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RESENHA – IT’S OK TO NO BE OK o drama onde está “Tudo bem não ser normal”.

It’s Ok to Not Be Ok teve seu fim e nos deixou com um sabor diferente, nunca antes provado
na história dos dramas coreanos. Vamos então para mais uma big resenha?

Já de cara VOCÊ é apresentado à Koo Moon-Young (Seo Ye-ji), uma escritora de contos
de fadas que teve uma infância deturpada por uma mãe de personalidade duvidosa que
desapareceu e um pai doente e louco. Seus contos mais parecem ser escritos para crianças
zumbis e suas histórias não são felizes e nem muito menos de encher de esperanças os
corações, na verdade, se eu fosse criança eu teria pesadelos até se eu lesse a receita de bolo
de cenoura desta mulher. Com uma pegada ácida, ela escreve tragédias que tem como moral
vários pontos que refletem as mazelas dos sentimentos humanos. De infantil isto não tem é
nada. Porém, apesar de ser uma pessoa extravagante de ter este estilo feroz de escrita e um
guarda roupa de fazer inveja, a autora é podre de rica e PODE ostentar a fama de ser
antipática e meio (completamente) doida. Isso faz com que seu editor sempre tenha que
quebrar o porquinho para pagar pelo silêncio das vítimas dos surtos de do seu Transtorno de
Personalidade Antissocial (APSD).

Na outra ala psiquiátrica do drama temos os irmãos Moon, o Gang Tae (Kim Soo Hyun),
que é tão lindo que me deixa doida e o Sang Tae (Oh Jung Se) que é de uma pureza que me
deixa de alma curada. Moon Gang Tae teve sua infância roubada após a morte de sua mãe e
hoje é cuidador (um tipo de enfermeiro) em hospitais psiquiátricos, mas acaba nunca ficando
mais de um ano em cada emprego, pois seu irmão mais velho, Moon Sang Tae tem transtorno
do espectro do autismo, e sofre com pesadelos de SER perseguido por uma borboleta (que,
por sinal eu também tenho pavor desse demônio de asas), uma vez que ele presenciou a
morte de sua mãe na adolescência e ele carrega na memória a imagem de um broche de
borboleta que o assassino usou e o ameaçou. Desde este acontecimento, Moon Gang Tae foi
obrigado a fugir e passar a vida cuidando do irmão mais velho que, apesar de demandar
atenção diferenciada devido ao autismo, é uma pessoa independente e determinada. Ele é um
aspirante a ilustrador e seus desenhos refletem, muitas vezes, sua visão do mundo ao seu
redor e seus desejos escondidos.

Mas, se fizermos uma análise mais profunda, Gang Tae também não é muito NORMAL,
e não bate muito bem da biela, e pode-se de dizer que ele sofre de síndrome de co-
dependência pois, apesar de ser ele quem toma conta do irmão “doente”, ele e se agarra ao
irmão como se Sang Tae não pudesse viver sem ele quando, na verdade, é ele quem precisa do
irmão para ter uma desculpa e uma razão para viver e é Gang Tae que se apega a este fato
para fugir de tudo e todos os laços que a vida oferece.

Porém, há destinos dos quais nós não podemos fugir. Em uma ocasião a vida e Moon
Young e Gang Tae se cruzam quando o rapaz impede que Moon Young tenha mais um acesso
de raiva e, daí por diante, suas vidas se entrelaçam episódio por episódio, contando uma
história muito rica de detalhes e linhas que unem o passado ao presente, quando estes três
personagens se mudam de volta para a cidade natal de onde eles saíram, ainda crianças, de
uma realidade malfadada e cruel.

