. Ele se mexe quando puxo os fones de seus ouvidos.
— Tia Sky — ele fala, sentando-se —, o que houve?
— Nada — eu sussurro. — Eu estava apenas dando uma olhada em você.
— Minha mãe costumava fazer isso — ele murmura e rola para o outro lado. — Amo
você, tia Sky — ele fala em voz baixa. Então, ouço um ronco irromper de sua garganta.
Não consigo segurar o sorriso.
Papai está esperando na porta.
— Pegue sua capa de chuva. Está chovendo muito.
— Obrigada por estar aqui, pai.
Ele balança a cabeça e me abraça.
Em seguida, saio do seu aperto para que possa ir até Matt. Só espero que ele queira
me ver tanto quanto quero vê-lo.
MATT

P uta merda.
Fecho a porta atrás de April. Não faço a menor ideia do que dizer a ela, que parece
ter sido atropelada por um caminhão de maquiagem e deixada na estrada. Na chuva.
— Sinto muito incomodá-lo — diz ela.
Vejo Paul se levantar e caminhar em direção ao corredor para seu quarto.
— Sequer pense em sair daqui — digo. Ele congela. Então, vai até a cozinha e pega
uma cerveja.
— April — ele fala com um aceno de cabeça. — Você está uma merda.
— Obrigada. — Ela funga.
Ele não se demora. Então, volta para a espreguiçadeira.
— Por que você está aqui? — pergunto. Ela está molhando todo o maldito chão.
Ela passa os braços em volta de si e estremece, como se estivesse com calafrios. Olho
atentamente para seu rosto. Seus lábios estão um pouco azuis e seus dentes estão
batendo.
— Pegue a porra de uma toalha, babaca — Paul fala. Mas ele não se levanta para me
ajudar. Viro-me em direção ao armário de roupas de cama, mas, de repente, ouço uma
batida na porta.
Merda. Se for Kenny, vou empurrá-la para o corredor, direto em seus braços. Eu me
preparo e abro a porta.
Meu coração se aperta quando Sky levanta sua mãozinha para mim e acena dizendo:
— Oi, Matt.
Nunca fiquei tão feliz em ver alguém na minha vida.
— Estou tão feliz por você estar aqui — falo. Passo minha mão atrás de seu pescoço e
puxo-a para mim, pois tenho que beijá-la. Não posso esperar mais nem um segundo.
Ela resmunga contra os meus lábios.
— Eu não podia esperar até amanhã — diz.
Ego minha cabeça e olho para ela.
— Estou muito feliz por isso — digo a ela.
Paul ri e dá um tapinha em seu joelho. Ele está gostando muito dessa porra. Sky olha
por cima do ombro e congela.
— O que ela está fazendo aqui? — ela pergunta. Seus olhos procuram os meus como
se fossem encontrar a resposta em meu olhar. Mas ela não vai encontrar nada lá porque,
aparentemente, tenho merda na cabeça.
— Não faço a mínima ideia — sussurro, com veemência.
Ela olha para April por um minuto e então, seu rosto suaviza.
— Você tem que ajudá-la.
— Ajudá-la com o quê? — pergunto, ferozmente.
— Dando-lhe a porra de uma toalha — Paul fala novamente. — Dãããã.
Aperto meus dentes. Não quero lhe dar uma toalha. Quero que ela vá embora. E leve
todo o seu sistema hidráulico junto.
Sky me deixa e caminha até April. Ela segura seu cotovelo e a leva até o banheiro.
— Vamos lá — diz ela suavemente. — Vamos te limpar.
April permite que Sky a leve para o banheiro, seu vestido arrastando um rio pelo
chão, deixando uma grande marca em nosso tapete.
Sky empurra-a para dentro do banheiro e se vira para olhar para mim. Mas então, ela
balança a cabeça, suspira pesadamente e, em seguida, entra.
— Isso é fodido — diz Paul com uma risada maníaca.
— Você é um filho da puta — falo. — Poderia ter ajudado.
— O que você queria que eu fizesse? Ela é sua namorada.
— Ex-namorada.
— Bem, sua ex-namorada está no banheiro com sua atual namorada. — Ele ri
novamente. — Pegue outra cerveja quando for pegar o pano para secar o chão. — Ele
coloca os pés sobre a mesinha de centro. — E tire suas bolas de dentro do bolso da April
quando fizer isso.
— Minhas bolas não estão no bolso da April. — Estão nos da Sky. Felizmente.
— Humm humm — ele murmura.
Entrego uma cerveja a ele e começo a secar o chão.
Sky abre a porta do banheiro e coloca a cabeça para fora.
— Posso pegar algumas toalhas? E algo para ela vestir?
— O que você está fazendo aí?
Ela olha para trás.
— Ela está uma bagunça — sussurra Sky. Ela sai e fecha a porta atrás de si. — Ela
estava congelando, então eu a coloquei na banheira.
— Emily deixou um pouco de xampu de menina aqui. Está debaixo da pia.
— Você pode me arrumar algumas roupas? Pode ser um short e uma camiseta.
Sky desaparece de volta no banheiro. Pego um short e uma camiseta que não gosto.
Merda, acho que foi April quem comprou. Bato suavemente na porta. Sky sai.
