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Anais da Terceira Semana de

Zootecnia do CEFET-Bambuí
12 a 15 de Maio 2008

Ivan Vieira
Daniel Pereira da Costa

2008©Semanaqua - CEFET-Bambuí
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BAMBUÍ

Núcleo de Zootecnia

ANAIS DA TERCEIRA SEMANA DE ZOOTECNIA DO CEFET-BAMBUÍ

ORGANIZADORES DOS ANAIS


Ivan Vieira
Daniel Pereira da Costa

Bambuí –MG
Maio de 2008

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Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

Ficha Catalográfica preparada pelo Setor de Processamentos Técnicos da


Biblioteca do CEFET-Bambuí-MG.

Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí: (3. : 2008 : Bambuí, MG.)


Anais da 3ª semana de zootecnia do CEFET-Bambuí, 12 a 15 de maio de
2008, Bambuí, MG / Organizadores: Ivan Vieira; Daniel Pereira da Costa ... [et al.] --
Bambuí: CEFET-Bambuí, 2008.
59p.: il.

1. Zootecnia. 2. Nutrição animal. 3. Suinocultura . I.Vieira, Ivan. II. Costa, Daniel


Pereira da. III. Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí. IV. Título.

CDD 636

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Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

APRESENTAÇÃO

Os trabalhos contidos nestes anais são artigos selecionados para apresentação no


evento da terceira semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí e artigos disponibilizados por
palestrantes que participaram desta semana. Este trabalho visa incentivar o desenvolvimento
de estudos e troca de informações na área zootécnica estimulando o uso de novas tecnologias
e conhecimentos para gerar renda e qualidade de vida no campo.

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Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

CONTEÚDO

Parte 1 - Artigos apresentados

Aspectos da nutrição do lambari (Gênero Astyanax spp) ........................................................ 6


Avaliação do valor nutritivo das frações do processamento da rama de mandioca
(manihot esculenta, crantz) e digestibilidade in vitro do feno do terço superior de
doze diferentes variedades para coelhos em crescimento ................................................... 20
Estudo da flora apícola existente no CEFET - Bambuí ............................................................. 26

Parte 2 – Textos das palestras

Fatores que afetam a composição do leite de vacas leiteiras: importância em tempos


de pagamento por qualidade ..................................................................................................... 31
Gestão em suinocultura ............................................................................................................. 48
Impacto do potencial genético de reprodutores na rentabilidade da suinocultura moderna .... 56

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Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

ASPECTOS DA NUTRIÇÃO DO LAMBARI (Gênero Astyanax spp.)*

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Costa, Daniel Pereira da ; Vieira, Ivan

Resumo - Com o crescente desenvolvimento da Aqüicultura e o potencial que o lambaricultivo


tem de se tornar um dos principais ramos de produção de pescado, este trabalho vem auxiliar a
nutrição dos Lambaris do gênero Astyanax, compondo um apanhado de trabalhos sobre o
assunto. São abordados aspectos da fisiologia e hábitos alimentares ressaltando a
característica onívora dos animais e o consumo de alguns itens no seu ambiente natural.
Mostra-se o funcionamento básico do trato gastrointestinal e a anatomia de A. lacustris. São
apresentadas as exigências e características nutricionais por fase de desenvolvimento e por
sexo. Os alimentos de origem animal, vegetal, alimento vivo são discutidos de maneira
simplificada contextualizando sua utilização na dieta dos animais. Por ultimo relaciona-se a
nutrição com meio ambiente e as maneiras de diminuir o impacto das rações lançadas nos
corpos de água.

Palavras-chave: Aqüicultura, piscicultura, nutrição de peixes, lambari, Astyanax.

1
Aluno do Curso Superior de Zootecnia – do CEFET- BAMBUÍ - Centro Federal de Educação
Tecnológica de Bambuí. Fone: (037) 3431-4900.
2
Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí – CEFET- BAMBUÍ,
Rodovia Bambuí/Medeiros, km 37, Zona Rural. CEP: 39.800.000. CAIXA POSTAL 05,
Bambuí – Minas Gerais. Fone: (037) 3431-4900.
* 1
Parte da Monografia de apresentada como trabalho de conclusão de curso da graduação em
Zootecnia do CEFET-BAMBUÍ em abril de 2008.

1- Introdução

A Aqüicultura no Brasil nos últimos anos tem se mostrado um negócio promissor devido
ao crescimento contínuo em torno de 20% ao ano. Porém a demanda por peixes importados
ainda é grande, pois a pesca e a produção nacionais são insuficientes para o consumo do país
segundo dados do ANUALPEC (2007), levando a importação de 178.027 toneladas de peixes
em 2005.
Segundo A SEAP/PR (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da
República) (2007 apud, Firetti & Sales 2007), a produção de peixes de cultivo subiu de 20 000
toneladas em 1989 para 210 000 toneladas em 2006. Um aumento de mais de 1000% em 17
anos. O trabalho supracitado diz ainda que este valor pode subir muito segundo estudos
realizados pela FAO (órgão das nações Unidas para alimentação e agricultura) que garante
que a Aqüicultura será a grande fonte de pescado para o futuro devido a contínua redução dos
estoques naturais pela pesca extrativa. Junto a essas afirmações também se encontram
referências de que a piscicultura nacional é uma expressiva contribuinte do balanço comercial
positivo no agronegócio.
Os lambaris têm se revelado como espécies de potencial para a piscicultura, pois
possuem uma adaptabilidade considerável aos sistemas produtivos e tem mercado consumidor
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específico para seus produtos como para alimentação humana, iscas vivas e biomassa para a
produção de insumos para alimentação animal, (Castilho-Almeida,Foresti & Porto-Foresti,
2005). Contudo muitos dos trabalhos que estudam a nutrição desses animais se encontram
dispersos em várias publicações dificultando o acesso a quem necessita de informações
conjuntas sobre como proceder à alimentação deles em sistemas produtivos.
As atividades de cultivo em tanques-rede são sustentáveis desde que respeitados os
limites de estocagem dos reservatórios onde se desenvolvem. A criação do lambari, como uma
opção a mais para o aproveitamento do espaço ocioso dos grandes reservatórios de água,
gera alimento onde antes era apenas um grande deserto de águas. Isto contribui para que não
se dependa tanto da construção de viveiros escavados para piscicultura, o que demanda a
destruição de vários hectares de matas para construção dessas estruturas. Além do que, este
sistema de cultivo tem custo inicial em torno de 60 a 70 % menor que o convencional em
viveiros, segundo Furnaleto, Ayroza & Ayroza (2006). Contudo esta prática depende de uma
nutrição excepcional, pois a única fonte efetiva de alimento para esse sistema de produção é a
ração fornecida a qual deve suprir todas as necessidades dos peixes.
Alguns aspectos e padrões ainda não foram estudados para solucionar de forma
completa o problema da nutrição dos peixes do gênero Astyanax. Mas apesar disso os
produtores tem conseguido cultivar a espécie utilizando métodos próprios ou adaptados para
construir seu próprio pacote tecnológico nutricional. A pesquisa e aplicação eficiente dos
conhecimentos sobre a nutrição podem ser decisivas para consolidar a criação de lambaris
como uma das principais e mais lucrativas atividades da Aqüicultura nacional.

2 - Objetivos

2.2 - Objetivo geral

Aglutinar em um único trabalho uma gama de informações dispersas em vários artigos


sobre aspectos da nutrição e alimentação dos peixes do gênero Astyanax comumente
utilizados na piscicultura.

2.3 - Objetivos específicos

- Agrupar informações e observar detalhes sobre a fisiologia e os hábitos alimentares dos


lambaris (Astyanax spp.).

- Pesquisar dados referentes a as exigências nutricionais dos animais.

- Revisar as diferenças e semelhanças em diversos aspectos das espécies do gênero


Astyanax.

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- Elaborar uma tabela nutricional simplificada para orientar a alimentação dos animais com
base nas exigências de algumas espécies adaptando-as para outras de características
semelhantes.

3- Referencial teórico

3.1 - Lambaricultivo

O lambaricultivo pode ser entendido como criação de peixes do gênero Astyanax


dentre outros popularmente chamados de lambaris para obtenção de indivíduos aptos a serem
comercializados ou consumidos. Esta expressão foi utilizada por Garutti (2003) para designar
tal atividade relacionada com indivíduos de cerca de 100 diferentes espécies desse gênero em
todo pais. Estes animais podem possuir, alem do potencial para utilização na alimentação
humana e animal, características que os tornam interessantes para a aquariofila e para o
repovoamento de lagos e açudes, dentre outras funções.
Atravéz da Piscicultura é possível suprir a crescente demanda por pescado e evitar que
algumas espécies sejam super-exploradas na natureza e acabem sendo dizimadas de
determinadas regiões. O lambaricultivo pode ser útil desta forma para o abastecimento do
mercado uma vez que é um dos cultivos com maior produtividade por área que se tem notícia
chegando a produzir 100 toneladas por hectare alagado por ano em sistema intensivo (para A.
altiparanae), bem acima do que é estimado como a média nacional generalizada para todos os
tipos de peixes que é de 10 a 20 toneladas / hectare alagado / ano, (Garutti, 2003).
É comum encontrar em pequenas propriedades, camponeses que alimentam algumas
dezenas de lambaris em açudes e lagoas, muitas vezes com alimento impróprio e sem
periodicidade. Mesmo assim esses costumam se multiplicar em pouco tempo nesses
ambientes demonstrado a rusticidade e adaptabilidade destes peixes aos desafios ambientais
e alimentares. Porém quando a intenção é uma produção em escala comercial deve-se
observar todo um padrão tecnológico para obtenção de resultados mais seguros e satisfatórios.
A nutrição feita adequadamente pode diminuir o risco de perda de produtividade por
falta de nutrientes, doenças relacionadas, incompatibilidade alimentar dentre outros fatores,
(Kubitza, 1997).

3.2 - Características alimentares dos Lambaris

Espécies do gênero Astyanax são freqüentemente citadas como onívoras, Garutti


(2003), Castilho-Almeida,Foresti & Porto-Foresti (2005), Baldisserotto (2002), podendo
consumir na natureza alimentos diversos como insetos, minhocas, gramíneas, restos vegetais
e animais, outros peixes, crustáceos, invertebrados terrestres e até mesmo detritos e
sedimentos, (Bennemann, Cassati & Oliveira, 2006), (Bennemann et al, 2005), (Cassemiro,
Hahn & Fugi, 2002), (Alvin, 1999). Esta estratégia de sobrevivência aliada a outros fatores
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pode ter auxiliado os lambaris na sua capacidade de aumento populacional e ganho de peso
rápido.
A apreensão do alimento geralmente é feita pelos animais de forma muito rápida,
dando pouco tempo para distinção desse alimento. Uma característica provavelmente típica de
peixes oportunistas e que enfrentam disputas freqüentes por comida.
Apesar de ter hábitos alimentares semelhantes algumas espécies apresentam certas
preferências por alguns tipos de alimentos. Em Bennemann et al. (2005), A. altiparanae e A.
scabripinnis tiveram preferências pelo consumo de vegetais enquanto para A. eigenmanniorum
e A. fasciatus o consumo de animais foi ligeiramente maior que o de vegetais. Neste mesmo
estudo as quatro espécies tiveram em comum a utilização de 3 das 11 categorias de alimentos
estudadas sendo elas restos de vegetais terrestres, restos de insetos e vegetação aquática.

3.3 - Anatomia e fisiologia digestiva dos lambaris

Os lambaris possuem a cavidade bucal em posição terminal. Segundo Rotta (2003), A.


fasciatus e A. bimaculatus tem estruturas digestivas pouco especializadas pelo seu hábito
onívoro que os leva a consumir alimentos variados. As estruturas responsáveis pela dinâmica
da digestão e absorção de nutrientes nos lambaris são basicamente comuns a todos os
teleósteos (ver quadro 1) salvo algumas peculiaridades.
A característica dos lambaris de se alimentarem frequentemente de insetos e
crustáceos evidencia uma possível capacidade de digerir a quitina componente do
exoesqueleto desses invertebrados. Isso é possível para as espécies de peixes que produzem
a enzima quitinase em sua mucosa gástrica (Baldisserotto, 2002). Portanto cabe um estudo
mais detalhado do aproveitamento efetivo destes alimentos pelos peixes para facilitar a
determinação de níveis seguros de inclusão de alimentos alternativos nas rações, como restos
de crustáceos não utilizáveis na alimentação humana e crisálidas descartadas da produção de
seda dentre outros.
Algumas espécies do gênero estudado têm algumas peculiaridades na sua alimentação
e digestão como A. eigenmanniorum que ingere quantidades semelhantes de alimentos e de
areia provavelmente para auxiliar a fragmentação dos vegetais consumidos dentro do trato
gastrointestinal (Bennemann et al, 2005).

