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A Natureza Constitucional do Homem [23]

por

Heber Carlos de Campos

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Houve sempre dois conceitos predominantes na história da


igreja com respeito à composição da natureza essencial do
homem: dicotomia e tricotomia. Historicamente, especialmente
nos círculos cristãos, concebeu-se o homem composto de duas
partes: corpo e alma. No decorrer do desenvolvimento do
pensamento cristão, contudo, apareceu outro conceito que
compunha o homem de três partes: corpo, alma e espírito — a
tricotomia. Este último movimento apareceu com a influência
da filosofia grega, que concebeu a relação entre o corpo e o
espírito ligados entre si por meio de uma terceira substância, ou
um terceiro elemento, que é a alma. A alma era considerada,
por um lado, como imaterial quando relacionada com o espírito
e, por outro lado, material, quando se relacionava com o corpo.
“A forma mais familiar e mais crua da tricotomia é a que toma o
corpo como a parte material humana, a alma como o principio
da vida animal, e o espírito como o elemento racional e imortal
que há no homem para relacionar-se com Deus.” [24] Berkhof
ainda diz: “A alma se apropriava do “nous” (ou pneuma) se fosse
considerada como imortal; mas se fosse relacionada com o
corpo, ela era carnal e mortal.” [25] O pensamento tricotômico
encontrou apoio em vários pais da igreja grega, nos primeiros
séculos da era cristã. O pensamento dicotômico já teve seus
adeptos na igreja ocidental ou latina, como por exemplo, em
Agostinho. Na Idade Média, foi crença comum a dicotomia. Na
Reforma aconteceu o mesmo, exceto uns poucos estudiosos.

Base Escriturística da Natureza Constitucional do Homem

A apresentação que a Escritura dá do homem não é a de uma


tricotomia (embora haja dois textos que pareçam favorecer essa
corrente), nem da dicotomia (embora muito mais textos
favoreçam, como veremos, a apresentação dicotômica), mas é a
da unidade do homem. Cada ato do homem contempla-se como
sendo um ato do homem completo. Não é a alma que peca, mas
o homem que peca; não é o corpo que morre, mas o homem que
morre; não é a alma que Cristo redime, mas o homem. O
homem é uma unidade. Portanto, quando a Escritura fala do
corpo, ela está falando do homem; quando fala da alma, está
falando do homem; ou quando fala do coração, está falando do
homem. A concentração das Escrituras não é nas partes que
compõem o homem, mas na unidade que cada parte apresenta.
Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim
que a Bíblia o apresenta.
Analisaremos o material bíblico debaixo dos seguintes tópicos:

1. O homem é Corpo (Adão foi criado um ser material)

2. O homem é Alma (Adão foi criado um ser espiritual)

3) O homem é Coração.

Antes da exposição destes três tópicos, vejamos as palavras


hebraicas e gregas usadas para os termos:

a) Corpo no VT — rfpf( ('apar) = pó


rf&fB (basar) = carne
hfl"b:n (nebhlah) = corpo (cadáver)
Corpo no NT — sw=ma
b) Alma no VT - #pn (nephesh)
Alma no NT — yuxh\n
c) Espírito no VT — axUr (ruah)
Alma no NT — pneu=ma
d) Coração VT — bfb"l (lebhabh)
b"l (lebh)
Coração no NT — kardi/a

1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser material ou


físico)

a) Considere a ênfase sobre homem nos seguintes


textos: Gn 2.7 — “Então, formou o Senhor Deus ao homem do
pó (rfpf() da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o
homem a passou a ser alma vivente.”Esta é a primeira
informação a respeito da natureza constitucional do homem.
Neste verso nos é dito que o ser humano possui uma natureza
física ou material. Antes dele ser “alma vivente”, já é dito que ele
é homem. Contudo, quando o autor sagrado fala dessa natureza
ele não está pensando numa parte do homem, mas do homem
na sua unidade.Gn 3.19 — “Do suor do rosto comerás o teu
pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque
tu és pó (rfpf() e ao pó tornarás.”Este outro verso de Gênesis
mostra a materialidade que o homem é. Antes de botar a “alma
vivente” Deus fez o homem. Novamente posso afirmar que o
autor quis mostrar a natureza terrena do homem, não enfatizar
que ele tem um corpo. Esse corpo (pó) é o homem. Esse
elemento de unidade não pode ser perdido de vista quando se
estuda este verso. Nesses textos acima, embora se esteja
falando da parte física do homem, que é o seu corpo, a ênfase é
no homem como uma unidade.Jó 34.15 — “Toda a carne
juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó.”Novamente
aqui a ênfase recai sobre o elemento físico ou material do
homem, considerando-o como uma unidade. A verdade é que
quem expira é o homem, não o corpo. A morte é do homem, não
do corpo. Essa é a grande dificuldade que muitos ministros da
Palavra enfrentam quando vão oficiar uma cerimônia fúnebre.
Partamos do pressuposto que a pessoa que morreu seja cristã.
O oficiante geralmente fala de Fulano que foi estar com Cristo,
como se a pessoa consistisse unicamente da sua alma. “O corpo
do Fulano”, diz o oficiante, “vai ser enterrado, mas o Fulano já
está no céu”, como se o corpo não fosse o homem, ou como se o
homem não fosse corpo. Embora a morte separe o homem
(alma) de si mesmo (corpo), devemos sempre pensar no ser
humano como uma unidade. Quem morre é o homem (não o
corpo) e quem ressuscita é o homem (não o corpo). A morte é a
separação do homem de si mesmo, enquanto que a ressurreição
é reunião do homem consigo mesmo. Isto se dará somente no
dia final, quando haverá a completação da salvação do pecador.

