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Pawo Ghiraldelliwry Digitalizado com CamScanner Capituto 1 Infancia, escola e filosofias da educagao Crianca sempre existiu, mas infancia nao. O mundo pré-mo- derno’ nao tem uma nogio de infancia. Isto é: 0 mundo pré-mo- derno nao mostra um vestudrio proprio para as criangas ¢ nao apresenta uma literatura infantil, ao menos nao no sentido atual, isto 6, uma literatura para o entretenimento das criangas enquanto criangas. Também nao possui um lugar proprio para as criangas viverem, se educarem etc. Um sinal da inexisténcia da infancia antes da modernidade € que, ndo raro, nas obras de arte, nao se encontram criancas como criangas, mas sim gravuras de adultos em miniatura. Todo esse cendrio, no entanto, aproximadamente a pat- tir do século XV, comeca a mudar radicalmente. [Neste capitulo usamos a nogio de “prémodemo” e “moderno” nao a partir de ci | térios exclusivamente histérico-cronol6gicos. Aqui, a nogao éfilos6fica. Sendo assim, um ‘elementos 6 que definem o “modemo”. No caso, 0 proprio surgimento da nocéo | um eritério para o advento da modernidade. Todavia, se hi de se localizar 1 que entre 0s séculos XVII e XVIII é que podemos falar em “nogd0 conjunto de de infancia sera um século, a ideia ¢ dize de infancia”, ~~ Digitalizado com CamScanner PAULO GHIRALDEL WR 8 menos no Ocidente, os intelectuaig c. —passam a dizer que as CTiangag eae te diferentes dos adultos, e comecam a sao seres qualitativamen' i i te especifico. Eles fomentam ym falar isso em um sentido bastan : 7 tos em relacdo as crian¢as, um sentimen. novo sentimento dos adultos e q , im, 0 cultivo da vida da crianga, to capaz de gerar 0 cuidado e, assim, at . 5 ia” 4 lo inculo”, Desprestigiam a “psicologia” que advogaa teoria. ae lo , i a pela qual a crianga é vista como um adulto em miniatura, ou seja, como alguém que difere do adulto apenas no tamanho do corpo e proporcées fisicas. Materializam esforgos que resultam na criacgdo de uma nova psicologia, a verdadeira psicologia, pela qual a infan- cia é vista como uma fase natural e necessaria da vida do ser hu- mano — uma fase na qual o ser humano faz coisas diferentes e possui sentimentos e pensamentos peculiares — nao necessaria- mente piores que os dos adultos. Trata-se de uma fase, a infancia, que, para o bem ou para o mal do ser humano, ocorre. E tem de ocorrer. A infancia surge, entio, como uma época especial da vida de homens e mulheres —uma fase natural do ser humano, Precisa de um ambiente hist6rico-social para se realizar a ser superada, Nos “novos tempos”, 20 —padres, juristas, moralistas et mas que de modo (Os intelectuais dizem, por conseguinte, que para que a infan- ee Para que ela se realize, as criancas devem ser Postas um lugai ial: i i : gar especial: a escola. Cria-se uma ligacio especial entre terminado: 0 Preceptor e/ou 0 professor. cia em Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCAGAO BRASILEIRA a educacao. Parece ser mais interessante contar de um outro modo a hist6ria da educagao, ao menos quanto a escola: a escola, na mo- dernidade, nao nasce propriamente para ensinar, no sentido de instruir, mas antes ¢ de tudo para ser um local no qual a infancia possa ocorrer. Os intelectuais da época dizem que a infancia nao pode aco acontecer nos lares, nas maos de pais e outras figuras que “apenas paparicam as criancas” ou as tratam “como coisas”, mas ela s6 acontece se as criangas estao nas mos de especialistas — os + educadores, os homens de letras, enim, os professores. O professor, entao, deve ser o guardiao da infancia e da juventude. Na sua génese, a nogdo de infancia se apresenta oscilando entre duas configuragées basicas. Essas configuracées determinam as caracteristicas dos preceptores e, mais tarde, dos professores e do ambiente escolar (da arquitetura e organizagio da escola) e, de certo modo, com a ajuda da filosofia, impde ou ao menos regram as finalidades da educagao. Em uma primeira configuracao, a infancia é vista como uma fase negativa, que deve ocorrer, sim, mas que deve passar. Deve terminar para dar espaco para o aparecimento do adulto enquanto, antitese da crianga. A infancia, nessa