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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

MARCELLA CRISTINA DA SILVA


RA - 1484901

EMBRIAGUEZ COMO QUESTÃO PENAL

SÃO PAULO
2023
MARCELLA CRISTINA DA SILVA

EMBRIAGUEZ COMO QUESTÃO PENAL

Artigo científico apresentado ao curso de Direito


do Centro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas - FMU, como requisito
parcial para a obtenção do grau de bacharel em
Direito, sob a orientação do Professor IVAN
CARLOS DE ARAUJO.

SÃO PAULO
2023

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Artigo Científico apresentado como requisito necessário para obtenção do título
de Bacharel em Direito. Qualquer citação atenderá as normas da ética cientifica.

_________________________________________________
MARCELLA CRISTINA DA SILVA

Artigo apresentado em __/__/____

_________________________________________________
ORIENTADOR: PROFESSOR IVAN CARLOS DE ARAUJO

_________________________________________________
PROFESSOR ²

_________________________________________________
PROFESSOR ³

_________________________________________________
BANCA EXAMINADORA

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Ante tudo, gostaria de agradecer a Deus, por mais essa
conquista acadêmica, agradecer a minha mãe Tania em
especial, minha parceira, meu alicerce, a qual me
proporcionou tudo até hoje, que sem ela junto com a minha
família nada seria possível. Esse trabalho é totalmente
dedicado a você!
Aos professores, que me orientaram e me ensinaram tudo
que eu sei no âmbito do direito até hoje, em especial ao
meu orientador.
Aos demais colegas de faculdade agradeço pelos cinco
anos juntos, e pelos grandes momentos cheios de
emoções em que vivemos.
Enfim, a todos aqui citados ou não, que direta ou
indiretamente contribuíram para que eu esteja onde eu
estou atualmente, concluindo essa graduação.

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EMBRIAGUEZ COMO QUESTÃO PENAL

Marcella Cristina Da Silva


RA - 1484901
marcylabel8@gmail.com

RESUMO

O artigo científico apresentado tem como finalidade discorrer as questões da


imputabilidade ou não dos agentes, comparativamente aos diferentes tipos de
embriaguez. Nesse sentido, para amparar a responsabilidade do embriagado
que se encontra em “aparente” estado de irresponsabilidade, utiliza-se como
ferramenta jurídica a teoria da actio libera in causa, que deslocará a
imputabilidade dele no momento anterior à ingestão da bebida alcoólica. No
entanto, o foco deste trabalho recai sobre a problemática da criminalidade, visto
que parte dela está relacionada com o consumo de bebidas alcoólicas ou
substâncias análogas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 7
1. EMBRIAGUEZ E SUA CRIMINALIDADE .............................................. 8
2. IMPUTABILIDADE PENAL NA EMBRIAGUEZ ................................... 10
3. ACTIO LIBERA IN CAUSA ................................................................... 12
4. O DIREITO COMPARADO ................................................................... 13
5. QUESTÃO PENAL OBJETIVA ............................................................ 14
6. ESPÉCIES DE DOLO .......................................................................... 21
6.1 DOLO NATURAL ...................................................................... 21
6.2 DOLO NORMATIVO ................................................................ 21
6.3 DOLO DIRETO ......................................................................... 22
6.4 DOLO INDIRETO ....................................................................... 22
6.5 DOLO DE DANO E DOLO DE PERIGO ................................... 25
6.6 DOLO GENÉRICO E DOLO ESPECÍFICO ............................... 25
7. DA CULPA ........................................................................................... 25
7.1 IMPRUDÊNCIA ........................................................................ 26
7.2 NEGLIGÊNCIA ......................................................................... 26
7.3 IMPERÍCIA ............................................................................... 26
8. ESPÉCIES DE CULPA ......................................................................... 28
8.1 CULPA INCONCIENTE ............................................................ 28
8.2 CULPA CONSCIENTE ............................................................. 29
8.3 CULPA IMPRÓPRIA ................................................................ 29
8.4 CULPA PRESUMIDA ................................................................ 30
8.5 CULPA INDIRETA ..................................................................... 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 33

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objeto o estudo dos crimes aplicados sob a influência de
álcool ou substância análogas, sendo necessário um estudo mais aprofundado
sobre as questões de responsabilidade penal desses embriagados, visto que se
encontram em estado alterado parcial ou total de consciência.
No entanto, no código penal em alguns casos isenta o agente embriagado que
não conseguiu entender o ato no momento dos fatos ou determiná-lo
apropriadamente. No entanto, há casos em que o agente deve ser
responsabilizado pelo fato, o que também pode ser classificado como condição
agravante de sua pena.
Tendo em vista que o tema do trabalho apresentado é embriaguez como questão
penal, trazendo os seguintes caso em que o agente é considerado inimputável
ou não, onde entra sua responsabilidade a partir do código penal mediante a
embriaguez total ou parcial, junto com a forma de aplicação da teoria actio libera
in causa nesses crimes.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é analisar o problema da
responsabilização dos agentes que se encontram em estado de “aparente”
responsabilização, utilizando estudos sobre a teoria da actio libera in causa e
sua respectiva aplicabilidade, como garantir justiça em crimes cometidos
embriagado.
O tipo de exploração utilizada é bibliográfica e se limita aos objetivos, questões
e hipóteses. A pesquisa bibliográfica é fundamental do ponto de vista do
processo técnico, pois proporciona um estudo teórico baseado em experiências,
estudos, leis, ensinamentos e artigos científicos já escritos.

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1. EMBRIAGUEZ E SUA CRIMINALIDADE

Existe uma estreita ligação entre a bebida e o comportamento


criminoso. Esta não é a única e principal causa do crime. No entanto, o efeito
comum do etanol é que ele tem o poder de aumentar as estatísticas das
violações de atos que atentem contra os valores.

Hoje, a utilização de bebidas alcoólicas é um costume enraizado no


cotidiano de quase todas as culturas, virou uma cultura moderna. Por outro lado,
problemas relacionados ao abuso de álcool é um costume desde o início de sua
história de consumo.

