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Direito proc. penal

Direito Penal (Universidade Catolica Portuguesa)

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Descarregado por Pedro Rolino (pipasrolino@hotmail.com)
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Direito Processual Penal | Beatriz Gonçalves

Docente: Pedro Freitas (pfreitas@porto.ucp.pt) - gabinete ec116

Coordenador da cadeira: Damião da Cunha

Bibliografia: Manual (Maria João Antunes – direito processual penal 2018)

Avaliação: 2 mini-testes (15 março 18h30 e 26 de abril) e sabatina (14 - 16 de maio)

Direito Processual Penal (introdução)

Essência conjunta (global, unitária) do direito penal: (introduzida por Von Liszt) – trabalham em conjunto
para prevenir e reprimir o fenómeno criminal
• Politica criminal2;
• Dogmática3 – remete para o direito penal em sentido amplo;
• Criminologia1;

Criminologia1: estamos a falar de uma ciência que é multidisciplinar que tem por objeto de estudo as
causas do crime e o que provoca o crime. Para isso temos de estudar as caraterísticas dos delinquentes.
César Lombroso foi um dos criadores da criminologia. Hoje em dia é controverso pois ele achava que se
distinguia os criminosos pelas características físicas (ex: tem as orelhas grandes então é/vai ser burlão).
A criminologia é importante (para nós juristas) para conseguirmos usar o direito penal e o processo penal
com o objetivo de prevenir crimes para conseguirmos cumprir eficazmente as penas. Temos de perceber
porque que é que os crimes acontecem e o que leva as pessoas a cometer crimes. O direito penal e o
processo penal não podem ser aplicados cegamente.

Politica criminal2: conjunto de estratégias fundadas nos contributos dados pela criminologia que têm
como objetivo a prevenção e repressão da criminalidade através do direito penal. No fundo a politica
criminal é o “farol” do direito penal e do processo penal, indica que caminho se deve seguir.

Dogmática jurídica e penal3: engloba o direito penal, processo penal e direito penal executivo (como
isto se interligam).
Ex: o crime de violência domestica inicialmente era um crime que dependia de queixa por parte da vitima,
no entanto quando o crime dependia de queixa na pratica as vitimas não apresentavam queixa por
variados motivos porque estão dependentes economicamente do companheiro, dependência emocional,
é ameaçada pelo companheiro... este conjunto de razões levava ao aumento das cifras negras (é
reportada, mas não chega a entrar no sistema jurídico penal). Quando a criminologia se ocupa da
violência domestica tenta perceber o porque das vitimas não apresentarem queixa e o porque desta
violência existir. Esta violência ocorre por norma dentro de casa, ocorre um desnível entre o abusador e
a vitima. Foi necessário alterar isto através da politica criminal, mostrou-nos que não se estava a aplicar
corretamente a lei penal no que diz respeito à violência domestica, mas como? Através da alteração da
lei e o crime passou a ser publico, não necessita de queixa da vitima para entrar no sistema penal. O
numero de casos reportados aumentou, mas não quer dizer isto que tenha aumentado o número de casos
de violência, foram é mais casos reportados.
Mas nem tudo é bom pelo facto de o crime ter passado a ser publico, tiramos das mãos da vitima se o
processo crime deve iniciar-se. A vitima assume um papel passivo.

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Há quem ache que se deve voltar atras e colocar na vitima a decisão de se quer prosseguir com o
processo ou não. Ao criar o crime publico a vitima deixa de ser central do processo e passa a ser uma
testemunha.
Uma solução intermedia que foi encontrada foi a de continuar com o crime de violência domestica publico,
mas com um mecanismo provisório de suspensão do processo. O processo pára desde que determinadas
regras sejam cumpridas.

A lei de mediação penal permite que um caso de criminalidade leve (ex: furto simples, injuria...) possa
ser enviado para um processo de mediação, no entanto, para isso, é necessário que tenha o
consentimento quer da vitima quer do suposto delinquente. Este processo de retirar o conflito do
tribunal e enviar para as salas de mediação, consiste em termos um terceiro imparcial (mediador) que
tem como função estabelecer uma ligação/dialogo entre o delinquente e a vitima para que estes cheguem
a um acordo para a resolução do conflito.

Ex1: A danificou o muro de B e acorda-se que A vai pintar o muro de B.

Ex2: A injuriou B e B quer um pedido de desculpas e A faz esse pedido de desculpas.

Os acordos alcançados na mediação penal são permitidos desde que o caso não ponha em causa bem
jurídicos essenciais (Ex: A não se pode comprometer a cortar o dedo porque roubou um anel a B).

Através da mediação penal podemos conseguir duas coisas:


I. Estamos a colocar nas mãos dos principais intervenientes a solução para o caso onde estiveram
envolvidos (e há menor probabilidade de reincidência) – perspetiva idealista.
II. Do ponto de vista mais pragmático conseguimos “desentupir” os tribunais e há menores custos
no tratamento dos casos – perspetiva pragmática.

O problema que se coloca é saber se a violência domestica não é um crime demasiado grave para ser
tratado por este mecanismo, isto é, a questão de se saber se se tirar o Estado da equação se existirá
justiça ou não.
Inicialmente estavam pensados encontros restaurativos entre a vitima de violência domestica e o agente,
mas isto foi excluído do sistema penal português porque considera-se que isto só se relaciona com os
crimes mais leves atendendo à moldura abstrata.

Direito penal em sentido amplo/global (divide-se em 3 ciências): - relaciona-se com a dogmática


• Direito penal substantivo; (código penal)
• Direito processual penal ou direito penal adjetivo: é o ramo jurídico que se ocupa da
regulamentação jurídica de como se investiga a pratica de um crime, como se determina o agente
do crime (autor e cúmplices) e a recolha de material probatório que permita confirmar a existência
do crime e a identificação do autor com vista à aplicação de uma sanção jurídica. (código processo
penal).
• Direito penal executivo (Das penas e das medidas de segurança): ramo jurídico que se ocupa da
regulamentação jurídica das penas e das medidas de segurança - código de execução de penas
e medidas de segurança.

Temos o direito penal em sentido amplo/global e temos também o direito penal em sentido
estrito/substantivo: direito que se ocupa dos crimes/comportamentos e das sanções jurídicas (penas e
medidas de segurança).

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Direito processual penal

Pode ser caraterizado de varias formas, uma delas: corresponde a um conjunto de normas jurídicas que
disciplinam a aplicação pratica e concreta do direito penal a um caso concreto. No fundo estamos a falar
de um conjunto de atos ordenados de uma forma logica que têm como finalidade:
o determinar se existiu crime;
o quem foi o autor;
o e recolher prova para saber se o autor deve ou não ser condenado pelo crime.

Artigo 1º CPP (definições legais)

Quando falamos de pressupostos falamos: de uma ação típica, ilícita e dolosa (e culposa para alguns
autores).

O Código Processo Penal está dividido em 2 partes:


• Parte geral e institucional (8º-240º CPP): descreve desde logo quem são os sujeitos
processuais. Quem participa no processo penal e pode ter um poder de conformação do próprio
processo. Também determina que atos processuais existem e descreve institutos jurídicos como
medidas de coação, meios de prova e de obtenção de prova.
• Parte dinâmica/procedimental (241º-524º): observamos que nesta parte há uma descrição do
próprio procedimento penal (quem são os agentes que dirigem as diversas fases e quem pode
intervir no procedimento).

Relação entre processo penal e direito penal

Habitualmente diz-se que o direito processual penal não é um ramo meramente instrumental do direito
penal, é mais do que isso. Entre estes há uma relação mutua de complementaridade1 funcional. Isso é
visível em vários pontos. Estando violada uma norma de direito penal suscita-se que se recorra ao código
de processo penal.

Ex1: Artigo 113º CP – titulares do direito de queixa


Ex2: Artigo 118º e ss CP

• Há aqui figuras que embora escritas no código penal se voltam para a realidade processual e isto
mostra a relação umbilical entre o direito penal e o direito processual penal.
Em direito penal estudamos o principio básico da subsidiariedade do direito penal (deve atuar em
ultima rácio quando nenhum outro ramo seja adequado para resolver o litigio) – este principio também
está presente no processo penal. Sempre que seja possível evitar a aplicação de uma pena ou medidas
de segurança que seja restritiva de direitos fundamentais então deve-se evitar.2
Podemos ver a complementaridade também, por exemplo, com a interação que pode existir entre o
processo penal e o direito penal ao nível de alterações legislativas (Ex: o CP é alterado de forma a
tornar mais eficaz a aplicação do direito penal, mas também pode acontecer o contrário, o direito penal
ser alterado de forma a que se torne mais fácil a investigação desses mesmos tipos legais, supondo que

1
Com isto não significa que perdem a sua autonomia, são autónomos, mas estes dois ramos formam uma unidade, isto
é, um não sobrevive/existe sem o outro.
2
Artigo 281º CPP (exemplo)

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temos uma situação onde existe uma grande dificuldade de investigação – ex: corrupção (artigos 372º e
ss CP) – onde a prova do ato corruptível é extremamente difícil).

Não podemos ter pena nem crime sem processo (nullum crimen nulla poena sine processum), não
podemos ter aplicação de uma pena/medida de segurança sem termos um processo onde seja
determinada. – art. 2º CPP.

A propósito do processo penal, porque é que nós não temos um processo único que resolva todos
os problemas do direito substantivo?
E o que distingue o processo penal do processo civil?

Apela-se a esta distinção desde logo pelo o artigo 4º CPP – O CPC é de aplicação subsidiária quando
haja a inexistência de uma norma de direito processual penal de forma a resolver um problema jurídico.
Este apelo ao processo civil ocorre desde logo porque é um processo mais antigo, mais maturado, que
se aplica diariamente em grande volume e pode até dizer-se que o processo civil partilha alguns princípios
com o processo penal, no entanto o processo penal e o processo civil são ramos jurídicos autónomos,
disso não há duvidas.
Alguns autores (sobretudo em Espanha) acreditam que devia existir uma teoria geral do processo e que
depois encontrava-se normas jurídicas concretas conforme o direito que estamos a falar (fiscal, penal,
civil...).
Em regra, a doutrina portuguesa nega a possibilidade de uma teoria geral do processo que integre desde
logo o processo civil e processo penal porque há, dizem, especificidades muito próprias destes ramos
que tornam muito difícil para não dizer impossível integrar estes dois ramos jurídicos num só código. Uma
dessas especificidades tem a ver com o principio do dispositivo ou da disponibilidade do processo.
No processo penal o início e o desenvolvimento da ação (penal) esta nas mãos de uma entidade pública
(ministério publico) que tem que avançar com o processo. Está legalmente obrigado a iniciar o inquérito
e o MP sendo um órgão publico está dotado de poderes públicos – a disponibilidade do processo é a
principal diferença entre os dois processos porque no processo civil é o sujeito propõe a ação judicial que
é contestada ou não pela outra parte. E no processo penal não é assim.

Critérios distintivos entre o processo civil e processo penal:

1. Titularidade e natureza da ação ou do processo: no processo penal é titular da ação uma entidade
publica que exerce um poder publico. Não há propriamente, como no direito processual civil, um direito
de ação, mas sim um poder/dever de agir do MP pois está limitado pelo principio da legalidade na sua
atuação. Na ação civil mesmo quando temos como parte o Estado não se afastar o principio do
dispositivo, portanto há um respeito pelo principio da autonomia das partes.

2. Caraterizar o processo penal como um processo unilateral: o processo penal é promovido por
uma só entidade (um titular do direito de ação – MP). Excecionalmente, o privado é chamado a
desencadear o processo penal. – art. 143º CP- legitima defesa (exemplo paradigmático desta
intervenção do privado enquanto titular da ação, pelo menos no inicio da ação).

3. Posição do arguido/réu – relativamente ao estatuto que lhe é conferido. No processo penal falamos
em arguido e no processo civil falamos em réu. O arguido no processo penal não tem o ónus efetivo
de impugnar ou contestar a acusação, não há qualquer imposição jurídica de que o arguido conteste
a tese que vem esplanada na acusação, e não impugnando a acusação não há qualquer confissão
dos factos, ao contrario do processo civil. – referencia ao principio da presunção da inocência do

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arguido (até haver uma decisão transitada e julgada o arguido é considerado inocente) – art. 343º
CPP.

4. No processo penal a decisão tomada pelo tribunal só pode ser alterada por outro tribunal de grau
superior.

5. No processo penal o processo penal não é um processo de partes como existe no processo civil, no
processo penal existem sujeitos processuais ou participantes processuais (ex: peritos).

6. O objeto no processo não é oferecido a julgamento pelas partes como acontece no processo civil.
Em processo penal o objeto é, em regra, definido pelo MP, excecionalmente o assistente (a vitima),
ganha uma posição reforçada quando se torna assistente. – Disponibilidade do objeto do processo
civil. Em penal é indisponível.

7. Ónus da prova – no processo civil quem invoca um direito tem naturalmente o ónus de provar esse
direito. No processo penal as coisas funcionam de uma forma diferente pois não há propriamente um
ónus da prova, temos é o MP que tem o dever de recolha da prova que possa mostrar a existência
de um crime e o seu autor e está obrigado por lei a fazer a acusação quando tem indícios suficientes,
mas se os indícios mostram que determinada pessoa não foi a pessoa que esta por detrás do crime
ou o crime nem sequer aconteceu, o MP deve abster-se de apresentar a acusação. A inexistência do
ónus da prova foi o que levou à não incriminação do enriquecimento ilegítimo.

8. (o prof. tem duvidas) no processo penal procura-se a verdade material ou histórica ao passo que no
processo civil se procura a verdade formal. Significa que no decurso de um processo quer seja civil
ou penal tenta-se reconstituir a situação que está na base do conflito, portanto, aquilo que acometeu
do ponto de vista histórico/material. Enquanto no processo civil é meramente formal (é uma verdade
que é construída pelas partes – pode não corresponder à verdade); no processo penal como os
intervenientes não tem esse poder de conformação do processo o que se procura saber é o que
realmente aconteceu – este critério pode ser colocado em causa desde logo porque a verdade no
processo penal não é desde logo exclusivamente material isto porque se o objetivo do processo penal
fosse alcançar a verdade material podíamos ter situações em que essa verdade seria alcançada
através do desrespeito de direitos fundamentais (Ex: utilizar a tortura para obter a verdade). É obvio
que o processo penal não acolhe esse tipo de visão tão ortodoxa que deve ser alcançada no processo
penal. Ou seja, temos uma verdade material, mas formalmente sustentada através do respeito pelas
normas jurídicas-processuais e constitucionais – este critério é tradicionalmente usado para os
distinguir, mas deve ser usado com cuidado pois a verdade material do processo penal tem de cumprir
as normas jurídico processuais e não pode abdicar dos fundamentos do processo penal.

Conclusão: no fundo não parece ser possível qualquer sobreposição entre o processo penal e o processo
civil, daí que seja difícil admitir a possibilidade de uma teoria geral do processo.

O processo penal é um ramo jurídico publico por várias razões:

• Quando o processo penal atua tem como objetivo desde logo tutelar juridicamente situações em que
bens jurídicos foram postos em perigo ou foram lesados3. Em ambas as situações, o processo penal
e o direito penal vão atuar para tutelar os bens jurídicos. Essa tutela acontece mesmo que estejamos

3
artigo 131º CP.

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perante bens jurídicos pessoais, perante interesses individuais. Habitualmente diz-se que a
titularidade do bem jurídico e individual, mas há uma ideia de esses bens jurídicos devem ser tutelados
pois há expectativas comunitárias que tem de ficar satisfeitas com a aplicação do processo penal e
do direito penal. E como se disséssemos que a pessoa que ficou ofendida na sua integridade física
também integra a comunidade e toda a comunidade fica ofendida com essa lesão a integridade física.

• Por outro lado, o processo penal é direito publico pois temos uma entidade publica (Estado) que detém
o poder ius puniendi (poder de punir). E, portanto, com a intervenção do Estado temos um processo
que é publico. O representante do Estado é o MP (aquele que dirige a fase de inquérito), o MP surge
como representante do Estado e como representante da comunidade o que leva à necessidade de
considerarmos o processo penal como algo publico. Aliás quando o processo penal se desenrola é o
Estado que fornece os meios para que o processo se desenrole. Há, portanto, a ideia que o estado
tem o ius puniendi, mas também o principio do monopólio estadual da função jurisdicional – art. 202º
CRP.

• Nem sempre foi assim, houveram períodos (alta idade média) em que tínhamos um direito privado,
mas atualmente reconhece-se que só o Estado tem este poder jurisdicional. Não se permite que sejam
as partes por si mesmas a resolver o conflito penal. Há algumas exceções (bastante apertadas) em
que no fundo há uma aplicação do direito penal através da pessoa individual e uma dessas exceções
é: alguém vê os seus bens jurídicos lesados e não recorre aos tribunais e pode legitimamente ser ele
a impor o direito penal, proteger os seus interesses – legitima defesa (é uma forma de autotutela ou
autoproteção dos seus interesses sem recurso aos tribunais, necessariamente). Isto no fundo foge
um bocado à lógica do monopólio estadual da função jurisdicional.

Conformação constitucional do processo penal

O processo penal é direito constitucional aplicado. Isto é quase desnecessário dizer, pois qualquer
ramo infra-constitucional tem de obedecer à Constituição. No processo penal enfatiza-se esta ideia de
direito constitucional aplicado porque lidamos com interesses particularmente importantes e
profundos das pessoas (estado, comunidades, indivíduo).
Para podermos aplicar o processo penal de forma constitucionalmente válida, temos de garantir certos
direitos, desde logo à pessoa que pode ser objeto de punição. Temos de garantir que a condenação é
justa, tanto quanto possível. É por essa razão que o processo penal é rodeado de garantias processuais
e respetivos deveres que vão depois modificar a decisão final do processo.
Em certa medida, atendendo ao tipo de interesses em jogo, no processo penal lidamos com direitos
fundamentais de forma particularmente grave. O núcleo dos direitos fundamentais é protegido, mas
também é limitado através do direito penal e do processo penal. Protege-se direitos fundamentais,
limitando direitos fundamentais.

A importância do processo penal é tão elevada que a CRP detalha em pormenor determinadas garantias
processuais penais. O DPP vem, não apenas do CPP, mas também diretamente na CRP.
Arts. 20º (“acesso ao direito”), 27º (“direito à liberdade e à segurança”) e 28º (“prisão preventiva”) da CRP.
É como ler o CPP na própria CRP.
! Art. 32º - consagra as garantias do arguido. Analisar.

Existe a perceção de que o processo penal é demasiado garantístico. É preciso, no entanto, ter em
atenção que essa visão garantística não decorre apenas do CPP, mas diretamente da CRP, portanto, o

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DPP veio trazer aquilo que já está consagrado na CRP. Será injusto apontar esta crítica ao DPP, porque
é a própria CRP que impõe muitos desses deveres e garantias.
Temos vindo a assistir a uma diminuição das garantias, pois há sempre um equilíbrio que tem de ser
alcançado entre a segurança e a liberdade.
Por exemplo: nos últimos anos, sobretudo desde 2001, a luta contra o terrorismo tem levado a alterações
em todos os processos penais, que vão no sentido de diminuição das garantias processuais dos
indivíduos.

O processo penal costuma designar-se como sismógrafo da constituição, do desenvolvimento político,


social e cultural de um Estado. Se queremos perceber que tipo de Estado temos, em termos políticos,
sociais e culturais, um bom ponto de partida é compreender o processo penal aplicado nesse Estado:
• Um Estado mais repressor, totalitarista, irá conceder menos garantias aos arguidos, optando por um
processo de estrutura inquisitória (quem investiga, condena).
• Em Estados mais liberais e democráticos, tendencialmente, há maiores garantias e uma distinção
entre a pessoa que investiga e a que condena, desde logo por razões de imparcialidade.

As garantias do art. 32º da CRP, também estão consagradas em documentos internacionais,


nomeadamente no art. 9º e 10º da DUDH, no art. 5º e 6º da CEDH e da Carta dos Direitos Fundamentais
da UE, no seu art. 6º.

Finalidades do processo penal:

A doutrina aponta 3, embora haja quem indique 4 (o professor não pensa que esta mereça autonomia):
1. Realização da justiça e descoberta da verdade material;
2. Proteção de direitos fundamentais (nomeadamente do arguido, mas não só);
3. Restabelecimento da paz jurídica;
4. (princípio de concordância prática entre as 3 finalidades) – aponta-se esta 4ª finalidade porque muitas
vezes, estas 3 finalidades são, em certa medida, incompatíveis com o caso em concreto. Por vezes,
proteger os direitos fundamentais significa diminuir a realização da justiça, portanto nem sempre será
possível realizar todas estas finalidades na sua plenitude. Quando falamos num princípio de
concordância prática, embora o ideal fosse atingir as 3 finalidades na sua plenitude, torna-se
necessário num caso em concreto comprimir essas finalidades sem as afastar por completo.

Habitualmente, diz-se que estas finalidades são extrínsecas ao processo penal, isto é, estas finalidades
não são apontadas apenas ao processo penal, mas que decorrem da realização da justiça em sentido
amplo. Se tivéssemos de resumir estas finalidades a uma só, seria a de realização de justiça em sentido
amplo. Na sua natureza não são exclusivas do processo penal.

a. Realização da justiça vs. Proteção de direitos fundamentais – estas finalidades podem conflituar entre
si, porque se partirmos do ponto de partida da realização da justiça e descoberta da verdade material,
isso poderia chocar com a proteção de direitos fundamentais, nomeadamente do arguido. Até que
ponto se pode tentar descobrir a verdade material a todo o custo? Ex: 187º CPP (escutas telefónicas)
muito invasivo, mas o equilíbrio alcança-se apenas com o recurso em casos de criminalidade grave.
Se levássemos a proteção de direitos fundamentais a um extremo, também este tipo de meio de prova
não poderia constar do CPP.

b. Realização da justiça vs. Restabelecimento da paz jurídica – a descoberta da verdade material e


realização da justiça pode conflituar com o restabelecimento da paz jurídica. Sabemos que a prática

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de um crime é um conflito que perturba a paz jurídica e a paz social. Quando o direito penal e o
processo penal atuam, é também no sentido de restabelecer a paz jurídica. No entanto, há situações
em que a realização da justiça se vai sobrepor à procura da paz. O caso penal termina com caso
julgado, que acontece quando não há a possibilidade de interpor um recurso ordinário. A partir desse
momento, alcança-se este patamar de paz jurídica, mas há situações em que a realização da justiça
vai ultrapassar/quebrar o caso julgado – 449º CPP – situações onde já não há a possibilidade de
recurso ordinário, mas há razões, nomeadamente de realização da justiça, que demandam uma
atuação que vai no sentido de rever uma sentença pronunciada pelo tribunal. O 449º4 dá-nos conta
de uma figura que é o recurso de revisão (modalidade de recurso extraordinário – recursos para
fixação de jurisprudência e recursos de revisão). Há uma sobreposição da realização da justiça
relativamente ao restabelecimento da paz jurídica. Falamos de situações em que a justiça não ficou
verdadeiramente realizada.

c. Proteção dos direitos fundamentais vs. Realização da justiça – se olharmos para as finalidades a
partir da proteção de direitos fundamentais, também podemos dizer que a defesa dos direitos
fundamentais do arguido, pode entrar em colisão com as restantes finalidades: 343º/1 CPP
(declarações do arguido) – quando reconhecemos o direito ao silêncio5 por parte do arguido estamos
aqui a reconhecer uma garantia processual (direito fundamental), mas ao mesmo tempo poderemos
estar a limitar o cumprimento da finalidade de descoberta da verdade material.

d. Proteção dos direitos fundamentais vs. Restabelecimento da paz jurídica - a proteção de direitos
fundamentais também pode colidir com o restabelecimento da paz jurídica, nomeadamente, na
situação do recurso de revisão (449º), isto porque concedemos ao sujeito processual a possibilidade
de recorrer de uma decisão quando esta já transitou em julgado, ou seja, quando a paz jurídica já foi
supostamente alcançada. Ver 449º/4.

e. Restabelecimento da paz jurídica vs. Realização da justiça – partindo da finalidade de


restabelecimento da paz jurídica: esta conflitua com a realização da justiça e descoberta da verdade
material (399º e 400º CPP – recursos ordinários), nomeadamente em situações em que se nega a
possibilidade de recurso, por exemplo, quando há uma decisão condenatória proferida pela relação
(400º/1, f)). Podemos dizer que, embora pudesse haver indícios para se interpor novo recursos, há
um limite estabelecido em termos de garantia dos recursos e, portanto, a descoberta da verdade
material cede, em parte, diante da finalidade de restabelecimento da paz jurídica.

f. Restabelecimento da paz jurídica vs. Proteção de direitos fundamentais – esta ainda conflitua com a
proteção dos direitos fundamentais (204º medidas de coação). As medidas de coação não têm uma
finalidade punitiva, mas sim para garantir a eficácia da investigação criminal. O 204º estabelece
pressupostos para a aplicação das medidas de coação, com exceção do TIR (termo de identidade e
residência – 196º). O TIR é uma medida de coação automática. O 204º, c) estabelece como um dos
possíveis pressupostos para aplicação das medidas de coação, a existência de perigo de que o
agente continue a atividade criminosa ou perturbe gravemente a ordem e a tranquilidade públicas. O
conflito está na limitação da liberdade (DF) de um indivíduo (nomeadamente no caso da prisão
preventiva) numa fase em que é considerado inocente, para com isso se restaurar a paz jurídica e/ou
garantia a eficácia da investigação criminal.

4
Este artigo vai dar resposta a erros de justiça.
5
O silêncio não pode ser utilizado contra o arguido ao nível da decisão.

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A medidas de coação (196º-202º) têm uma ordem de gravidade, sendo que a mais leve é o TIR e a mais
gravosa é a prisão preventiva, prevista no art. 202º.

Devido a estes conflitos entre finalidades é que Figueiredo Dias fala neste princípio de concordância
prática das finalidades em conflito. O que se pretende com a concordância prática é tentar retirar a maior
utilidade possível de cada uma das finalidades e assim otimizar os ganhos, minimizando os prejuízos
axiológicos funcionais. Há uma mútua compressão das finalidades. Esta compressão, no entanto, tem
um limite, que é a tutela da dignidade da pessoa humana.

Estrutura/modelos/tipos do processo penal

Quando analisamos o processo penal, podemos, em regra, distinguir dois grandes modelos/estruturas6:
• Processo penal inquisitório – habitualmente, o processo penal inquisitório é ligado a Estados de
pendor autoritário. As principais características deste modelo são:
o Domínio do interesse estadual: este comanda o decurso do processo penal e, portanto, a principal
finalidade de um processo penal inquisitório é a realização da justiça e descoberta da verdade
material;
o Em regra, é um processo secreto, escrito, e em que a função de acusação e a função de
julgamento são atribuídas a apenas uma entidade (juiz, que investiga, acusa e julga);
o O arguido neste tipo de processo é mais um objeto do processo do que um sujeito com direitos;
o Remonta à idade média (inquisição).
o A prova rainha num processo inquisitório é a confissão do arguido e os meios de obtenção de
prova eram arbitrários (exemplo: ordálios – colocar mão em água a ferver e verificar se infetava,
em caso positivo, era culpada) - a justiça era realizada a todo o custo.

Atualmente há países que têm cunhos inquisitórios, mas no sentido em que a fase de investigação é
secreta, podendo haver sobreposição de funções.

• Processo penal acusatório – estão ligados a estados liberais, que é o que se encontra atualmente
nos países anglo-americanos:
o Regra da oralidade;
o Regra da publicidade;
o Tenta atribuir-se igualdade de armas entre as duas partes;
o O juiz é um árbitro, tem papel passivo, enquanto no inquisitório era fortemente ativo;
o Existe uma divisão entre entidade que julga e entidade que acusa;
o Respeito pelo princípio do dispositivo (há ónus da prova, a prova alcançada é iminentemente
formal);
o A finalidade principal é a proteção dos direitos fundamentais.

Fala-se de processos em que há uma disputa entre duas partes que esgrimem argumentos para saber
quem tem razão relativamente ao que está a ser discutido.

A visão que os americanos e ingleses têm dos códigos de processo penal europeus é que têm cunho
inquisitório, no entanto, estes têm base acusatória e algumas características inquisitórias. Já os códigos
de processo penal americanos são mais puramente acusatórios.

6
Estes são modelos puros e teóricos.

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Olhando para o nosso CPP, sendo difícil encontrar um país com um modelo puramente inquisitório ou
puramente acusatório, é mais usual encontrar modelos mistos. O processo penal português tem uma
estrutura acusatória mitigada por um princípio de instigação.

O artigo 32º/5 da CRP dá-nos uma expressão escrita sobre o modelo de processo penal adotado em
Portugal. É assumida a estrutura penal como sendo acusatória. Mas isto não basta. Quais são as
características do nosso processo penal que mostram que este seja acusatório?
• Adota-se o princípio da acusação – segundo este princípio, a entidade que investiga e acusa é
diferente da entidade que julga. Quem investiga e acusa em Portugal é o MP, e quem julga é a
magistratura judicial (juiz). Ver 262º e 263º CPP. 262º (inquérito) diz-nos quais as finalidades do
inquérito, e que este compreende o conjunto de atos ou diligências que visam investigar a existência
de um crime, determinar os agentes desse crime, e recolher provas que sustentem essas conclusões.
263º diz que a direção do inquérito cabe ao MP, assistido pelos órgãos de polícia criminal. 311º e ss.
Verificamos que quem tem a direção do julgamento é o tribunal, o magistrado judicial. Ver ainda 202º
e 219º da CRP – função jurisdicional atribuída aos magistrados judiciais e; MP tem funções próprias.
Este é um princípio basilar para que consideremos o nosso processo penal como acusatório.

