Abrir portas onde se erg

erguem
guem muros Director: David Pontes Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • Ano XXXIV • n.º 12.322 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 2€

Acórdão Escócia
Lapso do MP quase Up-Helly-Aa, a noite
livrava Sócrates em que o fogo ilumina
de crimes de suborno as ilhas Shetland
Sociedade, 18/19 Fugas
NUNO FERREIRA SANTOS

Madeira
Miguel Albuquerque
sai de cena e deixa
Marcelo sob fogo
Perfil do único homem
que enfrentou Jardim
Destaque, 4 a 6 e Editorial

Imposto penaliza quem compra

carros com menos emissões de CO2
Em Portugal, ao contrário de outros que, na variante híbrida, com menos do que a variante a gasolina. Isso a cilindrada e as emissões, com a pri- Os carros de passageiros representam
países que desincentivam a compra emissões de CO2, pagam mais impos- acontece porque o imposto é calcula- meira a ter um peso que desvirtua a 12% das emissões anuais de CO2 Eco-
de modelos poluentes, há automóveis to no momento da matrícula, o ISV, do com base em duas componentes, lógica do princípio poluidor-pagador. nomia, 33

Risco de genocídio Lisboa Fotografia

Matemática
Tribunal de Haia Moedas O país de
decreta medidas não autoriza O segredo de Singapura
ura Eduardo Gageiro
provisórias manifestação de para o sucesso numa grande
contra Israel extrema-direita Alunos do país lideram ranking dos
bons desempenhos Sociedade, 22 a 25
exposição
Mundo, 28/29 Política, 17 Cultura, 42/43
ISNN-0872-1556
2 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Página dois

SEMANA SIM INQUÉRITO PÚBLICO

DANIEL ROCHA
Sara Falcão era: “Em Portugal, há alguns
Casaca candidatos a eleições envolvidos
A renúncia de em casos de corrupção. Na sua
Francisco Assis à opinião, por que razão os eleitores
presidência do apoiam candidatos como estes?”
Conselho Económico e Social, Tinha várias opções e as pessoas
por ser candidato a deputado tinham de responder, numa escala
pelo PS, é uma oportunidade para até 10, enquanto concordavam ou
a socióloga Sara Falcão Casaca, discordavam de cada uma delas.
que o vai substituir interinamente. Percebemos que os eleitores mais
à esquerda consideraram que as
justiÆcações de que todos são
Jannik Sinner corruptos ou de que a integridade
O jovem tenista não é uma prioridade são as
italiano venceu o menos plausíveis para explicar a
sérvio Novak não punição. As mais citadas, as
Djokovic nas que angariaram maior
meias-finais do Open da Austrália. concordância são a questão da cor
O número um do mundo vinha de política, a descrença na Justiça e a
uma série de 33 vitórias ideia de que “rouba, mas faz”.
consecutivas (em seis anos) em Há uns tempos as sondagens
Melbourne Park. disseram que os portugueses
acreditavam, de forma geral,
que António Costa tinha feito
Carminho bem em demitir-se. Na Madeira,
Foi uma semana aconteceria o mesmo com a
“sim” para a demissão de Miguel
fadista Carminho Albuquerque?
e para Joaquim Não gosto de dizer que cada caso é
Aranha dos Santos, realizador. Os

“Posição de Albuquerque
um caso, mas aqui de facto não é
dois estão entre os nomeados exactamente a mesma coisa. Nós
para os óscares nas categorias de continuamos a insistir na
melhor banda sonora e melhor justiÆcação de que António Costa
filme de animação.
não é comparável à de Costa” tem dado sistematicamente de
que se demitiu na sequência do
comunicado da procuradora. Mas
SEMANA NÃO o que pesou nesse caso foi o facto
de o seu chefe de gabinete ter sido
estrutural. O ICS produziu para a Isto é uma forma de facto apanhado com dinheiro vivo no
Marta Leite Ferreira
Ivo Rosa Fundação Francisco Manuel dos demagógica de lidar com o gabinete. A posição de Miguel
Ao validar a tese Luís de Sousa Casos de Santos o relatório Ética e problema — porque estamos a Albuquerque não é comparável
do Ministério Integridade na Política e, sobre a falar de um problema social, não com a de Costa e os casos também
Público, o
corrupção têm mais relação entre as percepções de estamos a falar de doença não o são. Mas também vejo que
Tribunal da impacto quando surgem corrupção e a conÆança nas nenhuma. Esta ideia do contágio e ele não está a ser consistente.
Relação de Lisboa reverteu uma em momentos de crise, instituições, estamos a falar de de que vai-se espalhar e por toda a Utilizou aquela expressão de que
parte importante da decisão que defende investigador uma taxa de conÆança por volta gente e por todos os serviços é há a “presunção de inocência” e
Ivo Rosa tomara em 2021. José dos 20%. Muito baixa mesmo. completamente infundada. que o estatuto de arguido é para
Sócrates, por exemplo, foi agora Numa altura em que o centro Sempre foi assim ou o impacto Quando acontecem estes casos lhe dar a possibilidade de se
pronunciado por 22 crimes. político tenta gerir polémicas destes casos evoluiu ao longo de corrupção entre políticos, é defender. Mas, se assim é, mais
judiciais que atingem tanto o PS, do tempo? só o partido do suspeito que sai uma razão para levantar a
como PSD, o investigador Luís de Há algumas décadas era diferente, ferido, ou afectam toda a classe imunidade. E isso não tem estado
Miguel Sousa, do Instituto de Ciências só que também não tínhamos política? a favorecê-lo.
Albuquerque Sociais (ICS) da Universidade de tantos dados. Assistimos a uma Pode afectar as duas coisas, Outra questão é se a condição de
O líder do Lisboa, reÇecte sobre o impacto retórica do líder do Chega, que em depende de pessoa para pessoa, arguido seria suÆciente para
Governo dos casos de corrupção na várias ocasiões tem-se referido ao da identiÆcação partidária que alguém pedir a demissão. Acho
Regional da percepção que o eleitorado tem da tema como uma espécie de vírus, tiver ou não. Algumas pessoas que aqui temos de pesar também
Madeira renunciou ao cargo classe política. de doença, que se está a propagar fazem uma subvalorização do o dano para a instituição e o dano
depois de ter sido constituído Que peso têm os casos de e que vai atingir toda a sociedade. caso, porque entendem que pode para os processos. Tudo isto
arguido. As eleições na região corrupção nas sondagens? haver um viés na investigação e agravaria a governação da
aconteceram há quatro meses: a A percepção que os portugueses mantêm conÆança no líder pelo Madeira, porque teria de haver
24 de Setembro de 2022. têm da classe política é, de um menos até prova em contrário. eleições e isso teria consequências
modo geral, má. Isto é verdade Mas o contrário é mais provável que poderiam criar alguma
para os políticos, os seus partidos, para a generalidade das pessoas, instabilidade.
Nikki Haley os governos e as instituições porque são episódios que se vão Agora, como digo, no caso de
É a única a políticas como um todo, mas é acumulando e que mancham a Costa, o problema não é tanto
manter-se em
jogo contra
pior para os partidos políticos do
que é para os parlamentos e para
Essa ideia do imagem das instituições, dos actos a condição dele, mas a condição
do seu chefe de gabinete.
políticos.
Trump nas os governos. contágio [de Estamos a menos de dois meses Acho que o paralelismo que tem
primárias republicanas e merece
um incentivo pela coragem, mas
Mas quando há novos casos,
que impacto têm?
corrupção], de que de eleições legislativas. No que sido feito com Miguel
Albuquerque não é totalmente
é que estes casos se têm
a verdade é que não conseguiu A percepção é sempre negativa, vai-se espalhar traduzido nas urnas? rigoroso. Claro que estamos a falar
vencer no New Hampshire. mesmo quando não surgem novas
suspeitas e investigações. Os
por toda a gente Nós tínhamos uma pergunta, no de casos de corrupção, mas é
preciso ver o que é que pesa mais
inquérito Época, sobre a punição
Por Sónia Sapage danos reputacionais são uma coisa é infundada eleitoral da corrupção. A pergunta em cada caso.
NotíciasFlix
Prova de fogo
U
m grupo de pessoas
Grande de direita ou de
angular extrema-direita
entende levar a cabo
uma manifestação. As
intenções e o espírito
são de ordem nacionalista,
possivelmente xenófobas ou
racistas. A manifestação está
António Barreto
convocada para a zona do Martim
Moniz e da Mouraria, isto é, bairros
onde vivem comunidades de
imigrantes, africanos, asiáticos e
outros. Está também convocada,
para a mesma hora e no mesmo
local, uma contramanifestação.
Entretanto, circula uma carta,
assinada por uns milhares de
pessoas, solicitando que a primeira
manifestação seja proibida. Outras
vozes, na imprensa, exigem também
a proibição. O executivo da Câmara
Municipal de Lisboa condenou, por
unanimidade, a realização desta
manifestação.
Uma manifestação não necessita
de autorização, mas apenas de
informação às autoridades, a fim
de, se tal for necessário, serem
tomadas providências. Do ponto de
vista da liberdade de expressão e do
direito à manifestação, este
dispositivo parece suficiente.
Proibir esta manifestação é um
acto grave e de sérias
consequências. É a melhor maneira
de abrir uma temporada de
violência na sociedade. Deixá-la
correr sem qualquer intervenção é
igualmente gesto condenável e de
maus efeitos: haverá afrontamento
e violência. Deixar correr as duas,
manifestação e contramanifestação,
é ainda pior, é quase garantir que
É um imperativo haja confronto físico. Em poucas
palavras, qualquer destas soluções
de ordem pública é uma má resposta ao problema.
e de paz social que É verdade que a situação é
delicada e perigosa, ainda por cima
as manifestações com eleições marcadas para breve.
não coincidam no A “questão racial” está a ser
fomentada há anos, racistas e
espaço e no tempo. anti-racistas procuram-se
Mas não se pode mutuamente. Por ausência de
políticas de imigração e de
proibir uma integração, pelo aumento de
nem outra imigração ilegal, pela exploração de
trabalho clandestino e pelas
Se a democracia condições de vida de milhares de
portuguesa imigrantes, por todas estas razões, é
possível prever a iminência de
não consegue afrontamentos. É possível que
viver com estejamos a viver um desses
momentos que marcam uma
antidemocratas viragem, para pior, da situação e
e com racistas dos acontecimentos. É alto o grau
de nervosismo. É garantida a
ou xenófobos, vontade de mostrar forças.
é porque é fraca, Grupos e partidos nacionalistas e
de extrema-direita desejam um
frágil e medrosa momento dramático para dizer que
“isto aqui é Portugal”! Para isso,
estão dispostos a tudo. Querem
choques violentos para depois
aÆrmarem que já não se pode ser
português em Portugal. Do outro
lado, esquerdistas, antifascistas e
anti-racistas querem uma
oportunidade dramática e se
possível violenta para demonstrar
que “Portugal é um país racista”!
Ambos Æcariam satisfeitos com o
confronto. Ambos receberiam com
A
delícia a proibição da manifestação.
discussão pública
sobre a imigração e o
debate sobre as
respectivas políticas
estão por fazer. Estes
temas são difíceis,
por isso mesmo urgentes. São
igualmente recheados de
preconceitos, o que reforça a
necessidade de esclarecimento e
de elaboração de políticas. Assim é
que importa que não se deixem
abrir feridas nem azedar ânimos, o
que só tornaria mais inútil o debate
nacional. Parece, pois, essencial
evitar o confronto que se desenha
para a próxima semana. Este e
outros a seguir. Mas, evitar esse
afrontamento não pode ser feito à
custa dos direitos do cidadão. Por
isso não é imaginável que se proíba
a liberdade e o direito de expressão
e de manifestação.
A democracia é o regime de
todos, incluindo de antidemocratas.
Sejam eles de extrema-direita
nacionalista ou fascista, sejam
revolucionários comunistas e
aparentados. Todos estes querem
ultrapassar a democracia e criar
novo regime que a elimine. É o seu
direito. São livres de assim pensar e
tentar convencer a população,
desde que não cometam actos
ilegais, como sejam a violência
contra pessoas, a segregação à
força, a destruição de bens, o
roubo, a agressão de qualquer
espécie… Isto é, que cometam actos
ilegais de qualquer espécie. Nesses
casos, terão de ser detidos e
julgados. Mas não podem ser
atacados pelas suas opiniões.
A democracia é o regime de
todos, incluindo de racistas e
xenófobos. Brancos, negros ou de
qualquer outra origem. Os racistas e
os xenófobos são pessoas
frequentemente detestáveis, não
escondem a sua animosidade pela
democracia e têm um orgulho
infundado na superioridade da raça
branca. Podem defender as suas
ideias. Podem publicar as suas
opiniões e até divulgá-las. Não
podem é agir em consequência
dessas opiniões, segregar outrem de
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 3
IMPORTA-SE DE REPETIR?
“Este é o melhor
período da
serviços e empresas, ser violentos,
expulsar de locais públicos e História para
ofender as outras pessoas. Noutras se estar vivo”
palavras, não podem cometer
crimes de ofensa, agressão ou Simon Sebag Montefiore,
segregação, proibidos na lei em jornalista e historiador britânico
todas as circunstâncias. Mas a
liberdade de expressão é intocável.
A ideia de que se pode proibir
alguém, racista, xenófobo ou
antidemocrata, de pensar, ter
opinião e divulgar os seus pontos de
vista é um grave passo atrás na
democracia, é uma perversão da
tolerância, é um atentado contra Na política,
alguns dos direitos e liberdades
fundamentais da democracia.
quando
O direito a manifestação de todos
os cidadãos, protegido pela lei, sem
se perde
qualquer autorização, é igualmente
intocável. Evidentemente que se
a memória,
pode, por razões de segurança,
condicionar esse direito de
é fatal
manifestação, não no essencial, mas Pedro Passos Coelho
na circunstância. Por exemplo, a Antigo primeiro-ministro
hora e o local de manifestação. Este e líder do PSD
caso da manifestação nacionalista
do Martim Moniz e da Mouraria
parece um exemplo de escola.
Evidentemente que o local traduz
uma procura de afrontamento e de
confronto social no que pode ser
considerado uma provocação.
Assim sendo, é legítimo que as
autoridades nacionais e camarárias
obriguem os manifestantes a alterar
a circunstância (hora e local), sem
renunciar ao essencial (a
manifestação e a expressão de
opinião). Como é igualmente
legítimo que a contramanifestação
“Se não tivermos
seja deslocada na hora e no local. É cuidado, vamos ter
um imperativo de ordem pública e
de paz social que as manifestações
carros eléctricos
não coincidam no espaço e no inacessíveis
tempo. Mas não se pode proibir
uma nem outra.
e os fabricantes
O que está em causa na próxima chineses a
semana é a liberdade de expressão e
o direito de manifestação. É uma
suplantarem-nos”
real prova de fogo da democracia Carlos Tavares
Presidente da Stellantis
portuguesa. Por razões de interesse
público e em defesa da paz e da
ordem pública, podem as
manifestações (que não necessitam
de autorização) ser deslocadas no
“Alguns dos actos
espaço e no horário, como pode ser e omissões
exigido que não se realizem no
mesmo sítio ou à mesma hora. Mas
cometidos por
não podem, deÆnitivamente não Israel em Gaza
podem ser proibidas!
Se a democracia portuguesa não
parecem poder ser
consegue viver com antidemocratas abrangidos pelas
e com racistas ou xenófobos, é
porque é fraca, frágil e medrosa. A
disposições da
democracia defende-se com Convenção sobre
métodos legítimos e com força
democrática, sem recorrer a meios
o Genocídio”
ilegítimos. Sem pisar o risco. Joan Donoghue
Juíza do Tribunal Internacional
Sociólogo de Justiça
4 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Destaque Crise política na Madeira

Albuquerque
sai de cena e abre
a porta a um novo
Governo. Marcelo
debaixo de fogo
Presidente do Governo Regional da Madeira deverá ser
substituído no cargo para manter apoio do PAN à coligação. PS
acusa Marcelo de ter duplo critério, ao não anunciar eleições Miguel Albuquerque com Luís Montenegro ao lado na pré-campanha das ú

nacional de Novembro deixaram o das. O CDS-Madeira mantém-se na A composição

Sofia Rodrigues PAN 1
Presidente da República e o líder do coligação, embora também queira da Assembleia PSD 20

D
epois do xeque-mate do
PAN-Madeira, Miguel Albu-
querque sai da liderança
do governo regional e abre
a porta a um sucessor para
permitir que a coligação
PSD/CDS continue a governar. O
nome escolhido — que poderá ser
PSD debaixo de fogo.
A ameaça de que o PAN-Madeira
— que, com uma única deputada,
assegura a maioria parlamentar à
direita na assembleia regional — dei-
xaria de apoiar o recém-formado
governo PSD/CDS foi “obviamente
a circunstância” que levou Miguel
ter uma palavra a dizer na solução Regional da JPP 5
para a crise política na região.
Madeira
Numa primeira reacção às suspei-
tas de corrupção investigadas, o
presidente do governo regional PS 11 IL 1
assegurava, de forma veemente,
que não se demitia do cargo. Come-
çam aqui algumas comparações
47 CDS-PP 3

Jorge Carvalho, actual secretário
regional da Educação — é aprovado
pelo PSD-Madeira na segunda-feira.
Esta proposta terá de receber a bên-
ção do representante da República,
Irineu Barreto. É precisamente para
esta Ægura que Marcelo Rebelo de
Sousa remete a solução para a crise
política na Madeira, mas lembra que
a substituição de Miguel Albuquer-
que implica a demissão e faz cair a
proposta de Orçamento regional
que será discutida em Fevereiro.
Na região, o cenário que está em
cima da mesa, caso a proposta de
substituição seja aceite, é a forma-
ção de um novo governo e a apre-
sentação do mesmo Orçamento.
Só daqui a dois meses o Presiden-
te da República tem o poder de dis-
solução da assembleia regional. As
comparações com a crise política
Albuquerque a deixar a liderança do
executivo.
Já estava entregue uma moção de
censura do PS-Madeira — e que vai
ser discutida no dia 7 de Fevereiro
— o que fazia antever a queda do
executivo regional apenas três
meses depois da sua tomada de pos-
se e a convocação de eleições ante-
cipadas.
Para já, o PAN-Madeira assegura
o apoio ao executivo regional sem
Albuquerque. Mónica Freitas con-
siderou que “é extremamente peri-
goso ir a eleições antecipadas”,
devido ao crescimento da extrema-
-direita, e que, “atendendo à insta-
bilidade política em todo o país, é
fundamental a garantir estabilidade
governativa” na Madeira.
Já o Chega, IL, BE e PCP assumem
preferência por eleições antecipa-
com a crise política que se abriu em
Novembro passado com a demissão
do primeiro-ministro, António Cos-
ta, por ser visado no processo da
Operação Influencer, que também
envolve crimes de corrupção.
Nessa altura, o Presidente da
República optou por dissolver a
Assembleia da República e convocar
eleições antecipadas, o que era ago-
ra exigido pelo líder do PS-Madeira,
Paulo Cafôfo, e pelo PS nacional.
No entanto, naquela altura, o PS
nacional assumiu que preferia ver
o governador do Banco de Portugal,
Mário Centeno, à frente do executi-
vo sem eleições antecipadas.
Paulo Cafôfo atirou-se directamen-
te a Marcelo Rebelo de Sousa, defen-
dendo que não é possível “tolerar
dois pesos e duas medidas”. “Quando
o primeiro-ministro [António Costa]
DEPUTADOS
PCP 1
BE 1
Fonte: Assembleia Legislativa da Madeira
apresentou a demissão, a Assembleia
da República foi dissolvida, tendo
sido marcadas eleições legislativas.
Por que razão não será assim na
Madeira?”, questionou o líder do PS-
Madeira, que ocupa 11 dos 47 lugares
do parlamento madeirense.
Mais tarde, a posição seria refor-
çada por Carlos César. O presidente
do PS considerou que levar por
diante a legislatura na Madeira é
uma solução “precária e dissonan-
te” da prática adoptada recente-
mente por Marcelo no que diz res-
peito ao Governo da República.
O Presidente da República escu-
Chega 4
PÚBLICO
dou--se nos moldes do sistema polí-
tico regional e remeteu a resolução
da crise para o representante da
República. “Esse novo quadro signi-
Æca que [Miguel Albuquerque], ten-
do tomado essa decisão, comunica
ao representante da República e o
representante decidirá. Não sei se
irá convocar os partidos políticos”,
aÆrmou, referindo que nesta fase
está limitado nas suas competên-
cias, já que não pode convocar o
Conselho de Estado nem ouvir os
partidos sobre a Madeira.
Por várias vezes, Marcelo Rebelo
de Sousa sublinhou que o único

últimas eleições regionais de Setembro
poder de que dispõe é o de dissolver
a assembleia legislativa regional,
mas nem a isso pode recorrer
actualmente.
Queda do Orçamento
“No prazo de dois meses, o Presi-
dente não dispõe desse poder [de
dissolução]”, disse, numa alusão ao
prazo mínimo de seis meses após as
eleições para que a legislatura possa
ser interrompida. O prazo só termi-
na a 24 de Março.
Mas, numa terceira declaração
aos jornalistas, o chefe de Estado
deixou um avis:. “Se o governo
regional for demitido, e passar a
governo de gestão, cai a proposta de
orçamento”, notou à CNN, à porta
do Palácio de Belém.
“Quando eu vejo especulações
sobre substituição do presidente do
governo regional por A, B ou C, e
está marcado o orçamento regional,
quer dizer que se o governo for for-
malmente demitido, isso implicava
a queda da proposta do orçamento
regional”, explicou, reforçando a
ideia de que, caso não se pretenda
“matar o orçamento”, o executivo
tem de estar “em plenitude de fun-
ções” nos próximos 15 dias.
PAULO NOVAIS/LUSA
Na mesma ocasião, o Presidente
lembrou que foi precisamente a
intenção de salvar o Orçamento do
Estado para 2024 que levou ao adia-
mento da formalização da demissão
do Governo de António Costa para
o início de Dezembro, um mês
depois de o primeiro-ministro ter
pedido para deixar funções.
Rocha critica Montenegro
Apesar de se abrigar na Ægura do
representante da República, Marce-
lo Æcou debaixo de fogo não só por
parte do PS, mas também dos par-
tidos à direita do PSD.
André Ventura, líder do Chega,
ofereceu “outra solução” ao Presi-
dente. Fazer agora “o anúncio polí-
tico da dissolução e a sua formaliza-
ção jurídica [ser] apenas daqui a
dois meses”. O executivo regional
“Æcaria numa espécie de governo de
gestão” até às eleições.
Rui Rocha defendeu que Marcelo,
“pelas mesmas razões” dadas em
Novembro passado, “deveria dar
um sinal de que a melhor solução é
ir para eleições” até porque “selec-
cionar alguém” para liderar o exe-
cutivo é um “risco” com investiga-
ções judiciais em curso. Mas o líder
É extremamente
perigoso ir a
eleições
antecipadas
Mónica Freitas
Dirigente do PAN-Madeira
Quando o
primeiro-ministro
[António Costa]
apresentou a
demissão, a
Assembleia da
República foi
dissolvida, tendo
sido marcadas
eleições
legislativas. Por que
razão não será assim
na Madeira?
Paulo Cafôfo
Líder do PS-Madeira
da IL aproveitou para atacar o pre-
sidente do PSD. “Luís Montenegro
e Miguel Albuquerque podiam ter
poupado o país a isto, Albuquerque
não tinha razões para continuar”,
disse numa referência directa às
declarações do líder do PSD na pas-
sada quarta-feira, dia em que se
iniciaram as buscas policiais.
Nessa altura, momentos antes de
apresentar o programa económico
da Aliança Democrática, Montene-
gro manteve a conÆança política em
Albuquerque, embora mantendo
alguma dose de prudência. E defen-
deu haver “muitas diferenças” entre
o caso da Madeira e a crise política
nacional, repetindo a ideia de que
“não foi um parágrafo que esteve na
génese da demissão” do chefe de
Governo.
A pressão para Miguel Albuquer-
que se demitir — e a decisão de abrir
a liderança do Governo a um suces-
sor — acabou por criar um embara-
ço ao líder do PSD, na medida em
que tinha defendido a demissão de
António Costa em Novembro passa-
do e a convocação de eleições ante-
cipadas. Desta vez, Luís Montenegro
e toda a sua direcção optaram por
Æcar em silêncio.
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 5
Justiça
Indiciado de oito crimes,
incluindo corrupção
activa e passiva
Mariana Oliveira
O
presidente do Governo
Regional da Madeira,
Miguel Albuquerque, é sus-
peito de oito tipos de cri-
mes diferentes, incluindo
corrupção activa e passiva,
motivo que justiÆcou a sua consti-
tuição como arguido.
Segundo o PÚBLICO apurou, o rol
inclui ainda prevaricação, recebi-
mento indevido de vantagem, tráÆ#
co de inÇuência, participação eco-
nómica em negócio, abuso de poder
e atentado contra o Estado de direi-
to.
Ontem de manhã, os três detidos
desta megaoperação com o epicen-
tro na Madeira foram presentes ao
juiz do Tribunal Central de Instru-
ção Criminal, Nuno Dias Costa, que
lhes aplicará as medidas de coacção
que considerar adequadas.
Na última noite, o presidente da
Câmara do Funchal, Pedro Calado,
o único detido na Madeira, já per-
noitou na capital, onde foram deti-
dos na passada quarta-feira dois
empresários da construção, Avelino
Farinha, dirigente do mais impor-
tante grupo empresarial do arqui-
pélago, o AFA, e Custódio Correia,
do grupo bracarense Socicorreia.
Nos interrogatórios que só come-
çarão hoje serão confrontados com
o vasto manancial de indícios reco-
lhidos nesta investigação, que já
decorre desde 2020, nomeadamen-
te inúmeras escutas telefónicas.
Durante as buscas da passada quar-
ta-feira, foram apreendidas grandes
quantidades de dinheiro.
Como o PÚBLICO já noticiara, o
Ministério Público diz ter indícios
que apontam para “a existência de
Pedro Calado é presidente da Câmara do Funchal
relacionamento privilegiado” entre
Miguel Albuquerque e Pedro Cala-
do, e destes com grupos como de
Avelino Farinha com quem ambos
tinham uma “grande proximidade
e informalidade”.
Aliás, a investigação apurou que,
pouco depois da tomada de posse
de Miguel Albuquerque como pre-
sidente do governo regional, em
Abril de 2015, ocorreram diversas
adjudicações de obras públicas,
partes das quais respeitavam ainda
a concursos abertos pela vice-presi-
dente em 2014, tendo sido seleccio-
nados como candidatos vencedores
consórcios externos em que Ægura-
vam sociedades do grupo AFA.
Em alguns destes contratos, cele-
brados anteriormente à entrada de
Pedro Calado para o cargo de vice-
presidente do governo regional, é o
próprio quem Ægura como repre-
sentante da entidade que venceu a
obras, a Construtora do Tâmega
Madeira (actualmente CTM–Cons-
truções Técnicas), que integra o
grupo AFA.
Os mandados de buscas a que o
PÚBLICO teve acesso falam da
“ocorrência de interferências do
presidente do governo regional em
matérias do âmbito municipal,
assim como tomadas de posição do
presidente da autarquia em assun-
tos do âmbito regional”.
As buscas foram desencadeadas
quarta-feira, dia em que o PSD de
Luís Montenegro, tinha marcada
uma apresentação do cenário
macro-económico com vista às
legislativas de 10 de Março e o
PSD-M tinha previsto apresentar a
lista ao círculo eleitoral da Madeira.
Esta sessão foi cancelada e ainda
não há nova data.
HOMEM DE GOUVEIA/LUSA
6 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Destaque Crise política na Madeira
Eleições renhidas em 2012
O único homem que enfrentou
Alberto João Jardim
Perfil
Ana Sá Lopes
Miguel Albuquerque
De delfim a desafiador
do todo-poderoso,
quis protagonizar a
mudança na Madeira
P
ode-se ter várias mortes em
política. Miguel
Albuquerque teve um
primeiro estado de coma
quando deixou de ter as
boas graças de Alberto João
Jardim, que chegou a pedir a sua
expulsão do PSD-Madeira.
Foi num desses momentos de
afastamento entre Albuquerque e
Jardim que o então presidente
demissionário, numa entrevista ao
Jornal da Madeira, citou Churchill —
aquele que morreu politicamente
muitas vezes e só chegou a
primeiro-ministro na terceira idade
(ou quarta, se pensarmos que
estávamos em 1940 e o peso dos 66
anos era diferente).
A Ægura do líder britânico
durante a II Guerra deve inspirar
Albuquerque, como quase toda a
gente — é autor de um livro sobre a
passagem do ex-primeiro-ministro
britânico pela Madeira, Churchill na
Madeira, editado em 2018.
Mas é a lutar contra Jardim que
Albuquerque chega a sucessor do
líder histórico, depois de
inicialmente ter sido seu delÆm. Em
16 de Janeiro de 2014, o então
presidente da Câmara do Funchal
insurge-se contra uma notícia do
Jornal da Madeira segundo a qual
Jardim teria apresentado queixa
sobre os textos de opinião de
Albuquerque, com o objectivo de
que este fosse expulso do partido.
A reacção de Albuquerque contra
o seu antigo “pai” político é furiosa.
Em comunicado, o presidente da
Câmara do Funchal diz: “O fetiche
bolchevique de punir o direito de
opinião e a situação de perseguição
pessoal e política que hoje se vive
dentro do PSD-M não é aceitável
num partido e num regime
democrático.”
ReaÆrma tudo o que escreveu
contra Jardim e diz que a atitude do,
na época, presidente do Governo
Regional da Madeira era “mais um
expediente cobarde utilizado pelo
actual líder para fazer batota nas
próximas eleições internas, como
aliás, já aconteceu nas anteriores,
em seu benefício”. “O tempo
primitivo da adoração de estátuas já
não existe (…). A mim, esta
liderança com os seus tiques e
expedientes persecutórios, não me
intimida.”
No Æm desse ano de 2014,
Albuquerque torna-se líder do
PSD-Madeira, com 64% dos votos,
derrotando à segunda volta o
candidato jardinista, Manuel
António Correia. Tinha 53 anos, e
um ano antes tinha abandonado a
presidência da Câmara do Funchal,
que liderava desde 1994, por causa
da limitação de mandatos. Poucos
meses depois, em Março de 2015,
vence as eleições com maioria
absoluta e inicia o seu primeiro
mandato como presidente do
governo regional.
Três anos antes, em 2012, quando
ainda era presidente de câmara,
Miguel Albuquerque tinha
desaÆado Alberto João Jardim em
congresso. Apesar de ter sido
derrotado, a pequena diferença de
votos (53% para Jardim, 47% para
Albuquerque) fez disparar os alertas
do até então todo-poderoso, que
decidiu logo ali que, dois anos
depois, se retiraria do cargo. Para
Jardim era uma dupla estreia: pela
primeira vez tinha um adversário
Em 2012, Alberto
João Jardim
percebeu que
estava a prazo,
quando Miguel
Albuquerque
conseguiu 47%
GREGÓRIO CUNHA/LUSA
interno e esse adversário estava a
“morder-lhe os calcanhares”.
No dia da vitória, Jardim
reconhece que o partido está
dividido, acusa o adversário de se
ter rodeado dos “inscritos” — como
disse — “que nunca foram chamados
para cargos políticos”, reclama
contra “o carácter de muitas
pessoas”, mas decide não se
recandidatar em 2014. Atacará
sempre Albuquerque por alegadas
“ligações à maçonaria” (uma
Æxação de Jardim desde sempre),
aos “interesses da Madeira velha” e
“aos aliados de Lisboa que
atraiçoam o povo madeirense”
(outra Æxação jardinista).
Miguel Albuquerque foi líder da
JSD-Madeira entre 1990 e 1992,
quando Pedro Passos Coelho era
líder da JSD nacional. Vem daí a
amizade com o antigo
primeiro-ministro. Em 2022, foi
eleito presidente da mesa do
congresso do PSD, um cargo
honoríÆco. Foi advogado alguns
anos, entre 1986 e 1993, antes de se
dedicar à política a tempo inteiro —
o primeiro cargo full-time que
ocupou foi, em 1993, vereador
número dois na Câmara do
Funchal. Em 1994, o presidente da
câmara Virgílio Pereira abandona o
cargo em ruptura com Jardim
(estava em causa a dívida municipal
contestada pelo governo regional) e
Albuquerque passa a presidente da
da autarquia.
Ao viver, por estes dias, o maior
espinho da sua carreira política,
talvez encontre consolo nas rosas.
Floricultor, tem um livro com o
título Roseiras Antigas de Jardim, e
em letras pequeninas “Colecção
Quinta do Arco — Roseiral Duquesa
de Bragança”, editado em 2006.
Dessa quinta tem-se falado nos
últimos dias.
Cinco possíveis sucessores de Albuquerque
R
afaela Fernandes, Lino
Tranquada Gomes, Manuel
António Correia, Pedro
Coelho e Jorge Carvalho
são cinco possíveis sucessores
de Miguel Albuquerque na
liderança do governo regional.
Rafaela Fernandes pertence
ao governo regional — é
secretária Regional de
Agricultura e Ambiente. Fontes
ouvidas pelo PÚBLICO realçam
ainda que, devido à pasta que
tutela, Rafaela Fernandes, que
é vogal na comissão política do
PSD/M, é uma ponte
importante de relacionamento
com o PAN — partido que
sustenta parlamentarmente o
governo regional. Além disso,
segundo o Diário de Notícias da
Madeira, a governante esteve
ontem na Quinta Vigia — a
residência oficial do presidente
do governo regional.
Antes de ir para o governo
regional, a advogada foi
presidente do Serviço de Saúde
da Região Autónoma da
Madeira (Sesaram) e deputada
na Assembleia Legislativa pelo
PSD/M, tendo integrado as
comissões de saúde, habitação,
assuntos sociais e outras.
Manuel António Correia é
outro possível sucessor de
Albuquerque. Foi o adversário
de Miguel Albuquerque nas
eleições internas do PSD/M em
2015, apoiado por Alberto João
Jardim, de quem foi secretário
regional do Ambiente e
Recursos Naturais.
Recentemente não integrou
nenhum governo regional e é
também vogal na comissão
política do PSD/M. Em Janeiro
de 2021, foi absolvido de um
processo em que era acusado
de ter concedido licenças de
pesca de atum que “acabaram
por ser vendidas a armadores
japoneses e chineses”, escreve
o Jornal da Madeira.
Fontes ouvidas pelo
PÚBLICO dizem que Correia
ainda tem “anticorpos” da
corrida interna ao PSD/M e
acusam-no de ter “abandonado
o partido e os militantes” após
sair derrotado dessas eleições.
Outras dizem que optou pela
“discrição”. “Independente-
mente do nome que ficar,
Manuel António Correia vai ser
sempre uma sombra. Há muita
gente que se revê nele e que
quer que ele avance”, dizem ao
PÚBLICO.
Tranquada Gomes liderou a
Assembleia da Madeira e foi
vogal do conselho fiscal do
Banif. Segundo o Expresso, foi
referido no processo Panama
Papers. Para duas fontes ligadas
ao PSD/M ouvidas pelo
PÚBLICO, Tranquada é o nome
mais consensual para suceder a
Albuquerque, embora seja
apontado sobretudo para uma
“fase transitória”. “O mundo
perfeito seria Tranquada Gomes
e depois Manuel António
Correia”, diz ao PÚBLICO uma
pessoa ligada ao governo
regional. Segundo o Diário de
Notícias, Tranquada Gomes (na
foto) poderá assumir o Governo
com dois vice-presidentes:
Manuel António Correia e
Sérgio Marques, ex-deputado
no Parlamento Europeu e na
Assembleia da República, cujas
denúncias de “obras
inventadas”
na região
levaram à
constituição
de uma
comissão de
inquérito na
Assembleia
Legislativa da
Madeira, há
um ano, à qual foram chamados
Albuquerque e Avelino Farinha,
líder do Grupo AFA detido a
propósito deste caso.
Outro nome é o de Pedro
Coelho (na foto), cabeça de lista
da AD pela Madeira às
legislativas de 10 de Março e
presidente da Câmara de
Câmara de Lobos, também é
visto como um eventual
sucessor de Albuquerque.
Coelho não é visto como
“congregador”, sabe o
PÚBLICO, e por isso não goza
de grandes apoios no PSD/M.
Há ainda quem descarte Pedro
Coelho devido à sua
candidatura
ao
Parlamento,
mas a
composição
das listas,
apesar de já
entregues no
Tribunal do
Funchal,
pode ser alterada até ao dia 29
de Janeiro.
Por fim, Jorge Carvalho, que
actualmente é secretário
regional da Educação, Ciência e
Tecnologia, é também
apontado para suceder a
Albuquerque. O antigo
deputado do PSD foi o primeiro
presidente da direcção da
Associação Académica da
Universidade da Madeira.
Henrique Pinto de Mesquita
com S.R. e L.B.
Parceiro

Está lançada a 6ª edição do Promove, um concurso para apoiar
projetos e ideias que contribuam para o desenvolvimento
sustentável das regiões do interior de Portugal. Um programa da
Fundação ”la Caixa”, em colaboração com o BPI e em parceria com
a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a iniciativa dedica-se às
áreas de gestão eficiente de recursos naturais, criação de novos
polos de especialização e atração de turismo e novos residentes,
bem como, na vertente de investigação, aos domínios das águas
termais, parques e reservas aturais, estudos sobre riscos biológicos
e promoção de novas culturas e produtos naturais. Apresente-nos
o seu projeto.
Mais informações em fundacaolacaixa.pt e bancobpi.pt

Promove
o Futuro
do Interior
Concurso 2024
Candidaturas abertas
8 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Espaço público

Demissão à força

V
inte e quatro horas depois
Editorial de ter dito “não me demito,
não me demito”, Miguel
Albuquerque, presidente
do Governo Regional da
Madeira, arguido e suspeito de oito
tipos de crimes diferentes, incluindo
Helena Pereira corrupção activa e passiva, anunciou a
sua demissão invocando alteração “de
circunstâncias”.
Que circunstâncias foram essas? O
facto de o PAN, partido que dá apoio
ao PSD na Madeira para garantir a
maioria absoluta dos votos na
Assembleia Legislativa, ter dito que
retiraria esse apoio se os
sociais-democratas não substituíssem
o presidente do Governo Regional. Em
poucas palavras, o PAN simplesmente
O PAN simplesmente puxou o tapete e Miguel Albuquerque
puxou o tapete e Miguel tombou.
Albuquerque tombou. De outra forma, o social-democrata
nunca teria tomado a iniciativa de sair
Se tivesse maioria de funções, obstinado que estava em
absoluta, permaneceria seguir o conselho do seu mentor,
agarrado ao lugar Alberto João Jardim, que considerou
um absurdo colocar-se sequer essa
hipótese. Se o PSD-Madeira tivesse
maioria absoluta, claramente Miguel
Albuquerque continuaria agarrado ao
lugar.
O presidente do Governo Regional
da Madeira perdeu uma boa
oportunidade de mostrar mais
respeito pela instituição do Governo
Regional e pelos madeirenses.
Albuquerque tem todo o direito de
se defender no processo judicial que o
envolve, pode considerar que as
suspeitas têm poucos ou nenhuns
fundamentos, mas deve também
avaliar as condições políticas e, acima
de tudo, a dimensão ética, que esteve
completamente ausente de toda a sua
reacção. Não havia dúvidas de que a
permanência à frente do Governo
Regional iria tornar-se insustentável,
sendo que o próprio líder nacional do
PSD, Luís Montenegro, sinalizou isso,
embora de forma algo tímida.
A hegemonia do PSD na Madeira já é
passado. Este partido perdeu a maioria
absoluta há duas eleições, foi forçado
depois disso a coligar-se com o CDS,
um cenário que Alberto João Jardim,
nos seus tempos áureos, sempre
afastou — para não dizer mesmo que
desprezou. Acabou, como se viu nas
últimas regionais, a pescar à linha o
apoio de um deputado — calhou ser do
PAN — para permanecer no poder.
O peso eleitoral do PSD na Madeira
tem vindo, pois, claramente a diminuir
e, por este caminho, o partido arrisca
Æcar completamente refém de Mónica
Freitas e do PAN. O partido de Inês
Sousa Real derrotou Miguel
Albuquerque e está disposto a segurar
o PSD durante algum tempo, até
porque, como disse a dirigente do
PAN-Madeira, “perante o crescimento
brutal da extrema-direita, todos temos
que ser responsáveis e ponderados”.
Pelo menos, até Abril, quando termina
o período constitucional de seis meses
da nova Assembleia Legislativa que
impede qualquer dissolução. Depois,
se verá.

CARTAS AO DIRECTOR
Ser investigado
ou ser suspeito
Quando António Costa teve
conhecimento de um parágrafo de
um texto publicado pela PGR onde
se referia que ele estava a ser
investigado, sem que soubesse
porquê, apresentou a demissão do
cargo de primeiro-ministro de
Portugal. Miguel Albuquerque foi
constituído arguido, isto é, conside-
rado suspeito de crimes identiÆca-
dos, e recusa-se a apresentar o
pedido de demissão do cargo de
presidente do Governo Regional da
Madeira. Luís Montenegro, que
achou bem a tomada de posição de
Costa, também acha bem a posição
de Albuquerque, porque nada tem a
ver com o caso de Costa. De facto,
pouco tem a ver: é muito pior! Não é
nada brilhante a posição do PSD,
nem o favorece à boca das urnas.
Carlos Anjos, Lisboa
Que panorama...
Sopram ventos nada limpos de
saudosismo pelo que de mais fétido
teve a história do século XX. Dos
EUA à Argentina, da Itália à
Alemanha, é desolador, to say the
least. Portugal vai por arrasto neste
modismo nefasto. A imprensa livre
e o jornalista são alvos a abater. Os
jovens parecem medusados, os
algoritmos são gasolina. O grande
líder da extrema coisa de direita,
mentirola, gabarola e matreiro. São
estes adjectivos tão grande eufemis-
mo, que adjectivá-lo correctamente
tornaria esta carta impublicável.
Promete tapar os buracos que o
ex-chefe da maioria absoluta jura
que não abriu. O número de
sem-abrigo; imigrantes que vivem
em contentores em condições
desumanas, usados como trabalho
escravo. Os direitos humanos são a
última prioridade desta economia
absurda. Que 2 vezes 7% são 14%, é
certo. Confesso o meu medo, que o
multiplicador seja 3, e não 2.
Maria Afonso, Lisboa
Acordos e salários
O cenário de crise que atravessamos
não acautelou atempadamente as
diÆculdades, e a melhoria das
condições de vida de uma classe
proÆssional que procura estar ao
serviço de pessoas, bens e
empresas, e onde a função de
vigilante é cada vez mais exigente,
mas cada vez menos atractiva.
As alterações salariais na área da
vigilância, além de estarem quase
equiparadas ao salário mínimo,
para muitos proÆssionais desta
actividade proÆssional não entram
em vigor no início do ano, Æcando
dependentes da publicação pelo
Governo de uma portaria de exten-
são para a sua aplicação prática, o
que penaliza muitos proÆssionais .
O aumento do custo de vida não
está dependente da mudança de
governos, mas a aplicação dos
aumentos salariais também não
deveria estar dependente da
assinatura de acordos, porque o
tempo da publicação da referida
portaria não se compadece como as
diÆculdades que as pessoas passam.
Américo Lourenço, Sines
Onde pára a polícia?
Junto à estação ferroviária de uma
das cidades mais populosas do país,
alguém teve um surto psicótico e
decidiu destruir tudo o que conse-
guiu. Sinais de trânsito, caixotes do
lixo, ecopontos, esplanadas e até
uma moto. Delirando e alucinando,
o indivíduo chega a agredir elemen-
tos da própria família, que o tenta-
vam acalmar. Ligando para a PSP a
requisitar ajuda, a resposta não
poderia ser mais desinteressada:
“Não temos viaturas disponíveis.”
Inaceitável como uma instituição
pública de segurança não tem os
meios necessários nem recursos
humanos mínimos para dar respos-
ta às necessidades, parecendo que
está à espera que seja o cidadão a
fazer justiça com as próprias mãos,
perseverando a ordem pública.
Emanuel Caetano, Ermesinde
Decisões
Muitos tomaram decisões
precipitadas (como dar a maioria
absoluta ao PS), de que viriam a
arrepender-se mais tarde... Isto vem
a propósito das últimas sondagens
vindas a público, para as legislativas
de 10 de Março. O PS, depois de
trapalhadas e mais trapalhadas,
com alguns ministros, e não só,
obteria 26,4%, após desperdiçar
uma maioria absoluta. Nestas
situações é que o povo nunca se
engana... Para bom entendedor,
meia palavra basta!
Tomaz Albuquerque, Lisboa
O PÚBLICO ERROU
Na notícia publicada na edição de
20 de Janeiro com o título
IdentiÆcar um mapa da Península
Ibérica? Só 0,7% dos alunos do 5.º
ano sabem, o valor de 0,7% foi
erradamente atribuído às
respostas a uma só pergunta. Na
verdade, esta percentagem de
alunos que responderam de
acordo com o esperado diz
respeito a todas as perguntas do
domínio “Península Ibérica —
Localização e Quadro Natural” e
não apenas a uma.
No trabalho sobre
descarbonização da indústria
publicado a 24 de Janeiro, o nome
da directora-geral da ANTRAM
saiu erradamente como Carla
Souta. O seu nome é Ana Souta.

