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ESCREVA

MAIS E
MELHOR
100 DICAS
By Diego Schutt

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Dica 1: Transforme pensamentos em palavras
Dica 2: Decida os gêneros que você quer escrever.
Dica 3: Estude os textos dos seus escritores favoritos.
Dica 4: Inspire-se antes de começar a escrever.
Dica 5: Elimine a autocrítica no início do seu processo de criação.
Dica 6: Evite que perfeccionismo afete sua produtividade.
Dica 7: Monitore sua produtividade e motivação para escrever.
Dica 8: Aprenda a provocar emoções com palavras.
Dica 9: Teste suas ideias de história.
Dica 10: Entenda o papel de cada peça que compõe uma história.
Dica 11: Decida se você quer escrever livros ou ser um escritor.
Dica 12: Evite comparar suas histórias as dos seus ídolos.
Dica 13: Tente responder perguntas que intrigam você.
Dica 14: Aceite o convite das histórias que se oferecerem a você.
Dica 15: Não tente agradar a todos com suas histórias.
Dica 16: Diagrame suas histórias de forma profissional.
Dica 17: Confie na sua intuição ao escrever histórias.
Dica 18: Divulgue e distribua suas histórias.
Dica 19: Empreste sua mente para todos os seus personagens.
Dica 20: Revise suas histórias com os ouvidos.
Dica 21: Escreva várias histórias simultaneamente.
Dica 22: Respeite suas habilidades e suas histórias.
Dica 23: Evite a síndrome do escritor incompreendido.
Dica 24: Escreva com liberdade e edite com disciplina.
Dica 25: Seja específico em suas descrições.
Dica 26: Acredite no que você escreve.
Dica 27: Não se preocupe com a extensão da sua história.
Dica 28: Recompense o tempo do leitor.
Dica 29: Tempere suas histórias com drama e comédia.
Dica 30: Respeite as regras que você criar para sua história.
Dica 31: Domine a estrutura narrativa clássica.
Dica 32: Valorize disciplina mais do que talento.
Dica 33: Aprenda a observar pessoas como um escritor.
Dica 34: Decida quando usar narração ou diálogo.
Dica 35: Desconfie dos seus momentos de inspiração.
Dica 36: Permita que os leitores tirem suas próprias conclusões.
Dica 37: Encontre um equilíbrio entre razão e emoção.
Dica 38: Não reproduza a realidade nas suas histórias.
Dica 39: Entenda o que o leitor quer sentir ao ler suas histórias.
Dica 40: Escreva independentemente do seu humor.
Dica 41: Teste diferentes pontos de vista para sua história.
Dica 42: Use lápis e papel para desenvolver suas ideias.
Dica 43: Faça parte de uma comunidade de escritores.
Dica 44: Participe de concursos literários.
Dica 45: Faça um curso de criação de histórias.
Dica 46: Pare de tentar escrever melhor.
Dica 47: Use adjetivos com moderação.
Dica 48: Estimule sua criatividade com exercícios físicos.
Dica 49: Manipule as expectativas da sua audiência.
Dica 50: Questione todas as dicas anteriores.
Dica 51: Comece suas histórias com impacto
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Dica 52: Entenda a diferença entre escrever bem e escrever ficção
Dica 53: Defina o conflito central da sua história
Dica 54: Invista mais tempo vivendo do que escrevendo
Dica 55: Analise tudo o que você sente e pensa
Dica 56: Escolha a melhor roupa e local para escrever
Dica 57: Procure ideias originais longe do computador
Dica 58: Enfrente os medos que impedem você de escrever
Dica 59: Considere que cenas a história precisa
Dica 60: Procure por conflitos para encontrar ideias de histórias
Dica 61: Entenda que boas ideias não garantem boas histórias
Dica 62: Crie o hábito de desenvolver suas ideias
Dica 63: Escreva cenas para os 5 sentidos
Dica 64: Registre todas as suas ideias durante um brainstorming
Dica 65: Evite interrupções enquanto estiver escrevendo
Dica 66: Caracterize todos os personagens principais
Dica 67: Dê um dilema para o protagonista
Dica 68: Compartilhe uma verdade humana na sua história
Dica 69: Use o cenário para caracterizar os personagens
Dica 70: Limite sua total liberdade de criação
Dica 71: Conheça sua história antes de começar a escrever
Dica 72: Seja específico ao pedir opiniões sobre suas histórias
Dica 73: Use técnicas de escrita com moderação
Dica 74: Não economize palavras ao escrever histórias
Dica 75: Entenda que é o leitor quem dá significado as suas histórias
Dica 76: Exponha os pontos fracos do protagonista
Dica 77: Deixe claro o que está em jogo na história
Dica 78: Julgue suas ideias a partir do que você deseja expressar
Dica 79: Coloque a sua história em ordem
Dica 80: Crie uma entrada memorável para o protagonista
Dica 81: Escolha objetos e roupas que revelem os personagens
Dica 82: Aprenda a informar, entreter e inspirar
Dica 83: Separe enredo, história, drama, narrativa e prosa.
Dica 84: Use o Flickr para criar descrições vívidas e originais
Dica 85: Copie a estrutura das suas histórias favoritas
Dica 86: Dê tempo para sua história amadurecer
Dica 87: Torne a estrutura da história invisível
Dica 88: Trate o cenário da história como um personagem
Dica 89: Inove na forma ou no conteúdo
Dica 90: Use mistério para manter interesse na história
Dica 91: Comece arquitetando histórias ou jardinando ideias
Dica 92: Descubra qual a melhor mídia para sua história
Dica 93: Encontre o ritmo certo para a história
Dica 94: Entenda as motivações dos personagens
Dica 95: Aproveite enquanto você ainda não foi “descoberto”
Dica 96: Defina o tema central da história
Dica 97: Estabeleça a crença central que define o protagonista
Dica 98: Tenha consciência da ideia-chave da história
Dica 99: Resuma sua história em uma frase
Dica 100: Estabeleça a linha de ação da história

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100 DICAS DE ESCRITA CRIATIVA
Dica 1: Transforme pensamentos em palavras
A não ser que você tenha descoberto uma fonte de iluminação
divina, inspiração infinita ou técnicas infalíveis, não existe outra forma de melhorar
seus textos a não ser escrevendo regularmente. Escrever é, fundamentalmente,
transformar pensamentos abstratos em sequências de palavras. Essa é a primeira
habilidade que um aspirante a escritor precisa desenvolver.
Você não precisa produzir textos que vão mudar o mundo ou reinventar a
literatura. Comece simplesmente com a intenção de registrar a primeira ideia ou
inspiração que motivou você a sentar para escrever. Pode ser a trama de uma história,
os pensamentos de um personagem, a descrição de um cenário, o início de um diálogo,
o final de uma cena, divagações sobre um tema que você deseja investigar, ou mesmo
associações livres a uma palavra aleatória.
Nesse primeiro momento, não se preocupe com originalidade, lógica,
coerência, ortografia ou gramática. Se concentre em plantar suas ideias na página em
branco e, aos poucos, você vai perceber que elas naturalmente começarão a apontar
para uma determinada direção, dando pistas da história que você quer contar.

Dica 2: Decida os gêneros que você quer escrever


Ainda que você se interesse por diversos gêneros, decida em quais você
deseja se especializar. Escolha aqueles com os quais você mais se identifica, e invista
no aperfeiçoamento de suas habilidades nesses gêneros.
Se você quer escrever romances policiais, leia todos os que encontrar pela
frente. Pesquise obsessivamente a rotina do trabalho da polícia, conheça os
procedimentos específicos na investigação de crimes, estude leis e direitos civis.
Se você quer escrever comédias românticas, leia uma atrás da outra. Estude
a psicologia das relações, encontre regularmente seus amigos com problemas
emocionais, leia o perfil de centenas de pessoas em sites de relacionamentos.
Entenda as convenções de qualquer que seja o tipo de história que você quer
escrever. Ler textos de diferentes gêneros enriquece seu repertório linguístico e técnico,
mas não se desespere achando que um escritor deve saber escrever todo tipo de história.

Dica 3: Estude os textos dos seus escritores favoritos.


Releia histórias dos seus escritores favoritos regularmente. Considere porque
essas elas despertaram sua curiosidade no início do texto e como elas prenderam sua
atenção até o final. Esse tipo de leitura mais atenta e cuidadosa é diferente da leitura

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por simples prazer. Aqui, seu objetivo é tentar entender o que, especificamente, você
admira no estilo desses escritores e por quê. É a forma como eles descrevem o mundo
em que a história se passa? São os personagens com quem você se identifica? É o ritmo
envolvente da narrativa? É a forma como os eventos do enredo se encaixam?
Desconstrua suas histórias favoritas capítulo por capítulo, página por página,
parágrafo por parágrafo, linha por linha, palavra por palavra. Entenda a função de cada
um desses elementos na construção das histórias. Desconstruir um texto significa
pensar sobre a função de cada parte da narrativa, entender como o escritor interliga
essas partes e como elas, em conjunto, provocam certas emoções durante a leitura.
Digamos que o primeiro parágrafo de uma história deixou você emocionado.
Desconstruir esse parágrafo significa considerar como o escritor provocou essa
emoção em você. Por que o escritor começou o texto desta forma e não de outra? Que
imagens as primeiras frases do texto evocaram? Em que ordem as informações foram
apresentadas? Qual a primeira impressão que temos sobre os personagens? O que o
escritor parece estar tentando expressar com essa história?
Além disso, é importante que você identifique as passagens do texto que
você não gostou ou que provocaram tédio e indiferença. Entender porque certas partes
da narrativa não envolveram você vai lhe ajudar a desenvolver seu senso crítico para
identificar trechos das suas histórias em que você, talvez, esteja entediando o leitor.
O exercício de estudar e analisar as nuances de textos que você gosta vai lhe
ajudar a espiar dentro da mente dos seus escritores favoritos, entender como eles
organizam o texto para provocar certas emoções e considerar formas de usar técnicas
semelhantes em seus textos.

Dica 4: Inspire-se antes de começar a escrever.


Antes de mergulhar de cabeça em um texto, estimule seu instinto criativo
com atividades que mexem com suas emoções.
Descubra suas maiores fontes de inspiração e motivação para criar histórias.
Use-as como combustível para dar início ao seu processo de criação.
Assista a um filme que faz você morrer de rir. Leia um dos seus contos
favoritos. Recite uma poesia que faz você se arrepiar. Escute uma música que faz você
chorar. Converse com amigos que forçam você a explorar suas ideias e opiniões a
fundo. Estude técnicas de escrita que façam você se sentir desafiado a testá-las na
prática.

Dica 5: Elimine a autocrítica no início do seu processo de criação.


Nos primeiros estágios de desenvolvimento das suas histórias de ficção, você
precisa de liberdade criativa para explorar todas as possibilidades de desenvolvimento
de uma ideia. Enquanto você ainda está trabalhando no primeiro rascunho de um texto,
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não avalie qualidade do que está produzindo, nem se preocupe com detalhes sobre
a estrutura da narrativa.

Ignore aquela voz insistente que julga suas ideias antes mesmo de você ter a
oportunidade de desenvolvê-las. Pare de criticar suas habilidades de escritor enquanto
você ainda está descobrindo e explorando o universo de ficção da sua história.
É perda de tempo tentar escrever um texto acabado de primeira. Escrever é
reescrever. Edições e reajustes fazem parte do processo de criação, mas são etapas que
vem mais tarde, quando você já tiver claro qual é a sua história e o que está tentando
comunicar ao leitor.

Dica 6: Evite que perfeccionismo afete sua produtividade.


Um perfeccionista é alguém que tem a ambição de alcançar resultados que
correspondam as suas expectativas e padrões de qualidade. Seu perfeccionismo pode
trabalhar a seu favor ou contra você. Depende do quanto você permite que isso afete
sua produtividade. Quando em doses moderadas, perfeccionismo serve de incentivo
para o refinamento e o aperfeiçoamento dos seus textos. Quando em doses exageradas,
perfeccionismo traz pensamentos negativos, desorienta e paralisa.
Se perfeccionismo vem diminuindo sua produtividade, está na hora de
reavaliar a forma como você se relaciona com os textos que escreve. Ao invés de se
apegar a uma única ideia e tentar refiná-la ao extremo, experimente desenvolver várias
ideias. Produzir uma grande quantidade de histórias boas vai tornar você um escritor
melhor do que produzir uma pequena quantidade de histórias “perfeitas”.
Não há nada de errado em querer alcançar excelência no refinamento de uma
única ideia. O problema está no perfeccionismo prematuro, que não leva em
consideração o tempo, o esforço e as habilidades necessárias para se alcançar um certo
padrão de qualidade.

Dica 7: Monitore sua produtividade e motivação para escrever.


Concentração e foco são fundamentais para escrever. Evite o abuso de
práticas contra-produtivas, procrastinação e queda de motivação estabelecendo um
período de tempo determinado para suas sessões de escrita entre 25 e 35 minutos.
Use um cronômetro com alarme para lhe indicar o final de cada sessão. Então
avalie se você está focado, ou se você está distraído com atividades paralelas.
As ideias estão fluindo com facilidade? Você está concentrado nos seus
pensamentos? O tempo parece ter voado? Então dispare o cronômetro novamente e
inicie uma segunda sessão.

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Sua mente segue interrompendo você com assuntos aleatórios? Você já
checou o seu email e Facebook mais de duas vezes? Está tentando consertar a mesma
frase há 10 minutos? Nesse caso, pare de escrever e procure um outro momento do dia
em que você estiver menos distraído.

Dica 8: Aprenda a provocar emoções com palavras.


