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Lidia Costa Larangeira - Tese
Lidia Costa Larangeira - Tese
Instituto de Artes
Rio de Janeiro
2019
Lidia Costa Larangeira
Rio de Janeiro
2019
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH-B
CDU 793.3
_______________________________________ __________________
Assinatura Data
Lidia Costa Larangeira
Banca Examinadora:
_____________________________________
Prof. Dra. Denise Espírito Santo (Orientadora)
Instituto de Artes - UERJ
______________________________________
Prof. Dr. Ricardo Basbaum
Instituto de Artes - UERJ
______________________________________
Prof. Dra. Eloísa Brantes
Instituto de Artes - UERJ
______________________________________
Prof. Dr. Maurício Barros
Instituto de Artes - UERJ
______________________________________
Prof. Dr. Pablo Assunção
Universidade Federal do Ceará
Rio de Janeiro
2019
Para a minha amada Vó Vina, duas vezes mãe!
Para minhas filhas Anita e Rosa, que me ensinam a ser mãe!
Para minha amada mãe Vera!
Para Ana!
AGRADECIMENTOS
Como começar? Como dar o primeiro passo (de dança)? Como pisar em um
chão desconhecido? Como começar uma e s c r i t a de tese dançada? Como pisar
em um chão conhecido sempre pela primeira vez?
Por que e como dançar quando o colapso do mundo parece nos dizer que é
preciso inventar outros modos de vida, outras formas de estar junto, que é preciso
reaprender (com as comunidades de mulheres? Com os povos ameríndios? Com as
culturas africanas?) a estarcom. Seria a dança capaz de agenciar novos LEVANTES
e fomentar uma “outra” política do encontro?
1
As mulheres integrantes d’onucleo apresentam a si mesmas, no anexo I.
2
As produções d’onucleo estão disponíveis em <https://www.onucleo.art>. Convido o(a) leitor(a) a
manter o site aberto em seu navegador para futuras incursões propostas ao longo do trabalho.
12
3
André Lepecki (1965) é ensaísta, filósofo, crítico, curador e dramaturgo. Professor no
Departamento de Performance Studies da New York University, leciona cursos de pós-
graduação em teoria da dança, dramaturgia experimental, teoria da cultura e crítica cultural desde
2000. Seus livros, palestras e textos publicados em português e em inglês vêm formando e
influenciando criticamente uma geração de pesquisadores em dança no Brasil, implicados em
pensar a dança a partir da perspectiva da antropologia cultural e dos estudos da performance.
4
Silvia Federici (1942) é escritora, professora e ativista feminista ítalo-estadounidense.
14
5
Sérgio Andrade é pesquisador, dramaturgista, crítico, professor dos cursos de dança da UFRJ,
coordenador do Laboratório de Crítica - LabCrítica e artista da dança. Sua tese de doutorado em
filosofia “Quando o pensamento vem dançando, quando a soberania treme” constitui contribuição
contundente para estudos críticos da dança no Brasil.
15
6
Dicionário Online de Português. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/coreografia/>. Acesso
em 04 mar. 2019.
7
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon,
2010, p. 180
16
coreografia foi usado para denominar sistemas de codificação de danças que tem
como projeto a produção de valores universais e inscritos sobre o suporte da folha
de papel.
Foster (2011) pondera que os primeiros usos do termo grego choreia estão
relacionados a outras duas raízes gregas: orches e chora, como se pode observar
nos tratados acima. Orches significa o lugar entre o palco e a plateia, onde atua o
coro, e chora, uma noção mais geral de espaço. O próprio Arbeau explica que na
língua francesa, le dançoir (o espaço da dança), corresponde à orchestre: lugar que
a dança e os gestos ocupavam nas tragédias, comédias e apriscos dos teatros
antigos. 8
8
ARBEAU. Thoinot. Orchesographie. Et traicte em forme de dialogue, par lequel toutes pesonnes
peuvent facilement apprendre & practiquer l'honneste exercice des dances. França, 1589.
Disponível em: <http://graner.net/nicolas/arbeau/>. Acesso em 26 set. 2019.
17
9
CALDAS, Paulo. Coreo|Grafia. In: XAVIER, Jussara e Instituto Festival de Dança de Joinville
(Orgs.) Seminários de dança: dança não é (só) coreografia. Joinville, 2017. p. 29.
10
A presente pesquisa não pretende se tornar trabalho historiográfico. O contexto histórico é
apresentado em linhas gerais, com o simples propósito de estabelecer as relações necessárias.
18
11
Derrida, em Mal de Arquivo, explana importante discussão sobre as forças que envolvem a
produção arquivística. Para mais informações, ver Andrade(2016) e Klinger(2007).
12
Franko escreve que ao invés de ver o balé de corte como uma expressão da inevitabilidade do
poder, por ele é considerado resultado de uma disputa de poder que vai atormentar o nascimento
da soberania no absolutismo. Para mais vide FRANKO, Mark. The Dancing Body in Renaissance
Choreography. Birmingham, EUA: Summa Publications, 1986.
19
[...] Vous le prenez fort bien, car naturellement, le masle & la femelle se
recherchent: & n'y a chose qui plus incite l'homme à estre courtois,
honneste, & faire acte genereux que l'amour: & si voulez vous marier, vous
debvez croire qu'une maistresse se gaigne par la disposition & grace qui se
voit en une dance 13 (ARBEAU, 1589, p.1).
La dance ou saltation est un art plaisant & proffitable, qui rend & conserve la
santé, convenable aux jeusnes, aggreable aux vieux, & bien seant a tous,
pourveu qu'on en use modestement en temps & lieu, sans affectation
vicieuse: je dis en temps & lieu, parce qu'elle apporteroit mespris a celluy qui
comme un pillier de salle y seroit trop assidu. Vous scavés que dis
l'ecclesiaste. Cum muliere saltatrice non sis assiduus. (Ne passe pas ton
15
temps avec une danseuse) (ARBEAU, 1589, p. 5).
13
[...] naturalmente, o macho e a fêmea estão procurando um pelo outro e não há nada que encoraje
mais um homem a ser cortês, honesto e a fazer um ato generoso do que o amor. Se você quer se
casar, você deve acreditar que uma amante ganha-se pela disposição e graça exibidas em uma
dança. (Tradução da autora).
14
ARBEAU, Thoinot. Orchesographie. Et traicte em forme de dialogue, par lequel toutes pesonnes
peuvent facilement apprendre & practiquer l'honneste exercice des dances. França, 1589.
Disponível em: <http://graner.net/nicolas/arbeau/>. Acesso em 26 set. 2019.
15
A dança ou saltação é uma arte prazerosa e deleitosa, que dá e preserva a saúde, adequada para
os jovens, agradável para os idosos, e bem conhecida de todos, desde que a utilizemos
modestamente no tempo e lugar, sem afetação viciosa: eu digo em tempo e lugar, porque traria
prejuízos para aqueles que, como um pilar no meio da sala, sejam muito assíduos. Ignore os
dizeres eclesiásticos Cum muliere saltatrice non sis assiduus (Não passe teu tempo com uma
dançarina). (Tradução e grifo da autora).
20
suas palavras, os últimos são “qualquer coisa que tenha de algum modo a
capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e
assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes” 16.
Entre os primeiros e os segundos estão os sujeitos que tem seus processos de
subjetivação como resultado desse corpo-a-corpo.
16 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? Outra travessia, Florianópolis, n. 5, p. 13, jan. 2005.
Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/12576/11743>. Acesso em:
10 de jun. 2019.
17
Conceber a coreografia como um dispositivo é entendê-lo como um mecanismo que
simultaneamente distribui e organiza a relação da dança com percepção e significação. Pois é
precisamente esse tipo de organização do campo percepto-linguístico que o aparato performa.
Como explica Gilles Deleuze, a maior contribuição de Michel Foucault para a teoria política da
significação, o conceito de dispositivo é aquele que embasa a percepção como sempre amarrada
a modos de poder que distribuem e apontam para coisas visivelmente e invisivelmente,
significância ou insignificância. De acordo com Deleuze, a descoberta de Foucault é que “cada
dispositivo tem o seu regime de luz, a forma como cai, suaviza e se espalha, distribuindo o visível
e o invisível, gerando ou eliminando um objeto, que não poderia existir sem ele”. (Tradução da
autora).
22
18
A existência dessas danças é desconsiderada nos tratados coreográficos, mas são visíveis o
bastante, a ponto de serem destacadas em outros tratados escritos na época, como será discutido
mais adiante neste estudo.
19
A política do chão será detidamente enfocada mais adiante.
20
Observação entre parêntese da autora.
21
Termos utilizados pela editora na apresentação do livro Malleus de Maleficarum, em sua
publicação de bolso.
23
séculos XVI e XVII por quase toda a Europa 22. A obra é dividida em três partes: na
primeira, explicita as condições necessárias para a bruxaria; a segunda versa sobre
os métodos utilizados para causar malefícios e indicam de que modo podem ser
curados; e, na terceira, cria uma tenebrosa coreografia judicial definindo normas
para instaurar os processos e suas condutas, instruindo sobre métodos de tortura
física e psicológica, sobre possíveis castigos e seu modo de execução como a
vivicombustão (nome técnico para condenação à fogueira).
22
Só para lembrar ao leitor(a), Orchesographie foi escrito no final do século XVI.
23
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p. 12
24
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p. 297.
24
vidas passou a ser questão central para o sucesso da transição econômica. Federici
(2017) considera, diferentemente das narrativas históricas habituais, que as
atribuições demoníacas e a pretensa “degradação” moral das mulheres camponesas
não seriam razões suficientemente fortes para justificar a proporção da violência,
ódio e aniquilação investida contra o gênero - 85% de todos os acusados de
bruxaria eram mulheres. Ampliando a análise contextual, a autora defende a tese de
que foi o perigo revolucionário que elas representavam frente à transição de um
sistema feudal para um sistema de capitalismo rudimentar, que recrudescia o
domínio dos homens sobre as mulheres (patriarcado) 25, que permitiu e fomentou
tamanha atrocidade. Além disso, a consolidação da propriedade privada, com a
expropriação das terras do sistema servil, o cercamento das terras comunais, a
implementação do trabalho assalariado e a criação da família nuclear foram medidas
que enfrentaram forte resistência, por restringirem e subjugarem os modos de vida
das mulheres da época.
