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Psicologia Positiva e

Modelos de Bem-Estar

Unidade Curricular: Personalidade e Diferenças Individuais

Ano Letivo 2022/2023

Docente: Maria Odília Teixeira

Discentes: Beatriz Lopes (22585), Inês Nunes (22578), Lucía Arenas (23156),
Yara Ribeiro (22582)
Psicologia Positiva

A Psicologia Positiva trata-se de um movimento da psicologia que estuda os comportamentos e


ações que conduzem ao bem-estar dos indivíduos e que fazem as comunidades prosperarem. Ao
contrário daquele que tem sido o maior foco da ciência psicológica - que tem sido estudar patologias,
danos psicológicos e doenças mentais -, a psicologia positiva ocupa-se de estudar os nossos pontos
fortes e virtudes e amplificá-los. Na ótica deste movimento, o tratamento psicológico não serve só
para consertar o que está errado, mas para nutrir o que temos de melhor.
Trata-se da valorização das experiências pessoais dos indivíduos, dando relevância ao bem-estar e
satisfação sentidos no passado; o fluxo da vida e a felicidade no presente; e a esperança e otimismo no
futuro. Ao nível individual, retrata a importância de características positivas individuais que impactam
o modo como as pessoas pensam e se sentem em relação às suas vidas, como: saber amar, skills
interpessoais, perseverança, saber perdoar, originalidade, sapiência, entre outros. Ao nível grupal: as
virtudes cívicas, a responsabilidade, o altruísmo, a moderação, a tolerância, entre outros.
Segundo Seligman & Csikszentmihalyi (2000), existem 4 características pessoais distintas que são
essenciais para o sucesso da psicologia positiva, nomeadamente o bem-estar subjetivo, que se trata
das conclusões cognitivas e afetivas positivas que as pessoas retiram da avaliação da sua existência; o
otimismo, que serve de fator interpretativo para os eventos do dia-a-dia e influencia
significativamente no modo como percepcionamos o mundo à nossa volta. Os autores referem que
pessoas otimistas tendem a apresentar uma melhor disposição, serem mais perseverantes, terem mais
sucesso e experienciarem mais saúde física. Também é descrito que pessoas com doenças letais e com
elevados níveis de otimismo, parecem desenvolver sintomas mais tarde e sobreviver durante mais
tempo em comparação com pacientes que enfrentam a realidade de forma mais objetiva. A felicidade,
que se traduz na crença de que os valores tradicionais que atravessam gerações contêm elementos
importantes de verdade e trazem sentido para a vida de muitas pessoas, em conjunto com o
crescimento económico pessoal e com relações interpessoais de qualidade; e a auto-determinação, que
reúne 3 necessidades humanas que se relacionam: a necessidade de competência, a necessidade de
pertença e a necessidade de autonomia. Quando estas 3 necessidades são satisfeitas, o bem-estar
pessoal e o desenvolvimento social são otimizados.

Modelos de Bem-Estar

O bem-estar é algo que todo o ser humano preza, até porque se nos sentirmos mal ou com dores,
ficamos incomodados e preocupados, até decidirmos ir ao médico ou tomar medicamentos e chás que
nos forneçam algum conforto. Mas, o bem-estar não é só físico, é também emocional e espiritual, o
bem-estar é "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de
doença ou enfermidade" (OMS, 1948). Há muitas maneiras de promovermos o nosso bem-estar e ao
longo dos anos, imensos teóricos foram criando modelos que pudessem ser aplicados não só nas
nossas vidas, mas no ambiente escolar e no trabalho.

