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KOMATSU B.K CALU J.C. BARTHOLO T.L. (2022) - Estudo #IX - Impactos Da Desigualdade Na Primeira Infância
KOMATSU B.K CALU J.C. BARTHOLO T.L. (2022) - Estudo #IX - Impactos Da Desigualdade Na Primeira Infância
Impactos da
desigualdade na
primeira infância
COMITÊ CIENTÍFICO
NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA
ESTUDO
9
ESTE DOCUMENTO
FOI PREPARADO POR
PESQUISADORES BRASILEIROS
DE DIVERSAS ÁREAS DO
CONHECIMENTO, A CONVITE DO
COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO
CIÊNCIA PELA INFÂNCIA (NCPI).
TRATA-SE DO NONO ESTUDO
DE UMA SÉRIE QUE ABORDA
TEMAS RELEVANTES PARA
O DESENVOLVIMENTO NA
PRIMEIRA INFÂNCIA.
O NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA (NCPI) é uma iniciativa colaborativa que produz,
traduz e dissemina conhecimento científico sobre o desenvolvimento na primeira
infância, com o intuito de fortalecer e qualificar programas e políticas públicas que
impactem positivamente crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade social.
O NCPI é composto por sete organizações: Fundação Bernard van Leer, Center
on the Developing Child e David Rockefeller Center for Latin American Studies, ambos
da Universidade de Harvard, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Insper, Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo e Porticus América Latina.
Bibliografia
ISBN 978-65-996065-8-8 (e-book)
Copyright NCPI ©2022 Núcleo Ciência Pela Infância. Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
AS PUBLICAÇÕES ANTERIORES SUGESTÃO DE CITAÇÃO
ABORDAM OS SEGUINTES TEMAS: KOMATSU B.K; CALU J.C.; BARTHOLO T.L. (2022). Estudo
• Estudo I: O impacto do desenvolvimento nº IX: Impactos da desigualdade na primeira infância.
na primeira infância sobre a aprendizagem Núcleo Ciência Pela Infância. http://www.ncpi.org.br
RAIO-X 8
1 – INTRODUÇÃO 12
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
RAIO-X
DESIGUALDADES CAUSAM
IMPACTOS POR GERAÇÕES
AS DESIGUALDADES SOCIOECONÔMICAS, EDUCACIONAIS E DE SAÚDE DO PAÍS
AFETAM O PLENO DESENVOLVIMENTO DE MILHÕES DE CRIANÇAS NO BRASIL
COM EFEITOS QUE PODEM DURAR POR GERAÇÕES.
MELHORES CONDIÇÕES
! ! ! DE SAÚDE, QUALIDADE DE VIDA,
RENDA E ESCOLARIDADE
NA VIDA ADULTA
TIPOS DE DESIGUALDADES
$
$ DESIGUALDADES
SOCIOECONÔMICAS
DESIGUALDADES
EDUCACIONAIS
DESIGUALDADES
DE SAÚDE
$
As crianças
pretas e pardas
DESIGUALDADES SOCIOECONÔMICAS são as mais
afetadas pela
insegurança
alimentar
INSEGURANÇA
ALIMENTAR
A proporção de
domicílios brasileiros
vivendo em insegurança
alimentar, ou seja, a Domicílios com crianças
família não sabe se menores de 5 anos com
terá acesso à comida insegurança alimentar3,
2,3
num futuro próximo, de acordo com raça/cor:
mais que dobrou1 nos
últimos nove anos: MILHÕES Preta 58,3 %
DE CRIANÇAS
58,9 %
BRASILEIRAS
de 0 a 6 anos vivem
1 EM CADA 3 Parda 51,2 %
2021/2022 hoje em domicílios moradias com
sem renda suficiente crianças pequenas
para suprir suas no Brasil enfrenta
55,2 % necessidades uma situação
2020 Branca 40 %
básicas de de insegurança
alimentos2 alimentar1
36,7 %
2015
▶ Abuso ▶ Aprendizagem
▶ Desnutrição ▶ Desenvolvimento
▶ Negligência emocional
de cuidadores ▶ Desenvolvimento
▶ Hospitalizações cognitivo
▶ Estresse familiar ▶ Desenvolvimento
da linguagem
▶ Doenças
preveníveis ▶ Estimulação
da criança*
FONTES: (1) II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil divulgados em 2022 pela Rede Brasileira
de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). (2) PNADC/IBGE; Rocha, Franco e IETS (s.d.); IPCA/IBGE.