Posição do arguido – na estrutura inquisitória, o arguido é mero objeto do processo que não tem direitos.
No acusatório o arguido é parte do processo. No nosso sistema, temos sujeitos processuais, onde se
inclui o arguido, sujeitos esses que têm participação ativa no decurso do processo penal. Estes têm
direitos autónomos e deveres que permitem modelar o decurso do próprio processo penal. Não são
simples objetos. Isto não quer dizer que o processo penal português seja um processo de partes, mas
sim de participantes/sujeitos processuais. Isto porque a posição do MP em Portugal é uma posição
diferente daquela que ocupa em modelos mais acusatórios (exemplo: não pode negociar a justiça como
acontece nos EUA).

A entidade que investiga e acusa é, em regra, o MP (magistrado do ministério publico) e chegado a


julgamento o caso as rédeas do processo passam para o juiz de julgamento (magistrado judicial).

Participação dos vários intervenientes do processo:

O arguido e o assistente que têm um papel ativo na conformação do processo penal – no rumo que o
processo penal toma. O que não significa que estejamos perante um processo de partes (não há
propriamente uma luta entre o MP e o arguido, há sim uma igualdade de armas entre ambos).

NOTA: no direito penal podemos ter como arguido uma pessoa singular, mas também uma pessoa
coletiva (art. 11º CP).

Principio da investigação - quando falamos deste principio para caracterizar a estrutura do processo
penal português nós queremos referir-nos a um poder/dever que é atribuído a um juiz de investigar de
forma autónoma o facto que é levado a julgamento. Há situações em que o juiz pode, na fase de
julgamento, ordenar a produção de prova que lhe seja necessária para a descoberta da verdade material
e para que possa chegar a uma decisão mais fundamentada e mais sóuu0pplida. Este principio decorre
do art. 340º CPP (na vida pratica este artigo poderá ser muito útil).

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ART. 340º/17 CPC: possibilidade de durante o julgamento ainda se poder produzir prova – é excecional
de tal forma que no nº4 se introduzem limitações ao principio da investigação sobretudo quando é a
defesa a requerer a prova.

Este art. 340º é muito importante porque introduz uma forma de requerer prova numa fase tardia do
processo e isto só se torna possível porque o tribunal assume um papel ativo e não completamente
passivo ou de mero arbitro que não aconteceria se fosse um processo penal meramente acusatório (onde
se uma das partes se não tivesse anexado uma prova ao processo já não o poderia fazer numa fase mais
tardia do processo).

Fontes do Direito Processual português

Há algumas fontes:
1. Lei – fonte primaria do processo penal português e o processo penal gravita em torno do DL 78/87
(código de processo penal) – ideia sustentada pelo artigo 2º e 3º8 do CPPÇÇ.

No fundo o que é importante sublinhar que a fonte mais importante é a lei (lei esta criada pela AR –
reserva de lei – art. 165º/1 CRP), por isso é que se pode dizer que há um principio da legalidade9 no
sentido em que o direito processual penal tem sempre na sua origem uma lei ou um DL autorizado com
base no art. 165º CRP.

Art. 262º CPP – objetivos do inquérito.

2. Jurisprudência – sabemos desde logo que estamos a falar nas decisões dos tribunais em casos
concretos. No processo penal português não vigora a regra da precedência10 como acontece no
direito anglo-americano. Nos tribunais portugueses produz os seus efeitos para o caso concreto
e como tal os juízes não têm o poder de criar normas ou opiniões que sejam vinculativas para os
restantes tribunais.

NOTA: a questão dos recursos para fixação de jurisprudência (Art. 437º CPP – recurso extraordinário) –
são recursos especiais. Estamos a falar de situações em que estamos o perante o mesmo enquadramento
jurídico, mas dois tribunais da relação ou o STJ emite situações contrarias na aplicação da mesma norma.
Ora qual é que é o efeito destes acórdãos de fixação de jurisprudência? Não podem ser confundidos com
uma figura que já existiu em Portugal que eram os “assentos” que entretanto foram tirados do nosso
tecido normativo por se considerar inconstitucionais e o art. 2º CC acabou por cair e neste momento não
temos esta figura dos assentos, mas similar que são os acórdãos de fixação de jurisprudência e pretende-
se que o STJ numa situação controvertida fixe uma determinada corrente de pensamento no entanto há
uma diferença fulcral entre os assentos e os acórdãos de fixação de jurisprudência (Art. 445º).11

7
Oficiosamente – significa por vontade própria.
8
Há leis extravagantes que contem normas processuais, mas têm de ser compatibilizadas com o CPP (ex: lei do
cibercrime).
9
É importante não confundir este principio da legalidade das fontes com o principio da legalidade para efeitos da iniciativa
do processo penal (ou seja, o MP sabendo da existência de um crime está obrigado a iniciar o processo).
10
Uma decisão anterior não vai vincular o tribunal em decisões posteriores.
11
O nº 3/2ª parte do 445º evita a inconstitucionalidade desta figura porque faz com que esta figura não seja vinculativa.

11

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3. Doutrina – quando nos referimos a doutrina no fundo referimo-nos a investigação cientifica que
é em regra levada a cabo por académicos que fazem investigação cientifica sobre o direito
processual penal.
Embora esta investigação cientifica seja uma tarefa que normalmente é levada a cabo por professores
universitários isso não significa que essa investigação não possa também ser levada a cabo por outras
pessoas (Exemplo: advogados, juristas...). Há espaço para o contributo de todas as pessoas.
A doutrina não tem força vinculativa – não obriga os tribunais a segui-la – mas é rara a decisão do tribunal
que não cite doutrina para sustentar a sua opinião no caso em concreto. Os tribunais em regra recorrem
a doutrina que lhes seja favorável (porque como sabemos existem sempre 3 posições – os extremos e a
intermédia).

Destas três fontes a única que é vinculativa/obrigatória é a lei. A doutrina e a jurisprudência são
não obrigatórias e dentro destas duas temos de relevar os recursos para a fixação de
jurisprudência.

Aplicação do direito processual penal

I. A imputação das normas processuais penais (quais os critérios, as fontes que usamos
para interpretar as normas no processo penal).

Na imputação das normas processuais penais tem necessariamente que se tomar em conta a CRP. E de
facto a interpretação do processo penal não pode escapar à CRP pois é direito constitucional aplicado.
Isto por um lado. Por outro lado, não se pode esquecer as finalidades apontadas ao processo penal:
restabelecimento da paz jurídica, a realização da justiça e descoberta da verdade material e a proteção
os direitos fundamentais e aplicação pratica conjunta destas três finalidades.

Pode haver situações de lacunas de direito processual penal e surge a questão de saber como integramos
as lacunas que possam existir. O art. 4 CPP ocupa-se desta matéria e dá-nos uma lista de fontes para a
integração de lacunas - quando o direito penal ou processo penal seja omisso em relação à solução a dar
ao caso há aqui 3 possibilidades (por ordem):

1 - O intérprete deve aplicar por analogia as normas de processo penal:

O principio da legalidade também nos remete para a necessidade de existência de uma lei prévia que
preveja uma solução para o caso em concreto. Em direito penal citamos uma norma da CRP – art. 29º/1
CRP – diz no nº1 que ninguém pode ser sentenciado criminalmente se não em virtude de lei anterior que
declare punível a ação ou a omissão, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam
fixados em lei anterior. Ora habitualmente a doutrina diz que este principio da legalidade também se
estende ao processo penal porque o art. 32º /1da CRP nos diz que o processo criminal assegura todas
as garantias de defesa. Daí que o art. 4º do CPP tem de ser lido de uma forma estrita/particular – quando
o CPP diz que se deve aplicar normas processuais por analogia no fundo diz que só será possível quando
não enfraqueça a posição do arguido, aquilo que nos falamos em direito penal de uma analogia
incriminatória também tem aplicação no processo penal – não é possível uma analogia contra o réu.

2 - Aplicação de normas do processo civil (é bastante forte sobretudo em questões de contagem


de prazo e de notificações do arguido);

3 - Os princípios gerais do processo penal: figura abstrata sem grande conteúdo material.

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Normalmente a doutrina diz que servem uma dupla função:


• Uma esta prevista no art. 4 – ser ultima rácio
• Outra é a de limitar a aplicação nomeadamente das normas de processo civil ou da aplicação
analógica das normas de processo penal – não se tem um passe livre para aplicar as normas de
processo penal ou a aplicação analógica das normas de processo civil – pois têm de estar de acordo
com os pp gerais do processo penal, para sabermos ate que ponto são compatíveis com as normas
e os pp do processo penal, caso não se possa aplicar as normas de processo civil ou a analogia
aplica-se estes principio de forma já isolada. – Vão controlar a primeira e a segunda fonte de
integração de lacunas.

II. Aplicação da lei processual penal no tempo (Art. 5º/2 CPP) – é de aplicação imediata -
entrando em vigor aplica-se imediatamente12. Esta aplicação tem algumas limitações:

Ø O próprio numero 1 diz que a lei processual penal é de aplicação imediata, sem prejuízo da validade
dos atos realizados na vigência de lei anterior.
Ø O nº2 diz que a lei processual penal não se aplica aos processos que tenham tido o seu inicio antes
da sua entrada em vigor quando a aplicação imediata da nova lei leve a um agravamento sensível e
evitável da situação processual do arguido ou quando implique a quebra de harmonia dos vários atos
do processo – sobretudo a alínea a) diz-nos que se a nova lei puser em causa as garantias de defesa
do arguido não pode ser aplicada a esse processo (vai concretizar o art. 32º/1 da CRP).

III. Aplicação no espaço (art.6 CPP – que é bastante direto)

“A lei processual penal é aplicável em todo o território português bem como no território estrangeiro nos
limites definidos pelos tratados, convenções e regras do direito internacional.”

Definição do território português: art. 5 CRP.

Temos situações em que há ou cooperação internacional em matéria penal:


• lei 144/99, lei 88/2017...
• a convenção de auxilio mutuo dos estados membros da UE, mas também da CPLP;
• etc...

Vão permitir agilizar o processo penal. Temos, também, por exemplo, os pedidos de extradição.

IV. Âmbito subjetivo de aplicação do direito processual penal português – saber a quem se
aplica o processo penal português.

O processo penal português aplica-se a todas as pessoas independentemente da nacionalidade nos


mesmos termos em que é aplicado o direito penal (Art. 4 CP). Aplica-se mesmo que essa pessoa não
assuma a posição processual de arguido, podemos estar a falar de uma mera testemunha ou de um
perito, por exemplo.

Este âmbito subjetivo encontra algumas limitações:


• Uma que aqui há uns anos gerou polemica e tem a ver com a convecção de Viena de 1961 no
que diz respeito às relações diplomáticas pois prevê imunidades pessoais a chefes de estado,

12
Não é bem o que acontece no direito penal.

13

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diplomatas de um estado no estrangeiro. Portanto quando estas pessoas praticam atos que sejam
qualificados como crimes gozam de uma imunidade. Isto aos olhos da comunidade gerou
polemica com a questão do espancamento por parte de dois jovens iraquianos filhos de um
diplomata. Esta imunidade serve para que os chefes de estado ou diplomatas possam exercer as
suas funções de uma forma livre e que esse livre exercício não seja posto em causa pela atuação
de outros estados com o eventual recurso ao direito penal.

• Algumas particularidades que decorrem da CRP e que limitam a aplicação penal do direito
processual penal português: casos em que temos o PR, membros do governo ou deputados...
que têm regras especificas na CRP quanto à sua possível responsabilidade criminal (exemplos:
art. 130º CRP no que diz respeito ao PR; art. 157º CRP no que diz respeito aos deputados; e art.
163º e) e 196º CRP relativamente aos membros do governo).

Sujeitos processuais13

Temos de distinguir sujeitos processuais de participantes processuais.


No processo penal participam várias pessoas, esses intervenientes podem ser reconduzidos a uma de
duas figuras:
• ou são participantes processuais: podemos dizer que são participantes processuais os indivíduos
que atuam num processo penal e adquirem direitos e deveres processuais, mas a sua atividade
no processo penal esgota-se no ato para o qual foram chamados a praticar (exemplo clássico:
testemunha, é chamada ao processo e a sua atividade esgota-se quando esta presta o
depoimento).

São participantes processuais:


1. testemunhas;
2. peritos;
3. partes civis;
4. órgãos de policia criminal (OPC) – ex: PJ, PSP, GNR...
5. interpretes.

• ou são sujeitos processuais: são indivíduos que participam no processo, mas são capazes de
conformar o rumo ou o destino do processo dentro de certos limites. Ou seja, os sujeitos assumem
uma postura ativa no processo penal e dentro de limites processualmente consagrados podem
conformar/modelar a decisão final do processo. (exemplo: um arguido que tenha sido condenado
pode interpor recurso e dessa forma está a modelar a decisão final sobretudo se tiver sucesso
nesse recurso).

São sujeitos processuais:

1. O tribunal (incluindo o juiz):


Ocupa uma posição de destaque pois tem como função, constitucionalmente consagrada, a
administração da justiça em nome do povo. Do ponto de vista constitucional a atividade do tribunal rege-
se por três princípios:
Ø principio do monopólio da função jurisdicional/reserva do juiz:

13
Matéria complexa e extensa.

14

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art. 202º CRP – é absolutamente imprescindível nesta matéria pois atribui aos tribunais a característica
de órgãos de soberania que têm como função a administração da justiça em nome do povo. Cabe aos
tribunais aplicar o direito a um caso concreto, decisão essa que depois ganha a natureza de caso julgado.

Lei 62/2013 – é uma lei que se ocupa da organização do sistema judicial. Dentro desta lei referencia ao
art. 2º/2 que repete aquilo que é dito no artigo 202º CRP. Não há qualquer duvida de que cabe aos
tribunais administrar a justiça sendo que esta administração implica no caso do processo penal implica
absolver ou condenar uma pessoa numa pena ou medida de segurança. (Art. 8º CPP).

Esta função jurisdicional de aplicação de justiça é de competência reservada do juiz. Isto significa que
mesmo em fases previas à do julgamento o juiz tem competência exclusiva para tomar certo tipo e
decisões, decisões estas que ponham em causa direitos fundamentais do individuo.

Fases do processo:
fase de inquérito – fase de instrução (facultativa) – julgamento – recurso (a existir) – fase de
execução das penas e das medidas de segurança.

Obviamente que durante a fase de julgamento temos a presença do juiz, mas este poder jurisdicional
significa que nas fases iniciais também temos de ter a presença de um juiz (juiz de instrução) e este juiz
tem de atuar quando se ponha em causa direitos fundamentais (exemplo clássico: medidas de coação –
prisão preventiva) – art. 268º e 269º.

No fundo o juiz de instrução acaba por ter duas tarefas:


- dirigir a fase de instrução (decide se o caso deve ou não ser levado a julgamento);
- e a de fora da instrução e nas fases previas ao julgamento exercer a função jurisdicional.

Ø principio da independência:

Principio que já nos é conhecido. Tem de haver uma independência dos poderes executivo, legislativo e
jurisdicional, e os tribunais exercem a sua função jurisdicional de uma forma completamente independente
estando apenas limitados pela lei – art. 203º CRP. Este artigo também tem reflexos infraconstitucionais
na lei 62/2013 desde logo no artigo 4 que até densifica um pouco mais este principio. A magistratura do
MP integra uma hierarquia e o procurador geral da republica emite ordens que devem ser seguidas pelos
inferiores hierárquicos. Não pode o procurador geral da republica dizer a determinado procurador como
agir no caso concreto. No caso da magistratura judicial nem se coloca este problema porque os juízes
são completamente independentes em todos os sentidos (interna e externa) – a não ser numa situação
(art.4 da lei 62/2013 – o juiz deve acatar decisões que tenham sido proferidas por tribunais superiores em
relação ao caso e artigo 22º da mesma lei – mais curto e direto, mas com a mesma ideia).

Também podemos meter na equação o principio da acusação (há uma separação entre a entidade que
acusa e a entidade de julga).

O juiz tem de atuar de uma forma imparcial. Não é passivo, mas não pode favorecer um dos lados. Tem
de adotar uma posição imparcial que lhe permita tomar a decisão que seja mais justa para o caso concreto
de forma a se garantir a lei consagra uma serie de mecanismos da sua garantia (art. 39º CPP e ss):

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• impedimentos (art. 39º e 40º): consagram situações em que um juiz é impedido de exercer
funções num determinado processo penal que podem advir de varias razões:
a. art. 39º/1 a) e b) – se for ou tiver sido cônjuge ou representante legal do arguido, se
for ascendente, descendente... por exemplo.
b. art. 39º/1 c) e d) e art. 40º - refere-se a situações em que o juiz tem de intervir nesse
processo numa outra qualidade.
c. Art. 39º/3: não podem exercer funções a qualquer titulo no mesmo processos os juízes
que sejam entre si conjugues, parentes ou afins até ao 3º grau ou que vivam em
condições análogas às dos conjugues - serve para as situações em que temos marido
e mulher no tribunal coletivo, por exemplo. Ou por exemplo o magistrado do MP é
mulher do magistrado judicial desse mesmo caso.

• Recusa e escusa (art. 43º): nº1 deste artigo diz que a intervenção de um juiz no processo pode
ser recusada quando correr risco de ser considerada suspeita, por existir muito, sério e grave,
adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade, alias diz o nº3 do mesmo artigo que
a recusa pode ser requerida pelo MP, pelo arguido, pelo assistente ou pelas partes civis.
Situações praticas que um juiz de instrução criminal muito conhecido que teve intervenção em
vários processos e uma das formas de recusa processo é suscitar a recusa desse juiz por parte
dos defensores porque este até fez declarações sobre acusações, e assim.

O juiz pode ele próprio escusar-se do processo (Art. 43º/4): o juiz não pode declarar-se voluntariamente
suspeito, mas pode pedir ao tribunal competente que o escuse de intervir quando se verificarem as
condições dos nºs 1 e 2 do mesmo artigo - como autoproteção. E o artigo 45º diz que o pedido de recusa
e de escusa deve ser apresentado ao tribunal imediatamente superior.

Ø principio do juiz natural ou legal:

o Este principio vem a propósito do sujeito processual que é o tribunal ou o juiz. Este princípio decorre
da CRP, nomeadamente do 32º/9, segundo o qual nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal
cuja competência esteja definida em lei anterior. Por outro lado, cabe à AR, salvo autorização ao
governo, definir a competência dos tribunais 165º/p CRP
o A ideia central que aqui se quer transmitir é que não pode haver alterações ad hoc, num momento
concreto, relativamente a um caso específico. Não pode ser atribuído um caso concreto a um tribunal
distinto daquele que era competente segundo a lei. Desta forma consegue se garantir uma boa
administração da justiça e ao mesmo tempo, evitar interferências (nomeadamente políticas ou de
outra índole) em matéria de justiça penal, que podiam ocorrer por via de manipulação das regras de
concorrência. Imaginemos que estamos num caso com contornos políticos e o governo decide de
forma unilateral mudar a competência dos tribunais para que esse caso pudesse ir para um tribunal
onde fosse tratado de forma mais favorável. Com esta regra pretende se evitar estas situações.
o Esta regra também decorre da 39º lei 62/2013, que consagra a proibição do desaforamento ->
nenhuma causa pode ser deslocada do tribunal competente para outro, a não ser nos casos previstos
na lei.

Este principio do juiz natural ou juiz legal quer no fundo consagrar três sub-princípios, ou implicar o
preenchimento de três sub-princípios:
• Exigência de determinabilidade;
• Principio de fixação de competências;

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• Exigência de regras procedimentais quanto a distribuição interna dos processos (para evitar que
a espalha de um juiz específico dentro de um tribunal se faça de forma arbitrária).

Todos estes princípios decorrem não só da CRP, mas sobretudo da lei 62/2013 e ainda do 10ºss CPP.
Os tribunais judiciais têm três patamares:
• Tribunais de primeira instância;
• Tribunais da relação;
• STJ.

Relativamente aos tribunais de primeira instância, são em regra tribunais de comarca e podem ter
competência generalizada/genérica ou especializada.
Os tribunais de comarca dividem se em juízos. Juízos esse que podem ter uma competência genérica ou
especializada.14

Como é que determinamos o tribunal que é competente?

A competência de um tribunal e determinada em função de três critérios (há três tipos de competências):
• Competência material;
• Competência funcional;
• Competência territorial.

Há uma parte do CPP que se dedica a esta matéria, nomeadamente aos dois primeiros – 10º CPP.

Art 11º, 12º- competência do STJ e das relações

Art 13º, 14º e 16º distinção entre tribunal coletivo, tribunal de júri e tribunal singular. Para procedermos à
distinção, recorremos a métodos qualitativos e quantitativos. No fundo, cada um destes Tribunais tem
uma composição diferente.

• Tribunal de júri (13º CPP)


- Tem natureza subsidiária e não tem grande aplicação pratica em Portugal, contrariamente a
outros sistemas jurídicos, nomeadamente o anglo americano.
- Dl 387-A/87, de 29 dezembro que é o que se ocupa especificamente do regime de júri em
Portugal. Este DL diz-nos logo no art.. Que o tribunal de júri é composto por três juízes mais quatro
jurados efetivos e quatro suplentes. No fundo, o tribunal de júri incorpora o tribunal coletivo, porque
tem três juízes, mas acrescenta quatro jurados. A presidência do tribunal de júri incumbe ao
presidente do tribunal coletivo
- O artigo 13º diz que este tribunal tem competência para julgar basicamente em duas situações:
o Crimes contra identidade cultural e integridade pessoal (236ºss CP);
o Crimes contra a segurança do estado (236ºss CP e 308ºss CP);
- Lei 31/2004.
- No 13º/2 diz que é ainda competência do tribunal de júri julgar crimes cuja pena máxima
abstrata seja superior a oito anos de prisão e que não devam ser julgados pelo tribunal
singular. Tem natureza absolutamente subsidiária.

14
A lei 62/2013 detalha bem estas regras no 79ºss e mais concretamente no 81º/3 (podemos ter juízos centrais criminais,
locais criminais, locais de pequena criminalidade e ainda de instrução criminal).

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- No 13º/1 temos um critério qualitativo que tem que ver com o tipo de crime específico que é
cometido, em que é indiferente a moldura abstrata do tribunal. É um critério qualitativo que
permite ao tribunal de júri julgar independentemente da moldura abstrata aplicada.
- No nº2 já temos um critério quantitativo. A lei já não se refere a crimes em específicos e refere
se antes a molduras abstratas (ex: 152º/3/a do CP – crime de VD em que há uma agravarão
da moldura abastarda pois existe ofensa à integridade física abstrata). É preciso olhar para a
moldura abstrata e ter em atenção que o tribunal de júri só é competente se o Tribunal singular
não julgar esse crime em específico.
- Em qualquer dos casos do art. 13º, para o tribunal de júri poder julgar o processo tem de haver
um requerimento realizado pelo MP, pelo assistente ou pelo arguido.
- O tribunal de júri é então de competência subsidiária, desde logo porque depende de
requerimento. Tem competência para julgar determinados crimes específicos nos termos no
nº1 ou para julgar qualquer tipo de crime que tenha moldura abstrata superior a oito anos.
Neste segundo caso é ainda necessário que o tribunal singular não seja competente para que
o de júri possa julgar esse crime.
- 13º/5- A partir do momento em que se faz o requerimento, não se pode voltar atrás.

• Tribunal coletivo 14º CPP


- Também usa critérios qualitativos e quantitativos. Tem é uma diferença já fundamental
comparativamente com o anterior – a sua intervenção não depende de requerimento por parte
dos sujeitos processuais.
- Tem desde logo competência originária para julgar os crimes do 14º/1, que são os mesmos que
estão no 13º/1.
- Parece que há aqui uma sobreposição, mas é de fácil resolução, o tribunal de júri só julga estes
crimes se tiver havido requerimento, na sua falta, e o tribunal coletivo que é competente para
julgar estes crimes.
- 14º/1 usa então um critério qualitativo.
- 14º/2- a atuação do tribunal coletivo e subsidiária relativamente ao tribunal singular. O tribunal
coletivo só julga pelos crimes previstos no nº2 se não forem julgados pelo tribunal singular.
Introduz-se duas hipóteses doutrinais:
§ a alínea a) tem critério qualitativo- tem competência para julgar os crimes ..... (Ex: homicídio
131º, 132º, 133º; homicídio por negligência; 147º/1; roubo 210º/3).
O 14º/a) refere se a crimes dolosos ou agravados pelo resultado. A negligência só pode aqui ser
tomada em consideração quando tem que ver com as situações de agravo pelo resultado. A
morte provocada por negligência, só é da competência do tribunal coletivo quando resulte de
uma agravação pelo resultado. Não basta que a morte surja como elemento típico, é necessário
verificar se estamos perante um crime fundamental doloso ou um crime que esteja agravado pelo
resultado. Na segunda situação já se admite...
O 137º CP como não é um crime doloso nem é agravado pelo resultado, então não é da
competência do tribunal coletivo (a não ser que preenchesse a alínea B do 14, o que também não
acontece).
§ a alínea B) tem critério quantitativo- tem competência para julgar crime com moldura máxima
superior a cinco anos mesmo quando no concurso de crimes seja inferior ao limite máximo
correspondente ao tipo de crime.
Se isto existe, será que faz sentido o 14º/a)? No fundo a alínea a) é para aquelas situações
em que apesar da morte ser elemento típico essa morte é provocada numa circunstância de
ilicitude ou culpa diminutas (ex: no 131º do CP sabemos que a morte é um elemento típico.
A punição e de pena de prisão de 8 a 16 anos. Neste caso torna se desnecessário recorrer a

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a), bastava a B). Mas no 133º CP, temos um crime doloso em que a pena de prisão e de 1 a
5 anos. Se só existisse a alínea B do 14º, este crime não poderia ser julgado no tribunal
coletivo.

• Tribunal singular 16º CPP


- Este artigo é chamado quer pelo 13º quer pelo 14º- ver 13º/2 e 14º/2.
- Tem uma competência que é residual, mais abrangente. O 16º/1 diz que ao tribunal singular
compete julgar os processos que não sejam da competência de outros tribunais.
- O 16º diz que o tribunal singular julga processos que respeitem a crimes previstos no capítulo II,
DO LIVRO ..., ou seja crimes contra a autoridade pública- 347º a 351º CP. Diz ainda que tem
competência para julgar os crimes cuja pena máxima seja igual ou inferior a 5 anos de prisão.
- 350º CP – imaginemos que um guarda prisional dá a chave da cela ao recluso para que este
possa fugir. Este funcionário será julgado pelo tribunal singular. A alínea a) acaba por se sobrepor
a B)- desde que se trate deste tipo de competência, a moldura já não se aplica (?)
- 136º CP – aqui já estamos no âmbito do 14/2/a). Para aplicarmos este artigo temos de analisar
em primeiro lugar o artigo 16º. À partida seria o tribunal singular. Apesar de ter a morte como
elemento típico, sabemos que o tribunal coletivo é subsidiário em relação às suas duas alíneas.
Portanto, a competência para lidar com casos de infanticídio seria atribuída ao tribunal singular
pelo 16º/2/b.
- 16º/3- introduz outra possibilidade de competência aos tribunais singulares. É ainda da
competência dos tribunais singulares crimes que tenham moldura abstrata superior a cinco anos
quando o MP, na acusação ou em requerimento, entender que não deve ser aplicado em concreto
uma pena de prisão superior a cinco anos. Muito embora o crime preveja uma moldura abstrata
superior a cinco anos, que levaria que o tribunal competente fosse coletivo, pode ser que o MP
peça uma pena que se situa abaixe do 14º/2, que seja, portanto, igual ou inferior a 5 anos. Quando
isto acontece, o tribunal singular é competente, sobrepondo-se ao 14º/2. Isto significa que é o MP
a propor uma pena igual ou inferior a cinco anos, o que leva a que o competente para julgar seja
o singular. Não faz sentido que depois se aplique pena superior a cinco anos. Há um limite na
pena de prisão nos termos do 16º/4.
- Isto trouxe alguns problemas doutrinais e jurisprudenciais porque no fundo estamos a estabelecer
um critério de determinação da competência do tribunal, uma condenação que é concreta no caso.
Ou seja, embora as regras de competência estejam, previamente definidas, na prática está à
discricionariedade do MP enviar o caso para o tribunal singular ou coletivo.
- Há quem veja aqui uma violação ao principio da separação de poderes. No fundo houve fortes
críticas doutrinais e jurisprudências porque no entender de alguma doutrina, o MP estaria a
exercer funções judiciais ao determinar a medida concreta da pena, e dessa forma o MP estaria
não apenas a sobrepor-se ao legislador, mas também ao próprio julgador porque vai estabelecer
um limite máximo que o julgador não pode ultrapassar.
- Temos então a violação do principio da independência judicial e do monopólio estadual da
administração da justiça.
- Outra doutrina e o próprio CP entendem que a norma do 16º/3 é compatível com a CRP e não é
violador do principio do monopólio da função jurisdicional com o argumento de que embora o MP
de facto limite a pena aplicável num determinado caso, incumbe ao tribunal singular decidir a pena
dentro desse limite. Ou seja, ele continua a ter competência para limitar a pena, mas está limitado
pelo que diz o art 16º/3 e o..

