Você está na página 1de 18

ESTADO DE SERGIPE

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO PRESIDENTE DA EGRÉGIA


TURMA RECURSAL DO ESTADO DE SERGIPE.

Processo 202101011205

O ESTADO DE SERGIPE, pessoa jurídica de direito


público interno com endereço oficial para fins de intimações
na Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE,
por seu Procurador do Estado signatário, vem, ante a presença
de Vossa Excelência, inconformado com a decisão lavrada pelo
Presidente da Egrégia Turma Recursal do Estado de Sergipe,
negando seguimento ao recurso extraordinário interposto,
protocolar
AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

com fulcro no artigo 1.042 e seguintes do Código de Processo


Civil.

Roga o recorrente que, empós recebido e


processado o presente recurso, seja intimado o agravado para,
querendo, apresentar contrarrazões recursais, e, após, com ou
sem a manifestação do recorrido, que sejam os autos remetidos
ao Egrégio Supremo Tribunal Federal, objetivando final
provimento.

Termos em que, com a juntada das razões anexas,


aguarda deferimento.

Aracaju/SE, 28 de agosto de 2023.

MARCUS AURÉLIO DE ALMEIDA BARROS


Procurador do Estado - OAB/SE 97-B
Página 1 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL;


COLENDA TURMA;
EXCELENTÍSSIMO MINISTRO RELATOR;
DOUTA PROCURADORIA DA REPÚBLICA.

RAZÕES DO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

I. BREVIÁRIO FÁTICO.

Cuidam os autos de processo que teve seu curso


regular no sistema dos Juizados Especiais do Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe, tendo sido prolatado acórdão
que, reformando a decisão de piso, declarou a
inconstitucionalidade e ilegalidade do art. 14 da Lei nº
2.066/76 (Estatuto dos Policiais Militares de Sergipe), face
a incompatibilidade com o decreto-lei 667/69, ao qual atribui
o caráter de norma geral prevista no art. 22, XXI, da CF e
determinou que os aprovados no concurso da PM/SE ingressem na
corporação na 3ª classe, não havendo que se falar em soldado
aluno.

Conforme relatado anteriormente, apesar de


provocada por Embargos de Declaração, a Turma Recursal
permaneceu silente a respeito da argumentação no sentido da
não recepção da norma geral da alínea “c” do art. 8º do
Decreto-Lei nº 667/1969 pelo art. § 1º do art. 42 c/c o art.
142, § 3º, inc. III da Constituição Federal de 1988.

Deste modo, foram maculados os art. 93, IX da CF,


ante a negativa de prestação jurisdicional, além dos arts.
22, XXI; 42, §1º e 142, §3º, III, também da Carta Magna, como
se passa a demonstrar.
Página 2 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

Com isto em mente, foi manejado Recurso


Extraordinário por este Ente Federado, o qual restou
inadimitido pelo Presidente da 1ª Turma Recursal do Tribunal
de Justiça de Sergipe, ao argumento de aplicação das Súmulas
279 e 280 deste e. Supremo Tribunal Federal.

Tais fundamentos do decisum monocrático, concessa


vênia, não merecem guarida!

Eis o que impende relatar.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS – AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE


ANÁLISE DE LEI LOCAL

Excelências, o Recurso Extraordinário interposto


pelo Estado foi inadminitido em razão da suposta necessidade
de análise de legislação local, conforme se observa:

(…)

Analisando os fundamentos do Acórdão


recorrido, verifico inexistir plausibilidade
no direito invocado pela parte recorrente.
Explico. É que, no caso concreto, a
controvérsia foi dirimida com fundamento em
lei infraconstitucional local, qual seja, Lei
Estadual nº 2.066/76, o que impede a remessa
do recurso ao Supremo Tribunal Federal,
conforme se avista dos julgados abaixo:
“SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. INTERPOSIÇÃO EM
10.11.2015. ADMINISTRATIVO. POLICIAL CIVIL.
GRATIFICAÇÃO. LEI Nº 2.990/1998. ANTECIPAÇÃO
DE ABONO. LEI Nº 3.586/2001. SÚMULA 280 DO
Página 3 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