(3) Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) realizado em 2019.
Norte e
Nordeste:
450
DESIGUALDADES EDUCACIONAIS menores
MIL CRIANÇAS
taxas podem estar fora
do sistema
formal de
PANDEMIA E pré-escola3
ESCOLA DE
SEUS EFEITOS EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação ESCOLA DE
infantil foi a etapa EDUCAÇÃO INFANTIL
mais afetada da
educação básica
na cobertura
escolar1.
O ACESSO À PRÉ-ESCOLA
É DESIGUAL NO BRASIL
QUEDAS DE MATRÍCULA As regiões do Norte
Após a pandemia, e Nordeste tem as menores
a redução de matrículas Sudeste taxas de matrícula na pré-escola.
foi maior na creche e Sul: O Sudeste e Sul, que apresentam
e na pré-escola, maiores as maiores taxas, ainda não
as duas etapas da taxas chegam à totalidade de
educação infantil1 100% de cobertura1.
PREJUÍZOS PARA O
DESENVOLVIMENTO
Apenas 26% INFANTIL
REDUÇÃO
das crianças
mais pobres ▶ Aprendizado
de 0 a 3 anos ▶ Desenvolvimento
motor
estão na creche. ▶ Desenvolvimento
Esse número salta socioemocional
para 55%, considerando ▶ Desenvolvimento
aquelas de maior renda2. cognitivo
FONTES: (1) Censo Escolar - INEP/MEC/IBGE. (2) Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Desafios do acesso à creche no Brasil: subsídios para o debate, 2020b.
(3) Dados inéditos elaborados para esta publicação, que comparam as taxas de cobertura aferidas utilizando os dados da PNAD e do Censo Escolar (2011 a 2021).
DESIGUALDADES EM SAÚDE
COBERTURA
VACINAL
98,3%
A cobertura
vacinal no país 76,1%
Para cada vem caindo
MORTALIDADE 1.000 nascidos de maneira
INFANTIL vivos preocupante 79,9%
Dados recentes nos últimos
apontaram que anos, deixando 62,8%
disparidades 16,9 especialmente
regionais 15,3 a população
importantes 13,3 MÉDIA infantil mais
ainda NACIONAL vulnerável a
permanecem. doenças que
Entre 2017 e 2019, apresentam 2015 2020
Norte e Nordeste 3,0 MÉDIA
DE PAÍSES
maior chance
apresentaram DESENVOL- de causar Poliomielite Tríplice viral
(sarampo,
as maiores Região Região
VIDOS
sequelas
caxumba
médias1. Norte Nordeste e mortes2. e rubéola)
PREJUÍZOS PARA O
DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
AUMENTO REDUÇÃO
▶ Obesidade ▶ Aprendizagem
▶ Hospitalizações ▶ Crescimento e
FONTES: (1) Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis
(2021). (2) Datasus (Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/CGPNI/DEIDT/SVS/MS). (3) IBGE. Pesquisa nacional de saúde:
2019/ciclos de vida (2021).
