Você está na página 1de 18

ECOLOGIA GERAL

Ronei Stein
Conceitos básicos, histórico,
domínio e relação com
outras ciências
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar diferentes níveis de complexidade e sistemas ecológicos.


„„ Discutir a biodiversidade como um fenômeno histórico.
„„ Relacionar processos ecológicos a atributos físicos e químicos do
meio ambiente.

Introdução
Desde que a vida surgiu, há mais de 3,5 bilhões de anos, os seres vi-
vos vêm diversificando-se e adaptando-se às mudanças ocorridas em
nosso planeta. Essa capacidade de adaptação permitiu-lhes colonizar
os mais variados ambientes na Terra. Ou seja, os seres vivos se adaptam
ao ambiente durante as gerações pelo processo de seleção natural. Essa
adaptação ocorre ao longo de muitas gerações, a escala temporal do
tempo evolutivo. Mas você sabe quais são os fatores que determinam
a distribuição de determinada espécie em determinado local do globo
terrestre ou como surgiu a vida na Terra?
Neste capítulo, você vai compreender um pouco mais sobre a inte-
ração entre os seres vivos e o ambiente. Para isso, você vai identificar os
níveis de complexidade e sistemas ecológicos, vai ver uma discussão
sobre a biodiversidade e a história e vai aprender a relacionar os processos
ecológicos a atributos físicos e químicos do meio ambiente.
2 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

Complexidade dos sistemas ecológicos


Para a Ecologia, o meio ambiente é o panorama animado ou inanimado em
que se desenvolve a vida de um organismo. No meio ambiente, existem vários
fatores externos que têm uma influência no organismo. A Ecologia tem como
objeto de estudo as relações entre os organismos e o ambiente que os envolve.
Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como
um sistema natural e inclui toda a vegetação, os animais, microrganismos,
solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus
limites. O meio ambiente também compreende recursos e fenômenos abióticos,
como, por exemplo, ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga
elétrica e magnetismo.
Segundo Dajoz (1983), a Ecologia sempre foi confundida com outras
disciplinas vizinhas, como a Etologia, que é a ciência dos costumes ou do
comportamento. A confusão entre essas duas disciplinas deve-se, essencial-
mente, ao fato de que o comportamento de um animal (objeto da Etologia)
não pode manifestar-se senão em um meio determinado e com relação a esse.
Para melhor compreender a diferença entre Ecologia e Etologia, vamos a um
exemplo: uma colmeia de abelhas é objeto de estudo da Etologia, que analisa
o comportamento das abelhas; mas a relação da colmeia com o ambiente, num
modo geral, é objeto de estudo da Ecologia.
A Ecologia também é confundida com a Biogeografia, que é a ciência que
estuda a distribuição dos seres vivos na natureza. A distribuição dos animais
tem causas atuais (como, por exemplo, climáticas) — logo, de ordem ecoló-
gica —, mas também causas antigas, de ordem paleogeográfica. A Ecologia,
por si só, dificilmente irá explicar completamente a distribuição de uma
espécie (DAJOZ, 1983).
De modo geral, Ecologia é definida como o estudo científico das interações
entre organismos e seu ambiente. Porém, existem outras definições aceitáveis
para essa disciplina, como, por exemplo, o estudo científico das interações
que determinam a distribuição (localização geográfica) e a abundância dos
organismos (CAIN; BROWMAN; HACKER, 2018). Dessa forma, percebe-se
que a Ecologia é extremamente ampla, de modo que os ecólogos estudam as
interações na natureza em muitos níveis de organização biológica.
Cain, Browman e Hacker (2018) mencionam que as interações na natureza
formam a base para a primeira de oito máximas ecológicas, uma vez que
nunca é possível fazer somente uma coisa. Essa máxima sugere que todas as
ações têm múltiplos efeitos, pois os eventos são interligados na natureza, ou
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências 3

seja, as espécies são conectadas umas às outras. A seguir, veja algumas das
principais máximas ecológicas:

„„ “Nunca é possível fazer somente uma coisa”: os organismos inte-


ragem uns com os outros e com o seu ambiente físico. Dessa forma,
os eventos, na natureza, são interligados, e o que afeta um organismo
acaba afetando outros organismos ou lugares.
„„ “Tudo vai parar em algum lugar”: não há um lugar “remoto” no qual
os resíduos indesejáveis desaparecem.
„„ “Nenhuma população consegue crescer indefinidamente”: há limites
para o crescimento e a utilização de recursos de cada população —
inclusive, a do ser humano.
„„ “Não há almoço grátis”: a energia e os recursos de um organismo
são finitos, o influxo crescente em uma função (como a reprodução)
resultará em uma compensação, na qual haverá uma perda para outras
funções (como o crescimento).
„„ “A evolução é importante”: os organismos mudam ou evoluem ao
longo do tempo, e a evolução é um processo contínuo, uma vez que os
organismos enfrentam continuamente novos desafios frente às mudanças
tanto do meio abiótico quanto do biótico.
„„ “O tempo é importante”: os ecossistemas mudam com o tempo.
Quando vemos o mundo como o conhecemos, é fácil esquecer como
os eventos do passado moldaram nosso presente e como nossas ações
atuais podem afetar o futuro.
„„ “O espaço é importante”: as condições ambientais abióticas e bióticas
podem mudar drasticamente de um lugar para o outro, às vezes, ao
longo de distâncias muito curtas.
„„ “A vida seria impossível sem interações entre as espécies”: as es-
pécies dependem uma das outras e competem entre si para a obtenção
de energia, recursos e hábitat.

Rodrigues (2005) ressalta que os processos pelos quais os ecossistemas


alcançam e mantêm o estado de equilíbrio dinâmico representado pelo clímax
resultam da interação mútua de um crescente número de componentes da
estrutura adicionados durante a sucessão ecológica, sob a influência regula-
dora dos fatores ecológicos — que são todos os condicionantes do ambiente
passíveis de agir diretamente sobre um organismo em, ao menos, uma fase
de seu ciclo de vida.
4 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

Os fatores ecológicos atuam das seguintes formas:

„„ Eliminando espécies dos territórios nos quais as condições climáticas


e físico-químicas não sejam favoráveis, influindo na distribuição e
repartição geográfica dos organismos e na configuração dos biomas.
„„ Modificando as taxas de fecundidade e mortalidade dos organismos,
agindo na densidade das populações.
„„ Favorecendo, ou não, a manutenção de modificações adaptativas, in-
fluenciando o próprio curso da evolução biológica.

De acordo com Reece et al. (2015), uma ideia errônea e comum sobre a
evolução das espécies é acreditar que os indivíduos evoluem. É verdade que a
seleção natural atua nos indivíduos: cada combinação de características de um
organismo afeta a sua sobrevivência e seu sucesso reprodutivo em comparação
a outros indivíduos, mas afeta populações, e não organismos.

Biodiversidade como fenômeno histórico


O termo biodiversidade (também denominado diversidade biológica em algu-
mas bibliografias) é utilizado para definir a riqueza e a variedade de plantas e
animais que são encontrados nos mais diferentes ambientes do planeta Terra.
As plantas, os animais e os microrganismos fornecem alimentos, remédios
(na forma de substâncias secretadas por eles) e boa parte da matéria-prima
industrial consumida pelo ser humano.

O Brasil é conhecido mundialmente por suas belezas naturais, sendo o país mais rico
em número de espécies de seres vivos do mundo. Além da beleza de suas praias,
seus rios e mares, o Brasil detém a parte mais extensa da maior planície inundável
do mundo, o Pantanal, e da maior floresta úmida do mundo, a Floresta Amazônica
(BARSANO; BARBOSA, 2013).

César e Sezar (2002) mencionam que pode existir entre 5 milhões e 30


milhões de espécies espalhadas pelo planeta Terra, pois muitos ambientes ainda
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências 5

não foram explorados. Esses milhões de espécies apresentam diferenças entre


si, como cores, formas, tamanhos, tipos de nutrição, respiração, reprodução
e adaptações a diferentes funções.

Cerca de 1,4 milhão das espécies vivas foram nomeadas e descritas pelos cientistas.
Dessas, aproximadamente 750.000 são insetos, 41.000 são vertebrados e 265.000 são
plantas. O restante inclui invertebrados, fungos, algas e microrganismos (CORSON,
2002).

