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Principais Intervenções Na Assistência Ao Luto Perinatal - TCC Giu Final
Principais Intervenções Na Assistência Ao Luto Perinatal - TCC Giu Final
São Paulo
2021
Giullia Pinheiro de Mendonça Santana
São Paulo
2021
Principais intervenções na assistência ao luto perinatal: Revisão
integrativa.
1
Aluna Graduação. Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de
2
São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Enfermeira. Professora Associada.Escola
Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP,
Brasil.
Método
Hospital Practices for MedLine Fornecer informações Quantitativo As práticas de apoio mais
Parents Following abrangentes e atuais comuns nos hospitais foram
Perinatal Loss”. sobre práticas a oportunidade de ver o bebê
Bilge Kalanlar. 2018, hospitalares após a falecido, auxílio com opções
Turquia. morte perinatal. funerárias e autópsias, e
orientações para o
preenchimento de
documentos legais
necessários. As instituições
implementam práticas
variadas no atendimento ao
pais enlutados.
Recomendou-se o
desenvolvimento de políticas
e práticas hospitalares mais
empáticas e com enfoque no
cuidado centrado na família.
“Online yoga to reduce MedLine Determinar Quantitativo Yoga online é uma estratégia
post traumatic stress in viabilidade, eficaz e viável para reduzir
women who have aceitabilidade e os sintomas depressivos, luto
experienced stillbirth: a eficácia preliminar de perinatal e sintomas de
randomized control uma intervenção de PTSD em mães que tiveram
feasibility trial”. yoga online, na natimortos. Mais pesquisas
Jennifer Huberty, Mariah redução dos sintomas são necessárias para
Sullivan, Jeni Green, de TEPT, ansiedade, aperfeiçoar a estratégia e
Jonathan Kurka, Jenn depressão, luto aumentar seu grau de
Leiferman, Katherine perinatal, qualidade do adesão e os efeitos da
Gold, e Joanne sono e saúde intervenção em comparação
Cacciatore. 2020, USA subjetiva de mulheres com um grupo de controle.
que vivenciaram um
natimorto.
“What bereaved parents MedLine Explorar as Qualitativo. Mesmo nos dias atuais,
want health care experiências de pais ainda são os profissionais de
providers to know when enlutados no saúde que mais invalidam o
their babies are stillborn: relacionamento com luto perinatal. Tanto as mães
a community-based os profissionais de quanto os pais destacam que
participatory study”. saúde, durante e após o reconhecimento de seu
Lynn L. Farrales, Joanne o nascimento de um bebê como indivíduo, sua
Cacciatore, Christine natimorto. paternidade e sua duradoura
Jonas-Simpson, Shafik dor pelos profissionais de
Dharamsi, Jaime Ascher saúde são elementos-chave
e Michael C. Klein. 2020, necessários no processo de
UK. iniciar cuidados imediatos e
contínuos.
Resultados
Pontos relevantes foram encontrados nos textos analisados e deram
origem a três categorias de intervenções que se demonstraram eficazes. Estas
categorias indicam condutas e características necessárias às instituições e
profissionais para que, em união, possam proporcionar uma assistência
empática e verdadeiramente eficaz.
Os títulos pertencentes a Categoria A- Intervenções baseadas em
práticas integrativas, são: “Mindfulness-based Intervention for Perinatal Grief
Education and Reduction among Poor Women in Chhattisgarh, India: a Pilot
Study”; “Mindfulness-Based Intervention for Perinatal Grief in Rural India:
Improved Mental Health at 12 Months Follow-Up” e “Online yoga to reduce post
traumatic stress in women who have experienced stillbirth: a randomized
control feasibility trial”.
Na Categoria B- Intervenções de criação de legado, estão contemplados
os textos: “Bereaved mothers' and fathers' perceptions of a legacy intervention
for parents of infants in the NICU” ; “The meanings of rituals after a stillbirth: A
qualitative study of mothers with a stillborn baby” e “Professional Bereavement
Photography in the Setting of Perinatal Loss: A Qualitative Analysis”.
E por fim, representam a Categoria C- Condutas hospitalares/ clínicas de
apoio, os textos: “Hospital Practices for Parents Following Perinatal Loss”;
“Comunicação da notícia de morte e suporte ao luto de mulheres que perderam
filhos recém-nascidos”; “Interdisciplinary guidelines for care of women
presenting to the emergency department with pregnancy loss.”; “Anticipation,
Accompaniment, and a Good Death in Perinatal Care”; “Social work intervention
for women experiencing early pregnancy loss in the emergency department”;
“Parents' Experiences About Support Following Stillbirth and Neonatal Death”;
“What bereaved parents want health care providers to know when their babies
are stillborn: a community-based participatory study” e “The perinatal
bereavement project: development and evaluation of supportive guidelines for
families experiencing stillbirth and neonatal death in Southeast Brazil-a
quasi-experimental before-and-after study”.
Salienta-se que a assistência ao luto perinatal é uma temática bastante
heterogênea e suas intervenções não se limitam às quais estão citadas neste
trabalho.
Categoria A- Intervenções baseadas em práticas integrativas. Estão
contemplados nesta categoria os textos que evidenciam o impacto significativo
de estratégias como o mindfulness e a yoga, na redução de sintomas comuns
no luto perinatal como o Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT),
ansiedade, depressão, luto complexo, qualidade do sono e saúde subjetiva.¹³ ¹⁴
¹⁵
Categoria B- Intervenções de criação de legado.
