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Profa. Bernadete Stuani Capitulo 9 ImpLICAGOES CLINICAS NO DESENVOLVIMENTO DAS DENTIGOES DECIDUA E Mista Anténio Carlos Guedes-Pinto Introdugao Seqiléncia de erupgao = Alteragées individuais nos diferentes grupos dentarios — Primairos molares permanentes = Incisivos = Caninos e pré-molares = Segundos molares Impedimento da erupcao Retencao prolongada de dentes deciduos Cistos de erupeao Caries dentarias Caries de mamadeira e rampante Restauragdes inadequadas Perda precoce de dentes Raizes residuals Outros fatores que interferem no desenvolvimento da oclusio = Relativos aos tecidos moles — Macroglossia “.Anquiloglossia ~ . Freio telo-labial persistente = Habitos ‘Anomalias do desenvolvimento dental que possam alterar a oclusao Implicagées Clinicas no Desenvolvimento das Dentigées Deciduase Mista 11% IntRODUGAO Durante 0 desenvolvimento das dentigdes decidua @ permanent, tem-se como estéigiointermedidrio des tes processos 0 desenvolvimento da dentigao mista, geralmente considerado period ertico, no qual mui- {os problemas podem surgir e que se ndo acudidos a tempo podem implicar, no futuro, em sérios distirbio de oclusao. Varias destas complicagdes sio decorrentes de problemas patol6gicos propriamente ditos, tals como ‘anodontia, supranumeratios, perdas precoces de den: tes, mordidas cruzadas e inumeros outros que serao analisados, a seguir em dilerentes capitulos. Agora, nos ateromos aos problemas que podem surgir no de~ senvolvimento da oclusao e suas implicagdes clinicas. Estas dlfculdades que surgidas no processo de orup- 0 e desenvolvimento podem provocar futuramente desajustes da oclusdo tao ou mais severos que aque- les provocados por doengas caracteristicas e conhe- cidas destes quadros. Este alertainicial que estamos fazendo tem como objetivo principal lembrar ao clinico para estar atento, visto que desarranjos nesta fase acudidos a seu tem- po sao de facil solugo, desde que se tenham conhe- cimentos do desenvolvimento das dentigées, ja rela~ tados om capitulos anteriores, Entre os diferentes fatores que podem provocar problemas na oclusao retacionaremos aqueles decor- rentes da erupeao. SeEQUENCIA DE ERUPCAO. Os estudos sobre a seqiiéncia de erupgao tém de. monstiado que a erupgao de certos grupos de den: tes, em uma ordem determinada, contribui para o de- senvolvimento da aclusdo normal. Uma sequiéncia desfavordvel na maxila pode ser exemplificada pela situagdo no qual o segundo molar erupciona antes que os pré-molares e caninos, o que resulta em maior percentagem de relagies molares de Classe I Na mandibula, as seqiiéncias destavordveis sao aquelas nas quais os caninos erupcionam posterior- mente aos pré-molares ou quando o segundo molar erupciona antes que os caninos e pré-molares. Nesta sequéncia ocorre diminuigfio do numero de casos de Classe | e aumento nas relagoes molares de Classe Il (Os casos de Classe Il apresentam forte tendéncia para que os molares ¢uperiores erupcionem antes que 05 inferiores, Os primeiros molares permanentes su- periores deve irromper apés a erupgao dos molares inferiores. A inversao nesta ordem quase sempre pro- ‘voca cruzamento nos molares permanentes, o supe Fior ocluindo por lingual do inferior (Fig. 1), Observaremos ao longo da exposigaio que os di- ferentes grupos de dentes aa irromperem, ou sotre: rem alguma alteragao na sequéncia de erupgo, po- dem trazer problemas para a oclusao. Esta alleragao pode ser de maior ou menor severidade, dependendo da época, bem como 0s dentes envolvidas, além, como ja mencionamos, do periodo decorrido entre a erup- {go € 0 diagnéstico. 