Emoções são a matéria-prima das histórias de ficção. Elas determinam a
forma como o leitor vai interpretar os comportamentos dos personagens e empatizar
com seus dramas.
Para provocar emoções com suas palavras:
1. Ajude o leitor a enxergar e sentir o mesmo que o personagem
Emoções são subjetivas. Cada pessoa, incluindo seus personagens, sente o
mundo de um jeito particular. Para demonstrar o que seus personagens estão
sentindo, traduza suas emoções em reações físicas e comportamentos observáveis.
Descreva detalhes específicos ao invés de generalidades. Ao invés de “Ana estava
nervosa no seu primeiro dia de aula”, experimente “Os joelhos de Ana afrouxaram
quando ela entrou na sala de aula sendo escoltada pelo olhar dos colegas. A testa suada,
formigas na barriga, e a voz da mãe ecoando nos ouvidos, mandando ela parar de
frescura e descer do carro.”
2. Apresente informações sobre os personagens na ordem certa
Emoções não existem fora de um contexto. Ao escrever cada cena de sua
história de ficção, certifique-se que você incluiu informações suficientes para que o
leitor reaja da forma que você deseja aos acontecimentos do enredo. Se, por exemplo,
você quer que o leitor tema pela vida do seu protagonista na cena onde seu
escritório pega fogo, desperte identificação e empatia com
o personagem em cenas anteriores, nos dando motivos para nos importar com ele (Ele
tem uma mãe doente? Uma esposa grávida? Um filho deficiente que depende dele?).

Dica 9: Teste suas ideias de história.


Muitas das suas ideias só fazem sentido porque estão interconectadas com
seus conhecimentos e experiências. Sem essas associações pessoais, muitas vezes elas
não sobrevivem a viagem da sua mente para o papel.
É comum que escritores se apaixonem por uma ideia de história e descubram
mais tarde, depois de meses ou até anos de trabalho, que elas não fazem sentido ou não
parecem interessantes para mais ninguém.

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Se você está escrevendo para ser lido, antes de investir todo o seu tempo e
energia em um projeto, compartilhe alguns trechos da sua história com algumas
pessoas. É uma oportunidade para você ganhar perspectiva sobre sua ideia.

Dica 10: Entenda o papel de cada peça que compõe uma história
Antes de tentar escrever uma série, aprenda a escrever um livro.
Antes de tentar escrever um livro, aprenda a escrever um capítulo.
Antes de tentar escrever um capítulo, aprenda a escrever um conto.
Antes de tentar escrever um conto, aprenda a escrever uma cena.
Antes de tentar escrever uma cena, aprenda a escrever um parágrafo.
Antes de tentar escrever um parágrafo, aprenda a escrever uma frase.
Entender o papel e o impacto de cada uma das peças que compõe uma
história vai permitir a você criar enredos mais elaborados e envolventes.

Dica 11: Decida se você quer escrever livros ou ser um escritor.


Sim, existe uma diferença entre um desejo e outro.
Se você quer escrever livros, seu foco é se tornar um autor publicado.
Você acredita ter ideias que podem resultar em boas histórias. Você acredita
que algumas dessas histórias têm o potencial de despertar o interesse de um público
grande o suficiente para atrair o interesse de uma editora. Seu grande objetivo é
desenvolver a habilidade de manter o leitor curioso para seguir acompanhando sua
história, da primeira linha até o último ponto final. Para você, palavras são ferramentas
para compartilhar suas ideias e pensamentos.
Se você quer ser escritor, seu foco é escrever textos que iluminem dentro do
leitor algo importante que você iluminou dentro de você mesmo.
Você acredita que sua forma única de olhar para a vida pode ajudar outras
pessoas a refletir profundamente sobre a natureza do mundo e do ser humano. Seu
grande objetivo é ajudar o leitor descobrir o familiar no estranho e o estranho no
familiar. Para você, palavras são suas aliadas nos seus incansáveis esforços para
compartilhar as verdades que você descobre sobre a vida.

Dica 12: Evite comparar suas histórias as dos seus ídolos


Se você está recém iniciando sua caminhada no mundo da ficção, não
compare suas histórias as dos seus ídolos. Seria como comparar as habilidades de um
jogador de futebol profissional às de alguém que está recém começando. Isso só faz

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você criar expectativas irrealistas sobre seus textos, e desqualificar seus esforços
criativos.
As histórias que você escreveu no passado são as melhores referências para
avaliar seu progresso. Compare o texto que você escreveu esta semana ao que você
escreveu no mês passado. Isso é um bom indicador da sua evolução como escritor.
Seus ídolos não devem ser referencial de qualidade para o que você escreve
no início da sua carreira, mas sim fontes de inspiração e incentivo para você escrever
cada vez mais e aperfeiçoar suas habilidades de escrita.

Dica 13: Tente responder perguntas que intrigam você


Você já percebeu quantos livros preenchem as prateleiras das livrarias?
Quantos textos estão disponíveis na Internet? A infinidade de revistas e jornais nas
bancas? O número de seriados e novelas passando na tv? A variedade de filmes e peças
de teatro em cartaz? Suas histórias estão competindo por atenção com tudo isso.
Para ter uma chance de se sobressair nesse mar de informação, escreva sobre
temas pelos quais você tem interesse genuíno. Procure encontrar respostas para
perguntas que provocam sua imaginação. Tente encontrar soluções para problemas que
você está enfrentando na sua vida pessoal. Se você está passando por isso, talvez outras
pessoas também estejam.
Vasculhe suas inseguranças, pense sobre seus desejos, crie formas de superar
obstáculos que impedem você de conseguir o que quer. Use o que você encontrar como
matéria-prima para escrever suas histórias. Se o texto não resultar em uma boa
narrativa, pelo menos você terá investido seu tempo se conhecendo melhor.

Dica 14: Aceite o convite das histórias que se oferecerem a você


Estes são alguns dos sinais que você recebe quando uma história escolheu
você como escritor: de repente, você imagina um personagem qualquer em uma
situação inusitada, você escuta um diálogo que provoca risos altos, você pensa em uma
frase que desafia preconceitos sobre um assunto, você visualiza um cenário fantástico
que desperta sua imaginação.
Ignorar esses pedaços de narrativa que se oferecem o tempo todo é abandonar
uma história que está convidando você para escrevê-la. Sempre que uma ideia ficar
rondando sua cabeça por mais segundos do que o normal, anota ela em um caderno.
Mais tarde, revisite essas ideias e use uma delas como inspiração para
escrever uma história de ficção.

Dica 15: Não tente agradar a todos com suas histórias

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Ao escrever certos gêneros e decidir por explorar certos temas em seus
textos, você está automaticamente delimitando o alcance da sua história a um
determinado grupo de pessoas.
Se você está escrevendo um épico de fantasia sobre as relações de poder na
era medieval, você está automaticamente excluindo da sua lista de leitores em potencial
todas as pessoas que não se interessam por épicos, por fantasia, e por histórias
ambientadas em passados distantes.
Suas histórias nunca vão agradar 100% dos leitores. Se nem mesmo os livros
que são considerados obras primas da literatura mundial tem aprovação unânime,
certamente seus textos não são e nunca serão exceções. Existe apenas uma única pessoa
que deve sempre gostar de absolutamente todas as suas histórias: você.

Dica 16: Diagrame suas histórias de forma profissional


A forma como você apresenta suas histórias na página tem o poder de
despertar interesse na leitura ou desincentivá-la. Um texto bem diagramado é
convidativo e permite que o leitor se concentre no que importa: na história.
Uma fonte elaborada demais, pequena demais, grande demais, colorida
demais, ou impressa sob um fundo que não oferece bom contraste, não só dificulta a
leitura, mas também influencia na percepção do leitor em relação ao conteúdo e
profissionalismo do escritor.
Muito cuidado na escolha da tipografia, do tamanho da fonte, das cores, do
alinhamento, das margens, do espaçamento entre linhas, letras e parágrafos. Use como
referência para diagramar suas histórias os livros impressos por grandes editoras ou, se
você publica seus textos online, as páginas dos grandes portais de notícias.

Dica 17: Confie na sua intuição ao escrever histórias


Estude teorias, pratique técnicas e leia muitas histórias, mas confie que sua
intuição fará a sua parte quando você começar a escrever. Na sua primeira tentativa de
colocar uma história no papel, simplesmente escolha um tópico como ponto de partida
e escreva o que vier a sua mente o mais rápido possível.
Não tente consertar, editar ou melhorar o texto neste primeiro momento. Não
teorize, racionalize ou analise sua produção. Concentre-se em fazer seus dedos se
moverem mais rápido que seus pensamentos. Dessa forma, você permite que sua
intuição tome conta do processo e o lado mais espontâneo da sua personalidade venha

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à tona. Quando você abre espaço para o inconsciente participar do processo de criação
dos seus textos, você passa a escrever com mais autenticidade.
Suas decisões espontâneas não são tão aleatórias quanto parecem. Elas tem
como base seus conhecimentos e experiências. Ainda que você não tenha consciência
da exata origem do que você escreve, entenda que sua intuição é sua maior fonte de
ideias originais.

Dica 18: Divulgue e distribua suas histórias


Depois de investir tanta energia desenvolvendo suas histórias, seria um
desperdício deixá-las mofando em uma pasta escondida do seu computador.
Existem diversas formas simples de divulgar e distribuir seus textos. Envie
por e-mail para seus amigos, publique em um blog, participe de concursos literários,
imprima cópias e deixe nos bancos do ônibus, compartilhe em redes sociais.
Só considere uma história finalizada depois que você promover o que
escreveu entre alguns, mesmo que poucos, leitores. Não tenha vergonha de convidar
pessoas para ler seus textos.
Dica 19: Empreste sua mente para todos os seus personagens
Se você não quer que todas as suas histórias sejam sobre a sua vida, e todos
os seus personagens sejam versões mal acabadas de você, aprenda a:
• Compreender um conflito de diferentes perspectivas
• Se colocar no lugar de alguém com quem você discorda
• Ver pessoas e situações além das aparências
• Ler nas entrelinhas do que os outros falam
Para escrever histórias originais, você precisa aprender a emprestar sua
mente para todos os tipos de personagens, mesmo aqueles que assustam ou intimidam
você.
Entenda as motivações mais profundas dos habitantes da sua história para
sentir, pensar e agir. Tente entendê-los a partir das experiências individuais que
constituíram suas personalidades e visões de mundo.

Dica 20: Revise suas histórias com os ouvidos


Suas palavras soam diferente dentro e fora da sua cabeça. Ao revisar e editar
suas histórias, leia seus textos em voz alta para verificar o ritmo da narrativa,
a estrutura de frases e encadeamento das ideias.
Se você não consegue se distanciar do que escreveu dessa forma, peça que
outra pessoa leia o texto em voz alta para você. Feche os olhos e preste atenção à
história como se fosse a primeira vez que você estivesse tomando contado com ela.

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Outra opção é usar softwares “text to speech” que transformam texto em
áudio e fazem o computador ler em voz alta para você. Esses programas são ótimos
aliados os processos de edição e revisão, e ajudam na melhora da qualidade final das
suas histórias.

Dica 21: Escreva várias histórias simultaneamente


Ao investir toda sua energia para escrever uma única história, você está se
colocando sob enorme pressão. Se a narrativa não se desenvolver como você esperava,
frustração e descontentamento poderão desincentivar projetos futuros.
Ao invés de concentrar todos os seus esforços em uma única história,
desenvolva várias ideias ao mesmo tempo. Assim, você evita o tédio e monotonia que
surgem em todo projeto de longo prazo.
Intercale entre uma história e outra a cada semana ou mês. Só tome cuidado
para não usar essa técnica como uma forma de procrastinação.

Dica 22: Respeite suas habilidades e suas histórias


Humildade é uma qualidade fundamental que todo escritor deve cultivar.
Você precisa reconhecer suas limitações para saber que habilidades precisa
aperfeiçoar.
Se você está constantemente se parabenizando pela genialidade das suas
ideias e histórias, não se surpreenda se sua escrita não evoluir ao longo do tempo. Mas
tenha o mesmo cuidado para não fazer o contrário. Questionar o valor do que você sabe
o tempo todo não é modéstia, é masoquismo.
Tenha humildade ao escrever. Não olhe para os seus textos como um ditador,
cujo papel é impor palavras e apontar direções. Cada história tem uma vida própria. O
seu papel como escritor é usar todas as habilidades que você tem hoje para registrar os
dramas dos personagens, como um fotógrafo que captura emoções com imagens.

Dica 23: Evite a síndrome do escritor incompreendido


Se você já mostrou seus textos para diversas pessoas e ninguém mostrou
muito entusiasmo por eles, pare de pensar que o problema é a falta de sensibilidade dos
outros em ver a beleza da sua prosa nas entrelinhas.

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Considere a possibilidade de que talvez você não esteja se expressando com
clareza, que talvez os temas das suas histórias não despertam o interesse dos leitores,
ou que talvez suas narrativas não têm nada de original.
Ao invés de se revoltar contra o mundo e assumir a postura do escritor
incompreendido, que sofre com a estupidez e falta de bom gosto alheia, escute
abertamente as críticas de outras pessoas e tente descobrir como você pode melhorar.

Dica 24: Escreva com liberdade e edite com disciplina


Você não precisa saber tudo o que vai acontecer na sua história antes de
começar a escrever. Os primeiros rascunhos servem justamente para testar
possibilidades e explorar a ideia que o inspirou. Nesse primeiro momento, escreva sem
se preocupar em definir cada detalhe da história. Deixe a sua intuição tomar conta do
processo.
Reserve seu senso crítico e pensamento analítico para quando já tiver
definido a estrutura do texto e o que você deseja comunicar com a história. Só então
use suas habilidades técnicas para consertar as cenas que não funcionam,
os diálogos que parecem sem vida, os eventos do enredo que prejudicam o ritmo da
história. Substitua todas as palavras que não expressarem exatamente o que você deseja
comunicar, todas as frases que soarem fora do lugar, e todos os parágrafos que
parecerem irrelevantes.
Aprenda a separar as fases de criação e edição. Dessa forma, a história se
beneficiará tanto da espontaneidade da sua intuição, quanto das suas habilidades
técnicas.

