Você está na página 1de 12

EXMA.

SENHORA DRA JUÍZA DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE LÁBREA –


AMAZONAS

URGENTE: RÉUS PRESOS

PARACELSO, JAN BAPTIST VAN HELMONT , MARIE CURIE, ANTOINE LAVOISIER e


DIMITRI MENDELEEV, devidamente qualificados nestes autos, vêm, por intermédio de seu
advogado devidamente constituído – endereço no rodapé desta, onde receberá intimaçõ es,
à presença de V. Exa. intentar o presente pedido de

RELAXAMENTO DE FLAGRANTE ou LIBERDADE PROVISÓRIA c/c APLICAÇÃO DAS


MEDIDAS CAUTELARES COMPROMISSADA

com fulcro no artigo 5º, LXV [1] e LXVI [2], da Constituiçã o Federal, bem como no art. 310, I
[3], III [4], e art. 321 [5], todos do Có digo de Processo Penal, pelas razõ es de fato e de
direito que passa a aduzir.
· Ausência de Indícios suficientes de autoria;
· Violação de Domicílio;
· Clara perseguição da PM local.

I. DOS FATOS

Os Suplicantes foram presos no dia 31 de janeiro do corrente ano por, supostamente,


terem infringido os comandos do art. 33 da Lei 11.343/06 – Trá fico de Ilícito de
Entorpecentes (Autos de Prisão em Flagrante – mov. 1.1/1.34).

Consta do depoimento do Condutor (mov. 1.3), PM Evangelista Torricelli , que em


patrulhamento pela “Cidade de Deus” teria avistado um indivíduo adentrando em uma
residência, que na referida residência a guarniçã o encontrou os Requerentes sentados ao
redor de uma mesa e, supostamente, encontraram o material entorpecente em cima da
mesma.

Vale ressaltar que foram encontradas 4 porçõ es de substâ ncia com características de OXI
(massa de 2,5g), um involucro de substâ ncia desconhecida (massa de 13 g), uma colher e
um prato com resquícios de pó branco (auto de exibição e apreensão – mov. 1.12).

Insta informar que o Laudo de Exame de Constataçã o Preliminar (mov. 1.15), informa que
o “pó branco” apreendido nã o possui origem conhecida, ou seja, não se pode afirmar que
seria substância entorpecente.

Nos depoimentos dos acusados, é uníssona a informaçã o de que os policiais militares


adentraram na residência sem qualquer permissã o dos que lá se encontravam.

Também informam que estariam ingerindo bebida alcoó lica em comemoraçã o a um


aniversá rio, que a droga encontrada – 2,5g de OXI, seria para uso dos presentes, sem
nenhuma intençã o de comercializaçã o, etc.

Excelência, o que é possível inferir dos autos é que existiam pessoas reunidas em
confraternizaçã o, com uso de entorpecente, quando a polícia, como de praxe naquele local
da cidade, INVADIU A RESIDÊ NCIA, e levou todos à Delegacia.

Este que subscreve, no dia seguinte, dirigiu-se até a Cadeia local e questionou a autoridade
policial o motivo de flagranteá -los pelo crime de trá fico, haja vista nã o ter qualquer
elemento que caracterizasse a traficâ ncia, nenhuma resposta foi obtida.

Preclara Julgadora, nã o foi apreendido mais nada além das 2,5 g de OXI e uma colher e
prato sujos de OXI em pó .

O quadro que se desenha é de pessoas bebendo e usando drogas, que eram despejadas no
prato, situaçã o típica nestes tipos de situaçõ es – uso de entorpecente.

Nã o há dinheiro, linha, sacolas, balança, nem mesmo um “comprador” de produto ilícito foi
encontrado.
É fá cil inferir que os flagranteados nã o tiveram tempo de se desfazer de algo, visto que
foram pegos de surpresa, pois se assim nã o fosse teriam “sumido” com o material ilícito
encontrado – 2,5 g de OXI.

No mais, os mesmos afirmam que estariam comemorando o aniversá rio de uma criança, o
que demonstramos através da certidã o de nascimento anexa.
O que se percebe, MAIS UMA VEZ, é a sede incontrolá vel da Polícia Militar local em prender
a qualquer custo, vejamos.
Os conduzidos sã o diuturnamente perseguidos pela PM local, pois sã o taxados de bandidos.
Além mais, o Condutor afirma que o local é “ Reduto da Organizaçã o Criminosa Galerosos
do Bem”, além de afirmar que todos “os apresentados sã o reincidentes em crimes
diversos”, quando se analisa caso a caso a realidade mostra-se diferente.
Em apertada síntese, estes sã o os fatos.
Diante do exposto, nã o restou entã o senã o rogar pelo relaxamento da prisã o ilegal dos
Requerentes , haja vista os mesmos – data vênia entendimento diverso, nã o tenham
infringido nenhum mandamento da Lei 11.343/06, diferentemente do que afirma a Polícia
Militar, que, aliá s, acusa sem trazer aos autos qualquer indício suficiente de autoria delitiva,
mostrando, mais uma vez, sua vontade de prender sem limites.