A embriaguez é definida na medicina, como intoxicação aguda e


temporária causada pelo álcool. Medicamente aguda refere-se a uma doença
com um curso grave e de rápida ação

Consequentemente, a intoxicação é um grave efeito temporário. A


embriaguez se manifesta em três estágios, mas não há limites precisos entre
eles.

1ª Fase da excitação, caracterizado por uma diminuição dos freios


morais, a pessoa permanece consciente. Mas há uma capacitância diminuída de
autocrítica e julgamento, agilidade motora, falta de inibição, euforia e tagarelice,
em alguns casos até tristeza, lentidão e baixos reflexos, com baixa capacitância
de concentração. O principal sintoma clínico são as pupilas dilatadas. pele úmida
aumentar a respiração e a pulsação.

2ª Fase da depressão ou confusão, o bêbado pode sofrer de falta de


coordenação motora, confusão mental, irritabilidade, disartria, voz turva,
problema para articular as palavras, percepção visual dupla, zumbido nos
ouvidos, problemas de memória e até delírios. Caminhar em linha reta ou se
equilibrar com os olhos fechados são tarefas muito difíceis. Usualmente é na
fase de confusão que o alcoólatra apresenta os maiores distúrbios posturais,
pois a fraqueza de sua autocrítica e autocontrole é mais pronunciada. É onde a

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embriaguez já é total, pois a autocensura, restrições morais, polidez, liberdade
de consciência e vontade não existem.

3ª Fase do sono, caracteriza-se por um estado anestésico que pode


assumir magnitudes maiores ou menores. Pode ocorrer queda significativa na
pressão sanguínea e na temperatura corporal, pele pálida, pupilas contraídas,
respiração e pulso lentos. A reação desapareceu completamente. Pode ser um
sono profundo ou perda de consciência. Em alguns casos, pode levar ao coma
ou até à morte.

Diante disso, além de sua legalidade, os transtornos causados pelo


álcool são significativos, ao ver de Haroldo Caetano da Silva (2004, p.41);

[...] sendo o álcool uma droga historicamente


consumida e o seu uso um hábito socialmente aceito,
inclusive estimulado por criativos meios de publicidade por
todos os mas media – diversamente do que ocorre com
outras drogas, cujo comércio e consumo configura prática
ilícita – é muito frequente o vício do alcoolismo, a ponto de
tornar-se “um dos problemas mais inquietantes que se
apresentam atualmente em todos os países civilizados”,
verdadeiro problema de saúde pública, com reflexos
nefastos para aquele que ingere a bebida alcoólica, e
também com consequências outras, não menos graves, de
caráter social, econômico e jurídico.

Assim, a embriaguez não é a única causa de problemas criminais, mas


a embriaguez é uma força motriz relevante que a impulsiona. Sendo o crime um
fator patogênico ao corpo social, deve o Estado, perante as normas penais
dispostas, se preocupar com o problema da embriaguez e com a mudança
brusca comportamental indivíduo.

É por isso que o direito enquanto regulador da conduta humana, e


sobretudo o direito penal, enquanto guardião dos valores mais importantes da
vida social, tratou de imediato do fenómeno da embriaguez. E a legislação

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brasileira o fez em três aspectos: a) no art. 28, inciso II, do Código Penal, que a
embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substâncias de efeitos
análogos, não exclui a imputabilidade; b) agravando a pena quando for crime
praticado em estado de embriaguez preordenada como disposto no art. 61,
inciso II, alínea “a”, do Código Penal; e c) tipificando uma conduta, como exemplo
disposto, art. 62, da Lei das Contravenções Penais.

Desta forma, investigamos o tratamento penal da embriaguez,


prestando mais atenção ao que parece ser o ponto mais essencial dos princípios
orientadores do direito penal, a conexão desta como um fenômeno que pode ser
mascarado. a compreensão e determinação do indivíduo e a responsabilidade
criminal.

2. IMPUTABILIDADE PENAL NA EMBRIAGUEZ

De acordo com o Art. 28 inciso II da codificação Penal a intoxicação


voluntária ou criminosa causada por álcool ou substâncias potentes semelhantes
não exclui a consciência.

Assim, nos termos da legislação em vigor, se uma pessoa consumir


voluntariamente uma bebida alcoólica, mantém-se a imputabilidade,
independentemente de a intenção de embriaguez e subsequente intoxicação ter
sido total ou incompleta.

De certa forma, os parágrafos primeiro e segundo do referido dispositivo


estabelecem que a embriaguez acidental pode isentar o agente da pena ou
reduzi-la, conforme seja, respectivamente, completa ou incompleta.

Sendo a primeira hipótese, embriaguez completa, decorrente de caso


fortuito ou força maior, suprime a culpabilidade.

Como apresenta Júlio Fabbrini Mirabete (2004, p. 223), “Trata-se de


caso de exclusão da imputabilidade e, portanto, da culpabilidade, fundado na

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impossibilidade de consciência e vontade do sujeito que pratica o crime em
estado de embriaguez completa acidental”

No exemplo do art. 28 § 2º a redução da pena é obrigatória, está incluída


nos direitos privados dos presos e não fica a critério do juiz verbo. O verbo
"poder" refere-se à redução do quantum de um a dois terços da pena.

Deve-se notar, no entanto, que o tratamento penal da embriaguez


patológica, é diferente da forma crônica, diz a respeito o Júlio Fabbrini Mirabete
(2004, p.233):

Como disposto ao art. 28, deve ser efetuada uma interpretação


necessariamente restrita, excluindo-se do âmbito do dispositivo a
embriaguez patológica ou crônica. Fala-se em embriaguez patológica
como aquela à que estão predispostos os filhos de alcoólatras que, sob
efeito de pequenas doses de álcool, podem ficar sujeitos a acessos
furiosos. Na embriaguez crônica, há normalmente um estado mental
mórbido (demência alcoólica, psicose alcoólica, acessos de delirium
tremens etc.), e o agente poderá ser inimputável ou ter a culpabilidade
reduzida (art. 26)

Deve-se notar que, no caso de intoxicação patológica, pequenas doses


podem fazer com que a pessoa perca completamente o controle de si mesma.
vivendo em alcoolismo crônico, dano ao sistema nervoso é permanente
consistindo em uma, deformação persistente do psiquismo, assimilável a
verdadeira psicose, e como psicose, ou doença mental, deve ser juridicamente
tratado.