Em países com baixa e média rendas nacionais per capita (menos de US$ 13,2
por habitante por ano), crianças de famílias com menor poder aquisitivo sofrem
o impacto persistente da pobreza e apresentam maiores riscos de mortalidade
infantil, desnutrição crônica, atraso no desenvolvimento, baixa escolaridade e
gravidez na adolescência, em comparação com as de famílias mais ricas. 3
Os impactos da Estratégia Saúde da Família para o desenvolvimento infantil e os desafios para a sua manutenção 15
EFEITOS DA DESIGUALDADE NAS CRIANÇAS
ENTENDA OS
CONCEITOS! PODEM CONTINUAR POR GERAÇÕES
Índice de Gini: este
No ano de 2020, o Brasil estava entre os países com as maiores inequidades
indicador é uma
forma de medir a de renda do mundo. Em uma lista de 158 países com alguma informação
desigualdade de
renda, posse de terras, sobre o índice de Gini (veja box a seguir) da renda domiciliar per capita
educação ou outras
características. Ele disponível entre 2008 e 2020, o Brasil aparece na 16ª posição, próximo de
resume a informação
em um valor entre 0
outros países latino-americanos e de países da África subsaariana. 9
e 1. O índice de Gini é
igual a 0 quando todas
Após sucessivas recessões no Brasil, a pandemia da Covid-19 veio agravar
as pessoas ou famílias
têm exatamente ainda mais a situação da economia, cujo crescimento já estava em níveis
a mesma renda,
uma situação de abaixo dos anos 1980, período que os estudiosos chamam frequentemente
igualdade completa.
O índice é igual a 1 na de “década perdida”. 10
situação de completa
desigualdade, quando
uma pessoa ou a Esse contexto afeta diretamente famílias com crianças pequenas, que são
família tem toda
especialmente sensíveis a choques negativos de renda. 11 Durante a primeira
a renda do país e
todas as outras têm infância, elas passam por um período sensível de desenvolvimento cerebral,
uma renda igual a
zero. Ou seja, quanto em que são vulneráveis a fatores ambientais como estresse familiar,
mais o indicador se
aproxima de 1, maior é violência doméstica e má nutrição.
a desigualdade.
Por outro lado, o cérebro das crianças pequenas possui alta capacidade
de se recuperar por meio de intervenções específicas.17 Nesse sentido,
20%
2001 2006 2011 2016 2021
Até ensino médio incompleto Ensino médio completo
Análise: em 2001, o
41%
indicador era de 35,6% entre
39% pessoas negras e indígenas
responsáveis pelo domicílio,
37%
maior do que o índice entre
35% os brancos e amarelos, de
32,3%. A partir de então, ele
33%
sofre sucessivas quedas.
31% Em 2021, esse indicador
saltou para 34%, valor bem
29%
próximo do de 20 anos
27% atrás, enquanto no grupo
dos brancos e amarelos
25%
2001 2006 2011 2016 2021 ele se reduziu para valores
próximos a 25%.
Brancos e Amarelos Negros e Indígenas
7%
2001 2006 2011 2016 2021
FONTE: Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil divulgados
em 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSA).
Análise: as desigualdades
entre grupos mais e menos
15%
escolarizados aumentaram.
Em 2001, a incidência de
pobreza extrema era muito
10% maior entre os menos
escolarizados. Em 2020, ela
cai e as diferenças entre os
grupos com mais e menos
5% escolaridade diminuem. No
entanto, em 2021, a pobreza
extrema aumenta entre
0%
os que não completaram
2001 2006 2011 2016 2021 o ensino médio e alcança
15%. No grupo com maior
Até ensino médio incompleto Ensino médio completo
escolaridade, por sua vez,
ela não chega a 6%.
Fonte: PNADC/IBGE; Rocha, Franco e IETS (s.d.); IPCA/IBGE
• No período recente, entre 2014 e Isso significa que 2,3 milhões delas vivem
2019, o Brasil apresentou aumento da em lares sem renda suficiente para suprir
desigualdade de renda e persistência do suas necessidades diárias de calorias.
percentual de pobres e, especialmente,
dos extremamente pobres entre as • Há evidências de que, em 2020, o Auxílio
pessoas em domicílios com crianças Emergencial (AE) tenha contribuído para
pequenas. a redução da pobreza e da desigualdade,
porém trata-se de um programa
• Em 2019, a inequidade de renda entre temporário e criado como resposta aos
essas famílias chegou a um nível efeitos da pandemia. Em 2021, a pobreza
semelhante ao de meados dos anos aumentou consideravelmente, após o fim
2000, e a proporção de crianças de 0 a do programa.