Os estudos trazem a reflexão sobre o potencial validativo e libertador da
criação de memórias. Existe a necessidade e o desejo de que intervenções de
criação de legados sejam desenvolvidas e oferecidas aos familiares que
vivenciam esta perda nas instituições independentemente do local onde eles
são atendidos. ¹⁶ A criação de legado, seja através de ferramentas físicas ou
emocionais, auxilia os familiares a reconhecer significados e propósitos na
adversidade, sendo fator colaborativo para um enfrentamento sadio do luto.¹⁷
Estas práticas que devem ser adaptadas culturalmente, buscando valorizar o
que a família considera indispensável e oferecendo oportunidades de contato
com o filho perdido, apesar de qualquer tabu sociocultural.¹⁷ ¹⁸
Categoria C- Condutas hospitalares/ clínicas de apoio.
Esta categoria é mais variada, visto que as condutas e diretrizes das
instituições podem e devem variar de acordo com o país, a população, o
contexto social e as demandas trazidas pelas famílias enlutadas.¹⁹ As condutas
mais básicas no âmbito hospitalar englobam a oportunidade de ver o bebê
falecido, o auxílio com opções de funeral, autópsias e suporte para preencher
os documentos legais.²⁰
Segundo a experiência dos pais, a abordagem da equipe de saúde pode
ser algo que fortalece estigmas sociais, fazendo indivíduos que sofrem se
sentirem ainda mais sozinhos, vazios e ignorados.²¹ Posto isto, a principal
intervenção que se pode aplicar nas instituições de saúde é uma escuta e fala
sensível, validando os sentimentos experimentados, sejam eles quais forem.²²
Deve-se citar também o manejo da perda perinatal em ambientes de
emergência, aqui destaca-se a importância do acolhimento que ultrapassa as
queixas físicas, atendendo também a sobrecarga psicológica de um
abortamento ou perda gestacional tardia; é necessário o envolvimento da
equipe interdisciplinar para prestar uma assistência reguladora de afetos e
continuada.²³ ²⁴ Em consenso os textos destacam a importância da
comunicação clara e sensível, e do preparo da equipe de saúde, em especial a
equipe de enfermagem, para guiar os familiares no processo do luto. ¹⁹ ²⁰ ²¹ ²² ²³
²⁴ ²⁵ ²⁶
Discussão
A busca pelas melhores formas de guiar pais enlutados por um processo
mais saudável de luto deve partir da premissa de que existe um tabu cultural
contra o reconhecimento público e a expressão do luto perinatal, o que pode
ser um empecilho na capacidade dos pais de lamentar, dificultando assim o seu
ajustamento psicológico após uma perda.²⁷ É necessário reconhecer e não
patologizar as reações de luto perinatal, considerando fatores intrapsíquicos e
culturais que afetam a resposta dos pais à perda.²⁷
Práticas efetivas não envolvem uma intervenção isoladamente, mas sim
um conjunto de atitudes, sendo necessário o envolvimento de uma equipe
interdisciplinar em um esforço para reduzir o impacto psicológico e prevenção
de agravos de saúde mental e/ou física. ²⁴
O enfermeiro e a equipe de enfermagem, através de uma relação
terapêutica, desempenham parte importantíssima nessa equação, podendo ser
a principal fonte de apoio, planejando um cuidado continuado e liderando
intervenções que agreguem os familiares enlutados.²⁸ Sendo uma ferramenta
de extremo impacto na experiência dessas famílias e nos seus processos de
enfrentamento.²⁸
Outro ponto chave da assistência de qualidade ao luto perinatal é o
planejamento de um cuidado continuado, não apenas intervenções pontuais. ²⁹
Proporcionando assim conforto a família, auxiliando-os desde o momento de
um diagnóstico que ameaça a vida, ou do momento de uma perda súbita,
realizando assim um plano de cuidados que vá acompanhar os indivíduos após
a alta hospitalar; essas condutas contribuem para o bem-estar de toda a
família, potencializando suas saúdes mentais e físicas.²⁹
É possível correlacionar as boas práticas na assistência ao luto perinatal
com o conceito do cuidado centrado no paciente/família, que por sua vez é
uma das seis dimensões-chave da qualidade da saúde, além de segurança e
diminuição de tempo gasto, proporciona eficácia e equidade nos
atendimentos.²⁹
De acordo com sua definição, o cuidado centrado no paciente respeita e
responde às preferências e necessidades individuais do paciente sendo
orientado pelo o que o indivíduo, ou família, valorizam mais.³⁰ Entre suas oito
dimensões o cuidado centrado no paciente engloba fatores que devem estar
intrínsecos na assistência ao luto, como o respeito, a assistência emocional,
informação e comunicação eficaz, envolvimento da família e cuidadores e a
continuidade e transição do cuidado.³⁰
E por fim, destaca-se o protagonismo e importância da enfermagem ao
discutir intervenções na assistência ao luto perinatal, esta classe pode liderar
intervenções que agreguem os familiares, propor diretrizes de cuidado e agir na
interligação de um cuidado multiprofissional, continuado e eficaz. ²⁸
Conclusão
A assistência ao luto perinatal visa, em especial a redução dos sintomas
como o Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade e
depressão,através de intervenções que utilizam práticas integrativas, como
mindfulness e yoga, por exemplo. A validação do luto e a criação de
ferramentas de enfrentamento através da criação de um legado para o filho
perdido, gerando memórias físicas e/ou emocionais; E a prevenção agravos de
saúde, traumas e melhoria do manejo da dor através de condutas clínicas de
apoio, como oportunidade de ter contato com o filho falecido, a inserção dos
familiares no cuidado, a capacitação dos profissionais para prestar uma
assistência digna, a validação dos sentimentos trazidos por um desfecho
obstétrico indesejado e a elaboração de diretrizes baseadas no cuidado
centrado na família.
Referências