b) Considere a expressão: “O homem é espirito, mas ele tem


um corpo”. Não seria mais próprio dizer que o “homem é
corpo”? A Escritura indica que o corpo representa o homem
como uma unidade e também como um ser total, completo. O
corpo não é um mero acessório (apêndice, departamento), nem
é a prisão da alma (ou espirito). Se dizemos que o ser humano é
um espirito que tem um corpo, o corpo não tem muita
importância. Mas não é esta a idéia que a Escritura dá do
corpo, como já vimos acima.

c) Veja as seguintes observações sobre esta


doutrina: Quando a Bíblia ensina que Adão foi feito “do pó da
terra” (Gn 2.7), está claramente afirmada a natureza material
do homem. Desde o principio houve uma identificação,
harmonia e continuidade com este mundo. O homem é terreno.
Portanto, todas as noções gnósticas da criação material como
pecaminosas, devem ser terminantemente rejeitadas. Deus não
somente declarou a criação material “muito boa” (Gn 1.31), mas
fez o homem de elemento material. Vários textos do NT São
respostas às heresias gnósticas, nas quais o universo material
era mau. Veja a luta de Paulo e João contra as heresias
gnósticas em Cl 1.19; 2.9; 1 Jo 1.1; 4.2; 5.6-8. Esta é a razão
porque Paulo, quando fala da morte, diz a respeito do anelo
próprio do crente em assumir um outro corpo, porque seria algo
anormal não querê-lo (2 Co 5). A morte é um estado anatural
para o homem. E natural para o homem sempre ser corpo. Na
morte, o homem fica sem o que é muito importante nele, o
corpo, que é a devida expressão da alma. E de grande
importância para nós o estado de Cristo ressuscitado ser
corporal, e o nosso estado final vai ser similar ao dEle. No novo
céu e na nova terra, viveremos em plenitude a nossa
humanidade perfeita.“O corpo não é para ser considerado, como
os antigos filósofos pensaram dele, como a prisão material, da
qual o homem deveria ficar feliz se pudesse escapar na morte.
Ele (o corpo) é parte de si mesmo: uma parte integral de sua
personalidade total, e corpo e a alma em separação, não
completam o homem.” [26]O ser humano não funciona melhor
sem o corpo. O corpo é o veículo adequado para a expressão da
alma. Essas duas realidades São o homem e o homem é essas
duas realidades. E verdade que a criação material foi
amaldiçoada por causa do pecado, tanto os elementos da
natureza como o corpo humano, mas não por causa da
materialidade dele (porque os anjos foram pecaminosos, sem
terem qualquer forma corporal). A materialidade humana nunca
deve ser considerada (como infelizmente alguns o fazem) a parte
mais baixa da natureza humana, e a parte espiritual (imaterial)
a mais elevada. Ambas as criações, material e espiritual, São
igualmente boas e igualmente importantes, porque ambas
vieram de Deus e vão para Deus (1Co 6.14-15). Ambas as
partes, igualmente, foram corrompidas pelo pecado e têm que
ser redimidas. Freqüentemente, num pensamento
pecaminosamente distorcido, o espiritual é identificado com
Deus e o material com o diabo. E bom ser lembrado que
Satanás é espiritual (imaterial), e que sua esfera de ação é no
mundo material. A materialidade humana, portanto, jamais
deve ser identificada com o mal, pois a matéria não é má. Ela é
criação de Deus. Corpo e espírito não São antitéticos (isto é,
opostos entre si). Não há necessariamente qualquer conflito
entre esses dois aspectos da natureza humana.

2. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterial ou


espiritual)