Dica 25: Seja específico em suas descrições


Palavras fazem parte do nosso vocabulário racional. Imagens fazem parte do
nosso vocabulário emocional. Palavras permitem que você traduza suas ideias de forma
organizada e compreensível. Imagens permitem que você ilustre suas emoções através
de comparações e simbolismos.
Descrições genéricas entregam ao leitor a responsabilidade de transformar
suas palavras em imagens. É um convite a elaboração de detalhes da história que você,
escritor, poderia usar para destacar passagens importantes do texto e expressar sua
visão artística com mais fidelidade.
Por exemplo: “Achava, o Crisóstomo, que seriam felizes para sempre. Ele
disse: acredito que vamos os dois ser felizes para sempre. Isaura riu esquisito.” Como
esquisito é um adjetivo genérico, tal descrição da risada dessa personagem carece de
energia.
Ao descrever uma característica importante sobre um personagem,
escolha palavras que criem uma imagem mais específica de tal característica. Seu
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objetivo é oferecer referências concretas para ajudar o leitor a imaginar com mais
clareza o que você está tentando expressar.
Observe esse exemplo, extraído do livro “O filho de mil homens”, de Valter
Mãe: “Achava, o Crisóstomo, que seriam felizes para sempre. Ele disse: acredito que
vamos os dois ser felizes para sempre. Ela riu-se. A Isaura nem sabia rir. Parecia só
um animal incomodado por graça. Até a expressão de um sentimento benigno lhe
aparecia no rosto como um certo gesto atrapalhado.” Perceba como o escritor é mais
específico na forma de descrever a esquisitice da risada de Isaura e a comparação da
personagem a um animal reforça a estranheza que o escritor deseja expressar. Como
essa descrição é mais precisa, a passagem ganha vida.
Em momentos importantes do texto, seja específico em suas descrições, faça
comparações, ofereça referências. Use linguagem simbólica para pintar imagens mais
vívidas, que ajudem o leitor a enxergar as especificidades do seu universo de ficção.

Dica 26: Acredite no que você escreve


Talvez você não tenha consciência do que tá tentando expressar com a sua
história, mas inevitavelmente o seu texto está carregado de valores morais. Toda
história de ficção vende um modo de ver o mundo que procura reforçar certos valores
e opiniões sobre o que o escritor considera certo e errado, importante e irrelevante,
aceitável e inaceitável. A gente dedica tanto tempo das nossas vidas lendo sobre
personagens inventados enfrentando problemas de faz de conta justamente porque as
histórias desses personagens nos ajudam a colocar as nossas opiniões e os nossos
valores em perspectiva.
Em um mundo onde reina o politicamente correto, onde as pessoas tentam
evitar conflito a todo custo, onde a maioria prefere concordar pra ser educado do que
discordar e defender a sua opinião, as pessoas respeitam e admiram quem tem coragem
para afirmar e defender suas convicções, ainda que elas vão contra ao que é senso
comum. Um escritor precisa de coragem para dizer alguma coisa, pra defender uma
ideia, pra celebrar uma certa forma de olhar para o mundo.
Já existem milhares de histórias que ficam em cima do muro, que não dizem
nada, que não envolvem as nossas emoções. Então como se escreve uma história que
diz alguma coisa de relevante e envolve as emoções do leitor? Você faz isso escrevendo
sobre as verdades em que você acredita, escrevendo sobre os valores que guiam sua
vida, sobre assuntos que fazem seu sangue ferver, sobre situações que fazem você
sorrir, sobre momentos bonitos que passam desapercebidos, sobre injustiças que você
quer ajudar a consertar. Escreva sobre um tema que mexe com alguma coisa dentro de
você. Esse é o melhor caminho para mexer com alguma coisa dentro do leitor.

Dica 27: Não se preocupe com a extensão da sua história

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Não existem regras quanto à extensão que uma história deve ter. A decisão
de quantas páginas você deve escrever está relacionada ao tipo de história que você
quer contar, e quanto tempo você precisa para contextualizar a narrativa, desenvolver
os personagens, apresentar e resolver os conflitos do enredo.
Uma história só nos parece longa demais quando é desinteressante. Boas
histórias envolvem nosso intelecto e nossas emoções, nos fazendo esquecer do tempo.
Escreva tanto quanto você considerar necessário para expressar sua visão de
mundo sobre o tema da narrativa. Ao revisar seu texto, reavalie o objetivo e a
importância de cada frase, e decida se o que elas acrescentam à história justifica sua
presença. Escrever simplesmente para preencher a página é um desrespeito ao leitor.

Dica 28: Recompense o tempo do leitor


Quem lê histórias de ficção procura uma experiência emocional. Faça seu
leitor rir, chorar, se surpreender, se indignar, se aterrorizar. Faça ele sentir alguma
coisa, porque no momento que ele ficar indiferente ao que você escreve, seu texto será
abandonado.
Toda história propõe uma transação. O leitor lhe dá seu tempo e atenção e,
em retorno, você o entretém. Edite seus textos julgando cada frase com o olhar de quem
não tem tempo, é impaciente, não acredita que um escritor iniciante vai produzir nada
que preste.
Recompense o tempo que o leitor está investindo na sua história em cada
frase. Faça isso e tenha certeza de que seus textos terão muito mais chances de serem
lidos.

Dica 29: Tempere suas histórias com drama e comédia


Drama e comédia provocam emoções opostas: tensão e angústia versus
relaxamento e diversão, respectivamente. Sua história sempre vai explorar com mais
intensidade um gênero ou outro, mas uma combinação assimétrica dos dois resultará
em uma aventura emocional mais interessante para o leitor.
Se você está escrevendo um drama, inclua alguns momentos engraçados para
quebrar a tensão. Se sua história é uma comédia, permita que os personagens, em algum
momento, revelem algo mais profundo e dramático sobre suas personalidades.
Esse contraste entre risos e emoções tornarão mais vívidas as cores do gênero
que você está escrevendo.

Dica 30: Respeite as regras que você criar para sua história
Você tem completa liberdade para inventar cada detalhe do universo de
ficção da sua história. Mas isso não significa que suas decisões podem ser
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completamente aleatórias. Sua história precisa ser consistente e coerente para envolver
o leitor.
A narrativa deve ser construída e sustentada dentro de uma lógica, ainda que
essa lógica seja completa invenção da sua cabeça. Se no final da história, seu
protagonista estiver no último andar de um prédio em chamas sem saber o que fazer,
você não pode simplesmente dar a ele a habilidade de voar, a não ser que você tenha
estabelecido em algum ponto no início do enredo que isso é possível nesse universo de
ficção.
Defina as regras da sua história nas primeiras páginas e capítulos, e
certifique-se de que você as está respeitando da primeira frase até o último ponto final.

Dica 31: Domine a estrutura narrativa clássica


A estrutura narrativa de uma história é a forma como o escritor organiza as
informações para expressar suas ideias e pensamentos sobre um determinado
tema. A estrutura narrativa conhecida como arco dramático é considerada clássica
porque ela expressa a forma mais universal como nossa mente processa informações
para preservar nossa integridade física e psicológica.
Do ponto de vista biológico e instintivo do ser humano, a vida é uma batalha
constante contra os pequenos e grandes obstáculos que impedem a realização dos
nossos desejos mais básicos aos mais complexos. Histórias estruturadas ao redor de
um arco dramático focam nas tentativas do protagonista de resolver ou lidar com
um conflito que o impede de alcançar um desejo ou objetivo. As experiências vividas
ao longo do enredo e cada ação e decisão do personagem resultam – no final da
narrativa – na criação de uma nova realidade, que pode ser melhor ou pior do que era
antes do início da história, mas nunca igual.
Se você vem praticando a escrita livre – despreocupado com a estrutura do
texto – e tem dificuldades para desenvolver ou terminar histórias, suas narrativas
possivelmente não estão estruturadas ao redor do arco dramático de um personagem.
Entenda como as narrativas de arco dramático funcionam e pratique escrever
textos usando esta estrutura. Seus experimentalismos literários ou decisões estruturais
que se afastam da forma clássica devem ser escolhas conscientes que têm como
objetivo alcançar um certo efeito ou provocar certa reação.

Dica 32: Valorize disciplina mais do que talento


Você pode desenvolver seu talento através de disciplina, mas não pode
desenvolver disciplina através do seu talento.
Não importa se você tem facilidade de criar ideias originais para histórias de
ficção. Se você não investe tempo no desenvolvimento e refinamento dessas ideias,

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elas nunca vão existir fora da sua cabeça. É o exercício constante de transformar seus
pensamentos em palavras que abrirá as portas para o seu talento desabrochar.
Se você não se considera um escritor muito talentoso, compense sendo um
escritor extremamente disciplinado. Se você se considera um escritor talentoso,
estabeleça uma rotina de escrita para permitir que suas ideias não sejam desperdiçadas.

Dica 33: Aprenda a observar pessoas como um escritor


Durante grande parte do dia, sua atenção está voltada para seus próprios
pensamentos e sentimentos. Enquanto você está ocupado bajulando o seu ego, está
desperdiçando uma quantidade enorme de material original praticamente pronto para
ser incorporado as suas histórias.
Esqueça estereótipos e comece a observar pessoas como um escritor. Preste
atenção detalhada aos comportamentos, reações, movimentos e diálogos que
acontecem ao seu redor. Faça isso regularmente e você vai perceber que começará a
criar personagens mais verossímeis e empáticos para suas histórias.
Deixe de lado suas opiniões e preconceitos. Observe sem fazer juízo de valor
qualquer pessoa que atraia seu olhar.

Dica 34: Decida quando usar narração ou diálogo


A diferença básica entre narração e diálogo está na forma como o escritor
deseja que o leitor tenha contato com os personagens. Diálogos permitem que o escritor
dê vida aos habitantes de suas histórias, já que possibilitam ao leitor observar em
primeira mão a forma como eles se comportam, se expressam, e se relacionam. Em
narração, o escritor seleciona, edita, descreve e analisa os comportamentos
do personagem a partir do seu ponto de vista.
Se você quer caracterizar uma professora de português, por exemplo, pode
descrever o método militar como ela conduz as aulas, o tom impessoal com que ela
trata os alunos, a forma correta e artificial como ela usa o português mesmo em
situações informais. A outra opção é demonstrar isso através de diálogos entre a
professora e outros personagens, permitindo que o leitor reconheça essas características
sem que o escritor precise descrevê-las.
É preciso ter em mente que isso expõe a personagem. Ela não mais estará
sendo observada somente através da perspectiva do narrador. Ela está agora em frente
ao leitor, sujeito às interpretações diretas de suas falas e comportamentos. Avalie em
que momentos você precisa usar narração ou diálogo de acordo com o objetivo de cada
cena.

Dica 35: Desconfie dos seus momentos de inspiração

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Quando você está muito envolvido e entusiasmado com uma ideia, produz
páginas e mais páginas com uma facilidade assustadora. A história parece estar se
escrevendo sozinha, os personagens parecem ter vida própria, e você se sente um poço
de criatividade sem fim.
Quando estiver procurando por ideias para escrever, sempre desconfie
daquelas que se oferecem rápido demais. Todo processo criativo é angustiante. Nosso
primeiro impulso é procurar por uma solução o mais rápido possível para aliviar a
tensão inerente a qualquer esforço de criação artística.
Essas ideias que vem com muita facilidade convivem muito próximas das
histórias que você leu em livros, assistiu em filmes ou em seriados de televisão. Avalie
se sua ideia é realmente original, ou se você acidentalmente se deixou levar pelo seu
primeiro impulso criativo.

Dica 36: Permita que o leitor tire suas próprias conclusões


Um dos principais objetivos de qualquer história é entreter. No momento em
que você tenta explicar o que o leitor deve sentir ou pensar sobre o que está
acontecendo em uma cena, você deixa de entreter e passa a educar.
Resista à tentação de tentar catequizar ou informar o leitor sobre o que você
pensa a sobre o tema da história. Deixe seus argumentos e teorias para seus textos de
não-ficção. Você mostra seu ponto de vista com destino que dá para
cada personagem. O escritor não deve explicar suas opiniões nas suas histórias, mas
sim dramatizá-las.
Concentre-se em mostrar as reações dos seus personagens às situações em
que eles se encontram. Deixe que o leitor tire suas próprias conclusões sobre o que a
história significa ou representa.

Dica 37: Encontre um equilíbrio entre razão e emoção


O processo de criação de uma história envolve tanto o lado racional quanto
o lado emocional do seu cérebro. Escrever puramente baseado no que você sente
resultará em uma narrativa enfadonha e subjetiva. Por outro lado, escrever
simplesmente sobre o que você pensa tornará seu texto um mero exercício intelectual.
Use lógica para dar coerência e criar uma estrutura narrativa consistente para
suas histórias. Use sua intuição para expressar artisticamente como você se sente em
relação aos dramas, ações e decisões dos personagens ao longo do enredo.
Encontre um equilíbrio entre razão e emoção para desenvolver um estilo de
escrever que faça bom uso da sua inteligência racional e emocional.

Dica 38: Não reproduza a realidade nas suas histórias


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Ao narrar uma experiência pessoal, é comum que você inclua, exclua ou até
mesmo altere certos acontecimentos e detalhes que ocorreram. Você faz isso porque
quer se certificar que seus ouvintes reagirão a sua história da forma que você deseja. É
o famoso “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Ao escrever histórias de ficção, você deve fazer exatamente isso: narrar
acontecimentos tendo como principal objetivo provocar no leitor as reações que você
deseja. Não tente reproduzir com fidelidade nos seus textos como os eventos
aconteceriam de verdade.
O mundo real está cheio de momentos repetitivos e sem sentido, que não
acrescentam nada ao mundo ficcional. Histórias são espaços para escritores
construírem as suas próprias verdades, não meras imitações da realidade.