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Quadro 1 - Funcionamento básico do sistema digestório dos peixes teleósteos:

Boca Apreensão do alimento e ingestão.

Esôfago Armazenamento e/ou moagem dos alimentos.

Estômago Digestão ácida dos alimentos.

Cecos Armazenamento de alimento, digestão principalmente


pilóricos de lipídeos e proteínas.

Fígado,
Órgãos digestivos acessórios.
pâncreas,
ves. biliar

Intestino Absorção dos nutrientes. Digestão alcalina dos


alimentos.

Reto Armazenamento do bolo fecal.

Ânus Defecação.

Adaptado de Rotta (2003).

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Figura 1 – Trato gastrointestinal de A.lacustris

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3

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1 – esôfago, 2 – estômago, 3 – cecos, 4 – intestino, 5 – reto, 6 – fígado, 7 – vesícula biliar.

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3.3.1 - Aspectos anatômicos do sistema digestório de A. lacustris (Garutti, 1995)

Neste estudo foram coletados do dia 05/03/2008 ao dia 16/04/2008, 100 indivíduos de
A. lacustris, 76 fêmeas e 24 machos, em um viveiro de cultivo semi-intensivo no setor de
piscicultura do CEFET – Bambuí, localizado na fazenda varginha em Bambuí – MG, para servir
de modelo a ilustração do sistema digestório desta espécie (Figura 1). Assim pôde-se
identificar as estruturas citadas na tabela 1 e relacioná-las devidamente com suas funções. Foi
feita também a contagem do número de cecos sendo que 97% dos indivíduos apresentaram 9
cecos e 3% 10 cecos.O número médio foi de 9,03 cecos por animal. O objetivo do trabalho não
foi analisar o conteúdo estomacal dos animais, mas não se pôde deixar de notar a presença de
vários tipos de alimento que esses animais consumiram como insetos, anelídeos, outros
invertebrados vermiformes, restos vegetais, algas e a ração que os tratadores fornecem, o que
evidência seu hábito alimentar onívoro.

Fases alimentares e exigências nutricionais

Segundo Kubitza (2004) pós-larvas de algumas espécies de peixes (inclui-se neste


caso as dos lambaris) possuem um trato digestivo rudimentar ou incompleto, o que os
impossibilita o aproveitamento de rações nesta fase. Portanto necessitam alimento vivo
composto por organismos contidos na água (os quais serão detalhados posteriormente). Estes
organismos possuem enzimas que auxiliam sua própria degradação. Além de estimular o
desenvolvimento do sistema digestório das pós-larvas que os consomem.
A taxa metabólica em função do peso dos peixes tende a ser maior em peixes menores
do que em peixes adultos. Portanto o gasto energético nas primeiras fases de desenvolvimento
é relativamente maior tendendo a diminuir à medida que o peixe cresce, (Baldisserotto, 2002).
Pós larvas de peixes podem consumir diariamente uma quantidade de alimento maior
que sua própria biomassa( 50 a 300%) , entretanto na fase de terminação do peixe destinado
ao abate costuma se recomendar o fornecimento de 2 a 10% da biomassa para alimentação
diária, Post (1990 apud Santin et al, 2005), (NRC, 1993).

3. 4 - Fases alimentares e exigências nutricionais

A determinação das exigências em nutrientes por fase de desenvolvimento auxilia a


composição de um programa nutricional mais adequado à fisiologia e a dinâmica de
crescimento e reprodução dos peixes. A adequação da ração a necessidade do peixe promove
a sua higidez, melhorando sua resistência a doenças, ao estresse e contribuindo para o seu
equilíbrio orgânico, (Pezzato & Barros, 2005).

3.4.1 - Larvas

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As larvas dos lambaris como as de outros teleósteos não consomem alimentos de


fontes externas ao seu organismo, pois nesta fase são dependentes das reservas contidas no
saco vitelino.

3.4.2 - Pós larvas

Nesta fase os peixes começam a ingerir alimentos do meio externo. Sendo sua
cavidade bucal de tamanho bastante reduzido o que restringe seu repasto a organismos
extremamente pequenos que se desenvolvem no ambiente natural ou viveiro de cultivo.
Segundo Garutti (2003), o plâncton e o perifiton são seus alimentos exclusivos durante os 10
primeiros dias de vida.

3.4.3 - Alevinos

A partir então de 11 dias de cultivo pode-se introduzir ração triturada até os 30 dias de
cultivo segundo o autor acima citado. Cotan et al. (2006), determina como nível ideal de
energia para alevinos de A. bimaculatus (antiga nomenclatura usada para identificar o A.
lacustris e outras espécies de lambari do rabo amarelo das bacias do São Francisco, Paraná e
Amazonas) 2900 Kcal ED/Kg de ração (quilo calorias de energia digestível por quilo de ração).
Quanto à proteína Bruta (PB) recomenda-se em torno de 38%, (serafini, 2003). A
quantidade de ração diária determinada por Meurer et al (2005), é de 11,5% do peso vivo dos
animais (temperatura média de 25°C). A ração deve ser fornecida quatro vezes ao dia para
melhor desempenho e sobrevivência dos alevinos, (Hayashi, 2004).

3.4.4 - Juvenis

Segundo Porto-Foresti, Castilho-Almeida, Foresti (2005), a partir de 20 dias de vida os


peixes podem receber ração extrusada. O tamanho ideal do grânulo é entre 1 e 2 milímetros
(mm). O nível de PB recomendado por Garruti (2003) (baseado em experiências práticas em
sistemas de produção bem semelhantes aos utilizados pelos produtores comerciais), é de 32%,
este também afirma a capacidade dos animais de ingerir rações de 4 a 6 mm nesta fase em
condições de improviso.
Quanto a energia não foram encontradas referências específicas para os lambaris
portanto utilizamos os níveis recomendados para peixes tropicais de Kubitza (1997) e NRC
(1993) de 3000 Kcal ED/KG de alimento.
Para Porto-Foresti, Castilho-Almeida, Foresti (2005), o nível ideal do fornecimento de
ração é de 5% do peso vivo por dia oferecido no mínimo 3 vezes ao dia. Os juvenis criados em
tanques rede, segundo Vilela e Hayashi (2001), podem adquirir maior peso individual com
3
densidades de estocagem de 31 peixes por m ou maior biomassa total com densidades de 124
3
peixes por m sem variação significativa na conversão alimentar (P>0,05).
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3.4.5 - Adultos (reprodutores)

Os peixes adultos destinados à conservação ou a reprodução podem consumir as


rações comerciais comuns fornecidas na fase juvenil dos peixes ou especificamente
preparadas para estes, tendo-se o cuidado de fornecer aos reprodutores um alimento
balanceado e em quantidade significativa, que segundo Garruti (2003) e Kubitza (1997) tem
influência direta na qualidade e quantidade de ovos, larvas e alevinos produzidos. O segundo
autor citado ressalta ainda que o aumento da inclusão de proteína e ácidos graxos essenciais
na dieta dos reprodutores de vários peixes tropicais também traz benefícios quantitativos e
qualitativos no desempenho reprodutivo dos animais.
A desova dos lambaris ocorre de forma parcelada durante o ano preferencialmente na
época da primavera, (Vilela E Hayashi, 2001), (SATO et al, 2006). Portanto é importante saber
mantê-los em condições nutricionais adequadas para realizarem a reprodução em qualquer
época e dar atenção especial na época em que se processam a maioria das desovas.
Até o momento não foram encontrados trabalhos que determinem as exigências
nutricionais de reprodutores do gênero Astyanax. Portanto cabem estudos que possam
explorar esse tema futuramente.

3.4.6 - Nutrição por sexo

Diana-Navarro et al. (2003), observando rendimento de carcaça, taxa de crescimento e


sobrevivência obtiveram melhores resultados em lotes de fêmeas criadas separadas dos
machos, enquanto Diana-Navarro et al. (2006) encontraram melhores índices morfométricos
também nestas condições. No primeiro trabalho também se atenta para a possibilidade de a
reversão sexual (o correto seria inversão sexual), ser um meio para tentar obter lotes de
fêmeas para aproveitar esse potencial.
Este processo está ligado com a alimentação uma vez que os hormônios são
administrados junto à ração dos animais, (Kubitza, 1997). Estudos para determinar as
exigências específicas por sexo de Lambaris seriam úteis a quem adotar algum tipo de sistema
de separação ou inversão sexual na criação.

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Tabela 1 – Exigências nutricionais para o gênero Astyanax


Proteína Energia FAD NAD/pv Tamanhodo
bruta (PB) digestível Grânulo
(ED)
Alevinos 38 % 2900 Kcal 4 11,5 % triturado
Juvenis 32 % 3000 Kcal 3a4 5% 1 a 2 mm
FAD (freqüência de arraçoamento diária), NAD/pv (nível de arraçoamento diário em relação ao
peso vivo).

Até o momento em que foi feito essa revisão não se tem conhecimento de trabalhos
voltados para a determinação de exigências em nutrientes como vitaminas, minerais e
aminoácidos, específicas para espécies do gênero Astyanax. Contudo pode-se tentar utilizar
alguns dados sobre outros peixes tropicais com características alimentares semelhantes as dos
lambaris para elaboração de dietas mais próximas da ideal para esses animais.

3.5 - Alimentos

Vários alimentos tanto de origem animal com vegetal podem ser incluídos nas dietas
para peixes. Furuya & Furuya (2004), citam alguns parâmetros a serem observados quando se
pretende incluir um ingrediente à fórmula de alguma ração para peixes, são eles:

• Exigência nutricional do peixe;


• Presença de fatores antinutricionais no alimento;
• A viabilidade econômica;
• A influência do alimento no consumo dos peixes;
• O efeito sobre características visuais da ração;
• A relação do ingrediente com a flutuabilidade do grânulo na água.

3.5.1 - Alimentos usuais nas dietas de peixes

Alimentos comumente utilizados em rações para peixes no Brasil e no exterior citados


por NRC (1993), Kubitza (1997), Logato (1999), Pezzato e Barros (2005).

3.5.2 - Origem vegetal

Farelo de soja desengordurado (física e/ou quimicamente), farelo de soja integral,


farelo de algodão, farelo de glúten de milho, milho integral, sorgo, farelo de amendoim, farelo
de trigo, farelo de arroz integral, farelo de arroz, desengordurado, farelo da alfafa, farelo de

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canola desengordurado, teosinto, milheto, casca de café, protenose (co-produto da extração de


amido de milho), raspa de mandioca, melaço em pó, gordura de coco, óleos de algodão,
canola, girassol, milho e soja.

3.5.3 - Origem animal

Farinha de peixes, farinha de carne, farinha de carne e ossos, farinha de vísceras,


farinha de penas, farinha de sangue, farinha de subprodutos de caranguejo, farinha de
subprodutos de camarão, gelatina, farinha de crisálidas, leite em pó, sebo bovino, gorduras de
aves e suínos.

3.5.4 - Outras considerações sobre alimentos

É importante conhecer o aproveitamento efetivo desses alimentos especificamente


para os lambaris para melhorar a qualidade das formulações de alimentos específicos para
esses animais. Alguns alimentos não citados acima podem também fazer parte da dieta dos
peixes após estudos mais detalhados para se conhecer suas propriedades. Exemplos desses
alimentos são ramas de mandioca secas, resíduo do processamento de feijão (grãos pequenos
ou amassados), alimentos descartados de fábricas de produtos para alimentação humana (fora
do padrão) e resíduos do processamento de oleaginosas para a produção de biodiesel.

3.5.5 - Alimento natural (vivo)

O alimento natural é de suma importância nas primeiras fases de desenvolvimento dos


lambaris, pois é ele quem tem um tamanho e composição mais adequada a esse período.
Segundo Kubitza (2004), os organismos que servem de alimento as pós larvas de
peixes são em ordem crescente protozoários, rotíferos, náuplios de copépodos, cladóceros
jovens, copépodos e cladóceros adultos. Para obtenção desses organismos em quantidades
suficientes nos tanques de criação costuma-se proceder a calagem e adubação. Para o autor
supracitado a adubação excessiva pode prejudicar o desenvolvimento das pós-larvas por
favorecer o desenvolvimento de organismos diretamente prejudiciais a elas ou que provoquem
alterações na qualidade da água do viveiro.
Garruti (2003), recomenda para a larvicultura do lambari a administração de 2 Kg de
2
superfosfato simples ou composto para cada 150 m de viveiro ainda seco 6 a 8 dias antes das
pós-larvas iniciarem a alimentação. O trabalho também indica a inoculação com 100 a 200
litros de água de um viveiro já com plâncton para estimular o desenvolvimento de
microrganismos no novo ambiente.

