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Giddens Sociologia Classe, Estratificagao e Desigualdade As teorias de classe e aestratificagao 234 ‘Atworia de Karl Marc 294 Ateoria de Max Weber 296 ‘Ateoria de Erk Olin Wright sobre classe 27 Amensuragéo da classe 238 John Goldthorpe: classe @ ocupagto 238 Aavaliagao dos esquemas de classes 299 As divisbes de classe social na jediade ocidental de hoje 240 ‘A questo da classe alta 240 Aclasse média 242 Acnatureza mutante da classe trabalhadora 248, Clasee 0 estilo de vida 208 Aclasse baixa 246 Género e estratificagao Doterminando a posigo de classe das mulheres impacto do emprego das mulheres nas divis6es de classe Mobilidade social Estudos comparativos sobre mobiidade \Mobiliade descendente ‘A mobildade social na Gra-Bretanha Génoro © mobilidade soclal Concluséo Pontos principals ‘Quostées para rflextio Leitura complementar Enderegos na internet 246 286 287 248 249 249 250 251 251 252 253 253 10: Classe, Estratificagao e Desigualdade ara descreverom as desigualdades existentes entre os indi- {duos eos grupos dentro das sociedades humanas, 0s so- ciclogos falam da estratificagdio social. E comum pensar- ‘mos na estratificagio em termos de bens ou de propriedade, mas sua ocorréncia também pode se dar com base em outros atribu- tos, como género, idade, afliago religiosa ou posto militar, Os individuos e os grupos usufruem de um acesso diferen- cial (desigual) &s recompensas, com base em sua posigto den- tro do esquerna de estraificacao. Assim, a esttaificagio pode set definida, de um modo mais simples, como as desigualdades cestruturadas entre diferentes ageupamentos de pessoas. B pre- ferivel comparar a estratificago a0 assentamento geoldgica de rochas em camadas na superficie da terra. As sociedades po- dem ser vistas como constitufdas de “estratos” em uma hiera quia, na qual os mais favorecidos encontramn-se 110 topo, € 08 ‘menos privilegiados esto mais préximos da base. Historicamente, existiram quatro sistemas bisicos de estta- tificagio nas sociedades humanas: a escravidéo, a casta, 0 esta- mento e a classe. A escravido ¢ uma forma extrema de des gualdade na qual alguns individuos so lteralmente proptieda- de de outros. Enguanto instituigo formal, « escravidio foi gra- dualmente erradicada, tendo quase que completamente desapa- recido do mundo atual. A easta associa-se sobretudo as culturas do subcontinente indiano ¢ da crenca hindu no renaseimento. Acredita-se que 0 individuos que nao forem figis aos rituais e aos deveres de sua casta renascertio em uma posigao inferior na proxima encamacio, Os sistemas de castas estruturam o tipo de ‘contato que pode ocorrer entre membros de diferentes status so- cis, Os estamentos fizeram parte de muitas civilizagdes tradi- cionais, incluindo o feudalismo europeu. Os estamentos feudais consistiam em estratos que possufam diferentes obrigagées e di reitos entre si. Na Buropa, o estamento mais alto era composto pela aristocracia e pela pequena nobreza, o clero formava outro, estamento, ¢0s plebeus (servos, mercadores e artesos) compu rnham o chamado “terceiro estamento”, (Os sistemas de classes diferem em muitos aspectos da es cravidéo, das castas ¢ dos estamentos. Podemos defini uma classe como um agrupamento, em larga escala, de pessoas que compartilham recursos econdmicos em comum, os quais in- fluenciam profundamente o tipo de estilo de vida que podem evar. A posse de riquezas, juntamente com a profissio, sio as bases principais das diferengas de classe. As classes diferem das antigas formas de estratificago em muitos sentidos: + Ao contriio de outros tipes de estatos, as clases no so estabelecidas por providéncias legais ou religiosas; a con- digo de memiro nfo se baseia em uma posi herdada especificada legalmente ov por costume. Os sistemas de classes so normalmente mais mutéveis do que 0$ outros tipos de estratficago, e as fronteiras entre as classes nun- ca so claras. Nio existe nenhuma resrigéo formal q toao casamento entre pessoas de diferentes classes + A classe de um individuo é, pelo menos de alguma for: ma, conquistada, ¢ nko simplesmente “determinada” no nascimento, como 6 comum em outros tipos de sistema de estratficaso. A mobilidade social ~ movimento as- cendente e descendente na estrutura de classes - & muito ais comum do que nos outros tipos. (No sistema de castas, a mobilidade individual de uma casta para outra é impossivel.) + As classes dependem de diferencas econdmicas entre agrupamentos de individuos ~ desigualdades na posse e no controle de recursos materiais. Nos outros pos de sistema de estratificagdo, 05 fatores nifo-econémicos (como a influéncia da religio no sistema indiano de cas- ta) so geralmente os mais importantes. [Nos demais tipos de sistemas de estratficago, as desi- ‘gualdades sio