25
O patriarcado é um sistema sócio-político onde o homem/pai coletiva e individualmente detém
autoridade moral, privilégios sociais, gerência política e controle das propriedades exercendo
controle sobre o corpo, o trabalho e a sexualidade das mulheres. Trata-se de uma forma de
organização em que as minorias são excluídas, silenciadas e apagadas em prol do domínio e do
controle masculino. Pesquisadores localizam essa forma de sistema que rege relações desde
muitos séculos antes de Cristo. O que convém salientar é que, no momento histórico analisado,
observa-se um recrudescimento e uma radicalização das condições de consolidação do
patriarcado em realidades difusas, como a propriedade privada, a família nuclear, a dominação
cultural, a exploração colonial e a soberania. Segundo Viale (2018, s.p), “A raiz do patriarcado é a
“propriedade” do homem sobre a mulher, a sua pretensão de considerá-la e o poder de fazer dela
uma “coisa sua”.
Para mais informações sobre o Patriarcado no Pensamento social Brasileiro ver: AGUIAR, N.
Patriarcado, sociedade e patrimonialismo. Soc. estado, Brasília, v. 15, n. 2, p. 303 -
330, Dec. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=>.
Acesso em: 24 Set. 2019. Para mais informações sobre a história do patriarcado ver: ZERZAN,
J. Patriarchy, Civilization, And The Origins Of Gender. Disponível em:
<https://theanarchistlibrary.org/library/john-zerzan-patriarchy-civilization-and-the-origins-of-
gender>. Acesso em 24 de set. 2019.
25
26
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p. 348.
26
27
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p. 346.
28
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p.346.
29
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante,
2017. p. 186.
27
30
As danças condenáveis eram as “demoníacas”, “selvagens” ou “incontroláveis” das mulheres
pobres. Cinicamente, no mesmo período histórico e no mesmo território, um também homem de
Deus, Arbeau, defende em Orchesographie os benefícios sociais que a dança proporcionaria aos
homens das classes dominantes, se fosse praticada conforme ele instruiu. Sob uma perspectiva
da história da mulher, é importante perceber a genderização, a classicização e a relação de
comando e obediência que o coreográfico instaura como força de operação. Força essa que é
transmitida distinguindo e hierarquizando a dança demoníaca e incontrolavelmente condenável da
mulher pobre da dança coreografada como força da lei que autoriza e legisla sobre os corpos.
28
instaurou a Caça às Buxas, mas não somente nesses territórios, conforme se coloca
em discussão a seguir.
31
Sobre as funções da lembrança e do apagamento da memória em fatos históricos mais será falado
no decorrer deste estudo, especialmente na sessão seis.
29
[…] a bruxa deverá ser examinada, não de alguma forma nova ou estranha,
mas da maneira habitual, com pouca ou muita violência, de acordo com a
natureza dos crimes cometidos. E enquanto estiver sendo interrogada a
respeito de cada um dos pontos, que seja submetida à tortura com a devida
frequência, começando-se com os meios mais brandos; o juiz não deve
se apressar em usar dos meios mais violentos. E enquanto isso é feito,
que o tabelião tudo anote: de que modo é torturada, quais as perguntas
30
32
LEPECKI, A. Inscrever a Dança. In. Revista Vazantes, Programa de Pós-Graduação em Artes,
ICA/UFC. Vol. 1, n. 1, 2017b. p.39.
33
LEPECKI, A. Inscrever a Dança. In. Revista Vazantes, Programa de Pós-Graduação em Artes,
ICA/UFC. Vol. 1, n. 1, 2017b. p.39.
32
34
Diversos autores se debruçaram sobre o problema da tradução e da notação. Em 1760, Jean-
Georges Noverre, em “Cartas sobre a Dança” aponta para o problema de se compor danças
através de palavras e assegura, na “Carta 13”, que a escrita nada acrescenta à dança.
35
LEPECKI. A Inscrever a Dança. In. Revista Vazantes, Programa de Pós-Graduação em Artes,
ICA/UFC. Vol. 1, n. 1, 2017 (b) p. 39.
36
Vide: PHELAN, Peggy. Unmarked: The Politics of Performance. New York: Routledge, 1993.
LEPECKI. A Inscrever a Dança. In. Revista Vazantes, Programa de Pós-Graduação em Artes,
ICA/UFC. Vol. 1, n. 1, 2017 (b)
FRANKO, Mark. Dancing Modernism/ Performing Politics. Bloomington: Indiana University Press,
1995.
33
37
Phelan (1993) discute, a partir das teorias feministas, a posição da mulher na economia das artes.
38
KLINGER, Diana. Paixão de Arquivo. Revista Matraga, Rio de Janeiro, v.14, n.21, jul./dez. 2007.
Disponível em:<http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga21/PAIXAO%DO%20ARQUIVO.html>.
Acesso em 20 ago. 2019. p. 170
34
39
Segundo Andrade (2016, p. 31) “Iterabilidade é uma noção pensada por Derrida para referir-se à
repetição do outro. “Itera” em sânscrito significa “outro”; iterabilidade seria o movimento de
repetição da singularidade como alteridade.”
40
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora
Elefante, 2017. p. 357
35
41
BORBA, R. (2014. p.465) apud SANTOS, G. M. Palavras de ordem das vadias na construção da
memória sobre a maternidade. Revista Outras Fronteiras, Cuiabá - MT , vol. 2 , n. 2, jul/ dez., 2015
Disponível em http://ppghis.com/outrasfronteiras/index.php/outrasfronteiras/article/viewFile/182/pdf
p. 211. Acesso em 10 jul. 2019. p. 211.
36
política aqui adotada, uma demarcação crítica, uma iluminação para retirada do
apagamento e um contraposicionamento.
42
FANON, Franz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 28.
37
43
Segundo Fanon (1968) o intermediário é o interlocutor ou o porta-voz do sistema de opressão do
soldado, ou gendarme ou o capataz. Já o feitor, o capitão do mato e outras funções repressivas
era exercida por um sujeito do povo, ex-escravo ou recém liberto, para exercer a função
assalariada, cargo de confiança do estado ou do patrão, contra seu próprio povo. Figura que
encarna as maiores contradições e realiza as maiores violências. Figura que vai, inclusive,
introjetar a obediência dentro da casa e do cérebro.
44 FANON, Franz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 28.
45
A Idade Moderna do ocidente é pautada a partir da história europeia e seus marcos cronológicos
são objeto de debate. A linha temporal que demarca a era moderna estende-se de meados do
século XV até à Idade das Revoluções no século XVIII. Muitos historiadores assinalam o início
desta idade na data de 29 de maio de 1453, quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos
turcos otomanos, incluindo assim o Renascimento e a Era dos Descobrimentos (as viagens de
Colombo que começaram em 1492 e a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da
Gama, em 1498), e data de término com a Revolução Francesa, no dia 14 de Julho de 1789.
38
até o esgotamento de suas forças, porque na ordem social ninguém mexe enquanto
eu estiver sobre esse cavalo.
46
SLOTERDIJK (2002, p. 33) apud LEPECKI, A Exaurir a Dança: Performance e a política do
movimento. São Paulo: Annablume, 2017(a), p. 41.
47
Na argumentação dramatúrgica do solo de dança “Brinquedos para Esquecer ou práticas de
levante”, desenvolvido como parte da pesquisa artística desta tese, foi trabalhada uma relação
entre a memória, a lembrança, o esquecimento e o apagamento a partir da compreensão de que
suas constituições se dão dentro de um campo de disputa político. Conforme argumento constante
da Pista 5, considerou-se que o principal movimento de dança, na segunda cena do trabalho,
envolve o gesto de lembrar e de reconhecer a contínua presença daqueles que são
hegemonicamente relegados ao esquecimento para que outros aqui estejam. Os bonecos tornam-
se o meio pelo qual o dispositivo coreográfico vai reconhecer, através da invocação da lembrança,
que os desaparecidos pela violência visível ou simbólica dos regimes patriarcais continuam por
aqui, que suas lutas e suas ideias seguem vivas, que suas vidas importam e não serão apagadas
das memórias. A invocação dos que são sistematicamente apagados, seja pelo lapso, pela
repressão, pela amnésia, pelo recalque, pela fantasmagoria, pela cegueira, pela captura ou pelo
esgotamento é um imperativo político na peça. A perplexidade reside no fato de que a mobilização
da lembrança mobiliza também o esquecimento.
48
LEPECKI. A. Exaurir a Dança: Performance e a política do movimento. Annablume, São Paulo,
2017a. p. 43
39
[...] e então eles dizem que viemos a essa terra para destruir o mundo.
Dizem que os ventos devastam as casas e cortam as árvores, e o fogo as
queima, mas que nós devoramos tudo, consumimos a terra, mudamos o
curso dos rios, nunca estamos tranquilos, nunca descansamos, sempre
corremos de lá pra cá, buscando ouro ou prata, nunca satisfeitos, e
então especulamos com eles, fazemos guerra, matamos uns aos outros,
roubamos, insultamos, nunca falamos a verdade e os privamos de seus
meios de vida. E, finalmente, maldizem o mar que pôs sobre a terra
crianças tão malvadas e cruéis (FEDERICI, 2012, p.378).
49
LEPECKI, A. Coreo-política e coreo-polícia. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 13, n. 1,
p.41-60, jan. (2011) 2012. p. 49.
50
LEPECKI, A. Coreo-política e coreo-polícia. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 13, n. 1,
p.41-60, jan. (2011) 2012. p. 51.
40
51
LEPECKI, A, Coreo-política e coreo-polícia. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 13, n. 1,
p.41-60, jan. (2011) 2012. p. 45.
41
processos históricos. Desde Arbeau (1589) a coreografia foi e continua sendo uma
imbricada relação entre dança, escritura, feminilidade, política e poder.
53
Para mais vide: <http://soulevements.jeudepaume.org/>.
44
Indignação,
Limite,
Perturbação,
Insurgência,
Excitação,
Transbordamento, alegria, tristeza, ostracismo, passividade,
Revolta, vida, respiro, saída da inércia, força, esperança, confiança,
Agressividade, violência, dor, raiva
e mais esperança, confiança e alegria…
“Levantes e Suspensões”.