Modelo da Roda do Bem-Estar de Myers, Sweeney & Witmer

O Modelo da Roda do Bem-Estar de Myers et al. (2000), é um modelo holístico, baseado na teoria
da Hierarquia das Necessidades de Maslow e nas teorias de Adler, sendo fundamentada no
desenvolvimento humano contendo 6 dimensões principais que são designadas como tarefas de vida.
A primeira tarefa de vida é a espiritualidade que é caracterizada como uma consciência de um ser
ou força que transcende os aspectos materiais da vida e proporciona um profundo senso de totalidade
ou conexão com o universo, sendo uma característica central de pessoas saudáveis (Seaward, 1995;
citado por Myers et al., 2000) e a fonte de todas as outras dimensões do bem-estar (Chandler, Holden
e Kolander, 1992; citado por Myers et al., 2000). Em segundo temos a Auto-direção, onde estão
inseridos 13 componentes (Self-direction, Sense of Worth , Sense of Control,, Realistic belief,
Emotional awareness and coping, Problem solving and creativity, Sense of humor, Nutrition,
Exercise, Self-care, Stress management,Gender identity e Cultural identity), que é caracterizada como
a maneira pela qual um indivíduo regula, disciplina e orienta a si mesmo em atividades diárias e na
busca de objetivos de longo prazo (Hafen, Franksen, Karren e Hooker, 1992; Pelletier, 1994; citados
por Myers et al., 2000), é o senso de atenção plena e intencionalidade ao enfrentar as principais
tarefas da vida. Em terceiro está o Trabalho e Lazer onde se encontra oportunidade para experiências
prazerosas que são intrinsecamente satisfatórias e proporcionam um senso de realização (McDaniels
& Gysbers, 1992; citado por Myers et al., 2000). Estas dimensões nos desafiam ou envolvem os
nossos sentidos, habilidades e interesses, frequentemente nos absorvendo em atividades em um estado
de consciência chamado de "fluxo". Este “fluxo” é um estado ótimo no qual um indivíduo perde a
consciência de si mesmo e do tempo, enquanto está altamente engajado na tarefa em questão. A
excitação e alegria são intensificadas, enquanto a ansiedade e o tédio são minimizados
(Csikszentmihalyi, 1990; citado por Myers et al., 2000). É importante salientar que não é o tipo de
trabalho que pode ou não trazer significado e sim a maneira como nos relacionamos com ele pois
posso obter significado do e no trabalho. A quarta e quinta tarefa seriam então a Amizade que
incorpora todos os relacionamentos sociais de uma pessoa que envolvem uma conexão com os outros,
seja individualmente ou em comunidade, mas não têm um compromisso conjugal, sexual ou familiar.
Adler (1927, 1954; citados por Myers et al., 2000) considerava o interesse social como inato à
natureza humana, observando que todos nascemos com a capacidade e a necessidade de nos
conectarmos uns com os outros e o Amor cujos relacionamentos são formados com base em um
compromisso mútuo sustentado e de longo prazo, envolvendo intimidade, tendo de ser saudáveis para
promover o bem-estar, assim sendo, serão uma enorme base de proteção já que o compromisso, tanto
para homens, mulheres e crianças ajuda a proteger contra doenças físicas e mentais, aumenta a
longevidade e proporciona um maior senso de bem-estar (Hafen et al., 1992; citado por Myers et al.,
2000) e promove melhores respostas físicas e emocionais ao estresse (Winefield, Winefield e
Tiggeman, 1992; citado por Myers et al., 2000).
Este modelo pode ser usado na prática e vai envolver a aplicação destas dimensões do bem-estar
em diferentes áreas da vida do indivíduo, podendo ser adaptado às necessidades individuais de cada
um, pois cada pessoa terá suas próprias metas e desafios específicos em relação ao bem-estar.

Modelo PERMA de Seligman

Seligman (2011) propôs também um modelo, o modelo PERMA, cujas siglas significam, por
ordem, Positive Emotions (Emoções Positivas), Engagement (Engajamento), Relationships
(Relacionamentos sociais), Meaning (Significado e propósito) e Accomplishment (Realizações). O
modelo PERMA é um conceito central na psicologia positiva, e segundo Seligman estes cinco
elementos são cruciais para promover o bem-estar e felicidade duradoura. É através do cultivo de
emoções positivas como resiliência, gratidão,serenidade e prazer que surge um aumento do bem-estar
geral ajudando a construir resiliência emocional. Estarmos imersos em uma atividade que estimula a
nossa curiosidade e que nos permita viver o momento presente, ter relacionamentos saudáveis e
conexões positivas com as pessoas, encontrar um significado na vida, nos sentindo realizado pela
contribuição de algo maior e o estabelecimento e conquista de metas que nos proporcionem
autoestima são ideias ligadas a este modelo, e é através da ação das mesmas que o ser humano vai
conseguir atingir o seu bem-estar pleno.

