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Anotações 1 - Números Reais, Inequações, Funções Trigonométricas
Anotações 1 - Números Reais, Inequações, Funções Trigonométricas
Números Reais
O conjunto dos números reais, R, pode ser visto como o conjunto dos pontos da linha real:
• • • • • •
-2 -1 0 1 3/2 π= 3, 1416 . . .
Adição +
Subtração −
Multiplicação ·
Divisão /
0 + x = x + 0 = x,
x · 0 = 0 · x = 0,
x · 1 = 1 · x = x.
Importante: Não podemos dividir por 0: a expressão “x/0”não faz sentido!!
Mas 0/x faz sentido para todo x 6= 0. Temos 0/x = 0.
Subconjuntos de R são denotados assim: A = {0, 2, 5} é o conjunto que contém os três números 0,2
e 5. Uns subconjuntos importantes:
Temos
A ∩ C = {5}
A ∩ B = {2, 5} = B
B ∪ C = {2, 5, 6}
A ∩ D = {} = ∅
A\B = {0}.
1
Equações
1 + 4x = −7 (∗)
é um exemplo de uma “equação na variável x”.
“Resolver a equação”= achar todos os valores de x tais que a igualdade é verdadeira.
Exemplos. • No exemplo acima, podemos reescrevé-la como 4x = −8 e dividir os dois lados por 4
para ver que
x = −2
Então, o conjunto das soluções de (∗) é S = {−2}.
• A equação x2 = 9 tem como conjunto das soluções S = {−3, 3}.
• Já que x2 > 0 para qualquer valor de x, a equação x2 = −4 não possui soluções. Isto é, S = ∅.
Dada uma equação quadrática geral ax2 + bx + c = 0 (com a 6= 0), podemos resolvé-la usando a
fórmula quadrática:
√
−b ± b2 − 4ac
x=
2a
Dessa fórmula, vemos que a equação ax2 + bx + c = 0 possui soluções se, e somente se, b2 − 4ac > 0.
Ordem e intervalos
Sejam x, y elementos de R. Uns sı́mbolos de comparação:
x=y “x é igual a y”
x 6= y “x não é igual a y”
x>y “x é maior ou igual a y”
x>y “x é estritamente maior do que y”
x6y “x é menor ou igual a y”
x<y “x é estritamente menor do que y”
[a, b] {x ∈ R | a 6 x 6 b} a b
(∞, a] {x ∈ R | x 6 a} a
(a, ∞) {x ∈ R | x > a} a
R+ {x ∈ R | x > 0} = [0, ∞) 0
Inequações e sinal
2 − 2x > 1 (∗)
é um exemplo de uma “inequação na variável x”.
“Resolver”ela = achar todos os valores de x tais que a expressão se torna verdadeira.
2
Por exemplo, 0 é uma solução de (∗), pois
2 − 2 · 0 = 2 − 0 = 2 > 1. X
Como resolver? Sempre podemos somar ou subtrair um valor de ambos os lados sem mudar nada, e
também podemos multiplicar ambos os lados por um número maior do que 0:
2 − 2x > 1
⇐⇒ 2 −
2x
+2x
> 1 + 2x
⇐⇒ 2 > 1 + 2x
⇐⇒ 1 > 2x
⇐⇒ 1/2 > x.
Podemos também multiplicar por um número negativo, mas neste caso precisaremos trocar o sentido da desigualidade:
2 − 2x > 1
⇐⇒ −2x > −1
⇐⇒ 2x 6 1 (multiplicando por − 1)
⇐⇒ x 6 1/2.
Valor absoluto
O valor absoluto de um número real x é o “valor equivalente não negativo”de x, ou (pensando num jeito
diferente) a “distância de x à origem 0”. Denotamos por |x| o valor absoluto de x.
A definição é: (
x , se x > 0
|x| :=
−x , se x < 0.
Exemplos.
|3| = 3 , | − 6| = 6 , |0| = 0.
Usaremos o valor absoluto para definir a distância entre os números x e y:
d(x, y) = |x − y|.
|x − y|
• •
x y
3
O plano cartesiano
O plano cartesiano, denotada R2 , é o conjunto dos pares ordenados (a, b) com a, b ∈ R. Podemos
visualizar assim:
y
(a, b)
b •
a x
eixo x
eixo y
O eixo x é
{(x, 0) | x ∈ R},
O eixo y é
{(0, y) | y ∈ R}.
