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Artigo Científico - o Concílio de Jerusalém Sob A Ótica Da Lei de Cristo - TCC Final
Artigo Científico - o Concílio de Jerusalém Sob A Ótica Da Lei de Cristo - TCC Final
RESUMO
Este trabalho aborda o concílio de Jerusalém, suas decisões e justificativas sob a ótica
da lei de Cristo. O propósito é responder se as decisões apostólicas foram uma defesa
da observância da lei mosaica ou um avanço à lei de Cristo. Essa questão se faz
necessária devido a difícil interpretação do capítulo 15 de Atos e possível limitação da
ação missional no caso do não entendimento da motivação dos conselhos dados pelos
apóstolos, principalmente pelo apóstolo Tiago. Para isso, a pesquisa usou uma
abordagem qualitativa com procedimento bibliográfico. O estudo busca esclarecer,
principalmente, que o argumento de Tiago não se tratava de uma defesa ao retrocesso
à lei mosaica, mas ao avanço à prática da lei de Cristo, que pode ser sintetizada como
a lei do Amor, tendo como fim a comunhão pacífica entre judeus e gentios na igreja de
Antioquia, bem como o avanço missional multicultural.
1. Introdução
retrocesso à lei mosaica? O que ele quis dizer quando, para defender tais abstenções, usou
o argumento de que Moisés era lido todos os sábados nas sinagogas?
O artigo propõe uma interpretação de Atos, capítulo 15, principalmente do versículo
21, segundo a lei de Cristo conceituando-a e contextualizando-a com outras passagens
bíblicas e convida o leitor ao exercício prático da lei de Cristo em nossos diversos contextos
socioculturais.
Em relação à relevância desta pesquisa, podemos destacar que o perigo de uma
interpretação equivocada pode levar cristãos ao retrocesso da observância da lei mosaica
ou ainda à inobservância da lei de Cristo, ou da prática do amor que visa a unidade da igreja
e à evangelização multicultural.
Este estudo faz uma abordagem qualitativa usando o procedimento bibliográfico
para uma reflexão do Concílio de Jerusalém, narrado em Atos dos Apóstolos (At 15,1.31)
incluso no Novo Testamento, na Bíblia Sagrada, utilizando articulações com outros textos
bíblicos para fundamentação, buscando uma leitura que encoraje a superação de barreiras
étnicas, fortalecendo a unidade da igreja e a obra missional sendo estes, a lei de Cristo em
prática.
Inicialmente é apresentada uma breve introdução ao livro de Atos dos Apóstolos
seguida pelo conflito étnico na igreja do primeiro século e o efeito do cristianismo na
cultura. Na sequência, compreende-se mais especificamente o contexto do concílio de
Jerusalém, seus causadores, os fariseus, e as considerações dos apóstolos. Por fim,
avaliamos se os conselhos dos apóstolos, principalmente os de Tiago, seriam um
retrocesso à lei mosaica ou tratava-se da prática da lei de Cristo. Passamos ainda pelo
conceito bíblico de “lei”, alguns perigos da má interpretação deste conceito, o propósito e
validade da lei mosaica e a explicação e aplicação prática da lei de Cristo não apenas no
contexto de Atos 15, mas também em nossos dias atuais.
2. Metodologia
Ampla maioria dos estudiosos concordam que Lucas é autor de Atos e que esta seria
uma obra com dois volumes. Sendo “O Evangelho segundo Lucas”, o terceiro dos quatro
evangelhos, o primeiro volume da obra, e o segundo volume: o livro de atos.
Deus tem estabelecido com a humanidade vários pactos. Aquele que foi
estabelecido com a nação de Israel, na península do Sinai, distinguiu essa
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Temos então, inaugurada na nova aliança, uma experiência que seria inimaginável
até então: judeus e gentios, convivendo entre si e ambos usufruindo igualmente do mesmo
nível de relacionamento com Deus.
Essa experiência não se tratava apenas da conversão do judaísmo ou do paganismo
(amplamente praticado pelos gentios) ao cristianismo, mas ambos, judeus e gentios, povos
que antes eram proibidos de se associarem segundo instruções da lei, agora tornando-se
um só corpo, igreja, família da fé.
Estes dois povos agora teriam algo poderoso em comum: sua fé em Jesus Cristo
como o Messias, e a crença em sua morte e ressurreição como sacrifício vicário. Mas,
apesar de algo tão importante em comum, judeus e gentios, agora cristãos, teriam que
trabalhar para a promoção da unidade tendo que discernir quais fatores culturais
ofenderiam ou não o evangelho de Jesus Cristo.
É certo que na mente não apenas dos apóstolos, mas daqueles cristãos da igreja do
primeiro século, os milagres, sinais e prodígios significavam a aprovação Divina para a
pregação do evangelho.