A respeito do alcoolismo crônico, Heleno Fragoso (2003, p.251),


disserta:

Do ponto de vista médico, o alcoolismo é uma doença crônica, com


aspectos comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo
consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna
progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e
desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando ela é retirada.

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Dessa forma, as duas formas são equiparadas à doença mental,
aplicando-se o disposto no art. 26 do Código Penal.

3. ACTIO LIBERA IN CAUSA

A avaliação de culpabilidade de um indivíduo acusado de um crime é o


tempo de ação.

No entanto, pode acontecer que os agentes se coloquem


voluntariamente em situações imprevisíveis, diz Jesus (2003, p.472), “É célebre
a hipótese do sujeito que se embriaga voluntariamente para cometer o crime,
encontrando-se em estado de inimputabilidade no momento de sua execução
(ação ou omissão)”

Por outro lado, as situações abrangidas pela actio libera em causa, são
casos de conduta livremente desejada, mas que foram cometidas no estante em
que o sujeito se encontra em um estado de inimputabilidade, excluem a hipótese
de embriaguez involuntária, que, nas palavras de Soler: “é o que ocorre quando
se ingere uma substância cujo efeito foi ignorado, ou devido a uma situação
patológica desconhecida do sujeito ou à atividade maliciosa de um terceiro”

Já para Ujala Joshi Jubert (1992), que desenvolveu amplamente essa


questão, a:

Expressão, actio libera in causa, faz referência a aquelas situações nas


que o sujeito lesiona um bem jurídico sendo penalmente irresponsável
(geralmente, inimputável ou incapaz de ação). Acontece, não obstante,
que com anterioridade à lesão do bem jurídico ele mesmo há
provocado a situação de isenção da qual se beneficia.

Questões sobre a actio liberae in causa, sive ad libertatem relatae (ação


independente em sua própria causa), ou simplesmente actio libera in causa. Este
é um caso de comportamento livremente desejado, ou seja, no momento da

prática do fato o agente pode não possuir capacidade de querer e entender.


Houve liberdade originária, mas não liberdade na hora do fato atual.

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A actio libera in causa, segundo Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique
Pierangeli (2005, p.452), conceitua da seguinte maneira:

[...] pretende que aquele que comete um ato típico e antijurídico (um
injusto) em estado de embriaguez completa (inimputabilidade, ou seja,
incapacidade de culpabilidade [...]), deve ser responsabilizado pelo
injusto cometido, sempre que o estado de embriaguez tenha sido
atingido voluntariamente pelo autor, e não por erro ou acidente.

De acordo com esta doutrina, deve ser punido como autor de homicídio
ou lesão corporal quem ingere bebida alcoólica de modo a causar-lhe profunda
perturbação da atividade consciente, equiparável ao delírio e neste estado matar
ou ferir alguém, de forma que o estado de inimputabilidade não o beneficia, por
tê-lo querido.

São elementos da actio libera in causa, destarte: a) uma conduta livre


do agente, que determina sua própria incapacidade de culpabilidade; b) uma
conduta criminosa não livre, praticada em estado de inimputabilidade; e c) o nexo
causal, a ligação entre a conduta livre, cometida pelo sujeito enquanto imputável,
e o evento delituoso praticado quando sua consciência já havia se retirado.

4. O DIREITO COMPARADO

As disposições do nosso Código Penal relativas à embriaguez são


inspiradas na lei Italiana, de forma que tanto no Brasil quanto na Itália: a) o ébrio
é punido como imputável; b) a embriaguez completa derivada de caso fortuito ou
de força maior exclui a imputabilidade; e c) agrava-se a pena no caso de
embriaguez preordenada.

A lei espanhola, por sua vez, adota um sistema interessante, eliminando


a responsabilidade penal por embriaguez voluntária, desde que não tenha sido
buscada a inconsciência para a prática do crime ou que o agente não tenha
previsto a possibilidade de cometê-lo, ou mesmo se você estivesse em estado
de abstinência.

Alemanha, Austria e Suíça, por outro lado, tomaram um caminho


diferente ao legitimar a punição de bêbados, já que nesses países a embriaguez

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total exclui a responsabilidade. No entanto, é em si uma injúria criminal se foi
causada intencionalmente ou culposamente.

“Na hipótese, a razão de ser da punibilidade reside no fato de o agente


embriagar-se culpavelmente, considerando a ação típica praticada
simples condição objetiva de punibilidade.” (SILVA, 2004, p.98)

As leis criminais desses países não impõem punições abstratas para a


embriaguez a repreensão, que corresponde à pena imposta pela ofensa
cometida.

O sistema português é o mesmo com a diferença que a legislação


portuguesa já impõe uma pena que não pode exceder a pena prevista para o
crime cometido, limitada a 5 (cinco) anos de prisão e multa de 600 dias.

5. QUESTÃO PENAL OBJETIVA

O simples fato de um agente ficar voluntariamente embriagado, ficar


inconsciente, colocando-se em estado de inconsciência, e nesse estado,
cometer um crime não se qualifica para punição sob a teoria da actio libera in
causa.

Dessa forma a lição de Aníbal Bruno (1967, p.52) é:

[...] será sempre necessário que o elemento subjetivo do agente, que


o prende ao resultado, esteja presente na fase de imputabilidade. Não
basta, portanto, que o agente se tenha posto, voluntária ou
imprudentemente, em estado de inimputabilidade, por embriaguez ou
outro qualquer meio, para que o fato típico que ele venha a praticar se
constitua em actio libera in causa. É preciso que esse resultado tenha
sido querido ou previsto pelo agente, como imputável, ou que ele
pudesse prevê-lo como consequências de seu comportamento. Esse
último é o limite mínimo da actio libera in causa, fora do qual é puro
fortuito.

