Você está na página 1de 1342

VII

JS B 978-85-86504-25-9

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO


E DA ÁGUA
FEVEREIRO, 2019

CONTEÚDO
PREFÁCIO............................................................................................................................................... V

I - TERMINOLOGIA BÁSICA UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO


E DA ÁGUA ........................................................................................................................................ 1
Luciano da Silva Souza, lldegardis Bertol, lsabella Clerici De Maria,
José Fernandes de Melo Filho, Igo Fernando Lepsch & Antônio Ramalho Filho

li - A DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ...................... ........................................ 19


Iêdo Bezerra Sá & Arlicélio de Queiroz Paiva

ill - INTER-RELAÇÃO ENTRE A AGRICULTURA CONSERVAC1ONISTA E A ITTIGAÇÃO


DA EMISSÃO DOS GASES DE EFEITO ESTUFA...................................................................... 51
Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, Thalita Fernanda Abbruzzini, Carolina Braga Brandani, Mariana
Regina Durigan, Rita de Cássia Alves d e Freitas, Diana Signor Deon & Carlos Clemente Cerri

IV - ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS DO MANEJO E DA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA................................................................................. 3
Tiago Santos Telles, Sonia Carmela Falei Dechen & Maria de Fátima G uimarães

V - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA COM VISTAS À AGRICULTURA


CONSERV ACIONISTA: UMA VISÃO HOLÍSTICA .................................................................. 109
Afonso Peche Filho, Pedro Maranha Peche & Marcos Roberto da Silva

VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMlNANTES DO USO, DO MANEJO E DA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA: PRINCÍPIOS E FATORES.................................. 121
Ma teu s Rosas Ribeiro, Izabel Cristina de Luna Galindo, Paulo Klinger Tito Jacomine & Mateus
Rosas Ribeiro Filho

VII - MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA: COMPON ENTE ESSENCIAL DO MANEJO E DA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA .... ..................................................................... -...... 163
Renato Levien & Osmar Conte
----..
VIII

Vlll - INTER-REL ÇÀO E TRE MANEJO E ATRJBUTOS FÍSICOS DO SOLO .............. ........... 193
Lucian o da Silva uza, Álvaro Luiz Mafra, Laércio Duarte Sou za, Ivandro d e França
da ilva & Vilson ntonio Klein

IX - rNTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO .......... ............ 251


lbanor Anghinoni, Amanda Posselt Martins & Felipe de Campos Cam1ona

' - fNTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS BIOLóGICOS DO SOLO ............. ...... 281
Brigitte Josefine Feigl, Bruna Gonçalves d e Oliveira, André Luiz Custódio Franco & Leidivan
Almeida Frazão

XI - SISTEMAS DE MANEJO CONSERV ACIONISTA E QUALIDADE DE SOLOS, COM


t: JFASE A MATÉRJA ORGÂNICA.................................................................................... ...... 315
Cimélio Bayer, Jeferson Dieckow, Paulo César Conceição & Júlio Cézar Franchini dos Santos

Xll - HIDROLOGIA DE SUPERFÍCIE RELACfONADA AO MANEJO E À CONSERVAÇÃO


DO SOLO E DA ÁGUA .................... ............. ., .............................................................................. 345
Gustavo H . Merten & Jean Paolo Gomes Minella

Xlll - MODELOS HIDROLóGICOS .................................................................................................... 393


Eloy Lemos de Mello & Ildegardis Berto!

XI\T - EROSÃO DO SOLO...................................................................................................................... 423


Ildegardis Berto!, Elemar Antonino Casso! & Fabrício Tondello Barbosa

XV - MODELAGEM E MODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO..... 461


Ildegardis Bertol, Elemar Antonino Casso! & Gustavo Henrique Merten

XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL................................................ 499


Ildegardis Berto!, Elemar Antonino Cassol & lsabella Clerici De Maria

XVII - PRÁTICAS CONSERVAOONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA............................................ 527


Isabella Clerici De Maria, Ildegardis Bertol & Mario Ivo Drugowich

XVIlI - MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O ENFOQUE DA


MJCROBACIA HIDROGRÁFICA .................................................................................. ......... 589
ilvania Aparecida de Mello, Oromar João Bertol & Nerilde Favaretto

XIX - PLANEJAMENTO DE USO DAS TERRAS PARA FINS AGRíCOLAS ............................... 621
Antonio Ramalho Filho

XX _ PLANEJAMENTO CONSERV ACIONISTA DO USO DO SOLO EM PROPRIEDADES


AGRfCOLAS ..................................................... .......................................... .............................. ...... 633
Igo Fernando Lepsch

XXI _ CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS. ......................... 645


Fabrício de Araújo Pedron, Ricardo Bergamo Schenato & Magnos Baroni

XXII_ O MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA ........................... ................. ...... 701
Wenceslau Geraldes Teixeira, Hedinaldo Narciso Lima, Willer Hermeto Almeida Pinto,
Kleberson Worsley de Souza, Edgar Shinzato & Gotz Schroth
IX

XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBI ENTE DE TERRAS BAIXAS: A EXPERJÊ CIA


DA REGIÃO SUL ...................... .................... ............. ... .............................................. .... ........ .. 729
Enio Marchesan, Leandro So uza da Sil va, Rogério Oliveira de Sousa & Eloy An tonio Pauletto

xxrv - MANEJO CONSERVAClONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO SUL DO BRASIL.. 769


Milton da Veiga, Leandro do Prado Wildner, Ca rla Maria Pandolfo & fva n Lu iz Zilli Bacic

XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTJVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO


AGROECOLÓCICA....................... ..... ................... ..................................................................... 799
Marco Antonio de Almeida Leal, José Antonio Azevedo Espindola, Ednaldo da Silva Araú jo,
José Guilherme Marinho Guerra, Antonio Carlos de Souza Abboud, Raul de Lucena Duarte
Ribeiro & Dejair Lopes de Almeida

XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTfVO ANUAL PARA A REGIÃO


CENTRO-OESTE .............. .... .. ....... ............... .............. ........................................... .. ...... ............ 3
Júlio Cesar Salton, Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, Ana Luiza Dias Coelho Borin &
Michely Tomazi

XXVll - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO................... 869


Laércio Duarte Souza, Luciano da Silva Souza & Joelito de Oliveira Rezende

xxvm - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS ............................................................... 907


José Eduardo Corá, Dirceu Mattos-Jr, Rodrigo Marcelli Boaretto, Fernando Alves de Azevedo,
Fernando Cesar Bachiega Zambrosi, José Antônio Quaggio & Priscila Robe:rta Volante

XXIX- MANEJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO DE CITROS NA BAHIA E


EM SERGIPE ............................................................................................................................... 935
Luciano da Silva Souza, Joelito de Oliveira Rezende & Laércio Duarte Souza

XXX- MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO............................. 961


Luciano Gebler, Gilberto Nava, Adilson Luís Bamberg, Flávio Luiz Carpena Carvalho, Clenio
Nailto Pillon, Andrea De Rossi Rufato & José Francisco Martins Pereira

XXXI -MANEJO DE SOLOS PARA O CULTfVO DO CACAUEIRO............................................. 983


Quintino Reis Araujo, George Andrade Sodré, Arlicélio de Queiroz Paiva, Rafael Edgardo
Chepote, Guilherme Amorim Abreu Loureiro, Edson Lopes Reis, Robério Gama Pacheco,
Sandoval Oliveira Santana, Paulo César Lima Marrocos & Raúl René Valle

XXXII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO CULTfVO


DO CAFEEIRO.......................................................................................................................... 1009
Marx Leandro Naves Silva, Bernardo Moreira Cândido, Danielle Vieira Guimarães &
Nilton Curi

XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR............................. 1029


Denizart Bolonhezi, Oswaldo Julio Vischi Filho, Walane M. P. de Mello Ivo,
André Cesar Vitti, Antonio Cesar Bolonhezi & Sandro Roberto Brancalião

XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTIVO DE EUCALIPTO E PÍNUS........... 1081


José Leonardo de Moraes Gonçalves, José Henrique Tertulino Rocha & Clayton Alcarde Alvares

XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE OLERÍCOLAS.......... 1119


Roberto Botelho Ferraz Branco, Andréia Cristina Silva Hirata, Luis Felipe Villani Purquerio,
Thiago Leandro Factor, Sebastião de Lima Junior, Jane Maria de Carvalho Silveira & Sebastião
Wilson Tivelli
, , ' (Vl - 1A 1EJO DO SOL EM PASTAGENS.............................................. ..... .... .... ......... ..... ...... 1163
MoaqT Bernardino Dias-Filho & Monyck Jenne dos Santos Lopes

' ' 'l i - MA EJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA


E LA\ OURA-PECUÁRIA-FLORESTA ..................................................... ................ .. ....... 1183
Luiz Carlos Balbino, Luiz Adriano Maia Cordeiro, Robélio Leandro Marchão,
Júlio Cezar Franchini dos Santos, Glen.ia Guimarães Santos, Diogo Néia Eberhardt, Thierry
Becquer, Fernando Antônio Ma.cena da Silva & Lourival Vilela

~'lll - ,t.A 1EJO


DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRJCULTURA DE PRECISÃO.......... 1219
.Álrnro Vilela de Resende. Ziany Neiva Brandão, Célia Regina Grego, Emerson Borghi &
Lua.na Rafaela Maciel \A, ilda

XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICULTURA CONSERV ACIONlST A 1271


Magarete icolodi

XL - A EXTE ISÃO RURAL E O MANEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


TO BRASIL....................................................................................................... ............................... 1311
Oromar João Berto!, Leandro do Prado Wildner & Edemar Streck

XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO DA GOVERNANÇA DO SOLO............ 1333


TiJvania Aparecida de Mello & Tiago Modesto Carneiro da Costa

XLII - O PAPEL DA CIENCIA DO SOLO NO MANEJO E NA CONSERVAÇÃO DO


SOLO E DA ÁGUA............... ........................................................................................................ 1347
Luciano da Silva Souza, Ildegardis Berto!, José Fernandes de Melo Filho & Isabella Clerici
De Maria
1-TERMINOLOGIA BÁSICA UTILIZADA
EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E
DA ÁGUA
Luciano da Silva Souza11, Ildegardis BertolZI, Isabella Clerici De Maria:V,
José Fernandes de Melo Filho1/, lgo Fernando Lepsch 41 & Antônio Ramalho Filho51

11 Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bah ia. Cruz das
Almas, BA. E-mail: lsouza@ufrb.edu .br; jfmelo@ufrb.edu.br
21 Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de Santa Catarina. Lages, SC.
E-mail: ildegarctis.bertol@udesc.br
3/ Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agronômico de Campinas.
Campinas, SP. E-mail: icdmaria@iac.sp.gov.br
4/ Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" . Piracicaba, SP.

E-mail: igo. lepsch@yahoo.com. br


5/ Embrapa Solos. Rio de Janeiro, RJ. Consultor independente.E-mail: aramalhof@gmail.com

INTRODUÇÃO

Solo - meio essencial para a vida na terra


O solo, juntamente com a água, o ar, a energia solar (luz e calor) e as plantas, é um
recurso natural essencial à vida na Terra. Ele é o meio que faz com que a água, o ar, o
nutrientes, a luz e o calor trabalhem juntos para permitir o crescimento das plantas terrestres.
Além de fornecer vários outros produtos, as plantas desenvolvidas no solo suprem a maior
parte das necessidades alimentares do homem e dos animais. Assim, o solo representa -
e por certo por muito tempo ainda representará -, a principal fonte para a produção de
alimentos na Terra. Embora não haja diferença em importância entre os recursos naturais
essenciais à vida na Terra, há uma diferença definida em relação à destrutibilidade de tais
recursos, especialmente em relação ao solo, em razão do acelerado processo erosi o que
esse poderá sofrer quando mal utilizado pelo homem, resultando em elevadas perdas dele.
E, do momento em que o solo é removido de uma dada gleba de terra pela erosão - a mais
comprometedora de todas as formas de degradação do solo-, necessita-se de muito mais
tempo do que dispõe um ser humano para que um novo solo possa ser desenvol ido. Isso
se deve ao fato de que as taxas de desgaste/ erosão do solo podem superar em muito as
taxas de formação/renovação. Por essa razão, e para todos os propósito práticos, o solo
deve ser considerado como "um recurso natural não renovável". Seu cuidado, pois, é um
pré-requisito à vida na Terra.
Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conse.rvac;ão do solo e da água. iço· a, MG: · iedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
2
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Este capítulo reúne conceitos, definições e significados de termos utili zados em manejo
e conservação do solo e da água, com o objetivo de uniforrnizar a terminologia em uso no
Brasil na área da Ciência do Solo, sem pretender esgotar o assunto. Para tanto, utilizara m -
se, como material básico, os demais capítulos deste livro e, em especial, glossários sobre
esse assunto publicados por Houghton e Charman (1986), Choudhw-y e Jansen (1998) e
SSSA (2008). Foram ainda consultados vários ouh·os autores (Almeida, s.d.; Fao, 1976;
Beek, 1978; Wischmeier e Smith, 1978; Ruthenberg et al., 1980; Cogo, 1988; Ramalho Filho,
1992; Curi et ai., 1993; Ramalho Filho e Beek, 1995; Brady e Weil, 2013; Santos et al., 2013;
Bertoni e Lombardi Neto, 2014; Lepsch et ai., 2015; Santos et ai., 2015; Usda, 2016).
Com isso, se espera contribuir para au xiliar no entendimento dos textos dos capítulos
deste livro, de forma a permitir, com maior clareza, a adoção de ações que minimizem a
degradação do solo no Brasil.

A
Adensamento. Processo natural ou pedogenético em que ocorre redução do espaço
poroso do solo por ação de urnedecimento/secarnento, iluviação, precipitação química etc.
A redução do espaço poroso que advém da ação mecânica antrópica é denominada de
compactação (Ver).
Adubação orgânica. Prática conservacionista edáfica em que são utilizados adubos
de origem animal e, ou, vegetal.
Adubação mineral. Prática conservacionista edáfica que consiste no uso de adubos de
origem mineral (fertilizantes).
Adubação verde. Prática conservacionista edáfica que consiste na utilização de plantas
cultivadas especificamente para incorporar ao solo com objetivo de melhorar seus atributos
físicos e químicos. Originalmente, o termo referia-se apenas ao uso de leguminosas,
que fixam N 2 do ar e fertilizam o solo com este elemento. Entretanto, podem-se utilizar
plantas não leguminosas visando a ciclagem de nutrientes de camadas mais profundas
para a camada arável ou plantas de diferentes espécies semeadas conjuntamente, o que é
denominado de "coquetel".
Agregação. Processo em que ocorre a união de partículas de areia, silte e argila,
ocasionada por forças naturais e em razão da ação de agentes minerais como argila,
especialmente óxidos de ferro e alumínio, e de agentes orgânicos como o material orgânico
do solo e exsudatos de raízes e de atividade biológica.
Agregado. Unidade estrutural do solo resultante da associação de partículas de areia,
silte, argila e de compostos orgânicos e químicos, mantidas coerentes entre si de maneira
mais forte do que as partículas localizadas na circunvizinhança. Pode ser natural ou
resultante do manejo do solo, da atividade microbiana ou outra.
Agricultura. Termo usado em sentido amplo que inclui todas as formas de uso da terra
e de manejo do solo, das plantas e dos animais, para fins de produção agrícola, conservação
ou recreação.
Agricultura de precisão. Manejo espacialmente variável de um campo ou uma
propriedade, com base em informações específicas sobre_ atributos do solo ou da cultura
em subunidades com áreas muito pequenas. Essa técruca comurnente utiliza sistemas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


I- T ERMI NOLOG IA B ÁS ICA U TILIZADA EM MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 3

ele posicionamento de geotecnologia, contro les por com putad or e equ ipamentos de taxa
variável para a plicação ele ins umos.
Agricultura orgânica. Sistema ou filoso fi a de agric u ltura g ue não permite o uso de
produtos químicos sintéticos para a produção vegetal ou animal, da ndo ênfase ao manejo
da matéria orgânica do solo.
Alternância de capinas. Prática vegeta tiva que consiste em alternar a época de capina
em entrelinhas adjacentes, ou seja, fazer o controle das espécies vegetais consideradas
iniestantes a cada duas entrelinhas, deixando uma sem controle. Passado algum tem po,
é realizado o controle apenas nas entrelinhas anteriormente dei xadas com as in vasoras.
Todas as ruas terão o mesmo número de capinas usual, alternando a penas a época. Com
isso, o solo permanece sempre com alguma cobertura para haver a proteção con tra o
impacto da chuva, assim como para a redução do escoamento superficial.
Alqueive. Ação de manter urna área ou um terreno preparado e livre de veget ação
por um período mínimo de dois anos, ou até que a fitomassa residual da cultura anterior
esteja totalmente decomposta. Condição exigida para estudos de erosão com base na
parcela-padrão.
Aração. Operação de preparo primário do solo realizada com arado de d iscos ou
de aivecas que inverte parcial ou completamente a camada do solo na profundi dade
aproximada de O a 20 cm.
Aptidão agrícola das terras. Potencial das terras para usos específicos, com lavouras
anuais, bianuais e perenes ou pastagens naturais e plantadas, em níveis de manejo
preestabelecidos, com base em dados relevantes do ponto de vista físico, ambiental, social
e econômico.
Aptidão agrícola das terras, sistema de. Classificação técnica que envolve o
grupamento qualitativo das terras com base em dados relevantes do ponto de vista físico,
ambiental, social e econômico, visando à avaliação integral das terras para usos específicos,
com lavouras anuais, bianuais e perenes ou pastagens naturais e plantadas, em níveis de
manejo preestabelecidos.
Assoreamento. Deposição de sedimentos carregados pela água em cursos d' água,
lagos, açudes ou em planícies aluviais, geralmente resultante do carreamento de solo
erodido e da diminuição da velocidade do curso d' água.

B
Bacia hidrográfica. Unidade fundamental para a gestão ambiental. É definida corno
uma área fisiográfica naturalmente delimitada por uma linha imaginária denominada
de divisor de águas, drenada por um ou mais cursos de água, com um único tributário
na saída ou exutório. Os cursos de água podem ser de 111 ordem, que se constituem de
canais que não têm afluentes, o que significa que são ligados diretamente às nascentes; de
2,1 ordem, ou seja, originam-se a partir da união dos de 111 ordem, recebendo, pois, somente
afluentes de 1ª ordem; de 3ª ordem, que se originam da confluência de dois ou mais canais
de 2,1 ordem, podendo receber afluentes de 1ª e 2ª ordem, e assim sucessiva mente. A
bacia hidrográfica integra áreas da paisagem que apresentam diferentes fatores bió ticos,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--,

4 LUCIANO DA SILVA SOU ZA ET AL.

a bióticos e s ciais, podendo ser dividida em unidades menores ou ub-bacias, que ta mbém
podem ser denominadas de microbacias hidrográficas (Ver).
Biomassa residual. Material de origem vegetal ou animal que permanece no solo após
a colheita e retirada do principal produto da atividade agrícola. Quando de origem vegetal
é especificamente denominada de fitomassa residual (Ver).

e
Calagem. Prática conservacionista edáfica que consiste na aplicação de calcário para
corrigir a acidez, neutralizar a acidez h·ocável do solo e suprir esse com Ca e Mg, com o
objetivo de obter maior produção de parte aérea e de raízes das plantas cultivadas e, assim,
resultar em maior cobertura vegetal para proteger o solo contra a erosão.
Camada arável. Espessura de solo sujeita às alterações causadas por operações de
preparo primário e secundário do solo, com aproximadamente 20 cm de espessura.
Canal escoadouro. Canal raso e largo cultivado com grama, projetado para conduzir
a água do escoamento superficial encosta abaixo sem causar a erosão do solo.
Capacidade de uso do solo, sistema de. Classificação técnica que envolve o
grupamento qualitativo de áreas de solos de condições ligadas aos atributos das terras
sem priorizar localização e características econômicas. Agrupamento de terras em classes,
subclasses e unidades de uso, de acordo com a sua capacidade máxima de uso sem risco de
degradação do solo, especialmente quanto à erosão. Esse sistema técnico foi originalmente
elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). As classes de
capacidade de uso são em número de oito, representadas por algarismos romanos (I a
VIII) e são distinguidas de acordo com o risco inerente de degradação pela erosão e, ou,
dificuldades de manejo agrícola.
Cobertura morta (mulch). Prática conservacionista que utiliza materiais, como
restolhos, caules, folhas, serragem, filme plástico, pedras ou fragmentos de rocha e outros,
espalhados na superfície do solo para protegê-lo dos agentes erosivos, evitar as flutuações
de temperatura e conservar por mais tempo a umidade no solo.
Compactação. Processo em que partículas do solo são comprimidas e rearranjadas por
ações antrópicas, envolvendo atividades de manejo agrícola, principalmente a mecanização,
com O consequente aumento da densidade do solo e redução do espaço poroso, diferindo
de adensamento (Ver) que é processo natural.
Condutividade hidráulica do solo. Fator de proporcionalidade da equação de Darcy
aplicada ao fluxo de água no solo, que representa a habilidade dele em conduzir água,
e é equivalente ao fluxo de água por unidade de gradiente de potencial lúdráulico. É
considerada correspondente à permeabilidade do solo (Ver). Ver Equação de Darcy.
Conservação do solo. (i) Prevenção, mitigação ou controle da erosão e das outras
formas de degradação do solo, ou seja, da perda excessiva de fertilidade por causas
naturais ou antrópicas. (ii) Combinação das formas de uso da terra com os sistemas de
manejo do solo e com as práticas ~ons~rvaci~nistas, para salvaguardar o solo de depleção
ou degradação por fatores naturais ou mduz1dos pelo homem.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


l - TERMINOLOGIA BÁ S ICA UTILIZ ADA EM MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 5

Consorciação. Sistema ele culti vo que proporciona maior cobertura do olo p lo


cultivo simultâ neo de duas ou mais espécies vegetais na mesma á rea, por um período de
tempo significa ti vo, semeadas ou não rn1 mesma época e com as colheitas podendo ocorrer
em é pocas dis tintas. Exemplo: pl antio de mandioca e milho em fileiras paralelas.
Controle do fogo. Prática conservac ionista edáfica que consiste em reduzir ou eliminar
o uso do fogo na limpeza da área para pos terior plantio, evitando assim a eliminação da
cobertura protetora do solo, queima da matéria orgâ nica, perdas de N e de outros gases
por volatilização e redução e destruição da biota do solo.
Cordão de vegetação permanente. Prá tica conservacionísta vegetati va que utiliza
plantas perenes ou semi perenes e de crescimento denso cultivadas em fileiras estreita com
1,5 a 2,5 m de espaço, em contorno, espaçadas em distância de acordo com a declividade
da área, permitindo o cultivo nas faixas entre os cordões. É empregado como barreira para
reduzir a velocidade do escoamento superficial e reter sedimen tos.
Crosta. Camada transiente superficial do solo, resultante da deposição de material
argiloso, com espessura variando de poucos mm a poucos cm, mais de nsa ou mais
cimentada do que o material imediatamente abaixo, resultando em elevada resistência
superficial do solo quando seco e em redução da infiltração de água no solo.
Culturas em faixas. Prática conservacionista vegetativa onde as culturas são dispostas
em faixas de largura variável, seguindo as linhas de nível, alternando diferentes espécies ou
escalonando épocas de plantio de uma mesma espécie. Nesse caso, objetiva-se manter uma
parte da área coberta enquanto outra parte está sendo preparada ou tem baixa cobertura.
As faixas podem ser de cultivo contínuo, onde a mesma cultura permanece de um ano para
outro no mesmo local, ou faixas de rotação, onde a cultura de uma faixa é s ubstituída por
outra, promovendo-se a rotação.
Curva de nível. Também conhecida como linha em contorno, caracteriza-se como
wna linha que une pontos de igual altitude (cota) no terreno. É chamada de "curva", pois,
na grande maioria dos casos, a linha que une os pontos de igual cota é representada por
uma curva.

D
Declividade. Inclinação da superficie do terreno em relação a wn plano horizontal
imaginário, geralmente expressa em graus ou em porcentagem (cm m·1), neste caso
representando a razão entre a diferença de altitude e a distância horizontal entre dois
pontos.
Degradação do solo. Declínio da qualidade do solo, incluindo deterioração física,
quínúca e biológica, por interferências antrópicas, tomando o solo incapaz de su stentar
adequadamente sua função ecológica natural ou uma função econômica.
Desagregação. Separação de materiais transportáveis da massa do solo pela ação de
agentes erosivos, usualmente gota da chuva, enxurrada ou vento.
Descompactação. Diminuição da densidade do solo e aumento da porosidade em
razão da aplicação de forças mecânicas ao solo (subsolagem, escarificação e outras) por
meio do preparo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


6 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET A L .

Desertificação. Degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúm idas secas,
resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas.
Dispersão. Dissociação de agregados em co1nponentes e partículas individuais
específicas (areia, silte e argila).
Distribuição de poros por tamanho. Volume dos vários tamanhos de poros do
solo em relação ao volume total do solo (volume de partículas minerais e orgânicas mais
volume de poros). O Sistema Internacional de Unidades recomenda as seguintes unidades
de e :pressão para a distribuição de poros por tamanho: dm 3 dm·3 ou cm3 dm·3 • Ver
Macroporosidade, mesoporosidade e microporosidade.
Distribuição dos caminhos em contorno. Prática conservacionista mecânica que
consiste em planejar e situar os caminhos, as estradas e os carreadores em contorno, em
consonância com outras práticas como preparo do solo e plantio em contorno, cordões de
vegetação permanente, terraceamento etc., que, em conjunto, contribuem para reduzir as
perdas por erosão.

E
Encrostamento. Processo em que ocorre impermeabilização da superfície do solo, pela
formação de fina camada resultante da ação direta das gotas de chuva, causando dispersão
de partículas e, em seguida, orientação e empacotamento dessas, que reduz grandemente
a permeabilidade à água. Também denominado de selamento superficial ou compactação
superficial.
Enrocamento rochoso. Fragmentos grosseiros de rochas, pedras ou ma.tacões
colocados ao longo das margens de um curso d'água ou na encosta, em nível, para evitar
a erosão.
Enxurrada. Fluxo superficial de água que ocorre quando o solo está saturado em razão
do excesso de água de chuva ou irrigação.
Equação de Darcy. Descreve a taxa de fluxo de água através de meio poroso saturado.
Pode ser escrita como: Q/t = - K A (H/L), em que Q é o volume de água (m3) que passa pela
seção transversal A (m2) do meio poroso na unidade de tempo t (s); K, a condutividade
hidráulica (m s·1); e H, a diferença de carga hidráulica total (m) ao longo do comprimento
L (m) do meio poroso.
Equação de erosão eólica. Utilizada na predição da perda média anual de solo em uma
y,
área, expressa em t ha·1 ano·1, definida como: E= I K _e~ em qu_e I é o fator erodibilidade
do solo; K, 0 fator rugosidade do solo; C, o fator chrnahco relacionado com a velocidade
do vento e com a umidade do solo; L, fator comprimento da área no sentido da direção
prevalecente do vento; e V, o fator vegetativo relacionado com a cobertura vegetativa.
Equação Universal de Perda de Solo (USLE). Usada na predição da perda média
anual de solo em uma área, expressa em t ha·1 ano·1, definida como: A= R K L SCP, em que
Ré O fator erosividade da chuva e enxurrada associada; K, o fator erodibilidade do solo; L,
0 fator comprimento do declive; S, o fator grau do declive; C, o fator cobertura e manejo do
solo; e P, 0 fator práticas conservacionistas complementares.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


l - TERMINOLOGIA BÁSI C A UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 7

Erosão. Processo de desagregação, trans porte e deposição de material de ori gem


geológica ou so lo, ocasionado pela ação dos agentes erosivos chuva, escoamento s uperficial,
vento ou gelo, indu zid o pelas condições natu ra is ou pe la ação humana .
Erosão acelerada . Erosão em magnitud e s uperi or à das taxas naturais, us ualmente
por causa das atividades antrópicas.
Erosão em entressulcos. Remoção de ca mada de solo ligeiramente uniforme em á reas
relati vamente pequenas, ca usada principalmente pe lo des prendimento das partículas do
solo pelo impacto das gotas de chu va e fluxo laminar superficial.
Erosão em sulcos. Processo erosivo em á reas decli vosas onde são formados numerosos
e pequenos canais com até 30 cm de profundidade, aleatoriamente distribu ídos.
Erosão em voçorocas. Processo erosivo complexo onde a água se acumula
repetidamente em canais estreitos e, em curtos períodos de tempo, remove o solo formando
canais com profundidades variando de 0,5 m até 20 a 30 rn, portanto não recuperados por
equipamentos de preparo do solo comumente encontrados nas propriedades agrícolas.
Erosão geológica. Erosão normal ou natural causada pelo intemperismo natural ou
outros processos geológicos. Sinônimo de erosão natural (Ver), atuando em grandes á reas
e em escala de tempo geológico.
Erosão laminar. Remoção de fina e relativamente uniforme camada da superficie do
solo pelo impacto da gota da chuva e, ou, enxurrada, sem a formação de pequenos canais
ou sulcos; normalmente, é um processo pouco perceptível. O termo também pode ser
aplicado no caso de erosão eólica.
Erosão natural. Desgaste da superfície da Terra pela água, pelo vento e pelos outro
agentes naturais, sob condições ambientais naturais quanto ao clima, à vegetação e ao
relevo, sem influência antropogênica. Ver também erosão, erosão geológica.
Erosão por salpicarnento. Desprendimento e movimentação de pequenas partículas
de solo a curtas distâncias, causados pelo impacto direto das gotas de chuva em solo
descoberto.
Escarificação. Operação de preparo primário do solo realizada com escarificador,
dotado de hastes distanciadas de 30 a 35 cm uma das outras e que rompem e descompactam
o solo até a profundidade máxima de 30 cm, sem ocorrer inversão de camadas. A
escarificação é considerada leve quando atinge de 5 a 15 cm de profundidade, e pesada,
quando de 15 a 35 cm.
Escoamento. Porção da água da chuva ou da irrigação de urna área que não infiltra no
solo e escoa pela superfície do terreno. A fração perdida sem infiltrar no solo é o escoamento
superficial. A fração que infiltra no solo antes de atingir um canal de fluxo é o escoamento
subsuperficial ou fluxo de infiltração de lençol freático. Em ciência do solo o escoamento
usualmente refere-se à água que se perde por fluxo superficial, também conhecido corno
enxurrada (Ver) ou deflúvio.
Estrutura do solo. Arranjo das partículas do solo e do espaço poroso entre essas,
incluindo ainda o tamanho, a forma e o arranjo dos agregados formados quando partícu.las
primárias se agrupam em unidades separadas entre si por superfícies de fraqueza.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


8 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

F
Faixas de bordadura. Prática conservacionista vegetativa que consiste em faixas
estreitas, com largura de 3 a 5 m, compostas de plantas de baixo porte e crescimento
denso, estabelecida nas margens dos campos de cultivo, ao lado dos caminhos e canais
escoadouros. Tem como finalidade controlar a erosão nas bordas dos terrenos.
Fator C: Cobertura e manejo do solo. Relação das perdas de solo de uma dada área
sob um dado tipo de cobertura e 1T1anejo do solo com as perdas de solo da mesma área
mantida continuamente descoberta e preparada convencionalmente no sentido do declive.
Fator K: Erodibilidade do solo. Habilidade potencial do solo em resistir à erosão.
Fator P: Práticas conservacionistas complementares. Estabelece a relação entre
as perdas de solo de uma dada área sob dada prática conservacionista complementar
(corno cultivo em contorno, cultivo em faixas, com rotação de culturns e em contorno e
terraceamento) e as perdas de solo da mesma área sem nenhuma dessas práticas.
Fator R: Erosividade. Habilidade potencial da chuva, do vento, da gravidade ou de
outro agente erosivo em causar erosão.
Fatores L S: Comprimento e grau do declive. O comprimento (L) e o grau (S) do declive
são usualmente tratados juntos em estudos de erosão hídrica do solo, denominando-se
esses de fator topográfico L S.
Fitomassa residual. (i) Material vegetal depositado no solo por meio da queda
de caules, folhas, frutos, capinas de plantas infestantes etc. (ii) Material de vegetal que
permanece no solo após a colheita de determinada cultura.
Florestamento e reflorestamento. Prática conservacionista vegetativa que envolve a
implantação de espécies arbóreas florestais, com fins de conservação do solo e da água,
economicidade e proteção de áreas críticas quanto à erosão, em geral em relevo acidentado
ou próximo a cursos d' água.
Friabilidade. (i) Estado de consistência em que o solo, por apresentar baixa coesão, é
facilmente fragmentado quando submetido à leve pressão. Nesse estado, o solo apresenta
também reduzidas plasticidade e pegajosidade, decorrentes de baixa adesão. (ii) Estado
de consistência ideal para o preparo mecanizado do solo, em que são mínimos os riscos
de compactação, a aderência do solo aos implementes e os prejuízos na estrutura do solo,
enquanto é máximo o rendimento operacional.

G
Gradagem. Operação de preparo secundário do solo realizada após a aração ou
escarificação para desterroar e nivelar a superfície do solo, ou antes dessas operações, para
controlar plantas infestantes, atingindo profundidade de aproximadamente de 12 a 15 cm.
Gabião. Recipiente de arame preenchido com pedras e fechado para formar estruturas
monolíticas a fim de reter materiais terrosos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1- TERM INOLO G I A BÁS I CA U TILIZADA EM MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO .. . 9

H
Humificação. Processo relacionado à decomposição da matéria orgânica, levando à
formação de húmus.
Húmus. Fração da matéria orgânica dos solos, remanescente das biomassas vegetal e
animal decompostas, encontrada em estado de avançada decomposição e apresentando-se
estável e recaJcitrante.

I
Índice de erosividade da chuva. Medida do potencial erosivo de uma chuva especifica,
sendo definido pelo produto de duas características da chuva: energia cinética total da
chuva e sua intensidade máxima em 30 min. Do ponto de vista de aplicação prática, o
conhecimento da distribuição acumulada do índice de erosividade da chu va ao longo do
ano permite identificar qual(is) o(s) período(s) com maior risco ou potencial de erosão
hídrica e, assim, planejar as medidas de controle.
Infiltração. Entrada de água através da superfície do solo, de cima para baixo. Ver
Infiltração acumulada e Velocidade de infiltração.
Infiltração acumulada. Volume total de água infiltrada na superfície do solo durante
um tempo especificado. Ver Infiltração e Velocidade de infiltração.
Interceptação da precipitação. Processo hidrológico em que gotas de chuva são
interceptadas e parcialmente armazenadas pelo dossel das plantas e pela fitomassa
residual depositada na superfície antes de chegarem ao solo, de modo que a energia das
gotas é dissipada.
Interfluxo. Água infiltrada que se move horizontalmente sob a superfície do solo,
podendo seguir caminhos preferenciais e emergir em cotas mais baixas do relevo, na forma
de vertentes ou nascentes. Ver Escoamento.

M
Macroporosidade. Volume ocupado pelos poros do solo com diâmetro maior que
75 µme que se apresentam vazios após o solo ser saturado e submetido à tensão de 60 cm
de coluna de água (0,06 atm ou 6 kPa) . Ver Distribuição de poros por tamanho.
Manejo de fitomassa residual. Forma de utilização da fitomassa residual, mantendo-a,
de preferência, na superfície, semi-incorporando ou incorporando ao solo.
Manejo do solo. Representa a combinação de todas as operações de preparo do solo,
práticas culturais, calagem, adubação e outros tratamentos conduzidos ou aplicados ao
solo, visando à produção das culturas.
Matéria orgânica. Fração orgânica do solo exclusivamente originada de biomassas
vegetal e animal residuais em vários estádios de decomposição. Ver Húmus.
Matéria orgânica do solo, fração leve livre (FLL). Matéria orgànica do solo menos
decomposta, depositada na superfície dos agregados, denominada de fração interagregados.
Ver Matéria orgânica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


10 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Matéria orgânica do solo, fração leve oclusa (FLO). Fração intra-agregados, localizada
no interior dos agregados. Ver Matéria orgânica.
Matéria orgânica do solo, fração leve. Parte da matéria orgânica do solo não
decomposta e fortemente associada a frações minerais do solo com maior densidade,
permanecendo no interior dos agregados (FLO) ou livre entre os agregados (FLL).
Matéria orgânica do solo, fração particulada. Fração grosseira ou carbono orgânico
particulado, recuperada na fração mineral do tamanho de areia (> 53 µm), constituída
principalmente por biomassa residual em estádios iniciais de decomposição. Ver Matéria
orgânica.
Matéria orgânica do solo, fração pesada (FP). Constituída basicamente por materiais
orgânicos em avançado estádio de decomposição, não identificáveis visualmente,
fortemente ligados à fração mineral, constituindo os compostos orgânicos de elevada
recalcitrância. Ver Matéria orgânica.
Mesoporosidade. Volume ocupado pelos poros do solo com diâmetro intermediário
entre macro e microporos, variando de 50 a 75 µm. Ver Distribuição de poros por tamanho.
Microbacia hidrográfica. Área inferior a 25 km2, idealmente, onde o levantamento de
informações permite a predição dos principais processos hidrológicos, sendo, portanto,
considerada unidade ideal de planejamento agrícola e ambiental. Ver Bacia hidrográfica.
Microporosidade. Volume ocupado pelos poros do solo com diâmetro menor que
50 µm. Ver Dishibuição de poros por tamanho.
Mulch. (i) Materiais como restolhos, caules, folhas, serragem, filme plástico, pedras
ou fragmentos de rocha e outros alocados na superfície do solo a fim de protegê-lo dos
agentes erosivos e das flutuações de temperatura e para conservar a umidade no solo. (ii)
Aplicação de mulch na superfície do solo.
Mulching vertical. Operação de subsolagem para abrir valas transversais ao declive
do terreno, com 7,5 cm de largura e 40 cm de profundidade, espaçadas 10 m uma das
outras que, preenchidas com palha, aumentam a infiltração de água no solo; porém, não
substituem os terraços, pois não diminuem o comprimento do declive.

p
Parcela-padrão. Parcela de campo utilizada para determinar o valor quantitativo do
fator erodibilidade do solo (K) em estudos de perdas de solo por erosão, com as seguintes
dimensões: 22,1 m de comprimento, declividade de 9 %, arada e gradeada no sentido do
declive (morro abaixo) e mantida em alqueive (Ver).
"Pé-de-arado". Camada compactada de solo localizada abaixo da camada que é arada
com frequência, resultante da pressão do disco do arado e do pneu do trator no limite
inferior da camada, bem como da acumulação de partículas de solo mais finas remobilizadas
da camada superior, as quais sofrem melhor orientação e empacotamento em razão dos
subsequentes ciclos de umedeci~ento e sec~gem. Quan~o resultante da pr~ssão ~~ercida
pelo disco da grade, e das demais causas citadas anteriormente, é denominada Pé-de-
grade".

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


I - TERMINOLO G IA BÁ S I C A UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 11

Percolação. Movimento descend ente da água através do solo, sobretudo o fluxo


descendente em solos saturados ou quase saturados em gradientes hidrá ulicos da o rdem
de 1 ou me nores.
Perda de solo. Solo removido de determinada área por causa de um evento erosivo,
incluindo sed imentos minerais e orgânicos, bem como nutrientes.
Permeabilidade do solo. Facilidade com q ue gases e líquidos ou raízes de planta
penetram ou passam por horizonte ou camada do solo. Ver Condutividade hidráulica do
solo e Equação de Darcy.
Planejamento de uso de terras. Procedimento usado para se identificar e indicar
diferentes formas adequadas de uso dos diversos tipos de terra, baseando-se em resultados
da avaliação de sua aptidão e em zoneamentos agroecológicos.
Plantas de cobertura do solo. Prática conservacionista vegetativa que envolve o
cultivo de plantas, ou a manutenção da vegetação espontânea, para proteger e melhorar o
solo entre um e outro período de cultivo normal da área.
Plantio direto. Ver Semeadura direta.
Porosidade. Volume de poros de uma amostra em relação ao vol ume total do solo,
ou seja, fração do volume total do solo que não está ocupada por partículas sólidas,
totalizando macroporos, mesoporos e microporos (Ver). O Sistema lnternacional de
Unidades recomenda as seguintes unidades de expressão para os dados de porosidade:
dm3 clm·3 ou cm3 dm·3 .
Porosidade de aeração. Fração do volume do solo preenchida com ar em dado
momento ou condiçào, como uma especificada umidade ou potencial mátrico do solo.
Pousio. Prática de não cultivar a terra, deixando-a livre de plantas infestantes, mas
com vegetação espontânea, durante um período de, no mínimo, um ciclo entre um cultivo
e outro.
Práticas conservacionistas do solo. Práticas utilizadas para aumentar a resistência do
solo à erosão e, ou, dissipar a energia dos agentes erosivos, podendo ser de caratér edáfico,
mecânico e vegetativo.
Práticas conservacionistas edáficas. Representam modificações no sistema de cultivo,
que, além de contribuir para o controle de erosão, mantêm ou melhoram a fertilidade do
solo.
Práticas conservacionistas mecânicas. Utilizam estruturas mecânicas para manejar o
escoamento superficial, podendo reduzir ou eliminar a velocidade da enxurrada, aumentar
a infiltração de água no solo e reduzir a erosão.
Práticas conservacionistas vegetativas. Usam a vegetação como fator para evitar ou
minimizar a erosão e a degradação do solo pelo cultivo.
Preparo conservacionista do solo. Tipo de preparo do solo que e.ria um ambiente
adequado para um cultivo, conservando o solo e a água e economizando energia.
Preparo convencional. Denominação comumente dada ao conjunto de operações de
preparo primário e secundário realizado no solo para viabilizar a semeadura e controlar
plantas infestantes, visando à implantação de determinado cultivo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


12 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

Preparo e cultivo do solo em contorno. Prática conservacionista mecam ca q u e


consiste em preparar o solo e realizar as operações de cultivo, inclusive a semeadura, em
contorno, de modo que os sulcos, os camalhões e as plantas se consti tuam em obstáculos
transversais à enxw-rada.
Preparo do solo em camalhão. Operação onde é construído o camalhão ou porção
elevada de terra para semeadura ou plantio, disposto entre dois sulcos.
Preparo do solo em contorno. Preparo realizado em contorno em relação ao declive,
podendo ser em nível ou em gradiente, de acordo com o gradiente dos terraços.
Preparo do solo em faixas. Preparo feito em faixas, separadas por faixas de terreno
não preparado.
Preparo do solo. Movimentação do solo utilizando força manual, tração animal ou
tração mecânica para atender a algum objetivo. Em agricultw-a, o preparo destina-se a
modificar condições do solo visando à semeadura ou ao plantio, manejar a fitomassa cu! tural
residual, controlar plantas infestantes e incorporar calcário ou fertilizante ao solo. Tem
grande influência na estrutura do solo e na magnitude da erosão, englobando diferentes
tipos e operações. Ver Aração; Camada arável; Descompactação; Escarificação; Gradagem;
Manejo de fitomassa residual; Manejo do solo; Muldt; Mulcliiug vertical; "Pé-de-arado";
Plantio direto; Pousio; Preparo convencional; Preparo do solo em camalhão; Preparo do
solo em contorno; Preparo do solo em faixas; Preparo mínimo; Preparo primário; Preparo
secundário; Semeadura direta; Subsolagem; Sukamento.
Preparo mínimo. Mínimo preparo do solo, combinando operação de preparas primário
e secundário, em que o número de operações é reduzido em relação ao normalmente usado,
necessário para atender requisitos das culturas sob condição de clima e solo existentes.
Também denominado de preparo reduzido.
Preparo primário. Operação inicial de preparo do solo, geralmente utilizando arado,
grade aradora ou escarificador.
Preparo secundário. Operação realizada seguindo o preparo primário, efetuado para
prover o acabamento do preparo primário e criar condições adequadas para a semeadura.
Princípios básicos em manejo e em conservação do solo. Normas gerais indispensáveis
para o manejo e a conservação do solo e da água: (1) Redução da mobilização mecânica
do solo - é fundamental, por proporcionar os seguintes benefícios: a) retardamento de
degradação da estrutura do solo; b) retardamento de compactação do solo; c) aumento de
armazenagem e irúiltração de água no solo; d) diminuição de perdas de solo e água por
erosão; e) elevação de disponibilidade de água no solo para as plantas; e f) redução de custos
de produção. (2) Cobertura do solo (viva ou morta) - por si só, é a prática conservacionista
básica que proporciona maior efeito no controle da erosão do solo, em razão dos seguintes
benefícios: a) dissipação da energia de impacto das gotas de chuva no solo; b) separação
da energia de escoamento da água na superfície do s_o~o, no caso da cobertura morta; e)
d ispersão das águas pluviais, interceptando-as e prop1c1ando a evaporação de parte delas
antes que atinja o solo, no caso da cobertura por plantas; d) diminuição da velocidade de
escoamento e aumento da armazenagem superficial da água de enxurrada, pela elevação
do atrito de superfície, no caso da cobertura morta; e) adição de matéria orgânica ao solo; f)
aumento na infiltração de água no solo; g) redução da temperatura do solo; h) redução da
evaporação da água do solo; e i) aumento da armazenagem e da disponibilidade de água
no solo.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
l - TERMINOLOGIA B ÁS ICA UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 13

Q
Quebra-vento. Prática conservacionista vegetativa utilizand o arbus tos ou árvores e m
espaçamento denso para reduzir a velocidade do vento e o risco de erosão eólica.

R
Relevo. (i) Diferença relativa em elevação entre a parte alta e a parte baixa da
paisagem. (ii) Forma do terreno que compõe uma paisagem, podendo ser composta por
segmentos como topo ou interflúvio, ombro ou escarpa, encosta, pedi mento ou terraço
coluvial e planície aluvial.
Resíduo vegetal. Ver Biomassa residual e Fitomassa residual.
Resiliência. Capacidade de um solo retornar ao estado original, após uma perturbação.
Rotação de culturas. Prá tica conservacionista vegetativa que envolve a sequência de
culturas solteiras, previamente planejada, composta de diferentes espécies de plantas na
mesma área, em alternância regular no tempo e espaço.
Rugosidade superficial. Refere-se ao microrrelevo existente na superfície do solo,
representado pelo conjunto de microelevações e microdepressões distribuído espacialmente
ao acaso ou de maneira orientada.

s
Sedimento. Partícula, ou agregado mineral ou orgânico, sujeita ao transporte de um
local e depositado em outro, pelo efeito de agentes erosivos.
Sedimentos, produção. Quantidade total de sedimentos produzidos em uma á rea e
transportados pela água ou vento para outro local, podendo ser dentro da própria área de
origem ou fora dela.
Selamento superficial. Ver Encrostamento.
Semeadura direta. Semeadura realizada sem qualquer preparo primário ou secundário
prévio do solo, utilizando apenas a máquina semeadora, que abre um sulco mínimo na
linha de semeadura e, ao mesmo tempo, nele incorpora o adubo e coloca a semente. A
ausência de preparo primário ou secundário resulta na manutenção da fitomassa residual
na superfície do solo, minimizando assim a principal causa da erosão hídrica, que é o
impacto das gotas de chuva diretamente na superfície do solo. No entanto, é importante
considerar que essa técnica entra na Equação Universal de Perda de Solo A= R K L S C p
(Ver) apenas como um subfator do fator C - Cobertura e manejo do solo (Ver). Assim,
mesmo que o fator C tenha um valor baixo quando se usa a semeadura direta (C médio
na faixa de 0,02 a 0,05, para lavouras de culturais anuais em fileira), pode resul tar ele ado
valor para a perda de solo por erosão A, em razão de elevados valores dos fatores R, K,
L, Se P. Com isso, fica claro que essa técnica não é milagrosa e o seu uso, por si só, não
garante que não vai mais ocorrer erosão nas lavouras. Fica claro também que ela de e ser
utilizada sempre em associação com outras práticas relativas aos fatores C e P - Práticas
conservacionistas complementares (Ver). Isso foi claramente demonstrado no sul do
Brasil com o retorno da erosão em alto grau em áreas submetidas à semeadura direta, onde

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-,

14 LUCIANO DA SI LVA SOUZA ET AL.

houve a retirada de terraços. Quando envolve o plantio de mudas, em vez de sem entes,
a técnica denomina-se plantio direto; neste caso, a abertura de covas ou de sulcos para o
plantio poderá ser por meio mecânico ou manual. A rigor, ambas as técnicas são formas
de se colo ar uma semente, muda ou parte vegetativa de uma planta no solo, não sendo
formas de preparo do solo, como o é a técnica original que lhes deu origem (no-till ou sem
preparo). Isso demonstra a impropriedade da denom.inação da técnica ori ginal no Brasil
e pior ainda quando se usa SPD, "sistema" SPD, plantio direto na palha e possivelmente
outras mais, considerando-se ainda que nem sempre elas são aplicadas na sua plenitude
em todo o Brasil.
Semeadura ou plantio em camalhão e em contorno. Prática conservacionis ta
mecànica semelhante ao cultivo em contorno, porém com o uso d e camalhões, que são
porções elevadas de terra para semeadura ou plantio, formando barreiras mais eficientes
no controle da erosão do que o cultivo em contorno por si só. Ver Preparo do solo e plantio
em contorno.
Serrapilheira. Camada superficial, no interior de uma floresta, constituída por folhas,
ramos, caules, cascas e frutos caídos das árvores e semimisturados ao solo, em vários
estádios de decomposição. Corresponde ao horizonte O de solos minerais. Também
denominada de liteira e serapilheira.
Sistema integrado de produção (SIP). Conjunto de características agroambienta.is e
de operações técnicas que se interagem no âmbito do imóvel agrícola, sob a adoção de
diferentes níveis tecnológicos, sociais, econômicos e culturais. Nesse contexto, compõe-se
de atributos-chave que se agrupam dentro de um mesmo imóvel ou de um conjunto de
imóveis.
Solo. Coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas,
tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos, que ocupa a
maior parte do manto superficial das extensões continentais do planeta; contém matéria
viva e pode ser vegetado na natureza onde ocorre e, eventualmente, ter sido modificado
por interferência antrópica.
Solo superficial. Camada superior do solo normalmente movimentada pelo preparo
mecânico ou equ.ivalente a ela em solos não cultivados. Frequentemente denominada como
camada arável ou horizonte Ap.
Subsolagem. Operação de preparo primário do solo utilizando subsolador que
contém hastes estreitas e reforçadas espaçadas em torno de 50 cm, realizada à profundidade
geralmente maior do que 30 cm, para romper camadas adensadas ou compactadas, sem
ocorrer inversão do solo e com o mínimo de mistura.
Sulcamento. Operação feita após a aração e gradagem para abrir pequenos e rasos
canais na superfície do solo, geralmente entr~ l~a~ de ?Jantas ~u~tiva~as, para controlar
a água superficial e a perda de solo ou para d1str1bU1T a agua de ungaçao.

T
Taxa de infiltração. Ver Velocidade de infiltração.
Terra. (i) Segmento da superfície do globo terrestre _definido no espaço, reconhecido
por características e propriedades representadas por atnbutos do solo (Pedosfera) e dos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1 - TERMINOLOGIA BÁSICA UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 15

seres vivos (Biosfe ra) dinamicamente está v is e ciclicamente p revisíveis, por a tributos da
a tmosfera, do substrato geo lógico (Litosfera) e da hi drologia (Hid rosfera) e pelos efeitos
das atividades do ho mem (Noosfera) . (i i) Alé m do solo, compreende outros elementos do
ambiente físico como os s ubstratos rochosos (Geologia), relevo, clima, recursos hídrico ,
flora, fauna - na medida e m que influenc ia m o potencial de uso da terra - e os resultados d a
ação antrópica, em tal di mensão que todos esses atributos exercem significa tiva influência
nos usos presentes e futuros da terra pelo homem. A tena é, portanto, um conceito mais
a mplo do que o solo ou terreno; por isso, a aptidão das terras não pode ser avaliada
isoladamente d e outros aspectos do ambiente.
Terraceamento. Ato de terracear, ou seja, de demarcar e de construir terraços agrícolas,
constituindo-se em prática conservacionista mecânica. Ver Terraço.
Terraço. Estrutura hidráulica cons truída por meio de movimentação de terra, de
modo a resultar no conjunto de um canal a montante e um dique a jusante no terreno,
des tinada a armazenar ou a drenar o excesso de água da chu va. Ver Terraceamento.
Terraço de base estreita. Terraço onde a largura de movimento de terra para s ua
construção é de 2 a 3 m, recomendado para terrenos com declividade entre 10 e 30 %.
Terraço de base larga. Terraço onde a la rgura de movimento de terra para s ua
construção é de 8 a 12 m, recomendado para terrenos com declividades menores do que
15 %.
Terraço em patamar. Terraço recomendado para declividades acima de 20 %, em áreas
com exploração de culturas perenes (pomares, café e outras), construido mecanicamente
com sequência de cortes e aterros no terreno. Um exemplo clássico do uso de terraços em
patamar ocorreu na comunidade inca, na Cordilheira dos Andes.
Terraço individual. Também conhecido como banqueta individual, representa
modificação do terraço em patamar, construido individualmente para cada planta, por
corte e aterro, em terrenos com declividades entre 20 e 60 %. Ver Terraço em patamar.
Terraço tipo Mangum. Denominação dada ao terraço de base larga clássico, onde,
na sua construção, o solo é jogado para cima e para baixo, sequencialmente e, por isso,
recomendado em declividade inferior a 15 %.
Terraço tipo Nichols. Denominação dada aos terraços de base estreita ou média
clássicos, onde, na sua construção, o solo é jogado a penas para baixo e, por isso,
recomendado em declividade inferior a 20 %.
Tolerância de perda de solo. Máxima perda de solo média anual admissí el em áreas
cultivadas, sem prejudicar a capacidade produtiva do solo.

u
Umidade antecedente. Teor de água no solo antecedente à ocorrência de um evento
de precipitação pluvial, com marcante influência sobre a infiltração de água no solo e
escoamento superficial.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


16 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

V
Velocidade de infiltração. Volwue de água infilh·ada na superfície do solo por w1jdade
de tempo. Também denominada de taxa de infiltração ou capacidade de infiltração.
Velocidade de infiltração básica. Taxa máxima de infiltração da água no solo sob
condições de saturação.

z
Zoneamento. Ferramenta fundamental para a criação de mecaiusmos de decisão e
orientação ao planejamento do desenvolvimento regional e à implementação da cadeia de
produção da atividade agrícola. Consiste na identificação, caracterização e delineamento
cartográfico de unidades ambientrus reconhecíveis na paisagem natural, classificadas em
razão de seu potencial para o cultivo sustentável.Na sua elaboração, é essencial a participação
de diversas áreas de conhecimento, com o apoio de técnicas de geoprocessarnento, por
meio da utilização de sistemas de informação geográfica e de sensoriamento remoto. O
zoneamento agroecológico é o que mais atende a projetos de desenvolvimento agrícola.

LITERATURA CITADA
Almeida J. Fatores de formação do solo. Lages: Udesc-Cav; s.d. (Notas de aula da disciplina de
GMCS).
Beek KJ. Land evaluationfor agricultura! development. Wageningen: Intemational Institute for Land
Redamation and lmprovement; 1978. (Publication, 23).
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. ~ ed. São Paulo: Ícone; 2014.
Brady NC, Weil RR. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3ª.ed. Porto Alegre: Bookman;
2013.
Choud.hury K, Jansen LJM, editors. Te~ol?gy for integr_ated res~urces planning and rnanagement.
Rome: Food and Agriculture Orgaruzahon of the Uruted Nations; 1998.
Cago NP. Conceitos e princípios científic~s envol~idos no manejo de ~~los para~ de ~~os~o hídrica.
ln: Moniz AC, Furlani AMC, Furlaru PR, Freitas SS. A responsabilidade social da c1encia do solo.
Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1988. p.251-62.
Cu.ri , Larach JOI, Kampf N, Moniz AC, Fontes LEF. Vocabulário de ciência do solo. Campinas:
SBCS; 1993.
FAO. A framework for land evaluation. Rome; 1976. (Soil Bulletin, 32).
Houghton FD, Charm3:1 PEV. Glossary of terms used in soil conservation. New South Wales: Soil
Conservation Service; 1986.
Le sch IF, Espindola CR, Vischi Filho OJ, ~ernani LC, Siq_u eira OS. Manual para levantamento
p utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2015.
Ramalho Filho A, Beek KJ. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3"1.ed. Rio de Janeiro:
Embrapa-CNPS; 1995.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


l - TERMINOLOGIA BÁSICA UTILIZADA EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO . . . 17

Rama lho Filho A. Eva lu ating land fo r improvecl sys tcms of farming wilh s p cial reference to
Northeas t Brazíl [thesis]. Norwich: Univcrsíly of East Anglia-School of Development tudies;
1992.
Ruthenberg H, Macarthur JD, Zandstra HD, Collinson MP. Farming systems in the tropic . . rd.ed.
Oxford: Clarendon Press; 1980.
Santos HG, Jacornine PKT, Anjos LHC, Oliveira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida JA, Cunha
TJF, Oliveira JB, editores. Sistema brasilei_ro de classificação de so los. 3ª.ed. Brasília, DF:
Embrapa; 2013.
Santos RD, Santos HG, Ker JC, Anjos LHC, Shimizu SH. Manual de descrição e coleta de solo no
campo. 7ª.ed. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2015.
Soil Science Society of America - SSSA. Glossary of soil science terms. Madison: 2008.
USDA. Natural Resources Conservation Service. National Soil Survey Ha.ndbook; Glossary of
landform and geologic terms. Part 629. Lincoln. [acessado em: 25 ago 2016]. Disponível em:
http://www.nrcs. usda.gov/wps/ portal/ nrcs/ detail/ soils/ ref/?cid=nrcs142p2_054242.
Wischmeier WH, Smith DO. Predicti.ng rainfall erosion lasses: a guide to conservation planru.n
Washington: USDA; 1978. (Agriculture handbook, 537).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DESERTIFICAÇÃO O
SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Iêdo Bezerra Sá1/ & Arlicélio de Queiroz Paiva 11

11 Embrapa Semiárido. Petrolina, PE. E-mail: iedo.sa@embrapa.br


21 Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade EsLldual d e San ta Cruz. ílhéus, BA.
E-mail: arli@uesc.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO········································································································································- ·····- - ·---······ 20


O CONCEITO DE DESERTIFICAÇÃO ................,........................................................................ ·-·----····-······· 24
CAUSAS DA DESERTIFICAÇÃO ..........................................................................·-·············- ···········-·---·------ 26
DESERTIFICAÇÃO NO MUNDO ··············································································- ········- ···-···-···················--··· T7
DESERTIFICAÇÃO NO BRASfL ....................................................................................................... - ·-··-·- ············· 28
Consequências da desertificação ······································································································ -···-····-··-··· 31
Metodologias de pesquisa em desertificação ...... ..............................................................·- ····-·- ····--······-······ 32
Qualificação da degradação ambiental no Nordes te do Brasil, segundo classes de solos ......... - ··--·- ···-· · -lO
Áreas de Luvissolos ....................................................................................................... .................................. -t0
Áreas de Argissolos eutróficos ····························································································- ···········...... -....... -t0
Áreas de Planossolos ..................................................................................................- ·- ······ .. ··- ···············- ···· 41
Áreas de Latossolos ................................................................................................ ................·----- ····.. ············· -11
Área de Neossolos Flúvicos ..........................................................................................................·---~--····· -11
Área de Neossolos Litólicos ···························································· .. ···········-·····················- ···············~·····-······ -11
Área de Neossolos Quartzarênicos ......................········ ..······························.. ··························.......-._. ....... _.._..... 42
Área de Neossolos Regoliticos ...................................................................................................................._ . -12
Área de Cambissolos ································ .. ·······.. ·········································································-···-········-···· .42
Distribuição das áreas susceptíveis à desertificação no semiárido brasileiro .......................................·-···-··· -12
DESAFIOS PARA A PESQUISA FRENTE À DESERTfFICAÇÃO ···································-···········-·························· 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ -....................-.................................. ..·········- -···
~ -17
LITERATURA CITADA ...................................................................·······································- ··--·····-·•···--···--················· -l8

Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação cio solo e da água. içosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
20 IÊDO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

INTRODUÇÃO

O primeiro registTo de um fenômeno que contribuiu para o surgimento do termo


des.ertificação foi conhecido como Dust Bowl, o que ocorreu no meio-oeste americano na
década de 1930 (Figura 1). Esse fenômeno durou aproximadamente 10 anos, e a área
atingida ficou conhecida como a grande Bacia do Pó.
Essa área era caracterizada por solos de pouca profundidade, pequena precipitação anual,
em torno de 380 nun, e ventos fortes. Os desmatamentos e a intensificação da exploração dos
solos por meio da agricultura e pecuária, agravados por forte seca entre os anos de 1929 e 1932,
foram as causas principais do Dust Bowl. Dezenas de milhares de agricultores nos Estados
de Oklahoma, Texas, Kansas, Novo México e Colorado foram arruinados. Uma superfície
de 388 500 knl de solo seco foi arrastada pelo vento em enormes tempestades de pó. O sol
ficou totalmente encoberto, e as cidades como Washington e Nova Iorque mergulharam na
escuridão. Milhares de pessoas morreram de fome ou de doenças pulmonares. A seca obrigou
igualmente mais de 350 000 pessoas a abandonar a região e a mudar-se para outras zonas dos
Estados Unidos (Mcleish, 1997; Schenkel e Matallo Júnior, 2003).

CANADA

figura L Ocorrência do Dust Bowl ~o meio-oeste americano na década de 1930.


m a partir de imagens da internet.
Fonle: {otomon tage

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A ÜESE RTIF TCAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRASILEIRO 21

Outro fe nômeno importante ocorr u nos anos 1970 na r gião subsaaria~a-do ahel,
q ue liga o Ocea no Atlântico ao Ma r Vermelho por m iode um corredor quase ininterrupto
com largura q ue va ria de 500 a 700 km (Figura 2).

Figura 2. Localização da região do Sahel, no continente Africano.


Fonte: <http:/ / pt.wikipedia.org/ wiki/ Ficheiro:Ma p_sahe l.jpg>.

Nessa região, cerca de 250 000 a 500 000 pessoas morreram de fome em razão de um
período intenso de seca, que durou mais de uma década e comprometeu seriamen te a base
agrícola de Níger, Mali, Burkina Faso, Senegal e Mauritânia (Hare et al., 1992; Brasil, 19 3;
Rodrigues, 2000; Saadi, 2000).
Depois da ocorrência desses dois fenômenos, a comunidade internacional começou
a discutir sobre o assunto e mencionou tal processo como sendo de ertificação, isto é, a
formação de condições de tipo desértico em áreas de clima semiárido. Esse fe nômeno serviu
de estímulo para convocar a Assembleia das Nações Unidas, em 197-1, onde se di cutiu
pela primeira vez sobre a desertificação (Hare et al., 1992), e decidiu-se pela realização de
uma Conferência Mundial sobre Desertificação, em Nairobi, Quênia, em ago to/ etembro
de 1977 (Conti, 2008).
A Região Nordeste do Brasil, com 1 560 000 de km2 (1 8,2 % do território nacional),
comporta a maior parte do Semiárido Brasileiro (SB), 982 563,3 km1, q ue e localiza na
porção central dessa região, abrangendo os Estados do Piauí, do Ceará, d Rio Grande do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


22 lÊOO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

Norte, da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe, da Bahia e da parte do norte


do Estado de Minas Gerais (Região Sudeste) (Figura 3). Com precipitação anual máxima
de 800 mm, insolação média de 2 800 h ano·1, temperaturas médias anuais de 23 ºC a 27 ºC,
evaporação média de 2 000 mm ano·1 e unúdade relativa do ar média em torno de 50 %,
o SB, caracteristicamente, apresenta forte insolação, temperaturas relativamente altas e
regime de chuvas marcado pela escassez, irregularidade e concentração das precipitações
em curto período, em média, de três a quatro meses, apresentando volumes de água
insuficientes em seus mananciais para atendimento das necessidades da população (Silva
et al., 2010).

~
_____
,..
MW.tj,lo,loAplc-a.

DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO

\ CEMA

PIAUI

a,, ............

MINAS GERAIS

··- - -
figura 3. Mapa da delimitação do Semiárido Brasileiro.
Fonte: Brasil (2005). Elaborado pela Embrapa Semiárido.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 23

A degradação ambiental decorrente do processo de o upação das populações ao


longo do tempo vem se agrava ndo progressivamente e produzindo não só a redução e
perda dos recursos, com a transformação e s upressão dos ecossis temas na turais, como
também desestruturando bases produti vas locais e regionais. Os reflexos sociais são muito
negativos, sobretudo pobreza, analfabetismo, desagregação das famílias, violência e êxodo.
O estresse ambiental decorrente é potencializado, res ultand o em perd a ecológica, falência
das estruturas e organizações sociais e migração.
Identificar e compreender esses processos, intrinsecamente associados à desertificação,
bem como o aprimoramento do planejamento socioeconómico-a mbien tal, é vital para a
reversão de situações-limite, principalmente onde a desertificação está em ple no proces o
de expansão.
A Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UN CCD)
atribui a origem da desertificação às interações complexas entre fato res físicos, biológicos,
políticos, sociais, culturais e econômicos. Com relação às variações climáticas, quando
a temperatura aumenta e permanece alta durante vários meses, e as chuvas são raras e
irregulares, a vegetação cresce com di.ficuldade. Trata-se do fenômeno chamado seca, termo
que designa uma condição natural de algumas regiões, que se produz quando as chuvas são
significativamente menores que as quantidades normais registradas, e que acarretam graves
desequilfbrios hidrológicos que prejudicam os sistemas de produção agrícola (Brasil, 2005).
Quanto às atividades humanas nas regiões onde a maior parte dos recursos
econômicos depende da exploração agrícola, existe pouca ou nenhuma fonte alternativa de
ingressos. Os solos se empobrecem por causa da sua utilização excessiva e do abandono ou
da diminuição do período de pousio ou descanso, necessário para manter a produtividade
da terra. Isso leva à perda de fertilidade que, por sua vez, limita o crescimento das plantas.
Tudo isso ocasiona a redução da cobertura vegetal, deixando os solos expostos e mais
vulneráveis aos processos erosivos (Sá et al., 1994).
Pode-se então verificar que a desertificação é o resultado acumulado de um contexto
climático severo e da utilização inapropriada das terras. Podem-se destacar quatro
atividades humanas que constituem as suas causas mais diretas: o cultivo excessivo, q ue
desgasta os solos; o sobrepastejo e o desmatamento, que destroem a cobertura vegetal que
protege o solo da erosão; e a prática da irrigação em terras inapropriadas, provocando,
entre outros problemas, a salinização dos solos (Riché et al., 1994).
Os processos de desertificação no Serniárido Brasileiro não só se manifes tam pela
sensibilidade natural do ambiente, mas, sobretudo, pelo uso a ele imposto.
A cobertura vegetal é, talvez, o mais importante dos fatores de controle do fenômeno da
desertificação no espaço serniárido. Mesmo decídua, a caatinga não deixa de desempenhar
o papel de protetor do solo contra as intempéries, diminuindo a sua degradação. Esta
constatação afirma, categoricamente, que a principal causa da degradação do solo nessa
região, seja por erosão, redução da matéria orgânica, desagregação, compactação etc., é,
sem dúvida, a devastação desenfreada da vegetação com o objetivo do atendimento de
necessidades mais diversas.
No Platô de Irecê, BA, Paiva et al. (2015) identificaram grande substituição da caatinga
por áreas agrícolas. No Município de Lapão, entre os anos de 1980 e 2007, ocorreu redução
de 61,42 % da área de caatinga nativa. Os autores acreditaram que esse fa to pode estar
contribuindo para a degradação ambiental na região, pois, atualmente, restam apenas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


24 lÊDO BE ZERRA SÁ & ARLI CÉLIO DE QU EIROZ PAIVA

L,c3 ºe, da caatinga original. A perda tot,11 de C do solo na profundidade O a 60 cm no


período considerado foi de 245 kt para as é\reas de caatinga + agricultura de sequ eiro e de
214 kt para as áreas d e caatinga+ agricultura irrigada.
Por conta disso, a substituição de áreas de caatinga por agriculturas d e sequeiro e
irrigada no Platô de Irecê, BA, resultou e m grande impacto na qualidade do solo. Souza et
ai. (2011) enconlTaram índice de qualidade do solo mais elevado para a área sob vegetação
de caa tinga, Yariando de 0,877 a 0,520 nas quatro profundidades avaliadas (0-10; 10-20;
20-40; e 40-60 cm), em comparação com as áreas de agricultura de sequeiro (0,703 a 0,477)
e irrigada (0,647 a 0,522).

O CONCEITO DE DESERTIFICAÇÃO

O termo desertificação é, usualmente, relacionado à ideia de deserto físico. Por


esta razão, é possível enconh·ar referências a áreas de extrema secura, onde não se
pratica nenhuma agricultura, salvo em w1s poucos oásis. Também, se reportam às áreas
desertificadas para se referir àqueles lugares onde, embora exista pluviosidade, esta se
concentra em períodos muito breves do ano. Entretanto, o termo desertificação se emprega
muitas vezes como sinônimo de degradação. Na realidade, desertificação se trata de wna
degradação extrema e se aplica à terra, à cobertura vegetal e à biodiversidade e denota
perda da capacidade produtiva. Na figura 4, exemplifica-se um espaço rural degradado do
ponto de vista da cobertura vegetal.

Figura 4. Área desprovida de vegetação arbóreo-arbustiva no Semiárido.


Foto: léd o Bezerra Sá.

A UNCCD conceituou a desertificação como o processo de degradação das terras das


regiões áridas, senúá rid~s. e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre esses as
variações climáticas e atividades humanas (PAN BRASIL, 2004).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DE SERTIFI CAÇÃO NO S EMIÁRIDO BRAS ILEIRO 25

A UNCCD define a" degrndação" da te rrn co mo a red uç5o ou perda dél produtividade
bio lógica ou econômica d as terras agrícolas por ca usa dos sistemas de utilização da terrn,
da erosão do solo ca usa da pelo vento e, ou, pe la água, da deterioração dos atributos físico ,
químicos e biológicos ou econômicos do solo e da destruição da vegetação por períodos
prolongados. Em razão disso, nem todos os casos de degradação são considerados como
desertificação.
Portanto, o processo ocorrido nas regiões de Alegrete, RS, e Jalapão, TO, não
deve ser denominado de "desertificação", pois se trata ele uma intensa degradação dos
solos originados a partir de depósitos areníticos, de ocorrência natural; em Alegrete, é
intensificada pela atividade antrópica (Schumacher, 2000). O termo mais apropriado
para estes casos é "arenização", que foi proposto para os areais do Rio Grande do Sul
(Suertegaray, 1998). Essas áreas não apresentam características de aridez e são consideradas
como áreas de atenção especial no mapa de ocorrência de desertificação no Bra il (Saadi,
2000; Suertegaray, 2003) .
O Atlas Mundial da Desertificação foi elaborado a partir da fórmula de Thomthwaite,
modificada em 1952 por Penman, que define o índice de aridez (IA) (Quadro 1) de uma
determinada região. O IA é definido pela razão entre a quantidade de água advinda da
chuva (P) e da perda máxima possível de água pela evapotranspiração (ETP) (Matallo
Júnior, 2000; Saacli, 2000; Schenkel e Matallo Júnior, 2003).

Quadro 1. Classificação climática com base no índice de aridez

Índice de aridez Classificação


< 0,05 hiperárido
0,05 - 0,20 árido
0,21 - 0,50 semiárido
0,51 - 0,65 subúmido seco
> 0,65 subúmido e úmido

Portanto, o processo de desertificação só é passível de ocorrer em regiões com IA


inferior a 0,65, o que limita a desertificação no Brasil apenas para a Região r ardeste e o
norte de Minas Gerais (Sampaio, 2003).
A desertificação é um fenômeno de extraordinária complexidade a mbiental e social.
O número de indicadores e variáveis que intervém dificulta uma visão de conjunto que
integre, em sua devida medida, todos os elementos componentes. Tendo em vi ta a
impossibilidade de análise exaustiva de todas as variáveis a ser consideradas, é neces ário
selecionar um conjunto de variáveis que, por sua importância ou por serem indicadores
que se integrem a urna cadeia de processos, agregue o máximo de informação no momento
de compreender tanto o estado como as tendências do processo de desertificação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


26 lÊDO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

CAUSAS DA DESERTIFICAÇÃO

A desertificação tem sua origem em interações complexas de fatores físicos, biológicos,


políticos, sociais, culturais e econômicos (ONU, 1994). A conh·ibuição da natureza para
o proces o de desertificação é consensual e cientificamente comprovado (Saadi, 2000) . O
agravamento da seca nas últimas décadas, nas regiões com problema de aridez, tem sido
relacionado de maneira ainda não muito precisa com o fenômeno El Nino (Saadi, 2000;
PA LBRASIL, 2004).
O uso de terras localizadas em regiões secas, onde não são levadas em consideração a
sensibilidade dos ecossistemas e a sua fragilidade, quando usadas pelo homem, significará
em impacto que conduzirá à desertificação, uma vez que esses ecossistemas apresentam
equilíbrio delicado, em especial durante a seca (Hare et al., 1992).
Além dos fatores ambientajs que favorecem a degradação das terras e o surgimento
da desertificação, a pobreza e a insegurança alimentar são consideradas como causas e, ao
mesmo tempo, consequências da desertificação (PAN-BRASIL, 2004).
Em estudo desenvolvido sobre desertificação e pobreza no Serruárido do Nordeste
brasileiro, Lemos (2000) encontrou forte relação entre níveis elevados de pobreza e
degradação ambiental, que levam à desertificação.
De acordo com PAN-BRASIL (2004), a área acometida pela seca no mundo teve um
aumento de mais de 50 % durante o século XX, enquanto as áreas úrnidas permaneceram
relativamente sem alterações. Com o agravamento da seca, a população atingida passou a
adotar estratégias de sobrevivência que culmmaram na excessiva pressão sobre os recursos
naturais, provocando a degradação desses recursos.
Com o crescimento da população e densidade populacional, mais pessoas precisam de
alimentos, energia e outros recursos naturais. Isso implica no cultivo de novas terras, quase
sempre com menor capacidade de suporte ou, o mais comum, no aumento da intensidade
de cultivo das terras já cultivadas, contribuindo para a ocorrência de desertificação (Brasil,
1993; Mcleish, 1997).
A inadequação dos sistemas produtivos também contribui para a ocorrência de
desertificação (Brasil, 1993). A estimativa mundial para a desertificação causada pelos
efeitos conjuntos do pastoreio excessivo, pela salinização das terras provocada pela
irrigação e pelo uso agrícola intensivo é de 60 000 a 100 000 krn2 ano·1, resultando em perdas
econórrucas e custo de combate e recuperação estimados em dezenas de bilhões de dólares
(Matallo Júnior, 2000; Saadi, 2000).
A pecuária extensiva provoca a completa retirada da cobertura vegetal e a compactação
do solo, contribuindo, dessa forma, para a degradação do solo, que causa a desertificação.
Ourante os períodos de seca mais intensa, quando não ocorre a brotação das pastagens, os
rebanhos alimentam-se de plantas que compõem a vegetação nativa, inclusive dos frutos
e das sementes, provocando um esgotamento da biodiversidade (Mendes, 1994; Mcleish,
1997 citado por Matallo Júnior, 2000) e uma exposição do solo ao processo erosivo.
De modo geral, os grandes projetos de irrigação existentes nas regiões áridas de
todo O mundo são implantados por empresas multinacionais, que estão interessadas
principalmente na obtenção de grandes lucros. Quando não planejados de forma adequada,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DESERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRAS I LEIRO 27

esses proje tos podem provocar a sa lin ização d exte nsas á reas, o abandono das te rras, a
morte da vegetação e o surgimento da deser tificação (Hare et a i., 1992; Mcleish, 1997).
Segundo Rodri g ues (2000), as atividad es de irri gação e agroindús tria existen tes nos
vales dos rios Jaguaribe e São Francisco e em grandes açudes do Nordeste brasileiro têm
provocado impactos ambientais com séri as cons eq uências de erosão e salinização.
Embora as terras áridas e semiá rid as tenham, de modo geral, uma ferti lid ad e natural
razoável, elas apresentam uma utilização restrita em razão da fragi]jdade do a mbiente. Por
essa razão, a prática do pousio é utilizada de modo eficiente para proteger os solos d es a
regiões (Mcleish, 1997). Contudo, a agricultura intensiva, com o uso excessivo de máquinas
e equipamentos agrícolas, tem sido a principal responsável pelo avanço da desertificação
no mundo (Oliveira, 2000).
A integração das economias das regiões com problema de aridez aos mercados
nacionais e internacionais, intensificada a partir da década de 1990, vem es timulando
a maior exploração dos recursos para atender às crescentes demandas (Bras il, 1993),
contribuindo para a ampliação das áreas de desertificação (Mcleish,1997).

DESERTIFICAÇÃO NO MUNDO

Em condições naturais, os avanços e os recuos da desertificação nas proximidades das


regiões semiáridas ocorrem desde os últimos 40 000 000 de anos. A transformação do Saara
em deserto, da forma que é conhecida atualmente, ocorreu há 4 000-5 000 anos, por causa
da mudança abrupta da circulação atmosférica geral (Saadi, 2000).
A degradação das terras e desertificação atingem aproximadamente 33 % da superfície
do planeta (Hare et al., 1992; Schenkel e Matallo Júnior, 2003) e 70 % das regiões com
problemas de aridez (Rodrigues, 2000; Saadi, 2000).
A UNESCO elaborou um mapa das áreas com risco de ocorrência de desertificação no
mundo, considerando as classes: muito alta, alta e moderada (Figura 5).

Figura 5. Mapa de risco da desertificação no mundo.


Fonte: Unesco.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


28 l ÊDO B EZE RR A SÁ & A RLICÉLIO DE Q UEIROZ PAIVA

A população atingida pelo processo de desertificação varia de 300 000 000 (Saadi,
2000) a 785 000 000 (Rodrigues, 2000), podendo atingir cerca de 2 600 000 000 d e pessoas
(PA -BRASIL, 2004).
Cerca de 5 Gha de terras em mais de 100 países podem ser atingidos direta ou
indiretamente pela desertificação. O total de terras do planeta e suas respectivas áreas por
tipo climático é apresentado no quadro 2 (Hare et ai., 1992; Matallo Júnior, 2000).
De acordo com Schenkel e Matallo Júnior (2003), existem diferenças nos métodos
adotados para avaliar a quantidade de terras áridas degradadas em todo o mundo. No
entanto, o Programa das Nações Unidas parn o Meio Ambiente (PNUMA) u tiliza aquela
q ue leva em consideração as áreas onde ocorre a degradação da vegetação, mesmo que não
ocorra deterioração do solo (Quadro 3).

Quadro 2. Extensão de áreas no mundo em razão do tipo climático


América América
Clima África Ásia Austrália Europa T o tal
do Norte do Sul
1 000 km~
Hiperárido 6 720 2 770 o o 30 260 9 780
Árido 5 040 6 260 3 030 110 820 450 15710
Semiárido 5140 6 930 3 090 1 050 4190 2 650 23 050
Subúmidoseco 2690 3 530 510 1 840 2320 2 070 12 960
Total 19 590 19 490 6630 3 000 7 360 5 430 61500
Área total do continente 30 335 43 508 8923 10 498 25349 17 611 136 224

Quadro 3. Áreas acometidas pela desertificação no mundo por causa do tipo de degradação

Tipos de áreas degradadas Total de terras secas


km2 %
1. Por irrigação 430 000 0,8
2. Por agricultura de sequeiro 2160 000 4,1
3. Pecuária (solo e vegetação) 7 570 000 14,6
4. Áreas secas degradadas por ação antrópica (1 +2+3) 10160 000 19,5
5. Pastoreio (apenas degradação da vegetação) 25 760 000 50,0
6. Total das áreas secas degradadas 35 920 000 69,5

A maioria das áreas atingidas pela desertificação no mundo coincide com os maiores
bolsões de pobreza nos países em desenvolvimento, onde as consequências são trágicas,
particularmente nos países africanos (ONU, 1994).

DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL

o pioneiro nos estudos da desertificação no Brasil foi o agrônomo e professor João


Vasconcelos Sobrinho, da Universidade Federal de Pernambuco, que, na década de 1970
já alertava que no semjárido estava surgindo "um deserto com todas as característica~

M AN EJO E C ONSE RVAÇÃO DO S OLO E DA Á GUA


II - A DESERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRASILEIRO 29

11
que condu ziriam à formação dos grand es desertos ex i te ntes em outras regj ões d o g1ob
(Rodri g ues, 2000; PAN-BR/\SIL, 2004; Trinta, 2006). As á reas d ocorrencia d d esertificaçiio
no Brasil são aquelas enquadradas no Polígono das 5 cas do I ordeste brasileiro (Matallo
Júnior, 2000).
O primeiro mapa de s usceptibi lidade à desertificação no Brasil foi elaborado pelo
n úcleo Desert, da UFPI, a partir do índice de aridez (Q uadro 'l). A susceptibilidade fo i
considerada muito alta, q uando o grau de aridez varia va de 0,05 a 0,20; alta, de 0,21 a 0,50;
e moderada, de 0,51 a 0,65 (Schenkel e Matallo Júnior, 2003).
Posteriormente, o núcleo Desert constru iu o diagnóstico da desertificação no Brasil
(Quad ros 4 e 5 e Figura 6), com base em 19 indicadores qualitativos: densidade demográfica,
sistema fundi ário, mineração, qua lidade da água, salinização, tempo de ocupação,
11 11
mecanização, estagnação econômica, pecua rização erosão, perda de fertilidade, área
,

d e preservação, defensivos agrícolas, á rea agrícola, bovinocultura, caprinocultura,


ovinocultura, evolução demográfica e suscepti bili dade à desertificação.

Quadro 4. Áreas e população atingidas pela desertificação no I ordeste brasileiro

Grau de comprometimento Área População Área População


OI OI
km 2 ,o o

Muito grave 52425 1.378 064 -! 4

Grave 247 831 7 835171 20 21


Moderado 365 287 6 535 534 31 1
Área total 665 543 15 748 769 55 -B

Quadro 5. Ocorrência da desertificação por estado do Nordeste brasileiro


População Área Grau de comprometimento/ Ocorrênda
Estado
Muito grave Grave Moderado T otal
1 000 hab. km2 - - - 10
OI

Alagoas 2 512 27 689 13,8 26,6 -!O,-!


Bahia 11 801 567 295 8,0 3 ,3 46,3
Ceará 6 362 145184 12,9 27, 19,0 59,7
Paraíba 3 200 56 372 29,0 15,3 26,0 70,3
Pernambuco 7 122 98 507 51,4 23,9 7-"'
::,,
Piauí 2581 251 273 5,3 24,2 27,7 --
::, 1 , ")
-
R. G. do Norte 2414 53166 7,5 58,3 1-!,7 0,5
Sergipe 1 491 21862 31,-! 31,-!

Na região do semiárido do Nordeste, de modo geral, observa-se avançado proce- o


de desertificação. Os Estados do Cear á e da Paraíba possuem o maior percentual de área
em processo de desertificação muito grave.
As regiões acometidas por degrad ação muito intensa devem merecer a tenção e pec.ial.
Nessas áreas estão localizados os núcleos d e desertificação e, praticamen te, atingiram um
grau irreversível: Gilbués, Pl; Cabrobó, PE; lrauçuba, CE; e Seridó, RN (Saadi, _QOO). E ses

M A NEJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


71

30 lÊDO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QU EIRO Z PAIVA

núcleos têm em comum o desmatamento indiscriminado, as queimadas e o pasto reio de


caprinos e ovinos acima da capacidade de suporte do ambiente (Accioly, 2000) .

Ocorrência

- Muito grave

- Grave
- Moderada
• Núd eos de desertificação

Figura 6. Mapa de ocorrência de desertificação no Brasil.

Apenas dois desses núcleos, Seridó, RN, e Cabrobó, PE, estão localizados em áreas
de ocorrência muito grave de desertificação. Já os outros dois, Gilbués, PI, e Irauçuba,
CE, localizam-se em áreas consideradas como de ocorrência moderada. Em razão dessa
contradição, as características geoambientais naturais devem predominar no momento
da escolha da localização dos núcleos de desertificação (Saadi, 2000), já que não existe
metodologia de consenso.
Os solos predominantes em Gilbués, PI, são Latossolo, Neossolo Quartzarênico
e Argissolo, a vegetação é do tipo campo cerrado e ocorrem erosões eólica e hídrica
(Accioly, 2000). A atividade mineradora na região também contribui para a ocorrência de
desertificação (PAN-BRASIL, 2004).
Nos demais núcleos, há ocorrência de Luvissolo Crômico, Neossolo Litólico e Planossolo.
A vegetação é do tipo caatinga hiperxerófila e ocorre erosão hídrica (Accioly, 2000).
No núcleo do Seridó, RN, o problema da desertificação é agravado pela retirada de
lenha para atender a demanda de 70 olarias, pela atividade mineradora e extração de argila
dos Neossolos Flúvicos (Accioly, 2000; PAN-BRASIL, 2004). No núcleo de Cabrobó, PE, a
salinização dos solos nas margens do rio São Francisco tem certa importância na ocorrência
da desertificação nessa região.
Estudo realizado pelo CEPED (1979) na Bahia identificou uma área em processo de
desertificação, JocaHzada na parte do baixo rio São Francisco, no sertão de Paulo Afonso e
nos tabuleiros de Euclides da Cunha e Jeremoabo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


lJ - A DESERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRAS I LEIRO 31

Um leva nta mento preliminar, feito por Aouad e Condori (1986), também apontou
a presença da desertificação nessa mesma região cio Estado da Bahia onde, em dlguns
trechos, chove pouco mais de 300 mm por ano. Os solos encontrados nessa região são
pouco profundos e mal drenados, como Neossolo Litólico, Luvissolo Crómico e Plano so lo
Nátrico, ou profundos e excessivamente drenados, como Neossolo Quartzarênico.
Na década de 1990, estudos realizados pelo núcleo Oesert da UFPI apontaram a
substituição da caatinga pela agricultura e pecuá ria como res ponsável pela ocorrência de
desertificação na região do Sertão do São Francisco na Bahia (PA -BRAS[L, 2004).
Existem diversas outras regiões com susceptibilidade e, o u, com ocorrência de
desertificação na Bahia, mas nenhuma delas com gravidade semelhante à região de Rodela ,
onde o problema de aridez é acentuado, com predominância de Neossolos Quartzarênico
e vegetação formada por caatinga hiperxerófila. Nessa região, existe uma área conhecida
como deserto de Surubabel (Paiva et al., 2007), com cerca de 400 ha, formado por dunas com
mais de 5 m de altura (Figura 7). Além dessa, existem diversas outras áreas em processo
de desertificação.

Figura 7. Dunas com mais de 5 m de altura no deserto de Surubabel em Rodelas, BA.


Foto: Quintino R. Araújo, 2005.
Fonte: Paiva et ai. (2007).

Consequências da desertificação
A desertificação e a seca interferem no desenvolvimento sus tentá el pela relação
que mantém com problemas sociais importantes, como a pobreza, a saúde e a nutrição
deficientes, a falta de segurança alimentar e os problemas derivados da migração e
dinâmica demográfica (ONU, 1994).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


32 lÊDO BEZERRA SÁ & ARLIC ÉLIO DE QUEIRO Z PAIVA

degradação da terra secas causa rios prejuízos econômicos, agrava os p roblem as


ociais e cau a de equilíbrios ambientais (Brasil, 1993).
De acordo com o P JUMA, os custos com as perdas por desertificação são estimados em
7,00 U $ ha·1 ano·1, para as áreas de pa tos nativos; 50,00 US$ ha·1 a.110·1, para a agricultura d e
sequeiro; e 250,00 US$ ha·1 ano·1, para agricultura irrigada. Já os custos de recuperaçã o das
áreas degradadas são bem mais elevados. Estima-se que seriam necessários 50,00 US$ ha·1
ano·1 para a recuperação de pastos nativos; 250,00 US$ ha·1 ano-1, para áreas de agricultura de
sequeiro; e 2.000,00 USS ha·1 ano·1, para áreas salinizadas (Schenkel e Matallo Júnior, 2003).
Onde quer que ocorra, a desertificação atinge toda a comunidade mundial. No entanto,
o maior impacto da desertificação é nas regiões onde ela ocorre, cuja população depende
das terras áridas. Com isso, piora as condições de pobreza, aumentando a desnutrição e
ocorrência de doenças (Hare et al., 1992).
Os impactos ambientais são desh·uição da biodiversidade, diminuição da
disponibilidade dos recursos lúdricos e diminuição da qualidade dos solos. Esses fatores
reduzem a produtividade agrícola e geram impactos sobre a população (Brasil, 1993).

Metodologias de pesquisa em desertificação


Os diagnósticos iniciais da desertificação no Brasil consideraram a matriz composta por
19 indicadores de desertificação adotada pelo núcleo Desert, já detalhados anteriormente
(Schenkel e Matallo Júnior, 2003).
De acordo com essa metodologia, as áreas onde não ocorrem desertificação são aquelas
que apresentam menos de seis dos 19 indicadores; as de ocorrência moderada evidenciam
de seis a 10 indicadores; as áreas graves demonstram de 11 a 14 indicadores; e as muito
graves são aquelas que possuem 15 ou mais indicadores (Rodrigues, 2000). Com base nessa
metodologia, o núcleo Desert da UFPI construiu o diagnóstico da desertificação no Brasil
ilustrado pela figura 6.
Embora existam diversos questionamentos a respeito da utilização do índice de aridez
para definir as áreas de potencial ocorrência de desertificação, Sampaio (2003) afirma que
esse é o mais preciso, uma vez que é o único a utilizar variáveis quantitativas.
Avaliando os estudos de desertificação no Nordeste, Sales (2002) observou que, apesar
da divergência de metodologias empregadas, os trabalhos realizados em grandes áreas que
utilizam dados climáticos e técnicas de geoprocessamento que incluem vegetação e solo,
entre outros indicadores, são mais compatíveis com a realidade. Já aqueles desenvolvidos
em áreas menores devem utilizar de dados mais precisos, envolvendo levantamentos
rnicroclimáticos, degradação dos solos, dinâmica da vegetação etc.
Nessa linha, Sá et al. (2013) elegeram para a região serniárida do Estado da Parafüa, a
título de aplicação da metodologia adotada, duas variáveis que pudessem explicar a natureza
do fenômeno. A primeira foi o mapeamento da cobertura vegetal do Semiárido paraibano,
realizado com o uso de imagens do sensor ETM+ da série Landsat. Tal mapeamento foi
procedido utilizando-se o_ Manual Técnico d~ Vegetação Brasileira (IBGE, 2012) como
referência para o estabelecimento da legenda final. De acordo com este manual, o tipo de
veoetação ou classe de vegetação predominante no serniárido é a Savana Estépica, que
co~porta três subgrupos de formações: Savana Estépica Florestada (Td), Savana Estépica

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DE SE RTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 33

Arborizad a (Ta) e Sava na Estépica Pa rque (Tp). Este último subgrupo está normalm nte
associado a outros tipos de uso da terra . AI m das form ações citadas, a região apresenté1
também a classe d e Vegetação Secund á ri a (Vs), Formações com influ ncia fluvial (Pa), áreas
ocupadas com atividades d e agricu ltura/ pecuá ria (Ag), contatos Savana Estép ica/Floresta
Estaciona i - ecótono (T N), Floresta Estaciona i Semídecidual Monta na (Fs), Floresta Estacionai
Decidual Montana (Cm) e ouh·as classes com pouca expressão e m áren.
A segunda va riáve l foi o mapea mento d as classes de solos presentes no Semiári do
paraibano, tomando-se como base d e referência o Sistema Bras ilei ro de Cla s ificação de
Solos da Embrapa (Embrapa, 2013), cujas classes são ap resentadas no quadro 6.

Quadro 6. Escala de susceptibilidade à desertificação para a cobertura vege tal e elas es de solos
Su sceptibilidade à desertificação
Cobertura vegetal Classes de So Ios
Classes Nível Classes ível
Td Ausente Latossolo Vermelho-Amarelo Fraco
TN+Ag Fraco Latossolo Amarelo Fraco
TN+Ta Fraco Latossolo Vermelho Fraco
Td+Ag Fraco Neossolo Quartzarênico \1oderado
Td+Cm Fraco Neossolo Regolítico Moderado
Td+Ta Fraco Cambissolo .\foderado
Ta+Td Fraco Neossolo Regolítico \1oderado
VS+Td Fraco Argissolo Vermelho-Amarelo Acentuado
Ta Moderado Neossolo Flúvico Acentuado
Ta+Ag Moderado Neossolo Litólico Acentuado
Ta+Pa Moderado Luvissolo Severo
Ta+Tp Moderado Planossolo Nátrico Severo
Tp+Ta Moderado
Ag+TN Moderado
Ag+Td Moderado
Fs+ag Moderado
Vs+Ta Moderado
Ag+Cb Acentuado
Ag+Cm Acentuado
Ag+Cs Acentuado
Ag+Fs Acentuado
Pa+ag Acentuado
Ag+Ta Acentuado
Vs+Ag Acentuado
Ag Severo
Ag+Pa Severo
Ag+Tp Severo
Ag+Vs Severo
Td = Savana Est~pica Flo_restad_a; Ta = Savana Est~pica Arbori;uid_a; Tp = Savana Estépica Parque; s = V~etaç.fo SecunJaria; Pa =
Formações coi:n mfluênc1a fluv ial; Ag = áreas ocupadas com ~tw1_d ades d~ .1gricultura/ pe-=uária; TN = cont:ito- Sdvan..i 8lt>pat:a/
Floresta Estacionai - ecótono; Fs = Floresta Estacionai St!m1dec1dual Montana; Cm = Floresta Esta ion.11 Decidual .\lontana; c-
outras classes com pouca expressão em área.
Fonte: Sá et ai. (2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃ O DO SO LO E DA ÁGUA


34 lÊDO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

Foram estabelecido os eguintes critérios com relação à cobertura vegetal, numa escala
de everidade da desertificação, que vai desde as áreas com ausência do problema, com
egetação bastante protetora dos solos, passando pelos níveis fraco, moderado, acentuado
e severo, onde a cobertura é muito escassa ou mesmo ausente, totalizando quatro níveis
de se eridade.
Quanto às classes de solos, foram utilizados os critérios de susceptibilidade à erosão
descritos por Lima et ai. (2002), totalizando cinco situações de susceptibilidade à degradação:
ausente, fraca, moderada, acentuada e severa. Quanto menor o nível atribuído, menor será
a erodibilidade daquela classe de solo, como observado no quadro 6. Ainda segundo Lima
et ai. (2002), a erodibilidade maior ou menor de um solo dependerá de seus atributos,
que são bem estudados e avaliados por processos diretos e indiretos. A natureza do solo
é um dos fatores que exerce maior influência sobre a quantidade e qualidade do material
erodido. Essa influência depende de atributos físicos (permeabilidade), morfológicos
(te ·tura e estrutura) e químico-mineralógicos (natureza dos componentes da fração argila).
A partir do mapeamento da cobertura vegetal (Figura 8) e dos índices de sensibilidade
à desertificação adotada para as classes de cobertura (Quadro 6), foi gerado o mapa de
sensibilidade à desertificação para esta variável (Figura 9).
Tomando-se como base o mapa de classes de solos (Figura 10) e os critérios de
sensibilidade à desertificação (Quadro 6), foi gerado o mapa de sensibilidade à desertificação
para a variável classe de solos (Figura 11).
Com base nestes dois mapeamentos de sensibilidade da vegetação e dos solos, realizou-
se a integração espacial, por meio de ferramentas de geoprocessarnento, utilizando-se a
operação de intersecção. As feições de ambas as informações se sobrepuseram, ocorrendo
o cruzamento dos polígonos, gerando novas feições e mantendo os atributos de ambas
as informações. Por fim, realizou-se a análise das duas variáveis utilizadas em relação
à desertificação (Quadro 7), e o resultado desta operação resultou no mapa final de
susceptibilidade (Figura 12). No quadro 8, é apresentado o quantitativo de áreas conforme
o nível de susceptibilidade à desertificação.
O Semiárido paraibano apresenta urna grande diversidade tanto de cobertura vegetal
quanto de classes de solos (Figuras 8 e 10). Do ponto de vista da cobertura vegetal, observa-
se que a classe moderada de sensibilidade à desertificação tem maior expressão em área
que as demais coberturas (Figura 9). Em relação aos solos, nota-se que a maioria das classes
presentes está relacionada como sendo de sensibilidade à desertificação nos níveis entre
acentuado e severo (Figura 11).
Da análise conjunta das duas variáveis (Figura 12), verifica-se que aproximadamente
85 % do Semiárido paraibano encontram-se na situação de sensibilidade à desertificação
onde predominam as classes acentuada e severa (Sá et al., 2013).
Esta mesma metodologia também foi aplicada para o zoneamento das áreas susceptíveis
à desertificação do Semiárido do Estado de Pernambuco (no prelo) e da mesorregião sul do
Estado do Ceará (Sá et al., 2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DES ERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRID O BRAS I LEIRO 35

Quadro 7. Class ificação da se ns ibilid ade à desertific..1ção com base no cruzam nto dac; bac;es da
cober tura vege tal e das classes d e solos do se miá rido pa ra ibano
Cobertura ve
+ g a s+ a g
T N + Ta Ta+ Ag Ag+ Cb Ag + p
Td + Ag Ta + Pa Ag+Cm Ag +Tp
Classes de solos Td + Cm Ta+ Tp Ag+ Cs Ag + VS
Td + Ta Tp + Ta Ag+ F
Ta+Td Ag+Td Pa + Ag
VS + Td Fs + Ag Ag +Ta
Vs+ Ag
Latossolo Vermelho-Amarelo
Latossolo Amarelo
Latossolos
Neossolo Quartzarênico
Cambissolos
Neossolo Re olítico
Vertissolo
Ar ·ssolo Vermelho-Amarelo
Neossolo Flúvico
Neossolos Litólicos
Luvissolos
Planossolo Nátrico
Legenda: AzuJ = Ausente, Verde= Fraco, Amarelo= Mode rado, Laranja = Acentuado e Vermelho = Severo_

Quadro 8. Quantificação das áreas susceptíveis à desertificação com base no cruzamento da cobertura
vegetal e nas classes de solos do Serniárido paraibano
Nível de Susceptibilidade Área Proporção
ha %
Ausente 19,65
Fraco 281 096,46 5,76
Moderado 409 346,21 ,39
Acentuado 3 048 319,95 62,4S
Severo 1139 717,73 23,36
Total 4 878 500,00 100,00

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


36 lÊDO BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

,..,... .......
E

E
0 CAITTALESTAOUAL

B
D
Umltr do tmún.\rio r 1n1lhu-,
Umltt- út.1do da Puan,,.,
LifflllC'Út.ldu..al
XMlblllCUdC' 1 dnntifluçlo - Sc,1011

-c::J Fnoo
MoJn-1do

..
-
- A CfflN&do
__! CI • •
ALA s - ~':.e..~
Figura 8. Mapa da cobertura vegetal do Sem.iárido paraibano.
Fonte: Sá et al (2013).

...... J7'30W ,,....., IS'JOW

E
+

E 0 CAPITALE,,,ADUAL
CJ
e Unu~doM'fflinirloP.tnlbano
Uml~ hudo d.t ra.ra.rti.
r7 UmUe útAdUAI

CJ Atatnl~

E PERNAMBUC,O - FrKo
~ Modu .1do

• • .. Acmtu1t.l0
. . St-vc:10
A! GQ S At.AG°"5-

Figura 9. Mapa da sensibilidade à desertificação em razão da cobertura vegetal do Sem.iárido paraibano.


fonte: Sá et al. (2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DESERTIFICAÇÃO NO SEM IÁRIDO BRASILEIRO 37

" ..... .... ........ ....

FEf:;'fJAA.18l.KO
_.,-__-~·~-
~- _ - ·.- ·
Unl dd.,. J. ~

-~ , ..
1111 -
..
·-

o o ~ ~ ~ ~ De-•
D.__, - --
:, -■ [ ,n,... ALAOOAS

Figura 10. Mapa de solos do Semiâ rido paraibano.


Fonte: Sá _,et ai. (2013).

11",0W .,,....

,.,_...
~ ..::AmAt. 15T \.CCU
- -·l..J:il111.i.J ~~

c umi-ea-.aa..:..~
~r.~~

i ~ .. ~ aç- -.....
. ....n

e '°' » ~ e:::i lll

~- ■ LA..

Figura 11. Mapa da sensibilidad e à d esertificação em razão d a classes de ~a ios do SemiJrido


paraibano.
Fonte: Sá et ai. (2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


.
38 IÊDO BEZERRA SÁ & ARLIC ÉLIO DE QU EIRO Z PAIVA

,,,,..
'
+

.: ~ CAITTALESTADUAL
l
C'J Lurutll' J o w,mlnJ.rio rua!NNJ
c::::I Um1tl' bu.Jn J.t r.aniha
Scn ~lblll1S..d c- • dnnilfka(lo - Cobntun. v ~ J t Solot

~ "'""""'"
'""º

---
{==:J MoJtT.ado
FERNAl.15VCO
. . A<'ffltu.aJo

e ~ ~ ~ ~ ~
C=:J Umilt' fat.>d u.1J
.(- ■ . ,. . .. W!I At.400.4S Av<i;oo s ..1;(A ~°"
Figura 12. Mapa da sensibilidade à desertificação com base no cruzamento das bases da cobertura
vegetal e das classes de solos do Serniárido paraibano.
Fonte: Sá et al. (2013).

A mesorregião sul do Ceará apresenta grande diversidade tanto da cobertura vegetal


quanto das classes de solos. Do ponto de vista da cobertura vegetal, observa-se que a
classe de sensibilidade à desertificação severa tem maior expressão em área que as demais
coberturas. Em relação aos solos, nota-se que a classe acentuada tem maior ênfase em área
relacionada corno sendo de sensibilidade à desertificação.
Com base no cruzamento das informações sobre cobertura vegetal e classes de solos
(Figura 13), verificou-se que aproximadamente 65 % da porção sul do Estado do Ceará
encontram-se na situação de sensibilidade à desertificação, onde predominam as classes
acentuada e moderada. No quadro 9, evidencia-se a quantificação das áreas susceptíveis à
desertificação para a mesorregião sul do Ceará.
Além da utilização da cobertura vegetal como urna das variáveis que explica a
sensibilidade à desertificação, o componente solo constitui-se em um dos fatores essenciais
para o diagnóstico da desertificação no Semiárido brasileiro. Entre os fatores associados
às alterações ambientais, os mais importantes são a susceptibilidade à erosão e o tipo e
a intensidade de exploração. Esse conjunto determina o grau de resistência às ações
agropastoris predatórias.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

..
II - A DE SERTIF I CAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRAS lLEIRO 39

,uur

Legenda

□ Umo•-· !'9fNAM9VCO

--···
---
kfl•tJINede 1 . .Mtltlceçto. Co"'1Uf• ..,...._.. • Wo.
Fon'9dedli~:
• •,..º N1pH me nlO de CMNl'tlftc ■(IO d• mnone~IO Sul dO CH.rt
com t>n• na cobertura HQlta l . CIHMt de aolol
-do AlltDrH: 10 20 .., 8C)
ltdO 8earr1 s ,
.. Tony Jlrbet F1 r,.w1 Cl.l"he
T1t11n 1 Ay■lto TIUt'I
Marcot Antõnto Orumono

.,.,..,.. ,..,.,...

Figura 13. Mapa da sensibilidade à desertificação com base no cruzamento das bases da Cobertura
Vegetal e das classes de solos da mesorregião sul cearense.
Fonte: Sá et al. (2014).

Quadro 9. Quantificação das áreas susceptíveis à desertificação com base no cruzamento das
informações sobre a cobertura vegetal e as classes de solos da mesorregiào sul cearense
Nível de Susceptibilidade Vegetação Solos Análise conjunta
km 2 % km 2
% km2 C>I
.o

Ausente 580,90 4,01 171,62 1,19 211,93 1,46


Fraco 3 241,17 22,37 4.754,09 32,95 2196, - 15,16
Moderado 2 965,71 20,47 592,83 -t,11 2 731,91 1 , 6
Acentuado 31,87 0,22 8.377,24 57,64 7 651, 2 -2, 1
Severo 7 668,96 52,93 592,83 4,11 1 696,10 11,n
Total 14 488,61 100.00
Fonte: Sá et ai. (2014).

Com base na escala de erodibilidade de Wischmeier e Smith (197 ), os solos que


ocorrem no SB são enquadrados da seguinte forma: (a) Erodibilidade baL a - Lato olos
Amarelos e Vermelho-Amarelos, Argissolos distróficos, eossolos litólicos, eossolos
Flúvicos e Neossolos Quartzarênicos; (b) Erodibilidade moderada - Latossolos e.rrnelhos
escuros e Neossolos Regolíticos e Carnbissolos; e (e) Erodibilidade alta - Argissolos
eutróficos, Luvissolos, Vertissolos e Planossolos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


40 IÊoo BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QU E IROZ PAIVA

Quanto aos critérios sobre O grau de manejo e d.e intensidade d e ex plo:·ação, a


degradação ambiental não só se manifesta pela sensibilidade do solo à erosao, mas,
sobretudo, pelo uso a ele imposto. As observações de campo ea análise visual de documentos
satelitários d emonstram, nitidamente, que as áreas mais devastadas comporta111 solos de
alta fertilidade que foram e, ou, estão sendo intensivamente explorados. Nesse contexto,
estão incluídos os Luvissolos, sobretudo pelo cultivo do algodão; os Argissolos eu tróficos
e similares, pelos cultivas de subsistência e comerciais, principalmente a mamona; e os
Plai1ossolos, que embora sejam solos de média a baixa fertilidade natural, por terem
textura leve e ocuparem relevos predominantemente planos e suavemente ondulados, são
bastai1te cultivados, i11clusive com uso de h·ação animal.

Qualificação da degradação ambiental no Nordeste do Brasil,


segundo classes de solos
Conforme já visto, o cruzamento dos dados associados às variáveis cobertura vegetal
e classes de solos geraran1 uma escaJa de quatro 1úveis de degradação ambiental para
o Semiárido brasileiro em sua porção mais seca, ou seja: baixo, moderado, acentuado e
severo (Sá et ai., 2013).
Os critérios edáficos utilizados no levantamento da desertificação do Semiárido
brasileiro estão vmculados à susceptibilidade à erosão para as classes de solos a seguir
destacadas (Cunha et ai., 2010).

Áreas de Luvissolos
As áreas de Luvissolos com relevos ondulado e suave ondulado e com grau
de desertificação severo representam mais de 38 % da área mais seca do SB. São solos
altamente susceptíveis à erosão, mesmo quando situados em relevo suave ondulado, como
consequência da coesão e consistência do horizonte superficial e da expressiva mudança
textural para o horizonte Bt (Oliveira et ai., 1992). Nas áreas em que estes solos são mal
manejados, podem ser observados sulcos profundos e até mesmo voçorocas.

Áreas de Argissolos eutróficos


Estas áreas ocupam cerca de 10 % da região mais seca do SB e apresentam grau
de degradação moderado. Os aspectos inerentes aos Argissolos contribuem para que 0
processo erosivo se constitua no fator mais limitante nesta classe de solo, pois esse a presenta
gradiente textura! geralmente alto, especialmente se ocorrer o caráter abrupto, ou seja, se 0
teor de argila do horizonte B for muito maior do que o do horizonte A. De maneira geral,
pode-se dizer que os Argissolos são solos bastante susceptíveis à erosão, sobretudo quando
há maior diferença de textura do horizonte A para o horizonte B (solos que apresentam
mudança textura! abrupta), presença de cascalhos e relevo mais movimentado, com fortes
declividades. Nesse caso, não são recomendáveis para agricultura, prestando-se para
pastagem e reflorestamento ou preservação da flora e da fauna.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IJ - A DESERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRASILEIRO 41

Áreas de Planossolos
As áreas de Planossolos, em relevo plano e sua ve ondulado, com grau de degradação
baixo, perfazem cerca de 7 % da área mais seca do SB. Por ser e m solos particularmente
desfavoráveis ao cresci mento das plantas, a caatinga neles instalada apresenta-se bastante
rarefeita, embora condicionada pela espessura do horizonte arenoso superficial. São solos,
do ponto de vista morfológico, muito prope nsos aos processos erosivos, pcll'ticularmente
aqueles de ação superficial (erosão laminar, por exemplo). A presença de horizonte B
textura! de muito baixa permeabilidade e a mudança textura) abrupta são os principais
condicionantes de sua elevada erod ibilidade. Entretanto, há de se ressaltar que a sua
ocorrência em locais planos e abaciados, com tendência à acu mu lação de água e sedimentos,
de certa forma a meniza o problema.

Áreas de Latossolos
Quanto à susceptibilidade à erosão, em condições naturais ou quando bem
manejados, os Latossolos são bastante resistentes, em razão de suas características como
permeabilidade, grau de floculação e porosidade elevadas. Quando submetidos a cultivos
intensivos, com uso de máquinas pesadas, sofrem compactação interna, geralmente
entre 6 e 10 cm, formando o conhecido " pé de grade", que aumenta consideravelmente
a susceptibilidade à erosão e diminui a produtividade agrícola. Em condições de uso
inadequado e ausência de técnicas adequadas de conservação de solo, desenvolvem-se,
facilmente, sulcos e pequenas voçorocas.

Área de Neossolos Flúvicos


São solos de alta vulnerabilidade à erosão laminar, por quase sempre apresentarem
camadas de diferentes permeabilidades. Quanto à erosão em profundidade, são muito
suscetíveis, por terem camadas descontinuas e distintas entre si. Este aspecto é atenuado
porque os solos situam-se em áreas de várzeas e terraços. O maior problema destes solos
é a erosão por desbarrancamento às margens dos rios, principalmen te quando é retirada a
vegetação ciliar.

Área de N eossolos Litólicos

As áreas de Neossolos Litólicos, em relevo ondulado e forte ondulado, ocupam


cerca de 10 % da zona mais seca do SB e apresentam acentuado grau de desertificação.
suscetibilidade à erosão é muito alta em qualquer dos casos, determinada, basicamente,
pela ocorrência do substrato rochoso em pequena profundidade, principalmente quando é
removida a vegetação original. Por causa da dificuldade de acesso às áreas de solos litólicos
em relevos residuais, os cultivas tradicionais nessas áreas provocam riscos muito bai.: os de
desertificação, salvo nas regiões muito povoadas, onde o abandono das terras esgotadas
nas áreas baixas exige a exploração de novas áreas, trazendo consequências desastre as,
em razão dos processos erosivos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


42 IÊoo BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

Área de Neossolos Quartzarênicos


São bastante suscetíveis à erosão, em razão de sua constituição arenosa, com grãos
soltos, que possibilitam O fácil desbarrancamento. A erosão superficial também pode
ocorrer por causa da presença de compactação superficial.

Área de Neossolos Regoliticos


São solos relativamente suscetíveis aos processos erosivos, particularmente os pouco
profundos, mesmo em relevo pouco movimentado.

Área de Cambissolos
Em relação à suscetibilidade à erosão, estes solos possuem erodibilidade bastante
variável em razão da diversidade de textura, profundidade, permeabilidade etc. Sulcos
e ravinas são muito comuns nestes solos, daí a necessidade de implantação de práticas
consenracionistas. Os solos mais rasos apresentam maior suscetibilidade à erosão do
que os de maior profundidade. Quando situados próximos aos rios, como no caso dos
Cambissolos Flúvicos, em razão da retirada da vegetação original, estes solos podem estar
sujeitos a processos erosiv·os superficiais (erosão laminar).
Merece menção especial a região de Irecê, localizada no centro-norte do Estado da
Bahia, composta por 19 municípios totalmente inseridos no semiárido baiano, com área
territorial de 25 551 km.2 • A altitude varia de 500 a 800 m; o relevo apresenta feição plana,
quase uniforme, e possui grandes extensões de Cambissolos eutróficos originados de
rochas calcárias. Nessa região, ao longo do tempo, ocorreu grande substituição da caatinga
por agricultura de sequeiro e irrigada (Paiva et al., 2015). O conjunto composto por essa
alteração na cobertura vegetal; a intensa mecanização dos solos para cultivo de milho,
mamona, cenoura, beterraba, cebola e tomate; e também o uso indiscriminado de irrigação
têm resultado em grande impacto na redução da qualidade do solo (Souza et al., 2011),
contribuindo para a degradação ambiental e o aumento dos riscos de desertificação, com
graves reflexos sociais e econômicos na região.

Distribuição das áreas susceptíveis à desertificação no semiárido


brasileiro
Quanto à distribuição das áreas susceptíveis a processos de desertificação no SB,
verifica-se que os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba têm as maiores
proporções de área susceptíveis à desertificação em relação à área total do estado. Em
termos absolutos, as maiores áreas encontram-se na Bahia, no Piauí, em Minas Gerais e no
Ceará (Quadro 10).
É importante destacar que as áreas de Luvissolos, com desertificação severa,
predominam em todos_ os estados. As áreas com desertificação moderada alcançam valores
baixos no Ceará, no Rio Grande do Norte e na Paraíba. As áreas de Neossolos Litólicos,
com desertificação acentuada, estão bem representadas no Estado da Paraíba.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DES ERTIFICAÇÃO NO 5EMI/\RID O BRAS ILEIRO 43

Quadro 10. N úm ero de municíp ios e ex tens5o te r rito ria l das á reas c.; usceptive is desertificação no
Brasil, por Unidade d a í-ede ração
Proporção da
Número de Área da Unidade da área su ceptível
municípios com Federação usceptível desertificação em
Unidade da Federação
área susceptível à relação à área total da
à desertificação
desertificação Unidade da Federação
krn 2 %
Alagoas 54 17 499,6 63,0
Ba hia 291 476 075,9 84,3
Ceará 184 148 920,5 100,0
Espírito Santo 24 16 680,2 36,2
Maranhão 27 40 808,8 12,3
Minas Gerais 142 175 355,6 29,9
Paraíba 209 53 461,6 94,7
Pernambuco 136 89 058,4 90,7
Piauí 217 238 433,6 94
Rio Grande do Norte 159 51458,2 97,4
Sergipe 48 16 223,2 74,0
Área de estudo 1491 1323 975,4 60,5
Fonte: Brasil (2007).

Existe amplo consenso de que a degradação das terras é consequência da ação


humana e de fatores climáticos, enquanto a desertificação é a degradação das terras nas
zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, cujo processo é o resultado da interação
de diferentes e complexos fatores derivados das atividades humanas e das variações
climáticas. Esta definição foi adotada por quase todos os países do mundo, signatá rios
da Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação. As variações do clima
referem-se a qualquer mudança do clima que ocorra ao longo do tempo, em decorrência da
variabilidade natural ou da atividade humana (IPCC, 2007).
A agricultura praticada no SB tem caráter muito impactante sobre os recursos naturai .
As áreas em processo de desertificação, em diferentes graus de intensidade, já somavam,
em 1994, uma superfície correspondente a 22 % da área total do SB, que é de 982 563,3 krn2
(Sá et al., 1994).
Segundo Sá e Angelotti (2009), no Nordeste brasileiro, uma área maior do que o
Estado do Ceará já foi atingida pela desertificação de forma grave ou muito grave. ão
200 000 km2 de terras degradadas e, em muitos locais, imprestáveis para a agricultura.
Somando-se a área onde a desertificação ocorre ainda de forma moderada, a área total
atingida pelo fenômeno sobe para, aproximadamente, 600 000 km 2, cerca de 1/ 3 de todo
território nordestino. Ceará e Pernambuco são os Estados que apresentam maior área em
processo de degradação, embora, proporcionalmente, a Paraíba seja o Estado com maior
extensão de área comprometida (71 % do território).
A vegetação nativa da região semiárida brasileira tem sido bastante mod.ific da pelo
homem. Os estudos mais recentes indicam que a substituição desta egetação por campos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


44 IÊoo BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

de culti exp-e cada ez mai os solos aos processos erosivos, desencadeadores da


desertificação, al 111 de que ainda persiste uma das formas mais agressivas de preparo do
solo, que é a utilização do fogo.
A desertificação de áreas agrícolas no SB é realmente muito preocupante e sinaliza
a necessidade da criação de maior quantidade de áreas de proteção, além de outras
com importância no funcionamento ecossistêmico do biorna. Entre elas, o caso dos
remanescentes do Piaui, a Chapada Diamantina, os brejos de altitudes de Pernambuco,
da Paraíba e do Ceará, que estão sob ameaça. É visível, na região do Araripe, fronteira
entre Pernambuco, Ceará e Piauí, uma grande frente de desmatamento, ocasionada, em
grande medida, pelo impacto do pólo gesseiro ali instalado. Essa região, em sua porção
pernambucana, é representada pelos municípios de Araripina, Bodocó, Cedro, Dormentes,
Ex-u, Granito, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena,
Serrita, Terra Nova e Trindade, que totalizam uma área de 18 440 km2 e concentram a
maior reserva de gipsita do Brasil. As atividades desse pólo gesseiro concorrem de maneira
determinante para o agravamento dos problemas ambientais, por consumir, quase que
exclusivamente, a vegetação nativa em seus fornos de desidratação da gipsita (Sá et al.,
2008). A região tem usado, cada vez mais, a matéria-prima de base florestal como principal
insumo na sua matriz energética. As empresas ali instaladas, as calcinadoras e as fábricas
de pré-moldados, fazem uso da vegetação nativa para beneficiamento e transformação
da gipsita em gesso. Assim, existe a necessidade de se investir na oferta de madeira
por meio de práticas de reflorestamentos, manejo da vegetação nativa e recuperação de
áreas degradadas para suprir o défice energético. Sá et al. (2008) realizaram, por meio da
integração de informações ambientais, como altimetria, cobertura vegetal, classes de solos
e climatologia, o zoneamento e a espacialização das aptidões florestais da região. Este
estudo aponta não apenas as práticas agroflorestais, mas, também, a indicação de outras
atividades que possam inserir a região como produtora de biomassa vegetal para fins
energéticos (Figura 14).
O adequado uso das terras no SB pode compatibilizar a produção de alimentos,
de biocombustíveis e outras atividades produtivas sem promover desertificação. São
necessários os zoneamentos das potencialidades florestais, agrícolas e pecuárias da
região, para que se possam integrar os diferentes usos. A utilização das geotecnologias
pode auxiliar de maneira determinante estes estudos, além de permitir urna atualização
constante dos usos das terras.

DESAFIOS PARA A PESQUISA FRENTE À


DESERTIFICAÇÃO

Apesar dos avanços na área de monitoramento e previsão de secas, com relação à área
de desertificação os resultados são muito incipientes. A seguir, são listados alguns desafios
ou demandas para a pesquisa frente à desertificação.
Os procedimentos de avaliação do processo de desertificação são empíricos, de
aplicação muito restrita e focados, muitas vezes, nos sintomas e não nos agentes promotores
do processo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A D ESERTIFI CAÇÃO NO SEMIÁRCDO BRASILEIRO 5

-APTIDÃO FLORESTAL PARA REGIÃO ARARIPE PERNAMBUCANO - LEGENDAS


- 2008 - " •
e-..... ,_..to

UPC\J(.&.OTf.CHICA 1111 ;~;~,;!;~!:;~n


IN '1 vt ._.cl> JPl!l,I. .....
~..ir" YA ..~Jl'J tLO1'(..,....Al

-~,,
~

-p•·
c,Q.&.N
0 'OorV"A
o,ITAe,.

Figura 14. Aptidão florestal da região do Araripe pernambucano.


Fonte: Sá et al. (2008).

A análise temporal é ainda muito limitada, e a regional é praticamente inexistente.


Não existe um consenso sobre os indicadores, as abordagens, os método e as e calas.
A acessibilidade aos dados é restrita (incluindo também os dados meteorológicos na
área de monitoramento de secas).
A inexistência de abordagem metodológica coerente limita a comparação da gravidade
do problema da desertificação no Brasil, em contextos regional e global.
Há dificuldades na disseminação das poucas informações inexistente .
Há condicionantes políticos fortes, pois a maioria da população no semiárido apresenta
baixo IDH, pouco acesso à informação e sérios problemas de go emança.
O diálogo entre a área técnico-científica e os tomadores de decisão é muito deficiente
e precisa ser melhorado.
Para minimizar ou mesmo evitar a expansão das áreas degradadas e da desertificação
na região, há a necessidade de esforço conjunto dos diferentes órgãos que atuam na região,
na busca de parcerias para por em prática as seguintes ações estratégicas: (a) promoção de
encontros, cursos e treinamentos sobre combate à desertificação; (b) cadastro de institui -es
públicas e privadas que tenham interesse em participar do programa de combat à
desertificação; (c) estudo das cadeias produtivas nas áreas passíveis de desertific ç-o e
mobilização dos atores para torná-las atrativas dos pontos de ista s cial e econômico;

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


46 IÊoo BEZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

(d) estabelecimento de mecanismos de integração do setor público/ privado, principalmente


no ni, el de estados e municípios; (e) incentivo às campanhas de reflorestamento utilizando
espécies ameaçadas de extinção; (f) divulgação e prestação de assessoria sobre as
tecnologias novas e, ou, adaptadas; (g) estabelecimento e reforço do sistema de vigilância
contra a desertificação; (h) incremento das pesquisas relacionadas ao impacto ambiental
no SB, focadas nas áreas de mineração, manejo e conservação do solo e água, manejo de
solos salinos e alcalinos, manejo de bacias hidrográficas, manejo florestal e conservação
da biodiversidade; e (i) execução de um programa de recuperação de matas ciliares, entre
outras.
Quanto aos mecanismos para buscar parcerias com os estados e municípios,
envolvendo a sociedade civil, deve-se partir do pressuposto que combater a desertificação
implica em desenvolver ações para prevenir ou frear o processo, fortalecendo e articulando
os instrumentos de fomento orientados para a sustentabilidade socioambiental por meio
de políticas públicas. Existe a percepção de que as ações históricas tiveram um caráter
pontual, sem uma grande preocupação com a conservação dos recursos naturais. Desse
modo, devem-se enfatizar os projetos de governo que procurem minimizar os efeitos
das secas e, em consequência, combatam a desertificação. Vários exemplos são citados a
seguir:
Programas de conservação e manejo dos recursos naturais e controle de desmatarnentos
e queimadas em áreas susceptíveis ou em processo de desertificação.
Capacitação de recursos humanos especializados em gestão de recursos naturais para
convivência com as especificidades de áreas degradadas ou em processo de desertificação.
r
Educação ambiental visando à efetiva disseminação de conhecimentos e práticas que
contribuam para recuperar as áreas desertificadas.
Identificação e adoção de mecanismos que permitam a inibição de atividades
predatórias e a efetividade de propostas de reposição florestal por parte dos atores sociais
e indústrias consumidoras de lenha e carvão.
Proposição de incentivos para a implantação de sistemas agroflorestais e de manejo
adequado das atividades agropecuárias, para não se intensificar o processo de desertificação.
Promoção de iniciativas voltadas para a criação de bancos de sementes e viveiros para
a produção de sementes e mudas de espécies nativas, visando ao estabelecimento de ações
de enriquecimento e à recuperação de áreas degradadas.
Definição de estímulos para as ações de recomposição das Áreas de Preservação
Permanente e de Reserva Legal.
Realização de pesquisas para a definição de regiões prioritárias para reposição da
cobertura florestal, em razão dos níveis de desmatamento e de áreas susceptíveis ou em
processo de desertificação.
Identificação de áreas prioritárias para criação de Unidades de Conservação e
implantação de projetos de pesquisa apropriados aos estudos em seus donúnios.
Monitoramento do processo de desertificação, estabelecendo estratégias permanentes
de mapeamento e atualização das informações sobre os recursos naturais presentes nas
áreas atingidas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A Ü ESERTI FI C/\ÇÃO MO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 47

Cons truçfio de peq uenJ s barragens c m áreas ele so los com pouG1 profundid,n:le
(es le tipo d e bar ragem pro pi ia ,1 crit1çã o ele soloc; de c;ecJim ·n toc; com capacic.1.:-ide para
armazenagem ele ág ua. Es tas ba rrage ns poss ibilitam o dese nvolvimento de agricullu ra de
subs is tência, associad as com espécies de frut eiréls resis tentes ,1 secd).
fns ta lação ele clessa linizado res pa ra ut ilização ele águas sdl inas e seu e ficiente descart"'
em aprovei ta mento integrad o para irri gação e piscicu ltura .
Desenvolvimen to el e apicu ltura com o objetivo d e a prove itar a existência ele flo ra
me lífera na tiva, criando nova al terna ti va d e rend a pé.l ra as comunidades.
Aproveitame nto sus ten tável d os produtos não mé.lde ireiros da vege tação nativa, nc1
fo rma d e fármacos, aromáticos, óleos essencia is e orna men tais.
É importan te abordar a com preensão e a med ição dos processos de de e rtificação
d esd e o ponto de vis ta das ciências sociais, e m uma pe rspecti va que permita anJlisar
a incidência d os elementos socioeconômicos como fa tores ex p licati vos das Célll a e
consequências d o fenô meno e, sobretudo, como elementos-chave para desenhar estrêl té Íéls
de desenvolvi mento sustentável q ue possam ser ado tadas pelas comunidades locais.
A busca da contenção e reversão dos processos de desertificação, por meio do uso de
diversas técnicas já disponíveis, deve ser cons iderada como parte estratégica de um amplo
program a de convivência com o semiárido. As ações nesse sentido devem priorizar as áreas
mais comprometidas com o fenô meno da seca, conhecidas como "Núcleo de Desertificação",
assim como as áreas suscetíveis à desertificação. Os " úcleos" devem ser reabilitado ,
prioritariamente, para reutilização com atividades produtivas racionais, de modo que p arn
servir como exemplo, e as ações neles executad as possam ser replicadas em o u tros ambientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desertificação a tinge as regiões com problem a d e a ridez no mundo todo. t o entan to,
em nenhuma delas, as condições de sobrevivência humana são tão d ifíceis, com alto grau
d e miserabilidade, como no continente african o.
No Brasil, a Região Nord este e o norte de Minas Gerais, que e tão localizadas no
Polígono d as Secas, são muito susceptíveis à ocorrência da desertificação. Cerca de 20 °:,
d essas regiões já estão atingidas pela deserti ficação.
O a mbiente natura lmente frágil da caatinga, pelas condições de clima e de solo, vem
sofrendo degradação pela ação antrópica. Essa ação, que mu itas vezes ocorre em b u cada
sobrevivência, gera um peri goso ciclo de miséria, pois o ambien te fica cada vez mai ho til
p ara a permanência humana nessa região, q ue aume nta mais ainda a p ressão obre es-e
biorna.
O estudo d a desertificação vem sendo d esenvolv ido nos últimos tempo por d i ersos
p esquisadores, utilizando indicadores relacio nados a clima, solo, vegetação, geomorfo logia,
socioeconomia, entre outros.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


48 lÊDO BE Z ERRA SÁ & ARLIC É LIO D E QUEIRO Z PA I VA

LITERATURA CITADA
ccioly LJ . Degradação do solo e dec;ertifienção no Nordeste do Brasil. B lnf SBCS. 2000;25:23-25.
ouad M , Condori R . Desertificação na Bahi a: levantamento preliminar d e áreas vulneráveis . ln:
Seminário sobre de crtificaçào no Nordeste. Brasília: SEMA/SPL - Coord . de Monitoram e nto
Ambiental; 1986. p.128--17.
Bra -il. Ministério d o Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Lega l. Desertificação:
caracterização e impactos. Projeto BRA 93/036 - Elaboração de uma estratégia e do Plano
acional de Combate à Desertificação. 1993.
Bra il. Mini tério d o Meio Ambiente. Atlas das áreas susceptíveis à deserti ficação no Brasil. Brasília,
DF: 2007.
Bra il. Ministério do Meio Ambiente. Secretária de Recursos Hídricos. Programa d e ação naciona l
de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília, DF: 2005.
CEPED. Diagnóstico preliminar do processo de desertificação no estado d a Bahia. Salv ador: 1979.
\ .2.
Conti JB. O conceito de desertificação. Climatol Est Paisagem. 2008;3:39-52.
Cunha TJF, Petrere VG, Silva DJ, Mendes AMS, Melo RF, Oliveira Neto MB, Silva MSL, Alv arez
IA. Principais solos do semiárido tropical brasileiro: caracterização, potencialidades,
limitações, fertilidade e manejo. ln: Sa IB, Silva PCG, editores. Sern.iárido brasileiro: pesquisa,
desenvolvimento e inovação. Petrolina: Embrapa Sern.iárido, 2010. p.50-87.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ernbrapa Solos; 2013.
Hare FK, Warren, A, Maiz els JK, Kates RW, Johnson DL Desertificação: causas e conseqüências.
Lisboa: Calouste Gulbenkian; 1992.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de
Janeiro: 2012. (Séries Manuais Técnicos em Geociências, 1)
Intergovernamental Panei on Climate Change - IPCC. Summary for policyrnakers. ln: Fourth
Assessment Report: Clirnate Change; 2007; Cambridge: Cambridge University Press; 2007.
[accessed on: 4 Nov. 2007). Available at: http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/
wgl/ ar4-wgl-spm.pdf
Lemos JJS. Desertificação no Sem.iárido do Nordeste. ln: Oliveira TS, editor. Agricultura,
sustentabilidade e o sem.iárido. Fortaleza: UFC/SBCS; 2000. p.114-36.
Lima AAC, Oliveira FNS, Aquino ARL. Limitações do uso dos solos do Estado do Ceará por
suscetibilidade à erosão. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical; 2002. (Documentos, 54).
Matallo Júnior H. A desertificação no Brasil. ln: Oliveira TS, editor. Agricultura, sustentabilidade e o
semiárido. Fortaleza: UFC/SBCS; 2000. p.89-113.
Mcleish E. A expansão dos desertos. 3ª.ed. São Paulo: Scipione; 1997.
'aciones Unidas - ONU. Asamblea General de 12 de Sept. de 1994. [acessado em: 27 jul 2006]
Dis ponivel em: http://www.iicadesertification.org.brimagemnoticiaFile Publicacoesconv-spa .
pdf.
Oliveira J13, Jacomine PK, Camargo MN. Classes gerais de solos do Brasil; Guia auxiliar para seu
reconhecimento. JaboticabaJ: FUNEP; 1992.
Oliveira M. O ardeste no mapa mundi da desertificação. B Inf SBCS. 2000;25:18-20.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II - A DESERTIFICAÇÃO NO 5EMIÁRIDO BRASILEIRO 49

Pé1iv.1 /\Q, /\r.1ú jo QR, G ross E, Coslél LM. O deserto ele Su rubabcl nil Bahia. Bahia AK,r íí. 2007) Gl-l.
Pélivél /\Q, Souza LS, Fernandes Filho EI, Souza LO, Schacfcr C EGR, Costa LM. Lnp s TJ, Sousa DV .
Mudança do uso da terra e dinâmica de carbono org;inico d o so lo no Platô de lrecê, Bahid .
Geogrnfia. 2015;--10:85-99.
PA N BRASIL. Programa de Ação Nacional de Combate à Dese rtificêlçJo e Miti gaçJo do<; Efeito'- da
Seca: PAN-B RASIL. Brasíli a, DF: Minis tério do Meio Ambiente, cretilria tic Recu rso'> Híd ricos;
2004.
Riché GR, Sá IB, Fo tius GA. Pesq uisa sob re rea bilitação ambiental no tró pico semiá rido brosileiro. ln:
Anais da Semana de Recursos Naturais e Meio Ambiente; 1994; Salvad or. Sa lvad o r: IBGE; 1994.
Rodrigues V. Desertificação: problemasesoluções. ln: O li veira TS,ed ito r. Agricultura, sustentabilidade
e o semiárido. Fortaleza: UFC/SBCS; 2000. p.137-64.
Sá IB, Angelotti F. Degradação ambiental e desertificação no Semiárido brasileiro. ln: Ange lotti F, Sá
IB, Menezes EA, Pellegrino GQ, editores. Mudanças climáticas e desertificação no Semiárído
brasileiro. Petrolina: Embrapa Semiárido; Campinas: Embrapa Informática Agropecuária; 2009.
p.53-76.
Sá IB, Cunha TJF, Taura TA, Drumond MA. Mapeamento da de ertificação do semiárido paraibano
com base na sua cobertura vegetal e classes de solos. ln: Anai do 16º Simpósio Brasileiro de
Sensoriamento Remoto - SBSR; Foz do Iguaçu; 2013. Foz do Ig uaçu: 11 PE; 2013. p.3112 .
Sá IB, Cunha TJF, Taura TA, Drumond MA. Mapeam ento da desertificação da mesorregião ui do
Ceará com base na cobertura vegetal e nas classes de solos. Rev Bras Geogr Física. 201 ➔;7:Sn- .
Sá IB, Drumond MA, Taura TA, Sa US. Potencialidades flores tais da região do Araripe: uma
abordagem utilizando técnicas de geoprocessa mento e sensoriamento remoto. Ln: -!º Simpósio
Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto. Aracaj u: 2008.
Sá IB, Fotius GA, Riché GR. Degradação a mbienta l e reabilitação natural no trópico emiárido. Ln:
Anais da Conferência Nacional e Sem inário Latino-americano da Desertificação - CONSLAD.
Fortaleza: Fundação Esquel Brasil; 1994.
Saadi A. Os sertões que viram desertos. B lnf SBCS. 2000;25:10-7.
Sales MCL. Evolução d os estudos de desertificação no Nordeste. Geousp - E paço Tempo.
2002;11 :115-26.
Sampaio EVSB. Desertificação no Brasil. Recife: Universitária da UFPE; 2003.
Schenkel CS, Matallo Júnior H, organizadores. Desertificação. 2ª.ed . Brasília: UNESCO; 2003.
Schwnacher MV. " Deserto de Alegrete" - flores tas, uma alterna tiva de controle? B Lnf BCS.
2000;25:21-3.
Silva PCG, Moura MSB, Kiill LHP, Brito LTL, Pereira LA, Sa IB, Correia RC, Tei.: eira AHC, Cunha
TJF, Guimarães Filho C. Caracterização do Semiárido brasileiro: fato re- naturais e humano .
ln: Sa IB, Silva PCG, editores. Semiárido brasileiro: pesquisa, desenvolvimento e ino c1ção.
Pe trolina: Embrapa Semiárido; 2010. cap.1, p.18-18.
Souza LS, Paiva AQ, Souza LO, Fernandes Filho El. Dinâmica de carbono orgânico e qualidade física
de solos sob diferentes usos no platô de Lrecê- BA, v isando a mitigação da degradação ambiental.
Cruz das Almas: UFRB; Embrapa Mandioca e Fruticultura; 2011.
Suertegaray DMA. Desertificação: recuperação e de envolvime nto s ustentcivel. ln: Guerra AJT,
Cunha SB, organizador. Geomorfologia e me io ambiente. -l~.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil;
2003. p.249-89.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


50 IÊDO B EZERRA SÁ & ARLICÉLIO DE QUEIROZ PAIVA

uerteraray DMA. De erto grande do Sul _ controvérsia. 2ª.ed. Porto Alegre: UFRGS; 1998.
TRTNTA milhões de brasileiro , ameaçados. o Estado de São Paulo. São Pau lo, 05 jun. 2006. [acessado
em: 27 jul. 2006] Disponível em: http://www.integracao.gov.br/ comun.icacao/ clipping/
corpo.asp ?id=31613.
\ ischmeier VlH, Smith DO. Predicting rainfall erosion lasses: a guide to conservation planning.
Washington, DC: USDA; 1978. (Agl'iculture handbook, 537).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INTER-RELAÇÃO ENTRE A
AGRICULTURA CONSERV ACIO NISTA E A
MITIGAÇÃO DA EMISSÃO DOS GASES DE
EFEITO ESTUFA
Carlos Eduardo Pellegrino Cerri11, Thalita Fernanda AbbruzzinF1,
Carolina Braga Brandani31, Mariana Regina Durigan41, Rita de Cássia Al ves de Freita 51,
Diana Signor Deon61 & Carlos Clemente CerrFI

11 Departamento de Ciência do Solo, Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de
Q ueiroz". Piracicaba, SP. E-mail: cepcerri@us p.br
21 Instituto de Ecologia, Unive rsidade Nacional Autônoma de México, Cidade do México, México.
E-mail: thalita@iecologia.unam.mx
31 University of Florida, Ra nge Ca ttle Research anel Eclucation Center, Ona, Florida, EUA.
E-mail: carolbrandani@ya hoo.com.br
41 Departamento de Entomologia e Acarologia, Universidade d e São Paulo, Escola Superior de Agricultura
" Luiz de Queiroz" . Piracicaba, SP. E-mail: madurigan@us p.br
51 Ins tituto Federal do Piauí, Campus de São João do Pia uí. São João do Piau í, PI. E-mail: ri ta.frei ta @ifpi.edu.br
61 Embrapa Semiárido. Petro lina, P E. E-mail: d iana.signor@embrapa.br
71 Centro de Energia Nuclear na Agricultu ra, Laboratório de Biogeoqu írnica A m biental, Universidade de São
Pa ulo. Piracicaba, SP. E-mail: cerri@cena.usp.br ([11 111i:111oria111)

Conteúdo

CONSIDERAÇÕES INICIAJS ............................................................................................................................_.......- .. 52


MJTIGAÇÃO DE GASES DO EFEJTO ESTU FA EM SISTEMAS CONSERVACl O 1STAS ................................. 53
Agrossistema cana-de-açúcar................................................................................................................................... 53
Sen1eadura d ireta ............................................................................................................................................ ·- ····· 55
Recuperação de pastagens degradadas .................................................................................................................. 59
Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ..............................................................................................-.......... 62
Uso raciona l de insumos agrícolas ................................................................................... ...................................... ~
CONSIDERAÇÕES FLNAIS .................. , ..................................................................................................... ····-·············
LITERATURA CITADA ....................................................................................................................................... - ......... 73

Bertol 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do ~a lo e d ,1 água. Viç ·.i, 1\-IG: ciedilde
Brasileira de Ciência d o Solo; 2018.
52 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO (ERRI ET AL.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Tem sido cres ente a preocupação mundial em relação às mudanças do clima no


planeta, decorrentes, principalmente, das emissões de dióxido de carbono (C02) e outros
ga es de efeito e tufa GEEs, como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N 20). Esses gases são
responsávei pela manutenção da temperatura média de 16-18 ºC na Terra, promovendo o
chamado "efeito estufa", essencial para a existência da vida no planeta (Hansen et ai., 2005~
David on et aJ., 2012). Estudos revelam que, nos últimos 200 anos, a concentração desses gases
na atmosfera, principalmente de CO,, tem se elevado, sendo esse aumento mais signjficativo
nas últimas décadas (Foley et ai., 2005). Uma das principais consequências desse aumento na
concentração dos gases da atmosfera é o que se pode chamar "aumento do efeito estufa" ou
"efeito estufa antrópico" - eleva-se a quantidade dos raios infravermelhos refletidos para a
Terra, promm endo um desequiHbrio energético (Kerr, 2005; Davidson et al., 2012).
Globalmente, a queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento constituem
as maiores fontes responsáveis por 66 % dos GEEs lançados na atmosfera. A agricultura
(20 %) e a mudança do uso da terra (14 %) completam o total das emissões antrópicas,
confom1e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2001). No Brasil,
a proporção entre as contribuições dos GEEs provenientes da queima de combustíveis
fósseis, agricultura e mudanças do uso da terra apresentam padrões diferentes daqueles
observados globalmente. Aqui, a contribuição da queima de combustíveis fósseis é a
menos importante (Comunicação Nacional, 2004), enquanto a mudança de uso da terra
e a agricultura são responsáveis por mais de dois terços das emissões. Quando são
contabilizadas as emissões de gases provenientes do processo de desmatamento (Fearnside,
2000), o Brasil passa da 17'3 para a 5ª posição na relação dos países que mais emitem.
O vapor d 'água e C02 são os mais importantes GEEs. CH4, N 20 , 0 3 e outros gases
corno halocarbonetos e aerossóis também são GEEs (Le Treut, 2007). O vapor d' água é o
principal GEE, mas é, diretamente, pouco influenciado por atividades humanas (Forster
et ai., 2007). Por essa razão, C02, CH4 e N20 são os gases de maior relevância para o efeito
estufa. Os GEEs possuem capacidade de absorver radiação infravermelha, aquecer-se e
transmitir calor para a ahnosfera. Contudo, a capacidade de aquecimento, ou o potencial
de aquecimento global - PAG, é diferenciada entre esses gases (Snyder et al., 2009). O PAG
de um gás é dado em razão de seu tempo de vida na atmosfera e do PAG do C02, uma
\ ez que esse é o GEE mais abundante na atmosfera. Desse modo, considerando um tempo
de vida de 12 anos para CH4 e de 114 anos para N20, os respectivos PAGs seriam 21 e 310
vezes superiores ao do Cür
A concentração ahnosférica de C02 aumentou de 280 mrn3 drn·3 para 380 mrn3 dny3 em
250 anos, desde o início da Revolução Industrial. Os primeiros 50 rnrn 3 dm·3 de aumento
precisaram de 250 anos para serem atingidos, enquanto os 50 rnrn3 dm·3 restantes foram
acumulados em apenas 30 anos. O acúmulo de C02 na atmosfera é atribuído ao aumento
do uso de combustíveis fósseis pela indústria de produção de cimento e ao desmatamento
(Foley et al., 2011).
As emissões de CH4 resultam do uso de combustíveis fósseis, da queima de biomassa,
do cu ltivo em terras alagadas, dos aterros e da criação de ruminantes (Denman et ai., 2007;
Forster et ai., 2007). Os teores de CH4 variaram entre 400 µm 3 dm·3 e 700 µm 3 dm·3 nos
períodos g laciais e interglaciais, respectivamente, enquanto em 2005, a concentração média
global de CH4 era de 1 774,62 ± 1,22 µrn 3 dm·3 •

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INT ER-RELAÇÃO ENTRE A A GR I CULTURA (ONSERVACIONISTA E A .. . 53

J\ co nccntraç5o atmosféri rn de N 2 tam bém tem ap rec;en tado aumen toc; constantes
(Dcn man et a i., 2007; Le Tre ut et ai., 2007). As principai s fontes de emic;são de 20 são o
uso d e fertilizantes nitrogena d os, a q ue ima d e combustíveis fósc;e is e os processos naturais
qu e oco rre m nos solos e nos ocea nos. A ta xa a nual d e a umento na concentração atmosférica
de N 20 va ria de 0,2 % a 0,3 %. Considera-se que apenas os solos brasi le iros sob floresta
contribuam com 10 % ela emissão global desse gé'ís (Fo rs ter et ai., 2007).
Entretanto, o solo se constitui em um compa rtimento-chave no processo de e miss5o
e sequestro de C (Six et a i., 2004; Knorr e t a i., 2005; Foley e t ai., 2011 ). Segund o dados do
último relatório do 1PCC (IPCC, 2007), globa lme nte há duas a três vezes mais C nos olos
em re lação ao estocado na vegetação e cerca do dobro em comparação com a atmosfera.
Portanto, manejas inadequados podem favorecer a mineralização da matéria o rgânica do
solo (MOS) e transferir grandes quantidad es de GEEs para a atmosfera (Po lwson, 2005;
Beddington et ai., 2012).
É importante sa lientar a diferença enh·e aumento do estoque de C e sequestro de C
no solo. O primeiro está mais restrito à diferença de estoques de Centre dois manejas o u
sistemas agrícolas. O segundo, mais amplo, envolve a diferença de estoques, mas também
as variações nas emissões de CH-1 e N,O,
-
urna vez que o cômputo do CO,- está embu tido
na diferença dos estoques de C do solo. As diferenças entre estoques no solo e fluxo de
gases, ou seja, o sequestro de C, são normalmente expressas na unidade "equivalente em
Carbono (Ceq)", onde se leva em consideração o PAG dos gases envolvidos.
Este capítulo trata de uma breve análise sobre algumas das práticas de manejo
empregadas em diferentes sistemas de produção agrícola e o uso racional de insumo
agrícolas como potenciais medidas de mitigação das emissões de GEEs no campo.

MITIGAÇÃO DE GASES DO EFEITO ESTUFA EM


SISTEMAS CONSERV ACIONISTAS

Agrossistema cana-de-açúcar
A produção de biocombustíveis derivados de biomassa vegetal tem sido considerada
uma importante fonte de energia renovável (Goldemberg, 2007; FAO, 200 ) e uma das
principais alternativas para mitigação das emissões de gases do efeito estufa (Faaij, 2006).
Nesse contexto, existe grande interesse global na produção e consumo de biocombustivei ,
em razão de fatores ambientais, sociais e econômicos. No Brasil, o principal biocombu tível
é o etanol derivado da cana-de-açúcar.
A cana-de-açúcar é uma espécie gramínea semiperene, pertencente ao género
Sncchnrum . Oriunda de regiões temperadas quentes e tropicais da Ásia, e introduzida no
Brasil por volta de 1532, apresenta metabolismo fotossintético do tipo C-l, o que lhe confere
alta eficiência fotossintética e crescimento v igoroso.
Atualmente, o Brasil ocupa a posição de maior produtor mundial de cana-de-açú ar.
Segundo o último levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abas teciment
(Conab, 2011), estima-se que a produção de cana-de-açúcar na safra 2011 / 2012 foi de
aproximadamente 640 Mt, o que corresponde a um aumento em 2,9 ~ em relação ..i safra

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


54 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

2010/ 2011 . c nt xto, a participação da Região Cenh·o-Sul na safra 2011 / 2012 ficou
pro nma a O º da produção nacional, e 60 % da produção brasileira de cana-de-açúcar
e tão ituada no Est-ado de São Paulo, com aproximadamente 4,5 Mha de área plantada e
produ ão e timada em 3 4 Mt na safra 2011/2012 (Conab, 2011).
cultura da cana-de-açúcar é responsável por 11 % do material vegetal residual de
colheita produzido atualmente no mundo (IPCC, 1995), com um sistema de produção
que permite a utilização desses subprodutos para a cogeração de energia nas usinas
de produção de etanol e promove a redução da emissão de GEEs, quando comparado
aos combustÍ\ eis fós eis (Goldemberg et ai., 2008). Projeções indicam a importância da
biomassa em curto prazo, fornecendo mais de' 20 % da energia utilizada mundialmente ao
final do éculo XXI (Goldemberg, 2009). Além disso, em termos médios, a cultura responde
por aproximadamente 75 % de todo o açúcar produzido no mundo (FAO, 2001).
Uma particularidade com relação ao cultivo da cana-de-açúcar é a forma de colhei ta,
que pode ser feita associada (cana queimada) ou não (cana sem queima) ao uso do fogo.
O processo de queima antes da colheita permite maior facilidade nas operações de corte e
transporte dos colmos, porém envolve a combustão quase completa da biomassa vegetal
que, consequentemente, leva à transformação do C da planta a C02, acompanhada por
emissões de 20, CH4 e outros, causando impactos sobre o clima local e o regional e na
qualidade do solo, além da liberação de particulados (fuligem) na atmosfera, acarretando
em problemas respiratórios (Cançado et al., 2006).
o Estado de São Paulo, o decreto de Lei Estadual 47.700, de 11 de março de 2003,
determina a erradicação da colheita queimada da cana-de-açúcar até 2031, mas essa redução
Jª e e>..-pressiva. esse contexto, a colheita sem queima da palha de cana-de-açúcar (cana-de-
açúcar colhida crua), além de ser mais viável economicamente, atende aos padrões de exigência
do mercado internacional, que, frente às preocupações ambientais, sobretudo relacionadas ao
aquecimento global, têm imposto restrições às importações de álcool em caso de impactos
socioarnbientais severos (Carnargo et al., 2008). Iniciativas governamentais têm provocado
grandes reflexos no setor canavieiro, como a redução da queimada de cana-de-açúcar, a
intensificação do corte mecanizado e o uso de subprodutos oriundos da produção do açúcar e
etanol na agricultura, promovendo redução das enússões de GEEs na atmosfera.
Apesar da pesquisa sobre GEEs voltada para o agrossistema da cana-de-açúcar ser
recente no Brasil, diversos estudos, principalmente na Região Centro-Sul do país, têm
observado a grande contribuição de práticas de manejo conservacionista para reduzir a
emissão desses gases na atmosfera. Galdos et al. (2010) apresentaram que existem grandes
diferenças entre as emissões na colheita de cana-de-açúcar com queima, 2 209,2 kg ha·1 ano- 1
de Ceq (carbono equivalente), e sem queima, 558,5 kg ha·1 ano-1 de Ceq. Essa diferença é
dada principalmente pela grande quantidade de fuligem produzida pela queima da pa.Jha e
menor emissão de CH~ e N 20 , que se encontram associados a operações anteriores à colheita.
Em estudo com resultados expressos em C02 equivalente com os gases C02, CH4
e N20, Figueiredo e La Scala Jr. (2011) demonstraram que a fertilização nitrogenada e
a queima da biomassa vegetal são as práticas responsáveis pelas maiores emissões de
GEEs em áreas de produção de cana-de-açúcar, observando-se emissões de 1 167,6 e
941,0 kg ha-1 ano·1 de C02eq, respectivamente. O sistema de colheita com queima apresentou
as maiores emissões, com um pico de 3103,9 kg ha-1 ano-1 de C02eq. Estimativas evidenciam
que a conversão de cana queimada para sem queima pode ter emissão evitada de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INT ER - RELAÇÃO ENTRE A A GR I CULTU RA (ON SE RVACION I S TA E A . .. 55

310,7 kg ha- 1 a no- 1 ele CO 2eq nos primeiros cinco a nos de conversão, sem co ns iderar o
sequestro d e C no solo.
Lisboa e t ai. (2011) a presentarJm qu e as emi ssões diretas de N 2O na fase agrícola
associadas à fert ili zação nitrogenad a res ultou num fa to r d e emissão de 3,87 ± 1,16 %, va lor
superior ao es tabelecido pelo IPCC (1 %). Essas e missões respondem por 40 % da emis ão
to ta l de GEEs da produção de etanol de cana-de-açúca r, com um ad icional de 17 ºt,, da
queima da biomassa vegeta l.
O sistema de cultivo de cana-de-açúcar colhida cru a, ou seja, sem o uso do fogo,
d eposita sobre a superfície do solo uma quantidade considerá vel de palha (folha eca,
ponteiro e pedaços de colmo), com deposição anual estimada em 10-20 t ha-1 de matéria
seca, formando uma cam ada de 10-12 cm d e espessura. A cobertura fo rmada aJtera
atributos químicos, físicos e biológicos do solo, provocando mudanças na s ua temperatura
e umidade (Dourado-Neto et a i., 1999), na s ua densid ade (Tominaga et ai., 2002), na sua
taxa de infiltração e estabilidade de agregados (Graham et al., 2002), interferindo a dinàmica
do N nele, aumentando a imobilização do N por microrganismos após adição de material
orgânico com alta relação C/N e disponibilizando N contido na palha para absorção pela
planta (Basanta et al., 2003; Cava et ai., 2005) .
Não existem ainda muitas informações a respeito das emissões de GEEs em
razão da decomposição desse material, porém é evidente que a adoção de práticas não
conservacionistas nessas áreas podem ocasionar a liberação de GEEs, corno CO~ 1 e ~º
CH4 (Cerri et al., 2007), causando agravamento do efeito estufa. Apesar disso, o elevado
potencial energético da biomassa vegetal deixada sobre a superfície do solo para cogeração
de energia e uso de subprodutos da produção de açúcar e etanol, corno a vinhaça, o bagaço
e a torta de filtro na agricultura, reduz a pegada de C (expressão derivada do inglês
Carbon Footprint) não somente da fase agrícola, mas da cadeia produtiva como um todo,
contrapondo urna biomassa anteriormente convertida em CO2 atmosférico.
Apenas um terço da biomassa da cana-de-açúcar é transformado em etanol, enquanto
os dois terços restantes são considerados bagaço e palha de cana-de-açúcar (Goldemberg,
2008). Futuramente, existe grande potencial do aproveitamento do bagaço para a produção
de etanol, chamado então "etanol de segunda geração", ou seja, produzido a partir da
hidrólise da celulose da cana-de-açúcar, o que representa vantagem ambiental e económica
para as usinas de etanol (Cardona et al., 2010).
Portanto, em linhas gerais, a adoção de estratégias de manejo conservacionista, como
a redução da colheita com queima e do consumo de combustíveis fósse is, o uso eficie nte da
fertilização nitrogenada e o aproveitamento dos subprodutos gerados a partir da produção
de açúcar e etanol contribuem efetivamente para diminuir a concentração de GEEs e
sustentabilidade do setor sucroalcooleiro.

Semeadura direta
A semeadura direta (SD) começou a se tomar uma prática no Brasil, durante a década
de 1970, quando agricultores do sul do país, como forma d e controlar a erosão generalizada
causada pelo revolvimento intensivo dos solos agrícolas, introduziram nova forma de
manejo do solo (Amado et ai., 2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--- 56 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

A aceita à da SD foi relativamente lenta, atingindo cerca de 1 Mha m 1992. No


entanto, o agricultores começarnm gradualmente a perceber que havia grandes benefícios
na implantaçao da SD, a qual e 'igia menos operações de campo, diminuindo despesas
com maquinário e combustível; as culturas podiam ser plantadas mais cedo do que no
plantio convencional (PC), além de contribuir para conservar o solo e a água. Além disso,
existem algw1s princípios subjacentes ao manejo do solo que levaram ao desenvolvimento
da SD no Brasil: a prevenção da vedação/ selamente e desagregação da superfície do solo
causada pelo impacto da precipitação sobre o solo, a obtenção e manutenção da estrutura
do solo e a redução do olume e da velocidade de escoamento superficial.
Atualmente, a SD envolve a combinação de práticas biológicas ou culturais, como:
o uso de xenobióticos e, ou, práticas mecânicas no manejo de culturas para adubação
erde, a formação de cobertura do solo por meio da manutenção da biomassa cultural
residual na superfície; a combinação de espécies com diferentes exigências nutricionais,
produção de biomassa e sistema radicular, o que pode ser denominado de rotação de
culturas; e a adoção de métodos integrados de controle de plantas infestantes por meio da
cobertura morta do solo, herbicidas e minimização de distúrbios no solo, exceto nos sulcos
de semeadura (Sá, 1998).
Essa estratégia de manejo alternativo rapidamente se expandiu para diferentes estados
(Cerri et al., 2010). Destaque pode ser dado à Região Centro-Oeste, sob domínio do biorna
Cerrado, que apresenta mais de 12 Mha cultivados com lavouras anuais, responsáveis por
25 % da produção de cereais no país, sendo, desses, mais de 7 Mha cultivados com a SD
(APDC, 2007), com expectativas de aumento para os próximos anos (Conab, 2012).
Com a ampla expansão da agricultura no país, o governo brasileiro com o objetivo de
difundir uma "nova agricultura sustentável", a ser adotada pelos agricultores para reduzir
os impactos do aquecimento global, está incentivando ampliar os atuais 25 para 33 Mha
sob SD, visando ao sequestro de C nos solos agrícolas. A estimativa é que esse acréscimo
de áreas sob um manejo mais conservacionista permitirá reduzir a emissão de 16 a 20 Mt
de C02 equivalentes (Conab, 2012).
Nesse contexto, a manutenção e o manejo da MOS são de grande importância para
a sustentabilidade de culturas agrícolas, pastagens e florestas, sendo o fator-chave na SD.
Atualmente, atenções têm sido voltadas para a função dos solos no ciclo global do C, onde
são estocados mais de 1,5 Tt (Eg) de C ou cerca de três vezes o C contido na vegetação
mundial e duas vezes a quantidade de C (como COJ na atmosfera terrestre. Por isso,
relativamente, pequenas mudanças no estoque de C da MOS podem acarretar grandes
efeitos na concentração dos GEEs, seja positiva ou negativamente. Nesse sentido, se os
solos são manejados de forma a aumentar o conteúdo de MOS, o que também contribui
para aumentar a fertilidade do solo, quantidades de C02 emitidos para a atmosfera podem
ser reduzidos (Cotrufo et al., 2011).
Em geral, a SD tem contribuído para aumentar os estoques de C, principalmente
na superfície do solo, como resultado da menor perturbação nesse (Corazza et al., 1999;
Bayer et ai., 2000; Sá et al., 2001; Schuman et al., 2002; Six et ai., 2002; Amado et al., 2006),
resultando em menores emissões de GEEs para a atmosfera, principalmente C02 (Paustian
et al., 2000), quando comparado ao PC.
Cerri et aJ. (2007), em extensa revisão de literatura, relataram que os solos brasileiros
acumulam, em média, 0,5 t ha·1 ano·1 de C. Entretanto, no Brasil, vários estudos (Testa et

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INTER-RELAÇÃO ENTRE A A GR IC ULTURA (ONSERVACIONISTA E A .. . 57

ai., 1992; Castro Fi lho ct a i., 1998; Ri zebos e Loerts, 1998; Baye r e Berto!, 1999; Corazza
e t ai., 1999; De Maria et ai., 1999; Freitas t ai., 2000; Resck et ai., 2000; Bayer et ai., 2000,
2002; Amado e t a i., 2001 ; Machado e Si lva, 2001; Freixo e ai., 2002; Venzke Filho et ai.,
2002; Perrin, 2003; Scopel et ai., 2003; Sique ira Neto, 2003; Zotarel li et al., 2003; Sisti et
ai. , 2004; Amado et ai., 2006, Bayer et ai., 2006; Jan talia et ai., 2007; Carvalho et ai., 2009;
Marchão et ai., 2009) apresentaram taxas de armazenamento de C orgánico variando de O
até 1,7 t ha·1 ano- 1 de C para a profundidade de 0-40 cm (Quadro 1), evidenciando a exten a
variabilidade que os diferentes sistemas de produção proporcionam no acúmulo de C.
Considerando-se a principal prática adotada na SD, a manutenção de biomassa residual
sobre a superfície do solo, é importante compreender os processos de decomposição dessa
biomassa e sua consequente contribuição para a formação da MOS. A decomposição dessa
biomassa é primeiramente regu lada pela a tividade microbiana do solo e essa, por sua vez,
é determinada pelo tipo de manejo dado ao solo, pela qualid ade (composição quúnica) da
biomassa residual e pelas condições edafoclimáticas (Six et aJ ., 2002; Denef et ai., 2004; Austin
e Vivanco, 2006; Berg e McClaugherty, 2008; Plante et ai., 2009). Tais fatores são considerados
como fundamentais na decomposição, os quais regulam a quantidade de C estabilizada no
solo (Smith e Collins, 2007) e a emitida para atmosfera como forma de GEEs.

Quadro 1. Taxa de armazenamento de carbono (acú mulo após conversão do sistema de manejo
convencional para semeadura direta) em sistemas agrícolas sob Latossolos no biorna Cerrado
Sucessão de Acúmulo
Loca1/ Es tado 111 Argila Camada Duração Fonte
culturas<21 deC
g kg-' cm ano t ha·1an o- 1
Planaltina, DF S/W 400-500 0-20 15 0.5 Corazza et aJ., 1999
0-40 15 0.8
Sinop, MT R-S/So-R/So-
500-650 0-40 5 1.7 Perrin, 2003
S/M-S/E
Goiânia, GO R/S 0-10 5 0.7 NI
Luziânja, GO S/M 350 0-20 8 0.3 Bayer et al .. 2006
Costa Rica, MS S/M 650 0-20 5 0.6 Bayer et aJ.. 2006
Sen. Canedo, GO M/B 500 0-20 4 0.3 Freitas et ai., 2000
Planaltina, DF R/ pousio/ outo-
650 0-30 20 0.7 Jantalia et ai ., 2007
no ou S/M
Planaltina, DF S/M/5/M ou
600 0-20 13 0.3 Marchào et ai, 2009
S/ Pg
Rio Verde, GO M ou S/Pousio 450-650 0-20 12 O. Scopel et ai., 2003
S/M ou Soou M
Nl MouS >300 0-40 16 OA Re..'-C.k et ai., 2000
Vil hena, RO Carvalho et al.,
R/pousio/S/M 730 0-30 5 0.38
2009
1' 1DF- ~istrito Federal;_ MT- _Mato Grosso;_GO - Goiás. r-lW- trigo (Tntirnm llt'Sli.•11111); S - soja (Glyci,u ,ruix); _ sorgo (S.irghum
uulgaris); R - arroz (Onzn saHua); Pg - Pc11111sew11 gla11rnm; E - Ele11s111c curaama; M - milho (Zen nwys); B _ fetJào (Phaséo/U:i P"..JI .iru)·
e 1 - Não identificado. g '

Bayeretal. (2006) observaramque,comparadoao PC, os estoques de Cem um Latoss lo


com textura média sob SD aumentaram para 2,4 t ha·1 de C, com taxa de sequestro de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


58 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

0,30 t ha·1 ano·1 de , e em um Lato solo argiloso, para 3,0 t ha·1 de C, com taxa d e sequestro
de 0,60 t ha·1 ano·1 de C. O autores etlfatizaram que a SD em solos de cerrado nem sempre
resultam em aumentos do estoques de C, em relação ao PC (Freitas et ai., 2000; Roscoe
e Burman, 2003), pois fatores como a textma do solo, mineralogia e quantidade anual
de biomassa residual da colheita aportada ao solo também podem influenciar a taxa de
acúmulo de C. A te ·tura tem grande importância no compartimento de MOS, uma vez que
está diretamente relacionado com a formação de agregados, influenciando na retenção de
umidade do olo, na dinâmica de nutrientes, na estrutura da comunidade, na atividade dos
organismos do solo (Berg e McClaugherty, 2008) e consequentemente nas entradas e saídas
de C do sistema. Além disso, têm se verificado que, em solos do Cerrado, o incremento ou a
manutenção da MOS é dificultada por causa das condições climáticas e das irregularidades
na distribuição de precipitação pluvial (Machado e Silva, 2001).
Estudos detalhados que avaliem a contribuição da agricultura na emissão de GEEs
ainda são necessários no Brasil. Estimativas de Cerri et ai. (2004) demonstraram ter
ocorrido emissão líquida anual de 46,4 Mt no período de 1975-1995, enquanto a mitigação
decorrente da adoção da SD alcançou 33 Mt de CO2 anualmente, no mesmo período. É
válido ressaltar que, nesse período, na subdivisão do país por regiões, os estados das
Regiões Sul e Sudeste apresentaram sequestro líquido de CO2 de, aproximadamente, 6,5
Mt, enquanto as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste evidenciaram emissão líquida
superior a 52 Mt anualmente, para o mesmo período (Bemoux et ai., 2001).
A agricultura, aliada à mudança do uso da terra no Brasil, tem sido responsável por
94 % do total das emissões de N 2O (Cerri e Cerri, 2007), ressaltando a importância de
estudos sobre GEEs, tendo em vista a grande extensão de áreas agrícolas no país (65,3 Mha)
e o elevado PAG do N 2O (296 vezes maior que o CO2).
Os efeitos do preparo de solo sobre as emissões de N2O estão relacionados à sua
influência sobre a estrutura do solo, a atividade microbiana, a taxa de decomposição da
biomassa residual e a mineralização do N orgânico do solo, bem como sobre a temperatura
e umidade do solo. O uso do solo em SD tem sido apontado como uma prática que aumenta
a emissão de N 2O à atmosfera, quando comparado a solos revolvidos (Carvalho, 2009).
Escobar et ai. (2010), considerando as emissões de N2O após a colheita de soja, observaram
emissões em áreas de SD três vezes maiores que nas áreas de PC. Isso se deve à maior
população de microorganismos desnitrificadores no solo em SD do que em PC (Linn e
Doran, 1984), à condição de maior adensamento do solo não revolvido (Bali et al., 1999)
e à maior conservação da água no solo (Baggs et al., 2003, 2006), fatores que têm reflexo
negativo na difusão do 0 2 no solo e que favorecem a desnitrificação (Bali et ai., 1999; Ruser
et ai, 2006; Bhandral et ai., 2007).
A disposição da biomassa cultural residual sobre o solo em SD resulta em emissões de
N O maiores do que aquelas verificadas nas áreas de PC. _Isso ocorre porque a adição dessa
2
biomassa à superfície do solo, além de conservar a unudade desse, como reportado por
Baggs et al. (2006), adiciona grande quantidade de C e N lábil em um pequeno volume dele,
0 que aumenta sensivelmente a sua atividade biológica na superfície, consumindo o 0 2
disponível e criando sítios de anaerobiose, onde, na presença de NO3-, ocorre produção de
N O por desnitrificação, Entretanto, em PC, esse efeito é diluído na sua camada revolvida,
p~ssivelmente por não exaurir os níveis de 0 2 nele, levando a menores emissões de N 2 0
do que em SD, apesar da maior taxa de mineralização da biom~ssa residual em razão do
revolvimento dele (Baggs et al., 2003, 2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - IN TER-RELAÇÃO E NT RE A A G RI C ULT URA (ONSERVACION I STA E A . . . 59

A conversão de sístcméls sob PC para SD, no enta nto, está longe de ser a rea lização
máxima possível em termos de ac umulação d e C no solo, como fo rma de mitigar a emjsc;ão
de GEEs. O desafio é desenvolve r e melhorar o regime de rotação d cu ltura com
alta prod utividade primária líq uida e as ad ições d C pela fitomassa, a liad o às fo rmas
conservacio nistas de manejo do solo, max im iza ndo os benefícios da SD como es tratégia
para promover o sequestro de C-C0 2 e a qua lidade cio solo.

Recuperação de pastagens degradadas


De acordo com o último Censo Agropecuário divulgado pelo Ins titu to Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui uma área aproximadél de 172 [ha ocupada
por pastagens (IBGE, 2006). Estimati vas recentes têm sugerido que pelo menos a metade
das áreas de pastagens em regiões ecologicamente importantes, como a Amazónia,
encontra-se degradada ou em processo de degradação (Dias-Filho et ai., 2007) . De maneir a
geral, estima-se que a área de pastagem considerada degradada na Amaz ônia é de cerca
de 13 Mha (Cerri et al., 2008). Por esse motivo, neste item, será dado maior enfoque às
pas tagens degradadas dessa região.
A degradação das pastagens é um processo evolutivo de perda da produtividade
e capacidade de recuperação natural das forrageíras para sus ten ta r a produtividade e
a qualidade exigida pelos animais, sendo diretamente relacionada à perda de olo por
meio de processos erosivos. Esse processo geralmente está associado à intensidade de
pastoreio, à perda da fertilidade do solo, à mudança de vegetação e até mesmo em ra zão
das consequências do desmatamento, caso comum nas áreas de pastagens na região da
Amazônia (Brown e Lugo, 1990; Trumbore et al., 1995; Smith et a i., 2007; Maia et al., 2009).
Associada à perda de solo está a perda da MOS e consequentemente do C do solo.
Sendo assim, considera-se que, dependendo do manejo dado às pastagens, o solo pode
funcionar como fonte ou dreno de C (Fearnside e Barbosa, 1998; Ogle et al., 2005; Cerri et
al., 2009; Maia et al., 2009), sendo esses pontos-chave na mitigação da emissão de GEEs
gerados pela agricultura (WCC, 2007; Smith et al., 2007; Cerri et al., 2010).
Segundo Paustian et al. (2000), o uso de granúneas perenes possui alta capacidade
de acumular e redistribuir o C na subsuperfície do solo e, associado à alta entrada de
biomassa e ausência de revolvimento do solo, torna-se a principal razão para q ue área de
pastagens bem-manejadas sejam capazes de sequestrar maiores quantidades de C (Cerri
et al., 2008). Entretanto, no caso da Amazônia, existe outro problema, o qual anteced e a
degradação das pastagens, que é a conversão de florestas para as áreas atuais de pastagens,
com estimativas de que possam emitir cerca de 10 a 15 kg m-2 de C, na fo rma de CO~ para
atmosfera (Cerri et al., 2008). Ogle et al. (2004) estimaram que o estoq ue de C no sÔlo de
pastagens degradadas, em regiões de clima tropical, pode diminuir em até 97 ~ ' q uando
comparado com os estoques no solo de mata nativa. Para Feamside e Barbosa (199 ), 0
novo equilíbrio do estoque de C do solo poderá ser alcançado somente apó 10 anos da
implantação da pastagem, apresentando perda média final de 3,9 t ha- 1 de C.
Por causa da grande variabilidade dos tipos de solo e vegetação na região Amazônica,
muitos estudos têm apresentado resultados divergentes em relação às mudanças nos
estoques de C dos solos das áreas de pastagens (Maia et al., 2009) . Segundo Feamside e
Barbosa (1998), a maioria das pastagens presentes na região Amazônica funciona com
fonte de C para a atmosfera, em razão principalmente do estado de degradação em que e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


60 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

enc ntra. ntanto, De jardins et al. (2004) encontraram casos de aumento dos estoques
de C no s lo em ár a de pastagen que foram bem-manejadas por vários anos.
Para o Estados de Rondônia e Mato Grosso, Maia et ai. (2009) relataram que os
e toques de C do solo em áreas de pastagens degradadas apresentaram fator de emissão
de 0,91 ± 0,14 % (C - CO2 equivalente), quando comparados com os estoques das áreas de
, egetação nati a, considerando o fator de em.issão da vegetação nativa como sendo igual
a 1. Portanto, o valor de 0,91 indica que houve perda de 9 % do C do solo, em razão da
com ersão de vegetação nativa para pastagens degradadas. Com base nos resultados, os
mesmos autores estimaram que áreas de pastagens degradadas podem perder entre 0,27
e 0,28 t ha·1 ano·1 de C. Outros estudos como os realizados por García-Oliva et al. (2006),
Hughes et ai. (2002) e Brown e Lugo (1990) estimaram que as perdas de C do solo para a
atmosfera nessas pastagens podem variar entre 18 %, 9 % e 44 %, respectivamente.
De acordo com Cerri et al. (2006), se toda área de pastagem degradada da Arnazôn.ia
(13 Mha) recebesse o manejo adequado e fosse recuperada, haveria a possibilidade de
obter taxa de acúmulo de 0,27 t ha·1 ano-1 de C na camada de Oa 30 cm, o que aumentaria
os estoques de C dos solos dessa região, além de deixar de emitir aproximadamente
3,5 Tg ano-1 (Mt ano·1) de C. Nesse sentido, a recuperação dessas pastagens degradadas
passa a ser fundamental e é um dos principais pilares capaz de sustentar e tomar eficaz os
planos de mitigação de GEEs gerados pela agricultura e mudar a imagem desse setor corno
um dos ilões do aquecimento global no Brasil.
Porém, para que esse cenário possa mudar e para que as áreas de pastagens possam se
transformar em drenas de C, devem ser realizadas melhorias por meio de práticas simples
de manejo, como adubação, irrigação e introdução de leguminosas (Conant et al., 2001;
Og]e et al., 2004; Smith et al., 2008). Como consequência da adoção de práticas como essas,
é possível aumentar em 17 % os estoques de C do solo dessas áreas degradadas (Ogle et al.,
2004), o que pode resultar em uma taxa de sequestro de C que varie entre 0,11 e 3,04 t ha·1
ano-1 de C (Conant et al., 2001).
É importante ressaltar que a questão das emissões de GEEs por áreas de pastagens
degradadas é de interesse não apenas do Brasil e, nesse sentido, o IPCC (2007) propôs cinco
principais alternativas que podem ser adotadas pelos pecuaristas do mundo todo e suas
possíveis chances de eficiência (Quadro 2).
A primeira prática de manejo sugerida diz respeito à "Intensidade de pastejo", que visa
estabelecer uma quantidade ideal de animais por hectare de tal maneira que não prejudique
0 desenvolvimento da forrageira, como o perfilhamento, e principalmente que preserve
0 solo para que esse possa fornecer os elementos essenciais para o desenvolvimento da
gramínea, bem como preservar os estoques de C e evitar as emissões de GEEs (FAO, 2010).
A segunda prática refere-se ao "Aumento da produtividade", o que inclui o uso de
fertilizantes. Segundo Conant et ai. (2001), uma das alternativas para elevar os estoques de
c do solo dessas áreas de pastagens degradadas seria por meio do aumento de entrada de
material vegetal, como a liteira, no solo. Porém, para que isso ocorra, devem ser utilizados
fertilizantes e, ou, técnicas como a irrigação dessas pastagens.
Em relação à terceira prática sugerida, "Manejo nutricional", é feito um alerta para
que se utilizem as práticas de adubação comumente usadas em culturas anuais; porém,
deve-se tomar cuidado com a deposição de fezes e urina, principalmente a originada da

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INT ER - RELAÇÃO ENTRE A AGRICULTURA CONSERVACIONISTA E A ·.. 61

criação de ga do, que é difícil de ser controlada (Oenema et ai., 2005) e que é respon ável
pela emissão de gases como o CH1 o N 20, que possuem elevad o PAG.

Quadro 2. Medidas propos tas para miti gação dt1s e missõc.:; de GEEs em á reas de pastagens, c;eus
efeitos a parentes sobre él redução d e emissões e estimativa da confiança científica de que a
prática propos ta pode reduzir as emissões líq u idas no local de adoção
Mitigação liq u idam
Efeitos mitigadoresOJ
Exemplos de práticas de manejo (Confiança)

CH, Np Comprovada Evideoda

Intensidade de pastejo ± ± ±
.
Aumento da produtividade + ±
...
Manejo nutricional + ± ....
Manejo/Controle do fogo + + ±
.
Introdução de espécies + ± "
fl>+ indica a redução das emissões (efeito positivo de mitigação); -evidencia aumento da errussões (efeito negativo de mihgaçJo};
± designa res posta incerta ou variável. f2lEstimativa qualitativa da confiança em descrever a prática p roposta como mt!!dida para
reduzir as emissões liquidas de GEEs, expressas em CO2 equivalente: "Comprovada", refer~ .'1 confiança em relaçJo aos d<1dos
encontrados na literatura (quanto ma.is asteriscos, maior é a confiança); " Evidencia", atribui-se à quantidade relafr,a de dad~ q ue
comprovam o efeito das práticas propostas (quanto mais asteriscos, mais provas).
Fonte: Adaptado de [PCC (2007) e Smith et ai. (2007).

A quarta sugestão é de grande importância, pois diz respeito ao "Manejo/ Controle


do fogo" . A queima das áreas de pastagens contribui com as emissões de gases com P AG
elevados além de emitir hidrocarbonetos, aerossóis e material particulado (Beringer et al.,
2003). Por isso, seu controle passa a ser de extrema importância e é um dos primeiros
passos para mitigar as emissões de GEEs.
A quinta e última prática proposta pelo IPCC visa incentivar a " Introdução de
espécies forrageiras", que apresentam maior produtividade de matéria vegetal e q ue
têm potencial para um sistema radicular bem desenvolvido, o que pode contribuir para
a melhoria dos estoques de C do solo (Fisher et al., 1994). Urna alternativa também é a
utilização de forrageiras leguminosas que, além de contribuírem para os estoques de C do
solo, promovem a melhoria da fertilidade em razão da fixação biológica do 1 2•
Essas e outras alternativas deverão ser adotadas visando melhorar e recuperar as
pastagens degradadas no Brasil. Segundo o MAPA (Brasil, 2010), o Governo brasileiro
pretende recuperar 15 Mha de áreas de pastagens degradadas entre os anos de 2010 e _020.
Essa é uma das metas do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que
tem grande importância, pois além dos impactos climáticos, a degradação ambiental impõe
elevados custos à sociedade, além do empobrecimento do produtor rural. Para atingir
esse objetivo, urna das práticas que vem sendo largamente adotada no Brasil é integração
lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Destacam-se também a agricultura orgânica, os sistemas
de produção integrada, a SD e os sistemas agrofloresta.is.
Nota-se então que, do ponto de vista do sequestro de C, pode-se reduz.ir em até cinc
vezes a emissão dos GEEs com a recuperação das pastagens degradadas. Além diss , se
essas pastagens forem recuperadas, poderá ser possível reduzir a pressão pela derrubada de
mais florestas para abertura de novas pastagens e, se for possível trabalhar com pastagens

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


62 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

em pleno poten iaJ, bem manejadas e adubadas, o Brasil poderá usar um q uinto da área
atual de pa tos para produzir a me ma quantidade em termos de produtos anim ajs e ainda
om menore en1issõe de gases do efeito estufa.

Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF)


As principais estratégias parn reduzir a emissão de GEEs consistem em dirn.inuir
a queima de combustíveis fósseis, minimizar desmatamento e queimadas, manejar
adequadamente o solo e maximizar o sequestro de C no solo. Quanto às duas últimas
estratégias, o uso de práticas conservacionistas do solo é indiscutível para sua otim.ização
(Carvalho et aJ., 2008).
A TLPF é uma estratégia de produção sustentável, que integra atividades agrícolas,
pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, sequencial
ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do sistema produtivo,
contemplando a adequação ambiental e a viabilidade econômica da atividade agropecuária
(Balbino et al., 2011). Dessa forma, abrange sistemas produtivos diversificados para a
produção de alimentos, fibras, energia, produtos madeireiros e não madeireiros, quer
sejam de origem vegetal ou an.imal, de forma a otimizar os ciclos biológicos das plantas e
dos an.imais, bem como dos insumos e suas respectivas biomassas residua.is.
A estratégia de ILPF contempla quatro modalidades de sistema, assim caracterizados:
integração Lavoura-Pecuária ou Agropastoril (ILP); integração Pecuária-Floresta ou
Silvipastoril (IPF); integração Lavoura-Floresta ou Silviagrícola (ILF); e integração lavoura-
pecuária-floresta ou Agrossilvipastoril (ILPF) (Balbino et al., 2011).
Os sistemas de produção animal convivem permanentemente com o ônus dos impactos
gerados pela atividade e sua relação com o aumento na emissão de GEEs. As mudanças
no uso da terra, geradas pela expansão de pecuária e implantação de novas pastagens e a
produção de CH4 de origem metabólica e de N 20 pelo uso de fertilizantes n.itrogenados são
consideradas as principa.is fontes das emissões. Assim, a dimensão do rebanho brasileiro,
associada à extensa área de pastagens, coloca em evidência a importância e os impactos
dessa atividade como fonte de GEEs ou como dreno a depender do manejo imposto
(Soussana et al., 2007). Dessa forma, a estratégia de ILPF adquire importância, que tende a
ser ma.ior quando utilizada em regiões com pastagens degradadas.
A ILP vem exibindo considerável potencial de acúmulo de C no solo. Carvalho (2009),
ao avaliar as modificações nos estoques de C do solo nos principais processos de mudança
de uso da terra nos biornas Amazônia e Cerrado, comparando-os com a implantação de
sistemas ILP, observou que a conversão de áreas de sucessão de cultivas, tendo a soja como
cultura principal, para sistemas de ILP (ambos em SD), resulta em acúmulo de C no solo; as
taxas de acúmulo variaram de 0,82 a 2,85 t ha·1 ano·1. Entretanto, a magn.itude do acúmulo
de c no solo depende das culturas implantadas, das condições edafoclimáticas e a.inda do
tempo de implantação do sistema de ILP (Figura 1).
Estudos realizados na região do Cerrado tem demonstrado incremento nos estoques
de c do solo em sistemas de ILP sob SD, quando comparados aos de áreas sob SD sem a
presença de forrageira na rotação ou na sucessão de cultivas (Carvalho et ai., 2010; Salton
et ai., 2011). Salton (2005), ao avaliar as taxas de acúmulo de Cem diferentes sistemas de
uso e manejo do solo no Cerrado, observou acúmulos de C de 0,60 e 0,43 t ha· 1 ano·1 em
áreas de no ve e 10 anos de implantação de sistemas de ILP, respectivamente.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - IN TER - RELAÇÃO ENTRE A A GRICULTURA CONSERVACIONISTA E A · .. 63

Estoq ue
t ha·1 1986 - Inicio do culti vo e
80 plant io cl;:i past.igcm
)
Vegetação n.itiva
- ~...-...- - - - - ---- -
75
--- -- -- Pas tagem
70 lnteg raç5o
La vou ra-p cuán i.1
0

65 'iun· ·,;,iode cult11rac,

60 1999 - Introdução da ILP

55

5
q930 1985 1990 1995 2000 2005 2010

Figura 1. Estoques de carbono do solo na camada de 0-30 cm para diferentes uso da terra em
Montividio, GO.
Fonte: Adaptado de CarvaU10 (2009) .

Em virtude do papel reconhecido das árvores e do crescimento para sequestrar C


e, consequentemente, mitigar a emissão de GEEs, os sistemas de ILPF são considerado
relevantes para a produção sustentável. No sistema de ILPF, estabelece-se o cultivo da
espécie florestal com espaçamento ampliado entrelinhas, possibilita ndo a implantação
de uma cultura de interesse comercial na região, como soja, milho, feijão, sorgo, gira oi,
mandioca etc., nas entrelinhas por dois a três anos. Em seguida, implan ta- e a cultura
forrageira consorciada com o milho ou com o sorgo. Após colher a cultura de grãos, terá o
pasto formado nas entrelinhas da floresta cultivada, permitindo a impla ntação da atividade
de pecuária e a sua exploração até o corte da madeira.
Estudos com diferentes arranjos de sistemas de ILPF demonstraram que o componente
florestal propicia inúmeros benefícios que refletem em melhoria na eficiência de uso
da terra (Carvalho et al., 2001; Macedo, 2009). Entretanto, são os impactos po itivos em
variáveis microclimáticas e o sequestro de C que ampliam as possibilidades de eu uso
em cenários de mudanças climáticas. No entanto, estudos avaliando o balanço de C ne se
sistemas ainda são escassos no Brasil.
O potencial de mitigação de GEEs em sistemas de ILPF com ár ores de rápido
crescimento(> 2,2 cm de diâmetro ao ano) no Brasil é de, aproximadamente, 5,0 t ha· 1 ano·'
de Ceq (média para 11 anos) fixado na madeira (tronco) das árvores, conforme resultado
de Tsukarnoto Filho (2003). Isso equivale à neutralização por ano da emissão de 13 boi
adultos (450 kg de peso vivo do animal). Os sistemas de ILPF além de ser uma ta-nologia
para mitigar emissões de GEEs, atende a necessidade de bem-estar animal ao proporcionar
proteção contra estresse térmico, promove a biodi ersidade em sistemas produti os
e incrementa o uso eficiente da terra com agregação de alor e renda para as área de
pastagens (Leite et ai., 2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


í
64 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

a duas ú ltima dé ada , 0 eucalipto tem sido estabelecido no Cerrado, e m


ombina ã com ulturas do arroz e da soja nos primeiros dois anos, seguido d e pastagens
de braquiária e gado de orte, a partir do terceiro ano. Tsukamoto Filho e t al. (2004), a o
a, aliarem a fixação de Cem diferentes sistemas de uso e manejo do solo na região do Cerrado,
obsen aram que o si tema agrossilvipastoril, com eucalipto, arroz, soja e braquiária, fixou
maior quantidade de C do que nos sistemas tradicionais, sendo considerado wna opção
para pr jetos de Mecani mo de Desenvolvimento Limpo no Brasil.
Estudos recentes indicam que os sistemas de ILPF armazenam maior quantidade de C
do que o recorte único de espécies e sistemas de pastoreio, na superfície e em subsuperfície
air et al., 2011). A elevação dos teores de MOS e a melhoria da qualidade física do solo
com a introdução do componente arbóreo aos componentes lavoura e pastagem indicam
que o sistema de ILPF tem potencial para reduzir o impacto ambiental das atividades
produti\ as, ao reduzir as emissões de GEEs, com consequente aumento da estabilidade de
produção das culturas e melhora do aproveitamento da água e dos nutrientes (Franchini
et al., 2010).
Os resultados com a ILPF apontam que essa é uma alternativa economicamente viável,
ambientalmente correta e socialmente justa para o aumento da produção de alimentos
seguros, fibras e agroenergia, possibilitando a diversificação de atividades na propriedade,
a redução dos riscos climáticos e de mercado, a melhoria da renda e da qualidade de vida no
campo, contribuindo para a mitigação do desmatamento, a redução da erosão, o sequestro
de C e a diminuição da emissão de GEEs, enfim possibilitando a produção sustentável.
Entretanto, os diferentes sistemas de ILPF podem ser constituídos de grande
dh ersidade de plantas de lavouras e de pastagens e de arranjos e densidade arbóreas.
Ass~ o sequestro, fluxo e estoque de C dão~se de formas diferentes nos diferentes
agrossistemas, ecorregiões e formas de manejo dos componentes dos sistemas. Dessa forma,
o conteúdo de C e a taxa anual de sequestro/imobilização de C nesses sistemas podem
variar grandemente. Embora haja exemplos de utilização da ILPF no Brasil, a diversidade
de condições regionais do país indica a necessidade de estudos regionalizados sobre o
sistema de ILPF, para, assim, diminuir o grau de incertezas na estimativa do potencial de
sequestro de C na fitornassa e no solo nos diferentes sistemas.

Uso racional de insumos agrícolas


A emissão de gases nitrogenados (N2 e N20) em solos aráveis deve-se a múltiplos
processos simultâneos que ocorrem no ambiente edáfico (Stevens e Laughlin, 1998; B0ckman
e Olfs, 2008). De maneira geral, grande parte do N20 emitido pelos solos é produzida pelos
processos de nitrificação e desnitrificação, e pequena quantidade provém de processos não
biológicos como a decomposição química do N02- (quimiodesnitrificação), decomposição
química de hidroxilamina CNHiOH) (produto intermediário na conversão de NH4+ a N02 -)
e reação dessa com o N02- (Bremner, 1997).
A nitrificação representa a oxidação aeróbica de NH/ a N03-. O processo é realizado
por bactérias quimioautotróficas e ocorre em duas etapas: nitritação, em que o NH + é
oxidado a N 0 2-por ação de Nitrosomonas sp., Nitrosospira sp. e Nitrosococcus sp.; e nitrata~ão,
em que O 0 2-é oxidado a N03-por Nítrobacter sp., Nítrospira sp. e Nitrococcus sp. (Moreira e
Siqueira, 2006). De maneira geral, a nitrificação pode ser resumida pelas reações seguintes:

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II I - lNT ER-REL/\ÇÃO ENTRE A AGRICULTURA (ON SERVACIONISTA E A . . . 65

Nitritação: 2 N H •I' + 307 -► 2 NO·2 + 2H2 O+ 4/-1' + Eneroin


Ã
Eq. 1
Nitratação: 2 NO~+ 0 2 - 2 NO~+ E11ergín Eq. 2
Q uand o a nitri ficação ocorre em pressões de O próximas à condição atmosférica, a
oxid ação d e N H/ (Eq. 1) é inicialmente maio r que a ele N0 2• (Eq . 2). À medida que o H 1•
vai send o oxidad o, a concen tração de N0 2• a u menta e, em seguida, diminui medida q ue o
N0 3• vai sendo fo rmad o, evitando assi m o acúmulo de 1 0 2· , que é tóxico no olo. Contudo,
em situações d e anaerobiose (pressão de 0 2 me nor que a atmosférica), as taxas de oxidação
d e NH/ e N0 2· permaneceram pra tica mente consta n tes, favorecendo o acú mulo de NO:·
(Eq. 3) (Khalil et ai., 2004), que pode ser usado al ternativa mente pelos microrganismos
nitrilicadores como aceptor fi nal de elétrons, leva ndo à fo rmação de 1 20 e óxido nítrico
(NO) (Snyder et al., 2009). Bremner (1997) reuniu informações d e diversos autore e
concluiu que grande parte do N 20 emitido por solos bem-aerados após a aplicação de
fertilizantes nitrogenados deve-se à ação microbiana dura nte o processo de nitrificação,
como evidenciado na equação 3.
NH4· --+ NO; --+NO;
L
NO --+ N20 --+ N2 Eq. 3
A desnitrilicação por sua vez é o processo de redução do O,· a té 1 2, mediado
por bactérias anaeróbicas facultativas, que representam de 0,1 a 5 % da população total
de bactérias no solo (Moreira e Siqueira, 2006). Essa trans formação pode ser completa,
originando N 2, ou incompleta, quando urna porção do N é emitida como 20. A rota
de desnitrificação, em que o N vai sendo sucessivamente utilizado como recep tor de
elétrons, é representada pela sequência a seguir (Eq. 4), onde os números entre parênteses
representam o número de oxidação do N nos diferentes compostos:
Eq.4
Apesar de ser um processo anaeróbico, Khalíl et al. (2004) observaram q ue a
desnitrilicação pode ocorrer mesmo em altas pressões de O, em razão da presença de
condições anaeróbicas em alguns agregados. Em solos aerados, há formação d e microsítios
anaeróbicos, que favorecem a ocorrência concomitante de reações de nitrificação e
desni trilicação.
Firestone e Davidson (1989) propuseram um modelo que sintetiza a influência dos
fatores microbiológicos e ecológicos atuando sobre as emissões de r O e ,O nos solos.
Esse modelo, conhecido corno hole-in-tl1e-pipe (Figura 2), sugere que as prod-uções desses
gases são função da disponibilidade de N no solo. A taxa de fluindo pelo tubo (pipe) é
o primeiro nível de controle das emissões dos óxidos de N do solo e representa, d e forma
mais geral, o N ciclado no ecossistema. As quantidades de O e 20 perdidas pelo
buracos do tubo (hole) representam o segundo nível de controle das taxas de emissão e são
determinadas primariamente pelo conteúdo de água no solo. A água é importante porque
controla o transporte de 0 2 para dentro do solo e de NO, N ,O e N, para fora. s effilssoes
e
desses gases dependem de um balanço entre produção, consumo transporte por difu ão
no solo; por e xemplo, em solos secos e bern-aerados, a nitrificação é o p roce so dominante,
e o gás na forma mais oxidada (NO) é emitido em maior quantida de. Além disso, em solos
secos, a difusão dos gases é maior e isso permite que uma maior qua ntidad e d e O seja
emitida antes de ser consumida em outro processo. Já em solos úmidos, a ta a d e difu ão
dos gases e a aeração são menores e, portanto, uma quantidad e maior de O reagirá no

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-- ◄

66 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

solo antes de ser emitida para a ahnosfera. Nessa situação, o óxido mais reduzido (N20)
será o produt final d minante. Em condições de solo saturado e anaeróbico, grande parte
do 20 reduzida a N 2 antes de ser emitida do solo (Davidson et al., 2000).
É difícil obter a participação relativa do N 20, que é produzido por nitrificação
e por desnitrificação; entretanto, a literatura sugere que, sob condições aeróbicas ou
semianaeróbicas, o N 20 é produzido por microrganismos nitrificantes, enquanto,
em condições de anaerobiose, esse é produzido principalmente por microrganismos
desnitrificantes (Bremner, 1997; Khalil et ai., 2004).

Assilllilaçio biológica ===t NO


Reaçõesabióticas
N 20 ~ aquosa do solo
~ ~
lj
NA;-..___ _ _ _ _..., - NO, - ( ~ ~ O- N2
.Nitrificação / Desnitrifkação

Figura 2. Modelo Hole-in-t'1e-pipe.


Fonte: Modificado de Firestone e Davidson (1989).

A enússão mundial de N20 é da ordem de 17,7 Tg ano-1 de N, em que urna porção


de 6,7 Tg (37,85 %) é de origem antrópica. Os solos de áreas agrícolas contribuem com a
enússão de 2,8 Tg ano-1 de N, ou seja, 15,82 % das emissões totais ou 41,79 % das emissões
antrópicas estão diretamente relacionadas às atividades agrícolas (Denman et al., 2007).
o Brasil, de acordo com o Segundo Inventário Brasileiro de Emissão de GEEs, 77 % das
emissões de C02 devem-se à mudança de uso da terra e das florestas; 70 % das emissões
de CH4 são provenientes da agropecuária, principalmente em razão da fermentação
entérica dos ruminantes; e 17 % das enússões desse gás devem-se à mudança de uso da
terra e das florestas. Já as emissões brasileiras de N20 ocorrem principalmente por causa
da agropecuária (85 %); as emissões de N 20 de solos agrícolas respondem por 82 % das
enússões nacionais desse gás (Brasil, 2010).
Em razão desses fatos, do elevado PAG do N20 e considerando ainda que as principais
fontes de N20 são o uso de fertilizantes nitrogenados (orgânicos ou minerais), o efeito do
uso racional de insumos agrícolas sobre as emissões de GEEs será comentado com maiores
detalhes dando ênfase a esse gás.
A formação e a emissão de N20 pelos processos microbianos de nitrificação e
desnitrificação que ocorrem no solo são resultados de interações complexas {fü,ckman e
Olfs, 2008). De maneira geral, ambos os processos são influenciados por temperatura do
ar e do solo, umidade, aeração, reação do solo e teor de argila, práticas manejo, adição
de fertilizantes nitrogenados e de matéria orgânica relação C/N e fatores tóxicos aos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INT ER- RELAÇÃO ENTRE A AGRICULTURA CON SE RVACION I STA E A .. . 67

microrganis mos (Bremner, 1997; Moreira e Siquei ra, 2006; Snycler et ai., 2009). Práticas
d e manejo como rotação d e culturas, prepa ro do solo e períod o de aplicação de têm
fortes efeitos nas perdas de N20 e suas inte rações indicam o envolvimento de processos
sinérgicos na emissão de N 20 por solos agrícolas (Tt1n et t1l., 2008).
Temperatura e umidade interferem na ati vidad e d os mic rorg,in ismos respon áveis
pelas reações de ni trificação e desnitrificação. Em temper aturas a menas, t1 taxa de
conversão de compostos nitrogenados é baixa, aumentando à med id a q ue a temper atu ra
também se eleva (Wolf e Brumme, 2002; Akai yma e t ai., 2000). Con tudo, mesm o em
condições de elevada temperatura, quando a umidade do solo é baixa, a e missões de 1 20
também são pequenas (Zhang e Han, 2008). Vários autores demonstraram que a u m idade
do solo também apresenta wna relação direta com a emissão de r 20 (Abbasi e Adam ,
2000; Passianoto et ai., 2003; Carmo et ai., 2005; Ciarlo et ai., 2008; Giacomini et ai., 2006;
Siqueira Neto et ai., 2009; Denmead et ai., 2010). Além disso, quanto maior a quan tid ade
de poros do solo preenchida com água, menor será a aeração, favorecendo o proce o de
desnitrificação. A umidade do solo, no entanto, está positivamente correlacionada com o
teor de C lábil do solo (Davidson e Swank, 1986), C que servirá como fonte de energia aos
microrganismos envolvidos na formação de N 20.
Simojoki e Jaakkola (2000), comparando a adição de N e a irrigação em áreas cu ltivad as
e em pousio, verificaram que a irrigação aumentou aproximadamente cinco vezes as
emissões de N?O do solo. Portanto, a quantidade de água fornecida às plantas pode ser
manejada de fÕrma racional para minimizar os impactos da agrícultura irrígada sobre a
emissão de GEEs. É importante também que os efeitos do manejo da água e da aplicação
dos fertilizantes nitrogenados sejam considerados de forma integrada quando se deseja
que a atividade agrícola reduza sua emissão de GEEs (Cai et al., 1997).
Um fator que também influencia as emissões de N 20 é o pH do solo, pois interfere na
atividade da enzima que reduz N 20 a N 2 no processo de desnitrificação. Em valores baixos
de pH, a atividade enzimática é inibida e a quantidade de N 20 perdida é elevada (Brernner,
1997; Chapuis-Lardy et ai., 2007). O aumento de uma unidade no pH do solo pode reduzir
em 0,2 unidade a fração molar de N 20 emitida (Stevens e Laughlin, 1998). Portanto, o
manejo da quantidade de N03disponível e o do pH do solo são práticas eficientes para
minimizar a emissão de N 20 do solo. É importante destacar que o processo de nitrificação
(aeróbico) tende a reduzir o pH do solo, enquanto a desnitri.ficação (anaeróbico) aumenta
o seu pH (Khalil et al., 2004). Assim, a manutenção do pH em uma faixa adequada
ao desenvolvimento das plantas e o uso de fontes nitrogenadas que não reduzam
consideravelmente o pH do solo também são estratégias para minimizar as emissões de
N 20 em solos agrícolas.
A granulometria do solo é um dos atributos desse que influencia a emissão de ,O.
De maneira geral, solos argilosos apresentam maiores fluxos d e N,O que os arenosos.
Segundo Tan et ai. (2008), as perdas de N 20 após eventos de chuva sãÕ, a pro, imadamente,
quatro vezes maiores em um solo franco-argiloso em comparação a um solo arena-argiloso.
As maiores emissões de N 20 no solo argiloso estão relacionadas à menor quantidade d e
macroporos, que favorece a presença de microsítios anaeróbicos, onde ocorrem as reações
de desnitrificação. Portanto, como o conteúdo de argila do solo não pode ser alterado por
práticas de manejo, em solos com textura m ais argilosa, outras práticas de manejo devem
ser adotadas para reduzir a emissão de GEEs.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


68 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

Em solo agrícolas, além dos efeitos ocasionados pelas condições edafoclimáticas


citadas anteriormente, as emi sões de N 20 são influenciadas também por práticas que
promovam aumento na disponibilidade de C e N no solo e que propiciem condições
satisfatórias para a atividade microbiana. Entre essas estão as operações de preparo do
solo, a aplicação de fertilizantes nitrogenados e orgânicos, o retorno do N contido na
biomassa cultural residual e o manejo da irrigação.
Os efeitos do preparo de solo sobre as emissões de N 20 estão relacionados à sua
influência sobre a estrutura do solo, atividade microbiana, taxa de decomposição da
biomassa residual e mineralização de compostos orgânicos com N do solo, bem como
sobre temperatura e umidade do solo. O uso do solo em SD tem sido apontado como uma
prática que aumenta a emissão de N 20 à atmosfera, quando comparado a solos revolvidos
(Carvalho et al., 2009). Escobar et al. (2010), considerando as emissões de N 20 após a
coll1eita de soja, observaram emissões em áreas de SD três vezes maiores que nas áreas de
PC. Isso se deve à maior população desn.itrificadora no solo em SD do que em PC (Linn e
Doran, 1984), à condição de maior adensamento do solo não revolvido (Bali et al., 1999)
e à maior conservação da água no solo (Baggs et al., 2003, 2006), fatores que têm reflexo
negativo na difusão do 0 2 no solo e que favorecem a desnitrificação (Ballet al., 1999; Ruser
et al., 2006; Bhandral et al., 2007).
A disposição da biomassa cultural residual sobre o solo em SD resulta em emissões
de N 20 maiores do que aquelas verificadas nas áreas de PC. Isso ocorre porque a adição
dessa biomassa à superfície do solo, além de conservar a umidade desse, como reportado
por Baggs et ai. (2006), adiciona grande quantidade de C e N lábil em pequeno volume
desse, o que aumenta sensivelmente a atividade biológica na sua superfície, consumindo 0
0 2 disponível e criando sítios de anaerobiose, onde, na presença de N03·, ocorre produção
de N .,O por desnitrificação. Entretanto, em PC, esse efeito é diluído na camada revolvida
do sÕlo, possivelmente não resultando na exaustão de 0 2 e levando a emissões de N 20
menores do que em SD, apesar da maior taxa de mineralização da biomassa residual por
causa do revolvimento (Baggs et al., 2003, 2006).
Além das operações de preparo do solo, o sistema de rotação de culturas também
influencia as emissões de N 20. Siqueira Neto et al. (2009) observaram emissões de N 20
maiores em áreas cultivadas com milho-trigo que naquelas cultivadas com a sucessão soja-
trigo sob SD. As maiores emissões nas áreas de milho foram explicadas por esses autores em
razão da maior quantidade de N mineral aplicada ao milho, enquanto a necessidade de N da
soja é suprida por fixação biológica, evitando que, ao final do ciclo da cultura, haja grande
quantidade de N mineral disponível no solo passível de sofrer desn.itrificação. Contudo,
Escobar et al. (2010), comparando o efeito da deposição de biomassa residual de soja e milho
sobre O solo também em áreas de SD, verificaram emissões de N 20 maiores após a colheita de
soja, indicando que a rotação de culturas incluindo soja e milho seria estratégia importante
na redução das emissões de N 20. Gomes et ai. (2009) também relataram que leguminosas
utilizadas como culturas de cobertura do solo apresentam maiores emissões de N 20 que
gramíneas, e que as emissões estão diretamente relacionadas à quantidade de N (r = 0,77,
p = 0,13) e inversamente correlacionadas à razão lign.ina/N (r = 0,94, p = 0,01) da biomassa
residual da cultura de cobertura.
A disponibilidade de N no solo é diretamente influenciada pela quantidade de
fertilizantes minerais ou orgânicos adicionados à área. Uma vez que as emissões de N 20
por nitrificação ou desnitrificação são dependentes do conteúdo de N no solo (Akaiyma et

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INT ER-RELAÇÃO ENTRE A A G RI C ULTURA CONSERVACIONISTA E A .. , 69

ai., 2000; C u et ai., 2007), n taxa de emissão de N 20 também es tá r !acionada à aplica~ão tle
fe rtilizante nitrogenado (Passia no to et ai., 2003; Chen et a i., 2008). De acordo com Zhang
e Ha n (2008), a relação entre as emissões acumu ladas de N 20 e a aplicação de é linea r
e pode ser usada pa ra estimar a emissão de N 20 em razão da dose de N aplicada ao solo.
Com relação aos fertili zantes minerais, a fo rma de ad icionada ao solo também é
determinante nas emissões de NO. A adição de fe rtil iza nte nitrog nado na formil rutricc.1
2 - . .
proporciona aumentos nos fluxos de NO mais rápidos (Carm o et ai., 200'.:>) e mc11s intenso
(Del a une et ai., 1998) que a adição de N ~a forma a moniacal. Considerando a desnitrificaç5o
como o principal processo de formação de 20 nos solos, fontes nítricas podem ser
desnitrificadas imediatamente, enquanto as fontes amoniacais ainda precisam passar pelo
processo de nitrificação para só então estarem aptas a passar pela desnitrificação. As im,
os fertilizantes amoniacais aumentam o processo de nitrificação no solo (Khalil et ai., 2004),
enquanto a aplicação de fontes nítricas estimula a emissão de N 20 por desnitrificação (Ruser
et al., 2006) . Abbasi e Adams (2000) verificaram que entre 60 e 100 % do l adicionado via
fertilizante desaparece do solo 7 d após a a plicação quando se adiciona K1 O v enquanto
resultado similar só é obtido após 28 d quando se u tiliza u ma fonte de r· amoniacal. Além
disso, o efeito da adição de N03• sobre os fluxos de 20 é mais evidente em solos com
menor disponibilidade de N03• do que em solos onde o N0 3· já está presente (Carmo et ai.,
2005).
A emissão de N 20 é reduzida quando há baixa disponibilidade de . · no solo,
aumento na eficiência de absorção desse nutriente pelas plantas (Yang e Cai, 2007) e baixa
precipitação (Perdomo et a!., 2009). Assim, o parcelamento da dose de I • a ser aplicada é
um artifício para reduzir as emissões de N 20. Em condições de solo saturado, mas não
encharcado, aplicações parceladas de KN03 reduzem as emissões com relação à aplicação
total (Ciarlo et al., 2008). A aplicação parcelada aumenta a eficiência no uso de e reduz as
perdas por lixiviação e desnitrificação, apresentando importantes benefícios na mitigação
de GEEs e proporcionando uma produção sem desperdício de recursos e, portanto, mai
econômica (Tan et ai., 2008).
A aplicação de fertilizantes orgânicos ao solo garante o aporte tanto de 1 q uanto de C.
O C lábil é utilizado como fonte de energia pelos microrganismos e, portanto, interfere nas
reações de nitrificação e desnitrificação. Considerando que a umidade e disponibilidade de
N03• não sejam limitantes à produção de N 20 , os maiores fl uxos desse gás são observados
em solos com maior quantidade de C lábil (Ruser et ai., 2006). Os picos de emissão de
N 20 são dependentes do incremento de C lábiJ adicionado ao solo pela decom posição
da biomassa residual das plantas (Passianoto et al., 2003) ou pela adição de dextro e
em condições controladas (Carmo et a!., 2005). Rodriguez et a i. (2011) erificaram, ob
condições controladas, que a adição de lodo de esgoto a umentou as emissõe de CO, e de
N20 em comparação ao tratamento controle. Fernández-Luqueno et ai. (2009) estudaram
o efeito da aplicação de ureia, lodo de esgoto e vermicomposto sobre as emissões de GEEs
durante o cultivo de feijão. O uso dos dois tipos de adubos orgànicos aumentou as emissões
de C02 e de N 20 em comparação aos tratamentos com ureia e sem adição de (controle).
Giacomini et al. (2006) apresentaram que a aplicação de dejeto líquido de suínos aumenta
mais de quatro vezes as emissões de N 20, tanto em SD quanto em condições de preparo
reduzido do solo.
Deve-se dar atenção à relação C/ N da biomassa residual da cultura u adubos
orgâ nicos adicionados ao solo, uma vez que influenciam a disponibilidade de. e ati idade

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


70 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

microbiana. Um solo com baixa relação C/N apresenta predomínio do processo de


mineralização do em relação ao processo de imobilização, aumentando a quantidade de
disponh el, que estará desimpedido para ser absorvido pelas plantas ou para os processos
de nitrificação e desn.ib·ificação. Toma (2007), em experimento de campo, verificou que a
emi são de N 20 foi maior em parcelas tratadas com biomassa residual de baixa relação
C/ , possivelmente por sua facilidade de decomposição. Isso foi confirmado também
em estudo de laboratório, em que a baixa relação C/N da biomassa adicionada ao solo
induziu alta concentração de C orgânico dissolvido e maiores emissões de N 20 (Huang et
ai., 2004). Quando o N é fornecido por fontes orgânicas, também é importante que exista
sincronização entre a mineralização de N e a absorção de N pela cultura, reduzindo as
emissões de N 20 e garantindo uma produção adequada (Gomes et ai., 2009).
Uma alternativa à adição de matéria orgânica fresca ao solo é o acréscimo de material
carbonizado. O can,ão vegetal, ou "biachar", é resistente à decomposição e seu emprego
como condicionador de solo está relacionado tanto ao aumento do conteúdo de C quanto
a melhorias em atributos químicos, físicos e biológicos do solo, que por sua vez resultam
em melhores condições para o crescimento das plantas (Steiner et ai., 2007; Madari et
ai., 2009; Verheijen et al., 2009). Dentre os benefícios do uso de "biachar", podem ser
citados: aumento da produtividade das culturas, redução da lixiviação de N, melhoria na
capacidade de retenção de água do solo, neutralização da acidez do solo, decréscimo na
quantidade de alunúnio extraível, redução significativa das emissões de CH4 e N 20 dos
solos, redução na densidade do solo, aumento na condutividade hidráulica saturada e
maior conteúdo de C no solo (Fowles, 2007; Steiner et ai., 2007; Major et ai., 2010). Spokas
e Reicosky (2009) compararam 16 tipos de "biachar", oriundos de matérias-primas e de
processamentos diferenciados aplicados em três tipos de solo, e concluíram que a conversão
da biomassa a carvão antes da incorporação ao solo reduz as emissões de N 20. Spokas et
ai. (2009) demonstraram que a adição de "biachar" reduziu as emissões de C02, CH4 e N 0
2
do solo, sob condições de incubação. Isso se deve ao aumento da capacidade de sorção do
"biachar" à medida que esse envelhece no solo e que reações de oxidação se processam em
sua superfície (Singh et ai., 2010).
O IPCC propõe urna metodologia para estimar as emissões de N 20, considerando as
adições antrópicas liquidas de N ao solo e a mineralização de N na MOS, após drenagem
e manejo de solos orgânicos ou cultivo/mudança de uso em solos minerais. As fontes
de relacionadas às emissões diretas seriam: fertilizantes nitrogenados sintéticos;
compostos orgânicos com N aplicado como adubos (esterco animal, composto, lodo de
esgoto); N em biomassa cultural residual; mineralização de N associada a perdas de MOS
em razão de mudança de uso da terra ou manejo de solos minerais; drenagem; e manejo
de solos orgânicos. Especificamente com relação aos fertilizantes minerais, orgânicos e
mineralização de N da biomassa cultural residual, o IPCC propõe que se considere que
1 % da quantidade de N aplicada é perdida para a atmosfera na forma de N 20 (IPCC,
2006). Contudo, esse fator de emissão pode ser bastante variável, conforme demonstrado
em vários trabalhos resumidos no quadro 3.
Uma observação importante a ser feita é que o fator de emissão parece ser dependente
da dose de N aplicada. Chen et al. (2008) observaram que as emissões de N 20 cresceram
linearmente com a quantidade de N aplicado ao solo. Ruser et ai. (2006) apresentaram
que, para urna mesma dose de fertilizante aplicada ao solo, o fator de emissão se eleva
com O aumento 'da quantidade de poros do solo preenchida por água. Para a cultura do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - lN TER-REL" ÇÃO ENTRE A A GRICULTURA CONSERVACIONISTA E A .. . 71

milho, a adi ção el e 300 mg kg 1 ele N condici ono u um pico de em issão 2,3 vez ' 5 mc1ior qu e
a c1plicc1ção el e 150 mg kg 1 de N (Yang Cél i, 2007).

Quadro 3. Fato res ele e missJo para o N-N 20 d e c ultur.:is ag rícolac,

Fator de Emissão Fonte


Cultura
de N-N 20 (% )
Colza, milho e cana-de-açúcar 3a5 Crutze n et ai. (2008)
Soja 0,55 a ·1,97 Ciampitti et ai. (2008)
Pas tagem para corte (silagem) 0,28 a 0,62 Smith et ai. (1998)
Batata 0,86 a 1,9 Smith et J 1. (1998)
Trigo de inverno 0,17 Smith etal. (199 )
Cevada de primavera 0,67 Smith et ai. (199 )
Floresta 0,1 a 0,03 Delaune et ai. (199 )
Semeadura direta 2,8 Pas ianoto e t a i. (2003)
Plantio convencional 0,9 Pas ianoto et al. (2003)
Pastagem 0,15 Schils et al. (200 )
Pastagem 0,35 Zhang e Han (200 )
Área de agricultura abandonada 0,52 Zhang e Ha n (200 )
Cana-de-açúcar (solo de drenagem ácida) 21 Denmead et al. (2010)
Cana-de-açúcar (solo siltoargiloso) 2,8 De nmead et ai. (2010)
Pastagem 0,09 Hellebrand et ai. (200 )
Salgueiro 0,45 Hellebrand et ai. (200 )
Álamo 0,51 a 0,59 Hellebrand et al. (200 )
Centeio 0,88 Hellebrand et al. (200 )
Triticale 0,89 Hellebrand et al. (200 )
Cânhamo 0,33 Hellebrand et ai. (200 )
Colza 0,65 Hellebrand et al. (200 )

Deve-se ter em mente que o efeito da adubação nitrogenada interage com os outro
fatores que influenciam a emissão de N"O. Adubações feitas com o tempo eco resultam
em uma pequena emissão de N 20 enquanto aplicações em condiçõe úmida apre-entam
grande resposta no fluxo de N 20 (Smith et al., 1998; Schils et al., 2008; Zhang e r-lan, 200 ).
A aplicação de urna dose concentrada de fertilizante nitrogenado durante o plantio,
quando sucedida por um evento de chuva, propicia condições para em.is õe ele adas de
N 20 (Tan e t al., 2008). Entretanto, o efeito da umidade parecer ser meno importante que
a disponibilidade de N no solo (Gomes et al., 2009) e, portanto, quando o conteúdo de l
no solo é reduzido, mesmo em condições de alta umidade, a emissão de ,O é limitada
(Denmead e t al., 2010). ·

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


72 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

O aporte de 1 , a a perda d 2
particularmente em olos de textura fina e qu
não r el: ram preparo ante do plantio (Tan et ai., 2008; Chen et ai., 2008). Isso ocorre
p rque a ausência de preparo do olo favorece formação de sítios aneróbicos, onde se
proce sam as rea -e de de nitrificação, o que é mais evidente em solos de textura fi.na, já
que a menor quantidade de macroporos dificulta a difusão de gases.
Apre ença de fit ma sa residual na superfície também interage com a disponibilidade
de l no sol e com a emissões de N 20. Hao et ai. (2001) evidenciaram que a remoção de
fitoma a re idual em solos fertilizados elevou as taxas de emissão de N 20. Portanto, em
áreas onde há aporte significativo de N via fertilizante, a presença de fitomassa residual
na superfície fa orece a imobilização do nitrogênio em razão da elevada relação C/N do
material , egetaJ e reduz as reações de desnih·ificação e as emissões de N 20.
Freney (1997) enumerou alguns pontos que devem ser levados em consideração
para aumentar a eficiência de uso de N pelas plantas e que, portanto, têm potencial para
reduzir as perdas de N na forma de N 20: forma, época e dose corretas de aplicação do
fertilizante nitrogenado para sincronizar a demanda de N pela planta e o fornecimento do
nutriente pelo fertilizante; manutenção do solo coberto, evitando que grande quantidade
de fique dispo1úvel em um solo em pousio; adoção de práticas adequadas de preparo
do solo, manejo de irrigação e drenagem da área; racionalização de frequência, área e
quantidade de biomassa queimada; aplicações foliares de fertilizantes nitrogenados; uso
de fertilizantes de liberação controlada; e uso de inibidores da urease para reduzir perdas
gasosas de amônia e perdas secundárias de N20.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Globalmente, estima-se que o setor agrícola contribui significativamente para as


emissões de GEEs, com aproximadamente 22 % das emissões associadas ao C02, 80 % das
emissões ao N 20 e 55 % das emissões ao CH4• Nesse contexto, o Brasil é considerado um
dos países com maiores emissões de GEEs na agricultura em razão de sua importância
como atividade econômica, estimando-se que 75 % das emissões de C02, 94 % das de N 20
e 91 % das de CH4 sejam oriundas das atividades agrícolas. As certificações dos produtos
agropecuários no Brasil e iniciativas do Governo Federal como o Programa Agricultura
de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC) condicionam novo modelo de produção
agrícola. Nesse contexto, este capítulo abordou alguns dos principais exemplos de usos
da terra e práticas de manejo agrícolas de caráter conservacionista. Há elevado potencial
de sequestro de C no âmbito da agricultura conservacionista, que representa uma das
mais promissoras alternativas para mitigação dos GEEs. Dessa maneira, faz-se necessário
intensificar o incentivo à adoção de práticas e processos tecnológicos, que, por um lado,
auxilie na redução da concentração de GEEs na atmosfera provocado pelo setor agrícola e,
por outro lado, aumente a fixação de C na vegetação e no solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


111 - INTER-REL AÇÃO EMTRE A A GRfCULTURA CONSERVACIONISTA E A . .. 73

LITERATURA CITADA
Abbas i MK, Adams W /\ . Cascus N emissio n cluring s imu ltane us nitr ífir,1ti(ln-c.1Pn itrificc1ti o n
assoc iated with mineral N ferlilizJtí on to a g rJss lanJ so il uncle r fi e ld concl iti o n . Soil Bio l
Biache m . 2000;32:125·t -9.
Akiy élma H, Tsuruta H, Watanabe T. N2O a nel I O e mísc;ío,;; from c;nil s c1fte r the applirntio n o f
diffe rent che mica l fertili zers. Global Chan ge Se i. 2000;2:313-20.
Améldo TJ, Bayer C, Conceição C, Spagnollo, PC, Campos BC, Ve iga \-1. Po tentí,11 o f ca rbo n
acc umul a ti on in no-till soils wi th intens ive u se anel cove r crops in so u them Brazil. J En virnn
Qual. 2006;35:1599-607.
Amad o TJ, Bayer C, Eltz FLF, Brum ACR. Potenc ial de culturas de cobertura em acumufilí c,irbono e
nitrogênio no solo no plantio direto e a me lhoria da qualidade ambiental. Rev Bras Cienc Solo.
25:189-97, 2001
Associação de Plélntio Dire to no Cerrado - A PDC. Plantio direto tropical. Brasília, DF: 2007.
[Acessad o e m : 26 de fev. 2012]. Disponível e m : http:/ / www.apd c.com .br
Austin AT, Vivanco L. Plant litter decomposition in a semi-arid ecosyste m con tTo Ued by
photodegrada tio n. Nature. 2006;442/3:555-8 .
Baggs EM, Chebü J, Ndufa JK. A short-term inves tiga tion of trace gas e missions followi ng tillage
anel no-tillage of agroforestry residues in wes te rn Kenya. Soil Till Res. 2006;90:69-76.
Baggs EM, Stevenson M, Pihlatie M, Regar A, Cook H, Cc1d ísch C. 1 ítrous oxide e m is ians follm ing
application of residues and fertiliser under zero and conventional tillage. Plant Soil. 2003;25-1:
361-70.
Balbino LC, Barcellos AO, Stone LF. Marco referencia l: integ ração lavoura-pecuária-floresta (iLPF).
Brasília: Embrapa; 2011.
Bali BC, Scott A, Parker JP. Field N2O, CO2 and Cl-14 fluxes in relc1tion to tiJlage, compaction and soi l
quality in Scotland. Soil Till Res. 1999;53:29-39.
Basanta MV, Dourado Neto D, Reichardt K, Bacchi OOS, Oliveira JCM, Trivelin PCO, Timm LC,
Tominaga TI, Correchel V, Cássaro FAM, Pires LF, Macedo JR. Management effects o n nitrogen
recovery in a sugarcane crop grown ín Brazi l. Geoderma. 2003;116:235-48.
Baye r C, Be rto! l. Características químicas de um Cambissolo Húmico afetada por s i temas de
preparo, com ê nfase a matéria o rgânica. Rev Bras Cienc Solo. 1999;23:687-9-l.
Bayer C, Martin-Neto L, Mielniczuk J, Pavinato A, Dieckow J. Carbon seque tration in two Brazil ian
Cerrado soils w1der no-till. Soil Till Res. 2006;86:237-45.
Bayer C, Mielniczuk J, AmadoTJC, Martin-Neto L, Fernandes SV. Organic m atter stora .:,
oe in a sandv
-
clay loam Acrisol affected by tillage and cropping systems in southem Brazil. Soil Til! Re .
2000;54:101-9.
Bayer, C, Mielniczuk,J. Martin-Neto, L. Emani. D . P. R. S tocks a nd humification degree of o rg,m ic
matte r fractions as affected by no-tillage o n a subtropical soiJ. Plant Soil, 23 ,133-1-!0, 2002.
Beddington JR, Asaduzzaman M, Clark ME, Fernández Bremauntz A, C uillo u MD, HO\ lett DJB,
Jahn MM, Lin E, Mamo T, Negra C, Nobre CA, Scholes RJ, van Bo N , Wakhungu J. \ hat ne. t
for agriculture after Durban? Science. 201 2;335:289-90.
Berg B, Mcclaugherty C. Plan t litter: Decomposi tio n, humus formatio n, carbon sequestration. 2nd.
ed. Be rlin: Springer; 2008.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


74 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

Berin J, Hutl y LB, Tapp r J, C utt A, K rley A, O'grad AP. Fi.re impacts on surface hea t,
i ture and carb n fluxe from a tr picai a anna in northern AuslTalia. ln ter J Wild.l and Fire.
;12: 3 -40.
Bem ux '1 , Can,a)ho MCS, olkoff B, Cerri CC. CO2 emission from mineral soils following land-
' er d,an in Brazil. Global Change Biol. 2001;7:779-87.
Bhandral R a gar , Bolan IS, Hedley M) . Transformation of nitrogen and nitrous oxide errússion
fr m gra land oils a affected b) compaction. Soil Till Res. 2007;94:482-92.
B ckman OC, Olf H. Fertilizer, agronomy and N2O. Nutr Cycl Agroecosyst. 1998;52:165-70.
Brasil - ifini tério da Ciência e Temologia. Segunda comunicação nacional do Brasil à convenção-
quadro da 1açõe Unidas sobre mudança do clima. Brasília: 2010. v.2.
Bra il - fini tério da Agricultura. Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono; 2010.
[aces o em 25 de fev 2012]. Disponível em: http://wv.rw.agricultura.gov.br/abc/
Bremner JM. Sources of nitrous oxide in soils. Nutr Cycl Agroecosyst. 1997;49:7-16.
Broy,,n S, Lugo AE. Effects of forest clearing and succession on the carbon and nitrogen-content of
soils in Puerto-Rico and Us Virgin Islands. Plant Soil. 1990;124:53-64.
Cai Z, ing G, Yan X, Xu H, Tsuruta H, Yagi K, Minami K. Methane and nitrous oxide emissions
from rice paddy fields as affected by nitrogen fertilizers and ,..,ater management. Plant Soil.
1997;196:7-14.
Canlal"go AMMP, Caser DV, Camargo FP, Olivette MPA, Sachs RCC, Torquato SA. Dinâmica e
tendência da expansão da cana-de-açúcar sobre as demais atividades agropecuárias no Estado
de São Paulo, 2001-2006. Inf Econ. 2008;38:47-66.
Cançado JED, Saldiva PHN, Pereira LAA, Lara LBLS, Artaxo P, Martinelli LA, Arbex MA, Zanobetti
A, Alfesio LF, Braga ALF. The impact of sugar cane- burning emissions on the respiratory
system of children and the elderly. Environ Health Persp. 2006;114:735-29.
Cardona CA, Quintero JA, Paz IC. Production of bioethanol from sugarcane bagasse: status and
perspectives. Biores Technol. 2010;101:4754-66.
Carmo JB, Andrade CA, Cerri CC, Piccollo MC. Disponibilidade de nitrogênio e fluxos de N20 a
partir de solo sob pastagem após aplicação de herbicida. Rev Bras Cienc Solo. 2005;29:735-46.
Carvalho JL , A anzi JC, Cerri CEP, Cerri CC. Adequação dos sistemas de produção rumo à
sustentabilidade ambiental. In: Fale.iro FG, Farias Neto AL, editores. Savanas: desafios e
estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Planaltina:
Embrapa Cerrados; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; 2008.
Carvalho JLN, Avanzi JC, Silva LMN, Mello CR, Cerri CEP. Potencial de sequestro de carbono em
diferentes biornas do Brasil.Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:277-89.
ean,alho JL , Cerri CEP, Feigl BJ, Piccollo MC, Godinho VP, Herpin U, Cerri CC. Conversion of
cerrado into agricultura) land in the south-western Amazon: carbon stocks and soil fertility. Sei
Agric. 2009;66: 233-41.
Carvalho JLN, Cerri CEP, Feigl BJ, Piccolo MC, Godinho VP, Cerri CC. Carbon sequestration in
agricultura! soils in the Cerrado region of the Brazilian Amazon. Soil Till Res. 2009;103:342-9.
Carvalho JL . Dinâmica do carbono e fluxo de gases do efeito estufa em sistemas de integração
lavoura-pecuária na Amazônia e no Cerrado [tese]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura
"Luiz de Queiroz"; 2009.
Carvalho MM/ Alvim MJ, Carneiro JC, editores. Sistemas agroflorestais pecuários: opções de
sustentabilidade para áreas tropicais e subtropicais. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite;
Brasília: FAO; 2001.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
III - lNTER - REL/\ÇÃO ENTRE A A G RI C ULTURA CONSERVACIONISTA E A ·.. 75

élstro r-ilho C, Muzi lli O, Pílclélnoschi AI.. [ ,; télhi licl.1cle doe; ..lgn•gilcfo., e ,; uiJ relilçào w m O teor de
rn rbo no orgéi nico num Líl lossolo Roxo clic;trófico, em funçJo de ,;ic; temils de plantio, rotc1ÇÔ''- de
culturas e métodos el e prcpmo dê! 'i él mnc; lra<;. Rcv Br,1,; Cienc Solo. 199K;22:.:i27-1R.
Cerri CC, Bernou x M, Mília SMF, erri CE P. Coc;ta Junior C, Fcígl BJ, Fra7.:io LA. :vtello FFC. G.:ilJoo.;
MV, Moreira CS, Célrvalho JLN. Grecnhou se g,1s mitigation oplion<: in BrMil fo r l.:ind-u,e
chélnge, li vestock anel agriculture. Sei Agric. 2010;67:102- 16.
Cerri CC, Cerri CE P. Agricul tura e aq ueci mento globa l. B lnf Soe Bras Cí Sol0. 2007;23·-I0-4.
Cerri CC, .tvfélia SMF, Gél idos MV, Ce rri CEP, Fe ig l BJ, Bernoux, M. Bra7ilian Greenhouse ~.1s
emissions: the importance of agricul ture and liveslock. Sei Agric. 2009:66:83 1-43.
Cerri CC, Verno ux M, Cerri CE P, Fell cr C. Ca rbo n cycli ng a nd sequcs tratio n opportunitie. in South
America: the case of Brazil. Soil Use Manag. 2004;20:248-S-+.
Cerri CE P, Bayer C, Dieckow J, Carvalho J, Feigl B, Cerri CC. Soil qualíty: lanagement in Brazil. ln:
La! R, Stewart, B, org. Food secu ri ty anel soi l quality. New York: Taylor & Francis Group; 2010.
v.1. p .209-39.
Cerri CEP, Cerri CC, Bernoux M, Volkoff B, Rond ón MA Potential of soil carbon cque-;tration in the
Amazonian Tropical Rainfo res t. [n: La l R, Cerri CC, Bernoux M, Etchevcrs J, Cerri CEP, edi tcm,•s.
Carbon sequestration in soils of La tin Amer ica. ova Yo rk: Haworth Press; 2006. p .2-Ei-66.
Cerri CEP, Eas ter M, Paustian K, Killian K, Cole man K, Bemo ux M, Falloon P, Powlson OS, B,1tjes
NH, Milne E, Cerri CC. Pred icted soil organic carbon stocks a nd change in the Brazilia.n
Amazon between 200 anel 2030. Agric Ecosyst Environ. 2007;122:58-72.
Cerri CEP, Feigl BJ, Cerri CC. Dinâmica da matéria orgânica do solo na Amazônia. ln: Santos, GA,
Silva l5, Canellas LP, Camargo FAO, ed itores. Fundamentos da matéria o rgânica do solo:
ecossistemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre; Metrópo le; 2008.
Cerri CEP, Sparovek G, Bernoux M. Eélsterling WE, Melillo JM, Cerri CC. Tropical agriculture and
global warming: lmpacts anel mitiga tion options. Sei Agric. 2007;64:83-99.
Charpuis-Lardy L, Wrage N, Metay A, Chotte J, Bernoux M. Soils, a sink for N2O? r\ review. Global
Change Biai. 2007;13:1-17.
01en S, Huang Y, Zou J. Relations hip between nii trous ox ide emission and winter wheat production.
Biai Fert Soils. 2008;44:985-9.
Ciampitti lA, Ciarlo EA, Conti ME. Nitrous oxid e emissions form soil du ring _oybean (C l cine max
(L.) Merril crop phonological s tages anel s tubbles decompo ition period. Biai Fert Soil-. 200 ;+!:
581-8.
Ciarlo E, Conti M, Bartoloni N, Rubio G. Soil N2O em..issions anel l 20/ ( 2O+ t 2) ra tio a affected
by different fertilization practices anel soil m ois ture. Biai Fert Soil . 2008;+t991 -5.
Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB. Acompa nhamento da safra brasilei ra: cana-
d e-açúcar safra 2010/2011. Terceiro Levantamento, janeiro/ 2011. Bra ília: 201"1. [r\cessad
em: 19 fev. 2012]. Dis ponível em: http:/ / www.conab.gov.br/ O lalaCMS/ uplodds/
arquivos/ 11_01_06_09_14_50_boetim_cana_3o_lev_safra_2010_2011 .pdi
Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB. Acompanhamento da safra de g rãos 2011 / 2012,
quinto levantamento, fevereiro de 2012. Brasília: 2012.
Comw1icação Nacional Inicial do Brasil à Convenção-Quadro da_ ações Unidas sobre l\.[udanç
do Clima. 2004. Coordenação-Geral de Mudanças G lobais de Clima. l\linis tério da Ciência e
Tecnologia. Brasilia. 74pp.
Conant RT, Paustian K, Elliot ET. Grassland ma.nagement and conver ·ion into gra_ ·Iand: eff ' Cts on
soil carbon. Eco! Appl. 2001;11 :343-55.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


76 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET Al,

C razza EJ , ilva JE, R ck D , Gome A . Comportamento de dif rent sis temas d e m a n ejo
om f nte u dcp sito de carbono em r lação à , egetação de cerrado. Rev Bras Cienc Solo.
1 9;2 :425- 2.
C tru ifF, nant RT, Pau tian K. Soil organic matter dynamics: land use, management and
global chan . Plant oi!. 2011 ;33 ':1-3.
Crutzen PJ, 1 ier AR, mith KA, \Niniwarter W. N20 release from agro-biofuel production negates
lobal ,,varming reduction b_ replacing fossil fuels. Atmos Chem Physics. 2008;8:389-95.
David on EA, Araujo AC, Arta ·o P, Balch JK, Brown TF, Bustamante MMC, Coe MT, Defries RS,
Keller , Longo M, Munger JW, Schroeder W, Soares-Filho BS, Souza Jr CM, Wofsy SC. The
Amazon ba in in tran ition. ature. 2012;481:321-8.
Da, id on EA, Keller M, Erickson HE, Verchot LV, Veldkamp E. Testing a conceptual model of soil
emis ion of nitrous and nitric oxides. BioScience. 2000;50:667-80.
David on EA, Swank WT. Environmental parameters regulating gaseous nitrogen lasses from two
forested eco ) tems via nitrification and denitrification. Appl Environ Microbial. 1986;52:1287-92.
De aria IC, Castro 0M, Dias HS. Atributos físicos do solo e crescimento radicular da soja em
La tos olo Roxo sob diferentes métodos de preparo do solo. Rev Bras Cienc Solo. 1999;23:703-9.
Delaune RD, Lindau CW, Sulaeman E, Jugsujinda A. Nitrification and denitrification estimates
in a Louisiana swamp forest soil as assessed by 15N isotope dilution and direct gaseous
measurements. Water Air Soil Poli. 1998;106:149-61.
Denef K, Six J, Mercx R, Paustian K. Carbon sequestration in microaggregates of no-tillage soils wi th
different clay rnineralogy. Soil Sei Soe Am J. 2004;68:1935-44.
Denman KL, Brasseur G, Chidthaisong A, Ciais P, Cox PM, Dickinson RE, Hauglustaine D, Heinze
C, Holland E, Jacob D, Lohrnann U, Ramachandran S, Da Silva Dias PL, Wofsy SC, Zhang X.
Couplings between changes in the climate system and biogeochemistry. ln: Solornon S, Qin
D, Manning M, Chen Z, Marquis M, Averyt KB, Tignor M, Miller HL, editors. Climate change
2007: the physical science basis. ln: Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment
Report of the Intergovemmental Panei on Oimate Change. New York: Cambridge University
Press; 2007.
Denmead 0T, Macdonald BCT, Bryant G, Naylor T, Wilson S, Griffith DWT, Wang WJ, Salter B,
White I, Moody PW. Emissions of methane and nitrous oxide from Australian sugarcane soils.
Agric For Meteorol. 2010;150:748-56.
Desjardins T, Barros E, Sarrazin M, Girardin C, Mariotti A. Effects of forest conversion to pasture on
soil carbon content and dynamics in Brazilian Amazonia. Agric Ecosyst Environ. 2004;103:365-73.
Dourado eto D, Timm LC, Oliveira JCM, Reichardt K, Bacchi 005, Tominaga TT, Cássaro FAM.
State-space approach for the analysis of soil water content and temperature in a sugarcane crop.
Sei Agric. 1999;56:1215-21
Escobar LF, Amado TJC, Bayer C, O1avez LF, Zanatta JA, Fiorin JE. Postharvest nitrous oxide
emissions from a subtropical oxisol as influenced by summer crop residues and their
management. Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:507-16.
Faaij AP. Bio-energy in Europe: changing technology choices. Energy Policy. 2006;34:322-42.
Feamside PM, Barbosa r. Soil carbon changes from conversion of forest to pasture in Brazilian
Amazonia. For Ecol Manag. 1998;108:147-66.
Fearnside PM. Global warming and tropical land-use change: greenhouse gas ernissions from
biomass buming, decompositions and soils in forest conversion, shifting cultivation and
secondary vegetation. Climate Change. 2000;46:115-158.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


II I - INT ER- RELA ÇÃ O ENTR E /\ A G R í C ULTU RA C ONSERVACIONCSTA E A .. . 77

Fcrné'í ndc /.- Lu qu eno r:, l<cves-Vare lél V, 1\lla r tíncz-Su,írcz C f<cv no<;o-Kcl lcr RE, M{•nd ez- Ba u ti<; tc1
J, Ru iz- Ro mcro E, U ;pc7-Vél ld c;: r, Lun,1-Guid o ML, Dc•n~loovcn L. Ernissinn'- of CO2 ,ind
N 2O fro m s o il c u ltivél lcd w ilh co mrno n bc,,n (Ph.:iscolu<, v u lg,1ri <; L J fc rti ll/.cd wi th diffP rent N
so urccs. Se i To l.:i l Env iron . 2009;407:4289-% .
Fig u e ired o EB, La Sc.:i la Jr N . G rcc nho usc gas ba la ncP d uc to th c co nvc r5ion of <; u gJrc,, ne Jrea<; from
burnccl to g ree n ha rvcs t in BrJ 7il. J\ g ric Ecosys t Env iron. 201 1;141:77-85.
Fires to ne MK, Dav ids on EA. Microbia l basis o f NO J nc.l N 2O p rncluc tion J nd con c, um ption in soiJs.
ln: Andrae MO, Sch imel DS, cdito rs. Exc ha nge o f tr,,ce gél<;es be twcen tc rre<; tri a l eco<;ys te m , ,, nd
th e a trnos p he re . Nova Yo rk: Jo hn Wi ley; 1989.
Fi s he r MJ, Rao IM, Ayarza MA, Lilsca no C E, Sa nz J f, T ho m as RJ, Vera RR . C a rbon <;to r.1ge by
introduced d eep -rooted g rasses in the so uth-amcrica n sa va nn,1s. \!ature. 1994;371 :236-8.
Fole y JA, DeFries R, As n e r G P, Barford C, Bonan C , Ca rp e n te r S R, C ha p in FS, Coe :VlT, Da ily C,
G ibbs HK, H elkow s ki JH, H o llowa y T, Howa rd EA, Kuchari k CJ, Monfrec.la C, Patz JA, Prcntice
IC, Ra m a n ku tty N, Snyd e r PK. G loba l Conse q u e nces of la n d u se. Sciencc. 2005;309:570-4.
Foley JA, Ra m a nkutty , Bra uma n KA, Cassid y ES, Ge rbe r JS, Johns ton M, Mueller N D, O'conne ll
C, Ray DK, Wes t PC, Ba lzer C, Benne tt EM, Ca rpe nte r S R, Hill J, Mo n freda C, Po las ky 5,
Rocks tro J, Sh eehan J, Sie be rt S., T il,m m D, Zél ks DPM. Sol utio ns fo r a culti va ted p la ne t. 1 ·a ture.
2011;478:337-42.
Food a nel Agric ulture Organiza tio n - FAO. C h a llenges and o ppo rtun itics fo r carbon eq ues tration in
grassland syste m s : A techn ica l re p ort o n grass land managcm en t a nd cl ima te ch a n ge m ihgati ons.
Rome: Lntegrated Crop Man agem en t; 2010. v.9.
Food and Ag ric ulture Organ.iza tion - FAO. IFA G loba l estim a tio n of g aseous e m ission of 1 "H3, NO
and N2O fro m agricultural la nd . 2010. Ro m a: Itá lia . [Acessed 2012 febJ. A v iable: http:/ / ftp .fao.
org/ agi/ agll/ does/ globest. pd f.
Food anel A griculture Organizatio n - FAO. T he S ta te o f Food a n d Agriculture. Ro rne: 200 .
Fors ter P, Ra maswamy V, Artaxo P, Be rntse n T, Be tts R, Fahey DW, Haywood J, Lean J, Lowe DC,
My hre C , Nga nga J, Prinn R, Raga G, Schulz M, va n Do rland R. C hanges in a tm osp heric
cons tituents and in radia tive fo rcing. ln: Solo m on S, Q in D, Mannin g M , Chen Z, \-la rq uis :VI,
A veryt KB, Tignor M, Mille r HL, edito rs . C limate cha nge 2007: the p hysical cience basis. In :
Contribution of Working G ro up I to the Fou r th Assessm e nt Re p o r t o f the Intergove mme ntal
Panei on Climate Change. N e w York: Ca mbridge Univers ity Pres , 2007.
Fowles M. Black carbon s equestra tion as a n a lterna tive to b ioe ne rgy. Bio rnass Bioe ngy. 2007;31:-426-
32.

Franchini JC, De biasi H, W ruck FJ, S ko ru pa LA , W ink N N , G u iso lphi [J, Caumo A L, Ha to ri T.
Integração lavo ura pecuá ria: alte rna tiva p a ra divers ificação e redução do impacto ambie n tal do
sis te m a produtivo no Vale do Rio Xingu. Lo ndrina : Em b rapa Soja; 2010.
Fre itas PL, Bla ncaneaux P, Gav ine Ui E, La rre-La r rou y MC, Felle r C. Nível e natureza J o e_toque
o rgânico d e La tosso los so b dife re ntes s iste m a s d e uso e m a n ejo. Pesq Agrop ec Bras . 2000;35:157-
70.

Fre ixo A A, Machad o P, Dos Santos HP, Silva CA, Fadigas FD. Soil organic carbon and frac tions o f a
Rhodic FerraJs o l unde r the influe nce of tillage and crop rota tio n sy s terns in o u them Brazil. o i)
Till Res. 2002;64, 221-30.

Fren ey JR. Emission of n.itro u s oxide fro m so ils used fo r ;ig ricu ltu re . utr Cycl Agruernsy s t.
1997;49:1-6.

Caldos MV , C e rri C C, La l R, Be rno ux M, Feig l B, Ce rri CEP. N e t g reen ho use gas flux es in Bra zil ian
e tha n o l productio n sys te m s . G lo bal C hange Biol Bioe n. 201U;2:37-l-l.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


78 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

Gar·ia- livn F, Lancho ]FG, Montano M, lslas P. Soil carbon and nitrogen dynamics fo llowed by a
f re t-to-pasture onver ion in we tern Mexico. Agrofor Syst. 2006;66:93-100.
Gava GJC, Tri, eli.n PCO, itti AC, Oliveira ~-fv\l. Urea and sugarcane straw nitTogen balance in a
oil- u arcane cr p •stem. Pe·q Agropec Bra . 2005;40:689-95.
Giacomini SJ, Jant-alia CP, Aita C, Urquiaga SS, Alves BJR. Emissão de óxido nih·oso com a aplicação
de dejetos líquido de uinos em solo sob plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2006;41:1653-61.
Gold mberg J, Coelho ST, Guardabassi P. The sustainability of ethanol. Energy Pol. 2008;36:2086-97.
G ldemb rg J. Biomassa e energia. Qufm Nova. 2009;32:582-7.
Goldemberg J. Ethanol for a sustai.nable energy future. Science. 2007;315:808-10.
Gomes J, Bayer C, Costa FS, Piccolo MC, Zanatta JA, Vieira FCB, Six J. Soil nitrous oxide emissions
i.n long-tem1 co, er crops-based rotations under subtropical clima te. Soil Til! Res. 2009;106:36-44.
Graham MH, Ha rnes RJ, Meyer JH. Changes in soil chemistry and aggregate stability induced by
fertilizer applications, buming and trash retention on a long-term sugarcane experiment in
South Africa. Eur J Soil Sei. 2002;53:589-98.
Gu J, Zheng X, Wang Y, Ding W, Zhu B, Chen X, Wang Y, Zhao Z, Shi Y, Zhu J. Regulatory effects
of soil properties on background N2O emissions from agricultura! soils i.n China. Plant Soil.
2007;295:53-65.
Hansen J, azarenko L, Ruedy R, Sato M, Willis J, Dei Genio A, Koch D, Lacis A, Lo K, Menon
S, ovakov T, Perlwitz J, Russell J, Schmidt GA, Tausnev N. Earth' s Energy Imbalance:
Confirmation and Implications. Science. 2005;308:1431-5.
Hao X, Chang C, Carefoot JM, Jansen HH, Ellert BH. Nitrous oxide emission from an irrigated soil as
affected by fertilizer and straw management. Nutr Cycl Agroecosyst. 2001;60:l-8.
Hellebrand HJ, Scholz V, Kern J. Fertiliser i.nduced nitrous oxide emissions during energy crop
cultivation on loamy sand sai.Is. Atrnos Environ. 2008;42:8406-11.
Huang Y, Zou J, Zheng X, Wang Y, Xu X. Nitrous oxide emissions as influenced by amendment of
plant residues with different C:N ratio. Soil Biol Biachem. 2004;36, 973-81.
Hughes RF, Kauffman JB, Cummings DL. Dynamics of aboveground and soil carbon and nitrogen
stocks and cycling of available nitrogen along a land-use gradient in Rondonia, Brazil.
Ecosystems. 2002;5:244-59.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Agropecuário 2006: resultados
preliminares. Rio de Janeiro: 2006.
Jntergovemmental Panei on Climate Change. - IPCC. Climate change in 1994: radiative forcing of
dimate change. Cambridge: Cambridge University Press; 1995.
Jntergovemmental Panei on Climate Change. - IPCC. Fourth Assessment Report, Climate Change
2007: Working Group ID: Mitigation of Oi.mate Change. Cambridge: Cambridge University
Press; 2007.
Jntergovemmental Panei on Clima te Change. - IPCC. IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas
Inventories, prepared by the National Greenhouse Gas Inventories Programme. Eggleston HS,
Buendia L, Miwa K, Ngara T, Tanabe K, editors. N2O emissions from managed soils, and C02
emissions from lime and urea application. Hayama: IGES, 2006.
Jntergovernmental Panei on Climate Change. - IPCC. Climate change: the Scientific Basis. Third
Assessment Report. Cambridge: Cambridge University Press; 2001.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

J
III - INT ER - RELAÇÃO ENTRE A A GR I CULTURA (ONSERVACIONISTA E A .. . 79

Ja nta lia CP, Rcsck DVS, Alves BRJ, Zot.:irelli L, Urquiaga S, 13oddey R 1. Tillage effec t on C stocks
of a claycy Oxisol und er a soybea n-bascd crop rotation in the Brazilian errad o region. Soil Till
Res. 2007;95:97-·109.
Kerr RA . H ow hot wi ll the greenhouse world be? Science. 2005;309:'JO0.
Khalil K, Mary B, Renault P. Nitrous oxide production by nitrification and denitrifica tion in _oi!
aggregates as affected by 02 concentration. Soil Biol Biachem. 2004;36:687-99.
Knorr W, Prentice IC, House JI, Holland EA. Long-te rm sens itivity of soil ca rbon turnove.r to
warming. Nature. 2005;433:298-301.
Le Treut H, Somerville R, Cubasch U, Ding Y, Mauritzen C, Mokssit A, Peterson T, Prather M.
Hjstorical overview of clima te change. ln: Solomon S, Qin D, Manning M, Chen Z, \ilarquis M ,
Averyt KB, Tignor M, Mjlier HL, editors. Clima te change 2007: the physical science basis. ln:
Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the lntergoverrunental
Panei on Clima te Change. New York: Cambridge University Press, 2007.
Leite LFC, Porfírio-Da-Silva V, Madari BE, Machado PLOA, Barcellos AO, Balbino LC O potencial
de seqüestro de carbono em sistemas de produção integrados: integração lavoura-pecuána-
floresta. ln: Resumos do 12º Encontro Naciona l de Plantio Direto na Palha; 2010, Foz do Iguaçu.
Tecnologia que mudou a visão do produtor: Ponta Grossa: FEBRAPDP; 2010. p.60-76.
Linn DM, Doran JW. Aerobic and anaerobic microbial-populations in no-till and plowed soils. Soil
Sei Soe Am J. 1984;58:794-9.
Lisboa CC, Butterbach-Bahl K, Kjese R. Bioethanol production from sugarcane and errussíons of
greenhouse gases - known and unknowns. Global Change Biology Bioenergy. 2011;3:277-292.
Macedo MCM. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. R Bras
Zootec. 2009;38:133-46.
Machado PLOA, Silva CA. Soil management under no-tillage systems in the tropics wíth s pecial
reference to Brazil. Nutr Cycl Agroecosyst. 2001;61:119-30.
Madari BE, Cunha TJF, Novotny EH, Milori DMBP, Martin Neto L, Berutes DM, Coelho MR,
Santos GA. Matéria orgânica dos solos antrópicos da Amazôrua (Terra Preta de Índio):
suas características e papel na sustentabilidade da fertilidade do solo. ln: Teixeira WC, Kem
DC, Madari BE, Lima HN, Woods W, editores. As terras pretas de ínruo da Amazônia: ua
caracterização e uso deste conhecimento na criação de novas áreas. Manaus: Embrapa Amazônia
Ocidental; 2009.
Maia SMF, OgleSM, Cerri CEP, Cerri CC Effect of grassland management on soil carbon sequestration
in Rondôrua and Mato Grosso states, Brazil. Geoderma. 2009;149:84-91.
Major J, Lehmann J, Rondon M, Goodale C Fate of soil-applied black carbon: downward rrugration,
leachlng and soil respiration. Global Change Biol. 2010;16:1366-79.
Marchão LR, Becquer T, Brunet D, Balbino LC, Vilela L, Brossard M. Carbon and rutrogen stocks i.n
a Brazilian clayey Oxisol: 13-year effects of i.ntegrated crop-livestock management s_stems . Soil
Till Res. 2009;103:442-50.
Moreira FMS, Siqueira JO. Microbiologia e bioquímica do solo. Lavras: Uruversidade Federal de
Lavras; 2006.
Nair PKR, Tonucci RG, Garcia, R, Nair, VD. Silvopasture and carbon seques tration w ith s pecial
reference to the Brazilian savanna (Cerrado). ln: Kumar 81 [, t air PKR, editor. Carbon
sequestration potential of agroforestry systems: opportunities and challenges. 1 e rk:
Springer, 2011. p.145-62.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


80 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO CERRI ET AL.

Oenema O, \ rage , VelthofGL, vanGroenigenJW, OolfingJ, Ku.ikman PJ. Trends in global nitrous
ox;de em.i ions from animal production systems. Nutr Cycl Agroecosyst. 2005;72:51-65.
Ogle S '1., Breidt FJ, Pau tian K. Agriculn1ral management impacts on soil organic carbon storage
w1der moist and dry climatic conditions of temperate and tropical regions. Biogeochemistry.
2005;72:87-121.
Ogle SM, Conant RT, Paustian K. Deriving grassland management factors for a carbon accounting
approach developed by the Intergovenm1ental Panei on Climate Change. Environ Manage.
2004;33:474-84.
Passianoto CC, Ahrens T, Feigl BJ, Steudler PA, Carmo JB, Melillo JM. Emissions of C02, N20,
and O i.n conventional and no-ti.li management practices in Rondônia, Brazil. Biol Fert Soils.
2003;38:200-8.
Paustian, K, Six, J, Elliott, E.T, Hunt, H.W. Management options for reduci.ng CO2 emissions from
agricultural soils. Biogeochem.istry. 2000;48:147-63.
Perdomo C, Irisarri P, Ernst O. Nitrous oxide emissions from an Uruguayan argiudoll under di.fferent
tillage and rotation treatments. Nutr Cycl Agroecosyst. 2009;84:119-28.
Perrin AS. Effets de différents modes de gestion des terres agricoles sur la matiere organique et
la biamasse microbienne en zone tropicale humide au Brésil [dissertation] Lausanne: Ecole
Poly technique Fédérale de Lausanne; 2003.
Plante AF, Six J, Paul EA, Conant RT. Does physical protection of soil organic matter attenuate
temperature sensitivity? Soil Sei Soe Am J. 2009;73:1168-72.
Polwson DS. Will soil amplify climate change? Nature. 2005;433: 204-5.
Resck DVS, Vasconcellos CA, Vilela L, Macedo MCM. Impact of conversion of Brazilian Cerrados to
cropland and pastureland on soil carbon pool and dynamics. ln: Lal R, Ki.mble JM, Stewart BA,
editors. Global climate change and tropical ecosystems. Boca Raton: CRC Press; 2000. 169-96.
Riezebos HTH, Loerts AC. lnfluence of land use change and tillage practice on soil organic matter i.n
southern Brazil and eastem Paraguay. Soil Till Res. 1998;49:271-5.
Rodriguez V, Valdez-Perez MA, Luna-Gu.ido M, Ceballos-Ramirez JM, Franco-Hernández O,
Oeemput O, Marsch R, Thalasso F, Dendooven L. Emi.ssion of nitrous oxide and carbon
dioxide and dynamics of mineral N .in wastewater sludge, verm.icompost or i.norganic fertilizer
amended soil at different water contents: A laboratory study. Appl Eco!. 2011;49:263-7.
Roscoe R, Burman P. Tillage effects on soil organ.ic matter i.n the density fractions of a Cerrado
Oxi.sol. Soil Till Res. 2003;70:107-19.
Ruser R, Flessa H, Russow R, Schmidt G, Buegger F, Munch JC. Emission of N2O, N2 and C02 from
soil fertilized with nitrate: Effect of compaction, soil moisture and rewetting. Soil Biai Biachem.
2006;38:263-74.
Sá JCM, Cerri CC, Lal R, Dick WA, Venzke Filho S, Piccolo MC, Feigl B. Organic matter dynamics
and carbon sequestration rates for a tillage chronosequence in a Brazilian Oxisol. Soil Sei Soe
Am J. 2001;65:1486-99.
Sá JCM Reciclagem de nutrientes dos resíduos culturais, e estratégia de fertilização para produção
de grãos no sistema plantio direto. ln: Resumo das palestras dolº Seminário sobre o sistema
plantio direto na UFV. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 1998. p.19-61.
Salton JC, Míelniczuk J, Bayer C, Fabrício AC, Macedo MCM, Broch DL. Teor e dinâmica do carbono
no solo em sistemas de integração lavoura pecuária. Pesq Agropec Bras. 2011;46:1349-56.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


III - INTER - RELAÇÃO ENTRE A A GR I CULTURA (ONSERVACIONI STA E A ... 81

Sél lton JC. Mél lé riél orgâ nica e agregJçào do solo nél rotação lavoura pé1s ta gem e m Jmbiente trop1c;i l
[tese!. Porto Alegre: Univers idad e Federal do Rio G rande cio Sul ; 2005.
Schil s RLM, Groeni gen JWV, Velthof CL, Kuikman PJ. Ni trous oxid e emissions from multiple
combined app lica tions of fertilizcr Jncl cattlc slurry to grassland . Plan t Soil. 2008;310:89-!0l.
Schuman CE, Janzen HH, Herrick JE. Soi l ca rbon clynamics a nd pote ntial ca rbon sequestration by
rangelands. Environ Poll. 2002;116:391-6.
Scopel E, Doucene E, Primot S, Douzet JM, Cardoso A, Felle r C. Diversity of d irect seeding mulch-
based cropping systems (DMC) in the Rio Verde region (Goias, Brazil) a nel conseq uence o n soil
carbon stocks. ln: Proceedings of the World Congress on Conservation Agriculture; 2003; Foz do
Iguaçú. Foz do Iguaçú: Anta res; 2003. p.286-9.
Simojoki A, Jaakkola A. Effect of nitrogen fertilization, cropping a nd irrigatíon on soil ai r composition
and nitrous oxide emission in a loa m y clay. Europ J Soil Sei. 2000;51:-l1 3-24.
Singh BP, Hatton BJ, Singh B, Cowie AL, Kathuria A. lnfluence of biochars on nitrous oxide emission
and nitrogen Ieaching from two contras ting soi ls. J Environ Qual. 2010;39:1224-35.
Siqueira Neto M, Piccolo MC, Feigl BJ, Venzke Filho SP, Cerri CEP, Cerri CC. Rotação de culturas
no sistema plantio direto em Tibagi (PR): íl - Emissões de CO2 e ·20. Rev Bra Cienc Solo.
2009;33:1023-9.
Siqueira Neto M. Estoques de carbono e nitrogênio do solo e emissões de gases do efeito estufa no
sistema plantio direto em Tibagi (PR) [dissertação]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz; 2003.
Sisti CPJ, Santos HP, Kohhann R, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Change in ca rbo n and
nitrogen stocks in soil under 13 years of conventional or zero tillage in Southem Brazil. Soi1 Til!
Res. 2004;76:39-58.
Six J, Feller C, Denef K, Ogle SM, De Moraes JC, Albrecht A. Soil organic matter, biota and aggregation
in temperate and tropical soils - Effects of no-tillage. Agronomie. 2002;22:755-75.
Six J, Ogle SM, Breidt FJ, Conant RT, Mosier AR, Paustian K. The potential to mitiga te global warmint>'
with no-tillage management is only realized when practised in the long term. Global Change
Biology. 2004;10:155-160.
Smith JL, Collins HP. Management of microorganisms and their processes in oils. ln: Paul EA,
editor. Soil microbiology, ecology, and biochemistry. Fort Collins: Elsevie.r; 2007. p.471-500.
Smith KA, Mctaggart IP, Dobbie KE, Conen F. Emissions of 20 from Scottish agricu1tura1 oils, a
a function of fertilizer N. Nutr Cycl Agroecosyst. 1998;52:123-30.
Smith P, Martino D, Cai Z, Gwary D, Janzen HH, Kumar P, Mccarl B, Ogle S, O' mara F, Rice C, Schole
RJ, Sirotenko O, Howden M, Mcallister T, Pan G, Romanenkov V, Schneider U, Towprayoon
S, Wattenbach M, Smith JU. Greenhouse gas mitigation in agriculture. Philos Trans Royal Soe.
2007;363: 789-813.
Snyder CS, Bruulsema TW, Jensen TL Rev iew of greenhouse gas emissions fro m crop production
systems and fertilizer management effects. Agric Ecosyst En iron. 2009;133:247-66.
Soussana JF, Aliarei V, Pilegaard K, Ambus P, Amman C, CampbeU C, Ceschia E, Clifton-Brmvn J,
Czobel S. Full accounting of the green.house gas (CO2, 20, CH4) budget of nine European
grassland sites. Agric Ecossist Environ. 2007;121:121-34.
Spokas KA, Koskinen WC, Baker JN[, Reicosky DC. lmpacts of woodchip biachar additions on
greenhouse gas production and sorption/ degradation of two he rbicide in a linne~ota s il.
Chemosphere. 2009;77:574-81.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


82 CARLOS EDUARDO PELLEGRINO (ERRI ET AL.

poka KA, R ico ky D . lmpacts of sixteen differenl biochars on soil greenhou e gas produc tion.
Ann Envir n i. 2009;3:179-93.
teiner C, T ixeira WG, Lehmann J, Nehls T, De Macedo JLV, Bium WEH, Zech W . Long term
effec of mamire, charcoal and mineral fertilization on crop production and fertility on a highly
weathered Central Amazonian upland soil. Plant Soil. 2007;291:275-90.
Stevens RJ, Laughlin RJ. Measurement of nitrous oxide and di-nitrogen emissions from agricultura}
oil . utr Cycl Agroecosyst. 1998;52:131-9.
Tan l S, Es HM , Duxburry JM, MelkonianJ], Schindelbeck RR, Geohring LD, Hively WD, Moedius
B . Single-event nitrous oxide losses under maize production as affected by soil type, tillage,
rotation, and fertilization. Soil Till Res. 2009;102:19-26.
Testa VM, Teixeira LAJ, Mielniczuk J. Características químicas de um podzólico vermelho escuro
afetada por sistemas de culturas. Rev Bras Cienc Solo. 1992;16:107-14.
Ti.mm LC. Variability of soil water content and bulk density in a sugarcane field. Austr J Soil Res.
2002;40:604-14.
Toma Y, Hatano R. Effect of crop residue C/N ratio on N2O emissions from Gray Lowland soil in
Mikasa, Hokkaido, Japan. Soil Sei Plant Nutr. 2007;53:198-205.
Tominaga TT, Cassaro FAM, Bacchi O05,Reichardt K, Oliveira JCM, Timm LC. Variability of soil
water content and buli< density in a sugarcane field. Aust. J. Soil Res. 2002;40:605-614.
Trumbore SE, Davidson EA, Decamargo PB, Nepstad DC, Martinelli LA. Belowground cycling of
carbon in forests and pastures of Eastem Amazonia. Global Biogeochem Cycles. 1995;9:515-28.
Tsu.kamoto Filho AA, Couto L, Neves JCL, Passos CAM, Silva ML. Fixação de carbono em um
sistema agrissilvipastoril com eucalipto na região do Cerrado de Minas Gerais. R Agrossilvic.
2004;1:29-41.
Tsukamoto Filho AA. Fixação de carbono em um sistema agroflorestal com eucalipto na região do
cerrado de Minas Gerais [tese]. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2003.
Venzke Filho SP, Siqueira Neto M, Piccolo MC, Feigl BJ, Cerri CC. Características químicas do solo
em função do tempo de adoção do sistema plantio direto. ln: FERTIBIO - Agricultura: bases
ecológicas para o desenvolvimento social e econômico sustentado. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro; 2002.
Verheijen F, Jeffery 5, Bastos AC, van der Velde M, Diafas I. Biachar application to soils - a criticai
scientific reviewof effects on soil properties, process and functions. Luxemburg: Office for the
Official Publications of the European Comrnunities; 2009.
Wolf I, Brumme R. Contribution of nitrification and denitrification sources for seasonal N20
emissions in an acid German forest soil. Soil Biol Biachem. 2002;34:741-4.
Yang L, Cai z. Effects of nitrogen application and maize growth on N2O emission from soil. Front
Agric China. 2007;1:37-42.
Zhang J, Han X. N2O emission from the semi-arid ecosystem under mineral fertilizer (urea and
superphosphate) and increased precipitation in northern China. Atmos Environ. 2008;42:291-
302.
Zotarelli L, Alves BJR, Urquiaga S, Torres E, Paustian K, Boddey RM, Six J. Efeito do preparo do
solo nos agregados do solo e no conteúdo de matéria orgânica. ln: Resumos do 29° Congresso
Brasileiro de Ciência do solo [CD-ROM]; 2003, Ribeirão Preto. Botucatu: Sociedade Brasileira de
O ência do Solo; 2003.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS
E AMBIENTAIS DO MANEJO E D A
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A
Tiago Santos Telles 11, Sonia Carmela Falei Dechen21 & Maria de Fátima Guimarães 31

11 lnstituto Agronômico do Paraná. Lond rina, PR. E-mail: telles@iapar.br


21
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais, Insti tu to Agronômico de Campinas.
Campinas, SP. E-mail: dechen@iac.sp.gov .br
31 Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR. E-mail: m.fatima@uel.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ······························································································································- ···························-·· 83


ASPECTOS SOCIOECONÓMICOS DO MANEJO E DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA_............ 84
Efeitos i11 si tu ...............................................................................................................····························-···-- ···-········
Efeitos ex situ ··············································································································································- ·- ······-······ 90
ASPECTOS AMBIENTAIS DO MANEJO E DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA ...............·--··- ······ çg
A erosão do solo .................................................................................................................................. ·- ············-·-····· 95
O controle da erosão do solo e a biomassa cultural res idual ................................................................................ 97
Atributos químicos do solo .................................................................................................................. ................. ... 99
Atributos físicos do solo ............................................................................................................................................. 100
A degradação e a recuperação dos solos ............................................................................. _................................... 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 101
LITERATURA ClTADA ................................................................................................................................ ................. 102

INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, as atividades humanas causam impactos diversos ao meio ambiente.
A ação antrópica pode acelerar o processo de erosão dos solos agrícolas, acentuando o
desequilíbrio ambiental. Além disso, o processo contínuo de erosão, ao alterar atributo
físicos, químicos e biológicos do solo, pode gerar redução gradativa (cumulati a) de eu
potencial produtivo, intensilicando ainda mais a degradação desse recurso. ssi.m, a erosão
do solo pode ser entendida corno indicador de que o uso e manejo do solo e da água estão
inadequados, e que práticas conservacionistas precisam ser adotadas.

Bertol 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. iç a, MG: S iedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
84 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

Um dos critérios de decisão quanto à adoção ou não de práticas de manejo com vistas
à consen•ação do solo e da água repousa sobre a ótica das ciências sociais e das ciências
econômicas, mediante a análise de custo-benefício. Por meio dos métodos econômicos,
por e 'emplo, é possível valorar os custos gerados pelos danos causados pelo processo
de erosão do solo, bem como os benefícios da adoção de práticas conservacionistas e dos
serviços ecossistêmicos proporcionados pelo capital natural (Constru1Za et al., 1997) - in
situ 11l e x situo.J. Como os agricultores, na sua maioria, estão inse1idos na lógica de mercado,
informações econômicas são importantes, e até mesmo imprescindíveis, para tomada de
decisões. Em outras palavras, pode-se dizer que, em geral, os agricultores tendem a adotar
práticas consen,acionistas se estas apresentarem benefício ou vantagem econômicas.
Para o caso específico da erosão do solo, o uso desse instrumental foi seminalmente
empregado nos Estado Unidos, por Bennett (1933) e, no Brasil, por Marques et al. (1961).
Em ambos os estudos, há preocupação de demonstrar à sociedade que a erosão das terras
agrícolas, além de perdas físicas(3l, leva a prejuízos socioeconôrnicos significativos.
Assim, o uso dos conceitos e métodos da economia para valoração dos custos
ambientais, bem como dos benefícios socioeconôrnicos da conservação de recursos
naturais, como o solo e a água, é de extrema importância, principalmente na busca de
caminho alternativo de desenvolvimento, que possa ser considerado sustentável.
A sustentabilidade na determinação da adoção de práticas de manejo conservacionistas
está estritamente relacionada a critérios ambientais. Isso porque essas são decisivas para
controlar os danos causados pela erosão do solo expressos, sobretudo, pelas perdas de
água, terra, matéria orgânica e nutrientes e pelos impactos que esses podem causar no
meio ambiente. Além disso, do ponto de vista ecológico, o manejo e a conservação do solo
e da água são de extrema importância, visto que a água doce é um recurso natural escasso,
que tem se tomado cada vez mais caro; e a perda gradativa das camadas de terra podem
tomar os solos improdutivos.
Nesse contexto, a notoriedade do debate sobre o desenvolvimento sustentável, fruto
da percepção de uma crise ambiental global (Nascimento, 2012), suscita a necessidade de
abordagem multidisciplinar sobre a questão, envolvendo, entre outras, as ciências agrárias,
as biológicas, as exatas e da terra, as sociais e as econômicas.
Para tanto, neste capítulo, serão abordadas questões multidimensionais - aspectos
socioeconômicos e ambientais - inerentes ao manejo e à conservação do solo e da água.

ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO MANEJO E DA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

O manejo e a conservação do solo e da água podem ser abordados em diferentes


linhas teóricas das ciências econônúcas, que tem por objeto de estudo os recursos naturais -
economia do meio ambiente. As principais correntes de pensamento na economia do meio
01 Expressão latina que significa no lugar de origem. Refere-se às perdas que ocorrem na propriedade agrícola _
da porteira para dentro. Considerado como custo privado, custo interno ou custo on-site.
(71 Expressão latina que significa fora do lugar de origem. Refere-se às perdas que ocorrem fora da propriedade

agrícola _ da porteira para fora. Considerado como um custo social, custo externo ou custo off-site.
PJ Os dados físicos dão a grandeza qualitativa do processo erosivo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A SPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBI ENTA I S DO MANEJO E DA . . . 85

ambiente s d ivid em cm economia ambi ntéll (abordagem neoclássica) e em economia


ecológicél.
a economia ambiental, os recu rsos naturais são consid e rad os como fontes de
insumos e como meios com infinitJ ca pacidad e ele resi li ência 11J, não representando,
ao longo do tempo, um limite a bsoluto à ex pansão económica, ou seja, não e leva em
conta a sustentabilidade. Por essa, ca pital, trabalho e recu rsos naturais são perfeitamente
substituíveis entre si. Além disso, o progresso científico e o tecnológico contribuem
indefinidamente para a substituição d e recursos naturais por c<1pital e trabalho (Romeiro,
2012) .
O papel da tecnologia, tornando disponíveis recu rsos que de ou tro modo seriam
inaproveitáveis, é importante e larga mente reconhecido (Taylor e Young, 19 5; Sampson
e Knopf, 1994; Aldy et ai., 1998; Pimentel et ai., 1999). Contud o, nem a tecnologia nem a
extração do valor da natureza se fazem de graça, pois muitas coisa são possíveis, mas
não são economicamente viáveis (Reganold et ai., 1990; Pretty e Ward, 2001). O solo, por
exemplo, pode ser revitalizado quando há esgotamento dos nutrientes, mesmo quando
parte desses foram levados pela erosão ou s uprimidos de alguma outra forma. Mas, se o
processo de degradação não for interrompido pode comprometer, de forma irreversível, a
capacidade produtiva do solo (Lal, 2001; Gisladottir e Stocking, 2005).
As mudanças introduzidas pelo homem, muitas vezes, resultam em importantes
modificações na produtividade do solo, para melhor ou para pior (Menzel, 1991; Pimentel et
al., 1995; Knowler, 2004). Isso faz com que muitas discussões a respeito da conservação do solo
sejam ofuscadas (Boardrnan et al., 2003). Há incapacidade de se distinguirem os investimentos
periódicos para uma produção corrente e os investimentos destinados a alterar-lhe a estrutura
básica (Chavas 2001; Ruttan, 2002). Para alguns, a conservação do solo é questão religiosa (de
fé e ética) e, para outros, econômica (de negócios e comparação entre investimentos e lucros).
Crosson (1985, 2007) considera a conservação como questão de valores: um investimento para
manter o nível de produção, diminuir a deterioração da produtividade e aumentar o potencial
produtivo. Todavia, a terra não pode ser considerada isoladamente, ela só é produtiva quando
combinada - e não substituída - com trabalho e capital.
Na economia do meio ambiente, considerada como wn ramo da microeconomia, o foco é
encontrar preços<5> corretos para a alocação ótima de recursos (situações de máximo beneficio,
mínimo custo). No seu eixo central, se buscam intemalizar custos ambientais, a fim de obter
preços que reflitam custos de oportunidade sociais marginais<6l (Cavalcanti, 2010).
Na economia ecológica, o sistema econômico é visto como um subsi tema de um todo
maior que o contém e que impõe restrição absoluta à sua expansão. r ela, capital e recur os
naturais são essencialmente complementares. O progresso científico e tecnológico é vi to
como fundamental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturai em geral
(renováveis e não renováveis) e, nesse aspecto, essa corrente partilha com a primeira a
convicção de que é possível instituir uma estrutura regulatória com base em incenti 05
econômicos capaz de aumentar essa eficiência. Perman ece, entretanto, a discordància

t4 1Segundo Holling (1973), em ecologia, resiliencia é a capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio ap -
esse ter sido rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação.
(5J O preço é expresso numericamente por meio da relação entre valor monetário e quantidade física de um ~m,

transacionado no mercado, formado pela interação simultànea da oferta e Lfa procura.


< > O custo d e oportunidade refere-se àquilo que se abre mão para obter alguma oisa. O ai- to marginal repre e.nta
6

o aumento dos custos totais d ecorrentes da produção de uma unidade ad iciondl.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


86 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

fundamental em relação à capacidade dos limites ambientais globais. No longo prazo,


portanto, a sustentabilidade do sistema econômico não é possível sem a estabilização dos
ní, eis de consumo per capita, de acordo com a capacidade de carga do planeta (Romeiro,
2010; Dai e Farley, 2011).
Por is o, o interesse pela valoração dos serviços ecossistêmicos ten1 aumentado
consideravelmente. Independentemente do prisma teórico utilizado, grande parte dos
esforços dos cientistas, que se preocupam com os ecossistemas e seus serviços, tem se
direcionado para a atribuição de valores econômicos aos serviços ecossistêrnicos (Constanza
et al., 1997; Tschirhart, 2009), uma vez que os mercados por si só não conseguem atribuir-
lhes preços, em razão de falhas de mercado (Andrade et ai., 2012) .
Na prática corrente da valoração, há predominância da utilização do instrumental
neoclássico em estudos econômicos dos serviços ecossistêmicos, principalmente pelo fato
de as correntes heterodoxas, como a Economia Ecológica, pouco terem contribuído para
essa temática (Amazonas, 2009), muito embora esse tópico esteja no centro de suas agendas
de pesquisas.
Os danos e custos são muitos e inter-relacionados e, por isso, estimar a relação custo-
benefício do manejo e da conservação do solo e da água não é tarefa fácil. Porém, mesmo com
estimativas parciais, já é possível visualizar, por exemplo, o impacto dos custos da erosão do
solo para produtores e para a sociedade (Telles et al., 2011) e a sua redução com a adoção
de práticas conservacionistas (Ciriacy-Wantrup, 1947; Barbier, 1990; Kuhlrnan et aJ., 2010).
Entretanto, essa análise só é valida se realizada no médio e longo prazos, mas, infelizmente,
essa não é a prática corrente, já que a análise continua sendo feita no curto prazo.
A despeito das dificuldades na valoração exata dos custos e benefícios da conservação
do solo e da água, os resultados são suficientes para verificar que determinadas práticas
agrícolas são insustentáveis, que os danos por essas gerados não recaem apenas sobre
os produtores e, que, ações conservacionistas voltadas à proteção do meio ambiente são
vantajosas tanto na esfera privada quando na coletiva. Algumas das variáveis podem ser
estimadas, como ganhos de produtividade; entretanto, outras são menos tangíveis, como
os benefícios sociais da conservação do solo e da água. Um parâmetro também difícil de
avaliar é o impacto da erosão do solo como agente de poluição das águas (que será tratado
adiante). Todavia, todas essas estimativas são necessárias para fins de políticas públicas e
conscientização da sociedade e, para tanto, demandam investimentos em pesquisa.
Dessa forma, o ato de valorar o dano causado a um recurso natural de uso comum ou 0
beneficio que sua conservação ou preservação pode representar, embora controvertido e não
trivial, é uma tarefa necessária. Exemplo disso é que muitos dos bens e serviços providos por
um sistema ambiental, como beleza cênica e valor biológico, não têm seu real valor determinado
pelo mecanismo de oferta e procura, não há uma relação direta entre o valor monetário e a
quantidade de beleza cênica, constituindo-se nas chamadas imperfeições de mercado(7).
Por isso, para a valoração dos custos e benefícios, torna-se imprescindível a avaliação
física dos danos, ou seja, a obtenção de medidas físicas que quantifiquem o impacto ambiental,

(7) As imperfeições de mercado ocorrem quando, teoricamente, há influência externa na livre formação de
preços. A questão é saber se uma economia que opera em condições de livre mercado pode alcançar a melhor
alocação de recursos ou se a intervenção governamental pode obter melhores resuJtados. Trata-se de um
conceito intimamente ligado às extemalidades, ao monopólio natural, às assimetrias de informações e aos be
públícos, que, na teoria ec~nómica, são co~i~eradas_falha~ ~e mercado, que impedem que uma economia:
livre mercado, sobre condições de concorrenc1a perfeita, atinJa o bem-estar econômico.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A SPECTOS ECONÔMICOS , SOCIAIS E AM BIEN TA [ S DO MANEJO E DA . .. 87

v iabi lizélncl o zis estimativas económ icas. /\ e; pcrdéls que com põem essa avaliação podem ser
s ubdi vidid as cm diretas e indiretas. Os cus tos d ir tos represen tam ílS modificações <lo nível
de despesas em consequência dzi mudança na quJlicléld e do meio élmbie nte e, com maior ou
menor grn u ele dificuldade, são passíveis de mens uração. Os cus tos indír toc, englobélm um
conjunto ele diversas perdas abs tratas, custos sociais e, invJricl velmente, ap resentam e-xtrema
dificuldade em s ua afe rição.
Em su a essência, a va lo ração de cus tos e bene fíc ios está relac ionad a ao conceito de
valor econômico tota l desagregado pela soma do va lor de uso, opção e ex istência. Segundo
Pearce (1993), a taxonomja de valores econô micos relélcíonados ao meio c1mbient , q uando
exis te um merca do para o recu rso natura l ou para os serviços ecossis tém icos, tendo o seu
valor de uso ca lculado por meio do preço, é mais facilmente reconhecida. Ac;sím, o va lo r
de uso representa o valor ah·ibuído pelas pessoas pelo uso o u pelo usufruto dos recursos
na turais. Ele é composto pelo va lor de uso direto - em que o indivíduo us ufruí no período
corrente de um recurso, visando, por exemplo, a extração, vis itação ou alguma ou tra fo rma
de atividade produtiva ou de consumo direto - e pelo va lor de uso indireto - em que o
benefício do recurso é d erivado de suas funções ecossistêrrucas. Po rém, aq uelas pessoc1
que não usufrue m no presente de serviços prestados pelo meio ambiente podem também
atribufr um valor a esse. Tra ta-se de um valor relacionado a usos futuros que podem gera r
alguma forma de benefício ou sa tisfação aos indivíduos. Esse valor é entendido como valo r
de opção, ou seja, opção para uso futuro ao invés do uso presente, conforme compreendido
no valor de uso. O valor de existência caracteriza-se como um valor de não u o. Representa
um valor atribuído à existência do meio ambiente, independentemente do seu uso a tual
ou futuro. Denota um valor conferido pelas pessoas a cer tos recursos ambientais, como
florestas e anirnajs em extinção, mesmo que não planejem usá-los ou ap reciá-los. Des a
forma, a teoria econônuca, por s i só, não é s uficiente para trata r adequadamente da relação
custo-benefício relacionada aos recursos naturais na plerutude de s uas características.
Na economia, o ponto ótimo de a locação de recursos se d á no momento em que a
produção não pode ser alterada para aumentar a utilidade de um indivíduo sem diminuir
a de outro. Dessa forma, para se atingir o "ótimo de Pareto", tam bém chamado de first-
best solutioll, são necessárias condições, como exis tência de preços eficientes e a usência de
custos de transações, que impeçam as trocas e os direitos de propriedades não atenuados.
Muitas vezes, por suas características e em se tratando de recursos naturais, tal solução não
é possível de ser atingida (Sen, 1993).
O critério de Pare to pressupõe uma s ituação em que os recursos de uma economia são
alocados de tal maneira que nenJ1uma reordenação diferente possa melho rar a ituação de
qualquer pessoa (ou agente econôrruco), sem piorar a situação de qualquer outra. A si m, a
condição necessária para o máximo do bem-estar é que seja impo sível a lterar a forma pela
qual a sociedade usa seus recursos naturais para melhorar a situação de alguém sem piorar
a de outro. Porém, na prática, isto não acontece, principalmente na sociedade de consumo.
Por isso, análises de cus to-benefício devem ter enfoque ecológico e erem
desenvolvidas, considerando aspec tos técnicos, amb ientais, insti tucionais, organizacionais,
comerciais, financeiros, gerenciais, econômicos e sociais (cu lturais e políticos), inclusive
quando utilizad as para avaliar sis temas de produção agrícola, tanto do ponto de v ista do
produtor quanto da sociedadet8l .
Além disso, a an álise custo-benefício pode ser entendida como método de a aliação
social, quando produz informações para direcionar a alocação de recurso e cass ,

<HJ Tanto os produtores quanto os consumidores não querem arcar .:om os prejuízo da degrada Jn ou dos us tos
da conservação. A questão central a refletir é como pagar essa conta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


.
88 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

objetivand maximizar benefício líquido'9' social. A fundam entação teóri ca da a n á li se


cu to-b neficio traduz na valoração de determinado bem ou serviço pelo cons umidor
m razã de ua di po i ão em pagar por aumento ou de aceitar redu ção, caso a variação
medida venha a ser po itiva ou negativa. A sim, tomando-se como base qu e a utilidad e
do bem no 1ninimo igual ao preço pago pores e, o consumidor, ao lhe atribuir um valor
uperior ao pre o, gera então um lucro líquido. Esse valor, obtido pela diferença entre a
di posição a pagar e o atual pagamento, é o excedente do consumidor(J 0>.
1a
prática, a análise custo-benefício apresenta-se como uma avaliação de impactos,
eguida da respectivas avaliações: uma confrontação enh·e o valor presente do fluxo de
benefícios e do valor presente de todos os investimentos e custos decorrentes. Assim, para
urna análise mais ampla dos impactos ambientais gerados pela erosão ou conservação do
solo, devem-se incorporar os efeitos in sih1 e ex sih1 e suas extemalidadesC11 >. Em outras
palavras, os custos e benefícios do manejo e da conservação do solo e da água devem
ser calculados, levando-se em conta os efeitos in situ, relativos às perdas que ocorrem
no interior da unidade produtiva, e ex situ, referentes aos prejuízos que ocorrem fora da
propriedade agrícola.

Efeitos in situ
A maioria dos trabalhos feitos com o propósito de analisar as consequências
econômicas do manejo e da conservação do solo e da água refere-se aos impactos in situ da
erosão do solo. Como exemplo, têm-se os trabalhos de Walker (1982), Gardner e Barrows
(1985), Hertzler et al. (1985), King e Sinden (1988) e Palrnquist e Danielson (1989), os quais
estudaram o efeito da erosão e conservação do solo sobre o valor das terras agrícolas; os
de Pierce et al. (1984), Dregne (1990), Pimentel et al. (1995) e Xu e Prato (1995), os quais
analisaram os custos da erosão do solo em termos da perda de produtividade das terras
agrícolas; os de Swanson e MacCallum (1969), Pape Ili et ai. (1983) e Barbier (1990), os quais
verificaram o impacto da erosão e da conservação do solo sobre a renda dos produtores;
e os de Bennett (1933), Marques et al. (1961), Larson et aJ. (1983), Tengberg et al. (1997),
Berto! et ai. (2007), Pugliese et aJ. (2011) e Dechen et ai. (2015), os quais estimaram os
custos gerados pela erosão em razão das perdas de água, terra e nutrientes para diferentes
culturas, tipos de solo e sistemas de manejo. Essas análises foram feitas considerando-
se diferentes escalas geográficas: país, estado, mwúcípio, bacia hidrográfica e parcelas de
12
erosão em áreas experimentaisC >.
Na maioria desses estudos, se busca estimar o impacto econômico da erosão do solo
pela vaJoração desse sobre o custo de produção, tornando por base os custos e benefícios

M o benefício líquido é a diferença entre as receitas e os custos de produção, evidenciando qual a quantidade
mínima a ser produzida para que as receitas paguem os custos de produção.
<•111 o excedente do consumidor é uma medida da mudança do bem-estar de um indivíduo e m razão de uma
mudança no ambiente econõnúco. Representa a diferença entre a quantidade máxima que o consumidor está
d isposto a pagar pelo bem e a quantia realmente paga.
01, Extemalidade é o impacto das ações de alguém sobre o bem-estar dos que estão ao entorno. A externalidade pode
ser negati a, quando gera custos a terceiros, como a de uma fábrica que poluí o ar, interferindo a comunidade próxima.
Pode ser positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, se beneficiam, a exemplo dos investimentos
gm·emamcntaís cm infraestrutura e equipamentos públicos. Coase (1960) argumentou que as externalidades existe m
em razão da ausência de mercado e direitos de propriedade bem definjdos.
112, A mafor parte d esses estudos é realizada em parcelas de erosão, em áreas experimentais, e os resultados
extrapolados para diferentes e calas geográficas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - Asp e ra s ECONÔMI CO S , SOCIAIS E AMBI ENTAIS DO M AN EJ O E DA . . . 89

gerados por outros bens ou c;crviços qu e t nha m -,eus prcçoc; dctc rm inadoc; p lo mercadn
/\ssim, para a aplic.ição cl es-,c mé todo, prímc ir,:imen te são d terminadas as p rdas f1sic.1c:;
geradas pela erosão do solo, como nutri entcc;, produção ilgrícolc.1 te., e, em .;egu,da,
estabelece-se o va lor económico dessas p rdas. No caso •specífico dac:; perdas de nutrientes,
essas são con ve rtidas em fe rtiliza ntes comerciais, qu e tém preços d e mercado possibil ita c1
estimativa dos custos.
Os efeitos i11 sifu da erosão do solo atingem diretamente as terras aericu ltá veis pela
perda de água, terra, maté ria orgâ nica e nutrientes, resultando e m a umen to nas despesas
para ma nute nção da fertilidade do solo. Isso porque, na tenta tiva de eq uacionar o
problema, muitos agricultores adotam medid as de compensação, a plica nd o volumes c,:ida
vez maiores de fertilizantes, que majoram os seus custos de produção - tanto pelo cu to
dos fertilizantes quanto pelo custo operacional de s ua aplicação. Essa dinâmica encontra
res paldo na essência das definjções de tolerância de perda de ol o, que leva e mbu tida a
ideia de manutenção da produtividade (Sche rtz, 1983).
Os estudos de Wilcox (1938), Ibach (1945), Weitzell (1947), Blos cr (1953), McCon nell
(1983) e Lutz et ai. (1994), entre tantos outros, retrataram os a pectos econôm icos q ue
podem determinar a adoção ou não de tecnologias com vista à conservação do solo,
relacionando tal decisão à fertilidade e produtividade das terras agrícolas. De fo rma geral,
tendo em conta a tolerância de perda do solo à erosão, o uso do solo com detennínad o
nível de fertilidade natural pode ser benéfico para o produtor durante o tempo em q ue
o seu uso representar custos menores do que seriam se a fertilidade tivesse que ser
mantida. Nesse caso, o impacto da erosão do solo é visto un ica mente como depleção da
fertilidade - enquanto não ocorrer a deterioração da produtividade do solo. Como isso
resulta em maiores receitas e retornos líquidos para o produtor, haveria desestímulo em
se adotar sistemas de manejo conservacionista, pois, no curto prazo, esse demandariam
investimentos, terraços, por exemplo, aumentando os custos e reduzindo os rendimentos.
Entretanto, quando o sistema de exploração do solo diminui a s ua fertilidade natural e
causa também a redução da produtividade, as consequências econõrrucas para o produtor
são maiores. Os retornos líquidos são menores que a receita líquida e, consequentemente,
a renda auferida com o uso da terra, bem como o valor decrescem anualmente.
Além disso, in situ, as perdas geradas pela erosão leva m à diminuição da profundidade
dos solos cultiváveis e da umidade disponível para as plantas, podendo limitar o que pode
ou não ali ser cultivado, acarretando instabilidade na produção de alimentos, aumento
dos preços dos produtos agrícolas, sobretudo das co111111odities (Baver, 1931; Fletcher,
1985), desvalorização das terras e, até mes mo, seu abandono (Fletcher, 19 S; Palmquist e
Danielson, 1989; Tegtrneier e Duffy, 2004).
Para Bunce (1942) e Colacicco et ai. (1989), do ponto de ista econômico, o danos
da erosão do solo na produtividade podem ser de dois tipos: permanente e temporários.
Os danos permanentes ocorrem quando o potencial produtivo é interferido pela redução
da profundidade de enraizamento e pela perda de capacidade de retenção de água. Isso
provoca uma queda permanente dos ganhos com o uso e a venda de terras e, eventualmente,
maiores preços do produto para o consumidor. Por sua vez, os d anos temporário se
referem à alteração do potencial produtivo causada pela perda de nutriente · e utros
insumos, que podem ser repostos a um custo igual ou menor que o custo da conservaç5o
do solo e da água. Nesse caso, não ocorre redução permanente da produtividade nem da
receita obtida com o uso e comercialização das terra agrícolas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


90 TIAGO SANTOS T ELLES ET AL.

Exi tem, também, outro impactos ligados à produção, como: gastos adicio na is
com irri a ào, cu tos de replantio, perda de investi mentos em sistemas de produção
melh rado ·, que e t m am ineficientes em função da erosão do solo, a lé m de cu s tos
com maquinário e mão de obra, necessários parn reparar os danos gerados pela erosão
do solo. Assim, a pes oas que vivem das atividades agrícolas, em terras suje itas a
proc o contínuos de erosão do solo, gradativamente empobrecem, pois su a renda terá
comportamento decrescente e proporcional ao impacto da degradação das terras agrícolas
sobre ua produção.
a área onde a erosão limita ou inviabiliza a produção, o trabalho no campo
dei 'ª de compensar o esforço e os investimentos; assim, famílias e trabalhadores rurais
acabam m.igrando para os centros urbanos, que, por sua vez, recebem uma mão de obra
despreparada para outro tipo de h·abalho que não aquele ligado ao campo, dando origem
aos chamados bolsões de pobreza (Santos, 2005).
Contudo, a decisão de implantar ou não wn sistema de manejo com vistas à conservação
do solo e da água está condicionada às relações em que os produtores rurais estão envolvidos:
relacionamentos sociais, ideais culturais e valores morais. O meio social, do qual cada
pessoa faz parte, opera no sentido de moldar e reforçar suas práticas. O resultado disso é
um tipo de socialização que faz com que o indivíduo internalize profundamente a adoção
das normas de comportamento convencional ao grupo a que pertence. Assim, se o grupo ao
qual esse está inserido adota o sistema de manejo conservacionista, esse será influenciado,
indiretamente, a adotar um comportamento semelhante ao dos demais. Segundo Keynes
(1992), isso ocorre porque o sistema capitalista traz consigo incertezas em relação ao futuro,
e, como os agentes econôm.icos são racionais, esses adotam comportrunento semelhante ao
de seus pares.
Além disso, o processo contínuo de degradação dos recursos naturais, sobretudo da
água, pela ótica da racionalidade econômica, representa um processo de empobrecimento
da sociedade, pois quanto mais caro o processo produtivo for, mais elevado será o
preço dos alimentos, reduzindo o poder de compra dos consumidores, com inúmeros
desdobramentos sociais e macroeconóm.icos (Napier et al., 1991; Alfsen et al., 1996).
Nesse contexto, cabe ao Estado subsidiar e assistir os produtores rurais desprovidos
de capital para realizar os investimentos necessários para adoção de sistemas
conservacionistas, tendo em vista que a degradação dos recursos naturais, especialmente
do solo e da água, impacta toda a sociedade. Por isso, políticas públicas que possibilitem
e estimulem a adoção dessas práticas são indispensáveis, contribuindo sobremaneira para
o desenvolvimento sustentável.

Efeitos ex situ
Os impactos ex sítu da erosão transcendem os Iim.ites da w1idade de produção agrícola,
influenciando não só outros agricultores, mas a sociedade como um todo (Clark II, 1985;
Colacicco et aJ., 1989). Esses efeitos, quando negativos, têm implicações econômicas,
principalmente na forma de diminuição de utilidade de um ou mais indivíduos, ou, no
caso da erosão do solo, no aumento dos custos de produção de um ou mais produtores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTOS ECONÔMICOS , SOCI/\ IS E AMBIENTAIS DO MANEJO E DA ... 91

Exemplo J. ustos in situ.


Marques et ai. (]96'1) foram os primeiros p squisc1dores a realizar esfudo relacionando
perdas geradas pelo processo erosivo a custos económíc s, no Brasil. O autofi apre ntaram
os dados obtidos na primeira fase do trabalhos da Seçã de Conservação d Solo, d l:nstitut
Agronômico de Campinas (lAC), no Estado de São Paulo, entT os ano agrícola de 19 3/19
e 1958/1959, em taJhões experimentais, com chu va natural. Ele · tuda.ram efeitos obre
as perdas por erosão, considerando: tipo ele solo, sistema de preparo do solo, incorporação
da matéria orgânica, rotação de culturas, tipo d e uso do solo, cultura, declividade e práticas
conservacionistas. Comparando áreas de mata, pas tagem, cafezal e algodoal, deter:rrunaram
a perda de solo em t ha·1 ano-1, o vaJor dos nutrientes (N, P, K) contido em forma disp el
na terra por hectare ao a no, o tempo gasto em anos para que ocoTre se o desgaste de uma
camada de 15 cm de profundidade e a perda d e água em porcentagem obre chuva anua].
Nesse estudo, constataram que as maiores perdas ocorreram no aJgodoal. Es timaram os custo
da erosão, em valores atualizados para julho d e 2012 ([GP-Dl), por h ctare ao ano, em 0,08
reais para mata nativa; 8,60 reais em áreas com pastagem; 17,01 reai em cafezal; e 492,02 reais
em algodoal. Além disso, esses autores observaram que, com a intensificação da atividade
agrícola, a erosão passou a ser considerada, além de uma questão agrícola, um problem,
econômico de grandes proporções.
Sorrenson e Montoya (1989), considerando uma perda média de 20 t ha·• ano· 1, para os
6 Mha com culturas anuais em 1984, no Estado do Paraná, estimaram custo de
aproximadamente 242 milhões de dólares ao ano em razão das perdas de nutrientes
carreados pela erosão laminar do solo (N, P, K) e de 34,5 milhões de dólares ao ano pela
redução da produção quando nos estádios de s ukos e voçorocas, perfazendo um total anual
de 276,5 milhões de dólares.
Berto! et al. (2007) quantificaram as perdas de água, terra, P, K, Ca e g na água, d
P disponível e de K, Ca e Mg trocáveis nos sedimentos da enxurrada, perdido poT erosão
hídrica, em um experimento realizado sob chuva natural, entre novembro de 1992 e outubro
de 2003, no sul do Planalto catarinense, em um Cambissolo Húnúco aJumínico J ' ptico, com
declividade média de 10 cm m·1, em três técnicas de manejo: preparo con encional (Pq,
preparo mínimo (PM) e semeadura direta (SD). Para estimativa dos custos, o nutrien
perdidos foram convertidos em fertilizantes comerciais (superfosfato triplo, cloreto de
potássio e calcário). Os valores obtidos, por hectare ao ano, no PC foram de 24,94. dólares; no
PM, de 16,33 dólares; e na SD, de 14,83 dólares. Os resultados evidenciaram me:n res perdas
nos sistemas conservacionistas de manejo do solo e da água, principalmente na SD.

Segundo Mishan (1971), o termo externa lidade (ou efeito ex -itu) é comumen te definid
em razão da resposta da produção d e uma empresa (rw-al ou urbana) ou da u tilidade de
uma pessoa à atividade de outras firmas e, ou, outras pessoas. Salienta-se que o efeito de ·e
ser direto, ou seja, por meio de elementos ou variáveis embutidos nas respectivas funçõe
de produção e de utilidade das firmas ou dos indivíd uos influenciados.
O efeito ex sit11, em geral, não é uma criação deliberada o u intencional, mas corre~ponde
a um s ubproduto de uma atividade desejada, o u não, pela sociedade - externalidade
do processo de produção do setor agrícola. Nesse contexto, a produção agrícola é uma
atividade desejada pela sociedade. No enta nto, essa pode gera r, como su bproduto, a
erosão acelerada do solo, que por sua vez se to rna fon te de poluição dos corpo de água ia
sedimentos e elementos químicos arras tados. Essa poluição consti tui uma externalidade
negativa da agricultma, não desejada pela sociedade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


92 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

pr cesso r siv hídrico p de arra lar não só partículas de solo como também
elemento quími os (nutrientes e defensivo agrícolas) até os corpos d'água (córregos, rios,
res rvatório , lag s etc.), gerando inúmeras externalidades e, entre essas, a sed ime ntação
e poluição.
A principai ext rnalidades estão ligadas à sedimentação (Clark li, 1985; Huszar e
Piper, 19 6; Cr wder, 19 7; Pimentel et al., 1995; Steiner et ai., 1995; Montanarella, 2007),
que nada mais que o transporte dos materiais carreados pela enxurrada e acumulados
no ítio de depo ição. Para estimar os custos associados a esse processo, inicialmente
os pesquisadore precisam discriminar o sítio de deposição que pretendem trabalhar,
ejam esses o corpos d'água, estradas, ferrovias, propriedades vizinhas, ou outros, para
posteriom1ente determinar a quantidade de sedimentos que o atingiu.
Quando o sítio de sedimentação é um corpo d'água, haverá redução do leito do canal
fim ial, diminuição da capacidade dos rios, córregos, reservatórios e valas de drenagem,
aumento do risco de inundações, bloqueio de canais de irrigação, encurtamento da vida
útil das represas e danos para a fauna e flora aquática e silvestre, pela destruição de suas
fontes de alimento, esconderijos e lugares para aninhar (Clark II, 1985; Forster et al., 1987;
Robertson e Colletti, 1994; Pimentel et ai., 1995; Uri, 2001). O fluxo de sedimentos, ao atingir
córregos, rios e barragens, ocasiona modificações no sistema de deflúvio e problemas
ao meio ambiente, alterando-lhes a estrutura e ecologia e potencializando prejuízos à
na, egação, à captação, ao armazenamento e à distribuição de água para o abastecimento
urbano, à irrigação, à drenagem, à recreação (Ribaudo et al., 1989; Hansen et a1., 2002).
Por sua vez, os principais impactos fora dos corpos de água se referem ao aumento dos
custos de bombeamento, condução e tratamento de água, à elevação da magnitude das
inundações e dos deslizamentos de terras (Clark II, 1985). De forma geral, esses custos são
calculados pelas despesas com os reparos dos danos gerados nas áreas atingidas por esses
fenômenos.
Com a sedimentação, a infiltração da água no solo é reduzida, podendo ocorrer
aumento no volume da enxurrada. Com isso, tornam-se mais frequentes as súbitas
elevações de vazão e cresce a poluição por causa das maiores quantidades de resíduos
conduzidos aos cursos d' água, como partes de plantas, dejetos de animais, fertilizantes e
defensivos agrícolas. Vale ressaltar que os sedimentos podem aumentar os teores de N e de
P nos corpos d'água, resultando em eutrofização (Pimentel e Kounang, 1998). Além disso,
por meio do processo de degradação dos solos é liberado o C02 na atmosfera (Lal, 2007;
Salvati e Zitti, 2009).
Quando atingem, por exemplo, hidroelétricas, haverá necessidade de dessedimentação,
que acarretarão custos operacionais de desassoreamento dos recursos hídricos (Hitzhusen
et al., 1984; Marques, 1998), com impacto nos gastos da geração de energia elétrica (Marques,
1998), que serão repassados aos consumidores. Muitas hidrelétricas e muitos projetos de
irrigação foram abandonados em consequência da erosão (Crowder, 1987; Colacicco et al.,
1989).
0 caso de atingirem estações de tratamento de água (Hitzhusen et al., 1984), haverá
intensificação do uso de produtos químicos relacionados à turbidez da água, elevando os
custos de oferta de água tratada para o consumidor final.
Quando atingem estradas, carreadores, ferrovias e outros caminhos, além do custo de
remoção do sedimento, existem os de manutenção e reparos dos danos causados.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A SPECTOS E CO NÔMICOS, SOCIA I S E AMBIENTAI S DO M ANEJO E DA . . . 93

Dessa forma, i1 o pe rac iona lização cios cus to ex çi fu é fe ita pel,1 agrega ão dos gac;toc;
cfelw1dos llél r pélração cios efeitos negativos provoca dos po r a lg um di c; túrbio na produ ção
ou pelo bene fíc io gerado pe la repa ração ele um dano.
Ademais, os custos ex sit11 pod em ter cons quéncias macro conôm ic,1s, determinando,
por exemplo, o aumento no preço d as co111111odítíes agrícolils (A lfsen et ili., I 996; Coh n et
a i., 2006).
A produção agrícola gera lmente se encontrn s ujeita a um í_te ma bem e p cífico de
direitos de propriedade(IJJ e de estrutura d e p reços, mas o seu s ubprod uto "erosão" não é
desejado e nem incorporado nos mercados. Além do milis, os cus tos globai c; da produção
agrícola que provoca m efeitos ex sítu em razão da erosão são maio res que os cus tos í11 -:ífu.
Assim, é de interesse dél soc iedade, por intermédio do Es tad o, a fo rmulação de
políticas públicas visando à conservação do solo e da água, quando: (i) a conservação é
econorrticamente vantajosa para o produtor agrícola de forma indi vidual, mas esse não
a a dota; desse modo, políticas públicas visando à conservação desses recursos naturai
são desejáveis porque s ua execução aumentaria os retornos líquidos do indivíduo da
sociedade; e (ii) a conservação não é economicamente vantajosa para o produtor, ma
sim para a socied ad e; nesse caso, a justificativa econômica é que, sem a impl antação das
politicas públicas, os retornos líquidos sociais seria m menores que os retornos líquido
privados, tornando fins intangíveis objetivos sociais apoiados pela maioria das pessoa
por meio dos mecanismos políticos existentes. Apesar de a valoração econômica er difícil,
supõe-se que a utilidade da sociedade aumentaria com a implantação das política pública ,
inclusive se os indivíduos interferidos forem compensados. l o entanto, em geral, quem
tem conhecimento científico para tratar do tema não elabora leis, e quem as elabora não
tem conhecimento suficiente para tratar do assunto. Nesse sentido, há a neces idade, por
exemplo, de se inserir a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) nesse debate, visto
que os cientistas dessa Associação devem se apresentar aos gestores municipais, e taduais
e federais como uma sociedade organizada e especializada na temática, colaborando na
elaboração de políticas públicas voltadas ao manejo e à conservação do solo e da água.
Somente assim, os critérios técnicos passariam a ser mais importantes do que os politicos,
tornando mais efetiva a governança do solo.

113>De
acordo com a Constituição Federal de '1 988 (Art. 225), todos têm direito <10 meio umbien te e..:ologicamente
equilibrado, bem como de uso comum do povo e es encinl :'I sadia qu.1lidade de vida, impundo-s.:- ,1o p Jer
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre ' t'rvá-lu p.1rn ,1S p~~e ntc - e futur:is >eraçõe ·.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


94 TIAGO SANTOS TELLES ET Al,

Exemplo 2. Cu to x situ.
Oark li (19 5) estimou para o Estado · Unidos que as externalidades geradas pela
fonte difusa de poluiçao originada da agricultura implicou emprejuizos de aproximadamente
2, bilh de dólar : 830 milhões de dólares tfocorrentes dos danos às atividades recreativas,
-O milhõ de dólares em razão da perda de capacidade dos reservatórios, 180 milhões de
d lare referente a ustos com navegação, 250 milhões de dólares em prejuízos decorrentes
de inundaçõe ; 100 milhões de dólares em perdas com instalações de canais de irrigação,
valas de drenagem e bombeamente de água, 30 milhões de doláres com o tratamento de água
e 990 núlhões de dólares gerados por outros impactos.
Forster et al. (19 7) apontaram que uma redução de 25 %na erosão do solo dirninuiria
em USS 2,7 milhõe os custos anuais com tratamento de água no Estado de Ohio, Estados
Unidos.
Holrnes (1988) determinou, para os Estados Unidos, o efeito marginal da turbidez
sobre o custo de tratamento da água. Os resultados indicaram que o aumento de 1 % da carga
de sedimentos produzida pela erosão do solo causa um acréscimo de 0,05 % nos custos de
operação e manutenção nas estações de tratamento de água.
Para a bacia hidrográfica do Rio Sapucaí-Mirim, localizado ao norte do Estado de São
Paulo, Marques (1998) estimou que os custos anuais gerados pelo impacto da sedimentação
são de aproximadamente US$ 10 milhões.

ASPECTOS AMBIENTAIS DO MANEJO E DA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Do ponto de vista ambiental a ocupação do território brasileiro, para fins agropecuários,


se deu, de forma geral, sem os devidos cuidados em relação à preservação e conservação de
recursos naturais corno o solo e a água; mesmo porque, num primeiro momento, o objetivo
principal era a ocupação do território e diante da abundância desses recursos não houve a
preocupação com a implementação de politicas públicas e de modelos institucionais com
vista a racionalizar o uso dos mesmos.
Além disso, com o início do ciclo de desenvolvimento econômico nos anos de 1960,
passa a predominar na agricultura uma constante busca por maiores produtividades com 0
uso intensivo da mecanização e dos chamados "insumos modernos" (sementes melhoradas,
fertilizantes, defensivos). No entanto, a intensificação da agricuJtura acelerou o processo de
erosão antrópica do solo e, diante disto, os sistemas conservacionistas de manejo passaram
a desempenhar papel importante na sustentabilidade da produção agrícola.
O conceito difundido de sistemas de manejo do solo inclui o preparo do solo
(equipamentos e operação), as culturas (rotação e sucessão) eas práticas de cultivo e controle
da vegetação espontânea. Assim, de forma geral, o manejo do solo consiste num conjunto
de operações realizadas com objetivo de propiciar condições favoráveis à semeadura, ao
desenvolvimento e à produção das ~Jantas cultivadas por tempo ilimitado. O manejo, na
rubrica ecológica, é a gestão do ambiente e de seus recursos, de modo que seu uso possa
ser constante, sem redução num futuro indefinido. Dessa forma, os aspectos ambientais do
manejo e da conservação do solo e da água são aqui abordados como meio para produção
vegetal sustentável, levando-se em conta o controle das perdas por erosão, a quantidade de
biomassa cultural residual e os atributos físicos, químicos e biológicos do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTO S ECONÔMICOS, SOC I AIS E AMBI ENTA I S DO MANEJO E DA .. . 95

A erosão do solo
O processo de erosão consiste no dcs pr nclimento e urrast ele pélrtículc1s cauc;ados,
principal mente, pela ação da água e do ve nto. A ação a ntrópicJ acelera o processo de
erosão por me io, enlTe outros fatores, cio manejo inadequucl o do solo.
A erosão ca usada pela chu va, também no minada ele erosão híclricJ, J tinge a maior
parte do planeta (Zachar, 1982). Ela é urna das principa is formas d e clegr.:idaçãu cio<; solos
agrícolas no Brasil. Trata-se de um processo q ue oco rre, basicc1mente, em quutro fases:
impacto das gotas da chuva no so lo, d esagregJção, trnnsporte e deposição de partículas.
Além da água da enxurradél e das pa rtíc ulas de solo em s uspensão, no escou mento
supe rficial são trans portados nuh·ientes e matéria orgânica. O processo erosivo pode
alterar a tributos qu ímicos, físicos e biológicos do solo, contribuindo pzira o declínio de suil
fertilidade e, consequentemente, de sua capacidade produti va (Lal, 1997, 2001; Morgan,
2005).
A chuva é o fator climá tico de major import5ncia na erosão do solo, visto vi to que o
volume e a velocidade da en xurrada depe ndem da sua intensidade, duração e frequência.
As características físicas do solo, principalmente textura, estrutura e permeabilidade, vão
determinar a velocidade da infiltração da água no solo e, por conseguinte, o vol ume de
enxurrada. Face à quantidade e intensidade das chuvas nas regiões tropicai , a preocupação
é como diminuir o impacto das gotas de chuva no solo e conter o escoamento supe rficial,
uma vez que quantidade e intensidade das chu vas não são passíveis de controle. l o Estado
de São Paulo, por exemplo, o Instituto Agronômico (IAC) registrou va lores de até 150 mm
h-1 de intensidade máxima da chuva em 15 mjn.
Os índices de erosividade da chuvaP·1l médios anuais (fator R da Equação Universal de
Perdas de Solo - USLE, deterrrunados pelo El 30), no Brasil, apresentam grande variabilidade
espacial, o que é natural, decorrente da diversidade climá tica existente entre as distinta
regiões do país, indicando diferentes níveis de risco à erosão hídrica. Segundo Oliveira
et ai. (2013), no Brasil, 35 estudos utilizaram dados de precipitação pluviométricas para
realizar o cálculo desse fator - 60 % deles concentrados em cidades das Regiões Sul e
Sudeste. A erosividade anual da chuva no Brasil variou de 1 672 a?? -152 i'vIJ mm ha·' h·1
ano-1. Os menores valores foram encontrados na Região Nordeste, e os maiores na Região
Norte, sendo que a erosividade da chuva tende a aumentar de leste a oeste do país. t os
Estados Unidos, os valores do índice de erosividade média anual na major parte do pais
estão abaixo de 5 900 MJ mm ha-1 h·1 ano- 1; apenas no extre mo s udeste esses valores podem
chegar a 8 500 MJ mm ha-1 h-1 ano-1 (Wischmeier e Smith, 1978).
Se a quantidade de chuva e a intensidade d ela são componentes importante no
manejo dos solos nos trópicos, esses per se são motivo de cuidado , pai a erodibilidade
de cada solo<15) (fator K da USLE), sua s uscetibilidade e tolerância à ero ão ão que tões
essenciais para determinar as práticas agrícolas.
A tolerância de perda d e solo(16l é a quantidade de te rra que pode ser perdida por
erosão, expressa em toneladas por unidade de superfície e por ano, mantendo ainda o solo
4
fl l A erosividade cons is te no pote ncial da chu va em causar cros.'io hídrica e~ represt'n tad..i pelo produto t'ntre ,1
energ ia ciné tica to ta l da chu va (Ec) e a intensidade m áx ima em 30 min (130).
l'5J A erodibilidade do solo cons iste na s uscetibilidade o u vulnerabilidade do solo à en são hídrica, sendo um
atributo intrínseco a cada tipo de solo.
110
>Esse conceito, no Bras il, foi tratado por Sparovek e De M.1ria (2003) e Berto ni e Lumbardi I t!to {2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


96 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

em ele, ado nív I de produtividade por longo período de tempo. Essa tolerâ ncia reflete a
perda máxima de solo que e pode admitir, com um grau de conservação, que mantenha
uma produção econômica em futuro previsível, com os meios técnicos atuais(17l.
'1.annigel et ai. (2002) determinaram, para solos do Estado de São Paulo, valores de
tolerância de perda por erosão enh·e 2,68 e 14,70 t ha·1 ano·1 e valores de K de 0,0044 a
0,4278 t ha h ha·1 MJ·1 nurr1, para o horizonte A; e de 0,0038 a 0,5750 t ha h ha·1 MJ- 1 1nm·1,
para o horizonte B.
AI m de água e terra, no processo de erosão são transportados m atéria orgânica,
nutrientes e defensivos agrícolas; a falta de matéria orgânica e de nutrientes pode
comprometer o desenvolvimento das plantas, e o transporte de defensivos pode ser fonte
de poluição.
Por isso, se em primeiro momento as pesquisas visavam à determinação do quanto se
perdia em água e em terra pela erosão, em segundo momento essas também se concentraram
nas perdas de matéria orgânica e nutrientes geradas pelo processo erosivo (seletividade da
enxurrada e taxas de enriquecimento do sedimento).
Estudos sobre a perda de matéria orgânica e nutrientes pela erosão do solo e o efeito
da queima da biomassa cultural residual nesse processo, no Brasil, são bastante antigos
(Grohmann e Catani, 1949; Grohmann et al., 1956; Verdade et al., 1956); um dos fatores
que determina a queda dos teores de matéria orgânica em áreas cultivadas é a perda da
camada superficial do solo arrastada pela erosão, especialmente porque essa se concentra
nos primeiros centímetros do solo.
O manejo da palha e o sistema de produção influenciam a erosão e as quantidades
de matéria orgânica no solo (De Maria et al., 1999; Craswell e Lefroy, 2001; Calegari et al.,
2008). Assim, na maioria dos casos, o teor de matéria orgânica diminui em solos sob cultivo
em relação aos sob vegetação natural; um dos fatores que contribui para isso é a erosão.
Entretanto, em alguns casos, há diminuição inicial no teor de matéria orgânica do solo com
posterior recuperação em teores semelhantes; porém, com qualidade diferente, em razão
do tipo de biomassa cultural residual depositada.
Vários estudos abordaram o manejo da matéria orgânica do solo; entre esses cabe
destacar: Reicosky et al. (1995), Reeves (1997), De Maria et ai. (1999), Six et al. (1999, 2002),
Machado e Silva (2001), Zinn et ai. (2005), Hobbs et al. (2007), Calegari et al. (2008), Dieckow
et ai. (2009) e La Scala Júnior et al. (2012). Em linhas gerais, pode-se dizer que os teores de
matéria orgânica em condições naturais variam em razão do tipo de umidade do solo e
da vegetação. Esses teores, entretanto, são alterados pelos cultivas. Os solos cultivados
apresentam, normalmente, teores de matéria orgânica mais baixos que os sob vegetação
nativa. As perdas de matéria orgânica nos solos cultivados ocorrem pela oxidação dos
compostos orgânicos e pelo arraste da camada superficial do solo pela erosão hídrica. Os
rnanejos de culturas que controlam as perdas de terra diminuem as carências de matéria
orgânica, mas, nem sempre, são os que mantêm maior teor de C orgânico no solo. A
rotação de culturas e a adubação verde trazem significativos aumentos de produção das

<17)SoJos com B textura! apresentam valor menor de tolerância de perdas (4,5 t ha·1 ano-1) , pois têm acúmulo de
a rgila nos ho rizontes B em relação ao horizonte A, criando tanto um gradiente textura! quanto wn gradiente
de drenagem entre os horizontes, d e modo que as camadas superficiais ficam mais sujeitas ao processo de
erosão. Solos com B latossólico, de modo geral, são profundos e sem diferença textura) acentua da entre os dois
horizontes, apresentando boa drenagem interna e, portanto, os limites de tolerância de perdas de solo são m ais
e le vados (15 t ha·1 ano·1).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A S PECTOS ECONÔM I COS, Socrn rs E AMBI ENTAIS DO MANEJO E DA . . . 97

culturas cconümirns por umíl co mbinoção de cl iferent s fato res. Por ' m, o aum 'nto no teor
de matériíl orgânica no so lo, quando ex is te, é muito pequeno. As legum ino5as são mai ·
efi cientes e m incorporar N ao solo, podend o, em a lguns cac;os, dis p nscJr ,, adubação de
coberturn com esse elemento feita em cletcrmimd as culturas. Entretanto, JS gr mínea
aumentam o teor de maté ri a orgãn icél do solo, ex igind o, porém, maior quantidade de
adubo nitrogenado. Nos ma nejas d o so lo no rmal ment • uti lizados em cu lti vas extensivos
sempre há queda no teor d e maté ria orgâ nica cm relação à situação inicial, qualquer que
seja a prática utilizada. O preparo do solo, a umenta nd o a aeração e alterando a quantidade
de material vegetal, que retorna ao solo, é, provavelmente, o fato r que mais influencia
esse processo. Dessa forma, o a umento do teor d e matéria orgâ nica do solo ó é po ível
com sistemas conservacionistas, especialmente a semeadura ou o plantio di reto. 1 e es
sistemas, o decréscimo no teor de matéria orgânica cio solo, em relação ao solos coberto
com vegetação nativa, é menor, mas a quantidade de matéria orgânica no solo sobes es
sistemas dependerá, também, da textura do solo, do regi me hídrico e da q uantidade de
matéria deixada na superfície.
Já as perdas de nutrientes pela enxurrada têm considerável impacto ambiental, por
serem fontes de po]ujção. Por isso, não é de hoje que o assunto preocupa pesquisadore
brasileiros (Grohrnann et aJ ., 1956; Verdade et ai., 1956). Segundo Seganfredo et JI. (1997) e
Scruck et ai. (2000), há ação selecionadora da enxurrada, que trans porta, principalmente e
em maior proporção, o material mais fino do solo (mais ativo); as perdas de nutriente ão
proporcionais à quantidade de solo arrastada e ao volume de enxurrada. Em linhas gerais,
essas constatações evidenciam que quanto maiores forem os volume de sedimentos e da
enxurrada, mruores serão as perdas e os impactos ambientais gerados.
Em relação às perdas de nutrientes por erosão, Castro (1991) estimou, para o Estado
de São Paulo, carências anuais correspondentes a 939 kt de sulfato de amônia, -t7 kt
de superfosfato simples, 987 kt de cloreto de potássio e 2,2 Mt de caJcário dolomítico,
equivalentes, na época, a 447 mühões de dólares em fertilizantes e corretivos.

O controle da erosão do solo e a biomassa cultural residual


Para resolver os problemas gerados pela erosão do solo no Brasil, a difusão e a adoção
de práticas conservacionistas de manejo do solo e da água são necessários, entre as quais
destacam-se o plantio e o preparo do solo em nível, a rotação de culturas, o manejo da
biomassa cultural residual, o uso de terraços agrícolas, e a semeadura direta.
Ainda no século XIX, se propunha a inserção de cordões de árvores em meio ao
cafezais, seguindo a linha de nível, como estratégia para conter o transporte de terra pela
enxurrada e o consequente assoreamento e a obstrução dos rios(181 • Já ao final do éculo / lX
e nas primeiras décadas do século XX, o processo erosi o constava do programa de alguma -
disciplina dos cursos técnicos e de nível superior, em diferentes i.nstituiçõe brasileiras de
ensino. Por volta de 1930, começaram a ser, mais intensivamente, e mpregado os cultivas
1
< Ml As Estações Experimentais do Instituto Agronómico (IAC) faz iam lt1rgo emprego da lt:'cnologia, e seus
responsáveis a difundiam aos lavradores circunvizi.n hos. Em 1920, a ,1ntiga eção de Agronomia do 1.-\C iruciou
observações comparnlivas entre as chamadas curvas d e nível, o enlciramento pt:'rmanente e O cove 1m,mto parc1
a retenção das águas pluviais nos cafezais. Nessa mes ma época, foram iniciad,1 ob ·erva -õt:'S 5 ,bre ,l cobertur;.i
com palha e o sombreamento em cafezais. Em Boletin· Técnicos, editados em 1937, · j feitas reíen.'núc1s ,\s
curvas de nível adotadas na Fazenda Santa Elisa do IAC, des tinadas a controlar .1 eros,1 n.1s .:u ltmas dt.! c.,iê,
citros, amendoim e tc., com resultados satisfatórios.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


98 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

em nível e os terraços agrícol<1 utilizados tanto em culturas permanentes quanto e m


anuai , com medidas sati fat rias para diminuir o efeito da erosão (Fonseca Fi lho, 1934;
Mendes, 1936, 1938; Cardo o, 1939a,b; Abramides Neto e Borgonovi, 1941; Souza, 1942;
R ende, 1943; Marques, 1943).
sim, por algum tempo, a conservação do solo resumiu-se ao controle da e rosão
por n1eio de terraços con truídos com plainas terraceadoras, lTacionadas por animais
ou pequenos lTatores. Existiu até o conceito, errôneo, evidentemente, de que terraço era
inónimo de consen ação do solo em culturas perenes e anuais. Nas culturas anuais, o
e -cesso de preparo do ola, justamente nos períodos mais chuvosos, propiciou o surgi menta
dos " mw·undus" e dos terraços com camalhão alto, com mais de 2 m de altura.
O "murw1du" começou a ser utilizado em áreas de produção de grãos para controlar
a erosão, quando os terraços normais não se evidenciavam eficientes, pois o problema
de erosão estava entre os terraços. Para a construção desses terraços, é necessária grande
movimentação de terra e máquinas pesadas. Os custos elevados, o entrave ao trâ nsito
de máquinas e a redução da produção na área próxima ao terraço pela remoção do
solo superficial ou por encharcamento por longos períodos convenceram a todos da
importância do manejo entre terraços para controlar a erosão. Pode-se dizer que a principal
contribuição do "murundu" foi propiciar o retomo ao conceito original de que o terraço é
urna técnica para controlar o excesso de enxurrada e o escoamento superficial e não para
reduzir as perdas de terra, sendo importante adotar primeiramente práticas para diminuir
a desagregação do solo e o aumento da infiltração de água entre os terraços.
O manejo entre terraços foi incentivado, então, com a adoção de preparos
conservacionistas, sendo o uso do escarificador o mais difundido. Concomitantemente,
é introduzida a semeadura direta, ainda com sérias restrições para sua adoção, em razão
do manejo das plantas daninhas e da ausência de máquinas e implementas adequados
às condições brasileiras, além de inicialmente ainda propiciar pouca cobertura do solo
(BoUinger et al., 2006). Assim, com o tempo, ganha força a adoção da semeadura direta,
que mobiliza o solo somente no sulco de plantio, reduz o impacto da chuva e o selamento
superficial, aumenta a infiltração da água, com a rotação de culturas, mantém a superfície
do solo coberta com palha e, dessa forma, controla grande parte da erosão, 1ni.nirnizando
impactos ambientais da atividade agrícola.
A utilização de biomassa cultural residual corno cobertura do solo é urna maneira
simples e eficaz de controlar a erosão nas áreas cultivadas. Diversas pesquisas têm
demonstrado a eficácia dos prepares conservacionistas, que mantêm a biomassa cultural
residual cobrindo o solo, no controle da erosão, com reduções de 50 a 100 % nas perdas de
terra, em relação ao preparo convencional (Berto! et ai., 1997, 2007; Morais e Cogo, 2001).
Entre os preparas conservacionistas mais investigados, as perdas de terra na semeadura
direta têm, de modo geral, sido menores do que nos preparas convencional e reduzido
(Eltz et al., 1984a,b; Berto! et ai., 2007; Pugliesi et ai., 2011), em grande parte por causa do
maior percentual de cobertura do solo.
Menores perdas de água e terra também foram constatadas por Cassol e Lima (2003)
e Casso] et al. (2004), que determinaram, em sistema sem preparo do solo (100 % de
cobertura), perdas 10 vezes menores, quando comparadas às do solo descoberto (O % de
cobertura). Berto! et aJ. (2007) verificaram que a semeadura direta, por proporcionar maior
taxa de cobertura ao solo, promoveu redução de 57 % nas perdas de água e de 88 % nas de
terra, em comparação ao preparo convencional.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBfENTAIS DO MANEJO E DA . .. 99

D' aco rdo orn L •ilc ct él l. (2009), é\<; perda~ d e águJ, eh modo gcrél l, tê m <.ido vu ri;:id ,1
e bem m enos influcnciaclac; pclél cobcrturél que éJ <; de terrc1 . Os rec;ultacl os de p rc!J de ,ígua
n5o tê m ap resentado um paclr5o, sendo observada s p relas de águél méliore'-, o ra no prepMo
con ve ncional , o ra no pre paro redu z ido ou nél sem 'élclura clircl,1, ou m smo c:;cmclh,rnte
entre os diferentes manejos. Esses eventos, e:; g und o os élutorec:;, estJo relacionad os éln
regime d e chu vél, tipo d e solo, topografia, sequê nciZI e rotZ1 çJo de culturc1s uti lizadc1s no
m anejo do solo.
Assi m, a cobertura permanente do solo e a consolidação e estabi liz<1ção de ua
es trutura n5o cons tituí condição si11e q11n 110 11 para controla r a erosão hídrica . /\inda que J
cobe rtura do so lo tenJ,a a capac idade de dissipar a energia ci né tica da chu va, não e limina
a possibilidad e de haver perdas, embo ra atue na redução da velocidade do escoc1mento
supe rficia l e na ca pacidade eros iva da enxurrada.
Dessa forma , com o d esenvol v imento da semead ura direta, que pe rmi tiu sua adoção
nas mais di versas condições edafoclimáticas e para dife rentes cultu ras, essa técnica pa sou
a ser considerada como a principal prática de controle da erosão o u de conservação do
solo, tornando-se um dos principais manejas d o so lo adotados no Bra il. De aco rdo com
o Censo Agropecuário 2006 (Ins tituto Bras ile iro de Geografia e Estatística - IBGE, 2009), a
semeadura dfreta ocupava aproximadamente, 17,9 Mha, representa ndo em torno de ➔ , '':,
das terras agrícolas utilizadas com lavouras tempo rá rias no Brasil (Llanillo, 2013). Ma ,
vale lembrar que a semeadura direta é uma prática conservJcionista, e que em gera l outra_
são necessários para garanti_r a conservação do solo e da água. Por isso um p lanejamento
conservacionista da propriedade rural é essencial.

Atributos químicos do solo


O manejo dos atributos químicos do solo é a base para a s us tentabilidade em
qualquer s istema de produção agrícola . Para a criação de condições favo ráveis para a
vida e o crescimento vegetal, são aspectos importantes a aplicação de nutrientes e a ua
conservação. Muitas práticas influenciam os ah·ibutos químicos do solo, incluindo de de a
aplicação de fertilizantes orgânicos ou minerais, adubação verde, cobertura morta, queima
de biomassa cultural residual, manejo e conservação da água e do solo, rotação de cultura
e até a integração com animais e floresta s.
O manejo dos atributos químicos do solo é um assunto complexo, que envolve muita
práticas agrícolas. Cada sistema agrícola tem seu próprio modo de m anejo, que depende de
uma combi_nação de fatores: as condições do recurso natural básico, a disponibilidade da
terra, os recursos como capital e trabalho (e seus valores relativo ), a história agrícola. local,
o conhecimento do agricu ltor, a motivação desse, as habilidades e o grau de orientação d
mercado, os preços relativos dos ins umos e, certamente, as política agrícola .
Esse tema tem sido objeto de estudos de muitas pesquisas, com definição de
sistemas de interpretação de resultados e recomendações de correção e adubação. O
estudos mais antigos determinaran1 critérios para o m anejo no sistema de preparo
convencional, e os mais novos têm concentrado se us esforços na definição de critérios
para a semeadura direta, sendo o teor de maté ri a orgànica do sol componente
fundamental desse manejo, desempenhando papel importante nos proce - s químico .
físicos e biológicos do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


100 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

Embora já exi tam muito tTabalhos indicando as diferenças entre o m a nejo dos
atributos químicos do olo em preparo convencional e em semeadura direta, ainda
são nece árias estudo para definir a melhor forma de amosh·agem e de avaliação da
di ponibilidade de nulTientes, culminando em recomendações de adubação mais exa tas.
O gastos com fertilizantes representam entre 20 e 41 % dos custos de produção em
culturas como a soja, o milho e o trigo (Matson et ai., 1998; Cavalett e Ortega, 2009; Souza
et al., 2012), tendo um impacto considerável sobre as despesas e receitas dos agricultores.
Além disso, o volume de insumos aplicados em uma safra, que podem ser transportados
pela enxurrada em e, entos de erosão hídrica, pode representar até 50 % dos custos de
produção.

Atributos físicos do solo


A estrutura do solo conh·ola diversos processos físicos do solo, entre esses a infilh·ação,
a retenção e, consequentemente, o movimento da água, que, por sua vez, controlam
outros processos como a lixiviação e erosão. A modificação da estrutura do solo se dá pela
mobilização, desagregação e compactação da superfície ou de camadas mais profundas do
solo por máquinas e implementas. As técnicas agrícolas que mais interferem na estrutura
são as operações de preparo do solo.
Áreas utilizadas intensivamente, apresentando problemas como baixa germinação,
estande irregular, baixo desenvolvimento das plantas e escoamento superficial, apresentam
evidência de problemas de compactação. A caracterização da compactação pode ser feita
pela avaliação de atributos físicos como densidade do solo, porosidade, infiltração de água
e resistência à penetração, ou pela análise da estrutura do solo modificada pelo manejo -
perfil cultural (Tavares Filho et al., 1999; Bronick e Lal, 2005; Cardoso et al., 2006). Nessa
caracterização, avaliam-se grau de compactação e localização, continuidade e profundidade
das camadas compactadas, cujas variações se dão em razão do tipo de solo, clima e manejo.
O não revolvimento do solo e o tráfego de máquinas na semeadura direta podem
provocar compactação da camada superficial, que se traduz por aumento de densidade
e redução da porosidade total do solo, como indicado em diversos estudos (Tormena
et al., 1998; Seixas et al., 2005; Blanco-Canqui et ai., 2010; Chen e Weil, 2011). Urna das
preocupações relacionadas a esse fato é seu efeito sobre o crescimento radicular. A relação
entre esses atributos foi estudada em diferentes tratamentos de preparo do solo. Os
dados indicaram modificações na estrutura do solo, resultando na formação de camadas
compactadas no preparo convencional com grade aradora ·e na semeadura direta. Nessa
técnica, entretanto, as raízes não sofrem tanta restrição em condições de densidade e
resistência ma.is elevadas, normalmente não indicando a necessidade de correção ou
eliminação dessa camada. Entretanto, pode indicar diminuição da velocidade de ÍIÚiltração
de água no solo com riscos de perdas de água e solo por erosão e o quão fundamental, por
exemplo, é a ma.nutenção de práticas como o plantio em nível e terraceamento, mesmo na
semeadura direta.

A degradação e a recuperação dos solos


A degradação do solo pode ser entendida como a redução da qualidade do solo e de
seu potencial de produção em razão das causas naturais ou induzidas pelo homem, com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A S PECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E A MBIENTAIS DO MANEJO E DA ... 101

perd a de s usl nl abi licladc e recl uçé1o ela ca paci cladr cio so lo em s us tentJr J prnduç:c1 e m
determinado sis tc m,1 agropecuário (La l, ·1997, 2001, 2008; 1Yfuellcr et c1I., 2010) .
No rmalmen te resulta em produções recluziclc1s por causei clél perdei ou d ,1 in~uficiêncicJ
d e nutrientes e água dis ponível para o desenvolvimento e crescimento das p l,1 ntcJ_, ou
em maiores cus tos e d ecrésc im o nc1 efi ciência elas adubações. O uso inadequado el a terra
e de tecnologias ineficientes de ma nejo têm s ido a pontados co mo fatores impo rtan tes q ue
conduzem à degradação do so lo. EnlTetan to, as condições econômicas dos produtores
rurais, sobretudo aq ueles com menor poder aq uisi ti vo, deve m ser levadas em cons ide raçiio
pois, diante da falta de recursos, eles podem ser desencorajado a adota rem procedimento
aperfeiçoados de manejo de solo.
A atividade agropecuária é considerada o principa l fator de degradação do solo, poi ·
ocorre em grandes extensões, o impacto é d ifuso e o d iagnóstico muitas vezes é difícil. A
recuperação de áreas degradadas é necessária, mas para tanto se fazem necessárias a nálises
de custo-benefício para determinar se esse é um procedimento viá vel economicamen te
(Requier-Desjardins et al., 2011), pois sua realização pode demand<1r altos investimentos.
As terras degradadas podem ser reabilitadas de maneira econorrúcamente v iá vel por meio
de práticas de manejo, que visem à manutenção da cobertura do solo e manutenção de
teores adequados de nutrientes e matéria orgânica.
A implementação de um programa de recuperação de áreas degradadas inclui
a avaliação da degradação do solo e o estabelecimento de técnicas de recuperação. A
recuperação de áreas degradadas é uma atividade multidisciplinar e factível, mas exige
uma abordagem sistemática de planejamento e visão em longo prazo.
Recuperar ou reabilitar significa que a área degradada será conduzida a uma condição
tal que possa exercer a função anteriormente estabelecida ou nova função. A á rea terá,
assim, condições mínimas para estabelecer novo equilibrio para que a terra po sa er
utilizada em sua função precípua: a de produzir alimentos e dar s ustentação à vida. Es a é
uma condição necessária para o desenvolvimento sustentável da agricultura (Pretty, 200 ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A erosão do solo não só apresenta efeitos ÍJL situ, mas também resulta em dano
externos à propriedade agrícola, também chamados de ex sit11; as estimativas dos va lore
econôrrúcos correspondentes aos efeitos ex situ podem ser de magnitude superior àq uele
valores estimados para os i11 situ. As implicações lógicas dessa dinârrúca é que, por um lado, a
sociedade, de fom1a geral, arca com o maior percentual dos custo gerados pelo processo de
erosão dos solos agrícolas, mas, por ouh·o, ela é quem mais se beneficia com o uso das práticas
de manejo, que promovem a conservação do solo e da água. l e se contexto, é importante
que todos os agentes sociais fiquem atentos à questão da erosão do solo.
Por isso, a estimação dos custos e benefícios, in sih1 e ex situ, da erosão e conservação
do solo e da água é um subsídio importante na formação da opinião pública e formulação
de programas e políticas que visem à conservação desses recur os naturais. I o porque a
decisão coletiva (Estado e sociedade) ou privada (produtor) de implementa r ou não um
sis tema de manejo conservacionista, frequentemente, é baseada em aspectos económicos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


102 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

AI m di o, ou o e manejo dos solos tropicais, con iderando os aspectos econ ô micos,


s ciai e ambientais, não poden, prescindir do controle da erosão, que é, sem sombra de
dúvida , o fator que mais compromete a sustentabilidade da atividade agrícola. Para tanto,
é importante a manutenção dos atributos físicos, quírnicos e biológicos do solo, tendo a
matéria orgânica como elo para garantir as condições de manutenção da capacidade
produtiva das terras agrícolas.

LITERATURA CITADA
Abranudes leto J, Borgonovi M. O terraceamento no combate à erosão. Solo. 1941;33:49-64.
Aldy JE, HrubovcakJ, Vasa, ada U. Theroleof teclmology insustainingagricultureand theenvironment.
Eco! Econ. 1998;26:81-96.
Alfsen KH, De Franco MA, Glomsrnd S, Johnsen T. The cost of soil erosion in Nicaragua. Eco! Econ.
1996;16:129-45.
Amazonas MC Valor ambiental em uma perspectiva heterodoxa institucional-ecológica. Econ Soe.
2009;18:183-212.
Andrade DC, Romeiro AR, Fasiaben MCR, Garcia JR. Dinâmica do uso do solo e valoração de serviços
ecossistêmicos: notas de orientação para politicas ambientais. Desenv Meio Amb. 2012;25:53-71.
Barbier EB. The farm-level economics of soil conservation: the uplands of Java. Land Econ.
1990;66:199-211.
Baver LO. How serious is soil erosion? Soil Sei Soe AmJ. 1951;15:l-5.
Bennett HH. TI1e cost of soil erosion. Ohio J Sei. 1933;33:271-9.
Berto! I, Cago I\.1P, Levien R. Erosão hídrica em diferentes preparas do solo logo após as colheitas de milho
e trigo, na presença e na ausência dos resíduos culturais. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:409-18.

Berto! I, Cogo NP, Schick J, Gudagnin JC, Amaral AJ. Aspectos financeiros relacionados às perdas de
nutrientes por erosão hídrica em diferentes sistemas de manejo do solo. Rev Bras Cienc Solo.
2007;31:133-142.
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. 7ª. ed. São Paulo: Ícone; 2010.
Blanco-Canqui H, Oaassen MM, Stone LR. Controlled traffic impacts on physical and hydraulic
properties in an intensively cropped no-till soil. Soil Sei Soe Am J. 2010;74:2142-50.
Blosser RH. Factors affecting the econonucs of soil conservation. Ohio J Sei. 1953;53:236-9.
Boardman J, Poesen J, Evans R. Socio-economic factors in soil erosion and conservation. Environ Sei
Policy. 2003;6:l-6.
Bollinger A, Magid J, Amado nc, Skóra Neto F, Ribeiro MFS, Calegari A, Ralisch R, Neergaard A.
Taking stock of the Brazilian "Zero-Till Revolution": a review of landmark research and farmer
practice. Adv Agron. 2006;91:47-110.
Bronick CJ, La! R. Soil structure and management: a review. Geoderma. 2005;124:3-22.
Bunce AC. Toe economics of soil conservation. Ames: The Iowa State College Press; 1942.
Calegari A, Hargrove WL, Rheinheimer DS, Ralisch R, Tessier D, Tourdonnet S, Guimarães MF. Impac t
of long-term no-tillage and croppíng system management on soil organic carbon in an Oxisol: a
model for susta inability. Agron J. 2008;100:1013-9.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTO ECONÔM I COS, SOC IAIS E AMBIENTAIS DO MANEJO E DA . . . 103

élrdoso E , ZotMcll i L, Piccinin JL, Torrec; F., S<1 rni vêl F, C uimarãec; MF. Sistema rad icular da c;oja e m
função cl;:i com pncl<1ção do solo no c;ist mél d pl,mli o direto. Pesq Agropcc Brac;. 2006;,n .493-501 .
Cardoso FP. Cu ltu ra cm fo ixéls ele nível. Rcv Agric. l939b;14:210-24.
C ud oso FP. Erosão. Rev Agric. 1939a;14:·l-9.
Casso! EA, Lima VS. Erosão em entressuJcos sob d iferentes tipos de pr paro e manejo cio solo Pe5q
Agropec Bras. 2003;38:117-124.
Casso! EA, Cantatice JRB, Reichert JM, Mond;:irclo A. Escoamento superficia l e desagregação do
solo em entressulcos em solo franco-a rgilo-a renoso com resídu os vegeta i . Pesq Agropec Bras.
2004;39:685-90.
Castro OM. Conservação do solo e q ualidade cios sistemas produtivos. Agronómico. 1991;-t : 110-7.
Castro OM, Lombardi Neto F, Quaggio JA, De Maria IC, Vieira SR, Dechen SCF. Perd<1..c; por erosão de
nutrientes vegetais na sucessão soja/ trigo em diferentes sistemas de manejo. Rcv Bras Cienc Solo
1986;10:293-7.
Cavalcanti C. Concepções da econom.ia ecológica: suas relações com a economia d om inante e a
economia ambiental. Est Avançados. 2010;24:53-67.
Cavalett O, Ortega E. Emergy, nutrients balance, and economic assessment of soybean production and
industrialization in Brazil. J Clean Prod. 2009;17:762-71.
Chavas J-P. Structural change in agricultural production: economics, technology and polic . ln:
Bruce LG, Gordon CR., editors. Handbook of agricuJtural economics. Agricu ltural production.
Amsterdam: 2001. v.la. p.263-85.
Chen G, Weil RR. Root growth and yield of maize as affected by soil compaction and cover crop . Soil
Till Res. 2011;117:17-27.
Ciriacy-Wantrup SV. Capital retums from soil-conservation practices. J Farrn Econ. 1947;29:1181-96.
Clark II EH. Toe off-site costs of soil erosion. J Soil Water Conserv. 1985;-10:19-22.
Coase RH. Toe problem of social cost. J Law Econ. 1960;3:l--14.
Cohen MJ, Brown MT, Shepherd KD. Estimating the environrnental costs of oil ero ion at multiple
scales in Kenya using emergy synthesis. Agric Ecosyst Environ. 2006;11-1:249-69.
Colacicco D, Osborn T, Alt K. Econom.ic damage from soil erosion. J Soil Water Conserv. 1989;-l-l:35-9.
Costanza R, d' Arge R, de Groot R, Farber S, Grasso M, Hannon B, Limburg K, aeem S, O' 1 eiU RV,
Paruelo J, Raskin RG, Sutton P, van den Belt M. The value of the world's eco ystem services and
natural capital. Nature. 1997;387:253-260.
Craswell ET, Lefroy RDB. The role and functio n of organic matter in tropical soils. l utr Cycl
Agroecosyst. 2001;61:7-18.
Crosson P. Agricultura! land: a question of values. Agric Human Values. 1985;2:6-13.
Crosson P. Soil quality and agricuJtural development. ln: Evenson R, Pingali P, editors. Handbook oi
agricultura! economics. Agricultural Development: farmers, farm production and farm markets.
Amsterdam: 2007. v.3. p.2911-32.
Crowder BM. Econom.ic costs of reservoir sedimentation: A regional approach to estima tino· cropland
erosion damage. J Soil Water Conserv. 1987;4.2:194-7.
Daly HE, Farley J. Ecological econonúcs: principies and applications. 2"J.ed. v ashington, I land Press,
2011.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


104 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

De Maria IC, Nnabude PC, Castro OM. Long-tem1 tillage and crop rotation effects on soil ch emical
propertie f a Rhodic Ferralsol in southem Brazil. Soil Till Res. 1999;51:71-9.
Dechen SCF, Telles 1S, Guimarães MF, De Maria IC. Perdas e custos associados à erosão hídrica em
função de taxas de cobertura do solo. Bragantia. 2015;74:224-33.
Dieckow J, Bayer C, Conceição PC, Zanatta JA, Martin-Neto L, Milori DBM, Salton JC, Macedo MM,
Mielniczuk J, Hemani LC. Land use, tillage, texture and organic matter stock and composition in
tropical and subtropical Brazilian soils. Eur J Soil Sei. 2009;60:240-9.
Dregne HE. Erosion and soil productivity in Africa. J Soil Water Conserv. 1990;45:431-6.
Eltz FLF, Casso! EA, Scopel 1, Guerra M. Perdas de solo e água por erosão em diferentes sistemas de
manejo e coberturas vegetais em solo Laterítico Bruno-avermelhado distrófico (São Jerônimo) sob
chuva natural. Rev Bras Cienc Solo. 1984a;8:117-25.
Eltz FLF, Casso) EA, Guerra M, Abrão PUR Perdas de solo e água por erosão em diferentes sistemas
de manejo e coberturas vegetais em solo São Pedro (Podzólico Vermelho Amarelo) sob chuva
natural. Rev Bras Cienc Solo. 1984b;8:245-9.
Fletcher D. Soil erosion and land prices: Discussion. Am JAgric Econ. 1985;67:954-6.
Fonseca Filho l. A erosão e seus efeitos. Solo. 1934;25:33-5.
Forster DL, Bardos CP, Southgate DD. Soil erosion and water treatment costs. J Soil Water Conserv.
1987;42:349-52.
Gardner K, Barrows R The impact of soil conservation investments on land prices. Arn J Agric Econ.
1985;67:943-7.
Gisladottir G, Stocking M. Land degradation control and its global environmental benefits. Land
Degrad Develop. 2005;16:99-112.
Grohmann F, Catani RA. O empobrecimento causado pela erosão e pela cultura algodoeira no solo do
Arenito Bauru. Bragantia. 1949;9:125-32.
Grohmann F, Verdade FC, Marques JQA. Perdas de elementos nutritivos pela erosão: Il. Elementos
minerais e carbono. Bragantia. 1956;15:361-71.
Hansen LT, Breneman VE, Davison CW, Dicken CW. The cost of soil erosion to downstream navigation.
J Soil Water Conserv. 2002;57:205-12.
Hernarú LC, Kurihara CH, Silva WM. Sistemas de manejo de solo e perdas de nutrientes e matéria
orgânica por erosão. Rev Bras Gene Solo. 1999;23:145-54.
Hertzler G, lbanez-Meier CA, Jolly RW. User costs of soil erosion and their effect on agricultural land
prices: Costate variables and capitalized hamiltonians. Am J Agr Econ. 1985;67:948-53.
Hitzhusen F, Macgregor B, Southgate DD. Private and social cost-benefit perspectives and a case
application on reservoir sedimentation management. Water Inter. 1984;9:181-9.
Hobbs PR, Sayre K, Gupta R. Toe role of conservation agriculture in sustainable agriculture. Philos
Trans R Soe London Ser B. 2007;363:543-55.
Holmes TI'. The offsite impact of soil erosion on the water treatment industry. Land Econ. 1988;64:356-
66.
Huszar PC, Piper SL. Estimating the off-site costs of wind erosion in New Mexico. J Soil Water Conserv.
1986;41:414-6.
Jbach DB. Some economic issues in soil resource conservation. Am JEcon Sociol. 1945;4:407-16.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Agropecuário 2006: Brasil, Grandes Regiões
e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: 2009.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS DO MANEJO E DA . . . 105

Keynes JM . /\ teoria geral d o emprego, do juro e da mo d a. São Paulo: Atlas; 1992.


King DA, Sinden J/\ . lnfluencc of soi l conscrva tion on farm land va lu es. Land Econ. 1988;64:242-55.
Knowler DJ. TI,e economics of soil productivity: loca l, national and gJobal p rs pectives. Lind Degrad
Develop. 2004;15:543-61 .
Kuhlman T, Reinhard S, Gaaff A. Estimating the costs and bcnefits o f so il conservation in Europe. Lmd
Use Policy. 2010;27:22-32.
La Scala Junior N, Figueiredo EB, Panosso AR. A review on soil carbon accumuJation due to the
rnanagement change of major Brazilian agricultura! activities. Braz J BioL 2012;72:775-85.
LaJ R. Degradation and resilience of soils . Philos Trans Royal Soe London Ser B. 1997;352:997-1 010.
La! R. Soil degrad a tion by erosion . Land Degrad Dev. 2001 ;12:519-39.
Lal R. Soil science and the carbon civilization. Soil Sei Soe Am J. 2007;71:1425-37.
Lal R. Soils and sus tainable agriculture: a review. Agron Sustain Dev. 2008;28:57-64.
Llanillo RF, Telles TS, Soares Jr D, Pelinni T. Tillage systems on annual crops in Brazil: Figures fro m th~
2006 Agricultura! Cens us. Sernina Cienc Agrar. 2013;34:3691-8.
Larson WE, Pierce FJ, Dowdy RH. Toe threat of soil erosion to long-term crop production. Science.
1983;219:458-65.
Leite rvn-IS, Couto EG, Amorim RSS, Costa EL, Maraschin L. Perdas de solo e nutrientes num Latossolo
Vermelho-Amarelo ácrico típico, com diferentes sistemas de preparo e sob chuva natural. Rev
Bras Cienc Solo. 2009;33:689-9.
Lutz E, Pagiola S, Reiche C. Toe costs and benefits of soil conservation: the farmers' viewpoint World
Bank Res Obs. 1994;9:273-95.
Machado PLOA, Silva CA. Soil management under no-tillage systems in the tropics with sp ecial
reference to Brazil. Nutr Cycl Agroecosyst. 2001;61:119-30.
Mannigel AR, Carvalho MP, Moreti D, Medeiros LR. Fator erodibilidade e tolerância de perda dos
solos do estado de São Paulo. Acta Sei Agron. 2002;24:1335-40.
Marques JF. Custos da erosão do solo em razão dos seus efeitos internos e externos à área de produção
agrícola. Rev Econ Social Rural. 1998;36:61-79.
Marques JQA. Controle da erosão. Rev Ceres. 1943;5:121-34.
Marques JQA, Bertoni J, Barreto GB. Perdas por erosão no estado de São Paulo. Bragantia. 1961;20:11-0-
82.
Matson PA, Naylor R, Ortiz-Monasterio I. Integration of environmental, agronomic, and economic
aspects of fertilizer management. Science. 1998;280:112-5.
Mcconnell KE. An economic model of soiI conservation. Am J Agr Econ. 1983;65:83-9.
Mendes CT. A erosão das terras. Rev Agric. 1936;11:499-518.
Mendes CT. A erosão. Rev Agric. 1938;13:93-98.
Menzel RG. Soil science: the environmental chalJenge soil science. Soil Sei. 1991;151:2+9.
Mishan EJ. The postwar literature on extemalities: an interpretative essay. J Econ Lit. 1971;9:l-28.
Montanarella L. Trends in land degradation in Europe. ln: Sivakumar MVK, diang' ui , editor .
Clima te and land degrada tion. New York: Springer; 2007. p.83-104

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


106 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

Morai LFB, Cogo NP. Comprimentos críticos de rampa para diferentes manejas d e resíduos culturais
em sistema de semeadura direta em um Argissolo Vermelho da Depressão Central (RS). Rev Bras
Cienc Solo. 2001;25:1041-51.
Morgan RPC. Soil erosion and con er. ation. 3rd .ed. Oxford: Blackwells; 2005.
Mueller L, Schindler U, ,tirschel W, Shepherd TG, Bali BC, Helming K, Rogasik J, EuJenstein F,
V\ iggering H . Assessing the productivity function of soils: a review. Agron Sustain Dev.
2010;30:601-14.
apier TL, Tapier AS, Tucker MA. Toe social, economic and institutional factors affecting adoption of
soil conservation practices: the Asian experience. Soil Till Res. 1991;20:365-82.
ascimento EP. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Estud.
Avançados. 2012;26:51-64.
Oliveira P"IS, Wendland E, Nearing MA. Rainfall erosivity in Brazil: a review. Catena. 2013;100:139-47.
Palmquist RB, Danielson LE. A hedonic study of the effects of erosion control and drainage on farmland
values. AmJ Agric Econ. 1989;71:53-62.
Pearce DW. Economic values and the natural world. Cambridge: Toe MIT Press; 1993.
Pierce FJ, Dowdy WE, Larson WE, Graham W AP. Soil productivity in the Com Belt: An assessment of
erosion's long-terrn effects. J Soil Water Conserv. 1984;39:131-136.
Pimentel D, Kounang N. Ecology of soil erosion in ecosystems. Ecosystems. 1998;1:416-26.
Pimentel D, Bailey O, Kim P, Mullaney E, Calabrese J, Walman L, Nelson F, Yao X. Will limits of the
earth's resources contrai human numbers? Environ Dev Sustain. 1999;1:19-39.
Pimentel D, Harvey C, Resosudarmo P, Sinclair K, Kurz D, McnairM, Crist S, Sphpritz L, Fitton L,
Saffouri R, Blair R. Environmental and economic costs of soil erosion and conservation benefits.
Science. 1995;267:1117-23.
Papem, CA, Bhide S, Heady EO. Economics of conservation tillage in Iowa. J Soil Water Conserv.
1983;38:370-3.
Pretty J, Ward H. Social capital and the environment. World Dev. 2001;29:209-27.
Pretty J. Agricultural sustainability: concepts, principies and evidence. Philos Trans R Soe London. B
Biai Sei. 2008;363:447-65.
Pugliesi ACV, Marinho MA, Marques JF, Lucarelli JRF. Valoração econômica do efeito da erosão em
sistemas de manejo do solo empregando o método custo de reposição. Bragantia. 2011;70:113-21.
Reeves DW. Toe role of soil organic matter in maintaining soil quality in continuous cropping systerns.
Soil Till Res. 1997;43:131-67.
Reganold JP, Papend.ick RI, Parr JF. Sustainable agriculture. Sei Am. 1990;262:112-20.
Reicosky DC, Kemper WD, Langdale GW, Douglas Jr CL, Rasmussen PE. Soil organic matter changes
resulting from tillage and biomass production. J Soil Water Conserv. 1995;50:253-60.
Requier-Desjardins M, Adhikari B, Sperlich S. Some notes on the economic assessment of land
degradation. Land Degrad Develop. 2011;22:285-98.
Resende A. Conservação do solo, erosão e seu combate. Rev Ceres. 1943;5:27-45.
Ribaudo MO, Colacicco D, Barbarika A, Young CE. Toe economic efficiency of voluntary soil
conservation programs. J Soil Water Conserv. 1989;44:40-3.
Robertson RA, Colletti JP. Off-site impacts of soil erosion on recreation: the case of Lake Red Rock
Reservoir in Central Iowa. JSoil Water Conserv. 1994;49:576-81.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IV - A SPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBI EN TAIS DO MANEJO E DA , . , 107

Romeiro AR. Desenvolvimento sustcntáv 1: uma pers pecti va econô mico-ecológica. Es t Avançados.
2012;26:65-92.

Rom eiro A R. Econo mia o u econom ia política da sustentabilidad e. ln: MA Y, P.H. ed. Economia do meio
ambiente. 2ª .ed. Rio de Ja ne iro: Elsevier; 201 O. p.3-31.
Ruttan VW. Productivity growth in world agriculture: sources and constrain . J Econ Perspect.
2002;16:161-84.
Salvati L, Zitti M. Assessing the impact of ecologica l and economic factors on land degradation
v ulnerability through multiway an a lysis. Ecol Indic. 2009;9:357-63.
Sampson F, Knopf F. Prairie conservation in North America. BioScience. 1994;44:418-21.
Santos M. A urbanização brasileira. 5ª. ed. São Paulo: Edusp; 2005.
Schertz DL. The basis for soil loss to lerances. J Soil Water Conserv. 1983;38:10-14.
Schick J, Berto! I, Balbinot Júnior AA, Ba tiste la O . Erosão hídrica em Cambissolo Húmico alurrúnico
s ubmetido a diferentes sistemas de preparo e cultivo do solo: II. Perdas d e nutrien tes e carbono
orgânico. Rev Bras Cienc Solo. 2000;24:437-47.
Seganfredo ML, Eltz FLF, Brum ACR. Perdas de solo, água e nutrientes por erosão em sistemas de
culturas em plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21 :287-91.
Seixas J, Roloff G, Ralisch R. Tráfego de máquinas e enraizamento do milho em plantio direto. Ci Rural.
2005;35:794-8.
Sen A. Markets and freedom: achievements and limitations of the market mechanism in promoting
individual freedoms. Oxford Econ Pap. 1993;45:519-41.
Six J, Elliot ET, Paustian K. Aggregate and soil organic matter d ynamics under con ventional and no-till
systems. Soil Sei Soe Am J. 1999;63:1350-8.
Six J, Feller C, Denef K, Ogle SM, Sá JCM, Albrecht A. Soil carbon matter, biata and aggregation in
temperate and tropical soils: effects of no-tillage. Agronornie. 2002;22:755-75.
Sorrenson WJ, Montoya LJ. Implicações econômicas da erosão do solo e do uso de algumas práticas
conservacionistas no Paraná. Londrina: IAPAR; 1989. (Boletim técnico, 21)
Souza JA, Buzetti S, Tarsitano MAA, Valderrama M. Lucratividade do milho em razão das fontes,
doses e épocas de aplicação de nitrogênio. Rev Ceres. 2012;59:321-9.
Souza PC. Conservação da terra. Rev Ceres. 1942;4:24-31.
Sparovek G, De Maria IC. Multiperspective analysis of erosion tolerance. Sci Agric. 2003;60:-109-16.
Steiner RA, Mclaughlin L, Faeth P, Janke RR. Incorporating extemality costs into productivity measures:
A case study using US agriculture. ln: Barbett V, Payne R, Steiner R, editors. Agricultura!
sustainability: econornic, environmental and statistical considerations. New York: John \\ iley:
1995. p .209-30.
Swanson ER, Maccallum DE. Incarne effects of rainfall erosion contra i. JSoil Water Conserv. 1969;2-4:.56-9.
Tavares Filho J, Ralisch R, Guimarães MF, Medina CC, Balbino LC, eves CSVJ. Método do perfil
cultural para avaliação do estado físico de solos em condições tropicais. Rev Bras Gene Solo.
1999;23:393-9.
Taylor DB, Young DL. The influence of technological progress on the long run farm levei economics
of soil conservation. Westem JAgr Econ. 1985;10:63-76.
Tegtrneier EM, Duffy MD. Externai costs of agricultura! production in the United States. Inte.r J Agric
Sustain. 2004;2:l-20.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
108 TIAGO SANTOS TELLES ET AL.

Telle TS, Guimarà MF, D hen SCF. n,e co ts of soil erosion. Rev Bras Cienc Solo. 2011;35:287-98.
Tengberg A, Stocking M, Dechen SCF. TI,e impact of erosion on soil productivity: an experimental
design applied in São Paulo State, Brazil. Geogr Atm Ser A Phys Geogr. 1997;79:95-107.
Tormena CA, Roloff G, Sá JCM. Propriedades ffsicas do solo sob plantio direto influenciadas por
calagern, preparo inicial e tráfego. Rev Bras Cienc Solo. 1998;22:301-9.
Tschirhart J. lntegrated ecological-economic models. Ann Rev Res Econ. 2009;28:28.1-28.27.
Uri NO. The em ironmental implications of soil erosion in the United States. Environ Monit Assess.
2001;66:293-312.
Verdade FC, Grohmann F, Marques JQA. Perdas de elementos nutritivos pela erosão: I. Nitrogênio e
suas relações com as quantidades existentes no solo e na água da chuva. Bragantia. 1956;15:99-106.
Walker DJ. A damage function to evaluate erosion contrai economics. Am J Agric Econ. 1982;64:690-8.
Weitzell EC. Evaluating soil conservation. J Farm Econ. 1947;29:475-94.
Wilcox WW. Economic aspects of soil conservation. J Polit Econ. 1938;46:702-13.
Wischmeier WH, Smith DO. Predicting rainfall erosion lasses: a guide to conservation planning.
Washington: USDA; 1978. (Agriculture Handbook, 537)
Xu F, Prato T. Onsite erosion damages in Missouri com production. J Soil Water Conserv. 1995;50:312-6.
Zachar D. Soil erosion. Amsterdam: Elsevier; 1982. (Developments in Soil Science, 10)
Zinn YL, Lal R, Resck DVS. Changes in soil organic carbon stocks under agriculture in Brazil. Soil Till
Res. 2005;84:28-40.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


V - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E
DA ÁGUA COM VISTAS À AGRICULTURA
-O
CONSERV ACIONISTA: UMA VISA
HOLÍSTICA
Afonso Peche Filholl, Pedro Maranha Peche7/ & Marcos Roberto da Silva.V

1
/ Instituto Agronômico de Campinas. Campinas, SP. E-mail: peche@iac.sp.gov.br
21 Departamento de Agricultura, Universidade Federal de Lavras. Lavras, MG. E-mail: pedmpec.he@grn.ailcom
J/ Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Cruz das Almas, BA. E-mail: mrsilva@ufrb.edu.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 109
VISÃO HOLÍSTICA E OUTROS CONCEITOS FUNDAMENTAlS APLICADOS AO MA.l'JEJO
E À CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA.................................................................................. 110
A ENERGIA COMO COMPONENTE DE GESTÃO NA AGRJCULTURA
CONSERVAOONIST A ............................... ......... ... ............ ............................. ...................................... 113
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO CONTEXTO ECOSSISTÊMICO.......... ................ 114
RECURSOS DA ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS COMO FERRAMEr TAPARA MA.1'-JEJO
E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA DE MANEIRA HOUSTICA.................................... 115
A VISÃO HOLÍSTICA DO MANEJO E DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA COMO
FORMA DE PRESTAÇÃO DESERVJÇOSAMBIENTA1S................................................................ 117
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................... 11
BIBLIOCRAFIA CONSULTADA,........................................................................................................ 119

INTRODUÇÃO

No âmbito da agricultura e do manejo e da conservação do solo e da água, a unid ade


produtiva é indivisível e deve ser tratada com visão holística. Não existe agricultura sem
que haja a atuação do ser humano agricultor, do vegetal, do animal, do clima, do s lo
e da água. Manejo e conservação do solo e da água significam adotar um conjunto de
operações, técnicas e estratégias antrópicas que cria movimento energético, modifica o

Bertol 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. iços.:i, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
110 AFONSO PECHE FILHO ET AL.

cos istema e t rna o e paço adequado para intensificar a produção d e alimentos, fibra s,
madeira e combu tí eis, indefinidamente. A visão tecnicista ou mecanicis ta faz uma
leitura compartimentada do ecossistema de produção agrícola e lTata seus componentes
indi\ idualmente, desconectados. Já a visão holística lê o ecossistema por inteiro, sendo
seu componentes tratados como um todo, interdependente. Assim, o holismo não admite
manejo e conse.n ação do solo e da água que apresente, como resultado, uma proposição para
cada uma das partes do ecossistema, isoladamente. A proposição de interferir resulta em
trabalhar o todo e, com isso, o manejo conservacionista de solo com visão holística objetiva
redesenhar a camada cultural de fonna que suas fw1ções hidrológicas sejam preservadas
e mantidas semelhantes às do ecossistema natural. Por meio da visão sistêmica é possível
construir diretrizes para ações práticas, visando integrar as partes numa dinâmica realista,
respeitando os saberes, os recursos e procedimentos técnicos e o próprio ambiente.
Na abordagem holística aplicada à conservação do solo e da água é imperativo o
pensamento ecológico, sendo esse indissociável da proteção ambiental, do futuro e de
todas as formas de vida. A visão holística permite também reconhecer que, na verdade, não
existe conservar solo, pois na medida em que é substituída uma paisagem ecossistêmica
por um.a paisagem cultivada, provoca-se uma imensa metamorfose em que são inseridas
as atividades agrícolas. Assim, o holismo leva a admitir que o significado de agricultura
conservacionista remete a um conjunto de ações que busca modificar minimamente
o ecossistema, com o menor impacto negativo possível. Entretanto, como a agricultura
sempre impacta o ambiente, todas as práticas necessárias para sua realização são carregadas
de mitigação. Uma agricultura é conservacionista quando a sua efetivação produz impacto
mais positivo do que negativo. A visão holística deixa claro que determinada prática
conservacionista pode ou não ser perene, dependendo da capacidade humana de construí-
las e mantê-las ao longo do tempo.
A visão holística traz a certeza de que a "arte de agricultar" é construir ambientes
produtivos, não ambientes degradados. As modificações causadas pela ocupação e pelo
uso das terras e pelo manejo do solo são o que se pode denominar de construção de
agroecossistemas, ou seja, o de formar ambientes agrícolas contendo espaços equilibrados
para todas as formas de vida. Com este capítulo objetivou-se organizar, de forma reduzida,
conceitos, saberes e fatos para contribuir com a construção daquilo que de melhor a
agricultura conservacionista pode produzir, ou seja: "bons agricultores".

VISÃO HOLÍSTICA E OUTROS CONCEITOS


FUNDAMENTAIS APLICADOS AO MANEJO E À
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Holismo é um.a forma de abordagem que prioriza a visão integral dos fenômenos,
e parte do princípio de que as propriedades agrícolas ou os sistemas de produção não
podem ser explicados apenas por wn conjunto ou soma de componentes.
A forma holística de planejar o manejo e a conservação do solo e da água remete para
uma forma específica de procedimento sempre priorizando as atividades voltadas para um
conjunto de resultados que simboliza o agroecossistema produtivo num todo. O holismo
considera que a agricultura conservacionista é uma tendência ou corrente que ana1isa as

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

J
V - MAN EJO E CONSE RCAÇÃO DO SO LO E DA Á G UA CO M VISTAS À ... 111

múltiplé"is interações q ue carac teri za m o solo e a água como um só corpo produti vo. Todas
~s ações co nservacio nis tas de um sis te méJ de produção agríco la não podem ser planejadas e
implantad as como uma simples somatóri a d p ráticas. /\ conse rvação, de acordo com a visão
holís tica, se dá d e forma ún ica e intera ti va no sis tema agrícola comple to, e comportando
de modo diferente da soma d e ações conservac ionis tas isoléJdas. Na abordagem holís tica,
conservar solo e água é conservar a vita lid ad e produ tivéJ, e cada u ma das partes encontram-
se ligadas com interações constantes. Com o ta l, cad a o pe ração ele manejo é uma prá tica
conservacionista e está relacionada com a dinâmica produt iva com profundas interaçõe
de forma a comprometer a unidade produtiva.
Em se tratando de produção agrícola de modo conservacionis ta, o holismo é J vi ão
globa l de uma propriedade inserida num contexto maior q ue é a bacia hidrográfica, ond
o ciclo hidrológico ocorre integralmente e equili brad amente. Assim, o holis mo é visão
de uma resul tante (área agrícola) da interação dos seus sistemas na tura is (químico, fí ico,
biótico) com a energia, as tecnologias e outras ati vidades a ntró picas. O olhar holí tico
se opõe ao tecnicismo, que compartimen ta a propriedade em talhões o u subdivisões em
várias formas de uso, causando a perda do todo integrado. A propriedade agrícola é vista
como um conjunto de sistemas interagindo entre si. O desempenho conservacionista de
qualquer subdivisão produtiva o u degradada depende do comporta mento da á rea num
todo. É a dinfunica de sistemas que resulta em urna representação de ocupação e u o das
terras agrícolas ou no agroecossisterna. A degradação ou a conservação do solo e da água,
bem como a produção agrícola, é produto resultante desta interação (agroecos istema).
Na figura 1, é possível analisar uma proposta de representação esquemá tica para a vi ão
holística do manejo e da conservação do agroecossistema.

Sistema físico


Sistema Manejo
energético Conservação
Produção

Figura 1. Visão holística do manejo e da conservação do agroecos istema.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


112 AFONSO PECHE FILHO ET AL.

"manejo" também um conceito importante, pois e pressa a trata tiva ou proposição


de aç-e d interf-er ncia do homem no resultados e efeitos da ocupação e do uso de
terras para fin agrícolas. É a proposição de um conjunto de operações com o objetivo
de pr piciar condições favoráveis à produção agrícola. Sendo uma proposição, o manejo
tem in erido, no seu contexto, a avaliação. Uma avaliação de como está e outra de corno
ficou após a interferência. Na visão holística, a avaliação de como está irá condicionar as
estratégias e táticas que serão adotadas no plano de manejo, e a avaliação final é a resultante
da intervenção antrópica. A visão holística permite o diagnóstico sistémico - avaliação de
efeitos dos diferentes sistemas - para proposições de ações de manejo e adoção de práticas
consen acionistas, como também possibilita a criação de subsídios para avaliação de
resultados.
Admitindo que o manejo irá tratar dos efeitos sistémicos em busca de construir
condições para uma produção agrícola, é importante definir ou alinhar o conceito de
"sistema conservacionista", que pode ser definido corno um conjunto de elementos
que compõe a conservação do todo (água, solo, biodiversidade, vitalidade produtiva);
é um arranjo de componentes, coleção de elementos conceituais e práticos, unidos ou
relacionados de tal maneira que promovam a conservação da capacidade produtiva do
solo, da quantidade e qualidade da água e, também, do potencial produtivo das plantas.
Os sistemas conservacionistas podem ser abertos ou fechados e também naturais ou
antropizados. Os "sistemas conservacionistas abertos" têm sua estrutura produtiva
formada pelas relações diretas com as condições ambientais (interação e intercâmbio); de
acordo com as mudanças do ambiente o manejo muda (insumos, técnicas e estruturas).
ormalmente, as condições climáticas moldam a estrutura dos sistemas conservacionistas
abertos impondo mudanças nos produtos, nas técnicas e nas estruturas. Já os "sistemas
conservacionistas fechados" têm sua estrutura produtiva formada por poucas relações
das condições ambientais externas, sendo um bom exemplo os sistemas produtivos que
utilizam ambientes protegidos como técnica produtiva. As estufas são exemplos clássicos
desses sistemas, onde as ações de conservação do solo e da água ocorrem dentro e fora
do sistema. Dentro da estufa, o conservacionismo preconiza a conservação do ambiente
produtivo, principalmente a resiliência e supressividade. Já fora dela, o conservacionismo
preconiza controle rígido do volume e destino de água gerada pela impermeabilização da
cobertura plástica.
Os "sistemas conservacionistas naturais" são sempre abertos e altamente complexos,
com muitos elementos e muitas variáveis na sua estrutura produtiva. São conservacionistas
pelo fato de que suas interconexões promovem um equilíbrio que preserva permanentemente
suas características ecossistêmicas.
Os "sistemas conservacionistas antropizados", também denominados de "sistemas
construídos", podem ser abertos ou fechados, apresentam baixa complexidade, com poucos
elementos conectados e com centralização evidente que condicionam suas características
e propriedades.
Já O "sistema físico" é fruto das diferentes relações que envolvem o solo, a água,
a temperatura, os ventos, a luz e outras formas de conectividade, que influenciam os
modelos de manejo e conservação nas mais diferentes condições que ocorrem em razão
da ocupação e do uso das terras pelo proprietário. O "sistema químico" é fruto das
relações que envolvem macro e microelementos, nutricionais ou tóxicos, em conjunto
com a matéria orgânica mineralizada, com ou sem adição de corretivos ou fertilizantes;

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


V - MAN EJO E (O N SE RCA ÇÃO DO SOLO E DA Á GUA COM V I STAS À ... 11 3

as forma s el e conec ti vid ade são frutos el a condição nc tural ou ela condiçã o imposta pelas
ações antrópicas. O "s istema bi ólico" é fruto d as a ti vid ades biológica di versificadas que
apresentam um universo de forma s conectada s, promovend o co nd içõe d vitalidade <-1u
influ enciam a ecologia de populações dos seres vivos remanescen tes; consequentemente,
o manejo e a conservação irão influenciar a bí ocli versidacle, interferind o na condições
de supressividade e resi liência do local. A "supressividad e" é uma co nd ição de so lo
resultante da interação da biodiversidade com fatores físicos e q uímicos, produzindo
efeito preventivo contra a epidemfa de agentes patogênicos (ex plosão de po pul ação), e a
" resiliência" é a condição do solo resultante da interação ela biodi versidade co m fato res
físicos e químicos, produzindo uma capacid ade ele recons trução contínu a das cond ições
produtivas frente às mudanças repentinas.

A ENERGIA COMO COMPONENTE DE GESTÃO NA


AGRICULTURA CONSERV ACIONISTA

No contexto conservacionista, o "sistema energético" compreende as atividades de


entrada, distribuição, uso e liberação de energia resultante da ocupação e do uso das terras
e do manejo do solo. A resultante é sempre considerada como um impacto ambiental,
podendo ser positivo quando a energia usada resulta em produção de bens agrícola e
negativo quando a energia usada resulta em erosão e degradação do solo e em poluição e
degradação do ambiente.
A visão holistica permite analisar a influência de sistemas energéticos mais complexos
no manejo e na conservação do solo e da água. A conshução de práticas conservaciorús tas
pode ser entendida como um resultado da convergência de energias, e isso incluem os efeitos
irreversíveis e de não eguilíbrio como os gerados pela "entropia", que é resultante de energia
que sobra no sistema. E uma sobra energética resultante do trabalho em razão da atividade
sistêrrúca. A segunda lei da termodinàrrúca tem como enunciado: "Todo sistema natural,
quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma
entropia máxima". Sendo assim, pode-se entender que a entropia ocorre naturalmente na
estruturas conservacionistas. Na medida em que essas são construídas e começam a ser
utilizadas passam a produzir entropia como produto resultante do sistema de produção
agrícola. A entropia no manejo e na conservação do solo e da água relaciona-se com
transformações ou mudanças interiores que ocorrem nas práticas conservaciorústas ao longo
dos anos e são resultantes do agroecossisterna. Essas transformações sempre serão nega tivas,
pois propiciam uma espécie de redução funcional nas estruturas.
Com vis tas à qualidade no manejo conservaciorústa de solo, essas reflexões permitem
adaptar o enunciado da segunda lei da termodinâmica da seguinte forma: "Toda e trutura
conservacionista evolui rapidamente para um estado de máxima desordem, onde a
dispersão de sua energia é tão grande que as forças aplicadas pro ocarào a deterioração
funcional" . A erosão do solo causada pelo mau funcionamento de uma estrutura
conservacionista pode ser considerada a expressão da entropia máxima.
Entropia, desse modo, é um termo que pode ser usado para expressar a tendencia
natural ao desgaste ou à deterioração funcional de urna e trutura conservacionista,
cabendo ao agricultor a adoção de medidas para adiar o processo entrópico no manejo e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


114 A FONSO PECHE FILHO ET AL.

na con en ação do solo agrícola. Essas medidas poderão estabelecer um modelo d e gestão
con er acionista, cujas ferramentas são o conhecimento de causas, as atitudes e as tar efas
diáiias contra o aumento da entropia regadas de muita liderança com partilhad a entre
todos os agricultores. Na figura 2, permite-se uma análise esquemática do ciclo funcional
da estrutura conservacionista.

CONSTRUÇÃO
Método
Treinamento
M~nejo (?peracionaJ
Dunens1onamento
Controle de qyalidade

COMPORTAMENTO
FUNCIONAL
Interceptação
Infiltração
Captação
Armazenamento
Condu~ão
Filtraçao
Tamponamento

Figura 2. Ciclo funcional d e estruturas cons ervacionistas à luz da entropia.

CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO CONTEXTO


ECOSSISTÊMICO

A aplicação da visão holística envolvendo o conceito de ecossistema leva a outro


olhar mais profundo das questões relacionadas com a conservação do solo e da água.
Admitindo que um biorna seja um conjunto de ecossistemas, determinadas propriedades
ou bacias hidrográficas podem ter suas áreas inseridas no contexto de variações ambientais
representativas, onde, numa mesma área, tem-se uma imposição ecossistêmica nas práticas
do manejo e da conservação do solo e da água. A propriedade agrícola ou a bacia hidrográfica
tem o que hoje se denomina diferentes ambientes operacionais de produção, exigindo
para cada um deles um tipo ou modelo de gestão conservacionista, muito direcionado e
harmonioso com as características ecossistêmicas. Assim, em um agroecossistema, ou seja,
em um ecossistema modificado pelo homem (substituição de paisagens ecossistêmicas por
paisagens cultivadas ou antropizadas), devem ser aplicadas práticas conservacionistas
específicas para atender peculiaridades.
Em se tratando de clima tropical, além dos processos hidrológicos peculiares à
conservação do solo, a vulnerabilidade do agroecossistema ao regime climático impõe
algumas regras básicas. A primeira delas é que, em razão da distribuição temporal

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


V- MANEJO E CON SE RCAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA CO M VI STAS À ... 1 15

da erosividad e d as chu vas, recomendam-se progra ma r as operações de mobilização


do solo para o pe ríodo em que a proba bilidade de ocorrência de chuvas com poder
e rosivo seja menor. Em g rande parte do te rritório brasileiro esse período é o outono.
segunda é que o dimensionamento de obras mecâ nicas de controle das perdas de solo
por erosão deve ser calcu lado levando em conta os fat ores q ue infl uenciam o escoamento
superficial. Esses fato res são, principa lmente, aqu eles relacionados com a regularidade,
o volume e a intensidade de chuva e com os a tribu tos fís icos do solo. A terceira é que
o planejamento conservacionista de solo tem que levar em conta es tu dos de recorrencia
climática (período de retorno), determinando-se um tempo médio em que chuvas
torrenciais ou secas prolongadas têm altas possibilidades d e volta r a ocorrer no local.
Estruturas conservacionistas com funcionalidade debilitada (sem manu tenção), associadas
às chuvas torrenciais, provocam erosão de grande magnitude. Períod os p rolongados de
secas e temperaturas altas diminuem a atividade biológica, comprometendo processos de
agregação e cobertura e expondo o solo à erosão eólica de alta intensidade.
Essas regras básicas, associadas aos estudos de risco, permi tem adota r u m plano
de manejo que diminui a vulnerabilidade ambiental, preparando o sistema de p rodução
agrícola para os momentos de eventos climáticos extremos.

RECURSOS DA ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS COMO


FERRAMENTA PARA MANEJO E CONSERVAÇÃO DO
SOLO E DA ÁGUA DE MANEIRA HOLÍSTICA

Com a modernização tecnológica e a necessidade premente de respostas efetivas para


a inserção da variável ambiental nos sistemas de produção de alimentos e outras culturas
agrícolas, a engenharia de biossistemas surgiu como um ramo moderno das ciências
agrárias. Esse ramo usa tecnologias que englobam os aspectos biológicos e as estruturas
relacionadas com energia, automação e precisão, entre outras. Assim, a engenharia de
biossistemas, aplicada em sistemas de manejo e em práticas de conservação do solo e da
água, facilita a compreensão e modelagem de fenômenos que influenciam a conservação
do solo e da água. Nesse caso, o desenvolvimento de sistemas produtivos é valorizado em,
pelo menos, três aspectos: uso racional da terra e da água, relações ambientais e qualidade
produtiva. Nesse contexto, a dinâmica conservacionista com visão holística pode ser
separada em atividades sistemáticas e assistemáticas.
As atividades sistemáticas são aquelas desenvolvidas em momentos regulares durante
períodos (dia, semana, mês) preestabelecidos pelo plano de manejo conservacionista em
núcleos, estruturas ou áreas. As atividades são trabalhadas sob a ótica de uma operação ou
reestruturação de função, como: inspeção, avaliação, retificação, limpeza, desassoreamento,
dissipação e interceptação etc. Essas atividades são chave para garantir a aplicação da
prática conservacionista com qualidade e, normalmente, são realizadas nos períodos de
maior precipitação pluviométrica.
Já as atividades assistemáticas são aquelas previstas para serem realizadas em épocas,
períodos ou dias adequados, relacionadas, em grande parte, com a construção, instalação,
readequação, modernização, reforma, manutenção e insh·umentação etc. São normalmente
planejadas para serem executadas nos períodos de menor precipitação p lu iornétrica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


116 AFONSO PECHE FILHO ET AL.

Com o avanço da engenharia de biossistemas, em um modelo de gestão conservacionista


moderno pode-se perfeitamente realizar as atividades sistemáticas e assistemáticas
utilizando tea1ologia , como:
- Sensoriamento remoto e geoprocessan1ento, monitoramento por satélite (imagens
orbitais) ou por sobrevôo (imagens aéreas): desenvolvimento de sistemas automatizados
para o monitoramento e atuação em tempo real no campo (uso de drones), de acordo
com as condições do solo e do desempenho funcional das estruturas conservacionistas,
estradas e áreas de cultivo. Estas ferramentas possibilitam coleta e análise de dados além
da confecção de mapas temáticos que reproduzem diferentes unidades representativas do
solo, do relevo, entre outras; regish·am situações se tornando instrumentos de localização e
quantificação, facilitando o planejamento e execução de atividades conservacionistas.
- Uso de sensores, regish·adores de sinais, bancos de dados, redes de transmissão
e monitoramento de sinais, aplicação de conhecimentos avançados da robótica e da
ternologia de informação. Estas tecnologias são básicas para o moderno monitoramento
e caracterização ambiental (precipitação, temperatura, umidade, índice de radiação solar,
déficit lúdrico e compactação etc. São ferramentas para subsidiar análises de riscos,
previ.sões e projeções. Possibilitam o monitoramento conservacionista da ocupação e do
uso das terras e a maximização da gestão conservacionista.
- Planejamento e adequação de edificações e obras de infraestrutura básica que
atendam às condições hidrológicas para infiltração, captação e armazenagem, drenagem,
reservação, redução do escoamento superficial, prevenção de enchentes e poluição de
mananciais: adequação das estruturas conservacionistas para aproveitamento e geração
de energia, além do desenvolvimento de rotinas conservacionistas de operação preventiva.
- Mecanização agrícola conservacionista: projetar e desenvolver sistemas operacionais
para máquinas agrícolas focando a conservação do solo e da água; redefinir condições de uso
e inserir a ótica conservacionista em todas as operações mecanizadas; desenvolver plano de
renovação priorizando máquinas e equipamentos com tecnologias conservacionistas corno
controle de tráfego, colheita com distribuição uniforme de palha na superfície do solo,
transporte preventivo à compactação e fragilização do solo, fertilização, desenvolvimento
de sistemas integrados com GPS e, ou, comunicação wireless; demarcação de talhão e
zoneamento das áreas ambientalmente vulneráveis das propriedades.
- Desenvolvimento de sistemas de irrigação conservacionista: racionalização de uso
da água de acordo com a capacidade do solo para infiltrar, proteção ambiental do perfil
cultural, monitoramento e combate severo aos vazamentos, monitoramento e otimização
dos sistemas de captação e distribuição de água.
Com base em técnicas utilizadas na engenharia de biossistemas, é possível o
monitoramento detalhado e simultâneo de todas as obras conservacionistas com a
individualização de estruturas, com uso de sensores e programas de monitoramento. As
áreas serão analisadas em detalhe e com profundidade. O produtor rural conservacionista
de solo poderá conhecer bem cada metro quadrado da propriedade e saber com precisão
qual é o desarranjo ou deficiência da área. Na conservação de precisão a correção é pontual.
O solo recebe a medida exata de nutrientes para uma boa produção. A visão holística
aplicada no manejo e na conservação do solo e da água com o auxilio da engenharia de
biossistemas tem na tecnologia a sua grande aliada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


V - MAN EJO E CONSERCAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA COM VISTAS À . .. 117

A VISÃO HOLÍSTICA DO MANE.JO E DA CONSERVAÇ - O


DO SOLO E DA ÁGUA COMO FORMA DE PRE ST ÇÃO
DE SERVIÇOS AMBIENTAIS

Num ecossistema os diferentes s ubsis temas gera uma série de benefícios que, de
forma direta ou indireta, são a propriados pelo homem, J lende ndo na tura lmente ua
necessidades. Os serviços ambientais pode m ser definidos como bens produzidos pelos
ecossistemas naturais ou adaptados. Serviços ecossistêmicos são providos pela natureza
em ambientes naturais e protegidos. Serviços adaptados são prov idos pela na tureza em
ambientes antropizados. A produção de benefícios é considerada um serv iço ambiental,
em que, no caso de um "olhar hídrico" mais abrangente, o ecossis tema é q ue di ponibilíza
solo e água para os usos múltiplos pelo homem. Utilizar-se da água é um d os direitos
difusos da sociedade, e esta mesma sociedade substitui as paisagens ecossistêmicas por
paisagens cultivadas; a visão holística permite a leitura de que a agricultura passa a ser uma
das atividades que pode "prover" territórios antropizados, " produzindo" bens e serviços
ambientais quando apresentarem possibilidades ou potenciais de serem utilizados para o
bem-estar.
Na natureza, a paisagem ecossistêmica está em equilíbrio, pres tando serviços sem
a intervenção humana. Em áreas antropizadas, a paisagem está em desequilíbrio, só
prestando serviços com a intervenção humana. A construção de uma paisagem cultivada
passa por redesenhar artificialmente as condições naturais de proteção do solo e d a água
e da biodiversidade.
As práticas utilizadas na agricultura conservacionista são entendidas como propostas
de adaptação para imitar o comportamento lúdrico da natureza, tendo como pano de fundo
um agroecossistema. As características hídricas e de proteção dos ecossistemas de referência
servem como elementos do planejamento tecnológico necessário para criar condições do
agroecossistema para ser ou ter semelhanças com o comportamento do ecossistema local.
À luz do pensamento holístico aplicado na agricultura conservacionista, as atividades de
conservação dos recursos naturais podem ser entendidas como um conjunto de atividades
para construção de alternativas de prestação de serviços ambientais. O conser acionismo
e a proteção são tipos de provisão ambiental característicos do agroecossistema natural ou
de ecossistemas antropizados. As práticas conservacionistas influenciam em pelo menos
cinco grandes funções ecossistêmicas ligadas às variáveis hidrológicas:
1) A proteção do solo pela cobertura morta ou viva promove a interceptação das gotas de
chuvas dissipando sua energia, reduzindo efetivamente o seu efeito de desagregação e
geração de partículas finas separadas da massa do solo.
2) A infiltração da água no solo é facilitada com a abertura de galerias pelas raízes das
plantas e pelos animais e, com a reestruturação da agregação do perfil cultural do solo,
também formam-se canais preferenciais por onde a água infiltra.
3) A captação de água da chuva na superfície do solo em áreas cultivadas é obtida pelo
redesenho da superfície, incluindo biomassa cultural residual na superfície, rugosidade
superficial do solo decorrente de operações mecânicas, estruturas mecà.rucas como
terraceamento, caixas circulares, entre outras.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


118 A FON SO PEC HE FILHO ET A L .

-1) condução do ec:: oamento superf-icial na paisagem cultivada é obtida pelo red esenho
q ue inclui estru turas mecànicas como canais e, coadouros, d renos e te rraços e m gradie n te.
5) A d i. sipa ão d o flu xo de água, em cond ições de agroecossistemas, é rea lizada por
estru tu ras mecânicas como O cultivo em contorno, o enrocamento, as escad as, as caixas
e os taludes.
Em agroecossistemas, os fundamentos básicos dos serviços ambientais são: comba te
incessante da ero ão do solo, recuperação do solo em áreas degradadas, conh·ole p erma ne nte
d o escoamento superficial, cobertura permanente do solo, aumento da infil tração de
água no solo, recuperação e preservação de nascentes e proteção da b iodivers idad e . O
pagamento por serviços ambientais na agricultura é uma realidade a tual e p a ra isso é
fus1d amentaJ que um profissional capacitado elabore o projeto individual da p ropried a d e,
redesenhando a ocupação e o uso das terras e planejando sistem as d e m anejo d o solo e
práticas conservacionistas.
o Brasil, as iniciativas pasa pagamento por serviços ambientais estão sendo
implementadas em diferentes escalas de governo. No âmbito dos Comitês de Bacias
Hidrográficas, existem recursos gerados pela cobrança do uso da água. Na m aioria dos
estados brasileiros adota-se o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serv iços (ICMS)
Ecológico, que é um mecanismo tributário que permite aos municípios obter recursos p ara
viabilizar o Pagamento por Serviços Ambientais.
A \ isão holística, que, na prática, prioriza o entendimento integral dos fenômenos,
permite que o manejo e a conservação do solo e da água possam ser definidos como um
conjunto de atividades de múltiplos significados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

a agricultura holística, o foco é a construção de um agroecossistema, em que a


produtividade surge a partir de uma interação de sistemas equilibrados. O equilíbrio
ambiental associado às tecnologias fatalmente proporcionará às plantas cultivadas e
aos animais criados um ótimo desempenho e, como consequência, o incremento de
produtividade na exploração agropecuária.
O conservacionismo holístico não admite degradação como produto; em conseqüê ncia
d isto, busca proteger e revitalizar continuamente a funcional idade física, q uímica e
biológica do agroecossistema.
A visão holística aumenta a percepção e coloca o combate da entropia do s iste m a
corno fundamental para manter a qualidade na proteção do solo e da água.
o enfoque sistémico amplia as diretrizes, permitindo uma ação mais segura,
diminuindo os riscos de degradação e aumentando as possibilidades de consolidar
ambientes cada vez ma.is produtivos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


V - MAN EJO E CONS RCAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA CO M VI STAS À ... 119

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

An jos LHC, Pe reira MC, Ramos DP. Ma tériél nrgà ni c,1 e p clogé nec;e. ln : Sa ntos GA. Sil va LS, C rne llas
LP, Camargo FADO, ed itores. Funda mentoc.; da ma téri<1 o rgci nica do c;o ln· ecos-;istem.i s tropicac;
e s ub-tropicais. Porto Alegre: Genes is; 1999. p .'197-22'".
Bayer C, Mielniczuk J. Dinâmica e função da matéri a org{inica. ln:: Sa ntos GA, Sil va LS. CmellJ'- LP,
Camargo FADO, ed itores. Fundamentos d a matéria o rgJ nica ci o solo: ecor.;c.;is temas trnp ic..i'- e
s ub-h·opica is. Porto Alegre: Genes is; ·1999_ p.09-23.
Bienes Alias R, Ruiz Colmenero M, Arevalo D, Marqués Pérez MJ. lnflu enci,1 de las revegetac1ones
con arbustos sobre la estabiJidad estructural dei suelo. ln: Anais d o 5". Si mpósio t1c ion,1I de
Crontrol d e la Degradación y Uso Sus ten ible d ei Suelo. Murcia, ES: 2011 . p.277- O.
Canelas LP, Santos GA, A Sobrinho NMB. Reações da matéria orgânica. ln: : Santos GA, Silva LS,
Canellas LP, Camargo FADO, editores. Dinâ mica e funçJo da matéria orgânica, fundamentos
da matéria orgânica do solo: ecossistemas tropicas e s ub-tropica is. Porto Alegre: Genesis; 1999.
p.69-89.
Castro Filho C. Atributos do solo avaliados pelo seus agregad os. ln: Mora is , [H, Muller \1~1L
Foloni JSS. Qualidade física do solo: métodos de estudo - sistemas de preparo e manejo de solo
Jabuticabal: Funep; 2001.
Ferreira MM. Caracterização física do solo. ln: Jong van Lier Q, editor. Fí irn do olo. Viço a, MC:
Sociedade Bras ileira de Ciência do Solo; 2010. p.1-28.
Gil Vázques JM, Sánchez Navarro A, Delgado lneista MJ, Marin Sanleandro P, Bia nca Bemardel A,
Ortiz Silla R. Anais do 5° Simpósio Nacional de Crontrnl de la Degradación y U o u tenible del
Suelo. Murcia, ES: 2011. p.101-4.
Guerra AJT, Silva AS, Botelho RGM. Erosão e conservação dos solos - conceitos temas e ap licações.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1999.
Machado MAM, Favaretto N. Atributos físicos do solo relacionados ao manejo e conservação
do solos. ln: Lima MR. Diagnóstico e recomendações de manejo do solo: aspecto teóricos e
metodológicos. Curitiba: UFPR/Setor de Ciências Agrárias; 2006. p.233-5-l.
Mesquita MGBF, Dias Junior MS. Física do solo. ln: Moreira MMS, Cares JE, Zane tti R, Sh1rmer L,
editores. O ecossistema solo:componentes, relações ecológicas e efei tos na produção vegetal.
Lavras: UFLA; 2013. p.63-74.
Primavesi A. Manejo ecológico do solo: A agricultura em regiões tropicais. São Paulo: obel; 2002.
Pruski FF. Conservação de solo e água - práticas mecânicas para o controle d a ero ão hídrica. Viçosa,
MG: UFV; 2011.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Pedologia: base para a dis tinção de ambiente- . Viçosa,
MG: NEPUT; 1997.
Serrano RE. Formas de manejo dei suelos agricolas degradas para la recuperacion y mejora de s u
calided. Anais do 5° Simpósio Nacional de Crontrol de la Degradación v U o Sus tenible dei
Suelo. Murcia, ES: 2011. p.151-63. ·
Toeh FR, Thompson LM. Solos e fertilidade do solo. São Paulo: Organização Andrei; 2007.
White RE. Princípios e práticas da ciência do solo. São Paulo: Organização Andrei; ~009.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO
DETERMINANTES DO USO, DO MA EJO E
DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU •

PRINCÍPIOS E FATORES

Mateus Rosas Ribeiro 1!, Izabel Cristina de Luna Galindo 21, Paulo Klinger Tito
Jacomine 31 & Mateus Rosas Ribeiro Filho.J/

11 Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rura l de Pe rnam buco, Recife, PE. /11 memoriam
11 Departamento de Agronomia, Universidade Fede ral Rural ele Pernam buco. Recife, PE
E-mail: izabel.galindo@ufrpe.br
31 Embra pa Solos, UEP Recife. Recife, PE. E-mail: pa uloklinge hotmail.com
~, Depa rta mento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pe rnam buco. Recife, PE.
E-mail: mélleus.ribeirofo@ufrpe.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ ·- ······· ... ·.·.. -··.. 122


ATRIBUTOS DIAGNÓSTICOS DO SiBCS E SUA IMPORTÂNCIA PARA O IAt EJO E A
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA ..................................................................................................... ....- .... 123
Material orgânico ...................................................................................................................- ................... ·--·--... 123
Atividade da fração argila ............................................................................................................. _.. _.................... 12-l
Caráter Vértico .......................................................................................................................................- ........ ·--·· 125
Mudança textura! abrupta ...................................................................................................................................... 125
Caráter Plâ nico .......................................................................................................................................... - ····-..... 126
Caráter Coeso ........................................................................................................................................................... 120
Caráte r Redóxico ........................................................................................................................... - ····················-.. 126
Plintita e Petroplintita .................................................................................................................. ·- ·················-····· 127
Caráter Dúrico
Contato Lítico e Contato Lítico Fragmentário ................................................................................................ - ... 1
Saturação por bases .....................................................................................................................- ......._........... -·-· 1~
Car áter Ácrico ............................................................................................................................................... ·-• .. •·•• ·129
Caráter Alum(nico e Caráter Alitico .............................................................................................................. - ..... 1_9
Caráter Salino e Caráter Sálico .......................................................................................................................-. ..... 130
Caráter Sód ico e Caráter Solódico ..............................................................................................................-.. ..... t O
Caráter Carbonático e Caráter Hipocarbonático .................................................... - .......... ..................-·- ·- .. 1"1
Caráter Flúvico .......................................................................................................................................... -............. 131

Berto( 1, De Maria IC, Souza LS, editore . tvlanejo e con ervaçno do alo e d.1 ,'lb'1.l,l. iç -.,, i\. lG: S · iedad~
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
122 MATEUS RO SAS RIBEIRO ET AL .

1\ lc1tcri,11~ Sulí1dnCl,~ ··········· ········ .. ..... ·············· ·········•· ··· ·······"·································•·· ·········· ·• ······ ····· ···· ··· ········ ···· 131
Tcc,r ck l'> ,ict11s de fern, . ....... ............................................... ............. .......................... .... ................................. ...... . 132
Tl' '\lur,1 ·········· ...... ··········.......................... ··········.. -·-····.. - · - · • "" '"" " " " ............................................... ....... .......... ........ . 133
PRIN IP IS I IORI ZONTES DIAGNÓ TICOS Q E DEFl1 EM CLASSES DE SOLOS (ORDE S) E
INTERFERE 1 E 1 DECISÚES SOBRE O 1\1/\NEJO E USO DO SOLO.·································································· 13-1
Hori 7 ontt:'s d iagnóstirns superíiciai~ ...................................................................................... .. ········ ·················· ·· · 134
H c,rizonlL's di,1gn6sticos subsuperticinis...................................................... ....................................... ............ ...... 135
- L' Fl:>..OS APLI ADOS AOS SÍMBOLO DE HORI ZOl\rfES E CAMADAS PRINCIPAIS ................................. 137
CLASS · DE LOS. FATORES LIMITA TTES E APTIDÃO AGRÍCOLA ........................................................... 138
Neossolos ...... .................... ........... ................ ............ ....................... ................ .. ..................... ............. .. .. ....... .. . .. .. . . . . . 138
Neossolo:.- Li tó licos ........... ............................................................................... ................ ... .............. ....... ....... ... .. 138
Neossolos Flúvicos ............................................ ....................................... ............................... ... ......... .. .......... .... 139
'.'Jeossolos Regoliticos .................................................................................................................... ... .............. .... . 1-11
Neossolos Quartzarênicos ........................................................................... ............... ...... ............... .... .... .... ....... 142
\ ·ertissolos....................................................................................................................................... ... ...... ..... ..... ........ 142
Cambi. ,olos ............................................................................................................................................................. .. 144
O1emossolo ..................... ........................................................................................................ ................... ... ....... .... 145
Luvi solos................................................. .............................................................. ..................................... ... ........ .... 146
Argis.solos........................................................................................................................................ ............. .. ............ 147
N1tossolos.................................................................................................................... ................. ............................. . 150
Latossolos ................................................................................................................................................. ...... ............ 151
Espodossolos ........................................................... .............................................. ................................. .............. ... .. 153
Plano solos............................................................................................................................. ....... ..... ... ... .. ........ ... ..... 15-1
Plintossolos ........................................................................................................................................ ...... ....... ....... .... 155
Gleissolos.......................................................................................................................................... ..................... ..... 157
0rganossolo ........................................................................................................................................ ....... ............. . 158
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 160
LITERATl J RA CITADA ........................................................................................................................................... ....... 160

INTRODUÇÃO

As classificações taxonómicas de solos são elaboradas a partir da formação de classes


pelo agrupamento dos solos com base nas suas propriedades comuns (Cline, 1942). O
Sis tema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) (Santos et ai., 2013) estabelece que
as caracterís ticas ou propriedades usadas como atributos diagnósticos para a definiçã o
de classes de solos nos níveis mais elevados do sistema devem ser, dentro do possível,
propriedades que possam :er .identificadas n~ .campo ~u q~e. possam ser üúeridas de
outras proprjedades observave1s no campo, facilitando a 1denhficação dos solos.
enta nto, esses atributos diagnósticos também refletem a natureza do a mbie nte e a
10
ação dos processos de formação dominantes na gênese dos solos e são importa ntes fatores
na definição do comportamento dos solos frente às modificações determinadas p e lo u so e
manejo.
Os a tributos diagnósticos que definem as classes de solos nos d iversos n íveis do
SiBCS envolvem características e propriedades morfológicas, físicas, químicas, b iológicas
e mjneralógicas dos solos, resultantes dos processos pedogenéticos e importantes n a

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

1
VI - CLASS s DE SOLOS COMO DETERM I NANTES DO Uso, DO M ANEJO E .. . 123

é1Va I iélção déls I im itélçô s dos solos pé1 rJ uso agrícolél . s u conheci men to e in terpretJcJo c;jo,
por ta n to, instrumentos ind ispensáveis pé.lrn definir prcHicas de uso e m<inejo sustentáveis.
Es te capítu lo pretend e élVél lia r é.l import ãnciél élgTo nô mica dos Jiverst)S atributos
di agnósticos cons id erados no estabelecimen to das clé.lsses de so los no SiB e dic;cutir c1s
di ve rsas classes d e solos em nível de o rde m, a fim ele identificé.l r as limitações em relal;,10 c:1s
di versas condições élgrícolas d os solos e a ava li ação da a ptidão élgrícola d é.lc; terras.

ATRIBUTOS
,..
DIA GN ÓSTICOS DO SiBCS E SU
IMPORTANCIA PARA O M AN EJO E A CO SE R VAÇ O
DO SOLO E DA ÁG UA

Atributos diagnós ticos são pro pried ades e característica mo rfol ógica , físicas,
qu ímicas, biológicas e mineralógicas d os solos utilizadas para definir o,; horizo ntes
diagnósticos e separa r as classes nos vários níveis ca tegóricos do Si BC . lguns
d estes atributos são m u ito impor tantes para in terpre tar o comportamento dos solo e
indisp ensáveis para defi nir as práticas de manejo e conservação do olo e da água. 8 tes
atributos serão d efinid os e interpre tad os a seguir.

Material orgânico
É aque le constitu íd o por ma te riais orgânicos provenientes da depo ição de biornas a
em diferentes es tádios de decomposição, podendo estm associado a ma teriais minerais em
proporções variáveis. O ma teria l do solo é cons iderado como orgànico q uando o teor de
carbono d e ma teriais orgàn.icos (CO) for igual o u ma ior q ue O g kg-1, avaliado na fração
TFSA (San tos et al., 2013). Estes teores são su fic ientes para que os con ti tuintes orgànico
tenham pre ponderância d e suas p ropried ad es sobre os cons tituintes minerais.
Os ma teria is orgânicos são ac umula d os, considerando o cl ima p redominantemente
tropical do Brasil, em cond ições d e excesso de umidade, e a p resenta m uma érie de
propried ades limitantes em relação à s ua utilização, como d ensidade mu ito baixa e
baixa capacidade de supo rte, s ubsidência, ressecamento irreversível, elevado poder de
tampona mento, acidez elevada, a ltos teores de AI e deficiência de micronu triente .
A capacidad e de su porte dos ma teria is orgânicos é muito baixa, e pecialmente
naqueles em estádio inicia l de decomposição, o q ue dificulta ou im ped e a entrada de
veículos, tornand o d ifícil o manejo inicial desses (Oliveira, 2001 ). Es ta bai. a capacidade de
s u porte é consequência da baixa densidade do solo e interfere ta mbé m na us tentação de
p la ntas d e porte arbóreo. O ma terial o rgân ico pouco decompos to, d eno minad o fíbrico, é o
que apresenta menor dens idade do solo.
Com a execução de drenagem, estes materiais sofrem wn proce so de s ubsidência,
que é a perd a d o volume em consequência da oxidação d a ma téria o rgânica na z na
aerad a, ocorrendo também perda de volume pela compressão sofrida pelo material de
ba ixa d ens idade com a drenagem e o uso, o que provoca uma sensí, el red uçà da ua
condutividad e hidráulica. A drenagem excessiva de ma teriais o rgânico · p d e, também,
provocar dificuldade de reidrataçào do ma terial, fica ndo ujeito à oco rrên ia de incêndios.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


124 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

O poder-tampão do material orgânico é ba lante elevado, e~igindo, quando os solos


são ácido e com al to teores de AI, doses elevadas de corretivos. E comum a deficiência de
micronu trientes ne te materi ais.

Atividade da fração argila


É a capacidade de troca de cátions (CTC) correspondente à fração argila, calculada
pela expres ão: T x 100/ argila total (%) ou T x 1000/argila total (g kg·1 ). A atividade é
considerada alta (Ta) quando apresenta valor igual ou superior a 27 cmolc kg·1 de argila; e
baixa (Tb), quando o valor é inferior a 27 cmolckg·1 de argila, sem correção para C (Santos
et ai., 2013). E te critério não se aplica a solos com classes texturais areia e areia franca e não
funciona convenientemente em horizontes ou solos com altos teores de 1natéria orgânica.
A atividade dos solos depende da matéria orgânica e das suas frações mais finas,
especialmente a fração argila, pois essas apresentam as propriedades físico-químicas
necessárias para que ocorram os fenômenos de retenção de cátions e ânions. A CTC de
um solo depende da quantidade e natureza da matéria orgânica e dos constituintes da sua
fração argila (argilom.inerais, óxidos de Fe e AI e materiais mal cristalizados). A atividade
da argila representa a atividade da fração mineral do solo e está relacionada com a natureza
dos componentes da fração argila. Solos com argilas de atividade baixa têm uma fração
argila composta por caulinita e óxidos, ao passo que solos com argilas de atividade alta têm
a participação de minerais do tipo 2:1 como ilita, vermiculita e esmectitas (montmorilonita,
beidelita e outras).
A atividade da fração argila é um dos atributos diagnósticos de grande importância
para o manejo e a conservação do solo e da água, em razão da sua estreita relação com os
atributos dos solos como: retenção de água e nutrientes; permeabilidade; coesão e adesão
e, consequentemente, consistência nos diferentes graus de umedecimento; expansão e
contração; e tipo e grau de desenvolvimento da estrutura.
A atividade da fração argila tem papel preponderante na coesão do solo e
consequentemente nas práticas de preparo do solo para plantio. Solos com argila de
atividade alta, argilosos e com pouca matéria orgânica apresentam elevada adesão e
coesão, sendo difíceis de serem preparados para o plantio, pois requerem grande esforço
para revolver o solo e desterroar os grandes blocos que se formam pela aração. Da mesma
forma, materiais com argilas de atividade alta são altamente suscetíveis à erosão por causa
da baixa permeabilidade e dispersão das argilas. O inverso ocorre em solos argilosos com
predominância de argilas de atividade baixa.
A associação da manifestação da consistência seca e úmida e o tipo e grau de
desenvolvimento da estrutura são características que permitem inferir, no campo, em solos de
textura média a argilosa, a atividade da argila. Estrutura prismática, ou em blocos angulares
grandes, com consisténcia muito dura a extremamente dura e muito firme, evidenciam
presença de argilas de atividade alta. Solos de igual textura, apresentando estrutura em blocos
subangulares ou angulares, pequenos a médios, associados à consistência ligeiramente dura
e dura, sugerem predominância de argilas de baixa atividade.
Solos argilosos, com argilas de atividade alta, apresentam, em geral, maior limitação
quanto à trafegabilidade do que outros com igual atividade, porém, de textura mais grossa
ou de igual textura, mas apresentando argilas de baixa atividade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLA SSES DE SOLOS CO MO DETERMINANTE S DO Uso, DO MANEJO E .. . 125

J\ a tiv iclé1d e ela frn ção Mgila também se relac iona d ireta mente com o seu poder
té1mpão. So los com elevadas atividad e e saturação por bases ap res ntam g ranJe reserva de
n utrientes d is poníve is para as plantas e req ue re m mais tempo pa ra ap resentcJrem s inais de
esgota mento ci o qu e solos eulrófi cos com i.lrgilc1s el e a livicl ,1cle bél ixél.
A a ti vidad e da fração a rg ila do so lo ta m bém cond icio na os fenômenos de e'<pan ão e
contração e o d esenvolvimento de fe ndas. Solos com a rgi la de a lta atividade apresen tam
significativas mudanças nas condições fís icas entre o estado seco e mo lhad o. No período
seco, apresentam forte contração, com abertura de fendas q ue desaparecem no período
úmido em razão da expansão d as un idad es estrutu rais. Em níveis baixos de umidélde, os
solos de argilas de ati vidade alta dificulta m o aprofu ndamento do sis tema radicular das
plantas; entretanto, quando com excesso d e un id ade, devido à s ua baixa conduti vid ade
hidráulica e fechamento elas fendas, acome tem as p lan tas mais sensíveis pela reduzida
aeração. Há uma acentuada diferença entre os valo res de conduti vida de hidráulica inicial
e a saturada em tais solos. A irrigação deve ser rea lizada por cu rto período, aproveitando
a elevada condutiv idade hidráulica exis tente no início da irrigação.

Caráter Vértico
Refere-se à presença de atributos como s uperfícies de fricção (slickensides), fendas, ou
estrutura prismática grande, composta ele estrutura cuneiforme e, o u, paraJelepipédica, em
quantidade e expressão insuiicientes para caracterizar horizonte vér tico (Santos et ai., 2013).
As superfícies de fricção (slickensides), indicadoras do cará ter vértico e do horizonte
vértice, são superfícies a Iisa das e lustrosas, apresentando es triamen to marcante, produzidas
pelo deslizamento e atrito da massa do solo, em consequência da forte ex pansão do material
argiloso por umedecimento. São superfícies tipicamente inclinadas em relação ao prumo
dos perfis.
O caráter vértico é uma indicação da presença de materiais argilosos, com argilas de
atividade muito alta, com presença de montmorillonita, que, por causa das propriedade
de expansão e contração, apresentam baixa permeabilidade e má drenagem i_ntema, com
sérias restrições ao uso com plantas mais sensíveis à falta de aeração e plan tas arbóreas
(Dudal e Eswaran, 1988). As raízes grossas requerem poros relativamente gran des para
penetrarem, o que resulta em enraizamento superficial e pouca eficiência na absorção de
água e nutrientes (Oliveira, 2001). Estas características estão também associada com alta
suscetibilidade à erosão.
A textura argilosa e alta atividade da argila determina m expressiva coesão no
agregados, exigindo considerável força de tração para o preparo do solo, apre entando
grande plasticidade e pegajosidade com restrições ao uso de implementos agrícolas.

Mudança textural abrupta


A mudança textural abrupta relaciona-se a um considerá el aumento no teor de
argila dentro de uma pequena distâ ncia vertical, na transição e ntre o horizonte A ou E e o
horizonte Bt. Quando o horizonte A ou E tiver menos de 200 g kg-1 de argila, 0 teor de argila
no horizonte s ubjacente B, determinado em uma dis tância vertical de 7,5 m o u menor,
deve ser pelo menos o dobro do conteúdo do horizonte A ou E. Quando o h rizonte ou

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


126 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

E tiver 200 g kg-1 ou mais de argila, o aumento de argila no hori zonte subjacente B d e ve ser
de, pelo meno , 200 g kg·1 de solo na fração terra fina (Santos et ai., 2013).
O olos com es e atributo, na maioria dos casos, apresentam horizonte A e, ou, E de
te ·tura arenosa a fra nco-arenosa e com elevada condutividade hidráulica, seguido de um
horizonte B argiloso a muito argiloso, com predominância de microporos e com reduzida
condutividade hidráulica. A drástica redução da condutividade hidráulica saturada que
ocorre no topo do horizonte B determina a rápida saturação do horizonte superficial,
fa, orecendo o acúmulo de água na superfície e a formação de enxurrada, o que favorece
o processo erosivo. Assim, solos que apresentam mudança textura! abr upta tendem a
apresentar ele, ada erodibilidade, mesmo em áreas de relevo suave ondulado.
A mudança textural abrupta restringe, também, o crescimento do sistema radicular
das plantas, provocando encharca.menta no período chuvoso e extremo ressecamento no
período seco.

Caráter Plânico
Designação utilizada para distinguir solos intermediários para Planossolos, ou seja,
com horizonte adensado, de permeabilidade lenta ou muito lenta, cores acinzentadas
ou escurecidas, neutras ou de croma muito baixo, ou com mosqueados de redução, que
não satisfazem os requisitos para horizonte plânico e que ocorrem em toda a extensão do
horizonte (Santos et al., 2013).
O caráter plânico indica baixa permeabilidade e problemas de drenagem em
horizontes subsuperficiais. Podem apresentar estrutura prismática, ou em blocos angulares
e subangulares grandes ou médios, frequentemente com caráter solódico.

Caráter Coeso
Usado para distinguir solos com horizontes pedogenéticos subsuperficiais adensados,
muito resistentes à penetração da faca ou martelo pedológico e que são muito duros a
extremamente duros quando secos, passando a friáveis ou firmes quando úmidos,
porém sem apresentar a quebradicidade do fragipã, quando submetidos à compressão.
Esses horizontes apresentam textura média, argilosa ou muito argilosa e, em condições
naturais, têm uma fraca organização estrutural; são geralmente maciços ou com tendência
à formação de blocos. O caráter coeso é comurnente observado nos horizontes transicionais
AB e, ou, BA, entre 30 e 70 cm da superfície do solo (Ribeiro, 2001).
Lima et aJ. (2004) destacaram, entre os problemas relacionados com o caráter coeso,
a elevada resistência à penetração do solo quando seco, que influencia o desenvolvimento
radicular das plantas, o teor de água disponível, a aeração e absorção de nutrientes,
constituindo um inibidor físico que pode limitar a produção agrícola (Cintra et al., 1997;
Rezende, 2000), exigindo práticas de manejo adequadas.

Caráter Redóxico
Refere~e ao aparecimento de indicadores, ao longo do perfil de solo, que indicam
saturação temporária com água em horizontes e, ou, camadas desse. Estes indicadores

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSE S D E SO LO S CO MO D ETERMINANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 127

são chamados ele fe ições recloximórfic,1s. A sJturaçJo com água induz ,1 ncorrênciJ de
processos el e reduç, o e oxidação, co m segrcgélçào de r:c e, o u, de Mn, na formcJ de cores
m osq ueadas e, ou, Vélriegadas (Sa ntos et a i., 2013).
Esse ca rá ter fo i criad o e m subs titu ição ao rn rá ter cpi áq uico, cx ist nte na versão do
SiBCS p ublicada em 2006, para sa tisfazer él saturação que pode ocorrer tanto e m horizontes
m a is s uperficia is como em horizontes e, ou, ca mad as su bsu p rficia is.
Nos casos ond e ocorre em horizontes locéJlizaclos acima de um horizonte B com baixa
conduti v idade hidráulica, pod e-se fo rmar um lençol freá tico s uspenso. Assim, o caráte r
redóxico se manifesta em zonas mais próx im as da s uperfície do solo, em ho ri zontes que
antecedem o B e, ou, no topo des te. Em outros casos, a satu ração temporária pode ocorre r
em profundidades maiores, acima d e hori zontes e, ou, ca madas de permeabilidJde muito
baixa como fragipã ou duripã, sa prolitos pouco permeáveis ou mesmo a p ró pria rocha.
O caráter redóxico reflete a ocorrência no solo de horizonte pouco permeável e c1
presença de uma zona que se man té m molhada dura nte significativa p arte do ano. E a
condição de baixa aeração, quando persis te por significativo período (período chuvoso
longo), pode influenciar o desenvolvimento d,as plantas e favorecer o apa reci mento de
doenças bacterianas, principalmente se for mais s uperficial. Em período de veranico o u
em regiões com estação seca pronunciada, contudo, essa barreira pode representar fato r
positivo para as· plantas, que encontram alguma reserva de água na zona contígua ao
horizonte menos permeável.
Em áreas irrigadas, o caráter redóxico indica uma restrição de d renagem que pode
exigir implantação de sistema de drenagem e controle da quantidade de água aplicada o u
mesmo inviabilizar a irrigação, dependendo da profundidade em que ocorre.