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA Viva, Aki Kaurismaki!
Quando se trata
de destruir, Ainda ontem
todas as
ambições se
aliam facilmente
Júlio Verne
(1828-1905),
J
Miguel Esteves Cardoso
escritor á vi todos os Ælmes de Aki Kaurismaki e
agora, graças à Mubi, estou a vê-los
todos outra vez.
Ontem fiz um intervalo para ver o
O NÚMERO mais recente, Folhas Caídas, que não
73,5%
me surpreendeu nada: é tão bom como
os outros todos, que é o mesmo que dizer que
é muito, muito bom. O segundo “muito” está
aqui por uma razão: está a fazer o trabalho
dele, começando pelo trabalho de separar os
Ælmes de Kaurismaki dos Ælmes meramente
muito bons.
De que outro realizador de cinema se pode
dizer isto: que o novo Ælme é tão bom como
A faixa etária com mais pedidos os outros todos?
de autodeclarações de doença Há quem diga que os Ælmes dele são todos
para baixas de curta duração muito parecidos uns com os outros. Sim,
foi a dos 19 aos 44 anos, com como os romances de Dickens são muito
um total de 233.917 baixas, parecidos uns com os outros. Isto é dito
ou seja, 73,5% do total apenas por aquelas pessoas que preferiam
de declarações emitidas que os Ælmes de Kaurismaki fossem menos
ZOOM ALEMANHA
Rosa branca colocada no Memorial do Holocausto aos Judeus Assassinados da Europa,
em homenagem às vítimas do Holocausto, na véspera do Dia Internacional da Memória do Holocausto, em Berlim
kaurismakianos: um pesadelo para quem
gosta mesmo dos Ælmes dele.
O desejo inconfessável de quem gosta
mesmo dos Ælmes de Kaurismaki é que
fossem mais parecidos uns com os outros — e
que não levassem tantos anos para
reaparecer.
O cão das Folhas Caídas chama-se Chaplin —
o génio favorito de Kaurismaki. Mas esta frase
não diz nada. É preciso ver o Ælme. É preciso
apreciar os pormenores do sentimentalismo
genial de Kaurismaki. O cão começa logo por
estar muito bem escolhido: talvez seja o cão
mais bem escolhido da história do cinema.
Tem uma Ægura trágica, mas redentora:
Chaplin está perdido no pêlo sujo, mas precisa
apenas de um bocadinho de champô para
regressar à glória.
A glória do Chaplin, escondida por uma
camada superÆcial de sujidade, já lá está.
Mas os espectadores desatentos precisam de
uma ajudinha para compreender a beleza, a
dedicação amistosa e a empatia do Chaplin.
Essa ajudinha é um banho. Essa ajudinha é o
cinema.
Claro que Kaurismaki teve de sujar o cão
para poder metê-lo na história (embora eu
esteja disposto a acreditar que não), mas
também é verdade que o cão foi consagrado
com um banho de luxo, eternizado num
grande Ælme.
FABRIZIO BENSCH/REUTERS
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 9
A opinião publicada no jornal respeita
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10 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Espaço público
Reprimir tudo e todos
Escrever
Direito
S
Francisco Teixeira da Mota
ou absolutamente contra os
procedimentos, práticas ou
tratamentos que visem a alteração
ou repressão da orientação sexual,
identidade ou expressão de género.
Entendo que a orientação sexual ou
a identidade de género de cada um não são
questões de doença ou de pecado, pelo que
não têm de ser objecto de tratamentos com
vista à sua cura nem de vergonha e
arrependimento com vista à salvação da
alma.
Sei também que há práticas
verdadeiramente aberrantes e até criminosas
nesta matéria, como são referidas no trabalho
de Ricardo Cabral Fernandes, Práticas de
conversão de orientação sexual: as torturas que
ainda acontecem em Portugal publicado no
jornal digital Setenta e Quatro, cuja leitura
recomendo.
Mas a recente legislação, aprovada pela
Assembleia da República e promulgada pelo
Presidente da República, que vem
criminalizar os “actos contrários à orientação
sexual, identidade ou expressão do género”,
criou um novo crime com um âmbito de
A resolução da crise na habitação não cairá do céu,
por isso voltamos às ruas
E
Rita Silva
m 2018, o Governo cessante
garantiu que em 2024, 50 anos
depois da Revolução de Abril,
teríamos o problema de
habitação resolvido. Voltou a
reforçar esse anúncio em 2021.
Porém, chegados aqui, temos de voltar a
lutar pela habitação e por muito mais.
O acesso à habitação está em retrocesso
acelerado. As rendas superam os salários,
as prestações bancárias aumentaram
muito e pesam demasiado no orçamento
familiar, a sobrelotação aumenta, há
famílias que voltaram a construir barracas
ou a viver em tendas, aumentou a
população sem abrigo. Os jovens, com o
aplicação extraordinário, desprezando
princípios básicos do direito criminal, tais
como o da intervenção mínima do direito
penal e da necessidade da pena.
Diz, agora, o Código Penal, no seu artigo
176.º-C: “Quem submeter outra pessoa a
actos que visem a alteração ou repressão da
sua orientação sexual, identidade ou
expressão de género, incluindo a realização
ou promoção de procedimentos
médico-cirúrgicos, práticas com recursos
farmacológicos, psicoterapêuticos ou outros
de carácter psicológico ou comportamental,
é punido com pena de prisão até três anos ou
com pena de multa.”
A forma genérica e a largueza dos conceitos
permite tudo e mais qualquer coisa: a lei fala
de “actos”, isto é, quaisquer actos. Em rigor,
basta manifestar a um terceiro uma oposição,
divergência ou dúvida visando (?) alterar a
sua orientação sexual para se estar a praticar
um crime com prisão até três anos! E não haja
dúvidas de que alguns zelotas virão a
defender tal interpretação em futuros
processos judiciais. Para o mal, a capacidade
humana é ilimitada.
Sendo certo que me parece não se justiÆcar
a criação deste novo crime, por ser possível,
através das leis penais e disciplinares já
existentes, reprimir os abusos e violências
que visa combater, não posso deixar de dizer
que um mínimo de decência legislativa
imporia, pelo menos, que a redacção fosse:
Quem submeter outra pessoa a procedimentos
médico-cirúrgicos, práticas com recursos
farmacológicos (...) que visem a alteração ou
avançar na idade, não conseguem resolver
a sua vida e sair de casa dos pais, saindo,
em vez disso, do país. Por outro lado,
houve um aumento nunca visto dos
despejos, vivemos na instabilidade
residencial pela curta duração dos
contratos, em más condições de habitação
no arrendamento e com péssimas
condições de habitação no parque de
habitação social, abandonado por diversas
câmaras municipais e pelo Instituto de
Habitação e da Reabilitação Urbana
(IHRU).
Desde o referido anúncio, vários pacotes
de políticas para a habitação têm sido
anunciados. Todos falharam, porque não
vão ao essencial: não têm a coragem
política de confrontar os interesses
imobiliários e turísticos, que se alimentam
da valorização das casas, transformadas
em activos Ænanceiros. Assim, as políticas
que são sucessivamente anunciadas
servem apenas para legitimar o poder e
ganhar tempo, mas não servem para
resolver o problema da habitação. A crise
continua a agravar-se.
repressão da sua orientação sexual,
retirando-se as referências
omnicompreensivas a “acto” e “incluindo”.
Verdade seja dita que outros países
democráticos têm vindo a implementar
legislação neste sentido, na medida em que
aquelas práticas conÆguram tortura,
tratamento cruel, desumano ou degradante
incompatíveis com as normas internacionais
dos direitos humanos, mas, por exemplo, a
lei francesa sobre esta matéria determina que
“as práticas, comportamentos ou declarações
repetidas que visem modiÆcar ou reprimir a
orientação sexual ou a identidade de género,
real ou presumida, de uma pessoa e que
tenham por efeito alterar a sua saúde física ou
A lei que criminaliza
os actos contrários
à orientação sexual
e identidade de género
criou um crime com
um âmbito de aplicação
que despreza
princípios básicos
do direito criminal
Perante os fortes interesses do complexo
imobiliário-turístico-Ænanceiro e uma
economia política que promove o
crescimento económico do país à custa do
empobrecimento de quem aqui vive e
trabalha, a única forma de resolver a crise
na habitação será através da continuidade
da organização, da pressão e da
mobilização popular nas ruas.
A plataforma Casa para Viver, que desde
1 de Abril tem convocado manifestações
amplas, junta uma centena de
organizações com experiência e
conhecimento, ancoradas na realidade
concreta. Além da mobilização de milhares
de pessoas em diferentes cidades do país,
traz propostas que, se forem já
implementadas, têm um rápido impacto
na resolução da crise de habitação.
Foi graças a estas manifestações que se
conseguiu, por exemplo, o Æm dos “vistos
gold” associados ao imobiliário (se não
houver novos truques na lei que os
perpetuem); que se conseguiu que o
Governo subsidiasse parte das famílias
inquilinas, aliviando o seu orçamento
mental são puníveis com pena de prisão de
dois anos e multa de 30.000 euros”.
Isto é: não são todas as “práticas,
comportamentos ou declarações repetidas”
que são punidos. Só os que têm por efeito a
alteração da saúde física ou mental da vítima,
prevendo expressamente a lei que, por
exemplo, não constituem crime os
comentários repetidos que se limitam “a
convidar à prudência e à reÇexão,
nomeadamente tendo em conta a sua jovem
idade, por parte da pessoa que questiona a
sua identidade de género e pondera a
realização de uma intervenção médica
conducente a uma mudança de sexo”.
Em Portugal não é assim. A partir de agora,
basta uns quaisquer “actos” para um
qualquer fanático berrar “Crime!” e um
qualquer cidadão se ver lançado no labirinto
judicial. É muito triste que a nossa Assembleia
da República legisle desta forma...
P.S. Corre por aí um abaixo-assinado
peticionando a proibição de uma
manifestação “Contra a islamização da
Europa”. A convocatória da manifestação é
sinistra e repugnante, mas, naturalmente, a
manifestação não deve ser proibida. A
liberdade de expressão e de manifestação só
deve ser cerceada quando existem graves e
iminentes riscos da prática de crimes e não
meros receios, mais ou menos fundados. As
autoridades policiais devem, naturalmente,
garantir a segurança de pessoas e bens. A
bem da nação.
Advogado. Escreve ao sábado
(ainda que de forma insuÆciente e
temporária, e lamentavelmente
subsidiando desta forma o bolso dos
proprietários); ou o anúncio, dois dias
depois da manifestação de 30 de
Setembro, do Æm do regime Æscal dos
residentes não habituais, com grande
impacto na inÇação do valor das casas
(tendo-se depois prolongado este por mais
um ano). Estas medidas, completamente
insuÆcientes mostram-nos, ainda assim,
que estamos a fazer pressão a sério, mas,
sobretudo, que temos de continuar.
Se há algo que o 25 de Abril nos ensinou
foi que é preciso organizarmo-nos,
mobilizarmo-nos, lutarmos para
conquistar os nossos direitos. A mudança
não vai cair nem do céu, nem de nenhum
programa de Governo, a mudança vai-se
conquistar se continuarmos a pressionar
nas ruas. Passados 50 anos do 25 de Abril,
neste sábado, 27 de Janeiro, a luta por uma
Casa para Viver continua nas ruas.
Investigadora e activista
no movimento Vida Justa
 Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 11

Um provincianismo perigoso
O ruído do mundo

DR

José Pacheco Pereira

Não há nenhuma questão

nacional que não dependa
do estado do mundo,
mas em plena campanha
eleitoral sobram as
perguntas que ninguém faz

N
este 2024 tudo vai ser
dominado pelas relações
internacionais no ano de
todos os perigos. Não há
nenhuma questão nacional
que não dependa do estado
do mundo, seja a economia, seja a política
interna, seja a questão fundamental da paz
e da guerra. Se há alturas em que o
provincianismo, o paroquialismo e outras
classiÆcações pejorativas fazem todo o
sentido é para nomear a indiferença e
provavelmente muita ignorância sobre
questões internacionais em plena
campanha eleitoral.
Fazer isto em 2024 é quase como dizer
deitem os programas e as promessas ao lixo,
porque, sem respostas claras a uma série de
perguntas, tudo o resto não vale nada. A
culpa aqui é fácil de definir: políticos que
não olham para além das polémicas do dia
nos jornais e rádios não têm sentido de
Estado. Jornalistas que andam entretidos
com as mini-intrigas eleitorais mostram fundamento da nossa política internacional. como vê o Chega a política externa de parlamentares, um ecossistema em que
completa desatenção ao que é relevante. Por muito que se aceite uma visão realista Trump e dos sectores que controla no tudo isto devia ser muito mais discutido, os
Por bizarro que pareça, é do PCP que do domínio dos interesses nas relações Partido Republicano? Estão o PS e a Aliança partidos, o PS, o PSD, o Chega, o CDS, o
melhor se conhece a posição internacional. internacionais, ou um entendimento dispostos a incluir nos orçamentos um Bloco (menos), o Livre (menos), o PAN,
O resto dos partidos ou são ambíguos como meramente geoestratégico, uma signiÆcativo reforço de despesa de defesa todos têm mostrado um alheamento sobre o
o Bloco ou deles se conhecem apenas as democracia tem, mesmo que seja apenas face às nossas obrigações na OTAN e ao estado do mundo a não ser para encontrar
posições genéricas de há décadas, numa um resíduo básico porque identitário, uma risco global de guerra? Por aí adiante. desculpas nos efeitos externos sobre as
altura em que o mundo estava visão humanista das pessoas e do mundo. Não faz sentido fazer ao PCP estas diÆculdades internas. Que comunicados
completamente diferente. As guerras da Uma democracia não pode resumir a sua perguntas porque se conhecem todas as formais publicaram o PS e o PSD sobre as
Ucrânia e de Gaza, a política interna política externa apenas à aceitação da força respostas — mas tem sentido discutir essas suas posições oÆciais face à guerra na
americana, com a possibilidade de Trump e tem uma obrigação moral de resistir e respostas, em particular sobre a Ucrânia —, Ucrânia e ao conÇito no Médio Oriente?
ser eleito, as contradições internas na UE, combater. mas a falta de clareza das posições dos Sim, e bem, condenaram o massacre do
com países como a Hungria e o ascenso Por isso, em plena campanha eleitoral, outros partidos nem para essa discussão Hamas, mas o valor moral e político dessa
eleitoral de partidos com posições sobram as perguntas que ninguém faz. serve. Mesmo utilizando os debates condenação não apaga o silêncio sobre a
isolacionistas ou nacionalistas, a Estão o PS e a Aliança dispostos a aceitar em violência gratuita de Israel na Faixa de Gaza
emergência dos chamados BRICS, o papel plenitude a posição dos dois Estados no e os óbvios crimes de guerra que está a
da Rússia e da China, a situação de alianças conÇito israelo-palestiniano com o cometer. Se para matar um militante do
como a OTAN, tudo está a mudar. reconhecimento do Estado da Palestina? Hamas se matam 100 palestinianos,
Portugal não está à parte dessa mudança, Defende o Bloco que nenhum tratado de mulheres e crianças, estamos perante uma
está no centro dela. Fazemos parte da paz entre a Federação Russa e a Ucrânia acção completamente inaceitável, mesmo
Europa na UE e da OTAN, temos obrigações deva implicar a cedência de território, a ao abrigo das mais laxistas leis da guerra.
internacionais em vários tratados que
assinámos, detemos uma posição
começar pela Crimeia? Deve a comunidade
internacional condenar Israel pelos crimes
Que comunicados Onde estão as sanções da UE a Israel? E na
traição americana e europeia (menos) à
estratégica no Atlântico, temos uma de guerra cometidos em Gaza e na publicaram o PS e o PSD Ucrânia com que voz falam os partidos
relevante população emigrante e
partilhamos riscos directos no caso do
Cisjordânia com a mesma veemência e
consequências sancionatórias que foram
sobre as suas posições portugueses face ao seu governo que os
representa na UE?
alastramento da guerra na Europa. E temos aplicadas à invasão russa da Ucrânia? Que oÄciais face à guerra Em que raio de mundo pensam que
um regime democrático fundado no
primado do direito internacional e no
posição tem o Chega sobre o apoio
incondicional ao direito da Ucrânia de se
na Ucrânia e ao conÅito vivem?

respeito pelos direitos humanos, que é um defender militarmente da invasão russa? E no Médio Oriente? Historiador. Escreve ao sábado
12 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Espaço público
Mitos e mentiras sobre os imigrantes em Portugal
Coffee break
D
Bárbara Reis
iz-se que 2024 é um “ano
supereleitoral” porque
metade dos adultos do
planeta — 4,2 mil milhões de
pessoas — vão votar, em 65
países.
Em muitas dessas eleições, há um medo
comum: o crescimento da extrema-direita.
Antes de avançar, um parêntesis. Se está
a pensar “a extrema-esquerda é igual”, é
útil repetir as diferenças abissais que
separam os dois extremos. Cinco são
extremas em 2024:
— A extrema-esquerda não recusa
resultados eleitorais em democracias com
tradição de rigor eleitoral;
— A extrema-esquerda não faz cercos às
sedes dos partidos de que não gosta;
— A extrema-esquerda não marcha nas
ruas contra os imigrantes;
— A extrema-esquerda não achincalha a
vida parlamentar;
— A extrema-esquerda não inunda as
redes sociais com pontos de vista odiosos
Os reformados não estão a leilão
O
Maria do Rosário Gama
s velhos! Nós, os velhos,
constituímos um grupo
populoso (em 2022, a
população com 65 e mais
anos constituía 24% da
população e este número
continua a subir – dados da Pordata) que
vota convictamente porque, antes do 25
de Abril, estávamos impedidos de o fazer
e lutámos por esse direito. Daqui resulta
que, neste momento, estejamos a ser alvo
de promessas partidárias, numa espécie
de leilão para ver quem dá mais…! Não me
lembro, não nos lembramos, de tanto
assédio nem de tantas promessas
demagógicas, a começar nos 820 euros de
Complemento Solidário para Idosos (CSI)
no Ænal da legislatura, até aos valores
exorbitantes e inacessíveis prometidos de
subida de todas as pensões mínimas para
820 euros até 2028 e, até ao Ænal da
sobre as mulheres, os muçulmanos, os
negros e os homossexuais (com o truque
do humor e do “isto era só uma piada”),
notícias falsas, teorias da conspiração,
trolling e shitposting.
Fazer estas cinco coisas seria 1) criar
desconÆança infundada nas instituições; 2)
fomentar um ambiente de hostilidade e
agressividade física; 3) alimentar o ódio, a
xenofobia e o racismo; 4) fragilizar as
instituições democráticas; 5) minar o
conhecimento dos outros e impedir um
debate produtivo.
A extrema-esquerda não faz isto e,
infelizmente, é isso que a extrema-direita
faz todos os dias.
Sim, no passado, Mao matou milhões de
chineses, Estaline matou milhões de
russos, Pol Pot matou milhões de
cambojanos.
E, sim, no presente renasceram grupos
radicais de extrema-esquerda na Europa,
que sobretudo partem montras, mas já
Æzeram mortos. O relatório da União
Europeia Contemporary Violent Leftwing
and Anarchist Extremism in the EU tem
dados pormenorizados e recentes. Mas isso
são acções terroristas, que a UE e a Europol
acompanham — como acompanham as
acções terroristas da extrema-direita (ver
Contemporary manifestations of violent
right-wing extremism in the EU).
Este parêntesis não é sobre isso, serve
apenas para dizer que os dois extremos,
legislatura seguinte, a equiparação ao
valor do salário mínimo!
Este ano, o valor do CSI atinge os
550,67€, o que corresponde a um
aumento de 65€. A subir, em cada ano, o
mesmo montante, ou provavelmente
mais, em 2028 estaria, no mínimo, em
810€. Nada de extraordinário na
promessa dos 820€. Extraordinário seria
ouvir falar da condição de recursos para
requerer este complemento e que tem
em conta o rendimento dos filhos até ao
4.º escalão, impedindo, assim, muitos
reformados com pensões baixas de se
candidatarem ao CSI, além da injustiça
que iria criar entre que tem uma pensão
do regime contributivo de valor que não
lhe permite candidatar-se ao CSI e os que
se podem candidatar, do regime não
contributivo que, nesse caso, ficariam
com uma pensão superior a quem
descontou toda a vida.
Sobre os aumentos de todas as pensões
no Ænal de duas legislaturas, até atingirem
o salário mínimo – à data, trata-se de uma
promessa irrealista, demagógica,
populista e perigosa para a
sustentabilidade da Segurança Social (SS),
por poder contribuir para a
desmobilização em relação aos
respectivos descontos. É imperioso
esquerda e direita, não são equivalentes.
Fecha parêntesis.
Já agora: os líderes do Chega dizem todos
os dias que não têm nada contra os
imigrantes, mas não fazem outra coisa
senão falar dos imigrantes como uma coisa
má, que prejudica o país.
Um amigo que vê muitas coisas diz-me
que está a notar uma mudança no discurso
sobre os imigrantes. A imigração é uma das
coisas que explicam o crescimento do
populismo. Os esquecidos da globalização
— que ajudaram a eleger Trump, Bolsonaro
e a tirar o Reino Unido da União Europeia —
estavam pobres, aÇitos e frustrados e foi
fácil aumentar a sua raiva falando contra os
imigrantes. Mas agora o discurso está a
Æcar menos centrado no imigrante
económico e mais no imigrante identitário.
“É simplesmente dizer ‘não gostamos’,
‘não queremos pessoas diferentes’.”
Cinco diferenças
abissais distinguem
a extrema-esquerda
da extrema-direita
fortalecer a contribuição para a SS para
evitar situações de pobreza nos
reformados de agora e do futuro,
contrariamente ao que está a ser
prometido sobre a isenção de
contribuições dos prémios de
produtividade ou outros, quer para o
Æsco, quer para a Segurança Social,
estando-se a criar, subtilmente, na gente
mais nova e em geral na população activa,
a ideia de que deve ser desvalorizada a
contribuição para a Segurança Social
pública.
A este propósito, é imperioso distinguir
as pensões do regime contributivo, a que
as pessoas têm direito porque Æzeram os
descontos devidos (elas e as entidades
patronais), pagas pela SS, e as pensões
sociais, que o Estado decide atribuir aos
mais desfavorecidos, que são pagas pelo
OE. Sem esta distinção, resulta uma
amálgama confusa e enganadora.
Ainda sobre promessas/intenções, no
passado domingo, numa convenção
eleitoral, o respectivo líder disse querer
uma “reconciliação” com os reformados,
reconhecendo assim que os mesmos
estão zangados e que não são fáceis de
convencer. Para perceber a “zanga” é
preciso recuar às eleições de 2011,
quando, na campanha eleitoral, Pedro
Falo dos imigrantes porque se há tema
em que a extrema-direita se dedica a
impedir um debate produtivo é este.
Argumenta-se que em 2022 os imigrantes
em Portugal foram responsáveis por um
saldo positivo de 1604,2 milhões de euros
da Segurança Social (pagam impostos
como os portugueses, mas recorrem
menos aos serviços públicos). Ignoram.
Argumenta-se que sem os imigrantes
alguns sectores económicos entrariam em
colapso. Ignoram. Argumenta-se que a
tendência é de os estrangeiros terem maior
capacidade contributiva do que os
nacionais para a Segurança Social.
Ignoram. Argumenta-se que a imigração
em Portugal é essencialmente laboral e
activa. Ignoram. Argumenta-se que os
imigrantes fazem trabalhos que os
portugueses não querem, precários, mal
pagos e arriscados. Ignoram. Está tudo nos
relatórios do Observatório das Migrações.
Não estamos a conseguir um debate
produtivo — insisto na expressão, que os
especialistas usam, porque descreve bem o
que está a passar-se. Vai ser um “ano
supereleitoral” e não se vêem soluções
para o problema da polarização extrema a
que chegámos. António Damásio pede há
anos uma “vacina contra a raiva”. É fácil
pedir. Como para o cancro, difícil é
descobri-la.
Jornalista. Escreve ao sábado
Passos Coelho garantiu a uma criança que
não haveria cortes na pensão da sua avó,
promessa imediatamente violada com o
corte de meio subsídio de Natal no
primeiro ano e depois dos subsídios de
férias e de Natal nos anos seguintes, para
além de instituir uma contribuição
extraordinária de solidariedade (CES) que
prejudicou grandemente a classe média
dos reformados, ter subido de forma
abrupta o factor de sustentabilidade para
as reformas antecipadas e ter avançado
com a possibilidade de um corte
deÆnitivo das pensões, no valor de 600
milhões de euros que só não foi
concretizado devido à luta da APRe! e de
outras associações, na contestação e
reclamação junto do Tribunal
Constitucional.
Os reformados não estão a leilão e
saberão fazer o devido escrutínio na hora
de votarem. Farão uma avaliação de todas
as medidas constantes dos programas
eleitorais, nomeadamente as que até
agora não têm sido divulgadas e que
esperamos não se limitem ao aumento
das pensões acompanhado de promessas
não concretizáveis.
Presidente da direcção da APRe!

A liberdade da reportagem versus o rigor da notícia
Coluna
do Provedor
José Alberto Lemos
Um leitor criticou uma
reportagem sobre um
comício da IL, por entender
que feriu a “imparcialidade
e rigor” jornalístico
A
série de reportagens com os
líderes partidários candidatos
às legislativas de Março
publicada na última semana de
2023 atraiu a atenção dos
leitores. Esta semana
regressamos a essa série porque um leitor
interpelou o provedor a propósito da
reportagem feita com o líder da Iniciativa
Liberal (IL), Rui Rocha, no Porto, publicada a
28/12/2023.
Sob o título “A noite em que Rui Rocha deu
uma TED Talk no Pólo Norte”, o repórter
Henrique Pinto Mesquita associou o comício
ao modelo das TED Talks: o dirigente liberal
subiu ao palco sozinho, depois de lhe Æxarem
um microfone na cara. “Fê-lo devagar,
caminhando sobre o palco com leveza e
conÆança, num passo ensaiado”, “abre os
braços com elegância e faz pausas teatrais
para olhar o chão, buscando a carga
dramática com que tenta vestir o discurso
decorado que traz. (…) A presença em palco,
a história de embalar, a inspiração servida
em tetra pak — eis porque o comício da IL no
Porto foi uma TED Talk”.
Há uma certa ironia, com remoques aqui e
ali, e observações subjectivas. A militante
Joana Sousa apresentou Carlos Guimarães
Pinto, um dos fundadores do partido, e foi
demasiado sincera nos elogios. Ele é a “razão
pela qual está no partido”, o seu “mentor
espiritual” e o “melhor deputado na
Assembleia da República”. Esqueceu-se
talvez que estava a desvalorizar o líder Rui
Rocha.
O repórter assinala que “a sala gelou em
vergonha alheia” e pergunta se “esta brava
mulher” estaria “a fazer oposição a Rocha na
cara de Rocha”. Ou se estaria “esta insurrecta
liberal a relançar Guimarães Pinto para a
corrida ao partido”. “Mas que vem a ser isto?
Rocha, cá atrás, sorri e aplaude”.
Quando regressa para apresentar o líder,
Joana Sousa “está atrapalhada, nervosa,
como se tivesse levado um puxão de orelhas
pela honestidade em excesso”, diz a peça,
mas Joana proclama que “o Rui é o melhor
líder que podíamos ter”, e chama-o ao palco
com “a mesma emoção com que havia
chamado o seu mentor espiritual”.
Nessa manhã, a IL tinha distribuído
cartazes em Lisboa “a gozar com o
recém-eleito secretário-geral do PS” e, “entre
combustível e execução, a ideia terá custado
os rins ao partido, uma vez que, caída a
noite, não sobrou dinheiro para aquecer
devidamente a sala de jantar”. Resultado: o
Mercado Ferreira Borges parecia o “Pólo
Norte”, havia pessoas “a tremer de frio”, o
vinho “arrefecia melhor cá fora do que no
frapê” e o “principal atractivo” eram “os
aquecedores”.
O repórter conta que numa mesa estava
“uma senhora loira muito investida no pão”,
que arrecadou todo “para sua posse”.
Comeu-o devagar “presumivelmente
indiferente à vontade dos demais
comensais”. Mas uns minutos depois
partilhou-o com dois jovens da mesa:
“AÆnal, um liberal também sente o Natal”.
Foi para este tipo de registo que o leitor
Carlos Costa “solicitou a atenção” do
provedor. “Parece-me muito bem que os
jornalistas do PÚBLICO expandam os limites
do jornalismo através de mecanismos mais
associados à Æcção, mas pergunto-lhe se
nesta peça não se passou para o lado do
jornalismo satírico, género igualmente
nobre, mas de outro teor,” questiona.
“É que uma coisa é informar que um
político usa as competências performativas
conotadas com uma Ted Talk, outra é
aÆrmar que na prática se tratou de uma.
Uma coisa é testemunhar o embaraço com a
intervenção de Joana Sousa, outra será fazer
a comparação com uma puxão de orelhas
imaginado ou metafórico”, acrescenta.
“Dar conta da temperatura baixa poderá
ser missão do jornalista, mas fazer uma
chalaça especulativa — gastaram em cartazes
a verba para aquecimento — talvez não”.
Carlos Costa deixa duas questões. A
primeira sobre a “extrapolação da relação de
uma participante com o pão para conotação
de uma ideologia política: parece-lhe que
continuamos nos limites do Livro de Estilo
do jornal?” A segunda sobre se “não seria
avisado colocar este tipo de peças como
crónicas, evitando a sua conotação com o
rigor e imparcialidade a que o jornalismo
necessita de estar associado”.
E conclui: “Parece-me que este evento só
aconteceu na cabeça do jornalista, o que
certamente lhe dará créditos na área da
Æcção, mas não (pelo menos meus) na área
do jornalismo”.
Questões pertinentes que o provedor
remeteu para o autor da peça. Henrique
Pinto Mesquita respondeu a duas
observações concretas do leitor. “Se, por um
lado, é verdade que, recorrendo a uma
imagem forte e ligada à contemporaneidade,
assumi, no título, que o evento se tratava de
uma Ted Talk, por outro, logo no lead, falo de
um ‘jantar-comício da IL no Porto’, notando,
portanto, que se tratava deste evento”.
Quanto ao puxão de orelhas à
apresentadora, o repórter garante que “não
se procurava comparar o ‘embaraço com a
intervenção de Joana Sousa’ com qualquer
‘puxão de orelhas’. Escrevia-se, sim, que, na
segunda intervenção, Joana Sousa agiu
‘como se tivesse levado um puxão de
orelhas’. Aliás, a expressão ‘como se’ deixa
claro não se tratar de um evento real, como
o leitor parece entender”.
Henrique Mesquita entende que “será
GUILLERMO VIDAL
consensual que, nas reportagens, há espaço
para a hipérbole”, o que permite “trazer o
leitor para dentro do evento”. “Embora
assuma que este ‘exagero’ esteja presente na
peça, não penso que tenha ferido o rigor e
imparcialidade”.
A editora da Política corrobora o ponto de
vista do repórter. “A reportagem tinha o
colorido jornalístico que dela se espera”,
defende Leonete Botelho. “Não considerei
que, em momento algum, fossem
ultrapassadas linhas de bom gosto e muito
menos regras éticas e deontológicas; antes
era transmitido o ambiente e a cor do
momento, como é desejável que uma
reportagem faça”.
“A liberdade editorial, desde que não
coloque em causa a veracidade dos factos e
das situações, é um bem que devemos
conservar e proteger em democracia”,
conclui a editora, no que tem a total
A liberdade de escrita
nunca dá ao repórter
o direito de distorcer
a realidade, sob pena
de entrar no terreno
da Äcção e
descredibilizar
o seu trabalho.
Mas uma reportagem
Äel aos factos não
é sinónimo do ‘rigor
e imparcialidade’ que
se exigem a uma notícia
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 13
concordância do provedor. Primeiro ponto a
sublinhar: a liberdade editorial é um bem a
preservar “desde que não coloque em causa
a veracidade dos factos e das situações”.
E, neste aspecto, a reportagem não foi
contestada pelos seus protagonistas, nem
posta em causa pelo leitor. Um princípio
sagrado do jornalismo foi respeitado: a
Ædelidade aos factos. A liberdade de escrita
nunca dá ao repórter o direito de distorcer a
realidade, sob pena de entrar no terreno da
Æcção e descredibilizar o seu trabalho. Mas
uma reportagem Æel aos factos não é
sinónimo do “rigor e imparcialidade” que se
exigem a uma notícia.
Cito o Livro de Estilo do PÚBLICO, no
capítulo sobre reportagem: “Género
específico até pela sua liberdade narrativa e de
estilo, a reportagem assenta no terreno
preferencial dos factos e da sua observação
directa no local onde se registaram. Deve
conter, por isso, o máximo de pormenores
ambientais e humanos”.
E noutro ponto: “Observar, retratar
pessoas e ambientes, analisar e interpretar
personagens e situações aconselham uma
liberdade narrativa maior do que na notícia
pura; mas deverá ser sempre uma liberdade
condicionada pela necessidade e obrigação de
informar. Só ao leitor cabe retirar as suas
conclusões”.
À luz destes princípios, a reportagem teve
liberdade narrativa e de estilo maior do que
na notícia pura, teve observação, análise e
interpretação de personagens e situações,
teve atenção a pormenores ambientais e
humanos. Uma liberdade condicionada,
contudo, pela obrigação de informar.
O leitor retirou conclusões que não foram
lisonjeiras para a reportagem por entender
que contende com a “imparcialidade e
rigor” jornalístico. Está, obviamente, no seu
direito, mas o provedor chama a atenção
para a especiÆcidade do género reportagem
e considera que no caso vertente a liberdade
criativa do repórter acautelou o essencial e
não feriu as linhas do bom gosto, como
observa a editora.
O jornalista defende que na reportagem
há espaço para a hipérbole. Com conta, peso
e medida, adverte o provedor, já que a
hipérbole não é, por norma, conotada com
bom gosto. Mas ironia, sim, cabe
perfeitamente numa reportagem deste tipo,
porque traz o colorido e traça muitas vezes o
retrato mais Æel dos circunstantes.
De novo o Livro de Estilo: “A reportagem
pressupõe a liberdade do ‘olhar’ do jornalista,
que naturalmente vai destacar os elementos
que mais o tocaram. Sendo assim, é mais
susceptível de incluir a subjectividade própria
de cada “olhar”, pelo que o jornalista deve ser
especialmente cuidadoso e, ao destacar o
pormenor que dá colorido à história, deve ter
em atenção que esse pormenor sublinha o
essencial do que retrata e não desvia a leitura
para o acessório ou o anedótico”.
Ponderados os vários aspectos, o
provedor considera que a reportagem Æcou
dentro dos limites do Livro de Estilo do
PÚBLICO.
provedor@publico.pt
14 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Política Deputado do Livre defende um novo “contrato social”
“A ‘geringonça’
deveria
ter passado
a um sistema
que funcione”
Rui Tavares Co-líder do Livre diz que
o seu partido tentará sentar “todos” os
partidos de esquerda à mesa para evitar
solução assente em acordos bilaterais
Entrevista
Mariana Marques Tiago
e David Santiago Texto
Nelson Garrido Fotografia
Rui Tavares, cabeça de lista do
Livre às legislativas pelo círculo de
Lisboa, considera que a
experiência da “geringonça”
“resultou”, porém “depois falhou”,
porque “deveria ter passado a um
sistema que funcione” e isso
signiÆcaria criar uma plataforma
multilateral de entendimento à
esquerda. De olhos postos nas
eleições de Março, o co-porta-voz e
deputado único do Livre, que
aprova este Æm-de-semana, no
Porto, o programa eleitoral,
defende que o país precisa de
deÆnir “objectivos para os
próximos 50 anos”, a começar por
um “novo contrato social”.
Como é que se descreve em três
adjectivos?
Sou historiador. Sou um aldeão do
mundo, uma pessoa que não
nasceu numa aldeia mas viveu uma
boa parte da sua vida numa aldeia
e foi formada por isso. E – não sei
se sou, outros o dirão – generoso.
Qual é a sua ideia-chave para o
país? O que é que considera
fundamental fazer na próxima
legislatura?
Reinventar a economia portuguesa
de forma a podermos dar
cumprimento a um objectivo que
vem de trás, que é um país sem
pobreza estrutural, em que
erradiquemos os fenómenos de
pobreza permanente, que se
transferem de geração em geração,
através do abono de família na
infância, do complemento
solidário para idosos na idade
sénior. São instrumentos que já
existem, que podem ser
melhorados e reforçados.
Se fosse primeiro-ministro, qual
seria a sua primeira medida?
Fazer um grande debate nacional,
aproveitando os 50 anos do 25 de
Abril, acerca da renovação do
nosso contrato democrático, social
e acrescentar-lhe um contrato
ambiental.
Um debate nacional com todos
os agentes de concertação
social, por exemplo?
Com as universidades, com as
ONG, com as associações, as
pessoas… Tal como em 1974
tínhamos um grande objectivo
nacional partilhado, que era
resumido naqueles três D
(democratizar, desenvolver,
descolonizar).
Encontrar um mínimo
denominador comum?
Precisamos de objectivos para os
próximos 50 anos. E aí, as
sociedades que conseguiram dar
saltos nos seus modelos de
desenvolvimento são todas
diferentes. A Coreia do Sul não é a
Finlândia, a Finlândia não é a
Irlanda. Mas têm uma coisa em
comum: capacidade de se
coordenar colectivamente e de ter
objectivos que são assumidos por
todos.
Este novo contrato social
signiÆca dialogar entre todos nós e
estabelecermos novas metas para o
país e apresentar uma alternativa a
quem nos quer dividir. Porque o
extremismo (e o extremismo de
direita em particular) quer criar
divisões entre as pessoas e, no
fundo, propagandeia que limpam o
país e acabam com a corrupção.
O Livre faz agora dez anos. A
constituição do Livre foi antes
da chamada “geringonça”, em
que se considerou que à
esquerda faltava um parceiro
com quem o PS pudesse
dialogar e fazer entendimentos.
Essa ainda é a principal razão
de existir do Livre?
Isso, em 2013, 2014, quando
Precisamos de fundámos o Livre, era muito
objectivos para relevante, determinante para
fundarmos o partido. E hoje em dia
os próximos também é, porque a “geringonça”
50 anos foi uma boa experiência, mas
depois não teve sequência.
Começou como solução mais
É necessária improvisada, que é o que uma
“geringonça” é, mas depois deveria
uma plataforma ter passado a um sistema que
multilateral funcione. E um sistema que
funciona é o correspondente às
de entendimento boas práticas europeias, em que há
à esquerda muitos governos - aliás, são a
maioria dos governos - apoiados
por dois, três partidos, quatro, até
Às vezes há cinco partidos. E o que é que
acontece? Os partidos falam de
quem faça grandes forma multilateral, não é o PCP
parangonas com com o PS, o BE com o PS, o PEV
com o PS e agora o Livre com o PS.
linhas vermelhas, A “geringonça” era bilateral. É
mas na verdade necessária uma plataforma
multilateral de entendimento à
isso é uma posição esquerda?
de fraqueza Sim. A “geringonça” era uma soma
de acordos bilaterais. E resultou.
e não de força Foi, aliás, o Governo que teve
melhor avaliação por parte dos
portugueses. No entanto, depois
falhou.
O Livre estaria disponível para
acordos bilaterais num cenário
de maioria de esquerda?
O Livre prefere, dirá sempre e
tentará convencer todos os outros
partidos de que é muito melhor
sentarmo-nos todos à mesa em
conjunto. Embora no diálogo que
fazem na praça pública às vezes
haja muita tentação de substituir o
monopólio do PS por um duopólio
BE/PS, nunca ouvi uma objecção a
que houvesse um diálogo que fosse
multilateral. E como as sondagens
só dão uma maioria à esquerda se
for uma maioria plural, essa
pluralidade tem que estar nas
conversas.
Essa plataforma multilateral
seria uma exigência do Livre
para viabilizar um governo de
esquerda?
É uma preferência.
O que exigiria o Livre para
viabilizar um governo de
esquerda?
Uma exigência seria que a
sociedade civil também
participasse nessas conversações,
que não fosse aquilo a que a gente
chama uma “geringonça” dos
gabinetes, só das direcções
partidárias. Que também pudesse
haver da parte das universidades,
das ONG, de personalidades da
sociedade civil, contributos para
que esse programa se possa fazer.
E se não for através de uma
plataforma multilateral, aí nós
 Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 15

Política

de outros, porque é isso

que está na Constituição.
Mas exigiria uma posição
concreta sobre a questão da
Ucrânia, por exemplo, ou de
Israel?
A Ucrânia tem que ser ajudada a
ganhar a sua guerra.
Isso teria que estar também
previsto nesses acordos?
Não abandonar a Ucrânia e
aprofundar a democracia na União
Europeia são pontos muito
importantes para nós, que, claro,
queremos ver reÇectidos em
acordos.
O Livre admite integrar um
executivo liderado pelo PS com
ministros do Bloco e/ou do PCP?
Isso depende da conÆguração que
sair das eleições e da vontade dos
outros de participar. O que é
normal – e também acontece
noutros países – é que no Governo
estejam representados os vários
partidos que sustentam o Governo.
No que toca a mandatos, qual é
a meta do Livre para estas
eleições? Não formar um grupo
parlamentar é considerado um
mau resultado?
Não formar um grupo parlamentar
será um mau resultado e será mau
para o Livre.
Nesse cenário, o que é que faria
Rui Tavares? Continuava à
Marcelo envia alterações à lei
da nacionalidade para o TC
Carolina Amado
O Presidente da República submeteu
o decreto de alteração da lei da nacio-
nalidade a Æscalização preventiva do
Tribunal Constitucional (TC), alegan-
do que a alteração, “com efeitos apli-
cáveis a processos ainda em curso,
pode agravar a situação de reféns
israelitas em Gaza” que esperam pela
nacionalidade portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu
em particular o artigo 6.º do decreto
em causa, que cria um novo regime
especial aplicável aos pedidos pen-
dentes de concessão de nacionalida-
de a descendentes de judeus sefardi-
tas portugueses.
Esse novo regime, que introduz
critérios adicionais para a concessão
da nacionalidade, “parece violador
do princípio da protecção da con-
Æança, ínsito ao princípio do Estado
de direito” e “violador da proibição
de retroactividade de norma restri-
tiva de direitos, liberdades e garan-
tias”, considerou, em requerimento
enviado a 22 de Janeiro ao Tribunal
Constitucional e divulgado ontem no
site da Presidência da República.
“A criação de obstáculos adicio-
nais à concessão da nacionalidade
portuguesa nestes casos”, acrescen-
tou, referindo-se à situação dos
reféns na Faixa de Gaza, “pode mes-
mo ser considerada atentatória do
princípio da dignidade da pessoa
humana”, bem como “do direito à
vida”.
As alterações à lei da nacionalida-
de foram aprovadas a 5 de Janeiro,
em votação Ænal global, no Parla-
mento, com o apoio dos deputados
do PS (três socialistas abstiveram-se),
IL, BE, PAN e Livre. O Chega e o PCP
votaram contra e o PSD absteve-se.
Caberá agora aos
juízes do Tribunal
Constitucional
decidirem sobre
as alterações
aprovadas à lei
da nacionalidade
No artigo 6.º, que motivou mais
preocupações a Marcelo Rebelo de
Sousa, estabelece-se que “a certiÆca-
ção de pertença a uma comunidade
sefardita de origem portuguesa (...)
é sujeita a homologação Ænal por
uma comissão de avaliação nomeada
pelo membro do Governo responsá-
vel pela área da justiça”. Integrariam
a comissão: representantes dos ser-
viços competentes, investigadores
ou docentes em estudos sefarditas,
além de representantes de comuni-
dades judaicas com estatuto de pes-
soa colectiva religiosa.
Há cerca de duas semanas foi lan-
çada uma petição online “pelo direi-
to ao reconhecimento da cidadania
portuguesa a descendentes de judeus
sefarditas”, num apelo ao Presidente
da República para que exercesse o
seu direito de veto ou submetesse o
decreto a Æscalização preventiva da
sua inconstitucionalidade pelo TC,
como acabou por acontecer. Até
ontem, a petição somava mais de
5350 assinaturas.
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próprios, o Livre, estaremos à
disposição desses contributos.
Linhas vermelhas, sendo que se
querem poucas e claras, porque
quem acha que vai para uma
negociação em posição de força
enunciando imensas linhas
vermelhas, na verdade, só está a
dar ao outro lado nas negociações
a ferramenta mais fácil para fazer
abortar negociações. Às vezes há
quem faça grandes parangonas
com linhas vermelhas, mas na
verdade isso é uma posição de
fraqueza e não de força.
No entanto, há de facto posições
das quais não prescindimos. No
que diz respeito aos direitos
frente do partido?
Teríamos que tirar conclusões de
não ter conseguido.
Num cenário de vitória eleitoral
do PSD ou porventura até de
maioria de direita no
Parlamento, e dado que o Chega
já prometeu apresentar uma
moção de rejeição a um governo
do PSD se não fosse nele
incluído, o que faria o Livre?
O Livre não serve para viabilizar
governos da direita. Sempre o
dissemos. Se houver uma maioria
de esquerda, estamos do lado da
solução. Se houver uma maioria de
direita, estamos do lado da
oposição, porque é um lugar
também importante. E esse termo
“viabilizar” inclui muita coisa à
qual o Livre não está disposto.
Admitiria votar contra essa

humanos. Para nós, a política
externa portuguesa tem de estar
baseada num pilar de direitos
humanos muito forte, que
denuncie e condene…
Isso inviabilizaria a participação
do PCP nessa solução?
Não. O que estou a dizer é que
sejam acordos que sustentem uma
maioria progressista na Assembleia
da República, tem que Æcar muito
claro para nós que uma
condenação de uma violação de
direitos humanos pelo Estado
português não é por cada um dos
partidos. Eu não vou entrar na
cabeça de ninguém e mudar a
cabeça de ninguém. Somos tanto
contra o imperialismo de uns,
como contra o imperialismo
?
moção de rejeição, até por uma
questão de governabilidade?
Ou não estar a favor dela. Nós
olhamos sempre para todos os
momentos da história do país com
sentido de responsabilidade. Mas
também não vale a pena estarmos
aqui a colocar cenários muito
&   
recônditos.
Não é recôndito, porque várias
sondagens apontam para uma
KK
maioria de direita.
O que é recôndito é que fosse do
Livre o voto determinante nesse
cenário. Quem iria tomar essa
decisão e quem faz sentido que
tome essa decisão e quem teria essa
escolha a fazer teria que ser o PS.
O que é que o PS deveria fazer?
Deve perguntar ao PS.
16 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Política
A continuidade nas listas eleitorais do PS
e a abertura a independentes no PSD
A semana
política
São José Almeida
Com a aprovação, pelo PS, na
quarta-feira, das listas de
candidatos às legislativas
antecipadas de 10 de Março,
fecha-se um ciclo de preparação da
campanha eleitoral, nos dois
principais partidos, já que as listas
do PSD já estavam aprovadas.
Embora os programas eleitorais
destes dois partidos ainda não
tenham sido divulgados, há
comparações e reÇexões que já se
podem fazer, no que diz respeito às
opções feitas, por estes dois
partidos principais da democracia
portuguesa, para a escolha dos
candidatos a deputados à
Assembleia da República. Assim
como sobre a maturidade
democrática que ambos os partidos
revelam.
O novo secretário-geral do PS,
Pedro Nuno Santos, eleito a 15 e 16
de Dezembro, agarrou no partido
em cima da disputa eleitoral e na
sequência da demissão de António
Costa de primeiro-ministro e de
secretário-geral do PS, a 7 de
Novembro, por estar a ser
investigado no âmbito da Operação
InÇuencer. As listas que apresenta,
como é natural, denotam uma
opção de continuidade em relação à
direcção de António Costa e ao seu
elenco governativo, apostando,
porém, em dar relevo às novas
gerações do PS. Para mais, quando
o PS é um partido que tem a
tradição de se unir, após as disputas
de liderança. Não era assim de
esperar que o novo secretário-geral
“varresse” as listas e as constituísse
apenas com apoiantes seus.
O líder do PS revelou uma atitude
sensata e madura, ao assegurar a
unidade e diversidade internas do
PS, colocando em lugares de
destaque, nas listas, muitas das
Æguras de primeira linha do PS, que
apoiaram José Luís Carneiro, que
contra ele se candidatou à
liderança.
O resultado é fruto dessa
disponibilidade para o diálogo e do
respeito pela diversidade interna
demonstrado por Pedro Nuno
Santos, mas também da capacidade
própria para a negociação de José
Luís Carneiro, que conseguiu ter
sete nomes por si propostos como
cabeça de lista. Uma negociação em
que só aceitou voltar a encabeçar a
lista de Braga, quando garantiu que
os seus apoiantes tinham lugar nas
listas.
José Luís Carneiro conseguiu
assim assegurar o primeiro lugar
nas listas para apoiantes seus, como
Augusto Santos Silva (Fora da
Europa), Eurico Brilhante Dias
(Leiria), Fátima Pinto (Vila Real),
Jamila Madeira (Faro), Paulo Cafôfo
(Madeira) e Paulo Pisco (Europa).
Mas, neste domínio, a maior
surpresa é o surgimento de Mariana
Vieira da Silva como número um
em Lisboa.
O lugar proeminente dado à
actual ministra da Presidência é um
dos aspectos em que Pedro Nuno
Santos faz a ponte com António
Costa. Mas ainda que ela não tenha
apoiando ninguém antes das
directas para secretário-geral, o
facto é que foi eleita para a
comissão política na quota de José
Luís Carneiro e foi este que a
indicou para cabeça de lista no
círculo eleitoral da capital.
Saliente-se que o segundo nome
nesta lista é o do deputado Marcos
Perestrello, o terceiro é o de
Fernando Medina e o quarto o de
Marta Temido.
A aposta nos equilíbrios internos
e na continuidade de Pedro Nuno
Santos é também responsável pela
capacidade de incluir vários
membros do actual Governo em
gestão, ou de anteriores governos
de António Costa. O que é uma
opção que obedece à necessidade
de manter o património de
governação dos últimos oito anos
do PS de António Costa.
Além do próprio Pedro Nuno
Santos (Aveiro) e de José Luís
Carneiro (Braga), surgem a
encabeçar listas Alexandra Leitão
(Santarém), Ana Abrunhosa
(Coimbra) Ana Catarina Mendonça
Mendes (Setúbal), Ana Mendes
Godinho (Guarda), Isabel Ferreira
(Bragança), Marina Gonçalves
(Viana do Castelo), Nuno Fazenda
(Castelo Branco), Ricardo Pinheiro
(Portalegre).
Pedro Nuno Santos demonstrou
novidade ao promover o
signiÆcativo regresso ao hemiciclo
de São Bento, do antigo líder
parlamentar, ex-eurodeputado e
presidente do Conselho Económico
e Social, Francisco Assis, como
cabeça de lista no Porto. Um
apoiante de primeira hora de Pedro
Nuno Santos, mas também um dos
socialistas que mais se opuseram à
liderança de António Costa.
Com um tipo de equilíbrios
diverso, foram constituídas as listas
do PSD, que apresentam apenas
cinco mulheres em 22 cabeças de
lista, enquanto o PS tem dez. A
conclusão mais surpreendente das
opções de Luís Montenegro é a da
aposta em independentes, ou seja,
não militantes do partido, ainda
que personalidades próximas deste,
com proeminência na sociedade
civil, num total de dez nomes. É
uma opção de abertura à sociedade
civil por parte do líder de um
partido afastado do poder há oito
anos, que assim abre um caminho
de diálogo com os eleitores. É
mesmo a primeira vez que, em
listas do PSD ou de coligações
lideradas por este partido, surgem
tantos independentes em lugar
elegível, sendo que quatro são
cabeças de lista: Eduardo Oliveira e
Sousa, antigo presidente da CAP
(Santarém), Liliana Reis, professora
universitária e comentadora
(Castelo Branco), Miguel
Guimarães, ex-bastonário da
Ordem dos Médicos (Porto) e Rita
Alarcão Júdice, advogada
(Coimbra).
Contudo, Luís Montenegro
apostou noutros nomes de relevo
na sociedade civil, que colocou em
lugar elegível: Ana Gabriela
Cabilhas, dirigente estudantil
(Porto); Ana Santos, advogada
(Braga); Ana Paula Martins, antiga
bastonária da Ordem dos
Farmacêuticos e presidente do
Centro Hospitalar Lisboa Norte
(Lisboa); Alexandre Homem de
Cristo, investigador e especialista
em educação (Lisboa); João Valle e
Azevedo, economista, professor na
Universidade Nova e director do
Banco de Portugal (Lisboa); e Óscar
Afonso, economista e director da
Faculdade de Economia do Porto
(Porto).
É, aliás, esta atitude de abertura
do PSD à sociedade que permitiu o
espírito de unidade e de
As opções são
diversas, mas
o resultado Änal
demonstra
bom senso e
maturidade
DANIEL ROCHA
RUI GAUDÊNCIO
mobilização que se revelou na
convenção da Aliança Democrática,
que se realizou no domingo, no
Estoril. Uma cerimónia onde vários
destes candidatos usaram da
palavra. Mas se há da parte de Luís
Montenegro uma clara
demonstração de renovação
interna e de ligação do PSD à
sociedade civil, há também linhas
de continuidade interna e de
respeito pela história do partido.
A começar pela decisão de
constituir a Aliança Democrática,
coligação que irá permitir o
regresso do CDS ao hemiciclo de
São Bento, com a eleição garantida
do presidente do partido, Nuno
Melo, e do vice-presidente, Paulo
Núncio. No plano da ponte com a
história do PSD que Luís
Montenegro está a fazer, é de
salientar o regresso de Æguras de
primeira linha do passado do PSD.
Logo no congresso, em Novembro,
estiveram presentes, no
encerramento, personalidade como
o ex-Presidente da República e
antigo primeiro-ministro Aníbal
Cavaco Silva, a antiga ministra e
antiga presidente do PSD Manuela
Ferreira Leite, e a antiga ministra e
presidente da Fundação
Champalimaud, Leonor Beleza.
Na sessão de encerramento da
convenção da AD, subiu ao palco
Leonor Beleza, que não tinha tido
actividade partidária desde que foi
vice-presidente do PSD, na
liderança de Marcelo Rebelo de
Sousa. Mas Luís Montenegro soube
também dar espaço a Pedro
Santana Lopes, actual presidente
da Câmara da Figueira da Foz, eleito
por uma lista autárquica de
independentes, contra o PSD. Isto
depois de ter saído do PSD para
fundar a Aliança, em 2018. Outro
sinal importante de continuidade
histórica e de união, respeitadas
por Luís Montenegro, foi a
intervenção, na convenção, de
Paulo Portas, antigo líder do CDS,
antigo ministro dos governos de
Durão Barroso e de Pedro Santana
Lopes e ex-vice-primeiro-ministro
de Passos Coelho.
As opções que presidiram às
escolhas dos candidatos da AD e do
PS são diversas, mas o resultado
Ænal demonstra bom senso e
maturidade democrática por parte
destas duas principais forças
políticas, o que em época de
radicalização política é de saudar e
contribui para reconciliar os
eleitores com a democracia.
Jornalista. Escreve ao sábado