2 Fig. 1. Primeiro molar superior permanente erupclonando antes (ue o Inferior Esta discrepaincia faz com que a atgaaviomesial do superior por nao encontrar a inercuspidagao no inecot, empurra (¢ danles superioras para a fren. Segundo Moyers lator deter rminane de maloelusa (Araujo) Alteragées individuais nos diferentes grupos dentarios Primeiros molares permanentes primeiro molar permanente usualmente erupciona em contato com segundo molar deciduo. A impacgao de um primeiro molar é 0 resultado de discrepancia mesiodistal que nao segue a relacao com 0 deciduo. Normalmente ¢ um sinal de apinha: mento ou de auséncia congénita do segundo pré-mo lar, A impacgao do primeira molar pode ocorrer em ambos 0s arcos, mas ¢ mais comum no superior, A Impacgao geralmente leva a problemas adicionais. 0 primeiro molar inferior pode sobreerupcionar — pasar da linha de oclus4o ~ e encontrar 0 molar superior de tal forma que as fungdes oclusais provacam relagaio progressivamente mais para mesial Se a impacgao nao for severa, sem reabsorgio da raiz do molar deciduo, o molar permanente podera ser movido distalmente para se desimpactar, por meio de artficio ortodéntico, 118 _Odontopedtiatria ‘As impacgées mais severas, as quais causam a reabsorgio da raiz decidua, podem necessitar a re- mogao do segundo molar deciduo. A perda do molar deciduo por esfoliagao espontanea ou por exodontia precipitaré num rapido movimento do primeira molar para mesial. Este movimento, as vezes, 6 tao extremo que até poderd ameagar o espago do segundo pré- molar (Figs. 2 ¢ 3) Distalmente, o desenvolvimento do segundo mo- larpermanente seguira tapidamente o primeiro molar ‘a qualquer espago novo disponivel. Deve ficar claro que a precocidade do diagnéstico edo tratamento determina, na maioria dos casos, con- dutas de tratamento mais simples e resultados mais favordvels, Multas vezes nao s6 ocorre mesializagéo dos mo- lares como também linguoversdo dos molares inferio- res, quando o problema é na mandibula, ‘Obviamente caso ocorra a perda de espago por mesializaco do primeiro molar permanente deve-se, por meio de artticios ortodonticos, distalizar este dente recuperando 0 espago perdido e restabelecendo a oclusdo normal, Arlificies clinicos ortodénticos sao necessatios na maioria dos casos. Incistvos 5 incisivos permanentes inferiores desenvolvem-se lingualmente as raizes dos incisivos deciduos em reabsorgao, orgando-0s vestibularmente para serem fsfoliados. Portanto, a posigao eruptiva lingual no dove ser motivo de alarme se os incisivos decides astivorem se reabsorvendo normalmente. Tao logo os incisivos centrais deciduos sejam esfoliados, a erup Go posterior e a atividade da lingua movimentam os. incisivos permanentes para vestibular até sua posi- ga0 normal © tamanho dos dentes deciduos, a quantidade de espagos intermediarios © o tamanho do perimetto anterior do arco dentario sao fatores que determina 30 08 incisivos permanentesirdoirtomper apinhados. Em geral, ap6s a erupgao dos incisivos laterais, ha algum apinhamento e estes dentes posicionan'-se mais ingualmente ao irromperem. A medida que emer gjam, nao 86 empurram 0s incisvos laterais deciduos para vestibular, como também movem os carinos deci- duos distal elaleralmente, ciminuindo o espago primata a parir da mesial Quando 08 incisivos permanentes sao grandes ddomais para o arco dentatio nos quais se encontram, 2 erupgio do incisive lateral pode causara estoliagao do canino deciduo, Esta perda precoce de canino dociduo, particularmonte no arco inferior, pode permi- tira inclinagdo linguodistal do segmento incisive por hiperatividade do misculo mentoniano, fechando o espace. Ocorte em geralalteragéo da linha mediana ha tendéncia de se remover o antimero deciduo para impediro desvio da linha mediana. Porém, a remogao Fig. 2. impacto do primeio molar superior (Thurow). (A) Sabraerupeaa do prime molar