Pedro, por exemplo, havia afirmado em sua pregação no evento do Pentecostes
que, milagres, prodígios e sinais realizados por Jesus, eram sinal da aprovação de Deus.
Agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que
anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para
fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo
Jesus”. (BÍBLIA SAGRADA, At 4,29.30)
Barnabé e Paulo, portanto, estavam afirmando que os sinais e prodígios eram o selo
da aprovação de Deus da atuação ministerial deles para os gentios.
Tiago finaliza a discussão deixando claro que: (1) A liderança de Jerusalém
reconhecia o novo nascimento dos gentios; (2) Estes acontecimentos eram cumprimentos
de palavras dos profetas; (3) A circuncisão não deveria ser imposta aos gentios, revelando
que aqueles que haviam descido da Judeia não haviam sido enviados com autoridade de
Jerusalém; (4) Algumas abstenções seriam necessárias visando a promoção da unidade
num contexto cultural diverso.
Apesar de as decisões terem sido muito bem recebidas tanto pela liderança e igreja
de Jerusalém, quanto por Antioquia, as abstenções direcionadas por Tiago tornaram-se
tema de grande interesse e debate teológico, principalmente pela desafiadora
interpretação dos significados destas abstenções.
Entretanto, o alvo deste artigo não é o possível significado das quatro abstenções
para a igreja gentia, mas o propósito, o que motivou Tiago a direcionar as abstenções.
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Tiago instrui a abstenção das contaminações dos ídolos, das relações sexuais ilícitas,
da carne de animais sufocados e do sangue, com o seguinte argumento em Atos (15,21):
“Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que pregam nas sinagogas, onde
é lido todos os sábados”.
De Boor (2002, p.131) afirma que “esta frase é de difícil compreensão para nós”. Da
mesma forma, Allen (1994, p114) afirma: “a conclusão da decisão de Tiago, no verso 21, é
difícil de traduzir-se, bem como de interpretar-se.”
Estou de acordo com Keener (1960, p.381) quando este sugere que “a afirmação de
Tiago provavelmente signifique que os crentes devem se abster das práticas do verso 20
para que não ofendam as muitas pessoas do verso 21”.
A referência a Moisés, logo após a negação da prática da circuncisão aos gentios,
obviamente não seria uma defesa ao retrocesso à prática da lei mosaica.
O pensamento de Tiago fica claro em sua epístola afirmando que, desde que Cristo
veio, o cristão não está mais debaixo da lei de Moisés, mas debaixo da lei da liberdade, da
lei perfeita. Ele diz em sua epístola (1,25): “Mas aquele que considera, atentamente, na lei
perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso
praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”. E, ainda (2,12): “Falai de tal maneira
e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade”.
Portanto, a lei mosaica foi como um parêntese no relacionamento de Deus com o
ser humano e, ainda, com direcionamentos específicos à nação judaica até o que Paulo
chama de “plenitude dos tempos”, a inauguração da Nova Aliança.
O significado da palavra “lei”, segundo Vine et al. (2002, p.165) é: “direção, ensino,
instrução”. Considerando tal definição, o ser humano, desde sua criação no gênesis, nunca
esteve sem lei, e jamais estará.
No gênesis, o ser humano recebeu instruções a serem obedecidas e, exatamente
por desobedecê-las, foi expulso do jardim.
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
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Após sua queda e expulsão do jardim, e anteriormente à lei mosaica, o ser humano
continuou submetido à lei de Deus. A benção de Deus para a vida de Abrão, por exemplo,
estava condicionada à sua obediência de ir para a terra que Deus lhe mostraria.
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa
de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e
te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! (BÍBLIA
SAGRADA, Gn 12,1.2)
Porque esta é a aliança que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias,
diz o SENHOR: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu
coração as inscreverei; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.
(BÍBLIA, Jr 31,33)
O novo nascimento não nos coloca debaixo de uma vida sem lei, mas nos eleva a
uma condição favorável à obediência, não meramente à lei mosaica, mas à lei de Cristo,
superior, excelente. Por isso o preceito da lei se cumpre em nós, porque agora, a
obediência é possível pela graça de Deus.
A graça de Deus é uma força capacitadora de Deus para vivermos dentro deste novo
padrão de vida, da nova aliança. É um poder que nos capacita a viver em obediência e em
santidade. É o poder de Deus que nos arranca da condição de escravos do pecado e nos
capacita a reinar em vida.
Paulo afirma em Romanos (5,17): “Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou
a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em
vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo”.
E, ainda sobre o efeito da graça de Deus, lemos:
sua carta aos Gálatas (3,24): “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a
Cristo, para que pela fé fôssemos justificados”. A compreensão da palavra “aio” nos ajuda
a discernir o propósito da lei mosaica.
Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões,
até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada
por meio de anjos, pela mão de um mediador. (BÍBLIA SAGRADA, Gl 3,19)
Concordo com Barclay (2018), quando este considera que a lei tenha sido adicionada
para a revelação da condição pecaminosa do homem.
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Onde não há lei tampouco há pecado. Não se pode quebrantar uma lei que
não existe. Antes que o homem seja estigmatizado como pecador deve ter
conhecido a Lei. Não pode ser condenado por agir mal enquanto desconheça
que o que faz é mau. Portanto a função da Lei é a de definir o pecado. A Lei
pode definir o pecado e de fato o faz mas é incapaz de remediá-lo.
(BARCLAY, 2018, p.34)
A lei mosaica havia sido dada por causa das transgressões humanas, ou seja, ela
revelou a condição pecaminosa do coração humano e sua incapacidade de salvar-se a si
mesmo, indicando a necessidade de um salvador.
O esclarecimento do motivo nos revela também sua condição temporária,
transitória, pois, a lei serviu como condutor à solução da condição pecaminosa da natureza
humana.
Sua temporariedade é esclarecida quando Paulo afirma que a lei foi dada até que
viesse o descendente a quem se fez a promessa, compreendido como uma clara referência
à vinda de Jesus Cristo.
Se o descendente já veio, a lei alcançou seu objetivo, cumpriu seu propósito. O
propósito da lei, em seu papel de tutora, de guia, era levar o ser humano em direção à
justificação.
Quando, então, Jesus Cristo vem a Terra e cumpre a obra redentora, sacrificando-
se em favor do ser humano caído, cumpre-se a razão de ser da lei. Por isso Paulo afirma em
Romanos (10,4): Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.
Stott (2000) apud Lopes (2019, p.349) afirma que “é o fim da lei tanto no sentido de
“alvo”, significando que a lei apontava para Cristo, como no sentido de “terminalidade ou
conclusão”, indicando que Cristo aboliu a lei”.
A nova aliança, foi a inauguração de um novo sacerdócio, do sumo sacerdote, Jesus
Cristo. E, quando há mudança de sacerdócio não há extinção, mas mudança de lei. É o que
lemos em Hebreus (7,12): Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também
mudança de lei.
Agora os que estão em Cristo Jesus, estão debaixo da lei do Espírito da vida.
A lei mosaica estava enferma, ou seja, sem força, enfraquecida, incapacitada pela
carne. Não era a lei em si, incapaz, mas o que a tornava incapaz era a incapacidade do ser
humano obedecê-la devido sua morte espiritual.
Ela cumpre seu propósito ao revelar nossa incapacidade de obedecer a Deus e Jesus
vem para revelar que a única solução é nascer de novo, não da carne, mas do espírito.
Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os
que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para
ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos
sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus,
mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.
(BÍBLIA, 1 Co 9,20.21)
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Champlin (1982, p.142) traz luz ao assunto quando afirma que Paulo contava com a
mui superior lei de Cristo, que opera mediante o amor cristão.
O entendimento do apóstolo Paulo, de fato, era que ao amar o próximo, então
cumpriríamos a lei. O que fica claro em sua carta aos Gálatas (5,14): Porque toda a lei se
cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
E, na mesma carta de Paulo aos Gálatas (6,2), o termo “lei de Cristo” aparece
novamente, dentro deste contexto, do amor ao próximo, dizendo: Levai as cargas uns dos
outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.
A lei de Cristo que levou Paulo a defender com veemência a liberdade da lei mosaica
e da circuncisão, também o levou a fazer todo esforço necessário para salvação do maior
número de pessoas possível, inclusive submetendo-se a costumes culturais que, em outros
contextos foram alvos de sua repreensão.
O mesmo Paulo que confrontou os fariseus em Atos 15, mandou Timóteo circuncidar
“por causa dos judeus” em Atos 16 porque era filho de judia mas de pai grego.
Paulo já reconhecia o novo nascimento e o chamado de Timóteo, mas sabia que,
culturalmente, o fato de ser filho de uma judia, mas ser incircunciso, seria um impedimento
à plenitude do cumprimento do seu chamado.
O apóstolo estava praticando o “ser tudo para com todos”, com o fim de que
Timóteo pudesse ganhar judeus que jamais seriam ganhos sem sua circuncisão. Paulo
estava removendo possíveis impedimentos à expansão do evangelho entre os judeus. Era
uma submissão cultural com um fim missional. Era a lei de Cristo, a lei do amor, em plena
ação.
Paulo estava disposto a colocar-se debaixo do jugo da lei mosaica, mesmo não
estando debaixo dela, para ganhar os que estavam vivendo debaixo da lei. Trata-se de um
exercício para destruir “paredes” que pudessem impedi-lo de pregar o evangelho para
alguém. Era uma adaptação estratégica com o propósito missional.
