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Relaxamento de Prisao em Flagrante
Relaxamento de Prisao em Flagrante
com fulcro no artigo 5º, LXV [1] e LXVI [2], da Constituiçã o Federal, bem como no art. 310, I
[3], III [4], e art. 321 [5], todos do Có digo de Processo Penal, pelas razõ es de fato e de
direito que passa a aduzir.
· Ausência de Indícios suficientes de autoria;
· Violação de Domicílio;
· Clara perseguição da PM local.
I. DOS FATOS
Vale ressaltar que foram encontradas 4 porçõ es de substâ ncia com características de OXI
(massa de 2,5g), um involucro de substâ ncia desconhecida (massa de 13 g), uma colher e
um prato com resquícios de pó branco (auto de exibição e apreensão – mov. 1.12).
Insta informar que o Laudo de Exame de Constataçã o Preliminar (mov. 1.15), informa que
o “pó branco” apreendido nã o possui origem conhecida, ou seja, não se pode afirmar que
seria substância entorpecente.
Excelência, o que é possível inferir dos autos é que existiam pessoas reunidas em
confraternizaçã o, com uso de entorpecente, quando a polícia, como de praxe naquele local
da cidade, INVADIU A RESIDÊ NCIA, e levou todos à Delegacia.
Este que subscreve, no dia seguinte, dirigiu-se até a Cadeia local e questionou a autoridade
policial o motivo de flagranteá -los pelo crime de trá fico, haja vista nã o ter qualquer
elemento que caracterizasse a traficâ ncia, nenhuma resposta foi obtida.
Preclara Julgadora, nã o foi apreendido mais nada além das 2,5 g de OXI e uma colher e
prato sujos de OXI em pó .
O quadro que se desenha é de pessoas bebendo e usando drogas, que eram despejadas no
prato, situaçã o típica nestes tipos de situaçõ es – uso de entorpecente.
Nã o há dinheiro, linha, sacolas, balança, nem mesmo um “comprador” de produto ilícito foi
encontrado.
É fá cil inferir que os flagranteados nã o tiveram tempo de se desfazer de algo, visto que
foram pegos de surpresa, pois se assim nã o fosse teriam “sumido” com o material ilícito
encontrado – 2,5 g de OXI.
No mais, os mesmos afirmam que estariam comemorando o aniversá rio de uma criança, o
que demonstramos através da certidã o de nascimento anexa.
O que se percebe, MAIS UMA VEZ, é a sede incontrolá vel da Polícia Militar local em prender
a qualquer custo, vejamos.
Os conduzidos sã o diuturnamente perseguidos pela PM local, pois sã o taxados de bandidos.
Além mais, o Condutor afirma que o local é “ Reduto da Organizaçã o Criminosa Galerosos
do Bem”, além de afirmar que todos “os apresentados sã o reincidentes em crimes
diversos”, quando se analisa caso a caso a realidade mostra-se diferente.
Em apertada síntese, estes sã o os fatos.
Diante do exposto, nã o restou entã o senã o rogar pelo relaxamento da prisã o ilegal dos
Requerentes , haja vista os mesmos – data vênia entendimento diverso, nã o tenham
infringido nenhum mandamento da Lei 11.343/06, diferentemente do que afirma a Polícia
Militar, que, aliá s, acusa sem trazer aos autos qualquer indício suficiente de autoria delitiva,
mostrando, mais uma vez, sua vontade de prender sem limites.
Nobre Julgadora, como se verifica dos autos, todos da residência foram “pegos de surpresa”
com a invasã o da PM na residência.
Tal prá tica é comum nesta cidade.
Com efeito, a Carta Magna, em seu art. 5.º, inciso XI, preleciona que "a casa é asilo inviolável
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial".
Assim, a inviolabilidade da morada é uma das expressõ es do direito do indivíduo à
intimidade, de forma que a ressalva à franquia constitucional exige certos cuidados e
limites, também, constitucionalmente dispostos.
Interpretando tal liberdade, o colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
Recurso Extraordinário n.º 603.616/RO , sob a relatoria do eminente Ministro GILMAR
MENDES, sob o manto da repercussã o geral, definiu que o ingresso forçado em domicílio
sem mandado judicial se revela legítimo – a qualquer hora do dia, inclusive durante
o período noturno – quando amparado em fundadas razões, devidamente
justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar ocorrendo, no
interior da casa, situação de flagrante delito . In verbis:
1. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral.
2. Inviolabilidade de domicílio – art. 5.º, inciso XI, da Constituição Federal. Busca e apreensão domiciliar sem
mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado judicial para
ingresso forçado em residência em caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se
protrai no tempo.