Plintita e Petroplintita
Formações constituídas por uma mistura de argila com grão de q uartzo e outro
minerais, pobres em CO e ricas em Fe ou Fe e AI. Ocorrem comumente sob as formas
de mosqueados vermelhos, vermelho-amarelados e vermelho-escuros, com padrões
usualmente laminares, poligonais ou reticulados. A plintita se forma em ambiente com
alternância de umedecimento e secagem, pela segregação, mobilização e concentração dos
compostos de Fe. Ciclos alternados de umedecimento e ressecam ento mais prolongado
podem consolidar irreversivelmente o material, formando nódulos e concreções
ferruginosas, extremamente firmes e duras, denominadas de petroplintita (Santo et al.,
2013).
Em termos de utilização agrícola, a plintita indica a exis tência d e for te re trição à
percolação da água, com encharcamento no período chuvoso, podendo constitu ir uma forte
limitação quando ocorre próximo à superfície. Entretanto, o m a terial concrecionário pode
causar limitações ao uso de implementes agrícolas, quando ocorre à s u perfície o u perto
dela e, quando consolidado, pode impedir o crescimento do sis tema radicula r de planta .
Os materiais concrecionários também podem contribuir para uma baixa capacidade de
retenção e disponibilidade de água, em consequência do baixo conteúdo d e terra fi na,
podendo ressecar muito no período seco.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


128 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Caráter Dúrico
tributo usad0 para caracterizar solos que apresentan1 cimentação forte em uin ou
majs horizonte dentrn da eçào de controle que define a classe, incluindo-se solos com
presença de duripà, ortstein e ouh·os hori zontes cimentados que não se enquadrem na
definição de horizonte litoplíntico e petrocá\cico (Santos et ai., 2013) .
O caráter dúrico constitui um bloqueio à percolação da água e às raízes, provocando
érias limitações por excesso de água, com a formação de lençol freático, no período de
chm·as, e carência de água, no período seco, em virtude da baixa capacidade de retenção
e disponibilidade de água, principalmente quando ocorre a profundidades menores que
100cm.

Contato Lítico e Contato Lítico Fragmentário


Presença de material mineral extremamente resistente subjacente ao solo (exclusive
horizontes petrocálcico, litoplíntico e duripã), cuja consistência, mesmo quando molhado,
impede a escavação com a pá reta, o livre crescimento do sistema radicular e a circulação
de água. O contato lítico é constituído por rochas de natureza variada, consolidadas ou
muito fracamente alteradas (Santos et al., 2013).
O contato lítico representa urna Imutação à percolação da água e ao crescimento das
raízes, constituindo urna séria limitação à utilização agrícola quando ocorre a profundidades
menores que 50 cm, como nos Neossolos Litólicos.
O contato lítico fragmentário pode ter fraturas ou se apresentar na forma de blocos,
pemútindo alguma infiltração de raízes e água. Representa urna condição mais favorável,
principalmente para o desenvolvimento da vegetação natural em Neossolos Litólicos.

Saturação por bases


Proporção de cátions básicos trocáveis (SB) em relação à capacidade total de troca
catióruca (CTC) determinada a pH 7 (V= 100 x SB/T). Solos eu tróficos apresentam elevada
saturação por bases 01 ~ 50 %); e solos distróficos, baixa saturação por bases (V < 50 %)
(Santos et ai., 2013).
A saturação por bases pode ser uma indicação de boa fertilidade natural dos solos.
0 entanto, proporções elevadas de bases (V) podem não indicar solos com quantidades
elevadas de nutrientes. Solos muito intemperizados, com argilas de atividade baixa,
podem apresentar alta saturação por bases e baixa CTC. Os teores reduzidos de cátions
básicos esgotam-se rapidamente após as primeiras colheitas, com acentuada perda de
produtividade, quando não fertilizados.
Entretanto, a saturação por bases pode ser alta, mas com desequilíbrios entre os cátions,
como no caso de excesso de Na e Mg que, além de provocarem distúrbios nutricionais,
interferem em atributos físicos dos solos. A saturação por bases alta também pode estar
associada ao excesso de sais solúveis, que prejudica o desenvolvimento das plantas, fato
comum em regiões semjáridas, como consequência do mau manejo da irrigação ou da
irrigação de solos mal drenados ou ainda em solos não irrigados, mas com impedinlento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANT ES DO Uso, DO MANEJ O E . . . 129

é"Iclrcnél ge m; é comum no Semiá rid o é1 ocorrencizt ele solos com clcvad,1c; cnn entrac;õ ,, de
sél is qu e nunca fornm irriga dos (sa lini zélçào primJria).

Caráter Ácrico
Propriedade de solos que poss uem soma de bases trocc1veis (S B) m ais ztcidcz trocável
(AP·°) em quantidade igual ou infe rior a 1,5 c mo l., kg' ele a rg ila e que preenchem pelo menoc;
uma das segu intes condições: pH KCI 1 mo! L ' ~ 5,0 o u õp H positi vo ou nulo (Santos et
a i., 2013). Va lores de õpH pos itivo e negati vo indica m, res pectiva me n te, prec;ença de célrga
líquida positiva o u negativa nos coloides.
Solos com ca ráter ácrico apresentam necessaria mente baixíssima quantidade de bases
trocáveis e acidez trocável. No entanto, têm a van tagem d e ap resenta r red uzido poder-
tampão, ou seja, sua baixa CTC faz com que e levados va lores de saturnçào po r biises ejam
atingidos com quaJ1tidades relativamente pequenas de correti vos. Solos com õp f-I po itivo
res pondem em geral muito bem à aplicação de gesso, que se des locil com facilidade para
camadas mais profundas, permitindo o aprofundamento das ra ízes e maior disponibilidade
de água.
A conservação desses solos requer a manutenção ou incremento de maté ri a o rgâ nica
na camada superficial, melhorando a capacidade de retenção de cátions. Em razão da sua
constituição mineralógica predominantemente ca ulinítica e oxídica apresentam baixa
coesão, de tal forma que, apesar de serem solos argilosos e a té muito argiloso , são de fác il
preparo para o plantio e podem ser cultivados com relativa facilidade mesmo com tração
animal.
Essa soma de atributos confere a esses solos severa limitação ao uso agrícola e m
sistemas de manejo primitivos (Ramalho Filho e Beek, 1995), especialmente por ca usa da
sua baixíssima fertilidade, porém são solos com elevado potencial produtivo, atingindo
expressiva produção quando manejados com elevada tecnologia.

Caráter Alumínico e Caráter Alítico


Atributos usados com solos dis tróficos, altamente dessaturados e caracterizados por
teor de alumínio extraível ~ 4 cmolc kg-1 de solo, sa turação por a lumínio [100 A P · / (SB
+ AP+)] 2: 50 % e, ou, saturação por bases [(100 SB) / T] < 50% e atividade de argila < _o
cmolc kg- 1 de argila, no caso do cará ter aJumínico, o u a tividade de argila 2: 20 cmol., kg-1 de
argila, no caso do caráter alítico (Santos et a i., 2013).
A maioria das plantas cultivadas a presenta limitação de a-escimento em solos ácido ,
principalmente em razão da presença de Al solúvel em níveis tó, icos, provocada pelo
encurtamento, engrossamento e, muitas vezes, necrose das raízes, o que impede a ab orção
e translocação d e água e nutrientes. Em condições de drenagem deficiente, é comum
também a ocorrência d e toxicidade por Mn nesses solos.
Solos com CTC e saturação por AI elevadas (caráter a lítico) exigirão maior quantidade
de corretivos para diminuir a concentração desse ele mento e m solução, sendo as limitações
m ais severas e m solos que apresentam essas condições na camada ub-uperficial,
particularmente em s istemas de manejo com men or uso de tecnologia e in um s. Solos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


130 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

com aráter alftico, portanto, requerem maior quantidade de corretivos para neutrali zar a
acidez d o que o c m caráter alumínico, por causa da 1naior atividade d e a rgila .
O melhoramento genético de plantas é uma importante ferramenta no d esen volv ime nto
de tolerância a elevadas concentrações de alunúnio.

Caráter Salino e Caráter Sálico


Dizem respeito à presença de sais mais solúveis em água fria que o sulfato de cálcio
(gesso) em quantidade que interfere no desenvolvimento da maioria das culturas, indicada
pela ~~ndutividade el~trica (CE) do exh·ato de saturação. CE~ 4 dS m-1 e< 7 dS n-i-1 (a 25 ºC)
identifica o caráter salino; e CE~ 7 dS m-1 (a 25ºC), o caráter sálico (Santos et al., 2013).
O aumento da concentração de sais solúveis no solo influencia o crescimento das
plantas em virtude do aumento da pressão osmótica da solução do solo, que reduz a
absorção de água pelas plantas, a acumulação de quantidades tóxicas de vários íons e os
distúrbios no balanço de íons (Chhabra, 1996; Ribeiro et ai., 2003).
Problemas de altos níveis de salinidade estão intimamente relacionados com a
ocorrência de classes de solos como Neossolos Flúvicos, Vertissolos, Cambissolos e
Planossolos, que têm subordens e grandes grupos formados sob condições de deficiência
de drenagem e semiaridez (Ribeiro et al., 2003). A expansão da agricultura irrigada em
áreas de solos não hidromórficos, aluviões e várzeas pode contribuir para a salinização
desses, especialmente quando as condições de drenagem são inadequadas (Oliveira, 1996).
A salinização secundária, induzida pelo homem, pelo manejo inadequado da irrigação
ou uso de água de má qualidade é frequentemente citada corno um fator iµlportante nos
processos de desertificação das terras secas em todo o mundo (Thomas e Middleton, 1993).

Caráter Sódico e Caráter Solódico


Propriedades usadas para distirtguir horizontes ou camadas que apresentam
percentagem de saturação por sódio (PSI= 100 Na+/ T) ~ 15 %, no caso do caráter sódico,
ou variando de 6 % a < 15 %, no caso de caráter solódico, em alguma parte da seção de
controle que define a classe (Santos et al., 2013).
Os efeitos do Na nos solos se manifestam pelo aumento da dispersão dos coloides, pela
redução da permeabilidade e pela formação de horizontes impermeáveis, que dificultam
0 desenvolvimento radicular e o manejo do solo (Oliveira, 1996). Solos com caráter sódico
e, em menor expressão, com caráter solódico, também apresentam distúrbios nutricionais,
pois O Na interfere no crescimento de plantas em razão de inibir a absorção de Ca e Mg,
aJém de dificultar a absorção de N.
A presença de horizonte plânico com caráter sódico nos Planossolos Nátricos constitui
sério impedimento à permeabilidade interna, impedindo o aprofundamento do sistema
radicular das plantas. O efeito negativo da percentagem de sódio trocável (PST) sobre as
propriedades físicas do solo depende, en~etanto, d~ vários fatore~, ~ntre es~es_a presença
de sais na solução do solo, a textura, o tipo de argila e a condutividade eletnca (CE) da
água usada na irrigação (Sumner, 1995; Ribeiro et ai., 2009b). A taxa de transmissão de
água pelos solos sódicos depende marcad~mente da _concentra~ão de eletról~t?s da água.
Quando O perfil é lavado com água de baixos conteudos de sais, a permeabilidade pode

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS CO M O DETERMINAN TES DO Uso, DO MANEJO E . . . 131

d ecres er él va lores qu e pratica men te im pedem s ua re upc rJção; porém, co m o aumento


da concentração d e eletrólitos, a taxa de lra ns miss5o pod ser sensi velmente melhorJd<l.
Cern lme nte os solos sód icas es tão situados e m relevo pouco declivoso; contudo,
mesmo nessa situação, a erodibilidad e pode ser significzitiva, em decorrê ncia da b,li:<c1
permeabilidade e dispersão das argila s.
O processo de recuperação ele solos sád icos exige a lto inves timento, reque rendo a
aplicação de corretivos químicos (gesso, S, l-1 2S0) associados a uma lâmina de lixivic1ç5o
para rem oção dos sais. A a plicação d o gesso diretamente na água de irrigação pode
aumentar a velocidade de infiltração, melhorando a eficiê ncia na recuperação e reduzind o
os cus tos (Ribeiro et a i., 2003; Fre ire e Freire, 2007).

Caráter Carbonático e Caráter Hipocarbonático


Atributo referente à presença de 150 g kg·1 de solo o u mai de CaC0 1 equivalen tE',
sob qualquer forma de segregação, inclusive nódul os e, o u, concreções, não satisfazendo
os requisitos de um horizonte cálcico. O cará ter hipocarbonático é definido por CaC0 1
equivalente superior a 50 e inferior a 150 g kg·1 de solo (Santos et a i., 2013).
O caráter carbonático, quando ocorre em horizontes s u bsuperficiais, pode ser
considerado uma característica favorável, contribuindo por meio da reciclagem de
nutrientes para o enriquecimento dos horizontes s uperficiais, formando horizonte A
chemozêmico, se as condições de umidade forem favo ráveis. Quando ocorrem à superfície
ou muito próximo promovem a fixação do P.

Caráter Flúvico
Atributo usado para solos formados sob forte infl uê ncia de materiais de natureza
aluvial, que apresentam um dos seguintes requisitos: dis tribuição irregular (errática)
do conteúdo de CO em profundidade, nã o relacionada a processos pedogenético ; e, ou
presença de camadas estratificadas, identificadas por v ariações irregulares (erráticas) de
granulometria ou de outros atributos do solo e m profundidade (San tos et al., 2013).
Solos com caráter flúvico situam-se em áreas baixas, de relevo plano a suave ondu lado,
estando sujeitos a inundações que, d ep endendo da frequ ência com que ocorrem, podem
lim.itar a sua utilização. Esses solos podem a presentar variações tex tura is em profundidade,
tendo implicações diretas sobre o fluxo vertical da água e, consequentemente, sobre a
implantação de sistemas de drenagem .
É comum a presença de expressivos teores de minerai p rimários al teráveis, oferecendo
expressivo potencial nutricional, especialmente em relação ao K-.

Materiais Sulfídricos
São materiais que contêm compostos o. idáveis de Se ocorrem em olos de naturez.i
mineral ou orgânica, localizados em áreas encharcadas, com valo r de pH maior que " ,5.
Estes mate riais, se incubados na forma d e uma cam ada de 1 cm de espes ura, mantida na
capacidade de campo em temperatura ambiente, mostram um d ecréscimo de pH de 0,5 o u

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


132 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

mai wlidade~ para um valor de pH 4,0 ou m nor, no intervalo de a té oi t s m a nas (Santos


et ai., 2013).
Ma teriai ulfídricos se acumulam em solo permanentemente saturado, com influ ê ncia
da água do mar, e ão associados com várzeas dos baixos cursos dos rios que deságuam no
eano. O ul fa to fornecidos pela água do mar são reduzidos biologicam ente a sulfetos,
p rincipalment pirita (FeS2) .
Este mat riais apresentam pH próximo à neufralidade e sérias limitações ao uso em
razão d a pre ença de lençol freático elevado. Entretanto, se drenados, são submetidos a
um processo de sulfurização, com a oxidação dos sulfetos e form ação d e sulfatos e ácido
sulfúrico, com , iolento rebaixamento do pH para valores normalmente inferiores a 3,5
(Ribeiro et ai., 2003). Depois de drenados, constituem ambiente impróprio à maioria das
plantas cultivadas, sendo comwn a presença de AJ3 + e Mn2 + em concenfrações tóxicas
na solução do solo, impedindo o desenvolvimento radicular. A formação de compostos
insolú, eis (Fosfato-AI) induz a deficiência de P, sendo também comum a deficiência de Fe.
A utilização dos solos tiomórficos está na dependência de práticas de manejo que evitem
ou, pelo menos, reduzam a acidez (Ribeiro et al., 2003). Por causa da grande quantidade de
calcário requerida para neutralizar a acidez potencial, esse processo pode ser demorado e
oneroso, além de ter eficiência duvidosa (Souza Jr et ai., 2001a). No entanto, é por meio do
manejo do regime lúdrico que se pode atingir o seu uso sustentado (Alves, 1997; Souza Jr,
1999; Souza Jr et ai., 2001a). Esse controle pode ser feito com um sistema de drenagem por
bombeamento, mantendo-se o lençol freático imediatamente abaixo do sistema radicular,
com maior rebaixamento apenas por ocasião da colheita (Souza Jr et al., 2001b). Um nível
elevado de umidade restringe a entrada de oxigênio no solo, resultando em menor acidez
e menores teores de AI trocável. Com essa prática também são controlados os problemas
de desidratação irreversível dos horizontes orgânicos e a subsidência (Ribeiro et al., 2003).

Teor de óxidos de ferro


O teor de óxidos de Fe, expresso na forma de Fe20 3 e obtido pelo ataque sulfúrico,
possibilita uma melhor separação de classes de solos em nível de grande grupo. São
considerados os seguintes teores (Santos et ai., 2013):
Hipoférrico - Fe20 3 < 80 g kg·1
Mesoférrico - 80 ~ Fe20 3 < 180 g kg-1
Férrico - 180 ~ Fe20 3 < 360 g kg-1
Perférrico - Fe20 3 ~ 360 g kg·1

Os óxidos de Fe apresentam alta capacidade de adsorção de fosfatos, tanto mais


intensa quanto menor o pH, resultando em compostos insolúveis para as plantas. Em
regiões com nível avançado de manejo e uso intensivo de fertilizantes e corretivos, as
limitações d ecorrentes da indisponibilização do P são menores. Resfrições mais severas
são observadas para os níveis de manejo pouco desenvolvidos (A) e desenvolvidos (B)
(Ramalho Filho e Beek, 1995).
Os solos oxídicos evidenciam elevado ponto de carga zero (PCZ), baixíssima CTC e
carga líquida positiva, sendo trocadores de ânions, exigindo, no seu manejo, a manutenção

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DET ER MINANTES DO Uso, DO MANEJO E .. . 133

da matéria o rgâ nica da ca mada supc rfi ci,1 1 pa ra t1um ntar iJ cap.:icidade d troca de ccitions
e a formação de Cél rgas líquid ns nega ti vas (O li vei ra, 2001).
Os óxi dos de Fe agem co mo agentes cime ntantes entre pa rtícul,1c; d c;olo, contribuindo
para a fo rmação de agregados estáveis e bem desenvolv idoc;. Me mo qua ndo muitn
argil osos, os solos oxídicos ap resentam ge ralmente boa condu tividade hidráulica sa turt1dJ,
o que condiciona a esses uma baixa erodibilid ade, send o cons ideri:ldoc; medianamente
a muito resistentes à erosão, dependend o ela es tabilidade estrutura l e da ca pacidade de
infiltração (Oliveira, 2001) .
O Brasi l é um dos países com maior ex tensão de solos com ig nificativa quantidade
d e óx idos de Fe, principalmente hema tita e goethita . Es tes óxidos ap resentam forte
capacidade de adsorção de meta is pesados, intens ificada em va lores de p H mais alto. Es ta
ca pacidade d e adsorção é d e grande importâ ncia para reduzir a mobilidade dos metais e,
consequentemente, a poluição dos aquíferos.

Textura
A textura é utilizada para separar os solos em nivel de fa míl ia, pod endo . er
considerada como a propriedade mais informativa para a tomada de decisões obre a
práticas de manejo dos solos.
A composição granulométrica do solo exerce influência direta no seu comporta mento
e, consequentemente, no seu manejo. Evidencia considerável efeito sobre diversos atributos
do solo: retenção de água e nutrientes, erodibilidade, permeabilidade, retenção de fo fa tos,
lixiviação de nitratos, coesão, adesão etc.
A fração areia é constituída de particulas com diâmetro variando de 0,05 a 2 mm,
constituídas principalmente por componentes resistentes ao intemperismo, como quartzo
e ilmenita, concreções e nódulos, agregados de argila não dispersa, minerai primano
intemperizáveis e, excepcionalmente, argilominerais. As areias con tituem partículas
de reduzida superfície específica, não apresentando coesão, nem adsorção de filme
de água, além de serem quimicamente inertes. Entretanto, têm importante atuação nos
processos relacionados aos fluxos de ar e água e na distribuição do espaço poroso (mesa
e macroporos), apresentando permeabilidade elevada. Em razão da ausência de ligações
eletrostáticas, apresentam reduzidas forças de tensão em solo seco (coe ão) e molhado
(adesão), com baixas compressibilidade, plasticidade e pegajosidade.
A ausência de capacidade de h·oca de cátions dos constitu inte da fração areia
condiciona baixo poder-tampão ao materia l arenoso, sendo recomendá e! o emp rego
parcelado de fertilizantes e corretivos, a fim de evitar supersaturação ou desperdício de te .
A adição de matéria orgânica é bastante recomendada para ele ar a CTC e a capacidade
de retenção de água.
A fração silte, composta por partículas com diâmetro entre 2 e 50 µ m, é constituída
de ilmen.ita, minerais primários facilmente intemperizáveis, quartzo, agregados de a rgib
não dispersa etc. Apresenta apenas ligeira mudança de vol ume entre o e tado seco e
úmido. As forças que atuam na consistência são mais intensas no período seco, re elando
compressibilidade e plasticidade intermediária entre a evide nci ada pelas frações areia e
argila. Demonstra menor permeabilidade que a fração areia, porém maior capacidade de
retenção de água, pela formação de mesa e microporos . A presença de silte é importante

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


134 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL .

na fonna ã de elamento superficial. Segundo fübeiro et ai. (2009a), solos com altos
t ores de ilte e, ou, areia fina tendern a formar crostas mais facilmente por causa da baixa
e tabilidade de agregados.
olo com texturas franco-arenosas a arena-siltosas, independentemente da classe de
solo, apresentam alto risco de selamente. A elevada tendência ao encrostamento desses
s los de e- e, particularmente, ao seu baixo teor de argila (menos de 15 %).
A fração argila compreende as partículas de solo com diâmetro menor que 2 ~Lm. Em
razão da enorme superfície específica que apresenta e ao desenvolvimento de cargas em
sua uperfície, constitui a mais importante fração granulométrica do solo, do ponto de vista
físico-químico, influenciando diretamente o comportamento dos solos. As propriedades
mais importantes da fração argila já foram abordadas na discussão de vários atributos
diagnósticos comentados neste item, como a atividade da argila.

PRINCIPAIS HORIZONTES DIAGNÓSTICOS


QUE DEFINEM CLASSES DE SOLOS (ORDENS) E
INTERFEREM EM DECISÕES SOBRE O MANEJO E USO
DO SOLO

Para se definir classes de solos é necessário fazer referência aos horizontes diagnósticos,
assim como o entendimento dos sufixos utilizados nos símbolos dos horizontes e camadas
principais. Por esta razão, os principais horizontes diagnósticos, especialmente os que serão
citados neste capítulo mais adiante, são definidos aqui de forma sucinta, assim como os sufixos
utilizados nos símbolos. As definições completas e todos os requisitos de cada horizonte podem
ser encontrados no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Santos et ai., 2013).

Horizontes diagnósticos superficiais


HORIZONTE HÍSTICO - Horizonte superficial de constituição orgânica, resultante
da acumulação de fitornassa depositada superficialmente, mesmo que no presente possam
estar encobertos por horizontes ou depósitos minerais. Mesmo após revolvimento da parte
superficial do solo, os teores de carbono orgânico (CO) mantêm-se elevados e superiores ou
iguais a 80 g kg-1 .
HORIZONTE A CHERNOZÊMICO - Horizonte A relativamente espesso e escuro,
com teor de CO superior a 6 g kg-1, com alta saturação por bases, predominantemente
saturado por cátions diva.lentes, apresentando saturação por bases superior a 65 %. Deve
apresentar estrutura suficientemente desenvolvida (moderada ou forte).
HORIZONTE A PROEMINENTE - Horizonte A com características semelhantes ao
A chernozêmico, em relação à espessura, à cor, à estrutura e ao teor de CO, diferenciando-
se peJa saturação por bases menor que 65 %.
HORIZONTE A HÚM]CO - Horizonte mineral superficial que evidencia
desenvolvimento exagerado em termos de espessura e, ou, teor de CO, com cor do solo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 135

úmido com valor e cromas 4, sa turação por bases menor que 65 %, apresentando espessura
e teor de CO de acordo com os critérios estabelecidos no SiBCS (Santos et ai., 2013).

Horizontes diagnósticos subsuperficiais


HORIZONTE B TEXTURAL - Horizonte mineral subsuperficial, de textura franco-
arenosa ou mais fina, onde houve acumulação de argila, orientada ou não, desde que não
exclusivamente por descontinuidade, decorrente de processos de iluviação, formação in
situ, herança do material de origem, destruição de argila no A ou perda de argila por erosão
diferencial. A proporção de argila do horizonte B textura! é maior que o do horizonte A e
pode ou não ser maior que o do horizonte C. Deve satisfazer aos requisitos estabelecidos
no SiBCS (Santos et al., 2013).
HORIZONTE B LATOSSÓLICO - Horizonte mineral em avançado estádio
de intemperismo, caracterizado pela intensa dessilicificação, lixiviação de bases e
concentração residual de sesquióxidos, argilas do tipo 1:1 e minerais primários resistentes
ao intemperismo. Ocorre abaixo de qualquer horizonte diagnóstico superficial, exceto o
hístico, devendo satisfazer todas as exigências do SiBCS (Santos et al., 2013).
HORIZONTE B INCIPIENTE - Horizonte subsuperficial mineral, de textura franco-
arenosa ou mais fina, subjacente ao A, Ap ou AB, que sofreu intemperismo em grau não
muito avançado, porém suficiente para o desenvolvimento de cor e estrutura e onde mais
da metade do volume não deve consistir de estrutura da rocha original. Deve ter no mínimo
10 cm de espessura. Ausência de B textural, B nítico, B espódico, B plânico, B latossólico ou
horizonte glei. Não apresenta cimentação, endurecimento (duripã e horizonte petrocálcico)
ou consistência quebradiça quando úmido (fragipã). Pode apresentar morfologia de um B
latossólico, sem, contudo, preencher os requisitos.
HORIZONTE B NÍTICO - Horizonte mineral subsuperficial, não hidromórfico, de
textura argilosa ou muito argilosa, sem incremento de argila do A para o B, com relação
textura! igual ou inferior a 1,5. Evidencia geralmente argila de atividade baixa ou caráter
alítico, estrutura moderada ou forte em blocos angulares, subangulares ou prismática, com
superfícies reluzentes nos agregados (Shiny peds), descrita como cerosidade, no mínimo,
comum e moderada, com transição gradual ou difusa entre sub-horizontes de B.
HORIZONTE B ESPÓDICO - É um horizonte mineral subsuperficial, com espessura
mínima de 2,5 cm, que demonstra acumulação iluvial de matéria orgânica, associada a
compostos de alumínio, com presença ou não de ferro iluvial. Ocorre sob qualquer tipo de
horizonte A ou sob um horizonte E (álbico ou não), que pode ser precedido de horizonte A
ou horizonte hístico. O horizonte espódico apresenta-se frequentemente cimentado, sob a
forma denominada de ortstein (Bsm, Bhsm ou Bhm).
HORIZONTE B PLÂNICO - É um tipo especial de horizonte B textural, subjacente a
horizontes A ou E, e precedido por urna transição entre horizontes normalmente associada à
mudança textural abrupta. Possui permeabilidade lenta e cores acinzentadas ou escurecidas.
Este horizonte apresenta teores elevados de argila dispersa, com caráter sódico ou não,
podendo ser responsável pela detenção de lençol de água suspenso, de existência temporária.
Deve satisfazer todas as exigências de cor constantes no SiBCS (Santos et al., 2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


136 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

HORIZONTE E ÁLBICO - Horizonte mineral subsuperficial, onde a remoção do


material coloidal ou orgânico e desenvolveu de tal maneira que a cor do horizonte é
determinada, principalmente, pela cor das partículas primárias de areia e silte, em vez de
por revestimento nessas partículas. Deve ter no mínimo 1 cm de espessurn, atendendo aos
requisitos de cor exigidos no SiBCS (Santos et al., 2013).
HORIZONTE PLÍNTICO - Horizonte com presença de plintita em quantidade igual
ou superior a 15 % do volume e espessura de pelo menos 15 cm. É um horizonte mineral
B e, ou, C, que apresenta um arranjamento de cores vermelhas e acinzentadas ou brancas,
com ou sem cores amareladas e brunadas, formando um padrão laminar, poligonal ou
reticulado. Tem textura franco-arenosa ou mais fina e estrutura variável. O horizonte
plíntico comumente apresenta argila de atividade baixa, com relação molecular Ki entre
1,20 e 2,20. Entretanto, tem sido constatada também aTgila de atividade alta neste horizonte.
A presença de concreções e nódulos de ferro imediatamente acima da zona do horizonte
plíntico pode ser uma comprovação de plintita no perfil, evidenciando, desse modo, uma
acentuada influência do processo de umedecimento e secagem nestas seções.
HORIZONTE CONCRECIONÁRIO - Horizonte constituído por 50 % ou mais de
material grosseiro, com predomínio de petroplintita, na forma de nódulos ou concreções
de ferro ou ferro e alumínio, numa matriz terrosa de textura variada. Corresponde aos
horizontes pedogenéticos identificados como Ac, Ec, Bc ou Cc. Para ser diagnóstico, o
horizonte concrecionário deve ter no mínimo 30 cm de espessura.
HORIZONTE LITOPLÍNTICO- Horizonte constituído por petroplintita consolidada
e contínua ou praticamente contínua, com uma espessura mínima de 10 cm. Este horizonte
pode englobar material fraturado, com predomínio de blocos com tamanho de 20 cm ou
maiores, ou com fendas separadas de 10 cm ou mais. Constitui um sério impedimento à
penetração da água e das raízes, diferindo do horizonte espódico cimentado por conter
pouca ou nenhuma matéria orgânica.
HORIZONTE GLEI - Horizonte mineral subsuperficial ou eventualmente superficial,
com espessura de 15 cm ou mais, caracterizad<? pela coloração cinzenta em consequência
da redução do ferro em condições anaeróbicas. E comum a presença de lençol freático neste
horizonte.
HORIZONTE CÁLCICO - Horizonte de acumulação de carbonato de cálcio.
Normalmente ocorre no C, mas pode ocorrer em B ou A. A espessura do mesmo deve
ser de 15 cm ou mais, enriquecido com carbonato secundário, contendo 15 % ou mais de
carbonato de cálcio equivalente (150 g kg- 1) e tendo no mínimo 50 g kg-1 a mais de carbonato
que o horizonte C ou o material de origem.
HORIZONTE PETROCÁLCICO - É o horizonte cálcico obturado e cimentado,
formando horizonte contínuo, endurecido e maciço. É resultante da consolidação e
cimentação de um horizonte cálcico por CaC03 ou MgC03.
HORIZONTE SULFÚRICO - É um horizonte resultante da oxidação de materiais
sulfídricos, com formação de J-1iS04 e acentuado rebaixamento do pH.
HORIZONTE VÉRTICO - É um horizonte mineral subsuperficial que em razão da
expansão e contração das argilas apresenta feições pedológicas típicas corno superfícies de
fricção, presença de estrutura cuneiforme ou paralelepipédica e fendas com 1 cm ou mais
em algum período do ano.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO D ETER MINANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 137

FRAC IPÃ - Horizonte s ubsuperficial mineral com 10 cm ou mais de espes u ra,


contínuo ou presente em 50 % ou mais do volume do horizonte, aparentemente cimentado,
q uando seco, e com alta densidade em relação aos horizontes sobrejacentes. Possui
consistência d ura a extremamente d ura, quando seco, e friá vel a firme, quando úmido,
com quebradicidade fraca a moderada. Rom pe-se subitamente quando sob pressão.
DURIPÃ - Horizonte mineral subsuperficial com 10 cm ou mais de espessura que
a presenta cimentação por sílica, óxidos de ferro ou ca rbonato de cálcio. São extremar;iente
duros e extremamente firmes, mesmo depois de prolongado umedecimento. E um
hori zonte contú1.uo ou presente em 50 % ou mais do volume do horizonte.

SUFIXOS APLICADOS AOS SÍMBOLOS DE HORIZO NTES


E CAMADAS PRINCIPAIS

a - propriedades ândicas.
b - horizonte enterrado.
c - concreções ou nódulos endurecidos.
d - acentuada decomposição de material orgânico.
e - escurecimento da parte externa dos agregados por matéria orgânica não associada a
sesquióxidos.
f - material plíntico e, ou, bauxítico brando.
g - gleização (cores cinzas ou neutras) .
h - acumulação iluvial de matéria orgânica.
i - incipiente desenvolvimento do horizonte B.
j - tiomorfismo.
k - presença de carbonatos.
k' - acumulação de carbonato de cálcio secundário.
m - extremamente cimentado.
n - acumulação de sódio trocável.
o - material orgânico mal ou não decomposto.
p - alteração superficial por mecanização (aração etc.).
q - acumulação de sílica.
r - rocha branda ou saprolito.
s - acumulação iluvial de sesquióxidos.
t - acumulação de argila.
u - modificações antropogênicas.
v - características vérticas.
w - intensa alteração, com ou sem concentração d e sesquióxidos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


138 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

x - cimentação aparente, reversível.


y - acumulação de sulfato de cálcio.
z - acumulação de sais mais solúveis em água fria que sulfato de cálcio.

CLASSES DE SOLOS, FATORES LIMITANTES E


APTIDÃO AGRÍCOLA

As classes de solo serão abordadas no nível de ordem, sendo importante salientar


que algumas ordens (Espodossolos, Luvissolos, Vertissolos, por exemplo), devido à sua
pedogênese em condições muito uniformes de clima, relevo e material de origem, possuem
subordens, grandes grupos e subgrupos com atributos físicos, químicos e mineralógicos
muito semelhantes, de forma que suas limitações podem ser definidas num nível mais
elevado do sistema. Outras (Argissolos, Cambissolos e Neossolos, principalmente),
entretanto, só podem ser interpretadas num nível hierárquico mais baixo, de subgrupo ou
família, uma vez que os processos de formação podem ocorrer em condições variadas de
material de origem, relevo e clima, resultando em solos com grandes variações texturais e
de fertilidade.

Neossolos
Os Neossolos são caracterizados pelo reduzido grau de desenvolvimento
pedogenético, apresentando apenas um horizonte A seguido de C ou R, com predomínio
de características herdadas do material de origem (Santos et al., 2013).
Apresentam quatro subordens com propriedades muito distintas, determinadas
principalmente por diferenças na natureza dos materiais de origem:

Neossolos Litólicos
Solos que evidenciam horizonte A assente diretamente sobre a rocha (R) ou com
sequência A-C-R, apresentando contato lítico típico ou fragmentário dentro dos primeiros
50 cm de profundidade (Santos et al., 2013) (Figura 1). São solos rasos, geralmente associados
com pedregosidade e rochosidade, com relevo predominantemente movimentado,
podendo também ocorrer em relevo suave.
A pequena profundidade efetiva, pedregosidade superficial e rochosidade são os
fatores responsáveis por fortes limitações em relação ao uso de irnplementos agrícolas e à
suscetibilidade à erosão nestes solos. A pequena profundidade efetiva, determinada pelo
contato lítico raso contribui, também, para uma baixa capacidade de armazenamento de
água disponível.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS CO M O D ETER MI NANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 139

Figura 1. Perfil de Neossolo Litólico, mostrando a pequena profundidade do perfil, com o conta to
lítico dentro dos primeiros 50 cm.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/UFRPE (http://www.
colecaomateusrosas.com.br).

Os Neossolos Litólicos ocorrem em todas as regiões, sempre relacionados com as


áreas mais dissecadas e acidentadas e são indicados para preservação da flora e fauna. Em
algumas áreas de relevo suave ondulado e pouca pedregosidade podem ser u tilizados com
pastagens (Brasil, 1972).

Neossolos Flúvicos
São solos desenvolvidos de sedimentos aluviais recentes, que apresentam apenas um
horizonte A, seguido por camadas estratificadas de natureza variada e sem d isposição
preferencial de estratos, com sequência de horizontes A-2C1-3C2-4C3 etc. Devem
evidenciar caráter flúvico dentro de 150 cm de profundidade a partir d a superfície do solo
(Santos et al., 2013) (Figura 2).
Pela natureza do material de origem, sedimentos aluviais, estes solos revelam,
geralmente, alta fertilidade natural, ocorrendo em relevo plano, sem restrições ao uso
de implementos agrícolas. Entretanto, o risco de inundação, em consequência de cheias
periódicas anuais e da posição rebaixada onde ocorrem, constitui a principal limitação
destes solos.
Apesar da alta fertilidade natural, estes solos podem apresentar ou tras limitações,
estando muitas vezes associadas com salinidade e, ou, soclicidade, particularmente

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


140 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

na região semiárida do Nordeste. Podern também apresentar mudanças bruscas de


permeabilidade em consequência da presença de camadas muito argilosas, de baixa
condutividade hidráulica, que bloqueiam a infiltração da água, com formação de horizonte
glei e limitações de drenagem, muito importantes nas áreas irrigadas e nas regiões úmidas.
Os Neossolos Flúvicos possuem normalmente altos teores de silte, que contribuem
para a ausência de estrutura, apresentando encrostamento superficial e baixa velocidade
de infiltração desde a superfície.
As planícies aluviais de maior porte são formadas por dois ambientes distintos: ombreira,
faixa mais próxima da calha do rio, mais alta, de textura média e sem problemas de drenagem,
salinidade ou sodicidade (Figura 2); e planície de inundação, posição mais afastada do rio,
entre a ombreira e a encosta das terras altas, de posição mais baixa, com maiores teores de
argila e silte, podendo apresentar caráter vértico, salinidade e, ou, sodicidade.
Em razão desta variabilidade, a avaliação da aptidão agrícola dos Neossolos Flúvicos
requer informações em nível de grande grupo, ou mesmo de subgrupo, quando são
definidas as principais limitações: Neossolo Flúvico sódico, Neossolo Flúvico sálico,
Neossolo Flúvico Tb eutrófico etc. Neossolos Flúvicos sódicos ou sálicos podem ser
considerados inaptos para uso agrícola, enquanto o Neossolo Flúvico Tb eutrófico possui
aptidão boa ou regular.

Figura 2. Perfil de Neo_ssolo Flúvico T~ e~tró~co típi~o, tex!'1ra média'. com lençol ~eático_ visfvel por
causa do manejo inadequado da 1rngaçao. Perfil localizado próximo à ombreira de no, com boa
aptidão agrícola.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES D E SO LOS CO M O D ET ERMINAN TES DO Uso, DO MANEJO E ... 141

Neossolos Rcgolíticos
São solos pouco desenvolvidos, geralmente ele texturél élrenosa ou méd ia, que
apresen tam horizon te A sobrejacente a um C ou Cr, com contato lítico a profundidades
maiores que 50 cm. São pouco profund os a profundos e evidenciam 4 % ou mais ele
minerais alteráveis nas frações areia ou cascalho ou 5 % do volu me do C ou Cr, constituído
por sapro lito ou fragmentos de rocha semi-intem perizada (Santos et a i., 2013) (Fig u ra 3).
O s Neossolos Regolíticos são mais frequentes na região sem iárida, onde ocupam
superfíc ies suavemente onduladas em posições menos dissecadas dos div isores de água,
geralmente desenvolvidos de rochas graníticas.
Por causa dos baixos teores de argila e da presença de ma te riais grosseiros, e tes
solos possuem lirrútações em relação à baixa ferti lidade natura l, com baixa capacidade de
troca de cá tions (CTC) e baixa re tenção e disponibi lidade de água. Entretanto, são muito
cultivad os com culturas d e subsistência, principalmente feijão, mand ioca e batatinha,
nas áreas p rofund as, em virtude d a reserva potencial de nutrientes, representad a pelos
minera is alteráveis presentes nas frações cascalho e areia, e do relevo su ave (Figura 3). A
a plicação d e m atéria orgâ nica é condição indispensável à u tilização agrícola d estes solos.

Figura 3. ~erfil d~. Neossolo Regolítico d is trófico típico, textura méd ia (leve), profundo. Apesar
d a baLXa ferhltdade natu ral e textura franco-arenosa, com menos de 16 % d e ar!!ila, a maio r
profw1didade e presença de minerais alteráveis favo recem a u tilização agrícola de~tes solo no
contexto do semiárido.
Fonte: Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pe m.1mbuco/ UFRPE (ht tp:// ww\ .cult!<:.iom.iteusro ·as.com.br).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


142 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Neossolos Quartzarênicos
São solos arenosos quartzosos profundos, com sequência de horizontes A-C, textura
areia ou areia franca até os 150 cm de profundidade e virtual ausência de minerais
alteráveis (Santos et al., 2013) (Figura 4). Estão dispersos por todo o país, relacionados com
a ocorrência de rochas e sedimentos arenosos.
São solos inaptos ou de muito baixa aptidão agrícola em virtude de limitações muito
fortes em relação à baixa fertilidade natural, com muito baixas soma de bases e CTC, além
de apresentarem baixa capacidade de retenção e disponibilidade de água e nutrientes.
A sua utilização se restringe a culturas tolerantes como o cajueiro. Os Neossolos
Quartzarênicos caracterizados por altos teores da fração areia fina podem ser cultivados com
o uso de ferti-irrigação, com vinhaça, na cultura de cana-de-açúcar, ou com microaspersão
e fertilizantes solúveis, nas culturas da manga e uva no vale do São Francisco.

Figura 4. Perfil de Neossolo Quartzarênico órtico típico, caracterizado pela textura arenosa ao longo
de todo o perfil.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/UFRPE (http:/ / www.
colecaomateusrosas.com.br).

Vertissolos
Os Vertissolos são solos minerais argilosos ou muito argilosos (teor de argila de no
mínimo 300 g kg-1 nos 20 cm superficiais) que se caracterizam pela presença de um horizonte
vértico, imediatamente abaixo do horizonte A, com pequena ou nenhuma variação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANT ES DO Uso, DO MANEJO E . . . 143

textura ! ao longo do perfil. Apresentam altos teores d e argi las expans ivas, responsáveis
por grandes mudanças de volume com a variação do conteú do de umidade, provocando
fendas na é poca seca e superfícies de fricção quando umedecidos. Podem ainda evidenciar,
em consequência dos processos de expansão e contração, microrrelevo s uperficial (gi lgai),
estrutura prismática paralelepipédica ou cuneiforme (Santos et ai., 2013) (Figura 5).
Possuem sequência de horizontes A-Cv-Cr-R ou A-Bv-Cv-R, com contato Lítico a
profundidades maiores que 30 cm. Em sua grande maioria, são solos pouco profundos a
profundos, característicos de regiões semiáridas e subúmidas e relacionad os com materiais
de origem sedimentares como calcários, argilitos e sedimentos argilosos, podendo se
desenvolver a partir de rochas cristalinas escuras.
Os Vertissolos são solos quimicamente muito ricos, com restrições em relação
aos atributos físicos em virtude dos altos teores de argilas expansivas, apresentando
permeabilidade muito baixa ou nula, drenabilidade pobre e pouca aeração, que limitam
o desenvolvimento das culturas mais sensíveis (Dudal e Eswaran, 1988). Possuem alta
suscetibilidade à erosão, mesmo em relevo suave, em razão da baixa infiltração e dispersão
das argilas e limitações ao uso de implementas agrícolas, em consequência da alta
plasticidade e pegajosidade, quando molhados, e extrema coesão, quando secos.

Figura 5. Perfil de Vertissolo Háplico órtico chemossólico, podendo-se observar a presença de


fendas, superfícies de fricção e estruturas prismática e cuneiforme, resultantes da alta atividade
das argilas, principal limitação destes solos.
Fonte: Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referencia de Pemambuco/UFRPE (http:/ / www.colecaomateusrosas.com.br).

A irrigação, condição indispensável para sua utilização nas regiões semiáridas,


deve ter um rigoroso controle da quantidade de água aplicada e um sistema eficiente
de drenagem superficial. Culturas de algodão, cana-de-açúcar, melão e uva são culturas
normalmente irrigadas sobre Vertissolos no vale do São Francisco.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


144 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Cambissolos
Os Cambissolos são solos minerais de textura franco-arenosa ou mais fina, que
apresentam horizonte B incipiente (Bi) subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial,
exceto o horizonte lústico com 40 cm ou mais de espessura e o A chernozêmico, quando o
Biapresentar argila de atividade alta e saturação por bases alta (Santos et al., 2013).
O horizonte Bié um horizonte pouco alterado, com grau de desenvolvimento suficiente
apenas para o desenvolvimento de cor e estrutura, não atendendo aos requisitos para
caracterizar nenhwn tipo de horizonte B diagnóstico, além de não apresentar cimentação
característica de fragipã ou duripã (Figura 6).
Os Cambissolos são solos muito variáveis nos seus atributos, em virtude de serem
fom1ados de diversos materiais de origem, podendo se apresentar transicionais para as
mais diferentes classes de solos, desde Latossolos até Vertissolos. Estas particularidades
tomam impossível o estabelecimento de um padrão geral de comportamento com base nos
níveis de ordem ou subordem.

Figura 6. Perfil de Cambissolo Há plico To eu trófico latossólico, sem impedimentos de natureza física,
atributos químjcos razoáveis e de boa aptidão agrícola. Porém, muito susceptível à erosão.
Fonte; Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referéncia de Pernambuco/UFRPE (http://www.colecaomateusrosas.com.br).

As interpretações sobre a aptidão agrícola dos Cambissolos só podem ser feitas a


partir das classes no nível de grande grupo, separadas em razão de atributos diagnósti_cos
como caráter carbonático, sódico, sálico, alumínico, alítico, atividade da argila e carater
eutrófico e distrófico, características dependentes do material de origem, relevo e clima e
extremamente importantes para utilização agrícola.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

J
VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANTES DO Uso, DO MANEJO E . .. 145

Ca mbissolos Háp licos ca rbonálicos o u ambis olos Háp licos Tb o u Ta eutrófico


são solos quimica mente muito fé rteis e de boa aptidão agrícola (Figura 6), ao passo que
Cambissolos Flúvicos ócf icos apresentam fo rtes limitações de natu reza fí ica, como
bai xas aeração e condutividade hi dráulica, que os tornam inap tos para uso agrícola . Os
Cambissolos H áplicos alíticos evidenciam acentuada toxidade por AI, de d ifícil correção,
sendo considerados de aptidão agrícola res trita, mes mo em s i tema de manejo desenvolvido
(Ramalho Filho et ai., 1995).

Chernossolos
São solos constituídos por materia l mineral, que ap resentam horizonte A chemozêmico
seguido por B textura! ou B incipiente (com a rgila de atividade al ta e saturação por ba es
alta), horizonte C cá lcico ou carbonático, ou contato lítico, desde que o horizonte A eja
cálcico ou carbonático, podendo apresentar sequências de horizontes A-Bt-C-R, A-Bi-C-R,
A-Ck-R e Ak-R (Santos et al., 2013). São desenvolvidos a partir de materiais de origem ricos
em Ca, em regiões subúmidas ou frias, com maior ocorrência na Região Sul.
O horizonte A chernozêmico é um horizonte s uperficial, relativa mente espesso e
escuro, com alta saturação por bases e predominantemente saturado por cátions divalentes,
com estrutura granular moderada a fortemente desenvolvida, al tos teores de matéria
orgânica e cores escuras, com valores e cromas iguais ou menores que 3 (Figura 7).

Figura 7. Perfil de Chemossolo Argilúvico órtico típico, evidenciando o horizonte A chernozemico


bastante espesso, com estrutura granular fortemente desen oi ida e alta fertilidade natural.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Rib.?iro - Solos de Reícr~n ia dt! Pema.mbuco/ UFRPE (http:/ j , "'·
colecaomateusrosas.com.br).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


144 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Cambissolos
O Cambi olos sã solos minerais de textura franco-arenosa ou mais fina, que
apre entam horizonte B incipiente (Bi) subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial,
e ·ceto o horizonte lústico com 40 cm ou mais de espessura e o A chernozêmico, quando o
Biapresentar argila de atividade alta e saturação por bases alta (Santos et aJ., 2013).
O horizonte Bié um horizonte pouco alterado, com grau de desenvolvim.ento suficiente
apenas para o desen olvimento de cor e estrutura, não atendendo aos requisitos para
caracterizar nenhum tipo de horizonte B diagnóstico, além de não apresentar cimentação
característica de fragipã ou duripã (Figura 6).
Os Cambissolos são solos muito variáveis nos seus atributos, em virtude de serem
formados de diversos materiais de origem, podendo se apresentar transicionais para as
mais diferentes classes de solos, desde Latossolos até Vertissolos. Estas particularidades
tomam impossível o estabelecimento de um padrão geral de comportamento com base nos
níveis de ordem ou subordem.

Figura 6. Perfil de Cambissolo Háplico Tb eu trófico latossólico, sem impedimentos de natureza física,
atributos químicos razoáveis e de boa aptidão agrícola. Porém, muito suscept(vel à erosão.
fonte: C.Oleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/ UFRPE (http://www.colecaomate us rosas.com.br).

As interpretações sobre a aptidão agrícola dos Carnbissolos só podem ser feitas a


partir das classes no nível de grande grupo, separadas em razão de atributos diagnósticos
como caráter carbonático, sódico, sálico, alurnínico, alítico, atividade da argila e caráter
eutrófico e distrófico, características dependentes do material de origem, relevo e clima e
extremamente importantes para utilização agrícola.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANT ES DO Uso, DO MANEJ O E . .. 145

Ca m bissolos Há plico ca rboné'Hicos o u Ca mbisso los Háp licos T b o u T e utró fi cos


são so los qu im ica me n te mu ito fé rte is d e boa a ptidão agríco la (Figura 6), ao passo q ue
Ca m bissolos Fl úv icos sódi cas ap re e nta m fo rtes limitações de nah1reza fís ica, corno
ba ixas aeração e condutividad e hi d rá ul ica, qu e os to rnam ina ptos pa ra us agríco la . Os
Cambissolos Há plicos alíticos ev idenciam acentuada toxida d e po r A I, de d ifícil correção,
sendo co ns iderados d e a ptid ão agrícola res trita, mes mo e m sis te ma de manejo desenvolvido
(Ra m a U10 FiU10 et a i., 1995).

Chernossolos
São solos cons titu ídos por mate ria l mine ra l, que a presentam horizonte A chernozê rnico
seguido por B textura! ou B incipiente (com a rgila de a tiv idade alta e saturação po r ba es
alta), horizonte C cálcico ou carboná tico, ou conta to lítico, desde que o horizonte A seja
cáJcico ou carboná tico, pode ndo apresentar sequências d e h orizontes A-Bt-C-R, A-Bi-C-R,
A-Ck-R e Ak-R (Santos et ai., 2013). Sã o desenvolvidos a p artir de materiais de origem ricos
em Ca, em regiões subúmidas ou frias, com m a ior ocorrência na Região Sul.
O horizonte A chernozêmico é um horizonte s uperficia l, re lativam en te espesso e
escuro, com alta saturação por bases e predominantemente satura do por cátions clivalentes,
com estrutura granular moderada a fortemente desenv olvid a, a ltos teores de matéria
orgânica e cores escuras, com valores e cromas igua is ou menores que 3 (Figura 7).

Figura 7. Perfil de Chernossolo Argilúvico á rtico típico, evidenciando o horizon te A chemozem i 0


bastante espesso, com estrutura granular fortemente desenvolv ida e alta fertilidade natural.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos Je Refon!ncia de Pe.rn.i.mbuco/ VFRPE (hrtp:/ / \ ,,w.
colecaomateusrosas.com.br).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


146 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Os Chernossolos são, por definição, solos com excelentes atributos químicos, sendo
considerados bastante férteis, e de boas condições físicas no horizonte superficial. As maiores
limitações ao uso agrícola são apresentadas pelos Chernossolos Rêndzicos, que apresentam
pequena profundidade efetiva e, muitas vezes, estão associados com pedregosidade
superficial e, ou, rochosidade, podendo ocorrer em relevo mais movimentado. Entretanto,
os elevados teores de carbonatos na superfície causam problemas de imobilização de p e
indisponibilidade de micronutrientes. Quando em condições de relevo suave, estes solos
têm boa aptidão para pastagens.
Os Chemossolos Ebânicos, Argilúvicos e Háplicos, quando em relevo favorável,
têm boa aptidão para lavouras. A textura argilosa e muito argilosa de alguns perfis pode
representar moderada restrição ao uso de irnplementos agrícolas, em razão do excesso de
plasticidade e pegajosidade, quando esta prática é executada com umidade acima da ideal
(Oliveira, 2001). O uso excessivo de operações mecanizadas, principalmente o uso da grade
de disco, pode promover a destruição da estrutura do horizonte A chernozêmico. Práticas
de cultivo mínimo ou semeadura direta são recomendadas para estes solos, visando
preservar os conteúdos de matéria orgânica e a condição estrutural dos mesmos.

Luvissolos
São solos minerais eutróficos, não hidromórficos, normalmente pouco profundos a
rasos, com horizonte B textural (Bt), argilas de atividade alta e saturação por bases alta
(Santos et al., 2013). Estes solos possuem horizonte A do tipo fraco ou moderado, ocorrendo,
geralmente, associados com pedregosidade superficial, especialmente nas Depressões
Sertanejas do semiárido nordestino, principal região de sua ocorrência (Figura 8). Podem
apresentar caráter vértico, solódico e, ou, salino, no horizonte Bt ou BC.
São solos eutróficos, com média a alta soma de bases trocáveis e reação
moderadamente ácida a ligeiramente alcalina, sendo considerados de alta fertilidade
natural. No entanto, apresentam características restritivas ao uso agrícola, como pequena
profundidade efetiva, pedregosidade, caráter solódico ou salino, altos teores de silte no
A e presença de caráter vértice e, ou, textura muito argilosa, com acentuado aumento dos
teores de argila entre A e Bt.
Evidenciam fortes limitações em relação à suscetibilidade à erosão em virtude dos
teores elevados de silte do A, responsáveis pela ausência de estrutura e formação de crostas
superficiais que estimulam o escoamento superficial, e presença de horizontes pouco
permeáveis e com argila dispersa (Btn ou Btv) próximos à superfície. Estas condições são
agravadas pelo regime de chuvas concentradas de grande intensidade da região semiárida.
A pequena espessura do horizonte A, geralmente com intensa pedregosidade
superficial, é responsável por fortes limitações em relação ao uso de implementos agrícolas
(Figura 8). O uso de arado ou grade pesada de tração motorizada nestes solos geralmente
atinge o horizonte Bt, de condições físicas desfavoráveis, acelerando o processo erosivo.
o manejo inadequado destes solos, mesmo em relevo suavemente ondulado, tem sido
responsável pelas grandes áreas em processo de desertificação no semiárido nordestino,
sendo os Luvissolos os solos mais comumente encontrados nestas áreas (Ribeiro et al.,
2009a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DET ER MIN ANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 147

A utilização destes solos eleve-se restringir às áreas ele solos mais profundos, de relevo
s uave, com menor pedregosidade, com a util ização ele implementas leves, de preferência
ele tração animal, com a adoção de todas as med id as de controle da erosão. A limitações
pela ca rência de água também constitue m uma restrição muito importan te, que inviabiliza
a sua ex ploração em sistemas de manejo desenvolvi dos. Os Lu vissolos sã? utilizad?s co_m
agricultura irrigada em alguns projetos, com destaq ue pa ra o Perímetro Irrigado Ca lifórnia,
no Estado de Sergipe, que apresenta, entretan to, sérios problemas de erosão.

Figura 8. Perfil de Luvissolo Crómico órtico típico mostrando a pequena profundidade, pedrego idade
superficial e ausência de estrutura no horizonte A.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/ UFRPE (http:// www.
colecaomateusrosas.com.br).

Argissolos
São solos minerais, não hidrornórficos, com horizonte B textura!, imediatamente
abaixo do A ou E, com argila de atividade baixa, ou com argila de atividade al ta, desde que
conjugada com saturação por bases baixa e, ou, caráter alítico, na maior parte do horizonte
B (Santos et al., 2013). Apresentam sequência de horizontes A-Bt-C-R ou A-E-Bt-C-R, com
perfis geralmente profundos e com transições graduais entre os horizontes (Figura 9).
Os Argissolos são solos muito diversificados, desenvolvidos dos mais diferentes
materiais de origem e dispersos em todas as regiões do país, ocorrendo desde o ambiente
subtropical do sul do Brasil até a Região Amazônica e o serniárido nordestino. Esta

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


148 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

diversificação de situações impossibilitél uma interpretação de caráter geral com base 110
nÍ\ el de ordem ou mesmo subordem.
O SiBCS define cinco subordens para a classe dos Argissolos, que apresentam
alguns atributos que as diferenciam em termos de uso e manejo. Estas subordens são
individualizadas pela cor em: Argissolos Bruno-Acinzentados, Acinzentados, Amarelos,
\ ermelhos e Vermelho-Amarelos.

Figura 9. Perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico húmico. Solo de boas condições físicas,
linútado pela baixa fertilidade.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/UFRPE (http:/ /www.
colecaomateusrosas.com.br).

Os Argissolos Bruno-Acinzentados se caracterizam pelo escurecimento da parte


superior do horizonte Bt em relação aos sub-horizontes inferiores, com matiz 5YR ou
mais amarelo, valores 3 a 4 e cromas menores ou iguais a 4, com uma espessura do solum
normalmente entre 60 e 100 cm (Santos et al., 2013). Predominam nestes solos argilas de
atividade alta e caráter alitico.
São solos característicos do ambiente subtropical do sul do Brasil, onde ocorrem
limitações em relação à ocorrência de geadas. Apresentam ainda limitações por
suscetibilidade à erosão, principalmente nos subgrupos com mudança textural abrupta, e
limitações pela baixa fertilidade natural, agravadas pelos altos teores de AP+.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES D E SOLOS C OMO D ETER MIN/\NTES DO Uso, DO MANEJO E . .. 149

Os J\rgissolos Acinze ntados são c;olos de cores acinzentadas na maior parte dos
primeiros ·100 cm do horizonte Bt (inclusive BJ\), com matiz 7,5 YR ou rnai amarelo,
va lores maiores o u ig uais a 5 e cromas meno res que 4 (Sa ntos et ai., 201 3).
Em s ua gra nde maioria, es tão re lacio nad os com sedimento terciários da Formação
Barreiras e formações correlatas, particul armente nos Tabuleiros Costeiros do a rdeste,
onde ocupam áreas muito planas ou levemente deprimidas. São solos com a rgila de
atividade baixa e dis tróficos, apresentando ca rá ter coeso nos perfis com textura franco-
aJ·giloarenosa ou mais fina .
Ocorrem em relevo plano, com condições al tamente fa voráveis à mecanização das
operações agrícolas e sem problemas de erosão. A principal limitação é a baixa fertilidade
natural, com teores muito baixos de macro e micronutrientes. O ca rá ter coeso nos a ios
mais argilosos requer, em algumas culturas, principa lmente euca lipto e laranja, o uso de
subsolagem antes do plantio para permitir o a profunda mento da raiz pi votante das mudas
(Rezende, 2000). Os solos mais arenosos evidenciam baixa retenção e disponibilid ade de
água, sendo muito frequente a presença de fragipã ou caráter d úrico, que, quando próximo
à superfície, pode constituir Lmpedimento ao crescimento do sis tema radicular e formação
de lençol suspenso.
Os Argissolos Amarelos apresentam matiz 7,5 YR ou mais a marelo na maior parte
dos primeiros 100 cm do horizonte Bt (inclusive BA). Distribuem-se sobre os Tabuleiros
Costeiros da Região Nordeste, relacionados aos sedimentos da Formação Barreiras, e ão
muito utilizados na cultura da cana-de-açúcar.
São solos normalmente distrocoesos, ou seja, distróficos e com caráter coeso, podendo
demonstrar textura arenosa/ média ou média/ argilosa, com baixa fertilidade natural
e com deficiência de macro e micronutrientes. São solos sem limitações com relação
à suscetibilidade à erosão e altamente favoráveis à mecanização, quando ocorrem no
topo dos tabuleiros, podendo, menos frequentemente, ocorrer em encostas onduladas
ou mesmo forte onduladas, suscetíveis à erosão. O caráter coeso constitui Lmportante
limitação nos perfis com textura média/ argilosa, necessitando de subsolagem para
algumas culturas arbóreas ou cultivo em covas altas para culturas de sistema radicular
mais superficial. É comum nos Argissolos Amarelos a ocorrência de um horizonte fragipã
(Btx) a profundidades acima de 100 cm, que funciona como um retentor de umidade para
as culturas.
Os Argissolos Vermelhos, com cores no matiz 2,5 YR ou mais vermelho ou com
matiz 5 YR e valores e cromas iguais ou menores que 4, no Bt, e os Argissolos Vermelho--
Amarelos, com cores no Bt que não se enquadram nas classes anteriores, têm grande
ocorrência em várias Regiões do Brasil, como o Sudeste, Sul, Centro-Oeste e ordeste,
derivados comumente de rochas cristalinas, principalmente gnaisses, em áreas de rele o
ondulado e forte ondulado, conhecidas como mar de morros (Oliveira et al., 1992)
Os solos são normalmente de textura média/ argilosa e, em menor proporção de
textura arenosa/média, com argila de atividade baixa e saturação por bases variando de
alta a baixa, sendo, portanto, eutróficos ou distróficos. Alguns grandes grupos da classe
podem apresentar argila de atividade baixa e caráter alumínico ou caráter alítico, com
maiores limitações de fertilidade natural.
As principais limitações ao uso agrícola dos Argissolos Vermelhos e ermelho--
Amarelos decorrem da suscetibilidade à erosão e dos impedimentos à mecanização em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


150 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

consequência do relevo, além das limitações por fertilidade natural nos grandes grupos
Aliticos, Alunúnicos e Distróficos.

Nitossolos
São solos minerais argilosos desde a superfície (350 g kg·1 ou mais de argila), profundos,
com um horizonte B nítico abaixo do horizonte A, com argila de atividade baixa ou caráter
aUtico na maior parte do horizonte B, dentro de 150 cm da superfície (Santos et al., 2013).
Quanto à morfologia, indispensável para sua identificação, estes solos apresentam cores
muito unifom1es ao longo do perfil, com ausência de policromia entre A e B, estrutura
em blocos moderada ou fortemente desenvolvida, e presença de superfícies brilhantes no
horizonte B (Figura 10). Podem apresentar cores variando de vermelhas a brunadas.

Figura 10. Perfil de Nitossolo Vermelho distroférrico típico, evidenciando o forte desenvolvimento
estrutural e condições físicas extremamente favoráveis.
Fonte: Foto cedida pela Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pernambuco/UFRPE (http://www.
colecaomateusrosas.com.br).

Pela sua uniformidade em termos de textura e estrutura, com transições graduais


ou difusas entre os horizontes, os Nitossolos apresentam excelentes atributos físicos em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLA SSE S DE SOLOS COMO D ETERM I NANTES DO Uso, DO MANEJ O E .. . 15 1

te rmos d e porosidc1dc, permea bilidade, aeração, re tenção e d is poni bi lid a de de ág ua, sem
res trições de drenagem, nem impedimentos ao desen vo lvimen to d o sis te ma rad icu la r,
sendo cons id erados solos bastante resis tentes erosão (Figura 10).
Em nível de suborde m, os Nitossolos são separad os c m três classes: Bru nos, Ver melhos
e Háplicos
Os Nitossolos Brw,os, qu e ocorrem no planalto Sul d o Bras il, são sempre ácidos,
distróficos ou alumínicos, com fortes limitações pela baixa fertilid ade natura l (O liveira et
al.,1992).
Os Nitossolos Vermelhos, mais importantes em extensão, ocorrem principalmente
nas Regiões Sudeste, norte da Sul e Centro-Oeste, com pequenas ocorrências nas orte e
Nordeste, e são, quase sempre, relacionados com derrames de rochas básicas. Em relação
aos atributos químicos, são frequentemente Eutróficos e tem alto potencia l para la vouras.
Ocorrem também grandes grupos Alíticos, Alumínicos ou Dis trófícos, com limi tações pela
baixa fertilidade natural.
Apesar de resistentes à erosão, estes solos ocorrem, frequentemente, em áreas de
relevo ondulado e forte ondulado, que apresentam restrições quanto à s uscetibilidade à
erosão e aos impedimentos à mecanização.
Os Nitossolos Háplicos ocorrem com pouca expressão e têm comportamento
semelhante aos Nitossolos Vermelhos.

Latossolos
Estes solos são constituídos por material mineral, apresentando horizonte B latossólico
imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, dentro de 200 cm da superfície do
solo ou dentro de 300 cm, se o horizonte A a presentar mais de 150 cm de espessura (Santos
et al., 2013).
São solos de textura franco-arenosa ou mais fina, resultantes de um intenso processo
de intemperização, que confere aos solos certa uniformidade em termos de atributos
morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos, permitindo definir aspectos do seu
comportamento em relação ao uso e manejo dos solos. São solos muito profundos, com
pouca diferenciação de horizontes, gradiente textural pequeno ou ausente, baixo teor de
argila dispersa e alto grau de floculação, alta estabilidade de agregados, baixa relação
silte/ argila, predomínio de argilominerais 1 :1 e sesquióxidos, baixa CTC, baixo conteúdo
de minerais primários facilmente intemperizáveis. Ocorrem, geralmente, associados a
superfícies antigas e preservadas, em relevo plano ou suavemente ondulado.
Esses atributos permitem inferir que os Latossolos, de maneira geral, são solos de
baixa fertilidade e com excelentes atributos físicos. As suas limitações se restrin gem à
baixa fertilidade natural, apresentando excelente aptidão agrícola em sistemas de manejo
desenvolvidos, com alta aplicação de insumos e de resultados de pesquisa.
A ordem dos Latossolos compreende quatro subordens: Brunas, Amarelos, Vermelho
e Vermelho-Amarelos.
Os Latossolos Brunos estão relacionados com os planaltos do su l do Brasil,
apresentando cores brunas, com matizes 7,5 YR ou mais amarelos na parte superior do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


152 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

horiz nte B (indu iv BA) ou em todo oh rizonte Bw, em oncomitância com valor úmido
igual ou inferi r a 4 e roma igual ou inf rior a 6. Admitem-se também solos com cor úmida
no matiz YR, na maior parte do horizonte 8 (inclusive BA), desde que os valores sejam
iguai ou inferiores a 4 e cromas inferiores a 6. Demonstram alta capacidade de retração
com a perda da umidade, evidenciada pelo fendilhamento em cortes de barrancos expostos
ao sol. Sãos los argilosos, alumínicos, dish·óficos ou ácricos, ácidos e com limitações fortes
por baixa fertilidade natural e ocorrências esporádicas de geadas (Oliveira et al., 1992).
Os Latossolos Amarelos são os de cores amareladas, com matiz 7;5 YR ou mais
amarelo na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte Bw (inclusive BA). Apresentam,
caracteristicamente, o caráter coeso, adensamento pedogenético que ocorre, geralmente,
entre 35 e 70 cm (Ribeiro, 2001). Este horizonte, extremamente duro quando seco, restringe o
crescimento do sistema radicular na época seca e provoca falta de aeração no período chuvoso,
exigindo manejo especial com o uso de subsolagem, entre outras práticas (Figura 11).

figura 11. Perfil de Latossolo Amarelo distrocoeso típico sob cultivo de cana-de-açúcar, ~ostrando
0 horizonte superficial degradado pelo excesso de gradagens e o caráter coeso no honzonte BA,
onde se vê uma rachadura.

São solos de textura média ou argilosa, ácidos e com saturação por bases baixa.
Distribuem-se pelos Tabuleiros Costeiros e áreas similares da Amazônia, desde o Ama~á e
por todo o Utoral das Regiões Norte e Nordeste, Estado do Espírito Santo e Rio de Janeiro,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO DETERMINANTES DO Uso, DO MANEJO E .. . 153

até a parte norte do Município d Campos d Coita azes. As pr incipais limitações a uso
agrícola deco rrem da baixa ferti lidade natural , com d ficiê ncia de macro e micronutrientes,
além de problemas físicos re p resentados pelo ca rá te r coeso.
Os Latossolos Verme lhos e Vermelho-Amarelos abrangem solos desenvolvidos de
distintos materiais de ori gem, responsáveis por variações q ue são se paradas em nível de
subgrupo, em razão dos teores de óxidos de fe rro, ca rá ter distrófico, e utrófico e ácrico, que
interferem no grau de limitação por fe rtil idade natural.

Espodossolos
Esta classe compreende solos rrunerais hidromórficos ou não, q ue dem onstram
horizonte B espódico de acumulação iluvial de m atéria orgâ nica e AI, associados o u não com
Fe e precedido de horizonte E álbico (Santos et ai., 2013). Evidenciam perfis profundos e bem
diferenciados, imperfeitamente a mal drenados, com sequência de horizontes A-E-Bh, Bhsm
ou Bsm, com transições geralmente claras ou abruptas e planas. O Bsm o u Bhsm a presenta-
se extremamente duro, cimentado, compacto e muito pouco permeável, sendo responsável
pelo bloqueio da drenagem e formação de lençol s uspenso no período chuvoso (Figura 12).

Figura 12. Perfil de Espodossolo Ferri-humilúvico Órtico espessarênico d úrico, mo trando a te: tura
arenosa do A+E álbico e o duripã logo abaixo dos 100 cm, bloqueando a drenagem.
Fonte: Coleção Mateus Rosas Ribt!iro - Solos de Reíen!ncia de Pl!ma.mbuw/ FRPE (http:// ww, , 11!<:aom;itt:'UST - • ..:umbr).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


154 MATEUS ROSAS RIB EIRO ET AL.

Este olo ocorrem ao longo de toda a costa do Brasil, sobre s di m entos arenosos
na Bai ·ada Litorânea, nos Tabuleiros Costeiros da formação Barreiras no N ordeste e em
grandes e ·ten ões da Amazônia, principalmente na bacia do rio Negro.
São solo de te ·tura arenosa e extrema pobreza, com as limitações inerentes a
olos com e tas características, como baixa retenção de nutrientes, lixiviação acentuada
dos fertilizantes, baixa capacidade de retenção e disponibilidade de água, alta taxa de
decomposição de matéria orgânica e virtual ausência de reserva de nutrientes.
Em razão da presença de duripã e do relevo plano ligeiramente deprimido onde
ocorrem, fom1ando abaciamentos e depressões fechadas, podem apresentar lençol freático
em alguns trechos, sendo limitados por excesso de água, no inverno, e por carência de
água, no período seco.
Em virtude das fortes linutações em relação à baixa fertilidade natural, ao excesso e à
carência de água, estes solos são inaptos para lavouras, inclusive para a cultura da cana-de-
açúcar, embora ainda sejam plantados com esta cultura no Nordeste, com o uso de irrigação
no período seco, demandando aplicações maciças de matéria orgânica, como única forma
de melhorar os seus atributos físicos e químicos (Usina Coruripe, 1997). A capacidade de
água disponível destes solos é muito baixa, o que deve ser considerado no planejamento da
irrigação, para evitar desperdício e sobrecarga no lençol freático. Considerando-se a baixa
retenção de umidade destes solos e a presença de horizonte impermeável, o uso da ferti-
irrigação com vinhaça constitui uma operação de alto risco de contaminação das nascentes.

Planossolos
Esta ordem compreende solos minerais, com horizonte A e, ou, E, seguido de horizonte
B plânico (Santos et al., 2013). São solos imperfeitamente ou mal drenados, que apresentam
horizonte superficial ou subsuperficial eluvial, de textura mais leve, normalmente arenosa
ou média (leve), que contrasta abruptamente com um horizonte B plânico subjacente,
ad&isado, com acentuada concentração de argila, muito pouco permeável e responsável
pela formação de lençol suspenso, de existência temporária.
Evidenciam perfis pouco profundos, bem diferenciados e com sequência de horizontes,
geralmente, Ap-E-Btn-Cr-R ou A-Btn-Cr-R, com transições quase sempre abruptas entre A
ou E e o Bt, que, geralmente, apresenta caráter sódico ou solódico (Figura 13).
Apresentam limitações em relação à pequena profundidade efetiva e suscetibilidade
à erosão, sendo, entretanto, os problemas ligados à drenagem e ao regime hídrico, em
consequência dos seus atributos físicos, as maiores limitações para utilizar estes solos.
Demonstram excesso de umidade no período chuvoso e extremo ressecamento na época
da estiagem.
Estes solos são inaptos ou de aptidão restrita para lavouras de sequeiro, particularmente
nos perfis que apresentam espessura de A + E inferior a 40 cm, tendo em vista que o Btn
subjacente constitui um impedimento à penetração da água e das raízes, provocando ao
mesmo tempo encharcamento no período chuvoso e carência de água no período seco.
A profundidade do Btn é também fundamental no aumento da suscetibilidade à erosão,
sendo 05 Planossolos uma das classes de solos relacionadas com as áreas em processo de
desertificação na Região Nordeste (Ribeiro et al., 2009a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES DE SOLOS COMO D ETER MI NANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 155

Sob irri gélção, a prese nta m s rias lim itJções de drenagem, com formação de lençol
freá ti co e risco d e sa lini zação. Pla nossolos com horizonte B plâ nico ocorrendo dentro do
prime iros 100 cm são consid erad os não irri gáveis pa ra cu ltu ras diversificadas (CODEVASF,
2001), sendo recom end ados, qu a ndo em co ndições de relevo plano, para plantio ele Mroz
inundado (Classe 4R) (Carter, 1993), muito co mum nas á reas d e Planossolos do Rio Grande
do Sul.

Figura 13. Planossolo Nátrico órtico salino mostrando a transição abrupta en tre o A e o horizonte
plânico, com estrutura colunar, que bloqueia a infiltração da água e das raize , limi tando o uso
destes solos na agricultura.

Plintossolos
Esta classe compreende solos minerais hid ro mórficos ou com sérias restrições à
percolação d a água. Possuem horizonte p líntico, concrecionário ou litop líntico dentro
dos 40 cm superficiais ou a maiores profundidades, quando subsequente a ho rizonte A
ou E, ou a horizontes pálidos, acinzentad os ou mosq ueados (Santo et al., 2013 . stes
solos, prevalece o regime hídrico al ternado, de menor ou maior duração de e. cesso de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


156 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

água temporário azonal, em revezamento com ressecamento periódico ou ocasional


(Figura 14).
A distribuição geográfica destes solos está relacionada com áreas rebaixadas, de relevo
plano ou suavemente ondulado, que ocorrem no Alto Amazonas, Ilha de Marajó, Baixada
Maran.hen e, Pantanal, Campo Maior no Piauí e outras áreas menores, esparsas pelo Brasil
(Oliveira et al., 1992).

Figura 14. Perfil de Plintossolo Argilúvico eu trófico abrúptico, evidenciando o bloqueio de drenagem
a 70 cm, em consequência do horizonte plíntico e da mudança textura! abrupta entre E e Btf.

São solos com grande diversificação morfológica e também física e química, exceto
quanto às funções que a presença do horizonte plíntico lhes confere. O horizonte plíntico
tem aspecto variegado, constituído por um aglomerado de manchas vermelhas de
concentração de óxidos de ferro (plintita) em um fundo de cores acinzentadas. A plintita
apresenta consistência firme ou muito firme, quando úmida, e muito dura a extremamente
dura, quando seca (Figura 14).
Quando os solos apresentam petroplintita (nódulos e concreções lateríticas) são
denominados Plintossolos Pétricos concrecionários, quando as concreções são soltas, ou
Plintossolos Pétricos litoplinticos, quando as concreções são consolidadas e contínuas.
Quanto aos aspectos químicos, há grande domínio de solos distróficos, sendo pouco
frequentes os solos eutró.ficos, normalmente com argila de atividade baixa. Há Plintossolos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLA SSE S D E SO LO S COMO DET ERM I NANTES DO Uso, DO MANEJ O E . .. 157

que presen temente né'ío são consid erados hid romórficos, des tacando-, os Plintosc;olos
Pétricos, concrccioncí ri os ou lí loplíntícos.
Quanto às limitações ao uso zigrícola, deve-se ter e m mente o excesso d'Lígua dos
Plintossolos Háplicos no período chu voso, mais limita nte qu and o o hori zonte plíntico
ocorre próximo à superfície. Os horizontes concrecionários litoplín ticos constituem
sérias limitações ao uso de implementas agrícolas, quando ocorrem à superfície ou perto
dela; e, no caso dos litoplín ticos, podem impedir o crescimen to do siste ma radicu lclf.
Estes horizon tes concrecionários e litoplínticos também podem con tribu ir para uma baixa
capacidade d e retenção e disponibüjdade de água, em consequência do ba ixo conteúdo de
terra fi na, podendo ressecar mu ito no período seco.
Em condições naturais, estes solos são ma is usados com pas tagen , destacando-se o
uso com Bmchiaria l111111idicola (Embrapa, 1986). Na implantação de sistema de d renagem
nas áreas de Plintossolos, deve-se considera r a questão da drenagem a rtificial q ue pode
leva r os solos a ter uma desidratação irreversível do horizonte plíntico, acelerando o
processo de consolidação.

Gleissolos
Esta classe é constitu ída por solos hidromórficos, que se caracterizam pela presença
de horizonte glei imediatamente abaixo de horizonte A ou de horizonte h ístico de pequena
espessura. O horizonte glei se forma em consequência da presença de lençol freático
próximo à superfície, durante todo o ano ou, pelo menos, durante um longo período.
São solos mal a muito mal drenados que apresentam sequencia de horizontes A-Cg,
A-Big-Cg, A-Btg-Cg, A-E-Btg-Cg etc., com lençol freático em torno de 50 cm, podendo, no
período chuvoso, atingir níveis próximos à superfície, com risco de inundação, o que se
constitui na sua principal limitação (Figura 15).
O excesso de água e consequente deficiê ncia de oxigênio constitui a principal limitação
à utilização destes solos, condição agrícola que só pode ser melhorada com a implantação
de um sistema de drenagem, somente possível em sistemas de manejo semidesen olvidos
e desenvolvidos (Ramalho Filho e Beek, 1995).
Uma vez drenados, os Gleissolos Melânicos e Há plicos têm potencial de utilização
variável em razão de outros atributos como textura e fertilidade natural. Entretanto, e. is tem
subordens como os Gleissolos Sálicos, com alta salinidade, e os Gleissolos Tiomórficos,
ricos em materiais sulfídricos, que apresentam limitações que inviabilizam qualquer tipo
de utilização agrícola.
A drenagem dos Gleissolos Tiomórficos promove a oxidação dos composto d e
enxofre, principalmente sulfeto de ferro, formando sulfatos e acido s u lfúrico, resultando
em violento rebaixamento do pH para valores inferiores a 3,5, com altos valores de H • e
AP+ trocáveis. A utilização dos Gleissolos Tiomórficos vai depender da profundidade d "
ocorrência dos materiais sulfídricos. Se estes materiais ocorrerem den tro do primeiros
80 cm, estes solos somente poderão ser utilizados com inundação, como na Tailàndia, na
cultura do arroz (Souza Jr et ai., 2001b) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


158 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Figura 15. Perfil de Gleissolo Háplico Ta eutrófico típico em uma área dotada de sistema de drenagem
e cultivado com cana-de-açúcar na Usina Salgado. Depois de drenados, estes solos são altamente
produtivos.
Fonte: Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemarnbuco/UFRPE (http:/ /www.colecaomateusrosas.com.br).

Organossolos
São solos constituídos por material orgânico (CO ~ 80 g kg-1), que apresentam
horizonte hístico (H) com 40 cm ou mais de espessura, quando desenvolvidos em ambientes
hidrornórficos, ou com horizonte hístico (O) com 20 cm ou mais de espessura seguido de
contato lítico fragmentário ou não, em condições de boa drenagem (Santos et al., 2013).
Quando o material orgânico apresentar 75 % ou mais do volume constituído por material
hôrico (tecidos vegetais), é exigida uma espessura igual ou maior que 60 cm.
É comum, abaixo da camada orgânica, ocorrer um horizonte glei (Cg) de cor cinzenta e
textura geralmente argilosa (Figura 16). Demonstram sequências de horizontes H-Cg, Hl-
H2-H3 e O-R e estão relacionados com várzeas permanentemente encharcadas e ambientes
muito mal drenados (Figura 16), exceto aqueles que têm sequência O-R, que ocorrem em
ambientes altimontanos, principalmente no sul do País.
Por serem constituídos essencialmente por materiais orgânicos, contêm elevados
teores de carbono, baixa densidade do solo e cores escuras ou pretas. São solos formados
pela progressiva acumulação de biomassa vegetal residual em ambientes palf stres
(palustrização) e que, com o tempo, se decompõem em produtos orgânicos transfor1ados,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES D E SOLOS COMO D ET E RMINANT ES DO Uso, DO M ANEJO E .. . 159

conhecid os co mo mate ria l lurfoso. A dife renciação doe; horizontes é comnndada pelos
diferentes g raus d e decomposição dos cons tituintes, que também têm influência na
aptidão destes so los para uso agrícola. A ba ixa dens idade des tes solos reduz a ca pacidade
de sustentação das raízes, não send o indica dos pa ra plantas de gra nde porte.
Em nível de subordem, são s ubdi vididos em O rga nosso los Tiomórficos, Fálicos e
Háplicos.
Os Organossolos Tiomórficos, que é1presentam male ríai s ulfídricos dentro dos
primeiros 100 cm, têm limitações q ue inviabiliza m s ua utilização agríco la, pois a execução
da drenagem promoverá a oxidação dos compos tos de e nxofre, principalmente ulfeto de
ferro, formando sulfatos e acido su lfúrico, resultando em violento rebaixamen to do pH
para valores inferiores a 3,5, com efeitos tóxicos irreparáveis para as cultura

Figura 16. Organossolo Háplico hêmico típico drenado para o cultivo da cana-de-açúcar.
Fonte: Coleção Mateus Rosas Ribeiro - Solos de Referência de Pemambuco/ UFRPE (http:/ / w\ w.colecaom.:iteus rosas.com.br).

Os Organossolos Fálicos têm pequena profundidade efeti a e estão relacionados


com ambientes altimontanos, ocupando posições acidentadas, constituindo áreas de
preservação.
Os Organossolos Háplicos, que, em condições naturais, apresentam sérias restrições
por causa da presença do lençol freático, se forem adequadamente drenados podem
apresentar boa potencialidade, se não tiverem o utras limitações (Figura 16).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


160 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

Entre as principai limitações dos 0rganossolos está a baixa fertilidade natural. O


elevado poder-tampão, em razão dos elevados valores da CTC, quando os solos são alíticos,
exige grande quantidade de corretivos para neutralizar a toxidez do Al. Nos Organossolos
com relação C/ N muito elevada (pouco decompostos), a maior paTte do N fica indisp01úvel,
neces itando de elevadas doses de adubos nitrogenados (Usina Cormipe, 1997). Os solos
orgânicos apresentam também deficiência de micronutrientes.
Quando drenados podem evidenciar subsidência, ou seja, redução da espessura em
consequência da mineralização. Uma consequência também do rebaixamento excessivo
do lençol freático é a dificuldade dos materiais orgânicos se reidratarem, o que pode
se constituir numa séria limitação ao uso agrícola, resultando, inclusive, em incêndios
subsuperficiais de longa duração. Sua drenagem deve ser feita a urna profw1didade
suficiente para que os solos sejam mantidos permanentemente úmidos até a superfície,
evitando o ressecamento prolongado (Usina Coruripe, 1997).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, procurou-se resumir os conceitos dos diversos atributos diagnósticos


e classes de solos do SiBCS e sua interpretação, visando definir suas potencialidades
e limitações em relação à utilização agrícola e às práticas de manejo necessárias ao
melhoramento das condições agrícolas dos solos.
Não se teve a pretensão de esgotar o assunto, mas, unicamente, de chamar a atenção
para a importância e o potencial da caracterização e classificação dos solos na definição
das práticas de uso, manejo e conservação do solo e da água, tema central. Este capítulo
procurou tirar conclusões das classes em nível de ordem, subordem e grande grupo,
estabelecendo os princípios da interpretação e as informações que podem ser tiradas nestes
níveis. Entretanto, a interpretação definitiva de um solo somente poderá ser feita com a
sua classificação no nível de série, acrescida das fases de pedregosidade, rochosidade,
vegetação, relevo e substrato.
As fases são indispensáveis no atual nível de desenvolvimento do SiBCS, pois essas
fornecem informações práticas das condições ambientais, extremamente importantes para
interpretar as várias condições agrícolas, como pedregosidade, rochosidade e relevo, em
relação ao uso de implementas agrícolas e à suscetibilidade à erosão, e as fases de vegetação
que, na ausência de um balanço hídrico, informam sobre a deficiência de água.
A importância da classificação dos solos para o planejamento do uso, o manejo e a
conservação do solo e da água reforça também a necessidade de investimentos na realização
de Levantamentos Detalhados de Solos, como única forma de embasar o planejamento
sustentável do uso da terra.

LITERATURA CITADA

Alves EAB. Solos orgânicos salinos tiomórficos: influência da calagem, sob drenagem controlada, nas
características químicas do solo e na produção e composição mineral de Brachiaria decumbens,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VI - CLASSES D E SOLOS COMO DET ERM INANTES DO Uso, DO MANEJO E . . . 161

Panicum rcpens L e ca na-de-açúca r [di-;sertaçãoj . C 1mpos do Gny tacazes: Uni versidade


Es tadu al do Norte Fluminense; 1997.
Brasil. Minis tério da Agricultura, Departamento Nacional de Pcc;quic;a Agropecuá ria. Divisào
de Pesq uisa Pedológica . Leva ntamento Exploratório-Reconheci mento de Solos do Estado de
Perna mbu co. Recife: 1972. v.1. (Boletim Técnico, 26/Série Ped ologia, "14)
Ca rter VH. Classificação de terras para irri gação. Brasíl ia: Ministério da Integração Regional -
Secretaria de 1rrigação; 1993. (Manual de irri gação, v.2)
Chhabra R. Soil salini ty and water quaJity. Ro tterdam: A.A. Balkema Publishers; 1996.
Cintra FLD, Libardi, PL, Silva AP. Tabuleiros cos teiros do ordeste do Brasil: uma a nálise dos efeitos
do regime hídrico e da presença de ca madas coesas nos solos. B Inf SBCS. 1997;22:77- O.
Cline MG. Basic principies of soil classification. Soil Sei. 1949;67:81-91 .
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF. Requisitos complementares
para classificação de terras para irrigação. Primeira Aproximação. Brasília: CODEVASF; 2001 .
Dudal R, Eswaran H. Dis tribution, properties and classification of Vertisols. ln: Wildíng LP, Puentes
R editors. Vertisols. Texas: Texas A & M Univers ity; 1988. p.1-54.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Serviço acionaJ de Levanta mento e
Classificação de Solos. Levantamento Explora tório-Reconheci mento de Solos do Es tado do
Maranhão. Rio de Janeiro: Embrapa-SNLCS/SUDENE-DRN; 1986. v.l. (Boletim de Pesquisa,
35; Série Recursos de Solos, 17)
Freire MBGS, Freire FJ. Fertilidade do solo e seu manejo em solos afetados por sais. ln: Novai RF,
Alvarez V VH, Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, Neves JCL editores. Fertilidade do solo.
Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. p.929-54.
Lima HV, Silva AP, Jacomine PKT, Romero RE, Libardi PL. Identificação e caracterização de solos
coesos no estado do Ceará. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:467-76.
Oliveira JB, Jacomine PKT, Camargo MN. Classes gerais de solos do Brasil: guia auxiliar para seu
reconhecimento. Jaboticabal: Funep; 1992.
Oliveira JB. Pedologia aplicada. 2ª.ed. JaboticabaJ: Funep; 2001.
Oliveira LB. Avaliação da saJinização dos solos sob caatinga no Nordeste do Brasil. ln: Alvarez
V VH, Fontes LEF, Fontes MPF, editores. O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do
Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/
Universidade Federal de Viçosa; 1996. p .113-23.
Rezende JO. Solos coesos dos tabuleiros costeiros: limitações agrícolas e manejo. Salvador: SEAGRI-
SPA; 2000. 117p. (Série Estudos Agrícolas, 1)
RamaJho Filho A, Beek KJ. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3ª. ed. Rio de Janeiro:
Embrapa/CNPS; 1995.
Ribeiro MR. Caracterís ticas morfológicas dos horizontes coesos dos solos dos tabuleiros cos teiro-.
ln: Cintra LFD, Anjos JL, Ivo WMPM. Workshop Coesão em Solos dos Tabuleiros Cos teiros.
Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros; 2001.
Ribeiro MR, Freire FJ, Montenegro AAA Solos halomórficos no Brasil: ocorrencia, genese,
classificação, uso e manejo sustentável. Tópicos Ci Solo. 2003;3:165-208.
Ribeiro MR, Sampaio EVSB, GaJindo ICL. Os solos e o processo de de ertificação no semi-árido
brasileiro. Tópicos Ci Solo. 2009a;6:413-59.
Ribeiro MR, Barros MFC, Freire MBGS. Química dos solos saJinos e sódicas. ln: Melo F 1, Alleoni
LRF. Química e mineralogia do solo. Parte Il - Aplicações. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo; 2009b. p.449-84.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


162 MATEUS ROSAS RIBEIRO ET AL.

anto HG, Jac min PKT, Anjos LHC, Oliv ira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida JA, Cunha
1JF, li\ eira JB, editore . istema brasileiro de classificação de solos. 3D. ed. Brasília: 2013.
ouza Jr \ . Caracterização, gêne e e manejo de solos tiomórficos da várzea do rio Coruripe, Estado
de AJagoa [diss rtação]. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco; 1999.
Souza Jr \ S, Ribeiro MR, Oliveira LB. Propriedades qu{micas e manejo de solos tiomórficos da várzea
do ri Coruripe, no Estado de Alagoas. Rev Bras Cienc Solo. 2001a;25:811-22.
Souza Jr \ S, Ribeiro MR, Oliveira LB. Caracterização e classificação de solos tiomórficos da várzea do
rio Coruripe, no estado de Alagoas. Rev Bras Cienc Solo. 2001b;25:977-86.
Usina Coruripe Açucar e Akool. Usina Coruripe (Várzeas): Levantamento detalhado de Solos.
Recife: Consultores Associados do Nordeste - CAN; 1997.
Sumner ME. Sodic soils. ln: Sumner ME, Rengasamy P, editors. Australian sodic soils: distribution,
properties and management, Adelaide. First Nacional Conference and Workshop on Sodic
Soils; Adelaide; 1995. p.1-34.
Thomas DSG, Middleton N). Salinization: new perspectives on a major desertification issue. J Arid
Environ. 1993;24:95-105.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO E DA
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
Renato Levien 11 & Osmar Contell

1
1 De parta mento d e Solos, Faculdade de Agr onomiil, Unjversidade Federi!l do Rio G rande do Sul
Porto Alegre, RS. E- mail: rena tole@ufrgs.br
21 Embrapa Soja. Londrina, PR. E-mail: osmar.conte@embrapa.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... ·--·-.. -· 164


EVOLUÇÃO DO MANEJO E DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA VERSUS MECA1 ·1zAÇr\O
NO BRASIL ........................................................................................................................ ······································- ···-·· 165
COMPATIBILIDADE ENTRE MECANIZ AÇÃO AGRÍCO LA E MA NEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO
E DA ÁGUA ...............................................................................................................................................·-···········---·· 169
PROBLEMÁTICA E SOLUÇÕES RELACIONADAS À MECANIZAÇÃO E MA N EJO ECO SER AÇr\O
DO SOLO E DA ÁGUA NO BRASIL ......................................................................................... ·-····························-·· 170
Conte xtualização geral ..................................................................................................................... ·-·················-·· 170
Semeadoras-adubad o ras para utilização em semeadura direta ...................................................... ·-··-·-········ 1n
Interação semeadoras-aduba d oras com o solo ...........................................................................................·-········ 173
Mobilização de solo em semeadura d ireta ................ .................................................................................... - ....... 176
Eficiência d e mobilização em semeadura direta ...... ............................................................................................ 1
Demanda de potência em semeadura direta .................................................................................. ·-···-··············· 1 O
Sentido da operação de semeadura .................................................................................................................... ..... 1 1
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE ASPECTOS ESPECÍFICOS ENVOLVENDO MECANlZAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA ................................................................................................. - ................ 18-l
Tráfego contro lado ................................................................................................................................................... 1
Colhe ita m ecanizad a da cana-d e-açúcar ........................................................................................ ........................ 1
Fertilização em superfície ......................................................................................................................................... l 7
Man ejo d a bio massa residual d a cultura do algodão .......................................................................................... 1 7
Colheita e distribuição desunifo rme d a biomassa cultural residual... .............................................................. 1
Aume nto d a mecanização nas propriedades e o uso do solo. .................................................... -·····-----······ l 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... ·- ·--·-······• 190
LITERATURA CITADA ..................................................................................................................................... __ .. _ ..... l 1

Berto( l, De Ma ria IC, Souza LS, editores. Ma nejo e conservação do solo e da água. sa, IG: 1edade
Bras ileira d e Ciê ncia d o Solo; 2018.
164 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

INTRODUÇÃO

Mecanização agrícola e manejo e conservação do solo sempre "caminharam" juntos,


muitas vezes buscando-se muito mais a sustentabilidade econômica em curto prazo do
que a sustentabilidade ambiental e energética em longo prazo. A mecanização agrícola
tem se apresentado como solução de muitos problemas na agropecuária. No entanto,
em contrapartida, tem apresentado e tem sido causa de muitos problemas em termos de
manejo e consen ação do solo e da água. Houve avanços que facilitaram diversas operações,
como preparo do solo, semeadura, adubação, tratamentos fitossanitários, colheita. Em
contrapartida, dependendo da época e do tipo de mecanização empregada, ocorreram
problemas de erosão, compactação, entre outros.
A agricultura moderna praticamente está toda alicerçada em utilização intensiva
de máquinas e implementas, em que a fonte de potência é, geralmente, o trator. No
entanto, ainda hoje, muitos produtos agrícolas são gerados por agricultores que se
utilizam de máquinas cuja fonte de potência é a energia de animais e mesmo humana,
e que também deveriam ser estimuladas, por serem mais adequadas a determinadas
situações.
O emprego de mecanização pode se dar a partir de uma das seguintes condições:
áreas de mata ou floresta, após a derrubada e, ou, arranquio da vegetação existente,
com ou sem uso de fogo; áreas de capoeira, com ou sem uso de fogo; áreas de campo
natural; e áreas que já estão sendo utilizadas com lavouras com culturas anuais ou
plurianuais.
Uma das situações de maior impacto na agropecuária é quando, após a derrubada
da mata ou floresta, para o corte e, ou, a derrubada da vegetação natural, utilizam-se
motosserras e tratores de esteiras e, ou, rodas. Os tacos e as raízes são arrancados do
solo e enleirados, podendo assim permanecer até a decomposição ou serem queimados.
Após, é realizada uma mobilização do solo, geralmente com uso de escarificadores e, ou,
grades aradoras de discos, com um número de passadas que dependerá da quantidade
e distribuição do sistema radicular das plantas existentes na floresta. Hoje, esse tipo de
atuação já não ocorre nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas nas demais ainda é muito
empregada, dentro do que a legislação ambiental vigente permite.
A utilização de campos naturais com agricultura pode ser feita com algum grau de
mobilização do solo (arados, grades, escarificadores) ou com uso de semeadura direta.
Estudos mais recentes concluíram pela não necessidade de mobilização do solo em toda a
sua extensão e superfície em áreas ocupadas com campo nativo. Uma dessecação química
ou pastejo intensivo e a realização da correção do solo pela aplicação de corretivos sobre a
superfície (normalmente em baixas doses), antes da implantação de cultura(s) de outono-
inverno, têm garantido boas produtividades na safra de primavera-verão, mesmo quando
todas elas forem implantadas com a utilização de equipamentos com baixo grau de
mobilização de solo, corno as semeadoras-adubadoras.
Considerando o grau de mobilização do solo, as áreas já em uso com agricultura
podem ainda ser divididas em razão de culturas anuais ou plurianuais. Nas anuais,
podem-se empregar diferentes graus de mobilização do solo; e, nas plurianuais, tem-se
uma restrição, no mínimo, próximo às linhas de plantio e mesmo nas entrelinhas em razão
de danos ao sistema radical e mesmo na parte aérea.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MEC/\NIZ/\ÇÃO AGRÍCOLA: UM COMPONENTE ESSENCIA L DO MANEJO ... 165

é1da tipo de utilizé1çéio pode conta r com um tipo de perfi l de meca ni zação. Cada
perfil de mecanização implicará em maior o u meno r impac to am bie nta l, custo, de mand a
de tempo e energia.
De modo gera l, mobilização do solo por máquinas implica impac ta r o a m biente por
cau sa da decomposição microbiana ou perda da matéria orgâ nica por erosão, da mistura
de camadas de solo com diferent!?S condições físicas, químicas e biológicas, das a ite-rações
estruturais de diferentes n.íveis, da ex posição do solo à radiação solar e ene rgia erosiva de
chuvas e ventos, da expos ição do solo ao tráfego e à pressão causada pelo peso de rodados
d e tratores e m áquinas, bem como à pressão exercida pelas partes ati vas de máqu ina
sobre e dentro do solo.
A magni tude desses impactos depende do grau de mobilização d o olo e m
profundidade e extensão, do tipo de preparo e, o u, semeadura, da o rientação em relação
à declividade do terreno (em nível ou morro aci ma/ morro abaixo), do tipo e tama nho
da fonte de potência, da velocidade de trabaU10, do estado de consis tência do solo no
momento d a su a mobilização, das regulagens e do estado de manutenção da máq uina e
dos equipamentos.
Um fator também de grande influência na qualidade das operações executada por
tratores e máquinas agrícolas é a mão de obra envolvida nessas tarefas . Observa-se, muita
vezes, que problemas operacionais e, ou, ambientais não são por causa exclusivamente
das máquinas e sim ao mau uso a que essas são submetidas. Máquinas e equipamento
bem projetados e construídos podem não executar a tarefa com quaJidade, caso haja
desconhecimento por parte do usuário e, ou, operador de todas as potencialidades desses.

EVOLUÇÃO DO MANEJO E DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E


DA ÁGUA VERSUS MECANIZAÇÃO NO BRASIL

As primeiras grandes intervenções no manejo das terras para uso agrícola no Brasil
ocorreram em solos cultivados com café e cana-de-açúcar. Inicia lmente, nessas áreas foi
empregada basicamente a força humana (mão de obra dos escravos) e a tração animal.
Mesmo sem a utilização intensiva de tratores e máquinas, essa talvez tenha s ido a primeira
interferência realmente importante que ocorreu nas terras agrícolas do Brasil, em termos
de manejo do solo e da água. O resultado pode ser quantificado sob dois as pectos. Um,
positivo, em razão da mudança do tipo de exploração agrícola vigente, meramente
extrativista, para a adoção de uma agricultura comercial. Outro, negativo, constituído pelo
uso do solo sem o núnimo conhecimento de sua real aptidão, da a usência de planejamento
em relação a o manejo conservacionista do solo, do emprego de monoculturas e da
exploração do trabalho humano.
Os imigrantes colonizadores foram os responsáveis efeti os pela introduçã da
agricultura no Brasil, sobretudo a agricultura familiar produtora de alimentos. Esse -
indivíduos trouxeram uma cultura agropecuária já consolidada no país de o rigem deles, bem
corno o instrumental agrícola núnimo, sementes e práticas culturai . Logicamente, també m
trouxeram procedimentos de manejo do solo e da água muitas vezes incompatí ei e m
a realidade de solos e clima do Brasil. Num primeiro momento, os indi íduo imigrantes
determinaram suas prioridades e foram individua lmente e, ou, coletivamente construindo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


166 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

novo conceito de uso e manejo do solo em suas pequenas comunidades, cons ide rando as
condições que lhe eram di poníveis.
Por m, logo hom e pressão por novos espaços de terra, por parte dos indivíduos filhos
dos imigrantes colonizadores, fruto da alta taxa de crescimento demográfico. Por causa de
o trabalho agiicola ser predominantemente com base na força de tração humana e, ou,
animal, fanúlias que dispunham de maior número de pessoas para trabalhar nas lavouras
se sobrepunham às outras, de pequeno contingente humano. A questão cultural também
contribuiu para a pressão de ocupação de novas terras. Por tradição e dever de consciência,
os pais procuravam deixar uma porção de terra aos seus fill1os. No entanto, somente um
deles, geralmente o mais novo, continuava a morar com os pais após o casamento, com sua
nova fanúlia. Fatores como esses contribuíram para a população brasileira residente no
meio rural decrescer de 55 % em 1960 para ao redor de 12 %, em 2010.
A pressão por novas terras no Brasil provocou e está ainda provocando: as invasões e,
ou, ocupações de terras consideradas improdutivas pelos agricultores, os quais não dispõem
de propriedade agrícola - essas ocupações ocorrem normalmente em áreas próximas ao
local de origem desses indivíduos ou, no máximo, dentro do mesmo estado; e a busca de
novas fronteiras agrícolas, por produtores individua.is, às vezes em locais cultural, física e
climatologicamente muito diferentes dos de origem daqueles indivíduos (outros estados
ou mesmo outros países). Nessa situação, é comum um produtor vender sua pequena
propriedade, localizada em uma região onde a terra está muito valorizada, mas com
problemas para emprego intensivo de motomecan.ização e, com o mesmo dinheiro, comprar
uma fazenda com área maior em uma região onde a terra a.inda não está muito valorizada,
mas geralmente com uma topografia ma.is propícia ao uso intensivo de máquinas. Nessa
condição também podem ser enquadrados os grandes empresários, banqueiros, políticos
e outros que adquirem consideráveis frações de terras com recursos próprios ou com
incentivos fiscais ou governamentais para uso em atividades agropecuárias.
Em razão de fatores como crédito subsidiado e juros abaixo do mercado, grandes
empresas, bancos, políticos e empresários nacionais ou estrangeiros passaram também
a investir em terras e na agropecuária, constituindo as empresas rurais ou empresas
patronais. Administradas por gerentes (engenheiros-agrônomos, técnicos agrícolas ou
simples capatazes) e empregando trabalhadores assalariados, muitas dessas empresas
cumprem a função social delas, manejando convenientemente os recursos naturais, gerando
renda e testando e incorporando novas tecnologias. Diferenciam-se das propriedades
familiares por seu grande poder de pressão com os órgãos governamentais na captação
de incentivos e, ou, financiamentos públicos, na renegociação de dívidas e na execução de
obras de infraestrutura nas propriedades ou na região onde se inserem. Possuem acesso
fácil à imprensa e à assistência técnica, especialmente aquela prestada por empresas
multinacionais de grande porte e, de modo geral, todas mecanizadas e com mão de obra
qualificada para as diferentes funções agropecuárias.
Para melhor entendimento da trajetória da mecanização agrícola ao longo dos anos de
agropecuária no Brasil, podem-se distinguir algumas fases relacionadas a aspectos de uso
e manejo do solo e da água.
A primeira fase consistiu de mecanização incipiente, a.inda no século XX, com a chegada
dos colonizadores. Caracterizou-se por falta de assistência técnica e estudos locais que
pudessem contrapor às experiências trazidas pelos agricultores imigrantes dos seus locais
de origem. O manejo do solo em uso agrícola resultava em degradação, principalmente por

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA: UM COMPONENTE ESSENCíAL DO MANEJO .. . 167

ca usa da derrubada da vegetação ex ís tent do emprego de q ue imada . Essa d gradação,


no entanto, era compensada, em parle, pelo ba ixo grau de mobilização do olo, em
razão de uma pobre e incipiente mecanização, grande div r ificação na exploração de
culturas e animajs e pela rotatividade das á reas exploradas por ca usa da inexistência o u
dificuldade de aquisição de insumos quím icos. A mecanização e restringia à ferramentas
que empregavam ene rgia humana e anima l, como machados, enxadas, foices e pequenos
arados e grades tracionadas por animais.
Numa fase seguinte, iniciada por volta da década de 1930 a 1950, o solo foi manejado
já com utilização mais intensiva de tratores, sendo muitos desses importados. O manejo
agrícola predominante consistia de alto grau de mobilização do olo, sem a devida
importância à cobertura do solo. Caracterizou-se pela continuação do emprego do fogo
para manejo da biomassa cultural residual e utilização intensiva de preparo do olo
com arados e grades niveladoras de discos. A inexistência ou dificuldade de aquisição
de herbicidas pós-emergentes e de semeadoras-adubadoras capazes de traba lhar e m
solos com biomassa cultural residual na s ua s uperfície, a tradição e a experiência dos
agricultores adquirida na fase de exploração colonial podem, hoje, ser apontadas como as
principais causas da adoção desse tipo de manejo. O agrônomo estava preocupado com o
aumento da produtividade de culturas específicas corno o da s ucessão trigo-soja na Re 0 j ão
Sul do Brasil. Porém, essa mesma tendência foi verificada em outras regiões do país.
extensão rural atuava por culturas específicas, na demarcação e construção de terraço ,
na melhoria da fertilidade química do solo e no controle, a qualquer preço (especialmente
ambiental), das pragas e doenças, com utilização de agroquímicos muito tóxicos, muitos
deles atualmente já proibidos. Houve considerável e momentânea melhoria na qualidade
de vida dos agricultores e na lucratividade da lavoura por causa de juros baixos, utilização
de insumos químicos e possibilidade de aumento da área semeada por compra subsidiada
de novos tratores, máquinas e implementas. O controle da erosão era efetuado por meio
da técnica do terraceamento, especialmente o de base estreita (aproveitou-se os arado
de discos disponíveis em grande quantidade para executar essa tarefa), pois o solo ainda
possuía razoável estrutura física, bem como não se sabia se as perdas de solo ocorrentes
eram consideráveis, pois a pesquisa nessa área de conhecimento ainda não havia obtido
essas quantificações.
Numa fase posterior, por volta de 1960 a 1980, o manejo do solo se caracterizou por
intensificação no uso de tratores, máquinas e implementas agrícolas e redução no grau de
mobilização do solo, porém sem ainda atribuir a devida importância à cobertura do solo.
Essa fase foi caracterizada pelos mesmos aspectos da anterior, com diferença significati a
apenas na forma de realizar o preparo primário do solo: ao in és de arados e grades
aradoras, passou-se a empregar escarificadores. Isso proporcionou considerável redução
na quantidade de horas exigidas para efetuar o preparo primário do solo. Isso aJeu em
especial para regiões das novas fronteiras agrícolas da época, corno a do Cerrado, que em
razão de grandes áreas agrícolas necessitavam que o preparo primário fosse executado no
menor período possível. Mesmo com algumas modificações, as semeadora ~adubadoras
continuavam a apresentar problemas quando remanescia razoável quantidade de biomassa
de culturas anteriores sobre a superfície do solo, razão pela qual as gradagens niveladora
continuavam a ser efetuadas, reduzindo a cobertura e aumentando o grau de de agrega ão
mecânica do solo. Em situações críticas, corno a alta quantidade de biomassa residual, 0
fogo continuava a ser empregado, pois o trabalho dos escarificadores era prejudicado u
impossível por causa dos embuchamentos causados pela palha. Os terraços, agora de bas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


168 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

média ou larga, continuavam a ser difundidos como o principal método conservacionista a


er ad tado para conb·olar a ero ão, e o mercado de máquinas já dispunha de equipamentos
espe ífico (t rraceadores) para construí-los. Os extensionistas e pesquisadores
continuavam a enfocar culturas específicas para aumentar sua produtividade.
Por , olta dos anos 1990, após intenso trabalho da pesquisa e extensão e das
indústrias de máquinas e implementos, o fogo foi praticamente abolido da maioria das
la ouras produtoras de grãos, porém continuando seu uso ainda na lavoura canavieira,
antecedendo a colheita manual. Os escarificadores e as semeadoras-adubadoras foram
dotadas de discos cortadores de palha, evitando ernbuchamentos. Nos escarificadores,
foram acoplados rolos destorroadores, que podiam substituir, ao menos parcialmente, o
trabalho de destorroamento e nivelamento do solo realizado pelas grades niveladoras. As
no as áreas incorporadas ao processo produtivo de grãos, no Centro-Oeste, por exemplo,
já eram manejadas por essa fom1a de preparo do solo. Como resultado de estudos e de
pesquisas em vários locais, foram introduzidas diversas espécies de culturas de cobertura
para adubação verde e, ou, produção de grãos no outono/inverno. A inclusão de plantas
de primavera/verão, como o milho, no plano de rotação de culturas, foi importante, pois
além de sua grande produção de biomassa (parte aérea e sistema radicular), constituiu-
se em fonte de renda alternativa aos agricultores. O controle integrado de pragas e
doenças foi amplamente divulgado. Os insumos químicos ainda predominavam. Quanto
aos aspectos conservacionistas, o manejo do solo passou a ser dirigido a glebas de terra
ou microbacias. Em razão do adiantado estado de degradação em que se encontravam
alguns solos de lavouras cultivadas com culturas anuais, foi disseminada a ideia e prática
de controlar a erosão por meio de terraços com grande capacidade de retenção de água,
denominados vulgarmente de murundus. A semeadura direta, após uma fase inicial
bastante problemática, começava a ser implantada como preparo conservacionista nas
propriedades de agricultores financeira e tecnicamente mais bem aquinhoados. Porém, as
semeadoras-adubadoras utilizadas em semeadura direta ainda eram adaptações feitas a
partir das convencionais e realizadas por agricultores pioneiros no sistema, ou importadas.
A partir de então, houve uma fase de grandes investimentos da pesquisa, da extensão
e de fabricantes de máquinas, em especial as de semeadoras e plantadoras para uso em
semeadura ou plantio direto, e esse passou a ser o tipo de preparo ou de manejo do solo mais
recomendado pelos técnicos, não somente para culturas produtoras de grãos, de sequeiro
e irrigadas, mas também para frutíferas, hortaliças, pastagens, cana e outras. Atualmente,
as semeadoras-adubadoras, plantadoras-adubadoras e transplantadoras-adubadoras
podem, respectivamente, semear, plantar, transplantar e adubar, nas mais variadas
condições de tipos de solo, condições de superfície e subsuperfície, teores de água no solo,
profundidades e velocidades de trabalho, sem a necessidade de preparo prévio algum.
As condições de cobertura propiciadas por biomassa residual de culturas anteriores e por
culturas empregadas para cobertura de solo ainda não são suficientes para um controle
efetivo das invasoras, sendo necessárias aplicações de herbicidas. O principal motivo, em
muitos casos, não era como poderia parecer, num primeiro momento, a competição por
nutrientes, luz ou água, mas os prejuízos causados por ocasião da colheita mecanizada,
efetuada pelas colhedoras de modo geral (perdas na colheita e redução da sua capacidade
operacional). A sociedade, especialmente a urbana, estava vigilante em relação ao uso dos
recursos naturais, bem como aos impactos ambientais advindos da agropecuária, corno a
geração de sedimentos, dejetos orgânicos e substâncias químicas, causando a poluição das

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - M EC /\Nl ZAÇÃO A GR Í COLA: UM COM PONENTE ESSENC[AL DO MANEJO ... 169

éÍgua el e su perfície e sublcrrâneél. Ess,1 cobrnnça levou e tem levado a estud os pa ra c1va liar
a e fi cácia da se meadurél di reta sobre aquelas variáveis.
Em resumo, esperava-se e a inda se es pera que na s clua úllimc1s fase<; de manejo e
conservação d o solo e da água anteriormente citada '> sejam contemplados reflorestam nto,
adubação verde, maté ri a orgâ nica, pro teção ela fauna e flora, cobertura do olo, semeadura
direta, a provei tamento racio na l de dejetos, contrai alternati vo de prJgas e doenças,
saneamento bás ico no me io rura l, cuidad os com a água e assocíc1tivis mo. Por meio
de um processo participa ti vo englobando governos, técn icos, entid ades d e ensi no e de
pesquisa, sociedade urbana, empresas pú blicas e pri va das e agricultores, poderá se chega r
a uma agricultura mais limpa, menos poluidora e dema ndadora de energia, com mc1ior
lucratividade líqujda financeira aos que a pra ticam e q ue pos a ga rantir a s uste ntabilid ade
produtiva ao solo, indefinidamente.

COMPATIBILIDADE ENTRE MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA E


MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Houve, comprovadamente, no Brasil, aumento na produtivid ade fís ica, quilos de


produto produzido por área, da maioria das culturas, especia lmente as a nua is produtoTas
de grãos, onde a mecanização agrícola tem importante papel. Há, no entanto, ajnda grande
disparidade ou heterogeneidade na produtividade dessas cu lturas. A produtividade
mérua e mesmo as produtividades máximas ainda estão longe d o teto ou do potencial
de produção já atingidos pelos organismos de experimentação e, mais longe ainda,
dos recordes mundiais possíveis de serem alcançados. Mesmo com a ampla difusão da
semeadura direta, notadamente nos últimos 10 anos, a produtividade física da maioria
das culturas ainda é muito semelhante às obtidas no sistema convencional, em que pese
ser o primeiro manejo citado, mais rigoroso do ponto de v ista de conservação do olo e
da água e de uso de insumos, máquinas e impleme ntas agrícolas. Um a q uestão também
fundamental parece ser a relação entre produtividade física de deterrrunada la oura e
sua lucratividade financeira. Nem sempre uma lavoura altamente produti va (kg ha·1) é
também, proporcionalmente, altamente lucrativa financeiramente (RS). Em parte, e sa
afirmação pode ser explicada pela grande ins tabilidad e econôrruca e m o ne tária vivenciada
há muitos anos no Brasil e, mais recentemente, em todo o mundo. Tam bém há nece sidade
de se aprofundarem estudos para detalhar melhor a relação en tre a energia em pregada
(insumos, trabalho, máquinas etc.) e a energi a resultante (grãos, bio massa residu a l etc.) do
processos produtivos, que deveria, pelo menos, não ser negativa.
Sob o ponto de vista de relações entre o manejo conservacio rus ta do solo e da água e
a mecaruzação, há certa incompatibilidade natural. Os a tributos ou as condições física do
solo importantes pai-a facilitar a mecanização agrícola tratorizad a não são os me mos para
bom manejo e conservação do solo e da água.
Do ponto de vista de mecanização, o solo deve resis tir às deformações por aplicação
de cargas e tensões e proporcionar tração m ecànica aos tra tores agrícolas, para que corra
ad equada mobilização do solo. Assim, irá resistir a possíve is danos na su a e trutura e e. igi.r
o menor esforço de tração e dispêndio de energia nas o perações agrícolas trato rizadas.
Em parte, a semeadura direta cumpre esses requisitos, d esde que a carga .:iplícada sobre

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


170 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

o olo na op raçõe agrícolas, especialmente pelos rodados dos tratores, colhedoras e


outra máquinas, não excedam à sua capacidade de suporte, ou seja, sua pressão de pré-
consolidação. Para proporcionar adequada tração mecânica aos tratores, o solo deve ter alta
consolidação ou compactação, ao menos na camada superficial, baixa rugosidade superficial
e quantidade de biomassa cultural residual sobre o solo e teor de água adequado. Nesse
quesito, a semeadura direta já não se adequa totalmente, em especial quanto à biomassa
cultural, que nessa técnica se recomenda ser a maior e mais diversificada possível. Já
para proporcionar adequada mobilização, o solo deve apresentar baixa consolidação ou
compactação, teor de água intermediário e média a baixa quantidade de biomassa cultural
residual superficial. Verifica-se do exposto que os requerimentos físicos do solo para obter
elevada capacidade de tração mecânica não são os mesmos para alcançar boa mobilização
do solo. Igualmente, há incompatibilidade entre os requerimentos físicos do solo para bom
manejo e conservação do solo e da água e os requerimentos para a mecanização agrícola
tratorizada. Para bom manejo conservacionista do solo e da água seriam interessantes
manejos de solo com condições físicas exatamente contrárias às citadas, ou seja, maior
cobertura do solo e, ou, rugosidade superficial e menos compactado. Isso garantiria
proteção contra o impacto direto das gotas da chuva, causa fundamental do processo
da erosão hídrica, e satisfatória taxa de infiltração de água no solo. No entanto, diversos
trabalhos de pesquisa com participação de empresas fabricantes de tratores e outras
máquinas agrícolas estão trabalhando para conciliar esses requisitos. Uma das linhas de
pesquisa mais relevantes nesse sentido é em relação ao tipo de pneus usados, específicos
para o manejo de solo utilizado. Como exemplo, em semeadura direta, um pneu que seja
capaz de propiciar tração compatível com a potência do trator, sem ocasionar compactação
(não exceder a capacidade de suporte do solo) e não ter seu desempenho interferido pela
quantidade e diversidade de biomassa cultural sobre a superfície do solo.

PROBLEMÁTICA E SOLUÇÕES RELACIONADAS À


MECANIZAÇÃO E MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E
DA ÁGUA NO BRASIL

Contextualização geral
A agricultura atualmente praticada no Brasil está, em grande parte, alicerçada
na utilização intensiva de máquinas e implementos, em que a fonte de potência são os
tratores de rodas. Assim, relacionar máquinas com qualidade ambiental e manejo dos
solos, especificamente máquinas que de alguma forma mobilizam o solo, é tarefa que exige
reflexão sobre sua evolução histórica, desde sua introdução nas Regiões Sul e Sudeste
e recente e importante expansão para a região conhecida corno MATOPIBA (Estados
do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia). A utilização de campos naturais e
de áreas com vegetação de cerrado com agricultura pode ser feita com algum grau de
mobilização do solo (arados, grades, escarificadores) ou com uso de semeadura direta.
As áreas já em exploração com agropecuária podem ser primeiramente divididas quanto
ao grau de mobilização, em razão da utilização com culturas anuais ou plurianuais. Nas
culturas anuais, tem-se a possibilidade do emprego de equipamentos que promovem os
mais diferentes graus de mobilização, em extensão e profundidade no solo. Nas culturas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECANIZAÇÃO A GRicOLA: UM COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO .. · 171

plurianuais, faz-se menção aqui aos cultivas em linhas de frutíferas em geral, café e esp cies
flores tais, com restrição de mobi lização do so lo, no mí.nimo, próx imo s linhas de plantio
e, em a lgu mas situações, também nas entre linhas. Cada fo rma de uso e, ou, mcorporaç5o
de á reas à atividade agropecuária necessita de determinadoc; perfis de conjun tos
motomecanizados (tratores, máq uinas e imp lementas) e de processos ope racionais
relacionados à mobilização do solo. Dependendo do conjunto motomecanizado e do
processo operacional empregado, a mobili zação imposta ao solo implicará em maior ou
menor impacto ambiental. De modo geral, pode-se dizer que a mobi lização do solo, com
a finalidade de utilizá-lo em agropecuária, produzirá impacto no ambiente por ca usa da
acelerada decomposição microbiana ou perda da ma téria orgân ica por erosão, da mi tura
de camadas de solo com diferentes condições físicas, químicas e biológicas, das alterações
estruturais de diferentes níveis, da exposição do solo à radiação solar e energia erosiva de
chuvas e ventos, da exposição do solo ao tráiego e da pressão ca usada pelo peso de rodados
de tratores e máquinas, bem como dos componentes ativos das máquinas sobre e no solo.
A magnitude desses impactos depende do grau de mobilização do solo em p-rofundidade
e extensão, tipo de preparo e, ou, semeadura, orientação em relação à declividade do
terreno (em nível ou aclive/ declive), tipo e tamanho da fonte de potência, velocidade de
trabalho, estado de consistência do solo no momento da s ua mobilização, regulagens e
estado de manutenção das máquinas e equipamentos. Do ponto de vista histórico, foram
diferentes os graus e tipos de mobilização do solo proporcionados pela agropecuária em
sua evolução ao longo do tempo. Em grande parte das vezes, esses eq uipamentos foram
utilizados em áreas sem aptidão agrícola para lavouras com culturas anuais, ou seja,
na ausência de qualquer planejamento em relação ao manejo conservacionista do solo.
Hoje, na prática, continuam-se utilizando os mais diversos métodos de preparas do solo,
desde os altamente mobilizadores até aqueles que promovem a mínima mobilização
necessária para a prática da agricultura. Para tal, estão disponíveis no mercado nacional
diversos modelos de semeadoras, semeadoras-adubadoras, plantadoras-adubadoras e
transplantadoras-adubadoras. Essas máquinas estão projetadas para trabalhar nas mais
variadas condições, corno tipos de solo, condições de superfície e subsuperfície (palha,
camadas ou locais compactados, raízes vivas ou mortas, microdepressões), teores de água
no solo, profundidades e velocidades de trabalho, sem a necessidade de preparo prévio de
solo. Também existe a possibilidade de aquisição de máquinas de tamanhos e concepções
diferenciadas, adaptáveis a diferentes fontes de potência, como animais, rnicrotratores e
tratores.

Semeadoras-adubadoras para utilização em semeadura direta


No contexto da semeadura direta, a semeadura tornou-se uma operação com maior
relevância dentro do processo produtivo. Para isso, foi preciso uma mudança em termos
de máquinas adaptadas e capazes de desempenhar sua função perante a condição existente
nesse novo contexto de manejo das lavoUias. De acordo com Casão Junior et al. (2011),
o desenvolvimento em termos de mecanização, especificamente o desenvolvimento de
semeadoras voltadas à semeadura direta, foi urna fase fw1damental para a consolidaçao
dessa tecnologia no Brasil e que ocorreu principalmente entre 1980 e 1991, i.nic.iando pela
Região Sul. Atualmente se avalia a qualidade de semeadura não somente por fatores ligados
à distribuição vertical e longitudinal de plantas na linha de semeadura, mas também pela
eficiência no processo de semeadura e pelos aspectos voltados à conservação do solo,
à demanda de potência/ tração, de mão de obra e onerosidade da operação. Todavia, a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


172 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

eficiencia na semeadura direta volta- e principalmente na interação da semeadora com as


condi õ s de superfície do olo, o h·abaU10 realizado perante as adversidades encontradas
no ambiente e a mobilização de solo deixada na operação de semeadura.
a atualidade, após a consagração da semeadura direta no Brasil, a operação de
semeadura de uma cultura se tornou uma etapa mais representativa em termos de custo e
uso de máquinas dentro do processo produtivo. No manejo onde se preparava o solo por
meio de diferentes operações até deixá-lo pronto para semear, a semeadura representava
wi1a operação a mais, mas que correspondia a um percentual menor no total dos custos
de produção. No sistema atual, a semeadma realizada de fonna direta sobre o solo não
preparado se tomou mais complexa, onerosa e dispendiosa em termos de potência e consumo
de combustÍ\ el. A sua complexidade se deve à exigência de maquinaria especializada, em
que as semeadoras-adubadoras fazem mais do que dosar sementes e adubo e alocá-los
no solo; precisam fazer o preparo do sulco de semeadura, a fim de garantir as condições
necessárias ao sucesso do processo de germinação, estabelecimento das plântulas e, com isso,
atingir a população de plantas ideal para garantir potencial de rendimento. Por operar sobre
solo não previamente preparado, as semeadoras ganharam componentes capazes de realizar
o corte da biomassa cultural residual que se encontra sobre o solo ou ainda mecanismos
capazes de fazer um preparo mínimo no sulco de semeadura, para a adequada colocação das
sementes no solo. Esses mecanismos que equipam semeadoras para operar em semeadura
direta requerem mais potência do que quando trabalham em solo preparado. Como o
conjunto todo se toma mais demandante em termos de tração e potência, consequentemente
o consumo de combustíveis por área aumenta. Porém, se for considerado o consumo total
de combustível para deixar uma área semeada, a semeadura direta necessita de menor
quantidade total desse insumo do que áreas com preparo convencional, como aração ou
gradagem pesada, gradagens niveladoras e semeadura, e mesmo com uso de preparo/
cultivo mínimo ou reduzido, como escarificação, gradagem e semeadura. Na semeadura
direta há ainda o desafio de se trabalhar com diferentes condições de superfície de solo com
a mesma configuração da máquina semeadora. Essas condições são geradas pelas plantas de
cobertura, que são adotadas no sistema de cultivo e rotações de cultura, residual de cultivas
anteriores, tráfego de máquinas e animais, alterando as condições de superfície e, muitas
vezes, deixando o solo sob determinado grau de compactação.
Especificamente em relação às semeadoras-adubadoras, a mobilização efetuada
por essas máquinas difere muito em razão dos fatores já relacionados: tipo de solo, tipo,
quantidade e forma de distribuição de biomassa cultural na superfície e de raízes na
subsuperfície, presença de camadas ou zonas de solo compactadas, teor de água no solo,
profundidade e velocidade de trabalho, textura do solo. O grau de mobilização também
pode ser influenciado pelo tipo e pela configuração de sulcadores para o preparo do sulco
de adubação e semeadura, que a máquina está equipada. Sulcadores de discos simples
podem variar quanto ao diâmetro e à angulação, em relação ao deslocamento. Os discos
duplos, além dessas possibilidades, podem ter os discos de mesmo diâmetro ou não e
com posicionamentos diferentes de um em relação ao outro. Os sulcadores do tipo facão
ou cinzel podem variar quanto ao formato construtivo das hastes e ponteiras. Em relação
às hastes, as principais variações referem-se ao ângulo de inclinação (fixo ou variável),
à espessura, à largura e ao comprimento (regulagem de profundidade), variam ainda a
espessura e o ângulo de ataque com o solo. A qualidade construtiva do sistema haste/
ponteira também é fator diferencial, mais especificamente no que se refere à aderência de
solo e, ou, de raízes no mesmo, o que pode alterar totalmente sua forma de atuação no solo,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - M EC /\NIZ/\ÇÃO A GRÍCOLA : UM COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO .. · l ?)

co mo dé.1 gcomc lrir1 cio s ul o íormiJcl o, inl •rf •rind o cliret<.1m nte na m obilizaç5o 'expu ls,1o
d e solo do s ulco d e meacluril. A combinação d clifer ntes tipos el e hac; le e ele ponte iras
tem e feito no grau de mobi lização do solo na linhil el e sem ad ura / planti o. s a ltera ções
ma is significa ti vas refere m-se ao fo rmato cio s ulco, volume de solo mobilizado, vol ume d e
solo expulso do sulco fo rmado e consequ ente gr au d e recobri mento d a bio massJ resid ua l
adjacente a ele. Os diferentes graus e formas de mobilização d o solo, promovid os pelos
sulcadores que eq uipa m as semeadoras-adubadoras de semeadurJ direta, podem ter
re fl exos principalmente sobre emergência da cu ltura semeada, estab lecimento d e pla_n ta
invasoras, dis tri bu ição e, ou, incorporação de corretivos e nutrientes ao longo d o perfil d o
solo, a lterações na disposição e no teor de e-orgâ nico do solo e exposição do solo mobil iZéJdo
a agentes erosivos. Por efeito d o impac to das gotas da chu va, o solo mobili zado d o su lco
pod e ser desagregad o, rea rra njado e depositado no seu interior, fo rmando-se selo e, ou,
cros ta, que pode diJicultar ou mesmo impedir a emergência da cultura semeada. A ex pu l ão
d e solo e o recobrimento da palhad a adjacente ao su lco pod em facilitar a germinação das
sementes d e invasoras e favorecer a degradação microbiana da palhada recoberta. Entre a
configurações possíveis d e sulcadores d o tipo haste, também são consid er ad os a demanda
d e tração e o cons umo energético.

Interação semeadoras-adubadoras com o solo


Na interface semeadora-solo é que oco rrem as principais relações que determinarão
a e ficiência da semeadora em se contrapor às condições de su perfície proporcionada por
diferentes plantas de cobertura, tráfego d e m áquinas e variabi lidade na cobertura vegetal
deixada pela presença dos anima is, pela su a forma de explorar a pastagem, ou na forma
de distribuição resultante da colheita. Nesse contexto, perdem relevância aspectos de
qualidade de semeadura de terminad os por s is te mas d osad ores de sementes e fertilizante
e entram em cena aqueles responsáveis pelo p repar o localizado do solo e formação do sulco
de semeadura. Sendo assim, na interface sem ead ora-solo, a tua o disco de corte d a biornas a
cultural residua l, sucedido por sulcador do tipo has te ou mesmo de discos desencontrados,
que também podem interferir na deposição de sementes no s ulco, rodas compactadoras e
limitadoras de profundidade e, às vezes, pequenos d iscos d ispostos em ângu lo com a linha
d e deslocamento da semeadora, responsáveis pela aproximação de solo, que é expulso do
s ulco pelo s ulcador. Esses são os componentes da linha de semead ura que exercem ação
dire ta no solo e que estão ilus trad os nas figuras 1 e 2.
O disco de corte tem a função de cortar o ma terial vegetal que está sobre o solo,
seja esse previa mente dessecado, ainda verde ou até mesmo biomassa vegetal re idual
desprendido do solo ou da estrutura da planta. Essa ação, apesa r de parecer imple ,
tem grande relevância para o bom anda me nto da semeadu ra, pois ~e esse corte não for
realizad o de forma eficiente ocasionai-á amontoamentos e em buchamentos na semead ora.
Embuchamentos consistem em acúmulo d e ma terial vegetal p reso aos mecanismo e que,
com o movimento do conjunto tra tor-semead ora, também acaba agregando lo expo to
pe los sulcad ores (Figura 3). Com isso, forma-se um amontoado de olo e palhada, que
imped e o bom funcionam ento da semeado ra, resultando em paradas da máquina para
d esobs trução e, consequentemente, perd a d e rend imento operacional, irregularidade na
semead ura, fa lhas em razão das interru pções e da exposição de semente e fertil izantes na
superfície d o s u lco.

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


174 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

Figura_ 1. Linha de semeadura composta por (1) disco de corte de palhada; (2) sulcador de adubo tipo
discos duplos; (3) sulcadores de discos para sementes; (4) rodas limitadoras da deposição das
sementes; e (5) rodas compactadoras das sementes.
Fonte: Catálogo Baldan.

5
Figura 2. Linha de semeadura composta por (1) disco de corte de palhada; (2) sulcador de adubo
tipo facão ou sulcador fixo; (3) sulcadores de discos para sementes; (4) rodas limitadoras da
deposição das sementes; e (5) rodas compactadoras das sementes.
Fonte: Catálogo Baldan.

Na sequência ao disco de corte vem o mecanismo sulcador, que pode ser do tipo
hastes, muitas vezes conhecidas como facões, e são essas as maiores responsáveis por
mobilizar solo no sulco de semeadura. Como alternativa, a semeadora pode estar equipada
com discos duplos desencontrados, em substituição às hastes sulcadoras. Esses demandam
menos potência para serem tracionados, justamente porque mobilizam menor volume de
solo no sulco e por atuarem mais superficialmente. Pela forma como atuam, os sulcadores
do tipo discos duplos normalmente ocasionam menos embuchamentos, mas tem limitada

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECANIZAÇÃO A GRÍCOLA: UM COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO... 175

ca pacidade de dispor fe rtil iza ntes e m profunclidad s maior s. Em muitos casos, ão


utilizados preferencia lmente por produtor por tornar a op ração de s meadura men s
demanda nte em potência e, conseq uentemente, pode-se ganhar em capacidade operacional
e e m consumo de combustível. Já os sulcadores com maior ca pacidade de mobilizar o
solo, como as hastes ou facões, são empregados quando o solo encontra-se em um estado
de compactação mais severo, como aquele com intenso tráfego de máquina ou, no ca o
da integração lavoura-pecuária (ILP), de a nimais em pastejo. É justa mente na atuaç_ão
do mecanismo suJcador que o microrrelevo proporcionado pelo pisoteio animal é muito
importante, já que a mobilização do solo no sulco é essencia l em determjnado grau para
que o leito de semeadura seja adequadamente preparado.

Figura 3. Embuchamento de linhas de semeadora utilizada em semeadura direta.


Fonte: A Granja.

Os sulcadores do tipo discos duplos, que atuam na deposição de ementes,


também ajudam a fazer o preparo no sulco de semeadura, iniciado pelo d is o de corte
e, na sequência, pelo suJcador de adubo, mas em menor proporção. contribuição do
mecanismo responsável pela deposição das sementes (discos duplos) e dá mais no
auxílio à desagregação do solo dentro do sulco do que na mobi1ização primária, pois e
forem precedidos por hastes sulcadoras, essas promovem rompimento da estrutura do
solo, ocasionando blocos ou agregados de tamanho grande. Dessa forma, a passagem,
em sequência, dos componentes da semeadora ajuda a desagregar o solo em estrutur s
(agregados) menores, o que levará à melhor acomodação das semente (Figura -la), que
exigem bom contato com o solo para que as relações hídricas e de suprimento de o igêni
ocorram, garantindo a boa germinação e emergência das culturas (Figura -lb).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


176 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

Figura 4. Compactação do solo na linha de semeadma (a) e uniformidade do espaçam ento entre
plantas na linha sob em semeadma direta (b).
Fontes: Catálogo John De<>re e Embrapa (Cruz el ai., 2010).

Mobilização de solo em semeadura direta


Promover ou até mesmo falar em mobilização de solo em semeadura direta parece ser
contrassenso dentro das premissas dessa técnica. Isso porque nesse sistema se preconizam
não mobilizar o solo e mantê-lo coberto. Daí fica a pergunta: como e por que promover
mobilização (preparo) localizada do solo na operação de semeadura direta? O certo é que
é justamente nessa a úruca ocasião que se mobiliza solo, porém em pequena quantidade
e localizada no sulco de semeadura; e o conceito de semeadura direta preconiza que seja
feita a menor mobilização possível, somente a necessária para garantir a alocação de
sementes e fertilizante ao solo. No entanto, quando se configura uma semeadora com
hastes sulcadoras é por que, no mínimo, suspeita-se da existência de condições físicas de
solo inadequadas ao bom desenvolvimento das culturas. Nesse caso, a haste sulcadora vai
proporcionar maior mobilização de solo em relação ao mecanismo análogo (sulcador de
discos). Fatores como velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora, umidade
do solo, quantidade, tipo e forma de distribuição da biomassa cultural residual sobre o solo
também contribuem para maior ou menor mobilização e exposição de solo no sulco, em
semeadura direta (Conte et al., 2007).
A quantidade ou volume de solo mobilizado no sulco não é o problema, pois se usam
hastes sulcadoras justamente para essa finalidade. Porém, não é desejável que o solo mobilizado
seja exposto ou arremessado para fora do sulco (Figura 5). O solo mobilizado pelos órgãos
sulcadores deve permanecer no sulco de semeadura e, assim, fornecer as condições necessárias
ao bom crescimento do sistema radicular, principalmente na fase inicial do desenvolvimento
das culturas e daquelas mais suscetíveis a problemas físicos de solo, como a compactação (Conte
et al., 2009). Logicamente o volume de solo mobilizado em semeadura direta é bem menor
do que em preparas convencionais, onde toda a camada superficial é mobilizada. Porém, em
alguns casos, a quantidade de solo mobilizada em semeadura direta não é tão inexpressiva,
corno se pode pensar ou imaginar, ao menos para ser desconsiderada.
esse contexto, a equipe que atua em solos e mecanização agrícola da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Solos, tem desenvolvido pesquisas com
foco na relação solo-máquina, principalmente em semeadura direta e voltadas à interface
de semeadoras-adubadoras com o ambiente de semeadura (solo associado às condições de
superfície), demanda de potência e eficiência de mobilização de solo por hastes sulcadoras
em semeadoras-adubadoras preparadas para operar em semeadura direta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - M ECANI Z A ÇÃO A GRÍCOLA : U M COM PON ENT E E SSENC I AL DO MANEJO .. . 177

Figura 5. Mobilização excessiva do solo provocada por mecanismos sulcadores d e semeadoras


utilizadas em semeadura direta de milho safrinha sobre soja, no norte d o Paraná.

A demanda de potência de hastes sulcadoras pode ser relacionada ao estado


de compactação do solo e tem sido usada, inclusive, para mapear áreas em busca da
identificação de regiões com problemas físicos de solo, como em estudo desenvolvido por
Adamchuk et al. (2006). O uso dessa variável com esse foco está embasado na resis tência
da estrutura do solo ao rompimento por uma haste sulcadora em ação. Assim, consegue- e
medir a força de tração demandada. Na figura 6, verifica-se maior demanda d e esforço de
tração onde o solo é mais compactado.

Figura 6. Distribuição espacial da força de tração medida em haste sulcadora a aliada na emeadura
direta de soja, em três profundidades de trabalho: (a) (6 cm), (b) (9 cm) e (c) (12 cm).
Fonte: Adaptado de Conte (2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


178 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

A quantidade de área superficial do solo que é mobilizada em semeadura direta é


ariável e dependente principalmente de dois fatores: o mecanismo sulcador empregado e
o espaçamento entrelinhas da cultura que está sendo semeada. Em espaçamentos menores
que 0,5 m, como empregados na cultura da soja e atualmente também no milho, que
utilizam expressiva área cultivada no Brasil, a mobilização do solo em semeadura direta
pode facilmente chegar a 50 % da superfície. Aqui é importante definir o que é exatamente
superfície mobilizada, pois pode haver confundimento com solo jogado para fora do sulco.
Para saber a área mobilizada na linha semeadura, remove-se o solo exposto e o mobilizado
no sulco. Assim, não se confunde com aquela porção adjacente coberta por solo jogado
para fora do sulco, pois nessa parte não ocorreu mobilização pelos sulcadores.
Na quantificação da área de solo mobilizada em semeadura direta, mede-se a seção
transversal do sulco de semeadura mobilizada pela passagem da haste sulcadora (Figura
7a), medida em cm2 ou m 2, por meio do uso de um perfilômetro de varetas (Figura 7b). Com
a distância entre linhas, obtêm-se quantos metros lineares de sulcos são feitos por hectare.
Multiplicando a área transversal de solo mobilizado (m2) pelo total de metros de sulco (m)
de um hectare, obtém-se o volume de solo mobilizado (m3 ha-1), e assim se pode comparar
com a mobilização que ocorre em preparas convencionais de solo. Para exemplificar, foram
avaliadas semeaduras, onde o volume de solo mobilizado se aproximou de 400 m 3 ha-1 . Isso
à primeira vista pode parecer pouco, mas se comparar com um preparo de solo na camada
de O a 15 cm, que gera 1.500 m 3 ha-1, tem-se uma mobilização que corresponde a 27 %
na semeadura direta em relação ao preparo convencional. Com isso, tem-se uma técnica
(semeadura direta) que é taxada como não mobilizadora de solo, mas que, de fato, pode
causar uma significativa mobilização.

o
2
,...._
4 r
. .
-E
u
(l)
-o

6
8 ! •
~
-g 10 i i
..212
e
o... 14
16
18
Leituras a cada centúnetro
(a) (b)

Figura 7. Representação gráfica do perfil de mobilização de solo obtido após passagem do sulcador
tipo facão de semeadora utilizada em semeadura direta (a) e perfilômetro de varetas (b).
Fonte: Adaptado de Conte (2011).

Eficiência de mobilização em semeadura direta


É possível considerar que a mobilização em semeadura direta é realizada de forma
eficiente quando se obtém um sulco bem preparado, com mínima demanda de potência,
obedecendo ainda critérios de não expulsar o solo para fora do sulco e mantendo a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - M EC ANIZAÇÃO A G RÍ C OLA : UM OMPONENTE E SS EN C IA L DO MAN EJ O . .. 179

s uperfície d o solo coberta por biomassa cul tural resid ual. A ineficiência em termo de
m obili zação pode acorrer quando se d eseja fa zer uma has te s ulcadora estreita operar
profundamente, ultrapassando a profundidade crítica de trabal ho (Codwi n, 2007). Com
isso, se aumenta exponencialmente a demanda de potência, sem que ocorra proporciona l
mobilização de solo com incremento da profund idade de traba lho da haste. Esse fenô meno
já é conhecido em equipamentos de preparo de solo conservacion istas que usam hastes
como escarificadores e subsoladores. No entanto, em semeadura direta, se u tilizam hastes
sulcadoras bem mais estreitas do que aqueles equipamentos e, assim, a profun didade
crítica de trabalho é bem menor. É comum as ponteiras de hastes s ulcadoras empregadas
nas semeadoras possuírem em tomo de 2,5 cm, o que levaria a se a tingir a profun didade
crítica em sulcamente a partir de 13,0 cm, ou seja, cinco vezes a s ua largura. Em pesq uisa
recente foi criado o índice de mobilização de solo que serve exatamente para avaliar se uma
haste sulcadora perde sua eficiência à medida que opera em profundidades crescentes. Esse
índice leva em consideração a área de seção de sulco mobilizada e a profundidade m áxim a
de sulcarnento, e, com esses dados, se obtém a razão" centímetros quadrados mobi lizad os
na seção transversal do sulco por centímetro de profundidade". Se essa razão se mantiver
à medida que a profundidade de trabalho da haste aumentar, essa está sendo eficiente na
mobilização de solo. Do contrário, já teria atingido a profundidade crítica de trabalho e com
isso passaria a perder eficiência (Conte et al., 2011). Perda de eficiência, nesse caso, representa
dispêndio energético (mais potência para tracionar), pois não se obtém mobilização de solo
proporcional à profundidade de trabalho da haste sulcadora. Na figura 8 evidencia-se o
índice de mobilização de solo obtido para dois solos: um Latossolo, com aproximadamente
550 g kg·1 de argila; e um Argissolo, com aproximadamente 220 g kg- 1• Pode-se observar
que houve perda na eficiência de mobilização de solo pela haste sulcadora à medida que a
profundidade de trabalho ultrapassou 12 cm para o Argissolo, enquanto para o Latossolo o
decréscimo no índice de mobilização não foi significativo com o aumento na profundidade
de sulcamento até 18 cm (Figura 8).

• Argissolo R' = 0,83 •


14 O Latossolo R' = 0,18'"

13 o
12
,.,o
V
o
] 11
o
:E
o
6 10
<ll
"1::l
<ll

u 9
:;
,..s
8

6
4 6 8 10 12 14 16 18 20
Profundidade (cm)

Figura 8. Índice de mobilização de solo obtido para hastes sulcadoras de adubo de semeadoras
utilizadas em semeadura direta, operando em diferentes profundidades nas condições de
Latossolo e Argissolo.
Fonte: Adaptado de Conte et ai. (2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


180 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

Demanda de potência em sen1eadura direta


Em razão d a eliminação dos preparos de solo em semeadura direta, a operação de
emeadura tornou-se a mais demandante em termos de potência e consumo, só perdendo
para a colheita mecanizada. Porém, a potência exigida por hastes sulcadoras passou a ser
uma ariá, el correlacionável com atributos de solo e compactação e, dessa forma, passou
a ser usada como variá, el de investigação científica. A força necessária para tracionar uma
ferramenta de preparo no solo advém do somatório de forças resultantes da passagem do
sulcador pelo solo, com corte, quebra, deslocamento de solo e atrito solo-hastes (Hemmat
e Adamchuk, 2008). É possível quantificar a demanda de potência diretamente na haste
sulcadora por meio do uso de sensores elétricos instalados nela (Cepik, 2006) ou então
a demanda da semeadora como um todo, por meio de célula de carga instalada no
cabeçalho que une a semeadora ao trator (Toledo et al., 2010). Essa variável tem servido
para investigações em termos de variabilidade espacial de áreas, podendo apresentar boa
correlação com outras, como a resistência mecânica do solo à penetração. Para demonstrar
que essa é uma variável sensível a tratamentos impostos ao solo ou às culturas, na figura
9 é possível ver o perfil dos valores do esforço de tração obtido com hastes de semeadoras
operando em diferentes profundidades, em deslocamento, onde a trajetória percorrida
passa por diferentes intensidades de pastejo aplicadas à pastagem de experimento com
ILP e, consequentemente, influenciada pela quantidade de cobertura do solo por biomassa
cultural e, principalmente, a intensidade de pisoteio animal imposta ao solo. É possível
verificar picos de maior e menor demanda de força de tração e também a elevação dessa
com o aumento na profundidade de atuação dos sulcadores.

6 000 · -•. - 6 - • - 9 ···- ···12


.
5 000 ..

,..... :,·1
6 4 000 a\ . ~·
llJ
üí
e;;
..!:
e;;
3000
e:
a:l
V
1,.. 2000
o
l,i..

1000

o
o 500 1000 1500 2000
Número de leituras

Figura 9. Perfis de esforço de tração obtidos com um modelo de haste sulcadora de semeadora-
adubadora utilizada em semeadura direta atuando em três profundidades (cm), em experimento
com ILP, em Latossolo.
Fonte: Adaptad o de Conte et ai. (2011).

Na figura 10, encontram-se os valores de demanda de tração por hastes sulcadoras


de semeadora utiHzada em semeadura direta operando em diferentes profundidades (6 a
15 cm), em experimento com ILP com diferentes alturas de manejo da pastagem, obtidas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECAN I ZAÇÃO A GRÍCOLA: U M COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO , .. 181

por diferentes lotzições co m nnima is sobre o pa s to e, conseq uentem nte, maiore piso teios.
Observa-se que a demanda de trnção medida néls hastes é mJior qua nto mais bél ixa a altura
da pas ta gem, para as quatro profundidades ele tra ba lho t s tadc1 . Isso comprova que os
animais ca usam a lterações físicél s no solo, que faze m com que a va ri ável fo rça de tração
ava liada em hastes sulcadoras de semeadoras aumente, mesmo m profundidade. Com
isso, demons tra-se que essa pode ser urna va riável usada para mapea r impc1ctos de c1n i~ais
nas lavouras. o entanto, as alterações que são diagnos ticadc1s po r meio do esforço m~d1do
na haste não necessa riamente representam impactos que podem se ex pressé) r na qualtdc1de
da semeadura e na produtividade e sustentabilidade do s is tema em q uestão, no caso a ILP.

-1000
X 15cm À 1 2cm
3500
~ 300() ~ = 187R -22, "\l •• x
(lJ
ví R- =íl,9K-l
i 2500
~
o
y= 2557 -1~, -x
1,...,.
,:-::; 2tXJO R· = 0,989
<O
L,

f-
(lJ
1500
■ ■ ■
v= l-10-l -5, 7-x
v
(;;
■ ■ R' ~ 0,9-IQ
1000
...
V
o
I.J,.
500
♦ ♦
• •
y = T27,5 -5,.38-l •x
R~ = 0,8fV
o
o 20 -W 60
Alturas de Pasto ( m)

Figura 10. Esforço de tração em hastes sulcadoras operando em quatro profundidades em experimento
com ILP, com diferentes alturas de manutenção do pas to.
Fonte: Adaptado de Conte et ai. (2008).

Sentido da operação de semeadura


A possibilidade de implementar a semeadura direta no sentido do declive é também
um aspecto considerado por parte de produtores e, inclusive de técnicos, com o intuito
de obter maior capacidade operacional dos conjun tos trator-semeadoras. Em ituações de
utilização de su lcador de adubo do tipo facão, cujo formato implica em elevado olume de
solo mobi lizado e em expulsão de solo do su lco fo rmado, combinado com baix.1 cobertura
residual na área semeada, podem-se ter a ltas taxas de perda de solo por ero ão, mesmo
em semeadura direta. Deve-se lembrar que em muitos casos não é uma o pção a escolha
do sentido da operação. Áreas com topografia muito irregular não permitem fazer as
operações mecanizadas sempre em nível e, dessa forma, em a lgum local do talhão o sentido
das linhas é paralelo ao declive, o que favorece principalmente a erosão do o lo. Pouco
trabalh os científicos são encontrados abordando esse aspecto bastante prá tico e u ual na
realidade da agricultura brasileira, principalmente onde a topografia é meno plana e
onde predominam propriedades com pequena e média área agricultá\'el. o quadro 1
é possível verificar o comportamento de sulcadores de adubo tipo has tes e de discos de
uma mesma semeadora-adubadora operando em condição de acli e e declive de 7 ''ó, com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


182 RENATO LEVIEN & OSMAR CONTE

variávei d máquina, solo-máquina e de planta em razão do sentido de d eslocamento da


peração de em adura direta (Levien et al., 2011). Neste estudo, foi possível observar que
as ariá, eis envol endo o desempenho do conjunto motomecanizado foram favorecidas
quando o s ntido da operação foi a favor do declive, com maior capacidade operacional,
menor demanda de potência e, consequentemente, menor consumo de combustível, sem
prejuízo para o desempenho produtivo da cultura (milho). No entanto, no caso de uma
operação em lavoura, é pratican1ente impossível realizar toda essa em um único sentido;
o que de fato acaba ocorrendo é uma compensação no consumo de combustível, pois
como parte da área é trabalhada no sentido do declive, o restante tende a ser no aclive
e com isso a resultante é um equibôrio, pois o que se economizou na descida é gasto na
subida. Porém, existe uma implicação prática do ponto de vista da conservação do solo e
da água. Os sulcos de semeadura orientados a favor do declive podem predispor o solo a
agentes erosivos, como a enxurrada. Os sulcos orientados a favor do declive favorecem o
escoamento da água (Figura 11), enquanto se estivessem orientados em nível promoveria
a retenção dela. O mesmo problema pode ser ocasionado pela patinagem dos rodados
tratórios, já que, como pode ser observado no quadro 1, essa foi bem superior quando o
conjunto trator-semeadora operou em aclive do que em nível ou em declive. A remoção
da biomassa cultural e os rastros deixados na superfície do solo, originados por patinagem
dos rodados de tração acima do tolerado, também podem favorecer o escoamento de água
nesses locais da lavoura.

Figura u. Operação de semeadura direta realizada no sentido do aclive e declive da lavoura.

As considerações aqui relatadas, relacionadas a semeadoras-adubadoras, por exemplo


para semear milho, soja, feijão, aveia, arroz, trevos, sorgo etc., também são válidas para
plantadoras-adubadoras, como para plantar batata e cana, e transplantadoras-adubadoras,
para transplantar fumo, frutíferas e espécies florestais. Para cada situação e condição de
trabalho, seja essa semeadura, plantio ou transplantio, devem ser realizadas as regulagens
necessárias, porém diferenciadas, em razão das variações quanto a tipos e teores de água
no soJo, graus de compactação, presença e forma de distribuição de biomassa residual,
velocidades de operação, configuração dos componentes ativos, entre outras.

N 1

MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA


VII - MECANIZAÇÃO A G RÍCO LA : UM COMPONENTE E SSENCIAL DO MANEJO . .. 183

Quadro 1. Va ri áveis determinadas com semeadora-a du bado ra ele milho equipa d <1 co m
dois tipos d e s ulcadores e ope ra ndo e m aclive e declive

Sentido de Tipos de s ulcador


des locamento Hastes Disco duplo Médias
Capacidade operaciona l de campo teórica (ha h·')
Em declive 2,064 2,132 2,09 a
Em aclive 1,876 1,964 l, 20 b
Médias 1,970 B 2,049 A 2.009
3
Volume de solo mobilizado (m ha·')
Em declive 100,6 55,0 77,8 a
Em aclive 107,7 60,2 83,9 a
Médias C04,1 A 57,6 B 0,9
Força de tração na barra de tração (kl
Em declive 9,60 7,23 ,42 b
Em aclive 12,48 9,66 11,07 a
Médias 11,04 A 8,45 B 9,74
Força de tração na barra, por seção de solo mobilizada ( · crn·1)
Em declive 106,0 146,1 126,1 b
Em aclive 128,8 178,3 153,6 a
Médias 117,4 B 162,2 A 140,0
Potência m édia na barra de tração (kW)
Em declive 15,30 11,89 13,59 b
Em aclive 18,06 14,65 16,35 a
Médias 16,68 A 13,27 B 14,97
Potência operacional específica (kW h ha·1)
Em declive 7,41 5,58 6,50 b
Em aclive 9,63 7,46 ,55 a
Médias 8,52 A 6,52 B 7,.52
Consumo operacional de combustível (L ha·1)
Em declive ~86 ~37 ~62b
Em aclive 7,71 6,51 7,11 a
Médias 5,78 A 4,94 B 5,36
Consumo de combustível por volume de solo mobilizado (mL m· 1)
Em declive 38,6 61,3 50,0 b
Em aclive 71,6 108,1 9,9 a
Médias 55,1 B 84,7 A 70,0
Consumo de combustível em razão da potência (L h k\,V·l)
Em declive 0,52 0,61 0,56 b
Em aclive 0,80 0,87 O, a
Médias 0,66 B 0,74 A 0,70
o nb.nua ...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


184 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

Quadro 1. Cont.
Sentido de Tipos de sulcador
deslocamento Hastes Disco duplo Médias
Patinagem das rodas traseiras do b·ator (%)
Em declive 3,4 bA 2,7 bA 3,1
Em aclive 12,7 aA 9,0 aB 10,9
Mdias 8,1 5,9 7,0
Profundidade de semeadura do milho (cm)
Em declive 4,6 3,6 4,1 a
Em aclive 4,5 3,8 4,1 a
Médias 4,6A 3,7B 4,1
Produtividade de grãos da cultura do milho (kg ha·1)
Em decli e 7.063 6.406 6.735 a
Em aclive 6.444 6.484 6.464 a
Médias 6.754 A 6.445 A 6.600
Em cada variável, médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na Linha não diferem s ignificativamente
entre si pelo teste deTukey (p<0,05).
Fonte: Adaptado de Levien et al. (2011 ).

TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE ASPECTOS ESPECÍFICOS


ENVOLVENDO MECANIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO
SOLO E DA ÁGUA

Tráfego controlado
A mecanização das operações agrícolas é componente indissociável do processo
produtivo no contexto moderno de agricultura. Contudo, é indubitável que o uso
da mecanização seja feito de forma técrúca e com conhecimento, a fim de que não se
potencialize os impactos ambientais, com reflexo dentro e fora do sistema de produção.
Máquinas agrícolas têm grande potencial de impactar negativamente o ambiente de
produção, a começar pelo solo, pela aplicação de pressão pelo tráfego de rodados ou pela
sua mobilização por equipamentos de preparo. No sentido de confrontar os impactos
negativos da compactação promovida por tráfego de máquinas agrícolas, atualmente é
uma realidade em algumas regiões o uso do tráfego controlado dentro dos talhões. Nesses
casos, procuram-se criar duas zonas distintas dentro da área de cultivo: uma onde se trafega
e a outra onde se cultiva (Radford et ai., 2007). Dessa maneira, é possível satisfazer boas
condições de tração às maquinas, pois os locais destinados para tráfego oferecem condições
propícias para isso, com solo bem consolidado (compactado), elevando o potencial de
tração, diminuindo resistência ao rolamento dos pneus e, com isso, promovendo ganhos
em capacidade de trabalho e consumo de combustível.
Entretanto, as zonas não trafegadas por máquinas não sofrem ação da aplicação de
pressão por pneus e, por isso, não sofrem compactação. No caso, compactação representa
perda da estrutura física do solo, em detrimento do crescimento radicular, suprimento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MECANIZAÇÃO A GRÍCOLA: UM COMPONENTE ESSENCIA L DO MANEJO .. , 185

de água e ar às plan têls e, consequentcment , prc1u1zo ao seu de empenho produtiv .


Visto assim, a ap licação do tráfego controlad o, que repres nta uma fo rma de manejar a
meca nização dentro cios talhões de produçã o, retrata um avanço na fo rma de uso do olo
em prol do ambiente. Porém, essa é uma reél lidad e ainda inci piente n Brasil, ta lvez porq ue
implique mais inves timentos em tecnologia para se chega r à a plicação prática do tráfego
controlado, em especial relacionada a posicionamento, a fim de de finir com precisão as
áreas para tráfego de máquinas e as de culti vo, ao menos no início d o processo. A adeq uação
de m áq uinas para por em prática essa técnica também exprime um passo one roso na
implantação. É preciso ajustar as bitolas de tratores, pul verizadores e distribuidore
autopropelidos e colhedoras, a fim de que possam usufruir das mes mas zonas de tráfeCTO
na lavoura. Isso representa, muitas vezes, em troca de eq uipamentos ou compra de novos.
Uma preocupação com relação às máquinas é o aj us te ou a compatibilização das larguras
operacionais, pois nem todas operam em uma mesma fai xa; por exemplo, um pulverizador
tem uma largura operacional superior à de uma semeadora, ou de um equipamento de
preparo de solo, se não for semeadura direta . Dessa forma, deve have r um planejamento
de forma que as larguras operacionais dos diferentes conjuntos mecanizados empregados
na lavoura sejam múltiplas ou submúltiplos, para assegurar as mesma zonas de tráfego,
como exemplificado na figura 12.

Semeadura (36 x 42 cm - discos), lu = 15,0 m


Colhedora 50 pés (15,0 m) - pneus 850 BPAF
Pulverizador/Distribuidor: lu =30 m

15 rn

15m 1 11 15 m
Perda de área: U%

Figura 12. Ilustração de tráfego controlado em lavo ura com semeadura direta de cultivo anuais.
com base em largura útil (lu) de 15 m dos conjuntos mecanizados para sem ead ura direta (trator
+ semeadora, pulverizadores e distribuidores autopropelidos, colh edora e trator + reboques
graneleiros) e com máximo de 0,85 m de largura das faixas de passagem dos rodados.

Por em prática uma agricultura com tráfego controlado não é tarefa fácil e nem de bai ' O
custo. Ainda pode representar perda de área útil cultivada, por exclusão dos locais destinados à
passagem dos rodados das máquinas, o que, nwn primeiro momento, pode não er bem aceito
por parte dos produtores. Deve-se ter o entendimento que, no processo como um todo, pode-
se ganhar, pois mesmo perdendo em área produtiva (12 %, no e, emplo da figura 12), tem-se a
compensação com melhores condições físicas do solo nas áreas de cultivo, isentas de tráfego,
o que deve proporcionar maiores produtividades em médio e longo prazos e com menores
custos, por exemplo, com combustíveis e potência dos tratores, como é o caso de su bstituir
sulcadores do tipo facão por sulcadores de d.iscos nas semeadoras utilizadas em semeadura
direta. Contudo, essa resposta pode não ser imediata e ainda se enfrenta o in esti.mento inicial
para a aquisição das máquinas. Por meio da implantação do tráfego controlado, que representa
uma mudança na forma de empregar a mecanização no contexto produtivo, podem- e t r
benefícios no sentido da conservação do solo e do an1biente, principalmente pela conservação
da estrutura do solo, pela infiltração e pelo armazenamento de água, assim como pelo menor
dispêndio energético nas máquinas, pelo consumo de combustí ele pela redução de em· -es.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


186 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

Colheita mecanizada da cana-de-açúcar


A cana-de-açúcar representa uma cultura muito expressiva no Brasil, perfazendo um
mercado voltado aos biocombustíveis por meio da produção de etanol e corroborando
com a balança comercial por meio da exportação de açúcar. Porém, essa cultura apresenta
problema ambientais no seu processo produtivo, principalmente por usar queima
antecedendo a colheita manual e com isso emitir dióxido de carbono na atmosfera, alé m de
empobrecer o solo pela perda de carbono na forma de matéria orgânica. No Estado de São
Paulo, a Lei Estadual n. 0 11242/02, de 19 de setembro de 2002, prevê a eliminação da queima
até 2021. Desde então, foram direcionados esforços para por em prática essa Lei, que por
um lado tantos benefícios proporciona ao ambiente, mas por outro promoveu discussões
sobre o d esemprego no campo. O fato é que, para eliminar a queima, necessária para a
colheita manual, foi preciso adaptar a mecanização voltada à colheita da cana-de-açúcar.
Colhedoras desenvolvidas para esse fim datam de 1950, com iniciativas na Austrália.
Atualmente, no Brasil, cerca de 70 % da cana-de-açúcar já é colhida mecanicamente. A
colheita mecanizada teve que superar entraves sociais, com impactos sobre o aumento
do desemprego no campo, e técnicos, com a eficiência nas máquinas de colheita quanto à
adequação ao sistema de cultivo vigente e redução de perdas. Mais uma vez a mecanização
foi o elo principal na mudança de paradigma, pois sem modernização e ajuste das máquinas
a colheita da cana-de-açúcar não teria atingido os patamares atuais. Desconsiderando-se
aqui possíveis impactos sociais dessa transformação, o que atualmente já é questionável em
razão do custo da mão de obra e das condições de trabalho, e os sobre a compactação do solo
pelo intenso tráfego de máquinas, obtiveram-se imensuráveis ganhos ambientais com essa
transformação na colheita mecanizada da cana-de-açúcar. Esse é um caminho sem volta,
não somente porque a legislação impôs, mas é uma demanda diante dos compromissos
que o Brasil tem assumido na redução da emissão de gases de efeito estufa e dentro de uma
conscientização cada vez mais forte que o processo de produção deve adequar-se a danos
ambientais mínimos. Sem queima, suprime-se a emissão de C02 e promove-se sequestro
de carbono no solo na forma de matéria orgânica, o que traz benefícios em termos de
fertilidade, redução na perda e uso de fertilizantes e conservação do solo, da água e do
ambiente.
Considerando que atualmente são cultivados mais de 9 Mha de cana-de-açúcar no
Brasil, o benefício ambiental com a mudança na tecnologia de cultivo e, em especial, de
colheita é bastante expressivo, ou seja, uma mu?ança que não poderia deixar de ocorrer
tendo em vista o conjunto de benefícios gerados. E indubitável que a mudança nos conceitos
de produção só ocorreu graças à mecanização aprimorada frente à nova demanda. A
mecanização agrícola é uma ferramenta que se impõe entre o avanço científico e o tecnológico
promovido pela pesquisa e a aplicação prática em nível de sistema de produção. Não basta
determinar o que de melhor pode ser feito; é preciso ter ferramentas adequadas para por
em prática no campo e, nesse sentido, entram em cena os aprimoramentos em mecanização
agrícola. É importante salientar, também, que a técnica do tráfego controlado já é utilizada
em boa parte das lavouras canavieiras no Brasil, fruto de trabalho conjunto da pesquisa,
inciativas dos produtores rurais e dos fabricantes de tratores, colhedoras e máquinas que
atuam nesse setor no Brasil.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - M EC ANIZ/\ÇÃO AGRÍCO LA: UM COMPONENTE E SSENC I AL DO MANEJO ... 187

Fertilização em superfície
A mudança de conceito na apl icação de fe rtili zant s parece s r tendênciél atual.
Contudo, se for rea li zada uma aná lise crite riosa das razões par a essa nova prática , fica
perceptível a interface d ire ta com a mecanização e é1 implicações, tanto nas o per ções
motomecanizadas, como no manejo da fertilidad e do solo por meio da aplicaçã de
ferti lizantes e corretivos a lanço e em s upe rfície no solo. Atualmente, com a semeadura
dire ta já consol idada em mais de 50 % da área agrícola do Brasil cultivada com cultura
produtoras de grãos, a operação dessa técnica subs tituiu tod os os preparas de olo que
antecediam a semeadura no passado. Dessa forma, nessas propriedades rurais a frota de
tratores foi enxugada e, em muitos casos, d ispõem-se de tratores especificas para cad.i
operação: o u só operam com semeadora o u só com pulve rizador, para exemplificar. Sendo
assim, diante das condições adequadas de solo e clima para rea liza r a semea du ra, é preciso
aproveitar o máximo do tempo disponível. Nesse sentido, a operação de semeadura,
desvinculada de aplicação de fertilizantes, proporciona maior rend imento operacional ao
conjunto trator-semeadora, pois necessita menor número de paradas para reabastecimento.
Diante dessa nova tendência, alguns modelos d e semeadoras já saem de fábrica somente
como semeadoras e não mais como semeadoras-adubadoras, o que diminui o seu custo de
aquisição e as tornam mais leves para tracionar, principalmente pela men or massa total.
Dessa forma, é possível a umentar o número de linhas da semeadora para uma mes ma
potência de trator ou optar por um trator de menor potência, diante do mesmo tamanho
de semeadora.
Para o sistema solo, os ganhos são relacionados à realização da operação em melhores
condições de umidade, visto que se precisa de menor tempo para realizar a semeadura ou
reduzir a aplicação de pressões ao solo pelo conjunto trator-semeadora. ão é indicada a
mudança indiscriminada para a forma de aplicar fertilizantes a lanço em superfície. Devem
ser atendidas as recomendações técnicas da pesquisa, vigentes para cada região do Brasil;
porém, naquelas propriedades onde já se aplica o conceito de adubação do sistema, onde o
níveis de fertilid ade do solo estão de acordo com as recomendações, a adubação a lanço em
momento diferente da semeadura representa oportunidades, como aplicar em condições
ideais de umidade se for o caso, aproveitar preços melhores na entressafra, facilita r para
aplicar a uma taxa variável e melhor ocupar os equipamentos e tratores da propriedade.

Manejo da biomassa residual da cultura do algodão


No caso da cultura do algodão, além de todos os manejas realizados durante o ciclo
da cultura, e que denh·o do panorama atual emprega intensivamente a mecanização do
preparo do solo à colheita, tem-se ainda o manejo da fitomassa cultura l residual objeti and o
o controle d e pragas. A destruição da soqueira do algodão tem sido ado tada por ser uma
prática com boa eficácia na interrupção do ciclo d as principais pragas dessa cul tura.
d estruição da soqueira do algodoeiro é wna medida fitossanitária obrigatória por lei (Port.
n.º 75 de 16 junho de 1993, Port. n.º 77 de 23 de junho de 1993 e Port. n.º 116 de 16 de
junho de 1994 e ainda regulamentada por portarias estaduais). essas, determina-se que
a fitomassa cultural residual seja roçada, destruída e incorporada ao solo, de modo que se
interrompa o ciclo de pragas como o bicudo, a lagarta-rosada, a broca-da-raiz e a rarnulos
(Oliveira e t a i., 2006). Sendo assim, numa ação combinada de operações de equipamentos
agrícolas, além de tritmar a fitomassa residual do a lgodoeiro apôs a colheita, ainda de em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


188 RENATO LEVIEN & ÜSMAR CONTE

incorporá-la ao olo. Nesse ca o ocorre utilização indireta de mecanização na cultu ra, mas
com benefícios para cultivas posteriores. O solo passa por preparas sucessivos, com us o
de equipamento que promo e intensa mobilização, acúmulo de tráfegos na área, podendo
ocasionar érios problemas de compactação e erosão e incrementar o consumo de potência
e energia na lavoura algodoeira.
a cultura de algodão, a colheita é realizada em um período do ano sem chuvas, por se
tratar de regiõe com duas estações bem definidas (a das águas e a da seca), o que, ao menos
em parte, toma menos grave e impactante o efeito dos preparas de solo utilizados para
destruir a soqueira do algodão. Isso porque o solo mobilizado não está sujeito à erosão, em
razão da ausência de chuvas no período, sendo os riscos de compactação do solo também
minimizados. Do contrário, as práticas mecanizadas usadas na interrupção do ciclo das
pragas do algodão se tornariam, no mínimo, arriscadas no tocante à sustentabilidade do
solo e das águas nessas regiões. No entanto, em regiões produtoras como o Oeste da Bahia,
o solo preparado para destruir soqueiras da cultura ou mesmo para incorporar corretivos
de solo e fertilizantes a fim de obter incremento de fertilidade em maiores profundidades,
por exigência dessa cultura, é mantido descoberto, tornando-se suscetível à erosão eólica,
favorecida pelo longo período seco e pela vastidão das áreas com relevo plano (Figura 13).

Figura 13. Preparo convencional do solo para cultivo de algodão no Oeste da Bahia, resultante de
operações sucessivas realizadas com uso de arado de aiveca, grade aradora e grade niveladora.

Colheita e distribuição desuniforme da biomassa cultural residual


A colheita representa a última etapa do processo de produção agrícola dentro da
lavoura. Nessa fase, quando se trata de culturas produtoras de grãos, procede-se a colheita
mecanizada com colhedoras autopropelidas. As colhedoras, assim com outras máquinas
agrícolas, passaram por grande avanço tecnológico nas últimas décadas, ganhando
incrementas tecnológicos a fim de melhorar seu desempenho e capacidade operacional,
~ I
MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA
VII - ME C /\NJ Z/\ÇÃO A GRÍCOLA : UM COMPONENTE ESSENCIAL DO MANEJO .. . 189

principél l me nte pelo c1umcnto no ti1manho. olhedora5 com cl vada capacidade np rJciona l
de ca mpo, cm razão principc1 lmenle da g rand e largura úti l de corte dél platafn rrna,
acabam prom ovend o concen tração da biomassa cul tur;i l rec;idua l em faixa menor que e,sa
larg ura, como demonstrado no trabalho de Kum: et ai. (2008) . Esse fato não é dec; jável
quando se trata de manejo e conservação d o solo, por d ixar pa rte da área coberta por
pouca cobertura de biomassa cultura l residual. Ainda acaba aca rr tando v riabilidade na
ciclagem de nutrientes, podendo provoca r problemas de embuchamento em operações
de semeadura realizadas logo após a colhe ita ou mau funcionamento de equipamento
que a tu em no so lo. Essa concentração de biomassa cultural residual em faixa por célusa
da distribuição dessa na colheita mecanizada é decorrente de colheitas realizadt1 com
plataformas específicas para cereais, equ ipadas com s is tema de barra segadora, onde toda
a biomassa vegeta l acima da a ltura de corte é recolruda pela colhedora, como no ca o de
soja, arroz, aveia, trigo, cevada, canola, feijão etc. Em col heita q ue emprega plataforma
despigadoras, como as utilizadas para milho, onde somente as espigas e pequenas par es
da planta de miU10 são processadas na colhedora, ocorre grande redução da biornas a
cu ltura l res idua l liberada pela colhedora e, consequentemente, também reduz o problema
da s ua distribuição desun.iforme sobre a su perfície do solo.

Aumento da mecanização nas propriedades e o uso do solo


Com relação à dis tribuição do uso de mecani zação agrícola no Brasil, ocorreram
acentuadas mudanças nas últimas décadas. Até 1980, os tratores e as máqu inas agrícola
eram empregados principal mente em grandes propriedades, a produçào e comercialização
de tratores eram pouco expressivas em relação aos n úmeros atuais. Para cada trator
comercializado, existiam cerca de 1 000 ha, e a potência dos tratores era baixa, sendo a
maioria com menos de 100 cv. Nas últimas três décadas, hou ve incremento acentuado na
produção e comercialização de máquinas agrícolas no Brasil, onde a frota praticamente
triplicou, enquanto a área de cultivo não cresceu na mes ma proporção. Diante disso,
atualmente são cerca de 1 milhão de tratores para aproxi madamente 51 1 fha cultivado
no Brasil, o que perfaz uma média de aproximadamente 50 ha tra tor1• Es as informaçõe
podem ser acompanhadas pelos números do senso agrário rea lizado pelo In tituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Associação acional de Fabricantes de
Veículos Automotores (ANFAVEA).
A m odernização d a agricultura e a intensificação do uso de mecanização ocorreram
principalmente em pequenas e médias propriedades rurais, interferindo drasticamente no
uso da terra com reflexos no manejo e na conservação do solo e a m biente. A ampliação
d a frota de tra to res foi impulsionad a pela melhoria das condições de vida no campo,
pelas facilitações no acesso de crédito e pelos programas governamentai ci tados ao
agricultores, principalmente na agricultura familiar. A facilitação na compra de tra tores e
implementas agrícolas tem causado um fenômeno um tanto controve rso. Hoje em dia, é
comum encontrar um superclimensionam ento de tra tores, o u seja, pequena pr priedades
rurais dispondo d e um trator com ma is potência do que d e fato é necessário, o que pode
ser facilmente entendido pela relação trator ha·1•
Os tratores atualmente são produzidos com maior aparato tecnológico em rdaçào
a algumas décad as. O ganho de potência média também veio acompanhado de traçã
dianteira auxiliar (TOA), a lém de eletrônica em barcada, equipamentos d e agri ultura
d e precisão e ergonomia superior, que proporciona maior conforto a operador, como

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


190 R ENATO LEVIEN & ÜSMAR CON TE

cabines e ar condicionado. Cada vez maior a preocupação dos fabricantes em converte r a


potência do trator em má ·imo potencial de tração possível. Em razão d isso, é funda m ental
que tamb m h aja preocupação com a capacidade de suporte do solo às cargas impos tas
pelos rodados. E sa carga deveria ser menor do que a capacidade de suporte do s olo, ou
eja, a aplicação de wna pressão externa não deve exceder a resistência do solo. Estudos de
Mazm an a (2015) indicaram que a capacidade de suporte do solo cultivado em semeadura
d ireta , a.ria por causa d e muitos fatores, como tipo e textura do solo, teor de matéria
orgânica e mineralogia predominante, teor de água do solo no momento do tráfego
dos rodados, carga sobre os rodados, velocidade da operação, número de passadas dos
rodados e, também , tempo de adoção da semeadura direta nas áreas, que influencia o
estado de agregação do solo. Assim, os fabricantes devem se preocupar com a relação
peso-potência dos tratores, o tipo de pneus (diagonais, radiais ou de baixa pressão e alta
flutu ação - BPAF), a pressão de inflação dos pneus, a distribuição de cargas sobre os
rodados, a patinagem dos pneus que exercem tração, enfim com variáveis que possam
contribuir para reduzir a carga imposta ao solo a fim de evitar que esse seja compactado.
Contudo, que relação tem esses avanços tecnológicos em tratores com o manejo e a
conservação do solo e da água? Primeiramente, substituiu-se muito da operação com tração
animal pela tratorizada. Preparo de solo por meio de conjuntos motomecanizados tem maior
capacidade de mobilização de solo, assim corno pode acarretar problemas de compactação
e desestruturação de solo, se mal empregados. E assim começaram a surgir os problemas de
perda excessiva de solo e de água por erosão e compactação de solo (chamados de "pé de
grade e de arado"), que tanto assombraram a assistência técnica e os produtores no Brasil.
O advento e incremento no uso da semeadura direta atenuou esses problemas. Porém,
em pequenas propriedades, principalmente em regiões de solos com maior declividade,
o aumento da mecanização (maior número de tratores, tratores mais potentes e com uso
de TDA), proporcionou o incremento de áreas usadas para cultivo com culturas anua.is.
Contribuiu para esse fato o maior potencial de tração dos tratores e a não mobilização
de solo, ou seja, as áreas são utilizadas com semeadura direta. Com isso, é comum ver
paisagens agrícolas que são um desafio à estabilidade dos tratores e das colhedoras, onde são
cultivadas áreas íngremes, com elevada declividade, em muitos casos acima de 30 %. Além
do risco de acidentes de operação nessas condições, o que pode comprometer a segurança de
operadores, existe o confronto da aptidão de uso agrícola dessas áreas. Se forem observadas
as recomendações de planejamento e o uso do solo, são áreas inaptas à agricultura e de
elevada fragilidade ambiental, predispostas à erosão, com perfil de solo raso e normalmente
associada à presença de pedras. Tratores e colhedoras ao exercerem tração em condições de
superfície como a supracitadas promovem mobilização de solo na linha de tráfego, em razão
de patinagem ou deslizamento de seus pneus. Esse fato é agravado, pois a elevada inclinação
das áreas ou ao menos em parte do talhão não possibilita as operações em nível e, dessa
forma, mesmo em semeadura direta, linhas de semeadura e rastros de tráfego facilitam o
escoamento de água das chuvas, gerando erosão do solo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, pode-se concluir que a mecanização agrícola é atualmente um componente


muito essencial do manejo e da conservação do solo e da água no Brasil. Também fica clara

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII - MEC/\NIZ/\ÇÃO A GR Í COL A: UM COMPO N ENTE ESS ENCIAL DO MANEJO .. . 191

a ncccssidéld e de m;:i is c~lu loc; e pC'c;quic;;:i<;, b<'m como mr•lhnr rclacão e inh:>).;raçé'i n e n~re
pcs qui saclorcs, c mprcc;él<; fabrican t s ele tr,1 torcc;, m,k1uinc1,; , cqu ipil m nlo e p rod ul0 reo;;
rurai s para m el hor c nle nclim nlo das rclé,çô s so lo-m cíquina-pl,1 nta-c1tmnc; ferc:1 . '5sC1 po rq u e
a agric ultu ra, el e fo rma gera l, es té.Í ' m co ns tan te e vo luçc'io e el s m cíqu inas d eve m e r b" m
projetada e cons tru ídas pa rzi ex c utzir élS tarefas qu lhe,:; w mpetP cn m q u zi li Jade, bzi ix<1
1

con s um o e ne rgético e de acord o co m os princípios de s us te ntabilidad econó mica , ·oci.11


e a m bienta l. A m áquina é um compone nte qu eleve se ad equar ao a mbie nte J e produção,
sa tis faze nd o as necessidades operncio na is, o timizélncl o a s operc:tçõ e; m ecc1 niL.:1d c1s po r m e io
do corre to dime ns ionamento e aj us te às necess idades dos pro dutC1re , preser ',md o nc;
preceitos técnicos a fim de dar s us te ntabi lid a de à agricultura e pres rv.1r o ,;olo, bcu ,· e.los
s is te m as de produção.

LITERATURA CITADA
Adamchuk VT, José P, Moli.n JP. Hastes instrumentadéls pi!ía il mensuração da rcs~ ti:•ncia mec,in ic,\ do
solo. Eng Agríc. 2006;26:161-9.
Casão Junior R, Araújo AG, Llanilo RF. 1 o-Till agriculture in southem Brazil: Factor that focil ita ted
the evolution of the system and the development of the mechanization of conservation farmmg.
Londrina: Imprensa Oficial do Estild o do Paraná; 2011 .
CepikCTC. Parâ metros de oloe máquinas em semeadura di re ta com dosesdecoberturile configuraçô ..
de deposição de fertili.zante [tese ]. Porto Alegre: Uni ver idade Federal do Rio Grande do Sul; 2006.
Conte O, Lev ien R, Trein CR, Xav ier AAP, Debia i H. De ma nda de tração, mobilização de solo na linha
de semeadura e rendimento da soja, em plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2009;+U25-+-61.
Conte O, Levien R, Debiasi 1-1, Sturme r SLK, Mazurana M, Muller J. Soil disturbance índex as na
i.ndica tor of seed drill efficiency in no-ti llage agrosystems. Soil Till Res. 2011;11--U7-!2
Conte O. Mobilização, atributos de solo e variabilidade espacial em integração lavou ra-pecuária [tese].
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2011 .
Conte O, Levien R, Trein C R, Mazurru1a M, Debiasi 1-1. Resistência mecânica do solo e força de tração
em hastes sulcadoras de semeadoras-adubadoras em sistema de integração lavoura--pecuána. Eng
Agríc. 2008;28:730--9.
Conte O, Levien R, Trein CR, Cepik CTC, Debiasi H. Demanda de tração em ha · te sulcadora na
integração lavoura-pecuária com diferentes pressões de pas tejo e sua relação com o estado de
compactação d o solo. Eng Agríc. 2007;27:220-8.
Codwin RJ . A review of the effect of impleme nt geometry on --oi! failure md implement fo rces. )i!
Till Res. 2007;97:331-!0.
Hemmat A, Adamachuk VI. Sensor systems fo r measuri.ng soil compaction: Review and an 1lv ·is.
Comp Eletr Agric. 2008;63:89-103.
Kunz VL, Gurgacz F, Gabriel Filho A, Priomo IA, Fey E. Dis tribuição de palha por colhed ras
autopropelidas na colheita da soja. Eng Agríc. 2008;28:125-35.
Levie n R, Furlani CEA, Ga mero CA, Conte O, Cavichioli FA. Semeadura direlcl de milho com Jois
tipos de sulcadores de adubo, e m nível e no sentido do declive do tem~no. Ci Rural. 2011 ;-ll:9 6--
1002.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


192 RENATO LEVI EN & ÜSMAR CONTE

1
lazu rana apa idade de uporte d carga em classe de solos com diferentes anos de adoção do
i tema de plantio direto [te e]. Porto Alegre: Univer idade Federal do Rio Grande do Sul; 2015.
liveira IR, CarvalhoH, L, Moreira MAB, Ribeiro 55. Manejo dos restos cultmais (soqueira) do
algod eir c mo ferramenta de combate fls pragas. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros;
2006. (Circular técnica, 41)
Radford BJ, Yul DF, Mcgarry D, Pia ford C. Amelioration of soil compaction can take 5 years on a
erti oi under no till in the semi-arid subtropics. 5oil Til! Res. 2007;97:249-55.
Toledo A, Furlani CEA, Silva RP, Lopes A, Dabdoub MJ. Comportamento espacial da demanda
energ tica em emeadura de amendoim em Latossolo sob preparo convencional. Eng Agríc.
2010;30:459-67.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E
ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO

Luciano da Silva Souza'/, Álvaro Luiz Mafra 21, Laércio Duarte Souza:V, Ivandro de
França da Silva4/ & Vilson Antonio Klein 51

11 Centro de Ciência Agrárias, Ambientai e Biológicas, Universidad e Federal uo Rl>eôncavo da Bahia.


Cru z das Almas, BA. E-mail: lso uza ufrb.edu .br
11 Centro de Ciências Agroveterimíria , Universidade do Es tado de Santa Catarina. Lage<;, SC.
E-mail: alvaro.mafra@udesc.br
l/ Embrapa Mandioca e Fruticultura. Cruz das Almas, BA. E-mail: laercio. o uz.a~ e mbrapa.br
41 Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba. Areia, PB. E-mail: ivandro@cca.ufpb.br
51 Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, R .
E-mail: vaklein@tche.br

Conteúdo
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................-·-····· ......... _. __ ...... 194
FATORES DE CRESCIMENTO VEGETAL .................... ......................................................... ................- ···· ........... 194
O solo como fator de crescimento vegetal... ............................................................................................... _........... 195
Fatores químicos, físicos e biológicos do solo e sua relação com o crescimento wgetal ............................ 19.5
Interdependê ncia entre os fatores químicos, físicos e biológicos do solo ...................... ..............·-··- .. -···· 195
Atributos do solo que influenciam os seus fatores químicos, físicos e biológicos ................................. ..... 196
O SOLO COMO UM SISfEMA TRíFÁSlCO ESTRUTURADO ............................... - ................................................. 196
INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRfBUTOS FÍSICOS DO SOLO ............................... ·····-·········............ l9
Textura e manejo do solo ............................................ ................................................................ ······················- ···-·· 19
Manejo e a tributos do solo relacionados à qualidade estrutural e mecàni a do olo .. ············- ·· ................... 19
Densidade do solo .................................................................................................................................................. 1
Porosidade total, macro e microporosidade do solo .................................................. ··- ··-······· .................... 104
Consistência do solo··························································································································-··············-··· '>07
Resistência do solo à penetração ............................................................................................................... ...... .. 211
Estrutura e agregação do solo ........................................................................................................................ ...... 2'1.5
Melhoria da qualidade estrutural e mecânica do solo ................................................................................. .... 220
Manejo, disponibilidade de água e aspecto hídricos do solo ..............................................- ............................. ,,..,
Re te nção de água no solo .................................................................................................................... .............. ,,,
Infiltração de água no solo .........................................................................................................................- ......... 2:!7
Comiutiviclade hidráulica do solo ....................................................................................................................... .,,
Inte rvalo hídrico ótimo (IHO) ................................................................................................................ - ............. 231

Be rto( I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conserva,;tio do solu e da j b'll,l . V1ço ·.1, ;\!
Brasileira de C i~ncia cio Solo; 2018.
194 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

Melhoria da di. ponibilidélde de ~gi1,1 no solo .................................................................................................... 238


1anejo e ten1pcratura do olo ................................................................................................................................... 239
e 1 10m - Fl 1 1 ............................................................................................................................................. 243
LITERATUR CIT D .................................................................................................................................................... 245

INTRODUÇÃO

O solo é um corpo complexo, cuja natureza é representada por constituintes sólidos


(minerais e orgânicos) organizados em um arranjo poroso onde os líquidos (água ou
solução do solo), os gases (ah11osfera do solo) e a biodiversidade se distribuem dinâmica e
equilibradamente.
A estrutura do solo resulta do agrupamento das suas partículas primárias (areia, silte
e argila), que se juntam formando agregados de diversos tamanhos e formas, definindo o
espaço poroso entre os agregados e no interior deles. Um solo bem esh·uturado é aquele
onde a proporção entre macro e microporos possibilita a penetração de raízes e a aeração
dele de modo favorável ao metabolismo das raízes e da planta como um todo, além de
adequada dinâmica de água no perfil e sua armazenagem e disponibilidade para as plantas.
Isso é dependente da evolução pedogenética, dos atributos do solo e da utilização de boas
práticas de manejo.
Portanto, o manejo do solo está inter-relacionado aos atributos físicos desse, podendo
contribuir tanto para sua degradação quanto para sua recuperação. Abordar essas inter-
relações é o objetivo deste capítulo.

FATORES DE CRESCIMENTO VEGETAL

O crescimento das plantas (C) é condicionado pelo ambiente, que se manifesta por
meio dos fatores de crescimento vegetal X,, X2, ~ ' ... , X0 , simbolicamente representados
pela equação (Forsythe, 1967):

(1)

A magnitude e combinação de tais fatores determinam a quantidade e qualidade da


colheita de uma cultura.
A formulação matemática representada pela equação (1) descreve um sistema que,
em termos gerais, pode ser definido como um conjunto de elementos inter-relacionados,
que interage no desempenho de uma função e formando o todo; cada um dos elementos
componentes do sistema comporta-se, por sua vez, como um subsistema.
Assim, 0 sistema de produção de uma cultura é constituído por um número de fatores
que interage num certo espaço de tempo e determina sua produtividade. Numa analogia
com a equação que relaciona os fatores de formação do solo (Solo = f (material de origem,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 195

re levo, clima, orgélnismos vivos e tempo), definida por Jenny ( 194 1), pod m-se identi ficar
e m termos gerél is os fa tores de cresci mento veget.1 1 p r meio clc1 equação:

R = f [cl, s, p, h, t], (2)

em que R é o rendimento da cultura; e os fa tores de crescimento ão cl = cl ima, = solo, p


= planta, h = ho mem e t = tem po.
Esses fatores decrescimento vege ta l, a lém de se rem interdependentes, ilo subdi vid id os
em outros mais básicos e simplificados. Assim, o fato r clima engloba temperaturêl, chuv<1,
lu z e vento; o fator solo abrange seus constitu intes químkos, físicos e biológico ; o fator
planta compreende os diferentes genótipos, cada um deles com seu respecti vo polencic:d
produtivo, adaptação a pragas, doenças e outras cond ições adve rsas, além de o utra
interações biológicas q ue estabelecem no solo; o fator homem é representado pel,L prática
culturais como o preparo do so lo, a calagem, a ad ubação, as é pocas de plantio e colheita, o
controle d e plantas espontâneas, as pragas, doenças e outras; e o fator tempo é delimitado
pelo espaço cronológico entre a semeadura e a colheita da cultu ra, em que interagem os
d emais fa tores de cresc imento citados (Forsy the, 1967).

O solo como fator de crescimento vegetal


O solo é um sistema na tural aberto, onde matéria e energia podem ser adicionadas ou
removidas. Considerando que todo sistema é caracterizado o u definido pelos elementos
ou fatores que o compõem, descreve-se o solo como fa tor determinante do crescimento
vegetal, o que ocorre de fo rma complexa e por interferência de vári os outros fatores
agrupados em: químicos, físicos e biológicos.

Fatores químicos, físicos e biológicos do solo e sua relação com o crescimento


vegetal
Os fa tores químicos do solo que influenciam o crescimento vege tal são o pH e o
conteúdos de sais, de nutrientes d isponíveis e de elementos tó icos às plantas. Os fatore
físicos do solo relacionados ao crescimento vegeta l são aeração, potencial da água,
tempera tura do solo e resis tência mecânica ao crescimento das raízes (Fors the, 1967). O
fatores biológicos são representados pela interação entre os organism o ivo e a matéria
orgânica do solo (Russel, 1950; Tisdale e Nelson, 1963).
A separação do solo em fa tores químicos, físicos e biológicos tem efeito apena
didático, uma vez que esses são interdependentes, influenciando ocre cimento das plantas
em conjunto, associados aos demais fa tores de crescimento vegetal, ou eja, cl ima, planta,
home m e tempo.

Interdependência entre os fatores químicos, físicos e biológicos do solo


A interde pendência entre os fa tores q Lúmicos, físicos e biológicos do o lo é demonstrada,
por exemplo, pela água do solo. À primeira vis ta, a água é um fa tor fís ico com grande
influência na solubilização e na absorção de nutrientes (fator químico) pda planta , como

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1

j
r 196 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

também es ncial para a vida dos organismos do solo (fator biológico). Da mesma forma,
a matéria orgâni a (fator biológico) tem grande influência na disponibilização d e nuh·ientes
(fator químico) e na retenção de água (fator físico) .

Atributos do solo que influenciam os seus fatores químicos, físicos e biológicos

O cre cimento vegetal é determinado pelos fatores químicos, físicos e biológicos do


olo, que, por sua vez, são influenciados por diversos atributos do solo, como: natureza
dos minerais, tipo de argila, capacidade de troca de cátions, teores de sais solúveis e
insolú, eis, textura, estrutura, densidade do solo e de partículas, capacidade de retenção de
água, potencial osmótico da solução do solo, penelTabilidade, infiltração, condutividade
hidTáulica, temperatura e outros; e pelo meio físico como: posição na topossequência,
forma do declive, declividade, comprimento da pendente, profundidade de camadas
impermeá eis ou de rocha e profundidade do lençol freático (Forsythe, 1967).
Considerando o objetivo deste capítulo, apenas os fatores físicos do solo relacionados
ao crescimento vegetal serão discutidos em detalhe. Tais fatores não atuam isoladamente e
sim em conjunto. Um exemplo é a presença de uma camada compactada no solo que pode
tanto limitar o crescimento das raízes das plantas por impedimento mecânico quanto pela
deficiência de aeração. Outro exemplo é o efeito da umidade do solo na aeração e nas trocas
de calor entre o solo e a atmosfera, uma vez que a condução de calor é favorecida no solo
úmido.
Entretanto, o manejo do solo tem influência sobre esses atributos e, consequentemente,
sobre os fatores físicos, químicos e biológicos do solo. Neste capítulo, será abordada a
inter-relação entre o manejo e os atributos físicos do solo, tendo-se em mente que esses
atributos geralmente são de adequação mais difícil ou demorada por práticas apropriadas
de manejo, visando condições ideais dos fatores químicos, físicos e biológicos para o
crescimento vegetal; isso somente aumenta a importância do correto uso e manejo do solo.

O SOLO COMO UM SISTEMA TRIFÁSICO ESTRUTURADO

O solo é um corpo natural dinâm.ico e trifásico (Figura 1), constituído por fases sólida
(materiais minerais e orgânicos), líqu.ida (água ou solução do solo) e gasosa (atmosfera do
solo). As fases líqu.ida e gasosa ocupam os poros do solo, num equilíbrio dinârn.ico entre
essas, ou seja, sempre que uma aumenta no solo, a outra diminui.
Baver et ai. (1973) ressaltaram o fato de que essas três fases não estão distribuídas
ao acaso no perfil do solo. A ordenação delas está condicionada pelo tamanho e pela
d.isposição dos componentes da fase sólida. No solo, existem partículas primárias de areia,
s ilte e argila e partículas secundárias ou agregados, consideradas elementos estruturais
formados pela un.ião de partículas primárias. A estrutura do solo é definida pelo arranjo,
pela ordenação e pela proporção dessas partículas primárias e secundárias, incluindo
necessariamente o sistema poroso associado. O espaço poroso é composto por macroporos,
existentes principalmente entre os agregados, e por m.icroporos, que predorn.inam no
interior dos agregados. Marshall (1962), citado por Ferreira (2010), já havia corroborado
isso ao defin.il" a estrutura do solo como o ananjo das partículas e do espaço poroso entre

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VII I - I NT ER- RE LA ÇÃO ENTR E M AN EJO E ATRIBUTOS F ÍS I COS DO SOLO 197

esséls, sendo lé1 m bém cl cscri lé1 quanto êlO tJ m,rnh o, a fo rma e an c1r ranjo dos c1gre~ados
fo rm él d os q u,1nd o pMtícu lélc; primá ri êls se t1 grupa rn m un id Jdes ·epa ráveic;.

m., ::::O Ar V

Água

m,o,.,, V ....

Figura 1. O solo como um corpo natural dinâmico e trifás ico.


Fonte: Adi!plado d e Baver et ai. (1973).

Portanto,aestrutura do solo pode ser considerada como wn dos m ais importantes atributos
do solo do ponto de vista agrícola, em razão das propriedades fund amentais nas relações olo-
água-planta. As relações das raízes das plantas com o ar, a água e, consequentemente, com a
absorção de nutrientes dependem do estado estrutural do solo (l'vfarcos, 1968).
Shaxson (1993) enfatizou a estrutura do solo e o sistema poroso a sociado co mo um
fator-chave no seu funcionamento. Boas condições es truturais (Fig ura 2a) eriam indicada
por boa proporção entre macro e microporos, resultando em dinâmica de água em
restrições no perfil, retenção de água em tensões disponíveis para as plantas, penetração
de raízes e aeração do solo favoráveis ao funcionamento das raízes e da plan ta como um
todo. Isso somente reforça a importância dos fatores físicos do olo relacionados om o
crescimento vegetal, mencionados por Forsythe (1967) e abordad os anteriormente ne te
mesmo texto. Para Shaxson (1993), a degradação do sistema poroso do olo, como ocorre
por efeito da compactação (Figura 2b), reduz a quantidade de macropo ro e pode ~er tão
importante em limitar a produção das plantas quanto a perda de pa rtículas do ~o)o pela
erosão.
A importância da estrutura do solo e do s is tema poroso a ela associad o para as relações
solo-água-planta levaram Mascos (1979) a questionar a concepção incompleta de fer tilid ade
do solo, quando restrita à conotação química. O termo produtividade fo i u tilizad o como
uma maneira de reduzir a limitação do conceito químico d e fertilida :le, sendo essa
avaliada pela produção obtida no sistema onde o solo é a penas um do · component -.
Assim, o potencial produtivo do solo é dado por sua fertilidad e em entido .1m plo, q ue, em
relação às exigências das plantas, compreende a capacidade para fornecimento adeq uado
de água, oxigênio, calor, nuti-ientes e permeabilidade à penetração d e raize-; de e- -~ ainda
considerar a atividade biológica do solo como causa e efeito dos a tributos fí icos e q uímicos .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


198 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Microporos

(a) (b)

Figura 2. Solo em boas condições esh·uturais (a) e o mesmo solo compactado (b).
Fonte: Shaxson (1993).

A alteração da estrutura do solo, seja por compactação ou por outro processo


qualquer, provoca mudanças nas relações solo-ar-água, na resistência mecânica e na
temperatura e, em consequência, na resposta do solo ao crescimento das plantas. Portanto,
é de fundamental importância buscar práticas de manejo que mantenham ou melhorem a
qualidade da estrutura do solo (Pedrotti e Dias Jr., 1996).

INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS


FÍSICOS DO SOLO

A estrutura do solo e o sistema poroso a ela associado têm relação com os fatores
físicos do solo relacionados com o crescimento vegetal como já visto, que são determinados
por vários atributos físicos do solo. É evidente que qualquer alteração na estrutura e no
espaço poroso do solo refletirá nesses atributos e nos fatores físicos de crescimento a esses
associados. O manejo do solo influencia os seus atributos físicos, podendo contribuir tanto
para sua degradação quanto para sua recuperação, corno será visto a seguir.

Textura e manejo do solo


A textura do solo representa a distribuição quantitativa das partículas primarias
menores que 2 mm de diâmetro, de natureza mineral, ou seja, areia (2-0,05 mm), silte (0,05-
0,002 mm) e argila (<0,002 mm).
A textura influencia a qualidade ao solo, de modo que solos com maior teor de argila
apresentam maior retenção e d.isponibiUdade de água, maior CTC e maior capacidade de
suprimento de nutrientes para as plantas. Por sua vez, solos com maior teor de areia são mais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INT E R- RELA ÇÃO ENTfl E MAN EJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 199

permeáve is ao ar e , ,ígu,1, mas com mr nn r c,1pc1cidé1d • de retenç5o t.lc ,ígua e nutrientes


/\lém disso, a tex turn influencia a c1grL·gDçiio do solo e, cons q u ntPmf..'nte, J e,;truturc.J e
movimentação da água e cio ar n lc, jéÍ que c1 argilêl, juntam nt com a m.Jtéric.1 ( r :1nic.1, e
agente de agregação. O teor de Jrgi lél Jinda intcrf re né.1 co s,10 entre ,,e; parti ulêl..: dn solo
quando seco e na adesão dessas pé.lrtículas co m os implcmentos agrícolcJ:- qué.lndo e <:.C e,tj
úmido, tendo assi m importante participélção na defi nição do momento ideal pc1ra o prt>paro
desse, em termos de umidade, de modo a causélr o mínimo prejuíLo na e-;trutu rc1 dele.
Os manejas agrícolas que provoca m erosão arrastc1 m d eterm ina :ioc; tama nhoc;
de partículas dos hori zontes mais s upe rficia is e podem alterar a proporção dac; fraçõ ~
granuloméh·icas e até a sua classifiCéJção textu ra!. No entanto, él textu rc1 pode ser conc;rd rada
uma das características fís irns mais estáveis do solo, sendo pouco alterildêJ pelo man jo.
pelo menos numa escala contemporânea de tempo.

Manejo e atributos do solo relacionados à qualidade e trutural e


mecânica do solo
Densidade do solo
A densidade do solo é representada pelo quociente entre a mas a da pélrtícula-
sólidas do solo seco em estufa e o volume total do solo, incluindo o espaço poro o ocupado
pela água e pelo ar. Em geral, em solos minerais, essa varia de 1,1 a 1,6 kg dm-~; e d
0,6 a 0,8 kg dm·3, em solos orgânicos (Kiehl, 1979), a depender da textura e do teor de
matéria orgânica. Os solos com maior teor de argila e matéria orgânica apre entam menor
densidade, o contrário ocorrendo com os arenosos e com menor teor de matéria o rgà nica.
Hillel (1970) citou valores médios de densidade do solo de 1,25 a 1,-l -g dm·3 pnra o_
arenosos e de 1 a 1,25 kg dm•J para os argi losos. Em Latossolos brasileiro , a den idade
do solo dos horizontes diagnósticos de s ubsuperfície (Horizontes B, ) varia de 0,9 a
1,55 kg dm·3 (Ferreira, 2010).
A densidade do solo é influenciada pelos sis temas de cultivo e de manejo, que alteram
a estrutura e o espaço poroso a ela associados, interferindo na porosidade total, di tribuição
de poros por tamanho, capacidade de aeração, a quantidade d água disponível,
permeabilidade e taxa de infiltração. Em suma, é um atributo que permite avaliar o nível de
adensamento ou a compactação de um solo, além d e possibilitar inferência obre as chances
de crescimento radicular. Segundo Ferreira (2010), tendo- e em conta que a e trutura d
solo é um atributo dinâmico, a densidade pode ser alterada pelou o e manejo, na medida
em que se altera a dis posição das partículas do solo. O monitoramento da dens idade d
solo em razão do tempo poderá fornecer informações importantes a re -peito da influência
do uso e manejo na s ustentabilidade da exploração a que o ola se encontra ubmetid .
É importante considerar a influência da mineralogia, textura e matéria orgànica - bre
a densidade do solo. A tendência é que solos ou camadas mais areno as apre -entem .ilor s
mais elevados de densidade do que solos ou camadas mais argilo as. 1 so é bem observado
nos Argissolos ou outras classes afins, com ho rizonte B textura!, onde o hori zonte , e m
textura mais arenosa que o B, apresenta ma ior valor de densidade do que este último.
entanto, a maior densidade do solo no hori zonte A não implica nece a riamente em men r
permeabilidade, e o maior teor de argila no horizonte B não caracteriz nec ·S<:lriamente
maior adensamento. Portanto, fica ev iden te que qualquer estudo e mparati v envolven lo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


200 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

es e ah;buto deve levar em consideração a caracterização do solo mais comple ta possível


(Fen-eira, 2010).
A utilização da densidade do solo como indicador de compactação ou de adensamento
deve con iderar a influência da nuneralogia, textura e matéria orgânica nesse atributo.
Exemplo di so ão os resultados apresentados por Souza et al. (2008), os quais avaliaram
a densidade de raízes d e laranjeira 'Hamlin' enxertada em limoeiro ' Cravo', em urna
topo sequência de solos de tabuleiro localizada em Sapeaçu, BA. Os autores observaram
maior den idade de raízes no Argissolo Acinzentado-PAC (densidade do solo ponderada
no perfil = 1,7 kg dm.J) (Figura 3), em comparação com o Latossolo Amarelo argissólico-
LAx (densidade do solo ponderada no perfil= 1,56 kg dnY3) e com o Argissolo Amarelo-
PAx (densidade do solo ponderada no perfil= 1,61 kg dnY3). Considerando unicamente
os valores de densidade do solo observados, era de se esperar o conh·ário, ou seja, menor
densidade de raízes no PAC. No entanto, os dados são justificados pelo fato de o PAC
apresentar textura arenosa (argila ponderada no perfil= 44 g kg·1) e ausência de coesão, em
comparação com o LAx (argila ponderada no perfil = 420 g kg·1) e o PAx (argila ponderada
no perfil = 405 g kg·1), ambos morfologicamente coesos.
0,80
Ds = 1,56 kg dm·3 Ds = 1,61 kg dm·3 Ds = 1,70 kg dm·3
õ N
-e,
o
V)
o
o 0,60
-o
Kl
.~
(tj
;...

_g 0,40
~
,..
u
"'
E lt')
·· ·--···········-·······T""""'I ······-·--····-- ·· ····
..::.. 0,20
~
o
0,00
e... p:: <C ....
<C<(p::$

LAx PAx PAC


Classes de solos e horizontes

Figura 3. Valores m édios de densida_d e de raizes (DR) de _Iaranjeir~ 'Harnlin' enxertada em limoeiro
'Cravo', em uma topossequênc1a de solos de tabuleiro, localizada em Sapeaçu, BA, composta
por Latossolo Amarelo argissólico (LAx), Argissolo Amarelo (PAx), ambos coesos, e Argissolo
Acinzentado (PAC), não coeso.
Fonte: Souza et ai. (2008).

Reinert e Reichert (1999) propuseram Jimites críticos de densidade do solo de 1,45


kg d.n,·3 para solos com textura argilosa (>550 g kg·1 de argila); 1,55 kg dm·3, para os
com textura média (200-550 g kg-1 de argila); e 1,65 kg dm·3, para os com textura arenosa
(<200 g kg-1 de argila). Na tentativa de verificar se esses limites críticos são adequados,
Reichert et ai. (2003) relacionaram esses com resultados de densidade do solo crítica obtidos
em pesquisa de intervalo hídrico ótimo, citados por vários autores (Figura 4), percebendo-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - I NTER-REL AÇÃO EN T RE MAN EJO E A TRIBUTOS F ÍSICOS DO SOLO 201

se qu e os va lo res inicia lmente propos tos pa r cem e; r consistentes para snloc: c1 rgiloc:o..,, ma~
es t{io s ubestimad os pa ra os d textura méd ia Menosa.

Ds 1
(kg dm )

1,25 " 1,3

1,-1 .i 1,5

Fril nco 1,56


~iJto<,O
(:)
L-_...,._____ _ : , , - - - - - - - - - ; - - - ~ /
100 90 so 70 60 50 -10 30 20 1D u~
Areia (º~)

Figura 4. Valores d e d ens idade d o solo (Os) qua ndo o in tervalo hídrico óti mo é zero, para distintas
classes tex turais.
Fonte: Reic hc rt e t ai. (2003).

A compactação é um dos principais processos de degradação física do solo em


s istemas agropecuários que utilizam intens ivamente máquinas e equipamentos, sendo
també m decorrente d o pisoteio anima l. Ela resulta da perda da es tabilidade estru tura l em
razão do declín.io d a matéria orgânica associad a ao intenso e frequen te revolvim en to do
solo, principa lmente quando o elevad o teor de água desse estabelece a redução na sua
ca pacidade de s uporte de car ga. Um increme nto na com pactação do solo resul ta em maior
de ns idade desse, diminuição d a porosidade total e a lteração na distribu ição d e diâm etro
dos poros (Figura 26) e nas su as propriedad es hidrá ulicas (Dexter, 1988). ssociado ai o,
ocorre a umento no impedimento mecâ nico do solo ao crescimento radicular das pkm tas.
Assim, a compac tação do solo cria um ambiente físico desfavorável ao crescimento da
plantas e pode impor severas restrições à s ua p rod utividade e longevidade, mesmo em
condições ideais de suprimento de nutrientes.
Gia rola e t al. (2007), em Latossolo Vermelho mu ito argiloso loca lizado em Marechal
Cândido Rondon, PR, observaram degrad ação da q ualidade fís ica do olo revelada pelo
a umento d a d ensidad e em sistema de prod ução intensiva de fo rragem para fenação, em
comparação com a floresta na tiva, em razão do uso intens ivo de máquinas e equi pame nto
(Quadro 1). A degrad ação observad a restringiu-se ao ho1i zonte A e pode ser con iderad a
elevad a, uma vez que os valores de densidad e do solo u ltrapassar am a fa ixa critica indicada
por Reichert e t al. (2003) para solos muito argilosos (Figura -l).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


202 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Quadro 1. Valores de den id ade do solo e de coeficiente de variação (CV) avaliados nos ho rizon tes
A e_Bw de La!ossolo Vermelho muito argiloso em Marechal Cândido Rondon, PR, sob floresta
nativa e com tonageira perene sob cultivo intensivo para produção de feno

Horizonte Média<11 Mínimo Máximo CV


3
------------ Densidade do solo (kg dm- ) --------------- %
Floresta nativa
A 1,07 b 0,99 1,19 4,7
Bv,, 1,07 b 0,95 1,16 2,5
Forragefra
Ap 1,45 a 1,35 1,60 4,1
Bv. 1,08 b 0,99 1,21 4,1
1
"Valores médios seguidos por letras minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre os tratamentos no m esmo
horizonte, pelo teste t (p < 0,05).
Fonte: Giarola et ai. (2007).

Abstraindo-se a influência da textura nos valores de densidade do solo, esse atributo


apresenta implicações diretas sobre a porosidade e infiltração de água no solo. Em
Latossolo Vem1elho localizado na região dos cerrados em Sete Lagoas, MG, Beutler et ai.
(2001a) observaram aumento significativo da densidade do solo nos sistemas de manejo
avaliados, em comparação com o cerrado nativo (CN), em todas as profundidades (Quadro
2). Analisando os manejes sob semeadura direta na profundidade de 0-5 cm, observou-se
maior densidade do solo no SDCM, fato atribuído, provavelmente, ao tráfego de máquinas,
que causa compactação do solo. Apesar de os manejas sob semeadura direta (SDCM e
SDRMF) terem apresentado, em média, valores mais elevados de densidade do solo na
profundidade de 0-5 cm, esse aspecto foi superado pelo maior aporte de matéria orgânica
e pelo não revolvimento do solo, propiciando maior atividade biológica do solo.
Silva et al. (2006), em Argissolo Vermelho-Amarelo de Santa Maria, RS, observaram
na camada superficial maiores valores para a densidade do solo na semeadura direta
(SD), em relação à semeadura direta revolvida por uma aração e urna gradagem (SDar)
e à semeadura direta revolvida por escarificador (SDesc), pela mobilização do solo nesses
dois sistemas (Figura 5). A densidade do solo na semeadura direta atingiu 1,72 kg dm·3 na
profundidade de 5-10 cm.
Resultados contrários a isso foram obtidos por Oliveira et aJ. (2004), trabalhando
em Latossolo Vermelho em Planaltina, DF, onde o solo sob semeadura direta apresentou
valores de densidade estatisticamente semelhantes aos encontrados no mesmo solo sob o
manejo com arado de discos (Figura 6). Os autores atribuíram isso à rotação de cul turas
que vem sendo reaJizada com milho, que adiciona grande quantidade de fitomassa na
superfície, somado ao efeito do sistema radicular das plantas. Além dos efeitos benéficos
do e-orgânico na agregação, a paJhada do milho pode amortecer as pressões exercidas
pelas máquinas na superfície do solo, preservando assim a sua estrutura.

MAN EJO E C ON SERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


,
VIII - lNTE íl - RELAÇÃO ENTRE MAN EJ O E ATRIBUTOS Fis ccos DO SOLO 203

Quadro 2. M.:itéria org{in ica L' ;ilribut o<; físico,; d l' 1 ato<;solo Verm elh o di<:trúfirn típico, em JifPrenle<;
profu ndidades e rrlílnejos, na rcgiJo ci o~ cerr,1clo<; •m 5 'le Lc1go,1 <;, MG

S istemas de ma nejo MO"' l)p o~ VT P


m1> .\ lp e
g kg·' ···---- kg dm ' ··•·••· --------- ----- ----- m' m • ----------------
Cn m:ul:i ele 0-5 cm
CGC ,f 36 Ac1=1 2.(,8 t\a 1.07 Ah n. 59 Ah li. 1 1) Ah f) , 1(1 ,\h n,-1"' ,\a
CDCM 33 Ac 2.7 1 1\ a 1.10 1\b 11.51) ,\h fl ,..l 2 J\.i 1).1 7 ,\h fl •..líJ -\a
CDR MF 8 Ac 2.63 Ah 1.OJ Ah IJ.60 Ah íJ..19 ,\h O.IX .- \h 11.411 ,\a
SDCI\I 44 Ab 2.(,J Bb 1.19 Aa 0.5..1 llc fJ.42 Aa ll.l "\ Ah fl.50 ,\a
SDR IF 4 1 /\b 2.64 Ab 1.061\h 0.59 Bb fl.39 ,\h 0. 16 Bb li. 2 ,\a
CN 52 t\a 2.65 Ah O.XS /\c ().(, 7 ,\a n.1(, ,\c () _2- r\.i 0.-lO \a
Camada de 5-20 cm
CGC M 37 Ab 2.67 Ab 1.11 J\J 0.58 J\c 0,41 ,\ a IJ. I 6 ,\ e 0.4. Aa
CDCM 36 Ab 2.75 Aa 1.11 Aa 0.59 ,\ e 0.-l I r\a f).16 ,\t: 0,4<, ,\a
CDRMF 36 Ab 2.(,2 Ab 0.98 Ah 0.f,2 ,\ h 0.3 7 Ah 0.21 Ah t).J6 ,\ a
SDCM 36 Ab 2,67 Bh 1. 11 Aa 0.58 Ac 1).41 ,\J 0.1 7 .\e íJ ...l4 . \a
SDRMF 33 Ab 2.66 J\b 0 ,97 Bh 0.63 ,\b 0.37 Ah 0.2 t ,\b 0 .40 -\a
e 48 Aa 2.62 Ab 0.83 Ac 0.68 Aa IJ.34 Ab 0.29 .·\..! 0.30 ,\u
Camada de 20-30 cm
CGC 1 2➔ Bb 2.73 Aa 1.12 Aa 0.58 Ab 0.-11 Aa 0 ,16 .\h 11.-45 ..\J
CDCM 34 Aa 2.74 Aa 1.04 Aa 0.61 t\b 0.-11 Aa 0,19..\h O. ,\
CDRMF 32 Aa 2.66 Ab 0.94 Ab 0.64 r\a 0.36 t\b 0.21 Aa O.J' Aa
SDCM 26 Bb 2.72 Aa t,IOAa 0.59 Ab 0.-IOAa 0.1 Ab 0.-+5 :\:i
SDR.J\tlF 30 Aa 2.65 Bb 0.92 Bb 0.64 Aa 0.35 :\ b 0.2-+ r\J IJ.39 r\J
CN 35 Ba 2,69 Ab 0.88 Ab 0.66A:i 0.37 Ab 0.24 Aa 0.39 . a
" 1MO: m atéria orgânica; Dp =densidade de partícula~; Ds = dens id ade do solo; VTP = vol ume total de poros; mp = microporo 1daJ1,,
Mp = macroporosidade; CC = ca pacidade de cam po. CGCM = preparo convenciona l com grad e .u,1dora e culhvo continuo com
milho; CDCM = preparo convencional com arado d e disco e cultivo contínuo com milho; CD RMF = preparo i:onwncion.1!
cóm arado de disco e cultivo em rotação com milho e fe ijílo; SDCM = semeadura Jireta e cu ltivo contínuo com milho: DR\IF
= semeadura d ireta e cultivo em rot,1çào com milho e feijão; e (CN) = cerrado nativo, como testemunh,1 reienmcial. =1\ledias
seguidas pela mesma letra maiúscu la, na coluna, compa r,md o profundidades, e pela mesma ldra minúscu1,, na colun<1, n,1
mesma profundidade, não diferem entre s i pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05).
Fonte: 13eutler e t ai. (2001a).

Densidade do solo (kg dm")


1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0

.\
·-~<·· .
.. __

-
...........
CJ
"d
«I
-----....\ ,
"d
;a 15
] ~

l 2
--- SD

*
---- · Selar
SDesc
25

Figura 5. Densidade do solo ao longo do perfil de Argisso lo emclho-Amarelo de anta la ria, RS,
em três sistemas de manejo do solo. Linhas horizontais indicam a dife rença mínima -i..:rni.ficativa
a 5 % e comparam médias dos h·atamentos em cada profundiJaJe. D = semeaduri liireta h..i
sete an os; SDar = semead ura direta revolvida por uma araçãu e uma gra d,urem;0
e De - =
semeadura direta revolvida por escarificador.
Fonte: Silva e t a i. (2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


204 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

Densidade do solo (kg dmj


0,s_---:o~,9--1,
.....0_ _1_;_,1_ ____..:1,2:;__:__~1,3 o+-
,s _ _o....
,9_ _1,.__0_ _1.__
,1_ _1_,2_~1,3
01
B B
§ (a) A (b)
-10
~
~
t,:i B A
:::! 20
~
§ e A A
..
õ 30
o..
A
40 Fevereiro/99 A

- - Cerrado - Semeadura direta --+- Arado de discos

Figura 6. Densidade do solo em cinco profundidades e duas épocas de coleta (fevereiro/99 e


outubro/ 99), em Latossolo Vermelho sob manejos diferenciados, em Planai tina, DF. Dentro de
cada profundidade, independentemente da época, as médias que apresentam a mes ma letra não
apresentam diferenças estatísticas entre si pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05).
Fonte: Oli\"t?ira et al. (200-1).

Porosidade total, macro e microporosidade do solo


A porosidade do solo ou porosidade total representa a fração volumétrica ocupada pelo
espaço poroso (Figura 1), sendo o local onde ocorrem os processos dinâmicos envolvendo
a solução (água e nutrientes) e o ar do solo, como também o crescimento radicular.
O arranjo geométrico das partículas do solo determina a quantidade e a natureza dos
poros existentes. Como as partículas variam em tamanho, forma, regularidade e tendência
de expansão pela água, os poros diferem consideravelmente quanto à forma, comprimento,
largura, tortuosidade e, principalmente, continuidade. Todas as variáveis condicionantes
da estrutura do solo, portanto incluindo ainda a textura, matéria orgânica e, especialmente,
o uso e manejo, influenciam a porosidade total do solo (Ferreira, 2010).
Estima-se que a porosidade total da maioria dos solos normalmente situa-se na
faixa de 0,3 a 0,6 m 3 m·3 (Hillel, 1970; Kiehl, 1979). Embora importante, o conhecimento
da porosidade total não permite maiores informações sobre processos que ocorrem no
solo, como dinâmica de água, gases e calor, crescimento radicular e outros; para tanto, é
essencial o conhecimento da distribuição dos poros do solo por tamanho.
Segundo Brady e Weil (2013), embora exista distribuição de poros por tamanho
mais detalhada (Quadro 3), geralmente os poros do solo são divididos em macroporos
(poros > 0,08 mm) e microporos (poros < 0,08 mm), sendo ideal uma proporção de 1/3 de
macroporos e 2/3 de microporos (Kiehl, 1979). Segundo Grohmann (1972), com base na
energia que os poros capilares retêm água, o diâmetro de 0,05 mm é considerado como o
limite de separação entre macro e microporos, distinguindo que a macroporosidade atua
na dinâmica da água e do ar e no crescimento radicular, enquanto a microporosidade é a
principal responsável pela retenção e armazenagem da água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - I NTER - RELAÇÃO ENTRE M ANE JO E ATRIBUTOS FÍ S I COS DO SOLO 205

Qu;idro 3. la c;c;iíi caç5o doe; poroc; do ..,o lo e éll g um,,., fun çó e; d e cad,1 clas,e
C l.1 sscs Di;1mctrn c íc ti v n
C.irJcterí• tic,1 • e íunc;,)e~
s irnpl ifica d,1q (m m)
( ,r•r,1 Jn1,•nl,. r-r.-nnlr,1J11, 11 ntr•" 11n1d.HI••--. ,...._,tn1h1r.11c;;
dwnJ~í'm <l ,1 ,1,_;u.1 i~r,1v1t,1r1on,1I d ,/u",1n !,· .i:,1 ""· l;im,lOhP
M,icroporos >0,08
c.u fi c1f'n lf• p ,1r,1 ,tcnm, d H r111• ·'-, t:• h,1t-i1t.1t d~ , Prt p ... ,Hum 11 ·
dn snln
1~,,,,.,,,~,io d,· \ g u ,1. mr,•. ,mrntri ,t,, 11-;u,1 í"'" r,1r1l,1rid.,J,, ,.
i\ leso poros 11,01 - 0,08
h,1b1t,1t <le íun~o<. ,, r,1fIe-. m.11 fm,
(;er.Jlmt!nlt• <'ncnnl r,,dn-. drnlrn .J.,~ un1d.1 ,,.. ,-.t,ult1r.11<,
Microporos 0,005 - 0,03 rc tenç,io de .Í~U,J d 1<pnn i" ·I '" rf,10!.1<., •• h .1!,11,,t d., m ,1111r1,1
d.is b,KI íl,l S.
:O.licroporo
Pr~enh.tc; em "º'º" ,.ir ,._;tl, r;..,K, r~_-tenç,in d(• J\!,ll ,1 n,to
Ul trarnicroporos 0,00(11 - 0,()()'i d i..,ponÍ\'('I lts pl.1n ta~; " ·.:.t.•u t,1-n.1nhn t•u-lu1 ~l m ,11nri,1 Jn
m1cror".-ini <m os
Seu I.JTTulnhn ~clui tn<l= O" m1u11r~..1n 1-m11, ,. mol.;'('ul.1, ,li·
riploporos <0,000 1
rnain r t.J ma nho
Fonte: 13rady e Weil (20 13).

Conforme abordado anteriormente nes te mesmo texto, a aeração é con iderada um


fator fís ico d e crescimento vegetal ligado ao solo (Fo rsythe, 1967). A res piração da_ raíze_
das plantas e a atividade dos microrganismos aeróbicos con ornem O ~ e liberam CO_,
sendo importante manter no solo uma porosidade d e aeraçào ou mc1croporosidad e que
permita trocas gasosas entre o ar do solo e o ar atmos férico, de forma a reduzir no olo o
teor de CO2 e aumentar o de O,- . Sem isso, em pouco tempo o a r do olo e taria saturado
em C02 e impróprio para a respiração radicular, limitando a a tividade microbiana aeróbia.
Considerando que a taxa de difusão tanto de C02 como de 0 2 na água é 10 000 vezes menor
que no ar, há necessidade que parte da porosidade do solo seja consti tu ída de macroporos,
para que a aeraçãoocorrade forma adequada (Ferreirn, 2010), as umi ndo- eo limite crítico de
0,1 m 3 m-3 para a macroporosidade; abaixo desse as raízes da maioria das planta pa am
a sofrer por anoxia.
As raízes de algumas plantas são maissens íveis doque as d e outras, em relação à aeração
do solo. Como exemplo, tem-se a bananeira, cujas raízes, d ia nte de baixa disponibilidade
de 0 2, perdem a rigidez, adquirem cor cinza-azulada pá lida e apod recem rapidamente
(Delvaux, 1995). Em solos com macroporosidade entre 0,03 e 0,05 m m·\ AviI.-in et al. (19 2)
observaram deformação das raízes da bananeira e penetração limitada, evidenciando a
importância de adequada relação entre macroporosidade e m icroporo-idade para o ó timo
crescimento e eficiência das raízes da bananeira.
A degradação física do solo pelo manejo, principalmente e m i tema aÇ!fopecuano
que utilizam intensivamente máquinas e equipamentos, re ulta na perda da e -tabilidade
estrutural, no incremento da compactação do solo, na diminuição d a poro idade total e n<1
alteração na distribuição de diâmetro dos poros (Fig ura 2b), cria nd o um ambiente fí i o
desfavorável ao crescimento das plantas.
Giarola et al. (2007) observaram degradação da qualidade fí ici n horizonte . de
um Latossolo Vermelho muito argiloso, em larechal Cândido Rondon, PR, revelada
pelas reduções da macro porosidade e da poros idade tota l d o solo - b u -o inten -iv para
produção de forrageira, com a macroporosidade situando-se abaixo do valor c.rític de
0,1 m 3 m -3 (Figura 7).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


206 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET Al.

0,7
D Floresta nativa

0,6 a
D Forrageira perene
l b
,,- 0,5
a
E a

~ 0,4
QJ
"'O
ro
.....
"'O 0,3
U)
o
6
o.. 0,2
a

0,1
b

o 1 1

Macroposos Microposos Porosidade total

Figura 7. alares m édjos de macro, micro e porosidade total do horizonte A de Latossolo Vermelho
localizado em Marechal Cândido Rondon, PR, sob floresta nativa e com forrageira perene
sob cultivo intensivo para produção de feno. Para cada variável, valores segwdos por letras
minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre os tratamentos, pelo teste t
(p < 0,05).
Fonte: Giarola et aJ. (2007).

Beutler et al. (2001a), em Latossolo Vermelho na região dos cerrados em Se te Lagoas,


MG, observaram redução significativa da porosidade do solo e da macroporosidade n os
sistemas manejados avaliados, em relação ao cerrado nativo (CN), na camad a superficial,
o contrário ocorrendo com a microporosidade (Quadro 2). Os resultados são relacionados
com o maior tráfego de máquinas (SDRMF e SDCM) e maior revolvimento (CGCM,
CDCM e CDRMF) e concordam com as variações observadas na maioria dos trabalhos que
mencionam men or volume total de poros e menor macroporosidade em semead ura d ireta
na camada superficial. Já nas profundidades de 5-20 e 20-30 cm, detectaram-se menor
macroporosidade e maior microporosidade em CGCM, CDCM e SDCM, condizentes com
os maiores valores de densidade de solo observados.
Oliveira et ai. (2004), trabalhando em Latossolo Vermelho em Planaltina, OF,
observaram redução na macroporosidade e aumento na microporosidade nos solos
cultivados, em comparação ao cerrado, em toda a profundidade avaliada (Figura 8),
refletindo na retenção e disponibilidade de água correspondente às tensões en tre 6 e 100
kPa.

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS Físrcos DO SOLO 207

0,5
'? (cl )
'"'
s 0,4
6
----
Cl)
-oc,j 0,3
-o
.....
V)
o
ti 0,2
o..
o
tl
c,j
0,1
~

0,0
"í' 0,5
s (b)
'"'s o,4
----
Cl)
-o
c,j 0,3
-o
.....
V)
o 0,2
~
o
o..
o
.....tl 0,1
~
0,0 -+-,L_,l..-

0-5 5-10 10-20 20-30 30-40


Profundidade (cm)
1 D Cerrado Semeadura direta ■ Arado de discos j

Figura 8. Macroporosidade (a) e microporosidad e (b) de Latossolo Vermelho sob diferentes i tema
de uso e manejo do solo, em diferentes profundidades, em Planai tina, DF.
Fonte: Oliveira e t ai. (200-l).

Consistência do solo
A consistência do solo refere-se à ma nifestação das forças fí ica de coesão entre as
partículas sólidas, quando o solo está seco, e de adesão entre as partícula e outros materiais,
quando ele está úmido. A consistência do solo interfere em di \ er os aspectos ligado
ao manejo (Quadro 4) e é dependente da umidade. Assim, em olo seco é caracterizada
pela dureza ou tenacidade; em solo únüdo, pela friabi lidad e; e em olo molhado, pela
plasticidade e pegajosidade. Os limites entre os estados de consistência -ão denominados
limites de Atterberg (Figura 9) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


208 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

Quadro 4. Efei tos do conteúdo de água na consistência de solos com méd io a elevado teor de argila
e seu reflexos no manejo do solo

Princi1rnl
Conte1ido Grou agente
de água no Formas de Capacidnde Facilidade Resultado do
consistêncio relnti\'O de responsáwl
solo de suporte pnrn manejo manejo
consistêncin pela
consistência
Atração O solo forma
eco Duro, áspero Muito alto molecular Alta Preparo difíci l torrões e
(coesão) poeira
O solo fica
Friável. Ligeiramente esfarelado,
mido Baixo Preparo fácil
macio alta ótimo efeito
na estrutura
Preparo difícil,
Pouco os implementos
O solo forma
molhado Baixa tendem a
poças
afundar e
Tensão deslizar
Plástico. superficial
Alto
viscoso (adesão) Preparo muito
fácil, menor
Muito tração. os
molhado Muito baixa
implementas
frequentemente
O solo desliza
atolam

Víscoso, o
Praticamente Manejo
Saturado solo flui por Muito baixo
nenhuma impossível
gravidade

Fonte: Reichert et al. (201O).

Dureza Friabilidade Plasticidade liquidez


10
·o
j
rn
-~
8
<=- IP- ⇒

o LC LP LL Umidade ⇒

Figura 9. Limites de consistência ou limites de Atterberg. LC = limite de contração; LP =


limite de plasticidade; LL = limite de liquidez; e IP = índice de plasticidade.

Além do teor de água no solo, a consistência varia com: a) granulornetria - a


coesividade, plasticidade e pegajosidade aumentam com o decréscimo no tamanho de
partículas (Figuras 10 e 11); b) tipo de argila - o argilomineral do grupo das esmectitas,
corno a montmorilonita (2:1), imprime maior consistência ao solo do que a caulinita (1:1);
c) estrutura - um solo compactado tem maior coesão do que um não compactado, pois

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTO S FÍ S I COS D O S O LO 2 09

aqu e le aprese nta mais í.Íreas d e contato e ntre pa rtícu las indivi J uais do que esse último; e
d) teor de matéria o rgânica - ca usa maio r cn •são cio q ue are ia e s illc, mas meno r Jo que
argila . O incre m ento do teor de maté ri a o rgâ ni ca pod e a ume nta r a faixa de consistencia
adeq uada pa ra revolvi mento do solo, pois a matéri a o rgâ nica ap res nta el vada capacidade
de absorção de água , evi tand o a fo rm c1ção d e pe lículas ao redo r das pa r tículas do 5olo
(Re iche rt et a i., 2010) .
Porta nto, conside ra ndo esses fa to res, a inte r-relação e ntre ma nejo e con i têncía do
solo res ulta da influê ncia do ma nejo na co m pnc tação e nos teo res de matéria o rgânica do
solo, pois a gran ul omeh·ia e o tipo de a rgila não são a lte rad o pe lo manejo.

"O

1
\
CIJ

t
-a 1
CIJ
o
t«l
~
8

Argila Silte Areia


Argila
coloidal

Figura 10. Variação da coesão e plasticida d e com a textura do solo .


Fonte: Brady e Weil (2013).

-
" bO
.:o:
0,60

bO 0,50
e
til
.Eu 0,40
,4J

-~ 0,30

~
a
Q)
0,20
til
~

·s
;::> 0,10

0,0
LL LP IP Argila

1 ■ Aceguá Bagé S.10 Go.1briel 1

Figura 11. Lim ites de consistencia e teor de ru-gi la do horizonte A de três oi - arg-ilo 5 escuros
(~ceguá: _Yertissolo Ebàni_co _ártico ch~rnos~ó~ico; Bag~: Planossolo Há plico Eutr fico ti pico; ~
Sao Gabn el: Planossolo Haphco Eu trófico verhco) do Rio Grand e do ui. LL = limite de liquid ez;
LP = Limite de plasticidade; e IP = indice de plasticidad e.
Fonte: Go mes e Cabeda (l976).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


210 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

i e Lança (2005) avaliaram os limites de consistência no solo em diferentes


i tema de manejo (M = mata nativa; PC= preparo convencional; S01 = semeadura
direta com um ano; D4 = semeadura dfreta com quatro anos; SD5 = semeadura direta com
cinco anos; e S012 = semeadw-a direta com 12 anos), em Nitossolo Vermelho em Botucatu,
SP, obser ando maiores valores em MN, como resultado do maior teor de matéria orgânica,
que apre enta elevada capacidade de absorção de água, exigindo assin1 maior teor de
água para a formação de películas ao redor das partículas do solo (Figura 12). Nos demais
istema de manejo avaliados, os valores dos limites de consistência aumentaram de PC
até SOS, reduzindo em SD12, acompanhando os respectivos teores de matéria orgânica. Os
resultados foram mais evidentes na camada de 0-5 cm.

0,50 100

0,40 80

0,30 60

0,20 40

0,40 80

0,30 60

0,20 40

0,10 20

0,00 o
MN PC SD1 504 5D5 5D12

Figura U. Limites de contração (LC), plasticidad~ (LP) e liq~idez (LL) e teor_de matéria orgânica nas
profundidades de 0-0,05 e 0,10-0,15 m, em diferentes sistemas de maneJo e tempo de adoção da
semeadura direta, em Nitossolo Vermelho em Botucatu, SP. MN = mata nativa; PC = preparo
convencional; 5D1 = semeadura direta com um ano; S04 = semeadura direta com quatro anos;
5D5 = semeadura direta com cinco anos; e 5D12 = semeadura direta com 12 anos.
fonl:e: A is e La nças (2005).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INT ER-RELAÇÃO EN TRE MAN EJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SO LO 211

Resistência do solo à penetração


Qua li tativamente, a resis léncia do solo é a Cél pac idaclc de esse <;uportc1r fo rças .;em
apresenta r fa lhas, seja por ru ptura, fragmenta ção ou flu xo. Em lermoc; quanti tativos, essn
resis tê ncia pode ser definida como a máxi ma tensão que um c;o lo pode s upor ar c;em ocorre r
fa lha . Quando uma tensão é apl ica d a, ocorre deformação no ponto mai s fra co da mc1triz do
so lo; com o a u mento da tensão ocorre rão zonas ele fa lha . A resis tência ness,1 zona de falha
é ig ual à energia exigida para criar nova unidade d e é'í rea s upe rfi cial o u para inicia r uma
rachadura (Reiche rt et ai., 2010).
Em se tratando d e um fator fís ico de crescimento vegeta l (Forsy the, 1967), a resistência
do solo à penetração influencia o cresci m ento das raízes e da parte aérea das plantas
(Letey, 1985). A med ida da resistência do so lo com um pene trô metro ou penetrógrafo pode
ser usada com sucesso para re presentar a res istência mecánica que as raízes enfrentam
durante o cresci mento (Forsythe, 1985), ou seja, a força ou pres ão que uma ra iz exercerá
n o solo para ca usar faJha s e abrir es paço para seu crescimento. Esse atributo tem ido
utilizado para ava liar os efeitos de sis te mas de ma nejo sobre o ambiente radicular, bem
como para identificar camad as compactadas ou adensadas e mudanças em atributos fí icos
do solo associados com seus horizontes, send o muito m ais sensível do que a densidade do
solo (Reichert et aJ., 2010).
A res istê ncia do solo à penetração depende d o conteúdo de água, da densidade do solo
e da dis tribuição do tama nho das par tículas (Reichert et al., 2010). o entanto, conforme
já abordado no item sobre densidade do solo, é importante considerar a influência da
distribuição do tamanho das partículas na d ensidade do solo. As im, um solo a rena o
geralmente apresenta maior densidade sem que, necessariamente, esteja compactado ou
adensado e, consequentemente, com aJta resis tê ncia à penetração. Também, a resi tência
do solo é um atributo que apresenta alta variabilidade, exigindo, portanto, maior número
de determinações, principalmente quando feita diretamente no campo.
Com relação à interfe rê ncia da umidade, vários a utores recom endam que a resistência
do solo à penetração seja medida em valores próximos à ca pacidade de campo. o entanto,
é recome ndável medir em diferentes teores d e água, obtendo uma cun a de variação da
1

resistência em razão da umidade (Klein, 2012).


Embora vários valores de resistência do solo tenham sido sugeridos como critico para
a pene tração de raízes, 2 MPa tem sido aquele mais utilizado, atribu indo- e ua autoria a
Taylor e t aJ. (1966). No entan to, ao consultar esses a utores constata-se q ue ele concluíram
pelo valor d e 2,5 l\tfPa, e não d e 2,0 MPa.
É evidente que a degradação física do solo pelo m a nejo, com especial efeito na estrutura
e compac tação, porosidade total e distribuição de diâme tro dos poro (Figura 2b), também
influê ncia a resistência do solo à pe ne tração. Entretanto, incrementas na re istência à
penetração e na d e ns idade do solo podem ser positivos em relação à qualidade do solo, na
m edida e m que resultam em menor e rodibilidade e a ume nto na retenção de água, de de
que a proporção ad equada d e macro e microporos não seja prejudicada.
G iarola e t ai. (2007) observaram que a cw·va d e resistê ncia do alo e m raz ão da
umidad e refle tiu sensivelmente a d egradação estrutural da camada su perficial do alo
sob cultivo intensivo com forragei.ra para produção de feno, incl usive atingindo valores
superiores a 2 MPa mesmo em elevadas umidades (Figu ra 13).
Em Capão do Leão, RS, Pedrotti e t al. (2001) ava liaram a compactação de um
Planossolo cu ltivado sob diferentes sis te mas d e ma nejo, po r me io da re i tência mecânica

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


212 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

do solo à peneh·açào, observando que, de maneira geral, todos os sistemas de cultivo


aumentaram are istência em relação ao solo mantido sem cultivo, principalmente quando
se utiliz~u o preparo com encional, atingindo o valor crítico de 2 MPa a partir d e 10 cm de
profundidade; a sucessão de culturas, azevém no inverno e arroz no verão em semeadura
direta, foi o que menos aumentou a resistência (Figura 14). Os diversos manejos também
alte_raram a capacidade de retenção de água no solo, que apresentou diferenças entre as
unudade na profundidades de 0-10, 10-20 e 20-30 cm em relação aos tratamentos. As
um.idades foram determinadas nos mesmos dias das leituras do peneh·ômetro em campo,
endo os menores teores de água no solo foram para os tratamentos T3 e TS que também
apresentaram as maiores resistências à penetração.

14
-+-- Floresta A
,.__ 12
~ -a- Floresta Bw
e..
~10 -.- Forrngeira Ap
o
l<ti
(j'
- Forrageira Bw
<ti
L. 8
c.,
e:
e.,
a.. 6
,,:
-~
~ 4
,iii
vi
·;;;
e., 2
ç,::;

o
0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60
3
Teor de água no solo (rn rn·3)

Figura 13. Variação da resistência do solo à penetração em razão do teor de água dos horizontes
superficial e subsuperficial de Latossolo Vermelho em Marechal Cândido Rondon, PR, sob
floresta nativa e com forrageira perene sob cultivo intensivo para produção de feno.
Fonte: Giarola et al. (2007).

Mello Ivo e Mieln.iczuk (1999) avaliaram as modificações estrutura.is em Argissolo


Vermelho-Escuro localizado em Eldorado do Sul, RS, causadas por d iferentes sistemas de
preparo do solo e semeadura e sua influência na densidade de raízes de m.ilho, obtendo
valor significativamente mais elevado na semeadura direta na profundidade de 0-5
cm, em relação ao preparo convencional, sendo essa situação invertida de 10-15 cm de
profundidade; aba.ixo da camada trabalhada (25-35 cm) os sistemas apresentaram valores
iguais de densidade de raízes (Figura 15). Atribuiu-se tal comportamento à estrutura
mais rígida observada na semeadura direta, com ma.ior resistência do solo, fazendo com
que as raízes permanecessem na superfície, enquanto no preparo convencional essas se
desenvolveram mais na camada trabalhada, onde a estrutura provocada pelo implemento
favoreceu o aprofundamento das raízes em razão da menor resistência do solo.

MANEJO E CO NSE RVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


VIII - I NTER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 213

p,.. <, 1..,l1°'n 1 ,n nl•"I. i1 n 1r,) 11 r' '" ''' r,11.,u1, ( ,,[P.i )
1,0 1,S 2,tl 2,5 \O 1,'5 1,ll
()

1íl

e:
2, 15
i:,

~ 20
é
-=e 25 -
à: - T
....,._ T,
30 - T
-ç- T,
35 --O- T,
-ôr- T.

-10

Figura 14. Resistência mecânica do solo à penetração a_o longo do perfil em diferentes t tema!' de
cultivo em um Planossolo (média de 30 determinações), em Capão do Leão, RS. T1 = s i tema
tradicional de cultivo de arroz irrigado: u m ano com preparo convencional do olo (ar<1ção e
gradagem), seguido de dois anos com pousio da área; T2 =sistema de cultivo con tínuo de arroz,
com p reparo convencional d o solo; T3 = sistema de cul tivo de arroz com rotação de cul turas,
com preparo convencional: arroz x soja x milho; T4 = sucessão de cultura : azevém no inverno
x arroz no verão em semeadura d ireta; T5 = Sucessão de culturas: soja no sistema convencional
x arroz em semeadura direta; e T6 =Testemunha: solo man tido sem cultivo.
Fonte: Pedrotti e t ai. (2001).

5,0 -,------ - -- - -- - - - - -- -- - -- - - - - ~

"'e 4,o l°rcl


], ~
:íl
-~ 3,0
""
e,
"O
e, 2,0
"O
<O
"O

-~ 1,0
o
0,0 - -~ - -
0-5 10-15 25-35
Profundidade (cm)

Figura 15. Densidade de raízes de milho (florescimen to) sob preparo con encional (PC) e semeadura
d ireta (SD), em Argissolo Vermeli1o-Escuro localizado em Eldorado d o Sul, RS.
Fonte: Mello Ivo e Mielniczuk (1 999).

Na região dos cen-ados, em Sete Lagoas, MG, em Lato solo Vermelho, Beutler e t
al. (2001a) verificaram maiores valores de resistência à penetração para O _istema com
preparo convencional com arado de d iscos e cultivo em rotação com miU1 e feijão, na

MAN EJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


214 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

profundidade de 15-30 cm no olo, sendo o valor de 3,04 MPa classificado como alto,
podendo ser indicativo de restrição ao de envolvimento radicular e compactação do solo.
De modo geral, ao longo do perfil do solo, os maiores valores de RP foram observados na
semeadura direta (Figura 16). Não é e 'plicitada no artigo a um.idade do solo no momento
da detenn.inação da RP; apenas informa-se que o experimento foi feito sob condições
irrigadas por aspersão, in-igando-se sempre que a tensão de água no solo atingia 70 kPa,
medida por ten iômetros instalados a 20 cm de profundidade.
ssis e Lanças (2005) obtiveram valores de resistência do solo à peneh·ação (RP) na
faixa de 0,7 a 3,5 MPa para várias profundidades e sistemas de manejo avaliados, em
um itossolo ermelho, em Botucatu, SP (Figw-a 17). Os menores valores ocorreram na
profundidade de 0-10 cm, refletindo, de maneira geral, os efeitos da mobilização, da maior
quantidade de matéria orgân.ica e do tráfego de máqu.inas. A RP não variou com o tempo
de adoção da semeadura direta e em relação ao tipo de preparo. Nos diferentes sistemas
de cultivo, os sistemas SD4 e SD5 foram os que apresentaram ma.iores valores de RP em
todas as profundidades, sendo esses valores da ordem de 3,5 MPa na profundidade de 20
a 30 cm. Adotando o valor de 2,5 MPa corno resistência crítica ao crescimento radicular
da soja com o solo avaliado na consistência friável (Torres e Saraiva, 1999), os resultados
indicaram que as áreas de SD4, SDS e S012, nas profw1didades de 0-20 e 20-30 cm,
apresentaram valores superiores, evidenciando possíveis restrições à penetração de raízes,
em períodos de défice hídrico. Os resultados evidenciados indicaram ser a resistência do
solo à penetração, determinação recomendável para avaliar a compactação, considerando
os sistemas de manejo e a intensidade de tráfego, desde que suas determinações sejam
real.izadas com o solo em urna mesma faixa de umidade, aumentando, dessa forma, a
sensibilidade das avaliações.
Resistência à penetração vertical (MPa)
o ~ 1 U 2 ~ 3 ~
o
10
........
120
~
'"O
<!I
'"O -+-CGCM
;a 30

2 -a---coCM
l 40 -A-CDRMF
----SDCM
50
-8--CDRMF
60
-B-CN

Figura 16. Resisténcia à penetração ver_tical em Latoss~lo Verme!~~ Distrófico típico, em diferentes
profundidades, sistemas de maneJO e cerrado nativo, na reg1ao dos cerrados em Sete Lagoas,
MG. CGCM == preparo convencional com grade aradora e cultivo contú1Uo com milho; CDCM
== preparo convencional com arado de discos e cultivo contínuo com milho; CDRMF = preparo
convencional com arado de discos e cultivo em rotação com müho e feijão; SDCM = semeadura
direta e cultivo contínuo com milho; SDRMF == semeadura direta e cultivo em rotação com
milho e feijão; e (CN) == cerrado nativo, como testemunha referencial.
Fonte: Bcutll!T et ai. (2001a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRíBUTOS FÍS I COS DO SOLO 215

4.0
[o
Iro 3.0
V
ro
.b
<li
5o.. 2.0
,t.S
ro
·o
i:;
~ 1.0
-~
á1
o::
o.o
MN PC SDl 5D4 SOS 5D12
Profundi clí:id c (cm)
D 0- 10 D 10-20 20-30 ■ 30....rn

Figura 17. Va lores méd ios de resistência do solo à penetração nas profu ndidades avaliad<1. no<;
diferentes s istemas de manejo e tempo de adoção de semead ura di_reta, em um ;\!itossolo
Vermelho em Botuca tu, SP. MN = mata nativa; PC= preparo convencional; 5D1 = semeadura
diretacom um ano; 5D4 = semeadura direta com quatro anos; 5D5 = emead ura di reta com cmco
anos; e 5D12 = semeadura di_reta com 12 anos.
Fo n te: Assis e Lanças (2005).

Estrutura e agregação do solo

Conforme já abordado, a estrutura do solo é representada pelo arranjo das partícu!Js e


do espaço poroso entre essas, incluindo ainda o tamanho, a forma e o a rranjo dos agregado
formados quando partículas primárias se agrupam em unidades separáveis (~la rs ha ll,
1962, citado por Ferreira, 2010). Portanto, não existe solo sem estrutura, ou eja, me m o não
havendo agregados, as partículas do solo produzirão determinado arranjo que propiciar á
um espaço poroso entre elas; assim, estrutura e agregação apre entam igni ficado
distintos, sendo a presença de agregados importante, mas não condição es encial pilra
o solo apresentar estrutura. Por fim, a estrutura do solo apresenta-se como um atri buto
dinâmico, pois mesmo que a forma e o tamanho das unidades estruturais e mantenha m,
uma simples mudança na sua disposição alterará o espaço poro o e, em con equência, o -
processos que ocorrem no solo (Ferreira, 2010).
Na avaliação quantitativa da estrutura do solo, são utilizados atributo como a
porosidade e a distribuição de poros por tamanho, bem como a distribuição de agregad o
por tamanho e a sua estabilidade em água, pela relação que esse apresentam com ário
aspectos que envolvem as relações solo-água-planta.
A estabilidade dos agregados em água é importante na manutenção do e paço poroso
do solo, que influencia a aeração, a dinâmica da água, a temperatura do ola e o cre cimento
radicular. Ta l estabilidade é avaliada pela distribuição dos agregados por tamanho, sendo
realizada pelo peneiramento a seco e em água.
No caso do peneira menta em água, tem-se utilizado o mé todo desen oi ido por Tiulin
(1928), aperfeiçoado por Yoder (1936). A expressão da análise da di tribuição de agregado
por tamanho em um único índice é desejável para permitir/ facilitar comparaçõe · entre
a estrutura de vários solos ou para relacio nar h·a tamentos de ola com e ·sa distribuição,

MANEJO E CONS ERVAÇÃ O DO SO LO E DA ÁGUA


í 216 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

se~?º o diâmetro médio ponderado (DMP) a forma de expressão d e resultados mais


uhl_1zada ( ouza e Souza, 2009). Quanto maior o DMP, maior a proporção de agregados de
ma10r tamanho, o que normalmente é desejável no solo, dentro dos limites do tamanho da
fração areia, excetuando-se as situações de compactação acentuada, que também podem
re ultar em maior agregação.
_Robinson e Page (1950) consideraram que o método de Yoder (1936) fornece uma
medida da estabilidade de agregados do solo; quando uma amostra exibe alta estabilidade
de a~egados haveria pouca desintegração dos agregados, e as particulas resultantes seriam
relahvamente grandes, o contrário ocorrendo em amostras que exibem baixa estabilidade.
Haynes e Swift (1990) e Albuquerque et al. (2005) consideraram o DMP como um índice
de estabilidade de agregados, enquanto Silva e Mielniczuk (1997a,b, 1998) consideraram a
relação DMPúnudo/ DMPseco' assumindo que quanto mais próximo da unidade, maior seria
a estabilidade dos agregados; esse ú1dice parece ser bastante adequado para expressar a
estabilidade de agregados do solo.
Com relação ao DMP obtido pela via úmida, Kieh.l (1979) informou que, de maneira
geral, se aceita como sendo de baixa estabilidade os solos com DMP abaixo de 0,5 mm. Tais
solos tomam-se impermeáveis quando irrigados, formando-se crostas à superfície, a menos
que práticas especiais de manejo ou corretivas sejam empregadas. Solos com DMP acima
de 0,5 mm são considerados relativamente resistentes ao esboroamento e à dispersão; a
permeabilidade à água e ao ar não se alterará com bom manejo. Para a cultura do algodão,
em condições de cerrado de Goiás, Fia.lgo (2005) considerou como baLxo o DMP menor do
que 1,8 mm, suficiente de 1,8 a 2,4 mm e alto quando maior do que 2,4 mm.
O uso de preparo convencional, com excessivo revolvimento do solo pelo uso de
grades aradoras e arados de discos, promove a degradação do solo na camada superficial,
principalmente pela formação de camadas compactadas, levando ao awnento das perdas
de solo, água e nutrientes e à redução da produtividade das culturas. Corno alternativa,
surgiram manejes conservaciorústas, dentre os quais se destaca a semeadura direta, por
revolver o solo apenas na lmha de semeadura e promover menor alteração dos atributos
físicos do solo, garantindo a sustentabilidade deles em razão do tempo. A semeadura
direta tem evidenciado maior estabilidade de agregados do solo (Calegari et al., 2006),
considerando a não mobilização mecânica e a deposição de biomassa cultural residual na
superfície, incrementando a atividade biológica. Esse manejo prevê a rotação de culturas,
combinando várias espécies, com produções de raízes e de exsuda tos diferenciados. Nesse
particular, as gramíneas apresentam alta eficiência na agregação do solo, pela maior
produção de fitomassa, estimulando a atividade biológica, e pelo maior efeito agregador
do sistema radicular fasciculado.
Nesse sentido, Beutler et ai. (2001b) avaliaram a agregação em diferentes sistemas de
manejo em Latossolo Vermelho na região dos cerrados, em Sete Lagoas, MG, observando
gue a semeadura direta apresentou o maior diâmetro médio geométrico dos agregados
na superfície do solo, sem haver diferenças entre os sistemas de manejo para as cainadas
subs uperficiais (Figura 18).
o manejo de Planossolos de várzea do Rio Grande do Sul é tido de extrema
complexidade por causa de seu estado físico degradado, principalmente pela ocorrência
de valores elevados de densidade do solo e pela presença de argilas expansivas, que
dificultam as operações de preparo. Em tal solo, localizado em Capão do Leão, RS,
Palmeira et ai. (1999) observaram maior DMP nos sistemas de cultivo co1n mínima

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - IN TER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBU TOS F ÍS I COS DO SOLO 2 17

m o biliza ção do so lo, o co ntrári o ocorrend o naqu eles co m mél ior JÇJo Jntrópic...1 . O teo r
d e matéria org ânica correlacio nou -se positi va m r nlc co m o DMP ( r ig ura 1 ).

5 ':] CG01
a
a ■ CDCM
4 CDRMF
uSDCM a
0 SDR..\1F
□ CN

2 b

o
0-5 5-20 20-30
Profundidade do solo (cm)

Figura 18. Diâmetro médio geomé trico (DMG) dos agregados em Latosso lo Vermelho Di~trófico
típico, em diferentes profundidades e s istemas de ma nejo, na região dos cerrado em ·te
Lagoas, MG. Letras acima das barras comparam sistemas de manejo e m cada camada, pelo teste
de Scott-Knott (p < 0,05). CGCM = preparo convencional com grade arad ora e cultivo continuo
com milho; CDCM = preparo convencional com arado de discos e cultivo contínuo co m mi lho;
CDRMF = preparo convencional com arado de discos e cultivo em rotação com milho e feijão;
SDCM = semeadura direta e cultivo contínuo com milho; SDR.N[F = semeadura direta e cultivo
em rotação com milho e feijão; e CN = cerrado nativo como testemunha.
Fonte: Beutler et ai. (2001b) .

-l,O 2-!

3,0

?,.. -
~
É, ....(.

2,0 12 ::5
~ o..,..
o ~

1,0 6

0,0 ()
n T2 T3 n TS T6 T7 T'
Sistemas de manejo
Figura 19. Diâ metro médio ponderado dos agregados (DMP) e teor de matéria or->.'.\nica , 10) em
s is temas d e cultivo em Planossolo, localizado e m Capão do Leão, RS. TI = Sis ten1 a trad icio nt1.l
de cultivo; T2 e T3 = Sistemas de cultivo contínu o de a rroz; T-! = Sucessão de cultura - Mroz x
soja; TS = Rotação de culturas arroz, soja e milho; T6 = Azevém no inverno e arroz no verão, em
semeadura direta; T7 = Sucessão soja em preparo convencional e arroz em s~meadura dire ta; e
TS = Testemunha - solo ma ntido sem cultivo.
Fonte: Pa lmei r,1 e l a i. (1999).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


218 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Diferente iste1na de manejo resultam em desiguais condições de eq uilíbr io físico


do olo, em ra zão dos efeitos que esse exercem sobre a formação e estabilização dos
agr gado , que são responsá, eis pela dinâmica do sistema solo-pla nta. Nesse sentido,
S_ilva e ~ielniczuk (1998) avaliaram a agregação e a estabilização do solo sob diferentes
s1 tema de cultivo em Argissolo Vermelho-Escuro, em Eldorado do Sul, RS, e em Latossolo
Roxo, em anto Ângelo, RS, observando que gramíneas perenes tiveram grande efeito na
agregação e estabilidade dos agregados do solo, tanto por apresentarem maior diâmetro
médio ponderado de agregados pela via úmida, inclusive ultrapassando o valor de 2 mm,
considerado
, •
como crítico, bem como pela relação DMPum1do
. . / DMPS<."CO considerada como
1ndice de e tabilidade estrutural (Figura 20).
Oliveira et al. (2004), nas profw1didades de 0-0,05 e 0,05-0,10 m de Latossolo Vermelho,
em Planaltina, DF, observaram maiores valores de diâmeb·o médio geométrico (DMG) de
agregados nas áreas de ce1Tado e semeadura direta que os do manejo com arado de discos
(Figura 21). lsso foi ab·ibuído à nula ou pequena movimentação do solo naqueles usos e
manejes, causando menor desagregação dele, como também aos maiores teores de carbono
orgânico presentes nos manejes sem revolvimento do solo, visto que o carbono orgânico
tem papel preponderante nos processos de formação e estabilização de macroagregados no
solo, por ser eficiente agente de agregação.
Segundo Assis e Lanças (2005), trabalhando em Nitossolo Vermelho em Botucatu, SP,
a maior estabilidade de agregados no 5D12 em relação aos demais manejes sob semeadura
direta, verificada por meio do DMG (Figura 22), pode ser explicada por práticas de manejo
como redução na intensidade de preparo do solo, adição de materiais orgânicos e histórico
cultural da área, que têm significativa influência sobre a agregação, quando considerados
longos períodos de tempo. O DMG sob 5D12 foi o que mais se aproximou do apresentado
pelo solo sob mata nativa (MN). A maior agregação no sistema MN é resultante do
grande acúmulo de matéria orgânica ao longo dos anos, em virtude de não ter ocorrido
ação antrópica por mais de 40 anos, influenciando assim a agregação do solo. O DMG foi
crescente com o tempo de adoção da semeadura direta, na profundidade de 0-0,05 m, e o
sistema MN apresentou maior DMG em ambas as profundidades.

~ ,
MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA
VIII - IN TER-REU\ÇÃO ENTRE MAM EJ O E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 219

5,0 - r - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - -
---- ---- /\rgi.,c,olo Vl.'rnwlh o- E~um1 ------

4,0

V,
e...
~ 2,0

1,0

3,3 -r--------- -- - -- - - - - - - - - - - -
-------- Argissolo Vermelho - Escuro-- --
3,0

2,5

1,0

0,5

0,0 +--'----'--

0,8
--- - Argisso lo Vermelho-Escuro ------ -- L1to~ olo Ro'\o -

0,2

0,0
Descoberto Aveia/ milho Siratro Capim- Trigo/ ,;oja C 1p1m-
pangob ·dina
Profund id,hk (cm)
O O- LO D l ll-2ll ■ ~O-,O

Figura 20. Dis tribuição do diâm etro médio ponde rado de agregad os em -- istemas de culti o, obtido
por via seca (DMPs) e via úmida (DMPu), e estabiJidade estrutural (DNlPu/ DMP-) em Argi -solo
Vermelho-Escuro, em Eldorado do Sul, RS, e em Latas olo Roxo, em Santo ,·\s1gelo, R .
Fonte: S ilva e Mielniczuk (1998).

,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
220 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

5,0

4,.0

s'
53,0
----
ü
::E 2,0
o
1,0

0,0
0-5 5-10 10-20 20-30 3040
Profundidade (cm)
1 D Cerrado D Semeadura direta ■ Arado de discos 1

Figura 21. Diâmetro médio geométrico (DMG) dos agregados do Latossolo Vermefüo sob diferentes
usos e manejas do solo, em diferentes profundidades, em Planaltina, DF.
Fonte: Oliveira et al. (200-1).

6,0

5,0

6 4,0

-Ei
C) 3,0
~
o 2,0

1,0

0,0
MN PC SD1 5D4 SDS 5012
Profundidade (cm)
O 0-5 ■ 10-15

Figura 22. Diâmetro médio geométrico (DMG) de agregados em diferentes usos e manejos,
profundidades e tempo de adoção de semeadura direta, em Nitossolo Vermelho em Botucatu,
SP. MN = mata nativa; PC = preparo convencional; SO1 = semeadura direta com um ano;
SO4 = semeadura direta com quatro anos; SOS = semeadura direta com cinco anos; e 5D12 =
semeadura direta com 12 anos.
Fonte: Assis e Lanças (2005).

Melhoria da qualidade estrutural e mecânica do solo

O manejo adequado do solo deve considerar práticas que mantenham ou melhorem


as condições estruturais, o que normalmente está relacionado ao aporte de materiais
orgânicos e à atividade biológica, bem como às minimizações das perturbações advindas
da aplicação de cargas na superfície e à ação desagregadora dos implementas utilizados
no preparo do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


...

VIII - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBU TOS FÍ S ICOS DO SOLO 221

As medidas preventi vas relacio nad as à qua lid ade estruturél l e meGmrca d s lo
abrnngem o uso ele s is temas d cultivo divers ificadoc;, com Jlta produção d fitomac;sa
e aporte de material vege tal residual, com cobertura permanente do solo e cresc imento
abundante de raízes. Isso também estimul a él t1ção da macro e microbi o ta do so lo, q ue
proporciona maior estabi lização dos agregados e eq uil íbri o na distribuição de poro5.
A biomassa vegetal residual, além de contribuir com a adição de matéria o rgâ nica
ao solo e, com isso, proporcionar maior estabi lid ade da estrutura e alterar a consi f nci<1
dele, pode amortecer parte da carga adicionada a esse, como cons tatado por Braida et
ai. (2006) em teste de compactação de um Argissolo e de um N itossolo. Destt1rn-s que a
matéria orgânica do solo, tanto humificada quanto em processo de e rabilização, colabo rél
na qualidade estrutmal desse. Assim, as práticas que promovem o acú mulo de matéria
orgânica no solo normalmente são benéficas com relação à agregação e conformação do
poros nele, de forma a estimular o crescimento das espécies culti va das, aumentando o
potencial produtivo dele.
Um critério fundamental também relacionado ao manejo e s uas interferênc ias em
atributos físicos do solo é considerar a condição de consistência friável no momento
das operações de preparo do solo (Quadro 4). Isso normalmente implica e m trabalha r
mecanicamente o solo quando a umidade estiver entre os limites de contração e de
plasticidade, o que reduz a deformação dos agregados e minimiza a compactação.
Entretanto, devem ser evitadas aplicações de cargas, seja pelo tráfego de máq u ina ou
pelo pisoteio animal, em condições de solo úmido, coi ncidindo com a umi dade critica de
compactação.
A descompactação do solo é uma medida necessária quando o comprometimento
da qualidade estrutural for atingido, indicado pela resistência à penetração e dens idade
do solo críticas, além de baixa porosidade total e restrições quanto à macroporo idade.
Identificada a camada compactada, o rompimento mecânico pelos implemento como
escarificadores e subsoladores deve ser realizado em condições de solo mais seco do que
o ponto de umidade ideal para o preparo (Quadro 4). Em manejos conservacionistas, a
atenuação da compactação superficial do solo pode se dar por sulcadores presente na
semeadoras, capazes de romper a camada superficial do solo. Destaca- e que a ação do
implementas descompactadores normalmente é efetiva apenas em curto prazo, pois,
gradativamente, o solo se reconsolida. A persistência de prática de descompactação
deve estar associada ao aporte de matéria orgânica e ao estímulo à atividade biológica
e das raízes, que recuperam a qualidade estrutural do solo, normalmente incrementada
significativamente em médio e longo prazos.
A prevenção da compactação deve ser considerada a principal estratégia de manejo
e se dá pela redução da carga aplicada à superfície do solo, melhor distribu ição da ma a
por unidade de superfície e utilização de áreas restritas do terreno onde se confina o tráfego
(carreadores). Reduzir o número de operações mecânicas, alternar o tipo de equipamento
e variar a profundidade de operação são estratégias preventivas fundamentais, a sim
como utilizar s is temas de cultivo com espécies com abundante istema radicular e capazes
de adicionar fitomassa residual em quantidade elevada na superfície do oi (Hamza e
Ande rson, 2005). Em condições de solo úmido durante o período de crescimento d a cu ltura,
é possível ocorrer expansão adequada do sistema radicular, sem comprometer a absorçã de
água e nuh·ientes.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


222 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET Al.

Manejo, disponibilidade de água e aspectos hídricos do solo

Retenção de água no solo

água n o solo é mn dos fatores físicos de crescimento vegetal. O manejo do solo, por
alterar a estru tura e o espaço poroso a ela associado, altera a energia com a qual a água está
retida no olo, interferindo em diversos processos, com influência no crescimento vegetal,
à medida que se relaciona com aspectos como: absorção de nutrientes pelas plantas,
produção e aporte de matéria orgânica ao solo, vida microbiana, turgescência das plantas,
difusão e controle da temperaturn do solo, etc.
Dois são os processos que explicam a retenção da água num solo n ão saturado. No
primeiro deles, a retenção ocorre nos chamados poros capilares e pode ser ilustrada pelo
fenômeno da capilaridade, que está sempre associado a uma interface curva águ a-ar.
1o segundo processo, a retenção ocorre nas superfícies dos sólidos do solo, como filmes
presos a essas pelo fenômeno da adsorção. Desses dois processos, o mais relevante é o da
capilaridade (Libardi, 2010).
Como todo corpo na natureza, a água no solo está retida por determinada energia,
em razão do diâmetro dos poros e da área superficial específica que a retêm. A retenção e
movimentação da água no solo, sua absorção e transporte pelos vegetais, assim como sua
perda para a atmosfera são fenômenos relacionados a essa quantidade de energia.
Pela dificuldade em dimensionar essa energia em valores absolutos, o estudo da
energia da água no solo considera duas situações, partindo de estados de equilíbrio: 1úvel
de energia da água no solo; e 1úvel de energia da água livre, à temperatura e pressão
constantes (nível de referência com valor igual a zero). A diferença de energia entre as duas
situações dimensiona o potencial total da água no solo; em dois pontos no solo, a água
sempre se move do ponto de maior potencial para o ponto onde ele é menor. O potencial
total da água no solo é composto pelos potenciais gravitacional, de pressão, mátrico e
osmótico. Os potenciais gravitacional e osmótico nunca param de atuar, mas o potencial
de pressão só atua em solo saturado, enquanto o potencial mátrico só se manifesta em
solo não saturado, pois, quando saturado, a água está no nível de energia livre e o seu
potencial mátrico é zero. Os valores do potencial mátrico são negativos, pois representam
a energia d a atração entre a água e os sólidos ou matriz do solo; nesse caso, existem as
forças capilares, responsáveis pela retenção da água nos poros capilares dos agregados,
e as d e adsorção, responsáveis pela retençãoda água na superfície das partículas do solo.
O potencial m átrico é importante em todas as condições de solos não saturados, onde a
inte ração entre os sólidos e a água está sempre presente. Como o potencial m á trico varia
com O conteúdo d e água no solo, sendo tanto menor quanto mais seco estiver o solo,
buscou-se estabelecer uma relação entre ele e o conteúdo de água, o que se consegue por
meio da curva d e retenção de água no solo (Libardi, 2010).
Dexter (2004a,b,c), considerando que a estrutura do solo é a causa comum para
problemas físicos, como baixa infiltração de água, baixa aeração, presença de enxurrada e
erosão, elevada resistência do solo ao crescimento radicular e outros, desenvolveu o índice
s com base na declividade da curva de retenção de água no seu ponto de inflexão, que é
caracterís tico de cada solo, condição de manejo, etc. Quanto maior a degradação do solo,
menor é a inclinação d a curva de retenção, menor é o índice S e piores são as condições
estru turais do solo. Segundo esse autor, a declividade S no ponto de inflexão é uma m edida

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


...

VIII - INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E A TRIBUTOS FÍSI COS DO SOLO 223

da mic roestrutura do solo, qu e pode e r usada como índice d~ qua lidade fí · ica, desd'
quando governa diretamente vários atributos físicos eles e.
Jong van Lier (2012) ap resentou umJ a ná lise crítica em relaçJo JO índice 5 paril avt1 li.:ir
a qualidade do solo. Segundo ele, a gama de va lo res o btid os para o índice 5, ora ltos e m
solos evidentemente degradados, ora bai xos sem aparente corre lação com .:i produtivid,1de
desses, demonstra aquilo que intuitivamente poderia ter sid o desconfiado: o índice S não
apresenta va lores limites de qualidade física que independem do tipo d e solo e ambiente.
Essa constatação, por sua vez, põe em xeque o va lor do índice S como indicador, pois, em
termos absolutos, o seu valor não determina a qu alidade física de um solo. :'-JJ melhor dzis
hipóteses, o índice S pode ser utilizado part1 comparar, dentro de um mesmo pedossistemêl,
um solo sob diferentes usos ou manejas agrícola. esse caso, em última análise, o índice
S refletirá a redução da porosidade total (ou da macroporos idade); medir J porosidade
total de um solo é muito mais fácil do que determinar seu índice 5. Há, portanto, fortes
evidências de que o índice S não possui valor adicional, quando comparado a medida ·
mais simples já existentes. Nesse contexto, Jong va n Lier (2012) concluiu que o índ ice 5
não é um indicador robusto para a medição da qualidade física do solo, nem é eficiente no
auxílio à busca na sua obtenção.
No entanto, é evidente que o manejo, por alterar a estrutura do solo e o espaço poroso
a ela associado, promove alterações também na curva de retenção de água no solo, quanto à
declividade dessa no seu ponto de inflexão e, assim, na qualidade física do solo. curva de
retenção de água é essencial em estudos com vistas a nortear as práticas de uso e o manejo
sustentável dos sistemas de produção agrícola. Modificações na estrutura do solo associadas
à compactação e à perda da estabilidade dos agregados alteram a ctistribuição dos poros por
tamanho, bem como a retenção, o movimento e a disponibilidade de água no solo.
Klein e Libardi (2002), trabalhando em Latossolo Vermelho de textura argilosa de
Guaíra, SP, constataram que o uso e manejo do solo alteraram consideravelmente o traçado
das curvas de retenção de água no solo em razão da redução da porosidade e alteração
da distribuição do diâmetro dos poros. Essas alterações foram mais acentuadas na área
irrigada, coincidindo com as camadas de até 0,4 m, mais sujeitas à ação do manejo e onde
ocorreram os maiores valores de densidade do solo. As curvas evidenciaram- e muito
similares nas maiores profundidades (Figura 23). A área de sequeiro e a irrigada, em
comparação com a mata, tiveram sua estrutura modificada, com alterações significativa
na densidade até a profundidade de 0,4 m. As alterações na densidade promoveram
menor umidade do solo na saturação e maior no ponto de murchamente permanente.
Essas diferenças podem, no entanto, interferir muito pouco na disponibilidade de água às
plantas, pois maiores valores de umidade próximos à saturação significam água facilmente
drenável. As diferenças importantes estão nos valores de umidade próximos ao ponto
de muschamento permanente, pois maiores valores significam mai água indisponí el.
Analisando as curvas de retenção a 10 cm de profundidade, observou- e que, na condição
de solo saturado, a umidade foi 0,15 m 3 m·3 maior na mata, enquanto na tensão de kPa,
assumida para esse solo como condição de capacidade de campo, e no PNLP, os valore da
umidade foram, respectivamente, 0,1?? m 3 m·3 e 0,051 m 3 m·3 superiores no irrigado. Isso
indica que as alterações na porosidade provocada pelo aumento da densidade d sol
foram mais acentuadas na porosidade relacionada com o mo imento rápido da água no
solo do que em relação à retenção de água, que até aumentou.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


224 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

Quanto à umidade na capacidade de campo, Beu tler et ai. (2001a), em Latossolo


\ ermelho na região do cerrado de Sete Lagoas, MG, não observaram d ife renças
significativa entre o rnanejo avaliados (CGCM = preparo convencional com grade
aradora e cultivo contínuo com milho; COCM = preparo convencional com arado de discos
e cultivo continuo com milho; CDRMF = preparo convencional com arado de discos e
cultivo em rotação com miil1o e feijão; SDCM = semeadura direta e cultivo continuo com
milho; SDRMF = semeadura direta e cultivo em rotação com mill10 e feijão; e CN = cerrado
nati, o como testemunha). Os autores não informaram no h·abalho como foi determinada
a capacidade de campo.

0,70
0,60 • Mata
• Seque iro
0,50 e Irrigad o
0,-t0
0,30
0,20
0,70
0,60
~

E 0,50
~

~ 0,40
o
e;r, 0,30
o
.J
,:
0,20
.~ 0,70
'2
~ 0,60
e
·:::. 0,50
~
0,-10
:.,
0,30
0,20
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0, 1 10 100 10.000
PotenciaJ mátrico (-k Pa)

Figura 23. Curvas de retenção de água no solo para três manejas, em diferentes profundidades, em
Latossolo Vermelho de textura argilosa de Guaíra, SP.
Fonte: Klein e Llbardi (2002).

Oliveira et ai. (2004) observaram, em Latossolo V~rmelho d e Plan a l_tina, J.?F,


d es 1ocamen to para cima d as curvas de umidade do solo na faixa correspondente as te n soes
d d d" d ct·
entre 6 e 100 kPa, tanto no preparo com ara o e iscos quanto na semea . ura ireta,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


VIII - INT ER- RELAÇÃO ENTRE M ANE J O E A TRIBUT OS F Í SI COS D O S O LO 225

em relação ao cerrad o, indicando maior retenção e dis ponibi lidad e de águ a pelo ·olo nos
s is te mas sob ma nejo nessa fai xa de tensão (Fig ura 24). a fa ixa de tensão entre 100 e ·1 -oo
kPa, particu la rmente nos sis temas q ue e nvo lveram culti vo, nas vá rias profund id ade , as
curvas exibiram as pecto próximo do retilíneo, assin tó tico ao eixo d a abscissa, indicand o cl
exis tência de ul h·am.icropo ros com baixa cap acid ade de armazenagem de água . Con for me
já relatado neste mesmo trabalho, observou-se que, em com pa ração ao cerra d o, os solos
cultivados sofreram redução na macroporosid ade e e levação na porosidade de re enção
de água, em toda a profundidade anali sa da (Fi gura 8). Resende et ai. (1999) ugeriram
que nos Latossolos ma is intemperizados, com ba ixa capacidade de armazenagem e e gua
para as p lan tas, a compactação desse poderia ser benéfica em termos de retenção de água,
pela transformação de parte dos mac roporos em micropo ros; no entanto, dev e-se atentar
q u e essa solução pode gerar outros problemas, como é o caso de dific uldade de aeração e
au men to da resis tência do solo à pene tração .

0,8
0,7 0-S cm _ Cerr.i<lo
0,6 - ~me.1durJ di reta
0,5 - - -- · ,\r.,do d " d1S<"o-;
0,4
0,3
0,2
0,1
0,8
0,7
0,6 - Cerr,,J o
0,5 - 5-..·mead urJ dirt'tJ , Arado Jt" J1....:-o-.
0,4
0,3
0.2
0,1
,- 0,8
-- 0,7

-o
0,6
0,5
10-20 cm
- C,•rrJdo

J 0,4
.,, 0,3
E
- Sc-mí',1dura dtret;i, ,\rado de d«os

::,
0.2
Q 0,1
;..
,., 0,8
::,
:.o 0,7 - Ce rr.1do
-< 20-30cm
- ScmeJdura Jir,1-a
0,6
-- --- - Ar:itlo dl· di<'ó("l):,,
0,5
0,4
0,3
0,2

%.1
0,7 - c l•n-.1Lh1
0,6 30-40cm
- S.,m,•ad ur,1 J 1n,ta
0,5 - - -- - ,\ raJ o J~ d 15o:o,,
0,4
0,3
0,2
0,1
0,01 0,1 10 100 U XXl

Figura 24. Curva característica de água de cinco profundidades do La tossolo Vermelho sob cerrado,
semead ura direta e preparo com arado de d iscos, em Planaltina, DF. 111As curvas ão idênticas
pa ra os dois manejos.
Fonte: O live ira e t ai. (200-I).

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO S O LO E DA ÁGUA


226 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Com objet·ivo de a aliar a inter-relações entre atributos físicos e os coeficientes da


curva d retençà de água de um Latossolo Vermelho Oi trófico, ob difer ntes sistemas
de u o, em Maring , PR, Machado et ai. (200 ) elecionaram trés área contígua com u o
do olo diferenciado no último 20 ano , endo: m ata - flor ta e tacional serrúdecidual;
pou io com c bertura de Brachiaria dccumbcn , manejada com trê a qualT r ada anuai ,
com trator e roçadei ra; e cultivo anuaJ com preparo convencional d oi por m i d
aração na camada de 0-25 cm d e profu ndidade gradagem le, . A inten ifi aç o d u o
do oi (ma ta, pou · io ultivo) re ultou no maiore valor de d n idad d - 1 .. na
redu ão do teor de orgânico. Em razão di , verifi u- na f rma da
cur a d retenção d água (Figura 25), com o olo ob mata apr ntando m.1i r r t n çã
de água ntr os p te11ciai má tricos d -1 a -10 kPa de -100 n -1 00 kPa; _ b p u io,
not u - ligeira up rioridad e d r tenção de, gua n lr -10 -1 kPa, , tribu dil maior
frequên ia d poro om m nore tama11h 11 a faixa de pot 11 iaL . urva d' r t -11 ão
d água n lo b pou io apre entou maior rei n à de á uJ cm mparn ão a lo ob
ultivo, e um~11t na d n ·idade do cio m dific u adi trit ui ·ã de p r s n
ulliv pou sio, prin ipalm nte naquel por qut t ' m á ua m p t n iaL maior
qu -10 kPa. P rl~ nt.o, a m difi a "S o rrida n t re d' -or âni na d n idad
d oi 'J li a ram a mudança n ga ti a na urva de rct n ão d á ua d sol , b
pou io ultivo, ara teriz nd o ornprom time11t da qualidad fí i a h fdri a d ~ lo.

0,15
O . 1J ta nat1,·a

íl,'.10 Pou io (Rr,ii/ú,mn dei 11111/Jm:-)

tl,_5 O ul ti,·l, (cul tura~ ;rnu. 1 )


t:J)
-L

-t.l)
.:,1.

~
\.;
e
_,
0,20

•e:;
E
·e-
.- 0,15
r:i
te
~

6}, 0, 10
~

0,0.

O,l tl
-0,1 -1 -10 -100 -1 (UJ - 10000

Figura 25. un•a dl' rden · o dl' agua no s 1 par.1 · ·i tema d, u J o •,olo _ b m, 1 (rwti ,1),
p usi (Brac/1i11rin kn1111l•t'11:-) ' ·ulti, o (cultur.1 anu.ii · ). em Lal ·~oi ernwlho d• aring ,
PR.
Fonte: 1acha 1o l'I .il (200f)

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 227

Infiltração de água no solo


A infiltração de água no solo consiste na entrada de água através de sua superfície,
no entido vertical descendente, podendo ser influenciada pelos atributos intrínsecos
dele e pelo modo como a água atinge sua superfície. A taxa de infiltração é definida como
a quantidade de água que atravessa a superfície do solo por unidade de tempo, sendo
normalmente expressa em mm h·' (Libardi, 2005) . A capacidade de infiltração éa quantidade
má, ima de água que pode infiltrar no solo, em um dado intervalo de tempo, sendo expressa
geralmente em mm h·1• A capacidade de infiltração só é atingida durante uma chuva
s ' hou ver excesso de precipitação. Caso contrário, a taxa de infiltração da água do solo
não m .íx ima, não se igunlando à capacidade de infiltração. A capacidade de infiltração
,1prese nta ma gnitude alta no início do processo e, com o transcorrer desse, atinge um valor
a pro imadamente constante após um longo período de tempo, que é denominado de taxa
de infiltrJçiio es tável, comumente conhecido com velocidade de infiltração básica (VIB). Se
urn so lo rec be r água em ta xa acima da capacidade de infiltração, a taxa de infiltração será
o rr s po nd e nle à capacidade de infiltração daquele solo, devendo ocorrer empoçamento
da ág ua na s uperfície e escoa mento s uperficial, a depender do relevo (Carvalho e Silva,
2006) .
A ta xa de infiltração de águ a no solo, isoladamente, pode ser considerada o atributo que
m elho r re fl e te a uas condições físicas gerais, s ua qualidade e estabilidade estrutural, por
integrar diverso atributo do solo como textura, estrutura, porosidade total, distribuição
d o_ p ro po r tamanho, dis tribuição de agregados por tamanho e sua estabilidade em água,
o nduti v idade hidráulica, umidade, atividade biológica, cobertura vegeta l, rugosidade
s u r e rficial e declividade do terreno, dentre ou tro .
A taxa de infiltração de água no solo, partindo do estado seco, decresce em razão do
tl.'mpo de uma chuva ou de irrigação, pelo decréscimo do g radiente hidráulico vertical, que
· rre com o avanço da frente de umedecimento no perfil do solo. A ocorrência de se lamento
. u perficial, de grande importância quando a energia das gotas de chuva está envolvida,
l,1mbl:m diminui a taxa de infiltração; nes te caso, forma-se fina camada adensada na
s upe rfície, com porosidade total, macroporosidade e condutividade hidráulica reduzida.
ob e a condiçõe , a taxa de infiltração de âgua no solo diminui de forma muito rápida e,
na maior parte da ezes, aumenta o e coamento superficial, podendo acelerar o processo
e ro ivo.
om o tran correr do tempo, com ou sem selamento s uperficial, a taxa de infiltração
vai diminuindo, tendendo para uma taxa constante de infiltração, que será igual à máxima
condutividade hidrá ulica da camada limitante no perfil do solo (Klein, 2012).
onsiderando que o i temas de manejo influenciam as condições intrínsecas do solo
e d e ua s upl.'rfície, evidente que alterem a taxa de infiltração de água nesse.
T r ll..,a lh,rndo em ato olo Vermelho-Escuro de Passo Fundo, RS, Barcelos et a i. (1999)
obti vL'ram mJiorc taxas de infiltração de água no solo para os manejas conservacionistas
de solo (se meadura direta e cultivo mínimo), em relação ao preparo convencional, exceto
no p ' ríod o imediatamente após o preparo de solo e, ou, semeadura da aveia em s ucessão
ao milho (Figura 26). Na comparação entre as épocas de realização dos testes de chuva
imul,1da, o bservou-se que a maiores taxas de infiltração de água no solo ocorreram no
culti vo m ínimo, enquanto as maiores taxas de cobertura da s uperfície do solo ocorreram
na sem eadura dire ta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


228 LUCIA NO DA SILVA SOUZA ET AL.

60
40 I • 8 ~
(3,2(2 X l cr' .1 + 8,24 X 40 I • (Ul9S X 10' .1 ♦ 8,28 X tO'í'
20 R' • 0,9813 (1)
20 R' • 0,9583 (a)
r.t: o
1 140
120
ô 100
l
ij3
80
.s 60
l• 8,30xlcr' 60
.,," 40 (2,U7 x lcr' .1 ♦ 8,30 x lcr')l 81xlcr' 8.?,!!xlcr'
40 I • (2.191x 1~I ♦ 8,29 X to'í' 40 I • (2,822 X ler' .1 ♦ 8,28 X ti?í•
lt 20 R' • 0,9781 (b) (b)
20
(b)
~ 20 R' • 0,7142 R' •0,9652
o o
140
140
120
100
80
60
:::::::::--..._
~
(e)
60
40 l ~xlcr' S~x 10•
• (3,122 X 1~I ♦ 6,32 X lcr')' (e) 40 I • (2.224x lcr' .1 ♦ 8,28 XlOj' (e) 40
I • (6,lOl
20
R'• 09576 20 R' • 0,8184 20 R' • ,9163
o o o
Tcmpo,t(h) Tcmpo, t(h) Tcmpo,l(h)

(I) (II) (III)

Figura 26. Taxa de infiltração observada e estimada durante os 90 min de chuva simulada para o
preparo convencional (a), cultivo mínimo (b) e semeadura direta (c), 45 d após a semeadura
do milho (I), após a colheita do milho (II) e após a semeadura de aveia-preta (III), em Latossolo
Vermelho-Escuro de Passo Fundo, RS.
Fon te: Barcelos et aL (1999).

Vieira e Klein (2007) avaliaram os efeitos da escarificação na descompactação de uma


área sob semeadura direta, observando aumento da taxa de infiltração de água no solo,
dois anos após a realização da prática, comprovando o efeito residu al dessa (Figura 27), em
Latossolo Vermelho de Passo Fundo, RS.

uo
-
;e 100 SOE: y=66,858x-0.ir.:,; R2 =0,796

QJ ê 80
"'O -
rd o SD: y=34,522x-0.ir"" R2 =0,707
~!<li 60
E- ~
.l:l
] 40 .. . . . . . . . . . .. . . • . .
SOE

20
SD
o
o 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo (mim)

Figura 27. Taxa de infiltração da água no solo em raz.ão de sist_e ~as de manejo, em Lato~solo
Vermelho de Passo Fundo, RS. SDE =semeadura direta escarificada e SD = semeadura direta
continua durante oito anos.
Fonte: Vieira e Klein (2007).

MAN EJO E CONS ERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


VIII - IN TER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E A TRIB UTOS F ÍS I COS DO SOLO 229

Ass is e Lanças (2005) élva liarn m él infiltrnção de ág ua no so lo em d ife rente5 i temas


de m anejo, e nvo lve ndo ma ta nativa (M N), preparo convencional (PC) e semeadura direta
com um a no (S01), quatro anos (S04), cinco a nos (S0 5) 12 anos (S012), em itossol
Vermel ho, e m Botucatu, SP, observa nd o qu e os ma n jos PC S01 , S04 e 5D5 não diferiram
estatisticamente entre si (Quadro 5), fa to ex plica d o, possive lmente, pela igualdade
observada na macroporosiclade do solo. A infiltração no siste ma M foi menor do qu no
S012, contrariando o normalmente observado, ou seja, ma io r infiltração e m área de matc1
n ativa do que e m solos cu lti vados, provavelmente pela mai o r macroporosidade no 5D12.

Quadro 5. Médias geomé tricas(ll de infiltração tridimensional e da condutividade hid ráulica do solo
saturado e seus respectivos coefi cientes el e va riação, de ter minados na profundidade de 0-0,15 m
nos diferentes sistemas de manejo e tempo d e adoção de semeadu ra di reta, em Nitos olo
Verme lho em Botucatu, SP

Sistemas Infiltração tridimensional Condutividade hidráulica


-------------------- mm h-1 - - - - - - -- - -- -
NfN(2) 233,45 b<3i 119,1 a
PC 83,50 c 10,-12 c
SDl 94,82 c 16,67 bc
S04 105,65 c 24,59 b
SOS 91,97 c 18,33 bc
S012 374,63 a 137,51 a
CV(%) 6,54 30,13
l'IMédia de 30 repetições por sistema. r-1rv1 = mat,1 nativ;:i; PC= preparo con vencional; 5D1 = s..-meadura din-1::i com um .mo; 50-t
= semeadura direta com qua tro anos; SDS = semeadu ra d ire ta com ci nco ;:inos; e 5D12 =seme..idura direta com 12 anos. ' \ ;ilores
seguidos por letras diferentes na mesm a coluna indicam d iferenças sign ificativas entre sistema - pelo teste de Tukey (p < 0.05).
Fonte: Assis e Lanças (2005).

Condutividade hidráulica do solo

A condutividade hidrá ulica do solo ex pressa a faci lidade com q ue a água se movimenta
no perfil desse e está diretamente relacionada à produção das culturas agrícolas e à
preservação do solo e dos recursos hídricos. É influenciada pelo tamanho e pela forma das
partículas, pela superfície específica, pela q ualidade, pela tor tuosidade e pela continuidade
dos poros do solo, principalmente pela funcionalidade do s is tema poro o do solo,
e n g loba ndo a tributos como quantidade, tama nho, morfo logia, continuidade e orienta -ão
dos poros. Todas esses atributos do espaço poroso, que influen iam a condutividade,
podem ser re unidos no termo único "geometria porosa do solo" (Libard i, 2005; Klein,
2012) . A teoria sobre o movimento de água no solo pode ser encontrada em Libardi (2005,
2010).
A cond utividade hidrá ulica é máxima em solo saturado, onde todo o poro cStã
ch eios de água, send o denominada d e condutividade hidrá ulica do olo aturado; sua
m agnitude aprox ima-se d a taxa cons tante d e infiltração, sendo também definida como
permeabi lidade do solo.
Em condições de não saturação, em que o solo apresenta potenciais negativos, a
condu tividade hidrá ulica reduz exponencialmente com a wnidade, pela atuação de fo rças

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


230 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL,

ma~ciai do olo e pela tensão superficial na interface água-ar, além de que, quando a
mrudade diminui, aumenta a tortuosidade do carnin.ho a ser percorrido pela água (Baver et ai.,
19~)- a condição, os poros interagregados são facilmente esvaziados, fazendo decrescer
rapidamente a condutividade hidráulica, e os poros intra-agregados esvaziam-se mais
lentament , proporcionando assin, condutividade hidTáuJ.ica menor. O conhecimento do fluxo
da água em solo não saturado é de fundamentaJ importância no entendin1ento dos processos
de infiltração, redistribuição e, principalmente, suprimento de água e nutrientes às plantas.
Considerando que a condutividade hidráulica é diminuída por meio de alterações na
estrutura do solo, como aumento da densidade do solo, alteração na agregação, redução
da porosidade total e alteração da distribuição do diâmetro dos poros, é evidente que o
seu manejo, ao modificar esses atributos, consequentemente, altera a sua condutividade
hidráulica. A condutividade hid.J"áulica do solo é considerada wn dado de grande utilidade
na diferenciação dos efeitos de sistemas de preparo na movimentação de água no perfil.
Em Latossolo Vermelho na região dos cerrados de Sete Lagoas, MG, Beutler et al.
(2001a) obtiveram valores de permeabilidade à água em sistemas de manejo bem inferiores
àqueles observados sob cerrado nativo (Figura 28). Os sistemas envolvendo o preparo
convencional com grade aradora e a semeadura direta foram os que apresentaran1 menores
valores de permeabilidade à água.

100 a

-
}:
90
80

-~
QJ
"'t,
(IS
"'t,
70
60

~
50
.o
(IS
QJ
40

~
P-
30
b
20 b
b b b
10
o
CGCM CDCM CDRMF SDCM SDRMF CN
Sistema

figura 28. Permeabilidade do solo na profundidade de 15 cm em La tossolo Vermelho distrófico


típico, em diferentes sistemas de manejo e cerrado nativo, na região dos cerrados de Sete Lagoas,
MG. CGCM = preparo convencional com grade aradora e cultivo contínuo com milho; CDCM
= preparo convencional com arado de discos e cultivo contínuo com milho; CDRMF = preparo
convencionaJ com arado de discos e cultivo em rotação com milho e feijão; SDCM = semeadura
direta e cultivo continuo com milho; SDRMF = semeadura direta e cultivo em rotação com
milho e feijão; e (CN) = cerrado nativo, como testemunha.
Fonte: BeutJer el ai. (2001a).

A utilização continuada da semeadura direta pode resultar em redução da


macroporosidade e aumento da microporosidade, refletindo na dinâm ica da água no solo.
Como a escarificação é considerada uma ferramenta para proporcionar a descompactação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INT ER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTO S FÍ S I COS DO SOLO 231

do so lo, Vie irn e Klein (2007) av.i li,iram os efeitos dessa prátiG1 num.i é.Í rea sob ·emeadu ra
dire ta (SD), observa ndo aumento na condutividade hidrá ulica do solo c;a turado, do i dnos
após a rea lização da esca rificação (SDE) (Fig ura 29), comprovando o efeito residuiJI dess.1
prática, e m Latossolo Vermelho ele Passo Fundo, RS.
o

:[ 10
Q.J
"O
rt1
"O
:ae:; 15
-2o
d: 20
-so
25 - SOE

30
o 100 200 300 400 500
1
Condutividade hidráulica em solo saturado (mm h· )

Figura 29. Condutividade hidráulica em solo saturado em razão do manejo e da profundidade. em


Latossolo Vermelllo de Passo Fundo, RS.
Fonte: Vieira e Klein (2007).

Assis e Lanças (2005) avaliaram a variação da condutividade hidrá uJica do solo


saturado em sistemas de manejo envolvendo ma ta nativa (MN), preparo convenciona l
(PC) e semeadura direta com um ano (501), com quatro anos (SO4), com cinco anos (SOS) e
com 12 anos (SO12), em Nitossolo Vermelho em Batuca. tu, SP, observando valores em IN
e no SO12 de 11 e 15 vezes, respectivamente, maiores que no PC (Quadro 5). A mais baixa
cond u tividade hidráulica nesse último ma nejo foi atribuída à desestruturação exces iva
do so lo decorrente da utilização da aração e gradagem, resultando, assim, em partículas
mais finas selando parcialmente os poros. A explicação possível para resultados superiores
n a SD, em relação ao PC, deve-se à continuidade de poros, tortuosidade dos interstícios e
maior atividade biológica que facilita a movimentação tridimensional da água.

In tervalo híd rico ótimo (IHO)

O IHO é definido como a faixa de umidade onde são mínimas as limitações ao c1·escimento
das plantas associadas ao potencial da água no solo, à aeração e ao impedimento mecâ nico ao
crescimento radicular, sendo considerado um índice de qualidade estrutural do solo (Silva et
aJ., 1994). Portanto, ele integra, num só ú1dice, fatores como a porosidade de aeração superior a
O,1 m 3 m·3, água no solo retida a tensões enb·e a capacidade de campo e o ponto de murchamen to
permanente e umidade em que a resistência do solo é igual a 2 ~CPa (Figura 30), todos esses
diretamente relacionados com o crescimento das plantas. Por meio do íHO é po sivel estimar
o valor de densidade do solo crítica (DsJ, em que o l.HO é igual a zero.

M AN EJ O E CO NSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA
232 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

0,55
• CC
6 6
0,50 6 6 DPMP
6t::,,. 6 PA
6t::,,.6t::,,.
6t::,,.6t::,,. o RP
0,45 6t::,,.66t::,,.
li""'
E

-
'"'e
t il
::,
0,40

• •• •
bO
'<ll 0,35
(li

"o oººº
"-=
QJ
0,30

e oº D
é3 □□ ºº
0,25
ge1g
sóº
ºº □□□ººººº
o
0,20 o

o
0,15
0,95 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 Dsc 1,30

Densidade do solo (kg dm.;)

Figura 30. Variação do conteúdo de água com a densidade nos níveis críticos da capacidade de
campo (CC ou y "" -0,01 MPa), ponto de murchamento permanente (PMP ou y = -1,5 MPa),
porosidade de aeração de 0,1 m 3 m-3 (PA) e resistência do solo à penetração de 2 MPa (RP), em
Latossolo Roxo de Guaíra, SP. A área acinzentada representa o Intervalo Hídrico Ótimo (Il-IO).
Fonte: Tormena e l ai. (1998).

Vários trabalhos têm sido executados avaliando o IHO em diferentes condições de


solo e manejo (Silva et ai., 1994; Silva e Kay, 1996, 1997a,b; Tormena et ai., 1998, 1999a,b;
Reichert et al., 2004), evidenciando ser um mdice de qualidade estrutural bastante útil
em termos de crescimento das plantas, já que permite identificar os fatores físicos que
controlam a qualidade física do solo, como também é sensível às alterações no solo causadas
pelo manejo.
Trabalhando em Latossolo Vermelho de Maringá, PR, Araújo et ai. (2004b) observaram
menor IHOna profundidade de0-20cmem área cultivada por cerca de 20 anos com culturas
anuais, utilizando o preparo convencional do solo com aração e gradagem, alternado com
preparo mínimo do solo por meio de escarificação, em comparação com mata nativa, urna
vez que a resistência à penetração e porosidade de aeração determinaram, respectivamente,
os limites inferior e superior de água disponível com o aumento da densidade do solo. No
solo sob mata nativa, o IHO foi igual à água disponível compreendida entre a capacidade
de campo e o ponto de murchamente permanente (Figura 31). A compactação do solo
na área cultivada resultou em mudanças no sistema poroso, que foram descritas pelos
menores valores do IHO na área cultivada.
Blainski et ai. (2009) quantificaram o IHO num Nitossolo Vermelho distroférrico
irrigado de Maringá, PR, com o objetivo de utilizá-lo no estabelecimento de critérios para

MANEJ O E CO NSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


VIII - IN TER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTOS F ÍS I COS DO SOLO 233

o mane jo ele ág ua e d o so lo e m á reas irrigada 5. Os autores obse rva ram que J r e istência d o
solo à pe ne tração (RP) foi a va ri ável q ue limilou o fl 10 co m m ior frequ é ncia, dim inuindo
s u a m ag nitud e co m o a ume nto el a clens iclzide ci o solo (Os) e reduzind o a freq uénc ia com
que a umid a d e se m a nteve d e ntro dos limites do IHO (F igura 32). /\ Ds críticz1 foi de L4
k g dm-1, e m qu e o IHO foi ig ua l a zero. Pa rc1 Os < 1,28 kg d m -1, o potenciJI mátrico de
-80 kPa, utiliza do frequente me nte pa ra o contro le d a irrigação po r meio de tens iômetros,
caracterizou o limite inferior do IHO. Po rtanto, nas á reas co m Ds < 1,28 kg dm -', pode
ocorrer maior seca mento do solo se m que ocorra RP > 2 M P a; péJra Ds > 1,28 kg dm -', deve-
se manter o pote ncia l m á trico maior que -80 kPa, visando ao contro le da RP.

0,50 ◊ CC
(a) □ PMP
0,45
0 PA
r 0,40 Q Q
.ô. RP
E Q Q
o o
~ 0,35 Q Q Q Q Q
<d
6b 0,30 00 o o
'<ti

"O
QJ
0,25 ººººººººº ºº~
o
"O
,::i
0,20
~
e:: 0,15
uo CJ CJ {J CJ c:i {J {J {J &&888. i;J a o
0,10 A AAAA
AA A
0,05
0,00
1,32 1,36 1,40 1,44 1,48 1,52 1,56
Densidade do solo (kg dmj
0,50
(b) ◊ CC
0,45 o PMP
0,40 o PA
r ó. RP
6
g 0,35
Q ()Q Q
<d 0,30
Q
6b
'<ti
QJ
0,25 <38Q~~% ~~
"O
o 0,20 a.
"O
-::, - - - A aA. Ã a. ~
~ 0,15 - -A M
8
e::
0,10
êMa [l WCl[l[l[lª [l a
0,05
0,00
1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90
Densidade do solo (kg dm j

Figura 31. Variação do conte údo de água com a densidade do olo, no solo sob mata na tiva (:t) e
em área cultivada sob preparo convencio nal (b), nos n..íveis críticos de capacidade de campo
(CC), ponto de murchamento permanente (PMP), porosidade d e aeração de O, l m1 m 1 (P )
e resistência à penetração de 2 MPa (RP), em l alossolo Verrndho de i\l<1ringü, PR..-\ área
ac inzentada representa o IHO.
Fon t.-: /\r<1újo d ,d. (200-lb).

MA NEJ O E C ON SERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


234
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

---Eo o,.,, ubslitui Oc~


0

~ 0,-lS
e
r:;
::; ,.. "
~A
A t,. ~

,..,..,..,_,.._,.. " ""' ~


A~

" -.,,,,,..
l Dsc
8-g
t,. ~ ~
D
<i>

t.() ~
'(-;)

CJ
ü
.g
, ::;
0,3
.2
e ,:i:DJ,:J:DSO.., O <IPO ~ <D
o o 0 0 o,11) O COl!)IIJI
u o o CIJ(:J:j:)

0,2
1,10 1,20 1,30 1,40 1,50
Densidade do olo (kg dm-')

Figura 32. Variação do conteúdo de água com a densidade do solo em relação à capacidade de
campo (8cc), à porosidade de aeraçâo (8rA), à resistência do solo à peneb·ação (8Rr), ao ponto
de murcharnento permanente (8rMr) e ao potencial de -80 kPa (8 ,) adotado para controle de
irrigação, em Nitossolo Vermelho de Maringá, PR. A área acinze;~da representa o IHO.
Fonte: Bla inski et ai. (2009).

O IHO pode também ser expresso em termos de tensão ao invés de conteúdo de água
no solo, desde quando a tensão da água no solo está mais intimamente relacionada com
o crescimento das plantas do que o conteúdo de água disponível. Dessa forma, o termo
IHO pode ser expresso como "Intervalo Ótimo de Tensão da Água no Solo" (IOP), com o
mesmo significado e definição do IHO (Tormena et al., 1999a). Assim, utilizando o IOP,
Araújo et al. (2004a) avaliaram as alterações na qualidade física de um Latossolo Vermelho
distroférrico de Maringá, PR, provocadas pela escarificação, após 13 anos de semeadura
direta. Os resultados evidenciaram que, na profundidade de 0-15 cm, a escarificação
modificou a porosidade do solo, mantendo condições adequadas de aeração em tensões
matriciais menores do que 0,01 MPa (Figura 33); entretanto, constatou-se a maior ocorrência
de limitações pela resistência do solo à penetração em tensões menores do que 1,5 MPa.
Para a camada de 15-30 cm, a resistência do solo à penetração foi o limite superior do JOP
no tratamento com escarificação.
Em Latossolo Vermelho de Campo Mourão, PR, Tormena et ai. (2007) quantificaram
0 IHO para discriminar os efeitos de sistemas de manejo na qualidade física do solo,
envolvendo semeadura direta com sucessão de culturas, rotação de culturas e rotação de
culturas e escarificação, em duas épocas distintas - em outubro de 2002, após a cultura
de inverno (trigo), e em abril de 2003, após a cultura de verão (soja). A resistência do solo
à penetração determinou o limite inferior do IHO em todos os tratamentos e reduziu os
seu s vaJores com o aumento da densidade do solo (Figura 34). A densidade crítica do solo
não d ependeu do sistema de manejo. A variação temporal do IHO nos tratamentos foi
dependente da va riação da densidade do solo. Na semeadura direta com rotação, a maior
retenção d e água em elevados potenciais proporcionou, temporalmente, m aiores valores
do IHO.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTO S FÍSICOS DO SOLO 235

O.- 1;, rn 1-.. ·n -,

1110

.·~
• r l'\ I'
., 1 r•. 11 1 l ,11 "' t
,
r 1: p
r'"1'.lf'
111 Ó t ' 1
1'
■ r PM 1 r 1' 1r

1), 1
'-Y "

... ..
<./Jf"J

"' -..,~
<~ ,:;_. t;, '°>

~ ' 1

,
"':::.
o
tlí1 1

,100 1

ü 0< , 11
• ... -· ,,,_.
n " ·~•~

'
~
i
",1

l1 Hl

''"ll
,.

• --- ,,
I ■
.

~ l íl<l ..: , , ,. 1

11-1 >- ,

••
. ,,,

·-· ........_.
10

,:;,
_
',r,;Lo{f,V'.),r,,:;:., ')
◊ Q (~ CO◊ <:rt> ') ') CIL

0. 1
---·--
__j •'I
..__
me, o

--
U.01 CL 1101 L t, ~
~ri

0.001
• ■-·- nrn 1 •• •
0.00) 1
■ • 0,0011
O,C\J o,0 5 1.00 1.05 1, 10 1. 15 1.:0 I.~~ r•.05 100 1 115 i lO 113' 1.::0 1..::5

D,•n.s1dJ1..lc• Jo soln lk& dm ·1 °'""~J,.J..- d,, ~C' 1).~ J.n, · 1

Figura 33. Variação do intervalo ótimo de tensão de água no solo (IOP) (área acinzentada) no
tratamento semeadura d ireta (SD) (a) e semeadura direta com e carificação (SOE) (b), na
profundidades de 0-15 e 15-30 cm . TRP = potencial mátrico em que a re i tencia à penetração
(RP) é igual a 2,0 MPa; 1:PMP = potencial mátrico correspondente ao ponto de murchamento
permanente (1,5 MPa); TCC = potencial mátrico correspondente c1 capacidade de campo (0,01
MPa); TPar = potencial mátrico em que a porosidade de aeração é de 0,1 m ' m·', em Lato olo
Vermelho d e Maringá, SP.
Fo nte: Araújo et a i. (200-la).

Cavalieri et a i. (2011) determinaram o lHO para avaliar a qua lidade física de olo
cultivados com cana-de-açúcar sob colheita mecanizada, em três solo -: Latossolo ermelho
(L V) textura argilosa, Latossolo Vermelho (L V) texttua média e Argissolo ermelho-
Amarelo (PVA) textura arenosa, em Rio Brilhante, MS. O IHO foi maior no L argilo o>
PVA arenoso> LV textura média (Figura 35), revelando que o L textura média apre entou-
se mais sensível aos efeitos do manejo da cultura sob colheita mecanizada, com maiore
restrições físicas para o sistema radicular da cultura da cana-de-açúcar.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


236 LUCIANO DA SI LVA SOU ZA ET AL.

♦ Ép a 1-0p:i ◊ p a 2-0pa g IHO Época 1


.à Ép ca 1-0 e  Época 2-0cc JHO Época 2
• Ép a 1- 0 111 o Época 2- 0 )
11 lHO ~poca 1
■ ' D
Ep ca 1-0pmp Época 2-0pmp IHO Epoca 2

Plantio direto com uces ão - SOS


0,55

0,50
0,-l5
0,40
0,35
0,30 e ao
0,25 ººº
-
"?
E
0,20

Plantio direto com rotação - SOR


"'E 0,55
---o 0,50 • •• o• •
-oU)
oe; 0,45
<O-o • o
• 000 0 00

(ti 0,40
Se
-ca
0,35
ººº
••••• j QIUiUU10
QJ
"'d 0,30 0 0 D 00 00 O
o 0,25
"'d •
~
...
QJ
e;
0,20
o
u 0,55
Plantio direto com rotação e escarificação - SOE
O <, 004:> ♦
º • oç ••• o
0,50
0,45 º••··· ••
0,40
0,35
••
oo ••• 0 0 ••••••• • •••••
0,30
0,25
0,20
1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 1,30 1,35
Densidade do solo (kg dm..:i)

figura 34. Variação do conteúdo de água (0) com a densidade do solo para os três tratamentos,
nos niveis críticos de capacidade de campo (0cc), ponto de murchamento permanente (0pmp),
porosidade de aeração de 0,1 m3 m·3 (0pa) e resistência do solo à penetração de 3,5 MPa (0rp),
em Latossolo Vermelho de Campo Mourão, PR. As áreas acinzentadas correspondem ao IHO
nas épocas de amostragem.
Fonte: Tom1cna ct ai. (2007).

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - lNTER-RE U\ÇÃO E NT RE MAN EJ O E AT RrBUTOS FÍSICOS DO SOLO 237

!Jr{l
.

,,, '
111'\ll'
e ,1111,1d,1 d ,, O 0 ,211111 e .,m ,id ,, J,, 0,20 11. 111111
f1 1

O 111' \
◊ 111, 1'
o -lÜ

o :o

0, 10

000 + - - - - ~ - - - - - - . - - - - , - -- - - ,
UO 1.60 1.70 1.SO 1.90 UIJ 1 60 l .7TJ 1 .li)

o
y

..g

1.50 1.611 1,iU 1.SO 1.90 uo 1.60 1.-0 J.JO 1.90

O.e-O l
Cboo cn
0,50 Ooo
Q)

0,-lO
o

o.:o J..-....,,-_,..,,..-~ ~~

,,, r<ô
O.u l ,
1,00 1, 10 l ,:!O 1,:-0 1,-lú 1.10

Figura 35. Conte údo d e água no solo (8) em razão d a den idad e d o a lo no P A c1Ien (A), no LV
tex tura média (B) e no LV argiloso (C), nos valo res críticos de capacid ad e de campo (8cc), pontl
d e murchamento permanente (8pmp), porosidade d e aeração O, 1 m ' nY' (t:lpa) e resi.st~ncia à
penetração d e 3 l\l[Pa (8rp), em Rio Brilhante, i'vlS. As Jreas acinzentadas representam o íH .
Fon e : C:w;ilit>ri e t ;il. (20-11).

MAN EJO E CON SE RVAÇÃO DO S OLO E DA ÁG UA


238 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

l\'lelhoria da disponibilidade de ~\gua no solo

concepção de manejo adequado do solo é aquela que proporciona maior capacidade


pr dutiva das terra , levando em consideração principalmente a disponibilidade de água.
E e é um elemento crítico, suprido em geral pela chuva, e, dessa forma, normalmente
distribuído irregularmente durante o ciclo de desenvolvimento dos cultivas. Ressalta-se aí
a importância da qualidade física do solo para garantir seu papel de reservatório de água,
suprindo-a conforme as necessidades metabólicas das plantas.
O manejo adequado é decisivo para que as condições de infiltração e armazenagem da
água no solo sejam favorecidas, além de minimizar as perdas por evaporação, percolação
profunda e escoamento superficial (Shaxson e Barber, 2003).
O preparo mecânico efetuado em nível, aliado ao uso de implementos que resultem
em maior rugosidade superficial e de práticas conservacionistas e descompactação, pode
aumentar a capacidade de armazenagem de água. Paralelo a isso, a superfície do solo
deve estar permanentemente protegida por plantas ou fitomassa cultural residual, o que
amortece o impacto da chuva ou das cargas aplicadas e resulta em maior infiltração de
água. A proteção da superfície, inclusive com barreiras como quebra-ventos, reduz a perda
de água por evaporação.
O revolvimento do solo pode ser efetuado para manejo da cobertura viva e da fitomassa
cultural residual, mas pode trazer prejuízos em relação às condições lúdricas, por expor a
superfície do solo ao aquecimento e à maior evaporação, além de predispor o solo à erosão.
A distribuição racional das glebas de produção e dos ambientes com vegetação de
proteção do solo e da água, como as áreas de preservação permanente, além de ser um
preceito legal, pode colaborar para a capacidade produtiva das terras, especialmente pelas
melhorias hídricas no solo.
A qualidade estrutural do solo evidencia relações diretas e indiretas com a
disponibilidade de água. Assim, a descompactação e melhoria da estabilidade de
agregados podem reduzir a resistência do solo à penetração das raízes, além de aumentar
a porosidade, tanto nos microporos, onde se dá a armazenagem de água, quanto nos
macroporos, onde é possível o crescimento de raízes e por onde se difunde o oxigênio
necessário ao metabolismo radicular (Quadro 3).
A matéria orgânica do solo, à medida que tem sua dinâmica relacionada às práticas de
manejo do solo, pode colaborar no aumento da estabilidade estruturnl e no equilíbrio quanto
às classes de poros por tamanho, interferindo nas condições lúdricas do solo. Além disso,
os coloides orgânicos atuam diretamente na capacidade de armazenagem de água no solo.
As práticas de manejo do solo devem prever também estímulo ao aprofundamento
e à expansão das raízes, o que resulta em maior acesso e aproveitamento da água em
subsuperfície, como ainda criam e estabilizam bioporas que garantem maior infiltração
de água. Os impedimentos biológicos, químicos e físicos ao crescimento radicular devem,
portanto, ser manejados e atenuados.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER- RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBU TOS FÍ s rcos DO SOLO 239

Manejo e temperatura do solo


A te mperntura do solo é um fotor fís ico cio so lo, que influ nc1c1 princip.ilmente t,
crescimento radicu lar, a absorção de íons e jgua e as a ti vidades m icrob1ológicc1c;; Jlé m
de a rmazenar e permitir processos ele trans ferénci,1 de água, solutos e gac; '• o solo
també m a rmazena e h·ansfere ca lor. A capacidade do solo para arrnc1zena r e tr,rn_- fe rir
calo r é determinada pelas suas propriedades térmi cils e condiçõec; meteorológica. , que,
por sua vez, influencia m os seguintes as pectos: proces os físicos, químicos e bioló ico do
solo, atividade microbiológica, ge rminação déls sementes, desenvolv imento das plan télS,
evaporação da água do solo, movi mento e d i ponibilidad e de água e él r, reaçõe químicas
que liberam nutrientes para as p lantas etc. (Prevedello, 2010).
A temperatura do solo é uma conseq uê ncia dos processo de tra nsferência e das rocc1_
de ca lo r entre a superfície do solo e a atmos fera . Portanto, os is temas de manejo têm
influência na temperatura do solo, por altera rem élS condições de superfície. especialm nte
com respeito ao gra u de cobertura vege ta l. Além disso, como a conduti vidade térmica no
solo é influenciada pela estrutura, pela densidade do solo e pelo conteúdo de água, e como
esses atributos são alterados pelo manejo, fica evidente a inter-relação q ue exi te entr
temperatura do solo e manejo.
Sidiras e Pavan (1986) avaliaram a influência de três s istemas de manejo (PC= preparo
convencional; SD = semead ura direta e CP = cobertu ra permanente do olo com plantas
não cultivadas) sobre a temperatura de um Latossolo Roxo distrófico de Londrina, PR Os
resultados evidenciaram que a tempera tura do solo a 3 cm de profundidade regi tradél à
8, 11, 14 e 17 h durante o desenvolvimento vegetativo da oja foi empre s uperio r no PC,
seguido do SD e CP (Figura 36), sendo as diferenças entre os tratamentos mais pronunciada
às 14 h, com as temperaturas no PC exced endo a 40 ºC e no SD e CP ficando abaixo de 3- •'C
e 30 ºC, respectivamente. As tempera turas do solo registradas em um único dia no período
de perfilhamento do trigo e na soja com quatro a ciJico folhas o u aproximadamente O, 1 m
de altura (Figuras 37 a e b) também revela ram tempera turas superiore no PC, eguido do
SD e CP. As diferenças de temperatura do so lo entre esses três s is tema fora m atribuídas à
variação da cobertura vege tal entre esses.
Em Argissolo Vermelho-Esc uro localizado em Eldorado do u l, RS, alton
e Mielniczuk (1995) avaliara m a va riação de temperatura e umidade no sol cm
três s is te mas de ma nejo (PC = preparo conve nciona l, PR = preparo reduzido e O =
sem eadura dire ta), observando que o solo sob SD apresentou, ao longo do período de
avaliação, menores tempera turas máximas e menor amplitude de ariação, enquanto no
preparo convencional registraram-se os valores m áximo des a vari i. eis (Figura 3 ). O
solo sob sem eadura dire ta a presentou os m a iores valores de umidade em todo o período,
ocorre ndo o inverso no preparo convencio na l, principalmente na c~mada de 0-5 cm de
profundidade (Figura 39).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


240 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

30
25
..
- ✓-
20 ~·:.·-:..:,
'-a
40 Uh
35

30 ..•\ . _...--····-...___
: ... :'\
_

25 -✓ .,.,~-~-~----./>")<·:·;;:~-, __ _.,,,,,-----, . . \/ ;_ _.- . .::-~·:::-:✓


E 20 '---......----'...:'~'_ _ _ _ _''----~---_,_,_-✓ __ ,...;CT==---~-~
E PC
B 14h
I
i
cu
!- -

NOV/81 DEZ/81 JAN/82 FEV/82


Período

Figura 36. Variação da temperatura do solo a 0,03 m de profundidade às 8, 11, 14 e 17 h durante o


desenvolvimento da soja, em Latossolo Roxo de Londrina, PR. PC= plantio convencional; SD =
semeadura direta; e CP= cobertura permanente.
Fonte.: Sidiras e Pa,•an (1986).

46
3an 6an 6cm
44

40

36

~ 32
:!
~ 28
R
~
524
20 .
.... Cobert. pemwiente --· · · Cobert. permanente
o-o Semeadura direta "-' Semeadura direta
(a)
16 .._ Convencional
- Convencional (b)
1 2 + - - ~ - - ~ - -- t - - - . - ---,---.---,---,r-
10 12 14 16 8 6 10 12 14 16 18 10 12 14 16 8
Tempo(h) Tempo (h)

Figura 37. fnflu éncia do sistema de n_1anejo do solo na_sua temperatura a 3 e 6 cm de profundidade,
registrada das 8 às 19 h, (a) no dia 10/06/81 (perfilhamento do trigo) e (b) no dia 30/12/81 (soja
com quatro-cinco folhas), em Latossolo Roxo de Londrina, PR.
Fonte: Sidiras e Paviln (] 986).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - lNT E R- REU\ÇÃO ENTRE MAN EJO E A TRIB UTOS FÍ S I COS DO SOLO 241

50 ·- --
1- C,f) r·r~ 1'C • \r 140
(,1) ...J
,
.,, ,
40 - . ., , - 120
§
.s
100 "::j
u
e.....
·s;
::l
~ õ..
.2 ..,,:,
'J
f 1

t6 20 60
·-~ªe..
C!J 40
E- 1 :t:
10
20

o " -
1 1, l.1. ! 1 1 o
20
(b)
u
e..... 15
~ ,1
'
«!
u \ 1 •· ~
1 C!J
'"O
10
I'
/ 1 (
....
1
.2 I
:.:::l
p..
~ 5
<

0 '--
Set Out. Nov. Dez. Jan.
Meses

Figura 38. Temperatura máxima do ar (Ar); te mperatura m áxima do solo e ocorrencia de chuvas
(a) e amplitude diária da temperatura do ar e solo (b) sob semeadura direta (SD) e preparo
convencional (PC), em set. de 1990/ jan. de 1991, em Argi solo Vermelho-E curo localizado em
Eldorado do Sul, RS.
Fonte: Salton e Miclniczuk (1995).

Para avaliar o efeito de diferentes manejas na temperatura de um Argi olo ermelho


localizado em Santa Maria, RS, Silva et ai. (2006) escolheram 2 d ensolarado· (02/ 12/ 2001,
4 d após a emergência do feijão; e 01/01/2002, 35 d após a emergência do feijão), ob ervando
que a semeadura direta proporcionou menor temperatura máxima e menor amplitude
térnuca no solo do que esse manejo seguido de aração ou escarificação (Figura -10). Em
dias típicos de verão, com 12 h de sol e temperatura do ar em torno de "7 "C, o olo s b
semeadura direta manteve temperaturas mais baixas do que os dema i manejo , tanto a
2,5 cm como a 10 cm de profundidade, pelo fato de manter a superfície do solo coberta c m
fitomassa cultural residual, com reflexos positivos também na conser ação dJ umidade do
solo.

MA NEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


242 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

10

20

30

--
§
( lJ
"'O
40
~e::
::, o
......
o
....
o..
10

D -0,006 a -1,5 MPa


20 [O] O a --0,006 MPa
.à 24/9
◊ 26/9
30 • 28/9

40
o 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Unidade volumétrica(%)
Figura 39. Evolução da umidade volumétrica do solo e respectivo potencial de retenção, na
profundidade de 0-40 cm, nos dias 24, 26, 28 de setembro e 01 de outubro de 1990, sob preparo
convencional (a) e semeadura direta (b), em Argissolo Vermelho-Escuro localizado em Eldorado
do Sul, RS.
Font-e: Salton e Mielniczuk (1995).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

_I
VIII - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRlBU TOS F ÍSICOS DO SOLO 243

2,'iC""m ,,, fY,


•l-1
_._ <,IJ n 112; 111 • ~f, 1 11t ,n
40 .__ <; [),,r IJ ll l 'i m ... '-.lhr1lJ11---,,
- ~- ',[),,.,,- 0,02, 111 ,,_ C..f 1,-..t t 111 IJl

2:o 3(, - • - Tc111p,•r,1lur,1 do ,,r

~ 32
o
"O
e w
.2
e
X. 2-l

! 21

16
02/ l:! /21kll
12

l: i~:::.:~~.
o 2 -l /, S 10 12 1-1 te, IS 211 22 2-1

36
3-1 ---
_.... SDll,íl25m
SDa r ll,025 m j~
a
l!.-
o
32
30
SDc><c O,ll25 111
~ T,mr,,,,"" ,,, Jo '" f.~
~ 25

t
o
"O 26
...
2 2-l
j ~~~-~~~.....
[ 21
E
2
~

1 1[![ 1]lll !Hl11!Il!Ilf


l ll l IJIIIIIII[I[I[ I[ [[ ][
_~-~-~~;...c...,-....._~~~-~
1-1,......... OI/ Oi n !XJ2
10 U
'
O 2 4 6 8 10 U 14 16 18 20 22 24 O 2 4 6 8 14 16 1 20 22 2-l
Hora do dia

Figura 40. Temperatura diária d o élr e solo, nas profundidade d e 2,5 e 10 cm, no três manejo<; Jo
solo, nos diéls 02/12/ 2001 e 01 / 01 / 2002, em Arg issolo Vermelho local izad o e m anta . laria,
RS. Barras verticais indicam a diierençél mínima s ignifirn tiva (DNlS p ~ 0,05) e com param o tr .
manejas do solo. SD = semead ura direta; SDar = semeadura direta segu ida eguido de araçào e
gradagem; e SDesc = semeadura direta seg uida seguid o d e e carificaçào.
Fonte: Silva et ai. (2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O solo é considerado como um sistema natural aberto, onde matéria e energia pod em
ser adicionadas ou removidas. Considerando que todo sistema é carac terizado o u definido
pelos elementos ou fa tores que o compõem, o olo é um ia tor d e cre cimento egetal
co mplexo e composto por vá rios outros fatores, a saber: químicos (p H, c nteúd o de -ais,
co nteúd o disponível de nutrientes e co nteúdo de elem nt tóxicos à p lantas), fí ico -
(aeração, potencia l da água, temperatura do solo e resis tência mecânica que o olo ofere(:e
ao cresc imento das raízes) e biológicos (interação enh·e o o rgan ismo - ,·ivo e a matéria
orgânica do solo).
Os fa tores físicos de crescimento vegetal ão determinado - o u infl uenciados p r
diversos a tributos do solo, como natureza dos seus mine ra i-, tipo de argila, te.·tura,
estru tura, densidade do solo e de partículas, curvas de retenção de água, poten ili o mó tico

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


244 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

da solução do olo, penetrabilidade, infiltração, condutividade hidráulica, te mpera tura,


além de posição fisiográfica, relevo, declividade, profundidade de camadas impe rmeáveis
ou de rocha profundidade do lençol freático.
O olo e um corpo natural dinâmico e trifásico, constituído por fases sólida (materiais
minerais e orgânicos), líquida (água ou solução do solo) e gasosa (ahnosfera do solo). As
fa e líquida e gasosa ocupam os poros desse, num equilíbrio dinâmico entre essas.
A esh·utura do solo é definida pelo arranjo das partículas dele e do espaço poroso entre
essas, incluindo ainda o tamanho, a forma e o arranjo dos agregados formados quando
partículas primárias se agrupam em unidades separáveis. A esh·utura do solo e o sistema
poroso associado é fator-chave nas relações solo-água-planta.
Qualquer alteração significativa que ocorra na esh·utura do solo, seja pela compactação,
seja por ouh·o processo, modifica o espaço poroso a ela associado, nos vários ah·ibutos que
influenciam os fatores físicos de crescimento vegetal ligados a esse, consequentemente,
nesses fatores. O manejo do solo está inter-relacionado aos atributos físicos dele, podendo
contribuir tanto para sua degradação quanto para sua recuperação.
A compactação é um dos principais processos de degradação física do solo em sistemas
agropecuários que utilizam intensivamente máquinas e equipamentos, ou pelo efeito do
pisoteio animal, resultando em maior densidade do solo, diminuição da porosidade total
e alteração na distribuição de diâmetro dos poros e nas suas propriedades hidráulicas.
Associado a isso, ocorre aumento no impedimento mecânico do solo ao crescimento
radicular das plantas. Assim, a compactação do solo cria um ambiente físico desfavorável
ao crescimento das plantas e pode impor severas restrições à sua produtividade e
longevidade, mesmo em condições ideais de suprimento de nutrientes.
A semeadura direta, onde a distribuição das sementes é realizada em solo coberto
por palha e com o mínimo de revolvimento da camada superficial desse, tende a
promover a formação de camada compactada muito próximo da superfície dele, com
aumento da densidade, redução da porosidade total e da macroporosidade, aumento da
microporosidade e da resistência do solo à penetração, atribuindo-se isso ao cumulativo
tráfego de máquinas. O preparo convencional utilizando arado de discos e grade aradora
tem formado camadas compactadas em subuperfície, com os mesmos prejuízos nos
atributos físicos citados para o caso da semeadw-a direta. No entanto, nesse manejo ocorre
maior estabilização da matéria orgânica pelo não revolvimento do solo, propiciando ação
mais efetiva da atividade biológica nele.
A semeadura direta tem evidenciando maior estabilidade de agregados, considerando
a não mobilização do solo e a deposição de matéria orgânica na superfície, incrementando a
atividade biológica. Também, a rotação de cultw-as é uma exigência dessa técnica e, quando
adotada, combina várias espécies com produções de raízes e de exsudatos diferenciados.
esse particular, as gramíneas apresentam alta eficiência na agregação do solo, pela maior
produção de biomassa estimulando a atividade biológica e pelo maior efeito agregador do
sistema radicular fasciculado.
Diferenças nos limites de consistência no solo em diferentes manejas têm apresentado
m enores valores no preparo convencional e maiores na semeadura direta, como resultado
do maior teor de matéria orgânica nesse último manejo, que apresenta elevada capacidade
de a bsorção de água, exigindo assim maior teor de água para a form ação de película ao
redor d as partículas do solo, o que resulta em um intervalo de umidade mais amplo na

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INT E R- RELAÇÃO ENTR E MAN EJO E ATRIBU TOS F ÍS I COS DO S OLO 245

zo na da íria bilid ad e d o solo.


Em comparação com o pre pa ro co nve nciona l, os p repélros cons rvacion istas do solo
(semeadura dire ta e cu lti vo mínimo) pod m zi presenta r ma io rec; ta , ac; de infiltração de
águ a e maio r condutividade hidrá ulica do solo saturzi d o, devendo-e; cl continuidad e de
poros e maior atividade bio lógica, qu e fa c ilita m a movime ntação tridimen_ional da <1guc1.
A excessiva desestruturação do so lo qu e oco rre no p reparo co nvenciont1l, d ecorrent
da utili zação da aração e gradagem, diminui o ta ma nho e a es tabilidade de c1gre .idos,
resultando em maior q uantidade de pa rtíc ul as finas, qu e obs truem pélrcia lment os poros .
As a lterações na d ensidade do solo e no es paço poroso pelo manejo podem reduzir
a umidade do solo na saturação e aumentar o ponto d e mu rchamento p rmélnent . Jsc;o
indica que as a lterações na porosidade provocadéls pe lo él um ento dc1 den idélde ão mai
acentuadas na porosidade relacionada com o movime nto ráp ido da água no solo d o que
e m relação à retenção de água, que até pode aumentar.
O Intervalo Hídrico Ótimo (IHO) integra, num só índ ice, fa to res co mo a porosidade de
aeração s uperior a 0,1 m 1 m-1; a água no so lo retida a tensões e ntre a capacidade de campo e
o ponto de murchamento permane nte; e a umida de e m que a resis tê ncia do solo é limitante
(maior que 2 MPa), todos esses diretamente relacionados com o crescimento da plantas. O
preparo convencional do solo com araçào e gradagem, ao compacta r ub u perficialmente
o solo, a ltera o sistema poroso, reduz a porosidade de aeração e a ume n ta a res is tência do
solo à penetração, que passam a determinar os limites inferior e s uperio r de á gua di punível
com o aumento da densidade do solo, resultando em menor THO.
A avaliação da te mperatura do so lo em diferentes s istemas de manejo tem revelc1do
valores sempre superiores no preparo convencional do que na semeadura di r ta,
especialmente nas horas ma is quentes do dia (das 13 às 15 h), com a temperatura no
preparo convencional excedendo a 40 ºCena semeadura direta ficando abaixo de 3.5 ºC. r\s
diferenças de temperatura do solo entre esses dois sistemas são a tribuídas à variação da
cobertura vegetal entre esses.
A inter-re lação que existe entre o m a nejo do solo e os seus atributos fisico é evidente.
Permanece o desafio d e dimensionar de forma interativa as alterações nos eus diver o
atributos, para aprimorar as m e lhores formas de manejo.

LITERATURA CITADA

Albuquerque JA, Mafra AL, Fontoura Sl'vfV, Bayer C, Passos JFM. Aval iação de si tema ie preparo
e calagem em um Latossolo Bruno al umín ico. R Bras Ci Solo. 2005;29:963-T.
Araújo MA, Tormena CA, lnoue TI, Costa ACS. Efeito da escarifü:ação na qualidade fisicl de um
Latossolo Vermelho distroférrico após treze anos de semeadura direta. R Bras Ci Solo. _00-ta;
28:-1:95-504.
Araújo MA, Tormena CA, Silva AP. Propriedades fí icas de um Lato sol Vermelho DJ.Strótico
cultivado e sob mata nativa. R Bras Ci Solo. 200-lb;28:337-l5.
Assis RL, Lanças KP. Avaliação dos atributo · fí icos de um 1itossolo \'ermelho distroferrico s lb
sis tema plantio direto, preparo convencional e mata n.1tiv<1. R Sra · Ci - lo. :wo-;_ :515-'"'1?
Avilán RL, Meneses RL, Sucre RO. Distribución radical dei ban,rno bajo diferente - sistema~ de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


246 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

manejo de ·uelos. Fruits. l 982;37:103-10.


Barc -los , as -oi E , Dcnardin JE. Infiltração de água em um Latossolo Vermelho-Escuro sob
condiçõe de huva intensa em diferentes istemas de manejo. R Bras Ci Solo. 1999;23:35-43.
Baver LO, Gardner WH, Gardner WR. Física de su e los. México: Unión Tipográfica Edi to ria l Hispano-
Americana; 1973.
1
Beutler , ilva 1L , Curi , Ferreira MM, Cruz JC, Pereira Filho IA. Resis tência à penetração e
pe rmeabilidade d e Latossolo Vermelho distrófico típico sob sis temas de m anejo na região dos
Cerrados. R Bras Ci Solo. 2001a;25:167-77.
Beutler A 1, Silva ML , Curi , Ferreira MM, Pereira Filho lA, Cruz JC. Agregação d e Latossolo
enn elho distrófico típico relacionada com o man ejo na região dos Cerrados n o Estado de
Minas Gerai . R Bras Ci Solo. 2001b;25:129-36.
Blains ki E, Gonçalves ACA, Tormena CA, Folegatti MV, Guimarães RML. Intervalo hídrico ótimo
num 1itos ola Vermelho dis troférrico irriga do. R Bras Ci Solo. 2009;33:273-81.
Brady NC, \ eil RR. Elementos da natureza e propriedades dos solos. Porto Alegre: Bookman; 2013.
Braida JA, Reichert JM, Veiga M, Reinert DJ. Resíduos vegetais na supe rfície e carbono orgânico
do solo e s uas relações com a densidad e m áxima obtida no ensaio proctor. R Bras Ci Solo.
2006;30:605-14.
CaJegari A, Castro Filho C, Tavares Filho J, Ralisch R, Guimarães MF. Melhoria da agregação do solo
através do sistema plantio direto. Sem.ina Ci Agr. 2006;27:147-58.
Can1 alho DF, Silva LDB. Infiltração. ln: Carvalho DF, Silva LDB. Hidrologia. (Apostila] . Seropédica:
Universidade Federal Rural do R.io de Janeiro; 2006. p.60-80.
Cavalieri KMV, Carv alho LA, Silva AP, Libardi PL, Tormena CA. Qualidade física de três solos sob
colheita meca1úzada de cana-de-açúcar. R Bras Ci Solo. 2011;35:1541-9.
Delvaux B. Soils. ln: Gowen S, editor. Bananas and plantains. London: Chapman & Hall; 1995. p.230-
57.
Dexter AR. Soil physical quality: Part II. Friability, tillage, tilth and hard-setting. Geoderma.
2004b;l20:215-25.
Oexter AR. Soil physicaJ quality: Part Iíl: Unsaturated hydraulicconductivity and general conclusions
about 5-theory . Geoderma. 2004c;120:227-39 .
Dexter AR. Advances in characterization of soil structure. Soil Till Res. 1988;11:199-238.
Dexter AR. Soil physical quality: Part 1. Theory, effects of soil texture, d ensity, and organic matter,
and effects on root growth. Geoderma. 2004a;120:201-14.
Ferreira MM. Caracterização física do solo. ln: Jong van Lier Q. Física d o solo. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira d e Ciência do Solo; 2010. cap.1. p.1-27.
Forsy the W . Manual d e laboratorio; física d e suelos. San José, Costa Rica: Ins tituto lntera m e ricano
de Ciencias Agricolas; 1985. (Libras y Materiales Educativos, 25).
Forsy the WM. Las propriedades físicas, los factores físicos de crescimiento y la productividad dei
s uelo. Fitotec Latinoamericana. 1967;4:165-76.
fundo d e Jncenti o à Cultura do Algodão em Goiás - Fialgo. Relatório final Projeto FJALGO 016-
2004. Manejo do a lgodoeiro nas diferentes condições ecológicas do Estado de Goiás. Santa
Helena de Goiás: 2005.
Giarola FB, Tormena CA, Outra AC. Degradação física de um Latossolo Vermelho utilizado para

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTO S FÍSICOS DO S O LO 24 7

produção intensiva de forrag m. R Bras i Solo. 2007;3 1:863-73.


Gomes AS, Cabeda MSV. Consis tência de ,;o los Argiloc;os-Escu roo; do Rio C. ra nd e d o Sul e s ua
importância agronô mica. ln : Anais d o 10º. Congr esso Brasi leiro de Ci ncia dn Snlo; 197'1 ;
Campinas. Campi nas: Ins tituto Agronô mico d e Campinas; 1976. p.31-4.
Grohmann F. Porosidade. ln : Moni z AC, coordenador. Elementos d e pedologia. ão Paulo- Polfgono;
1972. p.77-84.
Hamza MA, Andersen WK. Soil compaction ín cropping systems. A review of the nature, causes and
poss ible solutions. Soil Till Res. 2005;82:121-45.
Haynes RJ, Swift RS. Stabili ty of soil aggregates in relation to o rganic constituents and soil water
content. J Soil Sei. 1990;41:73-83
Hillel D. Solo e água; fenômenos e princípios físicos. Po rto Alegre: Uni versid ade Federa l do Rio
Grande do Sul; 1970.
Je nny H . Factors of soil formation. New York: Dover Pub lica tio ns; 1941.
Jong van Lier Q . Índice "S": um indicador da qualidade fís ica do solo? B lnf Soe Bras Ci Solo.
2012;37:24-7.
Kiehl EJ. Manual de edafologia. São Paulo: Ceres; 1979.
Kle in VA, Libardi PL. Densidade e distribuição do diâmetro dos poros de um Latossolo V rmelho.
sob diferentes sis temas de uso e ma nejo. R Bras Ci Solo. 2002;26:857-67.
Klein V A. Física do solo. Passo Fundo: Universid ade de Passo Fundo; 2012.
Letey J. Relationship between soil physical properties and crop produclion. Adv Soil Sei. 19 .5;1:277-
94.
Libardi PL. Água no solo. ln: Jong van Lier Q, ed itor. Física do s olo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira
de Ciência do Solo; 2010. p.103-52.
Libardi PL. Dinâmica da água no solo. São Pa ulo: Ed us p; 2005.
Machado JL, Tormena CA, Fidalski J, Scapim CA. Inter-relações entre a propriedades físicas e o
coeficientes d a curva de retenção de água de um Latossolo ob diferentes istemas de u o. R
Bras Ci Solo. 2008;32:495-502.
Marcos ZZ. Ensaio sobre epistemologia pedológica [tese]. Piracicaba: Escola Su perior de Agricu ltura
Luiz de Que iroz; 1979.
Marcos ZZ. Estrutura, agregação e água do solo [tese]. Pi racicaba: Escola Su perior de gricultura
Luiz de Queiroz; 1968.
Me llo Ivo WMP, Mielniczuk J. I.nfluê ncia da estrutura do solo na distribuição e na morfologia do
s is tema radicular do milho sob h·ês métodos de preparo. R Bras Ci Solo. 1999;23:l3.5-B.
Oliveira GC, Dias Junior MS, Resck DVS, Curi N . Caracterização química e fís ico-hídrica de um
La tossolo Vermelho após vinte anos de manejo e cultivo do olo. R Bras Ci Solo. 200-1;2 :"2 -36.
Palmeira PRT, Pauletto EA, Teixeira CFA, Gomes AS, Silva JB. Agregação de um Plan alo
s ubmetido a diferentes sistemas de cul tivo. R Bras Ci Solo. 1999;23:1 9-95.
Pedrotti A, Dias Jr MS. Compactação do solo: como evitá-la. Agropec Catarinense. 1996;9:-0-2.
Pedrotti A, Paule tto EA, Cresta.na S, Ferreira IM, Dias Junio r IS, Gomes A , Turatti .-\ L Re istência
m ecânica à penetração de um Planossolo s ubmetido a diferentes is te mas de cultivo. R Bras Ci
Solo. 2001;25:521-9.
Preved ello CL. Energia térmica do solo. ln: Jong van Lier Q editor. Física do olo. \/iço a, MC:

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


248 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

S iedade Brasileira de Ciência do Solo; 2010. p.177-211.


Reich rt JM, Reinert DJ, Braida J A. Qualidade dos solos e sustentabilidade de sistemas agrícolas. Ci
Amb. 2003;27:29-48.

Reichert JM, Reinert DJ, Silva VR. Compactação do solo em sistema de plantio direto; limites
crítico e mitigação. ln: Couto EG, Bueno JF, organizador. Os (des)caminhos do uso da água na
agricultura brasileira. Cuiabá: Universidade Federal do Mato Grosso; 2004. p .167-98.
Reichert JM, Reinert DJ, Suzuki LEAS, Horn R. Mecânica do solo. ln: Jong van Lier Q. editor. Física
do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2010. cap. 2. p.29-102.
Reinert DJ, Reichert JM. Modificações físicas em solos manejados sob sistema de plantio direto. ln:
Anales de la Siembra Directa: Una Herramienta para la Agricultura Conservacionista; CD-
ROM; 1999; Florianópolis. Florianópolis: Empasc; 1999.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. 3".ed.
Viçosa, MG: Neput; 1999.
Robinson DO, Page JB. Soil aggregate stability. Soil Sei Soe Am Proc. 1950;15:25-9.
Russel EJ. Soil conditions and plant growth. London: Longmans; 1950.
Salton, J. C, Mielniczuk, J. Relações entre sistemas de preparo, temperatura e umidade de um
Podzólico Vermelho-Amarelo de Eldorado do Sul (RS). R Bras Ci Solo. 1995;19:313-9.
Shaxson TF, Barber R. Optimizing soil moisture for plant production: the significance of soil porosity.
Rome: F AO; 2003. (Soils Bulletin, 79)
Shaxson TF. Melhoramento do potencial de produtividade dos solos nos trópicos. B lnf. Soe Bras Ci
Solo. 1993;18:81-95.
Sidiras N, Pavan M. A. Influência do sistema de manejo na temperatura do solo. R Bras Ci Solo.
1986;10:181-4.
Silva AP, Kay BD, Perfect E. Characterization of the least Umiting water range of soils. Soil Sei Soe
Am J. 1994;58:1775-81.
Silva AP, Kay BD. Effect of soil water content variation on the Ieast lirniting water range. Soil Sei Soe
Am J. 1997b;61:884-8.
Silva AP, Kay BD. Estimating the Ieast lirniting water range of soil from properties and management.
Soil Sei Soe Am J. 1997a;61:877-83.
Silva AP, Kay BD. Sensitivity of shoot growth of com to the least limiting water range of soils. Plant
Soil. 1996;184:323-9.
Silva IF, Mielniczuk J. Avaliação do estado de agregação do solo afetado pelo uso agrícola. R Bras
Ci Solo. 1997b; 21:313-9.
Sil a IF, Mielniczuk J. Sistemas de cultivo e características do solo afetando a estabilidade de
agregados. R Bras Ci Solo. 1998;22:311-7.
Silva IF, Mielniczuk J. Ação do sistema radicular de plantas na formação e estabilização de agregados
do solo. R Bras Ci Solo. 1997a; 21:113-7.
Silva VR, Reichert JM, Reinert DJ. Variação na temperatura do solo em h·ês sistemas de manejo na
cultura do feijão. R Bras Ci Solo. 2006;30:391-9.
Souza LS, Souza LD, Paiva AQ Rodrigues ACV, Ribeiro LS. Distribuição do sistema radicular de
citros em uma toposeqüéncia de solos de Tabuleiro Costeiro do Estado da Bahia. R Bras Ci Solo,
2008;32:503-13.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


VIII - INT ER-RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO 249

Sou za LS, So uza LO. Me todologias para aná lise de agregados. ln: Anais do 32'-'. Congresso Br;isileiro
de Ciência do Solo, CD-ROM; 2009; Fortaleza . Forta leza: Universid ade f ederal Jo Cear.'!/
Sociedade Brasi leira de Ciência do Solo; 2009.
Tay lor HM, Robe rson GM, Parker Jr J]. Soil strength-root penetration relations to medium to coarse-
tex tured soil materia is. Soíl Sei. 1966;102:18-22.
Tisdale SL, Nelson WL. Growth anel the focto rs affectí ng it. ln: Tisdale SL, elson WL. Soil fe rtility
anel fertilizers. New York: MacMillan; 1963. cap.2. p.22-39.
Tiulin AF. Questions on soil structure. U. Aggregate a nalysís as a method for detennining soil
structure. Agric Exper Agric Chem. 1928;2:77-122.
Tormena CA, Araújo MA, FidaJski J, Costa JM. Variação temporal do intervalo hídrico óti mo de um
Latossolo Vermelho dis trofé rrico sob sistemas de planti o di reto. R Bras Ci Solo 2007;31:211-9.
Tormena CA, Silva AP, Gonça lves ACA, Folegatti ivfV. Intervalo ó timo de potencial de água no
solo: um concei to para avaliação da qualidade fís ica do so lo e manejo da água na agricultura
brasileira. R Bras Eng Agríc Amb. 1999a;3:286-92.
Tormena CA, Silva AP, Libardi PL. Caracterização do intervalo hídrico ótimo de um Lato o lo Roxo
sob plantio direto. R Bras Ci Solo. 1998;22:573-81.
Tormena CA, Silva AP, Libardí PL. Soil physical quality of a brazilian Oxisol under two tillage
systems using the leas t limíting water range approach. Soil Till Res. 1999b;52:223-32.
Torres E, Saraiva OF. Camadas de impedimento do solo e m s is temas agrícolas com a soja. Londrina:
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropec uária; 1999. (Circular técnica, 23).
Vieira ML, Klein V A. Propriedades físico-hídricas de um Latossolo Vermelho submetido a diferentes
sistemas de manejo. R Bras Ci Solo. 2007;31:1271-80.
Yoder RE. A direct method of aggrega te analysis of soils and a study of the physicaJ nature of
erosion lasses. J Am Soe Agric. 1936;28:337-51.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX INTER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E
ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
Ibanor Anghinonil/, Amanda Posselt Martins 21 & Felipe de Campos Carmona:V

11 Facu ldade de Agronomia, Departamento de Solos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, RS.E-mail :ibanghi@ufrgs.br
21 Faculdade de Agronomia, Departamento de Solos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, RS. E-mail: amandaposselt@gmail.co m
31 Integrar - Gestão e Inovação Tecnológica. Porto Alegre, RS. E-mail: feLipe.c.carmona@gma1l.com

Conteúdo
251
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................
ATRIBUTOS QUÍMlCOS E tvlANEJO DO SOLO ........................................................................................................ 252
Em preparo convencional ......................................................................................................................................... 253
Amostragem do solo e sua representatividade .............................................................................................. 253
Atributos de acidez e calagem .......................................................................................................................... 25.5
Benefícios dos program as de adubação e calagem ...................................................................... _................ 256
Perda da capacidade produtiva pelo preparo intensivo do solo ................................................................. .67
Em semeadura direta .................................................................................................................................................25
Variabilidade horizontal e amostra representativa ........................................·- ······ ...·................................. 259
Variabilidade vertical e estado de fertilidade ................................................................................................. 261
Atributos de acidez e calagem ............................................................................................................ _........ - .. 262
Calibração das análises do solo e adubação .................................................................................................... 265
Em sistemas integrados de produção agropecuária ............................................................................................. 2
Caracterização dos sistemas .. ... ....... ............. .... ..... .... .. .. ...... ...... .................. ................. ........................... .........
268
Atributos de acidez e calagem .......................................................................................................................... 269
Atributos químicos do solo, ciclagem de nutrientes e adubação de sistema ....................... ·-··················· 270
ATRIBUTOS QUÍMICOS NO CONTEXTO DA AUTO-ORGANIZAÇÃO DO SOLO COMO SISTErvu
E SUA RELAÇÃO COM O MANEJO ............................................................................................................................ 271
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................... .. 273
LITERATURA C ITADA ............................................... .................................................................................................... 27-!

INTRODUÇÃO

A inter-relação entre manejo e atributos de solo sempre este e ligada ao


desenvolvimento dos povos, uma vez que tais atributos constituem os indicadores da

Berto! I, De Maria JC, Souza LS, editores. tvlanejo e conservação do solo e da água. içosa, MC: ciedade
Brasile ira de Ciência do Solo; 2018.
252 lBANOR ANGHINONI ET AL.

Fertilidade do Solo. Esta é conceituada no mundo (Tisdale et al., 1985) e no Brasil (Curi et
ai., 1993; Lopes e Guilherme, 2007; Bissani et ai., 2008; Raij, 2011) como a "capacidade do
solo em fornecer nutrientes e1n quantidades e proporções adequadas às plantas e de manter
a ausência de elementos tóxicos para seu desenvolvimento". Trata-se de uma abordagem
químico-mineralista em que o termo químico, quando agregado a essa definição, se refere
às metodologias e aos equipamentos para a análise dos atributos químicos como supridores
de nutrientes (termo mineralista) e indicadores de toxidez para as plantas.
A noção de fertilidade do solo surgiu ainda na Antiguidade, há cerca de 8.000 anos
(Tisdale et ai., 1985; Blayney, 2004; Lopes e Guilherme, 2007; Nicolodi, 2007), muito antes
da própria noção do solo, há cerca de 8.000 anos a.C., quando o homem começou a explorar
e cultivar cereais silvestres e domesticar animais em pequenas áreas de terra. A partir
desses eventos, o homem passou a viver em comunidade pela possibilidade de produzir
e armazenar alimentos. O desenvolvimento das civilizações esteve, então, intimamente
relacionado a tais atributos químicos, indicadores de solos férteis, sobretudo nos vales dos
?os: Nilo, no Egito (5.000 a.C.); Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia (3.700 a.C.); Indu, na
lndia (2.000 a.C.); Amarelo, na China (2.000 a.C. a 300 d.C.) etc.
Como o uso e o manejo do solo têm se modificado no tempo e no espaço pelos hábitos e
pela cultura dos povos e pelas condições edafo-climáticas, os atributos químicos passaram
a ter diferentes interpretações e significados. Seguindo a relação histórica que ocorreu
no Brasil, serão apresentadas neste capítulo as inter-relações entre o manejo do solo e os
atributos químicos, como indicadores da fertilidade do solo, especialmente a partir da
implantação da agricultura produtivista no país.

A TRIBUTOS QUÍMICOS E MANEJO DO SOLO

A análise de atributos químicos para a avaliação da fertilidade do solo foi iniciada no


Brasil na década de 1960, a partir de convênios dos Ministérios da Agricu Itura e da Educação
e Cultura com instituições americanas (Cantarutti et ai., 2007). Para que esses atributos
pudessem ser utilizados como base para as recomendações de adubação e calagem, foram
necessários estudos de seleção dos métodos químicos de análise e sua calibração para as
condições de manejo do solo e dos cultivos e, ainda, do clima do país. A utilização dessas
análises rapidamente se espalhou a partir do inicio da década de 1970, superando a marca
de 3,3 milhões de amostras analisadas em 10 anos, sendo cerca de 400 mil apenas em 1981
(Cabala-Rosand e Raij, 1983).
As indicações das doses de adubos e corretivos da acidez ocorrem, então, a partir
da análise química de uma amostra representativa do solo (Quadro 1), de acordo com
diferentes critérios de adubação e calagem. Em relação à acidez, os principais atributos
químicos usados no país são: o pH (em água ou CaCI2), a saturação por bases e o teor de
alumínio trocável ou sua saturação nos sítios de troca de cátions (CTCefetiva). Os métodos
de análise para determinar a disponibilidade de nutrientes podem ser, segundo Cantarutti
et al. (2007), categorizados em dois grupos: o primeiro, e mais amplamente utilizado no
Brasil, baseia-se em extratores ácidos (Mehlich-1) e salinos (KCI); e o segundo, no uso de
resinas de troca iônica e de extratores quelantes (DTPA, EDTA etc.) (Quadro 1). Descrições
detalhadas dos métodos de análise, sua calibração e filosofias de adubação são encontradas
em publicações específicas, como em Cantarutti et ai. (2007) e em Raij (2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER -RELAÇÃO ENTR E MANEJO E ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO 253

Quadro 1. Atributos químicos utilizados para ava liélí ;i fe rtilidade do solo p,lo · labora tó rios
integrantes dos prograrnils de contro le de qu;ilidad e dil anA lise química do solo no Bril ·il
At ributo PEP-IAC''' PROFERTfll ROLASº ' ELA'" PAQLF'"
aC 2
pl--1 O.OI mo l L·'
11,0 Hp H,O H ,O
( 1:2,5) (1 : 1) ( l :i.5) li :2.5 >
( 1:2.5)
AJl• KCI KCI K 1 KCI KCI
1 ma l L·' 1 mal L·' 1 ma l L·' 1 mol 1:' 1 mo l L '
KCI
KCI KCI KCI
Ca 2 ' e Mg 2 ' Resinal61 1 mol L·'
1 mol L·' 1 mol L·' 1 mol L·'
KCI
Ca(OAc) Ca(OAc) Ca(O,'lc)
1-l+ AI SMP171 0.5 mol L·' S~rP pH 7.5 0,5 mol L·' pf-1 0.5 mol L '
pH 7.0 o u SM P 7,0 pf-1 7.0 ou MP
P disponível Resi na1b' Mehlich- 1 Mehlich- 1 Mehl1ch- l , lehlich-1
K e Na
Resina161 Mchlich-1 Mchlich-1 Mchhch-1 Meh l1ch-l
disponíveis
Ca(H/O) : Ca(HlOJ\ Ca(HlO,) 2 Ca( H/O.): Ca( HlO ,J,
S di s po níve l 500 mg L·' de P 500 mg L·' de P 500 mg L·' de P 500 mg L·' de P 500 mg L • de P
em 1--1,0 em HOAc 2 ma l L·' em H.O em rt,O emHp
Fe, Mn,
C u e Zn DTPA'81 Mchlich- 1 Mehlich-1 Mehlich-1 Mchhch-1
di sponívei
B disponível Água quente Água q uente Água quente Agua qucme Agua quente
C oxidável por C ox idável por C oxidável e oxicl:ivcl por
Matéria Cr2 O/ dosagem Cr2O/" dosagem por Cr:O/" Matéria orgànica Cr.O/ dosagem
orgânica titulométrica ou titu lo métrica ou dosagem por incineraçào titÜlométrica ou
colorimétrica colori métrica colorimétrica co lorimécrica
1' 1Programa de Ensaio de Proficiencia do Insti tuto Ag-ronõmico de Campinas, SP. mrrograma lnterbboratorial de Control.,- d<.'
Qualidade de Análises de Solos de Minas Gerais. CJ>Programa da Rede Oficial de Laboratórios de ,\n.ilise de Solo e de Tt!cido
Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarin,1. t•>Prog-ra ma da Comi são Estadual de Laboratórios do? Anális.c"S
Agronómicas d o Estado do Paraná. 1'1 Programa de Análise de Qualidade de Laboratórios de Fertilidade da Embr.ip.1. •"'Com
resina mis ta (ca tiõnica+aniónica). f7l Solução mista de cloreto de cálcio, cromato de potássio, .:icetato de cálcio e triet:m olamma com
pH tamponado em 7,5. t">Ãcido dietilenotriaminopmtaacético.
Fon te: Cantarutti e t al . (2007).

Em preparo convencional
O preparo convencional do solo foi introduzido no Brasil, inicialmente, pelos
imigrantes europeus e, posteriormente, pela tecnologia trazida dos Estados Unidos. Trata-
se de ru11 manejo com mobilização mais ou menos intensa do solo, por aração e gradagens
de uso em ambientes de clima temperado e frio.
As recomendações de adubação, com base na análise de atributos químicos do solo
constantes nos boletins e manuais de adubação em uso no Brasil, foram então elaboradas,
a partir da década de 1960, para o preparo convencional com revolvimento do solo. este
manejo, considera-se que a camada revolvida de solo é homogénea, ao que se convencionou
chamar camada arável, normal mente a de Oa 20 cm.

Amostragem do solo e sua representatividade

A variabilidade espacial (horizontal e vertical) dos atributos químicos é uma


condição intrínseca do solo, resultante dos fa tores de sua formação e que é aumen t:ida
pelo uso agrícola e pela aplicação de insumos (adubos e correti os). Há, então, de se ter
cuid ado na coleta de amostras que realmente representem a área de interes e. Em ra2.,:1.o

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


254 lBANOR ANGHINONI ET AL.

dessa ariabilidade, se recomenda a subdivisão da área de cultivo em glebas uniformes,


detenninadas por algum critério diferenciador (inerente, tal como o relevo ou de manejo).
Nes a abordagem, são utilizados os princípios da estatística clássica, em que a amostra
composta de determinado número mínimo de subamostras de uma gleba homogênea e
população com variabilidade ao acaso (independente) bem representa a condição média
da área amostrada dentro de estipulados limites de inferência estatística.
A recomendação de uso generalizado no Brasil é coletar entre 10 e 20 subamostras da
camada arável do solo de cada gleba w1iforme (Cantarutti et al., 2007). Entretanto, ao assim
proceder, não se sabe ao certo os limites de inferência estatística e o grau de confiabilidade
no procedimento de amostragem (Cline, 1944). Como decorrência da variabilidade dos
atributos químicos no preparo convencional, especialmente para P e K disponíveis (Souza,
1992; Sa1et et al., 1996), a coleta desse número (10 a 20) de subamostras implica na aceitação
de uma probabilidade de erro (a) de 5 % e de um erro admitido em relação à média (J) de 20 %
(Quadro 2).

Quadro 2. Número de subamostras(ll necessárias para compor uma amostra representativa


de solo no preparo convencional, em razão da variabilidade dos atributos químicos e
dos limites de inferência estatística
Coeficiente de Erro admitido em relação à média (f)
Atributo químico
variação (CV-%) 10% 20%
pH-água 3
Matéria orgânica 7

K - Mehlich-1 30 27 7
P - Mehlich-1 38 50 12
c•>n = ((CV x ta)/f]l; ta= valor de t (tabela do teste t) para a probabilidade de erro a= 0,05; e f = erro em relação à média (Oine,
1944).
Fonte: Adaptado de Souza (1992) e Salet et ai. (1996).

Existe, na prática, um aspecto importante em relação à variabilidade, horizontal e


vertical, em preparo convencional, que é a época de amostragem do solo em culturas
anuais. Como essa coleta do solo é efetuada antes do seu preparo, os adubos aplicados no
cultivo anterior, especialmente os fosfatados, permanecem concentrados no local de sua
aplicação: na camada superficial, quando aplicado a lanço (Figura la), ou em torno do sulco,
quando aplicado em linha (Figura lb). Nessas condições, mesmo no preparo convencional
do solo, 0 p dos adubos permanece localizado e exibindo ampla variabilidade (vertical
e horizontal), o que acarreta em implicações importantes no processo de amostragem
do solo, considerando o tipo de amestrador, o número de subamostras e a camada a ser
amostrada para melhor representar o estado de fertilidade do solo, tal como ocorre em
semeadura direta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INT ER- RELAÇÃO ENTR E MANEJO E ATRIBUTO S QU ÍM I COS DO S OLO 2 55

..2 30
2
e...
(b)
-rn
25 15 5 O 5 15 25 25 s o s IS 25
Distâ n cia d i! linlrn d e sem e<1cl urn (c m)

Figura 1. Distribuição de fósforo (Mehlich-1) no perfil do solo no período de enchimento de grão do


milho, com diferentes métodos de aplicação de adubo fosfatad o solú vel (SFf) por ocasião da
sua semeadurn em preparo convencional: a lanço e incorporado com grad e (a) e em aplicação
em linha no sulco de semeadura (b).
fonte: Klepker (1992).

Atributos de acidez e calagem

Na grande maioria dos estados brasileiros (Regiões Norte, Nordes te e parte do Sudeste
e Centro-Oeste), a recomendação de calagem é para neutralizar o AI trocável do solo, de
forma individual ou associada aos teores de Ca e Mg trocáveis do solo (Cantarutti et ai., 2007;
Sousa et al., 2007). Neste caso, mesmo que a maior parte do AI trocável eja neutralizada,
o pH em água após a calagem não atinge o valor desejado (5,5), onde o AI é totalmente
neutralizado em razão da acidez potencial do solo. Assim, uma no a análise do solo e toma
logo necessária para indicar a necessidade de calagem para os culti os posteriore .
O método SMP, acrônimo de Shoemaker, Mclean e Pratt, pesquisadores que o
desenvolveram, que utiliza uma solução tamponada e ajustada para o pH de 7,5, é utilizado
nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e foi introduzido em 1967 (. fielniczuk
et ai., 1969) com o objetivo de elevar o pH do solo a valores desejados (5,5; e 6,0 ou 6,5) e
pré-estabelecidos para diferentes culturas ou grupo de culturas (CQFS RS/ SC, 2016). Já o
critério de saturação por bases, proposto e utilizado em São Paulo (Ra ij et al ., 19 6, 1996;
Raij, 2011), indica a quantidade de corretivo (calcário) a aplicar para ele ar a saturação
por bases a valores também pré-estabelecidos, de acordo com o indicado para a cu ltura de
interesse.
É importante assinalar que, logicamente, ocorre uma relação entre o pH d o solo e a
saturação por bases. No Estado de São Paulo, os valores de pH de 5,5 e 6,0 corre ~ponde m,
respecti vamente, a 60 e 70 % de saturação por bases (Raij et ai., 1996; Raij, _011), enq uanto

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


256 IBANOR AN GHINO NI ET AL.

no solos de cerrado e sa saturação é de 33 e 50%, respectivamente, para os mesmos valores


de pH (S usa et ai., 2007).
De maneira geral, os métodos SMP e saturação por bases recomendam doses sim.ilares
de coneti, o, por m maiores do que o método do AI trocável isolado ou associado à
adição de Ca e Mg. Dessa forma, a magnitude dos efeitos da calagem - tanto imediato
como residual - depende do critério e, ou, método de calagem adotado. Mesmo que a
reacidificação do solo ocorra predominantemente a partir da sua superfície, uma questão
importante é conhecer o efeito da calagem abaixo da profundidade de incorporação.
Conforme Oliveira (1979), esse efeito é similar entre solos que receberam a aplicação de
calcário para neutralizar a acidez potencial, sendo em tomo de 1,0 cm a descida anual dos
efeitos dessa calagem abaixo da camada de solo revolvida.

Benefícios dos programas de adubação e calagem


A utilização dos programas de recomendação, com base no preparo convencional do
solo e na análise de seus atributos químicos, permitiu conhecer o potencial de resposta
das culturas à adubação e calagem, bem corno o potencial produtivo das culturas, como
exemplificado na figura 2. Tais programas permitiram o desenvolvimento de uma
agricultura produtivista de larga escala, nos solos originalmente ácidos e com baixa
disponibilidade de nutrientes de ocorrência generalizada no Brasil. Esses solos eram
considerados, até então, impróprios para a agricultura. Assim, com esse desenvolvimento,
houve grande avanço da produção agrícola no Brasil, especialmente a partir da d écad a
de 1980 (Figura 3), estimulado pela mecanização agrícola, pelo uso de insumos m odernos
(corretivos, fertilizantes e defensivos agrícolas) e pelas políticas governamentais de
financiamento facilitado à exploração de novas áreas de cultivo.

10
9

,,....._ 8
~ 7
_,
.._.,
o 6
V,

~
1-
co 5
r.)
"O
o 4

~
. ::l
3
~
ü 2
~

o
Test. Calcário P+Calc. N+Calc. N+P+Calc.

Figura 2. Resposta do milho à adubação e calagem em solos ácidos e pobres em nutrientes na


implantação do programa de recomendação com base na análise do solo (Safra 1969/70).
Fonte: Mie.ln íczuk e Mondardo (]970).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTO S QUÍMI COS DO SOLO 257

70 4,0 250

60 3,5 o

ocf9
200
50
- 3,0
-=
..e o
o
? oº
2,5
-
~

..e ~o i:, o 150


-;:;
~
.-':
r::
r:: :;! 2,0
~ 30 :;.
·.:; ~ 100
::,
·< ::, 1,5
20 -a
o j.
O Área d: 1,0 50
10 - Po linô mio (Árc.i) 0,5
(a) (b) (e)
o 0,0 o
-
ir,

~ ~~
3 1/'l
~
L/j o
..... Ili o::,, Ili o Ili o V) V)
..... 'Q .....
GO 00
,..... o,
,..... ,..... o,
o,
0-, o o
g g ~ o<'1 ~ ~ ~ ?, ~
°' °'
,..... ,.....
Ar:<1
Ano Ano

Figura 3. Evolução da área (a), da produtividade (b) e da produção (e) da.s cultura comercic1 is de
grãos no Brasil.
Fonll': Con.ib (2015).

Perda da capacidade produtiva pelo preparo intensivo do solo


A utilização do solo para fins agríco las no Brasil se ca racteri zou, desde o in ício da
colonização, pela implantação de práticas imediatistas que visavam à exploração cíclica
e migratória dos recursos naturais (Muzilli, 2002). A utilização do solo em major escala,
especialmente no subtrópico brasileiro, ocorreu a partir do assentamento de i.migrant :
alemães (a partir de 1825), italianos (a partir de 1875) e, posteriormente, europeus de várias
nacionalidades como poloneses, holandeses, alemães e ucranianos (décadas de 1920 a 1960).
Esses imigrantes se estabeleceram em solos de maior fertilidade natural: Chemossolos, nas
margens dos rios; Neossolos Litólicos, nas encostas basálticas; e I itossolos eutrófico (a
terras roxas estruturadas), nos Estados do Paraná e São Paulo. as á reas de colonização, a
agricultura era tipicamente familiar e de subsistência, sendo caracterizada pelo preparo do
solo com tração animal a cada novo cultivo, seguindo a tradição dos ancestrajs oriundo de
ambientes de clima temperado e frio.
A partir da década de 1970, sob a influência norte-americana no preparo do olo, a
mobilização mecâruca se tornou mais intensiva. Paralelamente à melhoria nos atributos
químicos (de fertilidade) do solo, especialmente em relação ao campo natural decorrente
do uso de insumos (fertiJjzantes e corretivos) (Quadro 3), um processo acelerado de
degradação do solo se iniciou, tanto em áreas novas de cultivo como nas já cultivadas.
Essa degradação foi decorrente justamente desse preparo intensivo do solo em cultivas
sucessivos, muitas vezes com solo descoberto entre os cultivas, sem rotação de culturas
ou plantas de cobertura. Assim, embora ganhos em produtividade tenham ido obtido
com a utilização dos insumos (Figura 2) e melhoria dos atributos quí.micos (Quadro "), o
manejo intensivo do solo aliado à queima da biomassa resid ual das culturas resulta am
em selamento superficial (crosta) e formação de uma camada s ubs uperficial compactada
abajxo daquela preparada por arado e grade. Esse conjunto de fa tores determinou evera
erosão hídrica, com perda de eficiência do solo no aproveitamento dos insumos apli ados
e n a drástica redução da produtividade das culturas.

M AN EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


258 IBANOR ANGHINONI ET AL.

Quadro 3 . Evolução do atributo~ qu ímicos e m razão d a m ud ança d a condição o rig ina l pa ra o c ul tivo
agrícola com preparo con vencional d o solo

Atributo químico Condiç:io original Preparo convencional


Mata Campo 1967 1975
pH em água 5.5 4,8 4,7 5.3
fatéria orgãnica (g dn,-' ) 50 < 25 25 27
P - 1ehl ich- 1 (mg dm·;) 5 <3 2 12
K - Mehlich- 1 (mg dm·1 ) 70 60 55 75
1
Fonte.: icolodi et ai. (2009).

Em semeadura direta
A partir da década de 1970, vários programas de pesquisa, precedidos por iniciativas
individuais ou de grupos de produtores - especialmente no Paraná -, resultaram na
adoção de manejos mais conservacionistas de solo nos ambientes subtropical e tropical
brasileiros . Tais iniciativas foram centradas na redução ou eliminação do preparo do solo,
na introdução de plantas de cobertura, na rotação de culturas (no tempo e no espaço) e
no manejo adequado da biomassa residual (eliminação da queima da resteva) (Sá, 1993,
1999; Ruedell, 1995; Wiethõlter, 2000; Lopes et ai., 2004). Essas mudanças tiveram reflexos
positivos na redução das perdas de solo por erosão e no aumento da eficiência dos
fertilizantes e dos corretivos e, posteriormente, na qualidade do solo.
Foi nessa época que começaram a ser implantados experimentos de longa duração,
que foram fundamentais para detectar pequenas mudanças em urna matriz complexa de
fatores e que se constituíram na oportunidade de exercitar pesquisa multi-interdisciplinar,
necessária para quantificar os efeitos do manejo nas propriedades e características do solo,
entre elas, os seus atributos químicos (Anghinoni et ai., 2017). O principal foco desse tipo
de experimento, inserido na agricultura produtivista, ocorreu, no Brasil, dentro de duas
vertentes: da matéria orgânica (MO); e da fertilidade do solo, quer seja no conceito restrito
(atributos químicos) quer seja no conceito mais abrangente (capacidade produtiva do solo).
Considerando-se que as duas vertentes têm ocorrido simultaneamente no país, resulta
como produto da evolução o acúmulo de biomassa residual, o aumento no teor de MO, a
maior agregação do solo, a maior capacidade de retenção de íons, o aumento da ciclagern
de nutrientes e, por consequência, a menor dependência de insumos e também maior
qualidade do solo (Sá, 1999; Anghinoni, 2007), além dos benefícios do sequestro de carbono
(Piva et ai., 2012; Conceição et al., 2013). Assim, no contexto da multi-interdisciplinaridade,
os experimentos de longa duração permitem demonstrar como a diversidade espacial e
a temporal dos componentes do sistema interferem no grau de interações sinérgicas
e na riqueza e magnitude dos ciclos biogeoquímicos, como apresentado na figura 4, e
consequente res posta diferencial das culturas aos insumos e ao manejo do solo.
Dentre os manejas conservacionistas introduzidos na década de 1970, destacava-se,
inicialmente, o cultivo mínimo (grade leve, subsolagem superficial ou escarificação), que foi
ra pidamente substituído pela semeadura direta. Porém, somente a partir d a década de 1990
0 crescimento da área agrícola utilizando essa técnica foi grande e de forma exponencial no
s ul (Figura 5); e, a partir da primeira década deste milênio, nos demais estados brasileiros,
especialmente no Cerrado (FEBRAPDP, 2014). Nessa técnica (semeadura direta), são

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER - REL/\ÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTO S QUÍ M I COS DO SOLO 2 59

utili zadas culturas produtoras de g rãos para suc;tentação conôrni a do n gócio agrícolil
das plantas de cobertura para a produção de biomasc;a vegetal r s idual.

O - 5 anos
Fase inicial
- 5 -10 anos
Transição
- 10 - 20 anos
Consolidação
> 20 anos
Manu tenção

Rearranjo da Reagregação Acúmulo de pa- Fluxo contínu o


estrutura lhada de C e ,
Inicia acúmulo
Baixo teor de de mat orgânica Acúmulo de Elevado acúmulo
matéria orgânica mat. orgânica de palhada
Inicia acúmulo
Baixo acúmulo depalhada Aumento da CTC Maior re tenção
de palhada de água
Inicia acúmulo Imobilização de N
Reestabeleci - deP < Mineralbaç.ão de Ma ior ciclagem
mento da biornas - N de nutrientes
Imobilização de
sa microbiana
N~ Mineralização Aumento da ci- Menor exigência
> Exigência de N deN clagem de nutri- de e P
entes

Figura 4. Fases e evolução de características e propriedades do sistema so lo com o tempo de cul ívo
em semeadura direta.
Fonte: Sá (2002).

A questão que se levanta, especialmente com relação à sem eadu ra direta consolidada
(10 a 20 anos- Figura 4), é de como perceber e avaliar a variabilidade dos atributo quí.micos
indicadores do estado de fertilidade do solo, com histórico de rotação e sucessão de cultura
por longo período, e como manejar a adubação e a calagem para cada região produto ra.
Isso porque questionamentos (ruídos) passaram a ocorrer, ao se aplicarem os preceito do
preparo convencional a essa técnica, desde a etapa de a mostragem do solo pelo aumento
da variabilidade espacial e evolução temporal (Nicolodi et ai., 2008) . Como consequencia,
é lógico haver alteração nos teores críticos, nas faixas e classes de fe rtilidade (curva de
calibração) e na própria adubação e calagem nessa técnica (Schlind wein e Gianello, 200
Nicolodi et ai., 2014; Fontoura et ai., 2015).

Variabilidade horizontal e amostra representativa

Na semeadura direta, a meso (0,05 a 2 m) e a micro(< 0,05 m ) variabilidade Uame ·


e Wells, 1990) são maiores do que no preparo co nv encional, especialmente quand o
os adubos são aplicados em linha (Figura 5) e na forma granulada, influenciando o
procedimento de coleta de amostras representativas do solo. As im, amo tradore que
coletam pequenos volumes de solo, como os trados de rosca e calador ( onda), re ultam
em m a io r variabilidade nos resultados nas a ná lises dos atributos químicos, especialmente
na análise de P e K disponíveis. Consequentemente, maior número de subamostrns
tornar-se-á necessário para satisfazer os limites de inferência estatística: erro 11 = 5 % e erro
f = 20 %. Haveria, pelos dados d o quadro 4, a necessidade de coletar lO e 13 ubamo h·a
para o K disponível; e 53 e 348, para o P, por gleba considerada uniforme, em oja e
milho, respec tivamente, com adubação no s ulco, utili za ndo-se trado holandês. b ·er a-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


260
lBANOR ANGHINONI ET AL.

~e q_ue esses números de subamostras para p são muito superiores às 10 a 20 s ubamostras


mdicadas para o 1nanejo com preparo convencional (Quadro 2), o que já denota clara
muda_nça no p~ocedimento de amostragem do solo, resultado da inter-relação entre o
mane10 e os atnbutos qufn"licos do solo.

Figura 5. Distribuição do adubo em linha, em diferentes profundidades e distâncias entre linhas de


diferentes culturas em semeadura direta.
Fonte: Sá (2002).

Quadro 4. Variabilidade de atributos químicos do soJo(l) e número de subamostras necessárias para


compor uma amostra representativa em diferentes culturas em semeadura direta, de acordo
com os limites de irúerência estatística

Número de
Atributo químico Cultura Coeficiente de variação
subamostras<2>
%
Soja 30 10
K - Mehlich-1
Milho 34 13
Soja 70 53
P - Mehlich-1
Milho 148 348
llJL.atossolo Vermelho amostrado com trado holandês; <1in = [(CV x ta)/[]2; a= 0,05; e f = 20%.
Fonte: 1icolodi et ai. (2000) .

A representatividade do ponto (sítio) de coleta é fundamental para a definição do


nú.mero de subamostras. Assim, a coleta de urna fatia de solo (5 x 10 cm, espessura x largura),
na aplicação do adubo fosfatado a lanço, com pá de corte, ou a coleta da seção transversal
à linha de adubação em soja, resultou nas reduções de 23 e 46 subamostras retiradas com
trado de rosca, respectivamente, para somente 11 subarnostras (Quadro 5). Esse valor se
situa no limite inferior do intervalo recomendado (10 a 20 subamostras) para o preparo
convencional com homogeneização do solo da camada arável. Esse é, então, o número
mínimo de subamostras para a probabilidade de erro a de 5 % e f de 20 %, necessário para
contornar a macrovariabílidade do solo, determinada pelas condições pedogenéticas e de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTO S QUÍMI COS DO SO LO 261

ambiente Oélmes e Wells, 1990), uma vez que a meso e microvariabilidade são conto rnada
pelo procedimento de cole ta da amostra.

Quadro 5. Variabilidade dos teores de fósforo dis ponível (Mehl ich-1 ), número de subamos tras
necessá rio para compor uma amostra re presenta tiva em di ferentes mod os de ad ubação e
a mostradores de solo em semeadura direta, d e acord o com o lim ites de inferência estatistica

Modo de A mostrador Coeficiente de úmero de


adubação de solo variação ubamo tra n ,
%
Trado de rosca 47 23
Lanço
Pá de corte 33 11
Trado de rosca 67 -l6
Linha
Pá de corte 33 11
nln = (CV . ta/f)' : a = 0,05 e f = 20 %.
Fonte: Schli ndwein e Anghinoni (2002).

A representatividade do ponto de coleta do solo em semeadura direta tam bém é


muito importante na agricul tura de precisão, havendo recomendações de coletar vá ria
s ubamostras (5 a 8 em um raio de 3 m) em torno do ponto georreferenciado para bem
representar a área sob influência do ponto de coleta, especialmente quando do uso de
amostradores que coletam um pequeno volume de solo (Anghinoni, 2007; Cantarutti et ai.,
2007; CQFS RS/SC 2004, 2016).

Variabilidade vertical e estado de fertilidade


A formação de gradientes decrescentes de MO, de acidez e de nutrientes a partir da
superfície do solo em semeadu ra direta foi rapidamente percebida no ambiente brasileiro
(Fontoura e Bayer, 2008) . A magnitude dos gradientes de MO depende da q ua ntidade
de biomassa residual produzida, os gradientes de acidez dependem da intensida de na
nitrificação do amônia liberado da mineralização dos compostos orgânicos e de fertilizante
nitrogenados (amídicos e a moniacais), e os gradientes dos nutriente , do modo de apl icação
dos adubos (lanço ou linha) e corretivos (na superfície e incorporados). A intensidad e do
gradientes ocorre, d e maneira geraJ, nessa ordem: P > MO> Ca > lg > K. De outra forma,
a aplicação superficial de calcário cria uma "frente de alcaJinização", diminuindo a acidez
(teor de AI) e aW11entando os teores de Ca e Mg a partir da superfície do solo (Caires e t
aJ., 2011) . Esses fatores geram dificuldades para estabelecer procedimentos d e cole ta de
amostras representativas do estado de fertilidade do solo. Para Sá (1993), na semead11 ra
direta, deixa de existir a camada arável, dando lugnr à Oll tra, e11riq11ecidn com biomassa resi t w1 l ,
alterando a dinii111icn dn matéria orgânica do solo e a ciclage111 de nutrientes. Por isso, a tenção
deve ser dada para evitar perdas do solo da camada s uperficial (0-2 cm) na sua coleta com
trado d e rosca, es pecialmente na adubação a lanço em so los arenosos e pou o e truturad os,
quando secos. Essa coleta pode resultar em menores alares em relação à coleta de fatias
de solo com pá de corte (Quadro 6). Tais diferenças podem implicar em enquad ram ento
errôneo dos teores em diferentes classes d e disponibilidade de nutrientes e de indicações
de adubação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
262 lBANOR ANGHINONI ET AL.

Quadro 6. Valores de atributos químicos do solo em razão do modo d e ad ubação e a m ostradores de


solo em semead ura direta

1odo de Atributo químico


Amostrndor de solo
adubação K - Mchlich-1 P - Mehlich-1 Matéria orgânica
--------------- mg dm·' --------------- -------- g dm·3 - - - - - - -
Trado de rosca 248 a 26 b 41 ns
Lanço(ll
Pá de corte 233 b 36 a 42
Trado de rosca 175 b 26 b 38 b
Linha121
Pá de corte 221 a 38 a 60 a
111
ove anos; e r.1]2 ano . Letras iguais, na coluna e dentro de cada modo de adubação, não diferem enlTe si pelo teste de Tukey a
5 % de significância (ns = não significativo p > 0,05).
Fonte: Schlindwein e Anghinoni (2002).

A amostragem do solo na camada de 0-20 cm, recomendada para culturas anuais no


preparo convencional, dependendo da fase em que a semeadura direta se encontra, pode não
ser adequada para a avaliação da disponibilidade de nutrientes para as culturas. Trabalhos
de pesquisa (Quadro 7) indicam que a amostragem na camada de 0-10 cm, indicada pela
CQFS RS/SC (2004, 2016), pode ser mais adequada para representar a disponibilidade de P
nas fases iniciais e de transição da semeadura direta (Figura 4), que ainda ocorre na maior
parte das lavouras em semeadura direta no Rio Grande do Sul (Hoff et al., 2010; CQFS
RS/ SC, 2016); isso, pelos maiores coeficientes de determinação para a análise de regressão
entre o teor disponível e o rendimento das culturas, conforme verificado por Sá (1996)
e Schlindwein e Gianello (2008). No entanto, à medida que o sistema avança no tempo
(> 10 anos), essa relação tende a diminuir em semeadura direta consolidada, havendo leve
vantagem para a camada de 0-20 cm, como verificado por Nolla (2003), Nicolodi (2003) e
Vieira et al. (2016).

Quadro 7. Relação entre o rendimento de grãos e os teores de fósforo disponível por diferentes
métodos de análise em camadas de solo e culturas em semeadura direta
Camada de solo (cm)
Fonte Método de análise/ Culturas
0-10 0-20
------- R2 X 100 -------
Mehlich-1 54 45
Sá (] 996)<1l Resina (esferas) 75 52
Mehlich-1 71 54
Scblindwein e Gianello (2008)<21
Resina (membrana) 66 59
Cereais de invemol4l 66 68
Vieira et ai. (20 14 )13, Culturas de verão<5l 58 68
Rotação de culturas<6> 58 66
º'Milho, uma safra; 121Média de 22 experimentos com trigo, soja e milho; ()!Média de 44 experimentos (Mehlich-1); 1''Trigo, cevad a
e aveia; CSlSoja e milho; t•JRotação: soja/ milho, no verão; e trigo/cevada/aveia-branca e plantas de cobertura, no inverno.

Atributos de acidez e calagem


o efeito fitotóxico do alumínio, sobretudo na sua forma trivalente - AP+, em lavouras
na fase consolidada da semeadura direta(> 10 anos) pode ser menor (menos tóxica) do que
aquele verificado no preparo convencional do solo (Salet et ai., 1999), na mesma condição

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER-RELAÇÃO ENTR E MANEJO E ATRIBUTOS QU ÍM I COS DO S OLO 263

de acidez (pH do solo). lsso ocorre por di versos meca nismos: neutralização pela migração
das partículas finas do calcá rio ao longo d o perfil do solo (Amaral el ai., 2004 ; lib ração
contínua de biomoléculas de natureza anfótera, oriund a da decomposição dos dubo
verdes (Miyazawa et ai., 1993; Franchini et a i., 1999; Miyazawa et aJ.. , 200 ); produção
de ácidos fúlvicos que se acumu lam na solução do solo (Salet, 1998; olJa e Anghinoni,
2006); e complexação de superfície na interface dos coloides orgânicos e minerai do
solo (Salet, 1998). Todos esses fatores diminuem a a ti vidade do AI na olução d solo
(Quadro 8), e, como também demonstrado na figura 6, o AI ligado a com posto orgânico
(preferencialmente de alto peso molecular) é a forma preponderante des e elemento na
solução do solo em semeadura direta sem his tórico recente de calagem. AI m dj , o
a umento do teor de P no solo, como resultado da adoção da semeadu ra ilireta, mesmo em
gradiente, pode resultar na ocupação dos sítios de adsorção desse nutriente, que de loca
ânions orgânicos, que se ligam ao AP+, formando complexos (1 olla e Angrunoni, 2006),
diminuindo sua concentração na solução e na troca.

Quadro 8. Principais espécies e atividade do alumínio na solução do solo 11 1 em razão do man jo


Manejo do olo
Espécie/ Atividade
Preparo convencional emeadura direta
------------------------- - - ' ¾ - - - - - -- - - -
Al3+ 4,0 25
2
Al(OH) • 1,6 1,6
Al(OH)/ 42
AIH.,PO i+ < 0,1
- 4
AI-ligantes orgânicos 49
Atividade do AP• (µmol L·') 10
CllLatossolo Vermelh o distrófico, camada de 0-5 cm: pH : 5,0 e AI tota l em solução: 0,5 mmol L·'.
Fonte: Salet e t al. (1999).

100
■ Al-COD (alta
mas.sa molecular)

75
■ Al-COD (baixa
massa molecular)

'$ 50 □ Al-sulfa to

□ Al-OH
25

D Al livre
o____......__..____.--_ __.____._ _ _
Rondonópolis/:tvIT Ponta Grossa/ PR

Figura 6. Dis tribuição relativa de formas de alumínio (AI) n a alução de I e m e meadura dir ta,
sem histórico recente de calagem (COO = carbono orgànico dis olvid ).
Fonte: Alleoni et a i. (2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


264 lBANOR ANGHINONI ET AL.

Como resultado dessas reações e mecanismos, os efeitos na redução da acidez e dos


teor s de AI tr cável e no deslocamento de cátions básicos no perfil d o solo são detectados
abaixo da superfície do solo, após períodos relalivamente curtos. A velocidade de desc ida
depende da quaJidade e da dose de calcário, do fertilizante aplicado, do tipo de solo, do
sistema de cultivo (rotação, sucessão ou monocultivo), do manejo da biomassa cultural
residual e do regime pluvioméh·ico, mas principalmente do tempo no sistema. No Paraná,
foi obsen ado efeito até a profundidade de 10 cm, após 12 meses, e até 20 cm, após 28
meses, em solo de textura média (Caires et al., 2008; Caires, 2011). No Rio Grande do Sul, os
efeito foram observados predominantemente após h·ês a quah·o anos e até a profundidade
de 10 on (Anghinoni e Salet, 2000).
1
o entanto, como resultado da dinâmica do AI no solo, a resposta no rendimento
das culturas à calagem em semeadura direta de longo prazo é relativamente pequena
(Quadro 9). É importante ressaltar que a aplicação de calcário na superfície do solo é
eficiente (Caires et al., 2008; Caires, 2011), urna vez que a produtividade, a receita
bruta e o retomo pela calagem não diferem em relação à sua incorporação, mesmo na
implantação da semeadura direta a partir de campo natural (Quadro 10). O manejo da
calagem do solo em semeadura direta, apesar do avanço verificado no país, necessita ser
mais bem estudado, urna vez que a MO, a mineralogia e a textura do solo influenciam
sensivelmente na formação de cargas e no poder-tampão do solo. É importante que se
considerem os aspectos relativos ao histórico de manejo para melhor compreensão do
funcionamento do solo corno sistema.

Quadro 9. Atributos químicos do solo, calagem superficial e produtividade de diferentes culturas de


grãos em semeadura direta
Atributos químicos do solo
Produtividade Dose de calcário Incremento na
(0-20 cm) Fonte origino!
sem calagem em superficic produth,idade
H AI'" J\101' 1
cmol, kg: ' g kg·' - -- ---- Mg ha·' - - - -- % - -
Soja
4.7111 2.3 21 2,42 10,7 22 Ponkcr e Bcn ( 1998)
4,6rll 1.9 25 2,8 1 7.2 15 Pottkcr e Bcn ( 1998)
4,11:i 1.2 38 3,00 2,0 19 Sá ( 1999)
-1,om 0,9 34 2,72 6,0 10 Caies et ai. (2001 )
4.6" ' 0,3 53 3,70 4,5 6 Caires ct ai. (2003)
Mi lho
4.71'' 2,3 21 4.3 1 10,7 15 Pollkcr e Ben ( 1998)
4.6'" 1,9 38 6.46 7.2 li Ponkcr e Ben ( 1998)
4.1r. 1 1.2 38 8,20 2 9 Sá ( 1999)
4_5r., 0,6 33 9,49 4,0 2 Caires c1 nl. (200211)
4,6'" 0.3 53 8,76 4,5 12 Caires ct a i. (2004)

Trigo
4,7' " 2.3 21 1,77 10,7 6 Pottker e Ben ( 1998)
4,6111 1.9 25 2, 17 7,2 10 Pottkcr e Ben ( 1998)
4, lm 1,2 38 1.86 2,0 4 Sá ( 1999)
4,001 0.9 34 1,36 6,0 34 Caires el nl. (2000)
4.6m 0,3 53 3,68 4,5 <I Caires cl ai. (2002b )
fl•p H em água; r.JpH e m CaCJ, 0,01 mol L·1; <'1AI trocável; e 1' 1matéria orgânica.
Fonte: Adaptad o d e Caires (2011).

Por causa das características de evolução da semeadura direta ao longo do tempo, os


critérios para a caJagem são também diferenciados, quer seja na sua implantação quer na fase
consolidada. Na implantação, as doses são determinadas em razão dos critérios de calagem,
diferirem entre as regiões brasileiras (Ribeiro et al., 1993; Raij et aJ., 1996; Freire et ai., 2013;

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


I X - INTER - RELAÇÃO ENT RE MA NE JO E A TRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO 265

CQFS RS/5 , 2016). Na im plélnlélção, o Céllcá ri o deve ser incorporado na Célmada arc1dé1, de
acord o com os proced imentos ind icados pé!íél o preparo convencional. Na fa se consolidada ou
mesmo na im pla ntélção da semeadura clirelél crn cél mpo natural pouco cido, a CQF RS/ 5
(201 6) recomenda a ap licação superficiéll de calcário q uando o pf-1 do solo na camada de 0- 10
cm , no caso d e não have r resh·ições na ca mada de ·10-20 cm, fo r < 5,S satu ração por bélses for
< 65 %, com o objetivo de elevar o pH do solo a 6,0 (séltu ração por bélse 75 "~).

Quadro 10. Re torno econômico na méd ia de d ife ren tes c ulturas111com d ifere ntes mod o-; de <1 p licaçJn
de calcá rio e m se m ead u ra d ireta a pa r tir de campo natural

Custo da cala):!em Retorno da ca lage m


Aplicação Receita
F. m ci nco
de calc:írio bruta 1~1 C alc:írio1!' Dis trihuição Incorpo ração
ano~
.\ nuu l

------------------------------------------ - ------- USS h::r' - - -- ------- -- - - ----------


cm ca lcário J .301
uperficial1=1 3.536 45 15 175 35
Sup.:rfic ial1i 1 3.545 45 5 194 31)
1ncorporado 3.501 45 10 44 11 1
.-' .,-
'5oja-<:evada-soja-triso- 01a-milho-soja; r. 1·1/ 3 por ano na s uperfície por tr~ ,rnos; '''Dose de calc,\no na supcrtlc1e "m um., un,ca
l1

aplicação; 111valor dos grãos (USS Mg·'): soj;i = 163,00, cev;ida = 93,70, trigo= 116 ,70 ,. mdho = ',JO; · ·Cu~tn do c.ik.,no. (LS
Mg·') = -1,5 x 10 Mg = -15,00.
Fonte: Caires (2011).

Na fa se consolidada, quando esti ver ocorrendo decréscimo de rendimento da


culturas p ela acidez do solo, as recome ndações de calagem divergem na diferentes
regiões do Bras il. Assim, no Estado do Paraná, Caires (2011 ) indica a necess idade de
ele var a saturação por bases a 70 % na camada de 0-20 cm, to ma ndo como ba e valo re
d e pHc,m inferior a 5,6 ou saturação por bases infe ri or a 65 %, na camada de 0-5 cm. l fai
recentemente, em áreas da região centro-su l d o Paraná e em semead ura direta de longo
prazo (mais de 20 anos), Fontoura et ai. (2015) ta mbém indica m a util ização de valores de
saturação por bases e pHc.,ci~' entretanto, to mando com o base para esses indicadores, de
60 % e 4,9, respectivamente, na camad a de 0-20 cm . A ind icação da calagem isa atingir o
valor d e 70 % para saturação por bases (equ ivalente ao pH c.ict2 de 5,2).
Para o Estado de Minas Gerais, Lopes et a i. (2004) s ugerem q ue, apó- a implantação
d a semeadura direta, as d oses de calcá rio poderia m ser d iminuídas em um terço, q uando
a a mos tragem fosse feita na camada de 0-20 cm, e à metade, q ua ndo na camada de 0-10
cm . esses casos, seria usado calcário d e granulome tria fina com menore do es an uais
ou biena is, em vez das doses cheias recomendadas, a cada quatro ou cinco anos, para o
pre pa ro convencional.
a região d o Cerrado, o objetivo da calagem é atingir o pH em água de 6,0 e a aturaçJo
p o r bases d e 50 %, determinados em amostras coletadas na ca mada de 0-20 cm, de de que
a relação Ca: Mg h·ocáveis no solo (c molc d m•J) esteja entre 1 :1 e 10:] , com um mínimo de
0,5 cmol, d m·3 d e Mg (Sousa e Lobato, 2004; Sousa et ai., 2007).

Calibração das análises do solo e adubação

Na e la boração das recomendações, a calibração do métodos de a nálise química


d o so lo é, p rovavelmente, a etapa mais importante e m emeadura direta, pois, pelas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


266 lBANOR ANGHINONI ET AL.

características de funcionamento do solo não podem ser simplesmen te adotadas aquelas


oriundas do preparo convencional. Ela é especialmente importante para P, e m razão de
sua baixa m obilidade no perfil no solo, uma vez que a cnnindn nrrível deixa d e exis tir (Sá,
1993). H á , por isso, a nece ·sidade de definir a camada de solo (ding11ós ficn), a ser amostrada,
q ue melhor reflita a disponibilidade dos nutrientes d a forma percebida pelas plantas. Foi
de envolvido, com esse objetivo, um programa de calibração do método Mehlich 1, visando
recomendações de ad ubação e calagem na área de abrangência da Cooperativa Agrária,
no Pa raná, em lavouras d e m ais de 20 anos em semeadura direta (Vieira, 2014; Fontoura
et ai., 2015). O sistema d e cultivo dessa cooperativa inclui soja e milho, no verão; e trigo,
cevada, aveia-branca e plantas de cobertura, no inverno. Nesse sistema, de longo prazo, as
amostragens das camadas de 0-10 cm e 0-20 cm do solo foram igualmente eficientes como
cnmndns ding11ós ticns da fertilidade do solo, com leve vantagem para a segunda.
o trabalho de Schlindwein e Gianello (2008), foi efetuada a calibração a partir de 22
experimentos com b·igo, soja e nlilho no Rio Grande do Sul, majoritariamente a inda na fase de
estabelecimento e transição da semeadura direta (Figura 4) com o P concenh·ado na camada
mais superficial do solo, conforme indicam as correlações com o rendimento das culturas
(Quadro 7). Deduz-se, então, que a camada que melhor reflete a fertilidade do solo percebida
pelas plantas, em semeadura direta, depende da fase em que se encontra essa técnica, em
relação ao tempo de sua implantação e ao manejo adotado. Assim, pelos dados do quadro 7, a
decisão, tomada pela Comissão de Fertilidade do Solos RS/SC (CFS RS/SC, 1997), de utilizar
a camada de 0-10 cm para o diagnóstico da fertilidade do solo, foi correta, pois na époc~ a
maioria d as lavouras se encontrava na fase de implantação e transição (Hoff et al., 2010), de
acordo com o que é visualizado na figura 4. No entanto, mais tarde, na elaboração do Manual
de Adubação ..., a CQFS RS/SC (2004) deveria também ter alterado os teores críticos para
valores mais altos, tanto pelo método Mehlich-1 como Resina, conforme indicado no quadro
11, o que foi adotado no novo Manual (CQFS RS/SC, 2016).

Quadro 11. Teores críticos de fósforo disp01úvel por diferentes extra tores em razão do teor de argila
do solo em semeadura direta e aqueles utilizados pela CQFS RS/SC (2004)

Mehlich-1 Resina (membrana)


Camada Fonte
de solo Cla se I Classe 2 Classe 3 Classe 1 Classe 2 Classe 3

-- cm-- -------------- mg kg· 1 -------------- - - - - - - - - - - - - - ------ - - - -

0- 10 16 21 30 21 30 36 Schlindwein &
15 21 15 24 30 Gianello (2008)(1 1
0-20 7,5

0-20 6 9 )6Pi --···-··----· 2oc•1 ---------· CQFS RS/SC (2004) m


<'C)asse 1: argila> 55~o; Classe 2: argila de40 a 55%; e Classe 3: argi la< 40% em experimentos de soja, tri go e milho em sem c.:idura
direta. r.ic )asse J : Argila> 60 %; C lasse 2: argi la de 41 a 60%. Classe 3: argila S 40 %, em uso no Rio G rande do Sul e Santa Catarina;
,1, 1édia d a Classe 3 argila de 21 a 40%. Classe 4 S 20 %; "lSem dislinção de classe d e argila.

As recomendações de adubação para o preparo convencional consideram , basicamente,


a an á lise de atributos químicos do solo e o cultivo anterior (ciclagem de N) e, a partir d e
2004, a produtividade pretendida. Em áreas m anejadas em semeadura direta, no entanto,
é necessário cons iderar outros fatores, como o histórico (mais longo) d e cultivo. Mes mo
assim, vis u aliza-se uma melhoria dos atributos quínlicos indicadores da fer tilidade do solo
com O tempo de m anejo em sem ead ura direta (Quadro 12), com amT1ento do teor d e matéria

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E AT RIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO 267

o rgâ nica, do pH e cios teo res de P e K d is pon íve i, (Mehlich- 1) e m ní veis ro n,ide radoc;
adequéldos <10 crescimento das plan tas.

Quadro 12. Evoluçã o dos atri b utos químicos d o so lo c m rMJo Jo tipo J c m a rn?JO c1 part ir d,1 co ndic,"i l1
natural

Preparo
Concliç:io natural Sern ear111ra di re ta
Atrihuto químico con ve ncional
lata"' Campo"' 1967'" 197511 ' 198-1 11 ' 200511 1
pH em água 5,5 4.8 4.7 5. J 5.3
Matéria orgânica (g dnr') 50 < 25 25 27 3-1 J.
P - Mehlich- 1 (mg dm•J) 5 <3 2 12 7 15

K - Mehlich- 1 (rng dm·3) 70 60 55 5 7() 230


1' 1
"'Amos tragem de 0-20 cm; e 1\moslrilgem de 0- 1Ocm.
Fonte: icolod i ct ai. (2009).

Da mesma forma, as indicações de a dubação elaboradas no preparo convenciona l


do solo não podem, simplesmente, ser adotadas em lavo u ras conduzida em semeadurêl
direta, já que esta técnica altera características, propriedades e funcionamento do solo,
como ilustrado na figura 4. Isso ocorre especialmente em s ua fase de trans ição (10 a 20 ano )
e estabilizada(> 20 anos), pelo acúmulo de MO, pelo aumento da CTC e pela retenção de
água, fluxo contínuo de Cede N e pela m"ior ciclagem de n utriente .
A magnitude da ciclagem de K ocorrida na semeadura dire ta foi il ustrada no trabalho
de Rossato (2004). A inclusão da aveia-forra geira antes do rrúlho eguida do trigore ultou
em um suprimento de 389 kg ha-1 ano-1 d e K, o que, somado à contribu ição do nabo
forrageiro, foi para 608 kg ha-1 ano-1 de K na ausência de e, para 770 kg ha-1 ano·1 de K,
com a adição (via adubo) de 180 kg ha-1 de N. São, portanto, quantidade grande des e
nutriente, muito acima da própria necessidade do m ilho, cultivado na equência, e que
devem ser levadas em conta na adubação potássica.
Entretanto, as meU1orias na organizaçã o e no funcionamento do solo como is tema não
são ide ntificadas na análise química, pois, por suas caracterís ticas, os extratore químico -
não conseguem detectar a conh·ibuição da ciclagem de nutrientes (da biornas are idual das
culturas d e cobertura ou da fração lábil da [0), como il us trado para P na figura 7. i\:es e
caso, um me nor teor de P-Mehlich-1 (3 mg de P dm-3) no solo com cul tivo por nove ano de
pas tagem, após uma sequência de cultivos anuais, resulto u em rendimentos equ i alentes
(3,0 Mg ha-1) no 13° cultivo de soja, ao obtido com o dobro de P (6 mg dm·' ) na au ência dc1
pas tagem, que apresentou um rendimento menor (cerca de 1,0 Mg ha·1) com o me mo teor
(3 m g dm-3) daquele sis tema.
A utilização de teores críticos de P mais altos para la\'oura em ~emeadura d ireta de I ngo
praz o (Quadro 11) não necessariam ente implicará em recomendações mais altas de nutrientes,
uma vez que a conh·ibuição da ciclagem passa a er importante, e os indicadores químicos
da fertilidade do solo nas lavomas consolidadas têm frequentemente sido enquadrado- nas
classes Alto e Muito alto, o que significa recomendar adubação de man u tenç,10, ou somente a
reposição das saídas de nutrientes pela exportação nos grãos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


268 lBANOR ANGHINONI ET AL .

o 2 4 6 8 10
P extrnível (mg dm·1)

Figura 7. Relação entre o teor de fósforo (Mehlich-1) e o rendimento d e grãos no 13° cultivo de soja:
Anual= soja/ pousio; e Anual/pasto= soja em rotação/pasto.
Fonte: Sousa e Lobato (200-l).

Em sistemas integrados de produção agropecuária


Caracterização dos sistemas
Os sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA) são mais conhecidos no Brasil
pela denominação de integração lavoura-pecuária (ILP)-floresta (ILPF) e correspondem
a associações entre pecuária e cultivas, notadamente comerciais, em escala de fazenda
(Carvalho et ai., 2014) . Eles constituem sistemas planejados em diferentes escalas espaço-
temporais na mesma área, de forma concomitante ou sequencial, e mesmo entre áreas
distintas (Moraes et ai., 2014). Os SIPA remetem aos primórdios da agricultura, não se
tratando de novos modelos de produção (novas tecnologias), mas sim de ressurgência. A
novidade é que a ciência brasileira apresenta ao mundo o uso desse conceito sob os pilares
da agricultura conservacionista (Anghinoni et ai., 2013; Carvalho et ai., 2015). Na semeadura
direta, com a presença de adequada cobertura de solo e de rotação de culturas mais o efeito
do pastejo, ocorrem interações de forma sinérgica, aportando novas propriedades, ditas
emergentes (Vezzani e Mielniczuk, 2011; Melo, 2011), aos sistemas integrados (Anghinoni
et ai., 2013; MartiJ1s et ai., 2015).
Diversidade e complexidade são características inerentes desses s is temas de manejo,
e O grau de interações sinérgicas é, então, dependente de quanto complexo é o sistema,
temporalmente e espacialmente. Quanto maior a diversidade, maior a temporalidade com
que os arranjos de integração se repetem; e, quanto menor o espaço fís ico de interação
entre os componentes, maior a possibilidade de ocorrência de sinergia. A organização
da diversidade, temporalidade e espacialização melhora as caracterís ticas dos sistemas
integrados; assim, quanto mais diversos o forem, mais os ecossistemas se aproximam
do ambiente natural e, com isso, diminuen1 o ritmo de seu funcionamento e mantêm um
equilíbrio dinámico (Kirschenmann, 2007; Anghinoni et ai., 2013; Ca r valho et ai., 2017).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


IX - INTER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS QUÍMI COS DO SOLO 269

A co11struçiio dos sis temas integra do , pela escolha dos compon ntes e pela estrat g ia d
seus arranjos espaço-temporais, define a natureza (elem ntos envo lvid os) ~ êl magnitude
(quantidade dos fluxos) dos ciclos biogeoquímicos presentes. O so lo, ne ses sistemas,
pode ser considerado o compa rtimento centralizad o r dos processos e aquele q ue cap tura
as modificações do sistema de produção. Por sua vez, o anima l e m pas tejo Jtua como o
agente catalisador, que modifica as ta xas e os flu xos cios processos s is têmico , recicland o o
material orgânico e determinando a dinâmica dos nutrientes entre os compa rtimentos do
s is tema (Anghinoni et ai., 2013, 2015).

Atributos de acidez e calagem

Na ressurgência dos SIPA e na perspectiva da agricultura conservacionista, a


dinâmica dos atributos de acidez e a sua correção seguem os preceitos da semeadura
direta, apresentados anteriormente. A questão relativa ao efeito da calagem é d e que a
entrada do animal no sistema poderia restringir a ação do calcário, quer em superfície q uer
em profundidade, como resultado da compactação do solo, especialmente pela diminuição
do movimento descendente das partículas por meio dos bioporos ou megaporos, conforme
constatado por Amaral et ai. (2004).
Em protocolo experimental de produção integrada de soja e bovinos de corte (Marti ns
et ai., 2015), verificou-se, entretanto, ao contrário das pressuposições existentes, pois
a ação em profundidade do calcário aplicado na superfície do solo, em 2001 (in ício do
experimento), após a primeira saída dos animais, foi rápida e ainda mais rápida apó a sua
reaplicação em 2010 (Quadro 13). Além disso, a acidificação do solo ao longo do tempo
foi menor nas áreas pastejadas, uma vez que os balanços de Ca e Mg foram positivos,
resultando também em maior eficiência na utilização desses nutrientes para a produção de
proteína (Martins et ai., 2014a). Acredita-se que essa correção até maiores profundidades
nas áreas com pastejo seja resultado de maior quantidade e continuidade de biopores
no perfil do solo, propiciando a descida das partículas finas do calcário. Além disso, o
pastejo das espécies forrageiras acarreta em maior produção de raízes dessas plantas, o
que propicia maior proporção de solo rizosférico e atividade microbiana (Baziramakenga
e Sin1ard, 1998), além do esterco depositado sobre o solo, provavelmente aumentando
os teores de C-orgânico dissolvido na solução do solo, que, por s ua vez, contribui para
a descida química dos compostos dissolvidos do calcário. Entretanto, a melhoria das
condições de acidez não interfere no rendimento de grãos de soja em anos de precipitação
normal ou acima da média. No entaJ1to, em anos de estresse hídrico severo foi ob ervada
menor produtividade de grãos (Martins et ai., 2014b).
Além disso, assim como ocorre com a passagem do preparo convencional para a
semeadura direta, as relações entre os atributos de acidez do solo (pH e saturação por
bases e por AI) também mudam com a adoção dos SIPA. Martins et al. (201-la) verifica m
que as áreas com pastejo necessitam de menor pH (4,8 a -l,9) do que as sem pastejo (pl-1
5,2) para atingir a saturação por bases de 65 %). O mesmo ocorre com .1 relação entre pH
e saturação por AI, em que valores iguais ou menores que 10 ~~ (tido como o limite d e
fitoto xicidade para a maioria das culturas) correspondem a pl-1 maior ou igual a -l, , nas
áreas com pastejo, e 5,1, nas áreas sem pastejo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


l
270 lBANOR ANGHINONI ET AL.

Quadro l3. Profm1didade de coITeçào de ncidez alcançada na primeira aplicação s upe rficia l de calcário
em ~001 e na ua reaplicação superficial em 2010, em um sistema integré'ldo d e produção de soja
(verao) e bovino de corte (inverno) em emeadttra direta em diferente ah·ib utos de acidez do solo

1 3 n<.'jo das culturas de im·<.'rno Profundidade de correção


(av<.'iu-pretu + az<.'vém) pH Saturação por bases Saturação por AI
--------------------------------------- cm ---------------------------------------
. Primeira aplicação superficial de calcário em 200 1 (inicio do sistema integrado)
Compa, teJo111 17.5 15,0 ~ 25,0
em pa_tejo 15.0 12,5 20,0
Reaplicação uperficial de calcário em 20 1O
Com pa tejo inten ivom 20.0 30,0 ~ 40,0
Com pa tejo moderado131 17,5 ~ 40,0 ~ 40,0
em pastejo 7,5 7.5 17,5

1éd ia 5 alturas de manejo do pasto (aveia+ azevém) de 10, 20, 30 e 40 cm. r-1 Altura de manejo do pasto de 10 cm. 131 Altura
rii
de maneio do pasto de 20 cm .
Fonte: Flores et ai. (2008); Martins e t ai. (2014b).

Atributos químicos do solo, ciclagem de nutrientes e adubação de sistema


Para ilustrar o fluxo de nutrientes em sistemas integrados de produção agropecuária,
são utilizados, nesta publicação, os resultados de um protocolo experimental de integração
soja-bovinos de corte de longa duração com resultados de 15 ciclos de pastejo-soja (2001 / 15),
em semeadura direta desde 1993 (Martins et al., 2015). O sistema, nessa condição, pode ser
considerado em sua fase consolidada (Figura 4), por sua fertilidade química construída no
tempo.
A condição de solo fértil (CQFS RS/SC, 2016) é caracterizada, nesse sistema,
pelo teor de matéria orgânica (> 45 g kg-1 ) e pelos teores disponíveis (Mehlich-1) de P
(>lSrngdm-3),de K(> 130mgdm-3) etrocáveis(KCl 1,0 mal L-1 ) deCa (> 5,5cmolcdm-3) ede Mg
(> 2,0 cmolc dm-3) (Martins et aL, 2015). A magnitude da ciclagem é percebida no balanço
de nutrientes (N, P e K) nos diferentes compartimentos do sistema (Quadro 14). Verifica-se,
então, que a inserção dos animais promove maior ciclagem de N e K em pastejo moderado
(pasto entre 20 e 30 cm de altura), com 125 kg ha-1 de N e 110 kg ha-1 de ~O, em relação
ao sem pastejo, com 89 e 94 kg ha-1, respectivamente. A ciclagem de P foi semelliante entre
as áreas pastejadas ou não (em torno de 40 kg ha-1 de P20 5), uma vez que sua excreta pelos
animais é pequena. É importante que se observe que as quantidades cidadas pela excreta
dos animais é uma fração importante. Do total ingerido, 82 % do N, 71 % do P e 97 % do
K foram reciclados pelos animais, uma vez que a quantidade exportada desses nutrientes
pela carcaça animal (9 kg ha-1 de N, 5 kg ha-1 de P20 5 e 1 kg ha-1 de K20) é pequena (Quadro
14), tal como referido por (Haynes e WiUiams, 1993).
A liberação de nutrientes da biomassa residual da soja para a pastagem, a exemplo
do crescimento e rendimento de grãos (Kunrath et ai., 2015), foi pouco influenciada pelo
pastejo. No cômputo geral do período experimental, podem ser ciclados, ao longo de
cada ciclo pastejo-soja, 313 e 340 kg ha-1 de N; 53 e 48 kg ha-1 de P20 5; e 170 e 187 kg ha·1
de K,O, respectivamente, na ausência e presença do pastejo (Anghinoni et ai., 2015). São
quantidades que equivalem ou mesmo superam as doses de nutrientes recomendadas para
esses cultivas com base na análise química do solo (CQFS RS/SC, 2016) e demonstram a
importância da inserção do componente animal.

,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
IX - IN TER - RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRrBUTO S QUÍMTCOS DO SOLO 271

Quadro 14. Quanlidélcl c dl' biomJsSél rl'~iduéll d o p,ic,tn e doe; ,inimui'- prndu1:idnc; e nutncnte5
cíclacl os cm cada cornpartimc ntn duranll' a (a<;c ra~tagem em s1,tema inte14radn dt> prmluç.'io
de soja (verão) e bovinos el e corte (inverno) c m e. m •,1 dura Ji rct;i

Pa'5 tejo
Biomassa / utricntcs Ciclagcm
Pe la parte aé rea do pastoi 1' 5.4 3.9
Produção de biomassa (seca)
Pelo esterco 0.7
(Mg ha·' )
Total -t6
Pela parte aérea do pasto ' 1' 89 76
Pelo esterco 19
Nitrogênio - N 131
Pela urina' 41 21
(kg ha·')
Retirado pe lo animal 9
Total na fase pastagem 89 125
Pela parte aé rea do pasto ' 11 39 23
Pelo esterco 11
Fósforo - P2O5 13 >
Pela urina'·"
(kg ha·')
Retirado pelo animal 5
Total na fase pastagem 39
""º
Pela parte aé rea do pasto 11 1 94 70
Pelo esterco 17
Potássio - K 2O O>
Pela urina1-1> 21
(kg ha· 1)
Retirado pelo animal
Total na fase pastagem 94 11 O
"'Pasto mis to de ;iveiJ-pretil + .izevém; '' 'Manej,ido entre 20 e 30 cm de a ltur,1; '" Dados de mJteri.i ~ t'Cil e prod uç.io .in,m,11 1~.
1,67; e 0,30 kg de , P,Os e Kp, respectivamente, por 100 kg de peso \'Ívo), na média de IS aclos de paste10J; "\ .ilores esnm.i<los
a partir do balanço dos nutrientes ingeridos.
Fonte: Anghinoni e l .:il. (2015) .

Um sistema assim caracterizado (solo fértil, altaciclagem de nutrientes em fase consolidada


de manejo conservacion.ista), leva a uma mudança na estratégia de adubação; então, em vez
de adubar tanto a pastagem como a soja, ou aplicar N na pastagem e P e K na soja, pa a
aplicar toda a ad ubação somente na instalação da pastagem, em quantidades para diierentes
expectativas de produtividade, tanto de pasto como de grãos de soja, como vem sendo fe ito n
protocolo experimental desde 2011. A lógica está em logo repor ao solo os nutrientes e:\portado ·
pelos grãos de soja e aplicar o N visando o o-escimento da pas tagem (aveia+aze\·ém), uma vez
que a retirada desses nutrientes pelo animal é pequena (Quadro 1-t-).

ATRIBUTOS QUÍMICOS NO CONTEXTO DA. AUTO-


ORGANIZAÇÃO DO SOLO COMO SISTEMA E SUA
RELAÇÃO COM O MANEJO

Os postulados dos atributos químicos do a lo (abordagem químico-mineralist.:1 da


fe rtilidade do solo) serviram de base para o desenvolvimento d a agro nomia moderna e
promoveram o maior progresso hav ido na agricultur.:i, especialmente em paíse · com o

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


272 lBANOR ANGHINONI ET AL.