Teoria das Discrepâncias Múltiplas de Michalos

A Teoria das Discrepâncias Múltiplas é uma teoria científica do bem-estar subjectivo que tenta
fornecer interpretações e previsões sobre uma questão importante: "O que torna as pessoas felizes ou
satisfeitas?”. Esta teoria tenta explicar porque é que as pessoas são felizes ou satisfeitas com a sua
vida em todos os aspectos da sua vida, o seu trabalho, as pessoas com quem vivem, o rendimento, a
saúde, etc. Desenvolvida pelo psicólogo canadiano Alex C. Michalos, é uma teoria que explora ainda
a relação entre o bem-estar subjectivo e as discrepâncias percebidas em diferentes aspectos da vida.
Esta teoria defende que o bem-estar subjectivo é determinado pela diferença entre as expectativas e as
percepções reais em múltiplos domínios da vida (Michalos, 1995).
Há alguns pontos-chave para explicar esta teoria. Primeiramente, o bem-estar subjetivo, que se
refere à avaliação subjetiva da satisfação com a vida em geral e que é constituído por duas
componentes: satisfação com a vida e afecto positivo/negativo. Em segundo lugar, os domínios de
vida, que retratam diferentes áreas ou aspetos da vida, como o trabalho, as relações pessoais, a saúde,
o lazer, a economia, entre outros. De seguida, as discrepâncias - Michalos defende que as pessoas têm
expectativas e padrões pessoais em cada domínio da vida. As discrepâncias surgem quando existe
uma diferença significativa entre as expectativas e as percepções reais num domínio específico. O
impacto no bem-estar, que se traduz nas discrepâncias percebidas em diferentes domínios da vida que
podem afetar o bem-estar subjectivo. Se as expectativas excederem as percepções atuais, isso pode
levar à insatisfação e afetar negativamente o bem-estar. Por outro lado, se as percepções excederem as
expectativas, isso pode gerar satisfação e promover o bem-estar. Por fim, a importância relativa dos
domínios: Michalos também sugere que os diferentes domínios podem ter uma importância relativa
no bem-estar de cada indivíduo. Alguns domínios podem ser mais influentes do que outros, e as
discrepâncias nesses domínios podem ter um maior impacto no bem-estar geral (Michalos, 1995).

Esta teoria menciona 7 discrepâncias, que se referem aos diferentes aspectos em que estas
discrepâncias podem surgir e afetar o bem-estar. “Discrepância entre o que se tem e o que se quer”:
esta discrepância percebida entre os recursos e as posses actuais e os desejos pessoais tem um efeito
directo e linear na satisfação líquida expressa ou no bem-estar subjectivo. “Discrepância entre o que
se tem e o que os outros significativos têm” refere-se à comparação dos recursos e posses do
indivíduo com os dos outros significativos na sua vida. Tem um impacto linear positivo na satisfação
líquida expressa. “Discrepância entre o que se tem e o melhor que se teve no passado” envolve a
comparação dos recursos e posses atuais com os níveis mais elevados alcançados no passado. Esta
discrepância também influencia a satisfação líquida expressa. “Discrepância entre o que se tem e o
que se esperava ter há três anos” aborda a comparação dos recursos e posses atuais com as
expectativas de há três anos e afeta a satisfação líquida expressa. “Discrepância entre o que se tem e o
que se merece e precisa” refere-se à avaliação da congruência entre os recursos e as posses atuais e o
que se sente que merece e precisa, e tem um efeito linear positivo na satisfação líquida expressa. Nas
“Discrepâncias objectivamente mensuráveis” referem-se a diferenças quantitativas ou qualitativas
mensuráveis em domínios da vida, como o trabalho, as relações pessoais ou a saúde. Estas
discrepâncias objectivas também têm um efeito directo na satisfação e nas acções. “Discrepância entre
todas as outras discrepâncias percebidas e a satisfação líquida expressa”, onde a discrepância entre o
que se tem e o que se quer (mencionada no ponto 1) actua como uma variável mediadora que
influencia as outras discrepâncias percebidas e a sua relação com a satisfação líquida expressa.
Teoria de Ryff