6 anos extremamente pobres foi de 11%.
Principais resultados:
• Além de ter efeitos negativos sobre a pobreza27,28, há consenso entre
os pesquisadores sobre os efeitos do Programa Bolsa Família em reduzir
a mortalidade infantil ou de crianças de até 5 anos de idade, em especial
de mortes causadas por desnutrição ou diarreia. 29,30,31,32,33,34
• O Bolsa Família também diminui a mortalidade de mães. 35 Uma
das explicações é que o programa aumenta a proporção de partos
em hospitais35 e diminui a porcentagem de mulheres que não realizam
nenhuma consulta durante os nove meses de gestação. Isso porque
grávidas que recebem o benefício tendem a realizar maior número
de consultas pré-natal.36
• Há, ainda, efeito sobre o aumento da cobertura vacinal de crianças
de até 6 anos de idade.37
• Existem evidências de que o programa também reduz a insegurança
alimentar e melhora o estado nutricional de crianças e jovens. 36,38,39
Cenário atual:
O programa foi encerrado em outubro de 2021 para dar lugar ao Auxílio
Brasil sem nenhum tipo de discussão pública sobre os cuidados necessários
para garantir a continuidade dos avanços gerados pelo Programa Bolsa
Família. Implementado a partir de novembro de 2021, o novo auxílio foi
criado com o objetivo de ampliar a abrangência do Bolsa Família, pelo
aumento dos limites de renda per capita familiar mínima para a adesão ao
programa. No entanto, a falta de um debate claro e cuidadoso antes da sua
implementação sobre se ele manteria os efeitos positivos alcançados pelo
Bolsa Família representa riscos para as populações mais vulneráveis. Depois
de poucos meses de operação, são necessários estudos rigorosos para
avaliar os reais efeitos do Auxílio Brasil.
CRECHE
0-3
TAXA LÍQUIDA
DE MATRÍCULA
40%
30%
20%
10%
PRÉ-ESCOLA
4-5
TAXA LÍQUIDA
DE MATRÍCULA
95%
90%
85%
80%
75%
70%
65%
Creche Pré-escola
100%
Diferença
80%
60%
40%
Diferença
20%
0-3
Cálculo
TAXA LÍQUIDA
Dados do PNAD
DE MATRÍCULA
0% Dados do Censo Escolar
2011 2013 2015 2017 2019 2021 2011 2013 2015 2017 2019 2021 40%
30%
Fonte: Observatório do PNE, Censo Escolar e IBGE.
20%
10%
ESCOLA DE
450
EDUCAÇÃO INFANTIL
MIL CRIANÇAS
podem estar fora
do sistema formal
de pré-escola
FONTES: Dados inéditos elaborados para esta publicação, que comparam as taxas
de cobertura aferidas utilizando os dados da PNAD e do Censo Escolar (2011 a 2021).
TAXA LÍQUIDA DE MATRÍCULA (TLM) NA REDE PÚBLICA E PRIVADA NO BRASIL ENTRE 2017 E 2021
Ações prioritárias:
■ A busca deve ser realizada pelas redes públicas municipais, com apoio
dos entes estaduais, já que a oferta da pré-escola é obrigatória.
Saiba mais no guia “Busca Ativa Escolar” lançado em agosto de 2022 pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com o apoio do Colegiado
Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). A
publicação mostra como cada setor da política pública pode colaborar
de forma decisiva – e dentro de suas próprias rotinas, competências e
atribuições – para o enfrentamento das causas da exclusão escolar.