Estima-se que a Terra tenha 4,5 bilhões de anos e que a vida começou a
surgir há, aproximadamente, 3,5 bilhões de anos. Essa forma de vida inicial
eram organismos com células muito simples, as bactérias. Porém, ao longo da
história dos seres vivos — a qual está bem documentada por meio de estudos
de fósseis e rochas —, houve épocas de explosão de biodiversidade, com o
surgimento de novos grupos, e outras, ao contrário, de grandes extinções,
com o desaparecimento de muitos grupos que chegaram a ser dominantes
na Terra.
Em cada uma dessas extinções, provavelmente, milhões de espécies de-
sapareceram, criando condições para a evolução de outras. No Quadro 1,
apresenta-se um pequeno resumo do tipo de vida vegetal e animal que surgiu
ao longo dos anos no planeta Terra.

Quadro 1. Principais tipos de vida (animal e vegetal) que surgiram ao longo da história
da Terra

Anos decorridos desde


o início do período
até os dias atuais Vida vegetal Vida animal

10 mil Aumento no número Civilizações humanas.


de plantas herbáceas.

3 milhões Extinção de muitas Extinção dos grandes


espécies de plantas. mamíferos.
(Continua)
6 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

(Continuação)

Quadro 1. Principais tipos de vida (animal e vegetal) que surgiram ao longo da história
da Terra

Anos decorridos desde


o início do período
até os dias atuais Vida vegetal Vida animal

63 milhões Domínio do ambiente Domínio do ambiente


terrestre pelas terrestre por mamíferos,
angiospermas. aves, insetos, irradiação
dos mamíferos,
primeiros homens.

135 milhões Domínio das Apogeu e


angiospermas, declínio desaparecimento
das gimnospermas. dos dinossauros;
segunda grande
irradiação dos insetos;
primeiros primatas.

181 milhões Predomínio das Dinossauros grandes,


gimnospermas, como especializados,
as cicas e coníferas. mais abundantes.
Aparecimento dos
primeiros mamíferos
e das primeiras aves.

230 milhões Domínio do ambiente Aparecimento dos


terrestre pelas primeiros dinossauros e
gimnospermas e de répteis semelhantes
samambaias; diminuição a mamíferos.
dos musgos.

280 milhões Evolução das Expansão dos répteis,


gimnospermas e declínio dos anfíbios.
angiospermas.

345 milhões Era das grandes florestas Período denominado


de gimnospermas Idade dos Anfíbios;
e suas precursoras, primeira grande irradiação
musgos e samambaias. de insetos; aparecimento
dos primeiros répteis.

405 milhões Expansão das plantas Período denominado


terrestres; primeiras Idade dos Peixes;
florestas de musgos aparecimento dos
e samambaias. primeiros vertebrados
terrestres e dos anfíbios.
(Continua)
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências 7

(Continuação)

Quadro 1. Principais tipos de vida (animal e vegetal) que surgiram ao longo da história
da Terra

Anos decorridos desde


o início do período
até os dias atuais Vida vegetal Vida animal

425 milhões Primeiras plantas Aparecimento dos


vasculares, algas primeiros artrópodes
e fungos. adaptados a respirar em
meio terrestre; aumento
do número de peixes.

500 milhões Invasão do ambiente Invertebrados marinhos


terrestre pelas plantas. diversificados, os corais;
aparecimento dos
primeiros vertebrados
aquáticos, os peixes.

600 milhões Invasão do ambiente Invertebrados marinhos


terrestre pelas plantas. diversificados, trilobitas;
aparecimento de
animais com esqueleto.

1,5 bilhão Algas marinhas Procariontes abundantes.


abundantes.

2,5 bilhão Surgimento de pluricelulares acelomados e


celomados, protistas eucariontes e fungos.

4,5 bilhão Surgimento de bactérias anaeróbias e fotossintéticas;


formação da Terra e do restante do sistema.

Fonte: César e Sezar (2002, p. 19).