54
“Levante” é uma música de Diego Telles composta sob encomenda para ambientar o primeiro
fragmento do solo de dança da autora, intitulado “Brinquedos para Esquecer ou Práticas de
Levante”. A letra é uma adaptação do texto “Levantes e Suspensões”, escrito por Lidia Larangeira
e Damiana Bregalda Jaenisch para performance desenvolvida na disciplina “Cena e Performance”,
ministrada por Eleonora Fabião, em 2016. Para mais, ver sessão seis desta tese.
46
Suspensão
Parar o tempo-espaço e observar os micromovimentos
na paisagem interna-externa
O céu e o mar em cada um
Corpo feito de mundo no tempo de olhar as estrelas
Interromper velocidade e urgência
Acolher a possibilidade da queda, subverter a ordem,
reconfigurar forças e formas.....
Dimensionar o peso das coisas.
Dimensionar o efeito do nosso peso no peso da terra.
Suspender o insustentável
Levante
Repetir o gesto impossível de manter as coisas no ar
Invocar uma força que tira da inércia
Ativar um espaço que se insubordina
Ser tomado por gestos que insistem
Colocar o mundo em Movimento
Jogar com o Absurdo
Sísifo
Oscilar entre cair e levantar
55
Eleonora Fabião é uma artista que realiza ações nas ruas. É professora da Pós-Graduação em
Artes da Cena e do Curso de Direção Teatral da UFRJ. É Doutora em Estudos da Performance
(New York University), Mestre em Estudos da Performance (New York University) e Mestre em
História Social da Cultura (PUC-RJ).
49
Ocupar con 4.700 ladrillos, 3 libros y 7 personas parte del piso bajo y
alrededores del Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica durante 7 días
seguidos. Desconectar la electricidad de las galerías, abrir todas las
ventanas y puertas, y pintar una de las paredes de amarillo 100%. Del lunes
al domingo, hacer y deshacer composiciones, formar y desformar espacios,
mover y ser movidos. Aceptar la ayuda de quien quiera ayudar. Construir,
seguir construyendo, seguir aprendiendo a construir. A mitad de la semana,
abrir una ronda de conversaciones. Y, en el último día, transportar los
ladrillos y los libros para la Casa de las Mujeres de la Maré, un proyecto de
la ONG Redes en el Complejo de la Maré. Los ladrillos se transformarán en
el cuarto y último piso de la Casa y los libros formarán parte de la biblioteca.
(FABIÃO, 2017, p.2).
56
FABIÃO, E. Llámame texto, solamente texto. Efímera Revista, Vol. 8 (9), noviembre 2017, p. 2 e
12. Disponível em:<http://www.efimerarevista.es /index.php/efimera/article/view/65>. Acesso em:
20 maio. 2019.
57
Programa Performativo é denominado por Fabião (2013, p.4) como o “enunciado da performance”,
contendo “um conjunto de ações previamente estipuladas, claramente articuladas e
conceitualmente polidas a ser realizado pelo artista, pelo público ou por ambos sem ensaio prévio”.
58
FABIÃO, E. Llámame texto, solamente texto. Efímera Revista, Vol. 8 (9), noviembre 2017, p. 2 e
12. Disponível em:<http://www.efimerarevista.es /index.php/efimera/article/view/65>. Acesso em:
20 maio. 2019.
59
Às políticas do chão está reservado espaço mais adiante neste estudo.
50
Por outro lado, a enunciada proximidade da artista com a dança poderia ser
reconhecida por uma certa lógica composicional, espacial e gestual, que envolve
formar e desformar espaços, fazer e desfazer composições, mover e ser movido. A
dimensão coreográfica das “composições e recomposições dos tijolos no espaço” é
evidente, mas o que o contra do coreográfico estaria agenciando no texto
curatorial?
Em 2016, lembro que o termo foi evocado para discussão em uma roda de
conversa com os artistas de Movimento HO e o público, mas as autoras não
estavam presentes e poucas hipóteses foram apresentadas. Na época, meu
pensamento circundava procedimentos composicionais coreográficos com alunos do
terço final dos cursos de dança da UFRJ, na disciplina de Composição Coreográfica
I, direcionando a reflexão sobre o que poderia o termo contra-coreografia agenciar
naquele determinado contexto e o que ele poderia iluminar em outros contextos.
Que gesto, então, estaria Eleonora fazendo para que sua contiguidade à dança
fosse denominada como contra-coreográfica? Arrisco imaginar que são as
“circulações transtemporais, sociopolíticas e histórico-afectivas” 60 críticas da obra
que contrapropõem ao legado ordenador/normatizador, solipsista, prescritivo,
heterocentrado e colonialista do coreográfico, o prefixo contra.
FECHA 62
61
RIVERA, T. Entrevista concedida a Lidia Larangeira. Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2019.
62
FECHA constitui recurso coreográfico importado do solo “Brinquedos para Esquecer ou Práticas
de Levante” (ver sessão seis), como procedimento de corte e interrupção do fluxo de pensamento
para introduzir outros elementos compositivos não continuados.
63
Traduzido para o português: “Performance como contra-coreografia e inscrição situada”.
52
FECHA
64
Texto de chamada/convocatória para as inscrições no Seminário Transincorporados de 2018.
Disponível em: <https://labcritica.com.br/trans-in-corporados2018/>. Acesso em: 23 ago. 2019.
65
AGAMBEN, G. Profanações. Tradução e apresentação de Selvino José Assmann, São Paulo:
Boitempo, 2007, p.79
53
A profanação implica, por sua vez, uma neutralização daquilo que profana.
Depois de ter sido profanado, o que estava indisponível e separado perde a
sua aura e acaba restituído ao uso. Ambas as operações (a secularização e
a profanação) são políticas, mas a primeira tem a ver com o exercício do
poder, o que é assegurado remetendo-o a um modelo sagrado; a segunda
desativa os dispositivos do poder e devolve ao uso comum os espaços que
ele havia confiscado (AGAMBEN, 2007, p. 68).
66
Nas referências anteriores, o termo contra-coreografia era escrito com hífen. Na concepção
conceitual desta tese o termo passa a ser escrito junto e sem hífen.
54
discutir o corpo que dança a partir de outras fabulações, além das prescritas pela
ontologia da imaginação coreográfica.
Em busca de metodologias que não ocultem o que não é dito, que traduzam
nosso engajamento com outros espaços e outros chãos para além dos tradicionais
da dança, que considerem o erro, o não-saber e o capital afetivo como valor e que
incluam a dimensão coletiva na produção de conhecimento encontrou-se o livro
“Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de
subjetividade”. Publicado em 2009 e organizado por Eduardo Passos, Virginia
Kastrup e Liliana Escóssia, a obra guiou, orientou e, por que não, instrumentalizou a
chegada em uma e s c r i t a contracoreográfica, que parte da experiência de ser
mulher e dançarina em diversos espaços da cidade. Como método, a cartografia
realiza uma reversão do sentido tradicional do percurso da pesquisa “não mais um
caminhar para alcançar metas prefixadas (metá-hódos), mas o primado do caminhar
que traça, no percurso, suas metas” (ESCÓSSIA et al, 2009, p. 17). A recusa à
prescrição metodológica ressoa com a recusa à prescrição coreográfica, apontando
56
67
FOSTER, H. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p.182.
68
FORTIN, Sylvie. Contribuições possíveis da etnografia e da auto-etnografia para a pesquisa
artística, n.7. Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas. Porto Alegre, 2009. p. 83.
58
69
FOSTER, H. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p.184.
70
FOSTER, H. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p.184.
59
71
Para plataformas digitais e trabalhos de artistas e pesquisadores que utilizam a cartografia, vide:
<https://cartografiariojucu.hotglue.me/>; <http://desarquivo.org/taxonomy/term/65>.
CARDOSO, Thereza Cristina Rocha. Por uma escrita de processo: conversas de dança do
espetáculo 3 mulheres e um café / Uma conferência dançada com o pensamento em Pina Bausch.
Tese (Doutorado em Artes Cênicas) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2012. 275f. Disponível em:
<http://web02.unirio.br/sophia_web/index.php?codigo_sophia=64648>. Acesso em: 25 set. 2019;
ANDRADE, G. C. Corpografia em dança: da experiência do corpo sensível entre a informação e a
gestualidade / Graziela Corrêa de Andrade. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Ciência da Informação, 2013. 324 f. Disponível em:
<https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUBD-9HHGXK>. Acesso em: 25 set. 2019.
RISLER, J. ARES, P. Manual de mapeo colectivo: recursos cartográficos críticos para procesos
territoriales de creación colaborativa. Buenos Aires: Tinta Limón, 2013. Disponível em:
<https://geoactivismo.org/wp-content/uploads/2015/11/Manual_de_mapeo_2013.pdf>. Acesso em
24 set. de 2019.
61
72
Sobre uma política do chão e a terraplanagem, ver CARTER, P. The Lie of the Land, London:
Faber & Faber, 1996. Part. 4, p. 291.
62
63
64
73
Convido o(a) leitor(a) a conhecer as práticas do projeto “Cartografias do Corpo na Cidade”, em
“Blog” no menu do site: <https://www.onucleo.art>
74
Convido o(a) leitor(a) a conhecer as integrantes, parcerias e colaborações, em “Início” no menu do
site: <https://www.onucleo.art>.
75
A Universidade Federal do Rio de Janeiro oferece três cursos de graduação em dança:
Bacharelado em Dança, Licenciatura em Dança e Bacharelado em Teoria da Dança.
65
76
Como é o caso dos trabalhos oriundos da dança pós-moderna, da dança conceitual e da dança
experimental, por exemplo. Para mais ver, ROCHA, T. Palestra - Corpo: Dança Conceitual. Trama
Interdisciplinar, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 26-40, 2014.
66
67
77
A Casa Porto - espaço cultural do Largo da Prainha - acolheu encontros semanais d'onucleo
durante um ano, de agosto de 2015 e a junho de 2016. Além da estrutura física e tecnológica da
Casa, tivemos o suporte generoso da equipe. Durante a residência, realizamos uma ocupação
afetiva e artística no Morro da Conceição com derivas coletivas, caminhadas, partilhas comestíveis
e exercitamos a escuta em conversas com os moradores. Para mais ver: <www.casaporto.rio/>.