Sendo assim:

“os crimes praticados em estado de embriaguez voluntária ou culposa,


em que não há, na fase de imputabilidade, dolo nem culpa em relação

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ao fato punível, não dever ser incluídos na teoria da actio libera in
causa” (BRUNO, 1967, p.51)

Já na proposta de Haroldo Caetano da Silva (2004, p.104), a forma atual


da teoria da actio libera in causa, seria a seguinte:

Se a pessoa se embriaga voluntariamente, com o fim de cometer o


crime, responderia a título de dolo, com a pena agravada. Se o sujeito
se embriaga voluntariamente, sem o fim de cometer o crime, mas
prevendo que poderia praticá-lo, responde a título de culpa. Se o
agente se embriaga voluntaria ou culposamente, sem prever, mas
devendo-o, ou prevendo, mas esperamos que o crime não aconteça, a
responsabilidade também se dá a título de culpa. Se a embriaguez
decorre de caso fortuito ou força maior, a imputabilidade é excluída.
Mas se, apesar de a embriaguez for voluntária, o autor, enquanto
imputável, sequer imaginava que poderia cometer um delito, o fato não
pode ser punido a título de actio libera in causa.

Portanto, como disposto no art. 18, inciso II, do Código Penal, não é o
que realmente ocorre na prática.

Art. 18, II - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por


imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos
expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, se não quando o pratica dolosamente.

A origem da teoria actio libera in causa da punição em casos de


intoxicação deliberada quando uma pessoa, “[...] se embriaga voluntariamente
para, em estado de inconsciência, praticar uma ação ou omissão criminosa”
(BRUNO, 1967, p. 51)

No entanto, no art. 28, inciso II, do código Penal, estende a aplicação


da teoria a todos os casos de embriaguez voluntária, ainda que o autor enquanto
consciente, sequer tenha cogitado a possibilidade de cometer crime, portanto
inexistente. antes do estado de não imputação, qualquer elemento subjetivo
(dolo ou culpa) que o juntasse à conduta ilícita.

Portanto, nossa legislação inclui a assunção de responsabilidade


criminal propositalmente, dispõe Jesus (2003, p.513) a respeito:

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“Para que haja responsabilidade penal no caso da actio libera in causa,
é necessário que no instante da imputabilidade o sujeito tenha querido
o resultado, ou assumido o risco de produzi-lo, ou o tenha previsto sem
aceitar o risco de causá-lo ou que, no mínimo, tenha sido previsível.
Na hipótese de imprevisibilidade, que estamos cuidados, não há falar-
se em responsabilidade penal ou em aplicação da actio libera in causa.
Assim, afirmando que não há exclusão da imputabilidade, o Código
admite responsabilidade penal objetiva.”

Os casos em que o agente não quis, nem previu, enquanto imputável a


ocorrência do crime cometido no estado de não culpabilidade, de fato, não só
caracteriza a sempre repulsiva responsabilidade penal objetiva, como também
não podem ser consideradas como hipótese da teoria da actiones liberae in
causa.

Anibal Bruno (1967, p.151) conclui:

Esses casos, o nosso Código os resolve dispondo que a embriaguez


voluntária ou culposa não exclui a responsabilidade penal, solução que
a Exposição de Motivos do Código italiano toma por hipótese de actio
libera in causa. A Exposição de Motivos do nosso Código segue a
mesma interpretação, adotando para esse instituto um conceito
amplíssimo. [...].

Dessa forma, só a hipótese não é admissível na categoria de actio libera


in causa, como também as consequências resultantes são diferentes das
consequências da admissão da instituição.

A sanção por crime cometido em estado de embriaguez total, quando o


funcionário na fase anterior da prestação de contas não pretendeu ou previu o
resultado nem era previsível dadas as circunstâncias particulares em que se
encontra o funcionário, escapa ao princípio da culpa, mesmo no tipo de actio
libera in causa.

Se tratando do ébrio voluntário ou culposo, como se fosse imputável, o


Código Penal recorre a uma ficção na qual viola o princípio da culpabilidade do
ato, e vem a punir o ato do ébrio pelo seu efeito objetivo, desprezando a
circunstância da ausência do elemento subjetivo, que, do Código, seria
necessário para a incriminação do fato.

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Nesse sentido as conclusões do Aberto Silva Franco (2001, p.469), é:

[...] o agente não tinha em mente, ao tomar a bebida alcoólica, a prática


de um fato criminoso, o qual vem, contudo, a cometer no período em
que estava submetido à intoxicação alcoólica. O legislador, fazendo
uso de uma verdadeira ficção jurídica (deu por imputável que, na
realidade, não o era), considerou-o, nas duas hipóteses, como portador
tanto de capacidade de entender o caráter ilícito do fato, como da
capacidade de determinar-se conforme esse entendimento. Transferiu,
por isso, o juízo da imputabilidade do tempo da ação ou da omissão
para um momento precedente, ou seja, para o da ingestão da bebida
alcoólica ou da substância equivalente. É evidente que a deslocação
no tempo desse juízo não bastou para camuflar a consagração
legislativa de uma hipótese de imposição de pena, por pura
responsabilidade objetiva o que colide francamente com o princípio do
nullum crimen sine culpa [...]

Alberto (2001, p.469) também concluiu que:

“[...] a embriaguez voluntária ou culposa, enquanto hipótese de


responsabilidade pelo mero resultado, contraria a letra e o próprio
espírito da Constituição Federal.”

Já o Pierangeli (2005, p.301) diz:

Desde logo, queremos ressaltar ter o legislador de 1984 modernizado


a Parte Geral do Código Penal de 1940. Esta estruturava-se sobre o
Código Rocco, retrato de um regime totalitário então vigorante naquele
país, que merecia adoção aqui, no Brasil, em face do Estado Novo,
implantado por Getúlio Vargas a partir de 1937, este apresentando as
características fascistas que marcaram o regime italiano.