Câmara de Lisboa impede manifestação de
extrema-direita. Há “elevado risco”, diz PSP
Maria Lopes
Polícia admitiu
a possibilidade de mudança
de percurso, mas sem
propor alternativa — isso
era tarefa da autarquia
A Câmara Municipal de Lisboa deci-
diu não autorizar a realização da
manifestação de extrema-direita
“Contra a islamização da Europa”
prevista para a zona do Intendente,
em Lisboa, no dia 3 de Fevereiro. A
autarquia, a única entidade com
poder para decidir sobre o assunto,
justiÆca a decisão com o facto de o
parecer da PSP ser “claro” ao “salien-
tar um elevado risco de perturbação
grave e efectiva da ordem e da tran-
quilidade públicas”, respondeu ao
PÚBLICO fonte oÆcial do município.
Além de fazer essa classiÆcação de
“elevado risco”, o parecer da PSP
enviado ontem ao gabinete de Carlos
Moedas recomendava a alteração do
percurso para que não se desenvol-
vesse numa área predominantemen-
te habitada por cidadãos imigrantes,
evitando-se assim um possível con-
fronto directo entre manifestantes e
os alvos da sua contestação. Mas não
era apresentada qualquer alternativa,
já que isso compete à autarquia.
A marcha “Contra a islamização da
Manuel Pizarro não queria Francisco Assis a liderar
a lista do Porto e até esteve para ir em último lugar
Margarida Gomes
A escolha de Francisco Assis para
encabeçar a lista do PS de candidatos
a deputados pelo círculo eleitoral do
Porto nas legislativas de 10 de Março
foi mal recebida por Manuel Pizarro,
que gostaria de ser o número um da
lista pelo distrito. O seu nome tem
vindo a ser apontado para protagoni-
zar a candidatura socialista à Câmara
do Porto nas eleições autárquicas do
próximo ano e essa é uma ideia que
agrada ao actual governante socialis-
ta. E ser número um na lista para as
legislativas reforçava uma candidatu-
ra à autarquia.
O nome do actual ministro da Saú-
de não foi indicado pela comissão
política concelhia, que é liderada por
Tiago Barbosa Ribeiro, próximo do
novo secretário-geral do PS, e também
não constou da lista que a federação
Europa”, organizada por grupos liga-
dos à extrema-direita e marcada para
as 18h de 3 de Fevereiro, desenrolava-
se no Intendente e Martim Moniz,
com grande concentração de habitan-
tes e estabelecimentos comerciais de
imigrantes, e até locais de culto reli-
gioso. A página Racismo contra Euro-
peus no X (ex-Twitter) alegava que são
as “ruas com mais imigrantes do país,
sobretudo de origem islâmica”, e que
estas comunidades “têm de sentir
que não são bem-vindas”. Um tipo de
discurso que, por si só, demonstra o
elevado nível de risco do evento.
Segundo a organização, a marcha
teria início no chafariz do Intendente,
seguia pela Rua do Benformoso (uma
artéria muito estreita), Rua Fernandes
da Fonseca (área norte do Martim
Moniz), Rua da Palma (onde se situa
a sede do Bloco de Esquerda) e regres-
sava ao chafariz do Intendente.
A manifestação foi censurada por
diversos sectores, nomeadamente de
colectivos anti-racistas e de apoio aos
imigrantes, mas também da ministra
dos Assuntos Parlamentares, que tem
a pasta da igualdade e migrações . A
Câmara de Lisboa aprovou um voto
de condenação do evento, uma carta
aberta apelou à sua proibição, e o
movimento SOS Racismo fez uma
queixa-crime no Ministério Público.
Ao PÚBLICO, dois constitucionalis-
tas defendem que as regras constitu-
aprovou em sede de secretariado e
que fez chegar à comissão política
nacional do PS para aprovação Ænal.
Ao que o PÚBLICO apurou, Manuel
Pizarro terá sido abordado quer pelo
líder da concelhia, quer pelo presi-
dente da federação distrital, Eduardo
Vítor Rodrigues, para ser indicado na
lista, mas terá recusado porque o
regresso à Assembleia da República
não seria uma prioridade.
Fonte do PS disse ao PÚBLICO que
Pizarro terá mostrado disponibilida-
de para, não sendo número um na
lista do Porto, que o colocassem em
último lugar na lista. Questionado
pelo PÚBLICO sobre este cenário, o
ministro da Saúde não assume ter
sido ele a admitir essa posição: “Che-
gou a ser equacionado eu ser o últi-
mo nome da lista.” Sobre o processo
de constituição das listas, garantiu
não ter tido nenhuma intervenção.
Manifestação estava
programada para a zona do
Intendente e Martim Moniz
Constitucionalistas
defendem que
não é possível
proibir uma
manifestação
E reforçou: “Nenhuma mesmo.”
Depois da abordagem das estrutu-
ras locais do partido, o ministro da
Saúde recebe um telefonema do
secretário-geral do PS, que o convida
e convence a integrar a lista do Porto.
É nesse contexto que o seu nome é
colocado em terceiro lugar, atrás da
deputada Maria Rosário Gamboa, e à
frente do também deputado João Tor-
res, que vai ser o director de campa-
nha do PS para as eleições legislativas
de 10 de Março.
Tendo Francisco Assis sido o prin-
cipal trunfo, em termos de apoios, de
Manuel Pizarro,
ministro da
Saúde, é o
número três
na lista de
candidatos a
deputados do PS
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 17
RUI GAUDÊNCIO
cionais não permitem proibir uma
manifestação, mesmo que tenha por
base ideologia racista, xenófoba ou
fascista, ainda que a Constituição
proíba a existência de “organizações
racistas ou que perÆlhem a ideologia
racista”. Tanto Bacelar Gouveia como
Vitalino Canas recusam a aplicação,
“por analogia”, do princípio sobre
organizações às manifestações.
“O direito à manifestação não está
limitado pelo conteúdo, mensagem,
tema ou opiniões que ali se expres-
sem. Não há limitação constitucional
à razão por que é feita”, aponta Vita-
lino Canas. O limite é “a forma”: se
alguém cometer um crime, como usar
Pedro Nuno Santos na disputa interna
pela liderança socialista, e querendo
ele encabeçar a lista pelo distrito do
Porto, conforme o PÚBLICO noticiou,
era difícil que o novo secretário-geral
do partido não o escolhesse para lide-
rar a candidatura. Por outro lado,
Francisco Assis, que vai renunciar ao
cargo de presidente do Conselho Eco-
nómico e Social, já encabeçou a lista
do PS pelo círculo eleitoral do Porto
nas legislativas de 2011 — ano em que
se candidatou à liderança do partido
contra António José Seguro — e tem
uma forte relação com a cidade.
Os adversários de Pizarro não o
poupam pelas suas divergências em
relação ao processo de constituição
da lista e recordam a polémica de
2019 por causa do lugar que o então
secretário-geral do PS, António Costa,
lhe reservou na lista das eleições para
o Parlamento Europeu.
Política
cartazes incitando ao ódio, à violência
ou à discriminação contra uma raça
ou uma religião, essa pessoa pode ser
proibida de se manifestar e ser detida.
Mas isso só in loco, ou seja, no momen-
to da manifestação, e não se pode
proibir uma marcha por se pensar
que isso pode acontecer. “Até pode
ser uma manifestação silenciosa ou
com cartazes, mas que não incitem a
um crime”, insiste Vitalino Canas.
Jorge Bacelar Gouveia reforça que
a Constituição garante a liberdade de
reunião e de manifestação e “não
impõe limites ao conteúdo da mensa-
gem” porque isso seria uma violação
de outra liberdade, a de expressão. O
texto constitucional só impõe limites
à forma: tem que ser uma manifesta-
ção “pacíÆca e sem armas”. Porém,
“a avaliação sobre se é uma marcha
pacíÆca ou não só se pode fazer
depois de começar”.
É o decreto-lei de 1974 ainda em
vigor que regula o direito de reunião
que admite que se impeçam manifes-
tações com Æns contrários “à ordem
e à tranquilidade públicas” — que
também permite que se impeçam
eventos dessa natureza “em lugares
públicos situados a menos de 100
m[etros] das sedes dos órgãos de
soberania (...) das sedes de represen-
tações diplomáticas ou consulares e
das sedes de partidos políticos” —
como seria o caso do Bloco.
Na altura, Pizarro presidia à fede-
ração do Porto e o aparelho local con-
siderava o 9.º lugar “humilhante e
desprestigiante” para o líder da maior
distrital do partido. Para além disso,
os seus apoiantes entendiam que não
devia aceitar entrar na lista atrás da
então deputada Isabel Santos.
A posição assumida na altura pelo
aparelho local do PS levou agora um
seu adversário a dizer que, “nestas
eleições, Manuel Pizarro mimetizou
aquilo tinha feito em relação às euro-
peias de 2019”. A interpretação de
fontes do PS com quem o PÚBLICO
falou é a de que Pizarro fez pressão
até ao Æm para ser cabeça de lista pelo
Porto e que não conseguiu por já não
ter peso político junto das estruturas
locais do partido no distrito. E ainda
porque não é um pedronunista, pese
embora tenha apoiado Pedro Nuno
Santos na recente disputa interna.
18 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Sociedade Operação Marquês
Lapso do
Ministério
Público quase
livrava Sócrates
de crimes
de suborno
Apesar de terem validado a espinha
dorsal da acusação, as juízas da Relação
conÄrmaram arquivamento de 82 crimes
que Ivo Rosa recusara levar a julgamento
Mariana Oliveira e Ana Henriques
Um engano do Ministério Público na
acusação da Operação Marquês que
levou os procuradores a indicarem
o artigo 17.º e não o 16.ª da lei que
prevê os crimes da responsabilidade
de titulares de cargos políticos quase
livrou o ex-primeiro-ministro José
Sócrates dos três crimes de corrup-
ção que lhe foram imputados.
Isto porque ao colocar o artigo 17.º
n.º 1, o juiz Ivo Rosa entendeu que o
Ministério Público estava a acusar
Sócrates de três crimes de corrupção
passiva para acto lícito — a dizer que
o ex-primeiro-ministro tinha aceite
“luvas” para praticar actos que não
eram contrários aos deveres do car-
go —, um crime que à data dos factos
era punido com uma pena de prisão
até três anos ou com multa até 300
dias. Tendo uma moldura penal bai-
xa, o prazo de prescrição do crime
era igualmente reduzido, neste caso,
cinco anos, o que faria com que os
crimes estivessem prescritos.
Na realidade, o Ministério Público
queria indicar o artigo 16.º. n.º 1 da
mesma lei, que prevê o chamado
crime de corrupção para acto ilícito
— que implica a aceitação de subor-
nos para a prática de actos contrários
aos deveres dos políticos — punido
com pena de prisão de dois a oito
anos. O facto de a pena ser mais gra-
ve faz com que o prazo de prescrição
aumentasse, o que implicava que os
crimes não estariam prescritos.
No recurso da decisão instrutória,
os procuradores reconhecem o erro,
mas condenam os efeitos que o juiz
Ivo Rosa retirou dele. Sustentam que
“seria, no mínimo, absurdo que o
Ministério Público tivesse imputado
ao arguido Joaquim Barrosa [vice-
presidente do grupo Lena e um dos
alegados corruptores do ex-primei-
ro-ministro] um crime de corrupção
activa para acto ilícito e aos arguidos
José Sócrates e Carlos Santos Silva a
prática de um crime de corrupção
passiva para acto lícito”. Isto porque
as duas imputações são faces diferen-
tes da mesma moeda. Sublinhavam
ainda que os factos descritos na acu-
sação só eram compatíveis com cri-
mes de corrupção para acto ilícito.
Mas aÆnal o que aconteceu?, ques-
tionam as três juízas do Tribunal da
Relação de Lisboa que decidiram o
recurso. Para logo explicarem que,
face às sucessivas alterações ao diplo-
ma que prevê os crimes da respon-
sabilidade de titulares de cargos
políticos, o actual artigo 17.º dessa
lei, a 34/87, corresponde ao artigo
16.º da versão que estava em vigor à
data dos factos. As magistradas
dizem, porém, não compreender
como o Ministério Público fala de
uma agravação prevista no artigo
19.º “que só existe na versão actual
da lei !!!!”. “Podemos concluir que
houve dois lapsos”, escrevem as
desembargadoras Raquel Lima,
Micaela Rodrigues e Madalena Cal-
deira. Recorde-se que a acusação da
Operação Marquês é um documento
com mais de 3900 páginas assinado
por sete procuradores.
As juízas consideram “evidente”
que o Ministério Público queria acu-
sar Sócrates de um crime de corrup-
ção passiva para acto ilícito. E con-
cluem: “Tratou-se de um lapso que
decorria da simples leitura da acusa-
ção e cuja rectiÆcação, que se impu-
nha, não foi oÆciosamente efectuada
pelo senhor juiz, nem requerida pelo
Juíz Ivo Rosa arquivou mais de
100 crimes de José Sócrates na
decisão instrutória do caso em
2021
MIGUEL A. LOPES/LUSA
Ministério Público.” E corrigem a
acusação, rematando a questão.
Apesar de resgatarem 118 crimes
que tinham antes sido arquivados
por Ivo Rosa relativamente aos 28
arguidos acusados neste caso, as juí-
zas da Relação mantiveram uma
parte substancial da decisão do cole-
ga da primeira instância. Assim, con-
Ærmaram o arquivamento de 82 cri-
mes que Ivo Rosa se recusara a enviar
para julgamento e que envolviam 21
arguidos. Apesar de terem emagre-
cido os 188 crimes da acusação, as
desembargadoras apenas deixaram
de fora do julgamento cinco empre-
sas e a Ælha do ex-ministro socialista,
Bárbara Vara.
A espinha dorsal da acusação man-
teve-se e dezenas de despachos que
Ivo Rosa declarara inválidos volta-
ram a renascer das cinzas. Nas ques-
tões formais, as três juízas revogaram
uma boa parte das decisões de Ivo
Rosa, um juiz conhecido por ter uma
visão da lei e dos direitos muito
defensora dos arguidos.
O interrogatório que o antigo
motorista de Sócrates, João Perna,
prestou aos investigadores da Ope-
ração Marquês foi considerado pelas
juízas crucial, no que respeita ao
esquema de circulação do dinheiro
montado entre José Sócrates e o seu
amigo Santos Silva.
Era Perna — igualmente arguido na
Operação Marquês e que mandaram
julgar por um crime de branquea-
mento de capitais — quem transpor-

tava os envelopes em que Santos Silva
fazia chegar ao ex-primeiro-ministro
dinheiro para os seus gastos. Parte do
qual José Sócrates mandava o funcio-
nário distribuir depois por pessoas
das suas relações que sustentava ou
ajudava a sustentar. “Apercebeu-se
várias vezes de que o engenheiro esta-
va com diÆculdades [Ænanceiras].
Depois aparecia o envelope do senhor
Carlos Silva e de repente ele pedia-lhe
para fazer entregas a outras pessoas”,
refere o processo.
Reconhecendo que o patrão não
era uma pessoa de fácil acesso nem
de bom trato, chegando a ralhar-lhe,
contou como, em alturas de penúria
momentânea, teve de ser ele a adian-
tar dinheiro a Sócrates para as refei-
ções. A dada altura teve de se impor:
“Um almoço e um jantar eram 100,
120 ou 140 euros.” Quando chega-
vam os envelopes tornava-se um
mãos-largas. Houve um dia em que
o motorista levou três notas de 500
euros à mãe do antigo governante,
para que esta fosse arranjar o cabelo.
“Só que o cabeleireiro não tinha tro-
co”, recordou.
RODRIGO ANTUNES/LUSA
Críticas das juízas da Relação
Corrupção não costuma ter hora
marcada, dizem juízas a Ivo Rosa
Ana Henriques e Mariana Oliveira
As juízas do Tribunal da Relação de
Lisboa que ressuscitaram quinta-feira
grande parte da acusação do Ministé-
rio Público contra José Sócrates e
restantes arguidos da Operação Mar-
quês consideram caricato que o seu
colega Ivo Rosa tenha concluído,
durante a fase anterior do processo,
que o ex-primeiro-ministro não era
próximo do banqueiro Ricardo Salga-
do com base na análise da agenda do
governante.
“Tendo em consideração o crime
imputado aos arguidos, analisar as
agendas da altura em que José Sócra-
tes era primeiro-ministro para con-
cluir quando e quantas vezes houve
encontros entre os dois arguidos é
risível”, observam no seu acórdão
Raquel Lima, Micaela Freitas e Mada-
lena Caldeira. Para sublinharem logo
a seguir: “A corrupção não costuma
ter hora marcada. Parece-nos óbvio
que os actos de corrupção não costu-
mam estar marcados em agenda.”
Foi com base neste e noutros indí-
cios que o ex-governante foi ilibado
de três crimes corrupção por Ivo Rosa
em 2021, delitos pelos quais as magis-
tradas decidiram agora que tem aÆnal
de ser julgado, juntamente com sus-
peitas de outros 19 crimes, incluindo
branqueamento de capitais. As
desembargadoras recordam que,
apesar de Sócrates sempre ter negado
a sua proximidade com o Dono Disto
Tudo, como era conhecido na altura,
há escutas que o desmentem, nomea-
damente aquela em que o banqueiro
Raquel Lima, o trata por Zé e combinam um jantar
Micaela Freitas e na casa de Salgado.
“Até podemos convidar uns ami-
Madalena Caldeira gos comuns, alentejanos”, acrescen-
escrevem sobre a ta o banqueiro, referência que o
Ministério Público crê dizer respeito
análise de Ivo Rosa a Henrique Granadeiro, na altura
às agendas de um dos homens fortes da Portugal
Telecom (PT).
Salgado e Sócrates: Quer Granadeiro quer Zeinal Bava,
“A corrupção não também da PT, beneÆciaram deste
entendimento do juiz de instrução,
costuma ter hora que, por razões formais, os livrou da
marcada. acusação de terem servido os interes-
ses do banqueiro em prejuízo da
Parece-nos óbvio empresa participada pelo Estado para
que os actos de a qual trabalhavam. Porém, as grossas
maquias que receberam em contas
corrupção não sediadas na Suiça com origem no Gru-
costumam estar po Espírito Santo, accionista do gigan-
te português de telecomunicações,
marcados em levaram as três juízas a imputar-lhes
agenda” na quinta-feira práticas de corrupção,
branqueamento e fraude Æscal.
Granadeiro, que tinha escapado ao
julgamento, vai agora responder por
cinco crimes, um de corrupção, dois
de branqueamento e dois de fraude
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 19
Æscal. Mesmo assim as magistradas
enterraram outros cinco ilícitos (ini-
cialmente o Ministério Público impu-
tara oito crimes ao antigo homem
forte da PT, mas Ivo Rosa desdobrou
parte deles num total de dez crimes
que acabou por arquivar na globali-
dade). Também Zeinal Bava viu cair
dois crimes da acusação (um de falsi-
Æcação de documento e outro de
fraude Æscal), não evitando, contudo,
ser julgado por outros três: um de
corrupção, outro de branqueamento
e outro de fraude Æscal.
Já Ricardo Salgado será julgado por
três crimes de corrupção e oito de
branqueamento de capitais, tendo as
juízas mantido arquivados outros seis
ilícitos. Destas contas Æcam fora os
três crimes de abuso de conÆança
pelos quais o antigo banqueiro foi
condenado, em Março de 2022, a uma
pena de seis anos de prisão efectiva.
O ano passado o Tribunal da Relação
de Lisboa agravou a pena de cadeia
para oito anos e, neste momento, está
pendente um recurso para o Supre-
mo Tribunal de Justiça, que apenas
aceitou analisar a adequação da pena
aplicada.
Em causa está, entre outros episó-
dios, a Oferta Pública de Aquisição
(OPA) que o grupo Sonae (proprietá-
rio do PÚBLICO) lançou em Fevereiro
de 2006 à PT. As magistradas consi-
deram que Ricardo Salgado domina-
va de facto a gestão do grupo Portugal
Telecom “em benefício dos interesses
do BES” e que, por isso, viu a OPA
como uma ameaça ao “monopólio
que geria há tantos anos”. E escre-
vem: “Daí as diligências tomadas por
este [Salgado], como forma a garantir
que, na Assembleia Geral, a OPA fos-
se rejeitada, o que implicava, desde
logo, que o grupo Sonae não conse-
guisse a desblindagem dos estatutos
da PT que não permitiam a nenhum
accionista direito a voto superior a 10
% do capital social, mesmo que dis-
Zeinal Bava foi presidente da Portugal Telecom e da Oi
pusesse de mais. Esta forma de dividir
a PT por vários accionistas, não per-
mitindo a congregação, num único,
de uma percentagem que lhe confe-
risse maioria, foi durante todos estes
anos favorável aos interesses do argui-
do Ricardo Salgado.”
Consideram ainda indiciado que
Sócrates se comprometeu a usar a sua
inÇuência, designadamente junto da
Caixa Geral de Depósitos (CGD), lem-
brando que o banco público votou
contra a alteração dos estatutos da
PT. Apesar de reconhecerem que
mesmo sem o voto contra da CGD a
OPA teria sido igualmente chumbada,
notam que o plano era atacar em
várias frentes: “Todos os meios pos-
síveis de ‘contaminação’ da votação
tinham que estar operacionais, pres-
supondo que, na falha de um deles,
funcionaria outro.”
Considerando Æcar mais do que
evidente o favorecimento por parte
de Granadeiro e Bava ao Grupo Espí-
rito Santo e dando vários exemplos
disso, as magistradas escrevem no
acórdão: “A dada altura, na leitura do
processo, é necessário um esforço no
sentido de ter presente que Zeinal
Bava e Henrique Granadeiro são fun-
cionários da PT. Com a sua conduta
parecem depender do BES.” As juízas
consideram fortemente indiciado que
José Sócrates recebeu seis milhões do
banqueiro só para que a operação da
Sonae fracassasse, tendo no total
recebido 29 milhões de euros de Sal-
gado.
Reconhecendo que a acusação con-
tra os arguidos padece, nalguns
aspectos, de falta de rigor, o Tribunal
da Relação de Lisboa entende que a
vasta documentação reunida pelos
investigadores sustenta de forma con-
sistente a sua submissão a julgamen-
to. AÆnal, escrevem as juízas sobre a
vida de luxo que levava José Sócrates,
“ninguém gasta milhões que não lhe
pertencem”.
NUNO FERREIRA SANTOS
20 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Sociedade
Partidos prometeram soluções,
polícias vão manter protestos
Sónia Trigueirão
Representantes da PSP e da
GNR reuniram com nove
partidos, mas não viram
“vinculação política” face
às suas exigências
A plataforma que junta os sindicatos
da PSP e associações da GNR esteve
reunida ontem, num hotel em Lisboa,
com representantes dos oito partidos
com assento parlamentar, mais o
CDS. Os polícias saíram da reunião
com promessas de medidas de valo-
rização das forças de segurança nos
programas eleitorais, mas sem nada
vinculativo. Vão, por isso, manter os
protestos.
Durante a reunião e no Ænal dela,
em declarações aos jornalistas, prati-
camente todos os representantes,
com excepção do PS, concordaram
que há margem para o Governo em
gestão resolver a situação dos polí-
cias, pelo menos no que diz respeito
à questão do suplemento de missão.
Mas nenhum partido disse taxativa-
mente que apoiaria a iniciava.
Sem “vinculação política assumi-
da”, a plataforma de representantes
da PSP e da GNR vai manter as acções
de protesto agendadas, aÆrma o por-
ta-voz da plataforma e presidente do
Sindicato Nacional dos OÆciais de
Polícia (SNOP), Bruno Pereira, que
espera que os partidos concretizem
Ministério alega que alteração que ditou perda
de bolsas também aumenta “elegibilidade”
Ana Isabel Ribeiro
MCTES salvaguarda que
definição de agregado
familiar levou “a uma
maior probabilidade” de
bolsa para os estudantes
O Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior (MCTES) aÆrmou
ontem que a alteração ao regulamen-
to das bolsas de estudo, que amplia o
conceito de agregado familiar, nem
sempre dita a perda do apoio, como
aconteceu com casos noticiados nos
últimos dias. Noutros casos, leva a
“uma maior probabilidade de elegi-
bilidade” e a bolsas com valores mais
altos, garantiu, no seguimentos de
denúncias de associações académicas
as promessas “de uma vez por
todas”.
Na reunião estiveram Marta Cam-
pos (Livre), Pedro Pinto (Chega),
Nuno Magalhães (CDS), Teresa Morais
(PSD), Isabel Moreira (PS), António
Filipe (PCP), Pedro Filipe Soares (BE),
Pedro Almeida (IL) e Pedro Fidalgo
(PAN). Durante mais de duas horas,
ouviram os polícias explicar a situa-
ção actual das forças de segurança.
Falou-se da Lei de Programação das
Forças de Segurança, nomeadamen-
te sobre aquilo foi executado até ago-
ra. Foi explicado aos representantes
dos partidos que, a 22 de Novembro
de 2023, tinham sido executados cer-
ca de 230 milhões de euros de um
Dois dias depois da manifestação, polícias falaram com os partidos
sobre estudantes que estão a ser obri-
gados a devolver o valor que recebe-
ram da bolsa.
Em causa está a inclusão da palavra
“ou” nos critérios de selecção. No
artigo 4.º do regulamento para a atri-
buição de bolsas lê-se agora que o
agregado familiar do estudante, “ele-
mento determinante para a Æxação
do valor da bolsa base anual, é cons-
tituído pelo próprio e pelas seguintes
pessoas que com ele vivam em comu-
nhão de mesa, habitação e/ou rendi-
mento”. A palavra “ou” signiÆca que
os critérios deixam de ser cumulati-
vos e que basta um para os alunos
perderem bolsa.
Em comunicado enviado ao P3, o
Ministério destaca que a mudança ao
regulamento, feita a 23 de Julho de
2023, depois da recomendação do
programa de mais de 600 milhões
para cinco anos e que restam dois
anos para aplicar o restante.
Falou-se dos salários e dos suple-
mentos, mas também das restrições
às pré-reformas e da questão do grau
de complexidade das funções da PJ,
da PSP e da GNR, que tem servido
para diferenciar salários. Os polícias
explicaram que tradicionalmente está
atribuído à PJ um grau de complexi-
dade três e, à GNR e PSP, o grau dois.
Porém, tanto a PSP como a GNR
desempenham, no entendimento dos
sindicatos, funções de grau de com-
plexidade três neste momento, uma
vez que Æcaram com o controlo das
fronteiras, que pertencia ao extinto
NUNO FERREIRA SANTOS
Tribunal de Contas Europeu, foi pre-
viamente analisada. As conclusões
apontavam para uma medida com
impacto reduzido. Existiriam “situa-
ções em que seria mais favorável e
outras em que seria menos favorável
no cálculo do rendimento per capita
do agregado familiar dos estudantes”,
consideram.
A justiÆcação do MCTES surge
depois de as associações académicas
do Porto e Coimbra tornarem públi-
cos casos de alunos com diÆculdades
Associações
denunciaram
casos de
estudantes que
perderam bolsas
por viverem com
tios e avós
Serviço de Estrangeiros e Frontei-
ras.
No Ænal da reunião, Bruno Pereira,
do SNOP, aÆrmou ao PÚBLICO que,
mesmo sem “uma ‘vinculação políti-
ca assumida’, acredita que esta reu-
nião foi “extremamente importante
para que, de forma alargada e histó-
rica, os partidos saiam mais vincula-
dos e com compromisso com aquilo
que devem fazer para valorizar a con-
dição policial e igualá-la, no caso con-
creto, com o suplemento de missão
da PJ”. Por sua vez, Armando Ferrei-
ra, do Sindicato Nacional da Policia
(Sinapol), diz que aproveitou para
reforçar junto dos representantes dos
partidos políticos que os polícias não
vão esperar mais um ano para ver a
sua situação resolvida. O responsável
acredita que está em causa a seguran-
ça pública: “Éramos o terceiro país
mais seguro do mundo, agora somos
o sétimo e arriscamo-nos a perder
mais lugares...”
Esta reunião com os representan-
tes de partidos aconteceu depois de
três semanas de protesto dos polícias
e de uma megamanifestação em Lis-
boa. Um dia antes de se realizar, em
Lisboa, a manifestação que juntou
cerca de 15 mil policias, PSP, militares
da GNR e guardas prisionais, o Gover-
no divulgou, através do Diário de Notí-
cias e do Correio da Manhã, que apli-
car aos elementos das forças de segu-
rança o suplemento atribuído à PJ
custaria 154 milhões de euros.
económicas que Æcaram sem bolsa
por viverem com os avós e tios. Os
rendimentos do agregado familiar
podem aumentar consoante o núme-
ro de pessoas a viver na mesma casa.
Questionado sobre dados que com-
provem a aÆrmação, o ministério
disse ter pedido a recolha de casos e
uma comparação com o tratamento
dado a estas situações no ano lectivo
anterior à Direcção-Geral do Ensino
Superior, “com a maior brevidade
possível”, comprometendo-se a
enviá-los mais tarde. “Como a atribui-
ção de bolsas decorre de avaliação
feita descentralizadamente (ao nível
das instituições de ensino superior),
embora seguindo critérios comuns e
uniformes, esta recolha terá de ser
solicitada aos serviços de acção social
de cada instituição”, explicam.
Jovens pedem
maioria das
baixas de
curta duração
Sofia Neves
Portugueses dos 19
aos 44 anos pediram
quase três quartos das
autodeclarações de doença
desde a sua introdução
As faixas etárias mais jovens foram as
que mais recorreram às autodeclara-
ções de doença para baixas de curta
duração, um pedido que passou a
poder ser feito pelo próprio trabalha-
dor no portal do SNS24 desde Maio
do ano passado. Com a autodeclara-
ção de doença, a ausência é justiÆca-
da, mas não paga.
Segundo os dados divulgados pelo
Expresso ontem — que o PÚBLICO
também solicitou junto dos Serviços
Partilhados do Ministério da Saúde
(SPMS) —, a faixa etária com mais
pedidos de autodeclarações de doen-
ça (ADD) foi a dos 19 aos 44 anos,
com um total de 233.917 baixas, o que
signiÆca que este grupo populacional
pediu 73,5% do total de declarações
emitidas.
O total destas declarações até quin-
ta-feira foi de quase 318 mil (317.972)
e as mulheres foram as que mais Æze-
ram estes pedidos: foram emitidas
183 mil autodeclarações a mulheres e
134 mil a homens. Mais de metade —
179 mil — foram pedidas em Outubro,
Novembro, Dezembro e Janeiro, um
período que coincidiu não só com as
habituais descidas de temperatura,
mas com o começo da temporada de
doenças de Inverno, em particular a
gripe A, que este ano voltou a ser a
forma predominante da doença dos
meses mais frios.
Os dados fornecidos pelos SPMS
mostram que Dezembro foi o mês em
que mais portugueses pediram auto-
declarações de doença para baixas de
curta duração (54 mil), seguindo-se
Janeiro (que ainda não terminou e
conta já com 53 mil) e Novembro (37
mil).
Entre Maio e Setembro, o número
de pedidos oscilou entre os 25 mil
( Junho) e os 30 mil (Setembro).
Como escreveu o Expresso, foi às
segundas, sextas e em dias colados a
feriados que chegaram ao SNS24 mais
pedidos. O dia com mais autodecla-
rações requisitadas foi registado a 3
de Janeiro, após a passagem de ano
(5907) e o segundo a 27 de Dezembro,
logo após o Natal (4409).
A possibilidade de pedir autodecla-
rações de doença para baixas de cur-
ta duração (até três dias consecuti-
vos) entrou em vigor a 1 de Maio de
2023.

Aluno de 11 anos sodomizado
por oito colegas em escola de Vimioso
Episódio terá ocorrido
no estabelecimento de
ensino, “com recurso a uma
vassoura” e na presença
de uma funcionária
Um aluno de 11 anos foi sodomizado
por oito colegas, com idades entre
os 13 e os 16 anos, no interior da
escola de Vimioso, distrito de Bra-
gança, e os factos comunicados à
Polícia Judiciária e ao Ministério
Público.
Numa exposição enviada à agên-
cia Lusa, a Junta de Freguesia de
Vimioso, presidida por José Manuel
Alves Ventura, denuncia “um clima
de terror e de encobrimento” que,
alegadamente, se vive no Agrupa-
mento de Escolas de Vimioso, rela-
tando vários casos de violência entre
alunos, entre alunos e funcionários,
e dando conta de que a 19 de Janeiro,
ocorreu o episódio “hediondo da
sodomização”.
Várias fontes ouvidas pela Lusa
conÆrmam que o episódio de sodo-
mização terá ocorrido cerca das
12h30 no interior do estabelecimen-
to de ensino, “com recurso a uma
vassoura” e na presença de, pelo
menos, uma funcionária, que “nada
fez” para travar os supostos agresso-
res, informação que consta igual-
mente da exposição da Junta de Fre-
guesia de Vimioso, a qual também
foi enviada à Direcção Regional de
Educação do Norte. Segundo estas
fontes, policiais e locais, dois dos
agressores têm 16 anos — já respon-
dem criminalmente — e os restantes
entre 13 e 15 anos, acrescentando
que, passada uma semana, tanto os
alegados agressores como a vítima
continuam a frequentar o mesmo
estabelecimento de ensino.
Em resposta enviada ontem à
Lusa, o Ministério da Educação (ME)
diz que foram sinalizadas pelo Agru-
pamento de Escolas de Vimioso
“duas situações”, sem especiÆcar
quais, “que espoletaram de imedia-
to, ao tomar conhecimento do suce-
dido, a instauração de dez processos
disciplinares a alunos que terão esta-
do envolvidos no caso de aluno que
terá sofrido a alegada agressão”. “O
caso encontra-se sob a esfera do
Ministério Público e mereceu inter-
venção da Polícia Judiciária”, refere
o ME. O PÚBLICO contactou também
o ministério tutelado por João Costa,
que remeteu para a resposta dada à
agência Lusa.
A alegada agressão sexual aconte-
ceu na sexta-feira da semana passa-
da, mas só três dias depois, na
segunda-feira é que a GNR foi infor-
mada da ocorrência, e só nesse dia
é que o aluno foi levado ao Centro
de Saúde de Vimioso e depois ao
Hospital de Bragança, “com arra-
nhões e queixas”.
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 21
Em Dezembro
já tinha sido
noticiado um
caso semelhante
no interior
de uma escola,
em Famalicão
Na terça-feira estiveram no local
inspectores da Polícia Judiciária e,
na quarta-feira, a vítima foi encami-
nhada para o Instituto de Medicina
Legal, no Porto, para realização de
perícias. Também em resposta
enviada à Lusa, o presidente da
Comissão de Protecção de Crianças
e Jovens de Vimioso conÆrma o epi-
sódio de sodomização, sublinhando
que também só foi informado da
situação pelas 16h35 de segunda-
feira.
A Lusa questionou o Agrupamen-
to de Escolas de Vimioso, mas até ao
momento não obteve respostas, e
tentou contactar, várias vezes, a
Sociedade
directora Ana Paula Falcão, que até
ao momento também não atendeu
as chamadas. A escola também não
respondeu às tentativas de contacto
feitas ontem pelo PÚBLICO.
Em Dezembro, o Jornal de Notícias
(JN) noticiava uma alegada tentativa
de violação de um rapaz de 15 anos,
por outros quatro jovens, no interior
de uma escola proÆssional de Vila
Nova de Famalicão. O rapaz aÆrmava
que estes o apanharam junto a uma
oÆcina de mecânica do estabeleci-
mento de ensino. Depois de ser agar-
rado, um dos agressores tentou
sodomizá-lo com o cabo de uma vas-
soura, onde tinha sido posto um
preservativo. À data de publicação
da notícia, o inquérito, aberto por
denúncia do progenitor da vítima,
que foi feita à escola, ainda não esta-
va concluído. A vítima referia a ten-
tativa de violação por parte de qua-
tro colegas, dois com 19 e 16 anos e
outros dois com 15. PÚBLICO/Lusa
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22 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Sociedade

Ensinar Matemática
Reportagem

Cristiana Faria Moreira Texto

Adriano Miranda Fotografia
A “história” do dia é sobre o

como “uma língua perímetro. “Alguém se lembra desta

palavra?”. Audrey Fontana, a
professora desta turma de 4.º ano,
lança a pergunta e recebe muitos
acenos de cabeça e respostas
acertadas. Nesta aula de Matemática

que se lê, que se escreve

no Colégio Mundos de Vida, em Vila
Nova de Famalicão, é altura de
voltar à Geometria. Os alunos
sentam-se em frente ao quadro
interactivo, que mostra um
triângulo e uma recta que marca

e que se debate”
dez centímetros. É “Fred” quem lê o
desaÆo da aula: “Será o perímetro
do triângulo maior do que 20
centímetros?”
“Vou dar-vos dez minutos para,
em pares, tentarem responder à
pergunta, arranjando uma forma de
provar o que acham que está certo”,
desaÆa-os a professora. Eles voltam
Singapura lidera os rankings da Matemática, seguindo há décadas um método que em “pezinhos de lá” para as
secretárias, dispostas de forma a
se foca na constante resolução de problemas. Como é, por cá, aprender como lá? que todos estejam na primeira Æla.

Pegam num quadro branco, onde
escrevem com a caneta e apagam
quando se quer. Uns desenham,
outros fazem cálculos. Apagam e
voltam a escrever. Pegam nas
réguas, medem de todos os lados.
Conversam com os colegas do lado.
São, aliás, incentivados a fazê-lo.
Os dez minutos terminam. “Toda
a gente chegou a uma conclusão?”,
pergunta Audrey. E voltam ao
tapete em frente ao quadro. “Quem
é que quer partilhar a sua
estratégia?”
O perímetro do triângulo tem
mesmo mais de 20 centímetros. A
conclusão é quase geral, e um aluno
explica como o seu grupo lá chegou:
“Primeiro medimos os lados com a
régua. Depois somamos e
adicionamos primeiro a parte das
dezenas e depois a parte decimal.”
Seguem-se depois os outros grupos.
Discutem-se exaustivamente as
estratégias por todos utilizadas —
mesmo aquelas que conduziram a
um resultado errado.
Contada assim, talvez esta aula
não pareça muito diferente de
outras aulas de Matemática nas
escolas nacionais. Mas está é a
primeira parte de uma aula que
segue o chamado método de
Singapura, que este colégio adoptou
praticamente desde que alargou o
seu ensino ao 1.º ciclo, há sete anos.
A lição decorre com aparente
naturalidade, mas por trás há um
“guião” muito bem estudado. Nada
é ao acaso.
Diz quem conhece bem esta
forma de ensinar Matemática que
esta é uma das razões para a sua
eÆcácia. É aplicado nas escolas de
Singapura desde o início da década
de 1990 e catapultou os alunos
daquela cidade-Estado com 5,5
milhões de habitantes para o topo
dos rankings de avaliações
internacionais como o Programme
for International Student
Assessment (PISA) ou o Trends in
International Mathematics and
Science Study (TIMSS). Os seus bons
resultados despertam curiosidade
internacional, sobretudo em países
onde a disciplina é vista como um
bicho-de-sete-cabeças. AÆnal, como
é que chegaram lá?
Uma outra língua
Nas últimas cinco edições do PISA,
o grande estudo da Organização
para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico
(OCDE) que avalia os
conhecimentos de alunos com 15
anos, Singapura chegou sempre ao
primeiro lugar na Matemática, com
excepção de 2018, em que Æcou em
segundo.
Na última edição, cujos
resultados foram conhecidos em
Dezembro, foi notória, mais uma
vez, a sua primazia. Não só na
Matemática, mas nos restantes
domínios avaliados. Matemática
(573 pontos), Leitura (543 pontos) e
Ciências (561 pontos) foram os
resultados.
Os números da OCDE apontam
para que, em média, os estudantes
de Singapura estejam o equivalente
“a quase três a cinco anos de
escolaridade à frente dos seus
pares, que obtiveram as médias da
OCDE de 472 em Matemática, 476
em Leitura e 485 em Ciências”. É o
caso de Portugal, que se ficou pelos
472 pontos a Matemática, uma
queda de 20 pontos face a 2018.
No relatório do PISA tecem-se
alguns comentários: “Os melhores
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 23
Audrey Fontana
É a professora desta turma
de 4.º ano que guia a aula
de Matemática, seguindo
o método de Singapura.
É ali aplicado na escola
há sete anos
Alunos
Uma das características
do método é estimular
o debate de estratégias
entre os alunos
Sociedade
professores são deslocados para
trabalhar com os estudantes com
maiores diÆculdades.” Porém, é
também nestes territórios do topo
do PISA (Singapura, Macau, Taipé)
que os estudantes testemunham um
“maior medo de falhar, limitando
por isso as actividades
extracurriculares”.
Yeap Ban Har, um professor do 1.º
ciclo de Singapura, que hoje dá
formações a professores em todo o
mundo sobre esta forma de ensinar,
nota que este não é um método
“assim tão único”. “Estou certo de
que muitos outros métodos são
bastante semelhantes, mas a
principal característica do currículo
de Singapura é o facto de se centrar
na resolução de problemas, não
apenas nas competências básicas e
nos cálculos.” É, como diz, um
olhar sobre a Matemática como se
fosse “uma outra língua que se lê,
que se escreve e que se debate”.
Na verdade, uma década antes de
Singapura começar a implementar
esta forma de ensinar nas suas
escolas, já os EUA e o Reino Unido
queriam focar o ensino da
Matemática na resolução de 
24 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Sociedade
problemas, conta Yeap. Singapura
seguiu-lhes as pisadas, construindo
um método que se baseia em várias
teorias de aprendizagem. “É uma
forma de ensinar e de aprender
Matemática que não se baseia em
opiniões”, nota o professor.
Da teoria à sala de aula, a lição
começa sempre com uma história,
um desaÆo, um problema. Ou,
como Yeap lhe chama, é uma
“tarefa-âncora”, à volta da qual toda
a aula se desenhará.
“Na fase inicial não vamos ensinar
nada. Apresentamos o problema e
damos-lhes materiais manipuláveis,
sejam botões ou feijões,
principalmente no 1.º ano”, explica
Ana Ferraz, que com Audrey
Fontana iniciou o projecto do
colégio de ensinar Matemática
seguindo o método de Singapura.
As crianças, sobretudo as mais
pequenas, precisam do concreto.
Precisam de ver e de mexer. O
caminho do concreto ao abstracto é
um pilar do método de Singapura,
que começa, por exemplo, por
contar feijões, passa para os
desenhos e para a esquematização,
antes de chegarem a algum
resultado e à abstracção. “Posso ter
meninos que Æzeram ‘3+4’
mentalmente e nem sequer usaram
os materiais manipuláveis, mas
outros precisam deles”, diz a
professora.
A par disso, esta é uma aula em
que os alunos são encorajados a
falar, a partilhar como chegaram a
determinado resultado. “O facto de
eles todos os dias, de uma forma
natural, explicarem como é que
pensam ajuda-os a compreender”,
observa Ana Ferraz.
Nos livros adaptados ao método
de Singapura que usam na aula toda
a matéria é “muito
compartimentada” em que cada
aula se avança mais um bocadinho.
É, como dizem as professoras, uma
aprendizagem em espiral para que
os alunos — mesmo os que têm mais
diÆculdades — percebam os
conteúdos — que são muito
aprofundados — antes de passar ao
tema seguinte. “A nossa Matemática
[na generalidade das escolas] está
feita para os bons alunos. E deixa
constantemente para trás os alunos
com diÆculdades. E é por isso que
deixam de gostar da Matemática”,
observa a professora Ana Ferraz.
Voltemos à aula do 4.º ano.
Mariana Pinto começou o 1.º ciclo
noutra escola e entrou no colégio no
2.º ano. Por isso, também traça
algumas diferenças na forma como
aqui aprende. “Ensinam mais
devagar, com mais calma. Lá [na
outra escola] ensinavam tudo mais
rápido. Tínhamos de decorar”, diz a
aluna de nove anos. “Aqui sinto que
consigo aprender melhor.”
O colega de carteira, João
Mesquita, concorda. “Os
professores ensinavam a contar de
um a dez e diziam em que ordem é
que os números Æcavam e nós
tínhamos de decorar à segunda ou à
terceira. Aqui não. Eles explicam
qual é a ordem e por que é que é
essa a ordem”, exempliÆca.
A competição
Para Yeap Ban Har, uma parte
importante do sucesso deste
método é a sua estabilidade. Ao
longo dos anos, e à semelhança do
que por cá acontece, os alunos
fazem testes. Mas não com tanta
frequência. As indicações do
Ministério da Educação têm sido de
que seja feito um, no máximo, três
por ano, enquadra.
No Ænal dos seis anos dessa
educação primária, que é
essencialmente feita no ensino
público, todos os alunos fazem um
exame nacional, recheado de
problemas complexos, não só a
Matemática, mas também a duas
línguas e a Ciências. “Se os alunos
praticarem, praticarem,
praticarem, mas não
compreenderem, vão passar no
exame. Mas não vão ter uma nota
muito alta”, observa o professor.
É essa exposição constante a
exercícios exigentes que, acredita,
faz com que os alunos se saiam
bem nas avaliações internacionais.
“Mesmo os que na escola em
Singapura não têm um
desempenho tão elevado saem-se
bastante bem num contexto mais
alargado.”
A par do sistema de ensino, o
contexto cultural e social de
Singapura é muitas vezes apontado
como sendo potenciador desse
sucesso académico. Na Educação,
o sistema é competitivo até pelo
facto de esses exames nacionais
serem determinantes para para
selecção da escola secundária que
os alunos pretendem frequentar.
Um artigo do Financial Times de
2016 referia que, há uns anos, um
inquérito do Ministério da
Educação de Singapura revelara
que mais de metade dos alunos do
ensino primário tinha aulas
particulares às disciplinas às quais
já tinham bons resultados.
Impera a meritocracia.
“Juntamente com a promessa de
prosperidade e de segurança, a
ideia de que os mais brilhantes
podem chegar ao topo é uma
componente do acordo político
que a cidade-Estado estabeleceu
com os seus cidadãos, segundo o
qual algumas liberdades [como a
liberdade de expressão e de
reunião, os direitos de pessoas
LGBTI+, segundo a Human Rights
Watch] são restringidas em troca
de benefícios materiais. Mas a
oportunidade de ascender de
origens humildes à elite da
sociedade de Singapura está a
tornar-se cada vez mais rara”,
notava o jornal, citando
especialistas.

O pré-escolar
Pela Europa, há exemplos de países
que estão a tentar implementar este
método de ensino nas escolas
públicas, como a Inglaterra e, mais
recentemente, Espanha.
Em Portugal, além do colégio do
Norte do país visitado pelo
PÚBLICO, há mais escolas a adoptar
e a querer saber mais sobre este
método no ensino da Matemática.
Nos Açores, por iniciativa do
governo regional, entre 2015 e 2021,
foi promovido um projecto de
formação que abordou, entre
outros temas, o ensino da
Matemática com o método de
Singapura.
Carlos Santos trabalhou no
Instituto Superior de Educação e
Ciências, quando teve de organizar
unidades curriculares para futuros
professores do 1.º ciclo e do
pré-escolar. Nessa altura, foi
perceber o que se fazia naquela
região do Sudeste asiático que
justiÆcasse os bons resultados. Hoje
dá formação de professores e é um
dos autores dos manuais adaptados
ao método de Singapura que o
colégio utiliza nas aulas. O
investigador traça quatro
dimensões importantes do método:
o currículo para os vários níveis de
ensino, os livros e a sua
permanência no tempo, a didáctica
e a maneira como se chega às
crianças de várias faixas etárias, que
foi “doentiamente pensada”, e, por
Æm, os professores. “A formação de
professores é pensada de maneira a
que eles estejam perfeitamente
inteirados da estratégia escolhida”,
nota. Carlos Santos aponta
problemas, a começar pela
velocidade com que se alteram os
currículos. Nos últimos anos, alerta,
o programa curricular tem mudado
à boleia da “cor política
governativa”. “E qualquer currículo
que entre precisa de alguns anos
para que se entranhe e de ser
testado na prática de forma
multidimensional.”
Para a vice-presidente da
Sociedade Portuguesa de
Matemática, Isabel Hormigo, “os
bons resultados vêm dos bons
programas, dos bons manuais
escolares, da formação sólida dos
professores e de uma sociedade que
valorize muito a Educação”,
independentemente de se chamar
método de Singapura ou outro
qualquer. “O entendimento do que
é um bom programa, por cá, tem
mudado. Muitas vezes diz-se que o
importante é ter uma aprendizagem
por competências, outras vezes
diz-se que é uma aprendizagem por
conhecimentos. Só este pano de
fundo muda muito”, nota. Para
Isabel Hormigo, é isso que tem
falhado: “Anda-se para a frente, os
alunos melhoram, depois andamos
para trás. Andamos oito anos para
trás”, critica a professora,
referindo-se ao período de gestão
socialista.
Do lado da Associação de
Professores de Matemática, o
entendimento é diferente. “O nosso
sistema de ensino já tem certas
características que nos
permitiriam atingir resultados
tão bons como Singapura. Têm
é que sair do papel e passar para
a aula. Se as aprendizagens
essenciais forem aplicadas
teremos tudo o que o
método de Singapura
tem”, refere o presidente,
Joaquim Pinto. E lembra
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 25
Currículo
Os professores portugueses
apontam as constantes
mudanças nos currículos como
algo que dificulta o ensino e a
aprendizagem da Matemática
Singapura
No final dos primeiros seis
anos de escolaridade, os
alunos fazem um exame
nacional que é determinante
para o seu futuro
Yeap Ban Har
Este professor do 1.º ciclo
faz formações com professores
por todo o mundo sobre
o método de Singapura
Sociedade
o Plano de Acção para a
Matemática, criado em 2006
(Governo PS). “Depois houve um
Governo [PSD-CDS] que entrou e
que alterou isso tudo. Houve
necessidade de voltar quase à
estaca zero. Agora é esperar que isto
comece a dar resultados”, nota.
Yeap Ban Har diz não conhecer
em detalhe a realidade portuguesa.
Mas considera que não é, de todo,
um mau sistema e não é muito
diferente de outros na Europa em
que a Matemática não tem uma boa
reputação entre os alunos. “A
Matemática continua a ser ensinada
de uma forma em que o professor
explica e depois os alunos praticam.
Não se dá tanta ênfase ao
signiÆcado, mas sim aos
procedimentos”, analisa.
Para Carlos Santos, o sucesso do
ensino de Matemática a isso mesmo
se deve. “Os professores estão
alinhados. Têm uma ideia precisa
sobre o que estão a fazer. A
formação dos professores é bem
tratada, o currículo é pensado, os
livros são bem tratados, assim como
a didáctica. Têm realmente um
método. E o método dá resultado.”
26 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Local Municípios chegam a acordo sobre comparticipação

Ao Ɗm de um mês de negociações, área

metropolitana aprova obras no Coliseu
Comparticipação dos municípios atinge 2,5 milhões de euros. Porto paga 350 mil euros e câmaras
que não queriam participar no Änanciamento das obras entram com valor simbólico de 5 mil euros
NELSON GARRIDO

Camilo Soldado
A comparticipação Ænanceira das
câmaras da Área Metropolitana do
Porto (AMP) nas obras do Coliseu foi
aprovada ontem, mas não sem que
antes houvesse um desvio de última
hora. A proposta, que precisava da
unanimidade dos presentes para
passar, já tinha sido chumbada em
Dezembro, na reunião anterior do
conselho metropolitano, pelos muni-
cípios de Arouca, Espinho, Valongo,
Oliveira de Azeméis, São João da
Madeira, Santa Maria da Feira e Vale
de Cambra.
Pouco mais de um mês depois, em
novo encontro de autarcas que
decorreu ontem, esperava-se que as
negociações que decorreram entre-
tanto tivessem deixado caminho
livre para a aprovação do Ænancia-
mento de 2,5 milhões de euros. No
entanto, o presidente do município
de Vale de Cambra, José Alberto
Pinheiro e Silva (CDS), pediu a pala-
vra para dizer que não conhecia os
detalhes do documento.
“[Queria] Só dar aqui uma breve
nota. O senhor presidente disse que
isto foi discutido com os municípios.
Comigo ninguém falou”, disse, falan-
do para o dirigente do conselho
metropolitano, Eduardo Vítor Rodri-
gues (PS). Chegado à hora de votar,
anunciou a abstenção e, sem a una-
nimidade que rege as decisões do
conselho metropolitano, a proposta Coliseu do Porto nunca teve obras de fundo. Os 2,5 milhões de euros servem para trabalhos mais urgentes
Æcaria sem efeito.
Ao burburinho na mesa seguiu-se so, Gondomar, Vila do Conde e Associação de Amigos do Coliseu do (TIP), a entidade participada pela ção em equipamentos instalados
a admissão do vice-presidente do Póvoa de Varzim) a assumirem uma Porto (AACP). Metro do Porto e pela STCP, na nova dentro do seu perímetro. A alteração
conselho metropolitano, Jorge Vul- comparticipação de 175 mil euros empresa de transportes que está a ser mais estrutural acabou por ser suge-
tos Sequeira (PS), que é também cada um. As regras do jogo criada pela AMP. rida pelo autarca da Póvoa de Varzim
autarca de São João da Madeira, de Os municípios da segunda coroa Ao longo deste processo, a posição de O PÚBLICO contactou a Câmara (PSD), Aires Pereira, que defendeu a
que deveria ter sido ele a contactar da AMP (que inclui Arouca, Paredes, Valongo mereceu uma nota do vice- Municipal do Porto, para tentar per- alteração da lei de funcionamento das
o colega para falar sobre as obras no São João da Madeira, Vale de Cam- presidente da Câmara do Porto, Filipe ceber se a aprovação do Ænanciamen- áreas metropolitanas de forma a pôr
Coliseu do Porto e acertar posições. bra, Oliveira de Azeméis, Espinho e Araújo (independente), que saiu da to da intervenção no Coliseu signiÆ# Æm à necessidade de unanimidade
A reunião foi então interrompida por Santa Maria da Feira) e Valongo (que reunião sem prestar declarações aos cava uma inversão nessa política, mas para tomar decisões. “Por uma ques-
breves minutos. Vale de Cambra até faria parte do primeiro grupo, jornalistas. O número dois de Rui não obteve resposta. tão de humores, bloqueamos projec-
Æcou então a conhecer a proposta mas que não se mostrou disponível Moreira fez notar que Valongo está “Uma coisa são as questões que tos de interesse metropolitano”, ati-
que até havia sido disponibilizada para assumir esse encargo) contri- sempre na primeira linha para rece- cada presidente põe, outra coisa é o rou, avisando que esta situação pode
“na nuvem” dois dias antes da reu- buem com um valor quase simbóli- ber verbas, mas nunca está disponível espírito de corpo que temos de ter”, levar ao arrastamento de execução
nião, fez notar Eduardo Vítor Rodri- co, de 5 mil euros. para as libertar. dizia Eduardo Vítor Rodrigues, aos de fundos comunitários.
gues, e a comparticipação Ænanceira Esta solução permite desbloquear Em Dezembro, em resposta ao jornalistas, à saída da reunião. Sub- E se o presidente de Oliveira de
da AMP nas obras do equipamento o processo de candidatura a fundos chumbo da comparticipação nas linhou que a criação da empresa Azeméis, Joaquim Jorge Ferreira
cultural da cidade do Porto foi, Ænal- comunitários do Portugal 2030 para obras do Coliseu por parte de alguns metropolitana de transportes já (PS), disse que ia estudar uma forma
mente, aprovada. intervir num edifício que nunca teve municípios da AMP, Rui Moreira seguiu para avaliação do Tribunal de de retirar o município da AACP,
obras de fundo. Os 2,5 milhões de ameaçou não estar mais disponível Contas e que foi possível “consen- Eduardo Vítor Rodrigues defendeu
Dos 5 mil aos 350 mil euros serviriam para trabalhos mais para apoiar obras ou para distribui- sualizar” posições entre os vários que a AMP deveria debater, no futu-
Assim, o Porto paga 350 mil euros urgentes num equipamento que ção de verbas de natureza metropo- autarcas, “tanto nos transportes ro, o seu efectivo envolvimento em
— o dobro do que estava inicialmen- esteve em risco de cair nas mãos de litana, a não ser que fossem do inte- como no Coliseu”. equipamentos de âmbito metropo-
te previsto com os municípios da privados, em 1995. Na altura, a AMP resse do Porto. Também nessa altura, A requaliÆcação do Coliseu acabou litano onde não tem uma participa-
primeira coroa metropolitana (Gaia, fez parte da solução, sendo, por isso, o autarca disse opor-se à integração por levantar várias questões sobre o ção directa. Mas essa é uma discus-
Matosinhos, Maia, Trofa, Santo Tir- uma das entidades que integram a da Transportes Intermodais do Porto funcionamento da AMP e a participa- são que Æca para depois.