78
“A partir de 2015, junto a’oncleo e como moradora do Morro da Conceição, fui movida por danças,
escritas e afetos em relações com pessoas e lugares do Rio de Janeiro, com suas memórias e
imaginários. Com uma série de experimentos na Praça dos Estivadores e o trabalho Salvas!
Erosão e Fé, concluí a graduação em dança. Hoje, atuo como professora de alongamento no
Morro da Conceição e desde 2010, como performer do Coletivo Líquida Ação que investiga,
através de performances, intervenções e oficinas, a água como bem comum, elemento vital e
mobilizadora de fronteiras físicas, políticas e culturais” (CHILINQUE, Thais. Integrante d’onucleo
desde 2015, formada pela Escola de Teatro Martins Pena e Bacharel em Dança pela UFRJ).
79
O mapa/desenho da p. 64 é uma das produções das nossas práticas de errância.
68
80
Ver e s c r i t a cartografia da p. 79.
69
81
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. 2006 (no
prelo), p.67. Disponível em: <https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-
produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf> Acesso em: 20 jul. 2019.
82
A plataforma de concreto foi o lugar em que gravamos o vídeo e escrevemos a cartografia de 6 de
novembro, sugeridos na p. 69.
70
83
<http://www.camara.rj.gov.br/planodiretor/pd2009/porto2009/aud_public_porto_maravilha.pdf>.
84
<https://portomaravilha.com.br/uploads/revistas/e4a9a9faf91836f5c586225108b4431a.pdf>.
71
O desenho das ruas e das casas, das praças e dos templos, além de conter
a experiência daqueles que os construíam, denota o seu mundo. É por isto
que as formas e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram
enquanto habitat permanente, podem ser lidas e decifradas, como se lê e
decifra um texto (ROLNIK, 2004, p.17).
uma memória que, ao contrário da lembrança, não se dissipa com a morte” 85. Não
são somente os textos que a cidade produz e contém (documentos, ordens,
inventários) que fixam esta memória, a própria arquitetura urbana cumpre também
este papel.
85
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 2004, p.16.
86
SECHI, Bernardo. Entrevista, Vitruvius, São Paulo, ano 05, n. 018.02, abr. 2004. Entrevista
concedida a RETTO JUNIOR, Adalberto da Silva; TRAFICANTE, Christian. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.018/3330>. Acesso em: 10 jul. 2018.
87
André Corboz historiador da arte, da arquitetura e do urbanismo, foi professor em inúmeras
universidades no Canadá e na Suíça. CORBOZ, André. El territorio como palimpsesto. Diógenes,
n. 121, México, UNAM. Coord. de Humanidades, 1983.
73
como palimpsesto 88, uma superfície sobre a qual se inscrevem diversas camadas de
texto, umas sobrepondo-se e apagando as outras, mas não completamente. Pode-
se pensar que a cidade é composta de camadas que se escondem e se revelam,
rastros, resíduos não completamente apagados das dimensões concebidas,
percebidas e vividas da história do espaço.
88
Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “Palimpsesto - s. m., pergaminho manuscrito
medieval em que, por raspagem, se fez desaparecer a primeira escrita para nele escrever de novo,
mas do qual, por vezes, se tem conseguido fazer reaparecer, por processos químicos, os
caracteres do texto primitivo”.
“O palimpsesto é uma imagem arquetípica para a leitura do mundo. Palavra grega surgida no
século V. a.c., depois da adoção do pergaminho para o uso da escrita, palimpsesto veio a significar
um pergaminho do qual se apagou a primeira escritura para reaproveitamento por outro texto. A
escassez de pergaminhos os séculos de VII a IX generalizou os palimpsestos, que se
apresentavam como os pergaminhos nos quais se apresentava a escrita sucessiva de textos
superpostos, mas onde a raspagem de um não conseguia apagar todos os caracteres antigos dos
outros precedentes, que se mostravam, por vezes, ainda visíveis, possibilitando uma recuperação”
(PESAVENTO, 2004, p. 26).
74
89
Palestra “Coreo-política e Coreo-polícia: mobilização, performance e Contestação nas fissuras do
urbano”, de Andre Lepecki, realizada no Auditório Manoel Maurício do CFCH da UFRJ (Campus
Praia Vermelha). 5 novembro 2013. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=RiwE8K3vhxM> Acesso em 15 set. 2019.
90
LEFEBVRE, Henri. A produção do Espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. 2006.
Disponível em https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-
espac3a7o.pdf Acesso em: 20 de jul. 2019.
91
BROWN, W. Undoing the demos: neoliberalism’s stealth revolution. New York: Cambridge, MA:
Zone Books; MIT Press, 2015.
92
CARTER, P. The Lie of the Land, London: Faber & Faber, 1996. Capítulo 4.
93
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. Belo
Horizonte, 2006, no prelo. Disponível em:
<https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf>.
Acesso em: 20 de jul. 2019. p. 66.
75
94
Paola Berenstein Jacques (2005), no texto “Errâncias urbanas: a arte de andar pela cidade”,
realiza um pequeno histórico das errâncias urbanas modernas dividindo em três: o Flâneur de
Baudelaire de final do séc XIX, as deambulações aleatórias dos dadaístas e surrealistas de 1910-
1930 e a deriva urbana dos situacionistas dos anos 1950 e 1960. No livro “Elogio aos errantes”
(2012), Jacques realiza um trabalho de valorização de práticas de errância como experiência, cada
vez mais rara, da alteridade.
76
95
Em dança, quando criamos ou improvisamos, a percepção do corpo se dilata, se abre para o
presente e o acontecimento é soberano. Nesse sentido, quando falamos em estado de dança, nos
referimos à instauração desse estado de atenção e presença a que nos transportamos dos
espaços tradicionais para a experiência coletiva do corpo na cidade, no qual desaceleramos o
ritmo ordinário e abrimos a percepção para outros atravessamentos: não cotidianos, cartográficos,
à espreita de um encontro.
77
78
Jacques (2012, p.111) no livro “Elogio aos errantes” - contraria autores que
defendem “o empobrecimento, a perda, a destruição e mesmo a expropriação da
experiência na cidade contemporânea” - afirmando sua sobrevivência através do
estudo de algumas narrativas errantes que apontam brechas e desvios, pequenas
resistências e insurgências necessárias para a multiplicidade de sentidos e a
complexidade presentes na experiência da alteridade da cidade.
96 CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: G. Gili, 2013.
p.78.
79
Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua
tem alma! Em Benarès ou em Amsterdão, em Londres ou em Buenos Aires,
sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é a
agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo sem o
auxílio dos deuses enquanto diante dos seus olhos uma rua abre para outra
rua... A rua é generosa. O crime, o delírio, a miséria não os denuncia ela.
A rua é a transformadora das línguas... A rua continua, matando
substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos
dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio
clássico dos léxicons futuros (RIO, 1995, p.4).
FECHA
80
FECHA
102
Para mais, vide: <http://gustavociria.co/trabalhos/aqui-enquanto-caminhamos/>.
103
Ocupação do Palácio Capanema pelos profissionais da cultura em manifestação contra a ameaça
de extinção do Ministério da Cultura no governo do Presidente Interino Michel Temer, 2016.
Convido o(a) leitor(a) a conhecer a experiência no OcupMinc em “Ocupações afetivas” no menu
do site: <https://www.onucleo.art> (rolar para a direita)
104
Ocupação estudantil nas Escolas secundaristas cariocas no governo do Presidente Interino Michel
Temer, 2016. Na sessão 5 discuto uma proposição realizada na Ocupação da Escola Amaro
Cavalcanti. Convido o(a) leitor(a) a conhecer a experiência no OcupAmaro em “Ocupações
afetivas” no menu do site: <https://www.onucleo.art> (rolar para a direita)
105
Ocupação da sede do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro por profissionais da saúde no
governo do Presidente Interino Michel Temer, 2016. Convido o(a) leitor(a) a conhecer a
experiência no OcupAmaro em “Ocupações afetivas” no menu do site: <https://www.onucleo.art>
(rolar para a direita)
106
Para mais, vide sessão cinco.
82
107
Na citação a seguir e ao longo das próximas páginas recorro a fragmentos hipertextuiais da
segunda cena do solo de dança “Brinquedos para Esquecer ou Práticas de Levante”, concebido
nesta pesquisa por mim, em diálogo com Sérgio Andrade, como dramaturgista. Adoto nesta
escrita o recurso coreográfico de interrupção do fluxo de pensamento para introduzir outros
elementos compositivos não continuados. A referida performance será discutida na sessão seis
desta Tese.
83
[...] uma ordem para encarar a crise nos olhos e criar uma vida urbana
alternativa que fosse menos alienada, mais significativa e divertida, porém,
como sempre em Lefebvre, conflitante e dialética, aberta ao futuro, aos
embates (tanto temíveis como prazerosos), e à eterna busca de uma
novidade incognoscível (HARVEY, 2014, p.11).
108
LEFEBVRE, Henri. A Internacional Situacionista (1983). In: COHN, Sergio; PIMENTA, Heyk. Maio
de 1968. Rio de Janeiro: Azougue, 2008. p. 44 - 63.
109
Para um panorama da violência no Brasil vide: Atlas da violência 2019. / Organizadores: Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Brasília: Rio de
Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Disponível em :
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784& >.Acesso
em: 27 set. 2019.
85
mulher congelada pelas poses das selfies sociais, a culpabilizam pela violência de
gênero sofrida.
Harvey (2014, p. 63) pondera que “o direito à cidade como hoje existe, como
se constitui atualmente, encontra-se muito mais estreitamente confinado, na maior
parte dos casos, nas mãos de uma pequena elite política e econômica com
condições de moldar a cidade cada vez mais segundo suas necessidades
particulares e seus mais profundos desejos”. A prática de criar cidade, de recuperar
uma relação de apropriação com a cidade não é um luxo, reivindicação supérflua,
mas a constatação de que mais uma necessidade básica está em falta, um direito
coletivo fundamental.
