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A Elessar
Um Manuscrito Perdido
Em eras posteriores houve novamente uma Elessar, e delas duas coisas são ditas, embora qual
era verdade só o pudessem dizer aqueles sábios que há muito desapareceram. Pois há quem diga
que a segunda pedra era tão somente a primeira que retornara, pela graça dos Valar; e que Olórin
(que na Terra-média foi conhecido por Mithrandir) a trouxera consigo do Oeste. E a certa altura
Olórin foi ter com Galadriel, que vivia então sob as árvores da Grande Floresta Verde, e tiveram
uma longa conversa. Pois os anos do seu exílio começaram a pesar à Senhora dos noldor, e ela
ansiava por notícias da sua família e pela terra abençoada onde nascera, entretanto, apesar disso,
não estava disposta a abandonar a Terra-média [tal frase fora mudada para: “mas ainda não lhe
era permitido abandonar a Terra-média”]. E depois de Olórin lhe dar muitas notícias ela suspirou e
disse: — Sofro na Terra-média porque as folhas caem e murcham, e meu coração suspira,
lembrando árvores e relva que não morrem. Gostaria de tê-las na minha terra.
— Certamente — disse Galadriel — atravessaram o mar, como quase todas as outras coisas
belas. Então a Terra-média terá de perecer para todo o sempre?
— Tal é seu destino — replicou Olórin. — Entretanto, por um breve período, isso poderia ser
remediado, se a Elessar retornasse; por um breve tempo até os dias do Domínio dos Homens
chegarem.
— Como, entretanto, poderia isso acontecer? — questionou Galadriel — Pois certamente os Valar
estão agora afastados e a Terra-média foi afastada de seu pensamento, e todos os que aqui
permanecem encontram-se sob a Sombra.
— Não, — objetou Olórin — os olhos dos Valar não estão obscurecidos, tampouco endurecidos
estão seus corações. Como prova olha para isto! — E colocou diante dela a Elessar, e ela olhou-a
e maravilhou-se. E disse Olórin: — Isto lhe trouxe de Yavanna. Usa-a como quiseres e durante
algum tempo farás de tua terra o lugar mais belo de toda a Terra-média. Porém não é para tu a
possuíres. Entregá-la-ás quando o momento chegar, pois, antes que te canses e enfim abandones
a Terra-média, virá alguém que deverá recebê-la, e o seu nome será o da pedra: Elessar será
chamado.
Há muito tempo, antes de Sauron ludibriar os joalheiros de Eregion, Galadriel foi para lá e disse a
Celebrimbor, o mestre dos joalheiros élficos: — Estou sofrendo aqui na Terra-média, pois folhas
caem e flores que amo murcham, de modo que minha terra está cheia de mágoa que primavera
alguma pode curar.
— De que outra maneira poderia ser para os eldar, se eles permanecem na Terra-média? —
perguntou Celebrimbor — Queres então atravessar o mar?
— Não. Angrod partiu, Aegnor partiu e Felagund não mais aqui existe. — respondeu ela — Dos
filhos de Finarfin sou a última, mas meu coração ainda é orgulhoso. Que mal fez a casa dourada
de Finarfin para que eu tenha de pedir o perdão dos Valar ou contentar-me com uma ilha no mar,
eu cuja terra nativa foi Aman, a Abençoada? Aqui sou mais poderosa.
— Gostaria de ter à minha volta árvores e plantas que não perecessem... aqui, na terra que é
minha — respondeu ela. — O que aconteceu à arte dos eldar?
— Atravessaram o mar — respondeu Galadriel, — como quase todas as outras coisas belas. Então
a Terra-média terá de perecer para todo o sempre?
— Tal é o seu destino, creio — respondeu Celebrimbor. — Mas sabes que te amo — embora
tenhas te voltado para Celeborn das árvores —, e por esse amor farei o que puder, se acaso pela
minha arte o teu sofrimento puder ser diminuído. — Mas não disse a Galadriel que ele próprio tinha
saído de Gondolin, havia muito tempo, e era amigo de Enerdhil, embora em muitas coisas este o
superasse. Entretanto, se Enerdhil não tivesse existido, Celebrimbor teria sido mais famoso. Por
isso meditou e iniciou um trabalho longo e delicado, e assim fez para Galadriel a maior das suas
obras (exceto apenas pelos Três Anéis). E é dito que mais sutil e clara era a jóia verde feita por
Celebrimbor do que a feita por Enerdhil, embora a sua luz tivesse menos poder. Pois enquanto a
de Enerdhil era iluminada pelo sol na sua juventude, muitos anos já tinham passado antes de
Celebrimbor iniciar o seu trabalho, e em parte alguma da Terra-média era a luz tão clara como fora,
pois, embora Morgoth tivesse sido expulso para o Vazio e não pudesse entrar de novo, a sua
sombra distante estendia-se sobre a Terra-média. Radiante, apesar disso, era a Elessar de
Celebrimbor; e ele engastou-a num grande broche de prata representando uma águia a erguer-se
de asas abertas. De posse da Elessar, todas as coisas tornaram-se belas à volta de Galadriel, até
a chegada da Sombra à floresta. Mas depois, quando Nenya, o principal dos Três, lhe foi enviado
por Celebrimbor, não precisou mais da pedra (assim pensou) e deu-a a Celebrían, sua filha, e
assim foi parar às mão de Arwen e Aragorn, que se chamou Elessar.
A Elessar foi feita em Gondolin por Celebrimbor, e assim passou para Idril e para Eärendil. Mas
essa desapareceu. A segunda Elessar também foi feita por Celebrimbor em Eregion, a pedido da
Senhora Galadriel (que ele amava), e não estava sob o domínio do Um Anel, pois foi feita antes de
Sauron se erguer de novo.