Com humor explosivo, sem esquecer a
ternura: contar o Porto pelos seus objectos
Mariana Correia Pinto
Teatro do Ferro reflecte
sobre a sua cidade-berço,
com memórias, presente e
projecções. Peça em cena
hoje e amanhã
Não é simples deÆnir o espectáculo
do Teatro do Ferro, porque a sua con-
cepção é, de certa forma, uma fuga
das etiquetas — ou de uma só, pelo
menos. O TOP — Teatro de Objectos do
Porto é uma peça “fora do formato”,
com uma combinação “inusual e cur-
to-circuitada de protocolos perfor-
mativos”, arrisca Igor Gandra, funda-
dora da companhia. Nesta criação
com dramaturgia colectiva da equipa
e de Regina Guimarães, cabem códi-
gos do teatro de revista, do talk-show
ou do peep-shop. Após uma estreia no
programa Cultura em Expansão, a
peça volta aos palcos hoje e amanhã
e nos dias 10, 11, 17 e 18 de Fevereiro.
O TOP — Teatro de Objectos do Porto
propõe uma reÇexão sobre o quoti-
diano da cidade, evocando memó-
rias, pensando o presente, produzin-
do interrogações. E fá-lo, diz o ence-
nador Igor Gandra, com sentido
crítico apurado, buscando visões de
quem habita ou trabalha na urbe,
com humor explosivo às vezes, mas
sem perder a ternura e o carinho pela
geograÆa e suas gentes. O que é, aÆ#
nal, ser-se do Porto?
O ponto de partida para esta cria-
ção foram, como o título faz antever,
objectos. E esse olhar da companhia
não é de hoje. Em 2018, o Teatro do
Ferro iniciou um ciclo de trabalhos
em torno dos objectos: primeiro com
a Objectoteca Popular Itinerante,
depois com a Revolta dos Objectos:
Uma Conferência Animada. Desta vez,
com o TOP, a reÇexão é outra: “Que
objectos ajudam a deÆnir um espaço
como o de uma cidade?”.
Na peça TOP —
Teatro de
Objectos do
Porto os objectos
são o ponto de
partida para
contar histórias
Em cerca de uma hora, o elenco vai
apresentando esses dispositivos,
materiais ou imateriais, e cada um dá
origem a uma cena — ou a um poema,
uma música, um truque, uma rábula.
A Ponte de Maria Pia, desactivada há
32 anos, é um deles. Evocando o pro-
jecto provocador dos arquitectos
Pedro Bandeira e Nuno Ramalho, que
em 2013 sugeriram uma relocalização
da ponte para o quarteirão da Com-
panhia Aurifícia, no centro da cidade,
o público é incitado a pensar essa
“ressigniÆcação e redeÆnição da iden-
tidade da cidade a partir daquele
objecto fora do lugar”, aponta Igor
Gandra. Ou, como diz uma das actri-
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 27
zes: “Os proponentes ousaram, com
o seu desaÆo, tentar fazer do Porto
mais Porto e não apenas colocá-lo na
rota do turismo de massas. Ponto.”
Nesse conjunto de objectos Æos
condutores da narrativa, também
entra a tripa enfarinhada, bonecos de
pano com “comentários sobre o futu-
ro possível ou impossível para a cida-
de”, o FC Porto, os martelinhos de
São João e o cimbalino (mais as 500
formas de se pedir um café). E, claro,
a pronúncia do Porto: “É uma delícia
e adoro ouvir as pessoas falarem
assim”, comenta Igor Gandra, que
nesta peça assumiu também a ceno-
graÆa e está em cena como actor.
Não falta, também, o turismo e a
“percepção mais ou menos generali-
zada dos seus efeitos na cidade”. Há
trabalhadoras de limpeza de um AL
e um casal de turistas num quarto
portátil (uma surpresa para o espec-
tador, a quem não se promete que
Æque sentado no mesmo sítio do iní-
Local
cio ao Æm da peça). Nessa evocação
do Porto como cidade do trabalho,
cabe uma dúvida, aponta Igor Gan-
dra: “Que trabalho há numa cidade
assim?...”
A dramaturgia, com poemas e
músicas originais de Regina Guima-
rães, provoca “interrogações” e Ænta
as “postulações”, explorando o
“humor próprio da cidade e a capa-
cidade de se rir de si própria”. A peça
– pensada para contextos não-con-
vencionais e que será apresentada na
casa do Teatro do Ferro, no número
65 da Travessa da Formiga – “oscila
entre estes dois registos, um mais
poético e existencialista, num sentido
colectivo da cidade a pensar sobre si
mesma, e outro mais cómico, explo-
sivo, desconcertante”, apresenta Igor
Gandra, também actor na peça, ao
lado de Carla Veloso, Carlota Gandra,
Catarina Chora, Eduardo Mendes,
Guilherme Vieira, Mariana Lamego e
Matilde Gandra.
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28 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Mundo Conƍito no Médio Oriente
TIJ decreta
medidas
provisórias
contra Israel
por risco
de genocídio
A decisão não indica qualquer sentido
do futuro veredicto sobre o cerne
do caso, que deverá demorar anos e que
é muito exigente em termos de prova
Maria João Guimarães
O Tribunal Internacional de Justiça
(TIJ), a mais alta instância judicial
das Nações Unidas, decidiu ontem
impor medidas provisórias a Israel
no âmbito da convenção do genocí-
dio, na sequência de um pedido da
África do Sul, e exigir a Israel que
reporte o seu cumprimento no pra-
zo de um mês.
Israel tem de levar a cabo medi-
das para aliviar a crise humanitária
na Faixa de Gaza, e ainda de punir
incitamento directo ao genocídio,
decidiu o tribunal por uma maioria
de 16-1, incluindo o voto a favor do
juiz israelita. Tem ainda de tomar
medidas para impedir acções geno-
cidas, e preservar provas relaciona-
das com o caso, decretou o TIJ desta
vez por 15-2, com os votos contra do
juiz israelita e da juíza do Uganda.
O tribunal não acolheu o pedido
da África do Sul de um cessar-fogo,
o que seria difícil porque uma das
partes, o Hamas, não é um Estado
e, por isso, o tribunal não pode
decretar acções para o grupo isla-
mista.
As medidas tinham sido já vistas
como prováveis por muitas pessoas
especializadas em direito interna-
cional, já que fora também a decisão
tomada pelo TIJ noutro caso sob a
mesma convenção, contra a Birmâ-
nia (apresentado pela Gâmbia), em
Janeiro de 2020. A avaliação sobre
o cerne do caso — se Israel está a
cometer um genocídio na Faixa de
Gaza, se está a permiti-lo ou não
punir ou impedir incitamento ao
genocídio – será feita muito mais
tarde, podendo demorar ainda
vários anos.
Para estabelecer as medidas, o
tribunal teve apenas de admitir
plausibilidade, o que não dá qual-
quer indicação sobre o sentido da
decisão Ænal, sublinhou a juíza pre-
sidente Joan Donoghue , explican-
do de novo que o tribunal considera
apenas a urgência dado que é pos-
sível que ocorram actos que alterem
a situação sobre a qual irá julgar de
modo irreversível.
O tipo de prova a fazer para a con-
clusão do caso é muito diferente,
explicaram no início do caso ao
PÚBLICO as especialistas em direito
internacional Tara Van Ho, da Uni-
versidade de Essex, Juliette McIntyre,
da UniSA (Universidade da Austrália
Meridional), e Michael Becker, do
Trinity College Dublin .
Apesar de obrigar Israel a assegu-
rar serviços básicos e ajuda huma-
nitária, o efeito que estas medidas
terão no terreno não é certo. As
medidas são obrigatórias, mas a sua
não execução pelo Estado só pode-
rá ser castigada através do Conselho
de Segurança da ONU. O facto de
Israel ter participado no processo
poderá, no entanto, mostrar dispo-
nibilidade para a aplicação das
medidas.
Antes do veredicto, Tara Van Ho
disse que na sua opinião “o maior
benefício potencial deste caso pode-
rá não dizer respeito à conduta futu-
ra de Israel, mas à de outros Estados
que têm fornecido armas a Israel”
– porque a cumplicidade com um
genocídio é também um crime que
pode ser levado a tribunal.
Com esta decisão a implicar um
risco plausível, alguns Estados
poderão analisar a exportação de
armas, comentou na rede social X
Israel tem de aliviar crise Heidi Matthews, professora de direi-
humanitária em Gaza e punir to na Universidade de York, no
incitamento ao genocídio de Canadá. “Qualquer Estado que
acordo com a decisão do apoie Israel pode pensar se quer
Tribunal Internacional de continuar e arriscar um processo
Justiça directamente contra si”, aÆrmou
McIntyre.
Antes de decretar as medidas, a
juíza Donoghue rreferiu o ataque
de 7 de Outubro do Hamas contra
UNRWA investiga staff por ligação a ataque
O
chefe da agência das “horrorizado” com as notícias.
Nações Unidas de Na sequência das alegações, os
assistência aos refugiados Estados Unidos anunciaram a
palestinianos (UNRWA), suspensão da sua contribuição
Philippe Lazzarini, disse que para o financiamento à agência
terminou os contratos com 12 enquanto analisa “estas
funcionários depois de ter alegações e os passos que a
recebido de Israel informações ONU estão a dar em relação a
sobre uma sua participação elas”. A UNRWA tem 13 mil
activa no ataque do Hamas de 7 funcionários na Faixa de Gaza, é
de Outubro, incluindo a responsável pela distribuição de
utilização de instalações e ajuda, gere escolas em que mais
veículos da agência. Lazzarini de metade das crianças do
disse que foi lançada uma território estudavam antes da
investigação interna para guerra que começou a 7 de
“chegar à verdade sem demora”. Outubro, e é nos seus centros
O secretário-geral, António que estão, agora, mais de um
Guterres, declarou através do milhão de deslocados internos
seu porta-voz que estava na Faixa de Gaza.
Israel lembrando depois que o TIJ
apenas pode pronunciar-se sobre
acções que tenham que ver com a
convenção do genocídio.
O TIJ tem sede em Haia, tal como
o Tribunal Penal Internacional
(TPI), mas o primeiro julga Estados
e o segundo, indivíduos. No proces-
so contra Israel no TIJ estão em cau-
sa apenas os três potenciais crimes
ligados a genocídio, o crime mais
grave, e nenhuns outros potenciais
crimes de guerra.
Já no TPI há uma investigação a
decorrer desde 2021, que implica
acções de responsáveis quer israeli-
tas quer palestinianos que potencial-
mente violem quaisquer regras do
direito internacional, tendo assim
um leque muito mais aberto.
Em 2004, num outro caso contra
Israel, o TIJ considerou ilegais par-
tes do muro ou barreira de separa-
ção na Cisjordânia, as que abarca-
vam partes do território palestinia-
no além da linha verde.
Ao contrário do que aconteceu
nesse caso, Israel decidiu desta vez
participar do processo e apresentar
os seus argumentos ao tribunal.
Van Ho aÆrmou ainda agora ao
PÚBLICO que, desde os dois dias da
abertura do caso no início de Janei-
ro, o Governo de Israel tem levado
a cabo acções que dão mais força

ALAA BADARNEH/EPA
aos argumentos da África do Sul. A
equipa legal sul-africana salientou
que 80% das pessoas em situação
de fome catastróÆca no mundo
estão actualmente em Gaza, e essa
fome não é consequência natural da
própria guerra, mas sim da limita-
ção à entrada e à distribuição de
ajuda.
“Esta semana, vimos manifestan-
tes israelitas impedirem a entrada
de camiões humanitários em Gaza,
e parece que o Governo de Israel
não fez o suÆciente para garantir o
acesso desses camiões”, notou.
Essas questões estão ligadas ao
que é considerado “condições de
vida calculadas para provocar” a
destruição física de um grupo, que
é incluída nos vários crimes sob a
acusação de genocídio, além de
matar membros do grupo ou causar
dano grave, ou impor medidas para
impedir nascimentos e a transferên-
cia forçada de crianças de um grupo
para outro.
Para a decisão sobre o genocídio,
seria preciso provar intenção geno-
cida, o que é extremamente difícil e
não aconteceu ainda até hoje: o
máximo que foi provado, lembram
os especialistas, foi o facto de a Sér-
via, no caso em que foi acusada pela
Bósnia, não ter impedido um geno-
cídio em Srebrenica (1995).
Pressão sobre o Estado hebraico
Vários países esperam
que Israel cumpra a
decisão do tribunal
Maria João Guimarães
O Departamento de Estado dos EUA
reagiu à decisão do Tribunal Inter-
nacional de Justiça (TIJ) dizendo que
mantém a sua avaliação de que “as
alegações de genocídio não têm fun-
damento” e que Israel tem o direito
de se assegurar que ataques como o
de 7 de Outubro não vão voltar a
acontecer, chamando ainda a aten-
ção para o facto de o tribunal não ter
tomado uma decisão sobre estar ou
não a acontecer um genocídio nem
ter exigido um cessar-fogo.
Mas o Departamento de Estado
juntou à sua reacção um concordar
com pelo menos parte das medidas
provisórias que o tribunal decretou
— aÆrmando que tem deixado claro
nos últimos tempos que Israel tem
de dar passos para “minimizar danos
aos civis, aumentar o Çuxo de ajuda
humanitária e combater retórica de
desumanização”, cita a Reuters. O
tribunal exigiu mais ajuda humani-
tária e castigo para incitamento, dan-
do a Israel o prazo de um mês para
reportar o progresso no seu cumpri-
mento.
O tribunal não tem meios de se
assegurar do cumprimento das suas
decisões, e um incumprimento pode
ser levado ao Conselho de Segurança
da ONU para que sejam decretadas
sanções — no organismo os Estados
Unidos costumam vetar resoluções
críticas ou prejudiciais a Israel.
Israel reagiu criticando o veredic-
to, e o primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, repetiu que apesar da
“tentativa vil”, o país não irá desistir
do direito à auto-defesa. Netanyahu
acusou ainda o tribunal de “discri-
minação contra o Estado judaico”.
Da União Europeia a reacção foi
Netanyahu disse que o país “não desistirá do direito à autodefesa”
rápida, com uma aÆrmação de que
Israel tem de cumprir o decretado
pelo Tribunal. “As ordens do TIJ são
vinculativas”, aÆrmava um comuni-
cado do alto representante para a
Política Externa e Segurança da
União Europeia, Josep Borrell, e da
Comissão Europeia. “A União Euro-
peia espera a sua concretização total,
imediata e eÆcaz.”
Tanto a UE como os EUA reaÆrma-
ram o seu apoio ao principal organis-
mo judicial das Nações Unidas.
A África do Sul congratulou-se
com a decisão. “Nelson Mandela está
a sorrir na sua campa”, disse o minis-
tro da Justiça Ronald Lamola.
Organizações de defesa de direitos
humanos como a Amnistia Interna-
cional e a Human Rights Watch sau-
daram também a decisão.
A secretária-geral da Amnistia
Internacional Agnès Callamard
declarou que as medidas “indicam
que, do ponto de vista do Tribunal,
há risco para a sobrevivência dos
palestinianos em Gaza”. E que “Israel
tem de cumprir o veredicto imedia-
tamente”.
A Human Rights Watch disse que
o veredicto era histórico e Balkees
Jarrah, directora adjunta de justiça
internacional da organização, exor-
tou os governos a “usar a sua
inÇuência para garantir o seu cum-
primento”.
A associação Advogados pelos
Direitos Humanos Palestinianos
Daniel Machover sublinhou que
“agora há um veredicto internacio-
nal de que há um risco plausível de
genocídio em Gaza, e os Estados têm
obrigação de agir para o impedir”,
cita o diário britânico The Guardian
— algo que pode incluir “parar a ven-
da de armas” a Israel.
AMIR COHEN/REUTERS
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 29
Uma decisão muito importante
Opinião
J. A. Azeredo Lopes
Foi ontem conhecida a decisão do
Tribunal Internacional de Justiça
(TIJ) sobre o pedido de medidas
provisórias no caso relativo à
“Aplicação da Convenção sobre a
Prevenção e a Repressão do
Genocídio na Faixa de Gaza” (África
do Sul c. Israel). Está em causa o
conÇito em Gaza e toda a sua
envolvente, desde os ataques
terroristas do Hamas de 7 de
outubro até aos reféns que
continuam detidos em Gaza e ao
caráter hediondo de muitos dos atos
cometidos por aquela organização,
até com o apoio de alguns
funcionários internacionais (e isso é
trágico). Mas está também em causa
a brutalidade da resposta israelita,
cujo aparelho político poucos ou
nenhuns limites tem aceitado
quanto à sua resposta militar e aos
meios para o efeito adotados. Por
outro lado, quem acusa é a África do
Sul, que muitos menosprezaram
como incapaz de preparar uma
queixa juridicamente consistente,
ainda por cima invocando contra
Israel a violação da Convenção do
Genocídio. Sim, é isso. Israel viu-se
obrigado, algo estupefacto, a
apresentar defesa perante a
acusação que lhe foi dirigida de
genocídio contra o povo palestino.
Para controlar os danos, e de
forma preventiva, Israel
desqualiÆcou o TIJ, apodando-o de
antissemita. Só que a queixa
sul-africana é um documento
juridicamente devastador, que
esmiúça com pormenor cruel a
crueldade israelita na Faixa de
Gaza. Honra, por isso, a John
Dugard, Max du Plessis, Vaughan
Lowe, a Blinne Ní Ghrálaigh e a toda
a equipa sul-africana por este
trabalho excecional. Israel
compreendeu que o risco era
grande, e também constituiu uma
equipa de luxo.
Sem deixar de acentuar que nada
está ainda decidido, a decisão sobre
medidas provisórias foi muito dura,
pior para Israel do que os piores
cenários que foram sendo
esperados – e um aviso muito sério
quanto ao que poderá ser a decisão
futura da questão de fundo.
De facto, o TIJ deliberou sobre se
os factos apresentados podiam
indiciar a prática, ou o risco da
prática, de genocídio na Faixa de
Gaza. A quase tudo o tribunal disse
que sim, naquela que é uma derrota
jurídica estrondosa para Israel. Mas
disse sim com grande detalhe,
transcrevendo, por exemplo, as
declarações do ministro israelita da
defesa, Gallant, que designou os
palestinos de Gaza como “animais
humanos”; ou do Presidente
israelita, Herzog, que declarou que
todos os palestinos eram
responsáveis.
Dizem agora alguns, para evitar o
K.O., que o tribunal recusou impor
o Æm das operações militares em
Gaza. Porém, ninguém ignora que
esse era um pedido impossível e
que o tribunal disse muito mais do
que essa ausência.
Disse que Israel está obrigado, em
Gaza, a adotar todas as medidas
necessárias para prevenir a prática
de genocídio, incluindo o
assassinato de membros do grupo,
o atentado grave à integridade física
e mental de membros do grupo, a
submissão deliberada do grupo a
condições de existência que
acarretarão a sua destruição física,
total ou parcial e medidas
destinadas a impedir os
nascimentos no seio do grupo. E
que Israel tem de garantir que os
seus militares não cometem esses
atos genocidas. E que Israel deve
evitar e, se necessário, punir,
qualquer incitamento ao genocídio
(alguns dos membros do Governo
israelita vão, certamente, Æcar
menos faladores). Mais: que Israel
tem de adotar medidas imediatas e
efetivas que garantam bens
essenciais e ajuda humanitária às
populações em Gaza. E que Israel
está obrigado a preservar as provas
que se reÆram à prática de
genocídio, nos termos dos artigos 2
e 3 da Convenção. E, Ænalmente,
que o Estado israelita tem de
reportar sobre a forma como
executou esta decisão no prazo de
um mês. Mas também foi muito
importante que o tribunal
impusesse ao Hamas a obrigação
de, imediatamente, libertar os
reféns que mantém detidos.
Continuo convencido que será
difícil que o tribunal venha a
considerar Israel responsável pela
prática de genocídio, mas estou
certo de que dirá, como de alguma
forma ontem já disse, que Israel está
a violar gravemente obrigações
fundamentais de direito
internacional humanitário. Não
tenho depois dúvidas,
considerando aquele que é o atual
governo israelita, que este vai
incumprir o essencial das
obrigações que o tribunal lhe
impôs. Mas, a partir de agora, e
sobre o que está a acontecer em
Gaza, ninguém poderá invocar
ignorância. Sejamos francos:
alguma vez isso foi possível?
Coordenador do International
Studies Programme,
Universidade Católica, Porto
30 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Mundo
Governo francês vai promulgar
a lei da imigração “mais dura de sempre”
Sofia Lorena
Direita radical denuncia
“golpe dos juízes” após
rejeição de medidas que
adicionara. Esquerda
celebra “lição de Estado”
Apesar da machadada do Conselho
Constitucional, que rejeitou um terço
dos 86 artigos da nova lei da imigra-
ção, o Governo de Emmanuel Macron
declarou vitória, face à versão Ænal de
um diploma que manteve quase todas
as disposições do seu projecto inicial,
decidindo promulgá-la como está,
sem regressar ao Parlamento. Despi-
da das medidas mais polémicas,
introduzidas para garantir o apoio da
direita radical de Marine Le Pen e do
partido conservador Os Republica-
nos, a lei ainda permite, por exemplo,
deportar imigrantes que estejam em
França há 20 anos ou que ali tenham
chegado antes dos 13.
Medidas como a instauração de
quotas de imigrantes decididas anual-
mente pelo Parlamento, a demora no
acesso aos benefícios da segurança
social, a restrição ao reagrupamento
familiar, os entraves à atribuição da
nacionalidade aos Ælhos de imigran-
tes ou a criminalização da permanên-
cia irregular em França foram decla-
radas inconstitucionais — mas apenas
do ponto de vista formal, por não
estarem relacionadas com a matéria
da lei, pelo que poderão vir a ser
adoptadas em legislação futura.
“Temos todos os recursos de que
precisamos”, congratulou-se o minis-
tro do Interior, Gérald Darmanin,
notando que os nove “sábios”, como
são tratados os membros do Conselho
(com poderes equivalentes ao Tribu-
nal Constitucional português), apro-
varam “todo o texto do Governo”. “O
que me interessa é aplicar a lei. A
República nunca terá tido uma lei tão
dura”, aÆrmou Darmanin, em decla-
rações ao canal de televisão TF1, ain-
da na quinta-feira, depois de conhe-
cido o veredicto do Conselho.
Anunciando que a lei seria pro-
mulgada “nas próximas horas”,
Darmanin pediu ontem a “todos os
prefeitos” (representantes do
Governo nas regiões) para “reuni-
rem em Fevereiro e em Março os
seus arquivos para se encontrarem
os estrangeiros delinquentes que
ainda não tenham sido expulsos”,
porque agora têm “os meios para o
fazer imediatamente”. Com a nova
lei, os imigrantes condenados por
crimes podem ser deportados —
mesmo que estejam em França há
20 anos ou desde crianças, se se
Apesar da rejeição de um terço dos artigos, o Governo de Emmanuel Macron declarou vitória
considerar que são uma “ameaça
grave à ordem pública”.
As reacções à posição do Conselho
Constitucional foram as esperadas,
com a esquerda a celebrar “uma ver-
dadeira lição de Estado de direito”,
nas palavras da secretária nacional do
partido Europa Ecologia, Marine Ton-
delier, que aplaudiu os “sábios” por
“relembrarem a Macron e ao seu
Governo os princípios fundamentais
na República”.
À direita, a União Nacional (UN),
de Le Pen, denunciou “um golpe dos
juízes” e pediu um referendo sobre
a imigração, com o antigo presiden-
te d’Os Republicanos (LR) Laurent
Wauquiez a lamentar um “golpe con-
Pressão sobre o Governo
Protesto de agricultores bloqueia acesso a Espanha
Agricultores franceses bloquearam
ontem uma estrada principal que liga
a França à Espanha com uma mani-
festação na fronteira, como parte dos
protestos nacionais contra os baixos
preços dos alimentos e o excesso de
burocracia. Os agricultores em Fran-
ça, o maior produtor agrícola da UE,
dizem que não estão a ser pagos o
suÆciente e que estão sufocados por
uma regulamentação excessiva em
matéria de protecção ambiental.
Ontem, um grupo de manifestantes
incendiou um edifício da Mutualité
tra o Estado de direito” por parte dos
“sábios”.
O actual presidente do LR, Eric
Ciotti, acusou o Conselho de “julgar
em política e não em direito” e defen-
deu que, “para a França se dotar dos
meios necessários para lutar contra a
imigração, é indispensável uma refor-
ma constitucional”. “É preciso mudar
a Constituição”, repetiu Wauquiez:
“Esse será o grande debate que nos
deve guiar em 2027 [ano das próxi-
mas eleições presidenciais].”
Para Ciotti, “Macron e a esquerda
esperavam esta censura” do Conselho,
pelo que o Governo, acredita, usou o
seu partido para aprovar a lei: o texto
que saiu do Parlamento só passou gra-
Sociale Agricole (MSA), na cidade de
Narbonne, no Sul de França, segundo
o director local da MSA, numa altura
em que se intensiÆcam as manifesta-
ções agrícolas. “Não compreendo
isto. Lamento profundamente o que
Æzeram. Estamos a fazer tudo o que
podemos para ajudar”, disse Sophie
Bonnery à BFM TV. Os agricultores
franceses bloquearam também uma
das principais auto-estradas que
ligam Paris à cidade nortenha de Lille
e à Bélgica, provocando longos engar-
rafamentos de trânsito, no âmbito
CLEMENS BILAN/EPA
ças ao LR, depois de ter sido negocia-
do também com a UN — que festejou a
lei aprovada com as emendas do par-
tido como “uma vitória ideológica”,
mas cujos votos acabaram por não ser
necessários. Sem maioria parlamentar
desde 2022, o Governo teve ainda de
enfrentar a oposição à lei de uma par-
te signiÆcativa dos deputados do
Renascimento, de Macron.
“Não somos guiados pela opinião
pública”, defendeu Laurent Fabius,
presidente do Conselho Constitucio-
nal. Lembrando que as decisões do
tribunal superior suscitam “por vezes
comentários exacerbados e contradi-
tórios”, o ex-primeiro-ministro socia-
lista sublinhou que “o Conselho não
dos protestos nacionais contra os bai-
xos preços dos alimentos e o excesso
de burocracia. Os sindicatos apela-
ram ao bloqueio das estradas em
Paris e arredores para aumentar a
pressão sobre o Governo do primeiro-
ministro Gabriel Attal, que os agricul-
tores acusam de não fazer o suÆcien-
te para os ajudar.
Os agricultores franceses têm esta-
do a protestar para instar o Governo
a fazer mais para os ajudar. Na terça-
feira, em tractores e camiões, levaram
mais longe os seus bloqueios de estra-
existe para prestar serviços políticos,
mas para dar uma opinião jurídica”.
Uma vitória?
“Não se brinca impunemente com a
legislação sobre a imigração, tema no
centro de controvérsias públicas e de
estratégias de conquista de poder”,
defendeu em editorial o jornal Le
Monde, sublinhando que, apesar da
“vitória aparente”, o facto de o Gover-
no ter feito votar uma lei em que 40%
dos artigos são inconstitucionais
“reÇecte, no mínimo, um cinismo
político e uma indiferença às regras
parlamentares”. Pior, continua o diá-
rio: negociar uma lei como a que foi
aprovada no Parlamento “traduz o
desprezo por princípios republicanos
de base, como o direito de solo [direi-
to à nacionalidade no território onde
se nasceu] e a igualdade perante a lei
— atacada pela questão do direito às
prestações sociais”. No fundo, susten-
ta o Le Monde, nem Macron, que usou
o Conselho Constitucional “para ten-
tar fazer esquecer o voto dos seus
eleitos com a extrema-direita”, nem
os líderes do LR, “que perderam a
alma ao adoptarem medidas inspira-
das na extrema-direita”, nem a
esquerda, “que recusou o debate”,
saem incólumes.
Na véspera da campanha para as
eleições europeias de Junho, com a
direita radical de vários países a
explorar o fantasma da imigração,
levando a direita conservadora a
aproximar-se das suas posições por
motivos eleitorais, “o pequeno jogo
do chefe de Estado”, escreve o jornal,
“surge como uma grande prenda às
forças que se aproveitam do enfra-
quecimento do Estado de direito, do
descrédito das instituições e da des-
conÆança em relação aos políticos”.
das, resultando em vários engarrafa-
mentos e um acidente fatal, enquan-
to os sindicatos pediam ao Governo
que diminuísse a sua pressão por pre-
ços mais baixos ao consumidor e
reduzisse as regulamentações
ambientais.
“Não levantaremos os bloqueios
enquanto o primeiro-ministro não
Æzer anúncios muito concretos. O
tempo das conversas acabou, é pre-
ciso agir”, aÆrmou Arnaud Gaillot,
presidente do Sindicato dos Jovens
Agricultores.

Presidente argentino demite primeiro
ministro do Governo ao Ɗm de mês e meio
António Rodrigues
Razão oficial foi o facto de
Ferraro ter passado para
a imprensa declarações
de Milei, mas a razão pode
estar em disputas de poder
Ao Æm de um mês e meio, o Presiden-
te argentino demitiu o seu primeiro
titular de um ministério numa sema-
na em que viu os sindicatos encherem
as ruas em protesto contra as suas
reformas laborais, não consegue
arranjar apoios suÆcientes para fazer
passar no Congresso o seu pacote
legislativo e se multiplicam as notícias
de enfrentamentos dentro dos dife-
rentes níveis do executivo.
Quem sai é Guillermo Ferraro,
ministro das Infra-Estruturas, uma
superpasta que alberga Transportes,
Obras Públicas, Habitação e Comuni-
cações e que será agora desagregada
em secretarias de Estado e colocadas
sob a alçada do ministro da Econo-
mia, Luis Caputo, de acordo com a
decisão tomada ontem pelo Presiden-
te, Javier Milei.
Foi o culminar de uma semana con-
turbada para o novo Governo, que na
quarta-feira enfrentou uma greve
geral de 12 horas e manifestações mul-
titudinárias em Buenos Aires, que
desbordaram as vias adjacentes ao
Congresso, numa exibição de força
Alemanha descobre campanha de desinformação pró-Rússia
Fernando Costa
Governo alemão encontrou
na rede social X 50 mil
contas falsas que
difundiam desinformação
contra a Ucrânia
O Ministério dos Negócios Estrangei-
ros alemão identiÆcou uma campa-
nha de desinformação pró-russa
levada a cabo no X (antigo Twitter),
com o objectivo de inÇuenciar nega-
tivamente a opinião pública sobre o
apoio de Berlim à Ucrânia. A informa-
ção foi avançada pela revista alemã
Der Spiegel, que teve acesso a dados
do mesmo ministério.
Segundo a revista alemã, citada
pela AFP, proÆssionais delegados
pelo ministério identiÆcaram, com
recurso a software especializado,
entre 20 de Dezembro e 20 de Janei-
dos sindicatos numa altura em que o
Presidente procura angariar apoios
para as suas reformas que irão come-
çar a ser discutidas na Câmara dos
Deputados, onde as forças que o
apoiam estão em minoria.
Diz a imprensa argentina que Milei
não gostou de ver tanta gente nas ruas
e num ápice afastou duas pessoas,
uma de manhã e outra à tarde. Na
manhã de quinta-feira foi exonerado
o director da Superintendência dos
Serviços de Saúde (SSS), Enrique
Rodríguez Chiantore, que Æcou a
saber da sua saída pelo Boletín Oficial,
o diário da República.
De perÆl técnico e dialogante,
Rodríguez Chiantore, com peso na
interlocução com os sindicatos por
gerir o orçamento dos vários sistemas
de previdência dos funcionários
públicos, terá sido o bode expiatório
da frustração do Presidente. OÆcial-
mente, a explicação dada pelo porta-
voz da presidência, Manuel Adorni, é
que o titular da SSS “não estava a
cumprir os objectivos”.
A explicação oÆciosa, e que seria
também a razão do afastamento do
ministro das Infra-Estruturas, é a dis-
puta de poderes dentro do Governo,
com Nicolás Posse, o todo-poderoso
chefe de gabinete (equivalente a pri-
meiro-ministro), a consolidar posi-
ções, avança o diário Página/12.
Rodríguez Chiantore, nome escolhido
por Patricia Bullrich (a actual ministra
ro, 50 mil contas falsas que produzi-
ram mais de um milhão de publica-
ções em alemão na rede social de
Elon Musk. Uma das narrativas mais
prevalecentes era a de que Olaf
Scholz, chanceler da Alemanha, esta-
ria a colocar os interesses da Ucrânia,
na guerra com a Rússia, à frente das
necessidades do povo alemão.
Algumas das contas, refere a AFP,
mencionando dados do artigo da Der
Spiegel, têm ligações aos sites de notí-
cias falsos que clonaram o design de
outros órgãos de comunicação — a
chamada Operação Doppleganger
(sósia, em português).
Nesta operação, os agentes de
desinformação utilizaram o design de
jornais internacionais como o The
Guardian e mesmo da própria Der
Spiegel para difundir notícias falsas
com o objectivo de prejudicar a opi-
nião pública sobre o apoio à Ucrânia
e enaltecer as acções do Kremlin.
Greve geral e manifestações de quarta-feira não agradaram a Milei
da Segurança, candidata presidencial
que Æcou em terceiro na primeira
volta e apoiou Milei na segunda volta
em troca de lugares no Governo),
abre assim alas a um homem propos-
to por Mario Lugones, um dos princi-
pais assessores de Posse.
Quanto a Ferraro, o seu destino
teria Æcado traçado, diz o diário Cla-
rín, ao resistir a nomear para o seu
ministério os nomes propostos por
Posse, o homem com maior peso no
Governo a seguir à irmã do Presiden-
te, Karina Milei, por quem o chefe de
Estado emendou uma lei de nepotis-
mo para a poder nomear como secre-
tária-geral da Presidência.
Na terça-feira, Josep Borrell, o alto
representante para a Política Externa
e de Segurança da União Europeia,
mostrou-se preocupado com o perigo
que a desinformação representa para
a democracia. ClassiÆcou-a, ainda,
segundo a agência Lusa, como uma
das “ameaças mais signiÆcativas”
num “ano crucial” como 2024, em
que há um número atipicamente alto
de eleições por todo o mundo,
incluindo as europeias.
Em Setembro, a vice-presidente da
Comissão Europeia com o pelouro da
Transparência, Vera Jourová, desta-
cou o X como a rede social onde mais
A Comissão
Europeia
destacou o X
como a rede
social onde mais
desinformação
circula
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 31
AMANDA PEROBELLI/REUTERS
Também aqui a explicação para a
saída foi outra, de que teria sido o
ministro a fazer passar para a impren-
sa frases ditas por Milei durante o
Conselho de Ministros, em que amea-
çou os governadores de lhes cortar as
verbas orçamentais para as provín-
cias (“vou deixá-los sem um peso, vou
levá-los a todos à falência”) pela falta
de apoio à sua Lei de Bases e Pontos
de Partida para a Liberdade dos
Argentinos, entregue no Congresso
na quarta-feira para ser debatida no
plenário da Câmara de Deputados,
depois de conseguir as assinaturas
suÆcientes nas comissões.
A frase de Milei não difere muito
desinformação circula, em compara-
ção com outras das principais plata-
formas. Jourová alertou também para
a importância de se estar atento à
desinformação de origem russa que
pode circular durante as eleições em
território europeu.
O Fórum Económico Mundial pre-
vê que a desinformação seja o risco
global mais severo dos próximos dois
anos e o quinto dos próximos dez.
Num relatório deste ano, sublinha-se
que os vários processos eleitorais por
todo o mundo, a desinformação e o
desenvolvimento de ferramentas que
facilitam a sua propagação podem
criar uma tempestade perfeita de
descontentamento. Este, problema-
tiza o relatório, pode desaguar em
protestos violentos, crimes de ódio,
“confrontos civis” e terrorismo.
A organização não-governamental
DisinfoLab, num relatório publicado
em Dezembro, sublinhou a importân-
Mundo
daquilo que o próprio ministro Luis
Caputo disse na quarta-feira: “As
dotações para as províncias serão
cortadas imediatamente se algum dos
artigos for rejeitado.”
“Não se trata de uma ameaça, mas
sim da conÆrmação de que vamos
cumprir o mandato que nos foi con-
ferido pela maioria dos argentinos
para equilibrar as contas Æscais e pôr
Æm a décadas de inÇação e de Çagelo
económico”, acrescentou o ministro,
citado pelo Clarín.
A reforma, conhecida como “Lei
Ómnibus” ou autocarro, incluía mais
de 600 alterações legislativas em
matéria económica, Æscal, energética,
penal e eleitoral que acabou por
sofrer mudanças no texto original
durante as discussões nas comissões
para conseguir ser aprovada, tendo
em conta que o apoio a Milei é mino-
ritário na Câmara de Deputados. A
reforma laboral foi, entretanto, trava-
da pela justiça.
O Governo apresentou o documen-
to garantindo que estava aberto a
contribuições, mas não se dispunha
a cortar nada do que lá estava, mesmo
assim, teve de ceder e, segundo o La
Nación, uma centena de artigos pro-
postos na lei acabaram por ser corta-
dos do documento Ænal que vai agora
a discussão no plenário. Entre as
medidas que o executivo aceitou dei-
xar cair está a privatização da empre-
sa pública de petróleos YPF.
cia de, em 2024, os estados europeus
cooperarem na troca de informação
e no combate à desinformação. Suge-
re também o reforço da Lei dos Servi-
ços Digitais da UE e de políticas a nível
nacional que tenham “explicitamen-
te como alvo a desinformação”.
Recomendam ainda a aposta na
literacia informativa e digital, prote-
ger minorias e grupos particularmen-
te vulneráveis às consequências da
desinformação, proteger jornalistas,
fact-checkers e denunciantes, e apos-
tar na investigação, entre outros.
No mesmo relatório, detalham
algumas das principais narrativas de
desinformação que se difundem por
grande parte do território europeu:
das acusações de que a União Euro-
peia é uma “fonte de empobrecimen-
to” dos Estados-membros ao negacio-
nismo da crise climática e das vacinas,
passando pelos discursos xenófobos
e anti-imigração.
32 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Mundo

Frontex ameaça deixar Espanha e

comunidades insulares pressionam Governo
europeus, atribui maiores poderes sobre planos operacionais têm de ser exigiu que o ministro da Política Ter- com relatórios de várias ONG,
Ivo Neto
aos países do Sul da Europa, que pas- adaptadas, embora tenha insistido ritorial Ángel Víctor Torres desse podem morrer cerca de 16 pessoas
Governo espanhol sarão a ter um procedimento de asilo que “é uma questão técnica, não ope- explicações sobre a possível saída da por dia em acidentes no mar. O prin-
mais rigoroso nas suas fronteiras racional”. Frontex de Espanha. “Isto é como cipal objectivo, disse, citado pela
e Frontex acreditam externas. Por seu lado, os países do “A proposta de acordo está em ser deixado nas mãos de Deus”, agência de notícias espanhola, é
que é possível chegar interior terão a possibilidade de esco- cima da mesa da Frontex, [resolvê-la] explicou aos jornalistas, lamentando “controlar as máÆas” e impedir a
a um acordo dentro lher entre aceitar um determinado é uma questão de horas e não de que o Governo das Canárias não saída de embarcações que muitas
da próxima semana número de migrantes ou contribuir dias”, disse o ministro citado pela tenha sido oÆcialmente informado vezes acabam por chegar às costas
para um fundo comum da UE. agência Europa Press. Também do dos factos espanholas “com mortes”. “São más
A Agência Europeia da Guarda de lado da agência europeia parece O responsável pela ilha das Caná- notícias e isso traduz-se em mais
Fronteiras e Costeira (Frontex) amea- “Questões técnicas” haver vontade em desatar este nó. À rias reforçou as “preocupações”, perigo, pois vai permitir que as
ça deixar Espanha se não chegar a Quando questionado sobre as notí- Europa Press, um porta-voz da Fron- recordando que a Frontex “salva máÆas actuem de uma forma mais
acordo com as autoridades para reno- cias divulgadas pelo jornal espanhol, tex disse que “o atraso das negocia- vidas” e que a “rota atlântica” é livre”, aÆrmou.
var as operações conjuntas contra a o ministro do Interior de Espanha, ções do arranque da operação Índalo “uma das rotas mais mortíferas” do Também Cristina Valido, deputada
imigração irregular. Madrid, segundo Fernando Grande-Marlaska, disse não signiÆca o Æm das operações da planeta, uma vez que, de acordo da Coligação Canária, exigiu respos-
detalha o diário El País, continua que “há questões técnicas” que estão Frontex em Espanha”. tas a Ángel Víctor Torres e que o pro-
relutante em assinar as condições a provocar divergências. O porta-voz acrescentou que “não blema “se resolva o quando antes”.
propostas pela agência, nomeada- “A colaboração de longa data com é invulgar”, no âmbito da cooperação “A proposta “É inaceitável que o Estado ponha
mente no que diz respeito à protec- a Frontex e as operações conjuntas internacional, que as negociações em causa o trabalho da agência euro-
ção de dados dos migrantes, de cuja são uma relação estreita, positiva e de sobre os planos operacionais “exijam
de acordo está peia e das suas equipas de proÆssio-
responsabilidade e propriedade não conÆança mútua”, disse o ministro à mais tempo para uma discussão e um em cima da mesa nais no controlo das fronteiras exter-
quer abdicar. imprensa em Bruxelas, onde partici- acordo exaustivo” e que fazem parte nas da UE, quando estamos precisa-
A falta de entendimento entre as pa numa reunião informal dos minis- do “processo habitual de adaptação”
da Frontex, mente num período em que o seu
duas partes já teve consequências. A tros do Interior da UE. De acordo com de cada operação às “circunstâncias, [resolvê-la] é uma trabalho é mais necessário do que
actuação da agência no Mediterrâneo o ministro do Interior, os novos regu- desaÆos e necessidades especíÆcas e nunca, especialmente em territórios
e no Mar de Alborão foi suspensa na lamentos europeus sobre protecção em mutação”.
questão de horas”, fronteiriços nacionais e europeus
quarta-feira, sendo que as operações de dados que a Frontex teve de imple- disse o ministro como as ilhas Canárias, onde está
estão também paradas nas ilhas mentar nas suas operações desde 18 Pressão em Madrid demonstrado que esta é a rota migra-
Canárias. “Sem assinatura, não há de Janeiro estão na origem das dife- Ontem, o presidente do Governo das
do Interior tória mais perigosa e mortal de toda
trabalho”, disse um agente da Fron- renças, porque as propostas iniciais ilhas Canárias, Fernando Clavijo, de Espanha a UE”, critica.
tex ao diário espanhol. As duas partes BORJA SUAREZ/REUTERS
deram mais uma semana para que se
chegue a um acordo. “Caso contrário,
os recursos destacados para Espanha
serão retirados”, disse uma fonte da
agência ouvida pelo El País.
Além do campo operacional,
onde estão destacados cerca de 350
agentes, o possível Ænal da colabo-
ração entre a Frontex e Espanha
representaria igualmente um impor-
tante impacto económico. Só a ope-
ração Índalo — que com este impas-
se Æca em suspenso — envolve um
investimento de 63 milhões de euros
que chegam de Bruxelas. Mas há
também que ter em conta a compo-
nente política.
No caso de um travão deÆnitivo,
Espanha seria o único país da UE a
não chegar a um acordo com a agên-
cia que tem desempenhado um papel
determinante na política de migração
na UE, numa altura em que se regista
um aumento de migrantes a chegar
ao continente europeu e quando
muitos países debatem legislações
relacionadas com as políticas de
migração, um dos tópicos que vão
nortear o debate em torno das elei-
ções europeias agendadas para
Junho. No Ænal de 2023, a UE chegou
a um acordo para um novo conjunto
de regras para gerir os sistemas de
migração e asilo nos vários Estados-
membros.
O Novo Pacto para as Migrações,
que é preliminar e tem de ser ratiÆ#
cado pelo Parlamento e Conselho Patrulha da Frontex nas ilhas Canárias, em Espanha, que integra uma das rotas migratórias mais perigosas da UE