— Como estão as coisas aí dentro? — pergunto.
— Indo — ela murmura, revirando os olhos. — Ela teve um dia difícil.
Ótimo. Bem-feito. Ela fez a cama, e agora deve deitar nela.
— Lamento ouvir isso — falo educadamente.
Ela revira os olhos e entra novamente no banheiro com as toalhas e roupas.
Ando de um lado para o outro por vinte minutos, até que Paul resmunga.
— Vai fazer um buraco no tapete.
— Quem se importa? — Mas eu me sento no sofá ao lado de sua cadeira.
— O que você acha que elas estão falando? — Paul pergunta, sorrindo como um
idiota.
— Não faço ideia.
— Aposto que elas estão discutindo o tamanho do seu pau — ele provoca.
— Cale-se.
— Ou o fato de você não saber usar a língua.
— Vá se foder. — Tenho muita habilidade com a língua.
— A maneira como você raspa as bolas.
— Babaca. — Sorrio forçadamente.
Ele ri em voz alta e empurra meu ombro.
— Pare de se preocupar.
Olho para meu dedo mindinho, que roí até o sabugo.
A porta do banheiro se abre, e fico de pé em um salto. Sky sai primeiro, com April
atrás dela. April parece muito melhor. Seu rosto não tem mais maquiagem e seu cabelo
está úmido, mas penteado em uma massa arrumada. Está usando a camiseta e o short
que detesto. Ela cruza os braços na frente do peito. O que aconteceu com aquela
monstruosidade de vestido?
O que aconteceu com seu casamento?
O que aconteceu com seu bebê?
Olho para sua barriga e percebo que posso ver uma pequena elevação. O que o
vestido de casamento escondeu, essas roupas não escondem. Mas não é meu, então, não
tenho nada com isso. Forço-me a olhar de volta para seu rosto.
— Obrigada por me deixar entrar — April diz calmamente.
— Por que você está aqui? — pergunto, finalmente. Preciso saber.
— Eu não sabia sobre Kenny e minha dama de honra. Obrigada por me dizer.
Aparentemente, eu era a única que não sabia. — Sua voz está calma e um pouco rouca,
como se ela tivesse passado muito tempo chorando.
— Onde está Kenny? — pergunto.
Ela encolhe os ombros.
— Provavelmente, no hospital.
Hospital?
— O quê?
— Bati na cabeça dele com um vaso. — Ela estende suas mãos para me mostrar o
tamanho. — Bem grande. — Gira o ombro. — Era bem pesado. Meu braço ainda dói.
Paul ri. Atiro-lhe um olhar, e ele se cala.
— Oi, Paul — ela fala.
— April — ele murmura de volta e liga a TV.
— É melhor eu ir. — Ela se vira para Sky e a abraça. — Obrigada — diz para ela. —
Você foi muito gentil.
Olho para as duas. Sky a abraça de volta, esfregando suas costas suavemente por um
segundo. O que aconteceu no banheiro?
April dá um passo para trás e enxuga os olhos.
— Fico feliz que você o tenha acertado — falo a April.
Ela sorri.
— Eu também. — April suspira. — Matt, sinto muito por tudo — ela sussurra.
— Eu sei. — O que mais posso dizer?
Puxo Sky para o meu lado e passo meu braço em volta de seus ombros.
— Tudo acabou bem — falo. — Pelo menos, para mim.
April solta um suspiro.
— E eu tive o que mereci.
Concordo. Que porra posso dizer?
Sky me dá uma cotovelada.
— O quê? — pergunto, esfregando minhas costelas
— Sei que tive o que mereci. — April coloca a mão em sua barriga, e meu coração se
aperta por ela. — Escolhi a paixão ao invés do amor, e veja onde isso me levou. Eu
poderia ter uma vida estável e feliz.
Sim, mas ela não estaria grávida agora. Essa parte eu não compartilho com ela
porque não é da sua conta.
April ergue os braços.
— Posso abraçá-lo, Matt? — ela pergunta timidamente.
Sky e eu dizemos que não ao mesmo tempo. April deixa cair os braços e sorri.
— Não culpo você — diz April. — Se quer saber, eu não gostaria de me abraçar
também.
— Não estou bravo com você, April. Não mais. — Posso falar isso a ela. Não me
importo que ela saiba.
— Agora você sente pena de mim? — ela pergunta.
— Sinto-me esperançoso por você. — Aperto Sky em meus braços. — Cuide do seu
bebê, está bem?
— Vou cuidar —fala, acenando. Ela caminha até a porta e Sky a abre para ela. —
Obrigada novamente, Sky.
Sky balança a cabeça, e April sai da minha vida. E eu espero que pela última vez.
Chamo Sky para um abraço e sussurro
— Estou tão feliz por você ter vindo.
SKYLAR

É maravilhosa a sensação de estar nos braços de Matt. Deixo que ele me segure por um
segundo e, em seguida, me afasto, empurrando-o suavemente enquanto balanço o dedo
para ele.
— O que você teria feito com ela se eu não tivesse aparecido?
Ele coça o queixo.
— Não faço ideia.
Ele e Paul riem.