Careri (2012) esclarece, em revisão para a sexta edição italiana, que é muito
diferente falar sobre os movimentos artísticos que se constituem a partir do caminhar
nas cidades históricas europeias - em torno das quais crescem enormes áreas
vazias de subúrbios mais ou menos pobres, invisibilizados e inóspitos - e de se falar
sobre as errâncias nas cidades latino-americanas, como o Rio de Janeiro. Segundo
Careri (2012), a dimensão do medo na experiência do corpo da cidade latino-
americana não é apropriadamente abordada, nem vivida, da mesma maneira nas
cidades históricas europeias.
87
Careri (2012, p.170) considera que “o único modo de ter uma cidade segura é
haver gente caminhando pela rua. Só esse fato já possibilita que exista um controle
recíproco, sem necessidade de muralhas e de câmaras de vídeo. E o único modo de
ter uma cidade viva e democrática é poder caminhar sem suprimir os conflitos e as
diferenças, poder caminhar para protestar e para reivindicar o próprio direito à
cidade”.
110
A sensação de achatamento, redução e recolhimento do corpo diante das atividades rotineiras
sempre foi algo comum nas percepções coletivas d’onucleo, principalmente diante da abertura e
expansão que experimentávamos após nossas práticas coletivas.
90
91
111
Na p.94 apresento DEITAR NO CHÃO: uma curadoria de imagens selecionadas a partir da
observação das imagens fotográficas produzidas pel’onucleo em diversos espaços da cidade e
também do trabalho MelTe de Ana Rita Teodoro, discutido nas próximas páginas deste trabalho.
112
Lefebvre aborda, sob a perspectiva da psicanálise, uma dimensão reprimida e subterrânea da
cidade como seu “inconsciente” em LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros
Pereira e Sérgio Martins. Belo Horizonte, 2006, no prelo. Disponível em
<https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf>.
Acesso em: 20 de julho de 2019. p. 63
113
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. Belo
Horizonte, 2006 (no prelo). Disponível em <https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri.pdf>.
Acesso em: 20 jul. 2019. p.62.
94
114
Para mais vide: <https://cultura.estadao.com.br/blogs/joao-luiz-sampaio/a-nova-lei-rouanet-
incentivo-a-cultura-em-tempos-de-demonizacao-da-
cultura/https://www.hypeness.com.br/2018/10/nao-sem-a-lei-rouanet-o-brasil-nao-seria-a-suecia/>.
96
115
LEPECKI, A. Exaurir a Dança: Performance e a política do movimento. São Paulo: Annablume,
2017a p.136.
116
LEFEBVRE, A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. Belo
Horizonte, 2006, no prelo. Disponível em
<https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf>.
Acesso em: 20 de jul. 2019. p. 205.
117
LEFEBVRE, A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. Belo
Horizonte, 2006, no prelo. Disponível em
<https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf>.
Acesso em: 20 de jul. 2019. p. 205.
97
FECHA
Os mapas das páginas 129, 130 e 131 são estudos realizados em diferentes
ocasiões e revelam a pesquisa espacial de cada apresentação. Configuram também
documentações contracoreográficas da cena em questão.
FECHA
Ana Rita Teodoro 118, artista da dança que participa ativamente das atividades
do c.e.m, realiza um trabalho de dança contemporânea, intitulado MelTe 119 que foi
apresentado no Festival Urbano Pedras d’água - 2009 - em Lisboa; Fiar - 2010 - em
Palmela; no Festival Materiais Diversos - 2012 - em Minde; Atalaia -, 2014 - em
Castro Verde; Festival DDD - 2016 - no Porto; Festival DansFabrik - 2018 - em
Brest (França). A artista descreve o trabalho da seguinte maneira:
Um corpo escorre rua abaixo, num encontro íntimo com o chão. MelTe
estuda a possibilidade do corpo humano escorrer. Amasso a anatomia,
incorporo matérias que escorrem: água, resina, mel... Investigo um corpo
com um potencial de adaptação vasto. Só recriando se pode adaptar, só
mudando a matéria do encontro uma superfície dura pode tornar-se macia.
MelTe dá visibilidade ao abjecto e ao aprazível da cidade. A geografia faz o
corpo escorrer, sem organização, mas numa direcção muito clara, num
movimento contínuo sem princípio sem fim (TEODORO, 2009, s.p).
118
Ana Rita Teodoro(1982) é artista da dança portuguesa. Participa ativamente nas atividades do
c.e.m, onde desencadeia o estudo do corpo via a anatomia experiencial, a filosofia e o
cruzamento pluridisciplinar. É mestra em “Dança, Criação e Performance” pelo CNDC de Angers
e a Universidade Paris 8. Recebeu Bolsa de aperfeiçoamento Artístico da Fundação Calouste
Gulbenkian, em 2015 e é artista associada ao CND (Pantin).
119
<https://vimeo.com/55707825, https://vimeo.com/55707825 e https://vimeo.com/5816846>.
120
Disponível em: <https://vimeo.com/5816846>. Acesso em 20 ago. 2019.
99
[...] vou para a rua dias antes da performance propriamente dita. Vou deitar-
me de cabeça para baixo nas escadas, vou usar um degrau como almofada.
Vou testar a cumplicidade dos moradores para que estes possam, depois
apreciar o corpo-rasteiro de MelTe. Converso com quem passa e com quem
quer conversar. Os primeiros assuntos são “o que estou ali a fazer e
porquê?”, “Caiu ou está a cair?” a resposta é sempre a mesma, estou a
trabalhar para fazer uma dança. Depois desvio o assunto e converso dos
afetos, do tempo, da comida, da rua, do ontem e do amanhã. É assim
conversando que toda a rua se mobiliza para o acontecimento da
performance: lavam-se as escadas e as pedras da calçada, enfeitam-se
janelas e dá-se um arranjinho nas plantas. No fim oferecem-me copos de
leite fresco e massagens com alfazema. MelTe propõe ao espectador um
122
olhar macio face às coisas rasteiras.
121
LEPECKI, A. Exaurir a Dança: Performance e a política do movimento. São Paulo: Annablume.
2017a p. 31.
122
Material gentilmente cedido pela artista, de seu arquivo pessoal.
100
123
Panorama da violência contra a mulher no Brasil do Instituto Data Senado, 2016, In:
<http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR.pdf>.
124
Na época do Brasil colonial, lei permitia que marido assassinasse a própria mulher, In:
<https://www.geledes.org.br/na-epoca-do-brasil-colonial-lei-permitia-que-marido-assassinasse-a-
propria-mulher/>.
101
A Folha de São Paulo 125 noticia que o Brasil registra 606 casos de violência
doméstica e 146 casos de estupro diariamente
125
<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/brasil-registra-606-casos-de-violencia-
domestica-e-164-estupros-por-dia.shtml>
126
Panorama da violência contra a mulher no Brasil, do Instituto Data Senado.
<http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR.pdf>.
127
Ver:<https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/,
https://emais.estadao.com.br/blogs/nana-soares/em-numeros-a-violencia-contra-a-mulher-
brasileira/>.
128
Atlas da Violência, 2019. / Organizadores: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
102
129
MBEMBE, A. A crítica da razão negra. Lisboa: Antígona. 2014, p. 275.
103
104
130
Convido o(a) leitor(a) a conhecer as partilhas em “Oficinas” e “Ocupações afetiva” no menu do site:
<https://www.onucleo.art>.
131
Judson Dance Theater foi um movimento coletivo de investigação e experimentação vanguardista
em dança, composição, artes visuais e performáticas, que surgiu em Nova Iorque no início dos
anos 60, sediado na Judson Memorial Church, igreja localizada no Greenwich Village. Lá
aconteciam apresentações, ensaios e workshops pelos quais passaram importantes nomes da
dança pós-moderna americana como Trisha Brown,Yvonne Rainer, Steve Paxton, David Gordon,
entre outros.
132
Sally Bannes é escritora, historiadora e crítica de dança.
105
133
Dança contemporânea não é compreendida aqui como um estilo de dança, tampouco como toda
dança realizada concomitantemente ao tempo do calendário e do relógio. Utilizo o termo no plural
por entender que ele abarca uma multiplicidade de modos de produção, de técnicas, de teorias e
de poéticas em DANÇA fabricadas com a potencialidade de colocar o mundo presente em
questão.
107
Quais são os acordos que aquele sujeito aprendeu a fazer com sua dança?
Sob que pedagogia aprendeu a ser intérprete – uma pedagogia da
134
autonomia ou uma pedagogia da sujeição? Sujeição que implica na
formação de um sujeito na própria acepção da palavra – aquele que se
sujeita. Em pauta, novamente o difícil tema da formação em dança,
resistente entrave[...] (ROCHA, 2009, p. 61).
134
ROCHA faz referência aqui à formulação de Paulo Freire.
109
[...] - que mundo estou ajudando a inventar com a minha prática? Se o que
eu penso é o que eu pratico, e não poderia ser diferente, o quanto sou
responsável por meu próprio pensamento/prática? Como sugere mais uma
vez Jean-Luc Nancy há inevitavelmente um ajuste muito fino entre técnica e
conceito. Não há técnica sem conceito. Seguindo os passos de
Launay/Ginot; [...] a escola de dança é, por excelência, o local de
135
Para relação entre ensino/criação em dança com a obra de Paulo Freire, ver NEVES. M. R.
Paulo Freire, dança, ensino de dança: entrecruzando possíveis. 2º Seminário de Pesquisas em
andamento da pós-graduação EBA-UFMG, 2016. p. 1-15.
110
Não sabíamos que dança criaríamos com nossa procura, mas sabíamos que
não poderia ser regida pela alienação do contexto político-social como resultado da
história colonial. Em cada proposta buscamos formular estratégias experimentais
para acessar valores de caráter político-emancipatório como a autonomia, a abertura
para a dúvida, para o encontro - estarcom.