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Por outro lado, podemos ter situações de alteração dos factos que importem a alteração da pena e isso
pode levar a considerar o tribunal competente, sendo eventualmente o caso seja remetido para outro
tribunal.

Art. 19º
Art. 154º/ a) CP

Crimes cometidos no estrangeiro (art. 22º CPP): por vezes os tribunais portugueses são competentes
para reconhecer crimes que foram praticados fora do território (art. 5 CP). É preciso saber qual é a regra.
O art. 22º é bastaste assertivo!

Competência funcional:
• Por graus – estamos a dizer que há tribunais que são competentes em 1ª instância pata
reconhecer os crimes, depois temos os tribunais de 2º grau ou 2º estância (tribunais da relação –
art. 12º CPP) e um 3º grau (STJ – art. 11º).
• Por fases: o processo penal é constituído:
1. fase de inquérito – embora haja a direção do MP, há um acompanhamento
constitucionalmente imposto por um juiz de instrução (art. 17º CPP);
2. fase de instrução (facultativa) – naturalmente que o juiz competente é o juiz de instrução (art.
17º e 288º/1 CPP);
3. fase de julgamento (obrigatória no caso de haver acusação ou despacho de prenuncia) –
temos o juiz ou juízes (quando temos os tribunais coletivos) de julgamento;
4. despacho de prenuncia ou acusação;
5. fase de recurso (facultativa) – competência é dos tribunais superiores (da relação ou STJ);
6. fase de execução das sanções criminais – competência atribuída aos tribunais de
execução de penas.

Em cada uma destas fases há um tribunal/um juiz com competência para atuar.

Competência por conexão: temos este problema quando por exemplo um agente comete 10 crimes de
furto até ser apanhado. Esses processos vão ser analisados de uma forma autónoma ou podem ser
agrupados num só processo. O art. 24º CPP diz-nos em que situações podemos ter conexões de
processos. (Art. 24º/2 !!!) – são competentes para julgar estas situações (art. 27º e 28º CPP). A conexão
de processos só é possível se estiverem todos na mesma fase processual ou então só opera em relação
aos processos que estão na mesma fase processual.

2. O ministério publico:

O MP é composto por magistrados, mas são magistrados que têm uma autonomia e estatuto próprio
distinto dos outros sujeitos processuais. O estatuo do MP está na lei 47º/86 e a própria constituição
debruça-se sobre o MP (art. 219º CRP).

Um ponto que é bastante importante em relação à magistratura judicial é que no MP há hierarquia (são
hierarquicamente subordinados) algo que não acontece na magistratura judicial. Em termos de hierarquia
o MP tem uma entidade superior que é a procuradoria geral da republica (Art. 220º/1 CRP).

Composição da PGR (ART. 9 do estatuto e 220º CRP)


A PGR engloba:

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Þ Procurador geral da republica – é nomeada pelo PR (183º m) CRP) sobre proposta do governo.
Mandato de 6 anos (220º/3).
Þ Conselho superior do MP;
Þ O conselho consultivo da procuradoria geral da republica;
Þ Os auditores jurídicos;
Þ E os serviços de apoio técnico e administrativo.

NOTA: o art. 220/2 é mais limitado no que toca a estas figuras do que o art. 9º.

É importante a ligação do MP ao governo e ao PR – tem a ver desde logo com um aspeto que decorre
da CRP (art. 209º/1 parte final).
Lei da politica criminal – nesta lei encontramos em termos de investigação criminal devemos atender à
investigação de crimes como: violência domestica, cyber crime... (Crimes que estão em crescimento) –
que crimes vamos prevenir.

Há uma relação umbilical entre a procuradoria geral da republica e o governo. Mas não podemos dizer
que a procuradoria não tem autonomia na condução de processos crime concretos ou articulares isto
porque o MP tem autonomia na condução de processos concretos (art. 2º estatuto, reforça que o MP
obedece ao principio da legalidade).
1º b) CPP – as autoridades judiciárias são o juiz, juiz de instrução ou o MP, consoante a fase processual
em que o processo se encontre. A sua atuação é vinculada pela lei e, embora haja alguma margem de
liberdade decisório, esta discricionariedade não pode fugir aos limites da lei.

53º CPP – a função do MP é, desde logo, de colaboração com o tribunal na descoberta da verdade e
realização da justiça. A atuação do MP tem de obedecer a critérios de objetividade. O nº2 tem algumas
tarefas mais especificas atribuídas ao MP, como receber denunciais e queixas. O MP é o dominus do
inquérito, isto é, cabe-lhe dirigir o inquérito, embora com a colaboração dos OPC.

O MP tem a função de deduzir acusação - Uma leitura literal desta função é errada, porque se o MP tem
o dever de acusar tendo indícios suficientes, também é verdade que o MP deve arquivar o processo ou
pedir mesmo a absolvição do arguido se entender que não há provas suficientes do cometimento do crime
por aquele agente especifico:
• É preciso reforçar o que diz o art. 53º/1 CPP, que é o dever de colaboração de descoberto da
verdade do MP, quer isso seja favorável ou desfavorável para o arguido.
• O MP não é uma parte no processo, por isso se pode dizer que não há estrutura acusatória
pura do processo penal. O MP tem a tarefa de deduzir acusação e o dever de a sustentar na
instrução e no julgamento, isto porque o agente do MP deduzir a acusação não é o mesmo que
estar presente na instrução e depois no julgamento.
• Sendo procuradores diferentes, pode acontecer que o agente do MP presente em audiência de
julgamento não concorde com a acusação deduzida pelo colega, tendo este que sustentar aquilo
que o colega aduziu na acusação. No entanto, se não estiver satisfeito com a prova produzida,
não está obrigado a seguir a teses da acusação, podendo pedir a absolvição do agente.

3. O arguido (o individuo considerado mais importante):

Não se pode confundir a figura do arguido com a do suspeito. O próprio CPP tem normas dedicadas a
cada uma dessas figuras:
• O art. 1º e) CPP: define suspeito.

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• O arguido assume uma posição processual que o suspeito não tem.


• 60º do CPP: adquirir a posição de arguido vai assegurar a essa pessoa um conjunto de direitos
próprios do arguido, bem como um conjunto de deveres processuais, sendo possível aplicar
medidas de coação, garantia patrimonial e diligência probatórias.
• 32º CRP: consagra um conjunto de direitos ao arguido.
• o arguido assume esta posição processual em certos momentos. O momento de constituição do
arguido vem, desde logo, descrito no 57º/1 do CPP, e diz que assume a qualidade de arguido
(que pode ser pessoa singular ou coletiva) aquele contra quem dor deduzida acusação ou
requerida instrução num processo penal.
• Há dois momentos que levam à constituição de arguido: acusação e requerimento de abertura de
instrução. Isto também significa que um inquérito pode desenrolar-se contra pessoa
indeterminada, sem existência previa de um arguido, e o inquérito servir para determinar quem
praticou determinado crime.
• Assumir a posição de arguido significa que a pessoa deixa de ser mero participante processual e
passa a ser um sujeito processual, isto porque pode conformar o decurso do processo. O arguido
tem um conjunto de direitos que não são consagrados para um mero participante processual.

Para que alguém seja arguido, não basta que seja suspeito:
• Suspeito é o individuo em relação à qual existem indícios.
• Ao falar de arguido já falamos de uma pessoa em relação à qual já existem fortes e fundados
indícios de que praticou crime.

Para além do momento da acusação e do requerimento de abertura de instrução, há outros momentos


em que a constituição de arguido se torna obrigatória: 58º/1 CPP
• O artigo 58º/2 CPP tem particularidades quanto à forma da constituição de arguido: esta opera-
se por comunicação oral ou escrita feita pela autoridade judiciaria ou pelo OPC ao visado de que,
a partir daquele momento, ele é arguido naquele processo penal, podendo ainda dizer-se quais
os direitos e deveres processuais que lhe assistem:
- Sempre que a constituição de arguido seja feita por um OPC, é necessário que esse
facto seja comunicado a uma autoridade judiciaria (58º/3 CPP). Caso estes trâmites
processuais não sejam cumpridos, o art. 58º/3 CPP prevê a sanção.
- Caso não haja constituição de arguido nos casos em que esta seja obrigatória, surge
a nulidade que decorre do art. 120º/2 d) CPP.

A constituição de arguido acarreta a presença de 3 princípios (Mª João Antunes):


1. Direito de defesa – é um direito amplo composto por sub direitos descritos maioritariamente no
artigo 61º CPP:
- Garantia do contraditório (direito a ser ouvido pelo tribunal);
- Direito de ser informado sobre os factos que lhe são imputados;
- Direito ao silencio (é um direito que não é absoluto, mas tem algumas limitações previstas,
desde logo, para a sede de audiência e julgamento – art. 345º/1 + 343º/1 + 342º/ 1 e 2 CPP).
- Direito a ser assistido por um advogado (possível defensor oficioso) – 20º CRP “acesso ao
direito”.
- Direito de comunicar livre de interferência com o seu defensor (ex: 179º/2 CPP) quanto à
correspondência + 187º/5 escutas telefónicas).
- Possibilidade de o arguido intervir no processo.
- Ser informado dos direitos que lhe assistem.
- Possibilidade de recorrer.

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- Possibilidade de abertura de instrução (287º/1 a) CPP).


- Possibilidade de intervenção do arguido para requerer a constituição de um tribunal de júri
(13º/3 CPP).
- Direito a fazer alegações (361º CPP).
- Possibilidade de o arguido se opor à desistência de queixa (51º/3 CPP) – pode ser uma forma
que o arguido tem de provar a inocência para além de duvida (ex: casos mediáticos). Arriscado
porque nunca se pode deixar de parte a possibilidade de condenação de um inocente.
- Deveres (61º/3 CPP, essencialmente):
§ Dever de comparecer perante autoridades judiciarias ou OPCs.
§ Dever de responder com verdade às questões sobre a identidade.

2. Principio de presunção de inocência


3. Principio de respeito pela decisão do arguido (proteção da autodeterminação)

Existem casos em que as pessoas não possuem meios económicos. Aí, é designado algum advogado
oficioso pago pelo Estado (20º CRP) – acesso ao direito e tutela efetiva. Não pode ser a falta de meios
económicos que vem abalar.

Comunicação em privado do mandatário judicial com o arguido – é um direito que acaba por materializar-
se e afetar outros meios de prova como o 179º/2 CPP, acerca da correspondência entre arguido e
defensor.

Direito de abertura de instrução- a sua abertura pode ser requerida pelo arguido (287º/1/a CPP).

Possibilidade de requerimento pelo arguido para a constituição de tribunal de júri – 13º/3 CPP.

Direito a prestar alegações, no encerramento da discussão de audiência de julgamento – 361º CPP.


Findas as alegações orais, o presente (?) pergunta ao arguido se possui mais alguma defesa.

Possibilidade do arguido se opor à resistência de queixa (51º/3 CPP) – casos em que o processo penal
começa com uma queixa e continua como acusação particular, caso retirado o processo, pode o arguido
exigir não acabar com o processo, opondo-se. Esta possibilidade consagrada é de continuação do
processo para provar a sua inocência.

Por outro lado, também existem deveres decorrentes do 61º CPC:


• Dever de comparecer perante autoridade judiciária ou OPC caso tenha sido convocado (61º/3);
• É obrigado a responder com verdade acerca das questões colocadas quanto à sua identidade
(61º/3 + 342º/1).

Remeter do 61º/3/c para o 196º: medida de coação mais leve


152º/1 CPP

4. O defensor:
Defensor é o advogado do arguido.

32º/3 CRP - estabelece que o arguido tem o direito a escolher defensor e de por ele ser assistido em
todos os atos do processo.

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O defensor não é, contrariamente ao que acontece em outros processos que não o penal, um mero
representante do arguido - é um órgão de administração da justiça que atua no interesse do arguido, daí
que a sua presença seja obrigatória em determinadas situações. Não se trata de um mero participante,
mas sim um sujeito processual.

O defensor atua no sentido de proteger os interesses do arguido mesmo contra/sem a vontade deste. Ele
é norteado pelos interesses do arguido. Este é um advogado, não podendo ser solicitador ou outro
profissional. Pode ser constituído em qualquer altura do processo.
Se não for constituído, será designado um defensor – 62º CPP. Porém, o 64º estabelece momentos em
que a constituição do defensor é obrigatória, seja ele escolhido pelo arguido ou designado oficiosamente.
Caso o arguido não tenha defensor nesses momentos, o ato processual é nulo, como podemos ver pelo
119º/c) CPP. Fazer remissão do 64º para o 119º, al. c). Trata-se de uma nulidade insanável.

O defensor tem poderes que lhe são reconhecidos pelo CPP e exerce, nos termos do 63º/1, exercendo
os direitos que a lei reconhece ao arguido, com uma ressalva – aqueles casos em que o arguido tem de
exercer pessoalmente esses direitos, como por exemplo, o 361º CPP (ultimas declarações do arguido e
encerramento da discussão). Neste caso não poderá o defensor fazer-se substituir ao arguido. Podemos
ainda ver, neste sentido, o 333º/3.

Questões mais controversas sobre o defensor são:

• O arguido poderá defender-se a si próprio? Sobretudo quando ele é advogado?


Aquilo que decorre das regras é que o arguido pode defender-se a si próprio, mas nem sempre,
nomeadamente nos momentos do artigo 64º. Pode haver autorrepresentação ou autodefesa, mas
nem sempre.
Sendo ele advogado pode representar-se em todas as situações? Não. Este tem de constituir
defensor nas situações do art 64º. Isto leva à ideia de que muitas vezes o arguido, mesmo sendo
advogado, não possui a clarividência necessária para se autorrepresentar, não tendo
distanciamento que lhe permita fazer uma apreciação técnica adequada para representar os seus
próprios interesses. Como forma de proteção do próprio arguido, existe aqui uma imposição da
sua representação por defensor.
• Relativamente à defesa, a doutrina distingue:
o Defesa pessoal – aquela que é feita pelo próprio arguido;
o Defesa técnica – aquela que é feita com o defensor;
o Defesa formal – aquela que é levada a cabo pelo arguido e defensor;
o Defesa material – aquela que resulta da própria atividade do tribunal que, procurando a
realização da justiça, pode ir no sentido de comprovação da inocência do arguido. As
autoridades judiciárias em geral não têm obrigatoriamente de condenar o arguido, sendo
que não existindo provas suficientes este deve ser absolvido.

5. e o assistente (vitima que adquire posição relevante no processo).

Surge como um verdadeiro sujeito processual que tem desde logo uma determinada posição (colaborar
com o MP) – art 69º/1 CPP.
O assistente também controla a atividade do próprio MP, em determinadas situações. Pode fazer isso
desde logo pelo art. 287º/1 b) CPP (a propósito da instrução; permite ao assistente requerer a abertura
dessa fase nos caos em que o MP não tenha deduzido acusação, ou seja, o assistente não concorda
com o arquivamento do processo e quer que este prossiga); para além disso tem sempre a possibilidade

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de interpor recursos de uma forma autónoma (art. 401º/1 b) CPP). Algo particular do assistente, é que
este tem de ser sempre representado por advogado (70º/1 CPP) e se houver vários assistentes estes são
representados por um só advogado.
O assistente tem competência para desempenhar um conjunto de atos (art. 69º/2):
a. “intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências que se
afigurarem necessárias e conhecer os despachos que sobre tais iniciativas recaírem;
b. deduzir acusação independente da do MP e, no caso, de procedimento dependente de acusação
particular, ainda que aquele a não deduza;
c. interpor recurso das decisões que os afetem, mesmo que o MP o não tenha feito, dispondo, para
o efeito, de acesso aos elementos processuais imprescindíveis, sem prejuízo do regime aplicável
ao segredo de justiça.”

Quando temos uma pessoa coletiva (PROBLEMA), temos um lesado que é uma pessoa coletiva que saiu
lesada. O CPP não dá uma resposta relativamente a este problema. A questão é: basta um gerente? Um
administrador? Tem de ser mais do que um? Problema maior ainda quando temos mais que um gerente
com ideias diferentes em relação ao processo e neste assunto o CPP é pouco satisfatório.

Prazo para a constituição de assistente: art. 246º/4 CPP – o denunciante pode declarar na denuncia
que deseja constituir-se assistente. Se o crime for particular (se depender da acusação do particular) a
declaração é obrigatória. O OPC tem que chamar para esta obrigatoriedade. Tem de ocorrer no prazo de
10 dias a contar desta advertência feita pelo OPC.

Reforma de 201515 - que introduz o estatuto da vitima e alterou o CP que inseriu o art. 67º - A (nova
figura, a vitima, a atribui a esta figura determinados direitos que estão presentes no nº4 e 5 deste artigo.
Coloca-se o problema de saber em que posição a vitima se insere (se é participante processual ou se é
sujeito processual). A doutrina quando olha para esta nova figura faz uma analise um pouco sarcástica,
na opinião do professor. A intenção do legislador não terá sido a conceber direitos à vitima, mas sim uma
questão politica e simbólica para poderemos dizer que o CP português se importa com a vitima. Em suma,
não produz grandes efeitos a nível penal e não é de admirar que muita doutrina portuguesa considere
que a vitima não é sujeito processual.
Podemos ter algumas duvidas, desde logo por causa do art. 67º - A nº4 pois afirma expressamente que
a vitima tem uma participação ativa no processo penal – o que aproxima mais da figura de sujeito
processual e não tanto de participante processual. E concede à vitima a faculdade de facultar provas que
se considerem necessárias ao processo.

Para alem disso, se formos ao artigo 281º (suspensão provisoria do processo). Diz no nº 7 “em processos
por crime de violência domestica não agravado pelo resultado, o MP, mediante requerimento livre e
esclarecido da vitima, determina a suspensão provisória do processo, com a concordância do juiz de
instrução e do arguido desde que se verifiquem os pressupostos das alíneas b) e c) do nº1.”

Olhando para o art. 67 – A, para o 292º e para o 281º do CPP temos aqui muitas manifestações de um
novo sujeito processual porque o que vemos no CPP é que a vitima tem um papel quase que paralelo
que o do assistente. Tem um papel ativo que não pode ser negligenciado. Agora como compatibilizamos
a figura da vitima com a do assistente é uma questão mais complicada porque o legislador não se
preocupou com isso.

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Lei 130/2015

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Em suma, há varias respostas em relação à questão de saber se a vitima é ou não sujeito processual.

Advogado do assistente: assume a mesma importância processual que o defensor? Não. O advogado
do assistente não é um sujeito processual como é o advogado do arguido, uma vez que a sua atividade
está subordinada à vontade do assistente.

Participantes processuais

São figuras de menor importância para a condução do processo.

1. Partes civis:

São lesados que intervêm no processo penal, mas intervêm porque deduzem um pedido civil. é obvio
que o processo penal vai julgar questões penais, mas adicionalmente vai julgar questões civis que estejam
conexas com a matéria penal, daí existirem as partes civis – art. 71º CPP, art. 129º CP, art. 74º/1 CPP.
O lesado é a pessoa que sofreu danos pelo crime seja ele assistente ou não, pode não ser assistente,
por outro lado, o lesado pode não ser o sujeito que a lei penal vise proteger e para tornar isto ainda mais
complicado, a pessoa contra quem o pedido de indeminização civil é deduzido pode não assumir a
posição de arguido (pode ser responsável meramente civil). do lado do lesado temos uma pessoa que
pode ou não ser vitima e do lado do demandado pelo crime de indemnização civil podemos ter o arguido
(que é o que acontece por norma) ou uma pessoa que tem uma responsabilidade meramente civil (art.
73º).

Art. 72º CPP – exceções. Portanto há o principio da adesão (regra base – art. 71º), que é quebrado no
artigo 72º. (por exemplo, 72º/2 a) – algo que acontece com alguma frequência - as situações em que o
processo penal ao tiver conduzido a uma acusação no prazo de 8 meses a contar da notícia do crime, ou
estiver sem andamento durante esse lapso de tempo permite ao lesado tratar da questão civil fora do
processo penal; mesmo quando o pedido de indemnização civil é no processo penal, ele conserva alguns
princípios (ex: principio do pedido) portanto é o que nos vais dizer que as partes civis não se confundem
com as partes penais). É diferente do que acontece no CP, pois aqui permite-se ao juiz indagar sobre os
factos de uma forma autónomo, ou seja, este principio do pedido é quase que como uma marca
distintiva entre processo civil e processo penal - Art. 340º/1.

Há quem critique o principio de adesão previsto no art. 71º:


• desde logo porque o facto de o tribunal penal julgar também a questão civil pode trazer alguns
problemas, em primeiro lugar porque os pressupostos da responsabilidade civil são distintivos dos
pressupostos da responsabilidade penal (dolo e negligencia no direito penal é que a alguém só
pode ser condenado se atuar com dolo...);
• um outro aspeto tem que ver com a prova (a produção de prova é diferente no processo civil e no
processo penal).

Estes são alguns aspetos que podem causar alguma inturpia no processo penal.

Art. 74º/2 onde se delimitam as competências do lesado (de uma das partes civis). Diz o nº2 “a intervenção
processual do lesado restringe-se à sustentação e à prova do pedido de indemnização civil, competindo-
lhe, correspondentemente, os direitos que a lei confere aos assistentes.”

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Temos ainda a questão relativa às medidas de coação e às medidas de garantias patrimoniais. Se formos
ao art. 227º podemos ver que em regra a caução económica serve para garantir que o arguido não lapida
o seu património de forma a evitar o pagamento de uma pena de multa, ou custas do processo... quer-se
garantir que o arguido não se desfaz do património para depois não ter de se aplicar uma multa (Ex: na
fase de inquérito tem de prestar uma caução de 200 000€ que fica guardada ate ao final do processo) –
não serve apenas pata garantir o pagamento de penas, mas também para garantir o pagamento de
indemnizações e responsabilidades civis (227º/3); o mesmo também acontece no 228º.

O 227º e 228º são mecanismos que garantem interesses penais, mas também podem servir para garantir
interesses civis.

2. OPC’S (órgãos de policia criminal)

Art. 1º c) - “Todas as entidades e agentes policiais a quem caiba levar a cabo quaisquer atos ordenados
por uma autoridade judiciária ou determinados por este Código.”

No fundo estamos a falar de agentes policiais. Igualmente importante é a alínea d) do mesmo artigo que
define “autoridade de policia criminal” como “os diretores, oficiais, inspetores e subinspetores de policia e
todos os funcionários policiais a quem as leis respetivas reconhecerem aquela qualificação”.

A definição do que é um OPC decorre por um lado do CPP, mas também decorre da lei de organização
e investigação criminal (Lei 49/2008). Para nós sabermos exatamente o que são OPC’s temos também
que atender a esta lei e a outras e não só ao CPP.

No art. 3º da lei temos uma lista dos OPC’s de competência genérica:


• PJ;
• GNR;
• PSP.

Os OPC’s não são completamente autónomos quanto à decisão pratica de atos no decurso de um
processo penal, embora tenham uma autonomia orgânica, não têm uma autonomia absoluta pata praticar
atos. Voltando ao art. 1º CPP e à definição de OPC’s vemos que o legislador diz “... quem caiba levar a
cabo quais atos ordenados por uma autoridade judiciaria ou determinados por este Código” - têm uma
dependência funcional.

Se olharmos para a fase de investigação (art. 263º) – sabemos que o inquérito tem como objetivo
descobrir quem foi o autor... mas temos também de saber que o inquérito encontra-se nas mãos do MP
e os OPC’s têm um papel de auxilio (papel instrumental); e portanto os OPC’s nesta fase atuam com
ordens do MP embora noutras fases processuais possam atuar com ordens do juiz/magistrado judicial.
Apesar da sua autonomia administrativa, orgânica, disciplinada... há uma dependência funcional dos
OPC’s relativamente às autoridades às autoridades judiciais. Esta dependência não vai limitar a
autonomia técnica ou tática, isto é, saber exatamente como o ato vai ser desempenhado (Ex: precisam
de fazer uma busca, não é o MP que diz se eles entram pela porta da frente, de trás...).

Esta dependência funcional é também reforçada na LAIC (art. 2º/1) e acrescenta o nº 2 deste mesmo
artigo que a autoridade judiciaria é assistida pelos OPC’s. O nº4 volta a salientar que os OPC’s atuam
sob a orientação e na dependência funcional da autoridade judiciaria competente, sem prejuízo da
respetiva organização hierárquica. O nº5 garante autonomia técnica ou tática e o nº6 diz o que é

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autonomia técnica e tácita e o nº 7 estabelece um ponto final muito importante é que embora sejam as
autoridades policiais a desenvolver os atos de investigação, apesar disso, a autoridade judiciaria (MP)
pode a qualquer momento chamar a si o processo para fiscalizar de que o modo o processo esta a ser
conduzido...

Apesar desta vincada dependência funcional, devemos ter em atenção alguns aspetos:
• Por vezes os OPC podem levar a cabo atos por iniciativa própria, sem que tenham sido ordenados
pelas autoridades judiciária, mas depois têm de ter esses atos validados por uma autoridade
judiciária 178.º/4, /5 e /6 CPP – este art fala sobre a apreensão de objetos. O nº 3 diz que as
apreensões são autorizadas, ordenadas ou validadas por despacho da autoridade judiciária.
Portanto, à partida, tem de ser a autoridade judiciária a ordenar a apreensão.
No entanto o nº 4 e o nº5 estabelecem exceções: os OPC podem realizar apreensões na
sequência de revistas ou buscas, ou seja, se houver perigo na demora fazem logo apreensão. O
nº 6 diz que depois de qualquer apreensão feita pelos OPC, tem de ser validada pela autoridade
judiciária no prazo máximo de 72h.

Ou seja, a validação tem sempre de acontecer, pode é ser antes ou depois da apreensão.

254.º CPP

Esta intervenção antecipada dos OPC acontece em várias matérias do processo penal, nomeadamente
podem: colher a notícia do crime, pode conservar meios de prova, pode sujeitar o arguido a um TIR, etc...
Processo penal comum
(tramitação do processo)

NOTA: o processo penal obedece a um conjunto de principio (princípios gerais do processo penal) e
normalmente esses pp são estudados:
• De uma forma autónoma;
• Ou a propósito de cada fase processual.16

Podem ser agrupados em 4 categorias:

I. Pp relativos à iniciativa ou promoção processual:


• Principio da legalidade;
• Principio da oficialidade;
• Principio da acusação.
II. Pp relativos à prossecução processual:
• Principio da investigação;
• Principio do contraditório;
• Principio da suficiência (e do problema das questões prejudiciais);
• Principio da concentração.
III. Pp relativos à prova:
• Principio da investigação ou da verdade material;
• Principio da livre apreciação da prova (ou sistema de prova livre);
• Principio in dubio pro reo.

16
metodologia que vamos utilizar.

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IV. Pp relativos à forma:


• Principio da publicidade;
• Principio da oralidade e da imediação.

Há princípios que são transversais ao processo, mas que se ligam mais a uma fase do processo concreta.

Fase de inquérito

• Principio da oficialidade:

Segundo este principio incumbe a uma entidade publica estadual a iniciativa de investigar a pratica de
um crime e de submeter essa questão a um julgamento. Este principio tem desde logo consagração
constitucional (art. 219º CRP – é tarefa do MP exercer a ação penal). O CPP vai no mesmo sentido e diz
o art. 48º CPP que a regra é que cabe ao MP promover o processo penal (há algumas
exceções/limitações).

O MP inicia o processo penal (241º e ss CPP) quando tem conhecimento que um crime aconteceu seja
por ação própria, pode ser por ter tomado conhecimento pelos OPC’s e qualquer pessoa pode denunciar
a existência de um crime. Havendo a noticia de um crime o MP deve dar seguimento a essa noticia ou
denuncia nos termos do art. 53º/2 a) - prossegue o processo fazendo a investigação criminal com auxílio
dos OPC’s recolhendo indícios suficientes e promove a acusação 283º/1. Se não obtiver indícios
suficientes tem de promover o arquivamento do processo (art. 277º/1 CPP).

O MP promove o arquivamento do processo logo que conclua que:


• não tem indícios suficientes;
• ou que o sujeito não cometeu o crime;
• ou pelo contrario se tiver indícios suficientes sobre a existência do crime e quanto ao sujeito deduz
oposição (283º CPP).

276º CPP- duração máxima do inquérito:


• 6 meses: se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação;
• 8 meses: se houver.

Os prazos podem ser aumentados e esse incremento acontece sobretudo se estivermos a falar de
criminalidade organizada complexa.

O problema é que mesmo havendo prazos máximos o que acontece é que não há uma sanção pelo
incumprimento dos prazos (o que se diz é que os prazos são meramente indicativos), ou seja, quando
não são cumpridos não há nenhuma sanção.

O que acontece quando MP tem noticia do crime e desrespeita o art. 48º CPP (ou seja, não abre o
processo)?
Temos de ir ao art. 119º b) e há uma nulidade insanável que decorre do MP. A regra é que esta tudo nas
mãos do MP para que o processo tenha o seu inicio até chegar a uma acusação ou arquivamento, porém
este principio da oficialidade tem uma limitação (crimes semipúblicos) e uma exceção (crimes
particulares):

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• Tipologia de crimes:
§ Crimes públicos: é aquele tipo de crime cuja investigação não depende nem de queixa nem
de acusação do particular, basta o MP tenha conhecimento do crime para que possa dar início
à investigação. São aqueles que estão abrangidos pelo art. 48º CPP (regra geral) – exemplo:
crime de homicídio (131º).