acep¢ao, 6a época da rebeldia, e entao a crianga deve ser conduzida da heteronomia 4 autonomia por meio de regras exteriores, postas pelo adulto. A autonomia ea individualidade nascem “de fora para dentro”. O professor, neste caso, é um disciplinador no sentido tradicional da palavra. A esco- la, um ambiente de formagao e conformagao. A finalidade da educagio é fazer com que a fase negativa da infancia passe breve- mente e possibilite ao homem surgir a partir das regras do homem (adulto) sobre o homem (a crianga) — ou seja, que o homem possa’ vir a surgir da crianga, negando-a. Em uma segunda configuracio, a infancia é vista como uma fase positiva, que deve nao s6 ocorrer, mas ser prolongada, de modo a poder contaminar para toda a vida o homem que dela Digitalizado com CamScanner PAULO SHALE, Rm ao, é assumida como ( js. Ainfancia, nessa potas Jina deve aparec, " deve surgi. de e pureza,€¢ 4 discip™ Sea de criatividade lad “ ” eve ja tirada “de dentro para fora”. Professo, tonomia iro de viagem. A escola, um ambient, melhores experiéncias. A finalidade da itiva da infancia cao é fazer com que @ ie posit’ bom ae educa¢ davida adulta, no que ela tem de bo: ; Ou Se)a, que o 20 ono to) venha a materializar-se a partir do interior gy ~_ | mantendo em seu intimo © verdadeiro humano ome Q . que existia na crianga. ; _. Em termos genéricos, € possivel afirmar que a Primeira con. figuracao possui sua génese no século XVII, a segunda, no século XVIII. Todavia, ambas formarama mentalidade de quase todos nos séculos seguintes; ou melhor, fazem parte da mentalidade das pessoas que receberam algum tipo de contato com a educagéo ocidental; pais, educadores e boa parte da populagao do Ocidente enxergam a infancia mais ou menos a partir dessas configuragdes — elas s40 0 nosso senso comum sobre a infancia2 vir como aul neste cas natural propiciador das Essas vis6es da infancia tém uma intima li: ago com as posi- es flos6ficas elaboradas no inicio dos tempos modernos. Do ae da telacao dessas posicdes filos6ficas com as finalidades a Postas Por esas configuracées origina-se ao me! S grandes flosofias da educacio: a Hesse eee ‘René Descartes (Tage a tucasao: a Filosofia (da educacao) de René Descartes (1596-1650), tiy ican aE mente iluminista, e a filosofia (da educacao) d 5 que sponta pan ues Rousseau 1712-1778), com indicagoes ; nap om ee Bssas Concepcoes filos6ficas nao ‘teriormen: i . ente na pré te a tais configuracées, infinciaedes ge formulacao conceitual dessas caga — ido, 2 As vii P.Intancia, su Sio P, mas giudam efetiy ‘am Configuracies de siludes da Djetividady ‘ul: Cone NOGA0 de ints Chen Poem ser ay ae luo 'adas a partir de: Ghiraldelli JF, —~ Infancia escoa e modernidad®. Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCACAO BRASILEIRA 2 Tanto para Descartes quanto para Rousseau a tarefa do pen- samento e, em especial, a tarefa da filosofia, 6a de busca da verda- de por meio da razdo — nisso eles se mantém adeptos de uma definigao cléssica da filosofia. Perguntam, entdo, o que impede ao homem saber decidir se um enunciado é falso ou verdadeiro. Criam uma explicacao para o erro. Para o cartesianismo, 0 erro esté na imaginacao, nas sensaces ¢, principalmente, na preponderancia da vontade sobre o entendi- mento, fazendo com que os jufzos sejam apressados. O homem assim faz, segundo tal acep¢ao, porque ainda nao conseguiu se libertar de atitudes que sao proprias das criancas — atitudes infan- tis. Nesse caso, a atitude de dar crédito ao sonho e as sensagées, nao sabendo usar da razao despida de imagens, é vista como tipi- ca da infancia. O fato de a vontade impulsionar 0 homem a tomar decisdes antes de o entendimento ter formulado o que é 0 correto, também é uma atitude infantil. Assim, a infancia é tomada como nao sendo uma boa fase. Quanto mais cedo o homem escapar dela, menos levara consigo resquicios de atitudes que atrapalharao seu juizo. A infancia, portanto, deve passar o quanto antes. Rousseau, diferentemente, acredita que a busca da verdade, antes de passar pela razdo, depende de instancias morais. Para 0 rousseaunismo, o oposto da verdade, o erro, ndo é somente a fal- sidade, mas a mentira. E