3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca
é determinada por ordem judicial. Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para prestar socorro – a
Constituição não faz exigência quanto ao período do dia.
4. Controle judicial a posteriori. Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da
Constituição. Proteção contra ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o
ingresso forçado em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência
de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo fundamental da garantia
contra a inviolabilidade da casa (art. 5, inciso XI, da Constituição Federal) e deixaria de proteger contra
ingerências arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, art. 11, 2, e Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, art. 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da interpretação da Constituição,
quanto da aplicação da proteção consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao
ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter judicial que se incorporam à cláusula do devido processo
legal.
5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária. Não
será a constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais
devem demonstrar que havia elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida.
6. Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados .
7. Caso concreto. Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de tráfico de drogas. Negativa de
provimento ao recurso.
(STF, RE XXXXX/RO, Relator: Ministro GILMAR MENDES, TRIBUNAL PLENO, REPERCUSSÃO GERAL, Julgado em
05/11/2015, Publicado no DJe-093 do dia 09/05/2016)
(grifos nossos).
Em outros dizeres, o Pretó rio Excelso definiu que o ingresso forçado em domicílio, sem
mandado judicial, somente se revela possível, a qualquer hora do dia ou da noite, quando
amparado em fundadas razõ es, à luz do disposto no art. 240, § 1.º, do Có digo de Processo
Penal [1], devidamente justificadas pelas circunstâ ncias do caso concreto, que sejam
capazes de demonstrar estar, de fato, ocorrendo situaçã o de flagrante delito, no interior do
imó vel particular.
Excelência, quando ouvidos em sede policial, nenhum dos PM´s informa se pediram
permissã o para entrarem na casa, e todos os conduzidos sã o categó ricos em afirmar que a
PM INVADIU A CASA!
Por outro lado, é sabido que, consoante o art. 310, incisos I a III, Có digo de Processo Penal,
ao receber o Auto de Prisã o em Flagrante, o magistrado, fundamentadamente, deverá
relaxar a prisã o ilegal, converter a prisã o em flagrante em preventiva, quando presentes os
requisitos constantes do art. 312 da Lei Adjetiva Penal, e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisã o, ou conceder liberdade provisó ria,
com ou sem fiança.
Nessa linha de intelecçã o, "o primeiro passo do magistrado, ao receber o auto de prisão em
flagrante delito, diz respeito à análise da legalidade da medida constritiva. Essa análise passa
pela verificação da regularidade da prisão em flagrante, a saber: a) se o auto de prisão em
flagrante noticia a prática de infração penal; b) se o agente capturado estava em uma das
situações legais que autoriza o flagrante, elencadas no art. 302 do Código de Processo Penal;
c) se foram observadas as formalidades estabelecidas pela Constituição seja, analisando-se se
está formalmente em ordem, sem vícios formais; d) se o uso de algemas foi feito nos termos
preconizadas pela súmula vinculante n.º 11 do STF. Assim, verificada a ilegalidade da
prisão em flagrante, deve o magistrado determinar o seu relaxamento [2]."
Dessa maneira, diante do cená rio apresentado nos Autos, considerando que a abordagem
foi realizada a partir de uma observaçã o desprovida de elementos que a corroborassem, e
que, na abordagem dos Requeridos, foi encontrado apenas 2,5g de OXI (quatro trouxinhas),
resta configurada, a princípio, a ilegalidade da prisão em flagrante e, por via de
consequência, a invasão da residência do Requerido, causando a nulidade de todas
as provas obtidas na ocasião.
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO
DO DIREITO À INTIMIDADE. ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.
INVASÃO DE DOMICÍLIO PELA POLÍCIA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. TEORIA
DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. ILICITUDE CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.1. O art. 5.º, inciso XI, da Constituição Federal consagrou o direito fundamental relativo à inviolabilidade
domiciliar, ao dispor que "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial".
2. A inviolabilidade de sua morada é uma das expressões do direito à privacidade do indivíduo, o qual, na
companhia de seu grupo familiar, espera ter o seu espaço de intimidade preservado contra devassas
indiscriminadas e arbitrárias, perpetradas sem os cuidados e os limites que a excepcionalidade da ressalva a tal
franquia constitucional exige.
3. O ingresso em moradia alheia depende, para sua validade e regularidade, da existência de fundadas razões
(justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão. É dizer,
somente quando o contexto fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no
interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade do domicílio.
4. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral, que o ingresso forçado em residência sem
mandado judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno -
quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que
indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n.º 603.616/RO, Rel. Ministro
Gilmar Mendes, DJe 08/10/2010).