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3.6 - A nutrição e o meio ambiente

A dieta dos peixes pode ser indicada como uma das principais responsáveis pela
poluição de efluentes da piscicultura. Quando se utiliza uma ração mais adequada
ambientalmente pode haver uma diminuição da carga poluente e minimizar-se-á o impacto ao
ecossistema. Furuya e Furuya (2004), enumeraram alguns itens para se obter dietas com
menos poluentes, são eles:

• Determinar o valor nutricional de alimentos e dietas pelos peixes;


• Obter as exigências em nutrientes levando em consideração a espécie a fase e o
sistema de criação;
• Utilização de tecnologias de processamento que favoreçam o valor nutricional das
dietas, reduzindo fatores antinutricionais, incrementando o valor nutritivo, aumentando
a estabilidade dos grânulos na água, diminuindo as perdas de nutrientes;
• Uso de enzimas que permitam aumentar a disponibilidade de alguns nutrientes.

Estes artifícios podem ser determinantes principalmente para criações em regime


intensivo onde o volume de alimento fornecido diariamente é grande e se for mal administrado
será disperso no efluente causando a poluição do corpo de água receptor caso não haja um
sistema de tratamento. Outro caso semelhante é provável para criações em tanques-rede,
onde não se tem como tratar a água de cultivo.

4 - Considerações finais

Este estudo demonstra que já se conhece algumas características sobre os aspectos


nutricionais dos Lambaris do gênero Astyanax contextualizáveis para a produção comercial
desses animais. Contudo comparado a outras espécies utilizadas para a piscicultura no Brasil,
que já possuem suas exigências e peculiaridades conhecidas, pouco ainda se sabe sobre sua
nutrição. São necessários mais estudos concentrados nas espécies do gênero para
proporcionar maior nível de acertos nas formulações de rações para esses animais e
possibilitar melhor desempenho produtivo.

5 - Referências bibliográficas

ALVIN, M, C, C.Composição e alimentação da ictiofauna em um trecho do alto rio São


Francisco no município de Três Marias – MG. São Carlos: UFSCar, 1999. 98 p. Dissertação
de Mestrado. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
67622006000400021&lng=&nrm=iso&tlng= - 61k acesso: 25/02/2008.

ANUALPEC 2007. Anuário da pecuária brasileira. Tabelas: Suínos e outros. Instituto FNP. São
Paulo, 2007.

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BALDISSEROTTO, Bernardo. Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura. Santa Maria: Ed.


UFSM, 2002. 212p.

BENNEMANN, Sirlei Terezinha; CASATTI, Lilian; OLIVEIRA, Deise Cristiane de. Alimentação
de peixes: proposta para análise de itens registrados em conteúdos gástricos. Biota Neotrop.
, Campinas, v. 6, n. 2, 2006 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-
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19
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

AVALIAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DAS FRAÇÕES DO PROCESSAMENTO DA RAMA


DE MANDIOCA (Manihot esculenta, Crantz) E DIGESTIBILIDADE IN VITRO DO FENO DO
TERÇO SUPERIOR DE DOZE DIFERENTES VARIEDADES PARA COELHOS EM
CRESCIMENTO
1 2 2 3 4
Ferreira ,Mauro; Machado ,Luiz Carlos; Geraldo , Adriano; Ferreira , Walter Motta; Reis , Sara
5 5
dos; Melo , Rafael Simão de; Dutra , Rafael Maciel.

RESUMO- A mandioca, planta originaria do Brasil, se mostra como um insumo estratégico para
barateamento dos custos das dietas e grande parte de sua rama que poderia ser aproveitada é
deixada nos campos. Para a cunicultura, atividade em atual expansão no Brasil, esta planta
tem um grande potencial para utilização alimentação dos animais. Assim, se deseja avaliar o
valor nutritivo das cinco frações obtidas a partir do processamento da mandioca alem da
digestibilidade de doze diferentes variedades a fim de se escolher as melhores. As frações do
processamento foram coletados em uma fazenda assistida pela EMBRAPA MANDIOCA E
FRUTICULTURA e se constitui de cinco frações com diferentes relações entre folha e caule,
desde a mais proteica e menos fibrosa até a menos protéica e mais fibrosa. As doze
variedades de mandioca, foram pegas na mesma fazenda e plantadas em julho de 2007, no
campus do CEFET em Bambuí- MG. As variedades escolhidas para este experimento foram:
Gravetinho, Jacaré, Cigana, Kiriris, Mané Miúdo, Cacau, São Paulo 01, Aipim Brasil, Prato
Cheio, Aipim Manteiga, Aipim paraguai e Aipim Colombo. Se analisará os teores de matéria
seca MS), matéria mineral (MM), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra bruta (FB), proteína bruta (PB), energia bruta (EB), cálcio (Ca) e fósforo (P).
Através de ensaios de digestibilidade in vitro e equações de predição, se determinará a energia
digestível para coelhos, comparando-se também estes dois métodos, através dos valores
obtidos. Serão determinadas também as melhores variedades para uso na alimentação desses
animais. Assim se objetiva propor novos alimentos alternativos para integrarem dietas
completas para coelhos, além de gerar informações essenciais para a pesquisa da utilização
desses ingredientes para outros animais.

______________________________________________________________________________________
Palavras-chave
Nutrição coelhos, Mandioca, digestibilidade in vitro,cunicultura
1
Aluno do curso de graduação em Zootecnia do CEFET- Bambui
2
Professores do curso de Zootecnia do Centro Federal De Educação Tecnológica De Bambui
3
Professor associado do departamento de Zootecnia da EV - UFMG
4
Aluna do curso de Agronomia do CEFET- Bambui
5
Alunos do curso técnico em Agricultura e Zootecnia

1. INTRODUÇÃO

Originária do continente americano, provavelmente no Brasil Central, a mandioca


(Manihot esculenta, Crantz) já era amplamente cultivada pelos indígenas, por ocasião da
descoberta do Brasil. Atualmente, a cultura da mandioca é cultivada em uma extensa faixa do
globo (Otsubo, 2004). Quanto à produção total, o Brasil é o maior produtor de mandioca do
continente produzindo mais de 23 milhões de toneladas por ano.
Segundo Almeida e Ferreira Filho (2005), a mandioca é um produto de ampla
versatilidade quanto às suas possibilidades de uso como alimento de animais ruminantes e não
ruminantes, além de apresentar características agronômicas que permitem sua exploração em
diferentes níveis de tecnificação.

20
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

Ferreira filho et al. (2004), comentam que a parte aérea da mandioca é constituída
pelas astes principais, galhos e folhas em proporções variáveis, sendo um produto que
apresenta um potencial protéico de muita importância, rico em vitaminas, especialmente A, C e
do complexo B, o conteúdo de minerais é relativamente alto, especialmente cálcio e ferro,
podendo ser processada para obtenção de diferentes produtos destinados a alimentação
animal.
Carvalho (1998) cita que há estimativas em que 14 a 16 milhões de toneladas de parte
aérea são deixadas no campo e se perdem, quando poderiam ser utilizadas na alimentação
animal, para produção de carne, leite e ovos. De acordo com Ferreira Filho et al. (2004), a taxa
de eficiência na produção de feno da parte aérea da mandioca situa-se entre 20 a 30%,
dependendo da variedade, idade da planta, umidade inicial, densidade e condições climáticas.
Conhecidamente, a mandioca apresenta alguns princípios tóxicos. Ferreira Filho et al
(2004) enfatiza que a alternativa da desidratação da parte aérea da planta da mandioca, abre
novas possibilidades de uso na alimentação dos animais. A fenação também elimina a maior
parte do ácido cianídrico, reduzindo-o a níveis seguros para a alimentação animal. Carvalho
(1998) reforça que esse processo é seguro, até para eliminar a toxides das variedades ditas
bravas.
Sampaio (1995) cita que quando se trata da parte aérea da mandioca o valor nutritivo é
muito variável em função da quantidade de folhas e de manivas que originou o feno, podendo
variar de 8,0% de PB, quando se usa alta quantidade de caule e 28 a 32% quando se tem
apenas o limbo das folhas. Segundo Ferreira Filho et al. (2004), quando a folhagem se destina
à produção de feno para não ruminantes, deve-se utilizar as partes mais tenras, não sendo
recomendada a parte basal da planta. Vários pesquisadores (Scapinello et al., 1999; Herrera,
2003; Michelan, 2004; Machado, 2006; Machado, 2007a; Machado, 2007b; Ferreira, 2007) vêm
buscando o conhecimento a respeito do uso do terço superior da rama da mandioca na
alimentação dos coelhos. Concordando com o observado por diferentes autores dos citados
acima, Carvalho (1998) cita que essa fração contém 16 a 18% de PB na matéria seca.
Da Graça et al. (2001), estudando o valor nutritivo dos fenos da rama da mandioca, de
alfafa e de Tifton 85 para eqüinos em crescimento, concluíram que este alimento pode ser
utilizado nas dietas para eqüinos em crescimento, mesmo com resultados de digestibilidade
inferiores aos observados com alfafa.
Herrera (2003), trabalhando com dietas simplificadas com base no terço superior da
rama de mandioca concluiu que este ingrediente pode ser uma excelente alternativa para
produzir rações balanceadas para coelhos, a baixo custo.
Vários outros pesquisadores (Scapinelo et al., 1997; Michelan, 2004; Machado, 2006
Machado, 2007a; Machado, 2007b) vêm trabalhando com esses ingredientes, porém os
resultados são muito contraditórios. Machado (2006) enfatiza que há grande variação entre a
composição química da diferentes variedades de mandioca.

21
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

Esta pesquisa objetiva avaliar o valor nutritivo das frações do processamento da rama da
mandioca para a alimentação dos coelhos e assim se propor novos ingredientes para
formulação de dietas completas para esses animais a custos mais acessíveis. Se propoe
também a comparar o valor de ED obtido a partir de metodologias distintas a digestibilidade in
vitro do feno do terço superior das 12 variedades de mandioca, a fim de se propor para uso na
alimentação dos coelhos, aquela com qualidade nutricional superior.

USO DE EQUAÇÕES DE PREDIÇÃO E ENSAIOS DE DIGESTIBILIDADE IN VITRO


As equações de predição são um método indireto de determinação da energia,
mediante o uso de parâmetros químicos dos alimentos. Em termos práticos, pode ser uma
ferramenta importante quando não se dispõe dos valores determinados através da
digestibilidade in vivo, sendo este último método dispendioso e demorado.
Albino e Silva (1996), confirmam que devido as dificuldades de se determinar a EM dos
alimentos, a utilização de tabelas e equações de predição podem ser alternativas para
determinação da energia e também quando a composição do alimento é variável, as equações
de predição podem ser ferramentas importantes na correção dos valores. Trabalhando com
vários subprodutos do trigo, Nunes et al. (2001) verificaram que os melhores valores
estimadores da energia metabolizável da dieta eram o de proteína bruta (PB) e o de fibra em
detergente neutro (FDN) e assim elaboraram uma equação de predição.
Para coelhos, uma equação de predição de boa aceitação para ingredientes fibrosos é
a proposta por De Blas e Mateus (1998) que é mostrada a seguir:
ED (kcal/kg) = EB (kcal/kg MS) x (84,77 – 1,16 x FDA%MS)/100.
Os testes de digestibilidade in vitro são uma importante ferramenta para se estimar o
valor nutricional dos alimentos sendo testes rápidos podendo ser realizados em laboratórios.
Quando se deseja avaliar o melhor alimento, entre os vários testados, essa técnica se mostra
bastante eficiente. Silva e Queiroz (2002) destacam que os valores obtidos in vitro servem por
si para classificar diferentes alimentos forrageiros, em ordem decrescente de suas
digestibilidades e ainda há interesse em predizer o valor da digestibilidade aparente de alguns
nutrientes.
Pascual et al. (2000) destacam que a avaliação dos alimentos para coelhos é
frequentemente realizada pela coleta total de fezes sendo que os métodos normalmente
usados são aqueles in vivo. Os pesquisadores enfatizam que os métodos in vitro tem sido
desenvolvidos para facilitar, reduzir o tempo e predizer o valor nutritivo para coelhos.
Para animais ruminantes, a técnica consiste em deixar as amostras com inóculo de
rúmem sob condições de temperatura, anaerobiose, microorganismos e pH controladas,
durante cerca de 24 a 48 horas de fermentação (Silva e Queiroz, 2002).
Para coelhos foram propostos vários métodos sendo dois destes frequentemente
utilizados os testes multienzimático (Ramos e Carabaño, 1996) e o teste com inóculo cecal
(Fernandez-Carmona, 1993). O primeiro consiste em uma sequência de três etapas onde o