Os eixos dividem o plano em quatro quadrantes:
2o 1o
3o 4o
(x2 , y2 )
•
|y2 − y1 |
•
(x1 , y1 )
|x2 − x1 |
p
d((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2
4
Retas
Quase todas as retas no plano cartesiano estão definidas por uma equação da forma y = mx + c, onde
m é a inclinação e c é a interseção com o eixo y:
•
(x2 , y2 )
c •
• (x1 , y1 )
x
y2 −y1
m= x2 −x1
As únicas retas que não tem esta forma são as retas verticais, que estão dadas pelas equações x = a,
por algum a ∈ R:
x = −1 y x=2
−1 0 2 x
Cı́rculos
O cı́rculo γ com raio r (∈ R+ ) e centro C (∈ R2 ) é o conjunto dos pontos (x, y) em R2 tais que
d((x, y), C) = r.
r
•
C
x
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = r2 .
5
Se lembre que o cı́rculo com raio r tem
Circunferência = 2πr,
Área = πr2 .
Ângulos
Existem (pelo menos) duas “unidades”de ângulo.
Graus: Uma rotação completa tem 360 “graus”. Escrevemos 360◦ . Então, temos
90◦
60◦
α
180◦ 0◦ = 360◦
270◦
Dizemos que o ângulo α é 60◦ , por exemplo. Observe que o número 360 é completamente arbitrário.
Então, graus não são uma maneira boa para medir ângulos. Melhor:
Radianos: Considere uma seção de um cı́rculo com raio 1 cujo comprimento também igual a 1:
1 1
α
1
Dizemos que o ângulo α é 1 radiano. Já que a circunferência do cı́rculo com raio 1 é 2π, temos:
π/2
• 0 = 2π
π
6
Suponha que o valor de α em unidades de graus é αG e que o valor de α em radianos é αR . Então
180 π
αG = · αR e αR = · αG .
π 180
+
α
−α
−
Funções
O conceito de função será o principal assunto tratado neste curso. Funções aparecem quando uma
quantidade depende de uma outra quantidade.
Exemplo. A área de um cı́rculo (uma quantidade) depende do raio do cı́rculo. Dado um valor do raio,
obtemos o valor da área:
Raio Área
1 π
2 π·4
0 0
r πr2
Para qualquer número r ∈ R+ , obtemos um número A(r) = πr2 . Essa é a função “área do cı́rculo”.
Escrevemos
A : R+ → R
r 7→ A(r).
Definição. Uma função f (de uma variável real) é um mecanismo que, a um número real x (chamado
“variável”), associa um único número real construı́do a partir de x, denotado f (x) (dizemos “f de x”)
chamado “imagem”. Esta associação será denotada por
x 7→ f (x).
x f (x)
1 2
0 0
2 4
−3 −6
7
2. Valor absoluto f (x) = |x|. Escrevemos x 7→ |x|.
x f (x)
1 1
0 0
−4 4
x f (x)
2 4
−3 9
1 1
0 0
Existem funções que não são bem definidas para todos os valores de x ∈ R.
Exemplo. 4. A função “inverso”f (x) = 1/x. Já que não podemos dividir por 0, esta função é bem
definida só pros valores de x diferentes de 0.
f : R\{0} → R
x 7→ 1/x.
5. A função f (x) = x2x−1 faz sentido exceto quando o denominador x2 − 1 = 0. Precisamos excluir os
valores x ∈ {−1, 1}.
f : R\{−1, 1} → R
x
x 7→ 2 .
x −1
Estes exemplos mostram que em geral, devemos definir uma função junto com o domı́nio dele – isto
é, com o conjunto dos valores x para os quais f (x) é definida. Denotamos por D o domı́nio.
f :D→ R
x 7→ f (x).
2
Exemplo. Considere a equação z = a na variável z. Quando
a < 0, a equação não possui soluções
a = 0, a equação possui uma única solução z = 0
a > 0, a equação possui duas soluções, uma sendo positiva e a outra negativa.
√
Dado a > 0, a notação a denota a solução não negativa da equação z 2 = a. Então
√ 2
a = a.
As soluções da equação z 2 = a (com a > 0) são
√ √
S = {− a, a}.
√
Já que a é um valor só, podemos considerar a função
f : R+ → R
√
x 7→ x (a função “raiz quadrada”).
√
Exemplo. Qual é o domı́nio da função 1 − x?
R (= “Resposta”): Precisamos que 1 − x > 0, isto é, que
x61
e temos que
f : (−∞, 1] → R
√
x 7→ 1 − x.
8
Limitação
Uma função f com domı́nio D é dita limitada superiormente se existir um número finito M tal que
f (x) 6 M ∀x ∈ D
f (x) > m ∀x ∈ D.
Exemplos. 1. A função f (x) = x como função R → R não é limitada superiormente nem inferior-
mente, pois dado qualquer valor
M ∈ R, f (M + 1) = M + 1 > M,
m ∈ R, f (m − 1) = m − 1 < m.