0 Brasil, com predominância de solo anteriormente considerndos impróprios para essa


atividade. d speito d essa importância, 0 u O exclusivo de atributos químicos do solo
vem endo que lionado pela dificuldélde em e -pres ar a fertilidade do solo percebida pelas
planta em manejas conservacionista (Nicolodi et ai., 2008) .
mudança havida no país, do preparo convencional do solo para manejes
con ervacioni tas com produção agropecuária integrada leva à formação d e manejes mais
comple ·o . e es, como mencionado anteriormente, o animal em pas tejo é o catalisador
do proce os sis têmicos, decompondo o material oroânico e determinando a natureza e a
magnitude dos fluxos de nutrientes enh·e os seus co~1partimentos. O solo é, por sua vez,
o compartimento centralizador desses processos e aquele que captu ra as modificações no
manejo (Can alho et ai., 2010; Anghinoni et ai., 2013, 2015).
erificou-se, ao longo deste capítulo, que nos manejas que acumulam C e à medida
que se avança no tempo, há aumento no fluxo de nuh·ientes e modificação nas reações
de adsorção e de complexação de compostos orgânicos e inorgânicos. Em adição a essas
alterações do manejo nos atributos químicos, também ocorrem efeitos positivos em outras
características, como ativação do crescimento de organismos do solo (Souza et al., 2010),
aumento na diversidade microbiana (Chavez et aJ., 2011) e resistência a perturbações físicas
(Vezzani e Mielniczuk, 2011). Essa evolução do solo como sistema pode ser reinterpretada
como um processo de auto-organização. Segundo Mielniczuk et ai. (2003), a evolução é
resultante do balanço de matéria e energia no sistema (Figura 4). Na concepção holística,
o solo funciona como um sistema aberto, onde o fator tempo exerce grande influência no
estudo de sistemas \ ivos, pois induz à priorização das relações e do todo, contrariamente
aos princípios mecanicistas, que priorizam o indivíduo (Addiscot, 1995; Mielniczuk et al.,
2003; Nicolodi et al., 2008; Vezzani e Mielniczuk, 2011; Melo, 2011).
Assim, a interpretação do sistema solo, com base na teoria dos sistemas abertos
afastados do equilíbrio termodinâmico, dos fenômenos caóticos e da existência de estruturas
dissipa tivas, leva ao entendimento do sistema pelo funcionamento complexo nos processos
de turbulência, auto-organização e mudança no nível de ordem (Mielniczuk et al., 2003;
Vezzani e Mielrúczuk, 2011; Melo, 2011). Quanto mais complexas as interações entre e
dentro de cada componente do sistema (físico, químico e biológico), maior é a probabilidade
de resultar em propriedades emergentes, que são importantes na regulação das funções
do solo. Assim, nos diferentes estados de organização podem surgir propriedades novas,
em nível superior de ordem, caracterizado pela presença de estruturas mais complexas
(Vezzani e Mielrúczuk, 2011) e pela grande quantidade de matéria e energia retidas,
bem como por sua baixa decomposição, e as propriedades emergentes se destacam em
diferentes processos e, ou, mecanismos.
Desse modo, a avaliação de atributos químicos para expressar a fertilidade do
solo nos sistemas que se auto-organizam em níveis mais elevados (complexos), que são
resultados de manejas conservacionistas do solo, requer abordagem sistêmica e holística,
como complemento ao atual enfoque (reducionista), que, embora tenha sido útil no
desenvolvimento recente da agricultura brasileira, onde o manejo do solo consistia
basicamente no seu preparo intensivo, tem demonsh·ado não ser suficiente para expressar
0 ambiente edáfico realmente percebido pelas plantas (Nicolodi et ai., 2008). É provável
que esse processo possa explicar a frequente discrepância entre os mapas de atributos
químicos do solo como os de rendimento das culturas na agricultura de precisão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER-RELAÇÃO ENTR E MAN EJO E A TR IBUTOS QUÍMICOS DO SOLO 273

Por s ua vez, a co11strução rio sistemn, pela esc lha dos comp n n e e da e tr té · d
seus arranjos espaço-temporais, defin e a natureza ( lem ntos envolvidos e a magnitude
(quantidade dos flu xos) dos ciclos biogeoquímicos pres nte . Por último, propriedades
e mergentes são originadas, pois os efeitos até aq ui d crito não ão imple mente
cumulativos. O grau de entropia desse sistema gera novo estado de o rdem novo , u de
conectividade entre componentes, e múltiplas interaçõe se sobrepõ m às simples relaçõ s
anteriormente experimentadas, de onde emergem novos proc sso sistémicos (Vezzani e
Mielniczuk, 2011; Melo, 2011). As propriedades emergentes dos sistemas não são impl
de observar, predizer ou mesmo prova r, pois os a rra njos dos componentes en volvido , na
três dimensões propostas, vão além dos limites atuais, e a na tureza exigida pa ra eu e tudo
é transdisciplinar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os relatos de que o homem relaciona o manejo do solo à s ua capacidade de produzir


alimentos, como visto, datam d e milhares de anos. o Brasil, a partir do conhecimento
trazido pelos imigrantes e, num passado mais recente, pelo uso da mecanização agrícola
e dos insumos modernos, estabeleceu-se que o preparo convencional seria o manejo de
solo a ser utilizado nas condições edafoclimáticas vigentes no país. Tendo corno base es e
manejo, foram elaboradas recomendações de adubação com base em atributos químico do
solo, cujas interpretações são relativamente simples e possibilitam o desenvolvimento d
uma agricultura produtivista de larga escala em solos originalmente pouco produtivos em
todo o território nacional.
Entretanto, o preparo intensivo com grande mobilização levou o solo a um processo
de degradação que culminou em paulatina redução de produtividade. Isso gerou a
percepção de que mudanças seriam necessárias para manter ou recuperar o eu potencial
produtivo. A partir de então, iniciou-se um movimento expressivo na direção de manejas
conservacionistas, primeiramente no subtrópico brasileiro e, mais tarde, em todo o paí ,
com redução ou eliminação do preparo mecânico prévio à semeadura, introdução de
plantas de cobertura e adoção da rotação de culturas. Isto resultou não apenas na redução
da erosão, objetivo principal, mas também no aumento da eficiência no u o de insumos.
Como consequência desse novo conceito de produção agrícola, o olo foi se tomando
urna matriz complexa de fatores inter-relacionados. As re posta ante obtidas a partir
de sistemas de produção intensivos e com grande mobilização de solo pas aram a não
ser suficientes, lançando luz à necessidade de uma abordagem multi-interdi ciplinar
para o entendimento d a dinâmica de nutrientes e de elementos tó ·cos no olo. Essa
complexidade de relações parece ser tanto maior quanto maior o tempo de manej do
solo sob os preceitos conservacionistas. Passou-se, en tão, a um movimento por parte da
pesquisa voltado para o papel do C-orgânico nesse novo cenário. 1 ele, concentram-
os esforços para o entendimento de sua relação com a qualidade do solo, e, pre pel
aumento dos estoques de C, pela maior agregação, pelo a umento da c pa idade de tr a
d e cátions, pela maior capacidade de retenção de água e p la maior ciclagem de nutrient s,
além do fa tor mais importante: a produtividade.
O cenário a tual da pesquisa está se direcionando a um no o rnovim nt n rnun
d essa vez, para a adoção de sistemas integrados de produçã agropecuária, q ue, n Brasil,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


272
lBANOR ANGHINONI ET AL.

0
Bra il, com predominfmcia de olos anteriormente considerad os impró pri os p a ra essa
a tividade. A d e peito dessa importância, 0 uso exclu sivo de a tributos químicos do solo
vem sendo ques tionado pela dificuldade em expressar a fertilidad e do solo p e rcebida pelas
plantas em manejas conservacionistas (Nicolodi et ai., 2008).
A mudança havida no país, do preparo convencional do solo para manejas
conservacionistas com produção agropecuária integrada leva à formação d e manejas mais
complexos. Nesses, como mencionado anteriormente, o animal em pas tejo é o catalisador
dos p~·oces os sistêmicos, decompondo o material orgânico e determinando a natureza e a
magrntude dos fluxos de nutrientes enh·e os seus compartimentos. O solo é, por sua vez,
o con~partimento cenh·alizador desses processos e aquele que captura as modificações no
ma.neJO (Carvalho et ai., 2010; Anghinoni et ai., 2013, 2015).
Verificou-se, ao longo deste capítulo, que nos manejas que acumulam C e à medida
que se avança no tempo, há aumento no fluxo de nuh·ientes e modificação nas reações
de adsorção e de complexação de compostos orgânicos e inorgânicos. Em adição a essas
alterações do manejo nos atributos químicos, também ocorrem efeitos positivos em outras
características, como ativação do crescimento de organismos do solo (Souza et ai., 2010),
aumento na diversidade microbiana (Chavez et ai., 2011) e resistência a pertw·bações físicas
(Vezzani e Mielniczuk, 2011). Essa evolução do solo como sistema pode ser reinterpretada
como um processo de auto-organização. Segw1do Mje)niczuk et ai. (2003), a evolução é
resultante do balanço de matéria e energia no sistema (Figura 4). Na concepção holística,
o solo funciona como um sistema aberto, onde o fator tempo exerce grande influência no
estudo de sistemas vivos, pois induz à priorização das relações e do todo, contrariamente
aos princípios mecanicistas, que priorizam o indivíduo (Addiscot, 1995; Mielniczuk et ai.,
2003; Nicolodi et al., 2008; Vezzani e Mielniczuk, 2011; Melo, 2011).
Assim, a interpretação do sistema solo, com base na teoria dos sistemas abertos
afastados do equilíbrio termodinâmico, dos fenômenos caóticos e da existência de estruturas
dissipa tivas, leva ao entendimento do sistema pelo funcionamento complexo nos processos
de turbulência, auto-organjzação e mudança no nível de ordem (Mielniczuk et ai., 2003;
Vezzani e Mjelniczuk, 2011; Melo, 2011). Quanto mais complexas as interações entre e
dentro de cada componente do sistema (físico, químico e biológico), maior é a probabilidade
de resultar em propriedades emergentes, que são importantes na regulação das funções
do solo. Assim, nos diferentes estados de organização podem surgir propriedades novas,
em nível superior de ordem, caracterizado pela presença de estruturas mais complexas
(Vezzani e Mielniczuk, 2011) e pela grande quantidade de matéria e energia retidas,
bem como por sua baixa decomposição, e as propriedades emergentes se destacam em
diferentes processos e, ou, mecanismos.
Desse modo, a avaliação de atributos químicos para expressar a fertilidade do
solo nos sistemas que se auto-organizam em níveis mais elevados (complexos), que são
resultados de manejas conservacionjstas do solo, requer abordagem sistêmica e holística,
como complemento ao atual enfoque (reducionista), que, embora tenha sido útil no
desenvolvimento recente da agricultura brasileira, onde o manejo do solo consistia
basicamente no seu preparo intensivo, tem demonstrado não ser suficiente para_expressar
0 ambiente edáfico realmente percebido pelas plantas (Nicolodi e t al., 2008). E provável
que esse processo possa explicar ~ frequente discrepância e'.1tre os m a pas ~e _atributos
químkos do solo como os de rendimento das culturas na agncultura d e prec1sao.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER-RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E ATRIBUTOS QUÍMCCOS DO SOLO

Por s ua vez, é1 co11 str11 çno do si c; fr•11,n, p lél escolhél doe; cnmponcntcc; e da estrat ·
us él rrnnjos espélço-tempora is, define a nature7a ( lementos envo lvid oc;) e a ma
(quantidade dos flu xos) dos ciclos bi ogeoquím icos presenl s. Por último, proprieo
emergentes são originadas, pois os efeitos a té aq ui descri toe; não c;Jo c;i mpl . m
cumulativos. O grau de entropia desse s is tema g ra novo estado d o rdem e novo ra u
conec tividade entre componentes, e m ú ltiplas interações se sobrepõem às s imple reJ1.ac,oetl
a nte ri o rmente experimentadas, de onde emerge m novos procec;c;os i témico (V C'Lani
Mie lniczuk, 2011 ; Melo, 2011 ). As propriedad es emergentes dos sistemas não à - · pl
de observar, predi zer ou mesmo prova r, pois os arranjos dos componentes env lvid
três dimensões propostas, vão além dos limites atua is, e a natureza ex igida p~ r . eu - d
é trans disciplinar.

CONSIDERAÇÕES FI NAIS

O s rela tos de qu e o homem relaciona o manejo do solo à sua capacidade de produzir


alimentos, como visto, datam de milhares de émos. No Brasil, a partir do conhecimento
trazido pe los imigrantes e, num passado mais recente, pelo uso da mecanização agrícola
e dos insumos modernos, estabeleceu-se que o preparo convencional seria o manejo de
solo a ser utili zado nas condições edafoclimáticas vigentes no país. Tendo com o b e es
manejo, foram elaboradas recomendações de adubação com base em at ributos químico do
solo, cujas interpretações são relativamente si mples e possibilitam o de envolvimento de
uma agricultura produtiv ista de larga escala em solos originalmente pouco produtivo em
todo o território nacional.
Entretanto, o preparo intensivo com g rande m obilização levou o solo a um processo
de degradação que culminou em paula tina reduçi'ío de produtividade. Isso gerou a
percepção de que mudanças seriam necessárias para manter o u recuperar o eu potencial
produtivo. A partir de então, iniciou-se um movimento express ivo na direção de manejas
conservacionis tas, primeiramente no subtrópico brasileiro e, mai tarde, em todo o país,
com redução ou eliminação do preparo m ecânico prévio à semeadura, introdução de
plantas de cobertura e adoção da rotação de cu lturas. Is to resultou não a penas na redução
da erosão, objetivo principal, mas também no a umento da eficiência no u o de in umo .
Como consequência desse novo conceito de produção agrícola, o solo foi e tornando
uma matriz complexa de fatores inter-relacionados. As respostas ante obtidas a partir
d e sistemas de produção intensivos e com grande mobilização de olo pa saram a não
ser s uficientes, lança ndo luz à necessidade de uma abordagem multi-interdi cipli_nar
para o entendimento da dinâmica de nu trientes e de elementos tóxico no olo. E sa
complexidade de relações parece ser tanto maior quanto ma ior o tempo de manejo do
solo sob os preceitos conservacionistas. Passou-se, então, a um mov imento por parte da
pesquisa voltado para o papel do C-orgân.ico ne se novo cenário. 1 ele, concentram- ~e
os esforços para o entendimento de sua re lação com a qualidade do olo, e, pre · a pelo
aumento dos estoques de C, pela ma ior agregação, pelo a umento da capacidade :ie tro a
d e cá tio ns, pela ma ior ca pacidade de retenção de água e pela maior ciclagem de nutrient..:: ,
alé m do fa tor mais importante: a produtividade.
O cenário a tual da pesquisa e tá se direcionando a um no, · moviment no mundo;
d essa vez, pai-a a adoção de sistemas integrados de prod ução agropecuAria, '-1ue, n Brasil,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


274
lBANOR ANGHINONI ET AL.

tem como alicerce a emeadw·a direta, a rotação de culturas e os sistem as integrados de


produção agropecu ária. O novo desafio que se avizinha lança grande respon sa bilidade
sobre as instituições d e en ino e pesquisa do país. E, ao que tudo indica, o entend imento
d~s fatore que governam a resposta das plantas ao uso de fertilizantes e corretivos da
a~1dez_ demandará abordagens mais complexas que também considerem as relações e os
smerg1sm os entre as diversas disciplinas que regem a Ciência do Solo.
_É importante ressaltar que, na abordagem deste capítulo, considerou-se, como a licerce
do sistema con ervacionista, a semeadurn direta, carncterizada, em essência, como um
sis tem a de produção que abrange um complexo ordenado de operações inter-relacionadas
e interdependentes, que incluem, além do correto uso do solo (de acordo com sua
aptidão), a ausência de revolvimento, a rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura
para formar e m a nter a palhada sobre o solo e, mais recentemente, a integração lavoura-
pecuária. Infelizm ente, esses preceitos da agricultura conservacionista são utilizados
somente por uma pequena parcela dos mais de 32 Mha supostamente em semeadura direta
no país. Na ân sia de cultivo fácil e ágil e, mais recentemente, com o advento da agricultura
de precisão, estão sendo esquecidas práticas básicas e de suporte de controle da erosão do
solo, pela retirada indiscriminada dos terraços, pelo abandono da semeadura em contorno
e total descaso com as práticas de manejo da enxurrada. Isso tudo, aliado à formação de
uma camada compactada em subsuperfície, resulta em processo acelerado de erosão e
degradação do solo semelhante àquele que ocorria com o preparo convencional do solo,
que precedeu e motivou a mudança daquele manejo para a semeadura direta.

LITERATURA CITADA

Addiscott TM. Entropy and sustainability. Eur JSoil Sei. 1995;46:161-8.


Alleoni LRF, Cambri MA, Caires EF, Garbuio FJ. Acidity and aluminum speciation as affected by
surface liming in tropical no-till soils. Soil Sei Soe Am J. 2010;74:1010-7.
Amaral AS, Anghinoni 1, Hinrichs R, Berto) 1. Movimentação de partículas de calcário no perfil de
um cambissolo em plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:359-67.
An ghinon.i I, Carvalho PCF, Costa SEVGA. Abordagem sistêmka do solo em sistemas integrados de
produção agropecuária no subtrópico brasileiro. Tópicos Ci. Solo, 8:325-380, 2013.
Anghinoni I, Can,alho PCF, Martins AP, Costa SEVGA. A importância de experimentos de longa
duração para o manejo de sis temas integrados de produção. ln: Moreira FMS, Kas uya MCM,
editor. Fertilidade e biologia do solo - Integração e tecnologia para todos. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2017. p. 157-67.
Anohinoni
0
J, Martins AP, Costa SEVGA . O solo no contexto. ln: Martins AP, Kunrath TR, Ang hinoni
J, Carvalho PCF, editors. Integração soja-pecuária de corte no sul do Brasil. Porto Alegre:
GPSIPA/UFRGS; 2015. p.53-70 (Boletim técnico)
Anghínoni I, Salet RL. Reaplicação ~e calcário no sistema_ pla'.1tio direto consolid ado. ln: Ka minski J.,
editor. Uso de corretivos da acidez do solo no plantio direto. Pelotas: NRS-SBCS; 2000. p.41-59
Anghinoni J. Fertilidade do solo e seu ma~ejo no sistema pla~tio diret?: ln: Nova is RF, _A lva rez V
VH, Barros F, Fontes RLF, Cantaruttl RB, Neves JCL. editor. Fertilidade do solo. Viçosa, MG:
SBCS; 2007. p .873-928.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER-RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E A TRIBUTOS QUÍMI COS DO S OLO 275

Béizirarrn1kc nga R, Sima rcl RR . Low molec ular wc ig ht ;iliph.i tic ,1r irl contente:; of ro mpoc:;t •d rnanurc-;.
J Environ Q u.il. 1998;27:557-61.
Bissa ni C A, Ca margo FAO, Gianell o C, Tede<;co MJ . Fc rt ili dad doe; e.n ine; e m<inejo da ,1 lu b;içJn dP
culturas. 2·'.ed. Porto Alegre: Metrópol e; 2008.
Blay ney G . Uma breve hi s tó ria do mundo. 2''. ccl . São Pau lo: í-und,,m n to EJu c.icional; 200R.
Cabala-Rosand P, Raij B va n . A aná lise de so lo no Bras il no período l9í2- l981 . C,1mpina" SBCt:;;
1983.
Caires EF, Banza tto DA, Fonseca AF. Ca lagern na s uperfície e m pl,mt io dire to. Rev Brac; Cienc Soln.
2000;24:161-9.
Caires EF, Barth G, Garbuio EF, Kus man MT. Correção ela acidez cio so lo, cresci me nto r<1d ic uldT
nutri ção do milho de acordo com a ca lagem na s uperfície e m sic:; te ma plantio dire to. Rev Br<1c:;
C ienc Solo . 2002a;26:101l-22.
Caires EF, Bium J, Barth G, Garbuio FJ, Kus m a n MT. Alterações químicas do c:;o lo e rec;postc1 d.-i ·01a
ao calcário e gesso aplicados na imp lantação do sistema p lantio di re to. Rev Br,1c; Cienc Solo.
2003;27:275-86.
Caires EF, Fe ldhaus IC, Barth G, Garbu io FJ. Lime anel gypsum application the wheat c rop. Sei Agric.
2002b;59:357-64.
Ca ires EF, Fonseca AF, Fe ldhaus IC, Bium I. Crescime nto radicula r e nutrição da soja cultivadc1
no sistema plantio direto em resposta ao Céllcário e gesso na s uperfície. Rev Bra Cienc Solo.
2001 ;25:1029-40.
Caires EF, Garbuio FJ, C hurka S, Barth G, Corrêa JCL. Effects of soil acidity ameli oratio n by syrfoce
liming on no-till com , soybean, a nd whea t root grow th y ield. Eur J. Agron. 200 ; ? :.57-6-t
Caires EF, Joris HAW, Churka S. Lo ng- term effects o f lime and gypsum additions o n no-till com ,md
soybean yield anel soil chemical properties in southem Braz il. Soil Use :Vlanage. 201 1;27:-+5-53.
Caires EF, Kus ma n NIT, Barth G, Garbuio FJ, Padilha JM . Alterações qu ímict1s do solo e re posta Jo
milho à ca lagem e aplicação de gesso. Rev Bras C ienc Solo. 200-l;28:125-36.
Caires EF. Controle d a acidez e melhoria do ambiente radicu lar no si te ma plantio direto. Ln: Fonsecc1
AF, Caires EF, Ba rth G, editors. Fertilidade do so lo e nutrição de p lantas no sistema plantio
dire to. Ponta Grossa: fNPAG; 2011.
Cantarutti RB, Barros F, Martinez HEP, Novai RF. Ava liação da fertilidad e de o lo e recomendaçfo
d e fertilizantes. ln: Novais RF, Alvarez V VH, Barros NF, Fon tes RLF, Cantarutti RB, 1 eves JC L,
edi to res. Fertilidade do solo. Viçosa, MG: S BCS; 2007. p.769-850.
Carvalho PCF, Anghinoni 1, Martins AP, Kunrath TR, Moraes A, Tiecher T, Carmo nil FC, anto FC,
Rischawy J, Lemaire J. Reconecta ndo a natureza com a produção .:igrícola: a viu da intensi.ficação
s us te ntável. ln: X Congresso Brasileiro do Ar roz Irrigado; 201 7; Gramado. G ra mado: lns titut
Ri ograndense do Arroz; 2017.
Ca rva lho PCF, Anghinoni 1, Martins A, Kunrath TR. Ahialidades e per pectiv~ para o sistema
integrados de produção agropecuária. ln: Martins AP, Kunra th TR, Anghin ni 1, Can·a) ho PCF,
e di to rs. Integração soja-pecuária d e corte no s ul do Bras il. Po rto Aleg re: GPSIPA / UFRG_, 2015.
p .50-70. (Boletim Técnico)
Carvalho PCF, Anghinoni 1, Moraes A. Manag ing graz ing a nima is to achie,·e n u trient cyding and
s oil improvement in no-till integrated sys tems. N utr Cycl groecosy -1. 2010; ':259-73.
Ca rvalho PCF, Moraes A, Pontes LS, Anghinoni 1, Sulc l\.lR, Batello C. Definiçõe · e te rminoln~,;as
para Siste ma Integrado d e Produção Agropecuária. Rev Ci Agron. 2014;45:10-W-o.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


276 lBANOR ANGHINONI ET AL.

Chavez LF, Escobar LF, n hinoni l, arvalho PCF, Meurer EJ. Oi ersidade metabólica e ativ idad e
microbiana n l em ·i te ma de integração lavoura-pecuária sob inte nsidad es de pas tejo.
Pesq grop Bras. 2011;46:1254-61.
Cline IIG. Principie f oil ampling. Soil Sei. 1944;58:275-88.
Comissão de Fertilidade do Solo - CFSRS/ SC. Recomendações de adubação e calagem no sistema
plantio direto. anta llaria: SBCS/ NRS; 1997.
Comi são d e Química e Fertilidade do Solo - CQFS RS/SC. Manual de adubação e calagem para
os Estad o do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porto Alegre: SBCS-NRS/ Embrapa-CNPT;
2004.
Comi ão de Quím ica e Fertilidade do Solo - CQFS RS/SC. Manual de calagem e adubação para os
Estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Santa Maria, RS: SBCS-NRS; 2016.
Companhia acional de Abastecimento - Conab - Séries históricas - Brasil - por produtos
(grãos). [acessado em: 24 mar. 2015] Disponível em: <http://wwv,,.conab.gov.br/conteudos.
php?a=l252&ordem=titulo> ..
Conceição PC, Dieckow J, Bayer C. Combined role of no-tillage and cropping systems in soil carbon
stocks and stabilization. Soil Till Res. 2013;129:40-7.
Curi , Larach JOI, Kampf N, Moniz AC, Fontes LEF. Vocabulário de ciência do solo. Campinas:
SBCS; 1993.
Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha - FEBRAPDP. Evolução da área de plantio direto no
Brasil. [acessado em: 18 mar. 2014] Disponível em: http:/ /\o\Mrw.febrapdp.org.br
Flores JPC, Casso! LC, Angh.inoni I, Carvalho PCF. A tributos quimicos do solo em função da aplicação
superficial de calcário em sistema de integração lavoura-pecuária submetido a pressões de
pastejo em plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:2385-96.
Fontoura SMV, Bayer C. Trinta anos do experimento de manejo de solo em Guarapuava, PR - Edição
comemorativa. Guarapuava: Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária; 2008. (Boletim
técnico)
Fontoura SMV, Vieira RCB, Bayer C, Viero F, Anghinoni I, Moraes RP. Fertilidade do solo e seu
manejo em plantio direto no Centro-Sul do Paraná. Guarapuava: Fundação Agrária de Pesquisa
Agropecuária; 2015.
Franchini JC, Malavolta E, Miyazawa M, Pavan MA. Alterações químicas em solos ácidos após a
aplicação de resíduos vegetais. Rev Bras Cienc Solo. 1999;23:533-42.
Freire LR, Balieiro FC, Zonta E, Anjos LHC, Pereira MG, Lima E, Guerra JGM, Ferreira MBC, Leal
MAA, CamposVB, Polidora JC. Manual de calagem e adubação do Estado do Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro: Embrapa/UFRRJ; 2013.
Haynes RJ, Williams PH. Nutrient cycling and soil fertility in the grazed pasture ecosystem. Adv
Agron. 1993;49:119-99.
Hoff DN, Pedrozo EA, Freitas AS, Pavinato A. Percurso da difusão da inovação tecnológica no
agronegócio: o caso do plantio direto no Rio Grande do Sul. Ensaios FEE. 2010;31:477-502.
James DW, Wells KL. Soil sample collection and handling: technique based on source and degree of
field variability. Jn: Westerman RL. editor. Soil testing and plant analysis. 3rd. ed . Madison: Soil
Science Society of America; 1990. p.25-44.
Kirsch enmann FL. Potential for a new generation of biodiversity in agroecosystems of the future.
Agron J. 2007;99:373-6.
Klepker D. utrientes e raízes no perfil e crescimento de milho e aveia em função do preparn de solo e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - ir--l TER-RELAÇÃO ENTRE MANEJO E ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SO LO 277

modos d e ildubélçiio [dic;c; ·rlr1ç5oJ. Porl o 1\I gre: Univers icl.idL• Fccl •r,11 dn Rio G rande do Sul; 1492.
Kunrath TR, 1 lél rlin /\P, O<; l,1 EVGA. F,1<;c "ºÍª· ln: M;irtin<, 1\P, Kunrath Tlt /\ni,:;h1nnn1 1, C1 rv,1 lho
PCr:, editor. lnteg rnção ,:;oja -pccuá riél d e cn rle no ., uf do Br,1c.il. Po rto Ale~rc· GPS IPA /üF RG5;
2015. p.43-50. (Bole tim técn ico)
Lopes AS, G uilhe rm e LRG. Ferti lidélcle cio solo e produti v id ade agrícolJ. ln: , nv,1ic; RF, A lvJre/ V
V H , Barros NF, Fontes RLF, Célntarull i RB, Neves JCL. ec.litorcc;. frrtilidade dn e.ola. Viço~d.
MG: SBCS; 2007. p.1-64.
Lopes AS, W ie tho lter S, Gu ilherme LRG, Si lvél CAS. Sis te ma plantio e.li reto: bac.c<; pé1 ra o manejo Ja
ferti lidade d o so lo. S5o Pa u lo: ANDA; 200'4 .
M a rtins A P, A n gh ino ni 1, CostaSEVGA, Carlos FS, Nichel GH ,Silva RAP, C 1rva lho PCF. Amc lio riltifln
of sa i! ílc id ity a nd soybea n y ield after s u rfoce lime reappl ic,ltio n to a long-term no-till integrated
crop-l ivestock system u n der va ry ing grél z ing intensities. Soi l Till Rec.. 201-!b; 1-W:1 -!1- .
M artins A P, Cos ta SEVGA, Angh inoni 1, Kunrath TR, Ba le rini F, C 'cagno D, C1 rvalho PCF. Snil
acidi fica tio n a nd bas ic cél tion use efficiency in a n intcgra teJ no-till crop-lives tock y tem under
di ffe re nt g razin g intensities. Agric Ecosyst Environ. 2014a;l95:18-2 .
M a rtins AP , Kunra th T R, Ma rti ns AP, Cos ta SEVGA. O protocolo experimentill. ln: vlartin_ AP.
Kunra th TR, Ang hinon.i 1, Ca rva lho PCF, ed itors. In tegração sojé1-pec uária de corte no su l do
Brasil. Po rto Alegre: G PSLPA/ UF RGS; 2o-t5. p .23-30. (Boletim técnico)
M e lo NA. Da fil osofia à ciên cia do solo. Pél to Bra nco: Ed ição do autor; 2011 .
Mie lnkzuk J, Bayer C, Vezza ni F 1, Lova to T, Ferna ndes FF, Debarba L. Manejo do olo e de cultu ras
e s u a re lação com os estoques de carbo no e n itrogéni o no solo. Tó picos Ci olo. Viçosa, .\ IG:
SBCS; 2003. p.209-78.
Mie lniczuk J, Lud w ick A E, Bohne n H . Recom endaçõe d e ad u bo e calcário para o olo e culturas
d o Rio Gra nde d o Sul. Por to Alegre : UF RGS; 1969. (Bo le ti m técnico, 2)
Mie lniczukJ, londa rdo A. Ava li ação d as curvas d e respos ta dos n utrientes e do rendimento màx1mo
e m milho . Rela tó rio Anua l 1969/70. Porto A legre: U FRGS; 1970. p.11-13.
Miy azaw a M, P avan M A, Ca legari A. Efe ito de m a terial vegeta l na acidez do solo. Rev Bras Cienc
Solo. 1993;17:411-6.
Miy a zawa M, Pava n MA, Franchini JC. Neutra lização da acidez do perfil do _olo por resíduos
v egetais . Piracicaba: Potafos; 2000.
Moraes A, Carva lho PC F, Ang hinoni 1, Lus tosa SBC, Cos ta SE GA, Kunrath TR. Integratt.::d crop--
lives tock yste ms in the Braziliél n subh·opics. Eu r J Agron. 201-1;57:-l-9.
Muz illi O. O uso d os solos na Ma ta Ara ucá ria . ln: A ra ú jo Q R. edi tor. 500 anos de uso d o solo no
Bras il. Ilhé us: Editus; 2002. p.-135--45.
Nicolo di M, G ia n ello C, Anghino ni 1, Ma rre J, Mie lniczu k J. lns uficiencia do conceito mine ralis ta par:i
ex pressa r a fe rtil id ad e d o solo percebida pelas p la n tas. Rev Br.:is Cienc o lo. 200 ; 2:273.:i-+!.
Nicolo d i M, G ia nd lo C, Anghinoni 1, Ma rré JA L, MielniczukJ. The m ineralist concept to expre_-s the
soi l fe rtility pe rce ived by p lants grown unde r no-tillage system . [nt J Agr - j Res. _01-!;3:1 " -95.
Nicolod i M, G ia ne Uo C, An ghinon.i 1. Evolução d a fe rtilidad e do so lo no Pl,m.:1 lto do Rio G rande Jo
S u l. Rev Plantio Direto. 2009;ma io/ junho:10- 16.
N icolo d i M. Evolução d a noção d e fe rtilidad e e u a p1: rcepção corno u m a propriedaJ e emergente do
s is te m a so lo [tese ]. Po rto Alegre: Un.iver ·idad e Federa l do Rio G rande do ui; 200 .
Nicolo di M. Indicad ores pa ra a tomad a de d ecis.:io p,1ra a calagcm no sis tem 1 plantio direto
[d issertação ] Porto A legre: Universid ad e Fed e ra l d o Rio Grande do u i; _003.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


278 lBANOR ANGHINONI ET AL.

icolodi , alet RL, Bisso FP. Variabilidade da amosh·agem de solo com h·ado no sistema plantio
direto. ln: FERTBIO 2000 [CD-ROM] ; Santa Maria. Santa Maria: SBCS/UFSM; 2000.
oUa , Anghinoni 1. Atividade e especiação química na solução afetadas pela adição d e fósforo em
lato lo ob plantio direto em diferentes condições de acidez. Rev Bras Cienc Solo. 2006;30:955-63.
olla . Crit rios para a calagem no sistema plantio direto [tese] . Porto Alegre: Universidade Federal
do Rio Grande do Sul; 2003.
Oliv ira TTT. Desl ca mento de cátions no perfil de solos de diferentes classes texturais sob efeito de
calagem e adubação [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
1979.
Piva JT, Dieckmv J, Bayer C, Zanatta JA, Moraes A, Pauletti V, Tomazi M, Pergher M . No-till reduces
global warrning potential in a subtropical Ferralsol. Plant Soil. 2012;45:1-15.
Põtt.ker D, Ben JR. Calagem para uma rotação de culturas no sistema plantio direto. Rev Bras Cienc
Solo. 1998;22:675-84.
Raij B an, Cantarella H , Quaggio JA, Furlani AMC. Recomendações de adubação e calagem para o
Estado de São Paulo. 2ª. ed. Campinas: IAC; 1996.
Raij B an, Quaggio JA, Silva NM. Extraction of phosphorus, potassium, calcium and magnesium
from soils by an ion-exchange resin procedure. Commun Soil Sei Plant Anal. 1986;14:547-66.
Raij B van. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: IPNl; 2011.
Ribeiro AC, Guimarães PTG, Alvarez V, VH. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes
em Minas Gerais: 5ª aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de
Minas Gerais; 1999.
Rossato RR. Potencial de ciclagem de nitrogênio e potássio pelo nabo forrageiro intercalar ao cultivo
do milho e trigo em plantio direto[dissertação]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa
Maria; 2004.
Ruedell J. Plantio direto na região de Cruz Alta. Cruz Alta: Fundacep Fecotrigo; 1995.
Sá JC. Manejo da fertilidade do solo no sistema plantio direto. ln: Siqueira JO, Moreira FMS, Lopes
AS, Guilherme, lRG, Faquim V, Furtini Neto AE, Carvalho JG. editor Inter-relações fertilidade,
biologia do solo e nutrição de plantas. Lavras, MG: SBCS: UFLA; 1999. p.267-319.
Sá JCM. Curso de atualização técnica em fertilidade do solo em plantio direto [CD-ROM]. Ponta
Grossa: UEPG; 2002.
Sá JCM. Manejo da fertilidade do solo no plantio direto. Castro: Aldeia Norte/Fundação ABC; 1993.
Sá JCM. Manejo da fertilidade do solo no sistema plantio direto. ln: Siqueira JO, Moreira FMS, Lopes
AS, Guilherme LRG, Faquin V, Furtini Neto AE, Carvalho JG, editores. Inter-relações fertil idade,
biologia do solo e nutrição de plantas. Lavras: SBCS/UFLA; 1999. p.267-319.
Sá JCM. Manejo do nitrogénio na cultura do milho no sistema plantio direto. Passo Fundo: Aldeia
orte; 1996.
Salet LR, Kray CH, Fomari TG, Conte E, Kochhann RA, Anghinoni I. Variabilidade horizontal e
amostragem de solo no sistema de plantio direto. ln: Resumos Expandidos da l3. Reunião Sul
Brasileira de Ciéncia do Solo, 1996; Lages. Lages: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/
úcleo Regional Sul; 1996. p.74-76.
Salet RL, Anghinoni I, Kochhann RA. Atividade do alumínio na solução de solo do sistema plantio
direto. R Ci Unicruz. 1999;1:9-13.
Salet RL. Toxidez de alum1nio no sistema plantio direto[tese]. Porto Alegre, Universidade Federal do
Rio Grand e do Sul; 1998.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


IX - INTER - RELAÇÃO ENTRE MAN EJ O E ATRIBUTOS Q U ÍM I COS DO SOLO 279

Schlin? wein JA, Anghinoni l. Tamanho da su ba mostra e repre<;entatividade da fertilidade do solo no


s is tema plantio direto. Ci Ru ral. 2002;32:963-8.
Schlind we in JA, Gianello C. Calibração de métodos de determinação de fó<;foro em solos cultivados
sob sistema plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:2037-49.
Sousa DMG, Lobato E. Cerrado: correção do solo e adu bação. 2". ed. Planaltina: Embrapa Cerrados;
2004.
Sousa DMG, Miranda LN, Oliveira SA. Acidez do so lo e sua correção. ln: ovais RF, Alvarez V VH,
Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, N eves JCL, ed itores. Fer tilidade do solo. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciencia do Solo; 2007. p.205-74.
Souza ED, Costa SEVGA, Anghinoni I, Lima CVS, Mar tins AP. Biomassa microbiana do solo em
sis tema de integração lavoura-pecuária em plantio d ireto, submetido a intensidades de pastejo.
Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:79-88.
Souza LS. Variabilidade do solo em sistemas de ma nejo[tese]. Porto Alegre: Universidade Federal do
Rio Grande do Sul; 1992.
Tisdale SL, Nelson WL, BeatonJD. Soil fertility and fertilizers. ew York: Macmillan Company; 19 5.
Vezzani FM, Mielniczuk J. O solo como sistema. Curitiba: Ed ição dos a utores; 2011 .
Vieira RCB, Fontoura SMV, Bayer C, Emani PR, Anghinoni [, Moraes RP. Sampling Layer for Soil
Fertility Evaluation in Long-Term No-Tillage Systems. Rev Bras Cienc Solo. 2016;40:e01501-13.
DOI:10.1590/18069657rbcs20150143.
Wiethõlter S. Manejo da fertilidade do solo no sistema plantio direto: Experiência dos Estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. ln: Anais FERTBIO [CD-ROM]; 2000; Santa Maria. Santa Maria:
SBCS/UFSM; 2000.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER-RELAÇÃO ENTRE MAN EJO E
A TRIBUTOS BIOLÓGICOS DO SOLO
Brigitte Josefine FeigIV, Bruna Gonçalves de Oliveira21, André Luiz Cus tódio Franco31 &
Leidivan Almeida Frazão·11

11 Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Laboratório de Biogeoquímica Ambiental.


Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP. E-mail : beduardo@cena.usp.br
21 Centro de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agronômico de Campinas. Ci m pinas, SP.
E-mail: bgdolive@grnail.com
31 Colorado State University, Departmen t of Bio logy, Fort Collins. Colorado, EUA.

E-mail: and re.franco@colosta te.edu


~1 Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de J'vlinas Ger ais. Montes O aros, MG.
E-mail: lafrazao@uimg. br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ ., 2
O MANEJO DO SOLO ······················································································································- ··--······················· 283
MATÉRIA O RGÂNICA COMO INDICADOR DE QUALIDADE DO SOLO ..............................- ···-···· ... ··-···· 284
BIOTA DO SOLO .................................................................................................................................. ·-···-······--····-··· 28-+
Macrofauna do solo ·····························································································································-·--················· 286
_,_._
Mesofauna do solo ············································.. ····.. ·············.. ··························.............................._... - ...... . ... . 187
Microfauna do solo ..................................................................................................................................................
!Vlicr organismos do solo ........................................................................................................................................... 289
INDICADO RES BIOLÓGICOS DA QUALIDADE DO SOLO ............................................................ .................... -, 9
EFEITO DA BIOTA SOBRE A Q UALIDADE DO SO LO ....................................................................... ................... 293
Ciclagem de nutrientes............................................................................................................................................. 293
Formação da estrutura d o solo ........................................................................................ ·············-···········•·········· 294
Controle de doenças e promoção de crescimento . .............................................................................................. 29-4
EFEITO DAS PRÁTICAS DE MANEJO SOBRE O TEOR DE MATÉRIA O RGÂNICA E A BIOTA DO ~ LO 295
Semead ura d ireta versus plantio convencional ..................................................................................................... 29
Cultivo orgânico versus cultivo convencional. ........ .........................................................................................- ... 302
Manu tenção da palhada da cana•de-açúcar na colheita mecanizada .............................................................. 303
Integração lavoura•pecuária ...................................... ............................................................................................. 304
Sistema d e ir rigação ................................................................................ ······································- ·························· 305
CO NSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 305
AGRADECIMENTOS , ............................................................................................. ···································--················· 306
LITERATURA CITADA .................................................... ..............................- .............................................................. 306

Berto! I, De Ma ria JC, Souza LS, ed itores. Manejo e conser aç-cio do olo e da Jgua. Viço •a, 1\ fG: Sociedade
Brasileira de Ciê ncia do Solo; 2018.
282 BRIGITTE JOSEFINI fEIGL ET Al

INTRODUÇÃO

De maneira geral, é possível obter informações bastante detalhadas sobre os


atributos físicos e qu(micos do solo, enquanto os biológicos ainda são pouco conhecidos,
principalmente no contexto de sistemas agrícolas. Entretanto, sua importância para 0
funcionamento do solo e a saúde das plantas, assim como sua capacidade de contribuir
com o aumento da produtividade e sustentabilidade das culturas, enfatiza a necessidade
de pesquisas nessa área.
Dentre os atributos biológicos mais conhecidos do solo, destacam-se a diversidade
da flora, fauna e microbiota. A esta última ainda estão associados o C e o N da biomassa
microbiana, a taxa de respiração (consumo de 0 2 ou emissão de CO2), o quociente
metabólico e o quociente microbiano (De-Polli e Pimentel, 2005). As principais relações
entre os atributos biológicos, os indicadores de qualidade e as funções do solo estão
representadas na figura 1. De certa forma, a capacidade do solo de desenvolver suas funções
está direta ou indiretamente ligada, e em graus de importância diferenciados, à qualidade
apresentada por todos os atributos. As funções do solo de armazenar, suprir e ciclar
nutrientes, armazenar água e promover a troca catiônica, estão diretamente relacionadas
aos atributos ffsicos, qulmicos e biológicos (Tótola &e Chaer, 2002).
Para monitoramento da qualidade do solo, de forma que possam ser sugeridas
modificações nos sistemas de manejo utilizados pelos agricultores a tempo de evitar a
degradação, é necessário definir os atributos do solo e do ambiente sensíveis ao manejo e
de fácil determinação (Mielniczuk, 2008).
Neste capítulo, serão abordados os atributos biológicos do solo e os fatores que os
condicionam direta e indiretamente, incluindo as diferentes práticas de manejo adotadas.

Funções do solo

·a'
~Receber,

\.
a atividade
biológica

y
_______
armazenare
supritáp
)

Qualidade biológica do solo

, '
Indicadores da qualidade do solo
Biodiversidade
Atividade enzimática
TeordeCeN
Biomassa miaobíana
Taxa de mineralização
~ ~

Figura 1. Funções do solo, atributos a elas relacionados e indicadores de qualidade do solo.


Fonte: Adaptado de Tótola e Olaer, 2002.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X- INTER - RELAÇÃO ENTRE O MANEJ O E AT RIBUTOS B IOLÓGICOS DO SOLO 283

O MANEJO DO SOLO

Por definição, o manejo do solo é o conjunto de operações necessárias para a


ex ploração agrícola do solo com O objetivo de propiciar condições favoráveis à semeadura,
à emergência uniforme das plântulas e ao desenvolvimento radicular e d a pa rte aérea de
todas as espécies que compõem o sis tema de produção.
Nos ecossistemas naturais geralmente ocorre integração harmoniosa entre a cobertura
vegetal e os atributos físicos, quím_jcos e biológicos do solo, decorrente dos processos
essenciais de ciclagem de nutrientes, acumulação e decomposição da matéria orgânica.
Já as atividades agrícolas alteram esses atributos e podem provocar impactos ambientais,
na maioria das vezes, negativos (Silva et al., 2007) . A agricultura moderna, com base em
desenvolvimentos científicos, ao mesmo tempo em que visa aumentar a produtividade
também tenta proteger o meio ambiente, procurando m_jnim.izar eventuais danos. ·os
últimos anos, discute-se, cada vez com mais intensidade, o que veio a ser cham ado de
"agricultura sustentável".
O conceito de agricultura sustentável surgiu na década de 1980, em respo ta às
técnicas e aos métodos empregados na agricultura convencional, que ao longo dos últimos
anos permitiu aumentar a produção mundial de alimentos e dim_jnuir cus tos de plantio,
transporte e comercialização. No entanto, esse tipo de agricultura também provocou
a degradação do solo e perda da biodiversidade, com a prática da monocultura e o uso
indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos. Em 1987, foi publicado pela Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) da O NU um estudo
denominado "Nosso Futuro Comum", conhecido como Relatório Brundtland, onde o
desenvolvimento sustentável é definido como " ...aquele que atende as necessidades do
presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras a tenderem as suas
próprias necessidades" . Na agricultura, essa regra significa que a sustentabilidade do
cultivo ocorre quando a taxa de retirada de nutrientes é menor ou igual à capacidade do
solo em supri-los.
A literatura cita diversas formas de conceituar e enfocar a sustentabilidade dos sistemas
agrícolas. Ao contrário do modelo de agricultura convencional, com base no uso intensivo
de fertilizantes e defensivos quím_jcos, mecanização e irrigação, a agricultura sustentável
é fundamentada no manejo correto dos recursos da unidade produtiva, abrangendo a
diversificação e integração de atividades, a produção de biomassa, o reaproveitamento dos
recursos orgânicos, o manejo de pragas, doenças e plantas invasoras e o manejo da água e
do solo envolvendo os aspectos físicos, químicos e biológicos.
Para verificar se um sistema de manejo funciona de forma harmõnica, é essencial
a utilização de indicadores de sustentabilidade que quantifiquem e indiquem O grau de
conservação de um dado sistema (De-Polli e Pimentel, 2005). O manejo adequado dos
solos, que contribui com a conservação de sua qualidade, não somen te irá aumentar a
produtividade das culturas, como também contribuirá para manter a boa qualidade
ambienta l (Tótola e Chaer, 2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


282 BRIGITTE JOSEFINI f EIGL ET AL

INTRODUÇÃO

De maneira geral, é possível obter informações bastante detalhadas sobre os


atributos físicos e qu ímicos do solo, enquanto os biológicos ainda são pouco conhecidos,
principalmente no contexto de sistemas agrícolas. Entretanto, sua importância para o
funcionamento do solo e a saúde das plantas, assim como sua capacidade de contribuir
com o aumento da produtividade e sustentabilidade das culturas, enfatiza a necessidade
de pesquisas nessa área.
Dentre os atributos biológicos mais conhecidos do solo, destacam-se a diversidade
da flora, fauna e microbiota. A esta última ainda estão associados o C e o N da biomassa
microbiana, a taxa de respiração (consumo de 0 2 ou emissão de C02) , o quociente
metabólico e o quociente microbiano (De-Polli e Pimentel, 2005). As principais relações
entre os atributos biológicos, os indicadores de qualidade e as funções do solo estão
representadas na figura 1. De certa forma, a capacidade do solo de desenvolver suas funções
está direta ou indiretamente ligada, e em graus de importância diferenciados, à qualidade
apresentada por todos os atributos. As funções do solo de armazenar, suprir e ciclar
nutrientes, armazenar água e promover a troca catiônica, estão diretamente relacionadas
aos atributos físicos, químicos e biológicos (Tótola &e Chaer, 2002).
Para monitoramento da qualidade do solo, de forma que possam ser sugeridas
modificações nos sistemas de manejo utilizados pelos agricultores a tempo de evitar a
degradação, é necessário definir os atributos do solo e do ambiente sensíveis ao manejo e
de fácil determinação (Mielniczuk, 2008).
Neste capítulo, serão abordados os atributos biológicos do solo e os fatores que os
condicionam direta e indiretamente, incluindo as diferentes práticas de manejo adotadas.

Funções do solo

_______ _______
\:
as:m&Zaure

..., ,
y
supritáp
/

Qualidade biológica do solo

'
Indicadores da qualidade do solo
,
Biodiversidade
Atividade enzimática
...

TeordeCeN
Biomassa miaobiana
Taxa de mineralização
~ ~

Figura 1. Funções do solo, atributos a elas relacionados e indicadores de qualidade do solo.


Fonte: Adaptado de Tótola e Oiaer, 2002.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER - RE LAÇÃO ENTRE O MAN EJO E ATRIBUTO S B IO LÓG I COS D O S OLO 28 3

O MA NE JO DO SOLO

Por definição, o manejo do solo é o conjun to d e operações necess rias pa ra c.1


exploração agrícola do solo com o objetivo d e propicía r cond ições favo rávei a semeadura,
à emergência uniforme das plântulas e ao d esenvolvimento radicular e da parte aé rea de
todas as espécies que compõem o sis tema de produção.
Nos ecossistemas naturais geralmente ocorre integração harmoniosa entre a cober ura
vegetal e os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, decorrente dos processos
essenciais de ciclagem de nutrientes, acumulação e d ecomposição da matéria orgânica.
Já as atividades agrícolas alteram esses atributos e podem provocar impactos ambientais,
na maioria das vezes, negativos (Silva et al., 2007). A agricultura moderna, com base em
desenvolvimentos científicos, ao mesmo tempo em que vis a au men ta r a produtividade
também tenta proteger o meio ambiente, procurando minimizar eventuais danos. • ·os
últimos anos, discute-se, cada vez com mais intensidade, o q ue veio a ser chamad o de
"agricultura s ustentável".
O conceito de agricultura sus tentável s urgiu na d écada de 1980, em resposta à
técnicas e aos métodos empregados na agricultura con vencional, que ao longo dos último
anos permitiu aumentar a produção mundial de alimentos e diminu ir custos de plantio,
transporte e comercialização. No entanto, esse tipo de agricultura também provocou
a degradação do solo e perda da biodiversidade, com a prática da monocu ltura e o uso
indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos. Em 1987, foi publicado pela Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) da O U um estudo
denominado "Nosso Futuro Comum", conhecido como Relatório Brundtland, onde o
desenvolvimento sustentável é definido como " ...aquele que atende as necess idades do
presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem as sua
próprias necessidades" . Na agricultura, essa regra significa que a sustentabilid ade do
cultivo ocorre quando a taxa de retirada de nutrientes é m enor ou igual à ca pacidade d o
solo em supri-los.
A literatura cita diversas formas deconceituare enfocar a s ustentabilidade dos sistemas
agrícolas. Ao contrário do modelo de agricultura convencional, com base no uso intensivo
de fertilizantes e defensivos químicos, mecanização e irrigação, a agricultura susten tável
é fundamentada no manejo correto dos recursos da unidade produtiva, a brangendo a
diversificação e integração de atividades, a produção de biomassa, o reaproveitamento do
recursos orgânicos, o manejo de pragas, doenças e plantas invasoras e o manejo da água e
do solo envolvendo os aspectos físicos, químicos e biológicos.
Para verificar se um sistema de manejo funciona de forma harmónica, é e sen ial
a utilização d e indicadores de sustentabilidade que quantifiquem e indiquem O grau de
conservação de um dado sistema (De-Polli e Pimentel, 2005). O manejo adequad o dos
solos, que contribui com a conservação de sua qualidade, não omente irá aum entar a
produtividade das culturas, como também contribuirá para manter a boa qualidade
ambiental (Tótola e Chaer, 2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


284
BRIGITTE JOSEFINI fEIGL ET AL

MATÉRIA ORGÂNICA COMO INDICADOR DE


QUALIDADE DO SOLO

Dentre os constituintes biológicos do solo destaca-se a matéria orgânica do solo (MOS),


composta por material remanescente da decomposição de organismos e plantas, dejetos
animais e raízes ativas e mortas. Normalmente, compõem uma fração pequena (entre 2 e
10 %) do solo, porém essencial para a agregação das partículas minerais. Sua capacidade de
retenção de água (até 90 % de seu peso) e nutrientes a torna indispensável fonte primária
de alimentos para microrganismos e outras formas de vida do solo (Gregorich et al., 1997).
A matéria orgânica é importante indicador da qualidade do solo, uma vez que
promove a proteção da superfície contra a erosão awnenta a estabilidade estrutural do
solo, a imobilização e a liberação de nutrientes, a oferta de sítios de troca catiônica e a
estocagem do C, além de promover a retenção de água e controlar a eficácia e o destino
dos pesticidas (Gregorich et al., 1997). O consenso em relação à MOS como indicador de
qualidade do solo emana de dois fatos principais: o teor de MOS é muito sensível às práticas
de manejo, principalmente nas regiões tropicais, onde, nos primeiros anos de cultivo, mais
de 50 % da MOS previamente acumulada é perdida por diversos processos, como a erosão
e a decomposição microbiana (Larson e Pierce, 1994; Mielniczuk, 2008); e a maioria dos
atributos do solo relacionados às suas funções básicas, citadas na definição, tem estreita
relação com a MOS (Doran e Parkin, 1996).

BIOTA DO SOLO

A biota do solo é responsável por processos importantes no que diz respeito à


manutenção da ciclagem de nutrientes e à própria fertilidade (Osler e Sommerkorn, 2007).
Esses processos reciclam a MOS, aumentando a disponibilidade de nutrientes; atuam na
estruturação do solo; transmitem e previnem doenças; promovem o crescimento de plantas;
e degradam poluentes entre diversas outras funções (Yeates, 2003; Yan et al., 2012). Quanto
maior a biodiversidade do solo, maior será sua estabilidade, produtividade e resistência
a distúrbios diversos. Os componentes da biota do solo são a macrofauna, mesofauna,
microfauna e microrganismos.
Existem várias formas de classificar a biota do solo. O tamanho corporal geralmente
é o critério básico, pois apresenta alguma relação com o tamanho do tubo digestivo e do
aparelho bucal, mas também são levados em consideração aspectos da mobilidade, do
hábito alimentar e da função que desempenham no solo (Melo et aJ., 2009). A rnacrofauna
compreende organismos observáveis a olho nu, como minhocas, cupins e outros insetos;
a mesofauna refere-se principalmente a ácaros e colêmbolas; a rnicrofauna é representada
por protozoários e nematoides, enquanto a microflora engloba fungos, arqueias, bactérias
e vírus (Figura 2).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER- RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIOLÓGICOS DO SOLO 285

MICROFLORA e MICROF AUNA MF.SOFAUNA MACROe

Bacteria lOOl'ffl
Fungi
ematoda
Protozoa
Rotífera
Acari
Collembola
Protura
Diplura
Symphyla
Ençhytrafidae
Chelonethi

1 2 8 16 32 6-l 128 256 512 102-1 2 -1 8 16 32 6-l

µm
Diâmetro do corpo mm

Figura 2. Classificação dos organismos do solo com base no diâmetro do corpo.


Fonte: Adaptado de Swift et ai. (1979).

A cadeia trófica do solo é uma maneira de relacionar os organismos de acordo com eu


hábito alimentar (Figura 3). O primeiro elo da cadeia são as biomassas residuais adicionadas
ao solo, que são picadas, ingeridas e decompostas por insetos, nematoide , bactérias e
fungos, fornecendo energia e nutrientes para a biata do solo. Entre esses, os decompositores
(saprófitas) têm importante papel na retenção de nutrientes e representam de O a 90 o/o da
atividade biológica do solo. Representantes benéficos da macro e mesofauna consomem
bactérias e fungos, liberando nutrientes para as plantas. ematoides e protozoários são
consumidos por ácaros, que, por sua vez, alimentam besouros e formiga .
Grande parte dos organismos do solo está concentrada onde há urna fonte disponí e \,
ou de biomassa residual fresca ou de exsuda tos radiculares (rizosfera), essa e concentrando
nos 10 cm superficiais, zona mais interferida pela realização das práticas agrícolas, podendo
influenciar tanto o número como o tipo dos taxa presentes.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


286 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

.------- Resíduos vegetais Funções


~ l ~
Microflora
µm Bactérias Fungos ----
Micorrizas
Reciclagem da
matéria orgânica

Microfauna j jrotozoários
bacteriófagos
Transferência
de nutrientes
µm
5
e::
Nematoides
,o bacteriófagos
l:: Melhoramento da
ns
"lü
-o Mesofauna
l estrutura do solo
Microartrópodes
a mm (colêmbolas, ácaros)
Transmissão & prevenção
de doenças
1
Degradação de
poluentes

Figura 3. Níveis tróficos na cadeia alimentar do solo.


Fonte: Adaptado d e N ature Education (2012).

Macrofauna do solo
A macrofauna é composta pelos organismos de diâmetro entre 2 e 20 mm, dentre
os quais se destacam as minhocas, os besouros, as formigas e os cupins (Figura 4). Os
componentes da macrofauna têm o corpo em tamanho suficiente para romper as estruturas
dos horizontes minerais e orgânicos do solo ao alimentar, movimentar e construir galerias
(Anderson e Ingram, 1989). Os miriápodes, como as lacraias, têm uma morfologia que
lhes permite forçar, com a cabeça e diversos pés, seus caminhos entre a vegetação e outros
habitats não disponíveis à micro e mesofauna (Hopkin e Read, 1992).

Minhoca

Figura 4. Representação esquemática de alguns componentes da macrofauna.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - IN TER-RELAÇÃO ENTRE O M ANEJO E ATRIBU TOS BI OLÓGICOS DO SOLO 287

De acord o com Lave lle et ai. (1997), os organismos da macrofaun,1 são denom inados
"engenhe iros cio ecoss is tema", uma vez que influenciam direta ou indi retamente a
disponibilidade de recursos para os outros orga ni smos pelas atividades de escavaçilo,
pela inges tão e, ou, transporte de material mineral e o rgâ nico do solo e pelas estruturas
construídas como resultado dessas ativiclacles, incluindo galerias, bolotas fecais,
montículos e ninhos. A exclusão da m acrofauna do solo reduz a taxa de decomposição e a
liberação de nutrientes da serapilheira. Os engenheiros do ecossistema constroem g randes
e resis tentes estruturas organominerais q ue podem pers isti r por longo período de tempo
(de meses a anos) e que interferem profundamente o ambiente dos orga nismos menores.
Esses invertebrados desenvolvem relações mutua lísticas com microrganis mos em seu trato
diges tivo e nas estruturas que consb·oem (Aquino, 2005). Bi gnell et êll. (2005) descreveTam
d a seguinte forma algumas das funções dos principais rep resentantes da macrofauna do
solo:
• Minhocas : influenciam tanto a porosidade do solo quanto a disponibilidade de
nutrientes, uma vez que promovem a abertura de canais e ingestão de minerai · e
matéria orgânica. As minJ1ocas podem ser divididas de acordo com as categorias
funcionaj s no solo: epigeicas, que vivem e se aJímentam na s uperfície; anécicas, q ue
vivem abaixo do solo, mas se alimentam na superfície; e endogeica, que vivem e se
alimentam abruxo do solo.
• Cupins e formigas : influenciam a porosidade e textura do solo por meio da
construção de túneis, da ingestão e do transporte do solo, da construção de galer1as
e da ciclagem de nutflentes pelo transporte, pela trituração e pela digestão da
matéria orgânica. Esses grupos podem ser classificados de acordo com os hábi tos
alimentares, porém a classificação trófica dos cupins é possível com base na analise
do grau de humificação do conteúdo intestinal (Donovan et ai., 2001).
• Outros componentes da macrofaima: incluem principalmente os milípedes e
alguns tipos de larvas de insetos que agem como transformadores da liteira, com
importante ação de trituração do tecido vegetal morto.

Mesofauna do solo
A mesofauna compreende invertebrados de tamanho médio, entre 100 µm e 2 mm,
taxonomicamente diversos, incluindo ácaros, colêmbolos, enquintreídeos e ruplura (Figura
5). Esses organismos habitam os espaços porosos do solo e não são capazes de criar s ua
própria galeria, sendo, dessa forma, diretamente acometidos pela compactação do s olo
(Heisler e Kaiser, 1995). Esse grupo também é importante na regulação da decomposição
d a matéria orgânica ao promover a remoção seletiva de mkrorgarusmos isser, 19 S) .
Os grupos da mesofauna, em geral, são habitantes importantes mesmo em solo
fortemente perturbados, como no caso de áreas agricolas. A biomassa desse o rgani mos
é grand e e é reconhecido o seu papel na formação e transformação do solo. Por meio da
avaliação d esses grupos, é possível fazer considerações sobre as condições ecológicas do
solo. Diversas espécies pertencentes a esses grupos são úteis indicadores biológicos de
qualidade do solo (Parisi et ai., 2005). Em geral, os índices com base na mesofauna d solo
consideram a densidade e riqueza das populações (van Straalen, 1998).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


]Ili

288 BRIGITTE ]OSEFINI FEIGL ET AL

1 ÃCAROS COLtMBOLAS
1

CLASSE CLASSE
Arachnida Entognalha

SUBCLASSE SUBCLASSE
Ac:arlna Collembola

ANEÚOEOS

CLASSE CLASSE
Entognatha Oligoc:haeta

ORDEM FA.MÍLIA
Diplura Eru:hytraeidae

Figura 5. Representação esquemática de alguns componentes da mesofauna.

Microfauna do solo
A microfauna compreende invertebrados cujo diâmetro varia de 4 a 100 µm, incluindo
protozoários, nematoides, rotíferos, pequenos indivíduos do grupo Collembola, Acari e
outros (Figura 6). Esses animais alimentam-se de microrganismos, o que faz com que
tenham importante papel na regulação da matéria orgânica (Swift et al., 1979).

Nematoda Eumetazoa Protista

Figura 6. Representação esquemática de alguns componentes da microfauna.

Esses pequenos invertebrados vivem em filmes de água e não desenvolvem relações


mutualísticas com a microflora. A atividade desse grupo tem importante papel na regulação
da biomassa de microrganismos, mantendo a diversidade por meio da prevenção da
dominância de grupos específicos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INT ER-RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIOLÓGICOS DO SOLO 289

Os protozoários e os nematoides são os principais representantes. A população de


protozoários no solo varia entre 10' e rns or ganismos por g de solo; esses o rga ni mos ão
també m considerados agentes de controle biológico, pois alguns gêneros se alimentam
de fungos e bactérias, contribuindo para a fertilidade dos solos. De pois dos protozoários,
os nematoides são os mais numerosos na orde m de 106 por m 2 nos primeiros 10 cm de
profundidade (Michereff et ai., 2005).
Com base nos critérios de Yeates et ai. (1993), os nematoides podem ser divididos
em cinco grupos tróficos: bacteriófagos, fungívoros, parasitas de plantas, predadores
e onívoros. Dados de frequência e abundância para os diferentes grupos tróficos são
geralmente usados para calcular o índice de diversidade trófica e as várias relações que
consideram a abundância relativa dos grupos tróficos (Cares e Huang, 201 O).

Microrganismos do solo
Os microrganismos estão presentes em todos os lugares: no solo, na água, no ar, nas
plantas e nos animais. No entanto, em razão da heterogeneidade dos solos, as comunidades
microbianas ali presentes apresentam-se numa maior variedade, inclu indo bactérias,
fungos, cianobactérias, actinobactérias, arqueias e vírus. Considerando tal di versidade,
estima-se que há 109 células por g de solo (Daniel, 2005).
Esses organismos apresentam papel importante na manutenção da vida e no equilíbrio
dos ecossistemas, atuando nos ciclos biogeoquímicos, na degradação da matéria orgânica,
na fixação de N 2, na solubilização de fosfatos e na interação microrganismo-plan ta e
simbioses.
A variedade de fatores abióticos e bióticos que entrelaça tais funções e associações
modifica, por consequência, as comunidades microbianas que, por sua vez, influenciam a
qualidade do ambiente (Wieland et ai., 2001).
A comunidade microbiana é reconhecida como componente essencial à vida no solo,
e sua diversidade tem sido sugerida corno um meio sensível de avaliar a qualidade desse
(Romaniuk et al., 2011). Cada vez mais se encontram na literatura estudos relacionando
características microbianas do solo como indicadores sensíveis da sua qualidade (Leirós et
al., 2000; Bastida et ai., 2008; Romaniuk et al., 2011), dado o relacionamento entre atividade
e diversidade microbiana, a qualidade do solo e da vegetação e a sustentabilidade do
ecossistema (Doran e Parkin, 1994).
Qualquer perda da capacidade de manutenção da ampla gama de funções pela
biomassa microbiana é vista como sinal de advertência, ou seja, evidencia declinio quando
se refere à saúde e qualidade do solo (Chaprnan et al., 2007).

INDICADORES BIOLÓGICOS DA QUALIDADE DO SOLO

Em razão da impossibilidade de considerar todos os a tributos físicos, químicos e


biológicos do solo, é necessário fazer urna seleção quando se pretende utilizá-los como
indicadores de qualidade. Segundo Elliott (1994), um indicador adequado de e satisfazer
uma série de requisitos, como:

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


290 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

a) Ter sensibilidade para o efeito do maior número possível de agentes degradantes.


b) Ser consistente na indicação da direção das mudanças decorrentes d e determinado
contaminante.
c) Apresentar habilidade para expressar os diferentes 1úveis de degradação.
Com o me mo objetivo, Stenberg (1999) sintetizou em quatro critérios a escolha de
indicadores para monitorar a qualidade do solo:
a) Devem integrar atributos físicos, químicos e biológicos e representar funções no
solo que são difíceis de medir diretamente.
b) Precisarn ser bem conhecidas a relevância ecológica e a variação natural dos
indicadores.
c) Têm de permitir sua medição precisa por meio de ampla variação de tipos e
condições de solo.
d) Necessitam ser de determinação simples e de baixo custo para permitir que grande
número de análises possa ser realizado.
Segundo Bastida et al. (2008), os atributos biológicos podem ser considerados
"melhores" indicadores de qualidade de solo quando comparado aos atributos físicos e
químicos, pois são mais sensíveis às alterações naturais e antrópicas e podem descrever a
qualidade do solo de forma mais ampla. Porém, há também a necessidade de ferramentas
mais sensíveis e exatas para avaliar as alterações ocorridas na biota do solo, pois apesar
da existência dos vários métodos adotados para esse tipo de trabalho, esses raramente são
utilizados em larga escala.
Dentre as várias justificativas para o uso de microrganismos e processos microbiológicos
como indicadores de qualidade do solo, destacam-se a capacidade desses de responder
rapidamente a mudanças no ambiente do solo derivadas de alterações no manejo (Tótola
e Chaer, 2002), e o fato de todas as atividades microbianas do solo refletirem a influência
conjunta dos fatores que regulam a degradação da MOS e transformação dos nutrientes
(Stenberg, 1999).
Recentes estudos têm demonstrado que a qualidade do solo pode ser acessada por
diferentes técnicas de avaliação das comunidades microbianas (Chapman et al., 2007;
Romaniuk et al., 2011; Andersen e Martens, 2013), e que somente a utilização de diferentes
técnicas podem caracterizar o solo e permitir melhor compreensão da diversidade e,
consequentemente, das funções microbianas.
A maior parte das tentativas de avaliação da qualidade do solo por meio de atributos
microbiológicos está focada em indicadores, como respiração, biomassa microbiana,
quociente metabólico, quociente microbiano, atividade enzimática, diversidade microbiana,
mineralização do nitrogênio, entre outros. No entanto, ainda existe um território não
mapeado, que se refere à diversidade microbiana, intimamente relacionada à comunidade
e às suas funções (Nannipieri et al., 2003; Bastida et al., 2008).

a) Biomassa microbiana

A biomassa microbiana é composta por diversidade de espécies d e fungos, bactérias,


actinobactérias, protozoários, nematoides e algas com volume menor que 5.103 µm 3,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - lNTER-REL/\ÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIO LÓGICOS DO SO LO 29!

responsáveis pela ciclagem e fixação de nut rientes, s upressividade biológica, decompo ição
de xenobió ticos, entre outros (Lupwayi et a i., 2004; Hung ria et ai., 2009).
A biomassa microbiana rep resenta de 2 a 5 % do C-orgâ nico e de 1 a 5 % do to tal
e é a principal fonte de enzimas do solo. Embo ra a ati vidade dos microrga nis mos eja
influenciada por atributos ambientais e fís ico-químicos, a biorna sa microbi,ma responde
pos itivamente no que se refere ao desenvolvimento s us tentável de cultivo e às diferentes
práticas agrícolas, sugerindo ser medida de diagnóstico de qualidade do solo (Balota et t.11.,
1998; Hungria et al., 2009).
A quantidade e composição da biomassa microbiana podem ser influenciadas por
diversos fa tores/ entre esses estão os diferentes usos da terra (Kaschu_k et a i., 2011) e a
rotação de culturas (Venzke Filho et al., 2008)
A biomassa microbiana utiliza a evolução do CO2 para avalia r as ati vidades ocorrida
no solo. Essa avaliação pode ocorrer in situ ou em labo ratório. Pode-se utilizar diferentes
m étodos para sua determinação; entretanto, de forma geral, permitem a aná li e do pool de
C e, também, de outros nutrientes contidos nos microrganismos (De-Pol li e Guerra, 1997).

b) Quociente metabólico

A combinação das medidas da biomassa microbiana e respiração do solo fo rnecem a


quantidade de CO2 evoluído por unidade de biomassa, denominada q uociente metabólico
ou respiratório (qCO 2).
Provavelmente, o qCO2 é o índice mais simples utilizado na literatura, indicando a
eficiência da biomassa microbiana em utilizar o C disponível para biossíntese, ou seja,
descreve o substrato mineralizado na forma de CO2 por unidade de C da biomassa
microbiana (Bas tida et al., 2008).
Segundo Odum (1985), o aumento na respiração da comunidade pode ser o prim eiro
sinal de estresse, urna vez que a reparação dos danos causados por distúrbio no olo
requer desvio de energia do crescimento e reprodução para a manutenção celular.
Portanto, durante um estresse na biomassa microbiana, ha verá direcionamento de
mais energia para a manutenção celular, em lugar do cresci mento, de forma que uma
proporção de C da biomassa será perdida como CO2 e por isso o uso do qCO, tem ido
a mplamente utilizado como bom indicador das alterações q ue ocorrem no sÕlo, como
desmatamento (Bastida et al., 2008), temperatura 0oergensen et ai., 1990) e mudanças nas
práticas de manejo (Insam et ai., 1991; Balota et a i., 1998; Bauhus et ai., 1998; Dillv et ai.,
2003). .

e) Quociente microbiauo (C :Cº'ó)


m ,cr

A relação entre o C da biomassa microbiana e os conteúdos totais de C-oro-ànico o


també m é considerada medida sensível às mudanças de manejo do solo, quando com parada
aos teores totais de C (Powlson e Jenkinson, 1981; Bastida et ai., 2008). Essa relação indica a
qualida de da matéria orgânica e reflete quanto do C-orgànico está imobilizado na biornas a
microbiana, evidenciando o potencial de reserva desse elemento no sol (A nder 011 e
Domsch, 1993).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


292 BRIGITTE JOSEFINI fEIGL ET AL

d) Atividade enzimática

Ao intermediar o acesso dos microrganismos à energia e aos nutrientes presentes em


substratos complexos, as enzimas extracelulares se tornam responsáveis pela decomposição
e mineralização da matéria orgânica no solo. Análises de atividade enzimática podem ser
utiljzadas de forma prática em avaliações de impacto de manejes de maneira simples,
rápida, acurada e reproduzível (Tabatabai, 1982).
Esses métodos de análise sempre envolvem a incubação do solo em condições
adequadas de temperatura e umidade para que a atividade possa ocorrer. Os produtos
dessas reações podem ser analisados por vários métodos, dependendo da natureza química
deles. Na maioria dos casos, o grupo fisiológico de microorganismos responsáveis pela
atividade é composto de várias espécies pertencentes a diferentes grupos filogenéticos;
assim, devem-se usar condições arnbientrus seletivas para população-alvo (Moreira e
Siqueira, 2006).
A escolha das enzimas a serem analisadas deve ser feita em razão da sensibilidade
delas ao manejo do solo em estudo e da operaciona)jdade da aná)jse. As enzimas mrus
comurnente analisadas são as hidrolases )jgadas aos ciclos dos principrus elementos da
matéria orgânica do solo como C, N, P e S, além de )jpases, proteases e esterases.

e) Diversidade microbiana

Conceitualmente, ruversidade é a variedade de espécies em um ecossistema, assim


como a variabilidade genética dentro de uma mesma espécie (Tótola e Chaer, 2002). A real
dimensão da diversidade microbiana dos solos é ainda hoje desconhecida; entretanto, os
avanços no campo da biologia molecular, que permitiram o desenvolvimento de técnicas
independentes de cultivo, têm revelado que o número de espécies mkrobianas presente
no solo é muito mruor ao que se conhece por meio dos estudos com base em biomassa,
respiração e técnicas de cultivo (Holben e Tiedje, 1988; De Long, 2005).
A base dos variados métodos moleculares está na utilização dos ácidos nucleicos,
tanto DNA quanto RNA, extraídos de amostras ambientrus (solo, água, resíduo, sedimento
etc.), segujdo de amplificação do gene de interesse por polymerase c'1ain reaction (PCR) e
análises dos amplicons por diversas técnicas, como fingerprinting (DGGE), bibliotecas de
clones, sequenciamento, microarray, real time (qPCR), entre outras (He et ai., 2007; Cardenas
e Tiedje, 2008).
A utilização da extração e análise de DNA é considerada como viável e atual
alternativa na quantificação da biomassa microbiana do solo. Esse tipo de análise
pode providenciar informações adicionais sobre a taxa de crescimento específico de
determinadas comunidades microbianas no solo. Assim, trus determinações, que refletem
de forma equilibrada o crescimento de fungos e bactérias, entre outros microrgarusmos,
podem atuar como indicadores na avaliação da qualidade ou destruição de um solo, bem
como na disponibilidade de nutrientes (Andersen e Martens, 2013).
A diversidade funcional de comunidades microbianas do solo inclui a variedade e
expressão relativa de cada atividade individual envolvida nas fw1ções de decomposição,
de transformação de nutrientes, promoção e supressão de crescimento das plantas e de
vários processos físicos do solo que envolve os microrganismos (Giller et al., 1997).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER - RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIOLÓ G ICO S DO SOLO 293

Os efeitos cio uso cio solo sobre a di ve rsidade microbiana têm s ido demonstrado
s is tematica mente para alguns grupos de microrganismos (Tótola e Chaer, 2002); po r
isso, há a necessidade de estudar e entend r os ge n s funcionais re lacio nado aos g rupos
microbianos de interesse e, consequentemente, s uprir a necessidade de informações mais
correlatas com a funcionalidade desses grupos.

EFEITO DA BIOTA SOBRE A QUALIDADE DO SOLO

O solo saudável abriga uma cadeia trófica muito ativa ond e organismos se alimentam
e processam sua presa ou alimento no trato diges ti vo para depois excretá-los. O valo r
desses o rganismos para a agricultura reside principalmente na ciclagem de nutriente , na
formação e estabilização da estrutura do solo, ( que aumenta a d inã mka do ar e da água),
no controle de doenças e na promoção do cresci mento de plantas.

Ciclagem de nutrientes
Uma das importantes funções da comunidade biológica do solo é a ciclagem de
nutrientes entre suas formas orgânicas, que contém C; e inorgânicas, que não contém.
Decomposição é a quebra de biomassa residual de origem animal ou vegetal em
diferentes compostos orgânicos e inorgânicos. Como parte do processo de decomposição,
muitas bactérias e fungos produzem ácidos húmicos que se com binam quimicamente
formando grandes moléculas de matéria orgânica estável. A conversão da matéria orgânica
em inorgânica, assimilável pelas plantas é denominada mineralização. Protozoário · e
nematoides mineralizam e excretam de <1,0 a 20,0 mg dm·3 de N de solo. maior parte
do N é consumida por outros organismos do solo, mas as plantas também se beneficiam.
O reverso da mineralização é a imobilização, a conversão de compostos inorgânico em
compostos orgânicos. O consumo ou a incorporação das moléculas inorgânicas dificulta
seu movimento pelo solo e as tornam indisponíveis para as plantas. Bactérias e fungos ão
responsáveis por grande parte do processo de imobilização.
De acordo com Correia e Oliveira (2005), a velocidade e magni tude de processos corno
a mineralização e imobilização dos nutrientes dependem da abundância e da diversidade
dos organismos que compõem a teia alimentar decompositora. Consequ entemente,
a assimilação de nutrientes pelas plantas e a produtividade das culturas podem er
fortemente influenciadas pelos organismos do solo, mesmo quando ocorre a aplicação de
ad ubos minerais.
Apesar de os microrganismos serem os principais responsáveis pelo prece o
d e núneralização dos nutrientes, é a fa una do solo que exerce papel de regulação das
populações microbianas. A predação seletiva de fungos e bactérias, feita especialmente
pe la microfauna, a estimulação, a cligesão e a fragmentação dos detritos realizada pelo
componentes da meso e macrofauna interferem na decompos ição da materia organica e
a lteram a dis ponibilidade de nutrientes para as plantas (Cragg e Bardgett, 2001).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


294 BRIGITTE ]OSEFINI FEIGL ET AL

Formação da estrutura do solo


. A estrulusa significa o arranjo e a disposição das partículas primárias (areia, silte e
argila) e secundárias (agregados) que compõem a massa do solo, formando um sistema
P?ros~ (Marcos, 1968). Na formação dos agregados dos solos estão envolvidos processos
biol6?1cos e físico-químicos. Os dois mais importantes processos físico-químicos estão
associados com a fração argila, que envolve a coesão enh·e as partículas e a expansão e
contração de solos argilosos. Em solos arenosos, que possuem pouco conteúdo de argila,
ou aqueles com predominância de argilo-minerias 2:1 na fração argila, a formação dos
agregados depende principalmente dos processos biológicos. Os mais importantes são:
a) Atividade de minhocas. Artrópodes e minhocas ingerem solo, digerem as
bactérias e excretam uma bola fecal envolvida por secreções do trato digestivo. Besouros
e minhocas fragmentam e transportam fitomassa residual pelo solo, aerando e criando
biopores, facilitando a passagem de raízes e água. A maioria das culturas se desenvolve
preferencialmente em solos bem estruturados, onde as raízes conseguem se expandir e a
água e o ar penetram com facilidade. A abundância de animais detritívoros, especialmente
minhocas e cupins, está fortemente correlacionada com maior estabilidade de agregados
do solo (Franco, 2015).
b) Hifas fúngicas e redes de raízes. As rufas e raízes exsudam polissacarídeos e outros
compostos orgânicos que formam redes, mundo partículas em aglomerados. A associação
entre os fungos e as raízes das plantas, conhecida como micorriza, é extremamente
eficiente na promoção da estabilidade do solo, pois secreta uma glicoproteína hidrofóbica
termoestável denominada glomalina, que, além de contribuir na formação dos agregados
do solo, atua no sequestro de metais pesados e também como reservatório de C e N (Wright e
Upadhyaya, 1996; Driver et al., 2005; Souza et al., 2011). Assim como os fungos, as bactérias
também produzem polissacarídeos. Muitas dessas gomas orgânicas são resistentes à ação
da água, contribuindo assim na formação dos agregados e conferindo maior estabilidade
na formação da estrutura do solo (Resende et al., 2002; Treseder e Turner, 2007; Souza et
al., 2011). Em estudos de campo sobre indicadores da atividade dos fungos micorrízicos
arbusculares (FMA), a quantificação do teor de glomalina no solo apresenta-se como
avaliação rápida, barata, objetiva e relativamente fácil de ser realizada em comparação às
outras variáveis, como densidade de esporos, comprimento de rufas, colonização radicular
e número mais provável de propágulos infectivos no solo (Purin e Rilling, 2007). Os FMA
são também essenciais para a regeneração de áreas degradadas, atuando na melhoria da
estruturação do solo, contribuindo para redução dos riscos de erosão.

Controle de doenças e promoção de crescimento


Os organismos do solo dispõem de diversos métodos para o controle de agentes
causadores de doenças. Protozoários, nernatoides, insetos e outros organismos predadores
ajudam a controlar a população de suas presas, evitando que uma única espécie se torne
predominante. Algumas bactérias e fungos produzem compostos tóxicos para outros
organismos, enquanto outros competem por alimento ou localização sobre as raízes.
Além de proteger as plantas contra doenças, alguns organismos produzem compostos
que es timulam o crescimento das plantas, como as rizobactérias promotoras de crescimento
de plantas (RPCP). As RPCP constituem um grupo muito amplo de microrganismos, uma

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - IN TER-RELAÇÃO ENTRE O MAN EJ O E ATRIBUTOS BIOLÓGICOS DO SOLO 295

vez que sob essa des igmição incluem-s qua isquer bactérias que vivam na rizosfera de
diferentes cu ltu ras. Essas apresentam im portância e aceitação mundial, o que veio como
conseq uê ncia dos benefícios agrícolas apres nt;:id os e da grc:1nde demnnda por u ma
dependência cada vez menor de ins umos químicos s intéticos (Figue iredo et aJ., 201 O).
O s efeitos desses microrga nismos sobre o desenvolvimento das plantas são .implos e
incluem os efeitos benéficos na ge rminação de sementes, na emergência de plântula , no
crescimento das plantas associados ao controle biológico de patógenos e à produção de
fito-horm ônios e enzimas líticas (A raujo e t a i., 2005; Vassilev et ai., 2006; Fi g ueiredo et ai.,
2010) . Entre os gêneros mais estudados, des tacam-se: Baci/luc;, Pseudomonas, Azvspinllu111 e
Rhizobiwn (Araujo et ai., 2012). Convencionalmente, não têm sido aí incluídos os rizóbios
fi xadores de N, atividade que, embora benéfica ao desen volvimento vegetc1l, resultêl de
uma relação simbiótica com as legu minosas, interação que não é considerad a como RPCP.

EFEITO DAS PRÁTICAS DE MANEJO SOBRE O TEOR DE


MATÉRIA ORGÂNICA E A BIOTA DO SOLO

Via de regra, o teor de matéria orgânica diminui quando se inicia o culti vo em um


solo sob vegetação nativa, e isso ocorre principalmente por duas razões: intensificação
da decomposição da matéria orgânica do solo existente, decorrente das mudanças da
umidade, da aeração, das condições de temperatura e do rompimento das barreiras físicas
de proteção causadas pelo cultivo; e redução na ta xa de reposição de matéria orgânica,
uma vez que a cobertura vegetal original é removida, e a cultura instalada geralmente
retoma quantidades menores de biomassa res idual ao solo (Gregorich et ai., 1997). O
conteúdo de matéria orgânica do solo é linearmente relacionado com o teor de argila do
solo porque essas partículas fornecem uma área s uperficia l reativa para estabilizar o C
em formas organorn.inerais e tendem a formar agregados que protegem fisicamente a
matéria orgânica contra a decomposição (Schimel et a i., 1994). Em alguns manejo , a perda
do conteúdo de N pode ser relativamente menor do que a de Cem razão da adição de
fertilizantes nitrogenados e, portanto, a alteração nos estoques de C induzido pelo manejo
não pode ser estimado com segurança a partir da relação C/ típica (Ellert e Gregorich,
1996).
Para melhor entendimento do resultado da intervenção antrópica em um istema
estável (solo + cobertma vegetal), os conteúdos de C são dividido em diferente
compartimentos (Quadro 1), que são dinâmicos, mutuamente dependente e controlados
por fatores climá ticos, edáficos e antrópicos (Schlesinger, 1999; Mielniczuk, 2008). Além
d esses fatores, a magnitude dos compartimentos depende dos demais compartimento e
também do manejo, da quantidade e da qualidade da biornas a residual. ssin1, as funçõe ·
de cad a compartin1ento são diferenciadas e importantes na definição das p rá ticas agrícolas
para e labora r um sistema sustentável. Como exemplo, a redução do compartimento .
(remoção ou queima de fitomassa residual, pousio, solo de coberto etc.) compromete o
compar timento B, que, além de repor as perdas de C que ocorrem no compartimentos C e
D, tem papel fundamental na manutenção da biota do solo e na proteção da superfície do
solo contra a erosão (Mielniczuk, 2008).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


296 BRIGITTE JOSEFINI FEIGL ET AL

Quadro 1 · Di tribuição em compartimento do carbono em um sistema agrícola composto pelo


alo, pel~ cobertura vegetal, pela funções e pelos fatores de control e da magnj tude de cada
compartimento (Mielniczuk, 2008)

Compartimentos Residência
(anos) Função principal Fatores principais de controle

Reciclagem de nutrientes Sistema de cultura


A. Biomassa , ·egetal Proteção contra erosão Fertilidade e acidez do solo
ati\'a 0,25 Produção de fibras e Disponibilidade de água
alimentos Temperatura e radiação solar
Magnitude do compartimento A
Fonte de alimento para biata
Tipo de resíduo (relação C/N)
B. Resíduos do solo
Grau de trituração e incorporação
vegetais, raízes e Proteção do solo contra
da fitomassa residual
exsudados erosão
0,25 Temperatura e umidade
Fonte de nutrientes às plantas

Decomposição da fitomassa Tipo e magnitude do


residual compartimento B
C. MO não Agregação temporária Fertilidade e acidez do solo
protegida Fonte de nutrientes Temperatura e umidade
Fonte de energia aos Grau de revolvimento do solo
Biomassa microbiana microrganismos Magnitude dos compartimentos
0,25
Agregação temporária AeB
iábil 2a5
CTC Temperatura e umidade
Fonte de nutrientes para as Grau de revolvimento do solo
plantas

D. MO protegida Magnitude dos compartimentos


A, BeC
Proteção estrutural Grau de revolvimento do solo
Agregação permanente
Destruição dos agregados
Mineralogia e Textura
Proteção coloidal CTC

O uso agrícola do solo ocupa grande parte da área terrestre, pelo que a sua contribuição
para a biodiversidade é fundamental para o sucesso da conservação no futuro. No entanto,
agricultura e conservação da biodiversidade têm sido assuntos tradicionalmente tratados
como incompatíveis (Tscharntke et ai., 2005). A intensificação do uso do solo para agricultura
é, de fato, a principal causa das perdas de biodiversidade, porém sistemas conservacionistas
que buscam nún.imizar a intensidade dos distúrbios podem ser elementos importantes
para programas de conservação em larga escala. A biodiversidade dos organismos do solo
é particularmente sensível aos distúrbios quando o ambiente edáfico constitui seu habitat
e é fonte de todos os recursos de que necessita (Chauvel et ai., 1999; Ilieva-Makulec et ai.,
2006).
A fauna do solo atua nos processos dos ecossistemas (Wall, 2004). Esses processos
suportam coletivamente a provisão de serviços ambientais, que contribuem para a
manutenção e produtividade dos ecossistemas por sua influência na qualidade e saúde do
solo (Lavelle et al., 2006). O termo fauna do solo caracteriza a comunidade de invertebrados
que vive permanentemente ou que passa parte de sua vida nele. Essa comunidade
apresenta-se sensível a modificações ocorridas no ambiente, tanto as físicas, químicas, e
biológicas como as resultantes das práticas de manejo do solo e de cultivo empregadas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER- RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E A TRIBUTO S BI OLÓ G I CO S D O SO LO 297

De p end endo d o tipo e da intens idade do impacto p ro movido ao ambien t , tais pr ticas
podem au mentar ou diminui r a d iversidad e de determjnadas populações (Attwood et ai.,
2008; Jangid et a i., 2008; Baretta et ai., 2011.).
Diversos estud os têm evidenciado q ue a cobertura vege ta l favo rece as comunidades
d a fa una invertebrada do solo, evitando a perd a d a d iversid ade e atividade dos orgaru mo
cons iderados "engenheiros" do ecossis tema (Silva e t a i., 2007; Aqu ino et ai., 2008). Fragoso
e t a l. (1997), estudando a a tividade de ali mentação, escavação e prod ução de coprólitos
de minhocas, apresentaram que esses organismos modificam p rofundame nte atributos
fís icos, químicos e biológicos do solo, podendo contribuir para incremen tas da produção
vegetal pela ciclagem de nutrientes. Os grupos como térmitas, fo rmigas e enquitreídeos,
também alteram atributos físicos do solo (Lavelle e Spa in, 2001.).
Brown e Domingu ez (2010) afirmara m que as rrunhocas são sensíveis e reagem a
mudanças ind uz idas por atividades antrópicas e naturais ao solo e pela cobertura vegetal
d ele (Figura 7). Portan to, essas podem dar noções do estado atua l dos ecossistemas e de
mudanças induz idas a esses, por forças internas e externas (bió ticas e abióticas) através do
te mpo. Essas características são úteis para programas de avaliação e monitora mento da
qualidade ambiental.

1 AUMENTO DA POPULAÇÃO E DIVERSIDADE 1

Fertilização inorgânica Adubos orgânicos

Semeadura direta Adubos verdes (cobertura)

Maior diversidade vegetal (?) Rotação de culturas

Irrigação (especialmente em áreas secas) Aplicação de calcário

TICAS DE MANEJO
ADOTADAS

Solo nu Acidificação

Queimadas Monocultura

Máquinas pesadas (compactação) Preparo intensivo do solo

1 EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO E DIVERSIDADE l

Figura 7. Efeito de d iversas práticas de manejo adotadas em agroecossis temas na população e


d iversidad e d e minhocas (de acordo com Brown et ai., 2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


298 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

':'- ~m plitude em que o invertebrado podem ser influenciad os pelo m a nejo do solo
é defuuda pelo seu tamanho, que lhes confere habilid ade diferenciada na su a estratégia
d e alimentação e ad ap tação ao hábitat (Aquino, 2005). Geralmente, organjsmos maiores
são mais sensíveis às práticas de manejo do que os menores (Wardle, 1995). Resultados
de Franco (2015) demonstraram redução média de 89 % na densidade d a comunidade
e perda de 39 % da diversidade de grupos da macrofauna em áreas de mudança de uso
da ~erra ~e vegetação nativa para pastagem, seguida de cana-de-açúcar, com aumento
de mtens1dade d e uso do solo. Esse mesmo trabalho evidenciou ainda que tal perda de
biadi, ersidade diminui os processos de engenhaTia de solo, resultando na deses tabilização
da sua estrutura e prejudicando a sua capacidade parn proteger fisicamente a MOS contra
a decomposição dentro de agregados estáveis, levando à redução dos estoques de C do
solo.

Semeadura direta versus plantio convencional


A semeadura direta é uma técnica de cultivo conservacionista, onde se procura manter
o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por fitomassa cultural residual.
Essa cobertura tem por finalidade a proteção do solo do impacto das gotas de chuva, do
escoamento superficial e das erosões hídrica e eólica (Campos, 2003).
Existem diversos sinônimos ou termos equivalentes para semeadura direta (SD):
plantio direto, plantio direto na palha, cultivo zero, sem preparo, cultivo reduzido, entre
outros (Cruz et al., 2006). Os principais fundamentos desse manejo do solo interagem entre
si e são esses:
• Eliminação/redução das operações de preparo de solo.
• Uso de herbicida para controle de plantas invasoras.
• Formação e manutenção de cobertura morta.
• Rotação de culturas.
• Uso de semeadoras específicas.
A biomassa cultural residual é precursora da matéria orgânica do solo. Processos
biológicos são acionados após a sua incorporação, com efeitos sobre atributos físicos e
químicos do solo, contribuindo para eficiente ciclagem de nutrientes e para manter e, ou,
aumentar o teor de matéria orgânica (Aquino et al., 2008). Desde que a matéria orgânica seja
a fonte de recursos para a biata do solo, há forte relação entre a abundância de orgarusmos
e o conteúdo de matéria orgânica do solo (Wardle et al., 2001; Nakamoto e Tsukamoto,
2006). A SD constitui uma alternativa de manejo que concilia a manutenção da qualidade
do solo associado com aumentos de produtividade (Santos et al., 2008). O sucesso desse
sistema está intimamente relacionado ao fato de que a palha.da, acumulada pelas plantas de
cobertura e biomassa residual de lavouras comerciais, proporciona um ambiente favorável
à recuperação ou à manutenção dos atributos biológicos do solo (Menezes et al., 2004),
favorecendo as comurudades da fauna edáfica (Marchão, 2007; Silva et al., 2007). Como
resultado, a fauna do solo é mais abundante em termos da sua dish·ibuição horizontal e
vertical no cultivo direto, em comparação ao cultivo convencional (Frey et ai., 1999; Fu et
al., 2000; Miura et ai., 2008) . A proteção que essa camada de palhada proporciona contribui
ainda com a formação de um microclima, possibilitando a formação de urna comurudade

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER - RELAÇÃO ENTRE O MAN EJO E ATRIBUTOS BI OLÓGICOS DO SOLO 299

microbio lógica, incluindo fungos, bélctérias e a rchaeéls, que atua rão na decompos ição da
palhad él, es tabelecendo uma s imbiose mais próxima da encontrélda e m áreas de mata
nativa.
Silva et ai. (2002) afirmaram como exemplo de que na 5 D a abundância da pt1Lhada
proveniente da biomassa cultural residua l depos itada na superfície do solo é o fa to r bás ico
para o estabelecimento de macrofa una d ive rsificada e para o eq uilíb rio e ntre as popu laçõe .
Na figura 8, pode-se observar que a abundância ele ind ivíduos, a sim como o número de
grupos da macrofauna do solo sob SD, é mais próxi mo aos va lores encontrados em cireas
d e vegetação natural do que o são os va lores obtid os sob agricu ltura convencional.
A manutenção de uma cobertura vegetal na s uperfície do solo favo rece a fa una edMica,
as raízes e a microflora do solo (Lavelle e Spain, 2001), es peci ficamente a atividade do_
organismos engenheiros do ecossistema, e ntre esses os grupos Oli gochaeta, Fo rm icidcle e
Jsoptera (Barros et aJ., 2003). Em condições de clima temperado, a a tividade da biota do
solo na camada 0-10 cm é estimulada pela SD em comparação ao culti vo convencional,
e principalmente microrganismos e enquitreídeos contribuem grandemente para .:i
decomposição da fitomassa cultural residual (Miura et ai., 2008). 1 o entanto, Capelle e
ai. (2012), a partir de um levantamento da literatura científica publicada nas ú ltimas sei
décadas, sugerisam que os organismos do solo respondem ao sistema de manejo de fo rma
específica às condições locais, com a textura do solo determinando os impactos do manejo
sobre as populações de oligoquetas e colêmbolas, enquanto os impactos sobre nematoides
e microrganismos variam dependendo da profundidade do solo.
Ressalta-se que os dados d a literatura parn as respostas da biata do solo aos sistema
de manejo são por vezes inconsistentes. Muitos estudos reportam q ue populações de
microartrópodes aumentam sob manejo conservacionista como SD (Coleman et al., 2002;
Nakamoto et ai., 2006), enquanto outros evidenciam ausência de efeito ignificativo
ou declínio dessa comunidade (Larsen et al., 2004; Miilla et a i., 2008). ísso pode ser em
razão do tempo de implantação do sistema de manejo nas áreas estudadas, onde, por
exemplo, efeitos negativos aos organismos e sua atividade a partir das p ráticas no s istema
convencional podem não ser totalmente expressas nos estudos que avaliam áreas com dois
ou três anos de manejo, frequentemente utilizadas.
Não apenas a manutenção de cobertura vegetal sobre o solo influencia as comunidades
da fauna edáfica como as respostas estão relacionadas ao tipo de plantas de cobertu.Ta, que
determinam a quantidade e qualidade dos recmsos orgânicos (Decaens et ai., 2001). A
diversificação das es pécies vegetais promove maior diversidade dos grupos d a macrofauna
invertebrada do solo, conforme observado por Silva et ai. (2006).
A rotação de culturas incluindo espécies leguminosas e gramíneas constituem boa
escolha para garantir a biofuncionalidade do solo (Aquino et al., 2008; Santo et al., 2008). Por
exemplo, segundo Aquino et al. (2008), o cultivo de milho no verão sobre biornas a residual
de nabo-forrageiro em ambiente tropical proporciona condições para o estabeleciment e
d esenvolvimento de diversidade de comunidades da macrofa una in ertebrada semelhante
à e ncontra da em áreas florestais, enquanto em SD com continuadas s uces ·ões de espécies
gramíneas a comunidade da macrofauna apresenta correspondéncia com o sis tema de
cultivo convencional.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


li

300 BRIGITTE JOSEFINI fEIGL ET AL

(a)
10.000
a

1.000

,r
e
"O
ã.
~
-e,
100
~

~
10

0+------------r-----------<
Safra de verão Safra de inverno

(b)

Safra de verão Safra de inverno

Figura 8. Densidade (a) e diversidade (b) da comunidade da macrofauna do solo (0-30 cm), incluindo
organismos da serapilheira, em diferentes sistemas de manejo. Para cada safra, sistemas seguido
de mesma letra, a densidade e o número de grupos não diferem pelo teste de Duncan (p < 0,05).
Fonte: Adaptado de Silva et ai. (2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER-RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIO LÓGICOS DO SOLO 301

Embora por si só a SD represente muitos efeitos benéficos para con erva r a biota, o
solo ainda deve ser manejado em associação a prá ticas conservacionis tas como ba ixo trá fico
de máquinas e reduzido uso de agroquímicos para proteger a especia lmente a macrofauna,
sensível à compactação e contaminação por molécu las tóxicas (Cox, 2000; Chan, 2001).
Dornínguez et ai. (2010) atribuíram às condições físicas e químicas des fa vo ráveis do
solo e aos elevados níveis de aplicação de agroquímicos a menor abundância, riqueza e
diversidade de macrofauna encontrada na SD em relação a pastagens nativas, tendo como
consequência redução nas taxas de decomposição da liteira.
A SD tem efeito também sobre a biomassa microbiana, pois es timula a ciclagem de
nutrientes e energia no sistema solo (Cu nha et ai., 2011). Souza et ai. (2006) real izara m
estudo com sete sistemas de culturas e observaram que aqueles com maior produção de
biomassa vegetal e seu acúmulo residual na superfície ap resentaram os maiores valores
para a biomassa microbiana na camada até 5 cm. D' Andrea et ai. (2002) observara m
redução nos teores de C da biomassa microbiana com a adoção de pas tagem e plantio
convencional, comparado com a SD e a mata nativa. A mesma tendência foi observada
por Santos et al. (2004), os quais verificaram que a SD comparado ao plantio convencio nal,
proporcionou aumentos na atividade e biomassa microbiana do solo. O solo em SD
apresentou preservação do C da biomassa microbiana intermediária às apresentadas pela
mata nativa e pelo sistema de preparo convencional do solo (Silva et al., 2007).
Ao considerar o qCO2 como indicador da atividade da microbiota do solo, verifica-se
na literatura que o plantio convencional tende a elevar os valores, s ugerindo condições
de estresse nesse tipo de sistema (Six et al., 2000; Silva et al., 2007; Cunha et al., 2011)
(Figura 9). À medida que a biomassa microbiana se toma mais eficiente na utilização de
recursos do ecossistema, menos C02 é perdido pela respiração e maior proporção de C
é incorporada aos tecidos microbianos, o que resulta em diminuição do qCO, (Cunha et
al., 2011). Assim, vários estudos relatam os benefícios que a prática da SD pode causar
na biata dos solos brasileiros (Six et al., 2000; Silva et ai., 2007; Babujia et ai., 2010; Cunha
et al., 2011), sobretudo no papel desempenhado pelos microrganismos no ciclo do C no
trópicos.

u' 0,07
Sistema de manejo
â 0,06
o ■ Convencional
-o
(5 0,05 ■ Semeadura direta
~
U 0,04

7t, 0,03
'700
Ei 0,02
10,01
8<::i-
o _.__--=---=---- --~----'~=----=--=---=~ ~~~~ ____.:~ ~ _j
Braquiária Braquiária Guandu Milheto Capim- Sorgo Estilosante Média
solteira consorciada mombaça

Figura 9. Quociente metabólico (qCO2) em razão das culturas de cobertura do so lo e do s istemas de


m a nejo (convencional e semeadura direta) do feijoeiro.
Fonte: Adaptado d<! Silva e t ai. (2007).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


302 BRIGITTE JOSEFINI fEIGL ET AL

Culth o orgânico versus cultivo convencional


? u so de agroquímicos nas culturas pode com.prometer a sustentabilida d e mes mo
em sistemas de ma nejo do solo considerados conservacionistas, e isso está diretamente
relacionado aos efeitos desses produtos nas comunidades de organismos do solo.
Fertilizantes sintéticos, pesticidas e herbicidas são frequentes insumos em sis temas agrícolas
convencionais. Estudos têm demonstrado que aplicações de inseticidas e fertilizantes
minerais interfe rem negativamente a diversidade e abw1dância de grupos tróficos da
fauna edáfica, como os nematoides (Sarnthchandra et al., 2001; Briar et ai., 2007). Em á reas
onde h á o uso desses produtos, observa-se afr,da mudança na distribuição vertical da
fa w1a do solo, sendo a maior parte dos indivíduos encontrada na camada abaixo de 10 cm
desse, enquanto em manejas sem adição de agroquímicos 80 % dos organismos ocorrem
na camada 0-10 cm em decorrência de melhores condições físicas do solo e abundâ ncia de
alimentos (Lima et al., 2007).
O sistema de agricultura orgânica depende da adição de biomassa residual ao solo na
fom1a de adubos verdes de cobertura e estercos de animais decompostos ou parcialmente
decompostos corno de aves ou de bovinos. Diversos autores relataram redução da
densidade do solo e aumentos nos estoques de N e C corno consequências da adoção desse
tipo de manejo (Wemer, 1997; Bulluck et ai., 2002; Briar et al., 2007). Aumento no teor de
matéria orgânica significa ampliação da base alimentar dos organismos do solo.
Agricultura orgânica de longo prazo melhora a qualidade do solo, aumentando a
biomassa microbiana e promovendo o ressurgimento de engenheiros do ecossistema
(minhocas, formigas, cupins) e inimigos naturais (Birkhofer et ai., 2008). Bettiol et al. (2002)
relataram número de espécimes de minhocas praticamente 10 vezes maior no sistema
orgânico, em comparação ao cultivo convencional de tomate e milho. Maior biomassa,
densidade populacional e número de espécies de minhocas são também relatados em
cultivo orgânico de café, em relação ao cultivo convencional e mata nativa (Bartz et al., 2009).
Práticas de cultivo orgânico favorecem a multiplicação de comunidades de nematoides
bacterívoros, onívoros e predadores e suprimem nematoides causadores de lesão em
raízes, quando comparadas às práticas adotadas no cultivo convencional (Berkelrnans et
al., 2003; Briar et al., 2007).
Melero et ai. (2006) compararam diversos atributos biológicos do solo submetidos
a práticas convencionais e orgânicas de manejo. Esses autores observaram que o
segundo aumentou não só o teor total de C e N do solo como também a qualidade do
solo e produtividade da cultura. Eles atribuíram a maior taxa de respiração do solo à
maior atividade da microbiota das áreas com manejo orgânico, enquanto o qC02 menor
pode indicar maior disponibilidade de nutrientes (Figura 10). Pelo fato de a maioria das
bactérias apresentar relação Cmic/Nmic menor que a dos fungos, os autores sugeriram
que O manejo orgânico do solo favoreceu o desenvolvimento da comunidade bacteriana
em detrimento dos fungos, efeito esse mais notado na segunda amostragem, ou seja, com
o desenvolvimento da cultura.
Birkhofer et ai. (2008) consideraram que, apesar de a agricultura orgânica promover
a qualidade do solo, a umentar a biomassa microbiana e fomentar os inimigos naturais
e engenheiros do ecossistema, sugerindo maior ciclagem de nutrientes e capacidade
de resistência às pragas, a produtividade das culturas é maior em sistemas recebendo
fertilizantes minerais e herbicidas, refletindo a dicotomia entre produtividade e
responsabilidad e ambiental. No entanto, os mesmos autores apresentaram que, apesar
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
X - INTER - RELAÇÃO ENTRE o MANEJO E AT RIBUTOS BIOLÓG I COS DO SOLO
303

d a produti vidade menor das culturas em sist mas de cultivo orgânico, consequ~ncias
n ega ti vas como a red uzida qua li dade do solo e maior s usce tibilidad e a pragas herbivora
na agricultura convencional podem supera r os benefícios económicos dessas.
A agricultura o rgâ nica pode contribuir subs tancialmente para a futura produção
agrícola em todo o mundo, me lhorand o a qua lidade do solo e o controle de praga ,
reduzindo assim os impactos ambientais d a agricultura convencional.

70 (b)
700 (a)
(,()(]
60
~
"'
50
:;;- soo
0
-
E -HlO ·--1 -IIJ
,:.o .;
í: :.,
' .()
- '~ºº
o" ..::
u 200 20
-
100 1ll
"'

A mos lr,,gem 1'


.,., ,.,
o
AmostrJee m
,, ,,

C ucur bil.ice,ie F,, b ,ICf!,l (' C u, urb,!JceJ e

1-t (e)
12

lO

- o n\"enciorw l

u
-t

o+---
Amos t,"ge m l'
.,. .,.,

Figura 10. Respiração do solo (a), qCO2 (b) e relação Cmic/ mie (e) em cultivo convencional e
orgânico na Espanha.
Fonte: Melero et ai. (2006).

Manutenção da palhada da cana-de-açúcar na colheita mecanizada


A colhedora utilizada na colheita mecanizada da cana-de-açúcar possui um e. trator-
triturador que permite que fol has, bainhas, ponteiro, colmo sejam cortados, triturado
e lançados sobre a superfície do solo, fo rmando uma cobertura de de biomassa vege tal
res idual conhecida como palhada (Souza et ai., 2005). Com a substituição dJ colheita
m a nua l pela mecanizada, são obtidos efeitos semelhantes ao d a adoção do plantio direto,
ou seja, red ução da erosão, aumento do teor de água e de d e ma téria orgânica, dim in uição
d a a mplitude térmica do solo, protegendo, conservando e recuperando o solo. pe a r de
ser eficiente, rápida e de baixo custo, quando comparada a o utros métodos de colheit ,
a que ima d a palhada prejudica exponencialmente a biod iver idade e a dinâ mica do
agrossiste ma; interfere diretamente na qualidad e d o ar e d os solos, al terand o constituição

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


304 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

físic~, química e biológica dele; impacta a vegetação e a fa una; e pode comprom e te r a


qualidade dos recur os hídricos.
~ ~doção da colheita sem queima da palhada da cana-de-açúcaT proporciona melhores
condiçoes para o desenvolvimento da fauna invertebrada do solo, que pode ser alterada
em razão do m anejo e da modificação da quantidade de fitomassa residual sobre o solo,
restabelecendo novo equilíbrio por meio de novos habitats e disponibilidade de alimento
(Cordeiro et ai., 2004). Lino d e Abreu et ai. (2014) observaram que diferentes quantidades
de palhada de cana-de-açúcar mantidas sobre o solo não tiveram grande influência sobre as
riquezas média e total da fauna de invertebrados de canaviais, localizados na Região Norte
do Brasil (Piauí). Os maiores contrastes foram, no entanto, observados enh·e as estações
do ano. Na época chuvosa, quando normalmente há maior abundância de espécies ativas,
foram capturados até 33 indivíduos por dia por armadilha pitfall, instalada nas parcelas em
que 75 % da palhada original foi mantida. Essa população estava dis tribuída em 16 grupos,
destacando-se os grupos Acari, Forrnicidae e, especialmente, Collembola. Já na estação
seca, foi capturado um máximo de 15 indivíduos por dia por armadill1a, nas parcelas
com 25 % da quantidade original de palhada. Araneae e Forrnicidae foram os grupos que
apresentaram maior frequência dentre os oito grupos observados no período.
A distribuição das raízes das plantas de cana-de-açúcar também é bastante influenciada
pela manutenção da pall1ada sobre o solo (Graham e Haynes, 2006) e com essas a atividade
microbiana e a estabilidade de agregados. Os autores observaram que o sistema radicular da
cultura se expande na camada 0-10 cm do solo em direção às entrelinhas, proporcionando
aumento em tomo de 100 % da biomassa microbiana tanto na linha como na entrelinha da
cultura em decorrência do maior aporte de matéria orgânica.

Integração lavoura-pecuária
A exploração intensiva da pastagem deflagra processos de exaustão e degradação dos
solos, o que ocasiona a redução da capacidade produtiva da unidade pecuária (Oliveira et
ai., 2004). O grande número de áreas de pastagem com baixa capacidade produtiva tem
resultado em desafio para os órgãos de pesquisa e extensão, no sentido de viabilizar sistemas
de produção que possibilitem maior eficiência energética e conservação ambiental (Macedo,
2009). A integração lavoura-pecuária, onde os produtores utilizam a terra tanto para a
produção animal como a vegetal, consiste na rotação de culturas anuais com pastagens de
acordo com a época do ano. Os benefícios para a biota do solo decorrentes da implantação da
técnica ficam evidenciados pelos resultados de Salton et ai. (2014). Os autores demonstraram
que a ausência ou minimização das operações de cultivo, a grande deposição de biomassa
residual, a diversidade de espécies de plantas e a intensa renovação da massa de raízes nas
pastagens dão aos sistemas de integração lavoura-pecuária a capacidade de suportar grande
abundancia e diversidade de invertebrados da macrofauna edáfica.
Os sistemas de integração lavoura-pecuária representam urna alternativa na
intensificação do uso da terra, pois garantem a sustentabilidade dos sistemas de produção, já
que diversos benefícios agronômicos e ambientais podem ser obtidos quando as atividades
d e uma propriedade são diversificadas com inclusão de pastagens (Russelle et ai., 2007).
A inserção de animais pode alterar algumas propriedades do sistema, como reciclagem de
nutrientes e agregação do solo, assim como melhorar a sua qualidade (Ingram et ai., 2008;
Carvalho et ai., 2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER-RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIOLÓGICO S DO SOLO 305

Sistema de irrigação
Água e nutrientes são necessidades básicas que limita m o rendimento da planta .
Sanar tais problemas significa produzir o máxi mo com qualidad e e com o mínimo impêlcto
ambiental (Mantovani et ai., 2003). O manejo racional da irrigação en volve um método
de controle que consiste na aplicação da qu antidade necessá ria de água às pla n ta , no
momento correto. Nesse contexto, o manejo engloba interação do solo, da água e do climé'l
com a planta a ser cultivada (Mantovaní et ai., 2003). o entanto, tem sido demonstrado que
os regimes de irrigação devem ser planejados não apenas com a finalidade de aperfeiçoar o
crescimento das plantas, mas também de otimizar a comunjd ade de invertebrados do solo
e s ua atividade (Fraser et al., 2012). Os autores demonstraram que os regimes de irrigação
utilizados com a finalidade de suprir as necessidades h ídricas da p lanta podem não er
suficientes para sustentar conteúdos de agua no solo reque rid os para ótima atividade
da fauna edáfica na estação seca. Nematodes, Acari e Collembola também respondem
positivamente à irrigação utilizada para reduzir o défice hídrico do solo (Lindbe rg e
Bengtsson, 2005).
A fertirrigação, método de irrigação muito eficiente (Silva et ai., 2006), que combina
os fatores essenciais de crescimento e desenvolvimento das plantas, inserida no contexto
da agricultura sustentável, é o sistema mais racional de aplicação de fe rtilizantes e agrega
vantagens como:
a) Melhoria da eficiência e uniformidade de aplicação de adubo.
b) Maior aproveitamento do sistema de irrigação.
c) Menor compactação do solo com a diminwção de máquinas dentro da área.
d) Redução de contaminação do meio ambiente com o aproveitamento dos nutrien tes
móveis no solo, quando aplicados via irrigação localizada.
Além dos benefícios práticos, Ramos et al. (2010) observaram doses especificas de
adubação nitrogenada, que contribuiu com o aumento do C da biomassa microbiana,
que, possivelmente, ao suprir N para a cultura, promoveu maior desenvolvi mento de
biomassa vegetal (aéreo e radicular) e, consequentemente, maior liberação de exsudados,
possibilitando maior desenvolvimento microbiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo do solo influencia a quantidade e qualidade da matéria orgânica do solo


a qual tem estreita relação com a maioria dos atributos físicos, químicos e biológicos,
refletindo diretamente na produtividade das culturas e na manutenção da qualidade
ambiental.
Os atributos biológicos do solo são mais sensíveis às alterações naturais e antrópicas
e por isso são considerados bons indicadores de qualidade do solo. Os mais utilizados
são res piração basal, biomassa microbiana, atividade enzimática, diversidade catabõlica,
mineralização do nih·ogênio, e em menor escala, métodos moleculare-.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


306 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

O i t m a c n rvacionista d e m anejo que utili zam coberlura do solo, com menor


r 'olv imento d o oi e iJ,tegraçã o d e culturas, contribuem com o aume nto da maté ria
orgânka, biamas a, atividade e diversidade dos organismos, contribuindo para melhoria
da qualid ade e produtividade dos solos.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho acional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),


à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo suporte financeiro.

LITERATURA CITADA

Anderson JM, lngram JSI (Eds.) Tropical soil biology and fertility: a handbook of methods.CAB
lntemational, Wallingford, UK, 1989.
Anderson TH, Martens R. DNA determinations during growth of soil microbial biomasses. Soil Biol
Biochem. 2013;57:487-95.
Anderson JPE, Domsch KH. The metabolic quotient (qCO2) as a specific activity parameter to assess
the effects of environmental conditions, such as pH, on the microbial biomass of forest soils. Soil
Biol Biochem. 1993;25:393-5.
Aquino AM, Silva RF, Mercante FM, Correia MEF, Guimarães F, Lavelle P. Invertebrate soil
macrofauna under different ground cover plants in the no-till system in the Cerrado. Eur J Soil
Biol. 2008;44.:191-7.
Aquino AM. Fauna do solo e sua inserção na regulação funcional do agroecossistema. ln: Aquino
AM, Assis RL, editores. Processos biológicos no sistema solo-planta: ferramentas para uma
agricultura sustentável. Brasília: Embrapa/lnformação Tecnológica; 2005. p.47-75.
Araujo FF, Henning AA, Hungria M. Phytohormones and antibiotics produced by Bacillus subtilis
and their effects on seed pathogenic fungi and on soybean root development. World J Microbiol
Biotechnol. 2005;21:1639-45.
Araujo FF, Guaberto LM, Silva IF. Bioprospecção de rizobactérias promotoras de crescimento em
Brachiaria brizantha. R Bras Zootec. 2012;41:521-7.
Attw ood SJ, Maron M, House APN, Zammit C. Do arthropod assemblages display globally
consistent responses to intensified agricultura] land use and management? Global Eco! Biogeogr.
2008;17:585-99.
Babujia LC, Hungria M, Franchini JC, Brookes PC. Micro~ial biomass and a~tivity at various soil
depths in a Brazilian oxisol after two decades of no-tillage and convenhonal tillage. Soil Biai
Biachem. 2010;42:2174-81.
Balota EL, Colozzi-Filho A, Andrade OS, Hungria M. Biomassa microbiana e sua atividade em solos
sob diferentes sistemas de preparo e sucessão de cultura. R Bras Ci Solo. 1998;22:641-9.
Barros E, eves A, Blanchart E, Fernandes ECM, WandeUi E, Lavelle P. Development of the soil
macrofauna corrununity under silvopastoral and agrosilvicultural systems in Amazonia.
Pedobiologia. 2003;47:273-80.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER- RELAÇÃO ENTRE o MANEJO E ATRIBUTOS BI OLÓGICOS DO SOLO 307

Bartz MLC, Brown GG, Pasini /\, Pernand s JO, C urmi P, Dorioz J, Rali h R. Earthworm communitie
in orga nic and conve ntional coffec cultivation. Pesq Agrop e Bras . 2009;44:928-3 •
Baretta D, Santos JCP,Segat JC, Geremia EV, O livei ra Filho LCf, A lv NfV. Fauna ed fica e qua lidad
d o solo. Tópicos Ci Solo. 2011 ;7: 119-70.
Bastida F, Zsolnay A, Hernández T, Carda C. Past, pres nt and futu re of soil quality indic ·:
biological perspective. Geoderma. 2008;147:159-71.
Bauhus J, Paré D, Côté L. Effects of tree species, s tand age and soil type on oi! microbi 1 bi mas
a nd its activity in a Southern Borea l fo res t. Soil Biai Biochem . 1998;30:1077-89.
Berkelmans R, Ferris H, Tenuta M, van Bruggen AH C. Effec ts on long-term crop mana ement
on nematode trophic leveis other than plant feeders disappear after 1 year of i ruptive oiJ
management. Appl Soil Ecol. 2003;23:223-35.
Bettiol W, Ghini R, Galvão JAH, Ligo MA V, Mi n eiro JLC. Soil organisms in organic and conventionaJ
cropping systems. Sei Agric. 2002;59:565-72.
BigneU D, Tondoh J, Dibog L, Huang SP, Moreira F, Nwaga D, Pa han i B, Pereira EG, Su íl F-X, Swift
M. Belowground biodiversity assessment: developing a key functional group approach in best-
bet alternatives to Slash and Burn. ln: Palm C, Vosti S, Sanchez P, Ericksen P, edítors. Slash and
Burn: the search for alternatives. New York: Columbia Univers ity Press; 2005. p.119-42.
Birkhofer K, Bezemer TM, Bloem J, Bon.kowski M, Christensen S, Dubois D, Ekelund F, Flief.sbach A,
Gunst L, Hedlund K, Mader P, Mikola J, Robin C, Setalã H, Tatin-Froux F, van der Putten \VH,
Scheu S. Long-term organic farming fosters below and aboveground bíota: implications for oil
quality, biological contrai and productivity. Soil Biol Biochem. 2008;40:2297-30 .
Briar SS, Grewal PS, Somasekhar N, Stinner D, Miller SA. Soil nematode community, organic matter,
microbial biomass and nitrogen dynamics in field plots transitioning from conventional to
organic management. Appl Soil Eco!. 2007;37:256-66.
Brown GG, Dorrúnguez J. Uso das minhocas como bioindicadoras ambientais: princípio e prática .
Acta Zoológica Mexicana; 2010, 2:1-18.
Bulluck LR, Brosius MG, Evanylo K, Ristaino JB. Organic and synthetic fertility am ndm nts
influence soil microbial, physical and chemical properties on organic and con entional farm .
Appl Soil Eco!. 2002;19:147-60.
Campos DC. Potencialidade do sistema de colheita sem queim a da cana-de-açúcar para o equ tro
d e carbono [tese]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura " Luiz de Queiroz", Uni r idad
de São Paulo; 2003.
Capelle CV, Schrader S, Brunotte J. Tillage-induced changes in the functiona1 clive i of oil biata
e a review with a focus on German data. Eur J Soil Biol. 2012;50:165-81.
Cardenas E, Tiedje JM. New toais for discovering an d characterizing micr bial dí er ·ty. C ur Op
Biotec. 2008;19:544-9.
Cares JE, Huang SP. Nematóides do solo. ln: Moreira FMS, Huinsing EJ, Bígn 11 D, editor . r { nuaJ
de biologia dos solos tropicais. Lavras: Universidade Federal de Lavra ; 2010. p.151 -
Carvalho PCF, Anghinoni I, Moraes A, Souza ED, Sulc R.M, Lang CR, Flores JPC, Lop (LT, ilva
JLS, Conte O, Wes p CL, Levien R, FontaneH RS, Bayer C. r [anaging grazing animals t achie e
nutrient cycling and soil improvement in no-til! integrated tems. utr C c1 eco t.
2010;88:259-73. -
Chapman SJ, CampbeU CD, Artz RRE. Assessi.ng CLPPs using fi ro Re -p Tul. A. comparison .., ith
biolog and multi-Sffi. J Soils Sed. 2007;7:406-10.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


308 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

Cham el A, Grimaldi M, Barros E, Blanchart E, Desjardins MT, Sarrazin M, Lavelle P. Pasture damage
by an Amazonian earthworm. Nature. 1999;398:32-3.
Chan_KY .. A~ overview of some tillage impacts on earthworms populalion abundance and diversity
rmphcations for functioning soils. Soil Till Res. 2001;57:179-91.
Coleman D, Fu SL, Hendrix P, Crossley Jr D. Soil foodwebs in agroecosystems: impacts of herbivory
and tillage management. Eur J Soil Biol. 2002;38:21-8.
Cord~iro FC, Dias FC, Merlim AO, Correia MEF, Aquino AM, Brown G. Diversidade da macrofauna
mvertebrada do solo como indicadora da qualidade do solo em sistema de manejo orgânico de
produção. R Univ Rur Sér CiVida. 2004;24:29-34.
Correia MEF, Oli\ eira LCM. Importância da fauna de solo para a ciclagem de nutrientes. ln: Aquino
AM, Assis RL, editores. Processos biológicos no sistema solo-planta: ferramentas para um
agricultura sustentável. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; 2005. p .77-99.
Cox C Herbicide factsheet: glyphosate (roundup). Part 1-2. J Pestic Reform. 108:2000. [Acessado
em 07 fev . 2013] Disponível em: http:/ /www.mindfully.org/Pesticide/Roundup-G1yphosate-
Factsheet-Cox2.htm/ ..
Cruz JC, Alvarenga RC, Novotny EH, Pereira Filho EA, Santana DP, Pereira FTF, Hernani LC. Manejo
de solos: sistema plantio direto. Sete Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo; 2006. [Acessado em:
20 nov. 2012] Disponível em: http:/ /sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/
Milho/ CultivodoMilho_2ed/man direto.htm..
Cunha EQ Stone LF, Ferreira PB, Didonet AG, Moreira AA, Leandro WM. Sistemas de preparo do
solo e culturas de cobertura na produção orgânica de feijão e milho. R Bras Ci Solo. 2011;35:603-11.
Daniel R. Toe Metagenomics of soil. Nature 2005; 3;471478.
D'andrea AFD, Silva MLN, Curi N, Siqueira JO, Carneiro MAC. Atributos biológicos indicadores
da qualidade do solo em sistemas de manejo na região do cerrado no sul do estado de Goiás. R
Bras Ci Solo. 2002;26:913-23.
Decaens T, Jimenez JJ, Rangel AF, Cepeda A, Moreno AG, Lavelle P. La macrofauna del suelo en
la savana bien drenada de los Llnos Orientales. ln: Rippstein G, Escobar G, Motta F, editores.
Agroecologia y biodiversidade de las Savanas em los Llnos Orientales de Colombia. Cali: Centro
Internacional de Agricultura Tropical, 2001. p.111-37. (Publicacion CIAT, 322).
De Long EF. Microbial community genomics in the ocean. Nat Rev Microb. 2005;3:459-69.
De-Polli H, Guerra JGM. Determinação do carbono da biomassa microbiana do solo: método de
fumigação-extração. Seropédica: Embrapa-CNPAB; 1997.
De-Polli H, Pimentel MS. Indicadores de qualidade do solo. ln: Aquino AM, Assis RL, editors.
Processos biológicos no sistema solo-planta: ferramentas para uma agricultura sustentável.
Brasília: Embrapa-SCT; 2005.
Dilly o, Blume HP, Munch JC. Soil microbial activities in Luvisols and Anthrosols during 9 years
of region-typical tillage and fertilisation practices in Northem Germany. Biogeochernistry,
2003;65:319-39.
Dominguez A, Bedano JC, B~cker AR. Negati~e effects of no-til! on s~il ~acrofauna and litter
decomposition in Argentina as compared w1th natural grasslands. Soil T1ll Res. 2010;110:51-9.
Donovan SE, Eggleton P, Bignell DE. Gut content analysis anda new feeding group classification of
termites (Jsoptera). Eco) Entornai. 2001;26:356-66.
Doran JW, Parkin TB. Defining and _assessing soil_quality. 1~: Doran JW, Coleman DC, Bezdicek DF,
Stewart BA. Defining soil quahty for a sustamable envuonment. Madison : Soil Science Society
of America; 1994. p.3-21 .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - lNTER - RELAÇ.Í\O ENTRE O MAN EJO E ATRTBUTOS BIOLÓ GICOS DO SOLO 309

Doran JW, Parkin Til Qu,rntitative indicato rs of c;oi l qua lity: A minimum dat,1 e; t. ln. Do ra n JW,
Jones AJ, ccl ito rs. Mcthocls fo r asscssing soil qua li ty. Mad 1son: Soil Sei nce Soei ty o f Ame rica;
1996. p .25-47.
Driver JD, H o lben WE, Rillig MC. Characteriza tio n of gloma lin a a hy pha l wa ll co mpo nc nt o f
arbu scula r mycorrhi zal fungí. Soil Bio l 13ioc hem . 2005;37:l 01 -n.
Elliott ET. Defining a nd assessing soíls hea lth and s us tainable producti vity. ln: Pa nkhurs t G E, D ub
BM, G upta VVSR, G race PR, edi to rs. Soi l biota: managemcnt in c;u s tainable farmm g sy tem ·.
Melbourne: CSIRO; 1994. p .250-6.
Elle rt BH, G regorich EG. Storage of ca rbon, nitrogen anel phos phorus in culti vated and ad ja cen t
fo rested soils of Ontarío. Soil Sei . 1996;161 :587-604.
Figueiredo MVB, Seldín L, Araujo FF, Mariano RLR. Plant growth promoting rhizobacte ria:
fundamentais anel applications ln: Mahes h wa ri DK, editor. Pl ant growth and health promo tíng
bacteria . Be rlin: Springer-Verlag; 2010. p .45-68.
Fragoso C, Brown GG, Patron JC, Blanchart E, La velle P, Pashanas i B, Senapat1 B, Kumar T.
Agricultura! intens ifica tion, soil biodivers ity a nd agro-ecosystem function in the tro pic · thc
role of earthworms . App l Soil Ecol. 1997;6:17-35.
Fraser PM, Schon L, Piercy JE. Lnfluence of s ummer irrig ation on oiJ invertebrate populations in a
long-te rm s heep irrigation triai a t Winchmore (Canterbury) . ew Zeal J Agr Res. 2012;.55:165 . O.
Franco ALC. Soil engineering by macroinve rtebrates: contrais o n soil o rganic matter s torage
across land use change [tese] Piracicaba: Escola Supe rio r de Agricultura " Luiz de Queiroz",
Universidade de São Paulo; 2015.
Frey SD, Elliott ET, Paus tian K. Bacterial anel fungal abunelance anel biomass in con ventional and
no-tillage agroecosystems along two climatic g raelients. Soil Bio l Biachem. 1999;31 :573-85.
Fu S, Coleman DC, Schartz R, Potter R, He nelrix PF, Crossley Junior DA. 1'C distribution in so il
organisms anel respiration after the elecomposition of crop resielue in conventional tillage and
no-till agroecosystems a t Georfia Piedimont. Soil Till Res. 2000;57:31-11 .
Giller KE, Beare MH, Lavelle P, Izac A-MN, Swift MJ. Agricultural intensification, oil biadi e ity
anel agrnecosys tem function. Appl Soil Ecol. 1997;6:131-46.
Gragg RG, Bardge tt T. How changes in soil fauna! eliversity anel composition wi thi n a trophic group
in.fluence d ecomposition process. Soil Biol Biachem. 2001;33:2073-81.
Graharn MH, Haynes RJ. Organic matter s tatus and the size, activity and m etabolic diver itv o f
the soil microbial communi ty in the row a nd inter-row of s ugarc; ne unele r b u rning and ~a h
rete ntion. Soil Biol Biachem. 2006;38:21-31.
Gregorich EG, Carter MR, Doran JW, Pankhurs t CE, Ü"vvyer LM. Biological attribute · of soiJ quality.
ln: Gregorich EG, Carter MR, editors. Soil quali ty for crop production and agricultura! health.
ew York: Elsevier; 1997. p.81-113.

H e X, Ou HY, Yu Q Zhou X, Wu J, Liang J, e t ai. Analysis of a genomic island hou ing gene fo r
D A S-modification system in Streptomyces lividans 66 a nd its counterpa rts in o ther distantly
re la ted bacteria. Mol. tvlicrobiol. 2007;65: 1034-10-IB.

H e is ler C, Kaiser EA. lnfluence of agricultura! traffic and crop management o n Collembola and
microbial biomass in arable soil. Bio l Fe rt Soil. 1995;19:159-65.
Holben WE, Tiedje JM. Tracing tiny o rganis ms . Ecology. 198 ;69: 561- .
H opkin SP, Read HJ . 1l1e biology of millipedes. ew York: Oxford Unive rsi ty Pre · ; 1992.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


310 BRIGITTE JOSEFINI f EIGL ET AL

Hungria M, Franchini JC, Brandão-Junior O, Kaschuk G, Souza RA. Soil microbial activity a nd crop
u tainability in a long-term experiment wi th thr -e oil-ti lJage and two crop-rotation systems.
ppl il Eco\. 200 ;42:2 -96.
llieva-Makulec K, Olejn.iczak J, Szan er M . Response of soil micro- and m esofauna to d ivers ity and
quality of plant litter Eur JSoil Biol. 2006;42:244-9.
lngram LJ, Stahl PD, Schuman GE, Buyer JS, Vance GF, Ganjegunte GK, Welker JM, Demer JD.
Grazing impacts on soil carbon and microbial commun.ities in a mixed-grass ecosystem. Soil Sei
Soe Am J. 200 ;72:939-48.
lnsam H, Mitchell CC, Dormaar JF. Relationship of soil microbial biomass and activity with
fertilisation practice and crop yield of three Ultisols. Soil Biol Biachem. 1991;23:459-64.
Jangid K,' illiams MA, Franzluebbers AJ, Sanderlin JS, Reeves JH, Jenkins MB, Endale DM, Coleman
DC, \i\Th.itmanWB. Relative impacts of land-use, management intensity and fertilization upon
soil microbial community structure in agricultura! systems. Soil Biol Biochem. 2008;40:2843-53.
Joergensen RG, Brookes PC, Jenkinson DS. Survival of the soil microbial biomass at elevated
ternperatures. Soil Biol Biochem. 1990;22:1129-36.
Kaschuk G, Alberton O, Hungria M. Quantifying effects of different agricultura! land uses on soil
microbial biomass and activity in Brazilian biornes: Inferences to improve soil quality. Plant
Soil 2011;338:467-81.
Larsen T, Schjonning P, Axelsen J. The impact of soil compaction on euedaph.ic Collembola. Appl
Soil Ecol. 2004;26:273-81.
Larson WE, Pierce FJ. The dynamics of soil quality as a measure of sustainable management.
In: Doran JW, Coleman DC, Bezdicek DF, Stewart BA, editors. Defining soil quality for the
sustainable environment. Madison: Soil Science Society of America; 1994. p.37-51.
Lavelle P, Bignell D, Lepage M, Wolters V, Roger P, Ineson P, Heal OW, Dhillion S. Soil function
in a changing world: the role of invertebrate ecosystem engineers. Eur JS. Biol. 1997;33:159-93.
Lavelle P, 5pain AV. Soil ecology. Dordrecht Kluwer Academic; 2001.
Lavelle P, Decaens T, Aubert M, Barot 5, Blouin M, Bureau F, Margerie P, Mora P, Rossi JP. Soil
invertebrates and ecosystem services. Eur J Biol. 2006;42:53-515.
Leirós MC, Trasar-Cepeda C, Seoane 5, Gilsotres F. Biochemical properties of acid soils under clímax
vegetation (Atlantic oakwood) in an area of Europe. Soil Biol Biachem. 2000;32:733-45.
Lima HV, Oliveira TS, Oliveira MM, Mendonça ES, Lima PJBF. Indicadores de qualidade do
solo em sistemas de cultivo orgânico e convencional no semi-árido cearense. R Bras Ci Solo.
2007;31:1085-98.
Lindberg N, Bengtsson J. Population responses of oribatid mites and collembolans after drought.
Appl Soil Ecol. 2005;28:163-74.
Lino de Abreu RR, Lima 55, Oliveira NCR, Leite LFC. Fauna edáfica sob diferentes níveis de palhada
em cultivo de cana-de-açúcar. Pesq Agropec Trop. 2014;44:409-16.
Lupwayi NZ, Clayton GW, O' donovan JT, Harker KN, Turkington TK, Rice W A. Soil microbiological
properties during decomposition of crop residues under conventional and zero tillage. Can J
Soil Sei. 2004;84:411-9.
Macedo MCM. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. R Bras
Zootec. 2009;38:133-46.
Mantovarú EC, Zinato CE, Simão PR. Manejo de irrigação e fertirrigação na cultura da goiabeira.
2003. [Acessado em 26 dez. 2012] Disponível em: http://www.nutricaodeplantas.agr.br/site/
ensino/ pos/ Palestras_William/Livrogoiaba_pdf/ 8_irrigacao. pdf. .
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
X - INT ER- RE LAÇÃO ENTRE O MANEJ O E ATRIBUTOS B IOLÓGICOS DO SOLO 311

Marchão RL. lntegrnção lélvoura-pecuá ria nu m Latosc;o lo do Cerrado: impacto na fí.; ic,1, ma té ri a
o rgâ nica e macrofa una [tese ]. Coiâ nin: Universidad e Federal de GoiJs; 2007.
Ma rcos, Z. Z. Estrutura, agregação e água do solo [tese 1. Piracica ba: Escola Supe rior de Agricul tura
Luiz de Que iroz; 1968.1968. SSp. Tese (Dou torc1do) - Esco la Supe rio r de Agricul tura Lui z de
Que iroz, Piracicaba.
Melero S, Po rras JCR, He rencia JF, Madejon E. Chemica l a nd biochc mical propertiec; in r1 . ilty lo<.1m
soil under conventiona l and organic ma nagement. Soil Til! Res. 2006;90:162-70.
Melo FV, Brown CG, Cons tantino R, Lou zad a JNC, Luizão FJ, Morais JW, Zanc tti R. A imporLlncia
da m esa e macrofauna d o solo na fertilidade e como biondicadores. B Inf S e Br,1 Ci Solo.
2009;34: 38-43,.
Menezes LAS, Leandro WM. Avaliação de espécies de cobertu ras do solo co m po tencial de uso em
sistema de plantio direto . Pesq Agropec Trop. 2004;34:173-80.
Michereff SJ, Andrade DEGT, Menezes M. Ecologia e ma nejo de patógenos radiculares em solos
tropicais. Recife: Univers idade Fed eral Rura l d e Perna mbuco; 2005.
Mielniczuk J. Matéria orgânica e sustentabilidade de sistemas agrícolas. [n: Santos CA, Silva U:,
Canellas LP, Camargo FAO, editores. Fundamentos da m atéria o rgànica d o olo: ecos istema
tropicais e subtropicais. 2ª .ed. Porto Alegre: Metró pole; 2008. p.1-5.
Miura F, Nakamoto T, Kaneda S, Okano S, Nakajima M, Murakami T. Oynamics of soil biotc1 at
different depths under two contrasting tillage practices. So il Biai Biachem. 200 ;40:-lüfrl-t
Moreira FS, Siqueira JO. Microbiologia e bioquímica do solo. Lavras: Univer idade Federal de
Lavras; 2006.
Nakamoto T, Tsukamoto M. Abundance and activity of soil organ isms in fields of maize grown w1 th
a white clover líving mulch. Agric Ecosyst Environ. 2006;115:34-!2.
Nannipieri P, Ascher M, Ceccherini T, Landi L, Pietramellara G, Renella G. Microbial d i ersity a nd
soil functions. Eur J Soil Sei. 2003;54:655-70.
NATURE EDUCATION. [Acessado em 20 nov. 2012] Disponivel e m: http:/ / www.na ture.com /
scitable/ knowledge/ Iibrary / the-soil-biota-84078125.
Oliveira OC, Oliveira IP, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey Ri\1. Che m ical a nd biological indicators
of decline/ degradation of Brachiaria pastures in the Brazilian Cerra d o . •-\ gric Ecosy t Environ.
2004;103:289-300.
Odum EP. Trends expected in s tressed ecosystems. BioScience. 19 5;35:-119-22.
Osler CHR, Sommerkorn M. Toward a comple te soil C and N cycle: incorpo ra ting the soil fau na.
Ecology. 2007;88:1611-21.
Parisi V, Menta C, Cardi C, Jacomini C, Mozzanica C. Microarthropod communities as a too! to a -ess
soilquality and biodivers ity: a new approach in Italy. Agric Ecosyst Environ. 2005;105:322-33.
Powlson OS, Jenkinson OS. A comparison of the organic matter, bio m ass, ad enosine triphospha te and
mineralizable nítrogen contents of ploughed and direct-drilled soils. J .-\gric Sei. 19 1;97:713-21 .
Purin S, Rilling MC. The arbuscular mycorrhizal fungai prote in glo m a lina: limitation , progress, a nd
a ne w hypothesis for its function. Pedobiologia. 2007;51 :123-30.
Ra mos MLG, Carvalho JG, Ribeiro Junior WQ, Fe rraz DNIM, Carvalho A1 1, Amá bile RF . Efeito
d e d oses de nitrogênio via fertirrigação na dinâ mica microbiana, e m a lo cu lti ado com trigo.
Biasei J. 2010;26:376-83.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


312 BRIGITTE ]OSEFINI fEIGL ET AL

Rese nd e M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. Viçosa,
MG: NEPUT; 2002.
Romaniuk R, Giuffr L, Constantini A, Nannipieri P. Assessment of soil microbial diversity
measurements as indicators of soil functioning in organic and conventional horticulture
s stems. Ecol lndic. 2011;11:1345-53.
Ru c;;elle MP, Entz MH:, Franzluebbers AJ. Reconsidering integrated crop-livestock systems in North
America. Agron J. 2007;99:325-34.
Salton JC, Mercante FM, Tomazi M, Zanatta JA, Concenco G, Silva WM, Retore M. lntegrated crop-
Uvestock system in tropical Brazil: Toward a sustainable production system. Agric Ecosyst
Environ. 2014;190:70-9.
Santos VB, Castilhos DD, Castilhos RMV, Pauletto EA, Gomes AS, Silva DG. Biomassa, atividade
microbiana e teores de carbono e nitrogênio totais de um planossolo sob diferentes sistemas de
manejo. R Bras Agroci. 2004;10:333-8.
Santos GG, Silveira PM, Marchão RL, Becquer T, Balbino LC. Macrofauna edáfica associada a plantas
de coberhrra em plantio direto em um Latossolo Vermelho do Cerrado. Pesq Agropec Bras.
2008;43:115-22.
Sarathchandra SU, Ghani A, Yeates GW, Burch G, Cox NR. Effect of nitrogen and phosphate fertilizers
on microbial and nematode diversity in pasture soils. Soil Biai Biochem. 2001;33:953-64.
Schlesinger WH. Carbon sequestration in soils. Science. 1999;284:2095.
Schimel DS, Braswell BH, Holland EA, Mckeown R, Ojima DS, Painter TH. Clirnatic, edaph.ic,
and biotic controls over storage and turnover of carbon in soils. Global Biogeochem Cycles.
1994;8:279-93.
Silva MB, Kliemann HJ, Silveira PM, Lanna AC. Atributos biológicos do solo sob influência da
cobertura vegetal e sistema de manejo. Pesq Agropec Bras. 2007;42:1755-61.
Silva RF, Mercante FM, Aquino AM. Macrofauna do solo associada ao plantio direto. Dourados:
Embrapa Agropecuária Oeste; 2002.
Silva RF, Aquino AM, Mercante FM, Guimarães MF. Macrofauna invertebrada do solo sob diferentes
sistemas de produção em Latossolo da Região de Cerrado. Pesq Agropec Bras. 2006;41:697-704.
Six J, Paustian K, Elliot ET, Combrink C. Soil structure and organic matter: Distribution of aggregate
size classes and aggregate associated carbon. Soil Sei Soe Am J. 2000;64:681-9.
Souza CS, Menezes RSC, Sampaio EVSB, Lima FS. Influências da temperatura de armazenamento e
de extratores na determinação de glomalina em solos Paraibanos. R Ci Agron. 2011;42:837-41.
Souza LM, Castilhos DD, Morselli TBGA, Castilhos RMV. Influência da aplicação de diferentes
verrnicompostos na biomassa microbiana do solo após cultivo de alface. R Bras Agroc.
2006;12:429-34.
Souza ZM, Prado RM, Paixão ACS, Cesarin LG. Sistemas de colheita e manejo da palhada de cana-
de-açúcar. Pesq Agropec Bras. 2005;40:271-8.
Stenberg B. Monitoríng soil quality of arable land: microbial indicators. Soil Plant Sei. 1999;49:1-24.
Swift MJ, Heal OW, Anderson JM. Decomposition in terrestrial ecosystems. Oxford: Blackwell; 1979.
Tabatabai MA. Soil enzymes. In: Page AL, Miller RH, Keeney DR, editors. Methods of soil analysis.
2nd.ed. Madison: America Society of Agronomy; 1982.
Tótola MR, Chaer GM. Microrganismos e processos microbiológicos como indicadores de qualidade
dos solos. Tópicos Ci. Solo. 2002;2:195-276.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


X - INTER-RELAÇÃO ENTRE O MANEJO E ATRIBUTOS BIO LÓGICOS DO SOLO 313

Treseder KK, Turner KM. Glomalín in ecosystems. Soil Sei Soe Am J. 2007;71 :1257-6 •
TschamtkeT, Klein AM, Kruess A,Steffan-Dewenter r,ThiesC. Landscape perspectivesonagricultural
intensification and biodiversity ecosystem service management. Ecol Let. 2005;8:857-7 .
van Straalen NM. Evaluation of bioindicator systems derived from so il arthropod communities.
Appl Soil Ecol. 1998;9:429-37.
Vassilev N, Vassileva M, Nikolaeva [. Simultaneous P-solubi lizing and biocontro l activity of
microorganísms: potentiaJs and future trends. Appl Microbial Biotechnol. 2006;71:137-44.
Venzke Filho SP, Feigl BJ, Piccolo MC, Siqueira Neto M, Cerri CC. Biomassa m icrobiana do solo em
sistema de plantio direto na região de Campos Gerais - Tibag:í, PR. R Bras Ci Solo. 2008;32:599-
610.
Visser S. Role of the soil invertebrates in determining the composition of soil microbial commumities.
ln: Fitter R, editor. Ecologicals interactions in soil: Plants, microbes and animais. Stockholm:
British Ecological Society; 1985. p.287-317.
WaU OH, editor. Sustaining biodiversity and ecossystem services in soils and sediments, Washington:
Island Press; 2004.
Wardle DA. lmpacts of disturbance on detritus food webs in agro-ecosy terns of contrasting tiUage
and weed management pradices. Adv Ecol Res. 1995;26:105-85.
Wardle DA, Yeates GW, Bonner KI, Nicholson KS, Watson RN. lmpacts of ground vegetation
management strategies in a kiwifruit orchard on the composition and functioning of the soil
biata. Soil Biol Biachem. 2001;33:893-905.
Wemer MR. Soil quality characteristics during conversion to organic orchard management. Appl
Soil Ecol. 1997;5:151-67.
Wieland G, Neumann R, Backhaus H. Variation of microbial communities in soil, rhizosphere,
and rhizoplane in response to crop species, soil type, and crop development. Appl. Environ
Microbiol. 2001;67:5849-54.
Wright SF, Upadhyaya A. Extraction of an abundant and unusual protein from oil and comparison
with hyphal protein of arbuscular mycorrhizal fungi. Soil Sei. 1996;161:5T~6.
Yan S, Singh AN, Fu S, Liao C, Wang S, Li Y, Cui Y, Huf L. A soil fauna index for assessing soil
quality. Soil Biol Biochem. 2012;4:158-65.
Yeates GW. Nematodes as soil indicators: functional and biodiversity aspects. Biol Fe.rt Soil.
2003;37:199-210.
Yeates GW, Bongers T, Geode RGM, Freckman DW, Georgieva S.S. Feeding habitats in soil nernatode
families and genera - an outline for soil ecologists. J Nematol. 1993;25:315-31.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMAS DE MANEJO
CONSERV ACIONISTA E QUALIDADE
DE SOLOS, COM ÊNFASE NA MATÉRIA
ORGÂNICA
Cimélio Bayer11, Jeferson Dieckow11, Paulo César Conceição31 &
Júlio Cézar Franchini dos Santos41

11 Faculdade de Agronomia, Departamento de Solos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Porto Alegre, RS. E-mail: cimelio.bayer@ufrgs.br
21 Depa rtamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR.
E-mail: jefersondieckow@u fpr.br
31 Coordenação de Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Pa raná, Campus Dois Vizinhos.
Dois Vizinhos, PR. E-mail: pauJocesar@utfpr.edu.br
~, Embrapa Soja. Londrina, PR. E-mail: juLio.franchini@embrapa.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ......................................................... ......................................................... .......................... 315


TERMODINÂMICA. FUNDAMENTOS DO MANEJO CONSERVACIO !STA E QUALI DADE
DO SOLO ............................... ........................ ........ ... .................. .................................................... ............. 316
PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS ···································································································· 322
DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÀNICA NO SOLO ............................................................................ 32-l
FRACIONAMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA .... ........... ............ .............................. ....................... 331
Fracionamento tisico granulométrico ····· ······················ ·············································································
Fracionamento físico densimétrico ........................ ................................................................................. .. 33 _
TÉCNICAS ESPECTROSCÓPICAS NO ESTUDO DA MATÉRI A ORGÂNICA ............................. 333
CONS IDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. ..... 336
LIT ERATURA CITA DA ··························································································································· 337

INTRODUÇÃO

Sistemas conservacionistas de manejo visam a produção de alimentos em longo


prazo, com a preservação dos recursos naturais. O não revolvimento e o alto aporte de

Bertol I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da úgua. Viçosa, r-, IG: Sol'.iedade
Bras ileira d e Ciência do Solo; 2018.
316 CIMÉLIO BAYER ET AL.

fitomassas residuais são fundamentos do manejo conservacionista en1 regiões tropicais e


su_btropic~is fu1udas, e sua adoção permite que a intensidade dos processos o rde n ativos
seJa superior a dos processos dissipativos (ordenativos/ dissipativos > 1). Assin1, os solos
agrícolas apresentam um ganho em qualidade, com reflexos na produtividade d as culturas.
A recuperação da qualidade do solo é um processo de natureza biológica, pois todos os
processos ordenativos no solo são mediados pela microbiota, cuja atividade é decorrente
dos flu ·os de energia e matéria oriundos das h·ansformações do C fotossintetizado. A
recuperação de solos degradados, quando da adoção de sistemas conservacionistas de
manejo, passa pela formação de palhada, com reflexos em curto prazo na produtividade
das culturas. O máximo potencial produtivo, por sua vez, é decorrente do acúmulo de
matéria orgânica no solo, processo que demanda um período de tempo usualmente
superior a 10 anos. Quanto ao acúmulo de matéria orgânica, a diversificação dos sistemas
de cultura e o aporte de biomassa de maior qualidade são conceitos a serem introduzidos
tanto em 1úvel do setor produtivo como o da pesquisa científica. Os benefícios do ambiente
menos oxidativo do solo sob sistemas conservacionistas de manejo sobre a matéria
orgânica extrapolam aspectos quantitativos relacionados aos estoques de C e N no solo,
envolvendo aspectos relacionados ao acúmulo de frações lábeis da matéria orgânica, que
tem forte impacto na qualidade do solo. Conceitos mais recentes como a proteção física e
a coloidal da matéria orgânica e saturação de C no solo são importantes para o adequado
entendimento do impacto de sistemas de manejo sobre a matéria orgânica em solos com
diferentes textura e mineralogia.

TERMODINÂMICA, FUNDAMENTOS DO MANEJO


CONSERVACIONISTA E QUALIDADE DO SOLO

Termodinamicarnente, o solo é um sistema aberto. Isso significa que o solo troca


energia e matéria com o ambiente ao seu redor, onde a entrada de energia solar alimenta
processos ordenativos e dissipativos que ocorrem no solo. A relação entre ambos determina
a degradação (ordenativos/ dissipativos < 1) ou conservação/recuperação (ordenativos/
dissipativos > 1) do solo.
A intensidade dos processos dissipativos e ordenativos e, consequentemente, a
qualidade do solo são drasticamente acometidas pelas práticas de manejo. Práticas que
constituem sistemas convencionais de manejo de solo intensificam processos dissipativos
e minimizam processos ordenativos, promovendo urna intensa degradação do solo. O
revolvimento do solo pela lavração e gradagens determina que a sua superfície fique exposta
à radiação solar e, nesta condição, ocorra a máxima entrada de energia diretamente pela
sua superfície, aquecendo-o e intensificando processos dissipativos como a decomposição
microbiana da matéria orgânica e a desagregação do solo.
Aincorporação de energia solar em compostos orgânicos via processo de fotossíntese
pela planta determina uma entrada de energia e matéria no solo, intensificando os
processos ordenativos; entretanto, esse processo é mirumizado p ela adoção de prá ticas
como pousio invernal, monocultivo de espécies de baixo aporte de fitomassas residuais
e queima de fitomassa dos cereais de inverno, p_ráticas que simbolizaram o manejo dos
solos n as décadas d e 1970-1980 no sul do Brasil. A associação d e prep a ro intenso do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - S I S TEM/\ D E MANEJO (ONSERVACTONISTA E Q UALIDAD E DE · · · 3 17

so lo e o ba ixo apo rte de fitomassa resid ua l, pe la a lta freq uê ncia de pousio inve rnal,
monoc ullurél e qu eima de fítom assa r s iclu al determina m uma baixil intensidade dos
processos ordenativos e elevadél inten id él dc de processos di s ipativos (o rdenativos/
dissipativos < 1), promovendo d iminuição no níve l d e o rd m do so lo (a umento da
e ntropia) e redução da energia a rmazenélda no solo (redu ção de enta lpia). A im , com
es tas práticas de manejo, os solos ag rícolas bras il eiros ex perime nta rél m uma in ten a e
rápida degradação (Mielniczuk, 1999).
A aná lise da termodinâmica do s is tema solo permite inferir q ue o ma nejo
conservacionista do solo deve envolve r dois fundament os: o não revolvimento e o
alto aporte de fitomassas residuais, cuja adoção concom itante é essencia l pa ra que
a inte nsidade dos processos ordenativos seja s uperior à inten idade dos p rocesso
dissipativos (o rdenativos/ dissipativos > 1), fazendo com que o solo passe a ex perimentar
uma melhoria grad ua l da sua qualidade. Na figura 1, exemplifica m-se o flu xos de Cem
Argissolo sob preparo convenciona l (preparo convencional-PC, lav ração e gradagem) e
ba ixo aporte de fitomassas resid ua is (aveia/ milho - A/ M, sem a du bação nitrogenada ).
N esta s ituação, os processos ordenativos no solo são alimentad os pela incorporaçdo
a nual de 0,9 t ha·1 a no·1 de C na matéria orgânica do solo. Po r sua vez, os proces os
dissipativos ocorrem a uma intensidade equivalente a 1,4 t ha·1 d e C, demon trando que
nesse manejo, que não apresenta nenhum dos fundamentos do manejo conservacioni ta,
a intens idade dos processos dissipativos é superior a dos processos o rdenati vos (Figu ra
la) e o solo perde qualidade ao longo do tempo. A partir da adoção simultànea do
fundamentos de não revolvimento (semeadura direta-SD) e do alto aporte de fitoma as
residuais (aveia+erviJhaca /milho+caupi - A+E/M+C), a taxa dos processos dissipativos
(equivalente a 1,1 t ha· 1 ano·1 de C) passa a ser menor do que a dos processos ordena tivo
(equivalente a 1,6 t ha·1 ano·1 de C) (Figura lb), e o solo passa acumular matéria o rgà nica
e aumenta a qualidade.
Solos s ubmetidos a sistemas convencionais de manejo (ordenativo / dissipa tivo < 1)
apresentam um decréscimo no nível de ordem (Figura 2a). Por s ua vez, solos s ubmetid o
a sistemas conservacionistas de manejo (ordena ti vos/ dissipativos > 1), que contemplam
os dois fundamentos do manejo (não revolvimento e alto aporte de fitomassas residuais),
tendem a se organizar e a apresentar nível de ordem mais elevado (Figura 2a). 1 a figura
2b, verifica-se a similaridade entre a evolução dos estoques de C da matéria orgânica do
solo ao longo de 13 anos de aplicação de diferentes sistemas de manejo de solo (Bayer et
al., 2000), em relação ao comportamento teórico da organização do solo em relação aos
sistemas de manejo adotados (Figura 2a).
Cabe salientar que os sistemas de manejo q ue constam na figura _b ão os me mos
d a figura 1. Verifica-se, assim, que os s is temas de manejo, q ue determinam proces os
ordenativos menos intensos do que os processos dissipativos(PC / 1) no solo, resultam
numa d iminuição do nível de ordem no solo, caracterizado por um rápido e inten o
processo de degradação (Figuras la e 2b). Por sua vez, sistemas de manejo q ue envolvem
a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo (não revolvimento do solo e a lto
aporte de fitomassas residuais, SD A+E/M+C) determinam um balanço positi O d os
processos ordenativos em relação aos processos dissipativos (ordenativos/ dissipativos> l)
e uma elevação no nível de ordem do solo, promovendo a con ervaçào ou melhoria da
qualidade do solo (Figuras lb e 2b).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


318 CIMÉLIO BAYER ET AL.

(a) lnvemo Verão

A/ 1 PC

IJwerno Verão

co,
(b) 1
8,0
A+E/M+C 50

1,1

Figura 1. Ciclagem de Cnum Argissolo submetido a um (a) manejo com intenso revolvimento (preparo
convencional-PC, lavração e duas gradagens) e baixo aporte de fitomassas residuais (aveia/
rnilho-A/M, sem adubação nitrogenada); e a (b) manejo que contempla os fundamentos do não
revolvimento (semeadura direta-SD) e do alto aporte de fitomassas residuais (aveia+ervilhaca/
milho+caupi - A+E/M+C). Fluxos de C calculados a partir de Lovato et ai. (2004).

O conceito do solo como "sistema" significa que o solo é formado por sub-sistemas
(físico, quínúco e biológico), que interagem entre si. Isto implica que a adoção de sistemas
conservacionistas de manejo determina melhoria em indicadores químicos, físicos e
biológicos de qualidade do solo, resultando na melhoria da qualidade do solo como
um todo. Os indicadores de qualidade do solo são referidos por alguns autores como
"propriedades emergentes" (Vezzani, 2001), sugerindo que se tratam de propriedades
que O solo somente passa a apresentar quando submetido a sistemas conservacionistas de
maneJo.
Nos diferentes estados de organização do solo, que estão representados na figura 2a,
surgem as propriedades emergentes. No 1úvel de ordem alto, caracterizado pela presença
de estruturas mais complexas, que são os macroagregados, e grande quantidade de matéria
orgânica retida, as propriedades emergentes que se destacam são: resistência às erosões
hídrica e eólica, aumento da CTC e do estoque de nutrientes, adsorção e complexação de
compostos orgânicos e inorgânicos, favorecimento dos organismos do solo, promoção da

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA D E MAN EJO CONSERVACIONISTA E QUALIDADE DE .. · 319

ciclagem dos e lementos químicos, sequestro d e e, aume n to da divers idade da população


microbiana, resistência a pe rtur bações e resiliência . Es ta s propriedades emergen tes
conduzem o solo a au mentar a habilidade de produzir quantidades crescen tes de matéria
vegetal, favorecendo a retroalimentação de energia e maté ria geradora de o rdem. Ne s a
condição, o solo é capaz de cumprir s uas funções e, dessa forma, atingir qualid ade (Vezzani,
2001).

(a)
Nível de ordem alto
,,,,,, 50 A+ E/M + C

Nível de ordem baixo


.,,,,- PDA/M

Tempo
(b) 40
_._PCA/M
-O- SDA+E/M+ C
36

ç
--....
.e: 32
o
oUl
2 28
u
24

o -'----,---,,.---.----,---.----,---.---..--
0 2 4 6 8 10 12 14
Anos

Figura 2. (a) Figura teóric~ da razão entre ~s processos ordenativos e ctissipativos e a organização do
sistema solo sob os ststemas de maneio PC A/ Me SD A+E/ M+C [adaptado de ezzani (2001)
em analogia~ _Prigogine (19:6)] e sua sim~aridade com o (b) comportamento dos estoques de e
orgânico veriftcado em Arg1ssolo subtropical sob os mesmos sistemas de manejo.
Fonte: (Bay er et a i, 2000).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


320 CIMÉLIO BAYER ET AL.

Na figura ", são apresentadas as propriedades emergentes do solo nos sistemas de


manejo PC A/ Me SD A+E/ M+C, onde os ah'ibutos do solo sob vegetação natural (campo
nativo) são considerados como referência (=100). Verifica-se que com a maior entrada de
C fotossinteti zado e o menor revolvimento do solo, este avançou para niveis de ordem
mais ele, ados, e surgiram propriedades emergentes como o aumento da atividade e
biomassa microbiana, estoques de C e N na matéria orgânica e na fração particulada, N
potencialmente mineralizável, entre ouh·as (Conceição, 2002).

e. Org.

Quoc.
Met.

C>53

Ntotal

Figura 3. Propriedades emergentes de um Argissolo subtropical em manejo convencional (PC,


lavração e gradagem; baixo aporte de fitomassas residuais no sistema aveia/milho-A/M,
sem adubação nitrogenada) e manejo conservacionista que envolve os dois fundamentos
do manejo (não revolvimento - semeadura direta (SD) e alto aporte de fitomassas residuais
vegetais pelo sistema aveia+ervilhaca/milho+caupi - A+E/M+C), em comparação ao solo sob
vegetação natural (campo nativo; referência=lO0). C. org= C de compostos orgânicos, NMP= N
potencialmente mineralizável, C>53= C na matéria orgânica particulada, C-Bio;::; C na biomassa
microbiana, Ntotal;::;nitrogénio total, C-CO2 ;::;atividade microbiana, N>53;::; N na matéria
orgânica particulada e Quoc. Met.= quociente metabólico.
Fonte: Adoptad o de Conceição (2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - S I STEMA DE MAN EJO CONSERVACIONIST A E QUALIDADE DE .. · 321

Um aspecto importante nes ta d iscussão é q ual a q uantidade de biomassa vegeta l


deve ser a portada an ua lmente para mante r a q ua lidad e d o o lo . A partir do dado
apresentados na fi gura 4, pode-se inferir que a razão e ntre o processos orden tivos
e dissipativos no solo passa a ser s uperior a 1 (o rd ena ti vos/ d issipa tivos > 1) em D,
1 1
quando o aporte de biomassa é igual ou s uperior a aproximadam ente lO t ha· ano·
de matéria seca das culturas. Portanto, a ad iç5o a nu al de lO t ha·1 é ,1 quantidade de
biomassa tomada como referência para a ma nutenção d a qu a lidade de solos em D.
Por sua vez, emsolos sob PC, a quantidad e a nua l de biomassa vegeta l a ser adicionada,
visando manter a qualidade do solo,passa a se r s u perior a 17 t ha· 1, e a fa lta de opçõe
de sistemas de cu lturas, que permitam aporta r anualmente essa quantidade de biomas~a
vegetal, implica que a agricultura conve nci onal, com base e m i te mas com intenso
revolvimento do solo, seja inviável, técnica e ambien ta lmente, e m regiões tropicai e
subtropicais úmidas, por resultar em deg radação do solo.

Ordenativos/Dissipativos 0,6 Paustian et al (1992) Lovato (2001)


5,4°C 19,5 °C
570mm/ano 1 347 mm/ ano •
-r- 0,4 35% argila CP 31 % argila
§
>1 ~....
-o
õ
0,2
PC •
"'o 0,0
e::
u 18
o
"O
o -0,2
<1 Ili!
V
-~
~ -0,4

-0,6
3,0 9,0 17,0
1
Adição anual de biomassa (t ha. )

Figura 4. Razão entre a razão da intensidade dos processos ordena ti vos e dissipativo no solo avaliada
pela taxa de alteração anual (t ha·1 ano- 1) do estoque de C de compos tos o rgânico (CO) no o lo
em dois preparos do solo (PC=preparo convencional e SD=semeadura d ireta) e da quantidade
de C adicionado anualmente pelas culturas.
Fonte: Adaptado d e Mie lniczuk et al. (2003) .

Também, um aspecto importante é a análise comparativa entre reg1oe tropicai /


subtropicais e temperadas, que podem ser observada na figura 4. Os re ultados demons tram
que enquanto são necessárias mais de 17 t ha·1 de adição anual de biomassa vegetal
para estabelecer um balanço entre os processos ordenativos e dissipati os em s lo - sob
preparo convencional no subtrópico brasileiro, num solo da Suécia, com te. tura similar,
esse balanço é obtido com a adição de apenas 3 t ha·1 ano·1• E isso se de e basicamente ao
fato de que a energia recebida via radiação solar é aproximadamente o dobro nas regiões
tropicais/ subtropicais (400 cal cm.:i d·1) do que nas temperadas (200 cal m ·2 d·1) , e isso tem
forte implicação nas taxas dos processos de na tureza biológica.

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


322 CIMÉLIO 8AYER ET AL .

É importante res altar que es a maior energia incidente tem reflexos na maior taxa d os
pro essos de natureza biol gica, o que faz com que, ern regiões tropicais e subh·opicais, 0
balanço dos proce so ordenativos e processos dissipativos no solo som ente seja alcançado
a partir da adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo (não revolvimento
do solo e alto aporte de biomassa vegetal). Isso significa relatar que a adoção isolada de um
ou de outro fundamento do manejo não terá o resultado esperado em relação à melhoria da
qualidade do solo. Essa análise permite inferir as implicações negativas da alta frequência
de pousio invernal e da monocultura, entre outras práticas, sobre a qualidade de solos em
semeadura direta.

PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS

A produtividade das culturas em diferentes manejos responde às alterações que


ocorrem na qualidade do solo (Figura 5). Resultados de rendimento de soja de experimento
de longa duração conduzido na Embrapa-Soja (Londrina, PR) evidenciam as diferentes
fases da SD. No período inicial (3-5 anos) de adoção desse manejo conservacionista, as
alterações no solo são pouco intensas e caracterizam uma fase crítica de transição onde os
rendimentos das culturas em SD são similares ou até inferiores aos verificados no solo sob
PC. Posterior a essa fase, a SD entra numa fase de consolidação em que as alterações na
qualidade do solo já são mais expressivas e se refletem em produtividade das culturas um
pouco mais elevadas em relação ao solo em PC. A partir de aproximadamente 10 anos, a
magnitude das alterações na qualidade do solo já entra numa fase de estabilização, e a SD
entra em maturidade, fase em que a produtividade das culturas responde sensivelmente às
alterações ocorridas na qualidade do solo em SD, e passa a ser consistentemente superior à
produtividade das culturas no solo em PC.
Os períodos de tempo que caracterizam cada fase da SD são variáveis em razão
das práticas de manejo adotadas e, possivelmente, variam em função do tipo de solo e
das condições iniciais do solo (grau de degradação) quando da implantação do manejo
conservacionista, além das condições climáticas da região. Nesse sentido, merece destaque,
na figura 5, a influência do sistema de culturas adotado em relação à duração das diferentes
fases. Verifica-se que na monocultura trigo-soja a fase crítica se estende até o 5° ano após
a implantação, seguida pelas fases de consolidação (5º ao 11º ano) e de maturidade (a
partir do 11º ano). Por sua vez, a utilização de um sistema de rotação de culturas, com a
introdução de leguminosas e gramíneas de cobertura, no inverno, e de milho em rotação
com soja, no verão, resultou numa redução desses períodos. A fase crítica se estendeu
apenas até o 3º ano, e a fase de maturidade já foi atingida no 7º ano, após a implantação da
SD, representando uma antecipação de quatro anos na consolidação desse manejo. Estes
resultados indicam que a adoção de um sistema de culturas diversificado e com maior
aporte de fitomassas residuais intensifica a melhoria na qualidade do solo, e isso se reflete
na produtividade das culturas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA D E MAN EJO (ON SE RVACIO NI ST A E QUALIDA D E DE · · ·
323

2000 Maturidade
Monocultura ,,,,.. .......
* /
"'
1500
/
/
"
Consolidação I
1000 ,,,,.. "
/
fG
500 Crítica
-- ns
I
o
i.... I
I
/
/

u -500 * * / / /
p... " ...... /
........
- - -1is ' ......
-- - - --
,,,,..

o'
~ -1000
(d
'õ'
Cll
2500 ■ Rotação de culturas
dJ
- - -
'"d
dJ
'"d
(d 2000 /
/
,,,,.. -- --- ....__ ..
'"d *
'>
·,tj
/
/
*
::, 1500 '\
'B /
\
~ I • • \
1000 *
1 * * 1
soo
Consolidação \ • /
.,,, ns' \ * ns
Crítica 1 \
o
/
........

-- - ....__
/ /
_,.,,..
-SOO
ns
I
.......
--- - - - --
-1000 \ /
1'-- 2 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Anos
Figura 5. Diferença na produtividade de soja (kg ha·1) entre semeadura direta e preparo convencional
(SD-PC, em que valores + = SD > PC; e valores - = SD < PC) em diferentes fases que ocorrem
no decorrer do período de adoção da SD (crítica, consolidação, maturidade) em Latossolo
Vermelho na monocultura trigo-soja e na rotação de culturas tremoço-milho/ aveia-preta-- ja/
trigo-soja/ trigo-soja. ns e* = diferença não significativa e significa tiva em nível de 5 % (Tukey),
respectivamente. Embrapa-Soja, Londrina, PR.
Fonte: De biasi e l ai. (2013).

Em relação ao efeito da matéria orgânica (MO) e da cobertura do solo na produti idad


das culturas em solos em SD, a figura 6 é muito ilustrativa. variação do teor de matéria
orgânica de 18 g kg·1 para 35 g kg·1 determinou um incremento na produ ti idade da soja
de 12 se ha·1 (720 kg ha·1), enquanto a variação de 0,3 t ha·1 para 7,6-7,9 t ha·1 de palhada
sobre o solo em SD determinou um incremento na produtividade de 2- e ha·1 (1 3_0 kg

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


324 CIMÉLIO BAYER ET AL.

ha·1). O efeito combinado desses da i fatores totalizou 34 se ha·1 ou 2 040 kg h a- 1 d e soja.


Esses resultados refor am entendimento de que um manejo sem revolv imento, mas com
baixo aporte de biomassa vegetal, apresentará pequeno incremento do teor de MO no solo
e terá uma baixa quantidade de palhada sobre o solo e evidenciará um efeito bastante
restrito na produtividade das culturas, decorrente das alterações pouco expressivas na
qualidade do solo. Estes resultados também indicam que o processo de recuperação da
qualidade do solo começa pelo aumento na produção de palhada, o que tem impacto sobre
a produtividade no curto prazo. No entanto, para que o máximo potencial produtivo seja
atingido é necessário que o aumento de qualidade do solo relacionado ao aumento do teor
da 10 ocorra, e este é um processo que demanda um maior período de tempo (> 10 anos).

·~ 66

56
50

~ 44
ra
..e;

-
"O
~
(lj

ra
"O
32

·s:
:o
::s li
-g
""
i:l..

_...
MO (gkg·1) 18 18 35 35 Média -
Palha (t ha"1) 0,3 7,9 0,4 7,6

Figura 6. Produtividade de soja em função do teor de matéria orgânica e da cobertura de s olo em


semeadura direta, em Lucas do Rio Verde, MT, safra 2010/11.
Fonte: Adaptado de Costa et aJ. (2014).

Considerando a grande importância da MO na melhoria das condições quínúcas,


físicas e biológicas de solos agrícolas submetidos a sistemas conservacionistas de manejo,
será apresentada a seguir urna abordagem amplificada da dinânúca da fração orgânica
no solo, das técnicas de fracionamento utilizadas para um melhor entendimento dos
fatores envolvidos na estabilização da MO no solo e do uso de técnicas espectroscópicas na
avaliação da qualidade da matéria orgânica do solo.

A r A

DINAMICA DA MATERIA ORGANICA NO SOL O

A variação do estoque de C orgânico no solo (dC/ dt) depende da adição (JsA) e


da perda (JsC) anual de CO do solo, em que k 1 é o coeficiente iso-húnúco e representa a

MANEJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XI - SISTEM/\ DE MANEJO CONSERVACIONISTA E QUAUDADE DE .. · 32S

proporção do fotossintelizado (parl c1érea e raízes) adicionado ao solo, que é incorpo r_ ~


na ma té ria o rgânica do solo no prazo de um .:ino; e kl' a ta xa anua l de d~compo 1çao
microbiana do C estocado na matéria orgân ica do solo (Figura 7) . E ta dinci mica é expre S d
na seguinte equação:

(1)

1 Pre paro do ~lo j


J Sistem a de Culturas J

\ \ K.C
\
\

A \___ _. \Mos \
1Resíd uos+ Raízes\ k1

Figura 7. Balanço de entradas (~A) e das perdas de C (k 2C) são determinantes do. es toques de C n..1
matéria orgànica no solo.
Fonte: Adapta do de Bayer et ai. (2006a).

A integração desta expressão ilus tra a variação dos estoques de C no solo ao longo
dos anos de adoção de diferentes manejas, que integra as perdas de CO do solo decorrente
da oxidação microbiana (C0 e - k2 1) e o acúmulo de C adicionado pela biornas a vegetal ao
solo [~~
(1 - e·½')], em que t é o tempo (anos); CO,o estoque de C inicial no solo; e e, ba
natural dos logaritmos neperianos.

(2)
et= eºe -k1 ' +k1A
k (1 -e·k.·.,1)
2

A partir das expressões 1 e 2, pode-se inferir que, para manter ou recuperar os e toques
de C no solo, os manejes deverão implementar um elevado apor te de fitomassas re iduai
(A) e uma reduzida taxa de decomposição (k 2) de MO, de forma que haja um equilíbrio
~A=~C) ou um balanço positivo das entradas em relação às perdas de C (k1 .-\ > _C).
Basicamente, a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo resultam
normalmente no balanço positivo das entradas em relação às perdas de C, em razão do efeito
do alto aporte de fitomassas residuais, que define uma alta adição de C foto sintetiz do, e
o não revolvimento do solo em SD, que determina uma redução da ta. a de decompo ição
da MO em relação a solos sob PC. Portanto, a adoção dos dois fundamento do manejo
impacta m favoravelmente a dinâmica da MO no solo, tanto red uzindo perdas como
a umenta ndo as adições, tendo como resultado uma variação positiva dos e -toques de C n
solo (dC/dt > O).
Na figura 8 é ilustrado o impacto de dilerentes prepares (PC e D) nas taxas de
decomposição da matéria orgânica em dois solos com textura e mineralogia distintas, e no
quad ro 1, o efeito de sistemas de preparo e de culturas nos estoques de C orgânico no s lo
e no tempo médio de residência (TMR) da ma téria orgânica num Argissolo subtropi ai.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
326 CIMÉLIO BAYER ET AL.

-rc
4 SD

0-----
Argissolo Latossolo
Temperatura média anual ("C) 19,4 21,2
Precipitação (mm ano·1) 1440 1713
Teor de argila(%) 22 68
1
Fed (g kg· ) 11,8 87,6
Fe (gkg"1)
0
0,9 2,5

Figura 8. Ta>cas anuais de decomposição Os) da matéria orgânica em Latossolo e Argissolo


subtropicais, sob preparo convencional (PC) e semeadura direta (SD).
Fonte: Bayer (1996).

Quadro 1. Efeito de diferentes preparas (PC=preparo convencional e SD=semeadura direta) e de


sistemas de cultura (A/M=aveia/milho e A+E/M+C=aveia+ervilhaca/milho+caupi) sobre
os estoques e C orgânico original remanescente, C das culturas estocado no solo ao final do
período de 13 anos de adoção dos diferentes sistemas de preparo e de cultura e tempo médio de
residência da matéria orgânica (TMR) no solo, sob os diferentes manejas

Manejos corigin,J e remanescente c,uJturu e total TMR


-- t ha·1 --- ---------------------- anos
PC A/M 32,55 19,29 6,34 25,70 25
A+E/M+C 19,29 11,27 30,63 25

SD A/M 25,52 6,59 32,02 40


A+E/M+C 25,52 11,60 37,03 40
Fonte: Bayer et aL (2006a).

Em comparação ao solo em PC (k2=0,040 ano·1), a eliminação do revolvimento do solo


determinou uma redução expressiva da taxa de decomposição anual da MO no solo em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MAN EJO (ONSERVACIONISTA E QUALIDADE DE · · · 327

SD (0,025 ano- 1). Esse a mbiente menos ox id a tivo d o solo e m SD di scrimina um aume nto no
tempo médio de residência (TMR = 1 ) da MOS no solo, q ue é o te mpo q ue o C perma nece
ne le, o u seja, o tempo que transcorr~2 descle a entrada d o C fo tossintetizado no solo até .:i
su a oxidação microbiana a COi- Ver-ifica-se que a redu ção da taxa de decomposição anuill
da MOS no solo aumenta o TMR de 25 para 40 anos (Quadro 1), ou seja, a perma nência
da MOS no solo em SD é bem s uperior do que no solo em PC, e isso é mu ito importa n te
pois amplia os benefícios da ciclagem da MOS no solo. Além do efe ito benéfico da SD nn
preservação do C residual ("velho") do solo, os resultados também evidenciam o impacto
do aporte de fitomassas residuais (A+E/ M+C > A/M) no acúmulo d e C das culturas
(" novo"), proveniente de adição recente de C fotossintetizado.
Além das condições ambientais, principalmente da tempera tura, as taxas de
decomposição (k2) da MO e, em consequência, o TMR são fortemente influenciados pela
textura e mineralogia do solo. Na figura 8, verificam-se os valores de Is mais elevados
e o maior impacto da SD em reduzir o va lor de k, em relação ao PC num Argissolo da
Depressão Central do RS do que num Latossolo da r~gião do Planalto do RS, e es a vari<1ç5o
não tem relação com a temperatura média e o volume de chuvas anual nes tas regiões, mas
sim com a maior estabilização do C no La tossolo argiloso com teor mais elevad o de óxidos
de ferro do que no Argissolo de textura média e com predomínio de caulinita (Bayer, 1996).
Em razão da interação organomineral, os microrganismos podem ter alguma res trição de
acesso ao substrato orgânico pela interação com a superfície mineral através de grupos
funcionais hidrofílicos e exposição de grupos hidrofóbicos, a qual tem ca ráter aditivo às
dificuldades que os microrganismos tem de remover o composto orgânico da superfície
mineral onde está adsorvido, além da adsorção de enzimas (Christensen, 1996; Sollins e t
al., 1996). A interação organorninera1 é o principal mecanismo controlador da estabilidade
em longo prazo da MO (Kõgel - Knabner et ai., 2008), enquanto a recalcitrância e oclusão
teriam papéis mais relevantes na estabilidade em curto prazo. Em latossolos oxídicos do
Cerrado, a textura e mineralogia do solo (interação organomineral) também são reportadas
como fatores mais importantes que a estrutura do solo (ocl usão) no processo de retenção
de C (Zinn et ai., 2007).
Nas mais de quatro décadas de SD no Brasil, muito se consta tou sobre os benefíci os
ambientais e econômicos deste manejo (Casão-Junior et al., 2012). Em termos d e
acúmulo de C no solo, Bayer et ai. (2006c) estimaram que solo sob SD sequestra 0,-lS e
0,35 t ha·1 ano-1 na camada de 0-20 cm em regiões s ubtropicais e tropicais b ra s ileiras,
respectivamente. Estimativas de Bernoux et ai. (2006) para a mesma camada e regiões
são um pouco maiores: 0,68 e 0,65 t ha-1 ano-1 na subtropical e tropical, respectivamente.
Entretanto, contabilizando estoques até 1 m de profundidade, Boddey et al. (2010)
estimaram que as taxas de sequestro de Cem solos sob SD podem ser q uase 60 % maiores
do que as estimadas para a camada 0-20 cm, principalmente, no caso de sistemas de rotação
d e culturns intensivos e com a inserção de leguminosas de cobertura do solo.
O preparo do solo, por influenciar o grau d e mobilização dos agregados, de termina 0
coeficiente k2 • Jastrow (1996) definiu isso co mo a reciprocidade do tunzoz,er de agregad os
e d o tu rnover da MO. A proteção física d a MO por oclusão em agregados de solo dific ulta
a ação de microrganismos e de suas enz imas sobre o substrato orgân ico, por atuar com o
uma barreira física e diminuir a disponibilidade de O'.! para os processos m.ida ti. os
d e deco mposição (Baldock et a i., 1992; Hassink e Whitmore, 1997; Sextone et ai., 19 S;
Balesd ent e t a i., 2000b). Six et ai. (2000) utilizaram essa ideia de fll m u 'ª de a g regad os
e de MO e propuseram um modelo para explicar mecanisticamente o acúmulo de C

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


328 CIMÉLIO BAYER ET AL.

em solo b D. D acordo com este modelo, a fitomassa residu a l tanto n a SD como


n PC é incorporado inicialmente em macroagregados, na forma d e maté ria orgânica
particulad a ( OP) grosseira (> 250 ~un) . Com o tempo, a MO pa r ticul a da (MOP)
gro seira ~ d~composta para MOP fina e incorporada em microagre gados(< 250 µm)
dentro do macroagregado , num grau de proteção física maior. Com a decomposição
d a '1.OP grosseira, os macroagregados eventualmente podem ser d esestabilizados e
liberar o microagregados. Enh·etanto, com nova adição de fitomassa cultural residual,
os microagregados se unem novamente en1 macroagregados, reiniciando o " ciclo da
agregação" . o caso do solo manejado em PC, a mobilização rompe os macroagregados e
e inicia a d ecomposição acelerada da MOP grosseira, sem que esta tenha " oportunidade"
d e ser incorporada e protegida na forma de MOP fina em microagregados.
Embora haja evidência clara de a SD proporcionar acúmulo de C nos solos tropicais
e subtropicais brasileiros (Sá et al., 2001; Amado et ai., 2006; Bayer et ai., 2006c; Bernoux
et ai., 2006; Boddey et ai., 2010), em nível internacional, alguns estudos questionam 0
papel da SD en1 acumular MO e mitigar aquecimento global (Baker et al., 2007; Angers
e Eriksen-Hamel, 2008; Blanco-Canqui e Lal, 2008; Powlson et al., 2014; Vandenbygaart,
2016). a abordagem de Angers e Eriksen-Hamel (2008), os estoques de C no solo sob
SD ou PC são equivalentes, sob a argumentação que o acúmulo de Cem superfície no
solo sob SD é compensado pelo acúmulo de C na parte inferior da camada "arável"
(até 21-25 cm) do solo sob PC, em razão da simples inversão de camada e incorporação
de fitomassa residual superficial neste manejo. No entanto, trabalhos conduzidos em
condições tropicais e subtropicais indicam que o acúmulo de C na SD pode se extender
para bem além dos 21-25 cm de profundidade (Sisti et ai., 2004; Dieckow et ai., 2005b;
Boddey et al., 2010). Seguindo com os questionamentos, Vandenbygaart (2016) afuma
que a capacidade da SD em mitigar mudanças globais do clima é um mito, pois, em seu
entendimento, não está totalmente provado que a SD globalmente promove sequestro
de C no solo, e, mesmo que promovesse, este não seria quantitativamente significativo
numa mitigação das emissões globais.
lndependentemente dessa discussão, o fato é que a SD bem manejado e aliado a
sistemas de culturas de alta produção primária líquida (alto aporte de biomassa vegetal)
apresenta resultados promissores de sequestro de C no solo. O que convém, no entanto,
é o questionamento autocrítico de como a SD está sendo praticado, especialmente nas
la\ ouras brasileiras, e se a rotação de culturas e o manejo de cobertura e estrutura do solo
estão sendo efetivamente tratados conforme os princípios da agricultura conservacionista.
a maior parte das lavouras de grãos do Brasil, o desafio da conversão do PC para a SD
foi s uperado, ou está mais próximo de ser superado. Agora, nas áreas de SD, o desafio
corrente é trabalhar o sistema de culturas visando um alto aporte de palhada (A), além
da diversificação de espécies.
Embora a adição A seja o fator mais manejável nos sistemas de culturas, o coeficiente
k não pode ser negligenciado. Quanto maior o k1, melhor, e isso depende da recalcitrância
dtolecular (razão lignina/N), mas, possivelmente, em maior parte, da acessibilidade
microbiana à biomassa residual (Balesdent e Balabane, 1996; Bolinder et al., 1999). A
recalcitrãncia molecular da MOS refere-se à resistência intrínseca das moléculas orgânicas
ao a taque microbiano. Atualmente, porém, se reconhece que a recalcitrância não é o mais
importante mecanismo d e estabilização da matéria orgânica (von Lützow et al., 2006;
Marschner e t ai., 2008; Oieckow et ai., 2009; Kõgel-Knabner e Kleber, 2012) . Estruturas
d e carboidra tos, s upostamente mais "lábeis" são observadas em frações físicas (argila)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MAN EJO CONSERVACIONISTA E QUALIDADE DE · • · 329

o nde a matéria orgânica tem maior tempo de lurnover (Dick et al., 2005, Dieckow et al.,
2009). No entanto, cabe destacar que a recalci trâ ncía ainda tem sua devida import nci
nas fases iniciais de decomposição das fitomassas residuai (von Lützow et ai., 2006;
Carvalho et ai., 2009; Kõgel-Knabner e Kleber, 2012).
O k 1 de raízes é geralmente maior que o da parte aérea, possivelmente por r 1ze
estarem enterradas no solo e fisicamente protegidas em agregado e por terem maior
relação lignina/N (Bolinder et al., 1999). O k1 da parte aérea va ria entre 0,08 e 0,26 e é em
média 0,12 (Gregorich et ai., 1995; Bolinder et al., 1999). Para sistemas de cultura anuai
e subtropicais brasileiros com aveia-preta, ervilhaca, caupi e milho, Bayer et al. (200 b)
estimaram um k 1 conjunto de parte aérea e raiz de 0,15, tanto em solo em PC como em
SD. Para a cana-de-açúcar, Cerri (1986) obteve um k 1 = 0,20.
Seguindo o entendimento de que o coeficiente iso-húmico (is) de raízes é maior que
o da parte aérea, vários estudos indicam que a raiz é o principal contribuinte para formar
a MO do solo e não a parte aérea. Katterer et al. (2011) estimaram, para nove culturas
agrícolas, um k1 médio de raízes 2,3 vezes maior que o da parte aérea (0,35 vs 0,15); um
resultado coerente com o TMR 2,4 vezes maior para C-raiz que C-parte aérea da revisão
de Rasse et al. (2005). No sul do Brasil, Tahir (2015) verificou, com marcação 13 C, ue
após um ano do cultivo de ervilhaca, ervilha forrageira e trigo, em média 30 % do C de
suas raízes ainda estavam presentes no solo (0-30 cm), contra somente 5 % do C da parte
aérea, numa clara indicação da maior contribuição de raízes ao estoque de MOS.
Paradoxalmente, justamente a quantificação da adição por raízes é uma da
maiores dificuldades nos estudos de manejo de solo e matéria orgânica. Amostragen
de solo+raízes geralmente são trabalhosas e danificam as parcelas dos experimento
de manejo do solo de longa duração, as quais normalmente apresentam pequena
dimensão. Além disso, os métodos de avaliação de raízes não consideram a quantidade
de C adicionado ao solo via rizodeposição, embora Bolinder et al. (2007) proponham que
Crizodeposiçlo = Cbiomassa raízes X 0,65.

Na quantificação das raízes, o emprego da razão parte aérea-raiz ( hoot to root) é


prática, pois basta ter a biomassa da parte aérea para estimar a de raízes, mas não está
livre da enorme variabilidade que existe por trás de cada valor de razão parte aérea-
raiz. Bolinder et ai. (2007) estimaram em ambiente temperado razões parte aérea-raiz
de 7,4 para cereais de inverno; 5,6 para milho; 5,2 para soja; e 1,6 para forrageiras, com
expressivos coeficientes de variação de 50-75 %.
Com relação ao potencial de espécies leguminosas de cobertura de olo em
aumentar o estoque de MOS, é importante destacar o papel delas no acúmulo de C e
no solo, seja pelo seu efeito no aporte de biomassa vegetal ao solo pela própria produção
de fitomassa, seja pelo benefício do N fixado sirnbioticamente no aporte de e pécie
gramíneas (normalmente o milho) cultivadas em sucessão (Amado et ai., 200_; Diec ov
et al., 2005b). Recentemente, Cotruio et al. (2013) estabeleceram uma análise teóric que
relaciona a maior qualidade da fitomassa residual em uma maior eficiência no acúmulo
de C e N no solo, em comparação a fitomassas residuais com menor qualidade (menor
teor de N, por exemplo). A figura 9 ilustra a análise teórica realizada por Cotrufo et l.
(2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


330
CIMÉLIO BAYER ET AL.

se: Qualidade do resíduo


"'
"'5.
o Recalcitrante Estrutural
-o
"'
o

i
::,
-o
]
o:::

Lábil j Metabólico
o
""o-
·;;
•.
'
o
o.
E
ou
o
• • • •• • Qualidade dos subprodutos
da decomposição
-o Recalcitrante
"'
-o
"'
o
:i
"8
...
o.
.&>
::,
ti)

Lábil

Figura 9. Ilustração do impacto da maior eficiência em acumular matéria orgânica no solo a partir de
fitomassas residuais de maior qualidade.
Fonte: Adaptado de Cotnúo el al. (2013).

A maior eficiência em acumular C e N no solo para fitomassas residuais de alta


qualidade, como os provenientes de espécies leguminosas de cobertura de solo somado ao
efeito destas espécies em ampliar o aporte de biomassa vegetal ao solo, resulta em elevadas
taxas de acúmulo de C e Nem comparação a sistemas de culturas constituídos apenas
de espécies gramíneas, e isso vem sendo comprovado em inúmeras pesquisas (Dieckow
et ai., 2005b; Amado et ai., 2006; Boddey et ai., 2010; Conceição et ai., 2013), que deverão
contribuir para desmistificar o entendimento existente de que espécies leguminosas, em
razão da rápida decomposição de suas fitomassas residuais, pouco contribuem para o
acúmulo de MO no solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MAN EJO (ONSERVACIONISTA E QUALIDADE DE · · · 331

Nas condições s ubtropicais do sul do Bras il, destaca-se o cu ltivo de espécie como
a ervilhaca-comum (Vicin sativn L.), ervilhaca-peluda (Vicin vi/Iasa Roth), tremoço-azul
(Lupi1111 s nngus tífolius L.), chicharo (Lnthyrus sativ 11s L.), comichão (Lotus comirnlnt11s L),
a lém de outras. O nabo-forrageiro (Raphnnu s sativus L. va r. oleíferus Metzg.), ape ar de
não ser uma leg uminosa, possui papel de destaque na recic lagem e fornecimento de N
no outono e no inverno. Com relação às leguminosas esti vais o u de cU ma tropic.il, cabe
destacar o cultivo de caupi (Vigna unguiculnta (L.) Walp .), crota lá ri as (Crotalaria p .), guandu
(Caímrn s cajans), lab-lab (Lablab p11rpureu s (L.) Sweet) e mucu na (Mucuna pruriens).Além da
sua importância no acúmulo de MO, essas espécies são muito importantes como fo nte de
N para culturas comerciais cultivadas em s ucessão, permitindo red ução dos cu tos com a
a dubação nitrogenada.
A introdução de forrageiras e ani mais no sistema de produção, como na integração
lavoura-pecuária (ILP), também pode aumentar a adição de fito massa e o e toqu de C no
solo (Studdert et al., 1997;Salton, 2005; Jantalia et al., 2006; Tracy e Zhang, 2008; Carvalho
et al., 2010; Salton et al., 2011; Carvalho et al., 2014), pois o ani mal d inamiza o istema solo-
planta-animal-atmosfera pelos cíclos de pastejo-rebrote (Mo raes et al., 2007; Su lc eTrucy,
2007). No Cerrado sul-mato-grossense, uma rotação de nabo fo rrageiro/milho/ aveia
preta/ soja/ trigo/ soja praticamente não a lterou o estoque inicial de 41,9 t ha·1 de Cem 0-20
cm de um Latossolo argiloso após nove anos; entretanto a ILP, com pas tagem de Brachiaria
decumbens por dois anos e trigo/soja por mais dois, aumentou esse estoque para 48,0 t h,r 1
de C, a uma taxa de ~0,7 t ha- 1 ano· 1 de C (Salton et al., 2011). Ainda no Cerrado, Carvalho
et al. (2010) relataram taxa de sequestro de 1,0 t ha·1 de C na ILP. Contudo, nem sempr
ocorre aumento no estoque de C com adoção da ILP (Souza et a l., 2008; Ernst e Siri-Prieto,
2009; Salvo et ai., 2010; Franzluebbers e Stuedemann, 2013; Piva et al., 2014).
Num Latossolo Bruno de região fria no Paraná (clima Cfb), a fLP com pastagem de
azevém e lavoura de milho não alterou o estoque de C a té 1 m de produnclidade após 3,5
anos de adoção (Piva et al., 2014), e nem após nove anos (Ramalho, 2016). Tais resultados
pelo menos demonstram não haver efeito negativo da ILP e seus cíclos de pastejo sobre
estoques de C do solo (Franzluebbers e Stuedemann, 2013), sem prejuízo, portanto, para as
demais vantagens produtivas e econômicas da ILP (Macedo, 2009;Moraes et al., 201-l). l 'ão
há uma condição única de ILP com efeitos replicáveis em todos os locais. Clima (tropical
ou subtropical), tipo de rotação (plurianual, com pasto por a lguns anos seguid o de lavoura
por outros; ou anual, com pasto e lavoura no mesmo ano safra), espécie de pasto e de
cultura de grãos e outros fa tores podem interferir no potencial da ILP em alterar estoques
de C e N no solo.

FRACIONAMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA

Diversos métodos têm sido utilizados no estudo dos mecanismos de estabilização da


MO (H assink et ai., 1993, 1997, Skjemstad et ai., l993; Balesdent et ai., 2000b; Si. et al., 2002).
Entre esses, o mais difundido é o fracionamento da MO, que pode ser químico ou fisi o. O
químico é mais utilizado principalmente no estudo da composição da 10 , no que se refere
ao tipo de compostos presentes (ácidos fúlvicos, húmicos e huminas), obtidos de acordo
com a solubilidade dos compostos orgânicos em solução e, tratara. Os métod 5 físicos,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


332 CIMÉLIO BAYER ET AL.

no entanto, perrnitem estudar a relação entre a composição da MO e a s ua localização na


estrutura do olo e interação com a fração mineral (Christensen, 1992).
O fracionamento físico pode ser densimétrico ou granulométrico, ou a combinação de
am_bos. Tais 111.étodos têm sido amplamente utilizados em estudos da MOS (Cambardella e
Elhott, 1992; Beare et al., 1994; Golchin et ai., 1994b,Barrios et ai., 1996; Besnard et al., 1996;
Jastrow, 1996; Ao ama et ai., 1999; Six et ai., 1999; Puget et ai., 2000; Bayer et al., 2001; Roscoe
et al., 2001; Bayer et al., 2002b; Conceição, 2002; Freixo et ai., 2002b; Pinheiro et al., 2004,),
visando avaliar a importância das interações entre componentes orgânicos e inorgânicos
do solo no tempo de permanência da MOS (Christensen, 2001). O uso do fracionamento
físico resulta em separação de reservatórios funcionais e dinâmicos da MOS.

Fracionamento físico granulométrico


O fracionamento físico granulométrico baseia-se na separação de frações em razão
do tamanho de partículas, permitindo a separação de complexos organo-minerais (COM)-
secundários, ou a separação de COM-primários definidos pela classe de tamanho: areia,
silte e argila (Roscoe e Machado, 2002).
A fração de MO recuperada na fração tamanho areia ( > 53 µm) pelo método
granulométrico, também chamada de fração grosseira, matéria orgânica particulada (MOP)
ou carbono orgânico particulado (COP) (Cambardella e Elliott, 1992; Six et al., 1999, 2002) é
constituída principalmente por biomassas residuais em estádios iniciais de decomposição,
sendo possível a identificação de fragmentos de material vegetal (Christensen, 2000)
similar às frações leves obtidas pelo fracionamento densimétrico (Six et al., 2002). Em razão
da sua área superficial específica (ASE) reduzida e baixa densidade superficial de carga, a
fração tamanho areia apresenta pouco ou nenhum material orgânico associado a ela, tendo
menor participação na manutenção de MO como COM-primários (Baldock et al., 1992;
Christensen, 1992).
Por sua vez, as frações de tamanho silte e argila (< 53 µm) contêm material mais
humificado, sendo constituintes fundamentais dos COM-primários do solo (Christensen,
1996; Feller e Beare, 1997).

Fracionamento físico densimétrico


O fracionamento densimétrico baseia-se na diferença de densidade entre as frações
orgânica e mineral do solo (geralmente maior que 2,6 kg dm·3). Para esse fim, diversas
soluções densas têm sido utilizadas, sendo, no entanto, as mais comuns o Iodeto de Sódio
(NaI) e O politungstato de Sódio (PTS). Durante o processo de decomposição, parte da
MO associa-se fortemente a partículas minerais do solo, acumulando-se em frações de
maior densidade (Barrios et aJ., 1996), e a parte não decomposta, que constitui a fração
leve (FL), permanece no interior dos agregados (FLO) ou livre entre os agregados (FLL).
A obtenção da FLL ocorre mediante agitação branda em líquido de densidade conhecida
antes da dispersão completa dos agregados em COM-primários. A FLO é separada após
a completa dispersão do solo em suas partículas primárias (por agitação ou sonicação),
e a fração pesada (FP) corresponde ao C ligado aos COM-primários (Roscoe e Machado,
2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MANEJO (ONSERVACION [ STA E QUALIDADE DE · · · 333

O fréJcionéJmento físico cl ens im ' tríco permite a obte nção de compa rtim ntos
relacionados com a loca lização, meca nism e; de proteção e funçõ e; no solo: n prim iro
(FLL), menos decomposto (Ba ld ock ct ai., 1990, Chris tens n, 1992, Golchin et ai., 1994b;
Skjems tad et ai., 1996; Pillon, 2000; Freixo e t a i., 2002a), mas mai exposto à ação dos agentec:
oxidativos, tendo co mo único mecanis mo de proteção a recalci trância mol cu lar (So lli n et
ai., 1996); o segund o (FLO), mais decomposto, porém protegjdo em razcio da recalcitrãncic1
e da sua localização dentro de éJgregados; e o terceiro (FP), onde o três mecani mo, de
proteção estão atuantes.
A quantidade de FLL é influenciada pelo tipo de vegetação, normalmen te havendo
um acú mulo nos horizontes superficiais, pois o meca nismo de proteção atuando na FLL é
a recalci trância do material constituinte dessa fração (Sollins et a i., 1996). Portanto, a FLL
tende a ser a mais disponivel para a microbiota entre as frações d nsimétricas (Golchin et
ai., 1994a). Em sistemas dominados pela deposição s uperficia l de liteira, como florestas
e savanas densas, este acúmulo é mais acentuado que em istemas onde predomina a
d e posição de liteira subteJTânea (fitomassas residuais de raízes), como pastagens nativas
e cultivadas (Roscoe et ai., 2001). A FLL da 10 encontra-se depositada na _uperfície dos
agregados, sendo também denominada de fração interagregados.
A FLO compreende um diversificado conjunto de compostos orgànico , incluindo
fitomassas residuais de plantas, peletes fecais, pelos racliculares e e truturas fúngica.
com um tamanho reduzido e um grau de decomposição mais avançado em com paração à
FLL (Golchin et ai., 1994a; Christensen, 2000; Pillon, 2000; Chris ten en, 2001; Freixo et ai.,
2002a,). Assim como a FLL, a quantidade de FLO tende a decrescer com a profundidade,
uma vez que o teor total de C também reduz com a profundidade. A FLO é também
dita fração intra-agregados por causa da s ua localização no interior do agregado , e o
mecanismos dominantes para proteção dessas estruturas são a recalcitrãncia molecular e,
principalmente, a oclusão ou proteção física por agregados (Sollins et ai., 1996).
Finalmente, a FP é constituída, basicamente, por materiai orgânicos em avançado
estádio de decomposição, não identificáveis visua lmente, fortemente ligados à fração
mineral, constituindo os COM-primários (Chris tensen, 1992). É uma fração dominada por
compostos orgânicos de elevada recalcitrância, como remane centes de cutina e suberina,
assim como materiais resistentes s_intetizados pela microbiota durante o proces o de
decomposição (Baldock et al., 1992). E considerada a mais estável da fraçõe den imétrica. ,
sendo caracterizada por uma baixa taxa de ciclagem, pois todos os proces os de proteção
da MOS (recalcitrância química, oclusão e proteção coloidal) podem e tar envolvido na
sua estabilização no solo (Christensen, 2000).

TÉCNICAS ESPECTROSCÓPICAS NO ESTUDO DA


MATÉRIA ORGÂNICA

Apesar do volume significativo de informações quantitati a obre o efeit do manej


do solo nos estoques de matéria orgânica, informações sobre efeito e m sua qualidade ainda
são relativamente limitadas, principalmente para olo de regiões tropicais e ubtropicais.
As razões disso incluem algumas carência de método de preparo e máli e de an1 o · tras tã
complexas e heterogêneas, como são as de solo, onde, por exem pl , c nsti tuintes minerais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


334 CIMÉLIO BAYER ET AL.

podem interf rir na an lise dn matéria orgânica, como também carências ins trumentais por
causado cu t elevado d aqui ·içãoemanutençãode equipamentos analíticos. Vá rias técnkas
de envolvida originalmente na química analítica são empregadas na Ciência do Solo para
identificar e quantificar estruturas moleculares da MO, destacando-se as espectroscópicas
como a ressonância magnetica nuclear (RMN) (Knicker e Lüdemann, 1995; Kõgel-Knabner,
2000), ressonância paramagnética eletrônica (EPR) (Senesi e Steelink, 1989; Martin-Neto et
al., 1994) e fluorescência induzida por laser (FTL) (Bayer et ai., 2002a; Milori et al., 2002).
Resultado de ressonància magnética nuclear do 13C com polarização cruzada e ângulo
mágico de giro (CPMAS 13C RMN), RMN no estado sólido indicam que a distribuição
espectral da intensidade relativa do sinal de 13C em solos brasileiros segue um padrão
mais ou menos definido (Dick et ai., 2005; Oieckow et al., 2005a; 2009; Boeni et ai., 2014),
com o sinal de C-o-alquil predominando, seguido por C-alquil, C-aromártico e C-carbonil.
O interessante neste padrão é que o tipo de C mais abundante, C-o-alquil, é um associado
às estruturas moleculares potencialmente lábeis, como a de carboidratos/ polisacarídeos,
enquanto o C-aromático, potencialmente mais recalcitrante, está em proporção bem menor.
A interação entre os polisacarídeos e a superfície de óxidos de ferro e a estabilização,
por óxidos em geral, de microagregados (< 250 ~1m), que protegem fisicamente a matéria
orgânica (Balesdent et ai., 2000a; Krull et al., 2003; von Lützow et ai., 2006), são processos que
podem explicar essa predominância do C lábil o-alquil. Ao contrário do entendimento que
MO é constituída principalmente por estruturas poliméricas de natureza mais aromática
e alto peso molecular (Stevenson, 1994), espectros de RMN de amostras de solo indicam
que MO é urna mistura de estruturas derivadas de carboidratos, lipídios, peptídios e
lignina de origem vegetal ou microbiana. Isso se refere à substituição da teoria de estrutura
macromolecular da MO humificada pela teoria da estrutura supra.molecular, muito
discutida nas últimas duas décadas (Wershaw, 1999; Piccolo, 2001; Burdon, 2001;Kleber e
Johnson, 2010).
Mudanças de uso da terra como a conversão de cerrado ou campo nativo em lavoura
anual em PC, além de reduzirem o estoque de MO, alteram significativamente sua
composição original, com diminuição de C-o-alquil e C-alquil e aumento da concentração
relativa de e-aromático, C-carbonil e da razão aromático/ o-alquil (Dieckow et ai ., 2005a,
2009). Tais alterações de composição indicam que houve mineralização preferencial, mas
não completa, de constituintes como polisacarídeos (o-alguil) e lipídios (alquil), aumentando
assim a concentração relativa de estruturas mais recalcitrantes como as aromáticas, mas
não sua quantidade absoluta.
No entanto, com a substituição do PC pela SD, ocorre uma recuperação parcial da
composição original da MO, principalmente com incremento de C-o-alquil e diminuição
da concentração relativa de C-aromático (Dieckow et ai., 2005a,2009). Isso é um indicativo
que a recalcitrância não é o principal mecanismo responsável pela estabilização de C no
solo, e reforça a hipótese que a proteção física por oclusão, m ell1orada por agregados mais
estáveis, e a interação com as superfícies minerais estejam desempenhando o papel mais
relevante na estabilização de C no solo sob SD.
Radicais livres estáveis, como semiquinona, derivados possivelmente de estruturas
a romáticas (Steelink e Tollin, 1962; Riffaldi eSchnitzer, 1972), geralmente apresentam
maiores concentrações em solos manejados sob PC em relação aos manejados sob SD.
Aplicando a técnica EPR, Bayer et ai. (2002a) verificaram que a concentração de 14,0 x 1017
s pins g-1 d e radicais livres da fração ácido húmico da camada d e 0-2,5 cm de um Argissolo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - 5 I STE MI\ DE MAN EJO (ONSE RVACIONI STA E QUALIDADE DE · · · 335

Vermelho sob P reduziu em quase s i vezes no solo em 50 por nove a nos (2, >< 101-
s pins g- 1).
O grau de humificação da MO da ca mada d 0-2,5 cm de Latossolo Verm Ih do
Cerrado foi medido via FIL por Milori ct ai. (2006), os quais ncontra ram um índice de
humificação de 195><10·6 (unidades arbitrá rias) em solo sob PC e uma red ução par 12 ><
10·6, quando em SD, indicando novamente a maior recalcitrãncia da roem o lo sob PC.
Avaliando o potencial da ILP com um ou dois anos de lavour eguido por doi
ou três anos de pastagem de Brnchínrín dec111nbens em alterar quaJi tativamente a matéria
orgânica, Boeni et ai. (2014), trabaJha ndo em três experimentos d longa duração n
Cerrado, observaram que este sistema, comparado e lavoura contínua ob semeadura direta,
também awnento u a proporção de C-o-alquil, tanto do solo inteiro como das frações fisica
leve livre, leve eclusa e pesada. No solo sob pastagem perene de Brncl,inria dernmben , te
aumento foi ainda maior. Tanto na ILP como na pastagem perene, o incremen to de o-alqui1
pode ser atribuído ao respectivo incremento na adição de fitomassa de tes sistemas, aliado
a não mobilização do solo.
Enquanto mudanças de uso do solo ou de sistema de preparo alteram mais
significativamente a qualidade da MO, o mesmo não pode er afirmado com relação ao
efeitos de sistemas de culturas de grãos e m SD, que parecem exercer menor influencia _obre
a composição da MO, apesar de promover significativas al terações no toque (Skjemstad
et al., 1986; Oades et ai., 1988; Golchin et al., 1995a; Dieckow et aL, 2005a). Porém, o fato de
não se detectar alterações não significa que essas não existam; pode er uma limitação da
técnica em não possuir sensibilidade suficiente ou em sofrer interferência de outros fatore ,
como a presença de Fe3• sobre sinais de RMN.
Contudo, sistemas de culturas tendem a modificar a compo ição da MOP, numa
tendência de se aproximar da composição do tecido das plantas, mas não o uiiciente para
que isso seja perceptível na composição da matéria orgânica total do solo (Oades et ai.,
1988; Dieckow et ai., 2005a). Apesar disso, tal efeito não deve s r desprezado e merec
ser investigado com mais profundidade, no sentido de entender melhor o pap I da
composição das plantas sobre a composição da MOP e, por conseguinte, obre o acúmulo
de C nessa fração. O índice de hidrofobicidade (IH) (Spaccini et al., 2002) da parte aérea d
plantas parece exercer um controle na decomposição de fitomas as residuais e no acúmulo
de MOP; por exemplo, o maior IH da parte aérea de guandu (IH = 0,-15) parece er um
fator que explica o maior acúmulo de MOP no sistema guandu+milho, em relaçã ao
sistema aveia-preta/ milho, onde a parte aérea da aveia tem um IH de O,?? [adaptado d
Dieckow et ai. (2005a)]. O tempo de decomposição de fitoma as re iduai na uperficie
do solo também parece ter uma relação mais estreita com o IH do qu com a relação C
da fitomassa residual das espécies e demonstra a vantagem que s leguminosa tropicaí
como mucuna (IH=0,44) e guandu (IH=0,45) apresentam nes e ntido (Car lh et t.,
2009).
Na fração argila, a similaridade na composição da matéria orgânica ntre · t m
de culturas pode estar associada ao fato de essa [0 a saciada ao min rai r deriv da
principalmente de produtos microbianos (Oade et al., 19 ; Golchin et al., 1 Sa). Port nto,
a não ser que as mudanças ocorram na comunidade microbic na e nos u rr p ndent
metabólitos e mucilagens, a composição da matéria orgànica a ociada a min rai tende
a permanecer a mesma, independentemente da quantidade e qualidad d fit m
cultural residual adicionada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


336 CIM ÉLIO 8AYER ET AL .

ssim como sistema de cultura não têm influenciado a compos ição da m atéria
orgânica, a aplicação de tamb m não, de acord o com resultado de RMN (Ra ndall
~t ai., 1995; Oi kow et ai., 2005a). No entanto, Capriel (1997) aplicou es pectroscopia
mfravennelho (DRIFT) e observou um mnior índice de hidrofobicid ade (grupos C-H) no
~olo adubado com PK, em relação ao não adubado. Também, com uso de espectroscopia
1nfravermelho, Ellerbrock et ai. (1999) observaram alterações na com posição da m atéria
orgânica em razão d utili zar adubação orgânica + ad ubação mineral, de m an eira que a
intensidade da banda de C carboxílico foi maior em sistemas adubados e m re lação ao não
ad ubado, com r fl exos p o itivos na CTC do solo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A energia solar que chega à superfície te1Teste em ambientes tropicais e s ubtropicais


é de apro ' Ímadamente 400 cal cnY2 d·1, aproximadamente o dobro do que em ambientes
temperados. esses ambientes, a obtenção de uma razão positiva entre a intensidade dos
processos ordenativos e de dissipativos, que ocorrem no solo (ordenativos/ dissipativos > 1)
para que não haja degradação da qualidade do solo, demanda que dois fundamentos
do manejo sejam adotados simultaneamente: não revolvimento do solo e alto aporte de
fitomassas residuais. A implementação desses dois fw1darnentos caracteriza sistemas
conservacionistas de manejo de solo. Nesses sistemas, ocorre uma melhoria da qualidade
do solo, dependente de processos de natureza biológica, que se expressa na produtividade
das culturas.
A alta energia solar incidente que promove o aquecimento do solo e a ciclagem da
matéria orgânica nos ambientes tropicais e subtropicais resulta em taxas elevadas de
decomposição microbiana e torna o período de permanência da MO no solo curto. Portanto,
a eliminação do revolvimento do solo, em razão do seu efeito na taxa de decomposição,
é uma prática primordial quando objetiva-se promover o acúmulo de MO no solo. Em
solos de textura m édia, a taxa de decomposição da MO em solos sob SD é pratican1ente a
metade da taxa verificada em solos sob PC, sendo esse efeito menos expressivo em solos de
textura argilosa e com médio a alto teor de óxidos de ferro e alunúnio. Com a diminuição
da taxa de d ecomposição no solo em SD, o tempo médio de permanência da MO no solo
aumenta consid eravelmente. O tempo médio de permanência da MO é um fator muito
importante em relação ao impacto dos sistemas conservacionistas de manejo na qualidade
física, química e biológica de solos agrícolas.
A a doção de sistemas de cultw·as com alto aporte de fitomassas residuais promove
a umento nos estoques de MO, com destaque para sistemas envol vendo plantas leguminosas
de cobertura. Resultados de pesquisa recentes têm contribu ído para a d esmis tificação
que estas espécies apresentam uma baixa contribuição para o acúm ulo d e MO no solo,
impressão errônea decorrente da rápida decomposição das fitomassas culturais residuais
sobre O solo. Conceitos mais recentes, como a maior eficiência de acúmulo de C e N no solo
a partir de fitomassas residuais de alta qualidade e a saturação de C no solo, deverão ser
cada vez mais aprofundados e considerados na interpretação dos res ultados d e pesquisa e,
somente assim, serão alcançados avanços no entendimento da dinâmjca d a MO em solos
agrícolas e na influência dos sistemas conservacionjstas de manejo na qualidade do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MAN EJO (ON SE RVACIONI STA E QUALIDA D E DE · · · 337

O ( rél c ionélme nlo fís ico e a~ t e nicas espcc troc; ó pica pnip1 oc1 m c1 p ro fund a r o
con hecimento em él s pectos rc lacion,1d osà es tJ bilização e qu ;di J a d e da M O, res p ec tiva m e nte.
A proteção fís ica é s ugerida co m o um d os principa is meca n is m os re l.ic 1o nc1d os ao ,Kúm ul o
de frélções lábe is da MO (alta qualidad e) e m solos sob s is te m éls co nser vacionis tas de
m anejo, co ntribuind o para a m e lh o ria na q ua li d ad e d o s o lo.

LITERATURA CITADA

A m ado TJC, Baye r C, Conceição PC, Spagn ollo E, Ca m p o5 BHC, Veiga M . Po tenti.:d of c,irbon
accumu la tion in no-till soils wi th intens ivc use anel cover crops in <-0 u them Brazi l. J Environ
Q u a l. 2006; 1599-1607, 2006.
A m ado TJC, Mie lniczuk J, Aita C. Recom endaçã o d e ad u bação nitrogenada pc.Ha o mi lho no RS e
SC adaptada ao uso de culturas de cobe rtura do so lo, sob planti o di re to. Rev Bras Cienc Solo.
2002;26:241 -8.
A n gers DA, Eriksen-Hamel S. FuU-invers ion h ll age a nd o rganic ca rbo n <li tributio n in _oil profile.:;:
A m e ta-analys is. Soil Sei Soe Am J. 2008;72:1370-4.
Aoya ma M, Angers DA, N'dayegamiye A. Partic ulate a nd mjne ra l-a soc iated o rga nic milt e r in
wa te r-s table aggrega tes as affected by mi ne ra l fe rtilizer anel m an u re a pplications. Cm J Soil Sei.
1999;79:295-302.
Bake r JM, Ochsner TE, Venterea RT, Griffis TJ. TiUage and soil ca rbo n seq uestra tion - vVha t cio we
really know? Agr Ecosys t En v iron. 2007;'118:1-5.
Ba ld ock J A, Oacles JM, Vassa llo AM, W ilson MA. Solid-s tate CP/ MAS C '' :\:\-IR ,rn.il y-,is of pa rticlt.--
s ize and density fractions of a so il incuba ted with uniformly la beled C1-'-Gl uco-se . .-\ u t J Soil
Res. 1990;28:193-212.

BalclockJA, OadesJM, Waters AG, Peng X, Vassa llo AM, Wilso n MA. ,\ s pec tsof thechemical-structure
of soil o rga.nic mate riais as revea lecl by so lid -state C " NMR-Spec troscop y. Biogeoche mistry .
1992;16:1-42.

Balesdent J, Balabane M. Major contribu tio n of roo ts to soil carbo n s to rage infe rred fro m maize
c ultiva tecl so iJs. Soil Biol Biachem . 1996;28:1261-3.

Ba lesd ent J, C he nu C, Bala bane M. Rela tions hip of soi l organic matte r d y na mics to physi -ai proteç tion
a nd tillage. Soil T ill Res. 2000a;53:215-30.

Ba les clent J, C he nu C, Ba la bane M. Relatio nship of soi l organic matter dy n a mic to p hysical protec ti on
a.nd tillage. Soil Till Res. 20006;215-30.

Barrios E, Buresh RJ, Spre nt JI. Organic matter in soil particle _ize and d en itv fractio n fro m mr11ze
anel legume croppin g systems. Soil Biol Biachem. 1996;r :1 5-93. ·

Bayer C. Dinâmica da matéria orgânica em sis te mas de manejo de solos. Porto Alegre: Uni\'ersidade
Fed e ral do Rio Grande do Sul; 1996.

Bayer C, Lova to T, Dieckow J, Zana tta J, Mielniczuk J. A method fo r es ti.mating cod ficien ts of so il
o rga nic matter clynamics based on long- term experiments. o i! T ill Res.2006a;91 :217-26.
Bayer C, Lovato T, Dieckow J, Zanatta JA, l\,(ielniczuk J. A nwtho d fo r es timating coeffic ients of so il
o rg anic matter d y na mics based on long- term experinwnts. So il T ill Res. 2006b; 217-2b.

Bayer C, Ma rtin-Neto L, Mielniczuk J, Pavinato A, Diecko w J. Carbo n sequestrario n in tw o Braz ilian


Ce rrado so ils under no-til!. So il Till Res. 2006( ;86:237-15.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


338 (IMÉLIO BAYE R ET AL.

Bayer , ,1arti n- eto L, Miclniczuk _], Pillon C , angoi L. Changcs in soil orgnnic mntter fractions
under subtTopirnl no-till cropping systcms. Soil i oc Am J. 2001 ;65:1473-8.
Bayer , 1artin-1 eto L, 1ielnicwk J, Saab SD, Milori DMP, Bagnato VS. Tillage and cropping
system effects on soil humic acid characteristics as determined by elech·on spin resonance and
fluorescence sp1::ch·o copies. Geoderma. 2002a;105:81-92.
Bayer, C., Mielniczuk, J., Amado, T. J. C., Martin- eto, L., Fernandes, S. V. Organ.ic matter storage
in a sandy clay loam Acrisol affected by tillage and cropping systems in southern Brazil. Soil
TiUage Re earch, 2000; 54:101-109.
Bayer C, 1ielniczuk J, Martin- eto L, Ernan.i PR. Stocks and hunufication degree of organic matter
fractions as affected by no-tillage on a sub tropical soil. Plant Soil. 2002b;238:133-40.
Beare MH, Hendrix PF, Coleman DC. Water-stable aggregates and organic-matter fractions in
convent.ional-tillage and no-tillage soils. Soil Sei Soe Am J. 1994;58:777-86.
Bemou , M, Cerri CC, Cerri CEP, Siqueira-Neto M, Metay A, Perrin AS, Scopel E, Razafimbelo T,
Blavet D, Piccolo MD, Pavei M, M.ilne E. Cropping systems, carbon sequestra tion and erosion in
Braz iJ, a reviev,•. Agron Sustain Dev. 2006;26:1-8.
Besnard E, 01enu C, Balesdent J, Puget P, Arrouays D. Fate of particuJate organic matter in soil
aggregates during cuJtivation. Eur J Soil Sei. 1996;47:495-503.
Blanco-Canqui H, Lal R. No-tillage and soil-profile carbon sequestration: An on-farm assessment.
Soil Sei Soe Am J. 2008;72:693-701.
Boddey RM, Jantalia CP, Conceição PC, Zanatta JA, Bayer C, M.ieln.iczuk J, Dieckow J, Dos Santos
HP, Denardin JE, Aita C, Giacom.in.i SJ, Alves BJR, Urquiaga S. Carbon accwnulation at depth in
FerraJsols under zero-t.iJJ subtropical agriculture. Global Change Biol. 2010;16:784-95.
Boeni M, Bayer C, Dieckow J, Conceição PC, Dick DP, Knicker H, Salton JC, Macedo MCM. Organic
matter composition in density fract.ions of Cerrado Ferralsols as reveaJed by CPMAS 13C
NMR: lnfluence of pastureland, cropland and integrated crop-1.ivestock. Agric Ecosyst Environ.
2014;190:80-6.
Bolinder MA, Angers DA, Giroux M, Laverdiere MR. Estimating C inputs retained as soil organic
matter from com (Zea Mays L.). Plant Soil. 1999;215:85-91 .
Bolinder MA, Janzen HH, Gregorich EG, Angers DA,van den Bygaart AJ. An approach for estimating
net primary productivity and annual carbon inputs to soil for common agricultura! crops in
Canada. Agric Ecosyst Environ. 2007;118:29-42.
Burdon J. Are the traditionaJ concepts of the structures of humic substances realistic? Soil Sei.
2001;166:752-69.
Cambardella CA, Ell.iott ET. ParticuJate soil organ.ic-matter changes across a grassland cultivation
sequence. Soil Sei Soe Am J. 1992;56:777-83.
Capriel P. H ydrophobicity of organ.ic matter in arable soils: influence of manage ment. E ur J Soil Sei.
1997;48:457-62.
Carvalho AM, Bustamante MMC, Alcântara FA, Resck IS, Lemos SS.Characterization by solid-state
CPMAS 13C NMR spectroscopy of decomposing plant residues in con ventional and no-tillage
systems in Central Brazil. Soil Till Res. 2009;102:144-50.
Carvalho JLN, Raucci GS, Cerri CEP, Bernoux M, Feigl BJ, Wruck FJ, Cerri CC. Impact of pasture,
agricu lture and crop-livestock systems on soil C stocks in Brazil. Soil Till Res. 2010;110:175-86.
Carvalho JLN, Raucci GS, Frazao LA, Cerri CEP, Bernoux M, Cerri CC. Crop-pasture rotation: A
strategy to red uce soi l greenhouse gas emissions in the Brazilian Cerrado. Agric Ecosyst
Environ. 2014;183:167-75.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - S r s T MA D E MAN E JO ( O N SERV ACIONISTA E QUALIDADE DE . .. 339

C1sJo-Jun ior R, /\ rc1újo /\C, Uan ill o f<F. Pl ,in tin dir to no S ul Jn Bra..,il: f-Jt nn'" que fac ilitar.irn c1
evo luç,10 do s ic;lc rn,, e o dcscn vnlvimcnlo d ,1 m •c,1ni / ,1ç,io cnn<,crv<1cionis tJ Londrinc1: l,,pdr,
2m 2.
Ccrri CC. Di nc'l mica da maté ri a orgá nica do c;o fo no awm•coc;c; is tcma can,1-de-.içucdí !tcs ]Piracic,,b,,:
Uni ve rsidade d e São Pa ul o; 1986.
C h ris te nsen BT. Phy ica l fractio natio n of so il and o rgan ic m,, tte r in primc1ry' particlc c; iLe ,, nd densitv
scparates . Ad v Soil Sei. 1992;20:·l -90.
C h ris tensen BT. Ca rbon in p ri ma ry and second.iry o rganominl'íc1 l comple·<e<;. ln: C irte r MR. Stewa rt
BA, ed ito rs. Structure a n d o rganic m atte r s toragc in agric u lturnl c;oil c;. B e,, Raton : C RC Lewi<:,
1996. p.97-1 65.
C hri s tensen BT. Organ ic matter i.n so il - s tructure, func tion a nd turn ov~r. Copenh.1gen: 20fl0 9Sp.
C hris te nse n BT. Physica l frac tiona tion o f so il a nel "tru ctura l a nd functiondl complcxity in o r _,,111ic
m a tter turno ver. Eur J So il Sei. 2001 ;52:345-53.
Con ceição PC. Indicado res d e q u al id ade d o olo vi anel o a avaliação J e s istema. Je maneio dn o lo.
Sa nta la ri a: Un iversidade Federal d e Sa n ta Maria; 2002.
Conceição PC, Dieckow J, Baye r C. Co mbined role of no- tillage anel cropping yste~ m <;OII cc1rbon
s toc ks a nel s tabil iza tio n . Soil Ti ll Res. 2013;129:40-7.
Costa MJ D, Pa qua lli R 1, Preved e ll o R. Efeito d o teor d e ma té ria owjnica do solo, 1.u ltura
d e cobertura e s is tema de pla ntio no controle d e Pratyle nchus b rachy uru em SOJa . Surnma
Phy to pa tho l. 2014;40:63-70.
Cotrufo MF, Walle ns tei.n MD, Boot C M, De nef K, Pa ul E. T hc M icrobial Effic ie ncy-Matrix tabilizat1on
(M EMS) fram ework i.ntegra tes plant litter d ecompos itio n w ith soil organic m .1 tte r c;tabilization:
cio labile plant inputs fo m1 stable soil organic matter? Global Change Biol. 2013;19:9, 95.
De biasi H, Franchini JC, Conte O, Balb ino t Junio rAA, Torre_ E, Sara iva OF, O li\·ei ra .\IC~D. i temas
d e pre paro do so lo: trinta a nos de pesq u isas na Embrapa Soja. Lon d rina: Ernbrapa Soja; 2013.
Dick DP, Gonça lves C , Da lmolin RSD, Knicker H, Kla mt E, Kogel-Knaber f, Sim ões ML, \ la rhn-
e to L. Cha racteris hcs of so il or ganic m a tte r of different Braz il ian Ferrai oi under native
vegeta tion as a function of soil depth. Ccoderma. 2005;'12-l:319-3~.
Diecko w J, Baye r C,Conceição PC, Za na tta J A, Marhn-l eto L, Milo ri DBM, a lto n JC, :,....1act:do, M.\I,
Mielniczuk J, Hernani LC. Land use, tillage, tex tu re a nd o rganic ma tter toc k and campo. ition
in tropica l and subtropical Brazilian soils. Eur J Soil Sei. 2009;60:2-lü-9.
Dieckow J, Mielniczuk J, Knicke r H, Baye r C, Dick DP, Koegel-Kna bne r 1. Corn po ition of o rgamc
m a tte r in a s u b tro pica l Acriso l as influe nced by lancl use, cropping and , f1.:rti b za tion, asses_ed
by C PMAS 11C NtvLR s pec troscopy . Eur J Soi l Sei. 2005a;56:705-15.
Dieckow J, M ie lniczuk J, Knicker H, Bayer C, Dick DP, Kogel-Knabner I. il C and I stoc as
affec te d by cropping sys te ms a nd nitrogen fer tilisahon in a southern Braz il Acris I managed
under n o-tiUage fo r 17 years. Soil Ti ll Res. 2005b; 1:87-95.

Elle rb rock RH, Hõhn A, Gerke H. C haracte riza ti on o f o il organic mc\tte r iro m ,1 a nd v soil in relation
to rnan agem e nt p ractice using FT-LR s pectroscop_. Plant o il. 1999;21 3:- --6 1. ·

Erns t O , Siri- Prie to G. lmpact o f pe rennia.l pas ture a nd tilla ge sy tt>ms o n ca rbon in p u t and ·oil
q u a lity ind ica to rs. Soil T ill Res. 2009;105:260- .

Felle r C, Beare MH . Physical contra i of oil org Gnic m.1tte r d yn a m ic - in the tropic~. e.,. dertfül .
1997;79:69-116.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


340 CIMÉLIO BAYER ET Al,

Franz luebbcrs AJ , Stucdemann JA. Soil-profile dislribution of orga nic C and N aftcr 6 yea rs of till agc
and grazing managcmenl. Eur J Soil Sei. 2013;64:558-66.
Freixo A , Canellas LP, ~achado PLOA. Propriedades espcch·ais da matéria orgânica leve-li v re
e le,·e intra-agregados de dois latossolos sob plantio direto e preparo convencional. Rev Bras
Cienc Solo. 2002a;26:-145-53.
Freixo AA, Machado PLOA, Dos Santo HP, Silva CA, Fadigas FS. Estoques d e carbon o e nürogênio
e di tribuiçào de frações orgânicas de Latossolo do cerrado sob diferentes sistemas de cultivo.
Rev Bras Cienc Solo. 2002b;26:425-34.
Golchin A, Clarke P, Oades JM, Skjemstad JO. The effects of cultivation on the composition of organic
matte.r and sh·uctural stability of soils. Aust JSoil Res. 1995a;33:975-93.
Golchin A, Oades JM, Skjemstad JO, Clarke P. Soil-structure and carbon cycling. Aust J Soil Res.
1994a;32:1043-68.
Golchin A, Oades JM, Skjemstad JO, Clarke P. Study of free and occluded particulate organic-matter
in soils by solid-state 13C CP / MAS NMR-Spectroscopy and sca1ming electron-microscopy . Aust
J Soil Res. 1994b;32:285-309.
Gregorich EG, Ellert BH, Monreal CM. Turnover of soil organic matter and storage of com residue
carbon estimated from natural 13C abundance. Can JSoil Sei. 1995;75:161-7.
Hassink J, Bomvman LA, Zwart KB, Bloem J, Brussaard L. Relationships between soil texture,
physicaJ protection of organ.ic matter, soil biata, and C and N mineralization in grassland soils.
Geodenna. 1993;57:105-28.
H assink J, Whitmore AP. A model of the physical protection of organic matter in sai.Is. Soil Sei Soe
Am J. 1997;61:131-9.
Hassink J, Whitmore AP, Kubat J. Size and density fractionation of soil organic matter and the
physical capacity of soils to protect organic matter. Eur J Agron. 1997;189-99.
Janta.lia CP, Vilela L, Alves BJR, Boddey RM, Urquiaga S. Influência de pastagens e sistemas de
produção de grãos no estoque de carbono e nitrogênio em um Latossolo Vermelho. Seropédica:
Embrapa Agrobiologia; 2006. (Boletim de P&D, 11).
Jastrov,, J. Soil aggregate formation and the accrual of particulate and rnineral-associated organic
matter. Soil Biai Biachem. 1996;28:665-76.
Katterer T, Bolinder MA, Andren O, Kirchmann H, Menichetti L. Roots contribute more to refractory
soil organic matter than above-ground crop residues, as revealed by a long-term field experiment.
Agric Ecosyst Environ. 2011;141:184-92.
Kleber M, Johnson MG. Advances in w1d erstanding the molecular structure of soil organic matter:
Implications for i.nteractions in the environment. Adv Agron. 2010;106:77-142.
Knicker H, Lüdemann HD.15N and 13C CPMAS and Solution NMR s tudies of 15 N enriched plant
material during 600 days of microbial degradation. Org Geochem. 1995;23:329-41.
Kogel-Knabner I. AnaJytical approaches for characterizing soil organic m a tter . Org Geochem.
2000;31:609-25.
Kõgel-Knabner I, KJeber M. Mineralogical, physicochemical, and microbiological contrais on soil
organic matter s tabi.lization and turnover. ln:HuangPM, Li Y, Sumner ME, ed ito rs. Hanbook of
soil sciences: resource rnanagement and environmental impacts. 2nd ed. Boca Raton: CRC Press;
2012. p.7.1 -7.22.
Kõgel-Knabner I, G uggenberger G, Kleber M, Kandeler E, Kalbitz K, Sche u S, Eusterhues K,
Leinweber P. Organo-mineral associations in temperate soils: Jntegrating biology, m ineralogy,
and organic matter chemistry. J Plant Nutr Soil Sei. 2008;171:61-82.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - SISTEMA DE MAN EJ O CONSERVACION [ STA E QUALIDADE DE · · · 341

Krull ES, B,1ldock J/\, Skjc rns tad JO . lrnportc1ncc of rnec h,ini,; m~ and rro t'""C"-i o f thl' "ta bil ic;a tio n nf
c;oi l o rga nic mil ller for modclling carbon turnove r. Func l Plant Bin l. 2003:10:207-22
Lova to T, Miclniczuk J, Baycr e, Veva ni F. Adiç,'l o d e c,1 rbono e nit rogênio e ... u,1 rd.iç.io co m º"
estoques no solo eco,;, o rendimento cio milho e m si te mas de manejo. Rev Bra~ Cie nc Sciln.
2004;28:175-87.
Macedo MCM. Integração la voura e pccunr iil: o estado da a rte e inovaçiies tecnológic,1_. Rev Bril
Zootec. 2009;38:133-46.
Ma rtin- eto L, Anclriu lo AE, Traghetta DG. Effectc; of c ulti v.ition on E.S R c;pec tril nf organ ic rna tte r
from so il s ize fractions of a Mol lisol. Soil Sei. 1994;157:365-72.
Mie lniczuk J. Manejo do so lo no Rio G rande do Su 1: uma síntese hi stó rica Rcv /\gron . l 999; l2· l l-22.
Mielniczuk J, Bayer C, Vezzani FM, Lovato T, Fernan des FF, Debarba L, Cu ri i\i, \l.irq uc JJ,
Gq uilhe rme LRG, Lima JM . Ma nejo de solo e culturas e . ua relação co m os estoques de c.irbono
e nih·ogênio do solo. Tó picos Ci Solo. 2003;3:209-l8.
Milori D, Martin-Neto L, Bayer C, Mielniczuk J, Bagmto VS.Humification <l egree of -;oi ! h um ic acid,
d e termined by fluores~encc spectroscopy . Soi l Sei. 2002;167:739-!9.
Milori DMBP, Ga le ti HV A, Martin-Neto L, Dieckow J, Gonzá lez-Pérez :-VI, Ba~·er C, Sa. lton JC. Or 0 .:inic
ma tter s tudy of w hole soil sa mples usi ng laser-induced fluorescence s pec trosco p ·. Soil Sei Soe
Am ). 2006;70:57-63.
Moraes A, Carvalho PCF, Pel issari A, Alves SJ, Lang CR. Sistemas de integração la voura -pecu,friil no
Subtrópico da América d o Sul: Exemplos do Sul do Brasil. ln: Con fe rence Sis tema_ d e integração
lavoura-pecuária no Subtró pico da Amé rica do Sul: Exemplos d o Sul do Brasil. Cu ritiba:2007..
p.1-27
Moraes A, De Faccio Carvalho PC, Angl1inoni r, Ca mpo Lus tosa 5B, Gigante De Andrade Costa.
SEV, Kunrath TR. lntegra ted crop-lives tock systems in the Brazilian s ubtropics. Eur J .t \gron .
2014;54:4-9.
Oades JM, Waters AG, Vassa llo AM, Wilson MA, Jone GP. lnfluence of maTu1gement o n the
compos itio n of organic ma tter in a Red-Brown Ea rth as ho wn by 1'C nuclear magnetrc
resonance. Aus t J Soil Res. 1988;26:289-99.
Piccolo A. The s upramolec ular structure of humic s u bsta nces. Soil Sei. 2001;75: 10-32..
Pillo n CN. Alterações no con teúdo e qualidade da m atéria o rgânica do solo indu zido por i tema:-
d e culturas em plantio direto. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2000.
Pinhe iro EFM, Pereira MG, Anjos LHC. Fracionamento densimé trico ,.fa matéria orgânica do solo
sob dife rentes s is temas de ma nejo e cobertura vegetal em Paty do Alferes (RJ). Rev Bra!> Cienc
So lo. 2004;28:731-7.
Piva JT, Dieckow J, Bayer C, Zanatta JA, De Moraes A, Tomazi 1, Paule tti , Barth G, Piccolo ~ IDC.
Soil gaseous N2O and C J-14 emissions and carbon pool due to integra ted crop-livt'.St k in a
s ubtropica l Ferralsol. Agric Ecosyst Env iron. 201-1;190: 7-93.
Powlson, D.S, Stirling, C M, Jat, M.L, Gerarei , B.G, Paln1, C.A, anchez, P.A, Ca_ man, K.G. Limited
potentia l of no-till agriculture fo r cli ma te change mitigatio n. ature Clim Change.20 1-!;-t.:o~\'"", .., ..
Prigogine 1. O fim d as certezas. São Paulo: Universidade Estadu al Paulis ta; 1996.
Pu get P, C he nu C, Ba.lesd en t J. Dynamics of soil organic m<1tter as ociated with pa.rticle-size fractions
of wa ter-stable aggregates. Eur J Soi.l Sci. 2000;51:595-605 ..

Ram~ lho B. C~ rbono, rtitrogê1: i~ e sem_il~uino n,'.s e m_La tossolo !>Ubh·op ical sob s i~te m,\ · de prep,uo e
111tegraçao lavoura-pecuana. Curitiba: U111ve rs1dad e Federal d o Paran.,; 20 l6.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


342 CIMÉLIO BAYER ET AL.

Randall EW, ahieu 1 , Powlson D , hristcnscn 13T. Fertili za lion eHccts on o rganic mattcr
in physically fra ctionatl'd soils as sludicd by " C NMR: Results from two lo ng-term fi eld
experiments. Eur J oil Sei. 1995;46:557-65.
Rasse DP, Rumpel , Dignac '1F.ls soil carbon mostly root carbon? Mechanis ms for a specific
s tabilisa tion. Plant oil. 2005;269:341-56 ..
Riífaldi R, Schnitzer M. Electron spin re onance specb·ometry of humic s ubstances. Soil Sei Soe Am
J. 1972;36:301-5.
Roscoc~ R, Buurman P, Velthor t EJ, Vasconcellos C.A. Soil organic matter d ynamics in density and
particle size fracti011 - as revealed by the 13C/ 12C isotopic ratio in a Cerrado's oxisol. Geoderma.
2001;104:185-202..
Roscoe R, Machado PLOA. Fracionamento físico do solo em estudos da matéria orgânica. Dourados:
Embrapa Agropecuária Oeste; 2002.
Sá JCM, Cerri CC, Dick \A/ A, Lal R, Venske-Filho SP, Piccolo MC, Feigl BE.Orga.nic matter dynamics
and carbon sequestration rates for a tiilage chronosequence in a Brazilian Oxisol. Soil Sei Soe
Am J. 2001;65:1486-99.
Salton JC. Matéria orgânica e agregação do solo na rotação lavoura-pastagem em ambiente tropical.
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2005.
Salton JC, Mieln.iczuk J, Bayer C, Fabrício AC, Macedo MCM, Broch DL. Teor e dinâmica do carbono
no solo em sistemas de integração lavoura-pecuária. Pesq Agropec Bras. 2011;46:1349-56 ..
Salvo L, Hemandez J, Ernst O. Distribution of soil organic carbon in different size fractions,
under pasture and crop rotations with conventional tillage and no-tiU systems. Soil Till Res.
2010;109:116-22 ..
Senesi , Steelink C. Application of ESR spectrometry to the study of humic substances. ln:
HayesMHB, MacCarthy P, Makolm RL, Swift, RS, editors. Hurnic substa.nces ll.New York: John
Wiley; 1989. p.373-408.
Sextone AJ, Revsbech NP, Parkin TB, Tiedje JM. Direct measurement of oxigen profiles and
denitri.fication rates in soil aggregates. Soil Sei Soe Am J, 1985;49:645-51.
Sisti CPJ, Santos HP, Kohhann R, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Change in carbon and nitrogen
stocks in soil under 13 years of conventional or zero tillage in southern Brazil. Soil Till Res.
2004;76:39-58.
Six J, Elliott ET, Paustian K. Aggregate and soil orgarúc matter dynamics w1der conventional and
no-tillage systems. Soil Sei Soe Am J. 1999;63:1350-8.
Six J, Elliott ET, Paustian K Soil macroaggregate tumover and microaggregate formation: a mechanism
for e sequestration under no-tillage agriculture. Soil Biai. Biachem. 2000;32:2099-103.
Six J, Feller C, Oenef K, Ogle SM, Sa JCD, Albrecht A. Soil organic matter, biata and aggregation in
temperate and tropical soils - Effects of no-tiUage. Agronom.ie. 2002;22:755-75.
Skjemstad JO, Clarke P, Taylor JA, Oades JM, Mcclure SG. The chemish·y and nature of protected
carbon in soil. Aust J Soil Res. 1996;34:251-71.
Skjemstad JO, Dalal RC, Barron PF. Spectroscopic investigations of cultivation effects on organic
matter of Vertisols. Soil Sei Soe Am J. 1986;50:354-9.
Skjems tad JO, Jani.k LJ, H_ead MJ, ~cclure SG. High-ener~ ultravio_Iet photo_oxidation - a novel
technique for s tud ymg phys1cally protected orgamc-matter m clay-s1zed and silt-sized
aggregates. JSoil Sei. 1993;44:485-99.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI - S I ST EMA D E MAN EJO (O N SE RVAC I ONISTA E QUALIDADE DE . . . 343

Soll ins P, H o m an n P, Caldwell BJ\. Stabilization and d estabi lization of <;o il o rganic rnatter:
m echa nisms ;md con trnls. Gcoderma . 1996;74:65-105.
Sou za ED, Costn SEVG A, Lim n CVS, Ang h inoni !, Me u rer EJ, Cnrva lho PCD. C1rbono o rgânico
e fósforo mic robiano em s is te ma de in tegração agricultura-pecuária ubmetido a diferentes
intens id a des d e pas tejo e m plantio d ire to. Rev Bras Cicnc Solo, 2008;32:1273-82.
S paccini R, Piccolo A, Conte P, Ha bc rha ue r G, Gerzabek MH. lnc reased soil o rganic carbon
seques tration through hydropho bic protection by humíc s ub<;lance<;. Soil Biol Biachem.
2002;34:1839-51.
Steelink C, Tollin G . Sta ble free ra dicaJs in soil hurnic acid . Bioch ím Biophys Acta. 1962;59:25-34.
Stev enson FJ. Humus chemistry. 2nd ed . New York:, John Wiley; 1994.
Studde rt GA, Echeverria HE, Casa novas EM .Crop-pas ture rotation fo r sus taining the qualify and
productivity of a typic Argiudo U. Soil Sei Soe Arn J. 1997;61:1466-72.
Sulc RM, Tracy BF. lntegrated crop-livestock systems in the US com belt. Agron J. 2007;99:335-45.
Tahir MM. Destino do carbono de raízes e parte aérea d e c ulturas de inverno enriquecidas com PC
e m solo s ob plantio direto. Santa Maria: Universid ade Federa l de Santa Maria; 2ffl 5.
Tracy BF, Zhang Y. Soil compaction, com yield resp o nse, and soil n u trient pool dynamic within ,m
integrated crop-lives tock system in Illinois. Crop Sei. 2008;48:1211-8.
Vandenbygaart AJ. The m y th that no-till can mitiga te g lobal clim a te c ha n ge. Agric Ecosyst Envíron.
2016;216:98-9.
Vezzani FM. Qualidade do sis tema solo na produção agrícola . Porto Alegre: Universidade Federal
do Rio Grande do Sul; 2001.

von Lützow M, Kogel-Knabner I, Ekschmitt K, Matzner E, Guggen berger G, Marschner B_. Flessa
H. Stabilization of organic matter in temperate soils: mechanis ms and th eir relevance under
different soil conditions - a review. Eur J Soil Sei. 2006;57:426-45.
Wershaw RL. Molecular aggregation of hurnic s ubs tances. Soil Sei. 1999;164:803-13.

Zinn YL, La! R, Bigham JM, Resck DVS. Edaphic contrais on soil or ganic car bon retention in the
Brazilian Cerrado: Soil s tructure. Soil Sei Soe Am J. 2007;71 :1215-24.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE SUPERFÍCIE
'
RELACIONADA AO MANEJO E A
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
Gustavo H. Merten 11 & Jean Paolo Gomes Minella 21

11 Universidade de l\llinnesota-Duluth, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Duluth, . rN, EU,\


E-mail: ghmerten@d.umn.edu
2/ Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Solos, Santa ~lana, RS.
E-mail: jminella@gmail.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... ·- ····················· ......... ... ~


HIDROLOGlA DE SUPERFÍCIE (EVAPORAÇÃO, EVAPOTRA1 SPIRAÇÃO, Li FTLTRAÇÃO E
ESCOAMENTO SUPERFICIAL) ................................................................................................... _.... ········-·· ... .... 3-17
Mecanismos de formação do escoamento superficial ..................................... ·-················- ·········--··- .. ··· .. ····-···
A hidrologia de superfície e o processo de erosão ....................................·-···········-···---····- ···-·-········- ..····· 351
INFLUENCIAS DAS PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DE SOLO PROCESS
HIDROLÓCICOS DE SUPERFÍCIE .............................................................................................- ...._.............-.... 355
PRÁTICAS DE CONTROLE DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL ........................ _.................. - ........_................. 372
EFEITO ESCALA DO ESCOANIENTO SUPERFICIAL................................................................... ........................ 3
VARlABILIDADE ESPACIAL DA GERAÇAO DO ESCOAM E. TO ............ .....-........... ·-······- ·-· ................... 379
IMPACTO DAS PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DE SOLO VERIFICADO 1 A ESC LA DE BACIA ......... .
CO SIDERAÇÕES FlNAlS .......................................................................................................... - .--.......·-·-··-- --- ·
LITERATURA CITADA .......... , ........................................................................................ .................... ,_,,-, ..... .
_ ,,_

INTRODUÇÃO

A hidrologia de superfície envolve os processos relacionados com o íltic o de água


no solo, com as trocas gasosas que ocorrem entre a superfície do solo e a atrn -fera e com
o armazenamento temporário da água no solo, nos rios, n s lagos e no re ervatóri s.
Todos esses processos estão interconectados entre si e ão, profundamente, alterad s
pelo uso e manejo do solo. Assim, alterações do uso do sol , orno a ubstituiçào d uma
área de floresta ou campo por uma área urbana ou agrícola, são capaze de reduzir 0
flu xos de entrada de água no solo e, com isso, favorecer a ocorrência do es oamento

Berto! 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e onserva ão do olo e d.1 Jgua. i, , M : •ied;idc
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
346 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

superficial. O escoamento superficial tem a habilidade de transportar polu e ntes que se


encontram di poníveis na ua trajetória, carreando a carga poluente para os corpos de
água, reduzindo com isso a qualidade dos mananciais. Entretanto, o fluxo d e água nos rios
também está vinculado com os processos hidrológicos que ocorrem na superfície do solo.
O escoamento superficial sendo mais rápido que o subsuperficial apresenta maior energia
cinética e cria condição de transferência muito eficiente de grande volume de água para os
rios. Esse grande volume, em muitos casos, não é acomodado na calha fluvial, ocorrendo o
extravasamento e os consequentes problemas causados pelas cheias.
Quando as mudanças de uso e manejo do solo são realizadas em grande escala, a
hidrologia de urna região pode ser modificada. Nos Estados Unidos, já está documentado
que na região do alto rio Mississipi as atividades agrícolas associadas às mudanças
climáticas (aumento das precipitações) têm elevado a vazão de base desse rio. Esse
fenômeno vem ocorrendo principalmente pelo fato de que áreas de pradarias formadas
por espécies de gramíneas de sistema radicular profundo e denso foram substituídas
por plantas anuais. Com isso, o volume de água evaporado foi reduzido, resultando em
aumento do fluxo de base dessa bacia (Shilling, 2004; Zhang e Schilling, 2006). No Brasil,
a elevação do escoamento superficial também tem provocado alterações de fluxo de água,
como no rio Tocantins, em razão da mudança de uso de floresta para áreas cultivadas
(Costa et al., 2003).
O uso agrícola do solo juntamente com a urbanização pode ser considerado como as duas
maiores atividades que provocam grande modificação na paisagem e consequentemente
na hidrologia de superfície. Especialmente a agricultura, por se tratar de uma atividade
desenvolvida em grande escala, os impactos gerados pelas alterações da hidrologia de
superfície devem ser considerados e estudados profundamente. Consequências negativas
foram verificadas e documentadas no sul do Brasil na década de 1970, quando da expansão
da cultura da soja nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná (Streck, 2012; Bertol et al.,
2012). As consequências negativas estavam associadas com o intenso processo erosivo
verificado nessas áreas por causa da mudança de uso (florestas e campos foram convertidos
em áreas de culturas anuais) seguido de um manejo inadequado do solo. Durante esse
período, o manejo das áreas agrícolas era caracterizado por intensa mobilização do solo
com uso do arado e da grade, da queima e incorporação de fitomassa cultural residual e da
ausência de rotação de culturas. Essa maneira de manejar o solo condicionou as mudanças
na hidrologia da superfície com o aumento do escoamento superficial em detrimento da
significativa redução da entrada de água no solo.
Para atenuar o potencial erosivo conduzido pelo escoamento superficial, foram
implantadas práticas de conservação de solos com base, principalmente, no uso do
terraceamento. Naquela situação, em razão da elevada magrutude do processo, foi
necessário, em muitos casos, aumentar a dimensão da seção dos terraços para conter o
grande volume de água gerado pelo escoamento superficial. A prática do terraceamento
implantada nessa época cumpriu, em parte, seu papel, mas foi insuficiente para resolver
a causa principal do problema da erosão do solo, que estava relacionada com a baixa
infiltração de água no solo. Na década de 1980, a comunidade científica começou a estudar e
propor sistemas de manejo opostos que, até então, vinham sendo utilizados na agricultura.
Esse novo manejo era com base na redução das operações de preparo, evitando a queima
de fitam.assas culturais residuais e explorando o uso da rotação de culturas com ênfase no
uso de culturas de cobertura para assim melhorar a estrutura do solo e consequentemente
a infiltração da água no solo (Mielniczuk et al., 2003). Os resultados dessas práticas foram

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HID RO LOG I A DE 5 UP ERF Í FIE R ELACIONADA AO MANEJO E .. · 347

muito positi vos e, com isso, foi possível reverter os problema d erosão e s dimentação no
rios. Na evolução do manejo conservacionista, foi desenvolvida a semeadura direta que,
alicerçada em práticas químicas de controle de invasoras e na evolução dos equipamentos
de plantio, se tomou uma prática popular entre os agricu ltores por causa da redução do
cus tos representado por esse manejo.
O manejo do solo, por meio da utilização da semeadura direta, revolucionou a
agricultura do sul do Brasil (Bertol et al., 2012) e par te do Cerrado e com · o reduziu
enormemente os problemas da erosão do solo (BoUin ger et ai., 2007). os tempo atuais,
entretanto, têm surgido novos desafios com o a vol ta dos problemas de erosão em aJguma
áreas onde a semeadura direta já se encontra consolidada (Streck, 2012). É muito provável
que esses problemas estejam associados à faJta de adoção dos pressupostos básicos dessa
técnica, que está vinculada à utilização suficiente de fitomassa culturaJ residual que 6
poderá ser alcançada pela utilização de uma sucessão de culturas capaz de envolver
plantas de cobertura em sucessão de culturas anuais de gramíneas e leguminosas. Porém,
os estudos atuais evidenciam que mesmo em um solo bem manejado, com semeadura
direta, haverá momentos em que eventos extremos de chuva causarão uma intensidade de
precipitação além da capacidade máxima de infiltração do solo, mesmo emconclições ótima
de estrutura (Merten et ai., 2015). Isso si_grufica que são necessárias meclidas estruturais
para controle do escoamento superficial, como terraços, canais escoadouros e biofiltros
instalados próximos à rede de drenagem fluvial. Esse capítulo tem como propósito fazer
uma síntese das informações referentes às alterações na hidrologia de superfície, que vem
sendo provocadas pela evolução das práticas de manejo e conservação de solos no Brasil.

HIDROLOGIA DE SUPERFÍCIE (EVAPORAÇÃO,


EVAPOTRANSPIRAÇÃO, INFILTRAÇÃO E
ESCOAMENTO SUPERFICIAL)

De maneira geral, do volume total precipitado em urna bacia hidrográfica 67 %


retomam para a atmosfera por meio de processos de evaporação e transpiração (Figura 1),
29 % são transformados em vazão na rede de drenagem (córregos e rios) via escoamento
subsuperficial e superficial e 4 % são transferidos para as camadas mais profundas para
serem armazenados nos aquíferos (Ward e Trimble, 2004). As mudanças de uso (floresta
ou pastagens para áreas de cultivo) e o manejo do solo influenciam p rincipalmente os
processos de evapotranspiração e transformação da chuva em vazão. A e apotranspiração
está associada com características climáticas das espécies vegetais e da clisponibilidade de
água no solo. Shilling (2004) e Zhang e Schilling (2006) apresentaram o imp acto do efeitos
d as mudanças de uso do solo em grande escala na região do alto lississipi e os efeitos
relacionados com a redução da vazão de base causada pelo aumento da evapotranspiração.
Efeitos da biomassa cultural residua l alteram a temperatura e a umidade do sol
(Bragagnolo e Mielniczuk, 1990; Salton e Mielniczuk., 1995; eiga et al., 2010). Redução da
amplitude térmica e maior umidade têm sido documentad as por ocorrerem na camada
su perficial do solo, decorrente da presença de biomassa cultural residual. Barr e Hanks
(1993) compararam a presença (7 t ha·1) e a ausência de biomassa re idual de trigo (Triticmn
aestivum) durante o cultivo do feijão (Plwseolus vulgaris L.), sob diferente níveis de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


348 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

irrigação. Re ultados evidenciaram que a presença de biomassa residual possibilitou um


uso mais eficiente da água, verificado por uma maior relação enh·e rendimento da cultura
e evapotranspiração total, e ah·ibufram esse efeito a menor evaporação.
Os efeitos da biomassa cultural residual sobre a temperatura e umidade do solo
têm sido uma preocupação dos agricultores na região de cultivo do norte dos Estados
Unidos. Nesses locais, tem sido um desafio estabelecer uma quantidade adequada de
biomassa residual que possibilite o controle da erosão, mas que ao mesmo tempo não
reduza a temperatura do solo ao ponto de dificultar a emergência das plantas. Em termos
hidrológicos, a preocupação de estabelecer a quantidade certa de biomassa residual está
relacionada com a geração do escoamento superficial. Em áreas de drenagem ineficiente e
frias, por exemplo, tem sido verificado maior escoamento superficial nos locais onde são
adotados preparos conservacionistas (Kemper e Borgert, 2012). Essa condição é atribuída
ao efeito da biomassa residual, que reduz as taxas de evaporação e com isso solos mais
úmidos geram mais escoamento superficial.
Em áreas tropicais e subtropicais, o efeito da biomassa residual é benéfico ao solo
por causa do controle da erosão e do uso mais eficiente da água (menor evaporação). No
entanto, o efeito de redução da evaporação condiciona a uma maior umidade do solo, o que
poderá favorecer a formação do escoamento superficial quando a ocorrência de eventos de
precipitação coincide com umidade antecedente elevada.

figura 1. Ilustração dos processos de transpiração e evaporação em uma cultura de soja sob
semeadura direta.

Mecanismos de formação do escoamento superficial


Dois conceitos são utilizados para explicar a formação do escoamento superficial: o de
Área Variável de A.fluência (AVA) (Hewlett, 1961; Kirby, 1978); e o Hortoniano (Horton,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDRO LOG IA DE 5UPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 349

1940). De acordo com o conceito AVA, o e coamento sup rficial form quand o P rfil
do solo se encontra sa turado. Nas figura 2 e 3, esse conceito é ilustrado, evidenciand
que a saturação do perfil do solo ocorre principal.mente próxima dos corpo de gu
(córregos, rios, lagos), mas também podem ocorrer em áre onde o terreno apr nta
urna feição convergente, por exemplo, que favorece o acumulo de ua. Is o contece,
porque nessas áreas há a combinação da presença do lençol freático próximo da superfície
e da convergência do escoamento subsuperficíaJ provenjente das áreas de montante, que
rapidamente saturam o perfil do solo. Esse conceito denomina-se de A VA, pois a linha de
saturação próxima à drenagem é dinâmica e pode expandir de acordo com o volume d
água precipitado. Na figura 3, evidencia-se uma vista em planta baixa de urna bacia com
sua rede de drenagem, onde as áreas escurecidas próx@as à drenagem representam
AV As para chuvas com diferente período de retomo. Para uma chuva em que o p ríodo
de retorno é 10 anos, a área de abrangência da A VA é maior quando comparada com urna
chuva com período de retomo de cinco anos. As A VAs são consideradas áreas preferenciai
de formação do escoamento e por isso toma-se importante a preservação do ambiente
ripário (zona de vegetação nativa próxima a um córrego ou rio) e dos banhados (áreas de
exfiltração). A drenagem dessas áreas não só altera as conruções hidrológicas locais, mas
também favorece a transferência dos poluentes para os corpos de água, especialmente os
serurnentos.

PUCJPrTAÇÃO

A
l EVAPOIIAÇÃO
TUXSPIUÇÃO
Conaito das árras f o,ru:,
oariáTJns

l ~
ÁGUA llETlDA
NA sunu1at

... ... ... ... ... ...


...
Figura 2. ilustração do perfil de uma encosta relativo ao conceito de Área ariável de Afluênci
(AVA).
Fonte: Hewlett (1961); Kirby (1978).

Já o conceito Hortoniano foi desenvolv ido pelo hidrólogo Robert Hortonem, em 19


Nesse conceito, assume-se que a formação do escoamento s uperficial ocorre quand a
taxa de precipitação ou aplicação da irrigação (mm h·1 ) e cede a taJ de infiltração d
água no solo (mm h·1). A complexidade do fenômeno da infiltração est ' r Iacionad com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


350 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

a comple~idade da variabilidade espacial dos solos. A dinâmica é fortemente controlada


pel~s ~tributos dos olos na sua superfície e em subsuperfície que define a capacidade
de infiltração. O processo também é variável no tempo, primeiro pelas características
da chuva e, também, pela redução das taxas de infiltração após o início do processo de
urnedecimentos.

Área de geração do escoamento


--•para uma chuva com período de
retomo de 10 anos

Área de geração do escoamento


para uma chuva com período de
retomo de S anos

...._...,. Canal .fluvial

Figura 3. Ilustração do conceito de Área Variável de Afluência na formação do escoamento superficial


em planta baixa (linha AB se refere à representação em perfil apresentada na figura 2).

Na figura 4, apresentam-se claramente a complexidade da variabilidade espacial


do processo de infiltração, detenção e formação do escoamento superficial. Nota-se que
nos locais onde há micro-depressões e camalhões o excesso de infiltração é retido e será
infiltrado quando a precipitação cessar ou reduzir a intensidade. Para ocorrer o escoamento
superficial, todas as depressões do solo representadas pela rugosidade superficial devem
estar preenchidas, e a camada de solo com a superfície deve estar saturada. O escoamento
superficial se dá nas áreas de convergência do terreno e nas partes mais baixas. Importante
salientar que a rugosidade do solo cumpre papel fundamental, já que armazena parte da
água que não infiltrou pela insuficiente taxa de infiltração durante a chuva, mas que fará
infiltrar quando essa cessar.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE 5UPERFÍFI E R EL AC I O NA D A AO M ANE J O E · . . 351

Figura 4. ilustração dos processos de precipitação, infiltração, d etenção s u pcrficia l e formação do


escoam ento superficial em cultura do tabaco sob sistema d e manejo tradicional e cultivo mini mo.
Fonte: G . 1-1. Merten.

A hidrologia de superfície e o processo de erosão


A dinâmica da hidrologia de superfície é o resultado de d iferentes fa tore con trolado res.
Podem-se destacar o efeito do relevo, tipo do solo, uso e manejo do solo e tipo d e vegetação.
A interação desses fato res no tempo e no espaço definirá o comportamento da fo rm.:ição do
escoamento superficial em razão da precipitação ocorrida. Cons iderando a ca pacidade do
ser humano em planejar a ocupação e a exploração dos solos, por causa do seus atribu to ,
podem-se minimizar e controlar a formação do escoamento superficial e a redi tr ibu ição
de água no seu interior. Na figura 5, são evidenciados três gráficos teó rico q ue ilu tram
diferentes situações de uso, tipo e manejo de solo, que influenciam a proporção da chuva,
que é convertida em escoamento su perficial. O maior contras te erificado é, naturalmente,
entre os diferentes usos (solo cultivado e solo com floresta nativa), comparando com a
diferença entre os manejas de solo (conservacionista versus não cons ervacionista). É
importante salientar que, mesmo existindo menor contraste entre o manejas, o controle
do processo erosivo em solos sob manejo conservacionista é muito mai irnple do que em
solos onde não são ado tadas práticas de conservação de solos.
O processo erosivo provocado pelos eventos de precipitação e tá in timamente
relacionado com as condições hidrológicas de superfície. Para fins de melhor entend imento
da erosão hídrica, essa tem sido d ividida em erosão q ue ocorre na região dos en h·ess u lco
e dos s ulcos. De acordo com esse critério, na região do entress ulco, a ero · ão ocorre pela
desag regação do solo causado pelo impacto das gotas da chu a, e o transporte dessas
partículas desagregadas se dá pelo escoamento difuso. Já a ero ão em ·ulco · é caracteriza a
pela fo rmação de um escoamento concentrado e turbule nto canalizado pelo - suk os, qu e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


352 GUSTAVO H. MERTEN & J EAN PAOLO GOMES MINELLA

~ m energia capaz tanto de desagregar O olo como de h·ai1sportar os sed imen tos para
JU ante.

Superf!cie impermeável
100% 100% 100%

0% 0%
Tempo de chuva Tempo de chuva Tempo de chuva

Figura 5. Gráficos teóricos da representação da proporção da chuva transformada em escoamento


superficial.

Ainda que o impacto da gota sobre os agregados de solo seja uma das condições
necessárias para ocorrência do processo erosivo (desagregação dos sedimentos da massa
do solo) é por meio do escoamento superficial que ocorre, principalmente, o transporte das
partículas que são desagregadas; o escoamento também tem capacidade de desagregação
pelas forças de turbulência. Assinl, quanto maior a proporção da chuva que se transforma
em escoamento (Figura 5), maior será o processo erosivo. Nesse sentido, o primeiro
pressuposto e objetivo principal das práticas de manejo e conservação do solo tem sido
proteger a superfície do solo contra o inlpacto das gotas da chuva, criando condições para
aumentar a resistência dele ao destacamento promovido tanto pelo impacto das gotas
como pelo escoamento superficial. O segundo pressuposto básico das práticas de manejo
e conservação dos solos refere-se ao manejo do escoamento superficial. O n1anejo do
escoamento superficial é exercido por práticas que sejam capazes de: aumentar a infiltração
para reduzir o volume de escoamento, reduzir a velocidade do escoamento por meio da
rugosidade superficial, reabsorver parte do volume escoado por meio da rugosidade,
terraços de absorção e biofiltros instalados com a zona riparia e disciplinar o caminho
das águas, por meio de terraços de drenagem e canais escoadouros. Práticas de manejo e
conservação de solos como a rrúnima mobilização do solo, o uso de culturas de cobertura
e a rotação de culturas visam especialmente criar condições na superfície do solo para
aumentar a infiltração da água.
A infiltração representa o movinlento de entrada da água no perfil do solo, onde estão
envolvidos potenciais de água no solo, especialmente a força gravitacional. Durante un1
evento de precipitação, as taxas de infiltração inicialmente são altas e progressivamente
diminuem com o tempo. Assinl, no início de urna chuva, quando as condições de umidade
do solo são baixas, as forças matriciais dominam o processo de infiltração; porém, com o
aumento da umidade, a força gravitacional se torna mais importante (Reichert et al., 2011).
As taxas de infiltração da água no solo variam não apenas em razão de fatores relacionados
com a superfície do solo, mas também de subsuperficie (Figura 6). As práticas de m _a nejo
e conservação de solo influenciam, sobretudo, fatores de superfície como a rugosidade e o
selarnento superficial e de subsuperficie pela condutividade hidráulica saturada.
A rugosidade do solo é representada pelas depressões criadas na superfície do solo
tanto pelas operações de preparo como pelo tráfego de equipamentos agrícolas ou então

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLO G IA DE SUPERFÍFIE RELACIONAD A A O M A N E J O E ·.. 3 53

pe la presença de biomélssél cultural r idu al (Hans n e t a i., 1999; rmand e l a i., 2009).
Obviamente, a rugos idade gcrnda pelo pre pa ro mecà nico cri a cond içõ s de a rmazena m
de água e atrito ao escoamento completamente dif r nte d aq uela criada pela fitomas a ·
cu ltu ra is residu ais. Entreta nto, os dois tipos de ru gosid ade são im porta ntes para a
dissipação de energia e retenção de água, que contri buem parél a r d ução dos efeito
nocivos da propagação do escoamento superfi cia l.

Figura 6. Presença de crosta superficial em um Vertissolo.

O selamento superficial ou crosta refere-se a uma fina camada altamente ad ensada


formada na superfície do solo, durante um evento de precipitação, que ao ar é
denominada de crosta. A presença da crosta altera as condições hidrológicas da s uperfície
do solo por meio da red ução tanto das taxas de infiltração como da condição de dete nção
superficial do escoamento (Edwards e larson, 1969; Morin, 1977; Reichert et al., 1992,
2005; Silva et ai., 2008). Consequentemente, essas alterações resultam em um a umento
do escoamento s uperficial e da erosão do solo (Bissonnais, 19 9). A formação da cro ta
ocorre em três etapas sucessivas (Bissonnais, 1989; Mualem et ai., 1990): desagregação d a
partículas, deslocamento das partículas e compactação das partícula pela ação da g tas
da chuva. Como mecanismos que a tua m na fase de desagregação, tem-se (Biss nnais,
1989): o rompimento dos agregados em partículas primárias e microagregados, e m razão
do impacto das gotas da chuva; o colapso de agregado re ultante da pre são do ar
aprisionado denh·o dos agregados, quando o solo se encontra seco e rapid,unente torna-s
umedecido pela chuva; e o sucessivo processo de umedecimento e secamento do · l . t a
fase d is persa, as argilas percolam alguns milímetros da uperfície do s ol e pro ocam o
fech amento dos poros responsáveis pela transmissão da água da uperfície para o interior
do solo (Agassi et ai., 1981).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


354 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

Já em relação à condutividade hidráulica aturada (Ksat), ma ior porosidade total


a iada à pre ença de macroporos condiciona maior infiltração (Silva e t a l., 2008) . A
presença d e macroporos é decorrente das condições inlTínsecas do solo, mas também é
ensivelmente alterada pelos sistemas de preparo e tan,bém pelo efeito d e tráfego (Reichert
et al., 2011). Efeitos de manejo que criam condições favoráveis às atividade biológicas
(rotação de culturas, culturas de cobertma e aplicações de dejetos) promovem ações de
insetos e principalmente de minhocas, que são exb·emamente importantes na criação de
macroporos (Kemper et al., 1988, 2011).
A heterogeneidade física dos horizontes e as camadas no perfil do solo condicionam a
descontinuidades hidráulicas no movimento da água no perfil do solo e, consequentemente,
na redução das taxas de infiltração e no aumento do escoamento superficial (Figura
7). Essas diferenças no perfil ocorrem por diversas razões, como variação na textura,
acúmulo de substâncias em camadas subsuperficiais, descontinuidade de poros, variações
na porosidade, estrutura e densidade. Zaslavsky e Rogowski (1969) estabeleceram as
implicações da anisotropia dos solos na hidrologia das encostas, onde são apresentados os
processos e os fatores que condicionam ao movimento lateral dos fluxos subsuperficiais.
Sendo assim, a formação do escoamento superficial e, consequentemente, os processos que
levam à degradação pela erosão ou pelo transporte de poluentes dependem também dos
atributos de subsuperfície que definem a variabilidade espacial da infiltração e a formação
de áreas úrnidas que condicionam a formação do escoamento superficial.

Figura 7. Condições de superfície e subsuperfície que controlam o processo de infiltração.


Fonte: Cultivo mínimo em fumo demonstrando a retenção de água entre os camalhões.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDRO LOG IA DE 5UPERFÍFIE RELA C IONADA AO MAN EJO E · · · 355

A rugos i lãcl criada nél s upcrfící , do solo peléls operaçõ '- d pr paro p ri má ri
e sec und á ri o e pela biomassa residual qu permanece na s upe rfície cl 1 o lo él um _ntél él
s upe rfície de retenção do volume de águél não infiltréld o. Qua nto ma io r fo r a rugos1d.1de
de uma s uperfície cultivada, maior será a chance de a água infiltra r no pe rfil do solo ao
invés d e escoar superficialmente. Além disso, uma vez form ado o escoa m nto su perficia l,
a ru gosidade atua como fato r de resis téncia ao seu des locamento, redu zindo com isc;o a
velocidad e do escoamento e conseq uentemente él potência hidrá ulica disp nível pc1 rn o
processo de desagregação e tra ns porte de sedi men tos.

INFLUÊNCIAS DAS PRÁTICAS DE MANEJO E


CONSERVAÇÃO DE SOLO NOS PROCESSOS
HIDROLÓGICOS DE SUPERFÍCIE

Na Europa, a função de revolver o solo para o plantio, al ém de incorpornr a fitomas_a


res idual e favorecer a formação do leito pélra as sementes, tem como propó ito o de aq uecer
o solo logo no início da primavera para possibilitar a adequada emer(7ência das plantas.
Essa maneira de cultivar foi transferida para a América pelos imigrantes que viera m da
Europa. Porém, na América do Norte, sobretudo nas regiões de grande precipitação,
o revolvimento intenso do solo tem sido responsável pelas e levadas taxas de erosào
verificadas desde o final do século XIX.
A presença de biomassa res idual na superfície do solo é um dos fatores que mai
contribui para alterar as condições hidrológicas de superfície por meio da redução do e feito
de selamento/ crosta. Essa condição tem sido conhecida desde os anos 1940, pelos tra balho
de Bors t et a i. (1940); e 1960, pelos de Meyer e Mannering (1960) e Mannering e . leyer
(1961). Reconhecida a importância da biomassa residua l para evitar a formaçào do selo/
crosta, Mannering e Meyer (1962) procuraram identificar, por meio de um experimento
com chuva simulada, quantidades de palha (tri go) necessárias para controlar o processo
erosivo e ao mesmo tempo manter um valor "ótimo" de temperatu ra para po - ibilitar a
emergência de culturas de verão. Na latitude onde os autores real izaram e se experimento,
a presença de biomassa residual, ainda que desejada para controlar a ero ão, reduz a
emergência de plantas em razão da menor tempera tura do solo.
Mannering e Meyer (1962) executaram esse experimento na região do meio-o te
norte-am ericano, sob condição de chuva s imulada sobre um solo bem drenado (textura
siltosa) em parcelas de 3,6 x 10,6 m. Os autores aplicaram uma érie de chu as imuladas
com intensidade de 62 mm h-1• A sintese desses resultados encontra- e no q uadro- 1 e 2.
A presença da maior quantidade de biomassa residual teve efeito direto tanto na redução
do escoamento superficial como da perda de solo. Verificou-se também que e e efeito foi
observado a partir de 2,5 t ha·1 de biomassa resid ual de trigo (Quadro 1). Em relação aos
efeitos da quantidade de palha sobre a taxa final de infiltração verificada entre as chuva
aplicadas em diferentes intervalos, notou-se que a partir da quantidade de 2,5 t ha-1 .15 ta'<a
finais de infiltração foram bem semelhantes enb-e si, porém trê ezes maiores quando
comparadas com os tratamentos onde a quantidade de palha fo i inferior a -,5 t ha-1 (Quadro
2). Os autores concluíram que esses efeitos foram re ultantes principalmente da eficiência
da biomassa residual em interceptar as gotas da chuva, dissipar a energia de desagregação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


356 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOM ES MINELLA

e evitar, comi so também, o processo associado de formação do selo/ crosta (e do volume


escoado). O autore tamb m observaram que a biomassa residual exerceu efeito importante
na hidráulica do escoamento quando constataram que essa não apenas foi eficiente em
dissipar a energia da chuva, mas também do escoamento superficial. Foi verificado então
que a biomassa residual atuava também como elemento rugoso que oferecia resistência ao
deslocamento do e coamento. Esses resultados confirmaram as observações realizadas por
Ellison (1947 c, d, e, f, g), 15 a.nos antes de esse b·abalho ser realizado.

Quadro 1. Re ultados obtidos por Marmering e Meyer (1962) sobre o efeito da quantidade de palha
de trigo sobre os processos hidrológicos de superfície

Biomassa
residual Precipitação Infiltração Escoamento Perda de solo

t ha·1 0101 nm1 mm t ha·1


0,0 159 87 72 30,7
0,6 159 95 64 8,0
1,2 159 119 40 3,5
2,5 159 151 8 0,7
4,9 159 156 2 0,0
9,9 159 159 o 0,0

Quadro 2. Resultados alcançados por Mannering e Meyer (1962) sobre o efeito da quantidade de
biomassa residual de palha de trigo sobre os processos hidrológicos de superfície, considerando
diferentes condições de umidade do solo

Taxa final de infiltração


Biomassa
residual Chuva inicial Chuva 1 Chuva 2 Chuva3
1
t ha· 1 mmh·
0,0 38 23 23 23
0,6 41 23 15 20
1,2 58 43 25 20
2,5 64 61 53 53
4,9 64 64 64 58
9,9 64 64 64 61

O trabalho realizado por Lindstrorn et al. (1981) foi também importante para avaliar a
influência das práticas de manejo e conservação de solos sobre a hidrologia de superfície.
Esse estudo foi feito no Estado de Minnesota nos Estados Unidos em um experimento de
longa duração (10 anos), onde estavam sendo estudados diferentes técnicas de preparo
(convencionaJ, mínimo e semeadura direta sob condição de tráfego controlado) em um solo
silto-argiloso bem drenado. Os autores avaliaram a influência da compactação provocada
pelo rastro do pneu do trator após a operação de plantio. Para isso, utilizaram chuva simulada,
aplicada a uma taxa média de 127 r:nm h·1, ~m parcelas pequenas de 1 x 0,5 m, posicionadas
de maneira a poder comparar o efeito da tnlha da roda do trator com área não trafegada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - H IDROLOGIA DE S UPERFÍFI E RELACIONADA AO MANEJO E ·.. 357

Noquadro3,sãoapresentadosess s resu ltadosond s verificaq u p,raastrêst cnic


d e preparo (convencional, mínimo e di reto) a linha de tráfego alter a as propri dade de
estado e do flu xo de escoamento. Nota-se q ue a rugosidade supe rficia l diminuiu na linha de
tráfego para o sistema convencional e no cul tivo mínimo, possiv lmente p la compactação
provocada pelo rodado do trator. Entretan to, na semeadura di re ta essa dife renç nã
ocorreu, já que não há mobilização do solo no preparo. O c ultivo mínimo envolvido ne e
estudo foi descrito como uso do arado escarificador para preparo primário seguido da
grade aradora, enquanto o culti vo trad icional envolveu uso do arado de di co e grade
aradora. A última coluna do quadro 3 refere-se à energia cinética (Ec) necess ria para
início do escoamento superficial, ou seja, uma va riável física men urável que representa
os efeitos da microtopografia aliada à presença da biomassa cultural residual pós-preparo
(rugosidade) em reter temporariamente o volume de água não infiltrado.As im, pode- e
interpretar que quanto maior for a Ec para inicia r o escoamento menor será o volume
escoado, considerando uma avaliação com igual tempo de simulação de chu va para os três
tratamentos. De acordo com o quadro 3, o tratamento cultivo mínimo foi o que apresentou
o maior valor para essa variável e também a maior d iferen ça entre o efeito de tráfego, 12,6
5,7 MJ ha·1 para a condição sem e com tráfego, respectivam ente. Analisando as variáveis de
estado que caracterizam a semeadura direta, nota-se, em comparação com os outro do·
manejos, que houve o aumento de densidade e redução da rnicrorrugosidade. Is o indica,
naturalmente, o efeito da não mobilização do solo e a maior suscetibilidade à formação do
escamento superficial. Entretanto, nota-se a redução significa tiva da Ec, característica es a
favorável ao controle da erosão. Em relação à hidrologia de su perfície (Quadro 4), verifica-
se que as taxas de infiltração foram menores para todos os sistemas de preparo na condição
de tráfego. No instante final da chuva (25-30 rnin), percebeu-se um contraste muito maior
entre a infiltração da zona com e sem tráfego para os sistemas de cultivo tradicional
mínimo, onde a zona de tráfego apresentou respectivamente taxa de infiltração 3,4 e 2,3
vezes menor que a infiltração da zona sem tráfego.
Em relação à infiltração acumulada, no entanto, os efeitos foram difer entes. A maior
infiltração acumulada foi observada para o tratamento sem tráfego na segujnte ordem:
cultivo mínimo> convencional> semeadura direta (SD). Para o tratamento com tráfego,
a infiltração acumulada foi semelhante entre o sistema de cultivo mínim o e tradicional
menor na SD. Contribuindo com o verificado no quadro 3, as taxas de infiltração na SD
foram menores do que nos outros manejos . Os autores a tribuíram e ses efeitos à infiltração
acumulada, que está associada não apenas com as taxas de infiltração verificadas apó
início do escoamento, mas também com a energia cinética para início do e coamento (maior
a energia cinética para início do escoamento, maior a infiltração acumulad ). Finalmente,
os autores concluíram que após 10 anos de cultivo contínuo de milho obre milh em
SD, as condições de superfície, ainda que 100 % coberta com palha de milh o, não foram
capazes de reter água em situação de um evento e, tremo de precipitação. E e estudio o
concederam esse fato às condições iniciais de consolidação da uperfície, qu e, apó 10 no
de processos como de umedecimento e secarnento, congelamento e descongelamento e de
atividade de fauna, não foram eficazes para melhorar as condiçõe iniciais de compact -
desse solo. Situação diferente poderia ser esperada cas o o solo em estudo apre ent e
condição de macroporos contínua e abundante, encontrada em con diçõe~ de los
m a nejados sob rotação com alfafa ou pastagem.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


358 GUSTAVO H. M ERTEN & J EA N PAOLO GOMES MIN EL LA

Quadro 3. Efei to d o tráfego e não tráfego de plan tad eira sobre alguns atribu tos d e su perfície d e um
solo su bmetido a di ferentes téc1úcas de cuJtivo
Tipo d e Condições de Rugosidade Densidad e do Ec no início do
preparo tráfego do solo solo escoamento

cm kg dm·3 MJ h a·1
sem 1,11 1,1 7,4
CT com 0,97 1,21 5,6
sem 1,02 1,09 12,6
CM com 0,95 1,27 5,7
sem 0,52 1,35 3,4
SD com 0,65 1,41 2,3
CT: cultivo tradicional, CM: cultivo mínimo, SD: semeadura dire ta e Ec: energia cinética.
Fon te: Lindstrom et ai. (1981).

Quadro 4. Efeito do tráfego e não tráfego de plantadeira sobre as taxas de infiltração de u m solo
submetido a três diferentes técnicas de cultivo
Taxa de infiltração
Tipo de Condições
preparo de tráfego 0a5 5 alO 10 a 15 15 a 20 20 a25 25 a 30
min min min min min min
mmh·1
sem 110 94 77 56 54 55
CT com 88 65 41 29 26 16
sem 109 82 83 67 68 54
CM com 73 47 40 44 32 23
sem 76 54 48 41 38 30
5D com 79 54 50 37 41 32
CT: cultivo traclicional, CM: cultivo mínimo, e SD: semeadura direta.
Fonte: Adaptado de Lindstrom et ai. (1981).

Os estudos pioneiros no Brasil sobre os efeitos positivos da biomassa residual


associados aos preparas de solo conservacionistas sobre a hidrologia de superfície e os
processos erosivos foram intensificados a partir da década de 1980; por exemplo, aqueles
citados em Cogo et al. (2003). O grave problema relacionado com a erosão hídrica verificado
nas áreas de cultivo da sucessão trigo/ soja, sobretudo nos Estados do Paraná e do Rio
Grande do SuJ, impôs que as práticas de conservação de solos fossem capazes de n ão
apenas controlar o escoamento superficial por meio do uso dos terraços, mas também de
evitar a sua formação pelo aumento da infiltração da água no solo.
Os sistemas de preparo até quase final da década de 1970 e início dos anos 1980 se
caracterizavam por grande mobilização do solo pelo uso do arado de disco ou da grade
pesada seguida de preparo secundário que consistia de várias gradagens. Essas operações
eram realiz adas para as culturas de inverno e verão e resultavam n um a incorporação quase

M AN EJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XII - HIDROLOG IA DE SUPERFÍFIE R ELAC IONADA AO MANEJO E .. · 359

total da biorna sa cultural, que em muitos I ca i ra queimada (p lha d tri ) pJra fin
fitossanitários. A combinação das chu vas e r ivas, qu ocorriam na primav ra, ju t, m nte
com o período que coincidia com a poca cl pr pa ro e planti das cultura d ver - o,
contribuía para as elevadas taxas de erosão observadas na époc (Mondardo et al., l 7 ).
A combinação da baixa cobertura vege tal associada à peq u na rugo idade s uperficia l,
causada por sucessivas passagens da gr ade niveladora, com a c mpactação motivadi.1
pelo uso do arado e da grade (pé de a rado e grade), acarretav reduç;o ignificat-iva da
infiltração da água no solo, e consequentemente o coefici nte de escoamento (relaç.:io
entre o volume escoado e o volume precipitado) era cada vez maior. Essa condiçiio exi ia
que as esh·uturas de controle do escoa mento supe rficial (terraços) fos em cada vez mais
s uperdimensionadas em suas seções e mesmo assim ainda não eram capazes de controlar
o escoamento superficial para eventos de grande ma gnitude. Foi nes e momento, qu
conhecendo a fundamentação dos processos hidrológicos de upe rfície, verificou- qu
as práticas de manejo e conservação de solo necessitavam prioritariamente aument r
capacidade de infiltração da água no solo e, assim, como consequ ~ncia, reduzir o volume
escoado superficialmente (diminuir o coeficiente de escoamento). e e momento, ficou
claro que para isso era importante não apenas red uzir as operaçõe de preparo do olo,
mas também incentivar o uso da rotação de culturas para incluir a cultura como o milho,
grande potencial de produção de biomassa, e as de cobertura, biorna a e nitrogênio
quando utilizado leguminosas. Essa combinação de práticas vi ava aumentar a proteção
da superfície do solo, atenuando a transferência da energia da chuva e do escoamento,
especialmente no estádio inicial de implantação das culturas. Além dis o, o u o de culturas
de cobertura teve como propósito criar condições para melhorar a agregação do solo, por
meio do incremento do teor de matéria orgânica, e com isso a umentar a resistência do solo
à desagregação.
Trabalhos realizados durante essa época evidenciaram que a combinação da menor
mobilização dos solos associada coma rotação de culturas (entenda- e maior produção
de biomassa residual) produzia resultados positivos em relação ao controle da ero ão e à
hidrologia pelo aumento das taxas de infiltração. Derpsch et ai. (19 6), trabalhando no Estado
do Paraná em um Latossolo distroférrico típico, avaüaram o efeito de três técnicas de prepar
do solo (cultivo tradicional-CT, mínimo-CM e semeadura direta- D) combinados com
sucessão trigo/soja conduzidos durante sete anos. Nesse trabalho, dentre árias variáv i ,
foram estudados os atributos físicos e a fauna do solo. No quadro 5, são apresentad o dad
relativos à influência das técnicas de preparo sobre a porosidade do olo. Comparando- o
tratamento CT com a SD, foi verificado que esse último apresenta a para a profundidad d
3-10 cm um volume total de poros e de macroporos 9 e -l-l º{i menor, re pecti nte, em
razão da ausência de revolvimento do solo na SD. o entanto, a fauna, a aliada p r m io
da presença de minhocas, evidenciou maior presença na SD, sendo e a antag m atribuíd
às condições mais favoráveis de umidade e tempera tw-a (Quadro 6). integra - d
aspectos físicos com os biológicos foi verificada pela medição da ta de infiltra - 0 p ra
três diferentes técnicas de preparo de solo para a cultura da oja (Figu ra . { m qu
duração da chuva tenha sido curta, os resultados demonstram claramente efeito d man j
dos solos. Os resultados dos atributos de estado físico e bi 1•gi o , dem nstrado n
quadros 5 e 6, expressam a base hidrológica da erosão controlada pela infiJtraçã d · gu n
solo. Com base nisso, nota-se claramente que a melhoria de atribut fí i e bi I gi ~ d
solo influenciou sensivelmente a formação do escoamento pelam imizaçã da infiltra ã e,
consequentemente, a redução da erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


360 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

Quadro 5. Poro. idade do solo ap . qu,, tro anos de manejo sob cullivo tradicion.:il (CT), c ultivo
mínimo ( M) e semeadura direln ( O)
Volume total de poros Macro poros Mesoporos Microporos

------------------------------- % vol u 111e ------------------------------------------

3-10 cm de profundid ad e
CT 68,Sa 32,4a 15,1a 21,3a

e" 65,9ba 26,7b 17,7a 21,Sa


50 62,Sb 18,lc 22,Sc 21,9a

12-20 cm de profundidade
CT 66,0a 27,la 14,6a 24,3a
CM 62,0b 19,4b 17,3b 25,3a
50 60,3b 17,0b 16,4b 26,9b
Font-c: Adaptado de Derpsch et al. (1986).

60

~- 50

140
o
110
u-
!O
30 --------
b

~
--------------
20 --- ----------- ------
QJ
-o ------ -------~
!O
><
ctl 10
f-

o
10 20 30 40 50 60
Duração da chuva (min)
- - Semeadura direta ··········· Escarificação ------· Cultivo tradicional

Figura 8. Taxas d e infiltração verificadas em um solo Latossolo distroférrico típico, s ob diferentes


técnicas de preparo de solo.
Fonte: Adaptado de Derpsch et aJ. (1986).

Quadro 6. Fauna e C02 do solo avaliado após quatro anos de manejo sob cultivo tradicional (CT),
cultivo mínimo (CM) e semeadura direta (SD)
Variável medida Técnicas de cultivo
CT CM SD
2
úmero d e minhocas por m (mar. 1979) 5,8 7,5 13,0
Iúmero de minhocas por m 2 (nov. 1981) 3,2 5,2 27,6
Produção d e c o2
3
(SI cm kg 1
li- 1) 44 89 107
Fonte: Adaptado d e Derpsch et a i. (1986).

MANEJO E C O NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOG IA DE 5UPERFÍFIE R ELACIONADA AO MANEJO E .. · 361

Pa ra uma chu va de 1 h de lurnç O (60 mm h· 1) e cob rtura d lo (m dia da


cobertura para todo ciclo da soja) de 83 % na D, 58 % no I e 1 % n CT, valor da
ta xa cons tante de infiltração na SD (45 mm J,· 1) foi 73 % e 2 % m i r que o CT (26 mm h·1)
e CM (35 mm h·1), respectivamente. Con ide rando a influ ncia das minhoca no pro e;
de infiltração, nota-se, claramente, 0 efeito delas na maior porc nta em de mesop ro
presentes na SD na s uperfície do solo (3-10cm). Derpsch et ai. (1986) tamb m avaliaram o
comportamen to da infiltração para as mesmas técnica de cu lti vo (CT, CM e 50), por m
para diferentes quantidades de palha de trigo. Com 100 % de cob rtur para uma chu v~
s imulada de 60 mm h·1, não foi verificado escoa men to apó 1 h de chuva par s trê
técnicas de cultivo. Já na condição de solo totalmente descoberto, o escoamento va riou
entre 70 a 80 % do volume da chuva apl icada, e não foi con tatado diferença e ntre .i
técnicas de cultivo. Essa condição levou os autores a concl uírem que a cobertura do oi
foi o fator que realmente influenciou na formação do escoamento e conseq uen temente no
controle do processo erosivo.
Um passo importante no entendimento da combinação entre quantidad de biorna '"
residual e sistema de cultivo foi dado no trabalho rea lizado por Roth t aJ. (19 ). 1
trabalho, os autores investigaram qual a mínima quantidade de biornas a residual que
poderia resultar no controle do escoamento superficial. O estudo foi conduzido no Estado
do Paraná em um Latossolo distroférrico típico em um experimento no eu timo ano da
sucessão soja/ trigo, em três diferentes técnicas de cultivo: tradicional-CT, mínímo-C l e
semeadura direta-SD. Foram testados doses de quantidade de palha de oja que variaram
entre O e 8 t ha·1 .
De acordo com os dados do quadro 7, verificou-se que apó ete an o de cultivo
as técnicas alteraram a densidade do solo e sua porosidade até a p rofundidade d 30
cm, onde a densidade do solo da SD foi s uperior aos demai tratam nto na <lua
primeiras camadas s uperficiais. Na camada de 20-30 cm no i tema CT, a região
compactada pelo efeito da aração foi claramente identificada pela ele ada densidad
do solo (1,22 kg dm·3) . Em relação ao volume total de poros e macroporo , identificou-
se na SD um efeito de compactação superficial.
Em relação à infiltração, os autores notaram que os efeito maj ignificativo_ f r m
condicionados muito mais pelo efeito da quantidade de biornas a residual tes ada do ue
pelas diferenças encontradas na porosidade (sistemas de culti o não se diferenciar m
quando coberto por biomassa residual). O efeito principal que cliferenciou tratam nto
foi a formação do selo superficial, que foi dependente do gra u de cobertura do ola.
autores também observaram que com a diminuição da quantidade de biornas a r idual
a estabilidade dos agregados passou a controlar a condição de infiltr ção. l oca o d D,
o efeito da redução das taxas de infiltração (20 mm h· 1) causado pela m nor por idad
(porosidade total e macroporosidade) foi compensado pela maior e tabilidad do
agregados na SD. Finalmente, os autores concluíram que a quantid d n es ári d
biomassa residual para o funcionamento adequado da D nece it a de um. aport entr
4 e 6 t ha·1 e que para atingir essa condição ha ia necessidade de alt rar u e - trig /
soja para uma sucessão que envolvesse o culti o do milh e culturas d c bertur .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


362 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOM ES MIN ELLA

Quadro 7. tribu tos físi os d a área experi mental utili zada no estudo de Roth e t al. (1988)

P, Total de poros Macroporos Mesoporos Microporos


kg dm·1 -------------------- % volu1ne -------------------- _
0-10 cm
D 1,06a 61,39a 22,71a 9,17a 29,Sla
e 1 0,97b 64,76b 28,44b 9,35a 26,97a
CT 0,99b 64,69b 27,72ab 10,79a 26,18a
10-20 cm
SD 1,15a 57,72a 14,14a 8,70a 34,88a
e ,i 1,07b 61,llb 20,91b 9,70a 30,Süb
CT 1,08b 61,27b 20,93b 11,89a 28,45b
20-30 cm
SD 1,12a 58,18a 16,0Sa 9,66a 33,47a
CM 1,13a 58,SOa 16,13a 8,73a 33,64a
CT 1,22b 56,65b 13,00a 9,90a 33,75a
70-80 cm
SD 0,93a 66,lOa 25,31a 10,80a 29,99a
CM 0,93a 66,06a 25,96a 10,64a 29,46a
cr 0,92a 66,40a 25,24a 12,75a 28,42a
p,=Densidade do solo. Méclias com a mesma letra na coluna não diferem esta tisticamente en!Te si, pelo teste t (p<0,05).

Na região do Planalto Médio no Estado do Rio Grande do Sul, Barcelos et al. (1999)
estudaram o comportamento hidrológico de um Latossolo Vermelho escuro (textura
argilosa) submetido a três técnicas de cultivo (cultivo tradicional-CT, cultivo mínimo-CM
e semeadura direta-5D) em uma sucessão de culturas mantida durante 10 anos (trigo/soja-
aveia-preta/soja-aveia+ervilhaca/milho). Os autores utilizaram um micro simulador de
chuva (intensidade constante de 120 mm lr1) e parcelas pequenas (0,81 m 2), onde avaliaram
as condições hidrológicas (Quadros 8 e 9) da sucessão aveia+ervilhaca/ milho em três
períodos: 45 d após a semeadura da cultura do milho (época 1); colheita da cultura do
milho (época 2); e após a implantação da cultura da aveia-preta (época 3).
Em relação aos atributos físicos do solo, observou-se que tanto a densidade do
solo (Ds) corno a macroporosidade (Ma), encontrada na SD, após 10 anos de cultivo,
apresentaram condições de compactação decorrente do não revolvimento do solo . A Os
na SD foi maior que nos demais tratamentos, enquanto a macroporosidade fo i menor. Em
relação à biomassa residual e à porcentagem de cobertura do solo para as três épocas,
variou entre 1,2 e 8,2 t ha·1 (% de cobertura entre 23-90 %) para o CT; entre 2,8 e 8,6 t ha· 1
(% cobertura entre 58-90 %) para o CM; e enh·e 2,93 e 9,9 t ha·1 (% cobertura> 70 %) para
SD. Considerando que em um sistema de cultivo conservacionista a presença de biomassa
residual na superfície deve ser superior a 30 %, constata-se que neste experimento mesmo
no CT a quantidade de fitomassa cultural residual na superfície pode ser considerada
muito próxima da desejável para manter níveis adequados de infiltração de água no solo.

MAN EJ O E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XII - HIDRO LOG IA DE SUPERFÍFIE R ELACIONADA AO M ANEJO E ·· · 363

Quadro 8. Comportamento hidrológico do so lo s ubm tido a uma chuvd de mten í~ d • de l~O mm h·'
para trê téc nica d culti vo ava liadas em dífer ntec; épocas d a cultur d o m ilho e avera-p reta
45 d após a cmeadura do
Técnicas Após a colheita do milho a ímplant ção da av ia-pr ta
mi lho
de manejo
TCI (l) [a CE TCI la CE TC I la CE

mm lY 1
mm mmh·' mm mm h ' mm
CT 49 111 0.38 71 128 0.29 57 112 0.37

CM 76 138 0.23 92 144 0.20 62 122 0.32

SD 56 122 0.32 86 139 0.22 4.13 91 0.49


(l )TCI = taxa constante de infiltração; la = infiltração acumulada; e CE= coeficiente de c-;cnamento
Fonte: Adaptado de Barcelos et ai. (1999).

Quadro 9. Condições para inicio de escoamento do olo ubmetido a uma chuva de intensidad d
120 mm h-1 para três técnicas de cultivo avaliadas em diferente é pocas da cuJtura do milho e
aveia-preta
Condições inicio do e coamento
Época 1 Época 2 Época 3
Sist. manejo T il)
L lnf u T L,., u T u
CT 0,1 12 0,19 0,05 6 0,18 0,03 3,6 0.1

CM 0,05 6 0,20 0,1 12 0,1 0,07 ,4 0,19

SD 0,05 6 0,18 0,1 12 0,1 0,07 ,-l 0,1


c•rr: te mpo (h), ~ .,: lâmina infiltrada (mm); e U: umidade (kg kg-').
Fonte: Adaptado de Barcelos et ai. (1999).

Uma síntese das condições hidrológicas encontrada pelos a utore · apre entada no
quadros 8 e 9. Para as três épocas estudadas (épocas 1, 2 e 3), obser ou- qu a condiçõ
hidrológicas variaram entre os tratamentos e as épocas. os 45 dias apó o plan tio do
milho (época 1), a taxa constante de infiltração (TCI) e a infiltração acumulada (la) foram
semelhantes entre o CT e a SD (TCI= 49 e 56 mm h-1 e la= 111 e 122 mm, r pec ti am nt )
e aproximadamente 40 % para o TCI e 20 % para Ia superior para o Cr 1 (TCI= 76 e I =
138). Os autores justificaram que no caso do CT as menores TCis fo ram con qu ' nci d
menor percentual de cobertura do solo, que possibilitou tanto a formação do el / cr ta
como da destruição parcial da rugosidade. Para o caso da SD, o autore omentaram
que os resultados foram contrários ao esperado; ou seja, q ue a al ta p rcenta 6 m d
cobertura (>80 %) deveria condicionar a valores mais ele ado de TC[ e Ia. Entret nto,
esses valores não se diferenciaram muito do PC (14 % maior para TCI e 10 ' mai r par
a Ia), justificado pela menor rugosidade s uperficia l encontra d a ne e trat menta . 1· m
disso, os valores mais elevados de Ds e a menor 1a encontr da na D p deriam tamb ·m
justificar, em parte, esses resu ltados. No caso do C (, os al re mai ele ad par CI
e Ia foram justificados pela combinação da cobertu_ra adequada (60 %) ociad à m i r
rugos idade proporcionada pelo efeito da escarificação. t - e n qua ro que os d

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


364 GUSTAVO H. MERTEN & J EAN PAOLO GOMES MIN ELLA

qu enracterizam o in ício do escoamento não foram significativa me nte dife re ntes e ntre
a De o ~-
1a segunda é poca de avaliação (pós-colhei ta do 1nilho), as condições de subs uperficie
do olo se tornaram mais importantes para o processo de infiltração, con siderando que as
condições de superfície fora m semelhantes, ou seja, alta quantidade de fitomassa cultural
residua l (> 90 ~o) para todos os tratamentos e ausência do efeito d a rugosidade criada
pelas opera ões de preparo de ola. A TCI e a Ia foram as mais elevadas, para os três
tratamentos, quando comparado com a primeira época de avaliação. Na comparação entre
O~ tratamento , o CM apresentou ligeira vantagem em relação ao CT e SD (TCI== 92, 71 e 86
mm h-1 e Ia= 144, 128 e 139 nun, para as técnicas CM, CT e SD, respectivamente).
Após o plantio da cultura de aveia-preta (fase 3 d e avaliação), as condições de superfície
do solo (ru gosidad e e cobertura) foram diferentes entre os manejas com menor cobertura
no CT (23 % de cobertura), quando comparadas ao das da SD e CM, 78 e 58 % de cobertura,
respectivamente. Para essa etapa, os valores de TCl e la foram semelhantes entre CT e CM
(TCl== 57 e 62 mm 11-1 e la= 112 e 122 mm, respectivamente), enquanto a SD apresentou
valores de TCI (20 %) e Ia (22 %) menores do que os demais tratamentos. Segundo os
autores, esses resultados foram justificados pelo fato de que na operação de semeadura da
aveia (sem eadeira com 7 cm entrelinhas) promoveu maior mobilização do solo, quando
comparado com a condição verificada após a semeadura do milho, fazendo com que a
biomassa residual de milho fosse "fragmentada" e parcialmente incorporada, justificando
a cobertura de 78 % avaliada nesse manejo. A maior superfície exposta ao impacto da
chuva simulada, considerada de grande intensidade (120 mm li-1), combinada com menor
porosidade encontrada na subsuperficie da SD justificaria os resultados. Finalmente, é
importante ressaltar que os autores desse trabalho reconheceram que mesmo após 10 anos
de SD cultivada com sucessão adequada de soja, milho e culturas de cobertura não houve
evidências da superioridade desse manejo, quando comparado ao CT e CM, em aumentar
a infiltração e, consequentemente, reduzir o escoamento superficial quando submetido a
eventos hidrológicos extremos. Os autores então chamaram atenção para a necessidade de
implantar medidas estruturais de contenção de escoamento superficial em lavouras como
os terraços.
Na região do Cerrado brasileiro, em um Latossolo Vermelho aluminoférrico (20 %
areia, 10 % s ilte e 70 % argila), Panachuki et aJ. (2011) estudaram efeitos hidrológicos de
superfície (infiltração, escoamento superficial e perda de solo), comparando três técnicas
de cultivo (SD, CM e uso da grade pesada-PCG), combinado com três quantidades de
biomassa residual de soja (O, 2 e 4 t ha-1). O experimento foi realizado, utilizando-se um
microssimulador de chuva, com intensidade constante de 60 mm h-1, sobre uma pequena
parcela (0,7 m 2) após o cultivo da soja, onde se identificou um efeito de compactação
na superfície do solo, camada de 0-5 cm, no tratamento SD. A d ensidade do solo e a
macroporosidade na SD foram de 1,33 kg dm-3 e 0,15 m 3 m-3, respectivamente, ao passo que
no sis tema de cultivo mínjmo as mesmas variáveis apresentaram valores de 1,24 kg dm-3
e 0,22 m3 m-3, indicando claramente o efeito do manejo do solo n a alteração dos atributos
q ue governam a infiltração.
Condições de superfície do solo, como efeito rugosidade e presença de biomassa
resid uai, evidenciaram uma relação muito estreita com o tempo para o início do escoamento
e com a energia cons umida para início do escoamento. O m enor tempo de início de
escoamento foi verificado para os tratamentos PCG e SD (Quadro 10) para a condição de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDRO LOGIA DE 5UPERFlFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 365

so lo descoberto (O t ha-1) . Entr tanto, a SD com 4 t ha-1d biornas ar id ual fo i trata m nt


que se destacou com maior tempo para início d scoa mento, evidenciand o com i ·
importâ ncia dessa quantidade de biomassa em reta rda r o início dess o caso do C ,
é interessante observar que, independentemente da qu.i n tidade d biom e: resid ua l

tes tada, o tempo de início de escoa mento apresentou a pena pequ ena v riação (en tre 21 e
28 mjn) . Nesse caso, fica evidente o efeito positivo da ma ior ru gosidade pro mov id pel
uso do arado escarificador. No entanto, é importante cons id era r q u a p rma n ~ ncia da
rugosidade depende da presença da cobertura proporcíon d a pela biornas ar ndu 1.
No quadro 10, são apresen tados os valores referentes energia consu.mida para início
do escoamento, ou seja, a parcela de energia da chuva imulada, q ue foi con u mid até
o momento de início do escoamento, o que também pode e r considerada medid, d
eficiência das práticas de conservação de solos. Quanto maior a eficiência da prá tica, maior
é o reflexo na energia utilizada para dar início ao processo de escoa mento, ou eja, mafor
é a energia.

Quadro 10. Condições de superfície do solo, tempo e energia cin tica refere nte ao inicio do escoamento
Tempo de
Biomassa Energia con um.ida
Tratamentos Cobertura Rugosidade início do
residual início do e coa mento
escoamento

t ha· 1 % mm min MJha·1


o o 0,93 4 0,9
SD 2 65 2,32 16 3,-l
4 77 3,28 3 ,-l
PCG o o 3,52 5 1,1
2 11 3,59 12 2,6
4 16 2,95 16 3,6
o o 7,86 24 ::,,_

CM 2 14 9,58 21 -l,7
4 23 9,14 2 6,0
Fonte: Adaptado de Panachuki et ai. (201l).

Em relação aos efeitos dos tratamentos sobre a TCI e o coeficiente de e oamento, o


resu ltados evidenciaram-se mwto interessantes (Quadro 11). Os valore de TCl para todo
os tratamentos podem ser considerados bem ele ados. A quantidade de biorna a residu l
testada parece não ter efeito pronunciado na TCI quanto as técrucas de cuJti o. Com e. ceçã
da SD para a condição de Ot ha- 1 de biomassa, as menore ta. as foram eri.ficad n PCG.
Já o coeficiente de escoamento apresenta mais claramen te o efeito entre O culti e
1
sistemas de preparo; por exemplo, na condição de 4 t ha· de b i massa na D, coefi iente
de escoamento apresentou valor similar à condição de O t ha· 1 do C l, que e idenci
efeito positivo condicionado pela rugosidade também erifi ado no quadr 10 pel mai r
tempo de início do escoamento. Entretanto, també m pode e r verificado que O t ha-1 11
SD, o coeficiente de escoamento fo i quase na me ma ord m d grand z d 6 1 nt
verifi cados para as três quantidades de biornas a residual te tad n p G. E a ndiç-

MAN EJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


366 GUSTAVO H. MERTEN & J EAN PAOLO GOM ES MIN E LLA

cham a a ten ão para a inqu estionável import·ância dessa biomassa para a SD e as a ltas ta xas
d e erosão esperadas quando da utili zação do preparo do solo com grand e pesada .

Quadro 11 . \ a riáveis hidrológicas determinad as para três técnicas d e cultivo


Tratamentos Biomassa residual TCJ(l) Coeficientede escoamento
t ha·1 mm h·1
o 24 0,54
SD 2 49 0,20
4 52 0,13
PCG o 30 0,38
2 26 0,44
4 24 0,56
o 46 0,15
CM 2 51 0,09
4 48 0,13
' ''TCI = taxa constante de infi.ltração.
Fonte: Adaptad o de Panachuki et ai. (2011).

Estudos de perdas de solo e água com uso do simulador de chuva em pequenas parcelas
permitem estudar com muito detalhe a condição dinâmica da infiltração, do tempo de
inicio do escoamento, da taxa de infiltração, da infiltração acwnulada e da erosão do solo.
No entanto, os experimentos sob condição de chuva natural, ainda que não possibilitem
a obtenção desses detalhes, permitem alcançar medidas hidrológicas importantes para o
dimensionamento de obras hidráulicas, visando o controle do escoamento superficial. Em
estudos sobre erosão com chuva simulada, normalmente tem sido realizado ajustes prévio
de umidade do solo, onde essa é elevada até próximo da condição de saturação, seguida
da aplicação de uma chuva de alta intensidade por período longo. Nessas condições, o
coeficiente de escoamento, na maioria das vezes, apresenta valores mais elevados quando
comparado com medições de séries históricas de chuva natural.
Durante os anos de 1970 e 1980, foram conduzidos, em diferentes locais do Brasil,
estudos de erosão hídrica sob condições de chuva natural usando parcelas padronizadas
(3,5 m d e largura por 11 ou 22 m de comprimento de rampa) . O propósito desses estudos
foi o de obter os parâmetros da Equação Universal de Perdas de Solo (USLE), como o
fator erodibilidade do solo (K) e fator cobertura do solo (C). Entretanto, os valores de
perda de água quando convertidos em coeficiente de escoamento, relação entre lamina
do escoam ento total dividida pela lamina da precipitação total do evento, permitem
estabelecer relações entre o volume precipitado e o escoado superficialmente, sendo essa
informação útil pa ra o dimensionamento de obras hidráulicas como terraços e canais
escoadouros. Entre os anos de 1977 e 1994, na região dos Campos Gerais em Ponta
Grossa, PR, foram conduzidos pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) em um
Latossolo Vermelho Escuro com 60 % de argila dois estudos de longa duração sobre
avaliações de perdas de solo e água em condições de chuva natural. Nesses estudos, os
tratamentos formavam combinação de tipos de preparo de solo, s ucessões de culturas e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDRO LO GIA DE SUPERFÍ FI E R ELA CI O NADA AO MANEJO E .. • 367

difere ntes ta manhos de parcelas (38 e 77 m2). No q uadro 12, evidencia m-se o re ul t d _
d a séri e hi s tórica corres pondente aos anos de 1977-1990, ond e fo i s tudado um a uces a
de trigo e soja combinad a com diferentes técnicas de preparo de o lo (ar ção segu ida de
gradagens-CT e semeadura direta-SD) e solo descober to em parcelas com 22 e 11 m de
comprimento de rampa sob decli ve de 9 cm m•l . Na comparação entre tr a tamento das
parcelas descobertas com 22 m e 11 m d e com primen to d e rampa, foi o bserv d a redu~ão
da perda de solo em 70 %, enquanto a diferença entre os co fici entes d e escoa mento fo t de
apenas 20 %. O efeito da cobertura de plantas e das fitomassas cultura is resid uai pode e r
observado na comparação entre os tratame ntos pa rcela descoberta d e 11 m com a pareei
da sucessão de trigo e soja em preparo convenciona l. Nessa condíçõ s, a pre nça. da
cobertura vegetal reduziu as perdas de solo em 78 %, enqua nto a d iferença e n tre o
coeficientes de escoamento foi de 41 %. Já no efeito do preparo de solo, compa rando-
se o tratamento de preparo convencional com a sem eadura dire ta, fo i observado qu
a SD reduziu as perdas de solo em 80 %, enqua nto a d ife rença en tre os co ficien te de
escoamento foi de 21 %.

Quadro 12. Variáveis hidrológicas verificadas em um experimento de perda de solo e gua sob
condições de chuva natural entre 1977 e 1990 par a a s ucessão de trigo e soja na região os
Campos Gerais, em Ponta Grossa, PR.

Coeficiente de
Tratamentos Perda solo (kg m-.2 ano· 1)
escoamento
Solo descoberto 22 m 0,201 3
Solo descoberto 11 m 0,16 0,9
Convencional 11 m 0,095 0,2
Semeadura direta 11 m 0,075 0,04
Fonte: Me rten et ai. (2015)

Na análise do coeficiente de escoamento, é importante consid erar q ue os número


que constam no quadro 12 representam valor médio para o período d e mediçõ s . r o
desdobramento desses valores médios em valores por evento de chu a, no entanto,
verificam-se alguns aspectos importantes. Na figura 9, sob a forma de gráfico diagrama d e
caixa (box-plot), são apresentados valores de distribuição de frequência d o coeficiente d e
escoamento de todos os eventos de precipitação, cujos valores médios são a pre ent:ad no
quadro 12. Pelo gráfico da figura 8, verifica-se que o coeficiente de e coa.menta repr nt do
pela mediana apresentou a mesma tendência que o valor do coeficiente d e escoamento
representado pela média (Quadro 12). Entretanto, pela figura , observa- e q ue a SD, im
corno para os demais tratamentos, apresentou coeficientes de e coamento com tores
elevados ainda que esses apresentem frequ ência muito baixa (acima do percen til 95). Es e
valores extremos provavelmente ocorrem quando combinam condiçõe de p recipita - e
de alta intensidade sobre solo com wnidade antecedente ele ad a. O e ento de grande
magnitude são aqueles onde os processos erosivos são mais intensos e caus m o maiore
prejuíz os aos agricultores e aos corpos de água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


368 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

1
I Maior
Menor
75%
0,9 25%
■ Médias
• Atípicos
0,8
* Extremos

0,7
o
li
!ioi 0,6
~
~ 0,5
.2l
5
·o
'fil 0,4
8
0,3

0,2

0,1


o L . __ ___.__ _. _ __ __.______.'-----'=-----'----''----'----
Desc. 11 m Desc. 22 m CTllm SDllm
Tratamentos

Figura 9. Diagrama de caixa referente aos coeficientes de escoamento para os eventos medidos entre
1977 e 1990, nas parcelas de perda de solo e água da região dos Campos Gerais em Ponta Grossa,
PR.
Fonte: Merten et al. (2015).

No Cerrado brasileiro, Dedececk et al. (1986) e Hernani et aJ. (1997) conduziram ensaios
de perdas de solo e água em Latossolo Vermelho aluminoférrico (45 % argila) na região de
PlanaJtina, DF, e em Latossolo Vermelho aJuminoférrico, em Dourados, MS, respectivamente.
Os vaJores de perdas de solo e água verificados pela comparação das parcelas do solo
descoberto entre a região de PlanaJtina (Quadro 13) e Dourados (Quadro 14) evidenciaram que
na primeira região as perdas de solo e água foram maiores em razão, provavelmente, da textura
menos argilosa do Latossolo Vermelho alurninoférrico, que confere maior erodibilidade a esse
solo (0,013 e 0,0045 t h MJ·1 mm·1 para o solo de PlanaJtina e Dourados, respectivamente). Em
PlanaJtina, para a cultura da soja na comparação entre o preparo convencional e a SD, verificou-
se que a diferença entre a perda de solo foi 100 % maior no preparo convencional, enquanto
0 coeficiente de escoamento foi 13 % menor, ou seja, a SD apresentou maior coeficiente de
escoamento superficiaJ quando comparado com o preparo convencional. Para Dourados,
diferentemente de Planai tina, o tratamento convencional referiu-se àquele onde se utilizou uma
grade pesada segwda da grade leve. Nessas condições, a diferença entre as perdas de solo do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE SUPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 369

preparo com grade e da SD foi de 87 % favoráve l a esse manejo, enquanto na comparação dos
coeficientes de escoamento, de 72 %. Isso evidencia O elevado risco de erosão quando o preparo
do solo é realizado com uso da grade pesada nessa região e a importância da semeadura direta
em controlar a erosão.

Quadro 13. Perdas de solo e água para dííerentes sistemas de cultivo e culturas em um Lato solo
Vermelho textura argilosa na região do Cerrado brasileiro, em Planaltina, DF (1979-1985), com
declividade de 5 cm rn- 1

Coeficiente de Perda solo


Tratamento
escoamento
kg m ·2 ano·1
Solo descoberto 0,153 5,3

Milho convencional 0,159 2,9


Arroz convencional 0,156 1,2
Soja convencional 0,100 0,8
Soja semeadura direta 0,113 0,4
Vegetação permanente 0,012 0,01
Fonte: Adaptado de Dedecek et ai. (1986).

Quadro 14. Perdas de solo e água para a sucessão trigo e soja sob diferentes sistemas de cultivo
e culturas em um Latossolo Vermelho Alurninoférrico muito argiloso na região do Cerrado
brasileiro, em Dourados, MS (1988-1994), com declividade Qe 3 cm m·1
Coeficiente çle
Tratamento Perda solo
esçoamento
kg m·2 ano- 1
Solo descoberto 0,099 0,72
Escarificação 0,053 0,28
Grade pesada 0,065 0,53
Semeadura direta 0,018 0,07
Fonte: Adaptado de Hemani et ai. (1996).

Hemani et al. (1997), mesmo reconhecendo a eficiência da SD em controlar o


escoamento superficial, chamaram atenção para a necessidade de preservação do sistema
d e terraceamento em lavouras, pois, ainda q ue o valor total do coeficiente de escoamento
d a SD tenha sido menor que nos preparos convencional e escari.ficação, ocorrem situações
durante os eventos que esse coeficiente pode ser também elevado. No caso do Cerrado
brasileiro, essa condição pode ser bem caracterizada analisando os coeficientes de
escoamento obtidos no trabalho de Dedecek et al. (1986) para diferentes estádios da cultura
da soja (Quadro 15). Nesse quadro, verifica-se que as diferenças entre os coeficientes
de escoamento do preparo do solo com uso do arado e da SD atingem menos que
20 %, favoráveis a esse último manejo, porém, pelo menos em dois períodos (2 e 3, 0
coeficiente de escoamento foi maior na SO. Essa condição indica que, mesmo quando os

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


370 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MIN ELLA

d_ad~ . de coefici nte de e coamento apresentam valores totais menores para a SD, n ão
significa que entre o eventos de chuva as perdas de água serão sempre m enores na SD.

Quadro 15. Coeficiente de escoamento para culhira da soja sob dois sistemas d e cultivos em diferentes
período para a região do Cerrado brasileiro, em Planaltina, DF, com declividade d e 5 cm m ·1
Coeficiente de escoamento
Período<1J PrecipitaçãoC2l Diferença!3l
Soja convencional Soja direto
mm
F 183 0,104 0,087 16
1 134 0,110 0,089 19
2 128 0,054 0,070 -30

3 224 0,138 0,160 -16


4 574 0,188 0,165 12
Cllf = da colheita até próximo o preparo de solo (abril-outubro); 1 = do preparo de solo até o plantio (novembro); 2 = do plantio até
um mês após (novembro-dezembro); 3 = do primeiro mês até o segundo, após o plantio (dezembro-janeiro); 4 = do segu ndo m ês
após plantio até a colheita Ganeiro-março).12lMédia de seis anos. <3lDiferença em relação à soja conve ncional.
Fonte.: Adaptado d e Dedecek et ai. (1986).

Para duas regiões de São Paulo (Pindorama e Campinas), Castro et al. (1986), também
utilizando parcelas de perda de solo e água sob condições de chuva natural, compararam
sistemas de cultivo conservacionista para a cultura do milho em dois tipos de solos (Quadro
16): Argissolo Vermelho-Amarelo textura arenosa e Latossolo Vermelho textura argilosa.
De acordo com o quadro 16, nota-se que as perdas de solo foram maiores na condição do
Argissolo, porém o mesmo não se observa para os coeficientes de escoamento que foram
maiores para o Latossolo Vermelho, provavelmente refletindo a sua condição de textura
mais argilosa. Para o Argiloso Vermelho, o coeficiente de escoamento e a perda de solo
foram 43 e 55 % menores, respectivamente, quando o milho foi cultivado com o uso do
escarificador e comparado com o preparo convencional. Já no Latossolo Vermelho textura
argilosa, as diferenças entre perdas de solo e dos coeficientes de escoamento, quando
comparado o arado de disco com arado escarificador, foram respectivamente 38 e 33 %,
apresentando a maior resistência à erosão desse solo.

Quadro 16. Perdas de solo e água para cultura do milho submetida a diferentes sistemas de cultivo
em Argissolo Vermelho-Amarelo (Pindorama, SP) e Latossolo Vermelho (Campinas, SP) com
declividade de 6 cm m·1
Coeficiente de Perda de solo
Tipo de solo Tratamento Precipitação total
escoamento
mm kg m ·2 ano·1
Argissolo TI 6 962 0,152 5
Vermelho- T2 6 962 0,160 5,6
Amarelo 6 962 0,087 2,23
T3
Latossolo TI 4 281 0,300 0,3
Vermelho T3 4281 0,187 0,2
TI : Milho e ar ado de d isco; T2: Milho com grade pesada; e T3: Milho com escarificador.
Fonte: Ad aptado de Castro et ai. (1986).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE 5UPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 371

No Rio Grande do Sul, no município de Eldorado, Eltz et al. (1984) realizaram um


estudo de perda de solo sob condição de chuva natural entre os anos de 1975 e 1980, em um
Argissolo Vermelho de textura argi losa (Quadro 17). Na condição natu ral (pastagem nativ ),
tanto a perda de solo como o coeficiente de escoamento (0,03 kg m·2 an ·1 e 0,039) foram
baixos, especialmente quando comparados com a parcela descoberta (23 kg m·2 ano-1 e 0,20).
E~se mesmo solo q~ando manejado sob cultivo conservacioni ta (mi~o ou s .n:1 adura
dueta) apresentou diferenças médias de 65 % entre a perda de solo e 44 ¼ no coeficiente d
escoamento, quando comparado com o cultivo com uso do arado e grade niveladora (1,2 kg
m·2 ano-1 e 0,034 para o cultivo mínimo e 0,9 kg m·2 ano·1 e 0,036 para a SD).

Quadro 17. Perdas de solo e água para sucessão trigo e soja em um Argissolo Vermelho sob diferentes
sistemas de uso e cultivo para Eldorado do Sul, RS (1975-1980), para declividade de 12 cm m· 1
Coeficiente de Perda de solo
Tratamentos
escoamento
kg m·2 ano- 1
Parcela descoberta 0,200 23
Cultivo convencional 0,063 3
Cultivo núnimo 0,034 1,2
Semeadura direta 0,036 0,9
Pastagem nativa 0,039 0,03
Fonte: Adapta do de Eltz et al. (1984).

Informações referentes a perdas de solo e água, obtidas sob condição de parcela


e com chuva natural em solos de baixa aptidão agrícola (alta declividade e solos pouco
profundos), são muito raras no Brasil. Entretanto, é importante considerar q ue são nessa
áreas, sul do Brasil, que predonúnam propriedades familiares voltadas para o cultivo do
feijão, tabaco e horticultura. No quadro 18, constam-se informações de perdas de solo e
coeficiente de escoamento de um experimento conduzido na região dos Campos Gerais,
em Ponta Grossa, PR, em um Cambissolo Háplico alítico. Foram utilizadas parcelas de 3,5
por 22 m instaladas, no sentido do desnível, em uma encosta com 18 cm m·1 de decli idade.
A sucessão de culturas foi de aveia-preta+ervilhaca/ feijão preto+milho, sob três técnicas
de cultivo com uso da tração animal em nível: aração com arado de aiveca seguido de
duas passagens de grade niveladora; preparo reduzido, utilizando-se um escarificador de
uma relha do tipo Policutor; e semeadura direta com uso de uma semeadora adubadeira
"Gralha Azul" desenvolvida pelo IAPAR.
De acordo com o quadro 18, verifica-se que a redução no coeficiente de escoamento
da SD em relação aos sistemas de cultivo - convencional e escarilicador - foi de 3 e
20 %, respectivamente. Entretanto, as perdas de solo na SD foram reduzidas em 95 e 66
%, quando comparadas aos sistemas convencional e escarificador. Portanto, o efeito
positivos da maior cobertura do solo proporcionada pela SD no controle da perda de sol
não são verificados no controle do escoamento superficial, o que sugere a necessidade de
utilizar práticas mecânicas complementares para controle do escoamento superficial.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


372 GUSTAVO H. MERTEN & J EAN PAOLO GOMES MIN ELLA

Quadro 18. Perda de olo e água para suce ão aveia-preta+ervilhaca/feijão+n ü lho em um


Cambis ola Háplico Alítico, sob diferentes sistemas na região dos Cam pos Gerais, em Po nta
Grossa, PR (1990-1993), para declividade de 18 cm 111· 1
Tratamentos Coeficiente de escoamento Perda solo
kg m·2 ano·1
Descoberto 0,13 29,4
Preparo convencional 0,018 0,23
Escarificação 0,015 0,03
SD 0,012 0,01
Fonte: lapar (1994)

PRÁTICAS DE CONTROLE DO ESCOAMENTO


SUPERFICIAL

Uma vez formado o escoamento superficial, esse tende a se desenvolver ou se deslocar


no sentido do maior declive ou, então, preferencialmente, se orientado pelas linhas de
tráfego dos implementos de preparo e plantio (Ludwing et al., 1995; Desmet e Govers,
1977; Sonchere et al., 1998; Takken et al., 2001).Takken et al. (2001), por exemplo, obtiveram
resultados muito mais adequados simulando perdas de solo e água, quando orientaram
as linhas de fluxo no sentido do preparo ao invés da declividade do terreno (Figura 10).
Porém, independentemente dessa condição, a potência hidráulica do escoamento, ou seja, a
capacidade desses em transportar e desagregar o solo, depende da energia do escoamento.

(a) (b)

figura 10. Linhas de direcionamento do escoamento com base no padrão topográfico (a) e no padrão
criado pelas linhas de preparo e cultivo do solo (b).
Fonte: Adap tad o de Takken et ai. (2001 ).

A potência hidráulica de um escoamento concentrado pode ser definida por meio da


seguinte fórmula :
n =. v (Eq. 1)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE SUPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 373

em que T refere-se à tensão cisalhante do escoa mento (N m·2); V, a velocid de do


1
escoamento (m s· ). Por sua vez, a tensão cisalhante do escoamento é definid da seguinte
maneira:
(Eq. 2)
em que y representa o peso especifico da água (N m·3); Rw o raio hidráulico (m); e , o
gradiente hidráulico do escoamento (m m·1). A velocidade do escoamento na eq. 1 pode ser
estimada pela equação de Manning (Equação 3).

(Eq. 3)
O fator "n" de Manning representa a resistência encontrada pelo escoa mento durante
o seu deslocamento. Pelas equações 1 e 2, verifica-se então que para ambas as medidas
(1 e V) a declividade do terreno (S) é o fator comum que define parte do componente de
energia. No entanto, o fator "n" representa o fator de redução da velocidade do escoamento
e consequentemente de sua potência de escoamento. No quadro 19, são apresentados
alguns valores do fator "n' determinado para diierentes condições de uso e manejo de
solos. Observa-se então que quanto maior for a resistência oferecida pelo solo, maior será
o fator 'n", o que implica em menor velocidade do escoamento e consequentemente menor
potência hidráulica para realizar trabalho de desagregar o solo e transportar os sedimento
já desagregados.

Quadro 19. Valores de coeficiente de Manning para diferentes condições de solo

Condição da superfície do solo Fator "n"


Sem biomassa residual 0,05
Menos de 20 % de biomassa residual 0,06
Mais de 20 % de biomassa residual 0,17
Pastagem densa 0,24
Floresta 0,40
Fonte: Adaptado de Wa.r d e Trimble (2004).

De acordo com o quadro 19, também se verifica que um solo com biomassa residual
oferece maior resistência ao escoamento; ou seja, para se deslocar o escoamento encontra
urna resistência. Para superar essa resistência, o escoamento mobiliza parte dessa energia
e consequentemente menor será a energia disponível para realizar trabalho, que, no caso
da erosão, representa o processo de transporte de sedimentos (preferencialmente) e a
desagregação. Assim, práticas de manejo que condicionam uma superfície rugosa orientada
perpendicular ao declive, associada à permanência da biomassa residual na superfície do
solo, irão ocasionar redução da velocidade do escoamento (Figura 11). Quando a diminuição
de velocidade do escoamento é significativa, a chance de o escoamento no amente infiltrar
aumenta. Essa é a condição do princípio de funcionamento dos biofiltros estabelecido
próximos aos corpos de água com propósito de reter sedimentos e poluentes presente no
escoamento (Arora et al., 2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


374 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

ç 3,5

~
.e 30
,
~45
~
~ 2,0
.g 1,5
cu
"O
,o 1,0
-o
·oo
0,5
~
0,0
0,5 1 5 10
1
Declividade do terreno (cm m· )
- Superfície descoberta sem rugosidade - Superffc:i_e com pastagem
- Superfície com mais de 20% de - Superffcie sob .floresta com liteira
fitomassa residual

Figura 11. Gráfico hipotético e ilustrativo do efeito do fator 'n" de Manning para um escoéllllento de
mesma vazão em diferentes declives.

Urna maneira também de controlar o escoamento é impedir o seu desenvolvimento,


que pode ser alcançado também pela redução do comprimento das pendentes combinado
com a reorientação do volume escoado, mediante o uso de estruturas tipo terraço. Por
ser uma estrutura hidráulica, os terraços precisam ser dimensionados adequadamente
quanto ao seu espaçamento vertical, à sua seção transversal ou ao seu dique e canal de
armazenamento de água (ou redirecionamento de água). Os terraços deveriam estar
associados, sempre que possível, com os canais escoadouros, e ambas as estruturas
assumidas corno parte do sistema de drenagem de uma bacia. No sul do Brasil, a retirada
dos terraços em áreas de cultivo com e sem utilização de SD vem ocasionando novamente
problemas severos de erosão, principalmente nas áreas de vertentes longas e declivosas
(Denardin et al., 2007), podendo ser observado na figura 12. Como consequência disso, tem
sido sugerido por parte da comunidade cientifica (Bertol et al., 2000; Morais e Cogo, 2001;
Denardin et al., 2007; Barbosa et al., 2012) a reintrodução do sistema de terraceamento
como prática associada às demais já consagradas no controle do processo erosivo.
Discussão tem havido entre a comunidade científica quanto à possibilidade de
ampliar o espaçamento entre os terraços, uma vez que esses sistemas têm sido eficientes
em controlar o escoamento superficial. Com base nessa justificativa, Berto! et ai. (2000)
propuseram espaçamentos entre terraços baseados em dois conceitos distintos: capacidade
de os canais dos terraços armazenarem água do escoamento superficial; e da remoção da
biomassa cultural residual pelo escoamento em condição especial também denominada
de "falha da biomassa residual". A "falha da biomassa residual" ocorre quando o volume
escoado apresenta suficiente potência hidráulica (O) para deslocar/suspender a biomassa
residual depositada na superfície do solo e com isso propiciar condições para a ocorrência
do processo erosivo em sulcos. No Brasil, a" falha da biomassa residual" tem sido estudada,
levando-se em conta diferentes tipos de biomassa, solos e comprimentos de rampa (Berto!
et al., 1997; Morais e Cogo, 2001).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XII - HIDROLOGIA DE 5UPERFÍFIE RELACIONADA AO MANE JO E · · ' 375

Figura 12. Fotografia ilustrando problemas de erosão encontrada em lavourilS sob 50 no Estado do
Rio Grande do Sul.
Fonte: Foto de Edemar VaJdir Streck.

No quadro 20, é apresentado o espaçamento horizontal entre terraços com base em


estudos de chuva simulada para a condição da SD e do cultivo mínimo, quando utilizado
o critério do volume escoado a ser controlado pela seção do canal (critério 1) e da falha
da biomassa residual (critério 2) obtido por Berto! et al. (2000). o caso do espaçamento
definido pelo critério 1, os espaçamentos estimados não diferem muito dos espaçamento
que vinham sendo utilizados para a condição do preparo convencional. Porém, quando o
critério passa a ser falha da biomassa residual, o espaçamento quase q ue triplica. O fato
de o espaçamento aumentar está relacionado com a condição de que em cultivo mínimo
ou sem preparo (a SD) a resistência do solo ao processo erosivo é maior que a condição
do preparo convencional. A maior resistência no solo em sofrer o processo erosivo nos
cultivas conservacionistas em parte se deve à maior resistência do solo em ser desagregado
e também à perda da potência hidráulica representada pelo efeito de rugosidade superficial
(elemento rugoso: solo e palha).
É importante chamar atenção novamente para o que já foi discutido nos parágrafo
anteriores, ou seja, não necessariamente o volume gerado pelo e coa.menta superficial
nas áreas submetidas aos sistemas conservacionistas é menor que nas expostas ao cultivo
convencional. Em muitas situações, o volume de escoamento gerado nas áreas sujeitadas aos
preparas conservacionistas é menor, mas essa condição não pode nem de e er generalizada.
Primeiro, porque em caso de eventos extremos, corno alta unudade antecedente e chu as
intensas de curta duração, o volume escoado entre o culti o mínimo e a SD comparado
com o preparo convencional pode ser o mesmo. Segundo, especialmente no ca o d a SD, a
geração do escoamento será menor que o preparo convencional quando sejam satisfeitas
condições importantes como: grande quantidade de biorna sa residual é mantida na
superfície do solo(> 4 t ha·1); quando o preparo e cultivo são realizados em nível; e quand
da adoção de uma sucessão de cultw-as que envolva alternância de culturas (gramíneas
e leguminosas) e principalmente da inclusão de culturas destinadas exclusi a.mente à

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


376 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

p~odu~ão de biomassa e que também auxiliem na promoção de macroporos (escarificação


biológica) (Nicoloso et al., 2008).

Quadro 20. Valores de distância entre terraços com base na capacidade de armazenamento de água
e na falha superficial da fitomassa cultural residual num canal com 1,5 m 2 de seção, após as
colheitas do milho e trigo, em dois tratamentos de preparo de solo em um Argissolo Vermelho-
Amarelo textura argila franco-arenosa

Após a colheita do milho


Tratamento Espaçamento entre terraços
Critério 1 Critério 2
- - - - - - - - - - - m ------------
S.SPm 44a 60 328 a 483
ESCm 27 a43 147 a 209
Após a colheita do trigo
S.SPt+m 30a42 106 a 130
ESCt+m 36 aSO 143 a 178
SSPm = solo sem preparo com biomassa residual de milho; ESCm = escarificação com biomassa residual de milho; e SSPt = solo
sem preparo com biomassa residual de trigo e milho.
Fonte: Berto) et ai. (2000).

Também, recentemente, tem sido estudado e proposto como prática de controle do


escoamento superficial em áreas de SD a prática denominada de mulching vertical (Denardin
et al., 2008; Garcia e Righes, 2008). Essa prática consiste na abertura de sulcos (8 cm de
largura e 40 cm de profundidade) em nível e perpendiculares ao declive e preenchido com
fitomassa cultural residual e compactado para evitar o solapamento das paredes do sulco.
Apesar de ser uma medida mecânica de controle do escoamento, o mulching vertical não
altera o comprimento do declive e, por isso, não pode substituir a presença dos terraços.
Espaçamentos de 5 a 10 m entre sulcos têm sido estudados por Garcia e Rhiges (2008) com
utilização de chuva simulada (intensidades 70-106 mm h·1) em um Latossolo Vermelho
distrófico com declividade de 7,5 cm m·1. Os resultados (Quadro 21) apresentam que a
presença do mulching vertical nos tratamentos de 5 a 10 m entre sulcos tanto para o cultivo
da soja como para o de trigo foi eficiente em reduzir a taxa constante de escoamento (TCE)
e consequentemente o coeficiente de escoamento (CE).
Na escala de lavoura, Denardin et al. (2008), utilizando um índice de enriquecimento
de sedimentos, avaliaram lavouras de SD com e sem mulching vertical. Resultados
evidenciaram que as lavouras em SD em presença de mulching vertical foram mais eficientes
em reduzir a transferência dos sedimentos para os corpos de água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE 5UPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 37]

Quadro 21. Efeito do uso do mu lc hing verti ca l m dois espaçamentos sobre_a taxa c?n5 lante _de
escoa m ento (TCE) e coeficiente d e escoa m e nto (CE), avaliad os durante o cicl o da ºlª e do tn go

Taxa constante de Coeficiente de


Cultura Tratamento infiltração e'icoa mento

Sem mulching vertical 19 º·15


Soja Com mulching vertical a IO m 10 0.05

Com mulching vertical a 5 m 8.5 0.03

Sem mulcbing vertical 13.4 0. 11


Trigo Com mulching vertical a I O m o o
Com mulching vertical a 5 m o o
Fonte: Adaptado de Garcia e Righes (2008).

EFEITO ESCALA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Estudos recentes têm sugerido que os efeitos das práticas de conservação de solos
sobre o processo erosivo são dependentes do efeito escala e por isso não seria adequada
a extrapolação direta dos resultados nas pequenas parcelas para condições de lavoura ou
muito menos para bacias (Leys et al., 2010). Efeito escala quer dizer que os componentes
do processo envolvidos em urna escala não são os mesmos que estão presentes na escala
seguinte e, portanto, o efeito verificado em urna escala não pode ser extrapolado de
maneira linear para outra. Assim, por exemplo, quando se estudam os processos erosivos
da região dos entressulcos, o mecanismo de desagregação do solo causado pelo impacto
da gota é mais importante que o efeito de desagregação causado pelo escoamento difuso.
Na escala seguinte, quando se examina uma parcela onde a erosão em sulcos está presente,
o mecanismo de erosão causado pelo escoamento concentrado tem papel preponderante
na desagregação e no transporte de sedimentos. Na escala de uma bacia, os processos
erosivos não são apenas relacionados com a erosão em entressulcos e em sulcos, pois existe
deposição de sedimentos nas várzeas e erosão no canal fl uvial. Na hidrologia, o efeito
escala tem sido grande preocupação, em que os estudos estão voltados para determinar as
funções de transferência entre as escalas (Mediando e Tucci, 1997). No Brasil, as ciências
rurais exploram pouco os fenômenos hidrológicos na escala de paisagem, considerando
a bacia como unidade de estudo e pesquisa. Huggins (1979), por exemplo, abordou os
fenómenos hidrológicos na escala de bacia sob a perspecti a agrícola, indicando corno
a variabilidade dos solos e os seus atributos influenciados pelo uso e manejo controlam
processos hidrológicos importantes que condicionam a degradação pela ocorrência dos
escoamentos superficiais e laterais.
Cerdan et al. (2004), estudando o escoamento superficial em três diferentes escalas de
áreas agrícolas da Normandia (50 m 2, 90 ha e 1 100 ha), verificaram uma relação in ersa
entre o aumento da área e o do coeficiente de escoamento. Segundo esses a utores, fatores
integrativos hidrológicos como as condições de superfície do solo (rugosidade) e O tipo
d e vegetação controlaram tanto a geração do escoamento como sua transmissão entre as

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


378 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

diferentes e crescente escalas. No Chile, em condições de pastagem nativa, Joel et al. (2001),
e stu dando condições de hidrologia de superfície em duas escaJas (0,25 e 50 m 2), observaram
que nas parcelas maiores o volume escoado representou apenas 40 % do volume escoado
nas parcelas pequenas. No PlanaJto Médio do Rio Grande do Sul, dos Reis Castro et aJ.
(1999) estudaram o efeito escaJa (1 m 2, 77 m 2, 0,14 km2, 1,1 km2 e 20 km2) e compararam
esses efeitos para a condição de SD e PC (Quadro 22). O vaJor absoluto do coeficiente de
escoamento da parcela de 1 m 2 do preparo convencionaJ foi 10 vezes maior que as demais
parcelas e essas, por sua vez, apresentaram valores similares entre si. No entanto, à exceção
da parcela de 1 m 2, o coeficiente de escoamento para a SD foi superior ou pelo menos
igual ao do preparo convencional. Importante chamar atenção, entretanto, que nesse caso
o período de avaliação desse estudo correspondeu ao período em que a SD estava sendo
implantada pelos agricultores e, portanto, o solo nesse manejo ainda se mantinha com
condições estruturais similares à condição propiciada pelo preparo convencional.

Quadro 22. Valores de coeficiente de escoamento em dois preparas do solo, considerando diferentes
escalas em um Latossolo Vermelho textura argilosa
Coeficiente de escoamento
Escala Relação entre SD/PC
PC SD
lm2 0,16 0,06 0,37
77m2 0,03 0,05 1,7
0,14km2 0,03 0,09 3
1,1 km2 0,02 0,02 1
20km2 0,06 0,08 1,3
Fonte: dos Reis Castro (1999).

Recentemente Leys et aJ. (2010) revisaram vários artigos publicados nos últimos 20
anos sobre o efeito escaJa e as perdas de solo e água. Nessa revisão, os autores compararam
as perdas de solo e água entre o cultivo conservacionista e o tradicional.Tanto para as
perdas de solo como para as de água, verificou-se que quanto maior o tamanho da parcela
maior era o contraste que diferenciavam os cultivas (cultivo conservacionista vs não
conservacionista) (Quadro 23). Além disso, verificou-se também que os efeitos de escaJa
sobre as perdas de solo foram mais acentuados que para as perdas de água. Os autores
justificaram que a presença de biomassa residuaJ aumentou o que eles denominaram de
"efeitos de perdas por transmissão de água" ocasionados durante o deslocamento do
escoamento superficial. Perdas por transmissão de água se referem à diferença entre o
volume de água que entra em uma parcela e o que sai, ou seja, representa o volume que
infiltra durante o percurso do escoamento superficial. Com isso, os autores concluíram
que os efeitos do controle das perdas de água e solo proporcionados pelos cultives
conservacionistas são maiores que aqueles verificados nas escalas de pequenas parcelas
tipicamente utilizadas nos estudos de erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE SUPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 379

Quadro 23. Efeito d e escala verificad o por mei o da relação entre perdas de solo e água ob o -;is te ma
co nserv acionis ta e o trad icional

Relação entre cultivo conservacionista/tradicional


Tamanho da parcela
Perda de solo Perda de água
<2m 0~2 ~94
2-30 m 0,33 0,80
>30m 0,14 0,65
Fonte: Leys et a i. (2010)

VARIABILIDADE ESPACIAL DA GERAÇÃO DO


ESCOAMENTO

O escoamento superficial é um componente do ciclo hidrológico que, pela s ua na tureza


e complexidade, causa singular preocupação para os gestores dos recursos naturais. Além
da dificuldade em prever a sua origem na paisagem, bem como a s ua magnitude, as
suas características são responsáveis pelo mecanismo de mobilização e transferência de
sedimentos e solutos dentro da escala de bacias. Esse fenômeno envolve desde a d inâmica
da infiltração, saturação do perfil do solo, passando pela formação do escoamento
superficial, que controlará a erosão hídrica e transferência de sedimentos, assim como a
transferência de agroquírnicos (agrotóxicos e fertilizantes) presentes no solo. Sendo assim,
o escoamento superficial é o principal agente na degradação das terras pela erosão e d os
recursos hídricos pela transferência de agroquírnicos e sedimentos.
A variabilidade espacial da formação do escoamento superficial depende
fundamentalmente dos diferentes processos de formação desse, que ocorrem numa bacia
hidrográfica, em que se podem salientar: quando a intensidade da chuva for superior à
capacidade de infiltração, conhecido como escoamento Hortoniano com grande relevância
em áreas com vegetação rasteira e altas intensidades de chuva; quando a intensidade
da chuva for maior que a capacidade de infiltração em locais perto das áreas saturadas,
pressupondo de que existem áreas com comportamento hidrológico diferente na bacia
hidrográfica; quando a precipitação que cai sobre áreas saturadas, ou quase saturadas;
quando o fluxo da água que entra no perfil do solo e escoa lateralmente, formando o
escoamento subsuperficial; contudo, esse fluxo de água pode voltar a fluir na superfície
(Interfluxo ou exfiltração); e locais onde a saturação do perfil ocorre de baixo para cima,
sendo essa controlada pela dinâmica da água subterrânea.
Em alguns locais da bacia, a zona saturada do solo está localizada muito próxima da
superfície, em áreas próximas à rede de drenagem e áreas côncavas e con ergentes, por
exemplo. Nesses ambientes, grande parte da precipitação é convertida para escoamento
superficial. Além desse processo, nas áreas úrnidas, é comum que o fluxo subsuperficial,
proveniente de áreas a montante, retome à superfície num fenômeno conhecido como
exfiltração, gerando a formação de escoamento superficial. Áreas úmidas e saturadas,
como banhados e as planícies coluviais, apresentam importante função hidrológica. Ape ar
de representarem pequena extensão relativa ao tamanho da bacia, essas áreas assumem
papel fundamental no regime hidrológico da bacia; por exemplo, a recarga de aquíferos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


380 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

e a atenuação da onda de cheia por meio do amortecimento do escoamento superficial e


subsuperficial. Sendo assim, a dinâmica das áreas úmidas tem forte controle no padrão
espacial do escoamento superficial, sendo sua preservação fator decisivo no manejo do
escoamento superficial, no controle da erosão e na transferência de químicos.
A compreensão da dinâmica espacial do escoamento superficial na escala de bacia
depende essencialmente da compreensão da dinâmica espacial da infiltração de água no
solo e do escoamento subsuperficial. Entretanto, a determinação da infiltração de água no
solo na escala de bacia é tarefa complexa em virtude da variabilidade espacial dos atributos
do solo e dos atributos topográficos do terreno, tomando o processo altamente variável e
de difícil previsão. Entre as metodologias existentes para definir a infiltração, é comum
a utilização do método do infiltrômetro ou anéis concêntricos (Fiorin, 2008), simulador
de chuva (Bertol et al., 2012; Alves Sobrinho et al., 2002) e perfil instantâneo (Hillel,
1972). Cada método apresenta aplicações específicas, com vantagens e desvantagens,
dependendo do objetivo do trabalho e das características do sistema. Nesses casos, os
resultados representam situações homogêneas de uso, manejo, relevo e solo, indicando
que a extrapolação para diferentes escalas é de grande incerteza.
A variabilidade espaço-temporal de atributos do solo como a umidade do
solo e a condutividade hidráulica saturada (Ksa1) toma a estimativa da infiltração e,
consequentemente, do escoamento superficial grande desafio em áreas heterogêneas.
Segundo Nachabe et al. (1997), determinações físico-hídricos como a sortividade e
condutividade hidráulica do solo saturado apresentam grande variabilidade espacial em
escala de bacia hidrográfica. Além da grande variabilidade nos atributos do solo, no uso do
solo e no relevo, a dinâmica das áreas de afluência variável (Beven e Kirkby, 1979) interfere
diretamente a infiltração. Como foi descrito anteríormente, as áreas de afluência variável
são as grandes responsáveis pelo escoamento superficial rápido na bacia hidrográfica, que
é denominado de escoamento das áreas saturadas ou também conhecido como escoamento
"dunniano" (Dunne, 1983). Diferentemente do pressuposto de Horton, que retrata o
processo de infiltração de forma homogênea para toda a área da bacia, existem algumas
poucas áreas que podem produzir escoamento superficial, mesmo que a intensidade da
chuva seja menor do que a capacidade de infiltração do solo. Nas áreas próximas das redes
de drenagem, o solo encontra-se saturado ou perto da saturação. Já nas porções mais altas
da encosta, a tendência é toda água da chuva infiltrar-se, colaborando para o escoamento
subsuperficial, que se soma ao escoamento superficial no canal fluvial. Além do escoamento,
evidentemente, esse processo influencia a erosão e o transporte de sedimentos nas bacias.
Na figura 13, é apresentado o processo de expansão e contração das áreas de afluência
variável em estudo desenvolvido por Vestena (2008), utilizando o monitoramento
hidrossedimentológico e a modelagem matemática para estudar as áreas de afluência
variável e as fontes de sedimentos. Nesse estudo, o autor pôde compreender a dinâmica
de formação do escoamento superficial e da transferência de sedimento em uma bacia
hidrográfica localizada na região serrana de Santa Catarina.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLOGIA DE 5UPERFÍFIE RELA C IO NAD A AO M ANE J O E · · · 381

Figura 13. Dinâmica da expansão e contração das áreas de afluência variável (saturada) em uma bacia
hidrográfica. As figuras I, II e m mostram a condição de expansão das áreas ú midas enquanto
a figura IV ilustra a contração das áreas úmidas. As setas nos hidrogramas ind icam a evolução
temporal de cada figura em relação ao hidrograma.
Fonte: Vestena (2008).

Conjuntamente com técnicas de monitoramento de bacias, a calibração de modelos


hidrológicos também é um procedimento amplamente empregado, podendo ser
utilizada para o melhor entendimento do comportamento da infiltração e do escoamen to
superficial. Um exemplo é o modelo da Curva Número do Serviço de Conservação do
Solo dos EUA (USDA, 2007), desenvolvido a partir de dados monitorados em um grande
número de bacias experimentais nos Estados Unidos. O método da Curva t úmero é um
dos mais difundidos e utilizados para a estimativa do escoamento superficial, dada a su a
parcimoniosidade, necessitando de apenas um parâmetro, que representa o tipo de solo
e as diferentes condições de uso. Esse método é amplamente utilizado em estudo que
envolvem a estimativa do escoamento superficial (Pruski et al., 2001; Beskow et al., 2009) e
manejo e conservação do solo (Endale et al., 2011).
A variabilidade dos fatores que atuam na infiltração precisa ser considerada quando se
quer estimá-la, buscando sua representatividade na escala de bacias. Dessa forma, é preciso
buscar metodologias que incorporem os fatores controladores que representem a dinàrnica
de como essa ocorre. O uso de modelos matemáticos simples pode ser considerado boa
alterna tiva, desde que se tenham dados que incorporem a variabilidade.
Nesse sentido, uma alternativa eficiente em compreender a dinâmica espacial da
formação do escoamento é a utilização de índices topográficos obtidos computacio nalmente
a p artir do modelo numérico de elevação do terreno. Esses índices têm sido incorporados

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


382 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

em algorihno computacionais aplicados na simulação de processos hidrológicos, erosivos


e de transporte de poluentes com relativa eficiência, como o modelo TOPMODEL (Beven et
al., 1995). Por meio desses índices, zonas de acúmulo de umidade em uma bacia hidrográfica
podem ser previstas, e pacialmente levando em consideração efeitos de orientação de
drenagem e declividade do terreno. A magnitude dos processos hidrológicos é sensível à
posição topográfica, porém, na maioria dos casos, é difícil medir as variáveis necessárias
para sua descrição em razão da sua variabilidade espacial. A possibilidade de se obterem
de maneira simples índices topográficos que representem adequadamente essas variáveis
complexas é um dos desafios atuais da modelagem agrícola e da ambiental (Longley et ai.,
2005).
Contudo, muitos desses modelos au1da não possuem capacidade de análise
espacialmente distribuída, ou então utilizam ferramentas pouco precisas ou inadequadas
para as diferentes escalas de análise. Por isso, as técnicas de geoprocessamento
possibilitam aos modelos se beneficiarem das capacidades analíticas e da apresentação de
dados geográficos. O geoprocessamento permite estudar de maneira eficiente as feições
geomorfológicas do relevo, consequentemente a sua integração com modelos ambientais
resulta em grandes benefícios para a descrição dos processos, possibilitando com isso o
planejamento e gerenciamento dos recursos naturais.
O índice de umidade do terreno foi desenvolvido por Beven e Kirkby (1979) para
o modelo hidrológico TOPMODEL para possibilitar a simulação das áreas de afluência
variável (zonas saturadas) em áreas de relevo complexo. Como foi apresentada
anteriormente, a saturação da superfície do solo ocorre, em geral, nas áreas de convergência
do relevo e próximas aos canais de drenagem. Essas zonas saturadas expandem e retraem
em reposta à precipitação e ao movimento subsuperficial da água de montante. As
características topográficas da bacia são o fator controlador no mecanismo de movimento
lateral e subsuperficial da água e a distribuição do conteúdo de água no solo dentro da bacia
(Moore et al., 1990). O índice de umidade do terreno (u) (Equação 4) é calculado a partir
da área de contribuição específica (AJ e com gradiente local (tan P), sendo a expressão
definida como:

(Eq. 4)
Na figura 14, é apresentado um exemplo de aplicação do índice de umidade do
terreno realizado por Minella e Merten (2012) na bacia experimental de Arvorezinha, para
indicar os locais de maior wnidade de água no solo e áreas saturadas. De acordo com
essa figura, as áreas mais escuras representam os banhados e as planícies coluviais úntidas
formadas particularmente em pendentes de curvatura no perfil do tipo côncava. As cores
intermediárias indicam as pendentes de curvatura no plano do tipo convergentes, onde os
fluxos tendem a se concentrarem, aumentando a umidade do solo. As zonas de saturação,
importantes para a geração do escoamento superficial, apresentam comportamento
hidrológico e de armazenamento de água distintos na bacia. Essa classificação pode servir
como base para o planejamento agrícola e o ambiental da bacia. As áreas com valores altos
de umidade deveriam ser consideradas como áreas hidrologicamente e ecologicamente
frágeis e deveriam ser preservadas, tendo em vista a importância na regulação hidrológica
da bacia, na retenção de sedimentos e poluentes e na preservação da biodiversidade. As
áreas com tonalidades intermediárias evidenciam maior disponibilidade Júdrica e estariam
aptas para culturas de maiores necessidades hídricas. As áreas com tonalidades claras, de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLO GIA DE SUPERFÍFíE R ELA TONADA AO MANEJO E · · · 383

menor ca pacid ade ele nrmélzcn,i mcnlo d . ,íguél, s ri.:im rccom ··nd.:id,1 pnrêl ulturJs de
me nor ex igé nciél hídricél. Áreas em branco rcprec;entari élm ,ír c1s com maior ri ~co por c<1u s
da menor capacidade de nrmazenamcnto de .:íg ua p los solos, s nd o então recomendad.:1s
para cu lturas res istentes a secas.

'
,.
\

\
\
\

. \

\
1

'
,
;
/
Rede de drenag em
/ Lim ite da bacia
I

J ' lnd1cc de umidade do


terreno
I
1 4-5
r s -6
~ c=) 6 -8
8-9
9 - 10
-10-11
- 11-1 3
- 13-14
Wll-■ - 1 4-15

Figura 14. Identificação das áreas críticas em re lação à umidade do terre no na bacia experim e.n tal de
Arvorezinha
Fonte: Minella e Mcrten (2012).

Con fo rme verificado, o índ ice de um idade, q uando utilizado no planejament


agrícola e no ambiental, servi ria para orien ta r a u ti lização de área agrícola com relação
à dis po nibilidade hídrica e necessidade de irrigação e, evidentemente, para auxiliar na
ide ntificação de á reas im porta ntes pa ra preservar os recursos hídricos.

IM P AC TO DAS PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DE SOLO


VE RIFICADO NA ESC ALA DE BACI A

As mudanças de uso do solo, como a retirada dn flore ta para introduz.ir as ati vid.-:ides
agr ícolas, influencia m a hid rologia de urna bacia pela al teraç - es nas taxas de infiltra ·à ,
evapotra nspiração, armaze na mento de água e percolação profunda. Dentr d ·se conte. t ,
é necessário entender como as prá ticas de conservação e mc1nejos do - 1 · i.nflu nciam ,

MAN EJO E CON SERVAÇÃO DO S OLO E DA ÁGUA


384 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

alteram a qualidade e quantidade de água dos rio . Mudanças climá ticas como as que
es tão ocorrendo deverão estressar ainda mais os efeitos relacionados ao défice e excesso
hídrico, e as práticas de conservação de solos poderão ser parte da solução para mitigar
sse efeito ao ambiente.
E tudos de efeitos das práticas conservacionistas na escala de bacia são extremamente
raros. Isso porque esses exigem longo período de monitoramento internütente. Para fins
comparativos, eles devem ser realizados com bacias pareadas para possibilitar o contraste
entre os efeito , que são desejados medir. Bacias pareadas significam que as bacias devem
ser muito semelhantes entre si nos aspectos geomorfológicos, solo e hidrologia, em que as
diferenças se referem apenas aos diferentes usos do solo ou ao manejo de solo que se deseja
estudar. Em razão dessa restrição, esses estudos, ainda que sejam muito necessários, são
muito caros e por isso são raros no mw1do todo.
Um dos melhores estudos sobre esse tema tem sido conduzido no Estado de Iowa
nos Estados Unidos dmante os anos de 1972-1995 (Kramer et a l., 1999; Tomer et ai.,
2005). A região do Estado de Iowa, onde esse trabalho foi realizado, é considerada uma
das mais suscetíveis ao processo erosivo por causa da declividade e erodibilidade dos
solos, sendo frequente a presença de voçorocas. Nesse trabalho, foram monitoradas três
bacias de primeira ordem, conforme descrição que consta no quadro 24. O cultivo mínimo
utilizado foi o sistema ridge-till, que consiste no cultivo sobre pequenos camalhões pré-
formados antes do plantio, cuja biomassa residual permanece entre esses carnalh ões. Os
canais escoadouros vegetados são locados no talvegue do terreno e servem para drenar o
escoamento superficial, de forma a não provocar erosão durante o seu deslocamento.

Quadro 24. Caracterização das bacias estudadas em Iowa entre 1972-1995


Bacia com cultivo
Bacia sob preparo Bacia com cultivo
Características das bacias conservacionista e
convencional conservacionista
terraço
Cultura milho milho milho
Tipo de preparo Arado e grade Mínimo Mínimo
Práticas conservacion.istas Preparo e plantio em Preparo e Terraços paralelos
contorno e canais plantio em com drenos e canais
escoadouros contorno e canais escoadouros
escoadouros
Área da bacia (ha) 34 43 61
Fon te: Adaptado de Kramer et ai. (1999).

O sistema de terraceamento utilizado em uma das bacias foi do tipo paralelo, onde o
escoamento era recolhido por um dreno subsuperficial direcionado para o canal escoadouro
vegetado. O espaçamento entre terraços foi de 90 m, sendo o dobro do que normalmente
seria recomendado pelo Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos (SCS) para
a condição onde a declividade é de 14 cm m-1 . O sistema de dreno foi dimension ado para
coletar escoamento de até 5 cm de altura para a condição de um dia. Em todas as bacias, o
preparo e cultivo foram realizados sempre em nível.

MAN EJ O E CONS ERVAÇÃO DO SO LO E DA Á GUA


XII - H IDROLO G I A D E 5UPERFÍF I E R ELAC IONAD A AO MANEJO E .. · 385

Alg uns res ul tél dos hid rológicos de 23 a nos de mon ito ramento encon tril m-se res umidos
no quadro 25. Os déld os finél is desse trabél lho ev idenciil ram q ue c1 bilciil em cu ltivo
míni mo, mas sem terraços, élprcsento u 29 % menos escoa mento s uperficic1 l e 13 "h ma is Je
escoa men to de base qu e él bacia cul ti vad a em pre pilro conve ncio na l; as ma io res d iferença
pa ra o escoamento de base fora m verificél das d urn nte os a nos secos. Os a uto res ve riíicar.:i m
q u e as bacias onde o sistemil conservacion is ta ti nha sido empregad o rec u perc1v,1 m mél is
rapid a mente as vazões de base d o q ue as sem conservação de solos. Além d isso, também
fo i possível verificar qu e d ura nte as estações mais ú mid as as bacias em cultivo mínimo
e terracea mento eram muito mais efi cien tes em atenua r a vazão de pi co. Ta m bém, essas
bacias fo ram ca pazes de redu zir em mais de 90 % a prod ução de sedimen tos. O que não foi
poss ível observar nesse estu do fo ram as diferenças sig nificati vas em term os hidrol ógicos,
qu a ndo fo i compa rada a bacia sob culti vo m ínimo e com te rraceamento com a só ob
cultivo mi n.imo. Segundo os a utores, parte da jus tifica ti va deve-se a um aume nto do
es paçamento enh·e terraços fo ra dos padrões tradicio nalmente recomendad os pelo SC
(Kra mer e t a i., 1999). Por fim, os a utores concl uíram qu e tan to os riscos de enchentes como
d e secas podem ser redu zidos pelas práticas de conservação de so los, qu e permitem maior
infiltração d a águ a no solo e menor escoamento s u perfi cia l (To mer et ai., 2005).

Quadro 25. Efeito das prá ticas de conservação e manejo d e so los sobre variáveis h idrológicas em três
bacias agrícolas de primeira ordem na região d e Iowa, nos Estado Unid o (1972-1995)

Bacia s ob Bacia com cultivo Bacia com cul tivo


Variável hidrológica preparo cons ervacionis ta cons ervacioni ta e
convencionaJ terraço
ffilTI d ·1

Escoa m ento Máx imo anua l 0,52 0,37 0.-12


s uperficia l Minimoanua l 0,01 0,00 0.01

Escoamento d e Máx imo anua l 1,16 1,31 1.31


base Mínimoanua l 0,11 0,13 0.1 '
Máximo anua l 1,58 1,66 1.55
Vazão to tal
Mínimoanua l 0,16 0,16 o.n
t ha·1 ano- 1
Produção de sedimentos 12 1 0,7
Fonte: Turner et ai. (2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

M uda nças de uso e manejo dos solos são acompanhadas de modificação da di nâmica
d o ciclo hid ro lógico. Alterações nas vazões dos rios, especialmente a pro ocad 3 s pela
variação nas taxas de eva po transpiração, e e m menor g randeza pelas muda nças das taxas de
infil tração, têm sido ve_ri fica das es pecialme nte quando a agricultura é pra tica ::la em grande
escal a, confo rme tem sido d ocumentado em algu ns es tud os. Alterações limãtica , deverão
condicionar novos pad rões de dis tr ibuição de chu vas e de taxas de evapo tra ns pi raç,10 co m
e fe itos d ire to ao setor agro pecuário, por meio do aLLme nto da e rosão, q uando as ociad o a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


386 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

um aumento da intensidade das precipHações, ou sobre modificações regionais do atual


zoneamento agroclimático. Além do setor agropecuário, a sociedad e também sofrerá as
con quências da degradação dos olos e dos recursos hídricos, em razão do aumento das
enchentes, assoreamento e depauperamento da qualidade da água.
Nesse contexto, implementar as práticas de conservação de solo e água nas áreas
de agricultura ~ muito importante para atenuar os impactos negativos provocados tanto
pela expansão da fronteira agrícola brasileira como pelas mudanças climáticas esperadas.
Assim, torna-se cada\ ez mais importante conhecer, adequadamente, os efeitos das práticas
conservacionistas sobre a diJ1âmica do ciclo hidrológico e, ou, do conh·ole do processo
erosivo. Tanto no Brasil como nos demais países, o conhecimento das alterações hidrológicas
provocadas pelas práticas conservacionistas está Umitado aos estudos realizados em
pequena escala; ou seja, se sabe muito sobre os processos que ocorrem em paTcelas de 1
e até no máximo 10.000 m 2, mas pouco se sabe do processo em larga escala. Na ausência
desse conhecimento, as informações quantificadas na pequena escala são extrapoladas
para larga escala, assumindo-se uma relação linear, que não corresponde à realidade. Os
processos que explicam a não linearidade na formação do escoamento superficial entre
escalas estão relacionados com um número maior de processos, bem como com uma
complexidade dirigida pelos fatores conb.-oladores que ocorrem em áreas maiores (larga
escala). Nesses casos, por exemplo, soma-se a influência das áreas de afluência variável e
o efeito da forma da encosta na propagação do escoamento, causando a não linearidade.
Um exemplo dessa prática é a extrapolação linear dos valores de perda de solo e água,
verificados em pequenas parcelas (l m-2 ou g m·2) para grandes áreas (m3 ha·1 ou kg ha·1),
que precisam ser examinados para cada caso.
Um aspecto também bastante explorado neste capítulo é sobre a exploração mais
profunda por meio de wn olhar mais "hidrológico" dos estudos realizados em pequena
escala no Brasil. Mesmo nessa escala, ainda existe muito a ser explorado nesses estudos. Um
exemplo interessante são os resuJtados obtidos no Brasil em relação às parcelas de perdas
de solo e água, que foram conduzidas em vários locais do Brasil desde a década de 1970.
Apesar de muitos estudos terem sido publicados em teses, dissertações, artigos e resumos
de congresso, ainda existem muitos resuJtados de pesquisa que não foram organizados
e permanecem não acessíveis à comunidade cientifica e, portanto, não disponíveis para
serem explorados mais profundamente sobre os aspectos hidrológicos. Além disso, esses
dados seriam vaUosos para a calibração/validação ou o desenvolvimento de modelos de
erosão. Talvez, em parte, isso explica os problemas que estão sendo verificados nas perdas
de água (e dos processos erosivos) na semeadura direta. É muito provável que tenham
sido feitas simplificações dos resultados em parcelas de perda de solo e água, quando
valores médios de perda de água medidos para o tratamento SD evidenciaram controle
eficiente nas perdas de solo e água, ainda que menor para as perdas de água. Uma análise
mais apurada desses dados (estudo de eventos individuais ao invés de médias) teria sido
importante para observar que no exame dos dados individuais de perdas de água por meio
de uma análise de frequência dos coeficientes de escoamento da SD teria apresentado as
limitações desse manejo em controlar o escoamento superficial para todas as situações.
Dessas simplificações, ficou a lição de que o controle da erosão para níveis aceitáveis
tanto para as perdas de solo como da transferência de poluentes (por meio dos sedimentos)
para os corpos de água só é possível quand,o as práticas conservacionis tas são utilizadas de
maneira a complementar umas às outras. E impossível considerar que apenas uma prática
de conservação de solos isolada seja capaz de integrar todos os fatores que precisam ser

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDR OLOGIA DE 5UPERFÍF TE R ELACIONADA AO MANEJO E ·.. 387

a ltcrridos prira posc;ib ililar o co ntrol e do pro c;c;o d, desc1grcgêl .iodo c;n]o e o tr,m _ pnrte
ele sedimentos. Enquéln lo él desélgregação do c;nl o, provoc,1d,1 pelo impacto da, gota-; de
c hu va, é con trolad a a d eq uad ame nte pelJ méli o r cobe rtura do solo, d cfec;agr egdçc10 c.1us1c.fa
pelo escoa m e nto concentrado é conl ro lélda pela alcnuc1ção da potência h ic..lr,í ul ica, sejd pel.:1
re dução d o se u vo lume (m eno r ge ração do scoél me nto por cau c;,1 da mêlio r 111filtr<1çJo Ja
água n o s o lo) o u pe la red ução d a ve locidade do escoa m nto. Afo rtunaddmente, d p rc1l-ic<1s
necessá rias para aumentar o a rm azena me nto de óg ua n o solo, regul a riza r êlS VélZÕes doe.
ri os, redu z ir a erosão e a trans ferê ncia de polue ntes para os rios c,ão exiltélmente J, m smil •
Essa condição reforça a importância da necessidade de oco rre r no Bras il c1 impl m cnl.iç.:io
d e políticas públicas que estimule m a adoção de préÍ li cc1s consc rv,ic ionistas nas Mea · em
c ulti vo para possibilita r um uso contínu o e us te ntável dessa . Entreta nto, é impo rtcmte
ta mbé m qu e as políticas públicas co nte mpl em um o rdenamento do território brasileiro
parn fin s de ex ploração agríco la, co ns ide ra nd o a importâ ncia da p rec;ervação doc; biom,L
bras ileiros para pres tação d e ser viços a m bientais co mo regul J ri zc1çc10 de fl u xos hídri co e
preservação da biodivers idade.

LITERATURA CITADA

Agassi M, Shainberg 1, Morin J. Effect of e lec trol y te concentration a nel soil od inty o n infiltration
rate and crus t fo rma tion. Soil Sei Soe Am J. 198"1;45:848-31.
Alves Sobrinho T, Fe rreira AP, Prus ki FF. Desen volvim1cnto d e um infiltrnmé tro J e c1. perscio portátil.
R Bras Eng Agric Amb. 2002;6:337-14.
Armand R, Bocks talle r C, Auzet A, van Dijk P. l{unoff gencration rclated to intra-f1eld sod ,urfacc
characteristics variabi Lity: Application to conserva tion tillage context. Soi l Till Re . 2009; 102:27-37
Arara K, Mickelson SK, He lmers MJ, Bake r J. Review of pesticide retentio n proce se- occumng in
buffer s trips receivi ng agi·icultural runoff. J Am Water Res As oc. 2010;-!6:61 ~-17.
Barbosa Ff, Berto! 1, Werne r RS, Ramos JC, Ramos RR. Comprimento critico de decliw relac10nado
à erosão hídrica, em h·ês tipos e doses d e resíduos e m duas direçõe~ de . emeadura. Rcv Bras
Cienc Solo. 2012;36:1279-90.
Barcelos AA, Cassa i EA, Denarclin JE. ln filh·açao d e c'1g ua em um La to ·solo Vermelho-Escuro :.ob
condições d e chuva intensa em d iierentes sis temas d e manejo. Re\' Brr1s Cienc oi . 1999; 23:35-13
Barros LCG, Hanks RJ . Evapotrans piratio n and y ield of beans as affected by mulch ,md irri-'ation.
Agron J. 1993;85:692-7.
Be rto! 1, Be rto! C, Barbosa FT. Simulador d e chuva tipo empu xo co m braços rota tivos movido,
hidraulica mente: fa bricação e calibração. Rev Bras Cienc Solo. 20·12; 36:1905-10.
Be rto ! 1, Cogo P, Casso! EA. Dis tancia enh·e terraços usa ndo o comprimento critico de rampa e m
d o is pre paras conservac ionistas ele solo. Rev Bras Cienc o lo. 2000;2-l:-l17-25.
Be rto ! 1, Cogo NP, Lev ie n R. Comprimentoc ríticodedecliveem s is ternasde prepc1.ro · conserva iunist41
de so lo . Rev Bras Cienc Solo. 1997; 21 :'139-18.
Be rto ! OJ, Pauletti V, DieckO\ J. A transfer~ncia d0 tecnologia em manejo 1.: conservaç.10 do solo e da
á g u a. B lnf Soe Bras Ci Solo. 2012; 37:26-31.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


388 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MINELLA

B ko" S, ello R, C elh , ilva AM, iola MR. Estimativa do escoam nto s uperficial e m uma
bacia hidrográfica com base em modelagem dinâmica e distribuída. Rcv Bras Cienc Solo. 2009;
33:16 -7 .

B ' en KJ, Kirb • MJ. A ph) sically based, variable contributing area model of basin hydrology.
H d.rol Sei Buli. 1979; 24:43-69.
BeYen KJ, Lamb R, Quinn PF, Romanowicz R, Freer J. TOPMODEL. ln: Singh VP, editor. Computer
mod Is of '" atershed h •drology. Higlanders Ranch: Water Research Publication; 1995. p. 627-68.
Bi onnais LY, Bruand A, Jamagne MO. Laboratory experimental study of soil crusting: relation
ben, een aggregate breakdown mechanjsms and crust structure. Catena. 1989; 16:377-92.
Bollinger A, Magid J, Amado TJC, Skora FN, Santos MFR, Calegari A, Ralisch R, Neergaard A.
Taking stock of the Brazilian zero- till revolution: A review of landmark research and farmers
practice. Adv Agron. 2007; 91:47-64.
Borst HL, \ oodbum R. Effect of mulches and surface conditions on the water relations and erosion
of Muskingun soil. Washington: USDA; 1940. (Teclmical Bulletin, 825)
Bragagnolo , Mielniczuk J. Cobertura do solo por palha de trigo e seu relacionamento com a
temperature e umidade do solo. Rev Bras Cienc Solo. 1990; 14:369-74.
Castro O '1, Lombardi Neto F, Vieira SR, Dechen SCF. Sistemas conservacionistas de preparo de solo
e as perdas por erosão. Rev Bras Cienc Solo. 1986; 10:167-72.
Cerdan O, Le Bissormais Y, Govers G, Lecomte V, van Oost K, Cuturier A, King C, Dubreuil N. Scale
effect on runoff from experimental plots to catclunents in agricultura] areas in Normandy. J
Hidrol. 2004; 299:4-14.
Cago NP, Levien R, Schwarz RA. Perdas de solo e água por erosão hídrica influenciada por métodos
de preparo, classes de declive e níveis de fertilidade do solo. Rev Bras Cienc Solo. 2003;27:743-53.
Costa MH, Botta A, Cardille JA. Effects of large-scale changes in land cover on the discharge of the
Tocantins River, Southeastem Amazonia. J Hydrol. 2003; 283:206-17.
Dedecek R, Resck DV, Freitas Junior E. Perdas de solo, água e nutrientes em Latossolo Vermelho
escuro do Cerrado em diferentes cultivas sob chuva natural. Rev Bras Cienc Solo. 1986; 10:265-72.
Denardin JE, Kochhann RA, Faganello A, Sttler A, Manhago DO. "Vertical mulching" como pratica
conservacionista para manejo de enxurrada em sistema de plantio direto. Rev Bras Cienc Solo.
2008; 32:2847-52.
Derpsch R, Sidiras N, Roth CH. Results of studies made from 1977 to 1984 to control erosion by cover
crops and no-tillage techniques in Parana, Brazil. Soil Tillage Res. 1986; 8:253-63.
Desmet PJ, Govers G. A GIS procedure for automatically calculating the USLE LS factor on
topographkally complex Iandscape units. J Soil Water Conserv. 1996; 51:427-33.
dos Reis Castro NM, Auzet NM, Chevallier P, Leprun JC. Lande use change effects on runoff and
erosion from plot to catchment scale on the basaltic plateau of Southern BraziJ. Hydrol Process.
1999; 13:1621-8.
Ounne T. Relation of fried studies and modeling in the prediction of storm runoff. JHydrol. 1983;
65:25-48.
Ellison WD. Soil erosion studies-part 1. Agric Eng. 1947b; 28:145-6.
Ellison WD. Soil erosion studies-part Ir, soil detachment hazard by raindrop splash . Agric Eng.
1947c; 28:197-201.
Ellison WD. Soil erosion studies-part JII, some effects of soil erosion on infiltration and surface
runoff. Agric Eng. 1947d; 28:245-8.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - H IDROLOG I A DE SUPERFÍF TE RELACIONADA AO MANEJO E · · · 389

EIli son WD. Soi l cros io n slucliec;-porl IV, '> oil roc; ion , c;o il loc;c;, ,rnJ c;omf' e ffectc; o f '-nil e rnc;inn. 1 ~ric
Eng. l 947e; 2R:297-3D0.
Ell ison WD. Soi l eroc;ion slucl ies-part V, soil trt1ns portati nn in thc c;pl a-;h procec;c,_ r\gric Eng. 19-l7f:
28:349-51.
Elliso n WD. Soil e rosion stuclies-pa rt VI, soil detachmcnt by c;urfacc fl ow. Agric Eng. 1947):;; 28:-HJ2-=i .
EItz FLF, Cassai EA, Scopel 1, Guerra, M. Perdas por e rosão e m d i fercn l e; mancjoc; de c;nln e cob1! rl uril'-
vegeta is e m La te ritico Bruno avermelhado dis trófico São J ronimo <;ob chuva nc1tur,1I Rev Br,1'-
Cie nc Solo. 1984; 8:11 7-25.
End a le DM, Schom berg HS, Fisher DS, Jenkins MB. No-Lili anel C urve N um b rs - .i close r look. ln:
Proceedings of Georg ia Wa ter Re ou rccs Conference. A thens: T hc l.in ivcrc;i ty o f Georgi,1; 20 11
Fio ri.n TT. Es timativa d a infilh·ação d e águ<1 no o lo a partir d e pedofunçõcs {tese). anta .v laric1:
Uni versid ade Fed era l d e Santa Maria; 2008.
G<1r cia SM, Righes AA. Vertica l mu lching e m <1 nejo di! água em semeaJura d ire t<1. Rev Bra.s Cienc
Solo. 2008; 32:833-42.
H a nsen B, Schj0 nning P, Sibbesen E. Rouglrness índice for estimatio n of deprcss,on s to r.ige cap.ic,tv
o f tilled soil s urfaces. Soil Till Res. 1999; 52:103-11.
H e mani LC, Sa lton JC, Fabrício AC, Dedecek R, Alves Juni o r M. Perdas po r eroc;ão e rend imento<- de
soja e d e trigo e m dife rentes sistemas d e p re paro de um Lato_sol o Ro xo d e Do urados (\1 ). Rev
Sras Cienc Solo. 1997; 21:667-76.
H e w lett JD. Watershed management. ln: Rep o rt fo r 1961 Southeastern Fo res t Expe rim ental tation,
U.S. Forest Service. As hville: 1961
Hille l D, Kre ntos VD, Sty liano u Y. Procedure a nel test o f a n in terna i drainage method fo r measurin,7
soi l hyd ra ulic charac teris tics in s itu. Soil Se i. 1972; l H :395-400.
Horton RE. Ana lysis of runoff plots expe rime nts \v ith va ryi ng infiltration-capacity. Trans. m.
G eophys Union. 1939: 20:693-711.
H u ggins LF. Sma ll wa ters hed hydrology. Wes t Lafaye tte: Purd ue Univcrsit:y; 1979.
Ins titu to d e Pesquisas Agrícola d o Para ná - la pa r. Pe rd<1s d e solo e ,iguana região s ul do eS ta J o do
Para ná. Progra ma d e Recursos Naturais, Proje to 3.2.02.02.00.00.; 1991 [não publicado] .
Joe l A, Messing 1, Seguei O, Casanova M. Measurement of surface \vater runoff from plo ts to t,. o
diffe rent sizes. Hydrol Process. 2002;16:1467-78.
Ke mper WD, Bo ngert C E. Economics o f al terna tives fo r ma nagi ng intensive rainfall on a\?Ticultu ral
wa te rs he d s. J Soil Wa te r Conserv. 2012; 67:"11 A-6A.
Ke mpe r W D, Jolley RC, Rosenau RC. Soil manageme n t to p revent earthwo rm from rid d lin,•
irrigatio n ditch ban.ks. lrrig Sei. 1988; 9:79-87.

Ke mper W D, Schne ide r NN, Sincla.ir TR. No-till c<1n increa e earthw orm population a nd rooti ng
d e pth . J Soil Wa te r Conserv . 2011; 66:15A-9A.
Ki rkby MJ. H ilJslo pe hydrology. Ne\.v York: John Wiley & Sons; 197 .
Kramer LA, Burka rt MR, Meek DW, Jaqui RJ, Ja mes DE. Fie ld-scale \ ater -heJ evaluation , n d eep-
loess soil : li. Hydrologic responses to d iffe re nt agricultura l land manc1gement syste ms. J -0 11
Wa ter Conserv. 1999; 5-l:705-10.

Ley A, Gover G, G ill ijns K, Berckmoe E, Ta.kken 1. Scale effeds on run ff ;rnd e rosion lns e.-,, fro m
ara ble land under conservation and con ventionc1l tillage: The role of residue cover. J. H \'Jrul.
2010; 390:143-5-l. .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


390 GUSTAVO H. MERTEN & JEAN PAOLO GOMES MIN ELLA

Lind tro m MJ , \ oorhees \,\ B, Ramfa ll G\N. Long-term 1illagc effc Is on inte rrow runoff and
infiltration. oi l m J. 1981: 45:94-5-8.
Longle I P , oodchild 1F, Maguire DJ, Rhind DW. Geographic information systems and scien ce.
2"'1.ed. Chiche ter: \-\liley; 2005.
Lud,vig B, Boiffin J, Chad oeuf J, Auzet AV. Hydrological st:ructure and erosion darnage cau sed by
concentrated fl ow in cultivated catchments. Catena. 1995; 25:227-52.
'1annering JV, 1eyer LD. The effects of ctifferent methods of cornstalk residue management on
runoff and erosion as evaluated by simulated rainfall. Soil Sei Soe Am Proc. 1961; 25:506-10.
tlanneri.ng JV, 1e,·er LD. TI1e effects of various rates of surface mulch on infiltra tion and erosion.
Soil Sei Soe P1:oc. 1962; 27:84-6.
Mendiondo EM, Tucci CEM. Escalas hidrológicas I: conceitos. R Bras Rec Hídric. 1997; 2:21-44.
Merten GH, Araújo AG, Biscaiar CM, Barbosa GMC, Conte O. No-till s urface runoff and soil lasses
in southem Brazil. Soil Till Res. 2015; 152:85-93.
tleyer LD, Man.nering JV. Minimum tillage for com: lts effect on infiltration and eros ion. Agric Eng.
1960; 42:72-5, 86.
Mielniczuk J. Manejo d e solo e culturas e sua relação com os estoques de carbono e nitrogênio do
solo. Tópicos Ci Solo. 2003; 3:209-49 .
.Minella JPG, Merten GH, Walling DE, Reichert JM. Cha.nging sediment yield as an i.ndicator of
improved soil management practices in southern Brazil. Catena. 2009; 79:228-36.
Mondardo A, Vieira MJ, Biscaia RM, Castro FiU10 C, Rufino RL. Erosion studies for different tillage
and crop systems in the state of Parana, Brazil. ln: Proceedings of the 8th • Conference Intemational
Soil Tillage Research Organization, ISTRO; 1979; Hohenheim. Hohenheim: ISTRO; 1979. p . 159-63.
Moore ID, Grayson RB, Wilson JP. Runoff modelling in complex three-dimensional terrain. ln:
Hydrology in Mou.ntainous Regions. I - Hydrologtcal Measurements; the Water Cycle.
Proceedings of h•vo Lausanne Symposia; 1990; Wallingford. p. 591-8. (IAHS Publication, 193)
Morais LF, Cogo NP. Comprimento crítico de rampa para diferentes manejos de resíduos culturais
em sistema de semeadura direta em um Argissolo Vermeil1o da depressão central (RS). Rev Bras
Gene Solo. 2001; 25:1041-51.
Morin J, Benyamini Y. Rainfall infiltration into bare soils. Water Res Res. 1977; 13:813-7.
Mualem Y, Assouline 5, Rohdenburg RHB. Rai1úaU i.nduced soil seal a criticai review of observations
and models. Catena. 1990; 17:185-203.
achabe MJ-l. 1.nfiltration over heterogenous watershed: lnfluence of rain excess. J Hydr Engin. 1997;
2:140-1.
licoloso RS, Amado TIC, Schneider S, Lanzanova ME, Girardello VC, Bragagnolo J. Eficiência da
escarificação mecânica e biológica na melhoria dos atributos físicos d e um Latossolo muito
argiloso e no incremento do rendimento d e soja. Rev Bras Cienc Solo. 2008; 32:1723-34.
Panachuki E, Berto) I, Sobrinho TA, Oliveira PTS, Bicca DB. Perdas d e solo e de água e infiltração
de água em Latossolo Vermelho sob sistemas de manejo. Rev Bras Cienc Solo. 2011; 35:1777-85.
Pruski FF, Griebeler NP, Silva DD. Comparação entre dois métodos para a d eterminação do volume
d e escoamento superficial. Rev Bras Cienc Solo. 2001; 25:403-10.
Pruski FF, Silva DD, Teixeira AF, Cecilio RA, SilvaJMA, Griebeler NP. Hidros- Dimensionamento de
sistemas hidroagrícolas. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2006.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XII - HIDROLO GIA DE 5UPERFÍFIE RELACIONADA AO MANEJO E , · · 391

Reichert JM, J\lbuquerqu JA, G ubian i PI, Ka is r DR, Min lia JP , Rein , rt DJ . Hid rologia d '- 1 ,
d isponibilidade de água as plantas zoneam nto agr climá tico. Tópicoc; Ci S lo. 201 l ; 7:1-'" .
ReichertJM, Reinert DJ, Cassol EA, Silva VR. A in(il tração da água no so lo sob manejo cons rva ioni ta.
Jn: Anais do 30º Cong resso Brasileiro de C iência do So lo [CD RO ]; 200- ; Recife. Recife: 200 •
Reichert JM, Veiga M, Cabeda MSV. Sela mento s uperficial e infiltração de água e m oi d Ri
Grande do SuJ. Rev Bras Cienc Solo. 1992; 16:289-98.
Roth CH, Meyer B, Frede HG, Derpsch R. Effect of mulch rat and tillage systems on infiltrabili ty
and other soil physica l properties of an Oxisol in Para mi, Brasil. Soil Till Res. 19 ; 11 : 1- 1.
SaltonJC, MielniczukJ. Relações entre sis temas de prepa ro, temperatu ra e umidade d um Podzolico
Vermelho- Escuro de Eldorado do Su l. Rev Bras Cienc Solo. 1995; 19:313-9.
Schilling KE. Relation of base flow to row crop intensity in Iowa. Agric Eco yst Environ. 2004;
105:433-8.
Silva AM, Mello CR, Nilton C, Oliveira PM. Simulação da variabilidade espacia l da erosão hidrica
em uma s ub-bacia hidrográfica de La tossolos no ui de Mina Gerai . Rev Bras Cienc Solo. 200 ;
32:2125-34.
Souchere V, King D, Darnussin J, Papy F. Effect of tillage on runoff directions: consequences on
runoff contributing area within agricultural ca tchrnents. J H ydrol. 199 ; 206:256-67.
Streck EV. Mitos e verdades sobre a conservação do solo no Rio Grande do Sul. Agoecol Desenvol
Rural Sus t. 2012; 5:31-8.
Takken I, Govers G, Jetten V, Nachtergaele J, Steegen A, Poesen J. Effect of tillage o n runoff nd
erosion pattems. Soil Till Res. 2001; 61:55-60.
Tomer MD, Meek DW, Kramer LA. AgricuJtural practices influence flow regimes of headwat r
streams in Western Iowa. J Environ Qual. 2005; 34:1547-58.
United States Department of Agriculture/Natural Resource Conservation Service. DA/ RCS.
National engineering handbook: Part 630 Hydrology Soil Group . Washington, DC; 2007.
Veiga M, Reinert DJ, Reichert JM. Tillage systems a nd nutrients ources affecting oiJ cover,
temperature and mois ture in a clayed Oxisol under com. Rev Bras Cienc olo. 2010; J..l:_011-- 0.
Vestena LR. Análise da relação entre a dinàrnica de áreas saturada e o transporte de ediment
em uma bacia hidrográfica por meio do monitoramento e modelagem [te J. Florianópoli ;
Universidade Federal de Santa Catarina; 2008.
Ward AD, Trimble SW. Environmental h ydrology. London: CRC Pre s; _00-!.
Zaslavs ky D, Rogowski AS. H ydrologic and morphologic implications of ani otrop and infiltration
in soil profile development. Soil Sei Soe Am Proc. 1969; 33:594-9.
Zhang YK, Schilling KE. lncrease stremflow and baseflm in Mi i ippi ri ver ince the 19-lO : Effect
of land use change. J Hydrol. 2006; 324:412-22.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓGICOS

Eloy Lemos de Mello 1I & Jldegardis BertoF1

11
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Colegiado de Engenharia Agrícol,1, l úcleo d e Recur<-os HiJrico<-
e Saneamento Ambienta l, Campus de Cascavel. Cc1scavel, PR. E-mail: eloy.mello'ii1unioes te. br
21 Uni ve rs id ade do Estado de Santa Ca tarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, Loges. SC. Bol5i<-ta d o C. Pq.
E-mail: ilclegardis.bertol@udesc.br

Conteúdo

INTRO DUÇÃO. .......................................................................................................................... ........... ...... ......... . .. . 394


MÉTODO DO NÚMERO DA CURVA (SCS - USDA) ····················································································-········ 395
Apresentação d o modelo ........................................................................................................................................ 395
Precipitação to ta l..................... ................................................................................................................................. 3
Número d a curva.................................... ................................................................................................................. 39
Umidade antecedente do solo (AMC) .................................................................................................................. -l01
A plicações e limitações ........................................................................................................................................... -!02
MÉTODO RACIO AL ............................................................................................................... .................................. -!
Apresentação d o modelo ..................................................................................................................................... .. -!W
Área d e drenagem.................................................................................................................................................. -!05
Coe ficiente de escoamento (C) .......................................................................................................... ............. ...... .tQ5
Intensidade de precipitação.................................. .................................................................................................. .tQ7
Tempo d e concentração.......................................................................................................................................... -t
Aplicações e limitações........................................................................................................................................... -!12
SWAT .................................................. ............................... .................................................................................... .......... 413
A presentação d o modelo ........................................................................................................................................ -!13
Discre tização da bacia hidrográfica ............................................................................................................._....... ➔ 1-!
Dad os d e clima .............................................................................................................................................. - .-...... ➔ 1-l

C resc imento de pla ntas ...........................................................................................................................·- ············· -l 15


Bala nço hídrico.. ....................................................................................................................................................... -t 1-
Perda d e nutrientes e pesticidas............................................................................................................................ -117
Aplicações e limitações................... ................................................................................... ..................................... -11
CONSIDERAÇÕES FrNAlS .......................................................................................................................................... -41 9
LITERATU RA CITADA ......... , .. , .................................................................................................................................... ·H9

Berto! I, De Ma ria IC, Souza LS, editore-. Manejo e rnnservação d o solo e d a .:iguil. i us.1, MG: uóeJade
Bras ile ira d e C iênci.i d o Solo; 2018.
394 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

INTRODUÇÃO

O conhecimento dos vários processos que c01npõem o ciclo hidrológico é muito


importante; por exemplo, para estimar o balanço de água em diferentes cenários de uso
do solo (Legesse et al., 2003), dar suporte ao planejamento de uso dos recursos hídricos
(13aigorria e Romero, 2007), estudar a erosão hídrica do solo (Mohanu11ad e Adam, 2010),
facilitar o manejo do solo e da água em áreas agrícolas (Ji et ai., 2007), promover o uso
eficiente e reduzir os conflitos pelo uso da água (Jie et ai., 2010).
Os modelos hidrológicos são ferramentas importantes porque promovem melhor
entendimento dos processos hidrológicos. Pela análise do desempenho das diferentes
práticas de manejo e pela avaliação dos benefícios e riscos advir,dos dos diferentes tipos de
uso do solo, os modelos hidrológicos são capazes de dar suporte às tomadas de decisão na
implantação dos sistemas agrícolas (Baigorria e Romero, 2007; Mello et al., 2008). Portanto,
os modelos hidrológicos, ou qualquer modelo ambiental, são meios pelos quais os
pesquisadores podem interagir e influenciar as decisões políticas em escalas local, regional
ou nacional (v\lainwright e Mulligan, 2004).
No entanto, os modelos hidrológicos não podem ser vistos como substitutos completos
do monitoramento ambiental, mas como ferramentas importantes para entender os dados
observados e desenvolver e testar teorias. Sendo assim, as observações de campo sempre
estarão mais próximas da verdade e continuarão sendo um componente importante da
investigação científica (Wainwright e Mulligan, 2004).
As principais dificuldades na simulação hidrológica são as complexas relações entre os
processos, o clima e a dinâmica da vegetação (Boulain et al., 2009), além das várias escalas
espaciais e temporais que podem ser consideradas (Maayar et ai., 2009). Isso quer dizer
que os sistemas hidrológicos são muito mais complexos do que se é capaz de representar
no estado atual de conhecimento. Essa limitação é, portanto, em razão do conhecimento
insuficiente das múltiplas relações físicas, bioquímicas, ecológicas, sociais, legais e políticas
que governam o comportamento dos sistemas hídricos (Loucks et al., 2005).
Muitos modelos têm sido desenvolvidos para realizar simulações hidrológicas (Notter
et al., 2007), mas as principais limitações são a obtenção de dados confiáveis, especialmente
de clima, e determinação de alguns atributos do solo em situações bastante específicas
(Bormann et al., 2007; Mello et al., 2008). A aplicação e o ajuste desses modelos para as
condições edafoclimáticas brasileiras têm sido um grande desafio para os profissionais e
pesquisadores da área.
Os modelos hidrológicos podem ser empíricos, conceituais e físicos. Os modelos
empíricos descrevem as relações entre as variáveis com base nas observações, sem a
preocupação com os processos envolvidos; esses têm grande capacidade de predizer os
resultados, mas não apresentam a preocupação com a explicação dos resultados, o que os
toma bastante específicos para determinadas condições (Wainwright e Mulligan, 2004).
Os modelos conceituais se baseiam no conhecimento dos processos que ocorrem na
bacia hidrográfica, ou seja, em ideias pré-concebidas de como funciona o sistema. Como
exemplo, um modelo hidrológico pode simular separadamente a infiltração, o escoamento
superficial, a recarga do lençol freático etc. Mesmo que cada um desses processos seja
representado por equações empíricas, a separação deles indica o conhecimento de como
0 sistema funciona. Esse tipo de modelo é interessante porque captura o funcionamento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓGICO S 395

do s is lc1rn1, mantendo é1 pé1rcimônié1 e c fi iênci.i comput,,ciona l (Kave tski et c1I., 200ft), m.i~
também são pouco genera li záveis, poic; se basci,1m e m cq uaçüe'.'> e mp íri c,i s.
Jj os m odelos físicos são deduzidos J parlir ele princípios fíc:; icos e envolvem .:i _:o lução
d e eq ua ções diferenciais parciais qu e são, por né1turczc1, n.'io line.:i rcc:; e de difícil o luçZio
ana lítica (Naik e t ai., 2009). Teoricamente, os res ultados d everi a m ser co ns iste ntes com
os dados observados. Na prática, porém, esses modelos també m nfio tê m s id o capaze.
de sa tis fazer completamente as necessidades específi cas e m clifeTen tes regiõe, do mundo,
pois, apesar de terem profundo embasa mento teórico, não apresentc1m grande capélcid.::tde
preditiva. Por esse moti vo, muitos modelos com base e m processos físicos ado tc1m certo
g ra u de e m pirismo, principalmente no que se re fere à determjnação d e parâmetros.
Nes te capítu lo, serão apresentados dois modelos empíricos c1mplamente aplicado'-,
o Método do Nú mero da Curva e o Método Racional, parn estimM o vo lume máximo
de escoamento s uperficial e a vazão máxi ma, res pectivamen te . De pois será apresentado o
SWAT, que é um mod elo conceitu ai, de s imulação contínua, dese n volvido para avaliar o
impacto das mudanças no manejo e uso do solo sobre as perdas de água, de sedimen to ,
de nutrie ntes e de pesticidas. Este capítu lo não tem a pre tensão de esgota r o tema e, por
isso, recomenda-se ao leitor, que deseja maior aprofundamento, a busca da lite r<1tura
especia li zada como os tex tos de Waj n wright e Mulligam, 2004; Prus ki e t ai., 2004; Louck!
e t ai., 2005; Tucci, 2004; e Brandão et ai., 2006.

MÉTODO DO NÚMERO DA CURVA (SCS - USD A)

Apresentação do modelo
O Método do Número da Curva permite estimar a lâmina máxima de escoamento
s upe rficial (volume por unidade de área), a partir de dados de p recipitação e de o utro
parâmetros da bacia. Foi desenvolvido pelo Soil Consen 1ntio11 Sen1ice (SCS), v inculado
ao D epartamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a partir de dad os de um
grande número de bacias experimentais (Mishra e S ingh, 2003).
O método se baseia na transformação do volume total de precipitaçao em volume
tota l de escoamento s uperficial, utilizando a aná lise de correlação múltipla. Sc10 le adas
em consideração a precipitação total, as abstrações iniciais, a infiltração e a umidade
a ntecedente do solo.
A derivação das equações e os detal hes são apresentados em I RCS (2010). A estimativa
da lâmina máxima de escoa mento é obti da pela equação:

(PT- l.)"
ES PT> l,
(PT- 1.) + S (1)
ES =O PTS(
e m que:
ES = lâ mina máxima d e escoamento s upe rfic ial (volume por unidade de a.rea), mm .
PT= precipitação total, mm.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


396 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

! = ab traçõe iniciais, mm.


11

S = capacidade máxima de infiltração, mm.

As abstrações iniciais consistem principalmente de interceptação pela cobertura


\ egetal, pela infiltração durante os primeiros instantes da precipitação e pelo
armazenamento nas depressões do terreno. Elas podem ser consideradas o limite entre
a chm a que produz o escoamento e a que não produz escoamento. Em outras palavras,
pode-se dizer que a precipitação é totalmente convertida em abstrações iniciais até o
momento em que inicia o escoamento superficial.
As abstrações iniciais podem ser determinadas a pru-tir de eventos de chuva-vazão
em pequenas bacias hidrográficas, com pequeno atraso entre o início da chuva e o início
do escoamento (NRCS, 2010). A interceptação e o armazenamento superficial podem
ser estimados pela cobertura e pelas condições da superfície, mas a infiltração durante
os primeiros momentos da chuva é muito variável e dependente da intensidade de
precipitação, da umidade do solo e do selamento da superfície (NRCS, 2010).
Em razão dessas dificuldades, a relação entre I, e S foi desenvolvida a partir de dados
experimentais, o que elimina a necessidade de estimar I. para uso geral. A relação empírica
adotada é:

Ia = 0,2 S (2)

A capacidade máxima de infiltração (S) representa a diferença potencial (ou máxima)


que se poderia esperar entre a precipitação e o escoamento superficial. É uma tentativa
de levar em consideração a umidade antecedente do solo, ou seja, a umidade do solo
antes da ocorrência da chuva, sabendo-se que isso interfere significativamente na resposta
hidrológica da bacia. Substituindo I. por 0,2 S na equação 1, essa torna-se:

(PT- 0,2 S) 2
PT> 0,2 S
ES = PT+ 0,8 S (3)
ES=O PT~ 0,2 S

Sendo a infiltração potencial (S), em mm, calculada por:

25400
S = -- - -254 (4)
CN
em que:
CN =número da curva (pode variar de Oa 100 e depende do uso e manejo da terra, do
grupo de solo, da condição hidrológica e da umidade antecedente do solo), adimensional.

Solucionando as equações 3 e 4 para diferentes valores d e CN, obtém-se uma família


de curvas que relacionam a precipitação e o escoamento superficial, como apresentado na

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MO DELOS H IDROLÓGI C OS 397

fig urêl 1. Nessa fi g u ra, cada c u rva tem um n úm ro, d e_ ond e vem o nome?~ m~todo. /
fi g u ra ta m bé m ilus tra um exe m plo hi poté tico, evidenc ia nd o q ue u~ a ~ recrprtnç.io de ~O
mm, ado ta nd o-se um núm ero de curva ig ua l a 95, res u lta ria e m um a la m ina de escoc.1 mcnto
s upe rfic ia l d e 75,7 mm .

160 r-----,---,-----,---,--- - , - - - r - - ~ - 7 1

2 Este gráfico(• válido


ES = _(P_T_-_0,_
2 _S)
140 para o C,l "-O e m que
PT+ 0,8 S /, =0,2 5

S = 25 400 _ 254
120
CN

E lOO
E
B
e:
QJ 80
r::
..., 75,7
r;:;
ou ,
Vl ,,
t.Ll
60 ,,
,
,
,,

40

20

20 40 60 80 <JO 100 120 1-10 160


Precipitação, m m
Figura 1. As curvas que relacionam a precipitação e o escoa mento su perficial. No exem plo, uma
precipitação de 90 mm, admitindo-se um número de cu rva = 95, resu ltaria em um escoa mento
s uperficial de 75,7 mm.

O escoamento superficial (ES) é ta mbém referido como excesso de p recipitação


o u precipitação efeti va, q ue se define como a precipitação q ue excede a capacidade de
infiltração do solo. Pode-se notar pelas eq uações 3 e -1 e pela figura 1 q ue o escoamento
s upe rficial é dependente do número da curva (CN), q ue, por sua vez, representa uma
com binação de condições do solo e uso d a terra. Quan to maior o C , maior o potencial
pa ra o escoamento superficial (NRCS, 2010).
Deve-se lembrar, no entanto, q ue não é necessária a u tilização da figu ra 1 para rea lizar
o cálc ulo do escoa mento superficial, pois ela não apresenta tod a as curva po s i eis entre
O e 100, o que exigiria wna interpolação para os casos em q ue a curva não é apre entada.
Além disso, é mais s imples a utilização direta das equações 3 e -1.

M A N EJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,----------

398 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

Precipitação total
m~todo do número da curva, normalmente se utiliza um valor de precipitação
total correspondente a uma duração de 6, 12 ou 24 h. A obtenção do valor de precipitação
para uma de as dmações depende da análise de frequência de séries históricas de
pre ipitações máximas diárias.
A aplicabilidade e qualidade da análise de frequência dependem diretamente da
qualidade dos dados utilizados. Assim, por melhor que seja a técnica estatística utilizada,
se a qualidade dos dados das séries históricas for ruim a análise não dará bons resuJtp.dos
(Naghettini e Pinto, 2007).
Uma a aliação rápida da frequência com que um evento é superado ou igualado pode
ser realizada por meio do método de Weibull. Para isso, os dados da série histórica devem
ser organizados em ordem decrescente, e a cada valor deve ser atribuído o número de
ordem 111. A frequência (Fi) com que o evento ide ordem m é superado ou igualado é dada
por:

Fi = _!!!:_ (5)
n+1
em que:
= ordem.
111

n = número total de anos da série.

O período de retorno (T), sendo o intervalo médio, em anos, em que um evento é


igualado ou superado ao menos uma vez, é correspondente ao inverso da frequência (ou
da probabilidade):

T =_l._ (6)
F,
Deve-se destacar que essa é uma análise empírica de probabilidades, que deve ser
restrita aos casos em que o período de retorno é bem menor do que o tan1anho da série.
Uma alternativa bastante comum é o ajuste de uma distribuição de probabilidades teórica,
que seja adequada ao estudo de eventos extremos. Como exemplo, citam-se a distribuição
Generalizada de Eventos Extremos (GEV), a de Gurnbel, Frechét e a de Weibull (Naghettini
e Pinto, 2007).

Número da curva
Os fatores que determinam a escolha do número da curva são o grupo hidrológico
do solo, o tipo de cobertura, o manejo, a condição hidrológica e a umidade antecedente do
solo. Os solos são classificados em grupos hidrológicos (A, B, C e D) que indicam a taxa de
infiltração minima obtida em solo descoberto submetido a longo período de un1edecimento:
grupo A: solos com baixo potencial de escoamento e alta taxa de infiltração, mesmo quando
completamente úmido; perfil profundo, arenosos a cascalhentos, com pouco silte e argila.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MOD ELO S HIDR OLÓG I COS 399

grnpo B: m od e rad a ta xa de infiltrélção qua ndo comp le tame nte úmicl o e prof undid.:icl e
mod e rad a; a tex tura fica e ntre fin a e a renosa.
grnpo C: baixa taxa de infiltração qua ndo completamente úmid o; p resença de cc1mada d'
impedimento ao movimento da água e consideráve l porc nta ge m de argi l .
grnpo D : alto potencial para o escoamento s upe rficial; solos co m ta xa de infiltraç,io muito
baixa, quando úmidos, e consistem princi pa lmente de solos co m Mgila expansivas e
sujeitas ao encrostamento; presença de ho ri zon te d uri pé'i (duripan/cla y pan) próxi mo à
s uperfície do solo e aos solos rasos sobre ca mad as im pe rmeá veis.
Nos quadros 1 e 2, apresentam-se os va lores de CN para co ndições de bileias co m
ocupação agrícola para os grupos de solos definid os pelo SCS-USDA, correspondente :is
condições médias de un,jdade antecedente do solo.

Quadro 1. Valores de número da curva para áreas co m oc upação agrícola pi!ía cond içõe<; de umidade
antecedente AMC II
Número da curva para os quatro
Descrição da cobertura do solo
grupos nidiológicos de solo
Condição
Tipo Manejo(tl A B e D
hidiológica(2l
Solo descoberto 77 6 91 9-!
Cobertura Pobre 76 85 90 93
Pousio
por biomassa
residual (CR) 74 3 90
Boa

Morro abaixo Pobre 72 81 91


(MA) Boa 67 78 5 9
Pobre 71 80 7 90
NlA + CR -, -
Boa 64 75 82 ::J

Pobre 70 79 S4 C)

Contorno (C)
Cultivo em Boa 65 75 2 6
fileiras Pobre 69 78 3
~

I
C+CR
Boa 64 7-! 1 .:>
Contorno & Pobre 66 7-! o -,
terraços (C&T) Boa 62 71 7 1
Pobre 65 73 79 1
C&T+ CR
Boa 61 70 77 "O
Connn u.1 ...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


400 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS B E RTO L

Quadro 1. Conl.
Número da curva para os quatro
Descrição da cobertura do solo
grupos hidrológicos de solo
Condição
Tipo Manejo(1 l A B e D
hidrológica(21
Pobre 65 76 84 88
MA
Boa 63 75 83 87
Pobre 64 75 83 86
MA+CR
Boa 60 72 80 84
Cultivo em Pobre 63 74 82 85
e
fileiras Boa 61 73 81 84
es treitas Pobre 62 73 81 84
(cereais) C+CR
Boa 60 72 80 83
Pobre 61 72 79 82
C&T
Boa 59 70 78 81
Pobre 60 71 78 81
C&T+CR
Boa 58 69 77 80

Pobre 66 77 85 89
MA
Boa 58 72 81 85
Leguminosas
Pobre 64 75 83 85
em fileiras e
Boa 55 69 78 83
estreitas
Pobre 63 73 80 83
C&T
Boa 51 67 76 80
º ' Cobertura por biorna sa residual (CR): quando pelo menos 5 % da área é coberta por biomassa res idual dura nte o a no.
mcondição hidrológica: com base na combinação de fa tores que interferem na infil tração e no escoam ento; Pobre: fatores inibem
a infiltração e favorecem o escoa mento; Boa: fatores melhoram a ca pacidade de infiltração e red uzem o escoamento.

Fonte: RCS (2010).

Quadro 2. Valores de número da curva para outros usos agrícolas, sob condições de umidade
antecedente AMC II
Número da curva para os quatro
Descrição da cobertura do solo
grupos hidrológicos de solo
Tipo Condição hidrológica A B C D
Pastagem Pobre 68 79 86 89
(pas tejo contínuo)fl l Razoável 49 69 79 84
Boa 39 61 74 80

Pastagem (feno) 30 58 71 78
Continua ...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDR OLÓGICOS 401

Quadro 2. Cont.
úmero da curva para os quatro
Descrição da cobertura do solo
grupos hidrológicos de solo
Tipo Condição hidrol ógjca A 8 e D
Pastagem com presença de Pobre 48 67 17
muitas ervas e arbustivasl2l Razoável 35 56 70 77
Boa 30 48 65 n
Floresta e pastagemPl Pobre 57 73 82 86
Razoável 43 65 76 2
Boa 32 58 72 79

Florestal·'l Pobre -l5 66 77 3


Razoável 36 60 73 79
Boa 30 ss 70 77
111 Pobre: <50 •~ de cobertura ou pastejo intens ivo; Ra zo,ível: 50-70 º~ de obcrtur.:i e pa,tejo mnder.ido. e Boa >75 \ dt" coht-rtur.1
e pas tejo ocasional. ill Pobre: <50 % de cobertura; Razoável: 50-7.5 ":, d e cobcrtu r,1; e Boa. >7.5 ~. J.:, cobertu ra '• 50 · • Je tlor.,._tJ e
50 % de pas tagem . ' '' Pobre: a liteira e pequenos Jrbus tos ,io completamente .:,li minad os regularmente pelo pa ~te,o ou que1rn.:id.1;
Razoável: ocorre pastejo, mas sem queimad,1. Alguma biomassa residu,11,,inda cobre o !-<tio. e' 8 0 .1 n.io há p,1 IL10 nem que,m.Jd,,.
e toda litei ra e arbustos cobrem o solo.
Fonte: NRCS (2010).

Umidade antecedente do solo (AMC)


A condição de umidade antecedente (AMC) é uma tentativa de contabilizar a variação
do valor de CN de uma chuva para outra (Quadro 3). Os valore de C. con tido no
quadros 1 e 2 referem-se à condição média de umidade antecedente no solo (A~IC li ).
A partir da precipitação ocorrida nos 5 d que antecedem a chuva considerada, pode- e
fazer o enquadramento do solo nas classes I, íl ou III. Para condições iniciais de umid.:ide
cliferentes da média, a correção do valor do número da curva pode ser feita por uma da
equações sugeridas na quadro 4. Para o projeto de obras hidrá ulica , é recomendável
considerar a condição de umidade de solo correspondente à AMC ílI.

Quadro 3. Classes de umidade an tecedente do solo conforme .:i chuva ocorrida (mm) nos :, d
anteriores à chuva crítica
Classes Período de crescimento da cultura Período de dormência
Olm mm
AMC l O- 35 O - l"'
AMC II 35 - 52,5 l3 - 2
> 52,5 >
OT A: O perío do de cro:?· ciml'nto se rdere ao período do ,mo cuj.i hm1per,1tur.1 e f.wo r,n d ,10 d b,eO\ oh im-,nto J.i, ~"'..r.i •.io,
seja cult1vJti.t o u nativa, quando as taxas de t>vapotran.spir.iç.io léndc m .1 s...•r m.liorc--s. O p~·noJo d.- Jom,~n 1-l <' ,i · ,ip,ht,1.
Esse concei to tem importâ ncia p;irticular nos p.1i.ses de d una te mper;ido, como os 6 taJo-; nido~, onde O metuJ,i d '-uml!m
da C u r\',l fo i d esenvolvido. No~ pai.ses d.:- clim.i tropica l, l.l perlodl.l d<' cr=im,mtu pude dur:1r O .in,, tuJll, .iu .__,frer .11!,Um.l
interrupç,io provoc.ida pela es t.1ç..io de chuvJs.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


402 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

Quadro 4. Equaçõe para a correção de número da curva para condições iniciais de umidade
diferentes da m dia

utores AMCl AMC III


CNII
Sobhani (1975) CN = CNII CN111 = - -------''------
1
2,334 - 0,01334 CN11 0,4036 + 0,005964 CNn
CNII CNII
Ha, king et al. (1985) CN, CN111 = - - - - - - - - -
2,281 - 0,0128 CN11 0,427 + 0,00573 CN,,
4,2 CN 23CNII
Chov,r et ai. (1988) CN, = - - - - - - - C '11- . - - CN111 =
10 - 0,058 CN11 10 + 0,13 CN11
Fonte: Mish ra et ai. (2008).

Para utilizar o quadro 4, basta entrar com o valor de CN referente à condição AMC II
e calcular o valor de CN correspondente à condição AMC I ou AMC III, dependendo do
interesse do usuário do método.

Aplicações e limitações
Um dos principais problemas do método do Número da Curva é que o SCS-USDA
publicou a familia de curvas sem apresentar qualquer informação que possa ser utilizada
para definir a qualidade de ajuste das relações empíricas que foram encontradas.
A base de dados é proveniente de bacias hidrográficas de médio porte (2 a 50 km2) e
de chuvas de longa duração. Deve-se ter atenção especial na aplicação desse método em
bacias pequenas ou muito grandes. Além disso, o método não deveria ser utilizado para
chuvas de alta intensidade e curta duração.
A transformação da precipitação diretamente em escoamento superficial está
relacionada apenas com o volume total de precipitação, o que vale dizer que o volume
de precipitação é totalmente independente da intensidade de precipitação. Os erros
provenientes dessa pressuposição podem ser maiores quanto menor for a bacia hidrográfica.
As principais fontes de erro na estimativa do escoamento com o método do Número
da Curva estão na determinação da precipitação e do CN. A equação costuma dar bons
resultados quando o escoamento representa a maior parte da precipitação total; os
resultados costumam ser insatisfatórios quando o escoamento é pequeno, ou seja, quando
os valores de CN são baixos (NRCS, 2010).

Exemplo 1
Determinar a lâmina máxima de escoamento superficial (ES) de uma área agrícola
localizada na bacia hidrográfica do rio Paraopeba, em Minas Gerais. Essa área possui
características de solo com baixa taxa de infiltração e considerável percentual de argila
(Grupo Hidrológico C). Cerca de 20 % da área encontra-se sob regime de pastagem
contínua intensiva (Ai); 45 %, sob cultivo de cereais em contorno e com boa presença de
biomassa residual (AJ ; e 35 % do total da área constituem-se de floresta com cobertura

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓ GICOS 403

vegetal razoável (A3) . A precipitação máxima, com duração de 24 h, e perí d de re torno


de 15 anos é igual a 114 mm. A condição de umidade antecedente d solo é A lCfl.

Solução do Exemplo 1:

Primeiramente, devem-se definir os valores de CN para cada tipo de cobertura; em


seguida, o valor da capacidade máxima de infiltração (5) e, assim, a lâmina de escoamento
superficial (ES).
De acordo com o enunciado do exemplo, a á rea A, é utilizada com pa tejo contínuo
intensivo. Consultando o quadro 2, pode-se notar que esse tipo de pastagem se enquadra
na condição rudrológica pobre, que combinada ao grupo de solo C resulta no valor de C
igual a 86.
A área A, é cultivada com cereais em contorno e boa cobertura por biorna a residual.
Esse tipo de Üso combinado ao grupo de solo C resulta em um va lor d C igual a O
(Quadro 1). A área ~ é ocupada por floresta com presença de vegetação razoável, que,
associada ao grupo de solo C, resulta no valor de CN iguaJ a 73 (Quadro 2).
Em resumo, 20 % da área (A,) têm um valor de CN igual a 86; 45 % da área (AJ,igua l
a 80; e os outros 35 % da área (Ai), igual a 73. Não se recomenda utilizar um valor m dio
de CN, pois a lâmina de escoamento ES será calculada separadamente para cada subá rea.
Substituindo os valores de CN na equação 4, tem-se o valor da capacidade máxima d e
infiltração (S) para cada subárea:

25 4
5 =
l 86
oo - 254 = 41,3 mm
52 = 25 400 - 254 = 63 5 mm
80 ,
25 4
53 = 00 - 254 = 93 9 mm
73 '

Da mesma maneira, utiliza-se a equação 3 para calcular a lâmina de e coamento (ES)


para cada subárea:

(114 - 0,2 X 41,3}1


114 + 0,8 x 41,3 = 'º mm
76

(114 - 0,2 X 63,5)1


62 3
114 + 0,8 X 63,5 = ' mm
{114 - 0,2 X 93,9f
EsJ = 114 + 0,8 x 93,9 = 47, 9 mm

Finalmente, após o cálculo da lâmina de escoamento para cada subár a, p de- e


calcular o escoamento médio para toda a área em estudo, le ando- e em conta a prop rçã
ocupada por cada tipo de uso do solo:

ES = (0,2 x 76,0) + (0,45 x 623) + (0,35 x 47,9) = 60 mm

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


404 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

e se exemplo, admüindo-se uma precipitação de 114 1nm (d uração d e 24 h e


período de retorno d e 15 anos); umidade antecedente equivale nte à condição AMC ll; e as
caracterí ticas de u o e m anejo do solo na bacia, estima-se um escoa m e nto superficial de
60mm .

MÉTODO RACIONAL

Apresentação do modelo
Segundo Crobeddu et ai. (2007), o Método Racional deve o seu surgimento aos
trabalhos de Mulvan y (1851) e Kuichling (1889). Esse é utilizado para predizer a vazão
m áxima de escoamento superficial em pequenas bacias hidrográficas, com área de 50 a
500 ha. Ele é considerado um modelo "chuva-vazão", pois com base em características
da chuva estima a vazão máxima. Um dos motivos principais para a grande aceitação do
m étodo é a sua simplicidade. A fórmula racional tem a forma:

(7)

em que:
Q= vazão máxima de escoamento, m 3 s·1 .
C= coeficiente de escoamento, adirnensional.
irn = intensidade máxima média de precipitação, mm 1Y1•
A= área de drenagem, ha.