22
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

material recebe misturas enzimáticas sob pH, tempo e temperaturas controladas. Já o


segundo, propõe a preparação de um inócuo com líquido cecal e saliva artificial sendo então
incubado em condições controladas. Há um método na qual, após incubação, é medida a
produção de gases total, de acordo com o tempo. Este teste foi proposto em Malafaia (1997) e
utilizado em avaliações de rami para coelhos por Souza et al. (1998).
Pascual et al. (2000), após comparar os métodos descritos acima, verificou que as
técnicas multienzimáticas e inoculação cecal mostraram precisão adequada e repetibilidade
para predição da matéria seca digestível, especialmente o primeiro.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras foram coletadas na estação experimental Fazenda Novo Horizonte,
pertencente a Casa Familiar Rural. Município de Presidente Tancredo Neves – BA e se
constituem de cinco frações do processamento da rama da mandioca sendo chamadas de
fração 01, 02, 03, 04 e 05 sendo a primeira aquela com maior conteúdo de folhas e a última
com maior conteúdo de caule, respectivamente.
As cinco frações foram moídas em moinho analítico e acondicionadas em local arejado
e sem a incidência de raios solares. As análises químico-bromatológicas serão feitas no
laboratório de físico-química do CEFET-Bí, ou no laboratório de nutrição animal, tão logo se
iniciem suas atividades. Para análise de energia bruta (EB) uma amostra foi eviada para o
laboratório de nutrição animal no departamento de Zootecnia da EV-UFMG. A metodologia de
análise utilizada será a proposta pelo compêndio brasileiro de alimentação animal.
As análises realizadas serão as de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), Cálcio (Ca),
fósforo (P) e fibra em detergente ácido (FDA). A equação de predição utilizada será a proposta
por De Blas e Mateus (1998). O feno do terço superior das dose variedades de mandioca
serão colhidas em julho de 2008, quando completarem 12 meses após o plantio. Serão
fanadas e trituradas e acondicionadas.
Os testes de digestibilidade in vitro serão realizados no laboratório de nutrição animal
do departamento de Zootecnia da EV-UFMG, a partir da metodologia proposta por Fernandez-
Carmona (1993) pois é uma metodologia mais fácil e acessível, apresentando também boa
predição.
As amostras serão enviadas para a EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA para
analise de glicosídeos cianogênicos.
Os resultados de energia digestível obtidos pela equação de predição e pela
digestibilidade in vitro serão comparados pelo teste de Duncan a nível de 5,0% de
probabilidade, conforme indicado por Sampaio (2002). Para as análises estatísticas, se usará
recursos do SAS (1990).

23
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

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25
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

ESTUDO DA FLORA APÍCOLA EXISTENTE NO CEFET - BAMBUÍ


1 2 3 ’
Diniz , Fernada Alves.; Sousa , Karine. Aparecida de; Silva , Antônio Carlos.Dal acqua da.

Resumo: Este trabalho aborda observações referentes à flora apícola existente na Fazenda
Varginha, área do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí, que possui 347
hectares e atualmente produz 420 kg de mel/ano, em um total de 23 colméias. É interessante
observar que a região de Bambuí encontra-se em uma zona de transição entre a Mata Atlântica
e o Cerrado e durante o estudo, foram observadas 19 espécies de plantas sendo 8 nativas e 11
exóticas. Todas já com bom desenvolvimento vegetativo e aptas ao florescimento, mostrando
com isto seu potencial apícola. Com observações quinzenais, desenvolveu-se um calendário
apícola para as condições existentes no Cefet-Bí.

Palavras-chave: apicultura, flora apícola; calendário florístico; potencial apícola.

1
Formanda do Curso Superior em Zootecnia do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Bambuí.
2
Formanda do Curso Superior em Zootecnia do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Bambuí.
3
Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bambuí – Fazenda Varginha Km, 5
– Estrada
Bambuí-Medeiros fone: (37) 3431 4900, e-mail: acds@cefetbambui.edu.br

INTRODUÇÃO

Este artigo se baseia em um levantamento florístico realizado no Centro Federal de


Educação Tecnológica de Bambuí (CEFET - Bí) – Minas Gerais, no período de 16 de fevereiro
de 2007 a 29 de fevereiro de 2008, ocorrendo interrupções no estudo nos períodos de 29 de
junho de 2007 a 01 de agosto de 2007 e 20 de dezembro de 2007 a 11 de fevereiro de 2008,
em virtude do calendário escolar.
Quando se enfoca a apicultura, observa-se que a mesma possui uma grande
importância, pelo fato de poder ser implantada em áreas não tão propícias à agricultura
convencional ou até mesmo em áreas de preservação permanente por lei.
Segundo Edwards (1981) apud Marinho et al. (2003), as abelhas estão entre os
maiores polinizadores de plantas com flores amplamente distribuídas. Para que as abelhas
possam realizar suas atividades as flores possuem alguns atrativos como odores e cores
distintas, além de oferecem pólen e néctar como substâncias atrativo.
Para Espíndola et al. (2003), o conjunto de plantas de uma área ou região que produz
flores e fornece néctar, pólen e resina para as abelhas é denominado flora apícola ou pasto
apícola. O potencial produtivo de uma região depende das espécies vegetais presentes, da
importância e representatividade relativa de cada espécie, da época de floração e das
características do néctar e pólen fornecido.
É notória a importância de se ter um conhecimento detalhado da época de floração de
cada espécie, a fim de ser obter alimentação natural para as abelhas se não o ano todo, mas
26
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

pelo menos boa parte do mesmo. Desta forma, este estudo teve como objetivo observar e
registrar a época detalhado de florescimento de cada espécie existente no CEFET-Bí, a fim de
se montar um calendário apícola para as condições específicas desta Instituição de Ensino.

METODOLOGIA

Para dar início ao processo de estudo, que foi realizado de modo analítico, a escolha
de 19 plantas já bem desenvolvidos no CEFET-Bi. Em um segundo momento observou-se
áreas com grandes presenças de abelhas. Uma vez terminada esta etapa, decidiu-se que a
coleta de dados seria feita através de fotografias digitalizadas das plantas em questão, para
não prejudicar as plantas e abelhas.
Os parâmetros para observação foram os seguintes: época de florescimento, presença
de abelhas, presença ou ausência de pólen na corbículas das abelhas.
As espécies foram observadas de 5 em 5 dias, totalizando 6 visitações por mês, em
horários diferentes.
Para definir o parâmetro época de florescimento, foi observado se a espécie possuía
flores e o período deste florescimento.
Para presença de pólen nas curbículas, foi utilizado o método da acuidade visual para
verificação da presença ou não de pólen nas corbículas das abelhas. Quando verificada a
ausência de pólen pressupôs-se a coleta de néctar na espécie pesquisada, sabendo-se que a
abelha ao realizar a visitação vai à procura de somente uma matéria prima.
A identificação das espécies observadas foi realizada através da comparação das fotos
com os livros de Lorenzi (2002). Desta forma foi possível identificar:

a) Amor agarradinho (Antigonon leptotus), b) astrapéia branca (Dombeya tiliaefulia), c)


cagaiteira (Eugenia dysenterica DC), d) eucalipto urophilla (Eucaliptus urophylla), e) farinha
seca (Lonchocarpus nitidus), f) guapuruvu (Schizolobium parahiba), g) jambo (Syzygium
jambos), h) jambolão (Syzygium cumini), i) leucena (Leucaena glauca), j) maminha de porca
(Zanthoxylon riedelianum Engl.), l) murta (Myrtus communis), m) paineira (Chorisia speciosa),
n) sangra d’água (Croton urucurana), o) sansão do campo (Mimosa caesalpinifolia), p)
sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), q) urucum (Bixa orellana L.), r) resedá branco
(Lagerstroemia thorelli), s) resedá rosa (Lagerstroemia indica), t) sete léguas (Pandorea
ricasofiana).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Todos os dados referentes ao recurso floral foram obtidos através da observação direta
no campo, sendo a literatura utilizada apenas para a identificação das espécies e para uso
comparativo de alguns dados obtidos. Desta forma, no período em que o estudo foi
interrompido devido ao calendário escolar, supõe-se que a árvore maminha de porca
27
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

(Zanthoxylon rhoifolium) tenha florescido devido já que este não ocorreu no decorrer do
trabalho.
No caso da murta (Myrtus communis) o florescimento deve ter ocorrido em janeiro ao
que se pôde observar devido o trabalho ter sido iniciado ao final do seu florescimento. De
acordo com Lorenzi (2002), o florescimento da murta em algumas regiões do país ocorre entre
setembro e novembro, ocorrendo uma divergência no que foi observado no CEFET-Bí, pois
neste período não havia florescimento. Este fato reforça a idéia e a importância de um
levantamento por região, para a montagem do calendário apícola. Condições específicas de
cada região, podem influenciar e muito no período de florescimento de uma planta.
As espécies resedá branco (Lagerstroemia thorelli) e o urucum (Bixa orellana L.) não
apresentaram informações sobre sua aptidão floral por não ter sido observada a presença de
abelhas nos momentos das visitações.
A única espécie observada além dos muros da instituição foi o sansão do campo
(Mimosa caesalpinifolia) que se localiza nas proximidades do CEFET. Os dados levantados
permitiram a elaboração de um calendário apícola para o CEFET – Bambuí. (Quadro 1).
Com este trabalho observou-se que, ao se avaliar as plantas estudadas, um fator
importante deve ser considerado: as condições de solo onde estão inseridas estas plantas (se
são solos férteis em relação à adubação, se estão localizados em locais alagadiços e se
toleram tais situações). A cagaiteira, por exemplo, localizada no setor de bovinocultura do
CEFET – Bambuí possui um ótimo desenvolvimento e persistência de florescimento,
considerando-se assim a grande fertilidade do solo proveniente dos dejetos dos animais ali
acumulados.

28
Anais da Terceira Semana de Zootecnia do CEFET-Bambuí - Maio de 2008

QUADRO 1 – Calendário Apícola CEFET- Bambui.

MESES PLANTAS
J F M A M J J A S O N D Família Nome Científico Nome Popular Recurso floral Nativa ou exótica
1 1 1 1 1 1 Polygonaceae Antigonon leptotus amor agarradinho PN Exótica
1 1 1 1 Sterculiaceae Dombeya tiliaefulia astrapéia branca PN Exótica
1 1 1 1 1 Myrtaceae Eugenia dysenterica DC cagaiteira PN Nativa
1 1 1 Myrtaceae Eucaliptus urophylla eucalipto urophila PN Exótica
1 1 1 Fabaceae Lonchocarpus nitidus farinha seca P Nativa
1 1 Leguminosae Schizolobium parahiba guapuruvu PN Nativa
2 1 1 1 1 1 1 Myrtaceae Syzygium jambos jambo PN Exótica
1 1 1 Myrtaceae Syzygium cumini jambolão PN Exótica
1 1 1 1 1 1 Leguminosae Leucaena glauca leucena P Exótica
1 Rutaceae Zanthoxylon riedelianum Engl maminha de porca N Exótica
Myrtaceae Myrtus communis murta N Exótica
1 1 1 1 1 1 1 Bombacaceae Chorisia speciosa paineira P Nativa
2 1 Euphorbiaceae Croton urucurana sangra d´água P Nativa
1 1 1 1 1 Mimosaceae Mimosa caesalpinifolia sansão do campo P Nativa
1 1 Leguminosae Caesalpinia peltophoroides sibipiruna P Nativa
2 Bixaceae Bixa orellana L. urucum N Nativa
2 1 1 Lythraceae Lagerstroemia thorelli resedá branco N Exótica
2 1 1 1 Lythraceae Lagerstroemia indica resedá rosa N Exótica
2 1 1 1 1 1 1 1 1 Bignoniceas Pandorea ricasofiana sete léguas N Exótica
Fonte: Elaboração dos autores, 2007/2008.
Legenda:

1 = época de florescimento em 2007


2 = época de florescimento em 2008
X = pico da florada
P = pólen
N = néctar
R = resina
Início das atividades: 16/02/2007
Observações: Período que as atividades foram interrompidas: dia 29/06/2007 a 01/08/2007 e dia 20/12/2007 a 11/02/2008
29
CONCLUSÃO

Conclui-se com este trabalho que o estudo das espécies da micro-região do Cefet-Bí
se faz necessário para que se tenha informações concisas de cada espécie de interesse
apícola, já que verificamos divergências entre regiões de acordo com a comparação com a
literatura existente. Além de garantir a alimentação das abelhas, podem-se utilizar as
informações obtidas através deste trabalho para realizar a seleção das plantas que
apresentaram maior persistência de florescimento a fim de que possam ser futuramente
utilizadas em bancos genéticos.
A elaboração de um calendário apícola para uma micro-região, contribui para o
planejamento das ações e manejo das áreas florais, permitindo uma maior racionalidade no
que se refere à produção de mel por períodos maiores de tempo.
Através deste trabalho verificamos a riqueza deste ecossistema de que a propriedade
faz parte. Novas pesquisas podem e devem ser estimuladas e dentre as várias possibilidades
de estudo encontram-se o horário de maior visitação das abelhas e a porcentagem de açúcar
presente nos recursos florais da planta. Segue o desafio, para futuros trabalhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESPINDOLA, E. A.; CASSINI, F. L.; KALVELAGE, H.; DELATORE, S. F.; FUCHS, S.; VIDI, V.;
MIGUEL, W. Curso profissionalizante de apicultura. Florianopólis: Epagri, 2003. 136p.
(Epagri. Boletim didático, 45)
LORENZI, H. Arvores Brasileiras – Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2002. 384p.
MARINHO, I. V.; FREITAS, M. F. de; ZANELLA, F. C. V.; CALDAS, A. L. de. Espécies
vegetais da caatinga utilizadas pelas abelhas indígenas sem ferrão como fonte de
recursos e local de nidificação. Campina Grande: Universidade Federal de Campina Grande,
2003.