ilo. Repare que ee passou do plano d ‘clusio 6 ucentun 0 desvia do 1° molar superior impactado. (B) Fechando pal Aaceniuadamente 0 espago para 0 segundo pré-mola, 'o espa pata 0 segundo pré-molar (Ce D) Fechand Implicagées Clinicas no Desenvolvimento das Denti¢des Deciduas e Mista 119 Ra Fig. (A) A impaccio de um primeira molar petmanenta superior sobre 0 molar decidue & um sintoma de outros problemas, (8) 0 ‘segundo prd-molar permanente pode eslarausene, (C) Apinhamento ou desorientagae pode causar a mpacgso do primeira molar na faiz do molar deckdvo. (D&E) O exame clirico pode mostar a impaceso molar com ou sem apinhamenta de aulros dantes (Thurow) do canino inferior antimero, apesar de prevenir o des vio de linha mediana, no resolver o problema sobre © encurtamento do arco dentario pela inclinagao dos Incisivos. Na verdade, a extenso do arco pode ser diminuida ainda mais pela remocao do antimero, A inclinago lingual dos incisivos permite, ainda, ao ca- nino permanente em desenvolvimento, deslizar vesti- bularmente, onde mais tarde pode irromper em vesti- buloversao (Fig. 4). Como rotina nao aconselhamos a exodontia de incisivgs laterais deciduos para favorecer o bom posi- cionamento dos centtais, ou a exodontia dos caninos para alinhar os incisivos laterals. Estas exodontias so esto indicadas,apés cuidadoso estudo dos arcos dentarios, por meio de medidas dos modelos e avalia- ‘¢80 radiogratica, bem como acompanhamento do caso ‘em questao. Para que estas condutas possam ser se- guidas, é necessério que o clinico tenha certo conhe- cimento do desenvolvimento da oclusao, bem como algum dominio de técnicas ortodonticas para nao 86 permitir desenvolvimento natural dos arcos nes: ta época, como também saber tirar proveito deste fendmeno. Encontra-se pouca variagao na erupgao do incisi vo central superior, a menos que seja desviado por esfoliagao anormal do dente decidua por um dente supranumerario ou por problemas resullantes de trau- matismo, Os incisivos centrais superiores permanen. tes irrompem com ligeira inclinagao distal. Devido & auséncia do espago na base da maxila, o pice dos incisivos superiores convergem para a linha mediana, existindo, portanto, algum espago entre os incisivas centrais. Como 0 crescimento ocorre nesta area, este espago diminui a medida que os incisivas laterais ircom: em e 08 caninos se posicionem mais lateralmente, buscando seu caminho no arco dentario, Esta malo- clusao transitéria é conhecida como “tase do patinho feio" (Fig. 5). 120 _Odontopediatria ARH AR. BURR IEE. Fig. 4 (A) Incisivos apinhados na dentigaa mista podem permanecer relaivamente estivels. (B) Perda ou remogao de urn caning deeiduo melhoraré oalihamento de incisivos deslocados fs expensas de uma incinagao assimétrica de todo segmento incisio.(C) A Temogao do canino deciduo oposto pode preservar a simatria (D) Fala para equiltata perda assime'tca pode consoidar a assinetia. ‘com impacgao agravada ao canino sucessor ® erup¢lo precoce do canino permanente oposto, (E) Exodantias em epoca cerla pode resuilar num bom alinhament incisive e simettia, mas este nao é sempre o caso. (F) Mals comumenta, os incsivos abrem-so am leque para preencher qualquer espaga dispanival em excessa, aumertando, asim, 0 apnhamento do canino (Thurow 7ANOS 9 ANOS 14 anos Fig. 5 Fase do "Patio fio" de Broadbent, Prceba a dvergénela do longo exo do dente de apical para cervical © nas Wades de 7 @ 8 anos 0 canino proximo da riz das incisivos laterals, Implicagées Clinicas no Desenvolvimento das Dentigées Deciduas e Mista "121 Os incisivos laterais superiores, por outro lado, muitas vezes encontram mais dficuldade em assumir suas posigdes normais, pois, como estaoirrompendo, as coroas dos caninos superiores em desenvolvimen- toestéo