O método foi desenvolvido para bacias urbanas, onde a maior parte da superfície é
impermeabilizada. Sendo assim, a aplicação em áreas rurais deveria ser limitada a bacias
inferiores a 200 ha (Pruski, 2009).
De acordo com Pruski et ai. (2004), Tucci (2004), Pruski (2009) e NRCS (2010), os
pressupostos básicos para aplicar o Método Racional são:
(a) O tempo de duração da chuva é igual ao tempo de concentração (t), definido como
0 tempo necessário para que toda a área de drenagem esteja contribuindo para o
escoamento na seção de saída da bacia. Essa premissa é aceitável quando a bacia é
pequena. O m étodo também não considera a possibilidade de que uma chuva com
duração menor do que o tempo de concentração, em razão d a sua alta intensidade,
possa produzir vazões maiores do que aquelas iguajs ao tempo de concentração.
(b) A precipitação com duração igual ao tempo de concentração (t) ocorre uniformemente,
ao longo de toda a bacia. Essa suposição também se aproxima da realidade apenas
quando a á rea da bacia é pequena; para áreas muito grandes, o tempo de concenh·ação
pode ser tão longo que, provavelmente, a intensidade d e precipitação não será constante;
nesse caso, chuvas mais intensas e de curta duração podem provocar vazões maiores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MOD ELOS HroROLÓGICO S 405

(c) Durante o evento extremo O solo encontra-se saturado, com taxa de infi ltração
estável, o que corresponde à condição mai s favoráve l para ocorrência do escoamento.
Naturalmente, essa hipótese está intimamente vi nculad a à n,,tu reza d os projetos q ue
fazem uso do método racional, q ue parte m do princípio de q ue a obra deve rá er
projetada para a condição mais desfavo rá vel, respeitand o, certa m ente, a viab ilida de
econô mica dela.
(d) Utilização de um único coeficiente de escoamento s uperficial (C), estimado com base
nas características da bacia. Em bacias urbanas, po r causa da grande propo rção de á rea
imperméavel, o coeficiente C se aproxi ma da unidade; à medida q ue a bêlcia a umentc1
ou, a inda, seja ocupada por usos agrícolas, a u tilização de um único coefici nte de
escoa m ento pode não representar adequadamente o compo rta mento da bacia.
(e) O coeficiente de escoamento é independente da intens idade e do volume de
precipitação. Essa dedução é razoável para á reas impermeáveis, como estacionamen tos
e estradas. Para áreas permeáveis, o coeficiente de escoamento va ria co m a in tens ida d e
e o volume acumulado de precipitação.
(f) O período de retorno associado à vazão máxima é igual ao período de retorno da
precipitação que a provoca. Isso não é exatamente verdadeiro, po is a oco rrência d e
uma grande cheia não depende apenas da ocorrência de elevada precipitação, mas
também das condições da bacia que interferem no escoamento s uperficia l; a freq uência
da chuva é o fator determinante no período de retomo da vazão qua ndo as á reas ão
pequenas e impermeáveis. Para áreas menos impermeáveis, a umidade antecedente é
o fator dominante, especialmente para chu vas com período de retorno (T) menores q ue
10 anos; e, finalmente, em grandes áreas o sistema de drenagem da bacia exerce papel
fundamental .

,
Area de drenagem
A área de drenagem e as demais características físicas da bacia são, indiscutivel men te,
as variáveis mais sin1ples de serem obtidas, sejam para ap licar no método racional, sejam
para aplicar em qualquer outro modelo hidrológico. Para isso, podem ser u tilizad os
procedimentos manuais sobre os mapas e as imagens de satélite, ou a aplicação de
ferramentas computacionais sofisticadas que s implificam sobremaneira este tra balho.

Coeficiente de escoamento (C)


O coeficiente de escoamento (C), que varia de Oa 1, representa a relação entre o volume
d e escoamento superficial (ES) e o volume total de precipitação (PT). É necessário dizer, no
entanto, que o método racional foi desenvolvido para estimar a vazão máxima, porta nto, 0
ideal seria utilizm o coeficiente de deflúvio, que representa a razão entre a vazão má. ima
e a intens idade de precipitação que a produziu (Pruski, 2009).
Analisando-se mais detidamente a fórmula racional (Equação 7), é poss ível perceber
que o prod uto da intensidade de precipitação pela área representa a taxa de a plicação
de água sobre a bacia. Sendo assim, a fó rmula racional simples mente e, p õe que a vazão
máxima equivale a uma porcentagem da taxa de aplicação de água na bacia.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


406 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

Portanto, a presença do coeficiente de escoamento (C) serve para evidenciar o quanto


da chuva s rá convertida em escoamento superficial, pois sabe-se que parte dela pode ser
interceptada pela cobertura vegetal e pela biomassa cultw·al residual, infiltrar no solo e ser
armazenada nas depressões do terreno ou em quaisquer outras estruturas de contenção.
Fica aparente que a seleção desse coeficiente é uma etapa difícil e de fundamental
importância para a exatidão do resultado.
O coeficiente de escoamento pode ser determinado a partir de dados históricos de
escoamento na bacia hidrográfica (El-Hames, 2012); porém, o mais commn é a utilização
de alares tabelados, como os apresentados nos quadros 5 e 6. Entretanto, ressalta-se
que, ao se escolher um valor para o coeficiente de escoamento, deve-se ter em mente as
possibilidades de mudança de uso do solo que podem ocorrer no futuro, durante a vida
útil da obra, e que, se não forem consideradas, podem resultar em um projeto inadequado
do sistema.
O coeficiente de escoamento também pode ser derivado dos experimentos de perda
de solo e água sob chuva natural, que são realizados em todo o Brasil, mas que têm sido
pouco explorados nesse sentido.

Quadro 5. Valores de coeficiente de escoamento (C) para diferentes tipos de uso, declividade e
textura do solo

Textura do sol o
Cobertura do solo Declividade
Arenosa Franca Argilo sa
%
Florestas 0-5 0,10 0,30 0,40
5-10 0,25 0,35 0,50
10-30 0,30 0,50 0,60

Pastagens 0-5 0,10 0,30 0,40


5-10 0,15 0,35 0,55
10-30 0,20 0,40 0,60

Terras cultivadas 0-5 0,30 0,50 0,60


5-10 0,40 0,60 0,70
10-30 0,50 0,70 0,80
Fonte: RCS (2ITTO).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MOD ELOS HIDRO LÓGICOS 407

Q uadro 6. Va lo r s de coeficiente de escoam nto (q para o dif rentes rupo h idr 1 ko


d ecli vidade do solo

Uso do solo 0-2 % 2-6 % >6 % 0-2 % 2-6 % >6 %


Grupo A Grupo B
Pousio 0,41 0,48 0,53 0,60 o, 6 0,71
Cultivo morro abaixo 0,24 0,30 0,35 0,43 0,-+ 0,52
Cultivo em contorno 0,21 0,26 0,30 0,41 0,45 o,
Cultivo em contorno e terraço 0,20 0,24 0,27 0,31 0,35 0,39
Cereais 0,23 0,26 0,29 0,42 0,4 o,
Grupo C Grupo D
Pousio 0,72 0,78 0,82 o, o, o, l
Cultivo morro abaixo 0,61 0,65 0,68 0,73 0,76 0,7
Cu ltivo em contorno 0,55 0,59 0,63 0,63 0,66 o,
Cultivo em contorno e terraço 0,45 0,48 0,51 Or55 0,5 0,60
Cereais 0,57 0,60 0,62 0,71 0,73 0,75
Fonte: Marylan State 1-iyghway Adminis lTation.

No emprego do método, utiliza-se um único coeficiente de e coamento para toda a


bacia. Sendo assim, quando há variação do coeficiente ao longo da área analisada, pode-
calcular u ma média ponderada conforme a equação 8:

( )

em que:
C = coeficiente de escoamento superficial para a área total, adimensional.
C; = coeficiente de escoamento superficial para a subárea i, adimensional.
A.t = subárea i, L2.
A , = área total, L2•

Intensidade de precipitação
A intensidade máxima média de precipitação (im) é obtida a partir da equaçã 9 de
chuvas intensas:

Kr
(t + b)' (9)

em que:
i,n = intensidade máxima média de precipitação, mm h-1•
T = período de retorno, anos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


408 ELOY LEMOS DE MELLO & I LD EGARDIS B ERTOL

t = duração da chuva, ne e ca o, igua l ao tempo de concentração da bacia, min.


K, n, b, e = parâmetros de ajuste da equação, adimensionais.

A equação 9 é empírica e obtida pela técnica de regressão. Por isso, as unidades de


entrada e saída podem ser aparentemente incompatíveis; os parâm e tros ajus tados fazem a
compatibilização entre unidades.
Ao utilizar a equação 9, o projetista deve definir o períod o d e retomo (T) e a duração
da d1U a. O período de retorno deve ser escolhido em razão da finalidade da obra e dos
cu tos em olvidos. Geralmente, as obras em bacias agrícolas são projetadas com períodos
de retorno de cinco a 20 anos. Em algw1s casos, esse período pode ser maior. 0bserva-
e, no entanto, que as obras que envolvem grande risco e, portanto, que são planejadas
com base em grandes períodos de retorno, não são projetadas com a utilização do método
racional. Para esses casos, a utilização de técnicas de análise de séries temporais e ajuste
de distribuições de probabilidade tem sido mais adequadas. A duração da chuva deve ser
igual ao tempo de concentração, que é definido mais detalhadamente a seguir.

Tempo de concentração
O tempo de concentração representa o tempo necessário para que a água proveniente
do ponto hidraulicamente mais remoto da bacia chegue até a seção de saída, pois o
ponto espacialmente mais distante não é, necessariamente, o que in1põe maior tempo de
deslocamento ao escoamento superficial.
Os principais fatores que influenciam o tempo de concentração são a área da bacia,
o comprimento e a declividade do canal mais longo (principal), a forma da bacia, a
declividade média do terreno, a rugosidade do canal, o tipo de cobertura vegetal e as
características da precipitação.
Embora o conceito seja relativamente simples de ser compreendido, a determinação
do tempo de concentração pode ser muito complexa. Por esse motivo, existem inúmeras
equações empíricas disponíveis para esse fim, normalmente com base em características
físicas da bacia que sejam fáceis de obter ou medir. Duas equações bastante utilizadas são
a de Kirpich e a do SCS-cinemático, que são apresentadas na sequência juntamente com
as equações do SCS-Lag e SCS-onda cinemática. A descrição de outras equações para a
estimativa do tempo de concentração é encontrada em diversas obras corno as de Pruski et
al. (2004), Tucci (2004) e NRCS (2010).
A equação de Kirpich foi desenvolvida em 1940, a partir de informações de sete
pequenas bacias agrícolas do Tennessee, com declividades variando entre 3 e 10 cm m ·1 e
áreas de, no máximo, 0,5 km 2 (O1ow et ai., 1988), sendo expressa por:

(10)

em que:
t
(
= tempo de concentração, min.
L = comprimento do talvegue, km.
H = diferença de nível entre o ponto mais remoto da bacia e a seção de deságue, m.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MOD ELOS HID ROLÓGICOS 409

Essa eq uação pa rece refletir O cscoc1m •nlo m ecinais, pois xige o comp rim en to ( L) e
a difere nça d e nível (H) cio ca néll principél l. No entanto, pelo fato de ter c; ido desenvolvida
para bac ias muito peq uenas s ignifica que os parâmetros podem r prec.e nt,1 r, ta mbé m , o
escoa m e nto sobre a s upe rfície cio so lo (Pru ki ct ai., 2004). QuJndo o co mprimento o
talvegu e é mai or do que JO km, a equação d e Kirpic h tend e c1 u be timilr o tempo d
concentração.
O m é todo definido como SCS-cinemático cons is te, basicil mente, em dividi r a btici.i
hidrog ráfica e m trechos homogêneos e ca lcular a velocidade de e ·coa m ento e m cada um
del es (Chow e t ai., 1988). O tempo de concentração é dado pelo somatório dos temp s . A
equação é expressa por:

_ 1000 ~ _h ( 11)
t
'- 60 L.J
,- 1
V

em que:
te= tempo de concentração, min .
L, = dis tância percorrida no trecho i, km.
V.= velocidade média no trecho i, m s· 1•
1

O método SCS-cinemático baseia-se na re lação en tre a velocidade e a di tância


percorrida pelo escoamento, o que, naturalmente, permite ob te r o tempo nece sário para
esse des locamento. Na parte super ior das bacias, o nde predomina o escoa mento superficial
sobre o terreno, ou em canais mal definidos, a ve locidade pode ser determinada por meio
dos va lores apresentados no quadro 7.

Quadro 7. Velocidades médias de escoamento superficial para cálculo de t,

Declividade (cm m·1)


Descrição do escoamento
0-3 -l - 7 8-11 > 12
1
-- m h·
Sobre a superfície do terreno Flores tas O- 0,5 o,s -o, O, - 1,0 > 1,0
Pas tos O- 0,8 O, - 1, l 1,1 - 1,3 > 1,3
Áreas cultivadas O- 0,9 0,9-1,-+ 1,--l - 1,7 > 1,7
Pavimentos O- 2,6 2,6 - -1,0 -LO - S,2 > S,2

Em ca nais Mal definidos O- 0,6 0,6 - 1,2 1,2-2,1 > - ,1


Bem definidos (Equ ação d e Manning)

Em canais com seção tra nsversal be m definida, deve-se utilizar a equação de fanning
(Equação 12), com apoio do quadro 8 para a e colha do coeficiente de rugo id.1de (H) .

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


410 ELOY LEMOS D E M ELLO & lLDEGARDI S B ERTOL

(12)

em que:
\l = Yelocidade do escoamento no canal, m s-1 •
R,, = raio hidráulico, m .
l = decli, idade do canal, m 111· 1 •

11 = coeficiente de rugosidade de Manning, s 111· 1/ 3 _

O raio hidráulico (R,,) é a relação entre a área da seção transversal do escoamento


(A em m 2) e o perímetro molhado (P em IT1), expresso pela equação:

A
R,,=p (13)

Quadro 8. Valores do coeficiente d e rugosidade de Mamúng (n) para alguns tipos de cobertura

Cobertura da superfície n
s 11r1l 3
Superfície lisa (asfalto, concreto, cascalho, estrada não 0,011
pavimentada)
Pousio (sem cobertura) 0,05
Cultivo (< 20 % de cobertura por biomassa residual) 0,06
Cultivo (> 50 % de cobertura por biomassa residual) 0,17
Gramíneas de porte baixo 0,15
Gramíneas densas (capim-chorão, grama-azul e outras) 0,24
Capim bermuda 0,41
Floresta (pouca vegetação rasteira) 0,40
Floresta (boa vegetação rasteira) 0,80
Fonte: 1'1RC:S (2010).

O método SCS-Lag (Chow et al., 1988) foi deduzido para bacias rurais com área de
drenagem de até 8 km 2 e representa o escoamento em superfície. A equação tem a forma:

- 0,6 ( 1 000 - 9)-0,75-0.s (14)


t, -3,42L CN

em que:
te= tempo de concentração, min.
L = comprimento do talvegue, km.
5 = declividad e do talvegue, m m·1•
CN = número da curva, a.dimensional.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓGICOS
11

E sa eq uação foi ap resentada por Mocku s em 1961 ( RC , 2010) c:;e bJ. e,w ,i,
originalmente, e m um fa tor de reta rd o d e cc; oamcnto (cn' ). Altoc; valorc c; d e cn' 5cin
associados a s uperfícies lisas ou s up rfícics, o nd e O ec;coa mcnto · rápido. Entre ta_n to,
espessas coberturas por biomassa vegeta l residu a l, como nélc; flo res ta , levam c1 bai"\oc;
va lores de cn' e significam maior ca pacidad de infiltraçiio de , gua no s o lo e m e nnr
velocidade d e escoamento (N RCS, 2am). o fator d retard o (cn ') é muito emelhante
ao número da curva (CN), conforme definido pelo N RCS (2010) . PcHa uc;o ger L o Ct e
utilizado no lugar do cn'.
Essa equação subes tima o va lor do tempo de co ncentração quando comp<1rzid o t1

equação de Kirpich, principalmente para baixos va lo res de C1 · (Pruc;ki et zi l., 2004).


O método SCS-onda cinemática (Chow et ai., 1988) é a solução teó rica dac; equ<1ções
que regem o escoamento turbulento e m um plano, ou seja, co nsiderzindo a uperficic d n
escoamento como um canal de grande largura . Ele foi desenvol v ido a pa rtir de s upe rfície_
com comprimento variando de 15 a 30 m, e pode-se es perar que funcio ne bem e m
pequenas bacias onde prevalece esse tipo de escoam ent o. A tend ê nc ia é de q u e o tempo de
concentração seja superestimado à medida que o tamanho da bacia aumenta (Fra nco, 2004;
Pruski et ai., 2004). A equação tem a forma :

(1 .5)

em que:
te= tempo de concentração, min.
L = comprimento do talvegue, km.
n = coeficiente de rugosidade de Manning, s m·113 .
i = intensidade máxima média de precipitação, mm h·1•
Ili

S = declividade da superfície, m m- 1•

Nota-se que o cálculo do tempo de concentração pe lo m é todo CS-onda cinemcHica é


dependente da intensidade máxima média de precipitação (im) . 1 o entanto, i,,, é calculada
pela equação de chuvas intensas (Equação 9) que, por sua ez, depende da duração da
chuva, que é igual ao tempo de concentração. Isso toma a o lução do método da onda
cinemática um processo iterativo.
Dentre os métodos apresentados, SCS-cinemático, que e ba eia na v el cidade d
escoamento, é o que apresenta melhor embasamento teórico e, além di o, p ibilita 0
ajuste mais adequado para cada segmento da bacia, quando ne es ário (1 RCS, 2010). 0
entanto, é válido ter sempre em mente que o erro na estimativa do temp d con entra ·ã
será tanto maior quanto menor for a d mação considerada, uma vez que é maior a vari.:1 -ã
da intensidade de precipitação com o tempo nessa condição. Já para grande dura •õe5,
as variações da intensidade de precipitação com incremento iguais de temp sJ bem
menores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


412 ELOY LEMOS DE MELLO & !LDEGARDIS BERTOL

Aplicações e lin1itações
O método racional não leva em conta a verdadeira complexidade do processo de
e c amento superficial em uma bacia hidrográfica; tampouco, considera o armazenamento
na bacia, as variações na intensidade de precipitação e do próprio coeficiente de escoamento
durante o evento chu oso (Pruski, 2009). Além disso, por causa da grande simplicidade do
método, esse tem sido utilizado mesmo em grandes áreas que não atendem às suposições
apresentadas anteriormente, principalmente no item 3.1, o que pode levar a erros grosseiros
na estimava da \ azão máxima.
O uso do método em grandes áreas torna-se ainda mais inadequado em regiões
semiáridas, que apresentam chuvas bastante localizadas e de alta intensidade. Esse tipo de
chuva, em bacias grandes, pode provocar vazões maiores do que as chuvas com duração
igual ao tempo de concenh·ação.
Em áreas pequenas e com grande parte da superfície do solo impermeabilizada pela
urbanização e edificação, o método racional é capaz de representar mais adequadamente a
realidade. Além disso, contam a seu favor a simplicidade da equação e a relativa facilidade
de se encontrarem valores para as variáveis de entrada. Em bacias hidrográficas agrícolas,
ou em bacias maiores, aumenta a complexidade na formação do escoamento superficial, e
o método racional toma-se cada vez menos exato.
A definição do que seja urna bacia hidrográfica de pequeno porte é muitas vezes
difícil. Franco (2004) sugeriu que algumas características podem ser auxiliares nessa
tomada de decisão, destacando-se: a uniformidade de distribuição espacial da chuva; a
ausência de amortecimento significativo do escoamento, por meio do armazenamento
superficial; e a inexistência de influência das chuvas anteriores sobre a vazão máxima. Se
essas características estão presentes o projetista tem mais confiança para aplicar o método
racional.

Exemplo 2
Determinar a vazão máxima de escoamento superficial para uma bacia hidrográfica
rural, localizada na região de Cascavel, PR, com área de drenagem de 200 ha, para
um período de retorno de 12 anos, sabendo-se que essa área apresenta topografia com
declividade média de 8 cm m·1 e solo com baixa taxa de infiltração e considerável percentual
de argila (Grupo Hidrológico C). Nela, 25 % são compostas de floresta natural; 35 % são
cultivadas com pastagem; e 40 % são destinadas ao cultivo de culturas anuais em contorno.
O curso d'água principal possui extensão total de 1100 m, e o desnível entre o ponto mais
remoto e o exutório do canal é de 56 m .

Solução do Exemplo 2:
Para O cálculo da vazão máxima com o método racional, além da área de drenagem,
se faz necessário conhecer o coeficiente de escoamento (C) e a intensidade máxima média
de precipitação (im).
O coeficiente de escoamento pode ser obtido com auxílio dos quadros 5 e 6. Para a
área de floresta, com declividade média de 8 cm m ·1 e solo de textura argilosa, o coeficiente
de escoamento é igual a 0,50 (Quadro 5). Para a área de pastagem nas mesmas condições

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS H IDROLÓGICOS 413

de solo e decli vidade que a fl ores ta, 0 co fiei nt d O m nt igual 0,55 (Quadr ).
Para a ár a de culti vo em contorno grup d oi e, 0 co fi ei nt de e coamento é igual
a 0,63 (Quadro 6). O coefi ciente d escoam nto méd io da bacia é calculado em razã a
proporção ocupada por cada uso do solo na bacia, de acordo com equaçà

= (0,50 X 50) + (0,55 X 70) + (0,65 X 80) = 0,5


e 200

Depois de calculado o coeficiente de escoamento, utiliza-se equação de Kirpich


(Equação 10) para estimar o tempo de concentração da bacia hidrográfica, utilizando
valores do comprimento do talvegue e a diferença de nível do cu rso d'água principal :

l
t<= 57 \ 1 f'jº.JH = 13,5 mm
56

Assim, obtido o valor de tempo de concentração de aproximadamente 1 ,5 min,


calcula-se o valor da intensidade máxima média de preci pitação, com base na equação de
chuvas intensas (Equação 9). Os parâmetros da equação para a cidade de Cascavel, PR,
foram obtidos do sofhuare Pluvio 2.1 (www.ufv.br/dea/gprh). Sub tituindo a duração da
chuva pelo tempo de concentração calculado anteriormente, tem- e:
111
1 062,92 X 12°' 1
1 = (l3,5 + s)°"n6 = 156,8 mm h·
'"

Por fim, pode-se estimar a vazão máxima pela equação 7:

_ 0,58 X 156,8 X 200 O 3 •1


Q- 360 = 5 ,5 m s

Portanto, a vazão máxi ma esperada é de 50,5 m 3 s· 1•

SWAT

Apresentação do modelo
O Soil nnd Water Assessment Too/ (SWAT) é um modelo con eitual, de simul -
contínua, em escala de bacia hidrográfica, de en ol ido para pr dizer O impacto da
práticas de manejo e uso do solo sobre a produção de água, · nt , nu triente e
agrotóxicos em grandes bacias hidrográficas ( mold et al., 1 ,• B ura u1· e t a] .,
2005) .
No seu desenvol imento, o SW T in orporou ca.racteri ti d di ers utr s
modelos relativamente conhecidos, podendo- e des tacar: CJ, mi ai , Ru 110 , ami Ero 'i n fr 111

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


414 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS B ERTOL

Agrirnlh1ml Mn 11ngc111c11t ystc111s (CREAMS), Gro11 11rlwn ter Lonrli11g Effects 011 Agric11ltural
,1n11ngc111ent ystc111s (GLEA ~S) e Erosio11-Prori11ctivity /111pnct Cnlw lnl or (EPIC).
O SVV T tem ido utilizado para a simulação hidrológica em grandes bacias
hid rográfi as, onde há complexas interações entre os componentes do ciclo hidrológico e
onde são observados di, er -os usos do solo. Para simplificar a avaliação da bacia de interesse,
essa normalmente é ubdividida (discretizada) em diversas sub-bacias. Posteriormente,
cada sub-bacia é dividida em regiões hidrologicamente homogêneas, denominadas
unidades de respo ta hidrológica (HRU). As unidades de reposta hidrológica representam
áreas com uma única combinação de tipo, uso e manejo de solo.
As respostas de cada HRU são determinadas individualmente e, então, agregadas
para discriminar as perdas na sub-bacia. As perdas em cada sub-bacia vão definir, pela
rede de drenagem, as perdas da bacia em estudo (Neitsch et al., 2011). Para cada uma das
ub-bacias os dados de enh·ada são organizados em diferentes categorias: clima, unidades
de resposta hidrológica, corpos d 'água e várzeas, água subterrânea e canal principal que
drena a sub-bacia.

Discretização da bacia hidrográfica


Para delinear a bacia hidrográfica e as sub-bacias e determinar a rede de drenagem,
o SWAT utiliza a representação digital da superfície topográfica por meio de um modelo
digital de elevação (MDE). Os parâmetros das sub-bacias, como a declividade, a rede de
drenagem e o comprimento de canais e encostas, são calculados a partir do MDE. O número
de sub-bacias depende do tamanho da bacia e da quantidade de detalhes necessários
para atingir os objetivos do projeto. O delineamento deve ser suficientemente detalhado
para capturar as variações mais significativas e importantes para o estudo que está sendo
realizado (Geza e McCray, 2008).
O manual do SWAT (Neitsch et al., 2011) explka aos usuários que é preferível definir
um maior número de sub-bacias do que ter um grande número de HRU dentro de poucas
sub-bacias.
Além do MDE, são necessários mais dois mapas digitais: de tipo de solo e uso da terra.
Em relação ao uso da terra, é possível utilizar imagens de satélite. O mapa de solos, classificado
segundo a FAO, deve ser acompanhado de informações sobre atributos como a textura, o teor
de Cede matéria orgânica, a espessura do perfil, a condutividade hidráulica etc.

Dados de clima
Na entrada de dados de clima, o SWAT exige informações diárias de precipitação,
temperatura máxima e mínima, radiação solar, umidade relativa do ar e velocidade do
vento. O us uário pode fornecer dados reais ou, então, os dados podem ser obtidos por
algum gerador climático. Um gerador climático é um algoritmo, ou rotina de cálculo,
normalmente implementado por meio de um software, que é capaz de gerar séries sintéticas
(artificiais) de dados climáticos. As séries geradas possuem as mesmas características
estatísticas que descrevem os dados reais.
Uma pergunta que poderia surgir é: "Por que seria necessário um gerador climático,
quando se conhece os dados reais e suas características estatísticas?" Porque, normalmente,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MOD ELOS HIDROLÓGICOS 415

as séri es rea is são curtas. Assim, 0 g rada r perm ite a criação ele grande séri es inléticas
(vários anos), permitindo simulações de longa duração. Outra va nta ge m dos gerad res
climáticos é que esses permitem a simulação d e diver os cenários de mudança climáticas.
O SWAT possui um gerador climático p ró prio, denominado WXGE , que lém
de gerar dados climáticos também é capaz de faze r p reenchimento de falha s em dados
observados (Sharpley e Williams, 1990).
Uma cadeia de Markov de primeira ordem é usada para defini r se um dit1 é seco u
com chuva. Quando o dia é de chuva, uma distribuição exponencial é usada pa ra erar
a quantidade de precipitação (Neitsch et ai., 2005; Schuol e Abbaspour, 2007). O SW A T
utiliza a radiação solar, a velocidade do vento e a umidade relati va do ar para calcular
evapotranspiração potencial, pelo método proposto por Pe nma n-Monteith.

Crescimento de plantas
O crescimento de plantas é simulado para indicar a remoção de nutriente da zona
radicular, a transpiração e a produção de biomassa (Geza e McCray, 200 ). Como de taque
desse aspecto, o modelo apresenta a capacidade de simular o c rescimento de mais de uma
espécie de plantas crescendo simultaneamente. Para isso, o modelo utiliza o al 17 oritrno
desenvolvido por Kiniry et ai. (1992). Com o uso desse a lgoritmo é po s ível considerar
várias espécies de plantas crescendo ao mesmo tempo (culturas a_nua is, pastagens, árvores,
vegetação nativa), em condições de competição.

Balanço hídrico
Em cada sub-bacia, o balanço de água é calculado primeiramente sobre a superfície
do solo e, posteriormente, no canal de drenagem. Em outras palav ras, pode- e relatar que
primeiramente é necessário conhecer o volume de escoamento gerado na sub- bacia para,
em seguida, calcular o volume de água que será transportado pelo canal de drenagem.
Consequentemente, a água escoada pelo canal de cada sub-bacia tem como destino final o
canal principal da bacia que está sendo estudada.
Apesar da ampla utilização do SW ATem diversas aplicações, o modelo é com ba e em
uma representação muito simples dos processos de energia superficial e da di tribuição da
água no perfil do solo. A umidade do solo desempenha papel fundamental na simulação
dos vários processos hidrológicos no modelo (Chen et ai., 2011).
O escoamento total é calculado pela equação:

(16)
em que:
Q= escoamento total que chega ao canal da sub-bacia, mm.
Qsurt escoamento superficial, mm.
Q /a i = escoamento lateral sub-superficial, mm.
Q gw= escoamento subterrâneo, mm.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


416 ELOY LEMOS DE MELLO & !LDEGARDIS BERTOL

O SWA T utiliza o método do número da curva para a estimativa do escoamento


superficial. Nesse caso, o usuário deve definir um valor de CN para cada HRU e, então,
o SWAT utiliza o grupo de solo para definir o escoamento superficial, seguindo o
procedimento apresentado no item 2, com ligeiras modificações (Neitsch, 2005; Ashagre,
2009; Arnold, 2010).
Na versão 2009, o SW AT incluiu uma alternativa para a estimativa do escoamento,
aplicando o conceito de que ele acontece quando a intensidade de precipitação excede a
capacidade de infiltração de água no solo. Em outras palavras, pode-se afirmar que, quando
a precipitação ocorre em um solo inicialmente seco, a taxa de infiltração é normalmente
alta. Contudo, à medida que o solo umedece a taxa de infiltração diminui. Quando a
intensidade de precipitação é maior do que a taxa de infiltração, inicia o empoçamento
da água na superfície do solo e o preenchimento das depressões do terreno. Se a chuva
continua, e a capacidade de armazenamento de água na superfície é superada, inicia-se o
escoamento superficial.
Com base nesse princípio, a equação de Green-Ampt modificada por Mein-Larson -
GAML (Mein e Larson, 1972) é usada para calcular a infiltração a partir do momento em
que há empoça.menta da água no solo, em um processo iterativo resolvido pelo método
numérico de Newton-Raphson.
A equação GAML pode ser expressa por:

F =K. t + l/f 0d I,,(1 + :aJ (17)

em que:
F = infiltração acumulada, mm.
K5
= condutividade hidráulica do solo saturado, mm h·1 •
t = tempo, h.
lJ1 = potencial matricial da água no solo na frente de umedecimento, mm.e.a.
8d = défice de umidade do solo, cm3 cm·3 •

É importante notar a relação de dependência entre os dados de clima e os diversos


componentes do modelo. Se o usuário optar pelo método do número da curva, o gerador
climático vai fornecer apenas a precipitação total diária, que será o suficiente para atender
a equação 3. Se o usuário optar pela equação de Green e Ampt, então o gerador deverá
calcular também a distribuição da precipitação durante o dia.
O SWAT também calcula a vazão máxima de escoamento superficial por meio do
método racional modificado, que incorpora à equação original {Equação 7) um coeficiente
de retardo para bacias com tempo de concentração superiores a um dia e, ainda, um
coeficiente que representa a fração da precipitação diária que ocorre durante o tempo de
concentração.
O escoamento em canais é calculado pela equação de Manning (Equação 12), que é
reapresentada a seguir explicitando-se a vazão e a seção transversal do canal:

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓGICOS 417

(18)

em que:
Q = vazão no canaJ, m3 s-1•
A = seção transversal do canal, m 2•
R,, = raio hidráulico para determinada profundidade de escoamento, m.
I = declividade do canal, m m-1•
n = coeficiente de Manning, s m-113•

Quando o volume de água no canal excede a sua capacidade de transporte, o excesso de


água transborda e atinge a superfície de inundação do canal. O modelo parte do princípio
que a planície de inundação também apresenta geometria regular e pas a a considerá-la
também para o cálculo de escoamento em canais.
Quando um modelo se propõe a simular grandes bacias rudrográficas, além de
considerar o escoamento em canais é necessário levar em conta a presença de reservatórios
na rede drenagem. O SWAT simula o impacto desses reservatórios sobre o s uprimento de
água e o controle de cheias, sem fazer distinção entre os reservatórios naturais e artificiajs.
O balanço de água diário do reservatório é dado pela equação:

V=Vam, +Ve,1 +V+V


s prrc
+Vrrvrp -Vrn (19)
em que:
V= volume de água armazenado no reservatório ao final do dia, m 3 •
Vann = volume de água armazenado no reservatório no início do ilia, m 3 •
V,,,= escoamento que chega ao reservatório, m 3•
Vs= escoamento que sai do reservatório, m 3•
V prrc= precipitação diretamente sobre o reservatório, m 3 •
V t'l>ap = evaporação do reservatório, m3 .
V'" = perda por infiltração, m3 •

Perda de nutrientes e pesticidas


O desenvolvimento do SW AT sempre foi direcionado para avaliar o impacto do
manejo e uso do solo sobre a qualidade e quantidade de água. O transporte de nutrientes
e pesticidas em uma bacia rudrográfica depende das transformaçõe que ocorrem no
ambiente do solo. O SWAT simula o ciclo do N e do P e também a degradação de pesticidas
que tenham sido aplicados a uma unidade de resposta hidrológica.
O SWAT considera duas formas inorgânicas de N no solo, que são a amónia ( H ·)
e o nitrato (N03-), além de três formas orgânicas, sendo uma referente ao associado~à
biomassa vegetal residual e à biomassa microbiana, e as outras duas associadas ao húmus.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


418 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

De maneira semelhante, tam.bém O p é considerado, porém em seis formas diferentes


normalmente encontradas no ambiente do solo.
Os pe ticidas podem ser aplicados via aérea e, nesse caso, uma parte será interceptada
pela copa das plantas e pela biomassa vegetal resid uai. Eles tan1bém podem ser incorporados
ao solo pelas operações de preparo. O SW AT simula as quantidades de pesticidas nas
folhas e também em todas as camadas do horizonte do solo.
Depois que os nuh·ientes e pesticidas são introduzidos no canal principal, esses podem
ser transportados até a seção de saída pelo próprio escoamento superficial. O transporte
pelo fluxo de água subterrânea também pode ser significativo e, portanto, é simulado pelo
modelo.

Aplicações e limitações
A vantagem do SWAT é que ele é um modelo de simulação contínua. As condições
iniciais para cada dia são determinadas a partir das condições anteriores (Geza e McCray,
2008). A aplicação do SWAT, ou de outros modelos semelhantes, no Brasil impõe algumas
dificuldades relacionadas à disponibilidade de dados de clima e solo e, principalmente, de
dados hidrológicos.
O SWA T, assim como outros modelos de simulação contínua, é adequado para a
quantificação do impacto relativo dos diversos sistemas de manejo e uso do solo sobre as
perdas de água, sedimentos, nutrientes e pesticidas. A quantificação de valores absolutos
parece ainda ser um grande desafio para os pesquisadores da área de recursos hídricos
e erosão hídrica do solo, embora se possam conseguir bons resultados após a análise de
sensibilidade, calibração e validação do modelo.
Desse modo, recomenda-se o SWA T quando se deseja estudar uma variedade de
estratégias de manejo sem investimento excessivo de dinheiro e tempo. Essas estratégias
podem ser simuladas para longos períodos de tempo; além disso, é possível a adaptação
dos dados de entrada para simular as mudanças climáticas (Neitsch et al., 2005; Ashagre,
2009).
Também, um aspecto fundamental é que modelos como o SWAT permitem avaliar
0 impacto ambiental decorrente das práticas de manejo. Atualmente, a demanda por esse
tipo de irúormação tem sido crescente, e apenas a quantificação das perdas de água e
sedimentos já não satisfaz completamente as necessidades de gestão e manejo das bacias
hidrográficas (Kirsch et al., 2002; Baltokoski et al., 2010; Nie et al., 2011) .
A capacidade de um modelo hidrológico em simular os processos em uma bacia
hidrográfica depende, normalmente, de uma calibração adequada dos parâmetros (Oeumg
et al., 2011). No caso do SWAT, a calibração é sempre uma tarefa que consome tempo,
especialmente se alguns dados de entrada não são adequados e se alguma informação
está faltando (Griensven et al., 2009; Oeurng et al., 2011). Uma estratégia muito utilizada
é iniciar a caHbração a partir de estações de monitoramento localizadas mais a montante,
ou seja, nas sub-bacias de cabeceira (Pisinaras et al., 2010). A realização de uma análise de
sensibilidade também é capaz de simplificar significativamente o processo, pois permite
a identificação dos parâmetros do modelo sobre os quais o projetista deve direcionar os
esforços durante a fase de calibração (Baltokoski et ai., 2010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HIDROLÓGICOS 419

Nas condições brasileiras, a grande dificuldade para aplicar o WAT é a falta d


dados hidrológicos, pois a rede de monitoramente é pequena, comparada à grand
extensão territorial do país. Teoricamente, 0 SWAT deveria ser capaz de representar o
comportamento hidrossedimentológico da bacia sem a necessidade de calibração. o
entanto, a experiência tem evidenciado que isso ainda não é possível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha de um modelo hidrológico deve levar em consideração o nível de aplicação,


os objetivos, a exatidão exigida, a escala temporal e a espacial e a disponibilidade de dados
(Ashagre, 2009).
Alguns modelos têm sido desenvolvidos em regiões de clima temperado e testado
em diversas partes do mundo, mas apresentam dificuldades inerentes por não ter em sido
desenvolvidos para o país onde estão sendo usados (Ashagre, 2009).
A umidade do solo desempenha papel fundamental nas trocas de energia e água dentro
do sistema solo-planta-atmosfera. Sendo assim, a umidade do solo é muito importante na
modelagem dos processos hidrológicos, como o escoamento superficial, a recarga do lençol
freático e a evapotranspiração. No entanto, estimativas exatas da umidade do solo são
limitadas pelas incertezas nos parâmetros de entrada dos modelos e pela representação
imperfeita dos processos de subsuperfície (Chen, 2011).
As mudanças de uso do solo têm efeito direto nos processos hidrológicos em razão da
sua ligação com o regime de evapotranspiração; no entanto, a quantidade e o tipo de cobertura
vegetal têm grande impacto sobre o início do escoamento superficial (Fohrer et aL, 2001).
Modelos de simulação de bacias hidrográficas, que têm o objetivo de descrever a
qualidade da água, como o transporte de sedimentos, nutrientes e pesticidas, necessitam
de representações detalhadas, no tempo e espaço, dos diversos processos hidrológicos
envolvidos. Isso aumenta a complexidade e, consequentemente, o número de parâmetros,
em comparação com os modelos chuva-vazão, que são os mais simples (Griensven et al.,
2006).
A habilidade de um modelo em simular diferentes cenários de manejo e uso do solo o
torna ferramenta importante para as tomadas de decisão (Pisinaras et al., 2010). o Brasil,
disponibilidade de informações é bastante dispersa, e a calibração e validação dos modelos
tornam-se um processo lento e exaustivo.

LITERATURA CITADA

Arnold JG, Muttia RS, Srinivasan R, Allen PP. Regional Estimation of Ba e Flo-w and Ground \ ater
Recharge in the Upper Mississippi River Basin. J. Hydrol. 2000;227:21-40.
Arnold JG, Srinivasan R, Muttiah RS, Williams JR. Large area hydrologic mod eling and assessm nt
Part I. Model development. J Am Water Res Assoe. 1998;34:73-89.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


420 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

Ashagre BB. Swat to identify watershed management options: (Anjeni watershed, Blue Nile basin,
Ethiopia). Basin: Comei! University; 2009.
Baigorria GA, Romero CC. Assesment of erosion hotspots in a watershed: Integrating the WEPP
model and GIS in a case study in the Peruvian Andes. Environ Model Software. 2007;22:1175-83.
BaJtokoski V, Tavares MHF, Machado RE, Oliveira MP. Calibração de modelo para a simulação de
vazão e de fósforo total nas sub-bacias dos rios Conrado e Pinheiro - Pato Branco (PR), Rev Bras
Cienc Solo. 2010;34:253-61..
Bormann H , Breuer L, Graff T, Huisman JA. AnaJyzing the effects of soil properties cha.nges associa ted
with land use changes on the simulated water balance: a comparison of three hydrological
catchment models for scenario analyses. Ecol Model. 2007;209:29-40.
BouJain N, Cappelare B, Séguis L, Favreau G, Gignoux J. Water balance and vegetation change i.n
the Sahel: A case study at the watershed scale with an eco-hydrological model. J Arid Environ.
2009;73:1125-35.
Bouraoui F, Benabdallah S, Jrad A, Bidoglio G. Application of the SWAT model on the Medjerdariver
basi.n (funisia), Phys Chem Earth. 2005;30:497-507.
Brandão VS, Pruski FF, Silva DD. Infiltração da água no solo. Viçosa, MG: UFV; 2006.
Chen F, Crow T, Starks PJ, Moriasi DN. Improvi.ng hydrologic predictions of a catchrnent model via
assimilation of surface soil moisture. Adv Water Res. 2011;34:526-36.
Chow vr, Maidment DR, Mays LW. Applied hydrology. New York: McGraw-Hill; 1988.
Crobeddu E, Ben.nis S, Rhouzlane S. Improved rational hydrograph method. J Hydrol. 2007;338:63-72.
El-Hames AS. An empiricaJ method for peak discharge prediction in ungauged arid and semi-arid
region catchments based on morphological parameters and SCS curve number. J Hydrol. 2012.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jhydrol.2012.06.016
Fohrer N, Haverkamp S, Eckhardt K, Frede HG. Hydrologic response to land use changes on the
catchment scale. Phys Chem Earth. 2001;26:577-82.
Franco EJ. Dimensionamento de bacias de contenção das águas pluviais com base no método racional.
Curitiba: UFPR; 2004.
Geza M, Mccray JE. Effects of soil data resolution on SWAT model stream flow and water quality
predictions. J Environ Manage. 2008;88:393-406.
Griensven A, Meixner T, Grunwald S, Bishop T, Diluzio M, Héirmann G, Kéiplin N, Cai Q, Fohrer N.
Using a simple model as a tool to parameterise the SWAT model of theXiangxi river i.n China.
Quarten I.ntern. 2009;208:116-20.
Hawkins RH, Hjelmfelt A T, Zevenbergen A W. Runoff probability, storm depth and curve numbers.
J Irr Drain ASCE. 1985;111:330-40.
Ji XB, Kang ES, Chen RS, Zhao WZ, Zhang ZH, Jin BW. A rnathematical model for simulating water
balances in cropped sandy soil with flood irrigation applied. Agric Water Manage. 2007;87:337-46.
Jie z, Guang-Yong L, Zhen-Zhong H, Guo-Xia M. Hydrological cycle simulation of an irrigation
district based on a SWAT rnodel. Mathem Computer Model. 2010;51:1312-8.
Kavetski D, Kuczera G, Franks SW. Calibration of conceptual hydrological models revisited: 1.
Overcoming numericaJ artefacts. J Hydrol. 2006;320:173-86.
Kiniry JR, Blanchet R, Williams JR, Texier V, Jones CA, Cabelguenne M. Sunflower simulation using
the EPJC and ALMANAC models. Field Crops Res. 1992;30:403-423.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIII - MODELOS HíDROLÓGICOS 421

Kirsch K, Kirsch A, Arnold JC. Predicting scdirnent and phosphorus load -.in the Rock Ri ver basin
using SWAT. Trans ASAE. 2002;45:1757-69.
KuichJing C . The relation between the rainfoll and discharge of sewers in popu lous districts. ASCE
Trans. 1889;120:1-56.
Legesse D, Vallet-Coulomb C, Casse F. Hydrologica l responsc of a catch ment to clima te nd land use
changes in Tropical Africa: case study South Central Ethiopia. J Hydrol. 2003;275:67-85.
Loucks DP, Beek E, Stedinger JR, Dijkman JPM, Villars MT. Water re ources sys tems plannin and
management: an introduction to methods, rnodels and app lica tions. Turin: Unesco; 2005.
Maayar ME, Price DT, Chen JM. Simulating daily, monthly and an.nual water balances in a land
surface model using alterna tive root wa ter uptake schcmes. Ad v Water Res. 2009;32:1444-59.
Mello CR, Viola MR, Norton LO, Silva AM, Weimar FA. Development and application o f a impl e
hydrologic model simulation for a Brazilian headwater basin. Catena. 200 ;75:235-247.
Mishra SH, Jain MI<, Babu PS, Venugopal K, Kaliappan S. Comparison of AMC-d ependent C1 -
conversion formulae. Water Res Manage. 2008;22:1409-20.
Mishra SK, Singh VP. Soil conservation service curve number (SCS-Ci ) methodology. London:
Klumer Academic Publisher; 2003.
Mohammad AC, Adam MA. The impact of vegeta tive cover type on runoff and soil erosion under
different land uses. Catena. 2010;81:97-10.
Mulvany TJ. On the use of self-registering rain and flood gauges in making observation of the rela tion
of rainfall and floods discharges in a given ca tchment. Proc Civil Eng Ireland. 18-11;4:18-31.
Naghettini M, Pinto EJA. Hidrologiaestatística. Belo Horizonte: CPRM; 2007.
Naik CM, Rao EP, Eldho TI. A kinematic wave based watershed model for soil erosion and sed.iment
yield. Catena. 2009;77:256-65.
Natural Resources Conservation Service - NRCS. National Engineering Handbook; Hydrology.
Washington: USDA; 2010. Pt 630.
Neitsch SL, Arnold JG, Kiniru JR, Williams JR. Soil and water a e ment too! - theorctical
documentation (Version 2009). Temple: Texas A & M; 2011.
Neitsch SL, Arnold JG, Kiniry JR, Williams JR. Soil and water assessment too[ - Theoretical
documentation (Version 2005). Temple: Blackland Research Center, Texas . gricultural
Experiment Station; 2005.
Nie W, Yuan Y, Kepner W, Nash MS, Jackson M, Erickson C. Assessing impacts of Landuse and
Landcover changes on hydrologyfor the upper San Pedro watershed. J Hydrol. _0l 1;407:105-1-l.
Notter B, Mcrnillan L, Viriroli D, Weingartner R, Liniger HP. lmpacts of envi.ronmental change on
water resources in the Mt. Kenya region. J Hydrol. 2007;343:266-7 .
Oeumg C, Sauvage S, Sánchez-Pérez JM. Assessment of hydrology, sediment and particulate organic
carbon yieldin a large agricultura! catchment using the S\ AT model. J H ydrol. 2011;-101:14-5-53.
Pisinaras V, Petalas C, Gikas GD, Cernitzi A, Tsihrintzis VA. Hydrological and water quality modeling
in a medium-sized basin using the Soil and Water Assessment Too! (Sv AT). Desalination.
2010;250:274-86.
Pruski FF, Brandão VS, Silva DD. Escoamento superficial. içosa, lG: UF ; 200-t
Pruski FF. Conservação do solo e água: práticas mecànicas para o controle da ero ·.io hídrica. 2ª.ed.
Viçosa, MG: UFV; 2009.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


422 ELOY LEMOS DE MELLO & lLDEGARDIS BERTOL

S bhani G. A revi w of elected small ,,vatershed design methods for possible adoption to lranian
c nditions [the i ]. Logan: Utah Sta te University; 1975.
huol J, Abbaspour KC. U ing monthly weather statistics to generate daily data in aSWAT model
application t \,\lest Africa. Eco! Model. 2007;201:301-11.
Sharple A , Williams JR. editors. EPIC-Erosion Productivity Impact Calculator, 1. Model
documentation. \,\ ashington: USDA; 1990. (fechnical Bulletin,1768.
Srinivasan, R. A global sensitivity analysis too! for the parameters of multi-variable catchment
models. J H drol. 2006;324:10-23.
Tucci CEM, organizador. Hidrologia: ciência e aplicação. 3ª. ed. Porto Alegre: UFRGS; 2004.
\ 1ainwrightJ, Mulligan M. Environmental modeling: finding simplicity in complexity. West Sussex:
John\ iley & Sons; 2004.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

JII
XIV - EROSÃO DO SOLO

Ildegardis Bertol 1I, Elernar Antonino CassoF1 & Fabrício Tonde llo Barbosa.V

11
Universidade do Es tado de Santa Ca tarina, Centro de Ciencias A~roveterinári,1<;, IÀ~t.'~, C. fk->I ·1c.ta dn C ' l'q
E-mail : ildegard is.bertollri1ud csc. br
l/ Univers idade Federa l d o Rio Grande d o Sul, Faculdade de Agronomia, Depar amcnto d e Solo-;, Pnr O Aleg.n•,
RS. E-mail : e lemar.cassolt;_;>u frgs.br
' 1 Universidade Es tadual de Ponta Gro,,.1, Po nta Grc,~ ·a, PR
E-mai l: fabricio to nd e llo@g mail.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO .............................................. ... .. ........... .. ......... .... ............ .. ........ .............. ..... ........... ... ...
EROSÃO DO SOLO..................... .......... ................... ..... ...................... .. ....... .......... .. . ............... ..... ............... ..... .. ... •125
Tipos de degradação d o solo ..................................... ............. ........................... ....................... ··-. ..... ... ...... .125
Tipos de erosão do solo ...... ....................... ......... ... ..... ... ....... .................... ... .......... .................. ... ........ _.... . .. .. -426
Fontes e formas de e nergia erosiva do so lo .... .... .............. ..... ... ............ ................................... - .... _..... . . . ...... .Q6
Classes de erosão do solo .......... ....... .................... .................. ...... ............................... ................. _ ....... ........... -1'27
Agentes erosivos .............. ......... ....... .... ....................... ....... ... ................................................ ........... -.. .. .. .. 127
Fases da erosão do solo ............... .................. .......................................................... ..................... -... ..... ... _.... .. -l27
Erosão do solo no planeta: ·cveridade, abra ngência e consequências .................... ................... - ·.. ·-· ...... ... 42
His tó rico de evol ução da e ros,'io do solo no Bras il ....... ........ .... ............ ...... ..... .... . ................ .. .. ....... _ ... . 429
EROSÃO HÍDRI CA DO SOLO ................. ......... ... .................................... .............. ............... .. . . .... .......... . ...... . -02
Mecanis mos e processos es pecíficos de erosiio hídrica p lu via l do solo......... ....................... ............. ... . .. ·D2
Subfases da erosão h ídrica plu vial do solo ........................................ ....... ............ ................... ... ........... ... . .. ·1>-i
Fo rmas de erosão h ídrica pl uv ia l do solo ······························································· ·········· ............... . n::
Fato res que influenciam a erosão hídrica pluvia l do solo .. ....... ....................... ................ ........ ·-. ..... ... .. . -Dó
Chu va .... ... ............................. .... .... .. ... ...... ............ .... .... ..... ..... .... ............... ..... .............. .... .. ............ ...... ....... ... .. . -136
Diâ me tro, velocidade de queda e for ma das gotas d e c hu vi\ ............................. . ............·-··- ...... ..... -D6
Inte ns idade da chuva .. .................................. ............................ ................... ........... ........ .. . .. .. . ... ..... -137
Duração da chu va............................................... .......................... .... ....... .............. ...... ........ ...... ..... .. ....... . . -!3
Quantidade total de chu va .................................................... .... ............. .. ........ .. . ................. ........ .... ...... . . -C
Frequência das chuva .......... ....... .......... ... ........................... ... ........... ......... .. .............................-. .......... ....... -09
Energia ci nética d a chu va. ... .............................. ...... ... .......... .. .... .. ........ ............................................ ............ . 43:)
Distribuição sazonal da chu va ....................................................... .. .... ................ .. ..·- ···-·-·-···.. ····.. - ···· -··· . +:O
Solo .. ........................ ................................... .. ............ ..................... ................ .............. ...................... -... ... . ... +l
Atrib utos do solo que infl uencia m a desagregação
·····································"• •············· . .... .
A tributos do solo que interfere m no tran porte ....... .... ............... ................. ..... ........... ........ ···~·- ···-·· ~-·····
A tributos do solo que i1úluenci.1m ,\ iniiltrnção Jc água .............. ..... ........... . ... .... - .... ........ ...... .......... +n
Relevo ................ .. .............. ..................... ....... ... ... ............................ ......................... _.................. ................. -.. ..\..\2
lnclinaçiio do declive ............ ....................... .. .................... ................. ..

Berto l 1, De Maria 1 , Sou z,1 LS, editores. 1' l,m ejo e o.::01n:•rvíl ·..\o do solo e Ja .1~.i. ·i..;o-,,1 , \1 ,: · ·i... J Jdl'
lk1s ilt' ir.1 de C iê ncia d o Solo; 20 IR.
424 ILDEGARDIS BERTOL ET AL .

Con1prin1enln do dL'Clive ................................................................................................................................ 443


un·aturél do d eclive ...................................................................................................................................... 444
Varia ão na declividade ................................................................................................................................. 445
'1icro1Tele\'0 ..................................................................................................................................................... 445
Cobe1·tura e manejo do solo................................................................................................................................ 446
Coberru ra do solo .................................................................................................... ........................................ 446
~1a nejo do solo..................................................................................................................................... ............ 447
Prá ticõ con ervacionis tas de suporte...................... ........................................................................................ 449
Interação de fa tores que infl uenciam a erosão hídrica do solo ..................................................................... 449
Como julgar a p robabilidade de erosão hídrica pluvial do solo .................................................................. 449
EROSÃO EÓLICA DO SOLO........................................................................................................................................ 450
Movime nto do solo causado pelo vento............................................................................................................... 451
1ovimento do solo p or saltamento .................................................................................................................. 451
tvlovimento d o solo por suspensão ............................................................................................................... 452
fov imento do solo por arrastamento superficial ................................................................................... ... 452
Formas de erosão eólica do solo................................................................................................................ ............ 452
Fases no p rocesso de erosão eólica do solo.......................................................................................................... 453
Iniciação d o n1ovin1ento ..................................................................................................................................... 453
Consolidação do solo e estabilização ................................................................................................................ 455
Fatores que influenciam a erosão eólica do solo ................................................................................................. 455
Clin1a...................................................................................................................................................................... 455
Velocidade do vento ....................................................................................................................................... 455
Temperarura, pressão e umidade. ................................................................................................................. 455
Chu va ................................................................................................................................................................ 455
Solo......................................................................................................................................................................... 456
Condições de solo e uso da terra....................................................................................................................... 456
Topografia........................................................................................................................................................ 456
Microrrelevo..................................................................................................................................................... 456
Plantas ............................................................................................................................................................... 456
Fitomassas culrurais residuais ....................................................................................................................... 456
Obstáculos mecânicos..................................................................................................................................... 457
Lavração............................................................................................................................................................ 457
r astejo................................................................................................................................................................ 457
Estação do ano ................................................................................................................................................. 457
Principais da nos causados pela erosão eólica...................................................................................................... 457
co lSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................................... 458
LTTERATUR A CITA DA ................................................................................................................................................. 458

INTRODUÇÃO

A erosão do solo já causou a ruína de algw11as civilizações humanas e a derrocada de


impérios antigos, após estes terem atingido grande desenvolvimento. Essas civilizações
evoluíram exp lorando recursos naturais, em especial os que sustentavam a produção
agropas toril em terras com alta fertili~ade natural. Os desertos do norte da C hina, d a
Pérsia, da Mesopotâmia e do norte da Africa, por exemplo, se desen volveram esgotando
0 solo em razão da intensa exploração do solo que potencializou a erosão . A d ecad ência
do Império Romano também é atribuída, em parte, à erosão que ocasionou a remoção d e
nutrientes e, como consequência, a degradação de características q uímicas do solo.

M A NEJO E C ON SERVAÇÃO DO S O LO E DA Á G UA
XIV - EROSÃO DO SOLO 425

A erosão do solo c1indc1 é O proble ma mais s '•rio e nfre ntado pe la soei dad c, cm ..í reas
urba nas e rurais, se ndo considerada a principa l forma el e d eg radação Joc; so lo., e um
d esafio él ser en fren tado pelos agricul tores, t ;cn icos, •specié1lic; tc1c; e cien ti stas que ,ltuc1m
e m conservélção do solo. Na civili zação él tu a l, c1 erosão já degradou mil hões ele hectt1res
d e terras culti vadas, excl uind o-éls do processo produti vo e, ou, red uzi nd o s ua capacid.1J e
produti va, torn ando-as margina is do ponto de vista d ,1 produt-iv iclacle competitiva .
També m, um aspecto não menos importante dessa eroc;ão é a contaminação do
ambiente ocasionada pelo constante a porte de sedim e ntos, pc ticic.las , material o rgc:inico,
nutrientes de plantas e outras espécies químicas para J S é5guas uperfi ciais, comp ro metendo
s ua qualidade, pelo assorea mento e eutrofização, e levando os cu tos de tratam nto part1
o consumo humano e animal. A erosão co ntinu a sendo um problemil g rave, mes mo com
a melhoria das práticas de manejo do solo, como a semeadura di re ta, e m u bstituíção aos
s is temas tradicionais de cultivo do so lo com intensa mobilização mecâ nica .
As razões já citadas são suficientes para a consta nte preocupação com a erosiio do . olo.
especialmente a erosão hídrica pluvia l. Por isso, é fundamental o seu estud o, incluindo as
relações da erosão com a hidrologia de superfície, nos cursos de Agronomia cio país e e m
outros de áreas de atuação afins, mas, princi pa lme nte, nos c ur os de pó -grad uação em
ciência do solo, em níveis de mestrado e doutorado.

EROSÃO DO SOLO

A erosão pode ser definida, simplesmente, como o desgaste do solo em razão da


remoção de camadas superficiais ca usada pe la ação dos agentes erosivos. Fisicamente, no
entanto, a erosão é definjda como um processo d e desagregação, tran porte e deposição
das partículas, causado pelos agentes erosivos e fortemente influenciado pela ativ idade
do homem (Foster, 1982). Em outras palavras, a erosão do solo é o de ga te induzjdo com
remoção de solo do seu local de origem.
A degradação do solo é resu ltante de um conjunto de fatores que d iminuem c:i qua lidade
e capacidade produtiva dele, ocasionada pelo mau uso da terra e inadequado manej
do solo, resultando em aceleração da erosão. Assim, essa degradação é um fenômeno
complexo, resultante da interação de fa tores biofis icos e socioeconõrruco que diminui a
qualidade do solo. Isto compromete suas fw1ções básicas de armazenador de nutriente e
outras espécies químjcas de promotor e sus tentador do desenvolv imento vegetal e ela vida
si lvestre, de regulador do ciclo hidrológico, de depurador de resíd u o e de f rnecedor de
materiais para as atividades humanas.

Tipos de degradação do solo


Oito tipos de degradação do solo têm sido citados pe la F O (Hud on, 1995): er sã
hídrica, erosão eólica, salinização, degradação física, d egradação química, degrad il ~ão
biológica, desertificação e escavação. Entre estes, a degradação por ero ·ão, eja hídrica o u
eólica, é a mais extensiva e prejudicial às terra do plane ta. 1 to porque a erosão remove
fi s icame nte o solo do seu local original e depo ita e m ou tro, irreversi elmente. Isto faz e m

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


426 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

que, dentro da escala de tempo do ser humano, o solo seja consid erado um r curs o natural
não renovável.

Tipos de erosão do solo


Existem dois tipos de erosão (SCSA, 1982): a natural ou geológica e a induzida ou
acelerada. A ero ão natural é aquela que se processa lentamente no tempo, onde as forças
que desgastam e removem o solo estão em equilíbrio dinâmico com as forças de formação
e reposição desse. Nesse tipo de erosão, não há a interferência do homem, também não
há prejuízo, nem para o homem, nem para o ambiente. A erosão induzida é aquela que
e processa rapidamente no tempo, onde as forças da natureza estão em desequilíbrio.
esse tipo de erosão há a interferência do homem e, por isso, criam-se condições para que
as forças de desgaste superem as forças de formação e reposição de solo, havendo, pois,
prejuízo, tanto para o homem quanto para o ambiente. Em geral, a erosão natural não
é preocupante, enquanto a erosão induzida o é constantemente. Dificilmente o homem
poderá intervir na primeira, enquanto, na segunda, o fenômeno está inteiramente sob sua
ação.

Fontes e formas de energia erosiva do solo


A erosão do solo é o trabalho resultante de uma força sobre un1 corpo (Foster, 1982). A
água ou vento (força), quando em movimento, age contra o solo ou rocha (corpo), podendo
desagregá-lo e produzir nele wn movimento (trabalho). A força aplicada tem determinada
quantidade de energia, que, no caso da erosão do solo, é dependente de um agente erosivo:
água, vento ou sólidos.
Essa energia é manifestada de duas formas:
Energia cinética (Ec), decorrente do movimento que move uma massa (m) e se
relaciona com o quadrado da velocidade (v), descrita pela seguinte equação:

(1)

a erosão do solo, a massa pode constituir-se de água, ar ou solo.


Energia potencial (Ep), decorrente da posição de um corpo de massa (m) em relação
à sua localização no espaço, sujeita à ação da gravidade (g) por meio de uma distância (h),
descrita pela seguinte equação:
Ep = (m g h) (2)

Considerando-se que a gravidade é quase constante, no caso da erosão do solo, a Ep


é proporcional à h, podendo-se desconsiderar, assim, a g. A quantidade máxima de Ep
disponível para provocar a erosão do solo é determinada pela altura da massa de solo
acima do nível base de erosão. Para muitos locais, este 1úvel base é o mar. No caso da
erosão do solo, a quantidade de energia potencial depende da diferença de elevação entre
a posição original da massa e o pé do declive, ou seja, depende da declividade do terreno.
GeraJmente, a erosão das terras agrícolas é causada pela Ec da água e do vento,
enquanto os movimentos de massa são geralmente causados pela Ep da água e de solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - E ROSÃO DO SOLO
427

Ta n to a Ec q uél nto él Ep conl ribu -•m p;ir,1 c1 c ro<'io déls tc rr.:1s, nac; forma Je ero<'io em
e ntress ulcos, em s ulcos e c m voçorocéls.

Classes de erosão do solo


Com base no agente ca usador, existem três classes de erosão d o solo: a híd rica, cc1uc;ad.:i
pela ág ua; a eólica, moti vélda pelo vento; e él g lélcia l, provocada pe lo gelo.
A e rosão híd rica, principalmente a pluvia l, é pred o minante no Brélsi l. É a que ocorre
m ais ampla e intensél mente em prélticamente todo o país, cle pend ndo do padrão climá tico
de cada região. Por isso, essa será tratada nes te ca pítulo com ma io r · nfac;c e d tJlhe do que
as dem ais.
A erosão eólica também ocorre no Brasil, em peq uenas áreas, onde o fenô meno é
intenso. Embora de ocorrência li mitada te rrito ria lmente, é notória a ex pa nsão des c1 cl,,sc;e
d e erosão no país, em es pecial onde cond ições e pecíficas a fa vorece m . Ausê nciJ de chuvas
po r lo ngos períodos favorece a erosão eó lica, bas icamente porq ue essa condição determina
o secamente do solo e ini be o crescimento de vege tação.
A erosão g lacial não ocorre no Brasil porque não se forma m aq ui geleiras em magn itude
s uficiente pa ra que o gelo desencadeie o processo eros ivo.

Agentes erosivos
Os agentes natu rais e ativos ca usad o res da erosão do olo são a águ a e o ven to. A água
é o agente simples mais importante, cons tituindo a erosão hídrica (Benne tt, 1939). á0 uas
d as chuvas, dos rios, dos mares, d os lagos e das gelei ras apresenta m capacidade d e erodir
o solo, basta para isso que estejam em movimento. O vento é ou tro im po rtante agente de
erosão (McGee, 1911; Stallings, 1956). O cisalha mento que resulta da ação de sedimentos
carregados em suspensão pelo vento erod e os m ateriais aos q uai ta i sedimen to -e
chocam. Em relação ao solo, o vento, por si só, possui capacidade de inicia r o mo vi mento
das partículas e causar séria erosão eólica. Além da água e do vento como agentes a ti vos,
outros agentes na tura is, como as muda nças de ten1 peratu ra, a a ti vidade biológica e o
gelo, podem tam bém contribuir para a erosão do solo, como agente pas ivo q ue a tuam
indire ta mente, principalmente pela " pertmbação" q ue caus am na rocha e no- o los,
acelera ndo o efeito erosivo.

Fases da erosão do solo


A erosão d o solo se processa em três fa ses, a d esagregação, o transpo rte e ,1 d po ·1çao,
ne m sempre distintas uma das ouh·as porque ocorrem conco mitanteme nte (Ellison, 1947).
A d esagregação d o solo cons iste no d esprend im ento do g râ nulo - d e ro ha u de
pa rtículas de solo d o material que os contém. Em erosão d o lo, o termo partícu las e
refere às frações gra nulométricas (arg ila, silte e areia), ao pequeno t rrõe- (micro
e m acroagregados) e à matéria orgânica do so lo. A d e a g regação ~ a prim e ira e m ais
importante fase da erosão, po is, sem ela, di fici lmente haverá transporte e, consequentemente,
d e posição.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


428 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

O tran porte consiste na remoção das partícul as desagregadas d a m assa do solo p ara
algu m. lugar di_ tante do ponto de origem, independentemente da distância a que são
tran portada . E a egunda fa e da erosão, pois, após as partículas terem sido d esagregadas
es as ão tran portadas pelos agentes.
A depo ição consi te na parada do material desagregado e h·ansportado, em algum
ponto sobre a superfície da terra. É a terceira e última fase do processo erosiv o.
Diferentes solo comportam-se de maneira distinta em cada w11a das fases da erosão,
ou seja, a importância relativa de cada uma dessas fases pode modificar com o tipo de
solo. A sim, as partículas de areia são mais prontamente desagregadas do que as de argila,
porém, estas últimas são mais facilmente transportadas do que as primeiras.

Erosão do solo no planeta: severidade, abrangência e consequências


A erosão do solo ocasiona dois tipos de prejuízo: danos diretos, no local de origem; e
danos indiretos, fora do local de origem.
Os danos no local de origem são menos complexos e menos custosos, desde que o solo
não tenha sido severamente desgastado pela erosão. Estes danos se referem à redução da
capacidade produtiva do solo pela diminuição de sua profundidade efetiva e redução de
sua capacidade para absonrer, reter e liberar água e nutrientes para as plantas, em razão
das perdas de solo, matéria orgânica e de nutrientes. Isto se reflete em menor rendimento
das culturas e em maior custo da produção agrícola (Cogo e Levien, 2002).
Os danos fora do local de origem são mais complexos e, geralmente, mais custosos. Eles
dizem respeito ao assoreamento de valas, canais, partes baixas do terreno, reservatórios e
cursos d ' água e à poluição de fontes de água superficiais. A erosão eólica, especificamente,
pode causar massivas nuvens de poeira e desencadear urna série de outros prejuízos, como
prejudicar a visão de motoristas e causar acidentes de tráfego, provocar desconforto de
limpeza no lar, causar abrasão e desgaste das superfícies sólidas, além de poluir a atmosfera
e prejudicar a saúde das pessoas e dos animais etc.
A erosão do solo é um importante componente de mudança global, na medida em que
ameaça a qualidade do solo, da água e do ar e, assim, prejudica o desenvolvimento agrícola
e O ecossistema como um todo (Zhang e Wang, 2002). Estes autores afirmaram que os solos
e a mudança global do planeta estão relacionados por meio de urna interação bidirecional
e que tal mudança pode exacerbar os problemas de erosão do solo. Assim, a erosão do solo
pode deteriorar o ambiente global por meio de desastres de enchente, poluição ambiental,
desertificação etc.
A erosão acelerada do solo influencia o clima global pela mudança nos ciclos do C,
do e da água. O s solos do planeta constituem-se em reserva tório de C e N , importantes
nos ciclos globais destes elementos. Pequenas mudanças no reservatório de C e N nos solos
podem ter grandes efeitos nas concenh·ações de C0 2, CH 4 e N02 na atmosfera. A erosão
do solo exerce ainda profundo impacto na quantidade e qualidade da matéria orgânica do
solo, podendo constituir fator significante nas perdas e redistribuição local d e C.
Mesmo nas regiões temperadas, taxas de perda de solo m aiores do que 100 t ha·1 ano-1
são possíveis e, ainda assim, resultantes de apenas algumas ch uvas (Boardrnan, 2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 29

Segundo o mes mo autor, n.:i r g i,fo cio Pla tõ d "Lo c;c;", na Ch ina, 7,2 ,\ ilha so_fre 1_11
pe rd a ele so lo por erosão e m ta xas ma io res do qu , 100 t ha· 1 crno 1• onsiderc1 ndo a to ler~rncra
de perda de solo por erosão adotada no mundo, de 2 c1 I 5 t ha I ano·1, perceb _e; .:i e;· ria
ameaça que isso rep resenta para a human idad e. Em termos fínancei ros, Flan.:ig;:in (2002)
mostrou que, nos EUA, o custo combinado dos danos d a eroc;ão, na 1,woura e for,1 delil,
chega a 44 CUS$ ano· 1•
Apesar d e a erosão do solo ter diminuído nas te rrJ s ilgrícolas do mundo, e m rel ação ao
passado, e m função de novas tecnolog ias de se u control e, essa contínua sendo cl fo rma de
degradação do solo mais amp la e prejudicial do plane ta. Segund o J F/\0 (Flanc1gcrn, 2002),
16 % do total de terra biologicamente produti va do pla neta são s uje ita a s ígnificcltivos
riscos de erosão do solo. Ao redor de 45 % da po rção de terra vegetada do planeta tem
sofrido algum tipo de degradação nos últimos 50 anos; 1,5 Gha vem _ofrendo algum grau
de degradação por erosão a cada ano, com a e rosão do solo send o a p rinc ipal respon5ável
(Berhe et a i., 2005). O autor mencionou ainda que o trans porte de solo pela erosão acelercida
é maior do que 100 Gt an0'1 e que, deste total, 70 a 90 % é de pos itado na superfici do so lo
denh·o da mesma bacia ou em toposseq uência. A pe rda de solo do pla neta, caus<1dc1 p la
erosão acelerada, é de 19 Ct ano·1 (Zhang e Wang, 2002) . a última década, segundo Dor;:in
e Gregorich (2002), a degradação do solo induzida pelas atividades do homem alcançou
cerca d e 40 % do total de terra aréÍvel em uso no mundo, em razão do desmatamento,
cultivo excessivo do solo, erosão do solo, deposição atmosférica de poluentes, p;:i_tejo
excessivo, sa linização e desertificação.
Com base no trabalho de Oldeman et al. (1991), a degradação dos solo agrícolas em
uso no planeta era de 56 % por causa da erosão hídrica; 28 º~, da ero ão eólica; 12 °ti, da
degradação química; e 4 %, da degradação física , ou seja, 84 % e m razão da ero ão (Hudson,
1995). Deste percentual, 38 % da área encontrnvam-se na categoria de degradação leve;
46 %, degradação moderada; 15 %, degradação forte; e 4 %, degrndação ex trema.
Particularmente, acredita-se que o quadro dessa situação tenha até e agravado no
dias atua.is. Mais recentemente, Lal (2003) reportou que ao redor de 1,1 C ha de terra a rável
são acometidos pela erosão hídrica, dos quais 0,75 Cha (68 %) encontram- e na cateo-oria de
degradação severa; e 0,54 Gha são acometidos pela erosão eólica, do quais 60 º~ acham--e
na categoria de degradação severa. Ainda, com base nos dados de Oldeman et ai. (1991) e
sumarizados por Hudson (1995), a degradação dos solos agrícolas no planeta pela ero ão
e ra de 30 % por causa do desflorestamento; 35 %, do pastejo exce s ivo; 2 ~º' das má_
práticas de manejo agrícola; e 7 %, do cu ltivo excessivo do solo.
Os dados recém-expostos evidenciam a necessidade de e dar mais atenção à ero ·ão,
e m níve l mundial, e, de modo especial, no Brasil. Lamenta elmente, e tabeleceu- e no país
a equivocada ideia de que, com a adoção da técnica de semeadura sem preparo do -olo
ou semeadura direta, o problema de erosão do solo seria eliminado, o que é uma grande,
inaceitável e, a té, perigosa inverdade.

Histórico de evolução da erosão do solo no Brasil


A his tóri a da erosão do solo nas lavouras de c ultivos anual e perene, p 1staa-ens e
flores tas no Brasil divide-se e m fases, sincronizadas ou n ão com épocas, em termos gerc.1is,
co1úorme Bertol et ai. (2012), que será aqui resumidamente .1p resentada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


430 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Dw-ant vária décadas io século pas ado, até aproximadamente 1960, predominou
no Brasil o istema colonial, com lavomas de cultivo anual em áreas no geral pequenas.
Elin1ina\ a- e a vegetação natural de mata por derrubada manual e queima, o preparo do
olo era con1 lTação animal, ou nem era efetuado preparo, a semeadura era manual ou
com tração animal e as fitomassas culturais residuais eram queimadas antes do próximo
cultivo. 1es e istema, o principal fator de degradação do solo era a queima da vegetação,
o que diminuía o teor de matéria orgânica, resultando em perdas de nutrientes. No campo,
a vegetação era primeiramente queimada, posteriormente revolvia-se o solo por meio de
arados e emeava- e, com posterior queima das fitomassas culturais residuais.
esse sistema de manejo, a compactação do solo era pouco evidente, e as áreas
degradadas por depleção de nuh·ientes eram deixadas em pousio para recuperação. As
áreas agricultadas eram pequenas e em geral rodeadas por áreas sem cultivo e matas. Por
todas essas razões, a erosão do solo era ainda baixa. A exploração da floresta natural era
pouco intensa nessa época, limitando-se a atender à demanda de construção civil em que
as fitomassas residuais eram decompostas na mata ou serviam para combustão, cuja forma
de exploração teve baixíssimo impacto na erosão do solo.
Nessa época, às vezes, usavam-se terraços agrícolas nas lavouras, quando necessário,
o que induzia o cultivo em contorno. Já era reconhecida a eficácia da cobertura do solo por
fitomassas culturais residuais na redução da erosão, mostrada por Duley (1939) e Ellison
(1947), entre outros, mas, apesar desse conhecimento, essa prática não era comum no Brasil
em razão do preparo do solo com arados e grades e da própria queima. A pressão de pastejo
era baixa, resultando em alta oferta de forragem e baixa pressão sobre o solo. A implantação
de pastagens com espécies exóticas era pouco comum, pois os campos naturais em geral
supriam a demanda, portanto, esse sistema de cultivo pouco influenciava a erosão do solo.
O reflorestamento era pouco expressivo, pois a mata natural atendia a demanda desse
produto.
Também, o governo estimulava o desmatamento para a "abertura de fronteira
agrícola", especialmente para lavouras de cultivo anual. Assim, essa época se caracterizou
pela forte dilapidação dos recursos naturais relativos à cobertura vegetal no território
brasileiro.
Entre 1960 e 1970, com a modernização tecnológica na agricultura, os sistemas de
cultivo com preparo de solo mais intensos passaram a ser praticados no Brasil com o uso
massivo de corretivos químicos. As matas eram derrubadas mecanicamente, a biomassa
queimada, o preparo do solo com sucessivas operações de arados e grades (Nolla, 1982) e as
fitomassas culturais residuais queimadas. Assim, a degradação do solo era ocasionada pela
desagregação mecánica por causa do preparo e da energia da chuva, além da compactação
abaixo da camada preparada e diminuição do teor de matéria orgánica. Contribuía para a
degradação do solo o efeito químico do calcário, o que resuJtava em elevadíssimas taxas de
erosão hídrica e mais degradação do solo.
Nos campos, a vegetação era primeiramente queimada, d epois o solo era arado e
gradeado para implantação de lavouras e, finalmente, as fitomassas culturais residuais eram
em geral queimadas. Nesse sistema, a compactação do solo abaixo da camada preparada,
a pulverização do solo e a compactação química superficial promoviam forte diminuição
na infiltração de água no solo e aumento da erosão. Nessa época, para o controle da erosão,
era ado tado o terraceamento agrícola, com consequente cultivo em contorno. Já se pensava
em estimular a cobertura do solo por fitomassas culturais residua is para reduzir a erosão,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 431

ma s, apesa r do co nhec imento de sua cfi é.Ícia, csc;c1 era aind a um,, p rática pouco com um e m
ra zão cio preparo m câ nico cio solo e da qu ima cfac; fito ma c;sas rec;iclu ai~.
Na ex pl oração pecuá ri a, a pressão de pastejo jé.Í c r;:i mais inte nsJ ne~c;J époc.1. n q u
res ultava e m bai xa oferta ele fo rragem alt;:i pressão sobre o solo, cuja supe rfíc ie e ra pn u o
protegida cio impacto dos cascos dos an imais, tornando-se sujeita JO im p.Jcto dc1c; gotas
ele c hu va e à ação do vento. Assim, a deg radação do solo p lo p.Js lejo erc1 mais inte nc;c:i do
que a ntes, o que con tribu ía pa ra aumen tar a croc;ão, inclus ive eólicc1 e m a i umas regiõ ~-
A im p lantação ele pastagens culti vadas envo lvia preparo mec5nico d o solo, com ap licaçJo
de ca lcá rio e P. Norma lme nte, a pressão de pastejo nessas é.Í reas e ra a lt,1, o q ue nca_ionav<,
d egrad ação física do solo e au mento da erosão.
A partir de 1970, a proximada mente, os s istemas de manejo com a rações e graclagens
de solo nas lavouras começara m a ser s u bstituídos por mJnejos que conservava m as
fitomassas culturais residuais sobre o solo, como a semeéldura dire ta, e ntre o u troc;_ A
sem ead ura dire ta, adotad a mais ou menos " d a noite pélra o dia", trou xe cons igo vantagens
e problemas . As va ntagens deviam-se à red ução da erosão e diminuiç5o d o custoc; de
produção d as lavouras, enquan to os proble mas advinham dos refl exoc; ncgélti vo_ deix.:idoc;
no solo pelos sistemas intensivos de p re pmo mecânico a d otado élnte riorm e nte. Em especi.:il,
a estrutura do solo es tél va degrad ada (Dalla Rosa, 1981 ), él lém do solo seriame n te erodido,
com parte ou toda a camada superficial já remov idél pela erosão. A redução da e ro-.Jo na5
lavouras foi uma das grandes vantagens da semeadu ra direta, comparadél ao preparo com
arado e grades. As perdas de solo fora m red uzidas expressivamente, e nquanto as perda_
de água foram red uzidas em menor magnitude, na maio ria dos Cél os.
A presença de fitomassas culturais resi duais nél s uperfície do olo mascarava a e ro_ào
que continuava a ocorrer na semeadura dire ta. Embora a erosão na semeadura d ire ta
fosse menor do que no preparo convencionéll, ainda assim con tituía- e em um sério
problema. As perdas d e água co ntinuélvam sendo al tas, mesmo na semeadura dire ta, mas
eram d escons ideradas já que, apa rente mente, a água "sa ía limpa" das lavou rns. \.lu ito.
afirmavam que a erosão do solo es tava finalmente controlada nas lavoura brasileiras com
o advento da semeadura direta.
O aparente controle da erosão na semeadu ra dire ta criou no agricul tore a engano_a
certeza de que a cobertura do solo pelas fitomasséls cultu rai re id ua i era suficiente
para controlar adequada mente a erosão. Isso criou um clima favorável para eliminar
os terraços agrícolas e o cultivo em contorno das la vo uras, resu ltéll1do em um do mai
graves problemas d a semeadura direta no Brasil. Em razão da eliminação dos terraço. ,
os agricultores passa ram a realizar a semead u ra morro abaixo e, co mo con equência, _
pe rd as d e águ a e, muitas vezes, de solo, tornaram-se altas, às veze tan to quanto as q ue
ocorriam no preparo convenciona l.
A elevada erosão nas lavouras manejadas por me io de semead ura direta no Brasi l
e ra relacionada, ainda, com as más condições fís icas d o o lo resultantes do anterior
s iste ma de m a nejo (preparo d o solo com arado e grad es). Em esp eia!, a com pactaç.:io do
solo aba ixo da s uperfície e, principalmente, a camada s uperficial jd perdida pela rosão,
lim itavam for temente a infiltração de água no olo e potencializavam a ero ão, já que .1
perda da ca mada superficial, herdada d o sis terna an terior de manejo, não era res !vida
pe la semeadura dire ta. O uso cada vez mais intensivo de máquinas cad a ,·ez mai pesada ·
compactava a s uperfície do solo na semeadura direta, o q ue agravava ainda mai os
proble mas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


432 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

elevada perda de água por rosão que se verifica atua lmente na semeadura
diT ta é r p n ável também por expre sivas perdas de alguns nutrientes de plantas,
d matéria orgânica de pesticidas. Neste manejo, os produtos químicos tendem a se
concenb· r mai na uperffcie do solo. Em especial, o fósforo, apesar de pouco solúvel
m água, perde-se em grandes quantidades na água da enxurrada, mas também é
perdido ad orvido aos sedimentos, em grandes quantidades, tornando-se causador
de eutrofização das águas em mananciais, principalmente em ambientes lênticos. Com
referencia ao K, é perdido em altas quantidades tanto na água quanto nos sedimentos,
já que é olúvel em água e também adsorvido aos sedimentos. A matéria orgânica é
perdida em quantidades muito altas, especialmente adsorvida aos sedimentos (Berto}
et ai., 2007; Barbosa et ai., 2009).
as pastagens cultivadas, em especial no centro sul do Brasil, a situação é dramática
na maioria dos casos, pois, situam-se em solos marginais do ponto de vista de aptidão
para exploração intensiva, em sua maioria, sucumbindo aos efeitos da degradação.
Essa degradação é por causa da excessiva carga animal que consome demasiadamente
a biomassa da parte aérea das pastagens e deixa o solo descoberto, em que os animais
pulverizam o solo na superfície e o compactam logo abaixo dela. Como consequência, a
infiltração de água no solo é diminuída (Bertol et ai., 1998), e a erosão é aun1entada.
Nos últimos anos, é notório também o aumento do cultivo de florestas com pínus
e eucalipto, que, apesar de perenes, apresentam sérios problemas relacionados com
a erosão, em que o plantio morro-abaixo favorece a erosão hídrica. Na fase de colheita,
especialmente quando utilizadas máquinas pesadas, a alteração e mobilização da superfície
do solo é intensa, o que também fragiliza o solo e o toma suscetível à ocorrência de erosão.
Os principais problemas ocorrem nas fases de plantio e colheita e também aparecem nas
estradas internas utilizadas para escoamento da madeira. As estradas internas nas florestas
em geral se situam em posições que mais facilitam do que dificultam a ação da água de
escoamento. Acrescente-se a isso o fato de esse sistema de uso do solo ser implantado e
conduzido geralmente nas áreas com maior declive do que as de lavouras e pastagens, em
muitos casos inclusive em relevo montanhoso e pendentes íngremes.

EROSÃO HÍDRICA DO SOLO

A erosão hídrica do solo ocorre de quatro maneiras, em razão do agente causador:


erosão hídrica pluvial, causada pela água das chuvas; fluvial, pela água dos rios; lacustre,
pela água dos lagos; e erosão hídrica marinha, pela água dos mares. Neste capítulo, será
abordada apenas a erosão hídrica pluvial, por ser a forma predominante e mais importante
no Brasil e também no resto do mundo.

Mecanismos e processos específicos de erosão hídrica pluvial do solo


Os mecanismos pelos quais se processa a erosão hídrica pluvial são relacionados das
fases de desagregação, transporte e deposição pelos agentes erosivos. Os agentes erosivos
são O impacto das gotas da chuva sobre o solo e o escoamento superficial da água, que são
dotados de energia cinética e energia potencial. Fisicamente, a descrição da mecânica de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 33

erosão h ídri a plu vial deve 1 •va r cm con ta tanto ac; três fd s e; d.1 eroc;,'io quanto os procec;c;os
hidrológicos diretamente envolvidos cm cada uma delds (Hu ggi nc;, 1 7 ).
A precipitação da chu va cr.1rac teri za-s • como primeiro procec;so q ue dj início c10 cicl0
hidrológico. As filoma ssas residuais e, ou, a vegetaçJo exic; tente prot .,ge m c1 upe rfí ie
do solo do impac to direto das go tas de chu va, que são res pons.:ívc ic; p la interce ptaç,fo,
compreendendo o segundo processo do ciclo. As partes d.:J c; uperfície do o lo qu nJo
estiverem cobertas são atingidas d iretamente pelas gotas de chu va que promovem d
primeira fase da erosão, a desagregação do solo, por ca usa da ação da ene rgia cineticc1
contida nas go tas. Assim, na parte do terreno onde a s uperfície do solo esti ve r desco berta,
as partículas são desprendidas da m.:Jssa o ri gina l que as contém e lançada em tod a ,is
direções, o que se denomina de erosão de sa lpico o u erosão de impacto das gota d chu vél,
e é muito importante.
A água da chuva, ao chegar ao solo, tende a infiltr.:ir na s uperfície, ca ractcriz-<1ndo-_e
como o processo hidrológico de infiltração. O u tra parte da água pode ser a rmilzenc1dc1
nas pequenas depressões da superfície ru gosa do terreno, caracterizando o procec;c;o
hidrológico denominado retenção superficial.
Uma vez que as demandas combinadas para os proce so de interce ptaçcio,
retenção superficia l e infiltração estejam satis feitas, ou parcialmente ati feita no G l o da
in.filtração, a água acumula-se na superfície do solo, caracterizando o processo hidroló~co
denominado escoamento superficial, em que a água movimenta- e na uperfície e.lo solo.
Nesse momento, a segunda fase da erosão do solo, o transporte, pode começar a ocorrer
em razão da ocorrência do processo hidrológico denominado escoamen to superficial, ou
enxurrada. Quando a capacidade de transporte da enxurrada é maio r do que a car0 a de
sedimentos contida nela, ocorre o transporte e, quando a carga de sedimentos contida na
enxurrada for maior do que a sua capacidade de trans porte, a depo ição acontece, o que
constitui na última fase da erosão do solo.
Os sedimentos transportados pela enxurrada podem chegélI ao mananciais de água
e pelos rios podem alcançar os mares e oceanos. o e ntanto, a maior parte do edimentos
é depositada sobre o solo ao longo do declive ainda dentro das lavou ra ou no fi m dos
declives, em reservatórios, ou, ainda, sobre as planícies al uviais. O edi mento_ que são
depositados ainda dentro das lavouras podem ser remov idos e tran portados por chu a
s ubsequentes.
A importância relativa das três fases da erosão hídrica pluvial depende se es as estão
oconendo em sulcos ou em entressulcos, bem como depende da magnitude dos agentt:~
erosivos em cada uma das fases da erosão. Assim, um me lhor entendimento da era -ão
hídrica pluvial é obtido separando-a em duas formas, erosão em entre s ulcos e em _ulco .
O escoamento superficial nas áreas entre sulcos normalmente - rre num a curta
distância (poucos metros) no terreno antes que começa a concentração, denominando- e
fluxo em entressulcos ou fluxo laminar. À medida que e move no ntido do declive, o
flu xo tende a se concentrar por causa da existência de marcas de preparo do solo, talvegues
naturais ou sulcos de erosão anterior, denominando-se fluxo em uko ou fl ux · ncentr do.
Essas formas de erosão, em entressulcos e em sulcos, oconem de quc1tro m d o distintos:
a d esagregação e o h·ansporte, que são ocasionado pelo im pacto d<1 g ta de chu,·.:1 (e m
entress ulcos); e a desagregação e o trans rorte, que ão causados pelo e ·coamt>nt superficial
(em s ulcos). A importância relativa de cada um desse m odos d e eros.:i ,·,1ria grandemente,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


434 lLDEGARDIS BERTOL ET AL .

dependendo da caracterí ticas da chuva e das condições de superfície do solo. Assim, quatro
subfases de era ão do a lo são possíveis: desagregação pelo impacto de gotas, transporte pelo
impacto de gotas, desagregação pelo escoamento superficial e tn msporte pelo escoam ento
uperficial (Foster, 1982), além da quinta fase, final, a deposição.

Subfases da erosão hídrica pluvial do solo


O impacto das gotas é o fator dominante na desagregação d e solo nas áreas entre os
sulcos (De), influenciado pela intensidade da chuva (1) e dependente da área sobre a qual
as gotas impactam o solo (aj) e pelo coeficiente de desagregação do solo nessas áreas (cde).
Assim, a desagregação do solo pelo impacto das gotas nas áreas enh·e os s ulcos pode ser
descrita pela seguinte equação:

De= cde ai I2 (3)


O delgado filme de água ou fluxo la.minar sobre as áreas entre os sulcos tem muito
pouca capacidade de desagregação e transporte de serumentos, na ausência do impacto
das gotas da chuva. Na presença das gotas, no entanto, a capacidade de transporte do fluxo
laminar aw11enta.
A maior parte das partículas desagregadas é movida a alguma distância pelo fluxo
laminar e pelo salpicamento, nas áreas entre os sulcos. Assim, o transporte de sedimentos
nessas áreas (Te) é influenciado pelo coeficiente de transporte do solo (cte), pela declividade
do terreno (S) e pela intensidade da chuva (I), em igual proporção para as três variáveis,
descrito pela seguinte equação:

Te= cte SI (4)

O escoamento superficial é o fator dominante na desagregação e no transporte das


partículas de solo nas áreas dos sulcos. A erosão em sulcos começa quando a capacidade de
desagregação do fluxo excede a habilidade de as partículas de solo resistir à desagregação
pelo fluxo concentrado em algum ponto do terreno. Assim, a desagregação pelo escoamento
em sulcos (Ds) é influenciada pelo coeficiente de desagregação do solo (cds), pela taxa de
descarga da enxurrada (q) e pela declividade do terreno (S), descrita pela seguinte equação:

Ds = cds q 2t 3 S213 (5)

A maior parte do transporte de solo nas áreas agrícolas é realizada pelo fluxo
concentrado em sulcos. Assim, o transporte de sedimentos pelo escoamento em sulcos
(Ts) é influenciado pelo coeficiente de transporte do solo (cts), pela taxa de descarga da
enxurrada (q) e pela declividade do terreno (S), podendo ser descrito pela seguinte equação:

Ts = cts q 513 S513 (6)

A erosão do solo nas áreas entre os sulcos é essencialmente independente da erosão


nos sulcos, mas esta depende da quantidade de sedimentos fornecida por aquela.
A deposição dentro dos sulcos ocorre quando a quantidade de sedimentos fornecida
pela erosão em entressulcos é maior do que a capacidade de h·ansporte do fluxo em sulcos.
Entretanto, o transporte nos sulcos ocorre quando a carga de sedimentos proveniente das
áreas entre os sulcos é menor do que a capacidade de transporte do fluxo em sulcos. Ainda,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO D O SOLO 435

qu a nd o a e ne rg ic1 erosiva d o flu xo concentrado nos s u lcos ex ecle a resistência d n solo à


d esc1g regc1ção, ocorre d esagregação. Em bo ra posc;a existi r excesso de ene rg ia de tr,insporte
nas á reas e ntre os sulcos, essa não é somad a ,'t energ ia de tra ns po rt do flu xo de ,ígua no~
s ulcos. No e ntanto, o excesso ele ene rg ia ele trans po rte nos s u lcos nci o es t{1 d ispo nível pa ra
tra ns po rta r sedimentos d esagregad os por impacto ele go tas nas ,íreas e nt re os su lcos, ,:;e
es tes sedim entos não chega rem aos sulcos.

Formas de erosão hídrica pluvial do solo


De acordo com a maneira como os age ntes e rosivos atuam, o utras tr ês fo rmas de
erosão podem ocorrer, em voçorocas, e m ta ludes e em mov ime nt o d e ma sa, além dt1s
fo rmas de erosão e m entressulcos e em s ulcos es tabelecidas (Foster, 1982).
A erosão e m entress ulcos ocorre nas porções mais ou m enos lisas d o te rre no quando
o solo está descoberto, onde ocorre o flu xo lélminar delgado de j g ua. A desagregação de
so lo é feita pelo impacto das gotas da chuva d iretame n te no solo e pe lo trans po rte dos
sed imentos principa lmente rea lizado pelo fluxo la mina r, mas ta m bé m pelo salpicam en to
d as pa rtículas d e solo provocado pelo impacto das gotas de chu va .
A erosão em voçorocas é seme lhante à erosão e m sulcos, exceto no que s refere à
secção dos s ulcos e, consequentemente, élO volume do flu xo q ue esse pod e Llrena r por
unidade d e te mpo. A desagregação na base d o canal da voçoroca é ca usada pela e nxurrad a
concentrada, enquanto a desagregação nas suas paredes é ca usada pelo impacto das gota
da chuva e o tran s porte é feito pelo fluxo concentrado. É comum o d esm oroname nto d.1_
paredes do canal de uma voçoroca, denota nd o o efeito da energia pote ncial con tida na
massa d e solo suspensa e na massa de água nela contida. A erosão e m voçoroca repre enta
um estádio avançado da erosão em sulcos.
A erosão em cursos d'água ocorre com a separação e re moção dos materiai d e o lo
dos taludes e do leito dos cursos d' água, intermitentes o u permanente . O proces o erosivo
nes te caso é essencialmente causado pelo escoa mento da á gua n a calha do cur o d 'água.
Já a erosão por deslizamento ou movimento de m assa se p rocessa principalmente pela
ação d a g ravidade q ue impulsiona a energ ia potencial presente na mas a de solo e: água
deslizante. Assim, quanto maior a declividade do terreno, a fragil ida d e do olo e a mas a
de água que penetra nessa massa, maior o risco de ocorrência d o mov imento da mas a .
A importância das diferentes formas de erosão hídrica e as priorid ades dadas ao ·e u
contro le reque re m uma a nálise para identificar qual é o problema e quais os objetivos
d o programa de prevenção da erosão. O controle das e rosões e m e ntres u lco e e m
s ulcos torna-se prioritária se o problema p rincipal é a redução na ca pacidade prod u ti a
do solo no que se refere às cultu ras alimentícias, e m nível de lavo ura . Contudo, se o
problema princi pai é a alta carga de sedimentos nos cursos d ' água e d e rio , am eaçando
o assoreame nto de represas e e u trofização de ág uas, por exemplo, então a prioridade :le
controle deve ser dada à erosão em voçorocas e em taludes d os cur os d ' águ a. G randes
qua ntidades de solo perdidas das te rras agrícolas podem ser retidt1s pela vegetaç5o ri pária
ou sere m depositadas an tes de alcançar os mananciais d e água . 1 o enta nto, edimentos
erodidos pela erosão em voçorocas e cursos d 'água vão direta e to talme n te pa ra dentro d a
água dos r ios .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


436 lLD EGA RDIS BERTOL ET AL .

Fatores que influencia1n a erosão hídrica pluvial do solo


A ero ão hídrica pluvial se manifesta com intensidade variável, condicionada
ba icam ente por cinco fatores (Wischmeier e Smith, 1978; Hudson, 1995), que serão
di cu lidos a seguir.

Chuva

A chm a é o fator ativo causador da erosão lúdrica do solo. Parn m elhor entendimento
desse efeito da chuva, é necessário estudar as relações das suas diversas características com
a erosão.

Diâmetro, , ,etocidade de queda e forma das gotas de chuva

O diâmetro, a velocidade de queda e a forma das gotas são as características básicas


que definem a chuva. As gotas variam em diâmetro, desde menores do que 1 mm até
aproximadamente 7 mm (Quadro 1).

Quadro 1. Diâmetro médio de gotas e intensidade média de chuva natural

Diâmetro Intensidade
mm mm h·1
0,75 -1,00 0,25
1,00 -1,25 1,27
1,25 - 1,50 2,54
1,50 - 2,00 12,70
2,00 - 2,25 25,40
2,25 - 2,50 50,80
2,50 - 3,00 101,60
3,00 - 3,25 152,40
Fonte: Adaptado de Laws e Parsons (1943).

A maior parte das gotas de chuva apresenta, no entanto, diâ m etro entre 1 e 4 mm. Em
cada instante, durante um evento de chuva, ocorre grande variedade de diâmetro de gotas.
Há uma correlação bem definida entre diâmetro médio de gotas e intensidade m é dia d a
chuva. O diâmetro m édio varia desde pouco maior do que 1 mm para uma intensidade de
1,3 mm h·1, até pouco maior do que 3 mm, para u ma intensidade d e 102 mm h·1, ou seja,
para aumento de três vezes no diâmetro médio das gotas, a intensid a d e da chuva a u menta
80 vezes.
A velocidade d e queda das go tas é quantificada entre 20 rn de a ltura e o nível do
solo, e é influenciada pela gravidade, resistência em razão do atrito com o ar e vento. A
gravidade a tua quase que uniformemente sobre as gotas de todos os diâmetros, porém
a resistência do ar é maior por unidade de m assa de água q uanto m enor for o diâ m e tro
médio das gotas, na ausência de vento. À m edida que a umenta o diâmetro m é dio das
gotas, eleva a velocidade de queda dessas (Quadro 2).

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 437

Quadro 2. Dié'l mc tro m édio , vc lociclíld c d, qu cl ,1 d ac; gn ta c; Jc chu va nr1tlirr1I. quantific.:id;:i nos
últimos 20 m ílcimíl clíl -;upcrfíci • cio solo, em gucda liv re, na ,rn ·ênci,1 d · VL'Tlto

Diâmetro Velocidade
m _,
mm
1,25 -~,85
l ,50 5,51
2,00 6,58
3,00 8,06
4,00 8,86
5,00 9,25
6,00 9,30
Fonte: Adapt.ido d e L1ws e Parsons (19-1 3).

No quad ro 2, evidencia-se que um aumento no d iâmetro médio das 0 otas acarret,1


elevação na velocidade de queda dessas, porém a taxêl de êlumento na velocidade de quedc1
diminui com a taxa de aumento no diâmetro médio das gotas. Parte da ratiio pora este
comportamento é explkada pela forma das gotas. As gotas de chu va muito pequenc1 s,10
quase esféricas. A grande curvatura da superfície das gotas provocil tensão su perficial, que
mantém as go tas com forma esférica. Gotas maiores são achatadas, oblongas, com uma
superfície mais chata no lado inferior do que no s uperior. A menor curvatura da superfície
das gotas maiores cria uma quantidade de tensão su perficiaJ menor do que nas gotas menores.
Por isso, as gotas maiores rompem-se durante a q ueda, como resultado da resistência do dí.
razão pela qual raramente existem gotas de chuva maiores do que 7 mm de diâmetro ao
chegarem no nível do solo. Por isso, a relação entre a velocidade de queda das gotas de chuva
e o diâmetro médio delas é diferente da relação entre a intensidade e d iàmetro.
O vento pode contribuir ma teri almente para a velocidade com a q ual a gotas da
chuva golpeiam o solo, algumas vezes aumentando e, outras, diminuindo a velocidade
de queda das go tas. No entanto, o efeito mais importante do vento é na modificação do
ângulo de impacto das gotas sobre o solo, inclinando s ua trajetória de queda livre em
relação ao nível do solo.

Intensidade da chuva

A intens idade da chu va refere-se à quantidade de água que cai num detemúnado
espaço d e tempo. Essa intensidade, por si só, é um importante fa tor que influencia c1
d esagregação do solo, quando descoberto, e o escoamento uperficial da água, com maior
efeito sobre a desagregação e o transporte, tanto em solo coberto quanto descoberto.
Com a elevação da intensidade da chuva, aumen ta a ero ão do olo em razão da maior
energia de impacto das gotas sobre o solo descoberto, res ultando em maior desagregaç.1
e, consequenteme nte, em me no r infiltração de água, com aumento também da en.' \urrada .
De maneira geral, a perda de solo por erosão (PS) se relaciona e. ponencialmente com cl
intens idade da chuva (I), conhecendo-se a erosão ocorrida em umc1 intensidade referenci.:i
(a), conforme a seguinte equação:

PS= a F (7)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


438 lLDEGARDIS B ERTOL ET AL.

Esta rela ão signifi a que, quando a intensidade máxima da chu va duplica, a perda de
s lo aum nla em aproximadamente quatro veze . Dados que evidenciam essa te ndê n cia
ã apre entad no quadro 3.

Quadro 3. Efeito da inten idade de chuva em 5 min sobre as perdas de água e solo por erosão

Data da Intensidade Perdas


Quantidade de Escoamento
chuva máxima em 5 superficial de solo
chuva
min
m.m 1nn1 l-r1 m1n t ha·1
22/ 09/ 1953 20,6 7,9 6,8 7,35
19/ 09/ 1953 21,4 5,0 11,1 1,74
29/09/1953 18,0 4,5 7,8 1,06
06/09/ 1953 21,8 2,2 4,5 0,47
04/09/1953 20,0 1,9 0,8 0,12
18/04/1953 22,0 1,0 0,06
Fonte: Suarez d e Cas tro (19:,6).

Duração da chuva

A duração da chuva é o complemento da intensidade, e a associação destas duas


variáveis determina a precipitação total. Em uma região pode ocorrer urna chuva de
50 mm com duração de 2 h, resultando numa intensidade de 25 mm h·1 e, num outro
momento, nessa mesma região, pode ocorrer outra chuva com duração de 5 h e mesmo
volume, resultando numa intensidade de 10 mm h·1 (Quadro 4).

Quadro 4. Efeito da duração da chuva sobre as perdas de solo por erosão

Duração Volume Intensidade Perda de solo


h IlUll mm h·1 t ha·1
2 50 25 >
5 50 10 <
Fobte: Adaptado de teal (1938).

A primeira chuva provavelmente ocasionará maior erosão hídrica do que a segunda


(Quadro 4) por causa da maior intensidade, no caso de o teor de água no solo antecedente
às chuvas ser igual em ambos os casos. Assim, para um mesmo volume, a chuva de menor
duração causa maior erosão porque resulta em maior intensidade.

Quantidade total de chuva

A quantidade total de chuva é o volume total de precipitação que cai em determinado


período d e tempo. Ela exerce influência direta sobre a erosão hídrica porque todos os solos
possuem um JjmHe de absorção de água. Ultrapassado tal limite, o excesso de água escoa
obre O terreno, causando a erosão do solo. Chuvas de pequeno volume raramente causam

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 39

n xur-raclas, ao pé:l<;c;o que chu vélc; de grand e volum s,1tu rL


1m o s ln C' r ,1us<1m rrJndes
e n xu rrnd as. Assim, o vo lume ele nxurr;:rcla e; rei,, ionc1 lin ar e po<;iti vJ me nle co m o
vo lume de chu va e, por isso, pa ra uma mesma ínt nsiclad , d e c hu vcJ; ,1 ch uva ele m,110 r
vo lume ca usa mriior erosão, conforme pode s r obs"rvado no qu éldro 5, e m rJzão d o m.iin r
vo lume de e n xurrad a produzid o.

Quadro 5. Efeito da quantidad e to ta l d e chu va sobre ac; p rd a, de so lo po r e rnc;.'io

Duração Volume Intensidade Pe rda de so lo


1
h mm mm h·' t ha
2 50 25 <
5 125 25 >
Fonte: Ad<1ptJdo de NeJ\ (1938).

Freq uência das chuvas

A frequência das chuvas refere-se ao intervalo de tempo entre chu vas consecu tiva
Se os interva los de tempo e nh·e as chuvas são cu rto , o teor de água no o lo antecedente
às ch uvas é alto e os riscos de erosão a ume ntam e m relação a intervalo de tempo lo ngo.
entre chuvas, durante os quais o teor de água no solo é baixo. Portanto, e o inte rvé.llo d e
tempo entre uma chu va e outra é curto, chuvas de ba ixé.1 intensidade podem causar é riil
erosão hídrica, mais a té do que chu vas d e maior intensidélde com longo intervc1lo de tempo
entre duas chu vas, conforme se verifica no q uéldro 6.

Quadro 6. Efeito da frequência de chu vas sobre as perdas de solo e água po r erosJo

D ata da chuva Data da chuva Intensidade em 5


Vol ume Perda de ·olo Perda de jgua
anterior considerada mi n
mm h·' mm t ha·1 mm

03/ 08/ 1953 20/ 08/ 1953 36 17, 0,002 0,09


20/10/1953 22/10/ 1953 24 12,6 0,395 2.36
Fonte: S uarez de C.1s tro (1956).

As disc ussões fe itas a té o momento indicam que não e podem fazer deduçõe e guras
a res pe ito da possível ocorrência de erosão co m ba e e m uma ún ica ca racteristica da chuva.
Pa ra isso, d eve-se, sempre, leva r em conta as caracterí ticêls combinadas, ou eja, a
inte ns ida d e, dmação, qua ntidad e tota l e frequênc iêl das chu as.

Energia cinética da chuva

A e ne rg ia ciné tica d a chuvêl é a caracte rí tica mais importante no e~tud d.i 'rnsão
hídrica do solo, uma vez que ela é a princi pa i va riáve l re · ponsável pela de-agregJç,1 d
s olo s upe rfic ia l, es pecialmente em ár eêl d esprotegidas de cobertu ra (Kinnell, 1981 ). r\
e ne rg iêl c iné ticêl total da chuva, por si só, influencia a eros.:io hídrica do lo . ! · entanto,

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


440 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

uma co1Telação mais e treita com a erosão é obtida pela interação d a energia cinética da
chuva com s ua intensidade máxima em 30 min. Este efeito multiplica tivo proporciona uma
boa medida do poder da chuva em causar erosão (Wischmeier e Smith, 1978) .
Dw·ante uma chm a ocorrem períodos em que os segmentos apresentam intensidade
distinta entre eles; por isso, devem-se calcuJar a energia cinética para cada segmento
da chu a, em que a intensidade é uniforme, e somar os valores de energia cinética dos
diversos segmentos para obter a energia cinética total da chuva. Esta, multiplicada pela
sua intensidade máxima em 30 min, resulta no principal índice de erosividade da chuva
(\ isch1neier e Smjth, 1978). Assim, o ú1dice de erosividade é um valor numérico que
se refere à capacidade da chuva e da enxurrada em causar erosão, dando uma ideia do
potencial erosivo da chuva. Quanto maior o valor desse ú1dice, maior o potencial erosivo
da chuva.

Distribuição sazonal da chuva

A distribuição sazonal da chuva determina, em grande parte, se uma dada quantidade


de chuva causa erosão ou não. Isto depende das características da chuva que ocorre nas
diversas estações do ano, da quantidade e do tipo de fitomassa cultural residual que cobre
o solo e das características do solo. Segundo Silva (2004), a erosividade das chuvas no Brasil
varia entre 3116 e 20 035 MJ mm ha-1 h-1 ano-1, para uma alteração pluviométrica entre 404
e 3 860 mm ano-1. Os menores valores ocorrem na Região Nordeste do país, enquanto os
maiores valores são encontrados na Região Norte. Este mesmo autor classificou o valor de
erosividade das chuvas brasileiras, na unidade de MJ mm ha-1 h-1 ano-1, em: muito baixo
(S 2 452), médio (2 452 s 4 905), médio a aJto (4 905 :5 7 357), alto (7 357 S 9 810) e muito alto
(> 9 810), constatando, ainda, que 68,8 % das chuvas enquadram-se como de alta ou muito
alta erosividade.

Solo
A quantidade de erosão hídrica pluvial depende da combinação do poder da chuva
em causar erosão e da habilidade do solo em resistir à ação da chuva (Wischmeier e Smith,
1978). O solo é o agente passivo no processo de erosão hídrica, visto que ele sofre a ação dos
agentes ativos da chuva, ou seja, o impacto das gotas e o escoamento superficial da água.
A resistência do solo à erosão depende dos seus atributos físicos, químicos, mineralógicos
e biológicos, que determinam se o solo é mais ou menos susceptível à erosão, expresso por
um índice relativo de erodibilidade.
Para identificar os atributos do solo que influenciam a erosão hídrica, se consideram
as fases de desagregação e o transporte, além da infiltração d e água no solo. Solos de
aJta desagregabilidade e transportabilidade são altamente erodíveis. Compreende-se
melhor isso separando os atributos de solo que interferem na d esagregação daqueles que
influenciam o trans porte e daqueles que interferem na infiltração de água.

Atributos do solo que influenciam a desagregação

A estabiJidade dos agregados do solo é o fator fw1damentaJ na s ua desagregabilidade,


podendo ser expressa por índices, como o diâmetro médio ponderado (DMP) de agregados,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 41

po r exe mplo. Desse modo, solos com agr gados mais es tá veis rec;ic;tc m m.:iic; <i aç,io <..l ns
agentes desagregado res. A fr.i ção a rgila é O principa l agente ci me ntante d as pa rtícula~ d "'
so lo . As a rgila , especialmente as pnrtículas coloida is, ajus tam-se nos espaç1 5 en tre c1 a re ta e o
si lte, o ri gina ndo agregados mais resis ten tes à desagregaçzío do qu um so lo oncl p redo mina
a a re ia o u silte. O ti po de argila tam bém é importante. Argi las d a lt.:i - uper(íci específica
são m a is eficientes na agregação do q ue as de baixa s uperfíc ie e pecífiCél . Contudo, ou troc;
compostos como os óxidos de ferro e a lu m ínio podem fazer com que um so lo ca ulinitico -
to rn e basta nte resistente à desagregação. O tipo de cátion dominante tam bém infl uencia c:1
agregação. Argi las sa turadas com Ca e Mg são geralmente floculad as e, por isc;o, confere m
maior es tabi lid ad e aos agregados do que aquelas sa turnd as com , él, qu são mais di ·pe rsas.
O conteúdo de matéria orgânica também interfere na desagregabilidadc. Quanto ma io r o
seu teor no solo, maior a estabilidade dos agregados em ra zão do seu efeito de cimentaç<10,
consequ entemente menor a desagregabilidade do solo. A com binação de maté ria orgânic,1
com argi la fo rnece alta es tabil idad e aos agregados do so lo, tomand o-o re i ten te :1
d esagregação. O teor de água d o solo ta m bém influencia a es tabilidade d os ag regados, pois
a água regula a consistência do solo. Solos com umidnde inte rmed i<1ria desagregam menos
d o qu e solos secos ou mo LI,ados (Wischrneier e Smi th, 1978).

Atributos do solo que interferem no transporte

A velocidade d e sedimentação d e u ma partícu la sólida e m um meio líquido é


proporcional ao quadrad o d o seu d iâmetro e pode defi n ir a tran po rtab il id ade do _o la
pelo flu xo superficial. A transportabi lidade do solo a umenta à medida que a velocidade
de sedimentação de suas partículas diminui, pois as partícu las, nes e caso, permanece m
s uspensas no flu xo por ma is tem po. Conseq uente me n te, o diâmetro da par ícula é
fundamenta l na d e terminação da transportabilidade do solo. É ob io, por i o, qu e a
partículas menores são as mais facilmente tra nsportadas. Partículas de a reia ou agregado
d e solo d o d iâ metro da areia ou maior, somente são transportada por fl uxo de .:igua
relati vam ente rá pidos e espessos, ou pela água q ue está sendo con ta ntemente agitada, em
condição d e turbulência, pelo salpico da chuva. o entanto, a argila di persa permanece
qu ase que indefinidamente em suspensão, sendo ma is facilmente tra n portada pela
enxurrad a. A d ens idade das partículas ta mbé m influencia a tran portabilidade. Ela é igua l
a 2,65 kg dm·3 na maioria d os solos, enqu an to a da ma téria orgânica é de 0,5 a 1 kg dm·1.
Po r isso, a ma téria orgâ nica flutu a mais fac ilm en te do que os s dimento minerais.
Norma lme nte, os solos são agregad os com uma mistu ra de material o rgânico e miner,d .
Ass im, um agregad o d e solo pod e ser ma is fac ilmente transportado do que um grân u l de
a re ia do mesmo d iâ metro, em razão da me nor densidade do agregado.

Atributos do solo que influenciam a infiltração de água

A infiltração d e água no solo é o fa tor d e terminante do escoamento uperficial e, p r


isso, interfere na quantidad e de erosão h íd rica p luv ial. Os principai atributo · d solo
q ue in terfe re m na infi ltração são a estrutu ra, q ue é parcialmente uma consequência J
tex tura, e o teor de água d o solo. O diâmetro e a estabilidade d os p ro - ão as principais
carac terísticas da estr utu ra q ue infl uenciam a infiltração de águ<1 n oi . ta:\..1 em que .i
água da ch uva pode infi ltrar no solo é determinad a, em grande parte, pelo diâmetro, pd
arranjo e pela contin u id ade dos poros maiores. aios com predominância de g randes poro
apresen ta m "porosidad e de aeração", também cham.1da d " poros id,1 de g ravita · iona l",

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


442 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

pois os poros têm diâmetro suficientemente grande (maior que 60 µm) para permitir que a
água seja drenada rapidamente por gravidade. Poros maiores podem existir como resultado
da textura gro seira ou da agregação do solo. Contudo, a elevada taxa de infiltração
somente pode ser mantida se a porosidade original do solo permanecer mais ou menos
inalterada durante o período inteiro de duração da chuva. Solos facilmente dispersos
enchem os espaços porosos com as partículas menores, e a taxa original de infiltração é
logo diminuída. Solo de agregação estável mantém elevada taxa de infiltração em razão
da permanencia de poros grandes abertos por mais tempo. Solos com baixo teor de água
apresentam taxa de infiltração mais elevada. Solos sem fendas e muito secos não absorvem
a água rapidamente, uma vez que, nessa condição, eles não são facilmente umedecidos.
Solos cujos poros estão cheios com água não podem absorvê-la em grande quantidade e,
por isso, apresentam taxas de infiltração muito baixas.

Relevo

O relevo é nn1 fator de notável importância sobre as quantidades totais e taxas de


erosão. Assim como no estudo do fator chuva, o entendimento do efeito do relevo sobre a
erosão é facilitado observando-se os principais elementos que o compõem (Wischn1eier e
Smith, 1978).

Inclinação do declive

A inclinação do declive, ou gradiente da superfície, ou declividade, normalmente


expressa em cm rn-1 (percentagem), é um fator importante na magnitude da erosão do
solo. Nas terras planas, a erosão ocasionada pela água é geralmente inapreciável, pois o
maior problema que nelas pode ocorrer é a sedimentação e não o transporte de solo. À
medida que o grau do declive aumenta, eleva-se a erosão (Quadro 7), pois o aumento da
declividade diminui grandemente a capacidade de armazenamento de água na superfície
do solo e, consequentemente, aumenta a quantidade total e a taxa de enxurrada. Além
disso, com o aumento da declividade, o efeito da ação da gravidade é potencializado, o
que faz aumentar a velocidade do escoamento e reduzir o tempo disponível para a água
infiltrar no solo. O aumento no volume e na velocidade da enxurrada torna a água un1
melhor agente transportador, além de elevar o seu poder de desagregação. A lâmina
de água sobre a superfície do solo torna-se mais delgada com o aumento da velocidade
da enxurrada, possibilitando maior desagregação de solo pelo impacto direto das gotas
da chuva, especialmente em solos descobertos. Praticamente todo o solo desagregado é
efetivamente transportado pela enxurrada quando aumenta a declividade do terreno. O
solo arenoso sofre pequena erosão sobre declives suaves e está sujeito à maior erosão sobre
declives acentuados porque é fracamente estruturado. De modo geral, a perda de solo por
erosão (PS) por unidade de área é proporcional ao grau do declive (S) elevado ao expoente
1,5, ou seja, duplicando o grau do declive a perda de solo aumenta aproximadamente 2,5
vezes. Assim, supondo a erosão conhecida em uma declividade referência (a), a perda de
solo em outra declividade qualquer pode ser estimada por meio da relação expressa pela
seguinte equação:
PS= a S1, 5 (8)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 443

Quadro 7. Perdas de olo por ero ão hfdrica e m diversos segm nto com d eclividad e difere nt s
entre esses, em uma pendente com comprimento de 200 m (estimados p lo fa to r S da US LE, co m
base e m dados obtidos por Schick (2014) e m declividade d 9 cm m· 1)

Declividade Perda de olo


cm m-1 t ha-1
5 10,0
10 25,5
15 44,l
20 65,0
25 87,8
30 112,3

Comprimento do declive

No estudo da erosão hídrica pluvial do solo, o compri mento de declive é medido desde
o inicio do fluxo até onde a água entra num canal definido ou onde o declive d iminui de
modo que a deposição de sedimentos ocorra. Duran te um evento de enxurrada, a água se
acumula à medida que flui para baixo no declive. Consequentemente, maior volume e taxa
de enxurrada ocorrem na porção inferior do declive, aumentando a erosão do solo à medida
que o comprimento do declive aumenta, conforme pode ser verificado nos quadro , 9 e
10. De modo geral, a perda de solo por erosão (PS) por unidade de área é proporcional ao
comprimento do declive (L) elevado ao expoente 0,5, ou seja, duplicando o comprimento
do declive a perda de solo aumenta aproximadamente l,5 vez, conforme Wischmeier e
Smith (1978). No entanto, em alguns trabalhos, tem-se verificado que essa relação a ponta
um valor de expoente igual ou menor do que 0,2 para (L) (Bágio, 2016). Assi m, upo ndo a
erosão conhecida em um comprimento de declive referência (a), a perda de olo em outro
declive com comprimento qualquer pode ser estimada por meio da relação expres a pela
seguinte equação:

PS= a L0.s (9)

Quadro 8. Perdas de solo por erosão hídrica em diversos segmentos de uma pendente com d eclividade
uniforme de S % cada um (estimados pelo fator Lda US LE, com base em dado obtido por
Sch.ick (2014) em declive de 22,1 m de compr im ento)

Comprimento do declive Perda de solo


m t ha-1
50 5,0
100 7,1
200 10,0
300 12,3
400 14,1
500 15,8

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


444 lLDEGARDIS 8ERTOL ET AL.

Quadro 9. Taxas de perda de solo e água por erosão hídrica e velocidade de enxurrada do último
egmento de 11 m de um declive maior, simulado experimentalmente no ca mpo, e m semeadura
direta na pre_cnça de fitomassa residual de soja submetida à chuva simulada
Comprimento do Taxa de perda de Velocidade de
Taxa de enxurrada
declive solo enxurrada
m ko
o nr Jyl
2 L s-1 m de largura-1 111 S -l

11 0,07 0,11 0,05


50 0,23 0,41 0,15
75 0,38 0,69 0,18
100 0,73 0,99 0,23
140 0,84 1,33 0,27
195 2,24 1,85 0,50
225 3,80 2,14 0,68
325 3,93 3,15 0,93
Fonte: Barbosa (2011).

Quadro 10. Perdas de solo por erosão lúdrica em diversos segmentos de uma pendente com
declividade média de 8 cm m-1

Comprimento do declive Perda de solo


m t ha-1
11 153
22 167
33 183
44 201
Fonte: Bâgio (2016).

Curvatura do declive
Em geral, os declives são compostos por wna sequência de segmentos de formas
uniforme, convexa e côncava (Figura 1), não necessariamente nessa ordem, constituindo
uma topografia. Normalmente, a erosão lúdrica pluvial é maior sobre os declives convexos
porque esses oferecem melhores condições para que a enxurrada seja mais ativa, com maior
aumento de velocidade. Sobre os declives convexos, o grau de declive se eleva na direção da
base da colina, aumentando o poder erosivo da enxurrada, tanto de desagregação quanto,
principalmente, de transporte. Assim, a taxa de erosão sobre cada segmento de uma pendente
de terreno varia, dependendo se o declive é uniforme, convexo ou côncavo (Quadro 11).

Urúforme Convexo Côncavo

Figura 1. Formas d e d eclive


Fonte: Jldegardis Berto! (2016).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

I
XIV - ER OSÃO D O SOLO 445

Quadro 11. Pe rdas d e so lo por cros,io híd ric,1 em qu a~ro <;cgme ntn,;; d• pendl•nte, c m trê~ forma,;; de
d ecl ive (vél lo rcs cs timéld os co m base c m I<cnélrd c t ;i l., 1997)

Segmento Uniforme Convexo Côncavo


1
--------------------------- t h,r - - - - - - - - - -
1 3 1 26
2 9 6 25
3 19 27 16
4 34 82 J

Média do declive 16 29 18

Variação na declividade

Raramente os declives são uniformes, d esde o início até o fin<1l das pendentes.
Normalmente, há uma alternância de diferentes formas de declive, mai acentuados, menos
acentuados, brandos e, até mesmo, partes da área rela ti va mente plana . Isto interfere nil
erosão hídrica consideravelmente. Além do mais, tJis diferenças na declividJde usualmente
acompanham mudanças nas carncterísticas de solo, causando uma alternância de alta e baixa
capacidade de infiltração de água e de resis tência do solo à erosão. Provavelmente, áreéls com
declive variável têm erosão em menor magnitude do q ue áreas com declive uniforme.

Microrrelevo

O microrrelevo refere-se à rugosidade da supe rfície do solo. Pequem1 elevaçõe e


depressões naturais da superfície, marcas de erosão anterior, camin hamento de animais e,
principalmente, marcas de preparo mecânico do solo, entre o utros, têm grande influência
na erosão hídrica pluvial do solo, pois interferem grandemente na prod ução e di reçi'lo de
enxw-rada. Quanto maior a compactação do solo, maior é a ru gosidad e determinada por
algum tipo de preparo, pois a compactação gera torrões maiores e ma is d ifíceis de serem
quebrados pelo preparo. Entretanto, quanto maior a intens idade d e preparo do olo, menor
a rugosidade ao acaso da superfície (Quadro 12); e qua nto ma io r a rugosidade superfi cial,
maior infiltração de água no solo e menores os valores d e escoamento uperficial e de
erosão hídrica, como se pode verificar nos dados do quadro 13.

Quadro 12. Índice d e rugosidade superficial ao acaso, antes e após o preparo de um C.:1 mb1 o lo
Húmico

Tratamento Antes Após


- --- - - ------- ------ - -- - - - - 111111

uc 2,68 2,68
LINC 3,43 3,-D
PCC 2,69 12,32
PCNC 3,42 1 o ,➔ 1
ESC 2,68 1-l,72
ESNC 3,43 ',96
LIC: ~uperfície q u.ise lisa compact.ida; LI NC: sur~riic'.e qu.1se hs.1 11.lü comp,Kl,ld.i. l'CC: ,1r.1ç.io e gr.ida~ens (omp,Kt,h!o; rc:--:
araç:10 e graci.lgens n.io com pac tado; ESC: eS<::m lJC,1ç,10 co m p,Kt,1.!o; e ES~C. e~.:.iritlca.;.io n5o rnmp,11.:tadn.
Fonk: Com~a e t ai. (2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


446 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Quadro 13. Volume de 1u:urrada, concentração de sedimentos na enxurrada e perda de solo para
intensidade de chuva de 64 mm Jy1 1-? declividade média de 17 cm m·1, durante chuva simulada,
m manejas ubmetido à operação de e carificação, em um Nitossolo Háplico
Trat RR Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 4 Teste 5
mm Volume de enxurrada (% da chuva observada)
CE 9,9 o O 4 14 46
PCE 16,8 o o 38 26 39
SQE 1 ,o o o 15 16 40
STE 20,6 o o o 10 24
3
Concentração de sedimentos na enxurrada (kg m · )
SCE 9,9 o 8,5 17,8 32,1 74,8
PCE 16,8 o 4,8 4,4 4,7 11,2
SQE 18,0 o o 9,6 12,1 11,0
STE 20,6 o o 2,0 2,8 5,6
Perdas totais de solo (kg ha·1)
SCE 9,9 o 114 1301 5 809 23842
PCE 16,8 o 398 1148 1295 4069
SQE 18,0 o o 1128 1713 2513
STE 20,6 o o 171 610 2112
SCE: solo sem cultivo escarificado; PCE: preparo convencional escarificado; SQE: semead ura direta em campo nativo dessecado,
queimado escarificado; STE: semeadura direta escarificada; e RR: rugosidade ao acaso.
Fonte: Adaptado de Berto! et ai. (2008) e de Zoldan Júnior et al. (2008).

Cobertura e manejo do solo


A cobertura e o manejo do solo são os fatores mais complexos e mais importantes
na erosão hídrica pluvial (Wischmeier e Smith, 1978). Tanto a cobertura superficial pela
copa das plantas ou pelas suas fitomassas culturais residuais quanto as condições de
subsuperficie influenciadas pelas raízes das plantas, bem como as condições de superfície e
subsuperficie influenciadas pelos tipos de preparo, manejo e uso do solo, são de primordiais
importâncias na erosão sobre as terras agrícolas.

Cobertura do solo
As plantas protegem o solo da desagregação pela chuva e enxurrada, de diversas
maneiras. A proteção do solo contra o impacto das gotas da chuva é feita pela copa acima do
rúvel do solo e pelas suas fitomassas culturais residuais localizadas na superfície dele. Quanto
maior a cobertura vegetal, menor a erosão hídrica pluvial. Isto se deve à dissipação da energia
de impacto das gotas da d1uva, diminuição da desagregação do solo, aumento da infiltração da
água e diminuição da enxurrada. A maior ou menor redução da erosão pela cobertura do solo
varia com O tipo de uso do solo e tipo de cultura (Quadro 14), estádio de crescimento da cultura
(Quadro 15) e método de manejo das fitomassas culturais residuais (Quadro 16).
Quadro 14. Perdas de solo e água por erosão hídrica em diferentes tipos de uso do solo e cultura
Uso do solo/cultura Perda de solo Perda de água
t ha·1 % da chuva
Mata ~004 ~7
Pastagem 0,400 0,7
Cafezal 0,900 1,1
AI odoa1 26,600 7,2
Fonte: Bertoni e t al. (19n).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 447

Quadro 15. Pe rdas d e so lo e ~g ua por ero-.<io hídric,1 c;o b chu va •Hmuladil, •m quatrn m o m e ntos J o
milh o cul liv.1do sob p re paro convenc iona l após c.; uccss,io de gr amín as

Momento chuva simulada Perda de solo Pe rda de água


t ha 1 ":, dil c huva
Após prep. do solo e sem. (teste 1) 13,9 6(-,

30 d após o teste l 11 ,9 62
30 d após o teste 2 3, 1 61
210 d após o teste 3 0,1 72
Fonte: Adaptado de Levien (1988).

Quadro 16. Perdas de solo e ág ua por erosi:io h íd ri ca e m dife rentes m é todos de mane jo c.le fito m.:i~sa s
culturais residuais

Ti o de mane· o do solo Perda de solo Perda de á~a


t ha•t ~~ da chu va
PaU,a queimada 20,2 ,O
Palha incorporada ao solo 13,8 5,8
Palha na superfície do solo 6,5 2,5
Preparo convencional 7,0 31
Preparo reduzido 2,0 2B
Sem preparo do solo 0,2 15
Fonte: Adaptado de 13e rtoni et ai. (1972) .

Manejo do solo

O manejo do solo compreende os tipos de preparo do solo, as práticas culturais, o


sistemas de cultivo etc. Isso interfere na erosão hídrica e m razão do efeito obre atribu to
físicos do solo, bem como sobre a cobertura do solo. Os preparo mais inten os de aere 0 am
mais o solo diminuindo a rugosidade s uperficial e deixando a superfície mai u ce tível
ao selamento. Além disso, estes tipos de preparo e limina m ou reduzem expre sivamente
a cobertura superficial, o que, combinado ao selarnento e à diminu ição da rugosidade,
acarretam a diminuição da infiltração d e água no solo e aumen to da e nxu rrada e era ão
hídrica (Quadro 16).
O s sis temas de cultivo, rotação e sucessão de culturas a lteram as condições fí icas,
químicas e biológicas do solo por causa da alternância de p lantas em termo de porte,
quantidade de biomassa aérea e radicular e, assim, interfere expre ivamente na erosão
hídrica pluvial do solo. A rotação, pelo fato de constituir-se de uma sequencia de plantas
diferentes, dis tribuídas no tempo e no espaço, ocasiona maior diversidade de micr e
macrorga nismos no solo do que a sucessão d e culturas. Is o e reflete e m melhoria de
a tributos físicos do solo, especialmente a estrutura, que ocasiona a umento da infiltração
e diminuição d a enxurrada e erosão hídrica em re lação à uce ão (Qu.:idro 17). ! ca
d os dados do quadro 17, as perdas de água no tratamento milho continuado fo ram ?..7 "I,
m aio res do que no tra tamento testemunha, ou seja, na rotação milho/ aveia / trevo p r :lois
anos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


448 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

Quadro 17. Perdas de alo e água por erosão hídrica em diferentes sistemas de cultivo do solo

Sistema de cultivo Perda de solo Perda de água


t ba·1 % da chuva
Milho continuado 85,6 127
Milho/ aveia/ trevo por 2 anos 24,9 67
Alfafa continuada 2,2 15
Camponatho 0,7 7,6
Fonte: Browing (194S).

Cabe esclarecer que, embora a cobertura do solo por fitomassas culturais residuais seja
o fator isolado mais importante na redução da erosão hídrica, existem situações especiais em
que isso não ocorre, como em chuvas de elevada intensidade ou grande volume, precipitadas
em solo encharcado, com capacidade de infiltração reduzida, em terrenos com longos
comprimentos de declive e, ou, declividades elevadas, onde a enxurrada adquire suficiente
tensão cisalhante para remover a fitomassa residual ou, mesmo sem removê-lo, sulcar o solo
por debaixo dele, aumentando expressivamente as perdas de solo. A esse fenômeno denomina-
se falha da fitomassa residual, que determina o comprimento crítico de declive nos manejas
conservacionistas de solo, a partir do qualfitomassas residuais têm sua eficácia relativa reduzida
no controle da erosão hídrica, como se observa na figura 2. Em razão d o aumento da erosão em
sulcos em relação à da em entressulcos, quando ocorre a falha da fitomassa residual, os valores
para o fator C (cobertura e manejo do solo) utilizados na USLE (Wischmeier e Smith, 1978) e na
RUSLE (Renard et al., 1997) não são mais válidos a partir do comprimento crítico de declive,
por causa do aumento da erosão em sulcos em relação à da em entressulcos, quando ocorre a
falha da fitomassa residual. Ainda na figura 2, é possível observar o efeito da cobertura do solo
na redução das taxas de perda de solo e no aumento do comprimento do declive necessário
para que ocorra a falha da fitomassa residual.

1,6
Cobertura do solo por fitomassa residual:
1,4 (a) 70 %
(b) 90 %
:.e 1,2
'I
E
ai)
.:.e 1,0
ô
õ.,,
~
u 0,8
"E
8. 0,6
u
~
Falha da
"'
.e: 0,4
fítomassa residual
~
0,2
\
(a)
0,0
o 50 100 150 200 250 300
Comprimento do declive, m

Figura 2. Relação entre a taxa de _perda de ~alo e o compriment? do declive, em semeadura direta
na presença de fitomassa residual de milho durante chuva sunulada, demonstrando a perda de
eficácia relativa da fitomassa residual (falha da fitomassa residual) no controle da erosão hídrica.
Fonte: Adaptado de Berto! (1995).

MANEJ O E C ON SERVAÇÃO DO S O LO E DA ÁG UA
XIV - ERO SÃO DO SOLO 449

Práticas conscrvacionistas ele suporte


As práticas conscrvacionis tas de suporte ou de cará te r complem ntc1r têm um
ex pressivo efeito sobre a erosão hídrica. Bas ica m nte, essas práticas Jo o culti vo em
contorno, o culti vo em faixas com rotação de cultura em conto rno e o terrac Jm nto
agrícola e visam manejar o escoamento superfic ial e protege r o olo ele ua dÇdO, evitdndo
a desagregação e o transporte do solo (Wischmeier e Smith, 1978).
O cu lti vo em contorno apresenta eficácia máx ima d 50 % na redução da erosão
hídrica na fai xa de decli ve entre 3 e 8 cm m·1• Além disso, a efi cácia des ta prática ocorre em
comprimento de rampa máx imo de 122 m em preparo convencional. Is to é explicado pelo
fato de que, na medida em que se eleva o comprimento da ra mpa, aumentilm o volume e
a velocidade da enxurrada superficial, aca rretando o rompimento das b<1 rrei ras fo rmada'>
pelas marcas do preparo e cultivo na superfície do solo.
o caso do cultivo em faixa s com rotação de cu ltura , a eficác ia máxima da prática
é de 75 %, também na fa ixa de declive entre 3 e 8 cm m·1, mas, nes e ca o, o comprimento
máximo da pendente é de 244 m em preparo convencional e é dependente, também, do
tipo de rotação de culturas. Assim, a má xima eficácia (75 %) ocorre com a mel ho r rotação;
com a rotação intermediária, a eficácia máxima é de 62 %; e, para a pior rotação, a eficjcia
máxima da prática é de apenas 50 %, significando, nesse caso, q ue es ta rotação é muito
simples e não acrescenta nenhum benefício na redução da erosão híd rica em relação aquele
dado pelo cultivo em contorno, isolado.
Para o caso do terraceamento agrícola, a eficácia da p rá tica em reduzir a erosão híd rica
depende única e exclusivamente da inclinação do declive. Assim, a eficácia máxima da
prática, no caso de terraços de drenagem, é de 90 % e, no caso de terraços de absorção,
evidentemente a eficácia da prá tica pode chegar a 100 %, pelo fa to de o terraço armazenar
todo o solo e a água no seu canal, evitando perdas para fora da lavoura. A eficácia do
terraceamento na redução da erosão não depende do comprimento da ram pa, como no
caso das outras duas práticas, pois ele próprio define o comprimento da rampa.

Interação de fatores que influenciam a erosão hídrica do solo

Os fatores que influenciam a erosão hídrica pluvia l do solo geralmente atuam de


forma inter-relacionada. As interações são numerosas e complexas e usualmente estão
presentes no processo erosivo, algumas favorecendo a erosão do solo e, outras, dificultand
este processo. O resultado fina l de forma, magnitude e extensão da ero ão é, por i_ o,
depe ndente d e uma série de detalhes, fazendo com que o proce so ero ivo eja muito
complexo e, às vezes, imprevisível.

Como julgar a probabilidade de erosão hídrica plu ial do solo

Uma pergunta muito comum feita por leigo , na prática, a respeito da p robabilidade
d e ocorrê ncia de erosão, é a seguinte: "Onde haverá maio r erosão hídrica, na itu:1ção A u
B"? A res posta nem sempre é fác il por causa das complexas interações entre os di er 0 ~
fa tores que interferem na erosão hídrica pluvial.
Antes de emitir uma resposta, uma análi e comple ta de e ser feita fa · itua ões A e
B: 1) É importante verificar as condições de uperfíc ie do lo, no entid fo a ali r se a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


450 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

rosã e pro a d mü1antemente na forma em entressulcos ou em sulcos, ou em ambas


a forma imultaneamente.
II) É importante avaliar separadamente a resposta de cada fator que influencia a
ero ão, em relação à de agregação e ao transporte, tanto pelo impacto das gotas da chuva
quanto pela enxurrada.
lil) É importante lembrar que as características da chuva dominam o processo erosivo
na erosão em entres ulcos, e que as características da enxurrada dominam o processo
erosi\ o na erosão denb·o dos sulcos.
A associação desses aspectos com os fatores que influenciam a erosão torna-se muito
útil na previsão de onde a erosão será maior, se na situação A ou na B. Além disso, essa
associação é de extrema importância para a seleção das práticas de controle da erosão, em
ambas as situações.

EROSÃO EÓLICA DO SOLO

As abordagens feitas neste tópico em relação à erosão eólica são com base,
fundamentalmente, nas considerações contidas em Cago (1978), nos conteúdos das obras
clássicas de Bennett (1939), Stallings (1956) e Kohnke e Bertrand (1959) e na experiência
dos autores.
O vento é um agente ativo na erosão do solo, recolhendo os sedimentos de um lugar
e os depositando em outro, como se pode observar pelos imensos depósitos de loess, em
várias regiões do planeta. Embora tenha sido ativa, em algum grau, desde os tempos
geológicos a erosão eólica tomou-se preocupante e degradante do solo nos dias atuais em
razão das atividades do homem. Esta erosão, quando acelerada, tem sido induzida por
métodos incorretos de manejo do solo ou por causa do uso da terra para propósitos para
os quais ela não é apta.
A erosão eólica pode apresentar um problema de igual importância ao da erosão
hídrica, pois, muitas vezes, as duas ocorrem em mesmos lugares. A erosão do solo pelo
vento é um sério problema principalmente em terreno plano, contanto que o solo esteja
seco, enquanto a erosão causada pela água é importante principalmente em terreno
inclinado, contanto que o solo esteja úrnido.
No entanto, as duas se assemelham em um aspecto: em condições de cobertura e
estabilidade natural do solo, essas duas formas de erosão se processam muito lentamente.
Provavelmente, a erosão eólica é mais ativa nas regiões áridas do que nas úmidas, onde a
superfície do solo permanece seca por longos períodos de tempo e, por isso, a vegetação
é escassa ou até inexistente. Nas regiões úmidas, o vento também pode mover grandes
quantidades de solo, mas somente em períodos de estiagem pluvioméh-ica, o que torna o
fenômeno importante.
o movimento dos sedimentos na superfície do solo pelo vento é um processo
complexo, influenciado pelas características do vento e do solo, principalmente entre outros
fatores. O poder de desgaste e transporte do solo pelo vento é determinado pela interação
de fatores, alguns facilitando e outros dificultando o processo. Primeiro, os sedimentos são
desaJojados da massa do solo e, depois, transportados. Para o transporte, os sedimentos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 451

são leva ntados, a rras tados ou sa ltitados ao longo da superfíci d s 1 , cujo pr c ss


são dependentes da turbulência, dos redemoinho da irr gularidade do movim nt
do vento.
A erodibilidade do solo sugere que não somente os tri buto intrínseco do ol ,
mas também aqueles dependentes cio uso da terra e do manejo e cultivo do solo, que são
dependentes da ação do homem, interferindo no preces o de era ão eólica. p nas na
condição seca o solo é movido pelo vento; na condição úmída n o o é. As im, o conh cimento
do grau de estrutura do solo em estado seco ao ar é um índic d erodibilidade rnai
confiável do que em estado úmido.
A quantidade de solo que pode ser transportado pelo vento, à det rminada velocidade,
depende, sobretudo, da altura crítica e da distância entre as frações não erodiv i exposta
na superfície do solo. A al tura crítica é aquela acima da uperfície do solo, em que a
velocidade do vento diminui para 14,5 km li-1, ou menos. A razão da altu ra da projeção p la
distância entre as saliências que podem prevenir o movimento das fraçõe etodíveis do
solo é denominada de coeficiente crítico de aspereza da superfície (CCAS). Sob uma dad.
velocidade do vento, o CCAS é o mesmo para qualquer classe de tamanho e proporçõ
das frações não erodíveis. O CCAS necessário para garantir a estabilidade do solo frente a
ação do vento, varia, entretanto, com a velocidade do vento e com o diâmetro e a densidade
específicas e aparentes das frações erodíveis. Esses fatores, associado , tomam o fenômeno
da erosão eólica complexo.

Movimento do solo causado pelo vento


Existem três tipos de movimento do solo no processo de ero ão eólica: altamento,
suspensão e arrastamento superficial. O movimento do solo pelo vento é dependente d
forças geradas na superfície do solo e da velocidade dos vários e trato de ar qu formam
e que atuam pelos grânulos (sedimentos) que ascendem em altamento (mo imento em
séries de curtos saltos). Assim, a erosão eólica é fundamentalmen te um fenõm no de
superfície dependente diretamente das condições de profundidade da ma de ento p r
meio da qual os sedimentos sobem.

Movimento do solo por saltamento

A maior parte dos sedimentos de solo transportados pela ero ão eólica é mo ida por
saltamente, causado pela pressão direta do vento sobre alguma partícula e ua coli ão
com outras partículas do solo.
A iniciação desse movimento se dá quando o vento in ide nc b rda uperior da
s uperfície das partículas do tamanho da areia, que iniciam um m irnento de rol ment .
É interessante observar que, na própria superfície do olo, a ação do nto ' praticam nt
zero, mas, em alguma fração de mm acima dela, a ação do vento é ba tante ns.ide.rá 1.
Isto faz com que a partícula receba um impacto muito maior na ua parte d cim qu na
parte de baixo, o que a faz girar rapidamente (entre 200 e 1 000 rpm). im, p rtí ul de
solo é rolada com o seu topo, movendo-se muito mais rapidame nte d qu nt . Com
resultado disso, o ar na superfície da partícula gira junto e mel , r ultand n cri ,ã d
uma zona de alta pressão embaixo e de pre são muito men r n topo d partícul , onde
cria um vácuo parcial.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


452 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

Essas mudança na pressão, embai O e em cima da partícula, tendem a erguê-la no


ar a wi1a altura geralmente de 15 a 30 cm, às vezes até 60 a 90 cm, formando um ângulo
entre 75 e 90º. Em razão dessa elevação, a partícula penetra em uma camada de ar em que
a velocidade dela é maior do que a da partícula, o que a faz diminuir o giro. Tendo então
perdido seu impulso vertical ascendente, a partícula é carregada pelo vento em uma linha
levemente descendente, de modo que essa atinge o solo em um ângulo entre 6 e 12 º, alguns
m adiante de onde foi elevada. Apenas as partículas de menor diâmetro, a maioria delas
entre 0,1 e 0,5 mm, são suscetíveis ao saltamento, pois são as únicas que o vento é capaz
de elevar por esse mecanismo, acima da superfície do solo, e transportá-las, mesmo que a
curtas distâncias.

Movimento do solo por suspensão

As partículas que estão em suspensão, transportadas por saltan1ento, caem sobre a


superfície do solo quando a velocidade de giro delas torna-se menor do que a velocidade
do, ento. Com isso, causam impacto, o que resulta no salpicamento de partículas menores
do que 0,1 rm11, que já se encontram dispersas ou o são pelo próprio impacto, formando
uma verdadeira poeira. Essas partículas assim elevadas da superfície são transportadas
a distâncias muito grandes, às vezes a km, onde tornam a se depositar. Assim, é
interessante observar que essas partículas não são erguidas do solo pela ação direta do
vento por serem muito pequenas, e o vento não as atinge diretamente. Nos locais onde
se depositam, geralmente em grande quantidade, formam os depósitos denominados de
loess, onde o solo geralmente é muito rico quinúcamente. Assim, nesses depósitos, o solo
é predominantemente constituído de partículas com diâmetro entre 50 e 2 µm, ou seja, do
tamanho do silte.

Movimento do solo por arrastamento superficial

As partículas de solo maiores do que 0,5 mm de diâmetro são demasiadamente


pesadas para serem erguidas pelo vento. Elas são impulsionadas ao longo da superfície
do solo por rolamento, caracterizando o arrastamento superficial sempre que a energia
cinética do vento for suficiente para isso. Quando o vento é menos severo, o arrastamento
começa pelo saltarnento, em que as partículas de solo descendentes golpeiam os grânulos
maiores na superfície, transmitindo para esses sua energia, de modo semelhante ao que
ocorre com bolas de bilhar. Os grânulos de solo maiores do que 3 mm de diâmetro são
demasiadamente pesados para serem removidos por ventos ordinários, podendo, no
entanto, serem removidos por tufões.
Em resumo, no processo de erosão eólica, as partículas de solo menores do que
0,1 mm de diâmetro são transportadas por suspensão; as que têm entre 0,1 e 0,5 mm, por
saltarnento; e as que têm diâmetro entre 0,5 e 3 mm, por arrastamento superficial.

Formas de erosão eólica do solo


o fenômeno da erosão eólica do solo é mais facilmente compreendido, reconhecendo-
se a interdependência das diferentes maneiras como as partículas de solo são desagregadas
e transportadas. As cinco formas de erosão eólica, descritas a seguir, podem ser consideradas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 453

como fases do mesmo fenómeno, muitas vez s sobrepoc;téls e, à vezes, ocorrendo ilO
mes mo tempo.
Detrusão: é o desa lojamento do grá nulos grosseiros a pa rtir dos pico ou du s
projeções da superfície do solo, pela pressão direta do vento o u pelo choque da partículac;
em s uspensão. Este é o processo de desgaste das rochas pelo vento, por exemplo.
Efluxão: é a remoção dos grânulos do solo com diâmetro entre 0,05 e 0,5 mm, iniciadu e
mantida pela pressão direta do vento. Es te movimento quase sempre e dá por illtilm nto,
podendo ser também por arrastamento s uperficinl e, no caso de partículns mili finas,
a lgum transporte se dá também por s uspensão, após terem s id o coletadas pelo ve nto.
Extrusão: é o rolamento das partículas do solo, muitas vcze ocasionado pelo efeito Je
partículas menores, depositadas por efluxão próximas às part ículéls maiores. Pelo choque,
as maiores podem ser roladas pelo bombardeamento das menores.
Eflação: é a remoção do solo por suspensão, como re ultado, pri ncipalmente, do
movimento dos grânulos maiores em decorrência do sa ltamento, constituindo numa g rave
consequência em razão do seu caráter seletivo.
Abrasão: é a desagregação pelo impacto e cisalhamento decorrente do choque de
grânulos em s uspensão, na massa do solo e, ou, em outros mate riais, ocasionada pelo
movimento de saltamento.
Essas formas de erosão eólica podem ocorrer sim ultaneamente, mas nenhuma delas
ocorre sem que a efluxão ocorra, sendo esta, portanto, um pré-requisito básico para a
ocorrência das outras formas de erosão eólica. Assim, o controle da erosão eólica deve
levar em conta, sempre, a redução da quantidade de partículas com diâmetro entre 0,05 e
0,5 mm e a diminuição da velocidade do vento na s uperfície do solo.

Fases no processo de erosão eólica do solo


A erosão eólica se processa basicamente em três fases, distinta e concomitantes:
iniciação do movimento; transporte; e deposição. Estas podem ser consideradas como um
ciclo, quando ocorrem na mesma área ou no mesmo solo. Para que o proce so de ero ão
eólica ocorra, é necessário que o solo esteja desagregado e denudo, o que acontece em
consequência de geadas, ciclos de umedecimento e secagem, impacto das gotas de chuva
sobre o solo e cultivo.

Iniciação do movimento
A iniciação do movimento se dá com as frações mais erodíveis, geralmente as
partículas de diâmetro entre 0,1 e 0,5 mm. Os ventos superficiais ão turbulentos em
velocidade acima de 3,2 km h·1• A turbulência do vento, em campo aberto, se manife ta
por flutuações irregulares da velocidade denominadas " pés-de-vento". A turbulência
associada à velocidade inicializa o movimento das partículas do solo no processo de ero ão
eólica.
A velocidade mínima do vento para iniciar o mo imento da p~1rtículas de 5 lo é
d e nominada de velocidade de soleira ou limiar, cujo fator mais importante para e se
fenômeno é o diâmetro das partículas. A velocidade limiar é menor para as partículas Je

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


454 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

0,1 a 0,15 nun de diâmetro, que nece sitam de uma velocidade enh·e 13 e 14,5 km h -1 nos
15 cm acin1a do solo parn iniciarem o movimento. A velocidade de soleira é maior tanto
para sedimento menores quanto para maiores do que 0,1 a 0,15 1nm de diâmetro.
A elevada resistência das partículas finas à erosão eólica é, em parte, por causa da
coesão, mas, principalmente, por serem demasiadamente pequenas para se projetarem
acima de uma camada laminar e viscosa de ar próxima à superfície do solo. A poeira é
elevada da superfície pelo impacto dos grânulos maiores, que são mais erodíveis porque
se projetam mais longe para dentro das correntes de ar superior, cujo movimento é mais
rápido e turbulento. A velocidade de soleira é aw11entada para o pó e para os grânulos
maiores em razão da coesão.
a presença de fitomassas culturais residuais mesmo quando espalhados na superfície
do solo, a velocidade limiar é maior do que para a maioria dos grânulos erodíveis do solo.
Assim, se o vento não apresenta velocidade demasiadamente alta, parte ou todo o solo
arrastado é retido pelas fitomassas residuais e a erosão é fortemente diminuída. No caso de
o vento ter suficiente energia para remover as fitomassas residuais, a velocidade de soleira
na superfície é diminuída, e o movimento do solo continuará com velocidade de vento
menor do que antes da remoção das fitomassas residuais.
A velocidade mínima de soleira para terrenos descobertos e não protegidos por
fitomassas residuais é usualmente muito maior para a primeira tempestade de vento do
que para as subsequentes. Isto se deve a uma fina crosta superficial, que, quando não
erodida, pode desintegrar-se completamente sob a abrasão contínua dos grânulos soltos
e, com isso, a crosta pode perder seu efeito protetor do solo. Em solos cultivados, a ação
seletiva do vento pode resultar numa acumulação de dunas, onde a velocidade de soleira
é baixa e varia pouco com o tipo de solo, sendo muito menor do que nos solos erodidos.
Assim, há uma classe de velocidade de soleira para cada tipo de solo, dependendo do
histórico de uso e manejo do solo. Essa velocidade varia de 21 a 48 km h-1, pelo menos, a
uma altura de 30 cm da superfície lisa do solo.
Transporte: o transporte do solo pelo vento se dá por arrastamento superficial, por
saltamento e por suspensão, já vistos.
Elutriação: é também chamada de classificação, em que as partículas de solo em
trânsito são separadas em consequência dos efeitos de seu tamanho, densidade e forma.
Abrasão: é o processo pelo qual as partículas de solo impactam os torrões, quebrando-
os em tamanhos menores e tornando-os suscetíveis ao transporte pelo vento.
AvaJanchamento: as partículas de solo, ao caírem sobre a superfície, fazem com que
outras iniciem o movimento, de modo que mais solo é transportado quanto mais distante
0 vento sopra pelo campo, caracterizando esse fenômeno.

Deposição: na erosão eólica a deposição das partículas se dá de diversas maneiras. As


que compõem o pó (menores do q~e 10 µm) são transportadas para muito aJérn da origem
e somente depositam quando praticamente o vento para ou quando chove. As partículas
movidas por suspensão (0,01 a 0,1 mm) são em geral depositadas nos primeiros km a partir
da origem, que, em condições normais, formam os depósitos de loess. Esses depósitos não
são sujeitos à ação do vento porque neles há apenas ~ma pequena proporção de partículas
do tamanho apropriado para o saltamento. As part1culas entre 0,1 e 0,5 1nn1 de diâmetro
que se movem por saltamento são depositadas sempre que a velocidade do vento diminui,
0 qu e ocorre em razão da ação da vegetação ou da ondulação da superfície do terreno. A

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 455

élcumul ação dessas partícul éls ca usa é.1 form dçfío de montículos ou dunas. s partículé15
m ovidas por arras ta men to su perfi cié.1 1 s5o trélns portadc1s por curtas di st.:incí.:is e em ge ra l
são depos itad éls na p róp ri a á rea de onde sa íram, n.is vizinhc1nçc1c; da o ri gem .

Consolidação do solo e estabilização

Uma vez d epositadas, por meios na turai , as partículas acomodam-se na uperfície


d o solo, em es paços vazios co mpa tíveis com se us tamanhos, es tabilizando-se e fo rmand o
um n ovo solo. Os principais age ntes responsáveis por ess - fenômeno ão c1 gr,widélde, o
impac to das go tas d e chu va, a contração do solo quando seca, a microflora e J microfau na
d o loca l.

Fatores que influenciam a erosão eólica do solo


Clima
Velocidade do vento

A velocidade do vento é o fator mais impo rta nte na erosão eólica, e há uma velocidi!de
mínima par a iniciar o movimento d as par tículas. Para iniciar o movi mento, é neces ária
maior velocidade do vento para as partículas qu e já es tão s uspensas em movi mento. O
choque sobre o solo das partículas em movimento adiciona energia à energia do vento,
sendo esta denominada de velocidade limiar d e impac to m íni mo, e nquanto a velocicfade
do vento necessária para iniciar o movimento das partículas se denom ina velocidade limiar
de fluído mínimo, que varia de 13 a 21 km h·', m edida 14 c m acim a do ola. turbulência
adiciona uma componente vertical ao vento e o torna m ais erosivo. As im, a habilidade do
vento em erosionar solo (E) se relaciona com s ua velocidad e (V), pela seguin te expres ão:
E= y 2-1 (10)

Temperatura, pressão e umidade

Essas três variáveis climá ticas interfe rem na gravidade e pecí.fica do ar e, como
consequê ncia, a energia com que o vento a tua sobre o solo, cu jo efeito · em geral ão
pequenos; entre tanto, a tempera tura e umidade rela tiva do a r influ enciam a e aporaçAo e
têm m a ior importância na erosão eólica do solo.

Chuva

A quantidad e e distribuição da chuva têm grande efeito indi re to -obre a ero ão eólica
e m razão do efeito da água sobre a produção d e mas a vege tal, que pode proteger o -olo
d a ação d o vento, além d e manter o solo ú mido e coeso e, por isso, re istente a essa forma
d e erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


456 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Solo
A textura, a estrutura, a coesividade, a densidade aparente e o teor de água na
superfície são os fatores do solo mais importantes que influenciam a erosão eólica. Assim,
solos arenosos erodem mais facilmente do que os argilosos, pois têm grande proporção
de partículas de diâmeh·o apropriado para o saltamente e pouco material ligante. Além
disso, os solos argilosos mais facilmente formam crosta protetora na superfície. Agregados
está eis de tamanho muito pequeno são facilmente erodíveis, enquanto agregados grandes
e crostas superficiais aumentam a resistência do solo à erosão eólica. Solos de granulação
grosseira erosionam mais por saltamente, enquanto os de granulação fina, por saltamente
e suspensão.
O vento atua mais ativamente em superfície lisa, pois, nessa condição, normalmente
e 'iste suficiente quantidade de partículas sujeitas à iniciação ao movimento, ou seja, com
0,1 a 0,5 mm de diâmetro. Além disso, a erosão eólica só acontece em superfície de solo
seca ou levemente úmida, em razão da ausência de tensão superficial que agregaria as
partículas. Por isso, solos que retêm umidade são mais resistentes ao vento, mas o vento
pode rapidamente secar a superfície, mesmo num tempo tão curto quanto 1 h, e promover
o movimento das partículas.

Condições de solo e uso da terra


Topografia

Um terreno plano é mais suscetível à erosão eólica do que um inclinado, onde o vento
encontra maior resistência. No entanto, nas colinas, há grande risco de erosão, pois o vento
atua diretamente sobre as colinas, cristas e seta-ventos das cavidades, pressionando essas
áreas em vez de fluir livremente como em superfícies planas.

Microrrelevo
Pequenas depressões retêm as partículas em saltamente, enquanto montículos são
facilmente erodidos, pois o vento atua diretamente sobre suas cristas.

Plantas
As plantas diminuem a erosão eólica em relação a urna área sem vegetação, pois
diminuem a velocidade do vento, atuando como quebra-vento, e mantêm a mnidade do
solo.

Fitomassas culturais residuais

Fitomassas culturais residuais de tamanho muito pequeno são facilmente erodíveis em


razão da baixa densidade. A velocidade limiar de ocorrência de erosão eólica das fitomassas
residuais é relativamente alta até mesmo quando se enconh·am soltos na superfície e, por
isso, controlam a ação do vento em velocidade mediana. A palha é facilmente removida,
mas os restolhos são muito resistentes à ação do vento e, por isso, retêm sedimentos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - ERO SÃO DO SOLO 4 57

Ohstáculos mecânicos

Dependendo da for ma, locéllização e pcrmcJbil idad e c10 cJ r, os obstáculos vege tais,
como os quebra-ventos, podem diminuir a velocidade do vento próxi mo à upe rfície
o u concentrá-lo na s uperfície. Assim, a presença desses obs tácu los pod c;er benéfica ou
danosa ao solo.

Lavração

A operação de aração cria rugosidade superficia l, benéfica ao controle do ven to, mas,
ao mesmo tempo, facilita o secamento do solo, disponibiliza sedi men tos ao tra ns porte pela
quebra mecânica de agregados, incorpora fi tom assas residua is ao solo e o deixa descoberto,
o que é nega ti vo.

Pastejo

O manejo do pastejo é fundamental para controlar a oferta d e fo rragem, ou seja, a


quantidade de matéria vegetal da parte aérea das pastagens por 100 kg ha·1 de peso vivo
de animais (expressa em %), para cobrir o solo e protegê-lo d a ação d o vento. A di minuição
de matéria vegetal na parte aérea das pastagens, significando diminuição d a oferta de
forragem, reflete-se na diminuição da quantidade de raízes das pas tagens, o q ue, por ua
vez, concorre para degradar fisicamente o solo e torná-lo su scetível à erosão, tan to pela
ação do vento quanto da chuva. A oferta de forragem considerada id eal, tanto para não
degradar fisicamente o solo quanto para a limentar adequadamente animais e prod uztr
carne e leite em níveis satisfatórios, é 12 % (Berto! et ai., 1998, 2000).

Estação do ano

A erosão eólica varia com a estação ano por causa das variações climática q ue
influenciam o vento, a chuva e o congelamento da água, além das operaçõe agrícolas
e do pas tejo etc. O congelamento faz com os agregados grandes e rompam e as fraçõ
finas se aglutinem especialmente em agregados de 0,05 a O,-! mm d e diâmetro. Por i
esse fenômeno pode facilitar o saltamento e tornar esses solos mai erodíveis d o qu e o
que não suscetíveis ao congelamento. Durante a estação chu o a, a chuva , d epe ndendo
da erosividade, podem desagregar o solo, tornando-o disponívd ao tran porte pelo vento
na estação seca. O vento, durante a estação seca, complementa o proce so de erosão eólica
tra nsportando as frações do solo desagregado. Portanto, em a m bas as es tações climá ticas, a
erosão eólica pode ocorrer, variando a importância relativa de uma e outra fa e da ero ão,
desagregação ou transporte, de aco rd o com a distribuição das chuva .

Principais danos causados pela erosão eólica


As frações mais finas e, portanto, mais valiosas do ponto de vis ta de fertilid ade do
solo, como argila, silte e matéria orgânica, são movidas mai_ facilmente e a dis tâ ncias
mais longas do que as frações grosseiras. Assim, o olo empobrece no local de o riaem da
0
erosão em razão da tendência de aumento da fração areia, que é uma fr ação de bai. ai r
em termos de fertilidade. No caso de es ta areia ser de tamanho propen - a sa lta mento,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--,
458 ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

torna o olo mai u cetivel ainda à erosão eólica. O vento pode també m soterrar sementes
de culturas pel s edimento em transporte, que não germinam, enquanto as sementes
de invasoras podem er espalhadas de um campo a outro, aumentando a sua infestação.
Rodovias, linhas férreas, fossos e cercas são cobertas pelos sedimentos, onerando a sua
recuperação. O p infilh·a-se nas engrenagens de máquinas e motores desgastando-os
prematuramente. O dano mais grave e direto da erosão eólica, no entanto, é na saúde
humana e animal por causa da ocorrência de pneumon.ias e alergias diversas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A erosão do solo é wn problema tão antigo quanto ao tempo de existência da


humanidade na Terra. Ao longo desse tempo a erosão tem degradado mHhões de
hectares de terra usada com fins agrícola, pastoril e florestal, além de outros usos e, com
isso, dilapidado a camada superficial de inúmeras áreas. É um problema cada vez mais
presente que necessita de atenção constante e continuada. Essa atenção deve ser dada pelos
trabalhadores que a usam e pelos técnicos que estudam os fatores e causas da erosão, os
quais devem constantemente preparar-se para controlar os efeitos dos agentes erosivos
sobre o solo. Ademais, os governantes têm a obrigação de criar e disponibilizar políticas
públicas e recursos financeiros e humanos para evitar, ou, no núnimo, controlar esse
problema.
Nas últimas décadas, têm-se desenvolvido a forma de manejo do solo denominada de
semeadura direta, sem a necessidade de preparo mecânico do solo, em especial nos cultivas
anuais de cereais e grãos. Com o advento dessa técnica de manejo, houve importante avanço
no controle da erosão hídrica do solo. No entanto, esse controle ainda é insuficient'e para
conservar o solo com efetividade e plenitude, dentro de limites de tolerância estabeJecidos
com base na necessidade de proteger o solo e preservar o ambiente como um todo. Assim,
a humanidade tem ainda muito para avançar nessa direção, para efetivamente preservar o
planeta Terra da degradação e evitar sua destruição via erosão.
Os sistemas de manejo e cultivo e as práticas conservacionistas de solo, bem corno
as estratégias para controlar a erosão e conservar o solo são conhecidas por alguns e
praticadas por poucos, em especial no Brasil. Por isso, urge que se desenvolvam campanhas
de esclarecimento nos diversos segmentos da sociedade para conscientizar as pessoas da
importância de se preservar esse recurso natural, a Terra, não renovável na escala de vida
dos humanos.

LITERATURA CITADA

Bágio B. Erosão hidrica em diferentes comprimen~os de declive em solo descoberto [dissertação].


Lage : Universidade do Estado de Santa Catarma; 2016.
Barbosa Ff. Comprimento crítico de declive relacionado à erosão hídrica, em diferentes tipos e doses
d e resíduo em duas direções de semeadura direta [tese]. Lages: Universidade do Estado de
Santa Catarina; 2011.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIV - EROSÃO DO SOLO 459

Ba rbosa FT, Bcrtol, 1, Lucia no RV, Gon;,a l e; J\P. Phoc;phnrouc; lo,;c; s in water ,rnJ c:edimPntc: in
runo ff of thc wa tc r croc; ion in na l c1nd vct h crops ,;ecd in cnnln ur ,ind J ownh ill. Soi l Till Rec;_
2009;106:22-8.

Benne tt 1-11-1 . Snil conserva ti on. Ncw York: McG raw -Hill Book Cnmpan y; 1939.
Be rhe AA, Harcl en JW, Harte J, Torn MS. Soil degrada tion and g loba l chc1nge: role n c;nil proc;inn
a nel d epos itio n in carbon seques tratio n. Univcrs ity of Ca lifornia lnte mationa l c1nd A rea Stud1e .
Scho larship Re pository: Univers ity of Ca li fornia; 2005. (Brec; la ue r Sympoc;ium)
Be rto! 1. Comprime nto crítico de decl ive parn preparoc; conc;e rvac ioni ,; tac: Jc o lo [tec:e j. Porto Alt:>gre:
Univers idade Federal do Rio G ra nd e cio Sul; 1995.
Be rto] 1, A lmeida JA, Almeida EX, Kurtz C. Propriedade fís icas do snlo re lacio n.1cl<1 .i diferen te'-
níve is d e oferta de fo rragem de capim elefan te anão CV. Mott. Pesq Agropec Bras. 200();3 - : 1047-
54.
Be rto] 1, Engel FL, Mafra AL, Bertol OJ, Ritter SR. Phos phorus, pota,;s ium, and o rganic cMbon
co ncentrations in rw1off water a nd sediments under d iffere nt ,;oil tillage ystems dunng
so y bean growth. Soil Till Res. 2007;94:142-50.
Berto! 1, Mafra AL, Cogo P, Barbosa IT, Miquelluti DJ, Oli veira LC, Rech TO, \,fo reira \,1A. . bnejo
e conservação do so lo e da água: re trospectiva, consta tação e projeç5o. Lages: CAV/ CD C,
2012. (Boletim técnico)
Be rto] 1, Gomes KE, Denardi n RBN, Machado LAZ, Mara ch in GE. Propriedades físicas do solo
re lacionadas a diferentes níveis de oferta cte fo rragem numa pas tage m natUial. Pesq gropl'c
Sras. 1998;33:779-86.
Berto! I, Zoldan Juni or WA, Fabian EL, Zavaschi E, Pegoraro R, Paz Gonzá lez A. Efe ito de esc.-1rificaçào
e da erosividade de chuvas sobre algumas v ariáve i de va lores de eroS<'io hídrica em is tem~ de
manejo de um Nitossolo Há plico. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:7-!7-57.
Bertoni J, Pastana FI, Lombardi Neto F, Benatti Junior R. Conc lusões gerai das pe qui as sobre
conservação do solo no Ins tituto Agron ômico. São Paulo: SecretMia de gricultura do E.stéldo
de São Paulo, Ins tituto Agronômico, Seção de Conservação do ola - Di\·isão de Solos; 197:2.
(Circular, 20).
Boardman J. Erosion assessment. ln: Chesworth W., editor. Encyclopedia of soil cicnce. , 'ew York:
Marcel Dekker; 2002. p.399-401.
Browing GM . Save that soil. Iowa Farm Sei. 1948;2: 3-5.
Cogo NP. Alguns princípios de conservação do solo e o estudo da erosão. Porto Alegre: UFRG
1978. (não publicado)
Cogo NP, Levie n R. Erosion and productivity, human life. ln: RATI A ' LAL, editor. EncyclopeJ ia of
soi l sc ience. ew York: Marcel Dekker; 2002. p.-128-31.
Correa IMC, Bertol I, Ram os JC, Takizawa M I Ru gosidade da su pe rfíc ie de um Cambi solo Húmic
re lacionada com o preparo e compac tação do solo sob chuva natural. Re Bras Cienc I
2012;36:567-76.

Dalla Rosa A. Prá ticas mecânicas e c ulturais n.i rec upe ração de carac teri- ticas fís icas de -ola~
d egradados pelo cultivo, Solo Santo Ângelo (Latossolo Ro o di trófico) [J is ertaçãoJ Porto
A legre: LJFRGS; 1981.

Doran JW, Gregorich EG. Quality and s us ta inable agriculture. ln: Che worth \,\', edit r. EncycloFedia
o f soil scie nce. New York: Ma rcel Dekker; 2002. p.10 8-91.
Duley FL. Surface fac tors affecting the rate of intake of wate r by soil -. e .-\ m Pr ·. l' -~ ;-l:00--l.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


460 lLDEGARDIS BERTOL ET AL .

Ellison VVD. oi! crosion studies. Agric Eng. 1947;28:145-7, 197-201, 245-8, 297-300, 349-51, 353, 402-5,
408, 442-4, 450.
Flanagan DC. Erosion. ln: Chesworth W, editor. Encyclopedia of sai! science. New York: Marcel
Dekker; 2002. p .395-8.
Foster GR. Modeling the erosion process. ln: Basselman JA. Hydrological modeling of smaU
watersheds. St. Jo eph: ASAE, 1982. p.297-380.
Hudson \1\1• Soil conservation. 3 rd .ed . New York: Cornell University Press; 1995.

Huggins LF. Small watershed h ydrology. 1979. 88p.


Kinnell PIA. Rain.fall intensity-kinetic energy relationships for soil loss prediction. Soil Sei Soe Arn J.
1981;45:153-5.
Kohnke M, Bertrand AR. Soil conservation. New York: McGraw-Hill Book Company; 1959.
Lal R. Soil erosion and global carbon budget. Environ Inter. 2003;29:437-50.
Laws JO, Parsosn DA. The relation of raindrop-size to intensity . Trans Am Geophys Union.
1943;24:452-60.
Levien R. Erosão na cultura do milho em diferentes sistemas de cultivo anterior e métodos de preparo
do solo[dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1988.
Mcgee W}. Soil erosion. Washington: USDA; 1911. Department of Agriculture, (Bureau of Soil-
Bulletin, 71)
Neal JH. The effect of the degree of slope and rainfall characteristics on runoff and soil erosion.
Columbia: Agricultura! Experi.ment Station; 1938. (Research Bulletin, 280)
Nolla D. Erosão do solo o grande desafio. Porto Alegre: Secretaria da Agricultura, Diretoria Geral,
Divisão de Divulgação e Informação Rural; 1982.
Oldeman LR, Hakkeling RTA, Sombroek WG. World map of the status of human-induced soil
degradation. Wageningen: International Soil Reference and Information Center; 1991.
Renard KG, Foster GR, Weesies GA, Mccool DK, Yoder DC. Predicting soiJ erosion by water: a guide
to conservation planning with the Revised Universal Soil Loss Equation (RUSLE). Washington:
USDA; 1997. (Agriculture Handbook, 703)
Schick J. Fatores R e K da USLE e perdas de solo e água em sistemas de manejo sobre um Cambissolo
Húmico em Lages, SC [tese]. Lages: Universidade do Estado de Santa Catarina, 2014.
Soil Conservation Society of America - SCSA. Resource conservation glossary. 3 rd • ed. Ankeny: Soil
Conservation Society of America; 1982.
Silva AM. Raifall erosivity map for Brazil. Catena. 2004;57:251-9.
Stallings JH. Sai! conservation. Englewood Cliffs: Prentice-HalJ; 1956.
Suarez de Castro F. Conservación de suelos. Madrid: Salvat; 1956.
Wischmeier WH, Smith DO. Predicting rainfall erosion lasses: a guide to conservation planning.
Washington: USDA; 1978. (Agriculture handbook, 537)
Zhang T, Wang X. Erosion and global change. ln: Chesworth W, editor. Encyclopedia of soil science.
New York: Marcel Dekker; 2002. p.419-21.
Zoldan Júnior VA, Bertol I, Pegoraro R, Fabian EL, Zavaschi E, Vid a! Vázquez E. Rugosidade
superficia l do solo formada por escarificação e influenciada p ela erosividade da chuva. Rev
Bras Cie nc Solo. 2008;32:353-63.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGEM E M OD ELO S
UTILIZADOS PARA ESTIMA R A ERO SÃ O
DOSOLO

Ildegardis Bertoll/, Eternar Antonino Casso l21 & G ustavo Henrique Merten 1

11 Uni vers idade d o Estad o d e San ta Catari na, Centro de Ciências /\grovete rinárias, Lage,;. SC. Bols1- t,1 J o 'lPq.
E- ma il: ildega rd is.bertol@ud esc.b r
21 Un iversid ade Federa l do Rio Grande do Sul, Faculdad e de Agrono m ia, Departamento de los ,
Porto Alegre, RS. E-mail: elemar.cassol@ufrgs.br
11 Uni versidade de Minnesota-Dulu th, Departa men to d e Engenharia Civil e Ambiental, DuJuth, :VL , EUA.
E-mai l: g hmerten@d .u mn.ed u

Conteúdo

íNTROD UÇÀO ....... .............................................. ...................................................................................- ........ .-...... .. · 62


IMPORTÂ N CIA DE MO DELA R O PROCESSO EROSIVO DO SO LO ..................................... ....- ······-··- ......... --!63
OBJETIVOS DA PREDIÇÃO DE EROSÃO DO SOLO POR IEIO DE IODELOS Mr\TE\I ÁTICOS_......... .. ·IM
ASPECTOS DA EROSÃO DO SOLO POSSÍVE IS DE SERE 1 1ODELADOS ...................................................... --l65
NATU REZA E TIPOS DE MODELOS UTI LI ZADOS NA PREDIÇÃO DA EROSÃO HÍDRICA DO LO ... --ló5
MO DELOS DE PREDIÇÃO DA EROSÃO HÍDRICA DO SOLO COM NLAIO R POTENCIAL PARA USO
O BRASll. ...................................................................... ................................................................................. - ·-·- -·· .. _ .. -.. -ló7
Obte nção d os pa râ me tros para a ve rsão USLE d o mode lo .................................................._........................... --l
Fa to r R - Erosividade d a chuva e enxurrad a associada à chu va ............ ............... _... ··- ····· ......_.............. 4
Fato r K - Erodi bil id ade do solo ................................... ................................. ...................................- .. ............ .. -U,9
a) Mé tod o direto .................... ............................. .. ......................... ............. ..................... .. ........................_ - · --l7U
b) Métod o ind ireto............................... .. ............................. .. ...................................................... ................. ... --l70
Fa to r L - Com primento do d eclive ......................... ............................................................................. ......... .
Fato r S - Decli vid ade do te rreno ................................................................................ ............... ····- ········· ...... ..
Fato r C - Cobe rtura e ma nejo d o so lo ........ .. ...................... ................................................. .. ............... ......... --l,--1
Fato r P - Prá tica conservac ionistas de s uporte .......................................................... . ........ ................... .. .. ..'..,,
,o
Obte nçã o d os parâmetros para a versão RUSLE do modelo .. ............................. ............................ .. .......... .. . --177
fa to r R - Erosiv idade d a chu va e enxurrada associad a à chu a ........ .... ..................... ........ .............. . _ . --!77
Ajus te do fa to r R p ara a cond ição de d ecl ividade< -l cm m 1.. . ..... ...... .. ... . . .... . .. ... . .. . .. ... _ ..... ...... . .. . . ... . . .
Fator K - Erodibiliclade do solo .............................................. ........................................... ..................... . ..... . --l7
Fa tor L - Comprimento do declive ...... .. ....................................................................... .................................. --l80
Fa to r S - Decl ivid ad e do terreno ......................... ....... ............................ .................... .................. . ............. .. --ILO
fa tor C - Cobertura e ma nejo do solo ... .. ......... ..................... ..................................................... ............... ·- ···
Fato r P - Prá ticas conservacionistas de !>u porte .. ............................................... .............. ............ . ···- .......... --l~
Su bfator cultivo e m conto rno (P.) .................... .................................. .. ................ .. .......................... .......... 84

Be r to ! I, De Mar ia IC, So u za LS, edito res. 1,rnejo e con ·e rv.içJo do olo 1.• d.1 ,1gu.1. iço ·a. :\1 • • 1eJade
Bras ile ircl d e Ciência do Solo; 20 18.
462 lLDEGARDIS B ERTOL ET AL.

ubf-ator cultivo e m faixas com ro tação de culturas e em conto rno (P.) .... .................. ............. ............ .. 486
Subfat r terraceamento (1\) ........................................................................................................................... 486
m od elo \-\ · PP.............................................................................................................................................. ......... 487
Est:irn ativa do aLTibu t0s fí icos do solo ........................................................................................................... 488
Equação pa ra predição de infiltração de águ a no solo................................................................................... 488
Equação para predição de e.rosi"io...................................................................................................................... 489
PROBLEMA ATUAIS PAR UTILI ZAR O MODELO NAS VERSÕES USLE E RUSLE E O MODELO
\-\ PP O BRASIL...................................................................................... ............. ............... ............ ..... ...... ..... ......... 489
COMO P REDIZER A PERDA DE SOLO UTILJZANDO, POR EXEMPLO, O MODELO NAS VERSÕES
U LE ERU LE ................................................................................... ......................................................... ................. 490
APLICAÇÃO PRÁTICA DO MODELO AS VERSÕES USLE E RUSLE .......................... .......... ......................... 492
Parcela-pad rão......................................................................................................................................................... 492
meadrna d ireta..................................................................................................................................................... 493
CO SIDERAÇÕES FI AIS .......................................... ......................................................................................... ....... 494
LITERATURA CITADA ...................................................... ........................................... ..................... .......................... 494

INTRODUÇÃO

Um modelo, em se tratando de ciência, serve para efetuar uma descrição generalizada


de um processo, um fenômeno ou um sistema, de maneira complexa ou simplificada.
Portanto, um modelo é meramente uma ferramenta que facilita a conceituação e o
avanço do conhecimento científico, facilitando o entendimento da importância relativa
das variáveis que influenciam um processo, fenômeno ou sistema. Em geral, um modelo
é representado por uma ou mais equações matemáticas que servem para estimar
quantitativamente o processo em estudo, podendo também constituir-se numa simulação.
Um modelo representa matematicamente um processo, fenômeno ou sistema, enquanto
um modelo de simulação engloba uma ou mais equações matemáticas por meio de um
algoritmo. Uma definição mais adequada de um modelo de predição é aquela apresentada
por Poster (1982), a qual relatou que o modelo é uma ferramenta que serve o propósito que
se intenciona com ele, tudo dependendo da perspectiva de cada usuário.
A modelagem do processo de erosão do solo implica em realizar ações no sentido
de representar o fenômeno da erosão por meio de uma equação ou de um conjunto de
equações matemáticas. O objetivo central da modelagem, nesse caso, é quantificar a
resposta do fenômeno de erosão frente às ações dos fatores que a condicionam. A erosão
do solo pode ser modelada de forma total. Nesse caso, todos os fatores que influenciam
as três fases da erosão (a desagregação, o transporte e a deposição) são quantificados
(Wischmeier e Smith, 1978). Ainda, a erosão do solo pode ser modelada de forma
particular, quantificando-se a resposta de cada uma das fases da erosão frente aos fatores
que a influenciam, separadamente (Flanagan e Nearing, 1995). Isso é válido tanto para a
modelagem da erosão causada pela água (erosão lúdrica) quanto para aquela causada pelo
vento (erosão eólica).
Neste capítulo, serão tratados apenas os aspectos relacionados à modelagem da
erosão hidrjca pluvial do solo, ou seja, aquela causada pelas águas da chuva e enxurrada a
ela associada, nas áreas agrícolas, tendo em vista a vasta ocorrência dessa forma de erosão
no país.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODEU\GEM E MODELOS LJTJUZADOS PARA E STIMAR A EROSÃO DO SOLO 63

IMPORTÂNCIA DE MODELAR O PROCESSO EROSIVO


DO SOLO

A erosão é a principal forma de degradação do solo. /\ d grad açZio cau,ada pel.J


erosão é caracterizada de acordo com o agente ca usador, cl <;Jber: erosé1o híd ric,1 e eroscin
eólica. A primeira é causada pela água . A erosão hídrica é plu vial quando é G1 u<;ad r1 p"lcl
chuva; fluvial, pelos rios; lacustre, pelos lagos;~ marinh a, pelos mares. A segundil é c1quc la
causada pelo vento.
Outras formas de degradação do so lo também são mu ito importa ntes, na medida em
que potencializam a erosão pelo fato de fragilizarem o a lo, como: salinizaçiio, degré.ldação
física, degradação química, degradação biológica, deserti ficaçiio e esG1vação. A primeirc1
ocorre quando os teores de sais no solo são críticos e, po rtan to, Cé.lusa m- lhe a di _p 'r. ,io
déls partículas. A segunda, a física, se refere à perda de qualidad e dél e truturcl do nlo,
em especial a s ua resistência à ação dos agentes erosivos. Essa degradação normalmente
é ocasionada pela pulverização da massêl do solo com individua lização de s uas pêlrtícu lil -
granulométricas e, ou, micro-agregados ou pela compactação do so lo oca ionaclêl pelc1
pressão mecânica exercida sobre esse. A terceira, a química, é ocas ionada pela perda dd
fertilidade química, ou seja, pelo rebai xa mento dos teores dos elementos químico" do
solo, pela extração dos nutrientes pelas plantas e, ou, pela erosão. Já a qua rta, a biológicil,
caracteriza-se pela diminuição de quantidade e da diversidade da fa una do olo, em
especial a micro-fauna, ocasionada pela degradação do seu ambiente, notada mente a
temperatura, a oxigenação, o teor de água e o nível nutricional. A quinta, a desertificação.
é uma forma extrema de degradação do solo, onde o eu ambiente, em no o equilíbrio
dinâmico, cond iciona o aparecimento de níveis de vida rebaixado ao extremo. Por
último, a escavação, constitui-se também numa forma de degradc1ção do solo, podendo
ser causada por atividades de edificação, mineração, extração de rocha , construção de
rodovias, ferrovias e aeroportos, dentre outras.
A erosão, especialmente a hídrica pluvial, é a causa mais exten iva e intensa de
degradação dos solos agrícolas no planeta. No caso do Brasil, a erosão hídrica plu\·ial é o
tipo de erosão predominante.
A erosão remove o solo superficial, que é o principal sustentáculo do sere vi o ·
da Terra, do seu local original e o deposita em outro, irre er i\ elmente. Por i s , para
propósitos práticos, o solo é considerado um recurso natural não renovável, dentro la
escala de tempo do ser humano. Isso é verdadeiro, tendo em v i ta que a taxa média de
perda de solo induzida pelas atividades do homem nas áreas agrícola , da o rdem de
26,6 t ha·1 ano·1, supera em muito a taxa média de renovação de ola a partir de materia is
não consolidados, da ordem de 1,3 t ha-1 ano-1; supera também a taxa média de formação le
solo no horizonte A em consolidação, da ordem de 13,3 t ha·1 ano- 1; e a taxa média de ero Jo
natural em condições de cultivo, da ordem de 13,3 t ha·1 ano-1, segund revisão sobre
assunto realizada por Cago (1988). A erosão induzida é aquela cau ada pelas atividade · do
homem, também denominada de erosão acelerada ou antrópica, e nquanto a era-ão natur..11
é aquela causada pela ação geológica.
Estima-se que a erosão ocasiona 84 % da degradação de solo no mundo, endo 56 '\) p ,1a
erosão hídrica e 28 % pela erosão eólica (Cogo et al., 2006). Também, estima-se que a erosão
movimenta mais de 100 Gt por ano no planeta. Pela estimativa, O ~ de a qua.ntidc1Je de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


464 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

alo são dep itado na n1esma área erodida ou em adjacente topossequ ên cia; os restantes
20 % são li-an portados para denh·o de mananciais de água (açudes, reservatórios, cursos
d ' água, mare e oceanos).
Dessa forma, plenamente justificam-se os esforços da pesquisa em erosão do solo no
entido de modelar esse fenômeno, principalmente sobre as terras de cultivo que são, em
geral, as mais atingidas. Com isso, é possível elaborar planejamentos conservacionistas
de uso da terra em base quantitativa, mais precisa e confiável, tanto em escaJa de lavoura
quanto de bacia hidrográfica. Conhecendo-se numericamente os efeitos dos fatores
que influenciam a erosão, é possível selecionar mefüor as opções de manejo e práticas
conservacionistas para reduzir as perdas de solo ocasionadas por esse fenômeno em 1úveis
aceitáveis.
Historicamente, a faixa tolerável de solo perdido por erosão é de aproximadamente
2 a 13 t ha-1 ano-1, de modo geraJ no mundo. Tais valores são equivalentes à remoção de 0,15
a 1 mm da camada superficiaJ do solo por ano, respectivamente, considerando a densidade
do solo igual a 1,3 kg dm-3, dependendo do tipo de solo e de outros fatores (Cogo et al.,
2006).
No Brasil, Lombardi Neto e Bertoni (1975) estimaram a tolerância de perda de solo
variando de 4,2 a 15 t ha-1 ano-1 para os solos de São PauJo. Já Bertol e Almeida (2000) a
estimaram variando de 0,15 a 1,13 mm ano-1 para os solos de Santa Catarina, considerando
a densidade do solo iguaJ a 1,0 kg dm-3• AJguns pesquisadores têm sugerido que a taxa
aceitável de perda de solo por erosão nas áreas agrícolas deveria ficar ao redor de 1 t ha-1 ano-1•
Outros argumentam que a perda de solo deveria ser essenciaJmente zero, do ponto de vista
da sustentabilidade ambientaJ, o que significa eliminar o aporte de sedimentos aos corpos
de água. Isso ressalta mais ainda a importância da pesquisa no sentido de representar
taJ fenômeno por meio de modelos matemáticos, para estimar as perdas de solo o mais
precisamente possível. É importante salientar que a severidade da erosão do solo em
muitas regiões do planeta, nas áreas onde o cuJtivo do solo é reaJizado mediante preparo
mecânico intenso, é ainda altíssima, na faixa de 100 t ha-1 ano-1, equivaJente à remoção de 8
mm da camada superficial do solo por ano. Tais taxas de perda de solo são maiores do que
as médias constatadas em áreas cuJtivadas, mesmo em regiões de clima temperado, onde o
potenciaJ de erosão é consideravelmente menor do que em climas tropical e subtropicaJ e,
ainda assim, originadas de algumas chuvas erosivas, apenas. Em clima tropical, as condições
climáticas favorecem a formação de chuvas com maior intensidade e volume, portanto, mais
erosivas do que em clima temperado, segundo Hudson (1995).

OBJETIVOS DA PREDIÇÃO DE EROSÃO DO SOLO POR


MEIO DE MODELOS MATEMÁTICOS

Os objetivos da predição da erosão do solo por meio de modelos matemáticos


podem ser agrupados em três categorias, de acordo com a utilidade dos resultados da
modelagem (Nearing, 2002): 1) no planejamento conservacion.ista de uso da terra, como
ferramenta útil para selecionar o uso da terra, o manejo do solo adequado e as práticas
de conservação mais apropriadas, visando reduzir a erosão e conservar o solo para um
locaJ ou região em particular; 2) no estabelecimento de normas para adoção de práticas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGEM E MODELOS UTlUZADOS PARA ESTIM AR A EROSÃO DO SOLO 4 65

d e contro le ela erosão e conservacion íc;tas ci o solo, int •granclo c1s op ril ÇÕC'S d m,rnejo do
s olo na ag ricu ltu ra, construção civil e ex ploração fl oresta l, p los ó rgcioc; gnvernamen têlic;,
em todos os seus níveis; e 3) no ava nço de con hccim ~nto na s istematizcJçJo d c;s,, por
parte dos profissiona is que pesqu isa m O assunto, no q ue se refe re a ciência ela erosão e
conse rvação do solo. A ava liação de efi cáci21 das prá ti rnc; conscrvacionistc1s nil redução da
erosão nas terras agrosilvopastoris é uma ela s aplicaçõec; mai s importantes 1: frequente. do
modelos de predi ção da erosão do solo. Isso é feito pe los técnicos de campo e plan jaJorcs
agrícolas e praticado em gera l nas áreas de c ulti vo anua l, des tinada a procluçJo de grãoc;

ASPECTOS DA EROSÃO DO SOLO POSSÍVEIS DE


SEREM MODELADOS

Vários aspectos da erosão do solo podem ser modelados. Con fo r me já refe rido, pode-
se modelar o fenôme no da erosão de mane ira global, incluind o a três fa se_ da era i'io
(desagregação, transporte e deposição) o u, então, uma fase isolada do proces o ero. ivo
(Foster, 1980). Isso pode ser feito tanto para a erosão em s u lcos qua nto pa ra a ero ão em
en tressu lcos.
Assim, é possível relacionar a erosão à remoção fís ica de solo em si, deno rninada perd.1
de solo. Ainda, é possível correlacioná-la à re moção de sub tâ ncias q uímica adso rvi da
às partículas sólidas e, ou, dissolvidas na água, trans portadas no escoam ento superficial
durante um evento de erosão. Isso é ap licável tanto em eventos d e ero ão híd rica pluvia l
quanto aos de erosão eólica. Tais s ubstâncias qu ímicas podem ser cons titu ídas d e nutriente
d e plantas, pesticidas em geral e matéria orgânica.
No caso da erosão hídrica pluvial do so lo, é possível m odelar a era ão na região d os
e ntressulcos e na dos sulcos, conjuntamente, corno um único fenô meno, sem dist inção de
s u as m agni tudes. Também, é possível modelar uma ou outra de a fo rmas de era iio,
separa d amente, considera ndo, nesse caso, cada uma como um fenô meno dis tinto do outro.
Ainda, em se trata ndo de erosão hídrica, pode-se modelar a erosão em voçoroca e em
taludes e leitos de cursos d'água (Duan, 2001).
His toricamente, a atenção principal na modelagem de era ão do o lo tem . ido d ada
pa ra quantificar a perda de solo pela erosão hídrica pluvial, mas, ultima mente, em razão
dos problemas ambientais decorrentes da erosão, ganhou impo rtância a quan tificação de
ma té ria orgânica e de agroquírnicos transportado no material erodido.

NATUREZA E TIPOS DE lVIODELOS UTILIZADOS NA


PREDIÇÃO DA EROSÃO HÍDRICA DO SOLO

Os modelos de predição da erosão híd rica do so lo são fund.:imentado na c mpreensã


d e le is fís icas e dos processos geomorfo lógicos q ue ocorre m n.:i paisagem (Foster, l O) . O
modelos matemá ticos de predição de erosão visam re presentar esses com ponentes e m
re lações matemáticas de base empírica ou fís ica (Doe lll e H.:i.rm n, 200 l ). model

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


466 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

m at máticos empírico estabelecem relações entre as variáveis que influenciam os


fenômeno e os valores de seus parân1elTOS com base em d ados d e observação, ou seja,
dado provindos da experimentação.
Os modelos empíricos estimam a remoção física de solo pela erosão h íd rica nas escalas
de parcela e de vertente, não sendo, pois, aplicáveis, como ferram enta única na escala de
bacia hidrográfica. No entanto, quando aplicados com um fator de razão d e distribuição de
sedim entos, a Equação Universal de Perda d e Solo (USLE), por exemplo, pode ser utilizada
para predição de erosão em escala de pequenas bacias rurais, embora com restrições por
causa da imprecisão do modelo nessa escala (Foster, 1983; Robinson, 1983). Apesar dessas
limitações, tem-se visto, com frequência, o uso impróprio desses modelos para predizer
perdas de solo em escala de propriedade agrícola ou de mkrobacia hidrográfica com
longos comprimentos de pendente ou declividades elevadas e, ou, irregulares ou com
diversos tipos de uso da terra. A inadequação do uso desses modelos, especialmente a
USLE, nessas condições, decorre do fato de não predizerem deposição de sedimentos ao
longo de pendente em tais condições, o que resulta em alta inexatidão na predição da
erosão ('vVischmeier e Smith, 1978). A razão central disso é que declives longos, elevados
e, ou, irregulares não compunham a base de dados usados na calibração desses modelos.
Entre os modelos empíricos, os mais conhecidos, segundo Laflen (2002), são: Equação
Universal de Perda de Solo, Un.ive,-sal Soil Loss Equation (USLE); a nova versão da USLE,
Revised U11h.1ersal Sai! Loss Equation (RUSLE); Modified Universal Soil Loss Equation (MUSLE);
Onstad-Foster Modification of tlze Universal Soil Loss Equation (USLE - OF); Soil-Loss EsHmation
Model for Southern Africa (SLEMSA); e Model Sediment Input to Swface Waters for Gen11mz
States (USLE - ABAG).
O desenvolvimento dos modelos empíricos foi decorrente de um processo
evolucionário no campo da modelagem em erosão do solo. Praticamente todos os modelos
recém-listados devem toda ou a maior parte de suas estruturas ao modelo precursor USLE
(Wisch.meier e Smith, 1965, 1978), presentemente substituído pela RUSLE (Renard et al.,
1997). Assim, a tecnologia da USLE foi seguida pelos desenvolvimentistas dos demais
modelos na maior parte do mundo, no último século. Os modelos empíricos são mais
adequados para predizer a erosão superficial em parcela e vertente, correspondentes a
glebas de terras mais ou menos uniformes em uma propriedade agrícola. Nessas condições,
os comprimentos de declive são mais curtos, e as variáveis de declividade do terreno e uso
e manejo do solo são relativamente uniformes e, com isso, a deposição de sedimentos ao
longo da pendente é menos importante do que em condições de bacia hidrográfica.
Os modelos matemáticos de base física ou semiempíricos são denominados
compreensivos e resultaram da integração com aqueles d e base física, que descrevem os
processos através de leis expressas por equações matemáticas. Utilizam a perda de solo
prevista por esses para estimar o transporte de nutrientes d e plantas, h erbicidas e bactérias
e, também, para determinar as mudanças na produtividade do solo e dinâmica do C,
relacionados à erosão do solo. Esses modelos, diferente dos empíricos, apresentam menos
restrição de escala e, por isso, podem ser utilizados em áreas maiores e, ou, mais complexas.
Os modelos semiempíricos mais conhecidos, segund o Arnold et al. (2002), são:
RUSLE; Chemicals, Runoff, and Erosion from Agricultura! Ma11age111ent Systems (CREAMS);
Groundwater Loading Effects of Agricultural Management Systems (GLEAMS); A gric11lt11ral
Nonpoínt Source Pollution Model (AGNPS); Environmental PofietJ I111pact Calculator (EPIC);

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGEM E M ODELOS UTI UZADOS PARA E ST IMAR A EROSÃO DO SOLO 67

J\ griculturn/ Policy E11virn11111e11lnl Exlc11dcr (A PEX); e Soil nnd Wnta J\o;_c:c ..;111cnl Too/ (SW r).
O s três ú ltimos, com exceção do SWAT, ão versõcc; modificc1clc1c; dJ USLE.
O s mode los matern é'H icos de base física, denomin ad os mod e lnc; teó ri rn o u co m bac..,e
e m processos fís icos, inco rpora m as lei d e conse rvação de masc;a e e nerg ia pilía desc rever
o p rocesso erosivo. É im portan te escla recer aqui que a teoria de erosão fo rn ce a fo rm.1
bás ica d as relações envo lvidas em todos os tipos de modelos de predição d ess fenõm ' no.
Entre ta nto, mesmo os m odelos ma temélticos funcl ament.:ii ainda requ e rem muitos
d ados e mpíricos pa ra a de ri vação de valo res de se us parâme troc;. Elec; tJ mbé m podem er
ap licados nas esca las d e pa rcela e de bacia hidrográfica sem o u co m ca nal flu via l. Com
os m od e los funda mentais, é possível, se paradJmente, preve r as respostas de procesc::o_
erosivos d istintos ca usados pela chu va. Como exe mplo, pode m-se cita r a de agre 0 aç5o
d o solo dis tinta d o seu h·ans p orte na erosão em e ntres ulco e a desagregação conjunta
com o transporte de solo pela enxurrad a na erosão em s ul cos, a lém da depo~ição d e ·olo
e o utros. Os tipos m ais conhecid os desses m odelos, segund o I earing (2002), ão: v 'nfa
Erosioll Predictio11 Project (WEPP); Griffitl, U11ivcrsi0/ Erosio11 S!tc::fc111 Templnte (C líE T);
E11 ropen11 Soil Erosio11 Mode / (EUROSEM); e Ki11c111ntíc R1111off 1111d Erosion Modcl (Kl 1 ºEROS)
(Mo rgan, 1995).

MODELOS DE PREDIÇÃO DA EROSÃO HÍDRICA DO


SOLO COM MAIOR POTENCIAL PARA USO NO BRA SI L

A escolha de mode los empíricos, en tre os o utros, co m maior potencial pa ra predizer


a e rosã o hídrica do solo no Brasil depende geralmen te da visão do pe quisador que va i
modelar o fenômeno, pois, esse assunto não foi a inda s uficientemente deba tido no meio
científico no país. No entendimento d a ma io ria dos pesquisadores bra ileiro de era ,'.io, a
versão USLE a presenta ma ior pote ncia l de uso no Brasi l do que a R SLE, na a tualidade.
A principa l razão por essa preferência é o fa to de a q uase totalidade dos trabalhos de
pesquisa nessa á rea te rem sido a té agora conduzidos para ob ter o parâmetro da C LE.
Tais trabalhos foram conduzidos e m condição de chuva nat u ral em ua m aioria, mas,
parte d e les ta mbé m em condição de chuva simulada u ti lizando s imulador de chuva tipo
Swan son (Swanson, 1965) e, recentem ente, ta mbé m com simu lador de chuvas tipo Empu. o
(Be rto! e t ai., 2012), a mbos d e braços ro ta tivos.
N o enta nto, m a is recentem ente, pesquisadores têm desenvolvido trabalhos de
erosão hídrica no Brasil, em condição de chuva simulada, visando obter paràmetro par
a li menta r o m od elo WEPP. Assim , esse m odelo ta m bém apre enta condiçõ" de, no futuro,
ser utilizad o na mod elagem d a erosão h ídrica no Brasil.
Qua lque r uma d as versões, USLE ou RUSLE, estima sati · fatoriamente a perda média
anua l desolo po r e rosão h ídrica pluvia l. A obtenção dedados para calibração e d e parâmetro ,
para aplicar esses mod elos é fe ita sem pre e m longo prazo, n ca_o de chu a natural,
em princípio utilizando d ad os coleta d os d u ra nte 20 a 25 ano , cuja ero ·ão é lecorr nte,
essencia lme nte, d as fo rmas e m enh·essu lcos e e m u lcos, que atuam conjuntamente n.1
erosão s upe rfic ia l d as terras agríco las. Para isso, as un id ades ex perimentais, u parcelas ,
devem te r comprimento d e 22,1 m no sentido do declive e decli idade de cm rn·1 para
chuva na tura l (Wischmeie r e Smith, 1978). oca o de experimento em e ndiç.10 de 1.'. hu va

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


468 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

imulada com qualquer dos simuladores de braços rotativos, já citados, as parcelas têm
c mprimento de 11 m no entido do declive, 3,5 m de largurn, separadas por un, intervalo
de 3,5 m para permitir a colocação do simulador entre elas, e declividade de 9 cm m·1
(Sv,ranson, 1965). Essas condições são representadas pelos fatores que influencian, a erosão
e que são os componentes desse modelo, que, indistintamente para as versões USLE e
RUSLE, são representados na seguinte equação:

A=RKLSCP (Eq. 1)
em que A é a perda média anual de solo calculada pelo modelo, t ha·1 ano-1; R 0
fator erosividade da chuva, MJ nun ha·1 1,-1 ano-1; K o fator erodibilidade do solo,
t ha h ha·1 MJ·1 nuu-1, Lo fator comprimento do declive, adimensional; S o fator inclinação
do declive, adimensionaJ; C o fator que combina cobertura e manejo do solo, adimensional;
e P o fator prática conservacionista de suporte, adimensionaJ.
Os valores para os parâmetros R, K, L, S, C e P são obtidos, experimentalmente, de
maneira distinta para as duas versões do modelo, USLE e RUSLE.

Obtenção dos parâmetros para a versão USLE do modelo


Fator R - Erosividade da chuva e enxurrada associada à chuva
O fator R representa a capacidade da chuva e enxurrada a ela associada em causar
erosão hídrica do solo, sendo representado pelo produto da energia cinética total da chuva
(Ec1) pela intensidade máxima em 30 min (130), ou seja, pelo índice E~, conforme consta em
Wischmeier e Smith (1978).
Para determinar o índice EI301 primeiramente individualizam-se as chuvas, que
se caracterizam pelo fato de estarem separadas da anterior e da posterior pelo período
mínimo de 6 h sem chuva, ou ainda quando a altura total de chuva não ultrapassar 1 mm no
período de 6 h . Na sequência, verifica-se se a chuva é erosiva, o que se caracteriza quando a
sua altura é de no mínimo 10 mm, ou quando é de 6 mm ou mais em um período máximo
de 15 rnin. Em seguida, separam-se os segmentos uniformes (com a mesma inclinação da
curva no pluviograma), que representam períodos da chuva com intensidade uniforme.
Relacionando a altura de chuva no segmento e a sua duração, calcula-se a intensidade
nesse segmento. Para cada um desses segmentos de chuva com intensidade uniforme,
calcula-se a energia cinética unitária, para cada mm de chuva, segundo Poster et ai. (1981),
utilizando a seguinte equação com unidades do sistema métrico:

Ec(mml = 0,119 + 0,0873 log10 i (Eq. 2)

em que Ec(mml é a energia ci~ética para cada mm de chuva (unitária), MJ ha·1 mrn·1 e i a
intensidade no segmento uniforme da chuva, mm h-1•
Para segmentos de chuva com intensidade maior do que 76 1mn h-1, o valor de Ec<mml é
constante e igual a 0,2832 MJ ha·1 mni- 1•
Multiplicando-se o valor de Ec(mm) pela altura total de chuva ocorrida no segmento
uniforme, obtém-se o valor de Ec naquele segmento de chuva. Repetindo-se esse
procedimento para todos os segmentos da chuva, obtém-se a Ec para cada segmento.
Somando-se a Ec de todos os segmentos de uma chuva, tem-se a energia cinética total

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAG EM E MODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 469

da mes ma, Ec,. Durnnte lodo o período de um a chu va indi vidual, deve-se determinar o
pe ríod o co nsecuti vo ele 30 min e m qu e ocorre u a maior altur,1 de chuv . íultiplicando-se
esse va lor por 2, es tima-se a intens idade máxi ma d;i ch uva, 1w em 30 min .
O cálcu lo do fator R ela chuva indi vidu a l, qu e é re prese nt.:icl o pelo ínclic' EI ,(1 des~.J
ch uva, é fei to po r meio do prod u to do va lor de Ec1 da chu va pelo valor de lw re, ultilndo
n a seg u in te equação para o fato r R:

(Eq. )

em que R é o fa tor de erosividade da chuva e e nxurrad a a e la associada, IJ mm h,,-, h·';


Ec 1 a e nergia cinética total da chu va ' MJ ha·1 e I111 a intens id ade mj xima da chu va e m 30
1ni n, mm h·1.
Soma ndo-se os va lo res de EI30 de todas as chu vas indi vidu ais de u m determinado
m ês, ob tém -se o El30 d aque le mês (erosividade mensa l); e somando os va lo res de El--..o dos
12 meses, o btém -se o EI30 do ano (erosividade a nu a l). Fazend o- e a média da e roc;ívicli!de
a nu a l das chu vas de determ inad o local, par a um período longo, 22 a no , po r exemplo,
o bté m-se o fa to r R méd io anua l da US LE. Obtendo-se o fato r R de vá rios locais, pod e- ·e
cons truir o mapa das chu vas isoerod en tes daqueles locais (regiona l ou e tadual), onde _ão
traçad as as linhas unindo os pontos de mesm a era ividade m éd ia a nual, o u seja, ponto
com o m esm o fa to r R. No Brasil, os va lo res de El3<1 calculados a té o m o m ento, em 0 e ral,
varia m e ntre 3116 e 20 035 MJ mm ha·1 h·1 a no·1 (Sil va, 2004).
Valores d o fa tor R ta mbém pod em ser o btid os com base na altura de chuva mensal
e anual, na falta d e d ad os plu viográficos de precip itações, usando a eq uação de Fournier
(1960) para cada loca l específico, por meio d a equação que segue:

Cc = (p2/P) (EqA)

em que Cc é o coeficiente de chu va, ad im ensio na l; p a precipitação m édia mensa l, mm e P


a precipitação média anua l, mm.
O coeficie nte Cc, no entanto, só pode ser usad o par a determinado loca l para s ubstituir
o El301 n o caso de ele co rrelacionar-se s igni fi ca ti vam ente com o El 10 do local, o que o toma
válido som ente no local es pecífico pa ra o q ua l fo i es tim a d o.
Lo mbardi Neto (1977) ajustou a equ ação de Fournier para as condiçõe climáticas de
Cam p inas, SP, co m aj uste sig nificativo entre o índice de ero ividade EL,.0 e o coeficiente
de chu va Cc, resultando num va lor r = 0,991, com as cons tantes a = 6, 6 e b = O, 5 dessa
eq u ação de ajus te. Ressalta-se, no entan to, que essa eq uação de Lombardi eto (1977) ·
pode ser usada pa ra pred izer a erosividade das chu vas de Campina o u para locais com
condições cl imáticas igu ais às de Cam pinas.

Fator K - Erodibilidade do solo


O term o erod ibilidade do solo significa a su cetibilidade natu ral do sol à ero -ão, que
é infl uenciada pelos atribu tos intrínsecos dele (Wisch meier e mith, 197 ). E -se .1tributos,
que influenciam o fator K, na USLE, são agrupad os do eguinte modo: a) aquele - que
inte rfere m na desagregação d o solo e, po rtanto, es tão relacionados ao tamanh eà re ·isten -ia
dos agregad os estru tu rais d o solo à ação d a água; b) aqueles que influenciam no trnnsp rte
das partíc ulas pela e nx urrada e, porta n to, estão relacionados ao tamanho e à densidade das

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


470 ILDEGARDIS BERTOL ET AL .

partículas; lambem, as características do escoamento influencia m a erod ibilid ade conforme


e observa pela influência do termo R na equação (5), pois o aumento do volume escoado
condiciona elevação de sua energia e capacidade de transporte; e c) aq ueles que interferem
na infiltração de água no solo e, portanto, estão relacionados ao tamanho, à proporção de
tamanho e à continuidade e estabilidade dos poros do solo e condicionam o escoamento
superficial.
Em condições idênticas de chuva, topografia e manejo, o solo que apresentar maior
perda de olo por u11idade de índice de erosividade é o de maior erodibilidade, cujo valor,
quantitativo, é determinado experimentalmente. Assim, o fator K da USLE pode ser
di criminado por dois métodos:

a) Método direto

Este método compreende obter o fator K por meio de dados de perda de solo obtidos
com chuva natural ou chuva simulada, em experimentos conduzidos em campo, conforme
recomendado por Wischmeier e Smith (1978). No caso de chuva natural, este método se
baseia na instalação e condução de parcelas com 22,1 m de comprimento no sentido paralelo
ao declive e com 9 cm m·1 de declividade. Os dados de perda de solo são coletados durante
22 anos, no mínimo, em condições de solo permanentemente descoberto e desprovido de
crosta superficial. Assim, os dados de perda de solo coletados são representados pelo termo
"A" da USLE. A erosividade das chuvas que ocasionaram essas perdas é representada
pelo termo " R" e, consequentemente, o termo "K" deste modelo é calculado pela seguinte
equação:
K= AR1 (Eq. 5)
em que K é o fator de erodibilidade do solo, t ha h ha· MJ· mrn-1; A a perda de solo na
1 1

parcela-padrão, t ha·1 ; e R o fator de erosividade da chuva e enxurrada a ela associada,


MJ mm ha·1 h·1.
Com o uso do simulador de chuvas de braços rotativos modelo Swanson (Swanson,
1965), ou modelo Empuxo (Berto! et ai., 2012), sobre parcelas de 11 m de comprimento e
3,5 m de largura, com declividade de 9 cm m·1, pode-se reduzir substancialmente o período
(22 anos) para obter os dados necessários ao cálculo do fator K, por meio de uma série de
chuvas simuladas aplicadas, para cerca de um ano, de acordo com metodologia descrita
em 1APAR-Embrapa (1975).

b) Método indireto

Este m étodo compreende obter o fator K por meio de um nornogran1a, que, para o
modelo USLE, utiliza-se o nomograma de Wischrneier, constante em Wiscluneier e SmiU1
(1978), construído a partir de valores, utilizando a seguinte equação dos mesmos autores:

K = [2,1 M 1•14 (10"') (12-a) + 3,25(b-2) + 2,5(c-3)] 100-1 (Eq. 6)

em que K é o índice de erodibilidade (unidades originais x 0,1317), t ha h ha·1 MJ·1 mm·1; Mo


parâmetro que representa a textura do solo, a.dimensional, sendo M = (% de silte+areia muito
fina) (100 - % de argila); a o teor de matéria orgânica, %; b o código para classe de estrutura
do solo, sendo: 1 - estrutura muito pequena granular; 2 - estrutura pequena granular;

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODEL/\GE M E MODELOS UTILJZADOS PA RA ESTI MAR A EROSÃO DO SOLO 4 71

3 - es trutura mé di a o u gra nde g ranul a r; 4 - estrulura em blocos, laminar o u m aciç.i; e


c o códi go pa ra classe de permea bilidade do so lo, s ndo: 1 - pe rmeabi lidade rá pida; 2
- permeabilidad e moderada a rá pida; 3 - permeabil idade moderada; 4 - permeabilidade
lenta a moderada; 5 - permeabilidade lenta; e 6 - pe rmeabilidade m u ito I nta.
Para expressar em unidades do sis tem a mé trico (t ha h ha I MJ I mn,- '), os valore
do fator K obtidos pela equação 6, utili za nd o nessa as un idades origjnais para as cinco
variáveis, devem ser multiplicados pelo fator de co rreção 0,1317.
A figura 1 apresenta um ábaco representand o o nomograma de Wischmeier e mith
(1978), utilizado para a leitura direta do fa tor K. Esse nornograma apresentado já está
atualizado para unidades do sis tema métrico (Foste r e t a i., 1991 ), expressando o resul tado
final em t ha h ha-1 MJ- 1 mm-1, sem necessidade de a plicação de q ualquer fator de correção.

20,0

10,0
8,0
6,0 ::, '

4,0

~
' 2,0

i8. 1,0
~ 0,8
.2
~ 0,6

OA

0,2

0,1
20 40 60 80 100 200 400 €,00 800 l
Comprimento do declive - L (m)

Figura 1. Nomograma de Wischmeier & Smith (1 978) para leitura do fa to r K, erodibilidade do solo,
atualizado para unidades do sistema mé trico.
Fonte: Foste r e t ai. (1991).

A equação 6, bem como o nomograma, são válidos para obter o fa to r K em s los


com altos teores (aproximadamente 70 %) de silte+areia muito fi n a. Pa ra a solu ão d
nomograma são necessárias as seguintes informações: teor d e silte+a re ia muito fina, 0 ;
teor de areia com diâmetro maior do que 0,1 mm, %; teo r de m a té ria o rgânica, ~; !lTau de
estrutura do solo, adimensional; e grau de permeabilidade d solo, ad ime nsional.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


472 ILDEGARDIS B ERTOL ET AL.

Para a maioria dos solo argilosos brasileiros, especialmente os Latossolos e Nitossolos,


o nomograma de Wischmeier não é adequado para estimar o fator K da USLE (Si lva et
aJ., 2000) . Para alguns solo brasileiros, onde foram conduzidos estudos em campo em
condições de chuva natural e simulada, durante períodos variáveis de tempo, os valores do
fator K situaram-se na faixa entre 0,01 e 0,04 t ha h ha·1 MJ·1 nun- 1• No entanto, esses valores,
na sua grande maioria, são ainda prelinunares, pois, para que possam ser considerados
defin.iti\ os e, portanto, representativos da erodibilidade dos respectivos solos, a duração
dos e 'perimentos em condição de chuva natural deveria ser de, pelo menos, 22 anos
(Wisclm1eier e Sm.ith, 1978).

Fator L - Comprimento do declive


O comprimento do declive é discriminado como a distância compreendida desde 0
ponto onde o escoamento superficial in.icia (nem sempre o ponto mais alto no declive)
até o ponto onde a enxurrada encontra uma rede de drenagem ou um canal definido, de
maneira tal que essa deixa de escoar. Na USLE, o fator L representa a razão da perda de
solo que ocorre num determinado comprimento de rampa com a perda de solo que ocorre
no comprimento de 22,1 m (Wisclm1eier e Smith, 1978).
Para comprimentos de rampa iguais a 22,1 m, o fator L é igual a 1, enquanto para
comprimentos maiores do que 22,1 m o fator L é ma.ior do que 1 . Para comprimentos
menores do 22,1 m, esse fator é menor do que 1. O cálculo do fator L é feito utilizando a
segu.inte equação:

L = (À/22,1)"' (Eq. 7)
em que À é o comprimento do declive, m; e m o valor variável conforme a declividade do
terreno, sendo: 0,5 para a declividade ma.ior do que 5 cm m·1; 0,4 para declividade entre 3,5 e 4,5
cm m·1; 0,3 para declividade entre 1 e 3 cm nY1; e 0,2 para declividade menor do que 1 cm m·1•
Na USLE, a perda de solo (A) conhecida na parcela-padrão (22,1 m) é multiplicada
pelo valor do fator L resultante da relação entre o comprimento de declive para o qual se
quer estimar a perda de solo e o da parcela-padrão, para fins de estimativa da perda de solo
de qualquer comprimento de declive diferente da parcela-padrão.

Fator S - Declividade do terreno


A inclinação do declive, % ou cm m·1, representa a diferença de nível entre o ponto
mais alto, onde normalmente começa a enxurrada, e o ponto mais baixo no terreno, onde
normalmente a enxurrada para. Na USLE, o fator S representa a razão d e perda de solo
que ocorre em deterrn.inada declividade e aquela que ocorre na declividade de 9 cm m·1
(Wisclm1eier e Smith, 1978).
Para a declividade de 9 cm m·1, o fator Sé igual a 1, enquanto para declividades m aiores
do que 9 cm m·1 o fator Sé maior do que 1. Já para declividades menores do que 9 cm nY1,
esse fator é menor do que 1. O cálculo do fa tor Sé feito utilizando a seguinte equação:

S = 0,065 + 4,56 sen0 + 65,41 (sen0) 2 (Eq. 8)

em que 0 é o ângulo do declive.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELI\GEM E MOD ELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 473

Na USLE, a perda de solo (A) conh cid a na parcela-pad rão (9 cm m·1) é multiplicadd
pelo va lor resulta nte da relação entre o fato r Sela decli vidade pJ ra c1 qual se deseja e timar
a perda de solo e o fator S da parcela-padrão, pa ra fin s de estimati va da perda de olo de
qualquer declividade diferente da parcela-padrão.
Os fatores L e S são apresentados juntos na USLE, num fato r único, denomini1do
fator topográfico, pelo fa to de que esses ocorrem e m conjun to no te rreno e, po r isso, ·ão
interdependentes, cuja eq uação é a seguinte:

LS = [(i\/ 22,1r (0,065 + 4,56 sen0+ 65,41 (sen8) 2)J (Eq. 9)

em que i\ é o comprimento do declive, m; m o valor va ri ável conforme a declividade do


te rreno, sendo 0,5 para a declividade maior do q ue 5 cm m·1; 0,4 pa ra declividade entre 3,5
e 4,5 cm m·1; 0,3 para declividade entre 1 e 3 cm m· 1; e 0,2 pa ra declividade menor do que l
cm m· 1; e 8 é o ângulo do declive.

Na USLE, a perda de solo (A) conhecida na parcela-padrão (22,1 me 9 cm m·1) deve


ser multiplicada pelo valor resultan te da relação entre o fato r LS da área pa ra a qual e
deseja estimar a perda de solo e o fator LS da parcela-padrão, para fins de e timativa da
perda de solo d e qualquer condição topográfica diferente dessa pa rcela.
A equação 9 pode ser resolvida graficamente. Na figura 2, constante em Wischmeier
& Smith (1978), encontra-se o gráfico que pode ser utilizado para leitura direta do fator LS,
bastando, para isso, que se conheçam o comprimento da rampa, m, e a inclinação do declive,~~ -

o 0,09 ..cl ~ 1- Multo pequena granular


0,08 .2 '.i' 2 - Pequena granular
10-'Jt-'r~..........,.....-+--+---1---1---1-~-l,.!..-""'- - .2 3 - Média ou grande granular
4 - Blocos. laminar o maciça ,,,•
0,()7 ~ Estrutura do solo 1,' ,'
20 +---'I-T-'.~.,,.,.._"lc-=,---l---l---1-+--l-----9'q._---'~ -o
0,06 '5-
ni

~~-1-~~~~~~~-I-+-~~~~~~~
0,05
-~
o
~ ~
~ 40+---t--"<",>f--,,'"'c--..P,,=>"-<,r'!--,,,,__+:-_4--+--40,04
<
·3
E
ni 504--+---h~~~~~..j.....,,--+---+--...t.º·03
-~
:
i! 6()-1--+,,';..;,.,,<:ri'-,,,-L-.-l-~~.,_,.,..,~.,........::"l,-,-,,--l--~
~

~ ~

~
70 ~:...._+---+--+--+-~+,-:.,..:....4,.--~.+--...t.o ..cl O,IY7 r - - + - --+r---+-...,..;,.g,..,~.4-
~ '.i' 0,06
..l!
80 t--+--+----;;f-;-;;~~:.L...:-t-J~:-P-oc.,..::~.----t- ~ 0,05 +---+----1-+-.......:.,.::JL..<~a.-
o
õ
~ 0,04-f==-Jlli;f==-;,4C.~4-
-o
~
~ 0.03
-o +-~~'__:J.l....._ 6- Mutto lenta
:3 5- Lenta
Prt>adimonlD: Com OI dadoo op,opriadow, - na --1a l eoqumla. im-lP pua OI ,e 0,02 4 -L.!nta a moderada
pon!Os qu,r ~ • 1' u..i.. dooolo (0,10-2.00mm). 1' ~ lll.lllK'.aarpnla. •t:rullln •
-o 3-Moderada
!O
~ l'.WN ~ lnlupolar enaw cun-u plD'.adu. A linho ~
ilwotn o proadimmtc pua um ooJo com 51• AMF • 6,5 1', Ama • 5 '\, MO • U 1'm
..
~ 001
o
,
2 - Moderada a raphla
1- R.ipida
Eotrutuna • 2 o Pmnmbilid.odc • t. Saluçto: K • 0.G' --1..bl.b..... .
haM)imn J! o
Figura 2. Gráfico para leitura direta do fator LS, topografia do terreno.
Fo nll!: Wisch.meier & Smith (1978).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


474 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Fator C - Cobertura e manejo do solo


Entre os fatores da USLE que interferem na erosão hídrica, o fator C é o mais importante,
pois esse representa todas as variáveis de manejo do solo e de cobertura por plantas e pela
biomassa vegeta] residual, que irifluem fortemente na erosão hídrica e, por isso, é o fator
mais complexo e mais difícil de ser obtido. É o mais importante, ainda, porque é o fator por
meio do qual se pode interferiT mais fortemente na erosão.
O fator C na USLE representa a razão entre a perda de solo que ocorre em uma parcela
onde o solo é manejado com alguma forma de cobertura e aquela onde o solo é manejado de
modo idêntico ao da parcela-padrão do modelo, mantido permanentemente e totalmente
descoberto e sem crosta superficial (Wischrneier e Smith, 1978). Assim, esse fator é obtido
no campo, em experimentos de longa duração.
O fator C é influenciado pela cobertura do solo ocasionada pela biomassa vegetal
residual (porcentagem de cobertura, tipo e quantidade de biomassa); pela cobertura do
solo ocasionada pela copa das plantas (porcentagem de cobertura, tipo de planta e estádio
de crescimento); pelo sistema de cultivo do solo (rotação ou sucessão de culturas); pelo tipo
de preparo e manejo do solo (preparo convencional, cultivo mínimo ou semeadura direta,
entre outros); e pelas distribuições temporal e espacial da erosividade das chuvas.
A cobertura do solo por biomassa vegetal, em contato direto com a superfície, é a principal
causa de redução do fator C e da erosão hídrica. Essa forma de cobertura do solo dissipa a
energia cinética do impacto das gotas de chuva e reduz a energia cinética da enxurrada pelo
aumento da rugosidade hidráulica, diminuindo a erosão hídrica. Assim, o fator C é influenciado
pela porcentagem de cobertura do solo, pelo tipo e pela quantidade de biomassa.
No caso da cobertura do solo pela copa das plantas, seu efeito é menor do que o da
biomassa vegetal e é dado, principalmente, pela dissipação da energia cinética das gotas
de chuva, o que, dependendo da altura da copa, pode permitir a precipitação das gotas da
copa até o solo. Se o solo estiver descoberto sob a copa (sem biomassa vegetal), o impacto
das gotas precipitadas da copa pode produzir erosão pelo impacto das gotas, mas, nesse
caso, a erosão é ocasionada principalmente pelo escoamento superficial. Assim, o fator C
é influenciado pela porcentagem de cobertura do solo e pelo tipo e estádio de crescimento
das plantas.
O sistema de cultivo, representado pelas diferentes sequências de culturas na mesma
área ao longo do tempo, tem grande influência no fator C. Urna boa rotação de culturas cria
um ambiente diversificado no solo, proporcionado pela diversidade de organismos (macro
e micro) e de biomassa vegetal. Em razão disso, as culturas de uma boa rotação atuam
sobre a estrutura do solo, melhorando a qualidade dos agregados, em relação a outros
sistemas de cultivo. Com isso, a erosão hídrica e o fator C tornam-se menores. Sistemas
de cultivo representados pelas simples sucessões de culturas ou rnonocultivos limitam a
djversidade biológica no solo, bem corno a diversidade de biomassa vegetal, piorando a
qualidade estrutural e, consequentemente, aumentando a erosão e o fator C.
o sistema de preparo e manejo do solo influencia o fator C d e várias formas. O principal
efeito é sobre a cobertura do solo, de tal modo que o preparo convencional praticamente
elirruna a cobertura, enquanto a semeadura direta mantém praticamente toda a biomassa
vegetal residual na superfície, e o cultivo mínimo, em geral, mantém cerca de 60 a 75 %
dessa biomassa cobrindo o solo. Além disso, o preparo do solo influencia a rugosidade
hidráulica superficial, porosidade total e distribuição de tamanho dos poros do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODE L/\GE M E M O DELOS U T ILIZADOS PARA E STIMAR A EROSÃO DO SOLO 4 75

O pre pa ro convencional, como exem plo, a umenta a rugosidad e u p rficial e o


vo lume d e mac ro po ros na supe rfície, enq u anto, na subs u pe rfície, ca usa co m pactaçãc e
diminuição cios mac roporos, cm compa ração á s meadura d ireta. A I m disso, como o o lo
fica descoberto, torna-se suscetível ao selamento s u pe rfi cial, o q ue reduz a infiltração de
água e aumenta a erosão hídrica.
A semeadura direta, de outro lad o, em bora facilite a compac tação su perfic ial, d
diminuição do volume de macroporos e d a rugosidad e hid rá ulica na upe rficie do
solo, em relação ao preparo convencional, ma n té m al ta infiltraçc'i o de ág ua . I so ocorre,
principalmente, porque o s is tema manté m a su perfíci e do so lo coberta e as gale rias
(formadas pelas raízes em decomposição e macrorganis mosJ aber ta no so lo, a través da
quais a água infilh·a com facilidade e, por isso, diminu i a erosão hídrica.
O preparo reduzido, principalmente q uando rea lizad o co m esca rifi cador, seguido
ou não de grade, produz alta rugosidade hidrá uJica, a ume nta o vo lume de macroporos
na superfície, não compacta a subsuperfície e preserva a maio ria d a bio rnas a vege tal na
superfície do solo. Isso, em geral, se traduz e m baixa e rosão do olo e m relação ao preparo
convencional, embora levemente maior do que na semeadura direta . O maio r benefício
do preparo reduzido, no entanto, está no ambiente criado para as raízes da planta , q u .
em razão da melhor distribuição de tamanho dos poros d o solo, encon tram cond ições
favoráveis para o seu crescimento por causa das melhores cond ições de circulação de
ar, água e nutrientes. Em razão disso, em geral, o preparo reduz ido p ropicia maiores
produtividades na maioria das culturas do que os demais s is temas.
A erosividade das chuvas varia em sua magnitude ao longo do tempo no mesmo local
e no mesmo tempo de um local para outro, o que interfere na erosão hídrica do so lo. Em
razão disso, o fator C sofre a influência da variação temporal e da espacial do E .
Durante o ciclo de uma cultura qualquer, o fator C s ofre a influência da cober tura
do solo pela copa das plantas, da cobertura do solo pela biomassa vegetal (se hou ver), d a
rugosidade do solo e, ainda, da erosividade da chuva, entre outros fa tores. Portanto, o
fator C deve ser calculado considerando os diferentes estádios durante o ciclo da cul tura,
conforme recomendado em Wischmeier e Smith (1978). Assim, o fa tor C da U SLE é
calculado por meio do produto da razão de perda de solo (RPS) e da fra ção do EIJO (FE1:J,
pela seguinte equação:

e = RPS x FEI30 (Eq. 10)


A RPS é dada pela relação entre a perda de solo ocorrida numa condição de manejo
e cultivo particular e a perda de solo ocorrida na condição d a parcela-padrão da U LE e,
assim, terá sempre um valor menor do que a unidade (essencialmente variará de O a l).
Tomando-se como base que a perda de solo na parcela-padrão sempre terá valor m á. irno
em relação ao de outros sistemas de manejo, qualquer condição d e m anejo diferente dela
reduzirá a perda de solo e, assim, a RPS.
A FE½o é dada pela porcentagem (transformada e m decimal) do EI an ual que
ocasionou a perda de solo no período considerado (seja no ciclo comple to d e :ma u lrura,
seja em um período específico dentro do ciclo de tal cultura). Des e m od o, a necessidade d e
utilização da FE130 no cálculo do fator C da USLE é e. plicada pelas a riabilidades e pa ia!
e te mporal da erosividade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


r

476 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Fator P - Práticas consen,acionistas de suporte


O fator P representa a razão de perda de solo ocorrida sob uma dada prática
conser acionista de suporte em relação à perda de solo ocorrida na condição da parcela-
padrão da USLE, segundo Wiscluneier e Smith (1978). As práticas conservacionistas de
suporte são complementares às práticas básicas. Na USLE, essas são representadas pelo
cultivo em contorno (subfator Pe), cultivo em faixas, em rotação de culturas e em contorno
(subfator PJ e terraceamento (subfator PT). No quadro 1 são apresentados os fatores PC'
Ps e PT para várias condições de declive, cujos dados são válidos apenas para sistemas de
manejo do solo envolvendo o preparo mecânico com arados e grades, denominados de
prepares convencionais, ou seja, os dados não são válidos quando a semeadura direta é
empregada.
Observando o quadro 1, percebe-se que o cultivo em con torno apresenta a sua máxima
eficácia na redução da erosão hídrica na faixa de declive entre 3 e 8 cm m-1, cujo fator P e
é de 0,50. Esse fator é válido para comprimento de declive limite de 122 m. Isso significa
que a eficácia da prática é de 50 % em relação ao cultivo morro a baixo. Observa-se que
a eficácia do cultivo em contorno depende do comprimento do declive, ou seja, a eficácia
máxima d e 50 % ocorre no comprimento máximo de 122 m, o que é explicado pelo fato
de que, na medida em que aumenta o comprimento da rampa, aumentam o volume e a
velocidade d a enxurrada, acarretando o rompimento das barreiras formadas pelas marcas
do preparo e pelo cultivo em contorno na superfície do solo.

Quadro 1. Fator práticas conservacionistas de suporte, P

Faixa de declividade do terreno, cm m -1


1- 2 3-5 6-8 9-12 13 - 16 17 - 18 21 - 25
Fator cultivo em contorno, Pe
Fator 0,60 0,50 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90
Comprimento rampa, m 122 92 61 37 24 18 15
Fator cultivo em faixas, P5
Fator para rotação A 0,30 0,25 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45
Fator para rotação B 0,45 0,38 0,38 0,45 0,52 0,60 0,68
Fator para rotação C 0,60 0,50 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90
Largura faixa, m 40 31 31 24 24 18 15
Comprimento rampa, m 244 183 122 73 49 37 31
Fator terraceamento, PT
Fator<1> 0,12 0,10 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18
Rotação A: quatro anos de rotaç.ã o, sendo dois anos de cultivo em linhas no verão e de cereais no inverno e dois anos de pastagem
cultivada; Rotação B: quatro anos de rotação, sendo três anos de cultivo em linhas no verão e de cereais no inverno e um ano de
p astagem cultivada; e Rotação C: apenas faixas alternadas de cultivo em 1.inhas no verão e de cereais no inverno. C•lVaJor para
terraço de drenagem.
Fonte: Wischmeier e Snúth (1978).

No cultivo em faixas com rotação de culturas, a eficácia da prática é máxima também


na declividade entre 3 e 8 cm m-1, dependente também do tipo de rotação de culturas.
Assim, a máxima eficácia, com fator Ps de 0,25, ocorre quando a rotação é do tipo "A",
a melhor rotação, significando que a sua eficácia é de 75 % na redução da erosão hídrica

M AN EJ O E C ON SERVAÇÃO D O SOLO E DA ÁG UA
XV - M ODEL/\GEM E M ODELOS UTILIZADOS PARA E STIMAR A EROSÃO DO SOLO 477

e m re lação à a usência de rotação e cu ltivo m contorno. P,ira a rotação do ti po " 13", a


inte rmediária, a eficácia máxima da prática é d 62 %, com um fat r P" d 0,38. Já pa rêl
a rotação do tipo C, a pior, a eficácia máx ima - d e apenas 50 nh, com fator P~ de 0, - o.
Nesse caso, sig nifica qu e rotação C é mu ito s imples e não acre centa nenhum benefício na
redução da erosão em relação àq uele dado pelo culti vo em conto rn o, isolado. Além disso,
a eficácia da prática é má xima para de terminado comprimento de ra m pa q ue, no caso, · d
244 m , mesmo se a declividade situar-se entre 3 e 8 cm m·1, A la rgura da fai xa de trabalho
é dependente da largura das máquinas/ eq uipa me ntos usado nas lavourJs d urante a
operações de manejo e culti vo do solo.
Assim, normalmente, a largura da faixa é estabelecida como um múltiplo da lar ura
da máquina/equipamento usada. Uma rotação temporal do tipo A seria, por exemplo,
composta pelo cultivo de ervílhaca, seguid a de milho, de nabo forrageiro, de feijão, de
aveia e de soja. Já a do tipo B seria constituída pelo cultivo de a veia, segu ida de soja, sendo
esta cultura seguida de azevém anual para pas tejo e, o azevém, seguido do culti vo de
feijão. Uma rotação do tipo C seria compos ta po r u m a s ucessão simples de duas culturas,
como a s ucessão de nabo forrageiro e fe ijão.
Para o terraceamento, a eficácia da prá tica e m reduzir a erosão hídrica depende única
e exclusivamente da declividade. Assim, a eficácia máxima da prá tica, no caso de terraços
de drenagem, é de 90 %, com o fator PT apresentando o valo r de 0,10, para declividade
entre 3 e 8 cm m·1• No caso de terraços de absorção, evidentemente a eficácia da prática
pode chegar a 100 %, com fator igual a zero, pelo fato de esse tipo de terraço annazenar
todo o solo e a água no seu canal, evitando perdas para fora da la vo ura. A eficácia do
terraceamento na redução da erosão não depende do comprimento da rampa, como no
caso dos demais fatores (Pe e P5), porque o terraço, por s i só, define o comprimento da
rampa.

Obtenção dos parâmetros para a versão RUSLE do modelo


Os ajustes que devem ser feitos nos parà metros R, K, LS, C e P para a condições
específicas de aplicação da versão RUSLE tomam mais complexo o p rocessamento
computacional dos dados. Assim, para aplicar o modelo nessa versão é preciso u ar o
programa desenvolvido exclusivamente para a RUSLE.

Fator R - Erosividade da chuva e enxurrada associada à chuva

A equação funda mental utilizada na RUSLE para o cálculo da e nergia cinética unitária
para cada mm de chuva, segundo Brown e Foster (1987), constante e m Renard et al. (1997),
é a seguinte:

Ec (mm) = O' 29 [1 - O' 72 e·0-05 •] ' (Eq. 11)

em que Ec (mml é a energia cinética para cada mm de chu a, lJ ha·1 mnY 1; e ia intensidade
no segmento uniforme da chuva, mm 1Y 1•
O fator R final na versão RUSLE é obtido do mesmo modo com o na e r ão U LE ou
seja, pelo produto da energia cinética total e da intensidade m áxima em ...,O min, result~do
no E1.w como demonsh·ado na equação 3. o cálculo da energia cinética unitária para um

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


...
478 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

mm de chuva, a equação 11 é analiticamente superior à equação 2, pois, segundo Brown


e Foster (1987), apresenta um valor finito positivo para uma intensidade de chuva igual a
zero, apro 'imando-se de uma função contínua assintótica para altos valores de intensidade
de chuva. Portanto, a energia cinética unitária calculada pela equação 10 não tem limite de
valor, como ocorre com a equação 2, em que, para segmentos de chuva com intensidade
maior do que 76 mm IY1, o valor de Ec é constante e igual a 0,2832 MJ ha·1 mm·1 , o que
. ~~
a1uda a tomar mais clara a diferença entre as duas equações.
Na RUSLE, o valor do fator de erosividade da chuva calculado pode ser ajustado
para várias condições locais e específicas, diferentemente do que ocorre com esse fator
avaliado para a USLE. A condição mais importante que justifica o ajuste desse fator para as
condições brasileiras é aquela relacionada com a declividade do terreno, quando o manejo
do solo é feito utilizando preparo mecânico, como é o caso de arados e grades.

Ajuste do fator R para a condição de declividade< 4 cm m· 1

Segundo Mutchler (1970), assume-se que, em declividades baixas no terreno


(< 4 cm m·1 ), a lâmina de água da chuva que se acumula na superfície do solo é
suficientemente espessa para proteger o solo do impacto das gotas de chuva, em condições
de solo descoberto.
Assim, para valores de E½o obtidos de chuvas de período de retorno de 10 anos, a
seguinte equação é proposta para ajustar o valor do fator R para declividades menores do
4 cm m·1, segundo modificações no procedimento de Mutchler (1970) feitas por Mutchler
e Murphree (1985):
R = e--0,49 (y-tl (Eq. 12)
e

em que Rc é o fator de erosividade da chuva ajustado, MJ mm ha·1 h·1; e y a razão de


profundidade do fluxo de água sobre o solo, adirnensional.
A equação 12 pode ser resolvida por leitura direta na figura 3 (Renard et al. (1997), que
permite ajustar os valores do fator R para declividades variando de 0,2 a 4,0 cm rn·1 .

Fator K - Erodibilidade do solo


A deternúnação do fator K na RUSLE pode também ser feita experimentalmente do
mesmo modo como na USLE. No entanto, na RUSLE, diferentemente da USLE, admite-se
que esse fator varia com a presença de fragmentos de rocha ou cascalho no solo, além de
considerar ainda a estação do ano (Renard et al., 1997) e os atributos físicos, químicos e
mineralógicos do ssolo, do mesmo modo como considerado na USLE. Assim, fatores de
ajuste foram criados na versão RUSLE, que são multiplicados pelo fator K discriminado
como na versão USLE para adequar o fator K à versão RUSLE, como a seguir descrito.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MOD ELA GE M E MOD ELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 4 79

0,9 - ------
'1
1
1
1
1
1
1

0,8- -------~--
o
Iro ' 3,0%
u,
ro
u
;.::l
2,0%
·.e:o.. O7 - -------}-------
, 1 1

'3 1
1
1
1

.8~ 0,6- -------~------~----


1 1

ro Declividade
J:i..
entre
0,2 % a 4,0 %
O5- -------r------r------r----
, 1 1 1
1----
1
1 1 1 1
1 1 1 1 1
1 1 1
1
1
1
1
1
1

0,4-hr-r-T.....-+-r-r-r.....-+-
' rrT.....-+-m,-;--.,.....,..,rri--.r'r-ri-,-,--T""TÍ""T"T""'\"""'T""7
o 50 100 150 200 250 300 350 400
EI:., para chuvas com período de retomo de 10 anos

Figura 3. Gráfico extraído de Renard et al. (1997) para ajuste do fator R para condição de baixa
declividade do terreno.

A influência de cascalho no fator K baseia-se no fato de que e e influencia a


condutividade hidráulica saturada do solo. Assim, segundo Ounn e Mehu_ s (198-l), quanto
maior a proporção de cascalho no solo, menor a sua condu tividade hidráulica aturada, o
que pode ser representado pela seguinte equação:

(Eq. 13)

em que Kb é a condutividade hidráulica saturada do solo com a presença de ca alh ,


cm h·1; Kr a condutividade hidráulica saturada da fração fina do solo (< 2 mm), cm h·1; e R,
a proporção, em volume, de cascalho presente no solo, %.
Brakensiek et ai. (1986) demonstraram que a predição do alor de Kb pode er feita
com a mesma segurança expressando a proporção de cascalho em base de ma sa, podendo-
se reescrever a equação 13 do seguinte modo:

(Eq. 1-!)
em q ue R"' é a proporção, em massa, de cascalho presente no olo, ºti.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


...
480 lLDEGARDIS BERTOL ET Al.

A variação sazonal do fator K, admitida na versão RUSLE, baseia-se na modificação


também sazonal do teor de água no solo, o que, é certo, influencia fortemente a erosão
lúdrica do solo. Assim, Mutchler e Carte (1983), nos EUA, e Zanchi (1983), na Itália,
demonstraram, independentemente e simultaneamente, a variação sazonal do fator K, o
que pode ser representada pela seguinte equação básica:

Kr = 1 + a cos(bt-c) (Eq. 15)

em que Kr é a razão entre o valor do fator K sazonal (pode ser mensal) e do fator K médio
anual.
Uma série de equações é apresentada em Renard et al. (1997), contemplando diferentes
condições de clima, com vistas a ajustar o fator K com base nas variações sazonais de
temperatura e teor de água no solo.

Fator L - Comprimento do declive


A equação básica utilizada para calcular o fator L na versão RUSLE do modelo é a
mesma da versão USLE (equação 7), conforme consta em Renard et al. (1997). No entanto,
o valor do expoente m dessa equação não é limitado a 0,5 para declividades iguais ou
maiores do que 5 cm m·1, na RUSLE, como é o caso para a USLE, mas calculado pela
seguinte equação (algoritmo), desenvolvida por Poster et al. (1977):

m = P/(l+p) (Eq. 16)


em que p é a razão entre erosão em sulcos e erosão em entressulcos, portanto variável
conforme a resistência do solo ao sulcarnento. O valor de p, por sua vez, é calculado pela
seguinte equação, sugerida por McCool et al. (1989):
p = (sen0 / 0,0896) / [3(sen0)º,s + 0,56] (Eq. 17)
em que 0 é o ângulo do declive.

Fator S - Declividade do terreno


Para declividades com comprimentos de declive maiores do que 4,6 m (15 pés),
McCool et al. (1987) sugeriram as seguintes equações para o cálculo do fator S na RUSLE:

S = 10,8 sen0 + 0,03 para declividades < 9 cm m·1 e (Eq. 18)


S = 16,8 sen0 - 0,50 para declividades ~ 9 cm m·1 (Eq. 19)
em que 8 é o ângulo do declive.

Para declividades com comprimentos de declive menores do que 4,6 m (15 pés),
McCool et al. (1987) sugeriram a seguinte equação para o cálculo do fator S, considerando
que a erosão em sulcos é insignificante nessas condições:
S = 3 (sen0)º'ª + 0,56 (Eq. 20)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - M ODELAGEM E M ODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 481

As equações vistas até o momento para estimar o va lo r do fator LS fequaçã~ . para


a USLE e a combinação da eq uação 7 (fator L com O valor do expo nte m mod1f1ec1do)
com as eq uações 16 e '17 (fator L) e 18 a 20 (fator S) para a RUSLE] são v lidas somente
pa ra declividade uniforme. Porta nto, estas eq uélções ser vem para estimar a perda de solo
nessas condições. Para declividade não uniforme, tanto convexa q uanto côncava, para
ambos os mod elos, Foster e Wischmeier (1974) s ugeri ram uma equação/ a lgoritmo que
permüe estimar a fração de perda de solo e m cada segmento d um declive não uniforme.
Nesse caso, assume-se que os segmentos sejam de mesmo comprimento entr i, e que c1
declividade seja uniforme dentro de cada um desses segmentos. A equação/ a lgoritmo~ a
seguinte:
(Eq. 21)

em que FPS é a fração de perda de solo estimada no segmento de decli ve; i o número de
ordem do segmento de declive; mo expoente da equação que calcula o fator L variável
com a declividade; e N o número total de segmentos de igual comprimento em que o
declive foi dividido.
Com a FPS assim determinada em cada segmento de um declive, é possível melhorar
a estimativa de perda de solo num declive não uniforme em relação à estimativa feita,
considerando a declividade média desse declive.

Fator C - Cobertura e manejo do solo


A obtenção dos dados e a computação dos valores desses dados para estimar cada
um dos subfatores do fator C na versão RUSLE do modelo eguem um procedimento
experimental diferente daquele da USLE, segundo Renard et ai. (1997).
No caso da versão RUSLE do modelo, a razão de perda de olo é computada pelo
produto dos fatores que influenciam a erosão durante o ciclo de uma cu ltura, representada
pela seguinte equação, conforme Laflen et al. (1985):

SLR = PLU CC se SR SM (Eq. ?'?)

em que SLR = "soil loss ration" é a razão de perda de solo; PL U = " p rior land use ubfacto r''
o subfator uso anterior do solo; CC = "cannopy cover subfactor" o subfator cobertura do
solo pela copa; SC = "surface-cover subfactor" o subfator cobertura superficial do solo; R
= "surface roughness subfactor" o subfator rugosidade superficial do solo; e S l = ''soil
moish.ue subfactor" o subfator umidade do solo.
O subfator uso anterior do solo (PLU) é computado pela seguinte equação, de acordo
com Renard et al. (1997):
PLU = C1Cbe[(- cu, Bu,) + (cll5 BU5 / CtJ ] (Eq. 23)

em que PLU varia de zero a um; Cré o fator consolidação da superfície do solo; C a eficá ·ia
re la tiva da biomassa vegetal residual na consolidação do solo; Bw a raízes v iva~ e mortas
na camada de 2,5 cm da superfície do solo, kg ha·1 2,5 cm·1; B.... a biomassa egetal residual
incorporada na camada de 2,5 cm da superfície do solo, kg ha-1 2,5 cm·1; e ,· 0 impa to
da consolidação do solo na eficácia das biomassas residu ais incorporada --
coeficientes de calibração.
'
r:ur
e e os
~

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


..
482 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

O subfator cobertura do solo pela copa das plantas (CC) é computado pela seguinte
equação, de acordo com Renard et aJ. (1997):

CC = 1 - Fe e--0·1 H (Eq. 24)

em que CC varia de zero a um; Fc é a fração da superfície do solo coberta pela copa das
plantas; e H a distância de queda das gotas de chuva após serem interceptadas pela copa, m.
O subfator cobertura superficial do solo (SC) é computado pela seguinte equação, de
acordo com Renard et al. (1997):
se= e[- b sp (0,24 / RJDἻ] (Eq. 25)

em que b é o coeficiente de ajuste, empírico; S a área coberta pela biomassa vegetal residual,
%; Rua rugosidade da superfície do solo, cri1; e 0,24 o vaJor (polegada) de rugosidade da
superfície do solo numa condição de superfície quase lisa, equivalente a 0,6 cm (condição
igual à da parcela-padrão em que o valor do fator rugosidade é igual 1 - unidade), cm.
A cobertura da superfície do solo relaciona-se exponencialmente com a biomassa
vegetal residual, podendo essa relação ser expressa pela seguinte equação:
SP = [1 - e-a Bs)] 100 (Eq. 26)

em que a. é a razão entre a área coberta por uma peça de biomassa residual e a massa da peça
dessa biomassa residual; e Bs a biomassa vegetal residual na superfície do solo, kg ha-1 •
O subfator rugosidade superficial do solo (SR) é computado pela seguinte equação,
de acordo com Onstad et al. (1984):

Ru = 0,24 + [Dr {Ri - 0,24)] (Eq. 27)


em que Ru é a rugosidade da superfície do solo resultante de um preparo, cm; Dr o coeficiente
de decaimento temporal da rugosidade superficial, adimensional; e R; a rugosidade da
superfície do solo antes de uma operação de preparo, cm.
O coeficiente de decaimento temporal da rugosidade superficial do solo é uma função
da erosividade da chuva e, assim, pode ser descrito pela seguinte equação:
Dr = el½ <· 0,14 PJ+ ½ (· 0,012 EI.,.JJ (Eq. 28)
em que P 1 é a precipitação total, mm; e El30 a erosividade da chuva desde a realização da
operação de preparo, MJ mm ha·1 h-1•
A rugosidade superficial do solo também é influenciada pela biomassa vegetaJ
residual existente no solo. Assim, esse efeito é descrito pela seguinte equação:
R
3
= 0,24 + (R1 - 0,24) {0,8[1- e (·O,OOl 28ul] + 0,2} (Eq. 29)
em que Ra é a rugosidade superficial após o ajustamento para a biomassa, cm; Rt a
rugosidade superficial resultante apenas do preparo do solo, cm; e Bu a biomassa vegetaJ
residual superficial do solo, kg ha·1 cm·1•
Subfator umidade do solo (SM): Em relação ao efeito do teor de água no solo
antecedente à chuva, não há equações para serem usadas na versão RUSLE. Sabe-se que
essa variável tem um substancial efeito na infiltração de água no solo, no escoamento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MOD ELAGE M E MODELOS UTI LIZADOS PARA EsTrMAR A EROSÃO DO SOLO 483

s upe rficia l e, co mo consequ ência, na erosão hídrirn, principalmente na modelagem de


c hu vas individuais. Na RUSLE, esse efeito é cons iderado na erodibíl idad do solo ao lon o
do a no (Renard et a 1., 1997).
A computação final do fator C na ve rsão RUSLE do mod lo segue a s guinte eq uação
geral, conforme Renard et ai. (1997):

C = ((SLR 11 EI3011 ) + (SLR ii EIJ(J; 2) + ... + (SLR ,n El10IJ] / El11l! (Eq. 30)

em que C é o valor do fator C médio anual ou m éd io de um cu ltivo; SLR i o va lor da razão


de perda de solo para o período de tempo i, send o i = 1, 2, ... n; EI,I) ia percentagem do valo r
anual do El30 no período de tempo i, sendo i = 1, 2, ... n; no número de p ríodos de empo;
e to total anual ou relativo ao período de um cultivo.
A RUSLE considera a importância de duas va ri áveí climáticas, a temperatu ra e o teor
de água no solo, como influentes no fator C, em razão da s ua re lação co m a decomposição
de biomassa vegetal residual, tanto na superfície do solo q uanto abaixo dela. Assim, ·
proposto um algoritmo que permite calcular valores das variáveis temperatura e teor d
água no solo para cada período de meio mês, com base na influencia des as variávei
constantes no mês anterior e posterior ao m ês para o qual se q uer modelar a decompo ição
da biomassa.
Para a temperatura, os algoritmos propostos em Renard e t al. (1997) são os q u e seguem:

P1 = 2M{[0,75(M-1) + 0,25(M+1)] / [(M-1) + (M+l)]} (Eq. 1)


P2 = 2M{[0,25(M-1) + 0,75(M+1)] / [(M-1) + (M+1)]} (Eq. 32)

A temperatura média mensal é resultante da m édia dos valores dos dois período , P1 e P::-
Para o teor de água no solo, os algoritmos propostos são os q ue seguem:

P 1 = M{[0,75(M-1) + 0,25(M+1)] / [(M-1) + (M+l)]} (Eq. 33)


P2 = M{[0,25(M-1) + 0,75(M+1)] / [(M-1) + ( 1+1)]} (Eq. >-1)

O teor médio de água no solo é resultante da soma dos valores do dois períodos, P1 e P~.
P 1 e P 2 são valores calculados das variáveis temperatura e água no solo, respectivamen te
para o primeiro e segundo período de meio mês, no mês de referê ncia.
M, (M-1) e (M+l) são valores mensais de temperatura e de águ a no solo, respecti a mente
para o mês de interesse, para o mês anterior ao de interesse e para o mês s u b · equente ao
de interesse.

A temperatura e o teor de água no solo, sendo esta última influenciada pela


precipitação, determinam a taxa de decomposição da biomassa egetal residual no olo,
que varia temporalmente, de acordo com Stott et al. (1990), e pode e r estim ada pela
seguinte equação:

M e = M b e·• 0 (Eq. 35)


e~ q ue M. é_a bioma~sa ~esidual ~o final de determinado período de tempo, t ha·1 ; l ~a
biomassa residual no inic10 do penado de tempo, t h a- 1; e D o período de tempo, d .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


484 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

A constante a depende de um coeficiente, p, que representa as características da


biomassa egetal residual que, juntamente com a precipitação (W) e temperatura (F),
determinam a resistência da biomassa vegetal à decomposição. O efeito da precipitação na
decomposição da biomassa vegetal residual é representado pela seguinte equação:

(Eq. 36)

em que R é o volume de chuva num período de meio mês, mm; e R0 o volume de chuva
ótimo para a decomposição da biomassa num período de meio mês, mm.
O efeito da temperatura (F) na decomposição da biomassa vegetal residual é
representado pela seguinte equação:

(Eq. 37)

em que Tª é a temperatura média num período de meio mês, ºF; TOa temperatura ótima para
decomposição da biomassa num período de meio mês, ºF; e A o coeficiente que representa o
decaimento da biomassa vegetal residual durante a decomposição (exponencial ou linear),
pela ação da temperatura.
Considerando que o valor de razão de perda de solo (SLR) é computado para um
período de meio mês, tal valor é calculado para um nível médio de biomassa vegetal
residual durante aquele período, pela seguinte equação, de acordo com Renard et al. (1997):

(Eq. 38)
em que Mª é o valor médio de biomassa vegetal residual durante o período de tempo,
t ha·1; e a o coeficiente que representa o decaimento da biomassa vegetal residual durante
a decomposição.

Fator P - Práticas conservacionistas de suporte


Para a versão RUSLE do modelo, são estabelecidos três tipos de práticas
conservacion.istas de suporte, cultivo em contorno (subfator P e), cultivo em faixas com
rotação de culturas e em contorno (subfator PJ e terraceamento (subfator PT), que geram
subfatores que, multiplicados entre si, resultam no fator P à semelhança da USLE (Renard
et al., 1997). A descrição feita a seguir com relação aos subfatores P e' P5 e PT leva em conta
as considerações contidas em Renard et al. (1997), incluindo todas as tabelas e figuras
constantes no Agricultura[ Handbook nº 703.

Subfator cultivo em contorno (P)


o cultivo em contorno significa realizar toda e qualquer operação de manejo do
solo em contorno no declive e tem grande influência na redução da erosão, conforme
Moldenhauer e Wischmeier (1960). Essas operações podem ser de intensidade variável, o
que influencia a altura dos diques e a ?r_ofundidade dos sukos delas resultantes, refletindo
na resistência temporal do solo à eros1v1dade das chuvas. Por sua vez, o contorno pode ser
realizado em nível ou em gradiente.
Os valores para o subfator Pc na versão RUSLE são computados, levando-se em conta
os efeitos de altura dos diques resultantes de operações de p reparo mecânico do solo,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - M OD ELAGEM E M ODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO S O LO 4 85

d e erosividade das chuvas e de grad iente a plicado q uando e efetua ~ma operaç_ã o em
co ntorno no terreno. Assim, 0 subfator Pc res ulta da interação desses efeitos de ermmados
ex perimenta lmente. A seguir, é descrita a fo rma como são dete rmi nados os efeitos dessas
va riáveis no subfator Pc.
- O efeito de altura dos diques no subfator Pc é descri to pelas segu intes equações, de
acordo com Van Doren et ai. (1950):

pi, = a (sm- s)b + p mb' para S, < Sm (Eq. 39)

pb = C (s, - Sm)d + pmb' para S, ~ Sm (Eq. 40)


Pb = 1, par a s ~ s (Eq . 41 )
e "

em que Pb é o valor base para o subfator Pc, corrigido pa ra o efei to de altu ra dos diques;
sm o seno do ângulo do declive onde o contorno tem seu maior efeito; , o seno do àngulo
do declive para o qual o v alor de Pb está sendo selecionado; se o seno do â ngu lo do declive
acima do qual o contorno é ineficiente·' Pmb o valor minimo de Pc para u ma dada altura de
dique com uma condição básica; e a, b, c, d são coeficientes em píricos q ue ta m bém variam
com a altura do dique.
- O efeito de erosividade das chuvas no subfator Pc é descrito pela seguin te equação,
de acordo com Moldenhauer e Wischrneier (1960) e Jasa et al. (1986):

Pe = 1 - [(1 - P b) (1 - Pm)] / (1 - P mtJ (Eq. 42)

em que Pe é o subfator Pc, corrigido para o efeito de eros ividade da chuv a; e P m o valor
mínimo do subfator Pc dependente da quantidade de enxurrada, numa dada condição de
manejo do solo submetida a uma chuva de 10 anos de período de retomo, com erosividade
de 10 MJ mm ha·1 h·1. Nesse caso, o volume de enxurrada é estimado pelo mé todo da Curva
Número (Mishra e Singh, 2003), a partir de um volume de chuva aval iado com base na
erosividade, segundo a equação a seguir, de acordo com Foster et al. (1980):

Vr = O255 [(EI30)10]º·662
1 (Eq. 43)
em que V, é a quantidade de chuva, mm.
- O efeito de gradiente no subfator Pc é descrito pela seguinte equação, de acordo com
McGregor et al. (1969) e Meyer e Harmon (1985):

(Eq. 44)
em que Ps é o subfator Pc para o contorno realizado em nível, corrigido para o efeito de
gradiente; P 0 o subfator Pc para o contorno efetuado em grad ien te; s 1 o seno do ângulo do
declive do gracliente ao longo do sulco; e s1 o seno do ângulo do declive da declividade do
terreno.
A eficácia do cultivo em contorno diminui ao longo do declive, de acord o com
Wischrneier e Smith (1978), dependendo da cobertura do solo pela biomassa vegeta l
residual. Foster et al. (1982) observaram que há um comprimento crítico de decli e, a partir
d o q ual o contorno perde eficácia no controle da erosão. Esse limite de comprimento de
d eclive para completa eficácia do cultivo em contorno no con trole da ero ão é dependente
d a rugosidade hidráulica da superfície, d a declividad e do terren o e da q uantidade de
enxurrada, sendo expresso pela seguinte equação, segundo Foster et al. (1982):

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


486 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

(Eq . 45)

em que 'e ~
o comprimento crítico de declive, m; nt o coeficiente de ru gosidade hidráulica
de Marn1ing; S o seno do ângulo do declive; Q a quantidade de enxurrada obtida por
meio da Curva úmero, mm; e 20 182 o valor obtido da calibração: comprimento 61 m ,
declividade 7 cm nY1, diques moderadamente aJtos, cultivo em fileiras em condição de
preparo convencional, grupo hidrológico de solo C e EI de 10 anos de período de retorno
.
1gua1a 1o M] nun ha-1 }yl. 30

Subfator cultivo em faixas com rotação de culturas e em contorno (P 5)

O efeito do cultivo em faixas, com rotação de cuJtmas em contorno no declive, baseia-se


na capacidade que as diferentes plantas apresentam para filtrar sedimentos em suspensão no
fluxo. Portanto, esse efeito é dependente do tipo, da densidade e do estádio de crescimento
das plantas, bem como da presença de biomassa vegetaJ residuaJ e da rugosidade na
superfície do solo, podendo ser expresso pela seguinte equação geral, proposta por Renard e
Foster (1983) e Flanagan et aJ. (1989), conforme consta em Renard et al. (1997):

Ps = (a
Op
- B) / Op
a (Eq. 46)
em que Ps é o valor para o subfator P5; g a carga de sedimentos na enxurrada ao final
declive se a faixa permite a deposição de s;dimentos dentro dela, kg m·3; e B a quantidade
de sedimentos depositados dentro da faixa, que é considerada benéfica para o solo no
longo prazo, kg.
Quatro casos são considerados para o efeito do cultivo em faixas na redução da
erosão, cada um deles com urna sequência de equações específicas, que não serão aqui
apresentadas, pois constam em Renard et al. (1997). São esses:
1° caso - Erosão ocorre em aJgurn lugar ao longo do declive. Isso é possível quando
a taxa de aumento da capacidade de transporte do fluxo é maior do que a de aumento da
desagregação de sedimentos ao longo da faixa.
2º caso - Deposição ocorre em algum lugar ao longo da faixa. A deposição acontece na
borda superior da faixa se a capacidade de transporte de sedimentos pelo fluxo é menor do
que a carga de sedimentos contidos no fluxo na borda superior da faixa.
3º caso - Ambas, deposição e erosão, ocorrem dentro da faixa. Quando a carga de
sedimentos que entra na borda superior da faixa é maior do que a capacidade de transporte
do fluxo nesse local da faixa, a deposição ocorre. A deposição deixa de existir dentro da
faixa quando a capacidade de transporte volta a superar a carga de sedimentos.
4° caso - A enxurrada é consumida dentro da faixa. Algumas vezes, a diferença de
infiltração de água no solo é tão grande entre faixas que toda a enxurrada de um declive
superior é infiltrada no solo dentro de uma faixa situada abaixo onde o solo apresenta alta
taxa de infiltração. Nesse caso, nenhuma enxurrada ou sedimentos deixam essa faixa.

Subfator terraceamento (PT)

Sabidamente, o terraço agrícola é a mais eficaz prática conservacionista de suporte,


em razão d a sua capacidade de armazenar água e sedimentos no canal e reduzir o

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGE M E MOD ELOS UTTLIZADOS PARA ESTIMAR A ErwsÃO DO SOLO 487

comprimento cio decli ve e, com isso, diminuir O volume e c1 velocici.Jd' da enxurrada nos
interva los en tre os terraços. No enlanto, ec.sa cfi céÍ i;i varie! se o lerrt1ço · em níve l ou e m
gradiente, conforme consl;, ern Renard e t t1 I. (1997). Asc. im, é possíve l computa r o efeit o
do g radiente do terraço na perda ele solo, por meio da seguinte cquaç.Jo, segund o Foster e
Ferreira (1981):
Py =01e
,
2· 1 ' para s <9cmm '
,
(Eq. 47)
(Eq. ➔~ )
em que P" é o fator para saída de sedime ntos do ca nal do terrêlço; e s a d ecli vidade no ca n.1I
do terraço, cm m·'.
O subfator Pr para o planejamento conservacionis ta é, cntJo. computado peb equaç,10
seguinte:

PT = 1 - B(-1 - PV)

e m que B é a constan te que representa o benefício, pma o solo, da deposiç,10 de . ediment05


que ocorre em decorrência da adoção dos terrnços; e 1-P" a quantidade de ·edimentos
d epositados em algum lugélr na superfície em decorrência da adoção dos terraços, kg.

O Modelo WEPP
O modelo WEPP (Flanaga n e Neming, 1995) é cons tituído por um pacote de pro~ama
computacionais para a simulação de erosão. O pc1cote de programa perm ite, de forma
contínua e em ordem cronológica, predizer a quantidade de solo perd jdo ou depositado
numa encosta ou pendente. Assi m, simula a erosão hídrica decorrente de um evento
individual ou de vários eventos de chu va que ocorrem continuamente, endo c<1paz de
estimar tanto a erosão quélnto a deposição de solo na área. O WEPP é com base no fatore.
que interferem na erosão, relacionados com. os processos inerente ao fenó meno, que
são comandados, em regra, pelos atributos físicos do solo, pelo cresci mento das planta. ,
pela infiltração de água no solo e pelas caracterís ticas hidráulicas do e coamento. E· tc
modelo também considera os efeitos das mudanças de uso do solo na erosão e modela a
variabilidades espacial e temporal dos fa tores que acometem os proce os hidrológico e
as fases da erosão que ocorrem em uma encosta.
Além da componente de erosão, no WEPP també m e tá incluída a componente
climática, que usa um programa gerador de informações climáticas diárias; a componente
hidrológica, que é com base na eq uação de Green-Ampt modificada por l 1ein e LMson
para predizer a infiltração de água no solo. Utiliza-se de soluçõe- das equaçõe de ondas
c inemá ticas; a componente do balanço h ídrico diário; a componente do crescimento de
pla ntas e decomposição de biomassa vege tal residual; e a componente irrigaçã .
O WEPP calcula a d istribuição espacial e a temporal da de agregação de s lo e ua
deposição, além de estimar quando e onde, numa determinada bacia ou encosta, esta
ocorrendo erosão, o que possibilita adoção de medidas locais de conservação do I para
controlar a produção de sedimentos.
Para os dados climáticos diários que geralmente não estão dispo nívei , 0 \.VEPP utili z..1
o módulo gerador climático estocástico (CLIGEN). Para executar o CLI E , é ne -es · ário
fornecer o valor dos parâmeh·os que descrevem a condições climáticas locai : precipit.:i -ão

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


.....
488 lLDEGARDIS B ERT OL ET AL.

men al d e ento; probabilidade mensal d dias com ocorrência de chu va após di as com
chu va e de dia em chu va ap s dias com chuva; média e desvio-padrão de temperatura
má 'ima e mínima men al; media e desvio-padrão de radiação solar m nsal; média mensal
da intensidade de pr cipitação máxima em 30 min; média mensal da temperatura do ponto
de orvalho; e di tribuição estatística do tempo decorrido enh·e o ilúcio e o pico do evento
de chuva de inten idade n1áxima.
1o \ EPP, as condições de sulcamento da superfície do solo encontram-se no Su1face
l111po1111d111e11t Ele111e11t (WEPPSIE) (Foster e Lane, 1987). Para determinar o impacto do
e coamento concentrado nos sulcos no transporte de sedimentos, o usuário necessita
identificar as seguintes ilúormações: ponto máximo do fluxo e do volume; ponto máximo
da concentração de sedimentos na enxurrada e total de sedimentos produzidos; e tempo
de enchimento dos sulcos com sedimentos.

Estimativa dos atributos físicos do solo


Esta estimativa é feita determinando-se os valores dos atributos físicos do solo, que
devem ser medidos em experimentos realizados em laboratório e em campo. Os valores
dos atributos devem ser ajustados de acordo com as características físicas da área (bacia
hidrográfica, por exemplo) e do solo, para diversos eventos de chuva. Devem ser utilizados
todos os dados de erosão obtidos em campo e realizadas simulações fixando o valor da
condutividade hidráulica saturada. Uma vez encontrados esses valores, esses são mantidos
fixos para todas as outras situações de estudo no mesmo local.
A saturação do solo inicial é definida como a relação do conteúdo de água, em termos
volumétricos, inicial por unidade do volume de solo e a porosidade do solo. O WEPP
não considera a distribuição de água no solo, nem mesmo suas redistribuições espacial
e temporal. Mesmo assim, o valor de saturação inicial do solo deve ser determinado por
calibração, para cada evento, ajustando-o até que o volume escoado calculado se iguale
ao volume escoado observado. A erodibilidade do solo nas áreas de entressulcos deve
ser definida de modo semelhante. Essa influencia a erosão que ocorre no período entre
o início da chuva e o tempo de empoçarnento. A erodibilidade do solo nas áreas dos
sulcos também varia de um evento de chuva para outro, pois a tensão de cisalharnento da
água nos sulcos depende da condição de turbulência do fluxo, que varia de acordo com
o número de Reynolds. O valor desse atributo para os sulcos é calibrado também para
cada evento de chuva, para minimizar a diferença entre o valor da erosão calculada e o da
erosão observada.

Equação para predição de infiltração de água no solo


O modelo WEPP utiJjza a equação de Green e Ampt (1911), a seguir descrita, para
estimar a infiltração de água no solo.

(Eq. 50)

em que J é a taxa de infiltração de água no solo, mm h·1; K ' a condutividade hldráulica


saturada, mm h·1I; s, o fator sucção-armazenamento, adimensiona l, valor tabelado; e Vc a
altura de água infiltrada no solo após o tempo de encharcamento, mm.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - M ODELAGE M E MODELO S UTILIZADOS PARA E STC MAR A EROSÃO DO S OLO 489

Equação para predição de erosão


Fos ter (1982) propôs as seg uintes equ éJçôes fundamenta is, gera is, pard pred izt> r o
transporte de sedimentos po r erosão, que podem ser utilizad,1 no mode lo WEPP:

(õGs/ óx) = (Oi/ Of) (Eq. S l )

em que Gs é a ca rga de sed imentos por unid ad de tempo e es paço, kg m I s·'; x a dic;t,,ncia
m orro abaixo, m; Oi a ta xa de desagregação na região dos entressulcos, kg m " s '; e Of c1
taxa de desagregação na região dos sulcos, kg m·2 s·' .

Oi = Ki i2 Ce Ge (Rs/w) (Eq. 52)

em que Ki é a erodibil idade em entressulcos, kg s·' m-1; i a intens id élde efetivél di! chuvc1.
m s·1; Ce o efeito cobertura vege tal; Ge o efei to da cobertura supe rficia l; R o esp,1ç,1mento
e ntre s ulcos, m; e w a larg ura dos sulcos, m.

Of = Kr(1- 1c) f(l - (Gs/Tc) ] (Eq. 33)

e m que Kr é a erodibilidade no sulco, kg s·' m-1; 1 a te nsão cisalhante do escoamento,


kg m·' s·2; 1c a tensão crítica de cisa lha mento do so lo, kg s·' m-1; e Te a capacidade de
transporte d e sedimentos, kg m·' s·'.
Em caso de haver cond ições de deposição de sed imentos dentro dos sulco , o u eja,
quando Gs>Tc, a deposição será estimada pela seguin te equação:

(õGs/ 6x) = (B V/ q) (1c - G) (Eq. :>-i)

em que B é o coeficiente de turbulência do fluxo por causa do impacto das go tc1s de ch u va,
adimensional (valor considerado igua l a 0,5); V, a velocidade de sedimentação de partículas
d e d eterminado diâmetro no fluxo, m s· 1; e q a vazão unitária de enxurrada, m 1 s·'.

PROBLEMAS ATUAIS PARA UTILIZAR O IVIODELO NAS


VERSÕES USLE E RUSLE E O MODELO WEPP NO BRASIL

Para que o modelo em pírico nas versões USLE e RUSLE possa ser utilizado no Sra il,
pelo menos em cará ter prelim inar, fal ta sair da inércia. Para isso, basta iniciar, pois, como
ocorre com quase tudo o que se pretende concretizar na vida, tem de haver um começo.
Nesse caso, não importa muito o grau de satisfação a lcançado inicialmente, até qu o-
fatos se estabeleçam quanto à pesquisa realizada pelos poucos e dedicado pesquisadores
brasileiros em erosão do solo. Para encorajá-los, é nece sirio também o devido apoio dado
por parte dos próprios colegas que a tuam nos demais ran:os da ciência do lo. É precis ,
pois, que se adqui ra tal coragem e que se receba tal apoio. E oport uno lembrar q ue o - ramos
d a ciência do solo são, todos, igualmente importantes e, mais do que i o, interligados
em conteúdo. Assim, a recomendação é tra bal har conjuntamente, d e forma inte!!radc1, não
im portando quanto se venha a errill· ou acertar. Portanto, conclui--e que o · problem.:is
a tua is enfrentados para a modelagem d e perda de solo no Brélsil -Jo de várias ordens , c1
saber: 1) d eficiência de recursos humanos dev idamente capacitados para tal; 2) deficienciJ

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


490 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

de recursos fin an eiros, de e h·utura e de interesse para instala r e condu z ir ex p e rime ntos
de lo n ga dura ão; 3) fa lta de sincroni a e de sinergi mo entre indi vídu os e entre ins tituições,
no sentid o d maximi zar os po tenciais e a aplicação d e recursos e d e minimi zar os cus tos;
e 4) falta d e organi zação e sistemati zação dos dados de erosão hídrica e xis tentes, o que
poderi a er resolvido com a organização dos dados em um banco.

COMO PREDIZER A PERDA DE SOLO UTILIZANDO, POR


EXEMPLO, O MODELO NAS VERSÕES USLE E RUSLE

Tendo em vista a natureza empírica do modelo nas versões USLE e RUSLE, idealmente
é necessário que se disponha de dados locais. No entanto, sabe-se que raramente é possível
conseguir-se isso nas condições brasileiras.
a opinião de Hudson (1995), qualquer uma das versões desse modelo alcançaria
sucesso nos seus propósitos, onde as informações necessárias à computação dos valores
dos seus fatores fossem abundantes. No entanto, no Brasil, sabidamente essa abw1dância
de dados não existe. Por isso, manifesta-se que, talvez, o mais importante é como aplicar os
princípios básicos de tais modelos nos países onde a requerida vasta acumulação de dados
de pesquisa ainda não existe, mas que, com certa urgência, precisam de linhas-guia para
conseguir os mesmos objetivos pretendidos com. eles. Tais objetivos são os de predizer a
erosão lúdrica pluviaJ do solo em condições especificadas, para poder selecionar os sistemas
de manejo e as práticas conservacionistas que irão reduzir satisfatoriamente a perda de
solo por erosão. Finalizando, Hudson (1995) ressaltou que o importante é utilizar qualquer
informação de pesquisa em erosão que esteja disponível e, ao mesmo tempo, deixar espaço
para que o modelo possa ser melhorado na medida em que novas informações da pesquisa
surjam e sejam disponibilizadas.
Com base no exposto, julga-se que, para obter valores de R, K, L, S, C e P para as duas
versões, USLE e RUSLE, no Brasil, poderia se proceder da forma como a seguir descrita,
enquanto informações da pesquisa não estiverem dispo1úveis, de melhor qualidade e em
maior número.
Em relação ao fator R (erosividade da chuva) nos locais onde existam registros
pluviográficos, recomenda-se utilizar a tradicional equação de energia cinética da chuva
(equações 2 e 3, para a USLE, e equações 11 e 12, para a RUSLE) .
os locais onde existem somente registros pluviométricos, no entanto, recomenda-
se utilizar alguma outra equação, mesmo que simplificada, como aquela com base no
coeficiente de chuva "Cc" de Fournier (1960), por exemplo, que foi ajustada por Lombardi
eto (1977) para as chuvas do município de Campinas, SP, constante em Bertoni e
Lombardi Neto (1990).
É importante chamar a atenção, entretanto, que essas equações, do tipo Fournier e
outras, devem ser ajustadas para as chuvas de determinado locaJ e utilizadas unicamente
para aquele local, não sendo possível usar a mesma equação para outros locais.
Quanto ao fator K (erodibilidade do solo), alguns dados foram, já, diretamente obtidos
por m eio de experimentos de erosão com chuva natural e chuva simulada para alguns solos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGEM E MODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 491

brasileiro . Assim, nas si luações d solo com atributo ígu i ou semelh nte , re omend ~
se utili zar tais dados para a predição d , erosã hídrica. en tanto, par o los onde
esse fator ainda não foi experimenta lm nt d termínad , cujos olo di tinto do
que já têm valores do fator K discrimi nados, pocl -se btê-lo indiretamente, por meio o
nomograma de Wischmeier, reconhecendo as límüações des pr cedim nt de acord
com Wischmeier e Smith (1978). Também, pode ser alca nçado e m qualquer outra equaçà
e, ou, procedimento que tenha sido d e en volvido e comprovado par o olo brasil ir ,
como o trabalho de Denardin (1990).
No tocante aos fatores de relevo, L (comprimento do declive) eS (inclinação do declive),
seus valores podem ser obtidos, desde que em declividades uníform e dentro do limites
de comprimentos de declive estabelecidos, utilizando as relaçõ originais a ociadas ã
versão USLE do modelo, desenvolvidas por Wischme ier e Smüh (197 ). Tam m, podem
ser usadas as relações desenvolvidas no Brasil para o município de Campinas, SP, como
constam em Bertoni e Lombardi Neto (1990). Nas situações de declívidades irregulare e
também dentro dos limites de comprimentos de declive estabelecido , para cálculo do fotor
combinado LS, pode-se utilizar o procedimento descrito em Wi chmeier e Smith (197 ).
Alternativamente, pode-se utilizar também o recurso computacional disponível no
software da versão RUSLE do modelo, conforme instruções no Agricult11ral Handbook nº 703
(Renard et al., 1997).
O fator C (cobertura e manejo do solo) é o mais complexo de ser obtido, por ser o mai
dependente de condições locais, pois varia com o regime de chuva e com o manejo e cobertura
do solo. Valores escassos desse fator existem para algumas situaçõe brasileira , o quais
se encontram divulgados, embora dispersos em artigos científicos e em disse.rtaçõe e t
de cursos de pós-graduação nacionais. Assim, em situações de similaridade de reuime d
chuva e de práticas de cobertura e manejo do solo, tais valores podem er utilizados para
predição da erosão hídrica pluvial do solo no Brasil. Não havendo dado de pesquisa lo ai
para o fator C, resta usar lógica e bom senso e, dentro do que estiver djsponível, atribuir
valores a esse por meio de comparações com valores conhecidos e di tintos de outro
locais, da melhor forma possível. Ouh·a opção é lançar mão do pr cedimento irnplificado
apresentado por Bertoni e Lombardi Neto (1990). Por certo, a altemati a ideal ' obter
valores locais para o fator C, conforme o procedimento apresentado por li hm ier e
Smith (1978), no Agricultura/ Handbook nº 537, ou por Re nard et al. (1997), n A ricuihtral
Ha11dbook nº 703. Isso vai depender, contudo, tanto do grau de detalhamento q uanto d
qualidade das informações existentes.
Finalmente, em relação ao fator P (prática conservacionista de uporte), tamb · m são
escassos seus valores no Brasil, como os apresentados por Bertoni e Lombardi eto (19 ).
Os valores do fator P podem diretamente ser utilizado ou, então, tomad orn referên ia
para atribuição de outros valores a esse. Alternativamente, pode- lançar mão do alor
constantes no Agricultura/ Hnndbook nº 537, deri ado por i hm íer e mith (1 ),
mesmo que eles tenham sido originados de dado de pesqui a obtido em ondiç - de
sistemas de manejo convencional do solo e em regiõe de clima temper do, no e , n
Estados Unidos, que também devem ser utilizados com lógic e com b m enso.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


r

492 lLDEGARDIS BERTOL ET AL .

APLICAÇÃO PRÁTICA DO MODELO NAS VERSÕES


USLE E RUSLE

Ne te tópico, erá apresentado um exercício sobre a aplicação prática dos modelos


USLE e RUSLE, utilizando dados de perda de solo por erosão lúdrica de w11 experimento
de longa dw·ação (20 anos) conduzido em condição de chuva natural em Lages, SC. O
e ·perimento está locaJizado no sul do Planalto Catarinense, situado entre 27° 49' de
latitude sul e 50º 20' de longitude, a oeste de Greenwich, a 937 m de altitude média. O
clima é do tipo Cfb, segw1do a classificação de Kõppen, com precipitação média anual
de 1 533 mm e erosividade média igual a 5 033 MJ mm ha·1 1,-1, e o solo é wn Cambissolo
Húmico alunúnico léptico, cuja erodibilidade é igual a 0,0175 t ha h ha·1 MJ-1 mrn·1 (Schick
et al., 2014a,b). A seguir, são i.Júormados os valores médios anuais dos fatores do modelo,
obtidos nas condições de parcelas com comprimento de declive de 22,1 m e declividade do
terreno de 9 cm rn·1, com base nos dados de Schick (2014).

Parcela-padrão
Neste caso, o solo não foi cultivado, embora tenha sido preparado duas vezes por ano,
na mesma época em que são semeadas as culturas nos demais tratamentos do experimento.
O preparo do solo foi realizado com urna operação de arado e duas de grade, no sentido
paraJelo ao declive (morro abaixo) e, além disso, efetuada capina e quebra da crosta
superficial, manualmente com enxada e rastelo, sempre que necessário. A superfície do
solo permaneceu totalmente descoberta e sem crosta superficial, portanto, numa condição
de máxima erosão.
Condição de solo semelhante a essa é aquela que geralmente corre em lavouras de
alho da região, por exemplo, nos estádios iniciais da cultura. Nesse caso, considera-se o
preparo do solo efetivado no sentido paraJelo ao declive (morro abaixo).
- Fator erosividade da chuva, fator R (El 30) anual= 5 033 MJ mm ha·1 h-1 •
- Fator erodibilidade do solo, fato K anual = 0,0175 t ha h ha·1 MJ·1 mm·1 •
- Fator comprimento do declive, fator L = 1.
- Fator declividade do terreno, fator S = 1.
- Fator cobertura e manejo do solo, fator C = 1.
- Fator práticas conservacionistas de suporte, fator P = 1.
Para essa situação e parcela-padrão, a aplicação do modelo nas duas versões, USLE
e RUSLE, para predizer a perda média de solo anuaJ (A, t ha·1 ano·1), é feita do seguinte
modo:
A = R K L SCP, ou seja: A = 5 033 x 0,0175 x 1 x 1 x 1 x 1 = 88,1 t ha·1 ano-1.

Dados coletados nesse tipo de tratamento no experimento, referentes a wn período


de 22 anos (Schick et ai., 2014b), evidenciaram perda de solo média anual de 85,3 t ha·1
an.0-1, 0 que indica boa capacidade do modelo para predize~ perda de solo nessa situação.
Essa pequena diferença entre o valor de perda de solo previsto pelo modelo e a perda real

~ ,
MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA
XV - MODELAGEM E MODELOS UTILIZADOS PARA E STIMAR A ERO SÃO DO S OLO 493

ele so lo ocorrick1 no ex perime nto (3 %) expli él-'ie, em pélrte. Trc1t,1-c;e de um si,;tem,1 de


mélnejo e m qu e os fotores erosividade da chu va (fr1to r R) e erod ibilid.id e do ·o lo (fzito r Kl
são os únicos com impélcto no result.id o final da eros ão, jJ que oc; demais fatore nJo têm
influênc ia alguma no seu controle.
Nessa co nd ição, potencia liwu-se o e feito do impacto dac; gotas de chuva e do
escoa mento s u perficia l, cornbi nadarnente, nél produção da ero ão.

Semeadura direta
Nes te caso, o so lo foi cultivado, sem preparo m ecânico, d uas vezes por ,rno, com .1
culturas de sojél, milho e fe ijão (primavera /verão) e élveia, nabo--forrélgeiro e ervilhacZt
co mum (outono/ in verno) . A semeadura foi rea lizadél com ou o de máquina manual do
ti po "saraqu á", no caso das cu ltu ras de primavera/ verão, e manu zil a lanço, no cac;o da.
culturas de o utono/i nverno. O con tro le de pla n tas espon tâneas fo i feito manu al mente nu
com a u xilio de herbicidas. Ass im, a s u perfíc ie do solo permaneceu totalmente cober ta por
bio m assa vege ta l resid ua l, com baixa ru gos idade e sem crosta s u perficial , portanto, numa
co nd ição d e m ínima erosão. Cond ição de so lo semelhante a essél é aquela que geralmen te
ocorre em lavouras d a região, mas somen te naq ue las muito bem conduzidas em condiçJo
d e sem eadura dise ta, po r exem plo.
- Fa to r erosividad e d a chu va, fa to r R (El'.\j,) anua l = 5 033 MJ mm ha· 1 h· 1.
- Fa to r erod ibilidad e do solo, fa to K an ua l = 0,0175 t ha h ha· 1 MJ- 1 mm·1•
- Fa to r comprimen to do declive, fa to r L = 1.
- Fa tor d eclivid ade d o terreno, fa to r S = 1.
- Fator cobertura e ma nejo do solo, fa to r C = 0,0477.
- Fa to r prá ticas conservacionis tas de s u po rte, fator P = 1.
Para essa situação, a a p licação das versões USLE e RUSLE, para predizer a perda
m é di a d e solo anual (A, t ha· 1 ano- 1), é fe ita do seguinte modo:

A= R K L SCP, o u seja: A= 5 033 x 0,0175 x 1 x 1 x 0,0-177 x 1 =-l,2 t ha·1 a.no 1•


D a d os coletad os nesse ti po de tra ta m ento no experimento, refe rentes a um pe ríodo
de 22 a n os (Schick, 2014), apresen tara m perdas de so lo média anual de aprox imadamente
1 t ha ·1 ano·1, o q ue ind ica fraca capacidade do modelo para predizer perda de solo nessa
si tu ação. Veri fico u-se g rande diferença en h·e o va lor de perda de solo p re i to pelo modelo
e a perda real ocorrida no experimen to (4,2 vezes). Isso é explicado, em parte, pelo foto
d e tra ta r-se de um sistema de ma nejo em que os fatores erosiv idade da chu\'a (fator
R) e erod ibilidade do solo (fa tor K) são menos im portantes do que o fa tor cobertura e
manejo (fa tor C) no resultado final da erosão, d iferentemente do que ocorreu na imu lação
feita para o solo d escoberto. Especialmente, a erosividade da ch u va, ne e c.1so, f i
representada unicamente pelo efei to do escoamento superficial, já que solo permanente
e comple ta mente coberto fo i to ta lme n te protegido da ação do im pacto da gotas de .::hu v.1.
Esse foi o principal mo tivo do erro verificado en tse a perda de solo o bse r ada em campo e
a estim ada pelo mo d e lo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E D A ÁG UA


494 lLD EG ARDIS BERTOL ET AL.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

mod la m de erosão é importante, pois cada vez mais os valores d e p e rdas de


_lo e água pre i to são utilizados no planejamento de obras de controle d a erosão, em
div r a escala no mundo todo. A escolha do modelo é importante, n1as dependente da
finaJidade para que e d esejam utilizar os da dos previstos. De qualquer modo, qualquer
do modelo de e er utilizado corretamente e, acima de tudo, consciente das limitações
que n ele estão embutidas.
o caso de utilização do modelo nas versões USLE e RUSLE, atenção deve ser tida
para o fato de que foi desenv olvido com o fim específico de calcular a perda média anual
de solo de um período de longo prazo, originada da erosão em entressulcos e em sulcos,
combinadamente e em condições específicas. Essas condições são terras agrícolas, onde o
solo é manejado por meio de preparo intenso (arações seguidas de gradagens), na escala
de parcela ou de vertente. Isso vaJe para qualquer que seja o local onde se pretenda aplicar
esse modelo, mas, especial mente, no Brasil onde se costw11am extrapolar dados de erosão
obtidos em pesquisas em locaJ específico para outros com condições totalmente distintas.
Esse modelo é útil, também, para predizer a perda de solo em áreas de construção e em
outras condições não agrícolas em que o uso e manejo do solo sejam mais ou menos
uniformes em toda a área. Porém, claramente, ele não é válido, como ferramenta única,
para computar a produção de sedimentos originada da erosão em voçorocas e da erosão
dos taludes e leitos de cursos d'água. Portanto, não é recomendável que se utilize nas
escalas de bacia hidrográfica pequena ou grande e de bacia de rio quando a fonte de
sedimentos não está relacionada com a erosão na vertente e sim no canal fluvial ou nas
voçorocas, que fazem a conexão entre a bacia vertente e o canaJ fluvial. Isso decorre do fato
de que taJ modelo não estima a fase de deposição de sedimentos no processo erosivo do
solo, mas, apenas a fase de transporte dos sedimentos. Portanto, quanto mais longa for a
pendente e, ou, quanto mais variável a decliv idade do terreno, maior o erro na estimativa
da perda de solo por esse modelo.
A não observância a essas restrições quanto à utilidade de tal modelo tem
sido constatada com frequência no Brasil, principalmente com o avanço e a adoção
aumentada de ferramentas como o Sistema de Informações Geográficas (SIG). Com o
apoio desta ferramenta, o modelo é muitas vezes utilizado para elaborar planejamentos
conservacionistas de uso da terra nas áreas rurais. TaJ procedimento é temeroso, tendo
em vista que este modelo apresenta fortes restrições quanto à sua utilização auxiliada pelo
SIG, para qualquer propósito e sob quaJquer pretexto. Assim, recomenda-se, aos usuários
de tal modelo no Brasil, leitura atenciosa de importante artigo científico a respeito deste
assunto (Wischmeier, 1976). Uma cuidadosa análise das observações feitas neste capítulo e
constantes no Agricultural Handbook nº 537, também é recomendada.

LITERATURA CITADA

Arnold JG, King KWE, Willians JR. Erosion by water, hybrid models. ln: Rattan LAL, editor.
Encyclopedia of soil science. New York: Marcel Dekker; 2002. p.463-7.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - M ODEL.i\GEM E M ODELOS UTILI ZADO S PARA E STIM A R A E ROSÃO DO SOLO 95

Be rlo l 1, Alme id.i JJ\. To! •réincia d r pc rd;-i dr "º 'º por e ro,;Jo híd ric.i r.ir,1 oc; rnnc1p,1ic; , nln-: dn
Es t;-i d o de S.in la ';-ita rinn . Rcv ílras Cienc So ln. 2000;24:657-IJH
Berto! 1, Bertól , B.irbosa F í . Simul.1dor d t• chu va ti po em pu xo corn brr1çni:; rn t.iti vos nwv1dn<:
hid rau Iicn m e nte: fabri c;1ç1'0 e ca l ib rêlçào. R ~v ílras Ci nc Solo . 2fJ'l 2;16· 1905- 1f) .
Bertoni J, Lombard i eto F. Conservação Jo so lo. S.'io Pa ulo: Ícon ; 1990.
Brown LC, Fos ter GR. Storm erosív íty us ing id e;-i li/ •d in ten o; it v J istributinni:;_ T r,rnc. 1\S1\ E
1987;30:379-86.

Cogo P, Eltz FLF, Be rtol 1. Modelagem em e rosão J o so lo. B ln f S B S. 2()() ;J I 27- 1 } .


Cago NP. Concei tos e princípio cie ntífi cos e n volv id os no ma nejo Je nine; p.Hc1 fin_ de rn ntrnlt•
da erosão hídrica. ln: Anais do 21'' Cong resso Brasi leiro de C iência do Solo; 19RR,Cc1 mrinL1 .
Ca mpinas: Socied ad e Brasileira de Ciência d o Solo; 1988. p.2--19-62
Denardín JE. Erodíbilídade do solo es timada po r me io d e pa râ m etro-, fíc;ícoc. c quími co'- [t ·<.t·j.
Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Lu iz d e Qu eiroz; ·1990.
Doe III WW, Harmon R. Introeluction to o i! eros io n anel LanJ sc<1pe evolution modelin~. ln: HL1rmo n
R, Doe III WW, editors. L;-indscape eros ion a nd evolutio n m m:lt., Jing. :--.:ew Yo rk. KluwL· r
Acaelcmic; 2001 . p.1-14.
Duan J. Simu lation of s trea mbank erosion processes with a two-diment ional nume n c<1I modl'I.
ln: Harmon R, Doe UI WW, edito rs. Land cape erosion anel evol ution modeling. \.e\ York.
Kluwer Academic; 2001 . p .389-428.
Dunn AJ, Mehuys GR. Relations hip be tween g rave i conte nt o i so ils c1 nd aturn ted hvdrauJic
cond uctivity in laboratory tests. ln: Erosion and productivity of soil s contain ing rock frabments .
Madison: Soi l Science Society of America; ·t 984. p.55-63. (Special p ublicêltion, 13)
Flanagan DC, Fos te r GR, Neibling WH, Burt JP. Si mpli fied equations fo r filte r c. tn p Jesisn. Tr<1n'>
ASAE. 1989;32:2001 -7.
Flanagan DC, Nearing MA. USDA-Water Erosion Pred iction Project (WEPP). \\'E PP u ers -;urnm.1r:.
West Lafayette: USDA-ARS; 1995.
Foster GR, Ferreira VA. Depos ition in uniform g rade terrace c hanne ls . ln: Crop produc tton with
conservation in the 80's. 1981. p.187-97.
Foster GR, Johnson CB, Moldenhauer WC. Hyd ra ulic fail u r1.: of unancho red com ta lk .mJ whe,1 t
straw mulches fo r erosion contrai. Trans ASAE. 1982;25:9-l0-7.
Fos ter GR, Lane LJ. User requireme nts USDA-Wa te r Eros io n Predic tion Project (\ \' EPP). \\'e-.t
Lafaye tte: USDA; 1987. (USDA Re port, 1)

Foster G R, Mccool DK, Renard KG, Molde nha ue r WC. Convers ion o f the Un i ver .:i l Soil Loss Equation
to SI me tric units. J Soil Water Conserv. 19 1;36:355-9.
Foster GR, Meyer LO, Ons tad CA. An erosion equation derived from bas ic era io n p rincipies . Trc1ns
ASAE. 1977;20:678-82.

Foster GR, Wischmeie r WH . Evaluating irregular lope ior soil lo.;;_ predictio n. Trans .-\SAE.
197-1;17:305-9.
Fo s te r GR. Conservation practices in ero io n m odel . ln: Proceeding · of C o nser,ati 11 in the ' O'~
- An International Confe rence on Soil Conscrvation. ilsoe : 1atio nal o llege o f .-\gricultur._•
Engeeniers, 1980. p.273-8.

Foster GR. Modelli..ng the erosion proces . ln: Basselman Jr\, edi tor. H~ d rolog ical m odelinb ot sma ll
wa te rs h eels. St. Joseph: America n Society of Agricultura! Engecring, 19 '2. p.297-"'llú.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


r

496 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

F ter G R. diment yi ld fr m farm fields: The universal soil lo equ a tion and o n fa nn 208 plan
implem enta tion. ln: Pe terson AE, wan JB. Universal soil los equa tion: p ast, present, and
future. ad Lon: SA; 19 3. p.17-24.
Fow,üer F. Climat et cro ion: la relation entre l'érosion du sol par l' eau et les précipitations
atmosphérique . Paris: Univer itaires de France; 1960.
Green VvH, Ampt GA. tudies in soil physics. r. The flow of air and water tlu-ough soils. J Agric Sei.
1911;4:l-24.
Hud on M. Soil con er ation. 3n1.ed. Ames: lowa State University Press; 1995.
lns tituto Agronômico do Paraná/ Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - lAPAR-EMBRAPA.
Recomendaçõe gerais do encontro sobre uso do simulador de chuva em pesquisa de conservação
do solo no Brasil. ln: 1° Enconh·o Nacional sobre Pesquisa de Erosão com Simuladores de Chuva;
1975; Londrina. Londrina: 1975. p.107-20.
]asa PJ, Dickey C, Shelton DP. Soil erosion from tillage and planting systems used in soy bean residue.
Part 2. lnfluences of row direction. Trans ASAE. 1986;29:761-6.
Laflen JM, Foster GR, Onstad CA. Simulation of individual-storm soil loss for modeling the impact
of soil erosion on crop productivity. ln: El-Swaify SA, Moldenhauer WC, Lo A, editors. Soil
erosion and conservation. Ankeny: Soil Conservation Society of America, 1985. p.285-95.
Laflen JM. Erosion b) ,-.,ater, empirical models. ln: Lal R. editor. Encyclopedia of soil science. New
York: Marcel Dekker; 2002. p.457-62.
Lombardi Neto F, Bertoni J. Tolerância de perda de terra para solos do Estado de São Paulo. São
Paulo: Instituto Agronômico; 1975. (Boletim técnico, 28)
Lombardi Neto F. Rainfall erosivity - its dish'ibution and relationship with soil loss at Campinas,
Brazil [dissertation]. West Lafayette: Purdue University; 1977.
Mccool DK, Foster GR, Mutchler CK, Meyer LO. Revised slope length factor for the Universal Soil
Loss Equation. Trans ASAE. 1989;32:1571-6.
Mcgregor KC, Greer JD, Gurley JE, Bolton GC. Runoff and sediment production from north
Mississippi Loessial soils. State College: Agricultura! Experiment Station, Mississippi State
University, Mississippi State College; 1989. (Bulletin, 777)
Meyer LD, Harmon C. Sediment lasses from cropland furrows of different gradients. Trans. ASAE.
1985;28:448-53.
Mishra SK, Singh VP. Soil Conservation Sen1ice Curve Number (SCS-CN) Methodology. London:
Klumer Acadernic Publisher; 2003. 505 p.
Moldenhauer WC, Wischmeier WH. Soil and water lasses and infiltration rates on Ida silt loam as
influenced by cropping systems, tillage practices and rainfall characteristics. Soil Sei Soe Am J.
1960;24:409-13.
Morgan RPC. Soil erosion e conservation. 2nd - ed. Essex: Longman; 1995.
Mutchler CK, Carter CE. Soil erodibility variation dming the year. Trans ASAE. 1983;26:1102-4.
Mutchler CK, Murphree CE Jr. Experimentally derived modification of the USLE. ln: EI-Swaify SA,
Moldenhauer, WC, Lo A, editors. Soil erosion and conservation. Ankeny: SoiJ Conservation
Society of America; 1985. p.523-7.
Mutchler CK. Splash of a waterdrop at terminal velocity. Science. 1970;169:1311-2.
earing MA. Erosion by water, process-based modeling. Ln: La) R, editor. Encyclopedia of soil
science. ew York: Marcel Dekker; 2002. p.473-5.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XV - MODELAGEM E MODELOS UTILIZADOS PARA ESTIMAR A EROSÃO DO SOLO 97

Ons téld CA, Wolfc MC, La rson CL, Sla k o . Ti ll d soil s u r;idence durin rep ated we tin . Tran
ASA E. 1984;27:733-6.
Renard KG, Foste r G R, Weesics GA, Kool DK, Yod r D . Predicti ng soil erosi n b water· a uide
to conscrvéltion planning with the Reviscd Univ rsa l Soil Los Equalí n (RUSLE). Washjnglon:
USDA; 1997. (Agricultural Handbook, 703)
Re nard KG, FosterGR. Soi l conservatíons: principies of erosion by water. fn: Dregne, HE, WiUi WO,
edítors. Dry land agriculture. Madi on: ASA, CSSA, SSSA, 1983. p.1 55-76. (Agronomy "'1 no r.
23)
Robinson AR. Sedirnent y ield as a function of up trea rn e rosion. ln: Peterson A , wa n JB, Univ r
soil loss equation: past, present and future. Madison: SSSA; 19 3. p .7-17. (Special PubliCélti n)
Schick J, Bertol I, Cago N P, Paz González A. Erodibilidade de um Camb1 solo Húmko b chuv
natural. Rev Bras Cienc Solo. 20146;38:1906-17.
Schick J, Bertol I, Cago NP, Paz González A. Erosividade das chu vél de Lages, Santa Catarina. R v
Bras Cienc Solo. 2014a;38:1890-905.
Schick J. Fatores R e K d a USLE e perdas de solo e água em sistemas de manejo sobre um Cambis olo
Húmico em Lages, SC [tese]. Lages: Universidade do Estado de Séln ta Catarina; 201-1-.
Silva AM. Rainfall erosivity map for Brazil. Catena. 2004;57:251-9.
Silva MLN, Curi N, Lima JM, Ferreira MM. Avaliação de m étodo indireto de determínaç.'i d,
erodibilidade de Latossolos brasileiros. Pesq Agropec Bras. 2000;35:1207-20.
Stott DE, Stroo HF, Elliott LF, Papenruck RI, Unger PW. Wheat residue lo in field under no-till
management. Soil Sei Soe Am J. 1990;54:92-8.
Swanson NP. A rotating-boorn rainfall s i.mulator. Am Soe Agric Eng. 1965; :71-2.
Van Doren CA, Stauffer RS, Kidder EH Effect of contour farming on soil lo and runoff. Soil Sei
Am Proc. 1950;15:413-7.
Wischmeier WH, Srruth DO. Predicting rainfall erosion-losse from cropland e t of the Rocky
Mountains - Gwde for selection of practices for soil and water conservation. \ ashington:
USDA; 1965. (Agricultura! handbook, 282)
Wischmeier WH. Use and rrususe of the universal soil loss equation. J Soil v ater Conserv. 1976;31:5-9.
Wischmeier WH, Smith DO. Predicting rainfall-erosion lo se - a gujde to conservation planrun .
Washington: USDA; 1978. (Agricultural Handbook, 537)
Zanchi C. Influenza dell'azione batte nte deUa pioggia e dei rusceUamento nel proc o ero -ivo e
variazioni deU'erodibilitta dei suolo nei divers i periodi s tagion ali. Ann 1nst Spc.r tudio Dife
Suolo. 1983;14:347-58.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRIC DO
SOLO NO BRASIL

Ildegardis Bertol l/, Eternar Antonino Cassol 11 & Isabella Clerici De MariaH

11
Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciênci,1s Agrovet ·riná ri,1 , 1.igl''-, SC.
E-mail: ildegardis.bcrtol@udesc. b r
21 Universidade federal do Rio Grande do Sul, Farnldade de 1\ gro nomia, Depilr amen to J · Solo,;, Por " Ale re,
RS. E-mail: elemar.cassol'nlufrgs.br
V Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Pesquis.1 e De5en volvi mcnto de Solo" e K -u r<;<,-; 1\ mb,en l,H ,
Campinas, SP. E-mail : icdmaria@iacsp.gov.br

Conteúdo

HISTÓRICO DA PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL.. ................ ..... -- . .... . .. . '"i(" ()

METODOLOGIAS DE PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA PLUVIAL DO 0 ................- ...... ..... -...... 'ill 6
Experimentos em condição de chuva naturill......................................................... ... ...... . ...... ....... 30
Procedimentos de campo para a ins t.ilação e condução das parcel.-is experimenta ......- ... - Sl
Recursos..... ........................................................... .. ............................................................ .. . ... .
Recursos hum.inos ....................................................... ................................... .................. _ ..... ... :;()t-,

Recursos materiais ........................................................................... ...................... ....... ......... ...... . . . "i07


Seleção do local e sistemati zação da ii reil ex perimental... .......................... .. ..... ....... ... .... . Sü."
Características e procedimentos de inst.ilação dél unidade experimental ou pílrcda ... . .. .. .. . . 309
Manejo da unidade experimental ou parcela-padrão ................................ ...... . . ..... ... . .............. 511
Manejo da unidade experimental ou parcela cultivada .................................. _... ...... ... ... .... ....... .. - 11
Procedimentos de campo e laboratório para coleta e processamento de .,mostras de t'nxurrada . . ,L
Medição do volume e amostragem da enxurrada nos tanques coletorcs ...... . . ........... _ ............... 512
Quantificação das perdas de solo e água na enxurrada .......... ................. ................ ..... _ ....- ..--. .... 31 2
Experimentos em condição de chuva simulélda ..................................... ................. ................... .........._. . 5 lJ
Recursos necessários à instalação e condução do experimento .................... ... . .. ··--- .... .. ......... ... 513
Seleção do local e sis tematização da área experimental.......................... . ............... .... . ........ ... .. 313
Cílracterísticas e procedimentos d e instalação da unidade cxperimt'ntal o u parcela ...... ... . ... . - 11
Manejo da unidade experimental, ou parcela, paJrão................ . ...... ...... . ...... ............... . ... - .. ... . 'il
Manejo da unidade experimental, ou parcela, cultivada ........ ...................-.... .. ........ ... ....... .... . .... . - 14
Procedimentos de campo e laborillório para coleta e processamen to d e .1mos tras de ~n.,urrílda. . 5 14
OBTE ÇÀO DE VALORES PARA 05 PARJ.\?-,,ITIROS DO l\l DELO U LE/ RU LE ............... ... ........ .. '115
Obtenção de valores do índice de ero ividade - fator R (EI,. do mod elo U LE/ RU_ LE ....... _. ·-. ......... 515
Procedimento adotado para o caso do uso de pluviógrato mec.inico . .. ....... ........ ....... _.. ,... . . . :; l o
a) Descrição geral do sistema de regis tro de chuva em pluviogr,1n1.1 num pluviógr.1fo m..--c.lnico..... . ~ 10
b) O rientações gerais para computar os valores de El30 das huv,is n.1turais .. . _.... _ ..... _. -· .. ... ... 517
c) Procedimento para computar o El30 das chu vas naturais ....... .................. .............. _ 'il,
Procedimento d e cálcu lo do El'ló para o c.iso dl' chu va . imulad,1...................... ........ .......... . ... .... .. 51

Berto! 1, De Maria IC, Souza LS, editorl'S. Manejo e conservação d) solo e Ja ,igu.1. \ iÇl ·a, 1\IC: ,ia c Jad,!
Bras ileira de Ciência do Solo; 20 18.
...

soo lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

btenção d e valore d índi e de erodibilidade - fa t r K do modelo U LE/ RU L ................................ 519


bten ão d valore_ do fator K em experiment s m ondição de chuva nalurnl.................................. 519
bten ão d e valore do fator K em experini>ntos cm ondição de chu va simulnda .............................. 520
btenção de val re do fa tor relevo - fator LS do modelo USLE/RUSLE .................................................... 520
Obten ão de valore d fa tor cobertura e manejo - fa tor do modelo USLE/RUSLE................................... 521
bten ão de valore do fa t r prática conservacioni tas de suporte fator P do modelo USLE/RUSLE..... 521
C IDER ÇÕES Fl 1 ..................................................................... ......................... .......................................... 521
LITERATURA CIT D ............................................................................................................................................... 522

HISTÓRICO DA PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO


SOLO NO BRASIL
A pesquisa em erosão do solo no Brasil teve início há mais de sete décadas e é desenvolvida
por indivíduos e instituições em alguns estados, centrada na erosão lúdrica pluvial.
Uma das primeiras instituições a estabelecer w11a rede de pesquisas sobre erosão foi
o Instituto Agronômico de Campinas, SP, que iniciou os trabalhos em 1943 (Bertoni et ai.,
1972). A partir de meados de 1970 até os anos 2000, houve grande evolução no número de
trabalhos, instituições e pesquisadores envolvido com erosão (Barretto et al., 2008).
O grande esforço de várias instituições brasileiras no planejamento e desenvolvimento
da pesquisa em erosão do solo, no Brasil, data de 1975, ano em que se realizou, em Londrina,
PR, o primeiro Encontro Nacional sobre Pesquisa de Erosão com Simuladores de Chuva,
cujo evento foi um marco na pesquisa de erosão do solo no Brasil. Destacam-se, nessa
época, os grupos de pesquisa surgidos no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, na Paraíba
e no Paraná, além do grupo de Campinas.
Apesar de essas pesquisas não terem sido realizadas de forma integrada, sistemática
e continuada, dados valiosos foram obtidos tanto em condições de chuva natural quanto
simulada. Frutos desse esforço, muitos encontros e congressos científicos e reuniões técnicas
foram realizados, desde então. Atualmente, poucos indivíduos, grupos e instituições de
pesquisa nessa área continuam atuando no país. Dentre esses, destacam-se os grupos do
Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de São Paulo, além de Minas Gerais e do Ceará.
Pesquisas e experimentação mais ou menos pontuais, desenvolvidas por indivíduos, sem
apoio de programas institucionais, também são verificadas na atualidade, que em geral são
de curta duração.
A pesquisa nessa área do conhecimento teve avanços a partir de 1943, pois são inegáveis
o conhecimento científico em erosão lúdrica do solo e o progresso técnico alcançado
voltado ao controle da erosão do solo, acumulado desde então para condições tropicais
e subtropicais. Entretanto, ainda há muito a avançar e, por isso, alguns pesquisadores
continuam obstinados na busca, na discussão, no planejamento, na sistematização e na
padronização de métodos de pesquisa em erosão do solo.
As pesquisas em erosão hídrica do solo desenvolvidas no Brasil podem ser divididas
em dois grandes grupos: o voltado principalmente para obter dados para estabelecer
parâmetros para os modelos preditivos de erosão e o destinado principalmente a alcançar
dados para estabelecer a eficácia de práticas conservacionistas. O primeiro grupo é aplicável
principalmente no campo científico, para posterior utilização d e modelos de predição; e o
segundo, principalmente no campo técnico e prático.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - P ESQ UI SA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASI L 501

Assim, po sível afirmar qu part os dados d p quis sobre er são hidrica,


até então obtidos, pode er utili zada como p nto d partida p ra predizer p rda de
so lo por e rosão hídrica pluvial no paí , apesa r de, e m a lgun I cais, tais dado terem s id
obtidos com maior certeza do que em outros. Entretanto, o utra p rte des d d o deve er
aplicada diretamente em campo, no plan jamenlo cons rvac ionista, s ja para estabel c r
práticas conservacionistas de caráter bá ico ou de sup rte, seja pa ra defin ir prátic de
manejo conservacionis ta do solo.
Para que os dados de pesquisa em erosão hídrica pluvial do solo obtido com vist, ·
modelagem do fenô meno possam ser efetivamente utilizados, é nec s rio, num prim iro
momento, organizar um banco de tais dados. Esta ideia foi propos tc p la primeirn vez
por ocasião da realização da Xll Reunião Bras ilei ra de íanejo e Conservação do I e
da Água, em 1998, em Fortaleza, CE, e, pe la segunda vez, no XXVTJI Congresso Bra iJeiro
de Ciência do Solo, em 2001, em Londrina, PR. No entanto, até o momento, nada foi feito
para atender a essa necessidade. Para isso, entende-se que d evem ser aproveitado o
dados que se julgue serem os mais consiste ntes, obtidos de séries, as mais longas pos í eis,
preferencialmente de maneira ininterrupta, para uma dada situação. o mesmo tempo,
é importante formar nova mente uma rede de pesquisadores e de pesquisas em er são
hidrica do solo no Brasil, a exemplo do q ue aconteceu nas décadas pas ada .
Lamentável e inexplicavelmente, a rede de pesquisa em ero ão hídrica do olo
formada naquela época muito cedo foi desfeita, tendo durado apena pouco mais de cinco
anos. Uma nova rede de pesquisa, se assim formada, poderá efetuar uma triagem criterio
nos dados já obtidos, além de elaborar um plano e desenvolver um programa nacio nal de
pesquisa nesta área. Tal programa de pesquisas deverá visar à obtenção de informações para
a definitiva derivação dos valores dos fatores do principal modelo empírico, Uni ersal Sail
Loss Equat-ion (USLE- Wischmeier e Smith, 1978), na versão original e na versão atualizada;
Revised Universal Soil Loss Equntion (RUSLE - Renard et ai., 1997); e à viabilização do modelo
fundamental Water Erosion Prerlict-ion Project (WEPP- Flanagan e earing, 1995).
No entanto, sabe-se das dificuldades para organizar e implantar uma rede d pesquisa
nessa área do conhecimento, atualmente no Brasil, o que é preocupante. Isto por que há
um desinteresse por pesquisas nessa área do conhecimento (ero ão h ídrica do solo) no
Brasil por parte dos indivíduos recém-saídos, ou não, dos cursos de graduação, os quais
procuram os cursos de pós-graduação brasileiros na área de ciência do olo em bu a de
suas formações especializadas.
Também há des interesse por parte do indivíduos que já obti eram títu lo e
mestre e, ou, de doutor em tal campo do conhecim ento científico e e encon tram m pleno
exercício de suas funções (cientistas de solo). Além disso, deve- e re altar a de atenç- o
de dirigentes oficiais, tanto de instituições de pesquisa quanto de órgão de fomento
e financiamento dessa, no país, no que se refere ao apoio de projeto de pe qui as e à
disponibilização de recw-sos financeiros, especificamente no tema ero ão h ídrica plu ial do
solo, principalmente se o projeto visa estudar aspec tos bá icos de a ciência. De qualquer
forma, espera-se que este quadro mude, dada a se e ridade da er ão do oi , p dendo-
se avançar neste campo da pesquisa e obter as informaÇe nece ári para u e
modelos de predição de erosão, seja ele a USLE/ RU LE ou o VE PP, que têm p t n i
para utilização prática no país, tanto na definição de políticas pública qu nto na deci -
de manejo por parte de extensionistas e agri ultores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


502 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

ero ão do solo~ ore ultado de um trabalho reali zado por um agente e rosivo, que
é a fonte potencial e ativa do proce so de erosão dotado de energia, que a ge sobre o solo.
O solo, por sua vez, como órgão passivo, pode dissipar parcialmente ou completame nte
a energia erosiva por meio de seus atributos e interfaces ou permitir que o agente ativo
produza o lTabalho, ou seja, a erosão. Assim, as perdas de água, solo e elementos e
substâncias químicas são resultantes do trabalho efetuado nesse processo.
Alguns pe quisadores entendem que não é necessário conhecer todas as interações
e h·a.nsformações que ocorrem no sistema solo e em suas interfaces dw·ru1te a ocorrência
de um evento erosivo. Uns estudiosos argumentam que é mais importante controlar as
perdas por erosão do solo do que entender a mecânica do processo; ouh·os, no entanto,
alegam que é necessário conhecer os detall1es do processo erosivo, a intensidade de sua
ocorrência e as interações e trru1sformações que o fenômeno da erosão gera no solo, ou
seja, é necessário conhecer a mecânica de erosão. Assim, segw1do estes, entendendo e
interpretando corretamente o processo erosivo, é possível descrevê-lo detalhadamente em
um modelo físico ou conceituai e, com isso, definir estratégias eficientes de controlá-lo.
Esta linha de pensamento é comprutilhada pelos autores deste capítulo.
Existem vários modelos de predição da erosão hídrica do solo; entre esses, os mais
importru1tes, para o caso do Brasil, sem dúvida são a USLE, na versão original e na sua
versão atualizada (RUSLE), e o WEPP. A USLE/RUSLE é um modelo empírico, e o WEPP,
fisicrunente embasado. A estrutura dos dois modelos está mais detalhadamente descrita no
capítulo 15 deste livro.
A pesquisa em erosão lúdrica pluvial do solo envolve, necessariamente, o conhecimento
e a quantificação de todos os fatores que influenciam a erosão, ou seja, a chuva, o solo, o
relevo, a cobertura e o manejo do solo e as práticas conservacionistas.
O fator chuva se baseia em suas cru·acterísticas fundrunentais e no escoamento
superficial (enxurrada) associado a ele. A quantificação deste fator para cada local é
necessária porque as diversas situações geográficas influenciam o clima e, este, determina
os padrões e as características das chuvas.
No modelo USLE/RUSLE, o fator erosividade da chuva utilizado na predição de
perda de solo é calculado com base em algwnas características das chuvas e determina
o potencial erosivo delas. Estudos básicos sobre características da chuva e seu potencial
erosivo são ainda pouco no Brasil, concentrando-se nas regiões dos principais grupos
de pesquisa citados. Os trabalhos realizados indicam que a metodologia empregada na
determinação do fator erosividade das chuvas usado na USLE/RUSLE é válida para a
maioria das condições brasileiras. No entanto, o cálculo do fator erosividade (fator R -
E½o), com base em dados registrados em pluviogramas e mesmo obtidos em estações
meteorolóo-icas
o
automáticas com exatidão suficiente, é extremamente traba]hoso, demorado
e oneroso. Alguns procedimentos com base em dados obtidos em pluviômetros têm sido
desenvolvidos em regiões desprovidas de pluviógrafos; enh·etanto, majs estudos devem
ser realizados para se definir um modelo de regressão para cada região de interesse.
O estado de arte para o fator R (expresso na forma de EI30) no Brasil, em MJ nu11 ha·1 h·1,
para O modelo USLE/RUSLE, pode ser representado pelos seguintes trabalhos,
principalmente: para Caruaru, PE - 2 100 (Margolis et ai., 1985); para 32 localidades do
PR - variando de 5 275 a 12 559 (Rufino, 1986); pru·a Mococa, SP - 7 747 (Carvalho et al.,
1989); para Campinas, SP - 6 738 (Lombardi Neto e Moldenhauer, 1992); para Lages e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL 503

Campos Novos, SC - 5 694 e 6 329, resp ctivamente (Berto!, 1993, 199 b); par Goiânia, GO
- 8 355 (Silva et ai., 1997); para Sete Lagoas, M - 5.835 (Marque et ai., 1998); para Lage ,
SC- 5 541 (Schick, 1999); para Chapecó, C-10 005 (Beutler, 2000); p ra Piraju, P - 7 07
(Roque et ai., 2001); para Lages, SC - S 790 (Berto! et ai., 2002); para Fortaleza, CE - 6 77
(Dias e Silva, 2003); para Seropédica, RJ - 5 472 (Carvalho et ai., 2005); para Quaraf, RS -
9 292 (Bazzano et al., 2007); para Uruguaiana, RS - 8 875 (Hickmann et ai., 200 ); para São
Borja, RS - 9 751 (Casso! et ai., 2008); para Ribeirão da Lages, RJ - 6 772 (Machado e al.,
2008); para Lavras, MG - 4 865 (Silva et al., 2009); para Rio Grande, RS - 5 135 (Bazzano et
al., 2010); para Aracruz, ES - 8 536 (Níartins et ai., 2010); e para Lages, SC - 5 033 (Schick
et al., 2014), entre outros. Assim, até o momento, este tema foi pesquisado principalmente
nos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo, do Rio de
Janeiro, de Minas Gerais, do Espírito Santo, de Goiás, de Pernambuco e do Cearc.
Para utilizar o modelo WEPP, não é necessário determinar um parâmetro erosividade
da chuva como é para o modelo USLE/ RUSLE. O WEPP requer um ba nco de dados
meteorológicos, que deve conter o registro diário de p recipitação plu vial, temperatura,
radiação solar, direção e velocidade do vento. Por isso, é imprescindível a ex.istênci de
estações meteorológicas com registros de longo prazo dessas variáveis. instituição ou
o pesquisador que desejar aplicar este modelo deverá buscar os dados fundamentai e
elaborar o banco de dados meteorológicos. O levantamento de es dados é um trabalho
ainda incipiente no Brasil, e é fundamental que os pesquisadores envolvidos urúformizern
imediatamente a forma e o tipo de banco dos dados, para que as informaçõe geradas
possam ser adequadamente comparadas umas com as outras e possam er utilizadas.
Na pesquisa de erosão hídrica pluvial do solo, especial atenção deve ser dada ao olo,
que é o agente passivo no processo erosivo, ou seja, aquele que sofre a ação do agente
ativo, a chuva. Cada tipo de solo apresenta uma capacidade distinta de resistir ero ão,
que, nos modelos de predição de perda de solo, é denominada fator eroctibilidade do solo
(fator K). Para uso no modelo USLE/RUSLE, o valor do fator K pode ser determinado
por métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos requerem experimentação de
campo, de longo prazo em condições de chuva natural ou de curto prazo em condiçõ
de chuva simulada. Pelos métodos indiretos, o fator K pode ser discriminado por m ios
analíticos, utilizando modelos que relacionam atributos do solo com os valores desse fator
determinados pelos métodos diretos. É importante salientar que a metodologia utilizada
para definir a erodibilidade do solo, tanto pelo método direto quanto pelo indireto, de e
ser uniformizada para que os valores possam ser comparados entre i nas mai variadas
condições de obtenção.
O estado de arte para o fator K no Brasil, em t h IJ-1 mm·1, para USLE, pode ser
representado pelos seguintes trabalhos, principalmente: para um Latossolo ermelho, RS
- 0,021 (Denardin e Wunsche, 1980); para um Latossolo Vermelho, DF - 0,013 (Dedece et
al., 1986); para Mococa, SP - 0,0232 (Carvalho et al., 1989); para um Latossolo ermelho,
SP - 0,009 (Martins Filho e Pereira, 1993); para um Cambissolo Húmico, SC - 0,016
(Berto!, 1994a); para um Latossolo Vermelho, PR - 0,0084 Oacob et al., 19 -1); para um
Latossolo Vermelho, MG - 0,002 (Marques et al., 1997); para um Cambi . olo Húmico,
- 0,013 (Schick, 1999); para um Latossolo Vermelho, SC - 0,0212 (Beutler, 2000); para um
Cambissolo Húmico, SC - 0,0115 (Berto! et al., 2002); para os olo de SP - v riand de
0,0044 a 0,4278 (estimada - Mannigel et al., 2002); para um r itossolo Háplico, S - 0,011
(Bertol et al., 2007); para um Latossolo Vermelho, MG - 0,003_ (Sil et al., _009); e para um
Cambissolo Húmico, SC - 0,0175 (Schick et al., 2014), entre outro .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


504 lLDEGARDJS BERTOL ET AL .

o m odelo WEPP, o efeito do tipo de solo na erosão é dado n ão apenas pela


erodibilidade, m as também por outros ah·ibutos como a tensão crítica de cisalhamento, a
condutividad e hidráulica saturada e as características de consolidação do solo. Além disso,
nesse modelo, considera-se a capacidade de o solo resistir à erosão em dois processos:
erosão em entressulcos e em sulcos, e, por isso, a erodibilidade é separada em erodibilidade
em entressulcos e em sulcos. Todos esses atributos devem ser determinados, sempre com
base em metodologias padronizadas e em base local, para aplicação do WEPP. Assim,
as pesquisas necessitam ser padronizadas quanto ao tipo, ao formato e ao tamanho das
parcelas, ao padrão e à intensidade das chuvas simuladas e à taxa e à forma de aplicação
d e fluxos extras em sulcos pré-formados ou não, além de outros aspectos.
As plantas cultivadas e sua biomassa residual se constituem em importante fator do
processo de erosão na interface do sistema solo, pois dissipam a energia erosiva que chega
nele. O tipo de cultura; a densidade e forma de semeadura; o estádio de crescimento e
manejo das plantas durante seu ciclo e a forma de colheita; o tipo, a quantidade e a taxa
de decomposição e de cobertura do solo ocasionada pela fitomassa residual; a forma de
manejo dessa, todos esses aspectos são importantes no processo de erosão hídrica do
solo.
Aliado a isso, pelo efeito que produzem nas condições da superfície do solo, os métodos
de preparo do solo utilizados, o uso de arados, escarificadores, grades, ou simplesmente
semeadoras, antes ou por ocasião da implantação das culturas, e o sistema de cultivo, ou
seja, rotações, sucessões etc., também interferem no processo de erosão do solo. A forma de
quantificação de valores para cada um destes fatores é variável conforme o tipo de modelo
de predição da erosão. No entanto, independentemente do tipo de modelo, a padronização
metodológica é imprescindível para cada um deles. Esse fator, ou seja, o de cobertura e
manejo do solo, é o mais simples e mais importante na dissipação da energia erosiva.
Entretanto, é o fator mais difícil de ser obtido experimentalmente em razão do grande
número de interações de efeitos entre suas variáveis.
O estado de arte para o fator C, que representa o efeito da cobertura e manejo do solo,
no Brasil, para o modelo USLE, pode ser representado por trabalhos como os seguintes:
Dechen et al. (1981), os quais constataram que as gramíneas são mais eficazes do que as
leguminosas no controle da erosão; Margolis et al. (1985), os quais demonstraram a redução
do fator C na semeadura direta em relação a outras técnicas de manejo do solo; Dedecek et
al. (1986), os quais determinaram que a vegetação permanente seguida de soja é mais eficaz
do que outros sistemas de cultivo no controle da erosão hídrica; Levien et ai. (1990), os quais,
trabalhando com a cultura do milho, verificaram que o estádio logo após a semeadura é
0 mais crítico, entre os outros, quanto à suscetibilidade à erosão; Hemani et ai. (1997),
os quais estudaram a eficiência da semeadura direta no controle da erosão em relação a
outras técnicas de manejo do solo para a soja e trigo; De Maria e Lombardi Neto (1997), os
quais determinaram para a cultura do milho valores de fator C variando de 0,025 a 0,156,
sob várias técnicas de manejo do solo; Berto! et al. (2001), os quais especificaram valores
de fator C de 0,1437 para a soja em preparo convencional (uma aração e duas gradagens),
0,0807 para cultivo mínimo (uma escarificação e uma gradagem e 0,0455 para semeadura
direta (sem preparo do solo), enquanto, para o trigo e as mesmas técnicas de manejo do
solo, 0 fator C foi respectivamente de 0,2158; 0,1854; e 0,0588; Berto! et ai. (2002), os quais
evidenciaram para o milho em preparo convencional (urna a.ração e duas gradagens), em
cultivo mínimo (uma escarificação e uma gradagem) e semeadrna direta (sem preparo do
solo) valores para o fator C de 0,1097; 0,0809; e 0,0610, respectivamente, enquanto para

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRAS I L 50 5

a ave ia e as mesmas técnicas ele manejo do so lo va lo res d o fator C de, respe~tiva mente,
0,0671 ; 0,0409; e 0,0372; Prochnow et ai. (2005), os q uais destina ra m pa ra o ca fe valores de
fator Centre 0,0866 e 0,1412 para diferentes sis temas e espaça mentos; e Schick (2014), o
qual designou o fator C para uma rotação com as culturas de aveia, soja, ervilhaca, milho,
nabo forrageiro e feijão, obtendo va lores d e 0,0096, 0,021 e 0,075, respectivamente, para a
semeadura direta, preparo reduzido e preparo convenciona l, n um pe ríodo de 22 anos.
Na RUSLE, o fator C é definido por s ubfatores (cobertura do so lo por biomassa
cultural residual - SC; cobertura do solo po r pla ntas - CC; ru gosid ade su perficial - SR;
e teor de água no solo - SM). No Brasil, o subfato r SR tem sido es tudado e avaliado em
diferentes condições, entre essas: alterações na ru gos idad e s uperficia l pelo preparo do solo
e pela chuva (Castro et ai., 2006); relações da rugosidade superficia l com a chuva e com a
estabilidade de agregados do solo em água (Berto! et al., 2006); relações da rugos idélde
superficial com doses de fitomassa residual de milho e com o volume de ch uva (Berto! et
ai., 2007); efeito residual do manejo do solo na rugos id ad e s uperficial (Zo ldan Júnior et
aJ., 2008); relações da rugosidade superficial do solo com a erosividade d a chuva (Berto! et
al., 2008); e efeito de uma operação de escarificação sobre a rugosidade su pe rficial e sobre
algumas variáveis hidráulicas (Berto! et ai., 2008). Alguns trabalhos fora m desenvolvidos
com vistas à discriminação do subfator SC, entre esses os de Streck (1 999) e Volk (2006).
As feições do relevo, como a declividade e o comprimento e as fo rmas do declive
são também fatores do processo de erosão hídrica do solo. Co m relação ao efeito do fator
relevo na erosão hídrica, muito pouco tem sido pesquisado no Bras il. O esta do de ar te
deste fator indica os seguintes trabalhos, onde os autores determinaram taxas de erosão
em diferentes comprimentos de declive, em condições de chuva simulada realizada
em nível de campo: Berto! (1995), Morais (1999), Amaral (2010) e Barbosa (2011). Estes
autores objetivaram determinar verdadeiramente comprimentos críticos de declive
para contemplar o fator C da RUSLE, no que se refere à falha da fitomassa residual no
controle da erosão, mas, concomitantemente, definiram taxas de perdas de água e solo em
diferentes comprimentos de declive. Foram feitos dois estudos em Argissolo (Berto!, 199.5;
Morais, 1999) e dois em Nitossolo (Amaral, 2010; Barbosa, 2011). É importante salientar
que os diferentes comprimentos de declive estudados por es tes autores foram simu lados
por meio de adição de fluxos extras de água na cabeceira de parcelas experimentais com 11
m de comprimento. Assim, deve-se pressupor que os comprimentos de declive simu lado
tiveram declividades uniformes, iguais às das parcelas experimentais-padrão, que foram
utilizadas para estes estudos.
Em condição de chuva natural, os poucos trabalhos realizados no Brasil para avaliar
o efeito do comprimento de declive na erosão incluem os de Bertoni et ai. (1972), em
Campinas, SP, trabalhando com comprimentos de 25 m, 50 rn, 75 me 100 m; e Bágio (2016),
em Lages, SC, em comprimentos de 11 m, 22 m, 33 m e 44 m.
As práticasconservacionistasseconstituem também em um fa tor de grande impo rtância
na magnitude das perdas de solo e água por erosão hídrica. o caso do modelo USLE/
RUSLE, essas práticas se constituem em cultivo em contorno, cultivo em faixas associadas
ao contorno e à rotação de culturas, e terraceamento agrícola, denominadas de práticas
conservacionistas de suporte. São consideradas de suporte, pois são complemen tare às
prá ticas básicas, como a cobertura do solo, por exemplo. o caso do Brasil, certamen te este
fa tor tem um efeito menor quando comparado com o efeito do fator cobertura e manejo
do solo, especialmente. Relações obtidas para este fator em pesquisas realizad as em ou tros

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


506 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

países podem, em princ1p10, serem empr gadas nas condições locais. Características
particulare podem ser estudadas, desde que as prioridades estabelecidas pelos outros
fatores e tejam atendidas.
Pesquisas em erosão lúdrica do solo vêm sendo conduzidas atualmente no Brasil, tanto
em condições de chuva natural quanto chuva simulada. Em chuva natural, as pesquisas
são realizadas em parcelas experimentais do tipo padrão, com 22,1 m de comprimento no
sentido do declive por 3,5 m de largura, segundo critério estabelecido por Wischmeier e
Smith (1978). Também, são conduzidas em parcelas experimentais em padrão estabelecido
pelo IAPAR (1975), ou seja, com 11 m de comprimento e 3,5 m de largura. Além disso,
a quantificação de erosão lúdrica em condições de chuva natural vem sendo conduzida
em parcelas de tamanhos variados, simulando condições de bacia hidrográfica e em
bacias hidrográficas reais. Sob chuva simulada, as pesquisas são realizadas utilizando
simulador de chuvas de braços rotativos (Swanson, 1965; Bertol et a]., 2012), em parcelas
de tamanho padrão para esse tipo de equipamento (11 m de comprimento por 3,5 m de
largura. Ainda, pesquisas são realizadas em microparcelas, com área útil de 0,36 m 2 (0,6 m
x 0,6 m), utilizando microssimuladores de chuva de diversos tipos, geralmente com um ou
dois bicos aspersores. Essas pesquisas, além de outras (Pote De Maria, 2003), determinam
principalmente a infiltração de água no solo e o arraste de sedimentos, comparando técnicas
de manejo em erosão em entressulcos e gerando informações para modelos de erosão, mas
não possibilitando a obtenção de parâmetros para a USLE/RUSLE.

METODOLOGIAS DE PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA


PLUVIAL DO SOLO

Experimentos em condição de chuva natural

Procedimentos de campo para a instalação e condução das parcelas


experimentais

Recursos
Para a instalação de experimentos de erosão lúdrica em condição de chuva natural,
em nível de campo, são necessários vários recursos que devem ser devidamente
disponibilizados antes de iniciar os procedimentos.

Recursos humanos
Os recursos humanos devem ser devidamente treinados e capacitados. São necessários
pesquisadores, preferencialmente em nível de doutorado e, na falta destes, em nível de
mestrado, os quais tenham cursado disciplinas formativas no assunto durante a obtenção
de seus títulos. Em especial, tais profissionais devem ter cursado disciplinas que abordam
conteúdos de hidrologia, mecânica de erosão e modelos de predição de erosão, em especial
a USLE/RUSLE e WEPP, além de outras disciplinas relacionadas à conservação do solo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO 8RAS[L 507

e da ág ua. Além desses profissionais, outro5 colaboradores pa ra os trilbéllhos de campo,


re lativos à implantação e conclução dos experimentos à coleta p ri ód íca de amostras ele
solo e enxurrada, bem como para trabalhos de laboratório em relação o processa mento
das amostras e análises físicas e químicas delas.

Recursos materiais

Entre os recursos materiais indispensáveis para a condução dos experimentos e t5o


equipamentos para obter dados pluviométricos e estrutura para a rmaLenamento da
enxurrada e coleta de água e sed imentos oriundos das parcelas ex perimentais.
Para medir a aJtura de chuva precipitada, é necessário um pluviômetro. O m odelo
mais conhecido e usado internacionaJmente é o "Ville de Pari ".Dome mo modo, o registro
de distribuição da altura de chuva no tempo de duração deve ser fe ito para pos ibilitar
calcular sua intensidade, o que é feito por meio de pluviógrafos. Os modelos mai usados
são o pluviógrafo mecânico "PLG-7" ou pluviógrafos digitais com discretização de tempo
de 1 em 1 me, consequentemente, de altura de chuva. Para que seja fei to o correto cálculo
da erosividade da chuva, os registros devem possibilitar discretização de 1 min pa ra o
tempo e de 1 mm para a aJtura de chuva. No caso do uso de plu viógrafo mecâ nico, é
necessário dispor também dos pluviogramas que, para o pluviógrafo modelo "PLC-7", o
modelo mais adequado é o "IH-4".
Outros instrumentos são necessários, como estufa de circulação forçada de ar, com controle
de temperatura entre 40 e 120 ºC, e dimensões internas de aproximadamente 1,2 rn x O, m x
0,8 rn; balança digital eletrônica com precisão mínima de 0,1 g e capacidade de 2 000 g; balança
de plataforma com capacidade mínima de 100 kg; e computador, impressora e planilhas de
cálcuJo para computar as perdas de água e solo e a erosividade da chuvas erosivas.
Para o armazenamento e a coleta da água e dos sedimentos são necessários: a) calha
coletora de enxurrada construída com chapa galvanizada nº 18, conforme demonstrado na
figura l; b) placas divisórias de parcelas construída com chapa galvanizada nº 1 ou 20,
com 0,2 m de largura e 1,5 m de comprimento; c) tanque de armazenagem de enxurrada,
com capacidade mínima de 500 L. Esse tanque pode ser de cimento amianto ou de fibra de
vidro, adquirido ou, alternativamente, construído com chapa metálica gaJvanizada nº 16
ou, ainda, construído no locaJ em concreto armado; d) divisor de enxurrada tipo " Ceibb"
(Figura 2), com o mínimo de nove janelas; e) lata com capacidade de 20 L em chapa
galvanizada ou em plástico; f) tubo PVC com 75 mm de d iâmetro e 6 m de comprimento;
g) lata de alunúnio com 6 cm de altura e 8 cm de diâmetro para coleta de sedimentos; eh)
frasco de vidro grosso e boca larga com capacidade mínim a de 300 ml. O número de peças
desses materiais dependerá do número de tratamentos e consequentemente de parcelas
experimentais a serem ins taladas.
Outros utensílios também são necessários, como tampão, vas oura, pá de li. 0 ,
espumadeira, balde, concha grande, concha pequena e metro rígido. Além disso, corda
marcada com 100 marcas e 10 m de comprimento, pá, enxada, bandeja de alumínio, cápsula
de a lumínio, planilha para regis tro de dados, estaca de madeira, marreta com l kg, " ICI"
(pedaço de caibro de madeira com 1 m x 0,1 m x 0,1 m), além de um retànguJo em ripa de
madeira com 0,6 m x 0,6 m (0,36 m2).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


508 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Figura 1. Calhas coletoras, cano e divisor de enxurrada tipo "Geibb" entre as caixas.
Foto: lldegarclis Berto!.

Seleção do local e sistematização da área experimental

Caso não exista área nessa condição, é aceita outra, contanto que os atributos do solo,
especialmente os físicos, estejam minimamente degradados, a não ser que essa condição de
degradação esteja sendo avaliada. Outro critério fundamental é que o tipo de solo da área
seja o mais homogêneo possível, em termos de textura, profundidade do perfil e atributos
físicos e químicos e que apresente declividade uniforme (Figura 2).
A declividade deve estar o mais próximo possível de 9 cm m·1, para satisfazer o
padrão do modelo USLE/RUSLE. No caso de áreas com declividades diferentes dessa,
pode ser usada outra, contanto que represente a condição da paisagem da região. O
tamanho da área deverá contemplar o número de parcelas experimentais planejadas, mais
uma distância mínima de 2 m entre elas e no mínimo 10 m abaixo e acima das parcelas.
Em seguida, o solo onde serão instaladas as parcelas deverá ser homogeneizado, por meio
de preparo mecânico com arado e grade e por meio de correção química e física, apenas se
for n ecessário para garantir a mesma condição inicial para todas as parcelas. O local onde
serão instaladas as parcelas do tratamento solo descoberto (parcela padrão do modelo
USLE/RUSLE) não deverá ser corrigida quimicamente. As demais parcelas poderão ser
cultivad as e, nesse caso, todas com a mesma cultura para uniformização da área e, ou,
identificação de áreas com alguma variação, até a instalação dos tratamentos em definitivo,
quando então essas se diferenciarão de acordo com cada tratamento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - P ESQU I SA EM EROS ÃO HÍ DRICA DO SOLO NO BRASIL 509

Figura 2. Experimento de erosão hídrica instalado e m á rea uni forme.


Foto: lldega rdis Berto!.

Características e procedimentos de instalação da unidade experimental ou parcela

A unidade experimentaJ, ou parcela, deve ter o com primento da parcela-pad rão


recomendada para trabalhos de erosão hídrica em condição de chu va natural, o u eja, 22,1
m de comprimento, de acordo com Wischmeier e Smith (1978). A la rgura pode ser variável,
de acordo com a necessidade ou não de realização de trabalhos mecanizados ou do porte
das plantas ou das culturas que serão estudadas. O comprimento, no entanto, não deve
variar quando o objetivo é obter dados de erosão para estimar o paràmetros do modelo
USLE/RUSLE. Entretanto, se o objetivo é s imples mente comparar tratamento de manejo
do solo entre si, o comprimento da parcela pode ser diminuído, até o limite de 10 m, bem
como aumentado indefinidamente no caso de estudos sobre o efeito do comprimento
da rampa. A locação da parcela deve ser de tal modo que o comprimento de n ,1 m _eja
disposto no sentido do declive do terreno. O interva lo entre parcela pode variar, mas
recomenda-se que não seja inferior a 2 m, e o intervalo entre bloco deve er de no mínimo
4 m. Recomenda-se, ainda, que os tratamentos sejam ins ta lados re peitando u m mínimo de
duas repetições, ou seja, duas parcelas.
Para a instalação, a parcela deve ser orientada na direção da pendente principal,
evitando, o melhor possível, a existência de d eclive lateral na área dela. Idealmente,
todas as parcelas devem ser instaladas em um ú.n ico bloco. Para isso, é neces ário que a
declividade do terreno seja perfeitamente uniforme na direção da pendente principal do
terreno, sem declives laterais. Caso esta condição não seja satisfeita, pode--se optar por
compor os blocos com duas parcel~s cada um e, neste caso, logicamente ele não ficariam
perfeitamente alinhados entre si. E importante observar que os ângulos formado_ pelo
quatro cantos da parcela devem ser retos (90 º), o u seja, a parcela de e er perfeitamente
esq uadrejada.
Recomenda-se que o local da parcela seja de idamente marcado, com estacas cravadas
fora da s ua área, a uma distância mínima para que não ejam arrancadas quando do
preparo mecânico do solo. Tais estacas deverão estar alinhadas com as bordi1s da par ela
p ara que não se perca seu alinhamento, tanto lateral q uanto longitudinal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


---
510 ILDEGARDIS B RTOL T /\L .

a sequência, a calha oletora de cnxurrnda deveró ser ·o lo ,1Lfa nc1 part e rn[IÍ S b,lixél
do terreno, u s ja, na bord;:i inferior dél p.ir ela . E. sa ca lhn d everá ter uma inclinaç5o d e
ap ro'l:ima damcnte ... m 111 · 1 da~ extremidades p,m:i o centro e da bo rd a s u p ri o r p a ra a
dir ção do cano, devendo -cr colocad;:i cm perfeito nível e perfe ita m en te assen ta da sobre
o - lo. Em guida, a. chapa deverão ser cravad.:is nas la terais e na extrem idade upe ri or
da parcela, ini iand -se de baixo para ci ma, ou seja, da ca lha cm direção à parte mais
alta do t n- no. chapas deverão ser cravadas a uma profundid ade mínima de 1 O cm
no ola, com a extremidad obrepostas uma à outra em aprox imadamen te 10 cm. A
sobrepo içã de, e er feita de modo que a água que escoa dentro da parcela não saia. Do
lado de fora da parcela, a terra deve ser a1nontoada nos pontos de sobrepos ição das chapas,
de modo que a água que escoa por fora não entre na parcela. Para cravar as chapas no solo,
utiliza-se um pedaço de madeira dura, denominado "ICl", com 1 m x 0,1 m x 0,1 rn, com
um sulco longitudinal no centro de um dos lados. O ICI deve ser posicionado sobre a chapa
de modo que a borda superior dela fique dentro do sulco do equipamento. Batidas deve ser
dada sobre o ICI, com marreta, de modo a cravar a chapa no solo.
ma das extremidades do cano de PVC deve ser colocada no bico da calha coletora
de enxurrada e, a outra, dentro da primeira caixa coletora de enxurrada posicionada
dentro da trincheira, situada 6 m abaixo da parcela. Isso indica que a declividade do cano
deve ser mais ou menos a mesma do terreno, e que a borda superior da caixa coletora de
en 'urrada deve estar no nível imediatamente abaixo da extremidade inferior desse cano,
como indicado na figura 3.

figura 3. Caixas coletoras de enxurrada e divisor de enxurrad a tipo "Geibb".


Foto: lldegardjs Be rto!.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQ UI /1. M ERO Ão HforH CI\ DO SOLO NO B RAS I L Sll

O s ta nqu •s col tnr ci d C'nxurr,,d,1 d vi•m c;p r ínloc,H loc; irn12di,1 , wnt1! ,11-lai'<n
d,1 e xtr •miJc1d e iníc-rior do ca no rvc, d1• mnd n cpw f' c;,1 f'"<lremiJc1dP do e nn dt>'- t•j •
a enx urréld a dentro do primeiro tan quP. F.<it<' t,ln']W' p (fonnminr1dn d tanque P
sed imentaç.10, pois armélz na o<i s dim •ni ne; J tndo<i nc; tamJnhoi;" a ,H;u,1 . F P t nqut1
estará li gado a um segundo tanqu, por me in d u m divíc;or Je enxurr<1dc1. denominado dt>
ta nque de cole ta, que armél zena .i , gua e os qed imen to-,, prednmrn,m t>menle colou..! 1 • 4w•
passam pelo divisor de enxurrad a. Amboc; oc; ta nq u e; J ·em "-Pr coloc,H..lo~ em nivel nP
terreno e terem um o rifício (co m tampã o) s uficir>n tem •n t gr,rn le na b c:e pc1r.1 f cditM n
esgotamento da enxurrada e a lim peza por ocas i, o das col as de ,1mnc;trc1c;_Dentro dl' cc1Jt1
tanque, deve ser colocado um recipiente (balde'), posicion,1do c;nb ,1 e tremieiJJe do cc.1 0 ,
com capaci dade mínima d e ,.lQ L. t\ sim, por oc,1i;íão Je ()(:nrr '-nc1,1 Je chuvJc; d ~. 11x.o
vo lume, toda a enxurrada ficará arm azenada nes te recipiente, focili d do o proced1m1!nfo
d e coleta de amostras e de limpeza.
O tamanho das parcelas, o número e a d imensão do<; t.rnqu • cole o rec;, o numerP
de janelas no divisor Geib podem er vari jvei em raz ão do tipo de _olo, d ·cl1Vt', cl1m.1
e, principalmente, do comprimento da pt1rce ld, do tipo de v · •et.içJo nu c ultur t" d.1
técnicas de manejo, que serão estudadas. De talhes para o d imen~ion.1mento J,, trutur.i
de armazenamento da enxurrada ão apresentado · por B rtoni e Lomb.irdi , 'e o (2(i\ 11J.

Manejo da unidade experimental ou parccla-patlrão

A parcela-padrão é importéll1te em estudos de obtenção de v lo rt"S Je raLio J(• pt:rd..i dt:.>


solo, utiUzados para cálculo do fator C da U LE/ RUSLE e div · o · modelos de p r diç..io de
erosão. O solo desta parcela deve ser mantido permanenteme nte e m pou _io, -;em vege <1ç,\o
Sempre que ocorrer germinação, a vegetélção deve se r elimi nada, po r capiru1 ou por .u-r~rnquio
manual, podendo ser usado também de secante quím ico. Em qua lq uer Jo<- • sos, ,1 m..1tf"ri.1
vegetal d eve ser totalmente retirada da áreél da parcela . DuéL vezt: po r ,ino, cl." epoc.:ls de
implantação das culturas nas demais parcelas culti vadas, o ~olo da parcela-padrão dt:vi:: -. r
preparado mecanicamente com uma a raçào e duas gradagen real izadas na díreção p<1r.1le'-1
à pendente do terreno. Para isso, é necessá rio retirar as chapa di visórid~ q ue isolam a pMc •lzi,
que devem ser recolocadas após o preparo do solo. A uperfície d o :::,olo eve ~r m,rnti t"
a mais lisa possível, com rugosidade mínima e sem crosta upe rficial. Porta nto, '-ludnd do
aparecimento de crosta, essa deve ser eliminada manualmente com u.x1Lio de r do.

Manejo da unidade experimental ou parcela cultivada

A parcela cultivada deve ser manejada d e acordo ~om o tratamen t d a ímpu::.to.


Assim, o manejo da cultura implantada de e seguir .is rec menda õe~ pc r ti.nentt:::, com
essa, em termos de estande e de ad ubações. o Ja determina o :i · r z - - de
perdas de terra, a semeadura deve ser feita na dire Jo da pt:ndente lo rerr\:nO e, q u ·n 0
pertinente, também o preparo mecânico do solo, de .:i o rdo com o cri t~rio d cu lti\. 0 Je
primavera-verão e de o utono-inverno para oca o e m que o cl ima :ta ~giJo O permtt . Par
o caso de realizar o preparo mecânico do solo, tc1mb~m nes::,e Cil -o 5 c ha p~ d ivi::>ori.b.
devem ser retiradas antes do preparo e recolocadas ..ip
A semeadura pode ser feita mecani 1mente ou de torm.1 m41nu l, d e cordo com
o critério dos tratamentos adotados no plano experimental. Prátic,is c ultur is J e \ t:m ::,er

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E D GU


...
512 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

r ali.zada sempre que nece ário, como adubações de cobertura e controle de faw1a e flora
inde ejá, eis.

Procedimentos de campo e laboratório para coleta e processamento de


amostras de enxurrada

Medição do , olume e amostragem da enxurrada nos tanques coletores


Diferentes procedimentos poderão ser adotados, dependendo do volume de
enxurrada em balde ou em tanque coletor e da quantidade de sedimentos no balde, no
tanque e na callta coletora de enxurrada. Assim, deve-se seguir a rotina: a) retirar a tampa
do tanque coletor; b) verificar a quantidade de sedimentos no balde e no tanque; c) verificar
a quantidade de sedimentos dentro da calha coletora de enxurrada; e d) enquadrar a
situação em um dos casos a seguir descritos para proceder à coleta:
Caso 1. A enxurrada fica inteiramente retida do balde, e é pequena a quantidade de
sedimentos na calha.
Caso 2. O volume de en>,'11.rrada excede o volume do balde, e é pequena a quantidade
de sedimentos no balde e, ou, na calha.
Caso 3. O volume de enxurrada excede o volume do balde, e é grande a quantidade
de sedimentos no balde, no tanque 1 (de decantação) e, ou, na calha.

Quantificação das perdas de solo e água na enxurrada

Os cálculos das quantidades de água e de sedimentos presentes na enxurrada são feitos


atualmente utilizando programas especialmente desenvolvidos para isso, em planilha
Excel. As amostras de enxurrada vindas do campo têm que passar por um processamento
até chegar às condições necessárias e adequadas para alimentar esse programa, que realiza
os seguintes cálculos:

Cálculo do volume total de enxurrada: (a) no balde ou no tanque 1 (de decantação); (b)
no tanque 2 (de coleta); e (c) cálculo do volume total.
Cálculo da concentração de solo e água nos sedimentos: (a) na amostra de sedimentos
vinda do campo; e (b) no total dos sedimentos.
Cálculo da concentração de sedimentos e água na enxurrada: (a) na amostra vinda do
campo, por tanque; (b) no total, por tanque; e (c) no total geral, nos dois tanques.
Cálculo final das perdas totais de solo e água: (a) volume de chuva; (b) perda de
água, em que (bl) é expresso em volume na parcela e (b2) em % da chuva; (c) infiltração
efetiva da água no solo, em que (cl) é expresso em volume na parcela e (c2) em % da
chuva; (d) concentração de água na enxurrada (%); (e) perda de solo, em que (e1) é
expresso em kg parcela·1 e (e2) em t ha·1; e (f) concentração de água na enxurrada(%).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL 513

Experimentos em condição de chuva simulada


Para a ins talação de experimentos de erosão hídrica em condição d e chu va imu lada
no campo, também são necessá rios vá ri os recursos, que deve m ser d ev idamen te
dis ponibilizados antes de iniciar os proced imentos e que va riam se o experimento fo r
instalado e conduzido com parcelas para trabalhos com si mulador de braços rotativos o u
com parcelas para trabalhos com mkrossim ulador de chu va.

Recursos necessários à instalação e condução do experimento

Os recursos humanos devem ter as mes mas características daqueles des tinad os ao
experimento em condição de chuva natural, em termos de formação . Quantitati vamente,
são necessárias entre cinco e sete pessoas dev idamente trei nadas, dependendo do ti po
de simulador, para realizar uma chuva simuJada. Além desses, o utros colaborJdores são
necessários para os trabalhos de laboratório relativos ao processamento das Jmostr<1 e
análises físicas e químicas dessas.
Os recursos materiais relativos a equipamentos são também indispensáveis. O
sin1uladores mais utilizados são o simulador de chuva de braços rotativos, tipo S, anson
(1965), com braços movidos por motor, ou do tipo Empuxo (Berto! et al., 2012), com b raços
movidos por empuxo hidráulico. Esses simuladores devem ser devidamente equipado com
motobombas, mangotes, canos e curvas de 75 mm de diâmetro e registros para aduçào de
água de uma fonte até o simulador. Outros tipos de simuladores, como o micros imulador,
descritos por Meyer e McCune (1958), podem ser utilizados para microparcelas.
Da mesma forma que para experimentos com chuva natural, são neces árias
outros instrumentos, corno estufa, balança digital eletrônica, computador, impressora e
planilhas de cálculo, para computar as perdas de água e solo. Além disso, são neces-ários
pluviômetros para controle e checagem da intensidade de chuva aplicada.
Os recursos de ordem material indispensáveis para a adequada instalação e condução
dos experimentos são iguais aos destinados à chuva natural, como calha coletora de
enxurrada e placa divisória de parcelas. Outros utensílios iguais aos usados em chuva
natural também são necessários.

Seleção do local e sistematização da área experimental

As características e condições do local onde será instalado o experimento de em er


as mesmas daquelas para instalar experimentos de chuva natural. Excetua-se o fato de
que para chuva simulada as parcelas têm dimensões de 11 m de comprimento no sentido
do declive por 3,5 m de largura e distanciadas de 3,5 m urna da outra, para cada dupla de
parce la, para o caso de simulador de chuva com braços rotativo .

Características e procedimentos de instalação da unidade experimental ou


parcela

A parcela deve ter as dimensões da parcela-padrão, recomendada para trabalho de


erosão hídrica em condição de chuva simulada, ou seja, 11 m de comprimento e 3,5 m de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


514 lLDEGARDIS BERTOL ET AL .

largura, de acordo com IAPAR (1975). Também aqui se recomenda que os tratamentos
ejam instalados respeitando wn mínimo de duas repetições, ou seja, duas parcelas para
cada tratamento. As condições d o terreno e a orientação da parcela em relação ao declive
devem ser iguais às d a chm a natural. Isto também ocorre com relação aos procedimentos
de instalação da calha coletora de enxurrada e das chapas divisórias das parcelas.

Manejo da unidade experimental, ou parcela, padrão


O manejo do solo na parcela-padrão é exatamente igual ao da chuva natural.

Manejo da unidade experimental, ou parcela, cultivada


O manejo do solo na parcela cultivada é exatamente igual ao da chuva natural.

Procedimentos de campo e laboratório para coleta e processamento de


amostras de enxurrada
Alguns dias antes de iniciar a aplicação das chuvas simuladas, a superfície do solo
deve ser amostrada para caracterizar os seguintes atributos: distribuição de tamanho de
partículas; conteúdo de matéria orgânica; densidade do solo; densidade de partículas;
porosidade total do solo calculada; poros maiores do que 60 µm; poros menores do que 60
µrn; cobertura do solo por fitomassa residual, quando houver; e rugosidade superficial do
solo, para superfície rugosa.
Imediatamente antes de aplicar cada chuva simulada, determinam-se o teor de água
gravirnétrico e o volumétrico do solo, em amostras coletadas nas camadas de 0-10 cm e
10-20 cm.
Utilizando um simulador de chuva de braços rotativos, cada chuva simulada deve ser
aplicada com intensidade constante planejada de 63,5 mm h-1, com duração de acordo com
o objetivo do trabalho. A altura total de cada chuva aplicada (mm) é obtida multiplicando-
se a intensidade aplicada (mm h-1 ) pela duração (min) . Durante as chuvas, registra-se e
anota-se o tempo de inicio e o de término da enxurrada. A partir do início do escoamento
superficial, coletam-se amostras de enxurrada para definir a taxa instantânea de enxurrada,
em intervalos regulares de 3 minou de 5 min. Para isso, registra-se, em proveta graduada,
0 volume num determinado espaço de tempo (minou s). O volwne total de enxurrada
observada (mm, ou % da chuva aplicada) é obtido pela integração das taxas instantâneas
de enxurrada.
Imediatamente após o registro da taxa instantânea de enxurrada, coletam-se amostras
para posterior determinação da concentração de sedimentos. Para isso, coloca-se sob o
flu xo da enxurrada um frasco de plástico com capacidade para 800 mL, até que esse esteja
com seu volume quase completo, tampando e levando para o laboratório para posterior
processamento. A velocidade do escoamento superficial (m s-1 ) é medida 10 min antes do
final da chuva, quando a taxa de enxurrada está constante. Para isso, usa-se um corante
à base de azul de metileno, na concentração de 20 g L-1 • Demarca-se um segmento com 6
m de comprimento, situado a 2,5 m da extremidade superior e a 2,5 m da extremidade
inferior. O corante é jogado na linha superior do segmento d emarcado e é cronometrado o
tempo para o fluxo corado atingir a linha inferior do segmento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍ DRICA DO SOLO NO BRASIL 515

A concentrnção de sedimentos na enxurrada é discriminada na amost ra que havia sido


cole tada nos potes plás ticos a cada 3 ou 5 min durante a chu va im ulada . Em cada pote,
após pesado, adiciona-se 1 mL de uma solução de alúmen d potássio (so lução a 50 g L·1),
para precipitar os sedimentos em suspensão. Após 24 a 48 h, o líquido ob-renadante é
s uccionado. Os potes são então secos em estufo com circulação fo rçadJ de a r, à temperatura
de 50 ºC, por 60 a 72 h. Quando secos, procede-se à pesage m do ma terial e ao cJ lculo da
concentração de sedimentos na enxurrada (g L·1), que é obtida dividindo-se o peso do
sedimento seco a 50 ºC pelo peso da enxurrad a na amostra. A concen tração in ta ntâ.nea de
sedimentos para cada minuto de chuva aplicada (g L·1) é obtida pela interpolação linea r d
concentrações de sedimentos alcançadas em intervalos de 3 em 3 min ou de 5 em 5 min. A
concentração média de sedimentos na enxurrada (g L·1) é obtida dividindo-se a perda total
de solo da parcela pela enxurrada total, e multiplicando-se o res ultado da di visão por 10.
A taxa de erosão ou de perda de solo por unidade de área (kg m·2 h·1) é computada
multiplicando-se a concentração de sedimentos na enxurrada pela taxa de enxurrada no
momento da amostragem, e dividindo-se o resultad o pela á rea da parcela. Sempre que a
intensidade da chuva aplicada varia em relação à chuva planejada de 63,5 mm h·1, aj usta-se
a enxurrada total e a perda total de solo para a intensidade de chu va planejada, de acordo
com procedimento adotado em Cogo (1981).
A enxurrada total ajustada é computada multiplicando-se a intensidade de chuva
planejada pela duração da chuva e subtraindo dessa a infiltração total observada. A
infiltração total observada é computada como a diferença entre a quantidade total de chuva
observada e a quantidade total de enxurrada observada. A perda total de solo ajustada é
computada multiplicando-se a perda de solo observada pelo quadrado da relação entre
intensidade de chuva planejada e intensidade de chuva observada. A perda total de solo é
ainda ajustada para a declividade média das parcelas em razão da variação de declividade
verificada entre as unidades experimentais, quando houver, conforme consta em Cogo
(1981). Este ajuste é obtido multiplicando a perda total de solo ajustada para intensidade
de chuva pelo produto da divisão do valor do fator S do declive médio das parcelas pelo
valor do fator S do declive da unidade experimental em questão, conforme procedimento
adotado por Wischmeier e Smith (1978), conforme a equação:
S = 0,065 + 4,56 sen0 + 65,41 (sen0) 2 (1)
em que:
0 é o ângulo do declive.

OBTENÇÃO DE VALORES PARA OS PARÂlVIETROS DO


MODELO USLE/RUSLE

Obtenção de valores do índice de erosividade - fator R (EI ) do


30
modelo USLE/RUSLE
O índice de erosividade da chuva (fator R do modelo USLE/ RUSLE) é um alor
numérico que representa o potencial da chuva e da e~ urrada a ela as ociada para produzir
erosão; baseia-se na relação entre características da chu a e perdas por erosão em parcelas-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


516 lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

padrão. Estudos evidenciaram que apenas a en rgia ciné tica da chuva, por si só, n ão é
um bom indicador do potencial erosivo da chu va. Por isso, no mode lo USLE/RUSLE, a
ero i, idade é repr entada pelo ú1dice El , produto da e nergia cinética total da chuva (E)
-'º
pela sua intensidade máxima em 30 min (130). Detalhes dos procedimentos de obtenção
de se fator enconh·am-se no apítulo 15.

Procedimento adotado para o caso do uso de pluviógrafo mecânico


a) De crição geral do sistema de registro de chuva em pluviograma num pluviógrafo
mecânico

A chm a é registrada em um dispositivo provido de um reservatório com 10 mm de


capacidade e pena móvel para registrar a quantidade de chuva em fruição do tempo, de
0-10 nun, denominado pluviógrafo (Figura 4). Cada vez que o reservatório é preenchido
com 10 mm de água da chuva acumulados, ele descarrega instantaneamente e a pena
começa a registrar novamente a partir de zero (Figura 5).

Figura 4. Pluviógrafo mecânico modelo "PLG-7".


Foto: lldegardis Berto!.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA


XVI - PEsQur " M EnosÃo HfoRr cA oo So o NO BRA S I L 517

Figura S. Pluviogra ma diário mod e lo " IH- f '


Fonte: André Júl io do Amar,11.

b) Orientações gerais para computar os valore de El 30 da chuvas narurais

b.1. O valor de E deve ser co mputado para todas as chuva com LO mm ou mzii · de
vo lume.
b.2. O valor de El30 para as chuvas m nores do que 10 mm deve er cal ul.1do, se a
quantidade de chuva em 15 min for no mínimo de 6 mm.
b.3. As chuvas separadas por 6 h ou menos de e m er tratada como urna úni a chu\·a.
esse caso, somente um valor d e El11) deve se r co mputado paril o ,~rupo inteiro :le
chuva .
b.4. As ch uvas separadas por mais de 6 h são tratadas como diferente - chuvas, pilra
efeito do Ellll e do número de chu as.
b.5. A intensidade máxima em 30 min é computada como e il chuva tive_ e dur.-iJo no
mínimo 30 min, no caso de uma chuva durar meno do que 30 min.
b.6. Os valores de EI30 são compu tados e m unidade métric.:is. :-\ e ner!:!ia cint'.-hca unitária
da chuva é dada em MJ ha·1 mm·1 e a intensidade má:--.im.:1 em O min da chuv.-i em
mmh·1•

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


518 lLDEGARDI S BERTOL ET AL .

e) Procedimento para computar o EIJ das chuvas naturais


0

c.1 . Selecionar o pluviogTama para computar O valor de EJ10 da chuva, de acordo com as
orientações gemi dadas anteriormente . ·
c.2. parar, m anualmente com uso de lápis ou por meio de dispositivo digitalizador, as
sec õe~ do pluviograma cmn declividade uniforme na linha de regish·o da chuva.
O di positi\ o digitalizador é constituído por uma mesa digitalizadora dotada
?e pr~g-rama e pecífico para identificar e digitalizar os segmentos de chuva com
mtens1dade uniforme.
c.3. Ler a carta, registrar em uma planilha, numa coluna (coluna 1), o tempo em que
ocorreu a mudança de inclinação da curva e marcar, em outra coluna (coluna 2), a
quantidade de chuva acumulada.
c.4. Iniciar a computação dos valores, assim que o pluviograma estiver totalmente lido.
c.5. Subtrair a leituras sucessivas na coluna 1 e na coluna 2, para obter os valores de
outras duas colunas (colunas 3 e 4).
c.6. lf ultiplicar cada valor da coluna 4 por 60 s e dividir pelo valor correspondente da
coluna 3 para obter os valores de outra coluna (coluna 5), ou seja, a intensidade da
chuva, mm h·1 .
c.7. Utilizar a equação da energia cinética unitária da chuva (Equação 1), com cada um
dos valores da coluna 5 (intensidade da chuva, mm h·1).
Para o modelo USLE, a energia cinética unitária da chuva é calculada pela seguinte
equação:
Ec(mm) = 0,119 + 0,0873 loglOi (2)
em que:
Ec é a energia cinética para cada mm de chuva, MJ ha·1 mm·1; e
i é a intensidade da chuva, mm h·1 .
Para o modelo RUSLE, a energia cinética wutária da chuva é calculada pela seguinte
equação:
Ec (mml = 0,29 [1 - 0,72 exp (-0,05 i)] (3)

Os valores assim obtidos compõem outra coluna da planilha (coluna 6).


c.8. MuJtiplicar cada valor da coluna 6 pelo :alor c_orrespondente _d a coluna 4 pa~a obter
a energia cinética de cada secção de declive uniforme do pl~v1ograma de registro da
chuva, cujos valores são registrados em outra coluna da planilha (coluna 7).
c.9. Somar os valores da coluna 7 para obter a energia cinética total da chuva em MJ ha·1
m.m•l.
c.10. Determinar a maior altura de chuva para qualquer período de 30 min consecutivos,
utiJizando os valores da coluna 4 ou o próprio pluviograma.
c.11. Multiplicar a altura de chuva lida em 30 min por dois para obter a intensidade máxima
1
de chuva em 30 rnin, mm h· •

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASI L 519

c.12. Discriminar o valor de El30 da chuva multiplicando o valor d e ene~gia cinética t? ta1
da chuva da coluna 7 da planilha pelo valor da intensidade máxima em 30 mm e
expressar o El30 em MJ mm ha·1 h·1•

Procedimento de cálculo do EI)0 para o caso de chuva simulada


O cálculo do fator de erosividade (fator R) para chuva simulada aplicada com
simulador de chuva do tipo Swanson ou similar segue o procedimento de Meyer (195 ),
pela seguinte equação:
EI30 = 0,2083 Q i (4)

em que:
EI30 é o índice de erosividade, MJ mm ha·1; nesse caso, como a intensi_dade da ch ~va é
uniforme, não se faz o produto da energia cinética pela intensidade máxt ma em 30 mm.
Q é a quantidade de chuva aplicada, mm.
i é a intensidade da chuva simulada, mm h·1 .

Obtenção de valores do índice de erodibilidade - fator K do modelo


USLE/RUSLE
O termo erodibilidade do solo é diferente de erosão do solo. A erosão do solo estimada
pelo modelo USLE/RUSLE é mais influenciada pela cobertura e pelo manejo do solo,
características da chuva e do relevo do que pelos atributos intrínsecos do solo. Contudo,
alguns solos erodem mais do que outros, indicando que os seus atributos intrínsecos
também influenciam na erosão, o que determina sua resistência natural ao efeito da chuva
e enxurrada, denominada erodibilidade. Assim, a erodibilidade de um solo particular é
discriminada experimentalmente e é definida como a taxa de perda de solo ocorrida por
unidade de índice de erosividade da chuva.

Obtenção de valores do fator K em experimentos em condição de chuva natural


Em condição de chuva natural, o fator K da Ul.SE deve ser obtido com dados de
perda de solo e erosividade da chuva coletados durante 22 anos, no mínimo. Essas perdas
devem ser coletadas em parcelas denominadas "padrão", sob as seguintes condições:
comprimento da parcela de 22,1 m; largura da parcela de 3,5 m; declividade uniforme
do terreno dentro da parcela de 9 cm m·1; e superfície do solo mantida permanentemente
descoberta (sem vegetação) e desprovida de crosta superficial. O valor médio dos dados de
perda de solo (t ha·1 ) do período de 22 anos deve ser dividido pelo valor médio do fator de
erosividade (fator R - MJ mm ha·1 h·1) do mesmo período.
Para o caso da RUSLE, existem variações na metodologia, que foram detalhadas no
capítulo 15. Em ambos os modelos, o valor do fator K é expresso em t h MJ•t mm•t.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


520
ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

Obtenção de valores do fator K cm experimentos cm condição de chuva


simulada

E:-.:perimento para obter o fato r K não devem ser realizados em parcelas pequenas;
por isso, 0 simulador de chuva deve ser do tipo Swanson ou similar. Nesse caso, os dados
de p~r~a de olo ão obtido em parcela-padrão para a chuva simulada, sob as seguintes
c ~diçoes: comprimento da parcela de 11 m ; largura da parcela de 3,5 m; declividade
umfor~,: do terreno dentro da parcela de 9 cm nY1; distância entre as parcelas de 3,5 m;
superfICie do olo mantida permanentemente descoberta (sem vegetação) e desprovida
de cro ~a superficial. A coleta dos dados de perda de solo com as chuvas simuladas para
detem,mar o fator K deve er iniciada pelo 1nenos dois anos após o solo ter sido mantido
perman:ntemente descoberto e sem vegetação. Recomenda-se a seguinte sequência de
chuva sunulada com 63,5 nm1 J,-1 de intensidade constante, a ser aplicada segundo Olson
et ai. (1962):
• Primeira chuva com duração de 60 mine volume de 63,5 mm (63,5 mm h·1) , aplicada
sobre o solo recém-preparado.
• Segunda chuva com duração de 30 min e volume de 31,75 nm1 (63,5 nm1 J,-1),
aplicada 24 h após a primeira chuva.
• Terceira chuva com duração de 20 min e volume de 21,17 nm1 (63,5 mm h-1 ),
aplicada 15 min após a segunda chuva.

Obtenção de valores do fator relevo - fator LS do modelo USLE/


RUSLE

O fator relevo, denominado de fator topográfico (\t\Tischmeier e Smith, 1978; Renard


et al., 1997), compreende o efeito combinado do comprimento do declive (fator L) e da
declividade do terreno (fator S), compondo o fator 1.5. O comprimento do declive é
definido como a distância do ponto de origem do escoamento superficial (numa cota
mais elevada no terreno) até o ponto onde a declividade diminui e a deposição começa ou
onde a enxurrada entra num canal que a desvie ou a armazene (numa cota mais baixa no
terreno). A declividade, por sua vez, é a diferença de cota em uma determinada distância
no terreno, expressa em porcentagem. Experimentalmente, no entanto, os fatores L e S são
obtidos e computados separadan1ente. Ambos representam uma razão de perda de solo.
O fator LS é a razão esperada entre a perda de solo por unidade de área ocorrida em um
comprimento e uma declividade qualquer e a perda de solo por unidade de área ocorrida
em um declive com comprimento de 22,1 me declividade de 9 cm m-1, mantidas constantes
as demais condições. Poucos experimentos para discriminar os fatores L e S nas cond ições
brasileiras foram realizados. Para definir o fator L, em geral é utilizada chuva natural; e
0 fator s, chuva simulada. Assim, o fator topográfico pode apresentar valores maiores ou
menores do que 1. Detalhes de obtenção do fator 1.5 a partir de modelos estabelecidos são
apresentados no capítulo 15.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL
521

Obtenção de valores do fator cobertura e manejo - fator C do


modelo USLE/RUSLE
Os valores para o fator C, tanto da versão USLE quanto RUSLE, são obtidos a partir de
razões de perda de solo determinadas em experimentos de pesq uisa conduzidos em campo.
Esses experimentos podem ser conduzidos em condições de chu va natural e, nesse caso,
as parcelas experimentais apresentam as seguintes condições: comprimento da parcela
de 22,1 m; largura da parcela de 3,5 m, preferencialmente com decli vidade uniforme do
terreno dentro da parcela de 9 cm m·1; cultivo continuado com algum tipo de cultura e, ou,
técnica de manejo. No caso de os experimentos serem condu zidos sob chuva simulada,
as parcelas têm as mesmas condições, exceto o comprimento da parcela, q ue é de 11 m, e
a largura da paTcela, de 3,5 m. Essas pmcelas, em condição de cultivo, ocasiona m pe~das
de solo menores do que a da parcela-padrão. A relação entre as perdas de solo ocomdas
em uma parcela com cultivo e as perdas de solo ocorridas na parcela-padrão resulta na
razão de perda de solo (RPS), com valor necessariamente menor do que 1. As RPSs são
determinadas por fase do cultivo ou técnica de manejo, conforme a proteção que produz
contra a erosão. O produto da RPS com a fração do índice de erosividade (FEI 30) das chu vas
naturais resulta no fator C, em ambos os modelos. Os detalhes de obtenção deste fa tor
encontram-se descritos no capítulo 15.

Obtenção de valores do fator práticas conservacionistas de suporte


- fator P do modelo USLE/RUSLE
Por definição, o fator Pé a relação de perda de solo ocorrida em uma área cultivada
com a presença de uma prática conservacionista de suporte específica pela correspondente
perda desolo ocasionada em urna área cultivada morro a baixo. As práticas conserv acionistas
de suporte aqui referidas são o cultivo em contorno; o cultivo em faixas, com rotação de
culturas e em contorno; e o terraceamento agrícola, cada uma delas perfazendo um subfator,
ou seja, respectivamente, PC' P5 e Pr Os dados que permitem estimar estes s ubfatores
para comporem o fator P são obtidos em experimentação de campo, em áreas geralmente
compreendidas como pequenas bacias hidrográficas, onde urna parte da bacia é cultivada
sem a prática conservacionista, ou seja, morro abaixo, sem rotação e sem terraceamento, e
a outra parte, cultivada com a presença de uma das práticas recém-referidas (Wischrneier
e Smith, 1978). Desse modo, o fator P necessariamente apresentará valores menores do
que 1. Os detalhes de obtenção deste fator encontram-se descritos no capítulo 15.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa em erosão do solo 1;0 Brasil é relativamente recente, comparada a países como
os EUA e alguns da farrapa e da Asia. Além de recente, quantitativamente desenvolveu-se
com relativa alta intensidade entre as décadas de 1970 e 1980, sofreu forte desaceleração daí
até a década de 2010, aproximadamente, e, a partir daí, tomou a ser intensificada até ao-ora.
Qualitativamente, é possível avaliar, com base no banco de dados existente, que boa ~arte
dos resultados até agora conseguidos são de boa qualidade, obtidos dentro dos padrões
metodológicos corretos. No entanto, outra parte é de bai"Xa qualidade pelo fato de os
experimentos conduzidos pma tal foram mal planejados e, por isso, geraram resultados de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


522
ILDEGARDIS BERTOL ET AL.

difícil, para não d izer impossível, a pro eitamento. Assim, boa parte das informações obtidas d e
resul ta~os de pesq_uisa em erosão do solo no Brasil pouco servem ao propósito de mod elagem
de erosao e de efetivo aproveitamento no planejamento conservacionista.
De~ido ª? cenário, em parte negativo, quanto aos resultados de pesquisas em erosão
d o solo Já o~hdos, deve-se, mais do que nunca, estimular novas pesquisas, em especial
novo~ pes~m~ad ores, a trabalharem na direção da geração de conhecimentos nessa á rea .
Para isso~ indiscutivelmente, são necessárias pelo menos três ações importantes. Primeira,
prepara~ao d e recursos humanos em grande quantidade e elevada qualidade, especialistas
em erosao e conservação do solo em nível de doutorado. Segundo, disponibilização de
recurs~s financeiros por parte das agências financiadoras, para alimentar projetos de
pesquisa nessa área. Terceira, efetiva vontade política do poder público, especialmente
do gO\ erno federal, mas também dos estaduais, para estimular a geração e estruturação
de núcleos regionais de pesquisa nessa área. Desse modo, será possível, no médio e
long? prazo, obter-se dados de erosão do solo suficientes em quantidade e confiáveis em
qualidade, para atender as demandas de modelagem do fenômeno e de planejamento
conservacionista de solo em bases sustentáveis.

LITERATURA CITADA
Amaral AJ. Erosão hídrica e limites críticos de comprimento de declive para seu efetivo controle,
em diferentes tipos e doses de resíduo cultural e dois modos de semeadura direta [tese]. Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
Bágio B. Erosão hídrica em diferentes comprimentos de declive em solo descoberto [dissertação].
Lages: Universidade do Estado de Santa Catarina; 2016.
Barbosa Ff. Comprimento crítico de declive relacionado à erosão hídrica, em diferentes tipos e doses
de resíduo em duas direções de semeadura direta [tese]. Lages: Universidade do Estado de
Santa Catarina; 2011.
Barretto AGOP, Barros MGE, Sparovek G. Bibliometria, história e geografia da pesquisa brasileira
em erosão acelerada do solo. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:2443-60.
Bazzano MGP, Eltz FLF, Casso! EA. Erosividade, coeficiente de chuva, padrões e período de retorno
das chuvas de Quarai, RS. Rev Bras Cienc Solo. 2007;31:1205-17.
Bazzano MGP, Eltz FLF, Casso! EA. Erosividade e características hidrológicas das chuvas de Rio
Grande (RS). Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:235-44.
Berto! I. índice de erosividade (E½IJ) para Lages (SC) - 1ª aproximação. Pesq Agropec Bras.
1993b;28:515-21.
Berto! I. Avaliação da erosividade da chuva na localidade de Campos Novos (SC) no período de
1981-1990. Pesq Agropec Bras. 1994;29:1453-8.
Berto! 1. Comprimento crítico de declive para preparos conservacionistas de solo [tese]. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1995
Berto! I. Erodibilidade de um Cambissolo Húmico distrófico determinada sob chuva natural: primeira
aproximação. Rev Bras Cienc Solo. 1994a;18:335-8
B t II AmaraJ AJ, Vida! Vázquez E, Paz González A, Barbosa FT. Relações da rugosidade superficial
er ºd; solo com O volume de chuva e com a estabilidade de agregados em água. Rev Bras Cienc
Solo. 2006;30:543-53.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRICA DO SOLO NO BRASIL 523

Be rto 11, Bertol C, Barbosa FT. Simulador de chuva tipo empuxo com braços movidos hidraulicamente:
fabricação e ca libração. Rev Bras Cienc Solo. 2012;36:1905-10.
Berto) I, González AP, Vázquez EV. Rugosid ade superficial do solo sob diferentes doses de resíduo
de milho s ubmetido à chuva simulada. Pesq Agropcc Bras. 2007;42:103-10.
Berto) I, Leite D, Engel FL, Cogo NP, González AP. Erodibi lidade de um Nitosso lo Há plico alumínico
d eterminada em condições de campo. Rev Bras Cienc Solo. 2007;31 :541-9.
Berto! I, Schick J, Batistela O. Razão de perdas de solo e fato r C para as culturas de soja e trigo em trê
sistemas de preparo em um Cambissolo Húmico alumfnico. Rev Sras Cienc Solo. 2001;25:451-61.
Berto! I, Schick J, Batistela O. Razão de perdas de solo e fa tor C para milho e aveia em rotação com
outras culturas três sistemas de preparo do solo. Rev Bras Cienc Solo. 2002;26:545-52.
Berto! I, Schick J, Batis tela O, Leite D, Visentin D, Cogo NP. Erosividade das chuvas e sua distribuição
entre 1989 e 1998 no município de Lages (SC). Rev Bras Cienc Solo. 2002;26:455-464.
Berto! I, Schick J, Batis tela O, Leite D, Amara AJ. Erodibilidade de um Cambissolo Húmico alumínico
léptico, determinada sob chuva natural entre 1989 e 1998 em Lages (SC). Rev Bras Cienc Solo.
2002;26:465-71.
Bertol l, ZoldanJúnior WA, Fabian EL, Zavaschi E, Pegoraro R, Paz Gonzá lez A. Efeito de escarificação
e da erosividade de chuvas sobre algumas variáveis de valores de erosão hídrica em sistemas de
manejo de um Nitossolo Há plico. Rev Sras Cienc Solo. 2008;32:747-57.
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. 7. ed. São Paulo: ícone; 2010.
Bertoni J, Pastana FI, Lombardi Neto F, Benatti Junior R. Conclusões gerais das pesquisas sobre
conservação do solo no Instituto Agronômico. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas;
1972. (Circular, 20)
Beutler JF. Erosão hídrica num Latossolo Vermelho alurninoférrico submetido a diferentes sistemas
de preparo e cultivo do solo [dissertação). Lages: Universidade do Estado de Santa Catarina;
2000.
Carvalho DF, Montebeller CA, Franco EM, Valcarcel R, Berto! I. Padrões de precipitação e índices
de erosividade para as chuvas de Seropédica e Nova Friburgo, RJ. Rev Bras Eng Agr mb.
2005;9:7-14.
Carvalho MP, Lombardi Neto F, Vasques Filho J, Cataneo A. Índices de erosividade da chuva
correlacionados com as perdas de um Podzólico Vermelho-amarelo eutrófico te,"Xtura argilosa/
muito argilosa de Mococa (SP: primeira aproximação do fator erodibilidade do solo. Rev Bras
Cienc Solo. 1989;13:237-42.
Casso) EA, Eltz FLF, Martins D, Lemos AM, Lima VS, Bueno AC. Erosividade, padrões hidrológicos,
período de retomo e probabilidade de ocorrência das chuvas em São Borja, RS. Rev Bras Cienc
Solo. 2008;32:1239-51.
Castro LG, Cogo NP, Volk LBS. Alterações na rugosidade superficial do solo pelo preparo e pela
chuva e sua relação com a erosão hídrica. Rev Bras Cienc Solo. 2006;30:339-52.
Cago NP. Effect of residue cover, tillage-induced roughness and slope lenght on erosion and related
parame ters [tese]. West Lafayette: Purdue University; 1981.
Dedecek RA, Resck DVS, Freitas Junior E. Perdas de solo, água e nutrientes por erosão em Latossolo
Vermelho-Escuro dos cerrados em diferentes cultivos sob chuva natural. Rev Bras Cienc Solo.
1986;10:265-72.

Dechen SCF, Lombardi Neto F, Castro OM. Gramíneas e leguminosas e seus restos culturais no
controle da erosão em Latossolo Roxo. Rev Bras Cienc Solo. 1981;5:133-7.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


524
lLDEGARDIS BERTOL ET AL.

Dl' aria 1. ' Lombardi I eto F. Razão de perdas de solo e fator C parn sistemas de manejo da cullura
do nu lho. Rev Bras iene alo. 1997;21 :263-70.
Denardin JE, \'\ ünsche W A. Erodibilidade de um Lalossolo Vermelho-Escuro. ln: Anais do 3º
Encontro acional de Pc quisa sobre Conservação do Solo; Recife; 1980. Recife: Universidade
Federal Rural de Pernambuco; 1980.
Dia , iln JRC. A erosividade das chuvas em Fortaleza (CE). l - distribuição, probabilidade de
ocorrl\ncia e petiodo de retomo - 1" aproximação. Rev Bras Cienc Solo. 2003;27:335-45.
Flanag~n DC,_Nearing MA. USDA-Water Erosion Prediction Project (WEPP). WEPP users summary.
We5 l Lafayette: USDA-ARS lational Soil Erosion Research Laboratory; 1995. (NSERL, 10)
H.ickrnann e, Eltz FLF, Casso! EA, CogoCM. Erosividade das chuvas em Uruguaiana, RS, determinada
pelo índice E1:.o, com base no período de 1963 a 1991. Rev Sras Cienc Solo. 2008;32:825-31.
Hernani LC, Salton JC, Fabrício AC, Dedecek R, Alves Júnior M. Perdas por erosão e rendimentos de
soja e de trigo em diferentes sistemas de preparo de wn Latossolo Roxo de Dourados (MS). Rev
Bras Cienc Solo. 1997;21:667-76.
instituto Agronômico do Paraná - IAP AR. Recomendações gerais do encontro sobre uso do simulador
de chuva em pesquisa de conservação do solo no Brasil. ln: Anais do 1º Encontro Nacional sobre
pesquisa de erosão com simuladores de chuva; 1975; Londrina. Londrina: 1975. p .107-20.
Jacobs GA, Rollof G, Biscaia RCM, Merten G. Erosividade da chuva correlacionada com perdas de
solo de dois Latossolos Vermelho-Escuros (textura argilosa e média): uma aproximação do fator
':rodibilidade do solo. ln: Ana.is da 10ª Reuruão Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da
Agua; 1994; Florianópolis. Florianópolis: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1994. p.170-1.
Levien R, Cago JP, Rockenbach CA. Erosão na cultura do milho em diferentes sistemas de cultivo
anterior e métodos de preparo do solo. Rev Bras Cienc Solo. 1990;14:73-80.
Lombardi Neto F, Moldenhauer WC. Erosividade da chuva: sua distribuição e relação com as perdas
de solo em Campinas (SP). Bragantia. 1992;51:189-96.
Machado RL, Can•alho DF, Costa JR, Oliveira Neto OH, Pinto MF. Erosividade e padrões hidrológicos
de precipitação no Agreste Central pernambucano. Rev Bras Eng Agr Amb. 2008;16:871-88.
Mannigel AR, Carvalho MP, Moreti D, Medeiros LR. Fator erodibilidade e tolerância de perda dos
solos do Estado de São Paulo. Acta Sei. 2002;24:1335-40.
Margolis E, Silva AB, Jacques FO. Determinação de fatores da Equação Universal de Perdas de Solo
para as condições de Caruaru (PE). Rev Bras Cienc Solo. 1985;9:165-9.
Martins SG, Avanzi Júnior C, Silva MLN, Curi N, Norton LO, Fonseca S. Raifall erosivity and rainfall
retum period in experimental watershed of Aracruz, in the coastal plain of Espirita Santo,
Brazil. Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:999-1004.
Martins Filho EMV, Pereira VP. lnfluéncia da compactação do solo nas perdas por erosão e na sua
erodibilidade. Ci Agron. 1993;8:39-45.
Marques JJGSM, Alvarenga RC, Curi N. Erosividade das chuvas na região de Sete Lagoas, MG. Pesq
Agropec Bras. 1998;33:761-8.
Marques JJGSM, Alvarenga RC, Curi N, Santana DP, Silva MLN. Índices de erosividade da
chuva, perdas de solo e fator erodibilidade para dois solos da região dos cerrados - primeira
aproximação. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:427-34.
Meyer LD. An investigation of method.os fo_r simulati.ng ra.infall on standard runoff plots anda study
of the drop size, velocity, and _kmectic energy of selected spray noz~les. USDA-ARS-SWCR-
ESWMRB and Purdue Univers1ty West Lafayette, IN; 1958. 43p. (Spec1aI Report no 81)
Meyer LO, M ccune DL. Rainfall si mulator of runoff plots. Agric Eng. 1958;39:644-8.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XVI - PESQUISA EM EROSÃO HÍDRI CA DO SOLO NO BRASI L 525

fo rais Lf-8. omp rime ntos críticos d e decli ve pa rei di(erentec; manejos de r s fdu oc; culturais no
s is te m;:i plantio direto em um solo Poclzó lico da De pressão entra l-RS ftesc ]. Porto Alegre:
Univers idade Federa l do Rio Grande d o Sul; 1999.
Olson TC, Mannering JV, Johnson CB. The erocl ibility of so me Ind iana soi l . Indiana Acad Sei.
1962;72:319-24.
Pott CA, De Maria IC. Comparação ele métodos de ca mpo para delerminaçJo da velocidade de
infilh·ação básica. Rev Bras Cienc Solo. 2003;27:19-27.
Prochnow D, Dechen SCF, De Maria IC, Castro OM, Vieira SR. Razão de perdas de terra e fotor C da
cultura do cafeeiro em cinco espaçamentos, em Pindorama (SP). Rev Bras C ienc Solo. 200- ;29:91 -
8.
Renard KG, Fos ter GR, Weesies GA, Mccoo l DK, Yoder DC. Predicting soil crosion by water: a guide
to conservation planning with the Revised Universa l Soil Loss Equation (RliSLE) . Washi ng ton:
USDA; 1997. (AgricuJtural handbook, 703).
Roque CG, Ca rvalho MP, Prado RM. Fator erosividade da chu va de Piraju (SP): d istribuição,
probabilidade d e ocorrência, período de retorno e correlação com o coefi ciente de chuva. Rev
Bras Cienc Solo. 2001;25:147-56.
Rufino RL. Avaliação do potencial erosivo da chuva para o estado d o Paraná: segu nda aproximação.
Rev Bras Cienc Solo. 1986;10:279-81.
Sch.ick J. Erosão hídrica em Cambissolo Húmico á lico submetido a diferentes sis tem as de p reparo e
cultivo do solo [dissertação]. Lages: Universidade do Estado de Santa Ca tarina; 1999.
Sch.ick J. Fatores R e K da USLE e perdas de solo e água em sistemas d e manejo sobre um Cambissolo
Húmico em Lages, SC [tese). Lages: Universidade do Estado de Santa Catarina; 201 -!.
Sch.ick J, Berto! I, Cago NP, Paz González A. Erosividade das chuvas de Lages, Santa Catarina. Rev
Bras Cienc Solo. 2014;38:1890-905.
Schick J, Berto) I, Cogo NP, Paz González A. Erodibilidade de um Cambissolo Húmico sob chu va
natural. Rev Bras Cienc Solo. 2014;38:1906-17.
Silva MLN, Freeitas PL, Blancaneaux P, Curi N, Lima JM. Relação entre parâmetro da chu va e
perdas de solo e determinação da erodibilidade de um Latossolo Vermelho-escuro em Goiânia
(GO). Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:131-7.
Streck EV. Erosão hídrica do solo relacionada com o s ubfator uso anterior da terra do modelo
"RUSLE" (tese). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1999.
Silva AM, Silva MLN, Curi N, Avanzi JC, Ferreira tvfM. Erosividade da c huva e erodibilidade
de Cambissolo e Latossolo na região de Lavras, Sul de Minas Gerais. Rev Bras Cicnc Solo.
2009;33:1811-20.
Volk LBS. Cond ições físicas da camada superficial do solo res ultantes do seu ma nejo e indicadores
de qualidade para redução da erosão hídrica e do escoamento s uperficial [tese]. Porto Alecre:
0
Univers ida de Federal do Rio Grande do Sul; 2006.
Swans on NP. A rotating-boom rainfall simulator. Trans Am Soe Agron Eng. 1965;26:1738-B.
Wischme ier WH, Smith DO. Predicting rainfall-erosion losses - a guide to conservation planning.
Was hing ton: USDA; 1978. (Agricultura) Handbook, 537)
Zoldan JúJ1ior WA, Berto) 1, Pegoraro R, Fabia.n EL, Za asc.hi E, Vida) 'ázquez E. Ru o:, ida de
s upe rficial do solo formada por escarificação e in!luenciada pela erosiv idade d a eh~ a . Rev
Bras C ienc Solo. 2008;32:353-62.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERV ACIONISTAS
DO SOLO E DA ÁGUA
Isabella Clerici De Marial/, Ildegardis BertoJ7/ & Mario Ivo Drugowich31

11 Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais,


Campinas, SP. E-mail: icdmaria@iac.sp.gov.br
21 Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC.

E-mail: ildegardis.bertol@udesc.br
31 Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Campinas, SP.
E-mail: drugo.cati@gmail.com

Conteúdo

INfR0DUÇÃ0 ............................................................................................................................................ ·-··-·.. ····....... 528


ESTRATÉGIAS C0NSERVAO0NISTAS .................................................................................................................. 529
Aumento da cobertura vegetal .........................................................................................................................- .. 529
Aumento da infiltração de água no solo ............................................................................................. ·-·-·····-···· 530
Controle do escoamento superficial .................................................................................................................... . 530
PRÁTICAS C0NSERVACI0NISTAS ......................................................................................................................... 531
Práticas vegetativas ............................................................................................................................................... . 532
Cobertura morta ................................................................................................................................................. . 533
Cordões ou faixas de vegetação permanente, aleias, quebra-ventos ........................................................ .. 537
Cultivo ou culturas em faixas ··························································································································· 539
Qualidade na população de plantas 542
·······························································································-····--·········
Plantas de cobertura do solo ············· ................................................................................................................ 543
Cultivo consorciado ···················......................................................................................................................... 545
Pastagem e sua integração com lavouras e florestas ..................................................................................... 546
Manejo das plantas infestantes ......................................................................................................................... 548
Florestamento, reflorestamento e faixas de bordadura ................................................................................. 550
Práticas edáficas ....................................................................................................................................................... 551
Controle do fogo ............................................................................................................................................ ·-··· 552
Correção do solo e adubação ............................................................................................................................ 552
Adubação verde .................................................................................................................................................. ~
Rotação de culturas ............................................................................................................................................. 554
Sistemas de manejo conservacionista ............................................................................................................. . 555
Semeadura direta (SD)/plantio direto (PD) .............................................................................................. .. 556
Operações de preparo do solo, subsolagem e controle da compactação ...............................·-·········• ........ 557
Práticas de caráter mecânico .........................................................................................................., ..-.. ................. 558
Distribuição de estradas e carreadores .. , ........................................................................................................ .
558

Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. Viçosa MG: 5oc· d d
Brasileira de Ciência do Solo; 2018. ' te e ª
528
lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

ulti,·o em contorno cem, semeadura cm nívL•l ............................................................................................ . 560


· nleiramcn to da fitomassa cultural rl'Sidual L'm ni,·cl ................................................................................ . 561
Te rraceamento
························································· .. ·························································································· 561
Tipos de tcrrilços .......................................................................................................................................... 563
Terraço. quan to à função .................................................................................................................... .... 563
Terraço. quanto ao modo de constn1ção ........................................................................................... .. 564
T erraç - quan to i\ faixa d e movi mcntaç<'io de tcrrn ......................................................................... .. 565
Terraços quanto à fonna do pl'rfil ........................................................................................................ 567
Bpaçamen to entre terraços ...................................................................................................................... 56
Dimensionamento de canais de terraços de infi ltTaçào ........................................................................ . 572
Cálculo d o volume de água nos terraços de infiltração ...................................................................... 572
Cálculo da secção transversal e dimensionamento do canal do terraço de infiltração ................ .. 574
Dimensioname nto d e canais de terraços de dre nagem ......................................................................... 574
Cálculo da vazão má:-.ima • de "~ ocri-1"
· ,
par« cana 1 em terraço d e d renagcm ........................................ . 574
Cálculo d a ecção transversal para canal em terraço de drenagem ................................................. . 575
Cálculo d o gradie nte do canal do terraço de dren;igem .................................................................... . 575
Locação dos terraços ................................................................................................................................... 577
Construção e manutenção do sistema de terraceamento ..................................................................... .. 578
Canais escoadouros e canais divergentes ....................................................................................................... 579
Sulcos de infiltração e diques em pastagem .................................................................................................... 579
Cordão de pedra em contorno ......................................................................................................................... . 580
A1ulclzi11g vertical ................................................................................................................................................ . 580
Caixas de retenção ou pequenas barragens .................................. .................... ........................ ........ ....... ....... 581
Embaciamento ..................................................................................................................................................... 581
Práticas conservacionistas complementares na propriedade agrícola ............................................................ 582
ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS....................................................................... ...................... 583
LITERATUR.i\ CITADA................................................................................................................................................ 584

INTRODUÇÃO

A erosão induzida, acelerada em consequência de atividades antrópicas, é a principal


causa da degradação dos solos em todo o mundo. No entanto, alguns de seus fatores e causas
podem ser controlados para que sua magnitude e abrangência sejam reduzidas a valores
toleráveis.
As práticas e os sistemas de manejo do solo utilizados para aumentar a resistência do
solo à erosão ou dissipar as forças que atuam no processo erosivo denominam-se práticas
conservacionistas e sistemas de manejo conservacionistas do solo. O conjunto destes
sistemas e práticas deve ser utilizado para dissipar a energia dos agentes erosivos, reduzir
a degradação de atributos do solo e, com isso, manter ou meU1orar a sua qualidade.
a agricultura, os sistemas e as práticas conservacionistas devem manter as principais
funções do solo para garantir sua qualidade, sustentar a produção vegetal e regular o ciclo
natural da água, indefinidamente.
A erosão hídrica pluvial, causada pelas chuvas sobre o solo com dete rminados uso
e ocupação, é a principal causa da degradação dos solos, em extensão terri to rial e em
intensidade, a qual promove o arraste de porções da superfície da terra, incluindo sedimentos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 529

minerais e orgâ nicos, nutrientes e outros produtos químicos. Além de empobrecer o so lo


e reduzi1· a produtividade agrícola, a erosão hídrica produz poluição e assoreamento d e
cursos d' água e de partes da superfície terrestre. Por isso, o objetivo principal das prá ticas
de manejo e conservação do solo deve ser controlar a erosão. O controle da erosão e a
redução da degradação do solo, da água e do ambiente tomarão as áreas agrícolas sempre
produtivas e, no longo prazo, a agropecuária uma atividade sus tentada .

ESTRATÉGIAS CONSERVACIONIST AS

O processo de erosão hídrica do solo é resultado de uma sequencia de três fases


s ucessivas e concomitantes: a desagregação do solo na superfície, o transporte do
sedimentos desagregados e, por fim, a deposição do material transportado nos pontos
mais baixos do relevo ou nos corpos d'água. As práticas con.servaciorustas devem atuar
nestas três fases e, para isso, três estratégias principais são utilizadas: aumento da cobertura
vegetal do solo, visando reduzir a desagregação e transporte de solo pela dissipação da
energia do impacto das gotas de chuva e do escoamento superficial; aumento da rugosidade
superficial e da porosidade do solo para aumentar a infiltração da água, a fim de diminuir o
volume e a energia do escoamento superficial; e controle do escoamento superficial e, com
isso, redução do transporte e desagregação do solo pela enxurrada por meio de barreiras
mecânicas na superfície do solo.
Assim, o conjunto destas estratégias deve diminuir a degradação do solo no local de
origem da erosão e a poluição do ambiente fora deste local, principalmente dos mananciais
de água.

Aumento da cobertura vegetal


Para o controle da erosão hídrica, é de fundamentai importância aumentar a cobertura
vegetal do solo, seja com plantas, seja com fitomassa residual. Sua importância está no
fato de a cobertura vegetai do solo atuar exatamente no ponto inicial do processo erosivo,
reduzindo o impacto direto das gotas de chuva sobre a superfície. Entretanto, a cobertura
vegetal no nível do solo, pelas plantas e por sua massa residual, também tem efeito na
redução da velocidade do escoamento superficial, em razão do obstáculo formado pelas
estruturas vegetais (folhas, colmos, raízes) e pelo aumento da tortuosidade e rugosidade.
O efeito das plantas e dos manejes agrícolas sobre as perdas por erosão está quase
sempre relacionado às diferentes densidades e aos períodos de cobertura vegetal que cada
um proporciona. Assim, cultives perenes tendem a resultar em menores perdas por erosão
comparativamente a cultives anuais, porque proporcionam maior cobertura vegetai sobre
o solo e por período de tempo contínuo.
No solo mantido inteiramente coberto com vegetação protetora, de grande densidade
e com diversos extratos de dossel e serrapilheira, como matas, florestas ou campos nativo ,
a erosão será núnirna. Isso indica que os sistemas de produção devem buscar O cultivo com
diversidade de espécies e aumento da cobertura para, consequentemente, obter a proteção
da ~u~e.rfície do solo, t~to p~lo ~ol~~e e pela arq~tetura das suas folhagens como pela
vanab1hdade de ocupaçao e d1stnbuiçao dos seus sistemas radiculares.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


530 lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.

O aumento da cobertura vegetal do solo relaciona-se diretamente com a elevação da


P rod uçào agrícola. Consequentemente, estabelece-se um ciclo positivo de maior proteção
da superfície do solo contra o processo erosivo e de menores perdas de solo e água causadas
pela erosão quanto maior for a produção de biomassa vegetal. As baixas produtividades,
em geral, relacionam-se a solos degradados ou com baixo suprimento de nutrientes, que
resultam em lento desenvolvimento das plantas e menor produção de biomassa vegetal,
resultan?o em diminuição da cobertura vegetal. Para aumentar a produção vegetal,
é _essen_c1a! o uso adequado de todos os fatores de produção e tecnologias agronômicas
disp~ruve1s para manter a qualidade e capacidade produtiva dos solos, bem como a sua
funçao de sustentar a produçào vegetal.

Aumento da infiltração de água no solo


Os diferentes tipos de solos têm capacidades distintas de infiltração de água, em
razão, principalmente, da textura e do arranjo das diferentes frações granulométricas,
definindo sua estrutura e de seu perfil, determinado pela profundidade, pelo número e
pela sequência de seus horizontes superficiais, bem como de sua inserção na paisagem
(grau de declividade e comprimento do declive) .
As práticas agronômicas resultam, no entanto, em alterações na camada superficial
do perfil, principalmente quanto à qualidade física do solo, seja por desagregação, seja por
compactação, reduzindo a infiltração de água. Para manter alta a infiltração de água no
solo, é necessário utilizar sistemas de manejo e práticas conservacionistas que contribuam
para a manutenção da estrutura do solo na sua camada superficial, em especial evitando
a desagregação e a compactação, e que criem condições para melhorar a infiltração,
percolação e retenção da água.
Por meio da cobertura vegetal, amplia-se a rede de poros biológicos por causa da
atividade da fauna edáfica e das raízes das plantas, e esta atividade biológica melhora os
atributos físicos do solo, aperfeiçoando a infiltração e retenção de água no solo. A cobertura
do solo, o tipo de cultura, a forma de preparo, o sistema de cultivo e a adubação e correção
do solo reduzem, portanto, as perdas pela erosão, não apenas por protegerem a superfície
da desagregação, mas também por permitirem maior infiltração da água no solo.
A redução da compactação do solo é alcançada, principalmente, com práticas de
controle do tráfego de máquinas e implementes agrícolas, não apenas reduzindo a pressão
e quantidade de tráfego, mas também realizando as operações em condição de umidade
adequada e com a regulagem correta de implementes. O microrrelevo formado por
operações agrícolas e as estruturas mecânicas de retenção da água na superfície do solo,
como é O caso de terraços em nível, valas e caixas de retenção, aumentam a rugosidade do
terreno e armazenam a água da chuva oriunda do escoamento superficial, permitindo mais
tempo para, lentamente, infiltrar no solo.

Controle do escoamento superficial


A precipitação pluvial anual na maior parte das áreas agrícolas do Brasil varia entre
900 e 2 000 mm, em geral concentrada em alguns meses do ano, com ocorrência de eventos
de intensidade muito elevada, muito superior à capacidade de infiltração de água no solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 531

Em razão disso, ocorrem eventos com elevado volume de escoamento s uperficia l ou


enxurrada, havendo necessidade de estruturas mecânicas para fraci onar o comprimento
de rampa e, com isso, reduzir o volume e a velocidade da água escoada. Tais estruturas são
utilizadas para controlar as perdas de solo para além da á rea cultivada . Como estas ~êm
baixo efeito na redução da erosão em si, devem ser usadas sempre associadas com práticas
conservacionistas para aumentar a cobertura e a infiltração de água do solo.
Duas outras estratégias conservacionistas são também utilizadas em situações
especiais: a sistematização do terreno e a bioengenharia. Embora a sistematização do
terreno possa ser colocada como uma estratégia de controle do escoamento s uperficial, ela
é mais abrangente, pois tem como objetivo reabilitar mecanicamente áreas degradadas.
Por meio dela, eliminam-se sulcos de erosão existentes, locam-se ou realocam-se estradas e
carreadores e adequa-se ou readequa-se a superfície do terreno para o transito de máquinas.
Para tanto, são usados equipamentos topográficos, sondas, materiais para drenagem e,
naturalmente, máquinas para terraplenagem e nivelamento, entre outras.
Com a mecanização das operações agrícolas e a necessidade de adaptação das
condições topográficas à eficiência das máquinas agrícolas, a sistematização tomou-se
uma estratégia importante para o sucesso dos sistemas de produção, associada às práticas
de conservação do solo e da água. A sistematização de terrenos depende de projeto
de engenharia e deve ser planejado em função do tipo de exploração agropecuária, do
relevo, do solo e das condições climáticas, dos equipamentos disponíveis, evitando-se a
implantação das ações em épocas de chuvas intensas.
Quanto à bioengenharia, esta pode ser entendida como uma estratégia de controle
da erosão com aumento de cobertura vegetal, indicada para áreas de difícil acesso, de alta
vulnerabilidade natural à erosão, em locais em que o solo está muito degradado, bem como
em situações em que outras práticas não podem ser aplicadas, por limitações técnicas ou
operacionais. Utilizam-se pedras, troncos, sacos de areia, mantas sintéticas e naturais ou
geomantas, dentre outras, conjugadas com diferentes tipos de vegetais vivos.
Para estabelecer a vegetação, utilizam-se também técnicas de sobressemeadura e
transplantio. A expressão bioengenharia em conservação do solo inclui a utilização de
material biológico, em contraponto às técnicas convencionais em engenharia, que priorizam
obras de alvenaria, para o controle de erosão em grandes obras civis, como estradas, a
estabilização de margens de cursos de água, a firmação de taludes em áreas de mineração,
em encostas íngremes, em deslizamentos de terra em áreas urbanas.

PRÁTICAS CONSERV ACIONISTAS

As práticas conservacionistas são classificadas corno vegetativas, edáficas e mecànicas,


~m razão de sua natureza e conforme seja utilizada a vegetação ou seu material residual,
implementada pela alteração no sistema de manejo ou construção da estrutura de terra ou
alvenaria em posições adequadas do terreno.
As práticas vegetativas e edáficas são mais simples de implantar e manter, de
forma que, primeiramente, deve-se recorrer a estas. Já as práticas mecânicas devem ser
implantadas em combinação com as duas primeiras. Sempre se deve levar em conta que

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


532 !SABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

apenas O sinergismo entTe diferentes práticas pode proporcionar segurança ao projeto de


consen ação do solo.
Individualmente, cada prática conservacionista conh·ola apenas parcialmente os fatores
~ue ca_usam a ero, ão. As im, na grande maioria dos casos, para o efetivo conh·ole da erosão
e pren o que a práticas sejam utilizadas associadamente, de forma planejada, constituindo
um verda~ei.ro si tema conservacionista. O objetivo de um sistema conservacionista, em
uma propnedade agrícola, é aumentar ao máximo a infiltração de água no solo pa.ra reduzir
ao núnirno o escoamento superficial; manter a erosão controlada, de modo que o solo e os
constituintes nele adsorvidos pem1aneçam no seu local de origem; melhorar a qualidade do
so~o para os propô itos a que ele se destina; controlar a poluição ambiental fora do local de
ongem da erosão; e manter elevada a capacidade produtiva do solo.
As práticas consen1acionistas devem estar associadas às estratégias de planejamento
conservacionista do solo, pois devem aumentar a cobertura vegetal, manter elevada a
infil~ação da água no solo e reduzir o escoamento superficial (Figura 1). As diferentes
práticas podem contribuir mais ou menos intensamente em cada estratégia ou interferir
mais ou menos no controle de cada uma das fases da erosão.
/ 'I

Práticas
vegetativas
'- ,
7

Cobertura
• '
+
Infiltração de
' •
Escoamento
'

vegetal água no solo superficial


\. \.

t t t t
1
,.
Práticas Práticas
edáficas mecânicas
\.

Figura 1. Principais estratégias (aumento da cobertura vegetal e da infiltração de água no solo e


controle do escoamento superficial) para definir as ações de conservação dos solos no meio rural
e tipos de práticas conservacionistas (vegetativas, edáficas e mecânicas) para alcançá-las.

Práticas vegetativas
As práticas vegetativas são aquelas em que se utiliza a vegetação, tanto as plantas
vivas, também denominadas dossel, como a biomassa vegetal provinda das plantas
fenecidas, que podem ter sido cultivadas no próprio local ou trazidas de outras áreas. Essas
práticas são eficazes principalmente para proteger o solo da energia decorrente do impacto
das gotas de chuva e do cisalharnento da enxurrada, que promovem a desagregação do
solo e o selarnento dos poros superficiais.
A biomassa vegetal protege o solo também, em parte, na fase de transporte de
sedimentos, agindo na redução da velocidade da enxurrada. As práticas vegetativas têm
efeito na infiltração de água no solo e devem ser utilizadas no controle do escoamento
superficial. Esse efeito das plantas na pro~eção do sol? contra o_impacto direto das gotas de
chuva depende da densidade da vegetaçao, da arqwtetura foliar e da altura do dossel em
relação à linha da superfície do solo.
MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA
XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SO LO E DA ÁGUA 533

Assim, a erosão do solo é tanto menor quanto maior a densidade da vegetação e quanto
mais próximo do solo estiver o dossel da vegetação que o recobre. Também, a e r~são é
menor quanto maior for a porcentagem da superfície do solo coberta e quanto maio r fo r
a quantidade de biomassa vegetal que estiver sobre e sob o solo. É de vital impo rtà ncia
o sistema radicular das plantas no controle da erosão, considerando os seus efeitos na
manutenção da agregação das partículas e na formação de canais e poros no solo.
No controle do escoamento superficial, as práticas vegetativas estão em geral
associadas às práticas mecânicas, já que essas, como o terraceamento agrícola, são capazes
de reduzir o comprimento do declive e, com isso, controlar o volume e a velocidade da
enxurrada, sendo capazes de iníiltrar ou conduzir seu excesso.

Cobertura morta
A cobertura do solo com biomassa vegetal morta é a prática conservacionista mais
fácil de ser implementada, sendo eficaz no controle da erosão tanto hídrica quanto eólica,
e, provavelmente, a de menor custo. A fitomassa residual deixada na superfície do solo,
dependendo do tipo, da quantidade e da forma de distribuição, forma um colchão,
denominado 111ulch, que protege a superfície da energia de impacto das gotas de chuva e,
em parte, da energia cisalhante do escoamento superficial, em razão do controle do vo lume
e da velocidade deste. Além disso, incorpora matéria orgànica ao solo, aumentando a sua
resistência à energia dos agentes erosivos (Figura 2).
Pelo fato de a cobertura morta estar colocada no nível do solo, a dissipação da energia
cinética das gotas é completa e por isso mais eficiente do que a cobertura por plantas vivas.
Quando a cobertura do solo é proporcionada pelo dossel de plantas, existe a possibilidade
de as gotas interceptadas se refazerem, se agruparem em gotas maiores e readquirirem
energia, produzindo impacto sobre o solo se este estiver sem cobertura próxima da
superfície. Isso é constatado em condições de mata e reflorestamento comercial, onde se
observam grandes gotas impactando o solo, mesmo quando as chuvas que atingem a copa
são de baixa intensidade.

Figura 2. Áreas d e cultivo com solo descoberto (a), exposto à ação das chuvas; e área utilizando a
prática de cobertura morta (b) com fitomassa residual para proteção do solo contra O impacto
d as go tas d e chuva. Foto dos autores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


534 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

A cotJ:ertura morta sobre o solo apresenta ouh·as vantagens do ponto de vista agronômico
e do ambiental, que se somam ao efeito de conservação da água e do solo: diminui a
temperatura em termos absolutos e limita a amplitude térmica da superfície do solo, reduz
a evaporação de água, aumenta a infiltração e o armazenamento de água no solo; e mantém
condições adequadas para desenvolvimento da microfauna do solo. Com isso, a cobertura
morta ~ria no_so~o condições favoráveis para a elevação da produtividade das lavouras, a
proteçao da biodiversidade e a manutenção da atividade biológica diversificada.
O efeito da cobertura morta no controle da erosão vem sendo avaliado em cultivas
anuais e perenes há muito tempo (Marques et ai., 1961). Os diversos estudos de avaliação
e ~uantificação do efeito dessa prática vegetativa no controle da erosão indicaram que
deLxar a fitomassa residual na superfície, apenas, apresenta uma alta eficiência no controle
das perdas de solo e água, como evidenciaram os primeiros ensaios realizados no Brasil
(Quadro 1). Nestes trabalhos, ficou demonstrado que a palha deixada na superfície do solo,
mesmo não caracterizando a técnica denominada "semeadura direta", reduziu as perdas
de solo e água em cerca de 70 % em relação à palha queimada.

Quadro 1. Efeito do manejo de fitomassa cultural residual de milho nas perdas de terra e água por
erosão em um Latossolo férrico
Perda
Manejo da palha
Solo Água
t ha·1 % da chuva
Palha queimada 20,2 8,0
Palha enterrada 13,8 5,8
Palha na superfície 6,5 2,5
Fonte: Adaptado de Bertoni et al. (1972).

O efeito da cobertura morta no controle das perdas de solo e água é proporcional à


quantidade de fitomassa residual na superfície (Figura 3). No entanto, no controle das
perdas de solo, mais importante que a quantidade de fitomassa residual na superfície é a
porcentagem de solo coberto por esta fitomassa. Quanto maior a porcentagem da superfície
do solo coberta, menor é a perda de solo, independentemente da forma de manejo da
fitomassa residual, urna vez que a superfície do solo que recebe diretamente o impacto das
gotas de chuva é reduzida, embora a eficiência no controle da erosão possa variar com o
tipo de fitomassa residual sobre a superfície (Figura 4).
A fitomassa residual na superfície dissipa, também, em parte, a energia do escoamento
superficial, formando uma barreira física que retém os sedimentos de maior tamanho que
seriam transportados pela enxurrada (Figura 5). Assim, o aumento da porcentagem de
cobertura do solo aumenta a proporção de sedimentos de menor tamanho transportados
pela enxurrada (Cogo et al., 1983; Lopes et al., 1987a). Ao reter os sedimentos de maior
tamanho, a cobertura do solo deixa passar por entre suas peças os de menor tamanho e
mais ricos em nutrientes (Barbosa et al., 2009, 2010).
o aumento da cobertura do solo também contribui para reduzir a velocidade da
enxurrada (Figura 6), diminuindo sua capacidade de transporte de sedimentos (Lopes et
al., 1987a; Bertol et al., 2010).
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XVII - PRÁTI CAS CON SE RVA CIONI STAS DO SO LO E DA ÁG UA 53 5

A cobertu ra m or ta exerce ma io r influê ncia sobre a pe rd a d e solo d o q u e sobre él de


águ él (Lom bélrdi Ne to et a i., 1988; A lves e t a i., 1995; Ber to! e t al., 2010), pois es ta p rática
a presenta m e no r e fi cácia rela ti va no au me n to da infil tração de água no solo e no con trole
do escoa m e nto s upe rficia l. Em cond ições em qu e o co m prime nto d o d eclive é muito lo ngo
(Be rto ! e t a i., 1987; M orais e Cago, 2001; Ba rbosa et a i., 2012) e e m qu e o so lo a presenta baixa
ca p ac ida d e d e infi ltração de água, seja por se us atributos natu ra is, seja pe la com pactação
ca u s ada p e lo m a nejo, a eficácia d a cobertura m o rta na redução da s pe rd as d e água é ainda
m e nor.

300 700
f =189,01 e"B-04• Á perda de solo 600
250
y =596,69 e·:z&.04• ♦ ~
.-;'(IS
,.e; perda de água 500
.... 200
d
à 400
õtil
QJ
150 i
QJ
"Cl 300 "Cl
(IS d
"Cl
1i:l
100
200
...
-e,
QJ
p.. p..

50 100

o -+--------- - - -- ~ - -- - -- ----+ o
o 2000 4000 6000 8 000 10000
Fitomassa residual na superfície, t ha·1
Figura 3. Efeito da quantidade de fitomassa cultural resid ual de milh o deixados na superficie nas
perdas de água por escoamento superficial em um Latossolo férrico.
Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et ai. (1988).

40,0

35,0 - milho
30,0 trigo
~
.... 25,0 --•-- soja
o'
õUl 20,0
QJ
'"O
15,0
~
~
p... 10,0

5,0
0,0
o 20 40 60 80 100 120
Cobertura do solo, %

Figura 4. Relação d a perda de solo (Ps) com a cobertura (C) por fitomassa residual de cultivo de
mi lho, trigo e soja.
Fonte: AdaptaJo d e Lopes t!t ai. (1987b).

MAN EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


536 ISABE LLA C LE RICI D E MARIA ET AL.

....~ 100
~ 90

1 80
cu 70
"'CI
~ 60
ia
"3 50
6
e
ia
40 - 22%C
5
b0
30 - 62 %C
.19 20 -t-81 %C
~
u 10
~
p.,
o
o 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
Tamanho dos sedimentos, mm

Figura 5. Tamanho de sedimentos erodidos em tratamentos com valores crescentes de cobertura do


solo (%C) com fitomassa residual de soja.
Fonte: Adaptado de Lopes et al. {1987a).

30
-:a)

6t.l -+-sUP
25
cà ---- Sl+lG
'"O
(0
20 -Ã-SI+2G
~
~
QJ 15
-+-s1+4G
co
'"O
QJ
'"O 10
co
'"O
·eo 5
'ã)
>
o ~ ~ M ~
o W
Cobertura do solo com fitomassa residual, %

f igura 6. Velocidade da enxurrada e cobertura do solo com fitomassa residual de trigo espalhada
uniformemente (SUP) e incorporada por uma (SI+1G), duas (SI+ 2G) e quatro (SI +4G) gradagens.
Fonte: Adaptado de CarvaU10 et ai. (1990).