30
Parte 2 – Textos das palestras

FATORES QUE AFETAM A COMPOSIÇÃO DO LEITE DE VACAS LEITEIRAS:


IMPORTÂNCIA EM TEMPOS DE PAGAMENTO POR QUALIDADE

1
Gama , Marco Antônio Sundfeld da
1
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite
Introdução

A glândula mamária apresenta uma capacidade notável de converter nutrientes


circulantes (glicose, aminoácidos, ácidos graxos voláteis, etc.) em componentes do leite. No
final da década de 60, Patton destacou a importância das células da glândula mamária como
uma “fábrica” biológica, sugerindo que somente a fotossíntese (processo de síntese de
carboidratos pelas plantas a partir do CO2 atmosférico, com liberação de oxigênio) seria capaz
de superar a glândula mamária como um fator de sustentação da vida dos mamíferos na terra.
A produtividade desta “fábrica” é tão expressiva que talvez a vaca leiteira talvez pudesse ser
vista como um “apêndice” da glândula mamária, em vez do contrário (Bauman et al., 2006).

2. Composição do leite

O Finlandês A.I. Virtanen, ganhador do prêmio Nobel de química em 1945, declarou: “O


leite ocupa uma posição especial dentre os alimentos, pois apresenta a composição mais
versátil”. De fato, o leite contém todos os nutrientes que os mamíferos em geral (incluindo o
homem) necessitam durante seu crescimento e desenvolvimento; além disso, o leite e seus
derivados suprem as exigências de alguns nutrientes que dificilmente seriam atendidas na sua
ausência. O leite é composto basicamente por água, lactose, lipídeos (gordura), proteína,
minerais e vitaminas, tanto as hidrossolúveis (presentes na fração aquosa), quanto as
lipossolúveis, que se encontram na fração gordurosa do leite (Tabela 1). Assim, consumidores
que optarem, por exemplo, por ingerir leite desnatado (sem gordura), estarão deixando também
de ingerir as vitaminas lipossolúveis presentes no leite integral.

Tabela 1: Composição do leite bovino (Maijala, 2000)


Principais Teor * Sub-componentes
componentes (%)

Água 87 Vitaminas B e C
Lactose 4,8 Galactose, glicose
Gordura 3,5 Tri, di e monoglicerídios
Fosfolipídios
Esteróides
Vitaminas A, D, E e K
Proteína 3,2 Caseína (80%)

31
Proteínas do soro (20%)
Minerais 0,7 Macrominerais (Ca, P, K, Cl, Na, Mg)
Micro (Zn, Cr, I, Fe, Cu, Co, Mn)
* Valores médios para a raça holandesa
3. Fatores que afetam a composição do leite

A composição do leite dos animais é afetada por diversos fatores, os quais serão
apresentados e discutidos neste tópico. Entretanto, grande parte da variação observada entre
indivíduos de uma mesma raça (ou de um mesmo rebanho) se deve a diferenças nas dietas
fornecidas aos animais. Em particular, o teor de gordura do leite pode ser amplamente e
rapidamente alterado por meio de mudança na dieta dos animais. Por exemplo, dietas que
resultam em queda acentuada do pH ruminal, como as contendo baixo teor de fibra (FDN<25%
MS), fibra de baixa efetividade física (ex.: forragens finamente picadas), quantidade elevada de
grãos de cereais contendo amido de rápida degradação no rúmen (ex.: silagem de grão de
milho úmido, etc.), em geral resultam em drástica redução do teor de gordura do leite (Bauman
e Griinari, 2003). Por outro lado, a suplementação da dieta com fontes ricas em lipídeos, como
os grãos de oleaginosas (ex.: grão de soja moído, caroço de algodão, semente de girassol,
etc.), podem resultar em redução do teor de proteína do leite (Wu e Huber, 1994). Entender o
porquê destas alterações é de fundamental importância, especialmente em tempos de
pagamento do leite por qualidade, no qual o produtor recebe um valor diferenciado pelo
produto em função dos teores de proteína e gordura do leite, além de outras características
que não são o foco desta palestra, como contagem de células somáticas e contagem
bacteriana. Devido à complexidade do tema, os fatores nutricionais que afetam a composição
do leite serão abordados mais detalhadamente.
Além da nutrição, outros fatores afetam a composição do leite dos animais. Os mais
importantes são: a) Genética; b) estágio de lactação; c) idade; d) procedimento de amostragem
do leite (questão fundamental, porém muitas vezes negligenciada); e) Doenças e f) Nutrição.

a) Genética

- Diferenças entre espécies e entre raças

A proporção dos componentes do leite varia amplamente entre as diferentes espécies


de mamíferos, e também entre as raças bovinas leiteiras (Figura 1 e Tabela 2).

32
6

Teor no leite (%)


4

Gordura
3 Proteína
Lactose

0
Guemsey Jersey Ayrshire B. Swiss Holstein

Vacas

Figura 1: Composição do leite (valores médios) de diferentes raças leiteiras (Adaptado


de Jensen, 1995).

Tabela 2: Composição do leite de diferentes espécies.

SÓLIDOS
GORDURA PROTEÍNA LACTOSE MINERAIS
ESPÉCIE TOTAIS
% % % %
%

Antílope 1,3 6,9 4 1,3 25,2

Burro 1,2 1,7 6,9 0,45 10,2

Urso Polar 31 10,2 0,5 1,2 42,9

Bisão 1,7 4,8 5,7 0,96 13,2

Búfalo 10,4 5,9 4,3 0,8 21,5

33
Camelo 4,9 3,7 5,1 0,7 14,4

Gato 10,9 11,1 3,4 --- 25,4

Vaca:
Ayrshire 4,1 3,6 4,7 0,7 13,1
Brown Swiss 4,0 3,6 5,0 0,7 13,3
Guernsey 5,0 3,8 4,9 0,7 14,4
Holstein 3,5 3,1 4,9 0,7 12,2
Jersey 5,5 3,9 4,9 0,7 15,0
Zebu 4,9 3,9 5,1 0,8 14,7

Veado 19,7 10,4 2,6 1,4 34,1

Cão 8,3 9,5 3,7 1,2 20,7

Golfinho 14,1 10,4 5,9 --- 30,4

Elefante 15,1 4,9 3,4 0,76 26,9

Cabra 3,5 3,1 4,6 0,79 12

Égua 1,6 2,7 6,1 0,51 11

Humano 4,5 1,1 6,8 0,2 12,6

Canguru 2,1 6,2 Trace 1,2 9,5

Macaco 3,9 2,1 5,9 2,6 14,5

34
Suíno 8,2 5,8 4,8 0,63 19,9

Coelho 12,2 10,4 1,8 2 26,4

Rato 14,8 11,3 2,9 1,5 31,7

Rena 22,5 10,3 2,5 1,4 36,7

Foca 53,2 11,2 2,6 0,7 67,7

Ovelha 5,3 5,5 4,6 0,9 16,3

Baleia 34,8 13,6 1,8 1,6 51,2

Adaptado de Jensen (1995).

Pode-se perceber, com base nos dados acima, que a gordura é o componente do leite
que mais varia, tanto entre espécies quanto entre as principais raças leiteiras. Dentre as raças
leiteiras, por exemplo, a raça Holandesa (Holstein) apresenta o menor teor de gordura, e a raça
Jersey, o maior. Tendência semelhante é observada para o teor de proteína, de forma que a
raça Jersey é reconhecida por produzir leite com alto teor de sólidos. Estas diferenças entre
raças são importantes em sistemas de pagamento de leite por qualidade, onde o teor e/ou
produção dos componentes são usados como critério de pagamento. Este fato justifica, por
exemplo, a manutenção de certo número de animais da raça Jersey (ou mesmo seu
cruzamento) em rebanhos leiteiros da raça holandesa.

- Diferenças entre animais de uma mesma raça

Além da variação observada entre raças, animais pertencentes a uma mesma raça
também apresentam considerável variação na concentração de gordura do leite (Figura 2).
Tomando como exemplo a raça Holandesa (Holstein), amplamente difundida no mundo todo e
também no Brasil em função do seu elevado potencial genético e da facilidade de obtenção de
35
sêmen de touros de qualidade comprovada, percebe-se uma variação de 2,5 a 4% no teor de
gordura do leite. Variações ainda mais expressivas podem ser observadas em raças que
apresentam, reconhecidamente, maior teor de gordura, como a Jersey (a segunda raça
européia mais criada no Brasil).

Figura 2: Variação do teor de gordura do leite entre animais nas diferentes raças leiteiras
(Adaptado de Jensen, 1995).

Variações no teor de proteína do leite também são observadas entre animais de uma
mesma raça, embora de menor amplitude do que para a gordura. Parte da variação observada
nos teores de gordura e proteína do leite entre animais de uma mesma raça está relacionada
com o nível de produção dos animais, ou seja, seu potencial genético. Animais que produzem
maior volume de leite apresentam menores teores destes componentes. Isso ocorre porque a
produção de leite é negativamente correlacionada com os teores de gordura e proteína (Tabela
3).

Tabela 3 - Mudanças esperadas na composição do leite por diferentes critérios de seleção.

Portanto, a seleção genética baseada simplesmente em produção de leite resulta em


menor teor dos componentes, embora a produção destes componentes tenda a aumentar. Isto

36
fica claramente evidenciado na Tabela 4 abaixo, onde a seleção de touros nos Estados Unidos
baseadas somente em produção de leite resultou, após várias décadas, em queda significativa
nos teores dos seus componentes.

Tabela 4: Alterações nos teores dos componentes do leite observadas nos rebanhos norte-
americanos.

Alguns touros com grande volume de vendas no Brasil têm mercado escasso em
outros países exatamente pelas baixas provas para componentes do leite. Portanto, as três
características produtivas (leite, proteína e gordura) devem ser consideradas em conjunto na
seleção, preferencialmente num índice de seleção, incluindo a variabilidade e o peso
econômico desejado para cada característica (Rodrigo de Almeida, site:
http://www.milkpoint.com.br). Com base nas informações da Tabela 3, fica evidente que, em
tempos de pagamento de leite por qualidade, onde há uma clara tendência (mundial) de se
valorizar leites com maiores teores de sólidos, especialmente proteína, selecionar animais para
produção de proteína (kg/dia) parece ser a melhor estratégia.
Outra alternativa usada por alguns criadores para aumentar o teor de sólidos do leite
produzido na fazenda é a introdução de raças que apresentam, naturalmente, maiores teores
de gordura e proteína, como a Jersey.
É importante salientar ainda que, embora as alterações na composição do leite por meio de
seleção genética sejam mais lentas e de menor magnitude do que a promovida por
manipulação na dieta dos animais, estas são permanentes, enquanto que as promovidas pela
dieta são transitórias.

b) Estágio de lactação:

As concentrações de gordura e de proteína do leite são maiores no início e no final da


lactação, sendo que os menores teores coincidem com o pico de produção de leite (Figura 3).
Portanto, o aumento na produção de leite observado nas primeiras semanas pós-parto é
acompanhado por uma redução nos teores de gordura e proteína do leite, de forma que as
produções destes componentes (kg do componente secretado/dia) tendem a se manter
relativamente constantes.