Não podemos deixar de fazer referência a esse aspecto tão


importante da composição da natureza humana. Este é o outro
lado da mesma moeda. Ambos os elementos, o material e o
imaterial, aparecem na narrativa da criação: Adão foi formado
do pó da terra, mas somente quando o espírito foi soprado é que
Adão foi tornado “alma vivente”. O fato de Adão ser “alma
vivente” não foi único. Em Gn 1.21, 24 e 30 o mesmo é dito de
outras criaturas vivas não humanas. O único ponto digno de
nota na criação do homem é a maneira pela qual Deus fez isso.:
Ele soprou em Adão o espírito da vida. Este ato da parte de
Deus foi pessoal, direto, singular, que distinguiu a criação
humana (e a vida humana) das outras vida animadas (Gn 2.7).
O homem pertence aos dois mundos, ao espiritual e ao físico. O
sopro da vida animada mostra que o homem é mais do que
corpo. O próprio Deus deu vida ao corpo por soprar o espírito
nele. Este ato especial aponta para um caso especial. Este
soprar do espírito é a fonte da vida animada, e sem ela o
homem propriamente pode ser chamado de morto (Tg 2.26). Há
uma referência óbvia a Gn 2.7 em Ec 12.7 onde se lê: “e o pó
volte a terra como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” —
Está claro que o uso que o autor de Eclesiastes fez do Gênesis
refere-se à natureza dupla do homem. Diferentemente dos
animais, Adão foi formado de um elemento tomado da terra (pó)
e um elemento que veio diretamente de Deus, que Ele “deu”. Na
morte, estes dois elementos novamente se tornam distintos, e
retornam às suas fontes distintas. Está claro também que o
autor de Eclesiastes entendeu que a vida humana diferiu da
vida animal em sua fonte e composição. Ec 3.20-21 diz: “Todos
vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó, e ao pó
tornarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens
se dirige para cima, e o dos animais para baixo, para a terra?”
— Aqui, o principio que anima é mencionado e usado para
ambos os casos, mas há uma clara distinção entre os dois, o
homem e os animais: o espírito do homem vai para cima, para
Deus que o deu (Ec 12.7), enquanto que a “alma” do animal
desce para a terra, de onde veio (Gn 1.24 — “produza a terra
seres viventes (hfYah $epen) conforme a sua espécie...”). O
espírito humano, então, é separado do corpo humano na morte
por causa dos aspectos singulares que ele recebeu na criação
(ele veio diretamente de Deus, de cima), enquanto que o poder
animador das outras criaturas é preso aos seus corpos, e
ambos deixam de existir como constituintes daquele animal,
sendo sepultados na terra. Este assunto, o da natureza dual do
homem, tem conduzido os estudiosos àquilo que, infelizmente,
tem sido chamado de dicotomia e tricotomia. A questão do
número dos elementos distintos que compõe a natureza
humana é muito importante, mas o foco tem sido o da
separação, como os termos dicotomia e tricotomia claramente
indicam.

A Unidade do Homem

A ênfase das Escrituras, contudo, é sobre a unidade desses


elementos. O homem não é o que é sem o corpo, e nem pode ser
o que é sem a alma.“Corpo e alma existem somente em e um
para o outro; o corpo não é um corpo, mas o corpo da alma; a
alma não é uma alma, mas a alma do corpo; na nossa
consciência do 'eu' os dois são um...O homem é uma unidade,
não uma junção de duas partes separadas ou mesmo
faculdades separadas, e a Bíblia trata com ele como tal.” [27]É
por isso que neste estudo preferiremos o termo duplo ou dúplex,
ao nos referirmos à natureza humana, ao invés da idéia
tradicional da dicotomia. Os termos duplo ou dúplex enfatizam
a unidade dos elementos, antes que sua separação. O número
desses elementos que compõe a natureza humana é importante,
por causa das diferenças práticas que resultam em problemas
sérios, dependendo da posição que se toma. O psicólogo cristão
Clyde Narramore, por exemplo, mostra que sua tricotomia o
levou a um ponto insustentável biblicamente. No
aconselhamento ele diz que o corpo deve ser tratado pelo
médico, o espírito pelo pastor, e a alma pelo psicólogo. E
estranha tal separação na Escritura. A Escritura não permite a
visão triplex (tríplice) do homem. Quando há separação é só por
causa da morte, mas a ênfase é sobre a unidade. Além disso, na
separação da morte, só há dois elementos. Em adição a Gn 2.7,
examine Mt 10.28. Nesse verso de Mateus, é ensinado que o
todo (a totalidade) do homem sofre no inferno. A verdadeira
ênfase é sobre a totalidade (unidade) do homem sofrendo e não
apenas o corpo ou a alma. A afirmação "alma" e "corpo" mostra
que a natureza humana é dúplex (veja outro exemplo em 1 Co
7.34b).Vejamos este ensino de maneira sistemática:

A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE ENTRE


CORPO - ALMA E/OU CORPO-ESPÍRITO.

(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA


(ESPIRITO),Contudo, esta distinção só entrou em uso mais
tarde, debaixo da filosofia grega. A idéia é de que as duas partes
formam uma unidade, um conjunto harmonioso — o homem,
um ser que vive.Gn 3.19 — (após a queda com respeito à
maldição) — “...tu és pó e ao pó tornarás.”A ênfase neste verso
cai na parte física, mas o intento de Deus é tratar o ser humano
como uma unidade. O particular é tomado como sendo a
totalidade.Ec 12.7 — “e o pó (rfpf( - corpo) volte à terra, com o
era, e o espírito (axUr) volte a Deus, que o deu.”Este verso já
mostra o homem com uma composição dúplex, mostrando a
sua origem. Ambas as partes, material e imaterial vieram de
Deus.Jó 32.8 – “Na verdade há um espírito no homem (corpo), e
o sopro do Todo-Poderoso o faz entendido.”Neste verso de Jó a
ênfase cai sobre a parte material (corpo), que é chamada de
“homem”. Contudo, a parte imaterial, o espírito, foi colocado no
homem por Deus. Portanto, este verso trata da composição
dúplex da natureza humana, embora dê mais força ao aspecto
material. A mesma ênfase vem neste verso seguinte, do mesmo
autor: (Jó 33.4) – “O Espírito de Deus me fez: e o sopro do Todo-
Poderoso me dá vida.”