Mas como surgiram os primeiros seres vivos? Os cientistas imaginam que


moléculas orgânicas formadas na atmosfera eram arrastadas pelas chuvas para
a superfície, acumulando-se em poças e lagoas que se formavam nas depressões
da crosta terrestre. Essa acumulação (que ocorreu durante milhões de anos),
provavelmente, transformou muitos lagos da primitiva Terra em verdadeiras
sopas orgânicas. À medida que esses lagos secavam, as moléculas orgânicas
concentravam-se. Isso, aliado ao calor e à intensa radiação que atingia a
mistura, deve ter provocado reações químicas entre elas, originando novos
tipos de substâncias (AMABIS; MARTHO, 1997).
8 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

Para analisar e estudar as espécies de animais/vegetais que habitaram a


Terra ao longo das mais diferentes eras, é fundamental analisar os fósseis, que
são definidos como os restos preservados de organismos antigos (Figura 1). A
partir dos fósseis, é possível obter informações sobre a forma corporal (mor-
fologia) de organismos que viveram há muito tempo, assim como sobre onde
e de que forma eles viveram. Porém, para entender os padrões de mudança
evolutiva, deve-se entender, também, como a vida se modificou ao longo do
tempo (SADAVA et al., 2009).

Figura 1. (a) Os fósseis apresentam vital importância no estudo da evolução das espécies ao
longo da história da Terra. (b) Evidências da diversificação dos insetos: note que a borda dessa
folha de samambaia fóssil do período Carbonífero foi parcialmente devorada por insetos.
Fonte: (a) Merlin74/Shutterstock.com. (b) Sadava et al. (2009, p. 475).

Sadava et al. (2009) mencionam, ainda, que boa parte da história da Terra
(inclusive da biodiversidade) está gravada nas rochas. As rochas e a sua com-
posição, tanto química quanto na distribuição dos fósseis nela presentes,
fornecem dados importantes para análise da biodiversidade do passado. As
eras geológicas subdividem-se em: Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica
e Cenozoica. Elas representam cada uma das grandes divisões do tempo
geológico do planeta Terra. A Figura 2, a seguir, apresenta uma tabela com
um resumo da história geológica da Terra.
Figura 2. História geológica da Terra.
Fonte: Adaptada de Sadava et al. (2009, p. 466).
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências
9
10 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

Relação entre os processos ecológicos e


atributos físicos e químicos do meio ambiente
No que se refere ao meio ambiente, ainda não existe uma resposta 100%
unânime sobre sua definição, pois esse termo pode apresentar diferentes
conceitos, de acordo com seus componentes. Porém, deve-se ter em mente
que meio ambiente é o conjunto de todas as coisas vivas e não vivas. Por
exemplo, segundo o Art. 3º da Lei nº. 6.938/1981, meio ambiente é o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e bio-
lógica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL,
1981).

Quando se fala de meio ambiente, é de grande importância mencionar a Política


Nacional do Meio Ambiente (Lei nº. 6.938/1981). Essa legislação tem como objetivos a
preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no Brasil, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

Cada espécie pertence a um determinando ecossistema, fazendo parte


de uma biocenose (conjunto de comunidades ecológicas) ou comunidade e
podendo sofrer distintos efeitos, como:

„„ Fatores bióticos: interação entre os seres vivos (predação, cadeia ali-


mentar, relações ecológicas, entre outros).
„„ Fatores abióticos: elementos não vivos do ambiente que afetam os
organismos vivos da biota. Esses elementos podem ser físicos ou
químicos.
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências 11

Os fatores bióticos e abióticos estão em permanente ligação sistêmica. Por isso, tanto
os elementos físicos quanto os químicos determinam a estrutura e o funcionamento
das comunidades vivas, afetando as relações ecológicas de um ambiente.
Essas relações podem ser intraespecíficas (quando ocorrem entre organismos da
mesma espécie) ou interespecíficas, quando estabelecidas entre espécies diferentes.
Nos ecossistemas com menor biodiversidade (como desertos ou zonas polares), os
organismos têm maior dependência dos fatores abióticos em relação aos bióticos, que
apresentam menor biodiversidade. Por exemplo, nos desertos, são encontradas, na
grande maioria dos casos, espécies de animais de pequeno porte (cobras, roedores),
dificilmente sendo encontradas espécies de grande porte — isso porque os fatores
abióticos (água, nutrientes, alimento, etc.) são escassos.
Dessa forma, um impacto ambiental (seja ele natural ou causado pela ação humana)
em ambientes com menor biodiversidade, normalmente, causa maiores passivos
ambientais na fauna e na flora.