37
Figura 3: Variação da produção e da composição do leite durante a lactação (Fonte: Teixeira et
al., 2003).

Ainda com relação à fase de lactação, cabe mencionar que as mudanças mais bruscas
na composição do leite ocorrem nas primeiras ordenhas, pois o colostro (secreção cremosa e
amarelada produzida pela glândula mamária logo após o parto) apresenta uma composição
bastante diferente do leite propriamente dito (Tabela 5).
Tabela 5: Composição do colostro (1ª ordenha) e do leite.

38
Componente Número de Ordenhas
1 2 3 4 5 11
Colostro Leite de transição Leite
Sólidos totais, % 23,9 17,9 14,1 13,9 13,6 12,5
Gordura, % 6,7 5,4 3,9 3,7 3,5 3,2
1
Proteína , % 14,0 8,4 5,1 4,2 4,1 3,2
Anticorpos, % 6,0 4,2 2,4 0,2 0,1 0,09
Lactose, % 2,7 3,9 4,4 4,6 4,7 4,9
Minerais, % 1,11 0,95 0,87 0,82 0,81 0,74
1
Inclui a porcentagem de anticorpos indicados na linha seguinte (Adaptado de Babcock Institute
for International Dairy Research and Development, Michel A. Wattiaux).

Nota-se na Tabela acima que o colostro apresenta praticamente o dobro do teor de


sólidos do leite, conseqüência principalmente da maior concentração de proteínas (~14%),
grande parte delas representadas pelos anticorpos presentes, os quais são fundamentais para
a sobrevivência do bezerro recém-nascido (neonato). Maiores teores de gordura, minerais e
vitamina A são também observados, mas o teor de lactose é inferior. Entretanto, é importante
perceber a rápida alteração da composição do leite durante as primeiras ordenhas, de forma
que, após 24-48h, o leite produzido já possui praticamente a composição do leite propriamente
dito.

c) Idade

Embora o teor de gordura do leite permaneça relativamente constante, o teor de


proteína aumenta gradativamente com o avanço da idade (ou do número de partos). Dados de
pesquisa com animais da raça holandesa indicam que o teor de proteína do leite diminui de
0,02 a 0,05 unidades percentuais em cada lactação (http://www.osuextra.com). Em outras
palavras, animais mais velhos tendem a produzir leite com menor teor de proteína. Entretanto,
estas variações são de pequena magnitude quando comparadas às promovidas por alteração
na dieta dos animais ou relacionadas ao estágio de lactação.

d) Procedimento de amostragem do leite

Uma correta amostragem do leite, tanto no tanque quando nos animais,


individualmente, é fundamental para que se obtenha um valor correto da concentração dos
componentes do leite, especialmente da gordura.
A gordura é o componente de menor densidade do leite, de forma que esta fração tende a se
acumular na parte superior. Portanto, o leite que sai da glândula mamária no início da ordenha
apresenta menor teor de gordura, enquanto que o leite do final da ordenha é mais gordo
(Figura 4).

39
6

Teor de gordura (%)


4

0
1 2 3 4
Partes da ordenha

Figura 4: Mudanças no teor de gordura do leite durante a ordenha (Adaptado do site:


http://classes.ansci.uiuc.edu/ansc438/index.html)

Isso significa que, ao coletar amostras individuais de leite para determinação dos
teores dos seus componentes, estas devem ser representativas do leite secretado durante toda
a ordenha; caso contrário, o teor revelado na análise não representará o verdadeiro valor do
teor de gordura do leite. Quando o leite produzido na ordenha é coletado em balões individuais
(sistema mais antigo, mas ainda existente em muitas propriedades), o leite presente no balão
ao final da ordenha deve ser homogeneizado durante um período suficiente para permitir uma
correta amostragem do leite. Se isso não for feito, a gordura do leite tenderá a se acumular na
parte superior do balão, e o leite coletado por baixo terá um teor de gordura menor do que o
valor real. Em sistemas de ordenha mais modernos, o produtor poderá acoplar um copo
de coleta à ordenhadeira, de forma que, ao final da ordenha, o volume coletado representa o
leite produzido ao longo de toda a ordenha. Entretanto, mesmo neste sistema, o leite presente
no copo deverá ser homogeneizado para permitir uma correta amostragem, já que a gordura
também tende a se acumular na parte superior.
Em caso de amostragem de leite diretamente do tanque, o mesmo cuidado com a
homogeneização deve ser respeitado. Previamente à coleta da amostra, o leite deverá ser
misturado dentro do tanque (os tanques apresentam geralmente sistema automático de
agitação) por vários minutos (5 a 10’).
Variações nos teores dos componentes também podem ser observadas entre
ordenhas. Assim, por exemplo, fazendas onde há duas ordenhas ao dia, o frasco destinado à
coleta de amostras deve conter o leite proveniente das duas ordenhas. O volume de leite
coletado em cada ordenha deve ser representativo do volume total de leite produzido. Portanto,
se a vaca produz 2/3 do volume de leite diário na ordenha da manhã, o frasco para coleta
deverá também conter esta proporção no volume final coletado (ex.: volume total coletado nas
duas ordenhas: 30 ml; 20 ml deverão ser provenientes na 1ª ordenha (2/3) e 10 ml (1/3)
provenientes da ordenha da tarde).
40
Amostragens não-representativas são causa comum (e muitas vezes negligenciadas)
de erro na determinação do teor de gordura do leite. Portanto, grande atenção e cuidado
devem ser dispensados a esta rotina nas fazendas.
Outra questão importante, em tempos de pagamento de leite por qualidade, é a questão
freqüência e número mínimo de amostras a serem coletadas para avaliar, com precisão, os
teores de gordura e proteína do leite de um determinado rebanho. Neste sentido, planilhas para
cálculo do número mínimo de amostras foram desenvolvidas pela Clínica do leite, na Esalq, em
Piracicaba (Laerte D. Cassoli e Paulo F. Machado, site: http://www.milkpoint.com.br). Esta
informação é fundamental para que o leite produzido numa propriedade possa ser classificado
(e remunerado) corretamente.

e) Doenças

Embora muitas doenças possam afetar a composição do leite, a mastite tem sido a
principal doença investigada. Em geral, animais com elevada contagem de células somáticas
(uma medida da severidade da doença) apresentam redução no teor de gordura do leite e
manutenção ou ligeiro aumento no teor de proteína. Isto se dá devido ao aumento da
concentração das proteínas do soro, que pode ou não ser compensado pela redução
observada na concentração de caseína. A mastite também afeta a composição mineral do leite:
os teores de sódio e cloreto aumentam, enquanto que os de potássio e cálcio são geralmente
reduzidos (Tabela 6). Estas alterações no tipo de proteína secretada e na concentração dos
minerais afetam o rendimento para produção de queijos, suas propriedades e processamento.
Assim, leites com alta CCS apresentam maior tempo de coagulação e formam coágulos mais
“moles” do que leites com baixa CCS.

Tabela 6: Mudanças na composição do leite associadas com a elevação da CCS.


Constituinte Leite Normal Leite com alta CCS Porcentagem do
normal
%
Gordura 3,5 3,2 91
Lactose 4,9 4,4 90
Proteína total 3,61 3,56 99
Caseína 2,8 2,3 82
Proteínas do soro 0,8 1,3 162
Sódio 0,057 0,105 184
Cloreto 0,091 0,147 161
Potássio 0,173 0,157 91
Cálcio 0,12 0,04 33
Adaptado de Harmon (1994)

41
f) Nutrição

Como dito anteriormente, a composição do leite, especialmente o seu teor de gordura,


pode ser amplamente e rapidamente alterada por meio de mudança na dieta fornecida aos
animais. A possibilidade de alterar rapidamente a composição do leite é de grande importância
em situações onde o produtor recebe valor diferenciado pelo leite em função de sua
composição, como ocorre atualmente no Brasil em algumas regiões. Obviamente, a decisão
por aumento ou redução do teor de determinado componente vai variar em função do sistema
de pagamento adotado. Há, entretanto, uma tendência mundial de se valorizar leite com maior
teor de sólidos, principalmente a proteína. O teor de proteína do leite é, entretanto, muito
menos sensível a alterações na dieta, de forma que incrementos no seu teor são
geralmente de pequena magnitude, e difíceis de serem obtidos. Este tópico apresentará os
principais fatores nutricionais capazes de alterar o teor de gordura e de proteína do leite.

- Influência da nutrição sobre a secreção de gordura do leite:

Trabalhos conduzidos nas últimas duas décadas têm proporcionado um grande avanço
na compreensão de como certas dietas afetam a síntese da gordura do leite. Hoje, sabe-se que
há certos tipos de dietas que causam grande e rápida redução no teor e na secreção de
gordura do leite, uma situação que é denominada depressão da gordura do leite (DGL)
(Rodrigo de Almeida e Marco A.S. Gama, site: http://http://www.milkpoint.com.br). Duas
condições são necessárias para que ocorra a DGL: um baixo pH ruminal e a presença de
fontes ricas em lipídios insaturados na dieta (Griinari et al., 1999). A primeira condição ocorre,
mais freqüentemente, quando as dietas apresentam: baixo teor de fibra (FDN), fibra de baixa
efetividade física (ex.: forragens finamente picadas, especialmente as silagens ricas em grãos,
como as de milho e sorgo), grãos de cereais contendo amido de alta taxa de degradação
ruminal (ex.: silagem de grão de milho úmido, milho floculado, etc.). A segunda condição está
geralmente relacionada com a inclusão, na dieta, de grãos de oleaginosas, como o caroço de
algodão, soja, girassol, etc. O processamento destes grãos (moagem, extrusão, etc) poderá
afetar a intensidade da DGL, já que permite mais exposição ruminal dos lipídeos contidos no
seu interior. Portanto, no caso do uso de óleos vegetais puros, a DGL tende a ser ainda mais
acentuada.
Dietas que induzem DGL são tipicamente fornecidas para vacas de alta produção, pois
estas apresentam maior exigência de energia, de forma que há necessidade de maior inclusão
de concentrados ricos em energia, como os grãos de cereais ricos em amido (ex.: milho, trigo,
aveia) e grãos inteiros de leguminosas (ricos em lipídeos, mas também fonte importante de
proteína e, no caso do caroço de algodão, fibra). A Tabela 7 (abaixo) mostra claramente o
efeito de uma dieta com baixo teor de fibra (expresso pela relação concentrado/volumoso)
sobre o teor de gordura do leite.

42
Tabela 7: Efeito da relação concentrado:volumoso e da inclusão de tamponante na composição
do leite de vacas em final de lactação.
Parâmetros Sem tamponante Com tamponante SEM
50:50 75:25 50:50 75:25
Consumo de MS, kg/d 18,3b 19,9ab 19,3ab 20,6ª 0,54
Produção de leite, kg/d 21,9 24,3 23,5 24,7 0,95
Teor de gordura, % 4,21a 2,91b 4,12a 4,09ª 0,38
Teor de proteína, % 3,37ab 3,49a 3,34b 3,48a 0,03
a,b
Médias seguidas por letras diferentes na mesma linha diferem entre si (P<0.05)

Os dados acima mostram também que a inclusão de tamponantes na dieta foi capaz de
reverter a DGL provocada pela dieta com alta relação concentrado:volumoso (75:25).
Possivelmente isso de deveu a uma maior estabilidade do pH ruminal promovida pelo uso do
tamponante. Os tamponantes comumente usados na dieta de ruminantes são o bicarbonato de
sódio (ou potássio) e o óxido de magnésio, nas proporções de 0,8-1,0% e 0,2-0,4% da MS da
dieta (relação de 2:1), respectivamente. Além dos tamponantes, o uso de dietas completas,
especialmente quando fornecidas várias vezes ao dia (pequenas quantidades ao longo do dia),
também representa uma importante medida de manejo nutricional capaz de minimizar ou
mesmo evitar a DGL.
Outra prática nutricional importante envolve a substituição de parte dos concentrados
ricos em amido por subprodutos fibrosos, como a casca-de-soja, ou por alimentos ricos em
pectina, como a polpa cítrica. Em ambos os casos, a dieta tenderá a apresentar maior teor de
FDN total, sem reduzir muito a energia da dieta. Em geral, recomenda-se que a dieta de vacas
em lactação tenha um mínimo de 25% de FDN total, sendo 19% (~75% do total) oriundo de
forragens (assumindo que a forragem apresenta um tamanho de partícula capaz de estimular a
ruminação). Para cada valor unitário de FDN de forragem abaixo de 19%, o FDN total da dieta
deve aumentar em 2 unidades percentuais (Tabela 8), de forma a manter um FDN efetivo
mínimo de 21%.