II. DOS FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO

1. Relembrando que os Requerentes foram presos por, supostamente, terem infringido os


comandos do art. 33 da Lei 11.343/06 (Trá fico de Drogas).

II.1 DA NÃO FLAGRÂNCIA


II.1.1 PRELIMINARMENTE: DA VIOLAÇÃO DO DOMICÍLIO

Nobre Julgadora, como se verifica dos autos, todos da residência foram “pegos de surpresa”
com a invasã o da PM na residência.
Tal prá tica é comum nesta cidade.
Com efeito, a Carta Magna, em seu art. 5.º, inciso XI, preleciona que "a casa é asilo inviolável
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial".
Assim, a inviolabilidade da morada é uma das expressõ es do direito do indivíduo à
intimidade, de forma que a ressalva à franquia constitucional exige certos cuidados e
limites, também, constitucionalmente dispostos.
Interpretando tal liberdade, o colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
Recurso Extraordinário n.º 603.616/RO , sob a relatoria do eminente Ministro GILMAR
MENDES, sob o manto da repercussã o geral, definiu que o ingresso forçado em domicílio
sem mandado judicial se revela legítimo – a qualquer hora do dia, inclusive durante
o período noturno – quando amparado em fundadas razões, devidamente
justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar ocorrendo, no
interior da casa, situação de flagrante delito . In verbis:
1. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral.
2. Inviolabilidade de domicílio – art. 5.º, inciso XI, da Constituição Federal. Busca e apreensão domiciliar sem
mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado judicial para
ingresso forçado em residência em caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se
protrai no tempo.
3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca
é determinada por ordem judicial. Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para prestar socorro – a
Constituição não faz exigência quanto ao período do dia.
4. Controle judicial a posteriori. Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da
Constituição. Proteção contra ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o
ingresso forçado em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência
de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo fundamental da garantia
contra a inviolabilidade da casa (art. 5, inciso XI, da Constituição Federal) e deixaria de proteger contra
ingerências arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, art. 11, 2, e Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, art. 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da interpretação da Constituição,
quanto da aplicação da proteção consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao
ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter judicial que se incorporam à cláusula do devido processo
legal.
5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária. Não
será a constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais
devem demonstrar que havia elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida.
6. Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados .
7. Caso concreto. Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de tráfico de drogas. Negativa de
provimento ao recurso.
(STF, RE XXXXX/RO, Relator: Ministro GILMAR MENDES, TRIBUNAL PLENO, REPERCUSSÃO GERAL, Julgado em
05/11/2015, Publicado no DJe-093 do dia 09/05/2016)
(grifos nossos).

Em outros dizeres, o Pretó rio Excelso definiu que o ingresso forçado em domicílio, sem
mandado judicial, somente se revela possível, a qualquer hora do dia ou da noite, quando
amparado em fundadas razõ es, à luz do disposto no art. 240, § 1.º, do Có digo de Processo
Penal [1], devidamente justificadas pelas circunstâ ncias do caso concreto, que sejam
capazes de demonstrar estar, de fato, ocorrendo situaçã o de flagrante delito, no interior do
imó vel particular.

Excelência, quando ouvidos em sede policial, nenhum dos PM´s informa se pediram
permissã o para entrarem na casa, e todos os conduzidos sã o categó ricos em afirmar que a
PM INVADIU A CASA!

Por outro lado, é sabido que, consoante o art. 310, incisos I a III, Có digo de Processo Penal,
ao receber o Auto de Prisã o em Flagrante, o magistrado, fundamentadamente, deverá
relaxar a prisã o ilegal, converter a prisã o em flagrante em preventiva, quando presentes os
requisitos constantes do art. 312 da Lei Adjetiva Penal, e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisã o, ou conceder liberdade provisó ria,
com ou sem fiança.