[...] está em jogo na sala de dança o que o professor entende que a dança
seja e ainda o que ele acredita que ela deva ser. Se ele entende a dança
como uma certeza – lógica da identidade -, ou uma dúvida - lógica da
diferença - e se ele, por exemplo, trabalha o movimento a partir da lógica do
controle do vir-a-ser da dança ou a partir da experiência e, portanto do
manejo, de seu devir. Em pauta, o futuro da dança definido a partir do que
seu conceito de dança ali praticado inclui e exclui. Pratica-se na aula – em
qualquer aula – um pensamento de dança. Sempre. São Launay e Ginot
quem sinteticamente ousam afirmar no contexto da educação em dança, ou
seja, da formação: - A dança? Isto não existe (ROCHA, 2009, p.56).
136
Exercício proposto pel’onulceo para os ocupantes do Palácio Capanema no OcupaMinc-RJ, em
2016, para os estudantes do Colégio Amaro Cavalcanti na OcupaAmaro; para os estudantes no
evento de recepção dos calouros de Educação Física da UFRJ 2016 e para os inscritos na oficina
no Festival Interuniversitário FestFic de 2016, no Fórum de Ciência e Cultura.
137
“Minha história com onúcleo começa em um momento de desmotivação com projetos na dança.
Onúcleo surgiu, então, como uma grande abertura para pensar, mover e criar junto, lado a lado
com outras dançantes, de um modo muito novo para mim. O convite veio pela Lídia de um modo
pouco habitual na minha experiência: era para a gente escrever-criar-dançar onúcleo no entre de
nós mesmas, sem hierarquias. Todas nós éramos propositoras e encorajadoras do projeto. Isso já
era uma micro revolução pra mim, junto com as integrantes d’onúcleo tive a oportunidade de
desenvolver minhas escritas autorais e coletivas, propor, experimentar e construir meu TCC com o
suporte crítico e artístico desse grupo. Em um determinado momento, houve a necessidade de ir
pra rua e chegamos no Morro da Conceição para criamos uma relação diferente da habitual com o
espaço e tempo daquele local no Rio de Janeiro. Aprendi a estarcom pessoa e lugares, lado a
lado, escutando o corpo e as casas, as janelas, o corpo delas, a pedra, as convidadas. Um
exercício de fazer corpo com as coisas, dança com as coisas. Habitar, escutar, rever e reinventar a
relação com a cidade. Parar em movimento, dançar na paragem, o tempo das coisas tendo seu
tempo. Atuamos na ocupação Amaro Cavalcanti, fizemos a ponte física e virtual com o Centro em
Movimento de Lisboa, nos debruçamos profundamente em escritas coletivas sobre a cidade, sobre
o corpo e a dança. Fomos construindo um corpo coletivo à espreita de um encontro. Corpo-
abertura, corpo-político, corpo-com. O núcleo foi um lugar de aprendizagem e descobrimento, de
ganho de autonomia e de insistência na dança, uma dança que aparece, que acompanha, que
brota do tempo com as coisas, com as pessoas e com os lugares. Sinto que foi n’onucleo que
política, cidade e dança se entrecruzaram para mim e nunca mais perderam o fio.” (GOUVEA,
Bruna. Integrante do Núcleo artista e pesquisadora da dança. Sou professora de práticas corporais
como pilates, educação somática e treinamento de força).
112
FECHA
FECHA
FECHA
138
BONFIM, L. A. Lavagem do Bonfim: Tradições e Representações da Fé na Bahia. II Congresso
Virtual de Antropologia, Simpósio em Antropologia Visual, Ciudad Virtual de Antropología y
Arqueología/Equipo NAYA, 2000. p. 2
115
116
139
Convido o(a) leitor(a) a assistir, durante 3 minutos, a matéria gravada para o programa Sala de
Convidados do Canal Saúde, sobre as ocupações secundaristas que veiculou imagens da limpeza
coletiva do chão, proposta pel’onucleo, em 17/05/2016. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=pLJS4wKgU-I&sns=fb&app=desktop>.
117
140
Convido o(a) leitor(a) a conhecer a cartografia produzida da experiência com a OcupAmaro em
“Ocupações afetivas” no menu do site: <https://www.onucleo.art>. Rolar para o lado direito para
imagens, vídeos e textos de todas as ocupações afetivas realizadas pel’onucleo.
119
141
Desde 2010, através do Programa de expansão universitária REUNI, a Universidade Federal do
Rio de Janeiro ampliou de uma para três graduações em dança dentro do Departamento de Arte
Corporal: Licenciatura em dança, Bacharelado e Bacharelado em teoria da Dança, que funcionam
no turno da noite.
120
142
Brinquedos para esquecer ou Práticas de Levante (2016), ou somente Brinquedos. Disponível
em: <https://www.youtu.be/iZMLua4zcE0>.
143
Convido o(a) leitor(a) a conhecer a visualizar imagens e vídeos do solo em “performances” no
menu do site: <https://www.onucleo.art>.
144
Para histórico de apresentações e ficha técnica do solo, ver Anexo C.
121
145
Disponível em <http://onucleo.art/performance>.
123
146
Ingressei na Lia Rodrigues Cia. de Danças em agosto de 2008 e permaneci até 2012, período
durante o qual colaborei para a criação de dois espetáculos (Pororoca - 2009 e Piracema - 2011) e
apresentei os trabalhos em mais de 10 países.
124
coreográfica, mas seu efeito esgotava-se muito rapidamente e ainda não parecia
justo na composição do trabalho.
Segui “matutando”, junto com a artista e colega Damiana Bregalda 147, uma
próxima experimentação para disciplina. Nesse novo encontro, começamos pedindo
uma peça de roupa emprestada de cada um e convidamos os colegas a se deitarem
no chão. Iniciamos jogando as roupas para o alto, enquanto as pessoas viam ou
sentiam as roupas caírem em seus corpos durante alguns minutos. Essa imagem
das roupas caindo nas pessoas, enquanto elas permaneciam deitadas passivas, me
inquietou e me fez perceber que não era este tipo de relação que estava querendo
construir com o público.
147
Na sessão dois deste trabalho transcrevo o texto escrito em parceria com Damiana para a
disciplina.
125
O que eu vou fazer aqui essa noite é um solo de dança. Mas eu não posso
fazer isso acontecer sozinha, por isso eu vou pedir a participação e a
colaboração de vocês. Como primeiro gesto, gostaria de pedir uma peça de
roupa emprestada de cada um. Pode ser qualquer peça, blusa, calça,
sutien, eu só não posso aceitar bolsas, sapatos e objetos.150
148
Pilotis do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que acolhe muitos grupos de dança
independentes.
149
LEPECKI, A. Exaurir a Dança: Performance e a política do movimento. São Paulo: Annablume.
2017a. p.147.
150
Texto falado pela autora no solo de dança “Brinquedos para esquecer ou Práticas de Levante”.
126
Na primeira cena das roupas as pessoas riam. Mas eu senti aflição. Não sei
se algumas riam de nervoso... rsrsrs. Há uma certa agonia entre o contraste
do seu corpo semi despido e a chuva de roupas. Me passa um pouco de
desespero (Mostra Caixote – 2018).
A ação tem uma violência e isso foi curioso com o contraste das crianças
rindo. Elas paravam e voltavam a rir, as reações que o público tem,
principalmente o público infantil causam estranhamento pelo contraste entre
a violência e a reação com a criança (CMHO – 2018).
151
Lia Rodrigues é uma das principais coreógrafas contemporâneas brasileiras em atividade no Rio
de Janeiro. Sua cia. de dança existe há 30 anos, e desde 2005 é sediada no Complexo da Maré.
O deslocamento de Lia para a Maré acontece após o término do projeto Cidadãos Dançantes,
desenvolvido por Ivaldo Bertazzo, impactando na vida de muitos adolescentes da região, que
tiveram uma formação de três anos em dança, consciência corporal e música e circularam com
espetáculos, ganhando notoriedade midiática. A chegada da Lia Rodrigues cia. de Danças, e a
posterior criação da Escola, acolhe um público da região que já tinha formação, mas não tinha
mais espaço de trabalho. Em 2008, em parceria com as Redes da Maré, Lia Rodrigues inaugurou
o Centro de Artes da Maré e abriu a Escola Livre de Danças da Maré, da qual participei
ativamente, realizando a coordenação pedagógica do Núcleo de Formação Intensiva de
Adolescentes - Núcleo 2. Para mais ver: <http://www.liarodrigues.com/page1/page1.html>.
131
lugares distantes e, por outro, podem nos atentar para turismo como atividade de
consumo dentro da racionalidade neoliberal, que transforma tudo em mercadoria,
inclusive as experiências de viagem e as próprias cidades.
152
ROCHA, Thereza. Entre a arte e a técnica: dançar é esquecer. In: MEYER, Sandra, NORA, Sigrid
e WOSNIAK, Cristiane (org.). Seminários de dança: o que quer e o que pode (ess)a técnica.
Joinville: Letradágua, 2009. p.52.
133
153
Disponível em <http://onucleo.art/performance>.
134
Estes dois enunciados espaciais têm, para nós, uma ambiguidade que
inaugura a proposta de toda a cena. Primeiramente, se entendermos as duas frases
isoladas, os bonecos podem ser vistos como um sistema de representação e a
circularidade como uma organização social sonhada. De outro modo, se as duas
frases forem entendidas como continuidade uma da outra – isso é um sistema de
representação, e isso é um sonho - podemos pensar que os sistemas de
representação são sempre da ordem do sonho, da ordem de uma correspondência
impossível, da ordem da falha. A maneira como os signos representam são acordos
implícitos, firmados diferentemente em cada sistema linguístico e cultural, e essa
operação de remissão de um signo é sempre imperfeita.
154
PELBART, P. (2007). Biopolítica. Sala Preta, 7, p. 57. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57320/60302>. Acesso em 28 jul. 2017.
136
Marielle Franco 155, a influência das redes sociais e das mídias alternativas na
produção e difusão de informação, as eleições presidenciais de 2018 e a pós-
verdade, entre outros. Camelier (2018) fala sobre como ela percebe essa
atualização:
Quase no fim deste texto, quando elenco uma lista de áreas do conhecimento
e exponho sua relação de soberania como poder-saber, damos a ver a perversidade
com que um campo de conhecimento é disputado como detentor único da verdade.