Dica 39: Entenda o que o leitor quer sentir ao ler suas histórias
Mesmo sem perceber, escritores decidem escrever certos gêneros literários
em função do seu interesse nos grandes temas que eles desejam explorar nos seus
textos. Histórias de amor sempre exploram o tema “conexão”. Romances policiais
sempre exploram o tema “justiça”. Histórias de horror sempre exploram o tema
“segurança”.
Do ponto de vista do leitor, para além da temática do texto, a escolha do
gênero também reflete a experiência de leitura que ele está buscando. Quem procura
por comédias, quer relaxar e se divertir lendo sobre ideias e situações engraçadas.
Quem procura por dramas, quer refletir e se emocionar com os conflitos dos
personagens. Quem procura por suspense, quer tentar desvendar mistérios a partir das
pistas deixadas ao longo do enredo. Quem procura por fantasia, quer explorar universos
paralelos. E assim por diante. Por isso, é importante que você conheça as convenções
dos gêneros que você escreve e tenha consciência das expectativas dos seu potenciais
leitores.
O que todas as histórias de um mesmo gênero têm em comum é a experiência
de leitura que elas criam. Para inovar, você precisa conhecer as convenções do gênero
que você está escrevendo e encontrar formas de reimaginar as cenas e momentos
clássicos desse tipo de narrativa. Considere novas formas de organizar informações, de
descrever detalhes sobre o universo de ficção e de usar o contexto de vida dos
personagens para explorar o tema da história de um ângulo original.

Dica 40: Escreva independentemente do seu humor


Escrever somente quando você se sente inspirado limita sua criatividade.
Cada estado de espírito é uma oportunidade única para você desenvolver um aspecto
diferente da sua história, e introduzir mais emoção e complexidade emocional aos seus
personagens.

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Quando estiver irritado, use sua raiva para escrever um diálogo eletrizante.
Quando se sentir preocupado, se imagine como um personagem e escreva uma cena
onde você encontra uma solução para suas ansiedades. Quando estiver melancólico,
descreva em minúcias as causas da sua tristeza.
Aprenda a explorar sua energia emocional de uma forma mais criativa e
produtiva. Procure por personagens nas suas histórias que possam se beneficiar do que
você está sentindo.

Dica 41: Teste diferentes pontos de vista para sua história


Antes de começar a escrever, considere como sua história se desenvolveria
se fosse narrada a partir do ponto de vista de cada um dos personagens principais.
Imagine as vantagens e desvantagens de escolher um narrador ou outro,
avaliando qual deles tem mais potencial de atrair o interesse do leitor. Considere
que personagem, sozinho ou acompanhado, tem o potencial de narrar a história com
mais honestidade, e oferecer aos leitores algo de verdadeiro, novo e inusitado sobre o
tema.
Esse exercício também ajudará você a entender melhor os dramas e conflitos
centrais da sua narrativa a partir de diferentes pontos de vista, dando a você uma visão
mais global da história.

Dica 42: Use lápis e papel para desenvolver suas ideias


Se você sempre inicia o seu processo de criação no computador, está
limitando suas ideias a se manifestarem em forma de palavras. Além disso, você está a
um clique de desviar sua atenção do que está escrevendo para o paraíso hedonista da
Internet.
Pelo menos nos primeiros estágios de desenvolvimento de uma história, use
lápis e papel. Rabisque, desenhe, esquematize. Permita que suas ideias e pensamentos
se manifestem da forma como bem entenderem.
Não se limite a escrever apenas onde seu computador está ou onde você pode
levá-lo. Cadeiras em praças de alimentação, mesas nos cantinhos de restaurantes, e
banheiros na casa de parentes chatos também são ótimos lugares para desenvolver suas
ideias de história.
O editor de texto é apenas uma ferramenta para formatar e editar seus textos.
Só use o computador depois de investigar suas ideias com lápis e papel.

Dica 43: Faça parte de uma comunidade de escritores


O trabalho do escritor é solitário. Passamos incontáveis horas tentando
preencher páginas vazias com nossos pensamentos e emoções. Somos incansáveis em
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nossa busca pelas palavras certas para expressar ideias que nos parecem importantes,
urgentes, poéticas, verdadeiras, profundas, divertidas, provocadoras, curiosas. Mas
com frequência, nos sentimos bloqueados e desestimulados. Empacamos em um ponto
da narrativa e não conseguimos imaginar como seguir em frente ou nos decepcionamos
com os resultados dos nossos esforços criativos. Não demora muito até começarmos a
questionar nossas habilidades de escrita e o valor das nossas ideias.
Como resultado, editamos obsessivamente o mesmo texto incontáveis
vezes, abandonamos narrativas pela metade ou, dependendo do nível de frustração, até
mesmo paramos de escrever por um longo período de tempo. Nosso orgulho muitas
vezes nos impede de pedir ajuda. Nos sentimos menos criativos se não conseguimos
encontrar sozinhos uma forma de melhorar nossos textos. Acreditamos que, nós
mesmos, devemos encontrar soluções para todos os desafios que nossas
narrativas apresentam.
Concordo com o escritor Austin Kleon que um dos mitos mais destrutivos
sobre criatividade é a ideia do artista isolado e antissocial. Ele seria um indivíduo com
talentos e habilidades extraordinárias que, livre da influência de outras pessoas, cria o
inimaginável e apenas compartilha seu trabalho depois de pronto. Escrever, de fato,
requer isolamento. O escritor precisa se distanciar do mundo externo para entrar em
contato com seu mundo interno. Sozinho, ele precisa escrever, reescrever, editar e
revisar, até chegar na melhor versão que consegue imaginar para o texto naquele
momento. Só então, a narrativa está pronta para encarar seus primeiros leitores.
Mas isso não significa que você precisa se isolar completamente até esse
momento chegar. Muito pelo contrário. Conversar sobre seus bloqueios criativos pode
ajudar você a ganhar perspectiva sobre uma ideia que está desenvolvendo, clarificar o
que você está tentando expressar em um texto e despertar sua consciência para hábitos
improdutivos que impedem você de terminar suas narrativas ou alcançar os resultados
que deseja.
Comunidades de escritores são ótimos espaços para você
trocar experiências. Seus medos, ansiedades, dúvidas e inquietações vão encontrar
companhia, e você vai perceber que muitas das suas dificuldades são comuns a todos
que escrevem histórias. Procure em sua cidade por grupos de escritores que se
encontram regularmente para compartilhar textos e ideias. Se você não encontrar
nenhum, crie você mesmo um grupo.

Dica 44: Participe de concursos literários


Concursos tiram você da sua zona de conforto e ajudam a avaliar o impacto
das suas histórias fora da sua cabeça. Você pratica disciplina para escrever (já que deve
obedecer ao prazo de entrega), tem uma motivação concreta (vários concursos
oferecem prêmios aos vencedores), ganha um grande incentivo para continuar (se
ganhar), e aprende a lidar com rejeição (se sua história não for premiada).

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Concursos também oferecem a oportunidade de ter a qualidade das suas
histórias avaliada em comparação com a de outros escritores. Existe ainda a chance de
algum editor ou agente literário tomar contato com seu trabalho e lhe fazer uma
proposta profissional.
A participação em concursos literários poderá trazer novas perspectivas
sobre suas histórias, e novas oportunidades em sua carreira de escritor.

Dica 45: Faça um curso de criação de histórias


Na viagem entre os pensamentos e a página em branco, é comum que uma
ideia de história perca força e coerência. Quando isso acontece, nosso primeiro impulso
é abandonar o texto, e se render aos encantos de uma nova ideia.
Se você não quer ser um daqueles escritores com milhões de textos
começados e nenhum finalizado, você precisa aprender a analisar suas histórias com
imparcialidade. Consciente de cada escolha que você faz para estruturar suas
narrativas, você ganha controle sobre seus textos.
Cursos, workshops e oficinas de criação despertam seu senso crítico para
avaliar suas ideias e a estrutura das suas histórias em profundidade, além de equipar
você com técnicas para torná-las mais envolventes.

Dica 46: Pare de tentar escrever melhor


Quando você tenta fazer alguma coisa, está querendo alcançar um objetivo
específico. Se você ama música e decide tentar ser um pianista, por exemplo, você pode
simplesmente apertar as teclas do instrumento na esperança de criar uma melodia que
agrade seus ouvidos. Talvez você tenha sorte e consiga produzir algumas passagens
harmoniosas. Talvez não. Tentativas são sempre bem ou mal sucedidas. Você alcança
seu objetivo ou não.
Quando você treina para fazer alguma coisa, está exercitando as habilidades
necessárias para alcançar seu objetivo. Se você decide treinar para ser um pianista, vai
estudar teoria musical, vai se familiarizar com as figuras rítmicas, vai praticar melodias
e harmonias. Treinamentos permitem que você aprenda tendo consciência dos seus
erros e acertos. O processo torna você melhor, independentemente de você ter
alcançado seu objetivo final ou não.
Se você está cansado de tentar escrever melhor e quer começar a treinar suas
habilidades de escrita:
• Conheça a estrutura, os elementos e os princípios básicos das
narrativas de ficção.
• Desconstrua boas histórias e entenda porque elas funcionam.
• Reconheça os pontos fortes e fracos dos seus textos.

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Dica 47: Use adjetivos com moderação
Adjetivos são usados para modificar o significado de substantivos. Você
pode utilizá-los para atribuir uma característica (o carro vermelho), uma qualidade (a
menina linda) ou um julgamento (o rapaz idiota) a uma pessoa, objeto ou situação.
Adjetivos são os recursos descritivos mais básicos que um escritor pode
utilizar. Seu significado é totalmente dependente dos conhecimentos e opiniões do
leitor. Se você escreve “a professora estava cansada”, está dando ao leitor a
possibilidade de associar à personagem quaisquer imagens e sensações que o adjetivo
“cansada” lhes evoca. Se ao invés disso, você escreve “a professora parecia estar
carregando um elefante em suas costas”, está oferecendo uma imagem mais específica
e original do que na versão com o adjetivo.
São esses detalhes que tornam sua voz de escritor única e que dão mais vida
as suas histórias. Quanto melhor você escolher verbos e substantivos, menos adjetivos
serão necessários para ilustrar as ideias e sensações que você quer transmitir para o
leitor.

Dica 48: Estimule sua criatividade com exercícios físicos


Atividades intelectuais não são a única forma de estimular sua criatividade.
Sua mente precisa de descanso e seu corpo precisa de movimento. Portanto, não use
todo o seu tempo livre para escrever. Invista pelo menos algumas horas toda a semana
em alguma atividade que movimente o seu corpo.
Exercícios físicos tem um efeito profundo na química do cérebro e na
habilidade da mente de conectar ideias. Isso afeta não apenas sua capacidade de pensar
e criar, mas também influencia no seu humor e produtividade. Sua criatividade está
mais ligada aos seus instintos do que ao seu intelecto.
Por isso, as melhores ideias só aparecem quando a mente fica menos
pensativa. Nada melhor do que desafiar os limites do seu corpo para esvaziar a cabeça.
Exercite-se regularmente. Tanto sua saúde quanto suas histórias serão beneficiadas.

Dica 49: Manipule as expectativas do leitor


Para escrever histórias que entretenham e surpreendam, o escritor precisa
conhecer as expectativas e preconceitos da sua audiência em relação aos temas
abordados na narrativa.
Um rápido exemplo: “Acabei de descobrir que meu marido fugiu com minha
psicóloga. Não sei o que será da minha vida sem ela.” Essa frase surpreende porque

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subverte o que é senso comum no tema casamento: o marido é mais importante que a
psicóloga.
Se você tem consciência do que sua audiência pensa sobre algo que está para
acontecer em sua história, você pode surpreender as pessoas apresentando algo
diferente do que elas esperavam. Envolva seu leitor no enredo da narrativa
manipulando suas expectativas, e conduzindo a história por caminhos inesperados.

Dica 50: Questione todas as dicas anteriores


Nenhuma das dicas anteriores são universais, infalíveis e aplicáveis a toda e
qualquer história. Cabe a você avaliar e questionar quais podem contribuir para
desenvolver detalhes do seu universo de ficção e tornar você um escritor mais
produtivo.
Não se contente em tentar aplicar as técnicas apresentadas nessa série.
Procure desenvolver um método próprio de escrever, um que leve em consideração
suas habilidades e motivações, e que expresse com clareza e força todas as qualidades
da sua voz de escritor.
Domine a estrutura narrativa clássica, coloque em prática as técnicas que
facilitarem seu processo de criação, mas mantenha a mente aberta para experimentar e
testar abordagens diferentes.
Quer mais dicas? Leia a continuação da série com outras 50 dicas detalhadas
para escrever mais e melhor.

Dica 51: Comece suas histórias com impacto


As primeiras linhas, os primeiros parágrafos, as primeiras páginas e os
primeiros capítulos são definitivos no processo de decisão de leitura de um texto, e
devem deixar claras as respostas para duas perguntas: qual é a história que você vai
contar e como você vai fazer isso.
Imagine que você tem diante de si uma infinidade de portas fechadas.
Começar a ler uma história é como abrir uma dessas portas. No início, você está
espiando pela frestinha aberta, procurando por algo que lhe ajude a decidir se vale a
pena entrar e explorar esse espaço.
Você ouve os diálogos, observa os personagens, analisa a locação e, acima
de tudo, procura entender o sentido do que está acontecendo. O objetivo de todo
escritor é deixar quem abre uma de suas portas inquieto, curioso, inspirado,
entusiasmado com o que virá pela frente.
Nesse primeiro momento, o leitor está tentando entender a forma como você
organizou a narrativa. Ele está a procura de uma moldura que o ajude a avaliar se o
tema e o tom em que a história será contada são do seu interesse. São informações

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essenciais: quem é o protagonista e qual o conflito central da história. A partir dessas
informações, o leitor avalia se prosseguirá na leitura do restante do texto.

Dica 52: Entenda a diferença entre escrever bem e escrever ficção


Se você acredita que escreve bem, isso não significa que você tem as
habilidades necessárias para escrever ficção. Se você tem facilidade para criar ideias
de histórias originais, isso não significa que você escreve bem.
Para desenvolver qualquer uma dessas habilidades, você precisa primeiro
entender a diferença entre elas.
Escrever bem é saber expressar seus pensamentos com clareza, coerência e
originalidade através da palavra escrita.
Escrever bem ficção é saber transformar ideias de histórias em enredos que
provoquem empatia e curiosidade para acompanhar os personagens de uma narrativa.