STF. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA


279/STF. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Nos
termos da orientação sedimentada na súmula
280 do STF, não cabe recurso extraordinário
quando a verificação da alegada ofensa à
Constituição Federal depende de análise
prévia da legislação infraconstitucional
pertinente à matéria em discussão. 2. A
análise de alegação que deva ser contrastada
com elementos probatórios trazidos aos autos
esbarra no óbice da Súmula 279 do STF. 3.
Agravo Regimental a que se nega provimento.”
(ARE 920350 AgR-segundo, Relator(a): Min.
EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
05/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-101
DIVULG 15-05-2017 PUBLIC 16-05-2017) grifou-
se. “AGRAVO INTERNO NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO ESTADUAL. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE
INDUSTRIAL. DECRETO ESTADUAL 16.282/94.
INTERPRETAÇÃO DE LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 280 DO STF. MANDADO DE SEGURANÇA.
IMPOSSIBILIDADE DE MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS NESTA SEDE RECURSAL. ARTIGO 85,
§ 11, DO CPC/2015. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.” (RE 937468 AgR, Relator(a):
Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
02/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-103
DIVULG 17-05-2017 PUBLIC 18-05-2017) grifou-
se. Com efeito, para se chegar ao exame da
alegada ofensa à Constituição Federal, faz-se
necessário analisar norma infraconstitucional
local, o que inviabiliza o extraordinário. No
caso, a afronta à Constituição Federal, se
Página 4 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

ocorrente, seria apenas indireta. Neste toar,


sem dúvidas, há óbice a remessa do apelo
extremo por força do que dispõe a Súmula 280
do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual
“Por ofensa a direito local não cabe recurso
extraordinário.” Mediante o exposto, INADMITO
o Recurso Extraordinário, NEGANDO-LHE
SEGUIMENTO. Intimem-se

Ocorre que não se está questionando dispositivos


da Lei Estadual nº 2.066/76, mas sim a violação ao art. 93,
IX da CF (negativa de prestação jurisdicional), além dos
arts. 22, XXI; 42, §1º e 142, §3º, III, também da Carta
Magna, conforme se observa dos tópicos seguintes.

II.1 – DA VIOLAÇÃO AO ART. 93, IX DA CF – DA NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Com efeito, prevê o art. 93, IX da CF que:

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos
nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;

Observa-se que o fundamento para a reforma da


sentença nos autos do recurso inominado 202101011205 foi
Página 5 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

inconstitucionalidade e ilegalidade da subdivisão da


graduação de soldado em 04 classes por incompatibilidade da
norma da legislação estadual com a norma geral do decreto-lei
nº 667/69. É o que se observa, inclusive, na ementa que se
transcreve:

ILEGALIDADE/ INCONSTITUCIONALIDADE DA
SUBDIVISÃO DA GRADUAÇÃO DE SOLDADO EM 04
(QUATRO) CLASSES. LIMITAÇÃO LEGAL PARA A
CRIAÇÃO DE CLASSES DE SOLDADO.
INCOMPATIBILIDADE DA LEGISLAÇÃO ESTADUAL COM
A NORMA GERAL (DECRETO‐LEI Nº 667/69) EDITADA
EM CUMPRIMENTO AO QUE EXIGIDO PELA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (ART. 22, XXI).

O argumento, trazido desde a defesa, de que esta


limitação não teria sido recepcionada pela Constituição
Federal simplesmente não foi analisado nem mesmo após
embargos, já transcritos nesta peça, mas que se repete aqui,
ao menos em parte:

“A despeito de ser vitoriosa a tese exposta


por V. Exº no julgado ora embargado, ou seja,
de que referida fase (Soldado-Aluno) seria
uma 4ª classe da graduação de Soldado, houve
omissão no r. voto no tocante ao tópico de
defesa sustentado pelo Requerido, qual seja,
à não recepção da norma geral da alínea “c”
do art. 8º do Decreto-Lei nº 667/1969 pelo
art. § 1º do art. 42 c/c o art. 142, § 3º,
inc. III da Constituição Federal de 1988, que
atribui aos Governadores dos Estados
competência plena para dispor sobre regime
Página 6 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

jurídico dos seus servidores militares,


particularmente sobre normas de ingresso no
cargo militar.

A conclusão do r. voto de V. Exª no


sentido da inconstitucionalidade do art. 14,
§ 9º da Lei Estadual nº 2.066/1976, com
redação dada pela Lei Complementar nº
231/2013, não apreciou, como sustentado no
bojo da defesa do ora Embargante, a questão
da não recepção pelo novo ordenamento
constitucional federal, de referida regra
Decreto nº 667/1969, que limita ao máximo de
03 classes a divisão da graduação de Soldado
PM/BM.”

O ponto nodal da defesa do Estado não foi


examinado.

Em situações como tais, este STF tem entendido


pela deficiência na fundamentação, negativa de prestação
jurisdicional e nulidade do acórdão.