— Droga — Paul fala. — Ela parecia ter sido arrastada por aí como um gato.
Lanço um olhar atravessado a Paul, que encolhe os ombros. Mas ele não está
constrangido. Sei que não.
— Fiquei triste por ela — admito. — Vocês não a viram no banheiro.
— Graças a Deus — Paul resmunga. — Ela foi ousada demais em vir até aqui.
— Ela não tinha outro lugar para ir — falo. — Ela está morando com Kenny desde a
semana passada. E simplesmente atirou um vaso na cabeça dele. — Eu rio do inusitado
da situação.
— Mas ela não devia achar que seria bem-vinda aqui — Paul responde.
— Ela fez muitos inimigos e não é bem-vinda em vários lugares. — Aponto na direção
do banheiro. — O vestido dela ainda está na banheira. Ela pediu para queimá-lo.
— Posso apenas atirá-lo pela janela? — Paul pergunta.
Dou de ombros.
— Para ela não faz diferença.
— Você está bem? — Matt pergunta. Seu olhar, tão suave quanto as pontas dos
dedos, que se arrastam em minha testa, empurrando o cabelo do meu rosto.
Balanço meu polegar em direção à porta.
— April e eu tivemos uma longa conversa. Bem, eu falei, e ela ouviu. Acho que ela
entendeu.
Seus olhos se estreitam.
— O que você disse a ela?
Olho para a porta de seu quarto.
— Podemos conversar em particular?
Ele segura meu cotovelo, parecendo muito com a forma como segurei April e me leva
para seu quarto. Paul finge estar tossindo. Parece até que vai colocar um pulmão para
fora. Ele balança o polegar em direção à cozinha. Matt revira os olhos, vai até lá e volta
com um punhado de preservativos. Eles têm uma gaveta cheia de preservativos? Na
cozinha? Por quê?
Matt ri, fechando a porta do quarto atrás de nós. Ele joga os preservativos sobre a
cômoda. Há cerca de vinte deles.
— Você está se sentindo meio ambicioso, hein?
— Um homem pode ter esperança — ele responde, rindo. — Então, o que você disse a
April? — ele pergunta, sentando-se na beirada da cama.
— Disse a ela que gostei de ter a chance de ajudá-la neste momento, mas que
gostaria ainda mais se ela jamais o procurasse novamente.
Ele balança a cabeça e faz um ruído baixo com a garganta.
— Ótimo — ele fala. — Acho isso ótimo.
— Acho que ela entendeu do que eu estava falando.
— O que mais você disse a ela? — Ele tira os sapatos e puxa a camiseta do corpo.
Olho para o sapo em sua barriga.
— Disse que seu príncipe sapo encontrou sua princesa rã.
Ele ri.
— Mentira.
— Foi algo assim.
— Falei com Logan hoje sobre fazer um desenho novo. Quero uma princesa rã e seu
nome na minha pele. Algo permanente.
— Isso é sexy — eu digo.
— Que bom que gosta — ele diz em voz baixa e tira a calça.
— Existe uma razão para que você esteja tirando suas roupas? — pergunto. Meu
coração está batendo como um louco.
— Gosto do seu pijama — ele fala, olhando-me da cabeça aos pés, em uma análise
lenta que faz meu sangue ferver nas veias. — Você veio vestida assim?
— Achei que você não se importaria.
— Não. Mas gostaria mais se você o tirasse. — Ele está só de cueca e começa a tirá-la
também. Seu pau balança como se quisesse minha atenção, e eu não consigo segurar o
sorriso.
— Por que você está aqui, Sky? — ele pergunta.
Tiro minha camisa. Não estou usando sutiã.
— Acho que senti sua falta.
— De qual parte de mim? — ele pergunta e se deita na cama, sua masculinidade
arqueando em direção a sua barriga.
— Do pacote todo — falo.
Ele segura seu pau e o esfrega para cima e para baixo.
— Eu e meu pacote? — Ele ri.
Reviro os olhos.
— Você é tão bobo.
— Sente-se em meu rosto, e eu calo a boca.
Sorrio. Mas minha calcinha, de repente, parece encharcada.
— Não me tente.
— Desejo tenta-la desde o dia em que te conheci. Sentei-me ao seu lado naquela
igreja, e você estava tremendo. Quis te conhecer. Imediatamente. Senti como se tivesse
sido atingido por um trem em alta velocidade.
Tiro a calça e a calcinha. Estou completamente nua, mas não me importo.
— Você tomou toda a responsabilidade para si sem sequer piscar, simplesmente
porque as crianças precisavam de você. Isso fez com que eu me apaixonasse um pouco.
Imaginei que, se você podia amar três filhos que sequer conhecia, talvez pudesse me
amar também. — Ele acena. — Tem espaço em seu coração para mim, Sky? — ele
pergunta. — Eu disse que ia fazer você se apaixonar por mim.
Engatinho sobre a cama até que meu peito toca o seu. Sento sobre seus quadris e
olho para seu belo rosto.
— Você conseguiu. Não posso viver sem você.
Beijo-o. Seus lábios são quentes e suaves, e é maravilhoso tê-los junto aos meus.
— Espero que você esteja pronto para ter uma grande família.