Dica 53: Defina o conflito central da história


Diante de um conflito, podemos não agir e simplesmente aceitar as
consequências dessa decisão, ou podemos fazer o que for preciso para resolver esse
problema, enfrentando quaisquer obstáculos que aparecerem ao longo do caminho. Ao
assumir responsabilidade e lutar para alcançar o que deseja, você sempre sai
transformado e enriquecido pela experiência.
Esse mesmo raciocínio se aplica aos personagens que você cria. Conflito é o
eixo central de toda a história porque abre espaço para transformação. E é exatamente
isso o que buscamos em narrativas de ficção: uma oportunidade para repensar e,
possivelmente, mudar nossa visão sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Defina o conflito central da sua história com base no desejo do protagonista
despertado por um conflito que se impôs em sua vida. Desenvolva o enredo pensando
nos obstáculos que ele encontrará ao longo do caminho para alcançar o que deseja.

Dica 54: Invista mais tempo vivendo do que escrevendo.


Escrever é uma atividade que exige introspecção. Você se fecha no seu
mundinho e fica lá brincando com seus pensamentos. Se você passar tempo demais
sozinho dentro da sua cabeça, vai limitar sua perspectiva sobre a vida.
Investir todo o seu tempo livre na frente do computador inventando histórias
não vai tornar você um escritor melhor. A matéria-prima das suas histórias são
suas experiências e a forma como você as interpreta. Portanto, invista mais tempo
vivendo do que escrevendo.

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Saia da sua zona de conforto constantemente, busque novas experiências, e
depois escreva sobre o que sentiu. Faça da sua vida uma aventura vívida e suas palavras
vão pular da página e fazer diferença na vida dos seus leitores.

Dica 55: Analise tudo o que você sente e pensa.


Analisar tudo o que se sente e pensa é um exercício narcisista e paranoico,
mas é uma forma intensa de desenvolver sua voz de escritor.
Experimente investigar os cantos obscuros da sua personalidade e procure
entender porque você é do jeito que é. Desligue seus mecanismos de defesa, e se
observe da forma mais imparcial possível. Não deixe nenhuma sensação, pensamento
ou emoção novos passarem desapercebidos.
Essa habilidade de interpretar as origens e motivações dos seus
comportamentos pode ser aplicada para a criação de personagens mais autênticos e
verossímeis, que provoquem identificação com seus leitores.

Dica 56: Escolha a melhor roupa e local para escrever.


Ao vestir terno e gravata, você se sente sério e formal. Quando você veste
jeans e camiseta, se sente casual e informal. Ao colocar seu pijama, você se sente
descansado e relaxado. Associamos certos trajes a determinadas sensações e
atividades. Por isso, a forma como você se veste influencia no seu comportamento e
estado de espírito.
Considere que roupas vestir quando for escrever. Esse pequeno detalhe pode
afetar sua produtividade, capacidade de concentração e até mesmo ajudar você a entrar
na pele de um personagem. Experimente escrever usando roupas demais para simular
o calor que seu protagonista está sentindo dentro do uniforme de astronauta.
Experimente escrever usando roupas de menos para, assim, sentir o frio que seu
personagem está sentindo enquanto espera na sala de exames do hospital. Experimente
escrever sem roupa para imaginar o quão vulnerável sua protagonista está se sentindo
no vestiário do clube.
Assim como suas roupas, o local onde você escreve também é uma escolha
que pode influenciar nas suas criações. Experimente escrever deitado no sofá,
sentado na patente do banheiro, de pé na sala, em frente a uma janela, no banco de um
parque, na praça de alimentação de um shopping, dento do ônibus, debaixo da cama.
Observe onde você se sente mais criativo e produtivo e, sempre que se sentir
bloqueado, mude de lugar.

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Dica 57: Procure ideias originais longe do computador
Ideias originais são excêntricas e introvertidas. Já reparou como elas
raramente aparecem quando você está com o processador de texto aberto ou com o
lápis na mão? Pare de procurar ideias originais apenas em locais que elas evitam
frequentar, como escrivaninhas, telas de computador e páginas em branco.
Você tem muito mais chances de encontrá-las em lugares inusitados, como
em salas de espera, chuveiros de academias, pistas de dança, parques de diversões,
galerias de arte e calçadões na beira da praia. Quando encontrar uma ideia original,
resista à tentação de convidá-la para participar da sua trilogia de fantasia medieval.
Comece do começo. Pergunte como foi seu dia, o que ela faz em domingos de chuva,
qual o seu filme favorito, onde passou as últimas férias.
Você precisa passar tempo com cada ideia que encontrar, sem nenhuma
ambição além de conhecê-la melhor. Só assim ela vai se sentir à vontade para revelar
o que está por trás de suas excentricidades. Quando você atinge esse nível de
intimidade com uma ideia, você começa a entender, aos poucos, como ela precisa ser
moldada para ajudar você a contar sua história com mais foco e autenticidade.

Dica 58: Enfrente os medos que impedem você de escrever.


O medo é o mecanismo de defesa que nosso corpo e nossa mente usam para
nos proteger. Todo medo indica que reconhecemos um perigo. Qual o perigo que
escrever um texto pode trazer para nossa vida?
Ao escrever uma história, você está compartilhando (ainda que não seja a
sua intenção) seu senso moral, sua lógica de pensamentos, seus desejos, seus
preconceitos e suas fantasias. Expor sua personalidade dessa forma coloca você em
uma posição extremamente vulnerável, fazendo com que certos medos atrapalhem seu
processo de criação.
Aprenda a reconhecer e enfrentar os disfarces que suas inseguranças vestem
para tentar impedir que você escreva.
Medo de fracassar
Medo de “fazer errado”, de não conseguir escrever uma boa história, está
geralmente associado ao medo de ser humilhado e criticado. Escritores têm dificuldade
de se separar daquilo que criam. O medo de ser ridicularizado por um texto que você
escreveu paralisa porque ninguém gosta de testar sua autoestima em público.
Erros são suas maiores fontes de aprendizado. Erre da forma mais errada
possível, se permita escrever a pior história imaginável e você só tem a melhorar.
Medo do sucesso
Medo de escrever histórias fantásticas que o tornem um escritor reconhecido
é geralmente medo das mudanças que isso inevitavelmente traz como, por exemplo, a
ansiedade de não conseguir corresponder às expectativas que ser bem sucedido vai criar
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nos outros. Sucesso coloca você no centro das atenções e nem todos estão preparados
para lidar com isso.
Mudanças são inevitáveis, quer você seja bem sucedido ou não. Experimente
o sucesso e decida se você gosta das mudanças que isso inevitavelmente trará para sua
vida.
Medo de rejeição
Medo de que algumas pessoas não vão gostar das histórias que você escreveu
é geralmente medo de descobrir que existem pessoas que não vão gostar de você. Ainda
que se tenha uma legião de fãs, nem todos sabem lidar bem com a ideia de que suas
histórias não serão apreciadas por todos.
Ninguém é unanimidade. Encontre seu público e preocupe-se apenas em
escrever com ele em mente. Aprenda a aceitar que mesmo alguns dos seus fãs talvez
não vão gostar de algumas histórias que você vai escrever e não há nada de errado
nisso.
Medo de ser medíocre
Medo de que o que se escreve nunca está bom o suficiente é geralmente medo
de prejudicar sua imagem diante de outras pessoas. Esse medo vem geralmente
disfarçado de perfeccionismo. Ele acaba por impedir que você termine qualquer projeto
porque você sempre tem a sensação de que ainda pode fazer melhor.
Você pode reescrever a mesma história eternamente tentando atingir
perfeição. Mas é melhor colocar uma história “imperfeita” no mundo do que deixá-la
em uma pasta escondida do seu computador.
Medo de arriscar
Medo de colocar suas ideias em prática é geralmente medo da fantasia de
talento e sucesso na sua cabeça não corresponder à realidade. É mais fácil e confortável
tentar se convencer que se você se esforçasse de verdade, seria um ótimo escritor. Dar
um passo rumo ao desconhecido requer humildade e coragem, mas há quem não
conheça o real significado dessas palavras.
A pior coisa que pode acontecer se você colocar suas ideias em prática é
descobrir que você é um escritor imaturo. Reconheça suas limitações, arregace as
mangas e comece a praticar para escrever melhor.

Dica 59: Considere que cenas a história precisa.


Toda história de ficção é como um quebra-cabeça sem a caixa para mostrar
qual será a imagem final. Cada cena é como uma peça desse quebra-cabeça que dá
pistas da figura que será formada. No decorrer da narrativa, o leitor procura encontrar
padrões no formato e no conteúdo de cada peça e, aos poucos, dar sentido para o que
o escritor está mostrando.

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Para avaliar que cenas são necessárias e quais são dispensáveis, é importante
que o escritor tenha em mente a imagem final que deseja criar com sua história. Isso
não precisa necessariamente ser definido antes de você começar a escrever. Essas
decisões podem ser tomadas durante o processo de edição e revisão.
Lembre-se que leitor não tem acesso a todas as peças do quebra-cabeça no
início da história. É você quem deve orientá-lo, entregando peça por peça, de forma a
criar um processo de descoberta interessante e estimulante.

Dica 60: Procure por conflitos para encontrar ideias de histórias.


A semente fundamental que faz uma história de ficção crescer é uma
possibilidade de mudança positiva ou negativa que surge na vida de um personagem.
O motivo é simples. Se tudo na vida do protagonista segue como está, se a narrativa
apenas apresenta sua rotina, sua vida como ela é normalmente, você não está
escrevendo uma história, mas sim o perfil de um personagem.
Talvez esse seja o seu objetivo, escrever um texto literário onde você explora
todas as nuances da personalidade do seu protagonista. Nenhum problema nisso. Mas
tecnicamente, não se trata de uma história, mas sim de uma narrativa de ficção.
A definição de história traz implícita a ideia de um acontecimento incomum,
extraordinário, não necessariamente no sentido grandioso e radical dessas palavras,
mas significando algo inesperado, no contexto da vida de um determinado personagem.
Para encontrar uma ideia de história, pense em situações que provoquem uma
reação imediata no protagonista. Isso não significa que essa situação precisa ser
grandiosa ou espetacular. O acontecimento externo é menos importante do que
o significado e a importância que o personagem dá para tal acontecimento.
Construa o enredo da história ao redor das tentativas frustradas e bem
sucedidas do protagonista para reestabelecer um senso de controle da sua vida.
Coloque-o em situações que o provoquem a mudar a forma como ele pensa, se
relaciona, e se comporta.

Dica 61: Entenda que boas ideias não garantem boas histórias.
Não há nada mais frustrante do que encontrar uma boa ideia que, quando
desenvolvida, não resulta em uma boa história.
Lembre-se que ideias são apenas possibilidades. A forma como você
desenvolve suas ideias (conteúdo) e seu estilo de narrar (forma) é o que determina a
qualidade do texto.
Se ao começar a escrever, você sentir uma pressão angustiante para tentar
fazer uma ideia funcionar, considere as seguintes possibilidades:
Sua ideia não faz sentido fora da sua cabeça.
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A ideia é boa, mas só funciona como um conceito abstrato.
Você ainda não tem domínio técnico suficiente para desenvolver essa ideia
da forma como gostaria.

Dica 62: Crie o hábito de desenvolver suas ideias.


Na viagem entre os pensamentos e a página em branco, é comum que uma
ideia de história perca força e coerência. Quando isso acontece, nosso primeiro impulso
é abandonar o texto, e se render aos encantos de uma nova ideia. Fazemos isso porque:
Nos convencemos de que a ideia não era tão boa quanto imaginávamos.
Acreditamos ter perdido controle sobre a direção que a história estava
tomando.
Não sabemos o que é preciso mudar para tornar a narrativa mais envolvente.
A criação de novas ideias pode facilmente se tornar um vício e uma forma
de procrastinação. Sem disciplina, isso pode virar um hábito improdutivo que resultará
em dezenas de histórias começadas e nenhuma terminada. Procure criar o hábito de
desenvolver suas ideias.

Dica 63: Escreva cenas para os 5 sentidos.


Histórias de ficção têm o potencial de envolver os sentidos do leitor. Paladar,
olfato, tato, audição, visão, senso de movimento, de distância, de temperatura, de
passagem do tempo. Você evoca tais sensações através da forma como escolhe
descrever detalhes e particularidades do universo da sua história.
Suas palavras são os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca e a pele do leitor. Ao
escrever cenas para suas histórias de ficção, considere os benefícios de colocar o leitor
no mesmo contexto sensorial em que seus personagens se encontram. Chegue mais
perto, escute os sons, sinta os cheiros, sabores e texturas presentes no cenário. Ofereça
percepções que enriqueçam a narrativa e contribuam na construção da atmosfera da
cena.
Se o personagem foi para cama, experimente colocar o leitor embaixo das
cobertas e fazer ele sentir a cabeça afundando no travesseiro, a aspereza dos lençóis e
o aroma do incenso queimando na mesa de cabeceira. Se ele está no topo de uma
montanha, considere mencionar a brisa suave assoprando seus cabelos ou o suor
acumulado nas suas meias de lã durante a subida ou as paredes secas da boca sedenta
por um gole d’água. Ao escrever para os cincos sentidos, você cria uma experiência de
leitura mais viceral e prazeirosa.

Dica 64: Registre todas as suas ideias durante um brainstorming.

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Durante uma sessão de brainstorming – técnica usada para gerar ideias –
normalmente registramos apenas o que julgamos ter algum potencial de inspirar novas
histórias. Isso limita sua criatividade.
Registre absolutamente tudo o que vier a mente, ainda que seus pensamentos
não sejam claros, completos ou originais a primeira vista. Originalidade não é resultado
da criação de ideias totalmente inéditas, mas sim da combinação inesperada de duas
ideias que aparentemente não tem nada em comum.
Existe um vasto universo de criação a ser explorado na simples fusão
inusitada entre ideias clichê. Portanto, não jogue nenhuma ideia fora no lixo comum.
Todas elas podem ser recicladas.

Dica 65: Evite interrupções enquanto estiver escrevendo.