Em culturas perenes, onde o espaçamento entre as linhas de plantas é grande em


relação ao das culturas anuais, a cobertura da superfície do solo com fitomassa residual é
muito importante para o controle da erosão, além das demais vantagens que a cobertura
morta proporciona ao solo e desenvolvimento das plantas.
Esta prática foi muito utilizada em parreirais e em outros pomares, e ainda é co mum
em alguns sistemas de cultivo em regime de agricultura familiar em pequenas propriedades

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁT I CAS (ON SE RVACJON ISTAS D O SO LO E DA ÁGUA
537

(Figura 7). Pa lha de gra míneas e de outros tipos de fito massas, como aqueles resultantes de
poda u rbana, podem ser tra zid os para as áreas de cu ltivo pa ra formar a cober tura 1_:1orta
do solo . Trazer a pa lha de outros locais pode ser um problema se o local de produçao for
dis tante d o local de destino, o que aca rreta alto custo de tra ns po rte e de mão de obra para
dis tribuição.
Entretanto, a cobertura morta pode ser produ zida na p rópria área, com o cultivo de
plantas es pecíficas para isso, no período ad equado pa ra a cu ltur a principal, de fo_rma ~ue a
fitomassa d estas plantas, quando terminado seu ciclo ou q uando dessecadas, se1a dei xada
na s uperfície d o solo.
Entre os cuidados com a cobertura morta estão o controle do fogo, para que a
cultura principa l não seja atingida caso a palha seja incendiada; e a escolha de e~pé~ies de
cobe rtura morta que não sirvam de abrigo para pragas e doen ças da cul tura pnncipal. A
cobe rtura mo rta também potencializa os efeitos de geadas, o q ue, em situações especificas
d e locali zação, tipo de cul tura e épocas, deve ser evitada.

Figura 7. Cobertura morta para melhorar a qua lidade do solo e oferecer proteção contra a erosão em
pomar na região de Jundiaí, SP. Foto dos autores.

Cordões ou faixas de vegetação permanente, aleias, quebra-ventos


O s cordões d e vegetação permanente são fileiras d e plantas perenes ou semiperenes
dis postas com determinado espaçamento, geralmente gramíneas, de crescimento rápido e
d e a lta d en sidade foliar e de raízes. São faixas estreitas de vegetação, não ultrapassando,
e m geral, 2 a 3 m de largura, intercalares a faixas de cultivas anuais, cultivas perenes
ou te m porários, formando barreiras vivas para reduzir o transporte de sedimentos. São
m enos eficazes no controle do escoamento superficial, com parados a o utras p ráticas mais
complexas e onerosas, mas é uma prática s imples com baixo custo de imp lantação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


538 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Esta t cnka pode er usada em locais onde O t rraceamento não apresenta resultados
satisfat rio , e mo em áreas muito declivo as, solos ra os ou muito arenosos e em solos
com baixa pem1eabilidade. Pode, ta mbe:m, ser associada aos terraços, cordões de terra
em contorno e cordões de pedra, aumentando a capacidade destas práticas mecânicas
no controle d as p rdas de solo por erosão e permitindo o cultivo de culturas perenes em
relevo movimentado e em áreas mais críticas. É utilizada também no controle de voçorocas
ou ~~~e, sulcos, interceptando o fluxo da água que se concenh·a no fundo, bem como
possibilita a fom1ação gradual de terraços em patamar pelo acúmulo dos sed imentos a
montante.
Os cordões de vegetação são eficazes para reter os sedimentos, pois reduzem a
'elocidade do escoamento superficial, provocando a deposição das partículas transportadas,
e filtram os sedimentos como um efeito mecânico em razão da densa massa de vegetação,
tendo como consequência o aumento da infiltração de água no solo.
Estima-se que esta prática controla cerca de 80 % das perdas de solo e 60 % das perdas
de água (Bertoni et al., 1972) e apresenta eficiência mesmo quando locada sem grande
precisão de nível e em declividades onde outras práticas são pouco eficientes.
A espécie escolhida para formar a faixa de vegetação deve, preferencialmente, ter
fim econômico, apresentar porte baixo, crescimento rápido e perenidade, formar densa
barreira com o solo, não ser invasora e nem servir de abrigo para pragas e doenças.
Algumas das espécies recomendadas são capim-cidreira (Cymbopogon citrnh1s), cana-de-
açúcar (Sacdwrum spp.), capim-elefante e capim-napier (Pennisehon purpureum) e vetiver
(01rysopogo11 zizanioides (L.) Roberty), entre outras.
O vetiver (Figura 8) vem sendo recomendado para estabilizar o solo em áreas
declivosas (Vetiver Network - http:/ /www.vetiver.org), e as espécies forrageiras e cana-
de-açúcar estão sendo indicadas para, adicionalmente, fornecer suplementação alimentar
aos animais domésticos, em pequenas propriedades.

.
Figura 8· Avaliação d a eficiência de cordões de vegetação permanente com capirn-vetiver no controle
Ih C
de perdas por erosão, em Latossolo Verme o, ampmas, . SP.
Fonte: Foto dos autor .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONJSTAS DO SOLO E DA A GUA
539

Lombardi Neto e Drugowich (1994) recomendaram que os cor fõ s d~ ':'egetaçã


permanente seja m d is postos em contorno no decli ve e em espaçamento definido pelo
m esmos crité rios de espaça mentos entre te rraços (Quadro 2).

Quadro 2. Espaçamentos entre fai xas de vegetação permanente cm razão do tipo de <;olo e d..i
declividade do terre no

Tipos de solo
Argiloso com baixa Argiloso com alta
D eclividade Arenoso infiltração
infiltração
EH EV EH EV EH EV
% ---------------------------------------- m --------
<4 0,90 30 1,00 33 1,30 •B
5-8 1,20 20 1,35 23 1,75 29
8-22 1,50 15 1,70 17 2,20 22
EV = espaçamento vertical e EH = espaçamento horizontal.
Fonte: Adaptado de Lombardi Neto e Drugowid1 (1994).

Também, como variante dos cordões de vegetação permanente é o cultivo em aleia,


um sistema agroflorestal em que, nas faixas de vegetação permanente, são plantadas
urna ou mais fileiras de árvores e arbustos, de crescimento rá pido e preferencialmente
q ue tenham simbiose com microrganismos fixadores de N 2 • esse caso, o espaçamento
entre as faixas de vegetação permanente deve ser tal que permita o bom desenvolvi mento
das culturas plantadas entre as árvores. A eficiência do cultivo e m aleias no controle da
erosão é variável em razão da altura das espécies escolhidas, formação da serrapilheira,
associação com cobertura de baixo porte e disposição no terreno. O efeito principal deste
sistema é a manutenção da matéria orgânica do solo e a ciclagem de nutrientes (Mafra et
al., 1998; Aguiar et al., 2009).
Os cordões de vegetação permanente podem ser utilizados no controle da era ão
eólica, formando quebra-ventos que são locados perpendicularmente à direção dominante
dos ventos (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).

Cultivo ou culturas em faixas

O cultivo em faixas consiste na disposição das culturas em fai. a de largura variá el ao


longo do declive, de forma que se alternem diferentes culturas o u cultivares o u diferente
manejos e épocas de plantio de uma mesma cultura (Figura 9). O principal objetivo é obter
maior cobertura do solo no espaço e tempo. Assim, alternam-se nas faixas plantas que
oferecem pouca proteção ao solo com outras de maior produção de massa erde e raíze
ou se faz a semeadura das culturas nas faixas em épocas diferentes, de forma que parte
do campo esteja com o dossel da cultura formado e parte com as plantas iniciando eu
desenvolvimento.
A manutenção de maior cobertura do solo também pode ser alcançada com
alternância de preparo do solo, ou seja, em um momento uma faixa recebe O prepar
mecânico e em outro, não. O controle da erosão na área com cultivo em faixa é om ba e no
mesmo princípio dos cordões de vegetação permanente, o u seja, o solo perdido pela er ã

MAN EJ O E CONS ERVA ÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
540 ISABELLA CLERlCI DE MARIA ET AL.

corrida na faixa com p uca cobertura ou mobilizada pelo preparo é retido, pelo menos em
parte, na' egeta ão ainda xi tente na faixa com boa cobertura e não mobilizada .

Figura 9. Cultivo em faixas, alternando faixas com cultivo de cana-de-açúcar e com cultivo de
crotalária. Foto: Luiz Carlos Dalben, Agrícola Rio Claro.

As faixas podem ter o reforço da proteção mecânica de terraços em ruvel ou em


desnível, em razão do declive e tipo de solo, principalmente para terrenos de topografia
regular. Assim, tomam-se uma prática complexa, porque combinam a prática vegetativa
(uso de plantas para controlar a erosão) com práticas edáficas (rotação de culturas) e
mecânicas (plantio em contorno e terraços), pelo que exigem esforço de planejamento,
embora seu custo seja relativamente baixo.
O cultivo em faixas como urna prática vegetativa isolada é eficiente apenas em
declividades e em comprimentos de declive limitados. A eficácia do cultivo em faixas
com rotação de culturas adequada e disposição em nível pode chegar a 75 % no controle
de perdas de solo em declive entre 3 e 8 %; e, no caso de preparo convencional, em
comprimento de declive de até cerca de 240 m (Wischmeier e Smith, 1978).
Se a rotação adotada é muito simples, não acrescenta nenhum benefício para reduzir
a erosão hídrica em relação àquele proporcionado pelo cultivo em contorno isolado; nesse
caso, sua eficiência é de 50 % de controle da erosão em comprimento de declive máximo de
aproximadamente 120 m para o caso de preparo convencional (Wischmeier e Smith, 1978).
É importante ressaltar que a eficácia do cultivo em faixa na redução das perdas de
água é mais baixa em relação a outras práticas pelo fato de não diminuir o comprimento
do dechve, quando utilizado sem associação às praticas mecânicas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CON S ERVACIONISTAS DO S OLO E DA Á GUA 541

O culti vo em faixa s apresenta va ri ações em razão da escolha das cultu ra e da


dispos ição das faixas no relevo (Quadro 3). A la rgura das fai xas deve ser determinada por
causa do declive do terreno, do tipo de solo, da cultura e do manejo da cultura.

Quadro 3. Variações da prática conservacionis ta cul tivo cm fai xas em rnão da escolha das cu ltura
e da disposição das faixas no relevo

Tipo Características principais


Culturas permanecem de um ano para outro na
Fahas de exploração contínua
mesma faixa , sem rotação de cul tu ras.
Culturas mudam de pos ição ou de faixa a pós o
Faixas de exploração em rotação
término do ciclo de cultivo.
Limites entre fa ixas na linha d e contorno do terre-
Faixas niveladas
no, em associação com o cultivo em con torno.
Apenas urna linha mediana é marcada no centro do
Faixas paralelas
terreno, sendo as demais Linhas paralelas a esta.
Combina faixas com Linha divisória nivelada e fai-
Faixas associadas
xas com linhas divisórias paralelas.

A largura da faixa será menor quanto mais erodível for o solo, maior s ua declividade
e menor a densidade da cobertura proporcionada pelas culturas. Em geral, adota-se o
mesmo espaçamento que seria usado caso fossem utilizados terraços, facilitando inclusive a
futura construção destes, caso seja necessário. A largura destas faixas pode ser estabelecida
também com base no múltiplo da larpilla das máquinas, especialmente as semeadoras e
colhedoras que serão usadas na área. E preciso considerar que, quando a largura das faixas
em nível for muito irregular, haverá muitas ruas mortas, dificultando trabalhos d e cu ltivo
e tráfego de máquinas.
O cultivo em faixas com rotação entre plantas anuais e semiperenes (cana-de-açúcar
e pastagens) pode incluir um período com adubo verde ou planta de cobertura. Es ta
alternância de culturas no tempo e espaço adiciona o efeito da rotação de culturas na
melhoria da qualidade do solo e na sua resistência à erosão hídrica, mas exige cuidad os
na escolha das culturas e dos manejas, considerando pragas, doenças e manejo de plantas
infestantes.
Para a produção da cana-de-açúcar, foi desenvolvido um sistema de cultura em faixas,
associado à adubação verde e à redução do preparo do solo, denominado meios i (métod o
interrotacional ocorrendo simultaneamente, Barcelos, 1990) que consiste no plantio, em
faixas, de cana-de-açúcar intercalada com faixas para o cultivo de adubos verdes.
A cana-de-açúcar plantada é utilizada no ano seguinte para produzir mudas para
a faixa que estava com a adubação verde (Figura 10). Este sistema mantém o solo com
vegetação durante todo o período de reforma, reduz a porcentagem da área a ser preparada
e faz o efeito de barreira vegetal, retendo sedimentos e controlando a enxurrada, além de
reduzir o tráfego de máquinas para o corte e transporte das mudas, evitando compactação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
542
lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

2 hnh,, ~ d(• c,lll,l l'l,mt., de co\,.,rtum


uu ,,clubo verde

I
1-1 - - - -
3m 12m

Figura 10. Sistema de plantio em faixas, associado à adubação verde e à redução do preparo do solo
para a cultura de cana-de-açúcar, denominado meiosi.
Fonte: Foto do autores. Diagrama CATI / SAA.

Qualidade na população de plantas


O número de plantas por unidade de área (estande) e a distribuição espacial uniforme
e adequada para o desenvolvimento destas plantas podem aumentar a porcentagem e
velocidade de formação da cobertura vegetal sobre o solo.
A partir de uma população de plantas adequada, com o mesmo número de plantas por
hectare, pode-se reduzir o espaçamento entre as linhas e awnentar o espaçamento entre as
plantas, o que possibilitará urna cobertura vegetal do solo mais uniforme e mais rápida. Essa
mudança na distribuição espacial das plantas pode não aumentar a produtividade, mas
pode refletir na redução do consumo de herbicidas e no custo de produção e, certamente,
diminuir as perdas por erosão (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).
Nos sistemas de produção de grãos, os espaçamentos entre as linhas de plantas
das culturas anuais variam entre 15 e 90 cm e, em geral, há pouco efeito da redução do
espaçamento na quantidade de solo e água perdida por erosão. Este efeito é sempre no
sentido de que, mantendo-se o mesmo estande, com menor espaçamento entre linhas a
cobertura do solo será mais rápida e a erosão menor (Colvin e Laflen, 1981).
Em cultives perenes, com as distâncias mais largas entre fileiras de plantas, este
efeito é mais evidente (Quadro 4), embora nestes cultivas seja mais importante manter
os intervalos entre as linhas das culturas cultivadas com uma planta de cobertura ou com
cobertura morta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,
XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SO LO E DA A GUA 543

Quadro 4. Efe ito do espaçamento e ntre pla ntas d café nas perdas d s?lo por ero~ào ~ídrica_e m
Argissolo e m ca fé novo (ele zero a cinco a no do planti o) e em ca fé to rmado (seis a 12 anos <l o
plantio)

Perd a de solo Razão de perda de solo 111


Espaçamento
Café novo Café formado Café novo Café formado
m t ha·1 ano· 1 t r1
3,Q X Ü,5 11,83 0,03 0,3219 0,000
3,Q X 1,0 7,51 0,07 0,2097 0,0058
3,0 X 2,0 8,62 0,08 0,2-W6 0,0072
3,0 X 3,0 12,24 0,11 0,3372 0,00 6
<11 Relação das perdas com o solo descoberto.
Fonte: Adaptado de Prochnow et ai. (2005).

Plantas de cobertura do solo


As plantas de cobertura se destinam a cobrir o solo durante o ciclo delas, seja este na
primavera-verão ou no outono-inverno e, ainda, sejam estas gramíneas, leguminosas ou
outras, ou combinações de diferentes espécies. Estas plantas, além de dissipar a energia
das gotas de chuva pelo efeito do dosse1, exercem importante efeito indireto na erosão na
medida em que mell1oram as condições químicas, biológicas e, principalmente, físicas do
solo. As gramíneas, em especial, potencializam a estruturação do solo pela ação das raízes,
enq uanto as leguminosas, ao fixarem N 2 do ar no solo, melhoram sua fertilidade. Em
ambos os casos, há aumento na infiltração de água no solo com diminuição do escoame nto
superficial e também melhoria na condição biológica, e quanto maior a densidade de
plantas menor a perda de solo por erosão.
A fitornassa residual destas culturas também tem função como cobertura morta para
o cultivo subsequente. Nesse caso, a taxa de decomposição da fitomassa influenciando a
persistência da cobertura do solo ao longo do tempo é uma caracterís tica importante e está
relacion ada principalmente com sua relação C/N. De forma geral, as leguminosas, com
baixa relação C/N, se decompõem mais rapidamen te. A semeadura simultânea de plantas
de d iferentes espécies denominada coquetel ou consórcio de plantas de cobertura tem sido
utilizada, buscando associar as características de persistência da fitomassa (Heinrichs et ai.,
2001), conferindo proteção do solo e de reciclagem e fornecimento de nutrientes à cultura
subsequente (Giacomini et ai., 2004).
A produção de grande quantidade de massa vegetal, que pode se transformar em
matéria orgânica a ser acrescentada ao solo, e a ciclagern de nutrientes resultam em efeitos
indiretos das plantas de cobertura do solo na redução da erosão hídrica pluvial por causa
da melhoria dos atribu tos do solo. A matéria orgânica, ao ser mineralizada, disponibiliza
ácidos húmicos, que podem complexar Al, evitando efeitos tóxicos às plantas, e melhorando
a dispobilidade de nutrientes das plantas.
Muitas espécies de plantas adaptadas às distintas condiçõe agroclimáticas do Brasil
estão disponíveis para serem utilizadas como plantas de cobertura, tanto no período de
primavera/verão quanto no de outono/inverno. As leguminosas são as espécies mai
divulgadas como adubos verdes, mas diversas outras espécies, corno as gramíneas
(Poáceas), crucíferas e compostas, podem ser utilizadas (Wutke et ai., 2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
544
lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

As_ esp~cies indicadas como plantas de cobertura variam de acordo com as condições
e~afoc~máticas, o sistema de produção adotado e a época de plantio (Silveira e Stone, 2010;
L~m~ F1~1 o et ai., 2014). Há mais opções para a Região Sul do Brasil, onde as chuvas são
distnbmdas ao longo do ano, do que para a região central, especialmente no Cerrado, pelo
período de défice lúdrico acentuado no outono-inverno.
E~tre as principais espécies de granúneas (Poáceas) cultivadas no outono-inverno,
exclusivan:ente para cobertura do solo, estão a aveia-preta (Avena strigosa), a aveia-branca
(Av~rn sahva) e a aveia-amarela (Avena byzantina), o azevém anual e o perene (Lolium
multiflorum Lam) e o centeio (Secale cereale L.). Também, há granúneas de outono-inverno,
destinadas à produção comercial, que também podem ser consideradas como cobertura
do_solo, como a cevada (Hordeum vulgare), 0 trigo (Triticum spp) e o triticale (Triticoseca/e
Wittrnack). As gramíneas são importantes na produção de material vegetal, tanto na parte
aérea quanto nas raízes e, por isso, são eficazes na cobertura do solo e na agregação do solo,
além da ciclagem de nutrientes.
Com relação às leguminosas (Fabáceas) de outono-inverno, a ervilhaca (Vicia sativa),
ervilhada-peluda (Vicia villosa), parda (Vicia articulada), púrpura (Vicia atropurpurea),
húngara (Vicia pannonicn), hirsuta (Vicia Jzirsuta) e a de folha estreita (Vicia angustifólia)
são cultivadas. Além dessas, há a ervilha (Pisum sativum), a fava (Vicia Jaba), a serradela
(Omithopus sativus), o tremoço-branco (Lupinus albus), o amarelo (Lupinus luteus) e o azul
(Lupinus angustifolius), os trevos (Trifolium spp.), sendo os principais o encarnado e o
vermelho e o chícharo (Latliyrus sativus) importantes culturas para esta época do ano.
Estas leguminosas são importantes na produção de material vegetal, principalmente na
parte aérea, além de seu potencial na fixação de N2 por simbiose e, por isso, são eficazes na
cobertura e melhoria da qualidade química do solo, além da ciclagem de nutrientes.
Entre as gramíneas de primavera-verão estão o milheto (Pennisetum glaucum), o sorgo
forrageiro ou capim-sudão (Sorglzum bicolor L. Moench e Sorglzum sudanense L.), o teosinto ou
dente-de-burro (Zea mays subesp. mexicana). Também têm sido utilizadas corno plantas de
cobertura as braquiárias, como a Urochloa ruziziensis. Estas espécies são grandes produtoras
de material vegetal na parte aérea e nas raízes e, por isso, apresentam grande potencial
para formação da cobertura do solo e melhoria de sua estrutura. Dentre as gramíneas
destinadas à produção comercial, o milho (Zea mays) destaca-se como sendo protetora do
solo pela grande quantidade de fitomassa residual persistente que produz.
No caso das leguminosas de primavera-verão, mesmo cultivadas no início do outono,
a cobertura do solo pode ser feita com feijão-de-porco (Canavalia ensifonnis); mucunas
(Mucuna sp.) preta, cinza, rajada e anã; guandu (Cajanus cajan), especialmente o arbustivo e
0 anão; e as crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. juncea, C. ocroleuca, C. mucronata, C. brevifl.ora
e e. grantiana). Estas leguminosas são mais import~tes na_pro~ução de mate~ial ~egetal,
principalmente na parte aérea, ~ém d: seu ~ote~cial na fixaçao de N 2 por s11nb10se, do
que as de outono-inverno e, por isso, sao mais efi_cazes do que a~uelas na cobertura e na
melhoria da qualidade química do solo, além da c1clagem de nutrientes.
Espécies como nabo-forr_ag~iro (Raphanus sativu~), colza ou ~anela (cruc_íferas)
(Brassica napus), espérgula (car10filáce~) _(Spergula _a1vens1s), no ~utono_-mverno; ~ girassol
(composta) (Helianthus annuus) e sesbama (le~osa) (Sesbama spec1osa), ~a pnrn~~era-
verão, entre outras, são pronussoras para cobnr o solo e melhorar seus ah·1butos fis1cos,
químicos e biológicos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII .: PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 545

Cultivo consorciado

A consorciação de culturas é uma prática utilizada há bastante tempo, especialmente ~m


pequenas propriedades agrícolas, porque possibilita melhor índice de utilização da terra, rrta1or
retomo econômico, melhoria da qualidade e fertilidade do solo, controle de pragas, doenças
e plantas infestantes, além de proporcionar maior cobertura do solo (Figura 11). Trata-se do
cu ltivo de duas ou ma.is espécies vegetais na mesma área, na mesma época, com semeadura ou
plantio simultâneo, ou com pequena defasagem de tempo entre uma época e outra.
O consórcio tem sido utilizado tanto em cultivas anuais (milho, feijão, hortaliças) como
em cu ltivos perenes (café, citros, seringueira, viticultura, banana, pastagens) e semi perenes
(mandioca).

Figura 11. Plantio consorciado de cana-de-açúcar e adubo verde, em área irrigada, em Latossolo
Vermelho na região de Ribeirão Preto, SP.
Fonte: Foto dos autores.

Para a formação de cobertura sobre o solo, buscam-se opções para a consorciação


de plantas de cobertura como o cultivo simultâneo de aveia, ervilhaca e nabo-forrageiro,
procurando associar as vantagens de cada espécie para melhorar os atributos do solo,
adicionar N ao sistema e manter o solo coberto por mais tempo (Giacomini et ai, 2003;
Crusciol et ai., 2013).
Um cultivo consorciado também muito utilizado é o sistema de milho no verão
consorciado com plantas forrageiras, semeadas com alguma defasagem em relação à época
de semeadura do milho. Neste sistema, após a colheita do milho, em razão do aumento de
luminosidade na superfície do solo, as plantas forrageiras rapidamente se desenvolvem.
Este sistema é utilizado para formar pastagens ou recuperar pastos degradados. É referido
como integração lavoura-pecuária (ILP).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


546 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

De _form a semelhante e também com O objetivo de aumentar a coberturn do solo


em cultivas de grãos para proteger o solo contra a erosão, tem sido bastante difundido
0 ~~nsórcio milho safrin.ha-forrageiras, em sistema de cultivo de soja, no verão; e milho

s~tTm.ha, no ou tono-inverno (Ceccon, 2013). Nesse caso, as duas culturas (milho e forrageira)
sao semeadas ao mesmo tempo; no entanto, o milho se desenvolve mais rapidamente, e a
forrageira é som?reada. Após a colheita o milho, no final do período chuvoso, as forrageiras
esta~elecem rapidamente uma elevada biomassa, que pode ser pastejada ou apenas ter a
funçao de cobertura do solo para a posterior semeadura da soja em semeadw·a d ireta no
Yerão (Figura 12).

Figura 12. Consórcio entre espécies forrageiras e milho safrinha, em semead Uia direta com soja, no
verão, após a colheita do milho na região do Médio Paranapanema, SP.
Fonte: Foto d os auto res.

Pastagem e sua integração com lavouras e florestas


A pastagem é um tipo de uso da terra que, quando bem conduzida, protege a superfície
do solo e resul ta em valores muito baixos de perdas de água e solo por erosão lúd rica, em
razão da cobertura proporcionada pela biomassa aérea das plantas forrageiras, pelo efeito
das raízes nos atributos físicos do solo e pela consolidação do solo (Dechen et ai., 1981 ).
Em conjunto com as florestas, são consideradas como um uso conservacionista e m
relação a outros usos da terra. Por isso, as pastagens são recomendadas pa1·a terrenos onde
os riscos de erosão são maiores. Entretanto, esta eficácia relativa na redução d as perdas de
solo e de água depende fundamentalmente do man ejo dos animais e das plantas forrageiras.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA
547

A elevada eficácia das pastagens no controle das perd as de solo por erosão hídrica é
decorrente da cobertura do solo pela parte aérea muito próxima do nível do so lo;~, no ca 0
das gramíneas, do efeito das raízes na estruturação do solo. Por outro lado, a re lativamente
baixa eficácia destas no controle das perdas de água é devida à compactação do solo,
geralmente presente nas pastagens por causa da alta carga animal e da baixa oferta de
forragem, decorrentes do manejo inadequado.
O alto escoamento superficial em pastagens cultivadas ma l man jadas pode
desencadear elevadas perdas de solo, em especial quando as pastagens ão cultivadas
sobre solos frágeis do ponto de vista de resistência à erosão (Figura 13).

Figura 13. Pastagens degradadas, com erosão laminar e em pequenos sulcos, bai..'Xa qualidade física e
fertilidade do solo resultando em baixa produção de biomassa e cobertura do solo.
Foto: Foto dos autores.

Paisagens com pastagens degradadas, com baixa cobertura, sulcos de erosão e trilha
decorrentes d e caminhamento animal são comuns em muitas regiões brasileiras. Por isso,
nem sempre as pastagens podem ser consideradas um uso conservacionista do solo, uma
vez que a presentam perdas de solo e de água e compactação da superfície.
Idealmente, deve-se manter a oferta de forragem em aproximadamente 12 % para
que as pastagens mantenham o ritmo adequado de crescimento vegetal, tanto na parte
aérea quanto nas raízes, para que, efetivamente, reduzam a erosão e conservem o solo e,
ao m esmo tempo, supram adequadamente os animais com forragem, confom,e dados de
Bertol e t al. (1998, 2000).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


548 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

recuperação de pastagen degradadas, a readequação e a adoção de manejo da oferta


de forragen são fundamentais para a conservação dos solos pastejados, principalmente
pela e ·tensão territorial deste tipo de uso da terra no Brasil. As pastagens degradadas
apresentam pouca cobertura e oferecem pouca proteção ao solo, tanto contra a erosão como
contra a compactação do solo. Enh·e os sistemas adotados para recuperar as pastagens,
estão a integração enlTe lavoura e pecuária (lLP) e integração entre lavoura, pecuária e
floresta (lLPF). Estas formas de exploração da terra, integrando atividades de agricultura,
flore ta e pecuária, mantêm ou atm1entam a cobertura do solo durante o ano todo, com
tipos variados de vegetais, com ampla variedade de dossel e de capacidade de cobertura
do solo, incluindo a cobertura próxima à superfície do solo. Em situações como estas,
espera-se que a erosão do solo seja expressivamente reduzida. Estes sistemas de cultivo
integram a produção de grãos, frutas, fibras, madeira, carne, leite e, ou, agroenergia, em
uma mesma área.
O cultivo de grãos, a exploração de pastagens e a produção de espécies arbóreas são
realizados em consórcio, em rotação ou em sucessão, de forma planejada para resultar em
benefícios ecológicos, ambientais e econômicos, de modo duradouro. Além da conservação
do solo e da água, incluindo o controle da erosão, da melhoria dos atributos físicos,
químicos e biológicos, com aumento da biodiversidade do solo, estes sistemas promovem
a sustentabilidade da produção agropecuária, a diversificação de atividades e o bem-estar
animal (Figura 14). Maiores detalhes sobre ILPF podem ser vistos no capítulo 37 neste
mesmo livro, específico sobre este tema.

Figura 14. Sistemas de manejo (a) integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF), com a pastagem
estabelecida entre as linhas de eucalipto em Votuporanga, SP; e (b) integração lavoura pecuária
(TLP) estabelecida após cultivo de soja em Rancharia, SP.
Fotos: Fotos dos au tores.

Manejo das plantas infestantes


o manejo das plantas infestantes pode incluir ações para aumentar a cobertura do solo
por material vegetal, tornando ~stas plantas ~liadas no controle da erosão ~1ídrica _e eólica.
A alternáncia de épocas de capina das entrelinhas das culturas enh·e as faixas a d1acentes,
especialmente durante o período chuvoso_em regiõ~s onde es~a condição climática existe, é
uma forma de reduzir as perdas por erosao em cultives anuais e perenes (Marques, 1950).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 549

Esta prática compreende fazer as capinas, utilizando métodos mecânicos ou químicos,


alternando faixas capinadas com não capinadas e, passado algum tempo, v_oltando ~ara
capinar as que foram deixadas com as plantas infestantes. Dessa forma, a fa1x~ que f~cou
com o mato retém o solo perd ido das faixas anteriormente capinadas. Todas as faixas terao 0
mesmo número de capinas usual. Esta prática exige atenção na distribuição das época~ P~ª
que a cultura não tenha perda de produtividade pela concorrência com o mato. É de ap~caçao
simples e de baixo custo e controla cerca de 30 % das perdas de solo, em culturas anua1s, e de
40 %, nos cultivas perenes, sendo mais eficiente se o cultivo estivar em contorno (Quadro 5).

Quadro 5. Efeito de práticas conservacionistas em cuJtUias anuais sobre as perdas de solo e água por
erosão
Perdas por erosão hídrica
Práticas água da
solo
chuva
t ha·1 %
Linhas de p lantio no sentido morro abaixo 26,0 6,9
Linhas de plantio em contorno 13,2 4,7
Linhas de plantio em contorno com alternância de capinas 9,8 4,8
Cordões em contorno com cana-de-açúcar 2,5 1,8
Fonte: Adaptado de Bertoni et al. (1972).

Também, urna prática relacionada ao manejo de plantas infestantes é a ceifa do


mato, mantendo a füomassa residual na superfície do solo, com eficiência de 74 %, no
controle das perdas de solo, e 51 %, na enxurrada (Marques, 1950). É uma das maneiras
mais eficientes de controlar a erosão nas culturas perenes (café, cacau, citros, pomares),
mantendo as plantas infestantes ceifadas a uma pequena altura da superfície do solo. O
sistema radicular das plantas fica intacto e a parte aérea forma urna vegetação protetora.
A ceifa deve ser feita regularmente para não prejudicar a cultura pela concorrência
do mato, com utilização de ceifadeiras apropriadas. Há algumas vantagens em relação a
capinas por métodos mecânicos com a grade como a cobertura que protege o solo contra o
impacto das gotas de chuva, sombreamento e controle da temperatura; e a manutenção de
umidade e da matéria orgânica do solo. Como não há desagregação da camada superficial
do solo, não há prejuízo às raízes das culturas perenes cultivadas.
Mais recentemente, passaram a ser cultivadas plantas de cobertura na entrelinha de
plantas perenes, mais eficientes na cobertura do solo em relação às plantas infestantes pelo
rápido crescimento e mais fáceis de controlar com ceifa ou capina química.
Diversas combinações de uso de roçadeiras e de herbicidas para controlar O mato
e manter o solo coberto têm sido utilizadas, com vantagens para o controle da erosão e
manutenção da umidade do solo. Em culturas perenes, o controle de gramíneas e plantas
de fo lha larga, feito com roçadeiras no verão e com produtos químicos no início do inverno,
preservando sempre intacto o sistema radicular, tem evidenciado eficiência no controle da
erosão. Tem sido utilizado, também, o manejo da vegetação das ruas de pomares de citros
com roçadoras projetadas para o corte e a deposição de fitomassas residuais sob a área de
projeção d a copa (Azevedo et al., 2012), com o objetivo de formar urna cobertura morta
sobre a s uperfície do solo no entorno das árvores (Figura 15).

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


550 lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.

Figura 15. fanejo de plantas invasoras: (a) na entrelinha de pomar recém-implantado; e (b) em
pomar de limão manejado com roçadeira ecológica, concentrando a palha próximo à fileira de
plantas.
Fonte: Foto dos autores.

Florestamento, reflorestamento e faixas de bordadura

As terras de baixa capacidade de uso e, ao mesmo tempo, muito suscetíveis à erosão


devem ser cobertas por vegetação permanente densa, como florestas (Bertoni e Lombardi
Teto, 1990).
Para terrenos muito inclinados, de baixa fertilidade ou que já sofreram intensa erosão,
a melhor prática conservacionista vegetativa é florestar ou reflorestar para proteção do solo.
Pode-se considerar o floresta.menta como o plantio de floresta onde ela nunca existiu,
enquanto o reflorestamento é o seu plantio em locais onde ela já existiu e foi eliminada.
Preferencialmente, devem ser usadas espécies nativas da região para atuarem no equilíbrio
ecológico. O plantio ou replantio florestal em áreas íngremes deve ser feito no alto das
vertentes, com o objetivo de potencializar ali a infiltração de água no solo, reduzindo
assim a enxurrada e alimentando o fluxo de base que serve para perenizar as nascentes em
posições inferiores no declive. A floresta pode restabelecer o equilíbrio ecológico rompido
pelo inadequado uso da terra e do manejo anterior do solo.
As florestas, especialmente as ricas em espécies nativas frutíferas, são importantes nas
áreas ripárias para suprirem a fauna aquática com aumentos. Ainda, este tipo de floresta
atua fortemente no aumento da infiltração de água no solo, no retardamento da recarga e
na filtragem da água que incidirá nos rios e na redução da enxurrada e do consequente
aporte de sedimentos e produtos quúnicos para dentro do leito dos rios.
As á reas de maior risco ou que já foram severamente erodidas muitas vezes destinam-
se ao uso florestal, pois a exploração da madeira, seja para energia, seja para a conslTução
civil, torna essa atividade mais rentável economicamente do que qualquer outra que possa
ser implantada em áreas deste tipo. Entretanto, é preciso planejar o manejo para estas
áreas, porque apenas a cobertura com espécies arbóreas não é suficiente para o controle

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 551

da erosão, principalmente pela falta de cobertura na superfície do solo e pela colheita total
das árvores (Figura 16).
Alguns estudos vêm demonstrando que há perdas por erosão nas á~ea~ d_e
reflorestamentos, principalmente na fase de implantação das espécies, sendo os pnnc 1~~ 1s
fatores: o preparo do solo no sentido do declive com mobiLização intensiva da su perficie,
os solos frágeis e o declive acentuado (Martins et ai., 2003; Pires et ai., 2006; Baptista e
Levien, 2010).
Práticas edáficas, como sistemas conservacionistas de preparo, corte das árvores
escalonado no tempo, controle do fogo, época de plantio e colheita fora da época ~ais
chuvosa, também devem ser planejadas para que não ocorram novos processos erosivos
nestes locais.

Figura 16. Paisagem de solos suscetíveis à erosão em declividade elevada, correspondente à classe
de capacidade de uso VII: (a) protegida por reflorestamento; e (b) sem cobertura após a colheita
em área total.
Fonte: Foto dos autores.

As faixas marginais de terras cultivadas apresentam, muitas vezes, problemas de


controle da erosão. As faixas de bordadura consistem em faixas formadas por plantas
de porte baixo e vegetação fechada para conter excessos de enxurrada, evitando danos
(Bertoni e Lombardi Neto, 1990). Estas faixas, com 3 a 5 m de largura, são formadas na
margem de campos cultivados, ao lado de caminhos e canais escoadouros, ou com larguras
variáveis, colocadas em áreas mais íngremes, nas partes mais baixas da paisagem. Estas
áreas podem ser utilizadas para manobras de máquinas e implementes. Para sua formação,
são recomendadas leguminosas e gramíneas de pequeno porte e arbustos, havendo 0
cuidado para que esta área não seja fonte de sementes de plantas infestantes.

Práticas edáficas
As práticas conservacionistas de caráter edáfico são aquelas que, com modificações no
sistema de cultivo ou no manejo, promovem a melhoria das condições de fertilidade e de
qualidade física dos solos, de forma a contribuir para o controle da erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


552 lSABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.

. 10 s
sistemas de produção agropecuária e florestal, o consumo e a lixiviação dos
nuh·t~nte do solo, a degradação da matéria orgânica e a formação de camad as compac tadas
conlTtbuem para a d egradação dos atributos do olo relacionados com a su s tentação da
produção vegetal e infiltração de água no solo e, assim, proporcionam condições para
acelerar os processos erosivos.
As medidas de caráter edáfico se relacionam à manutenção e melhoria da qualidade
física e quíntica do solo. Solos equilibrados e consen adas quimicamente produzem
ma~s, com n~aior aporte de matéria , egetal, e, com isso, protegem mais e adicionam
maJor quanhdade de matéria orgânica, assim como solos que mantém uma estrutura
física adequada para o desenvolvimento radicular e a infiltração de água tornam-se mais
resistentes à erosão.
Entre os objeti, os das práticas edáficas está a manutenção da matéria orgânica do solo,
que tem importante relação com a erosão. Nos solos argilosos, a matéria orgânica modifica
a estrutura, formando espaço poroso entre as partículas, melhorando condições de aeração
e retenção de água. Nos solos arenosos, esta aglutina as partículas, estabilizando a esh·utura,
diminuindo o tamanho de poros e aumentando a capacidade de retenção de água.

Controle do fogo
O fogo vem sendo usado pelo homem há milênios para manejar a matéria vegetal e
preparar o terreno para a semeadma ou plantio. Esta prática apresenta algumas vantagens,
todas relacionadas à economia e facilidade na preparação de áreas para o cultivo. A
pronta mineralização de nutrientes pelo fogo pode propiciar aumento de produtividade
das culturas no curto prazo e ajudar a controlar pragas e plantas daninhas. No entanto,
o fogo apresenta desvantagens que superam essas vantagens imediatas. Os principais
problemas decorrentes do fogo são: eliminação da cobertura do solo, redução da matéria
orgânica, diminuição da atividade biológica pelo menos nos dias ou semanas após a
queima, eliminação de espécies vegetais menos resistentes, diminuição da infiltração e
armazenagem de água no solo, aumento do escoamento superficial e da erosão (Quadro
1). Com o aumento da erosão, aumentam as perdas de nutrientes (Berto! et aJ ., 2011) e o
empobrecimento do solo no longo prazo.

Correção do solo e adubação


A correção do solo, por meio de calagem e gessagem, tem reflexo direto na produção
das culturas, urna vez que oferece condições ideais para o máximo aproveitamento do
potencial produtivo das plantas, criando um ambiente favorável no solo ao desenvolvimento
das raízes, aumentando o volume explorado, o que proporciona melhor aproveitamento
de água e nutrientes.
A calagem é uma operação de manejo do solo utilizada para eliminar a toxidez de
aJwnínio, normalmente presente em solos ácidos, e diminuir a concentração de íons H da
solução do solo para níveis adequados para plantas cultivadas e microrganis mos.
Elevadas concentrações de AI em solução são tóxicas para a maioria das plantas
cultivadas, especialmente para as legwninosas, e para os microrganismos do solo,
especialmente as bactérias. Assim, .ª _Preci~ita_ção do AI e ~ elevação do pH por meio da
calagem propicíam melhores cond1çoes qumucas na soluçao do solo para a produção de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 553

fitom assa e para a atividade biológica; e, por isso, a ca lagem é considerada também como
uma medida conservacionista de solo.
O fornecimento de Caem profundidade pela utilização do gesso agr ícola não s ub~titui
o calcário porque não corrige acidez nem reduz saturação de AI, mas melhora o ambiente
proporcionando condições para maior desenvolvimento radicula r.
A calagem, no entanto, em solos ácidos pode provocar desagregação e d ispersão da
argila na camada superficial, resultando no aumento do trans po rte de partículas de solo
pela erosão hídrica ou na elevação do encrostamento da superfície, que reduz a ca pacidade
de infiltração de água e aumento do escoamento superficial, no momento em que é aplicada
ao solo. Com o tempo, com a reação do calcário com o solo e o efeito no cresci mento de
raízes e das plantas, este efeito negativo do ca lcário é compensado, e as áreas corri gida
apresentam menores valores de perdas por erosão.
A adubação mineral e a adubação orgânica constituem-se em fator imprescindível
à manutenção da produtividade agrícola e, portanto, da cobertura vegetal. A adubação
adequada deve ser definida com base na análise de solo.
A adubação química serve para repor a quantidade de nutrientes de plantas, extraída
por estas durante o processo produtivo, e também aqueles nutrientes perdidos por
erosão hídrica durante o ciclo das culturas. Isso é fundamental para evi tar a depleção de
nutrientes, que, em nível acentuado, ocasiona enfraquecimento e incapacidade química do
solo. Com isso, a produção vegetal é rebaixada, diminuindo o teor de matéria orgânica do
solo e a proteção do solo com a fitomassa residual decorrente das plantas. Os nutrientes
N, P e K necessitam ser repostos com maior intensidade e frequência e, para isso, devem
ser seguidas tabelas de necessidades de nuh·ientes requeridas pelas plantas cultivadas,
acrescidas das quantidades perdidas pela erosão hídrica anualmente.
A adubação orgânica é principalmente aquela que utiliza dejetos de anima.is, mas
existe um uso crescente também dos resíduos agroindustriais e urbanos em áreas agrícolas.
O aumento no uso, tanto dos dejetos animais quanto das biomassas residuais de outras
fontes, está relacionado à necessidade imposta pelas legislações ambientais de disposição
adequada destes materiais e ao aumento da conscientização dos problemas causados pelo
descarte inapropriado, principalmente o impacto nos recursos hídricos.
Os dejetos comumente usados na adubação dos cultivas anuais, perenes e pastagens
são os de suínos, aves e bovinos. Os de suínos e bovinos são, em geral, aplicados na forma
liquida, enquanto os de aves, na forma sólida, cada um deles apresentando concentrações
variadas de N, P e K e de outros nutrientes, dependendo do tipo do animal e da forma
como é obtido e tratado. A quantidade de cada nutriente aplicado ao solo é dependente,
portanto, da quantidade de dejeto aplicado e do teor do nutriente no dejeto.
Esta forma de adubação, além de fornecer nutrientes às plantas, estimula fortemente
a produção vegetal e a atividade biológica do solo, o que, por sua vez, é fator importante
para aumentar indiretamente a resistência do solo à erosão hídrica.
A adubação orgânica é mais comum em culturas perenes, hortaliças e, principalmente,
em culturas de pequena expressão geográfica, mas intensivas. A pequena disponibilidade
de adubos orgânicos e o custo, em especial do transporte, limita seu uso mais generalizado.
Mesmo que a adubação orgânica não possa ser efetivada diretamente, devem-se adotar
práticas que proporcionam a preservação da matéria orgânica do solo, como utilização de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


554 lSAB · LL A L · RI CJ D MA RIA FT /\ L.

• du bos \'C'rd ~ • pl ;m tc\c; d oh rhJr . manut nção dl' rol r.rtu rn com fi tmna ssn rc<-id u a l
d u, ~ da!-or rn õcs d mobili 7ação da!- ra mada~ superfi ciai s.

dul ª\'Üo n ~rdr

A ad ubação " rd a utili z.a ão d pl an ta cultivada especifi camente para melhora r


os atri bu i .., fís i o~. qufmico~ biol gicos do solo. Estas plantas podem er corta d as e
•nt rrada~ ou m an tidas na sup •rf1cie, ;ii nd a verde ou depois de completar seu ciclo. D o
P nt d \' i~ta da r são, ent re> os fe it os r ositivos da adubação verd e estão manter o solo
e m cobertu a., p ara prote ào e nlTa a ação direta das chu vas quando vivas e melhorar
os atribut ~ d - olo q ue result am em maior produção de biomassa vegetal e majo r
in orp raçâ d e m a l ri n orgânica ao solo.
É uma técnka apropriada para obtenção de maior cobertura vegetal do solo em
determinadas , p ca do ano, com grande potencialidade de adoção nas seguintes
ondi ô : na entre safra d culturas anuais, em áreas que permanecem em pousio, a
inlT d u à d ad u bo verde melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo,
ai m manter p r mai te mpo a superfície protegida pela coberrura vegetal; e nas cult-uras
rmanen te , com o coberturas das entrelinhas. Este efeito do adubo verde como planta
de cobertura do olo foi apre entado anteriormente no item Plantas de cobertura do solo.
Geralm ente, ão usadas leguminosas para adubação verde, pois, além de fixarem
\ doar q ue e rá a dicionad o ao solo, produzem grande quantidade de fitomassa que se
decompõe com rela tiva facilidade para liberar os nulTientes para o cultivo subsequente.
Outras espé ie la mb m u tilizadas, mesmo que não fixem N2 do ar, reciclam nutrientes
de planta na fitoma sa. Os a dubos verdes têm efeito também como rotação de cult-ura,
controlando p raga e doenças e promovendo a ciclagem de nutrientes.

Rotação de culturas
A rotação d e culturas significa alternar en1 um mesmo terreno diferentes culturas
numa sequência d e acordo com um plano previamente definido. As culturas não precisam
ser anuais, poi mandioca, cana-de-açúcar e pastagens podem estar num mesmo plano de
rotação. Os p rincipa is objetivos da rotação são obter melhor organização da distribuição
das culturas na propriedade, na economia de trabalho, no controle de plantas infestantes,
insetos e doenças, na manutenção da matéria orgânica e N do solo, no awnento da produção
e na redução d as perdas por erosão. A rotação de sucesso resulta, em longo pra.zo, em
elevação da produção e aumento da matéria orgânica do solo.
Esta prática, entre outras vantagens, proporciona aumento da cobertura vegetal de
diversas formas : altemáncia de cult-uras que produzem maior quantidade de biomassa,
diferentes velocidades de crescimento, diferentes tipos de raízes e diversos espaçamentos,
proporcionando uma variação na cobertura vegetal do solo, o que nã o ocorre nas
monocultura ; uso de culturas plantadas em épocas que proporcionam ma ior cobertura
vegetal d o solo em períodos críticos; alten:1.â!'cia de culrur~s que ~eram biomassa r~sidual
com d iferentes velocidades de decompos1çao; e exploraçao de diferentes profundidades
d o solo, em razão dos sistemas radiculares di versos, proporcionando melhor ciclagern de
nutrientes.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XVII - PRÁT f C A S CoN AV cro rsT s oo So o E º"' r.u 5

A rnt,1ç, n d <' cult ur,1 c: d PV<' 'lf'r pl,, n j dil par.t 'lllf' ;ipr?<en "'nutr e: v, rit1 en'- cn P
controle d e prclg;-1c;" do nr,ac:, cn ntrnlP dr m,, n, prn 'f' Í mPnln de n11 rit->n "'"· m~ li nr ,l
n,1 iníiltr;iç, o" armr17f'na gcm d<' .:ig11a . J lg Jma rc;pfrie'- dr> ,1 i 11bnc: ·n~r Jec: P pl;i ,1c: dt•
cobertura pod<'m a tua r poc: ití 'c1m<'nlr n;i cfec,cnmpartaç~in dn c:nln.

Sistemas de manejo con erYaclo nL ta


O pre p a ro d o solo l m como objeti vn .Jd qu.i r ,, e: rn cl,çrrc: dn ~nfn JJ,,,., n
de envol v ime nto das plantas cultiv;idac;. É .1 np raç,1n df' e 11 1vn m ,1i 1mpQr t n
controle da erosão, pois dela depend em cJirctnm nt a mai<' 011 menor de<:.1
camada s uperficial do o lo e a man ute nção na c;u pe rfiriP n I incnrpnr ç-o ,l ~itnm ,,
residual.
Adequações ou modificações no preparo cJo c;o ln pod m cnn nrru,r d m, n r,
deci iva na redução do processo era ivo por meill e tccnol<\_1,1 p r.1 cnntrole dt> pi nt,1
infesta ntes e soqueiras, dispensando a inco rporação; prep,1 m e.ln ·nlo -nm ec. u,p m n <
que permitam a m anutenção da filomass.i cultura l rec;idu.11 nc1 u r ic, •; ro J Jo J~·
culturas; rotação de implementas de prepuro do <;olo, .ilternc1.ndn pe rwd, m ·n l' n IJ"õ(l
de imple m e n tas de hastes (Figura l7); elim inaçc'in cJo fo o n, p lh.1 f,L . pr p.uo do oln
co m umidade adequada; e a lteração da profundidude do preparo do olo p<.1 r Cciu_· :i J,
ocorrê ncia de ca madas compactadas.

8
lo
7
• I' gua
6
o
1(0
CI) 5
~
&,4
~
] 3
Cl.
2

o
PC verão PC verão e PC verão e RP verão ES
inverno SD inverno SD invem SDinvemo
Figura 17. Pe_rdas médias anuais de s?lo (t ha 1) e águ~ (d, L m 1) por l!ru - 0 em pr, ·p . r Jn 'iülo
con venoonal (PC), semeadura direta ( O), õ carihc, ç,fo (ES) e ro t.lç,1o J~ pr p (h \RP) nu
verão e inverno em Latossolo Vermelho, muito ,ugilo o, Ch.i p~ o. - -.
Fonte: Adaptado de Beuller e t ai. (2003).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E D GU


556 lSABELLA (LERICl DE MARIA ET AL.

erneadura direta (SD)/plantio direto (PD)

Com a adoção desta técnica, é possível obter um controle de erosão acima de 80 %


em rela_ção ao preparo do olo convencional. Em princípio, qualquer cultura pode ser
produzida em SD/ PD, desde que se tenha mínima mobilização da superfície; manutenção
de cobertura morta; manutenção de cobertura verde a maior parte do tempo; e rotação de
cultura .

O cultivo de grãos, hortaliças, frutas, outros cultives perenes e florestais, mandioca e


cana-de-açúcar pode ser feito utilj zando esta técnica. Se for preciso sistematizar e corrigir
a área antes da sua implantação, recomenda-se o uso de prepares reduzidos em épocas de
chuvas menos intensas.
Além do controle da erosão, a SO/PD resulta em ganhos ambientais, como proteção e
manutenção da biodiversidade do solo, melhor utilização da água e nutrientes, manutenção
de estoques de C e menor cons umo de combustíveis fósseis.
O principal efeito da SO/PD é a proteção da superfície com a palha dos cultivos
anteriores (Figura 18). Dados obtidos por diferentes autores, em ensaios comparando
perdas por erosão entre diferentes manejas do solo, publicados entre 1977 e 1997,
indicaram perdas de solo variando entre 0,5 e 5,0 t ha·1 ano·1 em SO/PD, com urna redução
de 75 % comparativ amente aos preparas convencionais (De Maria, 1999). Nestes trabalhos,
verificou-se também que as perdas de água, que vão formar as enxurradas, são reduzidas
em média em 20 % na SD/PD, embora em algumas situações tenham sido verificadas
perdas iguais ou maiores na SO/PD em relação aos preparos convencionais.
a SD/ PD, as perdas de solo e água são reduzidas de forma complementar pela
palha e pela consolidação da superfície, tanto no processo de erosão em entressukos
como na erosão em sulcos (Schafer et al., 2001a,b). A consolidação da camada superficial
do solo, mantido sob SD/PD por tempo prolongado, proporciona mruor resistência do
solo à desagregação e maior resistência ao cisalhamento. Com a utilização da SD/PD, é
possível incrementar o teor de C orgârúco do solo, alterando de forma positiva seu estado
de agregação (Castro Filho et al., 1998) e assim conferindo mruor resistência à erosão.
A utilização na SD/PD como prática edáfica de controle da erosão deve considerar
também a falha ou perda da eficácia relativa da fitomassa cultural residual em superfície, que
determina lirrútes de comprimento de rampa na SD/PD, dependendo do regime de chuva,
solo, declividade e condições de manejo. Morais e Cogo (2001) estimaram comprimentos
críticos de declive de, aproximadamente, 60 a 100 m em razão da quantidade, do estado de
decomposição e da ancoragem de fitomassa residual de soja.
Também, deve-se considerar o arraste de nutrientes das áreas de SD/PD, uma vez
que as perdas de solo e água são reduzidas; entretanto, ainda ocorrem perdas nesta técnica
de manejo, e a concentração de nutrientes na superfície do solo é maior do que a no manejo
com preparo do solo (Hernaru et ai., 1999; Bertol et ai., 2004).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,
XVII - PRÁTI CA S C ONSE RVA CIO N IST AS DO SOLO E DA AGUA 557

Figura 18. Semead ura direta sem preparo prévio do solo em Argissolo de textura média/ argilosa
sobre palha de m ilho.
Fonte: Foto dos au tores.

Operações de preparo do solo, subsolagem e controle da compactação


As operações de preparo do solo, subsolagem e con trole de tráfego têm papel
fw1d arnental no controle da erosão híd rica, wna vez que a com pactação do solo em
s ubs uperfíc ie e na superfície tem sido a causa principal da formação de processos erosivo
em entressulcos e em sulcos.
Urna das fom1as comuns de fo rmação de camadas compactadas (pé-de-arado ou pé-
de-grad e) é a utilização de equipamentos de preparo com d iscos. Além da incorporação
d a fitomassa residual, o que reti ra a proteção da s uperfície, a elevação do número de urna
ope ração d e p reparo pode resultar em aumento da erosão, como ap resentado no q u adro 6.
As pe rdas de solo aumentam quan do são feitas d uas operações por ano, em
compa ração a uma operação por ano, quando utilizados os arados de d isco e grade pesada
pa ra o preparo. Cons tatou-se, nesse caso, o início de uma cam ada compactada de 10 a
20 cm . No ta-se que, de forma contrária, a semeadura direta se beneficia do a u mento do
número d e cultivo no ano, com maior redução nas perdas por erosão.
O p laneja mento das operações de preparo e do tráfego de máquinas e implementas
d eve ser rea lizad o de forma a não im pactar a superfície do solo, ev itando a formação de
cam ad as compactadas. Inclui-se aqui a importància da adoção de controle de tráfego e,
a inda, d a inserção de operações de escari.ficação e subsolagem, caso o histórico de uso e
m a nejo da área tenha resultado em camadas compactadas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


558 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Quadro 6 · Perdas de terra e águ a por erosão cm razão de d iferentes equipame ntos para preparo do
solo e sem eadura direta em sisten1as com um cultivo (milho/pousio) e dois cultivas
(soja / aveia) por ano, em Latossolo Vermelho com 6% de declive, Campinas, SP
Cultivos Escarificador Arado de discos Grade pesada Semeadura direta
Perdas de terra, t ha·1
milho/ p ousio(ll 3,5 6,3 4,4 1,7
soja/ aveiar.1 3,4 7,7 9,0 1,0
Perdas de água, mm
mfülO/ pousiof1l 37 68 47 25
soja/ aveiaf2l 40 93 110 13
uma operação de preparo do solo por ano. (2) duas operações de preparo do solo por ano.
(1)

Fonte: Dados dos autores.

A inclusão de operações de escarificação e de subsolagem no manejo pode resultar


em aumento da infiltração de água e redução das perdas de solo e água por erosão. Este
feito está associado a alterações nos atributos físicos da camada superficial do solo e nas
propriedades da superfície, como a rugosidade. Volk e Cogo (2014) observaram que a
rugosidade superficial do solo, criada pela operação de escarificação, retardou o início da
enxurrada e aumentou a infiltração de água, reduzindo a perda de água por erosão.

Práticas de caráter mecânico


As práticas conservacionistas de caráter mecânico são aquelas em que se recorre a
estruturas artificiais por meio de movimentação de terra com os objetivos de redu zir a
velocidade de escoamento da enxurrada e facilitar a infiltração da água no solo.
Basicamente, estas práticas aumentam a rugosidade da superfície do solo, retendo e
conduzindo a água em excesso de forma lenta, evitando a desagregação e o transporte do
solo, de forma a não causar mais erosão.
As práticas mecânicas mais utilizadas são a distribuição de estradas e carreadores,
cultivo em contorno com semeadura em nivel, aleiramento da fitomassa cultural residual
em nível, terraceamento, canais escoadouros e canais divergentes, sulcos de infiltração e
diques em pastagens, cordão de pedra em contorno, mulching vertical, caixas de retenção
ou pequenas barragens e embaciamento.
As práticas mecânicas que têm como objetivo a condução das águas de superfície,
algumas vezes chamadas de práticas complementares, são também importantes
componentes do planejamento conservacionista de urna propriedade agrícola.

Distribuição de estradas e carreadores


o traçado dos carreadores deve considerar a topografia do terreno, colocando-os ao
máximo seguindo a linha de nível do terreno, e são distribuídos levando-se em consideração
a necessidade de mecanização da cultura e do transporte dos insumos e produtos colhidos.

MANEJ O E C ONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PR ÁT I CAS CON SE RVACI ONISTAS D O SOLO E DA AGUA
559

Nas á reas rurais, observa-se que os processos erosivos mais intensos, com fo rmação
d e s ulcos profundos e voçorocas, geralmente são decorrentes de estradas e carreadores
mal loca li zados, fa zendo com que a água dél enxurrnda se acu mu le em grande volume em
determinados pontos do terreno.
Entretanto, se adequadamente locadas e dimensionadas, as es tradas ru rais podem
se tornar importantes práticas de controle das perd as de solo e água por erosão hídrica.
Seguindo o apresentado em Bublitz e Campos (1992), as estradas não podem se constituir
em locais de armazenagem e condução de enxurrada, ou seja, a enxu rrada não deve ser
orientada a escoar pelo leito das estradas e carreadores.
Assim, estradas e carreadores devem es tar localizados preferencialmente nos djviso res
de água, nas cotas mais elevadas do terreno, de maneira a d ivid ir as águas, o rientando-a
de um lado e de outro para as áreas de lavoura. A conformação idea l de estradas rurais é
aquela em que o leito é levemente abaulado e suavizado, com uma incl inação transversal
variando de 3 a 6 cm m·1 do centro para as laterais do leito e com uma incl inação no talude
lateral de no máximo 12 cm m·1 . Esse abaulamento do leito da estrada tem o objetivo de
evitar o acúmulo de água no centro da pista da estrada.
Ressalta-se que a água proveniente das estradas não pode causar erosão nas áreas
marginais e tão pouco nas áreas agrícolas adjacentes. Por isso, a condução da enxurrada
deve ser feita por meio de estruturas mecânicas denominadas, de forma a brangente, de
sangradouros. Estas estruturas têm diversas denominações, corno vírgulas e bigodes, que
variam conforme o tipo de construção e a região, e podem estar associadas a lomba das no
leito das estradas, utilizadas para diminuir a velocidade e conduzir a enxurrada (Figura 19).
As lombadas são construídas transversalmente no declive do leito da estrada. A altura
máxima da lombada deverá ser de 40 cm, após a compactação. ormalmente, o volume de
solo utilizado em uma lombada antes da sua compactação é cerca de 1,3 vez o volume de
uma lombada compactada. A largura da lombada deverá ser igual à largura da estrad a, e
o seu comprimento poderá variar de acordo com o declive e de forma que não dificulte ou
limite o trânsito dos veículos. De modo geral, quando a declividade do terreno no leito da
estrada for 6 %, projetar 50 % do seu comprimento a montante e os outros 50 % a jusante
da lombada; e quando a declividade do terreno no leito da estrada for de 6 a 10 %, p rojetar
30 % do seu comprimento a montante e os outros 70 % a jusante da lombada.
Os sangradouros conduzem a enxurrada proveniente das estradas para os terraços e
para as bacias de retenção, utilizados para armazenar e infiltrar a água d as estrad as e dos
carreadores, ou para outras estruturas de terra ou alvenaria, corno escadas hidráulicas,
por exemplo. Nos sistemas de conservação do solo com terraços, o intervalo entre os
sangradouros e as lombadas das estradas são um múltiplo do espaçamento entre terraços,
para facilitar a distribuição das estruturas e parcelar o excesso de enxurrad a no terreno.
As estradas internas ou de acesso às lavouras, quando mal locadas ou danificadas pela
erosão híd~ica e pelos trabalhos_de manutenção, de_vem ser recupera d as. A recu peração
deve ser feita de modo a regularizar e preencher o leito e elevar o seu nível, suavizando os
taludes e a baulando e suavizando o leito.
A r~~ari~ação e o preenchimento do leito da estrada deverão ser feitos em segmen tos
onde existirem megular1dades na estrada que comprometam o tráfego. o rrnalrnente, este
trabalho é realizado com motoniveladoras com escarificador, carro-tanque dis tribuidor
de água, grade de discos e rolos compactadores tipo pé-de-carneiro, liso-vibratóri e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


560 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

pneum tico. preenchimento do leito da eslTada deve elevar o seu nível àq ue le que a
eslTada apre-enlava quando d a sua cons trução. De se modo, obtém-se a suavização dos
taludes com o m ínimo de corte lateral e movi,ncnto de terra dos mesmos.
. . ~u avi zil _ão dos ta ludes laterais da estrada tem o objetivo de estabilizilr as barrancas,
dmu!~umdo o n sco de desli zarnento do solo em massa para denh·o do leito da esh·ada por
oca iao da chuvas. Além disso, esta prática permite integrar as obras de conservação do
solo da e trada com as da lavoura .

Figura 19. Estrada rural com lombadas no leito e estrutura para condução da água da enxurrada para
o sistema de terraceamento da lavoura de citros.
Fonte: Foto d os a utores.

Cultivo em contorno com semeadura em nível


Esta prática consiste em dispor as fileiras de plantas e executar todas as operações de
cultivo no sentido transversal ou em contorno em relação à pendente, em curvas de nível
ou em gradiente.
Cada fileira de planta, pequenos sulcos e camaU1ões de terra que as máquinas deixam
na superfície do terreno constituem-se em obstáculos que se opõem ao percurso livre da
enxurrada, diminuindo sua velocidade e capacidade de arrastamento.
Quando a semeadura em nivel é usada isoladamente, sem nenhuma outra prática,
em terrenos de topografia acidentada, ou em regiões de chuvas intensas, ou em solos
de grande erodibilidade, há aumento do risco de formação de sulcos de erosão porque
as pequenas }eiras rompem-se e soltam a água que estava acumulada, e o volume de
enxurrada aumenta em cada leira sucessiva causando prejuízo acumulativo (Lombardi
eto e Drugowich, 1994).
o cultivo em contorno apresenta eficácia máxima de aproxjmada.mente 50 % na redução
da erosão hídrica na faixa de declive entre 3 e 8 cm m-1 (Wischrneier e Smith, 1978; Luciano et
aL, 2009; Barbosa et al., 2010). Além disso, a eficácia desta prática ocorre no comprimento de
rampa máximo de 122 m em preparo convencional (Wischrneier e Smüh, 1978).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 561

Is to é explicado pelo fato de que, na m d ida em que aum nta o comprimento da ~ampa,
aumentam-se o volume e a velocidade da enxurradzi superficial, aca rretando o romp imento
das barreiras formadas pelas marcas do preparo e culti vo na superfície d olo. No entanto.
fatores como tipo de solo e declividade do terreno modificam sua efeti vidade.
Entre as práticas mecânicas mais simples, o cultivo em nível é efe ti vo no contro le
da erosão e proporciona maior facilidade e eficiência no es tab lecimento de outras
práticas com base na orientação em nível, como cultivo em fai xas cordões de veoetação
permanente, por exemplo.
Considera-se que tanto o preparo do solo quanto a semead ura em nível não elevam
o custo de produção, pois não requerem nenhum investimento adicional. Lombardi ·eto e
Drugowich (1994) apresentaram dados indicando uma economia de 9,4 % no cons umo de
combustível e de 12,8 % no tempo gasto na operação, quando utilizado o cultivo em nível.
Enb.-etanto, o cultivo em nível vem sendo abandonado em diversas regiões, com o
objetivo principal de aumentas o rendimento operacional das operações mecanizada ,
associado à retirada de sistemas de terraceamento em nível. A utilização de manejo
conservacionistas, com implantação adequada e efetivo controle da desagregação e
aumento da infiltração da água no solo, permite fazer o cultivo sem seguir perfeitamente
as curvas de nível, mas certamente a orientação das linhas de semead ura no sen tido do
declive deve aumentar a ocorrência de erosão.

Enleiramento da fitomassa cultural residual em nível

O enleiramento em nível surgiu como alternativa à queima de fitomassa cultural


residual que era feita antigamente. Esta fitomassa era arrastada para uma linha nivelada do
terreno onde era deixada para decomposição, permitindo o crescimento de uma vegetação
espontânea que, além de cobrir o solo, representa um obstáculo para o escoamento
superficial e condiciona todas as outras operações em nível.
Em geral, pode ser utilizado em áreas de relevo acidentado e áreas menos tecnificadas
e indicado para áreas de corte ou substituição de culturas perenes como citros e café
(Lombardi Neto e Drugowich, 1994).
Atualmente, tem sido adotado no manejo da cana-de-açúcar em despalha a fogo,
como forma de facilitar a brotação das soquei.ras, resultando em prática auxiliar no controle
da erosão (Figura 20).

Terraceamento

Os terraços são utilizados para reduzir a erosão em entressulcos e e m sulcos, pre eni ndo
a formação de sulcos profundos e voçorocas. Esta prática se aplica especialmente quando,
ainda que a superfície do solo esteja protegida e práticas para melhorar a infiltração de
água tenl1am s_ido adotadas, h~ p_rodução de grande volume de enxurrada, principalmente
por causa do tipo de solo, decl1v1dade ou grande comprimento das vertentes.
A eficiência de terraços no controle de erosão em muitas áreas agrícolas e O estímulo
à construção de terraços por programas governamentais de controle da ero ão reforçaram ,
ao longo do tempo, a ideia de que os terraços, utilizados isoladamente, promo iam a
conservação do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


562 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Figura 20. Enleiramento da palha da cana-de-açúcar na entrelinha da cultura seguindo o nivel do


terreno.
Fonte: Foto dos autores.

O uso do terraceamento, que se iniciou no Brasil na década de 1930, teve grande


difusão entre 1950 e 1990. Em São Paulo, em 1939, a primeira organização governamental
de conservação do solo para assistência aos produtores rurais foi denominada Serviço de
Terraceamento, oferecendo técnicos e implementes para a construção de terraços nas áreas
agrícolas (Bertoni e Lombardi Neto, 1990).
Entre 1949 e 1970, o Departamento de Engenharia Mecânica da Agricultura (DEMA) e,
posteriormente, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), com o Programa
de Microbacias Hidrográficas, orientaram sistematicamente a construção de terraços. Esta
mesma orientação e a implantação de terraceamento nas áreas rurais para o controle da
erosão ocorreu por todo país, especialmente nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nos
cultives de grãos e cana-de-açúcar.
Embora a eficiência dos terraços no controle das perdas de água e de terra possa
ser bastante elevada, apenas os terraços em si não são suficientes para evitar a erosão,
principalmente se o excesso de água ficar concentrado em determinados locais na paisagem.
Um exemplo típico da necessidade de urn planejamento conservacionista completo
da área são os sulcos profundos de erosão, algumas vezes ravinas e voçorocas, comumente
observados em carreadores paralelos às divisas de propriedades, inadequados para a
condução do excesso de água retido pelos terraços.
O terraceamento é uma prática conservacionista composta por um conjunto de
terraços e, muitas vezes, pelo conjunto de terraços e canais escoadouros. O terraço é uma
obra hidráulica definida pelo conjunto de um canal a montante e de um dique a jusante
no declive, construído em contorno, podendo ser em nível ou em gradiente, de maneira a
interromper o livre escoamento da água na superfície do solo.
A principal função do terraço é parcelar o comprimento da rampa, evitando que o
escoamento superficial aumente em volume e velocidade. Assim, as principais vantagens

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


' 563
XVII - PRÁTICAS CONSE RVACIONISTAS DO SOLO E DA A GUA

do terraço são: armazcm1r água e sedimentos no cana l, no caso do t rraços de infiltração;


e conduzir a água e parte dos sedimentos para fo ra da la vo ura, no cas? dos te rraç~
de drenagem. Além disso, os terraços servem como orientação para realiza r as demat
operações de manejo no decli ve.

Tipos de terraços
Os terraços apresentam variações em sua forma, dependendo das condições locais
(clima, solo, declive, sistema de manejo e cultura) e da dis ponibilidade de máquinas e
implementas para sua construção e manutenção, de forma a atende r as condições
específicas de cada lavoura ou empresa agrícola.
Considerando estas variáveis, os terraços podem ser classificados de acord o com
a função, o modo de construção, a largura da faixa de movimento de terra para a sua
construção e a forma do perfil.
Diferentes implementas estão disponíveis para a construção de terraços, como
os arados de tração animal ou mecânica, de disco ou aiveca, fixos o u reversíveis, as
motoniveladoras ou patrol, as escavadeiras hidráulicas, as lâminas e pás carregadeiras e
os terraceadores. Em razão do implemento escolhido para a construção do terraço, podem
ocorrer variações quanto à construção ou forma dos tipos apresentados.

Terraços quanto à função

Os terraços podem interceptar e disciplinar o escoamento superficial ou reter a água


para promover sua infiltração no solo. Dessa forma, distinguem-se dois tipos de terraços:
terraços em desnível ou de drenagem e terraços em nível, de infiltração ou de absorção
(Figura 21) .
Os terraços em desnível ou de drenagem, construídos com gradiente, tem a função
de interceptar e escoar o excesso de água da enxurrada que se forma entre os terraços. É
indicado para solos com permeabilidade moderada ou lenta, que não tenham capacidade
de infiltrar a água de uma chuva antes da ocorrência da próxima chuva.
Este tipo de terraço está sempre associado a canais escoadouros, naturais ou artificiais,
com a função de conduzir disciplinarmente a água das chuvas que excedem a capacidade de
infiltração de água no solo. Estes terraços podem ser construídos com gradiente cons tante
ou progressivo.
Em caso do gradiente constante, mantém-se o mesmo caimento (declividade) ao longo de
toda a extensão do canal do terraço. No caso do gradiente progressivo, aumenta-se O caimento
(declividade cada vez maior) ao longo da extensão do canal do terraço. Existe um valor máximo
de gradiente recomendado para os terraços em desnível, em tomo de 0,6 cm m·1, para que 0
escoamento da água não tenha velocidade elevada a ponto de provocar erosão no canal do
terraço, restringindo-se também seu comprimento.
O s terraços em nível ou de infiltração, também denominados de terraços de absorç- 0 ,
são cons truidos em nível e têm a função de interceptar e reter a á gua para posterior
infiltração. Em regiões de escassez de chuvas, esses terraços podem ser utili zado para
armazenar as águas pluviais para posterior aproveitamento pelas culturas. En tretanto, em
climas d e chuvas intensas, em regiões tropicais e subtropicais, os terraços em ni e l não

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


564 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL .

pod em é\T~1azenar a e gua por longo período para que sua capacidad e não seja supe rada
p~la_ p~óximas chuvas, re ultando em rompimento e formação de sulcos de erosão . Assim,
~a~ mdi~ados para solos que apresentem alta permeabilidade, possibilitando uma rápida
mfiltraçao d a água a té camadas mais profundas do solo.

Figura 21. Terraços de infiltração (a) armazenando água após chuva intensa; e terraços de drenagem
(b) orientando a enxurrada para canal escoadouro.
Fonte: Foto dos autores.

Esses terraços podem ser construídos com as extremidades fechadas ou abertas. No


caso das extremidades fechadas, deverão armazenar toda a enxurrada e os sedimentos
gerados entre os terraços. No caso das extremidades abertas, os terraços armazenam a
água e os sedimentos que chegam, mas parte pode sair pelas extremidades abertas que
funcionaT11 como comportas nas chuvas extremas. Nesse caso, o risco de rompimento dos
diques é menor, mas é necessáTio que sejam construídas estruturas adequadas de condução
da água de forma seguTa, sem causar erosão em outras glebas, carreadores, estradas e
grotas.
A decisão sobre a escolha do tipo de terraço, de infiltração ou de menagem deve ter
corno base, principalmente, os atributos físicos que determinam a permeabilidade da água
no perfil do solo.
Portanto, é importante conhecer textura, estrutura, profundidade e permeabilidade
das camadas superficial e subsuperficial do solo. Para a escolha de terraços de infiltração,
os solos devem ser profundos e permeáveis. No entanto, outras variáveis que condicionam
a formação de pequeno volume de enxurrada, como intensidade e distribuição da
precipitação, declividade e comprimento dos terraços, também devem ser consideradas, de
forma que volume de enxurrada possa ser totalmente armazenado no canal dos terraços,
sem risco de rompimento deste.

Terraços quanto ao modo de construção

Na construção dos terraços para a formação do canal e do dique, a movimentação


de terra por ser feita de duas maneiras diferentes, dando origem a dois tipos de terraços:
ichols e Mangum.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,
XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA AGUA 565

O terraço tipo Nichols (Figurn 22) é construído cortando-se a terra e movim ~tando-a
sempre de cima para baixo, de forma que a terra usada pélra formar o cliqu e é rehrada da
parte s upe rior do declive, local onde vai fic ar o canal do terraço.
Este tipo de terraço apresenta um Célnal aproximadamente triangular e com ~ase
estreita pela limitação da técn ica construtiva, sempre tombando a terra apenas para baixo.
Pode ser utilizado em terrenos com declive mais acentuado, sendo recomendado pa ra
áreas com declividades entre 1.6 e 18 cm m·'.
A técnica construtiva, em razão da limitação na operacional ização das máquinas e
nos equipamentos usados, limita ampliar a largura do cannl, e o implemento de melho r
rendimento é o arado reversível.
O terraço tipo Mangum (Figura 23) é construído movi mentando a terra de uma faixa
mais larga, tombando a terra de cima para baixo e de baixo para cima, o ra em um sentido
e ora em outro, alternadamente, em passadas de idas e voltas do implemento. São terraços
com canal aproximadamente trapezoidal ou parabólico e, como a técnica construtiva
permite, apresentam canais mais largos e mais rasos que o tipo ichols, formando terraço
de base méd ia ou larga.
Pode ser construído com implementas fixos ou reversíveis e, por causa da facilidade
de operacionalização das máquinas e equipamentos, é utiLizado em terrenos com declive
suave, de até 16 cm m-1.

Terraços quanto à faixa de movimentação de terra

Considerando a dimensão do terraço, ou seja, a faixa de movimentação de terra, os


terraços podem ser classificados em base estreita, base média e base larga.
Os terraços de base estreita são construídos em uma faixa de movimentação de terra
em geral menor do que 3 m, incluindo o dique e o canal. Estes também são conhecidos com o
"cordões de contorno" ou "curvas de nivel", quando em nivel, podendo ser construídos
com ferramentas manuais, tração animal ou mecânica, utilizando a técnica de construção
Nichols.
Como a faixa de movimentação de terra é estreita, o dique apresenta maior a ltura
para a formação do canal do terraço, não permitindo a mecanização, o que pode re ultar
em uma perda de 8 a 10 % da área de lavoura. O cultivo sobre a faixa do terraço só pode
ser feito com ferramentas manuais.
Estes terraços são usados em condições em que não seja possível construir terraços de
base méd ia ou larga. Seu uso ma.is comum é em lavouras com culturas perenes, lavouras de
pequena extensão e terrenos inclinados, normalmente em declives superiores a 16 cm m ·1_
Já os terraços de base média são construídos em faixas de movimentação de terra
com larg ura entre 3 e 6 m, incluindo o dique e o canal, utilizando as técnicas ichols o u
Mangum.
Normalmente, são utilizados em declives entre 10 e 16 cm m-1 e podem ser cultivados
na m aior parte da sua extensão, resultando em perdas de 2 a -l % do total da área cultivada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


566 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

i
_[

L ---
+l
l
--.....
___
I
1

Tonaçoembutldo

___ I
Figura 22. Terraço tipo Nichols. Diagrama CA11/SAA.

- ----- ------·- --, 1 -::::::


---- - - ,--

1
!
1
Terraço 111 latlll pa1unta

figura 23. Terraço tipo Mangum. Diagrama CATI/SAA.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 567

Os terraços de base larga são construídos em faixas de movimentação de terra com


largura entre 8 e 12 m, incluindo o dique e o canal, utilizando a técnica Mangum, formando
um canal trapezoidal ou parabólico. É utilizado em lavouras de grande ex tensão, em
terreno suave ondulado, com declives entre 6 e 12 cm m·1• Como a altura do dique e a
profundidade do canal são baixas, 0 terraço pode ser cultivado em toda a sua extensão
e normalmente não há perda de área da lavoura. A vantagem do cultivo em área total
inclui a facilidade de manutenção deste terraço e o controle de plantas infes tantes, pragas
e doenças que encontram abrigo nas faixas de terraços não cultivados.

Terraços quanto à forma do perfil

Classificam-se também os terraços quanto à forma do seu perfil, sendo as duas


principais o terraço comum e o terraço em patamar.
O terraço comum é aquele construído de terra, composto de um canal e um dique,
com as características descritas nos itens anteriores. Normalmente, é utilizado em áreas
agrícolas que apresentam declividades inferiores a 18 cm m·1 • Os terraços comuns,
dependendo da forma de construção, podem apresentar variações originando os terraços
embutido, embutido invertido e leirão ou murundum.
O terraço embutido é, em geral, um terraço de base estreita do tipo Nichols, construído
de modo que o canal tenha forma triangular, ficando o talude que separa o canal do dique
praticamente na vertical. Este terraço tem grande estabilidade e pequena área inutilizada
para o cultivo, construído com motoniveladora ou trator com lâmina.
Utiliza-se, também, como forma de perfil, o terraço embutido invertido. É denominado
invertido por de ser um terraço do tipo Nichols. Para sua construção, ao invés de
movimentar a terra no sentido do declive para a formação do talude, tomba-se a terra de
baixo para cima, resultando em um talude posterior inclinado e abrupto.
É utilizado em situações de declive intermediário, entre 10 e 18 cm m·1, e permite
o plantio da cultura até o canal formado. Mobiliza uma grande área da superfície e,
principalmente nos solos de textura média e arenosa, apresenta risco de solapamento do
talude pelo turbilhonamento da água que extravasa, eventualmente, pelo carnalhão.
O terraço murundum é construído com trator de lâmina, pá carregadeira ou escavadeira
hidráulica, movimentando grande volume de terra, formando um dique alto, até 2 m de
altura, e um canal com forma triangular. São terraços não recomendados para a maioria das
situações, pois têm custo elevado, dificultam o trânsito de máquinas, acumulam um volume
muito grande de água e têm menor estabilidade, aumentando o risco de desmoronamento.
Os terraços em patamar são constituídos de uma plataforma, onde são implantadas
as culturas, e de um talude, que deve ser estabilizado por vegetação, construído
transversalmente à linha de maior declive, ou seja, em nível.
A imagem mais conhecida deste tipo de terraço é aquela com terraços de irrigação,
onde a água é armazenada na plataforma do terraço, utilizados principalmente para 0
cultivo de arroz irrigado, no sudeste asiático.
É uma estrutura recomendada para terrenos muito inclinados, com declividade acima
de 18 cm m·1 • A plataforma do terraço deve ser limitada por um pequeno cordão de terra
na superfície e ter uma pequena inclinação para o interior, cerca de 0,7 cm m·1, para evitar
o escoamento da água entre terraços sucessivos ou para armazenar a água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,-

568 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

a construção do terraço em patamar, 0 talude para o corte pode variar de 1:2,5


at 1_:4,_ en~uanto para o aterr e te valor pode variar de 1:1,5 até 1:1,8, dependendo da
con istencia do olo. O espa ·amento vertical enh·e os terraços é calculado do mesmo modo
que para s demai tipos de terraços. O terraço em patamar é uma prática de controle da
erosão, ma também facilita as operações agrícolas, sistematizando o terreno.
E~t: terraço, considerando o alto custo de implantação, só é viável economicamente
em regioes onde há pequena disponibilidade de terras com baixa declividade, para culturas
de alto rendimento e em situações em que não é viável implantar outros tipos de terraços.
J~stificar-se-ia apenas para implantaT culturas perenes de grande valor econômico, como
'mhedos, maçãs, outras frutíferas e cafezais, com um terraço patamar para cada linha de
plantas, em regiões restritas.
A banqueta individual ou patamaT descontínuo é também uma variação do terraço
em patamar, que consiste em um patamar circular, ao redor de uma planta, normalmente
uma frutífera perene. A banqueta individual é recomendada para locais onde há grande
limitação para mecanização, como em terrenos com pedras ou afloramentos rochosos,
com alta declividade ou com deficiência de máquinas e equipamentos, e é construída
manualmente. Faz-se um corte em meia-lua no lado de cima do declive e joga-se a terra
para o lado de baixo, de modo a formaT uma banqueta no local onde a planta será ou já está
plantada. A banqueta normalmente é inclinada para o lado inverso do declive natural do
terreno, como no terraço patamar, de maneira a armazenar a água sobre ela.

Espaçamento entre terraços

Para que um sistema de terraceamento funcione adequadamente, é necessário un1


correto dimensionamento, tanto na definição do espaçamento entre terraços corno no
cálculo na sua seção transversal.
O espaçamento entre terraços depende dos fatores que controlam o escoamento
superficial, como a cobertura do solo, o tipo de solo e a qualidade dos atributos físicos do
solo decorrentes do manejo. São estes fatores que determinam quanto da água da chuva
infiltra no solo e quando escoa pela superfície.
Há também os fatores que interferem no espaçamento entre os terraços; entre estes
estão a conformação do relevo e as máquinas e os implementas disponíveis. Depois de
definido, o espaçamento entre terraços pode ser ajustado, considerando o manejo da área
nos cultivas seguintes, de forma a acomodar e facilitar o tráfego das máquinas que serão
utilizadas, permitir uma locação mais adequada ou tomar os terraços paralelos, tanto
quanto possível, e adequar o sistema para facilitar a condução da água. Este ajuste do
espaçamento deve atender critérios rígidos para não comprometer os objetivos dos terraços
de quebrar a velocidade da água e de condução da enxurrada.
o espaçamento entre terraços é definido pelo espaçamento horizontal e espaçamento
vertical, conforme apresentado na figura 24.
Para determinar o espaçamento vertical entre terraços, existem diversos métodos,
tabelas e equações. As recomendações para dimensionamento de terraços utilizam
principalmente O declive e a textu~a do ~oi~, arenoso o_u argiloso, para definir o espaçamento
vertical, considerando também a influencia do maneJo, como a equação de Bentley:
EV = [2 + (D/X)] 0,305 (1)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


I

XVII - PRÁTI CAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA AGUA 569

e m que EV é o espaçamento vertical entre os terraços; D, a decl ividade do terren em


cm m -1; e X, a influência cio tipo de solo em razão da resistência d o solo à e rosão (Q uadro 7).

Infiltração

Infiltração

Figura 24. Perfil apresentando esquematicam ente um s is tema de terraceamento, ind icando o
espaçamento horizontal (EH) e o espaçamento vertical (EV) entre os terraços.

Evidentemente, declive e textura do solo são dois fa tores importantes no controle


da erosão, mas apenas a textura não é suficiente para especificar o comportamento
hidrológico do solo, que vai determinar a taxa de infiltração e permeabilidade do solo e,
consequentemente, a formação da enxurrada.
Solos arenosos têm taxa de permeabilidade elevada, entretanto, a lguns argissolos de
textura arenosa apresentam gradiente textural abrupto. Nesse caso, a infiltração de á gua
é reduzida e maior volume de enxurrada é formado. Portanto, nesse caso, os terraços
deveriam ficar mais próximos ou ter sua seção transversal aumentada para reter a água_
A equação para determinar o espaçamento entre terraços apresentada por Lombardi
Neto et al. (1991) calcula o espaçamento vertical em razão do grupo hidrológico do solo, d o
declive e do uso e manejo:
EV = 0,4518 K D (o,sai (u+m)/2 (2)
em que K refere-se ao tipo de solo, D é o declive do terreno em cm m-1, ué o tipo de uso ou
cultura e m é o manejo do solo.
Os tipos de solo (K) são agrupados em razão de propriedades hidrológicas e
resistência à erosão (Quadro 8). Os fatores importantes para definir o grupo hidrológico
são a profundidade e a permeabilidade. Em solos profundos, com permeabilidade rápida
e textura argilosa, a resistência à erosão é mais alta e é menor a formaçã o da enxurrad a,
podendo-se, dessa forma, espaçar mais os terraços. Para definir a resistência à erosão
considera-se também a agregação do solo, normalmente maior em solos de textur~
a rgilosa.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


570 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Quadro 7. Valores de X para ser utilizado na fórmula de Bentley, de acordo com o nível de resistência
do solo à erosão (RSE)
Prática Mecânicalll Vegetativa e mecânica 121
Cultura Perene Anual Perene Anual X
Locação Gradjente Nível Gradiente Nível Gradiente Nível Nível
Alta Alta 1,5
Média Média 2,0
Bruxa Alta Baixa 2,5
Média 3,0
Baixa Alta 3,5
RSE
Média Alta 4,0
Baixa Alta Média 4,5
Média Bruxa Alta 5,0
Baixa Média 5,5
Bruxa 6,0
n l Prática mecânica = Terraço. (2) Prática vegetativa e mecânica = Cordão em contorno e faixa pem1anente de rete nção.
Fonte: Adaptado de Rio Grande do Sul (1985).

O fator de uso do solo (u) está relacionado principalmente à proteção da superfície


do solo pelas culturas. Os cultivas que produzem maior quantidade de fitomassa e que
mantêm o solo coberto por mais tempo protegem a superfície do solo contra a ação das
chuvas e da enxurrada (Quadro 9). Assim, também, cultivas com linhas mais espaçadas
urna das outras deixam o solo mais descoberto (no caso de preparo convencional) e mais
sujeito ao impacto das gotas de chuva. O sistema radicular das plantas também é um fator
considerado na classificação do valor de uso do solo.

Quadro 8. Valores de K para os grupos hidrológicos de solo considerados na determinação do


dimensionamento do espaçamento vertical entre terraços
Resistência à Razão
Grupo Prof. Permeabilidade Textura K
erosão textural< 1>
(m)
rápida/ rápida méilia/média argilosa/
A Alta >2 moderada/ rápida argilosa <1,2 1,25
moderada/ moderada m. argilosa/m. argilosa

rápida/ rápida arenosa/ arenosa


B Moderada 2-1 rápida/ moderada arenosa/média média/ 1,2-1,5 1,10
moderada/ lenta argilosa

moderada/ lenta arenosa/média


e Baixa 0,5-1 rápida/ moderada arenosa/ argilosa >1,5 0,90
moderada/ lenta média/ argilosa

moderada/ lenta
D Muj to baixa <0,5 variável variável 0,75
lenta/ lenta
C11 Razão entre os horizontes B/ A.
Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et al. (1991).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS (ONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA Á G UA 571

N as á reas de cultivo perene, onde O solo é mantid o coberto e as raízes contri?~e_m


para a es ta bilização da estrutura do solo com maior porosidade nos horizontes superficiais,
a formação de enxurrada é menor. A cultura de cana-de-açúcar, por apresentar grande
massa vegetal, que promove a cobertura do solo por quase todo o período de cultivo, e p~r
apresentar grande massa de raízes, é considerada como uma cu ltura que oferece proteçao
contra a erosão.
A fase de reforma dos canaviais, entretanto, é muito crítica, com grandes áreas de
solo descoberto e sujeito à ação de chuvas torrenciais, dependendo da época do ano er:n
que a reforma é realizada. Por isso, em média, o valor deu não é tão elevado. Valores mais
elevados para ou indicam maior proteção ao solo e, portanto, terraços mais espaçados ou
com seção transversal menor.

Quadro 9. Valores do fator u para grupos de cultura, conforme a proteção que oferecem ao solo, para
determinar o dimensionamento do espaçamento vertical entre terraços
Grupo Culturas u
1 feijão, mandioca, mamona 0,50
2 amendoim, algodão, arroz, alho 0,75
3 soja, batata, melancia, leguminosas 1,00
4 milho, sorgo, cana, aveia, abacaxi 1,25
5 banana, café, citros 1,50
6 pastagens bem formadas 1,75
7 reflorestamentos, seringueira 2,00
Fonte: Adaptado de Lo mbardi Neto et al. (1991).

A equação para determinar o espaçamento entre terraços considera, ainda, as


operações mecânicas de mobilização do solo (Quadro 10), que alteram as condições da
superfície do solo.
Dados obtidos em experimentação de campo sempre confirmam o senso comum de
que o preparo do solo e a queima ou incorporação da fitomassa residual no solo por estas
operações aumentam as perdas de terra e água por erosão.
As operações agrícolas, necessárias para a correção do solo e criação de ambiente
favorável para o crescimento inicial da cultura, também rompem a estrutura do solo,
quebram agregados, liberam partículas menores que podem ser mais facilmente arrastadas
pelas águas superficiais e, principalmente, incorporam o material vegetal, que, na superfície,
ofereceria proteção contra o impacto das gotas de chuva. Estes efeitos estão diretamente
relacionados à perda de terra ou produção de sedimentos e têm impacto menor na perda
de água e formação de enxurrada.
Muitas vezes, as operações de preparo do solo criam condições favoráveis para a
infiltração de água, reduzindo, portanto, a enxurrada e, mais uma vez, consequentemente,
possibilitando maior espaçamento entre os terraços.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


.........
1

572 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

. A sim, para definir o espaçamento entre terraços, levam-se em consideração os


atnbutos do olo e o relevo e, também, 0 sistema de produção como um todo, identificando
os aspectos crítico para a formação da enxurrada, desde as operações de preparo do solo, a
cobertura do olo ao longo do ciclo, a sobreposição das épocas de solo exposto e as chuvas
torrenciais.

Quadro 10. alores do fator m para grupos de preparo e mobilização da superfície, conforme
a redução que prO\ ocam na proteção do solo, para determinar o dimensionamento do
espaçamento vertical entre terraços
Grupo Preparo primário Preparo secundário Fitomassa cultural residual m
1 GA, ER G incorporada ou queimada 0,50
2 AD, AA GN incorporada ou queimada 0,75
3 GL GN parcialmente incorporada 1,00
4 Escarificador GN parcialmente incorporada 1,50
5 Sem preparo Sem preparo na superfície 2,00
GA-grade aradora; ER=enxada rotativa; AD=arado de disco; AA=arado de aiveca; GL=grade leve; e GN=grade niveladora.
Fonte: Adaptado de Lombardi Neto et ai. (1991).

Dimensionamento de canais de terraços de infiltração

Determinado o espaçamento entre os terraços, é necessário dimensionar o tamanho


do canal que vai receber a água de enxurrada gerada entre os terraços.

Cálculo do volume de água nos terraços de infiltração

A área (A, m 2) de captação de água do escoamento superficial é o resultado do produto


entre o comprimento dos terraços (CT, rn) e o espaçamento horizontal (EH, m) entre eles:
A= (CTEH) (3)
O CT é determinado no projeto de locação dos terraços ou medido no campo. O EH é
calculado com base no espaçamento vertical (EV, m) e na declividade da área (D, cm m-1):
EH = (EV 100)/0 (4)
O volume médio máximo de enxurrada (V, m3) a ser armazenado no canal dos terraços
é obtido pelo produto entre a área de captação (A, m 2) e a altura máxima média da lâmina
de enxurrada que deverá escoar sobre a área de captação. A lâmina máxima é obtida pelo
produto entre a média do volume máximo de chuva (h), precipitado em 24 h no local para
um período de retomo de 10 a 15 anos, e a porcentagem do volume da chuva que escoará,
para a condição de solo e manejo estudado, ou o coeficiente de enxurrada (e). Assim, o
volume de enxurrada (V, m 3) é obtido pela equação, a seguir:
V=A h c (5)
o coeficiente de enxurrada é o volume de enxurrada esperado para determinado
volume de chuva, variando, assim, entre Oe 1, e dependendo de fatores como declividade
do terreno, tipo de solo, cobertura vegetal, _Preparo do solo e manejo de fitomassa cultural
residual, sendo obtido em tabelas que relac10nam estes fatores (Quadro 11) ou definido em
campo.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XVII - PRÁTI CAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 573

Quadro 11. Vél lores de coeíiciente de enxurrad él para solo-; cul tivad os utilizatlo· para 0

dimens ioname nto cios terrnços

Classe de uso e Solos121


Topografia
manejo''' A B e D
cmm-1
Alto 0,20 0,30 0,40 0,50
Plano a s uave 0,50 0,60
Médio 0,30 0,40
ondulado (0-6)
Baixo 0,40 0,50 0,60 0,70
Al to 0,30 0,40 0,50 0,60
Su ave ondulado a 0,60 0,70
Médio 0,40 0,50
ondulado (6-10)
Baixo 0,50 0,60 0,70 0,80
Alto 0,40 0,50 0,60 0,70
Ondulado a forte 0,70 o, o
Médio 0,50 0,60
ondulado (10-30)
Baixo 0,60 0,70 0,80 0,90
!IJ Com base nos valores para a expressão (u + m)/ 2 dos quadros 9 e 10 = Al io: valores superio r~ a 1,75; :'1-l~d10 : valo res entre 1,0
e 1,75; e Baixo : valores inferiores a 1,00. m Gru pos de solos d e acordo com o quaruo 8.
Fonte: Adaptado de Lombard i Neto et ai. (1991).

Para o cálculo do volume de enxurrada a ser captado pelos terraços, na semeadura


direta ou plantio direto (SD/ PD) e outros preparas conservacionistas, pode ser utilizado o
conceito do comprimento crítico de declive, segundo Foster et ai. (1982).
O comprimento crítico de declive é a distância entre o ponto (cota) mais al to no
terreno e o ponto onde o fitomassa cultural residual começa a ser removida pela ação
da enxurrada. Dados de comprimento cr ítico de declive e de coeficiente de enxurrada,
para vários tipos de solo e diversos tipos e quantidades de fitomassa cultural residu al e
em semeadura direta, podem ser vistos em Berto! (1995), Morais (1999), Amaral (2010) e
Barbosa (2011), para as condições brasileiras.
A quantidade de água do escoamento entre terraços pode ser também calcu lada
pelos modelos apresentados por Pruski (1993, 2009), que determinam uma làmina de
enxurrada ou lâmina de escoamento superficial máximo (ES), correspondente ao volume
de enxurrada, de acordo com a equação:
ES =PT -Ia - I (6)
em que ES = lâmina máxima de escoamento superficial em mm; PT = precipitação to tal
m áxima em 24 h, mm, Ia = precipitação que ocorre antes do início do escoamento, mm; e
I = infiltração acumulada da água no solo, mm. Os valores de Ia são discriminados pelo
método da "curva-número", que define a relação entre precipitação e enxurrada em razão
do solo e da cobertura (tipo de vegetação), podendo ser isto no capítulo 13, neste mesm o
livro. O valor de I corresponde à velocidade de infiltração básica do solo ou à taxa d e
infiltração estável, com a umidade do solo próxima da capacidade de campo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


574
ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Cálculo da secção transversal e dimensionamento do canal do terraço de infiltração

A ecção transversal do canal do terraço (S, m2) é a área que será ocupada pela água
durante a am1azenagem. A secção do canal dos terraços necessária para armazenar o
v~lume de ~nxurrada é obtida pelo quociente entre o volume máximo de enx~rrada (V,
m ) produzido na área de captação, calculado pelas equações 5 ou 6, e o comprimento do
terraço (CT, m):
s = (V /CT) (7)
Para terraços com canal na fonna triangular, a secção (S) é representada pela expressão
que relaciona a base (B) com a altura 01) do canal:
S = (B. h) / 2 (8)
Para terraços com canal na forma trapezoidal, a secção (S) é representada pela
expressão que relaciona a base maior (B) com a base menor (b) e com a altura (h):
S = (B + b)/ 2h (9)
Para os terraços de base estreita, a forma de construção no campo permite que se
obtenha uma secção transversal de aproximadamente 0,45 m2; para os de base média, de
aproximadamente 0,45 a 0,75 m 2; e para os de base larga de, aproximadamente, 0,75 a 1,5
m 2, independentemente do comprimento do terraço.
Terraços com seções de canal maiores têm grande capacidade de armazenamento e,
com isso, menor será a probabilidade de seu transbordamento. No entanto, os com grande
capacidade de armazenamento de enxurrada apresentam riscos, e devem ser evitados, em
especial em solos com horizonte superficial com baixa agregação, como solos de textura
média ou grande quantidade de areia fina na camada superficial.
Conhecida a secção do canal do terraço necessária para armazenar um determinado
volume de enxurrada, é possível dimensionar o canal. O dimensionamento depende do
tipo de canal a ser adotado, enquanto o tipo de canal, por sua vez, depende da secção
necessária para armazenar esta enxurrada.
Quando a secção necessária é menor do que 0,45 m 2, para o caso de terraços de base
estreita, o canal é triangular. No caso de a secção necessária ser maior do que 0,45 m 2, para
terraços de base média ou larga, o canal deverá ser do tipo trapezoidal.
Para canais com formato triangular, é necessário arbitrar um valor para h, que,
normalmente, é de aproximadamente 0,6 m. Para canais com formato trapezoidal, é
necessário arbitrar valores para b, h, calculando B; ou arbitrar valores para B, h, calculando
b; ou arbitrar valores para B, b, calculando h.

Dimensionamento de canais de terraços de drenagem

Cálculo da vazão máxima de água para canal em terraço de drenagem

A vazão máxima de enxurrada (q, m 3 s·1) num canal de terraço de drenagem é calculada
com base no coeficiente de escoamento (C), na intensidade máxima média de chuva (i, mm
h•l) para período de retorno (T) d~ 10 a 15 anos para o local de estudo e na área de captação
(A, ha), utilizando a Equação Racional (Ramser, 1927):

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 575

q = (C . i . A)/360 (1 O)

A área (A) é calcu lada pelo produto en tre o comprimen to dos terraços (CT, m) até 0
ponto de sa ída e o espaçamento horizonta l (EH, m) entre eles. O coeficiente de escoamento
(C), que representa a fração da precipitação que será convertida em enxurrada em razão de
fatores da superfície do terreno, é obtido em tabelas (Quadro 11 ).
A intensidade máxima média das chuvas é aquela que ocorre em um tempo igual ao
do tempo de concentração da área. Os terraços de drenagem apresentam comprimento
entre 500 e 600 m, e o gradiente poderá ir até 6 m por 1 000 m (0,6 cm m·1), sendo mais
comum 3 m por 1 000 m (0,3 cm m·1) .
A velocidade da enxurrada no canal do terraço varia entre 0,6 e 0,75 m s·1 para que não
ocorra erosão no canal e também para que não ocorra excessiva deposição de sedimentos
no fundo do canal. Portanto, levaria de 11 a 19 min para a água percorrer do início ao fim
do terraço. O tempo médio de 15 min foi proposto como o tempo de concentração para
determinar a intensidade máxima da chuva que irá resultar na enxurrada máxima, no caso
de solo manejado com preparo convencional (Lombardi eto et ai., 1991).
As intensidades máximas de chuvas variam com o microclima em cada região e são
obtidas em mapas, tabelas e equações com coeficientes locais que relacionam intensidade-
duração-frequência (Pfafstetter, 1957; Pruski et ai., 1997).

Cálculo da secção transversal para canal em terraço de drenagem

A secção necessária de um canal em terraços (S, m 2) para drenar a enxurrada é


calculada pelo quociente entre a taxa máxima de enxurrada (q, m 3 s·1> e a velocidade da
enxurrada no canal 0fe, m s·1), variável conforme a resistência da superfície ao escoamento
(Quadro 12):
S = (q/Ve) (11)
Em razão das alterações na seção transversal ao longo do tempo, Pruski et al. (2006)
recomendaram utilizar um coeficiente de uniformidade e um valor adicional de 0,10 m
correspondente à borda Livre de água no cálculo da altura de água da seção do canal do
terraço.

Cálculo do gradiente do canal do terraço de drenagem

O gradiente ou o desnivel que o canal do terraço de drenagem de erá apresentar ao


longo de sua extensão para a condução da enxurrada é calculado utilizando-se a fórmula
de Manning, com base na velocidade do escoamento superficial:
R 2n 112
V= g
' 'l (12)

g, = [Ve 11/( ffe)]


(13)

em que Ve = velocidade max1ma da água no canal de terraços em solo descoberto


(0,4 m s·1); R = raio hidráulico do canal (m); g = gradiente do canal (m m·1); eh= coeficiente
de rugosida de hidráulica de Manning do canal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


576 lSABELLA (LERICI ÜE MARIA ET AL.

Quadro 12. Velocidade da enxurrad a (Ve) segura para canais de escoamento

Condição da superfície Velocidade


(m s·1)
Solo arenoso, muito solto 0,30 - 0,45
Areia grossa, solta 0,45 - 0,60
Solo arenoso 0,60 - 0,75
Solo franco-arenoso 0,75 - 0,83
Solo franco de aluvião 0,83 - 0,90
Solo franco-argiloso 0,90 - 1,20
Solo argiloso ou cascalhento 1,20 -1,50
Conglomerados 1,50 - 2,40
Rocha 3,00 - 4,50
Cimento 4,50 - 6,00
Canais escoadouros em lavouras, solo coberto por vegetação 1,50 - 2,00
Canais de terraços em lavouras, solo descoberto 0,40
Fonte: Adaptado de Beasley (1972).

Para o cálculo do gradiente do canal (g), calcula-se o raio hidráulico (R, m), com base
na relação entre a secção do canal (S, m 2) e seu perímetro molhado (Pm, m):
R = (S/Pm) (14)
O perímetro molhado (Prn, m) varia com o formato do canal, seja triangular ou
trapezoidal.
Na semeadura direta e outros manejas conservacionistas, no cálculo da taxa máxima de
enxurrada (q), o coeficiente de escoamento (C) depende de mais informações de pesquisa.
Dados desta natureza para semeadura direta em vários tipos de solo e diversos tipos e
quantidades de fitomassa cultural residual e de formas de semeadura são apresentados em
Morais (1999), Amaral (2010) e Barbosa (2011), para as condições brasileiras.
Finalizados estes cálculos, é preciso saber se a q calculada será drenada com segurança
no canal dos terraços que serão construídos. Considerar também nesse caso que a secção
máxima possível para um terraço de base larga, por exemplo, é de 1,5 m 2, ou pouco maior.
Caso a q supere a capacidade de drenagem dos canais, é necessário diminuir o valor
de q inicialmente calculada e relacionada com o EH determinado com base no comprimento
crítico de declive, até que a q seja drenada com segurança nos canais dos terraços.
A diminuição de q pode ser calculada também aqui com base de que h á uma relação
linear entre q e o comprimento de declive no campo, segundo Bertol (1995), Morais (1999),
Amaral (2010) e Barbosa (2011). Assim, altera-se o valor de q com base no ajuste de EH e de
acordo com a secção calculada para os canais dos terraços.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CON SE RVA CIONISTAS DO SOLO E DA A GUA 577

Locação dos terraços

O comprimento d os terraços se refere à sua extensão, do início até o final Para


garantir sua eficácia no controle do escoamento superficial, devem ser estabelecidos limites
de comprimento na maioria dos casos. Isto se deve ao fa to de q ue q uanto maior o seu
comprimento, m aior é o volume de água armazenada no cana l, em re lação aos terraços em
nível; e, no caso dos terraços de drenagem, mafor é a vazão e velocid ade da água. P_or tanto,
nestas circuns tâncias, aumentam respectivamente os riscos de rom pimento do dique e a
erosão dentro do canal, com consequências no a umento da erosão na lavoura.
Em ocorrência dos terraços em nível com as extremidades fechadas, se estabelece um
limite de aproximadamente 150 a 200 m de comprimento par a os terraços. As extremidades
fechadas fa zem com que aumente a altura da lâmina de água no canal em relação aos
de extremidade aberta. A água pode atingir urna altura crítica e, consequentem en te,
ocasionar o rompimento do dique do canal em algum ponto ao lo ngo de s ua extensão, o
que ocasionará o aumento das perdas de solo e água.
Já em relação aos terraços em nível com as extremidades abe rtas, em princíp io não
há limite de comprimento. As extremidades abertas facilitam a saida do excesso de água
do canal, quando a lâmina de água atinge uma altura crítica, determinad a pela altura da
comporta nas extremidades. Destaca-se, entretanto, que é necessário conduzir esse excesso
de água de forma planejada e segura.
No caso dos terraços de drenagem, devem ser estabelecidos limites d e comprimento
para os terraços. Isto é com base de que quanto maior o comprimento do terraço, maiores
serão o volume e a velocidade da água no canal, o que, a partir de um comprimento cr ítico,
poderá ocasionar erosão hídrica dentro do canal. Este comprimento cr ítico é variável
conforme a resistência do solo ao cisalhamento, o que é dependente do tipo de solo.
Assim, para solos arenosos, estabelece-se um comprimento m áximo de 400 m para
os terraços. Isto significa que se tiverem comprimento maior do q ue 400 m, a enxurrada
poderá ocasionar erosão no canal a partir dos 400 m.
Para solos argilosos, entretanto, mais resistentes à erosão do que os arenosos, o
comprimento dos terraços poderá chegar a 600 m, ou seja, a água poderá ocasionar erosão
no canal se o seu comprimento ultrapassar este valor.
O procedimento para a locação e marcação dos terraços no campo segue urna
cronologia de passos que deve ser observada e que exige certa experiência:
1 - Proceder a uma observação geral e abrangente da área, de m odo a identificar o
local mais alto e dirigir-se até este.
2 - Definir se os terraços serão de infiltração ou drenagem.
3 - Deve-se escolher o local do canal escoadouro, no caso de terraços de drenagem, que
deve localizar-se preferentemente numa depressão natural do terreno.
4 - De terminar a declividade média do terreno (cm m·1) .
5 - Ca lcular o espaçamento vertical (EV) entre os terraços, com base na declividade
(D, cm m ·1) e na resistência do solo à erosão (X), obtida no quadro 7.
A_locação d e sistemas de te.rraceamen~o pode s:r
auxiliada por mode los digi tais de
elevaçao do terreno gerados em sistemas d e informaçoes geográficas (Griebeler et al., 2005).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


578 ISABELLA (LERICI DE MARIA ET AL.

Tarnbém e importante que O planejamento preveja a integração entre as estradas e


0- terraçoL. integração entre o terraccamento e o escoamento superficia l de es tradas
pode aumentar os riscos de eros5o e rompimento dos terraços, caso não seja reali zada
com O correto dimensionamento. Este dimensionamento se faz necessário, pois permite
identificar pontos críticos onde o terraço poderá apresentar problemas pelo excesso de
água para armazenamento (Rabelo e Griebeler, 2012).

Con trução e manutenção do sistema de terraceamento

Terraçoscons truídos deformainadequadaousemmanutençãopodemagravaraerosão.


1ira.nda et ai. (2012), avaliando terraços de infiltração, observaram que a uniformidade
da altura do dique, o fechamento das exh·enudades do terraço e o acabamento da seção
transversal eram as principais causas de baixa eficiência. Estas causas são decorrentes de
construção inadequada e da falta de aferição dos parâmetros do projeto após a construção,
muito comumente observada em campo (Magalhães, 2012).
Qualquer que seja o tipo de terraço, há necessidade de fazer periodicamente a vistoria
e manutenção para que a capacidade de retenção de água no canal seja mantida ao longo
do tempo. Os terraços interceptam a enxurrada, reduzem sua velocidade e, por isso,
permitem a sedimentação das partículas de maior tamanho em seu canal. No entanto, este
processo contribui para evitar a perda de solo para fora da área da lavoura, mas resulta em
acúmulo de partículas que bloqueiam poros (Figura 25) e reduzem a infiltração de água.
As áreas onde é implantado um sistema de terraceamento devem apresentar um plano de
manutenção preventiva dos terraços.

.
Figura 25 Canal de terraço apresentando selamento da superfície pelas partículas sedimentadas na
·
superfície, · · - de água em L atosso Io VermeIho, em Campmas,
reduzindo a mfiltraçao . SP. Foto d os
autores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTI CAS CONS ERVACTONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA
579

Canais escoadouros e canais divergentes


O canal escoadouro é urna prálica imprescind ível uti lizada em assoc iação aos terraços
em d esn ível, indicados para solos com deficiência na infiltração de gua . A fu nção de le é
coletar o excesso da água de chuva de uma área terraceada e conduzi-lo, de fo rma segura,
sem provocar erosão, até um leito estável.
No planejamento de um sistema de terraços de d renagem numa lavou ra, é neces ário
selecionar locais adequados para os canais escoadouros que irão escoa r o excesso d água
da chuva vinda dos terraços contribuintes.
Os canais escoadouros devem escoar o excesso de água em risco de erosão no seu
leito, por isso, devem ser plenamente vegetados. Preferencia lmente, devem localizar-:e em
posições de depressão natural do terreno, que são naturalmente pontos de confluenoa das
águas das chuvas.
No caso onde a vegetação natural já tenha sido s uprimjda pelo cultivo, devem
ser implantadas culturas de cobertura do solo antes da cons trução do terraço , para
que tenham tempo de se estabelecer para que, quando os terraços estive rem prontos,
tenham suficiente resistência à ação da água que escoará sobre estas no leito do canal. A
culturas mais indicadas para isso são espécies de gramíneas, estoloníferas, que de em er
selecionadas de acordo com a adaptação cljmática para cada local.
O formato do canal deve ser preferentemente trapezoidal ou parabólico, cuja secção
deve aumentar de cima para baixo na pendente. O procedjmento de cálculo das dimensões
do canal segue o mesmo já apresentado para os terraços de drenagem, considerando- e que
o canal escoadouro deve captar e conduzir adequadamente a enxurrada vinda de todos os
terraços da área contribuinte com vazão.
Os canais divergentes, também denominados terraços divergentes ou terraços
interceptadores, são estruturas semelhantes aos terraços, construídos com pequeno
desnível, com a finalidade de transportar a enxurrada em baixa velocidade para um ponto
de escoamento desejado. Estas estruturas devem ser construídas com a antecedência
necessária para que possam se apresentar estáveis e, se for o caso, vegetad as na época de
maior volume de chuvas.
São utilizados, principalmente, para interceptar enxurradas a montante da área rulti ada,
para evitar deságue em áreas externas e, também, para desviar a enxurrada da cabeceira de
voçorocas como parte de merudas de estabilização de grandes erosões, para proteger na entes,
desviar a enxurrada de construções rurais ou a provinda de áreas impermeabilizada por
construções, como as estufas. A enxurrada coletada pelo canal divergente é conduzida para
canais escoadouros, grata natural estabilizada ou estruturas de alvenaria.

Sulcos de infiltração e diques em pastagem

A combinação de sulcos e diques resultantes da subsolagem em contorno no declive é


uma eficaz prática de controle do escoamento superficial e da erosão hídrica plu ial. Além
disso, retém água no solo em regiões onde as chuvas são escassas.
Embora as pastagens sejam eficazes no controle das perdas de olo, em relação ao
controle d as perdas de água a eficiência delas é menor, como demonstraram Bert I et .1I.
(2011) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


580 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

~~ área de pa tagem cultivada, 0 cultivo em contorno é importante, pois, nestas


con~ç es: e~, geral o olo apresenta-se degradado fisicamente, o que aumenta o risco de
erosao, pnnc1palmente no período de implantação da pastagem.
Os sulcos devem ser realizados em contorno no terreno, em distâncias que variam de
acordo com o tipo de solo e com a declividade. Em geral, são distanciados entre 1 e 3 m,
podendo, em casos específicos, alcançar 10 m um dos outros.

Cordão de pedra em contorno


A prática conservacionista mecânica denominada cordão de pedra, também
denominada "taipa de pedra", consiste em recolher pedras disponíveis no terreno e
arranjá-las em faixas estreitas seguindo linhas em nível. Os cordões de pedra em contorno
fazem diminuir a velocidade das enxurradas e forçam a deposição de sedimentos nas áreas
onde são construídos, apresentando eficácia relativamente alta na retenção dos sedimentos
mais grosseiros do solo.
Este processo acarreta, com o passar do tempo, a formação de patamares no terreno,
decorrentes da elevação do nível do solo a montante da taipa e, ao mesmo tempo, um
rebaixamento de tal nível a jusante desta. Assim, ocorre uma redução da inclinação no
declive entre uma taipa e outra de pedras, o que, por sua vez, facilita o trabalho do terreno
(Silva e Silva, 1997).
A redução na perda de água, no entanto, é pouca, uma vez que o arranjo das pedras
e o da taipa mantêm espaços vazios entre estas, por meio dos quais passa livremente a
água e os sedimentos finos de solo, em suspensão na enxurrada. A eficácia desta prática na
redução da perda de solo é decorrente da diminuição da velocidade da enxurrada, o que,
por sua vez, condiciona a deposição de sedimentos grosseiros à taipa.
Também, um ponto positivo decorrente das barreiras de pedras se refere à limpeza
da área, já que, para a sua confecção, é necessário juntar e amontoar as pedras, livrando a
superfície do solo de sua presença. Isto torna mais fácil o manejo do solo mecanizado óu
com tração animal. Outro benefício da adoção desta prática é orientar as demais operações
do manejo em contorno no terreno.
As desvantagens decorrentes da adoção desta prática se relacionam, principalmente,
ao custo de mão de obra, bem como ao grande dispêndio de esforço físico necessário para a
sua confecção, já que o trabalho de montagem e acomodação das pedras na taipa é manual.
Também, um fato citado é que os espaços mantidos entre as pedras servem de abrigo para
roedores, cobras e de produção de espécies vegetais invasoras.

Mulching vertical
o mulching vertical, fundamentado no aumento da taxa de infiltração de água no
solo, é constituído por sulcos com dimensões de 7,5 a 9,5 cm de largura por 40 cm de
profundidade, dispostos em nível~ ou seja, perpendicularme~te ao decl_ive do terreno,
e preenchidos com palha (Denardm et al., 2008). ?s sulcos sao preenchidos com palha
disponível na propriedade rural ou no mercado reg10nal.
A irtdicação do mulchíng vertical está limitada a solos bem drenados e a áreas específicas
de lavouras manejadas sob semeadura direta com declives propensos à concentração de
enxurrada ou com problemas evidentes de erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 581

O afastamento horizontal ou vertical entre os sulcos é determinado pelo método da


estimativa da enxurrada máxima esperada, a partir de modelos matemáticos de predição
de chuvas intensas (Pfafstetter, 1957; 0enardin e Freitas, 1982).
Garcia e Righes (2008) avaliaram a utilização do mulching vertical em Lato solo
Vermelho distrófico típico em semeadura direta, que reduziu o escoamento s uperficial
de água no solo em até de 48 %, com espaçamento de 10 m entre sulcos e 55 %, com
espaçamento de 5 m, em relação ao mesmo sistema sem mulching vertical.
É importante destacar que o mulching vertical não substitui o terraço agrícola, pois
o mulching vertical, diferentemente do terraço, não diminuí o comprimento do decl ive
pelo fato de não conter nem canal e nem dique na sua estrutura. Os sulcos construído no
terreno são preenchidos com palha e cobertos de forma que nenhuma saliência resultante
de sua construção se destaque na superfície do solo, diferentemente de outras estruturas
que parcelam o declive, como os terraços.

Caixas de retenção ou pequenas barragens


Bastante utilizada para armazenar a água de estradas e de áreas de relevo acentuado,
esta técnica consiste em construir pequenas barragens à frente do percurso dos fluxos
concentrados de enxurradas, que armazenam parte da água para infiltração e reduzem a
velocidade e o volume do escoamento superficial (Figura 26). Existem diierentes versões e
adaptações desta técnica, incluindo a construção de sulcos, locados e construidos em nível,
com ou sem vegetação, também com o objetivo de reter o fluxo de água.

Figura 26. Bacia de retenção para controle do escoamento superficial em estradas em (a) área de
pastagens e (b) cultivo de eucalipto.
Fonte: Foto dos autores.

Embaciamento

É urna prática de controle de erosão recomendada para culturas perenes, como café
e citros, em que uma depressão é construída no terreno nos intervalos entre as linhas da
cultura.
Com a mecanização _d e todas as operações nestas culturas, os terraços para condução
ou armazenamento da agua de enxurrada representam um obstáculo ao trânsito de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


582 lSABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

máquina e impleme.ntos para o tra tos culturais e à retirada das colheitas. Além de reduzir
0 rendimento operacional, a eficiência do terraços é redu zida, principalmente em solos de
te ·tura are.no a.

C? embaciamento consiste na consh·uçào e manutenção de canais suavizados em cada


en~elinha da cultura (Figura 27). Na faixa centrnl da enh·elinha é feita un1a aração para
bai ' O e outra para cima, rebaixando o meio da linha e elevando as faixas laterais próximas
às plantas.

As o_p erações agrícolas subsequentes como capinas mecânicas são feitas de tal forma
que contribuam para manter um canal cenb·al. Embora a capacidade individual de cada
canal em controlar a enxurrada seja baixa, sua eficiência é assegurada pelo grande número
deste e pela pequena área de captação de cada um (Lombardi Neto e Drugowich, 1994).

---
Figura 27. Perfil de um pomar com sistema de embaciamento para controle da enxurrada.
Fonte: E..c.quema d e Lombardi Neto e Drugowich (1994).

Práticas conservacionistas complementares na propriedade agrícola


Diversas outras práticas, que proporcionem soluções de problemas pontuais e que
sejam tão importantes quanto as já elencadas, devem ser incluídas no planejamento
conservacionista. São práticas corno controle de voçorocas, construção de açudes, correção
de cercas, construção de abastecedouros, relocação de construções e benfeitorias rurais,
readequação de estradas e carreadores, localização de pontes e de aterros, construção de
caixas de captação de águas pluviais, depósito de lixo tóxico, obras de saneamento e fossa
séptica, entre outras.
A ferramenta que possibilita a definição dos diferentes conjuntos de práticas ou
estratégias visando o controle da erosão é o planejamento conservacionista da propriedade,
que deve ser visto como porção dinâmica _numa microbacia hidrográfica. Recomenda-se
que este planejamento seja realizado a parhr do enquadramento das glebas no Sistema de
Classes de Capacidade de Uso da Terra (Lepsch et al., 2015), que indica a aptidão destas
diferentes glebas para os diferentes ~so:5 _e manejas, e~ razão de restrições ou limitações
apontadas pelo levantamento do me~o f1s1co, e a _necess1dade ~ complexidade do conjunto
de práticas a serem adotadas. Este sistema, devidamente aplicado, conferirá o caráter de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS (ONSERVACIONI STAS DO SOLO E DA ÁGUA 583

s u s tent,ibiliclzidc ao empreendimento agro, s il vo e pas toril, vis to q ue ind icará o má imo de


aproveitamento com o mínimo de impacto ao ambiente.

ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIO NISTAS

A escolha da prática conservacionista mais adequada a uma determinada área d epende


de fatores como o clima e o solo, a declividade, a pos ição no relevo, o tipo de cu ltura,
o manejo e as condições socioeconômicas. Vale lembrar que não d evem ser impla ntadas
práticas isoladas de conservação do solo, devendo-se considerar que a penas o conjun to de
prá ticas, estabelecidas em um planejamento conservacionis ta, é que prom overá resultados
sa tisfa tórios no controle da erosão e na conservação do solo como um tod o. Tam bém,
destaca-se que a bacia hidrográfica, ou microbacia, é a unidade geog ráfica de terreno ideal
para planejamento de ações visando conservação do solo e da água, po rque é nes ta u nidade
que todos os processos hidrológicos associados às fases da erosão estão inter-relacio nados
e constituídos.
Para que o conjunto de práticas conservacionistas possa atuar adequadamente no
controle d a erosão, atacando a causa do problema, é fundamental conhecer a vulnerabilidade
do local e o processo predominante que está causando a degradação do solo.
Não é incomum observar práticas conservacionistas que não es tão exercendo s ua
função de reverter a degradação do solo ou controlar a erosão ou, pior, que estão induzindo
novos processos erosivos (Figura 28). Por isso, é importante que, nçi escolha das prática
conservacionistas, sejam identificados os processos que estão causando a degradação do
solo. E que sejam bem compreendidas as funções das práticas conservacionistas, de forma
que as práticas elencadas sejam capazes de reverter o processo de degradação.

Figura 28. Área rural com práticas conservacionistas que não estão re<1lizando a fun •ão a ue se
. ~ 1
d es tmam.
fonte: Fo to dos a utores.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


584
ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Assitn, se o manejo do solo resulta em compactação, que reduz a infiltração e gera


nd
gra e' olume de enxurrada, a escolha deve recair em mudanças de manejo para que não
ocorra compacta ão. Entretanto, se a erosão é causada por grande volume de enxurrada
gera?º por um longo comprimento do declive, apenas o parcelamento do declive e as
práhcas de condução da enxurrada podem reduzir a degradação.
Para que a erosão hídrica pluvial do solo não se torne um problema sério, devem
ser ob ervadas as seguintes medidas básicas: manter a superfície do solo coberta; manter
a superfície do solo rugosa; manter o solo com alta capacidade de infilh·ação de água;
preservar o solo com alta estabilidade de agregados; reduzir o volume e a velocidade de
escoamento superficial; e usar as diferentes classes de terra de acordo com sua capacidade
e aptidão.

Em resumo, a superfície do solo deve ser mantida coberta para ser protegida contra
0 impacto direto das gotas da chuva, evitando a desagregação rugosa e permeável para
promover alta infiltração de água no solo e diminuir a enxurrada, e com estruturas mecânicas
para manejar o excesso de chuva. Com isso, evita-se a desagregação e o transporte do solo
pelo impacto das gotas da chuva e pelo fluxo concentrado superficial.

LITERATURA CITADA

Aguiar ACF, Amorim AP, Coelho KP, Moura EG. Environmental and agricultural benefits of a
management system designed for sandy loarn soils of the humid tropics. Rev Bras Cienc Solo.
2009;33:1473-80.
Alves AGC, Cago NP, Levien R. Relações da erosão do solo com a persistência da cobertura vegetal
morta. Rev Bras Cienc Solo. 1995;19:127-32.
Azevedo FA, Rossetto MP, Schinor EH, Martelli IB, Pacheco CA. lnfluência do manejo da entrelinha
do pomar na produtividade da laranjeira 'Pera'. Rev Bras Frutic. 2012;34:134-42.
Baptista J, Levien R. Métodos de preparo de solo e sua influência na erosão hídrica e no acúmulo
de biomassa da parte aérea de Eucaliptus Saligna em um Cambissolo Háplico da Depressão
Central do Rio Grande do Sul. Rev Árvore. 2010;34:567-75.
Barbosa Ff, Berto! I, Luciano RV, Paz-Ferriro J. Proporção e tamanho de sedimentos e teor de carbono
orgânico na enxurrada e no solo para dois cultivas e duas formas de semeadura. Rev Bras Cienc
Solo. 2010;34:1701-10.
Barbosa Ff, Berto! I, Luciano RV, Paz González A. Phosphorus losses in water and sediments in runoff
of the water erosion in oat and vetch seed in contour and downhill. Soil Til! Res. 2009;106:22-8.
Barbosa Ff, Berto! I, Werner RS, Ramos JC, Ramos RR. Comprimento crítico de declive relacionado
à erosão hídrica, em três tipos e doses de resíduos em duas direções de semeadura direta. Rev
Bras Cienc Solo. 2012;36:1279-90.
Barcelos JET. Comparação entre dois sistemas de rotação de culturas com a cana-de-açúcar (Saccharum
spp) [dissertação] Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 1990.
Beasley R.P. Erosion and sediment pollution control. Ames: University Press; 1972.
Berto! J Almeida JA, Almeida EX, Kurtz C. Propriedades físicas do solo relacionadas a diferentes níveis
d: oferta d e forragem de Capim-elefante-anão CV. MOIT. Pesq Agropec Bras . 2000;35:1047-54.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONíSTAS DO SOLO E DA ÁGUA 585

Bertol 1, Cago NP, Levien R. Relações da erosão híd rica com métod os de prepa ro do solo, na au~ncia
e presença de cobertura vegetal por resíduo cultural de trigo. Rev Bras Ci nc Solo 1987;11:18 7-92
Bertol r, Cago NP, Levien R. Comprimento crítico de declive em sistemas de preparas conservacioni stª5
de solo. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21 :139-48.
Berto! 1, Gobbi E, Barbosa FT, Paz-Ferreiro J, Gebler L, Ramos JC, Werner RS. Erosão hJdrica em
campo nativo sob diversos manejas: perdas de água e solo e de fósforo, potás io e amônia na
água de enxurrada. Rev Bras Cienc Solo. 2011;35:1421-30.
Berto) I, Gomes KE, Denardin RBN, Machado LAZ, Maraschin GE. Propriedades físicas do solo
relacionadas a diferentes níveis de oferta de forragem numa pastagem natural. Pesq Agropec
Bras. 1998;33:779-86.
Berto! I, Guadagnin JC, Casso! PC, Amaral AJ, Barbosa IT. Perdas de fósforo e potássio por erosão
hídrica em um inceptisol sob chuva natural. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:485-94.
Berto! r, Vida! Vázquez E, Paz González A, Cogo NP, Luciano RV, Fabian EL. Sedimentos
transportados pela enxurrada em eventos de erosão hídrica em um itossolo Há plico. Rev Bra
Cienc Solo. 2010;34:245-52.
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone; 1990.
Bertoni J, Pastana Fl, Lombardi Neto F, Benatti Jr R. Conclusões gerais das pesquisas sobre
conservação do solo no Instituto Agronômico. Campinas: Instituto Agronômico. Campina ;
1972. (Circular, 20)
Beutler JF, Berto! I, Veiga M, Wildner LP. Perdas de solo e água num Latossolo Vermelho
aluminoférrico submetido a diferentes sistemas de preparo e cultivo sob chuva natural. Rev
Bras Cienc Solo. 2003;27:509-517.
Castro Filho C, Muzilli O, Podanoschi AL. Estabilidade dos agregados e sua relação com o teor de
carbono orgânico num Latossolo Roxo distrófico, em função de sistemas de plantio, rotações de
culturas e métodos de preparo das amostras. Rev Bras Cienc Solo. 1998;22:527-38.
Carvalho FLC, Cogo NP, Levien R. Eficácia relativa de doses e formas de manejo do resíduo cultural
de trigo na redução da erosão hídrica do solo. Rev Bras Cienc Solo. 1990;14:227-3-!.
Ceccon G, editor. Consórcio milho-braquiária. Brasília, DF: Embrapa; 2013.
Cogo NP, Moldenhauer WC, Foster GR. Effect or crop residue, tillage-induced roughness, and runoff
velocity on size distribution of eroded soil aggregates. Soil Sei Soe Am J. 1983;47:1005-8.
Calvin TS, Laflen JM. Effect of com and soybean row spacing on plant canopy, erosion, and runoff.
Trans ASAE. 1981;24:1227-9.
Crusciol CAC, Ferrari Neto J, Soratto RP, Da Costa CHM. Cycling of nutrients and silicon in pigeonpea
and pearl rnillet monoculture and intercropping. Rev Bras Cienc Solo. 2013;37:1628~0.
Dechen SCF, Lombardi Neto F, Castro OM. Granúneas e leguminosas e seus restos culturais no
controle da erosão em Latossolo Roxo. Rev Bras Cienc Solo. 1981;5:133-7.
De Maria IC. Erosão e terraços em plantio direto. B Inf SBCS. 1999;24:17-22.
Denardin J, Freitas PL. Características fundamentais da chuva no Brasil. Pesq Agropec Bras.
1982;17:1409-16.

Denardin JE, K?c1:hann RA, Fag~ello A, Sattler A, M31'.11ago DO. "Vertical mulching" como prática
conservac10rusta para maneio de enxunada em sistema plantio direto. Rev Bras Cienc Solo.
2008;32:2847-52.

Foster GR, Johnson CB, Moldenhauer WC. Critical slope lenghts fo r unanchored corn.stalk and wheat
s traw residue. Trans Am Soe Agric Eng. 1982;25:935-47.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


586 ISABELLA CLERICI DE MARIA ET AL.

Garcia SM, Righes AA. \ ertical Mulching e manejo da água em semeadura direta. Rev Bras Cienc
Solo. 200 ;32: 3-42.
Giacomini SJ, ita C, endru colo ERO, Cubilla M, Nicoloso RS, Fries MR. Matéria seca, relação
C/ e acúmulo de nitrogênio, fósforo e potássio em misturas de plantas de cobertura de solo.
Rev Bra Cienc Solo. 2003;27:325-34.
Giacomini SJ, Aita C, Chiapinotto IC, Hilbner AP, Marques MG, Cadore F. Consorciação de plantas
de cob~~ra antecedendo o milho em plantio direto: li - Nitrogênio acumulado pelo milho e
produtividade de grãos. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:751-62.
Griebeler NP, Pruski FF, Teixeira AF, Silva DD. Modelo para o dimensionamento e a locação de
sistemas de terraceamento em nível. Eng Agríc. 2005;25:696-704.
Heinrichs R, Aita C, Amado TJC. Fancelli AL. Cultivo consorciado de aveia e ervilhaca: relação C/N
da fitomassa e produtividade do milho em sucessão. Rev Bras Cienc Solo. 2001;25:331-40.
Hemani L~, Kurihara CH, Silva WM. Sistemas de manejo de solo e perdas de nutrientes e matéria
orgânica por erosão. Rev Bras Cienc Solo. 1999;23:145-54.
Lepsch IF, Espindola CR, Vischi Filho OJ, Hemani LC, Siqueira DS. Manual para levantamento
utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciências do Solo; 2015.
Lima Filho O, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, editores. Adubação verde e plantas de cobertura
no Brasil: Fundamentos e prática. Brasilia, DF: Embrapa; 2014.
Lombardi eto F, Bellinazzi Júnior R, Lepsch IF, Oliveira JB, Bertolini D, Galeti PA, Drugowich
MI. Terraceamento agrícola. Campinas: Coordenadoria da Assistência Técnica lntegral; 1991.
(Boletim técnico, 206)
Lombardi Neto F, De Maria IC, Castro OM, Dechen SCF, Vieira SR Efeito da quantidade de resíduos
culturais de milho nas perdas de solo e de água. Rev Bras Gene Solo. 1988;12:71-5.
Lombardi Neto F, Drugowich MI, coordenadores. Manual técnico de manejo e conservação do solo
e água. Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral; 1994. (Manual técnico, 38)
Lopes PRC, Cassol EA, Cago NP. Influência da cobertura vegetal morta na redução da velocidade
de enxurrada e na distribuição de tamanho de sedimentos transportados. Rev Bras Cienc Solo.
1987a;ll:193-7.
Lopes PRC, Cogo NP, Levien R. Eficácia relativa de tipo e quantidade de resíduos culturais espalhados
uniformemente sobre o solo na redução da erosão hidrica. Rev Bras Cienc Solo. 1987b;ll:71-5.
Luciano RV, Bertol I, Barbosa FT, Vida! Vázquez E, Fabian EL. Perdas de água e solo por erosão hídrica
em duras direções de semeadura de aveia e ervilhaca. Rev Bras Cienc Solo. 2009;33:669-76.
Mafra AL, Mil<lós AAW, Vocurca HL, Harkaly AH, Mendoza E. Produção de fitomassa e atributos
químicos do solo sob cultivo em aléias e sob vegetação nativa de cerrado. Rev Bras Cienc Solo.
1998;22:43-8.
Magalhães GMF. Análise da eficiência de terraços de retenção em sub-bacias hidrográficas do Rio
São Francisco. Rev Bras Eng Agríc Amb. 2013;17:1109-15.
Marques JQA. Processos modernos de preparo do solo e defesa contra a erosão. Salvador: Instituto
Central de Fomento Econômico; 1950. (Boletim, 19)
Marques JQA, Bertoni J, Barreto GB. Perdas por erosão no estado de São Paulo. Bragantia.
1961;20:1143-82.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVII - PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DO SOLO E DA ÁGUA 587

Martins SG, Sil va MLN, Curi N, Ferreira MM, Fonseca S, Marq ues J.J.G.S.M. Perdas de solo e Jgua
po r erosão híd rica em sistemas fl orestais na região de Aracruz (ES). Rev Bras Cienc Solo.
2003;27:395-403.
Miranda ACR, Silva DP, Mello E, Pruski FF. Assessment of efficiency and adequacy of retent-ion
terraces. Rev Bras Cienc Solo. 2012;36:577-86.
Morais LFB, Cogo NP. Comprimentos críticos de rampa pa ra diferentes ma nejas de re íd uos cultu rais
em sistema de semeadura direta em um Argissolo Vermelh o da Depressão Central (RS). Rev
Bras Cienc Solo. 2001;25:1041-51 .
Pfafstetter O. Chuvas intensas no Brasil. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas;
DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento; 1957.
Pires LS, Silva l\tfLN, Curi , Leite FP, Brito LF. Erosão hídrica pós-plantio em fl orestas de eucalipto
na região centro-leste de Minas Gerais. Pesq Agropec Bras. 2006;41:687-95.
Prochnow D, Dechen SCF, De Maria IC, Castro OM, Viei ra SR. Razão de perdas de ter ra e fato r
C da cultura do cafeeiro em cinco espaçamentos, em Pindorama (SP). Rev Bras Cienc Solo.
2005;29:91-8.
Pruski FF. Conservação do solo e água: práticas mecânicas para o controle da erosão hídrica. 2'' .ed .
Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2009.
Prus ki FF. Desenvolvimento de metodologia para o dimensionamento de canajs de terraço [tesej.
Viçosa, MG: Uruversidade Federal de Viçosa; 1993.
Pruski FF, Silva DO, Teixeira AF, Cecília RA, Silva JMA, Griebeler 1 P. Hidros: Dimensionamento de
sistemas agrícolas. Viçosa, MG: Uruversid ade Federal de Viçosa; 2006.
Pruski FF, Vendrame V, Oliveira EF, Balbino LC, Ferreira PA, Werlang L, Carvalho LT. Infiltração de
água num Latossolo Roxo. Pesq Agropec Bras. 1997;32:77-84.
Ramser CE. Runoff from small agricultura! areas. J Agric Res. 1927;797-923.
Rabelo MWO, Griebeler NP. Determjnação de incremento de altura de camalhão na integração
terraço-estrada. Pesq Agropec Trop. 2012;42:49-55.
Rio Grande do Sul. Manual de conservação do solo e água. 3ª.ed. Porto Alegre: Secretaria da
Agricultura; 1985.
Schafer MJ, Reichert JM, Casso! EA, Eltz FLF, Reinert DJ. Erosão em sulcos em diferentes preparas e
estados de consolidação do solo. Rev Bras Cienc Solo. 200la;25:-H9-30.
Schafer MJ, Reichert JM, Reinert DJ, Casso! EA. Erosão em entressulcos em ruferen tes preparos e
estados de consolidação do solo. Rev Bras Cienc Solo. 200lb;25:-!31-ll.
Silva JRC, Silva FJ. Eficiência de cordões de pedra em contorno na retenção de sedimento e
melhoramento de propriedades de um solo litólico. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:+11 -6.
Silveira PM, Stone LF. Plantas de cobertura dos solos do cerrad o. Brasília, DF: Embrapa; 2010.
Volk LBS, Cago NP. Erosão hídrica, em três momentos da cultura do milho, influenciada por métodos
d e preparo do solo e semeadura. Rev Bras Cienc Solo. 2014;38:565-7-!.
Wischmeier WH, Srruth DD. Predicting rainfall erosion losses: a guide to conservation planning.
Washington, DC: USDA; 1978. (Agricult-ure handbook, 537).
W utke EB, Cale gari A, Wildner LP. Espécies de adubos verdes e plantas de cobertura e recomendaç -es
para seu uso. ln: Lima Filho O, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, ed itores. Adubação verde e
plantas de cobertura no brasil: fundamentos e prática. Brasília, DF: Embrapa; 201-t v.1. p .59-22-t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS
RECURSOS NATURAIS SOB O ENFOQUE
DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA
Nilvania Aparecida de Mello1I, Oromar João BertoIZ' & Nerilde Favaretto31

1/ Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco, Departamento de Agronomia. Pato
Branco, PR. E-mail: nilvania@utfpr.edu.br
21 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema ter-PR), Curitiba, PR.

E-mail: oromar@emater.pr.gov.br
3/ Universidade Federal do Paraná, Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Cu.ritiba, PR.

E-mail: nfavaretto@ufpr

Conteúdo

INTRODUÇÃO.................................................................. ........................................................................................... 590


OS ELEMENTOS DA rvtlCROBACIA HIDROGRÁFICA....................................................................................... 591
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO, DA ÁGUA E DA FLORA EM MICROBAOAS HIDROGRÁFICAS. 592
Manejo e conservação do solo em microbacias hidrográficas......................................................................... 592
Controle do escoamento superficial e da erosão hídrica. ............................................................................ 592
Potencial de uso agrícola das terras ..................................................................................................·-··········· 594
Manejo e conservação da água em microbacias hidrográficas ....................................................................... 59-l
Avaliação da qualidade da água .................................................................................................... ·--············ 595
Como preservar a qualidade da água em bacias hidrográficas.................................................................. 596
Manejo e conservação da flora em microbacias hidrográficas ......................................................... .............. 59
MICROBACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO................................................... 599
PLANEJAMENTO SINfPLIFICADO EM MICROBACIA- ESTUDO DE CASO ................................................ 601
Pré-diagnóstico....................................................................................................................................................... 601
Obtenção das informações cartográficas ............................................................................................._.......... 601
Diagnóstico .................................................................. ........................................................................................... 603
Correção e consolidação das informações...................................................................................................... 604
Aptidão agrícola das terras.............................................................................................................................. 60
Determinação das áreas de conflito ..............................................................................................·-···-·········· 60
Levantamento de pontos críticos da microbacia ........................................................................................... 610
Planejamento de ações........................................................................................................................................... 611
Práticas não estruturais de manejo e conservação do solo e da água........................................................ 61 l
Práticas estruturais de manejo e conservação do solo e da água ········································- ····················· óL
Recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) ................................. 612
Organização social............................................................................................................................................. 613

Berto! I, De Maria IC, Souza l.S, editores. Manejo e conservação do solo e da água. Viçosa. MG: Sociedade
Brasileira d e Ciência do Solo; 2018.
---
590 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

Plan jamento e nserva i nista do propriedades mrais................................................................................. 6l5


1 nitoran1 nto das aç ~ executad.is ················································································································ 615
C TDERA F'1 l ........................................................................................................................................ 615
LITERATUR 0T D ·····················......................................................................................................., .................. . 616

INTRODUÇÃO
As mudanças ambientais que caracterizam a chamada crise civilizatória, decorrente
da forma como o homem moderno relaciona-se e apropria-se dos recursos naturais, chegou
a tal extremo que ameaça a continuidade do atual modo de vida. A redução da cobertura
flor-estal, ~ degradação do solo, a poluição da água e as mudanças climáticas são cada vez
mais sentidas no dia a dia pelo cidadão comum.
O solo é o recurso natural que mais sofre degradação no mundo. Dados da FAO
(2015) apontaram que cerca de um quarto dos solos do planeta encontra-se degradado.
O crescimento populacional gera uma demanda maior por fibras, alimentos e energia,
aumentando assim a pressão sobre o solo. No entanto, a degradação do solo é decorrente da
falta de planejamento integrado do uso dos recursos naturais e da visão de desenvolvimento
baseada somente no aspecto econômico e não na sustentabilidade dos processos (Lal, 1999;
Pierzynski et al., 2000). Isso acontece tanto em ambiente rural quanto urbano, acelerando a
degradação do solo (Doran et al., 1994) e da água (Haygarth e Jarvis, 2002; N ovotny, 2002).
A poluição da água vem sendo mundialmente discutida, sendo um dos principais
problemas referentes à sustentabilidade ambiental da produção agrícola, pecuária e
florestal (Lal e Stewart, 1994; Haygarth e Jarvis, 2002). A escassez de água ocorre não
somente pela falta de quantidade, mas também de qualidade, ou seja, quando existe o
recurso, os padrões de qualidade não são aceitáveis para um determinado uso ou o custo
de tratamento é extremamente elevado (Bertol et al., 2014).
Entretanto, o correto planejamento do uso da terra, considerando os elementos
ambientais, sociais, econômicos e culturais, é a melhor estratégia para diminuir a degradação
dos recursos naturais e também para recuperar áreas já degradadas (Lal, 2000; Santana, 2003).
Inúmeros estudos realizados em diversos países com diferentes condições climáticas
têm demonstrado que a bacia hidrográfica é a unidade de planejamento ideal para a gestão
dos recursos naturais com vistas na produção sustentável (Lal, 2000; Maxted et al., 2009,
Sharpley e Wang, 2014). No Br~il, a Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (Brasil, 1997),
também conhecida como Lei das Aguas, estabeleceu a bacia hidrográfica como unidade de
gestão e planejamento.
A bacia hidrográfica integra fatores bióticos, abióticos e sociais, podendo ser
dividida em unidades menores, as sub-bacias que podem constituir-se em microbacias
hidrográficas. As microbacias, com área inferior a 25 km 2, idealmente, permitem um
levantamento detalhado de informações e uma predição correta dos principais processos
hidrológicos e, portanto, são consideradas wlidades ideais de planejamento agrícola e
ambiental (Huggins, 1979; Schwab et al., 1981; Bragatto, 2011). Em termos de gestão, a
microbacia facilita a implantação de uso da terra e manejo integrado do solo com vistas à
conservação dos recursos naturais, bem como o mo1litoramento dos resultados advindos
da gestão integrada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJ O E A CON SE RVAÇÃO DO S RE CUR SOS í'J ATUR AIS SOB O .. · 5g l

Nes te capítu lo, será adotada a termin ologja mi robacía hidrográfica,


ind e pe ndentemente da área total dessa, visto q ue a maiori a do usuários e ges to re de
po líticas ou ações de manejo e conservação do solo desconhece o ignifica do concei tu a i
do termo m icrobacia hidrográfica e o usa ind iscriminadame nte independen te do tc1 manho
de la.

OS ELEMENTOS DA MICROBACI A HIDROGRÁ FICA

Uma microbacia hidrográfica, conceitua lmente, s ignifica uma área delimitada


to pografica mente, d renada por um ou mais cursos de água com um único tri butá ri o na
saíd a ou exutório (Huggins, 1979; Novotny, 2002; Santana, 2003). Os cur os de águ a podem
ser d e 1ª o rd em, que se constituem de canais q ue não tem aflue ntes, o q ue significa que são
ligad os di retamente às nascentes; de 2ª ordem, ou seja, origina m-se a pa rti r d a união do de
1 ª o rdem, recebendo, pois, somente afl uentes de 1ª ordem; de 3ª o rd em, que se p rocedem
d a con fl uência de dois ou m ais canais de 2ª ordem, podendo receber aflu en tes de 1ª e 2"
ordem, e ass im sucessivam ente, como exemplificado na figura 1 (Linsley et ai., 1973).

, - .... _
I
'\
\
,I
,,
\

'' ' \
'' \
\

'' ' \

' \
'
\
\
1
I
•1
' limite da Bacia
Hidrografia

Figura 1. Esq ue ma de uma mkrobacia e da ordem dos tributário .


Fonte: Adaptado d e Linsley t! l ai. (1975).
• as entes

O solo, a cobertura vegetal, o relevo, a litologia, o tamanho e a forma da bacia sã


os fa to~·es que influenciam a m_agnitud~ dos processos hid rológicos q ue ocorrem d en tr
d a bacia (Haan et ai., 1994; Paiva e Paiva, 2003). O solo recebe a águ a da precipitação,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


592 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

permi_tindo a infiltração e, ou, o escoamento superficial, e ainda alimenta o interfluxo e os


deinai ~r~ce so hidrológicos. A cobertura vegetal promove a interceptação da água da
chuv_a diss~p~ndo ua energia, evitando O impacto direto sobre o solo. O relevo define os
canais_11:1 ia1s e, com isso, o padrão de drenagem, bem como as áreas de contribuição e de
depo 1çao de edirnento .
_ Outro f_ato_res de grande importância para o equilíbrio hidrológico na microbacia
ao as área urn1das e os ambientes ripários. As áreas úrnidas são reguladoras da vazão,
e~quanto os ambientes ripários são filtros, impedindo que conta1ninantes cheguem
diretamente ao canal fluvial. Além disso, também conferem estabilidade mecânica às
marg~ns e são in_1 portantes fontes de alimentos e de abrigo para a fauna silvestre (Haygarth
e Jarv1s, 2002; Hickey e Doran, 2004 e VaJera, 2014).
Em uma microbacia sob vegetação natural, há um equilíbrio entre os diversos
elementos da paisagem, no entanto, sob ação antrópica, os fatores são alterados causando
d~si~uilíbrio ambiental. O uso e manejo do solo para fins agrícolas ou urbanos e o sistema
v1áno (estradas), entre outros, causam modificações significativas na magnitude de alguns
processos hidrológicos, fazendo com que a desagregação e o transporte de sedimentos e
poluentes, pelos agentes erosivos, sejam aumentados (Novotny, 2002).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO, DA ÁGUA E DA


FLORA EM MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

A relação entre os elementos solo, água e flora em diferentes ciclos da natureza é


amplamente conhecida. O solo e a flora, por exemplo, estão diretamente relacionados com
o ciclo hidrológico, provocando a interceptação, infiltração, retenção e armazenagem de
água na superfície e dentro do solo, escoamento superficial, percolação, evapotranspiração
e liberação da água para mananciais de superfície e de subsuperfície. Diante da importância
dessas relações para a preservação e recuperação dos recursos naturais, é indispensável o
uso de tecnologias, de forma integrada, para o sucesso das ações conservacionistas dentro
de uma microbacia hidrográfica.

Manejo e conservação do solo em microbacias hidrográficas


Manejas conservacionistas do solo devem basear-se em quatro premissas básicas:
mínimo revolvimento do solo; incremento de biomassa (tanto na superfície quanto no
interior do solo); diversidade de culturas; e práticas de controle do escoamento superficial.
o entanto, mesmo com essas prerrússas amplamente consolidadas e reconhecidas, os
problemas de conservação do solo não apenas permanecem presentes na atividade agrícola
brasileira como parecem ter se agravado na última década.

Controle do escoamento superficial e da erosão hídrica


A erosão hídrica é fortemente influenciada pela relação entre solo e cobertura vegetal
e tem se constituído no principal agente de degradação dos solos, bem como de degradação
dos mananciais de água de superfície (nascentes, rios, lagos e represas). De forma
~ I
MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA
XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O · · · 593

simplificada, pode-se considerar que, no ciclo hidrológico, a água oriunda da preci~i~ação


percorre dois caminhos, infiltração ou escoa mento s uperficial. Se hou ver predomtmo do
escoamento s uperficial, sedimentos e poluentes associados (pesticidas, metais pesados,
nutrientes, matéria orgânica, entre outros) chegarão aos corpos hídricos comprometendo
o equilíbrio e a qualidade da água (Haygarth e Jarvi s, 2002; Fiener e Auerswald, 2006;
Kyllmar et ai., 2006).
O manejo do solo influencia a infiltração, modificando o escoamento s uperficial e a
recarga de aquiferos. Em microbacias que adotam manejas que preservam a qualidade do
solo, a taxa de escoamento superficial é menor, a capacidade de infiltração de água é maior
e consequentemente é maior a capacidade de recarga de aq uíferos, com menor variação da
vazão do canal fluvial (Maetens et aJ ., 2012; Berto] et ai., 2014; Londero, 2015; Merten et ai.,
2015).
Além do manejo do solo, outro fator importante no controle do escoamento s uperficial
e da erosão hídrica é a utilização de estruturas mecânicas (terraços). Londero (2015)
avaliou o escoamento superficial em duas bacias de ordem zero de aproximadamente
2,3 ha, sendo uma terraceada e outra sem terraços. Na bacia sem terraços, 43 % dos eventos
pluviométricos avaliados durante o estudo apresentaram coeficiente de escoamento
superficial superior a 10 % do volume total da precipitação. a bacia terraceada, apenas
um dos eventos gerou coeficiente de escoamento próximo de 10 %, e a maioria dos eventos
pluviométricos avaliados gerou coeficiente de escoamento inferior a 2 %.
É sabido que, no Brasil, em muitas áreas agrícolas, os terraços não são implantados
e até mesmo têm sido removidos por uma série de razões não justificáveis tecnicamente,
que vão desde a facilidade no emprego de máquinas (tratores, colhedeiras, pulverizadores,
plantadeiras) até a intenção de reduzir custos via a otimização das operações
motomecanizadas nas diferentes fases de produção agrícola (plantio, tratos fitossanitários,
colheita). Também é muito comum ouvir-se, tanto de agricultores quanto de técnicos,
que a simples adoção da semeadura direta seria suficiente para controlar o escoamento
superficial. No entanto, dados, como os obtidos por Londero (2015), cuja escala de análise
supera aquela das pesquisas realizadas em pequenas parcelas experimentais por tratar-
se de encostas agrícolas (bacias pareadas), demonstram a importância do terraceamento,
mesmo em semeadura direta, para o manejo e a conservação do solo e da água.
A presença de palha sobre o solo reduz o impacto das gotas da chuva, ou seja, a palha
fornece proteção ao solo dissipando a energia das gotas e impedindo assim que o solo
seja desagregado (Derpsch et al., 1991; Merten et al., 2015), mas apenas a palha sobre o
solo não é suficiente para impedir o escoamento superficial da água não infiltrada no solo,
especialmente em eventos de elevadas precipitações.
Assim, é necessário que, juntamente com um manejo com mínimo revolvimento e
elevada taxa de cobertura do solo pela rotação de culturas visando alto aporte de biomassa,
também sejam adotadas estratégias de contenção do escoamento superficial, via práticas
mecânicas.
Da mesma forma que se deve manter elevada a taxa de cobertura, é preciso planejar
e executar periodicamente a manutenção das práticas mecânicas de conservação do solo,
especialmente dos terraços. A erosão hídrica é um processo complexo, composto por fases
distintas em que diferentes fenômenos físicos ocorrem, portanto, controlá-la exige práticas
específicas que atuem de forma contrária a cada uma destas fases, mas que ao final sejam
integradas no âmbito da microbacia hidrográfica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


594 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

Potencial de uso agrícola das terras

De 1: 1 aneira geral, a ocupação das terras agrícolas no Brasil não seguiu qualquer tipo
de pl~eJamento, o que resultou num processo de ocupação desordenado. Muitas terras
de bat ·o eotencial foram incorporadas em atividades intensivas, acelerando a degradação
do solo. E comum , erificar-se o desrespeito à aptidão agrícola das te1Tas em áreas de
elevada fragilidade, por exemplo, áreas úmidas, áreas ripárias, declive acentuado, solos
pouco profundos, entre outras. Jo entanto, a sustentabilidade ambiental da produção
a~íco_la depende da utilização das terras de acordo com seu potencial. No Brasil, existem
dois ~1s~emas clássicos de avaliação do potencial de uso agrícola das terras, o Sistema de
Avaliaçao da Aptidão Agrícola das Terras (Ramalho Filho e Beek, 1995) e o Sistema de
Capacidade de Uso das Terras (Lepsch et al., 2015).
~ adequação de sistemas produtivos já implantados envolve não apenas mudanças de
mane10 do solo e das culturas, mas do tipo de uso do solo. Na maioria dos casos, a solução
deste problema é altamente complexa, por envolver fatores fundiários, socioeconómicos,
culturais e políticos, que vão além da esfera técnica. A correção do uso inadequado implica,
muitas vezes, em recapacitar o produtor rural e readequar a mão de obra disponível. A
FAO (2014) recomenda que sempre que possível, na adequação de sistemas produtivos,
seja dada preferência para a adoção de técnicas que já foram validadas localmente com a
participação dos agricultores. Ao proceder desta forma, não se corre o risco de fomentar
técnicas ou tecnologias que estejam além das possibilidades dos agricultores envolvidos.
1o entanto, sabe-se que na maioria das vezes é preciso adaptar todo o sistema para um
novo modelo de produção.
Diante disso, a adequação do sistema produtivo deve ser realizada em etapas e
de forma transicional para não comprometer a lucratividade da atividade agrícola.
O planejamento das propostas deve envolver uma equipe técnica, preferencialmente
multidisciplinar, com participação dos produtores, para que o máximo de possibilidades
e cenários sejam avaliados e readequados, garantindo, assim, a efetiva implementação das
mudanças sugeridas.

Manejo e conservação da água em microbacias hidrográficas


Manter a qualidade da água é fundamental para a saúde humana e anjmal, bem como
para a vida aquática (Chapman, 1996). No entanto, o crescimento populacional e o uso e
manejo inadequado do solo têm causado problemas não somente de qualidade, mas de
quantidade de água (Haygarth e Jarvis, 2002; Tundisi, 2003). Nos últimos anos, a escassez
de água no Brasil tem sido evidenciada inclusive em regiões onde tradicionalmente
apresentavam precipitações adequadas e regulares, indicando uma preocupação crescente
com a conservação dos recursos hídricos. Nesse contexto, destaca-se a importância de
ações que visem o manejo e conservação da água integradas com o manejo e a conservação
do solo e da flora, conduzidas em rrucrobacias hidrográficas.
Os termos contaminação e poluição normalmente são utilizados como sinônimos,
porém conceitualmente são definidos de for~a diferentes. Contaminação implica em
concentrações de substâncias ou elementos acima do que ocorre naturalmente, mas, não
necessariamente está causando um problema, enquanto poluição acarreta em concentrações
acima do que ocorre naturalmente, porém causando algum tipo de dano à saúde ou às

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O · · ·
595

atividades dos seres humanos ou de qualquer outro ser vivo (Pierzy nski e t ai., 2000). Nes te
capítulo, para fins de padronização, será utilizado o te rmo poluição.
A poluição das águas pode resultar de fonte pontu al e não po n tual (Chap man,
1998; Pierzynski et ai., 2000; Novotny, 2002). A fonte pontu al é també m conhecida c~ ~o
fonte direta; e a não pontual, como fonte difusa ou fonte indireta. Considera-se polutçao
pontual aquela em que o poluente é despejado diretamente no curso de água, como
esgoto doméstico, resíduo de indústria, dejeto de animais, entre outros. Essa fon te de
poluição, com contribuição principalmente dos centros urbanos e indus triais, é fa cílJrn~nte
identificada e possibilita um controle mais eficaz baseada inclusive em norma hvas
claramente definidas pelos órgãos governamentais. Poluição não pontual é aquela em que
o poluente é transferido aos cursos de água após percorrer um caminho de trans porte,
seja via superfície ou via subsuperfície do solo. Um exemplo é a entrada de nutrientes e
pesticidas nos cursos de água via escoamento superficial. Essa fonte de poluição é de d ifícil
identificação, com contribuição principalmente da atividade agrícola (Lal e Stewart, 1994;
Haygarth e Jarvis, 2002), especialmente em preparo convencional com aplicação excessiva
de fertilizantes e pesticidas em áreas de aJta fragilidade ambiental, como em solos po uco
profundos e declive acentuado (Manosa et al., 2001; Merten e Minella, 2002; Hart et ai.,
2004). Este potencial é ainda maior durante eventos de precipitação intensiva (Takeda et
al., 2009).
Dentre os caminhos de transporte do poluente do solo para os cursos de água, des taca-
se o escoamento superficial (movimento horizontal da água na superfície), porém o fluxo
de matriz (movimento vertical e uniforme da água no perfil do solo) e o fluxo preferencial
(movimento vertical da água via bioporas ou fissuras) também contribuem especialmente
com poluentes de elevada mobilidade no solo (Haygarth e Jarvis, 2002).
Na transferência de poluentes do solo para a água, os dois principais mecanismos ou
processos envolvidos são desagregação e solubilização (Haygarth e Jarvis, 2002), o que
simplificadamente poderia ser associado ao processo de erosão (caminho de superfície) e
lixiviação (caminho de subsuperfície), respectivamente.
Os poluentes por sua vez podem ser transferidos do solo para os cursos de água em
duas formas, solúvel (dissolvido) ou particulado (associado aos sedimentos) (Haygarth
e Jarvis, 2002). Consequentemente, de modo geral, poluentes com grande capacidade de
adsorção nas partículas minerais e orgânicas do solo têm maior potencial de ser transportado
na forma particulada via escoamento superficial (processo de desagregação/ erosão),
enquanto os com baixa capacidade de adsorção têm maior potencial de ser transportado
via subsuperfície (processo de solubilização/ lixiviação).

Avaliação da qualidade da água

A avaliação da qualidade da água é definida como sendo o processo de comparação


dos atributos físicos, químicos e biológicos da água em relação à qualidade natural e aos
possíveis ef~itos n~ _saúde hwnan~ e na saúde do ?ró~rio sis tema aquático (Chapman,
1996). Para isso, utiliza-se do morntorarnento, que e detinido como sendo O processo d e
amostragem, medição e registro de vários atributos da água, realizado periodicamente,
co~ ? obje tivo de verificar a qualidade_ da água de acordo com os objetivos específicos
definidos. Dentre os programas de morntoramento, podem-se identificar tres tipos, os d e
curto prazo, os de longo prazo e os contínuos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


596 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET Al,

Os monitoran,entos de curto prazo têm como objetivo avaliar um problema definido;


os de longo prazo, traçar tendências; e os continuos, normalmente, um acompanhamento
espe~ífico (Bartham e Balance, 1996). Independentemente do tipo de monitoramento, a
qualidade de ambientes aquáticos pode ser avaliada de diferentes formas: medidas
quantitativas como determinações físico-químicas e testes biológicos ou bioquímicos;
descrições qualitativas, como índices bióticos, aspectos visuais, identificação de espécies,
enb·e outros (Chapman, 1996).
Estudos com qualidade de água e atividade agropecuária têm sido desenvolvidos
principalmente em experimentos de curto prazo e em escala de pequenas parcelas (La!
e Stewart, 1994; Haygarth e Jarvis, 2002; Sharpley e Wang, 2014). No entanto, com a
necessidade de compreender a interação de diferentes fatores, o número de estudos com
qualidade da água de curto e longo prazos, em escala de bacia hidrográfica ou encosta
agrícola, tem aumentado consideravelmente (Steinheimer et al., 1998; Ngoye e Machiwa,
2004; Diebel et ai., 2009; Takeda et al., 2009; Ramos et ai., 2014; Ribeiro et ai., 2014; Londero,
2015).

a avaliação da qualidade de água influenciada pela atividade agrícola, os principais


poluentes avaliados são os nutrientes (P e N), os pesticidas e o sedimento. Os elementos
P e N são essenciais para a produção agrícola, porém atuam também como poluentes
em ambientes aquáticos (Hooda et al., 2000; Hart et al., 2004; Camargo e Alonso, 2006;
Shigaki et al., 2006). O P é o principal poluente associado à eutrofização, que resulta
em elevado crescimento da biata aquática (algas e plantas macrófitas) (Daniel et al.,
1998), restringindo principalmente o uso da água para fins doméstico. Com relação ao
N , a principal preocupação é com a saúde humana e a vida aquática. O N na forma de
nitrato está associado com a doença conhecida como meta-hemoglobinemia, ou síndrome
do bebê azul, bem como a incidência de câncer, e o N na forma de amônia é prejudicial
principalmente para a vida aquática (Smith et al., 1990; Carnargo e Alonso, 2006). O P
é transferido das áreas agrícolas para os cursos de água principalmente via escoamento
superficial, enquanto a transferência do N do solo para a água ocorre principalmente via
fluxo subsuperficial (Haygarth e Jarvis, 2002).
Um grupo também de poluentes com grande interferência da atividade agrícola são
os pesticidas (herbicidas, fungicidas, inseticidas, entre outros), que reconhecidamente
causam problemas para a saúde hwnana (Haygarth e Jarvis, 2002). Pesticidas, da mesma
forma que os fertilizantes minerais ou orgânicos aplicados nas lavouras podem atingir
os cursos de água percorrendo tanto o caminho de superfície como o de subsuperfície,
dependendo da dinâmica do poluente no solo.
A transferência de partículas sólidas do solo (sedimento) para um curso de água causa
problemas à , ida aquática, mesmo que estas não estejam associadas a outro poluente.
Problemas com turbidez elevada, assoreamento e enchentes estão relacionados com
excesso de sedimentos nos cursos de água (Novotny, 2002).

Como preservar a qualidade da água em bacias hidrográficas


o uso da terra de acordo com seu potencial, bem como a adoção de técnicas de manejo
e conservação do solo, é fundamental para preservar a qualidade e quantidade de água
(Zeilhofer et ai., 2006; Diebel et al., 2009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RE CURSOS NATURAIS SOB O · · · 597

A conservação da água depende da conservação do solo. A erosão h íd rica é u m


dos principais agentes de degradação da qua lidade da água. Controla r a erosão do solo
é fundamental para controlar a poluição da água, porém, além de controla r a _ p~rda d e
solo (erosão), é preciso também controlar a perda de água (escoamento s uperfi cia l}, e:°1
que, mesmo não transportando partículas de solo, pode trans portar poluentes solu veis.
Aumentar a infiltração de água no solo é reconhecidamente essencial par a melho ra r a
qualidade da água, pois diminui o escoamento superficial e permite que o solo desempenhe
sua função de filtro; no entanto, é preciso também considerar o manejo de agroquírn icos
no sentido de reduzir o potencial de transporte tanto via superfície corno via s ubsuperfície
(Haygarth e Jarvis, 2002).
A gestão de bacias hidrográficas com boas práticas de uso e manejo do solo e das
culturas irá reduzir a poluição não pontual dos recursos hídricos (La!, 2000; ovotny,
2002). Ribeiro et ai. (2014) avaliaram a qualidade da água na mic robacia hidrográfica do
Campestre, Paraná (monitoramento de curto prazo) e observaram que os indicadores de
qualidade de água foram influenciados de forma negativa com o aumento da área ocupada
com agricultura, a diminuição da área ocupada com cobertura florestal e a redução da
área ri pária ocupada com vegetação nativa. Minella et al. (2007), estudando a contribuição
de diferentes fontes de produção de sedimentos em uma microbacia, identificaram as
áreas agrícolas como as maiores contribuintes (68,3 %), seguidas das estradas (28,1 %),
evidenciando que o tipo de ocupação da terra exerce influência expressiva na erosão
hídrica.
Preparas conservacionistas do solo têm se evidenciado eficazes no controle da perda
de solo, principalmente pelo aumento da cobertura do solo, o que reduz as perdas de
poluentes transportados na forma particulada, ou seja, associada ao sedimento. o entanto,
de modo geral, a eficiência destes preparas no controle da perda de água é menor do que
nas de perdas de solo (Merten et ai., 2015), e, portanto, as perdas de poluentes solúveis
podem ocorrer mesmo em preparas conservacionistas (Lal e Stewart, 1994; Bertol et al.,
2003).
Sistemas agrícolas conservacionistas, entre esses os sistemas integrados de produção
agropecuária (integração lavoura-pecuária-floresta e integração lavoura-floresta) e a
agricultura orgânica, com diferentes graus de complexidade ecológica (Gorniero et ai.,
2011; Moraes et ai., 2014), têm demostrado benefícios na preservação da qualidade da
água (Arnhold et ai., 2014) em razão principalmente do aumento da cobertura vegetal,
da redução do escoamento superficial e do aumento d a infiltração de água no solo. Em
geral, sistemas agrícolas conservacionistas com alta diversidade de plantas têm sido mais
eficientes no controle da erosão do solo do que a agricultura convencional (Fang et al., 2012;
Palm et ai., 2014). Ramos et al. (2014), avaliando a qualidade do escoamento su perficial
em encostas com produção de olerícolas (aproximadamente 0,5 ha) na rnicrobacia do
Campestre, Colombo, Paraná, observaram menores perdas de solo, água e nutrientes no
sistema com produção orgânica em comparação com o sistema de produção convencional .
Mesmo com grandes avanços em sis temas de produção agrícola, as perdas de solo e
nutrientes via escoamento superficial ainda contribuem para a degradação da qualidade
da água. Para minimizar o efeito da poluição difusa sobre os recursos hídricos em áreas
agrícolas, várias práticas de manejo têm sido recomendadas. Uma dessas recomendações
é a barreira veg~tada (conhecida, interna~iona.lmente como filter strips ou buffer strips), que
pode es tar localizada dentro da area agn cola e, ou, na margem dos cursos de água (Liu e t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


598 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

ai., 200 ). O objetivo principal é reter sedimentos e poluentes associados ao escoa mento
pela criação de uma barreira física. O mecanismo de retenção favorece a deposição de
edimentose poluente particulados, enquanto a infilh·ação favorece a retenção de poluentes
na forma solúvel. Os nutrientes retidos no sistema podem ser absorvidos pelas plantas e,
ou, imobilizados por microorganismos (Hickey e Doran, 2004). A eficiência de retenção de
poluentes depende de vários fatores, enh·e estes a largura da vegetação (Hickey e Doran,
2~04; Yuan e Bingner, 2009). Bortolozo et ai. (2015) avaliaram a eficiência da largura de
fai ·as vegetadas com campo nativo (5, 10, 20 e 30 m), na região dos Campos Gerais do
Paraná, na retenção de sedimento e nuh·ientes trasportados via escoamento superficial.
Quanto maior a largura da faixa vegetada, maior a retenção (retenções superiores a 70 %
foram obtidas com faixas de 10 m de largura), indicai1do a necessidade da manutenção da
vegetação ripária afim de reduzir o aporte de poluentes nos cursos de água .
A manutenção da vegetação ri pária, aJém de preservai· a qualidade da água (Mehaffey
et ai., 2005; Yang et aJ., 2007), visa estabilizar as encostas e melhorar a biodiversidade (Yuan
e Bingner, 2009).
A adoção da microbacia como w1idade de ação é um passo importante para o controle
do escoamento superficial, elemento-chave para a melhoria da água nos aspectos qualidade
e quantidade. A eficácia no controle do escoamento superficiaJ decorre da possibilidade de
conduzir ações de forma integrada nos distintos componentes da microbacia (estradas,
áreas agrícolas, áreas úmidas, áreas de preservação, entre outros).

Manejo e conservação da flora em microbacias hidrográficas


O modelo de desenvolvimento adotado no território brasileiro, fortemente
influenciado pela racionalidade econômica, vem devastando de forma desenfreada o
ambiente. Alterações em ecossistemas, degradação da qualidade ambiental, desequilíbrio
da flora e fauna e implicações resultantes deste processo são cada vez mais evidentes na
vida moderna. Essa problemática ambiental, decorrência do tipo de relação que a sociedade
mantém com a natureza, não pode ser deixada de lado no manejo e na conservação do solo
e da água em microbacias.
Embora o Brasil seja um dos países que possui um vasto arcabouço de leis que
tutelam o ambiente, especialmente no que se refere à flora, o país ainda está longe de coibir
definitivamente as ações que levam à degradação ambiental, de forma que, ao realizar
o planejamento integrado de uma microbacia, é fundamentaJ que sejam atendidos os
aspectos básicos da legislação ambiental vigente.
A legislação ambientaJ brasileira tem forte lastro na Convenção de Estocolmo,
realizada em 1972. Surge daí a noção de um direito fundamental, que todo cidadão tem, de
um ambiente equilibrado, e por decorrência dá origem ao segu11do princípio fundamental:
o desenvolvimento sustentável.
De forma objetiva, não há como priorizar apenas a via econômica no uso dos recursos
ambientais. É fundamental que o uso de qualquer recurso contemple a necessidade de
preservação ambiental.
Estes princípios já estavam presentes na Constituição Federal de 1988; o utros textos
legais também evidenciam a necessidade de associar produção e preservação ambiental.
o Estatuto da Terra, por exemplo, define que a propriedade agrícola deve cumprir sua
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O · · · 599

função socia l e preservar os recu rsos naturais. A Lei das Águas, Lei 9.433, janeiro d e 1997
(Brasi l, 1997), consid era a bacia hidrográfica como unidade de ges tão dos recursos n~turais,
remetendo a necessidade de conservação do solo e da flora pa ra daí resultar a qualidade e
proteção das águas.
Apesar d is to, a agricultu ra brasileira ainda se baseia amplamente num modelo q ue
reforça impactos indesejáveis, como a redução das áreas de vegetação nativa e a po luição
do solo e da água pelo uso excessivo de agroq uímicos. Ainda é muito comun o aumento ~a
produção agrícola forçando um avanço sobre as áreas de Reserva Legal e de Preservaça o
Permanente. A d iscussão, elaboração e promulgação do novo Código Florestal levou mais
de 10 anos, para ao final chegar-se a um novo texto legal que modifica significativamente
as exigências quanto as Áreas de Reserva Lega l e Áreas de Preservação Permanente.
O Novo Código Florestal, Lei 12.651/2012, foi publicado em maio de 2012 e traz como
questão central a necessidade de conjugar a proteção da flora e fauna com o desenvolvimen to
econômico (Brasil, 2012 e Valera, 2014).
As Áreas de Preservação Permanente são fortemente associadas à proteção dos corpo
hídricos, por isso são consideradas bens de interesse comum a todos os brasileiros. e elas, o
direito de propriedade é modulado pelo bem maior que é o interesse da coletividade. Estas
áreas são protegidas juridicamente por cumprirem a função de manter o equiUbrio do
ecossistema (Nobre, 2014), embora isoladamente não sejam capazes de garantir a P:oteção
à biodiversidade e manutenção de todos os processos ecológicos, por causa disso a Area de
Reserva Legal continua sendo necessária.

MICROBACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE


PLANEJAMENTO

Adotar a micro bacia como unidade de planejamento visando o manejo e a conservação


do solo e da água pressupõe encontrar soluções factíveis para assegurar que a utilização
des tes recursos seja econômica e ambientalmente sustentável, pela abordagem sistêmica.
Porém, preservar o equilíbrio ambiental em sistemas com interferência antrópica nem
sempre é fácil.
A abordagem do manejo e da conservação do solo na escala de microbacias o~ o u
força no Brasil a partir de 1987, com a criação do Programa acional de Nlicrobacias
Hidrográficas - PNMH (Decreto Nº 94.076, de 05 de março de 1987 (Brasil, 1987). A partir
des te Programa, s urgiram diversas experiências e novos programas, principalmente nos
Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
No Estado do Paraná, a adoção das rnicrobacias como unidade de planejamento, em
diversos programas e políticas públicas, caracterizou os principais avanços obtidos nas
d écad as de 1980 e 1990 e no início dos anos 2000. Ao longo das últimas décadas, foram
imple menta~os no Esta~o divers?~ pro8:amas governamentais que contribuíram para
a re~ u pera~a~ e _melhona do cenar10 agncola pe~a conservação do solo e da água, que
enseJararn hçoes importantes, apresentadas a seguu (Paraná, 2015) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


600 NILVANIA APARECIDA D E MELLO ET AL .

percepção de que a erosão causa aumento de custos no siste ma produtivo foi


importante para dar su tentação à criação de fundos específicos para o crédito necessário
à e ·ecução de melhorias indispensáveis.

Devem ser considerados outros aspectos além daqueles relacionados ao uso do solo
nos cultivas agrícolas anuais, como a readequação dos acessos à sede da propriedade, os
caminhos e as estradas internas, os pontos de dessedentação de animais e os pontos de
abastecimento de água para os pulverizadores.
O reconhecimento da importância da interface rural-urbano leva à adoção de
estratégias de desenvolvimento, que considera a possibilidade de novos riscos, como o
aumento de enchentes, assoreamento e poluição dos rios, muitas vezes mananciais de
abastecimentos de água. Estes novos riscos devem ser considerados nas estratégias de
manejo e planejamento das microbacias.
Os programas devem ser implementados de forma descentralizada e participativa,
uma vez que não há como implementar ações sem a participação das comunidades e da
sociedade. A participação consciente da sociedade gera corresponsabilidade, potencializa
resultados e amplia o alcance do programa.
O conhecimento como base de ação deve ser conduzido para consolidar trabalhos
de pesquisa, materializando-os em manuais, vídeos, guias, de forma que sejam acessíveis
para técnicos e produtores.
Os incentivos financeiros são importantes para alavancar mudanças, mas não devem
ter seu repasse tratado como uma das finalidades do Programa. Devem ser vistos como
complementares aos recursos de outros atores, especialmente aos dos próprios produtores
rurais.
Os instrumentos legais de comando e controle devem ser usados de forma
complementar às ações de organização e incentivo, principalmente com produtores mais
resistentes à adoção de práticas conservacionistas.
A estrutura institucional é necessária e deve ser adequada para prestar serviços de
qualidade na esfera pública e privada. É preciso que ao menos parte das ações pretendidas
seja de fato executada pela estrutura institucional. A aglutinação de outros agentes
e parceiros estratégicos em adição aos executores, ao longo do programa, fortalece sua
implementação e complementa lacunas institucionais.
O conceito de sustentabilidade ambiental, social e econômica deve nortear programas
e políticas públicas, sob pena de fracasso, especialmente após o término das ações
(intervenções) e dos incentivos. A forma de ação do Programa deverá levar em conta
os impactos da adequação ambiental na vida dos produtores e adotar estratégias que
permitam se ajustar financeiramente às mudanças propostas.
Deve ser adotado o monitoramento e a avaliação em todas as instâncias de
coordenação para antever barreiras na execução do Programa. Tecnologias modernas de
monitoramento devem ser adotadas, especialmente as ligadas ao sensoriamento remoto e
geoprocessamento, visto que estas técnicas permitem a redução dos custos destas ações,
geralmente caracterizadas como o principal entrave para sua execução.
As tecnologias preconizadas numa microbacia devem considerar a diferenciação de
produtores, segundo suas características culturais e socioeconômicas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSO S NATURAI S SOB O · · · 601

PLANEJAMENTO SIMPLIFICADO EM MICROBACIA -


ESTUDO DE CASO

Neste capítulo, considerou-se apropriado a inclusão do estudo de caso referen!e ao


planejamento de uma microbacia hidrográfica do Programa de Ges tão de Solo e Agua
em Microbacias (Programa Microbacias), atualmente condu zido pelo Governo do Estado
Paraná. Este Programa estabelece como roteiro fundamental para o planejamento de uma
microbacia as seguintes etapas: pré-diagnóstico; diagnóstico; e planejamento d_as açõ~s
(Paraná, 2015). A microbacia hidrográfica deste estudo de caso denomina-se M1crobac1a
São Roque, com área de 3148 ha, localizada na Bacia do Rio [guaçu, município d e Realeza,
região sudoeste do Estado do Paraná, coordenadas UTM (SA D69, FUSO 22 J), 7155 776 de
latitude e 246 481 de longitude.
Tendo em vista a importância do geoprocessamento e sensoria mento remoto para
processar, organizar, qualificar e dar precisão às informações cartográficos, tais recursos
são empregados em todas as etapas do planejamento (Ruhoff e Pereira, 2004; Zanata et ai.,
2012).

Pré-diagnóstico
A etapa do pré-diagnóstico se constitui em um conjunto de procedimentos q ue
vai desde a escolha da microbacia até a obtenção, o preparo e a análise preliminar de
informações cartográficas para que possam ser utilizadas por meio do geoprocessamento
e sensoriamento remoto. Esta etapa compreende também a análise inicial das informações
geradas, com vistas a fazer um reconhecimento de particularidades da microbacia. Is to
permite maior eficiência e rapidez às fases do diagnóstico e planejamento de ações.

Obtenção das informações cartográficas


A qualidade e a precisão do diagnóstico de uma microbacia dependem da qualidade
e precisão das informações cartográficas. Por sua vez, a precisão tem relação com a escala,
e para uma área em tomo de 3 500 ha (tamanho médio das microbacias do Programa
Microbacias do Paraná), a escala indicada é de 1:5 000. São recomendadas as se~tes o
informações cartográficas mínimas:
- Perímetro da micro bacia: O perímetro da microbacia, obtido via geoprocessamento a
partir das curvas de nível, deve coincidir com os divisores de água (divisores topográficos).
Este é utilizado como base para a definição do perímetro das demais informações
cartográficas.
- Classes de solo: A informação das classes de solo é fundamental para o planejamento
de ações que visam o manejo e a conservação do solo e da água. Inúmeras experiências
evidenciam que solos de diferentes classes podem apresentar diferenças expressi as
quanto ao potencial de uso agrícola e de resiliência à degradação. A identificação dos solos
também é importante para o planejamento de ações que visem à adequação de estrad as
rurais e ao dimensionamento de terraços. O solo exerce ainda um papel importante no
planejamento do tratamento de esgoto doméstico, cuja capacidade de suporte varia em
razão d e seus atributos, especialmente a textura. Assim, é recomendável que as classes de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


602
NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

solo ejam identificada de forma detalhada. Em uma microbacia, a identificação poderá


ser . ob~d~ preliminarmente a partir de um mapa já disponível. Caso o mapa es teja em
n-ieio digital, a elas es de solo poderão ser obtidas fazendo-se a intersecção do mapa do
perímetro da microbacia com o mapa-base dos solos, via geoprocessamento. Caso o mapa
de solos disponível não esteja em escala adequada, será necessário fazer a adequação com
dados levantados no campo, conforme será descrito na etapa de diagt-ióstico.
- Relevo: O relevo, representado pela declividade, o comprimento e a forma da
encosta, exerce grande influência na erosão do solo, bem como é fundamental para avaliar
o potencial de uso agrícola das terras. Estas informações poderão ser obtidas a partir
das cun,as de nível e dos pontos cotados, fazendo-se a intersecção com o perímetro da
microbacia, via geoprocessamento. No Programa Microbacias, utilizam-se somente os
dados de declividade.
- Classes de declividade: Juntamente com as classes de solo, as classes de declividade
são informações fundamentais para o planejamento de uma micro bacia, especialmente para
o dimensionamento das práticas de controle da erosão hídrica e para identificar o potencial
de uso agrícola das terras. O Programa de Microbacias do Paraná utiliza as classes de
declividade correspondentes aos seguintes inten,alos em cm m-1: Oa 3 (plano); 3 a 8 (suave
ondulado); 8 a 15 (moderadamente ondulado); 15 a 25 (ondulado); 25 a 45 (forte ondulado);
45 a 100 (montanhoso); >100 (escarpado). Estes intervalos foram estabelecidos observando
o referencial dos levantamentos de solos e dos sistemas de avaliação do potencial de uso
agrícola das terras aliado ao aspecto prático, considerando a escala da microbacia. Os
dados (Quadro 1) indicam que na microbacia São Roque, em tomo de 73 % da área, o
relevo é plano à moderadamente ondulado. Isto permite inferir que do ponto de vista da
declividade, a maior parte da microbacia suporta um uso intensivo do solo, com emprego
de motomecanização, refletindo um menor grau das limitações para a conservação dos
solos.

Quadro 1. Classes de declividade da Microbacia São Roque

Classes de declividade Área


cm rn-1 ha %
0a3 771,0 24,5
3a8 725,4 23,0
8 a 15 789,4 25,1
15 a 25 582,9 18,5
25 a 45 274,7 8,7
45 a 100 4,6 0,2
Total 3148,0 100,0

_ Hidrografia: Para utilizar e conservar de form~ correta_o ~ec~so hídrico disponíve!


em uma microbacia, é necessário conhecer o potencial e as lmutaçoes deste recurso, aqui
col15iderado como sendo os mananciais de superfície (nascentes, córregos, rios, açudes,
lagos, represas). O mapa preliminar da hidrog_rafia de uma mi~robacia p oderá ser obtido
utilizando imagens de satélite e curvas de ruvel, com o apo10 do geoprocessamento e
sensoriamento remoto.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SO B O · · · 603

- Ocupação do solo: Qualquer ocupação do solo causa impactos ambientais,_assim,_é


importante identificar e loGdizar em mapa as forma s de ocupação do solo da mJCro~acia
pelo menos para os seguintes usos: flores ta nati va, floresta plantada, pas tagens nah vaS,
pastagens plantadas, lavouras anuais, lavouras permanentes, corpos d'água, s i tema
integrados de produção (integração lavoura/pastagem/flores ta, integração lavoura/
floresta, integração pastagem/ flores ta, integração lavoura/ pastagem), áreas urba~as'.
áreas de mineração, estradas, edificações. A informação da ocupação do solo contribui
para identificar as áreas de conflito, ou seja, as áreas ocupadas em desaco rdo com a aptidão
das terras ou em desacordo com a legislação ambiental. O ma pa preliminar da ocupação do
solo poderá ser obtido utilizando imagens de sa télite, com o apoio do geoprocessamento e
sensoriamento remoto.
- Sistema viário: As estradas rurais se constituem em um importante fator de
desenvolvimento e um meio de comunicação entre as pessoas que res idem no meio
rural e entre as comunidades rurais e, para tanto, devem manter-se em boas condições
de trafegabilidade. Essas vias também têm a função de estabelecer a ligação entre a
comunidades produtoras e as grandes rodovias pavimentadas, por onde circulam as
mercadorias até o seu destino final; portanto, exercem uma função alimentadora, ligando
o meio rural com o urbano. As estradas rurais também são de interesse de empresas e
instituições, pois viabilizam seus negócios por meio da venda de insumos aos agricultores
ou da recepção dos produtos produzidos no meio rural. o entanto, apesar da relevá ncia
no sistema produtivo, as estradas rurais têm se constituído num dos principais fatores de
degradação ambiental (Nunes, 2003). Segundo Casarin (2008), no Estado de São Paulo, as
estradas são responsáveis por aproximadamente metade das perdas de solo que ocorrem
no meio rural.
Minella et ai. (2007), estudando a contribuição das estradas rurais nas perdas de solo,
em duas microbacias do Estado do Rio Grande do Sul, afirmaram que embora as estradas
ocupassem apenas 1,6 % e 1,8 %, respectivamente da área total, responderam por 28,1 % e
37,6 % das perdas de solo ocorridas. Pode-se afirmar, portanto, que a conservação do solo e
da água depende de estradas rurais bem planejadas e conservadas, tornando imprescindível
mapear a malha viária da microbacia, identificando, ao menos, o tipo de pavimento (terra,
revestida com asfalto, revestida com pedras), a localização, e a extensão desta malha
viária. Estas informações poderão ser obtidas, de forma preliminar, utilizando imagens
de satélite, com apoio do geoprocessamento e sensoriamento remoto. A sobreposição da
malha viária com outras informações como ocupação do solo, hidrografia, classes de solo e
classes de declividade permitirá extrair informações como a suscetibilidade à degradação,
em razão, por exemplo, de se localizar em relevo declivoso ou sobre um solo com ele ada
erodibilidade.

Diagnóstico
O diagnóstico de uma microbacia hidrográfica tem como propósito fornecer
informaç~~s detalhadas e exata p~ra o planejamento de ações que promovam a
s ustentabilidade dos recursos naturais. Para tanto, na etapa do diagnóstico, devem er
corrigi_d as e cons_olidadas _as informaç~e: prel~minares obtidas no pré-diagnóstico e
fornecidas outras mformaçoes, como aphdao agr1cola das terra , pontos críticos, conflitos
de uso, condições socioeconômica da população e grau de associati ismo existente.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


604 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

Correção e consolidação das informações

Os mapas preliminares de classes de solo, hidrografia, ocupação do solo e sistema


viári?, gerados na fase do pré-diagnóstico, são corrigidos e acrescidos de outras informações
relativas a cada tema por meio de levantamentos de campo.
- Classes de solos: Geralmente, os mapas de solo disponíveis no Brasil possuem
escala pequena, ou seja, as unidades de solo representam áreas grandes. Em razão disto,
quando utilizados na escala da microbacia, via de regra, apresenta erros de localização e
tamanho da área ocupada por cada classe, além de, eventualmente, não conter todas elas.
Assim, necessitam de correção por meio de levantamento de campo. O mapa preliminar
das classes de solo da Microbacia São Roque (Figura 2), obtido via intersecção do mapa do
perímetro dessa microbacia com o mapa do levantamento de reconhecimento dos solos
do Estado do Paraná (Embrapa, 2008). As classes de solo encontradas na microbacia por
essa base de dados são: Nitossolo Vermelho Eutroférrico chernossólico (NVef), textura
argilosa, relevo ondulado, rochas eruptivas básicas; Neossolo Regolítico Eutrófico (RRe),
A chemozêmico relevo forte ondulado, rochas eruptivas básicas, textura argilosa fase
pedregosa; Nitossolo Vermelho Distroférrico típico (NVdf), A proeminente textura argilosa,
relevo ondulado, rochas eruptivas básicas; Latossolo Vermelho Oistroférrico típico (LV df),
A proeminente, textura argilosa, relevo suave ondulado, rochas eruptivas básicas. O mapa
de solos corrigido a partir do levantamento de campo realizado na microbacia (Figura 2)
evidencia erros expressivos de localização das classes de solo contidas no mapa preliminar.
Observa-se que o mapa preliminar está correto quanto às classes de solo existentes na
microbacia, no entanto, apresenta incorreções expressivas quanto à área de abrangência de
cada classe (Quadro 2). Isto evidencia a importância de ajustar o mapa preliminar de solos
via levantamento em campo, urna vez que é uma informação de base para determinar a
aptidão agrícola dos solos.

Municip10 de Realez.a- PR Município d e Realeza- PR


+ Microbac10 Silo Roque (3148 ha) + Microboaa Silo Roque (3 14.S ha)
CIASScs de solo (m•p• p relimin.u Cla.s,,e,; d e solo (mop• comgldo

-~
Cla56e5 d e oolo
LVdí
NVd (
NVef

Figura 2. Mapas preliminar (esquerda) e corrigido (direita) de solos da microbacia São Roque,
município de Realeza, PR.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O • · · 6 0S

Quadro 2. Área das classes de solo da microbacia São Roque identificada no levan tamento preliminar
e após o levanta mento de campo (corrigido)

Classes de Levantamento ereliminar Levantamento corrigido


solo Nº de áreas Área Área Nº de áreas Área Área
ha % ha %
NVef 1 1392 44,2 1 816 25,9
RRe 1 16 0,5 4 971 30,7
NVdf 1 1298 41,2 4 801 25,6
LVdf 2 442 14,1 3 560 17,8
Total 5 3148 100 12 3148 100

- Hidrografia: Geralmente, os cursos de água existentes em uma microbacia são de


segunda ordem, q uando não de primeira ordem, com espelho d' água bastante estreito, o
que dificulta localizá-los de uma forma mais precisa em imagens de satélite. Além disso,
nascentes e margens dos cursos d'água ocupadas por florestas, mesmo em estádio inicial
de desenvolvimento criam dificuldade para a correta localização da hidrografia por via
sensoriamento remoto. Assim, faz-se necessário corrigir no campo, com o apoio de GPS, a
localização real da hidrografia, bem como daquela não identificada na imagem de satélite.
No q uadro 3, observa-se a existência de um número maior de nascentes, porém uma menor
extensão total dos cursos d'água nos dados corrigidos (após levantamento de campo) em
relação ao levantamento preliminar. Observa-se ainda (Figura 3) que o levantamento de
campo redefiniu a localização de muitas nascentes e localizou outras inicialmente não
iden tificadas. As diferenças na hidrografia, entre o levantamento preliminar (análise de
imagem d e satélite via sensoriamento remoto) e o levantado em campo com GPS, decorrem,
provavelmente, do desaparecimento e também da mudança de posição das nascentes na
encosta, que migraram para cotas menores, o que provocou a diminuição da extensão dos
córregos de primeira ordem. Isto tem sido observado por agricultores e pode-se relatar
q u e é um indício do efeito do uso inadequado do solo sobre a hidrologia de superfície e
subsu perfície das encostas.

+ Munldpio de Realezia - PR
Mlcrobada Slo Roque (3148 ha) + Munidpio de RaJcz.a - PR

\ ----- - Hidrognifia (mapa ~!minar)


Microt.c:ia Slo Roque (3 148 hal
1-!idrogn,fia (mapa ronigido

\
,1

1
e-=) Pertm.etro D Pertmetro
. Nucenles . Ni15a!%úa
NR!oe N Rlos
Figura 3. Mapas preliminar (esquerda) e corrigido (direita) da hidrografia da microbacia São Ro ue
município de Realeza, PR. q '

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


606 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

Quadro 3. Número de nc1. ccntes e exte nsão total dos rios di't micrnb;icia fio Roque ide ntificad os n o
le,·ê'lnlamen to preliminar e ap s o k,·a11li'lme nto de ca mpo (corrigid o)
º de nascentes Extensão total dos rios
Levantamen to Levant amento Levantamento Levantamento
Preliminar Corrigido Preliminar Corrigido
--------- - - - -- -- 111 - --------------- -----
51 57 59 880 48 373

- Ocupação do solo: Dados sobre a ocupação do solo possibilitam identificar


conflitos de uso tanto em relação à aptidão agrícola quanto à ambiental. Os dados (Figura
-1 e Quadro 4) e,·idenciam a importância de corrigir as informações de uso do solo pelo
levantamento de campo, uma vez que, com exceção do uso por rodovias, todos os demais
usos inicialmente quantificados sofreram modificações. Os dados evidenciam variações
e ·pressivas nas áreas ocupadas por cultivas florestais e açudes, com redução tanto em
número de áreas ocupadas quanto da área ocupada.
~ 1urucir,o d e
Rcolo,zo • PR Município de Realeza- PR
+ ~ hcmhac,a Soo R09uc (3 14S ho)
0cur l>Çoo do solo (mar • prehrrunor)
+ Microboc10 Silo Roq ue (3148 ha)
Ocupaç.lo d o solo (m•p• com g1do)

~ - lo do ~.lodo tolo
- Cdnvc fio:-est.Jl - Culbvo Oorlf'Stal
l ? CulturJ anuoll
• ==-.
-
Cci!mamw

~... gcn
Rodovu
cu!t,vm..
- Flor"~ rutlv•
P~gcm culuv.CU
Rodo,,.1
- ~ r: bci!Hmr..n - Stdt C' bcnit.1l0n.U
- 1\(ud,
- Al;udt

Figura 4. Mapas preliminar (esquerda) e corrigido (direita) da ocupação do solo da microbacia São
Roque, município de Realeza, PR.

Quadro 4. Área da ocupação do solo da microbacia São Roque identificada no levantamento


preliminar e após levantamento de campo (corrigido)
Levantamento preliminar Levantamento corrigido
Ocupação do solo Nº de Nº de
Área Área Área Área
áreas áreas
ha % ha %
Cultivo florestal 12 31,4 1,0 7 13,2 0,4
Cultura anual 55 2 124,2 67,4 33 2 070,4 65,7
Floresta nativa 71 564,1 17,9 49 581,6 18,5
Past:igem cultivada 64 292,6 9,3 52 364,1 11,6
Rodovia 5 11,5 0,4 5 11,5 0,4
Sed e de benfeitoria 75 115,9 3,7 71 103,5 3,3
Açude 13 8,3 0,3 8 4,2 0,1
Torai 290 3148 100 290 3148 100

M AN EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DO S RECURSOS NATURAIS SOB O ·" 607

- Sistema viário: Em razão do pap I que as estrad as rurais ocupam no desenvolvi~ nto
da agricultura, conforme já enfatizado, é importante que s jam corretamente cara~tenzada
e dimens ionadas. É importante também id entificar a locali zação das estradas, s internas à
propriedade ou nas divisas entre propriedades, bem como se é estrada vicinal, municipal,
estadual ou federal. Tais informações possibilitam definir responsabilidad:s n~ cas~ de
danos ambientais ocasionados por uma estrada. Os dados (Figura 5 e Quadro ::,) ev1d nc,am
que o levantamento de campo alterou expressivamente o número e a ex ten ão d estrada
rurais identificadas no levantamento preliminar. O aj uste dessas informaçõ ~uxilia
tanto na elaboração do planejamento conservacionista do solo, bem como nos serviço de
manutenção das estradas.

+ +

D Pmrrdro
Si.stc:nu vi hio SbttmA vi.:irio
NA>1.i1,o N A1fal10
N T=• N Trrra

Figura 5. Mapas preliminar (esquerda) e corrigido (direita) do sistema viário da microbacia São
Roque, município de Realeza, PR.

Quadro 5. Número e extensão das estradas rurais da microbacia São Roque identúicad no
levantamento preliminar e após levantamento de campo (corrigido)

levantamento preliminar levantamento corrigido


Tipo da
estrada Nº Nº
Extensão Extensão Extensão Extensão
estradas estradas
m % m n,
o

Asfalto 3 6476 16,8 3 612-1 ,9


Terra 23 32 009 83,2 52 62476 91,1
Total 26 38485 100,0 55 68 600 100

- Divisão fundiária: Uma rrúcrobacia hidrográfica, via de regra, é constituída por um


conjunto de propriedades rurais. Experiências têm evidenciado que é importante conhecer
os limites de cada propriedade, uma vez que o processo erosivo, em muitos caso , tem
se instalado a partir da entrada do escoamento superficial que se forma em propriedades
limítrofes. Assim, conhecer a localização de cada propriedade rural corrobora na identifica ão
das relações interpropriedades, bem corno das responsabilidades de cada agricultor quanto
à adoção de medidas de manejo e conservação dos recursos naturais. O levantamento
fundiário possibilita também identificar responsabilidades pela degradação de e tradas e,
ainda, responsabilizar pela adoção de medidas corretivas. O conhecimento da estrutur

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


608 NILVANIA APARECIDA DE M EL LO ET AL.

fu~di á1ia d a mi robacia . ju~tifica também pcl.1 ncce ·sidacte de, é1p6s o plm1ejélmento déls
aç ~ - para a micro bacia, elaborar 0 planejamento consen acionis t.i de cada propriedélde ru ra 1,
0 e,ito desta eta pa depende da participação dos .igricultores e do nível de interação entre

e te .· o entanto, deve er ressaltado que determinadas práticas, especialmente aquelas


destinada ao conlT ledo escoamento superficial e à melhoria da qualidade da água, como
terraceamento, integ,·açào das e tradas e recomposição da cobertura florestal no entorno
do _mananciai d ' água, devem ser aplicadas integrando todas as propriedades rurais
c_o n_h das em uma microbacia e, para tanto, neste momento é necessário desconsiderar os
Imute das propriedades. O mapa fundiário poderá ser obtido associando as ferramentas do
geoprocessamento e sensoriamento remoto com levantamento de campo, apoiado por GPS.
O emprego de imagem com resolução que possibilite identificar os limites das propriedades
facili ta e abrevia o le\ antamento de campo.

Aptidão agrícola das terras

O Programa Micro bacias do Estado do Paraná adotou o sistema de avaliação da aptidão


agrícola das terras proposto por Ramalho Filho e Beek (1995), com algumas adaptações.
Segundo Pereira e Lombardi Neto (2004), a utilização deste sistema oferece algumas
vantagens, como: usar diferentes níveis tecnológicos ou de manejo do solo; modificar,
ajustar ou incorporar outras variáveis e fatores de limitação, acompanhando assim os
avanços do conhecimento ou exigência do nível de estudo; adaptar e aplicar em diferentes
escalas de mapeamento; viabilizar a redução de limitações, pelo uso de capital e tecnologia,
distinguindo a capacidade de investimento pelos agricultores; e oferecer importantes
subsídios para a elaboração do plano de ação da microbacia. Para determinar a aptidão
agrícola das terras, o Programa Microbacias utiliza duas informações básicas: classes de
solo e classes de declividade. Estas duas informações são combinadas por intersecção,
\ ia geoprocessamento, operação esta que possibilita determinar a aptidão de cada gleba.
Por meio da determinação da aptidão agrícola das terras, o Programa Microbacias busca
identificar áreas de conflito.

Determinação das áreas de conflito


A sustentabilidade de uma microbacia, aqui considerada no seu tríplice aspecto
- ambiental, social e económico -, é grandemente influenciada pelo uso e manejo dos
recursos naturais, que deve respeitar o potencial de uso agrícola das terras. Assim, torna-
se importante, no planejamento da microbacia, identificar áreas cujo uso e manejo do
solo estejam em conflito com a aptidão agrícola das terras. No Programa Microbacias, a
identificação de áreas com conflito de ocupação é feita de forma automatizada, por meio
da intersecção do mapa de aptidão das terras com o mapa de ocupação atual do solo.
A intersecção fornecerá um novo mapa, em meio digital, onde cada polígono terá as
informações da aptidão e ocupação do solo, permitindo assim identificar em qu ~ áreas o uso
e ncontra-se em desacordo com a aptidão, portanto, em situação de conflito. E necessário
ressaltar que nesta etapa não são considerados os conflitos com legislação ambiental,
mas apenas com a aptidão agrícola das terras. Na Microbacia São Roque, 16,3 % da área,
corresp ondendo a 514 ha, estão superutilizadas em razão de apresentarem limitações de
solo e declividade e estarem sendo ocupadas por explorações incompatíveis com estas
limi tações, portanto, submetidas aos riscos de degradação (Quadro 6 e Figura 6). Para este

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MAN EJO E A C ONSE RVAÇÃO DOS R ECURSOS I\IATURAfS SOB O · · · 609

estud o d e caso, considera -se á rea de confl ito aque la onde es tá o orre nd o um a oc u~a_ção
al é m d a sua a ptid ão, porta nto uma c;u pc ru ti lização. Áreas d s ubutili zação o u mél xima
utilização são conside rad as á reas se m co nflito. O mapa de conflito p d e rá ser ob e poGto
ao mapa fundiári o, o qu e possibilita rá identifica r tamb m que propried ad es aprec;enta m
conflitos de ocupação do solo. A id entificação e lo alizaçào das á reas d co nfl ito tê m como
propósito informar ao profissional res ponsável pelo plan jamento da microbac,a pa rJ_q ue
áreas e para quais agricultores deve rá ser propos to mod ificaçõ 5 na ocupação, com vis tas
a ajustar a ocupação do solo com a aptid ão das terras.

lunldplo de Realeza - PR \ t urudpto d" l<alaa - PR


+ M irrobada Soo Roque (3148 lu,) + '-li< robaci.a Slo ~ (J 148
d• ª"",. •
,,n/lJ\n ho-9• ~ A?r
Coníllto roma aptldllo cln~ ll!l'TU

c:::J Per1metro
/.\/Rios
□ rmmetro
Ãreas de conflito
Confilto na API'
- Confllto
Sem ronlllto
= Sem rorúllto
Conflito (APP C'OIJ'I cultura5 a,,113 • ~ .e 1,,_,nlMtnru,.J

Figura 6. Mapas de conflito entre a ocupação atual do solo e a aptidão agrícola das terra- (e5querd a )
e de conflito de ocupação atual do solo nas áreas de preservação permanente (direita) da
Microbacia São Roque, município de Realeza, PR.

Tendo em vista que a legislação ambiental estabelece a neces idade de proteaer


ambientes localizados, por exemplo, ao longo dos cursos d'água e no ento rno de na cente ,
a metodologia empregada no Programa Microbacias para d e te rmina r á reas de conflito
prevê a identificação dos conflitos de uso nas áreas de preservação perma nente (APP)
da microbacia. O mapa de conflito de uso nas áreas de APP d a microbacia (Figura 6) é
gerado para as áreas no entorno dos mananciais d 'água de superfície (n ascentes, rio , lago,
represas), conforme as seguintes etapas, todas executadas por meio do geo proces amento:
elaboração do mapa das áreas de APP gerado a partir de um buffer n o e n torno do
mananciais d'água, com largura determina pela legislação vigente; e in tersecção do mapa
das áreas de APP com o mapa de ocupação do solo. Na Microbacia São Roque (Fig u ra 6), a
áreas com culturas anuais, pastagem cultivada e sedes de propriedad e fo ram inclu ída na
categoria de conflito de uso da APP, enquanto as áreas de flore ta nativa fora m definida
como sem conflito. O quadro 7 indica que 192 ha de APP, ou seja, a proxima d a men te 5_ ":i da
APP, encontra-se em conflito de uso, portanto, em desacordo com a legi lação am biental, e,
deste percentual, 69 % corresponde ao conflito do uso da APP por cul ti o anuais.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


610 NILVANIA APARECIDA DE M ELLO ET AL.

Quadr_o 6. rea d conflito cntTe a ocupação atual d o solo e a aptid ão agrícola das terras na microbacia
o Roque

Formas de conflito Área Área


ha %
Conflito de uso (Superu tilizaçào) 514,3 16,3
Sem conflito de uso (máxima e subutilização) 2 633,7 83,7
Total 3148 100

Quadro 7. Área de conflito de ocupação atual do solo nas áreas de preservação permanente (APP)
na microbacia São Roque
Formas de conflito Área Área
ha %
Conflito de uso (APP com cultivas anuais) 135,0 36,3
Conflito de uso (APP com pastagem) 41,0 11,0
Conflito de uso (APP com benfeitorias) 20,0 5,4
Sem conflito de uso (APP com floresta nativa) 175,7 47,3
Total 371,7 100

Levantamento de pontos críticos da microbacia


Experiências já consolidadas evidenciam que de modo geral as microbacias,
especialmente aquelas onde o solo é explorado de forma intensiva, apresentam pontos
críticos com acentuada degradação. A seguir, são apresentados pontos críticos que podem
decorrer de um fator isolado ou da combinação de diferentes fatores:
- Degradação química do solo: Pode ocorrer pela redução da concentração de
elementos minerais no solo, decorrente da exploração intensiva das terras ou por processos
erosivos intensos, ou pelo aumento da concentração de determinados elementos químicos
considerados nocivos aos seres vivos.
- Degradação física do solo: Pode ocorrer pela redução da espessura do solo,
particularmente do horizonte A, pela ação da erosão hídrica ou pela redução da porosidade
do solo por deformação da sua estrutura interna, comumente denominada de compactação.
- Degradação do sistema viário: A existência em estradas de pontos com degradação,
além de prejudicar a funcionalidade do sistema viário da microbacia, tem se transformado
em locais de irradiação dessa degradação para as áreas adjacentes, por efeito da erosão
hídrica, podendo ocasionar o surgimento de grandes voçorocas. Áreas de lavouras,
especialmente aquelas que não possuem práticas de conservação do solo, geram escoamento
s uperficial, que quase sempre atingem as estradas, degradando-as.
_ Áreas de mineração: A extração de areia, material argiloso, cascalho via de regra se
constitui em causa de degradação local, além de, em muitas situações, responderem pelo
surgimento de processos erosivos nas áreas adjacentes.
_ Pontos de erosão e de assoreamento em mananciais: Locais ao longo dos cursos
d'água pod em apresentar processos de desbarrancamento acentuado, especialmente em
locais onde O solo possui elevada erodibilidade ou encontra-se sem cobertura vegetal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü M/\N EJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAI S SOB O · · · 6 11

Em razão dis to, é comum os cursos d'água sofrerem assoreamento do I ito. ascentes
e outros mananciais como açudes e represas também podem esta r asso reado , com sua
funcionalid ade comprometida e até mesmo suprimida .
- Poluição pontual dos mananciais: Muitas propriedades rurais têm uas des e a té
outras benfeitorias como pocilgas e estábulos estabe lecidas próxi mo aos cu rc;o; d' água,
com o lançamento de dejetos e esgoto doméstico d iretamente nesses mana nciai . E com um ,
especialmente nas microbacias que contem áreas urbanizadas, os cur os d'água ·ere m
utilizados para descarte de lixo ou para lança mento de esgoto doméstico o u indu triaL
Entretanto, mananciais d'água podem ser utilizados para abasteceT pu lveri zadores,
largamente utilizados para aplicar agrnqu(micos nas lavouras, cons tituindo-se em risco de
contaminação destes mananciais.
- Depósitos irregulares de embalagens de agroquímjcos: [icrobacias o nde
agroquímicos são empregados intensivamente (inseticidas, herbicidas, fungicida etc.),
sem que haja um serviço organizado de recolhimento das emba lagens vazias, podem
apresentar locais de concentração destas embalagens, se con titu i.n do em ponto de
contaminação ambiental.

Planejamento de ações
As informações obtidas na fase de diagnóstico permitirão planejar as ações
necessárias para a sustentabilidade ambiental, econômica e social da microbacias, q ue
devem prever medidas que possibilitem a recuperação e conservação dos recursos natu rais.
Assim, o plano de ação deverá ser concebido com o propósito de garantir sustentabilidade
a todos os processos produtivos conduzidos pelos agricultores da microbacia. Do ponto
de vista do controle da erosão hídrica, as medidas a serem implantadas devem ter um
enfoque sistêmico, de tal forma que possibilitem controlar todas as fases deste processo, o u
seja, a desagregação do solo ocasionada pela chuva ou pelo cisalhamento do escoamento
superficial (1 ª fase), o transporte de sedimentos pelo escoamento uperficial (2ª fa e ) a
deposição dos sedimentos transportados (3ª fase). As ações planejadas deverão considerar
a necessidade de serem adotadas pelos agricultores, não apenas de forma individual, mas
também coletiva. Assim, o planejamento das ações para a microbacia, além de propor o
que produzir, considerando a aptidão agrícola das terras, deverá também indicar q ue
medidas conservacionistas deverão ser adotadas. O Programa Microbacias recomenda a
adoção de um plano de ação de caráter sistêmico, empregando técnicas que promovam a
recuperação e a manutenção dos atributos químicos, físicos e biológico do solo (práticas não
estruturais), combinadas com práticas estruturais de controle do escoamento superficial,
como o terraceamento.

Práticas não estruturais de manejo e conservação do solo e da áoua


t,

Recuperar e manter a qualidade dos atributos físicos, químico e biológicos do olo ~


reconhecidamente importante para o bom desenvolv imento das plantas. Por ua ez, 0
suficientemente conhecidos os efeitos benéficos que o bom desenvolvimento das plan ta
proporciona à conservação do solo e da água, por meio da proteção do solo pelas p lan t
vivas ou pelas fitomassas culturais residuais e pelo aporte de C na su perfície do s lo, via
fitomassas culturais residuais e no interior do solo, via sistema radicular. A emeadura

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


612
NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

direta com rotação de cultura , visando à diversidade e ao elevado aporte de biomassa,


associado ao adequado aporte no solo de corretivos e fertilizantes, é prática não estrutural
i~1 por:ante, quando o propósito é garantir ao solo boas condições físicas, químicas e
biológicas. Sistemas integi·ados de produção agropecuária, representados pela integração
entre lavoura, pecuária e floresta, ou pela combinação entre dois desses h·ês componentes
(integração entre lavoura e floresta, integi·ação entre pecuária e floresta, integração entre
Ia, oura e pecuária), também são práticas não estruturais de extrema importância para a
conservação do solo e da água.

Práticas estruturais de manejo e conservação do solo e da água

O escoamento superficial que se origina nas áreas agrícolas em uma microbacia


necessita de controle. Resultados de pesquisa e observações de campo pelos profissionais
da área e ainda por produtores rurais indicam que a forma mais exitosa para controlar
o escoamento superficial nas áreas agrícolas é associar um conjunto de práticas capazes
tanto de controlar a velocidade do escoamento quanto de armazená-lo. O terraceamento,
corretamente dimensionado e integrado às estradas rurais, é fundamental no controle do
escoamento superficial e da erosão hídrica. Urna medida reconhecidamente eficaz, quando
se trata do controle do escoamento superficial, é associar a semeadura em nível às práticas
estruturais. A semeadura em nível tem a capacidade de produzir rugosidade superficial,
uma condição importante para a retenção da água na superfície do solo e, por consequência,
para o controle do escoamento superficial e para a infiltração da água no solo.
Nas regiões com períodos de sazonalidade acentuada de chuvas, como na Região
ardeste do Brasil, e com necessidade de controlar o escoamento e de armazenar água,
também podem ser incluídas como práticas estruturais as barragens de contenção de
sedimentos e as barragens subterrâneas. Outras práticas estruturais que podem ser
utilizadas, dependendo dos atributos de determinadas áreas, como declividade das
encostas e presença de pedras, são os cordões vegetados e o enleiramento de pedras.
Um procedimento que aumenta a eficácia das práticas estruturais no controle da
erosão hídrica é instalá-las a partir dos divisores de água e por meio delas integrar todas
as áreas da rnicrobacia ocupadas por atividades agrícola, independentemente das divisas
entre propriedades. As divisas entre propriedades, principalmente nas áreas em que há
o emprego da motomecanização, quase sempre se constituem em foco de erosão hídrica,
agravado quando as divisas se transformam em locais de saída da água armazenada nos
terraços.

Recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL)


A manutenção das Áreas de Preservação Permanente ou a sua reimplantação é
uma das maiores dificuldades no planejamento integrado em microbacias hidrográficas,
principalmente no contexto de pequenas propriedades, onde geralmente o relevo é
acidentado e o padrão de drenagem é denso. E desejável que a recomposição de Área
de Preservação Permanente, e sempre que possível, da Reserva Legal, seja feita de forma
integrada em toda a rnicrobacia, visando maximizar os efeitos ambientais. No entanto, é
preciso ter em mente que a responsa_bilid_ade pel_o não cumprimento da legislação vigente
é individual e recai sobre o propnetár10. Assim, é fundamental que, subsequente ao

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS SOB O .. · 613

planejamento da microbacia, seja feito O planejamento ind ividua l de _c ada pr~p ri_ed ade
e que em conjunto com cada agricultor sejam ava li adas as estratégias econo mica , c1
dispon ibilidad e de mão de obra na propriedade, a poss ibilidade de ucessão e os planos
familiares em méd io e longo prazos para então definir-se a recomposição da fl o ra.
Em alguns casos, a propriedade já apresenta Área de Reserva Legal e de Preserva~ão
Permanente, bastando poucos ajustes para que seja atingida uma situação id a i. ~ uitas
vezes, este ajuste não é fácil ou bem visto pelos agricultores, mas deve ser sempre enfatizad o
pelo técnico. Mesmo não havendo mais a necessi dad e de recomposição da reserva lega l,
permanece a necessidade de atendimento ao potencial de uso agrícola das terras, bem como
a necess idade d e racionalizar-se o uso dos recu rsos natura is. Nem sempre a agricu ltu ra
praticada por extensão é rentável. Em alguns casos, é mais re ntável manejar correta mente
as á reas adequadas ao cultivo anual que pulverizar os recursos em diversas áreas que darão
um baixo retorno econômico e levarão a propriedade a um balanço ambien ta l negativo.

Organização social
No planejamento conservacionista com enfoque em rnicrobacias, a orgaruzação dos
agricultores é fundamental para o sucesso do empreendimento. Um grupo organizado
tende a manter-se mais coeso e fiel em torno de uma meta, tem maior capacidade de
disputar mercado, consegue melhores preços, tanto para compra como para venda, e pode
chegar a superar as dificuldades impostas pela estrutura fundiária, otimjzando os recursos
naturajs disponíveis.
Borges (2013) avaliou o desempenho de uma rnicrobacia rural local izada no sudoes te
do Paraná, onde os agricultores, sob orientação da empresa de extensão governamental,
reorgaruzaram seus sistemas de produção para proceder à readequação ambiental da
microbacia, onde corre o Rio Manduri. A microbacia era composta por 22 propriedades,
todas classificadas como pequenas propriedades, ou seja, com menos de quatro módulos
fiscais. No Estado do Paraná, cada módulo fiscal equivale a 20 ha. A maior propriedade
envolvida no projeto tinha 68 ha; e a menor, 6 ha. Na primeira etapa, ocorrida em 2002,
foram implantadas as cercas para proteção do ambiente ciliar, demarcado em concordância
com a legislação vigente, que previa um mínimo de 30 m para cada margem do rio. A
maioria das propriedades precisou isolar áreas que antes se encontravam sob cultivo
anual. Em média, todas as propriedades da microbacia passaram a ter um mínimo de 25
% de sua área sob preservação permanente. Na sequência, foram instituídas as mudanças
no s is tema d e produção, incluindo-se rotação de culturas e cuJ tivos perenes nas áreas
de baixa aptidão. Dez anos após a implantação do projeto, apenas quatro propriedades
afastaram-se completamente do planejamento inicia l, embora tenham mantido as áreas
d e preservação permanente. Com relação à adoção de práticas como rotação de cu lturas,
70 % das propriedades envolvidas seguiram o que foi planejado inicialmente, relatando
apenas pequenos ajustes ao longo dos 10 an os de projeto. Quanto às práticas mecânicas
de conservação do solo e da água, 60 % das propriedades envolvidas aderiram a estas
técnicas, que continuaram sendo mantidas após 10 anos de implantação. A principal
atividade econômica na microbacia deixou de ser a produção de g rãos e passou a ser a
pecu á ria le iteira (60 % da renda gerada na rnicrobacia). A agricultura representa apenas 22
% da renda. Na figura 7, apresentam-se os dados sobre as relações sociais e de manutenção
do capital social na Microbacia Mandmi.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


614 NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

O 10 20 30 -lO 50 óO 70 so \>O 100


Pomml ar,em ( %)

Figura 7. Capital e relações sociais obtidas em 22 famílias da comunidade Manduri, Marmeleiro, PR.
Fonte: Adaptado de Borges (2013).

A maioria das famílias não apenas seguiu cumprindo as decisões tomadas de forma
coletiva como procurou fiscalizar as demais quanto ao cumprimento das metas e ações
estabelecidas pela comunidade. A maioria é ligada a algum tipo de estratégia associativista,
com destaque para a cooperativa, que auxilia nos processos de compra e venda que ocorrem
na Microbacia. Além disto, ações de permuta com os demais moradores da comunidade
passaram a ser frequentes, especialmente a permuta de mão de obra, implementas, insumos
e sementes.
Estes dados apresentam que o planejamento conservacionista do solo e da água
com enfoque nas microbacias exige muito mais esforço que o planejamento isolado
das propriedades. Porém, em sua execução, pode ocorrer a formação de um extenso
capital social, que fará com que as decisões tomadas pelo grupo se mantenham coesas,
mesmo quando o sucesso da rnicrobacia significa abrir mão de vantagens individuais
imediatas.
O manejo e a conservação dos recursos naturais em uma rnicrobacia caracterizam-
se pela complexidade, uma vez que este espaço geográfico normalmente apresenta
variações expressivas de solo, relevo, uso da terra, técnicas de manejo do solo,
sistemas de produção etc. Na dinâmica de uma microbacia, interferem agentes
externos diretamente interessados nos recursos naturais (solo, água e florestas) e nos
produtos gerados (alimentos, energia, água, fibras, madeira), quanto os interessados
em comercializar insumos e equipamentos demandados para o manejo dos recursos
naturais e para diferentes processos de produção.
Experiências têm evidenciado que os melhores resultados de trabalhos em
microbacias foram obtidos quando ocorreu a participação efetiva dos agricultores,
desde a escolha da microbacia a ser trabalhada até as etapas do planejamento e gestão.
Todavia, é também importante a participação de outros agentes como prefeitura,
cooperativas agrícolas, sindicatos rurais, empresas ligadas à geração d e energia elétrica
e ao abastecimento público de água, órgãos responsáveis por legislações ambientais,
instituições de ensino etc.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E /\ CONSERVAÇÃO DO S R EC UR SOS NAT URA l S SO B O · .. 61 5

Planejamento conscrvacionista das propriedades rurais


Embora não seja o objeti vo deste Cél pítulo tratar do p laneja mento conservacio n i la
das propriedades q ue compõem a micro bacia, é importante c;a lientzir q u esta e~a pa
é fundamental para o êxito elas ações p lanejadas. Via de regra, as açõe previstas
para a recuperação e a conservação dos recursos na turais de uma m icrobacia ão da
responsabi lidade de cada agricultor. No entanto, o planejame nto conserv,icion is ta d us
propriedades rurais deve ter como base o plano de ações da m icrobzi cia, que deve c;er
comparti lhado pelas diferentes instituições que ali pre tam assis tência técnica. A ação
compartilhada corrobora na integração entre instituições, cond ição qu te m e apresent,HJo
imprescindível para o êxito dos trabnlhos em microbacia.

Monitoramento das ações executadas


Programas consistentes de monitoramento e avaliação devem ser im p lantado
permitindo assim o constante ajuste e redirecionamento das ações. esses progra mas de
monitoramento, o ideal seria observar um número máximo de va ri áveis envolv id as, como
va riáveis de qualidade de água e de solo, produtividade agrícola, recupe ração da cobertu ra
vegetal em á reas de preservação permanente, além de fato res socioeco nõ micos com o rend.:i
e emprego da mão de obra. Porém, quando há limitação de recursos para ta l, é neces á rio
definir que variáveis permitem melhor um acompanhamento. O que tem sido e mpregado
no Programa Microbacias no Estado do Paraná é a escolha de ind icadores q ue seja m
integradores das principais ações realizadas na Microbacia. Es tes indicadores d everão
ser tes tados, calibrados quanto a sua sensibilidade e representatividad e e monitorados,
preferencialmente com auxílio/acompanhamento da sociedade envolvida, es pecialmente
da sociedade local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O correto manejo e conservação dos solos agrícolas ou urbanos deve bu car re u i ta dos
que vão além daqueles de caráter eminentemente econômico, visando a o timização de
aspectos ambientais, capazes de atingir a sociedade como um todo. Pen a r o manejo a
conservação do solo a partir do enfoq ue da microbacia, seja ela rural ou urbana, exige um
esforço de integração de diversas técnicas, diferentes áreas de conhecimento e diferente
segmentos da sociedade.
A microbacia hidrográfica contém uma diversidade de relevo, solo e drenaoem
muito mais complexa que aquela verificada na escala de propriedade rural; por fo,
seu planejamento integrado exige uma série de requisitos com o quais os profissionai
gera lmen te não estão habi tuados. No entanto, o foco na microbacia não deve permitir
que aspectos específicos de cada propriedade fiquem relegados ao ·egundo plano. O
a te ndimento à legislação ambiental, por exemplo, deve ser executado em cada uma d a
prop~iedades _en~o~vi~as, porqu~ en~bora ~ !_egislação an:biental trate de atender aspecto
r:l~c1onados a ~111anuca ?ª bacm h~dro?rahc~, as pe~~hdades ão aplicadas eguindo a
log1ca d a propriedade privada. Assim, e preciso equilibrar a capacidade de u d •o lo
com os as pectos sociais de cada microbacia e propriedade, de forma que es as •iga m

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


...

616
NILVANIA APARECIDA DE MELLO ET AL.

P rod utiva onomicamente, ma sem degradar O ambiente. Embora o divisor de águas


deva ser ob decido como limite t -cnico da mkrobacia, as relações sociais, às vezes mes mo
de parente o que po sam existir, devem ser respeitadas. Essas relações irão interferir
em di~,ers_o outros fatores, desde as possibilidades de busca de crédito ou aquisição de
maquine no em si tema cooperativo até o correto traçado das estradas e acessos.
Todos este aspecto exigem a atuação de um profissional com perfil integrador,
capa_z d e . realizar análise que superem a esfera técnica e avancem nos aspectos sócio-
ambienta1 , úruca forma de garantir o desenvolvimento sustentado. No entanto, a 1naioria
da escolas de Agronomja, assim como as demrus áreas de conhecimento, continua
forman?o profissionais de forma fragmentária e disciplinadora, numa lógica reducionista
con_tr~n~ ªº:, problemas verificados em campo. Muitas não possuem mais em suas grades
a disciplma Conservação do Solo", fundamental parn a compreensão dos processos que
le\ arn à degradação ambiental. Talvez o primeiro passo para superar a visão do manejo e
da conservação do solo restrito à propriedade rural seja justamente oferecer ao profissional
que está sendo formado urna sólida base conceituaJ em conservação do solo, considerando
a microbacia como instrumento de planejamento conservacionista.
O caráter sistêmico da rrucrobacia e a abordagem interdisciplinar devem ser
considerados nas interpretações técnicas. O atual desafio do ramo da Ciência do Solo que
trata da Conservação do Solo e da Água é fornecer os elementos básicos necessários para
uma abordagem diferenciada daquela que se vê habitualmente.

LITERATURA CITADA
Amhold S, Lindner S, Lee B, Martin E, Kettering J, Nguyen TT, Koellner T, Ok TS, Huwe 8.
Conventional and organic farming: Soil erosion and conservation potentia] for row crop
cultivation . Geodenna. 2014;219-20:89-105.
Berto! 1, Mello EL, Guadagnin JC, Zaparolli AL, Carrafa MR. utrients losses by water erosion. Sei
Agric. 2003;3:581-6.
Berto! OJ, Favaretto N, Minella J. Dinâmica da água no meio agrícola e sua relação com uso e manejo
do solo. B Inf SBCS. 2014;39:42-7.
Borges JG Impactos socioambientais do ICMS ecológico em propriedades ribeirinhas da Comunidade
Manduri - Marmeleiro-PR [dissertação]. Pato Branco: UTFPR; 2013.
Bortolozo FR, Favaretto N, Dieckow J, Moraes M, Vezzani FM, Silva EDB. Water, sediment and
nutrient retention in native vegetative filter strips of southern Brazil. Inter J Plant Soil Sei.
2015;4:426-36.
Brasil. Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama. Resolução CONAMA nº 303. Diário Oficial
da União de 20 de março de 2002. Brasília.
Brasil. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras
providências. [acessado em: 02 _nov. 2015. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/
ccivil_03/ _Ato2011-2014/2012/Le1/L12651.htm.
Brasil. Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema acional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Brasília, DF. 1997. [acessado em: 10
nov. 2015] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/1eis/L9433.htm.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XVIII - Ü MANEJO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAI S S OB O · · · 617

Bras il. Prog ra m a Nacional d e Microbacias Hidrográficas - P1 M H (Decre to " 94.076, d e 05 ~e _ma_rço
d e 1987, Ins titui o Prog rama Nacio nal de Micro bacias Hid rog rá ficas e d á o u tras p rov id encias)
'1 987.

Bartham J, Ba lance R. Water quality monitoring - A practica l g uid e to the des ig n and imple m e ntation
of freshwate r quality s tudies and monitoring programmes. Lo nd o n: E & FN Spo n; 1996.
Bragatto RD. Av aliação dos impactos socioeconômicos d a impl antação d o código fl o res ta l n a h<1c ia
do rio Conrado no Sudoes te do Paraná [dissertaçãoJ. Pa to Bra.nco: UT FPR; 2011.
Camargo JA, A lonso A. Ecolog ical and toxicolog ical e ffec ts of inorganic nitro gen pollu tion in aqua tic
ecosystems: a global assessment. Environmenta l lntem a tio na l. 2006;32:831-49 .
Casar in RD. Contro le d e erosão em estrad as rurais não pa v ime ntad as, utiliza ndo s i te m a de
te rraceamento com g radiente associado a bacias d e ca ptação [d isse rtação] . Botucatu:
Univers idade Es tadual Paulis ta "Ju Lio de Mesquita Filho"; 2008.
Chapman D. Water qua lity assess ments - A guide to the use of b io ta, sed ime nt a.nd wa te r in
e nvironmenta l monitoring. 2"'1.ed. London: Spon Press; 1996.
Danjel TC, Sharpley AN, Lemunyon JL. Agricultura] phosphorus and e utro phica tio n : a sym posium
overview. J Environ Qual. 1998;27:251-7.
D e rpsch R, Roth CH, Sidiias N, Kopke U. Controle da e rosão no Paraná, Bras il : Siste mas d e cobertu ra
do solo, plantio diieto e p reparo conservacionis ta. Londrina: IAPAR; 1991
Diebel MW, Maxted JT, Robertson DM, Ha.n S, Za.nde MJV. Enviionmenta l pla nning for agricultu ra!
nonpoint source pollution reduction líl: assessing p hosphorus and sedim e nt re ductio n potentia l.
Envirnn Manage. 2009;43:69-83.
Doran JW, Coleman DC, Bezdicek DF, Stewart BA, editors. Defining soil quali ty for a s us tainable
environrnen t. Madison: Soil Science Society of America/ American Society o f Agro n o m y; 199-t
(SSSA Special Publication, 35)
Empresa Bras ileiia de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Centro Nacional d e Pesqws as de Solos.
Sistema brasileiio de classificação de solos. Rio de Janeiro: 2008.
Fang NF, Sh i ZH, Li L, Guo ZL, Liu QJ, Ai L. Toe effects of rainfall regimes and land use changes o n
runoff and soil loss in a sm all mountainous watershed. Catena. 2012;99:1-8.
FAO. O estado da segurança alimentar e nutricional no Bras il: u m retrato muldimens ional. [Relató rio].
Brasília: 2014. Disponível em: www.fao.org.br/ download/ SOFI_ p .pdf.
FAO. The s ta te of the world's la nd and water resources for food and agriculture. 2".i e d. Rome: 2015.
Fiener P, Auers wald K. Seasonal variation of grassed waterway effectiveness in reducing runoff and
sediment delivery from agricultural watersheds in temperate Europe. Soil Till Res. 2006; 7:-18-5 .
Gomiero T, Pimentel D, Paoletti MG . Environmental impact of different agricultura ! manao-em en t
0
practices: conventional vs. organic agricu lture. Crit Rev Plant Sei. 2011;30:95-12-l.
Guerra AJT. Encos tas e a questão ambiental. Ln: Cw1ha SB, Guera AJT, o rganizadores. A questão
ambie ntal - Diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Bras il; 2003.

Haan CT, Barfield BJ, Hayes JC. Design hydrology and sedimentology for small catchments . San
Diego: Academic Press; 1994.

Hart MH, Quin BF, Nguyen ML. Phosphorus from agricultu ra! land and direct fertilizer effects : a
review . J Environ Qual. 2004;33:1954-72.

Hay garth PM, Jarvis SC, ed itors. Agriculture, hydrology and water quality . Cambridge: C AB
Inte rna tional; 2002.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1 11 1 r t 1 1 I 1 / I• r rt ,., r 11r.1-r , 1

"' """' 1 .,,, 1, . 11 11 , ., • • , " ., (


. ..
., 1' 1l ., 1 ~ I

f ,, ,, ,,, 1.

l l111•,1•1n• 11 1
•1t1.,
1 f
' ,1 11 T• 1• • f • 1,. 1 •i' ' , 1 f f. • , ttr j• r 1 11 1 • r ' ; .
1 •IJ'lflr • 1 1t1J ' { '"f"I! ,11Tll Ili i '.J~t~

1, • 11 Ir 1,,,, · ,,. 11 ' 11!•1" 11 li l ~ • t', I • t, · ,,. ~ , ,' ·1 .._"'.. • , • -

.,, f ,, ·1•r1•1 -:!i'r'1 1 , r 1: 1: °}'


i ., I· , d11,11 lr,1, 1''·''' ., \ \ .li•' ,,, ' •n .• ,,,,.,.,,,:d p 11t, ri,,, d 1 [fl •.1 tr•1n
.,ri lt 1

1 1 ) r1tl f flí /',,,,._ JfJ<' /4

( C'! '• 1, li l'll1dnl, r 1· \ ,. • 111 1 ,1 Ir, ( 1 11, 11 ,lfll Ir t,,q1wiri1 1)t, \-1,rrru,i) í'"'" 1,,. a.
11trl1!;\tr1 1 1 , l.1 tf1, ,ll,, ri, 1•·11, 11, •1t , n,1d, ,,1p,v 1d,1 d , ,t, UY1 \'1,r,<,-i, .1(, C,,-
B ;; ,1 , •, ., ,1, r 1, •11, ,. d, , •~,(,, ..,, q ·,

l 111 1,-, 1 " ~ 11 111,·1 1A ' ,Ili li Ili' 111 j 1'l \ 1 1I 1111 •g f 111 " II J;lll•'l'f' 2 H ,
Ht1, 1~ < "r11p.rr11 1•r·

11 , ' /1 .111r /h ">" 1,1111• l.1, ! 1 11 llltlu, ·n , Ili)' tlll' 1•ff 11 ,lf \ tJ Í Vl' Y,l'f ,1 1f •d l>uffr•r', flíl <.(•J11Tl(-
1,. Pl' 11 1f / r c•\ ' 11' •.•11ui ,ln,,h 1 11 Ili 111111 (Ju,tl ; Ol )H,17 1r,r,7 7~
l,,n ' ' ' I 1 ', 'rl1 ,1· .J , -t>~U.i• •..11111, •111,, d, · h ,1, 1,1· 11,11 1•,11l.1', J1 • ord,.n 11, •ro"ob pl,1nf1Ctd1r<·ln(11m
1 •111 1• r r ,11. ,.. 1d 1 "'rt,tt,. , 11 ~- nl.1 1,11 1.1 1 111\ 1•1 , f.1,I, , 1 ,, 11 •1,ti J, ,1111.1 M;,11,1, 21l1 C..

1,ll'h'!I· \\ ,111111, ,.,, , ".1 I', ••..,.,, l 1.. 11,1., 1 1 li, •, 1 •>I l.rnd 11-.., , 011 ,111n11,tl r u111 ►tl. n.1 n,I 1 ,...... 1n
1 º'"' . 1
1
d ·v1, .. 1it , •11,)111 ~" A lllt•l,1 ,111Jh 1· c1l pl11t 11.11,1 P1og1 f'll \', ( ol'll/~ I 211] :i.:~,," J "'

1.1110 !\.1.ih't• ~, <,1111.11 1, A n•, 1• \\ ,,J tlw c•IJI', t ,,1.1g11111lt11r,1I ,111d 111du-..t11.1I , , 1nt.1n11n.Jt11,n, n
th, 11,, .. J)df.11'1111., ,Hl\1 ,tlJltf, 1 l ,11.11 1 m llllll ).1)111 ,7 1· 1X/ 2W1
M.ixt.,1 ll l)1d1t• I M \ /~11d,·11 1\.11\ I .Jl\ lt'l)lll lWlll.11 pl,rn11111g 1111 ,1 g n111IIL11,ll 111111-r 111nt -..,lur,,
l"1llu t 1,,11 r, ,111, 1,,,11 li h,,I , 1 dnt: \-'1,1 1,·r. lwd " "'', 1111111h,•1 ,11 \\;J l,•1-..lwd., .1n d 1rn f' kn1, 11t t11 n
..11<,r1 1 ,., .,.,1, . 1. ,ur, 2111N.-n , ,11 ...

klutt ,· .~111 ,1-..h \\ ,1d,· )l, l l'lt•JI 1> \ j ,11w .... " ll l~.,g,•1 A l.1111..111~ l.11 d 1111 , ·1 .inJ \,_tt·r
u~l11\ l \\ ) L li l 11• VI , ll·r..., 'I pi\ \, .11,•r .... lwd :-. l 111 mm l,m1l A . . :-01'. 21 11):C, ll1:" ::i-i -4
, 1,•r11•1, C..l l .'-.1 .,u1, '\(. B1-...,11. J't 1 B.ul , ,.....1 t, M< l 11111,• () 111-1111 . 111 l.h ,. 1 11111l l. n~i :,,11111,,
11 . ,utlu 11, h1,111 .....,,,11111 Jv.~ :!Ili"> J'l2 ··, •-n
1.,,...,, c-1 l, ,, >'', ,J" J ,, <11111 t1lll\ 1J,1J, , , 111h1 p ri ►• , •.,., .. :-011, t.1 1 ,k p r 11c 111,1 L' ,1pr,'11-i1.-
J .. u,Ju,11 , ü• m,1d1 11.i J., ( llrl1 l unt1h,1 ll 'AH I )L 1'1'1-1

1,-n,•n LI r 11111·!!., /1' <...>u. l1,1.1ti, d .1 :,: 1 o1 t'm h.1c1J:-- l11drng nt1,·.1 rir, 1. u m ~·--.,e,, .1:1. lt
.,.-.t,,,,\ t\PII 1.i rutur Agrrn·1111 1/e-,,.·m ·nh l.:Ur. th lLlll ::!llll::! l "\J-

! 1 11 ,,JL ll'li' ,. M, 11, ,, ,J l 11.1•1,h,·n lt,1. ~ 11111-- 1>I~ Jd1·111111 .1 : , , 1· 1mpl11 o..1 ll\.~ .1r•. "'1 .. - ~ -~-
ili, .:J , .. 1 ◄ 1n lL.... d, ,.,.,Ju1i1·11t11,. • 11 b.i. 1.1. 11dr, 1~1.111l, '· l~,•1 Br.1 -- l 11°n. . ,1,, ~l-,._1- 31 lo.:'--,.

M,IIJ<~ .t.. t .., 1 • Ih" f'l l /\11;.:lu1111n 1 1 u 111:..,: lk t",, ,.., ~I \ ,A nr,1th 1 '
lh,-Li . ..,, t, m,- 111 ti, . h1 .~11Ji ,11, uh1r11p1l-. l 111 J A~r11n :!tll-1 :-- -

ill' t, d,d rro" IJlll _l..d ut1ll<'ll l.1üt1 l r111li., )u1 ,1 2111-1

MAN o CoN DA A GUA


•r J

,. : ' • . • • 1 .,.
.' 1,• '
1 • t.

•'' ., 1< ~ ,. f 1• , , , l •1 " ,·I

,..
. ,.
• 1 ' ' •:

•, r , • , r.· ', ..... ,, '

,,. \ '
. r. '• r,·'· \ 1 i ••• '1' .. . li r. '• "r · i,• r, • ,! ,,nJ••· ... ' , . .; ...... • ..., .
. .. . ,,.
j

i ,, 1 q, ,. 1 \ 'l '• ! .,
.,.., :; ,.. ' - • l
'
"· .... ,.. ' (lr , ... ' ••••• t

\ ºt'• f'\, 1
'
l • • 1• • l ::
'1P 1 • f 1, . . . ' '. ,.. • •• or '"

\lli.'11 p

r . ,_ l 1' ·"' ,· l . 1", l 1 1 li 1l ., "t l r "• ' ', ., . • l .,


,l~j , t!ll111v 1'" ,, \ 'f •'"' ,"r• \

r 1rm., \ l.11111. 1 ,,~...,_ .. r ,tt, ,, ,1, , r•1·1•'''' 1 ,, .,,.... '"


, .
' l' 11, ,,t•.h 1\'- l 11r•l!I• 1 ' i l i ,

,..)• t l ,1h •
1',•n•1r.\ 1 , ' !' (, H\ 1 '\. 1•11 1 1 \ 1 11 1 • •, I,• 1, tf·'•
ht:11.1r11111., r, 1h .q· 1 'tll ll

l'l '\""'"-ll, \I 111111'- 11 \ Ili\ ,. l ,I


:t\ '1l

r '"' ., l 'I) .. t-· . .....


l'ru, I 1•' l\1' 11 ,1 l "ilh • I' \ '•Ih II
'
r ,, t l fl •• •; • • '•"'

1 111h l\ '.I l

~. 11 n .,., \1 ~ 1 ," , 11 , , 11., \, . 1111 , k, ," 1. 11, d, 1. 1' •• i


n111r1, 111 ,.,.,.._ 1111d,•r ,, ,111 ,•1111 .. 11.il 111,I ,,,,,,,,,,, • ,, ••• ' r ... ;,-< • ,, • .,n 1 1 "
\t' I ,, , .. lt1fl", I ,v-. 1i •111 1 ' ► ', íl l 1<1111111,,,, i..,, lf• ·r·,.~ '-~,
i{il • . , 1' ~11 \J, r ,,,., ~,, , 1 '-1 ,111., 1 ( I' •.111
( ,1 1 ,1n •ll!1 l J)" • ,, ... 1 I 1 \,f .. ., ~ 11 :

;ur t.1, ,. w ,h•r rt•l. 1ll•d 111 l.ind li , , 1 l • \ ~ 111 1 11 1 'r l'l 1 ' l -...,•i, li ' lt n1 ~ ,, •• ,1. , . ,..
• , ~l'I it,I,•; pr111 l111111 ,11 111 .,,111li, r11 llr 1111 H,' f lr , , ,. •d . . r, " , ...
~

,,11111,ll lúlll,11,11, de, ,1,l,, h1.lr11l1,,:1.11 ,r ,, ,


.!J 1 \>, I l1 > ]IJÍ

':.Jr,wn.. IJI' \-1,.u" l'' 111h:'~1.1d11 .k t.l, .1, t,,. lv ,,,: 11.. ···~ ., l,l, .. ◄ •I •,\·
2J.•,; 1.J,,. Ut1ll'lll11i IA)) IJ1,p1 111~\'I TIi , :,1 r . ~• 1 u ,, ,h ·., u,
t • ,Í''l1'-i 1 Ji,!2] /J / 1li 10 p l i
4
'":-r...::-t-u·. ·., ,,a1,; ,l.1n.1,.;.1 n ~ · • ~• ♦°' l:lh,Cdl ~· u.••~-r ,1· - .. , , ~ J L;r 1 ....... "
-• J ' n r,., l h • ,r.,n •~~ 1 2.lr 1 1 ~,, 1-- ._., 2

-:>..r, •• -L !.,J l·rc·. i:rt <~. h l m1 ,..114'! •'• h.u ...-r • i,,

,1.;. ''~rr J,#nn ,,., '" 1


1 ,( "':,i;Cl'\, [•,

11
,. 1,. \ .,. t. .,
,.,
.!

M EJO e E Ç O Ou '.:,úlu e ü
llV Nl P R l /\ M - LL T 1\1..

~ll'lllhL'in l' r l R. S..·L\' 'in l k ls.r.rnwr \ :\ . :\ ~rku ltu r.,t dwmk.,1 n\lWL'tnl'nl th rough •' fil'ld -s in'
""·'"-'t:hl l in kn,-.,. ,11l ,uri.,l, ln-,il\,tl,~\: ,Hhl d i~trib11ti,,n ,,f
nit1-.,tL' in gn,11nd w ,, ll'r. Eiwimn
S,:i f 1 ·h1 ,t. 1 ~ -:;_;1(),N :-. . '

l .ü,L b 1. f u ushim., .·\ . SI. mur.1 1\. 1 i,ni:-tnm lt\'nds in \\'.llL'r qu,,li t~· in ,rn umh-r-pnpul,,tc d
w.,h.' ·h1•d ,\l\d inlll11•n1 ',,t 11 Yipi1,,1i:,n. \\·.,t1' r F1wiwn T1'('hnl,I. 2llll9;7:2<1.,-.'.lllô.
Tui lisi 1 '· :\ ~u,, 1 (' s1. uh, \ \ 1: l'nfn..•nt,\l\d1, ,\ ,·s..
1:'-L' I . 2·' .l'd. S,10 i\rl0s: RI~ 1 ; 2llll5.
i~,,
, .•,kr.1 ~.-\.. LL'i F1.,1t'r.,t '.'\" L .C\.''1 / L _ \!()\' i' 1,d (Anti) Ft1,r0st,1l - um ,1tcnt,,do ,\ s u s te ntabilid ade
e ,1 .1~ri1·tiltur,1 famili.n. ~,,mr ,-TL'rrit, ri0: R~'\. L'l' A~r. 201-t;tN:1-1 7.
't .m~ J'. - h:m~ , h.:tl Y. Lmd use imp.KI ç1n nitros-en discharse by . tr0.1m: a case s tudy in s ubtr0pi cal
h1lly T'l.."f.ll)n c1i hin.1. :'\utr ydin~ .-\sroLYl~syst. 2007;77:29-:;s
u,m , Binpwr R. A n:', i l'w r•f effectin' nc-.:-s ,f n ~gt'lative buffers on sedimenl lrapping in agricultural
,, ' .1:-. E("c•h~- :inlosy. 20 :x-t>:321-.3b.

Zanat.1 J~t, I ·reli EL, Dela torre \ I, Gimene. GR. Análise d o uso e ocupação d o olo na
àr-e.1.s de pn..'ser,a -Jci pem1anenl'e da microbacia Ribeirão Bcinito, apciiada em t cnica d e
~ pr mento. Re" Gron0rte. _()12;-:1262-7_,
Zeilh ier P, Lima EB:\:R. Lima GAR. pa tial pa ttems of water quc1lity in lhe Cuiaba river basin,
entrai Brazil. Emi.ron ~tonit As e_ . 2006;123:-11-62.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XIX - PLANEJAMENTO DE USO D S
TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS
Antonio Ramalho Filho 11

1
Embrc1pa aios, Rio de Janeiro, RJ . Consul tor indcpenJenh.'. E- m.iil : ar.i mal h f ii'~mJ1 l.cc,m.

Conteúdo

INTRODUÇÃO .............................................................................................. ... .. ... ... .......... . ...... _............. · · · · r>:!I


ZONEAMENTO E A VALIAÇÀO DO POTENCIAL AGRÍCOLA DAS TERRAS ....... . . ·-· ....... - ... - · .. b22
O zoneamento agroecológico .................................................................... _...........................--... - .. -- • -· •· h23
Avaliação da aptidão das terras para planejamento de u. o agrícola ................................. -· .. -· .. -··-··· h:!
Relação entre análi e de i temas integrados d produção, ava liação da aptidão e plane-jamt?nto de
uso das terras ........................................................................................... . ................. . ..... - . . .. . rr
Viabilidade de execução da ava liação da aptidão da terra , seu alcance e a phcabilidade ......._ ... . ... 2..
COt SIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ . ... -··· ___ .. . c('O
AGRADECll'vlE 0 ............................................................................ .......................................- ...... - ... ··- . _ _ _ f>lO
LITERATURA C ITADA ........................................................................................... ................. --·-· -· ·--- .. ···· ,J

INTRODUÇÃO

Para se fom1ular um plano de uso de terras com fins agrícola , é nec ário co nhecer
o nível e o tipo de tratamento que estão sendo dado à área em que tão. L o porque ·a
áreas podem estar com vegetação nati a, muita constituindo parte da fronteira a<>Tí ola,
sendo utilizada com agricultura ou, ainda, podem estar abandonadas, ap · u ·o. Em área
remotas, como as da Amazônia, por exemplo, ainda majoritariam nte m \·eo ta ·ã
nativa, o planejamento de uso agrícola só fará entido e executado na área indicadas par 1
desenvolvimento, por um zoneamento ecológico- ocioeconômico (ZEE). e e mplementado
pelo zoneamento agroecológico (AEZ).
Em áreas com desenvolvimento J.á consolidado, o zoneamento a rroecol · oico de\ e
o o
ser imple mentado como ferramenta de planejamento, com base na avalia ·ão do p tencia l
agrícola das terras. VaJe lembrar que um ponto importante, para ·e de ·envoh·er qualque r
tipo de ferramenta de planejamento de uso das terr , é a exi tência de um b.1.nc de dados
completo, com informação técnica referente ao mai diferente- a- p to env lvid -.
ponto de partida para a formulação do planejamento para m a.:rríc la ~ a avalia -J, d
potencial das terras, embora não exi ta um orte claro entre e · ·e d i tema ·. qu ·J )

Be rto! 1, De Maria IC, Souza LS, editore . ~l.lnejo e con:,erva J do ~olo e d.:i <lgtiJ. \'i -0 , 1, \1 ,: 5'i..: ,~•J JJc
Brasileira de C i~ncia d o o lo; 2018.
622 ANTONIO RAMALHO FILHO

c mpl m ntar s. Quem qu r que esteja envoh ido na avaliação da aptidão das terra estará
en\' lvid no planejamento deu O de terras em níveis regional, de imóvel ou d e produção.

ZONEAMENTO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL


AGRÍCOLA DAS TERRAS

O objetivo do zonean1ento ecológico-socioeconômico é de assistir aos tomadores de


deci ão no desenvolvimento de programas, tendo como foco identificar áreas prioritárias
para proteção do ambiente e aquelas com grande potencial para uso econômico - como
a mineração e, especialmente, a agricultura, para produção de alimentos, fibras e
biocombu tível. Portanto, há necessidade de se envolverem diferentes áreas de governança,
notadamente aquelas que cuidam de políticas ambientais e econômicas para produção
agrícola.
O zoneamento ecológico-econômico tem caráter tático, social, jurídico e político, por
ser usualmente a base utilizada pelos governantes, em diferentes níveis, na definição de
programas e planos. Tem, portanto, como premissa, o desenvolvimento sustentável de uma
grande área ou região. Sendo esse zoneamento um instrumento para o desenvolvimento
de políticas de planejamento espacial, tem como principais objetivos proteger o ambiente
e orientar os potenciais condutores das atividades econômicas para levar em conta essa
premissa (Brasil, 2002). Esse zoneamento diferencia e define não apenas as zonas com base
no diagnóstico dos recursos naturais e socioeconômicos, como também criam cenários e
mostra direcionamento; no entanto, não avalia nem identifica a aptidão das terras para
usos específicos. Como esse é um instrumento para o desenvolvimento de políticas de
planejamento espacial, toma-se importante o diálogo com a população local ou com
pessoas que se proponham a utilizar as terras nessa região. Ênfase deve ser dada a áreas
prioritárias para proteção ambiental, como as de ecossistemas sensíveis ou aquelas com
notável diversidade biológica.
Uma vez completo o zoneamento, o segundo passo é identificar as atividades mais
adequadas para as áreas consideradas aptas quanto ao uso econômico. Para agricultura,
deve ser complementado pelo zoneamento agroecológico (ZAE), que tem um caráter
essencialmente técnico e operacional por basear-se em levantamentos de recursos naturais
(solo, geologia, litografia, vegetação, hidrografia, topografia, clima), bem como nos recursos
tecnológicos disponíveis. Esse zoneamento, sim, indica a mais adequada destinação das
terras em termos de uso em bases locais. Tem como ferramenta básica a avaliação da aptidão
das terras em diferentes níveis tecnológicos ou níveis de manejo, visando diagnosticar o
comportamento das terras em níveis operacionais diferentes (Ramalho Filho e Beek, 1995);
além d isso, formula ações que quebram a espiral descendente de produção que, em geral,
resuJta em d egradação ambiental.
o zoneamento agroecológico, executado com base na avaliação da aptidão das
terras, e n a avaliação da aptidão climática da área em questão, é, na prática, o primeiro
passo no sentido da sustenta~ilidade e, tamb~m, o ~eio eficiente para indic~r o us,? ~os
recursos n a turais em harmorua com a proteçao ambiental e a esh·utura soc10econom1ca
da área em questão. Esse tipo de zoneamento e o zoneamento ecológico-econômico serão,
de forma s ucinta, discutidos mais adiante. Uma ampla abordagem sobre esses dois tipos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIX - PLAN EJAM ENTO D E Uso DAS TER RAS PARA F INS AGR ( COLAS
623

d e zonea mento complementares st;í dcscri tJ cm StrJpílsc;on et ai. (201 2)· Z AE' rnnis
dire tamente relacionado com o tema des te capitulo, e; rtí di scutido a s g uir com mais
dctc11 he.

O zoneamento agroecológico
O zoneamento c1groecol ógico (ZAE) te m como meta fornece r informação básic~ pa_ra
se empreenderem projetos de desenvolvimento no que conce rn e ao uso do te rntó no.
Ele apresenta alternati vas para tomadores de decisão, visando o uso adequ il do e
s us tentável das terras. Com tal propósito, inclui ati vida des de co leta de dados biofíc;icos,
e socioeconômicos, sistematizando-os e ,rnal isando-os, bem como to rn ando a informação
disponível para pessoas dos segmentos envol vidos no zonea mento e, consequentem nte,
no processo de planejamento de uso das terras. O zonea mento agroecológico é o resultado
do cruzamento de dois segmentos, o da avalic1ção da a ptid ão d as terras, como está de cri to
em Ramalho FiU10 e Beek (1995), e o da avaliação da ap tid ão cl imática e do ri co climc' tico,
como é definido por Sans et ai. (2001).
Essa modalidade de zoneamento deve ser entendi da com o co m plementar ao
zoneamento ecológico-econômico (ZEE). Em adição à informação fi ico-biótica, també m
incluem aspectos técnicos e socioeconômicos. Tal assertiva é particu larmente impo rtante
quando o planejamento des tina-se às áreas chamadas ' nova ', ou a inda não ocu pada com
atividades agropecuárias e silviculturais.
O termo "agro", aqui utilizado, tem sentido amplo para s ignifica r tod o o aspectos do
trato das terras, de plantas, dos animais e da floresta, de acordo com d iferentes propó itos
e circunstâncias. Em sentido mais restrito, o zoneamento agroecológico consiste em
espacializar o potencial das terras de uma região para determinada cu ltura ou produto,
como uma base para o planejamento do uso sus tentável das terras, em harmo nia com a
biodiversidade. Como tal, metodologicamente, apresenta uma estrutura o rganizada que
comporta um conjunto de regras com base nas necessidades ecofis io lógicas d a cu ltura
que são comparadas com a oferta ambiental, ou seja, com as condições do cl ima local e do
solos e suas relações com o ambiente.
O principal produto do ZAE é um controle, melhorado e be m planejad o, da
atividades agrícolas, no que se refere ao uso adequado dos recurso , por m eio de um
enfoque participativo.
O ZAE doravante será visto como poderosa ferramenta para suprir a base técnica
suportar as políticas públicas para promover as tomadas de decisão de cará ter p rivado
para o planejamento do uso sustentável das terras. Alguns benefícios im portante do ZAE
podem ser enfatizados:
- É um primeiro passo importante no sentido do uso sus tentável do recur o natu rai
uma vez que o zoneamento realizado com base nos preceitos d a ava liação d a aptidão da~
terras evidencia a potencialidade, a vulnerabilidade, bem como a dis ponibilidade de terras
aptas, es pacializadas por georreferenciamento, em níveis regional e local.
- O uso sustentável dos recursos, por meio do uso das terra , de aco rdo com a •ua
aptidão, incrementará a produtividade, com cus tos menore , e, consequentemente,
aumentará a competitividade no mercado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


624 ANTONIO RAMALHO FILHO

- 1 ro\'cr informa õc~ bá icas para apoiar decisões relacionada ao planejamento das
terras, com en foqu.., eco! gico e ciocconômico em uma base sustentável.
. - uso c1ltcrna ti vo das terra e da .-1gua por produto e por região, sob a adoção de
diferente ní\'eis terno! gi os (ca pital intensivo-extensivo) atende à produção agrícola de
brga e pequena e cala.
. . - Dispor terreno para trabalho de pesquisa, assistência técnica e ex tensão para
diferentes empreendedores.
- Po ibilita o fortalecimento institucional e propicia o trabalho interdisciplinar.
Portanto, diferentes tipos de atributos ambientais e socioeconómicos d evem ser
considerad o em um zoneamento agroecológico. Aqueles atributos usados na avaliação
da aptidão das terras e da aptidão climática são componentes básicos para se chegar
ao zoneamento agroecológico. Uma vez concluído, o zoneamento agroecológico de
determinada área tem como propósito servir de base para nortear o planejamento
do uso agrícola das terras em bases sustentáveis, em conformidade com os preceitos
conservacionis tas.
Um exemplo de zoneamento agroecológico, realizado com procedimentos
metodológicos totalmente informatizados e com base em técnicas de georreferenciamento,
que levou em conta os aspectos aqui enfatizados, é o " Zoneamento Agroecológico da
cultura da palma de óleo (dendê) para as áreas desflorestadas da Amazônia", publicado
pela Embrapa (Ramalho Filho et ai., 2010) e feito utilizando dados de recursos naturais
contidos na base pedológica da Amazônia Legal - base digital em escala compatível com
a escala 1:250.000 (SIV AM, 2004).

Avaliação da aptidão das terras para planejamento de uso agrícola


A avaliação da aptidão das terras é um processo que estima o desempenho dessas
para usos alternativos, com melhoramentos menos ou mais intensivos de suas condições
agrícolas. Consiste na interpretação de levantamentos de solos, em que são descritas e
delinútadas as unidades de mapeamento. O melhoramento das condições das terras envolve
investimento e é razoavelmente permanente no que tange a medidas de conservação de
solo e água, drenagem, correção de acidez e fertiljzação etc.
Esse processo i.ncl ui:
1. Identificação e descrição dos diferentes tipos de uso relevantes indicados para a
área em estudo.
2. Reconhecimento e definição dos diferentes tipos de uso das terras que ocorrem na
área pesquisada.
3. Avaliação da aptidão dos diferentes tipos de terra para os tipos de uso agrícola
indicados para a área em estudo.

O s conceitos e procedimentos metodológicos são descritos em detalhe em Ramalho


Filho e Beek (1995) e em diversos trabalhos publicados pela FAO (1983, 1984, 1985) para
tipos especificas de uso - agricu ltura de sequeiro, silvicultura e reflorestamento, agricultura
irrigada e pastos, que fo rnecem base para esse processo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIX - PLANEJJ\M ENTO DE Uso DA S T ERRAS PARA FIN S AGRÍCOLAS 6ZS

A ava liação dc1 a ptid ão das terras pa ra fin s el e uso c1grícola pocl s r r alizada tan to
pélrn tipos gern is el e uli lização (lílvouras, pélsto, sil vicultura, tí reas a erem preservadas)
como pma cu ltu rns es pecíficas, como milho, soja, cana-de-açúcar, café, palma-de-óleo.
Conforme a metodologia citc1da anterio rmen te, as terras são então avaliada em quí:ltro
classes de ap tidão, segund o a intensidade de suéls limi tações: Boa, Regu lar, Restrita ou
Marginal e Inapta. Essas classes são estabelecidas de aco rdo com o g rau de inlensidad
com que o fator de limitação interfere as condições das terras sob dois o u mais nív is
tecnológicos. Atua lmente, têm sido uséldos os níveis B e C (méd ia e a lta tecno logia,
respectivélmente), conforme Ramalho Filho e Beek (1995).
Na ava liação da ap tidão das terras, é estabelecido um conjunto de regras que
re presenta as necessidades ecofisiológicas da cul tu ra em relação a cinco fa tores limi tativos:
Deficiência de Fertilidade; Deficiência de Água; Excesso de Água, incluindo riscos de
inundação; Susceptibilidade à Erosão; e Impedimentos à Mecanização. O utros fatores
limita ntes podem ser utili zados na ava liação, dependend o das características fisiográfica
d a á rea, e desde que exista m dados suficientes para estabelecer e parametrizar os graus de
delimitação: Nulo, Ligeiro, Moderado, Forte e Muito Forte. Obtém-se a ela se de aptidão
pela comparação dos graus de limitação das condições das terras com as neces idade da
culturas ou tipos de utilização; ou seja, condições das terras versus necessidades da cultura
ou produto. Essa forma de avaliar o potencial das terras segue os critér ios e procedimentos
d escritos no Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras (Ra malho Filho e Beek, 1995).

Relação entre análise de sistemas integrados de produção, avaliação da aptidão


e planejamento de uso das terras
Uma análise sobre a avaliação da aptidão de terras, assim como de sis tema
integrados de produção (fnnning syste111s), pode ser vista como uma atividade básica para o
planejamento de uso agrícola. Como blocos de constru ção, ela faz parte dos procedimen to
para o planejamento de uso agrícola das terras. A FAO (1990) apresen tou um procedimento
geral muito pertinente para alicerçar o planejamento de uso de terras e que demonstra bem
essa relação que é visualizada na figura 1.

Reconhecimento da
necessidade de mudanças

Avaliação da aptidão
Estabelecimento de objetivos das terras
Plano de uso das terras,
implicações políticas e
Completa análise _ _ _ Análise dos Sistemas necessidade de futuros
socioeconômica Integrados de Produção estudos

Figura 1. Procedimento geral para planeja me nto de uso das terras.

A ope~·acio nalidade do proces~o de ava liação da ap_tidão d a terras, de forma integral,


para plm:eiam ento de uso s~stentavel das terras com fms agrícolas, depende de critério
e procedimentos que lhes s irvam de suporte. Para tal, existem alguns pa O a erem
observados:

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


626 ANTONIO RAMALHO FILHO

. o agrí ola em conformidade com a aptidão das terras de cada área a se r <1gricu 1ta da .
m eio a a\'aliação da aptidão de cada unidade de olo mapeado na área . O resultado é
a indicação do tipo deu o adequados ao local.
. - _E scolha de cultura climaticamente adaptadas. O meio é a avaliação da aptidão
chmáhca e do risco climático atribuído à área, bem como da determinação da época de
plantio de cada cultura - zoneamento climático. O resultado é a diminuição d e riscos na
produção. E se aspecto é particularmente importante para o pequeno agricultor, o qual,
normalmente, tem aversão ao risco, ou seja, não tem capacidade para suportar riscos.
- Aju te de tecnologias com o perfil do agricultor e economicidade. A agricultura
uma atividade sofi~ticada e cara, já que procura garantir, na medida do possível, alta
p~o~uti\'idade e retorno econômico. Há alguns meios para se c01úeri.r economicidade à
ahvidade agrícola, entre esses: avaliação socioeconôm.ica para se identificarem os principais
sistema de produção da área onde o agricultor vai operar e, dessa forma, possibilitar a
indicação de práticas agrícolas adequadas a cada caso; agricultura de precisão; e uso de
culturas certificadas e adaptadas climaticamente. Trata-se de uma avaliação integral da
aptidão das terras em que se leva em conta não somente o solo e a água, mas também os
sistemas de produção domjnantes na área planejada. Há um procedimento metodológico
para essa avaliação integral em Ramalho Filho (1992). O resultado é o maior retorno da
atividade, com economia de recursos, e em harmonia com o ambiente e, portanto, c01n
ganhos ambientais.
- Aspectos sociopolíticos (sustentabilidade social), que dependem de políticas agrárias
governamentais e do esforço comunitário dos agricultores; portanto, fora do alcance do
agricuJtor, individualmente. Os meios recomendados para cumprir esse passo são: a
adoção da rnicrobacia como unidade de planejamento. Um agricultor não pode adotar
merudas que protejam as suas terras em detrimento de vizinhos, pri.ncipaJmente a jusante;
adequação funruária; cadastro técnko, cooperativismo; assistência técnica e crédito
facilitado. O resultado é uma produção agrícola com sustentabilidade ambiental, social e
económica.
Essa abordagem, levando em conta diferentes níveis de manejo/ tecnológicos, está mais
focada na avaliação da aptidão de terras e na sustentabilidade da atividade agronômica
para os diversos níveis geográfico, regionaJ, de microbacia e do imóvel agrícola. Esse
procedimento visa ruagnosticar práticas agrícolas, que estejam ao alcance do agricultor,
operando em pequena ou grande escala. Essas duas escalas de produção têm, em comum,
o agronegócio como premissa.
O Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras (Ramalho Filho e Beek, 1995) é um
desenvolvimento em nível de país que segue a filosofia da metodologia da FAO- Fra111ework
for Land Evnluntion (FAO, 1976), que se configura como uma estrutura geral adaptável
em cada país ou região. Por isso, foi chamado de 'FAO brasileiro' por Resende (1983). O
método de avaliação do potencial de terras mencionado anteriormente (Ramalho Filho e
Beek, 1995) é preconizado e utilizado pela Embrapa para interpretar levantamentos de solo
no Brasil, em diversos níveis categóricos. Foi também usado para analisar os levantamentos
de solos executados pelo Radambrasil e, experimentalmente, na Colômbia (Zandonadi et
ai., 1980). Em decorrência de seu dinamismo, ao considerar mais de um nível de manejo,
e de seu caráter mais técnico-cientifico, é exigido nas especificações técnicas de projetos
licitados pelos órgãos públicos federais para desenvolvimento agrícola.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI X - PLAN EJAME l'ITO DE Uso DAS T ERRAS PARA FINS AGRÍCO LAS 627

O desenvo lvimento desse métod o partiu da base desenvo lvid a para avalia r a _aptidão
de solos no Bras il, por Bennema et a i. (l965), e os fundam en tos teóricos des nvolv1dos por
0

Beek (1978). Essa experiência desenvolvida no Bras il foi ma is ta rde aproveitada p la FAO
pa ra a m plia r e pu blica r a estrutu ra gera l de avaliação da a ptid ão das te rras (FAO, ·1 76).
Então, na ve rd ade, não seri a esse método d e avaliação o FAO brasi leiro e, sim, a estrutura
d a FAO é que seri a FAO brasileira.
Em confo rmid ade com a filosofia da FAO (] 976), as classi fi cações técn ica como a
ava liação d a ap tidão de terras e a classificação da ca pacidade de uso das terras (Ramalho
Filho e Beek, 1995; Lepsch et ai., 2015), ou seja, as que classifica m o potencial de terra ,
d evem basea r-se em levantamentos e mapeamentos de solos. Essa assertiva assegura que
os resultad os de análise de dados de a mostra de so los, de determjnado local do imóve l
o u g leba, possam ser correlacionados e extra polados pa ra toda a superfície do poügono
referente àquele tipo de solo, assim como permi te ainda replicar as indicações de uso para
o utros polígonos referentes àq uela mesma unidade de solo/ unidade de mapeamento
e a mbiente. Isso confere representativ idade geográ fi ca das conclusões do estudo e da
econo mia de tempo na amostragem.
Esse p rocedimento cons titui um req uisito básico para o planejamento de uso de um
imóvel rural ou de uma grande área estudada.
O planejamento de uso das terras inclui um elenco de atividades em diferentes temas.
Nesse conjunto de temas, para se separarem os d iferentes tipos de solos ou paisagens da
área ou do imóvel, podem ser incluídos: o levantamento-mapea men to (Embrapa, 1995), a
classificação (Santos et ai., 2013) e a avaliação do po tenciitl das te rras e a indicação do uso
mais adequado a cada un idade ma peada o u gleba e, sobre tudo, a indicação das prática
agrícolas ou de manejo com diferentes níveis de tecnologia, em conformidade com a clilsse
d e aptidão de cada urudade de terra. Essa classe depende do gra u e tipo de limitação e
da ca pacidade técnica e financeira do agricultor, bem como de seus anseios em termos de
retorno esperado do uso do imóvel.
A definição desse contexto em que o agricultor opera, q ue constitui os sistemas
integrados de produção (janning systems), depende da observação sobre di ersos temas
que são os atributos desses sistemas integrados. Podem ser adotados os seguintes atribu tos
socioeconômicos:
- Tam anho do imóvel (grande, médio, pequeno).
- Uso a tua l (lavouras temporárias ou perenes, pasto plantado/ melhorado, ilvicu ltura
e, ou, refl o restamento; terras ociosas ou em pousio; e culturas com característica
ecofisiológicas especiais).
- Tipo de tração (a nin1al, mecânica).
- Prá ticas de manejo (calagem/ adubação, drenagem, conservação de solos).
- Dis tância do mercado (grande, média, pequena) .
- Orientação de mercado (subsistência, comercial, combinada).
Critérios, parâ metros e procedimento me todológicos, bem como a forma de
classificar esses atributos e a combinação d eles para se categorizarem os di er os sistema
d e prod ução, podem ser consultados em Ramalho Fi lho (1992), o q ual trouxe também
fo rmas de agrupar os agricultores em diferentes sistemas integrados de produção para

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
628
ANTONIO RAMALHO FILHO

se efetuar a ~valiação da aptidão integral _ fí irn e socioeconômica da área ou do imó~el.


E s~ pr cedimento pode ser aplicado para um agricultor individualmente, ou para vános
agricultores de determinada área, os quais podem ser agrupados em sistemas integrados
d pr dução comun , por meio de uma análise de c/11stcr, usando-se pacotes estatísticos.
. ~ritéri , parâmetro e procedimento metodológico para a avaliação tradicional da
aphdao da terra ão os enunciados em Ramalho Filho e Beek (1995), que podem sofrer
adap~aÇe em cada contexto especifico como o socioeconômico. O ponto visto como
posi~, 0 des~e m étodo - avaliação da aptidão das terras - reside no fato de possibilitar
ª'aliara aphdão de te1Tas em diferentes níveis tecnológicos ou de manejo, e enquadrando
a terras em diferentes classes de aptidão. Dessa forma , diagnostica-se o comportamento
das terras em diferentes níveis operacionais em escala de agricultura de pequena a grande.
Esse aspecto é particularmente importante no contexto da agricultura de países tropicais
em desenvoh imento, onde a agricultura h·adicional pouco desenvolvida e a agricultura
altamente tecnificada, com adoção de técnicas sofisticadas, convivem lado a lado. Uma
'antagem desse procedimento é evidenciar não somente a utilidade de inclusão de análises
socioeconôrnicas mencionadas nos sistemas de avaliação de potencial das terras citados,
mas apresentar também como essas se interagem.
O Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras analisa o potencial das terras sob
diferentes níveis de aplicação de tecnologia agrícola e de capital. O método considera três
níveis de manejo - A, B e C -, ou seja, diferentes formas de gestão do uso agrícola. O
primeiro (A) está em desuso pelo seu obsoletismo, por não prever o uso de tecnologia para
manejo, meU1oramento e conservação das terras e das lavouras; o segundo caracteriza-se
por wna aplicação média de capital e modesto uso de insumos e tecnologias; e, o terceiro,
por alto aporte de capital e tecnologias no tratamento das terras. São gerados, portanto,
mapas distintos e equivalentes aos níveis de manejo adotados.
Os graus de limitação são atribuídos às terras, de acordo com a sua capacidade
presumível de suportar wna cultura, após o emprego de práticas de melhoramento
compatíveis com os níveis de manejo. Esses níveis de manejo são os descritos no
método (Rarnalllo Filllo e Beek, 1995), embora todos os três níveis não tenham que ser
necessariamente adotados na avaliação de determinada área de estudo. Observou-se o
fato de que a irrigação não está incluída entre tais práticas nesse método. É considerada,
portanto, a viabilidade de meThoramento das condições agrícolas das terras em condições
de sequeiro.

Viabilidade de execução da avaliação da aptidão das terras, seu alcance e


aplicabilidade
Ao se desenvolver uma avaliação da aptidão em sua plenitude, a terra deve ser vista
por meio de seus vários atributos em um dado contexto socioeconómico e não apenas, por
exemplo, do solo, uma vez que o seu desempenho é basicamente o resultado da interação
de suas condjções físico-bióticas, do manejo e da necessidade das plantas. Daí a necessidade
de se fazer distinção entre solo e terra, que tem um conceito muito mais amplo em que se
inclui o próprio solo, conforme é apresentado em FAO (1976).
Do ponto de vista físico, a avaliação da aptidão das terras é obtida por meio da
interpretação de levantamentos de solos, envolvendo atributos morfológicos, composição
física (análise granulométrica, densidade do solo etc.), composição química (fertilidade,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XIX - PLANEJAMENTO DE Uso DAS TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS
629

acidez e sa linidade), profundidade, permeabili dad e, d re na ge m, pedregosid~de,


rochos idade etc. e informação sobre outros recursos na turéli , no tadamente clima,
hidrogrnfia, topografia e outros fatores do meio ambiente. No entanto, esses levél ntam ntos
de solos, que deveriam ser realizados em conformidade com o q ue é estc1belecido pel,,
Embrapa (1995), pelo IBGE (2015) e por San tos et ai. (201 3), nem sempre ex is tem na
área onde se pretende planejar o adequado uso das terras, alé m de e re m n~ rma lme nte
realizados em nível categórico, generalizado demais para se rem úteis ao planejamento em
nível de projetos de desenvolvimento agrícola e de imóveis rura is. Levantam_en~os ?e solos
em níveis mais detalhados deveriam ser realizados, sobretudo, em á reas prioritá ri as para
desenvolvimento agrário e em áreas já destinadas para planejamento de projetos agrícolas.
As principais razões da inexistência desses levantamentos são o seu cus to; a fa lta
de pedólogos para atender a todas as demandas; o tempo rela ti va me nte longo para
serem executados; e, sobretudo, a falta de uma política de planejamento em longo prazo
das instituições que tratam do setor agrícolél . Os leva ntamentos de solos não são ma is
realizados de forma sistemática, pelo menos em áreas prioritárias para desen volvimento,
para que os dados estejam disponiveis quando necessários para planejar o uso de
determinada área. Por esses motivos, são muitas vezes s ubs tituídos pelos chamados
'levantamentos utilitários', descritos por Lepsch et aJ. (2015). É importante que os
levantamentos, que se têm precisão, devam ser realizados em tempo, para que estejam
disponíveis quando houver necessidade.
No que concerne às avaliações do potencial de terras, um aspecto que deve serobservado
é o seu caráter transitório, ou seja, a curta validade dos seus resultados, na medida em
que novas tecnologias e mudanças socioeconômicas surgem a todo o momento. Portanto,
reinterpretações de levantamentos de recursos naturais e análises socioeconômicas devem
ser realizadas periodicamente. Por esse fato, há necessidade de se rever o conjunto de
regras usado em cada trabalho de avaliação da aptidão das terras já realizado há mais de
10 anos pelo menos, ou seja, rever os graus de limitação que servem para comparar com
os graus de limitação atribuídos a cada unidade de solo. esse sentido, recomendam-se
também uma revisão e uma reedição da versão atual do Sistema de Avaliação da Aptidão
das Terras (Ramalho Filho & Beek), mantendo-se como base a edição atual, que vem
cumprindo os objetivos para os quais foram desenvolvidos e são ordinariamente adotado
na interpretação de levantamentos de solos no país.
Um problema que sempre é observado é a falta de uso de uma li_nguagem técnico-
científica mais acessível ao usuário não especialista. A comunicação deve ser mai fácil e
acessível para que a informação gerada seja bem compreendida pelo extensionista e pelo
usuário comum. Vale lembrar uma frase dita pelo professor Cline, da Univers idade de
Cornell: "o pedólogo deveria ver o solo como o agricultor o vê".
O cresci mento crescente e acelerado da etnopedologia (Alves e !arques, 2005;
Araújo et ai., 2013) bem que poderia ser de grande valia na superação dessas lacunas de
comunicação nos diferentes níveis.
Note-se que este capítul? inclui aspectos sociais e econômicos na avaliação da aptidão
de terras. Esse enfoque reside no fato de tratar-se de planejamento do uso de terras
para usos diversificados, que são conduzidos por agricultores com diferentes ní eis de
conheciment~ t~cnico,_c ~ltural e econômico, e com diferentes anseios em regiões geográficas
com carac ten s t1cas d1stmtas. Assume-se que o usuário final e püncipal na cadeia de
conhecimento é o agricultor, o qual deveria, por esse fato, participar de todas as fase do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


630 ANTONIO RAMALHO FILHO

plan jamento. A agricultor cabe tomar a. decisões locais e determinar prioridades e ntre
ª diferente_ at hidade prop stas no planejamento, por mais importantes qu e essas sejam .
. Yeja-se o que obsen·ou J. P. Singh (1974) : "fora. teiros e especialis tas deveriam_apenas
delmcar ;1ltematfras para o uso das terras; a decUio final deve ser prerrogat iva dos
agricul tores beneficiários" .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tecnicamente, entende-se que o uso das terras para fins agrícolas, para ser praticado
de forma adequada e sustentável tem como base o planejamento, o qual é realizado
utilizando-se base de dados sobre os recursos da área a ser utilizada para agricultura
(_olo, geologia, litografia, vegetação, hidrografia, topografia, clima). A integração destes
indicadore bem como dos recursos tecnológicos disponíveis conduzirão à formulação do
zoneamento agroecológico (ZAE).
Essa base de informação é obtida por levantamentos que são, consequentemente,
interpretados para possibilitar a avaliação do potencial das terras que, associada a
avaliação do risco climático, constitui ferramenta básica para formulação do zoneamento
agroecológico. A avaliação da aptidão das terras sob diversos níveis tecnológicos ou níveis
de manejo visa diagnosticar o comportamento das terras em níveis operacionais diferentes
(Ramalho Filho e Beek, 1995).
Este procedimento, recomendado para o trato cultural das terras para diferentes
tipos de uso agrícola, é o primeiro passo no sentido da sustentabilidade do sistema, assim
como o meio eficiente para usar o recurso terra em harmonia com a proteção an1biental
e com a estrutura socioeconómica da área em questão. Não obstante a sustentabilidade
do sistema produtivo deva ser a pedra de toque, a referência, deve ser observado que os
nutrientes retirados com as coll1eitas precisam ser repostos no solo; ou seja, agricultura não
é mineração.

A questão socioeconómica a ser integrada ao planejamento de uso das terras pode ser
tratada metodologicamente por meio do estudo e categorização dos principais sistemas
integrados de produção praticados na área sendo planejada. Este aspecto integrado à
a valiação da aptidão física das terras conduz a uma avaliação integral do potencial das
terras. A escala dos levantamentos dos estudos básicos deve ser previamente observada.

AGRADECIMENTO

Expresso meu reconhecimento à Prof'. Ivana Quintão de Andrad e, pela valiosa


colaboração em relação à revisão ortográfica do texto.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI X - P L/\NEJ/\MENTO DE Uso DAS TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS 6) l

L I TERATURA CITAD

A lves AGC, Marques JGW. Etnopedologiél : uma nova di c;c iplin.1? T6picoc; i Solo 2005;-l:l::! l-+t
Araújo AL, Romero RE, Alves AG , Ferrei ra TO. Etnopedolog,c1: uma abordag'm da'- etnocit:>ricra'-
sobre as relaçõe entre as sociedades e os solos. i Rural. 2013;-13·854-60.
Beek KJ . Land eval uation for agricul tura ! dcve lopmcnt. Wageningen: 1978. (ILRI Publica tinn. 23).
Benn e m a J, Beek KJ, Carnaroo M . Um s is tema de classificaçJo da aptidão de u o da terra ara
levantamentos de reconl1ecimento de solo. Rio de Jan iro: DPFS/DPE A/ MA/ Fr\O; 1965. (, ·Jo
Publ icado).
Bras il. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiver ida de l' Flores tas. AvaliaçJo e
id entificação de á reas e ações prioritárias para a conservação, util iZc'lçãn c;ustent.ivel e r part1ç,in
d os benefícios da biodiversidade dos biornas brasileiros. Brasília, DF: 2002. [ ce<;c;ado em lO 1.:in.
2010] Disponível em: http: www. mma.gov.br.
Empresa Brasile ira de Pesqu isa Agropecuária - Embra pa. Centro Nacional de Pesqu isa de lo,.
Procedi mentos normativos de levantamentos pedológico . Brasília, DF: Embrapa SPI; 1995.
Food and Agricultura[ Organ.ization - FAO. Guideli_nes. Land eva luation for irrigated agnculture.
Rome: 1985. (FAO Soils Bulletin, 55).
Food and Agricultura! Organization - FAO. Land eval uation and farmino sy te m analises fo r lanJ
use plan.ning. FAO guidelines: working d ocument. Rome: Enschede, \. ageningen: 1990.
Food and Agricu lturaJ Organization - FAO. Framework for land eval uatio n. \- ageningen- 1976
(ILRI Publication, 22).
Food and Agricultura! Organization - FAO. Guidelines. Land evalualion fo r rainíed agriculture.
Rome: 1983. (FAO Soils Bulletin, 52).
Food and Agricultura[ Organization - FAO. G uidelines. Land evaluation for forestry. Ro me: 9< .
(FAO Forestry Paper, -l8).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Coordenação de Recur os Natura.is e Estudo_
Ambientais. Manual técnico de pedologia. 3·' ed. Rio de Janeiro: 2015. (:-,.!anuais Técnico em
Geociências) disponível em: http://www.ibge.gov.br/ home/ geociencias/ recursosnaturais/
sistematizacao/ manual_pedologia.shh11
Lepsch, 1. F.; Es píndola, C.R.; Vischi Filho, O.J.; Hernani, L.C.;Siqueira, D. . Manual para levantamento
u tilitário e classificação de terras no sis tema de capacidade deu o. 1.ed. \'içosa, ~lG: ciedade
Bras ileira de Ciência do Solo, 2015. 170 p.
Rama lho Fi lho A, Beek KJ . Sistema de avaliação da aptidão agrícola da terras . ..,~ ed. Rio de Janeiro:
Embrapa-CNPS; 1995.

RamaU10 Filho A, Mo tta PEF, Freitas PL, TeLxeira WG. Zoneam ento agroecológico, produção e
manejo da cu ltura da palma de óleo em áreas desüorestadas da mazónia Legal. Rio de Jane iro:
Embrapa Solos; 2010.

Ramalho Filho A. Evaluating la'.1d for !mprove~ systems of sm a ll- cale farm inb' , ith ·pecia l
re fe rence for Northeast Braz1I [Thes1s] 1on v1ch, UK: University of E..ist nglia - •h oi o f
Development Studies; 1992.

Resende M. Sis tema de classificação da aptidão agrícola dos solos lFAO/ Brasileiro) para aJ~mL15
culturas específicas - necessidade e su ge tão para de -envolvim en to. Ini. Agropt:'C.1983;9t ' .
Sans LMA, Assad ED, Guimarães DP, Avelar G. Zonei\mento de riscos climatico · do milho para a
região centro-oeste do Brasil e para o E tado de Mina Gerais. R Bras Agr meteor 1. 200l ;f5 _,_3- _

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


632
ANTONIO RAMALHO FILHO

an HG, Jacomin PKT, njo LHC, Oli\ eira VA, Lumbrera JF, Coelho MR, Almeida J A, Cunha
TJF, Ih ira JB. i tema brasileiro de ela sificação de solos. 3ª ed. Brasília, DF: Embrapa; 2013.
inghJP. n appr a h f r de, elopmcnt of small and marginal farmers in rural lndia. Rome: People's
Centre for de, elopment, FAO; 1974.
i tema de Vigilância da mazônia - SlVA t Ba e pedológica da Amazônia Legal: base digital em
e ala compatível com a escala l :250.000. [Atlas] Brasília: SIV AM; IBGE; 2004.
trapa on AB, Ramalho Filho A, Ferreira D, Vieira JNS, Job LCMA Agro-ecologicaJ zoning and
biofuels: the Brazilian experience and the potential application in Africa. ln: Johnson FX,
ebaluck V, editors. Bioenergy for ustainable development and intemational competitiveness:
the role of ugar cane in Africa. London: Earthscan from Routledge; 2012. p .48-65.
Zandonadi D, Ponce LH, Aguillar F. Levantamiento semi-detallado y evaluación de la aptitud agrícola
de lo uelo de la gleba guacacy - \!alie dei Cauca. Cali, Colombia: Centro Interamericano de
Fotointerpretación - CIAT; Ministerio de Obras Públicas; 1980.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO
CONSERV ACIONISTA DO USO DO SOLO
EM PROPRIEDADES AGRÍCOLAS

Igo Fernando Lepschl/

11 Ins tituto Agronô mico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desen volvimen to de Solos e Recu r,;os A.mbienla.1s,
Campinas, SP. Pesquisador Visitante, Universidade d e São Paulo, Escola Su perior de Agricu ltura "Luiz de
Queiroz", Piracicaba, SP. E-mail: igo.lepsch@yahoo.com .br

Conteúdo

INTRODUÇÃO········································································································································-····-··-············ 63~
PRfMEIROS CONTATOS COM O PROPRIETÁRIO DA TERRA ........................................................ ·-················ 635
VlSTORJAS PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANEJAtvfENTO ..................................................... - ................ 635
INTERPRETAÇÃO DO LEV ANT AtvfENTO DO tvfEIO FÍSICO ...................................................... ·-·····-············· 637
ELABORAÇÃO DO PLANEJA IENTO PROPRlAMENTE DITO ··························································-············· 6-+0
CO SrDERAÇÕES FINAIS ......................................................... .................................................. .............. ·-·············· 6-+1
AGRADECINlENTOS..................................................................................................................................................... 6-+3
LITERATURA CITADA ................. .. ........................................................................................... .................... ·--· ........ 6-+ ~

INTRODUÇÃO

As atividades agrícolas têm modificado substancialmente o ambiente das proprieda d


rurais, favorecendo proliferação de algumas espécies, degradando outras e modificando
ex pressivamente os habitats antropizados. Historicamente, à medida que as ati idad e
da população humana foram se intensificando, para atender à crescente dema nda de
a limentos, fibras e combustíveis, verificaram-se o rápido declínio de muitas espécie d e
vida animal e vegetal e o cultivo de muitas terras an tes sob condições de habitat na tural
. Isso, muitas vezes, causou irreversível desgaste das terras, provocado principalmente
pela erosão induzida de seus solos. Porém, uma nova compreen ão sobre a ecologia do
impactos d a agricultura, em vários níveis, pode fa zer com q ue o istema de p rod u ão
sejam planejados para produzirem alimentos de qualidade, em uma conv ivê ncia sau dável
com a biod iversidade para evitar a degradação das ten-as (V arren et ai., 200 ") . As terra ,
e seu solos, são recursos Linütados, não renováveis na escala de tempo dos huma no ·, e 0
cons tante crescimento da população humana tem gerado uma série de conflitos em tomo

13e rtol I, De t\ilaria IC, Souza LS, editores. lancjo e conservilçJo d o so lo e d.:i j 0'l.la. iços.1, :-. te : -iL><l.iJc
Brasile ira d e C iê ncia do Solo; 2018.
634 lGO FERNANDO LEPSCH

d u apro eitament . p ar de exi tirem muito conflitos que induzem á rias formas
de de rada ào da terra , um intere e maior deve ser dedicado à erosão induzida do solo
quando é ubmetido à agricultura.

teITa agricultada são potencialm nte ameaçadas quando não estão protegidas
con_tra a erosão do olo. A deterioração, não apenas dessas terras, mas também das florestas
nah\ a , dos campos d pastagens naturais e das áreas urbanizadas, evidencia apenas urna
fra ão da tri te hi t: ria da erosão. Carregadas pela água ou pelo vento, as partículas do
ola da área erodida ão, posteriormente, depositadas em outros locais, em tomo de
áreas de baixa altitude na paisagem ou em mananciais de água, próximas ou distantes das
terras erorudas - até me mo em outros continentes. A consideráveis distâncias, a jusante
ou a sotavento, o edimentos e as poeiras causam grandes impactos na poluição da água e
do ar, gerando tan1bém elevados prejuízos econômicos e grandes custos para a sociedade.
Felizmente, muito se tem aprendido sobre os mecanismos da erosão, e algumas técnicas têm
sido desenvolvidas para controlar, de forma efetiva e com baixo custo, as perdas de solo na
maioria das situações (Brad e Weil, 2013).
Para que haja um devido controle das perdas de solo pela erosão, é necessário harmonizar
os ruversos tipos de terras com uma agricultura praticada de forma mais racional possível, a
fim de otimizar urna produção sustentável, satisfazer as diversas necessidades da sociedade
e, ao mesmo tempo, conservar os recursos genéticos e os solos dos quais dependem.
Essa harmonização, dos tipos de terras com os tipos de uso, só é possível com adequado
planejamento do uso com base na avaliação sistemática do potencial das terras, das alternativas
de seu aproveitamento agrícola e das conruções econômicas e sociais que orientam a seleção
e adoção das melhores opções (FAO, 1976). O planejamento do uso da terra pode ser feito
em diferentes níveis: nacional, regional ou local. Pode também enfatizar diferentes aspectos:
econômicos, sociais ou conservacionistas. Diferentes tipos de decisão devem ser tomados
em cada um desses níveis, em que os métodos de planejamento e os tipos de planos também
diferem. Em cada nível, há necessidade de diferente estratégia de planejamento do uso da
terra, de acordo com políticas que indiquem as prioridades de projetos que abordem essas
prioridades e de um planejamento operacional para iniciar os trabalhos a serem executados.
este capítulo, serão abordados planejamentos em nível local - propriedades agrícolas -
enfatizando as práticas necessárias para controlar a erosão induzida, que comumente ocorre
em solos submetidos à agricultura (FAO, 1976).Tais projetos, do uso do solo para fins agrícolas,
II
costumam ser denominados de planejamentos conservacionistas".
Como planejamento conservacionista, entende-se a organização e espacialização
das atividades, bem como a programação de um conjunto de recomendações e práticas,
economicamente exequíveis e compatíveis com a capacidade de uso da terra, a ser seguido
na exploração de uma propriedade agrícola. Nesse contexto, atenção maior é dedicada
à especificação das práticas conservacionístas mais adequadas para a proteção e, ou,
melhoria dos recursos naturais: solo, água e vegetação.
Em qualquer empreendimento humano, é necessário um planejamento prévio,
considerando-se uma sequência lógica de etapas: coleta de dados factuais necessários;
análise desses dados; tomada de decisões; e avaliação dos resultados. Contudo, muitas
II
vezes, decisões sobre o uso da terra e as práticas de manejo na agricultura são tomadas às
pressas", com explorações agrícolas iniciando-se sem coleta de dados em um levantamento
do meio físico, estudo piloto ou abordagem planejada do uso da terra (Hudson, 1971).
Consequências maléficas podem advir dessas atitudes improvisadas; como principais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso D O SO LO EM . .. 635

são as pe rdas de solo e él poluição cios cursos d'águél pela cros5o induzida d o solo. Com
um p lélnejélmento conservacioni sta, serão poss íveis identifica r as terras que estão ·endo
excessivamente erodidas, selecionar os tipos ele culti vo de aco rdo com os tipos de solo e
recomendar as práticas que red uzam à erosão em níveis toleráve is.
Várias etapas são necessárias para elabo rar os planejamentos conservacionic;tas, desde
os primeiros contatos com os proprietários agrícolas até a apresentação final do plano, com
os mapas e memoriais descritivos.

PRIMEIROS CONTATOS COM O PROPRIET Á RIO


DA TERRA

É importante lembrar que o plélnejamento conservacionista não é compulsóri o.


Portan to, para que o proprietário do terreno se convença da necessidade de um plano
de conservação, ele precisa ter certeza de que o projeto é financeiramente viável e
agricultura men te praticável. Assim, um bom trabalho de convencimento é essencial, e isso
d eve ser feito por éllguém treinado em técnicas de extensão rural. Tal contato, em conve rsas
pessoais, ou em reuniões comunitárias, poderá fazer com q ue fazendeiros visualizem os
benefícios do planejamento e, enfim, o aceitem. Esquemas diferentes de divulgação das
van tagens do planejamento podem ser elaborados para diferentes tipos de propriedades
agrícolas; desde as grandes empresas, como as do setor de álcool açucareiro e agroflorestal
para produção de celulose até as pequenas propriedades onde a agricultura fam iliar é
praticada. Durante o primeiro contato com o proprietário - o u representante da grande
empresa -, é necessário perceber o que realmente ele deseja, discutindo se seus a tuais
sistemas agrícolas são compatíveis com as práticas conservacionistas mais adequada .
Caso esses não sejam, é necessário verificar se há o desejo e a capacidade de adotar as
mudanças necessárias para compatibilizar as práticas agrícolas atuais com os princípios da
conservação do solo.
Há que considerar também que p lanejamen tos conservacionistas elaborados com
mapas, m emoriais descritivos etc. - recomendando práticas mecânicas de conservação
do solo como terraços-, só são aplicáveis a agricultores capacitados a utilizarem práticas
de m a nejo desenvolvido; isto é, àqueles q ue utilizam prá ticas agrícolas que refletem
a lto nível tecnológico caracterizado pela aplicação intensiva de capital e res ultado
d e pesquisa para manejo agrícola da terra. As práticas de conservação do olo para
agricultores que util izam níveis tecnológicos menos desenvolvidos normalmente podem
ser planejadas com comunicação verbal em visitas periódicas às pequ enas propriedad es
agrícolas, por ex tens ionistas.

VISTORIAS PARA ELABORAÇÃO DE UM


PLANEJAMENTO

Q ua lq uer plano de conservação do solo requer a realização de is torias das


propriedades agrícolas, as quais podem variar em seus detalhes, s ua comple, idade e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


636
lGO FERNANDO LEPSCH

ua nec 5 idade de mapa de levantamento do meio físico e das anotações sobre meio
ec nomico e ocial.

Em relação ao meio físico, há necessidade de levantamento de solos e uso atual


da tena , além de outro aspectos diversos, como caminhos, benfeitorias, situação das
aguadas~ cond~ç_ões climáticas, sistemas de manejo do solo, entre outros. Além disso, é
nece_ sáno 'enficar se não existem resh·ições de uso da terra em razão da legislação
ambiental e dos problemas de poluição ambiental. Denh·e esses requisitos, destacrun-se os
mapas de levantamento do meio físico e os deles derivados, relacionados à capacidade de
uso da terras.

Mais frequentemente, há necessidade de um levantamento do meio físico em escala


~propriada que documente os diversos tipos de solos, incluindo o grau de erosão acelerada
Já presente, aos atributos do perfil e da superfície do solo; esta última normalmente é
apresentada na forma de classes de declividade. Normalmente, uma escala 1:10 000 é
a i~eal; entretanto, pequenas propriedades familiares (até 100-200 ha) requerem escalas
maiores (p. ex.: 1:5 000); e propriedades muito extensas (maiores que 200 ha), escalas
menores (p. ex.: 1:20 000). No passado, a maioria desses mapas de propriedades agrícolas
era produzida no campo, com lápis de cor. Hoje, esses estão cada vez mais informatizados,
usando Sistema de Informação Geográfica (SIG), assin1 como bancos de dados.
No levantamento do meio físico, além dos aspectos externos da terra, como relevo,
erosão e vegetação, também devem ser descritos, detalhadamente, os atributos mais
importantes do perfil do solo. Nele, os atributos e condições da terra são identificadas,
discriminadas, quantificadas, interpretadas e representadas em mapas que deverão ser
acompanhados de um relatório que se configura num memorial técnico-descritivo que
relata, em linguagem acessível ao produtor rural, os resultados do levantamento. Portanto,
é um inventário que envolve revisão de literatura, descrição de métodos de trabalho,
observações no campo (incluindo indagações aos agricultores), análises, em laboratório,
de amostras de solo e de dados climáticos e, principalmente, descrição e interpretação das
unidades de mapeamento identificadas nos levantamentos do meio físico.
O levantamento pedológico detalhado, efetuado em nível de séries de solos
constitui, assim, a situação ideal, que permitiria a representação de todas as importantes
variações da terra, em um mapa de grande escala. Contudo, as séries de solo ainda não
foram definitivamente conceituadas pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos -
SiBCS (Santos et ai., 2013a), e raras são as áreas do Brasil que dispõem de levantamentos
pedológicos em níveis taxonômico e cartográfico compatíveis com a escaJa 1:50 000, ou
maior. O SiBCS, bem como os manuais técnicos de levantamento de solos (IBGE, 2007) e os
manuais de descrição de solos no campo (Santos et ai., 2013b), carece de normas e convenções
compatíveis com os mapas pedológicos de grande escala. Isso provavelmente porque o
SiBCS e esses manuais foram, em princípio, motivados pela necessidade decorrente de
efetuar levantamentos pedológicos em níveis exploratório e de reconhecimento, nos vários
estados brasileiros, sempre em escalas relativamente pequenas (Lepsch, 2013).
Em face dessa situação, e como no Brasil nem sempre é possível obter e, ou, executar
levantamentos pedológicos detalhados, estão previstas normas para a execução de um
levantamento mais simplificado, de caráter operacional, detalhado e voltado principalmente
ao estabelecimento da capacidade de uso das terras, visando o planejamento de propriedades
aQTícolas. Tal levantamento poderá ser executado dentro das possibilidades de recursos de
p~ofissionais conservacionistas com formação em engenharia agronômica (e outras áreas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 637

afins), depois de qualificados em cursos especiais. É o qu e se denomina "leva ntamen to


utilitário cio meio fís ico", que tem como princip<1is características a grand e e c~la de
trabalho (maior que 1:20 000) e o uso de legendas codificadas (també m de nominadas
"fórmulas") para detalhada identificação dos tipos de perfis de solo, dec li v idade e er?sã_o
dominantes nas unidades de mapeamento. Um manual que élpresenta norm as com pative i
com levantamentos detalhados do meio fís ico foi publicado pela Sociedad e Brasileira de
Ciência do Solo (Lepsch et ai., 2015)

INTERPRETAÇÃO DO LEVANTAMENTO DO
MEIO FÍSICO

Depois de executado o levantamento do meio físico, deve-se interpretá-lo por meio


de um sistema de classificação técnica. A interpretação do levantamento do m eio físico,
para aplicações práticas, consiste na previsão do seu comportamento, que é estabe lecida
a partir da reunião, reorganização e apresentação de informações disponíveis sobre solos
previamente mapeados e classificados, num levantamento de solos. Essas aplicações são,
em geral, dirigidas à solução de problemas e referem-se principalmente a questões deu o,
manejo e conservação dos solos (Steele, 1967). Para fins do planejamento das prá ticas de
conservação do solo, o sistema mais empregado é o de" capacidade de uso das terras".
O sistema de capacidade de uso das terras foi um dos primeiros elaborados para fins de
interpretação de levantamentos pedológicos detalhados, visando planejamento de práticas
conservacionistas; é dos mais conhecidos mundialmente e vem sendo usado desde a
década de 1930 pelo Serviço de Conservação de Solos do Departamento de Agricultura dos
EUA. Nele, diversos atributos são sintetizados, a fim de obter grupamentos homogêneo
de terras, com o objetivo de caracterizar a sua máxima capacidade de uso para agricultura
sem o risco de degradação do solo, especialmente no que diz respeito à erosão hídrica e à
eólica. Nos mapas, esses grupamentos são facilmente reconhecidos pelo consagrado uso
de algarismos romanos, para indicar as classes de Ia VIII. No Brasil, está sendo di vulgado
desde 1955 (Marques et al., 1955), tendo sido objeto de sucessivas adaptações. Baseia-se
primordfalmente nas combinações de efeito do clima com as características permanentes
do solo (inclusive declividade), que impõem riscos de degradação pela erosão induzida
e, ou, limitam o uso agrícola da terra. O nível tecnológico presumido é alto, dentro das
possibilidades dos agricultores mais esclarecidos do país. Existe uma série de o utras
pressuposições básicas do sistema, entre as quais, uma das mais importantes, é a de que
as terras são classificadas supondo-se que os melhoramentos do solo, que podem ser fe itos
dentro das possibilidades individuais dos agricultores, já estão estabelecidos (p . ex.: nos
solos de muito baixa fertilidade, como os originalmente sob cerrado, supõe-se que corre ti os
e fertilizantes já tenham sido aplicados em quantidades adequadas). Esse sistema baseia-
se e m interpretações das unidades de mapeamento de solos, que são agrupadas em tres
níve is ca tegóricos: unidades de capacidade de uso, subclasses e classes, cujas definições,
segundo Klingebiel e Montgomery (1961), estão no quadro 1.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
638
IGO FERNANDO LEPSCH

Quadro 1. Rela - entr a w1idade de mapeamento de aios e as categoria do sistema de


terra em capacidad deu o, com ba em Klingebi I e Montgomer (1961)
Unidades de Subclas es de Capacidade Classes de Capacidade
Mapeamento Capacidade de Uso de Uso de Uso
P rção da paisa em ontém uma ou Grup s de unidades de Grupos de subclasses
delineada em um mai unidade ' de capacidade de uso com as ou de unidades de
mapa, compreendendo mapeamento com o me mas limitações para o capacidade de uso que
aracterí ti a mesmo risco de erosão uso agrícola, como: possuem mesmo ri co
e qualidades e, u, fatore limitantes de degradação pela
melhante, (e) erosão e, ou, risco;
à agricultura e, ou, à erosão e, ou, outras
identificada pelo nome pr duti idade agrícola. (a) excesso de água; eventuais limitações de
de uma da se de lo e, uso agrícola.
ou, "f rmuJa" de uma lo suficientemente ( ) limitações inerentes ao
legenda codificada. unifom,es para solo; e Os riscos de
requererem práticas (c) lim_itações climáticas. degradação e, ou,
Con iderando a emelhantes limitação deu o são
ljmitações cartográfica de conservação A subclasse informa progre sivamente
e a finalidade do mapa, e fornecerem o tipo de problema de crescentes da classe
representa a unidade produtividades conservação ou o fator I para a elas e
obre a qual o mafor eme1hantes em limitante à produção Vlll. Essas classes
número de indicações cultivo ou pastagens agrícola. evidenciam, de forma
precisa e previsões em idêntico sistema de Junto com as classes de generalizada, os locais
p de ser fcito. manejo. capacidade de uso, obtêm- e a disponibilidade dos
Essas são a base para Essa categoria reúne e se as informações ao solos mais aptos para a
o grupamentos simplifica informações usuário do mapa de graus agricultura.
interpretativo de sobre solos, para das limitações ocorrentes As classes
solos, provendo o planejamento de e as modalidades de demonstram, de
as informações glebas individuais de conservação que a forma generalizada, a
necessárias para as terras. Junto com as gleba necessita a partir localização, quantidade
unidades, subclasses e classes e subclasses, de amplo programa e adequadação
classes de capacidade informa a natureza e os conservaàonista. dos solos para fins
de uso. graus das limitações, agrícolas. Apenas
tipos de problemas i.Júormações mais
de conservação e gerais são fornecidas no
manejo das prática de nível de classe. Essas
conservação do solo. são úteis como uma
introdução ao usuário
do mapa de solos, onde
existem informações
mais detalhadas
sobre as unidades de
mapeamento.

As oito classes de capacidade de uso baseiam-se nas alternativas de uso e no grau


das limitações: terras comportando as mesmas alternativas e apresentando limitações em
graus semelhantes são incluídas na mesma classe. Enquanto o número de alternativas
diminuj da classe I para a classe VIII, o grau de limitação awnenta nesse mesmo sentido.
Assim, a classe I abrange as terras praticamente sem limitações, para as quais é muito
grande O número de alternativas de uso viáveis, ao passo que a classe VIII é atribuída
às terras com risco de degradação e, ou, limitações em grau muito severo, onde não é
possível a utilização agrícola, principalmente sob sistemas mais avançados de manejo.
Essas costumam ser reunidas em três grupos:

MA NEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVAClONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 639

GRUPO A: terras própriéls para todos os usos, abrangendo as seguintes classes:


Classe I: terras intensivamente cullivéS veis e sem problemas élpél rente de conservaçJo.
Classe II: terras com pequenas limitações, passíveis de serem culti vadas intensi-
vamente, rnas com problemas simples de conservação.
Classe Ili: terras com limitações tais que reduzem a escolha cJos culti vas e, o u,
necessitam de práticas con1plexas de conservação do solo ou de drenage m.
Classe IV: terras com limitações severas para cultivas inten ivos e por isso só podem
ser cultivadas ocasionalmente ou em extensão limitada.

GRUPO B: terras impróprias para culturas, mas ainda adaptáveis para pas tél gem,
silvicultura e refúgio à vida silvestre. Compreende as segu intes clélsses:
Classe V: terras com pequeno risco de erosão, mas com outrns limitações, de forma tal
que têm seu uso restringido às pastagens ou ao reflorestamento.
Classe VI: terras com limitações tão severas, no que diz res peito ao risco de erosão,
tornando-se impróprias para a maior parte dos cultivas, limitando seu uso às pastagens
ou ao reflorestamento.
Classe VII: terras com Limitações muito severas, que as tomam impróprias para cultivo
e linútam seu uso às pastagens ou florestas, com práticas complexas de conservação.

GRUPO C: terras impróprias a qualquer exploração agrícola. Compreende uma classe:


Classe VIII: terras impróprias para cultivas, pastagens ou reflorestamento, podendo
servir apenas como abrigo à flora e fauna silvestre.
As subclasses de capacidade de uso são qualificadas em razão da limitação dominan te.
Essas limitações, que caracterizam as subclasses, são identificadas por letras minúsculas,
indicadoras de um dos seguintes tipos de limitação:
e - erosão presente ou risco de erosão; s - limitações por causa de atributos ad versos
do solo; a - excesso de água; e e - limitações climáticas.
As unidades de capacidade de uso tornam explícitas essas condições, facilitando o
estabelecimento das práticas a serem precorúzadas; essas são indicadas pela colocação
de um algarismo arábico seguindo a designação da subclasse, após un1 hífen, como no
exemplos a seguir:
Ile-1: limitação pela declividade moderada (classe B), que pressupõe um risco de
erosão moderado, indicando a necessidade de práticas simples de conservação do solo
quando cultivado com lavouras.
lla-1: limitação por excesso de água, que pode ser corrigida com práticas simples de
drenagem.
llle-1: lim.itação pela declividade acentuada (classe C), que indica um severo ri -co de
erosão, que só pode ser evitado com práticas complexas de conservação do ola.
llle-2: limitação por presença de erosão em sulcos, indicando a necessidade de prática
complexas para recuperar e proteger o solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


640 lGO FERNANDO LEPSCH

s unidade de capacidade deu O fornecem infonnaçõe mais e p cíficas e detalhadas


do que a sub las e para a aplicação nas diversas glebas de uma propriedade agrícola. São
agrupamentos de condições similares quanto à aptidão para plantas cultivadas e para
resposta a um me mo tipo de manejo.
~ressupõe-se que as unidades de mapeamento pertencentes a uma única unidade de
capacidade de uso correspondan-1 a terras adaptáveis aos mesmos tipos de lavouras ou
pa~tage_ns, e que requeiram sistemas de manejo similares. Pressupõe-se também que as
e hmah, as de col heita , em longo prazo, dos cultives mais adaptados, em uma mesma
região climática e sob mesmo sistema de manejo, não devem variar mais do que 25 % entre
o olos de uma mesma unidade de uso (Klingebiel e Montgomery, 1961).
Agrupando as unidades de mapeamento em unidades, subclasses e classes de
capacidade de uso, o sistema permite uma primeiTa distinção entre terras cultiváveis (ou
aráveis) e não cultiváveis, pressupondo aumento em aptidões das primeiras (classes Ia III)
até as últimas (classe Vlíl). Esse sistema de interpretação de levantamentos do meio fisco
é considerado ba tante simples, versátil e flexível; por isso, várias adaptações, com base
nas descrições relatadas por Klingebiel e Montgomery (1961) têm sido feitas em vários
países. A versatilidade do sistema reside no fato de que os valores dos fatores limitantes,
para agrupar as unidades de mapeamento em unidades de uso e subclasses, podem ser
estabelecidos com critérios diferentes, de acordo com os atributos específicos da área que
está sendo estudada.

ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO
PROPRIAMENTE DITO

Uma primeira decisão deve ser feita sobre quais são os elementos mais importantes do
uso atual das terras que requerem modificações. Primeiro, deve-se considerar se as glebas
de uma fazenda que se encontra em boas condições devem ser preservadas. lncluem-se
as áreas ainda ocupadas por vegetação natural - se essas compreenderem 20 % ou menos
da propriedade. Depois, deve-se procurar melhorar as glebas de cultivo que não estão em
boas condições; para isso, muitas vezes é necessário modificar o arcabouço da propriedade,
planejando novas estradas internas ou "carreadores". Tal arcabouço normalmente é feito
sobre o mapa de capacidade de uso e do atual uso das terras.
Um esboço preliminar de novo arcabouço da propriedade deve ser feito para
ser discutido com o proprietário. Somente depois que houver um acordo em todas as
modificações, um mapa definitivo do uso planejado pode ser elaborado. Depois da
identificação dos tratos de terra que são mais susceptíveis à erosão - ou quais terras já estão
mais erodidas - deve ser feita uma seleção e indicação das práticas de conservação do solo
mais adequadas, visando reduzir a erosão e o transporte de sedimentos a níveis aceitáveis.
Essas práticas conservacionistas devem ser estabelecidas com boa base científica, devem ser
tecnologicamente viáveis, adaptáveis ao uso preferido da terra, rentáveis e de baixo custo;
além disso, devem estar de acordo com as condições econômicas e culturais do proprietário.
Muitas vezes, certos tipos de explorações agrícolas da terra, já estabelecidos há algum
tempo, mas que estão em desacordo com a cai:acidade de uso das terras, podem ser
trocados de lugar ou eliminados completamente. E comum também que o plano proponha

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ...
641

mudanças ele posição de caminhos e cercas. Barragens e diques cos tuma m ser locali zados
no mapa. Tudo isso deve ser feito dentro de normas económicas e em um esca lona me nto -
normalmente durnnte cinco anos- compatível com as possibilidades do proprietário rurél l.
Depois de concluído o pla nejamento pode ser apresentado na fo rma d e três m <1 pas e
um memorial descritivo. Dois deles são opta tivos; o da capacidade de uso das terras e O do
u so atual; o mapa do planejamento é o mais essencia l.
O memorial técnico-descritivo tem como principal finalidade descrever, em ling uagem
acessível ao usuá rio, tudo aquilo que foi notado nos mapas, a lém das o bserva_çõe e
interpretações adicionais. Nele estará desenhado todo o novo arcabouço da propried ad e
(estradas, carreadores, cercas, canais divergentes e escoadouros). O memorial descriti vo
indicará as melhores explorações para cada gleba e as práticas de conservação d o solo
aconselhadas, incluindo um cronograma de execução. Porta nto, nele deverão ser descritos
todos os atributos da terra que possam influir na exploração racional, quer sejam notad as
nos mapas durante trabaU10 de campo ou nas cadernetas ou inferidas dessas e o utras
fontes de informação. Esse deverá conter também um resumo que descreva a metod ologia
de trabalho empregada.
Não existem normas rígidas para elaborar o memorial técnico-descritivo. Os principais
itens, que podem ser abordados, são os seguintes: introdução (finalidade do plano etc.);
levantamento do meio físico (localização geográfica, clima, solos, relevo, uso atual das
terras); capacidade de uso das terras (unidades de uso, subclasses e classes); descrição d as
glebas planejadas (localização, extensão, uso atual e planejado e práticas de conservação do
solo); e programação das operações necessárias à implantação do projeto, com cronograma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De posse dos mapas e do memorial descritivo, o proprietário de terras agrícolas terá em


mãos um inventário de sua propriedade e um plano de ação - ambos elaborados com misto
de técnica e arte - em que estarão especificadas as ações dentro de um cronograma com
o qua l poderá fazer melliorias em sua propriedade. Esse planejamento conservacionista
funcionará como uma valiosa ferra menta para ajudá-lo a proteger e melhorar os recursos
naturais que suportam as operações agrícolas mais produtivas e rentáveis. Ele difere muito
dos planos de manejo de nutrientes, com base em inventários de "análises de solo" e q u e
visam à avaliação da fertilidade do solo e às recomendações de aplicações de adubos e
corretivos. Ao contrário desses - que são mais úteis para indicar quanto de adubo e calcá rio
u sar no ano em curso - os planejamentos conservacionistas enfatizam mais as indagações
relacionadas ao "o que cultivar" e "onde cultivar"; indicam também quais práticas de
conservação do solo devem ser observadas, abordando urna série de questões relacionadas
à proteção dos recursos naturais, para todas as operações agrícolas que serão executadas
em toda a propriedade durante quatro a seis anos. A meta principal é promo er um
desenvolvimento sustentável no meio rural, ou seja, aquele que a tende às necessidades
da geração presente, sem comprometer a habilidade d as gerações futuras para satisfazer
as s uas próprias necessidades. Na figura 1, apresenta-se um esquema com as principais
a tividades necessárias ao planejamento conservacionis ta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


642
IGO FER NANDO LEPSCH

Planejamento do uso racional da terra

Levantamento Classificação da capacidade de uso da terra


1 1

l
- Perfil do
solo
Profundidade
Textura
Permeabilidade
Fatores limitantes

1
,__ Declive do
solo - Classe
Comprimento
Regularidade

1
Características
físicas
- ,__ Erosão do
solo - Tipo
Grau

Tipo de cobertura vegetal


- Uso atual Nível tecnológico
Estádio de desbravamento

Caminhos
Benfeitorias semoventes
Oima
- Diversos Forma e tamanho da
propriedade
Localização
Situação das águas

Mercados e preços
,-- Zona
Valor das terras
Características
econômicas
-
Situação financeira
--- Proprietário Situação econômica
Riscos

Relações sociais internas


- Propriedade Habitações - recreações
Salário - mão de obra
Características
sociais - Salubridade

- Zona Assistência sanitária


Educacional
Demografia

figura 1. Fluxograma do planejamento racional de uma propriedade agrícola, dentro dos princípios
da conser ação do solo.
Fonte: Adaptado de Lcpsch ct aJ. (2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


XX - PLAN EJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 643

AGRADECIMENTOS

À Profa . lva na Quintão de Andrnd e, pela revisão fin al do tex to; e ao col ga An tô ni o
Ramalho Filho, pelas críticas e suges tões apresentadas.

LITERATURA CITADA

Brady NC, Weil RR. Elemen tos da natureza e propriedad e dos solos. Y ed . Porto Alegre: Bookman/
Freitas Bastos; 2013.
Food and Agricultura( Organization - FAO. Framework for land eva lu ation. WJgeningen: 1976.
(ILRJ Publ ica tion, 22).
Hudson, N. Soil Conservation. New York: CorneU University Press; 1971. 302p.
Ins tituto Brasileiro de Geogra fia e Estatística - IBGE. Coordenação de Recur<;os 1 .:itu rai e Estud os
Ambientais. Manual técnico de pedologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: 2007. (rBGE. Ma nuai Técnicos em
Geociências) Disponível em http://www.ibge.gov.br/ home/geociencia / recursosnaturais/
sistema tizacao/ manual_pedologia.shtm
KJingbiel AA, Montgomery PH. Land-capability classification. Washington: Soil Cons. Service, U.S.
Govt. Print Office; 1961. (Handbook, 210)
Lepsch CF. As necessidades de efetuarmos levantamentos de solo pedológicos detalhado no Brasil
e estabelecermos as séries de solos. R. Tamois. 2013;1:3-15.
Lepsch [F, Espíndola CR, Vischi Filho OJ, Hernani LC, Siqueira DS. Manual para levantamento
utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de u o. Viçosa, MC: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2015. 170p.
Marques JQA, Bertoni J, Grohmann F. Levantamento conservacionista - Levantamento e classificação
de terras para fins de conservação do solo. Campinas: Ins tituto Agronômico de Campina ; 1955.
(Boletim, 67).
Santos HG, Jacomine PKT, Anjos LHC, Oliveira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida JA, Cunha
TJF, Oliveira JB. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3ª ed. Brasília, DF: Embrapa; 2013a.
Santos RD, Lemos RC, Santos HG, Ker JC, Anjos LHC, Shimizu SH. Manual de de crição e colct.:i de
solo no campo. 6" ed. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 20136. 100p.
Steele JG. Soil s urvey interpretation and its use. Rome: FAO; 1967. (Soi l Bulletin, S).
Warren J, Lawson C, Belcher K. The agri-environment. Cambridge: Cambridge Universitv Press;
2008.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E D A Á G UA
EM AMBIENTES URBANOS

Fabrício de Araújo Pedron 11, Ricardo Bergamo Schenato 21 & Magnos Baron i:.V

11 Universidade Fede ra l de Santa Maria, Departamento de Solos, Santa Marfa, RS.


E-mai l: fapedron@ufsm .br
~, Universidad e Federal de Sa nta Maria, Departamento de Solos, Sil.11ta Ma na, RS.
E-mail: ribschenato@gmail.com
'I U ni versidade Federal de Santa Maria, Departa men to de T ransportes, anta Mana, RS.
E-ma il: magno baroni@gmail.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO .......................................................................... ............ .................................. ·····················- ···-··· .. 6-l6


O PROCESSO DE URBA1 IZAÇÃO E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS ··········································-······· ..... 6-IB
OS SOLOS NO AMBIENTE URBANO ....................................... ............... ... ... ....................................... ·-·····- ·······.. M9
Fu nções dos solos no a mbie nte urbano ................. ............ ......................................... ................... _. ................. 651
Iden tificação dos solos urbanos························· ··································· ················· ·········································-··· 65-1
A ÁGUA NO AtvIBIENTE URBANO ............ .... .............. .... ........ .............................................................................. 656
Fu nções da água nas cidades··················· ··············· ········· ··············· ············ ··· ·········································- ·········· 659
D inâmica hídrica mbana ··············· ··············· ··············· ··························· ···································- ·······-·······-······· 660
QUESTÕES PARA A CONSERVAÇÃO DOS SOLOS E DA ÁGUA EM AMBI ENTES URBA r 05................ 662
A lterações a ntrópicas nos solos u rbanos ................ ......... ..................... ........................... ........... ...... ·-············· . 663
Erosão híd rica urbana e rural ....................... ..................................... ......................................... ...........-.............. 66ó
In u ndações urbanas e ru rais ............. ......... ............. ... ....................................... ................................................... 669
Desliza m e ntos d e encos tas urbanas ···················· ································································--·············- .............. 671
Con taminações urba nas e rura is dos solos e da água .................. .............................................................. ... . 67'
PRÁTICAS D E MANEJO CO SERVACION ISTA DO SOLO E DA r-\GUA El\. l AMBIENTES U RB.·\ t 67
Man ute n ção d e á reas verdes .............. ................. ...... ........ .............................................. ................ ············-······ 67
Telhados verdes ········· ····················· ···························································································-··· ·········· ··-··-····· O
Jardins de ch u va · •• • •• •• •••• ••••••••• • • • ••• •• •••• • • ••••• • • • • • • ••• •• • •• •• • ••• •••• •• •••oo••• • ••••• •• • •• • •• • • • •••• • • ••• • ••••• • •• • • • •• ••••• • •• •• ••••- • • •••• • • • ••••• • •• 2
Pa v i1nen tos pe nneáveis ·········································· ·················•·········· ····················· ···························-·-·············
Cole ta sele tiva de resíd uos sólidos urbanos ········································································ ······················-· ······ 68--1
MAPEAM ENTO E C LASSIFICAÇÃO TÉCNICA DE SOLOS U RBANOS PARA FrNS DE CO SERVA -\O... of 5
M apl:'a m e n to d e solos urbanos ............ ...................... ... ............... .. ........... ························· ·······- ....... ... ............. ~~
C lassificação técnica ou interpreta tiva de solos urbanos ·············· ···················- ············ -······················-·· ····· 6 1
CO S ID ERA ÇÕES FINA IS ........................... ............... ....................... .............................. ···-······························ ... 9
LITER ATU RA C ITADA ·························............................................................. .......................·--········-··· ··············· 6 )

Be rto( I, De Maria IC, Souza LS, ed itores. M,m ejo e conservação d o solo e Ja água. Viço c1, MC : • •iL-<l.1de
Bras ile ira de C iência do Solo; 20 18.
---
646 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

" O f11t11ro dos ccossisll'111ns dcpc11deni de C0/110 serc111os cnpnzes rle


· tomar os cm/ros 11r/1n11os s11stc11/ávcis. " - M,1rina Alberli (2010)

INTRODUÇÃO

O olo e a água são recursos naturais fundamenta.is à manutenção da vida. Esses


recur o , e sencial mente finitos e não renováveis, têm cada vez mais se tornado limitados,
conforme ocorre o awnento da população e suas pressões sobre os ecossistemas. A
importância de e conservar tanto o solo quanto a água tem se evidenciado mais claramente
que nunca, e a degradação desses tem se refletido em perdas imensw-áveis em termos
ambientais, econômicos e sociais (froeh et ai., 1991).
A conservação de solos e água em ambientes urbanos demanda conhecimentos acerca
dos processo hidrológicos, pedogenéticos e antrópicos, tanto no ambiente urbano como
no rural, visto que ecologicamente não existe uma compartimentalização da paisagem, e os
dois ambientes, embora diferentes, se apresentam interconectados.
Os centros urbanos são espaços artificiais, que apresentam alteração no balanço
de energia, em razão das muitas h·émsformações da paisagem natural. Diferente dos
ambientes naturais, ecologicamente equilibrados em termos climáticos, hidrológico e do
balanço energético, esses centros evidenciam artificialidades como impermeabilização
do solo, materiais altamente refletores, absorventes e transmissores de energia, poluição
(atmosférica, lúdrica, edáfica, sonora e visual) e reduzida cobertura vegetal. Esses aspectos
interferem negativamente no ambiente e na paisagem urbana, reduzindo significativamente
a qualidade de vida da população.
O processo de urbanização promove inúmeros impactos sobre a paisagem urbana e a
rural. Intensificada no Brasil, a partir da década de 1970, a urbanização é considerada um
procedimento inevitável, resultante da organização social humana, que visa à adequação
e melhoria da qualidade do ambiente, proporcionando melhores condições de vida em
comunidade. No entanto, a falta de planejamento quanto à expansão das cidades acaba por
degradar o ambiente, principalmente os recursos pedológicos e hídricos, dificultando sua
recuperação e aumentando os custos desse processo.
O solo é um dos elementos da paisagem que mais sofre interferência por causa do
crescimento das cidades. Considerado um corpo natural com atributos resultantes da
interação de vários fatores (clima, material de origem, relevo, organismos e tempo) e
processos gerais de formação (adição, remoção, translocação e transformação de materiais),
esse apresenta funções vitais para os ecossistemas rurais e urbanos, sendo imprescindível
para a manutenção da vida e sua biodiversidade no planeta Terra.
Em ambientes urbanos, os solos desempenham funções-chave ambientais e
tecnológicas para a organização ecológica e a social desses espaços. Eles prestam vários
serviços urbanos como o s uporte às obras de engenharia e ao desenvolvimento da
vegetação, a preservação da diversi~a?e biológica e, de aspectos históricos, a absorção e
a retenção e filtragem de águas pluv1a1s e outros res1duos urbanos. Dessa forma, os solos
contribuem para a produção de a)jmentos e manutenção de áreas verdes, ciclagem de
resíduos, inertização de substâncias tóxicas, retenção de C e controle do ciclo hidrológico
(Pedron et a i., 2004; Azevedo et ai., 2007).
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA EM AMBIENTES URBANOS 647

Os so los encontrados nos centros urbanos, e mbora possa m m;:i nte r se us c1tri bu tos
naturais, de maneira geral se ca racte rizam pela acentuada modificação a ntrópica. Esses
solos tê m sido amplamente descritos como uma mis tura de ma te ri a is, frequen tem nte
de origem antrópica, que diferem daqueles pedogenéticos (De Kimpe e Mo re i, 2?00). ;\
grande maioria dos solos urbanos oferece cond ições inadequadas ao d esen volv imento
vegetal em razão da ocorrência de fatores limitantes ao crescimento rad ia l, co mo: res tos
de construções como tijolos, borrachas, pedaços de made iras, ferros, concre tos, re tos
de pavimentos, materiais plásticos e encanamentos das redes de drenagem, san itá ria e
elétricas. Não raramente, esses solos têm seus horizontes removid os o u a lterados e eu<;
atributos químicos, físicos e biológicos modificados pela in trodução d e materia i ex ternos,
provoca ndo situações indesejáveis, muitas vezes de difícil correção.
A água é outro recurso natural imprescindível ao desenvol imento das cida d es.
Embora o planeta seja chamado de planeta água, frequentemente aco mpa nha m-se
casos de falta de água em áreas rurais e centros urbanos, ocas ionand o dano ambien ta is
e econômicos importantes à sociedade. A ,1gua é um bem e sencia l à vi da e no meio
urbano desempenha funções importantes para o conforto térmico e qualidade de vid a da
população. A água é imprescindível para o desenvolvimen to de qualquer o rgan ismo vivo,
incluindo a vegetação, os animais e a população humana. O processo de evapo tra ns piração
da água retira calor do ambiente, reduzindo o gasto energético em áreas urbanas (G il! et ai.,
2013). A sanitização de materiais, equipamentos e a mbientes é també m função impo rtante
da água no meio urbano.
Apesar de sua importância, muitas pessoas ainda não têm acesso à água po tável de
qualidade, mesmo em áreas urbanas. Estimativas s ugerem que apenas 60 % da d ema nda
global por água potável serão satisfeitas em 2030 (Kontokosta e Jainb, 201.5). lguns
levantamentos têm apontado para o uso humano de águas contaminadas, tanto em á reas
rurais como em áreas urbanas, tornando-se um caso de saúde pública (Amaral e t ai., 2003).
O manejo e a conservação das águas em áreas urbanas têm sido um d e afio
complexo, muitas vezes abordado de forma inadequada pelo poder público. A
urbanização descontrolada, o uso equivocado de fontes de águas limpas, o desperdício, a
contaminação, o tratamento inadequado e a falta de ações técnicas e educativas no sentido
do uso sustentável da água têm contribuído para aumentar a complexidade de a que tão
(Kontokosta e Jainb, 2015).
Da mesma forma, para a conservação adequada dos aios, co m fo rte reflexo na
qualidade da água em áreas urbanas, os ges tores urbanos devem considerar seu atributo
intrínsecos que determinam sua aptidão e limitação de uso. É comum nos centros urbano
a conversão de ambientes frágei s em áreas consh·uídas, que oferecem risco em razão d a
sua ins tabilidade, como encostas de morros, banhados e margens de cursos d ' água. E e
ambientes d esempenham papel importante no equilíbrio natural, devendo ser pre ervad os
das pressões antrópicas.
N esse sentido, o manejo conservacionista do solo e da água em áreas urbanas pas a peb
adoção de práticas e tecnologias disponíveis; enb·etanto, e as demandam planej :1ment
adequado para a sua implantação. Como as cidad es exige m solos adensado - pura re -istir
às obras de engenharia e, ao mesmo tempo, solos porosos e fr iávei para u portílr as áreas
verdes, toda atividade ur.bana nece~s~ta de planejamento e investimentos esp cifico pa ra
ma nutenção de um ecossistema equ1hbrado, onde as pessoas tenha m egurança e e nfo rto
(Albe rti, 2010; Page et al, 2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


648 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Existe uma carência muito o-rande de informações sobre os solos exis tentes sob a s
cidades, que são necessárias par:um melhor planejamento de uso desse recurso natural.
O mapeam nto e a ela sificaçào dos solos, ao considerar seus atributos morfológicos,
~ísicos, químicos e mineralógicos, permitem determinar seu potencial de u s o . Essa s
mfo~·IT1ações, juntamente com o diagnóstico do avanço urbano e mapeamento das áreas
de nsco, são úteis para o planejamento do uso racional dos espaços urbanos e contribuem
para o manejo e a conservação sustentável da água. Tais informações sobre os solos e a
água evitariam a degradação deles, reduzindo dessa forma os custos do desenvolvimento
urbano.
Diante do exposto, o objetivo deste texto foi reunir informações sobre questões
relacionadas à conservação do solo e da água em ambientes urbanos, tratando das
especificidades desses recursos naturais nas áreas urbanas, apresentando práticas de
manejo alternativas para a proteção deles e destacando, sempre que necessário, as interfaces
de ambientes rurais e urbanos nessas questões.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS


AMBIENTAIS

A industrialização do país, iniciada na década de 1930 e intensificada na de 1970,


associada ao crescimento demográfico e à núgração rural, foi a responsável pela acentuação
do processo de urbanização no Brasil (Rossato, 1993). Dados dos censos brasileiros
evidenciam que a popuJação urbana no Brasil cresceu de 12,8 milhões na década de 1940
para 110,9 núll1ões no início da de 1990, atingindo 137,8 núlhões em 2000 e 160,9 milhões
em 2010 (IBGE, 2013a). A taxa de urbanização subiu de 32 % em 1940 para 75 % em 1991,
passando a 81 % em 2000 e 84 % em 2010, evidenciando o atual caráter urbano do país.
A acelerada explosão demográfica nos centros urbanos tem tornado complexa a
adoção de politicas públicas que possibilitem a organização social e a ambiental dessas
áreas. Na maioria dos casos, o crescimento urbano ocorreu de forma desorganizada, sem
a devida preocupação com a qualidade paisagística e o bem-estar de seus habitantes (Da
Costa e Cintra, 1999).
No Brasil, a partir da década de 1970, o poder público perdeu o controle da expansão
urbana, criando-se inúmeros loteamentos irregulares, conhecidos como favelas. Muitos
desses loteamentos foram construídos sobre áreas de preservação permanente, em
terrenos frágeis sob o ponto de vista físico, como: encostas de morros, banhados e margens
de cursos d' águas (Callai, 1993), ocasionando danos ambientais, econômicos e sociais aos
municípios.
O desconhecimento da paisagem local e de seus mecanismos ecológicos, aliado
à inexisténcia de planejamento multidisciplinar da urbanização, promoveu efeitos
adversos à qualidade do ambiente urbano (El Araby, 2002). Conforme Meshgi et ai. (2015),
algumas técnicas usadas no processo de urbanização rompem os ciclos naturais, como
a impermeabilização da superfície do solo, o desrespeito às condições topo-pedológicas
locais, a elevação do albedo em áreas construídas, o uso dos solos e das águas para descarte
de resíduos não tratados e a insuficiência de vegetação no meio urbano.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBlENTES URBANOS 649

A a lteraç5o cio ciclo hidrológico res ultante, principalmente d a destruição d ~s solos


provocada pelo processo de urbanização, tem gerado desconfortos na po pul aç_ª ? (S_un
e Caldwell, 2015). A compactação dos solos e impermeabilização da s uperf1 c1e te m
aumentado demasiadamente os fluxos de água, ocasionando enxurradas e a lagamentos
urbanos (Meshgi et ai., 2015; Yu e Coulthard, 2015), erosões e d eslizamentos de encostas
(Goransson et ai., 2014), assim como a poluição resultante déls élti vidades huma na tem
diminuído o acesso da população à água potável (WWAP, 201 5).
De acordo com Alberti (2010), a importância das áreas urbanas na manutenção d o
ecossistema tem crescido significativamente. Considerando a expressiva expansão el es as
áreas e as inúmeras atividades humanas realizadas sobre elas, com toda a carga de resíduos
gerada, cada vez mais essas terão papel importante na proteção de ecoss istemas loca is
e globais. De acordo com essa pesquisadora, o futuro dos ecoss istemas como um todo
dependerá da capacidade humana de tomar os centros urbanos sus tentá veis.
Também, a conversão de terras agrícolas ou mesmo a des truição delas é um efeit o
importante da expansão das áreas urbanas. O crescimento das cidades geralmente ocorre
sobre áreas de baixo valor agregado, em razão das suas fortes limitações de uso e fragilidad es
ambientais. Com o aumento das pressões legais para a preservação dessas áreas naturais
mais frágeis, restam para as cidades as terras mais nobres, com solos de qualidade agrícola.
Alguns países, como a China, já têm apresentado limitações territoriais para alimentar
aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas. Nesses locajs, o crescimento descontrolado das
cidades tem acarretado efeitos negativos na conversão de terras agrícolas em áreas urbanas
(Song et ai., 2015).
Não menos importante éa inter-relação entre as causas e os efeitos relativos ao diversos
processos ocorrentes nas áreas rurais e urbanas. Muitos dos processos de degradação das
áreas urbanas são de origem rural, sendo o contrário também verdadeiro. A poluição
das águas com agrotóxicos e sedimentos ocorre, muitas vezes, por causa do uso agrícola
equivocado das terras (Merten e Minela, 2002), da mesma forma que as áreas agrícolas
frequentemente recebem águas contaminadas com resíduos urbanos, principalmente
com esgoto e resíduos sólidos. Nesses casos, deve-se considerar, primeiramente, que a
paisagem geográfica não apresenta limites sociopolíticos e, secundariamente, que a solução
dessas questões passa pelo entendimento integrado da dinâmica dos ecossistemas rurais/
urbanos, de forma que a aplicação das técnicas existentes seja eficiente na conservação
desses ambientes.

OS SOLOS NO AMBIENTE URBANO

O s solos nos centros urbanos variam conforme o grau de urbaruzação do território.


Cidades pequenas e mesmo vilas tendem a apresentar cobertura pedológica pouco alterada,
praticamente natural, onde os solos se caracterizam pelos seus processos pedooené ticos
locais . Já nas cidades maiores e mais populosas, onde as ativ idades urbanas e in°dus triais
são mais intensas, frequentemente há o predomínio de uma cobertura pedológica alterada
pela ação anh·ópica (Figura 1).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


650 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Figura 1. Diferente intensidades de ocupação urba.na e sua relação com as alterações a.ntrópicas
nos -olos. (a): área urba.na com alta intens idade de ocupação e solos com alto grau de alteração;
(b): área urbana com média intensidade de ocupação e solos naturais associados com solos
alterados; e (c): área urbana com baixa intensidade de ocupação e solos naturais com pequenas
a.Iterações (Cidade de Natal, RN).
Fonte: Foto do, au to re;;. (2015) .

II
. los centros urbanos, comumente se referem aos solos pelo termo solos urbanos",
que significa os solos encontrados nesses locais (Stroganova e Agarkova, 1993; Jim, 1998;
Craul, 1999; De JGmpe e Morei, 2000; Pedron et ai., 2004, 2006a). Esse termo é usado para
destacar diversas alterações nos atributos, comuns no meio urbano (Pedron et ai., 2004).
Entretanto, considerando a complexidade das atividades realizadas nesses ambientes
e seus efeitos sobre os solos (Blume, 1989), torna-se por vezes complicado distinguir as
características pedogenéticas das resultantes do uso urbano dos solos.
Segundo De JGmpe e Morei (2000), outras definições são apresentadas para solos
urbanos, considerando sua natureza e intensidade de alteração. Muitas vezes, solos
urbanos são equivalentes a urna subdivisão de solos antrópicos; no entanto, muitas áreas
urbanas, como parques e campos naturais, não se caracterizam pelas modificações típicas
11
de atividades urbanas. Portanto, destaca-se que, nesse texto, solos antrópicos" é um termo
que contempla aqueles significativamente modificados pelo uso intenso e continuado
do homem por meio da exploração agrícola, mineral, urbana, industrial, dentre outras,
enquanto "solos urbanos" referem-se a solos que se encontram no ambiente urbano,
modificado ou não pela ação humana.
A ação antrópica nos solos encontrados no meio urbano pode provocar diversas
alterações morfológicas, físicas e químicas (SchleuB et ai., 1998). As modificações mais
frequentes no solo em áreas urbanas são a remoção dos horizontes superficiais em áreas de
corte, estratificação de camadas com materiais distintos nas áreas de aterro e introdução de
materia is exógenos provenientes de descartes de construções utilizados para reconstituição
do solo removido Oim, 1998), aumentando a variabilidade horizontal e a vertical do solo,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBíENTES URBA NOS 65 1

e m razão da dis tribuição do mél teriél l, muitas vezc , d e fo rrnél he te rog0ner1 na á r a (D,
Kimpe e Mor 1, 2000).
Essél heterogeneidélde morfo lógica do solo é importa nte, pois ca usa dcsc~nti nu idacl e_
nos flu xos para manutenção cio eq uilíbrio ambienta l (Azevedo e Da lmolm, 2?0.·4). A,:,
a lterações na densidade, porosidade, estrutura e textura oca io naclas p la ativtd ,i dcs
huma nas sobre os solos, assim como a ad ição de subs tância qu conte nha m elemen tos
químicos potencialmente tóxicos, influenciam todo o ambiente urbano. Em boril processo<;
na turais, como os pedogenéticos, possam imprimir alteraçõe seme lhé! nt s no$ o los,
as a tividades antrópicas caracterizam-se e distinguem-se cless p rocessos pe la su,i
intens idad e e rapidez.

Funções dos solos no ambiente urbano


O solo é um recurso natural essencial aos ecossistemas rurél i e urbanos. No me io
urbano, os solos reali za m diversos serviços importantes ao eq uilíbrio da pa i a gem, sendo o
principajs: suporte e fonte de materiais para obras civis, sustento d as agriculturas u rbana,
suburbana e de áreas verdes, ciclagem de nutrientes e seques tro de C, me io para desca rte
de resíduos e inertizaçào de poluentes, armazenamento e filtragem de ág uas p lu v iai e
preservação da biodiversidade e de artefatos históricos. Entretanto, uas limitações de e m
ser sempre consideradas para que seu potencial de uso seja respeitado.
Como as áreas urbanas são construídas, em geral, por engenheiro ci vis e arquitetos,
a função primordial dos solos é a de sus tentação das obras de e ngen haria. es e contexto,
o solo é o meio físico que deve apresentar comportamento estável, em va ric1çõe de
volume ou de resistência. Esses atributos ne m sempre podem ser mantidos, já q ue o solo
é um sistema dinârruco. Assim, as fundações tendem a ser estabelecida em camad a
mais profundas, menos ativas nos processos de curto prazo com o variações na umid ade
e atividade de orgarusmos (Pedron et ai., 2004; Azevedo e t al., 2007). 1 esses casos, e e
atributos do solo são estudados pela geotecnia (Boscov, 2008).
Uma parte significativa dos materiais utilizados para a construção das cidades é
proveniente dos solos. Cascalhos, areia e argilas são os principais produtos u ado como
matéria-prima para expansão das cidades. A extração desses ma teriais tende a se concentrar
próxima às ár eas urbanas, em razão dos custos de trans porte, provocando alteração d a
paisagem e muitas vezes contaminação de solos e águas, principalmente pela liberação d e
resíduos dos equipamentos de extração (Lelles et ai., 2005; Reis et ai., _006). des truição
da vegetação, erosão e redução de hábitats naturais são outros e, emplo de problema
res ulta ntes da exploração incorreta desses recw-sos.
Os solos são responsáveis pelo desenvolvimento da agi;cultura urbana. As pecto
como disponibilidade de mão de obra e proximjdade do mercado con urrudo r favorecem
as atividades agrícolas em áreas urbanas e periw-banas (Grando e liguei, 2002; Machado
e Machado, 2005) . De acordo com. Moglia (201-l), a agricultura urba na forta lece a econ mi.1
local e contribui com alimentos mais saudáveis, além de tomar a cidade rnai independente
em relação aos insumos ali mentícios. Contudo, por ca usa das a lte raçõe antrópic<1 - d o -
solos nessas áreas, é muito comum a produção de alimento obre terrenos contaminad ,
como á reas de aterros e descarte de efluentes urbanos e indu triaj , oferecendo ri -co à
população consumidora (Pedron et ai., 2004). Portanto, os ges tore públicos e a população
devem estar atentos ao controle dessas situações.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


652 FABRÍ 10 D Al~/\ÚJO PEDRON ET /\L.

!-- ,· r . SU'-lcnt,,dél~ pelns _nh1s, inílm'nci, m ,, q11;1lid ,1 de doe; ('S p ,1 oc;


url êl n ~- -1 élS!-C' l1 '- c l .,1. (2014), .,.., mud ,,n ·,1s clim, ticíl.., pn1m<Wl'r,10, e m êl lg uns
paíc..~s,_a cl '\'.:!C'i'i c da lemr,cratur,1 Lfos l"'Crfndn~ dr c~ti.:igL'ns, torn;rndt1 o. ccntro urban os
lnc;ii~ msa lul rcs. 1 sses as , ê'I~ Arr-ns ,. rdr-s l l m r-lcvt1da c;ipn id, de de onlribuir no
·onforto l rm1 0 urbano, por m •io d:, r(•duç:io d,, t1•m1-"'er;1turn pel;i evilpo lrnn piraçào
d · l0 d a ,. g líl(él ( ,ili l ai., 2013) .. 1L m disso, os cf eilos paisagísti cos da área
\' Jrd s influ n iam o bem-L~. l.ir hum:1110. s , r 'ª- verdes tmnb m SílO importantíssima
para a r gula em d) i lo hidrológiw n0 ambien te urbano. om a elevada capacidade
de r t nd 10 de , gua , as J r a. ,·erde_ rnn lribuem significativa men te para a redução das
•n . urrada~ dos ala amcntos urbanos (Yao c l ai., 2015).
ci lag m d nutri nte. no solo fundamen tal pa ra a produção de biomassa e
3

su t nla à d s ecossistemas. entradíl de C e nutrientes na biosfera se dá pelas plantas,


om forte int ra ão com os _olo e microrganismos (Azevedo et ai., 2007). A ciclagem
de nutrient orrida principal mente pela deposição de matéria seca da vegetação
sobre sol ( lle, 2007), permite a manutenção d as plantas e dos microrganismos, que
de. empenham pap 1 fundamental na mineralização dos nutrientes (Morei ra e Siqu eira,
20 6) . E a ci lagem de nutrientes importante na manutenção das áreas verd es urba n as;
por i . o, a impermeabiliza ão da uperfície deve ser controlada, para não impossibilitar o
pro e __o natural de a ciclagem (Pedron et a i., 2004).
de truição do olo ou mesmo a sua a lteração em ambientes urba nos resulta na
redu ã do - estoque de C total. O C orgânico do solo é um dos indicadores d e qualidade
mais utilizado para o plan ejamento de uso e manejo (Lorentz e t a i., 2006; Hu e t ai.,
200 . • 1es e entido, a redu ção dos teores de C no solo teria efeitos físicos e qu ímicos,
influenciando o processos de retenção de água e a disponibilidade de nutrientes para
as plantas. En tretanto, algun trabalhos tê m evidenciado que os solos urbanos, após
ofrerem remediação com a incorporação de materia l orgâ nico, têm elevada ca pacidad e
de retenção de Cem camadas s ubsu perficiais (Chen et ai., 2013), assim como h á pesquisas
que \'erificaram que o processo de a lteração urbana dos solos acumul a m a te rial exógeno
em sub uperfície, a ociado ao aumento dos teores de C (Vasenev et a i., 2014).
O estudo dos e toques de C em solos urbanos não tem recebido a devida a tenção,
e a capacidade de armazenamento de C nessas áreas ai nda não é claramente ente ndida
(Lorenlz et al., 2006; asenev et ai., 2014). Conforme a figura 2, o estoq ue de C obtido em
trabalho realizado na Rússia foi superior nas camadas subsuperficiais, independ ente m e nte
do amanho da cidade, e apresentou va lores mais elevados em áreas urbanas, qu a ndo
comparado com a floresta, pántano e campo.
O solo nas cidades também é u ti lizado para descarte de resíd uos d e naturezas diversas.
A capacidade dele de troca catiónica, reter líquidos polares via capilaridade e transformar
substância , em razão da grande biodiversidade de microrganismos, o torna um ambie nte
si~ificativam enle eficiente para esse serviço, inclusive com elevada capacidade de
in~rtização d e poluentes (Camargo e t ai., 2007; Sposito, 2008) . No entanto, a fa lta de
planejamento e conhecimento dos solos pode resultar em danos ambientais irreparáveis.
O uso equivocado do solo para aterros sani tários e cemi térios pode contaminar as águas
subterráneas e s uperficiais, provocando problema sanitário e ambiental grave às cidades
(Mat1os, 2001; Pach co, 2006) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


xxr - Co I SFRV/\ ÇÀO DO OI o E DA Ar,u E A B ENTES UARJ'\NOS
653

ltl • Ili •
1
1 ' " , 1 1 1, 'í 1,l
1 1) .

_.J

II l l _,, 111 l

)Ir:!" cJ _e .. -'-- 1) -
-f
1 Fl11 rl·~t.1 l'.i 111,rn,1 1 ,H 11ur.1 \ f,• tíPJ'• oi!'
C1111 ~,, 1 U rb,rnn ( ,r l 11 f t' t•. q111 n 1

-Hl- lrl - t 1n• 1 l Jfl 11


(e) (d) l ,li 11d.1 :11. 1-,,
T ,..
1t) !.
\ro 1 '""' ,,,,, 11
·.L 1

l J.
,..
~
-
2" '
1
Cí to .)
l ll t

() .j.......J---.JL-..JL_--<-==->-""--'--'----'----'c=..J......._ () .
Anti g,1 \ \•lh,1 J1 1\-l' lll l{L'CL'l1k l11 du~trt d
n·-.1d1·rht 11

Figura 2. Es toque de ca rbono urg,111ico (CO) e m difcrl·nll''- -;1tu<1Çl"-"' urb,111.:i, ·m llr;cou . Ru 1, 1 1 1 )


diferentes us os da terra; (b): cidades de l,1m,111ho diferl•nle . ICJ 1..1J,1Jt.·, LPm J1lt.'Tc-ntl' · 1, l,1Jl ·
(Antiga - '00 c1 900 ,mos; Velh,1 - J l)(l .i 500 ,111<"; Juv l'm - 60 ,rno.;; t' 1<1.•n•ntt.· - O .1rni<-); ,d).
diferentes ambientes func i(111,1is.
Fonte: Ad,1pt,1dn de• V,hl'nc•,· L' l ,11. (20 1-1)

O solos como um todo são corpos poros0 apa zes de rl'ler · tran m1tir ,1~u,1 ('xo .
2000). as cidade , os solos apresentaff1 g rande po ten ia l p.u,, armilzt'nM a. ,, ~ucl. d ,1:
chuvas, re te ndo-c1s por tempo consiclcr, vel, ev itando ,, dl'scarg,1 r,1p1d<1 p.:iril e 1..u rso ·
d 'água, o que geralmente ocasionam enxurradas (B, rbos.1 l'l ai., _Ol2; Y, o l.' ai., _015).
alagamentos, des li za mentos ele en ostas, erosilo, tr,1n mi ~j de d ·n .:i l' d..1m.J ..10
património público e privt1clo (Peclron ct ,1I., 200.l). 1 • ' l' n~o. ,l 1mp~rm~ 1b1l1L.l ,tu
uperfic ia l excessiva deve se r co ntrolada para e it, r a pt:rda dt'!-", .._t.•rv1ço ,1mb1~nt..ll
proporcionado pelo a lo (Gar ia et a i., 2014) .
Uma função especial do solo é il de cr o hábitilt para um.1 t>lt> ' i.l I Jivl'r-.1J, 1 JL·
organis mos vivos. O número de s pêcies mi crobianil no -;olo ~ p r vavê lmentt.• l n. ior
entre todos os hábitats (Crawford et ai., 2005). luitos d ss:s rg..mbm .._ r aliz.1m ... ~ r\ 1 ·os
ambientais importantes, pois são responsáveis pel, i la •m de nu tri •nte n n ll r ,1-' t:
degradação de s ubs tánc ias tóxicas. Outros ap r ~entam · kv.1do pott•n 1 1 p.:ir~ , proJu · ..1
de produtos farmaco lógicos. Muitos dele Jinda n,1 for,1m id ntifi ·, d ~ t: ôtu l do:-.
(Coleman e Whitman, 2005).
Poré m, com tamanha riqueza Jc es pé ics, o s lo tr1mb m p 1 • . ., •r vdo r dt> e n - 3
huma nas. É g rande o número de organism os qu o utiliz, me m vetor n, tr, n · m,~o
de doenças. Entre as principai · doenç d i ·semin.1d s p r e: · - podem ..,~r •ira l.1-..
ancilos tomíase, ascaridía e, amebíase, co l rJ , Lli rr 1a infoú :tu ,1, di -c ntt:ri b,ul:lr,
esquistoso mose, es trongiloidíasc, f bre tit o ide, ft>br, p.1ri.1tít iJc: , s, lm nd ..,t:, t ni~ .. t.!
cisticercose (Bra il, 1006).

,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E o AGu
654 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET Al ,

esses c,1sos, o solo serve como _uport-e na manutenção do ciclo de v ida d e vários
age ntes Cílu, adorcs e trnnsmissorcs dessas doençns, como inseto , bactérias, protozoários,
pla telmintos, f ungos c outros organismos (Pedron et ai., 2004). Estudos sobre a contaminação
feca l de árcéls urbanr1s por caninos evidenciam que a exposição humana a esses riscos é
signi fica tiva, e a condição socioeconómica da população tem relação com o número de
animai e a ta\.a de contaminação (Rubel e Wisnivesky, 2005).
O solo pode e\.ercer outras funções que não aquelas ligadas à manutenção do equilíbrio
natural, como a culturais. Essa funçõe estão relacionadas com as atividades antrópicas,
como a fonte de ma téria-prima para artefatos de trabalho e artís ticos e a preservação
de artefato histórico , que são respon áveis pela expressão histórica e cultural das
civilizaçõe (Aze, edo et ai., 2007). A compactação frequente dos solos urbanos reduz
ignificativamente a porosidade, dificultando a peneh·ação da água e dos gases, reduzindo
a ati,·idade biológica e criando um ambiente propício à preservação de artefatos (Howard
et ai., 2015). Um exemplo brasileiro do estudo de registTos culturais de antigas civilizações
no solos são os trabalhos sobre as terras pretas arqueológicas na Amazônia (Kampf e
Kern, 2005). Confom,e esses autores, a pedoarqueologia, ciência que trata da interface
entre os solos e a arqueologia, é bastante recente no Brasil e apresenta um campo aberto
para a atuação dos técnicos e cientistas do solo.
Outro exemplo interessante da função cultural dos solos em ambientes urbanos
relaciona-se aos estudos etnopedológicos de ambientes urbanos da idade antiga. A
etnopedologia é um conjunto de abordagens interdisciplinares, que trata das interações
dos homens com os solos e outros componentes dos ecossistemas, em tempos passados e
presentes (Alves e Marques, 2005; Araújo et ai., 2013). De acordo com esses autores, um
enfoque maior tem sido dado ao uso dos solos rurais, enquanto as áreas urbanas oferecem
um campo de investigações ainda aberto. A compreensão dos saberes acerca do uso do solo
em ambientes urbanos de civilizações antigas pode contribuir para o manejo sustentável
dessas áreas nos dias atuais e futuros.

Identificação dos solos urbanos


O objetivo final de qualquer estudo dos diferentes componentes dos ecossistemas,
como os solos, é a compreensão do seu comportamento quando submetido ao uso
antrópico. Conhecer os solos e os seus atributos é fundamental para o seu manejo racional
e sua conservação ao longo dos anos. Entretanto, para que se possam reunir as informações
sobre esses recursos em denominações técnicas que facilitem a comunicação acerca do
tema na comunjdade científica e técnica, é preciso lançar mão dos sistemas taxonômicos.
A Sociedade Internacional de Ciência do Solo (ISSC) tem empregado o termo "solos
urbanos", principalmente a partir dos congressos mundiais de ciência do solo na França, em
1998, e na Tailândia, em 2002, quando simpósios específicos sobre o tema foram realizados.
O termo "solos urbanos" teria a função de ressaltar o uso do solo e suas alterações comuns
em ambientes urbanos; algumas serão discutidas neste texto. Considerando que mais da
metade da população mundial vive nas cidades - no Brasil já são mais de 84 % (IBGE,
2013a) -, a demanda por informações sobre esses solos e suas particularidades quando
ubmetidos ao uso urbano tem sido cada vez maior (Pedron et ai., 2004).
Os solos urbanos tém sido considerados como uma subdivisão dos antrópicos, em boa
parte dos sis temas que já incluem esses solos, como o russo (Popkov e Dement' eva, 2002) e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA EM AMBl ENTES URBANOS 655

o I USS Worki11R Crn11p (Wf{B, 2014). O termo 'solos antró pi os' ta m bém apa rece no s is tema
fra ncês (Spa;:i rgaren, 2000) e aus tralia no (lsbe ll, 2002).
O Sai/ Tnxa11a111y (Sai/ Survey S!nff, 2014), siste ma a me ric,ino que e propõe cl c lc1c::-;ificc1r
os solos do mundo, por isso um cios siste mas mélis uti li z,1dos internacinnc1lmente, tr.Jz
hori zontes dia gnósticos e atributos d iagnós ti cos pa ra enquadra r os solos ,intrópico,; de
origem urbana. No Sai/ Tnxo110111y não há um a ord em específica pa rcJ os solos urbc.1n?: ~u
mesmo os ant,-ópicos. A estratégia desse sis tema é fozer uso d e dois ho ri zontes s uperf1 C1a1S,
o m1t'1ropic epipedo11 e plngge11 epipedon, que são form<1d os pela adi ção de a rtefatos humc1nos
não ligados à agricultura. Esse sistema também lança m ã o de a tri buto diagnó ticos
relacionados com solos alterados ou transportados pelo homem, q ue d ão o ri gem a c;ete
classes utili zadas em nível de s ubgrupo, send o e las: Ant!tnquic, A11t!troden ic, Arrthrapic,
Plnggic, Hnploplnggic, Anthroportic e Anthrnltic. Nos níveis de famí lia e séri e também são
previs tas c lasses que definem a natureza dos mate riais antrópicos, co m o Melhnn0Re11íc,
A sfnltic, Concretic, Gypsifnctic e Artifnctic.
Já o s is tema internacional da IUSS Working Cro11p (WR B, 201-1), m ai conhecido
como World Refere11ce Base for Sai/ Resources (WRB), apresenta a o rd e m dos Tcclzno~o/5,
que enquadra os solos formados pela ação antrópica com significativa adição de a rtefatos
artificiais, típicos de atívidades urbanas e industriais. Além disso, o W RB também utiliza
dentro dos materiais diagnósticos a classe Artefncts, que apresenta fra g mentos de materiais
antrópicos urbanos e industriais, e a classe Tec/111ic !tnrd material, q ue representa a ocorrência
de materiais endurecidos como asfalto e concreto, ambas com o critério diagnó tico para
a ordem dos Tec/inosols. Como qualificadores principais e s u plementares, o WRB util iza
uma série de classes relacionadas com as a tividades urbanas, com o as seguinte : Ekrnnic
(presença de Tecftnic hnrd material próximo da s uperfície), Garbic (p resença de Artcfacts e
resíduos orgânicos), Technoleptic (presença de camada endurecida - Teclmic lwrd material
dentro de 100 cm da superfície), Tcchnic (camadas ricas em materiais antrópicos - Artefact_ ),
Urbic (camada rica em fragmentos urbanos - Artefncts) e Trm1sportic (ca madas de olos
transportadas por maquinário) .
O Sistema Brasileiro de Classificação d e Solos (SiBCS) a tualmente não contempla o
termos solos antrópicos e solos urbanos, apenas h orizonte A antróp ico (SiBCS, 2013), que
se refere a camadas alteradas pedogeneticamente co m influencia antrópica, com o a terras
pretas arqueológicas da Amazônia. Nesse caso, o horizonte A antrópico não considera as
modificações humanas típicas de ambientes urbanos e industriais. o XXIX Congresso
Brasileiro de Ciência do Solo, em 2003, foi apresentada a proposta de criação da o rdem do
Antropossolos, que não foi levada adiante.
A ordem dos Anh·opossolos foi proposta no SiBCS para o e nquadramento de olo
alterados pela ação antrópica. Esses solos d evem a presentar uma o u vcc\rias cam.:idas
antrópicas com, no mínimo, 40 cm de espessura, fo rmadas por materiais di er_os e
apresentando atributos morfológicos, físicos e químicos variávei , conforme o m a teriais e
o ambiente e nvolvidos na sua formação (Cu reio e t a i., 2004). Esse autore organizaram 0
dife re ntes tipos d e intervenção humana nos processos de construção de es solo em trê
grupos : a dição d e materiais, decapitação de ma teriais e m obilização d e materia i di er os,
todos promovidos exclus ivamente pela ação humana.
Alguns estudos tê m apontado para a necessidade da inclusão de uma ordem no iB
que conte mple os solos anh·ópicos e urbanos. O h·abalho realizado por Kampf et ai. (1997)
com solos cons truídos em áreas d e mineração s ugeriu qu e o olos fo sem classificados

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


656 FABRÍCIO D E ARAÚJO PEDRON ET AL.

co~rn " ntro. olo ", dada a impossibilidade de agrupamento com as demai s classes
existente no iB . an tos e t ai. (2013a), estudand o os solos denominados " terras pretas
arqueológicas" d o sul do Esta do do Amazonas, conclu íra m que a criação da o rden1 dos
AntTopo solos ou, pelo meno , a inclusão de urna classe "antrópico", em nível d e s ubgrupo
no iBCS, tornaria o sistema mais adequado para o enquadramento dos solos avaliados.
Entretanto, a complexidade da a tividades urbanas e seus efeitos nos solos têm
dificultado o e tabelecimento de critérios para classificar os solos urbanos. Esses solos
podem ser diferenciados pela alta concenh·açào de metais pesados (Wei et ai., 2009; Wei e
ang, 2010; Andersson et ai., 2010; Luo et ai., 2012; Lark e Scheib, 2013), metano (Blume,
1989), alter~çào da proporção das bases trocáveis e CTC (Stroganova e Agarkova, 1993; Jim,
1998; De K1mpe e Morei, 2000), deposição de rejeitas de construção e industriais (Sch leup
et ai., 199S; Alexandrovskaya e Alexandrovskiy, 2000) e, ou, alteração d o regime hídrico e
térmico do solo (Stroganova e Agarkova, 1993).

. Porém, considerando a expansão proQTessiva


o das áreas urbanas e as a ti v idades
importantes que se desenvol vem sobre elas, como assentamentos humanos e agricultura
urbana, não resta dúvida da necessidade de incluir os solos urbanos nos siste mas d e
classificações taxonômicas dos solos, uma vez que esses sistemas são a base para os s istemas
interpretativos e a elaboração dos mapas de solos (Pedron et ai., 2004; Pedron, 2005). Essa
inclusão representa um avanço na capacidade de definir a vocação de uso (urbana) dos
solos, contribuindo para o planejamento das cidades e a conservação de todo o ecossistema
urbano (Pedron et al., 2007).

A ÁGUA NO AMBIENTE URBANO

A água é uma substância muito simples, formada pela combinação de dois á tomos
de H com um átomo de O (H:P), e imprescindível à manutenção da vida do planeta.
Todos os seres vivos contêm água no seu corpo, por isso dependem dessa substância
para viver. A água também é um importante agente de intemperismo, potenciaJizando a
alteração das rochas, a forma ção de solos e a liberação de nutrientes para os organismos
vivos. esse contexto, a água exerce papel fw1damental na manutenção dos ecossistemas
terrestres e de toda a sua biodiversidade, e é exatamente nesse ponto que a água e os solos
estão funcionalmente ligados. O solo disponibiliza a sua porosidade para reter a água, os
gases, e os seus constituintes coloidais para adsorver nutrientes, enquanto a água faz o
papel de transporte desses nutrientes para as plantas e dema is organismos vivos, a mbos
d esempenhando funções importantes na manutenção da cadeia trófica (Azevedo e t ai.,
2007).
Embora a Terra seja conhecida como o " plan eta água", já que 70 % da sua s uperfíc ie é
constituída por água, nem todo o seu volume está disponível para o consu mo huma no e o
animal Os dados evidenciaram que, do total d a água no planeta, menos d e 3 % é água doce
e que apenas 0,3 % dessa água está disponível em rios e lagos. O restante encontTa-se e m
aq uíferos ou con gelada nos polos, geleiras e montanhas. Nesse sentido, o Bras il é u m país
privilegiado, pois 12 % da água doce disponível no mundo enconh·a-se aq ui. Entr eta nto,
tal fa to demanda responsabilidades social e am biental, que não têm sido tradu z idas em
atitudes a té então.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMB I ENT ES URBANOS 657

o ns id crávcl parcela da popu lação nào tem acesso à águil potáve l. Dado da
WWAP (2015) s ugeriram que a quantidad idea l mínima de água por dia por habita nte
para seu consumo e higiene é de 20 L. Entretanto, somente no Brasil exislem O m ilhõ s
d e indi víd uos sem acesso à água tratada . No mundo Lodo, são 748 milhõe de P ssoélc:,
cons idera ndo os dados até 2012 da Wf-1O/UNICEF (2014). Há estima tiva d q ue 1,8 bilhão
de pessoas consomem água con laminada com Escheric/1in cofi, o rga nismo indicador de
contamjnação fecal (WWAP, 2015). Isso tudo representa que tõc d saúde pública, que
devem ser solucionadas com estudos e inves timentos, visa nd o a qu al idade de vida das
pessoas e preservação ambiental por meio da proteção dos seus recursos natu rais.
Os dados atuais da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciencia e
Culturél (UNESCO-ONU), em relação ao consumo e preservação d a q ual idade da ,ígua no
mundo, não são estimulantes. O último relatório sobre a água no mundo (WWAP, 2015)
estimou que as reservas hídricas globais deverão reduzir em 40 % a té o a no d e 2030 e q ue
20 % dos aquíferos, responsáveis pela água consurruda pela metade d a po pulação mundial,
já são ex plorados acima de sua capacidade. Nessas d uas últimas d écad as, o cons umo de
água cresceu duas vezes mais que a população; portanto, considerando o cr esci mento
demográfico atual desenfreado, serão mwtos os desafios futuros para resolver a q uestões
envolvendo a água.
Conforme apontaram Cooley et aJ. (2014) e o relatório da U ESCO-O (!vVWAP,
2015), a crise globaJ da água é uma questão de govemança. Os dados evid enciam que
existem recursos hídricos para suprir as demandas atuais e futuras; no entanto, há
necessidade d e se mudar o padrão de consumo, gerenciamento e compartilhamento do
recursos hídricos. Os centros urbanos têm sido responsáveis por uma pres ão eno rme
sobre os recursos hídricos (o uso doméstico demanda 11 % da água doce; e o indus trial,
4 %), visto que concentra a demanda por água potável em pequenas áreas, e levando os
custos de abastecimento. Os centros urbanos também têm alta capacidade de poluição
desses recursos. As demandas agrícolas (70 % da água doce) e energé ticas (15 % da água
doce) também têm influenciado a escassez de água. Conforme a figura 3, a demanda de
água a umentará em 55 % em 2050 (WWAP, 2015); portanto, as técnicas mais eficien te de
irrigação agrícola, o aumento na captação de águas da chu va e o desenvolvimento urbano-
industrial sustentável serão exigidos para reduzir essa dema nda.
A falta de programas eficazes de proteção da qualidade da água tem co ntribuíd o
para a s ua contaminação, com efeitos na saúde da população (Amaral et ai., 2003).
Aproximadamente 12 mj)hões de pessoas vão a óbito anualmen te em razão dos problemas
relacionados à má qualidade da água. No Brasil, o cc:m sumo de água imprópria é re ponsá el
por 80% das internações hospitalares via Sistema Unico de Saúde (SUS) (Merten e linella,
2002). Conforme dados da WHO/ UNICEF (2005), as doenças provocadas pelo consumo
de água imprópria são responsáveis pela morte de 4,5 rnil crianças por dia. Embora o ·
d ados não estejam atua lizados, esses dão ideia da dimensão do problema e evidencia m
que a água sempre será questão de saúde pú blica.
Especifica mente nas áreas urbanas, a água é um recur o natural importante e e ·cas 0
que te m sofrido fo rtes a lterações resultantes do uso antrópico. Suas mais di ersa funções,
discutidas ad iante no texto, tom am a água fLmdamental às cidades; porém, 0 crescimento
urbano e o da população têm aumentado significativamente a demanda pela água, 0
que, a ssociado às mudanças cUmáticas atuais (Cooley et ai., 2014), tem pro ocado a s ua
escassez nesses ambientes. Além disso, a alteração do ciclo hidrológico e a contaminação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


658 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL .

do re ursos hídrico pelas atividades urbanas e industriais têm interferid o lanlo nos
e O istema urbanos quanto nos rurnis, acarretando danos econômicos, a mbientais e
saciai (Sun e Lockab~,, 2012).

50()()

E
~

:.,
. -moo
~
-::J
r;;
::J
~ 3000
-r.
e.,
ü

ü
e 2000
r::;
r-
e
':..J
o
1000

o
OECD BRIICS Resto do Global
munto

D Eletricidade ■ Agricultura e pecuária

■ Doméstico D Indústria

Figura 3. Comparação entre as demandas de água doce em 2000 e 2050, considerando as diferentes
demandas e organizações internacionais. OECD: Países filiados à organização para a cooperação
económica e desenvolvimento; e BRUCS: Organização dos países Brasil, Rússia, Indonésia,
índia, Oüna e África do Sul.
Fonte: W\-VAP (201 5).

Da mesma forma, as atividades agrícolas realizadas no meio rural apresentam elevado


potencial degradador dos mananciais de água com reflexos nas cidades. Conforme Mer ten
e Mi nella (2002), é de consenso que a agricultura é wna atividade que gera a contami nação
da água, e a sua qualidade é dependente do uso e manejo dos solos nas bacias hidrográficas
rurais. Nesse caso, é frequen te as cidades captarem águas com elevado teor de sedimentos
e contaminantes (Franz et aJ., 2014), o que provoca elevação dos custos de tratamento e, na
ausência desse, problemas de saúde da população.
Além da água captada nos rios e córregos, provenientes de áreas rurais, as cidades
também utilizam água proveniente de chuva, poços e lagos urbanos. É comu m o descarte
de resíduos sólidos e líquidos urbanos e industriais em corpos hídricos como os lagos, o
que tem contribuído para a poluição e contaminação desses, acometendo os organismos
aquá ticos (Dunalska et ai., 2015). Da mesma forma, o descarte desordenado de resíd u os

M A NEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERV/\ÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBC ENTES URBANOS 659

urbnnos te m e levado potcncinl para conta minação do le nço l freMico e de zo~as de reca~?êl
de aquífe ros, fato que tem promovido c1 co ntél m inação ela água d e po os (Silva Ara ui o,
2003). Já as águas da chu vc1, ao entrare m c m contato com a<; <; uperfíc ies im pem,eáve is
dos centros urbanos, ca rregam consigo todé:I a ca rga d e pa rtícu las n las clepositad.:i s, que
també m detê m elevado potencial de contaminação d os rec ursos híd ricos e do c.;olo (Zha ng
et ai,. 2010; Barbosa et a i., 2012; Sánchez e t a i., 201 5).

Funções da água nas cidades


De acordo com Mello (2005), as cidades sempre tivera m fo rte re laç5o com a água,
sempre procurando se estabelecer com esse recurso hídrico. Boa parte dos centros urba no
se desenvolveu em razão da proximidade com os co rpos de água d oce, p rincipa lm n te
os rios, por causa da dis ponibilidade desse recurso, abund ância de a li mentos e dou o do
curso como via de trans porte, promovendo significativa alteração da paisage m natural e
influenciando a dinâmica hidrológica local. Atualmente, a legis lação ?ra il e ira não permHe
mais esse tipo de ocupação, pois essas áreas são consideradas A reas de Preservação
Permanentes (APP), conforme o Código Florestal Bras ileiro (Borges e t a i., 2011 ).
Essa proximidade das cidades com os corpos d ' água ocorre po rque os ho mens
perceberam que a água é um recurso natural rico em serviços amb ientais, podendo- e
destacar: trans porte urbano, limpeza de materiais e ambientes, irrigação de áreils ve rd es e
lavouras, geração de energia (centrais hidroelé tricas, termoelétricas e nu clea res), con umo
humano e animal, regulação da temperatura do ambiente, preservação de reservatórios
genéticos (habitats), produção de alimentos (produtos aquáticos), ma té ria-prima para a
indústria em geral, o lazer e o paisagismo.
Os centros urbanos têm apresentado, com maior frequência, escassez de água própria
para o consumo, por serem caracterizados pela elevada concentração de pessoas, onde a
demanda por água potável para consumo humano e animal, bem como para a produção
de alimentos e outros produtos industriais, é elevada. As cidades têm convivid o com
eventos cada vez mais frequentes de escassez em razão da má gestão dos recursos hídrico
associada a fatores climáticos (Cooley et ai., 2014). O fato é que nesses ambientes a água
é fundamental e a qualidade dela tem relação direta com a saúde pública (Barbo a e t ai.,
2012).
Em termos ambientais, a água tem como funções manter a vegetação da área verdes
e da agricultura, reduzir a temperatura do ambiente e servir como habita t para infinidade
de organismos. As á reas verdes e os corpos hídricos são importante para o conforto da
população urbana, pois são capazes de alterar a temperatura do ambiente (Gill et ai.,
2013), reduzindo as ilhas de calor (Figura 4), além de servirem como área de recreação,
lazer e paisagismo (Pedron et al., 2004). Os corpos d'água também apresentam a função
de reservatório genético, abrigando organismos variados, inclus ive patogênico , quand
esses estiverem contaminados e poluídos.
Em muitas cidades, os cursos d'água servem como vias para o tran porte urbano e
i~terurba_no. ~mbora ~º-
longo da história hu~ana esse ser iço tenha id mai- e. pior do,
amda hoje existem vanos exemplos conhecidos, como a cidade de eneza na Itália, as
cidades brasileiras ao longo do rio Amazonas, a ligação entre Buenos ire - e lonte idéu
pelo rio de La Plata e entre Rio de Janeiro e N iterói, pela baia de Guanaba ra.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


660 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

lJ :n
0-:
'-
:::i J~

ResidL'nci.i l/ Centro Resid encial Árc.i Residen ciíll


co m ercial urbíln o ve rde
(parq ues)

Figura 4. Exemplo das ilhas de calor nas áreas urbanas, onde as áreas verdes apresentam menor
temperatura relativa.
Fonte: AJ a pt,1do de Azevedo et ai. (2007).

A água também contribui para a geração de energia (centrais hidroelétricas,


termoelétricas e nucleares). Mesmos que essas centrais de energia não sejam comuns em
áreas urbanas, elas são responsáveis pela energia consumida nas cidades. De acordo com
a Agência Nacional de Energia Eléb·ica (ANEEL), em 2008, o Brasil apresentava 75 % da
sua energia elétrica proveniente de fontes lúdricas (ANEEL, 2008). A participação das
hidroelétricas tem reduzido com os investimentos em outras fontes de energia, como a
eólica, termoelétrica e nuclear, na busca de maior segurança energética para o país. Isso
tem acontecido porque os eventos climáticos de seca têm causado danos econômicos, com
a limitação dos reservatórios de água das usinas hidroelétricas.

Dinâmica hídrica urbana


O desenvolvimento urbano influencia os componentes e processos do ciclo
hidrológico natural. As diversas alterações da paisagem, típicas das atividades antrópicas
em áreas urbanas, como impermeabilização, compactação ou erosão dos solos, supressão
da vegetação natural, deposição de resíduos urbanos e industriais, obras de engenharia,
artificialização da topografia e canalização de cursos hídricos e águas residuais, promovem
efeitos negativos nos ecossistemas naturais. Tais efeitos interferem na dinâmica da água
superficial, nas recargas subterrâneas, na geomorfologia e ecologia dos cursos d'água, no
clima e nos ciclos biogeoquímicos do ecossistema (Sun e Lockaby, 2012).
O ciclo hidrológico é formado por diversos processos dependentes entre si e variáveis
no tempo e espaço (Merten et aJ., 2011). Segundo esses autores, os principais processos são
a condensação, a precipitação, a interceptação, a evaporação, a transpiração, a retenção e
detenção superficial, a infiltração, a percolação e o escoamento. De forma mais simples, os
processos-chave dos fluxos hídricos em uma bacia hidrográfica poderiam ser resumidos
na precipitação (P), na evapotranspiração (EI), no escoamento (Q) e no armazenamento de
água (.15) e organizados na seguinte equação: L\S = P - ET- Q (Sun e Lockaby, 2012).
A p é a maior entrada de água numa bacia, variando conforme o clima. A ET refere-
se ao segundo maior fluxo no ciclo hidrológico, sendo resultado da transpiração das
plantas e evaporação dos solos e das plantas. Os fatores que influencia m a ET são o clima

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AM BIENTES URBANOS 661

e as condições do solo e da vegctaçé'io (Ford et ai., 2011). O Q representél todo o vo lum


de ág ua escoado da bnciél, sendo a soma dos escoa menlos s up rficia is, ubsupe rficiai _ t'
s ubterrâneos que passa m pela seção ele referência (Ma rtins et a 1., 20'10).
Em uma bacia urbani zada, os processos hid rológicos são ,1lterad os (Fig ura 5). A
impe rmeabilização excessiva das áreas urb,mas red uz d ras tica mente a infil traçcio da água
das chu vas, a umentando o volume e a velocidade do escoa me nto dessas Jguas (Q) . E se
mesmo e feito também é res ultado da retirada da vege tação e com pactação do so los ( USDA,
20006), responsável pela geração ela evapo lranspi ração (E7), que é significa tiva mente
reduzida nesses ambientes antropizados.
A componente P tambén1 tem sido alterada em razão da mudanças climáticas atuai .
As va riações no clima ocorridas nas últimas décadas têm promovido maio res precipitações
em a lguns loca is e menores em ouh·os, maior va riabilidade climática anuaJ e tempestade
de maior intens idade (Cooley et ai., 2014), acarretando ora em escassez de água, o ra em
aumento das taxas e dos volumes de enxurradas (Barbosa et ai., 2012).
A elevação do escoamento, principalmente o superficiaJ, promove proces os ero ivos,
que, além de ca usar danos ambientais, pela destruição dos solos, vão prejudicélí os
sistemas de drenagem urbana e os recursos hídricos pela deposição de partículas sólida
e contaminantes (USDA, 2000a). Além da erosão, os res íduos sólido não destinados
devidamente também entram em contato com o sistema de drenagem urbana, causando
obstrução e elevando a frequência de inundações nesses ambientes (1 eves e Tucci, 200 ).

(a) 11 (b) -lO ";, cvapoITTnspira jo


1
30 0 evapotra ns piração

□□□□□□ oo □

V
□□□
□□□□□□ oo □ □□□
L ~~º □□□ □□□
1

Figura 5. Alteração do ciclo hidrológico em á reas intensamente urba nizada (a), comparadas a .ireas
não urbanizada (b).

Fica evidente que o processo de w-banização transforma a paisagem na tural e modifica


o ciclo hidrológico nas cidades. As atividades urbanas e indus triais, em sua grande maioria,
elevam o coeficiente de escoamento por causa do uso mtens ivo de materiais impermeá e i
e redu zem o tempo de concentração da água na bacia (Martins e t ai., _Ql0). Como
result~do, é c~mum a ocorrência _de picos ~ie vazão, conforme a figura - , responsáveis
pelas mundaçoes mbanas. As baetas natma1s apresentam um e coa mento de base maior
em razão dos fluxos s ubsuperficiais mais lentos no solo, contribuindo continuamente para

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


662 FABRÍCIO DE AR/\ÚJO PEDRON ET AL.

ª re~ar_g a d o curso d 'água . Essa êllterações no ciclo hidrológico tem efeit os e m as p ectos
eco! g,cos do e ossis tema ( zevcdo ct êll., 2007).

QUESTÕE~ PARA A CONSERVAÇÃO DOS SOLOS E DA


AGUA EM AMBIENTES URBANOS

O propósito da con ervação dos solos e da água não é somente preservá-los, mas, s im,
manter ua capacidades produtivas, quando submetidos aos mais diferentes usos. Um
solo urbano impermeabilizado pela sua cobertura com concreto encontra-se preservado;
no entanto, incapaz de exercer suas múltiplas funções ambientais e tecnológicas (Troeh et
ai., 1991 ). Da mesma forma, o manejo e a conservação dos solos, quando aplicados de forma
correta, por si só já são suficientes para mitigar a maioria dos problemas de contam.inação
da águas (Merten e Minella, 2002). Portanto, tratar da conservação dos solos é também
cuidar da conservação da água.
O u so e manejo dos solos e das águas urbanas são praticados, de maneira geral, sem
o planejamento adequado. No caso do solo, como é um recurso natural subsuperficial,
não visível aos olhos, e seu manejo conservacionista gera custos adicionais, esse é
frequentemente negligenciado, o que acaba promovendo danos ao ecossistema urbano.
Os solos e a água são recmsos fundamentais para a ecologia dos ambientes naturais e
antropizados; por isso, a sua conservação é importante para a manutenção da qualidade
ambiental, com efeitos na saúde da população.
A falta de um planejamento conservacionista do ambiente como um todo, durante as
atividades urbanas, provoca problemas de degradação dos solos e da água, acometendo tanto
áreas urbanas quanto rurais. A compactação e erosão dos solos, a poluição e contam.inação
de solos e água, as inw1dações, os deslizamentos de encostas e a transmissão de doenças
são exemplos de situações resultantes da falta de conhecimento do comportamento dos
solos, quando submetidos às aplicações urbanas (Pedron et ai., 2004) .
Esses problemas, muitos deles considerados desastres, afetam milhões de pessoas
todos os anos no mundo. O número anual de mortes em razão dos desastres naturais
é calculado em mais de 100 nlil pessoas, com outros 216 milhões de vítimas não fatais
(Guha-Sapir et al., 2014). No Brasil, apenas em 2013, mais de 18 milhões de pessoas foram
acometidas por desastres naturais. Nesse ano, foram contabilizadas 183 mortes, e 79 %
dos óbitos estiveram ligados a eventos de chuvas intensas, deslizamentos, enxurradas,
inundações ou alagamentos (Brasil, 2014). Esses dados evidenciam a importância dos
eventos relacionados à precipitação e movimentos de massa .
Es tudo realizado em parceria entre o Banco Mundial e o Governo brasileiro (Toro
et ai., 2014) apontou que os custos dos quatro maiores desastres naturais ocorridos entre
2008 e 2011 no Brasil totalizaram R$ 15,3 bilhões. Os deslizamentos da região serrana do
Rio de Janeiro, em 2011 , foram causadores de um prejuízo de R$ 4,78 bilhões, enquanto as
enchentes que assolaram Santa Catarina em 2008 contabilizaram um custo total da ordem
d e R$ 5,32 bilhões. A perda de vidas humanas, no entanto, é ainda mais impressionante:
20 vítimas, em Pernambuco; 36, em Alagoas; 11 O, em Santa Catarina; e cerca de 1 000, no
Rio d e Jan eiro.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS 663

Percebe-se que o planejamento conservacionista das cidades é coisa séria e requ r


esforços multidisciplinares. O uso eficiente de recursos e es paços em a mbientes urbanos
demanda atitudes e ações de vários profissionais ligados à gestão dessas áreas. Somente
quando todos esses reconhecerem a importância dos solos e da água e trabalha rem com
as m esmas ferramentas é que as tomadas de decisões serão embasa das em conhecimento
técnico e legislações pertinentes, conservando a qualidade dos ecossistemas urbanos e
rurais. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) e os cien tistas do solo
devem ser protagonistas na divulgação de técnicas e na busca de protocolos que garan tam
sustentabilidade para o manejo dos solos e da água também nos a mbientes urbano .
Alguns dos principais problemas relacionados ao uso inadequado e à conservação
dos solos e da água nas cidades e áreas rurais lim ítrofes serão discutidos na seq uência,
com a intenção de elucidar suas origens e seus efeitos, tanto nos ecossis temas Uibano
quanto nos rurais. Esses são apenas algw1s desafios dos profissionais responsáveis pelo
planejamento de ações e atividades sobre esses ambientes, e entendê-los é o pri meiro passo
para a sua solução sustentável.

Alterações antrópicas nos solos urbanos


As atividades humanas em áreas urbanas frequentemente provocam a lterações de
ordem morfológicas, físicas, químicas e biológicas nos solos. Muitas dessas alterações são
inerentes às especificações necessárias para as diferentes atividades, como a compactação
de solos para a construção de estradas e prédios urbanos. 1 o entanto, muitas outras
são originadas pela falta de planejamento e conhecimento dos solos e dos seus serviços
ambientais, corno a mesma compactação, quando promovida de forma generalizada,
interferindo negativamente nas futuras áreas verdes.
A grande movimentação de terras e o descarte incorreto de resíduos de construção
e lixos nas áreas urbanas são os responsáveis pelas al terações morfológicas nos solos.
A aJteração da topografia natural para a construção de estradas e prédios, por meio de
cortes e aterros, bem corno o descarte de resíduos de construção, como tijolos, concretos,
ferros, borrachas, plásticos e madeiras etc., e de lixo doméstico, contribui para a adição o u
remoção de materiais no perfil de solo.
Nesses casos, a ausência de horizontes natw·ais, principalmente o horizonte A, é
comum (Jirn, 1998). Os solos urbanos geralmente apresentam camadas distintas e artificiais
resultante da introdução dos materiais mencionados, com diferentes texturas, em razão
da tentativa de reconstituição do solo removido (Figura 6). As camadas também não
evidenciam transição plana, como naturalmente deveriam, mas sim transição irregular ou
descontínua, justamente por causa da adição de materiais exógenos, que nem sempre é
homogê nea em toda a área (De Kirnpe et ai., 2000). As alterações morfológicas citadas
prejudicam o manejo dos solos, aumentam os custos de recuperação e dificultam 0
desenvolvimento da vegetação.
As alterações físicas geralmente estão associadas às morfológicas, em razão da
introdução dos materiais exógenos. A textura é urna caracterís tica física, que tende a
apresentar s ignificativas alterações nos ambientes urbanos. Jim (1998) relatou a existência
de quantidade excessiva de fragmentos maiores que 2 mm a lterando os atributos físico
do solo. A estrutura também difere dos solos naturais; geralmente, nos solos urbanos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


664 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

encon~~-se uma e trutura pouco de envolvida por causa das condições de selamento
superficial, que dificultam a evolução esh·utural do material depositado.

Ocm Perfil 1 Perfil 2 Perfil 4 Perfil 5 Perfil 6

Figura 6. Alterações morfológicas típicas de solos urbanos. Perfill: deposição superficial de resíduos
de construção civil no topo do horizonte A; Perfil 2: mistura de horizontes em áreas de aterro;
Perfil 3: deposição de lixo urbano criando uma camada antrópica; Perfil 4: depósitos de areia com
resíduos de lixo e construções; Perfil 5: introdução de camadas de pedras e impermeabilização
superficial com asfalto; e Perfil 6: solo natural compactado, com selamento superficial.
Fonte: Adaptado de Schleub et al. (1998) e Puskás e Farsang (2009).

Uma das variáveis físicas mais alteradas em solos urbanos é a sua densidade. A
compactação aumenta a densidade do solo (USDA, 2000b). Quarito mais compactado estiver
o solo maior será sua densidade e menor será seu espaço poroso. De acordo com a figura 7,
os solos urbanos, geralmente, apresentam maior densidade que os solos de áreas naturais e
agrícolas, pois são facilmente compactados pelo tráfego de máquinas e pelos equipamentos
pesados (Gilman, 1997). A compactação do solo interfere no desenvolvimento das plantas,
no fluxo e na retenção de água no solo.
Como visto, a degradação dos solos urbanos provoca alterações físicas, que modificam
a aeração do solo, retenção e disponibilidade de água e resistência à penetração das raízes,
acometendo diversos serviços ambientais corno a sustentação da agricultura urbana e de
áreas verdes e a regulação do ciclo hidrológico urbario. Essas alterações contribuem para o
aumento das enxurradas e inundações urbanas e contaminações dos solos e da água.
A introdução de materiais exógenos nos solos urbarios também promove a sua alteração
química. Conforme Jim (1998), os r~s!d~os de con~trução~ princip_almente cimento, tornam
0 solo alcalino e promovem desequibbnos de nutrientes, mfluenc1ando o desenvolvimento
de muitas espécies vegetais. A matéria orgânica e CTC dos solos tendem a ser alteradas,
pela destruição do horizonte superficial natural e pela adição de areia no solo (Puskás e
Farsang, 2009). A frequente lavagem dos solos resultarite dos processos erosivos também

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS
665

contribui para a redução ela sua fertilidade química natu ral. Entretanto, em a_Ig_u_ns casoS,
como na d eposição de resíduos orgânicos, pode ha ve r melho ri a na disponi bilidade de
nutrientes dos solos (Hu et ai., 2007).

Solo l Soln2
Prof. Densidad e do solo (kg d m )
cm 0-++-1_ 1-+2---+14_-+
1 _6 _ 1 8__ - ~l _ .:.,
·1,=-2- ~1,j-:.
4__1+-(6----+
\8
_ _
4

Pastagem : \ Urbano Floresta : Pastagem


'
1
1

Urbano
1
1
1
)
/
1

_.,__,
' 1

' 1
1
'
'
'

Figura 7. Comparação entre a densidade do solo em diferentes usos.


Fonte: Adaptado de Schueler (2000).

A alteração química mais pesquisada em solos urbanos se refere à concentração de


metais pesados. Diversos trabalhos têm apontado para a concentração antrópica de chumbo,
cádmio, níquel, cobre, zinco, cromo, arsênio e mercúrio, entre outros, em solos urbanos
(Wei et al., 2009; Wei e Yang, 2010; Andersson et al., 2010; Luo et ai., 2012; Lark e Scheib,
2013). A entrada desses elementos na cadeia trófica pode interferir na saúde humana. Mais
detalhes sobre a presença de metais pesados em solos urbanos serão discutidos adiante no
texto.
Os diversos organismos que habitam os solos, sejam eles macro, mesa ou micros,
necessitam de condições específicas para o seu desenvolvimento. Alterações nos solos
urbanos como impermeabilização superficial, compactação, erosão, inundações e adição
de resíduos poluentes podem acometer a biodiversidade do solo. Dias Júnior et al. (1998)
relataram que elevadas concentrações de metais pesados alteram a densidade e atividade
microbiana do solo. São exemplos de danos provocados pela degradação biológica dos
solos a limitação à decomposição de materiais orgânicos e ciclagem de nutrientes e as
atividades simbióticas com raízes de plantas.
A conservação dos solos urbanos é fundamental à manutenção de um ecossistema
vital para grande parte da população. A conservação dos atributos naturais dos solos
nesses ambientes é importante para a sua eficiência funcional. Portanto, os gestores urbanos
devem estar atentos às diversas atividades e seus efeitos sobre os solos, de forma a evitar
alterações que resultem em perda da sua qualidade. O controle do tráfego de eículos e
equipamentos, o maior planejamento nos cortes e aterros e o descarte adequado dos mais
diversos tipos de resíduos urbanos e industriais são práticas simples e que têm efeitos
significativos na manutenção sustentável do espaço urbano.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


666
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Erosão hídrica urbana e rural


, A erosão h ídrica e o processo de desprendimento e arraste das partículas de solo pela
agua, provocando o desgaste da superfície do terreno (Bigarella, 2003; Bertoni e Lombardi
eto, 2005). Os fatores controladores da erosão são erosividade da chuva, atributos do
ola, cobertura vegetal e características da encosta, sendo a interação entre esses fatores o
que determina a taxa de erosão.
O processo erosivo é dividido em três fases: desagregação, transporte e deposição.
Quando as gotas da chuva atingem o solo desnudo, o impacto resulta no desprendimento
das_par~culas do solo, que são carregadas pela enxurrada até sua deposição em locais
mais ba_ixos do terreno ou onde se acessa a drenagem local. De acordo com Lepsch (2010),
~ e~1erg1a das gotas da chuva é muito superior à da enxurrada, causada pela água que não
m.filtrou no terreno, uma vez que as gotas das chuvas atingem a superfície do solo com
velocidade de 5 a 15 km 1Y1, enquanto a água das enxurradas tem velocidade menor, cerca
de 1 km h-1 •

Desse modo, fica evidente que o primeiro passo para a formação da erosão é o
impacto direto causado pelas gotas das chuvas, provocando desagregação das partículas
do solo, deixando-as soltas sobre o terreno e susceptíveis ao transporte pelo escoamento
superficial (Brady e \rVeil, 2013). Esse impacto direto ocorre somente quando sua superfície
está desprovida de vegetação; existindo cobertura vegetal, as plantas amortecem o impacto
das gotas da chuva, e as raízes não deixam a terra ser carregada pela enxurrada, além de
facilitar a infiltração da água que cai no terreno.
As atividades humanas, ao alterarem a interação entre os fatores citados anteriormente,
podem levar à aceleração ou redução do processo erosivo. A erosão acelerada normalmente
está associada ao desmatamento para a extração madeireira, à produção agrícola ou às
construções urbanas; essas últimas podem alterar substancialmente os atributos do solo
(Zhang et al., 2012).
A erosão lúdrica ocorre em regiões urbanas ou rurais, localizadas próximas a margens
de rios e lagos ou em regiões litorâneas. Neste último caso, o desprendimento das partículas
do solo é causado pela ação das ondas, que dependem da velocidade e intensidade dos
ventos e alteração das marés (Rangel-Buitrago et ai., 2015). As ondas entram em contato com
0 solo próximo à margem, desagregando-o e colocando em suspensão grande quantidade
de material; e ao retornarem carregam o material em suspensão, depositando-o, no fundo
dos mares e das represas, nos deltas e nos meandros dos rios. Mesmo quando existem
sistemas dissipadores de energia, a força das ondas pode trazer danos às áreas litorâneas,
e a manutenção desse espaço torna-se muito difícil (Feagin et ai., 2009). Na figura 8,
evidencia-se a colocação de blocos de rochas próximas à margem de praia em Natal, RN, e
Guara pari, ES, com o intuito de evitar a erosão lúdrica ocasionada pelas ondas.
o tipo de solo também exerce influência na magnitude da erosão. Os solos possuem
diferentes texturas, estruturas, permeabilidades e densidades, além de diferentes atributos
mineralógicos, biológicos e químicos. Aqueles com coesão interna, como solos argilosos,
resistem mais à desagregação das partículas causada pela gota de chuva, porém possuem
menor permeabilidade, dificultando a infiltração da água e ocasionando ma ior escoamento
superficiaL

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CON SERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA EM AMBIENTES URBANOS 667

Figura 8. Proteção contra erosão hídrica marinha com blocos de rochas (enrocamento). (a): litoral
de Natal, Rio Grande do Norte; (b): litoral de Guarapari, Espírito Santo; e (c) e (d ): danos
provocados pela erosão em estruturas urba nas no litoral de Natal, Rl'\J.
Fonte: Fotos dos autores (2015).

Como consequência, a erosão transporta a camada superficial do terreno, considerada


a parte mais importante da terra para a produção agrícola; e o que res ta é pobre em
nutrientes e com baixa capacidade de sustentar o crescimento vegetal. Amundson et al.
(2015) apontaram que esse depauperamento do solo será um dos principais desafios da
humanidade no próximo século. Além disso, o solo transportado pode estar contaminado
com agrotóxicos, metais pesados ou outros produtos, ocasionando de fo rma concomitante
a contaminação e o assoreamento de rios, córregos e barragens.
Nas cidades, a erosão do solo tem efeitos danosos, causando diferentes problemas
ao ser humano. Em muitas dessas situações, as medidas para a correção do problema
causados e a estabilização do avanço dos processos erosivos são muito onerosas, senão
financeiramente inviáveis, ainda que técnicas menos dis pendiosas estejam sendo
desenvolvidas (Galvão et ai., 2011)
O manejo integrado de bacias hidrográficas é uma ação primordial no controle
de processos erosivos, movimentos de massa, inundações e assoreamen to, de endo
ser aplicadas as técnicas corretas a cada caso, integradas em um contexto político que
contemple aspectos ambientais, sociais e econômicos (Zanuttigh, 2011). Portanto, 0 solo
deve ser manejado, respeitando o seu potencial de uso e as s uas limitaçõe , de forma que
cada tipo de solo seja explorado sem a sua degradação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


668 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Inúmeras tccnica podem ser utilizadas para conter os processo erosivos em áreas
urbanas. 1a figura 9, é apresentado um exemplo de estrutura de contenção composta por
pneu usados e pedra basáltica, para impedir O aumento da erosão na aba de uma ponte
de concreto. Outros e ·emplos com a mesma finalidade são a utilização de técnicas corno
gabi_õe , biomantas e bion-etentores, aplicadas principalmente no revestimento de margens
de nos e canais, proteção de estribos de pontes, taludes em estradas e vias de comunicação,
sendo todos eficientes na proteção de estruturas urbanas contra a ação erosiva da água e
do vento.

Figura 9. Exemplos de técnicas de bioengenharia para estabilização de taJudes. Talude com erosão
(a), estrutura de contenção em construção (b), estrutura finalizada (c) e estrutura com vegetação
integrada dois anos após a ~talação (d), disposição de gabiões nas margens de dreno urbano
(e) e biorretentores de madeua em talude (f).
Fonte: Fotos A, B, C e D: Baroni cl ai. (2012); E e F dos autores (2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA EM AMBIENTES URBANOS 669

Inundações urbanas e rurais


As inundações têm seu início nos eventos de precipitação acima do normal, levando
ao transbordamento dos corpos d'ág ua. Essas podem ser bruscas ou graduais, sendo a
primeiras com características mais de regiões acidentadas e ocorrendo quando chuvas
torrenciais são rapidamente escoadas, levando ao transbordamento dos rios de fo rma
rápida e violenta. No segundo caso, a inundação ocorre mais lentamente, em grandes
bacias hidrográficas de planície; por isso, apesar de não serem eventos violentos, a extensão
atingida tende a ser maior (Kobiyama et ai., 2006).
Alguns locais são naturalmente mais s uscetíveis a esse fenômeno, mas as alteraçõe
do ambiente pelo ser humano podem levar ao aumento na intensidade e frequência das
inundações. A diminuição da capacidade de infiltração de água no solo e a alteração na
rede de drenagem são os fatores que mais influenciam a dinâmica da água na paisagem
urbana.
A diferenciação entre inundações que atingem áreas rurais e urbanas é difícil de
ser realizada, basicamente porque os registros não fazem essa distinção. o entanto, a
característica de cada um desses tipos de ocupação permite entender que os impacto ão
distintos. As inundações rurais podem atingir urna área maior, destruindo campos de
cultivo, máquinas e instalações.
Em contraponto, os prejuízos à infraestrutura são maiores quando ocorre uma
inundação urbana, pois a concentração de benfeitorias públicas e privadas é muito maior.
Adicionalmente, o potencial de vítimas também é aumentado nas aglomerações urbanas,
em razão da maior população. Os danos ocasionados por inundações causam grandes
perdas materiais e, dependendo das características do evento, pode resultar em elevado
número de mortes. Nas cidades, a inundação pode levar ao colapso de construções e ao
corte no fornecimento de serviços básicos, como energia elétrica, água e comunicação, por
causa do impacto sobre a rede de infraestrutura urbana. Além disso, no a mbiente pós-
inundação, a água e os detritos arrastados pela enxurrada podem resultar e m aumento de
doenças (Castro et ai., 2003), como será visto adiante no texto.
Alguns autores trazem a diferenciação entre enchentes, inundações e alagamento , que
pode ser visualizada na figura 10. As enchentes se referem à elevação natural do nível dos
cursos d'água em razão do aumento da vazão temporária, sem ocorrer o transbordamento.
A inundação se reporta ao extravasamento das águas do canal de drenagem, atingindo as
áreas marginais de inundação ou várzeas. Os alagamentos são acúmulos de água em áreas
urbanas por causa de problemas de drenagem, sem relação com cursos d'água (Kobiyarna
et ai., 2006; Pôssa e Ventorini, 2014).
Os alagamentos são magnificados pela diminuição da infiltração de água nos solo
urbanos em razão da diminuição da superfície de solo exposto, do adensamento do solo,
da impermeabilização da superfície e do entupimento de canais de drenagem (Felde et al.,
2015). A água das chuvas passa a não infiltrar nos solos e escoa na superfície, sendo drenada
por um sistema que, muitas vezes, se encontra impedido de funcionar adequadamente
pelo acúmulo de lixo e detritos descartados inadequadamente.
O assoreamento dos cursos d'água que drenam as áreas urbanas também impede 0
rápido e eficiente escoamento da água e acaba por sornar-se aos fatores causadores da
inundações. Os rios possuem naturalmente uma variabilidade temporal na sua com posição
em razão da sua dinâmica de escoamento, com aumento abrupto da quantidade de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


670 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

~edimentos, de O e de melais pesado transportados parn os desaguadouros durante os


eve'.1tos de cheia (Turowski, 2013; Oursel et al., 2014). Em especial, aqueles que drenam
baCJa urbana podem ter a morfologia do canal alterada com consequente mudança
na d_inâmica de escoamento (Segura et ai., 2013), elevando a frequência e intensidade
das mundaçõe . E ses cur os d'água tainbém tendem a possuir valores superiores de
poluentes e metais pesados por causa do aumento da concentração desses produtos em
áreas urbanizadas (Batista eto et ai., 2013).

Alagamento
IJ1undação

Figura 10. Esquema apresentando as situações de enchentes, inundações e alagamentos.


Fonte: Ad aptado de Kob1yama et ai. (2006) e Põssa e Ventorini (2014).

A variabilidade espacial do ambiente urbano é responsável pela produção de


sedimentos de forma muito variável dentro de uma mesma bacia. Franz et al. (2014)
estudaram a origem dos sedimentos em wna bacia com uso do solo misto (urbano e rural) e
identificaram que áreas urbanas podem ser fontes importantes de produção de sedimentos,
especialmente a partir de regiões de expansão urbana, com atividades de construção civil
e estradas não pavimentadas. Isso ocorre porque, mesmo que as áreas mobilizadas para
a construção sejam proporcionalmente pequenas dentro de wna bacia hidrográfica, o
potencial de erosão do solo revolvido e exposto é muitas vezes maior que o solo vegetado,
tornando os canteiros de obra potenciais produtores de sedimentos (USDA, 2000a).
Conforme a população das cidades aumenta, as áreas marginais desvalorizadas e de
risco vão sendo ocupadas irregularmente. O crescimento desordenado das cidades em
termos socioeconómicos promove um modelo de segregação social, em que a população
de baixa renda é pressionada a ocupar as áreas marginais, que geralmente são planícies de
inundação ou áreas declivosas de encostas de morros, ambas oferecendo elevado risco de
desastres naturais.
Planejar a expansão urbana de forma ordenada é fundamental para evitar a degradação
ambiental de áreas naturais importantes para a manutenção dos ecossistemas. Conforme
0 manual de desastres naturais de Castro et ai. (2003), diversas medidas preventivas
podem ser planejadas para evitar ou minimizar os danos causados pelas inundações,
como: previsão, zoneamento, construções de habitações diferenciadas, manejo integrado
de microbacias, obras de controle de inundações, barragens reguladoras, desenrocamento
e desassoreamento, canais de derivação e interligação de bacias, diques de proteção e
otimização da alimentação do lençol freático.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CON SE RVAÇÃO DO SO LO E DA Á G UA EM AM BlENTE S U RBANOS 671

Deslizamentos de encostas urbanas


Desli zamentos são movimentos mod eracla mcnlc ráp idos d um.1 ma.._c;,;a d e sol o u
rocha e m uma porção limitada de uma n osta (Masc;ad, 201 O) . d ,;lizamento d e te rra é
um fenômeno comum em á reas de relevo acid entad o, sobret udo cm e ncos tas. E se pro esso
pode ocorrer e m loca is onde não há ocupação huma na, o nde os moti vos qu e d esencildeia m
esse p rocesso es tão ligados à estrutura geológ ica, geo morfo lógica e climá ticc1 loca l. As
ações humanas como a retirada da cobertura vegeta l, habitação e m locais impró prios, com
padrões d e ocupação inadeq uados (cortes e aterros) e infraes tru tura d fiei n te (dre nc1 0 em,
esgoto, abastecimento de água), além d e e levad a d ens id ade populacio na l, p tencic1liza m
esse fenôm eno e multiplicam as á reéls de risco (Roba ina e t a i., 2007) .
Os desliza men tos de terra ocorrem predominantem en te após os períodos d e chu va
intensa, gera lmente bem acima da média his tó rica . O so lo é um s is tema trifá s ico, composto
por solo, água e ar; em um solo seco, os va zios entre os g rãos e tão p reenc hidos com M
e, nesse caso, esse é mais leve, e a força de coesão entre os g rãos manté m o so lo ma i
resis tente. Entretanto, quando o solo se encon tra saturado, os vazios e n tre o grãos fica m
preenchidos com água, tornando-o mais pesado e, a lém disso, os g rão ficam envolto pela
água, o que diminui a coesão e o ângulo de atri to, que são responsáveis pela res i tenciil ao
cisalhamento do solo.
No Brasil, as pessoas que vivem nos centros urbanos e qu e m ai sofrem com o
deslizamentos de encostas são as de baixo poder aquisitivo, que resid em e m favela , víla
e loteamentos irregulares (assentamentos precários) localizados nos m orros u rba no ,
evidenciando que esse problema envolve a fragilidade ambie nta l e vulnera bi lidade
socioambiental das comunidades (Freitas et ai., 2012).
No entanto, não são somente ocupações realizadas por pessoas e m situação econômica
vulnerável que fazem expandir o número de zonas potenciais para de astre . A partir
da década de 1970, a região do litoral norte paulista, por exemplo, experimento u umo
ocupação rápida e d esordenada de áreas naturalmente fráge is por ca usa d a valor ização
turística da região e da consequente especulação imobiliária (J orge, 2014). A mesma
autora ressaltou que onde ocorrem interfe rências a ntrópicas a e tabil idade do terreno é
dimjnuída, resultando na intens ificação dos movimentos de ma sa . Conforme a figu ra 11,
a grande maioria das áreas (92 %), que sofreram d eslizame ntos no Rio de Janeiro, em 2011 ,
apresentava algum tipo de intervenção humana.
A importâ ncia da análise de controle dos deslizamentos está d ir e tamente relacionado
à demanda socioeconôm.ica oriunda de acidentes e problema di ver o , concernente
à instabilização de encostas. Estimam-se e m milhares de mortes e d ezenas de bilhõe de
dólares por a no os prejuízos oriundos da deflagração de escorregame nto no mundo inteiro.
O s prejuízos materiais também são significativos, pois é comum a ero õe pro ocarem
fechamento d e rodovias, ferrovias e outras vias de transporte. a fi gura 12, apre-e nta m-
se os danos ma teriais resultantes da desh·uição da estrutura urba na do deslizamento e m
e ncosta na região d e Blumenau, SC, em 2008, e na região Serrana do Ri de Janeiro, em _011.
Em se tra ta ndo d e encostas urbanas, vá rias med idas podem er tomadas para aument r
a seguran ça d a população e ev itar o seu deslizamento. Primeiramente, é neces á ria realiza r
a vistoria e faze r um zoneamento das áreas de risco de des lizame nto . Apre erva -ão d o
vegetação natural em á reas de risco é importante para a manute nção da es tabilid ade
na tural do terreno.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


672 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

31 ,

1.,.
-, ~
16°..
10%
S~o

Tipo de l O 1-opé N.1 No topo o topo/ o topo/ No topo/ a Área com


altern .io verten te sopé vertente vertente vertente/ vegetação
sopé sopé conserva da
1úmero
de evento · 76 206 106 48 53 67 51 50

Figura 11. Oi criminação da s ituação das áreas relacionadas aos diversos deslizamentos ocorridos no
Rio de Janeiro, em 2011.
Fonte: Adaptado de Brasil (2011).

Figura 12. Cicatrizes dos deslizamentos em encostas urbanas da região de Blumenau, SC (a), em
2008, e urbana-rural na região Serrana do Rio de Janeiro (b), em 2011.
Fonte: Brasil (2011).

Por meio de estudos prévios, algumas téaucas de engenharia podem ser implantadas
de forma temporária ou definitiva para evitar ou prevenir os deslizamentos. As principais
obras implantadas sem a utilização de estruturas de contenção são os retaludamentos,
por meio de obras de corte ou aterro, drenagens superficiais ou profundas, ou ainda a
proteção superficial do solo, de forma natural ou artificial. Com a utilização de estruturas
de contenção, podem ser construídos muros de gravidade, muros de flexão, estruturas
atirantadas ou obras de aterro e cortes reforçadas (Figura 13).

I
D11 nagem /
___,__
.....__ ,__ ~/~
Drenagem superficial
. - .
superficial Drenagem==-:.::,==~
Talude profunda
revestido com
vegetação Tirantes ou
grampos
Muro de arrimo

Figura 13. Exemplos de técnicas que podem ser empregadas para aumentar a estabilidade d as
encostas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CON SERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA EM AMBI ENTES U RBA N OS 673

Entreta nto, ex is tem a lguns casos o n le a complexidad e das encostas o u os cus to<;
envo lv id os to rn am a reali zação de obréls d contenção inviá veis. Nesse casos, é n c '-,frio
monitora r esses locais e identifica r as regiões q ue devem ser interd itadas, proibind o J
ocupação nas áreas que apresentam riscos. Nessas silu ações, o ecossistema natura l dev ser
mantido para a estabilização natural das encostas e para a prestação d s rviço'i ambi ntais
e paisagís ticos importantes as áreas urbanas.

Contaminações urbanas e rurais dos solos e da água


Todas as questões tratadas anteriormente de uma forma ou de o utra ge ram
contanunação e até poluição dos solos e da água nos am bien tes urbano e rurais . Assi m,
as alterações antrópicas dos solos e os processos de erosão, inundações e deslizamentos,
associados ao descarte inadequado de resíduos, são respo nsávei pela contami nação dos
solos e da água . Essas contaminações podem ser provenientes da presença d e elementos
químicos, como metais pesados; e subs tâncias peri gosas, como agroq u ím icos, re íduo
orgânicos, industriais e mesmo domésticos, combus tíveis e pa tógenos. O cu to de
tratamento de solos e água são elevados, por isso a prevenção é a med ida ma i adequada
para conservar esses recursos nos ambientes urbanos e rurais.
A contaminação dos solos e da água com metais pesad os te m s ido abo rdad a em
diferentes contextos (De Kimpe, 2000; Moura et ai., 2006; Wei et a i., 2009; Wei e Yang, 2010;
Andersonn et ai., 2010; Lua et aJ., 2012; Lark e Scheib, 2013; Li et ai., 2013). A d isponibilidélde
de trabalhos em revistas especializadas sobre a presença d e elementos, como zinco,
chumbo, cádmio, mercúrio, cobre, arsênio, niquei, cromo e outros é consi d erável, vi to q ue
provocam danos à produção vegetal, e à saúde animal e humana.
A contaminação de solos e água por metais pesados e m áreas mba nas e rurai
pode ocorrer por diversas vias; as mais comuns são em razão da deposição de partícula
oriundas da combustão de veículos (Jim, 1998; Rio-Salas et ai., 2012), da u tilização d e
compostos orgânicos de origem urbana como os lodos de esgotos (Rangel et ai., 2006;
Nogueira et al., 2007) e compostos de lixo urbano (Collier e t al., 2004). Ta mbém pode ser
resultante da utilização de lodos de rejeitos industriais (Dias Júnio r e t ai., 1998) ou dejeto
de animais (Mattias et al., 2010). Esses materiais contaminados podem ter sido u ti lizados
como condicionadores ou fertilizantes do solo ou simplesmente depositados e m áreas
posteriormente usadas para a produção vegetal.
Os metais pesados entram em contato com o solo e são adsorvido pelas partícula de
argila e matéria orgânica. Geralmente, esse tipo de interação é significati a mente e tá el,
mas, em condições específicas, como baixa concentração de argila e matéria orgàn ica no
solo ou a saturação dele pelos metais pode haver a dis ponibilidade d e ses para O a m bien te.
Nesse contexto, os metais podem ser lixiviados do solo e atingir as á gua s ubterrânea ,
contaminando-as. De forma mais direta, esses elementos podem adentrar na cad eia trófica
por meio da absorção desses pelas plantas (Oliveira et ai., 2002; Co!Jier e t al., 2004; ogueira
et ai., 2007). Para maiores detalhes sobre os metais pesados em olo , reco me nda m-se
consultar Marques et ai. (2002), Abreu et ai. (2002), Alleoni e t ai. (2005) e I ascimento et ,11.
(2009) .
A a plicação de compostos orgânicos nos solos é uma prá tica milenar que tem efeito
em suas propriedades agrícolas. A utilização de materiais o rgânico como d ejet 5 :ie
animais, lodos de esgotos e resíduos sólidos urbanos (lixo) tende a p ro mover melh ria -

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


674 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

no olo, c m eI 'a ão do teore de nutri ntes, da capacidade de troca catiônica, do pH


e do te r de matéria orgânica, reduzindo a acidez do solo. No entanto, os elevados teores
de metais pe ado m ua constituição (Quadro 1) podem contaminar ou mesmo poluir os
solo: e a água (Abr u Jr. et ai., 2005). Por isso, é importante estar atento às concentrações
m á.xi mas de metai permitidas em lodos utilizados na agricultura. No Brasil, a maioria dos
te ·tos obre o tema faz menção à norma da Cetesb (1999).
Alguns trabalhos, avaliando os efeitos da aplicação desse tipo de compostos,
comprovaram a elevação dos teores de metais no solo e a acumulação d eles nos tecidos
egetais, mas sem atingir os limites críticos, nas condições avaliadas, que acometeriam a
aúde humana (Oliveira et ai., 2002; Collier et al., 2004; Nogueira et ai., 2007; Corrêa et al.,
2008; Mattias et ai., 2010).

Quadro 1. Composição química de compostos orgânicos de origem urbana frequentemente utili zados
como condicionadores de solos ou descartados em aterros
Santo André, Juramento, Concentração
Rio de Janeiro, RJ máxima
Variável química SP MG
permitida no
CL 1997111 CL 1993121 CL 1995bl~I LEPI LEI~)
pH (H,O) 8,0 4,4
C org. (g kg-') 281,63 65,5
total (g kg-1) 12,71 0,01
Cd (mg kg- ) 1 85
2,8 1,5 0,1
Cr (mg kg-') 81,0 90,0 45,0 46,7
Cu (mg kg-') 4.300,0
403,0 199,0 196,0 71,0
Ni (mg kg-') 34,0 420,0
23,0 64,0 29,3
840,0
Pb (mg kg-') 196,0 278,0 243,0 56,9
7.500,0
Zn (mg kg-') 496,0 480,0 370,0 302,0
57,0
Hg (mg kg-1) 5,7 0,06
111CL = Composto de lixo gerado em 1997 (Oliveira et ai., 2002); !2!Composto de lixo gerado em 1993 e 1995 (Collier et ai., 2004);
lllLE = Lodo de esgoto, data de origem não informada (Nogueira et ai., 2007); <•iconfom1e Cetesb (1999).

A utilização de rejeitos industriais como condicionadores do solo tem se tornado


comum por causa da necessidade de descarte dos grandes volumes produzidos nos
últimos anos (Corrêa et ai., 2008). Assim como os compostos orgânicos já mencionados, os
rejeitas industriais também apresentam potencial de melhoramento dos atributos físicos e
químicos dos solos e de sua contam.inação. Atividades como a mineração e industrialização
de metais têm se destacado como fontes geradoras de poluição em razão do grande volume
de metais pesados liberados no ambiente.
Um caso bastante conhecido no Brasil é o da fundição de chumbo em Santo Amaro,
Bahla. Por 33 anos, a Companhia Brasileira de Chumbo operou nesse município despejando
grandes quantidades de metais, principalmente chwnbo, zinco e cádmio, no ambiente entorno.
Conforme Andrade Lima e Bernardez (2011), desde a década de 1970, grande quantidade de
chumbo tem sido encontrada em amostras de sangue e cabelo da população vizinha à fw1dição,
evidenciando a exposição aguda e mesmo crônica, principab11ente de crianças.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS 675

No meio ur bano, é mu ito comu m O descarte desses rejeitas indus triais e m a terros
irn1dequados q ue posteriormente acabam se transformando em área de asse ntame ntos
urbanos. Existem vários exemplos no Brnsil, onde comunidades inte iras, inclus ive com
inves timen tos públicos em infrélestru tura, são élssentadas sobre esses antigos aterros,
acarre tando uma série de h·anstornos à vida e saúde desséls pessoas.
Na região de São Paul o aparece m do is exemplos: o cond omínio Ba rão de Mauá, com
sete mil moradores, em Mauá, fo i construído sobre um antigo aterro indus trial. esse
condo mínio, a pracinha infa ntil precisou ser aterrada, pois o solo local apresenta va mais
d e 40 s ubs tâncias tóxicas; entre essas, o benzeno; e o Shopping Center No rte, maio r centro
com ercial da zona norte de São Paulo, també m construído sobre uma área de ate rro. Em
2011, o loca l fo i considerad o pela prefei tura como área de risco de ex plosão pela presença
de gás me ta no. Também como exemplo, não menos importante, é uma vi la no município
de Santa Maria, RS, assentada sobre an tigo aterro de lixo urbano (Figura 14). Nesse loca l,
os mo radores consomem hortaliças e frutélS prod uzidas sobre os resíduos do lixão.