— Estou pronto para qualquer coisa que você me dê. — Ele arqueia seus quadris
debaixo de mim, balançando contra minha fenda.
Matt nos rola sobre a cama, ficando sobre minhas coxas. Ele inclina a cabeça e brinca
com um mamilo, rolando-o suavemente entre os lábios, puxando levemente e lambendo-
o.
— Você está pronta para se casar comigo? —pergunta, levantando a cabeça. Ele olha
nos meus olhos, e juro que posso ver as profundezas da sua alma. Ele é bom e gentil, e
me ama com uma intensidade que eu nunca teria esperado.
— Sim — sussurro para ele. — Vou me casar com você.
— Vou perguntar de novo quando puder fazer isso da maneira correta.
— Não vai ser tão maravilhoso como neste momento. — Não vai. Não tem jeito.
Matt pega um preservativo e o rola em seu comprimento. Ele empurra dentro de mim
até entrar por inteiro. Em seguida, para e afasta meus cabelos do rosto.
— Nunca imaginei que teria tanta sorte — ele sussurra.
Seus braços deslizam sob os meus ombros e ele me segura bem perto enquanto
começa a bombear seus quadris, deslizando para dentro e para fora, dentro e fora,
dentro e fora. Cada movimento pontuado por pequenos grunhidos em meu ouvido.
De repente, ele para e dá um tapinha na minha coxa.
— Vire-se.
Sorrio e faço o que ele pede. Nunca fizemos desta maneira, mas estou disposta. Muito
disposta. Matt desliza um lado debaixo de mim e mergulha em meus cachos, provocando
meu clitóris e, por trás, separa minhas nádegas e entra em mim. É rápido, forte e muito
perfeito. Empurro minha bunda contra ele, que ajusta seu ângulo até me fazer tremer.
— Achei — ele se alegra.
Começo a gemer alto, pois me sinto muito completa apertada enquanto Matt se move
dentro de mim no ponto certo.
— Shh — ele sussurra em minha orelha.
Merda. Esqueci.
— Matt — eu sussurro.
— Amo quando você fala meu nome antes de gozar. Logo antes de você começar a
fazer essa pequena pausa em sua respiração e seu ruído sair ofegante. — Seus dedos se
movem contra o meu clitóris, esfregando rápido e me levando ao ponto sem volta.
— Matt, Matt, Matt — gemo. Então, respiro fundo quando ele me faz chegar lá.
— Aí está — ele sussurra e grunhe, gozando dentro de mim enquanto minhas paredes
o apertam. Minha libertação vibra por todo meu corpo, e ele manipula meu clitóris até
que meu clímax diminui. Em seguida, ele cai em minhas costas, pesado e quente como
um cobertor enquanto seus dedos me seguram. Ele se acalma lentamente, sua
respiração quente contra meu pescoço, onde ele esconde o rosto. Ele assovia quando sai
de dentro de mim e eu não consigo sequer me mexer. Fico deitada lá, nua e exposta,
mas não me importo.
Matt se levanta e tira o preservativo. Em seguida, volta para a cama e beija meu
ombro.
— Estou feliz por você estar aqui — ele fala.
Matt é o homem mais sincero que já conheci. Ele me diz como se sente. E o que não
me diz, posso perguntar e sei que ele vai dizer. Ele não esconde nada.
— Eu te amo — falo e me apoio sobre seu peito. Viro minha cabeça para que meu
ouvido fique diretamente sobre seu coração. É firme, forte e... meu. — Você vai me amar
para sempre? — pergunto. Levanto minha cabeça para olhar para seu rosto.
— E mais um dia — afirma.
— Matt — eu começo. Não sei como dizer o que quero. — Você mencionou que seria
preciso um milagre para que você conseguisse me engravidar
— Sim — diz ele em voz baixa.
— E se eu dissesse que acredito em milagres?
— Eu diria que você está desejando coisas que não pode ter. — Ele não para de me
tocar, então, não parece estar aborrecido ou triste.
— Mas — eu começo.
Ele coloca um dedo sobre meus lábios.
— Mas nada, Sky — ele fala. — Você é a porra do meu milagre. Não um bebê. Não
preciso de um bebê para me sentir inteiro. Só preciso de você. — Ele ri. — E ganhei seus
filhos como bônus. O que mais eu poderia pedir?
— Matt, você poderia morar comigo? — pergunto.
Prendo minha respiração enquanto espero a resposta.
— E quanto a Seth? — ele pergunta.
— Nós poderíamos conversar com ele.
— Vou falar com ele quando formos para casa de manhã. — Ele boceja. — Você pode
dormir aqui esta noite.
— Quer ir para minha casa agora? — pergunto.
Ele olha para a pilha de preservativos sobre a cômoda e balança a cabeça.
— Temos cerca de dezenove preservativos para serem usados ainda. — Ele me
levanta e puxa as cobertas sobre nós. Deito em seus braços.
— Acho que deveríamos parar de usar preservativos e ver o que acontece — sugiro.
Ele balança a cabeça.
— Desnecessário.
Acho o ponto entre seu queixo e o ombro que é todo meu e me aconchego nele.
— Falaremos sobre isso mais tarde. — Bocejo e fecho os olhos. Não há nada mais
perfeito que isso.