EMENTA AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. TRIBUTÁRIO. ICMS. SERVIÇOS DE VALOR
ADICIONADO. COISA JULGADA. ENFRENTAMENTO.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE.
ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
VIOLAÇÃO. OCORRÊNCIA. 1. Implica negativa de
prestação jurisdicional o desprovimento de

Página 7 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

embargos de declaração opostos ante arguida


existência de vício, na hipótese de o
Tribunal de origem não haver apreciado a
matéria neles versada. 2. Articulada no
recurso extraordinário ofensa ao art. 93, IX,
da Constituição Federal, impõe-se a nulidade
do acórdão recorrido. 3. Agravo interno
provido, determinando-se o retorno do feito à
origem para o enfrentamento dos argumentos
veiculados nos declaratórios.

(STF - ARE: 1210762 GO 0324785-


84.2005.8.09.0087, Relator: EDSON FACHIN,
Data de Julgamento: 17/05/2022, Segunda
Turma, Data de Publicação: 21/06/2022)

Ante o exposto, há que se declarar a nulidade do


acórdão que rejeitou os embargos por violação ao art. 93, IX,
da CF e determinar o retorno dos autos à turma recursal para
exame da matéria.

II.2 - DA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 22, XXI; 42, §1º E 142, §3º DA
CF

Entendeu o acórdão recorrido que o decreto-lei


667/69 constitui norma geral nos termos do art. 22, XXI, da
CF, razão pela qual seu dispositivo insculpido na alínea “c”
do art. 8º do Decreto-Lei nº 667/1969 seria óbice a
subdivisão em quatro da graduação de soldado.

A discussão aqui, no entanto, é se este dispositivo


teria sido recepcionado, como norma geral, nos termos do art.
22, XXI, da CF, violado por ter sido chamado a regular

Página 8 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

situação estranha a seu âmbito de incidência, ou se o


dispositivo não teria sido recepcionado nos termos do art.
42, §1º e 142, §3º da mesma CF, violados porque ignorados na
atribuição aos Estados da competência para regular a forma de
ingresso em suas corporações militares e o regime jurídico
delas.

É essa a discussão dos autos.

O processo discute a violação, pela decisão,


dos dispositivos atinentes a distribuição de competência.

A previsão da alínea “c” do art. 8º do Decreto


nº 667/1969, quando confrontada com a disposição
constitucional específica direcionada para os militares dos
Estado (§ 1º do art. 42 c/c inc. X, do art. 142 da CFRB/1988)
perde completamente sua validade por ausência de recepção
(dessa específica norma e não do Decreto-Lei como um todo)
uma vez que, mutatis mutandis, referidas normas
constitucionais atribuem ao ente federativo a competência
específica para dispor sobre normas de ingresso nas
Corporações Militares Estaduais (Forças Auxiliares).

É o que se observa na leitura dos


dispositivos:

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e


Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.

Página 9 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do


Distrito Federal e dos Territórios, além do
que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas


pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria,
à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.

.............................................
.......................

§ 3º Os membros das Forças Armadas são


denominados militares, aplicando-se-lhes,
além das que vierem a ser fixadas em lei, as
seguintes disposições:

.............................................
.....................

Página 10 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças


Armadas, os limites de idade, a estabilidade
e outras condições de transferência do
militar para a inatividade, os direitos, os
deveres, a remuneração, as prerrogativas e
outras situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas
atividades, inclusive aquelas cumpridas por
força de compromissos internacionais e de
guerra.

Pela dicção do art.42, § 1º e da parte inicial


do inciso X, do § 3º, do art.142, repita-se, cabe à lei do
Estado dispor sobre regras de ingresso, limites de idade,
estabilidade e outros direitos dos militares estaduais, sendo
evidentemente a previsão da fase de curso (Soldado-Aluno)
norma específica do Estado de Sergipe de ingresso na carreira
dos Praças (Soldado a Subtenente).

Logo, a Lei Complementar nº 231/2013 ao dispor


que o ingresso do candidato ao cargo de Soldado (início da
carreira de Praças) dar-se-á na forma de matrícula no cargo
na condição de SOLDADO-ALUNO, durante a fase de formação
básica (CFSD), necessária e imprescindível para alcançar,
sucessivamente a 3ª, 2ª e finalmente a 1ª Classe da graduação
inicial está em harmonia com a previsão constitucional atual,
sendo correto afirmar que a restrição específica imposta pela
alínea “c”, do art. 8º do Decreto-Lei nº 667/1969 NÃO FOI
RECEPCIONADA, vez que se choca com a autonomia federativa
consagrada nas normas constitucionais acima sublinhadas.