Gang Tae passa, então, a trabalhar no hospital psiquiátrico Ok. Um lugar que subverte
os clichês que caricaturam as doenças mentais, este centro de saúde é repleto de luz do sol, e
nos mostram e contam histórias que nos apresentam distúrbios, transtornos, doenças e
traumas que fazem parte de uma realidade que para a sociedade de hoje são considerados
normais, ou talvez não dignos de cuidados e observações. Seja uma depressão OU PODE ser a
dependência do álcool, ou até mesmo acessos de loucura causados pela desatenção ao ser
humano. Este hospital serviu para mostrar que a normalidade é superestimada e que algumas
gostas de anormalidade fazem parte da vida. Tudo se resume a quem segura o conta-gotas –
que seja você: não dê aos outros o poder de te enlouquecer. Você pode ESCOLHER ser o dono
da sua própria loucura, convivendo em paz consigo mesmo e com ela.

Daí em diante o drama nos traz personagens incríveis e importantes. Nenhum dos
coadjuvantes deste drama apareceu em vão. Desde o médico chefe do hospital e cada um dos
pacientes e funcionários, cada um deles deve ser observado com carinho e cautela. Este é
outro ponto que este drama abordou e conseguiu seu objetivo com maestria: não julgar as
primeiras atitudes de alguém e tachar a pessoa de antipática – me perdoe, Nam Ju Ri, eu te
condenei e preguei na cruz antes de ver a florzinha que você é. Não confiar demais naquelas
pessoas que sempre parecem ser muito boas sem motivos, ainda que elas inspirem toda
confiança – diga-se de passagem, eu tenho tido pesadelos com “aquela pessoa” ainda hoje.

Um destaque deste drama que merece um parágrafo só dele foi o personagem de Sang
Tae, que nos mostrou com vivacidade e clareza todas as capacidades que uma pessoa autista
tem. Doce, sem maldade, puro e corajoso, este personagem foi o elo e o alicerce que não
permitiu que nem Gang Tae e nem Moon Young desmoronassem. Isso serve para nos mostrar
que, independentemente de suas limitações, todas as pessoas, tenham elas condições
neurológicas, psicológicas ou físicas especiais, são capazes de VIVER uma vida plena e
produtiva e fundamental para as vidas daqueles que os cercam. A atuação impecável de Oh
Sang Se foi um show à parte. Em todos os meus anos de dorameira (e de ‘seriezeira ocidental’)
foram raras as vezes que eu encontrei um ator tão talentoso e competente.

Este drama nos presenteou, episódio a episódio, com uma história tocante, muito bem
elaborada e totalmente crível. Com a licença poética da ficção, este drama conseguiu falar
sobre A LOUCURA na alma das pessoas, resumiu os sentimentos engolidos que muitas vezes
ficam entalados nas gargantas quando não conseguimos gritar por ajuda ou quando a nossa
voz parece ser abafada pelos nossos medos e receios da vida real. É um drama que pinta para
nós um mural de borboletas do bem e nos dá a esperança de sempre termos ao nosso lado
alguém que vai nos ajudar a sarar as nossas feridas psicológicas e para quem nós também
podemos ser fonte de cura e inspiração para encontrar a saída dos nossos labirintos interiores.

Tudo bem não ser normal nos contou muito mais do que um romance ou uma história
dramática. Foi um drama que nos fez rever nossas receitas, reavaliar nossa saúde mental e
desejar poder receber diariamente o mesmo tratamento que os pacientes do Hospital Ok
tinham. Acima de tudo, este drama nos deixa com uma mensagem de esperança. Nós não
somos apenas o fruto ruim do nosso passado e nós não precisamos atender às exigências de
um mundo que quer extrair de nós uma normalidade que é superestimada. Você pode
aprender a AMAR às pessoas ao seu redor sem medo de ser julgado. Você pode olhar para
estas experiências e trabalhar dia após dia para transformá-las nos degraus que te ajudarão a
construir o futuro, adicionando de propósito uma pitada de insanidade A SI MESMO, pois
neste mundo anormal é preciso ser um pouco louco para sobreviver. Enfim, It’s Ok to Not Be
Ok entrou para o rol dos melhores dramas já feitos e dificilmente veremos um roteiro com o
mesmo tema conseguir alcançar o nível de expertise que este drama conseguiu.
“Não se esqueça de nada. Lembre-se de tudo e supere. Se não superar, sempre será como
uma criança cuja a lma nunca floresce.”

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