Seguindo a Ryff no artigo ‌Ryff, C. D., & Keyes, C. L. M. (1995), a teoria do bem-estar psicológico
de Ryff é uma das perspectivas teóricas mais importantes da psicologia positiva. Esta teoria estabelece
seis dimensões de bem-estar: as “Relações positivas com os outros”, que se trata da qualidade das
nossas relações interpessoais, em termos de ligação social e apoio emocional. Inclui a capacidade de
estabelecer e manter relações saudáveis e satisfatórias. O “Domínio do ambiente” que se retrata a
percepção de que possuímos as aptidões e competências necessárias para enfrentar e adaptarmo-nos
aos desafios do ambiente. Implica sentirmo-nos competentes e capazes de lidar com diferentes
situações. O “Propósito na vida” refere-se a ter metas e objetivos significativos que dão sentido e
direção à nossa vida. Implica sentir que a nossa vida tem um objectivo e que as nossas acções têm um
impacto positivo. A“Autonomia de pensamento e de ação" é sobre ter uma mente aberta e flexível, ser
capaz de processar a informação de forma crítica e ser criativo na resolução de problemas. Envolve
também a capacidade de tomar decisões e agir de acordo com os nossos valores e crenças. A
“Autonomia” aborda a capacidade de estar consciente e agir de acordo com as próprias necessidades,
valores e objetivos. Implica um sentido de controlo e a capacidade de tomar decisões independentes.
O “Crescimento pessoal” refere-se à busca contínua de desenvolvimento e crescimento pessoal ao
longo da vida. Inclui a capacidade de aprender com as experiências, desenvolver novas competências
e procurar a realização pessoal.
De acordo com esta teoria, quanto mais equilibradas forem as dimensões, maior será a capacidade
de enfrentar desafios, de desfrutar de uma vida plena e satisfatória e maior será o bem-estar global.
Para medir as dimensões propostas pelo seu modelo, Ryff desenvolveu um instrumento conhecido
como "Escalas de Bem-Estar Psicológico", que consiste em 84 itens nos quais as 6 dimensões são
avaliadas numa perspectiva multidimensional, sendo as respostas classificadas numa escala de tipo
Likert de 1 a 6, onde se indica o grau de concordância ou discordância do participante com as
afirmações. Este instrumento tem sido utilizado em muitos estudos de investigação e tem
demonstrado uma boa fiabilidade e validade.
Acredita-se que o modelo de Ryff pode ser especialmente útil em jovens, facilitando a busca de
direção e sentido para a vida, e colaborando na construção de sua identidade, bem como na sua
formação educacional, e seguindo esta linha, poderia ser de ajuda na prevenção e criação de hábitos
saudáveis.

Bem-Estar em Contexto Social

Segundo uma revisão de literatura incidente em vários artigos (Berkman et al., 2018; Cacioppo et
al., 2015; Connolly e Myers, 2003; Cruwys et al., 2013; Holt-Lunstad et al., 2010; Jetten, Haslam e
Haslam, 2012; Teixeira e Costa, 2017; Thoits, 2011), o bem-estar em contextos sociais refere-se ao
estado geral de satisfação, felicidade e realização experimentado pelos indivíduos dentro de um
ambiente de socialização, e é crucial compreender a relação entre as dinâmicas de grupos sociais e o
bem-estar, com o objetivo de promover o crescimento tanto individual quanto coletivo.
Presentemente, existem vários estudos que vêm a examinar essa relação, dando ênfase ao papel do
apoio social, sentimento de pertença, colaboração e cooperação, experiências partilhadas e relações
significativas, crescimento e de ambientes de grupo positivos.
Descrevendo mais detalhadamente estes componentes, primeiramente temos o Apoio Social, que
dita que pertencer a um grupo proporciona oportunidades de apoio social, o que é essencial para o
bem-estar geral. Isto porque os membros do grupo podem fornecer apoio emocional, encorajamento e
um sentimento de pertença. A existência de relacionamentos positivos dentro do grupo pode ajudar o
indivíduo a lidar com o stress, aumentar a resiliência e promover o bem-estar mental e emocional.
Seguidamente temos o Sentimento de Pertença, sendo que este é uma necessidade humana
fundamental, desempenhando os grupos um papel significativo na satisfação dessa necessidade.
Quando um indivíduo se sente aceite e valorizado dentro de um grupo, isso promove o sentimento de
pertença, sentimento este que contribui para o bem-estar psicológico, autoestima e identidade positiva.
Depois as Experiências compartilhadas e Relacionamentos significativos, que enfatiza que fazer parte
de um grupo proporciona oportunidades para experiências, valores e metas compartilhadas. Ter
interações significativas e formar relacionamentos dentro do grupo pode trazer alegria, amizade e um
sentimento de conexão. São essas conexões que vão contribuir para o bem-estar geral e podem aliviar
sentimentos de solidão e isolamento. Em seguida o Crescimento e Desenvolvimento pessoal, onde os
grupos oferecem um espaço para o crescimento e desenvolvimento pessoal. Através de interações
com diversas pessoas, os indivíduos podem aprender uns com os outros, obter novas perspetivas e
adquirir habilidades úteis. Essa aprendizagem contínua e crescimento pessoal contribuem então para
um senso de realização e satisfação. Também a Saúde emocional e mental, que dá ênfase às interações
sociais podem impactar positivamente neste sentido. Participar em conversas e receber apoio pode
reduzir o stress, melhorar o humor e proporcionar um sentimento de conforto. A oportunidade de
expressar-se, ser ouvido e receber empatia por parte de outros pode melhorar o bem-estar emocional
geral. Por último, a Identidade coletiva e orgulho, que dita que pertencer a um grupo permite aos
indivíduos identificarem-se com uma identidade coletiva, como uma equipa, organização ou
comunidade. Esse sentimento de identidade coletiva pode levar a um sentimento de orgulho, unidade
e propósito. Quando os indivíduos se sentem ligados a algo maior que eles, isso pode ter um impacto
positivo na sua autoestima, motivação e sobretudo no seu bem-estar.