Tabela 8: Recomendações de teores mínimos de fibra na dieta de vacas leiteiras.

Adaptado do NRC (2001).

43
- Influência da nutrição sobre a secreção de proteína do leite:

Alterações na dieta dos animais geralmente afetam mais a produção de proteína do


leite (kg secretados/dia) do que o seu teor (%). O fornecimento de dietas com quantidade e
qualidade adequadas de proteína é um importante fator para se obter elevada secreção de
proteína do leite. Maximizar a produção de proteína microbiana, como dito anteriormente, é
parte fundamental desta estratégia. Para que isso seja obtido, a dieta deve conter teor
adequado de proteína degradável no rúmen (PDR) e energia suficiente para que as bactérias
do rúmen possam aproveitar o nitrogênio liberado no rúmen para síntese de suas próprias
proteínas (proteína microbiana). De acordo com o NRC (2001), a quantidade de PDR para
maximizar a secreção de proteína e de leite é de 10-12% da matéria seca da dieta, assumindo
que o suprimento de energia seja adequado. Por exemplo, uma vaca que coma 20 kg de
MS/dia necessitaria de 2 a 2,4 kg de PDR/dia. Em geral, dietas com 60 a 65% de PDR (como
% da PB) parecem adequadas para maximizar a síntese de proteína do leite. Outro ponto
importante é a disponibilidade da proteína nos alimentos. Alimentos superaquecidos como, por
exemplo, silagens produzidas em condições inadequadas (ex.: alta umidade/baixa
compactação) podem reduzir a disponibilidade da proteína. Isto ocorre devido à ligação da
proteína com carboidratos, que é catalisada por calor/umidade elevados. A análise
bromatológica do teor de nitrogênio ligado ao FDA (N-FDA ou PB-FDA) é um bom indicativo da
intensidade desta reação.
Dietas deficientes em proteína podem reduzir o teor de proteína do leite em 0,1 a 0,2
unidades percentuais, além de reduzir a produção de leite (Schingoethe, 1996). Por outro lado,
o fornecimento de dietas ricas em carboidratos de rápida degradação ruminal (ex.: amido,
pectina) geralmente aumenta o teor e a produção de proteína do leite. Este efeito pode ser
claramente notado nos resultados apresentados na Tabela 7. Este efeito pode ser devido a
uma maior síntese de proteína microbiana e/ou maior secreção de insulina, pois pesquisas
mostraram que este hormônio é capaz de aumentar significativamente o teor de proteína do
leite (Mackle et al., 1999). Entretanto, é importante ressaltar que o aumento da secreção de
insulina pelo fornecimento de dietas ricas em carboidratos não-fibrosos é limitado pelos efeitos
negativos destes sobre a saúde ruminal, podendo causar DGL (como visto anteriormente) e
doenças, como a laminite.
A adição de fontes de lipídios às dietas geralmente reduzem o teor de proteína do leite
em 0,1 a 0,2 unidades percentuais, embora possa aumentar sua secreção em função do
aumento geralmente observado na produção de leite (Schingoethe, 1996).

44
4. Conclusões

A composição do leite pode ser alterada por diversos fatores, conforme apresentado no
texto acima. Alguns destes fatores, entretanto, são passíveis de serem manipulados em nível
de fazenda (ex.: nutrição, genética, doenças), enquanto que outros não (ex.: período de
lactação, idade). Uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos em tais alterações é
de grande importância em tempos de pagamento do leite por qualidade. Alterações promovidas
pela nutrição são de particular interesse, tendo em vista a rapidez das respostas e a magnitude
das mudanças.

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45
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http://www.milkpoint.com.br. Autor: Marcos Neves Pereira.

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Qual o número mínimo de amostras para pagamento por qualidade? Site:


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46
The Lactation Biology Website: http://classes.ansci.uiuc.edu/ansc438/index.html. University of
Illinois.

Uso de tamponantes em dietas para vacas leiteiras. Site: http://www.milkpoint.com.br. Autor:


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47
GESTÃO EM SUINOCULTURA
1
Oliveira Jr , Antonio Rodrigues de
1
Médico Veterinário CRMV-MG 4.640
Mestrando em Ciências Veterinárias (Produção Animal) - UFU

Os principais temas abordados na maioria dos congressos realizados dentro da área


de suinocultura moderna, normalmente são manejo, nutrição, genética, sanidade, meio
ambiente e bem-estar animal, visto a importância deles no dia-a-dia da nossa atividade. Porém,
existe um tema tão importante quanto os citados acima que vem ganhando força a cada dia
que passa dentro das granjas suinícolas: Gestão.

Traçando um paralelo entre o desenvolvimento da gestão e o desenvolvimento da


suinocultura, também encontraremos algumas semelhanças. Nas décadas de 50 e 60, a
administração dos negócios na suinocultura, em sua maioria, era feita na base da experiência,
intuição e conhecimentos subjetivos. O porco tipo "banha" dominava a preferência da produção
e não existia quase nada de técnica de produção e profissionalização da atividade. Assim, o
conhecimento adquirido na prática sob duras penas pelos nossos antepassados era transmitido
de geração em geração e as coisas demoravam mais tempo para evoluir. Ainda hoje
encontramos muitos produtores administrando e desenvolvendo algumas atividades em suas
propriedades da mesma maneira que aprenderam com seus pais, que aprenderam com seus
avós. Se por um lado isto é um fato positivo porque ajuda a manter as tradições, muitas
práticas são inviáveis nos dias atuais.

Mas vale destacar que, apesar de acontecer de forma empírica, a gestão sempre
esteve presente na suinocultura e, ao contrário do que muitos ainda pensam, não é uma
conseqüência da evolução da tecnologia dos dias atuais. Mesmo sem saber, muitos dos
nossos antepassados aplicavam gestão nas granjas mantendo a atividade organizada,
controlando estoques, gerenciando as vendas, buscando o aprendizado e a aplicação das
melhores práticas e produzindo da melhor maneira possível. Mas, assim como hoje, não eram
todos os produtores que administravam a atividade de forma organizada. Porém, como a
suinocultura ainda não era uma atividade de mercado, não havia tanta concorrência e as
margens de lucro eram bem mais generosas. Era possível conseguir bons resultados mesmo
para aqueles que produziam sem nenhum tipo de controle administrativo.

Mas o que é este conceito? Como ele surgiu? Neste momento, é importante destacar
que Gestão não é uma criação acadêmica e nem foi inventada por alguém, é sim um
conhecimento empírico antigo que surgiu tal como a Medicina e o Direito. Também é
importante observar que o termo "Gestão" não é a mesma coisa que "Gestão de Empresas"

48
(muitas pessoas remetem o pensamento às empresas quando ouvem esta palavra). Diz a
história, inclusive, que a primeira aplicação sistemática de princípios de gestão não ocorreu em
uma empresa, mas na reorganização do Exército dos EUA em 1901. Porém, não se pode
negar que essa associação com o mundo empresarial se deve pelo fato de que o início do uso
do termo gestão se confunde com o surgimento das corporações no final do século XIX e início
do século XX tais como a Ford Company, General Motors e Deutsche Bank. O termo Gestão
possui várias definições.

Peter Drucker – Primeiro Professor de Gestão da Universidade


de Nova Iorque.

Mas só na segunda metade do século XX a gestão se tornou um "tema" assimilável


para as pessoas de forma geral, algo que se poderia aprender e ensinar. Foi nesta época que
o mundo começou a se render aos conceitos e à genialidade de um homem chamado Peter
Drucker. Drucker foi o primeiro professor a ensinar formalmente Gestão no final dos anos 40
em uma universidade em Nova Iorque. Surgia então a possibilidade de se aprender a governar
as empresas e as organizações através de uma metodologia, transferindo o "know how
gestionário" de uma meia dúzia de capitães de indústria e profetas para qualquer pessoa que
tivesse interesse no assunto. Resumidamente Gestão quer dizer gerir, planejar, organizar,
liderar, comandar, controlar e coordenar.

Com a evolução natural da suinocultura, que passou de uma “criação de porcos” para
uma fábrica de suínos, impulsionada pela urgente necessidade de melhoramento genético dos
suínos iniciada nos meados do século XX, a produção do porco "tipo carne" surgiu como a
solução para o desenvolvimento da atividade no país e deu início à suinocultura de mercado
com produção em grande escala que temos hoje. Fazemos parte de uma economia de
mercado, temos uma concentração da produção cada vez maior, a concorrência além de
grande não é apenas interna (fazemos parte de um mundo globalizado), e as margens de lucro

49
são cada vez menores. Hoje precisamos ser muito mais eficientes, produzir melhor e com mais
qualidade se quisermos continuar fazendo parte da suinocultura. Para isso, a implantação de
gestão em nossas granjas é fundamental.

E ter gestão em uma granja significa informatizar a granja? NÃO! Isto é um equívoco
bastante comum que muitas pessoas cometem. Os computadores e os softwares de
gerenciamento de granja são importantes ferramentas de auxílio que tornam os processos mais
ágeis e organizados. Porém, ter gestão na granja é muito mais amplo do que simplesmente
informatizar.

A lucratividade de qualquer atividade se dá, basicamente, subtraindo das Receitas as


Despesas para produção, sendo o saldo o Lucro obtido na atividade. Nem sempre
conseguimos controlar as Receitas, pois a definição dos preços pagos por quilo de suíno
vendido é feita, normalmente pelo mercado. Mas nossas despesas podemos controlar de
maneira mais segura, para isto, primeiramente devemos ter controle de todos os custos de
produção.
Todas as granjas possuem as mesmas oportunidades de melhoria, porém os
resultados biológicos variam muito entre as granjas. Graças a evolução tecnológica dos últimos
tempos e a globalização, hoje temos a nossa disposição o que há de melhor no mundo em
termos de genética, nutrição, sanidade, manejo, equipamentos, computadores e softwares. E,
além de qualidade, também temos variedade. Mas de que adianta investir alto em produtos de
última geração se eu não meço os resultados obtidos para ver a relação custo X benefício?
Como eu posso comparar dois fornecedores de nutrição ou genética (por exemplo) para saber
qual deles se adapta melhor a minha granja se eu não tenho informações que me levem a uma
conclusão?

Esta variação dos resultados, quase sempre é devida aos diferentes níveis de manejo
adotado em cada granja. Muitas vezes deixamos de ver o óbvio e buscamos causas mais
complexas, não acreditando no que é mais simples. A convicção da realização das tarefas mais
simples torna-as com efeito mecânico e não conseguimos ver ao redor, além do que em muitos
casos, na teoria se sabe muito bem o que foi preconizado, porém na pratica o que esta sendo
realizado é muito diferente.

Para podermos ter uma direção ou seguir uma meta, inicialmente temos que possui
dados confiáveis, termos uma política bem definida e consistente, especialmente no que diz
respeito à descartes e reposições de matrizes. Para isto devemos saber a real capacidade da
granja e buscar a otimização do uso destas instalações. Na ponta do lápis, muitas vezes e
melhor reduzir 15 a 20 % o plantel e trabalhar adequadamente com os animais do que ter 15 a
20 % de perda devido à superlotação. É planejar para onde ir, ter organização, estabelecer
objetivos e metas bem definidos, controlar e medir os resultados dos processos envolvidos no
50
dia-a-dia, e, principalmente, manter as pessoas treinadas, capacitadas, motivadas e sabendo
para onde o "barco" está indo. Inclusive, é praticamente impossível implantar uma boa gestão
sem o envolvimento profundo das pessoas. O que devemos buscar então é a gestão aliada à
tecnologia, mas sem esquecer que antes de tudo precisamos escolher e capacitar bem as
pessoas que irão comandar e fazer as coisas acontecerem. É aí que entra a Gestão e suas
ferramentas de apoio: o computador e o software.