(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA


(ESPIRITO):

1 Co 2.11 – “Porque qual dos homens sabe as cousas do


homem, senão o seu próprio espírito que nele (corpo) está?”A
mesma ênfase dada no VT está agora no NT. A parte enfatizada
aqui é o corpo porque ela é chamada de “homem” e que “nele”
está o espírito. Contudo, o intento de Paulo é falar da unidade,
embora os dois elementos apareçam claramente nesse verso.
Certamente o propósito de Paulo é tratar da capacidade
perscrutadora do espírito humano, mas deixa evidente a
composição dual da natureza humana.Mt 10.28 – “Não temais
os que matam o corpo (soma) e não podem matar a alma (yuxh\n)
temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma como o corpo.”Jesus Cristo está ensinando neste verso
sobre o poder de Deus em contraste com o poder dos homens.
Obviamente, ele usa o linguagem comum das pessoas quando
fala da morte do corpo, pois o corpo fica inerte sem a presença
da alma. Contudo, quando Deus exerce o seu poder ele pode
fazer perecer tanto o aspecto físico como o aspecto espiritual do
homem. A idéia de morte ai é de separação, não de extinção. O
mesmo acontece se fala da morte do corpo: é a separação dele
da alma — por isso o homem fica sem vida. Sem entrar mais do
mérito desta questão, o texto mostra essa distinção entre as
duas partes constituintes da natureza humana. E exatamente
essa mesma idéia que Tiago mostra no verso a seguir: Tg 2.26
— “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim
também a fé sem as obras é morta.”Mesmo embora ele esteja
falando da morte do corpo (que é a separação do homem de si
mesmo), o texto nos ensina sobre a composição dual da
natureza humana.1 Co 7.34 — “.. Também a mulher, tanto a
viúva quanto a virgem, cuida das cousas do Senhor, para ser
santo, assim no corpo como no espírito.”A pureza de uma
mulher, segundo Paulo, em qualquer estado civil que possa
estar, deve produzir uma vida que evidencie a santidade cristã
na totalidade do seu ser: no material e no espiritual.2 Co 7.1 —
“Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de
toda impureza, tanto da carne (sarko\j) como do espírito
(pneu/matoj) aperfeiçoando a nossa santidade no amor de
Deus.”Este verso de Paulo aos Coríntios é muitíssimo claro
quanto à obra santificadora do Senhor que é feita na totalidade
do homem, isto é, na sua parte material como na imaterial.
Deus realiza a obra da redenção. Assim como a santificação é
uma obra de Deus, também ela é um dever do homem que deve
ser puro tanto na sua natureza física quanto na sua natureza
espiritual.Mt 26.41 — “…o espírito, na verdade, está pronto,
mas acarne é fraca.” Jesus ensina sobre o dever de orar e vigiar
e, ao fazê-lo, ensina sobre a fraqueza da natureza humana. É
provável que espírito esteja ligado com uma nova natureza e
que carne significa as fraquezas de nosso ser. Seja como for, a
idéia da composição dúplex não deve ser deixada de lado,
mesmo neste texto que pode ter dupla interpretação.

B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO, DISTINGUIR


OS TERMOS ALMA E ESPÍRITO.
Sem dúvida, há duas passagens que parecem contradizer a
idéia da apresentação da composição dual da natureza
humana. São os dois únicos textos usados pelos chamados
tricotomistas: 1 Ts 5.23 e Hb 4.12. A pergunta levantada é esta:
“Não ensinam estes dois textos sobre a separação de alma e
espírito, o que indica uma tríplice concepção do homem?” A
resposta é enfaticamente, “não”!!!