A lógica segregatória do condomínio pensada por Dunker, pode contribuir para esta
reflexão:
155
Marielle Franco elegeu-se vereadora com a quinta maior votação do Rio de Janeiro, para a
Legislatura 2017-2020. Socióloga, política, feminista e defensora dos direitos humanos, brasileira
era filiada ao PSOL e denunciava constantemente abusos de autoridade policiais contra
moradores de comunidades. Foi assassinada a tiros junto com Anderson Gomes, seu motorista,
em 14 de março de 2018. Até julho de 2019 nada se apurou sobre quem mandou matar Marielle.
139
156
Palavras transcritas de áudio gravado em debate público realizado após a apresentação de
“Brinquedos para Esquecer ou Práticas de Levante”, no Centro Municipal Hélio Oiticica, em agosto
de 2018, em interlocução com o grupo de pesquisa feito por/com/sobre mulheres, coordenado por
Danielle Machado. Vide Anexo V.
157
Refiro-me ao linchamento virtual que Wagner Schwartz sofreu após a performance “La Bête”, no
MAM em São Paulo, à detenção de Maikon Kempinski, em Brasília, com a Performance DNA de
Dan, à proibição da exposição “Queermuseum”, em várias cidade brasileiras e às violentas
censuras que Renata Carvalho, atriz trans, sofreu com a peça O evangelho segundo Jesus Rainha
do Céu. Ver: <https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/artista-detido-pela-policia-durante-
performance-de-nu-artistico-volta-ao-df.ghtml>,
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/12/opinion/1518444964_080093.html>,
<https://www.brasil247.com/cultura/censura-juiz-proibe-a-peca-evangelho-segundo-jesus-rainha-
do-ceu>.
143
todas e, principalmente, das mulheres racializadas e das que se localizam fora dos
privilégios de classe 158, conforme já explicitado em capítulos anteriores.
158
Para discussão sobre o feminismo e o neoliberalismo na América Latina ver SCHILD, Verónica.
Feminismo e neoliberalismo na América Latina, Revista Nueva Sociedad. ISSN: 0251-3552
Junho/2017. Disponível em: <https://nuso.org/articulo/feminismo-e-neoliberalismo-na-america-
latina/>.
159
MEDEIROS, Fernanda Luiza Silva. Feminismo e neoliberalismo na contemporaneidade: uma
“nova razão” para o movimento de liberação das mulheres? Teoria e Pesquisa. Revista de Ciência
Política. Dossiê. 2017, 26 (2) p. 146-167 Disponível em:
<http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/613/371>. Acesso 20 jul 2019.
p.159.
144
possibilidade de que, no futuro, essa cena seja substituída ou retirada por se mostrar
desnecessária, ou mesmo, por ser perigosa demais para ser dançada em tempos de
conservadorismo e censura.
160
A primeira parte do espetáculo “Aquilo de que somos feitos” (1999), de Lia Rodrigues, é formado
por corpos nus fazendo movimentos lentos. Esse trabalho é um marco da história da companhia
com apresentações em mais de 10 países, e sendo remontado até hoje.
161
LEPECKI, A. Planos de composição. In: GREINER, C.; SANTO, C. E; SOBRAL, S. (Org.).
Cartografia: Rumos Itaú Cultural Dança 2009-2010. São Paulo: Rumos Itaú Cultural, 2010.p.19
145
Muitas pessoas que assistiram ao trabalho mais de uma vez falam justamente
que voltaram para desobedecer porque, na primeira vez, não conseguiram ou, ao
contrário, voltaram a ver a peça porque tinham ficado com os olhos abertos e
queriam ver como seria a experiência conforme proposta. Também ouvimos
testemunhos sobre a mudança de apreciação do trabalho através da
experimentação de outros lugares na plateia.
Outro plano que interessa relacionar aqui é o que Lepecki (2010, p. 19)
chama de “plano da coisa”. O agenciamento do corpo da dançarina como não
humano é um plano de composição recente e crescente na dança contemporânea.
“A dança vai buscar no corpo a coisa que o corpo sempre foi ‐ amálgama de
orgânico e inorgânico, mineral e bicho, cuspe e matéria, opacidade e luminescência,
mineral e planta. Ou seja: coisa.” Parto, no trabalho prático, da imagem que primeiro
se configura como um corpo de mulher para, através de uma operação de
esgarçamento temporal e metamorfose, desdobrá‐lo em qualquer outra figura que o
espectador possa imaginar ‐ vegetais, animais, não humanos ‐ assumindo o estado
de vir a ser coisa, não pela interpretação de personagens, mas pela subversão dos
usuais regimes de mobilidade, posição do corpo e temporalidade do movimento da
dança contemporânea.
162
Trisha Brown (1936-2017) foi importante coreógrafa estadunidense que iniciou sua carreira na
Judson Church Theatre, em Nova Iorque, entre 1962 e 1964. Sua companhia de dança, Trisha
Brown dance Company, tem vasto repertório de trabalhos que são apresentados em diversos
festivais, formando uma geração de bailarinos e artistas pesquisadores. Ver parte do trabalho em:
<https://www.youtube.com/watch?v=cpLPajMhgWM>. Trisha compõe, com outros artistas como
Steve Paxton, Yvonne Rainer, Robert Morris, Robert Rauschemberg, o que historiadora da dança
Sally Banes chamou de dança pós-moderna, um movimento de ruptura com o que era conhecido
como dança moderna estadunidense, até então.
147
do corpo para a frente do palco, sem nunca permitir que o espectador veja o seu
rosto. Essa operação coreográfica retira do corpo o rosto, e da dança o que Deleuze
e Guattari (1996) chamaram de máquina abstrata da rostidade. Ao suprimir o rosto
do campo de visão o ícone dos processos de significação‐subjetivação é retirado.
Brown causa um estranhamento no que se espera comumente de uma dança de
palco, exige uma reconfiguração no sistema de linguagem‐sujeito que se explode na
ausência do rosto da bailarina, proposta pela operação de dançar as costas.
Segundo Kiffer (2005), nos desenhos de rosto Artaud não inventa uma outra
forma para o rosto, mas busca as forças e pressões que o possibilitam encontrar sua
própria face, em um devir desfigurante do rosto.
163
ARTAUD apud KIFFER, Ana. Expressão ou Pressão? Desfigurações poéticoplásticas em Antonin
Artaud. Revista LUGAR COMUM No21‐22, p. 39‐56. 2005 p.48 “O rosto humano é uma força
vazia, um campo de morte. A velha reivindicação revolucionária de uma forma que nunca
correspondeu ao seu corpo, que partia para ser outra que o corpo”. (Tradução da autora).
148
cabeça e cotovelos e, assim, os peitos e a cabeça formam a figura que é vista (de
cabeça para baixo).
Estas páginas são encerradas por decreto temporal, não porque estão
finalizadas. Por decreto temporal foi excluído deste trabalho o desenvolvimento de
um texto que analisa e discute a peça coreográfica “Eu organizo o movimento”, de
Ana Paula Bouzas (2016), dirigido pelo professor de balé e coreógrafo Paulo
Marques. Na argumentação, a referida obra é localizada como uma coreografia de
LEVANTE, um chamado cênico para a história da nossa ditadura militar, a ativação
artística de memórias e de violências que não se pode esquecer.
O(A) leitor(a) que chega até aqui atravessado pelos convites de participação
deve ter percebido que o corpo foi colocado sob rasura ( corpo ) ao longo do texto.
Justamente no corpo, materialidade primeira da dança, o ato de rasurar pretende
operar uma provocação no leitor. Rasurar como raspar a palavra, friccionar até que
seja borrada em seus contornos. Se rasuro o corpo em texto não é somente para
atentar às forças de apagamento e violência, mas principalmente para recusar
defini-lo, estratificá-lo e circunscrevê-lo. Menos uma negatividade e mais um
deslocamento da imaginação. Quais e quantas palavras caberiam em corpo? Quais
outras palavras, quando apagadas, permaneceriam intrinsecamente ligadas à
dança? Quais e quantos corpos são possíveis e visíveis?
REFERÊNCIAS
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literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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BUTLER, J. Levantes. Org. Didi-Huberman. São Paulo: Sesc São Paulo, 2017. p.
23-36.
153
CARTER, Paul. The Lie of the Land, London: Faber & Faber, 1996.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1996. v.1.
DIDI-HUBERMAN, G. (org.). Levantes. São Paulo: Sesc São Paulo, 2017. p. 23-36.
GODARD, Hubert. Olhar Cego. (2004) Entrevista com Suely Rolnik. Disponível em:
https://www.google.com/url?q=https://docdanca.files.wordpress.com/2013/10/.
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Grande do Sul: UFRGS, 2005. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_7/7_Paola%20Ber
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KLINGER, Diana. Paixão de Arquivo. Revista Matraga, Rio de Janeiro, v.14, n.21,
p.170-175, jul./dez. 2007. Disponível em:
http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga21/20ARQUIVO.html. Acesso em: 20
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KUNST, Bojana. About laziness and less work. In Facing Value. Radical
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MARTIN, Randy. Critical Moves. Durham, NC: Duke University Press, 1998.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Trad. Paulo Cézar Souza. São Paulo:
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PUCU, I.; RIVERA, T. Uma ação concebida por Eleonora Fabião. Centro Municipal
Hélio Oiticica, 2016. Disponível em: http://www.artes.uff.br/taniarivera/curadoria-de-
movimento-ho/. Acesso em 24 set. 2019.
157
RIO, J. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca,
1995.
ROCHA, Thereza. Entre a arte e a técnica: dançar é esquecer. In: MEYER, Sandra,
NORA, Sigrid; WOSNIAK, Cristiane (org.). Seminários de dança: o que quer e o que
pode (ess)a técnica. Joinville: Letradágua, 2009.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção primeiros
passos).
SECHI, Bernardo. Entrevista, Vitruvius, São Paulo, ano 05, n. 018.02, abr. 2004.
Entrevista concedida a RETTO JUNIOR, Adalberto da Silva; TRAFICANTE,
Christian. Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.018/3330. Acesso em: 10 jul.
2018.
Bruna Gouvea
Raquel Oliveira
Tamara Rothstein
Thais Chilinque
Laura Vainer
Bruna Belem
APRESENTAÇÕES
2016
30 de abril
Mostra Esforços #1, Olho da Rua, Rio de Janeiro - Brasil.