MATT

A cordei com Sky em meus braços. Quero acordar assim todos os dias pelo resto da
minha vida. Ela se virou, sua parte inferior está em meu colo e estamos encaixados como
duas colheres em uma gaveta. Estico o braço e pego um novo preservativo. Usamos mais
de quatro durante a noite. Estou quase aceitando sua sugestão de dispensá-los
completamente e ver o que acontece. Mas ainda não. Não até que eu me case com ela.
Quero que ela tenha meu nome. Quero que seja permanente.
Ela se mexe e murmura um incentivo para mim quando empurro para dentro dela por
trás.
— Matt — ela sussurra.
Seguro-a, tentando me aproximar ainda mais, mas ela empurra minha mão.
— Não consigo mais — ela protesta. — Você me esgotou.
Movimento-me dentro dela, lenta e preguiçosamente. Ela aperta meu membro e,
apesar de não aguentar o toque em seu clitóris, pode, certamente, receber a onda
quente de prazer que quero dar a ela. Ela me aperta com tanta força, que quero gozar
agora. Sky ofega e faz aquele barulho. Então, meu clímax chega mais rápido do que
achei ser possível. Gozo segurando em seu ombro, empurrando dentro de maneira
preguiçosa.
Paro de me mover e abraço-a, ainda sem querer sair de dentro dela. Ela é tão perfeita
e é tudo que eu sempre quis.
— Bom dia — ela sussurra.
Eu rio.
— Estou quase envergonhado de mim mesmo — falo. — Não gozo tão rápido desde
que era um adolescente. — Viro-a para mim, para que eu possa olhar para seu rosto. —
Viu o que você faz comigo?
— Vou levar isso como um elogio — ela fala com uma risadinha.
— Vamos para casa? — pergunto.
Ela sorri e acena com a cabeça.
— Podemos ir?
Bato em seu traseiro nu e dou uma risada.
— Claro que podemos. Levante-se. Vamos tomar um banho.
Tomamos uma chuveirada rápida, e ela reclama que está machucada. Lavo-a
gentilmente e a envolvo em uma toalha. Em seguida, levo-a de volta para o meu quarto
para que ela possa se vestir. O sol está forte e estamos nos movendo pela casa como
dois adolescentes. Seu cabelo está molhado, e ela ainda está de pijama. Embalo algumas
roupas, pois não vou voltar para cá. Vou dormir na casa dela, desde que Seth não se
importe.
Paramos para tomar café e compramos rosquinhas para as crianças.
Chegamos em sua casa. Seu pai está arrumando a cozinha, e Mellie está ajudando a
virar uma panqueca. Ele olha para cima e faz uma carranca.
— Oi para vocês dois — ele fala, fazendo uma careta para mim. Eu rio. Sei que é seu
pai e deve olhar para qualquer homem — com intenções lascivas — desse jeito. Sei
também que tenho sua benção e é isso que preciso.
— Bom dia — Sky fala e Mellie corre direto para os braços dela.
— Fiquei com medo de que você não fosse voltar — diz Mellie. — Como a minha mãe.
Oh, merda. Nem pensei nisso. A emoção me sufoca e tenho que engolir em seco para
empurrá-la de volta.
— Não vou a lugar algum por um bom tempo — Sky explica. — Nem Matt. Nós dois
vamos ficar aqui, como uma espécie de pai e mãe para vocês.
Mellie olha para mim com curiosidade.
— Pai e mãe?
Sky pisca seus olhos azuis.
— Sim. Pai e mãe. Tudo bem para você?
Mellie segura o rosto de Sky com suas pequenas mãos e olha em seus olhos.
— E você não vai embora? — ela pergunta.
— Nunca — diz Sky.
— Matt também não? — Mellie pergunta. Seu olhar é cético.
— Muito menos Matt — Sky afirma.
Vou até o quarto de Seth. Ele tem uma luta hoje, então, imagino que esteja
acordado.
Bato em sua porta.
— Entre — ele fala.
Enfio a cabeça para dentro. Ele está se vestindo.
— Está pronto?
— Sim — diz ele. — Você vai?
— É claro — falo. Aproximo-me dele e sento-me à beira de sua cama. — Podemos
conversar? De homem para homem?
— Cara, eu usei camisinha — ele deixa escapar.
— O quê? — falo e me levanto.
— Oh, pensei que você tinha descoberto — ele fala e estremece. — Merda, estraguei
tudo.
— Você está fazendo sexo?
— Assim... foi... uma vez. — Ele não me encara. Porra, ele tem dezesseis anos.
— Você está se cuidando, certo? — pergunto. — Precisamos comprar mais
preservativos? — Odiaria pensar que ele tenha que pedir à enfermeira da escola ou algo
assim.
— Bom, não — ele fala. — Tenho alguns.
— Bem, quando você precisar de mais, me avise.
Ele balança a cabeça e solta um suspiro.
— Você não vai contar à tia Sky, vai?
— Desculpe-me, mas não posso esconder as coisas dela. — Ele balança a cabeça. —
Como foi? — Não quero detalhes. Só quero saber se ele está bem.
Ele guarda seu uniforme na mochila.