Nessa linha de intelecçã o, "o primeiro passo do magistrado, ao receber o auto de prisão em
flagrante delito, diz respeito à análise da legalidade da medida constritiva. Essa análise passa
pela verificação da regularidade da prisão em flagrante, a saber: a) se o auto de prisão em
flagrante noticia a prática de infração penal; b) se o agente capturado estava em uma das
situações legais que autoriza o flagrante, elencadas no art. 302 do Código de Processo Penal;
c) se foram observadas as formalidades estabelecidas pela Constituição seja, analisando-se se
está formalmente em ordem, sem vícios formais; d) se o uso de algemas foi feito nos termos
preconizadas pela súmula vinculante n.º 11 do STF. Assim, verificada a ilegalidade da
prisão em flagrante, deve o magistrado determinar o seu relaxamento [2]."

Atentando-se ao caso concreto – a invasã o perpetrada pelos policiais militares, esta


originou-se de um deslocamento de um suspeito para a referida residência (alegaçã o
comum da PM local).
Bem verdade é que nã o há sequer uma semana que os moradores daquela regiã o nã o sejam
alvos de invasõ es da Polícia Militar, invasõ es essas que está acarretando diversos
dissabores nos que lá residem, pela “qualidade” da abordagem policial.

Dessa maneira, diante do cená rio apresentado nos Autos, considerando que a abordagem
foi realizada a partir de uma observaçã o desprovida de elementos que a corroborassem, e
que, na abordagem dos Requeridos, foi encontrado apenas 2,5g de OXI (quatro trouxinhas),
resta configurada, a princípio, a ilegalidade da prisão em flagrante e, por via de
consequência, a invasão da residência do Requerido, causando a nulidade de todas
as provas obtidas na ocasião.

Corroborando tal assertiva, é o seguinte julgado do colendo STJ:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO
DO DIREITO À INTIMIDADE. ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.
INVASÃO DE DOMICÍLIO PELA POLÍCIA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. TEORIA
DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. ILICITUDE CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.1. O art. 5.º, inciso XI, da Constituição Federal consagrou o direito fundamental relativo à inviolabilidade
domiciliar, ao dispor que "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial".
2. A inviolabilidade de sua morada é uma das expressões do direito à privacidade do indivíduo, o qual, na
companhia de seu grupo familiar, espera ter o seu espaço de intimidade preservado contra devassas
indiscriminadas e arbitrárias, perpetradas sem os cuidados e os limites que a excepcionalidade da ressalva a tal
franquia constitucional exige.
3. O ingresso em moradia alheia depende, para sua validade e regularidade, da existência de fundadas razões
(justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão. É dizer,
somente quando o contexto fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no
interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade do domicílio.
4. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral, que o ingresso forçado em residência sem
mandado judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno -
quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que
indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n.º 603.616/RO, Rel. Ministro
Gilmar Mendes, DJe 08/10/2010).
5. A ausência de justificativas e de elementos seguros a legitimar a ação dos agentes públicos, diante da
discricionariedade policial na identificação de situações suspeitas relativas à ocorrência de tráfico de drogas,
pode fragilizar e tornar írrito o direito à intimidade e à inviolabilidade domiciliar.
6. Tal compreensão não se traduz, obviamente, em transformar a casa em salvaguarda de criminosos, tampouco
um espaço de criminalidade. Há de se convir, no entanto, que só justifica o ingresso na moradia alheia a
situação fática emergencial consubstanciadora de flagrante delito, incompatível com o aguardo do momento
adequado para, mediante mandado judicial, legitimar a entrada na residência.
7. Na hipótese sob exame, verifica-se que: a) durante as diligências da referida ocorrência, foi acionado a equipe
de policiais com cães, ocasião em que um dos animais "entrou na residência de número 54, que estava com a
porta aberta indo diretamente ao fogão sinalizando que encontrara algo ilícito"; b) após revista em seu
domicílio, foram encontradas substâncias entorpecentes (20 gramas de maconha, distribuídas em 14 buchas,
além de 1 porção, bem como de 24 gramas de cocaína, distribuídas em 87 invólucros).
8. Em nenhum momento foi explicitado, com dados objetivos do caso, em que consistiria eventual atitude
suspeita por parte do acusado, externalizada em atos concretos. Não há referência a prévia investigação,
monitoramento ou campanas no local. Também não se tratava de averiguação de denúncia robusta e atual
acerca da existência de entorpecentes no interior da residência (aliás, não há sequer menção a informações
anônimas sobre a possível prática do crime de tráfico de drogas pelo autuado).
9. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo paciente, embora pudesse autorizar abordagem
policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a permitir o ingresso em seu
domicílio, sem seu consentimento – que deve ser mínima e seguramente comprovado – e sem determinação
judicial.
10. Em que pese eventual boa-fé dos policiais militares, não havia elementos objetivos, seguros e racionais, que
justificassem a invasão de domicílio. Assim, como decorrência da Doutrina dos Frutos da Árvore Envenenada (ou
venenosa, visto que decorre da fruits of the poisonous tree doctrine, de origem norte-americana), consagrada no
art. 5.º, inciso LVI, da Constituição Federal, é nula a prova derivada de conduta ilícita.
11. Recurso provido a fim de conceder a ordem, de ofício, para determinar o trancamento do processo.
(STJ, RHC XXXXX/MG, Relator: Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, Julgado em 13/12/2018,
Publicado no DJe do dia 04/02/2019) (grifos nossos).