2. A função f (x) = 1/x não é limitada superiormente como função (0, 1] → R, pois dado
1
M > 0, f = M + 1 > M.
M +1
Gráficos
Um jeito muito útil para ganhar conhecimento de uma função é por estudar o gráfico dela no plano
cartesiano.
Seja f uma função com domı́nio D. O gráfico de f é o conjunto
{(x, f (x)) | x ∈ D}
no plano cartesiano.
Por exemplo, uma função f com domı́nio [a, b] poderia ter o gráfico
f (x)
•
a x b
Exemplo. Seja f (x) = 12 x + 1 uma função com domı́nio D = [0, 2]. Uns valores:
1
f (0) = ·0+1=1
2
1
f (1) = · 1 + 1 = 3/2
2
1
f (2) = · 2 + 1 = 2.
2
9
O esboço desta função é
y
2 •
3/2 •
1•
0 1 2 x
• 2
1 •
−2 1 x
Funções são crescentes quando os seus gráficos estão “subindo”e decrescentes quando os seus gráficos
estão “descendo”.
Exemplos. 1. A função f (x) = −x é estritamente decrescente em R, pois
10
y
f (x) = −x é decrescente
x2
x
decrescente crescente
3. A função constante f (x) = 3 tem gráfico horizontal. Ela é sempre decrescente e crescente, mas
nunca estritamente crescente e nunca estritamente decrescente.
y
Paridade
Uma função f é
Par se f (−x) = f (x) para todo x no domı́nio de f ,
|x|
11
y
x2
x3
Funções pares são simétricas com respeito à reflexão no eixo y. Funções ı́mpares são simétricas com
respeito à rotação por 180◦ (isto é, π radianos) na origem:
y y
x3
•
x x
Par Ímpar
12
Imagem de uma função
Dadas uma função f : D → R e um ponto x ∈ D, a imagem de x é simplesmente o ponto f (x). A
imagem de f é o conjunto
Im(f ) := {f (x) | x ∈ D}.
Exemplos. f (x) = 2x. Im(f ) = R, pois dado a ∈ R, f (a/2) = 2a/2 = a.
2x
Im(f )
Im(f )
y
x2
A imagem de f é o conjunto dos pontos do eixo y que têm a mesma altura como um ponto do gráfico
de f .
Composição de funções
Sejam f, g funções R → R. Já que g(x) é um número real, podemos aplicar a função f pro valor g(x)
para obter o valor
f (g(x)).
A composição das funções f, g é a função “f ◦ g”(ou simplesmente f g) dada por
(f ◦ g)(x) := f (g(x)).
enquanto
(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = g(x + 1) = (x + 1)2 = x2 + 2x + 1.
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Funções sobrejetivas, injetivas e bijetivas
Quando Im(f ) ⊆ C ⊆ R por algum subconjunto C de R, podemos pensar em f sendo uma função
f : D → C.
A função f : D → C é
• sobrejetiva se Im(f ) = C (isto é, f atinge todo ponto de C),
• injetiva se todo c ∈ Im(f ) possui um único ponto x ∈ D tal que f (x) = c,
• bijetiva se ela é sobrejetiva e injetiva.
Seja f : D → C uma bijeção (isto é, função bijetiva). Existe uma função f −1 : C → D tal que
(f −1 ◦ f )(d) = d ∀d ∈ D,
−1
(f ◦ f )(c) = c ∀c ∈ C.
−1
A função f : C → D associada à função bijetiva f se chama a inversa de f . Ela é dada por
f −1 (c) é a única solução da equação f (x) = c.
Exemplo. f (x) = x2 não é sobrejetiva nem injetiva como função R → R:
• Im(f ) = R+ 6= R. (“f não é sobrejetiva”)
• Considere o ponto 1 ∈ R (por exemplo). Já que f (−1) = f (1) = 1, existem 2 pontos x em D = R
tais que f (x) = 1. (“f não é injetiva”)
Mas f (x) = x2 É uma bijeção como função R+ → R+ .
y
x2
A inversa de f : R+ → R+ é a função √
f −1 (x) = x,
pois √
f −1 ◦ f (x) = f −1 (x2 ) = x2 = x,
√ √ 2
f ◦ f −1 (x) = f ( x) = x = x.