Ações prioritárias:
■ Na educação infantil, é importante que os professores avaliem
as necessidades de aprendizagem para o pleno desenvolvimento
da criança, considerando suas singularidades, com o objetivo
de criar planos para garantir o aprendizado de todas.
Ações prioritárias:
■ A ampliação deve ser feita utilizando indicadores de demanda por
vaga combinados aos de renda, raça/cor e vulnerabilidade. Em outras
palavras, o gestor deve identificar as regiões com maior demanda
e priorizar aquelas com crianças mais vulneráveis, como indígenas,
quilombolas ou ribeirinhas das áreas que mais precisam.
Ações prioritárias:
■■ Implementar ferramentas de monitoramento da qualidade em toda a rede.
As menores médias foram observadas nas regiões Sudeste e Sul, com 11,7
e 10,1, respectivamente; e na região Centro-Oeste a taxa foi de 13,0.70
100
80
40
20
0
Poliomielite BCG Tríplice viral D2
22,9 %
2013 PROPORÇÃO DE FAMÍLIAS COM CRIANÇAS DE
ATÉ 10 ANOS DE IDADE EM SITUAÇÃO DE FOME
2020 9,4%
2021/2022 18,1 %
FONTES: Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – PENSSAN. II Inquérito Nacional sobre
Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil [livro eletrônico]: II VIGISAN : relatório final.
São Paulo: Fundação Friedrich Ebert/Rede PENSSAN, 2022.
Branca 40 % 60 %
CASO | Índice município amigo da primeira infância monitora diferentes aspectos do cuidado
Ações prioritárias:
■■ Melhorar a infraestrutura dos domicílios em que as crianças vivem,
garantindo acesso a saneamento básico e água de qualidade, com
priorização de regiões com baixa cobertura desses serviços, buscando
reduzir alguns dos importantes fatores de risco para desnutrição e
mortalidade.
■■ Garantir a oferta de alimentação escolar adequada e, ao mesmo
tempo, melhorar o ambiente alimentar nas comunidades, fortalecendo
a produção e o comércio de alimentos saudáveis, disponibilizando
equipamentos públicos como restaurantes populares e reforçando
as políticas de aleitamento materno, de acordo com as recomendações
para a infância.
CONQUISTAS
Há avanços importantes que merecem destaque e ampla divulgação para
fomentar a sua continuidade. Entre eles estão:
DESAFIOS PERSISTENTES
Contudo, os dados apresentados em todas as seções não deixam dúvidas:
revelam um cenário de desigualdades que permanece na primeira
infância, como aquelas relacionadas às regiões do país, às características
socioeconômicas das famílias e à cor/raça das crianças, como se vê a seguir.
Os impactos da Estratégia Saúde da Família para o desenvolvimento infantil e os desafios para a sua manutenção 57
■■ Os números mostram que há ainda grandes e consistentes diferenças
regionais e que, apesar dos avanços, os indicadores de saúde e educação
na primeira infância permanecem piores nas regiões Norte e Nordeste.
AÇÕES PRIORITÁRIAS
Ao longo das quatro seções, o documento apresenta uma lista das ações
consideradas prioritárias em cada tema que podem servir de guia para a
agenda dos gestores públicos nos próximos anos. Dentre elas, destacam-se:
Atualmente, 2,3 milhões de crianças estão em domicílios que não têm renda
suficiente para satisfazer suas necessidades diárias de calorias. As pesquisas
mostram que essa situação de pobreza pode impactar toda a vida adulta
dessas pessoas. É mais provável que tenham filhos durante a adolescência,
abandonem a escola, não consigam completar todas as etapas do ensino
e que terminem em prisões14,59.
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matou crianças brasileiras. Revista
piauí, 2022.
/nucleocienciapelainfancia
/nucleocienciapelainfancia
/company/nucleocienciapelainfancia
@nucleocienciapelainfancia
ISBN 978-65-996065-8-8
9 786599 606588
www.ncpi.org.br