2 de julho
Partilha do processo de criação no Festival Pedras’16 Casa Connosco, Lisboa- Portugal.
10 de agosto
World Dance Alliance Americas, Cholula - México.
2017
10 de novembro
Convidado para O Seminário Internacional Trans-In-Corporados, Museu de Arte do Rio, Rio
de Janeiro - Brasil
17 de novembro
Mostra 69 #4. Casa Temporariamente sem Nome. Rio de Janeiro - Brasil
3 de dezembro
Convidado para a Abertura Casa Territórios. Rio de Janeiro - Brasil
1 de agosto
COART/UERJ. Rio de Janeiro - Brasil.
2018
18 de agosto
Centro Municipal Hélio Oiticica CMHO, Curadoria do grupo de pesquisa De/Sobre/Feitas por
Mulheres, Rio de Janeiro - Brasil.
27 de outubro
Ocupação Dança Viral. Teatro da Funarte Cacilda Becker, Rio de Janeiro - Brasil.
29 de novembro
Convidado do Evento De Fora Pra Dentro, De Dentro Pra Fora, organizado pelo Curso de
Psicologia da UFF, Campus Gragoatá, Niterói - Brasil.
8 de dezembro
Mostra Caixote, Curadoria de Laura Samy - Escola de Cinema Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro
- Brasil.
2019
29 de maio
Conversas (Sobre)postas- urgências políticas e artísticas nos corpos e nos fluxos da cidade
do Rio de Janeiro. Convite Capacete + Panorama
166
4 de agosto
Festival Remoto
11 de outubro
Teatro Cacilda Becker
26 de outubro
Museu de Arte do Rio de Janeiro, MAR. Encontro Deligny. Curadoria de Tania Rivera
FICHA TÉCNICA
Esta é uma transcrição de um áudio pessoal. Alguns trechos não estão audíveis.
Expressões repetidas da linguagem falada foram suprimidas.
PESSOA 1
Encontro com o Grupo de pesquisa de/sobre/com mulheres. Recorte de pesquisa
sobre mulheres mães que produzem arte. Trabalho da peca vem num momento de
retomada politica e de levante. Momento de resistência, cada pequeno gesto
reverbera e produz. A ideia do convite para o trabalho é uma troca e encontro.
Pergunta como se deu a construção dramatúrgica entre as três partes, como elas
são amarradas.
LIDIA
Trabalho em três fragmentos que tratam de práticas de levante, sem relação linear
entre si.
Condução de momentos até chegar ao corpo de mulher nu que ativa a experiência
de poder ser outras coisas, não somente a prescrição de um corpo de mulher.
Quanto à passagem entre as cenas:
Cena uma sempre é recoreografada no encontro com o espaço que se faz. Não se
estabelecem em relação linear, mas constroem juntos uma dramaturgia de um
estado até chegar no corpo nu de mulher exposto.
Lembrar que coisas que não podemos esquecer. Ativar lembranças que estão
esquecidas. Trazer para o presente, coisas que deveriam ficar escondidas.
A amarração tem a ver com o público - com a participação do público.
A costura tem a participação do outro, o espaço do outro como uma costura
possível. A primeira cena desestabiliza os lugares estabelecidos entre público e
artista. Disputas do espaço e dos papéis.
A abertura para a participação entre o meu espaço e do outro. Mas essa leitura é
minha e não é fechada.
Relação com os espaços, periferia, o centro, o canto.
PESSOA 2
O trabalho com os brinquedos e a primeira parte deixa ver uma certa mostra da
sociedade, ele deixa ver as relações de poder existentes na sociedade. As relações
de espaço - lugar de poder dos espaços entre público e artista, a periferia, o centro o
espaço, o campo. A entrada nos espaços dos outros.
A primeira cena explora os espaços periféricos, entra pelo corpo das pessoas,
atravessa e é atravessado pelos corpos. Disputas do espaço público/privado. Em
alguns lugares as pessoas também jogam as roupas, em outros lugares. As crianças
que estavam participaram respondendo com as roupas. Vai além da fala sobre como
os corpos se movimentam.
LIDIA
As disputas dos espaços são questões que nos acompanham.
Como chegar nos espaços? Como co-habitar os espaços dos outros?
Trabalho alimentado e criado pela experiência com a cidade, com onucleo, vivido na
rua.
Quem tem o direito de ocupar os lugares?
168
SÉRGIO
Na rua o encontro é radical com a diferença, o outro com a alteridade. Encontro com
a alteridade, outras pessoas, coisas, objetos, celulares, fantasmas, não gentes.
LIDIA
O encontro nem sempre é harmônico. Encontro prevê conflito e negociação.
PESSOA 2
O encontro prevê também um certo acordo comum do lugar que cada uma ocupa.
Todos sabem os lugares designados para cada um, mas a iminência de sair desse
lugar pode despertar uma grande revolta – maximizando pequenas coisas, relações
cotidianas. A transformação desses lugares. Saída dos lugares prescritos podem
causar pequenas e grandes revoltas. Todos sabem os lugares que devem ocupar,
mas sair desse lugar pode causar uma grande revolta.
ESPECTADOR 3
Observou uma clareza da narratividade do trabalho em sua terceira assistência do
trabalho.
Reativa a curiosidade sobre a articulação dos atos. O título pressupõe dois termos,
mas são três atos, parecia que faltava alguma coisa.
Para ele o primeiro ato é a colocação das condições de possibilidades:
- participação: alteração da separação entre publico e artista espacial. Encontro com
a alteridade, e a transformação dessa relação.
- o trabalho exige uma experiência intensa de esgotamento que é partilhada com o
público uma experiência prévia de esgotamento- sensação de estar no limite. No
limite podemos então fazer esses Brinquedos para esquecer ou práticas de levante.
Na segunda cena - Brinquedos para esquecer- cena 2
Mudança de sentido com uma mudança de posição. São os mesmos bonecos, o que
se muda é a posição deles no espaço, A MUDANÇA do espaço altera o sentido dos
termos: da posição de ditador, para integrante de família para alunos de escola. A
narrativa vai sendo contada a partir da mudança de posição do espaço. E isso
resolve um movimento integrativo A última figura da narrativa das estratificações é o
pai. O último colocado para finalizar os elementos estratificados. Até ali tudo está
definido- Quando aparece o útero percebe-se uma outra função, como resolução
onde tudo se indiferencia, não se estratifica mais, no útero.
LEVANTE
Aí o que aparece é a experiência do feminino- que não é mais a mulher, mas uma
experiência de desorganização. É incrível o que você consegue fazer com o seu
corpo. Você consegue submeter o seu corpo a uma desorganização. Você
compartilha com a gente uma experiência de corpo desorganizado. Um corpo sem
órgãos. A gente vê essa metamorfose essa gênese de novas formas Isso talvez
tenha a ver com um princípio feminino que você quer chamar de levante, prática de
levante, que é a criação de novas formas - inventar novas formas. Quem fica bem de
frente realmente tem tempo pra ficar olhando a experiência, eu hoje consegui ficar
bem de frente, é impressionante. Partilha com a gente uma experiência muito forte.
O prazer estético é diferente porque ele produz um certo mal estar. É de fato uma
experiência de desorganização, de desestratificação. A gente vê aparecerem novas
formas, e isso dá um certo alento, mas a experiência inicial é de muito mal-estar com
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essa desorganização. É incrível o que você faz com o corpo ali. Tem que fato estar
esgotando, uma forma tem que esgotar para poder ver a gênese de uma outra
forma, é preciso passar pelo esgotamento.
LIDIA
O prólogo que leva ao esgotamento que parece ser necessário para poder dar carne
para as coisas que vem depois não serem frívolas.
Levantes são coisas que nos tiram do lugar, que operam deslocamentos. Todas as
cenas são levantes, eles operam de alguma maneira coisas que tiram do lugar.
Todas as cenas para mim são levantes.
SÉRGIO
“Brinquedos para esquecer” está em todos e práticas de levante está em todos.
Constatativamente a segunda cena traz brinquedos, mas nós vemos brinquedos em
todas as partes. A experiência de brincar com todas as partes foi levando para a
configuração das cenas.
O encantamento inicial de brincar com a queda das coisas... permitiu que as roupas
fossem virando muitas outras coisas... até uma guerra...
PESSOA 3
A possibilidade de a coisa acontecer a qualquer momento. Vai começar! Sobre
práticas, o corpo está atravessando uma prática. Mesmo a prática de descentralizar
a dança e a figura de artista está acontecendo no agora.
PESSOA 4
A ação tem uma violência e isso foi curioso com o contraste das crianças rindo. Elas
paravam e voltavam a rir, as reações que o público tem, principalmente o público
infantil causam estranhamento pelo contraste entre a violência e a reação com a
criança.
A respiração é um detalhe que dá muito desespero. O enfoque na respiração dá a
sensação de tortura. Que causa uma dissonância com o que está acontecendo. A
respiração é um item da comunicação que significa. Ela se sentiu como se o público
fosse os brinquedos. Ela acha que cada hora os brinquedos são diferentes. No
começo é o público, depois literalmente, e no fim o corpo.
PESSOA 4
Ficou com muito medo de abrir os olhos apreensiva com o que iria encontrar depois
de cada abre e fecha.
LIDIA
O ensaio e a apresentação do trabalho são duas coisas muito distintas, porque é
muito necessário atravessar as pessoas.
Algumas vezes o público não sai da frente, as pessoas não saem, ou elas
imediatamente aderem. Elas ajudam. Cada reação é o estabelecimento de um jogo.
A brincadeira do obedecer ou desobedecer. Aderir ou não. Faz parte do jogo. Não é
uma questão de comando, e um jogo. O BO seria uma opção que obrigaria a pessoa
a não ver.
O mecanismo realmente é muito envolvente.
Muitas pessoas me falam que nunca poderiam desobedecer. O artista vira um
policial.
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PESSOA 2
Fala sobre a discussão do grupo de pesquisa que pensa em Como fazer memória?
Como pensar memória fora dos modos tradicionais e institucionais? Como o artista
pode produzir outras memórias através do seu trabalho. E vê que o trabalho traz
uma hipótese sobre isso.