quem nao mente? A crianca nao mente — diz 0 rousseaunismo. Pois para Rousseau a natureza é intrinse- camente boa e a crianga é o ser ainda nao maculado pela cultura, © que esté mais préximo da natureza e, portanto, o mais apto a poder chegar a verdade. Assim, quanto mais tempo a infancia durar, mais o homem adulto ficard contaminado pelo virus da ingenuidade e da bondade, essenciais na vida adulta para, nao maculando a visdo moral, nao macular a razao. Como essas filosofias da educagéo modernas — iluminista e romantica — se consubstanciam em pedagogias, no sentido mais Digitalizado com CamScanner PAULO Gri LOE : LR estrito desse termo? No caso da comers e oe NO caso ga educagao sistematica e escolar ou Pa a von fiada Cducags, 7 moderna prepara procedimentos pedagdgicos em um padrag Mais simplifcado, normativo. Sao esses padrOes que, em geral, denon ramos de pedagoga,no sentido restrito e mais comum. Com <3" clas? Que tradigdes pedagégicas estdo assentadas nas filosofiag de educacao vindas das matrizes cartesiana e rousseauniana? Dois bons exemplos para responder tais perguntas sao suge- ridos por gravuras de época. A primeira gravura (Figura 1) data de 1554, e 6 um sinete da “Escola Gratuita de Gramética de Louth’. O mote, escrito um poy. co acima da figura do professor, diz: “quem Poupa a vara odeia a ctianca”. A segunda gravura (Figura 2) é um quadro de 1793, Seu 48 S40 gravura Criang " : Cas, uy na Mentalidade ‘AS Pesso, . ; as, ode Consen S Tepresentativas de Uidado que depende de alguma Nogao de $0 Sobre o que se deve isting de 4 Mite, aOs ramati *COntempla a 08 Seus al Nog ioe de Louth” mostra le Tal punicsiPlina que, no li- ENdimento , Plinada, go S*° tem como objetivo our, ai le Scart ela Vontadeg a a ultrapas- ‘amente o que Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCACAO BRASILEIRA Figura 1 Sinete da Escola de Gramaticas de Lowth. No distico, interno lemos: “Quem poupa a vara odeia a crianga” Figura 2 “professora Republicana”, 1779 Digitalizado com CamScanner PAULO GHiR, ALDE ry Na, entao nada melhor para a Educags, do desejo, que €corpéreo, deme, animos . od, srenar os anim lo ercer com comedimento. E estaremo, se comportar racionalmen; dando a vontade a ae “ x ras ee si mesma. Ton autonomia, meee limite isto implique em punicao fsa paercad aa a atuagao do entendimento me livre e mais, capaz, écolaborar i porar com a libertagao do individuo em relaggo ay ae , srontade perfeitamente racional, e os desejos domina. a o entendimento pode julgar com “clareza e distincao”. 0 aprendizado do conhecimento verdadeiro, © ous a capaci- dade de poder julgar o que € verdadeiro e o que é falso, depende de uma disciplina da razao que 6 também aprendida — a razio perfeita é a harmonia entre vontade racional e entendimento. 0 conduz o ser humano a0 erro, se pudermos se! que a vontade possa s° &¥ professor, com regras externas, colabora para a internalizagao de regras, possibilitando o surgimento do homem a partir da finali- zacio da infancia. O quadro “Professora Republicana”, ao contrario do sinete, mostra a fruicéo em comum de um texto. Educador e educando comungam um texto (um exame visual mais minucioso poderia deivar ver que o texto 6 a “Declaracao Universal dos Direitos do Home" . . mim usada como cartilha). Todavia, ha certas ambiguidades sVure, muito provavelmente propositais que 0 titulo do quadro. O . aroto i ler Seu rostoéo de u garoto parece mui de pré-escolar. En que dizem mais do mactianga que 1 ito jovem para ea ; tao, 0 pa “ Nos dias de hoje, chamariamos (ainda mnisem se tratande Pel que ambos seguram 6 simbélico nomen Smesmo da “Declaracéo dos Direitos 40 )- Por outro |, a . a a Crofessora € mesmo uma professor? ee de 4 ™ova sensual. Aparece como mie @ crianga; alids, poderfa- RO seu colo. Ela é sensualy @ convid, fan do para a comunh@o de uma Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCAGAO BRASILEIRA as hist6ria, para o compartilhamento de uma atividade aconchegan- . Cabelos levemente desalinhados, brinco exposto e uma clarida- de sobre o pescogo que forga 0 nosso olhar para os seios. Os seios, por sua vez, através do jogo de luz e sombra do quadro, ganham