Desse modo, César Roberto Bitencourt e Francisco Munoz Conde, vem


ao seu modo criticar a cia interpretativa adotada pelos tribunais:

E quando há imprevisibilidade não se pode falar de actio libera in


causa, diante da impossibilidade de se relacionar esse fato a uma
formação de vontade contrária ao direito, anterior ao estado de
embriaguez, insto é, quando o agente se encontrava em perfeito
estado de discernimento. No entanto, os tribunais pátrios não têm
realizado uma reflexão adequada desses aspectos, decidindo quase

17
que mecanicamente: se a embriaguez não é acidental, pune-se o
agente. Se houve ou não previsibilidade do fato no estágio anterior à
embriaguez, não tem sido objeto de análise. É muito fácil: O Código diz
que a embriaguez voluntária ou culposa não isenta de pena, ponto
final. O moderno Direito Penal há muito está a exigir uma nova e
profunda reflexão sobre esse aspecto, que os nossos tribunais não têm
realizado. (BITENCOURT - CONDE, 2004)

O Nelson Hungria, em seus "Comentários ao Código Penal", porém,


após citar a posição de Basileu García que, aliás, era exatamente a mesma dos
autores citados, discordou dele, argumentando que a posição de Narcélio é o
conceito de Queiroz, é ampla o suficiente para abranger a hipótese de
embriaguez dolosa ou culposa, mesmo sem a intenção ou previsão de produzir
resultado criminoso. As responsabilidades dos agentes não são para o fim a que
se destinam. Em vez disso, é definido pela expansão do critério voluntário: a
forma do uso voluntário de álcool é o primeiro elo na cadeia de causas que ligam
a embriaguez ao crime.

Proclamações contraditórias contrariando as intenções do Nelson


Hungria, o conceito formulado por Narcélio de Queiroz é abrangente no que diz
respeito aos casos em que a teoria da actio libera se aplica na causalidade, ou
seja, quando o agente procura embriagar-se intencionalmente, em para produzir
o resultado nocivo, ou mesmo quando você não deseja obter o resultado ele
pode ou deve esperar por isso.

O próprio Heleno Claudio Fragoso, na parte dos “Comentários à


codificação Penal” pela qual foi responsável, também reconheceu no presente
caso hipótese de responsabilidade civil sem culpa:

“As disposições do CP vigente sobre embriaguez são oriundas do CP


italiano (arts. 91/93) e conduzem a intolerável responsabilidade
objetiva. Somente quando completa e fortuita, exclui a embriaguez a
imputabilidade.”

18
Um exemplo contrário, e excluindo a hipótese de responsabilidade
parcial no mesmo caso, o autor responde por dolo ou negligência em sentido
estrito. Não é possível justificar esta solução com a teoria da actio libera in causa,
pois esta pressupõe dolo ou culpa em relação ao resultado em um momento em
que a pessoa tinha plena capacidade de entendimento ou autogoverno:

“Ao contrário do que se afirmar na Exposição de Motivos (nº 21), não


se aplica a teoria da actio libera in causa a todos os casos em que o
agente se pôs em estado de inconsciência. Se o fato punível de quem
em tal estado veio o agente a praticar não era sequer previsível, para
ele, no momento de plena imputabilidade, não há culpa e é forçoso
admitir que estamos diante de mera responsabilidade pelo resultado
(HUNGRIA; FRAGOSO, 1983, p. 495, gripo do autor)”

E o referido autor disse em sua obra:

“Não se aplica a teoria da actio libera in causa a todos os casos em


que o agente se deixou arrastar ao estado de inconsciência (ao
contrário do que se afirmar na Exposição de Motivos do CP de 1940,
nº 21).” (HUNGRIA, 1983)

Se o fato criminoso praticado em estado de embriaguez, que leva à


inabilidade de compreender e governar-se, não era sequer previsível, para o
agente, quando sóbrio, não há culpa, e apenas podemos admitir que se trata de
uma hipótese de estrita anomalia de responsabilidade, já está lamentável
solução foi incorporada à legislação vigente em nome de um combate mais
eficaz ao crime.

De outro ponto, o Haroldo Caetano da Silva relata que, posteriormente,


a própria Hungria reconheceu os exageros de sua posição e concordou que seria
necessário, no mínimo, que o agente previsse a prática criminosa, cabendo, no
caso a sanção por culpa.

Ele vai em defesa do art. 28, inciso II, do Código Penal, Francisco de
Assis Toledo e diz:

O Código vigente adota esse princípio no art. 28, que reproduz a


mesma orientação do art. 24 do texto de 1940, e o faz a nosso ver

19
corretamente, pois a embriaguez, pelo álcool ou por drogas, segundo
revela a experiência cotidiana, dota o indivíduo de especial
periculosidade, pelo afrouxamento de suas faculdades de inibição ou,
em sentido oposto, pela paralisação das funções psíquicas essenciais
ao normal desempenho de certas atividades (exemplo: dirigir veículos,
conduzir armas etc.). Assim, sendo isso um fato do conhecimento
geral, experenciado por todos, não se deve realmente valorar em
benefício do agente a embriaguez voluntária ou culposa, visto como
quem se embriaga propositadamente, ou por imprudência, assume
riscos calculados e não pode deixar de prever eventuais
consequências desastrosas daquilo que faz nesse estado. Por outro
lado, quem se transforma em instrumento de si mesmo, para a
comissão de um crime planejado (embriaguez preordenada), age
evidentemente com dolo e culpavelmente, tal como aquele que
contrata e induz o cúmplice à prática do crime (TOLEDO, 1994, p. 323).

Entretanto, cabe observar que, no caso de Toledo, o instrumento em


questão deve ser interpretado no âmbito do princípio do nullum crimen sine
culpa. Tanto que o autor aceita a aplicação da conjectura da actio libera in causa
apenas em caso de predestinação ou eventual dolo (o agente embriaga-se
voluntariamente, sem intenção de cometer o crime, mas antecipando a
possibilidade de cometê-lo e assumindo tal risco).