a) Vejamos, primeiro, Hb 4.12. “Porque a palavra de Deus é


viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito (yuxh=j
kai\ pneu/matoj), juntas e medulas, e apta para discernir os
pensamentos e os propósitos do coração.”A Palavra de Deus, a
Escritura, é como uma espada aguda, de dois gumes, que
penetra bem fundo, ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e
medulas. Diz o tricotomista: “Se a Bíblia afirma a possibilidade
de separar alma de espírito, por que não podemos fazer?” - O
fato é que o pensamento grego não está dizendo realmente isso.
O problema não é de tradução. O texto grego não diz que a alma
é separada do espírito, ou que as juntas podem
serseparadas das medulas. Ao contrário, o que é dito é que a
Palavra de Deus divide o espírito e também a alma, assim como
as juntas e as medulas. Os escritor, de mentalidade hebraica,
está usando paralelismos, utilizando-se de sinônimos para
reforçar a idéia da natureza tanto material como espiritual do
homem. Ele fala de “alma” e “espírito” e de “juntas” e “medulas”,
mostrando a composição dual, não tríplice da natureza
humana. Esse paralelismo também se evidencia na idéia básica
do texto de que a Palavra de Deus penetra profundamente, o
suficiente para discernir no ser mais interior do homem, que é o
coração, onde o autor usa duas idéias similares - os seus
pensamentos e propósitos (vv. 12c e 13). O quadro aqui fala em
dividir as juntas, medulas, alma e espírito. Observe que há
duas categorias básicas aqui: material (juntas e medulas) e
imaterial (alma/espírito), não três. Exatamente como os
“pensamentos e propósitos” do coração não podem ser
divididos, mas São colocados juntos, abrangentemente, a fim de
expressar o aspecto total do intelecto, assim espírito e alma São
mencionados para mostrar que nenhum aspecto do interior do
homem está além do poder penetrante da palavra de Deus.

b) Vejamos agora 1 Ts 5.23. “O mesmo Deus vos santifique em


tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados
íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo.”Novamente a ênfase do texto não está sobre o número
dos elementos que compõe a natureza humana, nem como
podemos dividi-la. Antes, está sobre a totalidade do homem.
Poderíamos traduzir este verso, da seguinte maneira:“ O mesmo
Deus vos santifique em tudo (completamente); e o vosso
ser total (corpo, alma e espírito), seja conservado integro e
irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”Paulo
aqui não está dividindo, mas unindo. Se você não se conforma
com essa argumentação, mas crê que Paulo está somando ao
corpo a alma e o espírito, formando três partes, o que você faria
com os seguintes textos: Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27? Estes
textos falam de alma, coração, força e entendimento. Você
acresceria essas partes mencionadas à composição do homem?
Naturalmente que não! A Escritura usa freqüentemente dois,
três ou até quatro termos sobre a natureza imaterial do homem,
para enfatizar a idéia de totalidade. E necessário que
observemos o sentido da passagem à luz de toda a verdade, vê-
la à luz de seu propósito e não daquilo que queremos que o
texto diga.

C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS TERMOS


ALMA E ESPIRITO INDISTINTAMENTE

(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a


referência é a uma pessoa desincorporada.

a) Nos texto abaixo as pessoas desincorporadas São chamadas


de espírito: Todas as pessoas que morrem, isto é, que têm a sua
natureza material separada da sua natureza imaterial, São
consideradas como “espíritos”. Na morte de qualquer ser
humano, aplica-se a velha máxima do sábio Salomão em Ec
7.12- “E o pó ('apar) volte à terra, como o era, e o espírito volte a
Deus que o deu.” Tanto os homens comuns como o Salvador
deles provaram a mesma experiência:Lc 23.46 — “Então, Jesus
clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
E, dito isto, expirou.” Desde a encarnação, o Redentor é vere
Deus e vere homo, possuindo as duas naturezas — a divina e a
humana. Como homem, ele possuía os dois aspectos da
natureza humana — o material e o espiritual. Quando o
Redentor morreu, seu corpo foi para a sepultura e o seu espírito
(que não é o Espírito Santo) voltou para Deus, até que ele
ressurgiu ao terceiro dia. Nesse período essa pessoa
desincorporada era um espírito.At 7.59 — “E apedrejavam a
Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu
espírito (pneu=ma/ mou).” Quem morreu apedrejado foi Estevão,
seu corpo ficou inerte porque foi separado do seu espírito. Essa
parte, que veio diretamente de Deus, voltou para Deus onde
goza da alegria até que a redenção se complete. Mas é o espírito
de Estevão que está com Deus.Hb 12.23 — “… e igreja dos
primogênitos arrolados no céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos
espíritos dos justos (pneu/masi dikai/wn) aperfeiçoados.”Todos
aqueles que fazem parte dos remidos, que já morreram com
Cristo, estão na presença de Deus gozando de suas delicias,
sendo “justos e aperfeiçoados”, São chamados de “espíritos”.

b) Nos textos abaixo uma pessoa desincorporada também é


descrita na Escritura como alma:Esta observação cabe tanto
aos homens comuns como ao Redentor deles. At 2.27 —
“Porque não deixarás a minha alma (yuxh/n) na morte, nem
permitirás que o teu santo veja corrupção.”Como humano que
também era, Jesus possuía o seu corpo que foi sepultado,
separado de sua alma até o terceiro dia. Perceba que o texto fala
da morte da alma. Ora, morte significa separação. O que o
escritor bíblico profeticamente diz é que o Senhor Deus não
haveria de deixar a alma humana do Redentor no estado de
morte, isto é, no estado de separação do seu corpo. Nem o seu
corpo haveria de experimentar corrupção. A razão dessa
incorrupção física e da alma não poder ficar par sempre no
estado de morte é que ambos os aspectos da natureza humana
do Redentor estavam indissoluvelmente ligadas à sua natureza
divina, ao Logos. Portanto, quando houve a morte do Redentor,
estando desincorporado, ele foi chamado de “alma”, que é a
mesma coisa que “espírito”.Ap 6.9 — “...vi as almas (yuxa\j)
daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de
Deus.”Ap 20.4 — “vi ainda as almas (yuxa\j) dos decapitados por
causa do testemunho de Jesus...”Esses dois textos acima falam
da situação dos remidos do Redentor. Quando eles morrem, e
nestes textos há o motivo de suas mortes, eles São separados de
si mesmos. O físico deles repousam na sepultura e espírito
deles vai estar com Deus. No entanto, quando desincorporados
eles São chamados de “almas”, o que eqüivale a “espíritos”.