— Tudo bem, acho. — Seu rosto fica vermelho.
A primeira vez é, geralmente, fantástica para um rapaz, mas não tanto para uma
jovem garota.
— Quem é ela? — pergunto. — Traga-a para nos conhecer.
— Ela não é bem esse tipo de garota — ele fala com uma careta.
— Se ela é o tipo de garota que você escolheu para transar, tem que ser o tipo de
garota para apresentar a sua família, idiota — resmungo. Essa merda me irrita. Mas
posso me lembrar de ter tido essa mesma conversa com Sam e Pete, além de Logan.
Logan era muito mais pegador que os gêmeos. — Mas não era isso que eu queria falar.
Ele olha para cima.
— O que você queria?
Desta vez, sou eu que fico envergonhado. Não sei porque me sinto tão constrangido
em falar com Seth sobre isso.
— Quero me casar com Sky — falo.
— Tudo bem... — ele responde.
— Está tudo bem para você?
Ele balança a cabeça lentamente e, em seguida, com mais velocidade.
— Sim, está.
— Então, eu estava pensando... Enquanto esperamos para fazer o casamento, eu
poderia me mudar para cá. — Espero e olho em seu rosto. — Como você se sente sobre
isso?
— Você já pediu a mão dela em casamento, certo?
— Sim.
— Você não vai mudar de ideia?
— Ela não conseguiria me afastar, nem à pauladas.
Ele ri.
— Está tudo bem se você quiser se mudar, tio Matt — diz ele.
Meu coração quase para. Ele me chamou de Tio Matt. Estou um passo mais perto de
ser parte de sua família.
— Gosto disso — falo em voz baixa.
— Eu também — ele responde. — É melhor irmos.
Sky já trocou de roupa e está ajudando as meninas a vestirem seus casacos. Este será
um evento que vai durar o dia inteiro, então, ela arruma lanches e brinquedos também.
Todos nós saímos juntos, indo para o nosso primeiro evento como uma família. Seu
pai não vai com a gente hoje, no entanto. Ele vai visitar a mãe de Sky.
Seth vence as partidas e avança para a rodada final.
Toda vez que ele ganha, para após a partida e levanta a mão para o céu, como se
estivesse dedicando a vitória à mãe. Isso leva uma lágrima aos meus olhos.
A última partida não é como as outras. Ele vai enfrentar um menino muito bom. Seth
aparece nas arquibancadas para falar comigo.
— Tio Matt — diz ele —, não sei o que fazer.
Pego Joey da parte inferior das arquibancadas, porque ela está ficando um pouco
perto demais do tatame. Se um menino mais velho cair sobre ela, irá machucá-la. Pego-a
de volta e beijo sua barriga. Em seguida, sento-a sobre meu ombro. Ela ri e se segura lá.
— Com relação a quê? — pergunto.
Ele balança a cabeça em direção ao fundo das arquibancadas.
— Está vendo aquele cara na cadeira de rodas? — ele pergunta.
Sim. Eu o vi assim que chegamos.
— É o pai do meu próximo adversário.
— Oh — suspiro. — Ele está doente? — Ele está usando um gorro sobre a cabeça
careca, então, posso adivinhar o que há de errado com ele.
— Estágios finais de câncer — Seth diz calmamente.
— E você está preocupado se deve ou não deixar seu filho ganhar? — pergunto.
Entendo porque Seth está em conflito. E, para ser honesto, estou em conflito também.
— Sim.
— Você acha que o pai dele ficaria feliz ao ver o filho ganhar o jogo sem lutar de
verdade?
Seth balança a cabeça e mordisca o lábio inferior.
— Provavelmente, não.
— Seth, se eu fosse o pai dele, iria querer que ele fizesse o melhor, e que o melhor
lutador ganhasse.
Seth balança a cabeça.
— Esteja preparado. — Aperto seu ombro. — Ele pode estar entrando no jogo para
ganhar. — Ele é um pouco mais pesado que Seth também.
— Tudo bem — ele responde e vai para o tatame quando chega sua vez.
— O que há de errado? — Sky pergunta quando me sento ao seu lado. Ela pega Joey
de cima do meu ombro e a coloca ao lado Mellie. Em seguida, dá a elas papel e lápis.
Aponto com meu queixo e digo-lhe o que está acontecendo. Ela parece simpática.
— Deve ser duro para ele, depois do que aconteceu com sua mãe.
Eu concordo. Me dói pra cacete, e nem sou eu que vou lutar.
— Você acha que ele vai deixá-lo ganhar? — ela pergunta.
Balanço minha cabeça.
— Duvido.
E ele não deixa.
Ele vai para cima do menino como faz com todos os outros e chuta sua bunda. O
menino é forte e consegue prender Seth uma vez, mas o relógio ainda mostra que ele
tem dez segundos. O árbitro coloca a mão sobre o ombro de Seth para mostrar ao outro
rapaz que ele não está fora. Falta pouco. Prendo a respiração. Sky está ao meu lado,
gritando, e o auditório começa a contar. Ele sai, Seth rola e eles se movem novamente
para continuar a luta.