§ Crimes semipúblicos: são aqueles em que se exige a apresentação de uma queixa pelo
titular do direito de queixa. portanto é necessário que os titulares do direito de queixa deem
conhecimento ao MP e demonstrem vontade em que o processo penal se inicie. Aqui serão
relevantes os arts. 113º CP e 49º CPP. São uma limitação ao principio da oficialidade porque
basta logo ver pelo art. 49º/1 CPP – “quando o procedimento criminal depender de queixa, do
ofendido ou de outras pessoas, é necessário que essas pessoas deem conhecimento do facto
ao MP, para que este promova o processo.”

§ Crimes particulares: verdadeira exceção ao principio da oficialidade. Por um lado, estes


crimes demandam apresentação de queixa (é necessário que o ofendido apresente queixa),
para além disso tem de se constituir assistente e tem de apresentar acusação – art 50º /1
(“quando o procedimento criminal depender de acusação particular, do ofendido ou de outras
pessoas, é necessário que essas pessoas se queixem, se constituam assistentes e deduzam
acusação particular”).
Relativamente à acusação particular temos de ir ao art. 285º CPP – acaba o inquérito o MP
notifica o assistente e este no prazo de 10 dias tem de deduzir acusação contra o arguido.
Para além disto temos outros artigos relevantes – 246º/4 (quando alguém faz denuncia
relativamente a um crime que depende de acusação particular, o denunciante tem de ser
advertido para a necessidade de se constituir assistente que decorre do 68º CPP).

Estes crimes são uma exceção ao principio da oficialidade porque:


• Por um lado, o início do processo penal está dependente desta declaração de vontade por parte
do ofendido (o ofendido tem de se constituir assistente e tem de apresentar queixa),
independentemente da sua constituição como assistente ou não;
• Por outro lado, quem decide no final do inquérito sobre o que fazer é o assistente (é ele que deduz
acusação particular, se quiser).

Isto não acontece nos dois outros tipos de crimes.

Exemplo: 185.º CP (ofensa à memória de pessoa falecida) que tem de ser conjugado com o 188.º que
nos diz no nº 1 que o crime do 185.º depende de acusação particular (dependendo também de queixa e
de constituição do assistente).

Os crimes particulares merecem alguns apontamentos suplementares:


• 113.º CP (titulares do direito de queixa) – o nº 5 e o nº 6, bem como o 117.º, dizem que, não
obstante o procedimento criminal depender de queixa ou acusação particular, o MP pode dar
início ao processo penal mesmo sem essa queixa ou acusação particular desde que estejam
preenchidos determinados pressupostos (113.º/5: pode fazê-lo no prazo de 6 meses a contar da
data em que tiver tido conhecimento do facto e dos seus autores, sempre que o interesse do
ofendido o aconselhar) e:

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o O ofendido seja menor de idade ou incapaz de perceber o alcance ou significado do direito


de queixa;
o Se o direito de queixa não puder ser exercido porque a pessoa legitimada para exercer
esse direito é o agente do crime.
(então, é necessário que a atuação do MP seja motivada pelo interesse do ofendido e que este preencha
os pontos acima).
Apesar de termos esta exceção ao principio da oficialidade, há alguns casos em que o MP pode atuar em
nome da própria vítima, pode sobrepor-se a esta.

NOTA: os crimes particulares (em sentido estrito) e semipúblicos podem ser agrupados numa
categorização “crimes particulares em sentido amplo”.

O que justifica a limitação da atuação do MP?


• Desde logo temos de ter em atenção que há crimes que pela sua relativa falta de importância não é
exigível do ponto de vista comunitário que haja sempre investigação criminal (Ex: ofensas à
integridade física simples).
• Depois temos outro tipo de crimes que mexem com a intimidade da vida privada ou familiar e aí no
fundo estamos a dizer que a vitima é que deve ponderar dos pós e contras se deve avançar com o
processo penal pois pode não querer ver a sua intimidade/vida pessoal exposta (Ex: furto entre
familiares).
• Por outro lado, há o fenómeno de vitimização secundário que pode ser evitado com os crimes
particulares em sentido amplo (ex: crime de violação – 164º CP – embora não diga nada temos de ir
ao art. 178º para perceber que tipo de crime falamos que no caso é semipúblico17). Há doutrina que
diz que com os crimes particulares em sentido amplo teremos uma descriminalização real/empírica,
ou seja, se não existir queixa é um comportamento que não é púnico – há uma descriminalização de
certos comportamentos. Tem vantagens pois há uma maior economia processual e porque há
situações em que a criminalidade está na fronteira entre se o processo penal deve ser prosseguido
ou não.
• exemplo: 170° CP- crime de importunação sexual. Este artigo é problemático pois há dúvidas quanto
à boa técnica na formulação do mesmo. Havia dúvidas quanto ao alcance deste artigo É limitativo,
pois devia abranger também qualquer tipo de assédio realizado por uma qualquer pessoa e existe
também uma limitação nas situações em que entre o agente da prática do crime e a vítima existam
relações de proximidade. Nesses casos a prova pode ser difícil de produzir e recolher, desde logo
porque pode haver recusa de depoimento.
• 134.º/1/a) CPP- podem recusar-se a depor como testemunhas quem estiver contemplado nas alíneas
a e b).

• Principio da legalidade:

É a ideia de que o MP está obrigado por lei a promover a abertura do processo penal/ação penal se tiver
noticia de um crime, para além de estar obrigado a deduzir acusação sempre que haja recolhido indícios
suficientes sobre a existência de um crime e a identidade do autor/agente do crime. Não há um principio
de oportunidade, ou seja, a decisão de iniciar o processo penal e de deduzir acusação não esta sujeita a

17
é semipúblico por causa da intimidade da vitima que será escortinada no processo (ex: exames, perícias médicos, vai
ter de contar múltiplas vezes o que lhe aconteceu...) ou seja para além da vitimização primária teremos uma vitimização
secundária proveniente do processo penal e é por essa razão que o legislador coloca nas mãos da vitima o poder de iniciar
o processo ou não.

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critérios políticos, religiosos, culturais/sociais... o único critério é o de obediência à lei, só dessa forma se
consegue dar cumprimento ao principio da igualdade de todos perante a lei (13º CRP).

O principio da legalidade (importante não confundir com o principio da legalidade do processo) que
estamos aqui a falar do âmbito da promoção processual, decorre do art. 219º CRP que define as funções
e o papel do MP e o 219º/1 CRP diz que compete ao MP exercer a ação penal orientada pelo principio
da legalidade. Este principio no fundo divide-se nestas duas dimensões (promover a ação penal/abertura
do processo e deduzir acusação). Há 2 normas no CPP sobre estas duas questões:
• Art. 262º/2 – a propósito do inquérito (1ª fase de investigação sobre a existência do crime e dos seus
agentes).
• Art. 283º/1 - Dedução da acusação: se durante esta fase de investigação/inquérito o MP recolher
indícios suficientes sobre a existência de um crime e identidade do agente desse mesmo crime então
esta obrigado a deduzir acusação.

No fundo há aqui uma dupla manifestação do principio da legalidade (em relação à promoção do processo
e outra relativa à dedução de acusação). Esta obrigatoriedade de promover inquérito e deduzir oposição
acaba por ser controlada de varias formas:
• Através da abertura de instrução (requerimento de abertura de instrução) – 286º e 287º;
• Através da intervenção hierárquica prevista no 278º;
• O MP está obrigado a abrir inquérito, mas não o faz (exemplo) – pode levar à responsabilidade
disciplinar do MP (casos limites) – art. 163º e ss do estatuto do MP e nos casos mais graves
poderá mesmo haver responsabilidade criminal através do 369º CP (exemplo: o representante do
MP é amigo do arguido então decide não deduzir acusação).

O principio da legalidade tem alguns corolários, consequências:


• Principio da imutabilidade da acusação publica – o MP não pode desistir ou renunciar a uma
acusação que tenha deduzido. Não pode promover a acusação e depois “voltar atrás”/desistir.
• Denuncia – saber quem está obrigado a denunciar um crime. Olhando para o 242º CPP, vemos
que nem toda a gente está obrigada a denunciar um crime.
É obrigatória a denuncia para:
- as entidades policiais (nº1 a));
- e para os funcionários que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por
causa delas (nº1 b)).
No art. 241º no fundo vai concretizar o que falamos sobre a noticia do crime (“aquisição da noticia do
crime”). Há denuncias obrigatórias (242º) e outras facultativas.

As obrigatórias por vezes levantam questões sensíveis, sobretudo, quando suscitam conflito de deveres
(Exemplo: um médico apercebe-se que a sua paciente é vitima de violência domestica, mas está
vinculado ao dever de sigilo profissional. O médico é obrigado a denunciar esse caso? Para já, o médico
é uma das entidades do 242º/1? Olhando para o 286º CP e o 242º/1 b) – não há explicitamente referencia
à figura do medico, mas quando a lei penal se refere ao “funcionário civil” quer dizer “vamos incluir os
funcionários públicos que não integram a figura militar”, ou seja, o médico integra a figura de “funcionário
civil”.18 Contudo não deixa de existir aqui um conflito de deveres a que o médico está sujeito embora,
tendencialmente, vá fazer a denuncia do caso, sobretudo quando está em causa a integridade física da

18
em relação a um médico que trabalha num hospital privado a questão é diferente.

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vitima, o médico pode denunciar sem ter o receio de ter uma responsabilidade disciplinar pela quebra do
sigilo profissional.

Outro caso é, por exemplo, o medico que tem perante de si uma paciente que engoliu bolotas de cocaína.
Aqui há dois fatores que podem ajudar a explicar o porque de devermos ter uma denúncia por parte do
médico:
1. A questão criminal do tráfico de estupefacientes;
2. E por outro lado, há o risco de se houver a rutura de uma dessas bolotas, o paciente morrer.

Nestas situações podemos ter uma denuncia obrigatória.

Temos também a denuncia facultativa (art. 244º CPP) – qualquer pessoa que tiver noticia do crime pode
denunciá-la, salvo se o caso em si depender de denuncia particular. Em regra, a denuncia ter de ser feita
ao MP porque é o MP que vai promover a ação penal. Se por ventura a denuncia for feita a pessoa diversa
do MP (exemplo: a um OPC) tem essa entidade que transmitir ao MP essa denuncia num prazo de 10
dias – art. 245º.

A denuncia (forma e conteúdo) está descrita no 246º- o nº1 diz que a denuncia não tem requisitos
obrigatórias quanto à forma, embora a denuncia não tenha de ser feita por escrito, mas depois tem de ser
deduzida a escrito no âmbito do artigo 246º/2.

Denuncias anonimas: questão polémica. O nosso ordenamento jurídico permite denuncias anonimas. É
polémico porque muitas vezes à instrumentalização da denuncia para fins de vingança pessoal, por
exemplo. Pode haver o recurso a denuncias anonimas desde logo que se alguém denunciar uma pessoa
sabendo que os factos não correspondem à verdade pode incorrer num crime de denuncia caluniosa
(365º/1 CP). Contudo admite-se a denuncia anonima porque podemos ter questões em que as pessoas
temem pela própria vida, como uma proteção do próprio denunciante, sobretudo quando falamos de
pessoas que estão integradas em redes criminosas, ou temam pelo seu trabalho... – vai aumentar o
número de denuncias de crimes reais e diminuir as cifras negras, mas às custas das pessoas usarem a
denuncia anónima para atingirem pessoas sem razões.

246º/6 - duas situações em que a denuncia anónima pode fazer com que haja abertura do
processo:
o quando há indícios da pratica do crime que está a ser denunciado;
o quando a própria denuncia anonima seja crime (quando a denuncia seja crime, ou seja,
denuncia caluniosa|).

Até hoje tem de se entendido que as vantagens da denuncia anonima são superiores que às
desvantagens apesar de continuar a suscitar polémica.

246º/4 + 244º parte final – quando temos um denunciante que está a denunciar a existência de um crime
e esse crime seja particular a declaração de constituição de assistente é obrigatória – o declarante pode
declarar que se quer tornar assistente, mas nos crimes particulares a constituição como assistente é
obrigatória. No caso dos crimes semipúblicos a denúncia reveste a forma de queixa – é necessário que
haja queixa do por parte do ofendido para que o processo penal se possa iniciar (49º CPP).

EM SUMA, nos crimes públicos a denuncia é suficiente para abertura do processo, nos crimes particulares
e semipúblicos é necessário também queixa (denuncia ≠ queixa).

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A denuncia é simplesmente uma manifestação de conhecimento. A queixa é a manifestação de vontade,


não é apenas uma manifestação de conhecimento. As duas figuras não podem ser confundidas.

O principio da legalidade tem algumas limitações que correspondem a manifestações do principio da


oportunidade, nem sempre tem de haver uma abertura de inquérito de uma dedução de acusação sempre
que haja indícios suficientes – principio da legalidade aberto (para alguns afloramentos do principio da
oportunidade).

São 3 as exceções:

1. arquivamento com dispensa de pena (280º).

Quando alguém é declarado culpado, mas mesmo assim não se aplica uma pena (74º CP)19 – “Quando
o crime for punível com pena de prisão não superior a 6 meses, ou só com pena de multa não superior a
120 dias, o Tribunal pode declarar o réu culpado, mas não aplicar nenhuma pena se:
a) A ilicitude do facto e a culpa do agente forem diminutas;
b) O dano tiver sido reparado;
c) E à dispensa de pena se não opuserem razões de prevenção.

Na fase de julgamento, o juiz de julgamento, tem a possibilidade de, em vez de aplicar uma pena, declarar
o arguido culpado e não aplicar pena.

280º/1 CPP – “Se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre expressamente prevista na
lei penal a possibilidade de dispensa de pena, o MP, com a concordância do juiz de instrução, pode
decidir-se pelo arquivamento do processo, se se verificarem os pressupostos daquela dispensa.”
(remissão deste para o 74º CP + 143º/3 CP p ex- este último tem um caso específico de dispensa de
pena que acresce ao 74º, mas há outros).

Se estivermos perante um crime que preveja a possibilidade de dispensa de pena, o MP com a


concordância do JIC pode decidir pelo arquivamento do processo se se verificar que os pressupostos da
dispensa de pena estiverem preenchidos.

No fundo, o que o MP está a fazer aqui é uma antecipação de julgamento - não faz muito sentido deixar
o processo chegar ao julgamento para depois se dispensar de pena nessa fase (mas são fases
processuais diferentes e entidades diferentes a decidir).

Há aqui uma certa limitação ao Principio da legalidade porque sabemos que a regra é o MP deduzir
acusação sempre que tenha indícios suficientes, mas aqui, mesmo sabendo que há indícios suficientes,
o MP não deduz acusação.
Não é um principio da oportunidade porque o MP não pode promover o arquivamento nos termos do 280º
sem a concordância de um magistrado judicial, não pode fazê-lo sozinho.

Quando o 280º/1 in fine diz que “...pode decidir-se pelo arquivamento do processo, se se verificarem os
pressupostos daquela dispensa.” no fundo está a remeter para o 74º/1 a), b) e c).

19
280º CPP está relacionado com este 74º.

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Estes pressupostos do nº 1 são aplicáveis mesmo nas situações de dispensa de pena que decorrem das
partes especial do CP -> 74º/3 CP- quando uma outra norma admitir, com caracter facultativo, dispensa
de pena, esta só tem lugar se se verificarem os requisitos contidos nas alíneas do nº1:
• Suspensão provisória do processo 281º;
• Lei da Mediação Penal (Lei 21/2007).

NOTA: O art. 280º e o 281º são considerados mecanismos de diversão – mecanismos utlizados para
evitar que ocorra o julgamento de uma determinada pessoa (Desvios ao procedimento normal); e surgem
como alternativas à acusação. No caso do arquivamento com dispensa de pena temos uma situação de
diversão simples enquanto na situação do 281º temos uma diversão com intervenção. No fundo são
mecanismos de resolução do caso penal vocacionados especialmente para a pequena e média
criminalidade que permitem diminuir a intervenção do sistema formal de justiça e dessa forma evitar a
estigmatização que decorre da aplicação de uma pena. No fundo temos situações em que o MP recolhe
indícios suficientes da pratica de um crime, mas como estamos perante pequena e média criminalidade
vai promover uma situação que é distinta da acusação. Quando se fala em diversão estamos a dizer que
estamos a divergir da situação normal que seria a acusação.

2. suspensão provisoria do processo (art. 281º);

Temos uma situação de diversão com intervenção. É de maior aplicação por causa de um dos
pressupostos previstos no 281º, que tem que ver com a moldura do crime que pode ser objeto de
suspensão, ou de cuja investigação pode ser suspensa. Se o crime for punível com pena não superior a
5 anos ou com sanção diferente de pena de prisão, poderemos ter a suspensão provisória do processo.
Consiste na possibilidade de o MP, por sua iniciativa ou a requerimento do arguido ou do assistente,
suspender o processo penal desde que tenha a concordância do juiz de instrução (JIC). Os pressupostos
das alíneas do 281º são cumulativos. A suspensão provisória do processo tem lugar mediante a aplicação
de certas regras/injunções ao arguido. As regras são as do nº2, que podem ser utilizadas
cumulativamente ou não. Estas regras de conduta podem ser impostas por um período que vai, em regra,
até dois anos. A suspensão tem, no máximo, a duração de 2 anos (282º/1).

Em alguns casos, a duração da suspensão pode ir até 5anos (282º/5 que remete para 281º/6 e 7). Ou o
arguido cumpre as regras de conduta e o processo é arquivado e termina (282º/3); ou há incumprimento
das regras (282º/4), o caso continua e o MP avança com a acusação de tiver indícios suficientes.

A decisão do MP de acusar não tem de surgir apenas no final dos 2 anos, mas logo que haja
incumprimento. Há algumas particularidades que decorrem do 281º/7 e 8:

o No nº7 tem que ver com os crimes de violência doméstica. Os crimes de violência
doméstica referem-se a uma realidade complexa, mas cuja moldura abstrata não
ultrapassa os 5 anos. O nº7 diz que, quando não haja agravação pelo resultado, é possível
haver suspensão provisória do processo mediante requerimento livre e esclarecido da
vítima. Há um primeiro aspeto importante, não se falando do assistente, mas da VÍTIMA.
Concede-se à vítima um poder de conformação do decurso do próprio processo penal
(estatuto da vítima). É necessário ainda haver a concordância do JIC e do arguido e
preencherem-se os pressupostos das alíneas b) e c) do 281º/1. O objetivo principal do nº7
é de mitigar a natureza pública do crime de violência doméstica porque com isso há um
certo paternalismo relativamente à vítima por se tirar das suas mãos o poder de decisão.
É nesse âmbito que surge a suspensão provisória do processo. Ou seja, embora o crime
seja público, pode ser parado pela vítima.

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o No nº8 traz a possibilidade da suspensão provisória do processo quando estamos a falar


de crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual de menor. No CP (163º e ss.),
podemos ter crimes sexuais contra menores que não ultrapassam os 5 anos (163º/2).
Aqui, o MP vai ter de ver o que protege melhor os interesses do menor, podendo ser mais
protetor não levar o agressor a julgamento. Não nos podemos esquecer que falamos de
uma pessoa em fase de desenvolvimento cuja intimidade seria exposta perante terceiros.

3. mediação penal (lei 21/2007 – lei de mediação pena|):

• a mediação penal é uma forma de justiça restaurativa, isto é, uma nova perspetiva baseada em
práticas antigas e que traz um diferente foco sobre o crime, procurando a pacificação do conflito
(procura da paz social) através de práticas restaurativas onde participam, em regra, vítima e
agressor. Ou seja, com a justiça restaurativa, o que se pretende, desde logo, é colocar os dois
intervenientes mais importantes a lidar com o problema e encontrar uma solução conjunta para o
conflito que é o crime. esta é a forma mais utilizada em termos de justiça restaurativa e nos termos
da lei portuguesa podemos recorrer à mediação penal se o MP obtiver, durante a fase de inquérito,
indícios da prática do crime e de quem foi o agente da prática do crime e, obtendo a concordância
do arguido e da vítima pode, no fundo, remeter o processo para mediação penal.
• A mediação penal surge como uma alternativa à acusação. É uma imitação ao princípio da
legalidade porque o processo forma para e temos a intervenção de um outro sujeito (em sentido
amplo), que é o mediador penal. O art. 4º desta lei define mediação: processo que é informal e
voluntário, que é conduzido por um mediador, pessoa imparcial, que tem como papel promover a
comunicação entre o arguido e o ofendido, com o objetivo de que estes encontrem ou cheguem
a um acordo que permita a reparação dos danos causados com a prática do crime. o acordo tem
de respeitar algumas regras, tendo de ser homologado pelo MP, desde logo, tendo de ser
respeitador da lei.
• A mediação é dirigida pelo mediador penal, em regra juristas, psicólogos ou criminólogos e é
importante que aquilo que é dito na sessão é estritamente confidencial. Art. 5º/3, 4 e 5 da lei:
resultando um acordo, este é reduzido a escrito e transmitido ao MP. O sigilo das sessões serve
para aquelas situações em que, por exemplo, o acordo não seja atingido ou não seja cumprido,
porque depois o processo vai continuar e poderia suscitar-se dúvida se as declarações do arguido
poderiam ser usadas no decurso do inquérito. Para o sistema de justiça formal, a mediação tem
várias vantagens, desde logo, os custos. A mediação penal em Portugal ainda é algo
experimental, sendo que não é utilizada em todas as comarcas, situação que dura há mais de 10
anos. Uma das vantagens que normalmente é apontada à mediação penal é que, em regra, as
taxas de reincidência são mais baixas. A mediação penal em Portugal acaba por ser incluída no
próprio processo penal, porque há a intervenção do MP. Enquanto noutros países, é algo
completamente alternativo ao sistema formal de justiça.

• Princípio da acusação – é um princípio que decorre da própria CRP (32º/5). Segundo este
princípio, a entidade que investiga e acusa é distinta da entidade que julga. Há uma separação
entre estas duas entidades. O objetivo desta separação é a promoção da imparcialidade e
objetividade da decisão judicial final. Vários artigos do CPP referem este princípio: 48º; 241º; 262º
e 263º; 276º + 8º; 13º, 14º 15º e 16º; 311º; 339º, etc. há uma clara separação (exceto 16º/3) entre

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a entidade que procede à investigação e acusação e a que procede ao julgamento. Na fase de


instrução (facultativa) aparece uma outra figura, que é o juiz de instrução (art. 17º e 288º/1).

Na fase de instrução (facultativa. Situa-se entre o inquérito e o julgamento) aparece uma outra figura, que
é o juiz de instrução (art. 17º e 288º/1). Esta fase é dirigida pelo juiz de instrução. Aqui, o MP não lidera
esta fase. O juiz de instrução é a entidade competente para dirigir a instrução
Nesta fase de instrução, o juiz de instrução está vinculado, limitado, ao tema, ou aos factos, que são
deduzidos na acusação ou no requerimento de abertura de instrução. Há uma vinculação temática. (nesta
fase pode haver produção de novas provas, mas tem de ser em relação aqueles factos).
A decisão do juiz de instrução, depois, vai vincular tematicamente o juiz de julgamento. Se o JIC emite
um despacho de pronúncia, no sentido de confirmar que o caso tem de ir a julgamento, esse despacho
de pronúncia vai vincular o juiz de julgamento.

359º e 358º CPP – (ler) a acusação ou a pronúncia vão fixar o objeto do processo, aquilo sobre o que o
juiz de julgamento vai ter de decidir.

303º/3 CPP – o JIC, na fase de instrução, está limitado, vinculado, pela acusação ou pelo requerimento
de abertura de instrução. O objeto do processo é fixado pela acusação e pelo requerimento de abertura
de instrução. Isto para o JIC. Chegado ao julgamento, o que fixa o objeto é a acusação e o despacho de
pronúncia (se não o fizer, podemos ter uma nulidade se houver alteração substancial dos factos – 1º/f
CPP).

O mais importante relativamente ao PP da acusação é a clara distinção de tarefas entre a magistratura


do MP e a magistratura judicial, e, dentro desta última, a distinção entre o juiz de instrução e o juiz de
julgamento.

O MP tem tarefa de dirigir o inquérito e deduzir a acusação, sendo esta o que vai permitir levar o arguido
a julgamento. Noutros casos, havendo abertura da instrução, temos a atuação de um juiz, o juiz de
instrução, que procede ao despacho de pronúncia ou não pronúncia. Em todo o caso, o juiz de instrução
tem de ser distinto do juiz de julgamento.

Algo importante no principio da acusação é o objeto do processo – conjunto de factos que são imputados
ao arguido.
Esse conjunto de factos vai delimitar os poderes de cognição do juiz. O juiz depois só se pode debruçar
sobre os factos que constam da acusação ou do despacho de pronúncia.
A regra é que o objeto do processo é fixado pela acusação e depois o juiz de julgamento tem de analisar
de se facto o objeto do processo faz sentido ou não. Excecionalmente, a pronuncia pode fixar (???)

A este propósito fala-se do Principio da vinculação temática – o juiz de julgamento está vinculado ao tema,
ao objeto, que é fixado em regra pela acusação. No fundo, o objeto do processo equivale ao thema
decidendu (?)

Três “consequências” / principio decorrentes da vinculação temática:


• Principio da identidade – o objeto do processo deve manter-se inalterado desde o momento em
que é fixado (desde a acusação ou desde o despacho de pronúncia) até ao trânsito em julgado
da decisão.
• Principio da unidade / indivisibilidade – o objeto do processo deve ser conhecido a sua totalidade.
Não pode ser fracionado, ou não pode ser dividido.

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• Principio da consunção – mesmo que o objeto não tenha sido conhecido e julgado na sua
totalidade, deve considerar-se decidido no seu todo. Isto para evitar o fracionamento do objeto do
processo.

Pode colocar-se a questão de saber se o objeto pode ser alterado. De uma forma sumária, podemos dizer
que o arguido não pode ser surpreendido com factos novos na audiência do julgamento.
Ou seja, a ideia é que na fase do julgamento, o arguido possa contraditar de forma plena os factos que
constam da acusação ou do despacho da pronúncia (não podem haver “cartas na manga” da parte do
MP ou da acusação).

Outro principio que também é importante para a fase de inquérito é o Pp do contraditório.

Este pp no fundo significa que deve ser ouvida toda e qualquer pessoa, seja ela um sujeito ou um
participante processual em relação à qual se vá tomar uma decisão que a afete.
No fudo, é alargado o sentido de permitir a audiência, ou a audição, quer dos sujeitos processuais, quer
dos participantes processuais. É o drt a ser ouvido antes de ser aplicada uma decisão a essa pessoa.
No caso dos sujeitos processuais, este drt de audição / audiência, pode ser utilizado para construir a
própria decisão final do caso. Ao serem ouvidos e ao apresentarem contraprovas, vão influenciar a
decisão final do caso em curso. Isto é visível quer para o assistente, quer para o arguido.

É uma garantia de defesa que decorre do 32º/1 CRP.

A propósito do 32º CRP podemos ver uma consagração expressa do pp do contraditório, nomeadamente
no 32º/5 in fine- podemos dizer, em consequência, que uma das fases processuais onde o pp do
contraditório assume importância maior, ou vital mesmo, é a fase de julgamento.
Esta consagração constitucional do pp do contraditório, nomeadamente na fase de julgamento, está
presente em vários arts: 321º/3 CPP; 327º; 341º; 348º; 298; etc.

Na fase de instrução também há o contraditório, tal como diz o 32º/5 CRP. Se formos ao 301º/2 CPP, a
propósito do debate instrutório, este decorre sem sujeição a formalidades especiais. O juiz assegura,
todavia, a sua contraditoriedade na produção da prova e a possibilidade de o arguido ou o seu defensor
se pronunciarem sobre ela em último lugar.
302º; 298º CPP

Na fase de inquérito também leva a aplicação deste pp do contraditório, embora de uma forma menos
reforçada do que acontece na fase de instrução e de julgamento - 61º CPP.
O pp do contraditório é particularmente relevante para o arguido, para este sujeito processual, tendo e
conta que é este sujeito processual que está a ser visado de factos que configuram a prática de um crime.
No entanto, o pp do contraditório também é reconhecido ao assistente- 69º/2/a).
De uma forma não tao óbvia, o pp do contraditório também é assegurado para a vítima – 67º-A/4 (assistem
à vítima os drts de informação, de assistência, de proteção e de participação ativa no processo penal.

Em termos materiais, o pp do contraditório não oferece grandes dúvidas quanto ao seu conteúdo e a sua
manifestação no processo penal. Aparece em crescendo. Está presente no inquérito, mas de uma forma
que não é tão reforçada como na audiência de julgamento

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Outro principio é o Principio da suficiência.