Para complementar o que foi descrito anteriormente, os estudos já referidos retratam ainda esta
relação entre as dinâmicas de grupos sociais e o bem-estar:
Cruwys et al. (2013) destacam os efeitos protetores das filiações a grupos sociais contra a
depressão. Fazer parte de grupos sociais proporciona às pessoas um senso de pertencimento e apoio, o
que pode prevenir a depressão, aliviar os sintomas depressivos e reduzir a probabilidade de recaída.
Isso demonstra que a filiação a grupos contribui significativamente para o bem-estar geral. Esta ideia
é também ilustrada no artigo de Thoits (2011), que aborda o papel do suporte social na saúde e bem-
estar, destacando-se a importância do suporte social na adaptação ao stress, na promoção de
comportamentos saudáveis e no aumento da resiliência. O apoio social é visto como um fator protetor
que contribui para o bem-estar geral das pessoas. Um outro estudo realizado por Berkman et al.
(2018) destaca que as relações sociais desempenham um papel fundamental na promoção da saúde e
bem-estar. Eles enfatizam como as conexões sociais podem prevenir doenças, auxiliar na recuperação
de doenças e contribuir para um envelhecimento saudável. Da mesma forma, Holt-Lunstad et al.
(2010) conduziram um estudo sobre a conexão social e seu poder na saúde e longevidade, ressaltando
que a falta de interações sociais pode ter efeitos negativos comparáveis ao tabagismo, à obesidade e à
falta de atividade física. Essa pesquisa destaca a importância de cultivar relacionamentos sociais
saudáveis para o bem-estar e a qualidade de vida.
Jetten, Haslam e Haslam (2012) introduzem o conceito de "cura social" e do seu impacto no bem-
estar. É argumentado que grupos sociais desempenham um papel vital no aprimoramento da saúde e
do bem-estar e que identificar-se com um grupo promove um senso de propósito, conexão e apoio,
contribuindo para melhores resultados de saúde mental e física. O artigo de Connolly e Myers (2003)
ressalta a importância de fatores holísticos, como o sentimento de importância pessoal e a conexão
com o ambiente de trabalho, na satisfação profissional e no bem-estar dos funcionários, sendo que a
compreensão desses fatores pode ajudar as organizações a criar ambientes de trabalho mais saudáveis
e promover o envolvimento e a felicidade dos colaboradores.
Numa ótica mais específica, a pesquisa conduzida por Cacioppo et al. (2015) explora a relação
entre as redes sociais e a depressão. O estudo revela que a estrutura e a qualidade das redes sociais
têm influência significativa no risco de desenvolver depressão. A presença de interações sociais
positivas e apoio emocional desempenham um papel crucial na saúde mental. O artigo de Teixeira e
Costa (2017) destaca a importância dos fatores pessoais e situacionais na promoção do bem-estar
subjetivo dos estudantes universitários em relação à carreira, ressaltando que compreender e abordar
esses determinantes pode contribuir para o sucesso e satisfação dos estudantes no ensino superior,
além de facilitar o alcance de seus objetivos de carreira.
No fundo, todos estes artigos destacam a importância das relações sociais, do suporte social e das
conexões interpessoais para o bem-estar em contextos sociais, mostrando como as conexões positivas
podem promover a saúde física e mental, prevenir doenças, auxiliar na recuperação e contribuir para
uma vida mais longa e satisfatória. Assim, é essencial reconhecermos a relevância das conexões
sociais nas nossas vidas e investir na construção de relacionamentos saudáveis.