Seth o imobiliza e ganha pontos ao derrubar o garoto no chão. Estamos quase na
terceira rodada, e ele precisa de mais um ponto. Apenas um. Seth olha para o pai de seu
oponente e o homem levanta o polegar para ele, que sorri e volta a lutar.
Seth faz um movimento louco, um que nunca vi, e consegue prender o menino de
costas. Seu oponente não consegue se soltar, não importa o que ele faça. Tudo o que ele
precisa fazer é segurá-lo.
De repente, o árbitro apita. Seth se abaixa e ajuda o menino a ficar de pé. Eles se
cumprimentam e o arbitro ergue o braço de Seth, enquanto Sky grita ao meu lado. Ele
para na beira do tatame e levanta a mão para o céu. Fecha os olhos e diz algo baixinho.
Não consigo entender o quê. Mas então, ele se vira e vai até o pai de seu oponente.
Ele se agacha na frente do homem e lhe diz alguma coisa. Seus olhos de se enchem
de lágrimas, e essa merda é tão emocionante que, de repente, tenho que piscar para não
chorar. Sky sequer tenta. Ela só enxuga o rosto.
Seth vai para o vestiário tomar banho e só quando estamos a caminho de casa é que
Sky se vira para ele e pergunta.
— O que você disse para o pai do rapaz, Seth?
Ele suspira.
— Disse a ele para continuar lutando. Só isso.
Tenho que piscar novamente para conter as lágrimas. Seth será um ótimo homem.
Sky segura sua mão e a aperta. Ele se inclina para frente e beija sua bochecha.
— Amo você, tia Sky — diz ele em voz baixa.
— Também te amo, Seth — ela sussurra.
— E eu? — Mellie pergunta.
Joey a imita.
— E eu?
Sky ri e faz cócegas nas duas.
— Amo vocês duas também.
Então ela pega a minha mão e fala.
— Você também.
Dou-lhe um aperto, porque isso é tudo o que sou capaz de fazer agora.
SKYLAR

D ois meses depois.


Mamãe está na minha frente, arrumando meu véu. Levamos um tempo para chegar a
esse ponto, mas estamos fazendo progressos. Ela saiu da reabilitação há algumas
semanas e temos passado algum tempo juntas, falando sobre... nada. É algo que jamais
conseguimos fazer antes. É legal. Tive que afastar minhas dúvidas e minha desconfiança.
Às vezes, quando você opta por seguir sempre a mesma estrada, tem que se manter
equilibrado entre os buracos para seguir em frente. Mas, outras vezes, é bom pegar um
caminho completamente novo. E é isso que nós estamos fazendo. Tentando nos
conhecer.
Quando recebi a notícia ontem, ela foi a única para quem contei. Vou contar a Matt
depois do casamento. Tivemos uma ótima notícia mês passado, quando seu exame de
sangue revelou que ele ainda está em remissão. Agora, vou lhe dar outras boas notícias.
— Você está tão bonita — minha mãe fala. Ela arrumou meu cabelo e segurou meu
vestido quando precisei fazer xixi da última vez. Ela realmente esteve aqui para mim
hoje.
— Obrigada — suspiro. Meus nervos estão desgastados, não por causa do casamento,
mas por causa do que planejei para depois.
— O presente de Matt está com você, certo? — pergunto.
Ela dá um tapinha em sua bolsinha.
— Está, sim.
Descobrimos na semana passada que o pai de Joey e Mellie estava disposto a desistir
de seus direitos parentais e vamos adotá-las. Elas terão o sobrenome Reed. Matt nunca
esteve mais feliz, mas tenho a sensação de que as notícias de hoje despertarão a mesma
felicidade. Nós gostaríamos de adotar Seth também, mas ele disse que não precisa. Ele
diz que quer manter o nome de sua mãe. Por mim, está tudo bem, desde que ele saiba
que é nosso também. E tenho certeza de que ele sabe.
Mamãe me dá um último abraço e vai se sentar.
Ouço a marcha nupcial começar, e meu pai vem me buscar.
— Não é tarde demais para voltar atrás, se você quiser — diz ele.
Balanço minha cabeça.
— Nunca.
Ele ri.
— Imaginei. — Papai abre o braço e eu entrelaço o meu. Só tenho três damas de
honra e elas já estão na igreja. Friday, Reagan e Emily fazem parte da família e
concordaram em usar vestidos bonitos e ficarem ao meu lado no altar. Claro, Matt teria
seus irmãos e Seth como padrinhos. Ele não podia deixar ninguém de fora, por isso,
nossos lados não são iguais. Mas por mim, tudo bem.
Caminho e olho para cima. Os convidados se levantam, mas não olho para eles. Olho
para Matt. Posso dizer o exato momento em que ele me vê, porque seus olhos ficam
vidrados e sua boca se abre. Paul lhe dá um soco no braço e, ainda assim, ele não desvia
o olhar. Meu pai me beija no rosto, e o restante é apenas um sonho. Olho nos olhos de
Matt e falo meus votos. Ele fala os dele. Quando é a hora das alianças, deixo-o deslizar a
minha em meu dedo e é maravilhoso. Então, deslizo a dele em seu anelar e tudo fica
perfeito.
— Pode beijar a noiva — diz o pastor.