Escrever é uma atividade que exige foco e disciplina. Somos todos muito
criativos ao inventar desculpas para deixar para outro dia. Quando finalmente você
conseguir vencer todas as suas resistências, não permita que nada interrompa sua
concentração.
Estabeleça um período de tempo (20 minutos, que seja) onde você vai
dedicar cem por cento da sua atenção para trabalhar na sua história. Você vai perceber
que alguns poucos minutos de concentração absoluta serão mais produtivos do que
horas de escrita cheia de interrupções.
Desligue o telefone e o wifi do computador, e peça para sua família, amigos,
colegas de trabalho, marido ou esposa, que não o interrompam durante esse período de
tempo que você reservou para escrever.

Dica 66: Caracterize todos os personagens principais.


O processo de caracterização consiste em imaginar os detalhes peculiares
dos personagens da sua história para que eles ganhem vida na página. Para
cada personagem principal, responda as seguintes perguntas:
Quem é esse personagem?
Considere aspectos físicos (cor dos olhos, cabelo, pele, estatura, peso, porte),
psicológicos (traumas, medos, segredos, atitude, personalidade, experiências) e
culturais (roupas, hábitos, costumes, crenças).
O que ele deseja alcançar durante a história?
Qual é o seu objetivo? Ele quer resolver um crime? Matar um monstro?
Salvar o filho? Encontrar a cura para uma doença? Ganhar a guerra? Conquistar uma
mulher? Evitar que o planeta terra seja destruído? Viajar o mundo? Virar um cantor?
Sobreviver a adolescência? Entender seu sofrimento?
Qual é sua principal motivação?
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Quais são as emoções que movem o personagem? Qual é a origem do seu
objetivo? Que verdade sobre o personagem tal objetivo revela? O que ele quer alcançar
internamente? Que sensações? Que sentimentos? Quais são suas maiores aspirações?
Que impressão ele quer causar nos outros? Que sentido ele dá para a vida?

Dica 67: Dê um dilema para o protagonista.


Um dilema é uma situação onde um personagem precisa fazer uma escolha
definitiva entre duas opções igualmente boas ou duas opções igualmente ruins. Não se
trata simplesmente de uma situação difícil ou complicada. Seja qual for a decisão do
personagem, ela trará consequêcias irreversíveis e perdas inevitáveis, o que dá
um grande peso emocional para tal escolha.
Se um ônibus está prestes a explodir e um personagem só tem tempo de
salvar uma criança, ela salva seu sobrinho ou sua sobrinha? O que é positivo em ambas
as opções é a possiblidade de salvar a vida de alguém. O que é negativo em ambas as
opções é a perda de um familiar.
Se uma personagem que é radicalmente contra aborto fica grávida ao ser
estuprada, ela tem a criança ou não? O que é positivo na escolha de abortar é não ter
que lidar para o resto da vida com a lembrança viva de uma experiência traumática. O
que é negativo na escolha de abortar é agir contra suas crenças morais.
Nada cria mais drama, suspense e excitação em uma história do que um
protagonista enfrentando um dilema moralmente ambíguo que precisa ser resolvido o
mais rápido possível e que expõem suas falhas humanas com as quais todos nós
podemos nos identificar. Esse tipo de situação inevitavelmente coloca o personagem
em uma posição onde sua escolha revela e testa seus valores morais, enquanto envolve
o leitor ao provocar um debate na sua mente sobre qual é a melhor escolha diante das
circunstâncias e o que ele faria se estivesse naquela posição.

Dica 68: Compartilhe uma verdade humana na sua história.


As pessoas dedicarão infinitas horas de atenção as suas histórias contanto
que, em troca, você lhes mostre uma verdade. Não uma verdade jornalística, fatual, que
tenha acontecido a uma pessoa, em um determinado dia, lugar e horário. O que as
pessoas buscam em histórias de ficção é uma verdade humana.
A verdade humana que buscamos em histórias de ficção é o sentido que o
protagonista deu a uma experiência, e como sua interpretação sobre essa experiência
moldou a forma como ele vê o mundo, outras pessoas e a si mesmo. É assim que
estabelecemos as verdades que guiam nossas vidas: interpretando tudo o que nos
acontece.

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Por esse motivo, quando entendemos o sentido que um personagem deu para
uma experiência de vida, reconhecemos nele nossa humanidade, nossa capacidade de
interpretar o que sentimos. E não há nada que nos pareça mais verdadeiro do que uma
conclusão racional que é confirmada por nossas emoções.

Dica 69: Use o cenário para caracterizar os personagens.


Muitas vezes, o leitor precisa conhecer alguns eventos do passado de
um personagem ou algum aspecto específico de sua personalidade para entender
certas cenas da história. Ao invés de interromper o enredo com descrições e flashbacks,
use o cenário para caracterizar seus personagens.
Mostre algum detalhe de onde ele mora ou trabalha que dê pistas sobre o seu
passado e sua personalidade. Para caracterizar um personagem como alguém que
detesta cozinhar, por exemplo, você pode criar uma cena mostrando que ele usa seu
fogão para guardar sapatos.
É uma forma mais sutil e concisa de apresentar o passado do personagem,
sem que você precise quebrar o ritmo da narrativa, incluir cenas redundantes, e
desnecessariamente levar os leitores para longe de onde a ação está acontecendo.

Dica 70: Limite sua total liberdade de criação.


Associamos criatividade com total liberdade de pensamento e ausência de
estruturas ou regras. A verdade é que, sem um objetivo claro, nossa mente opera de
forma desconexa e desfocada.
Muitas pessoas se perguntam como os profissionais de criação das agências
de publicidade têm ideias originais todos os dias. O segredo está exatamente na
limitação da total liberdade de criação. Nossa mente precisa de desafios claros e
de estrutura para ser original.
Para os publicitários, fatores como o perfil do cliente, a verba disponível e o
posicionamento no mercado são alguns dos pontos que limitam e, ao mesmo tempo,
orientam os criativos a buscarem soluções originais e pertinentes.
Para os escritores, estabelecer certas restrições antes de começar a escrever
uma história de ficção força a mente a fazer associações inusitadas e originais.

Dica 71: Conheça sua história antes de começar a escrever.


Assim que você encontrar o rumo que quer dar para sua história, organize-
se antes de escrever como se estivesse se preparando para uma viagem. Planeje o
suficiente para não perder tempo com praticalidades, mas deixe espaço para
espontaneidade.
Antes de partir, decida:
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• ONDE você vai = Qual o cenário da história.
• QUEM vai com você = Quais os personagens da história.
• O QUE você quer conhecer e explorar = Qual é o tema da história.
• QUANDO você vai e volta = Qual é o período da história?
• COMO você vai organizar sua visita = Qual é o enredo da história.
• POR QUE você escolheu esse destino = Qual o significado da
história.
Em projetos de longo prazo (tais como livros, filmes e séries de televisão),
quanto mais detalhes você conhece sobre cada modo de narração, mais focada e
produtiva serão suas sessões de escrita. Ao invés de investir seu tempo tomando
decisões sobre a estrutura do enredo durante suas sessões de escrita, você pode deixar
sua intuição tomar conta do processo.

Dica 72: Seja específico ao pedir opiniões sobre suas histórias.


Compartilhe seus textos apenas quando você estiver minimamente satisfeito
com o que escreveu. Pedir a opinião de outras pessoas para aliviar a sensação de
insegurança e ansiedade inerente ao processo de criação só vai atrapalhar você. Se você
não tem uma opinião sobre o que escreveu, as sugestões e percepções de outras
pessoas só vão atrapalhar você.
Quando você decidir compartilhar seu texto com alguns leitores, evite fazer
perguntas genéricas, tais como “o que você achou”, “onde posso melhorar”, “o que
devo mudar”. Seja o mais específico possível e saiba que reações você espera provocar
com sua história.
Depois que a pessoa ler o texto, pergunte se ela entendeu a história e como a
resumiria, sobre que tema ela acha que o texto trata, que impressão os personagens
causaram nela, se ficou confusa em alguma passagem. Preste atenção às observações
que forem consideravelmente diferente de sua intenção. Não perca tempo explicando
e defendendo suas escolhas. As palavras que você escolhe colocar na página precisam,
sozinhas, ajudar o leitor a entender a história.
Seu objetivo não é chegar a um acordo sobre o que deve ser alterado, mas
sim ganhar perspectiva sobre o impacto das suas ideias fora da sua cabeça. Você
sempre pode ignorar as críticas que não considerar pertinentes.

Dica 73: Use técnicas de escrita com moderação.


Não é preciso encontrar uma justificativa técnica para sua expressão artística.
Você destrói a beleza e quebra o encanto de uma ideia quando tenta analisá-la ao
extremo. Escrever é uma arte. Se você racionalizar demais o seu processo de criação,
vai acabar transformando suas histórias em meros exercícios de lógica.

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Use técnicas de escrita somente quando se sentir bloqueado, ou quando sentir
que sua história não está expressando aquilo que você deseja.
Técnicas servem para inspirar, ajudar na organização de ideias e canalizar a
criatividade, não para deixar você preocupado se está escrevendo da maneira certa ou
errada.

Dica 74: Não economize palavras ao escrever histórias


Em escrita criativa, eficiência não está associada ao percentual entre o que
foi produzido e o que foi incluído no texto final.
Um escritor produtivo é aquele que não economiza palavras na procura pela
melhor estrutura e pelas melhores ideias para escrever suas histórias.
Isso demanda tempo, dedicação, paciência, e páginas e mais páginas de
escrita. Ainda que nem tudo que você escreve vá fazer parte das suas histórias, o
simples exercício de dar vida às ideias que povoam a sua mente é uma arte em si só.

Dica 75: Entenda que é o leitor quem dá significado as suas histórias.


Cada leitor inevitavelmente traz todo o seu conhecimento e sua experiência
de vida para a leitura de qualquer texto. Isso têm grande influência na forma como as
pessoas reagem às histórias de ficção que você escreve.
Ainda que todos compreendam o enredo de uma narrativa de forma
semelhante, cada leitor encontra um significado pessoal nos dramas dos personagens,
baseado nas sua visão de mundo.
A imaginação dos leitores é o elemento catalisador que dá vida às palavras
que você escreve. Os eventos de uma narrativa são apenas tão impactantes e
emocionantes quanto a sensibilidade de cada leitor para lhes dar significado.

Dica 76: Exponha os pontos fracos do protagonista.


Muitos escritores atribuem somente características positivas aos
protagonistas das suas histórias de ficção porque acreditam estar criando personagens
mais atraentes e, como consequência, tornando a narrativa mais envolvente.
Mas um personagem sem defeitos, que tem todas as habilidades para
conseguir tudo o que deseja, se torna previsível. Se o protagonista parece pronto para
encarar e superar qualquer conflito, não há tensão, excitação ou drama no enredo. Sem
esses três elementos, sua audiência vai se desinteressar da história.
Exponha falhas de caráter e comportamentos contraditórios do protagonista.
Isso o humaniza e o torna mais verossímil, permitindo que o leitor reconheça no
personagem suas próprias dificuldades e limitações.

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Dica 77: Deixe claro o que está em jogo na história.
Grande parte da excitação de uma história vem da ansiedade causada pela
possibilidade do personagem principal falhar em conseguir o que deseja. Enredos
envolventes deixam o leitor angustiado com as possíveis consequências associadas a
não resolução do conflito central da narrativa.
Estabeleça no início da história o que está em jogo na vida do protagonista.
Mostre aos leitores cedo e claramente o que o personagem tem a perder. O amor da sua
vida, seu emprego, seu status social, sua autoestima, sua sanidade, sua liberdade?
Se sua história parece morna e sem graça, avalie se você definiu claramente
o que está em jogo na vida do protagonista, e se os riscos de fracasso parecem
importantes o suficiente para o leitor.

Dica 78: Julgue suas ideias a partir do que você deseja expressar
Nossas ideias são representações da nossa personalidade e dos nossos
valores. Isso explica porque nos ofendemos tanto quando alguém não gosta de algo que
criamos. Se você não lida bem com críticas, provavelmente julga suas ideias como boas
e ruins tomando como parâmetro de avaliação como elas representam você.
“Essa ideia é boa porque me faz parecer inteligente. Essa ideia é ruim porque
dá a impressão de que sou preconceituoso.” Ao invés de avaliar suas ideias como boas
ou ruins, procure julgá-las tendo em mente o que você deseja expressar com seu texto.
Não tome decisões sobre a sua história preocupado com o que os leitores vão
pensar sobre você. Priorize reconhecer como a narrativa precisa ser estruturada para
criar a experiência de leitura que você deseja.

Dica 79: Coloque a sua história em ordem na sua cabeça


Ainda que você estruture sua história de uma forma não-linear para o leitor,
em algum momento do seu processo de criação, considere a ordem cronológica dos
eventos da narrativa. Defina onde a história começa, como ela se desenvolve e porque
ela termina, seguindo o fluxo de toda a experiência humana.
Contexto
Considere o cotidiano do protagonista, reflita sobre seu senso de
normalidade e o que é prioridade na sua vida antes da história começar. Introduza
uma mudança que desequilibra seu seno de normalidade e pense sobre o significado de
tal acontecimento na vida do personagem.
Decisões

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A história começa a ganhar corpo quando as primeiras tentativas do
protagonista para lidar com o conflito da história se provam inadequadas ou
insuficientes. Considere como cada decisão do personagem pode intensificar o conflito
da história ou revelar uma nova dimensão de sua personalidade ou identidade.
Consequências
O conflito do protagonista atinge um ponto crítico, forçando o personagem
a tomar uma decisão irreversível. A história se encaminha para um final que tem
consequências favoráveis ou não para o personagem principal.