Uma pequena diferença no desempenho da granja significa uma grande diferença nos
resultados, principalmente econômicos. Hoje não há mais espaço para quem controla as
granjas através do caderninho. Outro motivo que, apesar de ser básico e extremamente
importante, raramente é de conhecimento do suinocultor é: Qual é o custo de produção da
minha granja? É difícil de acreditar, mas a maioria dos produtores não sabe exatamente qual é
o custo para produzir um quilo de suíno na sua propriedade. O motivo disso é a falta de gestão.
Quem deseja continuar na atividade deve refletir sobre algumas questões e decidir se pretende
acompanhar a evolução e a profissionalização da atividade ou não. Por que estou nesta
atividade? Os resultados econômicos da minha granja estão remunerando o meu trabalho e o
meu capital investido? O que eu pretendo alcançar com a minha granja no curto, médio e longo
prazo?

` A suinocultura se sustenta, basicamente, sobre seis pilares, que são:


- Nutrição, Manejo, Instalações, Sanidade, Genética e Gerenciamento. Em cada um destes
pilares podemos agir de maneira a reduzir perdas e aumentar ou melhorar nossa produtividade.
O que temos conseguido em termos de leitões nascidos / porca / parto atualmente se deve
muito ao melhoramento genético que nossos animais sofreram nos últimos anos. E já se fala
(teoricamente) em atingirmos 40 leitões desmamados / porca no ano (veja abaixo

51
Propaganda na Revista Pig International Jul/Ago 2007.

Podemos ter certeza que, não muito distante de hoje, estes dados serão superados e
estaremos buscando novas metas.

Além do melhoramento genético, outros componentes que influenciam o tamanho da


leitegada nos suínos podem ter intervenção do homem na própria granja. Fatores como a taxa
de ovulação, taxa de fertilização, sobrevivência embrionária, leitões nascidos (peso e número),
leitões desmamados (peso e número) e leitegadas / porca / ano são diretamente influenciados
pelo homem.

Abaixo passamos resumidamente alguns manejos que podem influenciar cada um dos
fatores acima:
- Taxa de ovulação: • Manejo;
• Seleção de marrãs; - Sobrevivência Embrionária:
• Estímulo do cachaço; • Nutrição:
• Flushing; • Pós-cobertura;
• Condição corporal • Minerais e
• Score Corporal; vitaminas;
• Nutrição; • Minimização do stress
- Taxa de Fertilização: • Mudanças;
• Qualidade do sêmen; • Brigas;
• Técnica de IA ou cobertura;
52
• Incidência de
sol;
• Falta de água;
- Leitões Nascidos (Peso e
Número):
• Redução de natimortos;
• condição corporal da
matriz;
• Escore Corporal;
• Instalações;
• Nutrição
- Leitões Desmamados (Peso e
Número):
• Mortalidade pré-
desmame;
• Mortalidade na
Maternidade;
• Produção de leite;
• Nutrição;
• Apetite;
• Sanidade;
• Nutrição suplementar
para leitões;
- Leitegadas / Porca / Ano:
• Período entre desmame e
cobertura;
• Dias vazios;
• Nutrição;
• Efeito do cachaço;
• Redução de stress;
• Condição corporal;
• Efeito do número de partos;
• Manejo;
• Taxa de descarte;

53
Como podemos reduzir nossos custos? Como enfrentar as realidades acima? Pode
acreditar...somos capazes, basta querer.

Entre os fatores primários que afetam a produtividade e o desempenho da granja existe


algo muito importante e que devemos dar a maior atenção:
- TALENTOS HUMANOS.

Sem a devida valorização dos TALENTOS HUMANOS, não conseguimos influenciar os


fatores descritos acima como pontos importantes para a redução de custos e melhoria do
desempenho da granja. E esta valorização dos TALENTOS HUMANOS é feita através de praticas
simples e fáceis de compreender. Podemos ter as melhores instalações, a melhor genética, a
melhor nutrição, mas sem os melhores TALENTOS HUMANOS certamente não atingiremos os
melhores resultados.
No recrutamento de pessoas já se inicia esta valorização dos TALENTOS HUMANOS, pois um
mau funcionário que é tratado igualmente aos demais, desestimula os bons funcionários. Nesta
fase de recrutamento devemos buscar habilidade técnica e conhecimento prévio, observar atitudes
e comportamentos do candidato a funcionário da granja e procurar trabalhar com pessoas que
tenham motivação e responsabilidade e principalmente satisfação com o trabalho a ser executado.
Os funcionários novos devem ter roteiros e procedimentos para a execução de cada tarefa,
para isto devem receber treinamento e ter acompanhamento de seu trabalho inicialmente. A
correção e cobrança funcionam como estímulo (se bem feitas). Não basta ensinar o trabalho é
necessário acompanhar a execução do mesmo.
O comportamento pessoal perante aos animais influenciam os resultados de cada
funcionário. Muito melhor do que conseguir o envolvimento do funcionário é necessário que o
mesmo esteja comprometido com o trabalho. É como a história da galinha e do suíno:
• A Galinha convidou o Suíno para acabar com a fome do Mundo, porém a Galinha entraria
só com os Ovos, enquanto o Suíno entraria com a sua própria Carne.
• Esta é a diferença entre Envolvimento e Comprometimento

Peça fundamental na EQUIPE da granja é o gerente. O gerenciamento é uma atividade


complexa, que exige liderança. E a liderança não basta ser obtida por título, é necessária que seja
conquistada pelo comprometimento do gerente com os funcionários e com a granja. Para o gerente
é fundamental que esteja sempre na sua lembrança que ele Gerencia Pessoas e estas pessoas é
que trabalham com animais. E o ser humano possui, diferentemente que a maioria dos animais,
vontade própria, inteligência, sentimentos, objetivos e projetos de vida diferentes. De acordo com a
Teoria de Maslow, o homem necessita satisfazer suas necessidades básicas (comida, água e

54
moradia), depois busca segurança e proteção, afeto e amor, satisfazer sua auto-estima e por
último satisfazer sua auto-realização.

O Líder, por sua vez, tem sua pirâmide, porém ao contrário (de ponta cabeça) conforme
descrito por James C. Hunter no Best Seller “O Monge e o Executivo”:

Assim, para atingirmos o sucesso, precisamos ter claro em nossa mente nossas
responsabilidades, devemos ainda, estabelecer metas de excelência, treinar nossos parceiros,
discutir nossos resultados, reconhecer as qualidades e realizações de nossos contribuintes, confiar
na equipe, admitir falhas (e corrigi-las) e sempre tratar a todos com muito respeito e dignidade.

Com uma equipe comprometida certamente é possível extrair o máximo do potencial de


uma granja.

55
IMPACTO DO POTENCIAL GENÉTICO DE REPRODUTORES NA RENTABILIDADE DA
SUINOCULTURA MODERNA

1
Moura , Sandro Cardoso de

1
Gerente de Desenvolvimento de Negócios – Agroceres PIC

A suinocultura tem evoluído consistentemente desde a década de 60. Essa evolução


decorreu, entre outros fatores, do melhor gerenciamento empreendido pelas lideranças dos
principais segmentos que compõem a cadeia da suinocultura. Esse melhor gerenciamento induziu
a ocorrência de dois fenômenos: a especialização e a adoção sistemática de novas tecnologias.
A especialização e a adoção de tecnologias modernas têm possibilitado investimentos
no desenvolvimento e produção de insumos de alta qualidade, objetivando atender ao
requerimento de todos os segmentos da cadeia de carne suína. Nesse contexto, um dos
segmentos que mais tem evoluído nos últimos anos é a qualidade genética dos reprodutores,
machos e fêmeas, usados nas granjas comerciais visando à produção de suínos para abate. O
uso cada vez mais intenso de material genético de alta qualidade para produção de suínos
decorre da percepção de que a qualidade genética limita o potencial de transformação da nutrição
e de outros insumos, em carne suína. E, se for considerado que o custo do material genético
geralmente se situa abaixo de 3% do custo de produção de suínos, parece lógico que seja dada à
devida ênfase à influência econômica do potencial genético de reprodutores na suinocultura
industrial.

Evolução genética na suinocultura

A percepção dos benefícios advindos do programa genético em granjas comerciais de


suínos tem evoluído nos últimos anos em conseqüência da adoção de melhores controles, do
melhor gerenciamento técnico e econômico da atividade e do aumento no nível de competitividade
do negócio produção de suínos.
Há alguns anos, as decisões relacionadas à utilização de reprodutores melhores era
mais simples. As decisões envolviam a substituição de reprodutores de “raças de pelagem
colorida” por reprodutores de “raças brancas” ou ainda à utilização de matrizes híbridas ao invés
de usar matrizes de raça pura. Com o incremento no uso de tecnologias aplicadas aos programas
comerciais de melhoramento genético de suínos e a melhor qualidade genética dos reprodutores
produzidos, o uso de material genético especializado em granjas comerciais destinadas à
produção de suínos para abate aumentou acentuadamente.

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O desenvolvimento e a condução de um programa genético têm proporcionado, nos
últimos anos, um progresso genético anual significativo, cujo valor tem variado entre 1 a 3 %,
dependendo da característica considerada. No quadro 1, está apresentado o progresso genético
médio anual do programa genético da Agroceres PIC nos últimos 10 anos.

Quadro 1 – Progresso Genético Anual Estimado para Linhas da Granja Núcleo

Características Progresso Genético R $/ Suíno

Peso ao abate (Kg) 1,20 1,08


Conversão alimentar -0,023 1,14
% Carne magra 0,285 0,63
Total nascidos/leitegada 0,12 0,34
Valor Total 3,18

Quadro 2 – Evolução prevista nos índices de produtividade para os próximos 10 anos em granjas
de alta tecnologia.
Anos VARIAÇÃO (%)
Índices Zootécnicos

2007 2017 2017-2007


Nr. Leitões Desmamados/Parto 11,02 12,48 14,2
Número de Partos/Matriz/Ano 2,48 2,49 0,8
Nr. Animais Terminados/Matriz/Ano 26,0 29,8 14,6
Idade ao Abate (Dias) 165,0 154,5 -6,4
Peso ao Abate (Kg) 115,0 120,0 4,3
CA por Animal Terminado 2,40 2,22 -7,6
Conversão Alimentar de Plantel 2,79 2,54 -8,8
Carne Magra (%) 55,0 56,5 2,7
Carne Magra/matriz/ano (Kg) 1215 1500 23,3

A interpretação dos resultados apresentados no quadro 1 é de que, a cada ano, os


suínos produzidos para o abate valem, em média, R$ 3,18 a mais, e esse é o valor deixado de
ganhar, caso seja interrompida, durante um período de um ano, a reposição regular de material
genético em uma granja de produção de suínos para abate. Esse valor, se analisado num espaço
de tempo de apenas 1 ano e comparando com o faturamento médio por animal vendido, não
representa muito; mas, se for avaliado durante um período de tempo maior, os resultados são
evidentes.

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Considerando o alto índice de produtividade atual da suinocultura, os diferentes nichos
de mercados e a crescente exigência do mercado consumidor por carne de qualidade (palatável,
saudável e barata), o nível de complexidade dos programas de melhoramento genético atuais é
muito maior quando comparado com os recursos utilizados, com os procedimentos e objetivos
estabelecidos no passado. Por esse motivo, a PIC (PIG IMPROVEMENT COMPANY), da qual a
Agroceres PIC é sócia, tem investido uma substancial soma de recursos em tecnologias
disponíveis relacionadas às áreas de informação, saúde, genética molecular, genética quantitativa,
para o melhoramento contínuo e acelerado das características que exercem um impacto
econômico significativo na cadeia de produção da carne suína, com o objetivo de disponibilizar
para o mercado, reprodutores com alta capacidade de transformar, principalmente alimentos
vegetais, em carne de boa qualidade a um custo competitivo em relação às outras carnes,
produzindo um produto que, ao mesmo tempo, satisfaça às necessidades do consumidor, do
distribuidor, da indústria.
Neste sentido, nos próximos anos, haverá uma nítida tendência de aumento do número
de suínos produzidos, aumento no peso de abate, melhor qualidade de carcaça e maior economia
de ração.
A reposição genética (matrizes e reprodutores) numa suinocultura tem um impacto de, no máximo,
3 a 4% no custo de produção, mas determina o potencial alcançável no faturamento (quantidade
de carne produzida / porca / ano), no custo de produção (conversão alimentar), além de determinar
o potencial de qualidade do cevado (qualidade de carcaça e carne).

CONCLUSÃO: A escolha de um programa genético a ser utilizado na suinocultura moderna, não


pode ser definida simplesmente por aspectos técnicos parciais, eventuais facilidades de manejo,
ou por apenas percepções sem consistência, mas sim pelos aspectos técnicos econômicos,
avaliando aquela genética que pode lhe conferir melhor rentabilidade, ou seja, maior ganho
financeiro e garantia de sobrevivência num cenário de mercado cada vez mais competitivo!

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