Os fatores físicos constituem o clima, determinado principalmente pela


radiação solar que chega à Terra, e a temperatura, que influencia outros aspectos
climáticos, como a umidade relativa do ar e a pluviosidade. Os fatores quími-
cos, como os nutrientes minerais e os ciclos biogeoquímicos (do nitrogênio,
do oxigênio, do carbono), são importantes para garantir a sobrevivência dos
organismos e manter o equilíbrio dos ecossistemas.
Porém, o ambiente físico também pode ser definido como o lugar onde os
organismos vivem, os recursos que lhes estão disponíveis e as taxas nas quais
suas populações podem crescer. Dessa forma, o conhecimento do ambiente
físico é essencial para compreender todos os fenômenos ecológicos, desde
o resultado das interações entre bactérias e fungos até as trocas de dióxido
de carbono entre biosfera e atmosfera (CAIN; BROWMAN; HACKER,
2018).
Se as condições físicas de um local não permitem que uma espécie so-
breviva e se reproduza, a espécie não será encontrada nesse local. De acordo
com Reece et al. (2015), os principais fatores abióticos que interferem nos
processos ecológicos são:

„„ Temperatura: é um fator de grande importância e está diretamente


relacionado a variações do fator luz, uma vez que a redução ou o aumento
do fotoperíodo tem influência na temperatura. A temperatura ambiente
12 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

é um fator importante na distribuição das espécies devido ao seu efeito


sobre os processos biológicos. As células podem romper-se se a água
que elas contêm congelar (temperaturas inferiores a 0º C), e a proteína
da maioria dos seres vivos desnatura em temperaturas superiores a 45º
C. Além disso, poucas espécies podem manter o metabolismo ativo sob
temperaturas muito altas ou muito baixas, embora adaptações extra-
ordinárias permitam que algumas espécies vivam fora do intervalo de
temperatura habitável por outras formas de vida.
„„ Água: pode ser encontrada em três estados da matéria, na forma sólida
(gelo, neve), na forma líquida (chuva, água) e na forma de vapor (va-
por de água na atmosfera). Todos os serem vivos necessitam da água
no planeta Terra para sobreviver. A seguir, veja alguns exemplos das
funções da água:
■■ é um elemento construtivo da fotossíntese das plantas e dos
organismos;
■■ funciona como um solvente para os nutrientes do solo;
■■ é um condutor de energia (muito utilizado em hidroelétricas);
■■ é um meio de transporte (como na navegação, em canais de drenagem);
■■ por meio da água, ocorre a regularização da energia no balanço
energético da Terra.
„„ Salinidade: a concentração de sal na água do ambiente afeta o balanço
de água dos seres vivos pela osmose.
„„ Luminosidade: a luz do sol absorvida pelas espécies fotossintetizantes
fornece a energia que governa a maioria dos ecossistemas, e a escassez
de luz pode limitar a distribuição dos seres vivos fotossintetizantes. Nas
florestas, por exemplo, a sombra das folhas da copa das árvores torna
a competição pela luz muito intensa, particularmente para as plântulas
que crescem no estrato inferior da floresta. Nos ambientes aquáticos, a
maior parte da fotossíntese ocorre relativamente próximo à superfície,
uma vez que cada metro de profundidade de água absorve seletivamente
cerca de 45% da luz vermelha e cerca de 2% da luz azul que passa através
dela. O excesso de luz também pode limitar a sobrevivência dos seres
vivos. A atmosfera é mais fina e absorve menos radiação ultravioleta
nas elevações mais altas. Dessa forma, há maior probabilidade de que
os raios solares danifiquem o DNA e as proteínas em ambientes alpinos.
Os seres vivos que vivem nesses ambientes são expostos a altos níveis
de radiação ultravioleta. Além disso, enfrentam outros desafios, como
temperaturas de congelamento e ventos fortes, que aumentam a perda
de água e inibem o seu crescimento.
Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências 13

„„ Clima: quatro fatores abióticos — temperatura, precipitação, lumino-


sidade e vento — são os principais componentes do clima. Os fatores
climáticos, principalmente a temperatura e a disponibilidade de água,
têm grande influência na distribuição dos seres vivos terrestres.
„„ Rochas e solo: o pH, a composição mineral e a estrutura física das
rochas e do solo limitam a distribuição de plantas e, consequentemente,
dos animais que se alimentam delas, contribuindo para o mosaico
encontrado nos ecossistemas terrestres.