Matt segura meu rosto em suas mãos, as pontas dos dedos espalhadas em direção ao
meu ouvido, e seu beijo me rouba o fôlego. Paul começa a tossir, indelicadamente, para
nos afastar. Quando Matt, finalmente, levanta a cabeça, ele olha em meus olhos.
O pastor fala:
— Quero lhes apresentar o Sr. e a Sra. Matthew Reed!
A multidão vai à loucura, e saímos em meio a uma chuva de arroz. Nós dois fechamos
os olhos e a deixamos cair sobre nós, absorvendo cada segundo.
Friday segura Mellie pela mão e Reagan faz o mesmo com Joey. Então, cada um de
nós as pega no colo e corremos em direção ao salão de recepção. Aceitamos o
cumprimento dos convidados, até que chega a hora do brinde.
Paul se levanta e bate na taça.
— Se existe alguém realmente merecedor de amor, é meu irmão. — Ele para e limpa
garganta. — Estou feliz por ele tê-lo encontrado. Sky, você faz do meu irmão um homem
ainda melhor do que ele é, e sei que ele fará o mesmo por você. Você sabe tudo sobre
ele e, ainda assim, o ama. — A multidão ri e Matt faz uma careta, brincando. — A vocês,
Ao seu amor, À sua vida e sua família. Que vocês possam continuar sendo abençoados.
Ele inclina a taça e brinda. Matt faz o mesmo. E todo mundo os acompanha. Exceto
eu.
— O que há de errado? — Matt pergunta.
— Nada — falo. Faço um movimento para a minha mãe, e ela coloca uma caixa em
minhas mãos. É pequena, mas pesada. — Tenho um presente para você.
— Achei que nossa lua de mel fosse o nosso presente — ele me lembra, com uma
carranca. Estamos partindo com as crianças, hoje à noite, para a costa da Carolina por
uma semana. Mal posso esperar.
Faço um movimento para ele pegar o pacote.
— A lua de mel é o nosso presente. Isto é apenas um bônus. — Pisco, tentando conter
as lágrimas que já estão se formando em meus olhos.
Ele faz uma careta e abre a caixa. Olha para dentro e, em seguida, fica confuso. Ele
puxa o pequenino item para fora. É um macacãozinho com capuz e, na parte de trás, está
escrito Reed.
— O que é isso? — ele pergunta, confuso.
Então, seus olhos se arregalam. Friday ofega quando percebe o que está
acontecendo, e o restante dos convidados fica inquieto. — É sério? — ele pergunta e
para, a voz embargada pela emoção.
— Sim — eu digo. Lágrimas rolam pelo meu rosto, e eu não me importo. Inclino-me
para perto dele. — Você me engravidou.
Ele me puxa para seus braços e me aperta. Ouço um soluço sair de sua garganta.
— Você está falando sério?
— Totalmente sério, Matt — eu digo. — Mas, espere.
Olho para baixo e balanço a roupinha. Um segundo macacão cai e ele o pega no ar.
— Dois? — Ele pergunta.
Balanço a cabeça, tão emocionada por sua reação que não posso sequer falar.
— Dois pequeninos batimentos cardíacos — falo, assim que consigo.
— Puta merda —murmura em meu ouvido. Ele me aperta com tanta força que solto
um gemido. — Eu te amo pra caralho.
Ele precisa de um segundo para inspirar e se recompor, então, ajoelha e coloca a
testa na minha barriga. Ele diz algo baixinho para seus filhos, e nem sei ao certo o que
era, mas sei que era algo entre os três. Ou entre ele e Deus.
Em seguida, ele se levanta e olha para a multidão. Metade deles estão com lágrimas
nos olhos, assim como nós.
— Vocês sabem o que isso significa? — ele pergunta para nossos amigos e familiares.
As pessoas falam, mas não consigo entender.
Ele aponta para Logan.
— Isto significa que meus espermas são melhores nadadores do que os seus, irmão
mais novo! — ele fala e faz sinais. Logan faz uma careta para ele, mas está rindo. Ele
envolve seus braços em volta de Emily e põe as mãos sobre a pequena protuberância de
sua barriga.
Dou um tapa em seu ombro.
— E se os meus óvulos forem poderosos e não seu esperma?
— E se for apenas nós? — ele pergunta baixinho e me beija. — Nós dois juntos.
— Eu disse que acreditava em milagres, Matt — falo, quando finalmente posso
levantar a cabeça.
— Você é meu milagre — diz ele. — Você. Só você.
Joey puxa a perna da sua calça para que ele a pegue no colo. Ele beija a bochecha
dela com carinho. Ela sussurra em seu ouvido. Ele se vira e diz:
— Oh, alguém tem que ir ao banheiro. — Ele levanta um dedo. — Eu já volto. — E
para a comemoração para levá-la ao banheiro.
Milagres.
Sim, eu acredito.
LEIA OS DEMAIS LIVROS DA SÉRIE IRMÃOS
REED:

Tatuagem, toque e tentação


Sagaz, sexy e secreto
Calmamente, cuidadosamente, completamente
Balas e beijos
Enfim encontrando esperança
A revanche de Reagan e o encerramento do enlace de Emily

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