Cobrança de ISV com base na cilindrada
penaliza carros com menos CO2
Há modelos em que a variante híbrida, apesar de emitir menos CO2, paga mais imposto do que a movida
apenas a gasolina. Portugal é um dos últimos países da UE que ainda usam a cilindrada no cálculo
Victor Ferreira
Os carros de passageiros representam
cerca de 12% das emissões anuais de
dióxido de carbono (CO2) em todo o
mundo e taxar essas emissões tem
sido uma das iniciativas a que muitos
governos têm recorrido para desin-
centivar a compra de modelos mais
poluentes. Mas os números nem sem-
pre batem certo e Portugal é exemplo
disso. Há modelos que, na variante
híbrida, com menos emissões de CO2,
pagam mais imposto no momento da
matrícula, o ISV, do que a variante a
gasolina, mais poluente.
Isso acontece porque o Imposto
Sobre Veículos é calculado com base
em duas componentes, a cilindrada
e as emissões, com a primeira a ter
um peso que acaba por desvirtuar a
lógica do princípio poluidor-pagador,
castigando os condutores que
tenham comprado um carro que, em
termos oÆciais, emite menor quanti-
dade de CO2.
Um primeiro exemplo: quem esti-
ver indeciso entre um Renault Clio
TCE 90, que usa gasolina, e o Clio
E-Tech Full Hybrid 145 não encontra-
rá razões Æscais para escolher a ver-
são híbrida, que é menos poluente.
Quando Æzer as contas ao ISV e ao
IVA, concluirá que terá de entregar
ao Estado mais 1729,73 euros se optar
pela versão híbrida, que emite até
25% menos CO2 por cada quilómetro
percorrido.
Isso acontece porque Portugal é um
dos últimos cinco países (a par da Bél-
gica, Chipre, Polónia e Hungria) que,
no momento da atribuição da primei-
ra matrícula, ainda usam a cilindrada
para calcular o imposto a pagar, con-
ferindo a esta componente um peso
que torna carros mais “limpos” Æscal-
mente menos competitivos. No exem-
plo, a versão híbrida está equipada
com um motor de 1598 centímetros
cúbicos de cilindrada. Como tal, paga
mais imposto do que a versão a gaso-
lina, cujo motor é mais pequeno
(999cm3), embora em laboratório
emita mais CO2 do que a versão híbri-
da. Outro exemplo: o Dacia Jogger
TCE 110, a gasolina, paga menos
1760,15 euros de imposto do que o
Dacia Jogger Hybrid 140. A razão é a
mesma, apesar de este último emitir
quase 18% menos CO2 por quilómetro
percorrido.
Noutros casos, o peso do ISV reduz
ao mínimo a diferença de preço entre
híbrido e motor térmico ou de com-
bustão. É o caso do Peugeot 208. A
versão PureTech 100 e a versão
Hybrid 100 têm um motor térmico
com a mesma cilindrada. Porém, o
híbrido emite menos 8% de CO2 por
quilómetro percorrido, de acordo
com o fabricante, o que, no valor do
ISV (com IVA), se traduz nuns meros
4,25 euros de vantagem.
Foi em 1987 que o Estado criou um
5
Portugal é um dos últimos
cinco países da UE que, aquando
da atribuição da primeira
matrícula, usam a cilindrada
para calcular o imposto a pagar
Fiscalidade automóvel Economia
DANIEL ROCHA
Algumas
variantes
híbridas
perdem
competitivida-
de fiscal face
às variantes
com motor
térmico
devido às
regras
portuguesas
do ISV
imposto que hoje se chama ISV, cujo
valor era calculado com base na cilin-
drada. Era primeiro-ministro Aníbal
Cavaco Silva. Chamava-se então
Imposto Automóvel e entrou em vigor
a 1 de Janeiro de 1988. Naquela altura,
não se falava de Æscalidade verde e a
emissão de CO2 era ignorada. Esta só
passou a ser considerada na reforma
de 2007, com José Sócrates no lugar
de primeiro-ministro, mas já nessa
altura os representantes nacionais da
indústria automóvel defendiam a
extinção faseada do cálculo com base
na cilindrada, considerando que se
tratava de uma forma “cega” de fazer
as contas.
UE pouco homogénea
Quando se olha hoje para a prática
Æscal dos 27 Estados-membros da
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 33
NELSON GARRIDO
União Europeia, veriÆca-se que há
uma grande variedade.
A Suécia é um caso à parte, porque
apenas cobra IVA pela introdução de
um veículo novo nas estradas. Os res-
tantes países cobram um imposto
adicional na primeira matrícula, sem
usarem a cilindrada no cálculo.
Mais de uma dezena de países refe-
rem explicitamente as emissões de
CO2. Na Áustria, é o único critério, tal
como em Espanha. Em países como
Finlândia e Grécia, é tido em conta
ainda o preço de venda do carro.
Outros Estados, como os Países Bai-
xos, conjugam as emissões de CO2
com a “eÆciência do combustível”, ou
com as emissões de óxido de azoto,
nocivas para a saúde, como sucede
na Irlanda. Há também países que
têm em conta a potência do motor,
medida em cavalos, como Itália e
Eslováquia.
As soluções mais simples surgem
em países como Alemanha, Bulgária,
Estónia ou Roménia, onde os custos,
relativamente baixos, são iguais para
todos e correspondem no essencial
ao custo administrativo do registo de
uma nova matrícula.
Já em Portugal, paga-se o ISV em
função do CO2 e da cilindrada, valor
ao qual o Estado ainda aplica IVA. O
proprietário incorre ainda em custos
administrativos pelo registo e o custo
das placas de matrícula. Desde 2007,
o código do ISV foi alterado 30 vezes,
mas nenhuma dessas alterações teve
em conta que o Estado português
acaba por penalizar no ISV quem
escolhe comprar carros de menores
emissões.
No entanto, foi precisamente esse
o argumento que o Governo hoje em
gestão usou, em 2023, para tentar
aumentar o Imposto Único de Circu-
lação (IUC). Na proposta de Orçamen-
to do Estado para 2024, o executivo
propôs o Æm da isenção da compo-
nente ambiental no IUC para os car-
ros mais antigos (com matrícula ante-
rior a 1 de Julho de 2007).
Alegava no essencial que os carros
mais antigos poluíam mais e, como
tal, deveriam pagar mais, passando a
estar sujeitos à componente de CO2.
O dióxido de carbono contribui para
o efeito de estufa, um fenómeno físico
que conduz ao aquecimento global,
encarado actualmente como uma
crise climática que ameaça todo o
planeta. Por essa razão, justiÆca medi-
das de todo o tipo.
As emissões dos veículos híbridos
são objecto de um grande debate,
sobretudo no caso daqueles com liga-
ção à corrente (PHEV), porque as
emissões reais são diferentes das que
são declaradas pelos fabricantes. Ain-
da esta semana, o Tribunal de Contas
Europeu reconheceu, num relatório
de auditoria — em que conclui que as
regras europeias do CO2 beneÆcia-
ram mais os fabricantes do que o
ambiente —, que há uma grande dife-
rença entre as emissões declaradas
pelos fabricantes e as emissões reais
dos híbridos, tal como tem sido com-
provado por diferentes estudos, um
deles feito pela própria Comissão
Europeia (CE).
Analisando dados de 122 mil veícu-
los híbridos eléctricos, relativos a
2021, a CE concluiu que os híbridos
eléctricos emitem 3,5 vezes mais CO2
do que aquilo que lhes é creditado no
certiÆcado de conformidade.
A razão desta discrepância nos
híbridos plug-in reside no facto de o
fabricante declarar um valor apurado
em laboratório mas a emissão em
estrada depender do comportamen-
to do condutor. Se este usa mais o
motor térmico, alimentado a combus-
tível fóssil, do que o motor eléctrico,
que nestes modelos tem uma autono-
mia relativamente baixa (à volta dos
50 quilómetros), as emissões reais
serão maiores do que as declaradas.
com Carla B. Ribeiro
34 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Economia
“Estamos a trabalhar
na grande reforma
das denominações
de origem Douro e Porto”
Gilberto Igrejas Presidente do IVDP confessa-se preocupado
com “a marca” vinho do Porto, revelando-se optimista em
relação ao futuro dos vinhos tranquilos que ali se produzem
Entrevista
Ana Isabel Pereira Texto
José Sérgio Fotografia
O Instituto dos Vinhos do Douro e
do Porto (IVDP) prepara-se para
enviar à tutela uma série de
propostas de alteração à lei que
regulamenta as denominações de
origem na região demarcada do
Douro, revela, em entrevista ao
PÚBLICO, o seu presidente. A
discussão mais difícil, explica,
faz-se em torno da redução da
produtividade máxima por
hectare, que, a avançar, terá
sempre consequências ao nível do
rendimento dos viticultores.
Começando pela Casa do Douro:
que competências continuarão a
ser só do IVDP e quais aquelas
que serão partilhadas com o
novo organismo de natureza
pública?
Relativamente a esse assunto,
como deve calcular, até porque
estive envolvido nas audições Ænais
da Assembleia da República, vou
esperar que o diploma siga a sua
via. Quando o diploma vir a luz do
dia, após a apreciação do senhor
Presidente da República,
poderemos falar.
Sente que algo ainda pode
mudar, quando essa lei for ao
Presidente da República.
Não interprete isso assim. Vou
aguardar pelo Ænal, apenas e só. O
senhor Presidente da República
agora terá de apreciar o diploma.
Fica a sensação de que se esvazia
o instituto e o professor foi
reconduzido por mais cinco anos
há pouco tempo.
É a sua apreciação, mas não teço
comentários.
Falemos da crise que atravessa a
região. Há quem defenda que se
deveria arrancar vinhas para
equilibrar a oferta e a procura,
reduzir a produção máxima
permitida por hectare, que é
muito mais elevada face à
produtividade real da região.
Isso está a ser estudado?
Um dos temas que está em análise
pelo conselho interproÆssional do
IVDP — e amanhã [ontem] vamos
ter mais uma reunião — é
precisamente a questão da
produtividade por hectare, de
saber se devemos ou não manter a
produtividade por hectare que
temos actualmente, 7500kg por
hectare. Se a diminuirmos, a
matéria-prima vai ser menor e vai
diminuir a oferta.
Agora, o que está aqui em causa
são as implicações para o
agricultor. Criámos um grupo de
trabalho para saber quais são as
implicações directas e indirectas a
curto, médio e longo prazo que
esta decisão pode acarretar. Outra
[questão] que está em discussão: a
eliminação do stock mínimo de
75.000 litros para o vinho do Porto.
Essa medida já foi votada,
unanimemente, e deixa de existir
essa obrigatoriedade.
Também foi votada, há um tempo,
a questão da rotulagem das vinhas
velhas como uma mais-valia para a
preservação do património
genético do Douro.
A alteração da produção
máxima permitida por hectare
também inÇuenciaria a
valorização da uva? Ou seja,
produzir-se-ia menos, mas as
uvas seriam mais bem pagas.
Claro. No Decreto-Lei 173/2009
[que regulamenta o estatuto das
denominações de origem e
indicação geográÆca da Região
Demarcada do Douro], aquilo que
nós estamos a ver é precisamente
como é que medidas estruturais
que nós estamos a projectar
podem ter uma implicação directa
ao nível da valorização da
matéria-prima. Temos de acautelar
que as medidas concretas que nós
vamos propor à senhora ministra
da Agricultura e da Alimentação —
foi esse o desaÆo que a senhora
ministra lançou ao conselho
interproÆssional — poderão
resolver os problemas estruturais
que temos vindo a debater e
acautelar o futuro da região.
Vão propor uma redução da
produção por hectare?
Eu não lhe estou a dizer que vai
sair esse caminho, estou a dizer
que está em discussão.
A principal vantagem de acabar
com o stock mínimo é facilitar
também a entrada de novos
agentes económicos.
Claro. Estamos a falar aqui de uma
nova revolução. Tivemos em
tempos os “Douro boys” e agora
podemos ter os “Porto boys”. Será
importante essa entrada de sangue
novo no vinho do Porto, poderá
trazer um novo espírito de
comunicação e por esta via haver
uma valorização do preço unitário
de garrafa. Vão produzir menos
garrafas, mas vão, seguramente,
querer vender essas garrafas a um
preço diferenciado.
Voltando à produtividade — no
que estão a estudar está, por
exemplo, a possibilidade de
apertar a malha de certiÆcação
da Denominação de Origem
Controlada (DOC) Douro?
A malha é muito apertada. A
certiÆcação dos vinhos do Douro e
do Porto obedece a critérios muito
rigorosos, e não é só ao nível da
Æscalização.
Então há é muita produção, é
isso?
Eu não disse que a produção é
muita. O que eu digo é que nós
temos de arranjar medidas que
permitam escoar o produto a um
preço que valorize a continuidade
do trabalho por parte do agricultor.
Mas, se nós conseguirmos vender
tudo, a produção até pode ser
escassa.
Mas não vendem, não é? E é tudo
denominação de origem. A
indicação geográÆca não
representa nada.
Por isso é que eu dizia que a
produtividade é [só] uma questão.
A nossa certiÆcação é muito
exigente, é um símbolo de
garantia. E os nossos critérios de
exigência estão sempre a
aumentar. Comprámos
equipamentos de ponta que
permitem uma certiÆcação muito
mais célere. Coleccionamos dados
que nos permitem fazer
correlações laboratoriais. E, nas
nossas acções de Æscalização e
controlo, fazemos todos os dias
visitas aos agentes económicos.
Reduzir a produção máxima
permitida por hectare terá
consequências na questão do
desequilíbrio do preço para DOC
Douro e vinho do Porto, a já
gasta questão de a mesma uva
ter dois preços?
Não lhe posso responder a essa
questão sem antes saber qual vai
ser a conclusão do grupo de
trabalho que avaliar isso. No
Decreto-Lei 173/2009, há dois
artigos que estão precisamente em
Tivemos em tempos
os ‘Douro boys’
e agora podemos
ter os ‘Porto boys’.
Será importante
a entrada
de sangue novo
discussão e vão a votação nesta
altura, o 10.º e o o 12.º, e que têm
relação directa precisamente com
essa matéria. Só falta votar esses
dois artigos, de [propormos]
alterar ou não a produtividade por
hectare [autorizada].
O preço pago pela uva é uma das
questões mais discutidas na
região. E ninguém está contente.
Uns porque, vendendo para
vinho do Porto, recebem o
mesmo que recebiam há 20
anos. Os outros, porque não
recebem para cobrir custos de
produção.
É verdade que, no caso do vinho
do Porto, não tem existido essa
valorização anual. Este ano, julgo
que se cifra em 2,3% o acréscimo
do pagamento da DOP
[Denominação de Origem
Protegida] Porto deste ano em
relação à vindima de 2022. No caso
da DOP Douro, houve uma ligeira
quebra no ano passado. Em 2022,
eram 525 euros, em média, por
uma pipa. Este ano, pelos valores
que nós temos — e no Ænal do mês,
vamos fechar —, a média está nos
505 euros. Houve uma
desvalorização de cerca de 20
euros.
Está em cima da mesa actualizar
o método de classiÆcação de
parcelas de Moreira da Fonseca?
Temos falado em reunir um grupo
 Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 35

Economia

importa valorizar. Preocupa-nos a categorias, como foi o caso do

cientíÆco, mais técnico, fora do
IVDP, ligado à academia e à
marca Porto e este decréscimo,
mas importa valorizar este
crescimento do Douro. E
seguramente que o Douro vai ser
uma marca muito mais importante
no futuro do que aquilo que é hoje.
Há uns meses, as casas
exportadoras estavam
preocupadas com as novas
regras da rotulagem no Reino
Unido. Mas esse mercado
aparece em terceiro lugar.
Aí houve variação, uma troca com
os Estados Unidos, que desceram.
Houve crescimentos do Reino
Unido e dos Países Baixos. Em
Agosto, entrou a nova tributação
Æscal no Reino Unido e, em Maio,
Junho e Julho, as casas
exportadoras começaram a
exportar mais rapidamente e, se a
memória não me atraiçoa, nós
atingimos até 1 de Agosto cerca de
189% de crescimento face ao ano
anterior, só vinho do Porto. Mas
também, é bom dizê-lo, o Reino
Unido cresceu mais em quantidade
do que propriamente no aumento
do preço médio por litro. Ao
contrário do que aconteceu na
maioria dos mercados
internacionais, em que houve um
decréscimo de quantidade, mas
um acréscimo no preço médio por
litro.
O que é que aconteceu, por
exemplo, com França, mercado
muito tradicional para o nosso
vinho do Porto?
É um mercado tradicional, mas
como do valor médio? Os
mesmos vinhos surgem mais
Seguramente
que o Douro
vai ser uma marca
muito mais
importante
no futuro do que
aquilo que é hoje
onde temos vindo a apostar, há
muitas décadas, na promoção.
Tivemos lá o Master of Port, temos
as acções com as escolas de
hotelaria, estivemos pela primeira
vez no concurso do Melhor
Sommelier do Mundo.
Todas essas acções levam o que
é o outro vinho do Porto, as
categorias especiais.
Precisamente. Em 2023, em termos
de valor de vinho do Porto [cá
dentro e lá fora, 367,131 milhões de
euros], as categorias especiais
atingem 46%, com uma quota de
22% de quantidade. Estão a ser
vendidas a um preço bastante
superior em relação ao preço
médio por litro do vinho do Porto
[5,59 euros, mais 3,1%]. E é essa a
aposta que nós queremos
continuar a fazer. Inovando
também na criação de novas
Very, Very Old e do 50 Anos.
O que mais pode a região fazer
para inverter uma tendência
que, de resto, é mundial, com
uma redução generalizada do
consumo de bebidas mais
alcoólicas?
Devemos apostar fortemente na
protecção das DOP Douro e Porto,
que são alvo de parasitagem,
usurpação, cópia e todo o tipo de
acções que nós vamos
conhecendo, cada vez em mais
países, o que mostra bem a
importância que a marca colectiva
Douro e Porto tem no mundo. E
devemos continuar a apostar em
acções de promoção nos mercados
prioritários. E depois levar essas
acções também a mercados que
não foram explorados no passado
e que se tornaram também
relevantes, como a Escandinávia e
os Países Baixos, por exemplo,
onde temos investimento previsto
para 2024.
Olhando mais em detalhe, os
espumantes do Douro também
estão com bons indicadores.
O espumante do Douro está a fazer
o seu caminho, em crescendo [869
mil euros em 2023, mais 8,7%; e
preço médio por litro nos 9,27
euros, mais 9,4%], e é um produto
novo, que o consumidor já
conhece. E há até negócios que
têm sido feitos, com grandes casas
envolvidas, na região demarcada
do Douro precisamente por causa
do espumante.
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investigação, que nos pudesse valorizados cá dentro do que lá

fazer essa adaptação. Vários
conselheiros sugeriram que, após
este trabalho que estamos a fazer
no Decreto-Lei 173/2009, e estamos
a trabalhar na grande reforma das
denominações de origem
protegidas Douro e Porto na
região, devíamos fazer esse
trabalho com o método Moreira da
Fonseca.
E usar excedentes de vinho para
produzir aguardente para o
vinho do Porto...
Olhe, é uma das propostas que a
produção apresentou no conselho
interproÆssional. Alguns dos
conselheiros ligados à produção
acham que poderia resolver a curto
prazo a questão de alguns stocks
existentes.
Disse que já foram votadas
alterações aos outros artigos da
lei que regula a região
demarcada. Que propostas de
alteração serão feitas?
Há propostas de alteração em
diversas áreas, que vão ser
remetidas em envelope fechado à
senhora ministra da Agricultura da
Alimentação.
Em 2023, o mercado nacional
volta a compensar, em parte, as
quebras nas exportações. Pode
falar-nos dessa evolução, assim
fora.
O condicionalismo das exportações
[caíram 7,7% em volume e 4,7% em
valor] foi mitigado precisamente
com um consumo nacional [mais
4,7% em valor, menos 2,6% em
volume], mas por parte dos
turistas, mesmo no caso do vinho
do Porto. Mesmo assim, chegámos
ao Ænal do ano com um
decréscimo de 1% nas vendas em
valor [total da região foi de 615,498
milhões de euros]. É um valor de
1%, mas que nos preocupa, porque
devíamos estar em tendência de
crescimento. Em 2019, estávamos a
crescer a dois dígitos nas
exportações do Douro. E
queríamos continuar nessa
tendência de crescimento agora.
Ambicionamos isso.
Mas não é só o mercado
nacional, são também as vendas
do DOC Douro a compensar a
quebra das do vinho do Porto.
Há mais diÆculdade na venda dos
vinhos licorosos a nível mundial,
não é apenas no vinho do Porto.
Mas os vinhos [tranquilos – vinhos
comuns, de fermentação natural]
do Douro acabam por ter hoje uma
notoriedade diferente daquela que
tinham há 30 anos. Há uma nova
marca colectiva, que também
Circulação Condicionada | A7
Na A7, de 31 de janeiro a 29 de fevereiro, das 21h às 7h, realizaremos trabalhos de beneficiação
do pavimento que implicarão alguns cortes de tráfego nos seguintes locais do Nó da Póvoa
de Varzim (A7/A28) e na plena via da A7 entre a o Nó de Ligação à EN206 e o Nó com a EN206.
Datas: Acessos afetados:
Ramo de saída da A7 para A28, direção V.na do Castelo/ Pov. Varzim, sentido crescente V. Conde
– Famalicão – Ramo B do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28)
Ramo de saída da A7 para A28, direção V.na do Castelo/ Pov. Varzim, sentido decrescente Famalicão
– V. Conde – Ramo C do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28)
Ramo de saída da A7 para A28, direção Porto/Porto de Leixões, sentido decrescente Famalicão –
31/01 a 29/02 V. Conde – Ramo F do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28)
Entrada na A7 a partir do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28) na direção Póvoa de Varzim/ V. Conde
– Famalicão no sentido crescente – Ligação 1 do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28)
Saída na A7 a partir do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28) na direção Famalicão – V. Conde no
sentido de decrescente – Ligação 1 do Nó da Póvoa de Varzim (A7/A28)
Sublanço Nó de Ligação à EN206 – Nó com a EN206 sentido Póvoa – Famalicão
Sublanço Nó com a EN206 – Nó de Ligação à EN206 sentido Famalicão – Póvoa
Os condicionamentos e desvios estarão devidamente sinalizados nos
locais.
Para mais informações consulte regularmente o site Ascendi utilizando o
código QR ao lado, aceda a www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H).
Ascendi Norte, Auto-Estradas do Norte, S.A.
36 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Economia
“Muita gente está pior”: ruas voltam a
encher-se com manifestações pela habitação
Rafaela Burd Relvas
Manifestação pelo direito
à habitação de hoje exige
regulação das rendas
e redução das prestações
de crédito à habitação
Pela terceira vez em menos de um
ano, as ruas de perto de duas dezenas
de cidades por todo o país vão hoje
voltar a encher-se de manifestações
pelo direito à habitação. Depois dos
protestos de Abril e Setembro do ano
passado, e agora com as eleições legis-
lativas à porta, a plataforma Casa Para
Viver convocou uma nova manifesta-
ção e espera a participação de “milha-
res de pessoas”, numa altura em que,
garante, “muita gente está pior agora
do que estava em 2023”. A regulação
das rendas, a redução das prestações
de crédito à habitação e a imposição
de limites às licenças turísticas estão
entre as reivindicações.
“Estamos fartos da mesma conver-
sa de sempre.” Assim começa o novo
manifesto da Casa Para Viver, que
convocou a primeira destas manifes-
tações, no ano passado, pouco tem-
po antes de o Governo ter apresen-
tado pela primeira vez o Mais Habi-
tação, pacote legislativo criado com
o objectivo de dar resposta à crise
habitacional e que, entretanto, já
entrou em vigor, mas cujas medidas
Æcaram longe daquelas que eram as
Taxas Euribor descem depois da reunião do BCE
Rosa Soares
As taxas Euribor registaram ontem
uma queda expressiva (quando
comparada com as pequenas varia-
ções dos últimos dias), naquela que
foi a primeira sessão depois da reu-
nião do Banco Central Europeu
(BCE).
O BCE manteve as taxas directoras
e Christine Lagarde, presidente da
instituição, até procurou travar algum
entusiasmo sobre a possibilidade de
um corte já em Março, mas o cenário
macroeconómico apresentado quin-
ta-feira dá força a quem espera uma
viragem na política monetária do
banco central já em Março.
A descida da Euribor veriÆcou-se
nos três prazos utilizados nos emprés-
timos às famílias e às empresas, mas
o recuo mais expressivo veriÆcou-se
no prazo a 12 meses.
expectativas dos movimentos que
lutam pelo direito à habitação. Entre
as medidas deste pacote contam-se,
por exemplo, regras mais apertadas
para a actividade de alojamento
local; incentivos Æscais à redução de
rendas; a protecção de inquilinos
com contratos de arrendamento
antigos; limites às rendas de novos
contratos de arrendamento; ou
apoios directos para as famílias com
taxas de esforço elevadas com o
pagamento da renda ou da prestação
do crédito à habitação.
De fora, por outro lado, Æcaram
praticamente todas as exigências que
têm sido feitas pelas associações,
Última grande manifestação sobre habitação ocorreu em Setembro
A Euribor a 12 meses, a que está
mais presente nos créditos à habita-
ção em Portugal (37,4%), desceu para
3,597%, menos 0,065 pontos percen-
tuais do que na véspera e cada vez
mais longe do máximo de 2023, de
4,228%, registado a 29 de Setembro.
Igualmente a registar um recuo
signiÆcativo, em termos de variação
diária, esteve o prazo de seis meses,
que baixou para 3,873%, menos 0,038
pontos percentuais do que na sessão
anterior e também cada vez mais lon-
ge do máximo de 2023, de 4,143%,
registado em Outubro. Esta taxa está
presente em 36,1% dos empréstimos
existentes em Portugal.
A Euribor a três meses também
caiu 0,038 pontos percentuais face à
sessão anterior, Æxando-se em
3,887%, depois de também ter atingi-
do 4%, mais precisamente 4,002%,
no Ænal do ano passado.
O ano de 2024
começou com
muitas rendas
a subirem 7% e, por
isso, muita gente
está pior agora do
que estava em 2023
Organização Casa Para Viver
NUNO FERREIRA SANTOS
Contudo, as descidas expressivas
das prestações ainda vão demorar a
sentir-se na carteira dos portugueses,
ocorrendo à medida que os contratos
vão sendo revistos. Os contratos asso-
ciados à Euribor a 12 meses, a rever
no próximo mês, ainda não deverão
trazer uma diminuição do valor a
Taxa de 12 meses
3,597%
A Euribor a 12 meses, a que
está mais presente nos
créditos à habitação em
Portugal (37,4%), desceu 0,065
pontos percentuais ontem.
organizações e movimentos activis-
tas que actuam nesta área. No mani-
festo dos protestos de hoje, são elen-
cadas sete reivindicações: redução
das prestações do crédito à habita-
ção; redução e regulação das rendas
e prolongamento da duração dos
contratos; Æm dos despejos, desocu-
pações e demolições “sem alternativa
de habitação digna”; revisão das
licenças para “especulação turística”;
Æm dos regimes Æscais que beneÆ#
ciam o investimento em imobiliário;
forçar a entrada imediata no merca-
do de imóveis devolutos de “grandes
proprietários, fundos e empresas”;
e aumento do parque habitacional
público.
A isto, soma-se um cenário em que
os custos de acesso à habitação con-
tinuam a aumentar sem sinais de uma
inversão da tendência, seja no arren-
damento ou no mercado de compra
e venda. Este ano, os senhorios
podem actualizar as rendas já em
vigor em 6,94%, o maior aumento
dos últimos 30 anos, ao mesmo tem-
po que o valor mediano das rendas
nos novos contratos continua a bater
recordes. Também os preços de ven-
da das casas continuam a ultrapassar
níveis históricos, apesar de o merca-
do já estar em contracção, com o
número de vendas a cair de forma
signiÆcativa.
Assim, a organização da Casa Para
Viver antecipa nova adesão signiÆca-
tiva à manifestação de hoje. Para já,
pagar, porque a última revisão, em
Fevereiro de 2023, teve uma taxa
mais baixa, de 3,33%. O que as recen-
tes descidas permitem é anular as
fortes subidas veriÆcadas até Setem-
bro do ano passado.
Nos contratos a rever em Fevereiro
associados a três e seis meses, as pres-
tações deverão cair, mas ligeiramen-
te, comparativamente às fortes subi-
das das revisões anteriores.
A subida das taxas Euribor, que
estão presentes em perto de 90%
dos empréstimos à habitação, ini-
ciou-se em 2022, e foi muito rápida,
passando de cerca de -0,5% para
valores acima de 4%.
Para essa aceleração contribuiu a
forte subida das taxas directoras do
BCE, o instrumento utilizado para
travar o aumento da inÇação na zona
euro e trazê-la para a meta desejada,
dos 2%. A taxa de depósitos do BCE,
está conÆrmada a participação em 19
locais: Lisboa, Porto, Setúbal, Braga,
Aveiro, Faro, Lagos, Portimão, Albu-
feira, Leiria, Benavente, Coimbra,
Viseu, Funchal, Covilhã, Évora, Beja,
Sines, Portalegre.
Há ainda cerca de 50 associações,
movimentos ou organizações que se
associaram oÆcialmente aos protes-
tos, mas “muitas mais a partilhar nas
redes sociais e a conÆrmar que parti-
ciparão na manifestação”, refere ao
PÚBLICO o porta-voz da organização
da plataforma.
Para hoje, esperam-se “milhares
de pessoas”, como já aconteceu nas
manifestações do ano passado. “O
ano de 2024 começou com muitas
rendas a subirem 7% e, por isso, mui-
ta gente está pior agora do que estava
em 2023”, aponta a mesma fonte,
ressalvando que, em Lisboa, onde se
concentra o maior número de mani-
festantes, a câmara municipal retirou
os cartazes da manifestação por
várias vezes. “Tivemos de colar car-
tazes duas ou três vezes nas mesmas
áreas porque continuavam a ser reti-
rados. Esperemos que isso não tenha
impacto no número de pessoas que
saibam da manifestação e que
venham”, explica.
Para o resto do ano, não estão ain-
da marcados novos protestos, mas os
colectivos associados à Casa Para
Viver planearão “novas acções após
a manifestação deste sábado
[hoje]”.
que serve de referência para os custos
de Ænanciamento na zona euro, che-
gou aos 4%, patamar em que se man-
tém após a reunião de anteontem,
mas poderá começar a descer breve-
mente.
Com a queda da inÇação, o movi-
mento de descida das taxas Euribor
começou bem mais cedo do que se
esperava, antecipando a viragem da
política monetária do BCE em Março
ou Abril, ou um pouco mais à frente.
A pressionar o BCE está também o
abrandamento das economias da
zona euro, com destaque para o
“motor” europeu, a Alemanha, que
registou uma contracção no último
trimestre de 2023.
As Euribor são Æxadas diariamente
pela média das taxas às quais um con-
junto de 19 bancos da zona euro está
disposto a emprestar dinheiro entre
si no mercado interbancário.
 Público ClassiÄcados • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 37

Leilões Eletrónicos
   
dĞ dĞ dĞ dĞ
MďŝĚŽƐ Castelo de Óbidos
ƌ ŵŝ
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MďŝĚŽƐ ƌŵŝ
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ŽůĂƌĞƐ ƌŵ
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ĂƌƚĂdžŽ ƌŵŝ
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/ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘ /ŵſǀĞŝƐŝƐĞŶƚŽƐĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘

Termina a 30 de ũĂŶ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϮϬ Termina a 30 de ũĂŶ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϭϬ Termina a 02 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ

ZƷƐƟĐŽ Ϯdž>ŽũĂƐ 2x >ŽƚĞƐĚĞƚĞƌƌĞŶŽ

ZƵĂƌ͘&ĞƌŶĂŶĚŽŶĚƌĞĂ͕ZŽĚşnjŝŽ Termina a 31 de ũĂŶ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϱ “Quinta das Correias”

7.140,00m²
V2 - Fração C V1 - Fração B DŽƌĂĚŝĂdϲ Verba nº1
144,00m²
Verba nº2
220,00m²
34,20m² 119,70m²
N114, Óbidos N114, Óbidos 20min A16 785,00m² 6 2 Rua do Progresso 19 // Rua A 65, Cartaxo
1min A8 1min A8 3min da Praia das Maçãs 6min A1
2.240,00m² 7 3
1min do Castelo de Óbidos 1min do Castelo de Óbidos 15min do Centro de Sintra | 30min de Lisboa
4min centro do Cartaxo
Valor de venda: 135.000,00€ Valores de venda: (V1) 115.000€ (V2)50.000€ Valor de venda: 1.803.375,00€ Valor de venda: (V1)45.000,00€(V2)35.000,00€
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞĂƐŝŶŚĂΖMďŝĚŽƐ͕>ĚĂ͘ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞĂƐŝŶŚĂΖMďŝĚŽƐ͕>ĚĂ͘ ͲĐͬƉŝƐĐŝŶĂŝŶƚĞƌŝŽƌĞůŽŐƌĂĚŽƵƌŽͲ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞƵŐĠŶŝŽ&ĞƌƌŽĞD͘ŽŶĐĞŝĕĆŽ&ĞƌƌŽ ĞƐŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽ
Processo nº 1524/23.7T8AC Processo nº 1524/23.7T8AC Processo nº 21089/15.2T8SNT Processo nº DES20231120


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ŐƵĞĚĂ ƌŵŝ
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^ƚǐDĂƌŝĂĚĂ&ĞŝƌĂ ^͘DĂƌƟŶŚŽĚŽWŽƌƚŽ ĂƌƌĞŝƌŽ &ƌĂĕĆŽ &ƌĂĕĆŽ/
&ƌĂĕĆŽ &ƌĂĕĆŽ,

Termina a 02 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϭϬ Termina a 06 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 07 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ
DĞĂĕĆŽĚĞDŽƌĂĚŝĂdϱ DŽƌĂĚŝĂdϮ ƉĂƌƚĂŵĞŶƚŽdϮ
c/ logradouro c/ parqueamento Qta das Rebelas, nº 20 Termina a 08 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ
c/anexos, logradouro e piscina

110,00m² 335,20m² 3 2 1 139,10m² 2 2

ƌŵĂnjĠŵ/ŶĚƵƐƚƌŝĂů /ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘
393,00m² 2.760,00m² 4 6 1
Rua Joaquim Valente de Almeida, 160 Travessa Bairro do Sol, nº15, Pigeiros ZƵĂŽŵĂŶĚĂŶƚĞŶƚſŶŝŽDĂƌƟŶƐ͕ŶǑϭ͕sŝůĂŽĂ (Composto por 4 frações autónomas)
2 3min A39 Loteamento industrial
5min IC2 4min A32 10min A8
872,10m² 5min do Centro do Barreiro Proximidade a bens e serviços
1min do Centro de Águeda 10min Centro de Sta. Maria da Feira ϮŵŝŶĚĂĂşĂĚĞ^͘DĂƌƟŶŚŽ
165.285,00€ 190.000,00€ 260.200,00€ 849.915,00€
Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ:ŽĂƋƵŝŵůŵĞŝĚĂ
Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞDĂŶƵĞů^ĂŶƚŽƐĞƵƌĠůŝĂWĂŝǀĂ
Processo nº 489/22.7T8OAZ
Valor mínimo de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ&ĞƌŶĂŶĚŽDĂƌŝĂĞƵůĐĞ^ĂŶƚŽƐ
Processo nº 2382/22.4T8LRA
KƉŽƌƚƵŶŝĚĂĚĞĚĞEĞŐſĐŝŽ Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂƐĚĞ&ƌĂŶĐŝƐŐŽŽĚ͕>ĚĂ͘Ğ&ƌĂŶĐŝƐĐŽ͕>ĚĂ͘
Processos nº 288/22.6T8FND e 831/23.3T8BRR
Processos nº 1515/20.0T8AVR

dŽŵĂƌ sŝůĂŽǀĂĚĂ>ŝdžĂ Faro >ŽƵůĠ ƌŵĂĕĆŽĚĞWġƌĂ

hŶŝǀĞƌƐŝĚĂĚĞĚŽůŐĂƌǀĞ

Termina a 20 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 21 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϱ Termina a 27 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 27 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϭϬ Termina a 27 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϭϱ
DŽƌĂĚŝĂdϯ ĚŝİĐŝŽ ϮdžƉĂƌƚĂŵĞŶƚŽƐ ƉĂƌƚĂŵĞŶƚŽdϭ Loja
ĐͬƌƷƐƟĐŽ ĐͬϳĚŝǀŝƐƁĞƐĚĞƵƟůŝnjĂĕĆŽŝŶĚĞƉĞŶĚĞŶƚĞ c/ parqueamento e arrecadação c/ parqueamento
sϯϮ - (T1) sϯϰ - (T2)
122,00m² 560,00m² 3 1 2 507,00m² 2 85,55m² 118,41m² 81,11m² 1 1 87,78m² 1
Serra, Tomar Rua Dr. António Pinto Carvalho Coimbra Rua Fortes Rodrigues (Bloco A), nº3 Rua Alberto Iria, nº2, Loulé hƌď͘ƌŝƐƉŝŵ͕^şƟŽĚĂƚŽƌƌĞ͕ĚŝİĐŝŽ'ŝůĆŽ///
10min A23 10min A42 2min N125 10min A22 5min N125
15min do centro de Tomar Centro de Vila Cova da Lixa 10min da Praia de Faro 20min da Praia de Vilamoura 10min da Praia de Armação de Pêra
Valor minimo de venda: 104.975,00€ Valor de venda: ^ƵũĞŝƚŽĂƉƌŽǀĂĕĆŽ Valores de venda: (V32) 154.190€ (V34)130.000€ Valor de venda: 125.000,00€ Valor de venda: 85.000,00€
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂ:ŽƐĠ^ŝŵƁĞƐĞdžĞĐ͗͘ĂƌůĂ/ůĚĞĨŽŶƐŽ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂ>ƵĐŝĂŶĂDŽŶƚĞŝƌŽĞůĄƵĚŝĂWĞƌĞŝƌĂ /ŶƐŽůǀ͘&ƵŶĚŽ/ŶǀĞƐƚ͘/ŵŽď͘&ĞĐŚĂĚŽŽƌƌĞŝĂΘsŝĞŐĂƐ /ŶƐŽůǀ͘&ƵŶĚŽ/ŶǀĞƐƚ͘/ŵŽď͘&ĞĐŚĂĚŽŽƌƌĞŝĂΘsŝĞŐĂƐ /ŶƐŽůǀ͘&ƵŶĚŽ/ŶǀĞƐƚ͘/ŵŽď͘&ĞĐŚĂĚŽŽƌƌĞŝĂΘsŝĞŐĂƐ
Processos nº 3006/22.5T8STR e 665/21.0T8ENT Processos nº 1074/23.1T8AMT e 1350/23.3T8AMT Processo nº 445/10.8TYLSB Processo nº 445/10.8TYLSB Processo nº 445/10.8TYLSB

DĂƚŽƐŝŶŚŽƐ 'ŽƵǀĞŝĂ Loures Termina dia 05 de ĨĞǀ͘ de 2024, às ϭϲŚϬϬ

Grande Leilão
Máquinas e Veículos

+ 100
/ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘ Leilões Imóveis
Termina a 29 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 29 de ĨĞǀ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϯϬ
Direitos
Loja DŽƌĂĚŝĂdϯ Máquinas
c/ parqueamento c/ logradouro ZƵĂ'ĞŶĞƌĂů,ƵŵďĞƌƚŽĞůŐĂĚŽ͕WƌŝŽƌsĞůŚŽ Termina a 06 de ŵĂƌ͘ de 2024,a partir das ϭϱŚϬϬ Visitas
Virtuais Veículos
128,00m² 2 2 127,90m² 455,00m² 3 1 3
ZƷƐƟĐŽ YƵŝŶƚĂĚŽWƌŝŽƌsĞůŚŽ
(Inserido no PDM do Prior Velho c/ plano de execução)
Av. da República, nº128 e nº82, Matosinhos Rua de Santo António 29, Nespereira
14.280,00m² ϱŵŝŶϭ͕ϭϮĞϯϲ;WŽŶƚĞsĂƐĐŽĚĂ'ĂŵĂͿ Proximidade a bens e serviços
5min A28 1min N17
Av. República ϳŵŝŶĚŽĞŶƚƌŽĚĞ'ŽƵǀĞŝĂ 10min Centro de Lisboa 2h30min Centro do Porto 2h de Espanha
Valor de venda: 316.000,00€ Valor de venda: 44.352,36€ Valor de venda: 4.396.687,05€ KE^E'M/K^
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂŚĞůŽ^ƚƌĞĞƚtĂǀĞƐ͕>ĚĂ͘
Processo nº 2355/23.0T8STS
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞŶƚſŶŝŽĂďƌĂůĞ,ĞƌĂŶĕĂD͘ĂďƌĂů
WƌŽĐĞƐƐŽƐŶǑϭϮϲͬϮϭ͘ϳdϴ'sĞϮϰͬϮϮ͘ϳdϴ's Valor de abertura: 410.00,00€
>ŝƋƵŝĚĂĕĆŽŶŽąŵďŝƚŽĚĂ/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞŽŽƌĚĞŶĂĕĆŽ^ŽĐŝĞƚĄƌŝĂ^'W^^͘͘
Processo nº 19373/16.7T8LSB
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^ĞĚĞ͗
ͲŝĂƐĞŚŽƌĄƌŝŽƐĚĞǀŝƐŝƚĂƐĚŝƐƉŽŶşǀĞŝƐŶĂƐƌĞƐƉĞĐƟǀĂƐďƌŽĐŚƵƌĂƐĚĞǀĞŶĚĂ͘
ͲEĆŽĚŝƐƉĞŶƐĂĂĐŽŶƐƵůƚĂĚĂƐŽŶĚŝĕƁĞƐ'ĞƌĂŝƐĚĞsĞŶĚĂ;ŝƐƉŽŶşǀĞŝƐŶŽƐŝƚĞĞŶĂďƌŽĐŚƵƌĂͿ͘

ĞŶƚƌŽ>ŽŐşƐƟĐŽ͗ /ŶĨŽƌŵĂĕƁĞƐƉĂƌĂ͗
ZƵĂĚĂZĞƉƷďůŝĐĂ͕ŶǑϯϭ͕ϮϲϳϬͲϰϳϯ>ŽƵƌĞƐ Av. de Portugal 4, Armazém nº4,
dĞůĞĨŽŶĞ͗ϮϭϵϴϮϯϭϲϯ 2665-357 Póvoa da Galega ĐŽŵĞƌĐŝĂůΛŽŶĞĮdžͲůĞŝůŽĞŝƌŽƐ͘Ɖƚ
;ŚĂŵĂĚĂƉĂƌĂĂƌĞĚĞĮdžĂŶĂĐŝŽŶĂůͿ
38 • Público ClassiÄcados • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

26 FEVEREIRO • 2ª FEIRA • 10H00

www.cparaiso.pt FIM DO LEILÃO: 19 FEVEREIRO, 2ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 21 FEVEREIRO, 4ª FEIRA ÀS 11H00
Insolvência de Maria Isabel Azevedo Moreira Insolvência de Jorge Fernando de Almeida Gouveia
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do barreiro – Juiz 4 Ins. de Joaquim Manuel Grilo Silva e Maria Rita Borrego Alves Santos Silva
Processo nº 1989/23.7T8BRR Trib. Judicial da Comarca de Setúbal - Juízo do Comércio de Setúbal - Juiz 3 - Proc. Nº 998/14.1TBSTB Tribunal Judicial da Comarca de Santarém - Juízo de Comércio de Santarém – Juiz 3
& Processo Executivo de Anabela Teodoro Gomes Almeida Gouveia Processo nº 2004/21.0T8STR
MORADIA (R/C) • 70.441€ Trib. Judicial da Comarca de Setúbal - Juízo de Execução de Setúbal – Juiz 2 - Proc. Nº 5455/20.4TBSTB
Direito ao usufruto (Início: 2009, vitalício)
COM 2 ARRUMOS E TELHEIRO DUPLEX • 322.200€
(178,14m + AD = 25,14m) com 2 Parqueamentos
MORADIA (R/C e 1º ANDAR)
(A.T. de 294m; A.I. de 127,50m;
(ATObs:292,5m e AC 75m)
Não existe licença de habitação.
Nº 1 e 2, Cave & Arrecadação Nº 1, Sótão A.C. de 216,60m e A.B.P. de 178,20m)
55.272,00€

Av. De Vale Bem, lote 4 • AROEIRA

CHARNECA DA CAPARICA • ALMADA SETÚBAL Rua do Príncipe nº 10
VISITAS: 14 de fevereiro das 15h às 17h
Abertura de propostas na Av. Quinta Grande 3, R/C DTO.,
SANTA MARIA DA GRAÇA CORUCHE
Alfragide • 2610-153 Amadora Avenida Dr. Manuel de Arriaga 5 E - 4º A

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PALMELA
PORTAL BRANCO • AIRES
FIM DO LEILÃO: 19 FEVEREIRO, 2ª FEIRA ÀS 12H00

Insolvência de Jorge Fernando de Almeida Gouveia

Trib. Judicial da Comarca de Setúbal - Juízo do Comércio de Setúbal - Juiz 3 - Proc. Nº 998/14.1TBSTB
& Processo Executivo de Anabela Teodoro Gomes Almeida Gouveia
Trib. Judicial da Comarca de Setúbal - Juízo de Execução de Setúbal – Juiz 2 - Proc. Nº 5455/20.4TBSTB

PRÉDIO MISTO
78.750m
(Parte Urbana 60.500m • Parte Rústica 18.250m)

6.214.000€
(Em frente ao McDonald’s e Repsol)
Observações:
C A TÁLOGO ONLINE Confirmação da capacidade e da natureza construtiva, deverão ser aferidas junto dos organismos competentes oficiais.
Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt Existência de divergências de áreas entre as Cadernetas Prediais Rústicas e a Conservatória do Registo Predial. O processo encontra-se em fase de regularização.

Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA • Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt
 Público ClassiÄcados • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 39

MINISTÉRIO DA SAÚDE MINISTÉRIO DA SAÚDE

UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DE SÃO JOSÉ, E.P.E.
EXTRATO
PROCESSO DE SELEÇÃO PARA CONSTITUIÇÃO DE RESERVAS
DE RECRUTAMENTO PARA CONTRATAÇÃO DE TÉCNICOS
SUPERIORES DAS ÁREAS DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA
– PROFISSÃO DE TERAPIA OCUPACIONAL / VERTENTE DE
MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO DE ADULTOS
Faz-se público que por deliberação do Conselho de Administração
de 30-11-2023, foi autorizada a abertura de processo de seleção
FIM DO LEILÃO: 21 FEVEREIRO, 4ª FEIRA ÀS 11H30
para constituição de reservas de recrutamento para contratação
Insolvência de Bento Batista & Maria da Luz de Matos Branco Batista de técnicos superiores das áreas de diagnóstico e terapêutica –
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte - Juízo de Comércio de Vila Franca de Xira – Juiz 3 profissão de Terapia Ocupacional / vertente de Medicina Física e
Processo nº 1278/14.8TBVFX
de Reabilitação de Adultos, cujo aviso de abertura foi publicitado
TERRENO P/ CONSTRUÇÃO (13.687m2) no Diário da República, 2.ª Série, n.º 17, de 24-01-2024 – aviso n.º
1778/2024, sendo o prazo de submissão das candidaturas de 10
com benfeitorias (2 vivendas) (dez) dias úteis, contados do dia seguinte da publicação do aviso de
abertura no Diário da República, devendo as mesmas ser submetidas
255.000,00€ para o email rec.rh@chlc.min-saude.pt.
Para mais informações consultar o sítio da Internet da Unidade Local de
Saúde, https://www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoal/,
onde estão disponíveis as informações complementares para formalização
do processo de apresentação das candidaturas.
Unidade Local de Saúde de São José, EPE, 24 de janeiro de 2024
A Diretora da Área de Gestão de Recursos Humanos,
Maria Adelaide Canas
UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DE SÃO JOSÉ, E.P.E.
EXTRATO
PROCESSO DE SELEÇÃO PARA CONSTITUIÇÃO DE RESERVAS
DE RECRUTAMENTO PARA CONTRATAÇÃO DE TÉCNICOS
SUPERIORES DAS ÁREAS DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA
– PROFISSÃO DE TERAPIA OCUPACIONAL / VERTENTE DE
PEDOPSIQUIATRIA
Faz-se público que por deliberação do Conselho de Administração
de 30-11-2023, foi autorizada a abertura de processo de seleção
para constituição de reservas de recrutamento para contratação
de técnicos superiores das áreas de diagnóstico e terapêutica –
profissão de Terapia Ocupacional / vertente de Pedopsiquiatria, cujo
aviso de abertura foi publicitado no Diário da República, 2.ª Série, n.º
17, de 24-01-2024 – aviso n.º 1776/2024, sendo o prazo de submissão
das candidaturas de 10 (dez) dias úteis, contados do dia seguinte da
publicação do aviso de abertura no Diário da República, devendo as
mesmas ser submetidas para o email rec.rh@chlc.min-saude.pt.
Para mais informações consultar o sítio da Internet da Unidade Local de
Saúde, https://www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoal/,
onde estão disponíveis as informações complementares para formalização
do processo de apresentação das candidaturas.
Unidade Local de Saúde de São José, EPE, 24 de janeiro de 2024
A Diretora da Área de Gestão de Recursos Humanos,
Maria Adelaide Canas

Rua 1 de Maio, nº 37 • Pinhal do Justino

SAMORA CORREIA MINISTÉRIO DA SAÚDE
BENAVENTE UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DE SÃO JOSÉ, E.P.E.
EXTRATO
OFEREÇA PROCEDIMENTO CONCURSAL PARA CONSTITUIÇÃO DE
C A TÁ LOGO ONLINE BANDA RESERVA DE RECRUTAMENTO PARA CONTRATAÇÃO DE
Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt TÉCNICOS SUPERIORES DE SAÚDE / TÉCNICOS SUPERIORES
DESENHADA DO REGIME GERAL – RAMO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
Faz-se público que por deliberação do Conselho de Administração
Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA de 28-09-2023, encontra-se aberto pelo prazo de 10 (dez) dias
Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt úteis, contados do dia seguinte ao da publicação deste extrato,
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 procedimento concursal para constituição de reserva de recrutamento
para contratação de Assistentes da carreira técnica superior de
saúde / técnicos superiores do regime geral – ramo de Psicologia
Clínica, para constituição de relações jurídicas de emprego, mediante
celebração de contratos individuais sem termo, a termo resolutivo
certo ou incerto, no âmbito do Código do Trabalho, consoante as
necessidades que vierem a ocorrer.
Os requisitos gerais e especiais e o perfil de competências exigido,
a composição do júri, os métodos e critérios de seleção, e outras
informações de interesse para apresentação das candidaturas

CONHEÇA A NOSSA SELECÇÃO

e tramitação do processo de seleção constam da publicitação
integral do aviso de abertura, que se encontra integralmente
publicitado na página da Unidade Local de Saúde de São José, EPE –
https://www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoa/.

