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Identidade e Comunidade Africana No Brasil
Identidade e Comunidade Africana No Brasil
IDENTIDADE E COMUNIDADE
AFRICANA NO BRASIL
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• Ausência de políticas públicas de integração social – a incipiente República
brasileira não criou leis que instituíssem um regime de segregação racial
após o término da escravização (diferentemente dos Estados Unidos da
América e da África do Sul), portanto, não houve definição legal do
pertencimento étnico-racial.
• Incentivo à imigração europeia branca – o ideal de branqueamento da
população brasileira estava em sintonia com as políticas racistas
eugenistas desenvolvidas na Europa do século XIX.
• Ausência de políticas públicas de reparação material e simbólica – a nação
não elaborou projeto com leis específicas voltadas para integração dos
negros, criando as bases para desigualdades entre brancos e negros, que
historicamente evoluíram e se consolidaram com o racismo.
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TEMA 2 – TEORIA DO BRANQUEAMENTO NA PRÁTICA
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imagem. Predominou a inculcação da negação de si mesmo, no corpo e na mente,
rejeição de valores culturais e estéticos com objetivo de ser socialmente aceito.
O branqueamento na sociedade brasileira funcionou e, em contextos
específicos, ainda funciona como uma espécie de eufemismo, que tenta
“branquear” as características fenotípicas das pessoas negras, fortalecendo a
noção de miscigenação. Para D'adesky:
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superidoridade ou inferioridade entre os grupos humanos, mas sim, ao contrário,
um fator de complementariedade e de enriquecimento da humanidade em geral”
(Munanga, 2005, p. 15).
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continuidade para os movimentos negros politicamente organizados que viriam
posteriormente. Nas palavras do autor:
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Nesse sentido, o autor ainda destaca os desafios para organizar a
negritude brasileira. Era preciso, de forma urgente, denunciar os equívocos da
alienação dos estudos afro-brasileiros e fazer com que os próprios negros se
conscientizassem de maneira objetiva da realidade na qual estavam inseridos.
Tratava-se de uma tarefa árdua que, vislumbrada no horizonte, parecia impossível
mediante a escravização espiritual, cultural, socioeconômica, física, psíquica
antes e depois de 1888, quando a libertação ocorreu sem efeitos práticos no que
tange à integração/inclusão para a negritude.
Sabemos que o pós-abolição foi marcado pela ausência de políticas de
integração, de inserção da negritude na sociedade brasileira. Ao contrário, foram
fortalecidas concepções que remetiam à necessidade branquear a população e/ou
mantê-la em posições subalternas, e isso paulatinamente foi se naturalizando.
Nesse sentido, o TEN precisou atuar no processo de letramento e
alfabetização dos seus membros, dentre eles operários, empregadas domésticas,
pessoas sem profissão definida, enfim, quem estivesse disposto a compreender
e lutar por condições de igualdade de oportunidades na sociedade brasileira.
Assim, o TEN lhes propiciava também outra forma de ver, compreender e refletir
sobre a posição e os espaços ocupados pela negritude no contexto nacional. Há,
portanto, ações práticas de inclusão de um pequeno número de pessoas negras,
“cerca de seiscentas pessoas, entre homens e mulheres, se inscreveram no curso
de alfabetização do TEN”, vinculadas à conscientização crítica da população
negra sobre si mesma e sobre sua situação na social (Nascimento, 2003, p. 211).
Assim, o TEN, como uma dentre as organizações dos sujeitos negros,
influenciou os futuros movimentos negros, com o propósito de discutir soluções
justas e de igualdade de oportunidade para/as relações raciais no Brasil. A
formação de uma elite artística negra era uma das formas de mudança social
possíveis naquele período.
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As irmandades surgem ainda no período escravista e tiveram continuidade
e fortalecimento no pós-abolição. A população negra era proibida de frequentar
os mesmos espaços religiosos que a população branca e, assim, a Igreja Católica
criou espaços exclusivos para que a negritude se integrasse às tradições
católicas. No entanto, as irmandades, além da perspectiva religiosa, tinham
objetivo de reunir pessoas negras que apresentassem o mesmo ofício, ou
compartilhassem dos mesmos interesses e objetivos. Assim, conforme
Domingues (2004, p.60), “surgiram dezenas, centenas de grêmios ou associações
negras em diversos Estados, de cunho mais assistencial, recreativo e/ou cultural,
tendo como principal atividade social a realização de bailes”.
O motivo do associativismo negro foi a discriminação/exclusão racial em
todas as regiões brasileiras, em algumas, com mais intensidade. De acordo com
Domingues (2004, p. 322), em São Paulo, a segregação racial atingia algumas
praças, avenidas, ruas e até bares. O espaço público ficava, em muitos lugares,
restrito aos brancos, não havia proibição formal, mas os códigos indicavam por
onde a população negra poderia transitar sem impedimentos/constrangimentos.