O processo penal é um processo que é competente para conhecer todas as questões que interessem à
decisão da causa. Independentemente de serem questões estritamente penais ou eventualmente civis.
É no decurso do processo penal que em regra se resolvem as chamadas questões prejudiciais em
processo penal (questões que são prévias ou antecedentes da questão principal. Questões distintas e
autónomas relativamente ao objeto do processo)

Exemplo: se estivermos a falar do crime de furto, uma questão prévia pode ser determinar quem é o titular
do drt de propriedade do objeto que foi furtado. Se a pessoa que exerceu o drto de queixa não for titular
do drt de propriedade, o próprio processo penal fica em causa.
Este pp da suficiência esta no 7º CPP, mais concretamente no nº1- o processo penal é promovido,
independentemente de qualquer outro (um processo civil p ex), e nele se resolvem todas as questões que
interessarem à decisão da causa.

No 7º/2 temos a questão das questões prejudiciais. Este nº acrescente que quando para se conhecer da
existência de um crime for necessário julgar questões não penais que não possam ser resolvidas
convenientemente no processo penal, o tribunal penal suspende o processo e remete essas questões
prejudicais para os tribunais competentes (nomeadamente para os tribunais de competência civil). Isto
será uma exceção ao pp.

Este principio da suficiência existe porque:


• Exigência de concentração do processo penal no tempo:
Se atribuirmos ao tribunal penal competência para julgar todas as questões, à partida o processo
penal será mais célere. Fazendo atuar apenas um tribunal temos ganhos em termos de tempo e
de eficiência.
• Por vezes, a resolução da questão principal, a questão penal, pode não ser suficiente para tratar
da questão subjacente, da questão civil. Há a necessidade de o tribunal penal tratar das 2
questões ao mesmo tempo para que possa decidir de uma forma adequada sobre a existência do
crime e o seu autor.

Outras vezes, temos exceção a este pp, mas normalmente isto acontece quando as questões penais
tenham uma complexidade e especificidade que demandem a decisão de julgamento de um outro tribunal
que não o penal. A complexidade da questão pode justificar um desvio a este pp do 7º/1.

Havendo a atuação de um outro tribunal para decidir a questão não penal, vamos ter a suspensão do
processo penal. O processo penal para enquanto a questão não penal não for decidida- 7º/2 in fine + 7º/3
Esta suspensão tem alguns efeitos: vai parar o andamento do processo, exceto a realização de diligências
urgentes da prova (quando há o risco de desaparecimento de prova, ….).

O 7º/4 consagra a questão temporal da suspensão: “O tribunal marca o prazo de suspensão, que pode
ser prorrogado até um ano se a demora na decisão não for imputável ao assistente ou ao arguido. O MP
pode sempre intervir no processo não penal para promover o seu rápido andamento e informar o tribunal
penal. Esgotado o prazo sem que a questão prejudicial tenha sido resolvida, ou se a ação não tiver sido
proposta no prazo máximo de um mês, a questão é decidida no processo penal.
Mp vai ter atuação extrapenal.

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Outro ponto importante relativamente à suspensão, está relacionado com a prescrição – 120º/1 CP: o
prazo de prescrição não corre enquanto o processo penal estiver suspenso. A prescrição do processo
penal tem um determinado prazo que se suspende enquanto tiver havido a suspensão do processo penal

Às vezes temos questões civis, outra vezes temos constitucionais. Resta saber se o tribunal penal deve
decidir ….
O TC é o tribunal com competência específica para administrar a justiça em matérias constitucionais. 221º
CRP.
No entanto, um tribunal de 1ª instância, da relação, ou o STJ não podem aplicar normas que infrinjam a
CRP. Os tribunais têm o dever de não aplicação de normas que sejam inconstitucionais. 204º CRP.

I. Fase de inquérito (mais concretamente):

O inquérito, diferentemente da instrução, é uma fase obrigatória que tem o propósito da investigação.
É obrigatório desde logo, a falta de inquérito constitui uma nulidade insanável- 118º/1 CPP + 119º/d) CPP.

Como se inicia o inquérito? 241º CPP


O início do inquérito dá-se com a aquisição da notícia do crime. Este conhecimento opera-se de várias
formas. O MP pode adquirir a notícia do crime:
• Por conhecimento próprio,
• Por intermédio dos OPC
• Mediante denúncia nos termos do 252º e 244º CPP

A aquisição da notícia do crime obedece a determinadas formas, ou a determinadas formalidades,


nomeadamente quando estamos a falar da denúncia temos de referir o 246º CPP - quando a notícia do
crime se dá por denúncia, o nº1, 2 e 3 estabelecem as formalidades da denúncia.
Pode ser verbal ou por escrito, mas a verbal é reduzida a escrito e assinada pela entidade que recebe a
denuncia e pelo denunciante e consta lá dos elementos referidos nas als do 243º/1 CPP

Por vezes, não serve qualquer forma de aquisição de notícia, por vezes não basta o mero conhecimento
próprio do MP de que aconteceu um crime (o mero conhecimento do crime não é suficiente para
despoletar….) 49º e 50º, 246º/4:
• Crimes semipúblicos (é necessária queixa, em regra por parte do ofendido)
• Crimes particulares (é necessária queixa e que estes se constituam como assistentes)

A denúncia ou acusação de… , fora estas exceções, dá sempre lugar à abertura do inquérito- 262º/2 CPP
(este art faz articulação entre todas as normas que temos vindo a falar)

O inquérito é uma fase processual que tem como objetivo investigar a existência de um crime, identificar
os agentes do crime e recolher provas que possam sustentar uma acusação – 262º/1 CPP

Há doutrina que fala de uma fase pré-inquérito: uma fase em que ainda não temos a atuação do MP,
mas sim uma atuação exclusiva dos OPC.
Mas a maioria da doutrina diz que esta fase é discutível porque pode não se desenvolver de acordo com
as finalidades do processo penal - por vezes há legislação extravagante que faz confusão com a fase de
prevenção criminal e outra coisa é a repressão criminal. Nesta última, já estamos a falar da existência de
um crime que precisa de ser…. Só falamos de repressão no âmbito de um processo penal, que assegura
um conjunto de garantias que uma fase pré-inquérito não assegura, pelo menos da mesma forma

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A fase pré-inquérito pode advir de algumas normas: 248º ss CPP. 249º/1 (ex: há um crime de homicídio
e no local é preciso preservar a prova, nomeadamente vestígios biológicos. Aqui os OPC têm um papel
importantíssimo, nomeadamente nas perícias forenses, no sentido de garantirem que essas provas não
são eliminadas. Fora essas decisões, é o MP que dirige o inquérito. É o MP que tem competência para
determinar a direção do inquérito, que depois é coadjuvado pelos OPC (263º CPP).

Há 2 exceções / limitações à competência plena do MP no decurso do inquérito:


• Há determinados atos que tem de ser ordenados ou autorizados pelo JIC pq são atos que
contendem, limitam, DF. O JIC tem aqui um papel de exercer funções jurisdicionais até ao
momento em que o processo chega a julgamento. (32º/4 CRP + 17º CPP + 268º + 269º).
• Noutras situações, determinados atos do inquérito dependem de ordem ou autorização de um
juiz. (68º/3 CPP; 68º/4; 215º/3; 271º).

Temos ainda atos que não podem ser delegados nos OPC- 270º/2 CPP. Em regra, os OPC auxiliam o
MP, sendo eles que levam a cabo muitos atos de investigação, mas há atos que têm mesmo de ser
levados a cabo pelo MP (ex: assistir a exame suscetível de ofender o pudor de uma pessoa, etc).

No fundo, o inquérito é desenvolvido de acordo com as decisões do MP (é o MP que decide como é que
o inquérito se vai desenvolver e é ele que com o auxílio dos OPC, leva a cabo a investigação. Mas há
exceções- as referidas acima
No fundo a regra é: o MP dirige o inquérito com o auxílio dos OPC, mas há exceções.

• Fase de encerramento do inquérito:

Artigo 276º/1 CPP: encontramos duas possibilidades para o encerrar do inquérito:


I. Ou arquivamento
II. Ou acusação.

E acrescenta que o inquérito não pode correr indeterminavelmente (há um prazo para o tempo de
inquérito).
Os prazos são variáveis para a duração do inquérito e podemos ver logo no nº1 o prazo em regra é 6
meses “o MP encerra o inquérito, arquivando-o ou deduzindo acusação, nos prazos máximos de seis
meses, se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação, ou de oito meses, se
os não houver.” - porque há privação da liberdade. Caso não haja uma destas hipóteses o prazo sobe
para 8 meses. No nº2 e nº3 fala em situações em que este prazo é elevado por circunstancias diversas
(por exemplo: nº3 alínea b) o prazo é de 16 meses).
Os prazos sofrem uma grane variação conforme o tipo de crime que estamos a falar e a condição do
arguido (está preso ou não).
Momento a partir do qual se começa a contar o prazo (276º/4): conta-se a partir do momento em que o
inquérito tiver passado a correr contra pessoa determinada ou em que se tiver verificado a constituição
de arguido.

O que acontece quando atingimos o prazo máximo? (276º/4)


• Desde logo não podemos afirmar que o MP está obrigado a acusar ou a arquivar de qualquer
maneira de modo a cumprir o prazo, não podemos afirmar que não tendo material probatório
suficiente o MP tenha de dar desfecho ao processo. Não podemos defender uma aplicação cega
destes prazos ate porque corremos o risco de isto ser desfavorável para o próprio individuo
(Correríamos o risco de acusar inocentes). Então o que acontece (276º/6) é que embora os prazos

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sejam tendenciais não significa que o MP tenha obrigatoriamente de dar desfecho ao processo
tem sim de comunicar ao seu superior que chegou o prazo, mas ainda não finalizou o processo e
o porque.
• No nº7 falamos que o superior hierárquico avoca o processo (chama a si o processo), dá
conhecimento ao procurador da republica, aos sujeitos processuais de que houve a violação de
prazo e do período que será necessário para concluir o processo.
• Vai funcionar a hierarquia do MP para se tentar delimitar um prazo para concluir o processo.
• O procurador geral da republica pode por sua iniciativa ou por requerimento do assistente ou do
arguido usar o mecanismo de aceleração processual (art. 109º CPP e 276º/8).

a. O arquivamento do inquérito é feito por despacho do MP nos termos do art. 277º + 97º/5
CPP. O 277º dá vários fundamentos para que possa ocorrer o arquivamento:
• Ter sido recolhida prova suficiente que mostra que não houve crime;
• Se ter recolhido prova suficiente de que aquele arguido não cometeu o crime;
• Não se recolheu prova suficiente para se provar a existência do crime e a autoria daquela
pessoa;
• Não ser legalmente admissível o procedimento (exemplos: quando tenha ocorrido a
prescrição do procedimento criminal; não ter sido exercido o direito de queixa...).

Estas situações valem sobretudo para os casos dos crimes semipúblicos e públicos. No caso dos
crimes particulares (em que é necessária acusação particular) poderá, eventualmente, haver o
arquivamento do inquérito mesmo contra a vontade do assistente.

Arquivando o inquérito significa que está terminado o processo. No entanto este encerramento do
processo pode ser posto em causa:
• Através da intervenção hierárquica (278º): citar
• Reabertura do processo (279º): citar - pode ocorrer a qualquer momento (ter apenas em
atenção a prescrição do processo). O inquérito só se mantem encerrado enquanto os
pressupostos que tiveram na base do despacho de arquivamento se mantiverem inalterados.
“Rebus sic stantibus” (a situação de encerramento do inquérito é uma situação que não é
completamente definitiva).

b. Em alternativa ao despacho de arquivamento podemos ter o despacho de acusação. Ocorre


quando tiverem existido indícios suficientes da pratica de um crime e do seu autor. O MP está
obrigado a acusar sempre que tiver indícios que lhe permitam fazer um juízo de prognose de
acusação do arguido em sede de audiência de julgamento (283º/1 e 2). A acusação tem de
ter obrigatoriamente um conjunto de elementos (283º/3) – ex: identificação do arguido (Alínea
a)). O despacho de acusação é importantíssimo porque será ele, em principio, a fixar o objeto
do processo. Vai dizer sobre o quê que o juiz de julgamento vai avaliar. O facto de estarmos
a dizer que acusação tem de ter todos estes elementos (de facto, de direito, as
testemunhas...) estamos a dar materialidade ao pp do contraditório porque o arguido não
pode ser surpreendido com factos novos e, portanto, a acusação vai dizer quais os factos
que estão a ser imputados ao arguido e este já sabe que é sobre esses factos que vai exercer
a sua defesa.

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Se estivermos a falar de crimes públicos ou semipúblicos é o MP que faz a acusação e o assistente


(art. 284º) porque é também um sujeito processual pode deduzir:
• acusação pelos factos (a globalidade dos factos) que foram acusados pelo MP;
• por parte dos factos;
• ou pode acusar por factos diferentes desde que não impliquem uma alteração substancial.

O MP notifica o assistente da acusação e no prazo de 10 dias o assistente toma uma destas


decisões. A acusação do assistente é meramente substancial.

No caso dos crimes particulares a situação é bastante distinta: quem decide sobre a acusação é o
assistente, este tem de deduzir acusação, se assim entender (acusação particular) – art. 285º.
Chegados ao fim do inquérito o MP notifica o assistente para que este deduza acusação no prazo
de 10 dias, e este acusa ou não acusa. Se não acusar o MP só pode arquivar o inquérito; se acusar
poderá faze-lo sendo que se quiser de acusar o arguido terá de cumprir algumas formalidades
(285º/3). No fundo é a acusação particular que vai definir o objeto do processo e como tal terá de
seguir o procedimento que segue quando é o MP que deduz acusação.

Há situações em que se dá o arquivamento em casos de crimes particular por parte do MP contra a


vontade do assistente (285º/1). O MP só vai notificar o assistente se não existirem obstáculos que
se considere o procedimento legalmente admissível. Ou seja, se faltarem prossupostos processuais
que permitam a acusação ou existirem proibições de prova no âmbito do inquérito ou existirem
nulidades ou outras questões previas que possam por em causa o andamento do processo o MP
não vai notificar o assistente e vai arquivar o inquérito. O assistente pode fazer ou uma reclamação
hierárquica ou a abertura da fase de instrução. O particular só vai deduzir acusação particular após
uma analise do MP sobre o preenchimento ou não de pressupostos processuais.

Vamos supor que o particular (assistente) deduz acusação. O que pode o MP fazer nessas situações:
• 285º/4 – o MP depois de deduzida a acusação particular pode dentro de 5 dias acusar pelos
mesmos factos, acusar por parte dos factos ou por factos diferentes que não impliquem uma
alteração significativa. Aqui os papeis invertem-se.

310º/1 – a propósito de instrução. Se num caso de crimes particular o MP aderir à acusação particular
depois na fase de instrução o juiz confirmar esses mesmo factos então a decisão do juiz de instrução
torna-se irrecorrível.

Se por ventura o MP quiser acusar por factos que importem uma alteração substancial e o caso
chegue a julgamento temos que ver o art. 311º/2 b) – essa parte da acusação vai ser rejeitada.
Quanto a esta questão do encerramento do inquérito:
• a regra é que tenhamos ou arquivamento ou acusação;
• mas podemos ter ainda duas outras possibilidades:
1 - pode não chegar à acusação porque se procede ao seu arquivamento em causa de
dispensa de pena (280º);
2 - suspensão provisoria do processo (281º).

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Pode haver aqui alguma duvida sobre se estes mecanismos podem ser utilizados em casos de
crimes particulares. É que em relação a crimes semipúblicos não há duvidas que se pode ocorrer ao
art. 280º e 281º porque o MP é que tem o processo no seu domínio. A questão coloca-se quando os
crimes são particulares:
• começando pelo 281º (suspensão provisoria do processo) – pressupõe a concordância do
arguido e do assistente para que se possa aplicar este instituto (281º/1 a)). Se estamos a
falar de um crime particular e o assistente der a sua concordância não há nenhum entrave à
suspensão provisoria do processo.
• A questão complica-se no 280º (arquivamento em caso de dispensa de pena) – porque se
formos ao 280º/1 diz que “se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre
expressamente prevista na lei penal a possibilidade de dispensa de pena, o MP, com a
concordância do juiz de instrução, pode decidir-se pelo arquivamento do processo, se se
verificarem os pressupostos daquela despensa”. O problema é que não é necessária a
concordância do assistente para que haja o arquivamento. A doutrina tem trabalhado esta
questão que do ponto de vista politico-criminal não faz sentido que se afaste esta hipótese
de arquivamento em caso de dispensa de pena e admite o arquivamento em caso de
dispensa de pena desde que o assistente dê o seu consentimento (embora a concordância
não seja um pressuposto no âmbito do art. 280º). Quer o 280º, quer o 281º são hipóteses que
podem ser usadas para o crime particular embora neste 280º haja esta questão do
consentimento do assistente pois não está explanado no artigo.

EM SUMA, no fundo nós temos 4 grandes possibilidades de encerrar o inquérito: o arquivamento, a


acusação, o arquivamento em caso de pena e suspensão provisoria da pena (e podemos também
considerar a mediação penal).

Estas questões podem ser postas em causa. Há a possibilidade de um dos sujeitos processuais não
concordar com o fim do processo. Este despacho pode ser tratado através de:
• intervenção hierárquica: (278º) é um mecanismo que é usado porque estamos a falar de
uma magistratura que é hierarquizada, é uma forma de tentar reverter a decisão tomada pelo
MP reclamando para o seu superior hierárquico. Se formos ao 278º nós vemos que há dois
prazos para se recorrer à intervenção hierárquica: 20 dias (no nº1) – funciona essencialmente
para sindicar a decisão de encerramento. E no nº2 temos outra possibilidade que é o mesmo
prazo que esta previsto para a abertura da instrução desde que o assistente ou o denunciante
não queiram abrir a fase de instrução. O que vai acontecer é que o superior hierárquico do
MP vai apreciar a decisão de arquivamento e pode determinar a dedução de acusação ou
realização de novas diligencias. A decisão do superior hierárquico é irrecorrível. O advogado
do assistente tem de ponderar muito bem se opta pela reclamação hierárquica ou se opta
pela abertura de instrução.
• o controlo judicial através do requerimento para abertura de instrução: permite no fundo
recorrer a uma fase que tem como objetivo o controlo judicial da dedução quer da acusação,
quer do arquivamento. É mais ampla.

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Fase de Instrução

Distingue-se desde logo pelo facto de analisar quer a acusação quer o arquivamento ao contrario da
intervenção hierárquica que é só para o caso do arquivamento. A pedra de toque da instrução é que
temos o controlo judicial, não vai ser apreciada por um superior hierárquico do MP, mas sim por um
juiz (magistratura judicial) – 286º/1 e 2 estabelecem as finalidades da instrução e a natureza desta
fase. Quanto às finalidades:
1. decide se a sobre se o processo deve ir para julgamento e faz isso procedendo a uma
analise do despacho de instrução ou de julgamento;
2. a natureza desta fase é facultativa, ao passo que o inquérito é facultativo;
3. a instrução é uma fase que só tem lugar no processo comum e não nas formas especiais
de processo, nomeadamente, no processo sumário, sumaríssimo ou abreviados.

Esta fase inicia-se com requerimento. No fundo só há dois sujeitos processuais que podem suscitar
a abertura da instrução:
a. o arguido (287º/1 a)): “pelo arguido, relativamente a factos pelos quais o MP ou o
assistente, em caso de procedimento dependente de acusação particular, tiverem
deduzido acusação”. O arguido vai naturalmente poder requerer a abertura de instrução
relativamente aos factos que constam na acusação. O interesse dele é que o processo
não chegue a julgamento.
b. o assistente (287º/1 b)): “pelo assistente, se o procedimento não depender de acusação
particular, relativamente a factos pelos quais o MP não tiver deduzido acusação”.
Enquanto o arguido pode abrir instrução contra a acusação particular ou contra a instrução
do MP, o assistente pode abrir instrução se não concordar com a decisão do MP se o
crime não for particular.20

Pode o assistente requerer a abertura da instrução quanto a crimes particulares: se o MP não tiver
notificado o assistente para acusar ou se tiver existido um erro e tiver arquivado. O requerimento de
abertura de instrução só fica vedado ao assistente quando ele tenha tido possibilidade de acusar e
não o tenha feito. Quando a decisão de não acusação é da responsabilidade do assistente. Nessas
situações o assistente pode requerer a abertura da instrução e quando o faz aquilo que está a fazer
é equivalente à apresentação da acusação particular. No fundo o que o 287º/1 b) proíbe que ao
assistente requeira a abertura da instrução quanto a crimes particulares quando a não acusação seja
da responsabilidade do assistente. Por outro lado, o assistente pode requerer a abertura da instrução
nas situações em que o MP deduza um despacho de acusação, mas não deduz acusação quanto a
todos os factos e o assistente pode requerer a abertura de instrução relativamente a esses factos.

Prazos: o 287º é claro quanto a este aspeto. É requerida no prazo de 20 dias a contar da notificação.
Se por ventura houver mais do que um arguido e o prazo termine em dias diferentes conta o prazo
que começou em ultimo lugar – art. 113º/14 CPP.

20
Esta limitação ocorre porque nos crimes particulares quem deduz acusação é o assistente e se não o fez não pode pedir
instrução sobre algo que esteve nas mãos dele.

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Aspetos formais da abertura de instrução:


• o 287º/2 estabelece que não há formalidades especiais, no entanto, tem de conter
obrigatoriamente alguns elementos:
1. razões de facto;
2. razões de direito;
3. atos de instrução que o requerente pretende que o juiz leve a cabo;
4. meios de prova que não tenham sido considerados no inquérito;
5. factos que, através de uns e de outros, se espera provar;
(testinhas- limite de 20, prova documental, etc...)

NOTA: quando é o assistente a requerer a abertura da instrução é necessário respeitar o 283º b) e c), ou
seja, no fundo a narração dos factos (exemplo: quem são as pessoas envolvidas).
O 287º diz que pode ser excecionalmente rejeitada a abertura da instrução em três situações:
• porque não foi respeitado o prazo de 20 dias;
• porque o juiz não tem competência atribuída para dirigir aquela instrução;
• e por inadmissibilidade legal da instrução.

Se a instrução tiver sido requerida, mas tiver sido rejeitada por motivos diferentes do art. 287º temos aqui
uma nulidade insanável (119º d)).

A instrução diferentemente do inquérito, é uma fase dirigida por uma magistratura (juiz de instrução). A
direção da instrução está exposta no 288º nomeadamente no nº1. E é o juiz de instrução com a ajuda
dos OPC’s (290º/1) que pratica os atos necessário para se comprovar a decisão de acusação ou de
arquivamento. No fundo a função do juiz de instrução é decidir se o processo deve ir a julgamento ou não,
confirmando ou infirmando a decisão previa do MP, ou no caso de crimes particulares, do assistente.

Há determinados atos que não podem ser levados a cabo pelos OPC’s (atos especialmente importantes
e relevantes pata que o juiz forme a sua decisão sobre o decurso que o processo deve tomar). 290º/2
(ex: interrogatório do arguido).

NOTA: por vezes temos atos que já foram levados a cabo pelos OPC’s na fase de inquérito e que a lei
processual penal reserva estes atos para o juiz de instrução nesta fase.

O juiz de instrução não procede aqui a uma nova investigação. A função Não é substituir o MP, tem
poderes de investigação, mas os seus poderes de investigação estão limitados pelo conjunto de factos
que constam do requerimento de abertura de instrução - 288º/4. Embora o juiz de instrução não esteja
limitado pelos contributos dados pela acusação e pela defesa (é autónomo), mas está limitado pelo objeto
do processo. A fase de instrução não serve para abrir uma nova fase de investigação.

A instrução corresponde, nos termos do art. 289º, a um conjunto de atos instrutórios e


obrigatoriamente um debate instrutório. Temos algo que é facultativo (atos instrutórios), mas
obrigatoriamente temos de ter um debate instrutório (“mini julgamento”).
Os atos de instrução que podem ser praticados são realizados pela ordem que o juiz entenda ser mais
conveniente (exemplo: reconstituição do crime, uma tomada de depoimento de testemunhas...) e tem o
juiz, a possibilidade, de rejeitar atos que sejam requeridos quando entenda que esse requerimento seja

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apenas uma manobra dilatória. Mas pode também ordenar oficiosamente a produção de prova que
entenda que seja útil. Há duas possibilidades:
• ou os atos instrutórios são requeridos pelos sujeitos processuais;
• ou o juiz por iniciativa própria e para cumprir a finalidade de descoberta da verdade material
ordena a produção de determinados atos que sejam uteis.

NOTA: os atos instrutórios não são obrigatórios, salvo uma ou outra exceção. O que é obrigatório é o
debate instrutório. Exceção: 292º/221. Surge o problema de perceber se este artigo deve ser entendido no
seu sentido literal, porque vamos imaginar que o arguido pede para ser ouvido infindáveis vezes, a
doutrina defende que o juiz apenas tem de ouvir o arguido uma vez.22

Há aqui dois inventos obrigatórios:


• debate instrutório;
• audição do arguido e vitima23 (sem se exigir que esta seja assistente para que ela seja
obrigatoriamente ouvida).

• Debate instrutório (obrigatório. É um “mini julgamento”)


297ºss
Consiste essencialmente numa discussão tal perante o juiz (o juiz de instrução), discussão essa
que tem como objeto saber se os indícios que foram recolhidos durante o inquérito são suficientes
ou não para levar o arguido a julgamento (298º).
Neste debate participam o MP, o arguido, defensor, assistente e seu advogado. Mas não
participam as partes civis. Isto decorre do 289º/1 essencialmente, que no fundo coloca de parte
as partes civis e não admite a sua presença no debate instrutório.

Como é que termina a Instrução?


De uma de duas formas. O juiz de instrução ou procede a um despacho de pronúncia ou a um despacho
de não pronúncia
• Se o juiz de instrução considerar que os indícios recolhidos são suficientes para levar o arguido a
julgamento, então o juiz emite um despacho de pronúncia
• Se considera que os indícios presentes não são suficientes para demonstrar que os pressupostos
da aplicação de pena ou medida de segurança estão preenchidos, então optará por um despacho
de não pronúncia

307º/1 (no fundo diz apenas que a instrução ou acaba num despacho de pronúncia ou de não pronúncia)
e 308º (diz o que cada um destes despachos significa)

303º/3 – “uma alteração substancial dos factos descritos na acusação ou no requerimento para abertura
de instrução não pode ser tomada em conta pelo tribunal para o efeito de pronúncia no processo em
curso, nem implica a extinção da instância”

21
Alterado em 2015.
22
Acórdão da relação de Coimbra de 8 de julho de 2015.
23
Não se exige que a vitima seja assistente.

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Figura afim às medidas de coação: Detenção

A detenção (27º/1 e 3 da CRP) corresponde a uma medida temporária de privação da liberdade. É uma
limitação ao direito fundamental à liberdade. O art 30º/1 da CRP diz que as penas e medidas de segurança
não podem ter duração ilimitada, perpétua. Quanto à pena de prisão não há exceções, mas quanto às
medidas de segurança sim. Há quem proponha estabelecer o limite máximo de 25 anos para as medidas
de segurança, e consideram o 30º/2 uma norma materialmente inconstitucional.

O art. 254º do CPP prevê as finalidades da detenção:


• Para o detido ser apresentado a julgamento sob a forma sumária (381º)
• Para ser presente a juiz para primeiro interrogatório judicial (141º)
• Para aplicação ou execução de uma medida de coação (194º)
• Para assegurar a presença do detido em ato processual (116º/2)

A duração da detenção tem prazos distintos consoante as finalidades. Se a finalidade for a prevista na
alínea a) do art. 254º/1, a detenção ocorre, no máximo, durante 48 horas. Se o detido é levado a
autoridade judiciária apra cumprir ato judicial (alínea b), a detenção tem um limite temporal de 24 horas.
Tem havido alguma polémica em relação à questão das 48 horas, nomeadamente, quando a pessoa é
detida para ser apresentada a juiz para interrogatório. O que é discutido é saber exatamente qual é o
momento de início e de término do prazo de detenção. Ou seja, suponha-se que alguém é detido numa
segunda feira e é levado a juiz para proceder a interrogatório judicial na terça feira ao final da tarde,
prolongando-se este até quarta feira. Será que o prazo foi cumprido? O prazo de detenção está cumprido
se o interrogatório se iniciar dentro das 48 horas, independentemente da hora de término do
interrogatório? Não há aqui resposta única a esta problemática, apenas várias correntes doutrinárias e
jurisprudenciais.

A detenção pode ser realizada em flagrante delito ou fora de flagrante delito. Importa saber a definição
de flagrante delito, que está consagrado no 256º/1 e 2, sobretudo. O legislador afirma que há flagrante
delito sempre que o crime esteja a acontecer, a ser praticado, ou tenha acabado de terminar (consumação
tenha acabado de ocorrer). Isto é, não há flagrante delito se um crime for cometido a uma 4ª feira e a
detenção ocorrer na 5ª. O nº2 diz que também se considera flagrante delito a situação em que o agente,
ogo após a prática do crime, seja perseguido por qualquer pessoa, ou encontrado com objetos ou sinais
que mostrem claramente que acabou de cometer o crime (exemplo da operação STOP de um carro
furtado).

No caso dos crimes duradouros ou permanentes (nº3) – em que a execução se prolonga no tempo – o
flagrante delito persiste enquanto o crime estiver a ser executado. Portanto, se A sequestra B, e o início
de privação de liberdade ocorre no dia 26, mas no dia 29 ainda perdura, no dia 29 ainda estamos perante
flagrante delito.