De outro lado, o art. 22, XXI, da CF atribui a


União a competência para normas gerais relativas aos
Página 11 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

militares estaduais.

Aqui impende ressaltar que este STF já se


manifestou no sentido de que a interpretação a ser conferida
ao dispositivo deve ser restritiva. A advertência é feita
pelo Min Alenxandre de Moraes, citando o Min Maurício
COrreia:

“Com efeito, nos termos do artigo 22, XXI, da


Constituição Federal, compete privativamente à
União legislar sobre normas gerais de
organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação, mobilização,
inatividades e pensões das polícias militares
e dos corpos de bombeiros militares.

Por outro lado, o legislador constituinte


delegou aos Estados a competência legislativa
para tratar das especificidades atinentes aos
temas previstos no artigo 142, § 3º, X, da
Constituição em relação aos militares que lhes
preste serviço. É o que se depreende da
leitura do art. 42, § 1º, abaixo destacado:

“Art. 42 Os membros das Polícias Militares e


Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 18, de
1998)

Página 12 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do


Distrito Federal e dos Territórios, além do
que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.”

O artigo 142, § 3º, X, por sua vez, dispõe que


“a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
Armadas, os limites de idade, a estabilidade e
outras condições de transferência do militar
para a inatividade, os direitos, os deveres, a
remuneração, as prerrogativas e outras
situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas
atividades, inclusive aquelas cumpridas por
força de compromissos internacionais e de
guerra”.

De fato, a concepção de normas de caráter


geral relaciona-se ao estabelecimento de
diretrizes e de princípios fundamentais
regentes de determinada matéria, sem ser
possível ao legislador federal lançar mão de
disciplina relativa a peculiaridades ou
especificidades locais, descendo indevidamente
a minúcias normativas mais condizentes com a
atividadeo legislador estadual ou municipal. A
compreensão da terminologia “diretrizes e
princípios fundamentais” não pode ser ampliada
a ponto de tolher a capacidade de produção
Página 13 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

normativa conferida pela Constituição aos


demais entes federativos, sob pena de se
vulnerar o pacto federativo.

Nesse sentido, é necessário considerar, tal


como oportunamente destacado pelo Ministro
SEPÚLVEDA PERTENCE, que “problema sério, na
questão da competência concorrente, é a
demarcação do âmbito normativo das chamadas
´normas gerais´. E, nesse ponto, como
assinalou o Ministro NELSON JOBIM, essa
competência federal do art. 22, inciso XXI,
para legislar sobre ´normas gerais de
organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das
polícias militares e corpos de bombeiros
militares´, há que ser interpretada
restritivamente, dentro de princípios básicos
da organização federativa: ela só se justifica
em termos da imbricação dos prismas gerais da
estruturação das polícias militares com o seu
papel de ´forças auxiliares e reserva do
Exército´ (Const., art. 144, § 6º)” ( ADI
1.540, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal
Pleno, DJ de 16/11/2001).”

A advertência foi feita no voto da ACO 3396,


cuja ementa transcreve-se:

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONSTITUCIONAL.


FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. LEI 13.954/2019.
ALÍQUOTA DE CONTRIBUIÇÃO PARA INATIVIDADE E
Página 14 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

PENSÃO. POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES


ESTADUAIS. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
ESTABELECER NORMAS GERAIS. ART. 22, XXI, DA
CF/88. EXTRAVASAMENTO DO CAMPO ALUSIVO A
NORMAS GERAIS. INCOMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. Ação Cível Originária ajuizada por Estado-
membro com o objetivo não afastar sanção
decorrente de aplicação, aos militares, de
alíquota de contribuição para o regime de
inatividade e pensão prevista na legislação
estadual, em detrimento de lei federal que
prevê a aplicação da mesma alíquota
estabelecida para as Forças Armadas. 2. É
possível a utilização da Ação Cível
Originária a fim de obter pronunciamento que
declare, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo, particularmente quando esta
declaração constituir-lhe a sua causa de
pedir e não o próprio pedido. 3. As regras de
distribuição de competências legislativas são
alicerces do federalismo e consagram a
fórmula de divisão de centros de poder em um
Estado de Direito. Princípio da predominância
do interesse. 4. A Constituição Federal de
1988, presumindo de forma absoluta para
algumas matérias a presença do princípio da
predominância do interesse, estabeleceu, a
priori, diversas competências para cada um
dos entes federativos – União, Estados-
Membros, Distrito Federal e Municípios – e, a
partir dessas opções, pode ora acentuar maior
centralização de poder, principalmente na
Página 15 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