exatamente em posigdo labial e distal as suas raizes. O canino, nesta posigdo, muitas vezes pode fazer com que a coroa do incisivo lateral rompa mais vestibuiarmente do que o incisivo central. Depois que © canino em erupgao mudou seu curso (parecendo ter sido desviado pela raiz do incisivo lateral), o incisi- vo lateral entao toma diego e se coloca ao lado do incisivo central, Podem ser observadas pequenas ro- tagdes na posigao dos incisivos centrale lateral, mas normalmente estas sa0 corrigidas & medida que os Ccaninos irrompem. Em geral, nao é boa pratica tentar alinhar os incisivos centras ¢laterais. Enquanto a co- roa do canino estiver em cima da raiz do incisivo late- ral, pois a ago do aparetho ortadontico, contra a co- 0a do incisivo lateral, pode pressionar a raiz contra a coroa do canino em erupgao @ produzir reabsorgdo radicular. Com relagaio & erupgdo e posicionamento dos quatro incisivos em cada arco, vemos a oportunida- de de ver em intimeras ocasides de casos por nés acompanhados em que, nos periods iniciais de erup- 0 destes dentes, poderiamos atirmar que no have- Tia espago para permitir uma disposigao harmonica. Entrotanio; com 0 passar do tempo, alguns meses ou tum a dois anos pudemos ver pereitoajuste dos incis- vos, para nossa surpresa. Por estes motivos insist mos de que medidas radicais mutiladoras nao s’o indicadas nesta fase de desenvolvimento. O desenvolvimento favordvel da oclusao nesta regio depende principaimente de trés fatores: sequéncia favoravel de erupedo, a relagéo tamanho dentatio ~ espago disponivel satisfatério e a oblencio de uma relapao molar normal com o maximo proveito do espa- go livre de Nance. A seqiiéncia mais favoravel de erupgaio na mandi- bula é:canino, primeiro pré-molar e segundo pré-mo lar. E vantajoso que os caninos erupcionem primeito, pois eles mantém o perimetro do arco ¢ previnem a inclinagao lingual dos incisives. Quando os incis'vos estao inclinados lingualmente, podem sotrer sobre erupeao, uma vez que com esta inctinagae lingual per- dem seus pontos de ocluséo normais com os incisi vos superiores, canino inferior permanente & mais laigo que 0 deciduo cerca de quase 2mm. Se nao existir espago nna época da esioliagao do decidua, esta diterenga estar expressa por deslocamento para vestibular ou distal. Se o canino for deslocado para vestibular, esta- ra fora de posicao e se for deslocado distalmente, pode ser detido em sua erupeao, causando reabsorcao da raiz mesial do molar deciduo, tornando-se impactado, ou 0 molar deciduo pode ser acelerado em sua esto: liagao. Entretanto, esta siluagao nao é muito frequent Quando 0 molar deciduo se estoliar, antes do ca- nino ou a0 mesmo tempo, ocanino tendera a irromper na linha do arco, migrando distalmente para o espago do pré-molar. Iso poderé bloquear ou prejudicar a erup- ‘G40 mais tardia destes dentes (Figs.6 a 8). Oprimeiro pré-molar raramente apresenta diicul dade para romper. As rotagbes dos pré-molares cor rem, As vezes, como resultado da roabsorgao irregu: lar das raizes de molares deciduos. Fig. 7 Um canina desiocad distalmenta pode impactar os pre molars. isto 6 com frequéncia 0 resultado ta peda premalura do primeira molar decidvo (Throne) Ga RE Flg.6 Um carino inforor daslocado para vestibular usualmente frupcionard de forma anormal (Thurow) Fig. 8 Erupgio de um pré-molar nisi antes do carina & uma Indieagao de apinhamento possivel da cari (Thurow), 122 _Odontopediatria Para a maloria dos casos como este dente (se- {gundo pré-molar) 6 sempre menor que o segundo mo- iar deciduo, nao ha problema de espago para ele. En- tretanto se houver perda de espaco neste segmen- to do arco, este donte 6 o que sotrerd as consequlén-

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