Figura 14. Assentamento urbano sobre áreas de an tigo aterro sanitário u rbano (lixão), em Santa
Ma ri a, RS. A: Vila sobre o antigo lixão; B: perfil de solo urbano obre o aterro, com destaque
pa ra o acúmulo de lixo na ca mada superficial (100 cm); C: escavação do perfil; e D: ista do
pá tios das casas, com des taque para o acú mulo de lixo.
Font e: Fotos cios .iutores (2013).

A contam.inação de solos e águas s ubterrâneas por com bus tíveis automotivos tem se
to rnado u ma preocupação relevante. O aumento do consum o de com bustíveis fósseis e
b iocom bus tíveis, em razão do crescimento da fro ta de veículos, tem aumentado os riscos
de acidentes pelo derrama mento desses com postos no am biente (Corseu il e Marins, 1997;
M uller e t a i, 2013). Esses vazam entos ocorrem p rincipalmente por causa de acidentes
durante o transporte o u em reserva tórios mal manejad os nos postos de combu stíveis. 0
caso da gasolina, combustível mais comum no meio urbano, seu derram amen to pro mo erá

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


676 FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

ª contaminaçilo de aquífero , cau ando danos aos usuários dessas águas. A dissolução
parcial da gasolina permitirá que os hidrocarbonetos monoaromáticos, benzeno, tolueno,
eti lbenzeno e ·ilenos, todos solúveis, contaminem o aquífero. Esses compostos são perigosos
à saúde huméllla, pois acometem o istema nervoso central e em algumas situações podem
provocar càncer (Corseuil e Marins, 1997; Forte et ai., 2007).
Há algum tempo, o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos do mw1do,
mesmo não sendo o maior produtor de alimentos. Os monocultivos agrícolas demandam
grandes quantidades de insumos externos como adubos e agrotóxicos. O s agrotóxicos
são produtos industriais altamente tóxicos e nocivos à saúde humana, utilizados para o
contTole de insetos, doenças e plantas consideradas danosas à produção agrícola (Siqueira
e Kruse, 2008).

O problema dos agrotóxicos interfere tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas.
Mesmo sendo mais utilizados nas áreas rurais, principalmente em lavouras de
monocultivos extensivos, esses produtos também são utilizados nos cinturões verdes e
mesmo em pequenas áreas de produção agrícola denh·o do meio urbano. O uso desses
produtos pode acarretar a poluição de solos e águas e acometer diretamente animais e
humanos que entram em contato com os produtos (Grisa et aJ., 2008; Moreira et ai., 2012).
1
esse caso, as aplicações urbanas são mais críticas, pois o risco de contato hun1ano é
superior, deméllldando a utilização de alternativas sustentáveis, com base nos preceitos da
agroecologia (Machado e Machado, 2005).
Os solos e as águas mbanas também podem apresentar contaminações por patógenos
nocivos à saúde humana. Esse tipo de contaminação é mais frequente em comunidades
de baixa renda, onde o Séllleamento, as práticas de higiene e o acesso à água potável são
deficientes ou inexistentes (Rubel e Wisnivesky, 2005; Razzolini e Günther, 2008). Esses
organismos patogênicos geralmente são transmitidos por vetores como cães, gatos, roedores,
aves e insetos. Por isso, ambientes com esgoto a céu aberto e disposição inadequada de lixo
são considerados insalubres, pois, ao atraírem os, etores, tornam-se locais de alto risco.
A poluição dos solos e da água ocasionada pelo seu uso inadequado é unia questão de
saúde pública. No quadro 2, são apresentados os principais problemas de saúde adquiridos
em áreas urbanas pela poluição de solos e águas. Verifica-se que, além de acesso à água
potável, a população necessita de poUticas públicas que tratem a saúde e o saneamento de
forma integrada, permitindo que as cidades sejam ambientes limpos e saudáveis.
A falta de políticas públicas para o manejo e tratamento adequado de resíduos tem
contribuído para a contaminação de solos e águas urbanas e rurais. De acordo com Silva e
Araújo (2003), organismos patogênicos como coliformes fecais e totais foram encontrados em
águas de poços urbélllos utilizadas para o consumo humano em Feira de Santana, na Bahia.
Os dados de Vasconcellos et ai. (2006) evidenciaram que as águas do Rio São Lourenço, no
RS, também apresentam elevados teores de coliformes totais e termotolerantes, resultantes
da descarga de esgotos urbanos no rio. Esses exemplos representam a realidade brasileira,
de contaminação hídrica nas áreas UJ"banas e no entorno delas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS 677

Quadro 2. Esque ma das p rincipais doenças a dquiridas c m á reas ur ba nas p lél po lu içJo d e _c;o lo e
ág uas, s uas rotas ele transmissão e medida s ele control e (Ada ptad o d e 5 lin u , 2()04; Bra d , 2006 ;
Forte e t .i l., 2007; Razzolini e Cün thcr, 2008)

Grupos Doenças Rota de tran s mi ssão Medida de contro le


- Con<.umo de Jgua
Enterobíasc, amebíase, po tável
giardíase, hepatite - Educação <-.i nitári,1
Feco-orais não - lelho n as
A, balantid íase, Pessoa l e doméc;tica
bacterianas habi tac1o nai,;
poliomielite,
toxoplasmose, diarreia -ln ta ldções de f~,;a
- lmu nizaçào
- Cons umo d ,\gua
po tável
Salmonelose, cólera, - Educc1çJ o c;a nitá ria
disenteria bacilar, Pessoal, d omés tica, por - Melho ria
Fcco-orais bacte rianas
diarreia, febre tifoide e água e alimentos habitacio nai
para tifoide - lnc;talações de fossa
- T rata mento de d ejeto,;
Ascaridíase, tricuríase, Jard ins, praças, ca mpos - Instalações de fase.a.e;
Heimintos do solo - Tra tamento de d ejetos
ancolostomíase e culti vas agr ícolas
Ja rdins, praças, campos - ln talações de fossa
Teníases Teníases - Tra tame nto de d ejeto
e pastagens
- ln talações de ÍO<;Sas
Esquistossomose e Consumo de água e - T ra ta mento de deie tos
H elmintos hídricos - Mo nitorame nto da
outras ali mentos contaminados
fo ntes hídrica
- Elimin,1ção d e
Locais contaminados
Insetos Filariose e outras criado u ros d e insetos--
por fezes
veto r
- Consumo de água
Problemas nos rins e
potável
no fígado, problemas
- Descarte corre to d os
no sis tema nervoso
Consumo de res íduo urbano e
central, diarreia,
Metais pesados alimentos, água e solo indus tria is
hemocromato e,
contaminados - Monitoramento de
falha na visão,
a reas ag rícolas
policitemia, parada
- Mo nitoramento das
card iorrespi ra tória
fo nte hídricas
- Consumo de água
po tável
- lonito ramento de
Hidrocarbonetos postos de combustíveis
Diferentes tipos de Consumo de água
aromáticos (benzeno, - Monitoramento de
càncer contaminada
to lueno e xileno ) acidentes com transporte
de combus tivei
- tvloni toramento das
fo ntes hídricas

Diversas são as enfermidades provocadas pelo contato humano com solos e água
contaminados. Segundo dados de Bernard (1997), a presença de altos teores de metai
pesados como chumbo e mercúrio pode provocar sérios problemas no Sistema er o 0
Central (SNC) de fetos e crianças, assim como o cádrn.io pode acarre tar problemas re nais.
Conforme Selinus (2004), elevados teores de cobre e cromo causam danos aos rins, enquanto
o cobalto e selênio podem provocar paradas cardiorrespiratórias.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


678
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Da m m a forma, o con umo d água contaminada com hidrocarbon tos aromáticos


tarnb m pr ' ~ a danos já conhecido pela ciência ao corpo humano. Os hidrocarbonetos
monoar máhcos (benzeno, tolueno xileno), pre entes nos combustíveis, podem provocar
doenças carcinogênicas (CoLeuiJ e Martins, 1997; Forte et ai., 2007).
pe _ar ~a contaminação, os olos apresentam, de forma variada, capacidade de
remedia ao e 1nertização de contaminantes. Denh·e as técnicas mais promissoras, destaca-
.ª. biorremediaçào, poi é simples e eficiente, apresentando menor custo. Essas técnkas
uhüzam organi mos nativos dos solos ou mesmo introduzidos para promoverem a
degradação dos contaminantes ou a sua transformação em compostos menos tóxicos
(Andrade et al., 2010). Geralmente, são empregados microrganismos como bactérias,
fungos e leveduras, mas também são muito utilizadas as plantas, quando então o processo
é denominado de fitorremediaçào (Pires et ai., 2003).

Trabalhos têm evidenciado que a biorremediação com microoganismos tem sido


eficiente na contenção e redução dos volumes de combustíveis vazados no solo (Tiburtius
et al., 2004; Andrade et aJ., 2010). Já a fitorremediação tem sido eficiente para o h·atamento
de solos e água contaminados com agrotóxicos, combustíveis, metais pesados e solventes.
Pires et al. (2003) apontaram que espécie como Koc/1ia scoparia apresentou potencial para
fitoestirnuJar a remediação de atrazina no solo. Zeitouni et ai. (2007) evidenciaram que
algumas espécies testadas, principalmente plantas de Nicotimrn tnbncum, foram eficientes
em extrair metajs pesados como cádmio e zinco de um Latossolo Vermelho-Amarelo
contaminado. Maiores detail1es sobre a remediação de solos são apresentados por Accioly
e Siqueira (2000), Camargo et aJ. (2007) e Nascimento et ai. (2009).

PRÁTICAS DE MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO


E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS

Existem diversas técnicas que poderiam ser consideradas boas práticas de manejo
conservacionista dos solos e da água nas cidades; entretanto, serão destacadas algumas que
apresentam grande impacto na solução de problemas urbanos importantes, como erosão,
contaminação de solos e águas, inundações e disseminações de doenças. Essas técnicas
têm sido praticamente ignoradas pelos técnicos e gestores urbanos das cidades brasileiras,
mesmo sendo relativamente simples e de baixo custo, quando comparadas aos danos
ocasionados pelos problemas citados. Portanto, a implementação delas é fundamental para
conservar os ambientes urbanos e melhorar a qualidade de vida nesses espaços.

Manutenção de áreas verdes


As áreas verdes urbanas são nichos que desempenham funções importantes à
qualidade de vida das cidades (Figura 15). Essas áreas têm elevada capacidade de amenizar
a degradação do ambiente urbano em diferentes dimensões, como: ecológica, social,
educativa, estética e psicológica (Bargos e Matias, 2011). Esses espaços são fundamentais
à qualidade de vida da população urbana, pois influe~ciam a temperaturn e o conforto
térmico das cidades (Gill et ai., 2013), reduzem os efeitos da poluição gasosa, sonora e
visual (Sorensen et ai., 1998) e a interceptação de água das chuvas e protegem a vida

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CO N SE RVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA EM A MB I ENTES URBANOS 679

s ilvestre, c1s mé.lrgens ele cursos cl 'ãgua e os hábitos humano , oferecendo á rea. de lazer e
rec reação (Gomes e S0cires, 2003).

Fu nçõe das áreas verd urban~

Função Função Função Funç o


social educativa psicológica téti a

Lazer e Educação Alívio de Em beleza- Oíma, solo,


socialização ambiental tensões diárias, menta da vegetação, fauna
contemplação paisagem silvestre e água
e recreação
Figura 15. Esquema com os d iversos serv iços pres tados pelas áreas verd es urba nas.
Fonte: ;\d.1pt;1do de !largos e Matias (2011 ).

A recriação de espaços naturais nas cidades, por meio das á reas ve rdes, de fo rma que
seus efeitos sejam benéficos à população, demanda conhecimento técnico. A descons ideração
de padrões técnicos aliada à falta de preocupação com esses es paços tem prejudicado a
qualidade do verde urbano (Pedron et aJ., 2004). De acordo com o trabalho de Pedron e
Santos (1996), as áreas verdes urbanas em Santa Ma ria, RS, apresentam inúmeras falha
estruturais que limitam o desenvolvimento da vegetação e os seus benefícios paisagístico ,
como presença de restos de construções, espécies vegeta is inad equadas, au sência de
irrigação e adubação dos solos. Esse exemplo parece ser a regra gera l em muitas cidades
do Brasil.
Os gestores urbanos devem entender os propósitos e a importância desses espaços para
que em seus projetos sejam consideradas as especificações mais adequadas a cada s ituação.
O trabalho de Morero et al. (2007) apresentou uma série de indicadores ambientais que
devem nortear o planejamento de implantação e a manutenção de á reas verde urbanas.
Conforme esses autores, aspectos relativos às caracterís ticas dos usuários, do cl ima, da
qualidade do ar, da geologia, dos solos, do relevo, da cobertura vege tal e da d renagem do
terreno, associados a questões educativas e legais, devem ser considerados pelo técnicos
para a qualidade das áreas urbanas. Esses autores ainda propuseram a lgumas orientações
para a implantação de áreas verdes, conforme a situação da pai agem na cidade de
Campinas, SP, apresentadas no quadro 3, que podem servir de gu ias para esse propó ito
em outras cidades.

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


680
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

Quadro 3· tient,,ç:'lcs parn implantar áreas verde, urban,L de acordo om a situnç5o da paisagem e
popula ão u uária (adapt.ido de forcro et ai., 2007)

Situação da pai agem e socioeconômica Sugestão de estruh1ra


Terrenos ondulad se boa fertilidade. Presença Áreas para recuperação e proteção dos
de nas~ente. om boa .9ualidade de água e fragmentos de vegetação. Atividades para
\'egetaç~o degradada. Area deu o agrícola. ed ucação ambiental e lazer passivo ou
Próxima à popula ão de bai. a renda. contemplativo.

r~as com ~,lanície fluviai s e solo pouco fértil.


Ba1 ·a qualidade das água no curso principal, Recuperação de mata ciliar. Implantação de
com a0uente de boa qualidade. Apresenta parque linear, promovendo corredores. Área
potencia} de garimpo de argila e areia. Área contígua para visitação aos pontos de extração
agiíc?la. Area sob influência de população de minerária com objetivos educa tivos e trabalhos
baixa renda e alto grau de analfabetismo. de oficinas temáticas.

Áreas com terreno ond ulado e planície fluvial,


boa fertilidade. Cursos d'água de ótima Promover reflorestamento mistos e
qualidade. Com potencial para extração de programas de educação ambiental.
argila, pequeno reflorestamentos. Próximas a Preservação da qualidade das águas, evitando
favelas. Área de uso agrícola. Muito próximas invasões das margens dos cursos d'água.
à área urbana, com população de baixa renda e Privilegiar pontos para contemplação.
baixa escolaridade.
Áreas com terreno suave e boa fertilidade.
lascentes com boa qualidade de água. Manejo dos remanescentes e incremento por
Remanescentes florestais e campos. Áreas de reflorestamento nas áreas de can1po muito
uso agrícola. Concentração de crianças com degradadas. Áreas para atividades educativas
baixa escolaridade. e de lazer com enfoque agrícola para visitação.

Telhados verdes
O crescimento populacional e a expansão das cidades têm gerado enorme impacto
ambiental sobre os ecossistemas naturais. Questões como a alteração do ciclo hidrológico
e seus efeitos negativos e nocivos à população urbana têm demandado recursos muitas
ezes inexistentes, refletindo em baixa qualidade de vida e de segurança para os cidadãos.
esse contexto, a busca por práticas de manejo conservacionistas que minimizem os efeitos
do processo de urbanização sobre a paisagem tem exigido a utilização de técnicas não
tradicionais, como os telhados verdes (Santos et ai., 2013). Os telhados verdes ou telhados
vivos (Figura 16) são estruturas de teUléldos adaptadas para comportarem substratos e
plantas (Obemdorfer et ai., 2007).
Inspiradas nos jardins suspensos da Babilônia, essas superfícies vegetadas foram
desenvolvidas para desempenhar diversos serviços ambientais, como redução no volume
e retardo do escoamento superficial (Getter e Rowe, 2006; Mentens et ai., 2006; Costa et al.,
2012), aumento da biodiversidade (Brenneisen, 2006), diminujção da poluição do ar (Yang
et ai., 2008), seq uestro de carbono (Getter et ai., 2009), conservação de energia nos prédios,
redução das ilhas de calor, aumento da vida útil do telhado e melhoria da qualidade visual
da paisagem (Oberndorfer et ai., 2007) .
Os telhados verdes são divididos em intensivos e extensivos. O s intensivos são
aqueles que apresentam uma espessura de substrato maior, com o es ta belecimento de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS 681

jardins e labornclos. São telhados ele maior custo e maior d emand a d e ma nu tenção. Pnuem
inclus ive permitir a circu lação de pessoas. Os tel hados ex tens ivos aprese~ta m _ men~r
espessura de subs trato e, geralmente, uma espécie única de bai xil manutença~. Suo ~il lS
baratos e evidenciam objetivos limitados ao isolamento té rmico e à retença d e agua
(Oberndorfer et ai., 2007). No quadro 4 apresentam-se as princ ipa is diferenças e ntre esses
dois tipos de telhados verdes.

Reservatório
de água drenada
do telhado verde

Sequência de camadas recomendadas para o telhado verde

- Vegetação
- Solo ou substrato
Membrana filtro
Dreno
-- - Isolamento para raízes e água
-- Estrutura do telhado

Figura 16. Exemplo de um telhado verde.


Fonte: Ad;iplado de Oberndorfer el ,ti . (2007) e Sanlos el ili. (2013b) .

Diversos trabalhos demons tram a eficiência dos telhados verdes na conservação do


ecossistema urbano. Os dados de Yang et aJ. (2008) evidenciaram q ue os telhados verdes
e m Chicago, EUA, foram responsáveis pela retirada de 85 kg ha- 1 ano- 1 de poluentes do ar.
O s dados de Getter et aJ . (2009) relataram que essas estrutu ras foram capaze de eque trar
em m édia 375 g m·2 de carbono em Michigan, EUA.Já os de Mentens et al. (2006) revelaram
que a implementação de telhados verdes em 10 % das construções em Bru, elas, Bé lgica, foi
cap az de reduzir o escoam ento superficial foi capaz de reduzir o escoamento superficial da
região em 2,7 % e de prédios individuais em 54 %. Nesse contexto, os teU1ados verdes são
importantes aliados na mitigação de en,"Xurradas e inundações, desafogando os i · ternas de
drenage m urba na (Costa et ai., 2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


682
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL .

Quadro 4 · omparação entre os telhados verdes extensivos e intensivos


Característica Telhado extensivo Telhado inte ns ivo

Objetivo Funcional: isolnmento térmico Funcional e estético, aumento do


e relençâo de água da chuva espaço verde
E tTutura Mais simples Mais resistente e mais elaborado
ubstTato Leve, alta porosidade Leve a pesado, alta porosidade
Espessura do substrato 2 a 20 cm Acima de 20 cm
As limitações são menores,
Plantas Espécies tolerantes a estresse permitindo maior número de
e de baixo crescimento espécies
Irrigação Raras ou ausente Irrigação frequente
Manutenção Semelhante ao de um jardim
Rara
normal
Custo Menor Maior
Acessibilidade Limitada à manutenção Espaços abertos a usuários
Fonte: Adaptado de Obemdorfe.r e t ai. (2007).

Em relação ao potencial de preservação da biodiversidade, os telhados verdes devem


ser encarados menos pela perspectiva de jardins ornamentais e conservação de energia
e mais pela perspectiva de planejamento ecológico da paisagem regional (Brenneisen,
2006). Ségundo esse autor, o planejamento de telhados com diferentes profundidades e
drenagens de solos permite a instalação de maior quantidade de espécies, considerando
que, em períodos de défice hídrico, os diferentes micro-hábitats conseguem manter
umidade permitindo o refúgio dos organismos.
Os telhados verdes são estruturas simples; entretanto, de acordo com Santos et al.
(2013b), os fatores que mais interferem no desempenho dessas estruturas são o tipo de
solo e sua espessura e a espécie vegetal utilizada. Além disso, o uso dessas estruturas
exige alguns p adrões construtivos como a altura da mureta de delimitação da área,
impermeabilização e altura de substrato necessária. Esses padrões devem estar d e acordo
com as condições climatológicas locais. Portanto, consultar um profissiona l habilitado é
fundamental para sua implementação adequada.

Jardins de chuvas
Assim como os tell1ados verdes, os jardins de chuvas são considerados s is temas
de biorrentenção de águas e poluentes, com base no conceito de compensação de áreas
impenneáveis. Basicamente, as diferenças entre esses sistemas são que os jardins de chuvas
estão localizados ao nível do terreno e captam, de forma predominante, águas pluviais
oriundas do escoamento superficial. Os jardins de chuvas são pequenos reserva tó rios d e
águas pluviais que utiüzam solos, plant~s ~rnamentais e microrganismos para a d espoluição
e retenção das águas das chuvas, contr1bumdo para o embelezamento da paisagem urban a
e a redução do volume de água escoada para as redes de drenagem (Melo, 2011; Liu e t al.,
2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIENTES URBANOS 683

Os jmdins ele chu vas podem ser construídos na fo rma de canteiros fechados o u em
depressões naturais cio terreno, em pálios particula res ou áreas verd es públicas (Fi gura 17),
onde a água se acumula e lentamente infiltra no solo. Esses ambientes são preenchidos com
m aterial g ran ular, confe rindo elevada perm eabi lidade, e materia l orgánico, po tencializando
os efeitos de retenção, fi ltração e infiltrnção (Melo e t ai., 2014). Quando a ág ua das ch u vas
excede a capacidad e d e retenção do jardim de chu va, elas são desviadas por drenos para a
rede de drenagem urbana (Liu et a i., 2014).
O s jardins de chuvas são importantes na manutenção da q ualidade da água urbana .
Os dados d e Trowsdale e Simcock (2011) demonstraram que um sis tema de biorretenção
Qardim de chu va) sob descarga de uma área industrial e uma rua movimentada foi
eficiente na redução do pico de vazão e vo lume e na filtragem de sedimen tos em s us pensão
e m e tajs pesados. Conforme esses autores, os jardins de chuva captam as águas pluviais do
escoa mento supe rficial, frequentemente contaminadas por sedi mentos e metais, impedindo
que esses componentes nocivos ao ecossistema hídrico atinjam os cursos d' água, reduzindo
a s ua qualidade.

Disposição de um jardim de chuva residencial

Casa

Jardim de chuva Jardim de chuva

Rua

Estrutura de um jardim de chuva para vias urbanas

Entradaesaídadeágua
da rua

- - - Meio fio
-:_ - - - Vegetação
- Rua
~t;~e~;~~;~;;~~;~~~;;E~;~t1;;:;..::------__ -·-Manta
Solo ou substrato
geotextil
Areia grossa
Material agregado (brita)
Solo existente no local

Figura 17. Esquema em corte de jardins de chuvas residenciais e públicos.

Pavimentos permeáveis
Os pavimentos permeáveis são materiais porosos ou com faci litação da in61tração de
águas pi uviais, destinados à pavimentação de calçadas, ruas, pátios, praças e estacionamentos.
Considerando que esses espaços constituem uma porção significativa do meio urbano, esses
pavimentos têm a função de redu zir o escoam ento superficial pela retenção e infiltração
d e águ as pluviais (Acioli, 2005; Melo, 2011), contribuindo para a mitigação de inundações
urba n as e contaminações de águas pluviais e dos cursos d ' água (Araújo et al., 2000).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


684
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL .

. ~ ·ic:::tem d iver o modelo - de pavimentos permeáveis, os mais utilizad os pa ra esse


f, m sao aquele produzido em concreto azado, com juntas de areia/ped riscos o u concre to
poroso. Um esquema de montagem dos pavimentos permeáveis é apresen tad o na fig ura
1 · A p re ença d e camada de brita e areia que aluam como reserva tórios porosos perm ite
a re_tenção e ou drenagem das águas (Acioli, 2005). No caso de drenagem, essas á reas
~avimentad as p ode1iam estar conectadas com os jardins de chuvas, visando à retenção e
filtragem d essas água .
Conforme dos dados d e Araújo et al. (2000), as áreas com pavimentação d e concre to
poroso e concreto vazado não apresentara1n escoamento superficial após chuva simulada
de aproximad amente 19 mm e intensidade de aproximadamente 115 mm IY1, demons trando
seu potencial para minimizar os problemas promovidos pelo escoamento superficial d as
águas d as chuvas em ambientes urbanos.

Estrutura de pavimentação com blocos intertravados

- -- - - - - - - Bloco de concreto

- - Meio fio e sarjeta


Camada de assentamento (pó de brita)
r,m1-- -- - --l- Camada de base (brita pequena)
i.11},/i~~.-
r-,....,.../ .... ~ - Camada de sulrbase (briga grande)
jíliílllllÍlllilià..__.._ _ __ _
1 - Manta geotextil

Estrutura de pavimentação com concreto permeável

~ - - - - - - - - Concreto permeável
f'T""'7-:~~lt"r""'7""--../
a-i-- -- - Meio fio e sarjeta

Camada de base (brita pequena)


-
>Õllli~ t-..,..,..
- - - - --1-

~~iilii.i(iilÍIÍilllll -- - - - -1 Manta geotextil


L-_:_{. :. {. :. .{-=-{_ _ _ _• _ ___, - Solo do local

Figura 18. Modelos d e estrutura de pavimentos permeáveis.

Coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos


o processo d e urbanização traz consigo efeitos como o aumento da população e,
consequentemente, a elevação do consumo e da geração de resíduos sól id os (lixo). Além do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX I - CO NSERVAÇÃO D O SO LO E DA Á GUA EM A M BI E NTES U RBAN OS 68 5

a u mento ela dema nda por produtos industria lizados, há a introdução d e novds ubc;tJ nci,, s
s inté ticas nocivas aos ecossistemas. Por isso, a geração de resíd uos só lid os e o d c;~a rte e
trata men to deles devem ser cons idernd os como q uestões d e saúde pública e ambien ta l,
req uerendo, portanto, a in tegração entre políticas econô micas, soc ia is e a m bienta i
(N unesmaia, 2002; Go uveia, 2012).
O descar te inadequado de resídu ossól idos nos ambientes ur banos in flu encia <l di nà m ica
hídrica e sa úde da população. Aterros clandestinos a céu aberto e d esca rte de resíduos
em cursos d 'água ou mesmo nas ruas promovem o entupimento das red es d e drenagem,
ocasio na nd o inundações e erosões. O acúmulo de lixo atra i e prolifera o rga n is mos-veto r de
doenças, e a decomposição desse produz um líq ui do cha mad o de chorume, com eleva d
po tencia l para poluição dos solos e da águ a. Essas situações descritas in te rferem nél saúde
da p o pulação (Jacobi e Besen, 2011).
A coleta seletiva e a reciclagem do lixo podem contribu ir pa ra umél cidade méli
saudável e m te rmos sociais, econômicos e ambientais. Jacobi e Bese n (2011) ap on ta ra m
para um gas to aproximado de R$ 725 miU1ões com a coleta e o aterro de resíduo sólido
urba nos em São Paulo, em 2010. Apenas 0,001 % desse valor e ra utilizado pa ra a coleta
seletiva, d esperdiçando aproximadamente R$ 750 mjlhões em materia is qu e poderiam ser
reciclados, mas fo ram enterrados nos aterros; esse exemp lo se repete em d ife rentes esca la
em muitas cidades brasileiras.
Nesse contex to, a questão educaciona l de redução do cons umo e ge ração de resíd uo
n a fonte é uma questão de atitude política. A diminuição do consumo por s i só já gera meno r
volume d e resíduos. A reciclagem do lixo doméstico pode contribuir para os menores
gas tos públicos com coletas e aterros e para redução d a degradação ambiental provocada
p elos ate rros sarutários inadequados. Conforme Jacobi e Besen (2011), a cobrança de taxa
ajustada pelo volume gerado pode ser bom mecanismo de educação. Pa ra unesma ia
(2002), o ca minho é a adoção de tecnologias limpas, q ue permitem a redução na geração
d e resíduos.

MAPEAMENTO E CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA DE SOLOS


URBANOS PARA FINS DE CONSERVAÇÃO

Mapeamento de solos urbanos


A conservação dos solos nas cidad es depende do seu conhecimento detalhado.
Cons iderando que os solos realiza m d iversos serviços importantes ao ecossis tema urbano,
o conhecimento de seus atributos, por m eio de levantamen to e da sua espacial ização
na pa isagem, por meio do mapeamento, é fundamenta l para a s ua ut ilização racional e
pa ra a sustentabilidade desses ambientes (Pedron et ai., 2004, 2007) . O planeja mento de
uso e conservação das áreas urbanas deveria levar em conta as informações obtidas nos
leva ntamentos e mapeamentos pedológicos; no entanto, é possível conta r nos d ed os 0
número de cidades brasileiras que apresentam esse ti po de informaçõe -.
Enh·etanto, a inda não existem métodos de levantamen tos e mapea mentos ped olócico
d e roti na ~ar~ as ~reas ur~anas: Os métodos tra~ ic_ionais usados nas á reas rurais ap rese~tam
a lg u mas lim1taçoes relativas a amostrage m, as mformações adquiridas e ao fo rma to de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


li

686
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

~pr enta ão do re ultados. As modificações na topografia da paisagem urbana e a


inten a ocupação da rea t ndem a dificultar as amostragens de campo e a utilização do
mod_e lo o lo-paisagem, tornando o mapeamento dos solos mais complexo do que nas áreas
rurais (Pedron, 2005). e e entido, as técnicas de mapeamento preditivo de solos, mais
co~1eci~o como mapeamento digital de solos (MOS), apresentam elevado potencial para
uhhzaçao no meio urbano.
Usando técnicas de MOS, Vasenev etal. (2014) avaliaram diferentes procedimentos para
o mapeamento do estoques de carbono orgânico em solos de áreas altamente urbanizadas.
E e autores avaliaram os estoques de carbono em superfície e em subsuperfície nos solos
da região de Moscou . Eles utilizaram três modelos lineares, em que o primeiro considerou
apenas informação de áreas rurais; o segundo incluiu as áreas urbanas; e o terceiro, além
de incluir as áreas urbanas, as discriminou quanto à sua idade, ao seu tamanho, ao seu
tipo de uso e impermeabilização da superfície. Os resultados indicaram que o modelo que
incluiu as áreas urbanas e suas especificidades foi mais eficiente na predição dos estoques
de carbono. Os autores tarnbém perceberam que os solos urbanos apresentaram maiores
estoques de carbono que as áreas não urbanas, principalmente nas camadas subsuperficiais.
As informações obtidas nos mapeamentos de solos urbanos devem ser adequadas
para a devida interpretação técnica dos mais diversos profissionais ligados à gestão dos
recursos naturais nesses ambientes (De Kimpe e Morei, 2000; Pedron et al., 2007). Nas
áreas urbanas, a diversidade de atividades com os solos demandam informações variadas
sobre o seu comportamento. Por isso, o desafio dos mapeamentos de solos urbanos é
disponibilizar as informações exigidas por profissionais como arquitetos, engenheiros,
geólogos, geógrafos e biólogos etc., importantes no processo de desenvolvimento desses
espaços. O mapeamento de solos urbanos deve ter caráter multidisciplinar, com a criação
de mapas interpretativos para cada tipo de uso (Figura 19).

Exemplos de mapas temáticos usados na gestão urbana


Mapa de solos
✓ ~ --+ Mapa de risco de erosão
, e~
,~ --+ Mapa de risco de inundações
+ --=-~~=--...,,.
1//--+ Mapa de áreas de preservação

Dados ambientais

,.,:,r-v d;,, --+ Mapa de potencial para construções


Sistemas de /~ urbanas
classificação
técnica ou
_.r,
,,,.,,,. e ,
1/ : _ . Mapa de potencial para agricultura
urbana
ínlerpr Lati a
.,,V --+ Mapa de potencial corrosivo do solo
7

Figura 19. Exemplos de mapas interpretativos (temáticos) importantes para o planejamento urbano.
Fonte: Adap tado de Pcd ron cl ai. (2006a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBI ENTES U RBANOS 687

Classificação técnica ou interpretativa de solos urbanos


O planejamento do manejo e da conservação dos so los d ema nda, a lém do mapeamento
dos solos, a sua interpretação técnica. Os s iste mas de classificaçJo técnica ou inte rpretati va
são utilizados para verificar o potencial de uso das terras com bac;e em in fo rmc1çüe
ambientais, sociais e econômicas parn um ou mais tipos de uso (A maral, 2011; IBGE, 2013b).
Conhecer o potencial de uso das terras é importante para a s ua u ti lização sustentá vel; por
isso, as classificações técnicas são imprescindíveis ao planejamento terri to rial (Pedron et
ai., 2006b). Além disso, são essas classificações que fazem a ponte entre o pedólogo eº"
demais profissionais que atuam na gestão dos espaços urbanos, pe rm itindo o planejamento
conservacionista multidisciplinar dos solos e das águas urba néls e rura is (Pedron e t ai.,
2007).
Os sistemas de classificação técnica mais utilizados no Brasil são o d e Capacidade de
Uso das Terras (CUT) (Lepsch et ai., 2015) e o Sistema de Ava li ação dzi Aptidão Agríco!J
das Terras (SAAAT) (Ramalho Filho e Beek, 1995), sendo os dois a plicad os ao uso agrícola.
Também existem outros trabalhos direcionados à classificação técnica das terras, referente
a adaptações ou sugestões de metodologias diferenciadas, como os de Streck et a i. (2005),
Schneider et ai. (2007), Amaral (2011) e Francisco et ai. (2013), todos esses a plicad os ao u o
agrícola das terras. Com relação ao uso urbano e industrial das terras, pe rcebe-se carência
de trabalhos que avaliem o seu potencial, quando submetidas a essas a ti vidades.
Os sistemas comumente utilizados pelos engenheiros civ is para as á reas urbanas são
conhecidos como o Sistema Unificado de Classificação de Solos (USCS), criado em 1948 por
Arthur Casagrande para aplicações militares e posteriormente adaptado para usos civi , e
o sistema da A111erica,1 Associntion of Stnte Hig/Jwny nnd Trnnsportation Officinl (AASHTO),
e laborado em 1929 para a construção de estradas (Keller, 1996). Ambos são com ba e e m
critérios físicos de granulometria e consistência. As limitações desses s istemas são q ue
esses consideram somente atributos físicos dos solos e de materiais geológicos pe rtinen tes
à sustentação de obras de engenharia, ignorando importantes propriedades a m bie ntais
de toda a paisagem, que estão inter-relacionadas, interferindo nos aspectos ecológico
fundamentais à manutenção do ambiente (Pedron et ai., 2007).
São poucos os trabalhos que tratam do uso urbano das terras dis poníveis no Brasil.
Dois trabalhos abordam o tema de forma específica, um deles se refere ao Sistema de
Avaliação do Potencial de Uso Urbano das Terras (SAPUT) (Pedron, 2005, 2006a, 2007); e o
outro, a uma proposta de avaliação do potencial de uso urbano aplicad a à cidade de llhéu ,
Bahia, reaJizada por Souza et ai. (2014). O trabalho de Kampf et ai. (2008), sobre a res isténcia
dos solos ao descarte de resíduos, e o de Franco et ai. (2009), a res peito à identificação de
áreas de risco de escorregamento de encostas, também podem ser aplicados a ituações
típicas do meio urbano.
No caso do SAPUT, o sistema objetiva a classificação de áreas urbanas, indicando ua
capacidade de suporte de atividades antrópicas com a degradação mínima das terras. O
sistema é estruturado em quatro grupos de uso: agricultura urbana, cons truções urbanas,
descarte de resíduos e preservação ambiental, que são agmpados em trés ela e de u o:
adequa da, restrita e inadequada, considerando as caracterís ticas e propriedades ambien tai
referentes a cada gleba de terra e os fatores restritivos utilizados pelo is tema (Figura 20).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1

688
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL .

Grupos Subrupos Fatores restritivos Classes


anual omh11iviJ.1dl' clélrk ,1 do snln
ra íruticultur,, ont~mi11.1ç~o do _nlo
·xp,msividJd c do solo
gcm n,1lur,1I Declivid,1dc d o terreno
Dr~nogcm do solo
uscctibilid,1dc;, cros;io
ia! e residenci;il f erlifüfadc do _olo
Sodific;ição do oi
erde- e recrcali\'a_ Tiomorf15mo d o solo
Adequado
orgânicos e inorg.'i n icos Ri o d e inund,1çôe Re trito
Problemas climá ticos Inadequado
Mn lcrio l geológico
Di táncia d e áre,1 rcsidenci;il
xicos Direção do entos
Di t, ncia d o cur o d 'i\gua
Índice de plasticidade
•ação
Permeabilidade do solo
T lura m~dia do solo
Tempo de descarte de resíduos

Figura 20. Organograma do SAPUT.


Fonte: Adaptado de Pedron (2005).

O SAPUT leva em conta apenas um nível de manejo das terras, sendo esse avançado
ou desenvolvido. Nesse caso, a disponibilidade de novas tecnologias pode alterar a classe
de potencial de uso, exigindo constante revisão. Ressalta-se que esse sistema aponta
a melhor forma de utilização das terras urbanas, sem proibir seu uso com determinada
atividade. Para tanto, o sistema considera primeiramente as legislações ambientais em
vigência no âmbito federal e, em seguida, atributos das terras (Pedron, 2005). O SAPUT
foi projetado em módulos de uso, que são os diferentes grupos, onde outros poderão ser
incluídos no sistema de forma a atender as demandas dos técnicos e gestores urbanos. Em
pesquisas onde foi testado, o SAPUT apresentou desempenho promissor, quando aplicado
à classificação técnica de áreas urbanas e suburbanas (Pedron et al., 2006).
A proposta de avaliação do potencial de uso urbano de Souza et ai. (2014) utilizou os
seguintes planos de informações: solo, geologia, geomorfologia e uso da terra. Para cada
plano, são considerados diferentes atributos. Cada atributo apresenta valores de referência
obtidos na literatura. O grau de fragilidade (potencial urbano) das áreas é determ.inado por
meio de um modelo matemático simples, pela média aritmética dos valores de referência
dos diferentes planos de informações. Essa proposta evidencia as seguintes classes de
potencial: adequada, subutilizada, sem potencialidade e áreas de risco. Quanto maiores
os valores de referências, maiores as fünitações apresentadas pelas terras. A classe área de
risco é discriminada pela resolução das APP e, assim como no SAPUT, essa tem prioridade
sobre as demais.
Franco et ai. (2009) e Souza et ai. (2014) não consideraram o fator de máxima limitação
para a classificação final do potencia] ou risco das áreas. Essas classes são determinadas por
m édias ponderadas ou aritméticas de valores arbitrários para cada atribu to considerado.
Os sistemas que utilizam o fator de máxima linútação para definir o potencial de u so
das terras são ma is seguros, pois o risco de superestimat:iva do potencial é inexistente.
Entretanto, a proposta de Souza et ai. (2014) é específica para a região d e Ilhéus, Bahia,
dificultando a sua aplicação em outras regiões.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AM BIENTES URBANOS 689

Cons id ernndo a relevâ ncia do te ma, os profissionais brasil iras d everiêlm ter um
s is te ma d e class ificação técnico oficial êlplicado élOS élmbientcs urbêlnoc;, c? m s u_ ~so
previ s to em lei. A SBCS deveria ter um gru po de estud o para a geração ?e_um ~1s tema u~ico
aplicado às á reas urbanas, fornecendo informações ao diversos prof1ss1ona1.s envolvidos
na gestão desses espaços. Esse sis tema oficial seria avaliado e atua lizado cons ta nte mente.
Da mesma forma, esse sistema deveria te r seu uso ampa rado pela legis lação c1mbienta l,
impondo a qualificação do planejamento de uso dos recursos naturais no desenvolvimento
urbano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

"A diferença entre o que fizemos e o que 5011105 capazes de Jazer já seria
suficie11te para resolver a maioria dos problemas do mundo." - \llaha tma Gh.mdi

O estudo dos solos em áreas urbanas e s uburbanas representa um desafio aos


pedólogos, em razão da rápida h·ansformação da paisagem, quando comparada aos
solos naturais. Embora não seja novidade, esse desafio, ainda nos dias de hoje, não tem
sido trabalhado pelos técnicos da ciência do solo no BrasiJ. O aumento da utilização
desses solos para produção de alimentos, paisagismo, construções e fo ntes de poluição
acometerá facilmente a saúde da população, exigindo atenção e atitudes dos profissionai.s
responsáveis.
Muitos dos problemas, já mencionados nes te trabalho, associados aos solos urbanos
são resultados da falta de conhecimento e do mau uso deles; portanto, planejamento e
organização podem evitar tais situações, melhorando a qualidade e reduzi ndo os custo
da urbanização.
Fica evidente a necessidade de informações sobre diversos aspectos ecológicos do
ambiente urbano, bem como a abordagem multidisciplinar dos problem as existente .
Nesse sentido, o levantamento e a classificação das terras urbanas para fin.s de conservação
devem ser considerados instrumentos básicos para o planejamento desses ambientes.
Considerando a carência de sistemas de classificação taxonõmicos e técnicos adequados
aos espaços urbanos, é importante o papel da SBCS no sentido de despender esforços para
a disponibilidade desses sistemas para que os técnicos e gestores urbanos possam avançar
no desenvolvimento sustentável desses ambientes.
Vontade política e educação proativa da população ão ações fundamentais
para a criação e manutenção d e espaços urbanos s ustentáveis. A criação de política
públicas adequadas envolvendo a cons h·ução de áreas urbanas dentro de cri térios de
sustentabilidade, a limpeza dessas e a conscientização da população são fe rramenta
importantes para a criação de a titudes, que levarão à conservação dos olos e das águas
nas áreas urbanas, onde cada pequena ação contará com o parte de uma consci~n ia
comunitá ria que muito contribuirá para uma cidade melhor.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


690
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

LITERATURA CITADA
breu C , breu MF, Berton RS. Análise química de solo para metáis pesados. Tópicos Ci Solo.
2002; 2:645-692.

Abr u Jr CH, Boaretto AE, Muraoka T, Kiehl JC. Uso agrícola de resíduos orgânicos potencialmente
P luentes: propiedades químicas do olo e produção vegetal. Tópicos Ci Solo. 2005;4:391-470.
ccioly AMA, Siqueira JO. Contaminação química e biorremediação do solo. Tópicos Ci Solo.
2000;1:299-352.

Acioli LA. Estudo experimental de pavimentos pern1eáveis para o controle do escoamento superficial
na fonte [Dissertação). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2005.
Agência acional de Energia Elétrica - ANEEL. Atlas de energia elétrica no Brasil. 3°. ed. Brasília:
2008.
agricultura! oils from 01ina. Microchemical Journal, 94:99-107, 2010.
Alberti M. Maintaining ecological integrity and sustaining ecosystem function in urban areas. Curr
Opin Environ Sustain. 2010;2:178-84.
Ale ·androvskaya EI, Alexandrovskiy AL. History of the cultural layer in Moscow and accumulation
of anthropogen.ic substances in it. Catena. 2000;41:249-59.
Alleon.i LRF, Borba RP, Camargo OA. Meta.is pesados: da cosmogênese aos solos brasileiros. Tópicos
G Solo. 2005;4:l-42.
Alves AGC, Marques JGW. Etnopedologia: uma nova disciplina? Tópicos Ci Solo. 2005;4:321-44.
Amara] FCS. Sistema brasileiro de classificação de terras para irrigação: enfoque na região semiárida.
2ª. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos; 2011.
Amaral LA, Nader Filho A, Rossi Junior OD, Ferreira FLA, Barros LSS. Água de consumo humano
como fator de risco à saúde em propriedades rurais. R Saúde Púb. 2003;37:510-24.
Amundson R, Berhe AA, Hopmans JW, Olson C, Sztein AE, Sparks DL. Soil and human security in
the 21st century. Sc.ience. 2015;348:1261071.
Andersson M, Ottesen RT, Langedal M. Geochemistry of urban surface soils - Monitoring in
Trondheim, Norway. Geoderma. 2010;156:112-8.
Andrade JA, Augusto F, Jardim ICSF. Biorremediação de solos contaminados por petróleo e seus
derivados. Eclética Qll.ÍII1- 2010;35:17-43.
Andrade Lima LRP, Bemardez LA. Characterization of the lead smelter slag in Santo Amaro, Bahia,
BraziJ. J Hazard Mat. 2011;189:692-9.
Araújo AL, Alves AGC, Romero RE, Ferreira TO. Etnopedologia: uma abordagem das etnociências
sobre as relações entre as sociedades e os solos. Ci Rural. 2013;43:854-60.
Araújo PR, Tucci CEM, Goldenfum JA. Avaliação da eficiência dos pavimentos permeáveis na
redução de escoamento superficial. R Bras Recur Hídr. 2000;5:21-9.
Azevedo AC, Dalmolin RSD. Solos e ambiente: uma introdução. Santa Maria: Pallotti; 2004.
Azevedo AC, Pedron FA, Dalmolin RSD. A evolução da vida e as funções do solo no ambiente.
Tópicos O Solo. 2007;5:l-48.
Barbosa AE, Fernandes JN, David LM. Key issues for sustainable urban stormwater management.
\ ater Res. 2012;46:6787-98.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBIEN TES URBANOS 691

Bargos DC, Mati as LF. Áreas verd es urbanas: um estudo de rev isão e propo5ta conce ituai. R Soe fü...i
Arbor Urb. 2011;6:172-88.
Ba roni M, Specht LP, Pinheiro RJB. ConslTução de cc;truturas de conte nção utili7<.1ndo pneus
inservíveis: aná lise numérica e caso de obra. R Esc Mi nas. 2012;65:449-57.
Batis ta Neto JAB, Barreto CF, Silva MAM, Smith BJ, Mca ll is te r JJ, Vilela CG. ca rshorc edimentatio n
as a record of landuse change a nd erosio n: Juruju ba Sound , Niterói, SE, Brazil. Ocean Co...is t
Manag. 2013;77:31-9.
Be rnard AM. Effects of heavy metais in the environment on huma n health. ln. Con taminated c;oils,
proceed ings of the 3°. Internationa1 confe rence on the biogeochemis try of trace elemenLc; [CD-
ROM]; Paris; 1995. Paris: INRA; 1997. p.21-33.
Be rtoniJ, Lombardi Neto F. Conservação do Solo. 5ª ed . São Paul o: Ícone; 2005.
BigMe lla JJ. Estrutura e origem das paisagens tropica is e s ubtropicais. Floria nó po li : Un iversidade
Federal de Santa Catarina; 2003.
Blume HP. Classification of soils in urban agglomerations. Catena. 1989;16:269-75.
Borges LAC, Resende JLP, Pe reira JAA, Coelho LM, Barros DA. Áreas de preservação permanente
na legislação ambiental brasileira. Ci Rural. 2011;41:1202-10.
Boscov MEG. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina de textos; 2008.
Brady NC, Weil RR. Eleme ntos da natureza e propriedades dos solos. 3J_ed. Po rto A legre: Bookman;
2013.
Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 3ª.ed . Brasília: 2006.
Brasil. Ministério da Integração Nacional. Secre taria Nacional de Defesa Civil. Centro l acional
de Gerenciamento de Riscos e Desastres. Anuário brasileiro de de astres naturais. Brasília:
CENAD; 2014.
Brasil. Minis tério de Meio Ambiente. Áreas de preservação permane nte e unidades de conservação
& áreas de risco: O que uma coisa te m a ver com a outra? Rela tó rio de inspeção da área
atingida pela tragédia das chuvas na região Serrana do Rio de Janeiro. Bra ilia: 2011 . (Série
Biodivers idade, 41)
Brenne isen S. Space for urban wildlife: designing green roofs as habitats in s. .vitzerland. Urban Hab.
2006;4:27-36.
Callai, H.C. A cidade e a (re)criação da relação homem - na tureza. Ci Amb. 1993;-l:-!3-53.
Camargo FAO, Bento FM, Jacques RJS, Roesch LFW, Frankenberger WT. Uso de organismos para c1
re m ediação de metais. Tópicos Ci Solo. 2007;5:467-96.
Cas tro ALC, Calheiros LB, C unha MlR, Bringel MLNC. Manual de de astres. Bra ilia: Im p rensa
Nacional; 2003.
C he n Y, Day 50, Wick AF, Strahma BD, Wiseman PE, Daniels WL. Changes in oi! carbon pools
and microbial biomass from urban land development and ub equ ent post-development soil
re habilitation. Soil Biol. Biochem. 2013;66:38-44.
C laessens J, Sc h.ram-Bijke rk D, Breemen LO, O tte P, van Wijne n H . The ·oil-water ystem as basis for
acl ima te proof and healthy urban environment: Opportunities iden tified in a Dutch case-stu dv.
Sei Tota l Environ. 2014;485/ 486:776-84. ·

Cole man DC, Whitman WB. Linking species richness, biodiver itv a nd e(osv te m functi o n in soil
sy te ms. Ped obiologia. 2005;49:479-97. · •

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


692
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL,

Collicr LS, maral brinho MB, Mazur N, Velloso ACX. Efeito do campo to de resíduo sólido
urbano no teor de meta i · pesados em solo e goiabeira. l3ragantia. 2004;63:415-20.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - Cetesb. Aplicação de lodos de sistemas de
tratamento biol gico em área agrícolas: critérios parn projeto e operação. São Paulo: 1999.
Co ley H, jami N, Ha M-L, Srinivasan , Morrison J, Dmmelly K, Christian-Smith J. Global water
govemance in the h\'enty-firs t century. ln: Gleick PH. The world's water: the biennial report on
fre hwater re ources. Washington DC: Island Press; 2014. v.8. p.1-18.
Com~a JC, BüJI LT, Paga nini WS, Guerrini IA. Disponibilidade de metais pesados em Latossolo
com aplicação uperficial de escória, lama caJ, lodos de esgoto e calcário. Pesq Agropec Bras.
2008;43:411-9.

Cor euil HC, Marins MDM. Contaminação de águas subterrâneas por derramamentos de gasolina:
o problema gra, e? R Eng Sanit Amb. 1997;2:50-4.
Co ta J, Costa A, Poleto C. Telhado verde: redução e retardo do escoamento superficial. R Est Amb.
2012;14:50-6.

Craul PJ. Urban soils: Applications and practices. Ne'"' York: John Wiley; 1999.
Crav-.rford JW, Harris JA, Ritz K, Young IM. Towards an evolutionary ecology of life i.n soil. Trends
Eco) E\10I. 2005;20:81-7.
Curcio GR, Lima VC, Giarola NFB. Antropossolos: proposta de Ordem (1ª aproximação). Colombo:
Emprapa Florestas; 2004. (Documentos, 101)
Da Costa SMF, Cintra JP. Environmental analysis of metropolitan areas in Brazil. Photogram Remate
Sens. 1999;54:41-9.
De Kimpe CR, Morei JL Urban soil management: a growi.ng concern. Soil Sei. 2000;165:31-40.
Dias-Júnior HE, Moreira FMS, Siqueira JO, Silva R. Metais pesados, densidade e atividade microbiana
em solo contaminado por rejeitas de indústria de zinco. Rev Bras Cienc Solo. 1998;22:631-40.
Dunalska JA, Grochowska J, Wisniewskia G, Napiórkowska-Krzebietke A. Can we restore badJy
degraded urban lakes? Eco! Eng. 2015;82:432-41.
El Araby M. Urban growth and environrnental degradation, the case of Cairo, Egypt Cities.
2002;19:389-400.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. SiBCS. Sistema brasileiro de classificação
de solos. 3ª. ed. Brasília: 2013.
Feagin, R, Lozada-Bernard, S.M, Ravens, T.M, Mõller, I, Yeager, K.M, Baird, H. Does vegetation
prevent wave erosion of salt marsh edges? Proc Nat Acad Sei. 2009;106:109-13.
Felde JT, Reinelli CWBS, Oliveira Filho PC. Impermeabilização do espaço urbano de Porto União,
Santa Catarina: estudo de caso com fotografias aéreas digitais de altissima resolução. Ci Nat.
2015;37:104-14.
Ford CR, Hubbard RM, Vose JM. Quantifying structural and physiological contrais on variation in
canopy transpiration among planted pine and hardwood species in the southern Appalachians.
Ecohydrology. 2011;4:183-95.
Forte EJ, Azevedo MS, Oliveira RC, Almeida R. Contaminação de aquífero por hidrocarbonetos:
e tudo de caso na vila Tupi, Porto Velho - Rondônia. Quim Nova. 2007;30:1539-44.
Francisco PRM, Chaves IB, Lima ERV. Classificação de terras para mecanização agrícola e sua
aplicação para o estado da Paraíba. R Educ Agríc Superior. 2013;28:30-5.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVA ÇÃO DO SOLO E DA Á G UA EM A MB I ENTES URBANOS 69 3

Fra nco G l3, Me nezes AA, Gomes RL. Reconhecime nto e carac te rização d e êÍ reas de risco de
escorrega m ento em Il héus -13J\. Geogra fia. 2009;34:411 -25.
Frnn z C, Make ch in F, Weiís H, Lorz e. Sediments in urban ri ver bas ins: ld e ntifíca lion o f sediment
sources w ithin the Lago Pa ra noá catchme n t, Bras ília DF, Brazil - us ing the fi ngerprin t approach.
Se i To ta l Environ . 2014;466-467:5'13-23.
Fre itas C M, Ca rva lho ML, Xi me nes EF, A rraes EF, Gomes JO. Vulnera bilidad e socioa m biental,
red ução d e riscos d e desas tres e construção da res iliência - lições do te rre m o to no H a iti e clils
c hu vas fo rtes na Região Serra na, Brasil. Ci Saúde Colet. 2012;17:1.577-86.
G a lvão TC DB, Pe re ira A R, Coelho AT, Pere ira PR, Coelho JFT. Straw blanke ts sewn wi th recyclecl
plas tic threa d s fo r eros ion a nd urba n sedimen ts contrai. G eotech Geol Eng . 2011 ;29:➔9-55.
Ga rcía P, Pé rez ME, G ue rra A. Using TM image to detec t soi l seél ling c ha nge in M ad rid (Spain).
Geod e rma . 2014;214/215:135-40.
Ge tte r KL, Rowe 08, Ro bertson G P, Cregg BM, A nd resen JA. Carbon seques tration po te ntial of
ex te ns ive g reen roofs. Environ Sei Technol. 2009;43:7564-70.
Gette r KL, Ro w e 08. The Role of exte ns ive green roofs in s usta inable devclo p ment. Hortscience.
2006;4:1276-85.
G ill, S. E; Rahman, M.A, Handley, J.F, Ennos, A.R. Mod e Uin g water stress to urban amenity grass
in Manchester UK unde r cli ma te change and its p o te n tial im pacts in red ucing urban cooling.
Urba n For Urban Greening . 2013;12:350-8.
Gilma n EF. T rees fo r urban and su burban land scapes. A lba ny: ITP; 1997.
Gomes MAS, Soares BR. A vege télção nos centros urba nos: con s id erações s obre os espaços verdes e m
c ida d es m é dias brasileiras. Est Geogr. 2003;1:19-29.
Gõransson G , orrman J, Larson M, AJé n C, Rosén L. A m e thod o logy fo r estima ting ri ks as ociated
with la nds lides of conta mina ted soil into rivers . Sei Tota l Environ . 201-l;472:4Sl -95.
Gouve ia N . Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambienta is e per pectiva de manejo sustentável
com inclusão social. Ci Saúde Colet. 2012;1 7:1503-10.
Grando MZ, Miguel LA. Agricul tura na região me tropolita n a d e Por to Alegre, aspecto histó ricos e
contemporàneos. Porto Alegre: Universidade Federa l d o Rio G rande do S ul; 2000.
Griza FT, Ortiz KS, Ge re1nias D, Thiesen FV. A va liação d a con ta minação por o rgan ofosforados em
águas supe rfic ia is no município de Ron di nha- Rio G ra nde do S u l. Q u im Nova, 2008;31:1631-5.
2008.

GuJ1a -Sapir D, H oyois P, Be low R. Annua l disaster s ta tistical review· 2013: T he numbers and trends.
Brussels: C RED; 201-!.

H o w a rd JL, Ryzeivs ki K, Dubay BR, Killio n TW. A rtifact preservation a n d post-d epo itio nal
s ite-fo rma tio n p rocesses in an urba n se tting: a geoarchaeological study of a 19th centurv
ne ig hbo rhood in De troit, Michigan, USA . J Archaeol Sei. 2015;53:178-89. ·

I-lu K, Li H , Li B, Hua ng Y. Spa tia l and tempor a l patte m s of soil o rganic matter in the urba n-rura l
trans itio n zo ne of Be ijing . Geod erma. 2007;H 1:302-10.

113GE. Ins tituto Bra ile iro d e Geografia e Esta tística. A tlas do censo dem ográfico 2010. Rio de janeiro:
2013a .

Ins tituto Brasile iro d e Geografia e Esta tística - IBGE. i\lanua l técn ico de u so da terra. 3". ed. Rio de
Janeiro: 2013b . (Ma nuais técnicos e m Geociências, 7)
ls be ll RF. T he a us tra lia n soil d assifica tio n. CoUing w ood : CSIRO ; 2002.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


694
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

luss \'Vorking roup WRB. \ orld rcfcrencc Base for Soil Rcso urccs 2014 - lnlernéltionéll soil
classifica tion systcm for n,1 ming soils and crcating lcgcnds for soil maps. Roma: FAO; 2014.
(\\'o r!d oi\ Resou rccs Report, 106)
Jacobi PR, Bescn GR. ,estão de resíd uos sólidos cm São Paulo: desafios da sus tentabilidade. Est
vançado . 2011;25:135-Sc.
Jim CY. rban soi\ characteristc and limitations for landscape planting in Hong Kong. Landscape
Urban Plan . 199 ;40:235-t9.
Jorse 1CO. Degradação dos solos no litoral norte paulista. ln: Guerra AJT, Jorge COM, editores.
Degradação dos solos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2014. p.167-212.
Ka1npf N, Giasson E, lnda Junior AV, Nascimento PC, Rodrigues ALM, Anghinoni MCM, Ferraro
L\V, Binotto RB, Sanberg JRD. Metodologia para classificação de solos quanto à resis tência a
impacto ambientai decorrentes da disposição final de resíduos. FEPAM R. 2008;2:11-7.
Kampf 1, Kem DC. O olo como registro da ocupação humana pré-histórica na Amazônia. Tópicos
Ci Solo. 2005;4:277-320.
Kampf , Schneider P, Giasson E. Propriedades, pedogênese e classificação de solos construídos em
áreas de mineração na bacia carbonífera do Baixo Jacuí (RS). Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:79-88.
Keller EA. Environmental geology. Upper Saddle River: Prentice Hall; 1996.
Kobiyama M, Mendonça M, Moreno DA, Marcelino IPVO, Marcelino EV, Gonçalves EF, Brazetti
LLP, Goerl RF, Molleri GFS, Rudorff FM. Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos.
Florianópolis: Organic Trading; 2006.
Kontokosta CE, Jain R. Modeling the detemtinants of large-scaJe building water use: impLications for
data-driven urban sustainability policy. Sustainable Cities and Society. 2015;18: 44-55.
Lark RM, Scheib C. Land use and lead content in the soils of London. Geoderma. 2013;209 / 210:65-74.
Lelles LC, Silva E, Griffith JJ, Martins SV. Perfil ambiental qualitativo da extração de areia em cursos
d' água. R Ánrore. 2005;29:439-44.
Lepsch lF, Espindola CR, Vischi Filho OJ, Hemani LC, Siqueira OS. Manual para levantamento
utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciéncia do Solo; 2015.
Lepsch IF. Formação e conservação dos solos. 2ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos; 2010.
Li H, Yu S, Li G, Deng H, Xu B, Ding J, Gao J, Hong Y, Wong M. Spatial distribution and historical
records of mercury sedimentation in urban lakes under urbanization impacts. Sei Total Environ.
2013;-145/ 446:117-25.
Liu J, Sample DJ, Bell C, Guan Y. Review and research needs of bioretention used for the treatment
of urban stormv,rater. Water. 2014;6:1069-99.
Lorenz K, Prestonc CM, Kandeler E. Soil organic matter in urban soils: Estimation of elemental
carbon by thermal oxidation and characterization of organic matter by solid-s tate 13C nuclear
magneti; resonance (NMR) spectroscopy. Geoderma. 2006;130:312-23.
Lua X, Yu S, Zhu Y, Li X. Trace metal contamination in urban soils of China. Sei Total Environ.
2012;421 / 422:17-30.
Machado CTT, Machado AT. Agricultura de base ecológica em sistemas urbanos: polenciaJidades,
limitações e experiências. Planai tina: Embrapa Cerrados; 2005. (Documentos, 148)
Marques JJGSM, Curi N, Schulze DG. Trace elements in cerrado soils. Tópicos Ci Solo. 2002;2:103-42.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX I - CO N SERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AMBI ENTES UR BANO S 69 5

Martins C MT, Mend es MGT, Abreu JM, Alme id a JPL, Li ma JP, Limt1 IP. H iJrologÍél urb,ma conceitos
bá sicos . Lis boa: ERSAR; 20"!0. (S •rie C ursos Téc nicos, 1)
Massa d r:. Obras de te rra: curso básico de geotecnia. 2J. ed . São Pc1u lo: O ficina de Te-i<to 5 ; 2010.
Matos BA. Ava liação da ocorrência e do transporte ele m icro rg,rnic; moc; no aq uífero f_rc..í ti~o do
ce mi té ri o de Vila Nova Cachoeirinha, município el e São Pa ulo ft ec;c J. Siio Pa ul o: Univers1délde
ele São Paul o; 2001.
Mattias J L, Ceretta CA, Nesi CN, Girotto E, Trentin EE, Lo urenz i CR, Vi ·ira RCB. Coppcr, zi nc and
m an ga nese in so ils of two wa tersheds in Sa nta Ca ta rina w ith in tens ive U'ie o f p ig s lurry. Re
Bras C ienc Solo. 2010;34:1445-54.
Mello SS. As funções ambientais e as funções d e urb,mid ad e das ma rgens d e curso<; d'água. Ocu lum
Ensa ios. 2005;4:48-61.
Melo TAT, Coutinho AP, Cabral JJSP, Antonino ACD, C iri lo JA. Ja rdim d e chuva: siste ma de
bio rre tenção para o manejo d e águas pl uviais urbanas. A m b Construído. 201-l;l-!: 147-65.
Melo TA T. Jard im de chu va: sistema de biorretenção co mo técnica co m pe nsató ria no m anejo e águas
pluv iais urba nas (dissertação J. Recife: Univers idade Fede ral d e Pe rnambuco; 2011.
Mente ns J, Raes D, Hermy M. Green roofs as a too! for solv in g the ra inwater runoff p roblem in the
urbani zed 21st century ? Landscape Urban Plan . 2006;77:217-26.
Me rte n G H, M inella JP, Reiche rt JM, Moro M. Implicações do uso e m anejo d o solo e d as variaçõe
climá ticas sobre os recursos hidricos. Tópicos Ci Solo . 2011;7:307-65.
Me rten GH, Minella JP. Qualidade da água em bacias hidrog rá ficas rurais: um d esafi o atua l para a
sobrevivência futura . Agroecol Desenvol Ru ral Sus ten t. 2002:3:33-8.
Meshgi A, Schmitter P, Chui TFM, Babovic V. Development of a m odular trea mtlo w model to
qua nti fy runoff contributions from different land uses in tropica l urban e n ironmen ts u ina
G e ne tic Programming. J Hydrol. 2015;525:711-23.
Moglia M. Urban agriculture and rela ted wa ter sup ply: explo rations and discussion. Ha bitat Intem .
2014:42:273-80.
Mo re ira FMS, Siqueira JO. Microbiologia e bioquímica do so lo. 2ª . ed . Lav ras: Unive rsidade Fed e ral
d e Lavras; 2006.
Mo re ira JC, Peres F, Simões AC, Pignati W A, Dores EC, Vieira 51 , Strü s ma nn C, \ lo tt T.
Co nta minação de águas superficiais e de chuva por agrotóxicos e m uma região do es tado do
M a to Grosso. Ci Saúde Colet. 2012;17:1557-68.
Morero A M, Santos RF, Fidalgo ECC. Planejamento a mbiental de áreas verdes: estudo d e ca o e m
Ca m p inas - SP. R Ins t Flor. 2007;19:19-30.
Moura MCS, Lopes ANC, Moita GC, Moita eto JM. Estudo multivariado de solos urbanos da
cida d e d e Teresina. Quim Nova. 2006;29:429-35.
M ulle r CC, Rosa rio M, Corseuil RX. Investigações forenses e a estimativa d a idade d a fo nte e m á reas
conta minadas por gasolina com etano l. Águas Su bter. 2013;27: 88-100.
Nascimento CW A, Accio ly AMA, Biondi CM. Fi toextração d e me tais pesados e m solo contamina d o :
ava nços e perspectivas. Tópicos Ci Solo. 2009;6:461-97.
Neves MGFP, Tucci CEM. Res íd uos sólidos na drenagem urbana: e tudo d e c.:iso. R Bras Rec Hídr.
2008;13:43-53.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


696
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

ogueira T R, Sampaio RA , Fonseca 1 1, Ferreira , ,rnlos E, Ferreira L , Gom es E, f-ermrndes


LA. 1ctaL pc, ados e patógcnos em milho e fcij.'in cél upi consorciados, .1dubados com lodo de
e goto. R Bras Eng Ag-rfc Amb. 2007;11 :331-, .
lunc maia 1F. A gestão de resíduos urbanos e suas limitações. R Baiana Tecnol. 2002;17:120-9.
Oberndorfer E, Lundholm J, Bass B, Coffméln RR Doshi H Dunnett , Gaffin S, Kühle r M , Liu
KKY
. '. R' º "'e B. Green roofs as urban ecosystcms:
' ecological
, s tructures, functions, and serv ices.
Bio, ocnce. 2007;57:S23-33.

Oliveira FC, Mattiaz zo 1E, Marciano CR, Abreu Junior CH. Fitodisponibilid ade e teores de m e ta is
pesado em um Latossolo Amarelo Dish·ófico e em plantas de cana-de-açúcar adubadas com
composto de lixo urbano. Rev Bras Cienc Solo. 2002;26:737-46.
Oursel B, Garnier C, Durrieu G, fou nier S, O manovié D, Lucas Y. Flood inputs in a Mediterranean
coastal zone impacted by a large urban area: d ynamic and fate of trace metais. Mar C hem.
201-1;167:-!-+-56.

Pacheco A. Os cemitérios e o ambiente. Conselho R. CREA - RS. 2006;111, 24:30, 2006.


Page JL, \ in ton RJ, Hunt WF. Soils beneath suspended pavements: an opportunity fo r stormwa te r
contrai and treatrnent. Eco! Eng. 2015;82:40-8.
Pedron F A, Dalmolin RSD, Azevedo AC, Botelho MR, Menezes FP. Levantamento e classificação
de solos em áreas urbanas: importância, limitações e aplicações. R Bras Agroci. 2007;13:147-51 .
Pedron FA, Dalmolin RSD, Azevedo AC, Kaminski J. Solos urbanos. Ci Rural. 34:1647-1653, 2004.
Pedron FA, Dalrnolin RSD, Azevedo AC, Poelking EL. Utilização do sistema de avaliação do
potencial de uso urbano de terras no diagnóstico ambiental do município de Santa Maria - RS.
Ci Rural. 2006b;36:486-77.
Pedron FA, Dalrnolin RSD, Azevedo AC. Levantamento e classificação de solos urbanos:
oportunidades e limitações. ln: Azevedo AC, Dalmolin RSD, Pedron FA, organizadores. Solos
& ambiente - 11 Fórum: os solos e as cidades. Santa Maria: Orium; 2006a. p.55-78.
Pedron FA, Santos lRZ. Adoção de áreas verdes: análise dos locais. IJ1: 16°. Congresso Brasileiro d e
Iniciação Científica e m Ciências Agrárias; 1996; Santa Maria. 1996. p.207.
Pedron, F.A. Classificação do potencial de uso das terras no perímetro urbano de Santa Maria - RS
[dissertação] . Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2005.
Pires FR, Souza CM, Sil va AA, Procópio SO, Ferreira LR. Fitorremediação de solos contaminados
com herbicidas. Planta Daninha. 2003;21 :335-41.
Popkov S, Dement'eva, E. Soil properties effect on the development and distribution of urban
vegetative cover of the forest zone. ln: Proceedings of the 17th. World Congress of Soil Science;
2002; Bangkok. Bangkok: 2002. v.5. p.1672.
Póssa EM, Ventorini SE. Expansão mbana para áreas de risco de inundação e de m ovim e nto de
massa: o estudo no município de São João Dei-Rei - MG. Cad Prudentino Geogr. 2014;36:49-67.
Pus kás J, Farsang A. Diagnostic indicators for characterizing urban soi ls of Szeged, Hunga ry.
Geoderma. 2009;148:267-81.
Ramalho Filho A, Beek KJ . Sistema de aval iação da aptidão agrícola das terras. 3ª. ed . Rio de Ja neiro:
Ernbrapa-C rrs; 1995.
Rangel OJP, Silva CA, Be ttiol W, Dynia JF. ~fei to de aplicaç~es de lodos de esgo to sobre os teores de
1
meta is p esados em folhas e grãos de milho. Rev Bras Cienc Solo. 2006;30:583-94 .
Rangel-Buitrago G, Anfuso G, Williams AT. Coastal erosion along the ~aribbea n coast of Colombia:
Magnitudes, ca uses and management. Ocean Coast Manag. 2015;114:129-44.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AM BIENTES URBANOS 697

Ra zzolin MTP, Gü nther WMR. fmpílclos na s;iúde da. dcficié nc i.:is de acesc;o a água . Saúd º ·
2008;17:21-32.
Re is BJ, Batis ta GT, Targa MS, Ca tclani CS. fnfl u nc ia cla5 cavas d ex tração d . -i reia no bali.lnço
h ídrico do va le do Paraíba do Sul. R Esc Minas. 2006;59:391 -6.
Rio-Salas R, Rui z J, O-V illanueva ML, Ya lencia-Moreno M, lo reno- Rodríg uez V, Góm •z-Alvare 7 A,
G rija lva T, Mendivil H, Paz-Moreno F, Meza-Figue roa D. Traci ng geogenic a nel a nthropogcnic
sources in urban du ts: fn sights fro m lead isotopes. Atmos En viron. 20"12,60:202- 10.
Robaina LES, Kormann TC, Wiggers MM, Sccoti AAY. Aná lise espaço-tc mpo ~a l da o o rrênciac;_cJ~
inundações e movimentos de massa no município de Caxias d o Sul, RS. C , Natura . 2007;32: b9-
72.
Rossato R. Cidades brasileiras: a urbanização patol ógica. Ci Amb. ·1993;7:23-32.
Rube l D, Wisnivesky C. Magnitude and distribution of canine feca l contaminat-ion a nel helminth
eggs in two areas of different urban structure, G rca tc r Buenos Aires, Argentina. Vete r Pa ra itol.
2005;133:339-47.
Sa nchez AS, Cohim E, Kalid RA. A review on p hysicochem ical a.nd microbiologica l contamination
of roof-harvested rainwater in urban areas. Sus tainability of Water Quality a nd Ecology, 201.5.
(Article in press)
Santos LAC, Campos MCC, Aquino RE, Bergamin AC, Silva DMP, Marque Junjor J, França A BC.
Caracterização de terras pretas arqueológicas no s ul do estado do A mazona . Rev Bra Cienc
Solo. 2013a;37:825-36.
Santos PTS, Santos SM, Montenegro SMGL, Coutinho AP, Moura GSS, Anto n ino ACD. Telhad o
verde: desempenho do sistema construtivo na redu ção do escoam ento superficial. Amb
Construído. 2013b;l3:161-74.
SchleuB U, Wu Q Blume H. Variability of soils in urban and periurban areas in .Northem Germany.
Catena. 1998;33:255-70.
Schneider P, Giasson E, Klant E. Classificação da aptidão agr ícola das terras: um is tema al te rnativo.
Guaíba: Agrolivros; 2007.
Schueler T. The compaction of urban soils. Technical no te n°l. 07. Wa ters Protec Technol. 2000; :661-3.
Scott HD. Soil physics: agricultural anel environmental applications. LOCAL: Wiley-Blackwe ll; 2000.
Segura C, Booth DB. Effects of geomorphic setting and urbanization o n wood, pool , sediment
s torage, and bank erosion in puget sound s treams. J Am Wa ter Resour A oc. 2013;-16:972 6.
Selinus O . Medical geology: an emerging speciality. Teme. 2004;1 :8-15.
Selle JL. Ciclagem de nutrientes em ecossis te mas florestais. Biasei J. 2007;23:29-39.
Silva RCA, Araújo TM. Qualidade da água do manancial subterrâ neo em á reas urbana de Fei ra de
Santana (BA). Ci Saúde Colet. 2003;8:1019-28.
Siqueira SL, Kruse MHL. Agrotóxico e saúde humana: contribuição do profis ionais do campo da
sa úd e. R Esc Enferm USP. 2008;-!2:584-90.

Soil Survey Staff Keys to soil taxonomy. 12th. ed. v ashington, DC: USO . a turai Res urce~
Conservation Service; 2014.
Song W, Pijanowskib BC, Tayyebi A. Urban expans io n a nd its consu mption of hinh-qualitv
0
farml.ind
in Beijing, China. Ecol lndic. 2015;54:60-70. -

Sorensen M, Barzetti V, Keipi K, Williams J. lanejo de las á reas verdes urbanas. Wa hington, D .:
BID; 1998.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


698
FABRÍCIO DE ARAÚJO PEDRON ET AL.

ou za C 1P, ih·a KF 1 , Morc,, u A 1 . Avaliação do potencial de uso urbano da idade d e ll héus-


B · R Brn. Gcogr Fí iccl. 20 14;7:165-79.
paarga ren OC. lher , ystems of soil cla, sification. ln: Summer ME. Handbook of soil science . Boca
Raton: CRC; 2000. 'ction E. p.137-? 4.
P 0 ito G . Thc chemistry of soils. 2nd. ed. Ncw York: Oxford University Press; 2008.
ITeck E\ , Gia. son E, Kam pf '· Levanta mento pedológico e análise qualitativa do potencia l de uso
do, solos para o descarte de dejetos suínos da Microbacia do Lajead o Gra nde, RS. ln: Anais d o
30'-'. Congresso Bra, ileiro de Ciência d o Solo [CD-ROM]; 2005; Recife ... Recife: 2005.
trogano,-~ 1 , Agarkova 1G. Urban soil : experimental study and classification (exem pli.fied by
the so1ls o f outhwcstern Moscow). Eur Sai! Sei. 1993;25:59-69.
Sun G, Cald w ell P. lmpacts of urbaniza tion on stream water quanti ty and quality in the united
s tate . Water Res lmpact. 2015;17:17-20.
Sun G, Lockaby BG. \,Va ter quantity and quality at the urban -rural interface. ln: Laband D N,
Lo~ka~y BG, Zipperer \'\/, editors. Urban-rural interfaces: linking people and na ture. Ma dison :
S01! Sc1ence Sociel) of America; 2012. p.26-45.
Tiburtius ERL, Peralta-Zamora P, Leal ES. Contaminação de águas por btxs e processos utili zad os n a
remediação de sítios contaminad os. Quim Nova. 2004;27:441-6.
Toro J, Ma tera M, Moura FS, Pedroso FF. Coping with lasses: options for disaster risk financ ing in
Brazil. \\ ashington, DC: World Bank; 2014.
Troeh FR, H obbs JA, Donahue RL. Soil and water conservation. 2nd. ed . Englewood Clifs: Pre ntice
Hall; 1991.
Trov,•sd ale SA, Simcock R. Urban stormwater treabnent using bioretention. J Hydrol. 2011;397:167-
74.
Turowski JM, Bad ou x A. Leuzinger J, Hegglin R. Large floods, alluvial overprint, and bedrock
erosion . Earth Surf Process Landf. 2013;38:947-58.
USDA-NRCS. Erosion and sedimentation on construction site. Auburn: 2000a. (Soil Quality Urban
T eclmical ote, 1)
USDA- RCS. Urban soil compaction. Aubum: 2000b. (Soil Quality Urban Teclmicaj N ote, 2)
Vasconcell os FCS, Iganci JRV, Ribeiro GA. Qualidade microbiológica da água do rio São Lourenço,
São Lo urenço d o Sul, Rio Grande do Sul. Arq lnst Biol. 2006;73:177-81.
Vasenev VI, Stoorvogel TT, Vasenev 11, Valentini R. How to map soil organic carbon s tocks in hig hly
urbanized regions? Geoderma. 2014;226/227:103-15.
Wei B, Jiang F, Li X, Um 5. Spa tial d istribution and contamination assessment of heavy m e ta is in
urban road dusts from Urwnqi, 1\TW China. Microchem J. 2009;93:147-52.
Wei, B, Yang, L. A review of heavy metal contaminations in urban soils, urban road dusts a nd
WHO/U ílCEF. \,\/orld Hea lth Organiza tion/United Nations Children's Fund. Progress on drinking
Wa ter and sanitation - 2014 u pda te. Geneva: WHO Press; 201 4.
WHO/U ICEF. World Health Organization/United Nations Children's Fw1d. Wa ter fo r life:
maki ng it happen. Geneva: WHO Press; 2005.
WWAP. United Nations World Water Assessment Programme. The United Nations World W a ter
Development Report 2015: Wa ter for a susta inable world. Paris: UN ESCO; 2015.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXI - CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM AM B I ENTES URBANOS 699

Yang J, Yu Q, Gong P. Q u<1nlify ing a ir pollution remova ! by g reen roofc; ,n Ch ic,1go. Almoc; Environ.
2008;42:7266-73.
Yao L, C hc na L, Wc ia W, Sun R. Po tcnl ia l reduction in urban runnff by g ree n , pr1ce, in B ·ij ing: a
scena ri o an<1 lys is. Urban For Urb<1 n G rccn ing. 2015;'14:J00-8 .
Yu D, Cou lthard TJ. Evalua ting lhe impor tancc of ca tch mcn l hyd ro logica l p,:ir,1me te r. for ogr i ultu rt!l
soils from C hina. Microchem J. 2010;94:99-107.
Zanuttigh B. Coasta l flood protection: w ha l pcrs pective in a cha ng ing cl 1ma te? The Toe us
a pproach . Environ Sei Policy. 2011 ;14:845-63.
Zeitouni CF, Berton RS, Abreu CA. Fitoex tração de cádmio e zinco d e um L.l toc;solo Verm lho-
A m a re lo conta minad o com me tais pesados. Bragantia. 2007;66:&!9-57.
Zhang M, C he n H, Wang J, Pan G. Rain water utiliza ti o n a nd s torm po llutio n contra i based o n u rban
runoff characte r.ization. J Environ Sei. 2010;22:40-6.
Zhang X, Li Z, ZengG, Xia X, Yang L, Wu J. Eros ion effects on soil proper ties o f the unjq u e rcd . o il h tllv
region of the economic development zone in southe rn China. En viron Et! rth Sei. 2012;67:17-?';.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - O MANEJO DO SOLO NA S VÁ RZ EAS
DA AMAZÔNIA

Wenceslau Geraldes Teixeira !/, Hedinaldo N arcis o Lima21, Will er Hermeto A lmei da
Pinto 31, Kleberson Worsley de Souza-V, Edgar Shinza to 51 & Gõ tz Schro th 61

11
Em brapa Solos, Rio de Janeiro, RJ . E-mai l: wenceslau .te ixeira0 e mbrc1p.:i.br
11
Univcrsid;ide FederJ I cio Amazon;is, Manaus, A 1. E-mai l: hedinaldo -vufam.ed u .br
.,; Ll3R Engenhari;i e Consulto ria LTDA, São P;i ulo, SP. E-mc1il: wi llc rhcrmeto. LBR711petrobra ·.com .br
·11
Em brapa Cerrados, Pl.:inaltina, Df-. E-mail: klebcrson.souz.1'!)g mail.com
51 Compan hia de Pesq uis;i de Recursos Minernis, e rviço Geológico do Brasil, Rio de Janeiro, RJ.
E-m;i il: edgar.sh inzato@c prm.gov.br
61 Consultor, Santarém, PA. E-mail: goetz.schroth'Qig mail com

Conteúdo

I T RO D UÇÃO .................................................. ........ ..... .................. ...................................................... ·- ··--· •- •·• ...... .. ... 702
ASPECTOS GEOLÓC ICOS E GEOMORFOLÓG ICOS DAS VÁRZEAS AMAZÓNICAS ................................ 702
O FENÓ MENO DAS "TERRAS CAÍDAS" .......................................................................... ... ...................... ............ 7~
VEG ETAÇÃO DAS VÁRZEAS AMAZÓ ICAS .................................................................... - .. ....... _ ............ ....... 7
OS ESTUDOS E A CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DAS VARZEAS A AMAZÓNIA CENTRAL .. - ..... 705
Características gera is dos solos de várzeas ........................................................................................................... 709
As principais classes de solo das várzeas .:imazônicas ... ...................... .................... ...................................... 709
G le issolos Há plicos ............................................. .... ............................. ........................ ............ _ ............ .......... 709
Dis tinção e ntre os Gleissolos ........................................................................................................... -...... __.... 711
eossolos Flúvicos ................................................................................................ ·- ............ ___ ._ ........... - .... 71...,
O utro solos associados .............................. .........................................................................- ......................... 71"'
As Terras Pre ta de Índio na vé'l rzeas .. ................................. ..................... ........... .................................. -- .......... 714
Com posição granul ométrica e m ine ralógica dos sedi mentos e solos das várzea amazônic'1 .... _......- .... 715
A tri bu tos químicos dos solos de vé'lrzea da Amazônia ........................................................... _.- .......... _ .......... 717
CMbono o rgâ nico e nitrogénio em solos de vá rzea da Amazônia ................................- ...... ···- ·--................ 717
Efei tos da inu ndação sobre os a tr ibutos q u ím icos dos solos .... ...................... _.................- .................. - ............ 71
USO AGRÍCOLA DOS SOLOS DAS VÁRZEAS AMAZÔN ICAS ......................................................_................... 719
Cu ltivo de ho rta liças ······················································································--··············•········--················ ............. 719
Cu ltivo de fib ras: Ju ta e malva ............................................. .. ....................................... . ........................... ·- ··--· .. 719
Pas tagens nas vá rzeas amazônicas .......................... ................................................... .......................... _..... ........... 720
S is te mas agroílores tais e m .íreas de vá rzea .................................................. ...................... ...... ................ ·- ···- .. :-2l
A exploração dos aça izais ················"" '· "···· ---- ················· .. ,·····--····· ........... ············· .. ·········- ······ ··-- --····-····· .... .. 7'21
Cultivos d e ciclo cu rto nas várzeas amazônicas ····················································-···················- ·---···· ·· .... ....... 721
CONSIDERAÇÕES FI AIS ............... ..................................................... ............ .......... .... ........................... ............. --'22
U TERATURA CITADA ................. .................................... .................... .. .. ....... ..... ........ ...... .................. .. - ..... ..... ... . .

Be r to! 1, De Ma ri a IC, Souza L.5, editores. Manejo e conservação do :.olo e d<1 ,igua. Viço.s,1 , ~IG: -, :ieJ.1de
Bras ileira de iê ncia d o Solo; 20Ul.
702
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

INTRODUÇÃO

vá rzea é uma paisagem geomorfológica de planície de inundação e terraço fluvial,


fo rmada por colmatação de sedimentos fluviais e ainda sujeita à inundação, e1n que a
pe'.·iodicidade e o tempo de submersão são dependentes da posição, altura e forma na
paisagem. Normalmente, apresenta drenagem reduzida, condicionada principalmente
pela posiç~o próxima à rede de drenagem. Pode evidenciar processo de deposição de
n~vos ~ed1rnentos pela inundações periódicas e de gleização pela redução e remoção de
mmera1s de ferro do solo. As várzeas amazônicas são ambientes típicos dos chamados rios
de água branca, endo os pri.ncipais, em volume e carga de sedimentos em suspensão, o
Solimõe , o Amazonas, o Juruá, o Madeira, o Purus e o ]apurá. As áreas ocupadas pelas
várzeas na Amazônia Legal que incluem os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia,
Roraima, e parte dos estados de Mato Grosso, Maranhão e Tocantins fora1n estimadas em
39,15 Mha correspondentes a 8 % da área da Amazônia Legal. Essa estimativa certamente
é subes timada, pois, para seu cálculo, foram consideradas apenas as áreas com Gleissolos,
eossolos Flúvicos e Organossolos, dominantes nas unidades de mapeamento do solo.
Essas classes normalmente ocorrem também com subdominantes e inclusões das unidades
de solos da terra firme em áreas menores não mapeáveis nos mapas disponíveis para a
maior parte da Amazônja_ Na grande maioria das várzeas amazônicas, cujo ambiente mal
drenado dificulta a decomposição da matéria orgânica, praticamente não há acúmulo de C,
como ocorre em ambientes similares em ouh·as partes do Brasil. Esse fato está relacionado
ao regime climático quente e úmido, que condiciona altas taxas de decomposição;
consequentemente, são raras as ocorrências de Organossolos e Gleissolos Melânicos na
Amazônia. A maior parte das várzeas amazônicas apresenta concentração de nutrientes
maior do que as áreas de terra finne adjacentes, sendo considerada um sistema de elevada
produtividade natural (Worbes, 1997). Foi neste ambiente que se fixou inicialmente o
homem na Amazônia, e até os dias de hoje é o ambiente onde reside grande parte da
população não urbana da Amazônia. Os habitantes que residem nessas áreas, ao longo
das margens dos rios, são denominados de ribeirinhos. Esse ambiente tem importância em
escala regional, mas, pela sua dimensão, representa também um papel global relevante.
Por isso, sua caracterização e a ordenação de sua ocupação e manejo dos seus solos são
fundamentais para o uso sustentável desse ambiente, que está entre as maiores reservas
de solos férteis em ambiente tropical do planeta. Neste capítulo, serão apresentadas as
principais características das várzeas amazônicas, com foco sobre os solos de várzea do rio
Solimões-Amazonas, sendo discutido o uso e manejo agrícola desse ambiente.

ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS DAS


VÁRZEAS AMAZÔNICAS

O processo de formação das várzeas ocorre pela deposição de sedimentos nos vales que
foram escavados pela água, principalmente no período da última glaciação, quando o nível
do mar estava entre 70 e 100 m abaixo do nível atual (Costa et ai., 2010). Posteriormente,
com a s ubida do nível das águas, os rios diminuíram o flu xo e a velocidade de suas águas
e afogaram seus canais, e aqueles rios com maior carga sed imentar ac umularam seus
serumentos nos vales, formando a paisagem de várzea. Essa paisagem muda suas feições em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - Ü MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEA S D A AM AZÔN I A 703

ra zão d a hidrodinâmica dos rios, q ue trnnsfo rma m conti nu amente o él m bí~nte d a :á rzen,
ca rncterizand o essa área pelo seu intenso dinamismo (Sioli, 1984). Em vá n as loca li d ad es,
os rios de várzea continuam a fluir sobre essas formações sed imenta res, re movendo ou
adicionando sedimentos. A extensão do ambiente das vá rzeas na pa isage m pod e ser muito
a mpla, por vezes dezenas ou até mais de uma centena de km das margens do rio (Teixeira
et ai., 2007; Dantas e Maia, 2010; Teixeira et ai., 2010b). O am biente de várzeas pod e ser
dividido em terraços fluviais e planícies de inundação (Figura 1).

Figura 1. Desenho esquemático da distribuição dos microambientes nas vá rzeas amazônica . APt -
Argissolo Amarelo alunúnico, Ffa - Plintossolo Argilúvico alúm inico, RUve - eossolo Flúvico
Eu trófico.
Fonte: Ada ptado de Lima et ai. (2006).

Os terraços fluviais são formações correlatas ao período pleis tocênico, com períod os
de deposição de sedimentos que retrocedem até 40 000 Antes do Presente (A.P.), e as
planícies de inundação fluvial são formações quaternárias, do HoJoceno recente (<10 000
anos A.P.; Rosseti et ai., 2007). As várzeas apresentam grande variabilidade morfo lógica
e deposicional, reflexo dos distintos tipos de sedimentação oriundos de padrões de
drenagem meândricos de grande sinuosidade, como nos rios Purus, Juruá e Javari, ou
anastomosado, como no rio Solimões, que evidenciam processos geomorfológicos bastante
ativos. Essas áreas de deposição são identificadas como planícies de acreação, planícies d e
decantação, barras arenosas e diques marginais (Latrubesse e Franzinelli, 2002). Sternberg
(1998) destacou que, nas várzeas amazônicas, "as águas submetem as terras a cons tantes
retoques, de modo que o terreno, sobre o qual hoje os sedimentos são depositados, amanhã
poderão ser removidos". As diferentes vazões, cargas de sedimentos e caracterís ticas d a
água transportadas pelos rios (Victoria et al., 2001; Filizola et ai., 2011) irão condicionar, em
conjunto com os diferentes ambientes deposicionais, a grande variabilidade dos solos, q ue
formam um ambiente descontínuo, o que, em termos de uso agrícola, dificulta a mecanização
em larga escala e demanda grande esforço amostral para sua caracterização (Teixeira et a i.,
2008). Essa elevada variabilidade reflete, em mapas em maior escala, a impossibilidade
da individualização das classes de solos nesses ambientes, que são descritos como solos
Hidromórficos (CETEC, 1986a,b,c; Embrapa, 1990). A ablação das margens dá-se pe lo
fenômeno das "terras caídas"; sobre o efeito desse fenômeno, há numerosos e dramá ticos
relatos na literatura amazônica (Igreja e Franzinelli, 2006), conforme descrito a seguir.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


704 WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

O FENÔMENO DAS "TERRAS CAÍDAS"


A expressão " terras caídas" representa um fenômeno que ocorre com frequência nos
solos de várzea e significa a ablação ou desbarrancamento do solo das margens para dentro
do rio. Há relatos antigos desse fenômeno: Henry Bates, em sua viagem pelo rio Solimões,
na metade do século XIX, relatou esse fenômeno observado em grandes proporções
durante aproximadamente duas horas ininterruptas, "quando w11a expressiva quantidade
de terra caiu à margem desse rio, num trecho que variou entre dois e três quilômetros"
(Bates, 1979). Aparentemente, esse fenômeno se intensifica nas margens dos rios, onde a
erosão é maior, ocorrendo principalmente no período das enchentes. Segundo Carvalho
(2006), o fenômeno das "terras caídas" é um processo geomorfológico-fluvial natural, de
constituição complexa, associado à instabilidade do material franco-siltoso, que compõe
os terraços de várzea. Os movimentos tectônicos de pequena magnitude, provavelmente,
estão relacionados aos deslizamentos maiores, sobretudo nas zonas de falhas (Igreja e
Franzinelli, 2006). Fatores, como o aumento da ação dos "banzeiros", que são sucessões
de ondas provocadas por urna embarcação em deslocamento, parecem ter intensificado
o processo de desbarrancamento em algumas regiões da Amazônia. O uso mais intenso
dos rios para o transporte de cargas, equipamentos e pessoas ocorre na hidrovia do rio
Madeira, com o transporte de soja, em balsas, de Porto Velho, RO, ao porto graneleiro de
ltacoatiara, AM, no rio Amazonas. No rio Solimões, o aumento da intensidade da erosão
das margens parece estar associado com o transporte de petróleo proveniente da Província
Petrolífera de Urucu, da base na Cidade de Coari até a refinaria de Manaus. No Estado do
Pará, está relacionado com o transporte de minérios de AI e Fe pelo rio Amazonas.

VEGETAÇÃO DAS VÁRZEAS AMAZÔNICAS


A vegetação original dos terraços das áreas de várzea alta e das restingas é a floresta de
várzea composta das floresta ombrófila densa aluvial, floresta ornbrófila aberta aluvial, e as
formações pioneiras são predominantes na planície holocênica (Brasil, 1978). Nas florestas
inundadas, as variações topográficas podem resultar em diferenças na amplitude e no tempo
de inundação anual (Figura 2), fatores determinantes nos padrões observados de riqueza,
diversidade e composição das espécies (Parolin et al., 2004; Ayres, 2006). Nas áreas próximas
ao golfão Marajoara, a vegetação desenvolve-se sob inundações diárias causadas pelo
fluxo das marés, que fez com as espécies vegetais desenvolvessem adaptações fisiológicas
e morfológicas (Almeida et ai., 2004). Gama et ai. (2003) relataram que as florestas de
várzeas começaram a ser exploradas na década de 1950, com espécies utilizadas em formas
extrativas, como o buritizeiro (Mauritia Jlexuosa), o açaizeiro (Euterpe oleracea), a andirobeira
(Carapa guianensis) e a seringueira (Hevea brasiliensis), e com uso madeireiro, principalmente a
pacapeúa (Swartzia racemosa), a virola (Virola surinamensis), a muiratinga (Nnuc/eopis concina),
0 mulateiro (Calycophyllum spruceanum) e a samaúmeira (Ceibn pentandra), entre outras
espécies (Albemaz et ai., 2007). Todavia, essas espécies madeireiras estão reduzindo seus
estoques pela exploração excessiva e falta de manejo. Fabaceae, Malvaceae e Arecaceae são
as famiJias mais ricas em espécies em florestas de várzea (Carim et ai., 2008); a abw1dância
de espécies da familia Fabaceae é relacionada com a capacidade de espécies dessa família
de fixar N 2, um dos nutrientes limitantes do ambiente de várzea Oun.k, 1984). O manejo da
nutrição nitrogenada é um dos principais desafios da produção agrícola nas várzeas da
Amazônia (Alfaia et ai., 2007; Fajardo et ai., 2009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA 705

---- Nível d'água máximo (maio-junho)


- - Nível d'água mínimo (setembro-outubro)

Rio Amazonas Rio ]apurá

Sedimentos do Várzea hologênica Várzea Sedimentos do


terciário Restingas, lagos p leistocênica terciário
terra - firme paranás, pântanos terra - firme

Figura 2. Desenho esquemático da vegetação da várzea na planície holocênica e nos terraços


pleistocênicos e variação da linha d'água na enchente e nas vazantes máximas.
Fonte: Ayres (2006).

OS ESTUDOS E A CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DAS


, A

V ARZEAS NA AMAZONIA CENTRAL

Os primeiros registros sobre os atributos dos solos da Amazônia foram os trabalhos


de Marbut e Manifold (1926), com grande incremento nas informações com os estudos
realizados pela equipe do Instituto Agronômico do Norte-IPEAN (Rodrigues et al., 1971). o
Estado do Amazonas, a equipe de levantamento de solos da EMBRAP A fez levantamentos
e mapeamentos em diferentes escalas, principalmente na década de 1980 (Correa e Bastos,
1982; Embrapa,1983, 1984a,b,c; Falesi, 1986; Rodrigues, 1996). O projeto Radar da Amazônia
(RADAMBRASIL) propiciou o maior levantamento em nível exploratório de solos da
Amazônia; esses estudos foram com base em mosaicos de imagens de radar na escala 1:250 000
e excursões em remotos pontos da Amazônia para descrição de perfis, coleta e analises das
amostras. O trabalho contou com o apoio de equipes experientes e de helicópteros, e os
resultados foram publicados sequencialmente na escala de 1:1 000 000. A Amazônia Legal
está retratada em cerca de 30 mapas de solos exploratórios ou parte deles; entre esses, as
Folhas Manaus (Brasil, 1978) e Santarém (Brasil, 1976) estão apresentadas nas figuras 3 e 4.
O Serviço de Vigilância da Amazônia (SIV AM), numa parceria com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), organizou uma base de dados digital com informações
especializadas dos solos da Amazônia legal, na escala de 1:250 000. Essa base foi compilada
principalmente das informações obtidas pelo projeto RADA.MBRAS[L. Na figura 5, é
apresentada a distribuição espacial das classes dominantes de solos no ambiente de árzeas
da Amazônia Legal, cujas áreas foram estimadas e são apresentadas no quadro 1.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


706
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

Figura 3. Mapa exploratório de solos - Folha SA 20 - Manaus - Projeto RADAMBRASlL - Escala ao


milionésimo.
Fonte: Brasil (1978).

--
_,- --·- -·---
••..- --• --- •--•~
... -,.
.
.. ----·'·-----
- .. . -·-
..

.. ·-. 1..-- .., - · ,e,-~- -...ay


.. -= - -:-... ""- ....
.. 'li ---- - - -

... ..• ... • - .. _...z-,


,_":'·.,,,~~

.. ,.-•-_-:-,-J .--.:::ldl
,. ' . --=-=--~- -~
._-.
.- .-~ --~-- =- ~:'!'\,. - ~;_;;.::;:
·---
.,..c:=-.._t --
• -..7..-,_~~-
- ----
--
· -,:-
__ -~~

___
- ~-;:.-_--- . ,
- , -:=-., ·:----,
-1, - - - -

.. -. - -~...__.- - - !li'.,:-.=-::-:-:--
- ~.;::-.--;---,.;.1..A.r"..-

:,. . . . ,~--~= . -- --
1-'==--~ --
- ,-,.'T-
~

twlllrlU....,._.N»IL. ..~- ..·= -~ ..== ...


.
CI -•-

---- -- --
_.:.,_

-- --
.... ....... L...I L.1 .&-J .t..r

- - -·-
Figura 4. Mapa exploratório d e solos - Folha SA 21 - Santarém - Projeto RADAMBRASJL - Escala
ao milionésimo.
Fonte: Brasil (1 976).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

,
XXII - 0 M ANE JO DO SOLO NAS VÁRZEA S DA A M AZÔNIA 70 7

Legend•
a ......,119 Sol"" Sl,.,t,olo

GUISSOWS
llfO~SOtm rt.lJ\/ICO',
OPG.lll<XSO ~

Forlee' Ha ~ dft ctaNt dllt ICllll::. &la ~

___
~ . dNN- ~ ~ ~ dllt ~
~ .r,:;11 ~ - ~ é a r.ae llllffllliea ~ l ! a ~
Eac:.111 :11.000.000 u,;;af ~ SlPMA/leGE. c::itl"' d a ~ ~ o:r, •
o ,00200 •oo 600 1100 ~ ...,.....,,_,_~ ~ - -
l:250(XIO

-=-cm1- c==--"" ~ r.......

Figura 5. Mapa de distribuição das classes de solos dominantes no ambiente de várzeas da Amazónia
Legal, compilad o da base pedológica do Sistema de Proteção da Am azônia (SlPAM).

Quadro 1. Ár ea total e distribuição percentual em relação ao total das áreas de várzeas e área da
A m azônia de áreas com Gleissolos, Neossolos Flúvicos e O rganossolos na Amazónia Lee>al
Símbolo Classes de solos Á.rea Várzea Amazónia legalº'
2 CV
km .-o - -

GJo G le isso lo Tiomó rfico Órtico -1 738,78 1,21 0,09


GMbd Gle isso lo Melànico Tb Distró fi co 243,57 0,06 0.00
GMve G le isso lo Melànico Ta Eu trófico 2 640,71 0,67 o,o-
GX G le isso lo Há plico (Indiscriminado) 24 321,91 6,21 0,-1
G Xbd G leissolo Há plico Tb Dis trófico 145 590,80 37,1 2.90
G Xbe G le isso lo Há plico Tb Eu tró fico 30 542,95 7, O 0,61
G Xvd G le issolo Há plico Ta Distrófico 13176,19 3,37 0,26
G Xve G le issolo Há plico Ta Eutrófico 128 663,70 32, 6 2,56
GZo G le issolo Sálico Ó rtico 88-l,-!8 0,23 0,02
Subto ta l d a á rea com G leissolos 350 03,08 9,59 6,99
RYbd eossolo Flú v ico Tb Distrófico 5 2➔5,-15 1,3-l 0, 10
RYbe Neossolo Flúv ico Tb Eu trófico 1 681,91 0,-D 0,03
RYvd eossolo Flúv ico Ta Distrófico ➔ 3➔ 6,39 1,11 0,09
RYve N eossolo Flúvico Ta Eutrófico 26 63-l,65 6,c0 o-
Su b to tal das á.reas com Neossolos Flú vicos 37 908,-10 9,68 o, 6
ox O rga.nossolo Háplico 28-U ,32 0,73 0,Oo
TOTAL 391 552, O 100,00 7, l
('>Área to ta l da A m azônia l egal (km 2) - 5.016.136,30

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


p
708
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

ª d cada de 1980, também foram realizados levantamentos semidetalhados das


várzeas ~os município de Manacapuru, Parintins, Careiro da Várzea e Barreirin11a,
pela equipe do Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC, 1986a,b,c,d ). Nos estudos
de caracterização das várzeas, como O das várzeas de Manacapuru, foi utilizado, no
mapeamento da unidades, um critério adicional denominado de fase de inundação.
Esse critério visa a fornecer subsídios essenciais para a interpretação das áreas quanto
à aptidão agrícola. Essas fases foram divididas em tempo de submersão dos solos, que,
no critério usado pela CETEC (1986d), variava entre um e seis meses de submersão. Na
figura 6, é ilustrado um mapa de parte das várzeas de Manacapuru, onde é possível
ver a variabilidade das áreas (CETEC, 1986d), onde foram identificados 321 polígonos
classificados em 14 unidades de mapeamento.

c::J Cld-..HiakoÁlko
IIGP> . Gla f'ouoo HmucoQJiro. A moJcr.tJo. ""tur:1 ..1- . n:la o fllmo.,i,co Jc m ~ li. IV
e Cid Poe<o Hial<o f11,-11<11
HGl'< 1 • Glc, f'ouoo llilouco ,wuroco. A lll<Jd<DJo. le\Hn ..i-. n:k\ o pla,u. M:o Jc un,n,bç5o 1
HGl'cl • lila ro..:o Hum,co Cl.llroÍICO. A lDOJcr.ldo. le'l11R <ÍJ"""- rdC'"Orr,no. n,<0 Jc " ' ~ li
I JGl'cJ. Gla Poo:o llwnoco •bco. A nwcndo. IOJw:, '1IIO<l. r<lno r)aoo. mco de: mlnbç5o UI
HGPc-1. Gla Poo.:o Jlúm,coeulroÍICO, A moJcn,do, IOIIR sillooil. rdc,o pl.,no. me<> Jc uu,nJaç.lo IV
HGl'd. Gla l\,uco Huru,co cun\í,co, A n.s.r.,Jo, IO!in "'"""· rdc,·o rr,no. rua, Jc ~ 1. 11
IIGPdi. Gla l'ouoo l lum~-o aaroí,co, A moJcr.oJo. 1,, ,un scllooil. rdc, o pl.lllo. mco Jc lllUlld,ç5o 1. IV
IIGl'c7 - Gla Po<>.-,, lhrm,coCIIJU(o<o. A rnoJ=Jo. I011n J.ÜIOSI. rdc,o puoo. rucoJc wnbçio 11. IV
l lGl'd! . Gla l'o<a:o llimuco aaroí,oo A IIIClJ=Jo. IO!on scllCm. n,a, de: ~ O+ Pllnl...,I, •00>
A moJcr:,Jo lcxllln '"J•lo.<1a """'Jc ~ I """'°'
rdc, o pl.lDo
e l'lla,-.r.A11cw
l'lal • Pbol,_Jo al,coAa,odcn,J,1 IC11on IIIJlrn...rdc\·o JU110 e ,w1ec>c>J.WO. mco Jc uau,.bçAo 1. IV
YT~ • f1.antos,ulo à!Ko A ruoJc:r.aJo 10..IWll lMJ.llllA rdC'\o ,-Lnl,: JUõJ,c tnluhJo. nj("o J,c ~ 1
o ~ álim \'trllMllto-Aa•n-lo Állco
f'V.1. Pui.W,lico \'d'mclboAmard u oh o. rlu1lkc1A nlOJcndo k...~una afilli.b.l. rdC\o f\l!Wltl a au, c ooJulM.Jo

CJ Su'"' Ahrriab [otnlftao,


A<I -Al"'"'<cutruÍICU>A woJcr.&Jo l<Xlw:i 111du<1111Ww.. 1<l~o pl.>no. n,co Jc u11111J>;So I
A~ - Alu,•.:us<"UlfoficosA roodcnJo. k'\.tW"J uk.lucfUIUIWb. rdno pb.no. 1ucn de inuod.lç:.lo li. Ili

Figura 6. Levantamento de reconhecimento de solos e aptidão agrícola no município de Manacapuru,


AM (CETEC, 1986d) mapa digitalizado e revitalizado. Período de inundação todo ano: I =
inundação durante menos de 1 mês; II = inundação entre 1 e 3 meses; III = inundação entre 3 e
6 meses; e rv = inundação durante mais de 6 meses.
Fonte: Teixeira et ai. (2008).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZ Ô NI A 709

Características gerais dos solos de várzeas


Nas várzeas amazônicas predominam solos jovens; em a lgun casos, ape~as
sed imentos em processo incipiente de pedogênese. Nesse ecossis tema, encontra-se_a maio r
faixa contínua de solos férteis da Amazônia, e concentram-se, em alguns lugares, mtensas
atividades de ocupação humana. As características desse ambiente, como a e levada
fertilidade natural dos solos e proximidade dos rios e lagos piscosos, que servem como
principal modalidade de transporte, favoreceram a concentração humana desde os tempos
pré-históricos, indicada pela elevada concentração de sítios a rqueológicos próximos a
esses ambientes (Kern et ai., 2010) ou mesmo habitando as áreas de várzea (Teixei ra et ai.,
2006; Macedo, 2009; Souza, 2011).
A variação anual do nivel dos rios impõe certas limitações ao uso e manejo des e
solos e exige práticas de convivência para uso racional dessas áreas. O conhecimento
dos solos das várzeas na Amazônia ainda é limitado apesar do esforço dis pendido por
pesquisadores no passado. Há necessidade de ampliar esse conhecimento para maior
compreensão desses ecossistemas amazônicos, especialmente seus solos, suas inter-
relações e adaptações, em resposta às intervenções humanas. É fundamental conhecer
as limitações impostas pelo ambiente e as práticas de convivência desen volvidas pela
população ribeirinha, para conviver com essas limitações. Os atributos quimicos, físicos
e mineralógicos dos solos de várzeas são, em grande parte, governadas pela natureza
do material de origem. O nivel elevado do lençol freático e a inundação periódica a que
estão sujeitos limitam o processo pedogenético, resultando em solos jovens e, em alguns
casos, apenas sedimentos em processo incipiente de pedogênese (Vieira e Santos, 1987;
Lima et al., 2006). Na planície aluvial (várzea baixa, restinga) dos rios de águas brancas,
predominam os Gleissolos Háplicos e Neossolos Flúvicos.

As principais classes de solos das várzeas amazônicas


No mapa de distribuição de solos nas áreas de várzea da Amazônia (Figura 5) e no
quadro 1, podem ser observados que os solos predominantes nas várzeas são os Gleissolos
Háplicos e Neossolos Flúvicos, que apresentam a sua gênese relacionada a processos
hidromórficos, especialmente os primeiros.

Gleissolos Háplicos
Os Gleissolos Háplicos (Figura 7) ocorrem predominantemente em relevo plano e
raramente em suave ondulado, nas planícies de inundação (várzeas baixas e restingas) e em
alguns terraços. Estão distribuídos por toda a Amazônia ao longo dos cursos d' água; é a elas e
de solo dominante e ocupa uma área de aproximadamente de 350 803,08 km-, correspondente
a 6,99 % das terras da Amazônia Legal. Os Gleissolos apresentam forte gleização, resultante
de processamento de intensa redução de compostos de Fe, em presença de matéria orgànica,
com ou sem alternância de oxidação, por efeito de flutuação de nivel do lençol freático, em
condições de regime de excesso de umidade permanente ou periódico (Figura 7). Quando
esses solos secam, ocorre o processo de oxidação dos compostos reduzidos de Fe, formando
manchas amareladas ou avermelhadas, o que eventualmente toma os - 0 los com cor de
tons amarronzados, retirando, temporariamente, o caráter gleizado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


710
WENCESLAU GERALDES TEI XEIRA ET AL.

Figura 7. Perfil de um Gleissolo Há plico Ta Eu trófico nas margens do Amazonas, Parintins, AM.

Em geral, os Gleissolos apresentam predonúnio de partículas finas e não se incluem


nas classes texturais areia ou areia franca. A água pode permanecer estagnada internamente
por ascensão do lençol freático, submersão, infiltração ou por fluxo lateral no solo. Na sua
grande maioria, são solos mal ou muito mal drenados, salvo se artificialmente drenados.
Apresentam horizonte A com cores onde predominam valor e croma baixos, tornando
difícil a distinção dos matizes. O horizonte Cg possui profundidade bastante variável,
sendo a sua coloração dominada por matizes de redução. Por sofrerem normalmente a
adição de novos elementos químicos, num processo de fertilização natural, por meio da
colmatagem das partículas em suspensão nas águas dos rios de água barrenta, apresentam
contínua reposição de nutrientes. Evidencia normalmente baixo conteúdo de matéria
orgânica (menor que 2,5 g kg·1 de C-orgânico), mesmo no horizonte A. A saturação
e O conteúdo de bases trocáveis no solo apresentam-se variáveis, desde baixo (solos
distróficos) a elevados (solos eu tróficos); os de caráter eu trófico demonstram alta saturação
por bases (V ~ 50 %) na maior parte dos primeiros 100 cm a partir da superfície do solo.
os Gleissolos que ocorrem na Amazônia brasileira, o caráter distrófico é mais expressivo
nas áreas mais rebaixadas, mais distantes da margem do rio em direção à área de floresta
ou dos lagos de várzea, perfazendo 145 590 km 2• A potencialidade agrícola desses solos
é limitada pelo lençol freático elevado e pelo risco de inundação frequentes. Quanto aos
graus de lirnitaçã_o _e~ raz~o da !er~lida~e natural, são moderadas a nula nos eutróficos.
Quanto à suscept1b1hdade a erosao, e praticamente nula por causa da ocorrência em relevo
plano; entretanto, estão sujeitos a movimentos de massas, o fenômeno das " terras caídas",

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA 711

com o discutid o em item anteri or. Normalmente, não há limitação quanto à falta de água; a
d e fi ciência ele oxigênio pode ser limitação forte a muito forte a plantas sensíveis à hipóxia,
por ca usa do excesso de água em grande parte cio a no. Quanto à meca nização, tamb m
apresenta limitações forte a muito fortes em rnzão do excesso de água que re tringe o uso de
máquinas agrícolas, além da descontinuidade das áreas. O desenvolvimento de máquinas
agrícolas adaptadas para o cultivo desses solos é fundamental pa ra a s ua incorporação ao
processo produtivo agrícola mais intens ivo.

Distinção entre os Gleissolos

No quadro 1, são apresentadas as áreas dos Gleissolos Háplicos, Melânicos,


Tiomórfícos e Sálicos na Amazônia, sendo a seguir ev idenciadas resu midamente a
principais características que separam esses solos; detalhes são apresentados no Sistema
Bras ileiro de Classificação de Solos - SiBCs (Santos et ai., 2013).
Os Gleissolos Háplicos são solos minerais, pouco desenvolvid os, hidromórficos, com
horizonte glei iniciando a menos de 60 cm da superfície e que apresentam geralmente
horizonte A moderado. Evidenciam a sequência de horizontes do tipo A-Cg ou A-Bg-Cg;
a fração granulométrica dominante é o silte, tanto no horizonte A como no Cg ou Bg. A
estrutura é predominantemente granular no horizonte A de tamanho pequeno com grau
de desenvolvimento fraco a moderado. Os horizontes subsuperficiais apresentam estrutura
maciça nos horizontes Cg ou Bg. As cores dominantes são escuras nas camadas superficiais
e acinzentadas e mesmo azuladas nos horizontes subsuperficiais. Essa característica faz com
que algumas áreas com esses solos sejam denominadas localmente de " barro azul"; nesses
locais, a vegetação endêmica é típica dos solos alagados como os aningais e chavascais. A
classe textura! parece ser determinada pela distância em relação à localização das massas
de água (rios, lagos, paranás, furos). Os solos que são próximos às margens da calha são
predominantemente siltoso e franco-siltoso, e aqueles que se localizam mais no interior
das áreas alagadas, próximos a pequenos cursos de água e lagos são predominantemente
argilosos.
Os Gleissolos Melânicos foram anteriormente classificados como Glei Húmicos; ão
solos que apresentam horizonte H místico com menos de 40 cm de espessura ou com
horizonte A húmico, proeminente ou chernozêmico (Santos et al., 2013). Ocupam uma
área de 2 884 km2, equivalente a 0,05 % da área da Amazônia Legal, concentrando-se no
Estados do Amapá e Mato Grosso.
Os Gleissolos Tiomórf:icos são solos que apresentam horizontes sulfúricos e, ou,
materiais sulfúricos, dentro de 100 cm da superfície do solo (Santos et al., 2013). Os baixos
valores de pH, menores que 3,5, característicos do horizonte s ulfúrico, são gerados pela
oxidação de sulfetos, notadamente pirita. Esse horizonte limita o volume explorado pela
raízes, restringindo o desenvolvimento das plantas. A utilização dos solos Tiomórf:ico na
agricultura é possível desde que sejam adotadas práticas de manejo que evitem ou, pelo
menos, reduzam a acidez. Os solos tiomórficos na Amazônia se concentram principalmen te
nas proximidades do litoral do Estado do Maranhão.
O s Gleissolos Sálicos se caracterizam pelo caráter sálico, conduti idade elétrica
~ 7 dS m ·1, d entro de 100 cm da superfície do solo. Esses ocupam uma área de 884,-18 km}, q ue
perfazem um percentual de 0,23 % da Amazônia Legal e estão localizados p rincipalmente
na Ilha de Marajá. Essa classe de solo provavelmente irá a umentar seu percentual com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


712
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

ª. di criininaçà das áreas dos alo hidromórfico indiscriminados de grande parte do


litoral maranhen e e pa1te d litoral amapaense.

Neossolos Flúvicos

O eossolos Flúvicos (Figura 8) ocorrem sempre em relevo plano e raramente


em su_a\ e ondulado, ao longo dos principais rios da Amazônia. Ocupam uma área de
apro ·imadamente 37 908 km 2, correspondente a 0,76 % das terras da Arnazônfa Legal. Os
_eossol~s Flú\ icos constituem solos pouco evoluídos e sem qualquer tipo de horizonte B
d~agnós~co; h?rizontes glei, plíntico e vértico, quando presentes, não estão em condição
diagnóstica (Figura 8). as várzeas da Amazônia, os Neossolos Flúvicos são derivados de
edimentos aluviais com horizonte A assente sobre horizonte C, constituído de camadas
estratificadas, sem relação pedogenética entre si e apresentam um dos seguintes requisitos:
distribuição irregular do conteúdo de e-orgânico em profundidade dentro de 150 cm
da superfície do solo; e, ou, camadas estratificadas em 25 % ou mais do seu volume,
dentro de 150 cm da superfície desse (Santos et al., 2013). Nas várzeas da Amazônia, é
expressiva a ocorrência de Neossolos Flúvicos Ta Eutróficos com cerca de 7 % dos solos
de várzea com urna área equivalente a 26 634 km2• São solos com argila de atividade alta
- Ta (f ~ 27 cmol, kg·1 de argila) e saturação por bases alta (V ~ 50 %), na maior parte
dos primeiros 150 cm da superfície do solo. Essa classe de solo está associada às áreas
de maior elevação na paisagem, dentro das limitações da várzea, os terraços. Nas partes
mais rebaixadas, restingas baixas próximas às margens dos rios, é comum a ocorrência de
banco de areia, regionalmente denominado de "praia", formada por Neossolos Flúvicos
Eutróficos e, em menor proporção, distróficos. Essas áreas são cultivadas com culturas
de ciclo curto, como o feijão-caupi (Vigna unguiculata), por ocasião das vazantes dos rios.
Em geral, são moderadamente a bem drenados, algumas vezes mal drenados, pouco
profuridos a profuridos, argilosos, silte-argilosos ou de textura média. Apresentam pouco
desenvolvimento do perfil e frequentemente apenas um horizonte superficial escuro (A
incipiente); abaixo desse estão camadas estratificadas, que geralmente não apresentam
relação pedogenética entre si. Apesar de evidenciarem, especialmente os Neossolos
Flúvicos, elevada fertilidade natural e alta reserva de nutrientes, as condições de drenagem
e a elevação sazonal do nível das águas são as maiores limitações ao cultivo desses solos por
parte significativa do ano, que demonstram sérias limitações à utilização de implementas
agrícolas, evidenciando também sua inaptidão para uso com cultivas perenes e silvicultUia.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MAN EJO DO SO LO NAS VÁRZEA S DA AM AZÔ N IA 71 3

Figura 8. Perfil de um Neossolo Flúvico Ta Eutrófico, nas margens do Amazonas, Parintins, . M.

Outros solos associados


Nas áreas da várzea da Amazônia, além dos Gleissolos e l eossolos Flúvicos,
ocorrem em escala menor e muitas vezes associados a essas classes d e solos, os l ·eossolos
Quartzarênicos hidromórficos, que são solos minerais de textura areia e, ou, areia fra nca,
hidromórficos, geralmente profundos, essencialmente arenosos, desenvolvidos de
sedimentos arenoquartzosos ou de arenitos, com a presença de lençol freá tico elevado
durante grande parte do ano. A sequência de horizonte é A e C, de es pessura su perior a
2 m, com elevada permeabilidade. São solos com reduzida presença de minerais p rimários
menos resistentes ao intemperismo (< 4 %). A fração areia representa pelos menos 70 °
de solo; e a fração argila, inferior a 15 % desse (Santos et al., 2013). A coloração é bastante
variável, podendo apresentar tonalidades acinzentadas, amareladas ou avermelhadas,
dependendo do tipo de óxidos de ferro q ue contenham. Como são solos e trema mente
permeáveis e praticamente sem estrutura, a capacidade de retenção de umidade é m uito
baixa. A fertilidade natural é muito baixa, com carência generalizada de nutriente . São
moderadamente a fortemente ácidos e com baixos teores de matéria orgànica. soma de
bases, a saturação por bases e a capacidade de troca de cátions (CTC) são muito baixas.
saturação por alumínio é normalmente alta, e baixa saturação por bases caracteriza esses
solos como distróficos e alumínicos. Uma área de ocorrências desses solos é nas cercanias
do município de Parintins (CETEC, 1986c).
Também, ocorrem solos hidromórficos indiscriminados, sendo essa unidad e bas tante
frequ ente em mapas detalhados das várzeas (CETEC, 1986a,b) e abrange classes de olo ,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


714
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

cuja caracterí tica principal é a má drenagem. São normalmente áreas cons tituídas de
c~m~le ' OS de solo , cuja individualização em unidades de mapeamentos homogê neas é
difícil. a base pedológica do SlPAM - IBGE, grande parte dos solos do litoral maranhense
aparece nes a unidade de mapeamento.

As Terras Preta de Índio nas várzeas


. As Terras Pretas de Índio (TPI) não são classificadas como uma classe de solos no
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Santos et al., 2013). As TPI são caracterizadas
pela presença do horizonte A antrópico, de coloração escura, e ricas em P, Ca, Mg, Mn,
Zn; no1:11almente apresentam abw1dantes fragmentos de cerâmica e artefatos líticos pré-
colombianos. As TPI evidenciam elevados estoques de C-orgânko, quando comparadas
aos solos adjacentes (Kampf e Kern, 2005; Teixeira et al., 2010a). Os horizontes antrópicos
típicos das TPl ocorrem em grande parte da Amazônia, com áreas variando de poucos
a centenas de hectares, normalmente em locais de terra firme, em solos bem drenados,
próximos aos rios. No quadro 2, são apresentados resultados de análises quírnicas de um
horizonte A antrópico, de um perfil de um Gleissolo Háplico Eutrófico no mwucípio de
Manacapuru (Teixeira et al., 2006). Denota-se que houve enriquecimento dos teores de
P e C no horizonte antrópico em relação aos horizontes sub e suprajacentes. Nos fóruns
arqueológicos na Amazônia, não há consenso se a formação das TPI foi prática intencional,
cujos objetivos eram de aumentar a fertilidade do solo e possibilitar o cultivo de plantas
mais exigentes corno milho e feijão. A ocorrência de TPI em áreas de várzeas naturalmente
eu tróficas parece rejeitar a rupótese da criação das TPI como tecnologia de manejo intencional
para aumento da fertilidade dos solos nas várzeas do rio Solimões; estes solos apresentam
teores de Ca, Mg e P acima dos níveis críticos para o cultivo do milho e da mandioca, ou
seja não haveria resposta em aumento da produtividade com a elevação dos teores desses
elementos. As áreas de ocorrência de TPI nas várzeas parece ser mais frequente do que as
relatadas na literatura (Stemberg, 1998). Pesquisas têm demonstrado sua ocorrência em
várias localidades (Teixeira et al., 2006; Macedo, 2009; Souza, 2011; Teixeira et al., 2010).
As dificuldades em se encontrar TPI nas várzeas estão relacionadas a esses locais estarem
cobertos por camadas de sedimentos colmatados em eventos de alagamento posteriores
ao abandono desses; à destruição de vários desses sítios arqueológicos pelo fenômeno
das terras caídas; e à mudança do curso principal dos rios. As TPI apresentam intenso
uso pela população ribeirinha na produção de hortaliças (berinjela, pimentão, couve-flor,
coentro etc.) e frutíferas (mamão, melancia, banana, cítricos etc.), nas áreas de várzea,
principalmente quando localizadas próximas a cidades consumidoras desses produtos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - Ü MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA 715

Quadro 2. Ar~ibu tos quírnicoc; c.Je um pe rfi l d e eo c;solo Flú v ico Ta Eutró fico, A a nlróptco (Terra
Pre ta de lndio) e m á rea de vá rzea do rio Solimõe , J\M

pH I'"' f'<" 1( NJ e.,·, Mg'' AI' ' H •AI SIJ CTC 'í''' V ' mm e
Hor
H,O KCI mg kg-' - mg dm ' -- cmnl, kg-' - 0.'o - g kg-'

/\ 5,83 5,12 3 96 199 14 r,,-13 2.()7 tl,00 1,65 Q.()7 10,72 '11 ~~ 1) 11,f!

AC 6, 18 5,19 1-15 9,65 '}R 'Ili () :!_SQ


84 62 16 7,0 1 2, Jj 0,00 0.23 '),-12

2c, 6,49 4,9-1 62 -13 0,00 0.-12 11,71', 12.Pl r,.i 'Ti () J :zq
65 19 9,06 2.45

2c, 6,37 -1,53 1-16 83 38 22 8,91 3.5-1 0,00 1,07 12,r,.i 11,7 1 C)(J 'l'2 () J.71,

3Au 6,38 4,99 165 898 45 58 12,4ft 2.61 0,00 2,1(, 15,+1 17,W ~I) ~Jl o 3,Y,

3C, 6,70 4,83 74 215 ·18 40 12.42 2,71 0,00 J.-13 15,-13 1'1,Ji5 "SI <n o 2.01

3C, 6,66 •l,67 •I 83 -17 44 12,97 3,58 0,00 1.08 16,86 17,94 100 •J.1 o 1,/JI

extraído cm solução de ácido cítrico; mP exh'aldo por Mel ich 1; fllatividadc da argila; "' satu raçJo por bases; e ,si sarurJçJo por
111 P
alumínio.
Fon te: Macedo (2009).

Composição granulométrica e mineralógica dos sedimentos e solos


das várzeas Amazônicas
Nos rios com água barrenta, como os Solimões, Madeira e Juruá, os valores do pH
da água variam entre 6,5 e 7, e a carga de material em s uspensão é > 100 mg L·1 • os rio
de água preta, como o Negro, Uatumã e Urubu, o pH da água varia entre 4 e 5,5, e a carga
de sedimentos é normalmente< 20 mg L· 1• Os rios de água clara, como o Xingu, Tapajós
e Trombetas, apresentam pH entre 5 e 6 e carga de sedimentos < 100 mg L·1 (Oliveira e
Andrade, 2010). Por sua natureza sedimentar, e por processos pedogenéticos recente ,
os solos das várzeas guardam estreita relação com o material de origem, principalmente
sedimentos provenientes das regiões andinas e subandinas, transportados pelas águas e
depositados na planície aluvial (lrion, 1984; Victoria et ai., 2000).
Nas planícies de inundação, os minerais nas frações das areias, que são
predominantemente de tamanho pequeno ou muito pequeno, moderadamente a bem
selecionados, angulosos a subangulosos, são predominantemente compostos de q uartzo
e micas; predominantemente, moscovita; e secundariamente, biotita. Uma fração de
cerca de 5 % pode ser constituída de feldspatos e fragmentos de q uartzitos, xistos e filitos
(Rosseti et ai., 2007). Nas várzeas amazônicas, os solos normalmente evidenciam teo res
elevados de silte, que podem ultrapassar 50 % da compos ição granulom étrica de um
solo, refletindo o baixo grau de pedogênese. No quadro 3, são apresentados os resu ltados
de composição granulométrica e outros atributos físicos de alguns solos de árzeas da
Amazônia, onde se observam os elevados teores de silte e a reduzida proporção de
areia grossa. Os baixos percentuais de areia grossa indicam a incapacidade dos cursos
d'.:igua, na maioria dos eventos de chuva, em transportar sedime n tos mais grosseiros até
a p lanicie sedime ntar.

MAN EJ O E CONS ERVAÇÃO D O SO LO E DA ÁGUA


716
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

Quadro 3. Comr o, ição da, iraçõe granulométricas de Gleissolo e eossolos Flú vicos de várzeas na
maz" 1ua
Horizonte Prof. (cm) GP' 1 Classe tcxhir.tl
ArCiil Siltc Argila ADA''1
Grossa Fina
'),,

Gleissolo H áplico Ta Eu trófico


O - 13 o 3 70 27 15 4,4 Franco-argilossil toso
ACg 13 - 35 1 22 2,4 F ra nco-a rgi Iossi Itoso
5 65 29
Cs 35- 62 o 6 65 29 20 3,1 Franco-argilossil toso
2Cg 62 - 100 o o 42 32 2,4 Argilossiltosa
58
eossolo Flúvico Ta Eu trófico
A 0-5 o 9 4,0 Franco
48 37 15
2C2 24 - 34 o 44 18 8 5,6 Franco
38
ses 50-150 o 14 59 27 17 3,7 Franco-argilossil toso
Neossolo Flú,·ico Ta Eutrófico
A 0- 14 1 10 68 30 12 6,0 Franco-argi lossil toso
e 14 - 28 1 10 46 52 36 3,1 Argilossiltosa
2C2 28- 70 1 23 6,2 1,4 12 1,4 Franco-siltoso
30 70-100 1 18 69 12 12 0,0 Franco-siltoso
(!>ADA - Argila Dis persa em Água; e r.l(;F- G rau de floculação.
Fonte: Lima et al. (2007) .

Os sedimentos mais densos ficam restritos às proximidades do leito menor do rio,


formando ilhas e faixas alongadas paralelas às margens, extensas faixas em pontal ou
longos bancos transversais ao rio. A presença de camadas com elevado percentual de
sedimentos densos afastados do leito principal do rio muitas vezes indica a ocorrência
de um evento de alagação extremo, com energia suficiente para transportar e depositar
partículas mais densas. Os solos de várzea apresentam composição mineralógica variada,
como reflexo da diversidade e da natureza recente do material de origem, das condições
periódicas de hidromorfismo e do reduzido grau de pedogênese. Os dados de difração
de raios X da fração da argila revelam uma assembleia mineralógica com a presença de
esmectita, caulinita, clarita, vermiculita, ilita, lepidocrocita e ferrihidrita (Mõller, 1986,
1991; Lima et al., 2006; Rosseti et al., 2007; Macedo, 2009; Souza, 2011). Em contraste com
os solos de terra firme, bem drenados, os solos de várzea apresentam uma assembleia
mineralógica da fração argila variada (Quadro 4). A presença de argilas de atividade alta,
que evidenciam o fenômeno de expansão e retração, resulta em fendas, às vezes de grandes
dimensões, que se abrem no solo quando reduz o teor de água, como durante as vazantes.

Quadro 4. Assembleia mineralógica das frações argila, silte e areia fina de Gleissolos e Neossolos das
várzeas da Amazônia
Solo Horiz. Argila Silte Areia fina

GXve A O, Vm, Es, Mi/ U, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ lJ, Es, CI, Vm, Fs Qz, Mi/ li, Vm , Ct, Fs, Pg
2Cg O , Vm, Es, Mi/JJ, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ li, Es, CI, Vm, Fs Q z, Mi/li, Vm, C t, Fs, Pg

RUve A O , Vm, Es, Mi/ JJ, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ li, Es, CI, Vm, Fs Q z, Mi/ li, Vm, Ct, Fs, P g
ses O , Vm, Es, Mi/li, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ li, Es, CI, Vm, Fs Qz, Mi/ li, Vm, C t, Fs, Pg

RU\'e A O , Vm, Es, Mi/ li, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ li, Es, CI, Vm , Fs Q z, M i/ 11, Vm, Ct, Fs, Pg

30 O , Vm, Es, Mi/ li, Ct, Qz Qz, Ct, Mi/ li, Es, Cl, Vm, Fs Q z, Mi/ li, Vm, Ct, Fs, Pg
Gxve _ Glei.ssolo HAplico Ta Eutrófico; Ruve - Neossolo Flúvico Ta Eutrófico; Ct - caulinita; C I - clo rita; Es • esm ectita; Fs -
feld s pato; li _ ilita; .M1 - mica; Pg - plagioclásio; Qz - quartzo; e Vm - vermicul ita.
Fonte: Li.ma et ai. (2007).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MANEJO DO SOLO NAS V ÁRZEAS DA AMAZÔNIA 717

Atributos químicos dos solos de várzea da Amazônia


Na g rande parte das vá rzea ela Amazõnia bras ilei ra, os teo rec; d nutriente doe;
solos são elevados, notadamenle Ca, Mg e P, enqu anto os teo res de a idez trocável (i\ l' ")
te ndem a ser relati va mente bai xos. Contudo, teores elevados de AP· podem ocorre r
2
especialmente no horizonte superficia l de a lguns Gleissolos (Quadro 5). Em ge ral, o Ca • é
2
o cátion predominante no complexo de troca dos solos de vá rzea, seguido pelo Mg • e a ·
trocáveis, resultando em valores elevados de capacidade de troca de cá tion (CTC), c;omc1
e de saturação por bases e valores reduzidos de saturação por AP· (Quad ro 5). Os valores
elevados da eTe desses solos em relação aos teores relati vamente baixos de argila ão
explicados pela presença de argi las de atividade alta, q ue apresentam elevada densidad e
de cargas.

Quadro 5. Atributos químicos de Gleissolo e eossolos Flúvicos de várzeas na Amazõnja


Horiz. pH p K a Ca2" Mg2" AI'" H+AI 5B CTC Ar\ V m
H ,O KCI -mgkg-'- cmolc kg-' - ºO -
Gleissolo Háplico Ta EutTófico
13,35 19,72 73,36 6. )f,
A 4,84 3,58 69 -16 38 9,86 3,21 2,50 6.37
Acg
Cg
5,83
5,9-1
3,97
4,02
3-1
33
39
30
66
73
l2X
11,92
4,99
5,33
0,18
0,35
3,+l
2,57
17 3
17.6.5
21 ,27
20.21
7-l,
66,64
',-1

'<7 '1
7,37 0,08 2,57 20.&l 23,41 - 5,23 qq <1
2Cg 6,51 4,47 33 •14 80 13,01
Neossolo Flúvico T,1 Eu trófico
A 5,40 3,91 2.5 79 32 10,62 2,52 0,51 .5,53 13.~ 19,01 124.9 71 4
e .5,98 4,39 71 52 33 10,79 2,37 0, 10 3,15 13,43 16,5 31
2C2 5,76 4,26 10 38 32 10,88 2,42 0,10 3,20 13~::;..1 16,74 9-U.5
30 5,21 3,78 78 47 39 10,49 2,50 0,99 5,10 13.28 1 ,JS 72 ;
4C4 5,48 3,96 67 46 41 11,37 3,11 0,54 3,72 1-1.7 18,5 so -t
ses 5,60 4,02 45 +l 63 11, 17 3,4-1 0,42 3,20 14,99 1 ,19 68,20 ,2 3
eossolo Flúvico Ta EutTófico
A 5,38 4,36 92 300 186 9,04 3,34 0,19 5,62 13,96 19 - 6.52.7 71
e 5,62 4,14 14 72 .59 10,08 4,11 0,35 3,79 14,93 1 ,72 36,00 2
,
2C2 6,36 4,43 11 39 44 ·1,87 4,98 0, 13 1,88 10,14 12,02 .5, 8--1
3C3 6,41 4,44 173 35 -18 4,0-1 5,62 0,13 1,73 9,96 11.69 97,42 ~5
SB - soma de base ; CTC - ca pacidade de tToca de cátions a pl-1 7.0; ,\,\ - atividade da fr.:iç.'io .:irgila; \ ' - satur.içjo por bases;~
m - saturação por alumlnio d a CTC detiva.

Carbono orgânico e nitrogênio em solos de várzea da Amazônia


De modo geral, os solos de várzea na Amazónia apresentam baixo teores de
e-orgânico (Lima, 2001; Souza, 2007; Guimarães et ai., 2010) e consequentemente de
matéria orgânica (Quadros 2 e 5). Mesmo nos solos de drenagem mais re trita o u ujeito
à inundação mais frequente, como os G leissolos, onde teoricamente o prece de
decomposição da biomassa vegetal residual ocorre mais lentamente durante parte do ano,
os teores de e -orgânico são baixos. Dados contidos em di er o relatório do PROJETO
RADAMBRASIL para a Amazônia (Moraes et ai., 1995) revelam que l eossolos Flú icos e
Gleissolos Háplicos Eu tróficos estão entre as classes de solos que possuem menor conteúdo
de e-orgânico. Esses dados revelam também valore da relação e ; cerca de duas eze~
mais alta nos Latossolos, em comparação com os solos da várzea, o que é atribuído a um
mais avançado processo de humificação da matéria orgânica dos Latossolo · . Os oi - de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


718
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

várzea e u t r f..icos, d escritos no levantamentos do PROJETO RADAMBRAs1L, e estu d a d os


por ouza (2007) e Lima et ai. (2007), e que permanecem submersos durante g rande parte
~o ano, apresentam, de modo geral, menores teores de e-orgânico do que os solos de terra
firme na Amazônia, predominantemente os Latossolos e Argissolos. Os Organossolos e os
Gleissolos Melânicos ocorrem em áreas muito restritas na Amazônia (Quadro 1). Segundo
Alf~a ~t ai. (2007), considerando que nos solos das várzeas da Amazônia Central o N é
0 P1_· 1'.1 C1pal n~triente limitante da produção e que grande parte dos agricultores não usa
fertilizantes mh·ogenados, a matéria orgânica do solo é a principal fonte natural de N para
ª planta - Esses autores salientaram a importância do uso das leguminosas fixadoras
de N2, que ocorrem naturalmente no ambiente de várzea, como componentes a serem
manejados aos s istemas de produção das várzeas. Os agricultores ribeirinhos fazem uso
da fo~11~ tradicional de manejo da terra, praticada por outras populações da Amazônia,
substi_tumdo as áreas de florestas e capoeiras por culturas de ciclo curto, como a mandioca
e O milho, que, em seguida, são abandonadas para a recomposição da fertilidade do solo
pelo pousio. Além da ciclagem de N em razão do pousio, os solos de várzea também
podem ter adição desse elemento proveniente da fixação pelas leguminosas, que ocorrem
naturalmente nas várzeas da Amazônia (Sala ti et ai., 1983). Estudos de Kreibich et ai. (2003)
evidenciaram que o fluxo de N mineral nas camadas superficiais do solo foi maior próximo
das plantas de leguminosas do que das não leguminosas, demonstrando a importância que
essa tem no manejo dos ciclos do N nas áreas de várzea.

Efeitos da inundação sobre os atributos químicos dos solos


Durante as cheias, os solos das várzeas podem permanecer saturados por água por
períodos que variam de dias a meses. Essa conctição de saturação resulta em mudanças
químicas, físicas, biológicas e mineralógicas; entre as quais, o decréscimo no potencial
eletroquímico de elétrons ou potencial redox (Ponnamperuma, 1972; Reddy e DeLaume,
2008). Após um período de submersão, há aumento dos valores de pH nos solos ácidos e
decréscimo nos alcalinos, mudanças na condutividade elétrica, na força iônica e na sorção e
dessorção de íons (Reddy e PatrickJr., 1975; Yu, 1991). A magnitude das alterações depende
de atributos do solo como pH, teores e formas mineralógicas do Fe, Mn, S, N e C (Mello
et al., 1992). Após a inundação, o suprimento de oxigênio para o solo é continuamente
reduzido (McLatchey e Reddy, 1998) pelo consumo por bactérias aeróbicas e reações
químicas de oxidação (Ponnamperuma, 1972). Com a redução, intensifica-se a atividade
biológica anaeróbica; e, na ausência de 0 2, receptores alternativos de elétrons passam a ser
usados, na seguinte sequência: nitrato e reduções de óxidos metálicos (Mn, Fe), do sulfato
e do bicarbonato (McLatchey e Reddy, 1998; Liesack et al., 2000). A redução biológica do
Fe durante O período de inundação, seguida por sua reoxidação, resulta no aumento da
reatividade da fração de óxidos do solo, levando ao aumento da capacidade de adsorção
de p (Alva et al., 1980). Após um período de alagamento, pode ocorrer empobrecimento
do N no solo pela redução do nitrato a nitrito (desnitrificação), resultando em deficiências
desse nutriente para as plantas, mesmo após o período de inundação ter finalizado. A
dinâmica do p está intimamente ligada à diminuição de compostos de Fe e à elevação
do pH, verificando-se geralmenA te aument? na _s~~ disponibilidade com a inundação.
Nutrientes como K, Ca e Mg tem suas d1spomb1hdades aumentadas pela inundação,
atribuídas ao deslocamento dos sítios de troca para a solução, principalmente pelo Fe2 +,
Mn2• e NH4+_ Os micronutrientes - Cu, Zn, Mn, Mo, Fe e B- podem apresentar problemas de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - Ü MA NEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZ ÔN IA 719

excesso ou defic iê ncia no so lo, c m rr.1zão principalmen te ela <. mudanç,1s ele p H, ,,carretando
dificuld ades para o desenvolvimento e.l os vegetélis (Ponnamperu mc.1 , 1977).

USO AGRÍCOLA DOS ,.SOLOS DAS VÁRZEAS


AMAZONICAS

O uso agrícola dos solos das várzeas da região Amazónica é determinado b,1sicc1 m n t
p e lo período desubmersãoa que esses estão s ubm etidose,conseq ue ntemente, pela limitação
d e 0 2, dado que na grande maioria dessas áreas não há limitélçõec:; q uanto à fertilidade
d os solos. O s agricultores têm desenvolvido p ráticas de con vivencia com as limitaçõ
impostas pelo excesso de água no solo, decorrente da proximidade do lençol freático, as
quais inclue m a seleção das áreas para determinada cultura, a seleção das cultu ras e a
práticas d e culti vo e manejo. Em geral, a maior parte dos culti vas se concentra nas á reél
mais elevadas, que compreendem os diques marginais, a lgumas ilhas mais a ltas o u p a rte
mais altas no interior da vá rzea (terraços). Nos terraços, predomina m eossolos Flúv icos,
enquanto as partes mais baixas (restingas) são dominadas por Gleissolos Háplicos.
Uma das revisões mais abrangentes feitas sobre as potencialidades agrícola da
várzeas flu vio-marin.has da Região Amazônica, em especial, foi ap resentada por Lima et
al. (2000).

Cultivo de hortaliças
Próximo aos grandes centros urbanos, como Manaus, Belé m e Santarém, a seleção
das espécies cultivadas na várzea, além de a tender as variáveis de adaptação a m biental,
téllllbém obedece às d emandas do mercado, havendo, nessas localidades, o cu ltivo de
hortaliças. Para conviver com o excesso de água no solo, em muitas dessas área , o cu lti vo
de hortaliças é feito em camalhões, o u diques, acompa nhando o declive da área para
facilitar a drenagem e escoa mento das águas s uperficiais. Nos plantios transversais ao
declives ou em curvas de nível ocorre aumento excessivo de umidade no solo, ocasionando
doenças e alta mortalidade de plantas na área de culti vo (Souza, 2007). Em geral, não se
faz uso d e implementos agrícolas de tração a nimal ou mecanizada nas áreas d a Arnazània
Central; pra ticam ente, não se faz o revolvimento do solo, além da formação do ca malhões
para o cultivo das hortaliças. O plantio das demais espécies é feito e m covas rasa e com
pouco preparo do solo, após a vazan te nas áreas, que ficam limpas, ou após capina e
queima nas á reas com vegetação na tural (Figura 5). Souza (2007), estudando o us do -alo
e m com unidades de várzea no trecho Coari-Manaus, observou a adoção de con -orcio
de hortaliças (a lface com cebolinha e coen tro com cebolinha) (Figura 2), e ntre hortaliça e
frutífe ras (mamão, pimenta-de-cheiro e chicória) (Figura 3), a lé m de outra e pécies, como
milho e m a lva, milho e feijão.

Cultivo de fibras: Juta e malva


A juta (Corchorns capsulnris) fo i tra zida por colonos japonese na década d e 1930, para
a cidade de Parintins, AM . Após um período de seleção, houve grande expans.fo d o culti 0

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


720
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

d fibrr1' ao 1on go e:l e quase toda a e'\lensão de várzea do no 'º


· /\mrizonas no pe,·' d 0 P 6 s-
guer~a (Tsu noda, 198 ; l·fomma , 1998). 1 os primeiros anos, a juta revi ta li zou a economia
d~ varzea melhorou significativamente a renda da população. Entreta nto, a partir da
decada de 1970, o cultivo de juta entrou em decadência e prnticamente desapareceu da
várzea a partir da primeira m etade da década de 1980. Recentemente, com o incenti vo de
progr~n~a governamentais, a produção de malva (Urcnn lolinta) e juta vem sendo retomada.
mais importa nte limitação ao avanço da cadeia produtiva dessas culturas é o processo
de ex h·ação das fibra , em ra zão da insalubridade das condições de trabalho qu e requer
vári_a hora _contínua de h·abalho dentro da água. A juta é cultivada nas áreas m a is baixas,
reshnga baixas, por cau a do seu ciclo mais curto, estando pronta para o corte por ocasião
do início d a s ubida das águas. A malva é normalmente cultivada nas áreas um pouco
mai ~levadas (res tinga altas) para er cortada e processada quando estiver pronta para a
colheita, que é realizada dentro da água. O fato de poder ser armazenada para a posterior
comercialização faz d essas culturas boa opção para as cornunidades mais dis tantes de
centros consumidores de produtos agrícolas.

Pastagens nas várzeas amazônicas


A criação de gado foi introduzida na Região Amazônica brasileira pelos portugueses
no século XVTI, inicialmente no Estado do Pará ao longo do rio Amazonas. A bovinocultura
na Amazônia sempre foi caracterizada por criações extensivas em pastagens naturais,
principalmente pastagens de várzea, em um sistema de cria, recria e terminação (Perin
et ai., 2009). É uma atividade em expansão, tanto pelos grandes e médios quanto pelos
pequenos fazendeiros. Essa expansão trouxe à tona o debate sobre a sustentabilidade
da pecuária como atividade econômica na Amazônia, em razão de essa atividade estar
associada às principais causas de desmatamento. Recentemente, estudos sobre os sistemas
de integração lavoura - pecuária - floresta (ILPF) têm apresentado que é possível diminuir
a conversão de áreas de vegetação nativa em pastagens pela intensificação da produção
das áreas já desmatadas. Nesse sistema, espécies forrageiras adaptadas às inundações
periódicas podem ser exploradas de forma econômica e com a preservação do meio
ambiente, dada à grande extensão das áreas de várzea, à fertilidade e à produtividade dos
solos, bem como a urna atividade com grande potencial de expansão (Nascimento e Honuna,
1984). Dentre as principais espécies adaptadas às várzeas, destacam-se as gramíneas
Bracl,imia subquarlriparn e Brncl1inria 11111ticn (Perin et ai., 2009). Nas proximjdades de Belém,
PA, as espécies forrageiras como a canarana de Paramaribo (Ec!Iinochloa polystacl1ya) e a
canarana ereta lisa (Ec!Ii11ochlon pyra111idalis) têm apresentado bom rendimento quando
cultivadas nas áreas de várzea (Camarão e Souza Filho, 1999). A grande extensão de
pastagens nas várzeas da Amazônia se concentra na iU1a do Marajó, que possui urna área
aproximada de 50 000 km 2 de pastagens, onde a atividade pecuária é a principal e quase
única aptid ão daquele ambiente. Na ilha de Marajá, há criação também de bubalinos, que
utilizam principalmente as pastagens da região dos lagos; no período d as enchentes, as
elevações do terreno onde não chegam as águas, denomjnadas de tesos, são utili zadas
como refúgio pelos rebanhos. Os búfalos vêm apresentando melhores índices zoo técnicos,
em razão d a sua melhor ada ptação ao pastejo em áreas alagadas, cons umindo, durante
0 ano todo, pastagens de boa qualidade nutricionaJ (MagaJhães et ai., 2011) . A pastagem
como base a limentar da pecuária de corte poderia permitir a produção do ch a mado "boi
verde", que consiste da atividade pecuária com a criação dos animais em pastagens; a
produção com esse manejo obtém melhores preços em mercados mais exigentes. Em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MAN EJO DO SO LO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA 721

várias á reas ela vé'Í rzea a mazôniCél, a cri ação ele bov inos ca rac t riza -se po r um s is te ma
mi gratório, e m qu e, durante a estação chu vosa, os élnim,,is permanecem nas pac;tagens de
bai xa qualidade néls á reas ele terra firm e, co m ba ixo rendimento e frequentemen te perd ,1
de peso dos animais. Com él S vazélntes d as águéls, as vá rzeas são cobe rtas po r pas t;:i gen_
de boa qualidade, para onde os bovinos são trans ferid os. Nessas pas ta genc; d e vJ rzec1 ,
os animais apresentam ótimos índices ele ganho de peso. A integração la vo ura- pecuári,1-
floresta, que poderia se concretizar como alte rnati va para a reno vaçiío das pas ta gens da
áreas de terra firme, tem como entrave a falta d e trad ição na semeadu ra de lavourds de
grão em vá ri as localidades da Amazónia . A deficiê ncia de N nos am b ientes J e vJ rzea e
conseq u entemente nos ecossistemas de pastagens pode se r s uperada com o uso combinad o
de leguminosas forrageiras adaptadas ao ambiente de vá rzeas. O melhor apro veitamento
das áreas de pastagens de várzeas para a exploração pecuá ria com bubalinos e bov ino e. t.:í
na dependência de estudos de seleção de gramineas nati vas e introduzidas (, ascimento e
ai., 1987) e m elhorias no manejo do rebanho.

Sistemas agroflorestais em áreas de várzea


O primeiro ciclo económico dc1 Amazônfa foi a fase de ex tração das " drogas d o
sertão" e tinha nas amêndoas de cacau seu principal produto. O ex trativismo e o cu lti vo
semidomesticado do cacaueiro (Theobro111n carna) foram a primeira atividade econômica na
Amazônia,que perdurou até a época da independência do Bras il, q u a ndo foi s up lantado pelos
plantios da Bahia. A Amazônia brasileira é depositária d e grande parte da biodiversidade
dos gêneros Tlieobromn e Heven, espécies encontradas amplamente disseminadas nas matas
de terra firme e nas várzeas dos principais rios da região. Os cultivo mistos, consórcio ou
sistemas agroflorestais são comumente empregados nas várzeas amazônicas e, entre esse ,
um sistema de uso da terra de grande uso e potencialidade são os plantios de seringueiras
e cacaueiros. Esse sistema é comumente encontrado nas várzeas al ta dos rio Solimõe ,
Madeira e Amazonas.

A exploração dos açaizais


O açaizeiro (Euterpe olerncen) é nativo da Amazônia brasileira e o Es tado do Pará é
o principal centro de dispersão natural dessa palmácea . as várzeas da região do golfão
Marajoara. encon tram-se as maiores e mais densas populações natura is dessa palmeira,
sendo estimado que os açaizais nativos tenham uma área d e 1 Mha. O açaizeiro é importante
alimento para as populações locais, a lé m de ser a principal fonte de matéria-prima para c1
agroindústria de palmito no Brasil. Em condições naturais, a d e nsidade de açaizeiro nas
populações nativas é maior nos solos de váTZea alta, d evendo ser priorizada a imp lantação
de cultivas racionais e o manejo de populações nativas dos açaizeiro ( ogueira e t ai.,
2004).

Cultivos de ciclo curto nas várzeas amazônicas


A mandioca (lvlnnilwt escule11ta) é a espécie vegetal mais c ulti vada nas várzeas
amazônicas, sendo a principal fonte de carboidratos para a população. ciclo curto de
a lguns cultivares de mandioca torna as várzeas viáveis para o culti 0 , sendo O miior

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


722
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

ob~táculo a obtenção de ultivare que sejam resistente é'ls doenças, especia lmente
a podridão radicular. Dentre o cultivares sele ionados para o am biente de vá rzeas,
d_e tacam-_e a ~àe Joana, Amazonas-Embrapa e Flor de Boi, que apresentam ciclo de
cinco a se te meses, podendo ser culti vados e colhidos no período das vaza ntes e início
da _en ch entes. Essa , aried ade npres ntam produtividade méd ia em torno de 15 t ha·1 de
tuberculos fresco , podendo alcançar até 24 t ha·1•
_ _ a Amazônia, o feijào-caupi ou feijão-de-praia (Vig11n 1111g11ie11/ntn) é cultivado
pnnc 1yi_almente na áreas de várzeas. A Embrapa tem pesquisado e la11çado variedades
e ~ecificas para o cultivo do feijão-caupi nesse ambiente, entre essas as variedades BR
lPEA \ 69 e BRS Caldeirão.
O milho também apresenta variedades com grande potencial para o cultivo n as
várzeas, com destaque para as variedades selecionadas; os plantios de milho nas áreas de
várzeas não necessitam da prática de calagem para correção da acidez, que por cau sa dos
elevados preços de frete toma esse produto muito oneroso na Amazônia. Tanto para a
m andioca como para o mill1o, o controle das plantas daninhas é um dos fatores principais
para o aumento da produtividade nas áreas de várzea (Cravo et ai., 2002). A fertilidad e do
solo que garante o crescimento das espécies cultivadas também possibilita o crescim ento
das espécies invasoras, cujo controle constitui um dos maiores desafios para o manejo do
solo nas várzeas.
A produção do arroz (Oryzn sntivn) no Brasil é proveniente na sua maioria de
ecossistema de várzea, sendo a rizicultura irrigada considerada como estabilizadora da
safra nacional, uma vez que não é tão dependente das condições climáticas, como no
caso dos cultivas de sequeiro. Na área da Amazônia Legal, é uma atividade de expressão
econômica nas áreas d e várzea nos Estados do Tocantins, Maranhão e Amapá.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocupação humana da Amazônia tem sido debatida há muitas décadas (Becker, 1980;
Meggers, 1987). Várias hipóteses buscavam explicar a aparente inexistência d e socied a des
complexas nas terras baixas, em contraposição às complexas sociedad es a ndinas (Jncas,
Chimú, Nazca, Paracas) e da América central (Maias, Olmecas, Az tecas). Meggers (1987)
elaborou uma tipologia de paisagens com base na capacidade produtiva dos solos, para
d emonstrar como o meio a mbiente impunha Limitações ao desenvolvimento c ultura l,
distinguindo dois ambientes principais na Amazônia: a terra firm e, de solos pobres; e a
várzea, beneficiada pela fertilização anual dos rios. Acredita-se que a ocupação huma n a
n a Amazônia não só é bastante antiga (Roosevelt, 1991), como, em alguns lu gares, foi
intensa, permitindo inclusive o surgimento de grandes cacicados (Neves e Petersen, 2006;
H eckenberg et al., 2008). O modelo de agricultura amazônica q ue vem s urgindo desses
estudos é complexo, provavelmente com o uso de sistemas mistos de maior complexidade
que os monocultivos. Apesar das críticas às hipóteses dos fatores limitantes à ocupação
human a na Amazónia, vários autores (Lathrap, 1975; Meggers, 1987) concordaram que
a várzea e as áreas em rios de águas pretas ou em terra firme apresen tam oportunidades
e limitações dis tintas. As várzeas são c~~azes de sustentar os maiores assen ta m entos
humanos graças à fertiJidade do solo e facilidade de acesso aos recursos da fa una aq u á tica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX II - 0 M ANEJO DO SOLO NAS VÁRZ EAS DA A MAZÔN I A 7 23

A pesm de se r mais férti l, ,1 ex ploração el as vá rz ' él S requer u m ma n jo dife renciado, dJda


à impossibi lidade de se cul tiva r ao longo ele todo o ano e em razão da imprevisibi lidade
d e in un d ações ex tremas, q ue s ubmergem mesmo o terrenos mais êt ltos (De nevan, 1996).
Entreta nto, a ag ri cultura de terra firme na /\mazónic1 ta m bém apresenta riscos ocasionais
com o as secas ex tremas por ca usa de fenómenos do Lipo E/ Ni110 ou f.n N ir111, que inte rferem
e m d ifere n tes pa rtes da Amazônia, reduzind o d ras tica menlc a precip itêlçào em algun
lugares e aumentando em outras (Meggers, 2004).
A a m pliação do uso das áreas de vá rzea na Amazônia, a pesar da grande oferta de
te rras com potencial para sus tentar ativid ades ag rícolas, deverá ter sua aptidão zo neacla,
m o nitorada e condicionada por pesq uisas e inovações tecnológica pa ra o u o e manejo
raciona l d esse frágil ecossistema. Uma ação conjunta ci os dive rsos atore envolvidos na
pesquisa e no desenvolvimento e da legislação viabilizaria o uso e o dese nvolvimen to
s us tentável sob o aspecto econômico e o ambiental das vá rzeas. PMa o o rde name n to da
ocupação das vá rzeas, uma das á reas com maior p ressão antró p ica na Amazônia, foz-se
necessá ri a uma d iscussão d os as pectos q ue envol vem o Códi go Flo restal, q ue descreve
com o á reas de preservação permanente como as florestas e d emais fo rmas de vegetação
fl o resta l, situadas ao longo dos rios, desd e o seu nível m ais a lto em faixa ma rginal, cuja
largu ra m íni ma será de SOO m paras cursos d'água que ten ham la rgu ra uperio r a 600 m.
As á reas alagadas pelas cheias dos grandes rios na Amazô nia a tingem vá rias localidades,
e m d ezenas de quilômetros do leito do ri o. Numa interpretação di re ta da legislação, toda
a agricultura de várzea está sendo feita nas áreas de proteção perma nente.
O ambiente das vá rzeas na Amazônia é provavelmente o mais dinâ mico em termos de
alterações d a sua form a por fenômenos geomorfo lógicos, sendo também um dos mais ricos
e biodiverso. Têm peculiaridades e dimensões, que necessitam de um zonea mento com
metodologias específicas. Para a aptidão agrícola, é fundam ental um leva ntamento das
estima ti vas dos tem pos de alaga mento dos d iversos am bien tes das várzeas (restinga baixa,
res tinga alta, terraços), assim como a criação dos comitês das bacia hidrográficas para
monitorar e ordenar a ocupação e o uso das áreas das várzeas Amazõnicas. O zonea men to
deverá ser feito numa escala compa tível com a va riabilidade dessa unidade d e pa isagem .
Por meio de es tudos e regulamentações, poderão ser selecio nadas áreas de á rzea para
preservação e áreas para produção agrícola, nesse a mbiente com solos fé rteis e com a mpla
possibilidade de desenvolvimento de atividades agrícolas sus tentáveis.

LITERATURA CITADA

Albernêl z AL, Co ta LRF. Conservação da várzea: caracterís tica ambientais e impo rtância. ln.
Albernaz AL, organizador. Conservação da vá rzea: identificação e caracterização de regiõt:s
biogeográficas. Manaus: lbama/ ProVárzea; 2007. p.16-9.
Alfaia SS, Neves AL, Ribeiro GA, Fajardo JDV, Uguen K, Ayre MIC. Cêl.facterização dos parâmetro
q uím icos dos solos de várzea em d iver os sis temas de uso da terra ao longo da calha dos
rios Solimões/ Amazonas. ln: Nada SN, editor. Agricultura familiar na mazõnü da · águas.
Man aus: EDUA; 2007. p.67-89.
Alm eida SSD, Amaral DDD, Silva ASLD. Aná lise floris tica e e tru tura de fl ores tas de várzea no
estuário amazônico. Acta Amaz. 2004;3-l:513-2-t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


724
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

Alva . K, Lar_cn '. Bill e \ . TI1c iníluence of rhi zosphere in rice crop on resin-exlractable phosphate
m llooded s01ls at various levei - of phosphate nplicalions. Plnnl Soil. 1980;56:17-25.
yres J /4 . As m ala. de várzea do Mamirauá" Médio Rio Solimões. 3ª.cd. Belém: Sociedad e Civil
/4amirauá; 2006. ·

Bêite H\-\'. Um n;ituralis ta no Rio Amazonns. Belo Horizonte: Itatiaia; 1979.


Becker BK. Ama zônia . São Paulo: Átic;i; 1980.
Brasil. Depa_rtamento 1acional de Produção Mineral. Projeto RADAM . Folha SA 21. Santarém.
Geologia, geomorfologia, olos, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: 1976.
(Levantamento de Recurso 1 aturais, 10)
Brasil. D~p~ta.mento acional de Produção Mineral. Projeto RADAM . Folha SA 20. Manaus.
Geologia, geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial da terra [mapa] Rio de Janeiro; 1978.
Camarão AP, Souza Filho APS. Pastagens nativas da Amazônia. Belém: Embrapa Amazônia
Oriental; 1999.

Carim IDJV, Jardim MAG, Medeiros TOS. Composição florística e estrutura de floresta de várzea
no município de Mazagão, Estado do Amapá, Brasil. Sei For. 2008;79:191-201.
Can•alho JAL. Terras caídas e consequências sociais: Costa do Miracauera, Paraná da Trindade,
'1unicípio de ltacoatiara - AM [dissertação]. Manaus: Universidade Federal Amazonas; 2006.
Correa JC, Bastos JB . Os solos das várzeas do Paraná dos Ramos (município de Barreirinha -
Amazonas) e sua fertilidade. Manaus: Embrapa-Uepae de Manaus; 1982. (Boletim de
Pesquisa, 1).
Costa MLD, Behling H, Suguio K, Kampf , Kern DC. Paisagens amazônicas sob a ocupação do
homem pré-histórico: urna visão geológica. ln: TeLxeira WG, Kem DC, Madari BE, Woods WI,
editores. As Terras Pretas de Índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste conhecimento
na criação de novas áreas. Manaus: Universidade Federal da Amazônia/Embrapa; 2010. p .15-
38.
Cravo MS, Xavier JJBN, Dias MC, Barreto JF. Características, uso agrícola atual e potencial das
várzeas no Estado do Amazonas. Acta Amaz. 2002;32:351-65.
Dantas M, Maia MAM. Compartimentação geomorfológica. ln: Maia MAM, editores. Geodiversidade
do estado do Amazonas. Manaus: CPRM; 2010. p.27-44.
Denevan W. A bluff model of riverine settlement in preh.istoric Amazonia. Ann Assoe Am Geogr.
1996;86:654-81 .
Empresa Bras ileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Levantamento de reconhecimento dos solos e avaliação da aptidão agrícola das terras de uma
área de colonização no mw1icípio de Careiro, estado do Amazonas. Manaus: 1984a.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Centro Nacional de Pesquisa de Solo.
Sistema brasileiro de classificação de solos. 2ª.ed. Rio de Janeiro: 2006.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Levantamento semi-detalhado dos Solos
da Estação Experimental do Caldeirão (lranduba). Belém: Embrapa CPATU; 1990.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embra~a. Serviço Na~io_nal de Levantamento e
Conservação de Solos. Levantamento de reconhecimento de média mtensidade dos solos e
avaliação da aptidão agrícola das terras de uma área de colonização no município de Urucará,
es tado do Amazonas. Rio de Janeiro: 1984b. ( Boletim de pesquisa, 30).
Empresa Brasileira d e Pesquisa Agropecuária - Embra~a. Serviço Nacional de Levantamento e
Conservação de Solos. Levantamento de reconhecimento de média intensida de dos solos e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - 0 MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA 725

ilVíl li;:içiio díl ;:i plicl, o ílgrícolíl das terra 4 d. uma {irea ele colo ni1.c1ç,io no município d' 8Mreirinhc1,
estado do J\m;izona s. f<i o dL• Jr1neiro: 1984c. (Bolet im de pec;q uisa, 12).
Empresíl Bras ile ira de Pesquic;a J\gropecuárir1 - EmbrJpa. Ccn trn Nac ional de Pec;q uic;a d Solo.;.
Levílntamento ele recon hecimento de média intenc; idad doe; solos e oV lic1c,10 dc1 .iptid,10
agrícola das te rrns de 21 .000 hectares no mu nicípio ele Tefé, Ama zona<;. 1983.
Fajardo JDV, Souza LAGO, Alfaia SS. Carnclcrístic,1c; qu ímicac; de so loc; de v,i rzeil'- "ºb diferl'ntl's
s is temas de uso da terra, na calha dos rios baixo Solimõ se m dio Amílzona . Acta AmM.
2009;39:731-40.
Fa lesi IC. Estado atual de conhec imentos de so los da Amazf>niil brasi lei ra. ln: Anai_c.; do 1n Simp(l'-io
do T ró pico Úmido; 1984; Belém. Belém: Embrapa-CPATU; 1986. p. JlíR--91 .
Fi lizola N, Guyo t JL, Witttmann H, Martinez JM, Oli vei ra ED. The s ignifícance o f s u'-pended
sediment trans po rt detennination o n the Ama zonian hydrologica l scenario. ln: .\,lannin g AJ.
editor. Sedimen t trans port in aquatic environments. [pl ace unknown]: lnTech; 201 l. p -Ei-64.
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC Leva ntamento semi-de talhado de solos e
aptidão agrícola em á reas abrangidas pelo PDRI, AM - Município d e Pa rintins. Belo Ho rizonte:
1986c.
Fundação Centro Tecnológico de Minas Cernis - CETEC. Levantame nto semj-d e ta lhado de solo'-
e aptidão agrícola em áreas abrangidas pelo POR!, Afvl - Munjcípio de Manacupuru. B lo
Horizonte: 1986d.
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC. Levantamento semi-detalhado de soloc;
e ap tid ão agrícola em áreas abrangidas pelo PDRI, AM - Município d e Barreirinh.i. Belo
H o rizonte: 1986a.
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC. Levantumento semi-de talhado de solo~ e
ap tidão agrícola em áreas abrangidas pe lo POR!, AM - Município do Ca re iro. Belo Ho rizonte:
1986b.
Gama JRV, Botelho SA, Gama MDMB, Scolforo JRS. Estrutura e potencial futu ro d e utiliLaç5o da
regene ração na tural d e fl oresta d e várzea alta no município d e Afuá, estado do Pará. Cí Flor.
2003;13:71-82.
Guimarães ST, Lima HN, Teixeira WG, Junior 1 , Ferrei ra A, Si lva FWR, Macedo RS, Souza KWD.
Characteriza tion anel classification of gleysoils on the floodplain of the Solimões ri er (I randu ba
and Manacapu ru), Amazonas, Brazil. Rev Bras Cienc Solo. 2013;37:317-26. ·
Heckenberger MJ, Russell JC, Fausto C, Toney JR, Schmid t MJ, Pereira E, Franchetto B, Kuikuro A.
Pre-Columbian Urbanism, Anthropogenic Landscapes, and the future of the r\mazon. Science.
2008;321:121-1--7.
Homma AKO. A civ ilização da ju ta na Amazônia - expansão e d ec línio. ln: Homrna AKO, edi tor .
Amazônia: Meio Ambiente e desenvolvimento agrícola. Brasília: Embrapa-SPI; 199 . p .33-60.
Igreja H , Franzinelli E. Aspectos das "terras-caídas" na região ;:imazôn ica. ln: Ihlis d o º. Simposio
d e Geologia da Amazônia [CD ROtvf] ; 2005; Belém. Belém: 2005.
Irion C . Clay minerais of Amazonian soils. ln: Sioli H, ed itor. The Amazon : Iimnology and
la ndscape ecology of a migh ty tropical river and its basin. Dordrecht: W. Junk; 1984. p.337-79
(Monog raphiae biologicae, 56).
Junk WJ . Eco logy of varzea, floodplain of lhe A mazonian whi te-water rivers. ln: Sioli H, editor. T he
Amazon: limnology anel landscape ecology of a might tropical river and its basin. Dordrê\:ht:
W Junk; 1984. p.215-43.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


726
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA ET AL.

KBmpf: , Ken1 D . soo 1 como regist-ro


· di:l ocupaç:-io humana pré-h1,· tóncél
· na /\ 1n.1zt,m
" ·a. 1'6 picos
·
1 ~olo. 2005:-t :_77-320.
Kern D ' K"'a mpt· , \Voods V\ l, Dcnevan WM , osla MLD, Frazão FJL, Sombroek W . Evoluçao -
d~ conh c imc nto cm Terra Preta de Índio. ln: Teixeira WG, Kern DC, Mad ari BE, Lima HN,
\'\'nods \\ºl, editores. As Terras Pretas de índio da Amazônia: sua caracterização e u so des te
onhcci mento na cria ·ão d e novas áreas. ~a nau · : EDUA - Embrapa; 2010. p.72-81.
Kreibich H ,_Lclu11ann J, heu felc G, Kcm J. ih·ogen availability and leaching during the terrestrial
ph a · e m a várzea fore t of Lhe Cenh·al Amazon floodplain. Biol Fert Soils. 2003;39:62-64 ..
La thrap DV\7. O Alto Amazonas. São Paulo: Verbo; 1975.
Latrubesse E, Franzinelli E. The H olocene alluvial plain of the middle Amazon Ri ver, Braz il.
Geomorphology. 2002;-14:2-!1-57.
Lima H , Melo J\,V\, Schaefer EGR, Ker JC, Lima AMN. Mineralogia e química d e três solos de urna
topossequ ênci a da bacia sedimentar do rio Solimões, Amazônia Central. Rev Bras Cienc Solo.
2006;30:59-68.

Lima H ,_ Teixeira GW, Souza KVVD . Os solos da paisagem da várzea com ênfase no trecho entre
Coan e Manaus. ln: Fraxe TDJP, Pereira HDS, Witkoski AC, editores. Comunidades ribe irinhas
amazô nicas: modos de vida e uso dos recursos naturais. Manaus: EDUA; 2007. p .35-54.
Lima RR, Tourinho MM, Costa JPCD. Várzeas ílúvio-marinhas da Amazônia brasileira: características
e possibilidades agropecuárias. Belém: FCAP; 2000.
1aced o RS. ~tributos físicos, químicos e mineralógicos de solos com horizonte antrópico (Terra
Preta de lndio) em áreas de várzea do rio Solimões, AM [dissertação]. Manaus: Universidade
Federal do Amazonas; 2009.
Magalhães JA, Tov-msend CR, Costa NDL, Pereira RGDA. Desempenho produtivo de búfalos em
sistemas silvipastoris na Amazônia Brasileira. Pubvet. 2011; 5:1-8.
farbut CF, Manifold CB. Toe soils of the Amazon basin in relation to their agricultura! possibilities.
Geogr Rev. 1926;16:414-42.
Mdatchey GP, Reddyk R. Regu.lation of matter d ecomposition and nutrient release in wetland soil. J
Environ Qual. 1998;27:1268-74.
Meggers B. Amazónia: a ilusão de um paraís o. 2ª.ed. Belo Horizonte: ltatiaia;1987.
Meggers B. Archeological evidence for the impact of mega- iflo events on Amazonia during the
pas t h-vo millennia. Climatic Change. 2004;28:321-38.
Mello J\t\TV, Fonte MPF, Ribeiro AC, Alvarez V VH. Inundação e ca lagem e m solos de várzea: 1.
alterações em pH, Eh e teores de Fe2+ e Mn2+ em solução. Rev Bras Cienc Solo. 1992;16:309-17.
Mõller MRF. Mineralogia de argilas de solos da região Amazônica brasileira. Ana is do l"Simpósio
do Trópico Úrnido, Belém, 1984. Belém: Embrapa-CPA TU; 1986. p.214-23.
Mõller MRF. Substituição isomórfica e m óxidos d e ferro de Latossolos d a Amazônia e suas implicações
na sorção d e fósforo [tese]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Que iroz; 1991.
Moraes JFL, e ill C, Volkoff B, Cerri CC, Melillo J, Lima VC, Steudler PA . Soi l ca rbon s tocks of the
Brazilia n Amazon basin. Soil Sei Soe Am J. 1995;59:224-47.
ia cime nto e, Hon1ma A. Amazônia: meio a mbiente e tecnologia agrícola. Be lé m : Embrapa/
C PATU; 1984.
Jascimen to c B; Ca rva lho LODM, Camarão AP, Lourenço Jr JB, Moreira ED, Salimos, EP, Pereira
WS. Introd ução e ava liação de g ramín eas forrageiras em várzea alta, várzea baixa e iga p ó.
Belém: Embrapa-CPATU; 1987. (Boletim pesquisa, 85)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII - Ü MANEJO DO SOLO NAS VÁRZEAS DA AMAZÔN IA 727

N eves EG, Peterscn JB. The política! economy o f Pre-Co lum bian Am eri ndians: land~a~e
transformations in Central Amazonia. /n: Balée W, Erickson C., edi tors. Time and com plex1ty tn
historical ecology: studies in thc Neo lropíca l Lowland5. New York: Colum bia Univers ity Press;
2006.
Nogueira OL, Figueirêdo FJC, Muller AA . Açaí. Belém: Embrapa Amazô nia Oriental; 2005. (Embrapa
Amazônia Oriental. Sistemas de Produção, 4).
Oliveira DO, Andrade NM. Recursos hídricos superficiais. ln: Maia MAM, Ma rmos JL, edito res.
Geodiversidade do estado do Amazonas. Manaus: UFAM; 2010. p . 47-58.
Parolin P, De Simone O, Haase K, Waldhoff D, Rottenbe rger S, Kuhn U, Kesselmeier J, K.leiss B,
Schmidt W, Piedade M, Jun.k W. Central Amazonian floodplain fo rests: Tree adaptations in a
pulsing system. Bot Rev. 2004;70:357-80.
Perin R, Martins GC, Muniz SR, Linhares GM. Sistema de pas tejo rotacionado intensivo com o
alternativa para a recuperação de áreas degradadas no estado do A mazonas. Amazônia: Ci
Desenv. 2009;4:236-43.
Ponnamperurna FN. Physicochernical properties of submerged soils in relation to fertility . Los
Banas: IRRI; 1977. (Research Paper Serie, 5)
Ponnamperuma FN. The chernistry of submerged soils. Adv Soil Sei. 1972;24:29-96.
Reddy KR, Dela une RD. Biogeochemistry of Wetlands: science and applications. Boca Raton: CRC; 2008.
Reddy KR, Patrick Jr WH. Effect of altemate aerobic and anaerobic condítions on redox potential,
organic matter decomposition and nitrogen loss in flooded soil. Soil Biai Biachem. 1975;7: 7-94.
Rodrigues TE, Morikawa IK, Reis RS, Falesi IC. Solos do Distrito Agropecuári o da SUFR
(trecho: km 30/km 79 - Rod . BR-174. Manaus: IPEAOC; 1971. (IPEAOC, Série: Solos, v .l, n.l)
Rodrigues TE. Solos da Amazônia. ln: Alvarez V HV, Fontes LEF, Fontes NlPF, editores. Os solos
nos grandes dorninios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa, MC:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1996. p.16-60.
Roosevelt, A.C. Determinismo ecológico na interpretação do desenvolvimento social indígena d a
Amazônia. ln: Neves W, editores. Origem, adaptações e diversidade biológica do homem nativo
da Amazônia. Balém: Museu Paraense Emílio Goeldi; 1991. p.103-59.
Rossetti D, Goes AM, Toledo PM, Santos Junior AE, Paz J. Reconstrução de paisagens pós-rniocenicas
na Amazônia brasileira. ln: Ana Albernaz AL, editor. Conservação da Várzea: identificação e
caracterização de regiões biogeográficas. Manaus: Pró-várzea/ IBA.i\tl.A; 2007. p.29-64.
Sala ti E, Junk WJ, Shubart HOR, Oliveira AED. Amazônia: Desenvolvimento, integração e ecologia.
São Paulo: Brasiliense/CNPq; 1983.
Santos HG, Jacomine PKT, Anjos LHC, Oliveira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida JA, Cunha
TJF, Oliveira JB, editores. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3".ed. Brasília, DF:
Embrapa; 2013.
Sioli H. The Amazon: Limnology and landscape ecology of a rnighty tropical ri ver basin. Dordrecht:
W . Jun.k; 1984.
Souza KW. Gênese, mineralogia, rnicromorfologia e formas de fósforo em arqueo-antropo alo da
várzea do rio Amazonas [tese]. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2011.
Souza KW. Uso do solo em comunidades de várzea do rio Solimões do trecho Coari-Manaus
[dissertação]. Manaus: Universidade Federal do Amazonas; 2007.
Sternberg HOR. A água e o homem na várzea do Careiro. 2".ed. Belém: Museu Paraense Emílio
Goeldi; 1998.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


728
W ENCESLAU G ERALD ES T EI XE IRA ET A L.

Teixe i~a \\': 1artin G ' . Lima H i . An t\m.1zoni,in Dark fairlh_profile dcscri.plion fro m a site
1 c_atcd 111 lhe tloodpl.1111 (\'árzca) in the I3razi lian Amazon. ln: Rios GM, Ca ma i go SM, <:=a lv~ CF,
cd it?rs. I ueblos y paisajcs ,rntiguos de la cl\'a Amazónica. I3ogotn / Washin gton: U111 vers1dad
ac1 nal; 2006. p .293-300.

Teixeira WG, Arruda \\ , Li m a HN, lwata SA, Martins GC. I3uilding a digital soi l data base of the
Solimõe_ riYer region in the Brazilian Cen tral Amazon. ln: Hartemink AE, Mcbra hiey A ,
1endonça Santos 1DL, edi tors. Digital soil mapping wi th limi ted da ta . Heidelberg: Spri nger;
200 . p .327-35.
Teixeira \'\ G , Arruda W, Shinza to E, Macedo RS, Martins GC, Lima H , Rod rigues TE. Solos do
estado do Am azonas. ln: Maia MAM, Marmos JL, ed itores. Geodiversidade do es tado do
Amazona . Manau_: CPRM; 20106. p.71-86.
Teixeira \'\ G, Pinto WH , Lima HN, Macedo RS, Martins GC, Anuda WC. O s solos das várzeas
próxima a calha d o Rio Solimões - Amazonas no Estado do Am azon as. ln: Wor ksh op
Geotecnologias Ap licadas às Áreas de Várzea da Amazônia; 2007; Mana us. Manaus: IBAMA;
2007. p .29-36.

Teixeira WG, Kem DC, Madar i BE, Lima H N, 'v\ oods WI. As Terras Pretas de Índio da Am azônia:
su a caracterização e uso d este conhecimento na criação de novas áreas. Manaus: EDUA; 2010a.
Tsunod a F. Canção da Am azônia: uma saga na selva. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1988.
\ icto ria RL, Martinelli LA, Cunha HB, Richey JE. The Amazon basin a11d its natura l cycles. ln: Sala ti
E, Absy ML, Victoria RL, editors. Amazónia: um ecossistema em transformação. Brasília: C NPq;
2001. p.163-214.
Vieira LS, Santos PCT. Am azónia: seus a ios e outros recursos na turais. São Paulo: Agron ô mica
Ceres; 1987.

\'\ ill.iams E, Dall' Anto1ua A, Dali' Antorua V, Almeida JMD, Suar ez F, Liebmann B, Malhado ACM .
Toe dro u g ht of t.he century in the Arnazon Basin: an analysis of the regional varia tio n of rai.nfall
in South A m e rica in 1926. Acta Arnaz. 2005;35:231-8.
Worbes M. Th e fo rest ecosystem of the fl ood plain. ln: Junk W, editor. The central Amazon floodpla.in:
ecology of a p ulsing system. Heidelberg: Sprin ger; 1997. p.223-66.
Yu TR. Physico-chem.ical properties of acid soils of the tropics relation to rice grO\,v th. ln: De turck
P, Ponnamperuma FN, edito rs. Rice production on acid soils of the tropics. Kandy, Sri La nka:
Institute of Fund amenta l Studies; 1991. p.33-42.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

..
XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTE
DE TERRAS BAIXAS: A EXPERIÊNCIA DA
REGIÃO SUL

Enio Marchesan 11, Leandro Souza da Silva11, Rogério Oliveira de Sousa 31 &
Eloy Antonio Pauletto31

11 Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Fitotecnia, Santa faria (RS).


E-mail: eniomarchesan@gmail.com
,t Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Solos, San ta faria (RS).
E-mail: leandro@smail.ufsm.br
31 Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Solos, Capão do LeJo (RS).
E-mails: rosousa@ufpel.edu .br; pauletto@ufpel. edu.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO····························································································································- ·-·--···· ·-·····-········· 730


LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE TERRAS BAIXAS O RS E EM se ··································· ··············-·····-······ 731
CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DE TERRAS BAIXAS ...................................................... ··-···························· 733
Classes de solos predominantes ....................................................................................................................... -····· 733
Planossosolos .................................................................. ............................................... ......................... ............ . 734
Gleíssolos .................................................................................................................................................. ··-···· . ... 735
Chernossolos............................................................................................................................................... ........ . 735
Neossolos .......................................................................................................................................... . . ................. 735
Plintossolos ......................................................................................................................... .................... ... .......... 736
Organossolos ... ............ ........ ...... .... ........ ..... ............ .. ...... ..... ........ ........ ........................ . .... ...... .......... ... .. ..... ... ...... 73ó
Atributos físicos de solos de terras baixas ................................................................................ ............................. . 736
Atributos químicos de solos de terras baixas.................................................... ............................................ ·-··· 7-!0
TRANSFOR.i\ilAÇÓES QUÍMICAS EM RAZÃO DO ALAGAMENTO............................................................ .. 7-!1
MA EJO DAS ÁREAS DE TERRAS BAD<AS PARA CULTIVO DE ARROZ IRRlGADO ............................... .. 7.!J
Manejo pós-colheita e preparo antecipado do solo ............................................................................... ··-·· ......... 7-!3
Adequação da área para cultivo de arroz irrigado ................................................. ............................. ................ ;--44
Sistematização do terreno com nivelamento da superfície do solo............................................................... ;--44
Preparo das áreas para cultivo de arroz irrigado........................................... ............................ . .... ................. .. 7-!5
Preparo convencional do solo ............................................................................................................................ 7-tó
Cultivo mínimo do solo ........................................................................................................ ................... .......... 7-Ui
Semeadura direta ............. ................... , ..................................................................................... . ·············•········· ..
Semeadura do arroz pré-germinado ....................................................................................................... ·-········· 747
Plantio do arroz por transplante de mudas ............................................................... - ............._...................... 74
RELAÇÕES AMBIENTAIS DAS TERRAS BAIXAS Cm-.1 RECURSOS HiDRI O E AT~l FERA ................ 7-!9

Berto! 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do o\o e da o1gu a. Viços.1, MG: · e<l.1Je
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
J

730
ENIO MARCHESAN ET AL.

Q~::: : 0

q~:~i::d:~: ~;~·:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 750


749

uanto aos ga es de efei to estufa ............................................................................................................................. . 752


ADEQUAÇÃO DAS Á REA DE TERRAS 13A1XA PARA POTENCIALIZAR O USO INTENSIVO
E U TENTÁ EL DO LO ..................................................................................................................................... 754
Organização/ i tematização da área ....................................................................................................................... . 754
Adequa ão de atributos f! icos do solo para minimizar estresses às plantas de cultivos não irrigados ....... . 755
i tema de implantação de lavoura e mecanismos da semeadora ............................................................... .. 756
Adequação química do olo para cultivo de arroz irrigado e culturas não irrigadas em rotação .................. . 760
CO SIDERAÇÔES F1 AIS ........................................................................................................................................... 761
LITERATURA CITADA
·················································································································································· 762

INTRODUÇÃO

os Estados do Rio Grande do Sul (RS) e de Santa Catarina (SC) existem extensas
áreas de terra em posições baixas do relevo, denominadas de áreas de terras baixas ou
de várzeas, cuja característica principal é a existência (ou ocorrência) de longo período
de tempo em condição de saturação com água. Parte dessas áreas é preferencialmente
utilizada para o cultivo de arroz irrigado por alagamento, tendo em vista que essa espécie
apresenta estruturas (aerênquimas) capazes de difundir o 0 2 desde a parte aérea até as
raízes, garantindo a atividade metabólica mesmo na condição de solo saturado.
O alagamento para o cultivo do arroz proporciona boas condições agronômicas ao
cultivo, como o controle de plantas daninhas e aumento da disponibilidade da maioria dos
nutrientes às plantas de arroz, por exemplo. No entanto, existem diferentes estratégias de
implantação e cultivo do arroz irrigado, em razão dos atributos dos solos, da disponibilidade
de água para a irrigação, da topografia, do tamanho das áreas e das propriedades e da
maquinaria disponível para o cultivo.
Também, um aspecto a ser considerado no manejo do solo nas áreas de terras baixas
é que, quando alagadas, uma das principais consequências da saturação é o rápido
esgotamento do 0 2, já que ele é consumido pela respiração dos microrganismos e se
difunde lentamente do ar para a água.
Em consequência, o metabolismo microbiano aeróbico, predominante no solo,
é alterado para anaeróbico, com reflexos nos ciclos biogeoquímicos do C e de outros
elementos. Assim, tanto a disponibilidade de nutrientes corno a transferência dos
elementos para os sistemas aquáticos e para a atmosfera são diferenciados em relação ao
solo não saturado.
De outra forma, a água estabelece relação estreita entre o uso do solo e a contaminação
da própria água, com especial destaque para a transferência de agroquím.icos de solos
agrícolas. A localização geográfica dessas áreas, normalmente próximas a cursos de água,
exige cuidados especiais em relação ao manejo do solo e da água e ao uso de insumos, por
causa do potencial de contaminação.
Além disso, o monocuJtivo de arroz proporciona o aumento da população de plantas
daninhas, pragas e doenças associadas ao cultivo, que podem atingir níveis elevados,
dificultando O controle e elevando o custo de produção. Ainda, pode ocorrer o surgimento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AM BIENTES DE TERRAS BAI XAS: A EXPERIÊNCIA .. · 731

de indivíduos resisl nles, de difícil cont-role, o que pres nt mente ~ uma realidad
es pecia lmente com relação às plantas daninhils.
O cultivo tradicional no ambiente de terras baixas utili za o p re paro convenciona l do
solo para o arroz irrigado, interca léldo com pélS télgem para pecuária d corte extensiva no
RS e o culti vo de arroz pré-germinado em SC. Atualmente, no RS, o manejo tradiciona l
ve m sendo substituído por ourros, como cu lti vo mínimo, semeadura di reta e suce ão/
rotação de culturas com es pécies não irrigadas; e, em SC, o cultivo mínimo já ubstitui
parte do s istema pré-germinado.
Atualmente, o uso intensivo das á reas de terras baixas visa implantar si temas
s ustentáveis de produção, com o objeti vo de permitir a continuidade e melhoria da
produção de arroz nesses ambientes.
Assim, observou-se o aumento de cultivas não irrigados, com des taque para a oja e
o milho. Também, vê m sendo utilizados cultivas de inverno, como azevém e aveia, com
melhor aproveitamento do potencial de uso do solo, bem como espécies e leguminosa
mais adaptadas, o que auxilia a integração lavoura-pecuária como estra tégia de produção
sustentável nesse ambiente.
Pelo exposto, os desafios em relação ao manejo de solos de terras baixas tem agora
ourros componentes, como os cultivas reaLizados sem irrigação por alagamento e a
exigências es pecíficas em termos de química, física e biologia do solo. Acresça-se a i o a
sucessão ou rotação de cultivas nesse ambiente, o que vai envolver período em que o olo
estará alagado e períodos em que esse permanecerá em condição de aerobio e, dificultando
ainda mais o manejo do solo para a manutenção das melhorias já alcançadas.
Com isso, buscou-se desenvolver tecnologias de produção que envolva m redução de
operações para implantar e conduzir os cultivas, associadas à conservação do olo e da
água e diminuição de custos de produção. Esses aspectos serão relacionados neste texto,
utilizando-se das informações da literatura e aquelas geradas pelas pesquisas referentes ao
manejo de solos de terras baixas.

LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE TERRAS BAIXAS


NORS E EMSC

Os solos de terras baixas do RS e de SC estão presentes em áreas de relevo p lano a


s uave ondulado, desenvolvido a partir de sedimentos, que apresentam grandes var iaçõe
em seus arributos físicos, químicos e biológicos e possuem como caracter ística comum a
drenagem deficiente e formação em ambientes com diferentes grau s de hidromorfisrno .
No RS, ocupam extensas áreas do litoral (Planicie Cos teira) e da planícies de rio
nas regiões da Depressão Cenrral, Campanha e Fronteira Oeste (Figura 1), totalizando
urna área de aproximadamente 4,6 l'vlha (Pinto, 2015). Em SC, os olos de terras bai, as ão
enconrrados em todo o litoral do Estado, nos vales dos principai rios e em pequena ár as
interioranas, fronteiriças com o Estado do Paraná, perfazendo um total d e 685 000 ha (Pinto
e t ai., 2004).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


732
ENIO MARCHESAN ET AL.

. O prin cipal ultivo de grão nessas áreas é o arroz irrigado por inundação. No RS,
cul
d tiva-se
. anualmente aproximada mente 11 , Mha de arroz e aproximadamente 287 000 ha
ºlª em rotação com arroz (IRGA, 2017); e, em SC, cultiva-se cerca de 150 000 ha de
arr~z, que, segundo Conab (2017), representam juntos ao redor de 75 % da produção
nacional de arroz.

RIO GRA DE DO SUL

OC'L \N
Al i.ANIi ·o

Figura 1. Distribuição dos solos de terras baixas nos Estados do RS e de SC.


Fonte: Adaptado de Pinto et al. (2004).

Essas áreas podem estar associadas com a ocorrência de outros solos de terras altas,
de acordo com a posição na paisagem, como representado na figura 2, para a região da
Depressão Central do RS.
Alguns solos não hidromórficos localizados em áreas de relevo suave ondulado a
ondulado, adjacentes aos solos de terras baixas, são também utilizados com a cultura do
arroz e, no atual estádio de formação, passam por alagamentos periódicos no período de
cultivo do arroz.
RS, esses solos ocorrem principalmente na região da Campanha e Fronteira Oeste;
0
e, em se, estão distribuídos em praticamente todas as regiões arrozeiras, pertencendo à
classe dos Argissolos, Luvissolos, Cambissolos, alguns Chernossolos e Neossolos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAI XA S: A E XPERI ÊNC IA ... 73 3

Argissolo
Vermelho

Argissolo Bruno
Acinzentado

Plintossolo Argilúvico

Planossolo Háplico

Gleissolo Háplico

Figura 2. Topossequência de unidades de solo na região da Depressão Cen tral do RS.


Fonte: Ada patado de Streck et ai. (2008).

A intensidade do hidromorfismo nos solos está condicionada ao relevo, à presença


de camadas subsuperficiais impermeáveis e à altura do lençol freá tico. Assim, as á rea
mais planas e posicionadas em cotas mais baixas na paisagem apresentam solo com maior
deficiência de drenagem e com alto gra u de hidromorfismo, onde predo minam cores
acinzentadas, característico da gleização.
Os solos localizados em patamares mais elevados e sob relevo suave ondu lado
apresentam hidromorfismo menos intenso, onde as cores acinzentadas ão substituídas
por mosqueados avermelhados ou amarelados com uma cor de fundo cinzen ta. Quanto
maior for a proporção de cores brunadas, avermel hadas ou amareladas, e m relação à
cor cinza, menos intenso é o hidromorfismo. Tais observações são importantes, pois as
decisões de manejo dos solos de terras baixas dependem do estabelecimento de um bom
sis tema de drenagem.

CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DE TERRAS BAIXAS

Classes de solos predominantes


As principais classes de solos de terras baixas no RS e em SC são a presentad as no
quadro 1 (extraída de Pinto et al., 2004; Pinto, 2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


734
ENIO MARCHESAN ET AL.

Quadro l. Di tribuição percentual da das es de solos de terras baixas nos Estados do RS e de SC


Distribuição da
Solos de terras baixas área
%
Rio Grande do Sul
Planossolos, incluindo Gleissolos associados 54,2
Chemossolos 15,1
eossolos 17,2
Gleissolos 7,4
Outros 4,8
Vertissolos 1,3
Santa Catarina
Gleissolos, incluindo Carnbissolos e Organossolos associados 61,0
Neossolos associados com Gleissolos 20,0
Organossolos associados com Gleissolos e Neossolos 9,1
Espodossolos 7,1
Solos de rnanguezais, incluindo áreas permanentemente alagadas 2,8
Fontr: Adaptado de Pinto et ai. (2004) e Pinto (2015).

Em razão da sua relevância em termos percentuais em ambos os Estados, serão


apresentados alguns atributos gerais das principais classes de solos ocorrentes. Esses
e outros atributos e informações sobre outros solos também poderão ser obtidas nas
publicações: Solos do Rio Grande do Sul (Streck et al., 2008); Manejo do solo e da água
em áreas de várzeas (Gomes e Pauletto, 1999); e Arroz Irrigado no Sul do Brasil (Gomes e
Magalhães Jr., 2004).

Planossolos
Os Planossolos se caracterizam por apresentarem sequência de horizontes A-E-
Bt-C; entretanto, em muitos casos, não ocorre o horizonte E. O horizonte A normalmente
evidencia cor mais escura, contrastando com o horizonte E de cor mais clara, ambos
normalmente com baixos teores de argila, enquanto o horizonte B expõe incremento
abrupto de argila e pode exibir cores características de gleização (acinzentada com ou sem
presença de mosqueados vermelhos ou amarelos). Apresenta mudança textura! abrupta
entre os horizonte A (ou E) e B, sendo o horizonte B chamado de plânico, que caracteriza
essa classe de solo diferenciando-a da classe dos Gleissolos.
Os Planossolos, em termos gerais, são especialmente aptos ao cultivo do arroz irrigado
e, com sistema de drenagem eficiente, podem ser utilizados com culturas de sequeiro como
milho, soja, sorgo e pastagens cultivadas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBIE NTES DE TERRAS BA IXAS: A EXPERIÊNCIA ·.. 73S

Gleissolos
Os Gleissolos formam, juntamente com os Planossolos, a duas classes de solo de
terras baixas mais importantes nos Estados do RS e de SC. o RS, ocorrem em toda
as regiões de solos de terras baixas e, em muitos casos, encontram- e associado ao
Planossolos, não sendo possível determinar a sua real área de ocorrência.
Quando associados aos Planossolos, ocorrem nas pequenas depressões do terreno
ou nas partes mais baixas da paisagem em desníveis normal.mente inferiores a 1,5 m. O
Gleissolos apresentam sequência de horizontes A-Bg-Cg, A-Cg ou H-Cg (Streck et ai., 2008)
e textura média a argilosa, sem a presença de horizonte Bt e mudança textural abrupta, o
que os diferenciam dos Planossolos. Evidenciam cores acinzentadas por causa do intenso
processo de gleização, podendo permanecer a maior parte do ano saturados por água_
A utilização agrícola dos Gleissolos é limitada pelo grau das restrições relacionadas
ao excesso de água, que é maior do que as impostas pelos Planossolo , o que restringe o
uso de máquinas e irnplementos. Porém, quando for possível realizar drenagem adequada,
além do cultivo do arroz irrigado podem ser utilizados com sucesso com culturas de
sequeiro (soja, milho, sorgo e hortaliças), pois normalmente são mais férteis que a maioria
dos Planossolos.
Alguns Gleissolos de áreas alagadiças e os chamados Gleissolos Sálicos o u Tiomórficos
de regiões litorâneas são inaptos ao cultivo, por apresentarem alta concentração de sais
solúveis e materiais sulíídricos, e devem ser utilizados para preservar a fauna e flora.

Chernossolos
Os Chemossolos são solos de profundidade variável com sequência de horizontes A-Bt
(ou Bi)-C; e os horizontes B e C podem apresentar acumulação de carbonato de cálcio. O
horizonte A (A chemozênico) é bem provido de matéria orgânica, o que lhe confere cores
escuras. O manejo desses solos é muitas vezes limitado por atributos físicos indesejáveis
por causa da presença de minerais expansivos (duros, quando secos; plásticos e pegajosos,
quando úmidos). São aptos ao cultivo de arroz irrigado e pastagens. Os Chernossolos que
não apresentarem limitações físicas muito intensas podem ser utilizado com culturas de
sequeiro com sucesso, principalmente em razão da alta soma e saturação por bases.

Neossolos
Os Neossolos são solos de formação recente com sequência de horizontes -C-R, A-C
ou A-R, podendo apresentar horizonte B desde que esse não possa ser enquadrado em
qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.
Os Neossolos Quartzarênicos são pouco férteis em razão da textura muito areno a e
dos baixos teores de matéria orgânica, sendo utilizados principalmente para o rulti O de
abacaxi, no RS, e milho, mandioca, batata doce, abóbora e fumo, em SC (Pinto et al., 2004).
Os Neossolos Regolíticos e Litólicos estão sendo utilizados inadequadamente com a
cultura do arroz, principalmente aqueles localizados em rele o de alta declividade, por
causa do risco de degradação. Nesses solos, o preparo convencional e a ero ão hídric
favorecem o afloramento de pedras, dificultando manejes futuro .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


'
736
ENIO MARCHESAN ET AL.

Já Oo olos Flúvico têm uso agrícola limitado, pois normalmente ocorrem em


área com risc de inundação e áreas de preservação permanente (Streck et ai., 2008).

Plintossolos

O Plinto solos -e caracterizam pela presença de plintita (mosqueados ferruginosos


de cor " rmelha ou amarela, macios, quando úmidos, e duros, quando secos), que deu o
nome a es a ela se de solo. Apresentam sequência de horizontes A-Btf-Cg, podendo ou não
ocorrer o hori zonte E.
São solos de drenagem moderada a imperfeita, localizados em relevo plano a suave
ondulado; em muitos casos, ocorrem como transição entre as terras baixas e as coxilhas.
Os Plintossolos são especialmente aptos ao cultivo do arroz e pastagens, podendo
também ser utilizados com culturas de sequeiro produtoras de grãos. Os Plintossolos
arenosos e profundos (espessarên.icos) não são indicados para o cultivo de arroz por causa
do elevado uso de água, mas podem ser utilizados com hortaliças e milho.

Organossolos

Os Organossolos são solos formados por material orgânico em diferentes estádios de


decomposição, que se acumulam em ambientes muito mal drenados, sendo caracterizados
pela presença de horizontes hísticos (H).
Embora algumas áreas de Organossolos sejam utilizadas com arroz, a sua utilização
agrícola deve ser ponderada com cuidado, pois esses formam um ecossistema frágil, e a
sua drenagem pode prejudicar irreversivelmente o ecossistema, principalmente por que
ficam sujeitos a subsidência e diminuição dos teores de matéria orgânica (Pinto et al., 2004).
Além disso, são normalmente de baixa fertilidade e muito ácidos, com altos teores de
alumínio. Apresentam risco de combustão quando drenados e têm baixa capacidade de
suporte às máquinas e aos implementas agrícolas.

Atributos físicos de solos de terras baixas


O manejo dos solos de terras baixas, embora possa parecer simples quando analisado
do ponto de vista topográfico em razão do relevo variar de plano a suave ondulado,
facilitando o uso de máquinas e implementes agrícolas e da própria irrigação, torna-se
muito complexo.
Isso porque apresentam formação em condições variadas de deficiência de drenagem
(hidromorfismo) com atributos físicos, hídricos, químicos e microbiológicos diferenciados
dos encontrados em solos desenvolvidos em terras altas.
Esses solos evidenciam baixa quantidade de poros com alta relação micro/ macro poros
e alta densidade, o que dificulta a drenagem interna, agravada ainda pela presença de uma
camada subsuperficial praticamente impermeável; em alguns deles, há presença de argilas
expansivas com altos índices de plasticidade e pegajosidade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX III - MANEJO DO SOLO EM A MBIENTES DE TERRAS B A I XAS: A E X PER I ÊNCIA .. · 737

Essas peculiarid ades, embora favo ráveis pa ra o culti vo d o arroz irrigado, torna m- e
a ltamente restriti vas quando da utili zação desses solos com cu lturas de s queira.
Em face dos ma teri ais mui to d is tin to que deram origem a esse'i solos ( ed i~en tos
fl u v iolac us tres, lagu nares e mari nhos d as planícies costeiras e de s dim ntos aluv1ona re
0

o riund os de rochas sed imenta res, ígneas e metamórficas das d e pressõ s, pla naltos e serras)
e d os d ife rentes gra us ele hid romorfismo, os seus atri butos mor fo lógicos, fís icos, híd r icos
e minera lógicos são muito variados, 0 que determina d ife rente classes com dife rent s
limi tações e aptidões de uso.
o qu ad ro 2, apresentam-se os atribu tos fís ico-híd ri cos de ho rizontes de alguns so los
de terras baixas do Estado do Rio Grande do Sul.
Os Planossolos, do ponto de vis ta físico, se ca racteriza m po r ap resenta r textu ra que
va ri a d e franca a franca-argilosa nas ca madas superfi ciais, com alta concen tração de ilte
e uma textura argi losa nas camadas mais profundas (Quad ro 2), determ ina ndo a presença
d e um horizonte Bt praticamente impermeável.
Embora apresente boa quantidade de poros, a a lta relaçi'ío micro/ macroporos
d e termina baixos valores de condutividade hidrá ulica saturada (K,1 Q uadro 3) associado
com a presença de um horizonte im permeável em camadas m ais profu nda .
A presença de um espaço aéreo maior que 10 % nas camad a uperficiais, q uando
se cons idera a capacidade de campo como a água retida a uma tensão de 33 k Pa, nào
descaracteriza a necessidade de drenagem quando esses são cu ltivad os com cu ltu ras de
s equeiro.
Esses solos apresentam valores de água retida na capacidade de cam po em tomo d
30 %, que pode ser considerado razoável para a maioria das cu lturas de sequeiro. Entre tanto,
a quantidade de água disponível é baixa em razão da grande quantidade de a reia e ilte,
principalmente nas camadas superficiais, e de predom ínio de agregados pouco está e is
pela presença, normalmente, de baixos conteúdos de matéria orgànica.
A baixa quantidade de água dispon_ível, além de con tribuir para a ocorrência de défice
lúdrico no solo, determinará a ocorrência de turnos de rega mais frequentes na irrigação
de culturas de sequeiro.
Com relação à consistência, esses solos a presentam uma co n is tência ligeira a
medianamente plás tico, não apresentando dificuldades no preparo d o solo. Alguns de ses
solos podem apresentar concentrações de a elevadas, man tendo alta quantidade de
argila dispersa.
Co mo esse caráter solódico se encontra no horizonte B ou abaixo, pro avelmente
não constitui fa tor restritivo ao desenvolvimento das cultu ras. elas e d os Pla no olo
é normalmente utilizada com pas tagens, podendo ser cu ltivados com cul tu ras de verão
como m ilho, soja e sorgo nas áreas com boa drenagem e com arroz irrigado na áreas mais
pla nas. Requerem, entre tanto, cuidados especiais na sua conservação, pois são olo_ m u ito
su scetíveis à erosão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


,
Quadro 2. Atributos físico-hídricos dos principais solos de terras baixas do Estado do Rio Gra nde do Sul -..J
w
a,
Umidade
GranulomclTi.i Classe Porosidade Relaçilo Espaço Consistência OilSse de
Hor. Prof. Ds Volumét"rica
Textura IV Micro/Macro Aéreo consisténci~
Areia Silte Argila Micro Macro Total CC PMP LL LP JP

cm %
kg m 1 m·' - -m'm·1- - - rrr1 m·' - -kgkg - ' - -
dm.J
~
)> Planossolo Háplico Eutrófico solódico - Unidade de mapeamento Pelota
z Ap 0-20 43,3 46,9 9,8 1 1,45 0,472 0,026 0,498 18:1 0,346 0,265 0,152 0,257 0,215 0,042
m
1...,

o E 20-29 51,3 35,9 12,8 1 1,65 0,302 0,052 0,354 6:1 0,203 0,11 0,151 0,151 0,135 0,016

m l3 29-65 39,0 29,4 31,6 2 1,66 0,386 0,049 0,435 8:1 0,343 0,310 0,092 0,492 0,285 0,207 3

n Planossolo Há p lico Eu trófico típico - Unidade de mapeamento Vacacaf


o m
z Ap 0-26 25,5 43,3 31,2 2 1,50 0,382 0,088 0,470 4:1 0,335 0,292 0,135 0,342 0,271 0,071 2 ....z
l/l o
m A2 2642 27,8 37,4 34,8 2 1,66 0,355 0,069 0,424 5:1 0,315 0,269 0,109 0,297 0,222 0,075 2
;x:, 3:
<
)>
E 43-57 32,7 39,5 27,8 2 1,50 0,368 0,071 0,439 5:1 0,322 0,274 0,117 0,231 0,214 0,017 1 l>
:;ti
1.() B 57-92 24,8 30,6 44,6 3 1,55 0,382 0,063 0,445 6:1 0,324 0,247 0,121 0,599 0,404 0,195 3 í)
)>t :r
m
o Plintossolo Argilúvico Aluminico abrúptico - Unidade de mapeamento Virgínia UI
l>
o A 0-23 40,7 40,0 0,502 4:1 0,328 0,282 0,174 0,353 0,246 0,107 2 z
o 19,3 1 1,18 0,398 0,104
0,325 0,261 0,064 1
m
-f
AB 23-4S 38,8 33,4 27,8 1 1,32 0,331 0,111 0,442 3:1 0,272 0,244 0,170
(f)
l>
or Bl 48-78 24,8 21,4 53,8 3 1,33 0,419 0,081 0,500 5:1 0,371 0,329 0,129 0,465 0,338 0,127 2
!:'""
o B2 78-155 23,8 21,4 54,8 3 1,52 0,441 0,048 0,489 9:1 0,415 0,390 0,074 0,472 0,287 0,185 3
m Chcrnossolo Argilúvico Carbon:\tico típico - Unidade de mapeamento Formiga
o 0,282 0,157 0,332 0,27,4 0,058 1
)> Ap 0-17 38,0 43,0 19,0 1 1,40 0,397 0,075 0,472 5:1 0,315
):>, BA 17-34 31,2 41,7 27,1 2 1,67 0,341 0,031 0,372 11:1 0,311 0,279 0,061 0,336 0,25,3 0,083 2
G)
192:1 0,358 0,281 0,028 0,369 0,21,6 0,153 3
e B1 34-53 36,9 33,2 29,9 2 1,67 0,384 0,002 0,386
)> 0,309 0,030 0,556 0,25,6 0,300 3
B2 53-78 33,9 36,6 29,5 2 1,64 0,410 0,003 0,413 137:1 0,383
CC = capacidade de campo (33 kPa); PMP = ponto de murchamento permanente (1500 kPa); LL = limite de liquidez; LP = limite de plasticidade; e IP= indice de plas ticidade.
'' 1 = franco; 2 = franco-argiloso; 3 = argila; 2/ 1 = ligeiramente plástico; 2 = medianamente plástico; e 3 = altamente plástico.
Fonte: Costa (1993); Vasconcellos (1993).
XXII! - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAI XAS: A EXPERIÊNCIA · · · 739

Quadro 3. Condutivid ade hidráulica sa turada dos principai5 c;o loc; de terras bnixas do Est.1do do Rio
Grande cio Su l

Classe de
Classe de So lo Hor-izonte K 0 (mm h·1)
permeabilidade

Planossolo Há plico Eu trófico solódico - Unid ade Ap 2-l,7 moderada


de mapeame nto Pelotas B2 8,3 baixa
Ap 6,7 moderada
P lanossolo Há plico Euh·ófico típico - Unidade de
mapeamento Vacacaí B2 0,2 baixa

Plintossolo Argilúvico Alumínico a brúptico - Ap 172,0 rápida


Unidade de mapeamento Virgínia B2 ],2 baixa

Chernossolo Argilúvico Carbonático típico - Ap 35,7 moderad a


Unidade de mapeamento Formiga B2 o nula
Fonte: Paule tto el ai. (2004).

Os Plintossolos são geralmente solos mais profundos, com fertilidade natural baixa
e textura franca, nas camadas superficiais, e argilosa, nas mais profundas. A presença
de nódulos endurecidos pela ocorrência de ciclos de umedecimento e secagem em
profundidade, identificados como plinti ta, caracteriza a presença de um sistema de
drenagem deficien te.
Esses solos apresentam um espaço poroso adequado para a maioria das culturas
de sequeiro, entretanto, constituído por urna relação micro/ macroporos maior que 2:1,
o q ue au menta a energia de retenção de água no solo e, consequentemente, diminui a
disponibilidade às plantas.
Valores baixos de água disponível podem ser observados quando se diminui o valor da
umidade na capacidade de campo (CC) pelo da umidade no ponto de murcha permanente
(PMP), que podem ser corroborados pelo relativamente alto espaço aéreo (Quadro 2) e pela
alta permeabilidade (Quadro 3), principalmente na camada superficial.
A consistência desses solos considerada medianamente plástica na camada superficial,
com índices de plasticidade mais elevados, pode representar maiores restrições ao preparo
do solo, quando comparado com a classe dos Planossolos.
A maior ocupação dos Plintossolos é com campo nativo de cobertura rala e de baixa
qualidade, podendo ser utilizados com reflorestamento com eucalipto ou com culturas de
sequeiro, desde que se tomem providências no sentido de corrigir a fertilidade com o uso
de corretivos e fertilizantes, aumentar o conteúdo de matéria orgâ nica por meio do uso de
p lantas recuperadoras e prevenir a deficiência de água em alguns períodos.
Em razão da espessura do horizonte A, da granulometria com maior quantidade de
areia e silte e da alta permeabilidade, não é recomendado o cultivo do arroz irrigado, isto
que requerem elevadas quantidades de água para sua saturação.
A classe dos Chemossolos se caracteriza por apresentar normalmente ,tlta fertilidade
natu ral, de coloração escura com argilas de atividade alta, bem como a lta saturação por
bases. Apresenta grande quantidade de microporos (Quadro 2) e, consequentemente, bai. a
disponibilidade de água e com permeabilidade que varia de moderada a nula (Quadr 3),

M ANEJO E CONSE RVAÇÃ O DO SO LO E DA ÁGUA


740
ENIO MARCHESAN ET AL.

ne e i~ando de um i tema de drenagem mu ito eficiente pt1ra que possa ser trabalhada
convenientem ente com cultura de sequeiro.
_ Por causa da presença de argilas de atividade alta associadas a argi las expansivas,
es ª ela ~e de solos pode apresentas problemas de plasticidade e pegajosidade quando
fflo~h~do , podendo ser degradados por tráfego excessivo de máquinas agrícolas. A
aptidao deu o dessa classe é com a cultura do arroz irrigado em rotação com pastagens,
apresentando alta produti\ idade.

Atributos quín1icos dos solos de terras baixas


. Os solos de terras baixas do RS cultivados com arroz apresentam, em sua maioria,
b~ 1: ,osteores de matéria orgânica. No levantamento realizado por Vedelago et al. (2012),
7::> ~º das amostras de solos de terras baixas avaliadas exibirnm teores de matéria orgânica
abaixo de 25 g kg-1 (faixas muito baixa e baixa).
Baixos teores de matéria orgânica pressupõem suprimento deficiente de N e S e,
nmitas \ ezes, estão relacionados a solos com baixas CTC e capacidade de armazenamento
de água, principalmente se estiverem associados com baixos teores de argila. A limitação
de produtividade por deficiência de N e S pode ocorrer tanto para o arroz irrigado como
para culturas de sequeiro utilizadas em rotação.
No Rio Grande do Sul, a maioria dos solos de terras baixas é ácida quando não estão
alagados, com pH em água entre 4,5 e 5,4 (Vedelago et ai., 2012). Nessa faixa de pH seria
recomendada a prática da calagem, proporcionando um ambiente mais adequado ao
desenvolvimento das plantas.
Entretanto, esse cenário de solos ácidos não é tão restritivo para o cultivo de
arroz irrigado por alagamento, tendo em vista que ocorrem várias reações envolvendo
transferência de elétrons desencadeadas pela ausência de O, no solo (veja mais detalhes no
item Transformações químicas em razão do alagamento). Assim, mesmo em solos ácidos,
com o alagamento, as reações de redução de substâncias inorgânicas consomem H+, e o
pH do solo aumenta naturalmente, tendendo a se estabilizar entre 6 e 7, após 10 a 20 d de
alagamento, fenómeno conhecido por "autocalagem".
Dessa forma, a calagem do solo pode até ser descartada em determinados sistemas
de cultivo do arroz irrigado (Sosbai, 2016). Essa condição de maior pH causada pelo
alagamento somente perdura enquanto o solo estiver saturado com água, o que não é um
ambiente adequado para o cultivo de outras espécies. Com base nessas considerações,
especial atenção deve ser dada à avaliação da acidez em solos de terras baixas destinados
ao cultivo de espécies de sequeiro em rotação com arroz irrigado e, se necessária, a prática
da calagem para o bom desenvolvimento da cultura (Thomas et ai., 2014).
Os solos de terras baixas são caracterizados por apresentarem, em s ua maior parte,
baixa saturação por bases que estão relacionados a teores normalmente baixos de Ca e
Mg trocáveis, que são os principais cátions de caráter básico presentes no solo. Alguns
solos, como Chernossolos, Vertissolos, Planossolos com características vérticas e Neossolos
Regolíticos, principalmente aqueles locaJizados nas regiões da Campanha e Fronteira Oeste
do Rio Grande do Sul, por possuírem maiores teores de argila e, ou, argilas de atividade
alta (argi las de alta capacidade de troca de cátions), podem apresentar m aiores valores de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAIXAS: A E X PERIÊNCIA ·· · ?4 l

s nlura ção por bases, não se cons tituindo em limi tação pa ra o c ulti vo desc;es solos co m .1 rroz
ou co m c ulturas d e sequeiro.
O s teores de P nos solos de te rras bélixas no rmalmente são baixoc;. Ape5J r di so, a
recomendação de ad u bélçào fosfatada parJ o a rroz irrigad o por inundação é muito abaixo
daquelas utilizadas para cu lturas de sequeiro, pois o alaga m ento ci o solo favo rece a
disponibilidade de P às pla ntas, como será discutido mais adian le. Para J cultu ras de
sequ e iro cul tivadas em solos de terras baixas, os teores de P baixos se constit ue m e m fa to r
limita nte ao desenvolvimento das plantas e à produti vidade, o qu e se rá mai bem discutido
na seq uência deste capítu lo, no subi tem AdequJção q uími ca do so lo parJ o c ultivo de Jr ro z
irrigado e cul turas não irrigadas em rotação.
A quantidade de K disponíve l em solos de terras bai xa do RS apresenta-se na
fa ixas média e a lta em 65 % das amoslTas de solos ava liad os po r Vede lago et ai. (2012).
As porcentagens variaram e m razão da região do es tado a m ostrada, destacando-se a
ca mpan ha co m os maiores valores (78 % das amostras nas ela ses média e alta ), por Cé'IU a
da presença de solos argilosos e com argilas do tipo 2:1 (es mectitas).
Na região da planície costeira externa encontram-se as maio res porcentagens de solo
com baixo e muito baixo teores de K (50 % das amostras de solos avaliadas), e m decorrência
do predominio de solos com baixos teores de a rgi la.
Em geral, as limitações em atributos químicos do solo em terras baixas são m enos
impacta ntes para o cultivo de arroz irrigado, em razão das a lterações que ocorrem apó
o alagamento, mas podem condicionar o potencial produtivo das culturas não irrigadas
cultivadas em s ucessão/ rotação.

TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS EM RAZÃO DO


ALAGAMENTO

Os solos de terras baixas, quando sa turados com água, apresentam um comportamento


bastante distinto e peculiar em relação aos solos não sa turados. A literatura internacional e
nacional é farta em documentos que relatam as modificações em atributos químico , fí ico
e biológicos relacionados aos ambien tes anaeróbicos (Ponnamperuma, 1972; Yo hida,
1981; Savant e De Datta, 1982; Watanabe, 1984; Souza et ai., 2000; ahl e ou a, 200-l; ilva
e t ai., 2008). Entretanto, as relações enh·e o potencial de uso e a limitaçõe da exploração
agrícola em solos de terras baixas passam pelo entendimento do proces os e fenàmenos
que ocorrem nesses solos.
Em sín tese, pode-se destacar que, na presença de O:, o microrganismos present no
solo evidencia m me tabolismo aeróbico, o u seja, utilizam a energia liberada da oxidação d o
Cº a C02, usando o 0 2 como receptor final d e e létrons, que é reduzido à H 20.
o caso dos solos de terras baixas, q uando o meio resh·inge a disponibilidade de O ,,
como ocorre na turalmen te nesses solos ou mesmo quando é realizado o alagamento para ô
c ultivo do arroz irrigado, alg w1s grupos de organismos são capaze de ob ter energia sem
utili zar o O :?. como receptor d e elétrons.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


742
ENIO MARCHESAN ET AL.

e e a o, bact ria anaer bica podem fazer uso de moléculas inorgânicas oxidadas
e tent no olo, como NO3·, óxidos mangânicos (Mn 3• ), óxidos férricos (Fe3• ) e SO/,
coino aceptor s de el tron alternativo ao 0 no processo de respiração.
2

A partir de e compostos são gerados, respectivamente, óxidos de nitrogênio (N 2O


e O) e, ou, N 2, compostos manganosos (Mn• 2), compostos ferrosos (Fe•2) e sulfetos
(compostos contendo s-2, principalmente H S - gás sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio - e
2
com o ferro que é o FeS - sulfeto de ferro) .
. Um tipo de metabolismo importante em ambientes anaeróbicos é a fermentação,
reah~da por algumas bactérias e leveduras. Esse tipo de metabolismo faz uso de compostos
orgãrncos do meio ou subprodutos das rotas metabólicas como receptores de elétrons no
processo de o -irredução, gerando CH4 (metano).
Essas reações já exemplificam a mudança de forma que os elementos podem sofrer
como resultado do ambiente alagado, esquematicamente representados na figura 3. Todas
as alterações têm reflexo na nutrição da cultura do arroz, determinando também o sistema
de recomendação de calagem e adubação para a cultura.
100
90 ~,
1.
o
70 r· 1.
. 1
60 r.
1
50
% 40 '
I
\
30 - .······•. •-...
l
20-
10- .
' .
' ,/
··········· ....
o - f..·- ·······~···-··- ···- ·--···-··~··:·_ . - . -
-

o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Alagamento, d

Figura 3. Esquema representativo da emissão de N 2O e ~H4 e da evoluç~o das caracterfs.ticas


eletroquímicas em ambiente alagado (obs.: escala r~lahva ao valor máximo de cada variável
durante O período de alagamento). Cs = carbono soluvel.
Fonte: Adaptado d e Copetti (2014) e Drescher et ai. (2014)

MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

,...
XXIII - MAN EJO DO SOLO EM AM BIENTES DE T ERRAS BAI XAS: A E XPERI ÊNC I A ·.. 74 3

MANEJO DO SOLO NAS ÁREAS DE TERRAS BAIXAS


PARA CULTIVO DE ARROZ IRRI GADO

Manejo pós-colheita e preparo antecipado do solo


A é poca de semeadura do a rroz irri gado é fund a menta l pa ra o ec;tilbelecimento de
a lto potencial de rendimento de grãos e a d renagem ela á rea é a operaçJo-chJv1c parí.1 qu ..1
sem ead ura possa ocorrer na melhor época preconizada pela pesquisa .
A drenagem dessas áreas é naturalmente deficiente c m rélzJo da localizc1çào geogrMicc1
e topografia plana, das condições de clima e de atributos físicos dos solos. A sim, o
adeq uado manejo pós-colhe ita, que favoreça o preparo a ntecipado da área, é fator decisivo
para se ter o controle da época de semeadura.
Nesse contexto, duas principais s ituações podem ocorrer:
a) Colheita realizada em condições de umidade do solo onde não houve formação
de rastros proporcionados pelas operações de colheita, não ha vendo nece sidade de
m obilização do solo, ou apenas de correções pontuais em determinad os loca is da lavoura,
corno o restabelecimento de taipas.
Este é um manejo com preceitos mais conservacionistas com po tencial de aumento de
adoção, desde que seja aco mpanhado com in formações de pesquisa.
b) Caso, no entanto, a colheita seja feita com solo com umidade elevada, com lâmina de
água, ou em períodos de chuva, há a necessidade de preparo da área visando reste belecer
o nivela mento da superfície do terreno.
Nessa condição, onde há necessidade de recuperação do ni velamento da superfície
do terreno, alguns equipamentos podem ser utilizados. Um dos mais utilizados no RS é o
chamado " rolo-faca". Para que tenha eficiência na operação, há neces idade da pre ença
de lâ mina de água na área, o que pode ser feito imediatamente após a operação de colheita.
Além disso, a passagem do "rolo-faca" na área proporciona a semi-incorporação da
fítomassa residual da cu ltura do arroz (resteva), apressando s ua decompo ição, o q ue
facilita operações posteriores de nivelamento da superfície da área.
Nessa condição de man ejo do solo, deve-se evitar que a água contendo sólido em
su spensão e nutrientes seja removida da área.
Um aspec to importante é o momento de reali zar essas operações, que podem er feit~1s
ao fina l do verão e no outono, logo após a col heita do arroz. Isso é bastante facilitado e,
a lgumas vezes, só é possível de fazer em lavouras q ue colhem cedo.
Assim, a semeadura realizada cedo, ou dentro da é poca preferencia l, significa que
vai colher cedo, viabilizando o manejo preconizado pa ra a Area para a -afra eguinte. É 0
cha mado círculo virtuoso, ou seja, semeia cedo, colhe cedo e realiza o preparo antecipa.do
da área na melhor época.
No caso de semear tarde, as dificuldades serão muito maio res para efetuar o manejo
da área an tes do período de inverno em razão da elevad a umidade do olo.
Em áreas onde não está sendo cultivado arroz, as operações de preparo ou adequa -ão
da á rea são faci litadas, pois podem ser feitas ainda no início do verão, ocasião que a mão de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


744
ENIO MARCHESAN ET Al ,

bra não s t n1a1s


· sendo utilizada tão intensamente nas outras áreas com Javourn d e arroz
irrigado m andament , o me mo ocorrendo com a demanda de máquinas.

Adequação da área para cultivo de arroz irrigado


A drenagem deficiente das áreas de terras baixas proporciona que os solos fiquem
atu~ados ou com lâmina de água, especialmente em períodos de maior precipitação
pluvial, restringindo operações mecanizadas para preparo da área a curtos períodos,
quando comparado com solos com maior capacidade de drenagem, como em solos de
terras altas. Ressalta-se que o preparo do local também pode ser feito em espaço com
presença de lâmina de água, especialmente em áreas sistematizadas e de menor tamanho.
No entanto, uma vez preparado o solo e instalada a cultura do arroz, essas características
de camada subsuperficial com baixa condutividade hidráulica proporcionam menor uso
de água para manter a lâmina de água na lavoura de arroz e os benefícios advindos da
irrigação por inundação.
Para que se facilite a execução de todas as operações envolvidas no processo de
produção de arroz, é necessário organizar o uso da área. Esse processo é conhecido como
sistematização da área, que inclui o estabelecimento de canais de irrigação que permitam
irrigação do local com múltiplas entradas ao espaço a ser irrigado; canais principais de
drenagem que da mesma forma retirem rapidamente a água para fora da lavoura; e
njvelamento da superfície da área que, complementado por drenos da superfície conectados
aos drenas principrus, completam a drenagem da superfície da área e estradas internas
para agilizar o transporte de insumos e a produção da lavoura. O entaipamento também
faz parte do processo de irrigação em locrus que apresentam declividade.
Assim, entende-se que a sistematização da área implica num conjunto de práticas
e não apenas o nivelamento da superfície da área e envolve, anteriormente, a análise de
diversos fatores como o tipo de solo, a topografia, a água e irrigação, em razão de cada
região e características de cada propriedade. Mais detalhes de como pode ser feito o
planejamento da organização da área para que a irrigação e a drenagem sejam eficientes
podem ser obtidos em Parfitt et al. (2004).

Sistematização do terreno com nivelamento da superfície do solo


Posterior à sistematização da área, o nivelamento da superfície do terreno ocorre pela
transferência d.e solo das partes mais elevadas para as mais baixas do terreno. Assim, têm-se
as chamadas áreas de corte, que é a parte do terreno onde é retirado o solo e as áreas de aterro,
áreas mrus baixas do terreno que receberão solo na proposta de nivelar a superficie da área.
Nesse processo, ocorre uma desorganização da área em razão das diferenças de
qualidade e da fertilidade do solo entre as áreas de corte, normalmente mais pobres, e as
áreas de aterro mais ricas, mas muitas vezes desbalanceadas nutricionalmente (Marchezan
et al., 2001; Parfitt et al., 2013).
o reflexo em atributos do solo será maior se a camada superficial do solo não for
separada e depois reposta como última camada após o nivelamento da superfície do
terreno. Esse procedimento onera o custo e por isso fica difícil de viabilizar sua realização.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

- ..........
XXIII - MANEJO DO SOLO EM AM BIENTES DE T ERRAS BAI XAS: A EXPERIÊNCIA · .. 745

No quadro 4, observam-se alterações nos níveis de fe rt ilidad Ja á r a que P d m


oco rre r, se a operação de nivelél men to cl J supe rfície do te rreno n.:io ío r c rite ri osa . Pel
resultJdos, co nsta ta-se que o processo d nivelam nto da s upe rfíci do olo d ev' se r
a nteced ido de a ná lise d e perfil da á rcél a ser traba lhada para evi ta r q ue s ja provocadcJ umcJ
desunifor mi zação da á rea, principa lme nte m termoc; d e nutrientes dis pon ív íc;.
O monitoramento da á rea com a mostragens da fertilidade do solo, es pecia lm nte _na
á reas d e corte, a uxilia na identificação de proble mas e no estab lecim nto de a lternal1víls
de correção como o uso de ad ubos orgânicos, conforme relatado po r Parfitt e t ai. (201 ).

Quadro 4. AL,-ibutos de um solo de terras ba ixas an tes e após J remoção do solo com aproximadc1mente
35 c m d e profundidade para njvela mento da s upe rfície da á rea, c m 1996/ 97, em solo de terras
baixas. Sa n ta Maria, RS, 2000
Componentes Antes da remoção do solo Apó a remoção do so lo

Argila( %) 25,5 19,0

pH (~O) 4,65 -l,75

pH (SMP) 5,70 5,40

P (m g dm·3) -l,20 2,00


K (m g dm-J) 38,00 21 ,00
MO (g kg·1) 21,5 9,5
AP• (cm o l, dm·3) 0,95 1,70
Ca 2 • (cmol, dm- 3) 4,35 1,05
Mg2• (cmol, dm·3) 1,25 0,30
CTC (cmolcd m·3) 8,10 -l,60
H+Al (cm olcdm' ) 2,35 3,20
Sa tu ração por bases(%) 70,40 30,10
Saturação por alumínio(%) 11,70 35,70
3 0,90 0,15
Zn (m g dm· )
C u (mgdm·3 ) 1,15 0,55
B (mgdm-3) 0,30 0,30
3
M n (mgd m· )

Fonte: Marchcz...111 et ;:il. (200 1).


26,00
-Ἴ

Preparo das áreas para cultivo de arroz irrigado


O a r roz irrigado te m a particu laridade de poder er implantado e m diferentes i tema
d e culti vo. Isso é importante em termos de s uste ntabilidad e porque a al te rnância do i tema
d e impla ntação é uma prática que auxilia na manutenção de ni\·eis de convi ência ou n;i
redução de custos de controle de alguns fa tores limitante à produti idade, como plantas
d a ninhas, pragas e d oenças.
O s istemas se diferenciam principalmente quanto ao prepdro do oi , à adubação,
à forma d e se meadura e ao manejo da água na fase inicial do culti o. Após e --a etapa,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


746
ENIO MARCHESAN ET AL.

man in lhante. fat r básicos da maioria dos manejas são a semeadura em solo
e o m pr ença de lâmina de água.
a emeadura d arroz ~m alo seco, 0 principal manejo do solo utilizado no Rio
Grande do ul o cultivo mínimo, com cerca de 60 %, 0 que inclui prepru:o antecipado e
em adura direta, eguido do manejo convencional com aproximadamente 30 % (SOSBAI,
20l~). Já o i tema pré-germ.inado, que é realizado com sementes pré-germinadas sobre
lâmina de água, repre enta cerca de 10 % da área. Em Santa Catarina, predomina o sistema
pr -g rminado. Observa-se aumento do uso de semeadura em cultivo mínimo de arroz
irrigado no Rio Grande do Sul e mais recentemente em Santa Catarina também. Os
• • • f I

pnnciprus manejas estão descritos em Sosbai (2016) e são aqui sumarizados.

Preparo convencional do solo


O preparo do solo é realizado por equipamentos de acordo com o necessário para
corrigir as irregularidades da área, eliminar plantas daninhas e, ou, restevas de culturas
anteriores, culminando com o aplainamento da superfície do solo. Os equipamentos
utilizados dependem do objetivo que se quer ao fazer intervenções na área. Podem
ser utilizadas grades leves ou pesadas conforme a condição do terreno a preparar;
e, no acabamento, pode ser usada grade de dentes, concluindo o trabalho com plainas
n.i eladoras, objetivando nivelar a superfície do terreno para o estabelecimento de lâmina
de água na lavoura.
No preparo inicial do solo, pode ser necessário mobilizá-lo com equipamentos que
realizem operações mais profundas e, posteriormente, um trabalho mais superficial,
visando economia de energia e de tempo de preparo e adequação da área. Um ponto
importante é a umidade do solo no momento das operações mecan.izadas; se estiver com
umidade elevada, pode ocorrer a compactação do solo; e se estiver com umidade baixa,
podem ser necessárias mais operações para o preparo da área. A semeadura do arroz é
feita em área recém-preparada, sem presença de plantas de cobertura.

Cultivo mínimo do solo


Nesse manejo, o arroz é semeado em área com presença de biomassa residual
de plantas de cobertura, que se desenvolveram após as operações de preparo da área,
realizadas desde o verão anterior até a primavera, e que foram dessecadas previamente
à semeadura. A presença de cobertura vegetal, oriunda de vegetação espontânea da área
ou mesmo de plantas forrageiras implantadas após o preparo da área no final do verão ou
outono, confere menor mobilização do solo na linha de semeadura, auxiliando no controle
de plantas infestantes.
Além da cobertura vegetal, um aspecto que também distingue esse manejo do
convencional é a antecedência em que são realizadas as operações de preparo e por causa
disso a possibilidade de menor número de operações de preparo da área, o que nem sempre
pode ser conseguido.
Por essa razão, pode haver questionamentos a respeito do correto uso do termo
utilizado para definir esse manejo, mas isso não interfere na sua contribuição para a
sustentabilidade da produção de arroz irrigado. Os equipamentos utilizados para O preparo
da área são semelhantes aos do cultivo convencional. Uma das vantagens em relação ao

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMB I ENTES DE TERRAS BAIXAS: A EXPERIÊNClA ... 747

méinejo convencional é gue as operaçôes ele preparo ou adcguação da á rea podem e_r _fei t.1s
ao lo ngo do ano ou na entressafra, reduzindo cus toe, e proporcionando maio r prob.:ibil idade
de rea lizar a semead ura na épocél preferencial, es pecialmente cm á reas mc1 iores.

Semeadura direta

A semead ura di reta de arroz irrigado é ainda pouco utili zzida no Rio G ra nd e do Sul,
pois a colheita, na mélioria das vezes, é reél lizada com solo úmido o u com presença de
lâ mjna de água, o q ue promove rastros e a necessidade de corrigi r a supe rfície do terre no.
Em lavo uras de arroz onde é possível colher com grau de umidade do solo a po nto de nJo
necessitar reorga ni zar a superfície de le, pode-se efetu a r nova semeadura so bre a resteva
d o ar roz, com presença de biomassa resid ual de planta(s) de co bertura, como o azevém, o u
m esmo em áreas com vegetação na ti va.
Em áreas de cultivo de soja, o gue te m sido observado é a semeadura di reta do arroL
sem necessidade de preparo adicional pélra implantação, exceto a confecção dêls ta ipac,.
Essas duas propostas, tanto para áreas de arroz como para as d e soja, se constituem num
ava nço tecnológico de manejo, pois contem p lam princípios da semeadura dire ta u tilizad os
nos cul tivos não irrigados e maguinmia semelhan te para semeadura dos o utros ma nejos
em solo seco. Busca-se pela pesquisa viélbilizar a u tilização de outras espécies pa ra planta
d e cobertura como a aveia e de leguminosas, dependendo da á rea o u do m anejo .:idotado.

Semeadura do arroz pré-germinado

A semeadura do arroz pré-germinado no cul tivo irrigado consiste em util izar e me ntes
pré-germinad as, que são lançadas em área prev iamente inundada com lâmina de água de
ce rca d e 5 cm. O diferencial desse sistema em relação aos sistemas de cultivo em olo eco
é que a semeadura é feita em solo cuja lâ mina de água fo i estabelecida aproximada mente
d e 15 a 20 d antes da semeadura. O preparo da área pode ser feito e m olo seco e depoi
comple tad o o processo de preparo com p resença de lâmina de água .
É um sistema de cultivo com alto controle sobre a época de semeadura, poi pouco
depende d as condições climá ticas, a lém do con h·ole de algumas planta infe tantes,
especialmente o arroz vermelho, por causa da presença de lâmina de água de de o início
d o ciclo d o a rroz. Uma das exigências é de q ue a área seja sistematizada e nivelada em sua
s upe rfície, sendo por isso mais comum em áreas de pequena propriedade. O procedimento
d e preparo ado tado ru ferencia-se e por isso será descrito separadamente, de acordo com
Sosba i (2016).
Nas cond ições de cultivo do s istema p ré-germ inado de Santa Catarina, Estado com
gra nde experiência nesse sistema de cultivo, as operações de preparo do solo normalmente
com preendem três etapas: a) Lncorporação da resteva de arroz e de plantas infes tant .
Essa operação é feita preferencialmente em solo seco para evitar a proliferação de plantc1s
infesta ntes aq uáticas, especialmente de gra ma-boiadeira, utilizando en..xada rotativa, grade
o u arado. Em áreas infes tadas com arroz-vermelho, deve-se evitar a aração ou e-Tadagem
profu nda do solo após a colheita, considerando q ue o enterrio das semente ~i.e arroz-
vermelho no solo aumenta a sua longevidade. Sementes de arroz-vermelho m,mtida:=;
p róximas da su perfíc ie do solo germinarão e perderão a viabilidade mais rapidarn~nte e
estarão mais sujeitas à predação por pássaros, insetos e microorganis mos d o que aquel.:is

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


------
748
ENIO MARCHESAN ET AL.

entenada : b) F nna ão da lama. objetivo é preparar O olo para sei: nivelado e alisado,
. nd,, r~ahz:da em lo alagado, c m O auxílio de grade, enxada rotativa ou roda ~e. ferro
tipo gaiola ; e ) Reni elamento e alisamento do solo. Após a formação da lama, utilizam-
se pranchões de madeira para tomar a superfície lisa e nivelada, própria para receber a
emente pré-germinada.
Em algumas regiões do Rio Grande do Sul, busca-se um sistema próprio de preparo
do olo, que compreende basicam.e nte as seguintes operações: a) Uma ou duas arações
e 1: 1 solo e~o; b) Uma ou duas gradagens para destorroar o solo, tendo-se o cuidado de
nao pul enzá-lo para que pequenos torrões impeçam o arraste de sementes pelo vento; c)
Aplainamento e entaipamento da área; d) Inw1dação da área com uma lâmina de água de,
no máximo, 10 cm, mantendo-a por, no mínimo, 15 d antes da semeadura para diminuir
a infestação de arroz-vermelho; e) Alisamento com pranchões de madeira; e f) Semeadura
das sementes pré-germinadas. Assim, esse sistema praticamente exige a regularização da
superfície do solo em nível, que proporciona altura uniforme da lâmina e estruturação que
permita o manejo da água quase que individualmente por quadro.

Plantio de arroz por transplante de mudas


O preparo do solo e o manejo da irrigação são semelhantes aos recomendados para o
sistema pré-germirtado. O transplante é feito em solo saturado quando as mudas atingem
10 a 12 cm de estatura, diferenciando do sistema pré-germinado onde a semeadura de
sementes pré-germirtadas é feita sob lâmirta de água, e o alagamento permanente da área
deve ser evitado por uns dois a três dias até a fixação das mudas ao solo.
É um sistema de utilização restrito apenas a pequenas áreas de produção de sementes
de alta qualidade, pois, além das dificuldades relacionadas ao processo de produção de
mudas, a grande limitação é o transplante que deve ser feito de forma mecanizada, que no
Rio Grande do Sul não conseguiu se consolidar.
Pela descrição apresentada nos diferentes sistemas para o cultivo de arroz irrigado,
se observa o grande número de operações que são realizadas para o preparo do solo para
implantar a lavoura. A irrigação por inundação exige adequado nivelamento da área para
que a lâmina de água seja o mais uniforme possível, de cerca de 10 cm.
A construção de taipas, que são feitas em linhas com pontos no mesmo nível, e que
mantém desnível entre essas, com o objetivo de estabelecer a lâmina de água em toda a
área, também é outra operação onerosa.
Por fim, o sistema de drenagem da área deve ser muito bem planejado e rigoroso, pois
no ambiente de terras baixas o número de dias trabalhados com maquinaria é menor do
que em terras altas.
Entre as dificuldades atuais a resolver estão a busca de alternativas que proporcionem
menor mobilização do solo e manejos mais conservacionistas de solo e água, o que se
constitui em necessidade para conferir maior sustentabilidade ao processo de produção
de arroz irrigado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

_ .........
XXIII - M A NEJO DO S OLO EM AM BI ENTES DE T ERRAS B AI XAS : A EXPERI ÊNCI A ·• • 749

RELAÇÕES AMBIENTAIS DAS TERRAS B JXAS COM


RECURSOS HÍDRICOS E ATMOSFERA

Quanto ao uso de água


A água é um insumo primordial para o culti vo do arroz irrigado, tanto no i tema pr -
ge rminado como em sistemas que contemplam a semeadu ra em solo seco. Sua importân ci,
es tá relacionada ao seu uso para o preparo do solo no sistem a pré-germinado, ao s uprimento
da necessidade de água da planta de arroz, à s upressão de plantas dan inhas, doenças e de
alguns insetos-praga e ao aumento da disponi bilidade de alguns nutrientes (So bai, 2016).
O volume de água usado na irrigação por alaga mento do arroz depende,
principalmente, da textura do solo, declividade do terreno, tem peratura e precipi tação,
num período médio de irrigação de 80 a 100 d (Sosbai, 2016). Atualmente, es tima-se um
volume médio de 8 000 a 10 000 m3 ha-1 de água durante o ciclo da cultura, exi ti.ndo relato
de uso de água em maiores e menores quantidades. Porém, em áreas s istematizad e com
adequado manejo de irrigação, é possível redu zir o volume de ág ua usado sem diminuir o
rendimento de grãos.
Em pesquisa realizada durante cinco safras consecutivas comparando o manejos
convencional, semeadura direta e pré-germinado com irrigação por alagamento permanente,
foi verificado, desconsiderando as perdas de água de condução e d istribu ição, que o
volume de água (água captada de mananciais+ água de precipitação pluvial) u ado é de,
aproximadamente, 8 000 rn3 ha-1 e não difere entre os manejos (Marcolin e Macedo, 2001).
Caso a água para o preparo do solo no sistema de cultivo pré-germinado fo se
oriunda de precipitação pluvial e armazenada na área no período de entres afra, ha eria
uma redução de 20 % no volume de água em relação aos demais manejos.
Machado et ai. (2002), quantificando o volume de água usado nos manejos
convencional, cultivo mínimo, pré-germinado, mix de pré-germinado e transplante de
mudas, não encontraram diferenças entre os manejes. Esses autores u tilizaram volume de,
aproximadamente, 5 840 m3 ha··1 (média de duas safras), sem cons iderar a água pro eniente
das precipitações pluviais.
Eberhardt (1993), em pesquisa realizada comparando os manejes convencional e pré-
germinado com irrigação permanente em SC, concluiu que hou e um acréscimo de 22
no uso de água durante o ciclo do arroz no manejo convencional, mas não d iferenciando
no uso médio total entre os dois manejos, em razão de haver um uso de água entre 1 000
e 2 000 m 3 ha-1 para o preparo do solo no sistema pré-germinado, totalizando um volume
médio por hectare de 8 619 m3 com vazão de 0,87 L s·1, sem considerar a perda de água no
canais adutores. O manejo intermitente da irrigação, quando comparado com a irrigação
contínua (A vila et ai., 2015), representou redução de 22 e 76 % do olume de água utilizado
para irrigação, em dois anos de experimentos, sem interfe rir no rendimento de grãos de
arroz.
A busca por alternativas de redução do uso de água para irrigação do arroz é
preocupação dos participantes da cadeia de produção de arroz na tentati a de aumentar
a eficiê ncia de seu uso, pois essa é também uma demanda da socied ade para os diferente
segmentos. Nesse sentido, enquadra-se a tecnologia de irrigação po r a persão com u O e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


750
ENIO MARCHESAN ET AL.

pi, ô~ t~tTa\. Mai recentemente, inh·oduziu-se O u O de politubos ou mang uei ras ~lásticas
t~ara _1~nga ão. ão _tecnol gias que preci am ter um grande esforço d e pesquisa para
nhficar seu m,:me10, sua r spostas e seus impactos.

Quanto à qualidade da água


A lavoura de arroz irrigado, como qualquer ouh·a atividade agrícola, causa impacto
no ambiente. O culti\ o, onde a água é O principal insumo, geralmente é realizado próximo
a mana nciai hídrico , fato que proporciona maior risco de contaminação da água pelos
agroquímicos. Esses riscos são maiores nas lavouras de arroz irrigado em razão das
características do sistema de cultivo, uma vez que a área permanece inundada durante
grande parte do ciclo da cultura e, por causa disso, pelo menos parte dos produtos aplicados
tem contato com a água da lavoura. Nesse sentido, várias entidades têm desenvolvido
trabalhos visando quantificar os impactos da lavoura de arroz no ambiente e obter
informações que, repassadas aos agricultores, permitirão reduzir os custos ambientais sem
prejuizo para a produção e qualidade do alimento.
Entre os impactos ambientais negativos da cultura do arroz irrigado no ambiente,
podem ser destacadas as alterações nas características físico-químicas e a ocorrência de
resíduos de agroquírnicos nas águas superficiais. Estudos têm sido desenvolvidos visando
avaliar a possível alteração nas características da água de irrigação em razão da sua utilização
nas lavouras de arroz irrigado. Deschamps et al. (2003) avaliaram o comportamento de
14 características físico-químicos em mais de 1 600 amostras procedentes de sete bacias
hidrográficas de Santa Catarina, onde se cultiva arroz no sistema pré-germinado, e
verificaram que os efluentes das lavouras podem contribuir mais diretamente para aumento
da turbidez, especialmente na época de preparo do solo e implantação das lavouras.
Uma avaliação mais detalhada na bacia do Rio Camboriú, durante três safras,
evidenciou que a interferência da cultura do arroz não é superior ao somatório das demais
atividades que interferem na qualidade das águas (Deschamps et al., 2001).
Estudos desenvolvidos na rnicrobacia do Rio Putanga, com elevado percentual de
área cultivada com arroz irrigado, têm evidenciado que a cultura do arroz irrigado não
está comprometendo os recursos hídricos nessa microbacia, sob o ponto de vista das
características físico-químicas (Deschamps e Noldin, 2007).
Em acompanhamento mais recente da qualidade da água em regiões arrozeiras de
SC, Deschamps et al. (2013) relataram que o quadro pouco mudou ao longo do tempo,
atribuindo isso à presença de agrotóxicos nas cursos de água e ao manejo inadequado das
lavouras de arroz.
Estudos no RS relatam que o manejo inadequado da água de irrigação na fase de
implantação do sistema pré-germinado c?ntribui par~ as perdas de solo e consequente
aumento na turbidez, bem como de nutnentes, especialmente de N e K (Macedo et al.,
2001; Marchezan et al., 2002; Macedo et al., 2007a). Os autores concluíram que, no sistema
pré-germinado, a lâmina de água deve ser mantida sem drenagem após o preparo do
solo, pois a concentração elevada de macronutrientes e sólidos em suspensão pode causar
comprometimento na qualidade ambiental.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII! - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAIXAS: A EXPERIÊNCIA ••· ?Sl

No entanto, em estudos rea lizados na bacia hidrogr fica d Rio Vacacaí-Mirirn,


durante a sa fra 2001/02, foi observado que a qualidade da água em termos de nutri ntes
não foi alterada pela contribuição da lavoura de arroz ao longo dela (Macedo et 1., 2001).
Ainda nesse sentido, estudos dos mesmos autores, comparando a água captada e água
devolvida ao Rio Gravataí, após irrigação do arroz na Es tação Exp rimental de Arroz,
do 1RGA, evidenciaram que a lavoura pode funcionar como um fi ltro, poi pa rte dos
nutrientes dissolvidos na água de irrigação são retidos no solo e aproveitados pelo arroz
(Macedo et ai., 2001).
Trabalhos sobre monitoramento de resíduos de pesticidas em água em áreas de arroz
irrigado são relativamente recentes no Brasil. Os resu ltados dos trabalhos de monitoramento
da qualidade de água desenvolvidos em SC evidenciaram a presença de resíduos de alguns
agrotóxicos utilizados nas lavouras. Dos herbicidas monitorados, os detectado com major
frequência foram quinclorac, 2,4-0 e oxadiazon. Outros agrotóxicos detectados incluíram
pirazosulfuron, molinate, carbofuran e seus metabólitos. As concentrações de quinclorac
nas sete bacias hidrográficas monitoradas em SC variaram de 1,13 a 24,7 µg L·1 (Deschamp
et al., 2003).
Trabalhos de monitoramento sobre a ocorrência de resíduos de agrotóxicos em água
também foram realizados no Rio Grande do Sul (Marchezan et ai., 2005a,b; Mattos et
al., 2005; Avila et al., 2007; Grützmacher et ai., 2007; Macedo et ai., 2007b). a região da
Depressão Central do RS, detectou-se a ocorrência de resíduos de vários herbicidas nas
bacias dos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim (Marchezan et al., 2003; Marchezan et al., 2005a,b;
Avila et al., 2007).
Durante três anos, compreendendo as safras agrícolas 2003/2004, 2004/ 2005 e
2005/2006, em que foi realizado o monitoramento nos Rios Vacacaí e Vacacaí- lirim,
foram detectados, em pelo menos uma safra ou um local, resíduos de clomazone,
quinclorac, propanil, bentazon, 2,4-D, imazethapyr, carbofuran e fipronil (Avila et al.,
2007). O monitoramento ambiental em lavouras tem evidenciado que herbicidas como o
clomazone pode permanecer na água de irrigação por períodos e concentrações variáveis,
evidenciando o potencial de movimentação do produto para fora das áreas tratadas latto
et al., 2005), especialmente quando a água não é manejada de forma adequada.
Trabalhando com inseticidas e fungicidas aplicados em arroz irrigado, a partir da
floração, Tel6 et ai. (2015) quantificaram a presença de agrotóxico na água durante os 40 d
de monitoramento, enquanto outros persistiam por apenas 6 h, evidenciando a necessidade
de manejo da lavoura de acordo com o produto utilizado.
É necessário que sejam estabelecidos padrões ou limites para cada molécula ou
concentração. Geralmente, tais indicadores são apresentados na legislação. o caso do
Brasil e, especificamente para a maioria dos agrotóxicos utilizados em arroz irrigado,
existe carência de tais informações, sendo, portanto, essencial, o estabelecimento de ses
indicadores para os ecossistemas locais. No entanto, embora ainda não se disponham de
valores de referência de tolerância, apenas a detecção deles na água deve ser suficiente
para continuar a busca e utilização de melhores práticas de manejo por todos o elo d
cadeia de produção de arroz.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


752
ENIO MARCHESAN ET AL.

Quanto aos gases de efeito estufa


Ten?o em vi la a reações de redução que ocorrem com o alagamento do solo, as
terra b a 1 xa , quando saturadas com água, são potenciais fontes de C!-1 4 e N 2O, importantes
gases ~e efeito e tufa (GEE), que podem contribuir para O aquecimento global de natureza
antróp1ca.

es e contexto, a lavoura de anoz irrigado pode ser considerada ao mesmo tempo uma
fonte desse gases como também de alto potencial para conh·ole das emissões, desde que
adotadas práticas mitigadoras. Os fatores de solo, clima e manejo que controlam o efluxo
de ~E~ no arroz irrigado são muitos (Le Mer e Roger, 2001), o que dificulta identificar com
exahdao a magnitude de cada fator nos mecanismos responsáveis pelo efluxo dos GEE e
sua real influência nas taxas de efluxo promovidas pelo cultivo de arroz irrigado.
Tais fatores poderiam ser utilizados na mitigação do efluxo de GEE, mas alguns
apresentam baixa viabilidade prática de utilização enquanto outros poderiam ser
introduzidos na produção de arroz sem comprometer sua área e produtividade.
O CH 4 é o principal gás de efeito estufa enutido em áreas cultivadas com arroz, mas as
emissões são significativamente reduzidas (média de 25 %) quando a semeadura direta e o
cultivo mínimo são utilizados em comparação ao manejo convencional (Bayer et aJ., 2014).
A redução nas emissões de CH4 tem importante e positiva repercussão, já que a
produção de arroz usando o cultivo mfrumo vem se tomando o manejo predominante
no RS. É importante destacar também que tanto as emissões de N 2O, outro importante
gás de efeito estufa, como a produtividade do arroz, não foram influenciadas pelo uso da
semeadura direta e do cultivo mínimo (Souza, 2013).
Também, uma prática que tem apresentado resultados consistentes quanto à mitigação
das emissões de GEE em solos cultivados com arroz irrigado é a irrigação intermitente, desde
que o cultivo do arroz permaneça com lâmina de água por um período que não interfira na
produtividade e qualidade de grãos, que varia conforme o manejo da irrigação e genótipo
utilizado. Os resultados obtidos pela pesquisa demonstraram que a supressão da água na
irrigação intermitente contribuiu para uma redução das missões de GEE de aproximadamente
50 %, principalmente de CH4 (Zschomack, 2011; Wesz, 2012; Buss, 2012; Moterle et aJ., 2013).
AJém desse benefício, a supressão da água pode contribuir também para a redução
do volume de água necessário para a irrigação do arroz, sem interferir negativamente no
rendimento de grãos (Martim et al., 2009). Entretanto, Moterle et al. (2013) observaram que
os efeitos da irrigação sobre a emissão de metano são dependentes das condições climáticas
e que a redução na emissão ocorre quando as precipitações permitem a ausência da làmina
de água durante o cultivo (Figura 4).
A diversificação de culturas sobre a emissão de gases de efeito estufa e sequestro de
e estão centrados, em primeiro lugar, na oportunidade de se cultivar a área sob regime de
"sequeiro", onde, não havendo inundação do solo, reduz significativamente a emissão de
metano (Camargo et ai., 2013).
Resultados obtidos por Bayer et al. (2013) evidenciaram que o cultivo de soja (em
área anteriormente cultivada com arroz irrigado) reduziu em aproximadamente 10 vezes
a emissão de GEE, sobretudo de CH 4, comparativamente a uma área cultivada com arroz
irrigado. Também, o benefíc~o do si~te~a é no sen~do de redu~ir o nú11;ero d:
operações
agrícolas e, com isso, reduzu a enussao de C advindo da que11na de oleo diesel. Outro

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - M ANEJO DO SOLO EM AMBI ENTES DE TERRAS BAI XAS: A EXPERIÊNCIA ·.. ?S)

be nefíc io adv indo da introdução da soja em á reas de arroz é a r du ção no u: ~ de fe rti liz~ntes
nitrogenados, qu e são substitu ídos pela ap licação de inoculantes esp c 1f1 cos, red unnd o
assim as e missões de N 2O do solo.

(a) 40 -.----~--.--V.:..:e~g!:::eta;;::..:.:.tiv:;o:..__ _ __1__:R.:.::c:ç.::rod:..::..:,u;::..tiv


.:...:o:..L_--r-M_a_tur_açà.:.........0_ T 0
1

50
35

:e: 30
150
"'s
bD
6 25 200

5
~ 20
250

o 300
~
11
Qj
15 350
"O
,a
400
~ 10
E-
450
5

5 12 17 2B 33 40 47 60 67 81 88

(b)
40 -.--~~-V_eg~eta-ti_
'v_o______......---.,---1....r-R~epr,..__o_du_ti,·v_o--'-I_ M_a_tura_.çã'--o-.,-
0

50
35

:e: 100
"'s 30 150
bO
Ei
·:l
u
25 200 l
250
>"':l
Qj
-o 20
o
~
300 -a,
:)

~Qj 15 'e
350 !:
-o ·5..
400 ·g
~
450
5 -e- Irrigação continua
-O- Irrigação intermitente 500
~
Irrigação em banhos
O .J..._---r----r---,--,--,---,----,---.--~-T------r-----.L550
7 15 22 29 34 46 52 61 68 76 89 101
Dias após o alagamento

Figura 4. Efluxo de CH4 em diferentes sistemas de irrigação e precipi tação pluvial em cada coleta nos
anos agrícola 2007 /2008 (a) e 2009/2010 (b). As barras verticais indicam o de vio-padrão da média.
As setas sobre o eixo x indicam as datas em que ocorreu a ausência da lâmina de água sobre os lo.
Fonte: Mo terle et al. (2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


754
ENIO MARCHESAN ET AL.

ADEQUAÇÃO DAS ÁREAS DE TERRAS BAIXAS PARA


POTENCIALIZAR O USO INTENSIVO E
SUSTENTÁVEL DO SOLO

A produção -ustentável de cultivas em solos de terras baixas é função de inúmeros


fato re que estão interligados de modo que a respos ta de um depende do que foi feito
na etapa anterior. Pela impossibilidade de abordagem mais detalhada, entre os diversos
aspecto que influenciam o desenvolvimento de culturas não irrigadas por alagamento,
destacam-se nesse texto dois fatores que parecem ser comuns à maioria das situações:
"organização/ s istematização" das áreas e adequação química e física do solo, visando a
melhoria do ambiente biológico e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Organização/sistematização da área
A organização da área tem como meta atender quatro objetivos principais. O primeiro
deles é de que a água da chuva que ocorreu fora da lavoura não deve entrar na área de
cultivo. O segundo é de que a água proveniente de chuva que ocorreu na lavoura deve ser
retirada o mais rápido possível, ou seja, ter bom sistema de drenagem. Já o terceiro é de
que a irrigação por inundação, se necessária para cultivas que não o arroz irrigado, deve
ser rápida e uniforme na área. O quarto é viabilizar a semeadura e demais operações de
manejo, no momento desejado.
Para evitar a entrada de água, podem ser estabelecidas estruturas externas à lavoura,
como canais ou djques. A drenagem da área de cuJtivo é constituída de canais principais que
retiram a água para fora da lavoura, conectados a drenos superficiais que devem se manter
funcionais desde o preparo final da área, antes da semeadura, até a colheita, particularmente
para cultivas não mantidos com lâmma de água por inundação, como a soja.
O número de drenos de superfície é dependente do tipo de solo, da localização
geográfica, da qualidade do nivelamento da superfície e do gradiente da área, entre
outros aspectos. Um sistema de drenagem bem estabelecido auxilia também no caso de
ser necessário irrigar por inw1dação os cultivas alternativos ao arroz, pois facilita a rápida
drenagem do excesso de água.
Os canais de irrigação devem contemplar a distribuição da água o mais individualizado
possível nos talhões de irrigação, prevendo múltiplas entradas na área a ser irrigada. O
sistema de irrigação e a drenagem com qualidade e rapidez se completa com o perfeito
nivelamento da área, que pode ser com nível zero ou com pequeno gradiente. Por fim,
0 sistema viário faz parte do processo de estruturação da área de cultivo, facilitando a
logística dentro da área de cultivo.
o resulta do das propostas apresentadas visa planejar o uso da área para que as práticas
de manejo possam ser realjzadas no momento de sua máxima expressão de resposta. Para
isso, 0 controle da drenagem da área é ponto-chave. No entanto, em algumas regiões, pela
carência de chuvas em determinados períodos, a irrigação é muito importante para suprir
d éfices hídricos, ou mesmo para obter produtividades majs elevadas. O objetivo é de que
a organização/sistema~açã~ da área contri?ua para _reduzir_estresses por excesso e por
falta de água e a operac10nahdade do maneJO e movunentaçao na área, que deverão ser

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII! - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAIXAS : A E XPERI ÊNCI A ... 755

ad equadas às diferentes realidades encontradas e de acordo com o surgim nto de novas


tecnologias.

Adequação de atributos físicos do solo para minimizar estresse às


plantas de cultivos não irrigados
A adequação da área para o cultivo de espécies de sequeiro não envolve apena
questões relacionadas à irrigação e drenagem. Um aspecto importan te de manejo que
também interfere no grau de resposta de outros fatores de produção se refere às condiçõe
físicas do solo para o desenvolvimento do sistema radicular e suas relações com div rso
aspectos do crescimento e do desenvolvimento das plantas.
Solos cultivados continuamente com arroz tendem a desenvolver camada compactada
próximo à superfície, influenciando a drenagem interna do solo. Para o cultivo de arroz
irrigado, isso não se constitui em problema, mas é restriti vo ao crescimen to das raíze e
disponibilidade de água para outros cultivas não irrigados nesse ambiente. O rompimento
de parte da camada compactada proporciona melhor ambiente ao desenvolvimento do
sistema radicular e da parte aérea das plantas.
A compactação do solo influencia no crescimento e na produtividade das culturas,
bem como na conservação de água do solo (Siczek e Lipiec, 2011), causand o redução
na macroporosidade e também porosidade total (Drescher et ai., 2011). A compactação
influencia as relações solo-ar-água, trazendo limitações ao desenvolvimento do istema
radicular (Koakoski et ai., 2007) e à absorção de água e nutrientes, podendo resultar em
menor infiltração de água no solo, proporcionando rápida saturação desse (Sato et al.,
2012), diminuindo a capacidade de armazenamento de água no perfil.
Com isso, em solos onde há restrições físicas ou físico-lúdricas ao crescimento de raízes,
aumentar o potencial de armazenagem de água por meio de melhorias na infiltração pode
ser estratégia viável para aumento da produtividade das culturas (Prando et al., 2010).
A falta de 0 2 em solos alagados provoca estresse no sistema radicular das plantas
como a redução da taxa respiratória (Drew, 1997). Em soja, de acordo com Sallam e Scott
(1987), hlpóxia verificada em solos alagados inibe a fixação biológica e também a absorção
de N e outros elementos do solo, reduzindo o crescimento de raízes e a nodulação, o qu e
pode provocar inadequado crescimento da parte aérea. Os danos estão relacionad o com
a época de alagamento da área e com a sua duração, podendo se a presentar como cloro e,
queda de folhas, chegando até a morte de plantas. O alagamento també m preju dica a
planta por diminuir a respiração aeróbica e produzir substâncias tóxicas, influenciand o a
disponibilidade de nutrientes (Kokubun, 2013). A diminuição da respiração interfere no
crescimento e rendimento da planta pela redução da absorção de , P e K (Rhine et ai.,
2010).
Segundo Board (2008), o N tem a maior importância para explicar o efeito do e tres e
provocado pelo alagamento na redução do rendimento de grãos de soja. Sintoma de
an1arelecimento da planta após o alagamento estão relacionados com a menor acumulação
de N nos tecidos das plantas (Purcell et al., 1997), resultando em redução no rend imento
de grãos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


756
ENIO MARCHESAN ET AL.

Entr tanto, alagamento produz efeitos diferenciados na acumulação de N nos tecidos,


de acordo com tipo de olo, estando relacionado c01n sua capacidade de drenagem após
0
alagam~nto (Rhine et al., 2010) e tendo efeito de genótipo na capacidade de acúmulo de
no tecidos, de acordo com sua tolerância ao encharcarnento (Riche, 2004).
0
a pecto de sanidade de plantas, a drenagem deficiente dos solos eleva a incidência
de doenças no sistema radicuJar. Moots et ai. (1988) relataram maior ocorrência de
Ph~t~plitora em solos compactados, quando comparado a solo sem compactação, tendo
verificado morte de plantas durante a evolução do ciclo de desenvolvimento da soja e
diferenças de reação a doenças entre cultivares de soja. Como se observa, a drenagem, tanto
de superfície como a drenagem interna na região do sistema radicular, é indispensável
para reduzir estresses da soja em ambiente de terras baixas.

Sistemas de implantação de lavoura e mecanismos da semeadora


Quando possível, é importante se utilizar de métodos que determinem se há
limitações ao crescimento das raízes e à infiltração de água no solo, bem como a espessura
e localização da camada compactada. Métodos de campo como cavar trincheiras para
verificar o desenvolvimento do sistema radicuJar e da resistência do solo com penetrômetro
ou métodos de laboratório têm o mesmo propósito.
o quadro 5, é apresentado um exemplo de análise física de solo feita em área de
rnonocultivo de arroz, onde se identifica a região de maior impedimento ao crescimento do
sistema radicular e causadora do acúmuJo de água na superfície do solo e, por consequência,
outros distúrbios fisiológicos associados ao crescimento das plantas. Nesse caso, a região
responsável pela restrição da infiltração de água no solo e pelo crescimento rarucular
encontra-se entre 10 e 20 cm de profundidade do perfil do solo, com condutividade
hidráulica de apenas 0,7 mm h-1.

Quadro 5. Atributos físicos de solo de terras baixas cultivado com arroz irrigado (média de cinco
repetições). Santa Maria, RS, 2013
Porosidade Condutividade
Camada Densidade Macroporosidade Microporosidade
total hidráulica
cm kg dm-3 m3m-3 mmh·1
0-10 1,4 0,463 0,135 0,327 3,5

10-20 1,7 0,360 0,039 0,321 0,7

20-30 1,6 0,386 0,037 0,349 18,3

30-4() 1,5 0,418 0,042 0,376 67,9


Fonte: Marchesa.n et ai. (2013)

o rompimento de parte dessa camada pode ser feito com dispositivos da própria
semeadora ou utilizando equipamentos de preparo de solo como grades ou escarificadores.
Cada um tem convenientes e inconvenientes, que devem ser analisados, e uma decisão
pode ser específica para cada situação. O efeito de diferentes sistemas de implantação
de soja em terras baixas na resistência mecânica à penetração pode ser visualizado na
figura 5.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII! - M ANEJO DO SOLO EM A MBI ENTES DE T ERRAS BAIXAS: A E XPERI ÊNCI A ·· · 757

Resistência meC:.,nica à penetração (MPa)


1,0 1 2,0 2,5 J,O J,5
2
4
6
8
10
u
14
]:
---
11
(1)
16 T2
"O
<1' 18
"O D
:a 20
~ T4
] 22
o ~ T5
d: 24
26 - 16
28
30
32
34
36
38
40

Figura 5. Resistência mecamca do solo à penetração (MPa) em d iferentes profund idades (cm )
d e um Planossolo Há plico Eutrófico arênico, no estádio V4 d e planta de oja, em razão dos
diferentes sistemas de implantação de soja em área d e terras baixas. San ta Maria, RS. 2013. TI -
Convencional; T2 - Semeadura direta; T3 - Escarificado na semeadura; T--1- NLicrocamalhào; T:i
- Escari ficado em maio, mantendo o solo expos to sem cobertu ra vegetal; e T6 - Escarificado em
maio, mantendo a cobertura vegetal (azevém ).
Fonte: Marchesan ct ai. (2013).

Essas diferenças de resis tência à penetração mecânica poderão o u não e expre sar
em produtividade de grãos, dependendo de outros fa tores, especia lmente do regime de
chuvas durante o período de cultivo. No e ntanto, ressalta- e q ue o objetivo é m obilizar
minimamente o solo.
O escariJicador realiza trabalho de mobi lização do o lo em maior profund idade
do que a grade e é executado por meio de operação independente, tendo ariaçõe de
especificações técnicas e, por consequência, do trabalho efetuado. Pode e igir gradagem
posterior e, ou, renivelamento da superfície do solo corno complemento de seu preparo
pa ra a semeadura, o que envolve maior cus to, tem po dispendido e mobilização d a área.
Além d isso, o trânsito de máquinas pode ficar p rejudicado apó chu a o u com olo
ú mi do em razão da menor resis tência. Cuidados es peciais q uan to à umidade do olo no
momento da operação, tipos de solo e p ro fund idade de tra balho e tão entre o- a · pecto
que d evem ser avaliad os ao decidir por essa prática.

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


758
ENIO MARCHESAN ET AL.

, Em tra?alho realizado por Marchesan et t1l. (2013a), encontrou -se que n escarifi cação
de area culh vada com arroz proporcionou produtividade de soja de cerca de 20 % s uperior
ao tTat~mento n ão escarificado na média de du as safras agrícolas. Os autores explicaram
essas diferença por meio da massa seca de raízes, dos nódulos e da parte aérea, além da
concenb·ação de nut,-ientes no tecido foliar.
Em levantam ento efetivado em lavoura comercial de área de coxilha, e m cultivas de
soja, milho e trigo e utili zando ferramentas de agricultura de precisão, Santi e Amado
~20_07) constataram que os locais da lavoura de n1aior produtividade apresentavam taxa de
infiltração duas vezes maior do que os locais de baixa produtividade de g rãos.
Como hipótese, além do rompimento da camada compactada, pode ter havido maior
disponibilidade hídrica na região do sistema radicular em períodos de falta de chuva, assim
como minimização do estresse por excesso hídrico, em períodos chuvosos. O excesso de
águ a pode ter sido drenado mais rapidamente para fora da região de maior concentração
de raízes, favorecendo a aeração e processos fisiológicos da planta.
O rompimento de parte da camada compactada utilizando dispositivos da própria
semeadora é uma alternativa que precisa ser estudada e compreendida em ambiente de
terras baixas. A semeadora dispõe de mecanismos que podem executar esse trabalho,
podendo ser utilizados jm1tamente com a operação de semeadura, o que é urn aspecto
importante a ser considerado. Entretanto, ainda são necessários mais estudos para que
as duas operações tenham o desempenho esperado. A uniformidade de distribuição
das sementes em profundidade e o perfeito contato semente-solo são aspectos técnicos
fundamentais a serem considerados.
Trabalhando em área de terras baixas com camada compactada a cerca de 10 cm de
profundidade, Vizzotto (2014), testando mecanismos da semeadora com o objetivo de
rompimento de parte da camada compactada, constatou que o mecanismo haste sulcadora
proporcionou maior produtividade de grãos de soja, quando comparado com disco duplo
e disco ondulado, tendo atribuído esse resultado à maior capacidade de infiltração de água,
melhorando a drenagem e aeração do solo. Esse resultado evidencia que a semeadora pode
ser utilizada como alternativa para melhoria do ambiente do sistema radicular das plantas.
No quadro 6, apresenta-se o efeito de escarilicação do solo, de mecanismos da
semeadora e de irrigação sobre o rendimento de grãos de soja em área de terras baixas
tradicionalmente cultivadas com arroz. A escarificação promoveu maior rendimento de
grãos de soja, mas mecanismos da semeadora que mobilizam mais o solo na linha de
semeadura também apresentam efeito positivo na produtividade.
Os resultados evidenciaram que a irrigação promove aumento no rendimento
de grãos de soja, mesmo tendo sido feita no i.iúcio do ciclo da soja. Pode-se inferir que
a semeadora pode ser utilizada como instrumento para melhoria do ambiente radicular
da soja em terras baixas, com menos mobilização do solo, e que no planejamento de uso
da área deve-se considerar a possibilidade de irrigação como propos ta de manejo dessas
áreas para O cultivo de soja. Segundo Drescher et ai. (2011), a haste sulcadora influencia no
microambiente próximo à semente, interferindo na emergência das plântulas e o teor de
água no solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBIENTES DE TERRAS BAI XAS: A E XPERI ÊNCIA . .. ]Sg

Q uadro 6. Rendimento de grãos de soja, em ambientes de terras baixas, e m razão dos sis te n:ias d e
implantação e da irrigação, culti va r BMX Tornado, em duas safras agrícolas. Sa nta Mana, RS,
2015
Sistemas de implantação Safra 2013/2014 Safra 2014/2015
kg ha·1 -
Disco duplo (DO) 4 082 b 3 759 d
Disco ondulado 4 273 ab 3 829 cd
Haste 4 405 ab 4 327 b
Haste+ MAS 4107b
Haste desencontrada(1l 4 222 b
Microcamalhão 4 345 ab 4 013 e
Escarilicado + DO 4484 a 4 749 a
Irrigação
Com irrigação 4444 a 4 311a
Sem irrigação 4121 b 3 988 b
Média 4 283 4150
CV(%) 7,4 3,14
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05). MAS ml'Ca nismo de
D

acomodação do solo. l'lHaste desencontrada da linha de semeadura 5 cm. Safra 2013/ 2014, uma irrigaçJ o em V-t Safra de
2014/2015, duas irrigações, sendo uma em R3 e uma em RS.
Fonte: Adaptado de Sartori et ai. (2015).

Koakoski et al. (2007), avaliando dois mecanismos rompedores do solo, encontraram


efeito do mecanismo na profundidade de semeadura, na distância entre as sementes e no
índice de velocidade de emergência na soja, observando maior profundidade de deposição
das sementes no mecanismo tipo haste sulcadora e menor distância entre as sementes em
relação ao disco duplo. Além disso, o mecanismo rompedor haste sulcadora proporcionou
maior porosidade do solo e menor resistência à penetração mecànica.
Nesse sentido, Drescher et al. (2011) encontraram que o mecanismo tipo haste sulcadora,
somado aos discos de rompimento do solo, foi efetivo em aumentar a macroporosidade,
diminuir a microporosidade e densidade do solo, atenuando a compactação do solo na
região de crescimento das raízes. Diante d isso, os mecanismos devem, além de atuar na
descompactação do solo, proporcionar melhoria nas condições físico-hídricas do solo, na
profu ndidade adequada de deposição das sementes, bem como na distribuição uniforme
da semente na linha de semeadura (Koakoski et al., 2007).
A utilização de microcamalhões ou camalhões é outra forma de tentar melhorar o
ambiente radicular ao desenvolvimento da soja em terras baixas. Essa proposta de manejo
do solo para implantar cultives como a soja e milho nesse ambiente pode receber outras
denominações que consiste em realizar pequenos sulcos a cada duas ou em alguns casos
três linhas de soja com o objetivo de drenagem e também de irrigação. Na literatura se
encontram diversas conformações dessas estruturas e épocas de estabelecimento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GU A


. ---
760
ENIO MARCH ESA N ET AL.

0
, aspecto prá tico, uma das premissas para sua instalação seria a lterar o mínimo
pos l\'el a superfície do solo, reduzi ndo O trabalho na área para instalar o cu ltivo segu inte.
10 111 1
: -cado, enconh·am-se máquinas desenvolvida que fazem conjunta m ente as
operaçoes de semeadura e rea li zação de microcamalhões. Essa estrutura constru ída serve
como drenagem de superfície e também para eventual irrigação da área.
. Takahashi et ai. (2006) avaliaram a conh·ibuiçào da fixação biológica dos nódu los de
5 ºJª e da _absorçào de njh·ogênio do solo em razão da semeadura em carnalhões e do preparo
convencional de área de arroz convertidas ao cultivo de soja. Encontrara m que a realização
de ca~1alhões elevou o rend imento de g,·ãos, tendo relacionado esse resultado à melhor
aeraçao do ola no período chuvoso, citando como hi pótese para isso que em h·aball10
sem_elh a~te fei:o anteriormente a concentração de 0 2 na região das raízes foi m aior onde
ha\'iam sido feito camalhões, em razão da melhor drenagem. O tratamento com carnal hões
proporcionou m aior absorção de N pela planta, mas não houve consis tentes diferenças
entre os preparas do solo quanto à fixação biológica de
Como consideração fi nal deste item , pode-se dizer que, em ambiente de cultivo de
arroz irrigado, a presença de camada compactada próximo à superfície do solo é um
fa tor restritivo ao desenvolvimento de cultivas não irrigados por inundação, como a
soja. essas condições, o manejo da escarificaçào do solo tem-se evidenciado como um
tratamento referência de melhoria em prod utividade. No entan to, por causa do custo dessa
prática agrícola, alternativas devem ser pesquisadas. Por fim, essa é uma área de carência
de informações de pesquisa, que deve ser adequada às diferentes condições de lavoura e
técnicas conservacionis tas de manejo dos solos nesse ambiente.

Adequação química do solo para cultivo de arroz irrigado e culturas


não irrigadas em rotação
Conforme abordado anteriormente, o arroz irrigado por alagamento é beneficiado
pelas reações de redução que aumentam o pH e a disponibilidade de nuh·ie ntes para a
solução do solo. Entretanto, quando as áreas de terras baixas são utilizad as para cultivas
não irrigados por alagamento, os benefícios citados anteriormente não são considerados e
restrições quínúcas importantes podem limitar o potencial das plantas.
Um dos principais aspectos é o manejo da acidez, enquanto para o arroz irrigado a
calagem pode ser até dispensada em algumas situações, em que o pH esteja ba ixo, para
as culturas de sequeiro essa pode ser uma prática indispensável nessas mesmas s itu ações
com vistas a obter altas produti vidades. As indicações de doses de corretivo para ouh·as
culturas em rotação com o arroz irrigado podem ser encontradas no Man ual de Calagem
e Adubação para os Estados do RS e SC (CQFSRS/SC, 2016) ou em outros documentos
específicos para recomendações indicadas para essa cultura, qua nd o cu ltivada e m outros
Estados.
Um aspecto importante também está relacionado com a disponibilidade d e P e
adubação fosfatada (Thomas, 2014). Nas condições de solo alagado, a interpretação da
análise química para a interpretação da ~lasse de_ disponibilida~e de P (P extraído pelo
mé todo Mehlich-1) dos solos de terras baixas destmados ao cultivo de arroz irrigado n ão
leva em consideração a textura do solo (teor de argila) (Sosbai, 2014), como ocorre para
culti vas em solos n ão alagados (CQFSRS/SC, 2016).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XXII! - MAN EJO DO SO LO EM AMBIENTES DE T ERRAS BAIXAS : A EXPERI ÊNCIA ... 761

Assim, solos arenosos com ba ixos teores de P (ex. t or de P = 6,5 mg/ dm te r de


argila d e 19 %) podem ser interpretados em relação d isponibilidad d P como " Alto",
se a área for destinada para o cul tivo de arroz irrigado; no entanto, e mesmos solo
serão interpretados como "Muito Baixo" em relação à dis ponibiUdade de P a área fo r
destinada para o cultivo da soja. Consequentemente, serão necessária maiores quantidad
de fertilizante fosfatado para o culti vo de soja do que seria recomendado para o cultivo do
arroz na mesma área do exemplo citado anteriormente.
No entanto, quando o arroz é utilizado em rotação de culturas, esse é benefici do pelo
residual da adubação efetuada nas culturas de sequeiro, pois essa cultura é menos exigente
em adubação. O raciocínio inverso, ou seja, de aproveitam ento do residual da adubação do
arroz para a soja não deve ser levado em consideração, pois a q uantidade de P d isponível
após o alagamento é pequena.
Nesse caso, a soja na sequência do arroz deve ser tratada com o primeiro cultivo,
desconsiderando o efeito residual do P aplicado no arroz. Com base nes as consideraçõ ,
o manejo adequado da adubação fosfatada em solos de terras baixas deve ser programado
para que o cultivo de sequeiro atinja produtividades satisfatórias, e as indicações de
adubação com P e com outros nutrientes também podem ser encontradas no Manual
de Calagem e Adubação para os Estados do RS e SC (CQFSRS/ SC 2016) ou em outro
documentos específicos para recomendações indicadas para essa cultura, q uand o cultivada
em outros Estados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O arroz irrigado é o principal cultivo em áreas de terras bai.xas do Rio Grande do Sul
e de Santa Catarina. O ambiente de terras baixas, pela sua localização geográfica e pelos
seus atributos químicos e físicos em razão da sua formação, manejo e uso de irrigação
por inundação da área, de acordo com o que se faz na maioria das áreas, exige ainda um
elevado número de operações mecanizadas.
O momento de realizar o preparo da área é decisivo para que o cultivo de arroz po a
ser feito na época de semeadura que proporcione elevado potencial de rend imento d
grãos.
O manejo pós-colheita com preparo antecipado da área é uma prá tica de manejo
fundamental para viabilizar a semeadura na melhor época, além de outro a pecto de
conservação do solo e auxilio no manejo de plantas daninhas da área, pragas e d oenças.
A possibilidade de efetivar rotação de sistemas de implantação da la oura u tilizando
semeadura do arroz em ambiente com ou sem lâmina de água na área e eme d ura de
outros cultivas em solo sem presença de lâmina de água é uma estra tégia de manejo para
a sustentabilidade do processo de produção de arroz, pois en oi e diferentes manejo do
solo e de outras práticas culturais.
A introdução de outros cultives nesse ambiente de terras bai, as, tradicion lmente
utilizado com arroz irrigado, exige adequações e manejo da área para q ue esse culti
sejam realizados com menor risco, especialmente os cuidados em relação à dren gem da
área e ao estabelecimento de condições adequadas ao bom desen oi iment do i tem

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


762
ENIO MARCHESAN ET AL.

radi8:1lar da~ plantas. Entre esses se podem citar a necessidade de adequação das partes
químtea e fís ica do solo, com consequências na parte biológica desse. Isso, a lém de elevar
0
cu st0 de produ ão, está aliado às dificuldades para o cultivo de ouh·as espécies n ã o
adaptadas a essa condição, especialmente a esh·esses lúdricos, tanto por falta como por
e. cesso d e água.
É ~ecessário, então, num primeiro momento, adequar a área para receber cultivas
alternativos e, na sequência, identificar as espécies e os cultivares mais adaptados. Isso
em ol e planejamento para efetuar a organização da área para que se tenha maior controle
tanto da drenagem como da irrigação. Além da parte física do solo, há necessidade de
adequar a parte química dele, pois, sem o alagamento, a disponibilidade de nutrientes
passa a ser diferente daquela com cultivo de arroz e com isso a adubação também tem que
ser adequada.
Os custos de produção de arroz irrigado são elevados em razão das operações de
preparo da área e irrigação, associadas ao aumento dos gastos com defensivos agrícolas. É
preciso alterar esse cenário com o desenvolvimento de tecnologias que promovam menor
mobilização do solo e redução do uso de água com uso racional de defensivos. A rotação e,
ou, sucessão de culturas em terras baixas passa a ter papel importante para se ter produção
mais intensiva e sustentável de áreas de terras baixas.
A proteção do solo com plantas de cobertura durante o período de inverno é outra
prática de conservação do solo e de manejo de plantas daninhas muito importante também
no sentido de ciclagem de nutrientes.
Assim, a rotação de culturas, as plantas de cobertura e a menor mobilização do solo
permitem o uso da semeadura direta como forma de implantação de cultivas em áreas de
terras baixas. Porém, em razão do que foi exposto neste texto, constitui-se num desafio que
precisa ser cada vez ser mais bem entendido nas diferentes condições edafoclimáticas de
solos de terras baixas, como forma de tornar mais sustentável a produção de arroz irrigado
e de outros cultivas nesse ambiente de produção.

LITERATURA CITADA

Avila LA, Sartori GMS, Marchesan E, Machado SLO, RossatoT, Garcia GA, Zanella R, Scherer
MH, Kunrz MHS, Macedo VRM. Monitoramento de herbicidas e inseticidas em dois rios da
Depressão Central do RS, durante o cultivo do arroz irrigado. ln: Anais do 27".Congresso
Brasileiro de Arroz Irrigado e 5ª Reunião da Cultura do Arroz Irrigado; 2007; Pelotas ... Pelotas:
Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2007. p.394-6.
Avila LA, Martini LFD, Mezzomo RF, Refatti JP, Campos RL, Cezimbra DM, Machado SLO,
Massey J, Carlesso RL, Marchesan E. Rice water use efficiency and yield under continuous and
intermittent irrigation. Agron J. 2015;107:442-8.
Bayer e, Zschomack T, Sousa RO, Silv~ ~' Sc_ivittaro WB, ~ilv~ PRF'. Giacomini S~, Carmona FC.
Strategies to mitigate methane enuss1ons m lowland Rice fields m South Braz1l. Better Crops
PJant Food . 2013;97:27-9.
Bayer e, Costa F, Pedroso GM, Zschomack T, Camarg~ ~' Lima M, Frigh_et~ R, Gomes J, Marcolin
E, Macedo VRM .. Yield-scaled greenhouse gas enussions from flood 1rngated rice under Iong-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII! - MAN EJO DO SOLO EM AMBIENTES DE T ERRAS BAIXAS: A E XPERI ÊNCIA · •· 7G3

term conventional ti llage and no-til( systems in a Humid Subtropic I cl.imate. Ficld Crop Res.
2014;162:60-9.
Boa rd JE. Waterlogging effects on plant nutrien t concentration in soybean. J Plant ulr.
2008;31:828-38.
Buss G L. Emissões de metano e óxido nitroso em cultivo de arroz irrigado por aspe_r ão, alagamento
contínuo e intermitente (d issertação] Pelotas: Universidade Federal de Pelotas; 2012.
Camargo ES, Rosa CM, Santos DC, Bayer C, Boeni M, Vedelago A. Cultivo de soja em olo de
várzea reduz as emissões de gases de efeito estufa? ln: Anais do 4° Congresso Brasileiro d
Ciência do Solo; 2013; Florianópolis. Flor ianópolis: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo;
2013. Disponível em: http://cbcs2013.hospedagemdesites.ws/anais/arquivos/17 6.pdf
Comissão de Química e Fertilidade do Solo - CQFSRS/SC. Man ua l de calagem e ad ubação para os
Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 11. ed. [s.l.], Sociedade Brasileira de Gência
do Solo/Núcleo Regional Sul, 2016. 376p .
Companhia Nacional de Abastecimento - Conab. Acompanhamento da safra brasileira de grão .
[acessado em: 30 de set. 2017] Disponível em: http://www.conab.gov.br/conteudo .
php?a=1253&t=&Pagina_objcmsconteudos =l #A_objcmsconteu dos.
Copetti AC. Emissão de óxido nitroso e metano em um Planossolo alagado em casa-de-vegetação.
2014. [tese] Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2014.
Costa ADM. Quantificação de atributos físicos de solos de várzea, relacionados com a disporúbilidade
de água, o espaço aéreo e a consistência do solo [dissertação]. Pelotas: Urúversidade Federal de
Pelotas; 1993.
Deschamps FC, Noldin JA, Eberhardt D.S. Resíduos de agroquímicos em gua nas áreas de arroz
irrigado em Santa Catarina. ln: Anais do 3ª Congresso Brasileiro de Arroz írrigadoi 25°. Reuniao
da Cu.ltu.ra do Arroz Irrigado; Balneário Camboriú; 2003. Balneário Camboriú: Sociedade
Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2003. p.683-5.
Deschamps FC, Noldin JA. A qualidade da água superficial em u.ma microbacia onde o arroz irrigado
é a principal atividade agrícola. ln: Anais 5° Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado; 'l:7" Reunião
da Cultura do Arroz Irrigado; Pelotas; 2007. Pelotas: Sociedade Su.lbrasileria de Arroz Irrigado;
2007. p.385-87.
Deschamps FC, N oldinJA, Marschalek R, Eberhardt ES, Kleweston R. Agrotóxicos na água superficial
sugerem melhorias nas práticas de manejo das lavouras de arroz irrigado em San ta Catarina. ln:
Anais do 8° Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado; 2013; Santa Maria. Santa (aria; Sociedade
Su.lbrasileira de Arroz Irrigado; 2013. p.892-5.
Deschamps FC, Toledo LG, Noldin JA, Nicolella G, Eberhardt DS. Índice de q ualid ade de gua (lQA)
na avaliação do impacto da cultura do arroz irrigado sobre a qualidade d as águas superficiais. ln:
Anais do 2° Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado; 24-' Reunião da Cultura d o Arroz Irrigado;
2001; Porto Alegre. Porto Alegre: Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2001. p.763-7.
Drescher MS, Eltz FLF, Denardin JE, Faganello A. Persistência do efeito de intervenções mecânicas
para a descompactação de solos sob plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2011;35:1713-22.
Drescher GL, Copetti ACC, Silva l.S, Muller EA, Busanello RL, Ottonelli AS. Alterações eletroquímica
da solução do solo e emissão de Np e CH~- ln: 20" latin American; 26., 2014; Cu co. Cus o:
Peruvian Congress of Soil Science, 2014.
Drew MC. Oxygen deficiency and root metabolism: injury and acclimation u.nder h poxia and
anoxia. Ann Rev Plant Physiol Plant Mal Biol. 1997;48:223-50.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


764
ENIO MARCHESAN ET AL.

Eberhardt D · 011s umo de ;\gua t'm lavourns cie ,11-roz irrigado sob d ,versos
· méto d os d e P 1·e paro
do solo. ln: 20·' Reunião da Culluri1 do Arroz Irrigado; Pelotas; 1993. Pclolas: Embrapa; 1993.
p.1 73-6.

o rnes A , faga lhães Junicw AM, editores. Arroz irrigado no Sul cio Brasil. Brasí li a : Embrapa; 2004.
Gome. A , Pauletto EA, edi tores. Manejo cio solo e da água em áreas de terras baixas. Pelotas:
Embrapa; 1999.

Grützmacher AD, G rützm acher DO, Agostinetto D, Loeck AE, Roman R, Zanell a R. Avaliação d e
resíduos d e _agrotóxicos utilizados na cultma do arroz irrigado em dois manan ciais hídricos no
Sul do B~asi!. ln: Anais 5" Congresso Brasileiro de Anoz Irrigado; 27" Reunião da Cultura do
Arroz lrngado; 2007; Pelotas. Pelotas: Sociedade Sul brasileira de Arroz Irrigad o; 2007. p .462-4.
Instituto Rio Grandense do Arroz - IRGA. Safras. [acesso em: 30 de set. 2017] Disponível e m: http: / /
ww·w .irga.rs.gov.br / conteudo/ 6911/ safra s.
Koakos_k_i A, Souza CMA, Rafull LZL, Souza LCF, Reis EF. Desempenho de semeadora-adubadora
utilizando-se dois m ecanismos rompedores e três pressões da roda compactado ra. Pesq Agropec
Bras. 2007;42:725-31 .
Kokubun M . Genetic and cu ltural irnprovement of soybean for waterlogged conditions ir1 Asia.
Field Crops Res. 2013;152:3-7.
Le Mer J, Roger P. Production, oxidation, emission and consumption of m ethane by soils: a review .
Eur J Soil Biol. 2001;37:25-50.
Macedo VRM, Marcolin E, Bohnen H, Jaeger RL, Morais AP. Perdas de solo e nutrientes na água
de drenagem durante o preparo do solo para o sistema de cultivo de arroz pré-germinado. ln:
Ar1ais da 2" Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado; 24ª Reunião da Cultura do Arroz Irrigado;
2001; Porto Alegre. Porto Alegre: Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2001. p .247-9.
Macedo VRM. Menezes VG, Marcolin E, Genro Junior SA, Jaeger RL, Fonseca E, Zanella R.
Monitoramento da água das lavouras de arroz na bacia hidrográfica da Lagoa do Guaraxaim no
município de Arambaré, RS. ln: Anais 5º Congresso Brasileiro De Arroz Irrigado; 27ª Reunião
da Cultura do Arroz Irrigado; 2007; Pelotas. Pelotas: Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado;
2007a. p.391-3.
Macedo VRM, Marcolin E, Jaeger RL, Fonseca E, Zanella R, Souza CHL. Resíduos de agroquímicos na
água dos sistemas de irrigação e drenagem principal da área cultivada com arroz no perímetro
irrigado da Barragem do Arroio Duro, Camaquã, RS. ln: Anais da 5º Congresso Brasileiro de
Arroz Irrigado; 2'73 Reunião da Cultura do Arroz Irrigado; 2007; Pelotas. Pelotas: Sociedade
Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2007b. p.394-6.
Machado SLO, Righes AA, Marchezan E, Villas SCC, Marzari V, Oliveira APBB, Monti MB.
Determinação do consumo de água em cínco sistemas de cultivo do arroz irrigado. [n: Anais do
1º Congresso da Cadeia Produtiva de Arroz; 7ª Reunião Nacional de Pesquisa de Arroz; 2002;
Florianópolis. Florianópolis: Embrapa Arroz e Feijão; 2002. p.336-9.
Marchesan E, Tonetto F, Oliveira ML, Coelho LL, Hansel DSS, Aramburu BB, Castro IA. Subsolagem,
aplicação de gesso agrícola e de enxofre elementar em soja em área de terras baixas. ln: Anais
do 8º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado; 2013; Santa Maria. Santa Maria: Sociedade
Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2013a. p.810-3.
Marchesan E. Desafios e perspectivas de rotação com soja e m áreas de arroz. ln: Ar1ais do 8º Congresso
Brasileiro d e Arroz Irrigado; 2013; Santa Maria. Santa Maria: Sociedade Sulbrasileira de Arroz
Irrigado; 2013. p.1628-37.
Marchezan E, Santos OS, A vila LA, Silva RP. Adubação foliar com micronutrientes e m a rroz irrigado,
em á rea sistem atizada. Ci Rural. 2001;31 :941-5.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

.,
XXIII - MANEJO DO SOLO EM AMBJENTES DE TERRAS BAIXAS: A EXPERIÊNCIA ... 765

Marchezan E, ama rgo ER, Zanella R, Prim I EG, G nçalv FF, Ma hado acedo V~,
Marcolin H. Dispersão dos herbicida clomazone, quí.nclorac e propanil na á~ . da baaa
hidrográfica d s rios Vacacaí e Vacacaf-Mirím, no períod o d culti vo do arroz 1mgado. ln :
Anai do 3° Congresso Brasileiro de Arroz Irriga do; 25ª Reunião Da Cultura D rroz lrr~ do;
2003; Balneário Camboriú. Balneário Camboríú: Sociedade ulbra il ira de Arroz Irrigado;
2003. p.689-91.
Marchezan E, ÁviJa LA, Zanella R, Garcia GA, Machado SLO, Gonça lv FF, Santo F f. aced
VRNL Monitoramento de herbicidas utilizados na cultura do arroz irrigado nas , da
bacia hidrográfica dos rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim, durante a safra 2003/ . In: Anais do -1º
Congresso Brasileiro de Arroz l.rrigado; 26ª Reunião da Cultura do Arroz Irri ado; 2005; anta
Maria. Santa Maria: Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2005a. p."" -40.
Marchezan E, Zanella R, Avilla LA, Garcia GA, Macedo VR!vt, Kurz MHS, Mas oni PFS. Ocorrênci
de herbicidas utilizados na cultura do arroz irrigado nas água da bacia hidro áfica dos rio
Vacacaí e Vacacaí-Mirim, d urante a safra 2004/05. ln: Anais do 4° Congre Brasileiro de Arroz
Irrigado; 26º Reunião da Cultura do Arroz Irrigado; 2005; Santa Maria. Santa aria: Sociedad
Sulbrasileira de Arroz lrrigado, 2005b. p.548-51.
Marchezan E, Machado SLO, Righes AA, Santos FM. Perda de nutrient na água de drena em
inicial na cultura do arroz irrigado. ln: Anais do 1º Congresso da Cadeia Produtiva de Arroz;
7~ Reunião Nacional de Pesquisa de Arroz; 2002; Florianópoli . Florianópolis: Embrapa Arroz
e Feijão; 2002. p.680-3.
Marcolin E, Macedo VRM. Consumo de água em três sistema de cultivo de arroz irri ado (Oryza
saliva L.). In: Anais do 11° Congresso Brasileiro de Irrigação e Drenagem; 2001; Fortaleza.
Fortaleza: ABrD; 2001. p.59-63.
Martini LFD, Avila LA, Mezzomo RF, Marchesan E, Refatti JP, Casso[ G , Machado SLO, Massey JH.
Irrigação intermitente pernúte redução do volume de água aplicado em afetar a produtividad
do arroz irrigado. ln: Anais 7' Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado [2009]; Porto Alegre.
Porto Alegre: Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2009.
Mattos MLT, Hermes LC, Peralba MCR. Monitoramento ambiental do herbicida domazon ,
formulação solúvel, em águas de lavouras de arroz irrigado. ln: Anai do 4° Congr o Brasileiro
de Arroz Irrigado; 2005; Reunião da Cultura do Arroz l.rrigado; 2005; Santa faria . Santa faria:
Sociedade Sulbrasileira de Arroz Irrigado; 2005. p.532-4.
Moots CK, Nickell CD, Gray LE. Effects of soil compactation on the incidence of Phytophthora
megasperma F.sp.glycinea in soybean. Plant Ois. 1988;72:896-900.
Moterle DF, Silva L S, Moro VJ, Bayer C, Zschornack T, Bundt AC, A vila LA. lethane efflux in rice
paddy field under different irrigation managements. Rev Bras Cienc Solo. _013;37:-131- .
Parfitt JMB, Timm LC, Reichardt K, Pinto LFS, Pauletto EA, Castilho DD. Chemical and biol gical
attribu tes of a lowland soil affected by land leveling. Pesq Agropec Bras. 2013;-!8:1 9-97.
Parfitt JMB, Silva CAS, Peb·ini JA. Estruturação e sistematização da la oura de arroz irri~do. ln:
Gomes AS, Magalhães Junior AM, organizadores. Arroz irrigado no ul do Brasil. Br ilia:
Embrapa lnfonnação Tecnológica; 2004. p.237-57.
Pauletto EA, Gomes AS, Pinto LFS. Física de solos de várzea culti adas com rr z irrigad . Ln:
Gomes AS, Magalh ães Jr AM. Arroz Irrigado no sul do Bra il. Bra ilia: Embrapa lnforma ã
Tecnológica; 2004. p.119-42.
Pinto LFS, Laus Neto LA, Pauletto EA. Solos de terras baixas do ui do Br il culti ad m arroz.
irrigado. Ln: Gomes AS, Magalhães Jr AM. Arroz Irrigad n ui d Bra il. Brasília: Embrap
Lnformação tecnológica; 2004. p.75-95.
Pinto LFS. Pedologia [apostila]. Pelotas: UFPel; 2015.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


766
ENIO MARCHESAN ET Al.

Ponnamperuma F · TI,e cJ,enustr


· , of submerged soils. Adv Agron. 1972;24:29-96 .

Prando M:3,Olibone D, Olibone AP, Rosolem e. Infiltnção de água no solo sob escarificação e
rotaçao de culturas. Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:693-700.
Purcell LC, \. ories ED, Counce PA, King CA. Soybean growth and yield response to saturated soil
culture ma temperate environment. Field Crops Res. 1997;49:205-31.
Rhine MD, Stevens G, Shannon G, Wrather A, Sleper D. Yield and nutritionaI responses to
waterlogging of soybean cultivars. lrrig Sei. 2010;28:135-242.
Riche _
CJ. Identification of soybean cultivars tolerance to waterlogging through analyses of leaf
rutrogen concentration [ thesis] . Louisiana: Louisiana Sta te University; 2004.
Sallam ~ , Sc~tt HD. Effects of prolonged flooding on soybeans during early vegeta tive growth. Soil
Sc1. 1981;144:61-6.

Santi LS, Amado lJC. Maximização da produtividade em áreas de plantio direto. Rev Plantio Direto.
2007;99:9-13.

Sartori GMS, Marchesan E, De David R, Carlesso R, Petry MT, Donato G, Cargnelutti Filho A, Silva
MF. Rendimento de grãos de soja em função de sistemas de plantio e irrigação por superfície em
Planossolos. Pesq Agropec Bras. 2015;50:1139-49.
Sato JH, Figueiredo CC, Leão TP, Ramos MLG, Kato E. Matéria orgânica e infiltração da água em solo
sob consórcio milho e forrageiras. Rev Bras Eng Agric Amb. 2012;16:189-93.
Savant NK, De Datta SK. Nitrogen transformations in wetland rice soils. Adv Agron. 1982; 35:241-
302.
Siczek A, Lipiec J. Soybean nodulation and nitrogen fixation in response to soil compaction and
surface straw mulching. Soil Till Res. 2011;114:50-6.
Silva LS, Sousa RO, Pocojeski E. Dinâmica da matéria orgânica em ambientes alagados. ln: Santos
GA, Silva LS, Canellas LP, Camargo FAO, editores. Fundamentos da matéria orgânica do solo:
ecossistemas tropicais e subtropicais. 2ª Porto Alegre: Metropole; 2008. p.525-44.
Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado - Sosbai. Recomendações técnicas para a cultura do arroz
irrigado. 2016. 197p.
Sousa RO, Camargo FAO, Vahl LC. Solos alagados. ln. Meurer EJ, editor. Fundamentos de química
do solo. Porto Alegre: Génesis; 2000. p.127-49.
Souza EL. Enússão de óxido nitroso e metano em área de cultivo com arroz irrigado com diferentes
manejas da palha pós-colheita [tese]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2013.
Streck EV, Kampf N, Dalmolin RSD, Klamt E, Nascimento PC, Schneider P, Giasson E, Pinto LFS.
Solos do Rio Grande do Sul. 2° ed. Porto Alegre: Emater/RS-ASCAR; 2008.
Takahashi T, Hosokawa H, Matsuzaki M. N2 fixation of nodules and N absorption by soybean roots
associated with ridge tillage on poorly drained upland fields converted from rice paddy fields.
Soil Sei Plant Nutr. 2006;52:291-9.
Tel6 GM, Marchesan E, Zanella R, Oliveira ML, Coelho LL, Martins ML. Residues of fungicides end
insecticides in rice field. Agron J. 2015;107:1-13.
Thomas AL, Silva LS, Sousa RO. Adversidades químicas de solos de várzea à soja. ln: André Luis
Thomas AL, Lange CE, organizadores. Soja em solos de várzea do Sul do Brasil. Porto Alegre:
Evangraf; 2014. p.21-39.
Vahl LC Sousa RO. Aspectos físico-quirnicos de solos alagados. ln: Gomes AS, Magalhães Junior
AM,
organizadores. Arroz irrigado no sul do Brasil. Brasília: Embrapa; 2004. p.97-118.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXII! - MAN EJO DO SOLO EM AMBIENTES D E TERRAS B AIXAS: A EX PERIÊNC I A . .. 767

Vasconcellos EB. 1 va ntamcnto de atributos ffs icos e híd ricos de tr~s solos de várzea do Rio G ra nde
do Sul. Pelotas [d issertação] Pelotas: Unive rs idade Fed eral de Pelotas; 1993.
Vedelago A, Carmona FC, Boeni M, Langc CE, J\n1 ghínoni 1. Fer ti lidad e e a ptidão de uso do olo
para o cultivo da soja nas regiões arrozeiras do Rio gra nde do Sul. Cachoeinn.ha: fRGA/ EEA:
2012. (Boletim técnico, 12).
Vizzotto VR. Desempenho de mecanismos su lcadores en semeadora-adubad ora sobre a tribu tos
fís icos do solo em várzea no comportame nto da cultu ra da soja (Glycine max) fdissertação]
Santa Maria: Universidade Federal de San ta Ma ria; 2014.
Watanabe I. Anaerobic Decomposition of organic matter in fl ooded rice soiJ . In : In tem ational Rice
Research Institute. Organic Matter and Rice. Los Banos: 1984. p.237-58.
Wesz J. Emissões de me tano e óxido nitroso em Planossolo em fu nção do manejo d a água no arroz
irrigado [dissertação] Pelotas: Universidade Fed eral de Pelotas; 2012.
Yoshida S. FundamentaJs of rice crop science. Los Banos: IRRI; 1981.
Zschornack T. Emissões de metano e de óxido nitroso em sistemas de produção d e arroz irrigado no
Sul do Brasil e potencial de mitigação por práticas de manejo [teseJ . Por to Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; 2011.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XXIV - MANEJO CONSERVACIONISTA DE
SOLOS EM ENCOSTAS NO SUL DO BRASI L

Milton da Veiga 11, Leandro do Prado Wildnerll, Carla Maiia PandoJfo'1 & Ivan Luiz
Zilli Bacic31

'1 Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campu Apro,c_imado de Campo<; ovos, Campo<; Nov05, SC.
E-mail: milton.veiga@unoesc.edu .br; carlil.pmdolfo1iJunoesc.edu b r
21 Empresa d e Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Ca tarinil, Centro de Pesqu1<;J p.tra Ag-ncultur..i
Familia r, Chapecó, SC. E-mail: lpwi ld@epagri.sc.gov.b r
31 Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rura l de Santa Catarina, Centro de Infonnaç de Reem
Ambientais e de Hidrometeorologia de Santil Catarina, Florianópoh , SC. E-mail: baci~epagn.sc gov b r

Conteúdo

INTRODUÇÃO .... ,.. ,............................................................................................... ................................ .... .. 770


APTIDÃO DE USO DAS TERRAS ........................................................ ......................................._............ ...... ..... .... 110
PRÁTICAS MECÂNICAS DE CONTROLE DA EROSJ-\O ............................................. .. ........................ ····-··-···· 774
Terraços ........................................... ............... ............................................................................ _........ . ........ ... .. 776
Cordão de pedra ...................... ............................................. ......................... .......................... ·-····- ................ _..... 777
Cordão de vegetação permanente ..................... .. ,......................................... .. ............................................ ·-·-· . 77
Canais divergentes e bacias de captação ...................................................................................·-···-· ............... 779
Canal escoadouro ................................................................................................................ ·-······................ _....... 7
Alocação e proteção de caminhos internos e estradas rurais .................................................. - ............ --....... 7 O
MANEJOS CONSERV AC10NIST AS DO SOLO ........... ..... ........................ .................. u ........... ..... ... ............ ·-·--········ ;

C ultivo mínimo .......................................................... ............................ .. ....................................... - ......... _...... .. .. I -


Semeadura/ plantio direto ........................................................................................................................ ··-········ .. 7 3
ADUBAÇÃO VERDE E COBERTURA DO SOLO .. .. .......................................................... ......... _.............. _ .... .. .. 7 5
Efeitos da adubação verde sobre atributos do solo ........................................ -· ... ·-·· .......... -·. -·-· ......... .................
Manejo da fitomassa ........ .................................... ................ ... ................................. . ················- ··············· ---·--······ ;
Incorporação total da fi tomassa...................................................................................... -........... _....... - ... . ... .. I I

Incorporação parcial da fitomassa ........................................................... . .......................... _........... ··- ·- ·--- 1 7


Ma nejo da fitomassa sem incorporação ao solo ........................................................... -..................... . ...... .. 7
ADUBAÇÃO ORGÂNICA, COM ÊNFASE PARA USO DE DEJETOS AN1 •lAI .................. ·-· .... ................. -;
PLA EJAMENTO EM MICROBACIAS HlDROGRÁFICAS ............................................................... -...... 791
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... .............................. ................................................... .................. ...... ........... .. ............... 792
LITERATURA CITADA .......... ........................................................................................... ................. ... .... .......... 793

Be rto! 1, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e const'rvação do olo e du ág ua. ·
IÇOS.l, .\ 1 .
Brasi leira de C iência do Solo; 2018.
770
MILTON DA VEIGA ET Al.

INTRODUÇÃO

. ? .ol_o de encostas de envolvidos a partir de rochas (gneas apresentam como


prmci_pai limitações ao uso agrícola a declividade, pedregosidade, profundidade efetiva e
cap~cidade de retenção de água (festa e Espírito Santo, 1992). Nos solos desenvolvidos a
partir _de rochas edimentares, as principais limitações são a declividade, a suscetibilidade
à erosao e a baixa fertilidade natural (Curcio, 1994). Para realizar o manejo conservacionista
do s_olo nessas condições de limitação, deve-se ter claro que é necessário utilizar cada gleba
culti ~da de acordo com a aptidão de uso do solo, e que as práticas recomendadas de
mane10 conservacionista sejam utilizadas de maneira integrada.
. , . 0sul do Brasil, o uso de práticas de manejo conservacionista em solos de encosta teve
m.tao na década de 1960, quando foi dada ênfase à construção de terraços. O maior avanço
na adoção de práticas de manejo conservacionista nos solos de encosta nessa região deu-se
na década de 1980, quando passaram a serem utilizados os cordões de pedra e vegetado
associados ao cultivo de plantas de cobertura do solo no inverno (Monegat, 1991). Mais
recentemente, a partir do uso da microbacia hidrográfica corno unidade de planejamento
em projetos de manejo e conservação do solo e da água pelo serviço de extensão rural,
grandes avanços foram obtidos em termos de área cultivada com manejo conservacionista
do solo, em razão do uso de várias práticas de forma sistemática e concentrada em áreas
físicas delimitadas pelas microbacias hidrográficas (Freitas, 1995).
Neste capítulo, serão relatados os resultados de pesquisa, validação ou aplicação de
práticas de manejo conservacionista em solos nas encostas na Região Sul do Brasil, com
ênfase no Estado de Santa Catarina. Os solos que ocorrem nessa região foram formados
predominantemente a partir de rochas ígneas extrusivas básicas e intermediárias da
Formação Serra Geral, onde ocorrem climas subtropicais dos tipos Cfa e Cfb, de acordo
com a classificação de Kõppen, e predominam pequenas propriedades agrícolas familiares.

APTIDÃO DE USO DAS TERRAS

O solo é um recurso natural considerado parcialmente renovável na escala de tempo


humana, uma vez que seu processo de formação é extremamente lento. Portanto, todos
os esforços deveriam ser direcionados para evitar sua degradação e, ou, para melhorá-lo.
No entanto, à medida que a população aumenta, a demanda por produtos agropecuários
e, consequentemente, a intensidade de uso das terras e a exploração dos recursos naturais
também aumentam. O uso cada vez mais intensivo do solo vem causando muitos
problemas ambientais, não somente no sul do Brasil, mas também em outras regiões do
país e do mundo. Nesse contexto, os pro~essos de pl~ej~ento de uso das terras g~nham
muita importância. A falta de um plane1arnento terntonal adequado resulta em diversas
consequências negativas como ~ a~el~r~ção da degr~d_ação ambiental (erosão, poluição
das águas, inundações etc.), a d1mmwçao da produtividade e o aumento dos custos de
produção e do êxodo rural, causando sérios problemas não somente no meio rural, mas
também problemas sociais nos grandes centros urbanos.
A situ.ação torna-se ainda mais preocupante em regiões com concentração de pequenas
p ropriedades que utilizam mão de obra familiar, característica predominante na maioria
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXIV - MAN EJO CONSERVACIONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO · · · 771

das regiões onde ocorrem solos de encosta no Brasil. Em Sa nta CatJrina, mais de 90 % das
propriedades possuem menos de 50 ha, ocupando a proximadam nte 40 º'n das ár eas dos
estabeleci mentos (Dufloth et ai., 2005). Muitas dessas propriedad es tend m .ª _desa~a~ecer
do cená ri o agrícola do Estad o se não forem dadas aos agr icultores as cond,çoes rrurnmas
n ecessá rias pa ra a manutenção do homem no ca mpo, e esses não ulilizarem as terras de
acordo com sua aptidão.
Dessa forma, é sempre recomendável que os agricultores o rd ene m a explora~~es
dentro de s ua propriedade de acordo com as características de cada gleba. Para auxil ic1r
os agricultores no planejamento do uso e manejo das terras em s ua s proprie~a_d es, foram
propos tos diversos sistemas de avaliação d as terras, que podem ser def1mdos como
processos de prever o desempenho dessas no tempo de aco rdo com tipos de utilização
específicos (van Diepen et ai., 1991; Rossiter, 1996). Essas p revisões são, então, usadas pa ra
guiar decisões estratégicas sobre o uso e ma nejo das terras.
Tradicionalmente, os sistemas de avaliação de terras são com base em levantamento
de solos e inventários das terras, sendo conhecidos, portanto, como s istema
interpretativos. Em nivel mundial, os levantamentos interpretativos com fin não agrícolas
se tomaram cada vez mais importantes desde o inicio da década de 1950 (Bartell i, 1966),
levando posteriormente ao desenvolvimento de métodos aplicados à agricultura, como a
classificação de capacidade de uso das terras (Kl ingebiel e Mon tgomery, 1961) e os di versos
sistemas de avaliação e planejamento de uso das terras propostos pela F AO (F AO, 1976,
1983, 1984, 1985, 1991, 1993, 1996).
No Brasil, o primeiro sistema interpretativo de capacidade de uso das terras foi
proposto em 1964 (Bennema et ai., 1964), seguido por outros sistemas similares (Ramalho
Filho et al., 1978; Lepsch et al., 1983, 2015). Esses autores, no entanto, salientam q ue as
disparidades regionais de emprego de tecnologias agrícolas e de capi tal se constituem numa
das principais limitações ao emprego dos sistemas de avaliação de terras em territórios
extensos, como ocorre no Brasil, fazendo com que a aptidão agrícola deva ser avaliada,
considerando os diferentes níveis de uso dessas tecnologias denominados de níveis o u
tipos de manejo.
Exemplificando esse aspecto, caso os critérios utilizados para avaliar as terras no
Brasil fossem aplicados para os solos de encosta da Região Su l, grande parte das áreas
deveriam ser destinadas para preservação permanente. Em Santa Catarina, apenas 26,1 %
da área apresenta declividade menor que 20 % (Dufloth et al., 2005), condição em que se
toma viável o cultivo mecanizado das culturas desde que a profundidade e pedrego idade
não sejam restritivas. Apesar de suas limitações, as regiões de ocorrência dos solos de
encosta apresentam elevada importância social e econômica pela grande concentração de
pequenas propriedades e pela significativa participação na produção agropecuária, como
pode ser observado na imagem de uma micro bacia do me io-oeste catarinense apresentada
na figura 1. Visando aperfeiçoar o planejamento conservacionista nas propriedade
situad as nas encostas, foram efetuadas diversas adaptações para regiões específica (Klamt
e Sta mmel, 1984; Uberti et ai., 1991; Bacic, 1998).
Klamt e Stamrnel (1984) apresentaram alternativas de uso, manejo e conservação
d e solos de encostas basálticas do Rio Grande do Sul, enquanto Uberti et al. (1991)
d esenvolveram uma metodologia para classificar a aptidão de uso das terras para 0
Estado de Santa Catarina. Essa metodologia considera o tipo de m anejo ma.is avançado
possível para cada situação encontrada, que seja praticável dentro das possibilidade dos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


772
MILTON DA VEIGA ET AL.

~:icultore. em rela ãoª. aces_ 0 à tecnologias e condiçõe socioec~n_ômicas de aplicação


~s. Foram e tab I c1das cmco classe de aptidão e, para defuur as classes, foram
, on 1d_erados os fatore declividade, pedregosidade, profw1didade efetiva, suscetibilidade
ª erosao, fertilidade e drenagem.

Figura 1. Imagem de satélite de uma núcrobacia hidrográfica no município de Ouro, SC, onde se
observa o uso atual de solos de encosta em pequenas propriedades do meio-oeste catarinense.
Fonte: Imagem extraída de Zampieri et ai. (2005).

Essa metodologia foi utilizada em um levantamento abrangendo urna área de


25 338 km2 no oeste de Santa Catarina, apresentando os seguintes percentuais das
diferentes classes de aptidão de uso das terras: 4 % na Classe 1 (aptidão boa para culturas
anuais climaticamente adaptadas); 25 % na Classe 2 (aptidão regular para culturas anuais
climaticamente adaptadas e boa para fruticultura); 27 % na Classe 3 (aptidão com restrições
para culturas anuais climaticamente adaptadas, regular para fruticultura e boa para
pastagens e reflorestamento); 42 % na Classe 4 (aptidão com restrições para fruticultura
e regular para pastagens e reflorestamento); e 2 % na Classe 5 (preservação permanente)
(Moser et al., 1992).
Apesar de se constituírem em ferramentas fundamentais para o planejamento,
os métodos de classificação interpretativa das terras apresentam limitações, já que
são utilizadas informações de uma classificação natural, e quem interpreta o solo o faz
segundo critérios impregnados de ju~o de valor (D' Agostini e Schlindwein, 1998). Esses
autores propõem um método de maneJO e uso das terras em que não seriam consideradas
as características do meio, mas sim a natureza da destinação de uso pretendida e os
processamentos associados àquelas características. O que se classifica, portanto, não é o

M A NEJO E C ON SE RVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - M/\NEJO CON SERVACIONI STA DE SOLOS EM ENCOSTAS 1\10 · · · 773

m eio, mas s im a qu alidade da relação homem-m io. O p rincípio de c;a propo,;ti'I - de qu


a s us le nlabilid<1d c cl<1s relações ele uso d o meio remete ao conheci me nto d crité rios po r
m e io dos quais o grau de adequação dessas relaçõ ~ é ava liado.
Seg uindo essa mesma linha ele pensamento, traba lho5 ap res ntados por Bacic (2003)
e Sacie et ai. (2003) questionam a real utilidade e utili zação dos estudos resulta ntes dos
levantamentos de solos e classificações interpretativas existentes. Afi rmam que, até o
momento, mais atenção tem sido dada aos métodos pro pria men te ditos d o que~ importância
e utilização da informação gerada e dis poni bilizada . Bacic et a i. (2003) descreveram
e quantificaram o uso e a utilidade dos inventári os das terras pa ra os planejadore_, o
agentes de ass istência técnica e extensã o rural, observa ndo a relação entre a irúormação
potencialmente demandada e aquela efeti va mente oferecida e suge rindo melho rias nos
métodos utilizados atualmente. Em estudo fe ito no Es tad o de Sc1nta Cata ri na, esses autores
demonstraram que os Inventários das Terras realizados em 153 microbacias, durante o
período de 1991 a 1999, como parte do " Projeto de recuperação, conserv ação e manejo dos
recursos naturais em microbacias hidrográficas", d e modo gera l não fora m u ados para
seu propósito principal, que era o de planejamento do uso das terras ta nto nas microbacias
como nas propriedades. Uma das razões da insatisfa ção dos potenciais usuários com os
inventários das terras foi a falta da apresentação de um gru po de al ternati va de uso.
Geralmente, os inventários apresentam o que está sendo fei to erronea mente em termo
de uso e manejo, quais são e onde estão os possíveis conflitos de uso, mas não oferecem
opções reaUstas para serem utilizadas pelos agricultores.
Para mudar essa situação, as estratégias de planejamento e o pções de uso e manejo
adaptados deveriam ser formuladas com a participação dos usu á rio e consideran do suas
possibilidades, ou seja, uma metodologia de planejamento participativa e por demanda
(Bacic, 2003). É fundamental conhecer os problemas, as necessida d es e as possibilidades
dos tomadores de decisão antes de iniciar qualquer processo de avaliação das terras. Caso
contrário, existe forte risco de responder a perguntas sem prioridade e, ou, que perguntas
não sejam respondidas apropriadamente às expectativas da comunidade. Dessa forma,
as informações seriam mais realistas e, portanto, mais úteis tanto para as instituições de
planejamento quanto para os tomadores de decisão finais (agricultores). Esse procedimento
deveria gerar majs demandas, chegando-se a um" ciclo virtuoso" onde o planejamento, o
inventários das terras e as necessidades e condições dos agricultore estariam cada vez
mais interligadas.
No esquema apresentado na figura 2, ilustra-se a metodologia de trabalho propo ta e
que já vem sendo utilizada com bons resultados (Sacie et. ai., 2006a,b, 2010a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


774
MILTON DA VEIGA ET AL.

Informações

/ p-

Que informações primárias são '""t:t:::i::=3::==~J


necessárias para interpretação?
- Conhecimento,
modelos

,,
Informações Opções realistas
interpretadas de uso das terras

Que informações interpretadas são


necessárias para tomada de decisões?
Negociação
r
Ambiente para
Tomadores tomad a de d ecisões
de decisões (limitações e
oportunidades)

- Possibilidades financeiras
- Legislação
-Aspectos sociais
- Preferências culturais
- Infraestrutura
Decisões sobre o
uso das terras

Figura 2. Esquema ilustrativo da sistemática de aplicação da metodologia de aptidão de uso das


terras por demanda.
Fonte: Baàc (2003).

Neste mesmo livro, o planejamento de uso das terras é abordado nos capítulos 19
(Planejamento de uso das terras para fins agrícolas) e 20 (Planejamento conservacionista
do uso do solo em propriedades agrícolas).

, A ,.,

PRATICAS MECANICAS DE CONTROLE DA EROSAO

A luta contra a erosão nas pequenas propriedades iniciou na década de 1960 e se


caracterizou pela realização de campanhas e treinamentos de agricultores sobre práticas
mecânicas de controle da erosão, enfatizando a confecção de terraços, executada pelo Serviço
Oficial de Assistência Técnica e Extensão Rural. Nas áreas onde era possível a motomecanização,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CON SERVACIONISTA D E SOLOS EM EN COST AS NO · · · 775

ho uve rnzoável adoção do sistema de terraccél mento de base e treila com gréldiente, o mesmo
não acontecendo nas áreas mais íngremes (Monega t, 1991). Pa ra o autor, a não adoção d a
prá tica ocorreu pelas seguintes razões princi pais: dificuldade de cons trução em solo rasos e
com pedregosidade; muita exigência de mão de obra par a construção e man utenção; pouca
eficiência da prática em si, por ser feita de forma isolada e não observar a recomendação de
espaçamento; e perda de área efetivamente plzintada, entre outras.
Na década de 1980, a prática de terraceamento foi subs tituíd a pe la construção de
cordões de pedra ou de vegetação. Os cordões de pedra e vegetado se cons ti tue m em práticas
conservacionistas semelhantes aos terraços, sendo recomendadas para as cond ições de solo
e topografia das pequenas propriedades localizadas nas encostas (Wild ner, 1994; Merten et
ai., 1994). Segundo Pundek (1985), essa prá tica é recomend ada pa ra á reas com decli vidade
entre 26 e 35 cm m·1• Embora adaptados às condições das pequenas propriedades
localizadas nas encostas, devem ser associados com outras prá ticas conservacionistas para
que se obtenha um controle efetivo do processo eros ivo (Wildner, 1994).
A construção de cordões de pedra também exige muita mão de obra e tempo pa ra
execução. Cons titui-se basicamente na colocação de pedras maiores em cordões em
contorno, formando barreiras para o escoamento s uperficial. Havendo erosão na área entre
os cordões, ou mesmo o tombamento do solo por ocasião do preparo, ocorre acúmulo de
terra na base do cordão e, com o tempo, passa a se cons is tir em patamares, reduz indo a
declividade do solo. Por esse motivo não se recomenda ou se recomenda com restrições
a confecção de cordões de pedras em Neossolos muito declivosos, em razão do risco de
erosão e exposição da rocha matriz na parte superior da faixa entre os cordões.
Em razão do aumento da escassez de terras e do consequente aumento do eu p reço,
alguns agricultores passaram a sistematizar as terras mecanizáveis que apresentam
pedregosidade moderada, promovendo a sua remoção e aterramento em can a is abertos
perpendicularmente ao declive (Figma 3), que favorecem a infiltração de água no solo,
reduzindo o escoamento superficial.

Figura 3. Remoção e aterramento de pedras em canais abertos em contorno, em áreas de enco ta do


oeste cata rinense.

Em locais com relevo forte-ondulado e baixo grau de pedregosidade, recomenda-


se o uso d e cordões vegetados, isolados ou associados aos cordões de pedra, seguind o
o es paçamento recomendado para confecção desses. A construção de camalhões
semipermanentes em contorno (Figura 4), prática recomendada para culti O em •olos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


776
MILTON DA VEIGA ET AL.

de b~ixa permeabilidade, também se estabelece em uma prática mecânica de controle da


ero ao, uma vez que os canais localizados entre os camalhões servem como barreiras ao
escoamento uperficial, além de favorecerem a infiltração de água dentro da lavoura.

Figura 4. Camalhões semipermanentes confeccionados em contorno em solo de encosta ou de baixa


permeabilidade.
Fonte: Fotos de Jucinei José Comin e Luiz Alfredo da Fonseca.

Terraços
O terraceamento é uma prática mecânica para manejo da água e conservação do solo,
cujo uso é limitado em áreas com solos de baixa aptidão agrícola, principalmente se adotada
isoladamente. Por isso, quando o relevo e a profundidade do perfil do solo se constituírem
em fatores limitantes, a construção de terraços, de qualquer tipo, deve ser associada à
construção de outras práticas mecânicas e do uso de outras práticas conservacionistas.
Caso isso não ocorra, o risco de erosão e suas consequências podem ser maiores do que
quando não há terraceamento (Calegari e Vieira, 1999).
Na situação de relevo onde não há uniformidade de solos, ou seja, onde existem
diferentes tipos ou associações de solos com atributos distintos, em especial a profundidade
do perfil, os níveis de pedregosidade superficial, o afloramento de rochas, a desuniformidade
do padrão de relevo e a presença de vertentes temporárias, a definição do espaçamento
entre terraços deve levar em consideração o solo com a menor capacidade de infiltração
(Vieira, 1987). Também se recomenda que a construção de terraços seja limitada à extensão
da ocorrência dos solos mais profundos, cujo perfil proporcione a construção da estrutura
necessária sem a exposição do horizonte C (Figura 5). Não é recomendado o uso de terraços
nos locais onde há ocorrência de solos rasos ou com presença de elevados níveis de pedras
em superfície e no perfil do solo. Nessa situação, em razão da disponibilidade de pedras,
e para dar destino às pedras dispersas, o recomendado é a construção de patamares ou
cordões de pedras.
Nos solos cujos perfis apresentam horizontes superficiais arenosos, sobretudo quando
há horizonte E com transição abrupta para o horizonte B (Bt), por causa da elevada
permeabilidade no horizonte superior e baixa no inferior, há possibilidade de ocorrer
escoamento subsuperficial da água armazenada no canal construído acima e causar
rompimento do terraço por meio da sua base construída no horizonte arenoso. Em solos
onde não há horizonte E e, ou, o gradiente textura! é menor, essa situação não é comum
ou com mínima frequência. Vieira (1987) recomenda que nessas situações os canais dos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

- __,
XXIV - MANEJO CONSERVACIONI STA DE SOLO S EM ENCOST AS NO · · · 77 7

tcrrn ços sejam escavados até o horizonte s ubsuperficia l, de fo rma q ue a pa rte infe ri or da
pa red e do canal seja o próprio perfil cio solo, sem revolvim nto, ca rac t riza nd o um terraço
do tipo "embutido" . É importante registrar, também, q ue em solos a renosos há problemas
para estabilização e resistência do camalhão do terraço cm razão da estrutura de grãos
s imples ou fracamente desenvolvida e d a cons istência solta desse tipo d solo. Pa ra
tanto, é recomendável a manutenção mais frequente cio terraço, assim como a proteção
do camalhão com gramíneas, como capim-elefant e, cana-de-aç úca r, ca pim-vetiver, cap im-
cid rei ra ou pastagens perenes em ge ral (Figu ra 5).

Figura 5. Terraços associados a cordões vegetados em solo de encosta em Santa Catarina.

Cordão de pedra
O cordão de pedra, também conhecido como patamar ou taipa de pedra, é urna prática
de manejo da água e de conservação do solo muito tradicional das encostas basálticas do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde ocorrem solos que apresentam os mais
diversos graus de pedregosidade superficial ou no interior do perfil do ·olo.
A construção de um patamar de pedra é urna tarefa á rdua (Figura 6), que e. ige
muita mão de obra e planejamento. Dessa forma, era muito comum a existência de um
mestre construtor de taipas em cada comunidade e, por exigir muita mão d e obra, era
realizada em regime de mutirão, em que os participantes apre enta am muita dedicação
e solidariedade.
É importante registrar que, muito embora as pedras representem dificuldades para
efetua r as práticas de manejo do solo, essas se constituem em excelente" cobertura d o olo" .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


778
MILTON DA VEIGA ET AL.

A retirada da P dra , om u posterior enleiramento na forma de pa tamar, apresenta a


vantagem de limpar o terreno (Pundek, 1995) e diminuir a dificuldade e a penosidade dos
trabalho_ para o manejo adequado do solo; enh·etanto, diminui a proteção na tural do solo,
0
que exige a implantação imediata de ouh·a prática tão ou mais eficiente para a cobertura
do <:,1°· Para aumentru· a eficiência de um cordão de pedra, sugere-se a implantação de um
cordao vegetal a ele associado (Pundek, 1995).

Figura 6. Confecção de cordões e patamares de pedra em solos de encosta de Santa Catarina.


Fonte: Fotos de Oaudino Monegat e dos autores.

Cordão de vegetação permanente


O cordão de vegetação permanente, também conhecido por cordão vegetado, cordão
de contorno vegetado ou patamar vegetado, é uma prática de manejo da água, cujo objetivo
é o controle do escoamento superficial pela redução da velocidade e do volume da água de
escoamento. Também se trata de urna prática complementar de conservação do solo, pois
promove a retenção de parte dos sedimentos transportados pela enxurrada, não muito
Longe do local de onde foram desagregados.
Trata-se de uma prática relativamente simples de implantação, composta por uma
estrutura mecânico-vegetativa, ou seja, composta por um camalhão de base estreita onde
é realizado o plantio de espécies vegetais na parte superior (Merten et al., 1994). O cordão
vegetado também pode ser implantado apenas com a demarcação da linha de contorno e o
plantio da vegetação permanente ou, ainda, essa vegetação acompanhada por um cordão
em contorno construído imediatamente à sua frente (Calegari e Vieira, 1999). Pundek (1995)
recomenda fazer o cordão em contorno com 1 rn de largura, com dois sulcos distanciados
de 0,5 m cada um para posterior plantio adensado das mudas da espécie escolhida. Essa
prática é recomendada para uso em locais com solos declivosos (Figura 7), rasos ou de
textura arenosa (principalmente aqueles com horizonte eluvial), onde o terraço comum
poderá apresentar baixa estabilidade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

_,
XXIV - MAN EJO C ON SERVACIONISTA D E SOLOS EM ENCOSTAS NO ·· • 779

Figura 7. Uso de cordões de vegetação permanente em solos de encosta no oeste catarinense


Fonte: Foto de Claudino Monegat.

As espécies vegetais recomendadas para cultivo em cordões são gramínea de


diversos portes, como capim-elefante-anão (Pennisetu m purpureum), cana-de-açúcar
(Sachantm officinarum), capim-elefante cv. Cameroon (Pennisetum purpureum), capim-
vetiver (ChnJsopogum zizanioides), capim-cidreira (Cymbopogon citratu ) e capim-falaris
(Phalaris híbrida). Embora menos eficientes para fechar os cordões, são indicados o guandu-
arbóreo (Cajanus cajan), a leucena (Leucaena leucocephala) e, até mesmo, a erva-mate (Tlex
paraguariensis). Para aumentar a eficiência dessas espécies, recomendam- e associar fileiras
de gramíneas de porte baixo e, se possível, de ciclo perene e com grande densidade de
raízes, como é o caso de capim-falaris e de capim-cidreira.

Canais divergentes e bacias de captação


O canal divergente é uma prática complementar geralmente utilizad a para aumentar a
eficiência do sistema de terraços. Normalmente são construído à emelhança do terraço
comuns, mas com dimensões que lhes confere capacidade de armazenamento e descarga de
água maior que o volume máximo que a enxurrada possa atingir em determinado tempo d
concentração. No entanto, tendo o canal maior profundidade, aumenta-se a po sibilidad
da ocorrência de afloramento e drenagem de vertentes temporárias, e itando q ue as
ocorram no meio da área de cultivo situada abaixo. Os canais divergentes de em r
usados nas áreas de encostas onde exista heterogeneidade de solos e rele o e construído
de modo a proteger (isolar) as melhores áreas da propriedade localizada , em geral, na
áreas mais baixas da pendente. Os canais di ergentes também podem ser onstruído par
captar água de escoamento de estradas e de áreas construídas (ca as, galp - e , aviário
e chiqueirões), direcionando até aos canais escoadouros ou diretamente aos locais d
armazenamentó dessa água captada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


780
MILTON DA VEIGA ET AL.

As bacias de captação são estruturas construídas para armazenar tempora ri am ente


ª água d e esh·adas rurais, favorecendo sua infiltração e evaporação. No entanto, essas
apresei~tam maior eficiência quando dotadas de um sistema de esgotamento da água,
em razao de a sedimentação das partículas finas em suspensão provocar o selamento das
paredes da estrutura, praticamente impedindo a infiltração de água.

Figura 8. Canal djvergente e bacia de captação utilizados para evitar a entrada de água de estradas
nas lavouras.

Canal escoadouro
O canal escoadouro é outra estrutura complementar que serve de suporte para
o escoamento das águas dos terraços comuns, dos terraços divergentes e dos cordões
vegetados ou de pedra até o loca] definitivo de armazenamento na propriedade ou de
vazão para fora da propriedade.
Recomenda-se que o canal escoadouro seja construído nas depressões naturais do
terreno, em forma de "V" aberto, de modo a ter capacidade para suportar maiores volumes
de água à medida que desce o declive. É necessário, também, que o leito do canal seja
revestido permanentemente com vegetação rasteira e, sempre que possível, associado
a renques transversais de vegetação de maior porte (porte arbustivo, de alta densidade
de raízes) ou barreiras de pedras, madeira ou galhos, cuja função é diminuir ao mínimo
a velocidade do fluxo de escoamento superficial da água morro abaixo. Pequenas áreas
de capoeira ou capões de mato poderão ser utilizadas para essa finalidade, desde que
previamente vistoriadas e, ou, adequadas e monitoradas periodicamente para evitar que,
aos poucos, o leito desse local se converta em sulcos ou voçorocas.

Alocação e proteção de caminhos internos e estradas rurais


Como as propriedades localizadas nas encostas são geralmente estreitas e compridas,
iniciando em um curso de água e terminando no divisor de águas, a construção dos caminhos
internos em contorno (Figura 9a) é fundamental para reduzir a velocidade da enxurrada e,
consequentemente, da erosão q~e ocorre nessas. Adicionalmente, devem-se confeccionar
canais divergentes para conduzir a água acumulada na estrada para locais com vege tação
permariente dentro da propriedade. A proteção dos caminhos com vegetação permanente

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CON SERVACJONI STA DE SOLOS EM E NCOSTA S NO · · · 781

(Fi g ura 9b) também auxilia na redu ção da erosão dentro do s u leito. A consn:ução co_rr~ta
das es tradas rurais ou a realocação dessas em contorno ta m b m é u ma prá hca mecaruca
complementar que au xilia na redução da enxurrada em áreas de la voura. assim como no
trans porte de sedimentos para os cursos de água .

MANEJOS CONSERV ACIONJST AS DO SOLO

O preparo convencional do solo, associado à queima da biorn as a cu ltu ra l resid ual,


determinou um esgotamento progressivo dos sol os de encostas no sul do Bra il,
ocasionando redução na produtividade das culturas, na renda do p rod utor e no aumen to
do êxodo rural. No entanto, são escassos os dados de perdas de solo e suas conseq uências
sobre a produtividade desses solos.

Figura 9. Caminhos internos e estradas rurais construídas em contorno (a) reduzem a erosào no leito
do rio, sendo mais significativos quando vegetadas (b).

Um dos poucos estudos sobre erosão em diferentes preparas em solos de enco ta


foi efetuado por Merten (1993), em um Cambissolo Háplico com textura argilosa com
declividade de 18 cm m-1• Na média de quatro anos, esse autor detectou perdas d e 113,8 t
ha-1 ano- 1 no tratamento onde o solo foi mantido continuamente descoberto. r uma s uces ão
de culturas tremoço-azul/ milho, as perdas de solo foram de 8,7 t ha-1 ano-1, quando se
realizou aração para implantar o milho; de 4,3 t ha-1 ano-1, quando se efetivou escarificação,
e de 0,8 t ha-1 ano-1, quando se fez semeadura direta. As diferenças nas perdas de solo foram
creditadas basicamente à quantidade de biomassa residual que permanecia na superfície
após a semeadura da cultura.
Veiga e Wildner (1997) determinam, em um Cambissolo Háplico com textura média
com 24 cm m-1 de declividade e alta pedregosidade, perda média anual de solo num período
de três anos de 22,6 t ha-1 ano-1, quando o solo foi mantido continuamente d escoberto.
Quando cultivado milho em preparo convencional, a perda foi de 4,8 t ha-1 ano-1, enq uan to
o uso de urna tela de plástico com 1,0 x 1,0 cm de abertura de malha, situad a a _o cm da
superfície do solo, reduziu as perdas de solo para 1,1 t ha-1 ano-1, confirmando a necessidade
d e manutenção de boa cobertura do solo durante todo o ano para reduzir a erosão_ esse

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


782
MILTON DA VEIGA ET AL .

e stu ~o, os_a~tore não detectaram alterações significativas nos atributos químicos do so~o e
na_ P 10?utw1dade de milho, mas a redução na produtividade por tonelada de solo erod ido
foi muito alta, comprovando o efeito acentuado da erosão na diminuição da produtividade
dos solo de encosta que apresentam baixa profw1didade efetiva.

Culth o n1ínimo
O cultivo mínimo é conceituado como a quantidade mínima de operações de campo,
desde o preparo do solo até os tratos culturais, requeridas para criar condições à germinação
da se~1ente e ~o estabelecimento da planta (Curi et al., 1993). Em termos de manejo do solo,
o cultivo m (rurno identifica o sistema onde apenas as faixas correspondentes às linhas de
semeadura são preparadas por meio da abertura de sulcos com equipamentos especiais. No
caso dos solos de encosta nas pequenas propriedades do oeste catarinense, Monegat (1981)
difunde a ideia do cultivo mínimo utilizando plantas de coberturn do solo de inverno, em
especial a ervilhaca comum (Vicia sativa) . Como o preparo do solo consiste somente na
abertura do sulco para semeadura da cultura, o restante da área continua sendo protegida
pela planta de cobertura. Nesse manejo, a cobertura do solo é parcialmente incorporada por
ocasião do sulcamento (20 a 40 %, dependendo do espaçamento da cultura subsequente); e
o restante, parcial ou totalmente por ocasião do controle das plantas daninhas ou adubação
nitrogenada de cobertura, quando incorporada (Monegat, 1991). Para esse autor, o principal
benefício do uso do cultivo mmimo nas pequenas propriedades familiares localizadas nas
encostas é a redução da necessidade de mão de obra na época de preparo do solo, quando
comparado ao preparo convencional, quando toda a área é preparada.
Segundo Monegat (1991), existem quatro tipos de cultivo mínimo. Esses se diferenciam
em razão da espécie de planta de cobertura e da fase em que ele se encontra por ocasião
do seu manejo: cultivo mínimo na fase inicial de crescimento da planta de cobertura,
geralmente com reforço por ocasião da semeadura da cultura sucessora; cultivo mínimo
na fase de floração plena da planta de cobertura; cultivo mmirno após o acamamento da
planta de cobertura; e cultivo mínimo após a colheita da cultura antecessora (Figura 10).
É importante deixar claro que o cultivo mínimo é especialmente adaptado para
culturas que exijam maior espaçamento entre fileiras, como milho, mandioca e fumo. A
cebola é a única cultura com menor espaçamento (0,5 m entre lirlhas), em que o cultivo
mínimo foi utilizado em larga escala. Para esse cultivo, foi realizada uma adaptação nas
enxadas rotativas tracionadas por microtratores e por tratores de pequeno porte, que
preparam urna faixa de aproximadamente 0,15 m de largura x 0,15 m de profundidade,
com incorporação concomitante do adubo, para depois ser efetivado o transplante das
mudas de cebola (Silva et al., 1993).
Monegat (1991) esclarece que o cultivo mínimo pode apresentar alguns inconvenientes,
como: maior dificuldade na operação de sulcamento sem preparo em comparação ao
s ulcamento no manejo convencional; maior ocorrência de ratos e lagarta rosca; e dificuldade
de manejo das plantas druúnhas, exceto quando utilizados herbicidas. Se maJ planejado,
pode interferir negativamente ~os_ :,istemas de produção tradicionais, como c ultivas
intercalares e consórcios de substitu1çao.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MAN EJO C O NSE RVA CIONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO · · • 783

Figura 10. De cima para baixo e da esquerda para direita: cultivo mínimo d urante o ciclo vegetativo
de ervilhaca comum; aspecto no final do ciclo vegetativo da ervilhaca; culti o mínimo ap a
colheita da cultura de inverno; e cultivo mínimo de cebo1a.
Fonte; Fotos extraíd as de Monegat (1991).

Semeadura/plantio direto
Corresponde ao manejo em que a semente, muda ou parte vegetativa é colocada
diretamente no solo não revolvido previamente, usando-se máquinas especiais. Somente é
aberto um pequeno sulco ou cova de profundidade e largura suficientes para garantir uma
boa cobertura e contato do material com o solo, resultando em re olvimento de no máximo
25 a 30 % da superfície do solo. O manejo das plantas daninhas antes e depois do plantio
geralmente é feito com herbicidas (Curi et ai., 1993).
A semeadura direta em solos de encosta expandiu-se mais tardiamente do que no
solos de baixa declividade, em razão da presença de pedras na superfície, que dificultam o
manejo das plantas de cobertura, e da carência inicial de equipamentos adequado par a
semeadura nesse tipo de topografia.
O primeiro equipamento utilizado para semeadura direta nos solos de en co ta foi
o saraquá, conhecido regionalmente como matraca ou pica-pa u. o entanto, egundo
Monegat (1991), o uso desse equipamento apresenta algumas deficiên cias de ordem técnic
ou operacional, quais sejam: dificuldade de alinhamento da emead ura, principalmente
quando há bastante palha; dificuldade de penetração do saraquá quando a cobertura
morta for espessa ou o solo estiver compactado ou seco; desuniformidade de germin ã
e desenvolvimento das plantas quando ocorre estiagem, e m razão de qu e m uitas ment

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


784
MILTON DA VEIGA ET AL.

ão col ca d a mmto
· ra a ; as planta se ressentem pela carência de N, que e, imo
· b't I'iza d o
na d ecomposição inicial da biornas a residual; ocorrência de estiolamento de plântulas
quando a camada de cobertura morta for muito espessa; e maior risco dos efeitos de geadas,
por cau a da proximidade da cobertura morta.
Merten (1994), estudando a produção de feijão em sucessão a diferentes plantas de
cobertura de inverno e mesmo pousio, observa que o rendimento médio d e grãos foi de
1 287 kg ha·1 na semeadura direta com semeadora adubadora de tração animal; de 1142
1
kg ha· , quando o solo foi preparado com aração + duas gradagens; e de 1 088 kg ha·1
na semeadura direta com saraquá, confirmando as li1nitações ao uso desse equipamento
para semeadura direta sem prévio sulcamente do solo, conforme observado por Monegat
(1991 ).
Durante a década de 1990, o uso de semeadoras de tração animal para semeadura
direta foi amplamente difundido, havendo incremento na área plantada nesse manejo nos
solos de encosta. A área manejada em semeadura direta em microbacias hidrográficas
trabalhadas pelo Projeto Microbacias/BlRD em 12 municípios do meio-oeste catarinense,
onde predominam solos de encostas e pequenas propriedades familiares, aumentou de 10
para 40 % da área cultivada com cereais de verão, principalmente mill10, entre as safras
95/ 96 e 97/98 (Veiga e Trombetta, 1998). A maior adoção dessas semeadoras adubadoras
(Figura 11), no entanto, ocorreu em solos de textura franco-arenosa a franco-argilosa, sem
pedregosidade, uma vez que os equipamentos geralmente apresentam menor eficiência
em solos de textura argilosa ou pedregosos.

F' ll. Semeadora manual (saraquá, matraca ou pica-pau), semeadoras de tração anin1al e
mecani•zada , equipamentos utilizados para realizar semeadura direta em solos de e ncosta.
igura

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

-r
XXIV - MANEJO CONSERVACIONISTA D E SOLOS EM E NCOSTAS NO ·.. 785

ADUBAÇÃO VERDE E COBERTURA DO SOLO

O uso da adubação verde como prática agrícola, mesmo antes da Era Cri lã,_co~si ·tia
na incorporação ao solo de matéri a vege ta l não decomposta (fitom~ssc1), com a f~na l~dade
de conservar e, ou, recuperar a produtividade das terras agricultáveis. Para essa finalidad e
e ram utilizadas bas icamente espécies da família Fabaceae, conhecidas co mo legumjnosas,
como o tremoço (Lupin11 s sp.).
O conceito mais difundido e aceito ca racteri za a adubação verd e como o cultivo
de plantas em rotação, sucessão e, ou, consorciação com culturas comercia is (anuai s o u
perenes), incorporando-as ao solo ou mantend o-as em superfície, visando suél proteção,
bem como a manutenção e, ou, recuperação dos atributos físicos, químicos e biológicos
do solo (Costa et ai., 1992). Partes dos adubos verd es podem ser utilizadJs pa ra outro5
fins como produção de sementes para alimentação animal e, o u, huma na, produção de
fibras, forragem, entre outras (Myasaka, 1984). Esse é um aspecto importante, pois quanto
maiores as opções de uso e os benefícios potenciais dos ad ubos verdes, maiores serão a
chances de adoção dessa prática por parte dos agricultores. esse novo enfoque, além
das Fabaceas cultivadas tradicionalmente, podem ser culti vadas também as gramínea
(Poa ceas), crucíferas, cariofiláceas etc. Em condições específicas, plantas espontâneas de
diversas familias, gêneros e espécies botânicas não tradicionais, podem ser utilizadas para
adubação verde.
O manejo mrus tradicional, caracterizado pela incorporação dos adubos verde , foi
largamente utilizado até o inicio dos anos de 1970, com o objeti vo específico de incorporar
a matéria vegetal para melhoria das condições químicas do solo, ou seja, para manutenção
ou recuperação dos teores de matéria orgânica e de N, via fixação biológica (FBt .
Com o advento da Revolução Verde, no final dos anos de 1960, ocorreu a intensificação
da agricultura e a ocorrência de elevados índices de perdas de solo pela erosão hídrica.
A prática da adubação verde, então, mudou radicalmente com a introdução de nova
espécies, em especial as de ciclo anual de inverno, e o seu manejo passou a ser efetuado
de modo a deixar toda a palhada sobre a superfície do solo como uma das estratégias para
controle da erosão. Os próprios adubos verdes passaram a ser denominados de "plantas
de cobertura do solo"; e a adubação verde ocorreu como" prática de cobertura do olo" ou
"cobertura morta".

Efeitos da adubação verde sobre atributos do solo


Os efeitos da adubação verde/cobertura do solo, segundo luzilli e t ai. (19 O), podem
ser observados durante duas fases. A primeira fase refere-se à proteção das planta às
camadas superficiais do solo; e a segunda, à incorporação da fitomassa ao solo. Segundo
Amado (1985), a cobertura do solo por meio de plantas vivas ou de sua fitomassa é o fator
isolado que maior influência exerce sobre a superfície do solo, pois previne a de truição
d e seus agregados e a formação de crostas superficiais, que reduze m a infiltração de água.
Também diminui a velocidade do escoamento superficial, da concentração e do tamanho
d e sedimentos transportados e, portanto, das taxas de perdas de solo e água.
A cobertura do solo também exerce influencia sobre a umidad e e tempera tura do solo.
A influência na redução das perdas de umidade pode ser a tribuída a um a ma tó rio de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


786
MILTON DA VEIGA ET AL.

fatores, entre o quai e destacam a redução da evaporação e do escoamento superficial


e a_ument da infiltração e capacidade de retenção de água no solo (Eltz et al., 1984).
As ~if~renças na urnidade do solo se tornam mais pronunciadas quando da ausência de
precipitaçõ~s, evidenciru1do que os preparos que mantém o solo coberto podem atenuar os
d éfices lúdricos de curta duração (Amado et al., 1990).
Os atributos físicos do solo influenciados pela incorporação da fitomassa dos adubos
' erd~s, se~do Muzilli et al. (1980), são esh·utura, capacidade de retenção de água,
con istênaa e densidade. Outros atributos como a porosidade, aeração, condutividade
hidráulica e infiltração estão ligados às modificações da estrutura do solo. No entarito,
esse efe~to depende circunstru1cialmente da qualidade e quantidade de massa de material
egetaJ incorporada, dos fatores climáticos e dos atributos do solo.
As plantas de cobertura também podem apresentar efeitos diretos sobre os atributos
físicos do solo pela ação mecânica do sistema radicular. Abreu et al. (2004) e Nicoloso
et al. (2008) constataram que a "escarificação biológica" foi mais eficaz em aumentar a
condutividade hidráulica saturada do que a escarificação mecânica, por estabelecer poros
contínuos que conduzem água na direção vertical. Entretanto, de acordo com Calonego e
Rosolem (2008), o sistema radicular das gramíneas é mais eficiente do que o das leguminosas
na fom1ação e estabilização de agregados de maior diâmetro. É importante ressaltar que,
diferentemente da matéria orgânica, as raízes das plantas têm efeito temporário (fisdall e
Oades, 1982) e sazonal (Campos et al., 1999) sobre a formação e estabilização de agregados
do solo.
Informações complementares sobre o assunto podem ser encontradas em Lima Filho
et al. (2014, 2015).

Manejo da fitomassa
O manejo da fitomassa está diretamente relacionado com o sistema de preparo do solo
e de semeadura da cultura subsequente. Para o pequeno agricultor em áreas de encosta,
essa é uma etapa complicada, uma vez que as operações são realizadas predominariternente
com o uso de tração animal e exigem esforço humano e maior consumo de mão de obra
(Monegat, 1991).
A quantidade de fitomassa a ser produzida em determinada área de exploração agrícola
depende, basicamente, do interesse e objetivo do agricultor. O tempo de perrnariência
da cobertura vegetal é definido tomando-se por base o sistema de produção adotado
na propriedade, podendo ser maior ou menor do que aquele até então preconizado por
essa prática agrícola. O que não se deve prescindir é da cobertura do solo sob cultivo,
em qualquer época do ano, com vistas à manutenção de sua integridade física, química e
biológica (Wutke, 1993).
Assim sendo, o agricultor pode optar por três sistemas básicos de manejo: incorporação
total da fitomassa, caracterizando a tradicional adubação verde; incorporação parcial
da fitomassa, distinguindo o chamado cultivo mínimo; e sem incorporação ao solo,
descrevendo a semeadura direta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CONSERVACIONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO • • · 787

Incorporação total da fitomassa

Foi o manejo mais conhecido e d ifundid o inicialmente ntre o agricull res. A


incorporação pode ser realizada a qualquer tempo, dependendo do objetivo do agricultor.
A época tradicionaJmente recomendada para esse manejo é por ocasião da floração plena
do adubo verde. É nessa fase que, para as plantas de crescimento determinado, ocorre
o máximo acúmulo de fitomassa e nutrientes. Quando efetuado antecipadam nte,
a velocidade de decomposição da fitomassa será maior, e os níveis de n utrientes serão
menores. Quando retardado o manejo, as plantas se tomarão mais " lenho " (relação
C/N maior), e a decomposição será mais lenta. A opção por uma ou outra época de manejo
estará em função, principalmente, da época de semeadura da cultuia em sucessão. Esse
tipo de manejo deve ser efetivado com arados e grades (nivelado ras ou aradoras).

Incorporação parcial da fitomassa


A incorporação parciaJ da fitomassa de adubos verdes/ plantas de cobertura do solo
pode ser feita pelo cuJtivo mínimo com tração animaJ de três maneiras distintas, em razão
da espécie e fase do ciclo vegetativo em que se encontra o adubo verde por ocasião de u
manejo (Monegat, 1991):
a) Cultivo mínimo antes da floração do adubo verde - esse tipo de cultivo mínimo
realizado em áreas com adubos verdes de porte baixo ou rasteiro e com desenvolvimento
iniciaJ lento (serradela, trevo encarnado, lentilha e gorga), pouca produção de fitem.assa e
ciclo longo. O manejo é efetuado quando as plantas promovem 100 % de cobertura do olo.
Os sulcos devem ser largos, e a semeadura, de preferência, deve ser em linhas pareadas.
Esse sistema permite a semeadura antecipada do milho e ressemeadura natural do adubo
verde. Após o final do ciclo do adubo verde, entre as linhas pareadas da cultura principal,
é possível fazer uma nova semeadura (tardia) em semeadura direta, caracterizando assim
um consórcio de substituição ou sucessão de culturas.
b) Cultivo mínimo na fase de floração plena do adubo verde - como já caracterizado,
o manejo é feito na época mais indicada para tal. Em muitas ocasiões, quando a produçao
de fitomassa é muito grande, ocorrem dificuldades para reaJizar o sukarnento. Algumas
vezes ocorre embuchamento da pá do arado; e, outras vezes, a fitomassa do adubo verde
cai sobre o sulco aberto, prejudicando a semeadura e emergência da cultura em sucessão.
Para evitar esses problemas, recomenda-se, por ocasião da cobertura total do solo (100 o),
fazer um primeiro suJcamento, também chamado de pré-suJcamento. essa ocas1ao,
deve-se usar um arado com pá média ou grande. O pré-sulcamente retarda um pouco o
crescimento do adubo verde e não permite a produção exagerada de fitomassa. Por ocasjão
da floração do adubo verde é realizado o sulcamente definitivo. Esse tipo de culti o mínimo
é efetivado em áreas com ervilhaca comum, ervilhaca peluda, chícharo (Lathyru -ativiL),
aveia-preta etc. Após o finaJ do ciclo do adubo verde, também é possível implantar uma
nova cultura nas entrelinhas da cultura principaJ, em semeadura direta, como consórcio de
substituição ou sucessão de culturas.
e) Cultivo mínimo após acamamento dos adubos verdes - esse é o xemplo típico
do cultivo mínimo com adubos verdes de verão, como as mucunas, mas pode er
também usado com adubos verdes de inverno. Para o acamamento das plantas, podem
ser utilizados equipamentos típicos como o rolo-faca e o rolo-dis o ou, ainda, a gr de u
roçadeira (manuaJ ou mecânica). Ainda há a opção de reaJizar a de ecação suplementar

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


788
MILTON DA VEIGA ET AL .

com herbi cida. Após uma ou duas s1: manas do aca mamento, quando a fit o massa esti ver
e m e stádio avançado de secamento, procede-se ao sulcamento. Para o s ulcame nto e m
re teva de adubos verdes de porte ereto (aveia, centeio, nabo forra geiro, crota lárias etc.),
recomenda-se o uso do arado de tração animal ou "arado fuçador". Em restevas de adubos
' erdes d_e h ábito volúvel (ervilhaca comum, ervilhaca peluda, mucuna etc.) aconselha-se a
adaptaçao de um disco de corte na frente da pá do arado, para cortar os ta los das plantas.

l\1anejo da fitomassa sem incorporação ao solo

_P~ra o manejo da fitomassa sem incorporação ao solo, podem ser utili zados m é todos
mecarncos (rolo-faca e, em casos especiais, as roçadeiras ou picadores) e, ou, m é todos
químicos (dessecação com herbicidas). Os métodos mecânicos devem ser usados com
muito critério, principalmente no que se refere à época do manejo, para evitar problemas
de mau acam am ento e, ou, rebrota. Por isso, o acamamento deve ser feito na floração plena
ou fase de grão leitoso, conforme a espécie a ser manejada. Quanto ao método químico, e m
geral, são utilizados produtos de ação total (dessecantes). Recomenda-se muito critério no
seu u so, principalmente com relação à tecnologia de aplicação, para evitar problemas de
intoxicação e danos ao meio ambiente.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA, COM ÊNFASE PARA USO DE


DEJETOS ANIMAIS

A adubação orgânica também se constitui em uma prática de manejo conservacionista


de solos: diretamente, por melhorar seus atributos químicos, físicos e biológicos; e,
indiretamente, por proporcionar maior crescimento vegetativo das culturas, aumentando a
cobertura do solo e o aporte de fitomassa. Dentre os vários materiais orgânicos que podem
ser utilizados como fertilizantes incluem-se os dejetos animais, especialmente a carna de
aviário; o dejeto líquido de suínos; e o dejeto de bovinos, que representam as atividades
pecuárias mais expressivas em regiões onde ocorrem solos de encosta no sul do Brasil.
A concentração de nutrientes nos dejetos animais é muito variável, sendo dependente
da espécie, da alimentação, do sistema de criação, do material utilizado como cama e do
manejo e da forma de armazenamento dos dejetos.
Os efeitos da aplicação de dejetos animais sobre o solo, a planta e o ambiente são
variáveis, dependendo da sua composição química (quantidade e forma dos nutrientes),
da dose, do modo, da época, da frequência e do tempo de aplicação. Em razão da baixa
concentração de nutrientes nos dejetos, um maior volume deve ser aplicado para que a
mesma quantidade de nutrientes seja suprida às plantas em relação aos fertilizantes
formulados solúveis. No entanto, por causa da relação dos nuh·ientes encontrada nos
dejetos, dificilmente a ad~bação o~g~_ca ~ us~da como único_ fertilizan_te .. Estud_o_s têm
indicado que os dejetos tem um sigruficativo impacto nos atnbutos qmm1cos, fisicos e
biológicos do solo, sendo muitos dos efeito~ a~ibuídos ª? aumento d~ teor de matéria
orgânica no solo pela adição deles (Kanch1kenmath e Smgh, 2001; Risse et al., 2006),
resultando no aumento da produtividade do solo (Muchorvej e Obreza, 1996).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CONSERVACIONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO • · · 789

Em um diagnóstico para determinar o teores de macro e mi ronutrientes em lavoura


de microbacias hjdrográficas no Estado de Santa Catarina, Pandolfo tal. (2011) verificam
que os a ltos teores de P, K, Cu e Zn no solo da regjão oe te do E tado ão decorrente do
histórico de uso intensivo de dejetos animais, principalmente dejetos de aves e uínos.
Os dejetos são fontes dos principais nutrientes exigidos p Jas culturas com N, P, K,
Ca, Mg e S, bem como de micronutrientes como Cu, Zn, Fe e Mn. Estudos com dejeto
suínos demonstraram o incremento na produção de matéria seca em todas as e P cí
da rotação utilizada e aumento na produção de grãos de milho Ceretta et al., 2005),
elevação significativa na produção de grãos, especialmente de gramíneas (Sartor et al.,
2012), e no acúmulo de nutrientes e aumento na produção de mas a de mat ria ec n
plantas de cobertura utilizadas (Aita et al., 2006). Estudos também têm demon trado que
a produção e qualidade das plantas são equivalentes ou superiores quando fertilizada
com dejetos em relação aos adubos solúveis (Risse et ai., 2006). Scherer et al. (19 )
observam que o rendimento de grãos de milho, cultivado em manejo convencional,
aumentou significativamente com a quantidade de esterco aplicada no solo. adubação
de manutenção com 3,5 t ha·1 ano·1 de esterco pastoso de suino (base seca) upriu a cultura
do rrul.ho em macronutrientes, proporcionando rendimentos equivalentes aos obtido com
adubo mineral.
Os efeitos dos dejetos aromais nos atributos físicos do solo geralmente nece itam
de algum tempo para serem observados, principalmente nos solos mais argila os. Ess
efeitos também estão associados às doses utilizadas e ao tempo de uso desses. o entanto,
os dejetos animais também podem ser considerados como condicionadores do solo,
além de adubo orgânico. A adição de matéria orgânica e outros constituintes ao solo tem
contribuído sob diversos aspectos para obter um solo com melhor qualidade física e, por
consequência direta ou indireta, menos susceptível à erosão e degradação física. Costa et
al. (2009) verificam diminuição no teor de argila dispersa em água, na densidade do solo e
na porosidade total quando esses atributos foram avaliados aos 60 e 210 d após a aplicação
de doses de cama de aviário em um Latossolo Vermelho de textura médja_ Entretanto,
Arruda et al. (2010) observam, após 50 meses da aplicação de 50 e 100 m 3 ha-1 de dejetos
suínos em um Latossolo Vermelho, redução na estabilidade de agregados em relação
testemunha, sem aplicação de dejeto, mas os demais atributos avaliados, incluindo o teor
de CO, não foram modificados pelos tratamentos, concluindo-se que o uso desse resíduo
apenas manteria a qualidade física desse solo. Silveira (2009), estudando o efeito de do es
de dejeto líquido de bovinos, verificou diminuição na perda de olo com o aumento da
dose durante o período avaliado e aumento na produção de massa de rnetéria seca da
aveia-preta, mas não na produção de grãos de soja, milho e trigo. Whalen et al. (2003), em
trabalho com semeadura direta e preparo convencional, rotação de culturas e doses de um
dejeto de bovinos compostado, concluem que a aplicação do dejeto de bovinos e a adoção
de práticas de semeadura direta aumentaram a agregação em solo franco-siltoso, em um
período de dois anos.
As doses de dejetos aromais recomendadas pela SBCS (2004) levam em cont a
concentração do nutriente nesses e o índice de eficiência de cada nutriente. A aplicação de
dejetos em doses elevadas, no entanto, pode exceder a capacidade de reciclagem do ol
e levar à ocorrência de problemas ambientais, cuja magnitude depende desse eJ cedente
(Boyd, 1994; Choudhary et al., 1996; Houtin et al., 1997). Fatores como tempo, e
método de aplicação dos estercos influenciam na probabilidade da degradação ambiental,
especialmente a da água (Muchovej e Obreza, 1996).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


790
---
MILTON DA VEIGA ET AL.

_O materiai s orgânicos, s lidos ou líquidos, apresentam taxas d e liberação de


nutnentes muito variáveis, que interferem na disponibilidade para as plantas (NRS/
BCS, 2004). Em geral, os esterco sólidos e a biomassa residual com altos teores de fibras
e ~ignina apresentam maior relação C:N e menores quantidades de nuh·ientes na forma
mmera\, endo decompostos mais lentamente no solo e liberadas, inicialmente, menores
quantidades de nuh·ientes para as plantas (Quadrn 1). ContraTiarnente, os estercos líquidos
apresentam maior proporção de nutrientes na forma minem\, prontamente disponíveis para
as plantas. A fração mineral de qualquer 1naterial orgânico e os elementos mineralizados
no solo têm o mesmo efeito que os nub·ientes contidos em fertilizantes minerais solúveis
e, por isso, estão sujeitos às mesmas reações no solo. O K aplicado por meio de estercos se
toma dispon.ivel no primeiro cultivo, em razão de que esse nutriente não forma compostos
orgânkos que necessitem serem mineralizados para sua liberação (Quadro 2).
Para o cálculo da quantidade de esterco a ser aplicada para suprir a necessidade de
nutrientes para discriminada cultura ou pastagem, devem ser considerados, ao mesmo
tempo, os teores disponíveis no solo, o teor no material a ser utilizado e o índice de
eficiência. Determinada a necessidade de nutrientes para a cultura, a quantidade de
esterco a ser aplicada pode ser definida tanto para suprir o elemento menos limitante
corno o mais limitante, correspondendo, respectivamente, à aplicação da menor e
maior quantidade de esterco, além de interpolações entre essas. No primeiro caso, será
necessária suplementação dos demais nutrientes na forma de adubo mineral solúvel e,
no segundo, haverá aplicação em excesso dos demais nutrientes.

Quadro 1. Concentração m édia de nutrientes e teor de matéria seca de alguns materiais orgânicos

Material orgânico Nutriente Matéria


N rp ~o Cu Zn seca
dagkg-1 -- mg kg·1 - - %
Cama de frango (7-8 lotes)Cll 3,2 3,5 2,5 2 3 75
Cama sobreposta de suínos<1 l 1,5 2,6 1,8 40
Esterco sólido de bovinos(ll 1,5 1,4 1,5 2 4 40
Composto de dejeto de suínos<2l 2,1 1,8 1,4 801 723 53
3
- - - kg m· - -- - --g m ·3 ---- %
Esterco líquido de suínos(l> 2,8 2,4 1,5 16 43 4
Esterco líquido de bovinosPl 1,4 0,8 1,4 4
Fontes: OIJ\.1RS/SBCS (2004); mo ai Prá e t ai. (2009).

Quadro 2. Eficiência dos nutrientes aplicados no solo pelos diferentes tipos de esterco, e m cultivas
sucessivos

Esterco 1 ° cultivo 2° cultivo


N p K N p
------------------------------- % ---------------------------
Cama de frango 50 80 100 20 20
Esterco sólido d e bovinos 30 80 100 20 20
Esterco líquido d e s uínos 80 90 100 10
Fonte: NRS/SBCS (2004), m odificado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XXIV - MANEJO CONSERVACIONISTA OE SOLOS EM ENCOSTAS NO · · • 791

Quando se define a quan tídad de esterco a a plicar m r zão do nutriente m i


limitante, ou mesmo quando se aplica uma do superior a es a, faz-s,e ~ece. rio o
acompanhamento constante dos teores no olo para evitar o acúmulo em mvelS acima d
tolerados pelas plantas ou que representam risco de contaminação das água superficiais,
quando transportados pela erosão, ou subterrâneas, quando transportados por lixiviaçã .
O dejeto líquido de suínos também apresenta alto potencial para s uprimento d
nutrientes para as culturas e pastagens, além de aumentar o teor de macro e micronutrientes
no solo. O maior problema no uso do esterco üquido de suínos é em relação dificuldad
de aplicação em áreas declivosas, em razão da alta diluição do nutrientes com , gua
nas estruturas de tratamento e, ou, armazenamento. O trans porte desses dejetos par a
lavouras situadas distantes da unidade de criação dos anjmaís é quase sempre invi, vel
economicamente. Scherer (2005) avalia a economicidade do transpoTte e do uso de d jeto
líquido de suínos como fertilizante a partir de 98 amostras coletadas em esterqueira n
região oeste catarinense e verifica que a cListância máxima de transporte des es dejetos foi
de 30 km, com base no teor médio das amostras. No entanto, a redução do volume de água
adicionada aos dejetos viabilizaria, de forma econômica, o transporte e a reciclagem des
na agricultura.
A aplicação superficial de dejetos líquidos em áreas declivosas e em solos rasos
pedregosos deve ser cuidadosamente avaliada, de forma a se evitar o escoamento su p rficiaJ
do dejeto para os corpos de água superficiais (Oliveira, 2004), principalmente em área
mui to compactadas por causa da utilização com bovinocultura (Silva Jr e Zamparetti, 2006) .
Ceretta et al. (2005) afirmam que a concentração de P e N mineral na solução escoada foram
diretamente relacionadas às doses de dejetos suínos aplicadas e que, apesar de pequena
sob o ponto de vista de nutrição de plantas, os maiores picos de concentração poderão
resultar em eutrofização nos mananciais de água. Segundo os mesmos au tores, a aplicação
de alta quantidade de dejetos em relevos acidentados ou a ocorrência de precipitações
pluviais em solos com pouca cobertura do solo e bruxa permeabilidade favorece o
escoamento superficial desse material.
Em termos arnbientajs, Scherer et al. (2010) verificam que nos eossolos e Cambíssolos,
que ocorrem em áreas de grande declividade, ocorreu a movimentação de P até a camadas
de 40-50 e 70-80 cm, indicando maior potencial de lixiviação do P nesses solos apó sucessi as
aplicações de dejetos líquidos de suínos em áreas agrícolas de SC. o entanto, mesmo com
a aplicação de dejetos por mais de 20 anos, os teores de P nas camadas inferiore do olo
continuam sendo interpretados entre médios a baixos. O grande acúmuJo de nutrientes
na camada de 0-5 cm em áreas adubadas com dejetos de suínos indica maior potencial d
poluição ambiental por escoamento superficial do que em áreas com adubação mineral.

PLANEJAMENTO EM MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

Segundo Freitas (1995), durante muito tempo, o trabalho de con e ação do solo
e da água em.solos de encosta foi desenvolvido utilizando as unidades tradicionais de
planejamento até então conhecidas, quais sejam as comunidades e as propriedades de
forma isoladas. O incentivo maior era para adotar práticas mecanicas de conserva - 0 do
solo, corno o terraceamento (Pundek, 1994). A adoção inicial foi grande, mas em p uc

MANEJO. E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


792
MILTON DA VEIGA ET AL.

temp a prática foi abandonada porque O manejo da terra entre os terraços era feito na
fom1a convencional, não conlTolando de forma eficiente a erosão e degradação do solo.
O incentivo ao uso de práticas vegetativas de conh·ole da erosão, como a adubação
erde e os preparas com menor revolvimento do solo, como o cultivo núnimo, h·ouxeram
bons resultados. No entanto, as ações continuaram sendo pontuais e pulverizadas, diluindo
0 esforço dos extensionistas rurais e contribuindo, também, para a falta de ação integrada

das instituições que trabalham com assistência técnica para os agricultores.


Essa fom1a de atuação passou a ser redesenhada quando o trabalho de manejo
dos recursos naturais passou a considerar a rnicrobacia lúdrográfica corno unidade de
planejamento, que se constitui em uma área geográfica definida pela topografia, delimitada
pelos di isores de água. O planejamento em núcrobacias lúdrográficas teve seu maior
impulso no sul do Brasil a partir da execução de projetos estaduais com financiamento
do BIRD, inicialmente no Paraná e posteriormente em Santa Catarina e no Rio Grande
do Sul. A primeira edição desses projetos em cada Estado teve como objetivo recuperar
e conservar a capacidade produtiva dos solos, conduzindo a um aumento sustentado da
produtividade do trabalho e da renda líquida dos agricultores.
As principais atividades desenvolvidas em nível de campo foram: planejamento
conservacionista da propriedade; desenvolvimento florestal, enfatizando a produção
de lenha para autoconsurno; aproveitamento racional dos dejetos animais; destinação
correta das embalagens vazias de agrotóxicos; incentivo ao uso de práticas de manejo
conservacionista do solo de forma integrada dentro da propriedade e entre as propriedades,
com estímulo ao uso de plantas de cobertura do solo, de manejas conservacionistas do solo
(cultivo mínimo e semeadura direta) e de práticas de controle do escoamento superficial
de águas (terraços e cordões vegetados); e realocação e conservação de estradas rurais e
internas.
Ainda segundo Freitas (1995), em muitas microbacias os resultados foram
significativos em relação ao incremento do uso das práticas preconizadas, e mudanças
significativas foram observadas nas microbacias trabalhadas com relação à despoluição
do ambiente, principalmente na melhoria da qualidade da água para consumo humano e
animal em razão da melhoria no manejo dos dejetos animais. Para esse autor, os avanços
ocorreram porque a atuação dos agentes de assistência técnica e extensão rural passou a
ser concentrada numa área física delimitada pela rnicrobacia, bem como as soluções eram
discutidas e as ações priorizadas com participação efetiva dos agricultores, havendo um
intercâmbio muito forte de experiências entre eles.
o "Manejo e conservação dos recursos naturais sob o enfoque da microbacia
hidrográfica" é abordado neste mesmo livro, no capítulo 18.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de comple~_o, o manejo conse:va~ionis~a. em solos ~e en~~sta tem apresentado


bons resuJtados nas regioes onde houve açao s1stematica do serviço oficial de Extensão Rural
dos estados, mas tem sido negligenciado aos longos dos anos. A condição socioeconômica
do meio rural, com a redução da competitividade da produção de grãos em pequena
escala, tem levado ao abandono de áreas com restrição à motomecanização, condição na

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CONSERVACIONJSTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO · · • 793

qual se enquadra grande percentual dos o los de nco ta . Esse ab ndono tem s acentuado
també m pela redução do número de filhos por família, poi o uso e manejo de as rea
demandam muita mão de obra.
Em função da expansão da bovinocultura de leite nas áreas d encosta basálticas no uJ
do Brasil, a tendência atual é a implantação de pastagens perene em áreas anteriormente
utilizadas com culturas anuais. Desde que bem manejadas, as pa tagens repre entam
uma condição de uso mais apropriado para os solos de encosta quando con ideramo
conjuntamente os aspectos técnicos, ambientais, econômícos e sociais do uso da terra.

LITERATURA CITADA

Abreu SL, Reichert JM, Reinert DJ. Escarificação mecánica e biológica para redução da compactação
em Argissolo franco arenoso sob plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:- 19-611.
Aita C, Port O, Giacomini SJ. Dinâmica do nitrogênio no solo e produção de fitoma por plantas d
cobertura no outono/inverno com o uso de dejetos de suínos. Rev Sras Cienc Solo. 2006;30:901-10.
Amado TJC. Relações da erosão hídrica dos solos com doses e formas de manejo do r íduo da
cultura de soja [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1 - .
Amado TJC, Matos AT, Torres L. Flutuação de temperatura e umidade do solo sob preparo
convencional e em faixas na cultura da cebola. Pesq Agropec Bra . 1990;25:625-31.
Arruda CAO, Alves MV, Mafra AL, Casso! PC, Albuquerque JA, Santos JCP. plicação de dejeto
suíno e estrutura de um Latossolo Vermelho sob semeadura direta. Ci Agrotec. 2010;34: 04- 09.
Bacic ILZ. Demand-driven land evaluation: with case studies in Santa Catarina, Brazil. agerungen;
Wageningen University and lTC; 2003.
Sacie ILZ. Development of a land evaluation method for the southem agro- ecological zone oí Santa
Catarina State-Brazil [thesis]. International Lnstitute for Aerospace Survey and Earth Sciences;
1998.
Sacie ILZ, Bregt AK, Rossiter DG. A participatory approach for integrating risk as e ment into rural
decision-making: a case study in Santa Catarina, Brazil. Agric Syst. 2006a;87:229--t4.
Bacic ILZ, Rossiter DG, Bregt AK. Using spatial information to improve coUective understanding
of shared environmental problems at watershed levei. Landscape Urban Plan. 20 6b;77, 34-66.
Sacie ILZ, Martins RP, Pivetta JR, Dortzbach D. Participatory and demand-driven land e aluation: an
on-going experience in Lontras, Santa Catarina, Brazil. ln: 19th World Congr of il en
Soil Solutions for a Changing World [CD ROM]; 2010a; Brisbane.
Bacic ILZ, Pivetta JR, Martins RP. Participatory soil and land evaluation mapping: an altero ti e
approach to improve soil and land evaluation information u efulness to d ision makers. ln:
lntemational Conference on Soil Classification and Reclamation of Degraded Land in Arid
Environments (ICSC, 2010) and Launching of Abu Dhabi Soil Surve Report. bu Dh bi:
United Arab Ernirates; 2010b.
Sacie ILZ, Rossiter DG, Bregt AK. The use of land evaluation information by land us plann rs and
decision-makers: a case study in Santa Cata.rina, Brazil. Soil Use r lanage. 2003:19:U .
Bartelli LJ, KJingebiel AA, Baird JV. Soil surveys and land use planning. Iadi on: il ience _ ie
of America and American Society of Agronom ; 1966.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


794
MILTON DA VEIGA ET Al ,

Bennema J, B ek KJ , Camargo MN. Um istema de ela sificação de capacidade de uso da terra para
levantamento d e reconhecimento de aios. Rio de Janeiro: DPFS/DPEA/MA/FAO; 1964. (Não
publicado)

Bo d WH. Agricultura! wa te management planning. J Soil Water Conserv. 1994;49:53-57.


CaJegari A, Vieira MJ. Técnicas de controle da erosão. ln: Castro Filho C, Muzilli O, edito res. Uso e
manejo de olo de baixa aptidão. Londrina: IAPAR; 1999. p.53-100.
Calonego J~, Ro _olem CA. Estabilidade de agregados do solo após manejo com rotação de culturas
e carificaçao. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:1399-407.
Campos_ BC, Reinert DJ, Nicolodi R, Casso! LC. Dinâmica da agregação induzida pelo uso de plantas
de im emo para cobertura do solo. Rev Bras Ci Solo. 1999;23:383-91.
Ceretta CA, Basso CJ, Vieira FCB, Herbes MG, Moreira ICL, Berwanger AL. Pig slurry: I-nitrogen and
phosphorus lasses by surface run off in a soil cropped under no tillage. Ci Rural. 2005:35:1296-304.
Choudhary LD, Bailey LD, Grant CA. Review of the use of swine manure in crop production: effects
on ield and composition and on soil and water quality. Waste Manage Res. 1996;14:581-95.
Costa AM, Borges EN, Silva AA, Nolla A, Guimarães EC. Potencial de recuperação física de um
Latossolo Vermelho, sob pastagem degradada, influenciado pela aplicação de cama de frango.
Ci Agrotecnol. 2009;33:1991-8.
Costa MBB, Calegari A, Mondardo A, Bulisani EA, Wildner LP, Alcântara PB, Miyasaka S, Amado
l]C, coordenadores. Adubação verde no Sul do Brasil. Rio de Janeiro: AS-PTA; 1992.
Curcio GR. Solos de encosta de baixa aptidão agrícola da área em estudo. ln: Merten GH, coordenador.
Manejo de solos de baixa aptidão agrícola no Centro-Sul do Paraná. Londrina: IAPAR; 1994.
(Circular técnica, 84).
Curi . Coordenador. Vocabulário de ciência do solo. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo; 1993.
Dai Prá MA, Corrêa EK, Corrêa LB, Lobo MS, Sperotto L, Mores E. Compostagem como alternativa
para gestão ambiental na produção de suínos. Porto Alegre: Evangraf; 2009.
D' Agostini LR, Schlindwein SL. Dialética da avaliação do uso e manejo das terras: da classificação
interpretativa a um indicador de sustentabilidade. Florianópolis: UFSC; 1998.
Dufloth JH, Cortina N, Veiga M, Mior LC. Estudos básicos regionais de Santa Catarina [CD ROM].
Florianópolis: EPAGRI; 2005.
Eltz FLF, Casso] EA, Guerra M, Aprâo PUR. Perdas de solo e água por erosão em diferentes sistemas
de manejo e coberturas vegetais em solo São Pedro (Podzólico Vermelho Amarelo) sob chuva
natural. Rev Bras Cienc Solo. 1984;8:245-9.
FAO. A framework for land evaluation. Roma: 1976.
f AO. Guidelines: land evaluation for rainfed agriculture. Roma: 1983.
FAO. Land evaluation for forestry. Roma: 1984.
F AO. Guidelines: Jand evaluation for irrígated agriculture. Roma: 1985.
FAO. Guidelines: Jand evaluation for extensive grazing. Roma: 1991.
FAO. Guidelines for Jand-use planning. Rome: 1993.
FAO. Our Jand our future: A new approach to land use planning and management. Roma: 1996.
F •tas VH. A microbacia hidrográfica como unidade de planejamento em projetos de conservação
rei do solo e da água no serviço de extensão rural. Florianópolis: EPAGRI; 1995. (Documento).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV .. MANEJO C ONSERVACIONISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO · •• ]g5

Houtín JA, Coíllard D, Karam A. Soíl carbon, nitrog n and phosphorus content in maize pio fter
14 yea rs of pig slurry applíca tions. J Agríc Scl. 1997;129:187-91.
Kanchíkerímath M, Síngh D. Soíl organíc matter and biologícal prop rti fter 2 year f maíze-
wheat-cowpea croppíng as affected by manure and fertílizatíon in Cambisol in rruarid
regíon of lndia. Agric Ecosyst Environ. 2001 ;86:155-6.
Klamt E, Stammel JC. Manejo adequado dos solos da encostas basálticas. Trigo Soja. 19 ;7 : 11.
Klingebiel AA, Montgomery PH. Land-capability classification. W hin ton, D.C.: Uníted Stal
Department of Agriculture; 1961. (Agriculture Hand book, 210).
Lepsch IF, Bellinazzi Junior R, Bertolini D, Espíndola CR. Manual para levantamento utilitário do
meio físico e classificação das terras no sistema de capacidade deu o. Campin • SBCS; 19 3.
Lepsch TF, Espíndola CR, Vischi Filho OJ, Hernaru LC, Siqueira OS. ManuaJ para levant, mento
utilitário e classificação de terras no sistema de ca pacidade de uso. Viçosa, MG: SBC:S; 2015.
Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, editores. Adubação verde e planta de cobertur
no Brasil: fundamentos e prática. Brasilia: Embrapa; 2014. v.1.
Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, editore . Adubação verde e plantas de cobertura
no Brasil: fundamentos e prática. Brasília: Embrapa; 2015. v.2.
Merten GH. Perdas de solo e de água em sistemas de preparo com tração animal. ln: Anaí do1º
Encontro Latino Americano sobre Plantio Direto na Pequena Propriedade; 1993; Ponta Gro
Ponta Grossa: IAPAR; 1993. p.239-42.
Merten GH. Rendimento de grãos de feijão em diferentes sistemas de preparo d o solo com ~ção
animal. ln: Resumos do10º. Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Agua;
1994; Florianópolis. Florianópolis: SBCS; 1994. p,178-9.
Merten GH, Fernandes FF, Machado M, Ribeiro MFS, Samaha MJ, Benassi DA, Gomes EP, iqueira
EM, Silva FAE. Estratégias de manejo para solos de baixa aptidão agrícola da Região Centro-
Sul. ln: Merten GH, coordenador. M~nejo de solos de baixa aptidão agrícola no Centro-Sul o
Paraná. Londrina: IAPAR; 1994. p.55-110. (Circular técnica, 84).
Monegat C. A ervilhaca e o cultivo mínimo. Chapecó: EMATER/ ACA~ESC; 19 1.
Monegat C. Plantas de cobertura do solo: caracterís ticas e manejo em pequenas propriedades.
Chapecó: Edição do autor; 1991.
Maser JM, Justus ARM, C Neto AB, Freire FA, EuJálio HN, Coutinho JBL, Pire JL, Vieira PC,
Shirnizu SH. Estudo preliminar dos solos do Oeste Catarinense - aptidão agrícola e irrigação.
ln: Programa e Resumos da 9". Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da - gu
1992; Jaboticabal. Jaboticabal: SBCS; 1992. p.51.
Muchovej RMC, Obreza TA. Application of organic wastes in agriculture. ln: Alvarez , VH, Font
LEF, Fontes MPF, organizadores. O solo nos grandes domínios morfoclimátic do B iJ e o
desenvolvimento sustentado. Viçosa, MG: SBCS/UFV; 1996. p.901-14.
Muzilli O, Vieira MJ, Parra MS. Adubação verde. ln: Fundação ln tituto Agronômico do Paraná.
Manual Agropecuário para o Paraná. Londrina: 1980. p.76-93.
Myasaka S. Histórico de estudos de adubação verde, leguminosa viáveis e uas caract r tic
Adubação verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargill; 1984.
Nicoloso RS, Amado TJC, Schneider 5, Lanzanova ME, Girardello C, Bragagnolo J. E.fici~n ·a da
escarificação mecânica e biológica na melhoria do atributos físico- de um Lato I muito
argiloso e no incremento do rendimento de soja. Rev Bras Cienc Solo. _QQ ;32:1723-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


796
MILTON DA VEIGA ET AL.

liveira PA
. · T ecno 1 gia - de suínos: manua t d e b oas
· para o manejo de resíduo na produçao
práhca • Concórdia: Embrapa uíno e Aves. 2004.
Pand lfo C '1, eiga M, Spagi101lo E. Macro e micronutrientes no solo em lavouras amostradas no
e tado de anta Catarina. Rev Cienc Agrovet. 2011;11:7-16.
nd
Pu ek · Con ervação do alo; terraços cordões vegetais. Florianópolis: EPAGRI; 1995. (Boletim
didático, 10). '

Pundek '1. Levantamento e planejamento conservacionista de propriedades rurais em rnicrobacias.


ln: Santa Catarina. Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. Manual de uso, manejo
e conservação do solo e da água: Projeto de recuperação, conservação e manejo dos recursos
naturai em m.icrobacias hidrográficas. 2ª.ed. Florianópolis: EPAGRI; 1994. p.357-84.
Pundek '1 . Manual de conservação do solo. Florianópolis: ACARESC; 1985.
Ramalho Filho A, Pereira EG, Beek K) . Sistemas de avaliação de aptidão agrícola das terras. Brasília:
SUPLA /MA/EMBRAPA-SNLCS; 1978.
Ris e LM, Cabrera ML, Franzluebbers AJ, Gaskin JW, Gilley JE, Killom R, Radcliffe DE,
Tollner WE, Zhang H . Land application of manure for beneficial reuse. 2006. [acessado
em 22 de oct. 2012] Disporúvel em: http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.
cgi?article=1054&context=biosysengfacpub.
Rossiter DG. A theoretical framework for land evaluation (with discussion). Geoderma. 1996;72:165-90.
Sartor LR, Assmann AL, Assmann TS, Bigolin PE, Miyazawa M, Carvalho PCF. Effect of swine residue
rates on com, common bean, soybean and wheat yield. Rev Bras Cienc Solo. 2012;36:661-9.
Scherer EE. Critérios para transporte e utilização dos dejetos suínos na agricultura. Agropec
Catarinense. 2005;18:62-7.
Scherer EE, Castilhos EG, Jucksch I, Nadai R. Efeito da adubação com esterco de suínos, nitrogênio e
fósforo em milho. Florianópolis: EMPASC; 1984. (Boletim técnico, 24).
Scherer EE, Nesi CN, Massotti Z. Atributos químicos do solo influenciados por sucessivas aplicações
de dejetos suínos em áreas agrícolas de Santa Catarina. Rev Bras Cienc Solo. 2010;34:1375-83.
Silva Jr VP, Zamparetti AF. Balanço de nutrientes dos dejetos suínos para adubação orgânica:
recomendações da experiência na Bacia do Lageado dos Fragosos- Concórdia/Se Florianópolis:
FATMA/EPAGRI; 2006. (Projeto de controle da degradação ambiental decorrente da
suinocultura em Santa Catarina)
Silva E, Teixeira LAJ, Anado TJC. Kit de microtrator para cultivo mínimo de cebola. ln: Anais do 1°.
Encontro Latino Americano sobre Plantio Direto na Pequena Propriedade; 1993; Ponta Grossa.
Ponta Grossa: IAPAR; 1993. p.265-70.
Silveira FM. Estrutura física do solo e rendimento de grãos sob aplicação de dejeto líquido de bovino.
Synergismus Scyent. 2009;4:PAGINAS
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - SBCS. Manual de adubação e de calagem para os estados
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: NRS/SBCS; 2004.
Testa VM, Espirita Santo FRC. Principais solos do Oeste Catarinense: aspectos gerais para identificação
no campo e suas principais limitações ao uso agrícola. Florianópolis: EPAGRI; 1992. (Boletim
técnico, 60).
TisdalJ JM, Oades JM. Organic matter and water-stable aggregates in soils. J Soil Sei. 1982;33:141-63.
Uberti AAA, Bacic ILZ, Panichi JA V, Laus Neto JA, Maser JM, Pundek M, Carrião SL. Metodologia
para classificação da aptidão de uso das terras do Estado de Santa Catarina. Florianópolis:
EMPASC/ ACARESC; 1991. (Documentos, 119).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIV - MANEJO CONSERVACIOl'IISTA DE SOLOS EM ENCOSTAS NO · • • 797

va n Dicpen CA, van Ke ulen J r, Wolf J, B rkhoutJ AA. Lc1nd evaluation: from intuition to quantification.
ln: Stewa rt BA, editor. Advanccs in soil scienc . N w York: pringer; 1 9J . p.139-204.
Veiga M, Trombetta OL. Adoção de prática de cons rvaçã do solo em microbacias do eio Oe te
Catarinense. Agropec Ca tarinense. 1997;10:16-9.
Veiga M, Wildne r LP. Erosão e degradação cm doi solo do Oeste Catari n nse. Agropec Catarin
1997;10:41-6.
Vieira MJ. Solos de baixa aptidão agrícola: opções de uso e técnicas de manejo e conservação.
Londrina: IAPAR; 1987. (Circular, 51).
Whalen JK, Hu Q Liu A. Compost applications íncrease water-stable aggregates in conventional and
no-ti llage systems. Soil Sei Soe Am J. 2003;67:1842-7.
Wildner LP. Terraceamento. ln: Santa Catarina. Secretaria de Estado da Agricu ltura e Ab tecim nt .
Manua l de uso, manejo e conservação do solo e da água: Projeto de recuperação, co rvação
e manejo dos recursos na turais em microbacias hidrográfica . 2ª. ed . Florianópolis: EPAGRI;
1994. p.271-327.
Wutke EB. Ad ubação verde: manejo da fitomassa e espécie utilizadas no Estado de São P ulo.
ln: Wutke EB, Bulisani EA, Mascarenhas HAA. Curso sobre adubação verde no ln titulo
Agronômico. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas; 1993. p.17-29. (Documento , 35).
Zampieri SL, Veiga M, Pandolfo CM, Sc.herer EE, Soprano E, Fonseca JA, r eubert EO, ndreola
F, Muniz A W, Brose E, Silva E, Laus Neto JA, Bacic fLZ, Chanin Y lA, Pandolfo C, Hamm
LA. Relatório Síntese Projeto MB2: inventário de terra e parâmetro químico , físicos e
microbiológicos dos solos. Florianópolis: EPAGRI; 2005.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CUL TIV OS
ORGÂNICOS OU EM TRAN SIÇ ÃO
AGROECOLÓGICA
Marco Antonio de Almeida Leall/, José Antonio Azevedo Espindo la 11, Edna ldo da Silva
Araújo!/, José Guilherme Marinho Guerra 11, Antonio Carl os de Sou za Abbou d 21, Raul
de Lucena Duarte RibeiroZ' & Dejair Lopes de Almeida~

11 Embrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ. E-mail: marco.leal@embrapa.br; jose.espindola@embrapa.br:


ednaldo.araujo@embrapa.br; gui1herme.guerra'@embrapa .br
21 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. E-mail · abboud@ufrrj.br;
raul ucena@gmail .com
31 Embrapa Agrobiologia, Aposentado, Bom Jardim, RJ. E-mail: dejair_la~ yahoo com.br

Conteúdo

rNTRODUÇÃO ·······························································································································--·· - ········ ... __ .. t'OO


PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE MANUTENÇAO DA FERTILIDADE E I SISTEMAS DE PRODC"ÇÃO
AGROPECUÁRIA............................................................................................................................................... ···-· 01
Fertilidade do solo e fl uxos de nutrientes ............................... ···············································-······ . . ............ .. 801
Sistemas naturais .............................................................................................. ..... ···········--··············•·· ·· ......
Sistemas agropecuários .............................................................................................................. --··········-····· 03
Degradação da fertilidade ................................................................................................- .................. - ·· ... 03
Estratégias tradicionais utilizadas para a manutenção da fertilidade em sistemas de produção agropecuána ...,
Estratégia de concentração espacial de nutrien tes ................................... -·················-·-················-·-···-·· 07
Estratégia de concentração temporal de nutrientes ......................................... ····················- · ·········--·····
Estratégia de aporte de fertilizantes com elevada concentração de nutrientes ................... ······•--· .... .
Insus tentabilidade do atual modelo de produção, consumo e disposição de biom residual
de origem agropecuária .................................. ················································- ······-··················-·-··········· 10
MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS ORGÀNICOS OU EM TRANSLÇAO AGROECO LÓGICA ··········- ···· 13
Estraté~i!s e técnicas ~e manutenção da fertilidade do solo utilizadas em culhvo orgànicos ou .-:m
trans1çao agroecológ1ca ............................................................................................. ·········- ···········•· ............... ' 13
Reaprovei tamento de biomassa residual e subproduto orgãnicos .......................- ··················-··-········ 13
Ampliação da cobertura do solo e da diversidade vegetal... .. ····································-······- ·········-··· l-1
Estratégias de concentração de nu trientes ·············· ·········································································· ... ......... . 15
Desenho do espaço destinado à atividade agropecuária, vi .i.ndo à maior integração com .1
paisagem do território ........................................... .......................................................................... ............ 1ó
RELATO DE RESULTADOS DE PESQUISA OBTIDOS A FAZE DrNHA AGROECOLÓGlCA ··-··········· ' 17
Fazendinh a Agroecológica km -17 ................. , ................................................... ................. .. _ ..... ................-.
,

Fertilização orgânica ............................................................................................................. . ............................

Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da .ígua. Viços.i, \ {G: - \:'Jade
Brasileira de Ciencia do Solo; 2018.
-------'9-~• .... . ------
800
MARCO ANTONIO D E ALMEIDA LEAL ET AL ,

Adubação verde
······························································· ....................................................................................... 820
Produ ão de bi ma . a e .1cúmulo de nitrogênio ........................................................................................ 820
Influências bre atributo. do solo ················································································································· 822
Forne imento de nutrientes..................................................................................................................... 822
Atribu tos químicos do solo ..................................................................................................................... 822
tributos físico. do solo.... ...................................................................................................................... 823
tributo biológicos do solo.. .................................................................................................................. 824
Estrat· gia de manejo da ad ubação verde ................................................................................................... 825
uce õe de cultu ras .............................................................................................................................. 825
Con. órcios com leguminosas anuais ou semiperenes......................................................................... 826
Consórcios com leguminosas herbáceas perenes................................................................................ 828
tilizaçào de coberturas mortas vegetais ............................................................................................. 830
Avaliação de outras espécies para adubação verde.................................................................................... 831
Consórcios de hortaliças........................................................................................................................................ 832
Controle biológico conservativo................................................................... ........................................................ 832
llódulo de produção de hortaliças...................................................................................................................... 833
Sistemas agroflorestais .............................................. ............................................................................................. 835
Construção participativa d o conhecimento ........................................................................................................ 836
CO STDERAÇÕES FlNAJS ......................................................................................................................................... 837
LITERATURA CITADA................................................................................................................................................ 837

INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira tem avançado gradualmente no entendimento da importância


da conservação do solo e da água, compreendendo que a contribuição dos sistemas
agropecuários n ão se restringe somente à produção de alimentos, mas também na
influência da manutenção dos equilibrios hídrico, térmico e ecológico dos ambientes,
bem como nos equilíbrios econômico e social de sua população. Torna-se cada vez mais
evidente a necessidade de se buscar sistemas agropecuários que sejam sustentáveis,
duráveis e ambientalmente harmônicos. Nesse sentido, a agroecologia fornece as bases
científicas necessárias para a construção de agroecossistemas biodiversos, apoiados no
equilíbrio entre princípios de gestão técnica, socioterritorial, cultural e econômica. Os
sistemas d e produção agropecuários orgânicos, dentro de uma perspectiva técnica, podem
ser entenctidos como modi operandi para a práxis da agroecologia.
Dessa forma, os sistemas orgânicos de produção adotam técnicas específicas,
promovendo a otimização do uso de recursos naturais e socioeconôrnicos, respeitando
a cultura das comunidades rurais e tendo por objetivo a sustentabilidade econômica
e ecológica (Brasil, 2003). Tais técnicas também minimizam a dependência d e fontes
de energia n ão renovável, favorecendo o emprego de métodos culturais, biológicos
e m ecânicos. Cabe destacar ainda que na agricultura orgânica n ão se perm ite o uso de
organismos geneticamente modificados e as radiações ionizantes.
O s aspectos relacionados ao manejo da ferti lidade do solo ocupam papel preponderante
nos sistem as orgânicos e devem ~er percebidos, de forma ampla, abrangendo as dimensões
quirnicas, físicas e. biológ!cas. E important~ q ue. o solo seja compreendido como um
organismo vivo, cuJa qualidade expressa a sinergia destas dimensões e exerce influência

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTIV0S ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO ••• 801

de terminante no desempenho de sistemas agroecológico . o entan to, uma vi ã h listica


da fertilidade do solo é, muitas vezes, complexa e de difíci l percepção.
Com vistas a tornar didática a apresentação de estratégia de conservação e melhoria
da fertilidade do solo em cultivas em transição agroecológica, ou orgânicos, ptou- e por
realizar uma abordagem que descreva O tema com foco na análi e dos cornparlimenlo e
dos fluxos de nutrientes.
Inicialmente, serão descritos os sistemas naturais, os proces o de degradação
ambiental decorrentes do manejo dos sistemas agropecuários e as estratégias correntemente
preconizadas para a manutenção da fertilidade do solo. Será realizada uma análi
crítica da estratégia de aporte de fertilizantes com elevada concentração e solubil idade
de nutrientes e do modelo de produção, consumo e disposição de biornas a residual de
origem agropecuária vigente na sociedade globalizada.
Posteriormente, serão discutidas estratégias e técnicas para a conservação e melhoria
da fertilidade do solo em sistemas orgânicos ou em transição agroecol6C7ica. Serão
apresentados aspectos teóricos e exemplos aplicados, com base no relato de trabalho de
pesquisa conduzidos no Sistema lntegrado de Produção Agroecológica, também conhecido
como Fazendin.ha Agroecológica km 47, localizada no Estado do Rio de Janeiro. [ esse
espaço gerenciado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ernbrapa
Agro biologia e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-
RIO) são desenvolvidas ações de pesquisa, ensino e socialização de conhecimento e de
tecnologias em agricultura orgânica, a partir do acúmulo de experiências e resultados
científicos gerados ao longo de mais de 20 anos.
Cabe ressaltar que o conteúdo apresentado neste capítulo tem maior aplicabilidade
para sistemas agrícolas, cuja gestão é de base familiar; porém, pode ser apropriado também
para outros sistemas, incluindo aqueles que não são orgânicos. Face ao exposto, o objetivo
deste capítulo é apresentar e discutir estratégias e técnicas de manejo da fertilidade do olo
voltadas para sistemas orgânicos de produção ou em transição agroecológ:ica.

PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE MANUTENÇÃO


DA FERTILIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO
AGROPECUÁRIA

Fertilidade do solo e fluxos de nutrientes


A redução do conteúdo de nutrientes é uma das principais re ponsá eis pelo declínio
da fertilidade do solo nos sistemas agropecuários de produção. Segundo [azzafera (1997),
a disponibilidade de nutrientes é o principal fator ambiental, controlando o cr cimento de
organismos nos ecossistemas.
Considerando que os nutrientes presentes em um sistema lo-planta estã
dis tribuídos em diferentes frações ou compartimentos com característica distint , e que
exis tem constantes fluxos de nutrientes entre estas frações, é possí el repre entar O balanço
dos nutrientes presentes em Wl1 sistema natural por meio do e quema apre entado n
figura 1. Nesse esquema, os nutrientes estão distribuídos em três frações prin ipai :

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


802
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

1 - Fração mineral disponível: constituída pelos nutrientes presentes na solução do


olo e ~o co~1 plexo de troca, ou eja, que estão retidos por cargas eletrostáticas na superfície
d os mmera1s e da sub t·I'/; · · l , ·
s cu1cias 1um1cas presentes no so1o.
2. - Fração orgânica: constituída pelos nutrientes que fazem parte da estrutura da
maténa orgamca
~ · d o solo ou estão fortemente ligados a ela.

. ~ - Biomassa vegetal: constituída pelos nutrientes presentes na biomassa vegetal,


mclumdo raízes e parte aérea.
~lé~ desses, também existe o compartimento dos nutrientes que estão presentes na
matnz mineral.

Sistemas Naturais
Deposições Atmosféricas
Sistema solo-planta t-----------_.,_____,

Fração
Fração mineral
Orgãnica disponível

Matriz
Mineral

Figura 1. Esquema que descreve os principais compartimentos e fluxos de nutrientes presentes em


um sistema natural.
Fonte: M.A.A. Leal, figura não publicada.

Os principais fluxos de nutrientes estão representados por setas. Observa-se que, além
dos fluxos de nutrientes entre os três principais compartimentos do sistema solo-planta,
também ocorrem fluxos de entrada e saída de nutrientes. As principais entradas ocorrem
por meio da djsponibilização dos nutrientes contidos na matriz mineral e por meio das
deposições atmosféricas, incluindo a fixação biológica de nitrogênio (FBN). As principais
saídas ocorrem por meio das perdas decorrentes de erosão, lixiviação e volatilização.
Este modelo teórico é útil para se compreender a importância do balanço de nutrientes
para a sustentabilidade do siste~a. No entanto, em unid~des de produção, é difícil se
quantificar todos esses compartimentos : fluxos de. nu_tr1entes. Em termos práticos, a
análise da fertilidade do solo revela-se um importante indicador da disponibilidade desses
nutrientes para as plantas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MAN EJO DO SOLO EM (ULTJVOS ÜRGÂNICOS O U EM TRANSIÇÃO · · · 803

Sistemas naturais
Nos sis temas natu ra is (Figu ra 1), as entradas e saíd as de nutrien tes estão em equ ilíbrio,
ou seja, a quantidade de nutrientes que entra no sistema é a mesm a q u sai. A manutenção
da vege tação nativa e da matéria orgâ nica do solo resulta em elevado conteú d o de nutrien tes
nesses compa rtimentos. Nesses sistemas, as perdas de nutrientes geral me n te ão pequent1s,
e m razão da cobertura do solo com a vegetação nati va, qu e red uz os processos de erosão
e lixiviação. Por sua vez, as entradas de nutrientes são g randes, ta mb, m por causa da
cobertura com a vegetação nativa e do maior conteúdo de matéria orgâ nica, q ue podem
contribuir para a FBN e o aporte dos nutrientes contidos na matriz m inera l. Além di so,
é importante considerar que a vegetação na tiva e o maior conteúdo de matéria orgânica
promovem efeitos benéficos sobre os equilíbrios hídrico, térmico e ecológico do ambiente.
Os maiores acúmulos de biomassa vegeta l e matéria orgâ nica ocorrem, geralmente,
em solos com elevada fertilidade natural, cuja matriz mineral possui elevada capacidade de
fornecimento de nutrientes. Porém, mesmo os solos cuja matriz m ineral é muito pobre em
nutrientes podem manter uma elevada quantidade de biomassa vegetal. Um exemplo di so
é a Floresta Amazônica, que se desenvolve, geralmente, em solos com reduzidos teores de
nutrientes na matriz mineral. Neste ecossistema, a cobertura vegetal e a ma téria o rgânica
constituem os principais reservatórios de nutrientes (Figura 2), além de proporcionarem
reduzidas perdas de nutrientes e elevados aportes atmosféricos. esse caso, a re tirada da
vegetação nativa resulta no rápido esgotamento da fertilidade do solo, tomand o-os pouco
produtivos. De acordo com Kato et ai. (2014), é frequente encontrar na Amazôn ia áreas de
pastagens ou de produção agrícola que são abandonadas após os primeiros anos de uso.

Sistemas agropecuários
A atividade agropecuária promove alterações no equilíbrio original dos si temas
naturais. A intensidade destas alterações depende da resiliência do sistema e do nível de
modificação causado pela produção agropecuária. São duas as alterações que mais im pactam
no balanço de nutrientes do sistema (Figura 3): 1 - a derrubada da vegetação nativa e ua
substituição pela cultura comercial, com redução da cobertura vegetal, que res ulta na
redução dos estoques de nutrientes na biomassa vegetal e na matéria orgânica, no aumento
das perdas por erosão e lixiviação e na redução do aporte de via FB ; e 2 - a sa ída ou
exportação de nutrientes do sistema por meio dos produtos da atividade agropecuária.

Degradação da fertilidade

Desequilíbrios resultantes da produção agropecuária podem proporcionar efeito


prejudiciais sobre os atributos físicos do solo e sobre os equilíbrios hídrico, térmico e
biológico dos sistemas. Uma das principais causas da degradação da fertilidade do solo
é a diminuição do conteúdo de nutrientes do sistema, resultado do saldo negati O entre
as suas entradas e saíd~s (Figura 4). Isso é observado, principalmente, nos sis temas de
produção extrativista. E recorrente na história da agricultura brasilei.ra a ocorrência de
a tividades agropecuárias cuja manutenção foi com base na fertilidade natural d s ·olo .
Es tas a tividades, geralmente, apresentam um curto período de prosperidade, qu e ocorre
logo após a substituição da vegetação nativa, mas que é seguido por um declínio constant
da produtividade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


804
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Floresta Amazônica
Deposições Atmosféricas
Sistema olo-planta

Fração
Orgtnica

Matriz
- -- - - - - Mineral
. ~-c,_Qj - -

Figura 2. Principais reservatórios e fluxos de nutrientes presentes na Floresta Amazônica. Apesar da


reduzida fertilidade natural, a grande biomassa vegetal e a fração orgânica mantêm elevados
conteúdos e fluxos de nutrientes, além de aumentar os seus aportes e reduzir as suas perdas.
fonte: M.A.A. Leal, figura não publicada.

Sistemas Agropecuários

Motriz
,, -,.
t,,. 11 1
Mineral
1 - - - - ~

Figura 3. Os sistemas agr?pecuário~ geralmente promovem impa:tos qu e resultam na diminuição


dos estoques de nutrientes no sistema, no aumento de suas sa1das e na redução de seus aportes
naturais.
Fonte: M .A.A . Leal, figura não publicada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - M ANEJO DO SOLO EM C ULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO SOS

O declín io ela produtividade resulta cm menor exportação, o q ue leva à cl irrunuiçJo


elas saídas de nutrientes cio sistem<1, até o ponto cm que estas se ig ua lem às ~ntradaS,
a lcança ndo um novo equilíbrio. Considerando apenas o conteúdo de nutri entes, 0
gra u de redução da fe rti lidade do solo até este novo ponto de equilíbrio va i depend er
p rincipalmente das seguin tes ca racterísticas: 1 - a quantidade de nutri entes apo rtados pela
m atriz mineral. Solos for mados a partir de rochas que proporcio nam maio r disponibilidade
de nutrientes ap resentam maior resil iência que os fo rmados a partir de rochas q ue
pro porcionam menor d isponibilidade de nutrientes. Segundo Lima e Lima (2007), rochas
com gra ndes quantidades de elementos nutrientes pod em o ri gi nar so los fé rteis, ao
passo que os deri vados de rochas qui mica mente pobres serão, inevitavelmente, de b~ixa
fe rti li dade; 2 - a q uan ti dade de nu trien tes q ue é exportado pela atividade agro pecuária; e
3 - as carac terísticas do sistema e ma nejo que impactam no balanço de nutrientes, como
os a tri butos fís icos do solo, a cobertura vegeta l ou a intensidade do revolvi mento do o lo.

Degradação da fertilidade
Deposições
Atmosféricas
Sistema solo-planta 1 - - - - - - - - - -- ---+----,

Exportação

~
~ a

Matriz
Perdas MineraJ

Figura 4. Esque ma que demonstra a redução do conteúdo de nutrie n te e m todos os compartimentos


do siste ma solo-planta, em razão do saldo negativo entre as entradas e saídas de nutrientes.
Fonte: ·LA.A. Leal, figura não publicada.

Em condições desfavoráveis, a degradação do solo pod e ser tão intensa qu e este perde
to ta lmente sua capacidade prod utiva (Figu ra 5). Este processo de degradação geralmente
se inicia com a derrubada e quei ma da vegetação nativa, seguidos pela su a s u bstituição por
cultu ras de elevada demanda por nutrientes. Os nu trien tes p resentes na b iomassa veoe ta l
são prontamente disponibilizados, proporcionando elevad a produtividade inicial. Com
a redução d o conteúdo de nutrientes ~o sistema, resultan te do balanço negativo entre a
entradas e saídas, a prod utividade sofre redução const.:mte até inviabilizar a manutençã

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


806
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

da cultura de ele ada demanda por nutrientes. Esta então é substituída por atividades
agrope uárias de reduzida demanda por nutrientes, como a pecuária extensiva. Nesse
ca 0 , e a lotação de animais for excessiva, agravada por queimadas periódicas, pode
ocorrer a eliminação da cobertura vegetal do solo e o surgimento de voçorocas. De acordo
com Dias Filho (2011), pelo menos metade das pastagens brasileiras estão degradadas ou
apresentam algum grau de degradação.

Solo Degradado
Deposições
Atmosféricas
Sistema solo-planta

Biomassa
Vegetal

Fração
Orgânica

Matriz
--- - - --- ...
V-;..i7.t.l~ Mineral
l - - -

figura 5. Esquema de um solo degradado, sem capacidade de manter qualquer cobertura vegetal,
onde os nutrientes aportados são rapidamente perdidos, resultando em severos impactos
negativos nos equilíbrios térmico e hídrico do ambiente e nos equilíbrios econômico e social da
população.
Fonte: M.A.A. Leal, figura não publicada.

Estratégias tradicionais utilizadas para a manutenção da fertilidade


em sistemas de produção agropecuária
Para evitar a degradação do solo descrita no tópico anterior, foram desenvolvidas
estratégias de manutenção da sua fertilidade. Algumas delas têm sido adotadas desde os
primórdios da civilização. Mazoyer e Roudart (2010) descreveram os principais métodos
para a renovação da fertilidade dos sistemas agrários, o que possibilita considerar como
II
mais importantes as estratégias de concentração espacial de nutrientes" e concentração II

temporal de nutrientes". Estas estratégias foram utilizadas de forma predominante até o


desenvolvimento e a disseminação dos fertilizantes sintéticos, com elevada concentração

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO S OLO EM (U LTIVOS ÜRG/\ NI CO S O U EM TRANSIÇÃO · · · 807

d e nutri entes. Ve rsões mod crnac; clcstac; es tra tégiac; te m s idn d es n vo lvicJas e são muito
uti liza d as no manejo do solo em s is temas o rgâ nicos ou m tra ns ição agro cológicd.

Estratégia de concentração espacial de nutrientes


Nes ta estratégia, os nutrientes a portad os na tura lme n te e m uma gra.nd á rea d
solo são trans feridos para uma área menor, a umenta ndo a concentração e o f~rta de le~ e
proporciona nd o ma ior dese nvolvimento vegeta l, confo rme se ob e rva na fi g ura 6. Es t '
processo de transferência e concentração d e nutrien tcc; pod ocorre r tanto de fo rm,1
espon tânea quanto de forma artificial .

Deposições Abn féricas

j j j j
Matriz Mineral

Figura 6. Esquema que representa a estratégia de concen tração espacial. Os nutrientes aportados
naturalmente em uma grande á rea de solo são trans ferido e concentrados em uma área menor,
aumentando a sua oferta e proporcionando maior desenvolvimento vegetal.
Fonte: M.A .A . Leal, figura não publicada.

Em relação à fo rma espontânea, ocorre nas várzeas, q ue recebem grande parte dos
nutrientes que são perdidos por erosão e lixiviação d e á reas situadas e m cotas m ais e levadas
na bacia hidrográfica. Is to pode ocorrer em pequena escala, como no caso de m icrobacias,
o u e m grande escala, como nos vales dos grandes rios. Oi" ersas ci ilizaçõe ao red or do
mundo se desenvolveram e sobreviveram por centenas ou milhare de ano com ba e na
p rod ução agropecuária mantida por meio d a deposição de nutrien tes no olo d e árzea.
A concentração espacia l de nutrientes també m pode ser feita de maneira artificial. Um a
d as formas m ais tradicionais é a integração lavoura-pecu ária, o nde os a ni mais pas tejam e
retiram nutrie ntes d e uma grande área, e seus excrem entos são reco lhidos e u tilizad s para
fertil izar uma área menor, onde são cultivad as espécie vegetais m a is e igente -. l e
caso, além de nutrientes, é adicionada grande q uantidad e d e matéria o rgànica, o que tem
efe ito benéfico sobre diversos atributos do solo, como atividade b iológica, agregaçã ,
infiltração e retenção de água, en tre ou tras. Existem di erso ou tros sis tema d e produ ão

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


808
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

que sã c nduzido com ba na e trat gia de concentração espacial, como as hortas e os


P n~ar ' que r ebem e concenlTarn os nutrientes contidos nos resíduos domésticos, ou na
realiza ~ao
- d e amont a e no culti o em camalhões, que concenh·a em uma pequena área
0
nutriente e a matéria orgânica contidos no horizonte superficial de uma área maior.