DE VINHOS E PRODUTOS GOURMET

Unidade Local de Saúde de São José, EPE, 22 de janeiro de 2024
A Diretora da Área de Gestão de Recursos Humanos,
Maria Adelaide Canas

MINISTÉRIO DA SAÚDE
UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DE SÃO JOSÉ, E.P.E.
EXTRATO
PROCESSO DE SELEÇÃO PARA CONSTITUIÇÃO DE RESERVAS
DE RECRUTAMENTO PARA CONTRATAÇÃO DE TÉCNICOS
SUPERIORES DAS ÁREAS DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA
– PROFISSÃO DE TERAPIA OCUPACIONAL / VERTENTE DE
MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO PEDIÁTRICA
Faz-se público que por deliberação do Conselho de Administração
de 30-11-2023, foi autorizada a abertura de processo de seleção
para constituição de reservas de recrutamento para contratação
de técnicos superiores das áreas de diagnóstico e terapêutica –
profissão de Terapia Ocupacional / vertente de Medicina Física e
de Reabilitação Pediátrica, cujo aviso de abertura foi publicitado
no Diário da República, 2.ª Série, n.º 17, de 24-01-2024 – aviso n.º
1777/2024, sendo o prazo de submissão das candidaturas de 10
(dez) dias úteis, contados do dia seguinte da publicação do aviso de
EDIFÍCIO abertura no Diário da República, devendo as mesmas ser submetidas
DIOGO
EDIFÍCIO CÃO para o email rec.rh@chlc.min-saude.pt.
DOCA DE ALCÂNTARA
DIOGO CÃO
NORTE, LISBOA Para mais informações consultar o sítio da Internet da Unidade Local de
DOCA DEAOALCÂNTARA
(JUNTO Saúde, https://www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoal/,
NORTE DO
MUSEU LISBOA
ORIENTE) onde estão disponíveis as informações complementares para formalização
HORÁRIO: do processo de apresentação das candidaturas.
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H Unidade Local de Saúde de São José, EPE, 24 de janeiro de 2024
SÁBADO: 11H – 17H
A Diretora da Área de Gestão de Recursos Humanos,
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 Maria Adelaide Canas
40 • Público ClassiÄcados • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

EDITAL REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Faro
ISILDA MARIA PRAZERES DOS SANTOS VARGES GOMES, Presidente da Câmara Municipal de Portimão EDITAL DE CASAMENTO
TORNA PÚBLICO que vão ser levantadas e transferidas para depósito comum, sendo-lhe dado o destino previsto na lei, as ossadas que jazem Ilton Garcia Silveira, Vice-Cônsul do Brasil

nos covais do Cemitério Municipal de Portimão e constantes na relação anexa, por ter terminado o período estipulado na lei após inumação
em Faro, usando das atribuições que lhe
OFEREÇA
OFEREÇA
confere o art.º 18 da Lei de Introdução

Os familiares interessados noutras soluções devem contactar o Encarregado do Cemitério, no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data da
ao Código Civil, faz saber que pretendem
casar Emerson Gabriel Parro, natural MÚSICA
publicação E, para conhecimento de todos os interessados e devidos efeitos se publica o presente Edital que vai ser afixado nos lugares públicos
de Franca, São Paulo, Brasil, nascido a
05/04/1996, residente e domiciliado na MÚSICA
Rua Frei Vicente de Lagos, Lote 30, r/c,
do costume e publicado no Jornal Público e no jornal Barlavento, e online em www.cm-portimao.pt Lagos, Portugal, Código Postal: 8600-739,
nesta jurisdição consular, filho de Emerson
Paços do Município de Portimão, 22 de Janeiro de 2024 Edson Parro e de Eliane Batista Parro e
Bruna Dias Oliveira, natural de Itanhaém,
A Presidente da Câmara, Isilda Varges Gomes São Paulo, Brasil, nascida a 10/08/1996,
residente e domiciliada na Rua Frei Vicente
EXUMAÇÕES NO TALHÃO Nº 29 de Lagos, Lote 30, r/c, Lagos, Portugal,
Código Postal: 8600-739, nesta jurisdição
DATA DOS N.º DO FERNANDO SIMÕES ROSA 07-07-2018 17604 LUIS MANUEL FERNANDES 29-10-2018 17690 consular, filha de Marcio José de Oliveira e
NOME DOS FALECIDOS
ÓBITOS COVAL FILOMENA MARIA CARRETEIRO LÍRIO PINTO 24-02-2019 17794 LUIS NETO MARTINS 29-06-2018 17601 de Kelli Dias Oliveira.
ABEILARDO JOSÉ DA COSTA 13-03-2019 17809 FLORIMUNDO FERNANDES DA CONCEIÇÃO 14-10-2018 17677 LUISA DE LURDES DA SILVA HEITOR 05-09-2018 17656 Apresentaram os documentos exigidos
ADÉLIA DO CARMO SIMÃO MALVEIRO 09-02-2019 17776 FLORIVAL DA SILVA SANTOS DUARTE 09-01-2014 16191 LUISA MANUELA DOS SANTOS DUARTE 17-02-2019 17790 pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
ADELINA QUITÉRIA DUARTE 02-02-2019 17768 FLORIVAL MANUEL AFONSO 28-04-2019 17845 MANOEL MARTINS COUTINHO 20-06-2014 16326 Se alguém souber de algum impedimento,
ALBINO JOSÉ BAPTISTA 19-06-2018 17595 oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
FRANCISCO ANTÓNIO FAUSTINO 09-01-2019 17743 MANUEL ALBERTO DA SILVA CARNEIRO 16-06-2018 17594
presente para ser afixado em lugar visível
ALDA EMILIA PINTO BAIONA 10-03-2019 17808 FRANCISCO ANTÓNIO MARTINS LOURENÇO 14-02-2019 17788 MANUEL ANDRÉ 12-07-2018 17609 da Chancelaria deste Consulado-Geral.
ALDA FRANCISCO 24-01-2019 17760 FRANCISCO BATISTA CORREIA 14-07-2018 17610 MANUEL ANTÓNIO GUERREIRO 10-01-2019 17746 Tereza Cristina da Silva Santos
ALEXANDRE MARTINS
ALICE DA MOTA COSTA VIEIRA
31-05-2014
24-04-2019
16307
17839
FRANCISCO CORREIA SIMÃO 07-11-2018 17695 MANUEL COELHO MARTINS 28-03-2019 17819 Oficial de Registro Civil “ad-hoc” MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
FRANCISCO JOSÉ FURTADO DAS DORES AFONSO 07-02-2019 17774 MANUEL DA CONCEIÇÃO JACINTO 14-01-2019 17747
ALZIRA DA CONCEIÇÃO 12-06-2018 17592 FRANCISCO PEDRO TRINDADE 24-11-2018 17708 MANUEL DA SILVA 02-12-2014 16224
AMÉLIA DO CARMO NUNES CARAPUÇA 24-06-2018 17597 FRANCISCO ROMÃO DO NASCIMENTO 07-06-2018 17590 MANUEL DUARTE ISIDORO 21-07-2018 17616
AMÉRICO CUSTÓDIO BENTO 18-12-2018 17724 GEORGETA TOMÁSIA DE JESUS GONÇALVES PALMA 29-07-2018 17621 MANUEL ESTEVÃO FONSECA 22-01-2019 17755
AMÉRICO FILIPE DA CONCEIÇÃO SILVA 23-11-2018 17707 GIL LOURENÇO 01-09-2018 17655 MANUEL FRANCISCO CRISTA LOUZEIRO 14-02-2019 17785
AMÉRICO OLIVEIRA GOMES 21-08-2018 17647 GISELA SOFIA DUARTE BIGODINHO 09-08-2018 17637 MANUEL INÁCIO GONÇALVES ROSA 18-12-2018 17726
AMÉRICO ROCHA DE JESUS 29-01-2014 16208 GLÓRIA MARIA HENRIQUE VALÉRIO 21-07-2018 17617 MANUEL JOAQUIM 16-12-2018 17722
ANA CRISTINA SANTOS FRANCO 11-11-2018 17699 GONÇALO TEODORO NUNES DOS REIS 14-03-2014 16256 MANUEL JOSÉ FARINHA DE OLIVEIRA 25-10-2018 17689
ANA DA CONCEIÇÃO DUARTE 22-10-2018 17683 GRACIETE IDA LOPES MILITÃO NUNES 10-09-2018 17659 MANUEL LUIS DE JESUS FONSECA 26-07-2018 17623
ANA DA PIEDADE SILVA 28-02-2001 12232 GRACIETE PEREIRA DE ALMEIDA 09-10-2018 17676 MANUEL MARIA INÁCIO 20-03-2019 17815
ANA DA SILVA MARIA 15-10-2018 17679 HELDER CÂNDIDO PARGANA DOS SANTOS 17-11-2018 17704 MANUEL MARQUES CORREIA 22-08-2018 17648
ANA EUGÉNIA DUARTE 19-10-2018 17681 HELDER MATEUS DE SOUSA 12-04-2019 17831 MANUEL MARQUES DAS PAZES 02-01-2014 16185
ANA MARIA FLORÊNCIO FERREIRA
ANA PENTEADO MOREIRA
16-04-2019
25-11-2018
17834
17706
HELENA MARIA DA SILVA SERRENHO 10-04-2019 17826 MANUEL SIMÕES PEREIRA 01-02-2014 16211 Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia,
HENRIQUETA DA CONCEIÇÃO EULÁLIA 16-03-2014 16255 MANUEL TRINDADE GEROMITO CASTELO RUIVO 04-10-2018 17672
ANA ROSA DE BRITO DUARTE 25-03-2019 17817 HERCULANO CARDOSO LAMPREIA 10-12-2018 17717 MANUELA AMÂNDIA GONÇALVES 13-02-2019 17784 a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de
ANIBAL FERNANDO MAGALHÃES MOURA 12-04-2019 17828 HERMENEGILDO CABRITA DA SILVA 04-03-2014 16245 MARGARIDA MADEIRA VENTURA RAMOS 16-09-2018 17663
ANTÓNIO ALBERTO ROSA MESTRE 22-09-2018 17664 HONORATO GAGO DE ANDRADE 11-07-2018 17608 MARIA ALICE VIEGAS DOS SANTOS 13-08-2018 17639 Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma
ANTÓNIO CARLOS VEIGA CRUZ 20-04-2019 17841 IBOLYA SZEIBEL 17-07-2018 17612 MARIA ALZIRA QUITÉRIO CORTEZ GONÇALVES PINA 06-08-2018 17634
ANTÓNIO CASTELA MARQUES 25-04-2019 17843 IDALINA FURTADO BRANCO 08-09-2018 17658 MARIA BERTA FÉLIX 07-03-2019 17805 Instituição Particular de Solidariedade Social. É a
ANTÓNIO DA AVÓ CAMILO 27-03-2014 16267 IDALINA INÁCIA VICENTE DOS SANTOS 24-09-2018 17666 MARIA BRIGIDA D’AREZ PIRES COLAÇO 29-08-2018 17654
ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO CERÍACO 22-12-2009 14950 IDALINA MARIA DE JESUS 24-12-2018 17732 MARIA CAMILDA REIS 03-04-2019 17823
única organização em Portugal, de âmbito nacional,
ANTÓNIO DE JESUS GOMES
ANTÓNIO DIOGO ILDEFONSO DOS REIS
25-01-2019
10-11-2018
17762
17700
IDOMEU CARAPUÇA DA SILVA NORA
ILDA DAS DORES CABRITA
26-11-2018
15-02-2019
17710
17787
MARIA CAROLINA DE OLIVEIRA FERREIRA CAMALHÃO
MARIA DA CONCEIÇÃO CORREIA VICENTE
18-02-2019
04-08-2018
17789
17630
constituída há mais de 30 anos especificamente para
ANTÓNIO DO AMARAL DUARTE 23-01-2019 17761 INÁCIO ROSA DUARTE 27-04-2019 17844 MARIA DA CONCEIÇÃO COSTA NUNES 09-11-2018 17698 promover a qualidade de vida das pessoas com demência
ANTÓNIO DOMINGOS ROSA GARGANTA 11-01-2014 16194 ISABEL DE OLIVEIRA GOMES 10-02-2019 17778 MARIA DA CONCEIÇÃO GONÇALVES COELHO FERNANDES 01-10-2018 17668
ANTÓNIO FIRMINO 11-11-2018 17701 ISABEL MARIA DA CONCEIÇÃO 29-05-2014 16306 MARIA DA CONCEIÇÃO NUNES LUIZ MARREIROS 08-08-2018 17635 e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil
ANTÓNIO FRANCISCO 06-10-2018 17674 ISILDA SORES COELHO 03-04-2014 16273 MARIA DA GLÓRIA 22-02-2014 16232
ANTÓNIO FRANCISCO 30-01-2019 17764 JACINTO DA CRUZ E SILVA 24-02-2019 17793 MARIA DA GLÓRIA DA SILVA MATIAS 07-09-2018 17657 associados em todo o país.
ANTÓNIO FRANCISCO DA SILVA MATEUS 04-08-2018 17629 JACINTO JOSÉ VILHENA 18-01-2019 17752 MARIA DA GRAÇA MARQUES 16-07-2014 16344
ANTÓNIO JOAQUIM CUSTÓDIO BEBIANO 25-11-2018 17709 JAN ERIK HALL 15-10-2009 14932 MARIA DE LOURDES BATISTA ROQUE DA PALMA 19-07-2014 16348
Oferece Informação sobre a doença, Formação para
ANTÓNIO JOAQUIM FREITAS QUARESMA
ANTÓNIO JOSÉ ANGELINO DE LOURES
22-01-2019
23-04-2019
17754
17840
JOÃO AMADEU ANDRADE RIBEIRO
JOÃO CRISOSTOMO DA GRAÇA
13-11-2018
02-01-2010
17702
14693
MARIA DE LURDES PEDREIRA AUGUSTO
MARIA DO CARMO MARCELO
12-02-2019
23-02-2019
17782
17798
cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário,
ANTÓNIO JOSÉ BARÃO DÓRIA PACHECO
ANTÓNIO JOSÉ BÁRBARA CORREIA
18-03-2019
20-08-2018
17812
17644
JOÃO DEUS PINTO CARDOSO 23-04-2019 17838 MARIA DORA DE OLIVEIRA MARQUES BERNARDES 15-02-2019 17786 Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da
JOÃO DOS REIS MARTINS DO Ó 25-01-2014 16206 MARIA ELISETE CABRITA NUNES 04-08-2018 17631
ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA SILVA 12-12-2018 17720 JOÃO FRANCISCO SILVA DA GLÓRIA 13-12-2018 17721 MARIA EMILIA DOS SANTOS SERRENHO 20-08-2018 17646 Especialidade.
ANTÓNIO LOURENÇO GUERREIRO 20-12-2018 17723 JOÃO MANUEL DA SILVA GARCIA 24-07-2014 17618 MARIA FERNANDA ALVES DA SILVA 16-04-2019 17833
ANTÓNIO NEVES AVELINO 29-10-2018 17692 JOÃO MENDONÇA BOTELHO 01-08-2018 17626 MARIA FERNANDA MARQUES FERREIRA DA LUZ DIOGO 25-12-2018 17814 Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer
ANTÓNIO TOMÁS FRANCO MATIAS 15-01-2019 17748 JOÃO SEVERINO MARTINS DA SILVA 15-01-2014 16196 MARIA FERNANDA PEREIRA RIBEIRO 02-10-2018 17670
ANTÓNIO VENÂNCIO DA SILVA 15-10-2018 17678 JOÃO SOUSA ALAMBRE 18-04-2001 12276 MARIA GONÇALVES MARREIROS 15-09-2018 17662 Portugal participa ativamente no movimento mundial
ANTÓNIO VIEIRA DA SILVA 29-04-2019 17846 JOAQUIM ALBERTO MARCELO 02-04-2019 17822 MARIA GRACIETE LOUÇÃ DO CARMO 20-12-2018 17727
ARMANDO DO CARMO CUSTÓDIO 23-02-2019 17797 JOAQUIM AMBRÓSIO LARANJINHA 20-10-2018 17680 MARIA INÁCIA MARTINHO CANDEIAS 28-11-2018 17711
e europeu sobre as demências, procurando reunir e
ARMANDO DOS SANTOS FLORES
ARMANDO JORGE CALADO VALENTIM
06-02-2019
29-12-2018
17771
17735
JOAQUIM ÂNGELO ALVES
JOAQUIM ANTÓNIO
06-12-2009
08-01-2019
14940
17742
MARIA IRENE GONÇALVES COSTA
MARIA ISABEL
23-08-2018
18-03-2019
17649
17811
divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença
ARMANDO JOSÉ CORREIA AFONSO 01-08-2018 17624 JOAQUIM DUARTE VEIGA 28-02-2010 15011 MARIA ISABEL VERISSIMO 18-01-2014 16201 de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação
ASSUNÇÃO DE MATOS FERREIRA 04-01-2019 17738 JOAQUIM JORGE CORREIA CANELAS 30-06-2018 17599 MARIA JOSÉ CALDEIRA CARVALHO 16-01-2014 16197
AUGUSTA ALEMÃO VIANA 28-01-2019 17763 JOAQUIM PINTO SALGUEIRO 22-02-2010 15008 MARIA JOSÉ JERÓNIMO 11-03-2019 17806 das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
AUGUSTA NATÁLIA VARELA 05-03-2014 16246
Contactos
JOQUIM JOSÉ CORREIA FONTE 06-02-2019 17780 MARIA JOSÉ PACHECO DA SILVA BARROSO 01-02-2019 17767
AUGUSTO CÉSAR 11-02-2019 17779 JORGE FERNANDES VIEGAS 25-10-2018 17686 MARIA JÚLIA 12-04-2019 17830
AUGUSTO GUILHERME DA COSTA 25-08-2018 17653 JORGE MANUEL DIAS 28-12-2018 17733 MARIA LEONOR DA CONCEIÇÃO OLIVEIRA 19-12-2018 17728
AURORA DA NATIVIDADE DOS SANTOS SILVA GONÇALVES 19-10-2018 17682 JOSÉ AFONSO MARQUES CAETANO 24-08-2005 13631 MARIA LUISA COSTA 16-06-2018 17593 Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
AUSENDA QUITÉRIA ESTEVES MARTINS 17-08-2018 17642 JOSÉ ALBERTO MARREIROS VENÂNCIO 02-10-2018 17669 MARIA LUISA JANEIRO LAGARTO 06-03-2014 16248 Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
AVELINO ALBINO MODESTO 17-01-2014 16198 JOSÉ ANTÓNIO 22-10-2018 17687 MARIA LUISA RODRIGUES DOS REIS 24-03-2014 16264
AVELINO DUARTE JUSTO ANTÃO 21-01-2014 16203 JOSÉ ANTÓNIO MARTINHO 25-08-2018 17650 MARIA MANUELA DA SILVA BICA 07-07-2018 17605
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
AVELINO GABRIEL VIANA 09-11-2018 17697 JOSÉ ANTÓNIO MIRANDA VILAS BOAS 09-07-2018 17607 MARIA NOGUEIRA GUERREIRO 14-01-2019 17750 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
BARTOLOMEU ANTÓNIO TRAQUINO 16-08-2018 17640 JOSÉ ANTÓNIO VALÉRIO DA ASSUNÇÃO CUSTÓDIO 05-11-2009 14915 MARIA RITA CONCEIÇÃO GONÇALVES CAETANO 19-12-2013 16171 Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia
BEATRIZ FAUSTINA MARTINS 25-01-2014 16205 JOSÉ CHANOCA 04-02-2014 16213 MARIA TERESA ASSIS DE MATOS 14-02-2014 16226
BEATRIZ GONÇALVES DE BARROS 23-10-2018 17688 JOSÉ DA CONCEIÇÃO 24-02-2019 17792 MARIA TERESA GIL 12-02-2019 17781 2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
BENIGMA MARIA FAUSTINO 06-02-2019 17772 JOSÉ DA COSTA 27-02-2019 17799 MARIA TERESA GUERREIRO 17-01-2019 17751 Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
BRÁLIO ALEXANDRE MARTINS TOMÉ 02-03-2019 17803 JOSÉ FRANCISCO DE JESUS DIOGO 25-02-2019 17796 MÁRIO ALBERTO RODRIGUES DE OLIVEIRA 05-07-2018 17602
CARLOS JOSÉ 22-01-2019 17757 JOSÉ FRANCISCO DUARTE 07-02-2019 17775 MÁRIO DOS REIS VENTURA 24-09-2018 17665
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
CARLOS MANUEL RATO DO CARMO 31-07-2018 17625 JOSÉ FRANCISCO NASCIMENTO DUARTE 25-06-2018 17598 NUNO FILIPE SÉRIO ANDRÉZ 09-04-2019 17827 - Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
CATARINA AMADOR 11-01-2019 17745 JOSÉ FRANCISCO RAMOS NETO 29-06-2018 17603 ODETE DA SILVA JACINTO 05-08-2018 17632 Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente
CATARINA DA CONCEIÇÃO PRATA 23-02-2019 17795 JOSÉ GUERREIRO HORTA 27-08-2018 17651 OLEKSAN RABIN 20-02-2005 13724
CESÁRIO DOS REIS ANACLETO 16-01-2014 16199 JOSÉ GUERREIRO SOARES SERAFIM 28-06-2014 16336 OLGA REIS DA COSTA MARQUES 21-01-2019 17753 n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
CESÁRIO MENDES MOREIRA 23-07-2018 17627 JOSÉ HENRIQUE DO ESPIRITO SANTO LOURINHO 08-12-2018 17716 OLÍDIA DA CONCEIÇÃO ROSA 06-02-2019 17773 Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês,
CORNELIS GODFRIED PAAUWE 05-06-2018 17638 JOSÉ INÁCIO DE JESUS POUCOCHINHO 01-05-2019 17848 ORNELLA TONOLINI 12-09-2018 17660
CREMILDE SEQUEIRA JACINTO 05-08-2018 17633 JOSÉ JOÃO FINO 17-08-2018 17643 ÓSCAR AUGUSTO SIMÕES AMIGO SARAMAGO 22-01-2019 17759
Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal
CRISTIANO SEBASTIÃO SERÁPIO 13-12-2009 14944 JOSÉ MANUEL 07-11-2018 17696 PAULA CRISTINA DA SILVA GUERREIRO ROSA 21-07-2018 17619 - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
DANIEL FERNANDES DORNELLES 20-04-2019 17837 JOSÉ MANUEL D’AREZ MARTINS 28-07-2018 17620 PAULO ALEXANDRE NUNES MONTEIRO 03-10-2018 17671 Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3,
DANIEL VIEIRA DOS SANTOS 26-01-2010 14984 JOSÉ MANUEL FERNANDES LEANDRO 23-12-2018 17730 PAULO ANTÓNIO CARMO DOS SANTOS 21-12-2018 17729
DELFINA DA CONCEIÇÃO VIEIRA ALVES 12-06-2014 16318 JOSÉ MANUEL GONÇALVES PAIXÃO 11-03-2019 17807 PEDRO MIGUEL INÁCIO FANTASIA 20-07-2018 17614 Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
DEODATO DE SOUSA GUERREIRO 29-11-2009 14934 JOSÉ MANUEL SACRAMENTO SOARES PRATA 30-04-2019 17847 PIEDADE BRAZ CALADO 22-11-2018 17705 Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional
DIAMANTINO SANTOS DA ENCARNAÇÃO 07-07-2018 17606 JOSÉ MARIA COELHO NEVES 09-03-2014 16250 RAFAEL PAULO DELGADO 06-12-2018 17715
DOLORES BATISTA BEMPOSTA 05-10-2018 17673 JOSÉ MARIA DA ENCARNAÇÃO CAETANO 01-12-2018 17712 REGINALDO JOSÉ DE JESUS PEDRO 16-02-2014 16228
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021
DOLORES ROSA INÁCIO MARTINS 20-04-2019 17836 JOSÉ MARIA MENDES 02-02-2019 17769 RICARDO JOSÉ RIJO DA COSTA 08-10-2018 17675 E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
DOMINGOS DA COSTA RAMOS FERNANDES 23-03-2019 17818 JOSÉ MARIA SEROMENHO 05-01-2019 17739 ROSA MARIA FERREIRA SEIXAL COUTO 04-01-2019 17741
DULCE DA GLÓRIA COSTA 17-07-2018 17611 JOSÉ MARIANO MRTINS CORRIA 02-11-2009 14917 ROSA MARIA NUNES MIGUEL 07-08-2018 17636
DURVAL LOPES XAVIER 20-03-2014 16260 JOSÉ PIRES VIEIRA 14-04-2019 17829 ROSA MARIA ROMÃO BOTICA CARMO 22-06-2018 17596
EDMUNDO MANUEL PACHECO DE MELO 28-03-2019 17820 JOSÉ RODRIGUES DA SILVA 31-12-2018 17736 ROSALINA PAQUITO VICENTE 24-04-2019 17842
EDNA BURTON 16-03-2019 17813 JOSÉ SEMEDO FURTADO 29-12-2018 17734 RÚBEN GONÇALO PINHEIRO DE CARVALHO 03-11-2018 17693
EDUARDO AMILCAR ALVES DE CARVALHO PERDIGÃO 14-01-2014 16195 JOSÉ VICENTE DOS REIS 25-08-2018 17652 RUI GUERREIRO VICENTE 10-12-2018 17718
EDUARDO DIAS GOMES DE BASTOS 30-01-2019 17765 JOSÉ VITORINO DUARTE 24-10-2018 17685 RUI PAULINO DIAS 09-06-2018 17591
EGLANTINA DO BRITO CLEMENTE 04-12-2018 17713 JOSINO MARTINS 05-03-2019 17802 SALVATORE DE ROSE 01-04-2019 17821
ELISA DO PATROCÍNIO DIAS VAIRINHOS 23-01-2019 17756 JUDITE DA CONCEIÇÃO ALVES GIL CARDOSO 16-11-2018 17703 SARA ANDREIA BAPTISTA CORREIA 29-01-2006 13764
ELIZABETE DE JESUS GUERREIRO 19-07-2018 17615 JÚLIA DA CONCEIÇÃO BARROSO DE LAGOS 30-06-2018 17600 SILVESTRE ANTÓNIO 23-02-2019 17791
EMILIA AUGUSTA LOURINHO VICENTE AMARAL 30-07-2018 17622 JÚLIA MARIA TERESA 06-04-2019 17825 SOTERO CORREIA DIAS 21-08-2018 17645
EMILIA JOSEFA DA SILVA FIGUEIREDO
ENGRÁCIA GINGEIRA ANTÓNIO
18-07-2014
14-01-2019
16347
17749
JULIETA DA CONCEIÇÃO COSTA
JULIETA RODRIGUES PACHECO RODRIGUES
10-01-2019
11-12-2018
17744
17719
TELMA MANUELA SEVERINO DO ROSÁRIO
TERESA DE JESUS NASCIMENTO AUGUSTO
18-07-2018
07-03-2019
17613
17804 OFEREÇA
FILMES & SÉRIES
EPIFANIO DIONÍSIO ALVES CARDOSO 12-03-2014 16258 LAURA MARIA TRAQUINO DA GLORIA JORGE 17-02-2014 16229 VENÂNCIA DO NASCIMENTO JACINTO 13-02-2019 17783
ESMERALDINA DO CARMO RODRIGUES 31-01-2019 17766 LAURÊNCIA DE JESUS 19-04-2019 17835 VIDAUL DA CONCEIÇÃO ANTÓNIO 05-12-2018 17714
ESTELA DA GLÓRIA ÀGUAS GONÇALVES 12-03-2019 17810 LEONARDO MARREIRO SERAFIM ANTÓNIO 30-10-2018 17691 VIDAÚL NUNES ANTÓNIO 02-08-2018 17628
EURICO DO ESPIRITO SANTO FIGUEIRAS 22-12-2018 17731 LINO MEDRONHO MARREIROS 25-02-2019 17800 VITALINO ANTÓNIO PAIAS ALEXANDRE 28-09-2018 17667
FELISBELA AUGUSTA DORES MIRANDA 14-08-2018 17641 LÍRIA DE JESUS NUNES CORREIA 01-01-2019 17737 VITOR MANUEL PENTEADO GRACINDO 05-11-2018 17694
FERNANDO ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO RAIMUNDO 24-03-2019 17816 LUIS CARLOS DUARTE DA COSTA 21-01-2019 17758 VITOR MANUEL RAMOS DA FONSECA 08-02-2019 17777
FERNANDO CORREIA 14-12-2018 17725 LUIS DE JESUS DUARTE 16-04-2019 17832 WALKIRIA SILVIA LEAL DE FARIA 23-10-2018 17684
FERNANDO MANUEL ANTÓNIO MACHADINHO 16-09-2018 17661 LUIS DOS SANTOS VALÉRIO 04-01-2019 17740 ZILIA GUERREIRO 28-02-2019 17801
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Escrever à mão aumenta a conectividade
cerebral mais do que no teclado
O poder da caneta: estudo conclui que escrita à mão melhora a precisão ortográÄca e a memória,
ajudando a aprendizagem. A escrita à mão requer que os alunos prestem mais atenção ao que estão a fazer
Filipa Almeida Mendes
Tomar notas à mão é cada vez mais
raro, numa altura em que a tecnologia
tem vindo a substituir progressiva-
mente o lápis e o papel — seja nas
escolas e universidades, no emprego
ou até mesmo no dia-a-dia. Os tecla-
dos e computadores tiraram o lugar
aos blocos de notas e canetas, permi-
tindo frequentemente uma escrita
mais rápida. Mas uma equipa norue-
guesa concluiu que escrever à mão
pode aumentar a conectividade cere-
bral mais do que escrever no teclado,
melhorando a precisão ortográÆca e
a memória.
O estudo, publicado ontem na
revista Frontiers in Psychology,
baseou-se na análise das redes neu-
ronais subjacentes envolvidas em
ambos os modos de escrita. E con-
cluiu que é necessário expor os alu-
nos (e a população em geral) a mais
actividades de escrita manual.
“Mostrámos que, quando se escre-
ve à mão, os padrões de conectivida-
de do cérebro são muito mais elabo-
rados do que quando se escreve num
teclado”, explica Audrey van der
Meer, investigadora da Universidade
Norueguesa de Ciência e Tecnologia
e co-autora do estudo, num resumo
divulgado pela Frontiers in Psycho-
logy. “Esta conectividade cerebral
generalizada é conhecida por ser cru-
cial para a formação da memória e
para a codiÆcação de novas informa-
ções e, por conseguinte, é benéÆca
para a aprendizagem”, acrescenta.
Este é o terceiro artigo cientíÆco
sobre escrita manual do laboratório
liderado por Audrey van der Meer —
os dois primeiros artigos foram publi-
cados em 2017 e 2020, com o de 2020
a mostrar que “o cérebro está muito
mais activo quando estudantes e
crianças de 12 anos escrevem e dese-
nham palavras à mão num ecrã táctil,
em vez de digitarem as palavras”,
explica a autora em resposta ao
PÚBLICO por email.
“Quando se usa um teclado, os
mesmos movimentos simples dos
dedos estão envolvidos na produção
de cada letra. No entanto, ao formar
as letras à mão durante a escrita, são
necessários movimentos intrincados
dos dedos e os sentidos estão também
muito mais envolvidos. Isto resulta
numa maior actividade cerebral, des-
de o córtex visual na parte de trás da
cabeça, passando pelas regiões parie-
tais, até ao topo da cabeça, onde se
encontra o córtex motor e onde ocor-
re a integração sensorial e sensório-
motora”, acrescenta.
No estudo recentemente publica-
do, os investigadores recolheram
dados através de um electroencefalo-
grama (EEG) — um exame neuroÆsio-
lógico que analisa a actividade cere-
bral — de 36 estudantes universitários
a quem foi repetidamente pedido que
escrevessem manualmente ou digi-
tassem num teclado palavras que
apareciam num ecrã.
Quando escreviam à mão, os alu-
nos utilizavam uma caneta digital
para escrever em letra cursiva — quan-
do as letras das palavras estão geral-
mente ligadas umas às outras, permi-
tindo que uma palavra seja escrita
Neurociências Ciência e Ambiente
NTNU
A escrita à
mão é uma
óptima forma
de
estimulação
cerebral das
crianças,
considera a
equipa de
ciêntistas;
ao lado, as
experiências
científicas
para este
estudo
com um único traço — directamente
num ecrã táctil. Quando digitavam,
utilizavam um único dedo (o dedo
indicador da mão direita) para premir
as teclas de um teclado. Os EEG (que
mediram a actividade eléctrica no
cérebro através de 256 pequenos sen-
sores em rede e colocados sobre a
cabeça dos estudantes) foram regis-
tados durante cinco segundos para
cada pedido.
A equipa encontrou “grandes redes
neuronais activas apenas durante a
escrita à mão, comunicando entre si
através de oscilações neurais em
determinadas frequências”. “Sabe-se
que essas oscilações, precisamente
nessas frequências, em grandes áreas
do cérebro, estão relacionadas com a
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 41
DANIEL ROCHA
aprendizagem e a formação da
memória”, explica Audrey van der
Meer na resposta por email.
Mais uso dos sentidos
Ou seja, os resultados mostraram que
a conectividade de diferentes regiões
cerebrais aumentava quando os par-
ticipantes escreviam à mão, mas não
quando digitavam, sugerindo que “as
informações visuais e de movimento
obtidas através de movimentos da
mão controlados com precisão quan-
do se utiliza uma caneta contribuem
amplamente para os padrões de
conectividade do cérebro que promo-
vem a aprendizagem”, destaca Van
der Meer, agora citada no resumo da
Frontiers in Psychology.
Embora os alunos tenham utilizado
canetas digitais na escrita manual, os
investigadores acreditam que os
resultados seriam os mesmos se uti-
lizassem uma caneta verdadeira para
escrever em papel.
“Mostrámos que as diferenças na
actividade cerebral estão relaciona-
das com a formação cuidadosa das
letras quando se escreve à mão, fazen-
do mais uso dos sentidos”, sublinha
Van der Meer.
No artigo, os investigadores salien-
tam que “a escrita à mão requer um
controlo motor preciso dos dedos e
obriga os alunos a prestar atenção ao
que estão a fazer”. “A digitação, por
outro lado, exige movimentos mecâ-
nicos e repetitivos que trocam a aten-
ção pela velocidade”, destacam.
Uma vez que é o movimento dos
dedos efectuado para desenhar as
letras que promove a conectividade
cerebral, os investigadores acreditam
que tanto a escrita cursiva como a
escrita com letra de imprensa — um
tipo de escrita à mão em que as letras
não estão ligadas umas às outras e
cujo traçado se assemelha com o dos
caracteres tipográÆcos utilizados na
imprensa — têm benefícios semelhan-
tes para a aprendizagem.
Por outro lado, o simples movimen-
to de pressionar uma tecla com o
mesmo dedo repetidamente é menos
estimulante para o cérebro. “Isto tam-
bém explica por que é que as crianças
que aprendem a escrever e a ler num
tablet podem ter diÆculdade em dife-
renciar letras que são imagens espe-
lhadas umas das outras, como o ‘b’ e
o ‘d’. Literalmente, não sentiram com
o seu corpo como é produzir essas
letras”, conclui Van der Meer, referin-
do-se aos diferentes padrões de movi-
mento envolvidos na escrita de dife-
rentes letras.
Uma questão de equilíbrio
As conclusões do estudo, segundo os
investigadores, demonstram a neces-
sidade de dar aos alunos a oportuni-
dade de utilizarem canetas, em vez
de os obrigar a utilizarem computa-
dores e outros dispositivos tecnológi-
cos durante as aulas — nalguns esta-
dos norte-americanos, o ensino da
escrita cursiva foi novamente posto
em prática no início do ano.
“A escrita à mão é uma óptima for-
ma de estimulação cerebral e todas
as crianças deveriam receber um
mínimo de aulas de CaligraÆa na esco-
la primária”, diz Van der Meer. Ao
mesmo tempo, é importante acom-
panhar os avanços tecnológicos.
É, portanto, uma questão de equi-
líbrio.“Embora seja vital manter a
prática da escrita manual na escola,
é também importante acompanhar
os avanços tecnológicos em constan-
te desenvolvimento”, concluem os
autores no artigo. “Por conseguinte,
tanto os professores como os alunos
devem estar conscientes de qual a
prática que tem o melhor efeito de
aprendizagem e em que contexto —
por exemplo, quando tomam notas
durante as aulas ou quando escrevem
uma composição.”
42 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Cultura Eduardo Gageiro em retrospectiva
“Que se lixem os veleiros”: como
Eduardo Gageiro fotografou
Salazar e o 25 de Abril
Factum é a nova exposição do veterano e premiado fotojornalista português, que
hoje chega à Cordoaria Nacional, em Lisboa, e ali Äca até 5 de Maio. São cerca de 170
imagens, pré e pós-revolução, que retratam o trajecto do país
Joana Amaral Cardoso Texto
Daniel Rocha Fotografia
Para quem não conhece ainda essa
que é uma das imagens mais emble-
máticas do Portugal do século XX,
abre-se hoje a oportunidade de ir
ver Salgueiro Maia a morder o lábio
rodeado de chaimites e militares.
“Para não chorar. É que o 25 de
Abril venceu-se ali”, explicou o
capitão de Abril ao fotógrafo Eduar-
do Gageiro. Factum, a exposição
que agora ocupa o torreão nascente
da Cordoaria Nacional, em Lisboa,
junta-lhe outras 169 imagens, três
das quais inéditas (e surpreenden-
tes), de um dos mais importantes
fotojornalistas (e por isso cronistas)
do nosso passado recente. Estão lá
as suas fotograÆas favoritas da revo-
lução dos cravos, mas também o
seu retrato predilecto de Oliveira
Salazar.
Aos 88 anos, Eduardo Gageiro
descreve-se como “uma criança”.
Os pés quase se elevam do chão
num fugaz instante ao entrar na pri-
meira das cinco salas da exposição.
“Estou muito excitado, muito exci-
tado”, diz.
“Os meus livros começam sempre
com uma história — quem me ensi-
nou foi o [ José] Cardoso Pires”,
explica à entrada de Factum, onde
quatro imagens viajam entre o vazio
de um banco inóspito e o agregar de
uma família, num crescendo. Está a
preto e branco, como a esmagadora
maioria das fotograÆas que aqui se
reúnem para retratar o Portugal de
ontem, o Portugal de hoje e o Por-
tugal revolucionário que interme-
diou os dois. Cardoso Pires é uma
constante nas suas referências: pre-
faciou-lhe Gente (1970), o último
livro que lançou com uma editora.
A partir daí, só tem publicado edi-
ções de autor, com algumas parce-
rias. É um atirador solitário. Ou
quase.
“Estão aqui mais de 160 fotogra-
Æas, mais o livro vai ter ainda mais
cem. Começa com esta sequência,
e com as crianças dos anos 1950 e
60, e acompanhamos essa época até
ao 25 de Abril. O povo, os operários.
Depois há uma transformação. Aca-
ba no 1.º de Maio de 2023, também
com crianças. E são as únicas foto-
graÆas a cores”, explica sobre o
novo volume que está a criar com
designer gráÆco José Araújo, com
quem trabalhou n’O Século Ilustra-
do. É, garante, a única pessoa que o
“compreende”. A exposição tam-
bém tem uma imagem a cores do 25
de Abril do ano passado: um par de
rapazes abraçados no meio da mani-
festação.
Eduardo Gageiro parece perma-
nentemente insatisfeito, desejoso
de acrescentar mais histórias à his-
tória que cada fotograÆa conta. O
livro, a que pensou chamar O Rea-
lismo Português, está em gestação
há cinco ou seis anos. “Nos últimos
dois anos, disse assim: ‘Estou no Æm
do prazo de validade [risos], vamos
ver se consigo dar a volta ao texto’.
O livro tem a história da minha vida,
e a História de Portugal durante 60
anos.”
São suas as fotograÆas de Maria,
a governanta de Salazar, a beijar o
ditador no caixão, ou de Orson
Welles no Hotel Muchaxo, no Guin-
cho. Maria não está na exposição,
mas o cineasta de O Mundo a Seus
Pés comparece. Juntam-se-lhe Eusé-
bio em campo, Rudolf Nureyev nas
escadas do Teatro Nacional de São
Carlos, Gina Lollobrigida em visita
a Portugal, e os muitos “bonecos”
que o fotógrafo fez para o livro Reve-
lações (1995): Cavaco Silva, Jorge
Sampaio, José Mattoso (a meditar),
Alves Redol. Entre as imagens nun-
ca mostradas há um Ramalho Eanes
a fazer windsurf na Arrábida, e uma
Sophia de Mello Breyner a dançar
com o Ælho Miguel Sousa Tavares e
uma das Ælhas, em 1964.
“Sei quem você é”
Eduardo Gageiro aponta a primeira
fotograÆa que fez quando chegou ao
Terreiro do Paço na madrugada do
25 de Abril, a de um jovem militar
com ar sério. “Vejo este soldado que
me diz que não posso passar por
instruções do ‘nosso comandante’.
Com grande lata, disse-lhe: ‘Descul-
pa, pá, eu sou amigo do comandan-
te’. Eu não sabia quem era o coman-
dante. Deixaram-me passar e apre-
sentaram-me uma pessoa.
Apresentei-me. ‘Eu sei quem você
é’.” Salgueiro Maia reconheceu-o.
“Compro todas as semanas O Século
Ilustrado, conheço as suas fotogra-
Æas. Ande comigo.” Foi assim que
conseguiu acompanhar alguns dos
momentos-chave daquele dia-cha-
ve. E fotografar aquele Salgueiro
Maia emocionado.
Acabou por integrar “o primeiro
grupo de jornalistas, só redactores”,
que entrou na PIDE. “Feliz da vida,
vejo um tipo de bota cardada em
cima do maple do [director da polí-
cia política] Silva Pais.” Estava a
tirar o retrato de Salazar da parede,
e Eduardo Gageiro captou mais um
momento histórico. “Esta e a do
Salgueiro Maia a morder o lábio são
para mim as melhores fotograÆas do
25 de Abril.”
Factum surge a propósito dos 50
anos dessa data fundadora, tendo
cabido à equipa das Galerias Muni-
cipais de Lisboa a curadoria da
exposição, que Æca na Avenida da
Índia até 5 de Maio. O texto que a
acompanha sublinha a “excepciona-
lidade ética do olhar de Gageiro”.
“Ética” é termo que o fotógrafo
não usa para descrever o seu traba-
lho enquanto guia o PÚBLICO pelas
169 imagens da exposição; “lata” e
Quando cheguei ao
Terreiro do Paço
na madrugada do
25 de Abril,
apresentei-me [a
Salgueiro Maia].
‘Eu sei quem você
é. Compro todas as
semanas O Século
Ilustrado, conheço
as suas fotograÄas.
Ande comigo’
“sorte” sim, ocorrem-lhe muitas
vezes. Mas a ideia de ética está sub-
jacente ao seu trabalho de docu-
mentação do país real. E garante
vezes sem conta sobre as suas foto-
graÆas: “Nenhuma é encenada. Sob
a minha palavra de honra. É só estar
com os olhos abertos.”
A oportunidade que agora tem de
se ver homenageado pode explicar
a sua excitação, e a ênfase com que
reitera ser o autor de algumas das
imagens mais relevantes da revolu-
ção — é público o diferendo que tem
com o fotojornalista Alfredo Cunha,
entronizado como “o fotógrafo do
25 de Abril”, sobre a autoria de cer-
tas fotograÆas. “Gastei 20 e tal rolos,
não tinha mais. No outro dia [o dia
26], depois de revelar, só tenho 14
ou lá que é…”, diz. Tinha conÆado
o seu trabalho, fotografado com
uma Canon, ao laboratório d’O Sécu-
lo Ilustrado, que partilhava com
Alfredo Cunha e o já falecido Fer-
nando Baião. A questão, que chegou
aos tribunais e à Sociedade Portu-
guesa de Autores, arrasta-se há
anos, sem uma solução que lhe agra-
de. Alfredo Cunha também já mani-
festou o seu desagrado perante as
suspeitas.
O tema torna-se nota de rodapé
na visita, porque Eduardo Gageiro
se entusiasma a falar das suas “his-
tórias de guerra”. Como quando foi
preso pela PIDE em 1965. Estamos
frente à famosa Viúva da Nazaré ou
Calvário (1962), em que uma mulher
de negro ajuda a puxar o barco ao
Ænal da tarde para pôr Æm à faina.
“Tinha a ‘Rolei’[Çex], estava a foto-
grafar de baixo, e vejo esta senhora
tão velha, parecia que estava a car-
regar uma cruz. Davam-lhe uns pei-
xinhos para ela sobreviver. É de
chorar.”
“A gente gosta muito de si”
O fotojornalista aponta para a ima-
gem da viúva. “Esta é que me levou Eduardo Gageiro caminha para
à grelha. Quando fui preso, era o os 89 anos, que cumprirá já em
grande foco dos inspectores.” Repli- Fevereiro, mas além desta
ca um diálogo na prisão em Caxias: exposição que hoje se inaugura
“Isto faz-se? Você dá má imagem de (e de que sairá um catálogo) tem
Portugal. Nós temos paisagens tão pela frente mais um livro
bonitas? Por que é que não fotogra-
fa a paisagem?”, ter-lhe-á dito um