Bem-Estar e Pandemia COVID-19

Em 2020 surgiu uma pandemia à escala global que impactou todas as nossas vidas e nos obrigou a
adotar uma nova abordagem ao dia-a-dia. Foi uma época profundamente marcada pelo confinamento,
desemprego, falta de serviços, perda de contacto social - situações que meteram em causa o nosso
bem-estar e desafiaram as nossas capacidades de superação (Vieira, 2022). Foi um período que
despertou muitos medos, muita ansiedade e desconforto. Mas, como todos assistimos e
experienciámos, surgiu uma onda de preocupação pelo bem-estar pessoal que nunca tinha sido vista a
emergir em nenhuma outra situação.
Com o tempo extra que sobrou no dia-a-dia por não se poder circular livremente na rua, houve
espaço para nos dedicarmos a novas experiências, para refletirmos sobre a vida, para nos conectarmos
a natureza e as nossas relações de forma mais profunda e consciente. Muitas pessoas também
utilizaram este tempo para se concentrar mais na sua espiritualidade (que não se cinge à religiosidade,
mas à busca de uma orientação que conduza a nossa consciência ao momento presente e que nos ajuda
a repararmos e apreciarmos o que há de positivo na vida), e também para apreciar o silêncio e a
ausência de fatores de stress típicos do dia-a-dia (Büssing et al., 2020).
No entanto, estes fatores de stress do dia-a-dia foram substituídos por outros com os quais não
estávamos habituados a lidar. No estudo de Büssing et al. (2020), concluiu-se que as principais
técnicas de bem estar que as pessoas adotaram para fazer face às fontes de stress foram: experienciar
conscientemente os momentos silenciosos, as perceções da natureza e as reflexões contemplativas;
refletir mais profundamente sobre o significado da vida e sobre aquilo que temos por viver; maior
dedicação à espiritualidade; relações mais intensas e íntimas com o parceiro, a família e os amigos; e
utilizar as redes sociais para manter contacto com as pessoas e para nos sentimos inspirados. Estas
técnicas subscrevem todas ao conceito do Modelo PERMA referido anteriormente, podendo então
notar-se que em tempos de crise social, as pessoas procuraram Positive Emotions, Engagement,
Relationships, Meaning e Accomplishment. De modo geral, Büssing et al. (2020) descrevem que
durante este período trabalhámos não só no nosso bem-estar e no nosso desenvolvimento pessoal, mas
também nos sentimentos de gratidão.
Numa outra abordagem levada a cabo por Lefdahl-Davis et al. (2020), foi utilizado o acrónimo
REFRAME, que também reflete os pontos mencionados pelos modelos que já foram abordados, para
descrever os principais atributos envolvidos no combate ao confinamento. Nomeadamente: a
resiliência (Resilience), que se traduz na habilidade de nos reerguermos em situações de stress, de nos
adaptarmos com sucesso a circunstâncias difíceis e conseguirmos prosperar (teletrabalho,
desemprego, o isolamento social); a empatia (Empathy), que é a capacidade de reconhecermos e
validarmos o nosso sofrimento e o dos outros e respondermos com compreensão e bondade (tentar
compreender outros pontos de vista, tentar ser melhor ouvinte, aprender a ser mais altruísta); o Flow,
que envolve estar-se tão absorvido por uma atividade que se perde a noção do tempo (trabalho,
familia, hobbies); as relações interpessoais (Relationships), que refletem o nível de envolvimento que
o indivíduo investe nas suas relações (utilizar as tecnologias para manter contacto, desenvolver
relações mais profundas com co-habitantes e família, ter mais tempo para investir no outro); a
apreciação (Appreciation), que se trata do reconhecimento e afirmação do bom da vida (gratidão
relacional, valorização pelos profissionais da linha de frente, gratidão pelas condições que ainda
garantem alguma estabilidade - teletrabalho, ter aulas, receber um salário); o significado (Meaning),
que é o experienciar da vida com propósito e em conformidade com os nossos valores pessoais
(relativo à carreira, ao tempo de qualidade com a família, serviço comunitário, serviço militar, Deus);
e, por fim, o Embodiment, que é o estar ciente das necessidades do corpo, corresponder a essas
necessidades e encontrarmo-nos em harmonia e conectados com o nosso corpo (30% da amostra
relatou atividade mínima, mas os restantes relataram atividade como fazer caminhadas, fazer treinos
caseiros, fazer yoga).

Bibliografia

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