Estratégia de concentração temporal de nutrientes

e ta estratégia, os nutrientes aportados ao solo são acumulados ao longo do tempo


na egetação que cobre o solo, onde ficam retidos até o momento em que esta cobertura
veget~l é derrubada, disponibilizando seus nutrientes para a fração mineral disponível.
O ma~s comum ~ que a vegetação seja queimada após ser derrubada, aumentando o
co~teudo de nutrientes prontamente disponíveis e permitindo o cultivo das espécies mais
exigentes. Em seguida, esta área é deixada em repouso para que a vegetação espontânea se
desenvolva novamente, iniciando novo ciclo de acumulação dos nutrientes aportados ao
solo, conforme está apresentado na figura 7.
r- ----- ---- - --- -- - ---- ---- - -- --- ------- -
~ ~ •.::11C,..• .',-~l _;.i!.Ltl_< ~".E -•J.!'):.,
1
- - - -- --

Cultivo
comercial ~ ~ ~
j j j 1
Matriz Mineral
l j j j

Figura 7. Esquema que representa a estratégia de concentração temporal. Os nutrientes aportados


naturalmente no solo são acumulados ao longo do tempo na biomassa vegetal, até um momento
em que a cobertura vegetal é derrubada, aumentando o conteúdo de nutrientes prontamente
disponíveis.
Fonte: M.A.A. Leal, figura não publicada.

o tempo de acumulação dos nutrientes pode variar muito em razão da cobertura


vegetal. Quando realizado em ambiente de floresta, essa acumulação pode ocorrer ao longo
de algumas décadas, e~quanto em ambientes com menor biomassa vegetal, a capacidade
de acumulação de nutrientes é menor, ocorrendo por apenas alguns anos.
Diversas técnicas tradicionais, como o pousio e a coivara, entre outros, utilizam esta
estratégia. É importante destacar que, apesar de proporcionar a rápida disponibilização
de alguns nutrientes, a queima da vegetação residual promove diversos efeitos negativos,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - M/\N EJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSlÇÃO ·.. 809

co mo J perclil d gr.:incle pr1rte dJ mat ' riél orgJnica. Segundo Gli i::;s man (2001 ), •1 uma
l mpcratura d 200 " é1 300 " , por 20 a 30 min, hj r cluç5o d 5 ·•:, da maté ri a o r~á ni a,
associaclJ a perdas ele N e S por v la tili z.ição. O solo d es ob rio d p s as queimada
es tá s ujeito ao processo ele e rosão, r sultand o em perdas doe; nutri nte contido na u.:i
ca mada s uperficia l. As queimadas tnmb m promovem a rcduçã do ban o de ·ement •s
e da di ve rsidade bio lógica do a mbie nte. /\ utili7,açJo de técnicas s ic; ternJc; q ue evi tem
a reali zação das qu eimadas, como os sis tema agroflo reslai c;, e limina cl oco rrencic1 de c;p _·
efeitos negativos.

Estratégia de aporte de fertilizantes com elevada concentração de nutriente


Estaestra tégia urgiucomade cobertéldopapeldo nutrientes no cr cimento vegetal,
o que levou ao desenvolvimento e à disseminação dos fertilizante int ti cos co m elevadJ
concentração de nu trien tes. É rea lizada co m ba e na utilização da reservas de min ra i
ricos em nutrientes, que passam por processos industriais visa ndo a aumentar aindu m..ii ·
a s u a concentração de nutrientes, que via bili za o transporte deste-; insumoc; para lon a.
distâncias. O é um caso particular, pois era anteriormente obtido da reservéls de ali r ,
mas atualmen te é retirado do ar e transformado e m ureia e eu deriv ado .
A entrada de nutrientes no sistema via a dição de fe rtilizantes concentréld os rep í
as saídas de nutrien tes decorrentes das elevadas perdas e da exportação, que geralmente
ocorrem nos sistemas agropecuá rios. Possibil ita a adição de grandes quantidade de
nu trie ntes, o q ue mantém equilibrado o balanço do sistema, mesmo diante de e levada
perdas e, ou, exportações de nutrientes.
Esta é a estratégia predominante no cultivas intensivo , cuja técnicas foram
disseminadas durante o q ue se convencionou chamar de "Revolução e rde". Ap ~ar do
benefícios proporcionados, esta estratégia, quando utilizada de fo rma abu 1va di ociada
d e outras estratégias, pode resultar em problemas fitossanitário , econômico e ambientai .
Os problemas fitossanitários das culturas podem ser agravados pela utilização abu iva
dos fertilizantes de elevada solubilidade. Conforme proposto pela Teoria da Trofobios
(Ch abousso u, 1999; Vila nova e Silva Júnior, 2009), diversa · cultura ficam vulneráveis
à infes tação de pragas e doenças q uando há excessos de aminoácidos livre~ e çúcar
red uto res no s istema metabólico.
Do ponto de vista econômico, cabe destacar que as re erva d min rais rico em P e
são fini tas, e as fontes ma is acessíveis e com maior concentração de te elemento~ tenJem
a se esgotar com o passar do tempo, o que pode re ultar e m a umento i nificativo do
c ustos dos fertilizantes po tássicos e fosfatados no médio prazo.
Os problemas ambienta is gerados pelo uso exce sivo de fertilizante de elevada
solu bilidade estão relacio nados, principalmen te, co m a contaminaçã de mananciai. de
águ a, causada pela lixiviação do excesso de nu trientes. Segundo Reganold e a ht r (- 016),
a degradação de ecossis temas de água doce e marinhos ao redor do mundo rela ioníl-
ao u so excessivo de fertilizantes nitrogenados e fo fatado , levand à e utrofiza ·,10 d:i ,igui\
doce e prod ução de zonas de hipoxia em água costeiras.
Conforme apresentado na figura , é po í el que o ap rte d e nutriente eja realiz do
em quantidades superiores à capacidade de retenção do comple. o d tr •íl do solo, que
leva à s u a rá pida saída do sistema, via lixiviação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


810
MARCO ANTONIO DE ALM EIDA LEAL ET AL.

Adubação
Deposições Mineral
Atmosfêricas
Sistema solo-planta f - - - - - - - - - + - - - - - - - --tl

Exportação

Fração
mineral
disponível

Matriz
Mineral

Figura 8. Contaminação dos mananciais em razão da perda de nutrientes por li.xi viação resultante da
aplicação excessiva de fertilizantes de elevada solubilidade.
Fonte: M.A.A. Leal, figura não publicada.

A utilização em excesso da estratégia de aporte de fertilizantes com elevada


concentração de nutrientes também agrava os problemas relacionados ao meio ambiente e
a insustentabilidade, gerados pelo modelo de produção, consumo e disposição de biomassa
residual de origem agropecuária vigente na sociedade globalizada.

Insustentabilidade do atual modelo de produção, consumo e disposição de


biomassa residual de origem agropecuária
Nas sociedades rurais, que representavam o modelo predominante antes do processo
de urbanização, a produção vegetal, a produção animal e a disposição da biomassa residual
resultante do seu consumo pelas pessoas ocorriam no mesmo território. Assim, grande
parte dos nutrientes ~xtraídos pela produção agropecu~ia retomava ao solo, mantendo a
sustentabilidade do sistema, conforme apresentado na figura 9.
Jána sociedade urbanizada e globalizada que predomina atualmente, a produção
vegeta] ocorre em território diferente de onde ocorre a produção animal. A concentração da
população nos grandes centros urbanos faz com que neles se concentre também a disposição
da biomassa residual, resultante do consumo dos produtos agropecuários, conforme é
representado na figura 1?·
Esta: tr31:1sferências e concentrações ?e nutrientes acontecem
atualmente entre territónos muito distantes, até mesmo entre diferentes continentes. De

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - M ANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂNI COS O U EM TRANSIÇÃO··· 811

acord o co m Magd o ff e Van Es (2000), 0 trans porte dos nutriente por longa dis tâ ncias é
esse nc ia l para o sis tema a limentar modern o.

Sociedade Rural
~ ;
.;

ll Solo

Figura 9. Represen tação de uma sociedade rural, em que tanto as produçõe vegetais e animai
q uanto o seu consumo pelas pessoas e a disposição de seus re íd uos ocorrem em um mes mo
território, o que promove a ciclagem dos nutrientes e a sustentabilidade do is tema.
Fonte: M.A.A. Leal, figu ra não publicada.

Sociedade Globalizada

Agua e Solo Agua lo

Figura 10. Representação de uma sociedade urbanizada e globalizada, onde a produção wgetal, a
produção animal, e o consumo desses, junto com adi po ição de e u · re iduo , ocorrem cm
territórios distintos, o que resulta em problemas de esgotamento de nutrientes em al guns 1 •,li·
e de excesso de nutrientes em outros.
Fon te: M.A.A. Leal, figura não pubLicada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


812
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

E te modelo contTibui para O agravamento de dois problemas que afligem a sociedade


atual: 0 esgotamento do conteúdo de nuh·ientes das áreas de produção vegetal, sendo
neces ária a sua reposição por meio de adubos com elevada concentração de nutrientes,
0
que rode causar di\ ersos problemas, conforme descrito anteriormente neste capítulo; e
ª poluição ambiental, principalmente de mananciais, causada pela extração de nutrientes
de grandes áreas de produção vegetal e a sua concentração em pequenas áreas, onde
ocorre a disposição da biomassa residual resultante da produção animal, da produção
agroindustrial e do consumo humano.
Os macronutrientes primários (N, p e K) contribuem de forma diferente para a
ocorrência de cada um desses problemas. O N está relacionado principalmente aos
problemas de poluição ambiental, pois este nutriente é facilmente lixiviado. Já seu impacto
no esgotamento de recursos não renováveis é pequeno, pois este nutriente é obtido do
ar por meio de processo industrial que utiliza gás natural, cujas reservas são suficientes
para abastecer a demanda atual da humanidade por várias décadas. A principal restrição à
produção de fertilizantes nitrogenados está relacionada com as elevadas em.issões de gases
de efeito estufa que este processo ocasiona. O P apresenta o problema de esgotamento de
suas escassas reservas e também contribui para a eutrofização de rios e lagos. Já o K causa
menores problemas de poluição ambiental que o N e o P, mas as reservas de minerais
potássicos de fácil acesso estão se esgotando rapidamente.
Uma forma de solucionar esses dois problemas é aproveitar a biomassa residual
gerada na produção agropecuária, na produção agroindustrial e no consumo humano, de
modo que parte dos nutrientes retorne para as áreas de produção vegetal. Com isto, é
possível estimular o processo de ciclagem de nutrientes e aumentar a sustentabilidade do
modelo de produção e consumo. A sociedade brasileira está cada vez mais consciente disto
e d.iversas ações têm sido propostas nesse sentido, com destaque para a Política Nacional
de Resíduos Sólidos, que preconiza o aproveitamento da biomassa residual, em vez de seu
descarte nos aterros san.itários.
Existem diversas tecnologias promissoras para o tratamento e o aproveitamento
de biomassa residual, visando sua utilização na produção vegetal, com destaque para a
compostagem e a decomposição anaeróbica realizada em biodigestores. A compostagem
é O processo ma.is recomendado para o aproveitamento de biomassa residual sólida
e quando se deseja obter nutrientes e matéria orgânica humificada. A decomposição
anaeróbica é ma.is recomendada para utilizar a biomassa residual liquida e quando se
almeja obter biogás. No entanto, neste processo, os nutrientes resultantes estão diluídos
no efluente, o que dificulta o seu transporte, armazenamento e aplicação. Além disso, o
efluente de biodigestores é um produto com reduzido teor de matéria orgânica humificada.
o aperfeiçoamento dessas tecnologias e de outras tecnologias d e separação, tratamento e
utilização de biomassa residual podem ampliar significativamente a su a utilidade como
fertilizantes e condicionadores do solo e assim promover a ciclagem de nutrientes.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CU LTIVOS ORGÂNI COS OU EM TRANSIÇÃO ·· · 8 13

MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS ORGÂNICOS O U EM


,
TRANSIÇAO AGROECOLOGICA
-
Estratégias e técnicas de manutenção da fertilidade do solo utilizadas
em cultivos orgânicos ou em transição agroecológica
O manejo do solo em cultivas orgânicos ou em tran ição agro cológica deve ser
estabelecido de acordo com as condições ambientais, econôm icas e sociais específicas de
cada sistema. Portanto, deve ser construído de forma par tici pa tiva pelos d iversos ato rec;
envolvidos, valorizando o conhecimento tradicional. Seg und o Mendonça et ai. (201-l), cJ
construção participativa do conhecimento é um importante p ilar da agroecologia e busca
entrelaçar conhecimentos científico e popular, associados à valorização da biodiversidade.
As estratégias e técnicas utilizadas contribuem para que a prod ução agropecuc ria
apresente retomo econômico adequado, mantendo a busca pela s usten tabilidade e pela
maior integração com as condições naturais do ambiente. Es tas estratégias e técnicas devem
atuar de forma harmoniosa, visando proporcionar a redução das perdas e o a umento do_
aportes de nutrientes, a manutenção da cobertura vegetal e o a umen to da sua diversidade,
o equilíbrio biológico e a integração do sistema agropecuário de produção com a paisagem
local. Após um estudo de 21 anos, Ma der et al. (2002) concluíra m que o m anejo da fe rtilidade
do solo com base na utilização de adubos orgânicos, rotação de culturas com leguminosa ,
bem corno de biomassa residual gerada no próprio sistema de produção, é uma alternativa
realista para os sistemas agrícolas convencionais.
As principais estratégias e técnicas utilizadas no manejo do solo em sistemas de
cultivo orgânicos ou em transição agroecológica são a seguir relatad as.

Reaproveitamento de biomassa residual e subprodutos orgânicos

A utilização de biomassa residual e subprodutos orgânicos corno fo rnecedores de


nutrientes também resulta no aumento do conteúdo de matéria orgânica, com efeitos
benéficos adicionais sobre os atributos químicos, físicos e biológico do solo. De acordo com
Gliessrnan (2001), a matéria orgânica desempenha papéis importantes, tod os significati os
para a agricultura sustentável.
Quando a adubação orgânica é realizada por meio do aproveita mento de biorna a
residual e subprodutos gerados no próprio sistema proporciona também a redução das
saídas e otimiza a reciclagem de nutrientes, pois evita que esse nutriente e acumulem
em determinado compartimento, enquanto são demandados em o utro . a figura 11,
é apresentado o exemplo de um sistema de produção diversificad o e integrad o, onde a
biomassa residual de diversas atividades agropecuárias é reapro eitada. De taca- e que
não é necessário que essa integração de diferentes atividades agropecuárias ocorra em
uma única propriedade. Isso pode ocorrer em nivel de comunidade, o u a té mes mo entr
propriedades muito distantes.
A u tilização de adubos orgânicos obtidos fora do sis tema de p rodução a umenta 0
aporte de nutrientes, além de elevar o conteúdo de matéria orgânica d o solo (Figura L ).
aproveitamento de biomassa residual e subprodutos orgânicos para a p roduçã de aJub •

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


814 MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

condicionadores é uma forma de contribuir para a sustentabilidade de toda a sociedade,


c nforme foi abordado anteriormente.

Leite+ carne

Esterco + urina
Madeira+
Bovinocu Itu ra
Recuperação
do solo

Biomassa residual
Alface

Escoras Couve
Floresta Salsa
Carvão
Biomassa Hortaliças
Esteios ou residual Cebolinha

Serraria Tomate
Agrofloresta
Biomassa Cenoura
residual
Biomassa
residual
Biomassa
Avicultura residual

Suinocultura
Esterco
Piscicultura

Ovos+came

Figura 11. Exemplo de aproveitamento de biomassa residual em um sistema de produção


diversificado e integrado.
fonte: MA.A. Leal, figura não publicada.

Ampliação da cobertura do solo e da diversidade vegetal


Realiza-se por meio de diversas técnicas, como rotação de culturas, adubação
verd e, manutenção da vegetação espontânea, cultivo em aleias, cercas vivas, sistemas
agroflorestais, entr~ outras. A am~liação da_ ~obe:"tura do solo contribui para a redução
das pe rdas de nutnent~s por eros_ao, e a utíhzaçao de espécies vegetais com diferentes
arquiteturas e profundidades :ª~
1: ul~res aumenta os aportes de nutrientes via matriz

mineral e reduz as perdas por Lix1viaçao. O aumento da diversidade vegetal e a utilização


de legu m inosas aumentam o a_po~te de N via FBN (Figura 13). A ampliação d a cobertura
e da diversidade vegetal contnbm para manter os equilíbrios lúdrico, térmico e biológico

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS ORGÂNI COS O U EM T RANSIÇÃO ,.. 815

do ambiente e promove a diversificação dos sistemas de produção, o q ue colabora par;:i a


estabilidade econômica do agricultor.

Adubação Orghtlca Dep09ÍÇÕe8


Atmo bicu

Fração
Orgânica

lalriz
Mineral

Figura 12. O reaproveitamento de biomassa residual e subprodutos e a ad ubação orgànica


contribuem para a redução das saídas e para o aumento dos a portes de nutrien te , as im como
para o aumento do conteúdo de matéria orgânica.
Fonte: M.A.A. Leal, figura nao publicada.

Destaca-se que o aporte de N via FBN é fundamental para a s ustentabilidade do


sistemas orgânicos. Nesses sistemas, a aplicação de N é permitida omente na forma de
adubos orgânicos, que são aplicados, geralmente, em grandes quantidades, poi apresentam
teores reduzidos de N. Cabe destacar também que, além des te nutriente, os fertilizan tes
orgânicos também adicionam outros nutrientes ao solo, principalmente o P. Como a
extração do P pelas culturas normalmente é menor do que a extração do 1 , pode ocorrer
a acumulação de P no longo prazo, gerando problemas de poluição ambiental. De acordo
com Magdoff e Van Es (2000), a utilização regular de adubos orgânicos visando a fo rnecer
N para as culturas pode causar a poluição de rios e lagos, quando a quantidade de P ede K
adicionadas conjuntamente excede a necessidade da cultura. FB adiciona somente , a
sistema e, portanto, a sua utilização contribui para que este problema eja evitado.

Estratégias de concentração de nutrientes


Segundo Ma der et al. (2002), o incremento da fertilidade do solo e a maior biodiver idade
proporcionados pelo manejo orgânico podem tomar esses is temas menos depe ndentes
de insumos externos. No entanto, em cultivas que promo em grande e, tração, com e
o caso das capineiras ou das hortaliças de fruto, a estraté gia de concentração esp acial e
a d e concentração temporal (conforme foi abordado anteriormente neste ap ítulo) s.1
alterna tivas para manter estável o balanço de nutrientes.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


816 MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Deposições
Adubação Orgânica Atmosfêrlcas

Fração
Orgtnica

Matriz
Perdas Mineral

Figura 13. A ampliação da cobertura e da diversidade vegetal reduz as perdas por erosão e lixiviação
e aumenta os aportes via deposição atmosférica e via matriz mineral, além de contribuir para
os equilfbrios hídrico, térmico e biológico do ambiente e para a estabilidade econômica do
agricultor.
Fonte: ~ilA.A. Leal, figura não publicada.

A estratégia de aporte de fertilizantes com elevada concentração de nutrientes


também pode ser utilizada quando necessário. No manejo agroecológico, permite-se o
uso de fertilizantes minerais, preferencialmente com reduzida solubilidade; no entanto,
é importante que esta utilização seja realizada de forma criteriosa. Entretanto, os sistemas
orgânicos de produção não permitem a utilização de fertilizantes nitrogenados e fosfa tados
de elevada solubilidade. A utilização de cloreto de potássio também não é permitida.

Desenho do espaço destinado à atividade agropecuária, visando à maior


integração com a paisagem do território
A atividade agropecuária deve ser dimensionada e distribuída no tempo e espaço, de
forma que contribua para ampliar a oferta de serviços ambientais, como a manutenção dos
eg uilfbrios hídrico..:' térmico e ecológico, além d_e contribuir para O progresso econ ômico e
social da populaçao, conforme se observa na figura 14. Estes benefícios devem alcançar
n ão apenas a propriedade rural, mas também todo o território em que ela está inserida.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

J
XXV - MANEJO DO SOLO EM (U LT I VOS Ü RGÂNICOS O U EM TRA NS I ÇÃO ... 8 17

Mn nejo ;1groerol6g1co e orgilnico

Depo-;içõco;
At mosfé ricas
Produtos
agropecuários

Emprego e
renda

Equilíbrio
hídrico

Equil1brio
térmico

Equilíbrio
biológico

. latn,
Perdas Mineral

Figura 14. Exemplo de sistema sus tentável com elevad a capacidade produ tiva e q ue con tribui para
a manu tenção dos equilíbrios híd rico, térmico e ecológico do ambiente, bem corno para os
equilíbrios econômico e social da popu lação.
Fonte: M.A.A. Leal, figu ra não publicada.

RELATO DE RESULTADOS DE PESQ UIS A OBTIDOS NA


FAZENDINHA AGROECOLÓGICA

Fazendinha Agroecológica km 47
O Sistema Integrado de Produção Agroecológica, ta mbém conhecido como
"Fazendinha Agroecológica km 47", é resultado de uma parceria iniciada em 199 entre
a Em brapa Agrobiologia, a Universidade Federal Rura l do Rio de Janeiro (UFRRD, a
Emp resa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO) e o
Colégio Técnico da UFRRJ (CTUR).
A Fazendinha Agroecológica km 47 ocupa uma área de apro. imadamente 70 ha,
represen tando um espaço de pesquisas e do exercício da agroecologia em base cientfficas,
dentro de uma estratégia que busca a sustentabilidade da a tividade agropecuária.
O manejo adotado na Fazendinha Agroecológica prioriza a ciclagem de nu trien tes
a partir da integração das atividades de produção anima l e vegetal e da autossu fic iêncic1
em N, fazendo uso da rotação e diversificação de culturas e d a FB . t este e -paço, a
redução dos processos erosivos é uma prioridade, assim como a manutençã do t'\:}Ui!ibrio
nu tricional das plantas e de populações de insetos-pragas, patógenos e ervas esp n tãnea
em níveis toleráveis, sem o emprego de técnicas que rep resentem impact neg tivos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


---·
818
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

de na~reza ecoto -icológica. A implantação de sistemas agroflorestais, as práticas


al_teniativa de manejo de bovinos de leite e de aves e o monitoramento científico dos
dn
da er o co_mponentes do s1stema,
· · mu1h'd'1sc1p
· técrn~a
por meio de uma eqmpe · 1·_ma~,.f azem
~azendmha Agroecológica um espaço diferenciado de apnmoramento c1entífico da
agncultura orgânica no Estado do Rio de Janeiro.
Em mais de 20 anos de história, foram gerados conhecimentos e tecnologias, além
d~ resgate de plantas tradicionais, como a araruta, e a introdução e adaptação de grande
numero de culturas ao manejo orgânico. Este espaço vem possibilitando o atendimento
anual de cerca de 1 000 agentes de assistência técnica e extensão rural, agricultores e
e studantes, por meio de cursos, palestras, visitas guiadas, dias de campo e reuniões. Todo
esse esforço vem sendo reconhecido pela mídia, por meio da veiculação de mais de 300
matérias jornalísticas, abordando as atividades desenvolvidas neste espaço e também do
n:ieio acadêmico, pela publicação de artigos em periódicos indexados, boletins de pesquisa,
circulares, comunicados e recomendações técnicas. Além disso, na Fazendinha, já foram
produzidas 82 dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Recentemente, a importância do projeto foi reconhecida pela criação do Centro de
Formação em Agroecologia e Agricultura Orgânica (CF AAO), onde funciona o primeiro
Programa de Mestrado Profissional em Agricultura Orgânica do pais. Alcançar esses
resultados, e ter sua importância reconhecida pela sociedade e pelo meio acadêmico, só
foi possível graças à integração entre os profissionais das instituições que formaram essa
parceria nessas primeiras duas décadas.
A seguir, serão apresentados alguns dos principais resultados de ações de pesquisa e
desenvolvimento na área de fertilidade e manejo do solo, obtidos pela equipe que atua na
Fazendinha Agroecológica, tanto em unidades experimentais quanto em propriedades de
agricultores orgânicos ou em transição agroecológica.

Fertilização orgânica
A adição de materiais orgânicos tem papel fundamental no manejo do solo em
cultivos orgânicos ou em transição agroecológica. Os estercos consistem em urna das fontes
empregadas com essa finalidade, tanto para o fornecimento de nutrientes quanto para o
aumento dos teores de matéria orgânica no solo.
Oliveira et al. (2008b) avaliaram o efeito da aplicação de doses de "carna" de aviário,
como fonte de N, sobre o desempenho agronômico de inharne (também conhecido como
taro) cultivado em plantio direto, em sucessão com aveia-preta (Avena strigosn). A adubação
de cobertura com "carna" de aviário promoveu aumento significativo na produtividade
daquela hortaliça, que atingiu o valor máximo com a dose de 130 kg ha·1 de N (equivalente
a 4,4 t ha•l de "cama" de aviário). O irlharne colhldo apresentou um teor de 16,7 g kg-1 de
N nos rebentos. Uma vez que parte deste nutriente encontra-se na forma de proteína no
inhame, a prática da adubação orgânica com "cama" de aviário favoreceu o aumento da
qualidade nutricional dessa hortaliça.
Apesar do potencial ~e _uso da "cama" ~e avi~i? p~ra a utilização corno fertilizante
orgânico, a legislação brasdelfa sobre produçao or?aruca 1mp~s ~estrições ao seu uso. Esse
tros estercos só podem ser empregados em sistemas orgarucos de produção quando
; :postados e bioestabilizados (Brasil, 2014). Além disso, nem sempre os produtores
0

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO ··· 819

orgâ nicos encontram disponibilidade de materiais orgânico d o ri gem animal para a


compostagem. Diante desse cenário, a equipe da Fazendinha Agroecológica tem conduzido
pesquisas, busca ndo novas formns de fertilização de cultives o rgânicos.
A compostagem realizada exclus iva mente com biornas a vege tal residu I cons iste
numa alternativa, tanto para a produção de substratos para mudas q uanto de fertilizantes
o rgânicos. Leal et al. (2007) avaliaram diferentes misturas de palhadJs de gramíne
(capim Napier - Pe1111iset11111 p11 rpureu111) e de leguminosa (Crotnlarin juncea), s ubmetida
à compostagem para serem utilizadas como substratos para a produção de mudas de
alface, beterraba e tomate. Os resultados evidenciaram que o composto formado com d
mistura de 66 % de Crotnlnrin j1111cen e 33 % de Napier foi s uperi or aos demais tratamento
para produção de mudas de alface, beterraba e tomate (Quadro 1). Em outro trabalho,
Leal et ai. (2009) evidenciaram a possibilidade de substituição do uso de esterco bovino
por compostos provenientes de misturas entre Crotnlarin juncerz e ca p im apie-r como
fertilizante para a cultura da beterraba.

Quadro 1. Produção de matéria seca da parte aérea de mudas de alface, beterraba e tomate, a p.irtir
de diferentes substratos

Matéria seca da parte aérea de mudas


Tratamentos
Alface Beterraba Tomate
mg/planta
100 % C. juncea 15,3 b(I) 11,6 cd 33,7 c
66 % C. juncea + 33 % Napier 53,2 a 54,7 a 119,2 a
33 % C. juncea + 66 % Napier 26,0 b 37,0 b 62,3 b
100 % Napier 1,9 c 3,3 d 2,3 d
33 % C. juncea + 66 % Napier
45,9 a 21,3 c 62,5 b
inoculado com esterco bovino
33 % C. juncea + 66 % apier
inoculado com biofertilizante Agrobio
52,1 a 21,6 c ---
-'.)..), b
100 % Napier inoculado com
1,5 c 2, d 2,9 d
biofertilizante Agrobio
Controle1~l 22,7 b -t.6,3 ab 104,5 a
1
1 1Valores seguidos da mesma letra nas colu nas nào diferem entre si pelo teste Je Tukey (p<0.05). 11JSubstratn comen...al Plantm.u
H-P.
Fonte: Adaptado de Lt!al et ai. (2007).

Um segundo grupo de compostos com potencial de uso na agricultura o rgânica é


represe~tado pelos f~rmentados, ~o tipo ." bokashi" (Figura 15). Tais compo to ~ são
confecc1onados a partir da elaboraçao de misturas balanceadas de farelo de cereais e de
ol~aginosas, passando por un'. p1:ocesso de fermentação, na presença de microrganismos
eficazes (Ho~1rn~; 2003)._,,°hveua (201~) demonstrou que a eficácia de campo to
fermentados tipo bokashi dep: nde da.s tontes de~ e empregadas na ua composição.
Segundo essa autora, formulaçoes obtidas com biornas a pro eniente da de idrataçà
e moagem d~ capim N~pier e. gliricídia (~liric1:dia ~epiw11) podem ub-tituir c mp •tos
farelados obtidos a partir de biomassas res1dua1 agroindustriais, como farelo de trig e
torta de m amona.

MAN EJO E CON SE RVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


-- -
820 MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Figura 15. Os compostos do tipo "Bokashi" representam uma alternativa para a fertilização orgânica
em áreas de cultivos de hortaliças.
Autor: E. da S. Araújo.

A utilização de produtos derivados do corte, da desidratação e da moagem da


biomassa aérea de leguminosas representa outra alternativa como fertilizante nitrogenado
em cultivas orgânicos ou em transição agroecológica. Esse tipo de insumo, por apresentar
menor teor de água e maior densidade e homogeneidade da matéria-prima, facilita seu
transporte, armazenamento e aplicação, o que possibilita seu uso em quantidades e épocas
adequadas, favorecendo a sincronia da provisão de N. Almeida et ai. (2008) avaliaram o
efeito de fertilizantes produzidos a partir da desidratação e moagem de mucuna-cinza
(Mucuna pruriens) e gliricídia (Gliricidia sepium) para a produção orgânica de alface. Com
base nos resultados, os fertilizantes de leguminosas revelaram-se fontes promissoras de
para a produção orgânica de hortaliças, permitindo a substituição da adubação de
cobertura com" cama" de aviário. Cabe destacar que o fertilizante de gliricídia evidenciou-
se mais eficiente do que a "cama" de aviário na provisão de N.

Adubação verde
Produção de biomassa e acúmulo de nitrogênio

A adubação ver~e é ~ prática de caráter multifuncional que contribui para


manutenção e melhona de atnbutos do solo, favorecendo a produtividade das culturas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MAN EJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO.. . 821

Consiste no p lantio de espécies nat-iva ou introduzidas, cul tivadas em ucessão, rotaçã


ou consórcio com culturas de interesse econômico (Fig ura '16). Tai e p ' cie podem ' r
classificadas quanto ao porte (herbáceas, arbusti vas ou a rbóreas) e ciclo (a nuais ou perene ).
Elas cobrem o terreno ao longo de alguns meses ou du rante todo o ano, promovendo
cobertura para a s upe rfície do solo (Espindola et ai., 2004). No qu adro 2, apresentam-se alguns
dos adubos verdes empregados na Fazendinha Agroecológica, assim como seu potencial de
produtividade de biomassa e acúmulo de N. Cabe d es tacar que os val o res de produção d
biomassa dessas espécies podem variar em razão de aspectos como caracterís ticas climática
(Pereira et ai ., 2005) e arranjos popuJacionais (Moreira et ai., 2003; Perin et aL, 2003)-

Figura 16. Crotalária (Crotalnrin j1111cen - (a) e mucuna-cinza (M11rnnn prurims - (b) são exemplo de
leg uminosas empregadas como adubos verdes.
Autor. E. da S. Araújo.

Um aspecto também a ser considerado é em relação à elevada capacidade de


fornecimento de N ao solo quando se utilizam leguminosas como adubo verdes. U ma
vez que fertilizantes nitrogenados sinté ticos não são permitidos na agricultura orgànica,
a produtividade e a sustentabilidade dos sis temas orgânicos de produção evidenciam- e
vinculados à incorporação do N por meio da FBN e da s ua ciclagem interna ( eves et ai.,
2004) . levantamento da ocorrência de rizóbios em adubos verde cultivado na Fazend inha
Agroecológica revelou urna alta diversidade desses microrganismo , ob ervando- e a
ocorrência de especificidade para algumas das espécies de leguminosas avaliada · (Bratti
et ai., 2005).

Quadro 2. Produtividade de matéria seca e quantidade de nitrogênio a umulado de alguns adubo


verdes

Adubos verdes Biomassa seca N acumulado


kg ha·1
Amendoim-forrageiro (Arncllis pi11toi) 12,0 296,1
Crotalária (Crotnlnrin j1111ce11) 10,7 260,6
Cudzu tropical (P11ernrin plinseoloidcs) 15,0 "75,0
Guandu (Cnjn1111s cnjn11) ,l 217, '
Fonte: ,\Japtado de Moreira t!t ai. (2003), Pereira et ai. (2005) t! Espin dol.1 l't .11. \200ob).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


822
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

lnfluê ncia sobre atributos do solo


Fornecimento de nutrientes

O emprego de adubos verdes colabora para a melhoria da fertilidade do solo. No caso


de leguminosas, ocorre O fornecimento de N para outras espécies cultivadas, reduzindo
os gastos com fertilizantes nitrogenados. Além disso, os adubos verdes são capazes de
absorverem nutrientes das camadas subsuperficiais do solo, liberando-os na camada
superficial pela decomposição de sua biomassa residual. A velocidade associada desse
processo de decomposição encontra-se relacionada à qualidade dessa biomassa residual e
às ~aracterísticas climáticas. Espindola et ai. (2006a) avaliaram o processo de decomposição
e liberação de nutrientes contidos na parte aérea de algumas leguminosas, constatando
que a biomassa residual de amendoim-forrageiro apresentou maior velocidade de
decomposição, enquanto a vegetação espontânea, com predomínio de granúnea, apresentou
un1 comportamento mais lento. Em parte, isso foi explicado por meio de características da
biomassa residual, como a relação C/N. De maneira geral, ocorreu decomposição mais
lenta nos adubos verdes com maiores valores dessa relação. Os tempos de meia-vida
associados às biomassas residuais aumentaram na estação seca (Quadro 3).

Quadro 3. Tempos de meia-vida associados às biomassas residuais de diferentes adubos verdes,


durante as estações seca e chuvosa
Tempo de meia-vidanl
Biomassas residuais de adubos verdes
Estação seca Estação chuvosa
dias
Amendoim-forrageiro (Arachis pintoz1 36 24
Cudzu tropical (Pueraria plwsoloides) 68 62
Siratro (Macroptilium atropurpureum) 68 31
Vegetação espontâneaC2J 136 105
Cll Período
necessário para que metade das biomassas residuais se decomponha. r-i Com predomínio de capim-colonião (Panicum
mm:imum).
Fonte: Adaptado de Espindola el al. (2006a).

Atributos químicos do solo


A adição de biomassa residual de adubos verdes ao solo possibilita melhorias em
atributos dos solos. Com relação aos atributos químicos do solo, Silva et al. (2009) conduziram
um experimento com o objetivo de avaliar o efeito do cultivo de couve, em monocultivo ou
consorciada com leguminosas anuais, sobre os teores totais de C orgânico do solo (COS),
N, frações húmicas e macronutrientes, sob manejo orgânico. Os tratamentos consistiram
de: couve/ milho/ couve, em monocultivo; couve consorciada com mucuna-anã (Mucuna
deeringian.a)/rnilho consorciado cor:n mucun~~cinz~ - couve consorciada com mucuna-anã;
e couve consorciada com Crotalana spectab1l1s/milho consorciado com Crotalnria juncea/
couve consorciada com C. spectabilis. Além disso, também foi avaliada a aplicação ou não
de N em cobertura, utilizando como fonte "cama" de aviário. Os benefícios trazidos pelo
u so de leguminosas em consórcio e adubação orgânica em cobertura foram evidenciados
elos aumentos dos teores de C, Ca e P (0-5 e 5-10 cm), assim como de hum.ina e de Mg (0-5
~m) ao final do ciclo da couve.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

...
XXV - MAN EJO DO S OLO EM (U LTIVOS ORGÂNICOS OU EM T RANSI ÇÃ O · · · 8 23

Ca nellas et a i. (2004b) ava liaram o teor e a qu alidade da maté ria orgân ica de um so lo
culti vado com d iferentes legumi nosas herbácea perenes (am ndoim-fo rrageiro, cudzu
tro pica l e siratro) . Verificou-se que as leguminosa ava liada promoveram acúmulo de
ácidos húmicos na camada superficia l. Os ácidos húm icos pod em se r utilizados como
compostos indicadores dos efeitos do manejo sobre a fração o rgâ nica do olo, poi ap ar
do redu zido tempo de condução do experimento (28 meses), foi verificada incorporação
signi fica ti va de C e N provenientes da biomassa resi dua l da legu minosa . Em outro
estudo rea lizado nesse mesmo experimento (Canellas et ai., 2004a), a q uantidade de P
em ligações diésteres foi maior nas amostras de solo sob cobertura de leg umi nosas do
que sob a gra mínea que constitui a vegetação espontânea d a á rea (Panícum maxinwm). A
permanência da biomassa residual da parte aérea das leguminosas na uperfície do _olo,
a pós o corte, promoveu aumento na razão P diéster/ P monoéster. Es es resu ltados pod em
ser usados para justificar o aumento da d isponibilidade de P para as p lantas em olos
cultivados com leguminosas.

Atributos físicos do solo


Por meio da adição de ma teriais orgânicos ao solo, a prá tica da adubação verde fa vorece
a melhoria de atributos fisicos do solo. Perin et ai. (2004) avaliaram as perdas de água e as
variações da temperatura em solo coberto com legwninosas herbáceas perenes. Se gundo o
autores, as perdas de água (medidas três dias após a ocorrência de uma chu va de ,7 mm)
sob a cobertura de siratro e cudzu tropical foram bem menores do qu e as observadas nas
áreas de amendoim-forrageiro e da capinada (Quadro 4) . Isso pode ser explicad o pelo fato
de que tanto o siratro quanto o cudzu tropical mantiveram a su perfície do solo protegida
por uma densa camada da parte aérea. Já na ár ea de arnendoim-fo rrageiro, a altura da
camada vegetal promovida por essa cobertura viva foi cerca de três vezes menor que a
proporcionada pelo siratro e cudzu tropical. Tais características devem ter promovido uma
maior taxa de evaporação de água no solo sob cobertura de arnen doim-forrageiro, quando
comparada ao siratro e cudzu tropical.
Nesse mesmo experimento, os autores relataram q ue a área con tinu amente capinada,
seguida pelo amendoim-forrageiro, apresentaram os m aiores valores de temperatura do
solo. Por sua vez, cudzu tropical e siratro atenuaram em até 13 ºC a temperatura do solo,
no período mais quente do d ia. Esse resultado pode ser associado ao manto d e material
vegetal formado por estas duas espécies, o riundo da queda natural de fo lhas so bre o olo,
associado à menor perda de umidad e.

Quadro 4. Perdas de água em Argissolo Vermelho-Amarelo, sob cobertura de leguminosas herbáceas


perenes

Leguminosas herbáceas perenes Percentual de perda de água


o

Amendoim-forrageiro 7-l
Cu d zu tropical -l7
Siratro -lS
Área capinada 8-l
Fonte: Ad apta do d e Per in et al. (200-I).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


824
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL .

. Avaliando outra área também coberta por essas mesmas espécies, Perin et al. (2002)
verificaram que os valores do diâm.etTo méruo ponderado dos agregados no solo com
cobertura
. d as Iegununosas
. · foram superiores aos da área capma · d a, o que d emons tra o
efeito fa orá el dessas espécies na estabilização dos agregados do solo.
Os re ultados associados ao uso da adubação verde sobre ah·ibutos físicos do solo
tam~ém podem representar um impacto na redução das perdas de água e de solo por
erosa_o. Canralho et ai. (2009) avaliaram as relações entre a erosividade da chuva e os
pa~oes de precipitação com as perdas por erosão para diferentes tipos de preparo de um
Argisso~o ermelho-Amarelo. A cobertura vegetal do solo proporcionada pelo plantio de
crotalária (Crotalnria juncea) e a manutenção de sua biomassa residual sobre a superfície
do terreno após o corte promoveram maior proteção contra o impacto das gotas de chuva
sobre a superfície do solo.

Atributos biológicos do solo


A adubação verde pode contribuir positivamente para organismos benéficos do solo,
uma vez que sua biomassa residual serve corno fonte de energia e nutrientes, além do que
a manutenção da cobertura vegetal cria ambientes favoráveis para aqueles organismos
(Gupta, 1994). Um exemplo desse tipo de contribuição foi observado por Espindola et al.
(1998) e Souza et al. (1999), os quais avaliaram o cultivo de adubos verdes em sucessão
às culturas da batata-doce e da mandioca, quantificando seus efeitos sobre a população
de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) nativos. Segundo esses autores, o cultivo do
solo com leguminosas, como Crotalaria juncea e mucuna-preta, e com gramíneas, como o
sorgo (Sorghum bicolor), pode promover a multiplicação de propágulos infectivos de FMA
(Quadro 5), cuja associação com culturas de interesse econômico traz benefícios como
estímulo ao crescimento vegetal, ciclagem de nutrientes e estruturação do solo.
Essa contribuição da adubação verde também pode ser observada em grupos da
fauna do solo. Merlirn et ai. (2005) avaliaram o efeito de diferentes coberturas vivas do solo
(grama-batata.is - Paspalum notatum e siratro) e de biomassa residual de grama-bata.tais
sobre a macrofauna do solo, em pomar de figueira. Esses autores identificaram urna maior
densidade de grupos de invertebrados como Diplopoda, Gastropoda e Oligochaeta em solo
sob cobertura viva de siratro, quando comparado àquele sob cobertura de grama-batatais
(Quadro 6). Urna vez que Diplopoda e Oligochaeta são saprofíticos, a alta densidade
observada no solo com siratro pode ser devida a aspectos como a qualidade da biomassa
residual adicionadas ao solo e à retenção de umidade do solo associado àquela leguminosa.
Além disso, os autores também associam a maior presença de gastrópodes em solo com
siratro ao maior teor de Ca encontrado nessa espécie, uma vez que tal elemento químico se
faz necessário para o metabolismo daquele grupo de invertebrados. Por fim, cabe destacar
que maior diversidade da macr~fauna do solo foi encontrada nos tratamentos siratro e
cobertura morta de grama-batata.is.
o sistema de preparo do solo associado aos adubos verdes também pode influenciar
os organismos que_cons_tituem a bio~a do solo. Lo~eiro et al. (2016) avaliaram atributos
como biomassa rrucrobiana e quociente metabólico do solo em áreas da Fazendinha
Agroecológica .subn:'etidas a diferentes sistemas de ~re~aro. ~bservou-se que as maiores
erdas de e rrucrob1ano ocorreram em área com cultivo mtens1vo de hortaliças, associado
p uso frequente de aração e gradagem. Isso evidencia a importância de se adotar práticas
ao 1. d J . .
que minimizem o revo v1mento o so o e pnonzem a manutenção d a cobertura vegetal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRAN S IÇÃO · · · 825

Quadro 5. úmero d e esporos e de propágulo infec tí vos d f ungns micom 7 ico<; arbu ,;culare,;
indígenas d o solo, após o culti vo de ad ubos verd s

Adubos verdes Es poros Propágu lo infectivo


1
50 cm 1 d e solo 100 de -;olo
Crotalária (C. j1111cen) 417 117
Feijão-d e-porco (C. e11sifor111is) 346 90
Guandu (C. cnjn11) 270 30
Muc una-preta (M . nlerri111n) 475 11
Sorgo (5. bicolor) 163 1 25
Vegetação espontânea 609 73
Solo ca pinado 305 29
Fonte: Ad,1ptado de Espind ola et ,, !. (1998) e Souza ct a!. (1999).

Quadrn 6. Densidade de indivíduo na macrofouna do solo em poma r de fig uei ra, ob diferente _
coberturas do solo

Grupo de Grama-
Siratro Cobertura morta de grama-batatai
invertebrados bata tais
indivíduo m-~
Coleoptera 29 ab111 9b ""'6 a
Diplopoda 181 a 35 b 173 a
Gastropoda 50 a 6b 13 b
Oligoch aeta 180 a 103 b 131 ab
Formicidae 625 a 1145 a ~1 b
111 Valores
seguidos da mesma lcl:Ta nas linhas n,'\o diferem cnl:Te si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fon te: Adaptado de Merlim et .1!. (2005).

Estratégias de manejo da adubação verde

Os estudos desenvolvidos pela equipe da Fazendinha Agroecológica apre entam


distintas abordagens sobre o manejo da adubação verde, principalmente as ociada à
utilização de espécies de leguminosas fixadoras de , de ciclo anual e perene, e de clima
tropical. Foram desenvolvidos diversos arranjos de plantio do adubo , erdes com
hortaliças folhosas, brássicas, raízes e de frutos. Os principais a pecto do manejo inclu m
s ucessões e consórcios; cultivas entre faixas ou aleias; e apl icação de coberturas mort
vegetais. Alguns dos resultados obtidos serão a seguir relatado

Sucessões de culturas

As sucessões de culturas constituem uma prática desejável n manejo orgaru o d


solo. Além de aumentar a diversidade vegetal, também contribuem para t1 quebra do i 1
de insetos-pragas e patógenos, assim como favorecem a ciclagem de nubientes. p r cau
das condições climáticas da região letropolitana do Rio de Janeiro, onde está localizada a
Fazendinha Agroecológica, uma estratégia bastante utilizada ne ~e espaço consi te n planti e
na condução de adubos verdes no período de no embro a março. Esse peri do do ano coincide
com a ocorrência de chuvas associadas a elevadas temperaturas , permitindo a pr duçã de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


826
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

grand<:5 quantidades de biorna 0sa pelo adubos verdes. Entre as espécies utilizadas para essa
modalidade, estão as crotalárias, as mucunas, o feijão-de-porco e o guandu .
. O culti\ o combinado de alguns dos adubos verdes nesse período do ano com culturas
de 1:11teresse econômico como O milho pode contribuir para a formação de palhada capaz
de mcr~mentar a cobertura do solo, em razão da relação C/N mais elevada, além de
pro.porcionar retomo econômico durante O processo de adubação verde. Risso et al. (2009)
verificaram que a introdução de milho em consórcio com as leguminosas Crotnlarin juncea
(semeada no mesmo dia do milho e manejada por meio de um corte) e mucuna-cinza
(semeada aos 40 d após o milho e cortada de uma só vez) apresentou-se uma prática capaz
de produzir altas quantidades de biomassa vegetal e de acumular N na biomassa residual
gerada. Ainda segundo esses autores, o desempenho do milho não foi reduzido quando se
empregou o arranjo espacial em linhas duplas de plantio.
Uma possibilidade também de utilização de leguminosas consorciadas com milho, no
período chuvoso, envolve a colheita de espiguetas imaturas, conhecidas corno m.inimilho.
Corrêa et al. (2014) avaliaram o efeito da adubação verde com Crotnlaria juncea consorciada
ao milho, para a colheita de minimilho, antecedendo a couve. Após o corte dos adubos
verdes, a biomassa residual foi combinada com duas formas de preparo do solo: semeadura
direta e preparo convencional. O monocultivo de milho proporcionou produtividade e
número de espigas de rninimilho comerciais maiores, além de maior acúmulo de N, P,
Ca e Mg, nas espigas despalhadas, e de N, K e Ca, na palha das espigas. Entretanto, o
consórcio proporcionou maior número de espigas por planta (0,91). A maior produção de
biomassa foi proporcionada pelo consórcio de crotalária e milho (7,43 t ha·1). O acúmulo
de N proporcionado pelo consórcio foi superior ao do monocultivo de milho e equivalente
ao do monocultivo de crotalária. Na couve, houve diferença apenas na emissão de folhas
(1967083 unidades ha·1), com superioridade da semeadura direta.
Uma segunda alternativa para introduzir a adubação verde por meio da sucessão
de culturas é realizar o plantio e condução das espécies empregadas para essa finalidade
durante a época seca do ano. Nas condições climáticas da Fazendinha Agroecológica,
isso corresponde a fazer o plantio dos adubos verdes no período de fevereiro a abril. A
principal desvantagem nesse caso relaciona-se à reduzida produção de biomassa por essas
espécies, em razão das condições climáticas adversas, como baixas temperaturas e quedas
na precipitação pluviométrica. Deve-se evitar o plantio tardio de leguminosas sensíveis
ao fotoperíodo, como é o caso das crotalárias (Espindola et al., 2005). Um exemplo dessa
modalidade de adubação verde foi avaliado por Espindola et al (1998), os quais avaliaram
a influência da sucessão com leguminosas e vegetação espontânea sobre o desempenho
da batata-doce. As leguminosas Crotalaria jun.cea, feijão-de-porco, guandu e mucuna-
preta proporcionaram P;oduçõe_s su~sequentes de. ~atata-doce superiores à observada
após a vegetação espontanea, ev1denc1ando o beneficio da sucessão leguminosas/batata-
doce (Quadro 7). As produções de tubérculos associadas às leguminosas superaram
a proporcionada pela veget_ação espo~tânea em até 116 %. S:gundo os autores, um dos
fatores responsáveis pela baixa produçao ~e batata-doce associada à vegetação espontânea
(com predomínio de Paspalum notatum) foi a elevada relação C/N dessa espécie.

Consórcios com leguminosas anuais ou semiperenes


Nessa modalidade, o adubo verde é semeado nas entrelinhas da cultura de interesse
econômico. Em geral, tais consórcios permitem melhor utilização dos recursos naturais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ÜRGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO ... 827

disponíveis. Entretan to, deve-se ev itar sua realização cm co ndições de red uzida
disponibilidade de água para evi ta r a competição por e se recurso.

Quadro 7. Produtividade de tubérculos de batata-doce em sucessão com leguminosac;, vegetação


espontânea e ausência de vegetação
Tratamentos Produ tivi dade de tubérculos
t ha ·'
Crotn/nrin j1111ccn 15,6 abni
Feijão-de-porco 18,7 ab
Guandu 16,3a b
Mucuna-preta 20,1 a
Vegetação espontâneal21 9,3 c
Ausência de vegetação 14,0 lx
111 Villorcsseguid os da mesma lt!lra na coluna n5o diferem entre si pelo teste de Tukey /p<0,05). •ll Com predomínio d~ 17.1Il1d-
ba talais (Paspalum notatum).
Fonte: Ad.iptado de Espindol.i et ui. (1998).

Ríbas et al. (2003) avaliaram o desempenho de qtúabeiro consorciado com Crotalaria


juncea, comparando três sistemas de cultivo (quiabeiro em monocultivo ou consorciado com
duas ou três linhas de C. juncen nas entrelinhas do quiabeiro; as populações de crotalária
corresponderam a 400 000 e 600 000 plantas ha· 1, respectivamente) e d uas doses de este.rco
bovino (equivalentes a 10 ou 20 t ha·1 de es terco bov ino), aplicad o nas covas do quiabeiro.
O cultivo consorciado de quiabeiro com crotalária, independentemente da densidade
de semeadura adotada para a leguminosa, promoveu a umento da produtividade e do
N acumulado na folha índice da cultura principal (Quadro 8). Avaliações fei tas obre a
incidência de galhas nas raízes do quiabeiro também evidenciaram uma redução da
incidência de galhas radiculares associadas a nematoides do gênero Meloidogyne.

Quadro 8. Produtividade e N acumulado na folha índice de quiabeiro em monocu.ltivo ou consorciado


com Crotalaria juncea, com diferentes níveis de esterco bovino

Tratamentos Produtividade acumulado na folha índice


t ha· 1
kgha·1
Sistemas de cultivo
Monocultivo 27,2 b (ll l+l,3 b
Consórcio com duas linhas de
30,3 a 166,5 a
crotalária
Consórcio com três Lin.l1as de crotalária 30,8 a 166,5 a
Níveis de esterco bovino
10 t ha·1 29,-l a 156,7 a
20 t ha·1 29,5 a 161,5 a
<11 V.il o res seguidos da mcsm,1 letr.1 na coluna não diferem entre si pelo teste J e Tukey (p<0,05).
Fonte: Ad.iptado de Rib.is et ai. (2003).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


828
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

. Tamb m c mo forma de on r io entre Jegumjnosas e culturas anuais pode ser


citad_o ultiv entre fa ixas intercalare . Nes caso, os adubos verdes podem ser p lantados
111
en~ ~ 1ª imple u dupla , con tituindo faixas com espaçamento variável (Figura 17).
Oliveira et ai. (2006a) avaliaram O crescimento e a produtividade de inharne cul tivado
entr faixa d guandu, além de eu efeito sobre a ocorrência de queimaduras foliares e a
população de planta e pontâneas. Os h·atamentos consistiram no cultivo entre faixas de
guandu em realização de poda; cultivo entre fruxas com poda, com a biomassa mantida
como cobertura do olo; e cultivo entre faixas com poda, com a biomassa removida da
área. E e último tratamento ju ti fica-se porque algw1s agricultores utilizam a b iomassa do
~andu como uprimento proteico para a alimentação de animais. Embora os tratamentos
nao tenham apre entado diferenças significativas quanto à produtividade, cabe d izer que
os vaJores obtidos evidenciaram-se próximos dos valores médios da cultura para o estado
do Rio de Janeiro. o entanto, 0 cultivo entre faixas de guandu não podadas apresentou-se
eficiente na proteção das plantas de inhame contra queimaduras foliares pela radiação solar,
além de auxiliar no controle de plantas espontâneas (Quadro 9), red uzindo a necessidade
de capinas que oneram a produção orgâruca dessa cultura.

.
Figura 17. G uan du (Cn'J·a11 us cajan) representa uma
. alternativa para a formação de faixas intercalares
d e cuJtivo, em consórcio com cul turas anuais.
Autor: E. da S. Araújo.

, ·os com leguminosas herbáceas perenes


C onsorc1
· osas herbáceas perenes também podem ser empregadas, como adubos
Legumtn sórcío com frutíferas ou hortaliças. Nessa modalidade, ocorre a formação
verdes, em con

MAN EJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


XXV - MANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂ NI COS OU EM TRANSIÇÃO 829

de cobe rturas vivas permanentes, se m q u e haja necesc;idade d' novoc; pla n tio.e: c1 cada ann
(Figura 18) . Quando se empregam leg uminoséls de hábito de c rescím nto volúvel par_é1 ~,sa
finalidade, deve se r realizado o coroamento das c ulturac; perenes quando f0 r necec;sano.

Quadro 9. Biomassa seca da parte aérea de plantas cspont.'t ncilc; c m pJrceJJc; de inhame cultívc1J o
e ntre faixas de g uandu s ubmetidas a difer entes mancjos

Manejo das faixas de guandu Biomassa seca de plant.1 ec;ponlàneas (t ha·')


Dias após a poda do guandu
30 60 90

Faixas podadas com material 2, 3


2,51 êl (ll 2,31 a c1
re m ovido da á rea
Faixas podadas com material 3,(J.!
1,98 .a 2,63 a Ll
e m cobertura do solo
Faixas não podadas 0,95 b 0,5 b 0,93 b
<n Valores segu idos d a mesma letr.1 nas colun.:is n~o d iferem entre ~i pelo te te de Tukey (p<0,03).
Fonte: Adaptado de O liveira et ai. (2006.t).

Figura 18. Leguminosas herbáceas perenes, como cudz u tropical (P11eraria phnseolv1dt?..--), podem :-er
e mpregadas como coberturas vivas do solo e m áreas de pomares.
Autor: E. da S. Ar.:iujo.

Perin et ai. (2009) avaliaram o efeito de coberttuas vivas, formada por legumino ·as
herbáceas perenes, sobre a produção do segundo ciclo de bananeira e . anícão. Os
tratamentos envolveram amendoim-forrageiro, cudzu tropical, si.ratro, vegetação
espontânea (com predonúnio de Pn11irn111 11111xim11111) e vegetação espontànea + fertiliza 5.o
nitrogenada para a bananeira. Nesse último tratamento, a dose de apl icada equiv.:ileu a
90 kg ha·1, sendo parcelada em doses iguais nos meses de janeiro e março. O pe-o do cacho
e o da penca foram superiores nas coberturas vivas de iratro e rudzu tropical, quando
comparados aos demais tratamentos. Todas as leguminosas proporcionaram maior
crescimento das bananeiras, maior número de folhas emitidas e maior proporção de cachos

M AN EJ O E C ON SE RVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA
_ _ _ _ir,. _ _ _

830
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

lhido '~m relação aos tratamentos com. vegetação espontânea (sem e com N-fertilizante).
A le?'-1nuno as siratro e cudzu tropical favoreceram o desenvolvimento das bananeiras,
a(ssociado a ganhos de produtividade e eliminação da adubação nitrogenada no bananal
Quadro 10).

Quadro lO. Peso do cacho, produtividade e percentual de cachos colhidos aos 10 meses após a emissão
de perfilho de bananeiras cv. Nanicão, consorciadas com coberturas vivas de leguminosas
herbáceas perenes ou com vegetação espontânea com e sem fertilização nitrogenada
Coberturas vivas Peso do cacho Produtividade Cachos colhidos
kg t ha·1 %
Amendoim-forrageiro 8,49 b(ll 5,31 b 56,25 c
Cudzu tropical 10,89 a 12,09 a 100,00 a
Siratro 11,51 a 10,87 a 85,00 b
egetação espontãnea<2> 6,27b 1,04 c 12,50 e
Vegetação espontânea+ N 11,54 a 4,01 b 31,25 d
111
\lalores seguidos da mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). C2l Com predomínio de capim-
colonião (Pnnicum marin111m).
Fonte: Adaptado de Perin et al. (2009).

Em outro experimento conduzido em pomar de pinha, a cobertura de solo com a


leguminosa herbácea perene cunhã (Clitoria ternatea) promoveu aumento significativo de
16 % no número de frutos, por ocasião do 3° ciclo produtivo, evidenciando os benefícios da
cobertura viva com essa leguminosa, em comparação com a cobertura com grama-batatais.
Além disso, a cunhã eliminou a necessidade de realizar roçadas, ao contrário da grama-
batatais, reduzindo os custos para a manutenção do pomar Ounqueira et al., 2003).
A utilização de coberturas vivas do solo também pode ser feita na forma de consórcio
para algumas hortaliças. P~a tanto, devem ser empregados adubos verdes com hábito
de crescimento rastejante. E importante adequar essa prática à aplicação de irrigação e
adubação orgânica para evitar competição entre as espécies consorciadas por água
e nutrientes. O desempenho agronômico de feijão-vagem cv. Alessa foi avaliado em
consórcio com coberturas vivas perenes de grama-batatais e de amendoim-forrageiro, e
em solo convencionalmente preparado. Diferentes doses de "cama" de aviário (O, 7, 14 e
28 t ha-1) foram fornecidas, parceladamente. A produtividade de vagens não diferiu nos três
sistemas de cultivo, sem efeito competitivo das espécies de cobertura viva. A produtividade
máxima foi de 20,3 t ha-1 de vagens, associada à dose de 26 t ha-1 de "cama" de aviário,
aplicada de forma parcelada em quatro épocas (Oliveira et al., 2006b). Entretanto, Santos et
al. (2013) avaliaram o efeito desses mesmo~ tr~t~entos sobre o dese_mpenho agronômico
de berinjela, h.fbrido Ciça, c?~tatando a v1~~ilidade _de seu consórcio com o amendoim-
forrageiro. A maior produtividade ~~ be;,m1ela obtida__c?m essa cobertur~ viva foi de
11

60,6 t ha-1, associada à dose de 34 t ha de cama de av1ano, parcelada em cinco épocas.

Utilização de coberturas mortas vegetais


Existem situações em que o material vegetal empregado para a cobertura do solo não
é produzido na própria área cultivada. Biomassa residual de plantas herbáceas, arbustivas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MAN EJO DO SOLO EM (ULTIV0S ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO · · · 831

o u arbó reas pode entiio ser es palhada na supe rfície cio lerreno, como cob rtur.t mo rt.-.
vegetal. Dentre as espécies empregada para essa fina lidade, d ec:; tacam-se ac; 0 ra m íne;:i<; e
legu minosas.
O liveira et ai. (2008a) ava liaram difere ntes tipos de cob rturas morta e c;e us efeito
sobre o controle de plantas espontâneas e o desempenho agronó mico de alface. De manei ra
geral, a utilização das coberturas mortas contribuiu para a redu ção da populaçc1o das plantt1s
espontâneas observadas nos canteiros cu ltivados, e m comparação ao tra lamento-contro le.
Quanto ao desempenho da a lface, a uti lização de biomassa residual de legumino .JS
herbáceas, como Crotn/nrin j1111ce11 e guandu, e arbóreas, como eritrina Erytltri110 poc11pigi111111 )
e g liricídia, favo receu características como massa de matéria fresca, diélmetro Ja cab ça e
teor de N daquela hortaliça. Os autores associam os benefícios trazidos pelo emprego d<l -
coberturas mortas de legumi.nosas com a disponibilização de pa rél a cultura, liberado por
meio da rápida decomposição da biomassa residual.
Diversos autores evidenciaram os benefícios trazidos pelo emprego de cobertura mo rtas
vegetais sobre o desempenho de hortaliças. Barros et ai. (2009) e Santos et al. (2011 ) avaliaram oc:;
efeitos dessa prática sobre os desempenhos agronõmkos de cebola e cenoura, respectiva mente,
constatando aumentos de produtividade e redução da população de plantas espontânea

Avaliação de outras espécies para adubação verde

Estudos permitiram a ava liação de espécies de leg umino a pouco utilizadas na


adubação e o uso racional do N proveniente dos adubos verdes. Tais estudos evidenciam-
se relevantes porque, apesar dos benefícios trazidos por essa prática, ainda existe um
reduzido número de espécies empregadas pelos agricultores no Brasil, o q ue pode restringir
a diversidade de cultivas, característica particularmente im portante nos cultivo orgànico
ou em transição agroecológica.
Uma d as espécies avaliadas foi a flem íngia (FlemiHgin mncrophylln), legumi.no a
arbustiva de origem asiá tica. A produtividade dela de biornas a eca da parte aérea, ao
longo do primeiro ano, atingiu 4,0 t ha-1• Destaca-se que há uma tendência no aumento de
produção de biomassa, após o primeiro corte, uma vez que a espécie apre e nta excelente
capacidade de rebrota. O acú mulo dos nuh·ientes N, P, K, Ca e Mg na pa rte aérea foi d1:: 7--l,
5, 33, 25 e 8 kg ha·1, respectivamente. Cabe destacar a contribuição da fixação biológica de ~
avaliada nessa espécie, que foi da ordem de 76 %, equivalendo a 57 kg ha·1 d se nutriente
n a parte aérea (Salmi et ai., 2013). Uma segunda espécie analisada com potencial para a
ad ubação verde foi a leguminosa arbus tiva tefrósia (Teplirosin vogelii) , originária da África.
Ao longo de 360 d após a semeadura, essa espécie produziu 11,2 t ha·1 de biorna .1 eca,
com 72 kg ha-1 de N nas folhas e 120 kg ha·1 de no caule (Gonçalve Junior et ai., _012).
Finalmente, uma terceira espécie examinada para a ad u bação verde foi a mucuna-verde
(M11cun11 pruriens var. utilis), com elevada capacidade de produção de biorna- a ( ilva et
a i., 2011). Segundo esses autores, a mucuna-verde apre enta uma an tagem em relação à
mucuna-preta (Murnnn aterrimn), pois essa última apresenta dormência, podendo 5 t mar
uma espécie invasora. Os resultados indicam que es as legumino as podem con tribuir
com quantidad es s ignificativas d e biomassa e nutrientes, e pecialme nte .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


......

832
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Consórcios de hortaliças
O . ~onsórcio apresentam vantagens em relação aos monocultivos, pois perrnitem
uma uti11Zação mais eficiente dos recursos naturais e favorecem populações de organismos
ben ficos ao agroecossistemas. Fatores como a identificação de cultivares e a época de
semeadu~a ou transplantio podem ser manejados para melhorar a eficiência do consórcio
~e hortaliças. Um dos indicadores empregados para avaliar o desempenho agronômico de
si sten~as consorciados é o índice de equivalência de área (IEA), que avalia o renrumento
de dois_ ou mais cultivas consorciados, quando comparado ao renrumento obtido com os
respe~hv_o s monocultivos (Gliessman, 2001). Segundo esse autor, valores de IEA superiores
a 1,0 md1cam que a produtividade das culturas no consórcio é maior que as obtidas nos
respectivos monocultivos.
Salgado et al. (2006) conduziram dois experimentos, ao longo de dois anos, com o
objetivo de avaliar o desempenho agronômico dos consórcios das cultivares de alface
Regina 71 (lisa) e Verônica (crespa) com cenoura cultivar Brasília e rabanete Hibrido nº 19.
o primeiro experimento, os tratamentos consistiram de alface crespa em consórcio com
cenoura, alface crespa em consórcio com rabanete e os respectivos monocultivos. No segundo
experimento, usou-se alface lisa em lugar da crespa. Os consórcios avaliados apresentaram
elevados valores de IEA (Quadro 11), evidenciando o uso eficiente dos recursos disponíveis.

Quadro 11. Valores de índice de Equivalência de Área (ou Uso Eficiente da Terra) associados aos
cultives de alface crespa cv. Verônica ou alface lisa cv. Regina 71, cenoura cv. Brasília e rabanete
Hfbrido nº 19

Sistemas de cultivo Índice de Equivalência de Área


1 º ano de cultivo 2° ano de cultivo
Alface crespa + cenoura 1,70 1,62
Alface crespa + rabanete 1,54
Alface lisa + cenoura 1,80 1,47
Alface lisa+ rabanete 1,27
Fonte: Adaptado de Salgado et al. (2006).

Paula et al. (2009) avaliaram a realização de consórcios entre alface (cv. Regina 2000)
e cebola (cv. Alfa Tropical), mantendo-se o espaçamento da cebola e transplantando-se a
alface em três épocas distintas: no mesmo dia, 15 e 30 d depois da cebola. Tais tratamentos
foram comparados aos monocultivos de alface e cebola. Com exceção do tratamento relativo
ao transplantio da alface aos 30 d após a cebola, os consórcios avaliados evidenciaram-se
vantajosos, uma vez que a introduç~o da alface não reduziu a prod_utividade da cebola,
enquanto O crescimento da folhosa fo1 comparável ao do seu monocultivo.

Controle biológico conservativo


A adoção de práticas como~ ad~~açã~ verde e~ consórcio_ de _culturas de interesse
econônúco, que promovem a d1versificaçao de cultivos, contr1bw para a redução da
ão de insetos-pragas. Isso ocorre porque algumas das plantas empregadas
popul a Ç d f , .
naquelas práticas são capazes e ornecer recursos necessanos para adultos de parasitoides

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS ÜRGÂNíCOS OU EM TRANSIÇÃO ... 833

e predadores de insetos-pragas, num processo conhecido como controle biolc'i ico


conservativo (Aguiar-Menezes e Sil va, 2011 ).
Nas condições climáticas da região Metropolitana do Rio d Janeiro, o pulgão Lipnpl,ic:
pseurlo/Jrnssicne pode infestar plantas de couve, causando prejuízos para es a culturél .
Resende et ai. (2007) avaliaram o efeito do consórcio de couve com legumi no as para
adubação verde, nas populações daquele inseto-praga. Para tanto, a couve fo i cultivada em
monocultivo ou em associação com os adubos verdes Crotnlnrin spectnbili e mucuna-un;,
procedendo-se o monitoramento de insetos predadores de L. pseudobrnssicne. Os resultildos
permitiram identificar que as leguminosas empregadas contribuíra m para aumento da
diversidade de insetos predadores de pulgões da couve.
Um segundo grupo de plantas que possui potencial para esti mula r a populaç5o d
inimigos naturais de insetos-pragas são as apiáceas. A di ve rsi dade de joaninha predado ras
associadas a pulgões foi determinada por Resende et al. (2011) em consórcio de couve com
coentro e monocultivo de couve. Um total de oito espécies de joaninhas foi identificado
(Quadro 12), e, com exceção de Hyperaspis notntn, todas as demais são predado ra de
pulgões. Segundo os autores, o consórcio de couve com coentro proporciono u recurso_
alimentares (pólen, néctar e, ou, presas alternativas) e sítios de oviposição, abri go e
acasalamento para as joaninhas, favorecendo a abundância e efici ência des es predildo res.

Quadro 12. Número total de indivíduos por espécie das espec1es de joaninhas (Coleoptera:
Coccinellidae) coletadas em couve consorciada com coentro e cou ve em monocultivo

Número de indjvíduos
Espécies de joaninha
Couve + coentro Couve em monocultivo Total
Cycloneda sa11guineae 40 o -!O
Eriops co11nexa 16 -1 20
Harmonia axyridis 1 1
Hippoda111in co11verge11s 4 2 6
Hyperaspis (H. ) festiva o 3
Hyperaspis nota/a o 1 1
Scym1111s (Prd/us) sp. 1 o 1 1
Sci;1111111s (Pull11s) sp. 2 o 1 1
Total 61 13 7-l
Fonte: Adaptado de Resende ct ai. (2011).

M ódulo de produção de hortaliças


Um desafio relacionado à geração de conhecimento cientificas em si tema o roànico
de produção é a complexidade inerente à avaliação de istemas biodi er os, fr~nte ao
número de variáveis envolvidas. Nesse sentido, foi implantado em _01 0, na Fazendinha
Agroecol?~~a km 47, .um ~ódulo de cultivo orgânico inten' i o de hortaliça (Ma ta, 20L ),
que poss1b1hta a reahzaçao de estudos de longa duração, de caráter i temico, em um
Planossolo. A área total deste módulo é de 1 ha (Figura 19), cujo manejo da fertilização das
hortaliças é feito exclusivamente com o uso de materiais de origem egetal.

M A N EJO E CONS ERVAÇÃO DO S O LO E DA ÁGUA


-
834
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Figura 19. Vista aérea de módulo de cultivo orgânico intensivo de hortaliças.


Autor: B. Kan.

essa área, busca-se aperfeiçoar, no espaço e no tempo, um desenho de sistema de


produção que valorize a gestão de biomassa vegetal, com vistas a utilizar adubos verdes
(normalmente leguminosas herbáceas anuais) e obter palhada empregada como cobertura
morta a partir de um banco constituído de faixas cultivadas com capim Napier intercaladas
a faixas da leguminosa arbórea glirjcídia, ambas manejadas com pelo menos três cortes ao
ano. Cabe amda ressaltar que a fertilização do solo e das culturas de interesse comercial
é feita com composto fermentado (tipo "Bokashi"), confeccionado localmente, a partir da
inoculação de uma mistura contendo farelo de trigo e biomassa residual agroindustrial de
torta de mamona com microrganismos eficazes.
No módulo, são cultivadas anualmente cerca de 20 espécies/variedades de olerícolas
em regime de sucessões e consórcios, de forma a ocupar aproximadamente 45 % da
área total, sendo os cultivas comerciais predominantemente formados de hortaliças
denominadas "folhosas". Foram definidos inicialmente pontos georreferenciados, para
coletas de amostras de solo, de forma que cada ponto amostral seja representativo de uma
área superficial de 25 m 2• Os estudos conduzidos neste espaço cobrem principalmente
as variações, no espaço e no tempo, de atributos químicos, físicos e, em menor extensão,
biológicos do solo; balanços parciais (tl= ingressos via fertilizações - exportações nos
produtos das colheitas) de ma_cronutrientes; ~efutições de protocolos de cultivo das
hortaliças e os respectivos rendimentos produtivos; custos de produção e cenários para
comercialização (Mata, 2012; Pian, 2015).
Pode-se destacar que o manejo adotado tem proporcionado a manutenção dos teores
de cátions trocáveis e de P disponível no solo em níveis elevados. Em contrapartida,
a partir dos balanços parcia~s de nutrientes~ detectou~s_e que a exportação de K tem se
evidenciado maior do que o ingresso por meio das fertilizações, ao passo que os balanços
dos demais macronutrientes têm se apresentado positivos ou próximos à neutralidade. Os
empenhos produtivos e o padrão comercial são compatíveis com aqueles observados
d es d . . .
e m hortaliças oriundas e maneJOS convenc1ona1s, e com os cus tos de produção,
pred o m inantemente onerosos no que tange a força de trabalho; poré m , considerando as
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXV - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVOS ORGÂNICOS OU EM TRANSIÇÃO ·.. 835

possibi lidades ele cenários de comercia lização, o lucro líquido proporcionad o pelo sistem<1
de prod ução orgânico, torna-se evidente.

Sistemas agroflorestais
Os sistemas agroflorestais consistem na associação de jrvo res com culti vas .:Jgrícolas
e, em algumas situações, também com animais, de forma imul Ui nea ou sequenciJI. Esc; <;
s istemas podem apresen tar diferentes níveis de complexidilde, desde arranjos sim pie<;, com
poucas espécies por unidade de área, até arranjos complexos, com grnnd e diver idade de
espécies. Alguns dos resultados desenvolvidos pela equipe da Fazendinha Agroecológica
envolvem cultivo de café Conüon (Coffen cmzeplrom) a rborizado e sis tema Jgroflore tal
regenera tivo e análogo (SAFRA).
No cu ltivo de café arborizado, são condu zidos talhões dessa cultura em con órcio com
eritrina e gliricídia. Na mesma área, também é conduzido um talhão d e café cultivado a pleno
sol. Avaliações desses sistemas agroflorestais indicaram que esses contribuíram para reduzi r
a amplitude térmica do ar e as temperaturas das fol hJs e do solo (Ricci et ai., 2013). i o talh,10
de café arborizado com gliricídia, foram determinados, após a poda des a espécie, a biomassa
e a taxa de decomposição de folhas e ramos e suas influências na nutrição nitrogenada do
cafeeiro. A biomassa da parte aérea obtida com a poda parcial das árvores de glíricídia fo i de
33,5 kg de matéria seca por árvore (Quadro 13), sendo a quantidade de ramos, cerca de tres
vezes maior do que a de folhas. Obteve-se com a poda cerca de 1 e 3 t ha·1 de folhas e ramos,
respectivamente. Esses valores, potencialmente, representam o aporte em solo de -13,3 e 1 ,6
kg ha·1 de N, respectivamente (Coelho et al., 2006). Dessa fo rma, a gliricidia se comportou
como importante fonte de material orgânico e N para o café.

Q uadro 13. Biomassa de matéria seca e teor de N da pa rte aérea de gliricídia consorciada com café
Conilon

Biomassa seca da parte aêrea


Estimativas
Folhas Ramos Total
Biomassa por árvore (kg) 7,5 26,0 33,-
Biomassa por hectare (kg) 922,5 319 ,o -n20.o
Nitrogênio acumulado (kg ha·1) 39,6 19,2 5 ...
Teores Méd ia
Nitrogê nio (g kg- 1) 43,3 6,2 1-1.➔
Fonte: Adaptado de Coelho et ai. (2006).

. ~or _:ua vez, o SAFRA é ~tilizad? na Fazendinha Agroecológica para faze r a


mterhgaçao de fragmentos florestais, funcionando como corredor agrotlorestal e reduzindo
os cust~s do reílo~e~tam_e~~o com es~écies nativas da Mata Atlàntica a partir do cultivo
conc?m1tante de a1p1m, te11ao, abacaxi, banana, esp~cies frutíieras e madeireiras. E - e tipo
d e s is te ma agroílorestal apresenta grande potencial na recomposi ão de áreas ciliares
em propriedades rurais, onde o agricultor poderá associar rendimento econõmico com
conservação ambienta l.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


836
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Em relação ao aspectos ecológicos desse sistema foi realizado o levantamento da


composição florística dos fragmentos florestais interli~ados, a classificação das es pécies
por grupos ecológicos e o monitoramento preliminar de vesUgios de fluxo de fauna na área
do corre~or. Os fragmentos estudados apresentam-se em um estádio médio de sucessão
sec~~dária. A área do corredor agroflorestal apresentou relevância, evidenciada pela
verificação de grande quantidade de vestígios de animais silvestres transitando na área
do corredor, o que facilita a dispersão de espécies e a sustentabilidade dos fragmentos
florestais (Vieira, 2007).

Construção participativa do conhecimento


Além do desenvolvimento de conhecimentos e tecnologias adaptadas para sistemas
de produção orgânica ou em transição agroecológica, a Fazendinha Agroecológica km 47
também favorece a sensibilização de diversos atores ligados a esse setor. Tais momentos
são importantes para o desenvolvimento desse espaço, uma vez que agricultores, técnicos
e ou tros pesquisadores trocam suas experiências, sornando-as ao conhecimento gerado
(Figura 20).

figura 20. Visita técnica à Fazendinha Agroecológica km 47.


Autor. E. da S. Araújo.

Em aJgumas situações, e~~as ~ocas de ex~eriências servem como ~onto de partida


-
ara açoes de p esquisa parhc1pahva,
.. conduzidas
. . com grupos de agn
_ cultores.
, Nobre
Punior (2009) avaliou a sustentab1li?~de de cmco_~1stemas de produçao de ~lencolas ~ob
JmaneJO
. org ·co, em unidades fanuhares, na Reg1ao Serrana do Estado do Rio de Janeiro,
a
A ru

MAN EJO E CON SE RVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGU A


XXV - MANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ORGÂNICO S OU EM T RANS I ÇÃO ·· · 83 7

nos municípios de Petrópolis e São José do V<1 le do Rio Preto. Os res ultad o rela tivo à
a ná lise emergética revelaram que os siste mas de prod ução ava liad os contribue m para o
d esenvolvimento econômico sem perturba r o equil íbrio ambiental. o entan to, o autor
des taca que as estratégias adotadas nesses sis temas devem res tringir à proporção dos
inves timentos em recursos não renováveis.
Guerra et ai. (2007) descreveram um conjunto de experiências conduzid as na
Comunidade dos Albertos, em Petrópolis, região Serrana flu mi nense, envolvendo a
introdução do uso de plantas de cobertura do solo para a semeadura direta de ho rtal iça
Por meio dessas experiências, agricultores e pesquisad ores pudera m cons ta ta r os diferentes
benefícios da semeadura direta no culti vo de hortaliças, como: redução da movimentação e
perda d e solo; diminuição da infestação de plantas espon tâneas; desem penho agronómico
s imilar ou superior; e manejo de determinadas doenças, como o mofo branco, causado
pelo fungo Sc/eroti11in sc/erotiorn111, na cultura de fe ijão-de-vagem . Tais benefícios fo ra m
debatidos com os agricultores, de forma a contribuir para s ua sen ibilização q ua nto à
relevâ ncia dessa prática agrícola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Práticas de manejo do solo adaptadas para sistemas de cultivo o rgânico o u em tran ição
agroecológica contribuem para o aumento da sustentabilidade d e agroecossis temas. esse
sentido, são exemplos: a fertilização orgânica, a adubação verde, o consórcio en tre culturas
de interesse econômico e os sistemas agroflorestais, que estimulam melhorias em atributos
do solo e diversificação dos ambientes cultivados. Parte desses benefícios se dá por meio
do estímulo aos processos biológicos, como a ciclagem de nutrientes e a fixação biológica
deNr
Embora os resultados de pesquisas obtidos pela equipe da Fazend inha Agroecológica
demonstrem exemplos desses benefícios, toma-se necessária a realização de estudos
adaptativos desse conjunto de práticas e insumos para diferentes condições edafoclimáticas,
preferencialmente por meio de processos participativos que envolvam agricultores e agentes
de assistência técnica e extensão rural. Isso des taca a importância da adoção d e estratégias
que estimulem a integração entre diferentes atores das áreas de ensino, pesquisa e extensão.

LITERA TORA CITADA

Aguiar-Menezes E.L, Silva AC. Plantas atra tivas para inimigos na turais e s ua contribuição no controle
biológico de pragas agrícolas. Se ropédica: Embra pa Agrobiologia; 2011. (Documento , 2 3).
Almeida M.MTB, Lixa AT, Silva EES, Azeved o PHS, De-Polli H, Ribe iro RLD. Fer tilizantes d e
legu minosas como fontes alternativas de nitrogênio para p rodução orgânica d e alfa e. Pesq
Agropec Sras. 2008;43:675-82.
Ba rros TM, Espindola JAA, Guerra JGM, Risso !Al\-1, Souza CG, Ribeiro RLD. Efeito de cobertura
mortas vege tais_d o ~olo sobre o ~esem penho . da cebola em cultivo orgànico. Seropédica:
Embrapa Agrob1olog1a; 2009. ( Boletim de Pesquisa e Desenvol im ento, 5-l).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
838
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

Bra il. Lei. nº 10. · 31 , ej e 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura


· ~ · e dá oulTas
orgamca
pr vid ncias. Diáifo Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 24 de dez. de 2003.
Brasil · 1ini terio d a gncu
· l tura, Pecuária e Abastecimento. Instrução N om1alwa
· n 17, d e 18 d e Jun.
0 ·
2
de 0l4. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasüia, 20 de jtm. de 2014.
Bratti AE, ª' ier GR, Rumjanek NG, Martins CM, Zilli JE, Guerra JGM, Almeida DL, Neves MCP.
Levantamento de rizóbios em adubos verdes cultivados em Sistema lntegrado de Produção
Agr ecológica (SfP A). Seropédica: Embrapa Agrobiologia; 2005. (Documentos, 204).
Canella LP, E pindola JAA, Guerra JGM, Teixeira MG, VeUoso ACX, Rumjanek VM. Phosphorus
anal) is in soil w1der herbaceous perennial leguminous cover by nuclear magnetic spectroscopy.
Pesq Agropec Bras. 2004a;39:589-96.
Canella LP, Espi.ndola JAA, Rezende CE, Camargo PB, Zandonadi DB, Rumjanek VM, Guerra
JGM, Teixeira MGT, Braz Filho R. Organic matter quality i.n a soil cultivated with perennial
herbaceous legumes. Sei Agric. 2004b;61:53-61.
Carvalho DF, Cruz ES, Pinto MF, Silva LDB, Guerra JGM. Características da chuva e perdas por
erosão sob diferentes práticas de manejo do solo. Rev Bras Eng Agríc Amb. 2009;13:3-9.
Chaboussou F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da trofobiose. 2".ed. Porto Alegre:
L&PM; 1999.
Coelho RA, Silva GTA, Ricci MSFR, Resende AS. Efeito de leguminosa arbórea na nutrição
nitrogenada do cafeeiro (Coffea canephora Pierre ex Froehn) consorciado com bananeira em
sistema orgânico de produção. Coffee Sei. 2006;1:21-7.
Corrêa AL, Abboud ACS, Guerra JGM, Aguiar LAA, Ribeiro RLD. Adubação verde com crotalária
consorciada ao mini.milho antecedendo a couve-folha sob manejo orgânico. Rev Ceres.
2014;61:956-63.
Dias Filho MB. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. 4".ed.
Belém: Embrapa Amazônia Oriental; 2011.
Espindola JAA, Almeida DL, Guerra JGM. Estratégias para utilização de leguminosas para adubação
verde em unidades de produção agroecológica. Seropédica: Embrapa Agrobiologia; 2004.
(Documentos, 174).
Espindola JAA, Almeida DL, Guerra JGM, Silva EMR, Souza FA. Influência da adubação verde na
colonização núcorrízica e na produção da batata-doce. Pesq Agropec Bras. 1998;33:339-47.
Espindola JAA, Guerra JGM, Alm_eida DL. Uso de ~e~in~s~s herbác~as para adubaçã~ verde.
ln: Aquirlo AM, Assis RL, editores. Agroecologia: pnncipios e técrucas para uma agricultura
orgânica sustentável. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; 2005. p.435-51.
Espi.ndola JAA, Guerra JGM, Almeida DL, Teixeira MG, Urquiaga S. Decomposição e liberação de
nutrientes acumulados em leguminosas herbáceas perenes consorciadas com bananeira. Rev
Bras Cienc Solo. 2006a;30:321-8.
Espindola JAA, Guerra JGM, Peri.n A, . Teixeira MG, Almeida D~,. Urquiaga S, Busquet ~NB.
Bananeiras consorciadas com leguminosas herbáceas perenes utilizadas como coberturas vivas.
Pesq Agropec Bras. 2006b;41:415-20.
Gliessman SR. Agroecologia: p~ocessos ecológicos em agricultura sustentável. 2ª.ed. Porto Alegre,
Universidade Federal do R10 Grande do Sul; 2001.
Gonçalves Jwúor M, Silva AGB, Cordeir? AAS, G ~erra J?M, Espínd~ol~ JAA, Araújo ES. Crescimento
da leguminosa arbustiva Tep1uos1~ voge11 i em_ sistema orga~co de produção. Seropédica:
Embrapa Agrobiologia; 2012. ( Boletun de Pesqmsa e Desenvolvunento, 86).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM CULTIVOS O RGÂN I COS OU EM TRANSIÇÃO ·· · 8 39

G uerra JGM, Nd iaye A, Ass is RL, Es pindo la J/\A. Uso de pl an tac; de cob r turJ n.:i vJI ~ização
de processos ecológicos e m si lemas orgâ nicos d e produçJo na regjão e rranc1 ílumincn..~.
Agriculturas. 2007;4:24-8.
Gupta VVSR. The impact of soil and crop mana gcmenl practiccs on thc dy na m ics ~f soi l mi rofauna
and mesofa una . ln: Pan khurs t CE, Doubc BM, G upta VVSR, G race PR, edi tore ·. Soil biota:
ma nagement in s ustai nable fa rming syslems. Vic toria: CS IRO; 199-k p l07-2•l.
H o mma SK. Nutri- Bokashi em respeito à natureza. São Paul o: Fund ação M okiti O kada; 2003.
Junqueira RM, Ribas RGT, Lima EA, Oliveira FL, Guerra JGM, Almeida DL, Busquet R, B, Ribeiro
RLD. Efeito da cobertura viva de solo com cun.hã (Clitoria tematea L.) e da poliJ1.W1çJo a rtificial
na produtividade da pinha (Annona squamosa L.) sob ma nejo o rgâ nico. Agronom ia. 2003;37·31-ó.
Kato OR, Vasconcelos SS, Figueiredo RO, Ca rvalho CJR, Sa TDA, Shimjzu MK, Azevedo Cv1BC,
Bo rges ACMR. Agricultura sem queima: uma propo ta d e recuperação J e á reas degradada com
sis temas agroflorestais sequenciais. Ln: Leite LFC, Maciel GA, Araújo ASF, e di tores. Agn cultura
conservacionista no Brasil. Brasília: Embrapa; 2014. p.189-21 6.
Leal MAA, Guerra JGM, Peixoto RTG, Almeida DL. Utilização d e compo tos o rgânico_ como
s ubs tratos na produção de mudas de hortaliças. Hortic Bras. 2007;25:392-5.
Leal MAA, Silva SD, Guerra JGM, Peixoto RTG . Adubação o rgânica de beteffi! ba com composto
obtido a partir da mistura de palhada de gramínea e de leguminosa. Seropédica: Embrapa
Agrobiologia; 2009. (Boletim d e Pesquisa e Desenvo lvimento, -B).
Lima VC, Lima MR. Formação do solo. ln: Lima VC, Lima MR, Melo VF, edito res. O solo no meio
ambiente: abordagem para professore e alunos de ensino médio. Curi tiba: Un i.ver idade
Federal do Paraná; 2007. p.1-10.
Loureiro DC, De-Polli H, Aquino AM, Sá MMF, Guerra JGM. Influência d o uso d o olo obre a
conservação d e carbono na biomassa microbiana em sistemas orgànicos de produção. Rev Bras
Agroecol. 2016;11:1-10.
Mader P, Fliessbach A, Dubois D, Gunst L, Fried P, Niggli U. Soil fertility and biodiversit_ in or ganic
farming. Science. 2002;296:1694-7.
Magdoff F, Van Es H. Building soils for better crops. 2"J. ed. Burlington: Sus rainable Agricultu re
Publications, University of Vermont; 2000.
Mazoyer M, Roudart L. História das agriculturas do mundo: do neolítico à crise contemporànea . ão
Paulo: UNESP; Brasília: EAD; 2010.
Mazzafera P. Degradação de cafeina por bactérias. ln: lelo IS, Azevedo JL, editore . \-licrobio log:ia
ambiental. Jaguariu.na: Embrapa Meio Ambiente; 1997. (Documento , 11).
Mata MGF. Qualidade do solo e avaliação microeconõ mica de um módulo experime nta l d e produção
o rgânica intensiva de horta liças [dissertação]. Seropédica: UFRRJ; 201 2.
Me ndo nça ES, Ca rdoso IM, Botelho MlV, Fernandes RBA. Agroecolog ia, conser ação d o solo e d a
água e produção de alimentos da agricultura familiar . ln: l eite LFC, Maciel G .. , Ara ú jo ..\ F.
editores. Agricultura conservacionis ta no Brasil. Brasília: Em brapa; 201-l. p.-111-2-l.
Merlim AO, Guerra JGM, Junqueira Rl\il, Aquino A.M. Soil macrofauna in cover crops o f fig gro\ n
unde r organic management. Sei Agric. 2005;62:57-61.

Moreira VF, Per~ira AJ, Guerr~ JG M, Guedes RE, Co ta JR. Produção de biorna a d e guandu em
função d e diferentes densidades e espaçamentos entre s ulcos de p lantio. St!ropé<lic.1: Embrapa
Ag ro biologia; 2003. (Comunicado técn.ico, 57).
Neves MCP, Almeida J?L, De- Polli_H, Guerra J~M, Ribe iro ~l~. gricultu ra o rgànica: urna e -tra tégia
para o desenvolvimento de sis temas agrteolas s us tent.we1s. eropédica: ED R; 200-t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


840
MARCO ANTONIO DE ALMEIDA LEAL ET AL.

obre J~uor AA. u tentabilidade de isternas de produção de olerfcolas sob manejo orgânico em
um d ade familiare na Região Serrana Fluminense [tese] . Seropédica: UFRRJ, 2009.
Oli e[ira EAG. Formulações do tipo "bokash.i" como fertilizantes orgânicos no cultivo de hortaliças
tese]. Seropédica: UFRRJ; 2015.
Oliveira G, De-Polli H, Almeida DL, Guena JGM. Feijão-vagem semeado sobre cobertura viva
perene de gramínea e leguminosa e em solo mobilizado, com adubação orgânica. Pesq Agropec
Bras. 2006b;41:1361-7.
Oliveira FF, Guerra JGM, Almeida DL, Ribeiro RLD, EspindolaJAA, R.icci MSF, Cedd.ia MB. Avaliação
de cobertura mortas em cultura de alface sob manejo orgânico. Hortic Bras. 2008a;26:216-20.
Oli eira FL, Guerra JGM, Almeida DL, Ribeiro RLD, Silva EES, Silva VV, Espindola JAA. Desempenho
de taro em função de doses de cama de aviário, sob sistema orgânico de produção. Hortic Bras.
2008b;26:149-53.
Oliveira FL, Guerra JGM, Junqueira RM, Silva EE, Oliveira FF, Espindola JAA, Almeida DL, Ribeiro
~D, Urquiaga S. Crescimento e produtividade do inhame cultivado entre faixas de guandu em
sistema orgânico. Hortic Bras. 2006a;24:53-8.
Paula PD, Guerra JGM, Ribeiro RLD, César MNZ, Guedes RE, Polidoro JC. Viabilidade agronômica
de consórcios entre cebola e alface no sistema orgânico de produção. Hortic Bras. 2009;27:202-6.
Pereira AJ, Guerra JGM, Moreira VF, Teixeira MG, Urquiaga S, Polidora JC, Espindola JAA.
Desempenho agronômico de Crotalaria juncea em diferentes arranjos populacionais e épocas
do ano. Seropédica: Ernbrapa Agrobiologia; 2005. (Comunicado técnico, 82).
Perin A, Guerra JGM, Espindola JAA, Teixeira MG, Busquet RNB. Desempenho de bananeiras
consorciadas com leguminosas herbáceas perenes. Ci Agrotec. 2009;33:1511-7.
Perin A, Guerra JGM, Teixeira MG. Cobertura do solo e acumulação de nutrientes pelo amendoim
forrageiro. Pesq Agropec Bras. 2003;38:791-6.
Perin A, Guerra JGM, Teixeira MG, Pereira MG, Fonta.na A. Efeito da cobertura viva com leguminosas
herbáceas perenes na agregação de um Argissolo. Rev Bras Cienc Solo. 2002;26:713-20.
Perin A, Lima EA, Pereira MG, Teixeira MG, GuerraJGM. Efeitos de coberturas vivas com leguminosas
herbáceas perenes sobre a umidade e temperatura do solo. Agronomia. 2004;38:27-31.
Pian LB. Fungos micorrizos arbusculares e matéria orgânica do solo de um módulo de cultivo
intensivo de hortaliças orgânicas [dissertação]. Seropédica: UFRRJ; 2015.
Reganold JP, Wachter JM. Organic agriculture in the twenty-first century. Nat Plants. 2016;2:1-8.
Resende ALS, Lixa A T, Santos CMA, Souza SAS, Guerra JGM, Aguiar-Menezes EL. Comunidade de
joaninhas (Coleoptera: Cocc~ellidae) em con~órcio d~ couve (Brassica oleraceae var. acephala)
com coentro (Coriandrum sabvum) sob maneJO orgâruco. Rev Bras Agroecol. 2011;6:81-9.
Resende ALS, Silva EE, Guerra JGM, Aguiar-M_enezes EL. ?corrência ~e insetos predadores de
pulgões em cultivo orgânic~ de ~ouve em sistema so!teiro e co~orc1ado com adubos verdes.
Seropédica: Embrapa Agrob1ologia; 2007. 6p. (Comurucado técruco, 101).
Ribas RGT, Junqueira RM, Oliveira FL, Guerra JGM, Almeida _DL, Alves BJR, Ribeiro RLD.
Desempenho do quiabeiro _(Abelmoschus esculentus) consorciado com Crotalaria juncea sob
manejo orgânico. Agronooua. 2003;37:80-4.
Ri . MSF Cocheto Junior DG, Almeida FFD. Condições microclimáticas, fenologia e morfologia
ca exter~a d e cafeeiros em sistemas arborizados e a pleno sol. Coffee Sei. 2013;8:379-88.
. 1AA Guerra JGM, Ribeiro RLD, Souza CG, Espindola JAA, Polidora JC. Cultivo orgânico
R ISSO
d ,
'lho consorciado com Iegummosas
. para fins d e a d u b açao
- ver d e. Seropédica: Embrapa
0
nub_ looia· 2009 (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 42).
Agro 10 0 - , ·

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXV - MANEJO DO SOLO EM (ULTIVOS ÜRGÂl'IIICOS OU EM TRAl'IISIÇÃO ... 841

Salgado AS, Guerra JGM, Almeida DL, Ribeiro RLD, Es pindola JJ\A , Sa lgad o JAAS. Consórcios
alface-cenoura e alface-rabanete sob ma nejo o rgâ nico. Pe~q /\gropec Bras. 2006;41:l 141-7.
Salmi AP, Risse íAM, Guerra JGM, Urquiaga S, Ara újo AP, Abboud ACS. C re5cimento, acú mul o de
nutrientes e fixação biológica de nitrogênio de Fle min gia macro phy lla. Rev Ce res. 2013;60:79-55.
Santos CAB, Rocha MVC, Espindola JAA, Guerra JGM, Al meida DL, Ribeiro RLO. C ul tivo
agroecológico de berinjeleira sob doses de adubação o rgânica e m co bertu ras v ivas pere n es
Hortic Bras. 2013;31:311-6.
Santos CAB, Zandoná SR, Espindola JAA, Guerra JGM, Ribeiro RLO. Efeito d e caber ura c; morta
vegetais sobre o desempenho da cenoura em c ultivo o rgânico. Hortic Bras. 2011;29:103-7.
Silva EE, De- Polli H, Loss A, Pereira MG, Ribeiro RLO, Guerra JGM. Matéria o rgãrnca e fe rtilidade
do solo em cultivas consorciados de couve com leguminosas anuais. Rev Ceres. 2009;56:93-102
Silva AGB, Guerra JGM, Gonçalves Junior M, Costa JR, Espindola JAA, A raújo ES. Desempe nho
agronômico de mucw1a-verde em diferentes arranjos espaciais. Pesq Agropec Bras. 2011 ;46-603-8.
Souza FA, Trufem SFB, Almeida DL, Silva EMR, Guerra JGM. Efei to de pré-e-ui ti vos sobre o po tencial
de inoculo de fungos micorrízicos arbusculares e produção da mandioca. Pesq Agropec Bra .
1999;34:1913-23
Vieira ALM. Potencial econômico-ecológico de s is temas agroflores tais para co nexã o de fra gmentos
da Mata Atlântica [monografia]. Seropédica: UFRRJ; 2007.
Vilanova C, Silva Junior CD. A teoria da trofobiose sob a abordagem s is tê mica da agricultura: efi cácia
de práticas em agricultura orgànica. Rev Bras Agroecol. 2009;4:39-50.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE
CULTIVO ANUAL PARA A REGIÃO
CENTRO-OESTE

Júlio Cesar Saltonl/, Alexandre Cunha de BarceJlos Fe17eira21,


Ana Luiza Dias Coelho Borin1/ & Michely Tomaz1 V

11 Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. E-mail: juUo.saJton@embrapa.br; michely .tomazi'wembrapa.br.


21 Embrapa Algodão, Santo Antônio de Goiás, GO. E-mail: alexandr~ unha.ferreira'0emtrrapa.br;
ana.borin@embrapa.br

Conteúdo

USO ATUAL DO SOLO PARA PRODUÇÃO AGRÍCOLA COM CULTURAS A VAIS I A REGIÃO
CENTRO-OESTE .................................................................................................................................................... ·--
CULTURAS DE PRIMAVERA-VERÃO .................................................................................. ·····························- ··· 847
SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO NA REGIÃO CE TRO-OESTE ········································- - ·······-···- ······ 8-t
O desenvolvimento e a adoção da semeadura dire ta no Centro-Oeste ...................... ·······- ········-·······- --·· 9
Outros sistemas de manejo utilizados na região Centro-Oeste........................................... ·-········-- ····--··· -
PLANTAS PARA COBERTURA DO SOLO ·················································································-························.... -2
CULTrvos EM CONSÓRCIO ·····································································•············································- ················ -7
O SISTEMA DE TNTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE SOJA ............... - ··· ............... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ······························································································································--········
LITERATURA CITADA ..................................................................................................... ·-·················- ······-·- ·- ····--· 6-

USO ATUAL DO SOLO PARA PRODUÇÃO AGRÍCOLA


COM CULTORAS ANUAIS NA REGIÃO CENTRO-OESTE

A Região Centro-Oeste do Brasil, com área de 160,64 fha, tem se destacado n s


últimos anos pela produção agropecuária, ocupando 15,36 Nlha com as culturas de alg dão,
arroz, feijão, milho e soja no período de verão (Conab), o que corresponde a cerca de 10 %
d a superfície da Região (Figura 1). No entanto, tal expansão tem despertado preocupaçã
quanto à utilização de tecnologias que possam aliar alta produtividade agropecuária com
a preservação ambiental. A importância econômica dessa produção para O paí , na ~afra
2012, considerando apenas a produção de a lgodão, arroz, feijão, girassol, milho, soja. rg
e trigo, superou R$ 41 bilhões, conforme informação do IBGE. Também, é importan te

Be rto! I, De Maria IC, S0U2a LS, editores. Man jo <' conservação do solo t! da água. iço-a, MC : ocicdadc
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
844
Júuo CESAR SALTON ET AL.

considerar O gran d e potencial


. existente
. .
com a mcorporaçao_ de áreas ocupadas com
st
Pª agens degradadas, que são estimadas em cerca de 30 Mha.

Pastagens
plantadas
46.006.200 ha
29%

Pastagens
naturais
3.807.323 ha
Lavouras 8%
17.196.800 ha
11%

Figura 1. Ocupação da superfície territorial da Região Centro-Oeste, conforme o uso do solo.


Lavouras: cana de açúcar e cultivas anuais de verão (algodão, arroz, feijão, milho e soja).
Fonte: Adaptado de Censo Agropecuário 2006, IBGE e Conab (2014).

A expansão da agriculrura na região central do Brasil é relativamente recente, tendo


iniciado em 1970 com o cultivo do arroz de sequeiro que, em razão da sua adaptação
às condições edafoclimáticas locais, proporcionava rendimentos satisfatórios e cumpria a
função de cobrir os custos de abertura de novas áreas para a formação de pastagens. Em
meados da década de 1970, as áreas com lavouras na Região Centro-Oeste correspondiam
a 12 % da área total do país. Esse percentual foi crescendo, chegando, na safra 2013/14, a
mais de 38 % (Figura 2).
Quanto à evolução do cultivo das principais espécies, observou-se comportamento
diferenciado entre os estados componentes da Região Centro-Oeste e entre as culturas. Na
figura 3, apresenta-se a evolução da área cultivada c_om as principais culturas ao longo do
tempo para os Estados de MT, MS e GO. O algodoeuo apresentou forte expansão a partir
de 2000 em MT, sendo atualmente o principal produtor com mais de 0,6 Mha cultivados
na safra 2013/14. A culrura do arroz evidenciou expressiva queda da área cultivada nos
três Estados, denotando sua utilização especialmente nos primeiros anos após a abertura
de novas áreas para agriculrura. O feijão, no cultivo de verão, expandiu a área de cultivo
apenas em GO a partir de 2000. No período de outono/inverno, sofreu gradual redução
da área em GO, enquanto em MT aumentou a partir da safra 2010. Para essa cultura,
verificaram-se expressivas oscilações, provavelmente em razão das variações no valor
de comercialização. Para a cultura do girassol, somente aparece a partir de 1995/96, sem
expansão, exceto em ~T, ond:, na safra 2013/14, ocupou a área de 125 000 ha. A cultura
do trigo apresentou áp1c~ no final da década de 198? e~1 ~S, ocupando mais de 0,4 Mha;
tanto em decorrência de problemas de comerc1alizaçao, sofreu expressiva queda na
en tre , b . . d .
área cultivada. A busca pela su shtu1ção o trigo por outra cultura viável economicamente

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 845

propiciou o culti vo de mi lho no período de outono/inverno, deno m inado " mill'.~ safrinh.i"
ou milho de segunda sa fra . Por causa dos bons res ultados ve rificados, a R~gtao C,:ntro-
Oeste passou a adota r esse cultivo, com ve rtiginosa ex pansão, ocupa ndo mais de 3,.J N!ha
em MT, ma is de 1,5 Mha em MS e quase J Mha em GO. Na medida em que O cultivo
do " milho safrinha" aumentou, houve decréscimo do culti vo do milho em sua é poca
norm al (verão), passando de mais de 1,5 Mha de hectares em 1980 para cerca de OA M~a
na safra 2012/2013. A grande expansão, na verdade, fo i observada com a cultura da ºlª·
que ocupava apenas 378 000 ha na safra 1976/77 e passou para 13,9 Mha de h_:ctares n.i
safra 2013/14. Essa expansão pode ser observada nos três Es tados dessa Reg1ao, ma é
destacada em MT.

60.000 - --- - - -15


j
1
i::::=::JÁrearelativa ('½,) - -Centro-Ocste -- -- Bra il / / _ -IO
~ 50.000 ~ / - ........_ _ - ✓- _ 35

~
r
~ -l0.000 --'--
1 --
------ --:\.- -7 - -~ - - - .L- - 10 :=i
ü ,_ _,,,,, - --/-- _ _,, ........
,,...
~ i - - r...:> .....,
·- 30.000 --'!--
-- - - - - - - - - -- - - - ~
:::) 1 20 ,
u
~
,._
20.000 ~------- -· -
1 1,,
... .. - 15
.,,.

·<t: i
i - 10
10.000 J r·-u;-n"= - •- -
-
i LLLUl-++--1+-H-+Hlt"íl!-l-HH-ttti-44..LJ..J.W-t-ittt-+++t11 :J
<::'. 1

Ü 4 1 lT 1 ·r r I r r 1 r ·, 1 'T t ~ 'l ~, r I r , l T 1 1 T 'f 'r , .....,._,...,......,.....,.~


' o 1

Figura 2. Evolução da área cultivada com culturas de grãos no Bra il e na Região Centrerüeste (CO)
e participação relativa dessa região durante o período de 1976/77 a 2013/ 1--1.
Fonte: Adaptado de Conab (201-1).

É importante considerar, também, a ocupação do solo com o culti o de grão na


Região Centro-Oeste, em razão dos períodos do ano, permitindo inferir quanto '
diversificação desses cultives e utilização da rotação de culturas. 1 a figura 4, evidencia--e
a distribuição relativa da ocupação do solo durante a primavera/ verão e outono/ inverno
nos Estados de MS, MT e GO, durante a safra 2013/ 1-1. erificou-se q ue praticamente
não há diversificação de cultivos, com a soja predominando durante a primavera/ verão,
ocupando aproximadamente 87 % da área total cultivada em GO; 90 º~, em NIT; e 96%, e m
MS. Durante o período de outono/inverno, o predomínio é do cul tivo de milho, com 3-l,
66 e 26 % da área total cultivada nesse período do ano, respecti amente para o Estado de
MT, MS e GO. Tal situação permite afirmar que no Centro-Oeste ocorre o monoculti o de
verão com a soja, e que o milho "safrinha" é a principal cultura no período de entre afra
(outono/inverno) . Durante a entressafra, embora não apareça em dados estatísticos, área
considerável é ocupada com culturas de cobertura do solo, como milheto crotalán·a aveia
f f '

nabo e braquiárias. Contudo, aspecto _importante e preocupante, é que parcela e. pre i a


dessa área não é utilizada na entressatra (outono/ inverno), o q ue implica em éri dano
à conservação do solo e, obviamente, problemas de ordem socioeconôm.i a e a mbiental.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


846
Júuo CESAR SALTON ET AL.

' 1()
700 lgodã 1&10
1(,00 ._
Arroz
1400 1

1200
l OCO
i'\
soo
600
400
200 J

300

[;J 250 j
Feijão outono/inverno


200 1
1

IS '
'
150 GO ' ..,''
.'
,' '"
I 'I

140
4.50
120 -
Girassol , Trigo
400 1
i 100 '
1

'
1
350
300
1 ' ...
1
1 250

ê 40 ''
-<

1-IOO • - -, 4CXXJ - . - -
Milho 1•

□ 3500- □
Milho 2•
IS 3000 COIS
GO 2500
2íXXJ

HXXXl
9(XX)
Soja Sorgo

F 3 Evolução da área cultivada com as principais culturas nos Estados de Mato Grosso do Sul,
igur~a;o Grosso e Goiás entre os anos agrícolas de 1976/77 e 2012/13.
Fonte: Adaptado de Conab (2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 847

Primavera/ verão Outono/inverno


Peij:lo
Feijão MT 322,70 Giras5ol
11,90 3% 125,70
0% 1%

Milho
68,0
1%

Soja
8.615,70
90
Sorgo
144,90
2%

Algodã
37,5 MS
2%
Feijão
Milho 17,40
27,0 1%
1%

Soja; trigo
2.120JJ 11,6
~s 1%

0%

GO
Girassol
3,6
0%
Milho
288,2
8%
Sorgo
276,.3
8%

Trigo
7,9
0%

Figura 4. Área cultivada (kha) e distribuição relativa ('X,) das culturas de grão , no período de
primavera/verão e outono/inverno, durante a saira 2013/ 1-l nos Estado de Mato Gros o do
Sul, Mato Grosso e Goiás.
fonte: /\Japtado de Conab (201-l).

C ULTURAS DE PRIMAVE RA-VERÃO

A principal cultura no período de primavera-verão é a oja, send cultivada de f rm


predominante no manejo denominado como emeadura dire ta. Em ma i.s de .S lha, onde

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA Á G UA
848
Júuo CESAR SALTON ET AL.

corre a u ão oja/ m.ilho afrinha, 0 i tema de cultivo se cons titui de soja semeada
obre
_ _biama a r 'd I ual de milho em o revolvimento pr via do solo. Nessas condições,
nao ao at ndido o fundamento da emeadura direta (SD), no contexto do manejo
on en acioni ta do solo como um todo, de modo especial o que precon.iza a cobertura
P rn~anente do olo e a rotação de cultw-as; neste capítulo, a menção à SD será sempre
con idei:ada neste contexto. Nessa situação, a biomassa residual da cultura de milho é
predonunantemente constituída por colmos, que não cobrem completamente a superfície
do : 010 - Es a cobertura é variável em razão da qualidade da lavoura de mill10, dependente
da epoc': de semeadura, do clima e da tecnologia envolvida no cultivo (hfbrido, adubação,
populaçao de plantas etc.). Ceccon et ai. (2013) relataram que a quantidade média
de fitomassa residual de m.ilho, na entressafra, em MS, é de 4 t ha-1 de matéria seca no
momento de semeadura da soja, promovendo uma cobertura da superfície do solo de 38,7
% em média .

. os últimos anos, a sucessão soja/milho tem sido alterada significativamente,


espeaalmente quanto à época de semeadura, que tem sido antecipada o máximo
possí el (Figura 5), visando aproveitamento das chuvas nos meses de março e abril e
consequentemente melhores produtividades do milho subsequente. A antecipação da
época de semeadura do milho para o mês de fevereiro tem sido possível por causa da
oferta de cultivares de soja de ciclo precoce e de hábito indeterrn.inado de crescimento,
que permitem a colheita no final de janeiro. A antecipação de época de semeadura e
colheita da soja tem sido adotada de forma generalizada com a perspectiva de urna melhor
segunda safra e menor ocorrência de enfermidades na soja, como a ferrugem asiática.
Em termos práticos, essa alteração está viabilizando a segunda safra, resultando em boas
produtividades de "milho safrinha" (5 a 6 t ha·1), em razão das menores perdas por falta de
chuvas nos períodos críticos e da ocorrência de geadas nas regiões sujeitas a esse fenômeno.

FMAMJ JASOND 1
1Situação tradicional MILHO 1

1 Situação atual
1

Figura s. Esquema ilustrando a alteração da época de semeadura da cultura da soja e do milho


"safrinha" na Região Centro-Oeste do Brasil.

o sistema de cultivo soja/ milho não gera suficiente aporte de carbono (C) ao solo,
ois conforme Zanatta et ai. (2014), para a condição climática do Mato Grosso do Sul é
~ece'ssário O aporte de 6,3 t ha·1 ano·1 de C para manter o equilibrio no estoque de C em
Latossolo Vermell10 Distrófico de textura argilosa, por exemplo. O aporte de fitomassa
um_d ai proporcionado pela sucessão soja/milho é insuficiente, já que geralmente oscila
res1 u . A • , •

. de 5 t ha•l ano·1 de C. Esse saldo negativo traz graves consequencias a qualidade


em t orn 0 Para que o saldo d e e no solo se1a · positivo,
·· estão d isponíveis algumas
d O 50lO (QS) · . _ .
ias que contribuem efetivamente na obtençao de QS, dentre as quais se destacam
tecno 1og cios entre o milho ,, sa frºnJ1 1a,, e f orrageiras
. ou o es ta b e lec1mento
. d e sistemas
.
os cons 6r . - 1 á · (ILP) ·
. d de produção como a mtegraçao avoura-pecu na ou a integração Iavoura-
mtegra os
pecuária-floresta (TLPF).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUA L PARA A · · · 849

Para o Estado de MT, além ela cultura da soja, clestaca-s o algodo iro herbá eo
(Gossypi111111Iirs11 /11111 L. r. lntifo/i 11111 Hutch .), q ue ocupa cons ide rável á rea, e sua produção
e beneficiamento resultam em elevado valo r económico. Essa cultura 'exigente quanto
à qualidade do solo, desenvolvend o seu máx imo potencial produtivo em olo<; fértei ,
profundos e bem estruturados.
Nos ú ltimos 15 anos, a produção brasile ira d e algod5o passo u por profundas c1lteraçõe.;
tecnológicas, qu e resultaram em ex pressivos aumen tos de produt ivid.Jde. Esses clVc1nço.;
fora m possíveis graças a uma série de fatores, como o a ume nto do uso de insumos, o
melhoramento genético e a intensificação da meca ni zação da lavoura. Apesa r dos elevados
re ndimentos, o aumento gradativo do custo de produção é um fa to p reocu pan te, poi o
processo produ ti vo do algodoeiro pode tornõu-se ins us tentável. Para isso, é imprescindível
a o timização dos recursos naturais, de modo a evita r a degradação do solo e a rcd uçc10 da
produção, do emprego e da renda. Atrndmente, 94 % das áreas d e produção nacional de
algodão concentram-se no biorna Cerrado, e o Estado do MT é o maio r produtor (Conab,
2014). O algodão semeado em segunda safra, nos mese de janeiro e feve reiro, representa
65 % da á rea, cultivado após a soja superprecoce (Galbieri et a i., 2014). Ainda nesse biorna,
o Estado da Bahia é o segundo maior produtor, onde predomina o a lgodão emeado em
primeira safra, nos meses de novembro e dezem bro, com exceção para o cultivo irrigado,
em que a semeadura ocorre em janeiro e fevereiro (Conab, 2014).
Inde pendentemente da cultura, para a man utenção da s ustentabilidade produtivJ
do solo, é fundamental o uso de sistemas conservacionistas de manejo do solo, que
contribuam para a melhoria dos atributos físicos, q u ímicos e biológico para o adequado
funcionamento das funções do solo.

SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO NA REGIÃO


CENTRO-OESTE

Apesar d as restrições climáticas da Região Centro-Oes te, com período de défice


hídrico prolongado, de maio a setembro, há um esforço conjunto na busca de sistemas de
m a nejo que possam manter e, ou, melhorar a capacidade produtiva do solo . Para isso,
é necessário utilizar tecnologias que permitam ampliar a produtividade das cultura e
capacidade produtiva dos solos sem incorrer em degradação ou perda de s ua q ualidade.
Dentre as principais formas de cultiva r o solo, visando a lcançar tal objeti o, pode-se
cita r o uso da SD, que contempla o não revol vimento, a cobertura permanente do solo
por plantas ou biomassa residual e a rotação de cu lturas. L o entanto, em alg umas
á reas, a inda é utilizado o preparo do solo com arados e grades, denominado preparo
conve ncional (PC).

O desenvolvimento e a adoção da semeadura direta no Centro-Oeste


É consenso afirmar que a S0 está em constante evolução, incorporando avanço
tecnológic_os. De n:odo g_eral, a ad_oção e o ~esenvolvimen_to de se manejo, na Regiã Ccntro-
Oeste, estao associados a expansao da agricultura extens1 a. o início da década de l o, 0
culti vo de soja era feito com o preparo convencional do solo e, na maior parte dess.:i Região,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


850
Júuo CESAR SALTON ET AL.

era . único cultivo. Durante o período de entressafra, como não havia opções viáveis de
culti 0 , 0 lo fica a em pousio ou era ubmetido a periódicas gradagens. Essas operações
acelt:_ra run o proce so de degradação desse, com a perda de matéria orgânica e acentuada
erosao. ~omo exceção, em prute do MS, como havia a necessidade de semear o trigo, na
sequencia da soja, a tempo de que a cultura pudesse aproveitar as últimas chuvas do período
das "~guas", desenvolveu-se a semeadura do trigo sobre a resteva da soja, permitindo a
antecip~çà~ da semeadura. Essa prática chegou a ser empregada em área superior a 0,4 Mha
em 198; (Figura 3). O sucesso alcançado com a semeadura do trigo, sem o preparo prévio
do ~olo, levou os agricultores a expandir o manejo para oub:as culturas, destacando-se a
ª'.eia nas_ regiões menos quentes e posterionnente o milheto, ocupando então as áreas de
chma mrus quente, incluindo MS, sul de MT e sudeste goiano. Estima-se que nos anos de
1990, mais de 1 Mha eram semeados com milheto. A partir de 1993, o trigo deixou de ser a
cultura comercial de entressafra, sendo substituído gradativamente pelo mifüo, pois, com a
semeadura sem o preparo prévio do solo, ganhava-se tempo e reduziam-se os riscos de perdas
pela estiagem ou geadas. Posteriormente, no final da década de 1990 e inicio dos anos 2000, a
oferta de melhores equipamentos e novos conhecimentos pemutiram aplicações de insumos
com mais qualidade e maior eficiência. Um importante fator para a viabilização da SD foi a
semeadura da soja sobre áreas de pastagens, que resultou no desenvolvimento da Integração
Lavoura-Pecuária (ILP), compondo, em sua totalidade, a SD, pois atende plenamente a seus
fundamentos. A utilização dos conceitos e equipamentos da agricultura de precisão passou
a ser importante ferramenta de auxílio nas operações agropecuárias. Muito relevante para o
aperfeiçoamento da SD e da ILP foi a possibilidade de uso de cultivares transgênicos de soja,
facilitando e viabilizartdo a semeadura em áreas de pastagens e com problemas de infestação
por plantas daninhas.
A partir da viabilidade da semeadura de soja sobre pastagens, aumentou-se a
diversificação de sistemas de produção, em que a criatividade e as particularidades
regionais puderam ser exploradas e novas opções e modalidades de cultivo estão sendo
praticadas. Destaca-se a expansão dos cultives consorciados, como milho e forrageiras,
durante a entressafra, que garante a viabilidade dos sistemas produtivos, com cobertura
da superfície do solo por palha, diversificação e rotação de culturas.

Outros sistemas de manejo utilizados na região Centro-Oeste


Apesar dos benefícios da SD, já comprovados por grande parte dos produtores da
Região Centro-Oeste, alguns ainda não o adotam de forma integral, pelos mais variados
motivos. Em geral, a falta de conhecimento técnko ou problemas regionais dificultam a
utilização da SD. Como exemplo, ocorrên~i~ de falhas_~a aplicação d~ her?i_cidas, pr:sença
de plantas daninhas resistente:_ a herbicidas ou ~ficuldade de identificar ?pçoes de
ulturas para rotação ou sucessao, conduzem o agricultor a optar pelo revolvimento do
c 1O como estratégia de controle. Quando não há adequado preparo inicial do solo para
so , ·
implantação da SD, são necessanas -
nova~ opera~o_es d e rev? lv1men~o
. d o so1o par~ correçao
-
da fertilidade ou adequação de seus atributo~ fisicos._Na mtroduçao d~ novas are~~ para
mum usar o preparo convencional ate que o solo es teJa com ferhhdade
1avoura, é Co
adequada e livre de raízes e tocos.

0 preparo convencional do solo_ é_ comun:iente utilizado na c~ltura do_algo_d oeiro,


. tude da necessidade de destru1çao da biomassa cultural residual. Alem disso, os
em vtr am a necessi d a d e d e e1·munar
. cama d as superf'1ciais
.. compactadas incorporar
pro d utores aJeg '
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXVI - MAN EJO DO SOLO EM S I STEMA D E CULTI V O A NUAL PA RA A ·· · 8Sl

corre tivos e fertili zantes no solo, contro la r pla nta clJ n inha , incorpo rar ,10 c;?I~ bio~assa
cu ltura l res idual, faci litar a semeadura e " fo vo recer o a reja m ' n to" do solo, a infdtraçc10 d e>
água e o desenvolvimento elas raízes. No e ntJ nto, exceto a necessidade de eli minação da
biomassa cultural resid ual, os demais moti vos a legad os pa ra uso do p re pa ro con vencional,
e m gera l, resulta m numa solução efêmera, preci ando rea liza r novamente o revolvi me nto
do solo na safra seguinte. O fa to relevante é que, como as raízes do J lgodoeiro no rmalmente
crescem a té profundidades maiores qu e 30 cm e são se ns íveis il com pact<1ção do _alo, o uso
de subsoladores na cotonicultura também é comum. Após a s ua uti liz,1ção, es pecialmente
em condições de so lo com pouca umidade, normalmente são neces á ri a g radagen P ra
desfazer torrões e propiciar adequada semeadura do algodão, nd o q ue tais op raçõ s
atuam para reduzir ou mesmo desfazer os efeitos almeja d os com o uso do subsolador.
Portanto, por mais que o revolvimento do so lo contribua mo me nta neame n te para solução
dos problemas, com o passar do tempo a degradação do solo é inevi táve l. 1 so, no conjunto,
caracteriza um man ejo do solo comumente utilizado na cultura do a lgodão.
No preparo convencional, o solo fica mais s uscetível à compactação, à ero5ão
(Nyakatawa et ai., 2001), à redução dos teores de matéria o rgânica e a outros efeito
negativos sobre o ambiente produtivo, independentemente d a ad oção da rotação d
culturas como estratégia de aumento de biomassa residual no solo (Silvc1 et ai., 1994;
He mani e Fabrício, 1999; Hernani et al ., 2002). Silva et ai. (1994) observaram, apó_ cinco
anos de cultivo em preparo convencional no Oeste da Bahia, q ue os teore de materia
orgànica do solo reduziram em 45, 68 e 73 % para os so los de tex tura argilosa, média e
arenosa, respectivamente. Atualmente, essa região é respon áve l por cerca d e 30 ~~ da área
e da produção brasileira de algodão, e dada a impo rtà ncia da maté ria orgânica pa ra o_
atributos físicos (Silva e Mendonça, 2007; Braida et ai., 2011), qu ímicos (Silva e Mendonça,
2007) e biológicos (Moreira e Siqueira, 2006; Silva e Mendonça, 2007) do solo, há qu e e
preocupar com a sustentabilidade do sistema produtivo, quando se pratica es a fo rma de
manejo ao longo de vários anos.
A destruição da biomassa cultural residual do algodoeiro, no PC é trad iciona lmente
realizada por meio de aração e gradagem. Na SD, essa operação é realizada por método
químicos (herbicidas), mecânicos (roçadeiras ou outros implemento que não revolva m o
solo) e culturais (rotação de cultura).
Alguns avanços tê m ocorrido em relação à formação de palha.da para cu ltura. do
algodoeiro. Um sistema de produção denominado de " semidireto" e m sendo u ado, e m
que o solo é revolvido após a colheita da cultura de safra ou de segunda safra, também
conhecida como safrinha, com os mesmos equipamentos utilizados no PC. Poré m, no
início do período chuvoso, entre setembro e meados de outubro, normalmente é sem eado 0
milheto (Perrniset11m glaucu111), substituído às vezes por crotalária nas áreas com hist ' ric de
fitonematoides. Essas espécies de cobertura posteriormente são de ecadas com herbicid ,
objetivando a semeadura do algodoeiro. Comparado ao PC, o s i tema "semidireto" p ro tege
melhor o solo, por meio da cobertura, espec ialmente no e tádio in icial de desem ol ime n to
da cultura (Ferreira e Carvalho, 2011).
Apesar da melhoria. na cobertura do o la, quando realizada a des truição da biom assa
c ultura l residual do algodoeiro no sistema " emiclireto", ão empregado irnplernent · d e
preparo do solo, como as grades aradoras e grades niveladoras. Co rno a.ltemativ::i. .:1 es. e
método mecânico de destruição, têm-se a roçagem ou trituração d a pla ntas e a utiliza ão
de herbicidas, principalmente para o controle da rebrota de algod eiras, que iabiliza

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


852
JÚLIO CESAR SALTON ET AL.

u da D. o e_n tanto, com a adoção de algodão transgêrtico resis tente a herbicida, o


pr_ce O de de h·u1ção é dificultado, pois o herbicida do evento torna-se inútil. Embora não
existrun dado oficiai , há evidências de que O cultivo do algodoeiro em semeadma direta
no Cerrado aumentou consideravelmente na última década. Essa tendência foi motivada,
em parte, pela redução do potencial produtivo do sistema convencional de cultivo, em que
ª
a prag (Ferre1ra · et ai., 2011), as doenças e os nematoides aumentam consideravelmente,

ele a11 ~ 0 0 custo de produção (Boquet et ai., 2004). Ainda de acordo com esses autores,
a rotaçao de culturas, preceito da SD, é fundamental no manejo integrado de fungos de
solo e ~fit_onematoides. Em esquemas de rotação ou sucessão de culturas, o uso de espécies
antagorucas a nematoides tem sido uma alternativa muito comum, e já existem áreas
e ·t~nsas semeadas com espécies do gênero Crotnlarin. Além da produção de biomassa
res i~ual, algumas plantas de cobertura são capazes de fLxar o N ahnosférico, ciclar outros
nutrientes e aumentar a atividade de fungos antagonistas a patógenos do solo.
De modo geral, o sucesso de sistemas produtivos no Cerrado brasileir o se fundamenta,
entre vários fatores, na adoção de manejo conservacionista do solo, a exemplo da SD. Para o
alcance de altos rendimentos, são fundamentais investimentos em adubação e correção do
solo, mecanização, planejamento do uso e manejo do solo, associado à adoção de manejas
conservacionistas.
Ainda existem diferentes niveis de adoção das práticas conservacionistas, que se
podem citar, por ordem de complexidade, a introdução de espécies para cobertma do solo,
os consórcios, onde as espécies de cobertura são cultivadas junto com a cultUia principal
e os sistemas integrados, que incluem também o componente animal e, ou, florestal, com
os mais variados arranjos. Na integração entre lavoura e pecuária, pode-se ou não incluir
o consórcio, mas obrigatoriamente está incluso a rotação de culhlras, um dos requisitos
básicos da SD.

PLANTAS PARA COBERTURA DO SOLO

É essencial que as plantas de cobertura ofereçam contínua cobertura do solo pela


biomassa cultural residual, sendo a quantidade e qualidade dessa biomassa aportadas para
a sustentabilidade produtiva. As espécies escolhidas devem satisfazer certas exigências:
fácil estabelecimento; rápida taxa de crescimento e boa cobertura do solo; quantidade
suficiente de matéria seca, com boa persistência no solo; não ser hospedeira de doenças,
pragas e nematoides da cultura principal; economicamente viável; e de fácil controle
(Ferreira e Carvalho, 2011).
Na SD de soja, milho e algodão, algumas espécies de cobertura do solo apresentam
daptação às condições de clima do biorna Cerrado, a exemplo das braquiárias
b oa ª
(Brachiaria ruzíziensis e B. briz~ntha), p anzcum
· sp., Crota1an~
. spectabI·1 z·s, Crotalaria jzmcea, C.
ochroleuca, Cajanus cajan, Pennzsetum glaucum, Rap/Janus sativus L, e1:tre outras, que servem
como espécies formadoras de palha para a SD das culturas anuais (Ferreira et al., 2012;
Carvalho e t al., 2014 ). Outras ainda podem apre~entar opção de alimento para O gado,
sobretudo durante O período de entressafra, entre Junho e setembro (Zanatta et al., 2014).
A adequada formação e a °:anutenção de cobertura morta são fundamentais para 05
. d ri' mavera-verão, pois a alta temperatura e o teor de água do solo aceleram a
cuJtivos e P ·

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MAN EJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUA PARA A · ·· 853

deco mposição dél biomc1 sa. A coberlurél morta, r c; ulta nte apenas dac; bíomJ<: ·a residuais
de lavo uras anteriores e de plantas daninha , ge ralmen t é insufici nt pariJ c1 plena
co berturn do solo, além de não proporcionar o efei tos ben ' fico dn rotc1çJo c;obre O so lo e
a c ultura subsequente.
A introdução de forrageíras perenes com objetivo d e fo rmação de pJlhc1da é uma
estratégia adequada para todas as regiões, es pec ialmente pa ra JS á reas onde a s~meadu ríl
do milho se torna muito arriscada pelJ fa lta de chuvas. Em experimento r ~lizado : m
Dourados (Figura 6), com diferentes espécies d e g ramíncJs fo rragei ra<; m c ult~vo soltem)
na entressafra para formação de palhada, res ultou em aumento da produçao de º1•1 •
p rincipalmente para as braquiárías Ru ziziensi , Dec umben e Xaraés.

3500 -

3000 -

-':'
lll 2500 -
..e:
bO
eCl)
'"d 2000 -
lll
'"d
">
:o
::, 1500 -
-g
~
1000 -

500 - .9
-~o:l :5
QJ

o
.....
e.. ~
o-
Figura 6. Produtividade da soja na safra 2010/11 , em se mead ura dire ta, apó diier nte culti o. de
forrageiras durante a entressafra em um LVd argiloso de Dourado , :--.t
Fonte: Brevileri e t ai. (2010).

As grarrúneas forrageiras, além do alto potencial produtivo de matéria eca na part


aérea, d esenvolve m muitas raízes (Figura 7), que contribuem para o aumento da matéria
orgâ nica, porosidad e e aeração do solo, favorecendo com is o a atividade mi robiana .
A Brnchinrin ruzizie11sis é uma espécie a pta à SD no Cerrado, pai apre enta rusti idade,
fácil manejo por meio de herbicidas (Ferreira e Lamas, 2010), bai a incidencia de pragc1s
doe nças, a lta produção de maté ria seca d e elevada relação C/ , que reduz a velocid ad
de deco mposição e, assim, aumenta sua per is tência no campo, como e bertura do - lo.
Alé m disso, a oferta de seme ntes aos agricultore te m aumentando frente à demand.1.
Conform e Lamas e Staut (2006), a Bmd1inrin ni:::.i:iensis, em culti oltei_r , emeada 1 p · -
1
a colhei ta da soja, produziu 10,3 t ha· d e m a téria eca; depoi d cinco me e - d e cultivo
d o a lgodoeiro sobre sua palha, a quantidade remanescente era de 9,_ t ha·1; e l-! m -e ·
após a primeira quantificação, a ma téria eca re manescente era d e 5,9 t h,r 1• l e rne · m

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


854 JÚLIO CESAR SALTON ET Al,

P ríodo, a Brnd,inrin ru zizie11sis associada à crotalária e ao guandu apresentou matéria seca


remane c~nte de 49,3 e 63,75 %, respectivamente. Espécies como r:r1ilheto, sor~o, capim-
pe-de-gahn.ha (E. corncnnn), guandu e crotalária, cultivadas em sistema solteiro, foram
total~11ente decompostas antes da colheita do algodão, não sendo recomendadas do ponto
de V1sta de proteção do solo.

Figura 7. Raízes de Brndliaria ruziziensis e Cajanus cajan até 2 m de profundidade, 120 d após
semeadura consorciada, em fileiras alternadas. Santa Helena de Goiás, GO.
Foto: Ana Luiza Dias Coelho Borin.

Quando semeada após a colheita da soja precoce, Brachiaria ruziziensis, cultivada de


forma solteira ou associada a Crotalaria juncea e Crotalaria spectabilis, normalmente produz
adequada quantidade de matéria seca para a semeadura do algodão (Ferreira e Lamas,
2010). De acordo com esses autores, durante o ciclo do aJgodoeiro, a matéria seca da B.
ruziziensis (Figura 8), cultivada de forma solteira ou consorciada com C. juncen e com C.
spectabilis, apresentou boa persistência e propiciou boa cobertura do solo, essa superior
a 80 % da área superficial aos 75 d após a semeadura (DAS) do algodoeiro. Esses autores
também observaram que, aos 175 DAS do algodoeiro, imediatamente após a colheita do
1
algodão, a quantidade de matéri~ ~ec~ na superfície do solo foi superior a 4 900 kg ha· ,
nos tratamentos contendo B. ruz1Z1ens1s como espécie de cobertura. Ferreira et al. (2010)
observaram que a maior produção de matéria seca foi a da espécie P. mnxi11111111 cv.
Tanzârua, que produziu 16 647 kg ha·1• Espécies como Brachiaria decumbens, Sorg/1U111 bicolor
cv. BRS700, B. brizantha cv Marandu, B. brizantha cv. MG4, B. briznnthn cv. Piatã, B. brizn11tlrn
cv. Xaraés, P. maxi,~um cv. ~omba?a, S. bicolor cv. Santa Eliza, P. atrntu ni cv. Pojuca e P.
maximum cv. Massa1 produzrram acima de 9 000 kg ha·1 de matéria seca.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 855

Figura 8. Cultivo do algodoeiro em semeadura direta sobre palhada de Brachiaria nizizic.7. 1Sis.
Fotos: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira.

O manejo de plantas daninhas está entre as vantagens das plantas de cobertura


no sistema de produção anual. Nas condições de MT, Lamas e Staut (2006) verificaram
que a palha de Brachiaria ntziziensis, tanto em cultivo solteiro como em consórcio com a
leguminosas crotalária e guandu, diminuiu significativamente a população de plantas
daninhas na cultura do algodoeiro. De acordo com Ferreira e Lamas (2010), a matéria seca
de B. ruziziensis, B. ruziziensis + Crotalaria j1111cea e B. ruziziensis + C. spectabilis diminuiu
a comunidade infestante na época de semeadura e durante os estádios iniciais de
desenvolvimento do algodoeiro. Também para cultura da soja, as plantas de cobertura têm
exercido importante papel supressor de plantas daninhas, tanto em sistemas de consórcio
de soja com milho safrinha+braquiária quanto na sucessão soja/ a eia, rotacionadas a cada
dois anos com braquiária em sistema llP (Concenço, 2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


>
856
Júuo CESAR SALTON ET AL. '
Quando realizada entre meados de seteinbro e outubro, no início d o p eríodo de
chuva s , a emeadura de Bracliiaria ruziziensis, sorgo (Sorgl111111 bicolor), milheto (Pennisetum
1~ 11 crHn), Crotalaria spectabilis e capim-pé-de-galinha (Eleusine coracan.a), normalmente
nao_ gera adequado aporte de matéria seca para a semeadura das culturas de primavera/
erao. Assim, a palhada residual é decomposta em curto período depois da emergência
da cultura, principalmente no caso do algodoeiro (Ferreira et al., 2007), em razão do maior
espaçamento entrelinhas e tempo de estabelecimento comparado à soja e ao milho. Os
melho~es resultados ocorrem quando as espécies são semeadas no final do verão, entre
feveretro até meados de março, após a colheita da soja (Ferreira et al., 2010) . Para isso,
deve-se utilizar a soja de ciclo precoce, de modo que a espécie de cobertura garanta seu
es tabe~ecin1ento na área durante o período compreendido entre os meses de março e início
de maio, antes de finalizar o período chuvoso na região do Cerrado.
Em experimento realizado no Cerrado de Goiás com várias espécies de cobertura
semeadas após a colheita de soja precoce, Ferreira et al. (2010) observaram que a maior
produção de matéria seca, bem como a sua persistência durante o cultivo do algodoeiro, foi,
em ordem decrescente: Pan.icum maximum cv. Tanzânia> Brachiaria decumbens > Sorghum
bicolor cv BRS 700 > Brachiaria brizantha (cv Piatã > cv Marandu > cv MG4 > cv Xaraés) >
Panicum max imum (cv Mombaça > cv. Massai) > Paspalum atratwn cv Pojuca > S. bicolor cv
Santa Eliza > Pennisetum glaucum > Crotalaria spectabilis > capim pé-de-galinha (Eleusine
coracana) > plantas daninhas (pousio).
Como se pode observar, não existe uma única espécie que seja ideal para corrigir
todos os problemas do sistema produtivo do algodoeiro. Ferreira et al. (2012) propõem a
definição da melhor espécie em razão de algumas características importantes (Quadro 1)
para o sistema de semeadura do algodoeiro, ressaltando-se os seus principais efeitos sobre
problemas a serem prevenidos ou remediados.

Quadro 1. Espécies de cobertura como estratégia para amenizar problemas do sistema de produção
do algodoeiro no Cerrado
Nematoides
o _g
õ
"'o ou ~1 "'

~ ~
"O i::
~
8 -~
.g_ 8
=
"'
iJ -
V)
<J
§,
-s5 -~i:
o
""e.,- o
Espécie o
-.c1 .::,.,
-ti ::
e Ç,o "'
-~
i::

j
.e
"" ~
fo ~
o
~l
... 5 ~-ã ~~
UI
o
]
...
p.. :E ~ ~
"' ::
.... u
Q.. .::, :E .5
o ::
~ ~ w

Crotalaria spectabilis
Crotalaria j uncl!i1
Crotalaria odiroleuca
Oljanus cajan (Guandu)
Sorglium bícolor (Sorgo)
Pennisetum glaucum (Milheto)
Bradiíaria ruzizitnsís
Brachíaria brizant/ia cv Piatã
Panicum mazimum (Aruana,
Mombaça e Tanzânia)
Raphanus sativus (Nabo)
ar NR - Não recomendável, SI - Sem informação.
I - Ideal, R - Regul '
Fonte: ferreira et al. (2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 857

CUL TIVOS EM CONSÓRCIO

A semeadura de mrn,o e braquiária, em consórcio, é uma rea lid ad e em boa parte da


Região Centro-Oeste. Com esse sistema, a lém da produção de gr ãos, que contribui para
geração de renda ao produtor, é possível obter diversos outros b nefícios par o solo,
como ilustrado no modelo teórico apresentado na figura 9. Para lelamente à produção d
grãos, têm-se a produção de palhada, que proporciona cobertu ra do solo em quantidade
e qualidade desejadas; a redução da infestação de plantas daninhas; a manutenção d
umidade no solo durante o ciclo da soja subsequente; o fornec imento de alimento; e ,L
condições favoráveis para biota do solo. O sistema radicular intenso das gramínea realiza
a ciclagem de nutrientes, que é disponibilizada ao longo do ciclo da soja. lém di so, o
sistema radicular é o grande responsável pela incorporação de ma teria l orgânico no solo,
principalmente em profundidade, resu ltando no aumento da agregação e na melhoria da
estrutura do solo.

Produção
de grãos
ssss
Cultivo
consorciado
(milho + forrageira) li Produção
de palha e
raízes Reciclagem
liberaçã d
nutrientes

biológica Estrutura
do solo do solo Melhoria da qualidade
do solo

Figura 9. Modelo teórico que demonstra o cultivo do milho safrinha consorciad com plant
forrageiras e a melhoria da qualidade do solo.

As forrageiras contribuem de forma expressiva no aporte de ma sa vegetal a Jo,


tanto com a palhada (cobertura) quanto com as raízes (porosidade). O de en oi imento e a
decomposição do sistema radicular das forrageiras têm papel fundamental na rnelh ria da
estrutura do solo, com implicações em atributos físicos (agregação, porosidade, dinâmic
d~ á_!sl~ª' aeração etc.), quí~c~s (disp~nibil_idad~ de nutrientes, matéria rgânica et .) e
biológicos (faunas do solo, atividade m1crob1ológ1ca etc.). as área onde a emeadura do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


858
Júuo CESAR SALTON ET AL.

milho é iável, a utilização do consórcio com braquiária é uma ótima alternativa, podendo
re ultar na produção de grãos e no aporte de matéria vegetal ao solo. Esse tipo de cultivo
tem se e 'pandido em razão dos ótimos resultados verificados, como pode ser observado
na produtividade da soja na safra 2009/10, em Campo Grande, com a paJhada proveniente
do consórcio do mill1o safrinha com braquiárias (Figw-a 10).

4.500

4.000

:::--3.500
'ta

~3.000
e
~ 2.500
ta
-o
.> 2.000
'.t:l
::s
11.soo
1.000

500

o
Figura 10. Produtividade de soja (cv. BRS 246 RR) obtida em semeadura sobre palhada de forrageiras
tropicais consorciadas com milho. Campo Grande, MS, safra 2009/10. Médias seguidas pela
mesma letra pertencem ao mesmo grupo pelo teste de Scott-Knott (p<0,05).
Fonte: Adaptado de Kichel et al (2012).

Um dos principais benefícios das gramíneas para o solo é o acúmulo de matéria


orgânica em profundidade, como pode ser observado na figura 11, onde o solo cultivado
por três safras consecutivas com consórcio milho safrinha + braquiária apresentou
incrementas no teor de matéria orgânica em maior profundidade, comparado à produção
de milho safrinha solteiro. As raízes da braquiária presentes no sistema consorciado ao se
desenvolverem, também, após a colheita do milho, exercem efeito por mais tempo, o que
garante maior incorporação de biomassa ao solo.
No mesmo experimento, observou-se também o efeito sobre as raízes da soja que
apresentaram maior co~primento n~ sistem~ co~orciado com milho+braquiária,
comparado ao solo cultivado com rmlho solteiro (Figura 12). Esse efeito pode estar
associado às melhorias da qualidade do solo proporcionadas pelas raízes da braquiária,
como a maior quantidade de poros contínuos, que podem ser utilizados pelas raízes
das plantas subsequentes; nesse ca~o, a s~ja. Além disso, a melhor cobertura do solo,
proporcionada pela palhada, perrrute maior área _de exploração ao sistema radicular
próximo à superfície. N~ c~ma~a de 0-5 cm, o compnm~nto das raízes da soja cultivada no
solo com núJho + braqwária foi quase quatro vezes maior que do solo apenas com milho.
Além de proporcionar melhores condições para o desenvolvimento da cultura da soja pela
maior área de solo explorada, após a colheita, a biomassa residual deixada pelo sistema
radicular contribuiu para aumento da matéria orgânica do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM S I STE MA DE CULTIVO ANUAL PARA A ... 859

MOS (g kg·1)
o 10 20 30 40 50

0aS

5 a 10

-§ 10a20

J 20a30

30a40

40a60

60a80
E2ZZl Mi lho+braquiá ria /soja
80 a 100 - Milho sol te iro/ soja

Figura 11. Teor de matéria orgânica do solo (MOS) de um LVdi cultivado durante três safras com
milho solteiro e milho consorciado com braquiária na entressafra da soja.
Fonte: Fazenda Boa Vista, Douradina, MS. 2012.

Densidade de raízes (mm m·')


o 200 400 600 800 1200

0a5

Sa 10

- 10a 20

_§_2o a30

j 30a40
40a50

50a60

60a 70
- 1' lilho+br.iqui:\ria/ ja
70a80
- Milho lteito/ oja
80 a 90

Figura 12. Comprimento de raízes de soja num l Vdf cultivada durante três safras com milho solteiro
e milho consorciado com braquiária na entre safra da soja.
Fonte: Fnenda Boa Vis ta, Douradina, 1\-15. 201'.!.

M A N EJ O E C ONSERVA ÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


860
JÚLIO CESAR 5ALTON ET AL.

A cultura do milho, na Região Cenh·o-Oeste, basicamente se restringe ao cultivo
1e : nlre~safra ou "safrinha", tendo apenas em Goiás _área c011,si~erável no cultivo ~e
e~ao (Figura 13). A produtividade do milho tem crescido nas ultimas safras em razao,
prmcipalmente, da antecipação da semeadma, dando à cultura maior oferta de chuvas
durai:te? ciclo e reduzida possibilidade de perdas pela ocorrência de geadas. Também,
coi:tnbwu para a maior produtividade O aumento dos investimentos na cultura, com
maior adubação, uso de cultivares de melhor qualidade, elevado e específico potencial
produtivo para o ambiente de safrinha. Conforme Ceccon et al. (2014), a semeadura do
milho é realizada a partir de meado de janeiro a final de fevereiro, sempre com o intuito
de ªP~O\ eitarnento da estação chuvosa, que se estende até inicio de abril, em MS, cujo final
antecipa à medida que reduz a latitude. De modo geral a semeadura é feita diretamente
sobre a resteva da soja e, em muitos casos, utilizando apenas as sementes do milho na
operação de semeadura, uma vez que não é realizada adubação de base para essa cultura,
que recebe adubação nitrogenada em cobertma, com vistas a agilizar a operação de
semeadura. Em MS, estima-se que em cerca de 30 % da área cultivada é feito o consórcio
do milho com forrageira, geralmente utilizando-se Brnchinrin mziziensis. Esse sistema de
cultivo está em ascensão nas últimas safras, sendo adotado em menor escala nos demais
estados (Rally da Safra, 2014).
A produtividade do milho safrinha, quando consorciado com a braquiária, pode
ser muito variável, pois depende de diversos fatores, corno forma de implantação (na
entrelmha do milho, a lanço, em operações defasadas), profundidade de semeadura da
forrageira, densidade de plantas de braquiária, uso ou não de herbicida para supressão da
braquiária etc. (Ceccon et al., 2008; Silva et al., 2013b; Alves et al., 2013).

6000 a
a
5000
r!IS
..r::
bO a a a
en, 4000
b
-e,
!IS
-e, 3000
·►
·..c:l
::,
~ ~ ~ ~
l!')
]p.. 2000 s:t<
lt)
~ ~

.... N
:::, !:I .... N
:::, .... ~
1000 õtil ~ õtil ~ õtil
:E
"'~+ +
:E ::;E
+
~ ~
~
+
~
o
Dourados Naviraí Floresta
Fgura
1
13. Produtividade de grãos de milho em espaçamentos de 45 e 90 cm entrelinhas cultivados
solteiro (M solt) e em consórcio com B. ruziziensis (M+Ruz) e Marandu (M+Mar) em Dourados,
MS, aviraí, MS, e Floresta, PR, na safra 2012. Médias seguidas pela mesma letra, em cada local,
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte: Silva et ai. (2013b).

MANEJO E CONSERVAÇÃO ~O SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PA RA A .. · 861

A densidade de plantas de braquiária no consórcio com milh o d ve ser contr?lada de


modo a não gerar competição, estabelecendo uma população adequada no pl.a ~tto ou, e
necessário, usando herbicida para s upressão da braquiá ria. Alves (2013) verificou qu~ a
população de cinco plantas de braquiária por metro, na linha intercalar, re ultou em ma ior
produtividade do milho e adequada produção de palhada para o o lo em Dourados, _ rs.J5
em populações maiores, utilizando herbicida para s upressão da braq uiá ria no e tád10 V
do mjlho, Silva et ai. (2013a) observaram que até 200 mj l plantas de braquiária por hectare
não interferiram na produtividade do milho em Sinop, MT.
De acordo com as condições ecológicas, estruturais e socioeconõm icas da fazendas,
o agricultor deve definir o sistema de produção que melhor se adeque à s ua propriedade.
Porém, em muitos casos, o valor das co111111odities é o que mais tem influenciad o na definição
das culturas e do sistema de produção. No entanto, é necessária a inclusão de esp cies, que,
além de economkamente rentáveis, contribuam de alguma forma para a melhoria do olo
e, ajnda, minirruzem pragas, doenças e nematoides para as culturas ucessoras, ou ciclando
nutrientes extraídos de camadas majs profundas do solo.

O SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA E A


PRODUÇÃO DE SOJA

Considerando o solo como um "alicerce" do sis tema de produção, a melhoria de ua


capacidade produtiva é dependente da entrada de energia v ia fotossíntese, do acúmu lo e
processamento do C no solo e do controle das perdas por erosão. A implantação da ILP,
com a rotação soja-pastagem em SD, permite o atendimento das necessidades de aporte
de palha (C) ao solo e, com muita eficiência econômica, a diversificação da propriedade,
com rotação de culturas. Esse sistema de ILP introduz ao sistema produtivo o benefícios
da sinergia entre a lavoura e pecuária, que incluem ganhos em aspectos arutários
(arumal e vegetal) e maior eficiência dos insumos (fertilizantes, correti os, inoculante
etc.). Isso significa aumento da matéria orgânica do solo, melhorias na dinàmica de água
e gases no solo, entre outros aspectos que se manifestam no que são definidas como
"propriedades emergentes" do solo, ou seja, o solo passa a ter aptidões que no si tema
simples (lavoura ou pecuária) não apresentava. Um dos efeitos decorrente da inergia
entre a lavoura e pastagem é a maior tolerância aos fenómenos climáticos adverso , como
os verarucos. Esse fato pôde ser observado em experimento, em longo prazo, conduzido
em Dourados, MS. A produtividade da soja, em diferente sis temas de produção, em
sendo monitorada ao longo das safras. Constatou-se que, em anos de condições climática ,
sa tisfatórias, como em 2006/2007, todos os sistemas são produtivo ; entretanto, quando
há ocorrência de veranicos, como na safra 2010/ 2011 , os sistemas de dis tinguem com a
SD (apenas lavo ura) e ILP (pastagem+ lavoura em SD), manifestando superioridade em
re lação ao PC (Figura 14).
També m, como exemplo de sinergia entre os sistemas e manifestação de propriedade
em ergentes é o caso da Fazenda São Mateus, no murucípio de Selvíria, IS, ambiente
considerado inapto ao cultivo de soja por apresentar solo com apenas 9 ,o de argila, erõe
muito quentes e veranicos frequentes. Na figura 15, estão apresentadas as produti idades
d e soja, nas safras 2008/09 a 2013/ 14, onde se observa bom desempenho para t do 05
sis temas comparados, apenas nos anos em que o clima transcorreu adequadamente quanto

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


862
Júuo CESAR SALTON ET Al,

à distribuição de huvas, como na safra 2010/ 11, resultando em ótimas produtividades.


o entanto, na maior parte das safras, houve ocorrência de veranicos, que, aliados à forte
d_emanda de água pela atmosfera, resultaram em reduzidas produtividades de soja nos
istemas em. a presença da pastagem (cultivo em PC e em SD). No entanto, na lavoura
em ~u~~ são à pastagem (ILP), houve produtividade satisfatória em todas as safras,
p~ssib1htando a cobertura dos custos de produção e conferindo viabilidade econômica à
OJa, além das outras contribuições ao sistema como a capacidade produtiva da pastagem
em sequência.

4000

r fll
3000
.e:
bO
e
Ili
-e
RI
-e
º>:::s 2000
:::s
-e
e
it

1000

2006/07 2010/11

Figura 14. Produtividade de soja em sistemas de manejo, por ocasião de safra com regular distribuição
de chuvas (2006/07) e com ocorrência de veranicos (2010/11), em Dourados, MS. PC: preparo
convencional, SD: semeadura direta e ILP: integração lavoura-pecuária. As barras indicam o
valor do desvio-padrão.
Fonte: Adaptado de Salton et al. (2014).

Vários efeitos sinérgicos podem ser apontados com relação aos aspectos biológicos
do solo. Salton et ai. (2013) verificaram, após 12 anos de avaliação de um experimento
em Dourados, MS, que a SD e o ILP apresentaram os mefüores resultados para variáveis
microbiológicas (C da biomassa microbiana, quociente metabólico), densidade e
diversidade da macrofauna e controle de fitonematoides, em comparação ao PC.
Com relação à ocorrência de plantas daninhas, o cultivo da soja em SD ou no sistema
ILP apresenta vantagens em compara~ão ao monocu.ltivo da soja em SPC, conforme
apresentado por Co~cen ço et al. ~2011) (Figura 16). S:gundo esse~ autores, a área coberta por
Jantas daninhas foi 87 0%superior no PC, em relaçao aos demais. Destaca-se O importante
~feito da braquiária, por ser eficien_te e rápida em cobrir a superfície, acumulando matéria
seca e impedindo que outras espécies recebam luz solar para o seu desenvolvimento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MAN EJO DO SOLO EM SISTEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 863

4 soo

4 000 -

3500 -
,a
~ 3000
00
e
ai 2 soo
-o
«I
-o
.> 2000
·.o
::,
] 1500
&::
1000

500

o
2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14
Safras

Figura 15. Produtividade da soja em sistemas de manejo implantados em um l eossolo qua rtzar~nico
de Selvíria, MS, nas safras 2008/09 a 2013/14. ILP: Sistema de integração lavoura-pecuá ria,
rotação pastagem/soja, PC: monocultivo da soja em preparo convencional e SD: monocu lbvo
da soja em semeadura direta.
Fonte: Adaptado de Salton et ai. (2013).

- Áreil cobertil por pli1nli1s d<1ninh<1s (°:,)


250 ~ PopulilçJo de pl;intas cl;ininh.is (nu 111 ')
C::=J M.i5s.1 sec;i d,1s plilnt;is daninh;is (g m ')

200

150

100

40

30

20

10

o
PC SD TLP

Figura 16. Área coberta, número de plantas e matéria seca de plantas daninhas ob rvad.-is em tr
manejas conduzidos por 16 anos, em Dourados, IS. PC: monocultura de aja em prcpar
convencional, SD: semeadura direta e ILP: rotação soja/ pastagem em semeadura direta.
Fonte: Adaptado de Concenço et ai.(2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


864
Júuo CESAR SALTON ET AL.

O efeito da gramínea a'-sociado ao pastejo reflete também sobre o banco de sementes


de plantas daninhas. Concenço et al. (2011) verificaram que ál"eas onde há pecuária
apre entaram número de plântulas de espécies daninhas i1úerior aos sistemas onde
somente a agricultura está presente. A rotação de culturas anuais com a pastagem e a
continua cobertura do solo pela gramínea contribui para supressão das plantas daninhas
em longo prazo, tanto pela dificuldade de germinação como pelo menor aporte de novas
sementes, haja vista que a infestação toma-se cada vez menor.
Dentre os manejas conservacionistas do solo discutidos, os sistemas integrados
destacam-se tanto na qualidade do solo como na geração de renda ao produtor. A opção
pela ILP possibilita ao produtor obter ganhos tanto com a lavoura na produção de grãos
como de carne (Figura 17). Essa diversificação na produção reduz os riscos econômicos
do produtor, pois esses ficam menos expostos às variações do mercado e também aos
danos causados pelo clima, pelas pragas, etc. Além do equilíbrio na questão econômica, a
diversificação também gera diversos benefícios ao sistema solo, dado pela sinergia entre
os componentes do sistema, resultando na qualidade do solo (QS). Vezzani (2001) exibiu
a QS como dependente da entrada e do acúmulo de compostos orgânicos via cultivo de
plantas no sistema solo. Quando há saldo positivo entre o aporte de C ao solo e os processos
dissipa ti vos de emissão e perda de C, há interação e formação de estruturas cada vez maiores
e mais complexas. Essas estruturas são dependentes da dinâmica da matéria orgânica do
solo, que influencia diretamente os atributos físicos, químicos e biológicos do solo. No solo
com qualidade, a sinergia entre seus ~omponentes resulta na organização dos atributos
em níveis de ordem mais elevados. Sistemas de produção que resultem no aumento dos
teores da matéria orgânica do solo têm sido apontados corno mais sustentáveis, uma vez
que esse componente do solo se relaciona com múltiplos aspectos da sua qualidade e do
ambiente, constituindo-se em um dos principais responsáveis pela sustentabilidade dos
sistemas agropecuários (Mielniczuk et al., 2003).

-$$$$

$$$$

· 1~A:lh:l~,
-(~~d~

Figura 17. Modelo teórico demo~trando ~ funcionamento do sistema de Integração Lavoura-


Pecuária e sua ação na melhoria da qualidade do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XXVI - MANEJO DO SOLO EM SISTE MA DE CULTI VO A N UAL PA RA A ·, · 865

CONSIDERAÇÕES FINA IS

Atualmente, muitas informações têm sid o gerada p la pesqui a para o v rio·


ambientes de produção no Brasil, sendo a sis tema tização desse conheci mento, para que e le
se tome disponível aos produtores, um dos grandes desafio . Muitas vez , a não adoção
de técnicas adequadas e cientificamente comprovadas te m sido um dos en traves para a
sus tentabilidade produtiva. Alguns princípios agronô micos preci am ser r forçado·, como:
rotação de culturas, s istemas de cultivo que propiciem o aumento da maté ria o rgânica do
solo e maior aporte de palha na superfície do solo e de es pécies d pl.:mta pilra ciclc1 em
de nuh·ientes. O que tem sido observado, via de regra, é q ue os interesse económico
são prioritários em relação aos agronômkos. Como exemplo, cita-se a forte tendéncia do
cultivo do algodoeiro migrar para a segunda safra e, dessa fo rma, a ausência d palha
no sistema é inevitável. A baixa deposição de palha proveniente a pen a da fitoma ·sa
cultural residual da soja ou do feijão resulta em uma série de conseq uências, que podem
impactar negativamente a capacidade produtiva dos solos. E se cená rio é mais comumen te
encontrado em MT, MS e GO. Além da ausência de palha, a colheita da soja ou do feijão
ocorre em época de alta frequência e intensidade de chuvas, o u seja, em condiçõe de olo
úmido, refletindo na degradação da qualidade estrutural do solo, tan to no momento da
colheita quanto na semeadura da cultura subsequente.
Portanto, é importante enfatizar que a busca constante por a iterna tivas economicamente
viáveis deve ser alicerçada também por decisões técnicas que beneficiem o _i_tema
produtivo como um todo, principalmente o solo, permitindo maior us tentabilidade
ambiental e conservação dos recursos naturais.

LITERATURA CITADA

Alves VB. Milho safrinha consorciado com populações de braquiária e produ tividade da oja em
sucessão [dissertação] Aquidauana: Universidade Estadual de Mato Gro o do Sul; 2013.
Boquet DJ, Paxton K, Clawson E, Ebelhar W. Crop yields and profitability of rotations , ith cotto n. ln:
Proceedings of the Beltwide Cotton Conferences; 200-l; San Antonio: San ntonio: 200-l. p.2500-ó.
Breviüeri RC, Mendes PB, Macedo EQ Salton JC. Efeito do uso de plantas d e cobertura na entr afra
na temperatura e umidade do solo e na produtividade da oja em Do urados, MS. ln: Congr ,
Brasileiro de Ciência do Solo 33, 2011. Solos nos biornas brasileiros: us tent:abilidade e muJan a_..,
climáticas: anais [CD-ROM]. Uberlândia: SBCS, UFU, IOAG; 2011.
Braida JA, Bayer C, Albuquerque JA, Reic.hert JM. Matéria orgânica e e u efeito na física Jo s lo.
Tópicos Ci solo. 2011;7:221-77.
Carvalho AM, Marchão RL, Souza KW, Bustamante ~UvlC. Sai! fertility tatus, carbon and nitrogen
s tocks under cover crops and tillage regimes. Rev Cienc Agro. 20H:-l5:91-l-21 .
Ceccon G, ~appes C, Silva AG, Francichini R. Sist~mas de produção d e milho e rgo safrinha
na regiao Centro-Oeste. ln: Karam D., Magalhaes, PC., o rganizad o re . Eticiencia nas cadeias
produtivas e o abastecimento global. Sete Lagoas: Associa ão Brasile ira de ~Who e rgo; 201--l.
v.1. p.183-92.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


866
Júuo CESAR SALTON ET AL.

Ceccon G
. '
ta u l LA , Sagnlo
. E, Machado LAZ, unes DP, Alves VB. Legumes and foragc s pec1e
· soe
J
or mtercropped with com in soybean-corn succession in Midwestern Brazil. Rev Bras Cienc
olo. 2013;37:204--12.

Ceccon G , _sa_c oman A, Matoso AO, unes AP, Inocêncio MF. Consórcio de milho safrinha com
brachiana ru ziziensis em lavouras comerciais de agricultores, em 2008. Dourados: Embrapa
Agropecuária Oeste, 2008. Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 48.
Censo Agropecuá.Iio, TBGE Censo. Resultados preliminares. IBGE. Rio de Jane iro: IBGE, 2006.
[acessad_o em: 15 de out. 2015]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/
economia/ agropecuaria/ censoagro/ 2006/ default.shtrn
Companhia acional de Abastecimento - Conab. Acompanhamento da safra brasileira de grãos
2013/ 2014. [acessado em: 08 de jul. 2014]. Dispmúvel em: http:/ /www.conab.gov.br/
OlalaCMS/ uploads/ arquivos/ 14_06_10_12_12_37_boletim_graos_junho_2014. pd f.
Concenço G, Salton JC, Secretti ML, Mendes PB, Brevilieri RC, Galon L. Effect of long-term
agricultura] management systems on occurrence and composition of weed species. Planta
Daninha. 2011 ;29:515-22.
Ferreira ACB, Barroso PAV, Bogiani JC, Borin ALDC, Brito GG, Barbieri AL, Paniago J. Destruição
química dos restos culturais do algodoeiro geneticamente modificado para tolerância ao
glifosato. ln: Anais do 9.° Congresso Brasileiro do Algodão;2013; Brasília. Brasília: 2013.
Ferreira ACB, Borin ALDC, Lamas FM, Asmus GL, Miranda JE, Bogiani JC, Suassuna NO. Plantas
que minimizam problemas do sistema de produção do algodoeiro no cerrado. Campina Grande:
Embrapa Algodão, 2012. (Comunicado técnico, 371)
Ferreira ACB, Carvalho MCS. Manejo de solos aptos à cotonicultura no cerrado. ln: Freire EC, org.
Algodão no Cerrado do Brasil. 2.° ed. Aparecida de Goiânia: Mundial; 2011. p.257-88.
Ferreira ACB, Lamas FM, Brito GG, Saraiva JS. lnfluência de plantas de cobertura sobre a incidência
de plantas daninhas e de broca do algodoeiro. ln: Anais do 8°. Congresso Brasileiro do Algodão;
2011; São Paulo. São Paulo: 2011 . p.1032-1040.
Ferreira ACB, Lamas FM, Carvalho MCS, Barbosa KA, Teobaldo AS. Avaliação de coberturas vegetais
semeadas na primavera e suas influências sobre o algodoeiro. ln: Anais do 6°. Congresso
Brasileiro de Algodão [CD ROM]; 2007; Uberlándia. Uberlândia: AMlPA, 2007.
Ferreira ACB, Lamas FM, Carvalho MCS, Salton JC, Suassuna ND. Produção de biomassa por
cultivas de cobertura do solo e produtividade do algodoeiro em plantio direto. Pesq Agropec
Bras. 2010;45:546-553, 2010.
Ferreira ACB, Lamas FM. Espécies vegetais para cobertura do solo: influência sobre plantas daninhas
e a produtividade do algodoeiro em sistema plantio direto. Rev Ceres. 2010;57:778-86.
Galbieri R, SiJva JFV, Asmus GLA, Vaz CMP, Lamas FM, Crestana S, Torres ED, Farias A, Faleiro
VO, Chitarra LG, Rodrigues SMM, Staut LA, Matos ES, Sp<:ra ST, Druck S, Magalhães CAS,
Oliveira AE, Tachinardi R, Fanan S, Ribeiro NR, Santos TFS. Areas de produção de algodão em
Mato Grosso: nematoides, murcha de fusarium, sistemas de cultivo, fertilidade e física de solo.
Primavera do Leste: Ins tituto Mato-Grossense do Algodão; 2014. (Circular técnica, 8)
H e rnani LC, Fabricio AC. Perdas de solo e água por er?~ão: dez anos de_pes~uisa. Dourados: Embrapa
Agropecuária Oeste; 1999. (Embrapa Agropecuana Oeste/ Coleçao Sistema Plantio Direto, 1 ).
• LC, Freitas PL, Pruski FF, Maria JC, Castro. Filho C, Landers JN . A erosão e seu impacto .
H eman1 _
ln: Manzatto e, Freitas Júnior E, Peres JRR, editores. Uso agncola dos solos brasileiros. Rio de
Janeiro: Embrapa Solos; 2002. p.47-60.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVI - MAN EJO DO SOLO EM S I STEMA DE CULTIVO ANUAL PARA A · · · 867

Kiche l J\N, Almeida RG, Costa JAA . fntegraç.io la voura-pecu , ria-flores ta u tenta bil id ad e na
prod ução de sojJ. ln: Anais do Congresso 13rdc; íl cirn d Soja; 2<rl2; C uiabá. C uiabá: Embra p;i;
Aprosoja, Londrina: Embrapa; 2012. v.1.
Lamas FM, Sta ut LA. Algodoeiro cm sis tema plantio di reto. DouraJos: Embrapa Agropecuária
Oeste; 2006. ( Comunica do técnico, 118).
Mielniczuk J, Bayer C, Vezzani FM, Lovato T, Fernandes FF, Debarba L Man jo d so lo e cultura e
s ua re lação com os estoques de carbono e nitrogênio do solo. ln: Cu n l , Ma rques JJ, Guilherme
LRG, LimaJM, Lopes AS, Alvarez V VH. Tópicos e m ciência do so lo, eds. Viçosa, MG, Sociedad
Brasileira de Ciência do Solo, 2003. v.3. p.209-248.
Ral ly da sa fra . 2014. Disponível em: http://febrapdp.org.bT/ 1.Je npdp/a rq ui vo 14/ 12-0 _E tad o_
da_Arte_do_Plantio_Direto_no_Bra il_2014_An tono_Roque_Dechen.pd f
Salton JC, Kichel AN, Arantes M, Kruker JM, Z immer AH, Merca nte FM, Almeida, RG . Sis tema ão
Mateus - Sistema de integração lavoura-pecuária para a região do Bolsão Su l-Mato-Gro en.c;.e.
Dourados: Embrapa; 2013 (Comunicado técnico).
Salton JC, Mercante FM, Tomazi M, Zanatta JA, Concenço G, Silva W 1, Re tore M. lntegrated crop-
livestock system in tropica l Brazil: Toward a sustai nable production ystern. Agric Ecosys t
Environ. 2014;190, p.70-9.
Silva AF, Behling M, Silva C, Filimbe rti EL, Souza MM, Silva AJ L Gontijo >leto, M .M . Adequação
de populações de braquiária em consórcio com milho safrinha e m e paçamento reduzido. ln:
Anais do 12°. Seminário Nacional de Milho Safrin.ha; 2013; Dourados.; Bra ília: Embrapa; 2013a.
Silva [R, Mendonça ES. Matéria orgânica do solo. ln: ovais RF, A lva rez V VH, Barros NF, Fon es
RLF, Cantarutti RB, Neves JCL, editores. Fertilidade do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 2007. p.275-374.
Silva JF, Makino PA, Ribeiro LM, Ceccon G. Milho safrinha consorciado o m braquiária em
espaçamento normal e reduzido. ln: Anais cio 12° Seminário l acional de Milho Safrinha; 2013;
Domados. Brasilia: Embrapa; 2013b.
Silva JE, Lemainski J, Resck DVS. Perdas de mat ria orgânica e suas relações com a capacidade de troca
catiônica em solos da região de cerrados do oeste baiano. Rev Bras Cienc Solo. 199-tl :5-H-7.
Vezzani FM. Qualidade do sistema solo na produção agrícola [tese]. Porto Alegre: Univer idade
Federal do Rio Grande do Sul; 2001.
Zanatta JA, Salton JC, Ceccon G. Sistemas de integração lavoura-pecuária como tratégia pa ra
m elhorar a fertilidade do solo. ln: Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Ro i F, Cario JAD. Adubação
verde e plantas de cobertura no Brasil - fundamentos e prática, editores técnico ·. Bra ilia.
Embrapa; 2014. v.2. p.37-l--116.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO
DE ABACAXI, BANANA E MAMA O
-
Laércio Duarte SouzaV, Luciano da Silva Souza21 & Joelito de O liveira Rez ende2'

Embra pa Mandioca e Fruticultura, Cruz Almas, BA- E-mail: Iaercio.so uza@embrapa.br


'1
21 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas,

Cruz das Almas, BA. E-mail: Isouza@ufrb.edu .br; joelitorezende@gm,1il.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO ........................................................... .... ............................................................................................... 70


Clima .................................................................................................................................................... _.......- ......... 70
Solos ..............................................................................................................................................._._...................... 70
Demanda por calcário e adubos no Brasil .............................................................................................. ............ 872
Expansão agrícola no Brasil e a fruticultura ...............................................................................- ........... - --.. ·· 72
FRUTEIRAS TROP!CAJS ..................................................................................................................·-····..................... 74
Abacaxi ...........................................................................................................................................- ... -............... - .. -i
O rigem .................................................................................................................................... - .................... _..... 74
Economia ............................................................................................................................ _............... - ............... 74
lnstaJação do pomar ................................................................................................................._........................ 75
Morfologia e fisiologia .................................................................................................................. -·- ..--·•-.. ... 875
Manejo do solo ........................................................................................................................... _ .. - .................. 76
Cobertura do solo 77
Banana 19
O rigem........................................................................................................................................................ ......... 879
Economia ..........................................................................................................................................-................. ~ O
Instalação do pomar ......................................................................................................................... -................ O
Morfologia e fisiologia ................................................................................................................. .................... .
Manejo do solo .................................................................................................................................. ·-····........... 88-1
Cobertura do solo ········································ •·····································································-·······························
M amão ··································································································································- ···················-············· gq
Origem ................................................................................................................................................................. 9
Economia ······················.. ································ .. ·······························.. ········............................... ................. .._ .., ......... ' <)

Ins talação do pon1ar ..................................................................................................- ........................._........ _.. , '9


Morfologia e fis iologia ................................................................................................................................ ·- ·- · 90

Berto! l, De Maria IC, Souza LS, ed itores. Manejo e conservação do solo e da águ .i. iç0&1, MG: ~ •iedade
Bras ileirc1 de Ciencia do Solo; 2018.
- "jl

870
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

Manejo do olo
··························································.. ·············· ......................................................................... . 891
Cobertura do olo 893
CO i IDERAÇÕES Fl ; ;··.. ········..................................................................................,............................................ .
···············································................................. ....................................................... . 895
,

LITERATURA CTTADA 900


···········--···································································································································

INTRODUÇÃO

Clima
A zona tropical está localizada entre as latitudes 23 º 27' N (Trópico de Câncer) e
23 º 27' S (Trópico de Capricórnio) do Equador. Nessa zona, ocorre a maior incidência de
radiação solar, e os raios incidem de forma perpendicular em relação à superfície terrestre
em algum período do ano. As temperaturas são elevadas durante a maior parte do ano, e
as estações são definidas com base na ocorrência da pluviosidade e na umidade relativa do
ar (Ayoade, 2004) . No Brasil, a zona tropical situada ao norte da linha do Equador engloba
parte dos Estados do Pará, Macapá, Amazonas e Roraima; ao sul dessa linha, abrange a
maior parte dos estados brasileiros, exceto o Rio Grande do Sul, Santa Catariana e parte do
Paraná, pois o Trópico de Capricórnio está próximo de Maringá, PR, o que situa na zona
tropical cerca de 90 % do território nacional.
As correntes de convergência de massas de ar que ocorrem próximas ao Equador
tomam as chuvas intensas nessa zona, onde a pluviosidade anual varia de 1800 a 5 000
mm, a maior do planeta, sendo denominada Trópico Úmido. O regime de chuvas e a
temperatura tendem a diminuir com o aumento da latitude, afastando-se da linha do
Equador. A zona denominada subúmida, que predomina no Brasil, tem diversos tipos
de climas, e a pluviosidade varia entre 800 e 1 800 mm ano-1, com grande diversidade na
forma de distribuição anual. O semiárido tem pluviosidade entre 250 e 800 mm, e a zona
árida apresenta menos de 250 mm anuais de chuva (Webster et ai., 1998).

Solos
Na zona equatorial, o clima submete os solos a intenso processo de infiltração e
drenagem com água de alta solubilidade, fenômeno que catalisa a velocidade das reações
no solo e acelera o processo de perda da sílica, resultando na predominância de argilas
dos tipos 1:1 (caulirúta) e óxidos ~ol~veis de Fe (goe~hi~a e hematita) e ~e Al (gibbsita)
(Alleoni et al., 2009). Nas zonas.tro~1crus de ~enor ~luv1os1dade, h~ menor ~te~perização
nos solos, ocorrendo teores vanáve1s de argilas do tipo 2:1 (esmectita e vernucuhta com ou
sem hidróxido d e AI entre camadas) (Kampf et al., 2009).
No Bras il, os solos classificados como Argissolos e Latossolos ocupam respectivamente
24 e 39 % da sua superfície, o que soma 63 % dos solos agrícolas brasileiros. Os atributos
que predominam nesses solos são: baixo pH; baixa capacidade de troca canônica (CTC);
· •ias com parte de seu potencial de carga que depende do pH, podendo gerar cargas
e argi fí · d I ·d
positivas em alguns ~ontos d~ super c1e oco 01 e e uma vari_á vel capacidade de troca
aniõrúca (CTA), em s1multane1dade com a CTC. O pH e a capacidade de troca diminuem

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 871

com a profundidade no perfil, enquanto os teores de argi la e AI g ra lmen te au mentam com


a profundidade (Santos et ai., 201 3); a correção do pH e o aumento da CTC nesses casos ão
dificultadas pela ineficiência da aplicação de calcário e matéria orgâ nica em profu nd idad
maior do que 0,40 m. As principais qualidades dessas classes d e so lo, d e man ira ger 1,
são a grande profundidade efetiva e a boa drenagem. Os óxidos d e F goethita e he matita,
responsáveis pela coloração dos Latossolos, não têm grande influência na formação de uas
estruturas. Os minerais que atuam de forma determinante no arranjo dessas partícu la são
a caulinita e gibbsita, pois o Latossolo gibbsítico, que pred omina no Cerrado, apre nta
menor densidade do solo, maior macroporosidade e estabilidade de agregad os do q ue o
Latossolo caulinítico, que predomfoa nos Tabuleiros Costeiros e evidenciam ho ri zonte
subsuperficiais coesos (Ferreira et aJ., 1999; Ferreira, 2010). Os Latossolos geralmente estão
localizados em relevos planos a suavemente ondulados, onde a mecanização é ma is fácil.
Os Argissolos ocupam desde relevos suaves até os fortemente ondulados, o que, aliado
ao aumento abrupto do teor de argila entre os horizontes A e B, que caracterizam o
Argissolos, classifica-os como mais susceptíveis à erosão (Santos et ai., 2013).
Os solos tropicais e subtropicais geralmente são ácidos, e quando o pH é menor do
que 5,0 ocorrem a fixação do P, a insolubilidade de diversos elementos essenciais às plan tas
e o aumento da solubilidade do AI. O AI limita o alongamento das raízes, em razão das
alterações no seu ápice, e dificulta a absorção dos nutrientes (Kochian, 1995; Mats umoto,
2000, 2002; Fageria e Stone, 2006). A acidez ocorre de forma natural, em razão do
intemperismo em alguns solos ou por causa das práticas agrícolas como a adição de grande
quantidade de cátions ao solo (K+, Ca2+e Mg2+), que, absorvidos pelas plantas, provocam a
liberação de H+ na rizosfera para manter o balanço iônico da solução do solo; da adubação
nitrogenada à base de NH4.. , que, na amonificação, libera H \ da mineralização da MO, que
tem como produto final da sua decomposição o NH/ ; da forma solúvel do Al, que ocorre
em pH menor do que 5,3 e que, por hidrólise, rompe as ligações O-H da água, liberando
H+; da predominância de cátions com a relação a carga/ tamanho do raio com afinidade
pela hidrólise, AP· (44) > Fe3 • (36) > Mg2+ (14) > Cu2 • (14) > Zn2• (14) > tn2 • (13) > Ca~- (10)
> Na+ (2), que provocam acidificação (Serrano, 2003; Fageria e Stone, 2006).
Esses fatores fazem da calagem algo essencial para aumentar a produtividade da
culturas e a eficiência da adubação nos solos tropicais. O calcário aumenta o pH do solo,
a soma de bases, a CTC e o teor de P disponível; diminui o teor de AP·, a relação K/
(Ca+Mg), a CTA e o teor de SO/, sem alterar a CTC a pH 7,0 e a adsorção de P (Ca margo
et al., 1997). Também, a adsorção de Ca e Mg incorpora cargas positivas às superfícies
sólidas do solo, o que aumenta a força iônica da solução e comprime a dupla camada
difusa (DCD), aumentando a estabilidade da estrutura.
No entanto, a calagem também eleva a CTC e o potencial elétrico negativo na superfície
dos coloides de carga variável, pois as hidroxilas, oriundas da reação do CaCO com a
água, são adsorvidas à superfície dos óxidos e hidróxidos, arestas quebradas da ca~linita e
carboxilas da matéria orgânica, o que aumenta a espessura da dupla camada difusa (DCD)
e diminui a estabilidade entre as partículas. A substituição do A1 por Ca e Mg no complexo
de troca também tendem a aumentar a espessura da OCO (Prado, 2003) . Essas interações
provocam alterações no solo no valor do pH em água e no ponto de carua 0
zero (PCZ), alor
de pH onde a carga liquida superficial de todas as fontes do coloide é igual a zero (Raij e
Peech, 1972). Essas alterações podem tomar o pH em água maior, igual ou menor do que
o PCZ, o que faz predominar na superfície coloidal cargas negativas, a neutralidade ou
cargas positivas, respectivamente. A dispersão das argilas ocorre quando O pH em água é

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
872
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL .

mais
. elevado d 0 que o PCZ , p01s· há predomínio de cargas negativas
· nos co Ió'I d es, a d vm
· d· o
n,a1or exnai - :l D CD e menor estabilidade das ligações químicas
' r- :1 5 ªº 1.. a
· entre a s argt·1 as, sen d o
0
grau de dispersão função da m.ineralogia do solo (Uehara e Gillman, 1980; Albuquerque
et a1., 2000; V, eber et ai., 2005). Esses problemas geralmente são registrados em aplicações
de dose elev~das de calcário - acima de 4,0 t ha•l por ano - em solos muito intemperizados,
ou quando a incorporação foi realizada de forma inadequada e concentrou o calcário em
determinado volume de solo.

Demanda por calcário e adubos no Brasil


O fato de o calcário agrícola ser imprescindível na correção da acidez dos solos o faz
fundamental na zona tropical. No Brasil, é um material abw1dantemente produzido em
todas as suas cinco regiões. As estimativas de fornecimento das reservas, em minas a céu
aberto, são de 400 anos nos níveis de consumo atuais (DNPM, 2010).
Em relação aos adubos - também um insumo fundamental para a emergência de
plantas e a cobertura vegetal dos solos h·opicais - o consumo nacional vem aumentando a
cada ano; entretanto, a indústria não acompanha a demanda, e o saldo da balança comercial
brasileira de fertilizantes é negativo há alguns anos. Constata-se que o setor industrial não
tem nível adequado de investimentos para atenuar o problema em curto prazo (SEAE,
2011). A dependência externa dos insumos N, P e K é uma séria ameaça ao setor agrícola,
que continua em expansão e necessitando importar quantidades que crescem a cada ano,
pois a produção nacional está estabilizada. Em 2013, o Brasil produziu 9,3 Mt de NPK, mas
importou 21,6 para poder atender ao consumo de 30,9 Mt (ANDA, 2014).
O consumo de adubos, apesar da expansão, ficou restrito a poucas culturas,
apresentando em 2010 a seguinte distribuição percentual: soja (34,7 %), milho (15,5 %),
cana-de-açúcar (14,9 %), algodão (5,2 %), arroz (3 %), reflorestamento (2,6 %), trigo (2,4 %),
feijão (2,2 %) batata (1,8 %), fumo (1,8 %), laranja (1,6 %), banana (0,8 %) e outras culturas
(13,6 %). As estimativas para 2021, segundo Outlook Brasil (2012), são de grandes aumentos
na produção nacional de N e P; no entanto, o K ainda atenderá menos de 20 % da demanda
agrícola brasileira. As culturas com maior consumo ainda serão as mesmas, com algumas
alternâncias na ordem, mas com maior porcentagem do total, pois o item 'outras culturas'
diminui de 13,6 % para 9,6 %. Ressalta-se que, nesse item, exceto a laranja e banana, estão
todas as fruteiras, as hortícolas e as grandes áreas de pastagens do Brasil.

Expansão agrícola no Brasil e a fruticultura


Os aspectos sociais também influem na expansão agrícola. A 'distribuição de terras
agrícolas' tinha um 'Índ_ice de Gini' d_e 0,857, em 1_996, e subiu para 0,872,_ em 2006, 0 que
colocou O Brasil com desigualdade social na ocupaçao das terras entre as maiores do mundo.
0
entanto, esse mesmo índice em relação à' distribuição de renda' melhorou, passando de
0 607 em 1998, para 0,554, em 2008, ou seja, entre 1996 e 2008 diminuiu a desigualdade no
~eio' urbano, mas aumentou no meio rural. As razões para isso são diversas; entretanto,
0
fato de que os maiores módulos de propriedades no Brasil serem utilizados em culturas
com baixo ' valor da produção por área' e pouco uso de 'mão d e obra por área', como 0
culti vo de grãos e cana-de-açúcar, em constante expansão no território nacional, está entre
05
principais motivos (Haugen, 2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI , BANAN A E MAMÃO 873

Observa-se, no quadro 1, que a méd ia nacional d produtividad" da fruteira , em


re lação à maior média estadual, va ria de 63 a 86 % desse va lor, enquanto para as cultura
de soja e cana-de-açúcar variam de 92 a 93 %. O fato de essas cultura aprec:.enta rem um
média nacional Wliforme, pois está apenas cerca de 8 % abaixo da maior m d ia e tadual,
significa que praticamente toda a tecnologia de produção disponível j, está em us no
campo, o que torna mais difícil aumentar esse rendimento que só ocorrer com a criação de
tecnologias de ponta. Nas fruteiras, a média nacional de produtividade é 14 a 7 ,,:, m no r
do que a média estadual, o que demonstra que grande parte da tecnologia di ponível n.:io
está em campo e há grande possibi lidade de crescer. Quanto ao v lar da produção por
área, ou renda, a soja e cana-de-açúcar continuam com menos de 10 "~ de diferença entre
a média nacional e a estadual, enquanto nas fruteiras a d iferença foi ampliada para ntre
28 e 42 %, o que, nesse caso, não é um bom sintoma, poi demonstra desigualdad e no
preços regionais e nos sistemas de distribuição. O maior valor de produçJo por área e o
do mamão, que, assim como as demais fruteiras, predomina e m módu los de S L1 10 h,1,
enquanto a soja e cana-de-açúcar, com uma renda respectiva mente 19 e 11 vezes menor do
q ue o mamão, exigem centenas de hectares para viabiljzar o seu rendimento e índice de
mecaruzação.

Quadro 1. Valor da produção por área de algumas fruteiras em relação à ja e caru-de açúcar, no
período de 2008-2013, média brasileira versus média estadua l

Produto Produtividade (t / ha) Renda (mil reai / ha)


Brasil/ Brasil/
Brasil Estado (I) Brasil Estad o l
Estado Es tado
Abacaxi 25,48 29,80 (PB, MC) 0,86 22,27 2 ,-B ( IG) 0,7
Banana 14,20 22,-!2 (SP) 0,63 8,15 1-l,15 (\.1G) 0.5
Mamão 51,44 75,85 (ES) 0,68 37,00 51,71 (ES) 0,72
Soja 2,85 3,09 (MT) 0,92 1,96 2,16 (PR) 0.91
Cana-de-açúcar 77,44 82,82 (SP) 0,93 3,5 3,79 (.\IG, GO) 0,92
11 > Foi utilizada a maior média entre os cinco maiores produtores nacionais no período.
Fonte: IBGE (2015).

O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, com -12,6 ~lt produzidas
em 2,2 Mha. A fruticultura emprega 5,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 3-l- <~
da mão de obra agrícola, pois para cada cem mil dólares im e tido são gerado tres
empregos diretos e permanentes e dois indiretos, fixando no campo milhare~ de familias
como pequenos ou médios proprietários, ou arrendatários, produzindo alimento de
alta qualidade nutricional e alta qualidade nutricional e consumo em ascensão (Brilzilian
Fruit, 2012; Hortifruti Brasil, 2014) . Entre os 20 produtos agrícolas com o maiore alore
de produção no Brasil, estão incluídas cinco frutas no ano de 201_, que ão em ordem
decrescente: laranja, banana, uva, abacaxi e mamão (PA l, 2012).
As fruteiras tropicais consideradas globais - encontradas nas feiras e no mercad s de
grande parte do planeta - são abacaxi, banana, mamão e manga (Mugnozz~, 19 o). Es a
revisão aborda os cultivas do abacaxi, da banana e do mamão, nde o Bra il O primeir ,
o quinto e o segundo produtor mundial, respectivamente. A produtividade média d - 1l)

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


874
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

maiores produtores d o mundo para a culturas de abacaxi e banana e d os cmco · · ·


pnmetros
~m mam~o - re ponsáveis por 75,8 % da produção de abacaxi, 76,6 % da banana e 74,6 %
0
mamao - no período de 2007 a 2012 é apresentada na figura 1 (FAO, 2015). O Brasil
apresenta maior p ro d u h. v1·d a d e em relação
' à média mundial
· para a bacaxt· e mamao,
- nesse
mesmo período (JBGE, 2015).

60 -

50 -
::--
]
-
....
CII
"t:S

40 -

30 -
"t:S
'>
:t:S 20 - 1

i 1
::s 1
"t:S
o 10 -
ô:: '
o
Abacaxi Banana Mamão
□ Brasil □ Mundo

Figura 1. Produtividade média dos maiores produtores do mundo nas culturas de abacaxi, banana
e mamão em relação ao Brasil, período de 2007 a 2012, com volume de 75,78, 76,6 e 74,55 % da
produção mundial, respectivamente.
Fonte: IBGE (2015).

FRUTEIRAS TROPICAIS

Abacaxi
Origem
O abacaxi pertenceàfamiliaBromeliaceae,queconsistede56gêneroseaproximadamente
2 794 espécies. As bromeliáceas estão adaptadas nas formas terrestres e epífitas, ocupando
desde O trópico úmido ao subtrópico frio e seco. O gênero Ananas tem como provável
centro de origem a região da Amazônia, compreendida entre 10 ° N e 10 ° S de latitude e
entre 55 ° o e 75 º O de longitude. O abacaxizeiro, espécie A nanas comosus, é originário das
zonas central e sul do Brasil e parte do nordeste da Argentina e do Paraguai. São cultivadas
mais de 30 variedades de Ananas comosus nos diversos países tropicais (Eeckenbrugge et
al., 2003).

Economia
A produção mundial de abacaxi, considerando a média entre os anos de 2007 a
2012, apresenta o Brasil co~o o ~aior pro~uAtor _com 11,~ % ~~ t?tal em peso de frutos e
produtividade de 37,9 t ha·, segmdo da Ta1Iand1a (11,4 Yo ), F1hpmas (10,9 %), Costa Rica

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SOLO EM C U LTI VO DE A BACAXI, BANANA E M A MÃO 875

(9,3 %) e Indonésia (7,6 %) (FAO, 2015). No Brns il, os Es tados co m maio r prod uçã no
pe ríod o de 2008 a 2013 fo ram Paraíba CJ8,4 %), Pará (17,4 %), Minas Gerai (15,3 %), Bahia
(8,3 %), Rio G rande do Norte (6,7 %) e Ri o de Janeiro (5,9 %), o que so ma 72 % da produção
nacional. A distribuição territorial da fruteira é am pla (Norte, No rdeste e Sudes te) e
produção é destinada ao mercado interno de fr utas frescas, pois menos de 1 % do total da
produção é exportad o (IBGE, 2015).

Instalação do pomar

O abacaxi prefere climas onde a tempera tura oscila entre 22 ºC e 32 ºC, com uma
amplitude térmica de 8 a 14 ºC. Temperaturas maiores do q ue 40 ºC o u m enores do q ue
20 ºC reduzem o crescimento da planta, o que limita a alti tude para a instaJação de pomares
entre 800 e 900 m. A distribuição de chuvas deve ser regular, e o vol ume ideal está entre
1 000 e 1500 mm anuais, embora o abacaxizeiro, que é uma bromeliácea, não necessite d
grande volume de água. A umidade relativa do ar d eve ter média anuaJ igual o u maior que
70 %, pois se menor do que 50 % ocorrem rachaduras nos fru tos. Deve haver de 6, a ,2 h
de brilho solar por dia, pois dias mais curtos provocam a floração p recoce, e alta insolação
causa a queima dos frutos (Reinhardt et al., 2000; Malézieux e Bartholomew, 2003).
O pomar de abacaxi exige solos com boa drenagem e p rofund idade efe tiva de no
mínimo 1,0 rn, pois não tolera encharcarnento, e o excesso de água favorece a propagação de
patógenos. O declive da área não pode ser maior do que 5 cm m-1, em razão do crescimento
lento da planta e da demora em cobrir o solo, o que facilita a erosão. As mudas para plantio
podem ser do tipo: 'coroa', 'filhote', ' filhote-rebentão' e ' rebentão', sendo esta última a
mais utilizada devido ao vigor e ciclo mais curto. A dis ponibilidade de cad a tipo d e m uda
é função da variedade. As variedades mais plantadas são: 'Sm ooth Cayenne', 'Pér ola',
'Queen', 'Singapore Spanish', ' Espanola Roja' e ' Perolera'; no en tanto, 70 % da produção
mundial de abacaxi provêm de 'Smooth Cayenne' (Reinhard t e t al., 2000).
Os espaçamentos na cultura do abacaxi são adotados em razão do porte do culti ar,
da mecanização disponível e do destino da produção, entre outros fatores. As maiores
densidades de plantio, dentro dos limites recomendados, aumentam a produtiv idade, mas
diminuem o tamanho do fruto. A população mínima deve ser de 37 000 plantas ha-1• A
distribuição pode ser em filas simples: 0,90 x 0,30 m (37 030 plantas ha-1) e 0,80 m x 0,30
m (41 660 plantas ha-1), ou em fil as duplas: 0,90 m x 0,40 m x 0,40 m (38 460 plantas ha·1),
0,90 m x 0,40 m x 0,35 m (43 950 pla ntas ha -1) ou 0,90 x 0,40 m x 0,30 m (51 280 plantas ha-1) .
No plantio em filas duplas, as plantas dev em ser alternadas. Esse sis tem a facilita a limpa
no es paçamento maior e dificulta no espaçamento menor. o caso de p lantio irrigado , a
d ens idade de plantio pode ser maior em relação à mesma s ituação em sequeiro (Reinhard t
e Cunha, 2000) . Apesar de tropical, o abacaxi sofre com o e. cesso de insolação, pois O sol
poente em frutos provoca a ' queima-solar' . Para evitar esse problema, o plan tio deve er
no sentido leste-oeste.

Morfologia e fisiologia

Uma planta de abacaxi fisiologicame nte madura pesa aproxim a d amen te 3,5 kg, tem
u m a área foliar de 2,2 m2 e um sistema radicular com po uca gramas. Observa-se, na figura
2, que, aos oito meses, o peso do s istem a de ra.izes é de cerca de 90 g e, aos 1_ m es,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


876
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

alcança 190 g; além de poucas, 95 % das raízes estão localizados nos primeiros 20 cm do
solo ~ nforza to et al., 1968). O abacaxizeiro explora pouco volume de solo, mas tem a ajuda
de raizes axilares localizadas na base das folhas, e também da superfície das folhas, nas
nartes
r-
ma·is b rancas, que absorvem nuh·ientes.

Peso de raiz (g)


o 20 40 60 80 100 120 140 160

--
6
u
0-10

10-20
QJ
'"'O
ra
'"'O 20-30 ~
:a
-2o 30-50 ~
~ 50-70 l
70-100

100-130

□8 meses □ 12meses

Figura 2. Sistema radicular do abacaxizeiro " Branco de Pernambuco", aos 8 e 12 meses após plantio
em Latossolo \ ermelho do Estado de São Paulo.
Fonte: lrúorzato et al . (1968).

O sistema de raízes do abacaxizeiro também é pouco eficiente quanto à capacidade


de captação de água, mas é compensado por características morfológicas e fisiológicas
típicas de plantas xerófilas como: as folhas são canalizadas para o centro e coletam água e
nutrientes (resíduos orgânicos); a estrutura da planta permite a máxima interceptação de
luz; a armazenagem da água é na hipoderme das folhas; e redução das perdas de água da
trarispiração em razão do pequeno número de estômatos por folha, do armazenamento
de água na parte interior e basal da folha e por causa do sistema de captura de C02 à
noite para usar durante o dia, evitando abrir os estômatos em pleno sol e perder água
_ 0 sistema Crassulncean Acid Metabolism (CAM). Esses mecanjsmos reduzem as perdas
de água por meio dos estômatos do abacaxi para 25-150 g de água por grama de C02
absonrido, enquanto árvores e arbustos estão entre 450-600 g e um gramado tropical entre
250-350 g (Malézieux e Bartholomev,,, 2003).
A demanda de água de um cultivo comercial de abacaxi, para a produção plena, varia
de 1,3 a 5,0 mm d·1, em razão do clima, solo e estádio de desenvolvimento da planta. Os
municípios produtores do Estado da Paraíba, o maior produtor nacional, e o município
de Itaberaba, maior produtor do Estado da Bahia, estão na zona do agreste, onde a
pluviosidade é de cerca de 800 mm ano·1, o que está abaixo do recomendado.

Manejo do solo
0 abacaxi é considerado uma planta acidófila, e o pH do solo d eve estar próximo ou
abaixo de 5,5. Se houver a necessidade de calagem, aplicar com 30 a 90 d antes do plantio,
corrigindo a acidez pelo método da saturação por bases que, para O abacaxi, é de 50 %

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACA X I, BANANA E MAMÃO 877

(Souza, 2009). A planta necessitt1 de 0,123 cmol kg- 1 de Ca e 0,104 cmolc kg·' de 1g no solo
para produzir de forma satisfatória - um déci~o do qu necess ita a maioria da culturas.
Para atingir esse teor de Ca e Mg no solo, a ca lagem deve se r utilizada, ma s a aplicação
for de grande quantidade, podendo ultrapassar o pH 5,5, completar a aplicação com ge so,
que não provoca alterações no pH (Malézieux e Bt1rtho lomew, 200 ). Manter o pH d o
solo entre 5,0 e 5,5 também é um meio para controlar a ocorrência de fungos do gênero
Phytophthorn spp., que danificam as raízes do abacaxi (Souza e Cunha, 2000). o entanto,
segundo Sarah et ai. (1991), o solo mantido com pH abaixo de 6,0 favorece a propagação do
nematoide Prntylenc/111s brnc/1iurus, que também danifica as raízes da planta, o que, nesse
tipo de caso, deve ser resolvido com a adoção de variedades resistentes a esse hei minto.
Trabalhando com Smooth Cayenne (resistente a AI) e Tainung No.17 (susceptível a A I),
em soluções nutritivas com pH 4,5 e concentrações de AICl 3 de O, 100, 200 e 300 µmol L- 1,
Hong Lin (2010) observou que, na ausência de AI, as duas variedades diminuíram o volume
de raízes; na concentração de 100 µmol L-1de A1Cl,, ambas aumentaram o comprimento da
raízes; nas concentrações de 200 e 300 ~tmol L·1, à variedade Smooth Cayenne continuou
aumentando o comprimento e diâmetro das raízes e o teor de Ca, Mg e K nos tecidos da
planta, sem alterar a absorção de micronutrientes. A variedade Tainung dimi nu iu o teor de
cátions nos tecidos, o peso e o volume das raízes a partir de 200 µmol L·1 e, ainda, a absorção
de Fe, Mn e Cu na concentração de 300 µmol L·1, e o AI adsorvido as raízes foi maior em
todas as concentrações. A tolerância ao estresse do A1 é atribuída à capacidade de manter
a absorção de Ca, Mg e K de forma seletiva, sem acumular A1 nas raízes, desenvolvida em
algumas variedades.
Os sintomas nutricionais do abarnxi são avaliados no solo e na denominada folha
'D'. A adoção dessa parte da planta para análise é por ser uma folha fácil de identificar
e de maturidade precoce. No Brasil, utiliza-se mais a análise de solo. As recomendações
de adubação são ajustes de atributos do solo, clima e sistema de produção, daí existir
praticamente um manual de adubação para cada estado. O cálculo baseia-se nos teores
de nutrientes existentes no solo, o que gera variação no volume de adubo aplicado. Para
estimar o consumo para um ciclo do abacaxi, considerou-se o teor ' intermediário' de 6 a
10 mg dm-3 para o P e 0,08 a 0,15 cmolc drn·3 para o K•, que são frequentes nos solos onde
se produz abacaxi no Brasil. Seguindo as recomendações de Souza (2009) e Sobral (2007),
chegou-se ao consumo total de 310 kg ha·1 de N, 70 kg ha-1 de P,O, e 310 kg ha-1 de K,O,
sendo o P aplicado no plantio e o N e K parcelados em cinco vezes. A ordem decrescente
da extração de macronutrientes é K, N, Ca, Mg, S, e P e dos micronutrientes é [n, Fe, Zn,
B, Cu. Mo (Malavolta et ai., 1999).

Cobertura do solo
Algumas práticas adotadas no cultivo do abacaxi, como manter o solo limpo no - meses
iniciais após o plantio, em alguns casos até a floração no oitavo ou nono mes, seguida da
remoção ou queima da biomassa cultural residual, tem provocado a degradação do olo e o
comprometido da produção após alguns ciclos de cultivo. O controle de plantas espontàneas
geralmente é realizado com quatro aplicações de herbicidas pré-emergentes (6 kg ha·1 a
10 kg ha-1, por ciclo) e seis capinas manuais, ou mais, em razão do solo e do clima. O solo
mantido por longo tempo descoberto e o lento crescimento do abacaxi provocam a erosão
e o arraste dos insumos, contaminando o solo e a água no seu entorno (Mato et ai., _006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


878
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

O controle de plantas espontâneas com roçadeira mecânica individual tem resolvido


alguns desses problemas, pois elimina O sombreamento do abacaxi e mantém o solo com uma
cobertura morta. Utilizam-se também leguminosas e gramíneas nas entrelinhas do pomar,
roçadas e mantidas como cobertura morta, 0 que diminuj a erosão, melhora a estrutura
do solo e reduz os custos de adubos e agrotóxicos. Esse sistema de produção, adotado no
Estad~ do Tocantins, também substituiu os herbicidas de pré para pós-emergentes e reduziu
as aplicações de quatro para duas - 2 kg ha·1 a 3 kg ha·1, por ciclo. (Matos et al., 2009).
T:abalhando com herbicidas em abacaxi, Model et al. (2010) recomendam os pós-emergentes
ruuron ou atra.zine + sin1a.zine, a depender do custo regional, evitando o uso do glyphosate.
A lenta velocidade do abacaxi para crescer e cobrir o solo acentua a necessidade de
c~nsórcio. No entanto, os espaçamentos densos e o fato de não tolerar sombreamento
d_ificultam a prática. A planta escolhlda para consórcio deve ser de porte baixo e de
ado curto (máximo de 120 d), cultivada nas entrelinhas no 3° ou 4° mês, após o plantio
do abacaxi.zeiro. Existe a opção de consorciar o abacaxi como cultura temporária nas
entrelinhas de plantas arbóreas, nos primeiros 18 meses, quando não há sombreamento, na
distância de 1,5 m entre a fileira de abacaxi e da fruteira (Reinhardt e Cunha, 2000).
A fitomassa deixada em campo, após a colheita dos frutos, é composta em mérua
por 75 % de folhas e 25 % de hastes e poucas raízes (Malézieux e Bartholomew, 2003). A
exportação de nutrientes por meio dos frutos e dos propágulos é muito pequena quando
comparada a quantidade que retoma ao solo nas folhas e hastes do abacaxi (Figura 3). Em
razão disso, essa fitomassa residual deve permanecer no solo como cobertura morta, pois
apesar de difícil de triturar, a remoção ou queima de 30 t ha·1 desperruça em termos de N, P
e K a quantia de 309, 57 e 582 kg ha·1 respectivamente, ao alcançar 70 t ha·1 de parte aérea de
abacaxi, as perdas são de 721, 133 e 1 358 kg ha·1 de N, P e K, o que compromete seriamente
a fertilidade do solo. Seu uso também diminui os custos da compra e aplicação de adubos.

1400
-
~
b0
1200 ■ Exp. mfn.

e 1000
s
ã 800 □ Res. mfn.
-a.
fll
e: 600
.1!! ■ Exp.máx.
6i 400
E
::,
z 200
□ Res.máx.
o
N K p Ca Mg

Figura 3. Nutrientes exportados ~frutos e pro~águJos) e bio~_ssa residu~I deixad a_no solo (hastes
e folhas) no ciclo de produçao do abacaxi para a produtividade máxima e mirnma d e diversas
regiões produtoras.
Fonte: M~ézieu.x e Bartholomew (2003).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

- ...........
XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 879

O tratamento da indução floral (fIF) é uma necessid ade no pomar d e abacaxi, pois JS
florações ocorrem diversas vezes, amadurecendo uma peq uena porcentagem de frut os de
cada vez, o que obriga a realizar diversas colheitas, o qu e aumenta o tráfego na área e o
custo de produção, dificulta a exploração do segundo ciclo e dirrunui o tamanho méd io dos
frutos. A floração natural tem relação com a va riedade e o estado de desenvol vi mento da
planta. Fatores climáticos também induzem a floração e podem ocorrer no período seco ou
no de chuvas. Para evitar esses imprevistos, a floração é induzida aplicando fítorregulad ores
na roseta foliar ou pulverizando sobre a planta. O TTF melhora a quantidade e q ualidade
dos frutos colhidos e a época mais favorável à sua venda . A época de apl icação do TlF é
função da data de plantio, da variedade, do clima na região e do mercado da produção
(Reinhardt, 2001).
As pragas e doenças que atacam o pomar de abacaxi são diversas, ma deve ser
ressaltado que em nenhum tipo de ocorrência fitossani tária recomenda-se a q ueima da
biomassa residual do abacaxizeiro como forma de eliminar os patógenos. Informaçõe
sobre o manejo fitossanitário do abacaxi podem ser encontradas em Mato et ai. (2009).
Ao final do ciclo de produção, em pomares bem condu zidos e em bom estado de
fitossanidade, a exploração da soca - segundo ciclo de produção - deve ser avaliada.
Para isso, os 'rebentões' devem estar bem desenvolvidos, e o plantio não pode ter sido
influenciado pela fusariose ou infestado por cochonilhas e, ou, brocas. O manejo da soca é
similar ao do primeiro ciclo em relação à adubação, à irrigação e aos tratos fitossanitários,
mas com as vantagens de exigir menor número de capinas por causa da cobertura vegetal
já existente; reduzir a adubação para a metade das doses do primeiro ciclo; as plantas se
desenvolverem mais rápido e permitirem o TIF entre seis a oito meses após a colheita
da primeira produção, diminuindo o ciclo para 12 ou 14 meses. É um manejo mais
conservacionista, pois cobre o solo por mais tempo sem revolver a sua superfície e diminui
o volume de insumos aplicados. A produtividade é menor que à do primeiro ciclo, pois
reduz o peso médio e o número de frutos colhidos por área; entretanto, a rentabilidade é
semelhante em razão do seu menor custo de produção (Reinhardt, 2001).

Banana
Origem
A bananeira é uma planta da classe Monocotyledoneae, ordem Scitarninales, fa m.t1ia
Musaceae, subfamília Musoideae, gênero Musa, constituída por quatro séries ou seções,
onde a seção (Eu-) Musa é a mais importante, pois apresenta o maior número de espécies do
gênero Musa e a ampla distribuição geográfica e abrange as espécies comestíveis (Danta e
Soares Filho, 2000). A palavra 'banana' engloba grande número de espécies ou híbridos do
gênero Musa. A banana (Musa sp.) tem origem no sudeste Asiático, nas regiões da wlalásia
e Filipinas, onde muitas bananeiras selvagens ainda crescem. Foi levada para a lndia e
se expandiu até Madagascar. Navegadores a propagaram nas Ilhas Canárias e depois na
República Dominicana e no Haiti, de onde se espalhou pelos países tropicais da América
(Morton, 1987).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


880
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

Economia

produção mundial de banana considerando a média no período de 2008-2013, teve


com~ maior produtor a Índia com 27:6 % da produção, seguida da China (9,6 %), Filipinas
(9,o %),_Equador (7,3 %) e Brasil (7,2 %). Os cinco maiores Estados produtores de banana
no B~as il, n_o pe1iodo de 2008-2013, foram São Paulo (17,6 %), Bahia (16,6 %), Santa Catarina
(9,3 %),_ Minas Gerais (9,2 %), Pará (7,8 %) e Pernambuco (6,4 %), que somam 67 % da
produçao nacional (IBGE, 2015).

Instalação do pomar

A temperatura ideal para a bananeira está entre 15-35 ºC, não podendo ficar abaixo
de ~2 ºC, pois há distúrbios fisiológicos que prejudicam o fruto. A lunúnosidade não pode
ser mtensa, pois as melhores taxas de fotossíntese ocorrem entre 1 000 e 2 000 lux. Acima
desse intervalo, a taxa toma-se muito lenta; e abaixo de 1 000 lux, praticamente cessa.
A distribuição de chuvas deve estar entre 1 200 e 2 000 mm anuais; e a estação seca, se
houver, não pode durar mais do que três meses. Se há ocorrência de ventos com grande
velocidade em alguma época do ano, deve-se proteger o pomar com quebra-ventos de
plantas arbóreas (Turner et ai., 2007).
A bananeira não tolera áreas encharcadas e exige solos com boa drenagem,
profundidade efetiva com no mínimo de 1,0 m e o nível do lençol freático a 2,0 m da
superfície. A granulometria do solo recomendada deve ter argila entre 150 e 300 g kg-1
(Delvaux, 1995), embora no Brasil grande parte dos pomares esteja em solo com o teor de
argila acima de 300 g kg-1. Quanto ao declive, os locais com menos de 8 cm m -1 são os mais
recomendados, mas o plantio é viável nas áreas com inclinação de até 12 cm nr1, onde ainda
é possível realizar o preparo mecanizado do solo, trabalhando em nível. Nos declives entre
12 e 30 cm m -1, as práticas são realizadas por tração animal ou humana, e também são
maiores os riscos de erosão, o que aumenta a necessidade de práticas conservacionistas
além das usuais como o plantio em nível e a cobertura do solo, incluindo aí os cordões em
contorno, renques de vegetação e terraços para reduzir a velocidade da água e a erosão,
gerando considerável aumento no custo de produção. ·
A propagação comercial da bananeira é realizada por mudas. Cada bananeira produz
de nove a 10 mudas nos primeiros 12 meses, até a emissão do cacho. O material pode ser de
origem do próprio bananal ou adquirida em viveiros. O pomar escolhido para produção
de mudas deve estar isento de pragas e doenças, os rizomas devem ter menos de três anos
e não deve ser retirada mais de uma muda por louceira. A retirada da muda do solo deve
ocorrer após a colheita do cacho e o corte da planta-mãe. As mudas preferidas são dos tipos
'chifre', com altura de 0,3 a 0,6 m, peso de 2 a 4 kg e desenvolvimento urúforme; e 'chifrão',
com altura de 0,6 a 1,5 m, peso de 3 a 5 kg e desenvolvimento rápido e uniforme (Alves
et ai., 2004). O plantio pode ser em covas de 0,3 x 0,3 x 0,3 m ou de 0,4 x 0,4 x 0,4 m, ou
em sulcos com 0,3 m de profundidade, na direção leste-oeste. Recomenda-se a rotação de
culturas antes e depois da implantação do pomar, para evitar possíveis rebrotas do plantio
anterior (Lima e Alves, 2004).
Os espaçamentos para o plantio da bananeira variam de 4 a 12 m 2 por planta, em razão
d orte da planta, do destino da produção, da fitossanidade e do tipo de solo (textura,
~p teor de nutrientes e declive). O arranjo dessas variáveis pode gerar plantios em
~eiras simples com espaçamentos que variam de 2,0 x 2,0 m; 2,0 x 2,5 m; 3,0 x 2,0 m; e até
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACA XI, BA NANA E MAMÃO 881

4,0 x 3,0 m, o que faz a população de plantas entre 2 500 e 833 plantas ha·'. ·os sistemas de
plantio em fileiras duplas, com uma fila mais larga e uma estreita (3,0 x 2,0 x 2,0 m até 4,0 x
2,0 x 3,0 m), a população varia de 2 000 a 1 429 plantas ha·1• É poss ível a inda, dentro de cada
espaçamento, aumentar o número de mudas por cova, o que dobra ou triplica a população
em cada espaçamento (Lima e Alves, 2004).

Morfologia e fisiologia
A morfologia da bananeira é muito peculiar, pois a planta mantém o caule abaixo do
solo - denominado de rizoma - de onde são emitidas as raízes e o pseud oca ule, sendo este
composto por 30 a 70 foU1as, compridas e largas, de onde saí a inflorescencía com as flore.
que formam as pencas. O número de frutos varia de 40 a 220 por cacho, de acordo com a
variedade (Borges e Souza, 2004).
A bananeira é uma planta sem tecidos lenhosos e aparentemente sem mecani ~mos
de controle para a perda de água, que armazena em grande vol ume nos seus tecidos. Um
pomar de bananas no estádio de antese contém em sua matéria vegetal água equ ivalente
a 30 L m·2, enquanto uma floresta contém 15 L m·2 ; e o trigo, cerca de 3,0 L m·~ (Turner et
ai., 2007). Segundo Robinson (1996), a bananeira necessita de grande vol ume de água para
produzir, pois tem grande potencial de transpiração por causa de suas fo lhas grandes e
do alto índice de área foliar (IAF); tem um sistema de ra ízes pouco profundo e com pouca
capacidade de remar água do solo próximo do estado seco; e, ainda, manifesta rápida
resposta fisiológica ao défice de água, principalmente nas folhas em formação e frutos
novos. Turner et ai. (2007) questionam as afirmações de Robinson (1996) sobre o consumo
de água pela bananeira; citam, entre outros, Turner e Thomas (1998), os quais relatam
que a secagem do solo, onde estava apenas metade do sistema de raízes da bananei ra,
provocou imediato fechamento dos estômatos, embora houvesse água disponível para
a outra metade das raízes e as folhas estivessem túrgidas, ou seja, os estômatos fecha m
ao sinal de défice hídrico em qualquer local do sistema de raízes, o que pode induzir ao
errôneo diagnóstico de estresse hídrico. Os mesmos autores sugerem uma reavaliação do
indicadores e da forma de medir as necessidades hídricas da bananeira. esse tema, Lu
et ai. (2002), medindo o fluxo de água das raízes para as folhas pelo rizoma da bananeira,
observaram que a máxima densidade de fluxo foi de 15 g cm2 h·1, enquanto para a manga
foi de 35 g cm2 h·1 e em espécies de florestas tropicais foi de 40 g cm~ h· 1, concluindo que o
menor valor de fluxo da banana, apesar da folha ser maior do que as de todas as demais
espécies, é função da taxa IAF - que na bananeira é alto - versus área de flu, o do xilema,
que na bananeira é muito baixo.
A grande quantidade de K absorvido pela bananeira é utilizada basicamente para
aumentar o potencial osmótico interno, o que lhe atribui maior capacidade de acúmulo
de água nos tecidos da planta (Delvaux et ai., 2005). O fato de o caule ser subterràneo
permite que armazene água sem entrar em equilíbrio com a atmosfera, onde a demanda
por água é maior do que no solo, pois, além da radiação solar e do vento, a temperaturas
são maiores e menos constantes; expostas à luz e à atmosfera estão apenas as folhas 0
frutos. Os frutos da bananeira ajustam a taxa de crescimento em razão da água disp nível
no solo e da maior concentração de K nos seus tecidos. Esse mecani mo permite que o
fruto mantenha alguma taxa de crescimento mesmo quando diminui a disponibilidade
d e água. A redução dessa taxa ocorre no início do seca.menta do solo, 0 que prejudica
o ta manho do fruto comercialmente, mas esse continua a crescer, m esmo em solo seco,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--·
882
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

porque con egu e manter a água com o menor potencial · entre lod os os ó rgaos- d a PIan ta,
que passam a direcionar o fluxo de água nessa direção (Turner et ai., 2007) . Quando diminui
a _concentração de K no fruto, em razão de O solo estar muito seco, o potencial osmótico
nao decresce, o que é atribuído a outras fontes de potencial osmótico como os açúcares
(Mahouachi, 2008).

. Para absorver o K do solo, as raízes necessitam de energia, pois o H • é excretado da


raiz para a rizosfera para manter o balanço de carga na raiz. A excreção de H • acictifica o
olo. O H • pode reagir com os pontos de carga da argila e tomar disponível elementos
°
corno Ca, Mg ou mesmo o Al. O fato de as raízes de banana preferirem absorver o N
na forma NH~ • em relação à forma NO3- é um dos mecanismos que atenua as contínuas
emissões de H• na absorção do K (Delva ux et al., 2005) .
. A capacidade de troca catiônica das raízes (CTCR) de cinco variedades de banana
vanou de 23 ± 4 cmolc kg·1 de raiz para as raízes centrais e de 34 ± 3 cmolc kg·1 de raiz
para as raízes laterais (Rufyikiri et al., 2002). O Al nessa rizosfera foi trocado por cátions
divalentes, ocupou locais de absorção na raiz e diminuiu a quantidade de Mg absorvido de
40 % para 5 %, enquanto o Ca manteve-se com 60 %. Essas porcentagens variam com o tipo
de solo, podendo haver deficiência de Mg na planta por causa do excesso de AI, mesmo
com Mg no solo. A relação Al/Mg pode ser utilizada como bom indicador da toxidez do
AI em banana (Rufyikiri et aL, 2002, 2003).
O sistema de raízes da bananeira é pequeno e superficial (Quadro 2), pois 80 % das
raízes estão na ctistância efetiva de 0,61 m do rizoma e 0,38 m de profundidade efetiva -
onde se localizam 80 % das raízes (Belalcázar et al., 2003). A densidade das raízes sofre
influência do sistema de irrigação, pois a maior frequência de molharnento ou o maior
número de aspersores aumentam essa densidade, mas restringem as raízes ao espaço entre
a planta e os aspersores, na profundidade de até 0,30 m (Silva et al., 2009).

Quadro 2. Distribuição do número de raízes, em profundidade e distância horizontal do rizoma, da


cv 'Dominico hartón', primeiro ciclo de produção

Profundidade (m ) Distância horizontal (m )


0-0,2 0,2-0,4 0,4-0,6 0,6-0,8 0,8-1,0 %
0-0,2 105 74 63 33 22 61,6
0,2-0,4 27 24 21 19 8 20,5
0,4-0,6 18 13 8 6 6 10,6
0,6-0,8 11 10 7 5 o 6,9
0,8-1,0 2 o o o o 0,4
% 33,8 25,1 20,5 13,1 7,5 100
fonte: Belalcázar et aL (2003).

Avaliando a distribuição de raízes da bananeira 'Terra', nas entrelinhas até a


rofundidade de 1,0 m em solo de Tabuleiro Costeiro, Borges e Sou za (2010) observam
p dens idade de raízes variou com a cobertura do solo na seguinte ordem: crotalária
que a . f ··- d d
espectabüis, feijão caup1, sorfg~, e1!ao- e-porc~ e . guan ud, en(q ua nto a profundidade
efetiva do sistema radicular 01 maior na sequencia: guan u 0 ,51 m), feijão-de-porco

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 883

(0,50 m), ca upi e sorgo (0,48 m) e crota lári a es pectabilis (0,40 m) . A concentração d
raízes na profundidade de 0-0,20 m foi a lta para todas as espécies, mas todas s up rar a m
a profundidade efetiva média de 0,38 m (Belalcázar et ai., (2003) . A maio r concentração de
raizes próximo a superfície fez com que o s istema de raízes com maio r den idade fosse o
de menor profundidade efetiva (crotalária espectabi lis), enquanto o guandu, com a me nor
dens idade, foi o de maior profundidade (Figura 4).

0-0,20

,......_ 0,20-0,40
-ª-
QJ
"O
"' 0,40-0,60
"O
~

-2o
~
0,60-0,80

0,80-1,00

o 75 150 225 300 375 450 525 600


Densidade de raízes (cm de raiz dm.J de solo)

1 º FP • cu • CR • CA º se 1
Figura 4. Densidade de comprimento total de raízes da bananeira 'Terra' em cinco coberturas
vegetais (FP = feijão-de-porco; GU = guandu; CR = crotalária espectabilis; CA = caupi; 5G =
sorgo forrageiro) .
Fonte: Borges e Souza (2010).

O sistema radicular da bananeira, apesar de pequeno, é fundamental no prece o


de absorção de água, nutrientes e manutenção do equilíbrio osmótico na planta. r-\
deterioração das raízes pode ocorrer de forma rápida ou lenta, mas, corno e tão sob o solo,
é difícil detectar. Entre as causas para esse problema estão a profundidade efetiva do solo
inadequada, o alto teor de argila ou de silte, os sais na solução do olo e o I a no cornple, o
de troca (Quadro 3). Entre os cliversos fatores que influenciam na produção de banana, a
maior parte se reflete cliretamente nas raízes (Gauggel et al., 2003).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


884
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

Quadro 3 · Índices de qualidade para atributos físicos, químicos e morfológicos do solo, que
detenn inam a pr dução de banana

b . de atributos f'1s1cos,
Influência · · ·
qumucos ·
e morfológicos do solo para o d esenvoIv1men
· to d a
ananeua, em uma proporção de peso variando de Oa 1.
Profundidade efeti\ a 0,70 pH 0,25
Te ·tura 0,20
0,60 Saturação por bases
Estrutura 0,35 Matéria orgânica 0,40
Drenagem 0,35 Alumínio trocável 0,40
Resi tencia à penetração 0,35 Sais solúveis 0,60
Conduti\ idade hidráulica 0,35 Relação de adsorção do sódio (SAR) 0,60
Densidade do solo 0,35 Porcentagem de sódio trocável 0,60
Água disponível 0,50 Capacidade de troca catiônica 0,40
Fonte: Gauggel et al. (2003).

Manejo do solo
A quantidade de adubos aplicada em um pomar de banana durante 24 meses em
relação ao N varia de 375 a 495 kg ha-1 . Para o P20 5 varia de 140 a 200 kg ha-1; e para ~O,
de 750 a 1200 kg ha-1, sendo o N e o K parcelado em 14 vezes e o P em três vezes (Sobral,
2007; Borges e Souza, 2009). O total de nutrientes absorvido pela planta, proveniente dos
adubos e do solo, tem urna parte exportada da área com a remoção dos frutos (cachos),
enquanto outra é devolvida ao solo com as folhas, pseudocaules e rizomas. Hoffmann et
ai_ (2010) observam em seis variedades de banana que a devolução ao solo é maior do que a
exportação, em termos médios, para todos os elementos (Figura 5). No entanto, a importação
de N foi maior para uma; e a de P, para três variedades. Borges et al. (2002) observam que
0 maior coeficiente de variação foi para a devolução do P; e o menor, para a exportação de
K. Estima-se que no núnimo dois terços da parte vegetativa da bananeira são devolvidos
ao solo, nas desfolhas normais e pelos pseudocaules e folhas cortadas no momento da
colheita. A produção de matéria seca está entre 10 e 15 t ha-1 ano-1 (Souza e Borges, 2001).
Essa adição aumenta os teores de K (139 %), Ca (183 %), sorna de bases (140 %), CTC (21 %),
saturação por bases (100 %) e matéria orgânica (12 %), quando comparada ao solo mantido
sem cobertura (Borges, 1991). As folhas e o pseudocauJe mantidos na superfície também
preservam a água e amenizam a temperatura do solo.
Sendo uma planta que requer grande quantidade de nutrientes em seu ciclo de
produção, a bananeira altera alguns atributos do solo na sua rizosfera, pois a absorção
do Ca e Mg é por fluxo de massa, ~nquanto_ a do K~ N03-, NH4 +, H 2PQ4- e Mn depende
de mecanismos de troca de energta. Os rrucronutnentes (Fe, Mo, B) são regidos por
mecanismos de oferta e demanda na zona das raízes (Turner et al., 2007).
Atualmente, os pomares de banana são mantidos em média por cinco a seis anos
na mesma área. Após a sua remoção, o solo deve ser submetido a um sistema de pousio
O
tação de culturas. Avaliando um pomar cultivado durante 30 anos, Serrano (2003)
oub r a que, em razão de f atores corno a contínua
. a bsorçao
- d e K pelas raízes da bananeira,
0
servd e adubos acidificantes e a dificuldade de incorporar
o uso . calcário em um pomar formado ,
ocorreu a diminuição do pH e o aumento da acidez trocável e do Al em solução livre de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CU LTIVO DE ABACAXI, BA N AN A E MAM ÃO 88 5

forma linear nos três horizontes do solo (Quadro 4), o q ue d imi nui o volume das raízes da
planta e, por consequência, a sua capacidad e de absorção de água e nul rient s.
700
-
~

ü
o 600
·o 500
] 400
bO
e 300
~
~ 200
·.:,s 100
z
o
N p K s
□ Frutas ■ Biomassa residual

Figura 5. N utrientes exportados do solo (fruto e cachos) e d a bio rna sa residual deixada no solo
(folha, pseudoca ule e rizoma) no ciclo de produção da banana, média de seis variedades de
diversas regiões produtoras.
Fon te: Hoffmann et ai. (2010).

Quadro 4. Idade do plantio do pomar de banana em relação ao pH, à acidez trocável e ao AI em


solução nos três horizontes de um solo na Costa Rica

Idade do plantio (anos)


Variável Horizonte Efeito linear
1 10 12 30
Ap 5,83 5,0 4,78 4,26 Decrescente
pH Bwl 6,29 5,31 5,33 -1,76 Decr cente
Bw2 6,21 5,81 5,54 5,21 Decrescente
Ap 0,7 1,76 1,64 -1,35 Crescente
Acidez trocável
(cmol, dm·3) Bwl 0,19 1,45 0,24 -1,39 Crescente
Bw2 0,12 0,58 0,1-1 -1,72 Crescente
Ap 0,64 1,01 0,89 2,72 Crescen te
AJ•3 (cmol, dm·3) Bwl 0,17 0,81 0,0-1 2,-19 Cres ente
Bw2 0,11 0,28 0,02 2,76 Crescen te
Fonte: Serr.ino (2003).

O índice de acidez de fertilizantes é a quantidade de CaCO3 nece sária para eliminar


a acidez provocada no solo por 100 kg de determinado fertilizante. Os pomares de banana
que geralmente consomem grandes quantidades de provenientes de adubo como o
(NH) 2SO~, (NHJ 2CO3 ou (NHJ!HPQ_1 com índices de acidez de 112 kg, 4 kg e 7-l kg de
CaCOy respectivamente, necessitam de constan te monitoramento do pH d o solo (Akarde,
2005). Para monitorar a acidez nos pomares de banana, reco menda-se analisa r O s lo
com mais frequência e, caso necessite, aplicar calcário e, ou, ge so para precipitar O Ar-
e aumentar a concentração de Ca e Mg; incorporar MO que ad or e O AI 3- por algum

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


886
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

período de tempo; utiliza r os fertilizantes com alto índice de acidez em menor quantidade,
mas com maior número de aplicações; e localizar O adubo no mio de 0,9 m ao redor da
planta (Serrano, 2003) .

Cobertura do solo

Na _in ta lação do pomar, é definido o tipo de muda, a época de plantio, o espaçamento


eª densidade de plantio (2.2.2); entretanto, a boa condução do pomar necessita do controle
de plantas espontâneas, da manutenção da cobertura do solo, da aplicação de adubos e da
realização do desbaste e da desfolha.
~ bananeira tem necessidade de limpas constantes nos primeiros cinco meses após
planho. Nessa fase, o espaçamento do plantio ainda está mantido, pois o perfilhamento é
pequenoeousodetratorcomroçadeirasnasentrelinhasaindaépossível.Odesenvolvimento
do pomar dificulta a manutenção dos espaçamentos, exigindo a utilização da estrovenga
ou roçadeira mecânica costal, pois as capinas com enxadas, além de deixar o solo exposto,
também provocam danos às raízes superficiais, facilitando o acesso de patógenos. As
capinas devem roçar a vegetação mantendo a cobertura morta sobre o solo. Tan1bém são
utilizados herbicidas pós-emergentes sistêmicos com jato dirigido, para criar a palhada
(Alves et al., 2004). O controle de plantas espontâneas é mais fácil nos espaçamentos em
fileiras duplas, que facilitam o consórcio na fase inicial do pomar e a mecanização de
práticas como as capinas, as pulverizações e também a colheita, já que os cachos crescem
para o lado da fileira mais larga, onde existe mais luminosidade.
Aos 12 meses, já é grande o volwne de matéria verde no pomar, e o sombreamento
dificulta a emergência de vegetação nativa ou o consórcio. Também, o manejo da colheita
dos cachos, das podas e de novos brotamentos gera dificuldades para manter o espaçamento
original e dificulta a execução de práticas corno a aplicação de adubos e defensivos. Essas
dificuldades aumentam em áreas com maior declive.
A eliminação das folhas secas do pseudocaule aumenta a luminosidade e areja o
pomar, além de manter o solo coberto e eliminar o refúgio de algumas pragas e doenças. O
desbaste elimina os excessos de filhotes da planta-mãe, mantém o número de plantas por
área dentro do planejado, facilita as práticas culturais, mantém a produção e prolonga a
vida útil do pomar. A população ideal de plantas é função da variedade e do ambiente. O
desbaste é realizado quando os filhotes estão com 0,2 ou 0,3 m, aos quatro, seis e 10 meses
após O plantio. O adensamento de ~l~t~s, ~ale lembrar, aumenta o ~icl_o v_egetati~o e a
produção, mas também aumenta a mc1denc1a de pragas e doenças, d1mmm a qualidade
dos frutos e o tempo de vida útil do pomar.
No Brasil, existem muitas áreas de produção de banana em encostas com declives
próximos ou maiores do que 30 c°: m·1, o que t~rna o m~ejo mais ~ifícil e com altos riscos
de erosão. Nessa situação, o plane1amento e a 1mplantaçao de práticas de conservação do
solo no momento da ins talação do pomar são fundamentais. A manutenção da capacidade
de produção desses pomare~ depende da adoç_ão do planti~ em niv~ e da ~abertura _do
solo com adubos verdes ou fitomass~ da própna da bananeira, que sao práticas de baixo
cu s to e eficientes no controle da erosao (Borges e Souza, 2010).
Grande parte das áreas cultivadas com banana não mantém o solo com umidade
ada por todo o ciclo da cultura, necessitando da irrigação ou de práticas diversas
a d equ
para aumentar a armazenagem d e á gua no so Io. A uh·1·1zaçao
- d e plantas melhoradoras do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 88?

solo e, ou, o uso de cobertura com fitomassa de banana minimizam os e tr ss hídrico


nos bananais, mas seu uso é restrito à fase inicia l do poma r, cm rnzé-'io do de alinho
no espaçamento a partir de 12 ou 14 mese a pós o plantio e do sombrea mento. E ses
aspectos são particularmente importantes na Região Nordeste do Bra il, que responde
por aproximadamente 38 % da produção de bana na do põ1ís, onde ocorrem P ríodos de
deficiência hídrica nos solos que diminuem a produtividade e a q ualidade do fruto •
A armazenagem de água no solo, avaliada por Cintra (19 ), nos meses de menor
pluviosidade, evidencia que o volume de água até 0,40 m de profundidade no solo sob
cobertura morta foi superior em 180 % em relação à da cobertura do olo com vegetação
espontânea e em 92 % à do solo descoberto (capina) (Figura 6).

110 18
16
100
14

I
õ
o
90 u §
e
10 "'3
~

V
"'o 80 8 ~
i:: õ..
"' 70
?e, 6 -~
~
-< 4
60
2

50 o
,-< M O ,:to N a, ('1') O O ('1') e-- t-.. t-..
~ N N ~ N tf'l ,..... C"I

1- Setembro -1 1- - Outubro - - 1 1- ovembro - 1


lc=JPrec. --- CM - CN __,._ e _...,_ H --3- FP 1
Figura 6. Armazenagem de água no solo cultivado com banana, até 0,-!0 m de profundidade, nos
sistemas de manejo. CM: cobertura morta com biomassa da bananeira; C : cobertura natural;
C: capina; H: herbicida; e FP: feijão-de-porco.
Fonte: Cintra (1988).

Avaliando a conservação da umidade no solo em um pomar coberto com fitomas a da


bananeira, em relação ao solo descoberto (capina), Borges e Souza (2004) observam que a
armazenagem de água na área coberta, até 0,40 m de profundidade, foi 15 % maior, quando
a biomassa foi distribuída de forma aleatória no espaçamento de -l x 2 . 2m, e 32 º{, maior.
q uando foi concentrada na rua de 4 m (Figura 7).
As avaliações de leguminosas nas entrelinhas do bananal destacam as e pécie feijão-
de-porco (Cnnavnlia ensifon11is), soja perene (Glycine javm1ica), leucena (Le11cne 11 a lt?ucocepJw/a)
e guandu (Cajm111s cnjan). As espécies perenes como o amendoim-forrageiro (Arachís pi11to1)
e a soja perene devem ser utilizadas em zonas onde não ocorram eranico prolonJad
ou sob irrigação. O feijão-de-porco é a espécie mais utilizada, pois tolera sombreament ,
produz grande volume de matéria vegetal verde e sistema radicular, predomina um
período sobre as plantas espontâneas e tem adaptabilidade a condições ariada de solo e
clima (Salgado, 1983; Johns, 1994; Espindola et al., 2000, 2006; Perin et al., 200_, _009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E D A ÁG UA
888
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

_ 220

1o
] 180
o
k

!
-: 140
"O

!111
100

J .... \1:) o .... ~


~
r1') ll'l rl

s- ~ ~ '1:::- ~ ~
'<t'

~
.... N N o
o
o
....
.... rl
s s
N N
O\"
N ~
o
~
1997 11-1998 -1
1-o- RBA --+- RBL --+-- CAP 1
Figura 7. Armazenagem de água no solo cultivado com banana ao longo do tempo, até 0,40 m
d ~ p~ofundidade, sob as coberturas vegetais. RBA = biomassa da bananeira sem qualquer
drrec10namento; RBL = biomassa da bananeira concentrada na rua de 4 m; e CAP = solo
descoberto (capina).
Fonte.: Borges e Souza (2004).

As leguminosas incorporam N ao solo e o seu plantio deve ser realizado no início do


período chuvoso, ceifando-a na floração (maior teor de N) ou após a maturação e colheita
das sementes, deixando a matéria vegetal verde na superfície do solo como cobertura
morta. A ceifa tardia resulta em material vegetal com menor teor de N, mais lenhoso e
mais resistente à decomposição que cobre o solo por mais tempo. A matéria vegetal verde
das leguminosas tem baixa relação C/N e decompõe-se rapidamente, sendo recomendada
a mistura de gramíneas de ciclo curto (milheto e sorgo, entre outras) com as leguminosas,
para gerar uma matéria vegetal verde que demora mais a se decompor e cobrir o solo
por mais tempo. A utilização de coquetéis de leguminosas, gramíneas e oleaginosas é
a alternativa que mais aumenta a biodiversidade no solo, e a biomassa produzida tem
diferentes tempos de decomposição (Silva et al., 2007).
A vegetação espontânea roçada é uma alternativa válida como cobertura morta no
manejo das entrelinhas dos bananais. A fitomassa da bananeira é outra forma de cobertura
do solo, pois protege contra a erosão e reduz a evaporação da água, além de adicionar
grande quantidade de nutrient~s ao s~o (Cintra, 1988; _C intra e Borges, ~988). Esse tipo
de cobertura não favoreceu a mfestaçao da broca do nzorna da bananeira e reduziu a
incidência de plantas espontâneas (Figura 8) (Oliveira e Souza, 2003).
A cobertura vegetal do solo com leguminosas e, ou, granúneas, vegetação espontânea
fitomassa da bananeira são práticas viáveis para todos os módulos de produção,
ou• cipalmente para as pequenas propne . d a d es. Seus principais
· efeitos no solo são:
::n.ulo à atividade biológica, aumento na velocidade de infiltração da água, amenização
mperatura, redução das perdas de água por evaporação e aumento dos teores de
d a te . d , d
nutrientes, 0 que favorece o crescimento as raizes, re uz as capinas e a umenta O peso dos
utos da bananeira (Souza e Borges, 2001).
cach os e dos fr
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXVII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 889

Sem CM ■ Com CM
05/04

20/04

21/05
-t=:=====:::;::======:;::======-.-----r------,
o 5 10 15 20 25
2
N' de plantas infestantes m·
Figura 8. Plantas companheiras em bananal com e sem cobertura morta (0-.1) do solo.
Fonte: Oliveira e Souza (2003).

Mamão
Origem
O mamoeiro é originário da América Tropical, entre o noroeste da América do Sul
e o sul do México. Pertence à famí lia Caricaceae, que contém cinco gêneros; entre es es,
o gênero Cnrica, que é composto de 22 espécies, sendo a espécie Carica papaya L a mais
cultivada na zona tropical (Dantas e Castro Ne to, 2000).

Economia

A média da produção mw1dial de mamão no período 2007-2012 evidencia a Índia


como o maior produtor com 37,8 % do total, seguido do Brasi l (16,4 %), Indonésia (7,1 %),
Nigéria (6,8 %) e México (6,4 %) (FAO, 2015). A produção nacional de mamão utiliza a
variedades do grupo ' Formosa', que é um fruto maior e mais comercializado no me.reado
interno, e do grupo 'Solo', com um fruto menor e comercializado no mercado interno e
externo. O consumo ocorre em todos os recantos do país, mas a produção está concentrada
nas Regiões Nordeste e Sudeste. Os Estados com maior produção no período de 200 a
2013 foram: Bahia (48 %), Espírito Santo (31 %), Ceará (6 %), Rio Grande do 1 orte (5 %) e
Paraíba (3 %), que somam 93 % da produção nacional (fBGE, 2015).

Instalação do pomar

O pomar de mamão necessita de temperaturas entre 21 e 33 ºC. Quando maior do que


36 ºC diminui a taxa de assimilação Líquida de C e o desenvolvimento dos frutos; se menor
d o que 17 ºC, os fru tos tornam-se insípidos, e o período de seu desen olvimento tende a
aumentar (Carnpostrini e Gleen, 2007). A plu iosidade deve estar entre 1 00 e 2 000 mm
anuais, bem distribuídos e sem nenhum mês de seca extrema. A umidade rebtiva d ar
d eve ser de 60 a 85 %. A al titude mais indicada é de até 200 m (Dantas e Casb:o t eto, 2000).
Os ventos for tes provocam a queda das fo lhas, red uzindo a capacidade fotossintética e
expondo os fru tos ao sol e a possíveis queimaduras; também pro ocam c1 queda de flore

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


890
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

fruto da pla n. ta em produção (Clemente Marler, 2001). Em alguns casos, é necess árº10
P1antar árvore p erene como quebra-ventos no entorno do pomar.

10
? mamoeiro é uma planta susceptível à hipoxia - ausência de 0 2 no solo -, e o
~ trn~ ado por 2 d inata as plantas em razão do fechamento total dos estômatos.
nd
próximo da aturação, ocorre o fechamento parcial dos estômatos e pode demorar
até 9 d para o fechamento completo (Campostrini e Glenn, 2007). Quando a hipoxia
desaparece, a plantas que permanecem se recuperam de forma muito lenta e manifestam
amarelecimento nas folhas mais jovens e queda das mais velhas, o tronco torna-se fino e
alto eª produção é reduzida (Khondaker e Ozawa, 2007). Ocorre também maior incidência
da doença 'podridão-do-colo-do-mamoeiro', causada por fw1gos do gênero P'1ytophtl10ra,
que e pr~pagam em meio saturado. Em razão disso, o pomar deve ser ins talado em solos
permeá eis, com profundidade efetiva maior do que 1,0 m e o lençol freático a mais de
2,0 m da superfície. O declive adequado é de até 10 cm ni-1, pois a planta cobre o solo
lentamente e, mesmo no ápice do seu desenvolvimento, não o cobre completamente, o
~ue facilita a erosão. O plantio em nível e a cobertura vegetal do solo são recomendações
imprescindíveis (Souza e Oliveira, 2000).
A propagação do mamoeiro em plantios comerciais se dá por meio de sementes. No
caso do grupo 'Solo', as sementes podem ser oriundas do pomar do produtor e apresentam
diversidade de sexo, enquanto as do grupo 'Formosa', como o Tainung n°l (lubrido),
que são adquiridas de firmas produtoras e têm alto custo, há garantia quanto ao vigor
e praticamente 100 % são de plantas hermafroditas. O plantio pode ser em canteiros
ou embalagens individuais, o substrato deve ser analisado e corrigido quanto ao pH e
enriquecido de nutrientes. No grupo 'Solo', são postas três sementes por saco e realizado
um desbaste aos 20 d, permanecendo apenas a planta mais vigorosa. No plantio em campo,
são colocados de dois a três sacos por cova, pois ocorre diversidade de sexo com flores
masculinas, femininas e hermafroditas que produzem frutos diferentes, necessitando fazer
um.a seleção. A floração ocorre três a quatro meses após o plantio, quando é efetuado o
desbaste eliminando as plantas do 'mamão macho' -frutos sem valor comercial- deixando
as hermafroditas, cujos frutos são mais apreciados. No caso do grupo 'Formosa', é colocada
apenas uma semente por saco e apenas um saco por cova, pois há garantia que se trata de
uma planta hermafrodita.
As covas para plantio devem ser de 0,3 x 0,3 x 0,3 m ou em sulcos com profundidade
de 0,3 a 0,4 m . Também é utilizada a subsolagem, com profundidade de no mínimo 0,5 m,
corno sulco de plantio para romper a coesão nos solos dos Tabuleiros Costeiros do sul
da Bahia e norte do Espírito Santo. A densidade de plantas é determinada em razão da
variedade, do tipo de maquinário utilizado, do manejo do solo e clima. Nos espaçamentos
em fileiras simples, a distância nas entrelinhas varia de 3,0 m a 4,0 m; e nas linhas de 1,8 m
a 2,5 m, com uma densidade de plantas de 1 000 a 1 851 plantas ha·1 • Nos sistemas de
fileiras duplas, existe uma distância maior entre as linhas que varia de 3,6 m a 4,0 m , e uma
dis tância menor entre as linhas, que assim como o plantio na linha é de 1,8 a 2,5 m , o que
gera uma densidade de 1231a2058 plantas ha·1 (Oliveira e Trindade, 2000).

Morfologia e fisiologia
0 mamoeiro é uma planta tropical, com metabolismo C3, classificad a como herbácea
p erene que pode produzirdn:utos por m~s d~ c_inc~ anos,d mas que são explorados
economicamente por apenas 01s anos em razao pnnc1pa mente e problemas fitossanitários.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E M A M ÃO 89 1

O mamoeiro, e m condições de campo, sob urna d ens idad e de ílu xo da fotossíntese


(PPFD) de 1 250 µmal m·2 s·1 promove uma ta xa líquida d e máxi ma assi m ilação do C (A) de
12 µmo! m·2 s·1, mas quando a densidade de flu xo chega a 2 000 µm o l m ·1 s·1 - o que equiv le
ao meio-dia no verão tropical-, a taxa de assimi lação do C ca i para 5 µ mol m ·2 s· 1, decréscimo
que é atribuído à deficiência da cond u tância estomática (g) que fica com prometida com
essa energia rad iante incidindo na folha 0eyakumar et a i., 2007) . Isso s ignifi ca q ue, n um dié.l
enso larado nos trópicos, o mamoeiro fica acima da s ua ca pacid ad e de absorção lumjnosa
e apresenta fo toinibição. Entretanto, se houver sombrea mento e a PPFD decrescer de 2 000
para 320 µmol m·2 s·1, o A decresce rapidamente de 20 para 9 µ mol m 2 s· 1, o que ignifica
que durante o dia a presença de nuvens e sombras intermiten tes cria gra nde flutuaç ões
na PPFD e em A. O sombreamento prolongado redu z o tamanho das p lantas, a á rea foliar
e a densidade de estômatos (Campostrini e Glenn, 2007) . A tempera tura d o a r influiu no
défice de pressão de va por na folha (VPD), q uando ocorre u a umento de 20 ºC pa ra 40 '-'C;
a VPD da varied ade 'Sw1rise Solo' aumentou de 2 para 6 kPa; e A d iminu iu de 20 para
5 µmol m·2 s·1 (Campostriru e Glenn, 2007).
Na ocorrência de deficiência hídrica no solo, o mamoeiro não fecha os es tômatos ou
os fecha muito lentamente. Marler et ai. (1994) observam que o controle dos estôma tos não
tem conexão com os sinais de conteúdo de água no solo. Algumas variedades manifestam
alterações no potencial da pressão de vapor e conteúdo de água na fo lha e dimi nuem c1
taxa de máxima fluorescência da fotossíntese. No entanto, é como se não existi em o u
fossem pouco eficientes os mecanismos morfológicos ou fisiol ógicos de controle quanto à
perda de água no mamoeiro. Os pomares loca lizados no sul da Bahia e no norte do Espirita
Santo, onde chove de 1400 a 1 800 mm por ano, ainda necessitam do comple mento da
irrigação, pois no período de floração e frutificação, que vai dos nove aos 24 me es, a planta
não suporta défice de água no solo por mais de 3 d sem que comprometa a qualidade dos
frutos. O défice hídrico prolongado provoca a redução do por te da planta, o abortamento
e a clorose das folhas mais velhas.

Manejo do solo

Os pomares de mamão no Brasil estão concentrados em uma área contínua entre o


Estados da Bahia e do Espirita Santo, que respondem por mais de 75 % da produção.
localização é próxim a ao litoral, na sucessão da Baixada Litorânea em direção ao interior, na
unidade geomorfológica Tabuleiros Costeiros, onde predominam solos das classes Lato c io
Amarelo e Argissolo Amarelo, que apresentam ho1izontes coesos subsuperficíais, geralmente
ácidos, onde o pH diminui e a acidez trocácel aumenta em profundidade no perfil CTacomine
et ai., 1977; Santos et ai., 2013). Nessas áreas, a mecanização intensiva utilizada no pomar de
mamão inclui de oito a 10 entradas de máquinas no preparo do solo, inclusi e a sub olagem
de forma incorreta, pois deveria ser, mas não tem sido, a última prática mecânica da série
aplicada. O plantio em carnall1ões, raspando e amontoando o solo s uperficial, egwdo de
pulverizações semanais do 4° ao 24º mês e colheitas também semanais do 9'> ao 2-!º mês,
somam 164 entradas de máquina no pomar em 24 meses, o q ue reduz os macroporo e
aumenta a densidade do solo nos horizontes Ap e B~ (Souza et al., 2006).
A compac tação superficial e a coesão subsu perficia l linutam ocre cimento d as raízes,
diminuindo o volume de solo a ser explorado pelas plantas e, por consequência, res ui ngem
o acesso à água e aos nutrientes abaixo da camada lirrutante, agravando as deficiências
h ídricas nos períodos de estiagem (Souza et al., 2016) . Essas restrições são c1tenuadas com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


----...-- ......... '

892
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

prática como calagem, ges agem subsolagem fertirrigação e cobertura vegetal (Carvalho
C ai ., .2004·' c ruz et al., 2014). O plantio
et ' '
de leguminosas .
nos solos coesos dos Tabuleiros
0st
_ eiro , em rotação de culturas ou ern consórcio deve ser adotado nos sistemas agrícolas
st
ai e abeleci.do , pois a capacidade de as raízes de~sas plantas peneh·ar nas camadas coesas
atenua a res1·s tenc1a
~ · a, penetração para outros cultives (Souza et ai., 2013). No entanto, em
solos onde a coesão está em profundidade maior do que a capacidade da subsolagem
(O,S m), 0 sistema de raízes do mamoeiro pode não responder à subsolagem nem às
coberturas vegetais, mantendo 90 % das raízes até 0,50 m do caule e 80 % na profundidade
de 0-0,4 m (lnforzato e Carvalho, 1967; Costa e Costa, 2003; Souza et al., 2006).
_A compactação é uma deformação na estrutura do solo que altera a disponibilidade de
nu trientes ~a rizosfera, pois interfere na movimentação da água no solo e, consequentemente,
~os m~arusmos de fluxo de massa e difusão que transportam os nutrientes até as raízes,
mter~enndo no crescimento da planta (Alvarenga et al., 1995). O aumento da resistência do
solo a penetração dim.inuiu o volume das raízes no solo de quatro variedades de mamão,
a taxa fotossintética líquida, a condutância estomática e a concentração interna de CO no
mesofilo foliar e aumentou a temperatura foliar de todas as variedades (Campostr~ e
Yamarushi, 2001).
A exigência nutricional do mamoeiro é alta, pois a planta cresce rapidamente até o
nono mês, quando começa a realizar a floração, seguido do crescimento e da maturação
dos frutos, mantendo os três processos de forma simultânea, o que aumenta muito a
necessidade de suprimento de água e de nutrientes. A calagem é calculada pelo método
da saturação por bases, que deve ser 70 % da CTC, e realizada com antecedência de dois
a três meses antes do plantio. Recomenda-se substituir de 20 % a 30 % do calcário por
gesso (CaS04, 28i0) para aumentar a saturação por bases em profundidade e diminuir o
efeito do A}3 + no perfil do solo. O teor de Mg2• deve ser maior do que 0,9 cmolc dm-3; caso
seja menor, utilizar o calcário dolorrútico (25-35 % de CaO e MgO > 12 %). O teor mínimo
de Ca2• no solo deve ser de 2,0 cmolcdm·3, o pH deve estar entre 5,5 e 6,5 e o AP+ deve ser
menor do que 0,4 cmol, dm·3 (Oliveira et al., 2010).
Quanto à aplicação de macronutrientes, considerando os teores no solo para o P entre
10-30 mg dm·3 e para o K entre 0-0,15 cmolc dm·3, as quantidades aplicadas durante o ciclo
da cultura de 24 meses seriam: N de 500 a 680 kg ha·1, P20 5 de 190 a 250 kg ha·1 e ~O de
360 a 490 kg ha·1, sendo o P parcelado de quatro a seis vezes e o N e o K entre 12 e 14 vezes
(Oliveira e Coelho, 2009; Oliveira et al., 2010). ?liveira e ~aldas (2004) cit~ Cunha e Haag
(1980), os quais aferiram a marcha de absorçao de nutrientes do mamoeiro, observando
que, além de O consumo de adubos ser muito elevado, a porcentagem do que se concentra
nos frutos e é exportada também é muito alta, quase igual ao que retorna ao solo para N , P
e K na forma de biomassa residual, chegando a ser maior para o Ca e o Mg (Figura 9), fato
incomum para a maioria das fruteiras.
A elevada quantidade de adubos aplicada ao solo no pomar de mamão pode provocar
• t rações indesejadas, como a baixa mobilidade do P e o seu acúmulo em alguns locais,
~:uzindo a deficiências de Fe e Zn. Os adubos utilizados como fonte de N geralmente
"2 acidificantes, e o monitoramento do pH do solo, principalmente no segundo ano,
sao do ocorre máximo da colhe1ta, · po d e m
. d.1car a necess1'd a d e d e correção com calcário.
O
Áua;' tes orgânicas podem substituir parcialmente as fontes sintéticas d e N e melhoran1
s_bo~
atr1 UL-0
s físicos, químicos e biológicos
,
do solo.
. _
Se o adubo for um esterco, deve haver
uma verificação em vaso quanto a contammaçao por sementes d e plantas indesejadas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 893

O K, se aplicado em excesso, pode provocar deficiência de Ca, Mg e B. s defi~i ncia


de micronutrientes são de ocorrência constante e exigem co rreç - s com adubaço 5 pré-
plantio ou pulverizações foliares pós-planti o (A RC, 2009). 5 gund o P çanha et ai. (2009),
as maiores concentrações de nutrientes em solução con tribuíra m para reduzir os valores d
assimilação fotossintética do C pelo mamoeiro, o que é um alerta q uanto à baix~ ~olerància
da planta ao estresse nutricional promovido por excesso de fe rtilizante e à sali rudade.

,...._ 140
o
u 120

-: 100
<'il
..e
eD 80
:::,
IJJ
~
60
e
.E 40
(lJ

::l
z 20
o
N p K Ca s
O Frutos O Biomassa residual
Figura 9. Nutrientes exportados (frutos) e fi tomassa deixada no olo (caules e folhas) no ciclo de
produção do mamão.
Fonte: Cunha e Haag (1980).

Cobertura do solo

As constantes entradas de máquinas nas entrelinhas do pomar- dua veze por emana
- uma para pulverizar e outra para colher, compacta m o solo e dificultam a emergência
da vegetação e também das culturas em consórcio. Para controlar a vegetação e pontànea,
o uso de roçadeiras é o mais adequado; a grade não é aconselhável, pois grande parte
das raízes do mamoeiro é superficial, havendo risco de corte dessas. O uso de herbicida
deve ser em pós-emergência e na linha de plantio, com o cuidado de não atingir as folha
do mamoeiro ou partes verdes do caule. Uma alternativa ao uso da roçadeira é o manejo
de leguminosas nas entrelinhas da cultura para o controle de plantas espontànea , o que
melhora atributos físicos do solo e aumenta a produti idade (Carvalho et a1., 200-l; ouza
et a i., 2015).
Avaliando os efeitos de diferentes coberturas vegetais em mamão, incluindo o manejo
d a vegetação espontânea e as entrelinhas mantidas limpas d urante todo o ciclo da cultura.
Cruz et a i. (2014) observam que, em relação à estrutura do olo, toda as legumino a
s uperaram a tes temunha, mas, em relação à produtividade do mamão, a melhor cobertura
foi a crotalária juncea (Figura 10).
O manejo do solo em um pomar de mamão envolvendo a subsolagem, na linha de
plantio, e o plantio de leguminosas (amendoim-fo rrageiro - Aracliis pin tai - e fe ijão-de-
p orco, Canavalia e11sifonnis), nas entrelinhas da fileiras duplas, apre~entou O ·i-tema
radicular mais profundo e com as maiores densidades de raiz, no trata ment envol\'endo
a s ubsolagem na linha associada, com amendoim-forrageiro, ou na entrelinhas, com
feijão-de-porco. A maior concentração de raízes ocorreu nc1 profun :tidade Je 0-0,_ m

M A NEJO E C ONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
894
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL .

en; todos o tratam.entos; parcelas com leguminosas apresentaram maior densidade de


raize que a demai até a profundidade de 0,2-0,4 m. Ocorreu maior concentração das
raí_zes na ?º ições mais próximas à planta, na linha e entrelinha simples, mas com uma
baixa d~ns1dade d e raízes a partir de 2,0 m da planta em direção às entrelinhas duplas.
Predonunaram raízes de maior diâmetro (>2,0 mm), em comparação com <0,5, 0,5-1,0 e
1,0-2,0 mm (Sou za et al., 2014).

(a) 3,0

2,5 a a
r--
a ~

a
a a
~

- - ~

-ab
b
-
-
0,5

0,0 .
o
·e
o
00
-~ ~
.!:! ~
1::1 ::s
e·~
-...
cri'
o
00
::1
-o
e;
~
[
o
(/'J
+
fi:
O
'G.
s~e;
lll
QI

~i
<I)
11:1
<I)
lll

o
g. e ~ t., ~
QI
00 o
e.. .5e.. ~e:;
u 8. >
QI

a
ã
<I)

'
QI
QI QI

"9
o
(b)
30 ·-
111:1
"ãj
i:.i..
a
-;lll 25 a
--
~
lll
"S.. b
00
..i,:
20
b
r/l
....o
15

QI
"'O
o
ltU 10
V
::1
"'O

J: 5

o Ul
o ~ 1/l 1/l

Kj
<I)
tO lll lll lll -~ ~
;~
.5 b &'or::
&.
]i
'(lJ..o
~
e
§
.... ......
u
i~ >
QI
gj ~ 8

Fi ra 10. Influência de coberturas vegetais no diâmetro médio ponderado de agregados (DMP)


gu no solo (a) e na produtividade (b) do mamão 'Sunrise Solo'. Médias com letras iguais em cada
gráfico não diferem entre si pelo teste de Tukey (p~0,05).
fonte: Cruz et ai. (201 4)-

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 895

Como já exposto, os pomares de mamão estão cm zonas que chove m mais de 1 400
mm por ano; mas, como a planta não s uporta défice de água no solo por mais de 3 d, sem
que comprometa a qualidade dos frutos, há necessidade de um s istema de irrigação para
suprir essas ocorrências. Os sistemas mais utilizados nesses po mares ão gotejamento e
microaspersão, que funcionam para períodos de veranicos, pois não há água disponível
para irrigação em grande escaJa e de forma contínua nos Tabuleiros Costeiros, exceto
algumas propriedades com acesso a pequenos ri os ou barragens. Esses si te mas, geralmente
em fertirrigação, depositam água e nutrientes próxi mo à s uperfície, o que promove o
direcionamento e a concentração das raízes para próximo dos emissores e da s uperfície do
solo (Coelho et ai., 2005; Souza et ai., 2016).
Vale ressaltar que o preparo do solo no pomar de mamão deve ser realizado com
escarificadores, ao invés de arado e grade, para diminuir o revolvimento do solo e
manter a cobertura vegetal. A drenagem, nos solos dos Tabuleiros Co teiros, é função da
profundidade da camada coesa e da granulometria do perfil, devendo ser viabil izada com
a subsolagem profunda na linha de plantio e leguminosas e gramineas nas e ntrel inhas, ao
invés do plantio em camalhão (Souza et al., 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

- A predominância da acidez e da baixél CTC dos solos tropicais provoca perdas de


nutrientes por problemas de insolubilidade (P) ou de alta solubilidade e lixiviação (1 e K).
As perdas agrícolas de adubos, em 50 % dos casos, ocorrem em solos que foram deixados
sem cobertura vegetal no período de chuvas, assim como, em outros 33 %, são por causa
das práticas conservacionistas utilizadas de forma incorreta (Balastreire e Coelho, 2000).
- A cobertura vegetal do solo, que é a prática conservacionista mais eficiente e de
menor custo para a grande maioria dos sistemas de produção, depende da disponibilidade
de nutrientes no solo para que ocorra um desenvolvimento mais rápido das plantas e o eu
estabelecimento de forma estável. A manutenção do teor adequado de nutrientes no solo e
disponível às plantas é uma prática que sempre deve ser considerada.
- Os cultivas tropicais abacaxi, banana e mamão são grandes consumidores de adubo
nitrogenados. Entre as três fruteiras, as maiores quantidades aplicadas são para o mamão
para a produção máxima e a minima, seguido da banana para a produção máxima e mínima
(Figura 11). O abacaxi, no período do seu ciclo de produção, consome grande quantidade
de N, sendo menor apenas do que o mamão na produção má'<ima; entretanto, o consumo
total foi menor em relação às demais culturas, por causa do seu ciclo mais curto.
- O excedente de P e K aplicados ao solo pode ser acumulado de forma disponível,
mas também de forma insolúvel, no caso do P, ou ainda em formas instá ei de
grande solubilidade, no caso do K. Solos enriquecidos com reservas de p e K podem,
eventualmente, produzir mais do que aqueles sem essas reservas, o que demonstra que O p
e o K acumulados nos solos, em parte, não estão perdidos. Enh·etanto, não se de e in\'estir
nesse tipo de acúmulo, pois acima de determinado nível há prejuízos para a ati idade
agrícola e os riscos ambientais nas perdas por erosão elixi iação (Johnston, 1973).
- As quantidades de P aplicadas ao solo, em relação às de N e K, evidenciam que p
é o macro nutriente utilizado em menor quantidade nas três fruteiras. O consumo é maior

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
896
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

para
. a cultura do mamao,
- segmdo
· da banana e do abacaxi CUJO
· consumo é mUI
·to b ruxo
·
(F1gura 12). '

700
6
600 6
6
500 6 6 D
~
6 6 D
~ 400
• •
6 6 0
6

-z
Jf 300 6 06
6 O 6
6
~
o


200

100 ~
ê~b,.· ■

t f! f!~n
o
o 100 200 300 400 500 600 700
Tempo (dias)
OAbcx ■ Banl □ Ban2 6Mam1 6Mam2

Figura 11. Quantidade de nitrogênio aplicada em um ciclo de produção das culturas do abacaxi,
banana e mamão para a produção núnima (1) e a máxima (2).
Fonte: Dados obtidos por Sobral (2007), Borges et al. (2009), Souza (2009), Oliveira e Coelho (2009) e Oliveira et al. (2010).

250 -

200 -
~
(:l
.!: 150 -

~,
1:::,.D
-
~
bO
6. ■

~=
100 -
l::,.
50-j 6
~

o 1 1 1 1 1

o 100 200 300 400 500 600 700


Tempo (dias)

OAbcx ■ Banl □ Ban2 t::,.Maml 6Mam2

Figura 12. Quantidade de ~Ps~p~cada em um c_iclo de produção das culturas do abacaxi, banana,
mamão para a produçao muuma (1) e a máxima (2).
Fonte: Dados obtidos por Sobral (2007), Borges et ai. (2009), Souza (2009), Oliveira e Coelho (2009) e Oliveira et ai. (2010).

_ A quantidade de ~O aplicada ao solo é muito alta para as três culturas, pois se


maiores aplicações d e P20 5 chegaram a 250 kg ha·1 e as de N a 680 kg ha·1 - ambas no
ª~ de produção de 24 meses do mamão-, quando
ac1o ·l
se trata do ~O atingiram-se os 1 200
k ha•l para O pomar de banana no mesmo c1c o para a produção rnáxin1a (Figura 13).
Rg aJta-se que O K é o elemento mais escasso na produção nacional de fertilizantes e O de
e~s olume importado (90 %). Isso deixa a cultura da banana em posição vulnerável em
maior v .
- 0 aspecto nutricional e requer a busca de fontes alternativas ao K industrial
rea~oa
1 ·
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 897

1200 o
o
1000
o
-----
ce 800
..e o ■ L::,. ■
L::,.
co 600 o 6
e t::,.
tl.
!::,.
o t::,. t::,.
'::l.' 400 t:. t::,.
t::,.
t:. 11
ê~~
t::,.
200

o
~ !
o 100 200 300 400 500 600 700
Tempo ( dias )
OAbcx Ban 1 DBan2 b..Maml 6.Mam2

Fig ura 13. Quantidade de Kp aplicada em um ciclo de produção das culturas do abacaxi, banana e
mamão para a produção mínima (1) e a máxima (2).
Fo nte: Dados obtidos por Sobral (2007), Borges et ai. (2009), Souza (2009), Oliveira e Coelho (2009) e Oliveira et ai (201 0).

- O abacaxi é a cul tura que consome a menor quantidade de adubos, mas é o que
menos devolve ao solo em razão da remoção ou queima cotidiana da sua biomassa cultural
residual. A bananeira retorna ao solo grande parte dos nutrientes que retira quando
in corpora folhas, hastes e rizomas, mas deixa uma lacuna no que se refere a sua grande
necessidade de adubação com K. O mamoeiro é o que exporta do solo a maior quantidade
de n u trientes e o que devolve proporciona lmente a menor quantidade, sendo também o
maior consumidor de N e P em números absolutos.
- A prospecção, beneficiamento e industrialização dos adubos são processos com
grande demanda de energia, sendo as perspectivas de aumento de preço para esses
insumos algo irreversível e premente, o que obrigará a extrema racionalidade do seu uso.
As alternativas devem contemplar, no caso do abacaxi, a manutenção e incorporação da
biomassa cultural residual ao solo, o que atenderia a grande parte da demanda nutricional
da cultura. Para a cul tura da banana, o foco deve ser a substituição e, ou, a diminuição do
consumo de K industrializado, mas mantendo a produção. Já para o mamoeiro, é necessário
estabelecer doses menores de aplicação dos macronutrientes N, P e K e utilizar práticas de
consórcio com p lantas que aumentem o nível de devolução de nutrientes ao solo. Segundo
ANDA (2014), deve-se utilizar calcário e gesso e manter o pH e a saturação por bases
adequada para a cultura, aumentar o teor de matéria orgânica no solo, usar fertilizantes de
liberação lenta, inibidores da nitrificação e uréase, melhoradores da absorção de nutrientes,
bio-fertilizantes, inoculantes microbianos, fertirrigação, fórmulas e fertilizantes específico
por local.
- Quan to à capacidade de absorver água, assim como em relação ao equilíbrio entre
os estômatos e a demanda de água da atmosfera, a planta melhor adaptada entre as tres
fruteiras é o abacaxizeiro, pois, apesar do pequeno sistema de raízes, tem meios para obter,
armazenar e liberar água utilizando mecanismos mais eficientes para a captação de CO,. A
bananeira retém grande quantidade de água nos seus tecidos, mantém o rizo ma enterrado,
onde é submetido a menor demanda de água do que na atmosfera, e ainda possui

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E D A Á G UA


898
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

mecanisn1os~ es p ec1' fi co nas folhas, controlando os estômatos para ev ·ita r perd as para a
a t1110 fera o - .
· mamoeiro, ne e aspecto, é a mais frágil dessas culturas, pois apresenta um
~equeno e uperficial volume de raízes, não tem mecanismos de retenção o u armazenagem
e água, ma necessita de grande volume de água disponível durante todo o c iclo.
- C?manejo do solo no sistema de produção do abacaxi não utiliza consórcios e
contrana todas as premi sas de conservação do solo, pois utili za um regime de capinas
~ue mantém o solo descoberto durante os oito primeiros meses exposto à radiação e ao
impacto das chuvas, provocando a sua degradação. A bananeira cobre bem o solo com
a su a própria biomassa, mas só permite consórcio até os 12 ou 14 meses, pois a partir daí
ocorrem res trições por causa do sombreamento e das brotações, que fazem desaparecer
0
espaçamento original e dificultam algumas práticas culturais mecanizadas. Quanto ao
pomar ~e mamão, que muito necessita de cobertura vegetal, as práticas mecanizadas
semanais de pulverizações (do 4º ao 24º mês) e de colheitas (do 9° ao 24° m ês) compactam
as entr~linhas do pomar e dificultam, mas não impedem, o desenvolvimento de coberturas
vegetais. A rotação de culturas com adubos verdes é uma recomendação fundamental
antecedendo o plantio do abacaxi, antes da instalação e depois da remoção do pomar de
banana e do mamão.
- Os atuais sistemas de produção dessas três fruteiras utilizam pouca ou nenhuma
prática conservacionista dos recursos solo e água; até mesmo os adubos verdes e, ou, a
cobertura vegetal do solo são pouco utilizados. Práticas como o plantio em nível, cordões
de contorno vegetados ou terraços são escassas na paisagem da área plantada com os três
pomares, considerando o território nacional.
- Os pomares de mamão, em razão do seu alto índice de mecanização, geralmente
estão localizados em áreas planas ou suavemente onduladas com declive menor do que
8 cm m ·1 . No entanto, as suas linhas de plantio formam rampas relativamente longas com
o solo mantido descoberto, compactado e com baixa taxa de infiltração da água, o que
acentua os efeitos dos processos erosivos. Os pomares de banana têm grande parte de
sua produção oriunda de áreas planas, mas também de áreas íngremes de encostas, que
não permitem a mecanização. Entretanto, o fato de a bananeira ter grande capacidade de
autossombreamento e gerar uma fitomassa capaz de cobrir o solo de forma relativamente
rápida e, ainda, o grande número de rebrotas que faz com que o espaçamento e o
alinhamento inicial do plantio, contra ou a favor do declive, seja perdido após um ano ou
dois, atenua parcialmente os efeitos da erosão. Os pomares de abacaxi, de maneira geral,
predominam em áreas de meno~ declive, ~as também estão em áre~s íngremes onde são
cultivados com práticas manuais. As capmas para manter o solo hmpo e a forma lenta
de cobrir o solo do abacaxizeiro acentuam os efeitos da erosão em qualquer declive. A
remoção ou queima da biomassa cultural residual após a colheita, nas áreas íngremes,
potencializa ainda mais os processos erosivos.
_ Quanto à capacidade de absorver água, assim como em relação ao equilíbrio entre os
estómatos e a d emanda de água da atmosfera, a planta melhor ad ap tad a é o abacaxizeiro,
pois a p esar do pequeno sist_ema_ ~e raízes, tem meios ~ara obter, armazenar e liberar água
tilizando mecanismos mais eficientes para a captaçao de COi- A bananeira retém uma
~ande quantidade de ~gua nos ~eus tecido:', mantém_o rizoma en~~rrado onde é submetido
à m e nor demanda d e agua, e amda mantem ~ ecarusmos especificas nos estômatos para
•t as p erdas para a atmosfera. O mamoeiro, nesse aspecto, é a m a is frágil dessas
ev1 ar fi · d
culturas, pois apresenta um pequeno e super eia 1vo1ume e raízes, não tem 111ecanismos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 899

de retenção ou armazenagem de água, mas necesc;ita de gra nde volume d água di ponível
durante todo o ciclo.
- O solo, antes da sua formação, quando ainda é uma rocha ou cascalho, já está sendo
coberto por liquens, algas e fungos. A evolução milenar da fo rmação de um solo s rá
acompanhada por um sistema vegetal, também sob evolução, na sua superfície. Quando
desenvolvido e definido em profundidade, o solo es tará coberto por plantas extrema.mente
adaptadas àquela condição edafoclimática, que será a cobertura com a maior capacidade
de propiciar o seu melhor estado de preservação.
- A remoção da vegetação nativa e a ins talação de culti vas agrícolas uma atividade
milenar e ininterrupta, que busca atender à demanda por a limentos, fibras e energia da
população humana; um fenômeno antropogênico que vem aumentando seu potencial de
impacto, mediante a disponibilidade de ferramentas e tecnologias que estão influenciando
a qualidade e quantidade do carbono orgânico do solo (COS) e do nitrogênio to tal T).
Murty et ai. (2002) já alertavam que a conversão de florestas por á reas agrícolas havia
decrescido em 24 % o COS e em 15 % o NT, considerando uma média global.
- A destruição da vegetação nativa também ameaça à biodivers idade do planeta . Um
inventário global realizado por Mugnozza (1996) estimava q u e existiam 3 000 frutei rza
tropicais, 10 000 gramíneas e 18 000 leguminosas, entre o utras espécies. A agricultura
atual produz e utiliza em quantidade e em escala global, basicamente apenas quatro
fruteiras tropicais: abacaxi, banana, mamão e manga; sete gramíneas: trigo, arroz, milho,
cevada, sorgo, centeio e aveia; e seis leguminosas: feijão, soja, ervilha, am endoim, alfafa
e trevo. A estimativa, em 1996, era que cerca de 200 000 espécies de plantas ainda não
haviam sido identificadas. Pode-se afirmar que desse período para os dia atuais muitas já
desapareceram e não serão mais conhecidas.
- A variabilidade genética, que ainda se encontra nos remanescentes de vegetação
nativa - valor absoluto e imprescindível para o futuro do manejo agrícola do planeta - que
está localizado nas florestas tropicais, representa as alternativas de cruzamentos para o
melhoramento de plantas ou mesmo para a substituição de espécies quando dominadas
por pragas e doenças. Os sistemas de produção agrícola devem incorporar a preservação
do solo e a manutenção de reservas de vegetação como uma necessidade vital para manter
esses ciclos funcionando.
- Nos solos tropicais, onde predominam as argilas de baixa CTC, a adição de matéria
orgânica para manter ou aumentar o COS é fundamental para a s ua melhoria estrutural,
biológica e química. As fontes de matéria orgânica podem er adubos verdes, biorna sa
residual dos cultivas e, se houver disponibilidade, os resíduos orgânicos industriai ,
estercos e biocarvão, entre outros. Retirar o carbono da atmosfera e incorporar ao solo
é uma prática que precisa ser reaprendida nos sistemas atuai de produção agrícola. Os
demonstrativos dos retornos em termos de qualidade da produção, manutenção dos
recursos naturais e estabilidade da produção ao longo do tempo são inúmeros.
-As fontes minerais de nutrientes industrializados devem ser ubstituídas parcialmente
por a lternativas como a fixação biológica de N, as rochas fosfatadas e potássicas moídas,
as compostagens e as misturas organo-minerais para aumentar a eficiência da aplicaçã ,
diminuir os custos da produção e preservar os recursos naturais olo e água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


----
900
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL .

LITERATURA CITADA

Albuquerque JA, Ba) er C, Emani PR, Fontana EC. Propriedades físicas e eletroquímicas de um
La tos olo Bruno afetadas pela calagem. Rev Bras Cienc Solo. 2000;24:295-300.
AJcarde JC. Corretivos da acidez dos solos: características e interpretações técnicas. São Paulo:
A IDA; 2005. (Boletim técnico, 6)
Alleoni LRF, Camargo AO, CasagrandeJC, Soares MR Química dos solos altamente intemperizados.
ln: '."1ello VF, Alleoni LRF. Química e mineralogia do solo. Parte II-Aplicações. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2009. p.381-447.
Alvarenga RC, Costa LM, Moura Filho JC. Crescimento e absorção de nutrientes por leguminosas
e~, r~posta à compactação do solo. ln: Resumos expandidos da 25°. Congresso Brasileiro de
Ciência do Solo; 1995; Viçosa, MG. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1995.
p.1951-2.

Alves EJ,_Lima MB, Santos-Serejo JA, Trindade AV. Propagação. ln: Borges AL, Souza LS, editores. O
cultivo da bananeira. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura; 2004. p.59-87.
Associação Nacional para Difusão de Adubos - ANDA. Principais indicadores do setor de
fertilizantes. 2014. Acessado em 7 abril 2015. Disponível em: http:/ /www.anda.org.br/ home.
aspx.
Ayoade JO. Introdução à climatologia para os trópicos, 10>- ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004.
Balastreire LA, Coelho JLD. Aplicação mecanizada de fertilizantes e corretivos. 2ª ed. São Paulo:
ANDA; 2000. (Boletim técnico, 7)
Belalcázar CS, Rosales FE, Pocasangre LE. Developrnent and formation of plantain roots (Musa
AAB Simmonds) ln: Turner DW, Rosales FE, editors. Banana root system: towards a better
understanding for its productive rnanagement. San José, Costa Rica: 2003. p.13-22.
Borges AL, Raij B.van, Magalhães AFJ, Bemardi ACC. Nutrição e adubação da bananeira irrigada.
Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura; 2002. (Circular técnica, 48).
Borges AL, Souza LS. Calagem e adubação para a bananeira. Borges AL, Souza LS, editors.
Recomendação de calagem e adubação para abacaxi, acerola, banana, laranja, tangerina, lima
ácida, mamão mandioca, manga e maracujá. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical; 2009. p.57-73.
Borges AL, Souza LS. Coberturas vegeta.is para bananeira "Terra" em solo de TabuJeiro Costeiro.
Cruz das Almas: CNPMF/Ernbrapa; 2010. (Comunicado técnico, 138)
Borges AL, Souza LS. Exigéncias edafoclimáticas. ln: Borges AL, Souza LS, editores. O cultivo da
bananeira. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura; 2004. p.15-23.
Borges AL. Influência da cobertura morta nas características q~cas d? solo e produção da
bananeira. Cruz das Almas: Embrapa-CNPMF; 1991. (Comurucado técruco, 19).
Brazilian Fruit - Programa de Promoção das Exportações das Frutas Brasileiras e Derivados.
Acessado em: ago de 2014. Disponível em:www.brazilianfruit.org.br.
Camargo AO, Castro OM, Vieira SR, Quaggio, JA. Alteração de atributos químicos do horizonte
superficial de um Latossolo e um podzólico com a calagem. Sei Agric 1997;1-2.
Campostrini E, Glenn OM. Ecophysiology of papaya: a review. Braz J Plant Physiol. 2007;19:413-24.
Campostrini E, Yamanishí OK. l~_uence of m~ch~nicaJ root restriction on gas-exchange of four
papaya genotypes Rev Bras F1s10l Veg. 2001,13.129-39.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 90l

Ca rvalho JEB, Lopes LC, Araújo AMA, Souza r , Ca ld as RC, Daltro Junior CA, Carvalho LL ? I~ eira
AAR, Santos RC. Leguminosas e seus efei tos sobre propri d ad s fisicas do oln e produhvida de
do mamoeiro 'Tainung 1'. Rev Bra,; Frutic. 2004;26:335-8.
Cintra FlD, Borges AL. Utilization d'u ne légumineuse et d'une converturc morte dano; lês sy t mes
de production bananiers. Fruits. 1988;43:211-7.
Cintra FLD. Manejo e conservação do solo e m bananais. Rev Bras Frutic. 19 8;10·65-73.
Clemente HS, larler TE. Trade winds reduce growth and ínfluence ga exchange pattems tn papa ya
seedlings. Ann Bot. 2001 ;88:379-85.
Coelho EF, Santos MR, Coelho Filho MA. Dis tribuição de raízes de mamo iro sob diferentes si te ma
de irrigação localizada em Latossolo de tabuleiros costeiros. Rev Bra Frutic. 2005;27:175 -
Costa AFS, Costa AN. Distribuição d o istema radicular do mamoeiro em solo de Tabu leiro5
Costeiros - Papaya Brasi l. Vitória: Incaper, 2003.
Cruz JL, Souza LS, Souza 1 CS, Pelacani CR. Effect of cover crops on the aggregatio n of cl so il
cultiva ted with papaya (Carica papaya L.). Sei Hortic. 2014;172: 2-5
Cunha RJP, Haag HP. Nutrição mineral do mamoeiro (Carica papaya L.). V. Marcha de absorção <l
nutrientes em condições de campo. An Esalq. 1980;37:631-68.
Dantas JLL, Castro Neto MT. Aspectos botânicos e fisiológicos. ln: Trindade A V, o rganizador.
Mamão - produção: aspectos técnicos. Brasília: Embrapa Comunicação para Transfere ncia de
Tecnologia; 2000. p.11-14. (Frutas do Brasil, 3)
Dantas JlL, Soares Filho WS. Classificação botânica, origem e evolução. ln: Co rdeiro, Z.J ..\.I. (Org.).
Banana, Produção: aspectos técnicos. Bras ília: Embrapa Comunicação para Transferencia de
Tecnologia; 2000. p.12-16.
Delvaux B, Rufuikiri G, Duiey J. Ion absorption and proton extrusion by banana roots. ln: Turner
DW, Rosales FE, ed itors. Banana root system: towards a better understandin fo r its productiYe
management. Montpellier: I IBAP; 2005. p .114-21.
Delvaux BS, Gowen S. editor. Bananas and plantains. London: Chapman e HaU; 1995. p.230-5 .
Departamento Nacional de Produçào Mineral - D PM. Sumário Mineral 2009. Brasília: Ministerio
de Minas e Energia - Diretoria de Planeja mento e De envolvimento da Ylineração; 2010. v.29
Eeckenbrugge GCd', Leal F. Morphology, anatomy and taxonomy. ln: Bartholome" DP, Pauli RE,
Rohrbach KG. The pineapple: botany, production, and uses. e, York: CAB Intemational;
2003. p13-32.
Espindola JAA, Guerra JGM, Perin A, Teixeira MG, Almeida DL, Urquiaga , Bu quet R. B.
Bananeiras consorciadas com leguminosas herbáceas perenes utilizada como cobertur vivas.
Pesq Agropec Bras. 2006;41:415-20.
Espindola JAA, Oliveira SJCR, Carvalho GJA, Souza CLM, Perin A, Guer ra JG. f, Tei: eira \IG.
Potencial alelopático e controle de plantas invasoras por leguminosa herbáceas perenes
consorciadas com bananeira. Seropédica: Embrapa Agrobiologia; '2000. (Comunicado técnico,
47) .
Fageria K, Stone LF. Physical, chemical, and biological changes in th e rhizosphere and nutrient
availabili ty. J Plant Nutr. 2006;29:1327-56.
FAO: Food and Agriculture Organization of the Uniled l ations. Oi ponível em: http:// fa tat.fa .
org/ site/ 567/ DesktopDefault.aspx?PagelD=567#ancor. - junho _015.
Ferrei ra MM, Fernandes B, Curi N. Influê ncia da mineralogia da fração <1rgil.l nas propriedades
físicas de la tossolos da região Sudeste do Bra il. Rev Bras Cienc lo. L 9 ;23:515-2-t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


902
lAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL.

Ferreira MM · - f L 1ca
. . · Cara c tenzaçao · do olo. Jn: Jong van Lier Q. Física
· d o so Jo. v·1çosa, MG : Soc1e
· d ad e
Bras1letra de Ciência do olo; 2010. p.1-28.
Gaugg:l CA,_ Sierra F, Arévalo G. The problem of banana root deterioration and its impact on
pioduchon: Latin America's experience. Jn: David W, Turner DW, RosaJes FE, editors Banana
r~ot sy tem: towards a better understanding for its productive management. San José, Costa
Rica: 2003. p.13-22.

Haugen HM. Enhanced food production by applying a human rights approach - does brazil serve
as ª model of best practice? ln: Anna Aladjadjiyan A, editor. Food production - approaches,
challenges and tasks. Rijeka: Published by InTech; 2011 . p.103-26.
Hoffmann RB, ?liveira FHT, Souza AP, Gheyi HR, Souza Júnior RF. Acúmulo de matéria seca e de
macronubientes em cultivares de bananeira irrigada. Rev Bras Frutic 2010;32:268-75.
Hong Li~ Y. Effects of aluminum on root growth and absorption of nutrients by two pineapple
cultivars [Ananas comosus(L.) Merr.] Afr J Biotechnol. 2010;9:4034-41 .
Hortifruti Brasil. [acessado em: out de 2014] .Disponivel: http:/ /\.\'\W.r.cepea.esaJq.usp.br/hfbrasil/
edicoes/ 138/mamao.pdf.
lnforzato R, Carvalho AM. Estudo do sistema radicular do mamoeiro (Carica papaya L.) em solo
podzolizado variação mariJia. Bragantia. 1967;26:155-9.
lnforzato R, Giacomelli EJ, Rochelle LA. Sistema radicular do abacaxizeiro aos 4, 8 e 12 meses, plantado
no início da estação seca, em solo Latossolo Vermelho Escuro - Orto. Bragantia. 1968;27:135-41.
lnstitute for Tropical and Subtropical Crops - ARC. CuJtivating papayas. Department of
Agriculture, Forestry and Fisheries. South Africa, 2009. [accessed on: 11 mar 2012]
Available: www.nda.agric.za/ publications
lnstituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. [acessado em: mar. 2015. Disponível em: http:/ /
v,.n,,.rw .sidra.ibge.gov .br / bda/ acervo/ acervo2.asp ?ti=1&tf=99999&e=v&p= P A&z=t&o=l 1.

Jacomine PKT, Cavalcanti AC, Silva FBRE, Montenegro JO, Formiga RA, Burgos N, Melo Filho HF.
Levantamento ex-ploratório - reconhecimento de solos da margem direita do Rio São Francisco,
Estado da Bahia. Recife: Embrapa - SNLCS; 1977. v.1. (Boletim técnico, 52)
Jeyakumar P, Kavino M, Kumar N. Physiological performance of papaya cultivars under abiotic
stress conditions. Acta Hortic. 2007;740:209-14.
Johns GG. Effect of Arachis pintai groundcover on performance of bananas in northern New South
Wales. Austr J Exper Agric. 1994;34:1197-204.
Johnston AE. The effects of ley and arable cropping systems on the amounts of soiJ organíc matter in
the Rothamsted and Woburn ley-arable experirnents. Rothamsted Experimental Station, Report
for 1972. Harpenden: 1973. pt 2. p .131-59.
Kampf N, Curi N, Marques JJ._ ~tempe~isrno e _ocorréncia de minerais ~o ambi~nte d? solo. ln:
Mello VF, Alleoni LRF. Quuruca e mineralogia do solo. Parte I - Conceitos Básicos. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2009. p.333-80.
Khondaker NA, Ozawa K. Papaya plant growth as affected by soil air oxygen deficiency. Acta Hortic.
2007;740:225-32.
Kochian LV. Cellular mechanisms of aluminum toxicity and resistance in plants. Ann. Rev. Plant
Physiol Plant Molec Biai. 1995;46:237-60.
L' MB Alves EJ. Estabelecimento do pomar. ln: Borges AL, Souza LS, editores. O cultivo da
imaba~eira. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura; 2004. p.87-107.
Lu P, Woo KC, Liu ZT. Estimation of whole-plant transpiration of bananas using sap flow
m easurements. J Exper Bot. 2002;53:1771-9.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE ABACAXI, BANANA E MAMÃO 903

Mahoua chi J. Growlh and min ral nulricnt contcn t of d1!vrlop1ng fruit o n ban.J na plane; ((\.!uc;il
acumi natc J\AA , 'G ranel Nêlin') s ubjccted to wa tcr <;tr'S'i ,1nd rc ovcry. J H nrtic 'xi Bintechnnl
2008;82:839--44.
Malavolta E. Mineral nutrition o( highcr pl<1 ntc;: thc fir'i l 150 ye<1 r'i. ln: Siquc1r<.1. J.(~. e_l ,il. lntcn j .º
fe rtilidade, biologia cio solo e nutrição J c pl<1ntils. Viçoc;a, MC: Sociedade Brd'irli:i ra De C icnc 1c1
Do Solo; La v rns: UFLA/ DCS; 1999. p.51-122.
Malézieux E, Bartholomew DP. Plant nutritio n. ln: Ba rtho lom •w DP, Rohrbach KG, editor. The
pineapple botany, production and uses. Honol ulu: Uni vcr'ii ly of Ha wa 1i c1t Vfanoc1; 21líl3. p15-t-7fi
Marler TE, George AP, issen RJ, Anderssen PC. Miscella n cous tropical fruih. ln: Schaffcr B,
Anderssen PC, ed itors . Ha.ndbook of environme nt,11 phys iology of frui t,; crop,;, Sub- trop1c..il
anel tropirnl crops. Boca Raton : CRC Press; 199-l. v.2. p .199-22-l .
Matos AP, Cunha CAP, Almeida CO. Produção integrada de c1bac,1xi. ln: ProduçJo lntegrad.1 no
Brasil: agropecuária s usten tável alimentos seguros. Brasília: \ lirns té rio dc1 Agricu ltura e
Abas teci me nto; 2009. p.105--42.
Méltos AP. Culturas de cobertura no manejo de plantas iníes t,mtes e na con. er vaçJo do so lo em
plêlntios de abacaxi e m s is temêl de produção in tegrilda. ln: Ana is do ,". Seminá rio Brasileiro de
Produção Integrada de Frutas; 2006; Vitória .
Mélts umoto H. Cell biology of aluminum toxicity and tolerance in higher plants. lntern,,J. Re\· Cvtol.
2000;200:1--46.
Matsumoto H. Plant roots under aluminium stress. Toxicitv and Lole rance. ln: \.\'e i I Y. Eshcl .\,
Kafkafi U, edi tors. Plants roots. 3"1.ed. New York: Dekker, 2002. p.821-3 ' .
Model NS, Favreto R, Rodrig ues AEC. Efeito de tratêlmentos de controle de pla ntas daninha_ obre
produtividade, sanidade e qualidade de abacaxi . Pesq Ag ropec Gaúcha . 2010; 16:-1 ~
Morton JF. Fru its of warm cli mates. [s.l]Creative Resources Sy le m s; 19 7. p.29-16
Mugnozza GTS. Elh.ics of biodiversity conserviltion. ln: Ca tri F, Younés T. Biod iver. itv, <;cicncc ,:rnd
d evelopment - Toward a new pêlrtner hip. Wallingford : CAB lnternational; 1996. p.622-29.
Murty D, Kirschba um MUF, Mcmurtrie RE, Mcgil vray H . Does convers ion of fo rest to .igricultural
land change soi l carbon anel nitrogcn? A revicv: of thc litera ture. Global Change Biai. 2002; : 105-
23.
O liveira AMG, Caldas RC. Produção d o mamoeiro em iunção de éldubação com nitrogênio, fõ_foro e
potássio. Rev Bras Frutic. 200-l;26:160-3.
Oliveira AMG, Coelho EF. Calagem e ad ubação para mamoe iro. Borges r\L, u za LS, editore:.
Recomendação de calagem e adubação para abacaxi, a cerola muracuj,\. Cruz da. ..\lmc1:-.:
Embrnpa Mandioca e Fruticu ltura Tropica l; 2009.p.10 -25.
O li veira AMG, Souza LD, Coelho EF. Recomendações de calagem e adubação para mamot'iro. C ruz
das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticul tura Tropical; 2010. (Comunicad o t~-nico, 1Jl )
O liveira C AP, Souza C M. lnfluênciil da cobertura mo rtêl na umidade, incid ência J e plantas daninhas
e de broca-do-rizoma (Cosmopolites sord idus) em um po mar d e banune iras (Musa . pp.). ReY
Bras Frutic. 2003;25:345-7.

O live ira JRP, Trindad_e AV. Propa? aç~o e for~~ção <lo pomar. ln: Trindude A , organiLador.
Mamão - produçao: aspectos tecn1cos. Bras il1a: Embrapa Comunicaç,1o para TransferJ ni:ia Je
Tecnologia; 2000. p .20-5. (Frutas do Brnsil, 3)

Outlook Brasil 2022 - projeções para o agroncgõcio/ FlESP, lnstituto de tudos do Com0r io
Negoc iações Internacionais. São Pau lo: FlESP / ICONE; 201 2.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


904
LAÉRCIO DUARTE SOUZA ET AL,

P anha L ·
'. ar iano R, onnerat PH, Camposh·ini E. Respostas fi iológicas e crescimento do
:~~;~_eira ao e ·h· ssenutri ional, ln: 4" impósio do Papaya Brasil [CD ROM]. Vitória: lncaper;

Perin ' Gu~rra JGM, Espindola JAA, Teixeira MGT, Busquet RNB. Desempenho de bananeiras
c n orciadas com leguminosas herbáceas perenes. Cien Agrotecnol. 2009; 33:1511-7.
Perin A, Lima ~A, E pindola JAA, Guerra JGM, Teixeira MG, Busquer RNB. Contribuição da
coh:rtura vi''. ª _de ola com leguminosas herbáceas perenes no 211 ciclo de produção de bananeira
cultivar arucao. Seropédica: Embrapa-CNPAB; 2002. (Comunicado técnico, 53).
Prado Rtvt. A calagem e as propriedades físicas de solos tropicais: revisão de literatura. Rev Biocienc.
2003;9:7-16.

Prnd uç~~ A_~ícola '1.ITTlicipal 2011 - PAM - Culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro:
Mtru teno do Planejamento, Orçamento e Gestão - instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- IBGE; 2012. v.39.
Raij B van, Peech M. Electrochemical properties of some Oxisols and Alfisols of the tropics. Soil Sei
Am Proc. 1972;36:587-93.
Reinhardt DH, Cunha GAP. Plantio. ln: Reinhardt OH, Souza LFS, Cabral JRS. Abacaxi. Produção:
aspectos técnicos. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura. Brasília: Embrapa
ComITTlicação para Transferência de Tecnologia; 2000. p.25-7. (Frutas do Brasil, 7).
Re.inhardt DH, Souza LFS, Cunha GAP. Exigências edafoclimáticas. ln: Reinhardt DH, Souza LFS,
Cabral JRS. Abacaxi. Produção: aspectos técnicos (Frutas do Brasil) Embrapa Mandioca e
Fruticultura (Cruz das Almas, BA). - Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de
Tecnologia; 2000. p.11-2.
Reinhardt DH. Exploração e manejo da soca do abacaxi. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e
Fruticultura; 2001. (Abacaxi em Foco, 20)
Robinson JC, Galan-Sauco V. Bananas and plantains. 2nd • ed. Wallingford: CAB lntemational; 1996.
p.179-91.
Rufyik:i.ri G, Dufey JE, Achard R, Delvaux B. Cation exchange capacity and Al-Ca-Mg binding in
roots of bananas (Musa spp.) cultivated in soils and in nutrient solutions. Com.m Soil Plant Anal
2002:33:991-1009.
Ru.fyi.kiri G, Genon JG, Dufey JE, Delvaux B. Competitive absorption of H, Ca, K, Mg élTld AI on
banana roots: experimental data and modelling. J Plant Nutr. 2003;26:351-68.
Salgado JS. Manejo e conservação do solo. ln: Anais do 1º Simpósio sobre Bananeira Prata; 1983;
Cariacica Cariacica: Emcapa/Embrapa; 1983. p.90-5.
Santos HG, Jacomine PKT, Anjos LHC, Oliveira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida J A, Cunha
TJF, Oliveira JB. editores. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3ª ed. Brasília: Embrapa;
2013.
SarallJL, Osséni B, Hugon R. Effectof soil pH on development of Pratylenchus brachiurus populations
in pineapple roots. Nematropica. 1991;212:211-6.
Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAE. Panorama do mercado de fertilizantes. Brasília:
2011 .
Serrano E. Banana soil acidification ~, the Caribbean coast of Costa Rica_ and its relationship with
. eased alum.inium concentrahons. ln: Turner DW, Rosales EF, ed1tors. Banana root system:
mcr . f . d .
towards a better understandmg _or 1ts pro uctive management. ln:Proceedings Internt.
Symposium, 2003; San José, Costa Rica. p.137-43.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVII - MAN EJO DO SO LO EM CULTIVO DE AB ACAXI, BANAN A E MAMÃO 905

Silvél AJP, Coe lh o EF, lirJ ntl a JI f, WorkmJn Slt Fc;tim Jting wa ter app lic;itinn "ficicncv ío r Jrip
irriga tio n e mitte r pa tle rns o n banana . Pe<;q /\g-ropC'C Br,1c;. 2009;-I-I . 730-7.
Silva MS L, Fe rrcirn G B, Mendec; AMS, Gomec; T A, O li ve irc1 cto , IB, Sa ntoc; JCP, Cunhc1 íJF
Coque téis vegeta is para ma nejo de solo c m s is te m as 1rrigcldoc; d, cu lti vo o rgL1n ico d• frute1rc1'-
n o s ubrnédio São Fruncisco, região e mi-á rida Jo Nordcc; tc J o Brasi l. Recife: Embrap,1 c;o ln
UEP ordes te; 2007. (Circ ular técn ica, 37).
Sobra l LF. Recomendações para o uso de correti vo,; e fc rtili;,ante no cc;tado cJ • •rhi rc. Ar,ic,11u:
Embrélpa Tabuleiros Costeiros; 2007.
Sou za LO, Santana SO, Souza LS. Arg i solo Amare lo s ob culti vo d mc1mJo. 1. Alter,1 iiec; 11 •1 '-
p ro priedades fís icas. ln: 16''. Reun i.'io Bras il eira d e Manejo e Conc;crvaçZiu Jn Solo [CD F<O\.-ll.
Aracaju: 2006.
So u za LO, Sa ntos CVS, Souza LS, Pere ira BLS. Resis tê nc ia à pene traç,1o em Latoc;c;o]o ,-\marcln
dos Tabuleiros Costeiros, sob cobertura vegetal com legumino<;ac;. C ruz Jas Alma,;: Emb rapc1
Mandioca e Fruticultura; 2013. (Bo letim de Pesquisei e Dcsem·olvimen to . .58).
Sou za LD, Souza LS, O liveira AMG . Manejo e conservação do solo pa ra o c ultivo do mamoeiro
n os Tabuleiros Cos teiros. Cruz das Al ma s: Em b ra pa 1a n di oca e Frnticultura. 201.5 (Circular
técnica, 11 O).
Sou za LD, Souza LS, Led o CAS, Cardoso CEL. Dis tribu ição de ra ízes e manejo do s olo em culti ·o
de mamão nos Tab uleiros Co teiros. Pesq Agropec Bras. 2016;51 :1937-!7. DO! : 10.l.590/50100-
204X2016001200004).
Souza LFS, Cunha GP. Preparo do so lo e correção d e acid ez. ln: Reinhardt DH , Sou za LF , Cabral
JRS. Abacaxi. Produção: as pectos técnicos . Brasília: Embrapa Comu nicação para Tril~ fe r0n ,a
de Tecnologia; 2000. p.23-25; (Frutas do Brasil, 7).
Souza LFS. Ca lagem e adubação paril o abacaxizeiro. ln: Borge A L, Sou za LS, editor . Recome ndação
d e calagem e adubação para abacaxi, ace rola e ma racujá. C ruz das r\lma : Embrapa Mandil .1
e Fruticultura Tropical; 2009. p.26-45.
Sou za LS, Borges AL. Cobertura do solo na cultura da bananeira. Cruz das r\lmas: Embrapa \[andioca
e Fruticultura, 2001 . (Banana em Foco).
Souza LS, Oliveira AMG. Pre paro e con, ervação do solo. ln: Tri ndade.-\ V, o rga nizéldor. Frui~ Jo
Bras il, Mamão. Produção: as pectos técnicos. Cruz das Al m as: Embrapa ~ landioca e Fruticultura;
2000. p .18-9.

Turne r DW, Fortescuc JA, Thomas OS. Enviro nmenta l physiology of the bananc.:; (~lus a s pp.). BraL
J Pla nt Physiol. 2007;19:463-84.

Turner DW, Thomas OS. Measurements of plant and soi l wa te r s tatus a nd thcir il · ociat10 n w 1th leaf
g as exchange in bana na (Musa s pp.): a lacticiferous p lant. ~i Hortic. l 998;77:177-93.
Ue hara G, Gillman GP. Charge characte ris tics o f soils w ith varia ble and permanent c h.u >e mi neral:-.:
1. Theory. Soil Sei Soe Am J. 1980;44;250-2.
Weber OLS, C hitolina JC, Camargo OA, Alleoni OA. Cargas elé trica e · truturais e vanávei:- de ~olu
tropicais altamente intemperizad o . Rev Sras C ie nc Solo. 2005;29: 67-73.
We bs te r CC, Wilson PN. Agriculture. ln: The Iro pie . 3 rd • ed . Oxford: Bla kwd l · ie n e; J l) L .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII- MANEJO DO SOLO EM CULTIVO
DE CITROS

José Eduardo Corá 11, Dirceu Mattos-Jrll, Rodrigo Marcelli Boaretto11, Fernando lves
de Azevedo:!/, Fernando Cesar Bachiega ZambrosiJt', José Antõnio Quaggi~ & Pri cila
Roberta Volante.J/

'' Uni vers idade Estadua l Pa ulis ta, Campus de Jabo tica bal, Ja bo ticabal, SP. E-mail · cora~fcav.unesp br
11 Ins tituto Agronôm ico de Campinas, Centro de Ci tricu ltura Syl io Moreira, Co rd l'irópohs, SP.
E-mail: ddm@cen trndecitricultura.br, boa re tto@iac.s p .gov.br, femando'i kc m. br
J/ Ins tituto Agronômico de Campina , Campinas, SP. E- mai l: za rnbros i@iac.s p .gov.br; quagg:ioÍ!iiac. p ov.br
'1 U ni ve rs idade Estadu al Paulista, Campus d e Ja boticabal, Pós-G raduação em Agronom i..i (Produy'lo Vt'g('tal).
Jabotica bal, SP. E-ma il: privolan te@yahoo.co m .br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ......................... ............... .............................. ..................................... ......................................... ........... 907


REGIÕES DE OCORRÊNCIA DA C ITRICULTURA (HISTÓRICO) .................. ............ ········-···········-··········· · ..... 9
CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E MORFOLÓCIC/\S DOS C ITROS E EXIGÊ, CI \
EDAFOCLIM ÁTICAS ................................ .... ................... ...................................... ..................... ······-····· ········· .....
PRINCrPAIS CLASSES DE SOLOS EM REGIÕES COM CITR I ULTU RA (LIM ITAÇÕES E
QUALIDADES RELACIONADAS ÀS EXIG ÊNCIAS DOS C ITROS) ......... ... ···· ······- ······-···-·-··········-·--····· 910
MANEJO DO SOLO NA IMPLANTAÇÃO DO POMAR ................. ........... .................................. ....... .......... .. ...... 91
MANEJO DO SOLO NO POtvlAR I fPLANTADO............................................................. ·••············ ........ ······-·- ... . 925
Atributos químicos ........................................ ........................ ........................ .................... ............. .............. .. ... 9'.5
Atributos físicos (manejo elas entrelinhas) ........................................ ................ ........... ........... ............ ...... ...... 26
LITERATURA C ITADA ........................................... ......................... ................. . ................................................. ...... . 931

INTRODUÇÃO

O manejo do solo é definido como a combinação das operaçõe de culti o, práticas


culturais, fertilização, correção da acidez do solo e outro tratamento aplicado a 5 lo
que visam maximizar a produção de plantas (Curi et ai., 1993). Portant , é de caráter
complexo, tanto em decorrência da quantidade de operações e interações entre elas como
das interações com cada tipo de solo.

Be rto ( I, Dl' Maria IC, Souzc1 LS, editores. l\lanejo e onsêrv ,1ç.1o do s lo e J .1 água. Viç Su. l'\IC : - ·,e~llJe
Bras ile ira de Ciência d o olo; 20 18.
908
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

olo, corpo lTidimen ional na naisagem, é resultado da ação combinada dos fatores
de forn1a çao,
- como material de origem, r
relevo, organismos (fauna e fl ora ) e c Li ma, num
e pa O de tempo (Jenn ,, 1941) e de processos pedogenéticos de formação (adição, perda,
tran for~1ação e h·an locação), que, especificamente, são os processos denominados
de_ latohzação, argilu iação, podzolização, gleização e outros. Portanto, o conjunto de
atnbuto (qu ímico , físicos, biológicos, morfológicos e mineralógicos) de determinado solo
depende da interação enb·e os fato res e os processos de formação como: composição da
r~cha _de origem, o que interfere na taxa de alteração pelo intemperismo; das condições
chmá~ca ; da, egetação existente; e da sua posição na paisagem. Dessa maneira, o produto-
olo di~ere do material do qual foi derivado em muitas propriedades e características, cujo
conl~ecimento permite prever seu padrão de comportamento, ou seja, suas lunitações e
qualidades para determinado uso (= aptidão). A aptidão define a capacidade de suporte
do solo para discriminado uso (atividade), sendo a base para estabelecer o plano de manejo
adequado e raciona] para a atividade agrícola. O plano de manejo com base na capacidade
de suporte auxilia na prevenção da degradação do solo e na manutenção da estabilidade
da produtividade da atividade (culturas).
Também fica clara a necessidade de se conhecerem as características da atividade
agrícola para determinar as limitações e qualidades do solo. Quando essa não é compatível
com a aptidão e capacidade de suporte do solo (uso e, ou, manejo do solo), pode se tornar
inviável tanto de forma econômica quanto ambiental, diminuindo a capacidade produtiva
do solo ao longo do tempo. Portanto, é necessário conhecer as limitações e qualidades
do solo para sua adequada utilização para que, então, essa atividade seja econômica e
ambientalmente sustentável.
Os citros possuem grande capacidade de adaptação em relação aos diferentes tipos de
solos. Esse fato, entretanto, não permite afirmar que a planta apresente todo o seu potencial
produtivo em todos os tipos de solos. Portanto, é necessário conhecer as exigências edáficas
das plantas de citros, que é uma combinação de variedades copa e porta-enxerto, para
definir as limitações e qualidades de determinado solo à citricultura.
Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar as principais classes de solos para
a citricultura, assim como o manejo do solo considerado adequado desde a implantação à
condução do pomar adulto, com base em resultados de pesquisa e experiências práticas.
Contudo, não se tem a pretensão de esgotar o assunto, pois se entende que esse manejo deve
ser dinâmico, adaptando-se às novas tecnologias e aos avanços alcançados na meilloria
genética das espécies comercialmente cultivadas.

REGIÕES DE OCORRÊNCIA DA CITRICULTURA


(HISTÓRICO)

Os citros compreendem um grande grupo de plantas dos gêneros Citrus, Fort1111 ella
e Poncirus e hfbridos da família Rutaceae, _que são repr_esentados por laranjas, tangerinas,
. _
)1moes, limas (ácidas e doces), pomelos, c1dras e toran1as. São originários principalmente
. . d eh· J _ d ,
'ões subtropicais e trop1ca1s a ma, apao e o sudeste da Asia, incluindo áreas
d as reg1 h b ' F·1· . I d . ,
do leste da Índia, Banglades , como tam em 1 1pmas, n onés1a, Austrália e Africa. No

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO D O S OLO EM C ULT IVO DE C ITROS 909

Brasil, os citros foram introd uzidos pelos portuguescc;, no começo do éculo XV I (Don.:idio
e t ai., 2005).
A citri cu ltura é uma das princi pais a ti vidades .:igrícolas de importá ncia econõmic<l
e social pa ra o Brasil. Des taca-se pela produção de la ranjas-d oces, tangerinas e lima-;
ácidas, que contribuem com o maior vol ume do to tal bras ile iro de frutél s. Em número. ic;so
representa 48 % dos 40,9 Mt obtidos em 2016. Banam1, abacax i, melancia, mamão, uva e
m açã, juntas, so maram, em 2016, 39 % (Anu ári o Brasileiro da fruticultura, 2017) .
As laranjas são os pri ncipais frutos cítricos cu lti vados no mundo. O Bras il de té m 34 n~
do to ta l mund ia l de 51,8 Mt (USDA, 2014), em cerca de 720 000 ha , com gra nd e concentração
no Es tado de São Paulo, cuja produção fo i cerca de 11 ,9 Mt, em 2014 (1EA, 201 S).
O Estado de São Paulo responde por a proximada mente 65 ()~ da produção de limas
ác idas e limões e por 23 % das ta ngerinas no país. Seguem em importâ ncia na produção
bras ileira de citros os Estados da Bahia, de Sergipe, de Minas Gerais, d o Paraná e do Rio
G ra nde do Sul. Em São Paulo, cerca de 80 % da produção d e lara nja d estina-se à indústria
e exportação do suco. Q uanto à comercialização da laranja i11 nntt1 rn, o volume para os
m ercados internos e de ex po rtação é menor, con tudo, ve m crescen do proporcionalmente
ao mcremento da renda dos brasileiros à sua exigência pa ra melhoria da qua lidade dos
frutos.
Na Bahia, a produção de laranja concentra-se nas regiões d o Li to ra l 1 or te (Ri o Real),
Agreste d e Alagoinhas (Itapicuru) e Recôncavo Sul (Cruz d as A lmas). Em Sergipe, os cinco
municípios maiores produtores estaduais são Itabaininha, Cris tiná polis, Salgado, Lagarto
e Boquim. Os solos cultivados com citros nos Estados da Bahia e de Sergipe apresen tam,
como caracterís tica diferencial, horizontes subsuperficiais a densados, denominado
horizontes coesos, que se constituem na principal lim itação agrícola para os citros e,
portanto, exigindo manejo com alg umas especificidades. Por esse fa to, tais olo serão
tra ta dos separadamente no capítulo 29 des te livro.
Em Minas Gerais, as regiões produtoras são o Triângulo Mine iro, ui e norte do
Estado (Souza e Lobato, 2001). A citricu ltura no Triângu lo Mineiro é u m p rolongamento da
citricultura d o norte de São Paulo, sendo a safra direcionada para as ind ús trias de uco de
São Paulo (Boteon e Neves, 2005). Já o norte de Minas dedica-se à produção de Tahiti; e o
sul, à produção de tangerina ponçà, segundo Souza e Lobato (2001 ). r o Estado do Paraná, a
produção é voltada à ex portação de suco, como no Estado de São Paulo, e está concen trada
no no roeste do Estado, na região de Paranavai (Bo teon e eves, 2005). A participa ão do
Ri o Grande d o Sul na produ ção brasileira é principalmente vol tada para tangerinas (13 °6).

CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E l\llORFOLÓGICAS


DOS CITROS E EXIGÊNCIAS EDAFOCLINIÁTIC A S

O s citros apresentam bom desenvolvimento em regiões o nde a tem peratu ras do ;ir
varia m de ?? a33 ºC. Enh·etanto, perdas de prod ução podem ocorre r quando as tem peraturas
ficam acima de 35 ºC e abaixo de l3 ºC, em razão d a d iminu ição da fotossínte e do -
prejuízos no florescimento e na fixação de fr utos jovens (Syvert -en e Llovd, 1996; tedina
e t a i., 2005). O período enh·e o florescimento e a ma turação do fru tos pod~ variar d e nov 1

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


910
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

1 111
. : , dependendo da e p cie ou ariedade, da combinação copa/porta-enxerto e das
e nd1 ç s edaf climática (Pio et ai., 2005). É esse intervalo que define as va riedades tidas
como pr coce (Hamlin e Westin), meia-estação (Pera) e tardias (Va lência, Natal e Folha
ilur ha).

O istema radicular do citroséconstituído de raiz primária ou pi votante, a partir da qual


~esenvol em as raízes secw.dárias, que, por sua vez, originam as terciárias, quaternárias e
ª 1~1 p~r diante. As raízes mais veU1as, geralmente de crescimento secundário, têm fW1ção
de ~açao e annazenamento, enquanto as mais jovens, que se encontram em processo de
cr ~imento primário e localizadas perto do ápice da raiz, têm fw.ção na absorção de água e
nutriente (Queiroz- oltan e Blwner, 2005).
, _Por serem perenifólios e reterem os frutos por vários meses, os cih·os exigem elevados
rnveis de umidade no solo ao longo do ano, exceto no período de indução floral. Todas
essas características fisiológicas e morfológicas dos citros devem ser levadas em conta na
definição das limitações e qualidades do solo para a cultura, ou seja, sua aptidão e manejo
adequado do solo para citricultura.
Dessa maneira, os solos mais recomendados para citricultura, com menos linutações e
mais qualidades, ou seja, maior aptidão, são aqueles com suficiente profW1didade efetiva,
que não apresentam impedimento físico ou químico nos primeiros 150 cm de profundidade
e que possuem capacidade de armazenar quantidade suficiente de àgua disponível para
as plantas.
O solo deve ser visto como ambiente do sistema radicular, onde a disponibilidade
de nutrientes e água é governada pelo conjunto dos atributos fisicos, químicos e
biológicos. A disponibilidade de nutrientes e água determina a extensão e distribuição
do sistema radicu.larJ que, por sua vez, resulta no crescimento da parte aérea da planta e,
consequentemente, na produtividade da cultura. A produtividade é ainda influenciada
por fatores diretos e indiretos como potencial genético da planta, controle fitossanitário
(pragas e doenças), plantas infestantes e clima, além das interações entre esses.
Assim, o manejo adequado do solo pode ser interpretado como a adaptação da
planta às condições do ambiente, ou seja, a relação solo-planta. Os citros evidenciam
boa adaptabilidade e mantêm níveis elevados de produtividade em condições edáficas
distintas (Corá et al., 2005).

PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS EM REGIÕES COM


CITRICULTURA (LIMITAÇÕES E QUALIDADES
RELACIONADAS ÀS EXIGÊNCIAS DOS CITROS)

as principais áreas produtoras de citros no Brasil, aproximadamente 720 000 ha,


as classes de solos d e maior ocorrência são os Latossolos e Argissolos, segujdos pelas
dos Neossolos Quartzarênicos e, em menor proporção, pelas dos Neossolos Flúvicos,
Cambissolos, Gleissolos, Espodossolos e Plintossolos.
as á reas onde se concentram 65 % da citricultra brasileira (Esta do de São Paulo,
Triângulo Mineiro e norte do Paraná), destacam-se os Latossolos Vermelhos e VermeU.os-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MAN EJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 911

Amarelos, com aproximadamente 40 %; Argissolos Verm lhos-Amarelos, com 47 ~ ,


G leissolos, com 5 %; Cambissolos, com 4 %; e Neossolos Quartzarên icos e eos o lo
Flúvicos, com 2 %.
Para o manejo adequado do solo, no caso específico da citricultura, podem r
considerados como indicadores de limitações e qualidades (a ptidão) os atributos fí icos do
solo como textura, esh·utura, densidade, porosidade total, volume de macro e microporos,
retenção e amazenagem de água e profundidade efetiva do solo; os atributos químico
como capacidade de troca de cátions (CTC), toxicidade de AI, deficiência de Ca e Mg,
saturação por bases (V), teores de P, K e de ma téria orgânica (MO); e atributos morfológicos
como relevo e posição de ocorrência na paisagem.
A classe dos Latossolos (Figura 1) apresenta como principais indicadores de qualidade
para a citricultura o relevo geralmente plano ou s uave ondulado, favo recendo menor
susceptibilidade à erosão; e adequada profundidade efetiva; friabilidade e poro idade
adequadas, o que permite o crescimento radicular e a infiltração de água e circu lação do ar,
favorecendo a respiração e absorção de íons pelas raízes.
Corno principais limitações, os Latossolos evidenciam baixos teores de P; baixa
CTC; baixa capacidade de armazenamento de água disponível para as plantas, quando a
textura é mais arenosa; caráter distrófico (baixos teores de Ca, Mg e K) e, o u, caráter álico
(saturação por AI maior que 50 %); baixos teores de micronutrientes, naqueles de textura
mais arenosa; e susceptibilidade à compactação, quando mais argilosos (Quadros 1 e 2).

Figura 1. Perfil de Latossolo Vermelho-Amarelo localizado no Município de Palestina, SP.


Foto: J.E. Corá .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


912
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

Quadro 1 · Atrib u t os quínncos


· · · d e P· ª1es t'ma, SP
de Latossolo Vermelho-Ama1·elo, Murndp10
Horiz. Prof. pH p Ca2• Mg2• H+Al SB CTC V
MO K•
cm CaC½ gdm.J mg dm~1 -·- · -- ----·- -------· cmole dm.J --------------- %
Ap 0-20 4,2 11 0,29 2,3 1,0 1,6 3,59 5,19 69
5
AB 20-35 4,2 10 2 0,28 0,8 0,9 1,8 1,98 3,78 52
BA 35-55 4,2 8 0,24 0,8 0,8 1,8 1,84 3,64 51
2
Bwl 55-97 4,2 7 1 0,15 0,8 0,7 1,8 1 ,65 3,45 48
Bw2 97-150 4,3 6 1 0,13 0,7 0,7 1,5 1,53 3,03 50
MO"' matéria orgânica; SB "' soma de bases; e CTC"' capacidade de troca catiônica.

Quadro 2. Atributos físicos de Latossolo Vermelho-Amarelo, Município de Palestina, SP


Horiz. Prof. Areia Silte Argila VTP Macro Micro Ds
013 m.J _ _ _ _
cm g kg-1 kg dm·3
Ap 0-20 750 50 200 0,48 0,19 0,29 1,22
AB 20-35 740 50 210 0,35 0,11 0,24 1,34
BA 35-55 666 64 270 0,40 0,17 0,24 1,26
Bwl 55-97 690 40 270 0,39 0,13 0,26 1,11
Bw2 97-150 691 39 270 0,41 0,15 0,26 1,11
VTP = volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro= microporos (< 0,05 mm); e Ds = densidade do solo.

Os Argissolos (Figura 2) apresentam como característica diferencial o incremento do


teor de argila do horizonte B para baixo no perfil (gradiente textura!) (Quadro 3). A textura
pode variar de arenosa a argilosa no horizonte superficial (horizonte A) e de média a muito
argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento dos teores de argila do horizonte A
para o horizonte B. Os Argissolos apresentam-se com profundidade variável, de forte a
imperfeitamente drenados, de forte a moderadamente ácidos e com saturação por bases
alta ou baixa (Santos et al., 2013).
A classe dos Argissolos apresenta corno um dos mais importantes indicadores de
qualidade O caráter eutrófico no horizonte Bt. Quando eu tróficos (Quadro 4), os Argissolos
apresentam grande suprimento de bases em profundidade, o que permite o crescimento do
sistema radicular, possibilitando maior aproveitamento de água disponível no horizonte
Bt, aspecto que favorece a cultura dos citros.
As principais limitações ficam por conta da presença de argila de atividade baixa; baixa
CTC- baixos teores de P; baixos valores de V; reduzida capacidade de armazenamento de
águ; disponível para as plantas, principalm~nte quando o h?r~zonte A ~ arenoso e espesso;
elevado gradiente textural de algw1S Arg1ssolos; e a pos1çao na paisagem em relevos
ondulados e fortemente ondulados, favorecendo o processo erosivo. Quando apresentam
elevado gradiente textura!, é observa~a acentuada redução do volume de poros de maior
diâmetro (macroporosídade) no honzonte subsuperficial (horizonte Bt) do solo, que
_ responsáveis pelo movimento da água e do ar no solo. Como consequências, têm-se
sao or infiltração e re d"1str1"bu1çao
· - d a água, o que aumenta a susceptibilidade do solo à
men- e di·...,.,;nui a aeração (trocas gasosas, . -ª . o sistema radicular da planta
) o que nu1uenc1a
erosao ........ _ . , ,
diminuindo O crescimento e absorçao de água e nutrientes. E comum, em prolongados

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 913

p e ríodo de chuvas, se obse rva r a ma relecime nto no poma r sob Argis o los com grildíentc
textura! elevado, causado po r de fi ciência mo mentânea de N.

Figura 2. Perfil de Argissolo Vermelho-Amare lo loca !jzado no lu rucípio de Matão, SP.


Foto: J.E. Corá

Quadro 3. Atributos físicos de Argissolo Verme lho-A marelo, Município de Ma tão, SP

Horiz. Prof. Areia Silte Argila VTP Macro Micro Ds


cm ----- -- g kg•I-------- m m··'
3
kgdm 1
Ap 0-30 800 55 1-15 0,38 0,10 O,? L..2.
AB 30-50 757 80 163 0,35 0,10 or
, .t..:) 1~
Btl 50-70 730 47 223 0,39 0,13 0,26 1, 11
Bt2 70-120+ 724 46 230 o,.n 0,15 0,26 1, 11
VTP = volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = mi roporos (< 0,05 mm); e Ds = densidiJe do solo.

Quadro 4. Atributos químicos de Argissolo Verme lho-Amarelo, lunicípio de Matão, p

Horiz. Prof. pH MO p K· Ca2 • Mg:· H+Al SB CTC V


cm CaCl 2 g dm-3 mg dm- 3 - cm ole d m ·3 o.
o
Ap 0-30 4,9 9 53 0,18 3,-1 1,7 1,6 -,
j ,_ 6, 9
..,....
I /

AB 30-50 5,0 7 l 0,15 1,1 2,0 2,0 4,05 6,05 67


Btl 50-70 4,4 6 1 0,07 1,3 ? ?
- ,- ?
- ,- -1,17 6,37 b5
Bt2 70-120+ 4,2 5 1 0,08 1,2 2,2 -,-
J? 61
l'vlO = matéria orgânica; 5B = soma de bases; e CTC = capacidade de troca call 1uca.

Os Neossolos são solos que apresentam insuficiência de manifestaçZio do · atributos


diagnósticos que caracterizam os diversos processos de formação. Apre ·entam ex1gua

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


914
JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

~iferenciação de horizontes, com individualização de horizonte A segu_ido do h_o rizonte


ou R. _o Neossolos Quartzarênicos (Figura 3) evidenciam textura areia ou areia fr~ca
nos honzontes até a profundidade de 150 cm da superfície do solo ou até o c~nt~to htico
(Quad~o 5); são essencialmente quartzosos, tendo nas frações areia grossa e areia fina 95 %
ou mais de ~uartzo (Santos et al., 2013). Esse conjunto de atributos impri~e aos~~eossolos
Quartzarêrucos limitações como reduzido teor de argila e de matéria orgaruca, com
consequente baixa CTC, baixa saturação por bases e deficiência de macro e micronutrientes
(Quadro 6); baixa capacidade de armazenamento e disponibilidade de água para as plantas
(~~~dro 5); e drenagem excessiva e alta taxa de percolação de água, o que aumenta a taxa de
lixiV1ação de nutrientes. Como indicadores de qualidade, apresentam relevo plano e suave
ondulado, o que facilita a mecanização e O controle da erosão; e ausência de impedimento
físico em profundidade, o que favorece a penetração do sistema radicular.
Os Neossolos Flúvicos são solos derivados de sedimentos aluviais com horizonte A
assente sobre horizonte C constituído de camadas estratificadas sem relação pedogenética
entre si; podem apresentar caráter salino, sódico, carbonático, psanútico, eutrófico e
distrófico (Santos et al., 2013). Corno são solos bastante heterogêneos quanto aos atributos
físicos e químicos, o manejo fica dificultado. Localizados em áreas de deposição aluviais
(várzea), correm riscos de inundação. Como indicadores de qualidade evidenciam a posição
de ocorrência na paisagem (áreas de várzea), o que facilita o acesso à água para irrigação,
e o relevo plano, favorecendo a mecanização e o controle da erosão. Assim, Neossolos
Flúvicos podem ser considerados de relativa potencialidade agrícola.

Figura 3 . Perfil de Neossolo Quartzarênico típico localizado no Município de São Carlos, SP.
Foto: J. E. Corá.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE (ITROS 915

Quadro 5. Atributos físicos de Neossolo Quartzarênico típico, Município d e São Carlo 5 , SP


Horiz. Prof. Areia Silte Argi la VTP Macro Micro
. Ds
cm ----------- g kgl -m1 m·1 - - k dm· 1
Ap 0-10 864 16 120 0,37 0,22 0,1 5 1A7
Cl 10-50 865 15 120 0,34 0,19 0, 15 1,48
C2 50-90 853 17 130 0,37 0,23 0,14 1,47
C3 90-130 850 15 135 0,35 0,22 0,13 1,4
\TfP = volu me total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro= mícroporos (< 0,05 m m); e~~ deruiddde do 'Kllo .

Q u adro 6. Atributos químicos de Neossolo Quartzarénico típico, Município de São Carlos, SP.

Horiz. Prof. pH MO p K· Ca2' Mg2• H+Al SB CTC V


0/
cm CaC[, gdm·3 mgdm·3 cmol e dm 3 ,O

Ap 0-10 4,4 9 32 0,2,1 1,0 0,5 3,0 1,71 4,72 36


Cl 10-50 4,6 9 2 0,1,S 1,1 0,4 1,7 1,64 3,34 -l9
C2 50-90 4,2 8 1 0,1,3 0,3 0,2 2,3 0,63 2,93 21
C3 90-130 4,2 6 1 0,1,1 0,3 0,2 2,2 0,61 2 1 22
MO= matéria orgânica; 58 = soma de bases; e CTC = capacidade de troca de cátions.

Os Cambissolos (Figura 4) compreendem solos constituídos por material mineral com


horizonte B incipiente (Santos et ai., 2013). Em decorrência da heterogeneidade do material
de origem, do relevo e das condições climáticas, o conjuto de atributos físicos e químicos
(Quadros 7 e 8) desses solos varia muito de um local para outro. Podem-se encontrar solos
fortemente até imperfeitamente drenados, de rasos a profundos e de alta a baixa saturação
por bases. São solos com grande potencial de produção quando apresentam profundi dade
efetiva mediana, caráter eu trófico e ausência de restrição prejudicial de drenagem e caráter
alurrúnico.
A principal limitação dessa classe de solos é a pequena profundidade efetiva, q ue
limita o crescimento do sistema radicular. A limitação aumenta em regiões que ocorrem
prolongados períodos de estiagem, em razão do pequeno volume de solo explorado pelas
raízes, sendo pequeno o volume de água disponível em subs uperfície, expondo as plantas
ao estresse hídrico reguJannente e por longos períodos. A ocorrência na meia-encosta e
encosta inferior da paisagem favorece a erosão.
Os Gleissolos (Figura 5 e Quadros 9 e 10) são solos formados de materiais estratificado
ou não. Comumente, ocorrem nas proximidades dos cursos d 'água, em materiais colúvio-
aluvionais sujeitos a condições de hidromorfia, em áreas de relevo plano de terraço
fluviais, lacustres e marinhos, assim como em materiais residuais em áreas abaciadas e
depressões. São permanente ou periodicamente saturados por água, podendo a água se
elevar por ascenção capilar até atingir a superfície do solo. São solos mal ou muito mal
drenados em condições naturais (Santos et ai., 2013).

M ANEJ O E CO NSERVAÇÃO DO S O LO E DA ÁGUA


. -
916
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

Figura 4. Perfil de Cambissolo Háplico Eu trófico, Mwucípio de Palestina, SP.


Foto: J. E. Corá.

Quadro 7. Atributos quinucos de Cambissolo Háplico Eu trófico, Mwucípio de Palestina, SP

Horiz. Prof. pH MO p K• Ca2• Mg1• H+Al SB CTC V


cm CaC½ gdm3 mg dm·3 cmole dm·3 ---- %
Ap 0-15 5,4 23 60 0,23 3,4 1,7 1,8 5,33 7,13 75
Bi 15-50 5,5 14 4 0,31 3,8 1,4 1,5 5,51 7,01 79
Cr
MO= matéria orgânica; 5B = soma de bases; e CTC = capacidade de troca de cátions.

Quadro 8. Atributos físicos de Cambissolo Háplico Eu trófico, Município de Palestina, SP

Horiz. Prof. Areia Silte Agila VTP Macro Micro Ds


cm g kg•l _ -------- n13 1n· 3 --------- kg dm·3
Ap 0-15 720 120 160 0,36 0,20 0,16 1,45
Bi 15-50 660 150 190 0,32 0,18 0,14 1,47
Cr
vrr = volume to tal d e poros; Macro= macroporos (> 0,05 mm); Micro= microporos (< 0,05 mm); e ds = densidade do solo.

Como principais limitações ao uso e manejo, os Gleissolos apresentam elevado nível


do lençol freático, baixa drenagem, alto risco de inw1dação, baixa aeração e deficiência
de oxigênio para as plantas. Como indicadores de qualidade, evidenciam altos teores de
matéria orgânica na camada superficial, o que proporciona maior capacidade de troca
de cátions; baixa suscetibilidade ao processo erosivo, relevos planos ou suavemente
ondu lados, 0 que favorece a mecanização e o controle da erosão. Quando drenados,
apresentam adeq uada armazenagem de água.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 917

Figura 5. Perfil de Gleissolo Háplico, Município de Caracaraí, RR.


Foto: J. E. Corá.

Quadro 9. Atributos químicos de Gleissolo Há p lico, Município de Caracaraí, RR

Horiz. Prof. pH MO p K• Ca2 • + Mg2· A}l-♦ H· 58 CTC V


cm Hp gkgl mgdm· 3
cm o le dm· º'
Al 0-15 4,3 12,8 2 0,07 0,4 1,0 ➔,-1
0,-17 5. 7
A2 15-37 4,2 7,1 1 0,03 0,2 0,7 2,9 0,23 3,8.3 6
A3 37-60 4,5 4,3 1 0,02 0,1 0,6 2,-1 0,12 3,12 -l
CAg 60-87 4,8 2,0 <1 0,01 0,1 0,6 1,5 0,11 2,21
Cgl 87-120 4,8 1,2 <1 0,01 0,1 0,5 1,2 0,11 1 1 6
Cg2 120-178 4,9 1,2 <1 0,01 0,1 0,5 1,0 0,11 1,61 7
MO = matéria orgânica; SB = soma de bases; e CTC = capacidade de troca de cátions.
Fonte: Adaptado de Vale Junior et ai. (2015).

Quadro 10. Atributos físicos de Gleissolo Háplico, Município de Caracaraí, RR

Horiz. Prof. Areia Silte Argila VTP lacro Micro Os


cm gkg' · m 3 m --l kg dm.J
Al 0-15 802 97 101 0,55 nd nd 1,
A2 15-35 830 49 121 0,49 nd nd 1,3_
A3 35-60 820 39 141 nd nd nd nd
CAg 60-87 772 67 161 nd nd nd nd
Cgl 87-120 744 75 181 0,38 nd nd 1,63
Cg2 120-178 711 67 222 nd nd nd nd
vrr = volume total de poros; Macro = m,1croporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< O.OS mm); Os= J ensiJ.td t! Jo solo: ~ nJ
= n.'io detem1inado.
Fonte: Adaptado de Vale Junior et aL (2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


918
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

__Apresentadas a características das classes de solos que ocorrem nas principais


regioe citrícolas do paí , constata-se que não existe uma determinada classe que apresente
somente limitações ou somente qualidades. Desse modo, as classes de solos compreendem
tanto _a specto positivos como negativos para a citricultura, o que dificulta a definição de
n1aneJO uruco
- · e a d equado para as diferentes classes de solos.

O manejo adequado para cada classe de solo deve ser com base no conhecimento do
compo~tamento daquela classe em relação à planta e ao ambiente. Isso só é possível com o
conhecimento do conjunto de ah·ibutos do solo com elevada influência na produtividade
da ~ultura, o que é conseguido com um detalhado levantamento do solo nas áreas
de:tm_adas à implantação da cultura. Adequar cada uso ao ambiente que lhe é mais
propno é a melhor prática de manejo e conservação do solo e da água. Nesse contexto, os
estudos pedológicos são de extrema utilidade. Apesar da disponibilidade de ferramentas
como geoprocessarnento, os trabalhos de campo continuam sendo insubstituíveis nos
levantamentos de solos e nas atividades afins.

MANEJO DO SOLO NA IMPLANTAÇÃO DO POMAR

A implantação do pomar de citros requer adequado planejamento para melhor


eficiência de produção e retomo de investimento. As informações mais pertinentes a essa
questão foram reunidas por De Negri et ai. (2005), os quais abordaram desde a escolha da
área até o plantio da muda no campo. Outras publicações têm tratado mais especificamente
do manejo dos atributos químicos do solo na citricultura (Quaggio et al., 2010; Mattos Jr.
et al., 20U).
Questões referentes a preparo do solo, operações de subsolagem, gradagem e aração,
direcionamento e locação das linhas de plantio e conservação do solo têm avançado pelo
mérito técnico nos novos plantios da citricultura moderna, buscando o preparo mínimo da
área, apenas nas linhas de plantio. Mais recentemente, a pesquisa tem investido esforços
no estudo do manejo de culturas intercalares e, ou, da vegetação nativa com relação às
alterações dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo, associadas à produção
dos pomares. Nesse contexto, as informações, a seguir, abordam os principais pontos
requeridos para implantar pomares de citros:
A) Escolha da área - o plantio dos citros deve ser planejado com base na avaliação da
capacidade de uso do solo, visando manutenção da sustentabilidade da produtividade, o
que é possível com o conhecimento do ~o~juto de atributos do solo com_ elevada infl~ência
na produtividade da cultura, '=.orno: fis1c_os (textura, estrutura, ?ens1dade~ porosidade,
resistência do solo à penetraçao, retençao de água e profundidade efetiva do solo),
químicos (CTC, toxicidade ~e AI, teores de nutrientes, ~e_MO e V)~ morfológicos (relevo e
posição de ocorréncia na pa1~age~), ~ém d~s c~a~t~nsticas do clima, co~10 temperatura,
umidade relativa do ar, reg1me h1dnco e d1str1bu1çao de chuvas. Essas informações são
conseguidas com um detalhado levantamento do solo e do local das áreas destinadas à
. lantação da cultura. Como se trata de uma cultura perene, equívocos cometidos na
~plantação do pomar de citros permanecerão ao longo de sua vida útil e refletirão no
unp desempenho. Portanto, é recomendada a eliminação de imped imentos físicos, como
~::adas compactadas subsuperficiais (pé-de-grade ou pé-de-arado), e químicos (teores

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SO LO EM CU LTI VO DE CITROS 919

e levados de AI e/ ou baixos de Ca) antes da implantação do poma r. Em á reas com limitações


em atributos químicos e físicos, cultivo de grãos em um ou dois ciclo agrícolas deve ·er
considerado como estratégia viável antes da impla ntação do poma r, visando diminui r
limitações químicas e físicas do solo ao longo do tempo, o que favorecerá o estabelecimento
e a precocidade de produção dos citros.
B) Planejamento de talhões - a decli vidad e e confo rmação do terreno, o tipo de so lo,
o tamanho da propriedade e as exigências técnicas para operaçõe mecanizadas devem
ser levados em conta para definir o desenho e ta manho dos talhões. Os talhões podem
representar áreas pequenas até de 5 ha, ou áreas maiores com cerca de 20 ha. A sim, podem
ser quadrados ou retangulares, em áreas com relevo plano e s uave ond u lado (declividade
<10 cm m·1), ou irregulares, em áreas com declividade variável e majs sujeitas à erosão.
Aspectos como estradas, divisas e uso dei rrigação também interferem e devem ser levado
em consideração por ocasião da defirução da forma e do tamanho dos taJhões. Com a
necessidade do plantio de pomares mais adensados e que faci li tem o ma nejo regional para
o controle do huanglongbing (HLB) (Belasque Jr. et aJ., 2010), verifica-se a tendência de
plantio de pomares divididos em talhões com linhas de plantio retas, passando sobre a
possíveis curvas de nível, estabelecidas inicialmente no terreno, o q ue diminu i o número
de ruas "mortas" e facilita a aplicação de inseticidas em bordas, com ganhos no rendimento
operacional. Isso é possível em terrenos com declividade até de 10 cm m·1, sem prejuízos
para a conservação do solo. A manutenção de cobertura vegetaJ do solo, por exemplo, com
capim braquiária até o preparo de faixas de plantio, contribui para diminuir o escoamento
da água das chuvas e da erosão do solo, durante o período de implantação do pomar (Auler
et ai., 2008). Somando-se a isso, em áreas planas ou ligeiramente inclinadas, precoruza-se
direcionar as linhas de plantio no sentido leste-oeste, o que proporciona melhor insolação
e evita que apenas um lado da planta receba o sol da tarde, principalmente em locais
mais quentes, o que pode prejudicar o florescimento e pegamento de frutos jovens. Além
disso, em regiões mais frias e sujeitas ao ataque da podridão floraJ, provocada pelo fungo
Colletrotricum acutatum, também é conveniente o alinhamento do plantio no sen tid o leste-
oeste, o que permite que os dois lados das plantas sequem mais rapidamente pela manhã,
após orvalho ou chuva, o que é fundamental no controle dessa doença.
C) Sistematização e preparo do terreno - essa fase deve ser planejada com base
na necessidade da construção de terraços, do plantio em nível, do d esenho de estradas
e carreadores, da construção de canais de drenagem e da implantação de sistemas de
irrigação. A redução da movimentação do solo é fundamental no que e refere ao manejo
e à conservação desse por proporcionar benefícios corno manutenção ou melhoria da
estrutura do solo; menor possibilidade de compactação do solo; menor perda d e solo
e água por erosão; maior disponibilidade de água para as plantas; e redução de custo
de produção. No entanto, é importante ressaltar que camadas de solo compactadas em
subsuperfície são frequentemente encontradas em áreas de culturas perenes e semi pe renes
(Mazza et al., 1994; Tersi e Rosa, 1995). Nesse caso, o preparo do olo para implantar o
pomar deve ser precedido de avaliação dessas condições; posteriormente, empregam- e
práticas que visem eliminar qualquer camada de impedimento físico para O cre imento
d as raízes das plantas.
O desafio de um adequado manejo do solo para citricultura moderna é grande, pois
a fertilidade natural dos solos tropicais, comuns na citricultura brasileira, é bai. a. esse
cenário, agregam-se áreas de reforma de pomares ou implantação de no O pomar em áreas
utilizadas anteriormente com outras culturas, que, muitas vezes, foram submetidas ao uso

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


920 JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

e man_e jo inadequados, culminando em processos de acidificação e per~ª. de nutri:nt~s e


maténa orgânica. A fase de implantação dos pomares é o momento propicio par~ eltrrunar
~u equalizar as limitações apresentadas pelo solo para a cultura. Entretant?, mmtas vezes,
isso é negligenciado ou não é alcançado em razão das fall1as no maneJO do solo e da
cultura, o que se torna de difícil solução e de alto custo após a implantar O pomar. Dentre
as atividades, geralmente negligenciadas ou não alcançadas na implantação do pomar,
destacam-se: profundidade de preparo insuficiente para eliminar camad~s com~ac~adas
no _solo especialmente no sulco de plantio; incorporação rasa de calcário;. ausenc1a de
aplicação de fertilizante fosfatado no sulco de plantio; e posicionamento mmto profundo
da muda no suko (Tersi, 2001; De Negri et al., 2005).
A acidez do solo é um dos principais fatores da baixa produtividade das culturas, o
que está associada à toxicidade por Ale, particularmente, à deficiência de Ca. As respostas
à calagem indicam que os citros são plantas sensíveis à acidez elevada do solo (Andersen,
1971; Quaggio et al., 1992a; Auler et al., 2011). Os incrementes de produtividade com
a aplicação de calcário devem-se, em parte, à demanda elevada dos citros por Ca e Mg
(Quaggio et ai., 1992b; Mattos Jr et ai., 2003), pois absorvem mais Ca do que N, o que
acontece com poucas espécies de plantas. Além disso, os citros apresentam alta demanda
por Mg (Quaggio et ai., 1992b).
Assim, em solos com limitação química natural, como excesso de AI (saturação por Al
na CTC do solo m >40 %) e, ou, deficiência em Ca (V < 25 %), o preparo deve ocorrer com
a maior antecedência possível ao plantio das mudas para permitir a adequada reação do
calcário no solo. Deve-se dar preferência por calcário com maiores teores de Mg, que deverá
ser aplicado em área total, visando elevar o valor de V na camada arável (O a 20 cm de
profundidade) para 70 % (Quaggio et al., 1992a) e os tores de Mg no solo em 0,9 cmolc dm·3
(Quaggio et ai., 1992b). Esse valor de V no solo corresponde aproximadamente a pH 5,5,
determinado em solução de CaC1 2 10 m mol L-1 (Raij et al., 2001). Recomenda-se pré-
incorporação do calcário ao solo em área total, utilizando-se grade de discos com pelo
menos 76,2 cm (30") de diâmetro. Em seguida, é recomendada a incorporação profunda
do calcário usando-se grade pesada, arado de discos ou arado de aivecas. Também, é
desejável aplicar calcário no sulco de plantio, com profundidade de 25 a 30 cm, na dose
de 0,5 kg m ·1, misturando posteriormente o insumo ao solo com subsolador de três hastes.
Além da calagem, recomenda-se aplicar gesso agrícola em solos cuja saturação por AI for
maior que 40 % ou o teor de Ca for menor que 0,5 cmolc dm·3, na camada de 20 a 40 cm.
A quantidade a ser utilizada é calculada com base no teor de argila do solo, utilizando-se
a seguinte fórmula: Dose de gesso (DG) (t ha·1) = 0,006 x argila (g kg-1) (Sousa e Lobato,
2004). Dessa forma, a acidez da camada arável será corrigida rapidamente, em razão de o
sulfato e o cálcio, constituintes do gesso agrícola, movimentam-se para camadas inferiores
do perfil do solo, o que reduz a saturação por AI tóxico em subsuperfície. Com isso, ocorre
melhoria no ambiente do solo em profundidade para o crescimento do sistema radicular,
tendo como consequência maior eficiência na absorção de água e nutrientes pelos citros.
Após a calagem e gessagem, recomenda-se deixar a vegetação espontânea voltar a
cobrir O solo. Caso não houver banco natura] de sementes na área aconselha-se a semeadura
de granúneas ~o gênero Ur~chloa. E~sa prática de mai:ejo, associada ao preparo do solo
somente nas faixas de plantio, per_nute que a área esteJa pronta para o plantio, inclusive
durante O período das chuvas. Assim, recomendam-se as práticas em seguida descritas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE (ITROS 921

A marcação das linhas de planti o. Em segui da, a dess caçã do mato com herbicida
não seleti vo numa faixa de 2,4 m de largura ao longo das li nhas de plantio. Com o mato
seco, a abertura dos sulcos de plantio com profundidade d e 30-40 cm.
A incorporação do calcário no sulco dever ser feita com auxílio de um subsolador
com três hastes. Quando esse implemento é eq uipado com reservatório de fertilizantes,
recomenda-se aplicação de P em profundidade na mesma operação, conhecida como
tríplice operação (Figura 6). A quantidade de P recomendada é de 120-16 kg ha·• de P2ü ,1
independentemente do teor de P no solo. Deve-se dar preferência por fontes de P olúveis
em água como superfosfato simples e, se possível, contendo 0,5 º~ de Zn.

Figura 6. Incorporação de calcário e gesso no sulco de plantio simultaneamente à aplicação de adubo


fosfatado em profundidade, no sistema de preparo em faixas na instalação do pomar. Detalhes
do equipamento de operação tríplice (a e b), operação em campo (c e d) e cr imento de raizes
ao longo da linha de incorporação do adubo fosfatado em profundidade (e).
Fotos: J.A. Quaggio.

A estratégia de incorporação do P no sulco de plantio surgiu em decorrência de frequente


constatação de sintomas de deficiência do nutriente em pomares j ens. Is e de e ao
fato q ue plantas jovens apresentam taxa de crescimento e demanda p r P mais elev;1das o
que p lantas adultas e, ao mesmo tempo, possuem sistema radicular menos desenv lvido

MAN EJ O E CO NSE RVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


922
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

(Quaggio et al., 2005). A plantas deficiente em p evidenciam folha s maduras com tamanho
aur:_'\en_tado, de cor bronzeada, sem brilho, coriáceas, que caem, prematuramente, qua nd o ª
ca~encia d P s~vera. Por essa razão, os ramos tornam-se desfolhados da base para O ápi~e
(Figura 7), em decorrência da redisti-ibuição do nutriente das folhas mais velhas para as mais
novas, flores e frutos (Mattos Jr et ai., 2005; Zambrosi et ai., 2012a).
. O beneficio da aplicação do p no sulco de plantio para a formação de pomares mais
vigoroso foi comprovado pelo fato de o crescimento inicial das laranjeiras ser favorecido
pel~ melhor distribuição do fertilizante fosfatado em profundidade no solo, comparado à
aplicação concentrada na camada superficial (Quadro 11; Zambrosi et al., 2013). A interação
do P com a matriz do solo e a ocorrência de p em formas orgânicas, além da baixa taxa de
difusão desse elemento na solução do solo, fazem com que a disponibilidade na rizosfera
seja limitada, restru1gindo a absorção pelas raízes e o seu crescimento (Vance et al., 2003;
Zambrosi et al., 2008). Esse fato se torna mais relevante considerando que adubações
subsequentes são realizadas na superfície do solo, cuja umidade é baixa durante períodos
de veranico, reduzindo ainda mais a disponibilidade de P para as plantas.
Destaca-se que a baixa disponibilidade de p compromete o crescimento das raizes
(Quadro 11). Portanto, pomares jovens, cujas plantas apresentam maior crescimento do
sistema radicular em decorrência do adequado fornecimento de P no plantio, se apresentam
mais vigorosos, como resultado da maior capacidade de absorção de água e nutrientes
pelas plantas.

. as da deficiéncia de P em citros: folhas velhas bronzeadas (a), queda em razão da


Figura 7. S•,intom · d d f II ( )
·
de fj c1enc1a se vera (b) e pecíolos retidos após que a e o 1as e .
fotos: D. Ma ttos Jr.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - M ANE JO DO SOLO EM CULTIVO DE (ITROS 923

Quadro 11. Massa ele ma téria seca (MS) de folhas, pa r t aé rea ' r a11: de rvDrt' jovenc; de d trns e m
razão de doses e íorm;is de aplícaç, o de f(i c; (oro no so lo

Tratamentos com P MS-folha M - parte aérea MS-r iz


_ _ _ _ _ g/ planta - - - - - - -
Pof Po 73,0 165,3 l O,!,O

P/ P0 79,4 17 ,8 118,7

Po_sf Pns 88,1 188,7 121,7


P/ P0 92,1 192.2 125,7
P/ P1 98,0 211,4 126,5
Contras tes o rtogonais
Po/ P0 vs P/ P0 + P0_
sf P0_5
Pof P0 vs P/ P0 + P/ P, *
P/ P 0 + P0.sf P05 vs P/ P0 + P/ P1
PJ P0 + P/ P0 vs P0,sf P0,s + P/ P1 ns
O primeiro e segundo ' P' ind icam .1 Cílmacla de 0-0,30 e 0,31-0,60 m, re~pe<:tiv.imente P.j P, = ....-m .iplic.iç.1o d~ r ro "°'º· r / P
= 8 g de P por planta concentrado na pri meira c,1mad.1. r 0_ ; P,.~ = 8 g d e P por pl.inta J 1v1do em cluJ.S ca!"N,JJ P/ P ~ lf> d <! P
por planta concentrado na prinwira camada. P,f P, = 16 g de P por planta divido em du,1' C,l fTulcl JS Camp rac;Jc, e.lo,; tr;:i men °"
por meio de contrastes ortogonais. • p < 0,1 e ns = não significa tivo (p>0,1).
Fonte: Adaptado de Z.1 mbrosi et ai. (2013).

A resposta dos citros à adubação fosfatada depende da combinação opa/ porta-i!nxerto


(Figura 8), o que está associado às diferenças na ab orção de P por cada porta-en,xerto. Por
exemplo, árvores jovens de laranja Pera sobre limão Cravo apresentam maior crescimento
do sistema radicular do que aquelas sobre tangerina Cleópatra (Figuras 9a). Além di.sw,
árvores sobre limão Cravo evidenciam maior eficiência na absorção de P (EAP) (Figura 9b),
promovendo maior crescimento radicular, atendendo à demanda por crescimento e produção
de frutos. Desse modo, variações na capacidade de absorção de P por diferent porta-enxertos
justificam recomendação diferenciada de adubação fosfatada na fonnação do pomar entre
árvores sobre tangerina Cleópatra ou limão Cravo, considerando a essa tangerina como mais
exigente no suprimento de P (Quaggio et al., 2005; Zambrosi et a i., _012a,b, _GJ3).
A diversificação do uso de porta-enxertos tem sido uma busca frequente na citri ultura,
em razão principalmente da susceptibilidade de algumas va riedade a doença como a
tris teza dos citros (CTV), a gomose de Phtop/-it/10rn, o declínio dos citro e a morte úbita do ~
citros (MSC) (Pompeu Jr, 2005). Outras questões, relacionadas às característic regionais,
como temperatura e déficit hídrico, têm defi nido a opção do uso de port -enxertos mai
tolerantes à seca ou mais responsivos à irrigação.
Em regiões mais quentes e com ma ior déficit hídrico o Limão Cravo tem sido
m a is usado com risco de reduzir a v ida útil do pomar devido a M C, em raz- 0 da
s usceptibilidade desse porta-enxerto à doença. essas condições, é recomendável O u o da
tangerina Sunki, que, se bem plantada, com correção da acidez do solo e teores adequados
d e P, especialmente em profundidade, apresen ta tolerància à seca pró, ima à do Limão
Cravo e não é susceptível à MSC. Em pomares irrigados ou I calizado em regiões com
temperaturas mais amenas e menor défice hídrico, podem ser utilizados p rta-en.: ertos
corno a tangerina Cleópatra, o citrumelo-svv ingle e a tangerina unki, q ue e .:idap tam
nessas condições.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


924
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL,

120
• Cravo
■ Oeópatra
......._ • Swingle

-
~
ia
:e
>
100

..!ll
~ 80
o
tia
u,
::,
-g
~ 60

40 L.__ _----1._ _ _.....1...._ _ _.l--_ __ , ' - - - - - - - '

o 500 1000 1500 2000 2500


pPsr g planta•t
Figura 8. Produção relativa de laranjeiras sobre diferentes porta-enxertos em resposta à adubação
com fósforo. Dados referem-se à média de doses em dois locais e às quantidades totais aplicadas
até o quinto ano, após plantio no campo.
Fonte: Adaptado de Mattos Jr. et al. (2006).

130 (a) (b)


-
!l 124
ã
125,9a
1,0

0,8
õ.. 0,65b
!:9 118
~ ~ 0,6
e 113,3 b ~
"' 112
~ OA
"O
"'
~
! 106 0,2
"'
~
100 o
Pêra/Oeópatra Pêra/Cravo Pêra/Oeópatra Pêra/Cravo
Combinaçiies copa/porta-enxerto Combinações copa/porta~

figura 9. Crescimento do sistema radicular (a) e eficiência de absorção de P (EAP) (b) em plantas
jovens de laranjeira Pera sobre dois porta-enxertos. As letras indicam diferença significativa
pelo teste F (p<0,05).
fonte: Adaptado de Zambrosi et al. (2013).

Os citros adaptam-se bem a solos mais arenosos na superfície, com bom arejamento
para as radicelas e ~adiente textura] entre o_s horizontes A e B; portanto, com maior
capacidade de r_e~ençao de água em profun?1_dade. ~ntretanto, não toleram solos com
drenagem insuficiente, mesmo que_tempor~na (Cora et al., 2005) . Portanto, além da
susceptibilidade a d_o~n?as e questoes relacionadas ao ambiente corno temperatura e
déficit hídrico, a definiçao do porta-enxerto deve passar, obrigatoriamente, pelo estudo
das )imitações e qualidades do ambiente para cada porta-enxerto, baseando-se no conjunto
de atributos do solo, como mencionado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITR OS 925

A textura, retenção de água e drenélgem são con iderados os a tri butos do solo de
maior importância e que não devem ser negli genciados, portanto, na d fi nição d_e P rta-
enxerto. De maneira geral, nas partes mai s altas da paisagem, onde o relevo mais plano,
geralmente ocorrem solos com maior produndidade efetiva e bem d renéldos e, de p n dendo
da textura, com menor retenção de água. Nessas condições, deve- dar preferência P ra
porta-enxertos mais tolerantes ao estresse hídrico, em combinação com copa precoces,
onde os frutos já terão sido colhid os antes do período de seca. Em área cujos . olos
apresentam boa drenagem e gradiente textura! entre os horizontes, o que ocorre, em er L
na meia-encosta da topossequência, recomenda-se porta-enxerto de citrumelo Swingl ,
com copas de variedades precoces e tardias, e tangerinas Sunki, pa ra a variedade Per •
A variedade Pera é considerada de meia-estação e incompatível com porta-enxerto de
citrumelo Swingle; portanto, sendo necessário utili zar-se de interenxerto.
Nas partes mais baixas do relevo, onde podem ocorrer solos com drenagem 1mp rfeita,
deve-se evitar porta-enxerto de tangerina Sunki, considerado ensível à condição d e
drenagem insuficiente. Nessa condição, o porta-enxerto mais recomend ado é o citrumelo
Swingle, que possui maior tolerância aos períodos curtos de encharcamento.

MANEJO DO SOLO NO POMAR IMPLANTADO

Atributos químicos
O manejo da adubação dos pomares, principalmente por causa do uso continuado de
fertilizantes nitrogenados arnoniacais, se apresenta como causa principal da acidificação
do solo. A acidificação promove perdas de Ca e Mg para camadas mais profundas do perfil
do solo, diminuindo os teores desses elementos nas suas camadas superficiais (CantareUa
et ai., 2003), onde se concentra maior volume de raízes das plantas. Es e processo pode
ser mais intenso na região do bulbo úrnido no solo, em pomares fertirrigados, dadas as
características termodinâmicas na solução do solo e pela maior absorção de r -amoniacal
comparado ao N-nítrico pelas plantas (Quaggio et al., 2007, 2014).
Um dos aspectos mais importantes a ser considerado no manejo da acidez do solo
para os citros se refere ao efeito residual da calagem e à resposta à produção (Ander on,
1971; Quaggio et al., 1992a), embora essa variação seja em razão do poder-tampão do olo
e da intensificação do manejo. Com o objetivo de evitar a aplicação de doses inadequada
de calcário, a avaliação da acidez do solo deve ser feita com base nos re ultados da análise
química em amostras de terra coletadas na faixa onde são realizada as adubaçõe-.
Em pomares já implantados, a aplicação do calcário em faixas, com distribuição de
70 % da dose recomendada sob a projeção da copa das plantas, é opção eficiente para
corrigir a área mais acidificada do pomar, em decorrência das ad ubações nitrogenadas.
Entretanto, em pomares fertirrigados, recomenda-se aplicação de 100 % da dose sob a
projeção da copa, por causa de o efeito de acidificação do solo ser maior ne - a regiã . De
maneira geral, a época mais adequada para se realizar calagem em solos sob citricultura
é entre os meses de março e abril, precedendo a efetí ação das aplicaçõe de fertilizantes.

O manejo da adubação dos citros deve ser estabelecido para as fases de: planti -
discutido anteriormente; formação - árvores jovens com menos de quatro anos de idade;

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


926
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

e pomar em produção - árvores adultas. Nesse último caso, há distinção das doses de
fertiliza. n tes recomendadas para os grupos de variedades de laran1as,
· 1·ima ác1'd a, 1·imoes,
-
tangennas e tangar. Ainda, para pomares de laranjas em produção, as recomendações de
adubaç~o devem levar em consideração a qualidade desejada para a fruta e o seu destino,
se para mdústria ou mercado i11 nnh,m. As definições de doses, modos e épocas de aplicação
e fonte dos fertilizantes são abordadas em detalhes por Quaggio et ai. (2010) .

Atributos físicos (manejo das entrelinhas)


O manejo físico do solo e as práticas culturais realizadas nos pomares de citros são
de fundamental importância para o desenvolvimento da cultura, pois, no caso específico
dessa cultura, a maior parte das radicelas se concentra próximo à superfície (Carvalho et
al., 2005).
O manejo da entrelinha dos pomares de citros, visando à eliminação da vegetação
espontânea, era realizado, preferencialmente, com uso de grade e arado até a década
de 1990. Na linha, eram realizadas capinas manuais. No entanto, esse manejo ainda
continua sendo muito utilizado por pequenos e médios citricultores (Figura 10). Sabe-se
que práticas para o controle da vegetação espontânea que se baseiam no revolvimento
do solo não trazem benefício para a cultura, pois, além de desestruturar o solo, cortam as
radicelas das plantas, o que dificulta a absorção de água e nutrientes e facilita a entrada de
patógenos que vivem no solo, como nematóides, podendo promover diminuição do nível
de colonização micorrízica no solo (Carvalho et ai., 1995). A desestruturação do solo pelo
revolvimento intensifica o processo de compactação e erosão e proporciona exposição do
solo a altas temperaturas, aumentando a perda de água por evaporação e acelerando o
processo de degradação da matéria orgânica nele (Cintra et al., 1983), contribuindo para a
baixa produtividade e redução da longevidade dos pomares. Tais práticas são associadas
ao tráfego intenso de máquinas utilizadas em adubações, manejo fitossan.itário, controle de
plantas invasoras e colheita dos frutos, que podem intensificar o processo de degradação do
solo. As plantas cítricas não promovem satisfatória cobertura do solo, tomando necessária
a adoção de técnicas de cultivo que auxiliem na proteção do solo, a fim de minimizar ou
evitar sua degradação pela erosão.
Com o objetivo de evitar tais problemas e visando conduzir a citricultura brasileira
para um sistema de produção agrícola moderno e sustentável, recomenda-se o controle
da vegetação espontânea nas linhas de plantio, utilizando-se herbicidas e manutenção da
vegetação nativa ou introduzida nas entrelinhas, sendo o controle realizado com roçadeiras
do tipo convencional ou ecológica. A roçadeira tipo ecológica ceifa a massa vegetal da
entrelinha, com a vantagem de projetá-la na linha de plantio da cultura (Figura 11). Essa
prática é, relativamente, recente na citricultura, mas com resultados promissores. O controle
da vegetação espontânea na linha de plantio dos citros é reaJizado, principalmente, com
0 uso de herbicidas não seletivos sistêmicos, sendo o mais comum o glifosato, sem efeito
residual no solo (Rodrigues e Almeida, 2005).
Contudo, o frequente uso de determinado herbicida, ou de diferentes herbicidas com
mesmo mecanismo de ação, favorece a seleção de espécies de plantas daninhas resistentes
aos respectivos produtos (~hristoffoleti _et ai., 1994). Ao contrário, a manutenção da
cobertura vegetal do solo na linha de plantio da cultura, quando adequadamente efetivada,
contribui para O controle efetivo da vegetação espontânea (lAPAR, 1985; Carvalho et al.,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 927

2002; Hirata et ai., 2009). A adoção do manejo da entrelinha d os citros co~ c~~ert\ira
do solo na projeção da copa das árvores tem demonstrado, ainda, redução s,gn.ificat~va
de ocorrência da doença dos citros, por dificultar a propagação do fungo (Pliy[(ost,cta
citricarpa), aumentando a produtividad e do pomar (Azevedo ct ai., 2012).

Figura 10. Manejo do mato na entrelinha do citros por meio de gradagem. Taquantinga, SP,
outubro/2015.
Fotos: P.R. Volante.

Figura 11. Manejo do mato na entrelinha do citros utilizando-se roçadeira lateral tipo ecológica
(direita). Detalhe evidenciando palhada depositada na linha de plantio. Mogi Mirirn, P.
Fotos: F. A. Azevedo.

O manejo das entrelinhas com cobertura vegetal proporciona melhora do · atributos


físicos e químicos do solo porque tanto a cobertura vegetal viva como a biomassa
residual reduzem o impacto das gotas de chuva, evitando o entupimento do poros do
solo (selamento superficial). Isso disponibliza aumento na aeração do solo, infiltração de
água e capacidade de armazenagem de água pelo solo. O material vegetal depositado
na superfície do solo proporciona efeito dissipador (efeito colchão ou esponja) de f r as
externas (peso de máquinas e equipamentos), dado o aumento da s uperfície de contat

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


928
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

coin o olo, di~s·


~ ipan d o é1S f orças em área superficial
· · maior,
· d munum
' · · d o o e fet·to d a sua
compactação no local.

. . _cobertura vegetal proporciona, ainda, conservação da umidade do solo, por


dmunmr a amplitude térmica e evaporação da água na superfície desse, assim como o
aumento no teor de matéria orgânica do solo (Cintra et al., 1983; Fidalski et ai., 2007; Auler
et al., 2008). Todos esses aspectos promovem melhoria da esh·utura do solo e favorecem
0
de_senvolvimento de macro e microorganismos benéficos, que atuam na ciclagem de
nutT1entes.

. Es~dos evidenciaram que a produtividade e qualidade de frutos de citros não foram


1
11!.1:ienciadas quando braquiária brizanta, feijão-de-porco, labe-labe (Doliclws lablab L.),
fei1ao-?11andu-anão (Ragozo et al., 2006), Urochloa humidicola, Paspnlwn notatum (grama
batata1s), Arachis pintai (amendoim forrageiro), Callopogoniu111 mucu11oides (calopogôn.io)
(Au_ler et ai_., 2008), Urochloa decumbens, capim-pé-de-galinha (Chloris disticlwphylla), guandu
(Ca;anus ca;an) e rnilheto (Pennisetum ame1'icanum) (Bordin et al., 2008) foram utilizados como
pia:1tas ~e cobertura nas entrelinhas de citros. Crotnlaria juncea, calopogônio, mucuna-anã
(SHzolobzum dceringianum) (Francese, 1994), Urochloa ruziziensis e amendoim forrageirro
(Volante, 2010) não influenciaram o crescimento das plantas de citros no período de
fom1ação do pomar (até quatro anos), quando utilizados como plantas de cobertura do
solo nas entrelinhas da cultura.
Contudo, plantas de cobertura nas entrelinhas dos citros podem provocar
competição por água e nutrientes, reduzindo a produtividade dos citros. Perin et ai.
(2002), ao avaliarem amendoim forrageiro, cudzu tropical (Pueraria phaseoloides) e siratro
(Macroptilium atropurpureum), como plantas de cobertura nas entrelinhas dos citros,
obsenraram que o amendoim forrageiro proporcionou efeito negativo nos citros em
decorrência da competição por água, quando comparado ao solo sem cobertura, por causa
da maior capacidade de distribuição das suas raízes no perfil do solo. Fidalski et ai. (2006)
verificaram que a manutenção de amendoim forrageirro nas entrelinhas do pomar de
laranja Pera promoveu competição pela água do solo com as laranjeiras. Já o cultivo das
entrelinhas com grama batatais proporcionou relações hídricas e metabólicas positivas
com as laranjeiras. Entretanto, a produção de frutos das laranjeiras, cujas entrelinhas eram
cultivadas com gramínea ou leguminosa, não foi comprometida em relação à testemunha
com baixa cobertura vegetal.
A introdução de adubos verdes anuais na entrelinha da cultura pode ser alternativa
para O manejo da entrelinha dos citros, principalmente em razão da adição de N no sistema
por meio do processo de fixação biológica. Contudo, a prática tem o inconveniente da
dependência de ressemeaduras, onerando os custos da atividade com aquisição de
sementes e operações mecanizadas para semeadura.
Como opções de espécies de coberturas perenes, destacam-se as gramineas como a
Uroch/oa ruziziensís, que apresenta menor competição com citros, quando comparada às
outras espécies de braquiárias como a U. decumbens. Nos períodos de seca, a U. ruzizie11sis
seca, deixando de concorrer por água e nutrientes com as plantas d e citros, enquanto que
a u. decumbens apresenta maior persistência (Sanches, 1998).
Trabalho coordenado pelo Centro de Citricultura Sylvio Moreira, do Instituto
Agronômico (IAC), no M~cípio de Mo?1 ~im, SP, em pomar d e J~ ~a á~ida Tahiti, desde
a implantação em 2010, utilizando braqu1ánas (U. decumbens e U. m z1z1e11s1s) nas entrelinhas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MAN EJO DO S OLO EM CULT I VO D E (ITRO S 929

e d iferentes roça dei ras (convencional e ecológica) tem demons trado ad qu do contrnl a
po pulação de plantas infestantes, na linha de culti vo dos citros, quando s maneja ave etaçào
interca lar com roçadeira lateral ti po ecológica (Figura 12). A opção pela<; braqu i ria<; no
m encionado estudo se deu pelo fa to da sua usual uti lização como p rá tica conservacionista,
seja em semeadura em áreas que aind a não estão estabelecid as, seja por meio da sua
manutenção e controle em áreas onde estão estabelecidas (Souza Filho et al., 2005).
o mencionado estudo, Molinari (2012) observou menor perda de água do solo,
qu ando o manejo das plantas da entrelinha do pomar fo i rea li zad o com roçade ira tipo
ecológica, e o solo na linha de plantio foi man tido coberto por biomassa residual resul tant
da d epos ição da palhada das braquiárias. Esse efeito foi associado à maio r ínfiltr.ição
d e água na camada de O a 20 cm d o solo (Soares et al., 2002). Segundo es es autores,
menor disponibilidade de água no solo fo i observada nas áreas com co ntrole de plantas
infestantes com herbicida. Avaliações também demonstraram maio r resis tê ncia do olo
à penetração na linha de plantio no tratamento com roçadeira convencio nal (Figura 13).
Menores valores para o uso de roçadeira ecológica fo ra m ob ervad o na entrelinha da
cultura, em detrimento ao efeito que essa roçadeira proporciona na entreli nha, retirando a
massa vegetal da entrelinha e projetando-a para linha. No caso da roçad eira convencional,
a massa roçada é mantida na entrelinha.

Convenàonal
(Maio/13) □ Ecológica

(Fev./13)

(Out/12) 121,6 a

o 20 40 60 80 100 120 140


Nº plantas daninhas m.:i

Figura 12. Densidade de plantas daninhas na linha de citros e m pomar de lima ácida Tah iti
manejado com roçadeiras convencional ou ecológica desd e 2010 (Mog i Mi ri m, SP, 2012-2013).
""Tukey (p<0,05).
Fonte: So uza Filho et ai. (2005).

A massa ve~etal deixad~ na superfície_d_o_solo como cobe rtura, a lém de proteger 0


solo, como ~~nc10na_do antenor~1ente, poss1b1hta o ~porte d e nutrientes ao o lo, poi com
a d ecompos1çao da biomassa residual ocorre a sua nuneralizaçào e consequente a libera •ão
d os nutrientes para o solo.
O m anejo da enh·elinha dos pomares, aproveitando-se a egetaçào espontânea e, u ,
in~odu~ida ~m benefício da_cultur~, em que grande n?mero d e citricul tore te m optado,
ev1denc1a-se interessante. Ahado a isso, o correto maneio d a fertilidad e do lo em endo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


930
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL,

fator c. on di · nante para obter maior produtividade dos pomares de e1tros.


_ c 10 . .
Com isso, a
combmaçao de diferentes métodos de manejo da vegetação na entrelinha dos pomares é
recomendada, como a combinação de roçadeiras laterais e herbicida.

Resistência solo (MPa)


0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

35 -&Convencional -+- Ecológica

40
Figura 13. Resistência do solo à penetração na linha e entrelinha de pomar de lima ácida 'Tahiti'
manejado com roçadeiras convencional e ecológica (Mogi Mirim, SP, 2013).

A redução da movimentação do solo é fundamental no seu manejo e na conservação


por proporcionar benefícios como manutenção ou melhoria da estrutura do solo; menor
possibilidade de compactação do solo; menores perdas de solo e água por erosão; maior
disponibilidade de água para as plantas; e redução de custos de produção. Portanto, a
redução da movimentação do solo contribui significativamente para manutenção da sua
capacidade produtiva ao longo do tempo.
A manutenção da cobertura vegetal na superfície do solo é uma prática que
proporciona efeito efetivo no controle da erosão, além de proporcionar vários outros
benefícios como: reduzir efeitos negativos causados pelas chuvas e enxurradas ao reduzir
0 impacto das gotas na superfície do solo, que provoca o rompimento e a pulverização
dos agregados. Partículas do solo desagregadas ficam suspensas na água e são facilmente
arrastadas pela enxurrada, com consequente assoreamento de rios e lagos. Essas partículas
preenchem os poros do solo (selamento superficial), reduzindo drasticamente a taxa de
infiltração da água no solo, com consequente awnento do escoamento superficial da água,
intensificando a formação de enxurradas e o processo erosivo. A cobertura vegetal atua
como impedimento ao fluxo de água da enxurrada, reduzindo sua velocidade e, assim,
seu efeito desagregador e de transporte de solo; proporciona incorporação de matéria
orgánica ao solo, promoven_do melhoria de seus atributos fü~icos (estrut~ra, porosidade,
aeração, infiltração e retençao de água), favorecendo o crescimento do sistema radicular
dos citros e das plantas de cobertura do solo. As raízes das plantas de cobertura, após
decomposição, deixam canais, denominados bioporas, que promovem aumento na taxa

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - MANEJO DO SO LO EM CU LTIVO D E CITROS 93 1

de infiltração e armazenagem da água no solo. Ma ior d is pon ibilidade d e água promove


aumento na eficiência de absorção de nutrientes pela p lanta. A matéria o rgânica tem grande
importância no comportamento mecânico d o solo, principalmen te qua nd o ele é s u bmeti do
à carga externa. O acúmulo de matéria orgânica pod e redu zir a d ensidade máxima d o solo
e aumentar a umidade crítica para que ocorra compactação, reduzindo o impacto negativo
dela (Braida et ai., 2006); promove aumento da biomassa microbiana do so lo, estimu lando a
atividade biológica desse; diminui a ampl itude térmica do solo, fav orecend o o c resci mento
do sistema radicular das plantas e a ati vidad e dos orga n is mos presentes nele; atua na
redução das perdas de água do solo por evaporação, pro movendo au mento da qua n tid ade
de água disponível para as plantas; elinúna ou reduz a incidência de plantas infes ta nte por
efeito supressor físico e, ou, químico, promovendo diminuição de cus tos com controle da
vegetação espontânea; proporciona ambiente favorável à criação/ mul tipl icação de insetos
polinizadores e de agentes de controle biológico; aumenta a ciclagem de nutrientes no
solo, gerando diminuição dos custos com aquisição de fertili za n tes; e a umen ta a prod ução
e qualidade dos frutos dos citros.
Pelo exposto, constata-se que o manejo da linha e entrelinha do citros, p or meio do
controle da cobertura vegetal, propicia efetiva conservação do solo, com efeitos posi tivo
no aumento da umidade do solo e da disponibilidade de água pa ra as p lanta , a im como
a melhoria nos atributos físicos do solo, com redução da compactação e do a umento da
capacidade produtiva do solo e, consequente aumento da produtividade dos citros.

LITERATURA CITADA
Anderson CA. Effects of soil pH and calcium on yields and fruits quali ty o f yo ung Valencia oranges.
Proc Florida State Hortic Soe. 1971;84:4-11.
Anuário Brasileiro da Fruticultura. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa Cruz, 2013.
Auler PAM, Fidalski J, Pavan MA, Neves CSVJ. Produção de laranja-' Pera' em sistemas de pr eparo
de solo e manejo nas entrelinhas. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:363-74.
Auler PAM, Neves CSVJ, Fidalski J, Pavan MA. Calagem e desenvolvime nto radicular, nutrição
produção de laranja ' Valência' sobre porta-enxertos e sis temas de preparo d o solo. Pesq gropec
Bras. 2011;46:254-61.
Azevedo FA, Rosseto MP, Schinor, EH, Martelli IB, Pacheco CA. lnfluên cia do manejo d a en tre linha
do pomar na produtividade da laranjeira-' Pera' . Rev Bras Frutic. 2012;3-U34-42.
Belasque Jr J, Bassanezi RB, Yamamoto PT, Ayres AJ, Tachibana A, Violante AR, Tank Jr A, Oi G iorgi
F, Tersi FEA, Menezes CM, Dragone J, Jank Jr RH, Bové J l. Le sons fro m Huan g longbing
management in São Paulo State, Brazil. J Plant Pathol. 2010;92:285-302.

Bordin I, Neves CSVJ, Francio PF, Preti EA, Cardoso C. C rescime nto de milhe to e guandu,
d esempenho de plantas cítricas e propriedades física s do solo escarificad o em um pomar. Re
Bras Cienc Solo. 2008;32:1409-18.

Bo teon M, Neves EM. Ci~icultura.' brasileira: ~spectos _econômicos. ln: Matto Jr O, De Negri JD, Pio
RM, Pompeu Jr J, editores. C1tros. Campmas: lnshtuto Ag ronó mico e FUNDAG ; 2005.
Bra ida JÁ, Reichert ~ ' Veiga M, Reil:ert DJ. Re~íduos ~egetais na upe rfície e carbon o o rg nico d o
solo e suas relaçoes com a densidade máxima obhda no ensa io Proc to r. Rev Bra.s Ciern: Solo.
2006;30:605-14.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


932
JOSÉ EDUARDO (ORÁ ET AL .

Cantar~lla 1:•
Mattos Jr D, Quaggio JA, Rigolin AT. Fruit yield of Valencia swee t orange fertilized
"' 1th different N ources and lhe loss of applied N. Nutr Cycl Agroecosyst. 2003;67:l-9.
Carvalho JEB'. Brito ZU, Costa eto AO, Caldas RC. Efeitos de práticas culturais sobre o
e st ªbelecimento e pennanência de fungos micorrízicos arbusculares (MAS), n a laranja ' Pêra'.
Rev Bras Frutic. 1995;17:33-46.
Carvalh o ~EB, Neves CSVJ, Menegucci JLP, Silva JAA . Práticas culturais ln: Mattos Jr D, De Negri
JD, Pio RM, Pompeu Jr J, editores. Citros. Campinas: Instituto Agronômico e FUNDAG; 2005.
p .449-82.

Carvalho JEB, Souza LS, Caldas R, Antas PEUT, Araujo AMA, Lopes LC, Santos RC, Lopes
1
CM, ~~uza ALV. Leguminosa no controle integrado de plantas daninhas para aumentar a
produtividade da laranja-'Pêra' . Rev Bras Frutic. 2002;24:82-5.
Christoffoleti PJ, Victoria Filho R, Silva CB. Resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Planta
Daninha. 1994;12:13-20.
Cintra FLD, Coelho YS, Cunha Sobrinho AP, Passos OS. Caracterização física do solo submetido a
práticas de manejo em pomar de laranja 'Baianinha'. Pesq Agropec Bras. 1983;18:173-9.
Corá JE, Silva GO, Martins Filho MV. Manejo do solo sob citros. ln: Mattos Jr D, De Negri JD, Pio
RM, Pompeu Jr J, editores. Citros. Campinas: Instituto Agronômico e FUNDAG; 2005 p.347-68.
Curi N, Larach JOI, Kampf N, Moniz AC, Fontes LEF. Vocabulário de ciência do solo. Campinas:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1993. 90p.
De Negri JD, Stuchi ES, Biasco EEA. Planejamento e implantação do pomar cítrico. ln: Mattos Jr D , De
Negri JD, Pio RM, Pompeu Jr J, editores. Citros. Campinas: Instituto Agronômico e FUNDAG;
2005. p.411-27.
Donadio LC, Mourão Filho FAA, Moreira CS. Centros de origem, distribuição geográfica das plantas
cítricas e histórico da citricultura no Brasil. ln: Mattos Jr D, De Negri JD, Pio RM, Pompeu Jr J,
editores. Citros. Campinas: Instituto Agronômico e FUNDAG; 2005. p.3-18.
Fidalski J, Marur CJ, Auler PAM, Tormena CA. Produção de laranja com plantas de cobertura
permanente na entrelinha. Pesq Agropec Bras. 2006;41:927-35.
Fidalski J, Tormena CA, Silva AP. Qualidade física do solo em pomar de laranjeira no noroeste do
Paraná com manejo da cobertura permanente na entrelinha. Rev Bras Cienc Solo. 2007;31 :423-
33.
Fra.ncese A. Efeito de plantas de cobertura nas propriedades físicas e químicas de um Polzólico
Vermelho-Amarelo distrófico textura arenosa/média sob um pomar de citros (citrus sinensis)
[conclusão de curso] Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho";
1994.
Hirata ACS, Hirata EK, Monquero PA, Golla AR, Narita N. Plantas de cobertura no controle de
plantas daninhas na cultura do tomate em plantio direto. Planta Daninha. 2009;27:465-72.
Instituto Agronômico do Paraná - lAPAR. Guia de adubação verde de inverno. Londrina: 1985.
(Circular, 72).
Instituto de Economia Agrícola - JEA. Área e produção dos principais produtos da agropecuária do
estado de São Paulo: Laranja . Acessado em: 20 de out. 2015. Disponíve l em : http:/ / ciagri.iea.
sp.gov. br/ nial/ s ubjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma =l
actors of soil formation . New York: McGraw-Hill; 1941.
Jenny H . F
Mattos Jr D, Bataglia OC, Q~aggio JA. ~utrição _dos citros. 1~: ~attos Jr D, De Negri JD, Pio RM,
Pompeu Jr J, editores. Citros. Campinas: Instituto Agrononuco e FUNDAG; 2005. p .199-216.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXVIII - M A N EJO D O SOLO EM CULT I VO OE C ITROS 9 33

Ma ttos Jr D, Quaggio JA, Ca ntarella H, Alva /\K, G rae tz DA. Rcsponse o f yo u ng ci tru trees o n ,; lected
roo ts tocks to ni trogen, p hosphor us, a nd potnssium fe rti lization . J Plant N utr. 2006;29: 1371-85.
Ma ttos Jr D, Q u aggio JA, Cantnrelln H, Alva AK. N utrie n t conte n t o f biom.:iss co mpone nts of Hamlm
sweet ora nge trees. Sei Agric. 2003;60:155-60.
Ma ttos Jr D, Za m brosi FCB, Boaretto RM, Q uaggio JÁ, Ca nlMella H . Ad ubnção ío fatada em pomares
de citros: avanços da pesquisa . Inf Agron. 2012;139:1-8.
Mazza JÁ, Vitti C C, Pereira HS, Mene zes CM, Tag liaiini Cf-L Influência da compac tação no
dese nvolv imento d e s is te ma radicu lar de ci tros: s u gestão de método qua n titati vo d a uliação
e recom endações d e ma nejo. Larnnja. 1994;15:263-75.
Medin a C L, Rena AB, Siqueira DL, Machado EC. Fisiologia dos citros. ln: Mattos Jr D, De Negri
JD, Pio RM, Pompeu Jr J., editores. Ci tros. Campinas: Ins ti tuto Agronômico e FV D AG; 2005 .
p .147-95.
Molina ri RP. Manejo d a entrelinha d e poma r de citros com d ife re ntes b raquiárias e roçadeiras.
A raias: U nivers idade Fed eral de São Carlos, 2012.
Pe rin A, Gue rra JG M, Teixeira MG, Pereira MC, Fontana A. Efei to da cobertura viva com leguminosa!-
h erbáceas perenes na agregação d e um aigisso lo. Rev Bras Cienc Solo. 2002;26:713-20.
Pio RM, Figueired o JO, Stuchi ES, Cardoso SA B. Vaiied ad es copas . ln : 1attos Jr D, De I egn JD, Pio
RM, Pompeu Jr J, editores. Citros. Cam pinas: Insti tu to Agron ómico e FU~AG; 2005. p .37-60.
P o mpe u Jr J. Porta-enxertos. ln: Ma ttos Jr D, De Negri JD, Pio RM, Po mpe u Jr J, edi tore . Citros.
Campinas: Instituto Agronómico e FUNDAG; 2005. p.63-94.
Quaggio JÁ, Ma ttos Jr D, Boaretto RM . Citros. Ln: Proch now LI, Casa rin V, Sti pp SR, organiu1dor.
Boas prá ticas pa ra uso eficiente d e fe rtiliza ntes. Piracicaba: Inte m a ti on Plant utritio n Institute;
2010. v .3. p.373-412.
Quaggio JÁ, Mattos Jr D, Canta rella H . Manejo da fer tilidade d o so lo na citric ultura. ln: .\-lattos
Jr D, De Negri JD, Pio RM, Pompe u Jr J, ed ito res. C itros. Ca mpin as: Instituto Agro nômico e
FUNDAG, 2005. p.483-517.
Quaggio JÁ, Mattos Jr D, Sou za TR, Boare tto RM. Equ ilíbrio químico na solução d o solo em i tema
d e adubação sólida e fertirrigação n a citricultura . ln: An ais do 31º . Con gres o Brasileiro de
Ciê ncia d o Solo; 2007; Gramado. G ra ma d o : Socied ad e Brasileira de Ciên ó a d o Solo; 2007.
Quaggio JA, Teófil o Sobrinho J, Dechen AR. Magnes ium infl uences on fru it y ield a n d q u ality of
' Vale ncia' sw eet orange on Ran gpur lime . Proc Inter Soe Citric. 1992b;2:633-7.
Quaggio JA, Teófilo Sobrinho J, Dechen A R. Response to lim ing of 'Vale ncia' orange tree o n Rangpur
lime: effects of soil acidi ty on plant growth a nd y ield. Proc lnte r Soe Citric. 1992a;2:62 32.
Quaggio.A, Souza TR, Zambrosi FCB, Boaretto RM, Mattos Jr D. itroge n -fertilizer forros aifect the
nitrogen-use efficiency in fe r tigated citrus groves . J Pla nt utr Soil Sei. 201-!;177;-l0+ 11 .
Q u eiroz-Vo ltan RB, Blumer S. Morfologia dos citros. ln: Mattos Jr D, De I egri JD, Pio Ri\ l, Pompeu
Jr J, edito res. Citros. Cam p inas: Instituto Agron ômico e FUNDAG, 2005. p .107-B.

Ragozo C RA, Leonel S, Crocc.i AJ. Adubação verde e m po m ar cítrico. Rev Bras Fru tic. 2006;28:69-7.!.
Ra ij B van, Andrade JC, Canta rella H, Q uaggio JA, editores. A ná lis e química para avaliação da
fe rtilidad e d e solos tro picais . Campinas: Ins tituto Agronóm ico; 2001.

Rodrigues BN , Almeida FS. G uia de herbicidas. SJ. ed . Lo ndrina: IAP AR; 2005.

Sanches AC. Conservação do solo em pom ares cítricos. ln: Donad io LC., coord enador . Anais Jo
Seminário Inte rnaciona l de Citros; 1998; Bebed o urn. Be bed o uro: Fundação Cargil l; 1 9 p. 167-
87. (Tra tos culturnis, 5).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


934
JosÉ EDUARDO CORÁ ET AL.

antas HG, ~ac~mine PKT, Anjos LHC, Oliveira v A, Lumbreras JF, Coelho MR, A lme ida JA, Cunha
T)F, Oliveira JB, ed itores. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3~. ed. Bra ília: Embrapa;
2013.

oare DJ, P~drinho Jr AFF, Gravena R. Dinâ mica da água no perfil d o solo em pomar de citrus
subme tido à diferentes m anejas do solo e de plantas infestantes. ln: Resumo Expandido do 17°
Congresso Brasileiro De Fruticultura [CD-ROM]; 2002; Belém. Belé m : SBF; 2002.
Sou sa DMG, Lobato E. Correção da acidez d o solo. ln: Sousa DMG, Lobato E, editores. Cerrado:
correção do solo e adubação. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica; 2004. p .81-96.
Souza Filh_o ~ ' Pereira AAG, Bayma JC. AJeloquímico produzido pela gramínea forrageira
Brachiana hum.idicola. Planta Daninha. 2005;23:25-32.
Souza M, Lobato LC. Citricultura em Minas Gerais. lnf Agropec. 2001;22:5-7.
S) •erts~n JP, Lloyd J. CO2 assimilation of Citrus leaves: from mesophyll conductance to gross
pnmary productivity of trees in different climates. Acta Hortic. 1994;416:147-54.
Tersi FEA, Rosa SM. A subsolagem no manejo de solo para os pomares de citros. Laranja. 1995;16:289-
98.

Tersi FEA. Manejo do solo e plantas daninhas na citricultura: da implantação à reforma de pomares.
Jaboticabal: FUNEP, 2001. (Boletim citrícola).
USDA. Citrus: world markets and trade. Washington: USDA - Foreign Agricultural Service; 2014.
Vale Junior JF et ai., coordenador. Guia de Campo. Viçosa, MG: SBCS, 2015; 11º Reunião Brasileira de
Classificação e Correlação de Solos; 2015; Roraima.
Vance CP, Uhde-Stone C, AJ!an DL. Phosphorus acquisition and use: criticai adaptations by plants
for securing a nonrenewable resource. New Phytol. 2003;157:423-47.
Volante PR. Atributos físicos e químicos do solo e desenvolvimento da Laranja-Valência sob
diferentes manejos nas entrelinhas do pomar [conclusão de Curso] Jaboticabal: Universidade
Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho"; 2010.
Zambrosi FCB, Alleoni LF A, Caires EF. Liming and ionic speciation of an oxisol under no-till system.
Sei Agric. 2008;62:190-203.
Zambrosi FCB, Mattos Jr D, Boaretto RM, Quaggio JA, Muraoka T, Syvertsen JP. Contribution of
phosphorus (32P) absorption and rernobilization for citrus growth. Plant Soil. 2012a;355;353-62.
Zambrosi FCB, Mattos Jr D, Furlani PR, Quaggio JÁ, Boaretto RM. Eficiência de absorção e utilização
de fósforo em porta-enxertos cítricos. Rev Bras Cienc Solo. 20126;36:485-96.
Zambrosi FCB, Mattos Jr D, Quaggio JA, Cantarella H, Boaretto RM . Phosphorus uptake by young
citrus trees in low-P soil depend on rootstock varieties and nutrient management. Comm Soil
Sei Plant Anal. 2013;44:2107-17.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MANEJO DE SOLOS COESOS EM
CULTIVO DE CITROS NA BAHIA E EM
SERGIPE
Luciano da Silva Souza V, Joelito de Oliveira Rezende 1I & Laércio Duarte Souza 21

11 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ci~ncias Agrárias, AmbienlaL'i e Biológicas.


Cnu das Almas, BA. E-mail: lsouza@ufrb.edu .br; joelitorezend gjgmail.com
21 Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA. E-mail: laercio souza@embrapa.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. ····- ····-·········-····· 935


CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CLA55ES E AS LIMITAÇÕES FiSICAS E QUÍMICAS DE SOLOS DAS
ÁREAS CITRÍCOLAS.......................................... .......................................................................- .......... ······- ··· .. 936
CRESGMENTO RADICULAR DOS CITROS EM SOLOS COESOS ........................................ -···-······················· 9-ID
BALANÇO HÍDRICO E SUPRIMENTO DE ÁGUA PARA OS CITROS EM SOLOS COESOS ........ ·- ···-·-.... 94-1
CALAGEM, GESSAGEM E ADUBAÇÃO .................................................................... ·····················- ··-··- ············· 947
PRINCfFIOS BÁSICOS EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM PONIARES DE CITROS ....- ...... .
Redução da movimentação do solo...................................................................... _...................................... ·- ·····
Cobertura do solo (viva ou morta) ................................................................................................................- . .. 9-19
PESQUlSAS REALIZADAS E RESULTADOS OBTIDOS EM MANEJO DO SOLO EM CITRJCULTURA
NA BAHIA E EM SERGIPE ··············································································································- ···········---··· 950
" PLANTIO DIRETO" DE CITROS ..........................................................................................................·--····-······· 3J
PROPOSTA DE CRONOGRAMA DE ATIVIDADES EM MANEJO DO SOLO EM CITRICULTURA , A
BAHIA E El'vl SERGIPE ................................................................................................................ ..................... .... 956
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................ ........ 5
LITERATURA CITADA ················································································································ ............ ·················· 95

INTRODUÇÃO

Os Estados da Bahia e de Sergipe são os maiores produtores de citros da Região


Nordeste. Com base na área colhida de laranjas, em àmbito nacional, es es Estados upam,
respectivamente, a segunda (9,4 %) e a terceira (7,2 %) posiçõe , atrás apenas de ão Paulo

Berto! (, De Maria IC, Souza 15, editores. Manejo e conservação do solo e d a água. ·iç -a, l\.l . _ •ieJaJe
Bras ile ira de Ciência do Solo; 2018.
936
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

2
(~ ,0 : ~), pxim.ei_ro prod~1t~r nacional. A Bahia também apresenta a tercei:ª áJ"ea colhida
( 3,8 10 ) no culti\ o do hmao (lBGE, 2015). Na Bahia, a produção de laranJa concentra-se
na zona do _Litoral 1 orte/ Agre te de Alagoinhas, sendo o município de Rio Real (Litoral
orte) ~ 1;1~ 1or produtor estadual, com 32,2 % da área colhida e 34,4 % da produção estadual.
0 murucxpxo de ltapicuru (Agreste de Alagoinhas) é o segundo produtor estadual, com
19,7 % da área colhida e 18,5 % da produção. Na zona do Recôncavo Sul, o maior produtor
de laranja é O município de Cruz das Almas, contribuindo com 3,7 % da área colhida e 4,9 %
1ª p~o~ução es_ta?ual. ~m Sergipe, os cinco mwúcípios maiores produtores estaduais são
tabaxrunha, Cnstinápohs, Salgado, Lagarto e Boquirn, respectivamente com 12,4; 10,4; 9,8;
9,0; e_S,5 ~ da área colhida e 11,9; 10,7; 10,1; 9,4; e 8,8 % da produção estadual. Na figura
l, ~vxdencia_-se a localização dos pomares citrícolas, e, na figura 2, apresenta-se a evolução
da area colhida e do rendimento médio de laranja, limão e tangerina, no período de 2001 a
2011, nos Estados da Bal1ia e de Sergipe.
A citricultura na Balúa e em Sergipe encontra-se localizada en'"l solos coesos de
Tabuleiros Costeiros, cujas peculiaridades físicas e quínúcas conduzem a aspectos
diferenciados de manejo em relação a outras regiões citrícolas do Brasil.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CLASSES E AS LIMITAÇÕES


FÍSICAS E QUÍMICAS DE SOLOS DAS ÁREAS CITRÍCOLAS

As áreas citrícolas dos Estados da Bahia e de Sergipe encontram-se localizadas na


Grande Unidade de Paisagem dos Tabuleiros Costeiros (fC) (Silva et al., 1993), que são
formações terciárias que aparecem desde o Amapá até o Rio de Janerro, ocupando, apenas
na faixa litorânea da Região Nordeste, cerca de 10 Mha (Figura 3). Trata-se de urna planície
com altitude de 30 a 200 m, limitada na parte ocidental com morros do cristalino e na parte
oriental com a Baixada Litorânea.
A região de ocorrência dos TC destaca-se pela significativa importância econômica e social,
em razão da alta densidade demográfica concentrada em grandes centros urbanos, associada
à capacidade atual e potencial para a produção de alimentos, principalmente as &uticulturas
de climas tropical e subtropical Oaranja, limão, tangerina, mamão, graviola, banana, abacaxi,
maracujá, acerola, goiaba, coco-da-baía e outras), possuindo ainda ampla infraestrutura de
apoio (rodovias, termina.is marítimos e mstituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento).
Segundo Jacomine (1996), são reconhecidos como solos de maior expressão, na região
dos tabuleiros, os Latossolos Amarelos e, secrmdariarnente, os Argissolos Amarelos.
Seguem-se os Neossolos Quartzarênicos e, em menor proporção, os Espodossolos,
Argissolos Acinzentados e Plintossol~s. Já Araújo Filho et ai. (1999) informaram que os
solos dominantes na região são os Argissolos Amarelos e Latossolos Amarelos. Em menor
proporção, têm-se os Argissolos Vermelho-~~ai·elos, Latossolos V~rmelho-Amarelos,
Argissolos Acinzentados, Neossolos Quartzaremcos, Espodossolos e Plintossolos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLO S COESOS EM CU LT IVO DE CITROS NA BAHIA E • .. 937

2 4

1. Extremo Sul ZONAS CITRÍCOLA DO


1
2. Oeste Baiano ESTADO DA BAHIA
3. Recôncavo Sul Área em produção
4. Chapada Diamantina
Área com potencial para ex pansão
5. Sertão do São Francisco
6. Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte

MUNICÍPIOS

1. Lagarto
2. ltaporanga D' Ajuda
3. Riachão do Dantas
4. Boquim
5. Salgado
6. Estância
7. Itabaianinha
8. Pedrinhas
9.Arauá
10. Santa Luzia do ltanhy
11. Tomar do Geru
12. Cristanópolis
13. Umbaúba POLO ClTRÍCOL.-\ DO
14. Indiaroba ESTADO DE SERGIPE

Figura 1. Zonas e municípios citrícolas dos Estados da Bahia e de Sergipe.


Fontes: T rindade (2009) e PereLra (2010).

Os solos de tabuleiro apresentam, como principais li mitações agrícolas, horizontes


coesos e m s u bsu perfície, baixos teores de nu trientes, aumento da acidez com a profundidade,
caráter alum.ínico, baixa CTC e baixa saturação por bases, além de baixa capacidade de
re tenção e armazenagem de água. Nos quadros 1 e 2, a presentam- e, re pectivamente,
resultados de análises quúnicas e físicas de dois solos d e tabuleiro, a m ostrados em pomar
d e laranja 'Hamlirn' que vinha recebendo aplicação de calcário e ad u bos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


938
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

B HIA SERGIPE
L lv\NJ RANJA
35 711000 35
f,(J
30 ,,0000 lO
- 1W
25 50ml 25

20,-. 40000 20
14 ,_ •r--.
• <ro l e
l
,s~ ó
~ 30000 15 e:.
o: ~V
10 20000 10
10
10ml 5
o
200! 21m
.
::nt, ~ :!!1\5 ~ 2007 :iro! 2000 ~IJIO 2011 2012
o o
2001 2002 2003 2004 2003 2006 2007 200'! 2009 201O 2011 2012
o
LIMÃO U \IÃO
3.
35 1400 35
l<nl ~
- 30 )21'(1
- - 30
, -
~ (XX)
25

20
1 000
.. 23

I 11i- 141---
~1/ ~
1 SOO

1 (XX)
.V ~

•""' 10 400 ~
. ... • 10
..-14
500 s
o o o
2001 2002 :!003 :?rol :m5 2006 2!XJ7 2000 2009 2010 2011 2012 2001 2002 :!003 :?rol :sxI5 2006 2!XJ7 2008 2009 2()10 2011 2ll12
TA-,'GERINA TANGERlNA
1200 35 1 200 l5
c=i Arco colhido -+- Rmdim..'l'ltO!Mdto c:::::J Are, colhido -+- Rendlmenlo ~ io
1 lXXl 30 J (XX) 30

25 25
800
20
~
e 600 ~~ ~ 600 ..._
ê Ili' .=
6
✓ I'\ 1/ 15 <=-
...--
1./
-
.&00 I• 400 1,
10 10

200 - 5 200
li
: 5
,, ,
o o
I•

o
2001 2002 2IXD 200l 2005 2006 2!XJ7 2005 2009 2010 2011 2012 2001 2002 2003 20J.I 2005 2006 2!XJ7 200S 2009 2010 2llll 2lll2

Figura 2. Evolução da área colhida (ha) e do rendimento médio (t ha·1) de laranja, limão e tangerina
nos Estados da Bahia e de Sergipe, no período de 2001 a 2012 (IBGE/PAM, 2001 a 2011).
Fonte: Gráficos elaborados pelo pesquisador José da Silva Souza, da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Embora considerados profundos, a presença de horizontes coesos - que têm origem na


gênese desses solos - reduz a profundidade efetiva, além de apresentar baixa porosidade
total, baixa macroporosidade, predominância de microporos, baixa condutividade
lúdráulica saturada (Quadro 2) e alta resistência do solo à penetração de raízes. Isso
prejudica a dinâmica da água no perfil e, principalmente, o aprofundamento do sistema
radicular, agravando assim as suas linútações. O regime climático com períodos de défice
hídrico, predominante nessa unidade de paisagem, e os baixos teores de nutrientes nos
solos contribuem para agravar as dificuldades de seu uso agrícola. Não obstante, algumas
das principais potencialidades desse ecossistema são a elevada profundidade geológica
dos solos e a topografia plana a suave ondulada, favorecendo a mecanização e o controle
da erosão (Rezende, 2011).

MANEJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XXIX - MANEJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO DE CrTROS NA BAHIA E · · · 939

Figura 3. Área ocupada pelos Tabuleiros Costeiros na Região I ardeste do Brasil, com cerca de
10 Mha.
Fonte: Silva et ai. (1993).

Quadro 1. Resultados de análises químicas de dois solos de tabuleiro localizados em Sapeaçu, BA

Horizonte pHHp p K Ca 2• Mg1º Na· AJl• H· SB CTC V m MO


-m-
. -= rng kg- 1- cmol, kg- 1 - %- gkg-1
Latossolo Amarelo Distrocoeso argissólico
Ap (0-0,18) 5,8 20 188 2,1 2,0 0,05 0,2 3,0 4,6 7 59 4 21
AB (0,18-0,46) 4,9 4 186 0,7 0,6 0,08 1,1 4,7 1,9 7,7 .,-
~ 37 LS
BA (0,46-0,80) 4,4 1 172 0,4 0,4 0,10 1,-l 3,8 1,3 6,5 20 -..,
::,_ 10
Bw1 (0,80-1,50) 4,4 o 139 0,7 0,6 0,08 0,9 2,6 1,7 - ..,
::>_ 33 35 6
Bw2 (1,50-1,60 +) 4,7 o 48 1,0 0,7 0,03 0,5 2,0 1,9 4.-l 43 21 5
Argissolo Amarelo Distrocoeso
Ap (0-0,20) 5,8 19 216 2,0 1,1 0,08 0,4 3,0 3,7 7,1 5_ o 1
AB (0,20-0,46) 4,9 1 162 1,2 0,7 0,14 0,8 4,0 .,- ,::>- 7,3 >l 24 13
BA (0,46-0,67) 4,4 o 83 1,6 0,8 0,17 0,8 3,6 2.8 7,2 39 "Y)
1-!
Bt1 (0,67-1,03) 4,2 o 29 1,5 0,8 0,16 0.8 ,o .,_,::,- 6,3 40 24
Bt2 (1,03-1,24) 4,2 o 16 1,4 0,8 0,12 0,6 2,1 - .6
BC (1,24-1,50 +) 4,2 o 9 1,4 0,9 0,12 0,3
2.6
1,9 2,4 4,6
43
52

11
6
4
SB = soma de bases; CTC = capacidade de troca catiónica; V = saturação por bases; m = saturaçao por alurrunio; ., MO = matena
orgânica.
Fonte: Paiva et al. (2000).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


940
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Quadro 2 · Resullad os d e an~lises físicas de dois solos de tabuleiro lorn li zad os c m Sapeaçu, BA

Horizonte Porosidade
Areia total Silte Argila Os Ko
Total Macro Micro
m- --- - - --- g kg•l --- - - - - ---------- n 1
1
nY' ---- - --- kg d m·1 mmh·1
Lii tossolo Amarelo Distrocoeso argissólico
p (0-0,18) 615 0,11 0,24 1,57 96,8
11 6 269 0,35
AB (0,18--0,-16) 526 0,26 1,59 32,4
103 371 0,34 0,08
BA (0,46-0,c O) 444 0,09 0,28 1,55 11 ,3
90 466 0,37
Bw1 (0,80-1 ,50) 375 106 0,35 0,03 0,32 1,57 8,6
519
Bw2 (1,50-1,60 +) 353 144 503 0,42 0,11 0,31 1,40 46,5
Argissolo Amarelo DislTocoeso
A p (0-0,20) 660 111 229 0,31 0,08 0,23 1,72 55,1
AB (0,20-0,46) 538 111 351 0,33 0,05 0,28 1,64 51 ,5
BA (0,46-0,67) 433 101 466 0,31 0,01 0,30 1,68 7,1
811 (0,67-1,03) 396 104 soo 0,35 0,03 0,32 1,55 2,3
Bt2 (1,03-1,24) 390 155 455 0,36 0,03 0,33 1,53 3,3
BC (1,24-1,50 +) 362 155 483 0,36 0,03 0,33 1,53 14,3
Os = densidad e d o solo; e K,, = conduti\'idade h id ráulica saturada .
Fonte: Paiva e t al . (2000).

Souza (1996, 1997), com base na avaliação das limitações físicas e químicas apresentadas
pelos solos coesos das áreas citrícolas, concluiu que qualquer interferência de uso e manejo
em tais solos, visando aumentar a produtividade das culturas, passa, necessariamente,
por: 1) melhoria do crescimento radicular em profundidade, para aumentar a superfície
de absorção de nutrientes e, principalmente, de água pelas raízes e, com isso, minimizar
os efeitos das frequentes estiagens que ocorrem em grande parte dos locais de ocorrência
desses solos; para tanto, devem ser superados os problemas de impedimento físico e químico
ao crescimento radicular em profundidade, que tais solos apresentam; 2) superação dos
impedimentos que a camada coesa impõe na dinâmica e na capacidade de armazenagem
da água no perfil, para minimizar os constantes défices hídricos a que estão sujeitos os
cultivas estabelecidos em tais solos; e 3) melhoramento dos atributos químicos do solo, por
meio da calagem, gessagem e adubação, visando diminuir a saturação por alwnínio em
profundidade e aumentar o suprimento de nutrientes em profundidade.

CRESCIMENTO RADICULAR DOS CITROS EM SOLOS


COESOS

Giarola et ai. (2001) avaliaram a resistência do solo à penetração em horizontes coeso


e não coeso em Latossolo Amarelo Distrocoeso de tabuleiro sob m a ta, localizado em Cruz
das Almas, BA, em diferentes umidades no solo. Esses autores o bservaram que, em solo
úrrudo, a resis tência à penetração foi baixa em ambos os horizontes; à medida que o solo foi
secando, a resis tência à penetração permaneceu baixa no horizonte não coeso e aumentou
bruscamente no coeso, atingindo valores limitantes (acima de 2,5 MPa) à penetração
radicuJar (Figura 4)-

MAN EJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MANEJO DE SOLOS Coesos EM CULTIVO DE CITROS NA BAHI A E · · · 941

16


RP "" 0,0002 U.,.-,
12 1
R = 0,9667
COESO

RP = 0,0879 l.J'1·9111
2
4 R = 0,6616
NÃO COESO
• •
o+------,------r------.-----.---1
0,035 0,055 0,075 0,095 0,115
1
Umidade do solo (kg kg· )

Figura 4. Curvas de resistência à penetração (RP) em relação à umidade no olo, em horizonte· coeso
e não coeso, em Latossolo Amarelo Distrocoeso de tabuleiro sob m a ta, em Crnz da Almas. BA.
Fonte: Giarola et ai. (2001 ).

Em razão da presença de coesão em solos de tabuleiro, res ultand o em alta resis tência
do solo à penetração, Souza et aJ. (2008) observaram, em Argissolo Acinzentado (PAC)
não coeso (Quadro 3), valores bem mais elevados de densidade de raízes de ci tros por
horizonte, variando de 3,4 a 4,1 vezes superiores aos de Latossolo Amarelo Distrocoeso
argissólico (LAx) e Argissolo Amarelo Distrocoeso (PAx) (Quadro 2), respectiva mente,
com predominância de raízes com diâmetro menor do que 1 mm (Figura 5). O olo LAx
e PAx apresen taram densidades de raízes semelhan tes entre si, nos quatro horizontes.
A densidade de raízes nos horizontes superficiais do LAx e PAx foi semelhante àquela
observad a no horizonte mais profundo avaliado no solo PAC. Esses dado confirmam q ue
a coesão realmente constitui-se em severa restrição ao crescimento e aprofundamen to das
raízes de citros, que se evidenciar am altamente sensíveis à presença da coesão no solo.

Quadro 3. Resultados de an álises físicas de Argissolo Acinzentado não coe o de tabuleiro, localizado
e m Sapeaçu, BA

Porosidade
Areia total Silte Argila Os
Horizonte Total Macro Micro Kº
-m - gkgl ml m J kgdm ) mmh 1
Argissolo Acinzentado
Ap (0-0,30) 83-1 116 50 0,37 0,22 0, 1- 1,63 165,g
AE (0,30-0,70) 808 139 53 0,36 o,:m 0,16 1, O 1
El (0,70-0,87) 829 134 37 0,36 0, 19 0.17 1.71
·º
í ,9
E2 (0,87-1,05) 841 136 23 0,35 0,1 0,17 1,73 47,
E3 (1,05-1,30) 837 HO 23 0,35 0,20 o,1- 1.7-1 1-U
Bt (1,30-1,50 +) 752 l+l 10-l 0,32 U,16 0,16 1.7 10.S
Os = d,msidade do solo; e Ku = condu tividade hiJ ráulic.i s.itur.:id.i.
Fonte; Paiva et ai. (2000).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
942
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

o, o
Diâmetro das raízes
•<lmm □ 1-2mm •>2mm
ôO, O
õUl
o
e:
Ul
Ili
' ro
~
,_ 0,40
Ili
'"O
';
E
u
§
...__.. 0,20

0,00
o. co < ..... o. c:o < .....
.... UJ ,-< N
< < co ~ < < c:o co < UJ ~
co
LAx PAx PAC
Classes de solos e horizontes
Figura 5. Valores médios de densidade de raízes de laranjeira 'Hamlin' enxertada em limoeiro
'Cravo', em três classes de diâmetro, por horizonte, em uma topossequência de solos de
tabuleiro, localizada em Sapeaçu, BA, composta por Latossolo Amarelo Distrocoeso argissólico
(LAx), Argissolo Amarelo Distrocoeso (PAx) e Argissolo Acinzentado (PAC), não coeso.
Fonte: Souza et al. (2008).

A ausência de coesão no Argissolo Acinzentado (PAC) não deve ser atribuída ao


alto teor de areia, pois horizontes coesos em solos arenosos já foram registrados por Lima
et aL (2004). O trabalho realizado por Souza et al. (2007) em Itapicurú, BA, em Neossolo
Quartzarênico com teor de areia acima de 800 g kg-1 até a profundidade de 1,50 m, em
pomar de laranjeira 'Pêra' enxertada em limão 'Rugoso', registrou que, na profundidade
de 0-0,20 m, haviam 45,7 e 55,5 % do comprimento total de raízes na linha de plantio,
enquanto na entrelinha chegaram a 40,7 e 48,3 %, em cultivos sob irrigação e sob sequeiro,
respectivamente. Não houve diferença na distribuição de raízes entre os cultivos sob
irrigação e sob sequeiro, na linha e na entrelinha, até a profundidade de 1,20 m. O acúmulo
de raízes na camada de 0-0,20 m foi atribuído à coesão existente no solo na profundidade
de 0,30-0,55 m. O fato de as raízes não ocuparem o solo em profundidade no sistema
irrigado foi atribuído ao uso de microaspersores que molhavam o solo apenas próximo à
superfície, sem diminuir a resistên~ia à penetração na cam~da coesa. Os valores máximos
de densidade de raízes foram próximos a 0,3 cm cm·3 de ra1zes no solo.
Vários outros trabalhos foram realizados visando avaliar o crescimento radicular dos
citros em solos coesos. Nesse sentido, Cintra et al. (1999) avaliaram a distribuição do sistema
dicular dos porta-enxertos limão 'Volkameriano Palermo' (LVP), limão 'Volkameriano
~tânia' (LVC), limão 'C~a~o' (LC), limão '_Rugoso ~a Flórida' (L~) e tangerina 'Cleópatra'
1
(fC) sob copa de laranJa Pera , em Arg1ssolo Acinzentado D1strocoeso de tabuleiro de
Umbaúba, SE. Esses auto_res concluíram que o porta-e~xert~ LC foi o que apresentou
menor volume total de ra.I.Zes, bem como a TC o que ev1denc1ou maior volume, além de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLOS COESOS EM CU LTIVO D E CITROS NA BAHIA E · •· 943

demons trar te nd é ncia para o aprofundamento e.lo sis te m a r.:icl icula r. O s J 'mais po rla-
e n xe rtos ocupara m po ições inte rmed iá ri as.
Um problema d a citricultura nord e tina é a g rande p reclominé'l ncia do limã o 'C ravo '
co mo porta-enxerto, o que torna urge nte a d ivc r ificação d va r icdad parJ e e; ' fim.
Nesse sentido, a Embrapa Mandioca e Fruticultura desenvo lve projeto a fim de identificc1r /
desenvolver novos porta-enxertos para citros, adaptados esp cia lmcn te a altds dens idc1d e;
populacionais e a ambientes adversos, como é o caso dos TC, co m s olos coesos e com
a ltos teores de a lumínio e m profundidade. Esses se co nstit ue m e m impedimento fí s ico
e químico, res pecti va mente, ao cresci m e nto e apro fund amento das raízes d.:i planta <;
cí tricas, tornando-as vulneráveis aos frequ e ntes défices hídricos da região, refletind o na
s ua produtividade e longevidade.
Magalhães (1987) avaliou a tole rância de porta-en xertos de ci tro ao alumínio e
observou que o limão ' Rugoso da Flórida FM', seguido da tan gerina 'Cleópatra' e do lim ii n
'Volkameriano', foi o que se evidenciou mais to lernnte ao al umíni o. O limão 'Cravo' foi o
que apresentou a menor tolerância (Figurn 6).

6,0

Q:i' 5,0
L.
'lJ
-i::;
4,0
otr,

--~
~
3,0
>
eo 2,0
Ul
'lJ
1,0
~
~
0,0
o 20 --10 60 o ·100 120 1-lü
Alumí nio no solo (m g dm )

1-+-- LC -a- LRF --.-. LV _._ TC --0- LP 1


Figura 6. Tolerância dos porta-enxertos de citros limão ' Cravo' (LC), limão ' Rugoso da flórid.1
FM' (LRF), limão ' Volkameriano' (LV), tangerina 'Cleópatra' (TC) e laranja ' Palmeira' (LP) ,10
alumínio.
fonte: Magalh;ies (1987).

Diante da alta sens ibilidade das raízes dos citros à coesão do olo (Cintra et ai., 1999;
Souza et ai., 2008), Peixoto et ai. (2006) avaliaram a dis tribuição do i tema radicula r
de l1 porta-enxertos para citros sob copa de laranja ' Pera', em Argis olo cinzentado
Distrocoeso, verificando ~ue o limão ' Rugoso r-.,[azoe' foi o porta-enxerto que a pre -ento u
maio r densidade e aprofundamento de raízes, segu ido pela tangerina ' S un ki' x English
Trifoliata 63/264, tange rina 'SLU1ki' x Englis h T rifoliata 256, tangerina ' unki' C P~ fF
(02) MaraviU1a e tangerina 'SLU1ki' x English Trifoliata 26-t O limão ' Crav ' e O limão
' Volkameriano' foram os que apresentaram menor crescimento radicular (F igura 7) .

MANEJO E CONSERVA ÇÃO D O SOLO E DA ÁGUA


-
944
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

1,2

0,00-0,10 m
1,0
D 0,10-0,20 m
õ
õVl
o, O 0,20-0,-11 m
e:.,
"'O ■ 0,-11 -0, 5 m
E
u 0,6
E
u
----
Vl
e:.,
0,4
·-
(ll
~

0,2

T1 T2 T3 T4 T6 T7 T TIO T12 T13 T14


Porta-enxertos

Figura 7. Densidade de raizes em 11 porta-enxertos para citros, sob copa de laranja 'Pera', em
Argissolo Acinzentado Distrocoeso de Tabuleiro Costeiro. T1 = Limão 'Cravo'; T2 = Tangerina
'Sunki' x Citrumelo Swingle 314; T3 = Limão ' Cravo' x Tangerina 'Cleópatra'; T4 = Tangerina
'Sunki' x English Trifoliata 63/264; T6 = Citru.melo Sv.ringle 4475; T7 = Citrumelo Swingle B;
TB = Limão 'Volkameriano'; TIO= Tangerina 'Sunki' CNPMF (02) Maravilha; T12 = Tangerina
'Sunki' x English Trifoliata 256; TI3 = Limão 'Rugoso Mazoe'; e T14 = Tangerina 'Sunki' x
English Trifoliata 264.
Fonte: Peixoto et al. (2006).

Esses resultados evidenciaram a existência de variabilidade genética de porta-


enxertos de citros em relação ao alumínio e à coesão do solo e reforçaram a continuidade
das pesquisas visando identificar porta-enxertos mais adaptados ao ecossistema dos
tabuleiros, onde se situa a citricultura baiana e sergipana.

BALANÇO HÍDRICO E SUPRIMENTO DE ÁGUA PARA OS


CITROS EM SOLOS COESOS

Como já abordado, os solos das regiões citrícolas apresentam horizontes adensados


que prejudicam a dinâmica da água no perfil, o que, associando-se à baixa capacidade de
retenção de água desses solos, resulta em baixa armazenagem de água e, consequentemente,
em baixa disponibilidade de água para as plantas cítricas. Esse aspecto pode ser considerado
a principal limitação para a prod~ção d?s citros, pelo fato_de que in~erfere ao mesmo tempo
na resistência do solo à penetraçao radicular e na absorçao de nutrientes pelas plantas.
o balanço hídrico climatológico para Cruz das Almas, BA, calculado segundo
Thornthwaite e Mather (1955), para 100 mm de capacidade d e armazenagem de água no
solo (Figura 8), apresenta período significativo de deficiência hídrica ao longo do ano,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX I X - M ANE JO D E SOLOS COESOS EM CULTIVO D E C ITROS NA B AHIA E · · · 945

este nd e ndo-se de se tembro-outubro êl fevere iro-março, com pe ríod os de r poc;ição e


exced ente híd rico de ma rço-abril êl julho-agos to. A p rec ipitação médi il él nu c1 l fo i d_e 1 142,7
111111 , e nqua n to a deficiência e o excedente hídrico fora m, res pectivil mente, ·151, 1 e 17,7 m m.
Fica claro q ue, embora o tota l anual de precípitação possa ser cons ide rdd o s u ficien te para
os citros, a d istribuição estacionai é inadequ ada.

De fi ciê ncia, exced e nte, re tira d a e repos ição h íd ricc1


ao lo n go d o a no
60
• . t
40 . . . . .... ,,.. ... . .. ~---
' -.... ....' .... . . . . . . .. : · .. .. ·: · . . . . : .... .. : .. . . . . f
' ' '

.,
' ' 1 • • ' •

20
'
--.. .. .. ,,. . .. . ... .,. -. .. . .. .... .... .. .. ~ --- .. - .. :,. ..... .. -~- ......... ; .. - .... . .
. .
:
E o
E
-20

--lO
:. j
...•• , .·
1 11!·. 1
.. . .


'

i · ··-:-····-:- ·····( ···+-··


>.:::......t ·... ..... ·(.... ·( -...•i• ..... ... .. . ..... ·\· .. ... ~. ... .. .
~

.

1
.


'

~
1
+·· ~

·IL.__r - - 7

, f
1
.
:

-60 ' ~ 1 ~ • - ' ~ • •- .. - - - .. - : .. - . . .. - ~ ...... - - - ~ - .. - - .. .. : · .. - .... - -: - - - .. .. .. 1- - - - - .. :- - . - .. . -:· . . - . ... ~ . - ...... - ~ . - .. - .... ,


I I I t I I I I : :

: : : : : : -

Ja n Fcv Mar Abr Moi Ju n Ju l A go Sct Out '.\:ov Dez

D Deficiê ncia ~ Exced e n te wl Re tirada [I) Re po ição

Figura 8. Balanço híd rico climatológico para Cru z das Almas, BA, pa ra o pe ríod o d e 1971-199 ,
calculado segundo Thornthwaite e Mather (1955), para 100 mm d e capacidade de armazenagem
d e água no solo.
Fonte: Ins tituto N.icion íl l de Meteorolog i.i, 13rns il iíl, DF.