expressas primeiramente nas relagSes pes- sonis de dever ou de obrigacio— entre 0 servo e o senor, ‘oescravo.e o amo, ou entre os individuos de castas mais baixas € os de castas mais elias. Os sistemas de classes, cm contraste,funcionam principalmente por meio de co nexSes de larga escala com cariter impessoal. Por exern- plo, o ingrediente principal das diferengas de classe ci contra-se nas desigualdades de condigées de pagamento de trabalho; estas afetam todas as pessoas em categorias ‘ocupacionais espeetficas, como resultado de circunstin- cias econdmicas que prevalecem em toda a economia, As teorias de classe e a estratificagao AS iléias desenvolvidas por Karl Marx e Max Weber forma a base da maioria das andlises sociolégicas de classe ¢ estratifi ccagiio, Os estudiosos inseridos na tradieio marxista desenvol- veram ainda mais as idéias apresentadas pelo proprio Marx; outros tentaram aperfeigoar os conceitos de Weber. Iniciaremmos examinando as teorias divulgadas por Marx e Weber antes de analisarmos a abordagem neomarxista proposta por Erik Olin Wright A teoria de Karl Marx A maior parte da obra de Marx envolvia a estraificagao , sobre tudo, a classe social, ainda que, surpreendentemente, ele no te- nha conseguido oferecer uma andlisesistemitica do conceito de classe, © manuserito no qual Marx trabalhava na época de sua ‘motte (posteriormente publicado como parte de sua obra princi pal. O Capizal foi interrompido justamente no ponto em que cle Sociroan 295 Estes vabalhadores da fabrca do toto de Siar, na india, nasceram na casa dos Incesves* A lasso designadas as tartas“mundas” atibuida a cua cata, som aoporunidado de mobildade que até mesmo um sistoma do clasees por © N.deT. Costa mais bua da fri. presenta a pergunta: “O que constitui uma classe?”. Assim, 0 cconceito de classe de Mars deve ser reconstruido a partirdo con- junto de seus escritos. Uma vez que as diversas passagens nas quais ele discutiu o tema classe ner sempre sio completamente cconsistentes, houve muita controvérsia entre os estudiosos em. relagfo a “o que Marx realmente queria dizer”. Os principais es bogs de suas opinies, entretanto, slo razcavelmente claros. A natureza da classe Para Marx, uma classe & um grupo de pessoas que se encon tram em uma relago comum com os melos de produgiio ~ os meios pelos quais elas extraem seu sustento, Antes do avanco da inddstria moderna, os meios de produgio consistiam primei- ramente na terra e nos instrumentos utilizados para cuidar das colheitas ou dos animais no campo. Logo, nas sociedades pré- industriais, as duas classes principais eram aquelas que pos- sufam a terra (0s aristocratas, a pequena nobreza ou os donos de escravos) ¢ aqueles que se envolviam ativamente na produ- ‘glo a partir da terra (os serves, os escravas e os camponeses li- ves). Nas sociedades industriais modemnas, as fabricas, 08 e+ crit6rios, © maguinatio ¢ a riqueza, ou o capital necessétio pa- a compri-los, tommaram-se mais importantes. As duas classes principais so formadias por aqueles que possuem esses novos meios de producto ~ 0s industrialistas ou capitalistas ~c aque- les que ganham a vida vendencio seu trabalho para eles —aclas- ‘se opersria, ou, no termo hoje em dia um tanto arcaico as vezes preferido por Marx, 0 “proletatiado” De acordo com Marx, existe, entre as classes, uma relaco de explorago. Nas sociedades feudais, a exploragio geral mente assumiu 2 forma da transferéncia direta de produtos da classe camponesa para a aristocracia. Os servos eram forgados a darem determinada proporeio de sua produgdo a seus amos aristocratas, ov tinkam que tabalhar varios dias por més nos campos de seu senhor para plantarem alimentos consumidos por este € seu séquito. Nas Sociedades capitalistas modernas, a fonte de exploracio € menos dbvia, e Marx dedicou muita atergiio tentando esclarecer sua natureza, No decorrer de um, dia de trabalho, raciocinava Marx, os trabalhadores produzem mais do que, na verdade, os empregadores necessitam para ‘compensar o custo de sua contratago. Essa mals-valia é.@ fon- te do lucro que os capitalistas conseguem juntar para o seu pré- prio proveito, Digamos que um grupo de operétios em uma fé- brica de roupas seja capaz de produzir cem ternos por dia. A ‘venda de 75% dos ternos proporciona ao fabricante uma renda suficiente para pagar os salétios dos operérios e o custo da fi brica e do equipamento, O rendimento proveniente da venda do resto das pegas é tomado como lucro. ‘Marx ficava perplexo diante das desigualdades criadas pe- lo sistema capitalista, Embora antigamente os aristocratas vi- vvessem uma vida cheia de luxos, completamente diferente da- quela dos camponeses, as sociedades agriias cram relativa- 236 _Avriowy Govens perizagioe a exporacéo, ‘mente pobres. Mesmo se a aristocracia nfo tivesse existido, os