pide. “‘Desculpe, senhor inspector,
eu fotografo o que vejo.’ Era difícil
rebater o que eles diziam, era tudo
cheio de alçapões.” Contrapôs que
gostava era de fotografar pessoas.
Libertaram-no mais de um mês
depois. “A gente gosta muito de si,
vamos convidá-lo outra vez”, avisou
um inspector. “Durante dois anos,
Æquei cheio de medo. Tinha uma
Ælha pequena.”
Não voltou a ser preso. Ainda ten-
taram pô-lo a trabalhar para a esta-
ção pública, para o encerrar num
redil, registando “acontecimentos
da televisão”, ao invés de andar sol-
to pelo país. Mas andou. Retratou o
Alentejo branco, árido, povoado ou
inóspito, foi à festa do Senhor dos
Passos, em 1965, ver os touros. A
imagem do funeral de uma criança,
urna carregada por outras crianças,
considera-a “muito violenta”: era
uma das vítimas das cheias de Saca-
vém, em 1967.
Sete anos antes, fotografou, com
a “Rolei” disfarçadamente ao peito,
em vez de colada ao olho, uma car-
ga policial sobre manifestantes no 5
de Outubro. “Quando [os polícias]
me pediram o rolo, eu tinha um rolo
virgem no bolso.” Como acontecera
muitas vezes antes, a imagem cor-
reu mundo via Associated Press, a
agência norte-americana para a qual
trabalhava, e que deixava o seu
nome de fora das autorias da ima-
gem, para sua segurança. “O Portu-
gal real foi conhecido lá fora através
da Associated Press.”
Também fazia trabalho bem
conhecido e reconhecível, ou Sal-
gueiro Maia não teria sabido quem
ele era na manhã da revolução. Os
anos n’O Século Ilustrado e noutras
publicações — o Diário Ilustrado, as
revistas Almanaque, Match Magazi-
ne ou Manchete e, mais tarde, a
Sábado ou a Grande Reportagem —
deram-lhe uma reputação que o pai,
dono de uma casa de pasto em Saca-
vém, nunca pensou que o Ælho
pudesse granjear numa proÆssão
cuja escolha desaprovou.
Eduardo Gageiro caminha para os
89 anos, que cumpre já em Feverei-
ro. No bolso do casaco está a sua
Canon compacta. Fotojornalista
autodidacta, o pai não lhe permitiu
estudar para lá do quinto ano. Foi
trabalhar como moço de recados
numa fábrica de loiça, onde acabava
por conviver com os artistas da sec-
ção de pintura e escultura, e para
onde começou a levar a Kodak Baby
que os tios tinham trazido de Ango-
la para um dos seus irmãos. “Fazia
fotograÆas com pouca qualidade e
sem regras estéticas.” Um dos mes-
tres, Armando Mesquita, identiÆ#
cou-lhe “olho”, mas pouco mais.
Tomou-o como protegido e ensinou-
-lhe arte e composição. “Fez-me um
rectângulo quadriculado e disse-me
a regra de ouro — o motivo principal
tens de pôr no lado direito, porque
a nossa vista tem tendência a ir para
lá; depois é ter elementos de equilí-
brio’.”
Foi essa fórmula, com um extra
de perspicácia, que usou na sua
fotograÆa preferida de Salazar. For-
te de São João do Estoril, 1964. “Os
fotógrafos são convocados para ir
ver o senhor Presidente [do Conse-
lho de Ministros] ver passar os velei-
ros. Mas de repente começo a pen-
sar: ‘Que se lixem os veleiros.’ E lá
vem uma fotograÆa do senhor Pre-
sidente sozinho. Foi feita com uma
‘Rolei’, ainda não tinha máquina de
pequeno formato”, explica ao
PÚBLICO. Mostra “um homem só”,
frente ao mar, com a muralha a
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 43
empurrá-lo para o canto direito.
Voltou a usar a estratégia em 1969
para captar o Presidente da Repú-
blica Américo Tomás depois de uma
visita oÆcial a Angola, então em
guerra com Portugal. A farda branca
destaca-se à direita, mas é a cabeça
nas mãos que diz tudo. “O Governo
foi recebê-lo a Cascais e ele está
preocupadíssimo com as notícias.
É um bom boneco por isso.”
O semblante português
Eduardo Gageiro nasceu frente à
fábrica de loiça e, depois de ter foto-
grafado em 62 países, ainda vive em
Sacavém. Deixou uma reportagem
para fazer, uma visita a campos de
refugiados no Darfur, por causa do
linfoma que o atacou. É um poço de
histórias e de fotograÆas emocio-
nantes: a famosa imagem de Álvaro
Cunhal e Mário Soares juntos na
Alameda no 1.º de Maio de 1974, a
tomada de posse do general António
de Spínola como Presidente da
República (segundo lugar na cate-
goria Retratos dos prémios World
Press Photo em 1974), o 1.º de Maio
de 1975, com a liberdade consolida-
da. “As pessoas já têm outro sem-
blante, parece outro país.” Também
fotografou Francisco Sá Carneiro
algo desarmado, numa conferência
de imprensa em 1980 no Hotel Tivo-
li — a terceira foto inédita da expo-
sição.
Foi o primeiro fotojornalista a
entrar, em 1970, na Cartuxa de Évo-
ra, onde reinavam o silêncio, o mis-
tério e a contemplação. “Ficámos lá
uma semana. Não podíamos era
falar com eles. Eles não sabiam de
nada. Não sabiam que o homem
tinha ido à Lua.” Esteve na primeira
visita de um Papa a Portugal e,
perante o mar intransponível de
gente em Fátima, subiu para uma
das colunas das câmaras de televi-
são e chamou Paulo VI pelo nome:
“E ele olhou directamente para a
câmara e levantou os braços. Se eu
Æcasse calado, o gajo ia sempre em
frente. É preciso lata, também. Sem
Nunca estive
ligado a partidos,
mas sempre fui um
revoltado. Acabo
por ser um
português infeliz:
houve mais
liberdade, mas
passado pouco
tempo a vida das
pessoas começou a
piorar
ferir ninguém”, ressalva. A imagem
correu mundo.
Subindo ao primeiro piso, o país
dos operários da CUF e de Sacavém,
das ceifeiras alentejanas ou das
minas de Aljustrel Æca mais longe.
Eduardo Gageiro acompanhou a
construção da Ponte 25 de Abril, o
que lhe permitiu comprar o BMW
que guiava. Vai aparecer mais à fren-
te, esse automóvel, com Amália a
sair dele em modo diva, o lenço a
esvoaçar levemente ao lado do ves-
tido, enquanto um grupo de crian-
ças brinca, indiferente à presença
da maior voz do fado nas ruas de
Alfama. A imagem sairia na revista
Manchete em 1971 e não sai da cabe-
ça de quem a vê.
Foi o fotógrafo oÆcial do Presi-
dente Ramalho Eanes, trabalhou
com a Companhia Nacional de Bai-
lado, passou anos na Assembleia da
República. Desta, elogia os funcio-
nários, mas fala com desdém do
resto. Reuniões constantes com
autarcas e muito lobbying. “Iam
falar do tempo, era?”
Que país foi este que fotografou?
“Eu adoro o meu país e o povo por-
tuguês, mas quando comecei a viajar
muito Æquei triste. Via as diferenças.
Não estou ligado a nenhum partido,
mas sempre fui um revoltado. Nunca
me meti em grandes problemas,
nunca pus bomba nenhuma: contri-
buí com fotograÆas. Simplesmente
acabo por ser um português infeliz,
porque Portugal não conseguiu atin-
gir… houve mais liberdade, mas pas-
sado pouco tempo a vida das pessoas
começou a piorar.”
Enumera os novos-ricos, os cri-
mes Ænanceiros que nunca são cas-
tigados, os lucros das grandes
empresas e a injustiça da tributação,
a especulação imobiliária. “Não é
este Portugal que eu queria. Sinto-
-me infeliz nesse aspecto. O pouco
que eu Æz não valeu nada.” Mas tam-
bém se emociona com a recordação,
no último 25 de Abril, de uma jovem
que o abordou no autocarro quando
voltava a Sacavém e lhe agradeceu
pelo seu trabalho. Há “alegria pelo
que aconteceu” e “tristeza” ao ver
“onde isto foi parar.”
Considera esta exposição, mas
sobretudo o próximo livro, como
um acto de “protesto”. Dela sairá
um catálogo com um ensaio de Sér-
gio B. Gomes ( jornalista do PÚBLI-
CO) e design de Pedro Falcão.
No seu trabalho como fotógrafo,
Eduardo Gageiro não usa tripé.
Flash só em última necessidade.
Considera ter como tarefa “fotogra-
far a Ægura humana nas suas ale-
grias e nas suas tristezas”. Mas,
lamenta, “agora não há muita ale-
gria para fotografar, cada vez o sem-
blante das pessoas é mais triste”.
Volta a enÆar a mão no bolso: “Gos-
to muito de andar de autocarro com
esta maquinazinha. Fiquei espanta-
do com as expressões das pessoas,
vê-se que estão preocupadas. Isso
fere-me.”
44 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Cultura
Este ano vamos descobrir a que soa
a pintura de Vieira da Silva e Arpad Szenes
Mário Lopes
No Museu Arpad
Szenes-Vieira da Silva,
músicos em diálogo com
pinturas. Hoje, João Hã??,
dos Von Calhau!
É uma orquestra de pequenos instru-
mentos, activados electricamente,
criados por um maestro-artesão: cho-
calhos, pandeiretas, címbalos, cam-
painhas, maracas, uma mola metálica
que, ampliÆcada, criará um subgrave
tonitruante. Orquestra mecânica em
movimento automático, cria uma
miríade de sons que se dispersam
pelo auditório, primeiro desencontra-
dos, até que, pouco a pouco, pare-
cem-se unir-se em movimento con-
junto, de desordenada brincadeira
infantil a peça sonora de intrincada
relojoaria.
O maestro da orquestra, que será
também bobo desta corte de sons, é
João Alves, que aqui se apresenta, pela
primeira vez, como João Hã??. Aqui,
no Museu Arpad Szenes-Vieira da Sil-
va, em Lisboa, onde hoje, às 17h, o
co-fundador dos Von Calhau! inaugu-
rará o Ciclo de Concertos Para Qua-
dros de 2024. Aquela orquestra, um
poema de sete quadras, uma a desa-
guar na outra, eis o que nasceu do
encontro de João Hã?? com Notre
Dame du Rosaire, pequena tela que
Vieira da Silva pintou em 1983.
Obra tardia da pintora, óleo sobre
cartão de pequenas dimensões
(26x18cm), foi criada para a sacristia
da Capela de Santos, em Lisboa. E foi
precisamente o tamanho modesto
que chamou a atenção a João Alves.
“Vi-a no meio de duas pinturas gran-
des e, por isso, ganhou um poder que
as outras não tinham. Ali perdida,
fez-me pensar: ‘este buraco é quase
como uma vírgula’. No texto ninguém
liga à vírgula, mas faz toda a diferen-
ça”, explica ao PÚBLICO no auditório
do museu. Interessou-lhe também o
facto de esta Notre Dame não repre-
sentar “o estereótipo autoral de Viei-
ra da Silva”, bem como a reduzida
escala cromática — “é quase todo
numa escala de cinzentos, e mais
iconográÆca do que pictórica”. Tudo
isso chamou a atenção deste artista
que, desde que irrompeu há duas
décadas no cenário português, ao
lado de Marta Ângela, enquanto Von
Calhau!, vem trabalhando uma lin-
guagem indeÆnida e irrequieta, acção
musical que é também instalação e
performance, abraçando as artes
gráÆcas e pondo ainda ênfase na
abordagem à palavra, trabalhando-a
como matéria fonética ou procuran-
do desvelar-lhe novos sentidos. Per-
feito, portanto, para aquilo que Bru-
no Humberto, programador cultural
do Museu Arpad Szenes-Vieira da
Silva, ambiciona para este ciclo.
O foco principal passa por promo-
ver um diálogo entre a obra de Vieira
da Silva e manifestações musicais
contemporâneas. “Um exercício
como o que existe com o cinema
musicado. Neste caso, uma obra está-
tica musicada”, ilustra o programa-
dor. Tendo em conta a natureza da
obra de Vieira da Silva e Arpad Sze-
nes, os convidados gravitam nas áreas
da música experimental e concreta.
“As obras de Vieira da Silva e Arpad
Szenes eram elas mesmas bastante
experimentais e dinâmicas. Acredito
João Hã?? dialoga com que se fossem, neste momento, nos-
Notre Dame du Rosaire, sos contemporâneos, iriam também
obra tardia, pintada por celebrar este tipo de acção, como de
Vieira da Silva em 1983 resto o Æzeram na sua altura com a
poesia”. Bruno Humberto realça
igualmente a relação íntima que Viei-
ra mantinha com a música — recorde-
se que teve formação musical, antes
da viragem deÆnitiva para a pintura,
relação, de resto, imortalizada, por
exemplo, numa tela como Le Piano
“Os artistas criam (1950).
uma obra e, depois, Bruno Humberto nota que o objec-
tivo é “entrar pela obra dentro e vol-
essa obra é o início. tar de lá com uma outra obra, inde-
Não é o Äm, pendente. Ou seja, não é simplesmen-
te uma exercício de tradução”. Assim
pode ser o início foi o ano passado, quando, depois de
de um diálogo um primeiro ensaio, digamos assim,
com o percussionista César Burago e
Bruno Humberto as violoncelistas Joana Guerra e Hele-
Programador na Espvall, no âmbito do Vieira da
RUI GAUDÊNCIO
Silva em Festa, se sucedeu, a 13 de
Setembro, o concerto em que o per-
cussionista João Pais Filipe e o harpis-
ta Eduardo Raon interagiram com o
quadro Atelier, Lisbonne e com a ins-
talação que a dupla Sara & André
criara, inspirada na obra pintada por
Vieira da Silva em 1935. “As perfor-
mances criaram túneis de entendi-
mento que não eram previsíveis.
Sentiu-se que a nossa relação com o
quadro estava a mudar, que novas
coisas se iluminavam”.
Bobo e relógio estragado
“A face da anja em ruínas/ obesidade
na base, estrias/ de michelânica em
estreia/ com furo de ego no pneu”. É a
primeira das sete quadras que,
impressas em serigraÆa, compõem
uma das duas peças a apresentar hoje
por João Alves (o Hã?? com que se
apresenta pela primeira vez é trans-
posição para nome artístico da
expressão que se soltava dos interlo-
cutores quando, habituados a chama-
rem-lhe João Calhau, ouviam o seu
verdadeiro e singelo apelido). 7 Qua-
dras para Notre Dame Du Rosaire é o
texto que escreveu directamente para
a pintura, “como se fosse uma can-
ção”. Nela, conjuga os vários elemen-
tos que sobressaíram ao seu olhar: a
face da Nossa Senhora que desapare-
ce na pintura: “é um borrão dourado,
um dos poucos pontos em que a cor
sai fora do esquema dos acinzenta-
dos”; esses mesmos acinzentados que
lhe sugeriram algo de maquinal, o
“cinzento que vemos nos automó-
veis”; a forma em que se sustenta o
ícone, qual tronco e ramos de uma
árvore, e ei-lo a lembrar-se de pasto-
rinhos e oliveiras em Fátima e de um
placard que viu à entrada da cidade
das aparições: “Fátima é tão real que
só vendo”. “Há uma polissemia estra-
nha naquele ‘vendo’, o vendo de ver
que também pode ser vendo de ven-
der”, diz João Alves. Outra quadra:
“Mercado de olhos, em Fátima/ é tudo
tão real que só vendo/ Nossas senhoras
de venda/ e a Justiça cega na banca”.
Começaremos pelas quadras e
estas desaguarão em Bôbô Noise, a
peça interpretada pela orquestra de
pequenos instrumentos, pensada
para colocar o espectador, imerso no
som projectado em quadrifonia,
como que dentro de um “relógio
meio estragado, em que cada pontei-
ro funciona autonomamente” — do
tempo cronológico linear a “um tem-
po de percepção, psicológico”. João
Alves intervirá com instrumentos de
percussão, que controla, e ao mover-
se, activará os guizos presos ao corpo,
que não controla. Daí o bobo. “O gui-
zo era um sistema de controlo: o bobo
pode dizer o que quer, mas não pode
esconder-se, sabemos sempre onde
está”. Percebeu-o ao ver o Ælme de
1987 de José Álvaro Morais, O Bobo, e
“a sequência lindíssima, em que ele
anda em cena, só música, som
ambiente e aquele guizo constante”.
Álvaro Morais foi também o realiza-
dor de Ma Femme Chamada Bicho
(1978), dedicado a Vieira da Silva e a
Arpad Szenes, em que ela surge com
cara pintada, qual performance com
máscara. “Fiz essa ligação, mas não
foi pensada inicialmente, e é a única
relação que vejo entre as duas peças”,
diz João Alves. “Não sei se é um exces-
so de leitura, mas existe.”
Interessa-lhe a imprecisão, a forma
como as duas peças se contaminarão
sem limites claros. Interessa-lhe essa
relação “de igual para igual” que se
estabelece com o quadro escolhido.
Interessa que seja algo que não se
feche sobre si mesmo, processo em
aberto. “Os artistas são convidados
a criar uma obra e, depois, essa obra
é o início. Não é o Æm, pode ser o
início de um diálogo”, diz Bruno
Humberto.
Depois de João Hã??, o ciclo, que
programará apresentações mensais,
prossegue a 24 de Fevereiro com
Clothilde & João Silva, electrónica
experimental e trompete, no mesmo
mês em que se saberá quem irá suce-
der a Marina Bairrão Ruivo na direc-
ção do museu. Mês após mês, Vieira
da Silva e Arpad Szenes estarão muito
activos, em diálogo permanente com
os artistas que moldam o mundo que
nos rodeia. O ano é 2024.

“O Zeca Afonso está mais actual na
nossa realidade do que a Billie Eilish”
Nuno Pacheco
Manuel de Oliveira chamou
Selma Uamusse e Karyna
Gomes, entre outros, para
dar corpo à relação do
músico com África
Estreia-se hoje na Casa das Artes de
Famalicão, às 21h30, o espectáculo Lá
no Xepangara, a cultura africana em
José Afonso. Não é a primeira incursão
do guitarrista Manuel de Oliveira
pelos sons de África nem pela música
do autor. Foi dele a ideia de criar o
projecto Muxima, em homenagem ao
Duo Ouro Negro, gravado com Filipa
Pais, Janita Salomé, Yami e Rita Lobo
e lançado em disco em 2010, tal como
o cruzamento ibérico de Entre-Lugar,
em que homenageou o seu pai e mes-
tre, Aprígio Oliveira, mas também
José Afonso e Paco de Lucía.
Agora, volta a estar na origem de
uma ideia em que se cruzam duas
destas vertentes. Com ele, que se ocu-
pa da guitarra e da braguesa, estão
desta feita Karyna Gomes (voz), Sel-
ma Uamusse (voz), Edu Mundo (voz,
guitarra e percussão), Fred Martins
(voz e guitarra), Quiné Teles (percus-
são), João Frade (acordeão) e José
(Zecas) Silva (baixo).
“O Muxima foi a minha primeira
incursão pela música africana. E na
altura, em conversa com o Janita Salo-
mé, falámos muito da relação que o
Zeca Afonso tinha com África. Quan-
do se começou a falar nos 50 anos do
25 de Abril, achei que era uma boa
altura para materializar esta ideia”,
explica ao PÚBLICO. Pôs-se a investi-
gar a fundo e, na sequência disso,
quis montar um espectáculo que não
só realçasse o papel da música de José
Afonso “na luta pelos direitos”, mas
que evidenciasse também o carácter
universal dessa arte.
Uma arte para a qual a experiência
africana fortemente contribuiu, lem-
bra: “Há uma frase em que ele diz: ‘O
meu baptismo político começou em
África, porque estava ali a dois passos
do oprimido.’ Esteve em Angola e
Moçambique, na infância, nos anos
30, e depois voltou a Moçambique
como professor, nos anos 60. Não
podemos desvincular o 25 de Abril da
independência das colónias e o Zeca
também está aí, nesse campo da luta
anticolonialista.”
Porque, apesar disso, “a lusofonia
canta muito pouco o Zeca Afonso,
salvo uma ou outra excepção”,
Manuel de Oliveira empenhou-se nes-
te projecto, nele envolvendo quatro
vozes: a da moçambicana Selma
Uamusse, a da guineense Karyna
Gomes, a do brasileiro Fred Martins
e a do português Edu Mundo (Márcio
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 45
Lá no Xepangara é um projecto que cruza cinco nacionalidades
Silva, nascido no Porto), ligado a pro-
jectos com conexões afro-brasileiras
como os Cordel e os Fogo Fogo.
Antecedido por acções para jovens
universitários sobre o 25 de Abril, José
Afonso e a sua ligação com África,
este espectáculo é o primeiro a inte-
grar as comemorações dos 50 anos
do 25 de Abril. E nele poderão ouvir-
se, a par de outras, as canções de José
Afonso mais marcadas pela experiên-
cia africana ou pelos ritmos de África,
como Avenida de Angola, Carta a
Miguel Djédje, Ailé! Ailé!, Lá no Xepan-
gara (canção que dá título a este pro-
jecto), Um homem novo veio da mata,
Eu, o povo ou Galinhas do mato.
“A chama da democracia”
Entre ensaios, os quatro cantores
explicaram ao PÚBLICO o seu envol-
vimento no projecto. Fred Martins
ouviu a música de José Afonso nos
anos 80, por via da luta clandestina
contra a ditadura no Brasil: “O traba-
lho do Zeca chegou, meio clandestino
também, mantendo a chama da
democracia, da luta contra a opres-
são. A revolução, que levou Chico
Buarque a escrever o Tanto mar, che-
ga ao Brasil através da música do
Zeca.” As ligações com África são
também comuns ao Brasil. “A cultura
africana é a base da música brasilei-
ra”, diz. “Sou de Niterói, onde nasceu
a umbanda, uma religião afro-brasi-
leira em que o batuque, o samba de
terreiro, é a base dos rituais. A minha
formação musical vem daí.”
Selma Uamusse e Manuel não se
conheciam, antes do convite: “O fac-
José Afonso esteve
em Angola e
Moçambique na
infância e voltou
a Moçambique
como professor
Cultura Circulação Condicionada | A4 e VRI
Na A4 e VRI, de 30 de janeiro a 10 de fevereiro, das 21h às 07h, realizaremos
trabalhos de beneficiação do pavimento, que implicarão alguns desvios e
condicionamentos de tráfego nas seguintes vias de acesso:
A4
Nó
Custóias
Vias afetadas
Passagem da A4 para a VRI, sentido Vila Real/Aeroporto, Leixões
Guifões Entrada na A4, sentido Guifões/Vila Real, Aeroporto, Leixões
VRI VILPL Saída da VRI, sentido Aeroporto/VILPL
DR
Os condicionamentos e desvios estarão devidamente
sinalizados nos locais.
Para mais informações consulte regularmente o
site Ascendi utilizando o código QR ao lado, aceda a
www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H).
Ascendi Grande Porto, Auto-Estradas do Grande Porto, S.A.
71 o Dia Mundial dos
Doentes de Lepra
28 Janeiro 2024
NINGUÉM
to de ser moçambicana também inte-
ressava aqui, porque o Zeca Afonso
esteve em Moçambique e por ques-
tões de representatividade.” Não só,
FICA PARA TRÁS
conta: “Os ritmos, as percussões, as
temáticas, tudo isso tem impacto na
música revolucionária que ele fez. Os
meus pais estiveram muito ligados
aos movimentos de libertação, de
emancipação das mulheres, e passei
a minha infância a ouvir discursos
políticos, mas também ouvia esse
cancioneiro, que em grande parte me
é bastante familiar.” Todos os anos, mais
de 1000 milhões
Como Selma, também Karina de pessoas são
afectadas pelas
Gomes conhecia “boa parte” deste Doenças Tropicais
repertório: “Comecei a minha carrei- Negligenciadas
das quais, mais de
ra a investigar músicas de interven- 140.000 contraíram
ção. Fui desde a Guiné-Bissau, com o Pa r t i c i p e n e s t a c a m p a n h a a doença de lepra.
(dados OMS 2021)
grande repertório dos Cobiana Jazz, Associação Portuguesa Amigos
a Angola, com o Teta Lando. Quando de Raoul Follereau Entidade: 21604
Referência: 800 151 800
venho viver para Portugal, fui desco- Rua Cidade de Nova Lisboa, 7
Apartado 8395 - 1800-107 Lisboa
Montante: qualquer valor
Telefone: 218 520 520/1
brindo aos poucos as canções do Zeca NIPC - 501 802 282 933 946 983
www.aparf.pt • aparf@aparf.pt • /APARF
Afonso. Algumas já conhecia desde a
infância, porque na minha família IBAN: PT50 0035 0557 0002 9981 93095
A APARF contribui para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável
(sou sobrinha-neta do Amílcar Cabral)
A lepra existe e são milhares de novos casos todos os anos no mundo. Com
ouvia falar dele como o grande trova- prevenção e tratamento pode-se erradicar a doença. A APARF apoia na sua
dor da liberdade.” prevenção e cura com projectos de combate à desnutrição, acesso a água
Edu Mundo sublinha por Æm a potável, cuidados básicos de saúde e melhores condições de higiene.
Colabore com a Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau na
importância de “trazer para a reali- angariação de fundos. Está a ajudar na prevenção e cura da lepra no mundo.
dade de agora uma música que é tão
relevante, alguém que diz coisas tão
actuais”. E argumenta: “O Zeca Afon-
so está mais actual na nossa realidade
do que a Billie Eilish. Traz conheci-
mento, faz-nos aprender e acima de
tudo questionar.”
E isso também acontece nos
ensaios. “Têm sido muito intensos”,
revela Fred Martins. “As canções e
OFEREÇA
letras são muito delicadas, exigem um
nível de entrega muito grande.” Kari-
HISTÓRIA
na Gomes enfatiza outro ponto: “O
Zeca escrevia muito, as letras das can-
ções são enormes, mais de dez ver-
sos, mas está a ser gratiÆcante — por-
que os temas, escritos há mais de 50
anos, continuam actuais. E as minhas
memórias, sobretudo no que toca à
música africana, levam-me para um
campo melódico inspirador.” MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
46 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Cultura
Dougie Knight celebra o krump português
no Teatro do Bairro Alto
Gonçalo Frota
De regresso à sala lisboeta,
o krumper homenageia as
figuras desta história
comunitária que também
se escreve em português
Dougie Knight (Douglas Silva) chegou
a Portugal, vindo do Brasil, aos dez
anos. Começou por tentar cantar,
depois experimentou jogar futebol e,
Ænalmente, pôs-se a dançar. Fê-lo ini-
cialmente em segredo, com amigos,
tinha então 13 anos, às escondidas de
uma mãe preocupada em colar-lhe
uma vida regrada e pouco acidenta-
da. Era um prazer proibido, mas só
quando descobriu no YouTube um
vídeo de Tight Eyez, cujos movimen-
tos tentou reproduzir durante meses
de forma obsessiva, é que viu no
krump a liberdade de que estava
sedento.
Durante algum tempo, ainda assim,
sentiu-se solitário nessa sua imersão
profunda num género de dança oriun-
do das comunidades negras e latinas
de Los Angeles, paredes-meias com a
vida quotidiana e o conÇito entre gan-
gues locais, e que o próprio descreve
ao PÚBLICO como uma dança “não
linear, fora do padrão da sociedade”.
Porque, explica, “os movimentos não
são feitos para ser estéticos, mas sim
para ser sentidos”.
Eça de Queiroz pode seguir para o Panteão Nacional,
deliberou o Supremo Tribunal Administrativo
Isabel Coutinho
O Supremo Tribunal Administrativo
(STA) recusou o recurso interposto
por seis dos 22 bisnetos de José Maria
de Eça de Queiroz, que pretendiam
impedir a trasladação dos restos mor-
tais do escritor português do cemité-
rio da aldeia de Santa Cruz do Douro
para o Panteão Nacional, em Lisboa.
A decisão do pleno de juízes foi
tomada anteontem, por unanimida-
de, ainda que um dos membros do
painel não tenha acompanhado diver-
sos aspectos da fundamentação.
À luz desta decisão, a resolução
aprovada no plenário da Assembleia
da República a 15 de Janeiro de 2021,
atribuindo honras de Panteão Nacio-
nal a Eça de Queiroz, por proposta do
grupo parlamentar do PS, pode de
novo fazer o seu caminho.
As pesquisas que foi levando a cabo
na Internet levaram-no a cruzar-se
com bastantes vídeos vindos dos Esta-
dos Unidos, mas reforçavam a convic-
ção de que a cultura krump não tinha
expressão por cá. Até que uma busca
inocente com as palavras-chave
“krump em Portugal” o levou a des-
cobrir, por volta de 2008, a crew King
Street — o primeiro grupo nacional a
unir-se em torno do krump. E foi essa
revelação que o levou a ir ao encontro
do colectivo, que se reunia Æelmente
para treinar às quartas e aos domin-
gos na Gare do Oriente, em Lisboa.
Vivia-se a explosão de popularidade
do krump, impulsionada por Rize, o
documentário que o fotógrafo-estre-
la David LaChapelle dedicou a esta
dança de rua.
É essa irmandade, criada no espaço
da Gare do Oriente, que Dougie
Knight homenageia este Æm-de-sema-
na no Teatro do Bairro Alto (TBA), em
Lisboa, ao apresentar hoje e amanhã
Krump Session — Ocupar o Centro e
Celebrar a Sobrevivência Colectiva. Um
espectáculo que decorre, no fundo,
de uma primeira passagem pelo TBA,
em Junho passado, quando a peça
Amp’d ali se mostrou no âmbito do
projecto OU.kupa, programado por
Piny. Só que enquanto em Amp’d o
bailarino recorria ao krump para con-
tar a sua história, seguindo pistas
autobiográÆcas, agora quis levar para
o palco “uma celebração da vida” dos
Eça de Queiroz morreu em 1900 em
Paris, França, e na época o seu corpo
foi trasladado para Portugal. Teve um
funeral com honras de Estado e foi
sepultado no jazigo da família da sua
mulher (os Resende) no Cemitério do
Alto de São João, em Lisboa. Em 1989,
por iniciativa da família, foi o seu cor-
po trasladado para o Cemitério de
Santa Cruz do Douro, concelho de
Baião, onde até hoje se encontra.
A trasladação dos seus restos mor-
tais para o Panteão Nacional chegou
a estar marcada para 27 de Setembro.
Mas seis bisnetos interpuseram uma
providência cautelar, alegando —
como então noticiou o PÚBLICO —
que a iniciativa contrariava não só a
vontade do escritor como também a
de Maria da Graça Salema de Castro,
neta por aÆnidade e criadora da Fun-
dação Eça de Queiroz, em Tormes, e
Dougie Knight quis vincar o ADN comunitário desta prática de rua
krumpers que veio a encontrar, e dos
“aspectos positivos” da união que
com eles forjou. “Não posso evitar as
feridas — estão nos nossos físicos, na
nossa expressão, nos joelhos que
foram daniÆcados.” E tudo isso que
está impresso no corpo tem também
de ser reclamado com orgulho.
Em duas partes
A forma que Dougie Knight encontrou
para dar conta desse ADN comunitá-
rio do krump foi juntar duas partes
distintas: durante os primeiros dez
minutos de Krump Session, num tom
que oscila entre “o artístico, o antro-
pológico e o documental”, vemo-nos
perante um vídeo Ælmado na Gare do
A trasladação de Eça de Queiroz
esteve marcada para Setembro
PEDRO JAFUNO
Oriente (inspirado num Ælme de Lúcia
Afonso) e encontramos nomes liga-
dos à história do krump em Portugal,
como Carlos Zagalo, Raquel Tempest
ou Emerson West, a partilhar os seus
percursos, enquanto, à sua frente,
quatro jovens krumpers interpretam
uma coreograÆa esboçada por Dougie
Knight (a relação é evidente: há uma
transmissão e uma continuação entre
os dois planos); nos 50 minutos
seguintes, o vídeo apaga-se e o palco
assume a natureza habitual de uma
krump session, dedicada a uma suces-
são de participações freestyle (Aires
Lion, Julien Wrestler, Nádia P. Futur,
Inês Martins, Jéssica Costa, Inês Ber-
nardo, Maria Ribeiro, Hélio Sango
de “parte substancial dos descenden-
tes directos”, bem como das “popu-
lações locais”.
A 19 de Outubro, o STA rejeitou
porém a acção, decisão de que os
mesmos familiares recorreram entre-
tanto para o pleno de juízes daquela
instância, que agora voltou a não dar
provimento às suas pretensões.
O tribunal considerou que “no que
se refere às opiniões de Eça de Quei-
roz sobre as honras do Panteão Nacio-
nal concedidas em Portugal, nada se
provou”, e que também nada se pode
retirar a esse respeito de um texto
invocado pelos requerentes: um arti-
go de opinião do escritor, publicado
na Gazeta de Notícias, sobre os crité-
rios que determinavam à época a
concessão dessa honra em França.
Também não Æcou provado, dizem
os juízes, “o necessário pressuposto
KAÔ, Vagner Beef, Emerson West,
Stevan Bright, Gonçalo Carrapiço Boy
KAÔ, Gilberto KAÔ Ujima, Maria Cos-
ta Lady KAÔ, Carlos Zagalo e o pró-
prio Dougie Knight).
Se o vídeo cumpre a necessidade
de “enaltecer os locais e as pessoas”
que formam esta comunidade, ten-
tando corrigir a forma como, descre-
ve Dougie Knight, “as minorias apa-
recem nos media, como coitadinhos
ou necessitados”, ao mesmo tempo
que se sublinha a importância da
Gare do Oriente enquanto espaço de
construção de sociabilidades, a festa
que se segue junta “nomes nacionais
e internacionais que também Æze-
ram diferença no krump em Portu-
gal”. A música Æca a cargo do produ-
tor Mozarf, referência fundamental
no género e um dos beatmakers cha-
mados a participar em Les Indes
Galantes, quando o encenador Clé-
ment Cogitore convocou krumpers
franceses a tornar sua a ópera homó-
nima de Rameau e seu o palco da
Ópera de Paris.
A música de Mozarf é também a
forma que Dougie Knight tem de
garantir que a intensidade e a hones-
tidade do krump, próprias da rua,
não se perdem no palco de uma sala
de espectáculos. Com a consciência
de que a sobrevivência colectiva a que
o título se refere dependerá, sempre,
dessa relação com a rua — onde os
movimentos são mais crus e livres.
da alegada oposição por parte da
maioria dos bisnetos” à resolução da
Assembleia da República, já que, dos
22 bisnetos do escritor, 13 concorda-
ram com a trasladação para o Panteão
Nacional e outros três abstiveram-se.
O tribunal considerou que são mino-
ria, mesmo que se analise a represen-
tatividade dos descendentes por
“estirpes”.
Para aqueles que querem manter
os restos mortais do autor de Os Maias
em Santa Cruz do Douro, “não está
em causa nem nunca esteve a conces-
são de honras de Panteão a Eça de
Queiroz, nem o respeito devido a
todos os que ali merecidamente
jazem”. Os seis bisnetos concordam
com uma homenagem ao escritor
através de aÆxação, naquele monu-
mento nacional, de uma lápide alusiva
à sua vida e obra, o que a lei prevê.

Dois meninos de países e culturas
diferentes brincam na praia e ficam
amigos. Parece tão simples
Memórias felizes à beira-mar
Rita Pimenta
Numa pequena vila piscatória, um
menino aguarda todos os dias que o
pai chegue da pesca com o seu barco,
Marie Claire. Um dia, embarca tam-
bém: “Era o meu baptismo de mar.”
Mas logo percebe que aquela não era
vida para ele. “Eu via como a terra se
afastava, até que começou tudo a
andar à roda na minha cabeça.”
O pai ficou desapontado, zangado até:
“— Nunca farei de ti um homem do
mar, como o teu pai ou o teu avô!”
Não voltou a pôr um pé no barco, mas
continuou a ir à praia ver o pai chegar
da faina.
Foi numa dessas esperas, em Agos-
to, que apareceu Kai. Vinha com om o
pai dele para comprar o peixe trazido
azido
nas redes do seu. “Pusemo-nos a cor-
rer pela praia. Não falava a nossa
língua. Tinha uns olhos como o eu
nunca tinha visto; uns olhos brilhan-
lhan-
tes e curiosos.”
apão,
A família de Kai, vinda do Japão,
abrira “um restaurante onde se servia
ervia
peixe cru enrolado em arroz”. ”. Os
rapazes tornaram-se amigos, com om a
ância
rapidez e alegria como só na infância
(e na praia) acontece.
A descoberta e aceitação do outro
de forma natural e feliz revela-se la-se
aqui através da ida à casa do amigo,
migo,
“tirámos os sapatos à entrada da e
comemos com pauzinhos”, da trans- rans-
formação de pedaços de madeira ra
trazidos pelo mar, “apontou u j
para eles como se tivesse
encontrado um tesouro… e
transformou-os num barco”, da a des-
coberta do origami, “ensinou-me me a
Missão: salvar as tartarugas marinhas
Até 10 de Março, o Sea Life do Porto está em modo Turtle
Rescue. Com a residente Mariza — uma tartaruga verde de gigante
com “155 quilos e 1,25 metros de comprimento” — a
dar a cara e a carapaça à campanha de sensibilização,, há
oficinas, desafios, estações de resgate e palestras temáticas.
Mais em www.visitsealife.com/porto.
fazer peixes de papel”.
Luciano Lozano explica no fim do
livro que quis “prestar, de novo, um
tributo à cultura japonesa”, descober-
ta numa viagem durante a sua forma-
ção de ilustrador. Conta também: “Tal
como o meu pai e o meu avô, nasci em
La Atunara, um bairro de pescadores
de La Linea de la Concepción, no
estreito de Gibraltar.”
Recorda como o avô tinha de atra-
vessar a fronteira para trabalhar num
navio cujo nome recuperou para o
pequeno barco do pai do menino des-
ta história, Marie Claire. e.
Também reproduziu a
âncora que o avô trazia tatu
tatua-
ua-
da no braço.
Um Menino na Praia
Texto e ilustração: Luciano Lozano
Tradução: Catarina Sacramento
Edição: Akiara Books
48 págs., 15€
rtle
máticas.
Sobre o título, diz ter-se inspirado
no poema de Manuel Alcántara, de
Málaga: “Eu sou um menino na praia./
Aqueles montes de Málaga/ lançaram
todos os seus versos/ e as suas penas
e as suas cabras.” Dedica o livro à
irmã, que integra num momento em
que o protagonista joga aos berlindes
com uma menina.
O seu passado enquanto criança,
mas também a descoberta do arqui-
tecto islandês Pálmar Kristmunds-
son, que num documentário contou
como a arquitectura
arquitectur japonesa tinha
influenciado o seu trabalho graças
a um amigo japonês
jap de infância,
ffazem
azem comm que considere
estte livro “autobio-
este
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 47
crianças
blogues.publico.pt/letrapequena/
gráfico e de ficção”.
ã ”
Na história, o menino que esperava
o pai na praia torna-se arquitecto e
conta-nos: “A minha professora de
arquitectura dizia-me que as coisas
tinham de ser perfeitas. Eu sabia que
ela estava enganada, que teria de pro-
curar a beleza nos defeitos, como um
barco feito de pedaços de madeira
arrastados pela maré.”
Mesmo sem entender a língua do
amigo japonês, o rapaz que não seria
pescador nem marinheiro ficou a
saber que Kai significava “mar”.
Afastados os meninos, já adultos,
ficou aquela ligação invisível que une
para sempre quem alguma vez se quis
bem. Parece tão simples.
Guia
FIM-DE-SEMANA
EM FAMÍLIA
TEATRO
Uma Ideia de Justiça
LISBOA Lu.Ca — Teatro Luís de
Camões . Hoje e amanhã,
às 11h30 e 16h30. M/6.
3€ (criança) e 7€ (adulto)
Liberdade, equidade, inclusão e
diversidade são noções caras à
narrativa da peça escrita por
Isabel Minhós Martins, dirigida
por Joana Providência e
apresentada como “uma
ferramenta de construção da
n
noção de justiça”.
H
Horizonte
É
ÉVORA Salão Nobre do Teatro
G
Garcia de Resende
A
Amanhã, às 11h. M/6.
4 (grátis até aos 12 anos)
4€
A Limite Zero conta a história de
Jo
João, um menino de sete anos, que
te um sonho: conhecer o mar.
tem
N
Nascido no “ponto mais distante”,
em Paradela (Miranda do Douro),
e numa família onde escasseiam as
posses, decide fazer-se ao
caminho com uma pequena
trouxa às costas. Até chegar ao
mar de Esposende, destino Ænal,
irá deparar-se com problemas,
superar medos e concretizar
sonhos.
MÚSICA
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Amanhã, às 10h, 11h30 e 16h.
Dos 3 meses aos 6 anos.
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O célebre ciclo de peças para
ppiano, escrito em 1838 por Robert
SSchumann, dá as notas a uma
““releitura delicada e divertida” do
iimaginário do compositor alemão,
qque para criar os andamentos foi
bbuscar inspiração à infância e a
mmomentos como “jogar à
ccabra-cega, brincar montado num
ccavalo de pau ou simplesmente
ssentir o conforto de se estar à
llareira”, refere a sinopse.
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À Pesca de Histórias
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48 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Guia
Cinema
Porto
Casa das Artes do Porto
R. Ruben A, 210. T. 226006153
O Rapaz e a Garça M12. 18h
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
O Piano 14h15; Dias Perfeitos M12. 19h30;
O Corno do Centeio M12. 14h10; A Zona
de Interesse M12. 16h, 21h45; Pobres
Criaturas M16. 16h30, 19h, 21h30;
Folhas Caídas M12. 18h
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
Wish 14h50, 18h10 (VP); Patos! M6. 13h50,
17h10 (VP); Todos Menos Tu M12. 13h20,
15h50, 18h30, 21h10; Ferrari M12. 14h, 17h20,
20h30; Mean Girls M12. 20h50; A Zona
de Interesse M12. 20h10; Beekeeper
- O Protector M12. 13h10, 16h, 19h10, 21h40;
Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 13h40, 16h10, 18h50,
21h30; Pobres Criaturas 13h30, 17h, 21h
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
As Ervas Secas M14. 15h30;
Pobres Criaturas M16. 21h
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
Oppenheimer M14. 18h15, 22h15; Patos! M6.
11h, 13h15, 15h45 (VP); Todos Menos Tu M12.
13h30, 16h, 18h30, 21h, 23h30; Ferrari M12.
21h30, 00h30; Mean Girls M12. 14h30,
17h50; Beekeeper - O Protector M12. 14h,
16h30, 19h, 21h45, 00h20; Beautiful
Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 13h45, 16h15, 18h45,
21h15, 23h45; Pobres Criaturas M16. 14h15,
17h30, 20h45, 24h
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
Oppenheimer M14. 21h15; Patos! M6.
11h, 13h30, 16h (VP); Aquaman e o Reino
Perdido M12. 14h20, 17h40, 20h40, 23h45;
Som da Liberdade M14. 20h50, 23h50;
Todos Menos Tu M12. 13h40, 16h10, 18h50,
21h40, 00h15; Ferrari M12. 14h10, 17h50,
21h, 00h05; Mean Girls M12. 13h05, 15h40,
18h30; A Semente do Mal M16. 22h, 00h20;
Beekeeper - O Protector M12. 13h20, 15h50,
18h40, 21h20, 23h55; The Kill Room - Arte
Fatal M14. 18h20; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 14h, 16h30,
19h, 21h30, 00h10; Pobres Criaturas M16.
13h50, 17h10, 20h30, 24h; Em Chamas M12.
13h10, 15h20, 17h30, 19h40
Cineplace Nova Arcada - Braga
Av. De Lamas. T. 253112913
Oppenheimer M14. 21h; Calamity M6.
13h40 (VP); Wish: O Poder dos Desejos M6.
11h50 (VP); Wish: O Poder dos Desejos M6.
11h50 , 13h20, 15h20 (VP); Wonka M6.
16h40, 18h40 (VO); Patos! M6. 12h30,
14h30, 16h30 (VP); Aquaman e o Reino
Perdido M12. 18h30; Todos Menos Tu M12.
15h, 17h, 19h10, 21h20; Johnny Puff: Missão
Secreta M6. 13h30 (VP); Mean Girls M12.
21h10; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 19h10; A Semente do
Mal M16. 19h30; Beekeeper - O
Protector M12. 15h, 17h10, 19h20, 21h30;
Beekeeper - O Protector M12. 17h20, 21h30;
Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. Xplace Atmos - 15h,
17h10, 19h20, 21h40, 23h50; Masha e o
Urso: Diversão a Dobrar M6. 15h20, 17h
(VP); Cães do Espaço: Aventura
Tropical M6. 13h10, 15h30 (VP); Pobres
Criaturas M16. 13h, 15h40, 18h30, 21h20,
24h; O Plano de Reforma M12. 14h30,
21h40; Em Chamas M12. 13h50, 15h40,
19h30, 21h20; Beekeeper - O Protector M12.
Xplace Atmos - 17h20, 19h30, 21h40, 23h50
Estreias
Pobres Criaturas
De Yorgos Lanthimos. Com
Emma Stone, Mark Ruffalo,
Willem Dafoe, Ramy Youssef,
Vicki Pepperdine. GRE. 2023.
141m. Comédia, Romance. M16.
Leão de Ouro no Festival de
Cinema de Veneza, esta comédia
negra é realizada pelo grego
Yorgos Lanthimos, que adapta a
obra de Alasdair Grey (1934-
2019).
The Kill Room - Arte Fatal
De Nicol Paone. Com Alexis
Linkletter, Joe Manganiello,
Danny Plaza, Uma Thurman,
Neal Davidson, Maya Hawke.
EUA. 2023. 98m. Comédia,
Thriller. M14.
Patrice, uma comerciante de arte
arruinada, é abordada por
Gordon, chefe de um gangue de
criminosos, para um esquema de
lavagem de dinheiro. A ideia é
usar a galeria dela para o fazer.
Apesar de relutante, ela
concorda com a ideia, nunca
imaginando o lhe estaria
reservado.
Em Chamas
De Peter Facinelli, Nick Lyon.
Com Peter Facinelli, Fiona
Dourif, Asher Angel, Lance
Henriksen. EUA. 2023. 80m.
Drama, Thriller. M12.
Uma família vive numa
pequena casa situada no meio
de uma Çoresta da Califórnia
quando um incêndio Æca fora
de controlo e os obriga a lutar
pela vida.
O Plano de Reforma
De Tim Brown. Com Nicolas
Cage, Ashley Greene, Thalia
Campbell, Ron Perlman, Jackie
Earle Haley. CAN. 2023. 103m.
Comédia, Crime. M12.
Quando Ashley é
involuntariamente envolvida
com um perigoso gangue, Æca
obcecada com a segurança de
Sarah, a Ælha. Sem saber o que
fazer, pede ajuda a Matt, o pai,
de quem nunca foi próxima e
que agora vive numa ilha das
Caraíbas.
Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso
De Roger Kumble. Com Dylan
Sprouse, Virginia Gardner,
Steven Bauer, Rob Estes. EUA.
2024. 100m. Comédia
Romântica. M16.
Depois de todos os eventos a que
assistimos em Beautiful Disaster,
Abby e Travis passam uma noite
de excessos em Las Vegas e
acordam casados.
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Coimbra
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
Viagem ao Sol M12. 14h30; A Zona de
Interesse M12. 19h; Pobres Criaturas
M16. 21h40; Folhas Caídas M12. 17h10;
Um Caroço de Abacate 21h
Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
Oppenheimer M14. 13h25, 17h15, 21h10;
Napoleão 14h, 18h, 21h25; Wish: O Poder
dos Desejos M6. 11h20, 14h20, 16h50 (VP);
Wonka M6. 14h40, 17h50, 20h50 (VO); Som
da Liberdade M14. 14h50, 18h10, 22h;
Ferrari M12. 14h30, 17h40, 21h; A Semente
do Mal M16. 19h20, 22h10; A Zona de
Interesse M12. 13h40, 16h30, 19h10, 21h50;
Masha e o Urso: Diversão a Dobrar M6. 11h,
13h20, 15h40, 18h20 (VP); Pobres
Criaturas M16. 14h10, 17h25, 21h20; O Plano
de Reforma M12. 13h30, 16h10, 18h50,
21h30; Em Chamas M12. 21h40
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra, Av. José Bonifácio
de Andrada e Silva. T. 16996
Patos! M6. 13h50, 16h20, 18h50 (VP);
Aquaman e o Reino Perdido M12. 21h20,
00h10; Todos Menos Tu M12. 14h, 19h20,
21h50, 00h25; Mean Girls M12. 14h50, 18h,
21h10, 24h; Beekeeper - O Protector M12.
13h30, 16h10, 19h10, 21h40, 00h20; The Kill
Room - Arte Fatal M14. 14h10, 16h50, 19h30,
22h, 00h30; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 13h40,
16h40, 19h05, 21h30, 23h55
Covilhã
Cineplace - Serra Shopping
C.C Serra Shopping,
Avenida Europa, Lt 7.
Calamity M6. 13h50 (VP); Aquaman e o
Reino Perdido M12. 14h30; Todos Menos
Tu M12. 17h20, 21h20; Ferrari M12. 18h30;
Johnny Puff: Missão Secreta M6. 13h50
(VP); Beekeeper - O Protector M12. 17h20,
21h40; The Kill Room - Arte Fatal M14.
15h10, 19h30; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 17h, 19h10,
21h20; Masha e o Urso: Diversão a
Dobrar M6. 15h40 (VP); Pobres
Criaturas M16. 15h40, 21h10; Em
Chamas M12. 19h30
Figueira da Foz
Cinemas Nos Foz Plaza
C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996
Wish: O Poder dos Desejos M6. 14h20,
16h30 (VP); Patos! M6. 14h, 16h10 (VP);
Todos Menos Tu M12. 14h30, 17h, 19h15,
21h40, 00h10; Ferrari M12. 14h40, 18h15,
21h05, 23h50; Beekeeper - O
Protector M12. 14h10, 16h40, 19h05, 21h30,
24h; Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 18h, 20h50, 23h30;
Pobres Criaturas M16. 21h20, 00h05
Gondomar
Cinemas Nos Parque Nascente
Praceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996
Oppenheimer M14. 22h; Napoleão 15h,
18h35; Wish: O Poder dos Desejos M6.
13h10, 16h10 (VP); Wonka M6. 19h10 (VO);
Patos! M6. 13h50, 16h30, 19h20 (VP);
Aquaman e o Reino Perdido M12. Sala
Atmos - 14h, 16h50, 20h40, 23h30; Som
da Liberdade M14. 20h, 23h; Todos Menos
Tu M12. 13h05, 15h40, 18h20, 21h20, 23h50;
Ferrari M12. 14h45, 18h, 21h, 24h; Mean
Girls M12. 14h50, 17h30; Pássaro Branco -
Uma História Extraordinária M12. 13h15,
16h20, 21h50, 00h30; A Semente do
Mal M16. 13h40, 15h50, 18h30, 20h50,
23h20; Beekeeper - O Protector M12. Sala
Atmos - 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 00h10;
The Kill Room - Arte Fatal M14. 22h10,
00h40; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 13h, 15h30,
18h10, 21h10, 23h40; Masha e o Urso:
Diversão a Dobrar M6. 14h40, 17h, 19h10
(VP); O Plano de Reforma M12. 20h30,
22h50; Em Chamas M12. 21h40, 00h20
Guarda
Cineplace La Vie - Guarda
C.C. La Vie, Av. dos Bombeiros
Voluntários Egitanienses. T. 271212140
Calamity M6. 14h10 (VP); Patos! M6. 15h
(VP); Todos Menos Tu M12. 16h50, 19h;
Ferrari M12. 21h10; Johnny Puff: Missão
Secreta M6. 13h10, 15h (VP); Beekeeper
- O Protector M12. 17h, 19h10, 21h20;
Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 17h, 19h10, 21h20; Masha
e o Urso: Diversão a Dobrar M6. 13h40,
15h20 (VP); Pobres Criaturas M16. 16h,
21h; O Plano de Reforma M12. 18h50
Guimarães
Castello Lopes - Espaço Guimarães
25 de Abril, Silvares. T. 253539390
Oppenheimer M14. 18h20; Wish: O Poder
dos Desejos M6. 11h05 (VP); Wonka M6.
11h15 (VO); Patos! M6. 11h10, 13h20, 15h30
(VP); Todos Menos Tu M12. 13h10, 15h15,
17h20, 19h25, 21h35, 00h15; Ferrari M12.
18h55, 21h35, 23h50; Johnny Puff: Missão
Secreta M6. 11h (VP); Mean Girls M12.
16h30; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 14h20; Beekeeper - O
Protector M12. 14h45, 17h, 19h15, 21h30,
23h55; Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 17h25, 19h30, 21h40,
00h20; Masha e o Urso: Diversão a
Dobrar M6. 11h05, 13h05, 15h (VP); Pobres
Criaturas M16. 21h30, 23h45
Castello Lopes - Guimarães Shopping
Lugar das Lameiras. T. 253520170
Oppenheimer M14. 13h25, 16h55, 20h25,
23h; Calamity M6. 11h20 (VP); Wish: O Poder
dos Desejos M6. 11h10, 15h15 (VP);
Wonka M6. 11h15 (VO); Patos! M6. 10h55,
13h05, 17h25 (VP); Aquaman e o Reino
Perdido M12. 20h30, 23h55; Todos Menos
Tu M12. 15h15, 17h20, 19h25, 21h35, 00h15;
Ferrari M12. 21h35, 23h45; Johnny Puff:
Missão Secreta M6. 11h (VP); Beekeeper
- O Protector M12. 14h45, 17h, 19h15, 21h30,
23h50; Beautiful Wedding - Um Casamento
Maravilhoso M16. 13h15, 15h20, 17h25,
19h30, 21h40, 24h; Masha e o Urso:
Diversão a Dobrar M6. 11h05, 13h20 (VP);
O Plano de Reforma M12. 14h35;
Em Chamas M12. 16h50, 18h40
Maia
Castello Lopes - Mira Maia Shopping
Mira Maia Shopping, Estrada Real nº 95 -
Lugar das Guardeiras. T. 229419241
Wish: O Poder dos Desejos M6. 11h05 (VP);
Wonka M6. 11h10, 15h45 (VP); Patos! M6. 11h,
13h10, 15h15, 17h20 (VP); Ferrari M12. 18h55,
21h35; A Zona de Interesse M12. 19h15;
Beekeeper - O Protector M12. 14h45, 17h,
19h15, 21h30; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 19h25, 21h35;
Masha e o Urso: Diversão a Dobrar M6.
11h15, 13h50 (VP); Pobres Criaturas M16.
13h25, 16h25, 21h30
Cinemas Nos MaiaShopping
C.C. Maiashoping, Lj 2.43. T. 16996
Wish: O Poder dos Desejos M6. 13h20,
16h, 18h30 (VP); A Vingança do Professor
Poutifard M12. 21h; Aquaman e o Reino
Perdido M12. 13h10, 15h50, 18h40, 21h20;
Beekeeper - O Protector M12. 14h, 16h30,
19h, 21h40 ; Beautiful Wedding - Um
Casamento Maravilhoso M16. 13h50,
16h20, 18h50, 21h30; Godzilla Minus
One M12. 21h10; Masha e o Urso:
Diversão a Dobrar M6. 13h40, 16h10,
18h20 (VP)