Se uma pessoa está intoxicada voluntariamente ou com negligência,


mas não previsto ou prevendo, mas esperamos que o crime não aconteça e os
problemas são julgados pela culpa stricto sensu.

No entanto, sem prejuízo da oportunidade de interpretação do jurista


devemos concordar com os autores segundo os quais vão com a nossa
legislação, ipsis verbis, prevê a hipótese de responsabilidade penal objetiva.

6. ESPÉCIES DE DOLO

Aqui são elencadas as espécies mais relevantes de dolo equivalentes a


embriaguez.

6.1 DOLO NATURAL

20
O dolo natural é concebido como elemento neutro e estritamente
psicológico, sem que lhe seja atribuído qualquer juízo de valor. Dessa forma, é
uma coisa simples desejar algo, independentemente de ser certo ou errado ou
mesmo ilegal ou não. Capez (2012, p. 222) afirma que:

Qualquer vontade é considerada dolo, tanto a


de beber água, andar, estudar, quanto a de praticar um
crime. Afasta-se a antiga concepção de dolus malus do
direito romano. Sendo uma simples vontade, ou está
presente ou não, dispensando qualquer análise valorativa
ou opinativa. Nesse sentido, essa espécie nasceu na
teoria finalista, integra a conduta e o fato típico. Diante
disso, não é elemento da culpabilidade, tampouco tem a
consciência da ilicitude em sua composição.

6.2 DOLO NORMATIVO

O dolo normativo foi adquirido na teoria clássica. Ao contrário da


intenção natural, isso não faz parte do comportamento, mas é entendido como
um requisito factual. A intenção normativa consiste em três elementos:
consciência, vontade e consciência da ilicitude. Nesse raciocínio, Capez (2012,
p. 222) mostra que, “por essa razão, para que haja dolo, não basta que o agente
queira realizar a conduta, sendo também necessário que tenha a consciência de
que ela é ilícita, injusta e errada “.

Como se vê, foi acrescido um elemento normativo, que depende do


juízo de valor, ou seja, da consciência da ilicitude. A intenção só existe quando,
além da consciência e da vontade de realizar o comportamento o agente sabe
que está cometer algo inaceitável. Assim, para esta teoria, a intenção normativa
não é uma mera vontade, um mero anseio, mas sim querer algo errado.

6.3 DOLO DIRETO

Uma intenção direta é uma intenção na qual o agente tem uma intenção
de uma certa maneira. Focando nos resultados que pretende alcançar seu

21
comportamento tem um intento específico. Pode ser ainda, de primeiro grau
quando, segundo Masson (2017, p. 309) “consiste na vontade do agente,
direcionada a determinado resultado, efetivamente perseguido, englobando os
meios necessários para tanto. Há intenção de atingir um único bem jurídico”.

Ou quando é de segundo grau quando, onde há a necessidade de uma


consequência, ou seja, conforme Masson (2017, p. 309)

“é a vontade do agente dirigida a determinado


resultado, efetivamente desejado, em que a utilização dos
meios para alcançá-lo inclui, obrigatoriamente, efeitos
colaterais de verificação praticamente certa”.

6.4 DOLO INDIRETO

A intenção indireta ocorre quando o agente não tem sua vontade


direcionada para um resultado específico. É dividido em dolo alternativos e dolo
eventual. O dolo alternativo são intenções nas quais um agente é motivado a
alcançar um determinado resultado sem distinção. Um exemplo é um homem
que dispara vários tiros contra seu inimigo com a intenção de matá-lo ou feri-lo.
no tocante diz qual crime o agente deve ser responsabilizado, segundo Masson
(2017, p. 305) “O Código Penal prevê em seu Art. 18, I, a teoria da vontade. E,
assim sendo, se teve vontade de praticar um crime mais grave, por ele deve
responder, ainda que na forma tentada”.

O dolo eventual, por outro lado, é a forma em que o agente não quer o
resultado, mas quando faz, assume o risco de produzi-lo. Como vimos
anteriormente, estamos diante da teoria do assentimento ao qual é recepcionado
pelo Código Penal no art. 18, inc. I.

Ensina Masson (2017, p. 305): Imagine o exemplo de um fazendeiro,


colecionador de armas de fogo, que treina tiro ao alvo em sua propriedade rural.
Certo dia ele decide atirar com um fuzil de longo alcance. Sabe que os projéteis
têm capacidade para chegar até a estrada próxima, com pequeno fluxo de
transeuntes. Prevê que, assim, agindo, pode matar alguém.

22
No entanto, ele corre o risco de sofrer consequências e insistir em seu
comportamento. Eventualmente, um transeunte é atropelado e morre. Ele é
condenado por homicídio doloso em primeiro grau porque está presente o dolo
eventual.

O Supremo Tribunal Federal possui entendimento nesse mesmo


sentido, verificando a presença do dolo eventual nos casos em que o réu se

lança a prática de altíssima periculosidade em via pública, teria, portanto, com


que o resultado se produzisse, e, portanto, incidindo no art. 18, inc. I, do Código
Penal, que dispõe existir crime, “quando o agente quis o resultado ou assumiu o
risco de produzi-lo”.

No entanto, nos casos em que há homicídio cometido pelo agente que


se encontra em estado de embriaguez, é imprescritível a análise para tipificação
da conduta, uma vez que se comprovado o dolo direto ou eventual, o agente
responderá o crime tipificado no art. 121 do Código Penal (MASSON, 2017, p.
306):

Art. 121, CP: Matar alguém: Pena - reclusão, de


6 (seis) a 20 (vinte) anos § 1 - Se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço. § 2 - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego
de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a
execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)
anos. § 3 - Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de

23
1 (um) a 3 (três) anos. § 4 - No homicídio culposo, a pena
é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) 15 se o
crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze)
ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5 - Na hipótese de
homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena,
se as consequências de a infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária. (Acrescentado pela L-006.416-1977).