padres de vida seriam inevitavelmente parcos. Com 0 avango da industria modema, entretanto, a riqueza é produzida em uma cescala que ultrapassa tudo o que i foi visto anteriormente, mas ‘ acesso dos trabalhadores a riqueza gerada pelo seu trabalho é ‘pequeno. Continuam relativamente pobres, enguanto a riqueza acumulada pelo proprietariado cresce. Marx empregou 0 termo auperizacdo pata descrever o processo segundo 0 qual a clas se opera fica cada ver mais pobre em relagio 2 classe capita- lista, Mesmo que 08 trabalhadores fiquem mais ricos em termos absolutes, a distancia que os separa da classe capitalista conti- ‘hoa avangando, Essas desigualdades entre a classe capitalista e ‘ operiria nfo eram de natureza estritamente econdmica. Marx ‘observou como 0 desenvolvimento das fabricas modemas e 2 Imecanizacdo da produgio trazem como resultado urn trabalho que, com freqiiéncia, se toma extremamente enfadonho ¢ opres- sivo. O trabalho, fonte de nossa riqueza, 6, em geral, isicamen- te desgastante © mentalmente tedioso ~ como no caso de um perio de fabrics, cujo emprego consiste em executar tarefas rotineiras diariamente, em umn ambiente imutével. A teoria de Max Weber AA abordagem de Weber para aestatificago foi constutda so- ‘bre a andlise desenvolvida por Mars, porém ele a modificou ¢ aperfeigoou. Assim como Marx, Weber considerava que a so- ciedade caracterizava-se por conilitos sobre o poder € 0s recur- 508, Contado, onde Marx enxergava a polarizagdo das relagdes (Os operdrias das inistias, como estes minoradores, estavam no centro das teorias de Marx sobre o captelismo, a aur de classe e 0s temas econdmicos como 0 centro de todo © con- {ito social, Weber desenvolveu uma visio mais complexa, mul- tidimensional da sociedade, Para Weber, a estratificagdo social nio ¢ simplesmente uma questo de classe, mas € moldada por ‘mais dois aspectos: status e partido, Esses trés elementos de es- ttatificagio, que se sobrepdem parcialmente, produzem um ni mero enorme de posigdes possiveis dentro da sociedade, dife- rentemente do modelo bipolar mais rigido proposto por Marx. “Apesar de Weber aceitar « opinido de Marx de que a clas- se baseia-se em condigdes econdmicas objetivamente determi nadas, ele observow a importincia de uma variedade maior de fatores econdmicos na formacio da classe do que aqueles reco- tnhecidos por Marx. De acordo com Weber, as divisbes de clas- s¢ originam-se ndo apenas no controle ou na falta de controle dos meios de produgo, mas em diferengas econdmicas que no possuem nenhuma relagéo direta com a propriedade. Tais recursos incluem especialmente as aptidées e as credenciais, ou qualificagses, que influenciam no tipo de emprego que as ‘pessoas so capazes de conseguir. Weber acreditava que a po- sigdo de mercado do individuo exerce uma forte influéncia s bre suas “oportunidades de vida”. Aqueles que desenvolver. ‘ocupagées gerenciais ou profissionais ganham mais, edispéern de condigdes mais favordveis de trabalho, do que, por exemplo, s operirios. As qualificacdes que possuem, como tftulos, di- plomas ¢ habilidades adquiridas, os toraam mais “negociéveis” do que outros que nao possuem tais qualificagSes. Em um nivel mais baixo, entre os operérios, os artifices profissionalizados cconseguem arranjar ordenados mais altos do que os semi out no-profissionalizados Na teoria de Weber, o status refere-se as diferencas ex tentes entre os grupos sociais quanto & honra ou a0 prestigio social conferido pelos demais. Nas sociedades tradicionais, 0 status era, em geral, determinado com base no conhecimento direto de uma pessoa, adquirido por miitiplas interagdes em diferentes contextos 20 longo de um periodo de anos. No en- tanto, com o aumento da complexidade das sociedad, criou- se a impossibilidade de o status ser sempre concedido dessa forma e, em vez disso, de acordo com Weber, 0 status passou & ser expresso por meio dos estlos de vida das pessoas. Sinais ¢ simbolos de status—como a moradia, o vestir, 0 modo de falar © a ocupagdo ~ ajudam a moldar a posigdo social do individuo ‘os olhos dos outros. As pessoas que compartitham do mesmo stots formam uma comunidade na qual existe uma nogio de identidade conjunta ‘Embora Marx acreditasse que as distingbes de status fossem resultado das divisdes de classe dentro da sociedade, Weber de- fendia que o status geralmente softe variagies que independem das divisoes de classe. A posse de riquezas normalmentetende a conferir um status elevado, mas existem muitas excegdes. O ter- mo “pobreza geatil” refere-se a um exemplo. Na Gri-Bretanhs, 0s individuos provenientes de familias aistocratas continuam a desfrutar de um aprego social considersvel mesmo como firn de suas fortunas. & 0s “novos ricos” sto geralmente olbados com

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