f = x2
√
f −1 = x
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Trigonometria
Seno, cosseno e tangente
Queremos entender os relacionamentos entre os ângulos e os lados de um triângulo. Considere o seguinte
triângulo retângulo:
hipotenusa
oposto
H
O
α
A
adjacente
α α α
mas α determina os valores dos quocientes O/H , A/H , O/A. Chamamos estes quocientes por seno(α),
cosseno(α), tangente(α):
O A O
sen(α) := , cos(α) := , tan(α) :=
H H A
Para lembrar estas fórmulas, gente usa a pneumônica
SOH - CAH - TOA
oposto oposto
sen = tan =
hipotenusa adjacente
adjacente
cos =
hipotenusa
Existem várias relaçoes entre sen, cos e tan. A relação mais básica é:
sen(α) O/H O
= = = tan(α)
cos(α) A/H A
Vamos calcular uns valores de sen, cos e tan usando triângulos especiais:
(pitágoras)
√
sen(π/4) = O/H = 1/ 2
√
2 √
1 cos(π/4) = A/H = 1/ 2
15
2 2 corte 2 √
/ 3
2 1
√
sen(π/3) = O/H = 3/2
Exercı́cio: use um dos triângulos acima para calcular sen(π/6) , cos(π/6) , tan(π/6).
Um jeito diferente de pensar em seno, cosseno e tangente: Considere o cı́rculo com raio 1 centrado
na origem (chamado as vezes o “cı́rculo trigonométrico”):
Um ângulo α ∈ [0, 2π] corresponde a um ponto B no cı́rculo trigonométrico, e a partir deste ponto
obtemos um triângulo com hipotenusa 1:
B
•
1
α
x
16
Nossas fórmulas para sen, cos (aplicadas com H = 1) e tan (aplicada com A = 1) nos dizem que temos
B
•
tan(α)
1
sen(α)
α
x
cos(α)
1
[[tan(α) é a altura da interseção da linha passando por (0, 0) e B com a linha x = 1]]
Observe que obtemos valores de sen, cos, tan dado (quase) qualquer valor de α em [0, 2π]
B
•
1
sen(α)
α
x
cos(α)
tan(α)
As únicas excepções são que os valores tan(π/2) e tan(3π/2) não são definidos (pois a linha vertical
passando por 0 não tem interseção com a linha x = 1).
No último exemplo, sen(α) > 0, mas cos(α), tan(α) < 0. Os sinais estão determinados pelo quadrante
do ponto B:
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Relações
Observaremos umas relações entre funções trigonometricas. O Teorema de Pitágoras nos dá uma relação
muito importante:
α
cos(α)
π/2
1
• y = sen(x)
sen(x)
x 3π/2 2π
π 0 = 2π π/2 π x
−1
3π/2
3π =
3π π 0 2π
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Usamos que sen(x + 2π) = sen(x) ∀ x ∈ R (isto é, “sen(x) tem perı́odo de 2π”). Obtemos assim o
gráfico completo:
−3π −2π −π 0 π 2π 5π 3π
2
−1
cos(x)
1
• y = cos(x)
x
π 2π x
−1
Continuando:
−3π −2π −π 0 π 2π 3π
−1
• y = tan(x)
tan(x)
3π
x • •
2
π π 2π x
2
19
Continuando:
−2π −π 0 π 2π
Observe que tan(x + π) = tan(x), então tan(x) tem perı́odo de π (em vez de 2π).
Mais três funções trigonométricas:
H 1
cosecante(α) = csc(α) = = ,
O sen(α)
H 1
secante(α) = sec(α) = = ,
A cos(α)
A 1
cotangente(α) = cot(α) = = .
O tan(α)
Exercı́cio: Usando os gráficos das funções sen, cos, tan, esboce os gráficos das funções csc, sec, cot.
f ◦ f −1 (c) = c ∀c ∈ C
f −1 ◦ f (d) = d ∀d ∈ D.
A função sen(x) : R → [−1, 1] não é uma bijeção: dado a ∈ [−1, 1] e x ∈ R tal que sen(x) = a, também
temos
sen(x + 2π) = a , sen(x + 4π) = a , . . .
então a equação sen(x) = a possui um número infinito de soluções.
Mas podemos restringir o domı́nio D de sen(x) tal que
sen(x) : D → [−1, 1]
1
−π/2
e agora
π/2
sen(x) : [−π/2, π/2] → [−1, 1]
−1 é uma bijeção
20
Para esboçar o gráfico de arcsen, fazemos uma reflexão na reta y = x:
arcsen(x)
π/2
sen(x)
−π/2
π/2
−π/2
para obter
π/2 y = arcsen(x)
−1 1
−π/2
arccos(x)
π
π
2
π
1 π
2
cos(x)
21
para obter
π
π
2
y = arccos(x)
−1 1
A função tan(x) : (−π/2, π/2) → R é uma bijeção. A inversa de tan é chamada arctangente
tan(x)
arctan(x)
e obtemos
π/2
y = arctan(x)
−π/2
22