Posto isto, supõe que uma investigação minuciosa do caso concreto,


quanto à existência de dolo ou culpa, é da maior importância para correta
aplicação da lei sobre a administração da justiça.

6.5 DOLO DE DANO E DOLO DE PERIGO

A intenção de lesar existe quando o agente assume o risco de violar um


bem jurídico protegido pela lei penal ou assume o risco. Por outro lado, o dolo,
surge quando o agente pretende ou assume o risco de expor um bem jurídico
criminalmente protegido ao risco de lesão.

6.6 DOLO GENÉRICO E DOLO ESPECÍFICO

O dolo genérico, adotado pela teoria clássica da conduta, como afirma


Masson (2017, p. 308) discorre com:

Dolo genérico quando a vontade do agente se


limitava à prática da conduta típica, sem nenhuma
finalidade específica, tal como no crime de homicídio, 16
em que é suficiente a intenção de matar alguém, pouco
importando o motivo para a configuração da modalidade
básica do crime.

24
De outro lado, o dolo específico existia nos crimes em que além da
vontade era acrescida uma finalidade especial (pretensão). Temos como
exemplo de acordo com Masson (2017, p. 308) “no caso da injúria [...], não basta
a atribuição à vítima de uma qualidade negativa. Exige-se também a finalidade
de macular a honra subjetiva da pessoa ofendida”.

Atualmente, utiliza-se o termo dolo para se referir ao antigo dolo


genérico e, o termo elemento subjetivo para se referir ao dolo específico.

7. DA CULPA

Ocorre crime culposo quando o agente, por falta de diligência,


imprudência, descuido ou negligência, se envolve voluntariamente em conduta
que produza um resultado naturalista que, embora não intencional, poder ter ido
evitado com devido cuidado. Nesse sentido, conforme Capez (2012, p. 226):

A culpa, portanto, não está descrita, nem


especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo.
Isso se deve ao fato da absoluta impossibilidade de o
legislador antever todas as formas de realização culposa,
pois seria mesmo impossível [...]. Por essa razão, sabedor
dessa impossibilidade, o legislador limita-se a prever
genericamente a ocorrência da culpa, sem defini-la. Com
isso, para a adequação típica será necessário mais do que
simples correspondência entre conduta e descrição típica.

Dessa forma, nota-se que a culpa é um elemento normativo. E com isso,


para auferir se houve culpa ou não é necessário proceder-se a um juízo de valor,
comparando se a conduta do agente de um determinado caso concreto com a
de um homem médio, consideravelmente prudente com seus atos, perante a
mesma situação.

Com isso em mente, podemos dividir a culpa em ações voluntárias e


violações objetivas do dever de cuidado. No que diz respeito ao comportamento

25
voluntário, de um ato ou omissão que o agente age voluntariamente. No segundo
elemento, traduz a ideia de um comportamento que não condiz com a de um
homem médio, ou seja, um comportamento descuidado, ao qual, “fundada em
injustificável falta de atenção, emana de sua imprudência, negligência ou
imperícia” (MASSON, 2017, p. 318).

7.1 IMPRUDÊNCIA

A imprudência é uma forma positiva de ter culpa, ela se manifesta na


forma de atuação do agente que não toma os devidos cuidados necessários.
Segundo Masson (2017, p.319):

Desenvolve-se sempre de modo paralelo à


ação, ou seja, surge e se manifesta enquanto seu autor
pratica a conduta. No caso em que o motorista dirige seu
veículo automotor, enquanto ele respeitar as leis de
trânsito a sua conduta é correta. A partir do momento em
que a passa, por exemplo, a dirigir em excesso de
velocidade, surge a imprudência.

Portanto, pode ser um ato negligente, não observando o nível mínimo


de cuidado exigido para uma conduta segura, resultando em imprudência.

7.2 NEGLIGÊNCIA

A negligência é uma modalidade negativa de culpa, ela se manifesta em


omissão do agente em relação a uma conduta ao qual deveria praticar. Conforme
afirmado por Masson (2017, p.319):

Ocorre previamente ao início da conduta. É o


caso do agente que deixa a arma de fogo municiada em
local acessível a menor de idade, inabilitado para
manuseá-la, que dele se apodera, vindo a matar alguém.
O responsável foi negligente, e depois da sua omissão e
em razão dela a conduta criminosa foi praticada.

26
Desse modo, negligenciar é omitir uma ação ao qual deveria ser tomada
diante as circunstâncias que determinadas situações exigem.

7.3 IMPERÍCIA

A imperícia ocorre quando o agente que exerce determinada função,


profissão ou ofício, embora autorizado a exercê-lo, não possui conhecimento
prático ou teórico para exercê-lo satisfatoriamente. De acordo com Masson
(2017, p.319) “é também chamada de culpa profissional, pois somente pode ser
praticada no exercício de arte, profissão ou ofício”.

Dessa forma, os agentes devem respeitar os limites de suas


capacidades e princípios das profissões que desempenham, caso não o façam
ficará caracterizada a imperícia. Nesse raciocínio, segundo Capez (2012, p.
230):

É a demonstração de inaptidão técnica em


profissão ou atividade. Consiste na incapacidade, na falta
de conhecimento ou habilidade para o exercício de
determinado mister. Exemplos: médico vai curar uma
ferida e amputa a perna, atirador de elite que mata a
vítima, em vez de acertar o criminoso.

Importante destacar que nos casos de erro médico, este só ficará


caracterizado por imperícia, se no caso o médico deixar de tomar os cuidados
necessários ou até mesmo realizar um procedimento inovador sem
conhecimento científico, por pura vaidade, ao qual o mesmo não possui
experiência e aptidão técnica. Nesse sentido, Masson (2017, p. 320) afirma que:

Erro profissional é o que resulta da falibilidade


das regras cientificas. O agente conhece e observa as
regras da sua atividade, as quais, todavia, por estarem em
constante evolução mostram-se imperfeitas e defasas
para a solução do caso concreto. Exemplo: Um paciente
com câncer no cérebro é internado em hospital
especializado e seu tratamento fica a cargo de
determinado médico. Todos os procedimentos para

27
combate e eliminação da doença são realizados da
melhor forma possível. Nada obstante, o paciente morre.