relevo. Ou seja, a moga é alguém com quem fazer algo intimo, como por exemplo, ler uma histéria ou apreciar uma gravura, deve ser uma coisa bastante agradavel. Por fim, nao é uma moga comum, nem uma mae comum. O quadro lembra, para uma boa parte das pessoas, muitas vezes menos as gravuras classicas gregas e mais o quadro da Virgem Maria com o menino Jesus. E isto santifica a relacdo entre ambos — a relacao é prazerosa, mas antes de tudo pura, pois hd pureza de coragao em ambos os parceiros. A relacao é mesmo muito intima. Se hé algum aprendizado, ele nao est4 sendo feito de modo direto, pois a moga, a adulta, nao esté falando algo a crianga, mas, ao contrério, ambos apreciam algo que esta no papel, algo que, de certo modo, sé eles podem ver, e nés nao intei- ramente! Ambos, garoto e professora, contém sorrisos monaliseanos em suas bocas. Hé uma satisfacdo na comunho do que estd no papel, o que seria o texto. As maos de ambos se juntam para segu- rar o papel. A educacio que est4 ocorrendo ali depende da expe- riéncia da comunhao de subjetividades puras e sinceras. Caso contrério nao havera educacdo. Alias, em se tratando do texto da “Declaracao Universal dos Direitos do Homem’, o termo “expe- riéncia da comunhdo” significa uma experiéncia subjetiva e inter- subjetiva ao mesmo tempo, ou seja, uma psiqué que se enlaca a outra por meio de um elemento comum posto socialmente: a rea- lizagao de uma sociedade livre. A verdade nao esta aparecendo para eles por causa de uma disciplina imposta “de fora para dentro”, mas por causa de uma disciplina que esta sendo trazida “de dentro para fora”. A verdade surge da relacao honesta, intima que cada um tem com o que estd no papel e que cada um tem com 0 outro; ambos sao companheiros de viagem. Digitalizado com CamScanner PAULO gy 7 % "ALD a iz respeito a uM Modelo qj iro quadro diz respeH'0 ; le O primeiro q' trar a tradigao cujo Tepresentante ey amos encon ° : que poderiam: uadro diz respeito a um ia . ; cartesianismo; € 0 segundo q ee ensino no qual poderiamos ver 4 tradigao cuja inspiracao ot rousseauista. O primeiro, tem a ver com © que mais tarde foi i zado como “pedagogia tradicional”. 2 segundo, tem a ver «o, ti. que mais tarde se ‘autodenominou de pedagogia RovA" (isso meados do XIX e mais propriamente no século XX). Essa P a gias, assim representadas, sao as versoes populares da pe dager, moderna —elas sao 0 nosso senso comum ocidental sobre ag ea tas pedagégicas possiveis. Em ambos os modelos, a instiige escola aparece como imprescindivel. 0 Digitalizado com CamScanner Cais D CapituLo 2 Educacgdo e Pedagogia na Coldnia e no Império 1. Jesuitas e Pombal O Brasil foi colénia de Portugal entre 1500 e 1822. Da chegada das caravelas de Pedro Alvares Cabral em nossa terra até a decla- racdo de independéncia politica por D. Pedro J, nosso povo viveu sob o chamado regime colonial. A partir da Independéncia, inicia- mos nossa vida sob o Império, que terminou com a proclamagao de nossa Reptiblica pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 1889. ‘A educagio escolar no periodo colonial, ou seja, a educagao regular e mais ou menos institucional de tal época, teve trés fases: ade predominio dos jesuftas; a das reformas do Marqués de Pombal, principalmente a partir da expulsdo dos jesuitas do Brasil ede Portu- gal em 1759; e a do periodo em que D. Joao VI, entao rei de Portugal, trouxe a Cérte para o Brasil (1808-1821). ‘Aeducacao brasileira teve seu inicio propriamente dito com 0 fim do regime de capitanias. O Brasil ficou sob 0 regime de capitanias Digitalizado com CamScanner PAULO GHIRALDE AR 9, Tal egine eels oie we onion , inistracdo deste, com tre a oa imei corr Rees edois criow 0 Govern? een oPadre oe eres - ortaram ad” imeitOs P? de coun foram noss - no ano de 1517. Era da regiag 4 jesuitas. E prog =o foi nas universidades de g, el da Nobress pagao foi nas = ma pa pelaCompetn Minl . No Brasil, e: ai Espankale oi format, eM 1544 » esi steve na trés anos ee 1552, veio para Sa0 Paulo. eae “fat Bahia € a0 de Ge Piratininga, 0 marco inicial da futurg Sio Paulo na Iu no Rio de Janeiro em 1570. . 