Com base no autor supracitado, infere-se que cada grupo étnico ocupava
um lugar demarcado por fronteiras simbólicas/étnicas na sociedade brasileira,
“onde o negro colocava o pé, o branco não frequentava e vice-versa, dessa forma
a população negra teve que “cavar espaços autônomos de lazer” (p. 325). A rede
associativa, a Irmandade, tinha como objetivo agrupar os iguais, demarcando e
afirmando positivamente suas diferenças em relação aos demais grupos étnicos
(Domingues, 2004, p.325).
No que tange às congregações religiosas na Bahia João José Reis (1996,
p. 10), destaca que podiam ser percebidas como um “um espaço de relativa
autonomia negra, no qual seus membros [...] construíam identidades sociais
significativas, no interior de um mundo às vezes sufocante e sempre incerto”.
Ainda conforme o autor, as confrarias ou irmandades religiosas funcionavam
como instituições nas quais a negritude se agregava de forma mais ou menos
autônoma, mantendo o princípio de ajudas mútuas.
As Irmandades Negras conferiam importância e representatividade positiva
a seus membros. Várias regiões do país formaram Irmandades Negras, de acordo
com suas particularidades históricas e culturais, assim não podem ser
compreendidas como bloco único, com características iguais.
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Uma irmandade de expressão nacional é a Irmandade Nossa Senhora do
Rosário, que tinha, inicialmente, o propósito maior de devoção religiosa e,
posteriormente, de instrução formal, escolarizada, pois somente com a educação
formal/escolar os(as) negros(as) poderiam alcançar melhores condições de vida.
Segundo Muller (2008, p. 264), ao ingressar na Irmandade do Rosário, essas
pessoas iniciaram um processo de diferenciação em relação aos seus
companheiros, que optaram em não aderir ou não tiveram condições para se
filiarem à Confraria.
Conforme Domingues (2004), a organização negra no Brasil se intensifica
no período pós-abolição e inclui associações de cunho recreativo, cívico e
beneficente, ou seja, é diversificada. Em geral, com uma estrutura organizacional
semelhante, com estatuto e diretoria, escolhida mediante eleição com os sócios,
o objetivo era promover a inclusão social/lazer da coletividade negra.
O fortalecimento das associações negras por todo território nacional se
constitui um fator de integração social e cultural da negritude, mas, sobretudo, se
impunha como uma necessidade de sobrevivência em uma sociedade que
mantém um racismo silencioso, às vezes disfarçado, às vezes explícito, e diversas
manifestações de discriminação étnica em relação à negritude.
Nesse sentido, Loner (2001) destaca que não havia alternativas para a
população negra desde o pós-abolição até hoje que não inventassem formas de
organização coletivas e solidárias, mediante a força da discriminação/exclusão na
sociedade brasileira. Era necessário ter criatividade e perseverança para lutar por
direitos de cidadania e resistência contra o racismo estrutural, o preconceito e
estigma em relação ao pertencimento étnico. Assim, as irmandades tinham como
propósito comum a inserção social de pessoas negras, impedidas de participar
das estruturas sociais já existentes, criadas pela elite.
Conforme Soares (2000), as irmandades mais conhecidas de origem
africana foram a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a de São Benedito
dos Homens Pretos. No final do século XIX, essas irmandades ganharam força e
ampliaram sua influência e organização, ramificando-se para outra forma de
organização mais recreativa/lazer: as Sociedades Recreativas. Tais organizações
se caracterizavam como lugares de diversão respeitosa e sadia para as famílias
negras e tinham a intenção de mostrar à sociedade excludente que pessoas
negras também nutriam valores de respeito, moral e dignidade.
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Nesse sentido, as pessoas negras ligadas aos clubes negros, onde eram
realizados os bailes, se sentiam diferenciadas e procuravam ostentar símbolos de
distinção, não apenas nas roupas que trajavam nos eventos sociais, mas
principalmente no comportamento. Era imperioso se comportar de acordo com as
regras de etiqueta, polidez e boas maneiras e, ao mesmo tempo, desvencilhar-se
da imagem de vadio, bêbado, analfabeto, brejeiro, imoral, ou seja, livrar-se dos
estereótipos negativos tradicionalmente associados à negritude (Domingues,
2009).
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REFERÊNCIAS
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SCHWARCZ, L. M. Dando nome às diferenças. In: SAMARA, E. M. (Org.).
Racismo & racistas. São Paulo: Humanitas, FFLCH/USP, 2001.
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