Especificamente falando dos solos, Lima, Lima e Melo (2007) apresentam


os principais fatores que interferem na formação desses, como:

„„ Clima: exerce influência sobre a formação dos solos (intemperismo),


principalmente, devido às precipitações (chuvas) e à variação de tem-
peratura. Por exemplo, em regiões de clima quente e úmido, a ação do
intemperismo é mais intensa e rápida, pois temperaturas mais elevadas
aceleram a velocidade das reações químicas (que provocam a decomposi-
ção das rochas). A umidade, por sua vez, reage com os minerais presente
nas rochas, produzindo ácidos, os quais provocam a corrosão das rochas.
„„ Material de origem: a rocha que dá origem ao solo é chamada de rocha
matriz, ou seja, o material de origem é a matéria-prima a partir da qual
os solos se desenvolvem, podendo ser de natureza mineral (rochas ou
sedimentos) ou orgânica (resíduos vegetais). Dependendo do tipo de
material de origem, os solos podem ser arenosos, argilosos, férteis ou
pobres. Cabe ressaltar que uma mesma rocha pode originar solos muito
diferentes, pois depende da variação dos demais fatores de formação.
„„ Relevo: o formato desigual do relevo favorece a distribuição irregular
da água das chuvas, do calor e da luz. Dependendo do tipo de relevo
(plano, inclinado ou abaciado), a água da chuva pode entrar no solo
(infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão) ou acumular-se
(formando banhados).
„„ Presença de organismos: os organismos que vivem no solo, como
vegetais, minhocas, insetos, fungos, bactérias, entre outros, exercem
grande influência na formação dos solos, pois, além de seus corpos
serem fonte de matéria orgânica, atuam, também, na transformação dos
constituintes orgânicos e minerais. A vegetação exerce influência na
formação do solo pelo fornecimento de matéria orgânica, na proteção
contra a erosão pela ação das raízes fixadas no solo, assim como as
folhas evitam o impacto direto da chuva. Ao se decompor, a matéria
14 Conceitos básicos, histórico, domínio e relação com outras ciências

orgânica libera ácidos que também participam da transformação dos


constituintes minerais do solo.
„„ Tempo: para a formação do solo, é necessário determinado tempo para
a atuação dos processos que levam à sua formação. O tempo que um
solo leva para se formar depende do tipo de rocha, do clima e do relevo.
Solos desenvolvidos a partir de rochas mais fáceis de serem intemperi-
zadas formam-se mais rapidamente em comparação com aqueles cujo
material de origem é uma rocha de difícil alteração.

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 2. ed. São Paulo:


Moderna, 1997.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Brasília, DF, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.
htm>. Acesso em: 24 set. 2018.
CAIN, M. L.; BROWMAN, W. D.; HACKER, S. D. Ecologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
CÉSAR, S. J.; SEZAR, S. Biologia 2: seres vivos, estrutura e função. São Paulo: Saraiva, 2002.
DAJOZ, R. Ecologia geral. Petrópolis: Vozes, 1983.
LIMA, V. C.; LIMA, M. R.; MELO, V. F. O solo no meio ambiente: abordagem para professores
do ensino fundamental e médio e alunos do ensino médio. Curitiba: Universidade
Federal do Paraná, 2007.
REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
RODRIGUES, G. S. Bases ecológicas de sustentabilidade e sistemas de avaliação. In:
RODRIGUES, G. S. et al. Avaliação de impactos ambientais para gestão da APA da Barra
do Rio Mamanguape-PB. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2005. Disponível em:
<https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1023902/1/2005PL021.
pdf>. Acesso em: 21 set. 2018.
SADAVA, D. et al. Vida: a ciência da biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. v. 2.

Leituras recomendadas
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Meio ambiente: guia prático e didático. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2013.
CORSON, W. H. Manual global da ecologia: o que você pode fazer a respeito da crise
do meio ambiente. 4. ed. São Paulo: Augustus, 2002.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Você também pode gostar