4 Jo. Faleceu . a cidade de So Paul? or foi de incrivel pioneirismo. Ing. ad seu trabalho como educ: indf i ay a ea catequese dos indigenas. Mais tarde, outros ju a ins ie jesuitas chegaram a0 Brasil e se integraram aos seus 0s de pereditarias en nascet Jesus erupt projets educativos. Uma vez aqui, os jesuitas comegaram a pensar em formar outros padres, a partir da populacao local. Desenvolveram as es- colas de ordenacao e, gracas a elas, alguma instrugdo chegou até aos filhos dos colonos brancos e aos mesticos. Manoel da Nobrega forjou um plano de ensino adaptado ao *0SS0 pels, segundo 0 que ele entendia que era a sua missao. O Plano de estudos de Nébrega continha o ensino do portugués, a doutrinacristé ea “escola de ler e escrever” — isso como patamar no estudo da musica ‘ada tal fase, o aluno rendizado profissional is adiante com aulas de gramati- 'cd0 na Europa. Dasico. Apés e instrumental Poderia ow §j ssa fase, 0 aluno ingressava € do canto orfednico, Termin. inalizar os estud ‘ los "eado 8 apricultura oy seguir oe a Ce, enta ‘nto, Completar sua forma, As jesuitas oo, Colar no fy ©, Praticam, asil d ente, 0 Oli ino es durntosane wane UM tempo raza Polio do ensino é erp ANte esse to ouch Algo roa SS omaio de ais Peles fundaram varine légios igi0sos, 4; varios cole; 1 “Minda que og filhos da elite da Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCAGAO BRASILEIRA 2 colénia nao quisessem, todos eles, se tornar padres, tinham de se submeter a tal ensino. Eram os tinicos colégios existentes. A pedagogia aplicada nesses colégios evoluiu do plano de Nobrega para a adocao do sistema do Ratio Studiorum, o plano de estudos da Companhia de Jesus. O que era essa Companhia e como era seu ensino? A Companhia de Jesus foi oficializada pela Igreja em 1540. Nasceu em uma época caracterizada por conflitos e divisdes dentro da Igreja, sendo a Reforma Protestante o principal deles. Era tam- bém a época da expansio das fronteiras geogréficas, com a desco- berta da América e a abertura de novas rotas comerciais na Asia, e das mudangas radicais no campo das ciéncias e das letras. ACom- panhia tentou dar uma resposta positiva a esses desafios, atuando em trés campos: defesa e promogao da fé crista; propagacao da fé nos territ6rios coloniais; educagao da juventude. A atividade edu- cativa tornou-se a principal tarefa dos jesuitas. A gratuidade do ensino da Companhia favoreceu a expansao dos seus colégios. Em 1556, quando da morte de Santo Indcio, o criador da Companhia, havia 46 colégios sob seu controle. No final do século XVI o ntime- ro de Colégios era de 372. Aexperiéncia pedagdgica dos jesuitas sintetizou-se em um.con- junto de normas e estratégias chamado de Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos). O objetivo dessa Ordem era o de “formagao integral do homem cristdo”, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo. Esse plano de estudos articulava um curso basico de humanida- des com um de filosofia seguido por um de teologia. A formagao culminava com uma viagem de finalizagao de estudos na Europa. Sob os jesuitas, na pratica, o que ocorreu foi que o ensino das primeiras letras ficou sob 0 encargo das familias, na sua maior parte. As familias mais ricas optaram ou por pagar um preceptor ou por colocar o ensino de suas criancas sob os auspicios de um parente mais letrado, de modo que os estabelecimentos dos jesuf- tas, quanto ao atendimento dos brancos e nao muito pobres, se Digitalizado com CamScanner PAULO. SHARAD, a a educagao infantil que na educags, sqpeciaizaram MEN dos, le «2 hasicamente 1 influénci jovens id basica™ ‘tas tivera™ grande influéncia sobre a ‘ Os colégios est" Nao foram muitos, diante das Neceg dadeesobreaclt “Todavia, foram suficientes para gerar Um, sie" os que eram 0S donos das terras e og que to entre 0S a suitas foram ex das almas. Quando os je: Pulsos qe de suas colénias, em 1759, tinhamos em no, i decem tabelecimentos de ensino, considerando 9; so pais mais ¢e dancias, a5 miss0eS, OS seminérios e as “escolas de colégios #5105" a administracao direta dos jesuitas. esi ver”, sob a at wee ania de Jesus foi expulsa de Portugal e do Brasi quando o Marqués de Pombal, entao ministro de Eeeee em Por. tugal empreendeu uma