Ademais, sopeso que, conforme explanado pelo Condutor, mais nada foi encontrado, nem
dinheiro, nem material para confecçã o de invó lucros de entorpecentes.

Ante o exposto, todos os atos devem ser nulificados a partir da prisã o em flagrante dos
Requerentes, nos termos dos artigos 157 [3], 573, § 1º. (fruits of the poisonous tree), c/c
395, III [5], todos do Có digo de Processo Penal, RESTANDO PREJUDICADA A PRISÃO
AQUI DEBATIDA, DEVENDO ESTA SER RELAXADA DIANTE DE SUA ILEGALIDADE.

II.1.2 A AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA

O art. 312 do CPP preconiza que a decretaçã o da prisã o preventiva exige indício suficiente
de autoria:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria.
Na aná lise destes autos, verifica-se que apesar da apreensã o de uma mínima quantidade de
entorpecente, nada mais foi apreendido para corroborar com a tese de trá fico de drogas.

Observa-se dos depoimentos de todos os acusados, que o material ilícito encontrado


seria usado durante a confraternização na casa.

Desta feita, não obstante a materialidade esteja supostamente comprovada (laudo


de constatação preliminar), é nítida a ausência de indício suficiente de autoria por
parte dos Requerentes.

Neste sentido, tem se posicionado a jurisprudência nacional:

HABEAS CORPUS – PRISÃO PREVENTIVA – TRÁFICO DE DROGAS – AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE


AUTORIA – REQUISITO PREVISTO NO ARTIGO 312 DO CPP – CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO –
CONDIÇÕES SUBJETIVAS FAVORÁVEIS - ORDEM CONCEDIDA.
1. A prisão cautelar tem caráter excepcional, somente podendo ser decretada mediante inequívoca demonstração
da real necessidade da segregação do acusado, em respeito ao disposto no artigo 93, inciso IX, da Carta Magna e
no artigo 315, do Código de Processo Penal.
2. Não obstante o Habeas Corpus não comportar espaço para análise aprofundada das provas de autoria delitiva, a
existência de indícios suficientes de autoria é um dos requisitos autorizadores da decretação da prisão preventiva,
a teor do que preconiza o artigo 312 do Código de Processo Penal.
3. No presente caso, embora a materialidade esteja comprovada, observa-se a ausência de um dos pressupostos
da prisão preventiva, a saber, a existência de indícios suficientes de autoria por parte do paciente, motivo pelo
qual resta configurado o constrangimento ilegal.
4. Ordem de Habeas Corpus concedida
(TJ-AM XXXXX20178040000 AM XXXXX-30.2017.8.04.0000, Relator: João Mauro Bessa, Data de Julgamento:
03/12/2017, Primeira Câmara Criminal)

HABEAS CORPUS - TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES - PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PRISÃO


PREVENTIVA - PACIENTE PRIMÁRIO - PEQUENA QUANTIDADE DE DROGAS - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES
DE AUTORIA DELITIVA - POSSIBILIDADE CONCRETA DE APLICAÇÃO DO § 4º, DO ART. 33, DA LEI DE TÓXICOS E DE
SUBSTITUIÇÃO DA PENA - FALTA DOS REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP - CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO - LIBERDADE PROVISÓRIA - POSSIBILIDADE - CONCEDIDO O HABEAS CORPUS.
- A prisão cautelar só pode ser decretada ou mantida se demonstrada a necessidade da segregação provisória,
mediante elementos idôneos constantes dos autos.
- Se ausentes indícios suficientes de autoria do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, a prisão preventiva se
revela patente constrangimento ilegal.
- Sendo possível estimar que o paciente, se efetivamente condenado pelo cometimento do delito de tráfico de
drogas, poderá vir a ser agraciado pela causa de diminuição do § 4º, do art. 33, da Lei n. 11.343/2006, podendo sua
reprimenda, ao final, ser substituída por penas restritivas de direito, desproporcional se afigura a imposição da
prisão preventiva, principalmente se as circunstâncias pessoais do acusado lhe forem favoráveis.
(TJ-MG - HC: XXXXX40107475000 MG, Relator: Jaubert Carneiro Jaques, Data de Julgamento: 29/04/2014, Câmaras
Criminais / 6ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 08/05/2014)

HABEAS-CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. FRÁGEIS INDÍCIOS DE AUTORIA.