Dessa forma, nos casos classificados como “erro profissional”, a culpa


será excluída, tendo em vista que o resultado não é produzido pela conduta do
agente, mas pelos déficits da ciência disponível à época do fato.

8. ESPÉCIES DE CULPA

As espécies de culpa podem ser classificadas em cinco formas:

8.1 CULPA INCONSCIENTE

A culpa inconsciente é a culpa que o agente não ter previsto o resultado,


ou seja, a culpa por não ter um resultado objetivamente previsível.

8.2 CULPA CONSCIENTE

Com culpa o agente, embora esteja ciente das possibilidades do


resultado, mas não quer e não se arrisca a criá-lo. Nesse modelo, o sujeito
conhece até a probabilidade do resultado, mas estou convencido de que, com
suas aptidões, resultados prejudiciais não acontecerão., como afirma Capez
(2012, p.230).

No código penal não há diferença entre a culpa consciente e a


inconsciente, nesse sentido Capez (2012, p. 230) afirma que:

Não existe diferença de tratamento penal entre a culpa


com previsão e a inconsciente, pois tanto vale não ter
consciência da anormalidade da própria conduta, quanto
estar consciente dela, mas confiando, sinceramente, em
que o resultado lesivo não sobrevirá.

É importante destacar, que na culpa consciente diferente do dolo


eventual, prevê o resultado e não importa que ele ocorra, por outro lado, na culpa
consciente, o agente sabe da possibilidade do resultado, mas afasta essa
possibilidade.

28
8.3 CULPA IMPRÓPRIA

A culpa impropria, também chamada de culpa por extensão, ocorre


quando o sujeito antecipa o resultado e a espera, mas o agente, por erro
indesculpável na ilicitude do fato, realiza a conduta acreditando estar diante de
uma condição que justifica e legaliza o exercício de determinado fato típico.

Nesse sentido, Capez (2012, p.231) afirma que:

Há uma má apreciação da realidade fática,


fazendo o autor supor que está acobertado por causa de
uma exclusão da ilicitude. Entretanto, esse erro poderia
ter sido evitado pelo emprego da diligência mediana,
subsiste o comportamento culposo.

Portanto, apesar do agente querer e desejar o resultado, ele acredita


estar “acobertado” por uma condição que exclui a ilicitude do fato.

8.4 CULPA PRESUMIDA

A culpa presumida, com o advento da legislação penal de 1940, não é


mais admitida nem tampouco prevista. Tratava-se de uma responsabilidade
objetiva, ou seja, consistia na simples inobservância de uma disposição
regulamentar para caracterizar a culpa.

8.5 CULPA INDIRETA

A culpa indireta ou mediata ocorre quando o agente produz


indiretamente um resultado de forma culposa. Capez (2012, p.232) cita como
exemplo:

Um motorista se encontra parado no acostamento de uma


rodovia movimentada, quando é abordado por um
assaltante. Assustado, foge para o meio da pista e acaba
sendo atropelado e morto. O agente responde não apenas
pelo roubo, que diretamente realizou com dolo, mas

29
também pela morte da vítima, provocada indiretamente
por sua atuação culposa (era previsível a fuga em direção
à estrada).

É importante destacar que, a configuração dessa forma de culpa, o


resultado deve estar na linha de desdobramento da conduta, e ainda, que possa
ser atribuído ao autor do fato mediante culpa.

30
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo, dispõe que é necessário um maior entendimento sobre


os diferentes tipos de intoxicação para que as devidas penalidades possam ser
aplicadas de forma justa nos casos de intoxicação não acidental, culposa ou
dolosa. Além disso, deve-se verificar se a conduta foi cometida de forma dolosa
ou culposa, e ainda dolosa na modalidade eventual. No entanto, segundo o
entendimento da Justiça, nos casos de embriaguez não acidental, esta deve ser
diagnosticada como culpa consciente, a menos que o eventual dolo seja
devidamente comprovado.

Além disso, dispõe que no caso de ebriedade acidental, o réu pode ser
considerado inocente se for honesto ou sua pena pode ser diminuída nos casos
em que, no momento da ação o alcoólatra não era totalmente capaz de entender
o ato ilícito. natureza do fato e determinar em conformidade. Com base no
exposto, nota-se que é necessária uma análise criteriosa do caso concreto, a fim
de aferir o grau de culpabilidade do infrator e aplicar a sanção penal correta.

Desse modo, observamos que a responsabilidade penal objetiva é um


sistema de valoração ultrapassado, pois não respeita os princípios e teorias
aceitos no ordenamento jurídico vigente, de modo que não há crime sem dolo ou
culpa.

Então, para resolver o problema teoria temos a actio liberae in causa,


este é um método adequado para resolver crimes cometidos por pessoas
embriagadas, a fim de evitar a responsabilidade penal. A teoria é responsável
por deslocar o momento da responsabilização para o momento anterior à
ingestão de álcool ou substância. Vale ainda mencionar que na actio libera in
causa não há o que falar no caso de intoxicação acidental, pois o agente não
teve oportunidade de ingerir ou omitir qualquer ingestão de substâncias que
alterasse seu entendimento sobre a ilicitude do fato, para se definir com esse
entendimento.

31
Observamos também os modos de espécies de dolo e culpa, que
formam uma suma importância na hora de dizer a culpabilidade ou não do
agente, por meio da teoria clássica, de modo a solucionar cada crime de sua
maneira específica, de acordo com a ação do agente.

Por fim, notamos que é de extrema importância analisar o caso concreto


e o componente subjetivo do embriagado para que se possa atribuir de acordo
com às sanções correspondentes, pois um equívoco pode gerar uma
disparidade muito grande no procedimento e a sanção, bem como ocorre entre
culpa consciente e dolo eventual.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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