série de reformas no sentido de adaptar aquele pais e suas colénias as transformagdes econémicas, politicas eculturais que ocorriam na Europa. No campo cultural, 0 que se queria era a implementacao em Portugal de ideias mais ou menos proximas do Iuminismo. O que foi o uminismo? Olluminismo ou, mais exatamente, a Ilustracao, corresponde 20 periodo do pensamento europeu caracterizado pela énfase na experiencia ena razao, pela desconfianca em relacao a religiao eas autoridades tradicionais, e pela emergéncia gradual do ideal das apes seculares e democraticas. Na Inglaterra do Francis Bacon as id podia ser apreciado nos textos 4 Franga, nos de a € de Thomas Hobbes (1588-1679). Na “*cartes, através da nova énfase deste e™ telacéo a inde ©. No século XVIII tal movimen" pe Pendéncia da raz OU sei “ “com a edigdo da Enciclopédia, s 4 pice na Franca — de 3 Sebastiao Jy *2) 40 primis ming Ho ministy Melo, OdeD Jone “lo, conde de Og , ras — S80 de poder, SOU O Século Xyy OM o objetivo de Tlagio 38 de concn ~o marqués de Pombal (16 Alone dp leo absolutismo régio att" . cio" fi Testabelecer a economia M° a Inglaterra, ale resist Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCACAO BRASILEIRA 3 Escécia com David Hume (1711-1776), Adam Smith (1723-1790) e outros e, enfim, na Alemanha, com uma conotagao filos6fica com- plexa através dos trabalhos de Immanuel Kant (1724-1804). Apesar de nao vermos com facilidade doutrinas positivas comuns a todos esses pensadores, podemos apontar para alguns pontos relevantes que se repetiram: o Iluminismo esté associado a uma concepgao materialista dos seres humanos, a um otimismo quanto ao seu progresso por meio da educagao e a uma perspectiva em geral utilitarista da sociedade e da ética. Em Portugal, no entanto, 0 Tluminismo, apesar de atingir duramente a Companhia de Jesus, nao se efetivou no sentido de uma liberalizagao geral das obras dos muitos escritores do periodo, sendo que varios autores, mesmo os do século XVI, foram censurados na Universidade. Coma expulsao dos jesuitas de Portugal e Brasil a mao de obra para o ensino comegou a ser alterada. Ainda que os professores continuassem, durante bom tempo, a serem os que haviam sido | formados pelos padres da Companhia de Jesus, houve relativa | mudang¢a no formato do ensino, ao menos em Portugal. Nasceu naquele pais o que, de certo modo, pode-se chamar de ensino pti- blico; ou seja, um ensino mantido pelo Estado e voltado para a cidadania — uma nogao que, forjada segundo o Iuminismo, requi- sitava do individuo a compreensao de seus direitos e deveres em uma sociedade que passava a exigir das pessoas uma gradual in- dependéncia de pensamento e discurso. ‘A partir de 1759, 0 Estado assumiu a educacao em Portugal. Apareceram os concursos ptiblicose a andlise da literatura destinada as escolas (isso inclufa a censura, pois o Huminismo portugués nao implicou uma liberalizacéo completa dos autores do movimento). No Brasil, desapareceu 0 curso de humanidades, ficando em seu “vauilas régias”. Eram aulas avulsas de latim, grego, filosofia lugar as organizavam os eret6rica. Ou seja: 0s professores, por eles mesmos, Iocais de trabalho e, uma vez tendo colocadoa “escola” para funcio- nar, requisitavam do governo o pagamento pelo trabalho do ensino. Digitalizado com CamScanner — PAULO GHiRa, LOE, % 32 jg medidas tenham di inda que fais i esant De um modo geral ai" sida tenbam desig, «siente, mas viNnico sistem? de educasé Periodo fon’ doo incipienté™ tuais impo antes em nosso pais, Eles s a concluir se! nee ve Europe, mas a volta ao Brasil gob a influéncia do Tuminismo- ea - a exercer, seg que colaboraramn iferenciaga? ba nsamentos em noss, cis te es s deles foram adores Je instituiges e escola, sociedad, AIO ante conhecidas. Fol ° caso de José Joaquim de sp emindrio de Olinda em 1800, nuaram, ho, que fundo' aie a foi bisp° de Olinda entre 1779 e 1802. Es. " versidade de Coimbra quando esta jé havia passado ho iluminista, ainda que um iluminismo que escreveu uma série de brando. Foi um intelectual destacado, que estudas em economia voltados pata 0 Brasil. Em pedagogia, colo- cou o Seminario de Olinda sob as normas do livro O