Dica 80: Crie uma entrada memorável para o protagonista


Julgamos outras pessoas a partir dos primeiros segundos em que temos
contato com elas. Instantaneamente, tentamos classificar quem não conhecemos
usando um catálogo de adjetivos que começamos a criar na nossa cabeça desde criança.
Gordo, magro, alto, baixo, bonito, feio, bem vestido, mal vestido, simpático, antipático,
transparente, misterioso, burro, inteligente, perigoso, amigável. Nosso cérebro cria
rótulos para nos ajudar a associar a imagem de cada pessoa que conhecemos a suas
principais características.
Ao apresentar o protagonista da sua história, mostre seus traços peculiares e
reconhecíveis já na primeira cena em que ele aparece. Esse primeiro contato com o
leitor vai emoldurar a forma como ele verá o personagem dali para frente.
Você pode começar a história mostrando o protagonista em sua casa,
alegremente esfregando o chão do banheiro. Ou você pode mostrá-lo em uma igreja,
assustado com o discurso do padre. Como escritor, você deve entender a diferença que
iniciar de uma forma ou de outra fará na sua história. A primeira impressão não é
necessariamente a que fica, mas ela definitivamente comunica.

Dica 81: Escolha objetos e roupas que revelem os personagens.


Todo objeto que passa pelas mãos de um personagem de uma história
(incluindo as roupas que eles vestem) informam sobre seu passado e sua personalidade.
Imagine-se em frente a um hospital, onde você vê uma mulher vestindo um
casaco de estampa florida rasgado retirando um maço de cigarros da sua bolsa de vinil
amarela. Se, ao invés disso, essa mesma mulher estivesse vestindo um macacão de
jeans e retirasse do bolso seu celular, você teria outra percepção sobre a ela.
A escolha cuidadosa de cada detalhe presente nas cenas das suas histórias
ajuda na caracterização dos personagens. Nós julgamos pessoas pelas suas aparências
e pertences. Use isso para revelar certas características e associar certas qualidades aos
seus personagens.

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Dica 82: Aprenda a informar, entreter e inspirar.
A leitura de qualquer tipo de texto é uma busca por informação (para
entendermos melhor um assunto), entretenimento (busca por prazer intelectual)
ou inspiração (para entendermos melhor o mundo e a nós mesmos).
Histórias de ficção nos fascinam porque podem nos oferecer tudo isso ao
mesmo tempo. Quando estiver escrevendo, procure:
Selecionar informações relevantes e interessantes sobre os personagens e o
universo da história para contextualizar a narrativa.
Entreter estruturando o enredo de forma a provocar tensão e excitação ao
redor dos conflitos dos personagens.
Inspirar o leitor desenvolvendo de forma original um tema e uma ideia-
chave para sua história.

Dica 83: Separe enredo, história, drama, narrativa e prosa.


Enredo
Enredo é a sequência de acontecimentos concretos de uma narrativa de
ficção. Um enredo representa uma linha de ação, ou seja, uma sequência cronológica
de eventos. O enredo gira em torno dos comportamentos do protagonista.
História
História é como o protagonista se sente em relação ao que acontece no
enredo. Uma história representa a forma particular como um personagem interpreta
uma mudança (positiva ou negativa) que acontece em sua vida.
Drama
Drama é o uso de ações e reações concretas dos personagens para representar
o conteúdo emocional da história. Dramatizar significa apresentar em forma de cena,
permitindo ao leitor testemunhar um momento se desenrolando em “tempo real”.
Narrativa
Narrativa é o conjunto de informações que o escritor decide incluir em cada
momento do texto e a forma como ele as ordena em uma sequência específica para
criar uma determinada experiência de leitura.
Prosa
Prosa é o texto tal como aparece na página. São os detalhes, imagens,
expressões e referências que dão textura e substância para a história e que representam
o estilo particular como o escritor expressa suas ideias.
Pensar separadamente sobre essas definições pode ajudar você a identificar
que aspecto do texto você precisa desenvolver melhor.

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Dica 84: Use o Flickr para criar descrições vívidas e originais.
Se palavras são os olhos dos leitores em uma história, uma metáfora é o
brilho que surge nos seus olhos quando o escritor expressa vividamente uma imagem
ou sensação.
Ao invés de seguir o caminho preguiçoso dos adjetivos, use o Flickr ou
o Google Images como suporte para criar descrições originais usando apenas
substantivos e verbos. Inspire-se nas imagens que aparecerem nos resultados da busca
para criar metáforas que ajudem o leitor a entender as sensações que você está
descrevendo.
Por exemplo, para descrever a raiva que um personagem sentiu quando
conheceu o novo marido da ex-mulher, digitei “raiva” no campo de buscas e me deparei
com a foto de um lutador de boxe. Na minha descrição, escrevi “Eu senti a fúria que
os boxeadores sentem antes de uma luta, uma raiva que não era pessoal, mas
circunstancial.”

Dica 85: Copie a estrutura das suas histórias favoritas.


Todo aprendizado começa com cópia. Aprendemos a escrever copiando o
alfabeto. Aprendemos a falar copiando os adultos. Quer aprender a escrever como um
profissional? Estruture sua narrativa copiando a forma como seus escritores favoritos
organizam suas histórias.
Copiar personagens, diálogos, ou cenas dos seus escritores favoritos é
plágio, e não vai ajudar você a aperfeiçoar sua técnica. Copiar a estrutura das histórias
que eles escrevem, no entanto, é a melhor forma de desenvolver sua voz de escritor.
Seu objetivo não deve ser escrever como seus ídolos, mas sim ver o mundo
como eles. No seu inevitável fracasso em reproduzir a genialidade das suas histórias
favoritas, você vai aos poucos encontrando o seu próprio estilo de escrever.

Dica 86: Dê tempo para sua história amadurecer.


Algumas histórias nascem prontas. Uma ideia inspira você a começar a
desenvolvê-la imediatamente e as palavras fluem com uma facilidade incrível, como
se alguém estivesse ditando cada frase que você deve escrever. Uma experiência quase
mediúnica. Ainda que o texto precise de ajustes, a história já nasce praticamente
estruturada.
Outras histórias precisam de mais tempo para amadurecer. Você tem uma
ideia, mas ao começar a escrever, sente que a narrativa não está se desenvolvendo da
forma como tinha imaginado. Quando isso acontecer, pergunte-se: Já encontrou
o conflito central da narrativa? Já sabe quem é o personagem principal? Já entendeu o

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que ele quer e por quê? Se você ainda não consegue responder a essas perguntas,
entregue o trabalho novamente para sua intuição e escreva livremente.
Use a mesma ideia que inspirou você a escrever, mas experimente
desenvolve-la a partir do ponto de vista de um outro personagem, ou mudando o
cenário da história, ou alterando a idade do protagonista, ou iniciando o enredo em um
outro momento da vida do personagem. Faça isso até que você esteja satisfeito com as
palavras que começarem a aparecer na página.

Dica 87: Torne a estrutura da história invisível.


As primeiras páginas e capítulos da sua história ajudam o leitor a se
familiarizar com o seu estilo de escrever, e estabelecem as “regras” do universo de
ficção que você está criando. Quando você altera qualquer aspecto essencial
na estrutura da narrativa (mudando o ponto de vista, o tom do narrador, o tempo
narrativo, o foco principal do enredo), você coloca o leitor no mesmo estado de
incerteza do início da leitura.
Isso tira o foco dos personagens, torna a estrutura da história visível, e
desperta o instinto racional dos leitores em tentar compreender o porquê
dessa mudança. Ao alterar as regras no meio do jogo, você abre uma janela para o leitor
abandonar sua história.
Quando você considerar fazer uma mudança na estrutura da sua narrativa,
pense em como isso poderá afetar a experiência de leitura. Comece se perguntando:
Porque você quer introduzir essa mudança? Que diferença isso vai fazer em como o
leitor vai receber a história? Avalie se essa alteração é realmente essencial para alcançar
o efeito que você deseja.

Dica 88: Trate o cenário da história como um personagem


A escolha do local onde cada cena da sua história acontece influencia na
reação do leitor. Os cenários por onde os personagens se movimentam contribuem para
dar o tom da narrativa. Eles ajudam a intensificar a sensação que você quer passar para
o leitor em cada momento do enredo.
Uma cena romântica na chuva tem um clima diferente se ela acontecer em
um dia de sol. Um assassinato em um shopping center provoca reações diferentes se
ele acontecer em um beco escuro de um bairro perigoso. Uma briga entre mãe e filha
que acontece dentro de casa terá implicações diferentes se acontecer durante um
casamento.
Trate o cenário da sua história como um personagem. Pense em como ele
pode facilitar ou dificultar a vida do protagonista. Considere como uma mudança de
locação pode intensificar o drama na sua história. Imagine como a iluminação, a
temperatura, a geografia, a arquitetura, os objetos e os “figurantes” presentes no local
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podem contribuir para adicionar mais complexidade e dar mais significado para cada
cena.

Dica 89: Inove na forma ou no conteúdo.


Muitos escritores iniciantes têm uma preocupação obsessiva com total
originalidade. Eles querem inovar tanto na forma quanto no conteúdo. Isso é um
excelente exercício de experimentação, mas se você está começando sua caminhada na
escrita de ficção, não precisa se preocupar em reinventar a literatura com seus primeiros
textos.
Histórias que inovam tanto na forma quanto no conteúdo tornam o processo
de criação mais complexo para o escritor, além de exigir que o leitor trabalhe dobrado
para se envolver com o texto. O leitor médio se sente mais compelido a ler narrativas
que oferecem pontos de referência familiares, criando experiências de leitura que
correspondam as suas expectativas.
Você pode escrever uma boa história usando como base uma ideia conhecida
estruturada de uma forma original ou usando como base uma estrutura clássica para
desenvolver uma ideia original. Você pode, por exemplo, escrever a história de dois
jovens que se apaixonam, mas precisam viver seu amor às escondidas porque suas
famílias são inimigas – ideia imortalizada por “Romeu e Julieta”. Você pode estruturar
a narrativa ao redor das percepções dos porteiros dos prédios onde os jovens moram –
uma forma original de desenvolver o enredo de uma história de amor.
Outra opção é escrever a história de uma mulher que se apaixona pelo
cachorro de um colega de trabalho que ela odeia e que odeia ela – uma ideia original –
e estruturar a narrativa como a história de Romeu e Julieta, onde ela encontra formas
de brincar com o cachorro às escondidas – uma forma clássica de estruturar uma
história de amor.

Dica 90: Use mistério para manter interesse na história.


Existe uma técnica simples para criar mistério, usada por premiados
roteiristas de cinema e tv, escritores de bestsellers e redatores publicitários das
melhores agências de propaganda. Tal técnica apela para nosso instinto de
sobrevivência que, quando opera em modo automático, está constantemente tentando
se certificar que estamos seguros. Como não vivemos mais na selva precisando nos
defender dos ataques de mamutes e leões, esse instinto se readaptou aos perigos mais
complexos e subjetivos da vida urbana.
Um dos motivos pelos quais investimos grande parte do nosso tempo livre
em histórias de ficção é a possibilidade de adicionar ao nosso banco de experiências,
sem riscos ou perigos concretos, novas formas de resolução de conflito. Acreditamos
que, ao observar como certos personagens lidam com suas dificuldades e dão sentido
para seus problemas, poderemos repensar o significado que demos para nossas
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experiências passadas ou nos prepararmos para, futuramente, enfrentarmos
conflitos parecidos.
Essa é a principal função do nosso instinto de sobrevivência hoje em dia:
coletar informações que nos ajudem a evitar a recorrência de problemas que já
enfrentamos e nos preparar para lidar com conflitos futuros. Por isso, quando
uma narrativa desperta nossa curiosidade sobre como um personagem resolverá
um problema que relacionamos a nossa vida, nos sentimos compelidos a acompanhar
a história até o final.
Qual é a técnica que cria mistério e ajuda a manter o interesse em seus textos?
Simplesmente levante uma pergunta intrigante na mente do leitor e faça ele seguir
lendo até descobrir a resposta. Assim como este texto acabou de fazer com você.

Dica 91: Comece arquitetando histórias ou jardinando ideias


Para produzir o primeiro rascunho de uma história, você pode escolher entre
duas formas de escrever: como um escritor arquiteto ou como um escritor jardineiro.
Escritores arquitetos preferem refletir sobre sua ideia, planejar os pilares
da estrutura de sua história e projetar uma experiência de leitura antes de começar a
escrever. Eles decidem de antemão quem são os personagens, os principais
acontecimentos do enredo e o que estão tentando expressar com seus textos. Tais
escritores focam primeiro em desenvolver uma visão macro e conceitual da estrutura
da narrativa e, mais tarde, usam essa planta baixa como referência para construir cada
cômodo da história. Arquitetos usam uma abordagem mais racional para escrever. Eles
partem do geral para o específico.
Escritores jardineiros preferem plantar sementes de ideias na página em
branco e começar a escrever a partir de uma inspiração. Eles descobrem suas histórias
à medida que seus textos vão crescendo e ganhando corpo. São escritores que gostam
de mão na terra, pé no barro, de observar as cores das palavras e sentir a textura das
frases. Tais escritores começam a escrever inspirados por uma ideia aleatória e vão, aos
poucos, descobrindo e estruturando a história que desejam contar. Jardineiros usam
uma abordagem mais espontânea para escrever. Eles partem do específico para o geral.
Em algum momento do processo de criação, escritores arquitetos precisam
jardinar suas ideias e escritores jardineiros precisam arquitetar suas histórias. Nenhuma
opção é melhor que a outra, mas identificar qual das abordagens o motiva a terminar o
primeiro rascunho de um texto pode tornar você um escritor mais produtivo.

Dica 92: Descubra qual a melhor mídia para sua história.


Livros, filmes, seriados de televisão e peças de teatro têm características e
linguagens diferentes. Descubra qual mídia tem o potencial de expressar sua ideia de
história com mais força e impacto.
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Livros
Um livro conta uma história a partir do ponto de vista de um ou mais
narradores. É a mídia ideal se você quer explorar em detalhe o mundo interior dos
personagens, focar a narrativa em conflitos mentais, ou deixar que a imaginação das
pessoas participe do processo de criação do seu mundo de ficção.
Filmes
Um filme conta uma história através da criação de um mundo ficcional
visível. É a mídia ideal se você quer explorar conflitos pessoais ou sociais, se a história
que você quer contar é rica em detalhes visuais específicos (vestimentas, cenários,
aparência física dos personagens, etc), e é importante que as pessoas vejam esses
detalhes exatamente como você os imaginou.
Séries de Televisão
Uma série de televisão desenvolve uma ideia em diversas mini histórias. É a
mídia ideal se você quer explorar toda a complexidade de conflitos pessoais e sociais,
se você quer desenvolver diversos personagens simultaneamente, e se o tema central
da série pode ser dramatizado em diversas situações diferentes.
Peças de Teatro
Uma peça conta uma história através de um monólogo ou diálogo entre
personagens. É a mídia ideal se você quer explorar conflitos mentais ou pessoais que
podem ser dramatizados com poucos atores e cenários.