Obs.:

a) Note que a Escritura apresenta a pessoa desincorporada


como espírito que é, auto-consciente, cônscio de sua identidade
pessoal: Lc 23.43; Lc 16.19-31; Fp 1.22-23; 2 Co 5.1-10
(especialmente vv.6-8).

b) quando se fala de almas ou espíritos das pessoas


desincorporadas, deve se ter em mente que o escritor bíblico
tem como meta falar de pessoas em sua unidade, não somente
uma das partes delas.

(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a


referência é a expressões de emoção e de devoção.

Esta argumentação que se segue destrói qualquer possibilidade


de alguém reivindicar a tese tricotomista. A Escritura é a
intérprete de si própria. Ela mesma dá as respostas às nossas
inquirições.

(a) A Dor faz alusão tanto à alma como ao espírito: isto está
claro nos ensinamentos sobre a pessoa de Jesus Cristo:Este
ponto pode e deve tanto ser aplicado aos homens comuns como
ao Redentor deles. Vejamos primeiro sobre Jesus: Jo 12.27 —
“Agora está angustiada a minha alma (yuxh/), e que direi
eu?...”Jo 13.21 — (após lavar os pés dos discípulos) – “Ditas
estas cousas, angustiou-se Jesus em espírito (pneu/mati).”Esses
dois textos acima falam de uma situação de sofrimento
angustiante de nosso Redentor. De acordo com o ensino geral
dos tricotomistas, somente a alma deveria ser a portadora dessa
angústia. Contudo, como esses termos São usados
indistintamente, tratando da mesma natureza espiritual do
homem, é dito também que o espírito estava angustiado. Mt
26.38 — (No Getsêmani) – “Então lhes disse: a minha alma
(yuxh/ mou) está profundamente triste até a morte...”Mc 8.12 —
(quando os fariseus pediram um sinal) – “Jesus, porém,
arrancou do intimo do seu espírito (pneu/mati au)tou=) um gemido,
e disse: por que pede esta geração um sinal?...”O mesmo caso
se aplica nestes dois textos acima. A emoção chamada “tristeza”
que normalmente é atribuída pelos tricotomistas à alma, a
Escritura atribuí ao espírito, porque as duas palavras São
indicativas da mesma coisa — a natureza imaterial do homem.
(Obs.: note que o uso que Marcos faz de espírito é menos
intenso do que na situação de Mateus, quando este usa a
palavra alma. Isto é uma grande dificuldade para quem pensa
tricotomísticamente). Também no caso dos homens comuns, a
dor é atribuída tanto a alma como ao espírito.At 17.16 —
“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito (pneu=ma
au)tou=) se revoltava em face da idolatria reinante na cidade.”2
Pe 2.8 — (Sobre Ló em Sodoma) – “Porque este justo, pelo que
ouvia e via quando habitava entre eles, atormentava a sua alma
justa (yuxh\n dikai/na), cada dia, por causa das obras iníquas
daqueles.” Tanto Paulo como Ló, ao contemplar o mal, num
reflexo da imagem de Deus que já havia sido restaurada neles,
pois eram justos, sentiram dor que lhes atormentava a “alma”
(ou “espírito”- pois essas duas palavras São usadas
indistintamente) deles, pois é essa sensação dolorida que o
pecado causa na vida dos redimidos. Veja-se ainda Sl 77.3;
142.3; 143.7 - aplicando a dor ou a tristeza ao espírito.

(b) Alegria Ação de Graças estão relacionadas tanto à alma


como ao espírito:O escritor sacro narra uma ocasião quando
Maria deixa os tricotomistas numa situação muito embaraçosa,
pois ela inverte a ordem estabelecida por eles na distribuição
dos elementos distintos na natureza não material do homem.
Veja o que Maria, a mãe do Redentor, diz:Lc 1.46-47- “Então
disse Maria: a minha alma (yuxh/ mou) engrandece ao Senhor, e o
meu espírito (pneu=ma/ mou) exulta em Deus meu
salvador.”Segundo a teoria geral dos tricotomistas, o que é
próprio da alma é o sentimento, é atribuído ao espírito — “o
meu espírito exulta em Deus meu salvador”. E o que é próprio
do espírito, a adoração cristã, é atribuído a alma — “a minha
alma engrandece ao Senhor”.

Por que Maria faz esse uso “indevido” dessas palavras?