verdadeiro nétodo de estudar, do Padre Luiz ‘Antonio Verney, que POF sua vez foi inspirado no fil6sofo inglés John Locke (1632-1704). E interes- sante notar que John Locke, ao falar da educacio do gentleman, bandonar uma educagao que priorizasse, nesta ordem, a eloquéncia, a virtude e a sabedoria, em favor de uma educacao que priorizasse, nesta ordem, a virtude, a sabedoria, a educacao e o conhecimento. Com isto, Locke se posicionou cla- ramente contra certo tipo de humanismo vigente, mais afeito 2 “cultura de verniz” que a utilidade. por uma ref insistiu que este deveria al 2. As escolas do Império Foicom a vinda da Cd que o ensino a fa Corte portuguesa para o Brasil, e™ 1808, fe comecou a se alterar mais profun dament jo O Brasil, com D. Joa . Joao VI no Rio de Janeiro, passou a ser a sede reino portugué st ie fan Portugués. Com isto, uma séri rie de cursos, tanto profi Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCACAO BRASILEIRA eS lizantes em nivel médio como em nivel superior, bem como mili- tares, foram criados para tornar o ambiente realmente parecido com o que teria de ser a Cérte. Houve a abertura dos portos para © comércio com paises amigos, 0 nascimento da imprensa régia e a criagao do Jardim Botanico do Rio de Janeiro. Em 1808 nasceu o Curso de Cirurgia na Bahia e 0 Curso de Cirurgia e Anatomia no Rio de Janeiro. No decorrer, nasceu 0 Curso de Medicina no Rio de Janeiro e, em seguida, em 1910, a Academia Real Militar (que mais tarde tornou-se a Escola Nacional de Engenharia). Oensino no Império foi estruturado em trés niveis: primério, secundario e superior. O primério era a “escola de ler e escrever”, que ganhou um incentivo da Corte e aumentou suas disciplinas consideravelmente. O secundério se manteve dentro do esquema “aulas régias”, mas ganhou uma divisao em disciplinas, prin- cipalmente nas cidades de Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 1821 a Corte voltou para Portugal e, um ano depois, D. Pedro I liderou a Independéncia, outorgando em seguida a nossa primeira Constituicao, a de 1824. Essa carta constitucional continha um t6pico especifico em relacdo a educagéo. Ela inspirava a ideia de um sistema nacional de educagao. Segundo ela, o Império de- veria possuir escolas primérias, gindsios e universidades. Todavia, no plano pratico, manteve-se o descompasso entre as necessidades e 0s objetivos propostos. Um sintoma disso foi a adogao do “mé- todo lancasteriano de ensino”, pela lei de outubro de 1827. Por tal método, o ensino acontecia por “ajuda muitua” entre alunos mais adiantados e alunos menos adiantados. Os alunos menos adiantados ficavam sob o comando de alunos-monitores, e estes, por sua vez, eram chefiados por um inspetor de alunos (nao necessariamente 4, O sistema de ensino métuo ou sistema monitorial foi uma prética que se iniciou na India, pelo pastor protestante Andrew Bell (1753-1832). Em 1798, por falta de recursos, um. ‘quaker, Joseph Lancaster (1778-1838) o recriou na Inglaterra, obtendo certo éxito. Digitalizado com CamScanner PAULO G HRA Log 34 wR cia com O magistério) qu alguém com qualquer ex] situacd e se an em contato com ° pro! a ca i 0 revelava, ent, * os e de escolas e, é 0, ntimero insuficiente de protessoee cdo naci claro, falta, * aducacao nacional, tama organizacao minima P aa educa consolidow realmente em 1850, quang, lo a O Império 86 86 08 uando a economia cafeeiy, : vrencia da mineracdo. A dg ty érie de realizagGes important! nara a educacao ins! Em 1854 criou-se 4 Inspetoria oa para aeducassoN” | secundaria do Municipio da Cérte wal onar o ensino, tanto o pr bles ou incumbido do estabelecimen. to de regras para 0 exercicio da liberdade de ensino © para a pre paracao dos professores primarios, além de ser austosizado arefor mular os estatutos de colégios preparatorios no sentido de colocé-los sob 0 padrao dos livros usados nas escolas oficiais, Também coube 4 Inspetoria Geral reformular os estatutos da Aca- demia de Belas-Artes, organizar de modo novo o Conservatério tos da Aula de Comércio da Cérte. de Musica e refazer os estatut Duas caracteristicas basicas marcaram © ensino dessa época era carente de vinculos o aparato institucional de ensino existente mais efetivos com 0 mundo pratico e/ou com a formagao cient fica; ¢ era um ensino mais voltado para os jovens que Pat? G perien fess0" Givisdes internas dim fe um novo rumo, APO ao pa yarcada de 1850 ficou ™ da Instrugio Prim trabalho era orientar ; quanto o particular Tal orgao fic criancas. boa escol@ e Olind?