Paulo também afirma em 1Coríntios (9,22): “Fiz-me fraco para com os fracos, com o
fim de ganhar os fracos”, utilizando o termo “fraco” referindo-se à consciência humana.
Em sua carta aos romanos, Paulo reforça o princípio prático da lei de Cristo. Se estou
afetando a consciência de um irmão, a ponto de entristecê-lo, não estou andando em amor,
ou seja, estou descumprindo a Lei de Cristo.
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Ainda que a Lei de Cristo seja a lei da liberdade, esta nossa liberdade não pode vir,
de modo algum, ser tropeço para os fracos. Sendo assim, se existe algo que a liberdade em
Cristo me permite fazer, mas ofende meu irmão, mesmo que devido a sua imaturidade
espiritual, a lei de Cristo ensina que devo deixar de fazer por amor.
Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não
comermos, e nada ganharemos, se comermos. Vede, porém, que esta vossa
liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. E, por
isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei
carne, para que não venha a escandalizá-lo. (BÍBLIA SAGRADA, 1Co
8,8.9.13)
Longenecker (2017) apud Savelle (2004, p.463) diz que as proibições "devem ser
vistas não como lidando com a questão principal do concílio, mas como atendendo a certas
preocupações práticas; não como sendo principalmente teológicas, mas de natureza mais
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sociológica; não como ordenanças divinas para aceitação diante de Deus, mas como
concessões aos escrúpulos de outros por causa da harmonia dentro da igreja e da
continuação da missão judaico-cristã.”
Barth (2009, p.791) é cirúrgico ao afirmar: “Já não estarei andando segundo o amor
se, na fraqueza do próximo, eu esquecer a existência do meu irmão em meu semelhante;
do UM, no outro; e de Cristo, nesse (e em qualquer) “próximo”.”
A lei de Cristo é a lei do amor, que foi praticada de forma mais exemplar pelo próprio
Cristo. Lembro Bezerra (2017, p.47-48) que nos ensina que nosso maior exemplo quando
falamos de missão integral é Jesus, dizendo que este: “teve uma atitude de humildade e, a
partir de seu projeto redentor, esvaziou-se, assumindo a forma de servo para se identificar
com aqueles que creem.” Atitude esta que possui plena conexão com a prática da lei de
Cristo defendida pelo apóstolo Paulo.
4. Considerações Finais
Ainda que exista um real desafio sobre a compreensão exata dos significados das
quatro abstenções estabelecidas no concílio de Jerusalém, quando estudamos não só as
abstenções e a justificativa de Tiago, mas todo o capítulo 15 de Atos sob a ótica da lei de
Cristo, parece-nos ficar coerente com toda a mensagem de Jesus Cristo e da nova aliança
que a razão das abstenções não se trata de um retrocesso à lei mosaica, mas um avanço à
lei de Cristo, à lei do amor.
Através de Jesus Cristo o evangelho rompeu limites geográficos e, portanto,
culturais. O cristianismo é um agente de transformação cultural, ainda que, ao mesmo
tempo, possa se manifestar através das diversas culturas existentes.
A proposta tanto a judeus quanto a gentios em prol da unidade da igreja de
Antioquia foi de renúncia de comportamentos culturais. Tanto a circuncisão quanto as
quatro abstenções eram práticas culturais de um e outro povo que eram ofensivas a
consciência de ambos os povos.
Não impor a circuncisão aos gentios revela a eficácia do sacrifício de Jesus na cruz
do calvário e confirma a salvação exclusivamente pela graça de Deus e através da fé. A lei
de Cristo, a lei do amor, é manifesta através do exercício dos judeus em sua prática de amor
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fraternal para com os irmãos gentios. Judeus, que até então, não se relacionavam com
gentios, agora devem exercer o amor de Deus para a manutenção da unidade da igreja.
Por outro lado, quando Tiago determina as abstenções usando como justificativa a
leitura de Moisés todos os sábados nas sinagogas, não fazia um incentivo à prática da lei
mosaica, mas a prática da lei de Cristo, a lei do amor, pelos irmãos gentios em prol dos
irmãos judeus que haviam crescido debaixo de uma influência cultural milenar.
Considerando que a ordenança de Jesus é para que o evangelho seja pregado a
todas as nações, sem dúvidas, é necessário considerarmos também o exercício do amor
diante das diversidades culturais.
O próprio Jesus serviu-nos de exemplo quando assumiu forma de servo. Seguindo
seu exemplo, e dos demais apóstolos, cabe-nos andar em amor e buscarmos sabedoria do
alto para que a mensagem do evangelho que nos une seja mais poderosa do que as
diferenças culturais que tendem a nos separar.
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