Obviamente, não há uso indevido. O que acontece é que não há
nenhuma autorização nas Escrituras para considerarmos essas
duas palavras — alma e espírito — como elementos distintos na
composição da natureza humana. Na adoração dos crentes
comuns é muito usada a expressão do Salmista no Sl 42.1-2 —
“Como a corça suspira pelas correntes das águas, assim, por ti,
ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma (yi$:pan) tem sede
de Deus, do Deus vivo...” — Todos os verdadeiros cristãos
adoram a Deus com todos os anelos de sua alma. Eles
poderiam perfeitamente usar duas outras palavras para
expressar a mesma idéia. Eles poderia dizer que suspiram pelo
Senhor com todo o seu coração ou com todo o seu espírito. São
termos usados indistintamente para expressar o mesmo
sentimento de adoração num desejo ardente por Deus.

(c) Adoração e Devoção São também atribuídos a ambos: alma e


espírito. Os textos abaixo criam uma dificuldade enorme para
aqueles que possuem uma mentalidade tricotomista, pois se a
regra for aplicada literalmente, os tricotomistas não mais
poderiam ser tricotomistas, mas pentatomistas, pois o verso
abaixo fala de cinco partes. Uma dela obviamente, se refere ao
corpo (“toda a tua força”). As quatro restantes dizem respeito às
partes imateriais do homem que deveriam ser consideradas
distintas se fôssemos aplicar a tese tricotomista. Veja o texto:
Mc 12.30 - (pergunta sobre o l.º grande mandamento) –
“Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração (kardi/aj
sou), de toda a tua alma (yuxh=j sou), de todo o teu entendimento
(dianoi/aj sou), e de toda a tua força (i)sxu/oj sou).Observe os outros
textos paralelos:

Mc 12.30 - coração, alma, entendimento, força

Mt 22.37 - coração, alma, entendimento,

Lc 10.27 - coração, alma, entendimento, força

Dt 6.5 - coração, alma, força

Obs.: Uma observação que não pode deixar de ser feita é esta: A
parte mais importante no nosso culto a Deus e na expressão de
nosso amor a Deus, segundo o entendimento tricotomistas é o
espírito do homem. Contudo, a ausência de espírito nestes
textos é um problema sério para o tricotomista. Perceba no
verso abaixo que o que é dito de um (espírito) é dito do outro
(alma) no que respeita ao esforço do cristão em preservar o
corpo de doutrinas que ele recebe, que aqui é chamado de “fé
evangélica”. Isto é assim porque não se trata de elementos
distintos, mas do mesmo elemento. Paulo, obviamente, está
usando um paralelismo hebraico. Fp 1.27 — “Vivei, acima de
tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo
ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que
estais firmes em um só espírito (pneu/mati), com uma alma
(yuxv=), lutando juntos pela fé evangélica.” Ef 6.5-6 — “Quanto a
vós outros, servos, obedecei a vossos senhores, segundo a carne
com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração (kardi/aj
u(mw=n) como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar
a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração (e)k
yuxh=j) a vontade de Deus.”Note: de todas as referências à dor,
alegria, adoração, perceba que o lugar dos exercícios espirituais
de um homem regenerado está, tanto na alma como no espírito.
Nenhum exercício espiritual da alma deve deixar de ser
atribuído ao espírito, porque ambos os termos significam a
mesma coisa — o aspecto imaterial do ser humano. E
importante ser observado que é a alma que tem anelos de Deus
em vários textos da Escritura (Sl 42.1-2; 62.1, 5, 8; 84.2; 86.4;
130.5-6; 143.6; Is 26.9.). Observe-se ainda que é a alma que é
devota a Deus (S1103.1, 2, 22; 104.1, 35; 108.1; 119.175;
143.8).

(3) Alma e espírito são usados indistintamente para


descrever o objeto da obra redentora e santificadora de
Cristo.

(a) Quem vai para o céu ou para o inferno é a alma ou o


espírito. A existência humana no futuro, seja em vida ou em
morte, isto é, em comunhão com Deus ou em separação de
Deus, é dita pertencer à alma ou ao espírito. Os dois textos
paralelos abaixo demonstram que a existência em morte
pertence à alma.Mt 16.26 — “Pois que aproveitaria o homem se
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma (yuxh\n)? Ou o que
dará o homem em troca de sua alma (yuxh=j au)tou=)?” (cf. Mc
8.36) Lc 12.20 — “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te
pedirão a tua alma (yuxh/n), e o que tens preparado, para quem
será?”Nos textos abaixo é dito que a existência em vida dos
cristãos pertence à alma. E curioso que, na concepção
tricotomista, quem vai para o céu é o espírito, não a alma. No
entanto, a Escritura usa o termo alma como equivalente a
espírito. Lc 21.19 — “E na perseverança que ganhareis as
vossas almas (yuxa\j u(mw=n).” Hb 10.39 — “Nós, porém, não
somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto,
da fé para a conservação da alma (peripoi/hsin yuxh=j).” Tg 1.21 —
“Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de
maldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada, a
qual é poderosa para salvar as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).” Tg
5.20 — “Sabei que aquele que converte o pecador do seu
caminho errado, salvará a alma dele (yuxh\n au)tou=) e cobrirá
multidão de pecados.”1 Pe 1.9 — “Obtendo o fim da vossa fé, a
salvação das vossas almas (u(mw=n swthri/na yuxw=n).” Ez 3.19 —
“Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua
maldade e do seu caminho perverso, ele morrerá na sua
iniquidade, mas tu salvaste a tua alma (!:$:pan)).”Nos dois textos
abaixo é mostrado que um cristão que morre vai para a vida
com Jesus. No entanto, a palavra usada aqui é “espírito” não
“alma”, como nos textos anteriores.At 7.59 — “E apedrejavam a
Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu
espírito (pneu=ma/ mou).” 1 Co 5.5 — “... seja entregue a Satanás
para a destruição da carne (sapko/j), a fim de que o espírito
(pneu=ma swqv=) seja salvo no dia do Senhor.”