O 256º/1 e 2 acabam por ter mais aplicação no caso de crimes instantâneos. Entende-se que ao crime
continuado se aplica a solução relativa aos crimes permanentes.
A detenção, consoante seja em flagrante delito, ou fora de flagrante delito tem regimes diferentes.

A detenção em flagrante delito está prevista no art. 255º do CPP, que diz que pode existir detenção em
flagrante delito levada a cabo por uma autoridade judiciária, entidade policial ou, caso uma destas não

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possa ser chamada em tempo útil, por qualquer pessoa. A detenção é admissível sempre que em causa
esteja um crime punível com pena de prisão. Tudo isto decorre do nº1, alíneas a) e b) do 255º.
Convém sublinhar que o cidadão comum pode deter outra pessoa, desde que não possa chamar uma
entidade competente em tempo útil, e se o crime for punível com pena de prisão.
Se for um cidadão comum a proceder à detenção, este tem de entregar o detido, imediatamente, a uma
entidade judiciária ou policial (255º/2). Se, porventura, entregar na entidade policial, esta tem de
comunicar a detenção a um juiz ou ao MP.
A detenção em flagrante delito tem uma limitação ou exceção no caso dos crimes semipúblicos: quando
o crime praticado dependa de queixa, a detenção só se mantém se o titular da queixa a apresentar
(255º/3). No caso dos crimes particulares temos uma verdadeira exceção, porque o 255º/4 diz que se o
crime depender de acusação particular, não pode haver detenção em flagrante delito, mas somente a
identificação do infrator.

Quanto à detenção fora de flagrante delito, o crime já ocorreu. O 257º diz que, em regra, a detenção
fora de flagrante delito só pode ser realizada com um mandado do juiz (mandado de detenção).
Excecionalmente, pode o MP autorizar ou realizar a detenção, desde que seja admissível a aplicação
nesse tipo de crime a medida de coação da prisão preventiva.
Em primeira linha, a detenção fora e flagrante delito é um ato processual que está reservado ao juiz que
pode, independentemente da gravidade do crime ou da qualidade do sujeito que vai ser detido, ordenar
a sua detenção. O 272º/3, f) da CRP diz que devem ser respeitados os direitos e garantias do cidadão.
Quer a detenção seja ordenada por juiz ou realizada pelo MP, tem de preencher alguns pressupostos
descritos no 257º:
• Quando houver fundadas razões para crer que o indivíduo não se apresentaria voluntariamente
perante autoridade judiciária no prazo fixado. Tem de haver fundamentação suficientemente
profunda que leve a autoridade judiciária a estabelecer um juiz de prognose relativamente ao
comportamento do suspeito.
• Situações previstas no art. 204º (perigo de fuga, de perturbação do inquérito, repetição da
atividade criminosa, etc).
• Quando a detenção se torna imprescindível para a proteção da própria vítima.
• Hipótese excecional de os OPC realizarem por iniciativa própria a detenção fora de flagrante delito
(cumulativamente):
o Sempre que seja admissível a prisão preventiva
o Desde que haja um receio de fuga ou de continuação da atividade criminosa
o Não haja possibilidade de esperar pela intervenção da autoridade judiciária.

Esta detenção pelos OPC tem de ser comunicada nos termos do 259º.
O 258º e 261º dizem que os mandados de detenção têm determinadas formalidades (caso contrário, o
ato processual será nulo). O 261º trata da questão da libertação imediata do detido sempre que um dos
formalismos processuais não tenha sido cumprido (dever da entidade).

Medidas de coação

As medidas de coação são medidas que vão limitar direitos fundamentais e vão incidir sobre sujeitos
processuais. De acordo com o art. 60º do CPP, o legislador estabelece uma referência à questão das
medidas de coação. Assim que uma pessoa adquire a qualidade de arguido tem um conjunto de direitos
e deveres (do art. 61º), isto sem prejuízo da aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial.
Ou seja, o arguido é sujeito a medidas de coação ou de garantia patrimonial, sempre que os pressupostos
estejam preenchidos. No entanto, nesta matéria, há dois vetores fundamentais:

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• Falamos de um sujeito que se presume inocente (art. 32º/2 CRP). É um pouco contraditório privar
a liberdade de uma pessoa quando não há a certeza absoluta de que esta praticou um crime.
• Direito de defesa que é reconhecido e assegurado ao arguido e que também decorre do art. 32º
da CRP.

Por causa destes vetores ter em conta, a aplicação das medidas de coação obedece a um conjunto de
princípios e de condições:
• Princípio da legalidade – diz-nos que só podem ser aplicadas as medidas de coação previstas
na lei (art. 61º/3, d) + 191º CPP + 18º/2 e 3 CRP). Ou seja, só podem ser aplicadas as medidas
dos arts. 196º e ss.:
o TIR – a doutrina tem levantado a questão de saber se o TIR é uma medida de coação ou
não. Isto porque o TIR é, desde logo, obrigatório a partir do momento da constituição de
arguido (196º/1). O que o arguido faz é prestar informações relativamente à sua identidade
e domicílio. O que o TIR tem de especial é o facto de ser automático e de ser cumulável
com outras medidas de coação (196º/4). O TIR é importante, sobretudo, pelo que é
descrito no 196º/3, nomeadamente, nas alíneas a) e b).
o Caução.
o Obrigação de apresentação periódica.
o Suspensão do exercício de profissão, de função, de atividade e de direitos.
o Proibição e imposição de condutas.
o Obrigação de permanência na habitação (pressupõe o consentimento do arguido e pode
ainda haver a necessidade de consentimento das pessoas que coabitem com o arguido,
desde que maiores de 16 anos24).
o Prisão preventiva

• Princípio da necessidade – as medidas de coação só podem ser aplicadas para cumprir


exigências processuais de natureza cautelar, tal como decorre do art. 191º/1. Há uma referência
implícita ao princípio da proporcionalidade em sentido amplo (18º + 27º CRP). Os pressupostos
(exigências cautelares) para que possamos aplicar uma medida de coação são os que decorrem
do art. 204º do CPP. Qualquer medida de coação (exceto TIR) só pode ser aplicada se, pelo
menos, uma dessas situações estiver presente. O 204º tem de ser interpretado de forma estrita,
tendo em conta os dois vetores, essencialmente, o do princípio da presunção de inocência que é
reconhecido ao arguido. Ao mesmo tempo, para além de termos de atender ao princípio de
presunção de inocência, temos de atender às próprias finalidade do processo penal, desde logo,
a de realização da justiça e descoberta da verdade material (204º, a) e b)), mas também o
restabelecimento da paz jurídica (204º, c), parte final).

• Princípio da adequação (amplo) – decorre do art. 193º/1 e 2 e diz que só se pode aplicar
medidas de coação adequadas às exigências cautelares concretas de um caso concreto. O
princípio da adequação é também um critério usado para escolher uma medida de coação em

24
201º CPP – em regra, o que acontece quando se impõe esta medida é sujeitar o arguido a uma vigilância através de pulseira eletrónica
(201º/3). Temos duas possibilidades: a obrigação de permanência na habitação pode ser imposta sem ser acompanhada de meios de
controlo à distância; mas, em regra, a fiscalização é feita por meios de controlo de vigilância. Quando o juiz decida aplicar a obrigação
de permanência na habitação com recurso a vigilância eletrónica é que se torna necessário recorrer à lei nº33/2010, e obter o
consentimento do arguido. Se o consentimento não é dado, não pode haver recurso a esta medida de coação com pulseira eletrónica.

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detrimento de outra (193º/2). Esta ideia tem reflexo nos arts. 201º e 202º, que repetem a ideia do
193º/2.

• Princípio da proporcionalidade (estrito) – 193º diz que a medida de coação deve ser
proporcional à gravidade do crime e às sanções que, previsivelmente, serão aplicadas em caso
de condenação. Este princípio decorre não apenas do 193º, mas também do art. 27º/3, b) da CRP.
Ex: 201º/1, parte final + 195º (falamos de limites abstratos). A questão da gravidade dos crimes é
ago que está presente ao longo do regime legal das medidas de coação. Também relativamente
à prisão preventiva encontramos ligação entre a gravidade dos crimes e a gravidade das medidas
de coação (202º/1, a)). Quanto mais grave o crime, mais grave poderá ser a medida de coação
aplicada. Quanto à necessidade de existirem fortes indícios da prática de crime doloso (ex: 201º
e 202º). As medidas de coação também obedecem ao princípio da proporcionalidade na medida
em que a sua execução não pode prejudicar o exercício de direitos fundamentais que sejam
compatíveis com essa medida de coação. A limitação de direitos fundamentais através de
medidas de coação tem de se limitar ao que é proporcionalmente necessário (193º/4).

• Princípio da subsidiariedade – este princípio decorre dos arts. 193º/2, do 201º/1 e 202º/1. A
ideia é que as medidas de coação mais gravosas, designadamente, a obrigação de permanência
na habitação e a prisão preventiva, só podem ser aplicadas se as restantes se mostrarem
inadequadas ou insuficientes. Algo semelhante à ideia transmitida quanto à pena de prisão como
ultima ratio. A privação de liberdade do arguido só deve ocorrer em ultima ratio. Entre a obrigação
de permanência na habitação e a prisão preventiva, a ver do prof, também se pode estabelecer
uma hierarquia, no sentido de a prisão preventiva só poder ser aplicada quando as outras medidas
de coação, incluindo a obrigação de permanência na habitação, forem insuficientes. Aliás, decorre
até do 193º/3, mas não só. Para reforçar essa ideia, o 202º/1, diz que se aplica a prisão preventiva
se as medidas referidas nos artigos anteriores forem inadequadas ou suficientes, ou seja, a
obrigação de permanência na habitação tem de ser insuficiente para que se possa aplicar a prisão
preventiva. Há aqui quase que dois graus de subsidiariedade: um que confronta as medidas
privativas da liberdade com as não privativas (193º/2); e um que confronta as duas medidas
privativas de liberdade entre si (193º/3, 202º/1)

• Princípio da precariedade – de acordo com este princípio, a partir do momento em que as


circunstâncias que justificaram a aplicação de uma medida de coação deixem de existir, essa
medida de coação deve ser revogada, ou seja, deixar de ser aplicada e, eventualmente,
substituída por uma medida de coação que seja menos gravosa para o arguido (212º/1, b) + nº3).
Ver também 112º/4. Este princípio, no fundo, é um corolário do princípio da necessidade e
adequação. Há uma norma específica quanto ás medidas de coação privativas de liberdade (213º)
que introduz o dever de o juiz reexaminar os pressupostos que levaram à aplicação destas
medidas de coação. Este reexame ocorre em determinados momentos temporais, em regra, de 3
em 3 meses (213º/1, a)). Para além disso, pode haver quando tiver sido proferido despacho de
acusação ou de pronúncia (alínea b)). Deve articular-se o 213º com o 212º, ou seja, a todo o
tempo a prisão preventiva e obrigação de permanência na habitação podem ser revogadas desde
que se verifique uma das hipóteses do 212º, e não apenas de 3 em 3 meses, aquando do
reexame. Outro aspeto que decorre deste princípio é a questão da duração máxima das medidas

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de coação, que são temporárias. Portanto, temos limites máximos que estão definidos nos arts.
215º e 218º. O 215º ocupa-se da duração máxima da prisão preventiva, e os prazos variam
consoante a fase processual (nº1) e o tipo de crime praticado (nº2). Relativamente às restantes
medidas de coação, o 218º acaba por remeter, sobretudo, para o 215º/1.
Uma das consequências deste princípio decorre do art. 214º do CPP, que leva a que as medidas
de coação tenham de ser extintas assim que surja alguma decisão que contrarie a existência de
necessidades cautelares.

Estes princípios vão nortear a aplicação das medidas de coação, sobretudo, às que são mais graves, isto
é, a prisão preventiva (202º) e a obrigação de permanência na habitação (201º).

As condições gerais para que se possa aplicar uma medida de coação são:
• Necessidade de haver constituição prévia como arguido da pessoa sujeita a medida de coação
(192º)
• Direito a audiência prévia (194º/4), caso se viole este direito, teremos situação de revogação da
medida de coação (212º/1, a)).
• As medidas de coação são aplicáveis por despacho do juiz (194º/1), com exceção do TIR. Quando
o CPP refere a figura do juiz temos de perceber que engloba não apenas o JIC, mas também o
juiz de julgamento. O 194º tem pequena particularidade de, dependendo da fase processual em
que é suscitada a aplicação de medida de coação, podemos ter necessidade de haver
requerimento por parte do MP nesse sentido, isto é, dependendo da fase processual, o juiz que
despacha no sentido de aplicar uma medida de coação só o pode fazer se tiver havido
requerimento do MP nesse sentido. Durante o inquérito é necessário requerimento do MP. Se for
depois do inquérito há a possibilidade de não haver tal requerimento, embora tenha de ouvir o
MP. Outro aspeto importante é saber se, quando há requerimento do MP no sentido de aplicação
de prisão preventiva, o juiz é obrigado a atuar nesse sentido. O 194º/2 diz que o juiz pode aplicar
medida de coação diversa, fundamentada nas alíneas a) e c) do 204º. Isso significa que na
situação da alínea b) o juiz não pode ir além do que é requerido pelo MP (194º/2 a contrario +
nº3). Este regime só faz sentido quando estamos na fase de inquérito, em que o juiz não tem
liberdade para decidir por iniciativa próprio sobre a aplicação de uma medida de coação.
• O juiz tem de fundamentar a sua decisão (194º/6) – essa fundamentação tem de demonstrar que
há uma possibilidade razoável de ser deduzida acusação (se estivermos na fase de inquérito), ou
se há possibilidade razoável de haver despacho de pronúncia (noutra fase que não o inquérito).

Formas de reação à aplicação de uma medida de coação


• Recurso do despacho que aplica a medida de coação – o recurso da decisão que aplica uma
medida de coação é recorrível para o tribunal da relação, recurso esse que tem de ser julgado no
prazo máximo de 30 dias (219º/1). O recurso pode ser interposto pelo arguido ou pelo MP (427º).
(fazer remissão do 219º/1 para o 427º). Suscita-se a questão de saber se é admissível ou não o
recurso da decisão que não aplique uma medida de coação. Esta questão era tratada de forma
expressa pelo CPP no 219º/3, que agora não existe. Atendendo à revogação do nº3, parece que
a solução mais adequada será a de admitir recurso também destas decisões, que anteriormente
eram expressamente recusadas. Existe, no entanto, exceção quanto ao prazo em que o recurso
tem de ser decidido, pois quando a decisão não aplique uma medida de coação, parece que não
há a necessidade de se decidir no prazo de 30 dias, pelo menos de forma expressa. De acordo
com o art. 219º/2, não existe litispendência ou caso julgado entre o recurso e a providência do
habeas corpus. Os dois modos de reação decorrem paralelamente.

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• Habeas corpus (31º CRP norma constitucional processual) – o habeas corpus pode ser requerido
pelo arguido ou por qualquer cidadão (nº2). Pode acontecer que o arguido interponha recurso e
que uma providência de habeas corpus seja interposta por um cidadão anónimo. O habeas corpus
tem de ser decidido no prazo máximo de 8 dias (nº3). No CPP, nos arts. 220º e 222º, também se
prevê o habeas corpus, e o procedimento encontra-se nos arts. 221º e 223º.
São aplicadas “sanções” quando o pedido de habeas corpus é manifestamente infundado (221º/4
e 223º/6), isto para evitar que estes sejam interpostos para entupir o andamento dos tribunais.

Indemnização nas situações de privação da liberdade injustificada ou ilegal – 225º e 226º CPP.

Meios de prova e meios de obtenção de prova

O que é que pode ser objeto de prova? O art. 124º diz-nos que constituem objeto de prova todos os factos
juridicamente relevantes para saber se o crime existiu ou não, se o arguido deve ou não ser punido, e
qual a pena ou medida de segurança que deve ser aplicada.
Para chegarmos a essa confirmação do crime e da punição ou não, temos os meios de prova e os meios
de obtenção de prova. Os meios de obtenção de prova servem para obter meios de prova, que depois
vão ser usados pelo juiz para formar a sua convicção acerca da situação que está a ser julgada.
Critérios para a distinção entre meios de prova e meios de obtenção de prova (GERMANO MARQUES
DA SILVA):
• Critério lógico – o meio de prova é, em si mesmo, fonte de conhecimento ou de convencimento.
Enquanto os meios de obtenção de prova servem simplesmente para os obter. Há uma sequência
lógica que pode ser apontada, no sentido que os meios de obtenção de prova, precedem os meios
de prova.
• Critério técnico-operativo – os meios de obtenção de prova têm características próprias e são
usados em momentos específicos do processo, em regra, durante a fase de inquérito. Os meios
de prova são produzidos, em regra, na audiência de julgamento.

Meios de obtenção de prova


O CPP contém uma lista não taxativa dos meios de obtenção de prova e dos meios de prova. Podemos
encontrar alguns meios de prova nos arts. 128º e ss do CPP. Relativamente aos meios de obtenção de
prova, encontramo-los nos arts. 171º e ss. Há outros previstos em leis processuais penais extravagantes
como, por exemplo, na lei nº 109/2009 (cibercrime).

a. Exames – o que se pretende é recolher vestígios, que possam ter sido deixados na cena do crime e
que possam ser utilizados para perceber o modo como o crime foi cometido, quem o cometeu e quem
terá sido a vítima. Pretende-se recolher prova biológica ou não biológica. Os pressupostos da
utilização dos exames estão previstos no art. 171º. Estes exames podem ser levados a cabo pelos
OPC por iniciativa própria (171º/4). Apesar disso, há exames em relação aos quais é necessário ter,
obrigatoriamente, a intervenção da autoridade judiciária. Esses exames estão previstos no 172º/3
(exames que possam ofender o pudor das pessoas). podemos ainda acrescentar o 270º/3, que diz
que o MP, em certas situações, pode delegar nos OPC a efetivação de exames; ainda o 290º. Temos
ainda outra situação, que é a de ser necessário obrigar alguém a sujeitar-se a exame, ou a fornecer
uma coisa que deva ser examinada. Nessas situações, quem tem competência para compelir a
pessoa é a autoridade judiciária (172º/1). Temos ainda a situação de exames de competência
reservada do juiz (ex: extração ou análise de sangue; ou amostras biológicas para fins de identificação
– 172º/2 + 269º/1, b)).

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b. Revistas – As revistas, contrariamente às buscas têm como objeto as pessoas. as pessoas podem
ser revistadas desde que haja indícios que esta tem consigo objetos relacionados com o crime ou que
possam servir de prova. Estas são, em regra, autorizadas pela autoridade judiciária e, em princípio,
esta deve estar presente durante as revistas (deve presidir – 174º/3). O despacho da autoridade
judiciária tem a validade de 30 dias (174º/4), excecionalmente, permitindo-se que os OPC procedam
a revistas sem essa autorização ou despacho da autoridade judiciária, apenas quando esteja em
causa uma das alíneas do 174º/5, ou seja, situações de terrorismo, criminalidade violenta ou
organizada; se houver consentimento por parte da pessoa que será revistada; ou ainda no caso de
detenção em flagrante delito. Havendo esta realização de revista por parte dos OPC, terá de haver
comunicação à autoridade judiciária, mais concretamente, ao JIC, e este valida, ou não, essa revista.
Só não é necessária a validação por parte do JIC se o que possibilitou a revista foi o consentimento
ou uma detenção em flagrante delito. Há outras situações em que os OPC têm competência para
realizar revistas sem autorização da autoridade judiciária (251º). Se houver a revista por parte dos
OPC nestas situações terá, novamente, de haver comunicação ao JIC (174º/6).

c. Buscas – as buscas, contrariamente às revistas, não têm como objeto as pessoas, mas os locais. as
buscas realizam-se quando haja indícios que, nesse local, que não é de acesso livre ao público, se
encontram objetos relacionados com o crime ou que possam servir de prova, ou ainda, porventura,
pode acontecer que no local haja indícios de que o suspeito ou o arguido lá se encontre. As buscas
têm o seu regime exposto no 174º/2, seguem o mesmo que está previsto para as revistas (174º/2 +
3, etc). O 174º/5 permite que os OPC realizem as buscas sem autorização da autoridade judiciária, e
devem comunicá-la, exceto no caso das alíneas b) e c). Podem ainda realizar buscas como medida
cautelar (251º), com a exceção da busca domiciliária. Quando estamos a falar de buscas domiciliárias
temos um grau de exigência processual suplementar, pois estamos a por em causa a vida privada
das pessoas, sendo necessário que intervenha o juiz. Esta busca tem um regime próprio previsto no
177º. Uma das particularidades de regime é de que a busca, normalmente, tem de ser realizada
durante o dia (7h-21h), até porque, no art. 34º/2 e 3 da CRP temos uma proteção constitucional
relativamente a buscas domiciliárias fora das situações previstas na lei. Excecionalmente, podem ser
realizadas entre as 21h e as 7h, desde que preenchidas as hipóteses dos arts 34º da CRP e 177º do
CPP: quando em causa esteja investigação de terrorismo ou criminalidade organizada; quando haja
consentimento documentado do visado; flagrante delito com crime punível com pena de prisão
superior a 3 anos. Temos outras situações em que as buscas podem ser realizadas pelo MP ou pelos
OPC (177º/3), mas isso só acontece em situações muito específicas e, em regra, durante o dia.

As buscas previstas nos nºs 5 e 6 (escritórios de advogados, consultórios médicos, etc) têm de ser
presididas pessoalmente pelo juiz. Para além da presença do juiz, pode estar presente um presidente do
conselho local da ordem dos advogados ou da ordem dos médicos (que para tal têm de ser avisados
previamente). Há esta exigência suplementar porque, para além da proteção que é dada à vida privada
(34º CRP), temos a questão do sigilo ou do segredo profissional que fica em causa quando se realiza
uma busca deste género.

d. Apreensões – estas estão previstas nos 178ºe ss. E incidem sobre objetos que tenham sido deixados
pelo agente no local do crime ou possam servir de prova. Além disso, podem ter como objeto
instrumentos, produtos ou vantagens relacionadas com a prática de crime. as apreensões, em regra,
são ordenadas por uma autoridade judiciária, nos termos do 178º/3, ou seja, durante o inquérito será
o MP, e fora do inquérito, o JIC ou o juiz de julgamento. Excecionalmente, as apreensões podem ser
levadas a cabo pelos OPC nos termos do 178º/4. O nº5 acrescenta que os OPC podem realizar
apreensões quando têm receio de desaparecimento … de instrumentos, produtos ou vantagens.

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A doutrina entende que a apreensão tem uma natureza híbrida:


• Finalidade processual (probatória) como meio de obtenção de prova – objetos encontrados na
cena do crime.
• Finalidade processual substantiva (mais relacionada com o CP) – deixam de ser meio de obtenção
de prova quando incida sobre instrumentos usados num facto típico ilícito. Com a apreensão,
pretende conservar-se esses produtos e depois declará-los perdidos a favor do Estado (109º e
111º CP + 186ºCPP).

As apreensões são ordenadas pela autoridade judiciária, mas temos situações específicas que trazem
especificidades suplementares (179º apreensão de correspondência): é necessário obter autorização ou
ordem por parte de um juiz. Essa apreensão pode, por exemplo, ocorrer na estação de correios ou de
telecomunicações. Temos algumas limitações relevantes que decorrem, nomeadamente, do 179º/2 sendo
proibida a apreensão de correspondência entre arguido e o seu defensor, exceto se essa correspondência
seja, em si, objeto de um crime. o 180º acrescenta que pode haver a apreensão de documentos ou de
objetos que se situem em escritório de advogados ou consultório médico, mas aplicam-se as regras
relativamente às buscas nestes locais (177º/5 e 6).
Ainda quanto à apreensão de correspondência, o regime previsto no CPP só se aplica, no que diz respeito
às cartas, quando estas ainda não tenham sido abertas e lidas pelo destinatário. A partir do momento em
que o destinatário da carta tome conhecimento do seu conteúdo, deixamos de ter correspondência, e
passamos a ter um mero documento, que não tem para a sua apreensão qualquer exigência adicional.
Há quem tente transpor esta ideia para os emails, dizendo que se aplica o regime de correspondência.
Para o prof esse argumento está algo desfasado da realidade, pois não podemos aplicar o critério de
abertura e leitura de uma carta a um email, porque quem usa email sabe que pode marcar como lido ou
não lido um email. Mas isto é uma questão controvertida.

e. Escutas telefónicas – estão previstas nos arts. 187º e ss. Sendo necessário chamar à colação o art.
34º/4 da CRP, que fundamental, porque proíbe a ingerência das entidades públicas (e privadas) na
correspondência, telecomunicações, etc, salvo os previstos na lei. É possível realizar escutas
telefónicas num processo criminal, durante a fase de inquérito, desde que sejam indispensáveis para
descobrir a verdade material. Um aspeto importante é a quase subsidiariedade deste meio de
obtenção de prova, ou seja, se for indispensável ou se a obtenção de prova se tornasse impossível
ou extremamente difícil de obter sem este meio de obtenção de prova. Só pode haver escutas
telefónicas na investigação de crimes de catálogo, isto é, na investigação criminal dos crimes
taxativamente previstos no art. 187º/1, a) a g). 187º/1, parte final, tem de haver despacho
fundamentado do JIC e requerimento do MP (ver 269º/1, e)). Entram aqui em choque duas finalidades
do processo penal: a descoberta da verdade material e realização da justiça e a proteção de direitos
fundamentais, nomeadamente, a reserva da intimidade da vida privada das pessoas. Não estão
apenas aqui em causa os direitos fundamentais do arguido, mas também de 3ºs que possam ser
escutados nessas conversas. No fundo, a escuta telefónica surge como uma espécie de mecanismo
de autoincriminação inconsciente.

Particularidades das escutas telefónicas:


• Prazo/duração das escutas (187º/3 – prazo de 72 horas – 187º/6 – interceção autorizada pelo prazo
máximo de 3 meses, a não ser que seja renovada por período idêntico.
• Por vezes, obtém-se informações que não têm que ver com o processo criminal em curso, mas podem
originar ou ter que ver com outro processo penal (187º/7).

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• Há um nº limitado de pessoas que pode ser escutada (nº4). A escuta telefónica pode ser autorizada
contra suspeito ou arguido (a)); intermediário (b)); e/ou vítima do crie, desde que esta dê o seu
consentimento (c)).
• Os suportes técnicos das conversas e os despachos são juntos ao processo em que devam ser
utilizados como meio de prova (nº8)
• Formalidades: 188º - o OPC tem de fazer uma espécie de sumário do conteúdo do que foi escutado
e depois vai dando conhecimento das escutas ao MP, de 15 em 15 dias (nº3). O MP comunica ao juiz
no prazo de 48h (nº4). O nº6 diz que o juiz tem de mandar destruir os suportes técnicos de conversas
em que não estejam a ser escutadas as pessoas referidas, ou em relação a matérias cobertas por
sigilo profissional, procedendo à transcrição do que for relevante.
4.abr.2019
• 189º - entende-se maioritariamente que este artigo estará implicitamente revogado. O regime das
escutas telefónicas aplica-se quando as comunicações já estejam guardadas em suporte digital. Este
artigo é bastante abrangente embora pareça já estar parcialmente revogado com a lei nº 109/2009??
que prevê a possibilidade de interceção de comunicações eletrónicas (duas normas sobre a mesma
matéria, vale a mais recente). O nº2 do 189º fala da obtenção de meta dados e dados de localização,
que têm de seguir as regras do 187º (crime de catálogo). O nº2 deve também considerar-se revogado
pela lei de conservação de dados (lei nº 32/2008).

Meios de prova (128º e ss)

Os meios de prova são os que estão previstos nos 128º e ss. Temos como meios de prova previstos no
CPP. Os meios de prova servem de instrumento, ou são a forma de conhecimento, que têm como objetivo
o convencimento de uma pessoa acerca de uma realidade. O meio de prova tem como objetivo formar a
convicção de um terceiro. O que se distingue do conceito de indícios – provas que são recolhidas pela
própria entidade que vai decidir, portanto não se fala da necessidade de convencer um terceiro.

a. Prova testemunhal – está prevista nos arts. 128º e ss. A prova testemunhal tem como objeto os
factos de que a testemunha tenha conhecimento direto. Através da prova testemunhal queremos que
determinada pessoa (testemunha) preste informações ou mostre conhecimento sobre factos que
fazem parte do objeto do processo. Em regra, só é admissível o testemunho quando a pessoa tenha
conhecimento direto (ela própria teve contacto com a realidade sobre a qual está a prestar o
testemunho). Isto significa que, em regra, não é possível termos como meio de prova um depoimento
ou testemunho sobre o que se ouviu dizer (indireto), nem sobre o que será a voz pública, ou mesmo
convicções pessoais (128º/1).
• O art. 129º trata da questão do depoimento indireto, portanto, se o juiz estiver perante esta situação,
deve chamar a depor as pessoas que têm conhecimento direto dos factos. Se o juiz não chamar essas
terceiras pessoas a depor, o depoimento que foi prestado não vale, não pode ser utilizado, salvo
algumas exceções: as tais terceiras pessoas já tiverem falecido, sofrerem de anomalia psíquica
superveniente (posterior aos factos), ou não seja possível encontrá-las.
• O art. 130º fala das vozes públicas e convicções, porque aí não há certezas absolutas sobre aquilo
que se está a dizer.
• A testemunha pode ser chamada a prestar depoimento relativamente a factos que dizem respeito á
personalidade e ao caráter do arguido, assim como a história de vida, ou seja, as suas condutas
anteriores. Mas isso só é possível quando estejamos a tentar determinar a pena ou a medida de
segurança, elementos como a culpa do agente, ou a aplicação de medidas de coação ou de garantia
patrimonial (128º/2).