Dica 93: Encontre o ritmo certo para a história.


Uma história é constituída por uma sequência de eventos e informações que
tem como objetivo despertar certas sensações e emoções no leitor. Para provocar as
reações desejadas, o escritor precisa conduzir o enredo como uma viagem de carro. Ele
deve saber em que momentos acelerar a narrativa para chegar logo à próxima cena,
diminuir a velocidade para que o leitor possa apreciar certas passagens, e parar
completamente para chamar a atenção a certos detalhes. Essas escolhas resultarão no
ritmo da história.
O ritmo não é uma decisão consciente tomada pelo escritor antes ou durante
o processo de escrita. Ele é resultado da forma como o enredo é organizado. Você
percebe que o ritmo da sua história pode ser melhorado quando relê o texto, e encontra
trechos que parecem superficiais demais ou detalhados demais. Em ambos os casos,
você precisa retrabalhar essas passagens, incluindo ou mantendo apenas o que for
necessário para fazer o leitor reagir da forma desejada.
Se o problema não estiver na forma como você organiza e apresenta a
história, preste atenção à extensão das frases, ao uso de pontos e vírgulas, e à forma
como você organiza os parágrafos. Esses elementos também influenciam no ritmo de
leitura.
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Dica 94: Entenda as motivações dos personagens.
Em histórias de ficção, nada acontece por acaso. Tudo o que
um personagem pensa, diz ou faz tem origem em suas experiências passadas. Todas as
informações reveladas sobre ele estão diretamente relacionadas ao objetivo do escritor
em fazer o leitor associar certas percepções à personalidade desse personagem.
Ainda que as razões que justificam certos comportamentos não apareçam
explicitamente no texto, é importante que você as conheça para que todos os
participantes da história ajam de forma coerente durante a narrativa.
As motivações dos personagens, sejam conscientes ou inconscientes, são a
chave para você desenvolver conflito no enredo e resolvê-los de forma satisfatória.
Para entender as motivações mais profundas do seu protagonista, procure entender que
desejo o conflito central da história provocou nele, e que experiências passadas ou
planos futuros justificam esse desejo.

Dica 95: Aproveite enquanto você ainda não foi “descoberto”.


O desejo de todo escritor que está começando é, eventualmente, ser
“descoberto”. Nada mais natural, afinal de contas, se você investe tanto tempo e energia
trabalhando em seus textos, é porque acredita que tem algo importante a dizer para o
mundo. Mas no início da sua carreira, quando você ainda está descobrindo como
transformar ideias em histórias, não há nada melhor do que o anonimato.
Se você é desconhecido, a única pressão que você sofre é aquela que coloca
sobre si mesmo. Você não precisa se preocupar com editores, jornalistas, críticos,
contratos, marketing, etc. Aproveite essa liberdade para experimentar, cometer erros,
e se concentrar unicamente em se tornar um escritor mais competente.
O melhor momento para ser descoberto é quando você se sentir mais
confortável com os resultados da sua produção. E a partir do momento em que suas
histórias começarem a chamar a atenção de um número grande de pessoas, você vai
sentir falta da liberdade de criação que só o anonimato podia lhe oferecer.

Dica 96: Defina o tema central da história.


Tema é o tópico específico sobre o qual o escritor deseja que o leitor reflita
durante a leitura do texto. Tecnicamente, amor, justiça, guerra, esperança e
quaisquer outras palavras genéricas como essas não são temas porque não expressam
nada de específico sobre um tópico.
Por exemplo, no gênero crime, as história sempre tratam de justiça. Esse é o
assunto genérico que esse gênero aborda. Mas existem várias possibilidades de tema
que podem ser desenvolvidos a partir desse tópico. Por exemplo, “Quando é aceitável
fazer justiça com as próprias mãos?” ou “Como dinheiro coloca o sistema de justiça a
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favor dos ricos?” ou “O que é pior: arriscar não condenar um potencial assassino ou
arriscar condenar alguém inocente?”
Articulei os exemplos acima em forma de questionamentos
intencionalmente porque acredito que um bom tema representa uma pergunta
interessante sobre um assunto. Em histórias envolventes, o enredo apresenta
informações e acontecimentos que fazem o leitor considerar diferentes ideias que
enriquecem a reflexão sobre possíveis respostas para essa pergunta.
Já escreveu uma história e não sabe qual o tema central da sua narrativa?
Uma dica: ele está sempre escondido dentro do seu protagonista. Ou seja, para entender
o tema, você precisa primeiro entender o conflito do personagem. Se sua história é
sobre um ator hollywoodiano famoso que perdeu a filha em um acidente de carro e o
enredo vai explorar as dificuldades do protagonista em lidar com essa dura realidade
diante da mídia, o tema central poderia ser “Qual é o preço da fama?”. Nesse caso, o
foco da narrativa poderia estar na discussão dos limites entre vida privada e vida
pública, da parte nada glamourosa de se tornar uma celebridade, de como a mídia
explora os dramas pessoais dos famosos para ganhar audiência.
A partir dessa mesma ideia, você poderia decidir explorar um tema diferente,
como por exemplo “Qual é a relação entre sofrimento e arte?”. Nesse caso, o foco da
narrativa poderia estar na mudança de carreira do ator que, antes apenas fazia comédias
e, depois da morte da filha, começou a trabalhar em dramas. O enredo poderia explorar
como essa perda influenciou na melhora das suas habilidades dramáticas e questionar
se um ator que nunca sofreu de verdade consegue ser convincente sofrendo de
mentira. Perceba como usando o mesmo ponto de partida (cenário, personagem e ponto
de virada), podemos escrever histórias completamente diferentes dependendo do tema
que desejamos explorar.
Uma vez que você identificou o tema da história, ele é o seu melhor guia
para avaliar o enredo da narrativa. Quando você sabe que assunto seu texto vai
explorar, pode usar isso como referência para decidir que informações sobre os
personagens são relevantes e irrelevantes, que obstáculos podem intensificar o drama
do protagonista e que cenários vão ajudar você a dar o tom certo para cada cena.

Dica 97: Estabeleça a crença central que define o protagonista.


Premissa é uma afirmação que serve de base para a construção de uma teoria.
Uma história é, basicamente, uma teoria sobre um determinado tema, dramatizada nos
acontecimentos do enredo. O escritor defende sua visão sobre um assunto através das
ações e reações dos personagens ao longo do enredo. Portanto, toda narrativa é
construída a partir de uma afirmação que serve de base para o desenvolvimento da
história: a crença central que define o protagonista.
Estabeleça a crença que representa o valor moral, social ou ético que
o personagem principal considera mais importante na sua vida. Desenvolva
o conflito central da narrativa de forma a testar essa crença.
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Por exemplo, se a crença central do protagonista é “minha carreira de
cirurgião é o que tenho de mais importante na vida”, você pode desenvolver uma
história que coloque o personagem em uma situação que o desafie a provar o quanto
ele acredita nessa afirmação. O que aconteceria se ele perdesse o emprego? E se ele
perdesse uma das suas mãos em um acidente? Ou se seus trinta últimos pacientes
morressem nas sua mesa de cirurgia? Como ele reagiria? Que decisões tomaria? Quais
mudanças seriam impostas na sua vida?
Se a crença central do protagonista, no entanto, é “minha família é o que
tenho de mais importante na vida”, o que aconteceria se ele descobrisse que sua mulher
tem um amante e seu filho é fruto desta traição? E se sua mulher tentasse envenená-lo
com a ajuda do seu filho? Ou se os dois repentinamente morressem em uma acidente
de carro?
Para caracterizar o protagonista e responder a essas perguntas, investigue a
origem da sua crença central. Procure determinar o que levou o personagem a valorizar
aquela opinião, valor moral ou comportamento. Investigue o que está por trás de suas
decisões, e teste os limites das suas convicções ao longo do enredo.

Dica 98: Tenha consciência da ideia-chave da história.


Toda narrativa ficcional vende um modo de ver o mundo, um sistema de
ideias que procura reforçar certos valores e opiniões. Você pode não estar consciente
da ideologia que permeia as entrelinhas dos seus textos, mas ela está presente em tudo
que você escreve. Talvez você não tenha consciência do que está tentando expressar
com sua história, mas seu texto inevitavelmente traz uma mensagem carregada de
valores morais relacionada ao tema central da narrativa.
A ideia-chave está relacionada à origem do conflito central da história e ao
significado que o escritor dá para o que acontece com personagem no final da narrativa.
É a famosa “moral da história”. Sua moral está relacionada ao que você considera certo
e errado, aceitável e inaceitável. O destino que você dá para cada um dos personagens
demonstra exatamente isso.
A ideia-chave está relacionada à origem do conflito central da história e ao
significado que o escritor dá para o que acontece com personagem no final da narrativa.
É a famosa “moral da história”. Sua moral está relacionada ao que você considera certo
e errado, aceitável e inaceitável. O destino que você dá para cada um dos personagens
demonstra exatamente isso.
Por exemplo, se você está escrevendo uma história de amor à distância e o
casal não fica junto no final, uma possível ideia-chave que tal resolução pode
sugerir é “A distância física, eventualmente, se transforma em distância emocional,
eliminando qualquer possibilidade de relacionamento amoroso”.
Quanto mais consciência você tiver da ideologia que permeia as entrelinhas
do seu texto, melhor preparado estará para revisar e editar seu texto, encontrando
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formas de dramatizar os argumentos que sustentam a lógica da sua ideia-chave e,
consequentemente, expressando com mais intensidade sua visão sobre o tema
central da história.

Dica 99: Resuma sua história em uma frase.


Existem basicamente duas formas de desenvolver suas ideias de história:
pensando sobre sua estrutura antes ou depois de começar a escrever. Algumas pessoas
preferem explorar ideias iniciando a partir de um impulso criativo. Outras preferem
definir pelo menos alguns dos elementos básicos da narrativa antes de começar a
escrever.
Se a página em branco costuma deixar você ansioso e paralisado, crie um
resumo da sua história para usar como guia durante suas sessões de escrita. Em até 250
palavras, descreva brevemente o protagonista, o conflito central, e os principais
acontecimentos do enredo. A ideia é estabelecer uma visão global da narrativa, que
oriente suas escolhas e decisões quando você estiver escrevendo.
Comece tentando resumir sua história em uma única frase. Por exemplo, eis
a essência do filme Toy Story: Um boneco cowboy chamado Woddy – que acredita ter
status inabalável de brinquedo preferido – passa a se sentir rejeitado pelos outros
brinquedos e por seu dono Andy quando este ganha de aniversário o boneco astronauta
Buzz Lightyear.
Veja como, em uma frase, estabelecemos o protagonista (Woddy), a crença
central que o define (ele será para sempre o brinquedo preferido), o conflito central
que desafia essa crença (ciúmes de Buzz Lightyear), sugerimos o desejo
central do personagem principal (voltar a ser o boneco preferido de Andy), e a linha
de ação da história (fazer o que for preciso para reconquistar seu status).
A partir dessa frase, fica mais fácil começar a expandir o resumo da história,
definindo os principais acontecimentos da linha de ação, que deverá se concentrar nas
atitudes de Woddy para alcançar seu desejo, nas consequências de suas ações e no
impacto que essas consequências terão sobre o personagem.
Quando começar a escrever a história, sinta-se livre para seguir caminhos
diferentes dos que você estabeleceu no resumo, mas faça isso consciente dos resultados
que você pretende alcançar com tais mudanças. Ao fazer alterações na estrutura da
história, rescreva o resumo para certificar-se de que a linha de ação ainda faz sentido.

Dica 100: Estabeleça a linha de ação da história.


Enredo é a sucessão de ações e reações do protagonista, em suas diversas
tentativas de resolver o conflito ao longo da narrativa. A linha de ação é a espinha
dorsal do enredo, que estabelece os eventos mais importantes da história.

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No filme Toy Story, por exemplo, o desejo do protagonista Woddy é voltar
a ser o boneco preferido de Andy. Portanto, a linha de ação é construída com base nas
decisões e atitudes do personagem para alcançar esse desejo, assim como nas
consequências resultado de suas ações.
Para desenvolver o enredo da sua história, imagine situações que forcem o
protagonista a tomar decisões, e pense nas consequências concretas de cada
comportamento do personagem. Veja como isso funciona em Toy Story: Um boneco
cowboy chamado Woddy – que acredita ter status inabalável de brinquedo preferido –
passa a se sentir rejeitado pelos outros brinquedos e por seu dono Andy, quando este
ganha de aniversário o boneco astronauta Buzz Lightyear.
Um dia, Woddy DECIDE se livrar de Buzz empurrando ele para atrás da
escrivaninha, MAS Buzz acidentalmente cai da janela, fazendo os outros brinquedos
questionarem a índole de Woddy. Ele, então, DECIDE ir a procura de
Buzz, MAS quando ele o encontra, os dois se perdem e são capturados por Sid, um
garoto que desmonta e explode brinquedos por diversão. E assim por diante.
Para definir a linha de ação da sua história, estabeleça uma sequência lógica
de acontecimentos, onde cada ação/decisão do protagonista resulte em uma
consequência inesperada, exigindo outra ação/decisão que resulte em outra
consequência inesperada, exigindo outra ação/decisão que resulte em outra
consequência inesperada. Siga esta cadeia de eventos, aumentando progressivamente
a tensão até o clímax da história, quando o protagonista será obrigado a tomar uma
decisão definitiva sobre a situação.

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