própria União ( CF, art. 22), ora permitir


uma maior descentralização nos Estados-
Membros e nos Municípios ( CF, arts. 24 e 30,
inciso I). 5. Cabe à lei estadual, nos termos
do art. 42, § 1º, da Constituição Federal,
regulamentar as disposições do art. 142, §
3º, inciso X, dentre as quais as relativas ao
regime de aposentadoria dos militares
estaduais e a questões pertinentes ao regime
jurídico. 6. A Lei Federal 13.954/2019, ao
definir a alíquota de contribuição
previdenciária a ser aplicada aos militares
estaduais, extrapolou a competência para a
edição de normas gerais, prevista no art. 22,
XI, da Constituição, sobre “inatividades e
pensões das polícias militares e dos corpos
de bombeiros militares”. 7. Ação Cível
Originária julgada procedente para determinar
à União que se abstenha de aplicar ao Estado
de Mato Grosso qualquer das providências
previstas no art. 7º da Lei 9.717/1998 ou de
negar-lhe a expedição do Certificado de
Regularidade Previdenciária caso continue a
aplicar aos policiais e bombeiros militares
estaduais e seus pensionistas a alíquota de
contribuição para o regime de inatividade e
pensão prevista em lei estadual, em
detrimento do que prevê o art. 24-C do
Decreto-Lei 667/1969, com a redação da Lei
13.954/2019. Honorários sucumbenciais
arbitrados em R$ 4.000,00 (quatro mil reais),
nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC de
2015, devidos ao Estado-Autor.

Página 16 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

(STF - ACO: 3396 DF 0092343-


28.2020.1.00.0000, Relator: ALEXANDRE DE
MORAES, Data de Julgamento: 05/10/2020,
Tribunal Pleno, Data de Publicação:
19/10/2020)

Assim, por qualquer ângulo que se observe


foram violados os dispositivos dos arts 22, XXI; 42, §1º E
142, §3º DA CF, na exata medida em que o acórdão afirmou que
a norma federal deve prevalecer no caso concreto quando a
competência legislativa é estadual.

III – DOS PEDIDOS

Ante tudo o que fora exposto e considerando a


argumentação adrede mencionada, tendo em vista o equivocado,
d.m.v., posicionamento oriundo do Presidente da Turma
Recursal do Estado de Sergipe, aliado ao conteúdo dos autos,
requer o insurgente:
A) A admissão e processamento do presente
Agravo em Recurso Extraordinário, nos
termos do contido no art. 1.042 do Novo
Código de Processo Civil pátrio, com as
alterações inseridas pela Lei nº.
13.256/16, eis que preenchidos, com
louvor, todos os requisitos de
admissibilidade;

B) A intimação da parte ex adversa para,


querendo, no prazo de lei, apresentar as
contrarrazões recursais;

C) O encaminhamento do presente
recurso, acompanhado ou não das
Página 17 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br
ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA GERAL DO ESTADO
COORDENADORIA JUDICIAL DE SERVIDOR E EMPREGADO PÚBLICO

contrarrazões, com o restante do conteúdo


dos autos, ao Egrégio Supremo Tribunal
Federal;

D) Suplica-se pelo conhecimento do


presente Agravo em Recurso
Extraordinário, julgando-se procedente a
presente insurgência, para receber,
conhecer e dar provimento in totum ao
Recurso Extraordinário outrora interposto
pelo agravante, e ora reiterado, em todos
os seus termos, para, assim, modificar o
acórdão vergastado, eis que a matéria é
de repercussão geral e notadamente porque
está prequestionada;

E) Ao fim e ao cabo, postula a Fazenda


Pública pela devida intimação de qualquer
ato processual subsequente.

Ex positis, crédulo nos fundamentos jurídicos que


afloram deste arrazoado, roga o recorrente pelo deferimento
dos pedidos, por ser medida de justiça.

Aracaju/SE, 28 de agosto de 2023.

MARCUS AURÉLIO DE ALMEIDA BARROS


Procurador do Estado
OAB/SE 97-B

Página 18 de 18
Rua Porto da Folha, nº 1.116, Bairro Cirurgia, Aracaju SE – CEP 49055-540
Tel.: (79) 3179-7600 - www.pge.se.gov.br

Você também pode gostar