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• Outro aspeto que distingue a testemunha do arguido é que a testemunha tem o dever de testemunhar
(131º) e presta juramento, ou seja, tem de responder com verdade às perguntas que lhe são dirigidas.
(132º/1, d)). Fora dos casos em que é ouvida por OPC, tem de prestar juramento e responder com
verdade. (remissão do 132º/1, d) para o 91º). Se uma testemunha faltar à verdade, temos um crime
previsto no art. 360º do CP (falsidade de testemunho), punido com pena de prisão até 3 anos. Há
uma situação em que as testemunhas podem negar-se a responder às perguntas que lhe são dirigidas
(132º/2): quando a resposta à pergunta fundamente a sua responsabilidade penal, isto é, quando a
resposta seja auto incriminadora. Nessas situações o que pode acontecer é a pessoa pedir para ser
constituída arguida (59º/2 CPP).
• Para além disso, pode haver recusa de testemunho quando haja relações familiares entre os sujeitos
processuais e as testemunhas (134º). Isto é particularmente importante nas situações de violência
doméstica, porque maior parte das vezes falamos de situações entre cônjuges ou ex-cônjuges,
devendo ter em atenção esta possibilidade.
• Temos situações de segredo, nomeadamente, segredo profissional de funcionários ou de estado
(135º, 136º e 137º). Há situações em que o segredo profissional ou confessional, como o sigilo
médico, esse segredo deve ser garantido. Se alguém for inquirido sobre matéria salvaguardada por
segredo, pode recusar-se a depor sobre esses factos. O art. 135º diz no seu nº2 que, havendo dúvidas
sobre a legitimidade da escusa, a autoridade judiciária procede a averiguações para perceber se
existe realmente segredo que possa justificar a recusa.
• Nos nº3, 4 e 5, permite-se ultrapassar ou quebrar o segredo. O juiz pode tentar quebrar o segredo,
desde que consiga comprovar que há um interesse superior que deva permanecer sobre a
manutenção do segredo profissional, nomeadamente a situação de crimes graves, absoluta
necessidade de obter as informações sob pena de a investigação criminal não ter sucesso, ou
atendendo aos bens jurídicos tutelados. Se estiver em mesa a quebra do sigilo profissional, as ordens
profissionais têm de ser chamadas e ouvidas – princípio do interesse preponderante.
• A quebra do sigilo profissional é possível em todas as situações previstas no 135º/1, exceto no
segredo confessional, que nunca pode ser quebrado (135º/5), a não ser que seja ilegítimo (ex do falso
padre).

b. Declarações do arguido
Relativamente ao arguido, importa distinguir entre factos que dizem respeito à sua identidade e os que
dizem respeito ao objeto do processo. Relativamente à identidade, a regra é que o arguido, nos termos
do 141º/3, 61º/3, b), 342º/1 CPP e 359º CP, relativamente a estas perguntas, tem de responder com
verdade. Se, porventura, mentir, incorre na prática do crime de falsidade de depoimento ou de declaração
(359º/2 CP). Neste momento, o arguido não é obrigado a responder sobre os antecedentes criminais
(antigamente pertenciam ao conjunto de elementos sobre os quais tinha de responder, isto porque saber
os antecedentes criminais tem influência na medida da pena, e isso cabe à entidade decisora).
Quanto aos factos que estão a ser-lhe imputados, o arguido pode tomar várias atitudes. Uma primeira
possibilidade é remeter-se ao silêncio e exercer o seu direito (140º, 141º). Há ainda outras duas
possibilidades: negar os factos que lhe são imputados ou confessar os factos.
• Se o arguido negar os factos que lhe são imputados não há qualquer tipo de responsabilidade, quer
a negação seja verdadeira ou falsa. Tanto mais que o arguido, ao contrário do que acontece com a
testemunha, não presta juramento (140º/3).
• Se o arguido confessar os factos, essa confissão vai produzir efeitos processuais, dependendo do
tipo de confissão, nomeadamente, cessar a produção de prova.
• Surge a questão de saber se a confissão pode ter relevo suficiente para, por si mesma, sem qualquer
prova adicional, sustentar a condenação de uma pessoa. O regime que existia antes do CP ia no
sentido de negar essa possibilidade. Se a condenação fosse suficiente, poderiam as entidades forçar

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a confissão (coação) para daí obter a condenação da pessoa. Para além deste perigo, havia ainda o
perigo da confissão falsa (mãe em relação a filho). Neste momento, vigora a regra prevista no 344º,
que se o arguido quiser pode confessar os factos, mas o presidente do tribunal tem de lhe perguntar
se a confissão ocorre de livre vontade e sem coação. Se o arguido concordar fazer a confissão de
livre vontade e quer confessar integralmente e sem qualquer reserva, apica.se o 344º/2: não se produz
prova quanto aos factos imputados, passa-se à determinação da sanção aplicável e reduz-se a taxa
de justiça a metade. O nº3 diz que há algumas exceções, como o caso dos co-arguidos, e restantes
alíneas do nº3. De todo o modo, o nº4 diz que o tribunal decide em sua livre convicção se deve ou
não haver produção de prova, quer a confissão seja integral ou não. No regime atual, a confissão só
excecionalmente pode sustentar a condenação para além de qualquer outra prova. Ver posições da
doutrina.
• Se o arguido se remeter ao silêncio, isto acaba por decorrer do princípio da presunção de inocência.
O direito ao silêncio pode ser absoluto ou parcial, isto é, o arguido pode prestar depoimento em certas
situações embora se tenha negado a esclarecer determinados pontos noutra situação. O direito ao
silêncio não pode ser utilizado em desfavor do arguido, ou seja, um juiz não pode utilizar o silêncio
como argumento que depois vá ser valorado negativamente contra o arguido. Isto não quer dizer que
do ponto de vista prático o direito ao silêncio não o possa desfavorecer.

c. Declarações do assistente

d. Declarações das partes civis:


…….
O assistente e partes civis, embora não tenham de prestar juramento (145º/4), estão obrigadas ao dever
de verdades (145º/2). Faltando a esse dever podem ser responsabilizadas criminalmente (359º/2).
A tudo o resto que não seja contraditório, aplica-se o regime da prova testemunhal (145º/3).

e. Prova por acareação


Surge quando temos uma contradição entre o que está a ser dito (por exemplo, entre os co arguidos,
entre o que o arguido esta a dizer e o assistente esta a dizer, entre as testemunhas e o que o arguido
esta a dizer).
Quando seja necessário descobrir a verdade material pode recorrer-se a este mecanismo e as pessoas
q produzem declarações contraditórias são inquiridas pela autoridade judiciária no sntio de saber se
confirmam ou se alteram tendo em conta o que as outras pessoas disseram.

146º/1
146º/4

No fundo, surge como uma confrontação entre sujeitos e participantes processuais que afirmam coisas
contraditórias entre si.

f. Prova por reconhecimento


Temos duas possibilidades: ou o reconhecimento é em relação a pessoas, ou em relação a objetos. A
prova por reconhecimento quanto a pessoas está prevista no art. 147º e diz-nos o nº1 que para se
proceder a reconhecimento de pessoas solicita-se a uma pessoa que proceda à identificação de outra,
segundo determinados tramites processuais (descrever, perguntar se já tinha visto essa pessoa antes ou
não e se há elementos que possam por em causa a credibilidade da identificação). Se esta identificação
não oferecer grandes dúvidas avança-se e esta será tomada como meio de prova a ser valorado pelo

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juiz. Se puder haver algum tipo de dúvida, o que o juiz faz é chamar mais 2 pessoas (147º) que sejam
fisicamente semelhantes à pessoa a ser identificada e o arguido é colocado ao lado dessas duas pessoas
e é perguntado a quem faz o reconhecimento se consegue identificar entre os 3 quem identificou o crime
(147º/2).
Em regra, o reconhecimento é presencial, mas eventualmente, se houver receio de alguma represália,
poderá recorrer-se aos “one way mirrors” (147º/3). Para além disso pode haver um reconhecimento com
recurso a fotografias, filmes ou gravações.
O CPP prevê ainda situações de reconhecimento de objetos (148º que remete para o 147º no que for
aplicável). O 149º tem apenas uma regra adicional para o caso de haver uma situação de pluralidade de
reconhecimento, em que uma pessoa tenha de ser identificada por mais de uma pessoa, o
reconhecimento é feito em separado.

g. Reconstituição do facto
Está previsto no art. 150º e acaba por ser uma encenação de uma versão provável daquilo que terá
acontecido. No fundo, quando há reconstituiam do facto, vai-se reproduzir as condições em que o facto
terá acontecido – o modo de realização do facto é repetido.

h. Prova pericial
Previsto no art. 151º e acontece quando haja necessidade de ter um individuo com conhecimentos
técnicos específicos, até artísticos ou científicos. O perito pode ser um psicólogo, um médico, etc e é
nomeado pelo tribunal (perícia oficial). Não há peritos nomeados pelas “partes” (perícia contraditória). O
perito nomeado pelo tribunal vai, no âmbito das suas competências específicas, dar a sua opinião técnica
sobre determinado facto. O legislador processual penal prevê a possibilidade de os sujeitos processuais
indicarem consultores técnicos (próprios peritos), mas estes não assumem posição paritária em relação
ao perito oficial (151º, 152º e 154º). A perícia é realizada em estabelecimento, laboratório ou serviço
apropriado (152º/1). É elaborado um relatório pericial em que se diz as conclusões e esse relatório é junto
aos autos. O perito vai prestar esclarecimentos na fase do julgamento. O valor dos seus esclarecimentos
é de valor diferente do depoimento das testemunhas, por exemplo, que vai influenciar a valoração que o
juiz pode fazer.

i. Prova documental
Prevista no art. 164º. O CPP admite a produção de prova por documento e dá uma definição de
documento no seu nº1. Em regra, falamos de, por exemplo, cartas já abertas, extratos bancários, prova
escrita, etc.
Uma pequena particularidade do 164º/2 é que não se pode juntar aos autos um documento que tenha
uma declaração anónima e só se usa a declaração anónima quando ela própria seja elemento de um
crime (ex: declaração difamatória). A prova documental pode ser utilizada ao logo do processo,
nomeadamente, no inquérito ou na instrução, mas até ao final da audiência.
A prova documental é junto ao processo oficiosamente ou a requerimento.

Fase de julgamento

O julgamento pode ser levado a cabo por diferentes tribunais (singulares, coletivos, de júri – 207º CRP).
Decidida a competência do tribunal, temos uma primeira fase que é a fase preliminar de saneamento.
Esta fase está prevista nos arts. 311º e ss. E recebidos os autos no tribunal, há lugar a atos preliminares:
• Saneamento do processo (nulidades e questões prévias e incidentais e da própria acusação)
levado a cabo pelo presidente do tribunal – 311º/1. Podemos ter situações que obstam a que se

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possam avançar para julgamento (não ter havido fase de inquérito, prescrição, etc). Se,
porventura, não tiver havido instrução, aplicamos o 311º/2. O presidente do tribunal deve ponderar
se deve, ou não, rejeitar a acusação (manifestamente infundada; alteração substancial dos
factos). O nº3 acrescenta o que é “manifestamente infundada”.

Há um conjunto de princípios relativos à prossecução processual, relativos à prova e à forma. Estes


princípios têm aplicação não apenas na fase de julgamento. Independentemente de ter sido produzida
prova na fase de inquérito ou de instrução, a convicção do tribunal forma-se, em regra, a partir daa prova
que seja produzida ou examinada em fase de audiência (355º/1). Há uma repetição da prova que já foi
feita nas fases anteriores (regra).

Na fase de julgamento há um conjunto de princípios relativos à prossecução processual, à prova


e à forma:
- Quanto à prossecução:
§ Principio da investigação;
§ Principio da concentração;
- Relativos à prova:
§ Principio da livre apreciação da prova;
§ Principio in dúbio pro reu;
§ Principio da legalidade (nem toda a doutrina considera um principio relativo à
própria);
- Relativos à forma:
§ Principio da oralidade;
§ Principio da imediação (a prova tem de ser produzida perante o juiz. Por exemplo:
a prova testemunhal, não só pelo que é dito, mas pela forma como é dito);
§ Principio da publicidade.

Princípios relativos à prossecução processual:


• Princípio da investigação – este princípio diz-nos que o tribunal tem competência para ordenar
a produção de prova que afigure ser necessária para a descoberta da verdade material,
independentemente, dos contributos dados pelos sujeitos processuais (acusação e defesa). O
tribunal tem o poder dever de construir a base da sua decisão. O art. 340º do CPP consagra este
princípio na fase do julgamento, no seu nº1. Este princípio também tem fundamentos fora do
julgamento e mais concretamente na instrução (288º, 289º e 290º). Tendo um processo penal
com um princípio da investigação é o contra polo do que será o princípio do dispositivo no
processo penal, onde as partes conformam e encaminham o processo (princípio da
autorresponsabilidade probatória no processo civil). No processo penal isso não acontece,
havendo necessidade de busca da verdade material para além do que é trazido pelas partes. Este
princípio não põe em causa o modelo acusatório que caracteriza o nosso sistema de processo
penal. Isto porque esta possibilidade de um juiz proceder a investigação é limitada ao objeto do
processo.
• Princípio da concentração – este princípio tem que ver com a forma como o processo decorre.
Segundo este princípio, a prossecução processual deve ser unitária/continuada, tanto quanto
possível, quer do ponto de vista temporal, como espacial. Este princípio da concentração espacial
e temporal é particularmente relevante em sede de audiência de julgamento, porque é também
nesta fase que temos com maior fulgor os princípios da oralidade e da imediação. Para que estes
dois últimos princípios tenham eficácia, é necessário que o processo pena não se prolongue
demasiado ao longo do tempo. Encontra consagração no 328º/1. Naturalmente, que este princípio

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tem limitações, desde logo, fisiológicas, sendo necessário que haja interrupções. O 328º/2 admite
a necessidade de interrupções, nomeadamente, para alimentação e para repouso de todos os
participantes (à hora do almoço e ao final do dia até ao dia útil seguinte). Mas, em regra, a
audiência não pode ser interrompida ou adiada. Quando haja necessidade de adiamento, este
não pode exceder os 30 dias – 328º/6. O adiamento é sempre antecedido da mera interrupção
(328º/3), pois este é ainda mais excecional. Se, porventura, houver interrupção ou adiamento de
audiência, esta é retomada a partir do último ato processual que foi praticado. Isto significa que,
estando a ser ouvidas 3 testemunhas de 6, quando a audiência for retomada, ouve-se a 4ª
testemunha. O legislador entendeu colocar a limitação dos 30 dias na interrupção e no aditamento,
desde logo, pelo princípio da imediação, que acaba por ser prejudicado se a audiência se
prolongar demasiado no tempo, havendo coisas que vão acabando por ficar esquecidas. Para os
30 dias não conta o período de férias judiciais. O nº6, parte final, diz que se, porventura, forem
ultrapassados os 30 dias, deve o motivo ficar consignado na ata, identificando-se os motivos pelo
qual o prazo não foi cumprido. Este princípio da concentração tem uma forte ligação ao princípio
da imediação e permite-se que haja interrupção da audiência, sem que a eficácia da prova seja
posta em causa.

Princípios relativos à prova:


• Princípio da livre apreciação da prova – quando estudamos este princípio, no fundo, a pergunta
que queremos colocar é a de saber se a apreciação da prova deve ser realizada de acordo com
regras e valores pré definidos na lei, ou se, porventura, a prova deve ser valorada de acordo com
a convicção própria da entidade decisora (juiz de julgamento, mas também JIC e MP). A regra é
a que consta do art. 127º do CPP, devendo a prova ser apreciada segundo as regras da
experiência e livre convicção da entidade competente (salvo lei em contrário). Não temos um
princípio de prova legal porque a forma como a lei é valorada não está pré-determinada na lei. O
princípio da prova livre significa que não há critérios legais pré-determinados que definam o valor
da prova. Mas também, segundo o mesmo princípio, podemos dizer que o juiz é livre na sua
valoração na prova, desde que cumpra a finalidade de procura da verdade material e de realização
da justiça. A liberdade da entidade que valora a prova está, desde logo, limitada por esta finalidade
do processo penal. A valoração deve ser, tanto quanto possível, objetiva e fundamentada.
Este princípio tem algumas limitações para além destas limitações gerais. Olhando para a prova
por depoimento (128º e ss.) não há, em regra, limitações à livre apreciação da prova. Portanto,
quando uma testemunha presta o seu depoimento, o julgador julga, segundo a sua experiência,
aquilo que está a ser dito. Mas a liberdade não é plena, nomeadamente, nos casos do art. 129º e
130º, casos do depoimento indireto e das vozes públicas e convicções pessoais. No caso do 129º
vimos que, se o depoimento resultar do que se ouviu dizer, em regra, estes testemunhos não
valem como prova, não podendo ser apreciados pelo juiz. Se, porventura, o juiz encontrar a
pessoa que prestou as primeiras declarações, deixamos de ter um depoimento indireto e a prova
pode ser valorada nos termos gerais. No entanto, se a pessoa que prestou o primeiro depoimento
se recusa a depor, então a prova não pode ser valorada. Também pode acontecer que a
testemunha se recuse a dizer quem lhe deu conta de determinados factos, também não sendo
possível usar essa prova. O mesmo acontece no art. 130º, não sendo admissível como
depoimento a reprodução de vozes e rumores, assim como as convicções pessoais.

Quanto às declarações do arguido, vimos que o arguido, quando está no processo, pode tomar
várias posições: não falar, prestar declarações parciais, ou confessar os factos. Pode ainda negar
os factos, mentindo ou dizendo a verdade. Se o arguido nega os factos, o juiz valora livremente

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essa negação dos factos que não produz efeitos legais automáticos. Da mesma forma, pode
apreciar livremente o que é dito no facto de o arguido confessar parcialmente ou com algumas
reservas os factos que lhe são imputados. Haverá também livre apreciação da prova (344º/2 e 3,
a)) se o arguido confessar integralmente os factos, mas tivermos coarguidos que não confessam
integralmente os factos. O nº4 diz que, verificando-se a confissão integral e sem reservas quando
haja coarguidos que não confessem ou quando o juiz suspeite do caráter livre da confissão, ou
quando o crime seja punível com pena superior a 5 anos, o tribunal decide se deve apreciar
livremente a prova. Assim, não temos livre apreciação de prova (nº2) quando temos confissão
integral e sem reservas e não se preencha nenhuma das alíneas do nº3. Assim, a situação em
que se dispensa a produção de prova é quando haja apenas um arguido no processo, que
confesse integralmente e sem reservas, de forma livre, para além de qualquer dúvida,
relativamente a um crime com pena de prisão igual ou superior a 5 anos.

Quando o arguido se remete ao silêncio, o direito ao silêncio não lhe pode ser desfavorável (343º/1
+ 345º/1 + 61º/1, d) + 144º/4, a)). Há um direito à não autoincriminação, não sendo obrigado a
falar, e o direito ao silêncio decorre do direito à não incriminação (32º/1 e 2 CRP).
Uma outra limitação tem que ver com a prova pericial (163º). Quando falamos deste meio de prova
faltou desenvolver o valor que é dado ao relatório feito pelo perito. O nº1 diz que o juízo inerente
à prova pericial é subtraído à livre apreciação do julgador, isto é, este, em regra, não pode apreciar
a prova pericial. Portanto, não pode o julgador, em regra, divergir daquilo que o perito diz. Isto
acontece porque falamos de conhecimento altamente especializado que, em regra, o juiz não
domina, não fazendo sentido que possa divergir. No entanto, há uma exceção, que é a que consta
do nº2 do 163º: quando há um erro notório na prova pericial; ou quando o próprio juiz detiver
conhecimentos que lhe permitam fundamentar uma divergência em relação ao que é dito pelo
perito. Estas divergências devem ser muito bem fundamentadas. Apesar de tudo, o juiz mantém
sempre a liberdade de valorar juridicamente o que está a ser apresentado, isso nunca afastado.
O que pode ser subtraído é a factualidade descrita pelo perito.

Quanto à prova documental (164º e ss.) importa apenas dizer que, quando há a prova por meio
de documentos, afirma-se o princípio da livre apreciação da prova, mesmo que, nos termos do
169º, estejamos perante documentos autênticos ou autenticados. Se o jugador tiver razões para
crer que deve ser posta em causa a veracidade do documento, pode afastar o valor de
autenticidade desse documento, nos termos do 169º, e fazer uma livre apreciação da prova. Ver
ainda 170º/1 sobre os documentos falsos, artigo que permite ao tribunal declarar determinado
documento juntos aos autos como falso. Havendo a falsidade do documento, essa informação
transmite-se ao MP que, se intender necessário, avançar com uma investigação criminal (170º/3).

• Princípio do in dúbio pro reu – este princípio é fundamental na questão da valoração da prova
e diz-nos que o tribunal, em caso de dúvida razoável, deve favorecer o arguido. Sabemos que o
tribunal tem o poder e dever de investigar autonomamente para além do que é fornecido pela
acusação e pela defesa, mas há situações em que não consegue obter uma imagem clara e
objetiva sobre o crime e qual foi o seu autor, podendo permanecer uma dúvida. Se isso acontecer,
o tribunal só tem um caminho, que é o de favorecer o arguido. Até porque, de acordo com a CRP,
nomeadamente, art. 32º/2, todo o arguido se presume inocente até trânsito em jugado de uma
decisão condenatória. Este princípio tem campo de aplicação amplo e vale tanto para matéria de
facto, como para os factos relativos ao crime e à sanção a aplicar. O in dúbio pro reu não tem
aplicação em matéria de direito, em relação à qual não pode o juiz ficar com dúvidas. Este deve
optar por uma posição jurídica. A violação deste princípio é algo que pode ser reconhecido pelo

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tribunal de recurso e a jurisprudência tem entendido que este princípio é algo que integra a matéria
de direito e não de facto (saber se foi ou não violado/aplicado), quanto à sua natureza.
Há doutrina que distingue o princípio do in dúbio pro reu do princípio da presunção de inocência
da seguinte forma: o princípio de presunção de inocência será um princípio que rege o processo
de valoração da prova. A convicção do tribunal deve ter em conta a presunção de inocência do
arguido. O princípio do in dúbio pro reu surge apenas mais tarde, quando toda a prova foi valorada,
e depois de valorada, o juiz tem uma dúvida razoável. Ou seja, os princípios terão aplicação em
estágios diferentes do processo penal. Para outra doutrina, estes dois princípios são a mesma
coisa (“faces da mesma moeda”).

• Princípio da legalidade da prova (nem toda a doutrina o considera um princípio autónomo) –


este está previsto no art. 125º do CPP, que tem uma regra gera relativamente à prova, sendo
admissíveis as provas em processo penal, que não sejam proibidas por lei. Este artigo 125º não
traz uma lista taxativa de meios de prova, dá abertura para a utilização de toda e qualquer prova,
desde que não ultrapasse certos limites consagrados na lei e na CRP. Os limites à prova
encontram-se, desde logo, na CRP:
o Art. 25º: diz que a integridade moral e física das pessoas é inviolável e acrescenta que
ninguém pode ser submetido a tortura ou a tratos cruéis….
o Art. 26º/1 e 2: consagra os direitos de personalidade (bom nome, imagem, vida privada e
familiar) e diz que deve ser garantia a proteção destes direitos fundamentais. O nº2
demanda uma leitura cuidada: a chave aqui é da obtenção ou utilização abusiva.
o Art. 34º/1: o domicílio e a correspondência são invioláveis, e ninguém pode entrar no
domicílio de outrem sem ordem ou mandado judicial. O nº4 acrescenta que é proibida a
ingerência das autoridades nas telecomunicações e demais meios de comunicação a não
ser nos demais casos previstos no processo penal.
o Art. 32º/8: são nulas as provas obtidas mediante tortura, coação, ofensa à integridade
física ou moral, abusiva intromissão na vida privada, domicílio, correspondência ou
telecomunicações (aglutina todos os anteriores).

Já no CPP, o art. 126º concretiza alguns destes limites constitucionais. Quando o legislador fala em
métodos proibidos de prova, deve entender-se que se inclui também os métodos proibidos de obtenção
de prova. Desde logo, o nº1 diz que não podem ser utilizadas provas obtidas mediante tortura, coação ou
em geral ofensa da integridade física ou moral das pessoas. o 126º/1 corresponde ao 32º/8 da CRP, parte
inicial. O 126º/3 diz que ressalvados os casos previstos na ei, são igualmente nulas as provas obtidas
mediante intromissão na vida privada, domicílio, correspondência ou nas telecomunicações sem o
consentimento do respetivo titular. O nº3 corresponde ao 32º/8, parte final da CRP. Assim, entende-se
que a nulidade pode ser sanada se tiver havido consentimento ou tiver sido usado meio de obtenção de
prova legalmente admissível. O art. 187º do CPP são um meio de obtenção de prova que implica
ingerência nas telecomunicações e na vida privada das pessoas, o que não significa que seja nula, mas
sob a verificação dos pressupostos legais.

O 126º/1, parte final é concretizado pelo nº2 (“ofensa à integridade física ou moral”). Se houver
desrespeito pelo princípio da legalidade da prova temos a sanção da nulidade das provas obtidas. Para
além de as provas serem nulas, é também proibida a sua valoração (art. 118º/3).

Outro aspeto importante é que, havendo utilização de meios proibidos de prova, pode haver mais tarde a
possibilidade de um recurso extraordinário de revisão (449º/1, e)).

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A nulidade da prova do 126º é diferente consoante estejamos perante os nº 1 e 2 ou perante o nº3. Se o


método proibido for o previsto nos nºs 1 e 2, temos uma nulidade absoluta e que pode ser conhecida
oficiosamente ou a requerimento. No fundo, é uma nulidade que é insanável. A nulidade do nº3 é relativa,
normalmente, são conhecidas a requerimento dos sujeitos e são nulidades que podem ser sanadas,
nomeadamente, através do consentimento do titular do direito afetado. Um outro aspeto é que a prova
proibida contamina a restante prova, se existir um nexo de dependência valorativa, lógica e cronológica
entre as duas provas.

Esta ideia decorre de algo que foi muito trabalhado nos EUA – teoria do fruto da árvore envenenada.
Suponha-se que no processo penal se realiza uma escuta ilegal e obtém-se informação de que
determinado sujeito tem armas em sua casa, e depois realiza-se uma busca domiciliária. A própria busca
é nula porque fica contaminada pela nulidade da escuta telefónica. Esta doutrina é de inícios do séc. XX,
mas tem sido adotada em PT. Há, no entanto, quem considere que é possível limitar os efeitos
contaminadores desta doutrina: a restante prova pode ser utilizada se se considerar que a sua descoberta
seria inevitável no decurso do processo penal, independentemente da produção da prova proibida.
Quanto mais desfasada (temporalmente) for a prova proibida das restantes provas, menor será o efeito
contaminante.
Os métodos proibidos de prova não se confundem com as regras de produção de prova, são matérias
distintas. A proibição de prova são limites à descoberta da verdade, pois levam à proibição da valoração
da prova obtida. Ao passo que as regras de produção de prova visam apenas disciplinar a forma como a
prova é produzida ou realizada.

Princípios relativos à forma:

• Princípio da oralidade – a forma de se atingir a decisão final é, em regra, oral. Ou seja, os atos
processuais, em regra, devem processar-se de forma oral, e não escrita. Característica que
distingue os processos acusatórios dos inquisitórios, em que tudo era escrito. Este princípio não
obsta a que a prova produzida em tribunal seja documentada (363º e 364º), devendo sempre ser
documentadas na ata, sob pena de nulidade. Em regra, só podemos ter a oralidade, mas
excecionalmente pode haver recurso a documento escritos (ex: leitura de declarações do arguido
em sede de julgamento – 357º/1, b)). Esta norma sofreu alteração em 2013, sendo que antes só
era permitida a reprodução de declarações quando houvesse contradição em fases anteriores
(não é necessário que seja perante o JIC, mas também perante o MP).
• Princípio da imediação – está ligado ao princípio da oralidade, na medida em que, a imediação
implica a existência de uma proximidade entre o tribunal e os sujeitos e participantes processuais.
É necessário garantir, para que o tribunal forme a sua convicção, que, por exemplo, os
testemunhos sejam prestados perante o tribunal. Estes princípios são impostos desde logo, pela
livre apreciação da prova, não importando apenas as palavras que são ditas, mas a forma e modo
como são ditas. São ainda importantes para um efetivo exercício do contraditório, para o princípio
da acusação, princípio da investigação, etc. todos esses princípios acabam por ser preenchidos
por estes dois princípios da oralidade e da imediação. Estes princípios têm consagração legal e
constitucional: 206º CRP + 96º, 129º, 298º CPP
• Princípio da publicidade – este princípio é um dos princípios gerais do processo penal e, no
fundo, implica a assistência do público a atos processuais. Este constitui a abertura do processo
penal a pessoas que não são, nem sujeitos, nem participantes processuais. Isto implica que, em
regra, a audiência do processo penal seja pública. Este princípio acaba por ser importantíssimo
na medida em que evita que a justiça seja feita de forma isolada da restante comunidade. O
exercício da justiça que se quer transparente e imparcial é, de certa forma, um exercício público.