- wntar com de cert? 4 No campo do ensino superior, quem quisesse uma ona se deslocar para 0s cursos juridicos de Sao Paulo A ie lesejasse seguir a carreira médica deveria se conte! a con ge Janeiro. A engenharia estava restrita, 8 Escola Politécni - militares do Rip * técnica do Rio de Janeiro, Havia ainda 05 cw Existia também o cee lo Sul, do Rio de Janeiro e de Fortale?” ‘urso da Mari - i Marinha, no Rio de Janeiro. O Rio Janeiro det inha, aii ‘ , ainda, escola para 0 ensino artistico e mais sof I Digitalizado com CamScanner HISTORIA DA EDUCAGAO BRASILEIRA as seminarios para o ensino religioso. Nao existia uma politica integra- da entre 0 governo central e 0 que se fazia nas provincias, o que nutria nao sé um cardter heterogéneo para a educagao brasileira da época como também mostrava, para qualquer viajante, uma imensa alteracao de qualidade da educagao quando este fosse ca- minhando de provincia para provincia. Um elemento de destaque da época imperial foi, sem dtivida, acriacao do Colégio Pedro II, em 1838. Seu destino era servir como modelo de instituigaéo do ensino secundario. Mas ele nunca se efe- tivou realmente como modelo para tal nivel, tomado em si mesmo, e vingou como uma instituicao preparatéria aos cursos superiores. Ao longo do Império, sofreu varias reformas curriculares. Tais re- formas oscilaram entre a acentuagao da formagao literaria dos alunos em detrimento da formagao cientifica e 0 inverso, a acen- tuacdo da formagao cientifica em detrimento do cultivo das huma- nidades. Tal oscilagao se deveu as disputas do ideério positivista contra 0 ideal humanista de heranga jesuitica. Quando 0 idedrio positivista levava vantagem, na medida em que cafa nas gracas dos gostos intelectuais da época, o Colégio Pedro I passava a incorpo- rar mais disciplinas cientificas. Quando os positivistas perdiam terreno, voltava-se para uma grade curricular de cunho mais lite- rario. O que era 0 positivism, aplicado ao ensino daquela época? CO positivismo, no caso, era o que vinha da doutrina de Auguste Comte (1798-1857). Sustentava que a tinica forma de conhecimento, oua mais elevada, era a gerada a partir da descrigao de fendmenos captaveis pelos sentidos. Comte afirmava que existiam trés estagios nas crencas humanas: 0 teolégico, 0 metafisico e, por fim, o positivo, assim chamado por se limitar ao que é positivamente dado, sem qualquer especulagao. O ensino que seguia a doutrina comtiana era, em princfpio, aquele que levaria o estudante a um major cuidado nao com as grandes obras da literatura e, sim, com os tratados a respeito das ciéncias experimentais. Digitalizado com CamScanner PAULO Gta 36 Ue a Po utro elemento marcante @ Alem do Colégio Pedro 1 Oo Carvalho, de 17s Lea” é eforma Led ‘in no Império foi a Reforma sro e professor da Trea e de Carvalho, ministro do Impé : Igou o Decreto n. 7.247, ad refereng, te Direito de Sao Paulo, promulgou a liberdade do ensing pet da Assembleia, e com isto instituiu ee Primériy : icipio da Corte e a ibe! © ensino gy, e secundario no municip is de de ensino a nova lej enteng;, mor em todo i. ae porjulgamento proprio, capacitadg ; es \ a expor suas ideias e eaoiey os métodos que hes conviessem. A nova lei também entendia que o trabalho do magis. tério era incompativel com o trabalho em cargos Publicos eadmi. nistrativos. A frequéncia aos cursos secundarios e superiores tor nou-se livre, de modo que o aluno poderia aprender com quem lhe conviesse e, no final, deveria se submeter aos exames de Seus esta- belecimentos. Com isso, as instituigdes se organizaram Por matérias, Ge modo que o aluno pudesse escolher quais as que ele cursariae fuss cle julgeva que eram desnecessarias diante do exame final ’, aconselhava-se que as esi os exames, Digitalizado com CamScanner

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