Lazer
MÚSICA
O Salgado Faz Anos... Fest!
PORTO Maus Hábitos.
Dia 27/1, às 21h. 20€
O que começou por ser a grande
festa de anos de Luís “Stereoboy”
Salgado é agora um festival com
tradição. A 11.ª edição distribui-se
por três palcos de música e mais
duas áreas dedicadas às artes. A
festa promete durar até o sol raiar
e traz como anÆtriões Agressive
Girls, Cobrafuma, Brorlab, Hetta,
Ideal Victim, Maquina, Tormenta,
Ana Lua Caiano, Dies Lexic,
Farwarmth, Gekiga Warlord, O
Gajo, Os Overdoses, O Triunfo
dos Acéfalos, Mmiguel x Moss
Kissing, Nel Monteiro, A Boy
Named Sue, The Ema Thomas,
Princeso da Tuga, Noise Dools
Club e Corvo.
The Legendary Tigerman
GUARDA Teatro Municipal.
Dia 27/1, às 21h30. M/16. 5€
Paulo Furtado, o homem-tigre que
vimos surgir, há mais de 20 anos,
de guitarra em punho e pé no
bombo, enveredou por novos
caminhos, encheu o covil de
sintetizadores modulares e saiu-se
com Zeitgeist, uma reinvenção do
seu espírito rock ‘n’ roll a toda a
prova. Asia Argento, Anna Prior,
Delila Paz, Jehnny Beth, Best
Youth, Sarah Rebecca, Calcutá,
Sean Riley e Ray foram cúmplices
das novas canções.
TEATRO
A Farsa de Inês Pereira
AMARANTE Cine-Teatro.
Dia 27/1, às 21h30.
M/14. 14€
Nos 500 anos do clássico
vicentino, Pedro Penim
reescreve-o, trá-lo para os nossos
dias e torna-o palco de uma luta
contra o trabalho. “Queria dar à
Inês Pereira uma possibilidade de
se vingar do Gil Vicente”, dizia o
autor e encenador ao PÚBLICO em
meados de Outubro de 2023, por
altura da estreia em Évora. É o
terceiro momento de uma trilogia
dedicada à família — que se
completa com Pais & Filhos (2021)
e Casa Portuguesa (2022) —,
centrado em deitar “o seu olhar
cáustico sobre alguns alicerces da
sociedade contemporânea,
nomeadamente o trabalho, a
sexualidade e a célula familiar”,
revela a sinopse. No elenco estão
Ana Tang, Bernardo de Lacerda,
David Costa, Hugo van der Ding,
João Abreu, Rita Blanco e Sandro
Feliciano.
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 49
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Euromilhões 8 19 32 41 42 9 12
bridge e sudoku em
1.º Prémio 130.000.000€ M1lhão SSK 28165
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 12.322 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Foram mais ajudados com as regras de CO2 para os carros do que
o ambiente, disse o TCE. 2. Esteja apaixonado. Unidade monetária do Vanuatu.
Desguarnecido. 3. Desmoronar-se. Comboio (Brasil). 4. Sufixo (agente). Despovoar.
Observei. 5. Maria Manuela (...), presidente do instituto que gere a ADSE. Juízo.
6. Arno (...), físico que confirmou a teoria do Big Bang (1933-2024). 7. Prato metáli-
co onde o sacerdote coloca a hóstia quando celebra missa. Prefixo (três). 8. Érbio
(s. q.). A tua pessoa. 9. Filme dirigido e protagonizado por Bradley Cooper. Pão
achatado, típico da culinária indo-portuguesa. 10. Segundo. Partida. 11. Vassourar
o forno, depois de aquecido. Casaco curto de abas.
Verticais: 1. Comida de farinha de mandioca cozida em manteiga ou toucinho
(Brasil). Governador árabe. 2. Cabo onde se prendem os papa-figos e as velas para
as segurar do lado donde sopra o vento (Náut.). “Um Menino na (…)”, o livro em
destaque no Guia crianças - Letra pequena. 3. Governador de algumas províncias
muçulmanas. Fora! (interj.). 4. “Em sua casa cada qual é (...)”. Tosquiar (animais
lanígeros). 5. Numeração romana (4). Corte rente. Abreviatura de Terabyte (Infor-
mática). 6. Latido de dor do cão. Contribuir. 7. Autoridade Tributária e Aduaneira.
Burra. Onda nos estádios. 8. Que alimenta. Prefixo (afastamento). 9. Localizado.
10 - Cobrir de névoa. Pão (Mirandês). 11. Desapareci. Sorte (pop.).
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Nolan. Raia. 2. Alarido. AfD. 3. Varre. Rapão. 4. Areola. Cm. 5. Lismo. Coesa. 6. Paliar.
7. Canadá. 8. Ato. Ele. Sua. 9. Gura. Miguel. 10. El. Aparar. 11. Messe. Alado.
Verticais: 1. Naval. Vagem. 2. Olaria. Tule. 3. Lares. Cor. 4. Arromba. Aas. 5. Nielo. NE. PE. 6. Palma. ~
7. Ror. Cadeira. 8. Acolá. Gal. 9. IAPMEI. Sura. 10. Afã. Saque. 11. Domar. Alvo.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul haverá algo mais que se possa Problema 12.412 (Fácil)
Vul: Todos fazer?
Encaixe Ás e Rei de copas e vá ao
morto no Ás de espadas. Agora
NORTE
Ƅ A942 jogue a terceira copa de Norte. Se
Ɔ863 Este tiver os trunfos que restam e
Ƈ 42 apenas duas cartas a copas, não
ƅ 8763 ganhará nada em cortar esta vaza.
Fazemos a Dama de copas e apre-
OESTE ESTE
Ƅ J763 Ƅ KQ105 sentamos o 10 de copas que cor-
ƆJ972 Ɔ 54 tamos com o último trunfo que Solução 12.410
Ƈ 10 ƇQJ8 tão bem guardámos no morto!
ƅ AK104 ƅ J952 Assim, a defesa fará apenas essa
SUL vaza, para além da vaza inicial a
Ƅ8 paus. Esta técnica é apelidada por
Ɔ AKQ10
ƇAK97653 “chapéu” ou “Lob” em francês.
ƅQ
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul Oeste Norte Este Sul
2Ƈ1 1Ƈ 1Ɔ passo 1Ƅ
passo 2Ƅ2 passo 3Ƈ passo 1ST passo ?
passo 3ST passo 4Ɔ
passo 5Ƈ Todos passam O que marca em Sul com a
seguinte mão?
ƄJ9642 ƆQ6 ƇAQ84 ƅ J3 Problema 12.413 (Difícil)
Leilão: Qualquer forma de Brid-
ge. 1 – Forte, forcing a partida; 2
– Um Ás num naipe rico Resposta: Passe. Com três cartas
a espadas, o nosso parceiro teria
por certo apoiado o nosso naipe
Carteio: Saída: Aƅ . Oeste insiste
nesta situação (com apenas qua-
com o Rei de paus. Sul corta e
tro cartas a espadas teríamos
encaixa o Ás de trunfo. Todos
optado pelo dobre). Vamos pas-
assistem. Como continuaria?
sar, pois até um singleton a espa-
Solução 12.411
Solução: Se os trunfos estiverem das não está excluído na mão do
3-1 teremos uma perdente a trun- parceiro.
fo, para além da que já lá foi nos
paus, podemos ficar dependen- Em Fevereiro começa um novo
tes do que irá acontecer a copas. curso de iniciação ao Bridge,
Uma distribuição 3-3 ou um Vale- quintas às 15h00. Ainda temos
te à segunda pode ser suficiente vagas. Informações e inscrições
para resolver a possível perdente através do Centro de Bridge
a copas. Mas serão essas as úni- de Lisboa – 21 3877751 ou
cas a serem consideradas ou centrodebridge@gmail.com
50 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024

Guia

CINEMA
produções de grande impacto, ao

Televisão Os mais vistos da TV

Cuidado com Essa Puta
Sagrada
TVCine Edition, 22h
Rainer Werner Fassbinder tinha
26 anos quando realizou, a partir
da sua experiência e em tom
auto-irónico, esta Æta sobre o
próprio acto de Ælmar — ou de
tentar concretizar um Ælme, num
clima de tensões, confusões,
atrasos e disfunções, em que a
equipa está em modo de
frustração contínua perante essa
“puta sagrada” que é a câmara. É
com esta obra de 1971 que o
TVCine Edition abre um especial
dedicado ao enfant terrible do
Novo Cinema Alemão, em que são
exibidos oito Ælmes seus, em cópia
restaurada, aos sábados à noite,
até 16 de Março. Seguem-se As
Lágrimas Amargas de Petra von
Kant, O Mercador das Quatro
Estações, O Medo Come a Alma,
Amor e Preconceito, Mamã Küsters
Vai para o Céu, Roleta Chinesa e O
Casamento de Maria Braun.
Todos Querem o Mesmo
Fox Comedy, 23h
Com assinatura de Richard
Linklater, esta é a “sequela
RTP1
6.00 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia
Portugal Fim de Semana 9.57
Ressuscitar o Éden - Ajuda Humana
para a Resiliência da Natureza 10.58
Hora dos Portugueses 11.43 Romaria
do Meu Coração 12.19 Portugal
Fenomenal 12.59 Jornal da Tarde 14.15
Voz do Cidadão 14.37 Estrelas ao
Sábado
19.06 O Preço Certo
19.59 Telejornal
21.07 Mastercheff
Portugal
Quinta-feira, 25
RTP1 11,9%
% qual não é alheia a carga simbólica
dos elementos que leva à cena,
Big Brother Desafio...
% Aud. Share
TVI 10,2 19,5
RTP2 0,6 mesmo que à primeira vista
O Preço Certo RTP1 10,1 21,4 SIC 14,7
pareçam descontextualizados. São
muitos os artistas com quem já
TVI
Jornal da Noite SIC 9,4 18,5
Cacau TVI 9,3 19,8 16,1 colaborou. Alguns deles, como
Tom Waits, Willem Dafoe, Marina
Cabo
Big Brother Desafio... TVI 9,1 19,2
FONTE: CAEM
41,4 Abramovic, Philipp Glass, Coco
Rosie ou Rufus Wainwright, são
entrevistados neste documentário
TVCINE TOP
RTP2 de 2022, realizado por Carl von
17.40 Não Te Preocupes, Querida 19.40 Karstedt e Ælmado pouco antes de
6.01 A Fé dos Homens 6.32 Repórter Missing - Desaparecida 21.30 Maggie Wilson completar 80 anos.
África 7.00 Folha de Sala 7.04 Filhos Moore(s) 23.10 Passado Violento 0.40
do Sol 7.56 Espaço Zig Zag 14.50 O Convite 2.25 Perseguição Mortal Tributo - Ary Fontoura
Folha de Sala 14.57 Desporto 2 17.00 Globoplay, streaming
Judo: Grand Prix de Portugal 19.02 No dia em que Ary Fontoura
Biosfera 19.31
31 Faça Chuva Faça Sol FOX MOVIES celebra o 91.º aniversário, a
20.04 Rios Urbanos 20.38 Folha de 118.16 Black Water: Perigo no Oceano Globoplay estreia esa homenagem
Sala 119.53 Altitude 21.15 Chok-Dee: A Arte do a “um dos actores mais
CCampeão 23.00 Boyka: Undisputed 4 acarinhados do Brasil” e à sua
00.23 Ninguém Sobrevive 1.38 D-Tox “apaixonante carreira”. São
lembradas as suas personagens
mais memoráveis — “Silveirinha,
20.42 Harry
y Wild HOLLYWOOD Coronel Coriolano, Ludovico, Dr.
1
18.35 Déjà Vu 20.40 A Vingança de King Lutero, Deputado Pitágoras”,
22.25
2 Lights Out - Terror na Escuridão enumera a plataforma — e outros
21.30 Jornal 2 23.50 Máquina Zero: A Lei do Retorno momentos de um talento que
1.35 The Grey - A Presa despontou quando tinha apenas
quatro anos. Isso e a atitude
22.01 Robert Wilson, a Beleza do optimista e nada saudosista de
Mistério AXN quem insiste no prazer de
18.16 Plano de Fuga 3 19.59 MIB: aproveitar o momento.
Homens de Negro - Força Internacional

espiritual” do Ælme de culto
Juventude Inconsciente, também da
sua lavra. Ambientado na década
de 1980, segue um grupo de
rapazes que se prepara para o
início das aulas numa pequena
universidade do Texas (EUA).
Photo
RTP2, 23h
Após a trágica morte da mãe, Elisa
descobre que o homem que a
criou como Ælha não é o seu
verdadeiro pai. Com um
sentimento de perda e desamparo,
tenta encontrar respostas nas
imensas fotos deixadas pela
progenitora. Nessa busca de si
23.45 Taskmaster
Reino Unido
2.15 Ressuscitar o Éden - Ajuda
Humana para a Resiliência da Natureza
SIC
6.15 Camilo, o Presidente 6.40 Etnias
7.20 Médico da Casa 8.00 Caixa
Mágica - Caminhos de Portugal 9.50
Alô Marco Paulo 12.10 O Nosso Mundo
12.59 Primeiro Jornal
22.52 Folha de Sala 23.00 Photo
0.19 Janela Global 0.51 A Sombra do
Dia 2.56 Portugal Mais Perto 3.23
Grandes Memórias 3.53 Alves dos
Reis, UmSeu Criado 4.39 Tribunal
Constitucional: 40 Anos a Cumprir o
Futuro 4.43 O Regresso 5.43 Volta ao
Mundo 5.56 Contentor 13
TVI
6.10 Diário da Manhã 6.25 Campeões
e Detectives 7.05 Detective Maravilhas
7.50 Inspector Max 9.15 Querido,
Mudei a Casa! 10.15 Dois às 10 11.35
Big Brother 12.50 ICNF - Portugal
Natural 12.58 TVI Jornal 14.00 Vai ou
21.55 Venom: Tempo de Carnificina
23.35 O Dia em Que a Terra Parou 1.24
Die Hard: A Vingança
FOX
17.56 G.I. Joe - O Ataque dos Cobra
19.40 G.I. Joe: Retaliação 21.20
Baywatch: Marés Vivas 23.07 Upgrade:
Máquina Assassina 0.38 Destino
Infernal 2.18 East New York
DISNEY CHANNEL
17.05 Hamster & Gretel 17.50 A Maldição
de Molly McGee 19.00 Os Green na
Cidade Grande 20.05 Miraculous -
As Aventuras de Ladybug 20.30
DESPORTO
Futebol: Braga x Estoril Praia
SIC, 19h40
Directo. O Braga e o Estoril Praia
vão a Leiria disputar a Ænal da 17.ª
Taça da Liga, depois de terem
eliminado o Sporting e o BenÆca,
respectivamente. Os minhotos
saem em busca do seu terceiro
troféu na prova. Os “canarinhos”,
estreantes nestas lides, chegam
aqui depois de terem afastado
também o Porto, detentor do
título. A bola rola no Estádio
Municipal Dr. Magalhães Pessoa.

mesma, decide deixar Paris rumo
a Lisboa, ao encontro do passado
da mãe e de um pai desconhecido
que talvez tenha as respostas por
que anseia. Photo, a estreia na
realização de Carlos Saboga, conta
com interpretações de Anna
Mouglalis, Rui Morrison, Simão
Cayatte, Marisa Paredes, John
Leyesen e Ana Padrão.
INFANTIL
Racha O Maravilhoso Inverno do Mickey Mouse
14.30 Olhá SIC... Na Taça!
ç 15.00 Em Família
DISCOVERY A Idade do Gelo 4: Deriva
17.15 A Febre do Ouro: Águas Bravas Continental (VP)
18.10 The Garden: Comuna ou Seita? Disney Channel, 11h
19.00 Jornal da
a Noite 18.10 Big Brother 20.05 O Segredo das Coisas 21.00 Quando o esquilo Scrat, na sua
À Pesca de Ouro 21.55 Alasca: A Última busca neurótica e incessante pela
Fronteira 23.50 À Pesca de Ouro 0.45 bolota perfeita, desencadeia outra
Já Estavas Avisado! série de eventos cataclísmicos,
19.40 Futebol: Braga 19.57
19.
119
9..5
9 57 Jornal Nacional
7 Jor Manny, Diego e Sid são

DOCUMENTÁRIOS
Robert Wilson, a Beleza do
Mistério
RTP2, 22h01
Depois de ter exibido, há uma
semana, O Messias segundo a visão
de Robert Wilson, a RTP2 emite
esta tentativa de “decifrar o código
artístico único” do encenador
norte-americano. Wilson é
conhecido pelo arrojo e sentido
vanguardista que imprime a
x Estoril Praia
(Taça da Liga)
22.10 Era Uma Vez na Quinta
0.05 Terra Nossa 1.35 Levanta-te e Ri
Dança com as Estrelas
21.35 Da
0.25 Quem Brinca com o Fogo... 2.25
Doida por Ti 3.50 Mistura Fina
HISTÓRIA
17.00 Alienígenas 1.03 Mistérios na
Selva
ODISSEIA
17.25 Costa Rica 18.20 Cães Muito
Mal-Educados 19.55 Resgate de
Cães: Segunda Oportunidade 20.40
Mundo Mineral 21.33 Vulcão 22.30
À Descoberta com... 23.19 Viagens
de Comboio pelas Costas Britânicas
empurrados para uma nova
aventura. À deriva numa ilha de
gelo e separados do resto do clã,
acabam capturados por piratas
mal-encarados. Realizado por
Steve Martino e Mike Thurmeier, é
o quarto Ælme da saga da manada
pré-histórica, iniciada em 2002
por Chris Wedge e Carlos
Saldanha. O quinto e sexto
capítulos também passam hoje no
Disney Channel: O Big Bang, às
22h15, e As Aventuras de Buck, às
20h50.
 Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 51

Guia

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20 º 3º
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Aveiro 21 º
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(ppm) na atmosfera Razoável Porto
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22º Não é Coimbra
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Há um ano 419,30 Nada
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Leiria 6º
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DA MESMA
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Santarém Nível pré-industrial 280
Portalegre Faro
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10º 18º
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*de amanhã

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20º 21º Estocolmo
Helsínquia
12º 10 º Oslo
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2,2m

Dublin
Copenhaga

Berlim
Riga

Vílnius
O QUE É SER
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Amesterdão
Londres Varsóvia
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13º Bruxelas
19º Faro Praga
15º Paris
Viena Budapeste
18º Genebra
1,0m
Um homem não chora, um podcast
Açores Milão
semanal de Maria Ana Barroso.
Corvo Roma
às segundas-feiras.
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 17º
13º Atenas
12º 2,2m
São Jorge 16º
17º 11º
3,2m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
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Min. Máx. Min. Máx.
17º
16º 14º Amesterdão 0 8 Roma 4 16
2,2m Atenas 7 15 Viena 0 9
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Sta Maria Bruxelas 1 7 Buenos Aires 22 29
Madeira Bucareste -2 5 Cairo 13 21
Porto Santo Budapeste 1 6 Caracas 19 32
Copenhaga 2 7 Cid. do Cabo 18 27
Madeira
20º 22º 22º 20º Dublin 8 11 Cid. do México 8 25
17º 18º
1,2m 1,8m Estocolmo 0 1 Díli 25 29
Frankfurt -2 7 Hong Kong 10 17
Funchal Genebra 1 9 Jerusalém 6 10
Istambul 4 9 Los Angeles 11 22
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 0 1 Luanda 26 32
Londres 4 10 Nova Deli 8 21
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 6 18 Nova Iorque 4 9
10h06 0,7 09h39 0,9 09h35 0,8 Milão 1 15 Pequim -7 4
16h11 3,1 15h47 3,1 15h48 3,0 Moscovo -7 -2 Praia 22 31
Disponível em publico.pt/podcasts
Oslo 1 4 Rio de Janeiro 24 29
e em todas as plataformas de podcasts
22h07 0,8 21h39 1,0 21h35 0,8 Paris 0 8 Riga -2 0
04h23* 3,4 03h59* 3,4 04h06* 3,3 Praga -4 7 Singapura 25 32
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
52 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Desporto Propõe que o desporto receba 1% do PIB nacional
Novo líder da CDP
quer mais desporto
na RTP e nas escolas
Daniel Monteiro Um plano estruturado para a promoção do
desporto e um ministério para o sector são alguns dos desejos
do novo presidente da Confederação do Desporto de Portugal
Entrevista
Diogo Cardoso Oliveira Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Foi eleito para a presidência da
Confederação do Desporto de
Portugal (CDP) há pouco mais de
dois meses, na segunda volta de
umas eleições que tiveram três
candidatos na corrida. O seu triunfo
foi, contudo, impugnado, mas
Daniel Monteiro já assumiu
funções, sucedendo a Carlos Paula
Cardoso, que esteve à frente da CDP
por 21 anos.
Quando fala de mais
investimento no desporto e na
criação de um ministério, fala de
convencer o Governo a olhar
para o desporto de forma
diferente da que tem olhado?
O Estado tem deixado as
federações, as competições
desportivas e o movimento
associativo entregues à sua sorte,
numa lógica de sobrevivência. Não
podemos continuar a ter uma
sociedade que relegue o desporto
para segundo plano e depois,
quando chegam os grandes
momentos desportivos, querer
exigir resultados.
Mas tem existido um reforço dos
apoios dados aos atletas
olímpicos...
Tem existido esse investimento e
esse reforço, mas, do ponto de vista
mediático, para um governo é mais
fácil Ænanciar os projectos
olímpicos e paralímpicos do que
Ænanciar as bases da pirâmide,
porque aqui o investimento não é
tão visível.
Mas como é que se convence um
Estado cujo ponto de partida
económico não é fulgurante de
que o caminho deve ser apostar
nesse tal trabalho menos visível
e não no mediatismo dos atletas
olímpicos?
É uma questão sobre qual a
sociedade que queremos construir.
Eu acredito numa sociedade
assente nos valores do desporto. Há
dois objectivos que são
fundamentais para o país: ter mais
praticantes, alargando a base, e
conseguir ter melhores resultados
desportivos depois de alargada essa
base.
Portanto, sente que o Estado
pede às federações e aos atletas
mais do que aquilo que dá?
Sim. Até porque lembro duas
coisas. Uma é que as famílias são o
grande Ænanciador do desporto e
têm de pagar para aceder à prática
desportiva. Qualquer jovem que
queira frequentar o desporto não
pode Æcar sem acesso só porque
não tem condições
socioeconómicas. E a outra é que a
única fonte de Ænanciamento do
desporto vem por via dos resultados
líquidos dos jogos sociais da Santa
Casa. Temos de diversiÆcar isso.
E essa não parece ser uma ideia
demasiado agradável para o
Estado para ser revertida?
Porque para o Estado
compensa...
Depende, mais uma vez, de que
sociedade queremos. Eu quero uma
sociedade em que as pessoas são
Æsicamente activas e praticam
desporto. Há uma dimensão do
desporto muito além da prática em
si: na área da saúde, na aquisição de
valores, na área social, na área
económica, porque o desporto
também gera emprego, e até na
área cívica. E aí entramos na
questão de exigir mais Educação
Física no primeiro ciclo de
escolaridade.
Em que moldes?
A Comissão Europeia recomenda o
número de horas de actividade
física e de ensino da Educação
Física no primeiro ciclo de
escolaridade a rondar as três horas.
E é isso que nós propomos. Gostaria
de comprometer o próximo
governo a que Æzesse esta alteração
legislativa nos primeiros 100 dias de
mandato, para dar um sinal claro ao
país de que o desporto vai
Ænalmente valer a pena.
Mas acredita mesmo que isso vai
acontecer?
Tudo farei para que aconteça.
Mas acredita?
Tudo farei para que aconteça,
independentemente do partido.
Tudo farei. Nem que tenha de estar
todos os dias à porta de São Bento a
exigir ao primeiro-ministro e ao
ministro da tutela, porque, de facto,
isto é fundamental para a sociedade
em que todos vivemos.
A proposta de criação do
Ministério do Desporto
tratar-se-ia de impacto
meramente político ou prático?
Poderão criar-se dúvidas sobre o
impacto prático, mas há impacto
político relevante. Se o desporto é
reconhecido como bem público,
que tenha dimensão ministerial
associada. Estou a falar de impacto
político que consequentemente
será prático.
Como assim? que o sector não é prioritário.
Vou dar um exemplo muito claro. Já o tem dito. Se não investe, está
Tivemos um PRR e o maior a dizê-lo implicitamente...
investimento comunitário de Mas por isso é que queremos um
sempre. Não foi alocado um euro ao novo ciclo, com o nosso pacote de
desporto federado.
E seria diferente com Ministério
O Estado tem deixado medidas aceite e reconhecido pelos
partidos. Caso contrário, vamos
do Desporto? as federações, as estar ano após ano a lamentar o que
Tenho a convicção de que, com
peso ministerial para distribuição
competições desportivas não conseguimos. O desporto dá
um valor acrescentado bruto de
do PRR, o desporto teria outro e o movimento associativo 4200 milhões de euros, 133 mil
peso. É a minha convicção. entregues à sua sorte, empregos, 2,3% do valor bruto do
Mas se diz que o Governo não
investe no desporto, como é que
numa lógica de país e 2,8% nos postos de trabalho.
E estando em 2024, ano
vai criar um ministério? Uma sobrevivência. Não olímpico, paralímpico e de
coisa não bate com a outra...
Ele já existiu e deixou de existir
podemos continuar a ter outras competições, como se
convence um governo a investir
porque o desporto foi perdendo uma sociedade que relegue mais se os resultados forem
peso político. Há uma deÆnição
clara que o Governo tem de dar ao
o desporto para bons? Não é utópico?
A avaliação dos resultados é
país: o desporto é ou não segundo plano e depois, subjectiva. Portugal tem de se
prioritário? quando chegam os grandes comparar com países da sua
E se não for?
Se não for, tem de o assumir. Tem
momentos desportivos, densidade populacional e vai
perceber que está atrasado em
de ser dito aos agentes desportivos querer exigir resultados relação a esses países. Já se pensou

no que seria 1% do PIB no desporto?
Naquilo que o desporto poderia
gerar. Se assim já gera o que gera,
imaginem com um pequeno
investimento.
Quando fala de uma fatia maior
para o desporto na grelha da
RTP, de que fatia fala?
O desporto tem de estar mais
presente na RTP e a RTP tem de
estar mais presente no desporto.
Essa fatia tem de ser discutida com a
administração. O que nós
propomos é que essa grelha seja
alargada ao sector do desporto e
que a preparação da nova grelha
seja articulada com o movimento
desportivo.
Mas estamos a falar de mais
horas de transmissão? De
presença na RTP em vez de
RTP2? De diversiÆcação das
modalidades? Do que estamos a
falar?
Isso seria para negociar. Há vários
modelos. Mas estamos a falar de
mais conteúdos em directo e de
mais espaço de grelha. Depois que
tipo de conteúdos são é algo para
negociar num modelo de co-gestão
partilhada entre CDP e RTP, para
que possamos deÆnir em conjunto
os conteúdos desportivos.
Ao domingo à tarde vemos
sobretudo andebol e
basquetebol na RTP2. Tem
exemplos de modalidades que
acha que poderiam ser
especialmente impactantes?
É importante o consumidor
conhecer outras modalidades. E
tenho de dizer que esses directos de
andebol e basquetebol acontecem
porque as federações investem do
seu próprio orçamento na
produção televisiva.
E a CDP não poderia incentivar
outras federações a fazerem
isso?
Poderia. Mas isto faz com que
algumas federações sem esses
recursos não tenham espaço. O
novo modelo poderia entrar por via
de orçamento directo à RTP ou
indirecto, ao desporto, dando às
federações recursos para
produzirem os conteúdos.
Independentemente do modelo,
tem de haver mais horas de
desporto na RTP.
Tudo isto, a ser feito, obrigará a
CDP a uma postura mais
reivindicativa e inÇuente do que
a de diálogo e consenso que
apresentou nos últimos anos...
Não estou aqui para falar do
passado e do que foi bem feito, mal
feito ou deveria ter sido feito. No
passado, os dirigentes Æzeram o
melhor que podiam e não me cabe a
mim fazer juízos daquilo que está
para trás. Cabe-me fazer uma
previsão daquilo que quero
oferecer ao desporto, às federações
e a garantia que posso dar ao sector
e ao poder político.
Mas no seu programa eleitoral
diz que “o desporto não pode ter
mais quatro anos de ausência da
CDP, como teve nos últimos 21”.
É uma frase sua. O que é que a
nova CDP traz de diferente da
antiga?
Entendi que a CDP poderia oferecer
outro papel ao desporto.
Candidatei-me com um programa e
estou cá para o concretizar. A nova
CDP traz de diferente uma
intervenção muito mais activa, quer
publicamente, quer no trabalho de
relação próxima com o Governo e
com os partidos. Um trabalho mais
intenso, mais diário, com maior
presença também a nível de
intervenção pública.
Num plano de negociação, que
medidas das que já falámos
seriam mais relevantes?
Todas são importantes. Queremos
que se aplique o pacote de medidas
por inteiro. Por isso é que
sugerimos, primeiro, um plano
estratégico e desportivo para a
década. É fundamental nós
percebermos onde estamos e para
onde queremos ir. Feito o plano, a
segunda fase é rever o modelo de
Ænanciamento. Porque o modelo
está assente numa base de histórico
e isto não premeia o mérito. Devem
ser estabelecidos objectivos de
gestão e de resultados desportivos,
com um modelo que premeie quem
faz um bom trabalho. O
Ænanciamento não está a chegar
onde é mais preciso.
Não está a chegar porquê?
Porque ele é curto, não chega para
tudo e Æca muito no alto
rendimento e nas condições que
são dadas a atletas para se
manterem no topo e para
conseguirem resultados
desportivos. Mas depois há todo um
fosso que está por cumprir. O
Ænanciamento não chega aos clubes
de base local, que é onde tudo isto
começa.
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 53
Sp. Braga-Estoril:
a final inesperada
Marco Vaza
Taça da Liga decide-se hoje,
em Leiria, entre duas
equipas menos habituadas
a lutar por títulos do que
as equipas que eliminaram
O favoritismo é apenas um estatuto.
Não marca golos nem defende
penáltis. Isso Æcou mais do que pro-
vado nas meias-Ænais da Taça da
Liga, uma competição feita à medi-
da dos “grandes” — a história mostra
que, em 16 Ænais passadas, apenas
uma não teve BenÆca, FC Porto ou
Sporting. Havia uma impressão
generalizada de que, na Ænal de hoje
(19h45, SIC), haveria um derby lis-
boeta em Leiria, mas ele não vai
acontecer, por mérito de duas equi-
pas que não acreditam em favoritis-
mos. Sp. Braga e Estoril, um deles
vai ter um troféu e uma injecção de
moral para o que resta da época.
Voltando à palavra favoritismo,
pela história, será o Sp. Braga, que
afastou o Sporting nas “meias”,
quem entra nesta Ænal com esse
estatuto. Os “arsenalistas” já ganha-
ram esta competição por duas vezes
(2013 e 2020) e estiveram em mais
duas Ænais (2017 e 2021), algo que é
consistente com o lugar que têm
consolidado no futebol português
— nas últimas 20 épocas, só não Æca-
ram no top 4 do campeonato em
cinco delas. Já o Estoril, só tem uma
Ænal de Taça na sua história, mas
não é esta — esteve na decisão da
Taça de Portugal em 1943/44, der-
rotado pelo BenÆca por 8-0. Na Taça
da Liga, é o mais longe que alguma
vez chegou.
Vasco Seabra, treinador do Esto-
O Sp. Braga será o favorito na final da Taça da Liga frente ao Estoril
Desporto
ril, é quem assume a dimensão ines-
perada desta Ænal, que também será
uma experiência nova para ele. “Eu
sou inexperiente em Ænais, tal como
o clube. Salvo erro, há quase 80
anos que o Estoril não estava nesta
situação. Somos outsiders, estamos
a desfrutar do jogo. É um momento
interessante para o futebol portu-
guês porque temos uma Ænal que
era pouco esperada”, analisa o téc-
nico da equipa que já abateu FC
Porto e BenÆca na Taça da Liga, mas
que está em posição desconfortável
na I Liga — 15.º lugar.
Já para Artur Jorge, na sua segun-
da época a tempo inteiro como trei-
nador principal do Sp. Braga, esta é
a sua segunda Ænal em temporadas
consecutivas — esteve no Jamor em
2023, derrotado pelo FC Porto. O
antigo central não assume o favori-
tismo dos minhotos, até porque
uma Ænal é um jogo de natureza
diferente de todos os outros.
“Não acho que as Ænais tenham
favoritos. Há a tentação de encon-
trar uma equipa mais favorita, mas,
enquanto treinador, sei que são
duas equipas que têm mérito de
estar aqui e vão querer ganhar”,
reforça Artur Jorge.
E o adversário chamar-se Estoril
e não BenÆca, acrescenta, pode até
ser uma diÆculdade acrescida, a
propósito da Ænal que o Sp. Braga
perdeu com o Moreirense em 2017:
“Esta é a Ænal mais difícil que podía-
mos ter, porque temos de controlar
as expectativas. A ambição não
pode ser diferente da que terá o nos-
so adversário e não seria diferente
se o adversário fosse o BenÆca. Mas
também sabemos das diÆculdades
que vamos ter pela frente, com um
adversário forte.”
PAULO CUNHA/LUSA
54 • Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024
Desporto
Jogos com história
Da noite para o dia em Leverkusen
Luís Francisco
O Bayer Leverkusen ainda
não perdeu esta época
e a equipa de Xabi Alonso é
cada vez mais uma ameaça
à hegemonia do Bayern
Estamos a 27 de Maio de 2023. No
RewirpowerStadion, a equipa local,
o Bochum, recebe o Bayer Leverku-
sen na jornada de encerramento da
edição 2022/23 da Bundesliga. A
esmagadora maioria dos espectado-
res presentes sustém a respiração ao
ritmo do que se passa noutros cam-
pos, porque o Bochum entra em cam-
po em posição de play-off de descida.
Do outro lado, um Bayer Leverkusen
bem mais acima na tabela, mas a viver
uma série negra de seis jogos conse-
cutivos sem ganhar. Passaram a ser
sete: o Bochum venceu por 3-0 e fugiu
à despromoção, o Leverkusen fechou
a temporada na 6.ª posição.
Foi a última derrota do Bayer
Leverkusen. Da noite para o dia, a
equipa liderada pelo espanhol Xabi
Alonso virou costas ao insucesso e
chega a este Æm-de-semana, na
recepção ao Borussia Moenchen-
gladbach, com 15 vitórias e três empa-
tes nas 18 jornadas já realizadas. Este
desempenho de excelência vale-lhe
a liderança da Bundesliga com quatro
pontos de avanço sobre o Bayern
Munique, crónico campeão da Ale-
manha. A verdade é que, apesar da
veia goleadora de Harry Kane, os
bávaros enfrentam uma séria ameaça
de verem quebrada a sua dinastia de
11 títulos consecutivos…
O que mudou, entretanto, no
Bayer? O treinador é o mesmo — Xabi
Alonso estreou-se a 8 de Outubro de
2022 com um triunfo por 4-0 em casa
frente ao Schalke, na jornada 9 da
Bundesliga, mas depois teve de amar-
gar seis partidas até novo triunfo (e
outra vez com goleada: 5-0), desta vez
sobre o União Berlim, na ronda 13.
O fantasma do mau início de época,
sob o comando do suíço Gerardo
Seoane, continuava a pairar nas ban-
cadas da BayArena, a casa do clube
que nasceu e cresceu à sombra do
gigante farmacêutico alemão que lhe
dá nome.
Foi uma época bipolar. Depois do
União Berlim, seguiram-se outros
quatro triunfos, a seguir quatro der-
rotas em cinco jogos, antes da melhor
série da temporada: 14 jogos seguidos
sem perder, dos quais 10 foram vitó-
rias. E então vieram os tais sete jogos
sem ganhar — entre eles a derrota e o
empate que valeram a eliminação nas
meias-Ænais da Liga Europa às mãos
da Roma de José Mourinho.
O desempenho desportivo foi ana-
lisado. Havia que potenciar os pontos
fortes da equipa, mas evitar as oscila-
ções radicais de desempenho ao lon-
go da época. Havendo dinheiro, é
uma questão de escolher bem no
mercado. E Xabi Alonso podia, Ænal-
mente, desenhar uma equipa mais à
sua medida.
Mudança radical
Saíram o extremo franco-maliano
Moussa Diaby (para o West Ham, por
55 milhões de euros) e o lateral-es-
querdo neerlandês Mitchel Bakker
(Atalanta, 10 milhões), entre outros.
Ao todo, o clube embolsou quase 70
milhões de euros. Do outro lado do
balancete, registaram-se mais de 90
milhões em contratações: chegaram
nomes como o avançado nigeriano
Victor Boniface (20,5 milhões, prove-
niente do Union St. Gilloise) ou o
médio suíço Granit Xhaka (25
milhões, Arsenal), a que se juntou, já
com a época em curso, o extremo
anglo-nigeriano Nathan Tella (23
milhões, proveniente do West
Ham).
Mas a melhor contratação do Bayer
Leverkusen até chegou a custo zero…
O lateral-esquerdo Alejandro Grimal-
do deixou o BenÆca em Ænal de con-
trato e chegou à Alemanha com gran-
des expectativas. Está a superá-las de
forma extraordinária, nas palavras do
seu treinador.
Após a jornada 18 da Bundesliga,
Grimaldo é o jogador com mais
minutos em campo e o segundo
melhor marcador da equipa — com
nove golos, só superado pelos 16 de
Boniface. Numa equipa que exibe
uma média próxima dos três golos
marcados por partida (85 em 27
jogos), dois reforços desta tempora-
da são responsáveis por quase 30%
das Ænalizações da equipa.
Da noite para o dia,
a equipa liderada pelo
espanhol Xabi Alonso
virou costas ao insucesso
e chega a este
fim-de-semana,
na recepção ao Borussia
M’gladbach, com 15
vitórias e três empates nas
18 jornadas já realizadas
Jogos com História é uma
rubrica quinzenal. Ver mais
em publico.pt/jogos-historia
Como vão longe os ombros descaí-
dos e as expressões de desalento da
tarde de 27 de Maio de 2023, após a
derrota no terreno do Bochum… Nes-
sa partida, o Leverkusen entrou em
campo com Lukas Hradecky, Jeremie
Frimpong, Jonathan Tah, Edmond
Tapsoba, Mitchel Bakker, Florian
Wirtz, Nadiem Amiri, Exequiel Pala-
cios, Moussa Diaby, Amine Adli e
Sardar Azmoun. Um “onze” que
depressa passou a “dez”, com a
expulsão de Adli logo aos 8’… Entra-
ram ainda Noah Mbamba e Adam
Hlozek. Só cinco destes jogadores
(Hradecky, Frimpong, Wirtz e Pala-
cios como titulares e Hlozek vindo do
banco) estiveram na vitória por 3-2
no terreno do Leipzig no passado dia
20, na jornada 18 da corrente edição
da Bundesliga…
Há várias maneiras de um jogo
entrar para a história. Alguns sê-lo-ão
sempre pelo contexto, outros ganham
esse estatuto pelo que acontece den-
tro do relvado, há também aqueles
que conquistam a notoriedade por
acontecimentos ao seu redor. Mas a
derrota do Bayer Leverkusen em
Bochum no Ænal da temporada pas-
sada escapa a todas estas categorias.
Entra para a história por tudo o que
se passou — e continua a passar —
depois desse dia. O Bayer Leverkusen
está a dar a volta à história.
HEIKO BECKER/REUTERS
Grimaldo, ex-jogador
do Benfica, é o segundo
melhor marcador
do Bayer Leverkusen
Breves
Futebol
Pinto da Costa anuncia
ida a votos no FC Porto
a 4 de Fevereiro
Já há data para o anúncio
oficial daquilo que toda a
gente já sabe: a recandidatura
à presidência do FC Porto de
Jorge Nuno Pinto da Costa.
Na tarde de ontem, o actual
líder portista convidou os
órgãos de comunicação social
para um evento a decorrer no
dia 4 de Fevereiro, no Coliseu
do Porto, onde será
apresentado aos sócios e
adeptos do clube “azul e
branco” um “projecto de
renovação (...) liderado por
Jorge Nuno Pinto da Costa”.
Com eleições agendadas para
Abril, já há, neste momento,
dois candidatos oficiais à
presidência do FC Porto: Nuno
Lobo e André Villas-Boas. A 4
de Fevereiro entrará
oficialmente na corrida Pinto
da Costa, à procura do seu 16.º
mandato presidencial.
Andebol
França e Dinamarca
vão disputar
o título europeu
A França e a Dinamarca são as
finalistas do Europeu de
Andebol, que se decide
amanhã (RTP2, 16h45 de
Lisboa). Os franceses
derrotaram a Suécia na
primeira meia-final, após
prolongamento (34-30),
depois de evitarem a
eliminação no último segundo
do tempo regulamentar de
jogo (27-27). Já os
dinamarqueses impuseram-se
à Alemanha por 26-29.
No jogo de atribuição dos
quinto e sexto lugares, a
Hungria venceu por 23-22 a
Eslovénia, revertendo uma
desvantagem de dois golos
nos minutos finais. A selecção
húngara alcançou assim a sua
melhor posição em Europeus.

Sinner é o novo pretendente
ao trono desocupado por Djokovic
Pedro Keul
Daniil Medvedev
volta a ganhar
em cinco sets e está na final
pela terceira vez
Depois de entrar no top 10 em Ænais
de 2021 e, no ano passado, ter atingi-
do a meia-Ænal em Wimbledon e
ganho o primeiro título da categoria
Masters 1000, Jannik Sinner tinha
como desaÆos maiores vencer Novak
Djokovic numa prova do Grand Slam
e atingir a Ænal de um dos quatro
maiores torneios do mundo. A opor-
tunidade surgiu ontem. O italiano
entrou conÆante para a meia-Ænal do
Open da Austrália, pois vencera o
melhor tenista da actualidade em dois
dos três duelos travados em Novem-
bro e ainda não tinha perdido um set
na prova. E essa conÆança Æcou bem
patente na exibição de Sinner, com a
qual pôs Æm à série de 33 vitórias con-
secutivas de Djokovic em Melbourne,
tornando-se no primeiro a derrotar o
sérvio nessa fase do torneio australia-
no; nas 10 ocasiões anteriores em que
chegou às meias-Ænais, Djokovic aca-
bou sempre por sair da Austrália com
o título.
Lionn confirma aliciamento por César Boaventura
para perder contra o Benfica
Miguel Dantas
O ex-jogador do Rio Ave Lionn conÆr-
ma ter sido aliciado por César Boa-
ventura para perder contra o BenÆca,
sendo o terceiro rio-avista a conÆrmar
propostas de aliciamento pelo empre-
sário em tribunal. Nas duas sessões
anteriores, Cássio e Marcelo, antigos
colegas de equipa do jogador ouvido
ontem, também acusaram Boaventu-
ra de fazer propostas para ajudar o
BenÆca frente ao Rio Ave, em Abril de
2016. A leitura da sentença está mar-
cada para o dia 7 de Fevereiro.
“Ele pediu para eu deixar o telemó-
vel no banco de passageiros do carro
dele. Disse que a proposta era de 80
mil euros em notas de 500 para fazer
um penálti e ser expulso durante o
jogo”, aÆrmou o jogador no Tribunal
de Matosinhos. Lionn diz que Boaven-
Sinner chega à final do Open da Austrália tendo perdido um só set
“Claro que nos sentimos melhor
quando sabemos que podemos der-
rotar determinado jogador. Para
mim, foi um enorme privilégio poder
defrontá-lo por três vezes em dez dias
e isso ajudou-me, mas, por outro
lado, um Grand Slam é mentalmente
diferente. Tentei jogar o mais relaxa-
do possível e com o plano de jogo
certo na minha mente”, aÆrmou Sin-
ner, que, aos 22 anos, é o mais novo
Ænalista do Open da Austrália desde…
Djokovic em 2008.
tura acenou com uma transferência
para Espanha, subindo para 100 mil
euros a oferta após recusa inicial.
No encontro que decorreu junto à
Staples de Vila do Conde, Lionn diz
que Boaventura lhe terá pedido para
deixar o telemóvel no banco de pas-
sageiros, conversando fora da viatura.
Depois de semanas em paradeiro
incerto aos olhos das autoridades
portuguesas, o actual director des-
portivo do Ribeirão compareceu
como testemunha no caso em que é
julgado César Boaventura.
Apesar de conÆrmar a tentativa de
aliciamento, voltaram a surgir contra-
dições face ao depoimento prestado
em 2018. Nomeadamente o facto de
César Boaventura ter explicitado se o
dinheiro era de Luís Filipe Vieira, ex-
presidente do BenÆca. Há seis anos,
Lionn disse que sim. Ontem, não o
MAST IRHAM/EPA
O nível exibido pelo italiano Æcou
bem traduzido numa estatística: não
enfrentou nenhum break-point.
Após ceder dois sets em 73 minutos,
Djokovic viu o adversário desperdiçar
um match-point no tie-break, antes de
vencer esse jogo decisivo — pela 21.ª
vez em 23 tie-breaks realizados em
majors. Foi o primeiro set que o núme-
ro quatro do ranking cedeu nesta
quinzena e, quando muitos se recor-
davam dos quartos-de-Ænal de Wim-
bledon, há dois anos, em que Sinner
Apesar de
confirmar
o aliciamento,
voltaram a surgir
contradições
no depoimento
de Lionn
mencionou. Também a data exacta
da comunicação da tentativa de ali-
ciamento não é consensual.
Pelo facto de César Boaventura ter
dois processos a correr na justiça e
por existir impacto numa eventual
pena, o advogado do empresário,
Carlos Melo Alves, pediu a suspensão
deste processo de corrupção, de
modo a aguardar uma primeira sen-
tença na Operação Malapata. Um
pedido que foi rejeitado.
Neste processo são julgadas suspei-
tas de que o empresário César Boa-
Público • Sábado, 27 de Janeiro de 2024 • 55
liderou por dois sets a zero antes de
ceder perante Djokovic em cinco par-
tidas, o italiano manteve uma atitude
positiva. Ao contrário do match-point
anterior, Sinner foi eÆcaz com a direi-
ta, o seu 31.º winner, e fechou com os
parciais de 6-1, 6-2, 6-7 (6/8) e 6-3.
Djokovic terminou com 54 erros não
forçados e reconheceu ter sido um
dos piores encontros que alguma vez
disputou em Grand Slams.
Na primeira Ænal do Open da Aus-
trália desde 2005 sem Djokovic,
Rafael Nadal ou Roger Federer, Sinner
vai defrontar um adversário a quem
venceu nos últimos três duelos,
embora Daniil Medvedev lidere a con-
ta-corrente por 6-3, nunca em encon-
tros à melhor de cinco sets.
O número três mundial chega a
domingo com 20h33m passadas no
court (mais seis horas que o italiano),
depois de ter recuperado de 0-2 em
sets e eliminar Alexander Zverev (6.º),
por 5-7, 3-6, 7-6 (7/4), 7-6 (7/5) e 6-3.
Zverev passou a dois pontos da
vitória quando liderou o tie-break do
quarto set, por 5/4, mas seria o russo
a sobreviver à “batalha” de quatro
horas e 18 minutos e a passar à Ænal,
pela terceira vez nos últimos quatro
anos — após derrotas frente a Djoko-
vic (2021) e Rafael Nadal (2022).
ventura terá aliciado os jogadores do
Rio Ave Marcelo, Cássio e Lionn, bem
como o maritimista Salin, em jogos
contra o BenÆca na temporada
2015/16, época em que as “águias”
conquistaram o tricampeonato. O
Ministério Público (MP) acusou César
Boaventura de três crimes de corrup-
ção activa e um crime de corrupção
activa na forma tentada.
O procurador do Ministério Público
pediu a condenação por todos os cri-
mes, considerando que César Boa-
ventura deve receber uma pena que
sirva de exemplo e seja uma dissua-
são para casos semelhantes.
Já Carlos Melo Alves aponta as con-
tradições nos depoimentos dos joga-
dores, relembrando que Cássio e
Marcelo já tinham sido arguidos num
outro caso que investigava a manipu-
lação desportiva.
Desporto
Jürgen Klopp
Jürgen Klopp
anuncia saída
do Liverpool
no final da época
Nuno Sousa
Jürgen Klopp vai deixar o Liverpool
já no Ænal da época. A notícia caiu
ontem com surpresa em Inglaterra e
o técnico alemão, que tem contrato
até Junho de 2026, já se apressou a
dar uma explicação, apontando para
o desgaste acumulado.
“Compreendo que seja um choque
para muita gente, mas é óbvio que
posso explicar — ou pelo menos ten-
tar. Adoro tudo neste clube, na cida-
de, adoro os adeptos, a equipa, o
staè. Mas estou convencido de que é
esta a decisão que devo tomar. É que
estou, como hei-de dizer, a Æcar sem
energia”, avançou o treinador.
Klopp assinou pelo Liverpool em
Outubro de 2015 e, desde essa altura,
conquistou a Liga dos Campeões
(2019) e conduziu a equipa ao primei-
ro título da Premier League em 30
anos (2019-20). Motivos mais do que
suÆcientes para ter granjeado a admi-
ração e o carinho de milhares de
adeptos. A decisão, explicou o ale-
mão, já tinha sido comunicada à
direcção do Liverpool em Novembro.
“Neste momento não há problema,
claro, mas já sabia há muito que um
dia teria de o anunciar. Não posso
desempenhar este trabalho uma e
outra e outra vez”, acrescentou.
Aos 56 anos, Klopp continua a viver
um bom momento desportivo, com
o Liverpool na frente do campeonato
após 21 jornadas e na Ænal da Taça da
Liga. No currículo em AnÆeld, conta
também com vitórias na Supertaça
Europeia e no Mundial de clubes,
para além da Taça de Inglaterra em
2021/22.
“Para mim foi superimportante
poder recolocar a equipa nos carris.
Quando me apercebi de que tínha-
mos conseguido, aí pude começar a
pensar em mim outra vez, e este foi
o desfecho”, acrescentou.
Sábado, 27 de Janeiro de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
O regresso da sanidade ao processo Marquês
O respeitinho
não é bonito
D
João Miguel Tavares
urante anos,
demasiada gente
andou a defender a
tese de que Ivo Rosa
era o verdadeiro
“juiz das garantias”,
embora a sua atitude constante em
todos os casos de colarinho branco
fosse os colarinhos saírem mais
brancos do que tinham entrado em
tribunal. Passos Coelho disse há
dias que a perda de memória em
política é fatal, porque a partir daí
todos parecem iguais. Mas não é só
em política. É em todo o lado,
incluindo entre aqueles que
comentam nos jornais e nas
televisões com uma argúcia
selectiva — às vezes são muito
inteligentes, outras vezes parecem
extremamente lerdos, consoante a
matéria em causa e as amizades em
jogo.
Em Abril de 2021, quando Ivo
Rosa anunciou uma das decisões
instrutórias mais delirantes da
história da justiça portuguesa, a
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TVI organizou um debate com o
ex-bastonário da Ordem dos
Advogados António Marinho e
Pinto, o advogado Manuel
Magalhães e Silva e os
comentadores Miguel Sousa
Tavares e Joana Amaral Dias. O
PÚBLICO dedicou-lhe um artigo,
intitulado “Não estou habituado a
ver juízes com tanta coragem”
(palavras de Marinho e Pinto). Vale
muito a pena reler esse artigo
hoje, para — lá está — tentarmos
que a memória não se perca, e
políticos, advogados e
comentadores não se pareçam
todos uns com os outros.
HUGO CORREIA/REUTERS
Com excepção de Joana Amaral
Dias, a única a lamentar a decisão
de Ivo Rosa e a dizer que aquele
era “um bom dia para os donos
disto tudo”, todos os outros
comentadores se congratularam
com a decisão instrutória.
Marinho e Pinto disse que o
Ministério Público tinha apostado
numa “carrada de delitos que
estavam prescritos antes mesmo
da acusação”, com o objectivo de
oferecer “um manancial de
informação manipulada para a
comunicação social”, e assim
“criar na opinião pública um
ambiente de condenação”.
Magalhães e Silva disse que o juiz
tinha sido capaz de “compreender
o essencial” do processo Marquês
e de deixar cair a “enorme
construção do MP”, já que perante
a falta de provas a função de um
juiz é ser “capaz de dizer ‘não’”.
“Isso é algo que Æcamos a dever a
AÄnal, a tese Ivo Rosa”, rematou.
Já Miguel Sousa Tavares
de Ivo Rosa, que classiÆcou a decisão de Ivo Rosa
transformou como “exemplar”. Declarou que
aquele era “um dia triste para os
Carlos Santos Silva demagogos, para a extrema-direita
em corruptor de — que queria fazer um julgamento
do Governo de Sócrates através da
Sócrates, era o que justiça —, para as redes sociais,
parecia — uma para os que emprenham pelos
jornais e acham que não são
perfeita loucura precisas provas para condenar
publico.pt/assinaturas
ninguém” (como Joana Amaral
Dias). Ivo Rosa, esse, tinha tido um
golpe de génio ao concluir que
havia corrupção, sim senhor, “só
que não era nem de Vale do Lobo,
nem da PT, nem do grupo Lena:
era do próprio amigo. Esta tese, de
que ninguém se tinha lembrado,
de facto, faz todo o sentido”.
Então não faz. Felizmente, a tese
que há três anos fazia todo o
sentido na cabeça de Miguel Sousa
Tavares foi arrasada por três juízas
do Tribunal da Relação de Lisboa
que vieram repor a sanidade
mental na justiça portuguesa.
AÆnal, a tese brilhante de Ivo Rosa,
que transformou Carlos Santos
Silva em corruptor de José Sócrates,
ao arrepio de toda a lógica e de
tudo o que está escrito no processo,
era mesmo o que parecia ser — uma
perfeita loucura. Ivo Rosa nunca foi
o juiz das garantias — foi, isso sim, o
juiz da mais absoluta impunidade.
A sua derrota em toda a linha no
Tribunal da Relação não é apenas
dele. É também de todos aqueles
que chamaram amarelo ao azul e
verde ao vermelho por estarem
mais interessados na defesa das
suas cores do que na defesa da
verdade.
Colunista
jmtavares@outlook.com
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