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O facto de termos o princípio da publicidade leva a que possamos controlar a atividade


jurisdicional, porque está exposta aos olhos públicos, e, por outro lado, temos ganhos ao nível da
prevenção geral positiva (questão do reforço da confiança da sociedade na força e validade das
normas jurídicas). Este princípio está exposto não apenas na CRP, mas também no CPP. Um
artigo da CRP importante é o 206º, “audiências dos tribunais”. O CPP vai no mesmo sentido no
art. 321º/1. O regime da publicidade é algo que está claramente previsto para a fase de
julgamento. Embora possamos ainda acrescentar que a publicidade é a regra que norteia todo o
processo penal, também nas fases prévias ao julgamento. O art. 86º do CPP consagra a regra da
publicidade. Como qualquer regra, tem exceções/limitações:
o Em determinadas situações, nomeadamente, para salvaguardar o normal funcionamento
da justiça, pode-se restringir a publicidade do ato processual que é a audiência de
julgamento (206º)
o A própria CRP prevê o segredo de justiça (20º/3). Isto significa que, contrariamente ao
que tínhamos até 2007 (a publicidade era a exceção), todo o processo penal é público. É
possível que, na fase de inquérito, seja proferido um despacho de sujeição do processo a
segredo de justiça (86º/2 CPP), quando se entenda que a publicidade pode ser prejudicial.
Quem tem competência para emitir este despacho é o JIC, mediante requerimento do
arguido, assistente, ou do ofendido e ouvido o MP. Embora o MP seja o dominus do
inquérito, no aspeto da publicidade tem uma posição secundária, sendo apenas ouvido.
Mas o MP tem alguma margem de ação, nomeadamente, nos termos do nº4, que diz que,
no caso de o processo ter sido sujeito a segredo de justiça, o MP pode determinar o seu
levantamento em qualquer momento do inquérito. E, se, porventura, houver requerimento
pelos sujeitos processuais para levantar o segredo de justiça e o MP não concorde, há
recurso ao JIC. É criticável por muita doutrina que o MP tenha posição subsidiária em
relação ao JIC, quer nos termos do nº2, quer do nº3 do 86º.

O segredo de justiça leva a que seja proibida, desde logo, a assistência ou participação
em determinados atos processuais. Implica ainda a proibição da divulgação de que
determinado ato processual ocorreu e o modo como ocorreu (86º/8, a) e b)). Este segredo
de justiça vincula os sujeitos e participantes processuais, bem como as pessoas que
tiverem tomado contacto com o processo OU tenham tido conhecimento de elementos a
ele pertencentes. Esta norma é importante porque sofreu alterações: anteriormente, era
necessário que alguém tivesse tido contacto com o processo E conhecimento do conteúdo
do processo. Isto levou a um alargamento da incriminação em caso de violação do
segredo de justiça. Art. 89º/1 diz que durante o inquérito, o arguido, assistente, ofendido,
lesado e responsável civil, podem consultar o processo mediante requerimento, salvo o
MP se oponha no caso de se tratar de segredo de justiça. O segredo de justiça pode ser
interno (vincula sujeitos ou participantes processuais) e externo (vincula também as
pessoas que não têm uma posição processual). A violação do segredo de justiça leva a
responsabilidade criminal, nomeadamente, por força do 371º do CP, mas também pelo
art. 86º do CPP. O segredo de justiça tem uma duração limitada e isso significa que,
encerrando o inquérito, os sujeitos e participantes processuais podem, desde logo, aceder
aos documentos que fazem parte dos autos. Poe também acontecer que o inquérito não
seja encerrado, mas os prazos do inquérito sejam ultrapassados – coloca-se a questão
se o segredo de justiça está vinculado aos prazos do inquérito. O 89º/6 diz que o JIC pode
adiar o acesso aos autos por um período de 3 meses, desde que se trate de criminalidade
grave, e se considera indispensável para que a investigação tenha sucesso. O 87º/3 dá
exemplos de casos em que a publicidade é, em regra, afastada.

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A assistência a atos processuais tem de ser lida a partir do art. 86º/6 e 87º. O 371º/5 prevê
também um caso em que a publicidade é afastada. Ver 88º/2, a), b) e c). Se houver
transmissão de audiências de julgamento a pena pode ser a prevista para o crime de
desobediência simples. Também o nº4 pune com desobediência simples outras situações.
A responsabilidade das pessoas coletivas só acontece nos casos taxativos do art?

Presença e falta de sujeitos e participantes processuais

• Arguido
Sempre que se inicia uma audiência de julgamento, um funcionário do tribunal desloca-se aos corredores
do tribunal e identifica o processo em alta voz e chama as pessoas que devem intervir na audiência de
julgamento. Há uma folha de presenças que o funcionário vai preenchendo. Se não estiverem todos
presentes nesse primeiro momento, volta a fazer-se uma segunda chamada, comunicando-se depois ao
juiz quem está presente ou não (329º). Uma das pessoas que deverá estar presente é, naturalmente, o
arguido. O arguido tem direito e dever de estar presente na audiência de julgamento. A sua presença vai
dar cumprimento a duas finalidades do processo penal, essencialmente: finalidade de realização da
justiça e descoberta da verdade material e; concretização da finalidade de proteção dos direitos
fundamentais do arguido. A sua presença é, em regra, obrigatória (332º/1 e 61º/1, a)). Coloca-se a
questão de saber o que acontece quando o arguido não está presente. O arguido que tenha sido notificado
de forma regular, tem obrigatoriedade de estar presente. Caso não esteja, o tribunal pode proceder ao
julgamento dessa pessoa sem a sua presença. O art. 333º/1 diz-nos que, se houver uma notificação
regular do arguido, o tribunal pode avançar com o julgamento desse arguido se esse tiver faltado. Temos
de estabelecer várias possibilidades. O art. 333º aplica-se nas situações em que deve proceder-se a
audiência de julgamento porque o arguido faltou e há uma iniciativa do tribunal no sentido de proceder a
audiência sem este. O 334º prevê as situações em que há audiência de julgamento na ausência do
arguido por iniciativa do próprio arguido. O 335º aplica-se nas situações em que o arguido não foi
notificado regularmente ou não seja possível proceder à sua detenção ou realizar a prisão preventiva.
Uma outra situação prevista no 335º é quando se tenha detido ou esteja em prisão preventiva o arguido,
mas este tenha conseguido fugir.
• 333º - pressupostos:
o Existência de uma notificação regular do arguido – há um despacho descrito no 313º que
designa o dia para a audiência, e esse despacho tem de ser notificado ao arguido por
contacto pessoal ou por carta registada (113º/1, a) e b)). O que se opõe a estas vias é a
carta postal simples (113º/1, c)). A via postal simples é possível porque o arguido prestou
o TIR e, assim, dá uma morada onde pode ser encontrado. A partir desse momento, torna-
se possível a notificação do despacho de audiência por via postal simples. É necessário
que se articule o 313º com o 113º/1, c) e com o 196º/2 que diz respeito ao TIR. O próprio
61º/3, c) diz-nos que a partir do momento em que alguém é constituído arguido tem de
prestar o TIR.
o Tribunal não considerar indispensável a presença do arguido desde o início da audiência
– o tribunal tem sempre as medidas necessárias para que o arguido seja obrigado a estar
presente, nomeadamente, a detenção e pagamento de uma multa ou ainda medida de
prisão preventiva, se for legalmente admissível (116º/2). O 254º diz respeito à detenção
e, no caso, poderá ser aplicável o 254º/1, b). Uma primeira questão que se pode suscitar
é se o juiz deve obrigatoriamente mandar deter ou aplicar prisão preventiva e só depois é
que poderá, em caso de insucesso, é que poderá avançar com a audiência sem a
presença do arguido. Esta questão da tomada de medidas tem suscitado muita polémica

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jurisprudencial e há muitas decisões das relações que dizem que, se o presidente do


tribunal levar a cabo audiência de julgamento sem ter tomado uma destas medidas, estará
a praticar um ato nulo (a audiência). Este assunto foi objeto de imensa polémica e chegou-
se ao ponto de o STJ ter opinião contrária à das relações, e houve um acórdão de fixação
de jurisprudência para tomar uma posição: STJ diz que não é obrigatória a emissão de
mandato de detenção nem a aplicação de prisão preventiva para que a audiência de
julgamento possa continuar. Claro que isto só é possível se o tribunal considerar que a
presença do arguido desde o início da audiência não é indispensável para a descoberta
da verdade material.
Sempre que o tribunal considere que é indispensável ter o arguido na audiência desde o
seu início e o arguido tenha sido notificado regularmente e faltado, o tribunal tem a
possibilidade de adiar a audiência de julgamento nos termos do 333º/1, parte final. Se
considerar que não é indispensável, o tribunal pode continuar a audiência de julgamento
sem a presença do arguido. Quando a audiência prossegue sem o arguido, este poderá,
eventualmente, participar ainda na audiência, por exemplo, numa segunda data (333º/3).
O direito de ser ouvido mantém-se, assim como no caso de o arguido faltar
justificadamente (117º/2 e 3). Se tivermos uma situação de falta justificada do arguido e a
sua presença é considerada indispensável para a descoberta da verdade material, o que
o tribunal deve fazer é adiar a audiência. Se, porventura, a falta for injustificada e o tribunal
considerar que a presença é indispensável, então deve, por exemplo, emitir um mandado
de detenção do arguido. Se a presença do arguido não for indispensável e este faltar
temos duas hipóteses: falta justificada ou injustificada. Se a falta é justificada, a audiência
continua, mas o advogado pode requerer que o arguido seja ouvido na segunda data da
audiência de julgamento. Se a presença não for indispensável e a falta for injustificada
pode, no limite, acontecer que a audiência se desenrole e encerre, mesmo na ausência
do arguido. E o defensor não tem legitimidade para requerer a audição do arguido numa
segunda data.

• 334º/2 - pode ainda acontecer que o próprio arguido dê consentimento ou requeira que a audiência
de julgamento ocorra sem a sua presença, no entanto, o arguido não tem plena liberdade para decidir
se está ou não presente. O julgamento na sua ausência só tem lugar se o tribunal concordar com o
pedido do arguido, porque o nº3 do 334º limita o nº2. O 334º tem ainda uma outra hipótese, que
remete para uma outra matéria, que tem que ver com as formas especiais do processo (334º/1). Esta
situação é muito específica, mas é uma hipótese que, para muita doutrina, provavelmente já nem
deveria estar prevista no CPP, porque é contraditória e incoerente. Isto é, havendo processo
sumaríssimo temos um arguido, e assim o arguido prestou o TIR, e tendo-o o feito, em regra, foi
notificado regularmente, aplicando-se a regra prevista no 333º.

O 334º/4 diz que, sempre que haja audiência de julgamento sem o arguido, tem de estar presente o seu
defensor (irrenunciável), porque o defensor vai zelar pelos interesses do arguido. O mesmo acontece no
333º/7.
A decisão final tem de ser notificada pessoalmente ao arguido, em caso de ausência deste. Não é possível
haver notificação da sentença ao arguido por intermédio do defensor (334º/7), nem por via postal simples.
Isto releva para contagem de prazos de interposição de recurso, sendo necessário que haja a certeza de
que o arguido teve conhecimento da sentença e quando. Há quem entenda que, para além do contacto
pessoal, é possível a notificação por via postal registada. Mas a jurisprudência maioritária vai no sentido
de que a notificação seja pessoal. Ainda, a notificação através do defensor não é eficaz.

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• 335º - aplica-se nas situações em que não há sequer notificação do arguido. O meio aqui é o da
notificação edital (prazo de 30 dias). Caso não compareça, o arguido pode ser declarado contumaz.
Ou seja, se o arguido não for notificado regularmente ou não seja possível assegurar a sua presença
através de detenção ou de prisão preventiva, o arguido pode ser declarado contumaz se não se
apresentar em juízo no prazo fixado na notificação edital. A contumácia é um instrumento utilizado
pelo tribunal para desmotivar a ausência do arguido na audiência de julgamento. Tenta compelir-se o
arguido através da contumácia, que vai ter certos efeitos que vão limitar direitos do arguido. Efeitos
da contumácia (337º):
o Emissão de mandado de detenção ou prisão preventiva
o Eventual anulabilidade dos negócios jurídicos de natureza patrimonial celebrados após a
declaração
o Pode ainda ficar proibido de solicitar ou obter documentos públicos, nomeadamente,
certidões ou registos junto de autoridades públicas
o Podemos ainda ter o arresto dos bens do arguido

Notificação da acusação ou de requerimento de abertura de instrução: se o processo tiver prosseguido


sem a notificação da acusação ao arguido, pode ser feita a notificação logo que este se apresente a juízo
ou seja detido (336º/3). Portanto, há sempre possibilidade de o arguido depois participar no processo.

• MP ou defensor
O art. 330º ocupa-se da falta do MP e do defensor. O nº1 diz que o presidente procede, sob pena de
nulidade insanável, à substituição do MP e também procede à substituição do defensor por um outro
advogado ou advogado estagiário. Tem de haver substituição porque estas figuras são imprescindíveis
para que a audiência possa continuar/começar. Ver 116º/3.

• Representante do assistente ou de partes civis


A audiência, nestes casos, prossegue (330º/2). Se estivermos perante um crime particular – 330º/2, parte
final. Se houver uma fata injustificada ou uma segunda falta do representante do assistente, considera-
se que há desistência da acusação, e o processo termina.

• Assistente, testemunhas, peritos, consultores técnicos ou partes civis


331º - não há lugar a adiamento da audiência.

Ø Ordem de produção de prova: em regra p juiz quando dirige o julgamento deve seguir
uma determinada ordem quanto à produção de prova – habitualmente a ordem seguida é
a estabelecida no art. 341º CPP:
1. Declarações do arguido (podem assumir vestes distintas);
2. Produção de prova levada a cabo pelo MP, pelo assistente e pelo lesado;
3. Apresentação de meios de prova por parte do arguido e pelo responsável civil.

Art. 360º - alegações orais.

A discussão de julgamento termina com declarações do arguido. (361º)

Ø Fase da sentença: corresponde ao ultimo ato do julgamento. É o ato que surge depois da
discussão (361º). Há uma tomada de decisão sobre o objeto do processo, que pode ser
uma de duas: condenação ou de absolvição (absolutória). A sentença observa uma de

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duas formas: sentença se estivermos perante um tribunal singular ou um acórdão se


estivermos perante um tribunal coletivo ou de júri.

Ø Para a formulação da sentença temos de percorrer 3 fases: (365º e ss)


i. Deliberação e votação (365º e ss): neste primeiro momento o tribunal vai ter de
decidir de 1 de duas questões: culpabilidade ou não do arguido (368º); e tem de
ser decidia a sanção (espécie e medida) – art. 369º25.
ii. Elaboração e assinatura da sentença (372º e ss): obedece a uma certa
estrutura: a sentença tem de ter uma certa estrutura (3 partes): relatório (374º/1),
fundamentação (normalmente a parte mais extensa da sentença – 374º/2 – é
quase tão importante como a fase final: o dispositivo) e dispositivo (parte final da
sentença – 374º/3 – contém uma serie de elementos, desde logo as normas legais
aplicáveis; a decisão (se é condenatória ou absolutória); para além disso no
dispositivo tem de se dizer qual o destino a dar às coisas ou objetos relacionados
com o crime; há ainda a remessa para o registo criminal; e por exemplo, nos
crimes contra a autodeterminação ou liberdade sexual esse registo tem de ser
feito na base de dados (Lei 103/2015); pode também ser importante inserir o perfil
genético do arguido ADN (Lei 5/2008) – faltando um dos elementos teremos uma
nulidade (379º/1 a)).
iii. Leitura da sentença (373º): normalmente o que acontece é que é encerrada a
discussão e a leitura da sentença é marcada para data posterior.

Processos especiais

O que temos falado é do processo comum, temos, no entanto, formas especiais: 381º e ss):

Ø Processo sumário (381º a 391º):

O processo sumário está previsto nos 381º e ss. Para que este tenha lugar, há elementos que têm de
estar presentes. Desde logo, são jugados em processo sumário os sujeitos que sejam detidos em
flagrante delito. Tem de estar também em causa um crime punível com pena de prisão não superior a 5
anos (ou seja, igual ou inferior), mesmo em caso de concurso de infrações. Para além disso, o 381º/1 tem
mais dois pressupostos ou circunstâncias: a detenção tem de ser levada a cabo pela entidade judiciária
ou entidade policial, ou se, porventura, a detenção for feita por outra qualquer pessoa, o detido tenha sido
entregue no prazo máximo de 2h. há uma pequena particularidade quanto ao limite máximo da pena de
prisão aplicável, dizendo o 281º/2 que pode ser usado o processo sumário mesmo nos casos de crimes
com pena máxima superior a 5 anos se o MP entender que no caso em concreto deve ser aplicada pena
igual ou inferior a 5 anos.

A consequência da utilização do processo sumário, na prática, significa que a audiência de julgamento


deve ser realizada no prazo máximo de 48h (382º). Esta celeridade explica-se pelo facto de alguém ter
sido detido em flagrante delito e portanto, os indícios da prática do crime são extremamente fortes. Para
além do mais, essas entidades que procederam à detenção, em regra, prestarão depoimento durante a

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é de tal forma complexa que pode dar-se o caso da audiência ter de ser aberta para determinada sanção (371º).

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audiência, o que torna a prova incriminatória bastante forte. Só poe isso é que é possível que o julgamento
seja feito no prazo de 48h.

O 386º/2 diz-nos que os atos e termos do julgamento são reduzidos ao mínimo indispensável ao
conhecimento e boa decisão da causa. Isto é, há uma simplificação do processo tendo em conta a forma
como foi detido o arguido e a prova existente. Isto significa que, basicamente, não há inquérito. O que
acontece é que, quase nem há acusação por parte do MP (289º). Para além disso, não há instrução. E
por outro lado, a audiência de julgamento deve ter início dentro das 48h subsequentes à detenção e a
própria audiência tem uma produção de prova que é mínima (389º/3 e 4). A intervenção dos sujeitos e
participantes processuais é também bastante reduzida (30min.). De acordo com o 389º-A/1, a sentença
é logo proferida oralmente com os elementos do 374º. Só é admissível recurso da sentença ou do
despacho que puser termo a processo, não sendo possível recorrer sobre toda e qualquer decisão.

Este processo é mais flexível e não tão complexo como o processo penal comum, e é tendencialmente
rápido. No entanto, podemos ter situações de alargamento dos prazos previstos. Esse alargamento está
previsto no 387º, assim como o prazo regra de 48h. O nº2 do 387º prevê que a audiência possa ser
prorrogada por 20 dias caso o arguido tenha requerido prazo para preparação da sua defesa. Para além
disso, também o MP pode requerer esta prorrogação de 20 dias. Podemos ainda ter um alargamento de
15 dias para se tentar chegar ao arquivamento do processo, ou um prazo de 5 dias apra a questão da
libertação do arguido.

Quando não são cumpridos os prazos (violação), o processo passa a ser um processo penal comum
(390º). Nas 3 situações do 390º/1 temos o reenvio do processo para outra forma.

O processo sumário ainda tem algumas particularidades, nomeadamente, quanto à questão civil. No
processo penal comum, o pedido de indemnização civil é feito juntamente com o processo penal. O
processo sumário é uma das situações em que o pedido de indemnização civil pode ser deduzido em
separado (72º/1, h)). No entanto, no art. 388º, parece haver a possibilidade de as partes civis intervirem
no processo sumário. O que temos neste artigo são duas possibilidades: ou as partes civis entendem que
a formulação do pedido de indemnização civil vai demandar tempo que não seja compatível com o tipo
de prazos previstos no processo sumário, caso em que têm a possibilidade de deduzir o PIC em separado;
se acharem que não precisam de recorrer a um tribunal civil e acharem que a audiência de julgamento é
suficiente para decidir do pedido, podem constituir-se como partes civis. O processo sumário é ainda
compatível com esta decisão civil, na medida em que temos fase de audiência de julgamento, espaço
temporal suficiente e adequado para decidir sobre matéria civil.

Ø processo abreviado (391º a) a g)):

O processo abreviado está previsto nos 391º-A e ss. Desde logo, no processo abreviado, não temos
obrigatoriamente uma detenção em flagrante delito. Para que haja processo abreviado temos de estar
perante um crime punível com pena de multa ou com pena de prisão não superior a 5 anos. Têm de existir
provas simples e evidentes de que resultem indícios suficientes sobre a existência do crime e do seu
autor. o 391º-A dá esta possibilidade ao MP de deduzir acusação para julgamento em processo abreviado,
preenchidos os 2 pressupostos.

Tal como no processo sumário, pode acontecer que o crime seja punível com pena prisão superior a 5
anos, mas o MP entenda que no caso concreto a pena não deve ser superior a 5 anos.

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Um pouco mais complexo é perceber o que são “provas evidentes que possam suportar indícios
suficientes”. No 391º-A/3 temos a previsão do que são provas simples e evidentes.

Estamos a falar de um tipo de processo em que há uma forma mais célere de julgamento, quando
comparada com o processo comum, e essa forma mais célere consiste no encurtamento de prazos. Os
prazos são os normalmente associados a cada uma das fases processuais. a fase de inquérito tem, no
fundo, a duração máxima de 90 dias. Para além disso, não há lugar a instrução, o que significa que,
depois de deduzida acusação, passamos imediatamente para o saneamento do processo, nos termos do
391º-C, ou seja, o juiz vai avaliar se a acusação obedece aos pressupostos legais e se nada obsta à
apreciação do objeto do processo em fase de audiência de julgamento. A audiência tem de ser realizada
no prazo de 90 dias após a dedução da acusação (ESTA NORMA FOI REVOGADA). Ainda, são
aplicáveis algumas normas do processo sumário, nomeadamente, 391º-E/2.

O processo abreviado termina com a sentença, que obedece ao disposto pelo 391º-F e 389º-A/1.

Sobre as formas especiais do processo em geral:

103º/2, a) e c) – sobre as férias.

Atentar no art. 286º/3 – não há lugar à instrução nas formas especiais.

Há possibilidade de o PIC ser deduzido em separado (72º/1, h)).

Atentar ainda que a fase da audiência tem de ter o seu início no prazo de 90 dias, mas a norma que previa
isso foi alterada, seguindo-se os termos normais do processo comum em termos de prazos.

NOTA: questão de se poder ter o pedido de indemnização civil no âmbito do processo penal –
possibilidade
do pedido poder ser deduzido em separado (o art. 72º/1 h) diz que o pedido pode ser deduzido em
separado quando o proc. Penal tiver a forma sumária ou sumaríssima).

Um último aspeto tem a ver com o prazo da audiência – o facto de a audiência tem de ter o seu inciio no
prazo de 90 dias (este prazo foi revogado).

Ø processo sumaríssimo (392º a 398º)

Última forma de processo especial do processo penal. Os processos sumaríssimos têm alguns
pressupostos (392º): um deles é a gravidade do crime (392º/1).

Podemos ter a forma sumaríssima do processo se estiver em causa um crime punido com pena de prisão
não superior a 5 anos ou com pena de multa (tem então de ser um crime de gravidade leve a média).

O que vai distinguir está forma especial nas restantes e o que vem no 392º/1 in fine - pode aplicar-se
quando o MP entenda que no caso se deve aplicar uma pena ou medida de segurança não privativas da
liberdade. MP ter o entendimento de que não se deve aplicar uma dona de prisão ou o internamento de
inimputáveis no caso em concreto. Tem de ser uma pena não privativa da liberdade. Isto significa que ou

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se aplica uma pena de multa ou outra pena que não seja privativa da liberdade (ex: prestação de trabalho
em favor da comunidade).
Então este número está pensado sobretudo para os crimes publico e semipúblicos. Quando temos crimes
particulares é preciso obter se o consentimento do assistente nos termos do 392º/2.

392º/1 + obter o consentimento do assistente (392/2).

Um aspeto importante é saber se o MP tem margem de oportunidade quanto ao requerimento do processo


sumaríssimo, ou seja, preenchidos os pressupostos ele deve ou poder requerer o processo? Se nós
olharmos para o 392º/1 vemos que o legislador quis incutir a ideia de obrigatoriedade do MP.

Se o crime não for punido com pena superioridade a 5 anos e MP entender que não se deve aplicar
medida privativa de liberdade, então deve requerer o processo sumaríssimo. No fundo, o que temos é
quase uma espécie de sanção consensual, um acordo. O 392º estabelece este dever do MP solicitar o
processo sumaríssimo. Mas o processo sumaríssimo também pode ser desencadeado pelo arguido se
este entrar em contacto com o MP e solicitar o processo sumaríssimo (estando quase a admitir a sua
culpa quando à pratica do crime). Então o processo sumaríssimo e de iniciativa do MP, mas este pode
usá-lo por iniciativa própria ou do arguido.

Então temos aqui uma proposta de sanção feita pelo MP, que tem de obter a concordância do arguido.

Se não concordar com a sanção, passamos para outra forma de processo, nomeadamente a comum 394º
e 397º.
Temos duas figuras importantes aqui: o MP e o arguido. A função do MP é quase residual (praticamente
só homologa o que o MP dita).

394/1 - O processo sumaríssimo está dependente de requerimento do MP, por escrito. Nesse
requerimento tem de contra uma série de elementos: identificação do arguido, descrição dos factos e
normas aplicadas, as razões pelas quais o MP entende que não deve ser aplicada pena de prisão ou
medida de segurança privativa de liberdade
N2- MP tem de propor concretamente uma sanção e indicar a reparação que possa ser atribuída à vítima
Então temos este requerimento feito pelo MP, que está obrigado a fazê-lo sempre que cumpridos os
pressupostos do 392

O que temos aqui é uma proposta de sanção com a qual o arguido tem de concordar (394º e 397º).

Depois de recebido o requerimento o juiz pode aceita-lo ou rejeita-lo. Pode rejeitar desde logo quando
entende que a sanção que está a ser imposta pelo MP não cumpre as finalidades preventivas do art.
40º/1 – 395º/1 c). nesta hipótese o juiz tem uma alternativa que é fixar uma sanção distinta daquela que
foi proposta pelo MP. Também pode rejeitar quando for inadmissível o procedimento - 395/1/a; e ainda
quando o requerimento for manifestamente infundado aceitar.

Passando esta primeira fase por parte do juiz, passamos para um crivo seguinte: se o arguido concorda
ou não com a sanção que lhe foi atribuída. O arguido é notificado, tem um defensor (396º).

A oposição pelo arguido pode ser feita por uma simples declaração e havendo esta oposição ao
requerimento do MP naturalmente que deixamos de poder seguir com o processo sumaríssimo e
passamos para outra forma de processo (398º). duas hipóteses são: o arguido não concordar com a

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sanção que lhe está a ser imposta; ou o arguido concorda (397º) e o juiz aplica a sanção e condena no
pagamento da taxa de justiça (o juiz tem a função de pegar no que vem no requerimento do MP e aplicar
ao arguido).

397º/2 – diz que tendo havido concordância do arguido na sanção, o arguido será então condenado e
não poderá recorrer da sanção que lhe foi aplicada – sentença condenatória, mas o arguido não pode
recorrer dessa sanção, claro que pode parecer um pouco contrassenso se compararmos ao processo
comum, contudo aqui chegou-se à sentença condenatória com o consentimento do arguido, como tal não
faria sentido haver possibilidade de recurso.

O 393º não admite em regra a existência de partes civis, no entanto há uma pequena exceção (nº2) que
permite ao lesado manifestar o seu interesse em obter uma indemnização dos danos que deve ser feita
ate ao requerimento do MP.

Como conseguimos perceber esta forma de processo é rápida, que visa lidar com criminalidade leve, que
dispensa fases processuais (instrução, julgamento e fase de recurso).

É uma forma especial que se caracteriza sobretudo por uma procura de consenso entre os sujeitos
processuais (nomeadamente MP e arguido) quando a sanção a aplicar nessa situação (não há
propriamente aqui uma privatização do DP, e, que tudo é resolvido pelas partes. Não há esta privatização
porque temos uma válvula de escape que nos permite salvaguardar sempre as necessidades preventivas
gerais nomeadamente. Daí a importância de termos o juiz como um crivo para aferir se a sanção e a mais
adequada ou não ao caso em concreto) então o juiz, apesar de ter uma atuação residual, tem uma função
importante pois vai compatibilizar a sanção proposta pelo MP com as finalidades apontadas as penas e
medidas de segurança no 40/1 e 40/2 (não aprece que as finalidades preventivas e a culpa saiam
prejudicadas pelo recurso ao processo sumaríssimo).

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Índice:

Direito processual penal (introdução)......... pág. 1


Relação entre processo penal e direito penal...... pág. 3
Critérios distintivos entre o processo civil e processo penal.... pág. 4
Conformação constitucional do processo penal…. pág. 6
Finalidades do processo penal.... pág. 7
Estrutura/modelos/tipos do processo penal.... pág. 9
Aplicação do direito processual penal.... pág. 12
Sujeitos processuais.... pág. 14
Participantes processuais…. pág. 26
Fase de Inquérito/princípios.... pág. 29
Fase de instrução... pág. 45
Medidas de coação.... pág. 49
Meios de prova e meios de obtenção de prova..... pág. 53
Fase de julgamento…. pág. 59
Presença e falta de sujeitos e participantes processuais…. pág. 66
Processos especiais…. pág. 69

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