CONSTRANGIMENTO ILEGAL. CONCESSÃO DA ORDEM.

Caracteriza constrangimento ilegal a prisão cautelar quando há dúvidas acerca da participação da paciente no
crime de tráfico de drogas, devendo ser concedida liberdade provisória, para que responda o processo em
liberdade. Ordem concedida

(Habeas Corpus Nº 70045144938, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio
Ribeiro de Oliveira, Julgado em 05/10/2011)
(TJ-RS - HC: XXXXX RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Data de Julgamento: 05/10/2011, Primeira
Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 13/10/2011)

HABEAS CORPUS – TRÁFICO DE DROGAS – PRISÃO EM FLAGRANTE – PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA –


AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA PRISÃO CAUTELAR – FRÁGEIS INDÍCIOS DE AUTORIA – CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS – CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO – ORDEM CONCEDIDA.

(TJ-MS - HC: XXXXX20158120000 MS XXXXX-30.2015.8.12.0000, Relator: Des. Romero Osme Dias Lopes, Data de
Julgamento: 02/03/2015, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 06/03/2015)

(g.n.)

Assim, conforme tudo que foi demonstrado acima, com base e fundamento no devido
processo legal, na dignidade da pessoa humana, na presunçã o de inocência, dentre outros, é
que a defesa ROGA PELO RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE DOS ACUSADOS,
por ausência de indícios de autoria do delito a eles imputados, qual seja, Trá fico de Drogas.

III. DOS PEDIDOS


ISTO POSTO, requer a Vossa Excelência, com o devido respeito que, pela urgência da
medida e da conhecida ausência do Ilustre Representante do Ministério Pú blico nesta
comarca, se digne a:

a) Relaxar a prisã o dos Requerentes, visto que é ilegal quando baseada em um


afrontamento a um Direito Fundamental, qual seja, a inviolabilidade do domicílio;

b) Alternativamente, entendendo todo o exposto acima de modo diverso, requer seja


relaxada a prisão dos Requerentes, visto a ausência de mínimos indícios de autoria
do delito apontado;

c) Subsidiariamente o deferimento da liberdade provisória sem arbitramento de


fiança aos requerentes, para defenderem-se soltos, do delito que lhe é imputado,
comprometendo-se a comparecer a todos os atos do processo, tantas vezes quantas
necessárias, com a expedição de ALVARÁ DE SOLTURA.

d) Outrossim, requeremos que cópia dos autos seja enviada à Corregedoria da


Polícia Militar, da Polícia Civil e ao Ministério Público do Estado, a fim que se apure
suposta prática do crime de abuso de autoridade ocorrido quando da invasão ilícita
do acima referido asilo inviolável e da lavratura do flagrante sem indícios de autoria.

Nestes Termos, Pede Deferimento.

Cidade Divina, 11 de setembro de 2020.


Advogado
OAB/AM 1234
[1] Art. 240. (...)

§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:

a) prender criminosos; b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;


c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeitos; d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
crime ou destinados a fim delituoso; e) descobrir objetos necessários à prova de
infração ou à defesa do réu; f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao
acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; g) apreender pessoas vítimas de crimes; e
h) colher qualquer elemento de convicção.

[2] LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3.ª ed. Salvador: Juspodivm,
2015, pág. 920.

[3] Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

[4] Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos
anteriores, serão renovados ou retificados.

§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente
dependam ou sejam consequência.

[5] Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.


[1] LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciá ria.
[2] LXVI – ninguém será levado à prisã o ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisó ria, com ou sem fiança.
[3] Art. 310. Ao receber o auto de prisã o em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: I
- relaxar a prisão ilegal
[4] (...) III - conceder liberdade provisó ria, com ou sem fiança.
[5] Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretaçã o da prisã o preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisó ria, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
previstas no art. 319 deste Có digo e observados os critérios constantes do art. 282 deste
Có digo.

Você também pode gostar