5. A ausência de justificativas e de elementos seguros a legitimar a ação dos agentes públicos, diante da
discricionariedade policial na identificação de situações suspeitas relativas à ocorrência de tráfico de drogas,
pode fragilizar e tornar írrito o direito à intimidade e à inviolabilidade domiciliar.
6. Tal compreensão não se traduz, obviamente, em transformar a casa em salvaguarda de criminosos, tampouco
um espaço de criminalidade. Há de se convir, no entanto, que só justifica o ingresso na moradia alheia a
situação fática emergencial consubstanciadora de flagrante delito, incompatível com o aguardo do momento
adequado para, mediante mandado judicial, legitimar a entrada na residência.
7. Na hipótese sob exame, verifica-se que: a) durante as diligências da referida ocorrência, foi acionado a equipe
de policiais com cães, ocasião em que um dos animais "entrou na residência de número 54, que estava com a
porta aberta indo diretamente ao fogão sinalizando que encontrara algo ilícito"; b) após revista em seu
domicílio, foram encontradas substâncias entorpecentes (20 gramas de maconha, distribuídas em 14 buchas,
além de 1 porção, bem como de 24 gramas de cocaína, distribuídas em 87 invólucros).
8. Em nenhum momento foi explicitado, com dados objetivos do caso, em que consistiria eventual atitude
suspeita por parte do acusado, externalizada em atos concretos. Não há referência a prévia investigação,
monitoramento ou campanas no local. Também não se tratava de averiguação de denúncia robusta e atual
acerca da existência de entorpecentes no interior da residência (aliás, não há sequer menção a informações
anônimas sobre a possível prática do crime de tráfico de drogas pelo autuado).
9. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo paciente, embora pudesse autorizar abordagem
policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a permitir o ingresso em seu
domicílio, sem seu consentimento – que deve ser mínima e seguramente comprovado – e sem determinação
judicial.
10. Em que pese eventual boa-fé dos policiais militares, não havia elementos objetivos, seguros e racionais, que
justificassem a invasão de domicílio. Assim, como decorrência da Doutrina dos Frutos da Árvore Envenenada (ou
venenosa, visto que decorre da fruits of the poisonous tree doctrine, de origem norte-americana), consagrada no
art. 5.º, inciso LVI, da Constituição Federal, é nula a prova derivada de conduta ilícita.
11. Recurso provido a fim de conceder a ordem, de ofício, para determinar o trancamento do processo.
(STJ, RHC XXXXX/MG, Relator: Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, Julgado em 13/12/2018,
Publicado no DJe do dia 04/02/2019) (grifos nossos).
Ademais, sopeso que, conforme explanado pelo Condutor, mais nada foi encontrado, nem
dinheiro, nem material para confecçã o de invó lucros de entorpecentes.
Ante o exposto, todos os atos devem ser nulificados a partir da prisã o em flagrante dos
Requerentes, nos termos dos artigos 157 [3], 573, § 1º. (fruits of the poisonous tree), c/c
395, III [5], todos do Có digo de Processo Penal, RESTANDO PREJUDICADA A PRISÃO
AQUI DEBATIDA, DEVENDO ESTA SER RELAXADA DIANTE DE SUA ILEGALIDADE.
O art. 312 do CPP preconiza que a decretaçã o da prisã o preventiva exige indício suficiente
de autoria:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria.
Na aná lise destes autos, verifica-se que apesar da apreensã o de uma mínima quantidade de
entorpecente, nada mais foi apreendido para corroborar com a tese de trá fico de drogas.
Caracteriza constrangimento ilegal a prisão cautelar quando há dúvidas acerca da participação da paciente no
crime de tráfico de drogas, devendo ser concedida liberdade provisória, para que responda o processo em
liberdade. Ordem concedida
(Habeas Corpus Nº 70045144938, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio
Ribeiro de Oliveira, Julgado em 05/10/2011)
(TJ-RS - HC: XXXXX RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Data de Julgamento: 05/10/2011, Primeira
Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 13/10/2011)
(TJ-MS - HC: XXXXX20158120000 MS XXXXX-30.2015.8.12.0000, Relator: Des. Romero Osme Dias Lopes, Data de
Julgamento: 02/03/2015, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 06/03/2015)
(g.n.)
Assim, conforme tudo que foi demonstrado acima, com base e fundamento no devido
processo legal, na dignidade da pessoa humana, na presunçã o de inocência, dentre outros, é
que a defesa ROGA PELO RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE DOS ACUSADOS,
por ausência de indícios de autoria do delito a eles imputados, qual seja, Trá fico de Drogas.
[2] LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3.ª ed. Salvador: Juspodivm,
2015, pág. 920.
[3] Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
[4] Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos
anteriores, serão renovados ou retificados.
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente
dependam ou sejam consequência.
[5] Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).