b) A Santificação é da alma (ou espírito). A salvação é alguma


coisa que já aconteceu no passado, mas ainda é uma realidade
presente. Deus continua ainda a nos salvar. A isto a Escritura
chama “santificação”. O processo da santificação acontece com
a totalidade do seu humano, tanto da sua parte material como
da imaterial. Escrevendo aos Coríntios, Paulo deixa bem claro
esta verdade. A parte material ele chama de “carne” e a parte
imaterial ele chama de “espírito”. Estes são os únicos dois
elementos que compõem a natureza humana.2 Co 7.1 —
“Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de
toda impureza, tanto da carne (sarko\j), como do espírito
(pneu/matoj) aperfeiçoando a nossa santidade no temor de
Deus.”Pedro, no entanto usa, nos textos abaixo, a palavra
“alma” como sendo o locus da santificação que Deus opera em
nós, e que nós operamos mediante nossa obediência à
verdade.1 Pe 1.22 — “Tendo purificado as vossas almas (yuxa\j)
pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor
fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros,
ardentemente.”1 Pe 2.11 — “Amados, exorto-vos como
peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões
carnais que fazem guerra contra a alma (yuxh=j).”Is 38.16-17 —
“Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e
inteiramente delas depende o meu espírito (yixUr); portanto,
restaura-me a saúde, e faze-me viver. Eis que foi para a minha
paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amas a minha
alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque lançaste
para trás de ti todos os meus pecados.” O ensino dos profetas
do Antigo Testamento não é diferente dos escritores do Novo
Testamento. A contaminação da “alma” torna necessária a
purificação dela. Da mesma forma a saúde do “espírito” do
homem depende da obra santificadora de Deus. Analise com
propriedade estes dois textos abaixo e verifique que alma ou
espírito São o locus da obra santificadora de Deus, pois são
termos usados indistintamente. Ez 4.14 — “Então, disse eu: Ah!
Senhor Deus! eis que a minha alma (yi$:pan) não foi
contaminada, pois desde a minha mocidade até agora, nunca
comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem
carne abominável entrou na minha boca.” Is 38.16-17 —
“Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e
inteiramente delas depende o meu espírito (yixUr); portanto,
restaura-me a saúde, e faze-me viver. Eis que foi para a minha
paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amas a minha
alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque lançaste
para trás de ti todos os meus pecados.”

(c) O Perdão de Deus é para a Alma. Na concepção tricotomista,


o perdão de Deus deveria ser para o espírito humano, não para
a alma. Contudo, a Escritura diz em vários lugares que a alma
humana é objeto da compaixão perdoadora de Deus.Sl 41.4 —
“Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma,
porque pequei contra ti.” S1102.2-3 — “Bendize, ó minha alma
ao Senhor, e não te esqueças de nenhum só de seus benefícios.
Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades.” Observe: É muito
importante que se leve em conta que, quando a Escritura se
refere ao perdão da alma, ao fato dela ir para o céu, a ênfase
não está na divisão da pessoa, mas na unidade dela. Portanto, é
salutar pensar que Deus perdoa a pessoa, e não apenas o lado
imaterial dela; que é a pessoa que vai para o céu, não um
pedaço dela.

Explicação: O fato de que a Escritura usa alma e espírito


indistintamente em muitos contextos, como sinônimos básicos
em tais contextos, não implica que não possa haver outro
sentido do seu uso em outros contextos; o mesmo acontece com
carne e corpo.

NOTAS:

[23] - Ensino retirado basicamente da Apostila não-publicada,


preparada pelo Dr. Fred H. Klooster, para seus alunos no calvin
Seminary.
[24] - Berkhof, p. 225, (edição castelhana).
[25] - Berkhof, p. 225 (edição castelhana).
[26] - James Orr, God's Image in Man, (Grand Rapids:
Eerdmans reprint, 1948), p. 251-52.
[27] - James Denny, Studies in Theology, (Grand Rapids: Balcer
repriflt, 1967), p. 76.

(Heber Carlos de Campos, Apostila de Antropologia)


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