Em complemento ao balanço híd rico clim a tológico (Fig ura 8), foi ava liada a
dispo ni bilidad e d e água no solo ao longo do tem po, a té 1,50 m de profundid ade, duran te
os a nos d e 1996 e 1997, em d ois solos distrocoesos de tabu leiro de uma topossequência
localizad a em Sapeaçu, BA, e m um poma r cítrico. Revelo u-se que o La tossolo mareio
Dis trocoeso a rgissólico, localizad o no terço su perior da topossequê ncia, perma neceu seis
quinzenas em 1996 e cinco em 1997 se m água disponíve l para as plantas (teo r de água
no so lo veri fica do em campo menos o teor de água a -1500 kPa de tensão) (Figura 9),
e nqua nto o Argissolo Amarelo Distrocoeso, no terço médio, pe rmaneceu 10 q u inzenas em
1996 e 11 em 1997 na mesma condição (Paiva et al., 1998). Tais d ad os fora m com parados
co m os obse rvados em Argissolo Acinzentado, não coeso, d e textura a renosa e localizado
no te rço i.nferior da topossequência estudada, q ue se a presentou com água disponível para
as plantas cítricas a té 1,50 m de profund idade, d u ran te todo o pe ríod o d e ava liação. Em
co ncord â ncia com a água dis ponível, as p lantas e ncontrada no Argi solo Acinzentad
aprese ntaram crescimento estatisticam en te su pe rior àq uelas localizadas nos d ema is solo ,
não havendo d ife rença entre as plantas localizadas nesse~.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


946
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

r:,
:J
00
·<

Q uinzena

1--+- LAx - - PAx -+-PAC 1

Figura 9. Água disponível em razão do tempo até 1,50 m de profundidade, em três solos de tabuleiro
(LAx = Latossolo Amarelo Distrocoeso argissólico; PAx = Argissolo Amarelo Distrocoeso; e
PAC= Argissolo Acinzentado não coeso), localizados em Sapeaçu, BA, em 1996 e 1997.
Fonte: Paiva et ai. {1998).

Os pomares de citros nos TC não têm uma fase de repouso durante o ano, pois não há
uma estação mais fria ou de baixa luminosidade, o que mantém as plantas em atividade
constante durante todo o ano. Esse fenômeno, adicionado aos períodos de estresses hídrico
e nutricional, ocasiona o declínio da produção entre 15 e 18 anos de idade, enquanto
nas zonas subtropical e temperada isso ocorre após os 25 anos. Tentando retardar esse
envelhecimento precoce em pomar de laranja ' Baianinha' enxertada em limão 'Cravo', com
12 anos de plantio em Latossolo Amarelo Distrocoeso dos TC, Souza et al. (2004) fizeram
a subsolagem nas entrelinhas do pomar e substituíram a grade por roçadeira e cobertura
do solo com leguminosas. Também renovaram a parte aérea das plantas com diferentes
intensidades de podas. Esses autores observaram que a subsolagem seguida da cobertura
do solo com leguminosas, sem poda ou com poda leve, aumentou a água disponível no solo
em todas as camadas do perfil durante os dois anos de avaliação. O pomar com poda severa
teve menos água disponível no solo que a testemunha (pomar com a condução anterior). A
disponibilidade de água diminuiu em todos os tratamentos na profundidade de 0,30-0,90
~ em razão da presença de coesão, dificultando os fluxos ascendente e descendente de
água no perfil do solo. O maior volume de água disponível às plantas ocorreu na camada
de 0,90-1,50 m, onde pequena porcentagem das raízes geralmente tem acesso (Figura 10).
Com base na evapotranspiração apresentada nos estádios fenológicos de maior
demanda hídrica pelos porta-enxertos limão 'Volkarneriano Palermo' (LVP), limão
'Volkameriano Catânia' (LVC), limão 'Cravo' (LC), limão 'Rugoso da Flórida' (LRF)
e tangerina ' Cleópatra' (TC), sob copa de laranja ' Pera', em Argissolo Acinzentado
Distrocoeso de tabuleiro de Umbaúba, SE, Ci.nh·a et al. (2000) concluíram que o LC foi o que
apresentou melhores características de adaptação, enquanto a TC foi a menos adaptada;
os demais porta-enxertos ocuparam posições intermediárias. O balanço hídrico realizado
ara os porta-enxertos considerados no trabalho permitiu concluir que a maior demanda
hídrica da laranja 'Pera' aconteceu nos meses de outubro e novembro, corno também no
final do período seco (março), durante a fase de maturação dos frutos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX I X - M ANEJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO D E CITROS NA 8AH !A E ·.. 94 ?

Água dls ponfvel por ca mada!! (mm)


o 3 6 9 12 15 18

0-0,30 • - - - -:
osr
.....-/---1
0,30 - 0,50 í----+-4
o PL
Ê
i
:a
0,50 -0,70 ~
.....-/---1
PB

~ 0,70 -0,90
1=~==========:=::::;;::::::;:======!--+-'
~ B ■T

a-
0,90- 1,10 ~ E----+---➔

1,10 -1,30 -------2 1 e::::+-' Et----t

1,30 -1,50 p---1

Figura 10. Compa ração entre as médias da água d ispon ível (Tukey p < 0,05) e m cada profun idade
do perfil de La tossolo Amarelo Distrocoeso, para os tratamentos sem poda (SP), poda leve (PL ),
poda severa (PB) e testemu nl1a (T) (pomar com a conduçào anterior), no período de 1/ 3/ 1996 a
1/3/ 1998 em Cruz das Almas, BA.
Fonte: Souza et ai. (20Q.l).

CALAGEM, GESSAGEM E AD U BAÇ Ã O

Conforme já abordado no item "considerações sobre as classe e as limitaçõe física -


e químicas de solos das áreas citrícolas", os solos dessas 5reas na Bahia e em wipe
a presentam bai..xos teores de nutrientes, aumento da acidez com a profundidade, caráter
a lumínico, baixa CTC e baixa satu ração por bases.
Em razão disso, é imprescindível a aplicação de corretivo de acidez e fertilizantes pMa
que se obtenham boas produções de citros. Por causa da baixa olubilidade do correti\'o
agrícolas d e acidez, o seu efeito em profundidade demora m u ito tempo. A aplica -ão de
gesso ao solo é importante para incrementar os teores de Ca e redu zir a a tura ão por
a lumínio em profundi dade, contri buind o assim para criar condiçõe fa orávei - para o
aprofundamento do sistema radicular, refletindo em maior volume de ·olo t: xplorado, ou
seja, mais nu trientes e água d isponíveis para a cul tu ra.
É ta mbém indispensável a apl icação de micronutientes, principalmente Zn e Mn, que
são os q ue têm ap resentado, com maior freq uê ncia, sintoma foliares de deficiéncia e m
citros na Bahia e em Sergipe.
Reco me ndações detalhadas sobre calagem, gessagem e adubação em itr s, t>specifü:.1s
para os Estados da Bahia e de Sergipe, são a presentada por Magalhães e Sou n ('.2009) ~
Coelho e Souza (2009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


.....
948
LU CIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

PRINCÍPIOS BÁSICOS EM MANEJO E CONSERVAÇÃO DO


SOLO El\1 POMARES DE CITROS

ntes de abordar algumas pesquisa s realizadas e alguns res ultados sobre o manejo
do_ solo em citricultma na Bahia e em Sergipe, são apresentados as pectos ge rais sobre os
princípio bá icos em manejo e conservação do solo.

Redução da movimentação do solo


A redu ção da movimentação do solo é fundamental em termos d e manejo e conservação
do solo, por proporcionar os segu intes benefícios: manutenção ou melhoria da estrutura do
solo; menor risco de compactação do solo; menor perda de solo e água por erosão; maior
disponibilidade de água para as plantas; e menor custo de produção. Portanto, reduzir
a m ovimentação do solo pode contribuir expressivamente para a manutenção da s u a
capacidade produtiva ao longo do tempo.
Por causa da diminuição da movimentação do solo, no preparo primário deve-se
preferir o escarificador, que movimenta menos o solo, destrói o sistema radicular das
plantas não cultivadas e mantém a sua parte aérea na superfície, ao invés do arado e grade.
Embora não exista experiência em uso de escarificador no preparo primário do solo nas
áreas citrícolas da Bahia e em Sergipe, tem-se insistido no uso desse implemento, por
vislumbrarem-se melhores perspectivas para conservar o solo e a água.
Em razão da presença de adensamento em profundidade nos solos das áreas citrícolas
da Bahia e em Sergipe, é importante realizar a subsolagem na linha de plantio, efetuando-se
o plantio das mudas no centro da área mobilizada pelo subsolador. A s u bsolagem deve ser
a última operação mecanizada a ser efetivada no preparo da área para o plantio, devendo-
se evitar o máximo de tempo possível uma nova entrada de máquinas ou animais na área
após essa operação.
Também, um aspecto que visa diminuir a movimentação do solo em citros é red u zir
ou eliminar o u so da grade no controle da vegetação espontânea nas entrelinhas das
plantas, prática ai nda utilizada por muitos citricultores. Ao invés da grade sugere-se a
ceifa do mato, o que contribuiria para manter a cobertura do solo, outro princípio básico
em manejo e conservação do solo.
Mes mo sendo adotados sistemas de preparo redu zido do solo, alguns cu idados
d evem ser observados, como: a) preparar o solo acompanhando as curvas de nível do
terreno; b) h·abalhar o solo em condição adequada de umjdade, pois o preparo do solo
com excesso de urrudade permite maiores riscos de compactação, a lém d e o solo aderir aos
implementos, dificultando o trabalho. N? entanto, o solo muito sec~ forma_grande s to~rões,
exigindo maior número d e passagem de implemento para destorroa-lo. Existe d e te rminada
urrudad e em cada solo onde ocorre o má ximo de compactação quando esse é submetido
à pressão pelo preparo ou pelo lTânsito de máquinas em o utras o perações nos pomares.
Esse teor de água no solo está mais para a faixa úmida, p elo que se d e ve e v itar preparar o
solo ou transita r no mesmo com máquinas nessa fai xa de umidade. A umidade de trabalho
·d eal é O d enominado estado fri ável do solo, em que ocorre a separação do mate rial entre
~ regados, mas esses são m antidos inteiros. Como a determi nação da umidade ideal
p~ra tra ba lha r ou transitar no solo exige testes de laboratório, u m a obse rvação prá tica

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLOS COESOS EM CULT I VO DE CITROS f'IA BAHIA E · ·· 949

que pode ser efetuada em rnmpo é evitar 0 5 extremos d umid ad , o u c;eja, vit.:i r realiza r
práticas com umid ade suficiente pa ra não lev,rntar po ira e nem aderir aos impl mento
e p neus, red uzindo aind a a possibilidade de "patinam nto" e compactil à e Jum ,nta ndo
a eficiência de h·aba lho da máquina; e e) no caso da realizaç.'io da s ubc;o lagem, a á rea d ve
estar subme tida ao pousio ou a uma cobertura por adubos verd es e acumulado fitomassa
em s ua superfície; após a roçagem deixar a cobertura vege têll secar durante ai uns di a,;
para aplicar a subsolagem. Nesse momento, a umidade do solo deve estar mai parc1 um
es ta d o friável ou seco, em toda a profundidade de atuação do implemento. Ca o o so lo
esteja mui to úmido, deve-se aguard ar algum tempo parn que seja atingida c1 um idad
adeq uada, ou seja, sa indo da consisténcia plás tica para a friá vel.

Cobertura do solo (viva ou morta)


A cobertura do solo com adubos ve rd es o u com vegetação e pont{i nea, por si só, t'.· a
prática de manejo e conservação que proporciona maior efeito no controle da ero'x'io do
solo, além de vários outros benefícios a seguir listados: él) redução do efeitos negati vo
das chuvas e enxurradas, ao evitar ou redu zir o impclc to das go tas de chuva na uperfíc1e
do solo, o que pode pulverizar agregados, dei xa r o so lo livre pa ra o tran porte e entupir
os poros superficiais, consequentemente red uzindo drasticamente a taxa de infiltração da
água no solo e aumentando a possibilidade de formação de enxurréldas; b) em relação às
enx urradas, pode atuar como impedimento ao seu fluxo, reduzindo as im ua velocidade
e, portanto, sua capacidade de desagregação e de transporte de solo; c) interceptação da
águas pluviais, an tes que atinjam o solo; d) m elhoria de atributo físico do solo (es trutura,
porosidade, aeração, infiltrnção e retenção de águu e outrus), pela udição de fitom a
ao solo, favorecendo o crescimento das raízes; após decompo ição, a raízes formam
canalículos que melhoram o aproveitamento das águas pluviais, por aumentar a infiltração
e armazenagem de água no solo e, ainda, a efici ência na absorção de nutriente ; e) aumento
da biomassa microbiana do solo, estimulando a atividade biológica; f) manutenção da
temperatura do solo em faixa sa tisfatória para o desenvolvimento do i tema radicular da
plantas e para a atuação dos microrganismos presentes no solo, em qua lquer época do ano;
g) redução das perdas de água por evaporação, proporcionando m aio r q uantidade de água
disponível para as plantas e tornando mais e fici ente a absorção dos nutriente ; h) eliminação
ou redução da incidência de plantas espontâneas, diminuindo a nece idade de capinas e
economizando no controle do mato; i) criação de a mbiente fa o rá el à multiplicação de
insetos polinizadores e de agentes de controle biológico, sendo, ne e ca o, a egeta ão
espontânea considerada como a melhor cobertura; j) aumento do teore de nutriente no
solo, principalmente no caso do uso de adubo verd es, d iminuindo a q uantidades de
adubos a serem aplicadas; e, finalmente, 1) aumento da produção e qualidade do citros.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


. ---
950
LUCIANO DA SILVA SOU Z A ET AL.

PESQUISAS REALIZADAS E RESULTADOS OBTIDOS EM


l\1ANEJO DO SOLO EM CIT.RICUL TU.RA NA BAHIA E EM
SERGIPE

O m anejo do solo h·adicionalmente adotado durante muitos anos pelos produtores no


conh·ole d e plantas espontâneas em cih·os incluiu a realização de h·ês ca pinas m anuais nas
~n.l~a- e h·és gradagens nas enh·elinhas, por ano; esse manejo conh·ibuiu para maximizar as
Imutações físicas natw-almente existentes nos solos das áreas cih·ícolas, conforme abordado
no item " considerações sobre as classes e as limitações físicas e químicas de solos das áreas
citrícolas", conh·ibuindo para a baixa produtividade e redução da longevidade da planta cítrica.
O primeiro h·abalho de manejo do solo nas enh·elinhas de pomar de cih·os foi feito por
Passos et ai. (1973) em Latossolo Amarelo Distrocoeso, ava liando o uso de grade durante
todo o ano, grade somente no verão e ceifadeira no inverno, ceifadeira durante todo o ano,
herbicida em área total e culturas intercalares (mandioca, amendoim, fumo e feijão-caupi).
Esses autores deduziram que o sistema em que se usou a ceifa permanente do mato foi o
que apresentou menor produtividade, atribuindo isso à maior competição por água na
cultura dos citros. Avaliando a influência desses manejos, Cintra et ai. (1983) concluíram
que o h·atamento com ceifadeirn permanente perm.itiu a recuperação de atributos físicos
do solo, como a estabilidade dos agregados e da estrutura, graças ao incremento no teor
de matéria orgânica; o uso contínuo e em longo prazo de gradagem e herbicida no pomar
causou danos a atributos físicos do solo, pois formou camadas compactadas na superfície,
aumentou a densidade do solo e reduziu a macroporosidade e o teor de matéria orgânica.
Em 1988, Rezende et a.!. (2002) implantaram experimentos na Fazenda Lagoa do Coco,
em R.io Real, BA, em Latossolo Amarelo Dis trocoeso, para avaliar diferentes preparas do
solo: aração e gradagem em todos os sistemas e mais 1. plantio em covas de 0,40 x 0,40 x
0,40 m ; 2. subsolagem com uma haste nas linhas de plantio; 3. subsolagem cruzada com
uma haste nas linhas de plantio; 4. subsolagem com três hastes nas linhas de plantio; e
5. s ubsolagem cruzada com três hastes nas linhas de plantio em presença e ausência de
calcário e gesso (quantidade de calcário recomendada pela análise do solo, substituindo-
se 25 % de CaO por gesso, aplicando-se 75 % a lanço em toda a área e 25 % nas covas de
plantio) na implantação de pomares de tangor Murcott e lima ácida Tahiti, enxertados em
limão ' Cravo' . A subsolagem modificou a estrutura do solo, reduzindo significativamente
a resistência do solo à peneh·ação radicular até a profundidade de 0,48 m e, certamente,
contribuindo também para mell1orar a circulação do ar, da ág ua e dos nutrientes
d.is poníveis no meio. O desenvolvimento do sistema radicular e o vigor (diâmetros do
tronco e da copa e altura das plantas) das plantas cítricas foram menores no plantio em
covas (Tratamento 1), elevando de forma crescente à medida em que aumentou o dis túrbio
provocado nas camadas coesas do ~oi~ (Tr~ta~1ento~ ~ a 5). Trê~ a nos após a i~11_plantação
dos ex perimentos, observou-se maior mfluenc1a pos1hva da a plicação de calcano + gesso
n a lima ácida 'Tahiti'.
Ca rva lho et ai. (1998) conduziram várias pesquisas n a Ba hia e em Sergipe,
cons iderando ao mesmo tempo a redução da movimentação e a cobe rtura do solo,
p rincípios básicos em _m anejo e conservação do solo e da_água,_como v is to ~nterio1:mente.
Eles compa raram o sistema em uso pelo produtor (tres ca pinas m a nuais nas linhas e
trés g radagens nas entrelinhas! com uma t~cnol ogia composta de duas etapas: ~)
controle químico do mato nas lmhas de plantio, em du as é p ocas do ano (março/ abnl

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO DE CITROS NA BAHIA E · · · 951

e setembro/outub ro), com um herbi cida póc;-emcrgcnlc c1 bc1sc d g lííosate, formando-


se uma cobe rturc1 morta do solo sob a copc1 da s plémta c;; e b) p lérnli o d e feijã<J-d ~-po rco
(Cnnnvnlin e11sifor111is) nas entrelinhas do pomar, no iníc io do pe río d o dél~ ,íguas (março/
abril ), assoc iado ou não com a subso la ge m ela éÍrea, ceifond o-o ao final daquele período
(se tem bro/ ou tubro) e deixando a fitoma ssa procl uzid a co m o cobe rtura morta do ..,nlo nas
e ntre linhas. O sistema inclu ind o O feijão-d e-porco proporcionou melhorÍél nos c;eguintes
atributos físicos do solo: redução da densidad e do solo, aument o da porosidade total e
da rnacroporosídade e elevação da ta xa de infiltração e armazenagem de t1gua no so lo.
Em razão dessa me lho ri a, ocorre u maior cresc imento e aprofu ndamento do sic;tema
radicular dos citros (Fig ura 11) e, fina lmente, aumento de produtividade de ce rca de
50 % pe lo uso da tecnologia proposta (Figura 12), em re lação ao s is tema do produtor,
acompanhado po r red ução de igual va lor pe rce ntual nos c us tos de contro le das plantas
daninhas pelo abafa mento e ale lopatia ca u ados pelo feijão-de-p orco.

Quantidade de ralzes (cm'}


o 20 40 60 80 100 120 140
1
0-0,20 1

1
:§: 0,20-0,40 1

~ 0,40-0,60
1
l-J
~
:a 1
] 0,60-0,80 L_l

~ 0,8~1,00 1
1

1
1,00-1,20 LJ (a)

Quantidade de raízes (cm')


o 10 20 30 40 50 60 70 80
1
0-0,20 I

l
0,20-0,40
~
]:
<li
-o 0,40--0,60
"'
-o
8 1 º rroro~to O rrodutt1r !
:a 1

] 0,60-0,80 L_l

e
e.. 0,80-1,00 1
l_l

1
1,00-1,20 L-J (b)

Figura 11. Distri~uição do sistem a ra~icular da _lar~nja ' Pera' em profundiJade no perfil de Lato , "OI
A marelo D1strocoeso de tabuletro, em dois sistemas de manejo, em Con eição do ,-\lmeidd, na
Bahia (a), e Boquim, em Sergipe (b).
Fonte: Carva lho l'l ai. (1999).

MAN EJO E CO N SERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


952 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

50
- 1 □ Proposto O Produtor 1

~ -10
r.: ~

..e - ~

-
-~
e:
30
,__
,__
r;;
....
r.: - -
IJ.J
v 20
-
o
,r;;

u
V-
:J -
o 10
.... 1
e.. 1

o
C.Almeida-BA Rio Rcal-BA Umbaúba-SE Lagarto-SE ~édia

Figura 12. Produção de laranja 'Pera' em solos de tabuleiro, em dois sistemas de manejo do solo, em
municípios localizados na Bahia e em Sergipe.
Fonte: Car\'alho e l ai. (1998).

Carvalho et al. (1995), trabalhando em solos da Bahia, em pomar de sete anos


de idade, observaram que os tratamentos que utilizaram práticas mecânicas, como a
gradagem, apresentaram menor colonização micorrízica que os com cobertura vegetal com
leguminosa.
Esses resultados foram objeto de vários dias de campo com produtores de citros na
Bahia e em Sergipe e contribuíram para reduzir a utilização da gradagem e da movimentação
do solo nas entrelinhas dos pomares, resultando em maior e melhor cobertura do solo e,
consequentemente, em menor degradação e maior preservação do solo.
O rompimento das camadas coesas exige um subsolador, que é um implemento
de custo elevado, e um trator de mais de 120 HP, que poucos agricultores dispõem.
Buscando outras possibilidades para romper a coesão, Souza et ai. (2006), trabalhando
em pomar de laranjeira 'Valência' enxertada em limoeiro 'Volkameriano', em Latossolo
Amarelo Distrocoeso dos TC, avaliaram diversas profundidades de covas de plantio:
0,40 m (testemunha); 0,60 m; 0,80 m; 1,00 m; e 1,20 m. A avaliação de raízes na linha e na
entrelinha, nas profundidades de 0-1,20 m, foi realizada aos oito, nove e 10 anos, após
0 plantio. As maiores densidades de raízes com diâmetro menor do que 0,5 mm foram
observadas nas covas de 1,00 m e 1,20 m, na linJ1a de plantio, e de 1,00 m, na entrelinha.
Na faixa de diâmetro de raiz maior que 0,5 e menor que 1,0 mm, as maiores médias de
densidade de raízes na linha de plantio foram para os tratamentos 0,80 m e 1,20 m, mas
sem djferenças entre tratamentos na entrelinha. Para a faixa de diâmetro de raiz maior
que 1,0 e menor que 2,0 mm, assim como para o diâmetro maior que 2,0 mm, n ão houve
diferenças entre os tratamentos, pois as raízes mais grossas, geralmente mais s uperficiais e
próximas à copa, não sofreram influência dos tratamentos. A utilização da profundidade
d e cova de plantio de 0,80 ma 1,20 m, com correção da saturação por bases na cova, é urna
prática complementar à resolução do problema de aumentar a exploração do solo e da
água em profundidade pelas raízes das plantas cítricas, nos solos coesos dos TC.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO DE (ITROS NA BAHIA E ·.. 953

"PLANTIO OI RETO" DE CITROS

A instalação co nvencional do pomc1r cítrico compreende três ctd pas principilis:


seme nteira, viveiro e loca l definiti vo. O "plc1ntio direto" d e citros cons i<;te na el iminação Lfa
etapa intermediária da formação das mudas - o v iveiro-, faze nd o-se a semeadu ra e, ou,
plantio do porta-enxerto e a enxertia no local d efiniti vo do poma r.
Nos Estad os da Bahia e de Sergipe, em razão da ocorrê ncia d e pragas com o a clorose
va riegada dos citros (CVC, ou Amarel ínho) e Huang lo ng bing (HLB, ex-G reening),
a tualme nte a produção de mud as es tá restrita a c1mbíentes te lados e p ro tegidos, fazendo-se
a semead ura do porta-enxerto em tubetes e a formação da muda em bolsas ele polietileno
Nesse caso, ocorrem lesões ou cortes nas raízes dos po rta-en xe rto no mo mento da
tra nsferência do tube te para a bolsa plás tica, onde se s u bs titui o ·olo niltura l po r substrato
a rtificia l onde as raízes ficam confi nadas e enoveladas. Isso cria uma d efa sagem com
exigências norma ti vas como sistema rndicular bem desen volvido, sem ra ízes enoveladas,
retorcidas ou quebradas, com a raiz principal intacta e direita e comprimen to minimo de
25 cm (Coelho, 1996).
Em razão disso, e considerando a presença de coesão e, porta nto, de elevada
res is tê ncia à penetração em solos das regiões ci trícolas da Bahia e de Se rgipe, fo i levan tilda
a hipó tese de rea lizar o plantio do porta-enxerto e a enxertia no local defini tivo d o pom.J r.
Isso evitaria a má formação do sistema radicular das mudas (poda e extirpação d a raiz
pivotante e enovelamento) e produziria uma planta com sistema radicular intacto e já
aclimatada no campo. Nesse caso, as plâ ntulas do porta-enxerto receberiam o mes mo
controle fitossanitário sistemático recomendado a partir do momento em que as mudas
produzidas em ambientes telados são plantadas no local definitivo do pomar.
Assim sendo, visando o objetivo de eliminar a e tapa de viveiro, tes taram-_e d uas
maneiras de instalar-se o pomar de citros: semeando-se o porta-enxerto direta mente na
cova de plantio; e semeando-o em bolsas plásticas que foram levadas para o local definitivo
assim que a raiz pi votante atingi u o fundo do recipiente, sem e novelar. Em ambo o ca_os,
a enxertia foi feita no local definitivo do poma r. Esses dois sistemas de implantilção de
pomar de citros foram ava liados e m três variedades copa (laranja ' Pera', li ma ácida 'Tc1hiti'
e tangor ' Murcott') enxertadas e m limão ' Cravo', na ausência e presença de subsolagem .
Essa pesquisa foi implantada em 2008 na Fazenda Lagoa do Coco, em Rio Real, Bahia,
em Argissolo Amarelo Distrocoeso de TC (Quadro 4) . Foram a va liados doi sistemas Je
preparo do solo (aração até 0,25 m de profundidade e aração seguida de ub olagem nas
linhas d e plantio até 0,50 m de profundidade) e dois sistemas de plantio (muda e " pla ntio
dire to"). A ad ubação e os tratos culturais fora m reali zados d e aco rdo com a recomendaçõe
técnicas usualmente utilizadas na cultura dos citros .
No quadro 4, encontra m-se resultados de análises física do solo avaliado, em três
profu ndidad es, onde se percebe que a subsolagem contribu iu para redu zir a densidade d o
solo e au me ntar a porosidade total e m acroporosidade na camada d e 0,20-0,-10 m. Embora
os d ados não estejam apresentados no quadro -l, ob-ervou-se a lar crítico da resistencia do
solo à penetração (2,5 MPa), segu ndo Taylor e t a.l. (1966), a partir de 0,_2 m :ie profundidad e
nas parcelas não subsoladas e a partir de 0,42 m na su bsoladas, nas me ma - c ndiçõe - d e
umidad e do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


954
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Quadro 4 ·. ara tenzaçao


· - granulomé h·1ca . a lo AmaTe 1o D1strocoeso,
. e elas e textura! do Arg1s · e
P r idade e <len id ade do solo com e sem sub. olagem d o solo n a área experimental da F azenda
Lag ªd o o, Rio R ai, Bahia, 200

Granulometria e classe textura)


Profundidade AMG AG AM AF AMF AT Silte Argila Classe textura(
- rn -
g kg-'
0-0,20 20 250 310 180 30 790 40 170 Franco-arenoso
0,20-0,40 25 235 260 170 30 720 40 240 Franco-a rgi Ioa renoso
0,40-0,60 27 232 246 145 30 680 60 260 Franco-a rgi loa renoso
Porosidade e densidade do solo
Sem subsolagem Com subsolagem
s Ma Mi PT Os s Ma Mi PT Os
- - rn'' nr3 - - - kg dm-3 m..3 rn·3 kg dm·3
0-0,20 0,62 0,21 o,17 0,38 1,57 0,64 0,18 0,18 0,36 1,57
0,20-0,40 0,70 0,12 0,18 0,30 1,74 0,67 0,14 0,19 0,33 1,65
0,40-0,60 0,73 0,07 0,20 0,27 1,75 0,79 0,07 0,21 0,28 1,78
A ~G - Areia muito grossa; AG = Areia gros a; AM = Areia média; AF = Areia fina; AMF = Areia muito fina; AT = Areia total; S =
Sóhdos; Ma = Macroporosidade; Mi= Microporosidade; PT = Porosidílde total; e Os = Densidade do solo.
Fonte: Amorim (2014).

Os resultados obtidos cerca de quatro anos após o plantio (Figura 13) evidenciaram
nítida superioridade do "plantio direto" em todas as quatro variáveis medidas (diâmetro
do tronco, altura da planta, volume da copa e produção), nas três combinações copa/
porta-enxerto (laranja 'Pera', li.ma ácida 'Tahiti' e tangar 'Murcott', enxertadas em limão
'Cravo'). A similaridade dos resultados para o "plantio direto" na presença e ausência de
subsolagem, exceção apenas para a produção da laranja 'Pera', apresenta a possibilidade
de o " plantio direto" dispensar a utilização da subsolagem por ocasião do plantio, prática
essa dispendiosa e às vezes de dilícil acesso por pequenos produtores de citros.
A avaliação de raízes, efetuada em plantas de tangelo 'Page' enxertadas em limão
'Cravo' ao longo da linha e entrelinha de plantio e em razão da profundidade (A)
e da distância da planta (B), para o plantio com mudas (M) e "plantio direto" (PD), na
Fazenda Poço das Pedras, município de Rio Real, Bahia (Figura 14), evidenciou maior
densidade de raízes no "plantio direto", na grande maioria dos casos, principalmente em
maior profundidade (Figura 14A). Isso comprova o prejuízo causado pelas podas e pela
extirpação da raiz pivotante e pelo enovelamento no sistema radicular que ocorrem nas
mudas, portanto tornando-o mal formado, o que não ocorre no "plantio direto".
Dessa forma, Rezende et ai. (2002), Brito et ai. (2006), Calfa (2010) e Rezende (2013)
comprovaram a superioridade do" plantio direto" em comparação com o plantio de mudas.
Este último sistema apresenta crescimento retardado e produtividade prejudicada por
causa dos sucessivos cortes e das perdas de raízes, quando das transplantações sementeira-
viveiro-local definitivo.
Informações levantadas com os produtores de citros da região citrícola de Rio Real,
no Litoral Norte da Bahia, permitiram estimar a existência de aproximadamente 1 000 ha
de citros unplantados em "plantio direto", envolvendo produtores de todos os extratos
(grandes, médios e, principalm.ente, pequen_os). Os po~ares in~talados des~a maneira tên:-
se revelado mais precoces, mais tolerantes a seca, mais produtivos e, possivelmente, mais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MAN EJO DE SOLOS COE SOS EM CULTIV O D E C IT ROS NA B AH I A E · · · 9 55

longevos do qu e aq ue les originéÍ rios cio p lanti o de mud ac;, po r so fre rem °:enos com nc;
períodos de défices hídricos que ocorre m n a região citríco la dJ Ba hi.:i e dt• S rg ipe, cnnfo r~c
abordado no item "balanço hídrico e s uprime nto de jgua pJ ra os c itro5 c m ~o loc; coesnc; ·
1112

icU' □ 1 r o 1\11
É.
- - -
~

"
()(l{)

-
-- - - -

"'
o
- o
a ;;,
- - ~
o
'l!i ~ -~ ; 1 11
d ~ e:
~
d :;;;
:t
•.!:
=i
-:o·
1~ ~
=i
~

11 li .!,....Jl:-J.-1__.__..J-,,L...J._J....._,._ .._.__.__ _ _ _.__


íl,tlil

.. f', ..,r 1·~ f \ r,,


1(,,1) ~ - - -- - -- - - - - - -- -~ :11 ~ -- - - - - - - - - - - - - - - - -
i c 1 1• □ 1. 1 01,q
L , :) • • ::: •• 1
1-1,tl

·.s 12.tl Ih

~ l íl,0
.,
-,
-:,
ti.O
=
~ 6,l)
3
~ ,1,íl
2.0

l'D \ lucJ.1, l'l l


CO \I SUIJSOL-\GE\1

Figura 13. Resultados de diâmetro do tronco, él ltu ra da planta, vol ume da copa"' proJ uçc'10 pa ra o
plantio com mudas e "plantio direto" (PD), com e sem s ubsolagem, pa ra a laranja 'Pera' (LP),
üma ácida 'Tahiti' (LT) e tangor ' Murcott' (TM), no município d e Rio Rea l, Bahia.

20 2 11

(h)
1a Linh.1 Entrdinh., j

~ ,1

j
f:. li

tl-ll,25 tl,25-il,'il l 11 ;n.o;,


Prnf11nd1JJ,lc (111)
\I
11 ;'i- 1 ,10
l'IJ - \I l'll \l ! 11 \t . l' \1 í L• \\
... l'l'

Figura 14. Densidade total de raízes (cm ctm-J de solo) de plantas de t,mgelo ' Pagc· em.ert.1 J ,1 · t:m
limão ' Cravo', ao lo ngo d a linha e e ntrdinha de plantio e em ruzâo d a profundi :iade (a) e
dis tâ ncia da planta (b), para o pla ntio com. mudas (~1) e " plantio dire to" (PD), na FJ zend,1 p ·o
das Pedras, município de Rio Real, Bahia, cm 2009.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
956
LU CI ANO DA SILVA SOUZA ET AL.

PROPOSTA DE CRONOGRAMA DE ATIVIDADES EM


MANEJO DO SOLO EM CITRICULTURA NA BAHIA E EM
SERGIPE

º. q~adro 5, apresenta-se sugestão de cronograma de atividades em manejo do solo


para a citncultura na Bahia e em Sergipe, especialmente na fase de impl antação de pomares
e também em pomares já implantados.

Quadro 5._Cronograma de atividades em manejo do solo para a cih·icu ltura na Bahia e em Sergipe,
para 11nplantaçào de pomares e em pomares já implantados
Período Clima Prática
Na fase de implantação de pomares

Dezembro Coletar amostras de solo nas profundidades de 0-0,20


Seco
e 0,20-0,40 me enviar para análise.

Logo após as primeiras chuvas, aplicar metade


do calcário dolomítico recomendado para a
profundidade de 0-0,40 m, substituindo 25 % de CaO
como gesso; e arar ou escarificar com o solo com baixa
umidade, ou seja, no estado de consistência friável.
Uma maneira simples e prática de se avaliar esse
Seco, com chuvas
Janeiro/ fevereiro estado de consistência do solo no campo é pressionar
ocasionais
um punhado de terra com uma das m ãos e verificar
se os torrões se desfazem faci lmente ao serem
manipulados e com pequena ou nenhuma aderência
nas mãos. Atentar que o preparo do solo deve ser
feito em contorno, acompanhando as curvas de nível
do terreno.

Aplicar o restante do calcário dolomítico e fosfato de


Início do período
Março/abril rocha e gradear ou escarificar, com o solo com baixa
chuvoso
untidade, ou seja, no estado de consistência friável.

Rea lizar a subsolagem na linha de plantio, no veranico


de maio, portanto com o solo com baixa umidade.
Atentar que a utilização do sistema de plantio do
Chuvas majs porta-enxerto e enxertia no local definitivo do pmnar
Maio/junho freq uentes evidenciou pequeno ou nulo efeito da subsolagem; e a
subsolagem é a última prática m ecani zada no pomar,
não mais se recomendando qualquer nova entrada de
máquinas nele, a não ser nos carreadores.

Realizar o coveamento manual nas linhas s ubsoladas,


Chuvas mais abrindo covas em formato de bacias e cobrindo-
Maio/junho frequentes as com capim seco ou maravalha, para conservar a
umidade no solo.
Contmua ...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MANEJO DE SOLOS COESOS EM CULTIVO DE (ITROS IA BAHIA E ... 95?

Quadro 5. Cont.
Período Clima Prá t ica
Na fa se de implantação de po mares
A pi icar él acl u baç,io c.l pl,mtio com bac;e n,1 an,1l1c;t•
Chu vas mai s do so lo, cons idPr.indo a<; q u anticlt1des e 0<; tipoc; dl'
Junho
frequen tes
ad ubos e os modos d aplic.1ção rL'co mcnd,11.Joc;
Plan ta r .is mud as de c itros nas cova abertél c; n.:ic; linha,
subsoladas. No cJ-;o d e util i.raçJo dn "pl,mtio diret<l",
as se men tec; do porta-e nxerto c;clecion.ido poderJo
Chuvas mais ser p lantadas di retamente no c.im po o u em boi ·us
Junho pl ás ticas. Nesse caso, ter o cu idado de tr;:in<;feri r p<1r,1
frequentes
o campo assim qu e a raiz p1vo ta nte atingir u fundo do
recipiente, evitand o assi m o enovcl.imen o do c;1stem..1
radicular.
Chuvas mais
Junho Pla ntar leg uminosa nas e ntrelinha _ dos pom..in_><;_
frequentes
Aplicar as adubações d e cobertura com bc1se na ,máli<;t•
Chuvas com
Julho em diante do solo, cons ide rand o as quantidad~ e º" lipoc; de
menor frequência
adubos e o modo de .iplicaçJo recomendados.
Ceifa r as legu m inosa a uma altura em tomo de n.20
Setembro/ outubro/ Final do período
m, deixando a fitomassa na su perfície do o lo como
novembro chuvoso
cobe rtura morta.
Em pomares já implantados
Cole tar a mostras de solo na profundidade de 0-0,20 m
Dezembro Seco
e enviar para ,má lise.
Logo após a primeira chuva , aplicar todo o calcário
Seco, chuvas dolomitico recomendado, su bstituindo 25 "'~ Je C ,O
Ja neiro/ fevereiro
ocasionais corno gesso; e gradear ou escari.ficar com o _olo com
baixa umidade, ou seja, no estado de con.sistencia friável.
Aplicar me tade do 1 , todo o p e m etade do ,,
Início cio período recomend ados pela análise do solo, e m cobertur.:1.
Março
chuvoso na projeção da copa ou entrelinha, com o solo ú m ido
para evi tar/ minimizar a perda por olatiliz.:içào.

Chuvas mais Subso lar ou escarificar a entrelinha de plc1ntio, dcl


Maio/ junho projeção da copa das planta para fo ra, no veramco
frequentes
de maio.
Chuvas mais
Junho Plantar legumino as nas entrelinha dos pomares.
frequentes
Aplicar me tad e do 1 e m etade do K recomendados
Chuvas menos pela a nálise d o solo, cm cobertura, na pr j~.'io da
Agosto
frequentes copa ou entrelinha, com o ·olo úmido para t!Vi tar /
minimizar a perda por vo latiliz.1çJo.
Ceifar as legumino as a uma .1l tur.1 em to mn de
Setembro/ o utubro/ Final do período
chuvoso 0,20 m, deixando a füomassa nJ superfícil.' J o solo
n ovembro
como cobertu ra mo rta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


---
958
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

. baixa produtividade e longevidade dos pomares cítricos no ecossiste ma dos


Tabuleiro - Co_teiros têm como causa principal a presença de horizontes subsuperficiais
ad~n- ado no principais solos (A rgissolo Amarelo, Latossolo Amarelo e Argissolo
Aci~1 zentado, todo Di trocoesos), resultando em baixa infiltração e armazenagem de água,
per'.odo frequentes de d éfice hídricos, deficiente aeração, alta resis tência à penetração
r~dICular e, consequentemente, baixo crescimento e aprofundamento das raízes. Concorre
a inda para isso a má formação do sistema radicular das mudas cítricas, d evido a cortes
reali zados nas raíze , inclusive da pivotante, dmante o trans plantio do porta-enxerto de
tubete ou do solo para bolsas plásticas. Resulta então um sistema radicular fascicu lado e
enovelado nas mudas que, no campo, acaba se concenh·ando no hori zonte superficial do
solo. A presença de alumínio em profundidade e a baixa disponibilidade de nutrientes são
dois agravantes.
1a
busca por informações tecnológicas para minimizar tais limitações foram iniciados
estudos para verificar a viabilidade técnica e econômica da semeadura e/ ou plantio do
porta-enxerto cíh·ico e enxertia no local definitivo do pomar, partindo-se da premjssa de
que traria grande contribuição a presença de sistema radicular intacto e, portanto, com
condições de melhor se distribuir e aprofundar no perfil do solo.
Os resultados desses estudos evidenciaram que, nas mesmas condições ambientais,
os pomares originários do " plantio direto" apresentarnm-se mais precoces, vigorosos
(possivelmente mais longevos), econômicos e produtivos do que pomares originários
do plantio de mudas formadas em viveiros. Tal sistema passou a ser rapidamente
experimentado por produtores, de modo que, cerca de três anos após o início dos estudos,
hav ia aproximadamente mil hectares de "plantio direto" de citros no Estado da Bahia, o
que pode ser considerado indicativo de satisfação e confiança do citricultor nessa técnica.
Isso sugere a continuação de pesquisas com " plantio direto" em citros, avaliando
diferentes combinações genéticas copas/ porta-enxertos e com foco no crescimento
do sistema radicular; tolerância à seca; tolerância às pragas; quantidade de adubos
compatíveis com o vigor das plantas; localização dos adubos - tem-se observado que,
no " plantio direto", o melhor local é próximo ao tronco da planta e não na projeção
da copa, possivelmente devido à arquitetura do sistema ra dicular; e preparo do solo,
particularmente quanto à necessidade ou não de subsolagem.

LITERATURA CITADA

Amorim FF. Avaliação físico-lúdrica de um Argissolo Amarelo Dish·ocoeso de Tabuleiro Costeiro


submetido à subsolagem [Conclusão de Curso] Cruz das Almas: Universidade Federal do
Recôncavo da Bahja; 2014.
Araújo Filho JC, Silva FBR, Silva SSL. Sol~s ~os Tab~~eir~s Costeirns: horizontes coesos e cimentados.
ln~ Resumos do 27" Congresso Brasileiro de Cienoa do Solo; 1999; Brasília. Brasília: Sociedade
BrasiJeira de Ciéncia do Solo; 1999.
Brito AS, Neves PM, Rezende JO, _M_a?alhães _AFJ, S!1ibata RT, Costa JA . Lima da Pérsia com porta-
enxerto semeado no local def1mtJvo. Bahia Agr1c. 2006;7:61-71.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXIX - MANEJO DE SOLOS COESOS EM CULT IVO D E (JT ROS N A B A HI A E · · · 959

Ca lfa C H . Subsolagem cm solo coeso d e Tabu le iro Cosi iro d c;envnlvimen o da lima da ' P~r.,ia'
com porta-enxerto semeado no local defini tivo [tes ]. Salvador: Ins tituto d O>oci ·noac; da
UFBA; 2010.
Carvalho JEB, Souza LS, Souza LD. Manejo d e cob •rtura vegetal con I guminosas en cl control
integrado de malezas em cftricos. ln: Compendi o Seminá rio Internaciona l de Cobertura de
Leguminosas em Cultivas Permanentes; 1998; Sa nta Ba rba ra dei Z u lia. Sa n ta Barbara dei Zul ia·
Facultad de Agronomia de La Universidad d ei Zulia; 1998. p .108-10.
Carvalho JEB, Brito ZU, Costa Neto AO, Ca ld as RC. Efeitos de práticas cultur is c;obrc o
es tabelecimento e permanência de fungo micorrízicos arbuscu lares ( IAS), na laranja ' Pê ra'.
Rev Bras Frutic. 1995;17:33-46.
Carvalho JEB, Souza LS, Jorge LAC, Ramos WF, Costa e to AO, Araújo fA, Lop , LC, Jes us MS.
Manejo de coberturas do solo e sua interfe rência no d esenvolvi m ento do sistema radicular da
laranja 'Pera'. Rev Bras Frutic. 1999;21:140-5.
Cintra FLD, Coelho YS, Cunha Sobrinho AP, Passos OS. Caracterização f( ica do solo s ubmetid o J
práticas de manejo em pomar de laranja ' Baianinha'. Pesq Agropec Bras. 19 3;18:173-9.
Cintra FLD, Libardi PL, Jorge LAC. Distribuição do s is tema rad icu lar de porta-enx rtos de citros em
ecossistema de Tabuleiro Costeiro. Rev Bra Frutic. 1999;21:313-7.
Cintra FLD, Libardi PL, Saad AM. Balanço hídrico no solo pa ra porta-enxer os de citro em
ecossistema de Tabuleiro Costeiro. Rev Bras Eng Agríc Amb. 2000;4:23-8.
Coelho YS. Tangerina para exportação: aspectos técnicos da produção . Brasília: Em br apa-SPI; 1
(Embrapa-SPI. Série Publicações Técnicas Frupex, 24).
Coelho YS, Souza LS. Calagem e adubação para limeira ácida ' Tahiti'. ln: Bo rges A L, Sow...1 LS.
editores. Recomendações de calagem e adubação para abacaxi, a cero la, banana, laranja,
tangerina, li.ma ácida, mamão, mandioca, manga e maracujá. Cruz das A lmas: Ernbrapa; 2009.
p .92-107.
Giarola NFB, Silva AP, Tormena CA, Souza LS, Ribeiro LP. Similarida d es entre o caráter coeso do_
solos e o comportamento hardsetting: es tudo de caso. Rev Bras Cienc Solo. 2001;25:239-47.
IBGE. Banco de Dados Agregados. Sistema IBGE de Recuperação Auto má tica - IDRA, _015.
Disponível em: <http:/ / www2.sidra.ibge.gov.br / bda/ tabela/ 1is tabl.asp ?c=1613&z=t&o=l 1 >.
Acesso em: 18 set. 2017.
Jacom.ine PKT. Distribuição geográfica, características e classificação dos olo coeso d os Tabuleir
Costeiros. ln: Anais da Reunião Técnica sobre Solos Coesos do Tabuleiros Co teiros, Pesqu ·
e Desenvolvimento para os Tabuleiros Costeiros; 1996; Cruz das Almas. Aracaju: Embra p -
CPATC; 1996. p.13-26.
Lima HV, Silva AP, Jacomine PKT, Romero RE, Libardi PL. Identifica ção e caracterização de los
coesos no Estado do Ceará. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:467-76.
Magalhães AFJ, Souza LS. Calagem e adubação para laranjeiras, tange rineiras e híbridos. ln: Bor<Y
AL, Souza LS, editores. Recomendações de calagem e adubação para abaca, i, acerola, banana,
laranja, tangerina, lima ácida, mamão, mandioca, manga e maracujá. Cruz d s Almas: Embrap, ·
2009. p.74-91.
Magalhães AFJ. Tolerância de porta-en.,xertos de citros ao alumínio. Rev Bras Frutic. 19 7;9:51-5.
Paiva AQ Souza LS, Ribeiro AC, Costa LM. Disponibilidade de água e m uma to p · equê.ncia de 5 1 s
de tabuleiro do Estado da Bahia e sua relação com indicadores do cr imento da laranjeira. R v
Bras Cienc Solo. 1998;22:367-77.

Pa iva AQ Souza LS, Ribeiro AC, Cos ta LM. Propriedades fisi o-hidricas de 5 t - de uma
topossequência de tabuleiro do Es tado da Bahia. Pesq Agropec Bra . 2000;35:229'" _...,02.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


960
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL.

Passo , Cunha obrinho AP, Coelho YS. Manejo do solo em pom<1 r de citros. ln: Anais do
2"· CongTesso Brasileiro de Fruticultura, 1973; Viçosa, MG. Campin<1s: Sociedade Brasilei ra de
Fruticultura; 1973. p.249-56.
Peixoto CAB, Souza LS, Passos OS, Souza LO. Distribuição d o sistema rad icular de diferentes porta-
en.,xer~os de citro ·, sob copa de laranjeira ' Pêra', em Argissolo Acizentado coeso de Tabuleiro
Costeiro d o Estad o da Bahia. ln: Resumos e palesb·as da 16ª. Rewú ão Brasil ei ra de Manejo
e C?nservação do Solo e da Água; 2006; Aracaju. Aracaju: Universidade Federal d e Sergipe;
Socieda de Brasileira de Ciência d o Solo; 2006.
Pereira AC. PRODECITRUS - Programa de Desenvolvimento Sustentável da Citricultura Baiana,
triênio 2011-2013. Salvador: SEAGRI / EBDA; 2010.
Rezende JO, Magalhães AFJ, Sh.ibata RT, Rocha ES, Fernandes JC, Brandão FJC, Rezende VJRP.
Citricultura nos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros: análise e sugestões. Salvador: Seagri/
SPA; 2002.
Rezende JO, Shibata RT, Souza LS. Justificativa e recomendações técnicas para o " plantio direto" dos
citros nos Tabuleiros Costeiros: ênfase na citricultura dos Estados da Bahia e Sergipe. Cruz das
Almas: UFRB; 2015.
Rezende JO. " Plantio direto" dos citros: núto ou realidade? Bahia Agríc. 2013;9:72-85.
Rezende JO. Um olhar sobre a citricultura do Estado da Bahia. Bahia Agríc. 2011;9:72-93.
Silva FBR, Riché GR, Tomieau JP, Sousa eto NC, Brito LTL, Correia RC, Cavalcanti AC, Silv a FHBB,
Silva AB, Araújo Filho JC, Leite AP. Zoneamento agroecológico do Nordeste; diagnóstico do
quadro natural e agrossocioeconônuco. Petrolina: Embrapa-CPATSA; Recife: Embrapa-CNPS-
CRN; 1993.
Souza LD, Souza LS, Ledo CAS. Disponibilidade de água em pomar de citros submetido a poda e
subsolagem em Latossolo Amarelo dos Tabuleiros Costeiros. Rev Bras Frutic. 2004;26:69-73.
Souza LD, Ribeiro LS, Souza LS, Ledo CAS, Cunha Sobrinho AP. Distribuição das raízes dos citros
em função da profundidade da cova de plantio em Latossolo Amarelo dos Tabuleiros Costeiros.
Rev Bras Frutic. 2006;28:87-91.
Souza LO, Souza LS, Ledo CAS. Sistema radicular dos citros em Neossolo Quartzarênico dos
Tabuleiros Costeiros sob irrigação e sequeiro. Pesq Agropec Bras. 2007;42:1373-81.
Souza LS. Aspectos sobre o uso e manejo dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros. B Inf SBCS.
1997;??;34-9.
Souza LS. Uso e manejo dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros. ln: Ana is d a Reunião Técnica
sobre Solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros, Pesquisa e Desenvolvimento para os Tabuleiros
Costeiros; 1996; Cruz d as Almas. Aracaju: Embrapa-CPATC; 1996. p .36-75.
Souza LS, Souza LD, Paiva AQ, Rodrigues ACV, Ribeiro LS. Distribuição do sis tema radicular de
ci tros em uma toposeqüência de solos de tabuleiro costeiro do Estado da Bahia. Rev Bras Cie nc
Solo. 2008;32:503-13.
Tay lor HM, Roberson G!'-1, Par~er J_r JJ. Soil strength-root penetration relations to m ed i um to coarse-
textured soil maten als. S011 Sc1. 1966;102;18-22.
Thomthwa ite CW, Matter JR. The water balance. Centerton: Drexel Ins titu te of Tecnolo gy; 1955.
Trinda de J. Citricultura em Sergipe: análise da cadeia produtiva. ln : Pa lestra do 3º . Encontro de
Citricultura da Bahia. Rio Real: 2009.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM
FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO

Luciano GeblerV, Gilberto Nava21, Adilson Luís Bamberg2-', Flávio Luiz Carpena CarvaJho-1',
Clenio Nailto Pillon21, Andrea De Rossi Rufato 11 & José Francisco Martins Pereira 21

1
1 Embrapa Uva e Vinho, Vacaria, RS. E-mail: luciano.gebler@embrapa.b-r; a ndrea.rufato~ •mtrrapo1 br
21 Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. E-mail: g ilberto.nava!Ge m brapa.br; adi! on.bam~r i;embr<1p,1.br;
flavio .carvalho@embrapa.br; clenio.pillon@embrnpa.br; jose.fm pcre1ra~ l'mbrapa.br

Conteúdo

BREVE 1-ílSTÓRICO ................................................................................................................. - ....... ........ . 961


INlPLA TAÇÃO DE POMARES MECANIZADOS ........................................... ...................... - ....- .. ...... -···· %3
llvlPLANTAÇÃO DE POMARES NÃO MECANI ZADOS ................................... ............ ..........·-······ ...... . . ... =;
CO SERVAÇÃO DO SOLO A FASE DE MA UTENÇf\O DE PO IARFS ................. ·····--........... .
Cobertura do solo em pomares de fruteiras de cl ima temperado ................................ ....... ··- . ...... ._...... 966
Com pactação de solos em pomares ............................................................................................ ·-••· .... .. -.... . 97'.!
TNDICADORES AMBIENTAIS ECO SERVAÇÃO DO SOLO EM POt-.lARES DE FRlTfEIRr
DE CLIMA TE CPERADO ................................................................................................... ... ............ .... .. .......... 973
Qualidade do solo: manutenção do carbono orgânico ................................................. ......... --·········· ·- ·-·-.. m
Qualidade da água resultante de enxurrada: arraste de contaminantes e m pomare ....................... ··- .. 75
MA EJO ECO SERVAÇÃO DO SOLO A FRUTICULTURA TEMPERADA CO\ 1O DE\ IA DA DE
PESQUISA: CONSIDERAÇÕES GERAIS.......................... ................................................................. ....... _... 97
LITERATURA CITADA .......................................................................................................................... _ ............ 9,,

BREVE HISTÓRICO

O manejo do solo compreende um conjunto de operações conduzida ou aplicada


ao solo com vistas a dar condições favoráveis ao desenvol imento da plantas durante um
cultivo. Apesar de o manejo ser um tema de maior ampl itude, es e está tão relaci nado ao~
métodos de conservação do solo, que muitas vezes é confundido ao er de crito (Ke ller et
al., 2013).
o Brasil, a fruticultw-a de clima temperado incorporou reco mendaçõe · gera is já
exis tentes para o uso da terra e para o manejo e conservaçã do olo, nà re · u ltando em
uma linha de trabalho independ ente, com base em pesquisas egund o método cientifico.
A maior parte das recomendações de manejo e conservação de solo em u , aplicada aos
pomares de fru teiras temperadas, foi adaptada d e outr cultura u - urgiu a p.irtir de

Berto( !, De Maria IC, Souza LS, editores. •lanejo e con-~rvação d o solo ~ J.i água. Vi,-o . :'\ IG : - -1~[.i !e
Bras ileira de Cii!ncia do Solo; 2018.
--
962
LUCIANO GEBLER ET AL .

~bser ações empíricas de agricultores, pesquisadores, professores e extensionis tas rurais


.· 1tura e área de manejo e conservação do solo.
ligado s a' fru l1cu

Mesmo nas publicações tradicionais sobre as principajs espécies frutíferas temperadas,


~orno pessegueiro e macieira, o tema conb·ole da erosão é tratado superficialmente e
mserido em tópicos generalistas, que englobam várias temáticas, como na in,plantação do
pomar ou seu manejo (Lasso, 2002; Carvalho et ai., 2014). Isso não permHiu a discussão
aprofundada, sendo conduzida como linhas de ação e recomendações generalizadas. O
ponto em comum a todas elas é o reforço constante do efeito da cobertura do solo no
controle da erosão.
Apesar disso, houve tentativas de reforçar a necessidade de controle de erosão e,
principalmente, das perdas de água na fruticuJtura de clima temperado, para as áreas com
declividade mais alta, normalmente exploradas por mão de obra famjliar nas pequenas
propriedades rurais. Nessas situações, havia a recomendação da aplicação de práticas
mecânicas no combate à erosão, como implantação de patamares ou plantio em curvas de
nível.
Também, um fator de impacto na fruticultura, com reflexos também na forma de
planejamento das ações conservaciorústas em pomares, era a escassez de mão de obra.
Isto ocorria não somente na necessidade de pessoal para implantar as medidas de controle
da erosão, mas em várias outras atividades cotidianas que influenciavam ainda mais as
escolhas futuras do pomar, bem como as tecnologias a serem utilizadas. O principal fator
associado à mão de obra, que implicava na decisão da adoção, ou não, de meilidas físicas
de controle de erosão em pomares, era a forma de aplicação dos tratos fitossarutários.
Assim, gradualmente, independentemente do tamanho, as áreas de produção de frutas
ilirecionaram seus trabalhos para a mecaruzação, focando sua produção nos locais com
melhores condições topográficas e de solo, baseando o controle da erosão somente em
sistemas de cobertura vegetal e seu manejo.
O desuso da adoção de barreiras físicas se devia à necessidade da implantação de
"filas mortas" . Essas fileiras de plantas que iruciavam ou terminavam no interior do talhão
produtivo, quando se utilizava o plantio em curvas de nível ou patamares, implicavam
em repasses do maquirlário para tratamento ou, muitas vezes, no esquecimento de partes
dessas fileiras durante a aplicação dos produtos fitossarútários. Isso proporcionava a
proliferação de pragas e doenças, gerando majores gastos de tempo, recursos econômicos
e materiais.
Atualmente, restam algumas pequenas ou micro propriedades familiares não
mecanizadas. O caso mais comum é o da vitivirucultura no sul do Brasil, como resultado
da inexistência de áreas com topografia apropriada na propriedade agrícola. Normalmente
são propriedades que subsistem atendendo a algum rucho econômico ou produtivo
específico.
Nesses casos, os tratamentos fitossanHários ou de adubação exigem muita mão de
obra, sendo ela própria utilizada para aplicação de fertilizantes ou como elemento de
força e tração na aplicação de agrotóxicos, por meio do uso de pulverizadores costais ou
sis tema de reservatório fixo em conjunto com bomba estacionária, mangueiras e pistolas
de puJverização.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

_,
XXX - MAN EJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE (UMA T EM PERADO 963

Uma vez que isso oportuni za a restrição do trâns ito de máquinas agrícol s, acaba por
resu ltar em maior aceite da prática conscrvacionista com base nas linha de plantas em
curvas de nível o u patamares, agregadas à cobertu ra do solo .
Um caso a ser observado separadamente é a cultura do morangueiro que difere
das demais por ser herbácea e de pouco tempo de exploração (< 2 ano ). Pelo fato de a
mecanização privilegiar a implantação das áreas de culti vo, os demais tr;Jtos são feitos
manua lmente, lança ndo mão da cobertura de solo com mulching plástico, em vez da
cobertura verde. Mesmo nesses casos, não há preocupação pela im plantação de medi das
conservacionistas físicas, além da cobertura do solo.

IMPLANTAÇÃO DE POMARES MECANIZADOS

Em razão da escassez de mão de obra no campo, a qual vem se acentuando no Brasil


desde o final da década de 1990, na maioria dos pomares o uso da mecanização é intensiva
atualmente, corno forma de apoio às atividades produtivas. Isso implica que, ao planejar
as ações de conservação de solo, torna-se necessário leva r em conta como o manejo de
máquinas no pomar será influenciado.
A fruticultura temperada exige intenso manejo com máquinas para aplicação de
agroquimicos ao longo de toda a vida produtiva dos pomares (a meixeira, pessegueiro,
macieira, pereira, videira etc.). Assim para os técnicos que tomam as decisões no campo, a
erosão do solo é considerada menos impactante do que o prejuízo em horas-máquina ou
perdas na produção causadas por falhas na aplicação de agroquim.icos.
Assim, o controle da erosão hídrica em pomares precisa ser planejado mesmo desde
antes de sua implan tação, considerando a necessidade de práticas conservacionistas
mecânicas, vegetativas e edáncas (Koller et ai., 2013). A compactação é apontada como
um dos fatores que mais limita a produtividade em sis temas m ecanizado de produção
agrícola (Hamza e Anderson, 2005). Condições físicas do solo para o desenvolvi mento
adequado de fruteiras estão baseadas na combinação de baixa resistência mecànica do solo
à penetração de raízes, no suprimento eficiente de água, ar, oxigênio e nutriente e na
manutenção da temperatura do solo em condições favoráveis (Olsson e Cockroft, 2006).
Barnberg et a i. (2011) apontaram que, para solos com condições físicas restriti vas, o
alcance de altas produtividades depende da identificação e correção das re trições, bem
com o do condicionamento das camadas e, ou, horizontes subs u perficiais, com soluções
que incluem o revolvimento mecànico para a redução da resistência física e d o rompimento
d e camadas adensadas. Para este fim, utiliza-se a escarificação e a subsola 0 ern. Esta
prá ticas diferenciam entre si, principalmente quanto à profundidade de atuação das hastes
s ulcadoras. A escarificação é usada para mobilizar a camada s uperficial do solo, enquanto
a subsolagem tem a fw1ção de romper camadas s ubsuperficiais. necessidade de
s ubsolagem deve ser muito bem avaliada, pois áreas subsoladas podem perder capacidade
de s uporte de carga de máquinas agrícolas. Além disso, pode a umentar a toxidez p r .-\l
nas camadas superficiais de solos ácidos após a subsolagem, resultante da mobilização e
transferência de torrões de camadas mais profundas para camadas superficiais (Rosa et ai.,
2008).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


964
LUCIANO GEBLER ET AL.

. Opcionalmente, a incorporação de condicionadores (estercos, composto orgâruco,


Íltomassa re idual, vermiculita, ca ca de arroz carbonizada e ouh·os) é mais eficaz que
s?mente O re, ol imento em si, pois o processo de consolidação do solo proporcionado pelos
Ciclos de umedecimento e secagem tende a reverter os ah·ibutos físicos para as condições
de pré-revolvimento (Ahuja et al., 1998). Terra et al. (2014) reforçaram que, na implantação
de P~~ares, a forma e intensidade do preparo do solo para receber e proporcionar plenas
condiç~es de desem olvimento das mudas pressupõem uma avaliação criteriosa do status
do~ atnbutos ffsicos e químicos do solo. Para isso, é indicada a divisão da área em regiões
mais homogêneas, defirução de pelo menos três pontos representativos em cada área, e
abertura de trincheiras para a descrição, coleta e análise de amostras de solo acompanhando
os horizontes do perfil.
Análises recomendadas para o conhecimento básico das condições físicas incluem
a granulometria, a densidade do solo, a porosidade total, a macro e m.icroporosidade, o
espaço de aeração, a capacidade de água disp01úvel e a resistência do solo à penetração.
Na literatura são apresentados atributos adicionais e algw1s valores de referência para tais
atributos (Taylor et al., 1966; Topp et al., 1997; Reynolds et al., 2007; Reichert et al., 2009).
A inclusão do mapeamento dos atributos físicos e químicos dos solos previamente
à fase de implantação de uma nova área de pomar já começa a ser adotada em algumas
regiões, utilizando ferramentas da agricultura de precisão; mantêm-se registros com base
em coordenadas geográficas ao longo do tempo, permitindo a adoção de ações pontuais
(Gebler et al., 2015), além de avaliar a variabilidade espacial e a temporal do sistema,
quando será possível avaliar o impacto da boa ou má conservação do solo ao longo de
todo o ciclo da cultura.
A fase de pré-preparo da área para implantar o pomar, envolvendo os tratos
mecânicos, a calagem, a adubação de base, a implantação de culturas anuais (milho, feijão,
soja, trigo) e a adubação verde, geralmente ocorre durante um a dois anos antes do plantio
das mudas. O foco dessa etapa é maximizar a capacidade do solo de favorecer a fertilidade,
0 armazenamento de água no solo por longos períodos e o aprofundamento de raízes,
removendo todas as can1adas de impedimento no subsolo. É nesta etapa que se tem a
melhor chance de solucionar os problemas que venham a restringir o desenvolvimento das
plantas frutíferas. Medidas posteriores ao plantio das mudas geralmente apresentam custo
elevado, e os efeitos são limitados.
Em pomares novos, até o segundo ano, é possível manter uma cultura herbácea
intercalar para proteção do solo contra a erosão, além de proporcionar algum rendimento
econômico. No entanto, numa faixa de aproximadamente 0,7 m em cada lado da linha de
plantio, 0 solo deve ser mantido livre de vegetação espontânea e de plantas cultivadas
(Losso, 2002). Sempre q~e utiliza~~ qualquer tipo de cul~a intercalar, dev:-se_ partir
do princípio que não haJa compehçao com as plantas frutiferas, dando preferencia pela
adoção de cobertura morta durante o ciclo produtivo do pomar, senão a competição pode
existir por nutrientes e principalmente p~~ água. ~ndo as~i~, a disp01úbili_dade de á~a
proveniente da irrigação ou da chuva sera influenciada dec1s1vamente p elo hpo de maneJO
da superfície do solo.
Em algumas situações especiais de instalação, como nas áreas de pomares da região
rrana de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde o terreno é caracterizado como
se tanhoso e de pouca profundidade, é necessária intensa movimentação de terra com
mon d
maquinário pesado. Utilizam-se tratores com 1ammas e corte (buldozers) e escavadeiras,
A •

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTI CULTURA DE CLIMA TEMP ERADO 965

para construção de patamares em declive ao longo das encostas dos morros, construindo-
os largos o suficiente para a implantação de uma linha de plantas, no mínimo, e permitindo
a passagem das demais máquinas agrícolas para os devidos tratos culturai (Figu ra l ).

Figura 1. Pomares de caqui instalad os em áreas muito declivosas, utiliza ndo patamares cons truídos
por meio do corte das encostas
Foto: Jean Francisco Carminatti.

Nessas situações, segue-se o propos to por Koller e t ai. (2013), os quais preconizaram
que as práticas conservacionistas devem ser realizad as antes da implantação do pomar,
incluindo: a) construção de patamares em nível, quando o solo é profundo e permite
altas taxas de infiltração de água; b) construção de patamares em declive, q ue permite o
escoamento do excesso da água, quando o solo é raso o u com horizonte 8 denso e com
baixa capacidade para infiltração de água; c) alocação de canais escoadouros ve(7etado ,
a fim de evitar a formação de voçorocas; e d) sempre que possível, realizar o plantio das
mudas em nível. Tais práticas têm por fina lidade reduzir o comprimento da rampa para
diminuir a velocidade de escoamento superficial e aumentar o tempo de permanência da
água na área, facilitando, assim, a infiltração.
Ao final do período de implantação do pomar, a vegetação espontànea (geralm ente
campo nativo, gramíneas nativas ou plantas infestantes) assume o papel de cobertura do
solo, possibilitando a redução de custos de ressemeio anual de plantas como trevo, aveia,
azevém, grama ou outras espécies comerciais, ocorrendo s ua perenizaçào na área.

IMPLANTAÇÃO DE POMARES NÃO MECANIZADOS

Até a década de 1990, esse tipo de pomar em fruticultura temperada era comum,
principalmente no caso de pessegueiro e arneLxeira, mas foi perdendo importància até eu
q uase desaparecimento. Atualmente, se res tringe às áreas muito declivosas ou com alta
pedregosidade, exigindo planejamento detalhado, resultando no uso exclusivo de mã de
obra hwnana para sua condução.
Entretanto, nessas áreas, é possível verificar a aplicação de todos os princípios
preconizados para proteção do solo contra a erosão hídrica, com a construção de patamare ·
vegetados e com pedra, em nível ou declive, com plantio de fileiras em nível com e sem
d esaguadouro. Isso é feito mesmo que implique na adoção de curvas mortas, sempre
acompanhado da cobertura do solo, muitas vezes manejada com espécies para adubação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


966
LUCIANO GEBLER ET AL.

. d.macea),
verde' com0 erv1·111aca (Vicia sativa), maku (Lot11 s serrano), festuca (Festuca arun
entre outras esp cies.

Mesmo assim é preconizado que essas áreas sejam previamente manejadas com
Subsolagem, escarificação, lavração ou gradagem e recebam o mesmo tratrunento que as
áreas com manejo mecanizado. Sendo áreas limítrofes ao uso de máquinas, muitas vezes só
será aplicada tração animal com arados fuçadores e gradagens. O plantio, com a adubação
de base, nesses casos, ainda é feito em covas que, por não apresentarem espelhamento em
suas paredes, aumentam a infiltração de água nesses pontos.
O achego de terra durante a adubação e no controle de plantas infestantes, nos casos
do uso de capinadeiras, contribui tanto para a formação dos pequenos crunalhões na fila de
plant~s ~orno para a estabilização dos patamares vegetados e das curvas de nível, alterando
a decbv1dade das fileiras e contendo ou reduzindo o processo erosivo nessas áreas.
O problema para a manutenção dessas áreas produtivas é a escassez de mão de obra
para os tratos culturais no pomar e o esforço dispendido em qualquer atividade, pois todas
as operações envolvem trabalho humano (capina, aplicação de agroquímicos, colheitas e
transporte de caixas etc).

CONSERVAÇÃO DO SOLO NA FASE DE MANUTENÇÃO


DE POMARES

Cobertura do solo em pomares de fruteiras de clima temperado


No manejo do solo em pomares, após a fase de implantação, em que o solo é revolvido
para fins de melhoria de suas condições físicas, químicas e biológicas, o pomar deve ser
mantido com cobertura vegetal na área correspondente às entrelinhas das plantas. Isso faz
com que as perdas de solo por erosão sejam drasticamente reduzidas.
O acúmulo de material orgânico na superfície favorece a estruturação do solo, com
agregados grandes, porosos e estáveis em água, oferecendo ambiente propício para o
desenvolvimento radicular. Assim, se estabelece um ciclo virtuoso para manutenção do
pomar e conservação do solo.
A cobertura do solo também exerce importante efeito sobre a eficiência do uso da
água nele. Além de red~zir as perdas d:_ águ~ p_or ev!poração,_ ao mel~orar os atributos
físicos, químicos e biológicos do solo facilita a infiltraçao, garantindo maior armazenagem
e disponibilidade de água nesse e favorecendo o desenvolvimento radicular, tornando
assim as plantas menos suscetíveis à seca.
Após a implantação do pomar,_ não são recomendadas ações mecânicas para
incorporação do calcário em profund1da~e, uma vez que tende a danificar o sistema
radicular das fruteiras. Portanto, na medida em que o solo vai sendo reacidificado e,
consequentemente, necessitando de calagem, esta é realizada sobre a superfície dele.
N 0 tavelmente nesta situação, as plantas de cobertura desempenham papel fundamental
melhoria da eficiência da calagem. Haverá a liberação de compostos orgânicos
h 1 rossolúveis de baixa massa molar
n~d
d
(ácidos orgânicos) pela fitomassa residual, antes do
. . . .
início da decomposição, que é um os prmc1pa1s mecarusmos responsáveis pela eficiência

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE (UMA TEMPERADO 967

da aplicação de calcá rio em superfície, aliviando os efeitos da acidez em s ubs 1perfície


(Franchini et ai., 2003).
Além das entrelinhas, o solo també m pode ser mantido coberto na área situada
nas linhas das plantas, avaliando-se sempre o impacto gerado pela competição entre
plantas pela utilização de herbicidas ou métodos mecânicos de controle, como a ca pina
e roçada, quando necessários. Entretanto, principalmente nos primeiro anos de adoçJo
desse sistema, quando o sistema radicular das fruteiras ai nda é pouco desenvolvido, a
competição por plantas espontâneas é mais intensa, mes mo co m a realização d e roçadas
mecânicas e químicas frequentes.
Nava (2010), avaliando o efeito da interação entre doses de cama de aviário e métodos
de controle de invasoras para a cultura da macieira, observou que o uso de herbicida ,
quando comparado ao de roçadas, favoreceu a resposta da planta ao ad ubo orgânico,
refletindo em aumento de produtividade (Figura 2). Quando o manejo das plantas
espontâneas foi realizado por meio de herbicidas, o rendimento de mnçãs aumentou de
maneira curvilinear até as doses de 13,2 e 12,6 t ha·1 de camas de aviário para 2000 e 2003,
respectivamente. Entretanto, para o manejo com roçadas, onde as plantas espontânea,
foram mantidas sob as macieiras, a aplicação de camas de aviário promoveu acréscimos
lineares sobre o rendimento em 2000 e 2003, necessitando de uma dose maior de camas de
aviário para obter um mesmo rendimento. Isto indica que as plantas espontâneas, mesmo
roçadas, utilizaram parte do adubo orgânico aplicado. Resultados similares foram obtidos
por Neilsen e Hogue (2000) em solos do Canadá, os quais verificaram maior produção de
maçãs com controle da vegetação da linha por meio de herbicidas, quando comparado ao
manejo com cobertura vegetal.

60~--------------- 50..-----------------~

45
~ 50
til 40
.9
..Ê
QJ
40 35
-o
o
~ -
•Herbicida
y = 45,7 + 1,40x - 0,053x2 R2 = 0,88....
30
• Herbiàda
~ 30 .. Roçado - y = 29,7 + 2,37x - 0,099x' R1 = 0.97-
25
fil
p,:: - - y =39,6 + 0,914x R =0,91...
2 ._ Roçado
= 30,08 + 0,845x R' = 0,89-9
2011..__.,....::::=::::~:::::::::::::;:::::::::::::::::::::::;:::::::::::::::=;==:::::J
o 5 10 15 20 25
Doses de carnas de aviário, t ha·1

Figura 2. Rendimento da i:n~cieira, cv. 'Fuji': e m resposta às doses de cama de aviári aplicada
a nualmente na superhc1e do solo e aos sistemas de manejo das plant:ls e pontâneas, safras 2000
e 2003.
Fonte: Adaptado de Nava (2010).

Pelizza et ai. (2009) verificaram que o uso de roçadas em sistema orgànico de produção
de maçãs foi ineficiente em reduzir a competição da vegetação espontànea com as macieiras
e, por isso, recomendaram o uso mais frequente de roçadas durante o período egetativ
e d e frutificação, quando as linhas das plantas são mantida com algum tipo de cobertura
vegetal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


968
LUCIANO GEBLER ET AL.

A introdução de leguminosas principalmente na linha de plantio, pode ser uma boa


1
s tr
~ até~a par~ aliviar os efeitos de competição por N, nutriente mais influencia~~ quando
~olo e maneJado por roçadas. A cobertma verde formada na linha d as mac1e1ras, com
ª mh·odução de uma espécie leguminosa denominada maku (Lot11s serran o) (Figura 3),
aumen~a o teor de N nas folhas da macieira (Boneti et ai., 2010) e auxilia na manutenção
d~ urmdade do solo. Nessa situação, 0 desenvolvimento das macieiras é adequado e
nao se observa qualquer sintoma de deficiência nuh·icional, mesmo não se utilizando
herbicidas (Figura 4). Observa-se que, com a utilização do maku, os teores foliares de
foram equivalentes ao n1anejo do solo capinado. No entanto, durante a primavera e
verão, é importante se manejar esta planta de cobertura por meio de roçadas, mantendo
a altura das plantas abaixo de 20 cm e evitando que estas atinjam os ramos e frutos da
macieira, o que pode favorecer a ocorrência de pragas e doenças. Carvalho et al. (1992)
apresentaram dados experimentais em que, nas entrelinhas, o cultivo da leguminosa
feijão-de-porco (Cmzavalia e11sifon11is) durante o verão, seguido pelo da gramínea aveia-
preta (Avenn strigosa), no período de inverno, traz reflexos positivos sobre a produtividade
do pessegueiro, passando de 5,8 kg de frutos/ planta para 7,2 kg de frutos/ planta, em
relação ao pasto nativo ceifado. Para ambas as culturas, o manejo da cobertura verde foi
a ceifa na época da floração e a transferência da fitomassa residual das entrelinhas para
as linhas de plantas. Helbig et al. (2003) também observaram aumento da umidade do
solo com o cultivo de aveia-preta nas linhas de pessegueiro, manejadas para uso como
cobertura morta, com reflexos positivos sobre a produtividade e qualidade dos frutos.

Figura 3. Cobertur~ ~erde do solo propiciada pelo maku (Lo/11s serm110) na linha d e plantio de um
pom ar de m acieira.
Foto: G ilberto Nava .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO 969

2,8
a

2,6

2,4

2,2
o

w'
..C
2O
I

o
'-

~ 1,8
z
1,6

1,-l

1,2

1,0
Capina L. Serrano Mul c h ing Roçd<lo

Figura 4. Teores foliares de nitrogênio da macieira em resposta a diferentes métodos de manejo


de cobertura do solo em sistema orgânico de produção. Médias com letra diferentes diferem
significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte: Boneti et ai. (2010).

Uma prática que também pode aliviar os efeitos da competição por plantasespontàneas,
que se desenvolvem nas linhas de plantio em pomares, é a roçada realizada nas entrelinhas
com transferência da fitomassa residual para a linha de plantio, formando urna camada
de cobertura que inibe ou reduz o desenvolvimento dessas e, ao mesmo tempo, auxilia na
contenção da enxurrada e na retenção dos sólidos em suspensão (Figura 5).

Figura 5. Manejo da cobertura do solo em pomar de macieira com transferencia de fitomas are idu.il
da entrelinha para a linha de plantio.
Foto: Gilberto ava.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


970
LUCIANO GEBLER ET AL.

Diferentemente de ouh·as culturas, como a videira, a competiçã o das plantas


e pontâneas por água e nutrientes, principalmente O N, pode favorecer a qualidade das
uvas para vinificação, principaJmente em solos com alto teor de matéria orgânica, onde o
e -cesso de tende a promover excessivo crescimento das plantas. Zalamena et al. (2013a)
obsen aram que a planta de cobertura festuca, ao ser cultivada em consórcio com a videira,
a~resentou aJta capacidade de competição e pode ser uma alternativa para diminuir o
vigor dessa frutífera . Além disso, foi observado que a transferência da fitomassa residual
d~s plantas de cobertura da linha de plantio das videiras para a enh·elinha não interfere no
vigor das plantas, indicado pelo índice ravaz, nem a produção de uva, mas dintinui o teor
d~ nitrogêrtio total nas folhas coletadas no pleno florescimento (Quadro 1), proporcionando
v1nhos com maiores teores de antocianinas e polifenóis totais (Zalamena et al., 2013b).
Entretanto, Oliveira et aJ. (2007) observaram que a competição com plantas de
cobertura em videiras influencia a produção e qualidade da uva, mesmo que em pequena
escala. Porém, Rosa et aJ. (2009) notaram que, em anos com problemas climáticos por
causa da seca, a cobertura do solo favoreceu a produção da videira, possivelrnente pela
manutenção da umidade no solo por mais tempo.

Quadro 1. Teores foliares de nitrogênio, produção e índice ravaz de videiras Cabernet S~µvignon
cultivadas em consórcio com plantas de cobertura do solo submetidas a dois manejo?

Tratamentos
Variável Safra CV
TI(I )
T2 T3 T4 TS T6 T7
N (g kg- 1) 09/ 10 30,3 28,6 26,8 30,2 26,5 28,5 27,8 7,2
10/ 11 22,3 27,7 25,1 25,8 26,4 23,3 21,7 5,6
Produção 09/ 10 2,14 2,50 2,38 2,45 2,29 2,50 2,59 13,6
(kg planta·1) 10/ 11 3,34 3,92 4,05 4,12 4,04 2,69 3,30 11,7
índice Ravaz 09/ 10 2,07 2,25 2,07 2,20 2,08 2,36 2,28 10,1
10/ 11 6,78 5,69 5,49 6,16 5,69 6,32 6,56 9,4
Contrastes
Test. vs anuais Test. vs perene Anuais vs perene Sem vs com manejo
09/ 10 ns ns ns •
10/ 11
_ ..... (2)
ns •
Produção 09/ 10 ns ns ns ns
(kg planta·1) 10/ 11 -** 11S
..... ns

Índice Ravaz 09/ 10 ns ns ns ns


1 11 ... ns -• ns
"'Tl : Testemunha; T2: (m oha-Setaria italica + azevém), roçado; TI: (moha + azevém), roçado com tran sferência; T4: (tr igo-mourisco
+ aveia-branca), roçado; T5: (trigo-mourisco+ aveia-bran ca), roçado com transferência; T6: (fcstuca), r oçad a; T7: (fostuca), roçada
com transfe réncia da fitomassa culturaJ residual para a entrelinha da videira. •, •• e •~ Hou ve diferença significativa entre os
tratamentos que fom1am o contraste a p<0,05, p<0,01 e p <0,001, respectivamente. ns contrastes nào significativos. f1> O sinal
negativo(-) antes do asterisco (") indica que o grupo de tratamentos à direita, que con trasta com o grupo anterio r para formilr o
contraste, apresen ta valores maiores da variável em questão.
fonte: Ad aptado de Zalamena et aJ . (201 3b).

Campos et ai. (2015) avaliaram o efeito de diversas plantas d e cobertura do solo em


área de videira rústica cultivada no cerrado goiano e indicaram o feijão-de-porco para
ser utilizado em consórcio com a videira para aquela região, que, a exemplo das plantas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA

...
XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO 971

espont5neas, proporcionou maior taxa d e cobertura do solo. Ainda com relaçJo videi ra,
Rosa et a i. (2009) ana lisaram O efeito de lres cobertura vegetais (vege tação espontânea,
aveia-preta e consórcio de trevo-branco+ trevo-verm elho+ aze vém) e m B nto Gonçulves,
RS, e verificaram que a produção de uva na safra colhida e m 2004, após um uno da
introdução desses tratamentos, foi maior no tratamento aveia e me nor no cons reio,
refletindo o efeito de planta de cobertura que teve maior produção de fitomassa na aveia
em relação ao consórcio (Quadro 2).

Quadro 2. Produção de cachos de uva fresca por planta e m razão de diferen tes sistemas de manejo e
espécies de cobertura, em três safras, num Cambissolo Háplico Eu trófico, e m Bento Gonçalves,
RS

Cobertura-manejo/contrastes 2004 2005 2006


------ - - - - - - kg planta-1

Vegetação espontânea (VE) dessecada (D) 2,6 5,0 3,2


Aveia-preta (A) dessecada 4,2 6,2 2,6
ConsórcioC1l (C) dessecado 3,0 6,2 -
_) ,:,

Vegetação espontânea (VE) roçada (R) 3,0 5,3 1,5


A veia-preta roçada 3,8 5,2 2,3
Consórcio roçado 2,0 :, ,::J 2,4
AvsC * ns ns
VER vs VED ns ns *
1'lCons6rcio
trevo-branco, trevo-vermelho e azev~rn. • ; significativo (p<0,05); ns: njo significativo. Produ jo de uv.i· médta d.l.S
duas variedades (N iágara Branca e Niágara Rosada).
Fonte: Rosa et ai. (2009).

Embora a maneira mais simples para constituir uma cobertura vegetal seja deixar
desenvolverem-se as espécies espontâneas da região, o plantio de espécies oportunamente
selecionadas permite obter importantes resultados fitotécnicos (Quadro 3), bem com o o
rápido estabelecimento e a cobertura do solo (Rufato et ai., 2006, 2007). O uso da aveia
em pomares (Figura 6), além de promover a cobertura do solo, tem efeito marcante
sobre a ciclagem de nutrientes e o controle de diversos patógenos causadores de doenças
radiculares.
No final do ciclo da aveia (agosto/ setembro), deve-se proceder à rolagem das plantas
a fim de formar a cobertura do solo. A rolagem pode ser feita utilizando-se rolo faca, uma
barra de ferro ou tronco de árvore tracionado pelo trator. Em algumas situações, as plantas
tombam espontaneamente, não sendo necessário realizar a rolagem. Também pode ser
usada a dessecação, principalmente na linha de plantio, caso haja alguma competição com
a cultura de interesse.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


972 LUCIANO GEBLER ET AL .

Quadro 3. Parâmetros \'egetativos de plantas de pessegueiro condu zid as em y psiloi~ (~) e líder
central (LC), em razão de diferentes coberturas vegetais, sob o sistema de produçao mtegrada
d e pessegueiro - PTP
Incremento no diâmetro Índice de volume de copa lndice de fertilidade
do tronco (mm) (mJ) (gemas cm·')

2000/2001 2000/2001 2001


Coberturas/ istemas y y LC y LC
LC
Aveia preta 16,06 a 22,22 a 0,39 ab 0,49 ab 0,44 ab 0,48 ab
' al:,o forraseiro 17,81 a 15,79 a 0,31 b 0,44 b 0,44 ab 0,49 ab
ChJcharo 20,83 a 16,79 a 0,56 ab 0,64 ab 0.43 b 0,47 ab
ErYilha fo rrageira 22,62 a 17,37 a 0,47 ab 0,62 ab 0,50 a 0,47 ab
Aveia preta+ ervilha forragei ra 20,08 a 18,85 a 0,-12 ab 0,51 ab 0,46 ab 0,48 ab
A \·cira preta+ nabo forrageiro 19,18 a 16,96 a 0,58 ab 0,73 ab 0,48 ab 0,51 a
Nabo forrageiro + ervilha 17,54 a 19,99 a 0,5-l ab 0,69 ab 0,48 ab 0,43 a
forrageira
A veia preta + chicharo 19,02 a 18,25 a 0,60 ab 0,58 ab 0,45 ab 0,47 ab
Testemunha 19,74 a 21,10 a 0,39 ab 0,56 ab 0,42 b 0,48 ab
Tremoço azul 20,20 a 18,69 a 0,65 a 0,76 a 0,46 ab 0,45 ab
Média condução
Ypsilon 19,31 a 0,-19 b 0,46 a
Uder central 18,60 a 0,60 a 0,47 a

1éctias seguidas de letras distintas na mesma coluna diferem entre si pelo deste de Duncam (p<0,05).
Fonte: Rufato et al. (2006).

Figura 6. Uso de aveia para cobertura do solo de um pomar d e pessegueiro.


Foto: Bernardo Ueno.

Compactação de solos em pomares


Após a implantação dos pomares, geralmente o solo d eixa de ser m obilizado, o qu~
torna difícil a correção de problemas subsuperficiais relacionados aos a h·ibutos físicos. E
importante considerar 9ue ? ciclo produtivo econômico de ~orna res frutícolas de clima
temperado geralmente e maior do que 10 anos, chegando próxnno à perenização, como no
caso da videira.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO 973

Nesses pomares, mesmo onde se adota O uso de plantas de cobertura do olo, a


pressão exercida por máquinas agrícolas é a principal res ponsável pela compactação. As
consequências são o desenvolvimento limitado e a atrofia de raízes, a redução das trocas
gasosas, da condutividade hidráulica do solo e da disponibilidad e de água às plantas. Pa ra
o diagnóstico das camadas compactadas (presença, espessura e localização), a den_idade
do solo, macroporosidade e resistência do solo à penetração têm sido utiliZ<Jdas como
indicadores (Camargo e Alleoni, 1997).
Uma vez que o ciclo produtivo dessas plantas frutíferas restringe as ações corretivas
mecânicas, deve-se avaliar o uso de ações preventivas para retardar o máxi mo a ocorrência
do problema. As ações preventivas buscam evitar que a compactação ocorra, controlando-
se o tráfego de máquinas, implementos e de animais na área. Deve-se evitar o uso de
máquinas pesadas, especialmente aquelas de pneus com menor área de contato com o solo,
principalmente em períodos de alta umidade do solo.
O uso de plantas com a capacidade de romper camadas de solo compactado é uma
alternativa de baixo custo, gerando benefícios como o incremento do teor de matéria
orgânica, da taxa de infiltração de água e da formação de bioporas para plantas sucessoras,
conectando a superfície do solo com camadas mais profundas. Abreu et ai. (2004) verifica ram
que a condutividade hidráulica do solo saturado (K0) cultivado com crotalária (Crotalaria
spectabilis) sob cultivo mínimo (K0 = 7,1 cm h·1) foi significativamente s uperior à soja com
escarificação mecânica do solo (K0 = 2,4 cm h·1), evidenciando-se mais eficaz na ruptura da
camada compactada e no estabelecimento de poros condutores de água em profundidade.
Nicoloso et al. (2008) verificaram que o consórcio nabo-forrageiro (Raphanus sativ11 · L.) +
aveia-preta (Avena strigosa Schreb) aumentou a macroporosidade do solo, diminuiu sua
resistência à penetração e melhorou a infiltração de água.
Sistemas radiculares agressivos recuperam de forma eficaz os atributos físicos do
solo para condições moderadas de compactação. Além disso, plantas que apresentam
desenvolvimento rápido (como azevém, consórcios como aveia+ervilhaca, nabo
forrageiro, capim-sudão e crotalária) são consideradas recuperadoras da estrutura do solo,
promovendo a escarificação biológica da camada superficial, bem como contribuem para a
incorporação de C e outros nutrientes em profundidade.

INDICADORES AMBIENTAIS E CONSERV.A ÇÃO DO


SOLO EM POMARES DE FRUTEIRAS DE CLil\'IA
TEMPERADO

Qualidade do solo: manutenção do carbono orgânico


O conceito de qualidade do solo é centrado na habilidade desse em atender funçõe
es pecíficas. Para Doran e Parkin (1994), a qualidade do solo é a capacidade de ele funcionar
dentro dos limites de um ecossistema natural ou manejado, sustentando a produtividade
de p lantas e animais, mantendo ou aumentando a qualidade do ar e da água e promo endo
a sa úde das plantas, dos animais e d~s homens. Já ~arson e Pierce (1991) sugerira m que a
qualidade de um solo deve ser avaliada pela consideração de suas características físicas,
químicas e biológicas, a fim de prover um. meio favorável para ocre -cimento de p lantas, seu

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


---
974
LUCIANO GEBLER ET AL.

papel regulador na dish·ibuiçào de água no ambiente, e servir como " buffer" na formação,
degradação e atenuação de produtos danosos ao ambiente.
. Ass_im: a capacidade de regulação das águas em solos d~ diferentes_ qualid,a?es
~u~nciana diferentemente os processos erosivos, com base nos diferentes atnbutos f1s1c_o,
qu1m1cos e biológicos. Isso permitiria diferentes comportamentos na fase de desagregaçao
de partículas, pela variação da força de retenção dos agregados nos diferentes solos, e
de arraste de partículas pelo fluxo da enxurrada, incluindo-se a consideração do tipo de
manejo aplicado.
. A qualidade do solo tem duas partes: uma, intrínseca, que se refere à capacidade
merente de ele sustentar o crescimento das culturas; e outra, dinâmica, que pode ser
influenciada pela ação do homem (Carter, 2002).
Atributos inerentes à qualidade do solo, como mineralogia e distribuição do
tamanho de partículas, são vistos como praticamente estáticos e evidenciam poucas
mudanças no tempo. Entretanto, atributos dinâmicos da qualidade do solo englobam
aquelas propriedades que podem sofrer alterações em períodos de tempo relativamente
curtos, como o conteúdo de matéria orgânica do solo (MOS), as frações lábeis da MOS
e a agregação e macroporosidade, em resposta ao manejo e ao uso antrópico e que são
fortemente influenciadas por práticas agronômicas (Carter, 2002) e por atributos do solo.
Diversos estudos realizados em solos sob diferentes manejas têm considerado a
MOS como um atributo-chave da qualidade de um solo (Doran e Parkin, 1994; Conceição
et al., 2005; Mielniczuk, 2008). Essa se refere ao material orgânico total, incluindo a
biomassa identificável de plantas (recursos primários), biomassa oriunda de animais e
microrganismos (recursos secundários), matéria orgânica dissolvida, substâncias liberadas
por raízes de plantas, como gomas e rnucilagens, e substâncias húmicas de estrutura mais
complexa, como os ácidos húmicos e a humina (Stevenson, 1994).
A MOS apresenta importante papel no ciclo do C do planeta e constitui-se no segundo
maior compartimento de C do solo, desconsiderando-se as reservas de combustíveis fósseis.
Enquanto os estoques de C na atmosfera atingem 750 Pg (1 Pg = 1015 g), e o C armazenado
na vegetação é ao redor de 550 Pg, a MO do solo armazena 1 500 Pg de C (Stevenson, 1994).
Somente o C existente nos oceanos supera o C orgânico armazenado no solo. A
queima de combustíveis fósseis e a oxidação da MOS contribuem para a manutenção,
ou mesmo o incremento dos teores atuais de C02 na atmosfera, enquanto na contramão
está a fotossíntese, o processo mais eficiente• e econômico de captura do CO2 atmosférico,
transformando o C02 presente no ar em tecido vegetal na presença de luz.
A dinâmica da MOS contempla fluxos de matéria e energia entre compartimentos
da terra (atmosfera, vegetação, solo, água e organismos) e processos físico-químicos e
biológicos, que reduzem e oxidam compostos orgânicos na medidc:) em que as reações se
processam.
Na atmosfera, o C02 encontra-se na forma mais oxidada. Por meio da fotossíntese,
as plantas absorvem o C02 e incorpo~am o Cem seus tecidos vegetais, que contêm, em
média, 40 % deste elemento na maténa seca. Parte desse C é incorporada ao solo durante
0 período de crescimento dos veget_ais por meio ~a liberação de exsudatos radiculares. O
C presente na biomassa cultural re~1d~al é depositado sobre O solo (parte aérea) ou no seu
interior (raízes), quando da senescenc1a ou morte das plantas (Pillon et al., 2004).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MAN EJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE (UMA TEMPERADO 9 75

Ao mesmo tempo, e especialmente quando a ad ição de biomassa cultu ral resid ual ao
solo é pequena, os microrganismos cio solo, para sua sobreviv · ncia, u ti lizam parte d C
armazenado na MOS como fonte de C e energia . Neste processo, uma porcentagem do C é
oxidada, liberando CO2 e água, constituindo a ta xa básica d e minera lização anual da MOS
(Stevenson, 1994).
Essa taxa é maior para solos arenosos do que para os argilosos e maio r em regiões
de clima quente e úmido do que em regiões de clima frio e ou seco. Como re ul tado
da ação microbiana sobre o C adicionado ou já exis te nte no solo, ocorrem fluxos de C
dos compartimentos mais lábeis (biomassa cultural residual em decom posição) para
compartimentos majs estáveis da MOS (matéria orgâruca associada à fração mine ral ou às
frações de maior grau de humificação) (Mielnkzuk, 2008).
A quantidade e qualidade das adições e perdas de C no solo determinam a di reção à
s ua s ustentabilidade ou degradação. Ambas, arução e perda de C do solo, depend em direta
ou indiretamente do seu manejo. Quando as taxas de adição e perda se equi va le m, o is tema
atinge um estado estável. Geralmente, o revolvimento do solo potencializa a perdas por
erosão e oxidação biológica da MOS, especialmente em ambientes tropical e s u btro pical.
Sob altas temperaturas e umidades, o mírumo revolvimento do solo é determinante para o
acúmulo de C e N.
Dependendo do manejo adotado, o solo pode funcionar como um reservató rio de C
(neste caso, ocorre aumento da MOS e melhoria da qualidade) ou como fonte de CO 1 para
a atmosfera. A capacidade de armazenamento de C pelo solo depende do clima, ti po de
solo (rruneralogia, textura), tipo de vegetação e manejo. O homem, pelo manejo ad o tado
à fitomassa residual e ao solo, pode contribuir para o aumento da capaddade d es e em
reter C por mais tempo. Nesse contexto, solos de textura mais argilosa, com predomíruo
de óxidos de Fe e, ou, AI e ainda minerais do tipo 2:1, bem como aqueles localizados em
ambientes mais frios, tendem a apresentar maiores estoques de C. Adicionalmente. manejo
que contemplam mínimo revolvimento do solo contribuem para maior preserv açã o do C
no solo (Bayer e Mielniczuk, 1999).
Por exemplo, sistemas de cultivo e culturas que possuem a capacidade de alocar C
a maiores profundidades no perfil, via sistema radicular, representam uma importante
contribuição para seu armazenamento no solo. Nesse contexto, a utilização de plantas
de cobertura em pomares contribui para a proteção do solo aos agentes erosi os, para a
ciclagem de nutrientes e para o aporte contínuo de fitomassa cultural residual (C jo em) ao
sistema, com reflexos positivos para a manutenção e melhoria da qualidade do solo (Pillon
et ai., 2004).

Qualidade da água resultante de enxurrada: arraste de contaminantes


em pomares
A cobertura do solo controla satisfatoriamente a erosão hídrica nos pomares de fruteir
de clima temperado em relação ao solo descoberto. Entretanto, o manejo da cobertura de e
ser aco mpanhado de práticas físicas de contenção de enxurradas, pois O mo imento da
água de escoamento superficial transfere parte dos nutrientes, principalmente O p presente
na camada superficial, para os corpos d'água pró, imos, disparando processos de floração
alga!, considerados de alto impacto ao ambiente (Daruel et ai., 1998; lori et ai., _009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
976 LUCIANO GEBLER ET Al.

E 'perimentos em pomares de macieiras já consolidados_(Figura 7) demons_trara_~ que


a manutenção da cobertura natural (campo nativo, plantas 11úestantes etc) é tao ef1c1ente
quanto coberturas implantadas, como aveia, mas, qualquer uma das coberturas testadas
apresentou eficiência na contenção de erosão e na redução das perdas de água em relação
a solo descoberto do pomar (Quadros 4 e 5) (Gobbi et ai., 2011).

Figura 7. Experimento de chuva simulada para avaliar o efeito de cobertura de solo e consequente
arraste de contaminantes pelo escoamento superficial, em pomar de maçã.
Foto: Ederson Gobbi.

Quadro 4. Contraste de médias das perdas de água por escoamento superficial, em sistemas de
manejo do solo em pomar de maçã

Sistema de manejo Perda de água (% da chuva)


se 66
ST 58
AN 53
AD 50
Contraste
se vs (ST, AN, AD) ••
ST vs (AN, AD) ns
ANvsAD ns
Teste Perda de água (% da chuva)
T1 49
T2 50
T3 61
Contraste **
TI vs (f2, T3)

-
ns
T2 vs T3
ST: sistema _tra~icio~; A : aveia ~r~. d~~ada_; AD: aveia dessecada; SC; sol~ sem coberrura; TI : teste]; TI: teste 2; e T3: teste
3 . Ns: não s1gn1ficauvo pelo teste F, · sigruficahvo pelo teste F (p<0,01). Sem interação esta tística significativa entre sistema de
manejo e teste.
Fonte; Gobb1 et al. (2011 ).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO 977

Q uadro 5. Contraste de rnédi.is das perdas totais de solo no escoa m ento u~e rficía_l, e m ·c;t_e ma c: de
manejo do solo em pomar de maçã, sobre um La tosc;o lo Bruno Di s tró f1 co típico, localizado na
estação experimental d a Embrapa uva e vinho de Vacaria

S istema Teste Contra te


de manej o T1 T2 T3 TI vs (T2, T3) T2 vs T3
1
- kg ha· - - - --

se 2.116 893 978 H


ns

ST 158 69 58 ns ns

AN 194 61 46 ns n

AD 154 92 117 ns ns

Contraste
se vs (ST, AN, AD) ** .... -tt

ST VS (AN, AD) ns ns ns
ANvs AD ns ns ns
ST: sistema tradicional; AN: aveia não dessecada; AD: aveia dessecad.:i; SC: solo sem cobertu ra; TI . teste I; T2 teste 2; e ·n te-:t-e
3. s: n5o significativo pelo teste F; •·: significativo pelo teste I' (p<0,0l). Int eraç.1o esta tística significativa entre si.stcm.:i d~ maneio
e teste (p<0,05).
Fonte: Gobbi et ai. (2011).

Essas informações reforçam a ideia de que a cobertura do solo resol veria o problemas
imediatos provocados pelo impacto das gotas de chuva sobre o solo (desagregação da
partículas e seu arraste) . No entanto, constata-se que o escoamento superficial, por i,
apresenta a capacidade de arraste de elementos ionizáveis em água, como o fósforo.
O P reativo total (FRT) é a forma química do elemento, que, presente nos sedimentos
suspensos na enxurrada da erosão, é carreado em maior quantidade pelo escoamento
su perficial e é o principal responsável pela contaminação dos corpos d' água (Gérard-
Marchant et ai., 2005; Barbosa et ai., 2009). Com a deposição do sedimento pas a a haver
predominância do P reativo dissolvido, que pode ser carregado por distàncias maiores
em concentração suficiente para disparar processos degradativos nos recursos hídrico
(Shigaki et ai., 2007).
Sharpley e t ai. (1994) argumentaram que as águas dos lagos são sensíveis ao P reativo
da enxurrada, principalmente os que apresentam área superficial maior que 10 ha; os que
se estratificam durante o verão em condições normais; e os que evidenciam baixas taxa de
fluxo anual. lsso, sem dúvida, pode se constituir num problema, tendo em vista a recente
proliferação das pequenas centrais hidroelétricas e açudes para irrigação.
O P reativo que é arrastado pela enxurrada provém tanto daquele aplicado ao alo na
forma de adubo como aquele disponibilizado pela rocha matriz do solo e pela ciclagem das
plantas de cobertura, e aproximadamente 50 % dele pode ser arrastado no terço inicial de
uma chuva (Gebler et ai., 2012).
Uma vez que nas linhas e entrelinhas de um pomar existem plantas de cobertura,
o escoamento superficial durante uma chuva será apresentado como um fluxo de águ
limpa, pois os sedimentos são filtrados na resteva existente. Entretanto, uma ez que o FRT
n ão está nos sedimentos, mas ionizado em água, ele continuará sendo arrastado, mesmo
em fl uxos de água aparentemente cristalina. Portanto, a cobertura do solo, por i 5 ,, pode

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


978
LUCIANO GEBLER ET AL.

er ineficiente para controlar o deslocamento desse material até um corpo d ' água, caso
não exi stam. barreiras físicas (patamares, terraceamento, plantio em curvas de nível) que
arn1 azenem a água de enxurrada na superfície e forcem a infiltração dessa água no solo.
A avaliação da necessidade da implantação desses sistemas em um pomar específico
d;pende de um estudo de risco de cada caso, pois pomares distantes de cursos ou corpos
d água poderiam ser considerados mais "seguros" que outros situados às margens d'água,
com base nessa avaliação de risco como um indicador ambiental.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO NA


FRUTICULTURA TEMPERADA COMO DEMANDA DE
PESQUISA: CONSIDERAÇÕES GERAIS

Uma vez que a conservação do solo em pomares de fruticultura temperada passou


a depender da economicidade do pomar, houve importante redução na execução de
trabalhos de pesquisa voltados especificamente a essa área. Ao longo dos anos, o foco
vem mudando, passando do aspecto exclusivamente produtivista para o ambiental e o de
segurança de produção.
Sob o ponto de vista ambiental, é necessário o aprofundamento de estudos com foco
conservacionista na área sobre o potencial de captura de C, urna vez que o longo tempo
decorrente entre o plantio de um pomar e sua erradicação o torna um grande armazenador
de carbono do ambiente, impactando positivamente, ainda, em outros fatores relacionados
ao sistema produtivo, como a destinação dos agrotóxicos que escorrem das folhas das
plantas diluídos na água das chuvas.
Também, sob o aspecto da qualidade da água, a temática do arraste do P e de outros
contaminantes associados à água da enxurrada ainda merece algum esforço de pesquisa,
a fim de estruturar métodos seguros e avaliação de risco e de tomada de decisão que
garantam a segurança do modelo produtivo.
De qualquer forma, a evolução da pesquisa em fruticultura temperada aponta
que nenhuma solução para determinada área poderá ser resolvida de forma isolada,
necessitando-se que se compreenda o inter-relacionamento holístico dos problemas
envolvidos na conservação do solo em pomares, muitas vezes ultrapassando os limites
tradicionais da ciência do solo, gerando soluções que envolvam o sistema produtivo corno
um todo e não por meio de práticas segmentadas, corno tem acontecido até o momento.

LITERATURA CITADA

Abre u SL, Reichert JM, Reinert DJ. Escarificação mecânica e biológica para a redução da compactação
em Argissolo Franco-arenoso sob plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:519-31.
Ahuja LR, Fiedler F, Dunn GH, Benjamin JG, Garrison A. Changes in soil wa ter retention curves due
to tillage and natural reconsolidation. Soil Sei Soe Am J. 1998;62:1228-33.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

........
XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULT URA DE (UMA TEMPERADO 979

Ba mberg AL, Cornelis WM, Timrn LC, Gabricls o, Paule tto EA, Pinto LFS Temporal cha nge~ of oil
p hysical and hydraulic p ropertics in s trawbe rry field s. Soil Use Manage. 2011;27:3R5-94.
Bayer C, Mieln.iczukJ. Dinâmica e função da matéria orgâ nica . ln: Sa ntos GA, Ci margo FAO, edit 0 ~- -
Fundamentos da matéria orgânica: ecossistemas tropicais e s ubtropicais. Porto Alegre: G n s '-;
1999. p . 9-23.
Barbosa FT, Berto( l, Luciano RV, Gonza les A P. Phoc;phorous losses in water and sediments in
runoff of the water eros ion in oa t a nd vetch crops seed in conto ur and d ownh dl. Soil TiJl Res.
2009;106:22-8.
Bone ti JlS, Ka tasuryama Y, Ribeiro LG, Nava G, Oi Piero R. Produção o rgânica de maçã no Estadn de
Santa Catarina. Agropec Catarinense. 2010;23:66-78.
Camargo OA, Alleoni LRF. Compactação do solo e o desenvolvimento das plan tas. Piracicaba: 1 97.
Ca mpos L, Abreu CM, Collier LS, Seleguinj A. Plantas de cobertura do solo em área de v1d ira
rús tica cultivada no cerrado goiano. Rev Cienc Agr. 2015;58:184-91 .
Carter MR. Soil quality for sus tainable land managemen t: o rgaruc matter and aggregatio n interactinns
that maintain soil functions . Agron J. 2002;94:38-47.
Carvalho FLC, Freirje CJS, Magnaru M. Prá ticas d e ma n ejo do solo e da cobertura vegetal e m
pomar de pessegueiro: I. AvaJiação prelim inar. Pelotas: Embrapa-C1 íPTT; 1992. (Pesqui a e m
andamento, 35).
Carvalho FLC, Pereira JFM, Medeiros ARM, Raseira A. Lnstalação do pomar e manejo do solo. ln:
Raseíra MCB, Pereira JFM, Carvalho FLC, edi tores. Pessegueiro. Brasília: Embrapa; 201-4. p.251-7.
Conceição PC, Amado TJC, Mielruczuk J, Spagnollo E. Qualidade do olo e m sistemas de manejo
avaliada pela dinâmica da matéria orgânica e atributos relacionados. Rev Bras Cienc Solo.
2005;29:777-88.
Daruel TC, Sharpley AN, Lemunyon JL. Agricultura! phosphoru and e u trophicatjon: a sympo ium
overview. J Environ Qual. 1998;27:251-57.
Doran JW, Pa rkm TB. Defining and acessing soil q ual ity. ln: Doran JW, Coleman DC, Besdicek DF,
Stewart BA, editors. Defining soil quality fo r s us tainable en vironment. Madison: Soil Science
Society of America; 1994. p.3-21. (Special publication, 35).
Franc hiru JC, Hoffma nn-Campo CB, To rres E, Miyazawa M, Pavan A. Organic composition of green
manure during growth and its effect on cation mo biliza tion in an acid Oxisol. Comrn Soil Sei
Plant Anal. 2003;34:2045-58.

Gebler L, Louzada JAS, Be rto! I, Ramos RR, Miquelluti DJ, Schrammel B I. Adaptação metodol gica
no cálculo de cargas contaminantes de fósforo e m bacias hidrográficas gaúchas. Rev Sras Eng
Agric Amb. 2012;16:769-76.

Gebler L, Grego CR, Vieira AL, Kuse LR. Influência espacial de paràmetro físico-químicos de olo na
d e finição de zon as de manejo em pomar d e m açãs. En g Agric. 2015;35 ( o prelo)
Géra rd-Ma rchant P, Walter MT, Steenhuis TS. Sim pie m odels fo r p hosphorou \0 - - from manure
during rainfall. J Environ QuaJ. 2005;34:872-6.

Gobbi E, Berto!!, Barbosa FT, Werner RS, Ra mos RR, Paz-Ferreiro J, Gebler L. Ero · ão hídrica clSS ciada
a a lg umas variáveis hidrológicas em pomar de m açãs s ubmetido a diferentes manejo do olo.
Rev Bras Cienc Solo. 2011;35:1013-24.

Hamza MA, A nderson WK. Soil compac tion in cropping systems: A review of the nature. causes and
possible solutions. Soil Til! Res. 2005;82:121-15.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


980
LUCIANO GEBLER ET AL.

Helbig VE, Herter FG, Carvalho FLC. Efeito do cultivo, no outono, da aveia preta na umidade do solo
em pomar de pes egueiro. ln: Anais do 13º. Congresso Brasileiro de Agrometeorologia; 2003;
Santa Maria. Santa Maria: U IFRA; 2003;1:379-80.
Koller O~, Koller OL, Soprano E, Andreola F. Manejo do pomar. ln: Citricultura catarinense.
Florianópolis: Epagri; 2013. p.277-310.
Larson \ E, Pierce FJ. Conservation and enhancement of soil quality. ln: Evaluation for Sustainable
Land Management in the Developing World. Bangkok: International Board for Research and
Management; 1991. v2. p.175-203.
Lasso M. Manejo do solo. ln: EPAGRI. A cultura da macieira. Florianópolis: 2002. p.383-90.
Mielniczuk J. Matéria orgânica e sustentabilidade de sistemas agrícolas. ln: Santos GA, Silva lS,
Canellas LP, Camargo FAO, editores. Fundamentos da matéria orgânica do solo: Ecossistemas
tropicais e subtropicais. 2n ed. Porto Alegre: Metrópole; 2008. p.1-5.
fori HF, Favaretto N, Pauletti V, Dieckow J, Santos WL. Perda de água, solo e fósforo com aplicação
de dejeto líquido bovino em Latossolo sob plantio direto e com chuva simulada. Rev Bras Cienc
Solo. 2009;33:189-98.
ava G. Produção e crescimento da macieira 'Fuji' em resposta à adubação orgânica e manejo de
plantas espontâneas. Rev Bras Frutic. 2010;32:1231-7.
1eilsenD, Hogue EJ. Comparison of white clover and mixed sodgrass as orchard floor vegetation.
Can J Plant Sei., 2000;80:617-22.
icoloso RS, Amado TJC, Schneider S, Lanzanova ME, Girardello VC, Bragagnolo J. Eficiência da
escarificação mecânica e biológica na melhoria dos atributos físicos de um Latossolo muito
argiloso e no incremento do rendimento de soja. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:1735-42.
Oliveira OLP, Piccinini CS, Paludo MB, Juergen JP. Manejo da cobertura do solo em videiras visando
à sustentabilidade do ecossistema: Relação das espécies de cobertura com as videiras e com a
produção e qualidade da uva. Rev Bras Agroecol. 2007;2:1198-201.
Olsson KA, Cockroft B. Structure: managing belowground. ln: Encyclopedia of soil science. Taylor
& Francis; 2006. p .1704-6.
Pelizza TR, Mafra AL, Amarante CVT, Nohatto MA, Vargas L. Coberturas do solo e crescimento
da macieira na implantação de um pomar em sistema orgânico de produção. Rev Bras Frutic.
2009;31:739-48.
Pillon c , Mielniczuk J, Martin Neto L. Gclagem da matéria orgânica em sistemas agrícolas. Pelotas:
Embrapa/CPACT; 2004. (Documentos, 125).
Reichert JM, Suzuki LEAS, Reinert DJ, Horn R, Hakansson I. Reference bulk density and criticai
degree-of-<:ompactness for no-till crop production in subtropical highly weathered soils. Soil
Till Res. 2009;102:242-54.
Reynolds WD, Drury CF, Yan~ XM, Fox CA, Tan ~, ~har:ig TQ. Land management effects on the
near-su.rface ph) sical quality of a clay loam s01l. S011 T1U Res. 2007;96:316-30.
Rosa DP, Reichert JM, Sattler A, Reinert DJ, Mentges MI, Vieira DA. Relação entre solo e haste
sulcadora de semeadora em Latossolo escarificado em diferentes épocas. Pesq Agropec Bras.
2008;43:395-400.
Rosa JD, Mafra AL, Nohatto MA, Ferreira~~, Oliveira ?L:, Miquelluti DJ, Casso! PC, Medeiros JC.
Atributos químicos do solo e produtividade de v1de1ras alterados pelo manejo de coberturas
verdes na Serra Gaúcha. Rev Bras Cienc Solo. 2009;33:179-87.
Rufa to L, De Rossi A, Picolotto L, Fach~ello JC: Plantas de cober~r~ de solo em pomar de pessegueiro
(Prunus persica L. Batsch) conduzido no s1Stema de produçao integrada. G Rural. 2006;36:814-21.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DO SOLO EM FRUTICULTURA DE (UMA T EMPERADO 981

Rufato L, Rufato AR, Krctzsc hmar AA, Picolo tto L, F.:1c hinell o JC. Coberturas vegetais no
d esenvolvimento vegetati vo de pl antas de pesseguei ro. Rev Brac; Frutic 2007;2 : 107-9.
Sharpley AN, Chapra SC, Wedephol R, Sims JT, Danie l TC, Redd y KR. Man.1ging gricultural
phosphorus for protection of surface wate rs: issues and o p tion . J En viron Qua l. l 99-L2J:437-31.
Shigaki F, Sharpley A, Prochnow LI. Rainfall intensity and phosphoru sou rce effects on phosphorus
transport in surface runoff from soil trays. Sei Tota l Environ. 2007;373:334-43.
Stevenson FJ . Humus chemistry: Genesis, compositio n, reactions . 2rd ed. 1 ew York: John wi ley &
Sons; 1994.
Tay lor HM, Roberson CM, Parker Jr JJ. Soil strength-root penetra ti on relation fo r medium to coarse-
textured soil materials, Soil Sei. 1966;102:18-22.
Terra VSS, Va lgas RA, Reisser Jr C, Timm LC, Pereira JFM, Carvalho FLC, Oldoni H. Multiva nate
analysis applied to the study of the relationship be tween soil and plan t p roper ties in a peach
orchard . Rev Bras Cienc Solo. 2014;38:755-64.
Topp GC, Reynolds WD, Cook FJ, Kirby JM, Carter MR. Physical attributes of soil quality. ln:
Gregorich EG, Carter MR, editors. Soil quality for crop productio n and eco ystem health. ln:
Developments in soil science. New York: Elsevier; 1997. v.25. p.21-5 .
Zalamena J, Cassol PC, Brunetto G, Panisson J, Marcon Filho Jl, Schlemper C. Produtividade e
composição de uva e de vinho de videiras consorciadas com plantas de cober tura. Pesq Agropec
Bras. 2013a;48:182-9.
Zalamena J, Casso! PC, Brunetto G, Grohskopf MA, Mafra MS. Estad o nutricional, vi o r e produção
e m videiras cultivadas com plantas de cobertura. Rev Bras Frutic. 2013b;35:1190-200.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E D A ÁGUA


XXXI - MANEJO DE SOLOS PARA O
CULTIVO DO CACAUEIRO
Quintino Reis Araujo 1..21, George Andrade Sodré 1..21, Arlicélio de Queiroz Paiva 11,
Rafael Edgardo Chepotell, Guilherme Amorim Abreu Loureiro21, Ed on Lopes Rei '1,
Robério Gama Pacheco'!, Sandoval Oliveira Santana 1I, Paulo César Lima Marroco i..21 &
Raúl René Valle 1..21

11
Comissão Execuhva do Plano da Lavoura Cacaueira, Centro de Pesqui a do ÚGlu, I abuna. BA
E-mail: quintinoar@gmail.com; gasod re@hotmail.co m; rche po t wya hoo.com .br; el reis-!7âgm.11l.com;
roberiopacheco@gmail.com; so_santana@yahoo.com.br; pau1o .marrocos@agricultura.gov br;
raul .valle@agricultura.gov.br
21 Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de C ie ncias Agrárias e Ambientais, Ilhéus, BA.
E-mail: arli@uesc.br; gahal.85@gmail.co m

Conteúdo

INTRODUÇÃO ......................... .... ...................................................... ...................................... ................................_ .. .


FERTrLIDADE, MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E PRODUÇÃO AGRÍCO LA ........... ____ .... ........ _._.. '
ASPECTOS SOCIOAMBIENTAJS DA CACAU ICULTURA NA BAHIA ........................ _._ .... _-·-··· .. - ·.. - ..... _..
SOLOS DA REGIÃO SUDESTE DA BAl-0A ............... ............ ............... ........................................ _................. _.. .
A TR1BUTOS DE SOLOS QUE FAVORECEM O CULTIVO DO CACAUEIRO .........................·----................ ..
SOLOS COM APTIDÃO PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO ....... .......... .................................. _.---.... - ........ ..
ASPECTOS EDÁFICOS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DO CACAUEIRO ...................... -.. - ..
Dinâmica de nutrientes ............ .......... .................................................................. .......................... ---... ·.. ··· ··-·-··
Profundidade do solo ........................... ............ .... ...... ... ......................................... ................... _... .. --............... . 992
Aeração do solo ................. ................ ................................................................................. ... .......- -...- ............... 99~
Adensamento e compactação do solo ..................................... .................. - ................... - .................... ___ ....... 993
Condições texturais do solo ................................................. ........ ...... ............................. - .... .......... ....... . _ ......... 993
Água no solo .......................................................................... .................................. ....... ......... ... ........ -... ......... 3
ORIENTAÇÕES PRÁTICAS PARA ADUBAÇf\.O NO CULTIVO DO CACA ElRO ....... ......--.--.......... ..... 99-1
Análise de solo .............................................................................................................................. .... _ ........ .
Uso de corretivos para acidez e toxidez de alumínio em plantações de cacau ..... - .................... _..............
Calagem ......................................... .................................... .......................... ........... ....................-..... ..... ...... 5
Cesso agrícola ............... ......... ................ ... ....................... ................ .... ........................... ........................... -.. 995
Adubação rnineral ........ .. ....................... ................... .............................. .......................... ........ ........... _............ .
Adubação o rgânica ............... ................ ............................ .................................... .... ......................_ ................ .
Adubação com micronutrientes .................................................................................... .......................... . -· ...
ENTRAVES PARA O l'vlANEJO NUTRICIONAL DOS CACAU AIS .. .................. ........................ - ...... _.... ..... 99
C O NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM SISTE~lAS CACAUEIROS .................... ............... ........ . ..... lOOU
CO SIDERAÇÕES FINAIS ... ....................................... ...................................... ................................... _ ....-.... ....... 100_
LITERATURA CITADA .......................................................................................................................... --.. --.-·.... l üffi

Be rto ! I, De Maria IC, Souz,, LS, editores. Mane1·0 e conser açJo d o o lo e da a· ó,t,•
""'. tç 'IG : - ..:tt.-ua
a, .~ .. , d e
Brasile ira d e Cif!ncia do Solo; '.!018.
984 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

INTRODUÇÃO

Como conhecimento básicos para o manejo dos solos na cultura do cacaueiro


(Thcolmmrn cncnn L.), este trabalho reúne informações técnico-científicas geradas e
consolidada no longo das últimas décadas, especialmente nas condições ambientais do
sudeste do E tado da Bahia, Brasil.
O conhecimento do potencial das terras para obter alimentos e matérias-primas é
fator fundamental para a produção planejada e sustentável. A determinação da aptidão
dos solos provavelmente se constitui como a primeira informação necessária para atender
princípios produtivos e ambientais das atividades agrícolas. Assim, essas informações
são primordiais para definir a vocação das áreas e as suas potencialidades e o manejo
necessário para alcançar os patamares desejados, assim como as práticas conservacionistas
essenciais à manutenção da capacidade de produção das terras.
o sudeste da Bahia, região que tem sido a principal produtora brasileira de cacau, os
levantamentos de solos mais aprofundados e o uso de corretivos e fertilizantes no cultivo
do cacaueiro foram iniciados na década de 1960, alcançando o máximo de utilização na
década de 1980, quando esse cultivo, juntamente com a cana-de-açúcar, foi responsável
por mais de 90 % do consumo de fertilizantes na Região Nordeste.
Desde esse período até os dias atuais, novas pesquisas, principalmente aquelas
<lesem olvidas pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) por
meio do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), têm sido a base para uma classificação
mais criteriosa das unidades de solo e para novas orientações no uso de corretivos e
fertilizantes na cultura do cacaueiro no sudeste da Bahia. Adicionalmente, pesquisas
iniciadas nos últimos anos têm atualizado a legenda de solos, de acordo com o novo
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) (Santos et al., 2013), e determinado
necessidades de corretivos e fertilizantes para cacaueiros.

FERTILIDADE, MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E


PRODUÇÃO AGRÍCOLA

A fertilidade do solo depende da qualidade conferida pelos seus atributos físicos,


químicos e biológicos. O equilíbrio entre esses componentes no sistema solo permite que
as plantas cultivadas se mantenham produtivas, respondendo a esses atributos e suas
respectivas funções. A própria natureza do solo impõe algumas limitações para o seu
manejo racional (Oliveira, 2008a).
Solos com boa fertilidade natural e bom estado d e conservação em geral conseguem
sustentar a produção agrícola por um longo período d e tempo. A ampliação do
conhecimento científico permitiu estabelecer o uso agrícola d e solos com baixa fertilidade
natural, como os Latossolos do Cerrado. Porém, tanto solos com alta fertilidade quanto
os com baixa fertilidade possuem limites que remontam os processos pedogenéticos e
precisam ser respeitados pelo manejo.
Não conhecer a natureza do sistema edáfico pode gerar grandes equívocos na hora
de estabelecer cultivas ou manejar o solo. Alguns cultivas n o Brasil, principalmente os

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MAN EJO DE SOLOS PARA O CU LTIVO DO CACAUEIRO 985

monoculti vos de ca na-de-açú ca r, café e caca u, fo ram es tab lecid os e m solos com J lta
fertilid ade natural; entretanto, com O passar cio tempo, os atributos qu ali tati vos d esses_so los
diminuíram, co m reflexos não a penas no d eclínio das produti vidad es, m ac; na qu alid ade
ambienta l dos agroecossistemas (Resend e et a i., 2007d).

ASPECTOS SOCIOAMBIENT AIS DA CACA UIC UL T URA


NA BAHIA

O culti vo do cacaueiro na Bahia se es tabeleceu inicia lmente numa fai xa litorâ nea
ocupada pelo Biorna da Mata Atlântica, onde as condições edafoclimática , como a
fertilidade na tural e a disponibilidade de água, favo recem a nutrição d os cacaueiros q ue
s ubsis tem há mais de 260 anos (Souza Jr. et ai., 1999; Araujo et ai., 2012; Loureiro e t al.,
2012) . A capacidade de suporte dos solos da região para a cacauicultura, trad icionalme nte
extrativista, no decorrer de todos esses anos, está relacionada aos materiais de origem e à
pedogênese dos solos da região, que ga rantiram sua ferti lidade natural q ue manteve o
cacauais (Santana et ai., 2002; Chepote et al., 2012).
O sistema de cultivo de cacaueiro mais antigo e predominante é a Cabruca. 1 esse
sistema, os cacauais são formados dentro de uma mata raleada, mantendo-se alguma
espécies nativas e também introduzidas outras de interesse agrícola com a fu nção de
sombreamento (Lobão, 2007; Dantas, 2011). A Cabruca representa mais de 50 º~ do
600 kha de cacaueiro atualmente culti vados na região sudeste da Bahia e por causa da sua
composição agroflorestal funciona como corredor natural entre trechos da mata original,
sendo também habitat de muitas espécies d a fauna e flora (Inácio, 2005; Lobão, 2007).
A partir da década de 1960, os insumos agrícolas, como fertilizan tes e agrotóxico ,
foram adotados nas atividades agrícolas do país e geraram aumento ignifica tivo na
produção agrícola que nessa época foi subsidiada pelo governo com uso de pacote
tecnológico geralmente atrelado ao crédito (Chiapetti, 2009) . Entretanto, de acordo com o
autor, a alteração dos mecanismos de financiamento e a consequente queda na oferta de
crédito agrícola, no final da década de 1980, foram os principais motivos do estabelecimento
da crise na lavoura cacaueira. Essa crise é comumente associada apenas ao problemas
fitossanitários, como a chegada em 1989 da "vassoura-de-bruxa", doença causada pelo
fungo Monilioplrtlrora perniciosa. Esse autor ressalta que a falta de crédito fez com que o
produtores suspendessem a aplicação do paco te tecnológico recomendado pela CEPLAC,
bem como a insegurança estabelecida na região pela ação devastadora da va oura-de--
bruxa muitos produtores abandonaram suas lavouras. Esses fatores as ociados diminuíram
dras ticamente a produtiv idade dos cacauais da Bahia, expondo-os a problemas nutricionais
e fitossanitários (Chiapetti, 2009).
A partir de então existe um esforço dos produtores rem anescentes para retomar a
agricultura do cacau. Contudo, a falta de recw-sos financeiros aind a apre enta entrave
para as práticas de manejo dos cacauais, como podas e diminuição do sombreamento; n
aspecto do manejo do solo, as práticas de correção de acidez e a repo ição de nutrien te
exportados pela cultura não são satisfatórias.
O cultivo do cacaueiro tão bem adaptado nessa região impediu que os ecossis temas da
Ma ta A tlântica fossem completamente dizimados (Santana et ai., 2008). Comparando e e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


986 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

culti\ o a outro , apresenta uma série de vantagens do ponto de vista conservacionista, pois
manteve a estrutura pedológica original da paisagem, por s ua semelhança com o estrato
vegetativo natural (Epps et al., 2006; Gama-Rodrigues et ai., 2011).

SOLOS DA REGIÃO SUDESTE DA BAHIA

A classificação de solos é um instrumento básico para a agricultura moderna,


imprescindível para definir a aptidão agrícola dos diversos solos que estão distribuídos na
paisagem em domínios pedobioclimáticos distintos (Resende et ai., 2007a). O conhecimento
dos atributos biológicos, físicos, químicos e mineralógicos do solo possibilita o entendimento
da sua gênese e contribui para elaboração de estratégias conservacionistas de uso e manejo
(Resende et ai., 2007b,c; Oliveira, 2008a).
Diversos levantamentos de solos têm sido realizados no sudeste da Bahia com
abrangência para áreas de municípios, bacias hidrográficas, núcleos coloniais, imóveis
rurais, estações experimentais e centro de estudos (Silva et al., 1975; Santana et al., 2002;
Santana et al., 2010). Na figura 1, observa-se o mapa de solos da região, e, no quadro 1, a
descrição da dimensão espacial dos solos correspondente à área ocupada.

,.,.~ ~ MAPA DE SOLOS


-
. . . . . . . . . . . . ..&AJ,.

- - - s... ..

LEGENDA
SUDESTE DA BAHIA
2010

Classes de Solos
1
BA = At;lsaolo
....,,~~OM,llfa---- • Nltoaaolo
NM M'TOSX:ll014U\JCO o . . a c . ~
~OMMMl.O o..a..
1111,,Q ~ trro.N'TOSSQ.O~ .-........ . _ . . . .
M e t , ~ 0 " " " " ' 8 . O 0 . -. . . . . . . •~OAMllltllll.O~-----•
·~~o....---• , _.a,,__
U/11'1S501,00IIIIOl,ICOO,.,. . . . . . ~

...
~ ~o o.a,-..,...

--
~0~0..---
~ ~0..---- • Organouolo
1 1 ~1 ~~ O.ICS - ()1111:c:...u.oSSOlO ~ ...,._ ..,_

·- - .... • ~ o Hotrft.JCO _,_


P\AO ~O ~RIQ.HO~lO

~~~
- - • Gl...llUCLO ..UUC:Ot. .._,..,.._ . . . , _
~
~
......... ~ . _ ....,,..._
-.._._~ .........
· ~""""'°°'· ~----
""" ~ \.'IJDalJ,C)D,a-- .........
~ ~ 0.--. ...........
o Cambl111olo • Aaaoc&açao
o l.......,"--~........... .....,._
O.,.CMaS$0LD~~r=---- . . . . . . .
oc-,~~,-..,.._~ ~o.----~

1 Ollllf~""""-COho.-a.. ....,_.

• Chemoaaolo
. , , . ~ ~ a - ........
CJ AHoclaça<,
~~~
._ ..............
............. ~..------
0<JiNJ6:IO.O NlGUNO) o,w,. --
- Eapodoaaolo
O( Dll"QDOPC1.0~ . - - - . - - - -
u ~ ,~ o . . ...
•Glelaaolo
GIi: 61.[IUOl.0 ~ t. _.,_. _._,_ ,__
~C...,.lllldl,l'l'M
--- e . , _ - -
1
• Gt..Dl,S,Ol.O NiU\J00 t. (.,....,_ ........

1 MG
• ut0&aolo f0N1'1. cuuc . cac.c . __.

- ....
I.MlWOSIQ..0~ 0 - , . , - . . . , . . . _ . """"-0....,1_1"!N-
w oaa..o ~ o ...-.. • °"C..,... ll.LJKI

--
LAG ~
WOUOLO ~ O o-.-. _..,._.
, _
_.....,_,_
l\llt W OU010 ~ UC> e.........

MapadeLocaiz:açlo
UH VJOUQ.0 ~..........no
........
~ O--••
....... ......
o.w----
L.,,,..,., W OUO..O
• ~ ~ Oalidlo:-
~

..... e.......,____.~
~

1 1
; '°' N-.olo
NCOUO.O J U NIOO ,..._._ ..,_,
; MM,l t.;L~ ~ l A , I I U , IC0 0,,,-1. . .
~HC~OOY,,lrJilflA#ICWCOOrk. 1..,.

O
e
JO 40 m UO IIO.,_.
P "SZ"l=il!!!!!!!!!!!!!i=;;õl!!!!-
, J 1ou 10
~
- . ;:
-
figura 1. Mapa de solos do sudeste da Bahia, 4ª Aproximação.
-
Fonte: Santana et al. (201O).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MAN EJO D E S O LOS PA RA O C U LTIVO DO (A C AU E rR O 987

2
Q uadro 1. Descrição da ocupação espacia l d os so los do sudes te da Bahia cm área (km ) porcenta gem
(%) das unidad es de mapea mento
Área
Lege n da Classes de Solos %
km1
PAd l Argissolo Ama relo Distrófico abrúptico 1 240,7 1.35
PAd2 Argisso lo Amarelo Distrófico latossól ico 6 146,1 6,70

PAdx Argissolo Amare lo Distrocoeso abrúptico + Arg1ssolo Ama relo I 5 2-t8,4 16,61
Distrófico plfntico + La tossolo Amarelo Distrocoeso típ ico
PAd3 Argissolo Ama relo Distrófico típico J..LO 0,04
PVAd Argissolo Vermel ho-Ama relo Distrófico abrúptico 491,4 0,53
PVAel Argissolo Vermelho-Ama relo Eu trófico cambissólico -l 009,1 .37
Argissolo VermeU10-Amarelo Alítico típico+ Gleissolo Há p lico Ta 1 291 ,7 l,-ll
PVAal
Eutrófico solódico
Argissolo Vermelho-Amarelo Eu trófico abrúpt ico + G leissolo Há p lico 2 494,0 2,72
P VAe2
Ta Eu trófico vertissólico
PVd Argissolo Vermellio Distrófico la tossólico 7,0 0,01
CXve Cambisso lo Há plico Ta Eu trófico gleissólico -t71 ,9 0,51
CXbe Cambissolo Háplico Tb Eutrófico latossólico ~ 5,.! 9,24
CXbd Cambissolo Há plico Tb Distrófico latossólico 55,9 0,06
MTo Chem ossolo Argilúvico Órtico lu vissólico 12 652,6 13,7
EKu Es podossolo Humilúvico 1-liperespessso típico 222,0 0,2-l
FSKo Espod ossolo Ferrihumilúvico Órtico típ ico l 651 ,2 1,80
GXve G leissolo Há plico Ta Eu trófico solód ico l 629,9 1,,
LAdl La tossolo Amarelo Distrófico argissó lico 6-n.5 0,73
LAd2 Latossolo Amarelo Distrófico Hpico 18 937,0 20,62
LVe La tossolo Vermellio Eutrófico típico 34,3 0,04
La tossolo Verme lho-Amarelo Distroférrico típico+ Cambissolo
LVAdf 3 191 ,0 3,47
Há plico Distroférrico saprolitico
Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico+ Latossolo Amarelo
LVAd 7000,0 7,62
Distrófico cambissólico
RUq Neossolos Flúvicos Psamíticos típicos 700,6 0,76
RQol Neossolos Quartzarên icos Órticos típicos 352,5 o
RQ2 Neossolos Quartzarênicos Ô rticos típicos (a rgissól icos) 306,5 0.33
NBd Nitossolo Háplico Distrófico cambissólico 603,3 0,66
Ni tossolo Háplico Eutroférrico saprolftico + Ar gissolo Amarelo
NBe Eutrófico abrúptico + Luvissolo Cróm ico Ôrtico típico + G leissolo 9-0,9 1,02
Háplico Eutrófico vertissólico
OXs Organossolo Háplico Sáprico típico+ O rganossolos Háplicos típ icos 136,2 0,15
Subtotal 997,0 96,93
Áreas urbanas, rios, outros 2 22,6 3,07
Tota l 91 19,6 100
Fonte: Santana et ai. (2011).

ATRIBUTOS DE SOLOS QUE FAVORECEl\11 O CULTIV O


DO CACAUEIRO

Um agroecossistema depende das boas cond ições físicas, q u ímicas e biológicas no


solo pa ra suprir as necessidades nutricionais das plantas estabelecidas (Goedert e Oliveira,
2007). Particularmente, os nutrientes (macro e micronutrientes) nas s uas formas trocáveis e,
ou, disponíveis no complexo sortivo do solo conjuntamente com a d isponibilid ade de água
representam uma base para qualquer atividade agrícola bem-sucedida ( Ieurer, 2 07).

M ANEJO E C ON SERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


988 QUINTINO R EIS ARAUJO ET AL.

Durante décadas, se estudaram alguns dos atributos d o solo considera dos mais litnitantes
para o cultivo do cacaueiro. o quadro 2, destacam-se as principais inform ações sobre as
condições físico-hídrica (estrutura, textura, porosidade, drenagen1, aeração, compac tação,
profundidade, disponibilidade e retenção de água no solo); condições mineralógicas
(mineralogia da fração argila e fração areia; condições químicas (complexo sortivo,
pH, teores de P, matéria orgânica, AP+ etc.); condições do sistema radicular (quanto à
profundidade efetiva, aeração - oxigênio, densidade do solo, saturação por alumínio etc.).

Quadro 2. Identificação e definição das condições adequadas de atributos de solo para o cultivo do
cacaueiro
Literatura de
Atributo Definição
Referência
Condições identificadas e, ou, adequadas para o cultivo do
Física
cacaueiro:
Drenagem Boa à moderada Silva (1979).
Granular moderada à forte (horizonte A) e em blocos
Estrutura subangulares moderados a fortes ou maciça porosa que se Silva (1979).
desfaz em pequenos grumos (horizontes B e C)
A microporosidade < 40 % tem sido relacionada com solos
Porosidade Silva (1979).
bons para cacaueiros
Cacauais, em especial sombreados, diminuem a perda de água
Silva (1979).
por escorrimento superficial
Equivalente de umidade variando de 0,2 a 0,4 kg kg·1 Silva (1979).
Disponibilidade e Horizonte Glei e drenagem deficiente prejudicam
retenção de água Silva (1979) .
fornecimento d e oxigênio e desenvolvimento do cacaueiro
56,5 % de água disponível no solo para obter o máxi mo
Siqueira et ai. (1987).
rendimento da produção de cacau

Média a argilosa (teor de argila variando d e 20 a 40 % no Silva (1979).


Textura horizonte A e de 30 a 65 %, no B)
Minerais identificados na fração argila e areia de solos
Mineralogia cultivados com cacaueiro:
Predominância de caulinita, haloisita, ilita, montmorilonita e
Fração argila
goetita Silva, 1969; Silva et ai.
Presença de minerais primários: feldspatos, micas, feldspatoides, (1969),
Fração areia anfibólios, piroxênios, olivina e apatita
Condições identificadas e, ou, adequadas para o cultivo do
Química cacaueiro:
ea2• <? 3 cmol, dm·3
Mg2• <? 1 cmol, dm·3
K· 0,10 - 0,40 cmol, dnY3
Matéria orgânica 15 - 50 g kg-1 no horizonte A
Silva, 1969; Silva et ai.
AJ < 0,5 cmol, dm·3
(1969) .
CTC <? 8 cmol, dnY3

V ,? 40 %
p <?8 mgdm-3
pH 5,5 - 6,5
Continu a ...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - M ANEJO DE SOLOS PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO 989

Quadro 2 - Cont.
Literatura de
Atributo Definição Ref renci
Raízes Condições identificadas e, o u, adequada!! para o cu ltivo do
cacaueiro:
Cha rte-r (1947), Ha rd v
Profundidade efetiva > 100 cm (1 97:i)
Maior % de ralzes do cacaueiro na camada de O a 10 cm d o C id, ma (1 97()),
solo; 75 % do sistema rad icular dos clones TSH-1 IRA e TSH-565 ChPp te (2009).
encontram-se na profundidade de Oa 20 cm d o so lo
Ku mme ro w Pt .il.
As rad icelas concentram-se e ntre O e 5 cm (1 9 2)

Adensamento, compactação, rochas contínuas, concreçõe,; e. my th (1967), _ tlv,1 et


ou, drenagem deficiente com prometem o suprimento d e água e ai. (1977)
oxigênio para as raízes, limitando seu crescimento
A aeração é essencial ao crescimento radicular - q uanto m,11or
o tempo de elevação d o lençol freá tico, menor a produção da Sil va '1979)
planta
Inibição do cresci mento da raízes por elevado teores de AI \-liranda e ili. (1971
1
(conteúdo relativo> 50 º,(, do complexo sorti vo)
Ralzes do cacaueiro crescem inclusive nos espaços d e rochas Silva. 1969; Silva e t ai.
fendilhéldas e, ou, diaclasadas abaixo do sol um ( l 969)

SOLOS COM APTIDÃO PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO

O levantamento pedológico da região cacaueira (sud este) da Ba hia indica a ocorrencia


de 31 unidades cartográficas. Essa variação de solos está relacionada principalmente com
sua diversidade geológica (Barbosa e Dominguez, 1996). Os olo mai indicados para
o cultivo do cacaueiro sob o ponto de vis ta morfológico, físico, químico e mineralógico
estão representados pelas classes taxonómicas e, entre parenteses, pelas denominações
populares das unidades na região:
Nitossolo Háplico Eutroférrico - Nxef (Cepec Modal), Argi solo Vermelho-Amarelo
Eutrófico - PVAe (Camacan), Argissolo Vermelho-Am arelo Eutrófico - PVAe (Itabuna
Modal), Cambissolo Háplico Distrófico - Cxd (Rio Branco) e r eo olo Flúv icos Eutróficos
típicos - RYbe (Solos Aluviais argilosos e de textura média), conforme dados de Santana
et ai. (2006) e Chepote et ai. (2012). Na sequência, outros solos podem ser recomendado
para o cacaueiro: Nitossolo Háplico Dístrófico càmbíco - xd cam l lorro Redondo ),
Cambissolo Háplico Dis trófico latossólico - Cxd lat (Rio Branco), Gleissolo Háplico Tu
Eutrófico vertissólico - GXbe ve (Hidromórfico), Argissolo ermelho-Amarel Alítico
típico - PVAali (Vargito), Argissolo Vermelho-Ama relo Dis trófico abrúptico - p Adab
(São Paulinho), Argissolo Amarelo Distrófico latossólico - P d late, o u, Lato- olo. mar 1
Dis trófico típico - PAd (Água Sumida), l ~tossolo Vermelho-Amarelo - L A ou La t - lo
Amarelo Distroférrico típico - LAdf (Una Umido), latossolo ermelho-Amarelo D1strófico
típico - LV Ad (Valença).
Pelo fato de o cacaueiro se desenvolver bem e poder e r ulti ad em cons · reios
ag rícolas com diferentes desenhos e composições ( !arq ues e t ai., _00_; uj et ai.,
2004), esses solos, além da indicação para o cacaueiro, podem também er cultivad o - com

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
990 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

outras esp cies de plantas de interesse conhecido, destacando-se culturas perenes como a
seringueira, café e pupunJ1eira e semiperenes como a bananeira.

ASPECTOS EDÁFICOS RELACIONADOS AO


DESENVOLVIMENTO DO CACAUEIRO

Pela correta interpretação dos atributos do solo e suas funções edáficas, é possível
prever o comportamento da planta frente às possíveis limitações no sistema solo-planta-
atrnosfera. Essas limitações, de forma geral, podem ser predominantemente físicas
ou químicas. Entretanto, um cultivo perene como o cacau tem participação cada vez
mais intensa no decorrer do tempo nas relações ecológicas do solo, sendo esse sistema
bastante complexo. Por isso, aspectos edáficos de interesse direto para o desenvolvimento
do cacaueiro, corno a dinâmica de nutrientes, profundidade, a.reação, adensamento e
compactação, textura e água no solo, também exercem funções ambientais importantes no
agroecossisterna.

Dinâmica de nutrientes
Para o estabelecimento de uma cultura e planejamento de uso sustentável do solo, é
necessário investigar os teores dos nutrientes, fazendo um levantamento do histórico de
manejo das áreas agricultadas para saber se houve correção de acidez dos solos e reposição
de nutrientes via adubação, que são fatores requeridos para satisfazer os limites críticos
exigidos pelas culturas (Souza Jr. et al., 1999; Lopes e Guilherme, 2007; Goedert e Oliveira,
2007).
O conhecimento das exigências nutricionais do vegetal também é de suma importância
para estabelecer um planejamento da cultura sobre o solo, pois permitirá a reposição
equacionada dos nutrientes exportados pela planta e, além disso, a previsão de quanto
desses nutrientes estará ciclando no ambiente (Dechen e Nachtigall, 2007).
Como parte das considerações que subsidiam definições e procedimentos para o manejo
de solos, de forma integrada aos estudos de pedologia, muitas pesquisas relacionadas com
a dinâmica dos nutrientes desenvolveram e impulsionaram a cacauicultura brasileira e
ainda são referências para a lavoura. Dentre as muitas informações geradas, no quadro
3 destacam-se alguns resultados de pesquisa relacionados à dinâmica e ciclagem de
nutrientes e nutrição mineral para cultivo do cacaueiro.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

a
XXX - MANEJO DE SOLO S PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO 991

Quadro 3. Resultados ele pcc,quísns c,obre n cJiniÍ m íca , cíclagem J n utrícntec, <' nutrição rnin ral pa r
o cultivo cio cnca uciro
AtTibutos Pri nci pal ii res ull.ido~
Pro<luçJo anual Je fo lhedo nD'I si~tcm ,1,; ,1grnílo rl"Stai, cnm c,ic,, u,.,ro ,. iJenc-inu Fnnl<"' í2tlflfi/
maior apo rte de fito massa residual JPÓ'- períodos d L• m<•nnrr<: p renpit,1 <(1('<;
Cac;1uciro ni'ío sombread o apri:"5ento u m a ior qu.mtiJ,1J e d<> b1t1rnJ~s., elo qtJL' " ~,1nt.ir1,1 ,. C1!-.1l..i-l<,>-
C iclagcm de
sombread o --.Jnd, ifl'\;1
N utrie n tes
A chuvJ é fonte de K, tant o pela s ua composiç,iu n,1tur.1l como pd,1 l1~1vi,1ç.'in tias RC'\lnr,ut"'- e \.fir.inJ.i
folha s, do tronco e d o fnlh cd o WAI;.

O teor Je N variou e n1 ra zão d o solo . com os teorl"S al to" no , 1tossoln Eutrnfémco lgu • ('t .1I. ( l'T7•1
e ba ixos no Latossolo Distrococfü
Absorção de N, pelo cacauei ro. ocorre u nas fo r mas n ít rica e ,1mnn1JcJI S.:.nt,m.i e JI f1 'l~fl)
1 itrog t'nio O I fo i o nutriente n1ais expo rtado pelo caca ue iro \lala\"oltd ( 1<11<7)

Res postas mais expressivas com a aplicação d e 60 kg h,1 1 ,m o' de nitrato de c-jlcin Chepot (' \ 'J.JI,.
adicio nados a 90, 60 e 5 kg h::r ' an0' 1 de P 10 ., K,O c Zn, respt.-cllvam('nte (20(4 )

O P foi o nutriente qu(' 111,1ís limita a produtiv id ade do cacaueiro em -.,ler; rnm C<1b,1l.i-l<,"'Jnd r! ,11.
baixa acidez (19)(:!J
Cabal.1-R,,..,1nd ,. <..Jn-
ívcl crítico de 5 mg dm ' para extrator Mchl ich-1 tana (1 '182).
Cdb.JLi-R°'ind l't ,li
Maiores produções para J qose 90 kg ha: ' de P,0 1 (] :!)
Fósforo
Os clones TSH 79:!, TSA 65-1, TSI-1 11 88 e CEPEC 2006 aprc«ent.1r.1m
comportamen to semelhante q uan to j produç,io d e mJ téria seca ..i rl'il fol i.1r,
conteúdo e eficiência de a bso rçjo do P
No Estado da Bahi,1, 92 % dos solos cul tivad os com carnueiros ,i prest.'ntJm teor
Sod rl- e ai 12012).
disponívd d e P inferior a 9 mg dm·'
Sant.m.1 e Sant.m.i
O K foi o nutriente que mais se Jcumu lou nos tecidos d o cacau ei ro
( 1973).
Po t,íssio O K foi o segundo nu tTiente mais exportado pela cultu ra do C,1Caue1ro \ la.l,lVoltil (19t<7).
\ l1randJ ,, li;ue
K' trocilvel (0,05 e 2,90 cmol, dm'1) cm diferentes cxlr,lto res
( 19;'-l l.
Maior reserva de micronutricn t.:s no Ni tossolo Eutrofé rr ico e m enorL><a teor~ d"
Sant.irw ,. l~"Ue ( 1972)
Zn e Cu nos L.1 tosso lo Vermelho-Amarelo e La tossolo Distrocoeso
OutTos a spectos Os teor('S de Cu disr onívcl e to tnl variaram cm r<1z.Jo d o solo e da ;:iplicaçJo d"
nutriciona is fungicidas cúpricos
Em anos secos, maio res produtividadt•s ocorreram em so los m e nos ft.>rtei.;
• l Uú.1 Jr. ct .11. (1')99\.
(argilosos), com maior capacid ade tampiio de P
utrienh!s exportados para I t de am endoas secils de cacau (cm k~): ;-,,:. 3 1; P-
-l,9; K- 53,8; Ca- -1,9; e Mg- 5,2 Thong,.. '.\:g (197, ).
Macro nutrientes
Exportados Conte údo media de NPK em kr; ha 1cm améndo.is secas e casca d l.' fru tos dl.'
cacaueiros pJrJ produtividade d e ·t 500 kg ha I Ame ndo.:i: N- 38,7; p . .i,S; K-
20,-l; e Casc,1: N- 18,3; P- 2,ó; e K- 69,-l
Teores na casca d o fruto de .:,1caueiros a ltamente produ tivo · (mg kg·'): 13-- 33; ~ lal:wol t.i l't .1L
Cu- 16; Fe- 165; Mn-101 ; Mo-0,0-1; e Zn- 61 l19S-l)
Mic ronutr ientes
Exportados Tl!Ores nas améndoas secas de fru tos d e c.icJuci ros alt.:imente rrod uh vo-. (mi; ~ laia, oh.a d ,11
kg·'): 8-- 12; Cu- 16; fo. 80; Mn- :!8; Mo- 0,0-l; e Zn- -17 (1~) .
Evidilnci.:is de tolerância ,\ saturaç.io de AI cm solos até JO "'• parJ .:Jc.Juctro cm \li rand:11! Di;:i,,
produção \ 1'171)
Maio r crescimento do clonl.! TSH-11tl8 e um a.:rés.:irnL, dJ p rod uçJo d ,• ,.1c.1u
Calagem q uando SI.' aplicou corretivo p.ira elevar ,1 saturaç5o d e b,l S<.'S ,1 ,·,i lore,. de 61.) º;, Reis e t ai. \200t,)

O n ível crítico de 10 w
., pa r,1 saturJç..io Jc AI cm ·oto,, e c n!sc1m c n to d e m u das D.:i.l1g,1r '-' F.11,...,n.1
~en1inJis de cacau~iro \:!lli)5)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


992 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Quadro 3. onl.

Atributos Principais Resultados Referências

A terceira folha de um r,11110 rcccm-i1m.tdurL'Cido foi aquela il ser colel11d a c m


estudos de nutrição mincr;1I Santana e Iguc (1979).
1utrião
1incral Dez. pl.1n las por :lrca homogênc.1 fornm necessárias para compor am ostra
composta para análise de folhas de cacaueiro Sodré ct ai. (200l)

Os caca ueiro:; e,ibiram d eficiência d e Ca, 1g e com menos frequência que •


peK Sou z., Jr. et ai. (2012)
Em solos ácidos, bastante inlemperiz.ados, as deficiências de Ca e, ou , Mg
Deficiência puderam ser observada Sou za Jr. ct ai. (2012).
utricional
A defici~ncia de Cu pôde limitar a produti idade dos cacaueiros Souza Jr. et ai. (1999).

A d eficiência de Zn foi a mais incidente nos solos da região cacau eira da Bahia C he potc e t ai. (2005).
Faixa de su ficiência nutricional de macronutrientes na folha diagnóstica (g k g· ' ):
N , 20-25; P, 1,7-2,5; K. 18-24; Ca. 8-15; Mg. 4-S; e s, 1,0-2,5 Sou za Jr. e t al. (2012).
Diagnose Foliar
Faixas de suficiência nutricional de micronutrientes na folha diagnóstica
(mg kg·'): B, 30-70; Cu, 10-2-; Fe, 50-250; Mn, 150-750; Mo, 0,5-1,5; e Zn, 0-150 Sou za Jr. e t ai. (2012)

Profundidade do solo
Essa característica do solo pode ser interpretada sob dois aspectos: profundidade
pedológica e profundidade efetiva ou fisiológica; a primeira refere-se à espessura dos
horizontes pedológicos, enquanto a segunda é aquela até onde podem penetrar as raízes
do cacaueiro (Hardy, 1975; Oliveira, 2008a).
O ideal é que a profundidade efetiva coincida com a espessura do solo, o que nem
sempre ocorre nos solos cuJtivados com cacaueiros, pois muitos deles têm impedimentos
físicos que fazem com que essa profundidade seja inferior à espessura pedológica. Situações
anômalas foram observadas em solos rasos do litoral sudeste da Balúa quando as raízes
exploraram espaços além da espessura dos horizontes A, B e C (Cadirna, 1970). Hardy (1975)
indicou que a profundidade do solo penetrável pela raiz do cacaueiro deve ser pelo menos de
1,5 m, enquanto Charter (1947) estabeleceu um núnimo de 1,5 m variável com a precipitação
e com a textura do solo. Dessa maneira, a profundidade sempre dependerá da textura e
estrutura do solo, além das condições climáticas e da posição topográfica. No entanto, pode-
se estabelecer um limite entre 1,2 e 1,8 m corno ideal para satisfazer um enraizamento capaz
de suprir as necessidades em água e nutrientes, evitando-se oscilações na produção por
variações das condições ambientais, especialmente excesso ou falta de chuvas.
Para a cacauicultura do sudeste da Bahia, a profundidade efetiva tem grande relevância
na escolha de áreas de plantio. Nessa região, trabalhos desenvolvidos por Cadima (1970)
e Chepote et ai. (2009), sobre o desenvolvimento radicular , evidenciaram que a maior
concentração de raízes de cacaueiros, provenientes de mudas seminais, está na camada
de O a 30 cm, e em clones reproduzidos por estaquia; a maior concentração de raízes
encontram-se na camada de Oa 20 cm. Em solos sem impedimentos físicos, a raiz pivotante
do cacaueiro tem crescimento retil(neo, podendo atingir mais de 2 m de profundidade.
São desejáveis os solos com condições ideais para o desenvolvimento do sistema
radicular para que as raízes possam aproveitar maior volume de solo, especialmente em
profundidade para suprir as necessidades hídricas da planta, minimizando os efeitos
climáticos adversos, e absorver os nutrientes das camadas inferiores. As raízes do cacaueiro

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DE SOLOS PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO 993

são imped idas de se desenvolverem prin ipalm nte q uando ocorrem no <;nfn CJ mada~
adensadn s, rochas contínuas ou concreções lélte ríticJ<;, pod ~nclo tamb m o o rre r em solns
com drenagem deficiente e condições adversas de text ura (Sm yt h, 1967).

Aeração do solo
A renovação do ox igênio do so lo é v ital à rc piração dJs raízes, ass im como
a eliminação do dióxido de carbono e de outros gases é necessá ri a para o crescimento
das raízes do cacaueiro (Silva, 1979). A deficiênci a de acração do solo é provocada pelo
excesso de água e, na maioria das vezes, es tá diretamente relacionada com .:L co nd ições
de dren agem. Nessa sil:uação, quan to mais próximo o lençol freá tico esteja da superfície
menos aeração haverá no perfi l do solo, ocasionando a formação de um s istema radicular
s uperficial. Essél condição ocasiona, em épocas de seca prol o ngada, danos à p rodução do
cacaueiro por es tarem s uas raízes limitadas a camadas próx imas à superfície cio olo.
A aJ tura do lençol freál:ico e, ou, o tempo em que esse permanece p róxi mo à superfície
são, n a maioria das vezes, as condições que regulam o grau de adeq uabi lidade do solo .i
cacauiculru ra . Silva et a i. (1977) verificaram que quando o lençol freático permanece acima
de 1 m do seu nível médio (normal), por um período de mais de seis meses, o cacaueiro
produz pouco, o que não acontece quando o tempo de permanê ncia é de ape nas !:rês meses.

Adensamento e compactação do solo


O desenvolvimento do sistema radicular do cacaueiro é influenciado pela presença
d e camadas adensadas, principa lmente pela resrrição ao movimento da água e do ar no
longo do perfil. Em experimento sob condições de casa de vegetação, Silv a et .:il. (1977)
demonstraram que a compactação reduziu o potencial de infiltração de água no ola,
provocando falta de oxigêni o na zona radicular e limitando o cresci mento das raíze do
cacaueiro. Esse autor ressalta que o aumento da densidade do solo acima de 1,2 kg dm·'
re fl e te negati va mente no desenvolvimento dos cacaueiros.

Condições texturais do solo


A distribuição de areia, si lte e argila tem influência no desenvol imento e na
pen etração das raizes do cacaueiro; no en tanto, essa influencia depende de outro atributo ,
notadamente da estrutura e do tipo de a rgila. Em solos de texl:ura argilosa, a fac ilidade de
peneh·ação depende da natureza dos minerais que a cons titue m e do grau de floculaçào
(Silva, 1979).

,
Agua no solo
O cacaueiro é uma espécie com pouca to lerância à seca. Alvim (1960), rraba lh.:indo
com plantas com seis meses de idade, determinou que é nece sJria uma umidade
dis ponivel no solo de mais de 60 % da CC para que o cacauei_ro mantenha seus e tômato
completamente abertos, o que vale dizer que, abaixo de se conteúdo, n :du z- e a prin(ipal
via de co municação entre as fol has e a atmosfera.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


994 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

e o atributos de retenção de umidade dos hori zontes superiores do solo não são
favorávei , o cacaueiro ofrem com o abaixamento do lençol freático nos períodos de
seca. As área de baixadas ofrem a influência da elevação periódica ou permanentemente
alta do lençol freático. Essas condições anaeróbicas impedem a formação de raízes
profundas. Para dinünuir o efeitos do esh·esse hídrico, causados nos períodos de seca,
deve-se proceder ao uso de 11111/cl1 (cobertura morta) com pseudocaule de bananeira e outras
fitomas a residuais, a fim de manter o solo com temperaturas menores e um suprimento
de água localizado próximo ás raízes do cacaueiro (Silva, 1979; Oliveira, 2008b).

ORIENTAÇÕES PRÁTICAS PARA ADUBAÇÃO NO


CULTIVO DO CACAUEIRO

Análise de solo
A amostragem do solo para análise físicas e químicas é uma das principais etapas na
avaliação de um solo (Santos et ai., 2005). Recomendações precisas de utilização de corretivos
e fertilizantes são diretamente proporcionais a uma boa amostragem (Cantarutti et al., 2007).
Portanto, essa etapa é crítica na correção e adubação do solo, já que, se a amostra não for
representativa da área, pode levar a recomendações errôneas, por melhor que seja a qualidade
do serviço prestado pelos laboratórios. Assim, é importante que a área amostrada seja a mais
homogênea possível quanto a relevo (posição de topo, encosta e baixada), textura e cor do solo.
Nos cacauais em produção, para se efetuar a amostragem (Chepote et al., 2012), deve-
se percorrer a área em zigue-zague, retirando amostras simples, de volumes iguais, à
profundidade de O a 20 cm, com o auxílio de trado, enxada ou pá reta. Os pontos de coleta
devem estar afastados de casqueiras, formigueiros, detritos orgânicos e de locais erodidos
próximos de residências ou estradas. Deve-se afastar o folhedo antes de retirar a amostra.
Em áreas previamente adubadas, é importante escolher os pontos onde foram aplicados
os fertilizantes.
Em regiões de Neossolos Flúvicos Distróficos ou Argissolos Distróficos com históricos
prévios de saturação de alumínio superior a 30 %, é necessário coletar amostras às
profundidades correspondentes aos intervalos de O a 20 e 20 a 40 cm.
Recomendações práticas que devem ser observadas para coleta de solos para fins de
sugestão de corretivos e fertilizantes em cacauicultura:
1. Uma amostra composta deve ser constituída por pelo menos 12 amostras simples
por área homogênea.
2. A amostra composta de áreas homogêneas não deve ser superior a 5 ha e
preferencialmente deve representar 2 ha.
3. A amostra composta, de aproximadamente 300 g, deve ser enviada para o laboratório
0 mais rapidamente possível a fim de evitar alterações no solo.
4. Os dados informativos sobre local, a profundidade amostrada e as adubações
anteriores devem ser anexados.
5. Uma nova amostragem deve ser realizada após o terceiro ano de adubação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DE SOLOS PARA O CU LTIVO DO CACAUEIRO 9 95

Uso de corretivos para acidez e toxidez de alumínio em plantações


de cacau
O uso de corretivos para acidez do so lo e toxidcz d e a lum ínio é impo rtan te par" fJ<;
solos com elevado grau de intemperis mo; esses podem ser apli ci!dn<; com v i . t.:i . a ·upri r
n ecessidades nutricionais de Ca e Mg das plantJs.

Calagem
A ap licação de calcário, a calagem, se constitui co mo éJ principal p rá ti ca Jgrícola de
correção de ac idez no solo (Sousa et a i., 2007) . No caso específico do CéJCcJ u eiro, a c,11.:igem
visa alca nçar no solo uma relação molar Ca: Mg de 3:1 (Reis e t ai., 2006).
A necessidade de corretivos para o caca ueiro em solos ácidos e de bai, il fe rtilidade,
como Latossolos Distróficos, visa a elevação dos teores de Ca 2 • + MgJ• para 3 cmo l_dm ';
nos Neossolos Flúvicos Dis tróficos e Argissolos Vermelho-AmJrelo Di tró fico , q ue
apresen tam baixos teores de Ca 2 ' e Mg2 ' em baixas co ncentraçõe · e teor de AI '-- troe, vel
superior a 2 cmol, dm·3, a quantidade de co rre ti vo objetiva normal mente il re du çc1o da
saturação de alumínio para valores inferiores a 30 %.
O método para determinar a necessidade de ca lagem, e m o los da Bahia, incluindo-
se aplicações para o cacaueiro, foi estud ado por Menezes e t a i. (1999). Com base nes
método, utiliza ndo-se dos valores de pH do solo, estimarJm-se os va lo res de sa turnçào
por bases (V) para Argissolos Vermelho-Amarelos da região Cacaueira, egundo dados
da Embrapa/SNLCS Qacomine et ai., 1979). O valor médio encontrado para foi 63 ··~ -
Com base nesses dados, sugere-se a necessidade de ca lagem pelo crité rio propo. to po r
Raij (1981): NC T\~ V,) , em que C é a necessidad e de co rre ti vo (t/ ha); T eq ui valt!
à capacidade de troca catiônka (CTC) a pH 7 (cmo l, clnY 1 ); V2 corre ponde à aturaçào
por bases esperada; e V 1 é a sa turação por bases atual do solo. e se contexto, Rei et c1l.
(2006) verificaram o acrésci mo da produção ele caca ue iros quand o e aplicou corn:tivo
para elevar a satu ração de bases a valores de 60 %.

Gesso agrícola
O gesso agrícola, sulfato de cálcio <li-hidratado (CaSO_
• 1
·2H,O
-
), é uma razoável fonte d
cálcio (17 a 20 % de Ca) e de enxofre (14 a 17 % de 5). E um sal pouco -olúvel em água l-,.5
g L·1), mas pode atuar a umentando a força iónica da alução do alo, perm itindo a c ntínua
liberação dos íons do sal para a solução dura nte muito tempo ( o u a et al., _007). Ou ~
do gesso agrícola, na melhoria do ambiente radicular das planta . tem · ido relatado po r
diversos autores em várias culturas. Isso se deve à movimentação de Ca para as camaJas
s ubs uperficiais do solo e, o u, diminuição dos efeitos tóxico do alumínio troe..\ el (Ritchev
e t a i., 1980; Lopes, 1983; Sousa et a i., 2007). ·
A acidez nas ca madas subsuperficiai de 20 a -t0 cm dificulta a penetraçã de raiz~:-;
do cacaueiro em razão dos baixos teores de cálcio (Ca 1 • < 0,4 c mol, dnr ') e elevados teore
d e al umínio (> 0,5 cmol, dnY3 de AP· e, ou, saturaçJo por l;. > 30 °'o). Ess.1 acidez p l Je
provocar diminuição na produção, principalmente e m regiões ~u sceptí e i a •o rrênci.1 ·
d e veranicos, já que qua nto menor for o aprofundamento do · is te m,1 r, dicular, menor

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


996 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

será o volume de olo explorado, provocando menor di ponibilidade de água e nutrientes.


E se é oca o dos eossolos Flúvicos Distróficos - RUd e do Argissolo Vermelho-Amarelo
Alítico - PVAali. A quantidade de gesso agrícola a ser aplicada, individualmente ou em
conjunto com o correti\ o, pode ser estimada de acordo com os teores de Ca e AI encontrados
na ~amada de 20 a 40 cm (Chepote et ai., 2013). As doses máximas aplicadas de gesso
vanam de acordo com o teor de argila das camadas de 20 a 40 cm de espessura (Quadro 4),
conforme Alvarez V. et ai. (1999).

Quadro 4. ecessidade de gesso de acordo com o teor de argila na camada subsuperficial


correspondente à profundidade de 20 a 40 cm

Argila Necessidade de gesso


%
O a 15 0,0 a 0,4
15 a 35 0,4 a 0,8
35 a 60 0,8 a 1,2
60 a 100 1,2 a 1,6
Fonte: Alvarez V. et ai. (1999).

Adubação mineral
Para recomendar fertilizantes e corretivos, é imprescindível levar em consideração
os atributos físicos e quínticos do solo, como granulometria, profundidade efetiva,
drenagem, pH, H+Al (acidez potencial), P disponível e bases trocáveis (K+, Ca 2 + e Mg2•),
grau e distribuição do sombreamento e estado fitossarutário da plantação (Sousa et ai.,
2007; Cantarutti et al., 2007; Chepote et ai., 2012). Além desses aspectos, em particular para
o cultivo do cacaueiro, devem ser considerados ainda o regime hídrico e as inundações
que ocorrem periodicamente em algumas áreas de cultivo do cacaueiro no Estado da Bahia
e a existência de impedimentos físicos prejudiciais ao bom desenvolvimento do sistema
radicular da planta (Chepote et ai., 2012).
A adubação mineraJ de cacaueiros baseia-se nos níveis críticos de P disponível e K
trocável, que proporcionam maior desenvolvimento e produção, determinados em ensaios
de campo (Cabala et ai., 1985). Em um experimento no campo, foi determinada a dose de
N correspondente a 60 kg ha·1 ano·1 (Chepote e Valle, 2004). Com base nesses critérios,
12 formulações são recomendadas na adubação do cacaueiro. Essas estão apresentadas
no quadro 5, com as respectivas quantidades de nutrientes por hectare e na mistura de
fertilizantes (Cabala-Rosand et ai., 1985).
As doses dos fertilizantes devem ser aplicadas em cobertura, em círculo para áreas
planas e em meio círculo para áreas acidentadas, nos raios de 20, 30 e 50 cm, respectivamente
para O 2º, 6º e 10º mês; 70, 90 e 100 cm, para o 12º, 16º e 20º mês de plantio no campo; e 120,
140 e 150 cm, para o 24°, 300 e 36° mês (Figura 2). A partir do 36º mês, a aplicação também
poderá ser feita em faixas laterais às plantas medindo 150 cm de largura em solos de relevo
acidentados (Chepote et ai., 2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANE JO DE SOLOS PAR/\ O CULTIVO DO CACAUEIRO 997

Qu ad ro 5. Q uílntidJcl e ele nutrientes, compoc;içJo e cfoc;cs de fcrt ili,.int e; J "Crem utili1:..idac:; em


plantélçfles de cacélu e iro d o s ud es te dél Bílhiil, ,1 part ir J o tercem, a nn Jc 1d<1Je

K T ROC;\VEI. P DISPON fVEI.


1 Í VE L llt\l XO :\'1ÉDI O ,\l,TO
mg dm '
<9 9 a lfi 17 a li)

1
1 ulrientc (kg ha )

- P,O - K.,O - 1\0, - K.p N - P.O - K.p - P_O , · K.O


- !i ..

BA IXO 60- 90 - 60 60 - 60 - 60 60-30-li0 60 - ºº - liíl


<0,10 (cmol, dni-·' ) Com posiç.1o (~)
16 - 2-4 - 16 18 - 18 - 18 20 - 10 - 20 25-00-25
1
M is tura (kg ha )

380 340 300 2-40

Nutriente (kg ha ')


-rp,- K.p N - rp ; - K.p - rp , - o :-.J-Pp ;-1<:0
60 - 90 - 30 W-W -~ 60-~ -~ 60- - 30
MÉDIO
Compo ição (%)
0,10 A 0,25 (cmol, dm·')
18 - 27 - 09 22 - 22 - 11 26 - 13 - 13 32- 10 - lh
1
M is tura (kg h.:i )

3-40 270 230 190

Nutriente (kg h,r')


N - Pp 5
- K.p N- rp , - Kp N - rp~- K.p -Pp ,- K.p
ALTO 60 - 90 - 00 60 - 60 - 00 60 - 30 - 00 ó0- 00- 00
> 0,25 (cmo l, dm·3) Composição("<,)
22 - 33 - 00 27 - 27 - 00 3-4 - 17 - 00 -45- 00- 00
1
Mistura (kg hil )

270 220 1 O 1-40


Fonte: Adaptado de Caba la-Ros,,nd et ai. (1985) e modificado por Chepote et ,1I. (2005) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


p
998 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Figura 2. Localização de fertilizantes na fase de desenvolvimento do cacaueiro conforme o raio de


aplicação e a idade da planta.

Adubação orgânica
Para o cultivo do cacaueiro, de modo semelhante a outros cultives, a adubação orgânica
deve ser adotada preferencialmente quando o teor de matéria orgânica for inferior a
30 g kg-1 . Estudo realizado por Chepote (2003), num Latossolo Vermelho-Amarelo D is trófico,
indicou que o uso de 8 t ha-1 ano-1 de composto de casca do fruto de cacau promoveu
incremento de 133 % na produção de amêndoas secas de cacau, quando comparado com a
testemunha sem adubo (de 527 para 1 229 kg ha-1). Nesse caso, os adubos orgânicos foram
aplicados nas seguintes doses: 2 kg por cova no plantio de composto de casca de cacau e
esterco de gado na proporção volumétrica (4:1) e 4,6 e 8 t ha-1 no 1°, 2º e 3º ano de produção,
respectivamente.
Também foi verificado por Chepote (2003) que a aplicação de 4,0 kg planta-1 ano-1
de composto de casca do fruto de cacau e esterco de gado + 50 % da adubação mineral
promoveu incremento de 188 %, quando comparado com a testemunha {de 527 para
1 518 kg ha-1). Nesse caso, os fertilizantes devem ser aplicados nas seguintes doses: 1,0 kg
por cova de composto de casca de cacau e esterco de gado no plantio; 2,3 e 4 t ha-1 no 1º, 2°
e 3º ano; e mais 50 % da dose de adubo núneral recomendado com base na interpretação
da análise de solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DE SOLOS PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO 999

Adubação com micronutrientes


Com os avanços tecnológicos assistidos na cacauicu ltura, onde se incluem novo,;
clones, técnicas de enxertia, raleamento de sombra e adensamento d e plantio, torna-
se cada vez mais necessário e importante O uso de adubação contendo micronutrientes
para atender a demanda nutricional desses materiais. Nesse contexto, a análise de
solo, especialmente quando interpretada conjuntamente com a aná lise foliar, p rmjte
recomendar doses de mkronutrientes capazes de proporcionar maior retomo econômico
ao produtor, principalmente em solos de baixa fertilidad e natural.
Pesquisas evidenciaram que o Zn é o elemento que mais frequentemente manifest<1
deficiência em Latossolos e Argissolos Distróficos da região Cacaueira do sul da Bahia
(Chepote et al., 2005). De acordo com esses autores, quando os teores de Zn se encontram
abaixo de 1,5 mg dm·3, devem-se aplicar 4,0 kg ha·1 de Zn, na forma de óxido ou sulfa to de
zinco em pó. No plantio, recomendam-se aplicar 15 a 25 g de Fritted Trace Elements (FTE ),
por cova, na camada superficial de Oa 20 cm.

ENTRAVES PARA O MANEJO NUTRICIONAL


DOS CACAUAIS

O solo como um sistema aberto pode ser levado à exaustão de determinados


elementos essenciais para crescimento e desenvolvimento do cacaueiro. Por isso, é
imprescindível repor os nutrientes exportados pela cultura, urna vez que a fertilidade
natural dos solos depende de suas reservas minerais, e nem sempre essas reservas
fornecem todo o conjunto de nutrientes e em teores disponíveis para suprir a demanda
das plantas (Melo et ai., 2009).
Alguns nutrientes presentes no solo têm origem externa ao sistema, sendo
cornumente transportados e arucionados pela biota do solo (mjcro, mesa e rnacrofauna)
(Moreira e Siqueira, 2006). Essa contínua movimentação de elementos quirnicos e materiais
organominerais no solo, conjuntamente com o ciclo de vida dos vegetais que naturalmente
reciclam esses elementos, mantém o sistema em equilíbrio (Oliveira, 2008b). Lnterferir
no sistema edáfico sem planejamento pode acarretar inúmeros impactos negativos que
refletem na produtividade dos cacaueiros.
O cacaueiro é extremamente sensível ao défice hídrico (Enríquez, 1985), ao passo que
é uma planta adaptada a temperaturas relativamente elevadas, com m édia anual de 23
a 26 ºC (Alvim et al., 1977). Percebe-se que se trata de urna espécie exigente ao mesmo
tempo em luz e em água (Alvim, 1960; Alvim et al., 1977). Como algumas áreas atingiam
no passado altas produtividades em conruções de sombreamento, grande parte dos
produtores rurais jamais manejou a sombra dos cacauais. O sombreamento é, sem dúvida,
importante para manter um balanço hídrico favorável às plantas, especialmente nos
m eses mais quentes do ano (Alvim et ai., 1977); entretanto, e iste uma inter-relação entre
sombreamento, que dirnjnui a intensidade lummosa essencial à fotossíntese, e exigências
nutricionais do cacaueiro que não podem ser desconsideradas (Wessel, 1985).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1000 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Na figura 3, é demonsh·ado o reflexo da entrada de luz em áreas de sombreamento


ralo associado ao manejo adequado do solo com seus atributos naturais e inputs artificiais
pela adubação mineral (Alvim et al., 1977).

100
90
80 ~
ra
70 >
·.;:i
ra
60 1l
50 o
40 ""
V
;::I

30 ]
100 ct
90 20
~ 10
Ili
80
> 70
-.e
Ili

~ 60
o
Ili! 50
~ 40
-o
o
30
ct
20
10

Fertilidade do solo ou adubação

Figura 3. Representação dos efeitos da interação entre a fertilidade natural ou incremento da


adubação e o sombreamento na produtividade dos cacaueiros.
Fonte: Adaptado de Alvim et ai. (1977).

Considerando esses aspectos edáficos e fisiológicos do cacaueiro, é importante


ressaltar que as práticas de adubação "isoladas" não são suficientes para aumentar
a produção. O sombreamento excessivo é um dos grandes entraves para o manejo
nutricional dos cacaueiros. Entretanto, não repor os nutrientes exportados pela cultura
via adubação se constitui em grande equivoco, pois é comum a exibição de sintomas de
deficiência nutricional na lavoura cacaueira, especialmente de macronutrientes como N,
P e K (Souza Jr. et al., 2012). Assim, recomendam-se conservar o potencial agrícola dos
solos e aperfeiçoar os sistemas de cultivo de cacaueiros, utilizando-se de práticas racionais
de adubação e alternativas como adubação orgânica, adubação verde, uso de espécies
leguminosas fixadoras de N 2, que são metas importantes para a nova fase da cacauicultura
do sudeste baiano.

CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM


SISTEMAS CACAUEIROS

Do ponto de vista da conservação do solo, a ocorrência de chuvas de alta intensidade


em determinada região é preocupante, pois essas podem ter alto potencial para a
degradação erosiva dos solos. Na região Cacaueira da Bahia, é muito comum a ocorrência

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO DE SOLOS PARA o CULTIVO DO CACAUEIRO 1001

de chu vas intensas com eleva da condição de erosividade, es pecia lmente por predominar
na paisagem natural uma estrutura de relevo muito acidentado. A exposição dos solo
aos processos erosivos pode trazer grandes limitações para a atividade agrícola, incluindo
perdas acentuadas de nutrientes e insumos e impactos ambientais como assoreamento e
poluição de cursos d'água com as partículas que são transportadas pela água para as partes
mais baixas do relevo (Bertoni e Lombardi Neto, 1999).
A cacauicultura do Estado da Bahia, inserida na Mata Atlântica, um dos biornas mai
agredidos pelas atividades humanas, representa inúmeros papéis ecológicos; e isso a toma
uma atividade agrícola conservacionista, seja pela predominância do" i tema de cultivo"
da Cabruca (Lobão, 2007), seja pela proteção dos recursos hídricos e pedológicos (San tana
et ai., 2002; Araujo et ai., 2012; Loureiro et ai., 2012).
A região Cacaueira da Bahia por apresentar a maior parte das terras ocupadas por
sistemas agrossilviculturais, onde o cacau é a principal cultura de interesse económico, é
um exemplo de estratégia para diminuir a erosão (Paiva e Ara ujo, 2012). Particularmente,
no agroecossistema Cacau-Cabruca ocorre deposição constante de mate rial orgânico pela
própria cultura e pela mata adjacente, formando uma camada orgânica ou errapilheira,
que é conhecida na região como cobertura " bate-folha" (Araujo e Paiva, 2003; [nácio, 2005).
Esse tipo de cobertura vegetal morta contribui para reduzir os danos ca usado_ pela ação
erosiva das chuvas, especialmente em condições tropicais (La! et al., 19 O).
Inácio (2005), trabalhando com solos cultivados com cacaueiros, verificou aumento
das perdas em um Chemossolo Argilúvico Órtico típico com a elevação dos valores das
classes de declividade do terreno; as perdas foram maiores no tratamento sem cobertu ra
do que no com cobertura. Esse autor também verificou que a cobertura "bate-folha" foi tão
eficiente quanto a pastagem na proteção do solo contra os processos erosivos, assim como
a erodibilidade para o solo anteriormente cultivado fo i de 1,48 x 10-5 kg- 1 s· 1 m-' e para o que
foi cultivado com Cacau-Cabruca foi de 1,15 x lQ-6 kg- 1 1s· 1 m-1.
Apesar dos aspectos positivos da serrapilheira dos cacauais, is o não significa que
o cacauicultor pode ficar despreocupado com a erosão. Profissionais que trabalham
com manejo e conservação do solo, ao visitarem as fazendas de cacau da região, têm
observado com frequência a ocorrência de erosão laminar em áreas declivo as. 1 essas
áreas, a cobertura do solo, proporcionada pelo cacau, conjuntamente com outras plantas
que compõem os sistemas agroflorestais, não é suficiente para evitar completamente a
erosão. Desse modo, o cacauicultor deverá introduzir alguma prá tica de conservação para
aumentar a resistência do solo contra a erosão, evitando assim a diminuição do eu potencial
produtivo. Em cacauais, dependendo da classe de solo e das condições de relevo (po -ição
na paisagem), práticas como monitoramento da fertilidade do solo, ad ubação orgânica,
manejo da arquitetura da planta (podas), uso de plantas de cobertura (em lavouras jo en ),
quebra-ventos e manejo integrado de pragas devem ser recomendadas.
Em decorrência da crise estabelecida na lavoura cacaueira, a partir de 1990, o s udes te
da Bahia passou por mudança muito importante no uso de seus solos. A alteração
m ais significativa, em muitas áreas, foi a substituição do sistema Cacau-Cabruca pela
pastagens, pelos pomares de frutíferas e pelo monocultivo do café. Essas mod ificações no
uso da terra têm gerado preocupações com relação à conservação do solo, pois, até então,
os agricultores não viam necessidade de adotar técnicas conser acionis tas, uma vez que a
p ro teção do solo promovida pelos cacauais no sistema Cacau-Cabruca era mai eficiente
do que os outros tipos de usos que surgiram (Paiva e Araujo, 2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1002 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Pastagens bem-manejadas, onde se utilizam sistemas de rotação de pastos, associações


com leguminosas, calagem e adubação, contribuem para a conservação dos solos, pois
promovem boa cobertura e fornecem matéria orgânica. No entanto, em boa parte das terras
ocupadas por pastagens na região Cacaueira, o pastoreio excessivo é preocupante, pois
causa completa degradação dos pastos, deixando o solo exposto à erosão (Araujo e Paiva,
2003) . Esses autores ressaltaram ainda que o mais agravante é o uso indiscriminado do
fogo, uma das técnicas mais utilizadas no manejo de pastagens degradadas.
Do ponto de vista da conservação da água, algw1s aspectos positivos da agricuJtura
do cacau no sudeste da Balua podem ser destacados, excetuando-se a carência de estudos
sobre a qualidade da água e contaminação de lençóis freáticos por insumos agrícolas.
Dentre esses aspectos positivos, pode-se destacar a conservação das matas ciliares dos rios,
dos riachos e córregos, que são extremamente importantes para os ecossistemas aquáticos
e terrestres e, destacadamente, para o abastecimento de água potável para o homem.
Por ser o estrato vegetativo de um cacaual semelhante ao de uma mata nativa, os ciclos
biogeoquímicos, em particular o ciclo do C, sofrem alterações menores se comparado aos
estratos de cultivas intensivos e de ciclo curto (Gama-Rodrigues et ai., 2011; Araujo et ai.,
2012; Loureiro et al., 2012). O ciclo hldrológico está muito associado à qualidade física
do solo, em aspectos corno a estrutura do solo, com a agregação das partículas do solo
promovida pelas raízes e microrganismos, e com os teores de matéria orgânica no solo,
que conjuntamente indicam o potencial de infiltração e retenção de água no solo (Moreira
e Siqueira, 2006; Ferreira, 2010). Além disso, a matéria orgânica do solo funciona como um
filtro para impedir que moléculas e metais tóxicos contaminem os lençóis freáticos (Silva
e Mendonça, 2007). Por isso, o sistema cacaueiro é bastante particular no que se refere à
conservação do solo e da água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história da humanidade está intimamente ligada à de uso da terra. O manejo e


a conservação do solo mantêm a riqueza (capacidade produtiva) das terras, melhoram
0 rendimento das culturas e garantem um ambiente equilibrado. Os agricultores, como
protagonistas dessa história, em conjunto com os demais profissionais envolvidos, têm
papel fundamental na construção de urna vida saudável e sustentável. Entretanto, a
compreensão e a responsabilidade acerca da conservação do solo e da água devem ser
compromissos de todos os cidadãos que, de forma consciente, podem participar da
construção de uma vida com melhor qualidade.
O manejo de sistemas edáficos complexos, como o sistema cacaueiro, requer, ao
mesmo tempo, conhecimentos técnicos dos atributos e das funções do solo e da fisiologia da
planta e bom senso profissional p~a não caract~rizar negativ~mente o i~pacto ambie~tal
inerente à agricultura. As possibilidades de cultivo do cacaueiro se ampliam, a cada dia e
por muitas regiões agroambientais, e suas características de cultivo conservacionista têm
sido e poderão ser base muito importante para adaptar e adotar práticas agrícolas que
promovam O aumento da produção de cultivas diversos e, simultaneamente, conservem
os recursos ambientais.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - M ANE JO DE SOLOS PARA O CULTIVO DO C AC A UEIRO 100 3

LITERAT URA CIT ADA


Alva rez V HV, Dias LE, Ribeiro AC, Souza Rl3 . Uso de gesso agríco la. Jn: Ribeir~ AC Gui ma'.ães
PTG, Alvarez V VH, Editores. Recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes em M~nas
Gerais. 5ª Aproximação. Viçosa, MG: Co missão d e Fer tilid ade do Solo d o Estado de M1.11a
Gerais; 1999. p.67-78.
Alvim, PT. Cacao. ln: Alvim PT, Koslowski TI, ed itors. Ecophysiology of tropica l crops. ew York-
Academ ic Press; 1977. p.279-313.
Alv im PT. Las necesidades de agua dei cacao. Tu rria lba, 1960;10:6-10.
Araujo QR, Paiva AQ. Aspectos básicos de manejo e conservação do solo na região cacaueira ln:
Agenda Técnica da 25ª Semana do Faze ndeiro; Ilhéus; 2003. Uruçuca: CEPLAC/C EPEC/
SIDOC; 2003.
Araujo QR, Loureiro GAHA, San tana SO. Armazename nto d e carbono em solos cultivado com
Cacau CabrucaCacau-Cabruca. ln: Ana is da 19ª. Reunião Brasileira de Manejo e Conservação
do Solo e da Água [CD-ROM]; Lages; 2012. Lages: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2012.
Araujo QR, Santana SO, Mendonça JR. SAF Cacau-cabruca na s us tentabilidade da Fazenda AJemita,
Itabuna, Bahia. ln: Anais do 5°. Congresso Brasileiro de Sis te mas Agroílorestai ; 2004; Curitiba.
Curitiba: Embrapa Florestas; 2004. p.535-7.
Ba ligar VC, Fageria N K. Aluminum infiuence on growth and upta ke of m icronutrien ts by cacao. J
Food Agr Environ. 2005;3:173-7.
Barbosa JSF, Dominguez JML, coordenadores. Geologia da Bahia: guia ex plicativo para o mapa
geológico ao milionésimo. Salvador: Secreta ria de Jndú tria, Comé rcio e Mineração/
Superintendência de Geologia e Recursos Minera is; 1996.
Be rtoni J, Lombard i eto F. Conservação dos solos. 4.ed. São Paulo: Ícone; 1999.
Ca bala-Rosand FP, Santa na CJL, Miranda ER. Resposta de cacau eiro "Catongo" a d o es Je
fe rtilizantes no Sul da Bah ia, Brasil. Rev Theobroma. 1982;12:203-16.
Ca bala-Rosand FP, Santan a C, Santana MBM. Novos critérios para recomendação de fertilizantes e
corretivos no Estado da Bahia, Brasil. ln: Atas da 9°. Conferência Internacional de Pesquisas em
Caca u; Togo, 1984. Lago: Cocoa Producers' Alliance; 1985. p.11 7-23.
Cadima ZA. Es tudo do sistema radicular do cacaueiro em alguns tipo d e solo. d a Região Cacaueira
d o Sul da Bahia. Ilhéus: Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira; 1970. (Boletim
técnico, 5).
Canta rutti RB, Barros NF, Martinez HEP, Novais RF. Avaliação da fe rtilidad e d o o lo e recomendaçào
de fer til izantes. ln: Novais RF, Alvarez V VH, Barro NF, Fontes RLF, Cantarutti. RB, ·cvt::S
JCL . Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Bras ileira d e Ciência do Solo, 2007. p .769- -o.
C harter CF. Coco a soils: good and bad. Tafo, Chana: West Cocoa Re earch Lns titute; 1947.
Che pote RE. Com portam ento de clones de cacau cultivados sob diferente- tamanho de c v.ls
Agrotrópica. 2009;21:153-8.
Che pote RE, Valle RR. Efeito de fontes de nitrogênio na produção d o cacaueiro . ..\grotrópi a.
2004;16:93-8.
Ch e po te RE, Sodré GA, Reis EL, Pacheco RG, larrocos PCL, alie RR. Recomendações d e ·orreti 0
e fertilizantes na cultura do cacaueiro no sul da Bahia. Ilhéus: CEPL.\C / EP EC; _013. (B letim
técnico, 203)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1004 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Chepote RE. Efeit do compo to da ca ca do fruto do cacau no crescimento e produção do cacaueiro.


Agrotr pica. 2003;15:1-8.
Chepote RE, Rei EL, Araujo QR, Pacheco RG, Valle RR. Comportamento de clones de cacau
cultivados sob diferentes tam.anhos de covas. Agroh·ópica. 2009;21 :153-8.
Chepote RE.; Santana, S.O.; Araujo, Q.R, Sodré, G.A.; Reis, E.L, Pacheco, R.G, Marrocos, P .C.L.;
Serodio, M.H .F, Valle, R.R. Aptidão agrícola e fertilidade de solos para a cultura do cacaueiro.
ln: VALLE, R. R. M. ed. Ciência, Tecnologia e Manejo do Cacaueiro. 2 ed. BrasOia, DF, Ministério
da Agricultura Pecuárias e Abastecimento, 2012. p.67-113.
Chepote RE, Sodré GA, Reis EL, Pacheco RG, Marrocos PCL, Serodio MHCF, Valle RR. Recomendações
de corretivos e fertilizantes na cultura do cacaueiro no Sul da Bahia . 2ª Aproximação. Ilhéus:
CEPLAC-CEPEC; 2005.
Chiapetti J. O uso corporativo do território brasileiro e o processo de formação de um espaço derivado:
transformações e pem1anências na região cacaueira da Bahia [tese] . Rio Claro: Instituto de
Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 2009.
Dantas PA. Relação entre fertilidade do solo e nutrição do cacaueiro no Sul da Bahia [dissertação].
Ilhéus: Uni, ersidade Estadual de Santa Cruz; 2011.
Dechen AR, achtigall GR. Elementos requeridos à nutrição de plantas. ln: Novais RF, Alvarez V
VH, Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, Neves JCL. editores. Fertilidade do solo. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. p.92-132.
Enriquez GA. Curso sobre el cultivo dei cacao. Turrialba: Centro Agronómico Tropical de
Investigación y Enseflanza; 1985.
Epps KY, Araujo QR, Comerford NB . Species diversity and nutrient delivery potential of cacao
agroforest:ry systerns a comparison with secondary forest in southem Bahia, Brazil. ln;
Proceedings of the 15° lntemational Cocoa Research Confe.rence; San Jose, Costa Rica; 2006. San
Jose, Costa Rica: CATIE/ COPAL; 2006. v.1. p.413-22.
Ferreira MM. Caracterização física do solo. ln: Jong van Lier, Q. Física do solo. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2010. p.1-27.
Fontes AG. Ciclagem de nutrientes em sistemas agroflorestais de cacau no sul da Bahia [tese].
Campos dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense; 2006.
Gama-Rodrigues EF, Gama-Rodrigues AC, Nair PKR. Soil carbon sequestration in cacao agroflorest:ry
systerns: A case study from BaJua, Brazil. In: Kumar BM, Nair PKR, editors. Carbon sequest:ration
potential of agroforestry systems. Opportunities and challenges. The Netherlands, Springer
Science, 2011. v. 8, p. 85-100. (Series: Advances in agroforestry, 8).
Goedert \NJ, Oliveira SA. Fertilidade do solo e sustentabilidade da atividade agrícola. ln: Novais RF.,
Alvarez V V.V. H ; Barros, N.F; Fontes, R.L.F; Cantarutti, R.B; Neves, J.C.L. editores. Fertilidade
do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. p .991-1017.
Hardy, F. Manual dei cacao. Turrialba, Costa Rica: Instituto lnteramericano de Ciências Agrárias;
1975.
Jgue K, Santana MBM, Frtjers A. Caracterização de N_ em solos de _cacau. ln: _Anais da 8° R~união
Brasileira de Fertilidade do Solo, 1973; Santa Mana. Santa Mana: Comurucações da Eqmpe de
Fertilidade do Centro de Pesquisas do Cacau; 1973. p.20-7.
Inácio ESB. Erosão do solo e dimensionamento de faixa ciliaT em sistemas de uso do solo na região
Sul da BA (dissertação]. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco; 2005.
Jacomine PKT, Cavalcanti AC, Silva FBRE, Montenegro JO, Formiga RA, Burgos N, Melo Filho HFR.
Levantamento exploratório-reconhecimento de solos da m argem direita do rio São Francisco,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MANEJO D E SOLO S PARA O CU LT IVO D O C ACAUEIRO 1005

Es tad o da Bahia. Recife: Embrapa -SN LCS/S UDENE; 1979. (EMB RAPA-SNLCS: Boletim
técnico, 52; SUD EN E-DRN: Recursos de solos, 10).
Kummerow WJ, Kummerow M, Silva WS. Fine-roo t growth d ynr1mic in cacao (Theabro m cacaa).
Plant Soil. 1982;65:193-201.
La! KR, Vleeschauwer D, Nganje RM. Changes in properties of a newly clear ed tropical ali' oi as
affected by mulching. Soil Sei Soe Am J. 1980;44:827-33.
Lobão DE. Agroecossistema cacaueiro da Bahia: caca u-cabruca e fragmentos flo restais nd con.servaçiio
de espécies arbóreas [tese]. Jaboticabal: UNESP; 2007.
Lopes AS, Guilherme LRG. Fertilidade do solo e p rodu tivid ade agrícola. ln: , ovais RF, Alvarez V
VH, Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, Neves JCL, ed itores. Fer tilidade d o o lo. Viçosa, MG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. p.1-64.
Lopes AS. Solos sob "Cerrados": características, propried ades e manejo. 2.ed . Pirdcicaba: As,;ociaçJo
Brasileira para a Pesquisa da Potassa e do Fosfato; 1983.
Loureiro GAHA, Araujo QR, Santana SO, Sodré GA. Almacena m ien to d ei cMbono de los suelos
cultivados en el consorcio de cacao y caucho. ln: Anales 1°. Con greso Internaciona l de Cacao y
Café [CD-ROM]; 2012; Havana. Havana: Congreso Internacional de Cacao y Café; 2012.
MaJavolta E. Manual de calagem e adubação das principais culturas. São Paulo: Agronô mica Ceres; 1 7.
Malavolta E, Malavolta tvfL, Cabral CP. Nota sobre as exigências mine rais do caca ueiro. An ES LQ.
1984;41:243-55.
Marques JRB, Monteiro WR, Lopes UV. Seringueira: Uma o pção econó m ica e ecológica para o
sombreamento de cacaueiros. ln: Anais do 4°. Congresso Brasileiro Sis temas Agroíloresta1s
[CD-ROM]; 2002; Ilhéus. Ilhéus: CEPLAC/ UESC; 2002.
Melo VF, Castilhos RMV, Pinto LFS. Reserva mineral do solo. ln: feio VF, Al leoní LRF, editores.
Química e mineralogia do solo. Parte I. Viçosa, MG: Sociedade Brasilei ra de C iência do Solo;
2009. p.151-249.
Menezes AA, Souza Junior JO, Santos Neto JA. Relações entre pH e características d e acidez para
solos da Bahia. ln: Anais 27°. Congresso Brasileiro de Ciência do Solo [CD-ROM]; 1999; Brasilia.
Brasília: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo; 1999.
Meurer EJ. Fatores que influenciam o crescimento e o desenvolvimento das plantas. ln: t ovais RF,
Alvarez V VH, Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, Neves JCL, ed itores. Fertilidade d o solo.
Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. p.65-90.
Miranda ER, Dias ACCP. Efeito da saturação de alumínio trocável no crescimento de plà.ntulas d e
cacau. Rev Theobroma. 1971;1:34-42.
Miranda ER, Igue K. Química do potássio em solos da região cacaueira da Bahia. ln: Anais da 9".
Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo; 1974; Belo Horizonte. Belo Horizonte: [s.n.j; l 7.1,
p .48-50.
Moreira FMS, Siqueira JO. Microbiologia e bioquímica do solo. Lavras: UFL\; 2006.
Oliveira JB. Atributos diagnósticos. ln: Oliveira JB. Pedologia aplicad a. Y . ed . Piracicaba: FEAL
2008a. cap. 3, p.113-296.
Oliveira JB. Classes de solos do Brasil e suas principais implicações agrícolas. ln O li eira JB. Pedologia
a plicada. 3ª. ed. Piracicaba: FEALQ 2008b. cap. 1. p.1 7-83
Pa checo RG, Furtado AAA, Sodré GA, Marrocos PC L, Chepo te RE, Ara ujo QR. Produção de ma téria
seca e eficiência de absorção de fósforo por clones de Cé\Caueiros aos oito meses de idade. ln:
Anais do 30º. Congresso Brasileiro de Ciencia do Solo [CD-RO M]; 2005; Recife. Recife: s iedade
Brasileira de Ciencia do Solo; 2005.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1006 QUINTINO REIS ARAUJO ET AL.

Pai a AQ Araujo QR. Fundamentos do m anejo e da conservação dos solos na região produtora de
cacau da Bahia. ln: Valle RRM, organizador. Ciência, tecnologia e manejo do cacaueiro. 2ª. ed.
Bra ília: Mini tério da Agricultura Pecuária e Abastecimento; 2012. p.115-34.
Raij B.van. Fósforo. ln: Ins tituto da Potassa. Avaliação da fertilidade do solo. Piracicaba: 1981.
Rei EL, Chepote RE, Sodré GA. Efeito da calagem e gessagem no crescimento do cacaueiro no Sul da
Bahia. ln: Proceedings of the 15°. lnternational Cocoa Research Conference; 2006; San José, Costa
Rica. San José, Costa Rica: COPAL; 2006.
Resende M, Curi , Rezende SB, Corrêa GF. Classificação e geografia de solos. ln: Resende M, Curi
1, Rezende SB, Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. Lavras: UFLA; 2007a.
cap. 7.p.147-209.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Gênese: aspectos gerais. ln: Resende M, Cu.ri N, Rezende
SB, Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. Lavras: UFLA; 2007b. cap. 5. p .123-41.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Propriedades do solo e interpretação. ln: Resende M,
Curi , Rezende SB, Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. Lavras: UFLA;
2007c. cap. 2. p .147-209.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF. Solo e paisagem. ln: Resende M, Curi N, Rezende SB,
Corrêa GF. Pedologia: base para distinção de ambientes. Lavras: UFLA, 2007d. cap.6. p .143-6.
Ritchey KD, Souza DMG, Lobato E, Correia O. Calcium leaching to increase rooting depth in a
Brazilian savannah oxisol. Agr J. 1980;72:40-4.
Rodrigues ACG, Miranda RCC. Efeito da chuva na liberação de nutrientes do folhedo num
agrossistema de cacau do Sul da Bahia. Pesq Agropec Bras. 1991;26:1345-50.
Santana CJL, Santana MBM. Aferição de niveis de potássio em solos da região Sul da Bahia. Rev
Theobroma. 1973;3:22-34.
Santana MBM, Cabala-Rosand FP. Reciclagem de nutrientes em uma plantação de cacau sombreada
com eritrina. ln: Proceedings 9ª. International Cocoa Research Conference; 1985; Lomé, Togo.
Lomé, Togo: COPAL; 1985.
Santana MBM, Igue K. Composição química das folhas do cacaueiro em função da idade e época do
ano. Rev Theobroma. 1979;9:63-76.
Santana MBM, lgue K. Formas de micronutrientes em solo da região cacaueira da Bahia. Turrialba.
1972;1:73-80.
Santana MBM, Ezeta FN, Morais FIO. Efeito de formas de nitrogênio no crescimento e na composição
química de plântulas de cacau. Rev Theobroma. 1980;10:31-9.
Santana MMCA, Sodré GA, Marrocos PCL. Marketing internacional do cacau baiano: deficiências e
oportunidades. Agrotrópica. 2008;20:53-60.
Santana SO, Jesus RM, Araujo QR, Mendonça JR, Faria Filho AF. Atualização da classificação de
solos da Região Sudeste da Bahia, Brasil. Ilhéus: CEPLAC/CEPEC, 2011. (Publicação avulsa).
Santana SO, Araujo QR, Dei Vai OU, Franco MAG, Mendonça JR, Faria Filho AF. Mapeamento dos
solos da Bacia do Teimoso (Bahia), como embasamento para o planejamento agro-a~biental. ln:
Resumos e Palestras 16ª. Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Agua; 2006;
Aracaju. Aracaju: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/ Universidade Federal de Sergipe/
Embrapa; 2006.
Santana SO, Faria Filho AF, Lisboa GP. Mapa de solos. IU1éus: CEPLAC/CEPEC/SENUP; 2010.
(escala 1:750.000).
Santana so, Santos RD, Lopes IA, Jesus RM, Araujo QR, Mendonça JR, Calderano SB, Faria Filho AF.
Solos da Região Sudeste da Bahia -Atualização da legenda de acordo com o Sistema Brasileiro

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX - MAN EJO DE SO LOS PARA O CULTIVO DO CACAUEIRO 1007

de Classificação de Solos. Rio de Janeiro: Em brapa /CE PLAC/ UES ; 2ílíl2. (Bo le tim de pesq ui<:a
e d esenvolvimento, 16).
San tos HG, Jacom.ine PKT, Anjos LHC, Ol iveira V A. Dcoliveira JB, Co lho MR, Lum bre ra!, JF, Cu nha
TJF, editores. Sis tema brasileiro de class ificação de so los. 3". cd . Brasília : Embrapa; 201 3.
Santos RD, Lemos RC, Santos HG, Ker JC, Anjos LHC. Manual de desc rição e coleta d e : o to no
ca mpo. 5ª. ed . Viçosa, MG: Sociedade Brasil eira de Ciência do Solo/ Embrapa So lo,;; 201b.
Silva fR, Mendonça ES. Matéria orgânica do solo. ln: Nova is RF, /\l varez V VH, B~rro F. Fon tes
RLF, Cantarutti RB, Neves JCL, ed itores. Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sooed..1de Bra ileira
de C iência do Solo; 2007. p.275-374.
S ilva LF. Solos bons para cacau . Caca u A tua l. 1969;6:28-31.
Silva LF. Solos para cacau . ln: 4º. Curso lntem aciona l de Cacau; 1979; ílhéus. Ilhéus: CEPLAC/
C EPEC; 1979.
Silva LF, Carva lho Filho R, Melo AAO, Dias ACCP. Solos e aptjdão agrícola. Ilhéus: CEPLAC/ IICA,
1975. (Diagnóstico sócio econômico da Região Caca ueira, v.2).
Silva LF, Melo AAO, Carvalho Filho R, Dias ACCP. Características dos principai solos de cacau da
Bahia. ln: Proceedings 2·'. lnternational Cocoa Reserch Coníerence; 1967; Salvador. Sã o Pa ulo:
CEPLAC; 1969. p.412-6.
Silva LF, Pereira CP, Melo AAO. Efeito da compactação do solo no desenvolvimento de plàntulas de
cacau (Theobroma cacao L.) e na penetração das suas raízes. Rev Theobroma. 1977;7:13-
Siqueira PR, Müller MW, Pinho AFS. Efeito da irrigação na prod utividade do cacaueiro (Theobroma
cacao L.). ln: Anais do 16°. Congresso Brasileiro de Engenha ria Agrícola; 1987; Ju.ndiaí, Judiai.:
Caterpillar; 1987. p.116-27.
Smyth AJ. La selección de suelos para cultivo dei cacao. San José, Costa Rica: O rganizació n de las
Naciones Urudas para la Agricultura y la Alimentación; 1967. (Boletim Sobre Suelos, 5).
Sodré GA, Marrocos PCL, Chepote RE, Pacheco RG. Uso do desv io padrào para estimativa d o
tamanho de amostra de plantas de cacau (Theobroma cacao L.) em es tudos de nutrição.
Agrotrópica. 2001;13:145-50.
Sodré GA, Marrocos PCL, Pacheco RG. Dis ponibiüdad e de P e Cu em solo da região cacau eira da
Bahia - Brasil: 1998-2011. ln: 17ª . lnternational Cocoa Research Coníerence, Yaounde, Camarões:
2012.
Sousa DMG, Miranda LN, Oliveira SA. Acidez do solo e sua correção. ln: 1 ovajs RF, Alvarez H.
Barros NF, Fontes RLF, Cantarutti RB, Ne ves JCL, edito res. Fer tilidade do ola. içosa, : lG:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007. cap.5. p .205-7-l.
Souza Jr JO, Mello JVW, Alvarez V VH, Neves JCL. Produti idade do cacau eiro e m função de
caracterís ticas do solo: I. características químicas. Rev Bras Bras Cienc Solo. 1999;23: 63-72.
Souza Jr JO, Menezes AA, Sodré GA, Ga ttward JN, Dantas PAS. Diagno e foliar na cultura do cacau.
ln: PRADO, R.M. ed. Nutrição de plantas: diagnose foliar em fru te iras. Jaboticabal: FC\ V/
CAPES/ FAPESB/ CNPq; 201 2. cap.1 6. p .443-76.
Thong KC, Ng WL. Growth and nutrients cornposition of monocrop cocoa plan t on lnland Malav ian
soils. ln: Proceedings International Co nie rence on Cocoa a nd Cococnu ts; 197 ; ,.. uala Lu~pur
Kua la Lumpur: 1978. p.262-86.
Veloso JLM. Efeitos de cobre residual em plantações de cacau (Theobrom a cacau L ) [di - ertaçãoJ.
Cruz das Almas: Uruversidade Fed eral da Bahia; 1993.
Wessel M . Shade and nutrition. ln: Wood GAR, La s RA, editor-. Cocoa. -lth. ed. Londres: Longman;
1985. cap.7. p.166-94.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MANEJO E CONSERV A Ç AO
-
DO SOLO E DA ÁGUA NO CULTIVO DO
CAFEEIRO
Marx Leandro Naves Silva1/, Bernardo Moreira Cândido21, Danielle Vieira Guima1ães 21
& Nilton Curi 11

11 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ci.:?ncia do Solo, Lavras, MC.


E-mail: mnrxufla@gmail.com; niltcuri@dcs.ufl.l.br
21 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciencia do Solo, Programa de Pós-Gradu.içJo l?fTI
Ciência d o Solo, Lavras, MG. E-mail: bemnrdocandido@gmail.com; danyvguim.1rae5@hotm;ul.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO ....................................................... ....................................................................... ······-·-··· ............... 1010


REGIÕES DE PLANTIO DE CAFÉ NO BRASIL. ........... ......................................... .... .......... -·· ·- ·-·· .. -· 1010
SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO EM LAVOURAS CAFEEIRAS .......................................·- ··-······· ····-· ...... 1011
Manejo convencional................................................... ................................................ ......... --··- ·· - ···· .. 1012
Manejos conservacionistas .......................................... ................................................................... --····-·- ...... 1013
EROSÃO HÍDRICA EM SOLOS CULTIVADOS COM CAFEEIROS ..................._ .... .... ... ·-···-·····-··· --·-· 1014
Erosividade da chuva em regiões cafeeiras ............................................................... _............. ·- ·-········· ... ..... 1015
Erodibilidade dos solos em regiões cafeeiras ............................................... ......._ . ·-···· ·· - - - ·-·- - _ . IU16
Comprimento de rampa e declividade ................................................................ ······--·• ................ _.._._ ......... 1U1o
Cobertura vegetal.. .................................................................................................. ·-········ ···-·· ·-- ··--·· . .. _ ·-· 101,
Práticas conservacionistas ........................................................................................... -- ~·-·· ... ~
1021
Cultivo de café adensado 0000• · • · • ·••· • · · •···· • ···• •••·· · · • • • • • · · • ••·• • •• •· • • ••·•·•····· ·• · · · · • • · ·· ·•-•• •0• oo Ho o ooo o, ooooo .. . _ .•.. - ......... ) ffYl
Uso de plantas de cobertura ............................................................... ·-·- ···-··- ······ .. ················---·... . ·-· 1023
Calagem e gessagem ............................. ............................................................................·-··-················· .... ll12J
Adubação ............................................................................................................. ·-········ ···-·······-• ······- ··· .. l ~ -l
Terraceamento .............................................................................................. - .................. - ·-· ......... _ ...... l~-l
Uso da irrigação na lavoura cafeeira e conservação do solo e da água ... ...... ... ._.... _. ·····--· _ ···- -·· 1025
CONSIDERAÇÕES FlNAlS ............................................. ..................... ·····-···... - ........ ... ·-·· - ....... _. ...... ····-· ....... i " o
LITERATURA CITADA ..................................... .......................................·- ········ ...................................... ··- lü'.!o

Berto! J, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo t:? conservaç.lo d o solo e J.1 .1gua. Viço . .:i , ~ I - : - ·ied..1Je
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
- j
1010 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

INTRODUÇÃO

A preocupação com a segurança alimentar, disponibilidade de água e qualidade do


solo nas ati idades agrícolas, pastoris e florestais tem aumentado, principalmente nas áreas
onde a variação climática atualmente é observada com históricos persistentes de ciclos de
défice hídrico e, ou, eventos concentrados de precipitação com alta erosividade. Do ponto
de vista ambiental, a promoção da sustentabilidade do agroecossistema inclui basicamente
que seu manejo e suas produções vegetal e animal levem à otimização e ao equil.Jbrio dos
atributos químicos, físicos e biológicos do solo. Assim, a erosão hídrica, que corresponde
à degradação desses atributos e consequentemente à perda de solo e água por escoamento
superficial, por ter grande influência na manutenção das atividades vitais do solo, tem sido
um dos fatores de impacto ambiental que mais atenção vem recebendo de planejadores,
pesquisadores e estudiosos nas regiões tropicais.
A qualidade e sustentabilidade dos sistemas agrícolas de produção animal e vegetal
são inflluenciadas pelos diferentes sistemas de manejo, que estão intimamente associados
às perdas de solo, água, C-orgânico e nutrientes, decorrentes do processo erosivo. Dessa
forma, o correto manejo do solo pode ser visto como a chave para sua conservação e
manutenção das reservas d' água.
Nesse contexto, no Brasil e no mundo, a produção cafeeira enquadra-se dentre
as principais commodities agrícolas e se destaca por sua importância econômica e,
consequentemente, ambiental. As áreas na superfície terrestre cobertas por plantações de
café chegam a aproximadamente 10,6 Mha; a maior parte delas está localizada nos trópicos
(Clay, 2004). A produção de café contribui para a subsistência de 4 milhões de agricultores
em 14 países Qna et al., 2011); o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo (Brasil,
2014).
Visto a grande importância da cafeicultura nos contextos mundial e nacional, este
capítulo tem como base discutir o manejo do solo em sistemas de cultivo de café sob a
ótica conservacionista, além de propor tecnologias, visando manter o equilibrio do
agroecossistema e reduzir os danos causados pela erosão hídrica tanto nas áreas cultivadas
quanto nas adjacentes, essas em muitos casos destinadas à preservação ambiental.

REGIÕES DE PLANTIO DE CAFÉ NO BRASIL

O cultivo do café no Brasil é distribuído ao longo de todo o país, havendo grande riqueza
no que diz respeito a variedades de cafés produzidos. Entre as áreas disponibilizadas para
0 cultivo, a maior parte é ocupada pela espécie arábica. Os Estados com as maiores áreas
de café em produção são, em ordem decrescente: Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo,
Bahia e Rondônia (Brasil, 2014), com abrangência dos biornas Mata Atlântica, Cerrado e
Amazônia.
A cafeicultura na região da Mata Atlântica data do período Colonial, onde, com a
queda da mineração, o café se instalou inicialmente nas regiões do Vale do Paraíba,
Baixada fluminense e sul de Minas, expandindo-se para oeste a partir de 1850, passando
por Campinas, SP, e posteriormente chegando a Ribeirão Preto, SP, onde se consolidou.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX II - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA Á GU A NO ( U LTINO DO .·· 10l 1

Essa atividade gerou gra nde adensa me nto urba no, proporcionando con ·trução de
ferrovias, contribui ndo para O aumento do d esmata men to no sécu lo XIX. A ata Atlântica
local iza-se sobre uma imensa cadeia de mo nta nhas, com solos predominantemente pouco
p rofundos (A rgissolos, Ca mbissolos e Neossolos), ácidos, de baixa fertilidi!de natu r L
e levad a umidade e méd io teor de matéria o rgã nicil no solo. A pouca profundidade do so lo
e o excesso de água tornam-se favorávei s à ocorrênciél de erosão do tipo des locamento e,
ou, desliza mento de massas de solo, eventos comuns nesse biorna . O ciclo de deslizamentos
de solo nas partes mais altas e a deposição de materia l na pa rtes ma is baixa favo recem
a menor cobertura vege tal nas encostas, fo rmand o clareiras; nessa situação, a ero õ -
pod em evoluir para sulcos e voçorocas.
O Cerrado é uma das mais recentes regiões produtoras de café, tendo s ido a cultura
introdu zida na década de 1970. Atualmen te, ocu pa mais de 200 Nfha, di tribuidos no
Estad os de Mi nas Gerais, Goiás, Ma to Grosso, Mato Grosso d o Sul, Tocantins, Bahia, Piauí
e Ma ranhão e no Distrito Federal. A região do Cerrado mineiro se des taca como uma da
mais tecnificadas do mundo na prod ução cafeei ra; grande pa rte do café prod uzido pelos
55 municípios da região, localizados no Alto Paranaíba, Triângu lo Mineiro e noroeste de
Minas, é ex portada. O cultivo ocorre predominante mente em La tos olos, com relevos mai
s uav izados, altitude média entre 800 e 1 000 m e estações climá ticas (seca e úmida) bem
definidas. Nesse biorna, predominam as erosões do tipo laminar, u lcos e voçorocas.
Na região Amazônica, Rondônia se des taca na produção de café, sendo a cul tura perene
mais difundida no Estado, compondo uma das prin cipais fon tes de renda de inúmera
farrúlias da zona rural. De modo geral, o cultivo de café na Amazônia é feito em pequenas
glebas, com baixo nível tecnológico e grande aproveitamento de mão-de-obra familiar, com
propriedades rurais que normalmente não passam de 10 ha. A área plantada em Rondõnia
está em tomo de 160 ha, com cerca de 90 % da espécie robus ta, sendo a cultivar conilon
utilizado em aproximadamente 95 % das fazendas (Nu nes et ai., 2003). O relevo da região é
dominantemente suave ondulado; 94 % do território apresen ta altitudes de 100 a 600 m. De
acordo com SEDAM (2002), os solos predominantes no Estado são os Latossolos C º~),sendo
26 % La tossolo Vermelho-Amarelo, 16 % Latossolo Amarelo e 16 % Latossolo Vermelho. Os
Argissolos e Neossolos ocupam 22 % do território; os Carnbissolos, 10 %; e os Gleissolos, 9 °b.
Outras classes de solos ocupam o restante da área (1 %). A implantação do café nessas regiões
se deu, na grande maioria das áreas, após a d errubada da mata e q ueima da biorna a, endo
as lavouras igualmente implantadas sem a utilização de corretivos, fertilizantes e manejo
conservacionista, resultando em rápido declínio da produtividade em relação ao pri meiros
anos d e cultivo, após a abertura da área (Schlindwein et al., 2012). esse biorna p redominam
as erosões do tipo laminar e sulcos.

SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO E l.\'I LA V O URAS


CAFEEIRAS

Como já mencionado anteriormente, os d iferentes sistemas de manejo do solo tem


grande influência na sustentabilidade dos agroecossistemas. Dessa fo rma, a e colha do
conjunto de ações a serem adotadas na implantação e condução da lavo ura é e - ·1::ncial
p ara red u zir a degradação e, consequentemente, melhorar a q u a lidade do alo em relaçã
à erosão hídrica e fertilidade do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
1012 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

Na figura 1, é possível perceber a influência do manejo conservacionista nos


atributos físicos, químicos e biológicos do solo, onde o sistema radicular apresenta melhor
desenvol imento vertical quando comparado ao manejo convencional, esse último
apresentando forte tendência à formação de camada de compactação em profundidade
em razão das operações de preparo do solo. A compactação do solo que ocorre no
manejo com encional facilita o escoamento superficial e as perdas de solo e água. Já no
manejo conservacionista, o aumento da infiltração de água no solo e a manutenção da
biomassa cultural residual na superfície reduzem o impacto direto das gotas de chuva,
promovendo menores taxas de erosão lúdrica. Adicionalmente, a ausência de biomassa
'egetal na entrelinha de plantio toma menor a atividade biológica no manejo convencional
em relação ao conservacionista; nesse sentido, a ciclagem de nutrientes também pode ser
comprometida, além de tornar o sistema dependente de adições constantes de fertilizantes,
o que é reduzido quando há manutenção de biomassa residual em superfície, garantindo o
aporte gradual de nutrientes pela decomposição da matéria orgânica.

Figura 1. Sistemas de manejo de café e suas consequências nos atributos do solo.

Manejo convencional
No manejo convencional ocorre maior compactação do solo em razão da degradação
da estrutura e redução da atividade microbiana, resultando em maiores perdas de solo
e água por erosão hídrica. Estudo desenvolvido por Carvalho et al. (2007), com lavouras
conduzidas por 15 meses, verificou a influência de diferentes sistemas de manejo do solo
cultivado com cafeeiros na erosão lúdrica, obtendo perdas de solo na ordem de 0,2899
t ha-1 para cultivo convencional, enquanto o manejo conservacionista apresentou valores
de 0,2113 t ha·1 para o mesmo período estudado.
As maiores perdas no manejo convencional ocorrem por causa das práticas agrícolas
inerentes, que alteram a estrutura do solo, provocam diminuição do tamanho e número de
poros e dificuldade de penetração das raízes. Adicionalmente, favorece o encrostamento
(da superfície do solo) pelo impacto direto das gotas de chuva. Essas crostas reduzem
substancialmente a capacidade de infiltração de água no solo, causando enxurradas e
promovendo erosão laminar e em sulcos. Essa situação é agravada em virtude das capinas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO (ULTINO DO ... 1013

realizadas nas entrelinJ,as de plantio, tornando O solo exposto e não fornecendo obstáculo
ao escoamento superficial.

Manejos conservacionistas
Os manejas conservacionistas baseiam-se em menor mobilização e maior cobertura
vegetal do solo, promovendo aumento de sua qualidade, pois há tempo uliciente para
a melhoria da estrutura do solo e formação de bioporas. Os fatores que favorecem a
preservação da fauna e da flora promovem a ciclagem de nutrientes, a partir da ação de
sistemas radiculares diversos, e propiciam um contínuo apo rte de biomassa residual na
superfície do solo.
A decomposição da vegetação aumenta o conteúdo de matéria orgânica do solo nos
manejas conservacionistas, melhorando sua estrutura, porosidade e capacidade de retenção
de água. Além disso, a fitomassa residual interceptam as gotas de chuva e dissipam sua
energia, evitando a desagregação das partículas e promovendo redução da capacidade de
transporte do sedimento erodido.
Os efeitos do manejo agroflorestal na manutenção da fertilidade do solo podem r
considerados como fatores diretos no controle da erosão hídrica, além da proteção em razão
da cobertura do solo fornecida pelas copas das árvores, da camada de serapilheira e do papel
das árvores como obstáculo ao escoamento superficial. Em diversos países produtores da
América Latina, a utlização do cultivo em sistemas agroflorestais (SAF) tem sido alternativa
para o incremento da diversidade vegetal e aumento da renda do produtor de café.
A adesão ao sistema de cultivo sombreado a.inda é discreta, mas crescente no decorrer dos
anos. Os principais fatores que influenciam essa transição são: redução de custos de produção,
aumento da renda do agricultor, melhoria da qualidade da bebida, diminuição da taxa de
decomposição da matéria orgânica, preservação do ecossistema e redução da erosão lúd.rica.
Sendo assim, do ponto de vista da conservação do solo, o cultivo sombreado é mais
adequado que aquele a pleno sol, pois as árvores fornecem sombra e criam condições
microclimáticas compatíveis com a ecofisiologia da planta de café. Além disso, a copa da
árvore protege o solo contra a erosão e proporciona aporte contínuo de material orgà.nico,
que é fundamental na manutenção da qualidade do solo em agroecossisternas tropicais ,
que dependem, em grande parte, da produção de biomassa, do aporte de fitomassa
residual e da taxa de decomposição da serrapilheira. Dessa maneira, ocorre proteção ao
solo e fornecimento de alimentos para os organismos que nele vi em, além de melhoria da
sua estrutura, retenção de água e fornecimento de nutrientes nele.
Dentro desse raciocínio, uma proposta conhecida corno mulclzing ertical vem sendo
implementada, principalmente no sul do Brasil e baseia-se na construção de sulcos
semelhantes aos terraços, que, cheios de biomassa cultural residual, tem como objeti · 0
a redução da velocidade da enxurrada e o aumento da infiltração de água no solo e da
permeabilidade, potencializando o aproveitamento das águas provenientes das chuvas.
O manejo AP Romero, utilizado predominantemente no Alto São Francisco, MG,
também apresenta proposta conservacionista, com o intuito de preservar e, ou, melhorar
as condições físico-lúdricas e químicas do solo (Serafim et al., 2011). esse manejo, a prática
conservacionista adotada é a vegetativa, sendo utilizadas gramíneas visando à cobertura
do solo nas entrelinhas do café, garantindo proteção contra o impacto direto das gota

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1014 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

de d,~va e aumento do aporte de matéria orgânica. Nas lavouras em fase de formação, o


mane10 da braquiária é feito com roçadeira h·atorizada, sendo o primeiro corte feito logo
após o pendoamento. o período chuvoso, a granúnea é cortada na altura de 5 a 10 cm
da superfície do solo, a intervalos de 35 a 45 d; no início do período de seca, a braquiária é
roçada, ' isando à redução da conconência com O cafeeiro, principaJmente por água no solo.
A adoção do cultivo de plantas na entrelinha da lavoura cafeeira de forma consorciada, sendo
posteriormente incorporadas, conserva a fertilidade do solo, atuando sobre os atributos
físicos, químicos e biológicos do solo, reduzindo também o número de capinas.
A cafeicultura orgânica também é um sistema de produção em expansão no Brasil.
Se baseia nos princípios ftmdamentais da agricultura orgânica como a não utilização de
agrotóxicos, a busca do equilíbrio solo-planta pelo manejo racional do solo e a valorização
social do trabalhador rural. As certificadoras estão estimulando o cultivo orgânico do café
em associação com espécies arbóreas, porém essa não constitui uma condição lirrtitante
para a conversão de cafezais convencionais em orgânicos.
Dos insumos utilizados na cafeicultura orgânica visando à elevação do teor de matéria
orgânica, têm-se estercos, compostos, biofertilizantes e biomassa vegetal residual, incluindo
os adubos verdes. Assim, estudos têm demonstrado que a adesão ao sistema orgânico de
produção de café promove melhorias na estrutura do solo, reduzindo as perdas desse, assim
como da água, do C-orgânico e dos nutrientes pela erosão hídrica (Carvalho et al., 2007).
Entretanto, sabe-se que para obter sucesso na sustentabilidade da atividade cafeeira,
é necessário atingir elevados índices de produtividade associados à quaJidade do produto.
Para isso, é necessário o emprego de tecnologias adequadas que incluem desde a seleção da
área para implantar a cultura, passando pela escolha da variedade e das práticas culturais,
até a colheita e pós-colheita.
Em algumas áreas do Sul de Minas Gerais, o emprego de subsolagem profunda em
Argissolos e Cambissolos, com estrutura em blocos e adensamento no horizonte B, tem
proporcionado aumento da proftmdidade efetiva, da infiltração de água e da penetração
do sistema radicular, com consequente maior resistência ao défice hídrico, menores taxas
de erosão hídrica e maiores produtividades do cafeeiro (60 sacos ha·1 no segundo ano pós-
plantio - dados não publicados).
Dessa forma, na agricultura racional, a adoção de sistemas conservacionistas de
manejo do solo é fundamental; o emprego de práticas conservacionistas, mesmo elevando
os custos de produção, não deve ser negligenciado pelos produtores, a fim de evitar os
danos causados pela erosão hídrica.

EROSÃO HÍDRICA EM SOLOS CULTIVADOS COM


CAFEEIROS

A erosão hídrica é um grave problema ambiental, econômico e social. Ela não só


promove a degradação e queda de produtividade do solo, m as também ameaça a segurança
alimentar, disponibilidade de água e saúde da sociedade em geral, influenciando o
desenvolvimento sustentável das zonas rw-ais e urbanas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO (ULTI NO D O.· · 1015

O solo suporta tanto serviços dos ecossistemas q uanto da segu rança alimentar. o
entanto, aproximadamente 15,1 % da á rea mundia l vêm sofrendo d gradação induzida
pe lo homem, em que 83,6 % resultam da erosão (La l, 2001). Um do im pactos adversos mais
graves da erosão é a perda de produtividade em razão da d iminuição da profundidad->
efetiva do solo. É difícil medir diretamente o decréscimo da prod ução por ca usa da ero<:Jo
ao longo do tempo, pois em alguns casos a erosão redu z a produti vidade de fo rma tão
lenta que se torna imperceptível em curto es paço de tempo; entretanto, com o decorrer dos
anos resulta em enormes áreas de solos degradad os e improdu tivos.
Dessa forma, a erosão torna-se um dos principa is fo tores de desgaste e decadência dc1s
áreas produtoras de café no Brasil. Em termos econô rrúcos, a erosão represen ta eminente
risco de perda de produtividade, tomando mais onerosa a cons trução d a fe rtilidade do
solo por meio de adubações, uma vez que grande parcela d os nutrientes ad icionados é
perdida junto com o sedimento ou com a água da enxurrada. Ambien talmente, a e rosão
consiste em um grave problema tanto pelo empobrecimento do solo, q ue gera redução da
cobertura vegetal e desequilíbrio do ambiente, quanto pelos riscos de conta m inação dos
corpos d'água, havendo possibilidade de inviabilizar a produção agrícola no decorrer dos
anos em razão da degradação da área.
Visto que boa parte dos cultivas de café no Brasil ocorre em regiões de relevo
acidentado, atenção com as práticas e os sistemas de produção que visem à redução das
perdas de solo e água, toma-se de grande importância para a s us tentabilidade da atividade
cafeeira. Portanto, o entendimento dos fatores que influenciam a erosão hidrica nas regiões
produtoras é ferramenta essencial para mitigar os processos erosivos.
Assim, serão apresentados a seguir os componentes da Equação Universal d e Perdas
de Solo (EUPS), com os objetivos de elucidar os agentes causadores da erosão e propor
medidas de controle. A EUPS é o modelo de erosão mais amplamente difundido em todo
o mundo e fornece informações úteis para o planejamento adequado e conservação do solo
e da água. Esse modelo caracteriza-se por estabelecer uma estimativa da perda d e solo
média anual. Os dados de entrada incluem fatores naturais (erosividade - R, erodibilidade
- K, comprimento de rampa e declividade - l.5) e fatores antrópicos (cobertura do solo - C
e práticas de manejo e conservação - P).

Erosividade da chuva em regiões cafeeiras


Entre os fatores que compõem a EUPS, a erosividade da chuva (fator R) é um dos mais
importantes, pois a precipitação é a força motriz da erosão hídrica e tem influência d ireta
sobre a desagregação das partículas do solo e o escoamento s uperficial.
Estudos avaliando a erosividade das chuvas no Brasil e idenciam que as princi pais
regiões produtoras de café estão inseridas em áreas onde o potencial erosivo é considerado
muito alto. Dessa forma, deve-se ter atenção especial nas áreas produtoras, principalmente
nos períodos que concentram as maiores precipitações. No início do período chuvo , é
recomendado que o solo esteja com cobertura vegetal suficiente para reduzir O impacto direto
d as gotas de chuva e, consequentemente, a energia cinética que produzirá a enxurrada.
A região Sul de Minas Gerais é a maior produtora de café do país. Estudo realizado por
Aquino et ai. (2014) apresenta altos índices de ~r?sividade para essa região, sobretudo para
o período de outubro a março, ~uando ª.eros1v1da~~ média estimada para esse períod o é
ma ior que 500 MJ mm ha·1 li- 1 mes·1, considerada cntica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1016 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

AvaJiando o padrões de chuva para a mesma região, Aquino et al. (2013) observaram
que a precipitação local caracterizada pelo padrão de chuva avançada, que tem o pico de
maior intensidade no início do evento.
O conhecimento do potencial erosivo da chuva, bem como sua maior ocorrência,
auxilia no planejamento de práticas como a coll1eita, quando a área de copa é reduzida
por causa das perdas de foll1as, necessitando adotar medidas que visam proteger o solo do
impacto direto das gotas de chuva.

Erodibilidade dos solos em regiões cafeeiras


A chuva, como fator externo, desempenha o papel mais importante e, como fator do
solo, a erodibilidade se destaca. O fator erodibilidade é calculado com base na textura,
matéria orgânica, estrutura e permeabilidade do solo. Erodibilidade do solo é considerada
fator essencial para avaliar a suscetibilidade dele à erosão, prever suas perdas e estimar
seus impactos ambientais.
Solos menos desenvolvidos (pouco profundos) tendem a apresentar elevados
vaJores de erodibilidade, maiores que 0,0355 t h MJ-1 mnY1, enquanto os Latossolos, solos
profundos e muito utilizados para cultivo de café, têm registrado fator K com valores de
0,0032 t h MJ-1 mrn-1 (Silva et aJ., 2009), aproximadamente 10 vezes menores.
Essa fragilidade reforça a atenção com o manejo conservacionista da lavoura nos
solos pouco profundos, uma vez que, sendo erodidos os horizontes superficiais, o processo
de recuperação é extremamente lento, inviabilizando a produção local e promovendo a
degradação ambiental.
Para a região de São Sebastião do Paraíso, MG, Bertoldo et aJ. (2003) indicaram que
os Latossolos apresentam as maiores áreas cultivadas com café da região, seguidos pelos
Argissolos e Nitossolos. A erodibilidade dos Argissolos e Nitossolos é intermediária entre
os Latossolos e Cambissolos.

Comprimento de rampa e declividade


Os fatores L (comprimento de rampa) e S (declividade) são agrupados corno "LS" e
conhecidos como fator topográfico. Eles são calculados pelo comprimento de rampa, ou
declive, e declividade, ou ângulo de inclinação. O comprimento de rampa é definido como
"a distância da origem do escoamento superficial a um dos seguintes pontos: (a) o ponto
em que o declive diminui à medida que se inicia a deposição ou (b) o ponto em que ele entra
em um canal de escoamento bem definido, que pode ser parte de uma rede de drenagem
ou de um canal construído, corno um terraço ou desvio" (Wischrneier e Smith, 1978). A
definição da metodologia e do cálculo do fator LS utilizando recursos de modelo digital de
elevação (MDE), Sistema Geográfico de Informações (SIG) e técnicas de geoprocessarnento
foi um grande avanço nos estudos de modelagem e estimativa da erosão lúdrica (Oliveira
et al., 2013). Assim, as perdas de solo aumentam com a elevação do comprimento de rampa
e da declividade, condições em que o fluxo superficial atinge altas velocidades. Isso faz
com que O fator topográfico torne-se peça-chave no controle da erosão.
Chuvas erosivas promovem elevados valores de energia cinética da enxurrada, que
atingem relevâncias ainda maiores quando a topografia da área apresenta alta declividade,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX II - M/\N EJO E CO NSE RVAÇÃO DO SO LO E DA Á G U A NO CU LTINO DO ... 1017

gerando assim o cisalhamcnto do solo e o ;:i rrastc de pa rtícu las, q u , m con junto comª
infi ltração d ificul tada de água, cm razão da elevada velocidade da enxu rrada an lo ngo J a
encos ta, intens ifica m o processo erosivo.
Dessa forma, conserva r a cobertu ra vegeta l em pe lo menos 60 ''~ da á rea e ~t!li.1-ar 0
terracea mento agrícola para redu zir O fato r co mprím nto de ra mpa Seio essenc1a1s para
manter a s ustentabilidade da ati vidade cafeeira em áreas decli vosas.
Po rtanto, técnicas de terraceamento, que eccionem o comprimento do dec live,
v isando interrom per o fl uxo do escoamento superfi cia l e promover a in filtração de cÍgua
no perfil do solo, são bastante eficazes na red ução das perdas de solo, gua, e -o rgâ nico,
nutrientes e na manutenção da sustentabilidade da a ti vidade ca feeira em á reas decli vosa ·.

Cobertura vegetal
O fa tor cobertura vegetal pode ser com preendid o como a relação entre as perda d
solo em uma á rea cultivada e as perd as em uma á rea sem cobertu ra vegeta!, variand o no
d ecorrer das estações do ano por causa d as oscilações climá ticas e seus efeitos sobre ,1
vegetação.
Várias são as maneiras que a cobertura vege ta l pode cola bora r para redu zir as perda
de solo, água, e-orgânico e nutrientes por erosão, como: redução d o volume de água q ue
chega a o solo, por meio da interceptação; a lteração da dis tribu ição do tamanho da gota
d e chuva e consequente perda da energia cinética da chu va; di minuição do escoamento
superficial; favorecimento da infiltração da água no solo; e melhoria no balanço hídrico.
A eficiência do cafeeiro como cobertura vegetal e proteção contra as perda de so lo e
água va ria de acordo com a espécie, a idade da planta e o ma nejo ado tado. Estudo rea lizado
por Prochnow et ai. (2005), envolvendo perdas de solo e água em Coffea arnbica L. no Estado
d e São Paulo, evidenciou que o espaça mento entre plantas e idade d a cu ltura infl uenciam
na erosão. Os resultados indicam que o espaçamento não influencia na perd as d e olo,
m as promove maior perda de água nos primeiros 60 mese de cul tivo em razão do maior
espaço na linha e na entrelinha de plan tio e, consequentemente, maio r tem po pa ra as
plantas recobrirem o solo.
A m aior velocidade do crescimento vegetal é proporciona l à eficiência da planta
em m a nter o solo coberto d uran te o ciclo produtivo; nesse sentido, os autores ci tados
a pontaram o período crítico para perdas de solo e água correspo ndente ao p rimei ros 60
meses de cultivo, em que a redução das perdas de solo eq u ivale u a 7 %, com parada com
uma situação de solo descoberto. A eficiência do café como cobertura do solo foi m.1is
exp ress iva entre os cinco e 12 anos de crescimento da planta, havendo d iminu ição d e 99 °"0
das perdas de solo no sistema.
No quadro 1, evidenciam-se estudos de perdas de olo po r ero ão hídrica em a lguns
cu ltivas de café no Brasil. De modo ger al, observa-se que os prime iro ano sã os mais
críticos quanto à suscetibilidade do solo aos processos erosivos. O estabelecimento :la
cultura após o terceiro ano garante melhor área de copa e, de e modo, maio r recobrimento
d o solo, tom ando a interceptação da água da chuva pelas plan tas de café mais efiôente.
Sã o apresentadas, no q uadro 2, as perd as totais de solo e á gua para os diversos manejos
d a cultu ra do cafeeiro pós-plantio e solo descoberto (Carvalho et al., 2007). 0 , manejas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


1018 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

adensados da cultura cafeeira, onde foi mantida a cobertura da vegetação espontânea


(roçado), obte e-se maior eficiência da proteção do solo em relação às perdas de solo e
água, em comparação aos sistemas onde houve exposição do solo (capina). No manejo
onde foi usado herbicida ocorreu um comportamento intermediário.

Quadro 1. Perda de solo e água em algumas áreas de cafeeiro de acordo com a idade em diferentes
conclições de manejo e locais no Brasil
Condição Local/Idade
Londrina, PR(ll
0-26 meses 27-38 meses 39-44 meses 51-62 meses
1
- - - - - -- -- - Solo (t ha· ) - - - - -- - - - -
Solo descoberto 238,50 98,25 102,26 118,27
Cafeeiro 185,30 76,36 44,59 33,93

Londrina, PR(ll
0-12 meses 13-24 meses 24-36 meses
Solo Água Solo Água Solo
tha·1 % t ha·1 % t ha·1
Solo descoberto 105,50 18,50 115,00 15,10 109,30
Cafeeiro 83,00 13,30 93,30 13,60 76,00

Pindorama, SPC2l
0-60 meses 60-120 meses
Solo Água Solo Água
t ha·1 % t ha·1 %
Café- práticas edáficas 0,60 1,30 0,01 1,20
Café - práticas vegetativas 1,15 1,70 0,06 1,10
Café - práticas mecânicas 1,10 1,70 0,06 1,00

Pindorama, SPf.l>
0-60 meses 60-144 meses
- - -- - ---Solo (t ha·1) --------

Café (espaçamento 3x0,5m) 11,83 0,03


Café (espaçamento 4x2m) 8,74 0,05
Solo descoberto 43,84 35,17
Fonte: (llRufino et ai. (1985), C2ll..ombardi Neto et ai. (1976) e (JJProchnow et ai. (2005).

Quadro 2. Perdas de solo e água para os diversos manejas da cultura do cafeeiro pós-plantio e solo
descoberto
Tratamentoslll

Perdas coe COR CCH CCR CCC 5D

Solo (t J,a·1 período·') 0,2113 0,1905 0,2050 0,1098 0,2899 67,2434


Água (mm período-') 29,260 11 ,226 15,202 14,477 18,317 298,680
''ICOC café sob cultivo orgânico com capina ma nual; COR: café sob cul tivo orgânico roçado; CCH : café sob cultivo convencional
com u tilização d e herbicida; CCR: café sob cul\jvo convencional roçado; CCC: café sob cultivo convencional com capina manual;
SD: parcela sob solo descoberto. Período d e estudo entre abril de 2003 e março d e 2004 (Carvalho e t a i., 2007).
Fonte: Carvalho et aJ. (2007).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO Cu TfNO DO.·· 1019

A evolução da coberturn do solo pela pla nta de ca fé no d co rre r do ciclo da pi nta


es tá ilush·ada na figura 2, onde é possív ] perceber o a um en to s ignifica ti vo da cob rtur.:i
do solo, prLncipalmente no séti mo ano. A maturidade da cultura favor e prol ção d o
solo não somente pelo desenvolvimento da copa, mas també m pela g radativa depos ição de
biomassa vegeta l residual oriund a do processo de des nvol v imento da planta da colheita
dos grãos. A serapilheira protege o solo contra a ação dire ta da s go ta d c hu va e favo rece
a agregação das partículas.

l º ANO Jº ANO 5° ANO

Figura 2. Cobertura do solo em diferentes fases de desenvolvimen to da cultu ra do café.

No quadro 3, são apresentados valores do fator C envolvendo diferentes fases de


desenvolvimento do café. Observa-se que os va lores variam de acordo com o crescimento
e as práticas culturais aplicadas, influenciando diretamente a cobertura vegetal do olo
(Rufino et ai., 1985).

Quadro 3. Fator C para o cafeeiro em diferentes fases de desenvolvimento

Fase Idade Manejo e conservação (Fator C)


Mês Índice

Plantio 1° ano O- 12° 0,6909


Plantio 2° ano 13° - 26° o,s.n
t • Fase
Arruação 27° - 32º 0,1157
Esparram ação 33º - 38º 0,95-L
2• Fase
Arruação 39° - -14° 0,07 O
Esparra mação -15° - 50° 0,3 _1
3• Fase
Arruação 51° - 56° 0,1235
Esparramação 57° - 62° 0,228
Lndice médio da cultura l), - '
Fonte: Rufino et .:ti. (1985).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1020 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL .

. Estudo~ <lesem oi idos por Pereira et al. (2014) sobre o crescimento de cafeeiro do
cultn ar Rubi no ui de Minas Gerai demonstraram que a idade da cultura, o adensamento
e O u~o de in-igação influem na altura da planta e no número de ramos plagiotrópicos, onde
o maior adensamento combinado ao uso de irrigação favoreceu o crescimento da planta,
destacando o sistema irrigado como promotor de crescimento precoce.
la mesma região e u sando a mesma cultivar, Rezende et al. (2014) observaram
varia~ão no índice de área foliar (lAF), que tende a ser maior na presença de irrigação e em
planhos .adensados. Os autores apontaram ainda significativa redução do lAF no período
de colheita. Nessa fase também é importante a adoção de práticas conservacionistas, corno
~ manutenção de biomassa cultural residual na área para proteger as partículas do solo do
impacto desagregante da água da chuva.
Não é difícil perceber que plantas jovens, com menor área de copa, quando em
espaçamentos maiores, tendem a levar mais tempo para recobrir o solo, sobretudo
quando o processo de incremento orgânico à serapill1eira é tardio. As perdas de solo por
erosão nas plantações de café podem ser consideráveis em sistemas de manejo que não
têm sombreamento adequado ou que possuem baixa densidade de plantio, com pouca
cobertura morta formada pela serapilheira. Nessa perspectiva, os plantios sombreados são
altemati\ as interessantes para proteção do solo e incremento de matéria orgânica, com
consequente ganho nutricional para a cultura.
O cultivo sombreado em sistemas agroflorestais (SAF) é praticado em países como
Colombia, Venezuela, Panamá e México, na busca por aumento de diversidade vegetal
e de renda para os produtores. Em contrapartida, os cafeicultores brasileiros tendem a
preferir o cultivo a pleno sol em razão do receio da perda de produtividade, exigência de
maior mão de obra e dificuldade de mecanização nos plantios sombreados. Desse modo,
estima-se que aproximadamente 90 % dos cultivas de café no Brasil sejam conduzidos a
pleno sol (Ricci et al., 2006).
Pesquisa desenvolvida na Venezuela por Ataroff e Monasterio (1997), incluindo
cultivo de Coffen arabica a pleno sol e cultivo sombreado, apresentou que as perdas de
material da fração mineral fina são mais críticas quando o café é cultivado a pleno sol,
ocorrendo o dobro de perdas nesse cultivo quando comparado ao sombreado. Os autores
mencionaram ainda que 98 % da camada superficial do solo avaliado incluem material
dessa fração granulométrica, destacando assim o cuidado que é necessário ter para evitar
as perdas de solo em superfície. Também, segundo os autores, pode implicar, no cultivo
a pleno sol, quando comparado ao sombreado, na frequência de reforma do plantio, que
chegou a ser mais que o dobro no café a pleno sol, isso porque o plantio é reformado
quando as plantas estão vellias, estádio esse alcançado aos seis anos no cultivo a pleno sol
e até aos 30 anos no cultivo sombreado.
Ainda favorecendo os processos erosivos, o cultivo a pleno sol provoca maior
evapotranspiração, acarretando em maior demanda hídrica quando comparado ao sombreado,
tomando O solo mais seco e mais suscetível ao deslocamento de massa em superfície.
Em contrapartida, pesquisas têm apresentado que o sombreamento inibe o crescimento
de espécies espontâneas, como as gramíneas, que são sabidamente capazes de recobrir o
solo, protegendo-o contra a erosão. O oposto é verificado em condições de cultivo a pleno
sol, em que a incidência da radiação solar favorece o crescimento de espécies espontâneas,
res ultando em maior aporte de matéria orgânica ao solo (Salgado et al., 2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MANEJO E CON SERVA ÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO (ULTINO DO ... 1021

A preferência brasi leira para os culti vos a pleno sol decorre tJmb 'm da fa l ª. de
estudos sobre a produtividade dos cu ltivas sombreados. Para Ricci e t ai. (2006) , muitos
dos estud os qu e apontam perd a de produti vidade no culti vo de café c;ombread~ fora m
observados em áreas de sombreamento muito denso. O planejamento c1propnado da
densidade de sombreamento e do espaça mento adequado das plantas certamente r~ ultaria
em produtivid ade maior. Os autores observa ram que o sombreamento reduz a taxa d
crescimento das plantas somente nos 15 primeiros meses, além de diminuir o número dt;>
grãos; entreta nto, aumenta O peso desses de modo a alcança r produtividade eme lhante ao
cultivo a pleno sol.
A escolha das práticas de manejo a serem empregadas na cultura do ca fé visando
reduzir as perdas de solo e água por erosão hídrica é de grande importância para assegurar
a produtividade do plantio e evitar as perdas de nutrientes, resultando em economia na
adubação. A adoção de revolvimento ou não do solo na área até a execução de práticas
s imples, como a forma de controle de plantas daninhas, resul tam em maior ou menor
proteção contra a erosão.
Es tudos desenvolvidos por Carva lho et ai. (2007), envolvendo o controle de planta
infestantes em café, constataram que, em cultivo convencional, o controle por meio
de roçado (CCR) promoveu perda anual de solo de 0,1098 t ha·1 mes·1 contra perda
equivalentes a 0,2899 t ha·1 mês·1 para a capina manual (CCq e 0,2050 t ha·1 mês•1 para
o sistema empregando herbicidas, como evidenciam-se no quadro 2. Assim, esse último
sistema apresentou perdas intermediárias de solo, enquanto a prática do roçado parece
ser a mais conservadora; e a capina manual é a que mais favoreceu as perdas de solo. O
autores explicaram que após o roçado a palhada se distribui de modo mais homogêneo
na superfície do solo, além do fato de que as plantas daninhas residuais que permanecem
vivas se recompõem gradativamente após o corte, propiciando maior proteção contra o
impacto direto das gotas de chuva e favorecendo a infiltração de água no solo.
Mesmo conhecendo-se os efeitos devas tadores da erosão hídrica sobre as culturas,
a sustentabilidade do solo e a segurança produtiva dos plantios, o estudo envol endo
erosão hídrica em cultivas de café ainda são incipientes no Brasil, sobretudo no que diz
respeito ao efeito da adoção de práticas conservacion.istas na redução das per das de solo e
água causadas pela erosão.

Práticas conservacionistas
As perdas de solo, água, C-orgânico e nutrientes representam ri co de esgotamento
do solo e geram custos adicionais na manutenção das culturas. A ad ção de práticas
conservacionistas implica não somente no uso sustentável do solo, mas também n
aumento da produtividade das culturas e, em alguns casos, na red ução de custo com
correção e adubação do solo por causa do aporte de nutriente de modo natural ou como
consequência de redução dos processos erosivos.
As prá ticas conservacionistas podem ser classificadas em: (a) edáficas, quando se
recorre a práticas que alteram o manejo do solo, fa o recendo a cons truçã Ja fertilid 1de do
solo e reduzindo a erosão. São consideradas práticas edáficas o controle de queimadas, a
adubação, a calagem, a gessagem, : ntre outras; (b) vege ta ti a , m que a vegetação é us.ida
para proteger o solo conb·a a erosao, como o refl orestamen to, o ultivo em fui.xa •, cord - es
de vegetação, entre outras; e (c) mecânicas, que visam reduzir a energia cinetica d á rua da

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1022 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

chuva e awi-tentar a infilh·ação de água 110 solo. Englobam construções e movimentações de


solo, p_o dendo-se citar, como exemplos, 0 plantio em nível, os camal hões, o terracearnento,
as baCias de captação de água, os canais escoadouros e os canais divergentes (Lombardi
eto et ai., 1976, 1993; Pruski et ai., 2006; Pruski, 2009; Bertoni e Lombardi Neto, 2014).
A seguir, serão abordadas algw11as das práticas conservacionistas mais empregadas nos
sistemas de cultivo do cafeeiJ:o no Brasil.

Cultivo de café adensado


Uma das práticas conservacionistas que vem ganhando destaque na cafeicultura
brasileira é o plantio adensado, que oferece proteção ao solo e evita as perdas dele, bem
como da água, do C-orgânico e dos nutrientes. Segundo Guarçoni (2011), a maior densidade
de plantio em cafeeiros representa possibilidade de maior produtividade da cultura, sendo
até o dobro quando comparada com cultivas menos adensados.
Para Pavan et al. (1994), o adensamento do café apresenta como função a melhoria
na capacidade da planta em explorar luz, água e nutrientes disponíveis, contribuindo
assim para o incremento produtivo, sobretudo pelo ganho em densidade de raízes por
área, favorecendo a recuperação nutricional, principalmente no tocante aos nutrientes de
maior mobilidade no solo. Esses autores atentaram para a necessidade de realizar podas
após o pico máximo de produção da cultura, prática que favorece o retorno para o ciclo de
produção.Avaliando o efeito da densidade de plantio do café Conilon para a fertilidade do
solo, na ausência e presença de adubação, Guarçoni (2011) constatou que, quando é realizada
a adubação anual com NPK, observam-se acréscimos gradativos para os teores de P e K
disponíveis, além de elevação da CTC a pH 7,0 na superfície do solo. Em profundidade,
esse incremento foi verificado também para a CTC efetiva e acidez potencial. Na ausência
de adubação, avaliando apenas o efeito do ad.ensarnento, foi observado acréscimo da CTC
a pH 7,0; entretanto, não houve efeito nos demais atributos relacionados à fertilidade do
solo. Desse modo, os autores afirmaram ser insuficiente o adensamento do plantio de café
para recuperar solos degradados, demandando adubações externas.
Avaliando o efeito do espaçamento na produtividade do café cultivado na Zona da
Mata, MG, Humberto et al. (2006) observaram incremento de 85,3 % quando se reduziu o
espaçamento de 1,5 para 1,0 m em dois dos cultivares avaliados. Foi verificada ainda boa
adaptação dos cultivares testados ao plantio adensado, resultando em incremento linear
da produtividade.
Quando se observa a produtividade em cultivas adensados e não adensados, há
diferença entre a primeira e a segunda colheita. Ainda de acordo com o estudo desenvolvido
por Humberto et al. (2006), foi observado que na segunda colheita a produtividade foi
muito superior à primeira. Em contrapartida, Carvalho et al. (2001) constataram maior
ganho em produtividade na primeira co~e_ita, ao se comparar cultivo adensado e não
adensado. Essas oscilações entre produtividades podem ser resultantes do aumento
gradativo do sombreamento com o passar dos anos nos plantios adensados. No estudo onde
a produtividade na primeira colheita foi inferior à segunda, n ão foi constatada competição
entre plantas, 0 que explica a ausência de perda produtiva em colheitas consecutivas.
De acordo com Carmo et ai. (2011), o adensamento confere maior cobertura vegetal
tanto pelo presença das árvores quanto pela_depo~i~ão de folhas caídas sobre o solo,
oferecendo assin1 maior proteção contra a erosao. Ad1c1onalmente, ocorre ainda a redução

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MANEJO E CON SERVAÇÃO DO S O LO E DA Á G UA NO C U LT l O DO. ·· 1023

da lixiviação de nutrientes, bem como de sua volatili zação, e c.1 otimizc.1çJo dn uso da á Uil
por fa vorecer a infiltração e reduzir a eva poração, a lém de tornar mais eficiente a ciclage rn
d e nutrientes.
A prática de cultivo adensado em ca feeiros tem se evidenciado como interes ante
alternativa para a proteção do solo e redu ção da erosão, assegurando ma io r aproveitc1mento
das adubações, manutenção da água no sistema, ganho em nutrientes por causa do aument_o
da biodi versidade e consequente es tímulo das atividades biológicas do solo, essenetc.11,
para os ciclos biogeoquímicos.

Uso de plantas de cobertura


O solo descoberto nas entrelinhas dos cafezais são po ntos de fraqueza no q ue diz
respeito às perdas de solo e água por erosão, principalmente na fase in icial da cultura,
quando as copas ainda não alcançaram tamanho e vo lume suficientes para promover
proteção de maneira eficaz.
O uso de plantas de cobertura nas entrelinhas de plantio é u ma medida adotada em
cultivas de café para proteger o solo do impacto direto das gotas de chu va, au mentilndo a
rugosidade, favorecendo a infiltração de água e diminuindo s uas perdas, como também de
solo, C-orgânico e nutrientes nos pontos mais suscetíveis à erosão.
Como exemplo, o emprego de leguminosas cultivadas nas entrelinhas vem sendo
adotado por diversos produtores, tanto pelo maior aporte de que a legumino a
oferecem quanto pela inibição do crescimento de espécies daninhas na á rea, reduzindo
assim o número e a frequência das capinas. Além das leguminosas, é comum ta m bém o uso
de gramíneas como cobertura vegetal nas entrelinhas de plantio, que não somente protege
o solo contra o impacto direto da gota de chuva como também favo rece a estruturação do
solo e a atividade biológica em razão do seu denso sistema radicular.
Usando capim-meloso (Melinis 111in11tiflora P. de Beauv.) como cobertura vegetal na
entrelinha, na região Serrana do Espírito Santo, Rocha et ai. (2000) ob ervaram significativa
redução nas perdas de solo, proporcionalmente ao aumento no número d e faixas de capim
na lavoura de café. Um ano após a implementação dessas faixa s já fo i pos í el observar
controle dos processos erosivos, sobretudo na taxa de uma faixa de ca pim pa ra uma o u
duas linhas de café. Avaliando um período de nove anos, os res ultado demonstraram
que a presença de faixas, em média, possibilitou redução de 97,73 % d as pe rda d e solo,
quando comparadas à ausência dessas faixas, evidenciando assim a efici ência de a prática
no controle da erosão.
A exigência por menor mão de obra para realizar a capina é ma is uma vantagem de a
prática; entretanto, é necessário atentar para que não haja competição po r nu triente - ou
favorecimento de ambiente suscetível ao desenvolvimento e proliferação de patóo-enos,
0
garantindo assim a produtividade do cafezal.

Calagem e gessagem
A calagem ne~te capítulo é co~1siderada _uma prática con ervacionis ta por promover
o ma ior desenvolvimento do cafeeiro, a partir da correção da acidez, contri bu indo as.sim
para o maior recobrimento do solo pela vegetação. Para o cafeeiro, a calagem é gera lmen te

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1024 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL .

impre cindível, uma vez que a acidez do solo inibe atividades biológicas como a fixação de
2 por bactérias e compromete a disponibilidade de alguns macro e m.icronutrientes para
as plantas.
. A adição de ges o ao solo não altera O pH, desse modo não há efeito da gessagem sobre a
acidez do solo. Enb·etanto, essa prática aumenta a clisponibilidade de Ca e Sem profundidade
e melhora as condições físicas do solo como porosidade e estabilidade de agregados.
Estudos desenvolvidos por Silva et ai. (2013) afirmaram que a gessagem promove maior
crescimento das raízes do cafeeiro em profundidade, aw11entando assim a área de exploração
radicular e o aproveitamento dos nutrientes no solo, além de promover a floculação da argila
e melhorar a estabilidade de agregados em profw1didade. Adicionalmente, foi verificada
elevação do estoque de C até a profw1clidade de 15 cm quando o solo foi tratado com
fosfogesso. Carducci et al. (2015) obtiveram resultados semelhantes, onde a aplicação de
gesso proporcionou melhor distribuição espacial do sistema radicular, com características
homogêneas no perfil do solo, principalmente no sentido vertical.

Adubação
Sejam adubações verde, orgaruca ou mineral, todas induzem a modificações na
condução do cafezal, alterando a fertilidade do solo e de atributos covariantes, sendo aqui
considerada urna prática conservacionista de caráter edáfico.
O uso do solo corno substrato para produção agrícola demanda nutrientes
indispensáveis para o desenvolvimento das plantas. Em sistemas nativos, as plantas
devolvem ao solo os nutrientes absorvidos por meio dos ciclos biológicos. Nos sistemas de
produção comercial, a exportação de nutrientes por meio das colheitas força o esgotamento
da fertilidade do solo quando adubações corretivas e de manutenção não são realizadas.
Nesse cenário, não é incomum o abandono de áreas com pouca ou nenhuma cobertura
vegetal e sob intensa ação de agentes erosivos.
o Cerrado brasileiro, encontram-se áreas com significativa produtividade no setor
cafeeiro, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Entretanto, os solos dessa
região já foram considerados marginais para a agricultura por causa da sua baixíssima
fertilidade natural. A construção da fertilidade desses solos, sem dúvida, é uma prática
conservacionista e ajuda a explicar as elevadas produtividades dos cafezais, quando
devidamente manejados.

Terraceamento
A construção de terraços consiste em urna prática conservacionista de caráter
mecânico e é de grande eficiência para o controle de perdas de solo, água, C-orgânico e
nutrientes (Pruski, 2006; Pruski et al., 2009). Por causa da diminuição do comprimento de
rampa, os terraços favorecem a infiltração de água no solo, quando alocados em nível, ou
promovem a drenagem controlada da água, quando em gradiente (Bertoni e Lombardi
eto, 2014). O terraceamento em nível é recomendado para solos mais homogêneos em
profundidade como os Latossolos e os Neossolos Quartzarênicos. Já o terraceamento em
gradiente é recomendado para solos mais heterogêneos em profundidade e com média à
baixa infiltraçã o de água, podendo ser com gradiente progressivo ou cons_tante para os

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA Á G UA NO (ULTINO DO ... 1025

Argisso los e Cambissolos, respectiva mente (Lombardi Neto et ili., l 976, 1993; Prus ki et ui.,
2006; Pru ski, 2009; Bertoni e Lombardi Neto, 2014).
Ainda é muito comum no Bras il O culti vo de café em terrenos decl ivosos, gert1lme te
com solos pouco profundos, 0 que agravam 0 5 procec:; sos de d egra dação do solo pela
erosão hídrica. O emprego de terraços para esses casos constitui a lternativa para amenizar
as perdas de solo e água e evitar a fo rmação de sulcos e voçorocas na área, sobretudo
quando al iado a outras práticas conservacio nis tas; nesses casos, os terraços devem r de
base es trei ta.
No café cultivado em áreas montanhosas, é comum utilizar o chamad o terraço tipo
patamar. Esse tipo de terraço é constituído de uma plataforma onde é p lantado o café e de
um talude que deve ser estabilizado com revestimento com gramíneas e, ou, legumi no _as
ou outro tipo de vegetação. A plataforma deve ser limitada por pequeno cordão de terra na
s uperfície e ter pequena inclinação para o interior, a fim de evitar o escorrimen to da água
de um terraço para outro imediatamente inferior, o q ue pod eria levar a erosão no ta lud ,
pondo em risco todo o terraceamento. Normalmente, o terraço tipo patamar é con truido
com trator de esteira com lâmina, mas em alguns casos pode ser feito com implementos de
tração animal e até mesmo manualmente. Esse tipo de terraço, considerando seu alto cu to
de construção, só é viável economicamente em áreas valori zadas para produção de alto
rendimento (Lombardi Neto et al., 1993). Na construção do terraço em patamM, deve- e
tomar cuidado em relação à exposição do horizonte Cem razão de ess a presentar grande
fragilidade em relação à erosão hídrica.
Na grande maioria dos casos, o horizonte C, geralmente de cor rósea, apresenta
estrutura fraca em blocos subangulares, porém quando o solo está úmido o u molhado e a
estrutura praticamente desaparece. Poucas chuvas são s u ficientes para produzir ulcos de
erosão nessas condições, que podem evo luir facilmente para voçorocas. Ass im, quanto
mais próximo o horizonte C estiver da superfície do solo, mais instável é o ambiente desse
no tocante à erosão hídrica (Resende et ai., 2014)
Apesar dos benefícios trazidos pelo terraceamento nas culturas, não é raro ob ervar
o abandono dessas construções por parte dos produtores em razão da falsa ideia das
complicações na mecanização das áreas terraceadas, onde a entrada de máquinas para
colheita ou preparo do solo seria dificultada pela presença do terraço. De se modo, o
dimensionamento do terraço deve ser muito bem planejado, tanto para as egurar seu
adequado funcionamento, sem que haja rompimento da cons trução, q uanto para ev itar
dificuldades de manejo da área cultivada, estimulando o produtor no tocante manutenção
da estrutura construída.

Uso da irrigação na lavoura cafeeira e conservação do solo e da água


Na busca por maior produtividade e melhor qualidade do produto final, a prática
d e irrigação nos cultivas de café tem sido bastante adotada, a té me mo em regiõe~ onde 0
d éfice hidrico não é acentuado.
Em termos de conservação do solo e da água, é necessário conside ra r doi aspecto : 0
estímulo gerado pela irrigação para o maior desenvol imento das p lantas tende a tom;:ir ,1
cultura mais eficiente na proteção do solo contra a erosão; e o e. ces ivo dimensionamento
do s istema de irrigação pode agravar os processos erosi os.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1026 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

O encrostamento é um problema que também pode ser intensificado pela irrigação,


em ra z~~ da modificações na organização das partículas do solo. A formação de crostas na
uperf1c1e do solo, ainda que muito pouco espessas, torna mínima a rugosidade superficial,
reduzindo assim a infilh·ação da água no solo e, consequentemente, contribuindo para
formação de enxurradas e aumento da sua energia cinética. Souza et al. (2007) afirmaram
que o encrostamento pode reduzir em até três vezes a condutividade hidráulica saturada
do solo, com consequente diminuição na infiltração da água da chuva e da irrigação,
~avorecendo o escoamento superficial e colaborando para a formação de enxurrada. O
mcremento em espessura da lâmina escoada leva à dedução da condutividade hidráulica
saturada e da infiltração da água no solo, resultando em incremento das perdas de solo
(Brandão et al., 2007) e de água, C-orgânico e nutrientes no sedimento de erosão.
A manutenção da matéria orgânica na superfície do solo, bem como a permanência
de plantas de cobertura, diminui o encrostam.ente, promove a agregação do solo e reduz a
velocidade da enxurrada, deduzindo consideravelmente as perdas de solo e água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A degradação do solo pela erosão ameaça a sanidade do meio ambiente, interfere


no equilfbrio natural e representa risco de prejuízos econômicos para as áreas cultivadas
com café. Desse modo, a adoção de sistemas de manejo do solo, que aliem conservação
com produção, é essencial para a sustentabilidade nas regiões produtoras de café no
Brasil, promovendo redução do impacto ambiental da atividade agrícola e assegurando
a produtividade da cultura ao longo do tempo, além de agregar valor ao produto por
meio da certificação, que é viabilizada com a adoção de práticas que visem à conservação
ambiental.
Entretanto, ainda são relativamente poucos os estudos avaliando os diferentes
sistemas de manejo do cafeeiro e a conservação do solo, bem como o impacto econômico
da erosão hídrica nos sistemas produtivos relacionados. A condução dessas pesquisas é de
grande importância para o planejamento das práticas conservacionistas a serem adotadas
e repassadas aos extensionistas e produtores. Dentro desse contexto, cuidado especial deve
ser direcionado às perdas de água por erosão, atualmente mais impactantes que as de solo
nas regiões com período seco pronunciado e com baixo volume precipitado e distribuição
concentrada de chuvas.
Finalmente, a irlstabilidade do sistema solo, indicada pela proximidade do horizonte
C, normalmente de coloração rósea, à superfície do solo, merece cuidados especiais e
adicionais no planejamento adequado das práticas de conservação do solo e principalmente
da água em lavouras cafeeiras.

LITERATURA CITADA

Aquino Rf, Silva MLN, Fre_itas DAF, C~ri N,_Avanzi JC. Soil lasses fr~m Typic Cambisols and Red
Latosol v.rithin three d1fferent eros1ve ramfalJ patterns. Rev Bras C1enc Solo. 2013;37:213-20.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXII - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA NO (ULTI I O DO.· · 1027

Aquino RF, Sil va MLN, Freitas DAÍ', Curi N, Mello CR, Avan7 i JC. Eroc; ividad e das chu vJ., e tem pu
de recorrência para Lavras, Minils Gerais. R Ceres. 20H;61:9-16.
Ataroff M, Monas terio M. Soil erosion under diffcrcnt management of coffee pla n tc1 tions in the
Venezuela n Andes. Soil Technol. 1997;1"1:95-108.
Bertoldo MA, Vieira TGC, Alves HMR, Oliveirn MLR, Marques HS. Ciracterizaç,io da cult ura
cafeeira em relação as classes de solos e dec li vidad e utili zando técnicas de geoprocessam ento na
região de São Sebastião do Paraíso-MG. fn : AnJis do J l º. Sim pós io Bra ileiro de Sens oriamen to
Remoto - SBSR; 2003; Belo Horizon te. Belo Horizonte: INP E; 2003. p.33- •
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. 9".ed. São Pa ulo: Íco ne; 2014.
Brandão VS, SiJva DD, Ruiz HA, Prusk.i FF, Schaefer CEGR, Martinez MA. Silva EO. Perdas de nlo
e caracterização física e micromorfológica de crostas fo rmadas em aios sob chuva imu lada.
Eng Agric. 2007;27:129-38.
Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecim en to. Info rme es tatís tico d o café. Ano 15.
Brasília: 2014.
Carducci CE, Oliveira GC, Curi N, Heck RJ, Rossoni DF, Carvillho TS, Costa AL. G ypsum effec o n
thc spatial dis tribution of coffee roots and the pores system in oxidic Brazilian L1tosol. So1 I Till
Res. 2015;145:171-80.
Carmo DL, Nannetti DC, Dias Júnior MS, Espírito Santo DJ, Nilnne tti AN, Lacerda TM. Pro priedades
físicas de um latossolo Vermelho-Amarelo cu ltivado com cafeeiro e m três s istemas d e manejo
no sul de Minas Gerais. Rev Bras Cienc Solo. 2011;35:991-8.
Carvalho GS, Oliveira CA, Melo Filho JF, Souza LH, Moreira MA. Estudo d o adensamento de
plantio do ca feeiro (Coffea arabica L.) no planalto de Conquista - BA. ln; Anais do "Z'. Simpó io
d e Pesquisa dos Cafés do Brasil; 2001 ; Vitória. Bras ília, DF: Em brnpa Café; 2001 . p.1795- 00.
Carvalho R, Silva MLN, Avanzi JC, Curi N, Souza FS. Erosão hídrica em Latossolo Verme lho c;ob
diversos sistemas de manejo do cafeeiro no Sul de Mi nas Gera is. Ci Agrotec. 2007;31 :1679- 7.
Clay J. Coffee. ln: Clay J, editor. World agriculture and the environment. Washington: Island Press;
2004. p.69-91.
Guarçoni A. Características da fertilidade do solo influenciadas pelo plantio adensado de caíé
coniJon. Sernina: Cí Agr. 2011;32:949-58.
Humberto SA, Martinez HEP, Nélson FS, Cosme DC, Ad rie ne W P. Produtividade de cul tivares de
café (Coffea arabica 1.) sob espaçamentos adensados. R Ceres. 2006;53:539-47.
Jha S, Bacon CM, Philpott SM, Rice RA, Méndez VE, Laderach P. A review of eco y tem ervices,
farmer livelihoods, and va lue chains in shade coffee agroecosy tem . ln: Campbell BW, Lopez-
Ortiz S, editors. Integratíng agriculture, conservation, a nd ecotouris m: examples from the fíeld .
New York: Springer Academic Publishers; 2011 . p.1-11-208.
La! R. Sai! degradation by erosion. Land Degrad Develop. 2001 ;12:519-39.
Lombardi Neto F, Bellinazzi Júnior R, Lepsch l, Oliveira JB, Bertolini D, Galeti p , Drugo\ 1 ·h :\íl.
Terracea mento agrícola. ln: Bertolini D, Lombardi e to F, Lepsch I, Oliveira JB, Drugowich :\ti,
Andrade NO, Galeti P~, Bellinazzi J~n_ior R, Dechen SCF, editores. Tecnologias dispo nívetS
para controlar o escornmento superf1C1al do solo. Campinas: CATl; 1993. p.11--- - . , lilnual
técnico, 41)
Lombardi Neto F, Bertoni J, Benatti Júnio_r R. Práticas con ervacio nistas ~m cafezal e as perd.15 por
erosão em Latossolo Roxo. ln: Anílls do 15º. Congresso Bra ileiro de Ciencia do lo; 1973;
Campinas. Campinas: Sociedade Brasileira de Cienc ia do Solo; 1976. p. 5 1-3.
N unes AML, Souza FF, Costa JNM, Santos JCF, Pequeno PLL, Costa RSC, enezian \, . Cultivo
do café robusta em Rondônia. Rondônia: Embrapa Rondônia; _oo . [Ace- -0 em: 20 no .
2014]. Disponível em: http://sis temasdcprod uc.10.cnptia .e mbrapa.br/ Fontesl-ITML/ C.ife/
C ultivodoCafeRobustaRO/ index. htm.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1028 MARX LEANDRO NAVES SILVA ET AL.

Oliveira AH, ilva MA, Silva MLN, Curi N, Klinke Neto G, f-reitas DAf-. Development of topographic
factor modcling for application in oil erosion models. ln: Sariano MCl-1. Processes and current
trend in quality assessment, Croatia: lnTech; 2013. p.111-38.
Pavan 1-A, Chaves ]CD, Androcioli Filho A. Produção de café em função d a densidade de plantio,
adubação e tratamento fitossanitário. Tmrialba. 1994;44:227-31.
Pereira AA, foraes AR, Scalco MS, Fernandes TJ . Descrição do crescimento vegetativo do cafeeiro
cultivar Rubi MG 1J 92, utilizando modelos de regressão. Coffee Sei. 2014;9:266-74.
Prochnow D, Dechen SCF, Maria lC, Castro OM, Vieira SR. Razão de perdas de terra e fator C da
cultura do cafeeiro em cinco espaçamentos, em Pindorama (SP). Rev Bras Cienc Solo. 2005;29:91-8.
Pruski FF, Silva DO, Teixeira AF, Cecília RA, Silva ]MA, Griebeler NP. Hidros. Viçosa, MG:
Universidade Federal de Viçosa; 2006.
Pruski FF. Conservação do solo e da água: práticas mecânicas para o controle da erosão hídrica.
2ª.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2009.
Resende M, Curi N, Rezende SB, Corrêa GF, Ker JC. Pedologia: base para distinção de ambientes.
6ª.ed. Lavras: Universidade Federal de Lavras; 2014.
Rezende FC, Caldas ALO, Scalco MS, Faria MA. Índice de área foliar, densidade de plantio e manejo
de irrigação do cafeeiro. Coffee Sei. 2014;9:374-84.
Ricci MSF, Costa JR, Pinto AN, Santos VLS. Cultivo orgânico de cultivares e café a pleno sol e
sombreado. Pesq Agropec Bras. 2006;41:569-75.
Rocha AC, Prezotti LC, Dadalto GG. Práticas de conservação de solo em café arábica na região
serrana do Espírito Santo. ln: Anais do 1°. Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil; 2001; Poços
de Caldas. Brasília, DF: Embrapa Café; 2000. p.1376-8.
Rufino RL, Henklain JC, Biscaia RCM. ln.fluência das práticas de manejo e cobertura vegetal do
cafeeiro nas perdas de solo. Rev Bras Cienc Solo. 1985;9:277-80.
Salgado BG, Macedo RLG, Alvarenga MIN, Venturin N. Avaliação da fertilidade dos solos de
sistemas agroflorestais com cafeeiro (Coffea arábica 1.) em Lavras-MG. R Árvore. 2006;30:343-9.
Schlindwein JA, Marcolan AL, Fioreli-Perira EC, Pequeno PLL, Militão JSTL. Solos de Rondônia:
usos e perspectivas. R Bras Ci Amaz. 2012;1:213-31.
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental - SEDAM. Atlas ambiental. 2002. [Acessado em:
23 nov. 2014]. Disponível em: www.sedam.ro.gov.br (Acervo técnico zoneamento).
Serafim ME, Oliveira GC, Oliveira AS, Lima JM, Guimarães PTG, Costa JC. Sistema conservacionista
e de manejo intensivo do solo no cultivo de cafeeiros na região do Alto São Francisco, MG: um
estudo de caso. Biasei J. 2011;27:964-77.
Silva EA, Oliveira GC, Carducci CE, Silva BM, Oliveira LM, Costa JC. Increasing doses of agricultura!
gypsum, aggregate stability and organic carbon in Cerrado Latosol under coffee crop. Agrária.
2013;56:25-32.
Silva MA. Modelagem especial da erosão hídrica no Vale do Rio Doce, Região Centro-Leste do
Estado de Minas Gerais [tese]. Lavras: Universidade Federal de Lavras; 2009.
Souza ES, Antonino ACD, Lima JRS, Gouveia Neto GC, Silva JM, Silva IF. Efeito do encrostamento
superficial nas propriedades hidráulicas de um solo cultivado. Agrária. 2007;2:69-74.
Wischrneier WH, Smith DO. Predicting rainfall erosion lasses: A guide to conservation planning.
Washington: USDA; 1978. (Agriculture Handbook, 537).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

.J
XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃ O DO
SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR

Denizart Bolonhezi1', Oswaldo Julio Vischi Filho21, Walane M. P. de Me llo Ivo 31,
André Cesar Vitti'I/, Antonio Cesar Bolonhezi 5/ & Sandro Roberto BrancaJiãobl

11 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Instituto Agro nó mico de C :unpmas, Centro Je
Cana-de-Açúcar, Campinas, SP. E-mail: denizart@iac.s p .gov.br
21 Secre taria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São P,lUlo, Coordenadona de Deiesa Agropt'CUáriJ,
Campinas, SP. E-míli l: oswaldo@cda.sp.gov.br
J/ Embrapa Tabuleiros Costeiros, UEP de Rio La rgo, Rio Largo, AL. E-mail: wala ne.1vog embrapa.br
' 1 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Regional Centro Sul, Piracicaba, P.
E-mail: acvitti@apta.sp.gov.br
s; Universidade Estadual Paulista, Campus de Ilha Solteira, Ilha Solteira, SP. E-mail: bolonha G.Jgr.Íl·1 .um.'5p.br
"' Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Instituto Agronômico de Campinas, Centro Je
Cana-de-Açúcar, Campinas, SP. E-mail: brancaliao@iac.sp.gov.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... ..... .... ..................... ... _ .. 1030


O CONTEXTO DA CANA VICU LTlJRA E AS IMPLICAÇÕES NO MA EJO DE SOLO ... .............................. l 031
A evolução da área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil e o manejo do solo ............... .. ....... .......... .. 1031
Os solos e o sis tema de produção de cana-de-açúcar na Região Centro- ui do Brasil. . ... -.... .................. 1032
Os solos e o sistema de produção de cana-de-açúcar na Região orde te do Brasil .. ............. ....... ... . 1037
PERDAS DE SOLO E ÁGUA POR EROSÃO HÍDRICA NA CULTURA DA CA! ·A-DE-AÇÚCAR ........... 1039
EROSÃO DO SOLO EM ÁREAS DE ClJLTIVO DE CANA-DE-AÇÚC R. ............................. - ...... .. ............ ... . 10-12
PRÁTICAS CONSERVAC!ONISTAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO DA Cr A-DE-AÇÚCAR .·-··· .... ..... lü-15
Técnicas para controlar o escoamento superficial... ........................................... - ..................... - ...................... 1
Direção da sulcação e sistematização dos canaviais .................................................... . .... ··-........... 1 7
Terraceamento: tipos, fo rmas e dimensionamento ................................................................- .............. 1!}.l9
Práticas auxiliares de controle da erosão ............................................................ ......................................... _ . .. 1 -
Aspectos importantes no planejamento da conservação do solo na ana-de--açúca.r ............... -----.............. 1U33
SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO PARA CANA-DE-AÇÚCAR ............................... ... ·•- -.. - ........ --............ 1057
Princípios da agricultura conservacionista no sistema de produção c.:ma ieuo.................................. ......... li , -
CO SIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... ·- ............_ ........... . 1071
LIT.ERATURA CITADA .......................................................................................... .............. ..................... H)71

Bertol 1, De Maria IC, Souza LS, editores. M,u1ejo e conserv.Jçí'io do sol ~ da .igu.J. Viç -.1 , :-.1G: - cieJ.ide
Brasileira de Ciência do Solo; 20 18.
1030 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

INTRODUÇÃO

Estima-se que até 2050 a produção de alimentos terá que aumentar em 70 %;


consequentemente, haverá a necessidade de incorporar 82 Mha aos sistemas produtivos.
esse mesmo período, para fornecer a matéria-prima requerida para bicombustíveis,
serão necessários mais 160 Mha. O desafio atual da agropecuária mundial é conciliar as
ati, idades na produção de alimentos, fibras e energia com redução no impacto ambiental,
considerando que nos últimos 40 anos a erosão do solo foi responsável pela degradação de
430 Mha, equivalente a 1/3 das terras agrícolas.
o mmldo, são perdidos anualmente 23 Gt de solo, e, a cada 60 anos, a erosão subtrai
2,5 cm da camada superficial, o que representa w11a taxa de perda quase 10 vezes superior
ao processo de formação, e enh·e 30 e 40 % da camada arável do planeta têm experimentado
algum ruvel de degradação (Montgomery, 2007; Kulm, 2014) .
Em termos de custos diretos e indiretos da erosão por ano, são estimados US$ 44
bilhões nos EUA; US$ 45,4 bilhões, na Europa; US$ 242 milhões, no Estado do Paraná; e
US$ 212 milhões, no Estado de São Paulo (Telles et al., 2011). Portanto, a disponibilidade de
terras para produção no futuro poderá chegar a 0,1 ha per capita, ú1dice cinco vezes menor
que na década de 1950 e que demandará maior custo para produzir.
O Brasil está inserido nesse contexto como o principal foco de investimentos, sobretudo
para produção de biocombustíveis, com destaque aos projetos de bioetanol com base
na cana-de-açúcar. A canavicultura é muito importante para a economia do Brasil, com
área cultivada estimada em 10,7 Mha (Unica, 2015). O país é o maior produtor mundial
de açúcar e o segundo maior produtor mundial de ákool combustível. Essa cultura está
concentrada em duas regiões distintas quanto ao solo, clima e sistema de produção, a
região Nordeste, com área aproximada de 1,27 Mha, e a região Centro-Sul, com 9,5 Mha,
que são responsáveis pela produção de 654 Mt (Unica, 2015; Canasat, 2016).
O setor sucroenergético é responsável por um produto interno bruto de US$ 48
bilhões; são 430 unidades industriais produtoras que utilizam a matéria-prima, cana-de-
açúcar, produzida por 70 mil produtores.
A cana-de-açúcar foi considerada, por muito tempo, uma cultura sem riscos severos
em termos de conservação de solo e da água, em razão de ser semi perene, de proporcionar
boa cobertura e sistema radicular vigoroso, de o cultivo ser em talhões menores, ter época
de colheita, bem como de plantio, mais definida e ter a concentração em solos menos
susceptíveis à erosão. Todavia, o modelo vigente é caracterizado por intensa mecanização
e consequente aumento da compactação e do escoamento superficial da enxurrada, por
extensão da época de plantio e colheita, do cultivo em talhões maiores e do aumento do
espaçamento ou da retirada dos terraços, bem como da expansão para regiões com solos
susceptíveis à erosão. Essa nova conjuntura aumentou sobremaneira os riscos de ocorrência
de erosão e demanda preocupação (De Maria et ai., 2016).
Em vista do exposto, este capítulo tem por objetivos: apresentar o impacto do manejo
do solo para cana-de-açúcar; descrever as práticas de conservação e os principais sistemas
de manejo utilizados; discutir os benefícios e desafios do manejo conservacionista no
contexto da colheita mecanizada sem queima; reunir os resultados de pesquisa sobre
aplicação dos princípios da agricultura conservacionista; e relatar alguns exemplos de
validação tecnológica.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO S O LO EM C ANA-DE - AÇÚCAR 103 1

O CONTEXTO DA CANA VICUL TUR E S


IMPLICAÇÕES NO MANEJO DE SOLO

A evolução da área cultivada com cana-de-açúcar no Bra iJ e o


manejo do solo
A evolução da área, produção e prod uti vidade da cana-d -açúca r no Brasi l p de
ser observada na figura 1. ota-se que o seto r sucroenergético d uplicou a p rodu tividc1de
desde o início do PROALCOOL, no começo da décad a de 1970, e a tingiu um platô ntre
70 e 80 t ha·1 de colmos. Todavia, nos últimos anos, tem-se ve rificad o uma estagnação ou
mesmo um declínio na produtividade de colmos, q ue pode e r atribuído ao excesso de
chu vas e às vezes à deficiência hídrica, mas, também pode está relacionado com o sistema
de col heita mecanizada. A despeito dos benefícios ambien tais da ma nu tenção da fito mas a
residual da cana-de-açúcar, como menor emissão de gases do efeito e tufa (Ce rri et ui.,
2013), redução do uso de fertilizantes (Trivelin et a i., 2013) e d iminuição da ero ão (. íar ins
Filho et al., 2009), a colheita mecanizada pode contribuir pa ra a u mentar o p roblema com
compactação, pisoteio das soqueiras e surgi mento d e novas p raga
UCXXXXJ 90,0
Evoluç.lo da Cana,•,cultur.1 no Ur.1., il

80,0

lCXXXXX> - Ar,•.i (10 ha)


- 1',oJ uç,lo (1000 I) 70.0
- rrodu1iv1dJde (TCf-1)

íro.o I
l 5t>.O ~
>
'::1

~ ,o 1
30,0

20,0
200000

Figura 1. Evolução anual da área colhida, produção e produtividade de cana-de-açúcar no Brasil, no


período de 1930 a 2012.
Fonte: Dados com base t?m Lanzotti (2000), Con ab (201-1) t? Ún ica (201 5).

Situação semelhante ocorreu na Austrália, onde, dura nte _5 a no , não se verifica m


aumentos na prod~tividade de açúca~. _Es te cenário (Figura 2) d e encad e u instalaçã d
uma rede de pesquisa envolvendo praticas de reforma de canav iais deno mina d a i, are me
Yicld Decli11e Joi11t Ve11t11re (Pankhurst, 2005; Bell et al., 2007; tirling, _ao ; Gar ide e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1032 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Bell, ~01:), que concluiu que a adoção de práticas conservacionistas de manejo do solo
conh·1burram para aumentar expressivan1ente a produtividade na década seguinte.
4 5
Cana-de-Aç(Jcar na Austrália
3,5 4,5
r
"'
..e: - Área em cultivo 4 -z-
~

..:3 3
_,._ Produtividade de Açôcar 3,5
6
o
'B,
-e 2,5
.."' -+- Produção de Açúcar
3 ::s
-g...
".. 2 2,5
..
0.

""' 1,5 2 -;-


"'>
'.ti
.e;

:,

..
-g
0.
1 :,5 J
0,5
0,5
o o
-...tf!J . ._q-.. C:J ..._q'P -...cf.P ..._qti:J ..._q<:P -...of<iJ ..._q'f:> ....~ ....~C;,
Ano

Figura 2 Evolução da produção e estagnação da produtividade de açúcar na Austrália entre 1970 e 1995.
Fonte: Adaptado de Garside et ai. (1997).

Os solos e o sistema de produção de cana-de-açúcar na Região


Centro-Sul do Brasil
A produção de cana-de-açúcar em São Paulo, Estado que apresenta a maior área
plantada na região Centro-Sul, está concentrada em três dos cinco grandes compartimentos
de relevo ou províncias geomorfológicas, denominados de "Depressão Periférica",
"Cuestas Basálticas" e "Planalto Ocidental" (Ponçano et al., 1981). Na Depressão
Periférica, ocorre predonúnio de relevos acidentados, e os solos desenvolvem-se sobre
rochas sedimentares (arenitos, folhelhos, argilitos e siltitos); portanto, há predominância
de Argissolos e Latossolos, seguidos por algumas porções de Neossolos Quartzarênicos.
Quando o material de origem são rochas ígneas intrusivas básicas, predominam Nitossolos
Vermelho Eutroférricos e Distroférricos.
Na província geomorfológica Cuestas Basálticas, os materiais de origem predominante
são basaltos e arenitos, que são associados aos relevos colinosos e amorreados. Os
principais solos encontrados são os Latossolos Vermelhos, Vermelho-Amarelos, Neossolos
Quartzarênicos (arenitos), podendo ser eutróficos, distróficos ou ácricos (sobretudo no
norte do Estado); nas porções mais dissecadas, encontram-se os Nitossolos Eutróficos.
A maior parte da região Oeste do Estado de São Paulo, onde ocorreram as recentes
expansões da canavicultura, é ocupada pela província geomorfológica Planalto Ocidental,
caracterizada por formas de relevo mais suavizadas(< 15 cm m·1), e o material de origem
predominante é o arenito, evidenciando os Argissolos Vermelho-Amarelos ou Vermelho,
de textura arenosa/ média, que são de alta susceptibilidade à erosão. Nessa região, ocorrem
itossolos e Latossolos nos relevos mais acidentados; e nas calhas dos rios, quando o
material de origem é o basalto (Prado et ai., 2008; Prado, 2011; De Maria et al., 2016).
Em razão da diversidade edafoclimática das regiões de cultivo da cana-de-açúcar
no Estado de São Paulo, Brunini (2008) propôs um Zoneamento Agroambiental, visando

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO S OLO EM CANA- D E-AÇ ÚCA R 1033

conhecer a aptidão agrícola (boa, regular ou restrita), os aspectos de fe rtilidade natural


(alta, média, ou baixa), a profundidade (fa vorável o u desfavorável) e a pedregosidade
(presente ou ausente); contudo, este autor não considerou a declividade e resistência à
erosão.
No item anterior, enfatizou-se a estagnação ou mesmo o declínio na produti vidade
de colmos no Brasil nos últimos anos, admitindo-se vá ri as ca usas; com relação o so lo
ressaltou-se o aumento da compactação res ultante d a utili zação da colheita mecanjzada.
Na figura 3, pode-se observar o aumento da adoção do sistema de colhei ta mecanizada
sem queima prévia no Estado de São Paulo. Este a vanço deveu-se à Lei Estadu t1I n:o 11 241
(19/ 09/2002), regulamentada pelo Decreto nº 47 700 (01/03/2003), que estabelecia uma
adoção gradativa no término das queimadas, com previs ão final prevista para 2021. Porém,
pelo Protocolo Etanol Verde, acordo assinado entre o setor sucroener gético e a Secretaria
do Meio Ambiente pau lista, ficou estabelecido que, a partir d e 2014, a colheita mecanizad.1
seria obrigatória nas áreas com declividade menor que 12 cm m·3, e a com pleta adoção
ficou acordada para a partir de 2017. De acordo com Rudorff et ai. (2010), a obri gato riedade
de adoção da colheita de cana crua implicará na redução de cuJtivo de cana-de-açúca r em
aprox imadamente 120 kha em São Paulo. Na safra 2013/ 14, dos 5,7 Mha cu ltivado com
can a-de-açúcar no Estado de São PauJo, mais de 80 % foram colhidos sem queimada prévia.

7,00

_,,-------~--- ·······,,
6,00

-6 5,00
~ 4,00

j 3,00
..... •·
,,
65,8 %
....,,...
---------
················· ··········
,,
-
-Crua
- - Queimada
2,00 ........ Área Colhida
····· ·· Área Total
1,00
<10 '
0,00

Figura 3. Evol ução da colheita mecanizada de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.


Fonte: Canasat (2016).

A colheita mecanizada de cana crua deixa sobre a su perfície do solo entre 9.0 e 19,2 n0
da biomassa totaJ produzida, que representa em média 15 t ha·1 de matéria eca om cerca
de 120 g kg-1 de fibras (landell et al., 2013a; Franco et aJ., 2013). O palhiço é compos t das
folhas secas e do ponteiro verde da cana (média de 8 t ha-1) e apresenta alta relação C/ ,
que diminui de 97 para 68, após 12 meses, caracterizando um material muito recalci trante
(Oliveira et al., 1999). O sistema cana crua proporciona maior controle da plantas daninh as
(Christoffoleti et al., 2007), reduz erosão (Prove et al., 1995; Sparo ek e Schnug, 2001),
fav orece o crescimento radicular (Bali-Coelho et al., 1993), contribui com fertilizaçã e '

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


1034 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

e K ( '1eier et ai., 2006; Franco et al., 2007; Trivelin et ai., 2013), mantém a temperatura do
olo mai baixa (Oliveira et al., 2001 ), reduz as perdas de água do solo (Dourado- eto et
ai., 1999), awnenta o estoque de C (Razafimbelo et ai., 2006; Galdos et ai., 2009; Cerri et ai.,
2011), além de proporcionar ganhos em produtividade de cohnos (Ball-Coelho et al., 1993;
Tominaga et al., 2002; Bolonhezi e Gonçalves, 2015).
o entanto, no sistema de colheita de cana crua, o tráfego intensivo de máquinas e
equipamentos pesados, quando associado com alta wnidade no solo, pode proporcionar
aumento dos problemas relacionados com a compactação (Braunack et ai., 2006). Do
plantio até a colheita, incluindo os tratos culturais, em cinco anos são estimadas mais de
30 operações mecanizadas na mesma área (De Maria et ai., 2016). Rossini (2014) informou
que cada faixa de tráfego recebe carga couespondente à metade da carga da máquina em
cada passada, sendo duas passadas de cada um dos equipamentos a cada ciclo, sendo: uma
colhedora (15 t), wn trator de 149 HP (8 t), dois h·ansbordos (6,5 t) e um trator de 115 HP
(6,7 t). Com esta composição ao longo de seis cortes e considerando a capacidade de 5 t de
colmos em cada transbordo, o tráfego acumulado proporciona uma carga total equivalente
de 388 t, somente na faixa do rodado. Um esquema ilustrativo do tráfego durante a colheita
de cana crua pode ser observado na figura 4.

Figura 4. Esquema ilustrativo do tráfego durante a colheita mecanizada de cana crua demonstrando
0 impacto sobre a compactação do solo.
Fonte: Adaptado de Rossini (2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MAN EJO E CON SERVAÇÃO DO SO LO EM (ANA-DE-AÇÚCAR 1035

O impacto da mecanização da colheita d e ca na obre os atribu tos fís icos do solo pode
reduzir a produtividade de colmos e a longevidade do ca na via l. A renovaçii_o _d ca ~aviai5
é necessária para manter elevada a produti vidad e méd ia das á reas comercrn1s cul t,vadclS
com cana-de-açúca r. Os critérios para reform a são va riáve is de acordo com a empresa
região produtora e são dependentes: do his tórico d e p rodutiv idade do ta lhão (com menos
de 60 t ha·1 de colmos, recomenda-se a reforma d o canavia l), da necessidade de s ubstituição
de genó tipos, da ocorrência de problemas fítossanitáríos (nematoides, insetos e patógeno ),
da necessidade de correção da ferti lidade e da compac tação do so lo, da per p ctivJ de
a umento dos lucros frente aos custos de implantação, en tre ou tros. Em algumas usinas, o
percentual destinado pa ra reforma é fi xo em ·15 % d a á rea plantada por ano (Bol onhezi et
a i., 2014).
De acordo com Garside e Bell (2011), cerca de 80 % d a com pactação d e olos em
canaviais colhidos mecanicamente é decorrente da prim eira coiheita. A compactação
provocada pela reorganização estrutural das partículas e d e seus agregados, resultando
em aumento da densidade do solo e redução da porosid ade total (D ias Júnio r, 2000). A
principal causa é o excesso de pressão exerc ida pelo tráfego de máquinas e equipamentos
sobre o solo, principalmente em condição de umidade acima d o id ea l (Vischi Filho, 2014).
A compactação do solo também pode ocorrer quando as o pe rações fo rem realizada com
o solo na zona de friabilidade, caso seja ap licada a esse solo pressões maiores do que a sua
capacidade de suporte de carga (Kondo e Dias Júnior, 1999).
Conforme Hakansson e Voorhees (1997), sistemas que propo rciona m pouco
revolvimento do solo e apresentam tráfego de máquinas pesad as po d em prom over
compactação do solo até 40 cm de profundidade, como no sistema de cu ltivo da cana-
de-açúcar. Em razão das operações de carga dinâmica, a d istribuição, o ta manho e a
continuidade de poros são influenciados negativamente, o que impl ica d imin u ições na
permeabilidade ao ar e à água, promovendo redução no desenvolv imento radicular da
cultura (Horn e Lebert, 1994). Atualmente, a compactação do solo está ocorre nd o em nívei
elevados, requerendo pesquisas e alternativas para solucionar esse problema ( ischi Filho,
2014).
Estudos buscam modelar o comportamento da estrutura d o o lo, visando à
determinação de sua capacidade de suporte de carga para uma condição específica de
mq11ejo, que poderá ser usada para evita r a compactação ad icional d o olo (Ko ndo e
Dias Júnior, 1999; Silva et ai., 2001; Assis e Lanças, 2005; Silva et al., 2006a; asconcelos
et al., 2012). A pressão de pré-consolidação é um indicador da máxima carga à q ual o
solo foi submetido no passado (Dias Júnior, 1994; Dias Júnior e Pierce, 1996) . Pa ra a aliar
a capacidade de suporte de carga, utilizam-se modelos de compre s ibilidade com base
na pressão de pré-consolidação (op), que predizem a m áxima pressão que um o lo pode
suportar nas diferentes umidades sem causar compactação adicional (Si) a e t al., 2001; ilva
e t al., 2003a; Silva et al., 2006a; Silva et al., 2010; Souza et al., 201 2a), permitindo e tabelecer
es tratégia de prevenção da compactação do solo. íveis al to d e cornpac taçã do solo
podem ocorrer quando as pressões de contato do rodado ou dos implemento ul trapassam
a capacidade de suporte de carga. Como exemplo, citam-se os e tudos realizados por
Vischi Fiiho et al. (2015), em áreas comerciais de cana-de-açúcar, o quais encon traram
va lores de capacidade de suporte de ca rga para Lato solo ermelho conforme de rito
n o quadro 1. lnformações dessa natureza devem ser geradas para o utro tipos de solo,
visando identificar os níveis de pressão que podem ser aplicado ao olo sem casion ar
com pactação.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1036 ÜENI Z ART BOLONH E ZI ET AL.

Quadro 1. Atribu tos físico-m ecânicos do solo para o teores d e água na faixa de fria bilidade,
estimados pelo modelo op=lQ(••buJ, para os sistemas de colheita m ecan izada com um e três ciclos
(C 11 e CM3, respectivamente) de cultivo de canteiro, nas cam adas de 0,00-0,10; 0,10-0,20; 0,20-
0,30; e 0,30-0,-10 m
Camada cm Ds (lC)fl 1(kg dm.J) D S (lP)<11 (kg dm.J) op (LC)''I crp (lP)í2l (kpa)

CM3, na linha de plantio e faixa de friabilidade de 0,15 a 0,34


I
0,00--0,10 1,36±0,45 1,08±0,17 392±15,63 243±7,92
0,10-0,20 1,29±0,29 1,10±0,07 358±6,83 224±4,83
0.20--0 ~o 1,26±0,29 1,24±0,83 385±14,01 243±3,46
0,30-0.4-0 1,3-H0,18 1,07±0,04 387±17,23 265±24,83
CM3, no canteiro e faixa d e friabi lidade de 0,14 a 0,32
0,00-0,10 1,36±0,05 1,12±0,14 441±6,57 346±3,46
0,10-0,20 1,27±0,03 1,10±0,09 402±8,31 261±10,37
0,20--0,30 1,21±0.45 1,06±0,32 413±5,91 286±5,91
0,30-0,40 1,30±0,16 1,14±0,03 409±8,95 310±7,92
CM1, na linha de plantio e faixa d e friabilidade de 0,11 a 0,22
0,00-0,10 1,42±0,07 1,31±0,03 369±18,29 236±2,48
0,10--0,20 1,52±0,30 1,39±0,07 435±9,73 337±14,01
0,20-0,30 1,42±0,32 1,36±0,23 399±9,07 300±4,13
0,30--0,40 1,31±0,26 1,30±0,02 434±18,30 335±3,46
CM1, no canteiro e faixa d e friabilida de de 0,11 a 0,21
0,0-00,10 1,54±0,21 1,39±0,09 356±3,46 275±11,53
0,10-0,20 1,50±0,28 1,41±0,15 360±9,07 303±4,13
0,20--0,30 1,46±0,12 1,4-0±0,07 409±4,97 310±4,13
0,30-0,4-0 1,44±0,04 1,31±0,01 413±25,92 321±3,46
n10 s (LC) e Os (LP), d ensidade do solo nos limites de contração e plasticid ad e, respectivam ente. C21 crp (LC) e o p (LP), p re ssão de
pré-consolidação n os limites de contração e plasticidad e, respectivamente.
Fonte: Vi.scru Filho et ai. (2015).

Durante o processo de renovação do canavial, são realizadas diferen tes operações de


preparo, que buscam a erradicação da sogueira e o fornecimento de boas condições p ara o
desenvolvimento do sistema radicular, por meio do restabelecimen to da porosidad e para
valores próximos do original, da melhoria da drenagem, da redução na resistência do so lo
à penetração, bem como do controle de plantas daninhas, pragas e doenças. A intensidade
e o número de operações são dependentes do solo, do grau de compactação, da distribu ição
de umidade no perfil, do tipo de colheita, da época de plantio, da disponibilidade de
equipamentos e da tradição regional, constituindo-se no primeiro passo para boa produção
da lavoura (Stolf, 1985; Barbieri et ai., 1997; Bellinaso, 1997; Torres e Villegas, 1998; Ripoli
e Ripoli, 2004).
Na região Centro-Sul, a área disponível para reforma aumentou nos ú ltimos 10 anos de
350 kha para 1,2 Mha. Com a predominância da colheita mecanizada, a grande q u antidade
d e biomassa residual requer maior número de operações, acarretando aumento nos custos
de implantação da nova lavoura. Por conseguinte, a escolha d o manejo de solo utilizado na
reforma da cana crua apresenta-se como importante p rá tica agrícola que exige diagnóstico
adequado para seu planejamento, a fim de redu zir os custos d e produção e os impactos
sobre as perdas d e solo e água.

MANEJO E CON S ERVAÇÃO D O SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM (ANA-DE-AÇÚCAR 1037

Os solos e o sistema de produção de cana-de-açúcar na Região


Nordeste do Brasil
As classes de solos que predominam na região de cultivo dc1 cana-de-açúcc1r, no
Tabuleiros Costeiros do Nordeste, são Latossolos e Argissolos Amarelos Dis trocoeso . ão
classes com características químicas e mjneralógicas bastante similares, ou eja, apresentam
baixos teores em óxidos, baixa CTC, solos fortemente ácidos, normalmente contém AP- e
são álicos ou distróficos, com predomínio de quartzo na mineralogfa das fraçõe areia e de
caulinita na fração argila (Jacomine, 2001 ). Nestas duas classes, ocorre, com frequencia, a
presença de " horizonte coeso", que é definido como " horizonte pedogenético, adensado,
muito duro ou extremamente duro, quando seco, e normalmente friá vel, quando úmido"
(Araújo Filho et al., 2001).
O que distingue estas classes, além do gradiente textura! dos Aqpssolos, é que, nes e
últimos, o caráter coeso, além de estar presente logo abaixo do horizonte A, atinge maiores
profuncUdades do B que nos Latossolos. A presença de fragipã, corre pondendo à parte
do B, é outro aspecto só dos Argissolos Oacorrune, 2001). A presença de horizon te coe o
deterrruna necessidades específicas para o manejo dos solos desta região, principalmente
no que concerne ao aprofundamento do sistema radicular da cana-de-açúcar e movi mento
de água (Cintra et ai., 2007) e nutrientes no perfil dos solos.
As limitações quírrucas dos solos dos tabuleiros começaram a ser superadas na década
de 1970, quando a cana-de-açúcar deixou de ocu par apenas as áreas de várzeas e pa ou
aos topos e encostas dos tabuleiros, uma vez que o advento do Proálcool promoveu
financiamentos para aquisição e uso de corretivos e fertilizantes, possibilitando a su peraçào
destas lirrútações e, assim, a ocupação de novas áreas (t-.,'lello Ivo et al., 2008).
Quanto às lirrutações físicas, estas são resultado da intensa mecanização da lavoura
canavieira e do próprio adensamento pedogenético destes solos de tabuleiro (horizontes
coesos), como descrito anteriormente. Estudos apontam que a s uperação destas limitações
tem ocorrido por meio do uso de subsoladores e da utilização de prá ticas biológicas, como
rotação com leguminosas. Estas práticas de manejo tem se evidenciado prorrussoras para
várias espécies cultivadas nos tabuleiros, incluindo a cana-de-açúcar (Rezende, 2000;
Barreto et al., 2014).
Nesse sentido, Araújo Filho et al. (2001) destacaram que o fa to de o horizonte coeso
no estado úrnido tornar-se friável é uma carac terística que sugere que a conservação de
umidade das terras é importante não apenas como um fa tor de produtividade da culturas,
mas ta mbém como um condicionante na redução da resis tência física à penetração das
raízes, o que deve potencializar o aprofundamento das raízes de leguminosas e da cana-
de-açúcar.
A região de produção de cana-de-açúcar no ardeste apresenta outra pecu liaridade,
uma vez que a variabilidade da produção na região está intimamente relacionada com a
disporubilidade de água (Souza et al., 2002), função da precipitação pluvial e da distribuição
das chuvas em cada safra. Tal limitação fez com que as unidades industriais in estissem
forte mente em irrigação (Mello Ivo et al., 2008), prática que pode relacionar-se fortemente
com o processo de erosão dos sol?s e com a ampliação do tempo de armazenagem de água
nos solos coesos, aspectos estes amda pouco estudados nessas áreas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1038 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

De acordo com Jacomine (2001), os Tabuleiros Costeiros apresentam uma feição


característica que é a topografia tabular, dissecada por vales profundos de encostas
com forte declividade. Algumas áTeas possuem relevo s uavemente ondulado, enquanto
em outras, onde houve forte dissecamento, a topografia chega a ser ondulada ou até
forte1nente ondulada, com elevação de topos planos (chãs). Tanto nos grandes platôs como
nas encostas, a cana-de-açúcar é cultivada e, de acordo com a legis lação específica, à qual
o ordeste é regido (Decreto nº 2.661, de 1998), apenas as áreas com decHvidades menores
que 12 cm nr1 deverão ser colhidas sem despalha a fogo .
Contraditoriamente, nas áreas de maior declividade, ou seja, nas áreas mais
susceptíveis à erosão, a queima da cana-de-açúcar permanece facultada aos produtores,
pela impossibilidade de colheita mecanizada. Nesse caso, observam-se várias encostas
onde o processo de erosão em sulcos ou em voçorocas já está instaJado, passando a cana-de-
açúcar a apresentar menores produtividades, quando comparada com as áreas dos platôs.
Tal quadro deu ilúcio, mais recentemente, à substituição da cana-de-açúcar por espécies
florestais, como eucaHpto, ou por pastagens, o que caracteriza um melhor planejamento de
uso do solo para as condições locais.
Adicionalmente, vale salientar que determinadas práticas de manejo, corno o preparo
convencional do solo e a queima da cana, podem provocar diminuição da qualidade
física (Pacheco e CantaJice, 2011; Silva et al., 1998) e de alguns aspectos da fertilidade e
microbiologia do solo (Sant'ana et al., 2009; Mello Ivo, 2012), tanto quanto a erosão.
Em relação à caracterização do sistema de produção da cana-de-açúcar nos
Tabuleiros Costeiros, a mudança na forma da colheita da cultura é um dos aspectos que
tem provocado grandes modificações nesse sistema. Na região Nordeste, a transição do
sistema de colheita com despaJha a fogo e corte manuaJ da cana para colheita da cana crua
e corte mecanizado tem ocorrido em taxas bem mais lentas que as da região Centro-Sul
do Brasil. TaJ mudança no manejo da cultura apresenta estreita relação com o processo da
erosão e abre possibilidades da conservação destes solos por permitir a permanência da
palha.da na superfície, o que interfere diretamente no início do processo erosivo, impedindo
o impacto direto das gotas da chuva ou da água de irrigação sobre o solo, o que provocaria
sua desagregação e seu posterior transporte.
A adoção da colheita de cana crua tem crescido no Nordeste brasileiro, mais em
decorrência do interesse das usinas pela cornerciaJização da paJha do que pela existência
de legislação específica. Usualmente, 50 % da palhada tem sido recolhida das áreas de
tabuleiro, restando entre 5 e 7,5 t ha·1 de fitomassa residual sobre o solo, quantidade
que confere proteção contra os processos erosivos. Estudos no sentido de definir qual
a quantidade de palha.da mais indicada a ser deixada sobre o solo, visando à garantia
da sustentabilidade do sistema de produção da cana, vêm sendo conduzidos em várias
regiões do país, observando os mais diversos aspectos do agroecossistema da cana-de-
açúcar, como perdas de solo e água, pragas, disponibilidade de nutrientes, armazenagem
de água no solo, diversidade microbiana, entre outros.
A importância do impacto da erosão que ocorre nas áreas de cana no país é vista,
de acordo com Mello Ivo et aJ. (2008), como função da extensão das áreas de cultivo no
Brasil e pelo fato de o plantio coincidir com os períodos de chuvas intensas, realidade
também para outras culturas, o que reforça o processo de erosão. Na literatura, evidencia-
se que, quando comparada c?m a maiori_a das culturas an uais, a cana-de-açúcar pode ser
considerada muito conservahva (De Maria e Dechen, 1998).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX III - M ANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1039

Caracterizada como uma cultura semip re ne, o p repa ro do solo para o plantio des a
cu ltu ra ocorre apenas uma vez a cada ciclo de ci nco a seis anos, sempre feito em nível. e,
a lé m d isso, a cobertu ra imposta pelo crescimento dJ parte aéreJ da cJnJ-de-açúca r, após
qu atro a cinco meses da colheita, é de, aproximadamente, 100 % da superfície. Isso leva a
crer q ue se os Ta buleiros Costeiros tivessem s ido oc upJd os por culturas anuais, em vez da
cana-de-açúcar, o estado de conservação dos solos poderia estar bem pior do que o quc1dro
atua l, principalmente nas encostas.

PERDAS DE SOLO E ÁGUA POR EROSÃO HÍDRICA N


CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCA R

De acord o com Marques et ai. (1961) e Lom bardi Neto et ai. (1982), estudos de perdas de
solo e água duran te 13 anos (entre 1943 e 1959) demonstrara m q ue a cana-de-açúcar perdeu
em média 16,4 t ha·1 ano·1 de solo e 98 mm de água (2,8 % da chuva anual), considerand o
solos da região de Macaca, SP, e Ribeirão Pre to, SP. Com base nestas pesquisas, verifica-
se, na figura 5, que a cana-de-açúcar é considerada uma cultura pouco vulnerável, em
comparação à ma mona e mand ioca, que perdem acima de 30 t ha·1 ano·1, e semelhantes à
en contradas na cultura do milho.

120
~ 100
- 100 92
o
l(O

~ 80 64 60 60
60 48 44
40 30 29
16
20
o
§'# "&&~ õô~
o~
~~ ~º -~~ _s,ç
-~º ~- Y""
-V.~
Cultura
Figura 5. Índice relativo da erosão do solo para diferentes culturas em relação à mamoru
(54,6 t ha·1 ano·1 de solo). Resultados dos 48 experimentos em quatro lo alidades entre 1943 e
1959.
Fonte: Adaptad o de Marques et ai. (1961).

No quadro 2, pode-se observar resultado demonstrando perdas acima de -lO t ha•t ano 1_
Contudo, nota-se que a maior vulne rabilidade ocorre na fa e de cana planta, em irtude
da coincidência do solo recém-preparado com a cul tura em início de d esen olvimento.
De acordo com estes resul tados, De Maria e Dechen (1998) esclareceram q ue as perdas de
49 t ha·1 ano·1 e 7,5 % da ág ua da chuva correspondem respecti arnente à retir da de 0,3
cm de solo e necessidade de proporcionar meios de e coar lOO L m ·2 de água de ~nxurrada.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


1040 DENIZART BOLONHEZI ET Al,

Re sal ta-se que os re u ltados presentes na literatura foram obtidos em outras circunstâncias,
quando não havia mecanização em larga escala. De Maria et al. (2016) relataram perdas de
11 t ha-1 ano-1 de solo e 3 % da água oriw1 da da pluviosidade anual, considerando a média
de cinco cortes, embora considerando somente O período de implantação as perdas podem
atingir valores entre 60 e 100 t ha-1 de solo.
Deve-se salientar que os problemas mais graves de erosão em talhões de cana-de-
açúcar estão associados com a localização de estradas e carreadores. Lombardi Neto e
Drugowich (1994) iruormaram que mesmo com a ocorrência de poucos eventos chuvosos
os estragos são consideráveis, pois nos carreadores a enxurrada acumula em grandes
'olumes, necessitando de sistemas de drenagem adequados. Scarpinella (2012) estimou
que somente em São Paulo existam aproximadamente 285 kha com carreadores em talhões
de cana-de-açúcar e que estes são responsáveis por 70 % da erosão ocorrida.

Quadro 2. Valores médios de perdas de solo e água por erosão em Latossolo Vermelho, com 12,8 cm m-1
de declividade em estudo de longa duração
Perdas de Solo Perdas de Água
Fases da Cultura
(t ha-1 ano-1) (% da chuva)
Cana Planta 49,0 7,5
2° corte 0,2 0,3
3° corte 0,01 0,1
Méma de 12 anos 16,4 2,8
Fonte: Adaptado de Lombar di Neto et ai. (1982).

Estudos sobre erosão foram desenvolvidos no Nordeste de forma mais intensa entre
os anos de 1970 e 1980 (Leprun, 1981, 1988; Barreto et al., 2008), intensificando-se de forma
mais tímida uma década depois (Albuquerque et al., 1998; Silva e Dias, 2003; Bezerra e
Cantatice, 2006). Aspectos relacionados à erosividade das chuvas da região e erodibilidade
de alguns solos foram estudados (Leprun, 1988), bem como aqueles vinculados aos fatores
C, uso e manejo, e P, fatores práticas conservacionistas (Leprun, 1988; Margolis e Galindo,
1991).
No entanto, resultados relacionados à cultura da cana-de-açúcar ou à regia.o de
cultivo predominante desta cultura são poucos. Leprun (1981) alertou que o leque de
pesquisas em erosão que ocorreu no Nordeste, nas décadas de 1970 e 1980, e que parecia
extenso e completo, no entanto, não era. Segundo o autor, nenhum campo experimental
foi estabelecido na Zona da Mata, que, todavia, é a mais populosa e a mais explorada
com monoculturas industriais, com destaque para a cana, nem na zona de florestas pré-
amazônicas, nem nos cerrados ocidentais, sendo esse o quadro vigente até hoje (Silva,
2014).
Vinculados diretamente à cana-de-açúcar, pode-se destacar o trabalho de Silva et ai.
(1985), que, com o objetivo de avaliar os efeitos de diferentes coberturas vegetais sobre
as perdas de solo e água, esses autores relataram valores de perdas de solo variando de
74,6 t ha-1, em solo descoberto, até 0,95 t ha-1, em pastagem plantada. O cultivo da cana-
de-açúcar resultou em urna perda de 6,2 t ha-1, valor bem abaixo daquele alcançado pelos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM (AN A -D E-AÇÚ CA R 104 1

culti va s de a lgodão (48,1 t ha·1), milho (26,2 t ha·1) e feijão (20,9 t ha·1), confirmando a
tendência de a cana-de-açúcar apresentar pe rd as d e solo relativa m ente menores.
Em condição de cana cru a, as perdas podem ser reduzid as en tre três e 10 vezes (Bertoni
et ai., 1986; Prove et ai., 1995). Bertoni et ai. (1986) observa ram que em declividade de
8,5 cm m ·1 e 12 cm m·1, com ch uva de 1 300 mm, na condição de ecm a q ueimada, foram
perdidos 20,2 t ha·1 de solo e 8 % da água da chu va, e nqua n to em cana crua as perdas fo ram
de 6,5 t ha·1 e 2,5 % da água. Prove et a i. (1995) quantifica ram a erosão em cana-de-açúcar
cultivada em região tropica l da Austrá lia e concluíram q ue e m sistem a con vencional de
preparo do solo as perdas médias são da o rdem de 148 t ha·1 a no·1, enquanto no ístema
plantio direto perde-se menos de 15 t ha·1 ano·1• Esses pesqujsad o res escla receram que
a quantidade de fitomassa residual mantida foi menos re levante q ue a elim inação do
preparo do solo.
Todavia, para as condições do Brasil, Martins Filho et ai. (2009) concluíram, em
pesquisa conduzida em Argissolo com cinco anos de colheita m eca nizada, util izando
chuva si mulada (60 mm h·1 por 65 min), que a manutenção de 50 e 100 /)ri do palhiço reduz
em 67 % e 87 % as perdas de solo por erosão, respectivamente (Fig ura 6). Em trabalho
complementar, Souza et al. (2012b) informaram que a manutenção de coberturas inferiore
a 50 % proporcionam considerável enriquecimento do sedimento por m a téria o rgâ n ica e
nutrientes. Já Bezerra e Cantaiice (2006) avaliaram o efeito de diferentes cober tura do olo
(palhada e parte aérea da cana) sobre o escoamento s uperficial na erosão entre sulco , sob
chuva simulada. Os autores encontraram que o efeito somado do dossel e d a fito ma sa
residual da cana promoveu simultaneamente o aumento da rugos idade h idrá u lica e dos
volumes de interceptação vegetal, determinando as m enores lâminas de escoamen to
superficial e os maiores volumes de infiltração, proporcionando, assim, menores taxas de
desagregação do solo, concluindo que, para todo o ciclo da cultura da cana, observou-se
diminuição das perdas de solo com o aumento das taxas de cobertura.

7
tha·l

o 20 40 60 80 100
% de palha
1 1
Figura 6. Perdas de solo por erosão (t ha· ano· ) em razâo da porcentagem de cobe rtura da u perfid
do solo em Argissolo sob sistema cana crua.
Font~: Adaptado de Martins Filho et ai. (2009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1042 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Esses re ultados, juntamente com outros obtidos nas demais regiões do país (De Maria
e Dechen, 1998; Garbiate et al., 2011), ratificam a importância da colheita da cana crua, que,
em razão da manutenção da fitomassaresidual sobre o solo, pode proporcionar grande efeito
na redução da erosão na áreas de produção da cana-de-açúcar. Resultados preliminares
de estudos de erosão nos tabuleiros de Alagoas demonstram que a permanência de 50 % da
fitomassa residual na superfície do solo tem levado a perdas de solo semelhantes àquelas
das áreas onde todo a palhada permaneceu sobre este (Mello Ivo, 2012), indicando que,
pelo menos sob ponto de vista da erosão, metade da palhada produzida pela cana poderá
ser retirada do sistema, sem maiores prejuízos ao solo.

EROSÃO DO SOLO EM ÁREAS DE CULTIVO DE


CANA-DE-AÇÚCAR

A cultura da cana-de-açúcar apresenta peculiaridades que favorecem a proteção


do solo, como preparo somente na reforma (em média a cada cinco anos), rusticidade,
vigoroso sistema radicular, fechamento rápido do dossel etc. Estas vantagens competitivas,
quando associadas às práticas mecânicas de conservação do solo, conferiam segurança na
proteção contra a erosão. Todavia, mudanças no sistema de produção, caracterizadas por
talhões e frentes de trabalho ocupando grandes áreas, retirada do palhiço para cogeração
de energia e etanol de segunda geração, tráfego intenso de máquinas pesadas, ampliação
da época de colheita (safras longas) e plantio para períodos de maior pluviosidade, além
da tendência de retirada dos terraços para ôtirnizar o rendimento da colheita mecanizada,
incompatibilidade das práticas mecânicas empregadas por ocasião do cultivo das culturas
de sucessão, contribuíram para impulsionar a erosão do solo (Bolonhezi e Gonçalves, 2015;
De Maria et ai., 2016).
A erosão do solo inicia-se com a retirada da cobertura vegetal que expõe a sua camada
superficial ao impacto das gotas da chuva, ocasionando desagregação das partículas e
consequente redução da infiltração de água, aumento do deflúvio e deposição em canais
dos terraços e nos cursos d'água. O encrostamento superficial (alteração nos primeiros
5 cm), decorrente do preparo intensivo, que pulveriza o solo, e da retirada da cobertura,
bem corno da compactação subsuperficial, é a primeira forma de degradação física do solo
e que caracteriza o inicio do processo erosivo (Figura 7).
As causas da compactação do solo podem ser atribuídas à falta de conhecimento
sobre a capacidade de suporte de carga do solo e também à pressão de contato aplicada
pelos rodados dos equipamentos utilizados na mecanização nos ciclos de colheita da cana-
de-açúcar. As operações realizadas sem respeitar a faixa de friabilidade do solo causam
a degradação estrutural desse por meio de deformações pseudoelásticas ou plásticas,
normalmente irreversíveis na estrutura do solo. A faixa de friabilidade corresponde à
diferença entre o limite de plasticidade e o limite de contração desse solo. Como sugestão,
indicam-se, no quadro 3, os limites de plasticidade para os tipos de solo mais indicados ao
plantio de cana-de-açúcar, incluindo os respectivos teores de argila, sabendo-se que a faixa
de friabilidade do solo encontra-se abaixo do seu limite de plasticidade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA - DE - AÇ ÚCA R 1043

Figura 7. (a) Encros tamento da camada superficia l. (b) Com pactação da ca mada subsuperlicial.
Fotos: Oswaldo Vischi Filho.

Os tipos de erosão podem ser classificados em "erosão laminar" ou "em entr ulcos" e
"erosão em sulcos", ambas proporcionando o assoream ento dos mananciais. A erosão laminar
pode ser classificada como Ligeira, modernda, severa, muito severa ou extremamente vera e
é causada pelo impacto das gotas de chuva ou água de irrigação no solo descoberto. Quando
o fl uxo laminar não é interrompido, ganha energia e transforma-se em fluxo turbulento; por
conseguinte, ocasiona o arrastamento de partículas e erosão em sulcos. Já a erosão em ulco
é classificada, quanto à profundidade, como superficial, rasa, prohmda e muito profunda
(voçoroca); e, quanto à freqüência, pode ser ocasional, frequente ou m uito frequente (Lepsch et
al., 2015). O fato causador da erosão geralmente pode ser atribuído pelo longo comprimento da
rampa e pela falta de rugosidade na superfície. O "assoreamento" é a deposição dos sedimento
oriundos das camadas de solo erodidas, que são carreados pela enxurrada para as partes mais
baixas do relevo, justamente onde na maioria das vezes localizam-se os cursos d' água e demais
mananciais, causando a poluição ou a degradação dos mesmos.

Quadro 3. Limites de plasticidade como indicad or pa ra gestão da entrada de maquinário no canavial


v isando o preparo do solo, o plantio, os tratos culturais e a colhei ta

Tipo de Solo Textura Argila Limite de Plasfüidad li

gkg' kg kg '
Latossolo Vermelho Eutroférricofl1 Argilosa 520 <0.-l0
Latossolo Vermelho Eutróficofll Argilosa 4-10 <0.31
Latossolo Vermelho Distróficor- 1 Argilosa 315 <0,:5
La tossolo Vermelho Distroférrico()l Média 560 <0,-15
La tossolo Vermelho-Amarelo14l Média 326 <0, 18
Argissolo Vermelho Média 171 <0,22
Argissolo Vermelho-Amarelo15l Média 186 <0,25
Nitossolo Vermelhol61 Ar gilosa 270 <0,32
Cam bissolo(7) Argilosa +H <0,13
Cambissolol•I Média 29-l <0,:23
Neossolo Quartzarênico Arenosa ~50 <0,26
r11A umidad e deverá estar abaixo do limite de pla.sticid,1de. Cl•Visch1 Ftlho et ai. (20 15). •' 1Ar.iujo Junior ._.1 .il. (- ffil). ' '-5.:vo:,.nano ., 1
ai. (201 0). csiracheco e Cantalice (2011). 1º5ilva et al. (2010). ven.1110 d ,11. (2008) .

MAN EJO E C ON SERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1044 DENIZART 80LONHEZI ET AL ,

A ocorrência de erosão em qualquer um dos níveis apresentados na figura 8 é passível


d e fiscalização e autuação, conforme a legislação, que dispõe sobre o uso, a conservação e
a preservação do solo agrícola. No Brasil, diversos estados apresentam legislação quanto
ao uso do solo, todavia, somente nos Estados de São Paulo e Paraná as leis são aplicadas
pelo Poder Público por meio dos órgãos de defesa agropecuária. Em São Paulo, a legislação
que dispõe sobre o uso e a conservação do solo está alicerçada na Lei Estadual nº 6 171
(04/ 06/ 1988), que é regulamentada pelo Decreto nº 41.719 (16/04/1997), complementadas
por mais duas Resoluções da SAA (nº. 7 e 11), uma Portaria (nº. 6, de 24/06/1997) e dois
Decretos (nº. 44 884, de 11/05/2000, e nº. 45 273, de 06/10/2000).

figura 8. (a) Erosão laminar. (b) Encrostamento e assoreamento do sulco. (e) Escoamento superficial
e assoreamento de terraços. (d) Erosão por sulcos decorrente de rompim ento de terraços. (e)
Voçoroca (Neossolo Quartzarênico em Araraquara, SP, após 400 mm d e chuva em uma semana
em fevereiro/2016). (f) Assoreamento de mananciais.
Fotos: a _ Qswaldo Vischi Filho; b - ~ r t Bol_onhezi (Catanduva/SP); e - Antonio Cesar Bolonhezi (Aparecida do Taboado/ MS);
d -AdalbcrtO Lanziani; e - Roberto Mikio Arabon (CDA, Araraquara/SP, fevereiro / 201 6); f - Oswaldo Vischi Filho (Agudos/ SP).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

ai
XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA- D E-AÇÚCAR 1045

De acordo com essa legislação as penaJidades inci dirão sob.re os au tores, seja m esses
arrendatários, parceiros, posseiros, gerentes, técnicos resp onsáveis o u proprietário da
área. O infrator deverá apresentar no prazo de 60 dias, pror rogáveis por mais 60 dias, um
projeto contendo a determinação das "classes de capacidade de uso do solo" (Lepsch et al.,
2015) da área em questão e um plano de definição da temologia de conservação de solo,
que deverá ser implantado no prazo previsto, além da aplicação de penalidade p ecuniária
no valor mínimo de 20 a 1000 UFESP (unidades fiscais do Estado de São Pa ulo).O valor
de uma UFESP é atualizado anualmente, sendo de R$ 25,70 para 2018 (Comunicado DA-
96/2017, de 21 de dezembro de 2017).
No Paraná, a aplicação da Lei Estadual nº. 8 014, de 14 de dezembro de 1984,
regulamentada pelo Decreto Estadual nº. 6120, de 13 de agosto de 1985, alterad o p elo
Decreto nº. 5 509, de 8 de agosto de 1989, é realizada pela Agência de Defesa Agropecuária
do Paraná (ADAP AR). Esta legislação conservacionista foi pioneira no Brasil e, de acordo
com a Portaria n.º 272 (ADAPAR, 2016), prevê multas de cinco a 17 UFP (Unidade Fiscal do
Paraná, valor de R$100,60, em agosto/2018) por hectare. Essa legislação teve sua ap licação
acelerada após a criação da ADAPAR e atualmente está sendo aplicada de maneira efetiva.

PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS NO SISTEMA DE


PRODUÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Antes de qualquer planejamento de uso, deve-se fazer a qualificação dos riscos de


erosão, buscando considerar de forma integrada o tipo de solo e relevo, com finalidade de
auxiliar na determinação da susceptibilidade às perdas de solo e água (Bertoni e Lombardi
Neto, 1992; De Maria et al., 2016). Além do solo e seus atributos, considerar a paisagem
auxilia na definição de qual combinação de uso agrícola, bem corno de medidas de controle
da erosão, que permite o uso mais intensivo da terra sem risco de prejudicar seu potencial
produtivo. Para isso, é importante classificar as terras conforme sua capacidade de uso.
A classificação da capacidade de uso das terras é um sistema de avaliação para fins
gerais, desenvolvido pelo Serviço de Conservação de Recursos Naturais do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (Klingebiel e Montgomery, 1961), e depois adaptado
pela FAO (1977), sendo amplamente difundido. O sistema brasileiro de classificação da
capacidade de uso da terra (Lepsch et al., 2015) é uma versão modificada da classificação
americana e difere pelo fato de considerar nos níveis hierárquicos a unidade ou o grupo
de manejo. Consideram-se três níveis hierárquicos: "Classes" (I até VIH, indicam o grau
de limitação de uso), "Subclasses" (tipo de limitação, erosão, água, clima) e " Unidade"
(uso e práticas de manejo). A cana-de-açúcar destinada à indústria pode ser cultivada
nas classes I a IV, porém aceita-se cultivo nas classes VI e VII somente com a adoção de
práticas complexas de conservação do solo, em razão das lirrútações da paisagem em
termos de declividade e gradiente textura!. Drugowich et al. (2015) apresentaram tutorial
quanto à classificação da capacidade de uso, para fins de elaboração de projetos técnicos
de conservação de solo.
O planejamento da conservação do solo cultivado com cana-de-açúcar necessita er
analisado sob dois aspectos, de acordo com o Boletim de Recomendações Gerais para a
Conservação do Solo da Cana-de-Açúcar (De Maria et al., 2016). O primeiro aspecto refere-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


----
1046 ÜENIZART 80LONHEZI ET AL,

e à quantidade de erosão esperada, que é calculada p or modelos preditivos ou históricos


da gleba, e define a primeira fase do planejamento, denominad a d e " Projeto d e Controle
d a Ero ão" (aspectos físicos de solo, relevo e clima do imóvel rural, bem como informações
sobre cultivos e preparo do solo). O conhecimento sobre o risco de erosão de determinado
solo é utilizado para orientar O uso das práticas conservacionis tas necessárias .
A Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS ou USLE, Wischmeier e Smith, 1978)
requer infom1ações de características de solo e clima, comprimento de rampa, declividade
e cálculo do fator de uso e manejo (fator C) para cada condição esp ecífica de chuva e
operações de manejo da cultura. De Maria et al. (1994) mencionaram que o fator C variou
entre 0,104 e 0,113 para cana-de-açúcar colhida manualmente e cultivada no espaçamento
1,5 m e com preparo convencional, em diferentes regiões do Estado de São Paulo. Andrade
et ai. (2011) obtiveram valores do fator C de 0,160 para cana planta e 0,060 para o quinto
corte, considerando as condições de um Argissolo em Catanduva, SP.
O segundo aspecto refere-se ao conjunto de medidas adotadas especificamente para
evitar os danos causados pelo escoamento superficial, sendo denominado de "Projeto de
Controle do Escoamento Superficial da Enxurrada" (considera ações es pecíficas sobre o
destino da água recebida e gerada no imóvel e que es truturas deverão ser utilizadas para
condução das enxurradas até a rede de drenagem primária).
Sabe-se que as práticas conservacionistas podem ser classificadas como "vegetativas",
"edáficas" e "mecânicas". Entre as práticas vegetativas, existe a que envolve o cultivo
de determinadas espécies, normalmente que apresentam sistema radicular vigoroso e
rápido fechamento, que se constitua em faixas de vegetação permanente, instaladas em
nív el e nos pontos críticos da paisagem (De Maria e Martins, 2015). As práticas edáficas
atuam na melhoria da qualidade do solo, incluindo a fertilidade e as propriedades físicas,
visando melhor desenvolvimento das plantas e mantendo o solo coberto a maior parte
do tempo e uma estrutura estável e com boa infiltração de água. A cana-de-açúcar no
modelo de produção vigente permite a adoção de diversas técnicas no sentido de aumentar
a cobertura vegetal e infiltração de água, corno alteração do espaçamento entre sulcos,
manutenção do mínimo de palhiço após a colheita mecanizada, enleiramento da palha
(acelera a brotação e aumenta a rugosidade superficial, Figura 9), época de plantio, uso
de variedades adequadas, sucessão ou rotação de culturas, sistema Meiosi, escarificação
da soqueira e controle de tráfego, entre outras. Vale salientar que o sistema denominado
Meiosi (Método inter-rotacional ocorrendo simultaneamente), predominante em diversas
usinas, foi inicialmente proposto por Barcelos (1984, 1990), que proporciona proteção do
solo, além de reduzir os custos com mudas, fornecer N e auxiliar no controle de nernatoides.
o sistema Meiosi consiste no plantio de dois ou três sulcos de cana-de-açúcar durante a
primavera, dos quais serão retiradas as mudas para realizar o plantio no outono seguinte
(após seis meses em média). No espaço deixado entre esses, são cultivadas as culturas
de sucessão, em geral leguminosas comerciais (soja e amendoim), ou com finalidade de
adubação verde, sobretudo as crotalárias (Figura 10).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1047

Figura 9. (a) Manejo da palhada da cana com enleiramento (Lençóis Paulista/SP). (b) Manutenção
total da palhada.
Fotos: a - Oswaldo Vischi Filho; b - André Cesar Vitti.

Figura 10. (a) Sistema Meiosi com cultura comercial de soja {Rincão, SP). (b) Sistema Meiosi com
adubo verde Crotnlaria spectnbilis (Usina Iracema, lracemápolis, SP).
Fotos: a - Denizart Bolonhezi; b - José A. Donizeti Carlos.

Técnicas para controlar o escoamento superficial


Direção da sulcação e sistematização dos canaviais
Inicialmente, define-se o espaçamento que será adotado para que se tenha o estande
de plantas adequado para a cultura. O espaçamento simples de 1,50 m entre sulcos é o mais
utilizado, porém, para otimizar a colheita, normalmente associada com tráfego controlado
(Figura 11), preconiza-se o uso de espaçamentos duplos, podendo variar de 1,40 até 1,60 m,
entre linhas duplas, e de 0,40 até 0,90 m, entre linhas simples. Com isso, é possível diminuir
em 30 % o número de passadas da colhedora, favorecendo o crescimento das raíze e o
aumento da infiltração de água na zona sem tráfego.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1048 ÜENIZART 80LONH EZ I ET AL.

Figura 11. (a) Espaçamento alternado. (b) Faixa de 3 m com tráfego conh·olado (Usina Porto das
Águas, Chapadão do Céu, GO)
Fotos: a - Oswaldo Vischi Filho; b . Denizart Bolonhezi.

A realização das operações de preparo do solo, sulcação ou plantio mecanizado


em nível é uma das práticas mais antigas de controle do escoamento superficial, com
significativos efeitos no controle da erosão em terrenos com declividade entre 3 e 12 cm m1,
podendo chegar até 18 cm m-1 em solos com maior resistência à erosão. Porém, para facilitar
a mecanização da lavoura, pode-se efetuar um plantio mais retificado (próximo à linha
reta) cortando o sentido das águas. A demarcação da linha pode ser efetivada por meio
de nível de precisão e iniciará com a alocação de uma linha de rúvel mediana, onde se
tiram as linhas paralelas de baixo para cima até encontrar a linha de nível superior, onde
foi marcado um carreador. Da mesma mediana, tiram-se linhas paralelas para baixo até
encontrar a linha de nível inferior, onde foi demarcado outro carreador, ficando assim
todas as ruas com saída para os carreadores. Cabe ressaltar que quanto menor o declive do
terreno, melhor se adapta esse processo descrito. Caso o terreno apresente várias rampas
com declividades muito diferentes entre si, é aconselhável separar estas áreas diferentes
por meio de carreadores em nível ou de pendentes, dependendo da posição das áreas.
Uma boa opção para terrenos com declividade entre 5 e 12 cm m-1 é construir terraços de
base larga, em nível ao longo das linhas de plantio da cana-de-açúcar.
Também, como método usual, utiliza-se controle de tráfego e piloto automático.
Nas unidades produtoras, usa-se esse sistema, que é uma forma de baixar os custos
de implantação, cultivo ou condução e colheita. O sistema de implantação do canavial
é realizado em computador (projeto de plantio), utilizando-se o software AutoCAD
(Autodesck®), em que se distribuem os taU1ões, os carreadores e pendentes e as linhas de
plantio (Figura 12). Após definido o projeto no computador, o arquivo é transferido para o
trator (equipado com sistema GPS), que efetua as operações d e preparo do solo, plantio e
tratos culturais e também às colhedoras e trator que traciona o conjunto de colheita trator/
transbordo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1049

(•)V
Figura 12. Substituição de terraços embutidos por terraços base larga. (a) Antes do projeto. (b)
Linha vermelha = divisa da propriedade. Linha preta = carreadores. Linha amarela = terraços
existentes. Linha azul= terraços de base larga.

O termo sistematização dos talhões surgiu com o crescimento da adoção da colheita


mecanizada sem queima prévia e pode ser definido como planejamento prévio do plantio
do canavial por meio de recursos modernos de levantamento planialtimétrico (GPS
Geodésico) para determinar a sulcação, a alocação de estradas, os carreadores e terraços,
com objetivo de otimizar o processo de colheita (Branquinho, 2015). Martins Filho et al.
(2015) mencionaram que a sistematização reduz em 27, 18, 23 e 54 % o número de quadras,
manobras das colhedoras, carreadores e terraços, respectivamente, permitindo um
acréscimo de 118 ha de área plantada, em comparação com talhões não sistematizados.
Estes autores esclareceram que a sulcação no sentido de maior comprimento, para elevar
a capacidade operacional das colhedoras, pode aumentar o escoamento superficial em
virtude da menor infiltração na zona trafegada, fato que requer estratégias no sentido de
reduzir a mobilização e desestruturação do solo.

Terraceamento: tipos, formas e dimensionamento


É uma prática mecânica para o controle da enxurrada, que foi desenvolvida nos EU
com a concepção de interceptar e conduzir até à rede de drenagem de forma egura o
excesso de água que não infiltrou na área em um evento de precipitação extremo (Sparo ek
e Maule, 2015). Introduzida no Brasil, na década de 1930, sofreu adaptações específi as
(terraço de infiltração), porém ainda é a mais conhecida prática de conservação de solo e
água, mesmo havendo consenso em não utilizá-la de forma isolada, pois a eficiência no
controle das perdas de solo e água são de 80 e 20 %, respecti arnente (Bertoni e Lombardi
Neto, 1992; De Maria e Martins, 2015). São estruturas de terra, constituídas de um canal
e um can1alhão ou dique, que interceptam a enxurrada e tem as funções de parcelar o

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1050 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

comprimento da vertente e reduzir a velocidade do fluxo e o arrastamento das partículas.


Para determinar o espaçamento vertical enh·e os terraços, existem diversos métodos,
tabelas e equações. Os principais métodos utilizados no país para realizar os cálculos do
espaçamento vertical dos terraços são:

a) Método da Bentley, citado em Embrapa (1980)


EV = (2 + D/X) 0,305
em que EV é o espaçamento vertical em m; D, o declive do terreno em cm m -1; e X, o fator
que depende do tipo de solo e sua resistência à erosão, do tipo de cultura e das condições
das chuvas da região.

b) Método de Bertoni (1959)


EV = 0,4518 K x 0°.ss

e) Método de Lombardi Neto et. ai. (1991)


EV = 0,4518 K x Dº,ss (u + m)/2

em que EV é o espaçamento vertical em m; K o índice que reflete a capacidade do solo e


absorver água e a resistência dele à ação erosiva da água; D a declividade do terreno em
cm m-1; u o índice que reflete a cobertura; em o índice que leva em consideração o preparo
do solo e o manejo da biomassa cultural residual.
No Estado de São Paulo, a recomendação oficial baseia-se na equação proposta
por Lombardi Neto et al. (1991), em virtude de considerar o grupo hidrológico do solo,
a declividade do terreno e as informações de uso e manejo. Esta equação foi revisada e
incluiu-se o fator p, que compreende técnicas de conservação do solo para aumentar a
cobertura vegetal e a infiltração de água no solo e varia de 0,90 até 1,3 (De Maria et ai, 2016).
Maiores detalhes sobre o assunto podem ser vistos em De Maria et al. (2016) e no
capítulo 17, sobre práticas conservacionistas do solo e da água, neste mesmo livro.
O projeto de controle da erosão define o tipo de terraço, a sua localização na paisagem
frente às estradas, às linhas de transmissão, às divisas, além do espaçamento a ser adotado.
No entanto, é o projeto de escoamento da enxurrada que define os critérios técnicos e o
dimensionamento (formato, tamanho, técnica construtiva). Quanto à forma, os terraços
podem ser de armazenamento ou infiltração (construídos em nível) e de drenagem ou
de gradiente (construídos em declive), onde urna das extremidades deve ser aberta para
escoamento da enxurrada. Com relação ao tipo de construção (Figura 13), pode ser do tipo
Nichols (realizado com equipamento de corte tipo arado, cortando o solo sempre de cima
para baixo) ou Man~m (efetuado c_om equip_amento de corte e movimentação de s~lo
tanto de cima para baixo como de baixo para cima, sempre cortando o solo em uma fal.Xa
afastada da anterior na mesma medida que a faixa de corte do equipamento). Quanto à
dimensão, pode ser de base estreita (;S; 3 m de largura) e base média (de 3 a 6 m) ou base
larga (6 a 12 m). Com respeito à forma, pode ser do tipo comum, embutido (patamar),
invertido, murundum ou leirão e passante.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA- DE- AÇÚCAR 1051

Figura 13. Principais tipos de terraços utilizados na cana-de-açúcar. (a) Base larga com 16 m. (b)
Embutido (patamar). (e) Invertido. (d) Mangum construido com arado de discos
Fotos: Oswaldo Vischi Filho.

As dimensões e formas dos terraços são definidas em razão do tipo de solo, relevo e
manejo adotado, contudo, dependem também da disponibilidade de equipamentos e da
busca em maximizar o aproveitamento da área plantada. Nesse sentido, terraços de base
larga permitem 100 % de aproveitamento e requerem uso de terraceadores, ao contrário dos
terraços embutidos e invertidos, que reduzem a área disponível. Conforme a declividade
do terreno, Lombardi Neto et al. (1991) estabeleceram a seguinte recomendação: base larga
(2-8 cm m-1), base média (8-12 cm m-1), base estreita (12-18 cm m-1) e patamar (> 18 cm m ·1) .
Os terraços passantes são assim denominados por permitirem que as máquinas transitem
em qualquer direção passando por cima do camalhão; todavia, podem compactar e
orientar o fluxo da enxurrada, sobretudo em solos arenosos (De Maria et al., 2016). Quando
construidos de forma inadequada, comprometem o plano de conservação e, em algumas
circunstâncias, podem agravar os processos erosivos. Os melhores equipamentos para
construção dos terraços de infiltração são as motoniveladoras e as escavadeiras hidráulicas,
por causa da menor compactação ocasionada no canal ou base (Figura 14). Em razão da
maior área de terra raspada no processo de construção com terraceadores, recomendam-se
dobrar as doses de calcário, gesso e fosfato e, quando possível, utiliz ar torta de filtro nas
faixas de solo revolvido, com a finalidade de recomposição química. os terraços de base
estreita e embutidos, a área revolvida é menor, tomando-os mais resistentes, porém de em
também receber correção no canal (Bertolini et al., 1993; De faria e 1artins, 2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1052
ÜENI Z ART BOLONHEZI ET AL .

, OutTos deléllhes sobre O sistema de terraceamento agrícola podem ser observados no


capitulo 17, sobre práticas conservacionistas do solo e da água, neste mesmo livro.

Figura 14. (a) Motoniveladora consb·uindo terraço de base larga. (b) Pá carregad eira criando terraço
embutido. (c) Terraceador edificando terraço de base larga. (d) Retroescavadeira elaborando
terraço invertido.
Fotos: a, b e e. o ~ valdo Vischi Filho; d · Jorge A. Quiessi.

O excedente de água interceptado pelos terraços deve ser direcionado de forma


segura até estruturas dimensionadas para a drenagem. Os canais e pra dos escoadouros são
estruturas naturais ou artificiais que devem estar estabilizadas e dimens ionadas para evitar
risco d e rompimento, estar vegetados preferenciaJmente com gramín eas estoloníferas
(evitar plantas de touceiras, que criam canais preferenciajs) e con struídos antes da
instalação dos terraços. Em solos com alta permeabilidade, pode-se dispensar a adoção
d e canais escoadouros, porém nos solos com B textura], especiaJ mente nos abruptos, a
cons trução d e canais em desnível é imprescindível (Lombardi Neto et a i., 1993). Quando há
necessid ade de desviar a enxurrada das cabeceiras das voçorocas e proteger áreas planas
a jusante, recomenda-se a con~trução de canais _divergentes no sentido contrário ao maior
d ecl ive com um pequeno desmvel para proporc10nar o transporte da enxurrada com baixa
velocidade para um ponto de escoamento (Lombardi Neto, 1993).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

_ .............
XXXIII - MANEJO E CON SERVAÇÃO DO SO LO EM C ANA-DE-A ÇÚCA R 1053

Práticas auxiliares de controle da erosão


As mudanças tecnológicas recentes na área de geoprocessamento, topografia, ferramentas
cartográficas, máquinas e sofhuares para gerar modelos de elevação digital de alta precis- o
permitiram o desenvolvimento da proposta de planejamento conservacionista conh cida com
Sistematização de Escoamento Controlado (SEq ou ta mbém denominada par Escoamento
Superficial Difuso (FSD). De acordo com Sparovek e Maule (2015), esta témica visa escoar
lentamente a enxurrada pela rugosidade decorrente das operações de cultivo, desde o preparo
do solo ao plantio e cultivas subsequentes. N o ESD, o desenho das linhas de plantio conver e
ao sentido de um canal de drenagem (natural ou construído) de condução de fluxo da
enxurrada ao longo da vertente. Dessa forma, evita-se a formação de grande fluxo de e gu que
pode comprometer as estruturas dos terraços. Embora existam poucos resultados científico
consistentes sobre uso desta técnica, o setor produtivo tem ad otado como urna solução viável.
A conversão de uma área terraceada para ESD envolve riscos maiores de erosão em relação ao
sistemas estabilizados, seja com terraços ou ESD, exigindo planejam ento criterioso e execução
rigorosa das etapas operacionais (Sparovek e Maule, 2015). Portanto, o ESD não deve ser uma
proposta isolada, mas sim combinada com outras prá ticas de conservação, principalmente
aquelas ligadas ao tipo de manejo de solo (sempre em contorno no relevo) u tilizado e à pr nça
de fitomassa residual sobre a superfície.
Na cultura de cana-de-açúcar, o primeiro passo é conhecer dentro de cad a paisagem
as suas características como a área de contribuição da bacia hidrográfica e entender a
dinâmica da água quanto à capacidade de infiltração e, ou, escoamento, ti pos de olo e
seus atributos, entre outros fatores. Por meio dos cálculos e entendimento da bacia de
contribuição, busca-se conseguir fazer com que a área se enquadre dentro da legi lação
quanto à classe de capacidade de uso (Figura 15).

Figura 15. (a) Paisagem com plantio de cana-de-açúcar somente com a alocaçã de terraço ; (b)
Planejamento da sulcação e alocação de canais escoadouros pel técnica modem , de i temas
de lnformações Geográficas
Fotos: Tedson Luiz Freitls de Azeved o.

Aspectos importantes no planejamento da conservação do solo na


cana-de-açúcar
O conhecimento quanto aos tipos de solo pre ente na pai agem tam bém é um p to
relevante, uma vez que existem solos mais susceptí eis d e erem erodid ua p
no relevo está associada com sua gênese como os Argi solos, Cambi s 1 e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1054
ÜENIZART BOLONHEZI ET AL.

Li tólico , pnn · ipa


· 1mente se ocorrem nas encostas com declividades mais acentuadas.
e es me mos locai , os Lato solos de textura média e os Neossolos Quartzarenicos,
embora drenados, são facilmente erodidos por apresentarem estrutura fraca ou ausência
de e trutura, do ponto de vista morfológico. Na figura 16, evidenciam-se a ocorrência de
solos na pai agem e o risco da erosão quando não é realizado sistema adequado para o
flu ' O e a infiltração da água das chuvas (Figuras 16c, d).

Sol~Paisagem da região de Pradópolis - SP


L-1
Latos..solo 4
Lntosso)o 3 Latossolo 2 L-3· L-4
!
L.itos.solo 1
Argissoloe/ou N-3· N-4
Nro~solo GX-3 GX-3
uartzarêmco
Rio

Figura 16. Solos na paisagem e riscos de erosão. Na paisagem, quando no topo, apresenta solos
de textura muito argilosa; e, na baixada, textura média para arenosa (a) Se a contenção não
for adequada no topo, os riscos de erosão em formar voçoroca são grandes; (b) L-Latossolo,
N-Nitossolo, GX-Gleissolo Háplico; os números representam teores de argila (1 = >150-
250 g kg1, média arenosa; 2 = 250-350 g kg1, média argilosa; 3 = >350-600 g kg·1 , argilosa; e
4 = > 600 g kg1, muito argilosa); (c) Em razão de a enxurrada cortar o solo mais profundo, pois
não apresenta boa estrutura, diferente da figura 2b onde o escoamento é mais superficial por
causa da forte agregação do solo (d).
Fotos: André Cesar Vitti.

De acordo com Prado (2011), o ambiente de produção para cana-de-açúcar é definido


pelas condições físicas, hídricas, morfológicas, químicas e mineralógicas dos solos, que
auxiliam sobremaneira na alocação das variedades e são subdivididos em 10 níveis (Al e
A2, Bl e B2, O e C2, D1 e D2, Ele E2). Conforme os critérios de Prado (2011), os ambientes
mudam conforme variação de 4,0 ou 5,0 t ha·1 na produtividade de colmos, respectivamente
para as regiões Centro-Sul e Nordeste_d~ Brasil. Nas regiões Centro-Sul e Nordeste, para
ser considerado ambiente Al, a produtividade de colmos deve ser maior que 100 e 85 t ha·1,
respectivamente; e para considerar ambiente E2, as produtividades devem ser menores
e 68 t ha·1, na região Centro-Sul, e menor que 45 t ha·I, na região Nordeste do Brasil. Este
qu
é um conceito bastante coru -t.. ' d o no p 1aneJamento
1eci'd o e u til iza · agrícola das usinas. Além
dessa utilídade, em razão do leva~t~~ento e clas~ificação do solo, é possível definir blocos
ou grupos de manejo. Com a defimçao dos ambientes de p~odução, é possível identificar
0
que e onde plantar; pela proposta de grupos de maneJo, é p ossível estabelecer que

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

r1IIIIIII
XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM (AN A- D E - A ÇÚCAR 10 55

manejo d e solo mais adequado; por exempl o, nos La toc;so los de tex tura média, 1_ eo<;so lo5
Quartzarénicos e Litólicos, Argissol os e Cambissolos, em cspeci,il oc; rasoc;, evi tar o <;e u
pre paro no período das águas para que esses não fi q u m descob rtos, poic; .1presentam
maiores riscos de serem erodidos, principalmente se ocorrem em ,í r as com dec lividat.!c.
Evitar o preparo no período chuvoso e manter com cobe rtura vegeta l. Em bora os solos
argi losos sejam mais difíceis de serem erodidos em relação aos citadoc; a nterio rmente,
devem-se tomar os mesmos cuidados, principa lmente o nd e ocorre topografia5 mais
acentuadas. Esse conceito também pode auxiliar na qua lid ade elo p reparo, co mo para olo
de textura mais argilosa, que evitam-se o prepa ro e pla n tio no per íodo q ue os solos ec;tão
com baixa umidade, pois pode ocorrer forma ção de to rrões.
ormalmente, na região Centro-Sul, durante o inverno, as ch u vas são escas<;a
demanda irrigação por ocasião do plantio; nesse caso, os solos a rgi losos necessitam d
lâminas maiores e, na majoria das vezes, deve-se repetir a irrigação, enquan to em solos de
textura média precisa-se de lâminas menores de u-rigação.
Em razão da expansão da lavoura canavieira e das alterações na mecanjzação e no manejo
específico, a cana-de-açúcar passou a ser plantada praticamente o ano todo. A região Centro-
Sul apresenta, portanto quatro épocas de plantio: fevereiro a abril (cana-de-ano-e-meio), maio a
agosto (cana-de-inverno), setembro a novembro (cana-de-ano) e dezem bro ano 1 e janeiro ano
2 (cana-dois-verões). Nota-se que este último plantio pode es tar incluido tanto nos plantios de
ano e meio (mês de janeiro) como no de ano (mês de dezembro). Tanto o plantio d e cana-de-
ano como o de dois verões não é recomendado para solos com impeilimentos e, ou, com baixa
infiltração, como os Neossolos Litólicos e ArgissoJos, bem como solos pouco estruturados
como os Latossolos de textura mills arenosas e Neossolos Quartzarêrúcos, pois são faci lmente
erodidos. Deve-se dar preferência para solos de textura mais argilosa, com condições químicas
e físicas favoráveis como os Latossolos e Nitossolos Eutróficos (elevada CAD - capacidade
de água disporúvel). Também, devem-se evitar ainda áreas declivosas, principalmente no
período das águas estando esses solos descobertos. As épocas de plantio da cana-de-açúcar e a
principais recomendações do ponto de vista da brotação, do desenvolvimento das plantas e do
controle da erosão estão representadas no quadro 9. Como já mencionado para os sistem as de
preparo de solo, cada região tem sua particularidade e, em razão de suas condições especifi.cas,
torna-se necessário um ajuste a partir de infonnações locais.
A adubação do canavial após cada colheita pode ser associada à e arilicação da
entrelinha e é uma prática conhecida como cultivo da soqueira. O cultivo da soqueira
dependerá de algumas considerações como a taxa de infiltração de água no solo, a umidade
do solo após a colheita, a presença ou não da palhada, a época de cultivo e a forma de aplicar
o fertilizante (linha, próxjmo a entrelinha, em área total, incorporado o u não), bem como 0
desenvolvimento do sis tema radicular. a decisão de realizar o culti o, deve-se executar 0
mais rápido possível, pois quanto mais tempo demorar o cultivo mecânico e te passa a trazer
problema no novo sistema radicular que formou por ocasião da rebrota da oquei ra. Ca 0
tenha necessidade de aplicação de corretivo, deve-se realizar ante do cultivo. Em relaçã à
profundidade de cultivo, não há necessidade de efetuar um culti o profundo (profundidade
de 10 a 15 cm) nas áreas sem problemas de compactação abaixo de a camada. o id eal é
que o solo ap resente umidade suficiente para não formar torrões. O benefícios d o culti 0
são que com a escarificação do solo há a permissão da incorporação d o adubo, cas seja
u tilizado fonte de N que favo reça perda~ ~or volatilização; e evita o escoamento su perficial,
principalmente em áreas com certa decltv1dade, com a melhoria da infiltração d e ~'i•ma. Em
condições de clima seco no período de safra, o cultivo, independentemente da textura do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1056 DENIZART 80LONHEZI ET AL,

sol , fica compr metido a não er nas soqueiras de outubro a abril, pois teria condições
fa r i de umidade. Em Argissolos de relevo ondulado até fortemente ondulado não se
recom nda o culti o, independentemente da texh.rra.

Quadro 9. Ép as de plantio da cana-de-açúcar em razão dos ambientes de produção, dos tipos de


o los, da drenagem, da textura e do relevo (De Maria et al., 2016)
Ambi<!nle solo, rfi dren...1 ,te>.h.Jra relevo
jaryl'ev mar/a
A-B
B-C lano • 5WIVC ondulado
A-B ondulado• fone ondulado
C-D
P-G
A-C
B-D
B- D ulado a fone ondulado
D-P 1ano •!IUIIW ondulado
D -P ondulado a fone ondulado
D-G SOlasra!06 plano
0-G .,losJ'll908 plano
D-G solas J'll908
D-G 10losJ'll908 restrita/~ ondulado a fone.ondulado
adequado
adequado: falta umidade, a não sa- irrigado, bacia de vinhaça
pouco adequado: eroslo, UL!IOr'ealllCIIIX>, cndlarcammtQ baixa produtividade,. falta umidade, dificuldade 91lfda cana
rcitrita: erosão, asoreamcnto, cncharcamcnlD, baba produtividade,. falta umidade, di.6culd.adc salda ema
=....:....:::= cultums altemativas: IIOj&, amendoin, aotal&rla, braqu1úia, aoqucira anterior

O recolhimento do palhiço (Figura 17) é um assunto polêmico e ainda não é possível


concluir quanto aos impactos sobre a conservação do solo, da água e sobre as características
agronômicas da cana-de-açúcar. Estudos a respeito da porcentagem de solo coberto,
em razão dos níveis de recolhimento, concluíram que para não ocorrer enriquecimento
(matéria orgânica, P, K, Ca e Mg) do sedimento erodido, para Argissolo e Latossolo, são
necessários 76,1 e 65,5 % do solo coberto, respectivamente ( Souza et ai., 2012). Tais índices
de cobertura da superfície do solo, segundo esses autores, representam a necessidade de
um aporte, no período pós-colheita da cana-de-açúcar, da ordem de 12,5 e 10,2 t ha·1 de
palhiço, respectivamente em Latossolo e Argissolo. O recolhimento do pallúço é comum
em usinas que comercializam energia excedente do sistema de cogeração.

Figura 17. (a) EnJeiram ento e recolhimento ~e pa_U1a antes do preparo d o solo, Pitang ueiras, SP.; (b)
Recolhimento e enfardamento do palhiço, Pitangueiras, SP
fotos: oeni 7..art Bolonhezi.

~
eONSERVAÇAO 1 /
MANEJO E DO SOLO E DA AGUA

...........
XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1057

SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO PARA


CANA-DE-AÇÚCAR

Existem aspectos peculiares da cultura dacana-de-açúcarqu devemsercontemplados


no planejamento da conservação de solo que a rigor é definido pelo levantamento do meio
físico. O sistema de manejo depende de diversos fatores: classificação do solo, típ de
colheita (queimada ou crua), época de realização da colheita e do plantio do novo can vi 1,
do sistema de plantio (manual, mecanizado), do propósito de uso (talhão comercial,
viveiro, uso de mudas pré-brotadas); necessidade de incorporação de fertilizan tes e
corretivos; recolhimento do palhiço; e ocorrência de problemas fitossanitários, como
o bicudo da cana-de-açúcar (Sphenoforus levis), que demanda a destruição mecânica d
soqueira e a incorporação da fitomassa residual. O número de operações e característica
dos irnplernentos utilizados depende da usina ou nível tecnológico do fornecedor e, na
maioria das vezes, da necessidade de reduzir os impactos da compactação ocasionadc
pelo tráfego das colhedoras. Normalmente, as operações de preparo de solo são realizada
após o diagnóstico da compactação e necessidade de corretivos de acidez. Quando existe
alta infestação de plantas daninhas de difícil controle (Cynodon sp., Cyperns s pp., mucuna
etc.), as operações são precedidas da aplicação de herbicidas sistêmicos e muitas vezes
específicos.
A despeito das diferentes combinações de operações e tipos de equipamen tos, no
modelo de produção da cana-de-açúcar predomina o sistema de manejo convencional,
embora seja muito utilizado o preparo reduzido e em menor proporção o plantio direto
e preparo localizado. O "preparo convencional" implica em um grande número de
operações, sendo iniciado pela aplicação ou não de glifosato sobre a soqueira e posterior
revolvimento do solo usando operações de aração, subsolagem e gradagem, que mobilizam
drasticamente o solo em área total, tendo como principais justificativas a eliminação ou
redução de problemas físicos, químicos e, ou, biológicos. A intensidade do preparo muitas
vezes é determinada pela cultura que será cultivada na reforma do canavial (Figura 18).
No caso da cultura do amendoim, em média, são realizadas seis operações de
preparo do solo em áreas de colheita mecanizada, condição que proporciona ocorrência de
assoreamento do sulco de semeadura e erosão em muitas situações (Figura 19). Em outras
culturas comerciais ou mesmo adubos verdes, é comum a ocorrência de erosão no período
da reforma do canavial, sobretudo quando os terraços são retirados ou redimensionado ,
visando facilitar a colheita mecanizada.
Quando existem altas infestações de pragas no solo, pode-se utilizar de truição
mecanizada da soqueira. Uma das principais medidas de controle do bicudo da cana-de-
açúcar é a passagem de destruidor mecânico de soqueira (Figura 20). Este equipamento
consiste de um eixo com facas que trabalham em alt~ rotação, triturando a soquei.ra e
expondo os insetos aos predadores e à radiação solar. E um equipamento muito utilizado
em plantio de cana de inverno, pois não há tempo hábil para esperar a rebrota. Emb ra
proporcione urna razoável cobertura do solo, demanda alto consumo de energia.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1058 ÜENIZART BoLONHEZI ET Al,

Figura 18. (a) Gradagem em soqueira de cana-de-açúcar; (b) Aração; (c) Gradagem niveladora; e (d)
Enxada rotativa em preparo para amendoim
Fot,o s: Oenizart Bolonhezi.

Figura 19. (a) Assoreamento do sulco de semeadura de amendoim em Latossolo Vermelho-Amarelo,


após seis operações de preparo; e (b) Erosão em cultura de amendoim em área de colheita
mecanizada
fotos: Oenizart Bolonhez.i.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

.e,,,e
XXXIII - MANEJO E CON S ERVAÇÃO D O S OLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1059

Figura 20. (a) Destruidor mecânico de soqueira d e cana e detalhes do equipamento, Jardinópolis, SP.; e
(b) Detall1e das facas do triturador.
Fotos: Deniz,1rt Bolonhezi.

Pesquisas realizadas na África do Sul, envolvendo cinco d iferentes tipos de solo ,


demonstraram que a cana-de-açúcar não aumenta a prod utividade q uando se efetua
preparo intensivo e profundo, na maioria das condições testadas. Estes resultad~s
concluíram que o preparo de solo para cana-de-açúcar d eve ser ao red or de 10 cm mais
profundo que a profundidade do plantio (Moberly, 1972). Deve-se esclarecer que mais de
60 % da biomassa do sistema radicular da cana-de-açúcar concentram-se nos primeiros
30 cm do perfil do solo e se renovam quase que integralmente a cad a ciclo (Smith e t al.,
2005). Portanto, para decidir sobre o nível de intensidade e profund idade das operaçõ
de preparo, deve se considerar um diagnóstico que as jus tifique, pois o custo pode ser
superior ao retorno em produtividade de colmos. De maneira geral, o p reparo do solo é
realizado para as culturas de sucessão e rotação, sendo na sequência efetua d o o plantio da
cana-de-açúcar sem preparo. Esta prática é comumente denominad a d e " cul tivo mínimo",
termo que não deve ser confundido com o preparo mínimo o u redu zido.
O preparo mínimo consiste no uso do subsolador em á rea to ta l ou em faixas na linha
de plantio, com objetivo de descompactação, e normalme nte associad o com operação de
distribuição de sementes das leguminosas utilizadas como adubos verdes. De acordo com
Benedini e Conde (2008), o preparo reduz ido aumenta em 37 e 85 % a taxa de infiltração
de água no solo, em comparação com preparo convencional, res pecti vamen te no s ulco
de plantio e entrelinha (Quadro 10). Na maioria das vezes, a o peração é realizada após
des truição química da soqueira com herbicida glifosato. A subsolagem (Figura 21) é a
operação que requer maior consumo energético e potência d e tra tores, consequen temente
é d e alto custo. Tem a finalidade de romper as camadas compactadas p resentes entre
20 e 50 cm, sendo mais eficiente quando efetuada com solo seco. Qua ndo efeti ada
com critérios e em condições que realmente requerem tal medida, co nfere a u mento da
m acro porosidade e porosidade total, diminui a resis tência d o solo à pen e tração, além de
aumentar a condutividade hi~áulica e gasosa. Quando feita sem cri térios, pode p iorar
a s características físicas, inclusive aumentando a compactação, be m com o a elevação no
cu s to de produção. Um subsolador é composto de haste (tipo reta, inclinada, c ur a ou
p arabólica), ponteira (é o órgão ativo, pode ser esh·eita com até 8 cm o u alad .1s, maior
que 8 cm) e sistema de desarme e ro~a de profundidad e. Com relação à regulagem, dois
conceitos são importantes: a profundidade de trabalho (entre 5 e m ma is profunda que

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1060
DENIZART BOLONHEZI ET AL.

ª camada
197
mais compactada) e a profundidade crítica. De acordo com Spoor e 0 dwin ?
( ), ª profundidade crítica deve ser entre cinco e sete vezes a largura da ponteira, que,
e não considerada, ele, a a força de h·ação requerida, não aumenta a área mobilizada e
pode até ocasionar compactação.

Quadro 10. Taxa de infiltração de água em três manejas de solo, aos 60 d após plantio da cana-de-
açúcar

Local Convencional + Preparo reduzido


Convencional
Crotalnria j1mcen
rnmh·1
SuJco de plantio 317,6 351,1 504,9
Entrelinha 45 136,4 298,9
Font · Benedini e Conde (200S} e Centro de Tecnologia Copersucar (CTq.

Subsolagem e coberturn de Crotnlaria spectnbilis


' Laerào - Usina Coruripe/ AL

Figura n. Subsolador canavieiro com rolo destorrroador.

Com a descoberta do herbicida glifosato, no início da década de 1970, foi possível


estudar sobre a eliminação química da soqueira e viabilizar o sistema plantio direto para
cana-de-açúcar (Iggo, 1974; Hadlow e Millard, 1977), em que a dose para destruir as
brotações situavam-se em 12 L ha·1 (Quadro 11). No Brasil, este herbicida foi introduzido
em 1978 e, a partir de então, pesquisas foram iniciadas para as condições do país, sendo que
os primeiros resultados preconizavam 5 L ha·1 como dose mínima (Bacchi e Rolirn, 1981;
Marcondes et ai., 1981). Na época, uma das vantagens era a maior garantia de destruir
a variedade cultivada anteriormente, evitando assim misturas varietais. Mais importante
que a dose, deve-se levar em consideração o estádio fenológico, que normalmente coincide
quando as brotações atingem entre 45 e 60 cm de altura, havendo significativas interações
com a variedade (Stolf, 1985; Silva e Rosseto, 2002; Silva et ai., 2006b). No início dos
trabalhos, em razão do alto preço do glifosato, os resultados comparativos eram mais
favoráveis para a destruição mecanizada da soqueira.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CON SE RVA ÇÃO DO SOLO EM (ANA -DE-AÇÚCA R 1061

Quadro 11. Produtividade de colmos (t ha·') de ca na-d e-açúca r e m dois . i tc mc1s J manejo, e m cc111c1
p la nta , pa ra as condições da África do Su l
Produtividade de Colmos (TCH) Umidade do solo (0-10 cm)
Sistema
Arenoso Média
"'"
Preparo Conve ncional 137 103 9,7
Plantio Direto 152 110 20,7
Fonte: lggo e Mobcrly (1976).

No Brasil, as pesquisas realizadas no início dos anos 1980 demonstra va m q ue cl


produtividade de colmos não era reduzida com a sulcação direta após destruição quími~a
da soqueira, combinada ou não com a subsolagem (Mutton, 1983). Observou-se que nao
houve diferença quanto à posição de s uJcação, se na linha o u entrelinha. Stolf (1985) citou
que em condição de solos arenosos e utilizando tratores de baixa potência, a des truição
mecânica representava entre 34 e 38 % do custo da destnúção química da soqueira, porém
esclarecia que no futuro esta prática seria de g rande viabilidade, mediante abaixamento
dos preços deste herbicida, podendo ser utilizada em pelo menos 40 % da á rea do Estado
de São Paulo. Todavia, o uso do fogo em pré-colheita dificultava sobremaneira a adoção
dos princípios do sistema plantio direto, que também estava e m seu s primórdios na década
de 1970. Recomendava-se o plantio direto onde não ocorrem impedimento químicos,
físicos, e biológicos, que compreendem em larga ocorrência de pragas de solo e controle de
ervas daninhas. Muitas das pesquisas efetuadas nesta fase não consideraram a interação
entre sistema de manejo do solo e as culturas de sucessão ou rotação. Barbieri et ai. (1997)
conduziram dois experimentos em solos com texturas diferentes, onde compararam
destruição química e mecânica, na linha e na entrelinha, com preparo convencional
(gradagem pesada + subsolagem + gradagem niveladora). Estes a utores concluíram que
não houve diferença quanto à posição de sulcação, se na linha o u entrelinha, porém os
preparas convencionais proporcionaram maior brotação e produtividade de colmo . Para
as condições da região cana vieira Norte Fluminense, Duarte Jr. e Coelho (2005) compararam
o sistema plantio direto de cana-de-açúcar em sucessão com três ad ubos verdes (mucuna-
preta, Crotn/aria j11ncea e feijão-de-porco), em relação ao convencional com pousio. Também
concluíram que a produtividade de colmos no plantio direto sobre fitomassa residual de
adubos verdes foi em média 36,9 t ha·1 maior, além de proporcionar maior controle das
plantas daninhas.
Em áreas colhidas mecanicamente e sem queima prévia, o cus to das operações de
preparo do solo aumenta em média 30 % (Conde e Donzeli, 1997). pesquisas em cana iaís
colhidos sem queima prévia são mais recentes. Dias (2001) avaliara m em dois tipo de solo
com palhiço na superfície o efeito de quatro preparas (aração com ai veca; grade aradora;
dessecação + subsolagem; e somente dessecação) sobre as características agronómica e
tecnológicas de três variedades de cana-de-açúcar (RB 85-S?S7, RB 85-5536, RB 85--11 ).
C_om isso, e_sse~ _res~uisadores ded~~an1, para ca1~a planta e primeira soca, que não ho u e
diferença s1gnilicahva entre produtividade, todavia, em relação ao sistema con encional,
0 plan tio direto apresentou menor margem de contribuição. Para as condições do cerrado
(Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média), Moraes et ai. (2016) e rificaram as maiore ·
produtividades de c?~1os nos tratam: ntos com ara~io ~e aiveca associado c1 grade para
incorporação do calcano, em_com?araçao ~on~ o_pla_nho direto. Tod avia, esclareceram qu 0
plan tio direto é uma alternativa v1avel, pois d1mmwu em 80 •~ o us tos com plantio.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-----
1062
DENIZART BOLONHEZI ET AL.

es ~ ~rescent a adoção de si tema de preparo localizado realiza~o com imp~e_mentos


pe íficos que permitem revai imento em um faixa, onde os corretivos, os ferhlizantes,
os _compostos e a fitomassa vegetal são incorporados em profw1didade ou não (Figura 22).
Aliado ao controle do tráfego e piloto automático, é possível efetuar o preparo profundo
ou não, retomar posteriormente e sulcar na mesma faixa de solo preparado, permitindo a
con trução de faixas preparadas ou canteiros, onde buscam-se potencializar as condições
para o crescimento do sistema radicular, além de proporcionar zonas de maior infiltração
de água. Existem equipamentos que efetivam preparo para espaçamentos convencionais
(1,50 m entre sulcos) ou sulcos duplos, também conhecidos como combinado ou "abacaxi",
que permitem maior rapidez e economia da colheita. Nos sistemas combinados, o
espaçamento entre os sulcos duplos vai·ia de 1,40 a 1,60 m e é destinado ao tráfego de
máquinas, assim como o espaçamento menor que vai"ia entre 0,40 e 0,90 m é destinado à
fom1ação do canteiro (Figura 23). A faixa entre os canteiros é destinada ao tráfego.

Figura 22. (a) Incorporação de adubo verde no canteiro. (b) Faixas de solo preparado em área de
braquiária dessecada.

figura 23. (a) Esquema demonstrando os sulcos duplos em canteiros e faixa de tráfego (Gentileza
MAFES~); e (b) Desenvolvimento do sistema radicular em trincheira aberta em canteiro.

Alguns equipamentos desenvolvidos para realizar o preparo profundo (50 a 80 cm


de profundidade) perrn.it~m a incorporação de gesso, corretivos e fitomassa em uma
única operação, porém exige elevada demanda de potência e alto gasto de combustível.
Independentemente da pro~w1didade da_haste,? uso do piloto automático é de fundamental
importância para a _execuçao dessa práhca, p~1s ~reserv~ a linha de p lantio contra danos
m ecânicos à soqueira da cana-de-açúcai· e direciona o impacto da compactação gerada

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO EM (ANA-DE-AÇÚ CAR 1063

pelo tráfego, principalmente ao longo dos cort s s ubs quentes (~i gu ra 24). De acor~o
com Marasca et ai. (2015), a resistência do solo à penetração medid a ~~ sulco do plantio
em preparo convencional total é três e sete vezes maior q ue a verificada _no preparo
localizado profundo sem e com controle de tráfego, respectivamente. A ulcaçélo pr~funda
e canteirizada tem que ser direcionada de maneira mais adequada pos ível, _respeitando
um planejamento feito anteriormente, pois pode causa r erosão. Deve-se salientar que o
uso sem critérios dessa tecnologia pode ocasionar problemas operaciona is (atolamento de
tratores, rebaixamento da soqueira, confinamento do sis tema radic ular etc.).

Figura 24. (a) Distribuição de corretivos, composto apenas de torta de filtro e, o u, esterco para erem
incorporados no canteiro; e (b) Incorporação dos corretivos em preparo localizado.

É crescente o interesse pela utilização de métodos alternativos de propagação da cana-


de-açúcar no Brasil, com destaque ao Mudas Pré-Brotadas (MPB), com vistas a reduzir
custos e melhorar a qualidade da implantação dos canaviais. Inicialmente, estes método
eram preconizados para formar viveiros; contudo, nota-se forte receptividade do setor
sucroenergético na sua utilização em escala comercial. De acordo com Abd El et al. (201-1),
este sistema reduz a quantidade de mudas de 10 para 2 t ha·1, economiza em 2 000 m 1 h·1
a quantidade de água utilizada na irrigação, melhora a sincronização do perfilhamento
e consequente uniformização do estande, e reduz tempo de formação do canav ial. Este
método de propagação consiste da extração das gemas, da formação da muda em s u bstrato
sob ambiente protegido e do posterior plantio em campo e pode proporcionar ganho de
18 % na produtividade do canavial (Mohanty et al., 2015). No Brasil, já é conhecido desde
o final da década de 1980 (Stolf e Tokeshi, 1990), mas recentemente foi remodelado pelo
IAC por meio do MPB (Landell et al., 20136). Contudo, a principal limitação do MPB é
a vulnerabilidade a períodos de défice hidrico após transplantio (raíze exploram o
primeiros 10 cm de solo), exigindo, na maioria das vezes, a irrigação uplemen tar até o
estabelecimento, bem como maior dificuldade no controle de plantas daninha , poi a
seletividade dos herbicidas co~u1:1ente utilizado~ não é a mes ma da cana propagada por
toletes. Mesmo com essas peculiaridades, predominam recomendações de preparo de olo
convencional.
Pesquisa pioneira, conduzida no IAC/ APTA em Ribeirão Preto, SP, a aliou 0
desempenho de mudas pré-brotadas de cana-de-açúca.r em tres is te mas de manejo de
solo sobre fitomassa residual de mucuna-verde (Figura 25). Utilizou- -e e, perimento de
longa duração sobre sistemas de manejo de solo, iniciado em 2003, a partir de pastagem
com 26 anos de histórico. No tratamento denominado como preparo reduzido, foi
adaptado equipamento desenvolvido para a cultu.ra do amendoim (Rip 'trip), que realiza

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1064
ÜENIZART 80LONHEZI ET AL.

prep~o reduzido e localizado em uma faixa de 30 cm de )argurn. Resultados preliminares


pen:11tem concluir que os dois manejos de solo conservacionistas proporcionaram maior
perfilhamento, melhor controle de plantas daninhas, além de ganhos em produtividade de
colmo (Figura 26), quando comparados com O preparo de solo convencional (Cardoso et
al., 2016). Deve-se observar que há a necessidade de uso de GPS no trator, pois o plantio
temqu e comei· ·d·rr com as faixas preparadas.

Figura 25. (a) Equipamento Rip Strip adaptado para cana-de-açúcar. (b) Transplantadora de cana-de-
açúcar no preparo em faixa.
Fotos: Denizart Bolonhezi.

190Aa ■ IACSP 95-5000


200 Cana energia

150
~ -r
c.i ra
'"O .G
ta .... 100
·- .§"'o
-e -
:>
.l
-g= uo 50
it
o
Preparo
convencional
Sistemas de Manejo do Solo

Figura 26. Produtividade de colmos (t ha·1) ~e duas v~iedades de cana-de-açúcar propagadas pelo
método MPB (muda pré-brotada) em diferentes sistemas de manejo de solo sobre fitomassa de
mucuna verde. Média de quatro repetições em amostragem realizada 10 meses após plantio
(maio de 2016). APTA, Ribeirão Preto, SP. Letras maiúsculas comparam médias entre sistemas e
minúsculas entre variedades de cana-de-açúcar, pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte: Cardoso et ai. (2016).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1065

Princípios da agricultura conservacionista no sistema de produção


canavieiro
Com a expansão da colheita mecanizada de cana crua no Brasil, em decorr~ncia d.-i
grande quantidade de fitomassa residual, é desejável a adoção dos princípios da agncultur.-i
conservacionista, pois, nestas condições, são necessárias mais operações de pre paro do
so lo para incorporar a palhada, implicando em aumento dos riscos de erosão e do~ custos.
De acordo com FAO (2014), os alicerces da agricultura conservac ionista estão contidos no
seguintes princípios: nenhum ou minimo revolvimento do solo continuamente (menos que
25 % da superfície), manutenção da fitomassa residual cobrindo a superfície do solo (pelo
menos 30 % de cobertura) e diversificação de culturas por meio da rotação ou as ociaçào.
Segundo Kassam et ai. (2015), no mundo são estimados 157 Mha cultivados nesses
princípios, dos quais 32 Mha no Brasil, principalmente com cultivo de soja em semeadura
direta. Em virtude dos problemas decorrentes da compactação, alguns autores consideram
o controle de tráfego como um quarto pilar da agricultura conservacionista (Derpsch et ai.,
2011). Por se tratar de um conceito holístico, Derpsch (2014) in fo rmou que os benefício
somente serão verificados se os três princípios forem aplicados conjuntamente.
No modelo de produção vigente da cana-de-açúcar, esses três princípio podem
estar presentes, porém de maneira isolada, razão pela qual os benefícios nem empre são
verificados. Entre os benefícios da sucessão ou rotação de culturas com leguminosas na
reforma de canaviais, o aumento da produtividade de colmos e açúcar é mencionado em
diversas pesquisas (Cardoso, 1956; Mascarenhas et ai., 1994; Arnbrosano et ai., 2011 ), a
quais apresentam ganhos que variam entre 15 e 20 %. A associação da colheita mecaniZilda
sem queima com manejo conservacionista na reforma contribui para aumentar em 10 vezes
o controle da erosão (Prove et ai., 1995), reduzir as emissões de CO2 do solo (La Scala et
al., 2006), elevar os estoques de C (Cerri et ai., 2011; Mello Ivo, 2012; Segnini et ai., 2013),
controlar plantas daninhas (Soares et ai., 2016), aumentar a produtividade de colmos do
canavial em média de 10 t ha·1 (Bolonhezi et ai., 2011) e diminuir o custo de implantação
do canavial em até 40 % (Bolonhezi, 2014). Convém salientar que o preparo convencional
na reforma de cana-de-açúcar ocasiona perda de 80 % do C acumulado em um ano de
colheita mecanizada sem queima, enquanto em preparo reduzido as perdas representam
12 % (Silva-Olaya et ai., 2013). O desa.fio é associar a presença de grandes quantidades de
fitomassa residual provenientes da colheita da cana sem despalha a fogo, com a sem eadUia
direta das culturas de sucessão/rotação, bem como completar o ciclo com O plantio direto
da cana-de-açúcar.
As primeiras experiências sobre adoção da semeadura direta na reforma de cana crua
foram iniciadas em 1996, na região NE do Estado de São Paulo. A grande quantidade, a
dis tribuição irregular e a alta relação C/ N da fitornassa residual da cana-de-açúcar, aliada
com o desnível entre soqueira e entrelinha, exigiu que fossem desenvolvidas semeadora
com cara_ct.erísticas e~pecíficas para viabilizar a semeadura direta de soja na reforma
de canaviais, como disco corta-palha de 66 cm (26 polegadas), linhas desencontrada e
substituição do disco pela haste escari.ficadora na distribuição do fertilizante (Fi!!llras 27 a
e b). O ~a tisfatóri~ ~ese~v~lvimento_ \~egetat~vo d~ soj~ (F_iguras 27 c e d), principalmente
nos penados de defice hidnc?, permitiram difundu a tecmca, que confere redução de 32 %
nos cus to de produção da S0Ja, entre outros benefícios (Bolonhezi et ai., 2000; Tanimot e
Bolonhezi, 2002; Christoffoleti et ai., 2007), além de amortizar entre 13 e 28 •~0 05 custos de
implantação do canavial (Bolonhezi, 2013). Com a tecnologia da soja transgênica up ret1dy é

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1066
ÜENIZART 80LONHEZI ET AL,

po Í\ el emear a soja antes da destruição química da soqueira sem perder ~rodutividade


e c~,rn onom.ia de tempo, desde que e utilize semeadora adequada para evitar problemas
de embucharnento" (Finoto e Bolonhezi, 2012).
Uma pesquisa de longa duração iniciada em 1998 pelo IAC em Ribeirão Preto, SP,
em oi endo semeadura direta de soja sobre palhiço, combinada com doses de calcário e
plantio ctireto de cana-de-açúcar na sequência, concluiu que no plantio ctireto de cana-
de-açúcar a ta 'ª de sequestro de carbono é de 1,0 t ha·1 a.no·1 de C maior que no preparo
convencional (Segnini et al., 2013), a produtividade da soja não é reduzida (Bolonhezi e
Gonçalves, 2015), ocorre menor variação da biomassa de raiz entre os períodos de chuva e
seca (Cury et al., 2014) e a produtividade de colmos da cana-de-açúcar é em média 12 t ha·1
maior que no preparo convencional (Bolonhezi et al., 2011).

Figura 27. (a) Detalhe do disco corta-palha de 66 c_m (26 polega~as); (b) Semeadura direta de soja
sobre pallúço de cana crua; (c) Cultura da SOJa sobre palluço de cana crua; e (d) Detalhe da
quantidade de fitomassa residual da colheita de cana durante desenvolvimento da soja.
Fotos: Denizart Bolonhez.i.

Enquanto para a soja e para os adubos verdes existem informações científicas e


validações tecnológicas que demonstram a viabilidade da adoção dos princípios da
agricuJtura conservacionista,yara r~giõe~ onde_ o amendoi_m é a principal alternativa ~e
ultivo na reforma de canaviais, a s1tuaçao é diferente. É importante salientar que mais
~e 80 % da produção de amendoim no Brasil (120 mil ha) são oriundos de cultives em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CON SERVAÇÃ O DO S OLO EM CANA-DE - A ÇÚCAR 1067

reforma de canaviais paulí tas. Portanto, a compreensão de como acontece a parceria


entre estas duas culturas é imprescindível pa ra proposta conservacionis ta . Norm~ente,
os produtores arrendatários compromete m mais de 10 % do custo de produçao ~o~
operações de preparo de solo (média de seis operações) em áreas de reforma ~e can~v1a 1s,
aumentando o risco de ocorrência de erosão. Como consequência do preparo mtensivo do
solo, é comum o assoreamento dos s ulcos de semeadura e sérios problemas com erosão.
Em virtude do maior espaçamento entre Linhas (0,90 m) e crescimento iníciaJ mais lento, a
cultura do amendoim rasteiro (cultivares do tipo "runner") está mais vulnerável à ~rosão
nos primeiros 50 d após a semeadura em comparação com os cultivares ereto cultivado
no passado (espaçamento de 60 cm), sobre tudo em canaviais sistematizados para colheita
mecanizada. Porém, os cultivares rasteiros em razão d o ciclo (135 d) conferem proteção
ao solo por um período mais longo (Bolonhezi e t al., 2013). A dificuldade de adoção da
semeadura direta para a cultura do amendoim se deve às peculiarid ad es morfofisiol ógicas
desta espécie, à necessidade de revolvimento do solo na colheita, à falta de equipamento
adequados e à pequena disponibilidade de herbicidas registrados para essa cultura.
Resultados de pesquisas concluíram que na semeadura direta de amendoim sobre fitomas a
residual de cana-de-açúcar a nodulação é duas vezes maior, a umidade d o solo na zona
de crescimento das vagens é 18 % maior, o controle d e plantas daninhas é favorecido
(Bolonhezi et al., 2007) e a produtividade de vagens não é diminuída (Tasso Júrúor, 2003;
Bolonhezi et al., 2007; Crusciol e Soratto, 2008).
Para as condições australianas, a produtividade de colmos de cana-de-açúcar apó
pousio associado com preparo intensivo, em comparação com tratamento com posto pelo
cultivo após amendoim associado com preparo reduzido, foi, res pec tivamente, 53 t ha-1 e
96 t ha-1 (Garside e Bell, 2011).
Na figura 28, podem-se observar o desenvolvimento inicial d as plantas de am endoim
em semeadura direta sobre fitomassa residual de cana-de-açúcar e a operação de arranquio
mecanizado em amendoim semeado diretamente sobre a soqueira de cana crua. Pesqu isas
indicam que as perdas de vagens na operação de arranquio pode ser 40 % menor em
condição de semeadura direta sobre cana crua em razão, princip almente, do maior
conteúdo de água no solo por ocasião da colheita e concentração d as vagens nas camadas
mais superficiais do solo (Bolonhezi et ai., 2009).
Com a finalidade de reduzir a intensidade das operações de preparo d o olo, para
cultivo de amendoim na reforma de canaviais, existe a possibilidade de efetuar o preparo
reduzido, utilizando-se equipamento denominado Rip Strip K [ , que faz operação de
subsolagem e revol~im~to em faixas de 20 a 46 ~m de largura (Figura 29 a e b). Estudo
sobre o uso do R1p Stnp KN[C® para amendoim realizados para as cond içõe norte
americanas de~onstraram resultados favoráveis para produti idade de agens ( iri-Prieto
et al., 2009; Faucloth et ai., 2012) para controle de pragas e doenças (Godse et al., 2011) e
maior nodulação (Rowland et al., 2015). Em condição de reforma de cana iais, pe quisas
preliminares demonstraram que não ocorre redução significa tiva na produti idade, que
as perdas no arranquio são menores e a resistência do olo à pene tração (Figura 30) é
significativament~ menor que no sistema convencional (Bolonh e zi et aJ., 2016).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


- -
1068
DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Figura 28. (a) Amendoim em semeadura direta sobre fitomassa residual de cana-de-açúcar; (b)
Operação de arranquio em semeadura direta sobre cana crua; (c) Amendoim enleirado após
arranquio em condição de palhada; e (d) Detalhe das vagens de amendoim envolvidas pela
fitomassa residual da cana-de-açúcar.
Fotos: Denizart Bolonhezi.

figura 29. (a) Equipamento Rip Strip sobre soqueira de cana-de-açúcar; e (b) Preparo em faixa sobre
soqueira de cana-de-açúcar.
Fotos: a - Derúzart Bolonhe7J, e b - Pedro Farias Jr.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO EM C A N A- D E-AÇÚCAR 1069

Resistência Mecânica do Solo à Penetração (MPa)


O 2 4 6 8
o ~----,----.------,-----,

-100

]'-200
-
~
cu -300
'"O
:e
~ -400 -+- Plantio Direto - Linha
d:: ~ ~ o Convencional
-500
-+- Rip strip - Linha
-600
Figura 30. Resistência do solo à penetração medida na linha do amendoim em d iferent istema de
manejo de solo na reforma de cana crua. Planalto, SP. Medidas obtid as em 07/ 01 / 2016. Médi,
de 30 pontos de leitura em cada sistema de manejo.
Fonte: Bolonhezi et ai. (2016).

Corno apresentado, existem informações técnicas suficientes para ado tar em i temas
de manejo conservacionistas em reforma de canaviais colhidos sem queima pré ia, tanto
para a cultura da soja quanto para a do amendoim. Para as princip ais espécies de adubo
verdes (Crotalarin juncea, Crotalnrin spectnbilis, Crotnlnria ochroleuca e mucunas), tamb , m
existe viabilidade da semeadura direta, com ganhos em produtividade de fitoma
(Bolonhezi et al., 2014). Contudo, o plantio direto da cana-de-açúcar após sas opções
de sucessão ou rotação ainda é pouco adotado, mesmo com re ultados de pesqui a q ue
demonstraram não haver redução significativa e às vezes ganhos na produtividade de
colmos. Bolonhezi et ai. (2010) estudaram a combinação de diferente opções de culturas
de sucessão (pousio, amendoim rasteiro, soja, girassol, Crotalaria juncea, rnucuna erd )
com três sistemas de manejo do solo (preparo convencional com grade e arado, preparo
reduzido com subsolador cr~zando a soqueira dessecada e plantio direto) para as condiç
de um Latossolo Vermelho Acrico localizado em Guaíra, SP. Os r ultado dem nstraram
que não houve diferença estatística entre os tratamentos quanto à produti idad e de colmo
da variedade SP86-155 nos três primeiros cortes, independent mente d a cultura ant ri r,
em plantio mecanizado (Figura 31).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1070
ÜENIZART BOLONHEZI ET AL.

140

121,8 a
120 117,7 a 118,5 a ■ Primeiro
;;--...
corte 2008
]
~100 ■ Segundo
cn
o 93,4 a corte2009

8 80
<IJ

"~ 60
ta

":o">
:s 40
-g
ô:: 20

o
Preparo convencional Preparo reduzido Preparo direto

Figura 31. Produtividade de colmos (t ha-1) da variedade de cana-de-açúcar SP86-155, cultivada em


Latossolo Vermelho Ácrico, localizado em Guaíra/SP. Médias de seis opções de rotação e 4
repetições. Letras iguais não diferem pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte.: Bolonhezi et al. (2010).

A aplicação comercial dos princípios da agricultura conservacionista no cultivo de


soja e adubos verdes em sucessão à cana-de-açúcar ainda é pouco expressiva, considerando
o potencial de uso (Figura 32 a e b). Validações tecnológicas em escala de usina (43 kha)
quanto à adoção da semeadura direta da soja na reforma de canaviais, seguida pelo plantio
direto da cana-de-açúcar, mencionam reduções de 11 % no número de implementos, 6 %
na frota de tratores e 13 % no custo de implantação do canavial (Bolonhezi e Gonçalves,
2015). Embora existam resultados favoráveis para adoção dos princípios da agricultura
conservacionista no setor sucroenergético, não é possível generalizar a adoção, considerando
que os resultados podem variar com as características do solo, clima e histórico do canavial.

Figura 32. (a) Plantio direto mecanizado de cana so~re pal~ada de mucuna-cinza, Usina Guaíra, SP.;
e (b) Plantio direto de cana sobre resteva de s01a, Guaua, SP.
fotos: Derúzart Bolonhezí.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA- DE-AÇÚ CAR 1071

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, anualmente, são reformados mais de 1,3 Mha d e canaviais, onde a colheita
mecanizada de cana-de-açúcar sem queima já é predominante no Centro-~ul e está em
expansão no Nordeste e outras regiões produtoras. Este sistem a de colheita presenta
características que reduzem as perdas de solo e água como grande q uantidade da palha
(média de 15 t ha·1) distribuída na superfície após o corte, rugosidade s uperficial d o terreno
(desnível entrelinha e soqueira) e vários ciclos de exploração sem preparo de solo. Todavia,
no período de reforma, em virtude da coincidência com meses de maior pluv io idade e da
intensidade do preparo do solo, a erosão hídrica aumenta expressiva mente, tom ando-se
imprescindíveis as práticas conservacionistas, inclusive a construção de terraços. Existe
legislação sobre uso do solo na maioria dos estados produtores, mas somen te nos Estado
do Paraná e São Paulo a defesa agropecuária é a responsável pela aplicação dessas leis.
Quando são adotados os princípios da agricultura conservacionis ta (mínimo
revolvimento do solo, cobertura permanente e rotação de culturas) na reforma do
canaviais, aliados ao tráfego controlado, é possível reduzir a erosão, aumentar o estoqu e
de C no solo, elevar a produtividade de colmos nos primeiros cortes e permitir expressiva
redução no custo de produção.

LITERATURA CITADA

Abd El Mawla HA, Hemida B, Mahmoud W A. Study on the mechanization of sugar cane
transplanting. InterJ Eng Tech Res. 2014;2:237-41.
Agência de Defesa Agropecuária do Paraná - ADAPAR. Portaria ADAP AR n. 0 272/ 2014. Disponível
em: 09 de set. 2016. http://www.adapar.pr.gov.br/ arquivos/ fi.le/ legislação/ sanidade_
vegetal/ splps/ portaria_Adapar_272_14. pdf
Albuquerque A W, Cataneo A, Lombardi-Neto F, Srinivasan VS. Parâmetros erosividade d a chuva e
da enxurrada correlacionados com as perdas de solo de um solo Bruno não-cálcico értico em
Sumé+(PB). Rev Bras Cienc Solo. 1998;22:743-9.
Ambrosano EJ, Cantarella H, Ambrosano GMB, Schammas EA, Dias FLF, Rossi F, Trivelin PCO,
Muraoka T, Sachs RCC, Azcón R. Produtividade da cana-de-açúcar apó culti O de leguminosa .
Bragan tia. 2011;70:810-8.
Andrade NS~, Martins Filho MV, Torre_s JLR, Pereira GT, 1 {arque Júnior J. fmpacto técnico e
econônuco das perdas de solo e nutrientes por erosão no cultivo da cana-de-açúcar. Eng gric.
2011;31:539-50.
Araújo Filho JC, Carvalho A, Sil~a FBR. In_vestigações preliminares sobre a pedog nese d horizont
coesos em solos de ~abuleiros _Costeiros ~o Nordeste do Bra il. ln: Anais do Worksh p Coesão
em Solos dos Tabuleiros Costeiros; Aracaiu; 2001. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Co teiros; _001.
p.123-42.
Assis RL, Lanças KP. Avaliação da compressibilidade de um itossolo erm lho d . tr f · b
· d· 15 O ITICO
sistema d e p 1antio ireto, preparo convencional e mata nati a. Re Bras Oenc Solo; iço
2005;29:507-14.
Bacchi 00, Rolim JC. Dose letal de glifosate para fins de eliminação qu.ími d e s queua• . 1n: . is
do 2º Congresso Nacional da STAB; Rio de Janeiro; 19 1. Pira icaba: 1 1. p.l 3-2o.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1072 DENIZART 80LONHEZI ET AL.

Bali-Coelho B, Tiessen H, tewart J'WB, Salcedo IH, Sampaio EVSB. Residue management effects on
sugarcane yield and oi! properties in Northeastern Brazil. Agron J. 1993:85:1004-8.
Barreto AC, Fernandes MF, AnjosJL, Mello Ivo WMP, Cinh·a FLD. Adubação verde ~a ecorregião dos
Tabuleiro Costeiro . Jn: Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, editores. Adubação
Yerde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e práticas. Brasília, DF: Embrapa; 2014. v.2.
p.311-41.
Barreto AGOP, Barros MGE, Saparovek G. Bibliometria, história e geografia da pesquisa bras ileira
em erosão acelerada do solo. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:2443-60.
Barbieri JL, Alleoni LRF, Dozelli JL. Avaliação agronômica e econômica de sistemas de preparo de
solo para cana-de-açúcar. Rev Bras Cienc Solo. 1997;21:89-8.
Barcelos JET. MEIOSI Cana-Alimentos (método intercalar rotacional ocorrendo simultaneamente).
Saccharum. 1984;7:10-8.
Barcelos JET. Comparação entre dois sistemas de rotação da cana-de-açúcar (Saccharurn sp)
[dissertação]. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 1990.
Bellinaso IF. A compactação e o preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar. ln: 7°. Seminário
Copersucar de Tecnologia Agronômica. Piracicaba: 1997. p.206-10.
Bell MJ, Stirling GR, Pankhurst CE. Management impacts on health of soil supporting Australian
grain and sugarcane industries. Soil Till Res. 2007;97:256-71.
Benedini MS, Conde AJ. Sistematização de área para a colheita mecanizada da cana-de-açúcar. Rev
Coplana. 2008;nov:23-5.
Bertolini D, Lombardi Neto F, Lepsch IF, Oliveira JB, Drugowich MJ, Andrade NO, Galeti PA,
Bellinazzj Junior R, Dechen SCF. Tecnologias disponíveis para controlar o escorrimento
superficial do solo. In: MANUAL técnico de manejo e conservação de solo e água. CAI; 1993.
(CATI, 41)
Bertoni J. O espaçamento dos terraços em culturas anuais, determinado em função das perdas de solo
por erosão. Bragantia. 1959;18:113-40.
Bertoni J, Pasta.na FI, Lombardi Neto F, Benatti Júnior R. Conclusões gerais das pesquisas sobre
conservação do solo, no Instituto Agronômico. Campinas: IAC; 1986. (Circular técnica, 20).
Bertoni J, Lombardi Neto F. Conservação do solo. Piracicaba: Ícone; 1992.
Bezerra SA, Cantatice JRB. Erosão entre sulcos em diferentes condições de cobertura do solo, sob
cultivo da cana-de-açúcar. Rev Bras Cienc Solo. 2006;30:565-73.
Bolonhezi D, Cantarella H, Pereira JCVNA, Landell MGA. Produção de soja com diferentes doses de
calcário no sistema convencional e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. ln: Anais da
2ª. FERTBIO 2000; Santa Maria. Santa Maria: UFSM; 2000.
Bolonhezi D, Mutton MA, Martins ALM. Sistemas conservacionistas de manejo de solo para
amendoim cultivado em sucessão à cana crua. Pesq Agropec Bras. 2007;42:939-94.
Bolonhezi D, Montezuma MC, Finot~ EL, Michelo~to M, Martins E, Martins ALM; Godoy JJ, Ivan
LMA, Palhares R, Gomes G, Paiva_LA, ~erreira LR. Peanut yield in the brazilian system of
conservation tillage and crop rotation w1th sugarcane. ln: Proceedings of the 4p1_ American
Peanut Research and Education Society; 2009; Raleigh. Perkins: APRES; 2009. p .42.
Bolonhezí D, Montezuma MC, Finoto E, I~an ~MA, Gomes GV, Pa ll1 ares R, Gentilin Junior o,
Bolonhezi AC. lnfluence of conservation till~ge _and crop rotation on sugarcane yield. ln:
Proceedíngs of the 16th Congreso de la Orgaruzac1ón Internaciona l d e Conservación de Suelo;
2010; Santiago, Chile. Santiago, Chile: ISCO - Interna tional Soil Conservation Organization,
Sociedade Chilena de Ciéncia do Solo; 2010. p.18-23.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA- DE-AÇÚCAR 1073

Bolonhezi D, Rossini DB, Costa N, Marco nato MB, Canta relia H, Genti lin Junior O, Garcia JC, Sant' ana
SA, Bolonl,ezi AC. Surface application of lime for suga rcane productjon und.er no-tillage syste~ .
Balancing Sugar and Energy Prod uction in Developing Countries: Sustamable Technologie~
and Marketing Strategies. fn: Proccedings.of the 4º. ínternational Sugar Coníerence. New De lhi:
2011. p.140-4.
Bolonhezi D. Plantio direto e calagem na reforma de cana crua. A G ranja. 2013;769:75-7.
Bolonhezi D, Gonçalves NH. Sucessão e rotação de culturas na prod ução de can -de-açúcar. ln:
Belardo CC, Cassia MT, Silva RP, organizadores. Proces os agrícola e mecanização da cana-
de-açúcar. Jaboticabal: SBEA - Sociedade Brasileira de Engenharia Agrfcola; 2015. p.219-42.
Bolonhezi D, Codoy IJ, Santos RC. Manejo cultural do amendoim. ln: Santo RC, Freire RMi\lf, Lima
LM, organjzadores. O agronegócio do amendoim no Brasil. Yed . Brasília: Embrapa lnformaçao
Tecnológica; 2013. p.185-237.
Bolonhezi D, Bolonhezi AC, Carlos JAD. Adubação verde e rotação de cul turas para cana-de-açúcar.
ln: Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Rossi F, Carlos JAD, organizadores. Ad ubação verde e planta
de cobertura no Brasil: fundamentos e prática. Brasília: Embrapa Agropecuário Oe te; 2014. v.2.
p.127-58.
Bolonhezi D,Valochi R, Zanandréa PC, Carvalho EV, Cardoso BMV, Ramos C, Betiol MB, Scarpellini
JR, Bolonhezi AC. Perdas no arranquio de amendoim e resis tência à penetração do olo em
manejo conservacionista na reforma de canavial. ln: Anais do lD° Workshop Agronenergia
Matérias-Primas; 2016; fübeirão Preto. fübeirão Preto: Ins tituto Agronôrnico, PTA; 2016.
Branquinho A. Sistematização e manejo conservacionista dos solos. estudo de caso: aplicação da
sistematização agrícola de áreas canavieiras na usina VO de Itapira/ SP. ln: Belardo CC, Cassia
MT, Silva RP, organjzadores. Processos agrícolas e mecanização da cana-d~açúcar. Jaboticabal:
SBEA - Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola; 2015. p.105-15.
Braunack MV, Arvidsson J, Hakansson 1. Effect of harvest traffic position on soil conclitions and
sugarcane (Saccharum officinarum) response to environmental conditions in Queensland,
Australia. Soil Till Res. 2006;89:103-21.
Brunini O. Ambientes climáticos e exploração agrícola da cana-de-açúcar. ln: Dinardo-. liranda LL,
Vasconcelos ACM, Landell MCA, editores. Cana-de-açúcar. Campinas: IAC; 200 . p .205-1
Canasat. Mapeamento da cana via imagens de satélite de observação da terra. [aces ado em mar
2016. Disponível em: http:/ /www.dsr.inpe.br/ canasat/. .
Cardoso EM. Contribuição para o estudo da adubação verde do canaviai [te e]. Piracicaba: Es ola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 1956.
Cardoso BMV, Noronha RHF, Bolonhezi D. Curva de crescimento de cana-de-açúcar no istema
MPB em manejo conservacionista do solo. In: Anais do 10" Congres o lnterinstituáonal de
Iniciação Científica; 2016; Campinas. Campinas: Embrapa; 2016. Disponi el em: http:/ / v,,
cnpm.embrapa.br/ projetos/ cüc2016/ anais2016.html.
Cerri CC, Caldos MV, Maia SMF, Bernoux M, Feigl BJ, Powl on, D, Cerri CEP. Efiect of su!!arcane
ha_rvesting systems on soil carbono stocks in Brazil: an e.xamination of xi ting data. E~r J Soil
Sc1. 2011;62:23-8.
Cerri CEP, Caldos MV, cru:valho JLN, Feigl BJ, Cerri CC. Quan tifying oil carbon tocks and
greenhouses gas fluxes m the sugarcane agrosys tem: point of ·ew. Sei gric. 201";70:3 1 .
Cintra FLD, Libardi PL, Moraes 50, Marciano CR. Conduti idade hídrá ulka d solo c es do
tabuleiros costeiros cultivado com citros. Aracaju: Embrapa Tabuleiro c teiros; _QO . (B letim
ele Pesquisa, 22) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1074
DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Companhia acional de Abastecimento - Conab. [acessado em: 11 de mar de 2014] Disponível em:
http:ww,v.conab.br/ conteudos.
Co n <le A], Donzelli JL. Manejo conservacionista do solo para áreas de colheita mecarúzada de
c.~.na _q ueimada e sem queimar. ln: Anais do 7°. Seminário de Tecnologia Agronômica; 1997;
Piracicaba. Piracicaba: Cen!To de Tecnologia Coopersucar; 1997. p.193-205.
Chri stoffoleti PJ, Can,alho SJP, Lopez-Overejo RF, Nicolai M, Hidalgo E, Silva JE. Conservation of
natural resources in Brazilian agriculture: implications on weed biology and management. C rop
Protec. 2007;26:383-9.
Crusciol AC, Soratto R. NitTogen supply for cover crops and effects on peanut grown in sucession
u.nder a no-till system. AgronJ. 2008;100:1-6.
Cury T, De Maria IC, Bolonhezi D. Biomassa radicular da cana-de-açúcar em sistema convencional e
plantio direto com e sem calcário. Rev Bras Cienc Solo. 2014;38:1929-38.
De Maria IC, Lombardi Neto F, Dechen SCF, Castro OM. Fator da EUPS para a cultura da cana-de-
açúcar. ln: Resumos da 10ª. Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água;
1994; Florianópolis. Florianópolis: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 1994. p.148-9.
De Maria IC, Dechen SCF. Perdas por erosão em cana-de-açúcar. STAB. 1998;17:20-1 .
De Maria IC, Martins JPP. Uso do terraceamento na cultura da cana-de-açúcar. ln: Belardo, GC, Cassia
MT, Silva RP. Processos agrícolas e mecanização da cultura de cana-de-açúcar. Jaboticabal:
SBEA; 2015. p.117-27.
De Maria JC, Vitti AC, Fontes JL, Bortoletti JO, Drugowich MI, Rosseto R, Sparovek G, Tcatchenco J,
Dematte JLI, Brunini O, Coelho RM, Margatho SMF. Recomendações gerais para conservação
do solo na cultura da cana-de-açúcar. Campinas: IAC; 2016. (Boletim técnico)
Derpsch R, Friedrich T, Landers J, Raimbow R, Reicosky D, Sá JCM, Sturny WG, Wall P, Ward RC.
About the necessity of adequately defi.ning no-tillage - a discussion paper. ln: Proceedings 5 th •
World Congress of Conservation Agriculture; 2011; Brisbane. Brisbane: 2011. p.90-1.
Derpsch R. Why do we need to standardize no-tillage research? Soil Till Res. 2014;137:16-22.
Dias FLF. Sistemas de preparo de solo em área de colheita mecanizada de cana crua (tese]. Jaboticabal:
FCAV-UNESP; 2001.
Dias Júnior MS. Compression of three soils under long-term tillage and wheel traffic [tese]. East
Lansing: M.iclúgan State University; 1994.
Dias Júnior MS, Pierce FJ. O processo de compactação do solo e sua modelagem. Rev Bras Cienc Solo.
1996;20:1-8.
Dias Júnior MS. Compactação do solo. Tópicos Ci solo. 2000;1:55-59.
Dourado-Neto D, Timm LC, Oliveira JCM. Reichardt K, Bachi OOS, Tominaga TT. State-space
approach for the analysis of soil water contente and temperature in a s ugarcane crop. Sei Agric.
1999;56:1215-21.
Duarte Jr JB, Coelho FC. Adubos verdes e seus efei tos no rendimento d a cana-de-açúcar em sis te m a
plantio direto. Bragantia. 2008;67:723-32.
Drugov,,ich MI, Bortoletti JO, Tcatchenco J,. De Maria lC, Grassi A~. Tutorial para aplicação da
Resolução SAA-11 (14/04/2015). Campm as: CATI; 2015. (Comurncad o técnico, 146).
Empresa Brasileira de Pesquis~ A~ope:uária - Embrapa. Práticas d e conservação de solos. Rio de
Janeiro: SNLCS; 1980. (Séne rruscelanea, 3).
Faircloth WH, Rowland DL, Lamb MC, Balkcom KS. Interaction of tillage and irrigation amount on
peanut performance in the southeastern US. Peanut Sei. 2012;39:105-12.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

...
XXXIII - MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1075

Finoto EL, Bolonhezi D. Cultivo de soja RR sobre soqueiras de cana crua. Rev Cultivar. 201 2;155:8-9.
Food and Agriculture Organization - FAO. Basic principies of conservation agricu.Jture. 2014.
Disponível em: http://www.fao.org/agr/ca/1a.htm1.
Franco HCJ, Vitti AC, Faron.i CE, Cantarella H, Trivelin PCO. Es toque de nutrientes em re íduos
culturais incorporados ao solo na reforma de áreas com cana-de-açúcar. STA B, 2007;25:32-6.
Franco HCJ, Pimenta MTB, Carvalho JLN, Magalhães PSG, Rossel CEV, Braunbeck OA, Vitti A~,
Kõlln OT, Rossi Neto J. Assessment of sugarcane trash for agronomic and ener gy purposes m
Brazil. Sei Agric. 2013,70:305-12.
Galdos MV, Cerri CC, Cerri CEP. Soil carbon stocks under burned and unbumed sugarcane in Brazil.
Geoderma. 2009;153:347-52.
Garbiate MV, Vitorino ACT, Tomasin.i BA, Bergamin AC, Panachuki E. Erosão em entre s ulcos em
área cultivada com cana crua e queimada sob colheita manual e mecanizada. Rev Bras Gene
Solo. 2011;35:2145-55.
Garside AL, Smith MA, Chapman L.5, Hurney AP, Magarey RC. Toe yield plateau in the AustraJian
sugar industry: 1970-1990. ln: Keating BA, Wilson JR. editores. Intensive sugarcane production:
Meeting the Challenges Beyond 2000; 1997; Wallingford. Wallingford: CAB lntemationaJ
WaJlingford; 1997. p.103-24.
Garside AL, Bell MJ. Growth and yield responses to amendments to the s ugarcane monocuJture:
effects of crop, pasture and bare fallow breaks and soil fumigation on plant and ratoon crops.
Crop Past Sei. 2011;62:396-42.
Godsey CB, Vitale J, Mulder PG, Armstrong JJ, Damicone J, Jackson K, Suehs K. Reduced tillage
practices for the southwestern US peanut production region. Peanut Sei. 2011;38:41-7.
Hadlow W, Millard EW. Minimurn tillage: A practice altemative to ploughing in the South Africa
N Sugar Industry. ln: Proceedings of the 161h. Intemational Society of Sugarcane Technologists
Congress; 1977; São Paulo. São Paulo: 1977. p.891-7.
Hakansson I, Voorhees WB. Soil compaction. ln: LaJ R, Bium WH, Valentin C, Steward BA. fethods
for assessJnent of soil degradation. Boca Raton: CRS Press; 1997. p.167-79. {Advances in Soil
Science) ·
Horn R, Lebert M. Soil compactability and compressibility. ln: Soane BD, Van Ouwerkerk C, editors.
Soil compaction in crop production. Amsterdam: Elsevier; 1994. p.45-69.
Iggo GA. A new chemical (glyphosate) for killing sugarcane .ln: Proceedings of the 48 th • Annual
Congress of the South African Sugar Technologist Association; Durban; 1974 Durban: 1974.
p.1-3
Iggo GA, Moberly PK. Toe con~ept of rninimum tilla_g e !n sugarcane. ln: Proceedings 50th Annual
Congress of the South African Sugar Tec.hnologists Association; 1976; Durban; 1976. Durban:
1976. p.141-143.
Jacomine PKT. Evolução ~o conheci~e.nto sobre solo~ coesos no Brasil. ln: Anais do Workshop Coesão
em Solos dos Tabuleuos Costeuos; 2001; Aracaiu. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Cos teiros; 2001.
p.19-45.
Kassam A, Friedrich T, Derpsch R, Kienzle J. Overview of the worldwide spread of conservation
agriculture. Field Actions Sei Reports. v.8, 2015. Available on: http:/ / www.factsreports.re eus.
org/3966.
Kondo MI<, Dias Júnior MS. Compressibilidade de três Latossolos em função da umidade e us . R
Bras Cienc Solo. 1999;23:211-8.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1076
ÜENIZART BOLONHEZI ET AL.

Kulm NJ. · il 1oss. l n: 01urchman GJ, Landa E, editors. TI,e soil underfoot: mfimte
· · · poss1·b·1·t·
LI ies f ora
firute re ources. ew York: CRP Press; 2014. p.37-48.
Lanzotti_CR. _U ma análise energética de tendência do setor sucroalcooleiro [dissertação]. Campinas:
Unn er idade Estadual de Campinas; 2000.
Landell MG~ Scarpari MS, Xavier MA, Anjos IA, Baptista AS, Aguiar CL, Silva DN, Bidóia MAP,
Brancah_a o SR, Bressiani JA, Campos MF, Miguel PEM, Silva TN, Silva VHP, Anjos LOS, Ogata
BH. Residual biomass potential of comercial and pre-commercial sugarcane cultivars. Sei Agric.
2013a;70:299-304.
La ndell MGA, Campana MP, Figueiredo P. Sistema de multiplicação de cana-de-açúcar com uso
de mudas pré-brotadas (MPB), oriundas de gemas individualizadas. 2ª.ed. Campinas: Instituto
Agronômico; 2013b. (Documentos IAC, 109)
La Scala Jr N, Bolonhezi D, Pereira GT. Short-term soil CO emission after conventional and reduced
tillage of a s ugarcane are in souththem Brazil. Soil Til! Res. 2006;91 :244-8.
Leprun JC. Relatório convênio SUDENE E ORSTOM - A erosão, a conservação e o manejo do solo no
ardeste brasileiro. Recife: 1981. 105p.
Leprun JC. Relatório convênio SUDENE E ORSTOM - Manejo e conservação de solos do Nordeste.
Recife: SUDENE; 1988.
Lepsch IF, Espindola CR, Vischi Filho OJ, Hemani LC, Sique.ira OS. Manual para levantamento
utilitário e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Viçosa, MG: Sociedade
Brasile.ira de Ciência do Solo; 2015.
Lombardi Neto F, Dechen SCF, Castro OM. A cultura da cana-de-açúcar e as perdas por erosão.
ln: Resumos do 4°.Congresso Brasileiro de Conservação do Solo, 1982; Campinas. Campinas:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/lAC; 1982. p.24.
Lombardi Neto F, Bellinazzi Junior R, Lepsch IF, Oliveira JB, Bertolmi O, Galeti PA, Drugowich MI.
Terraceamento agrícola. Campinas: 1991. (Boletim técnico, 206).
Lombardi Neto F, Oechen SCF, Bellinazzi Junior R. Canais escoadouros vegetados. Campinas:
Coordenadoria da Assistência Técnica Integral; 1993. v.4. p.37-52 .. (Manual CATI, 41)
Lombardi Neto F. Canais divergentes. Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral;
1992 v.4. p.53-5.(Manual CATI, 41)
Lombradi Neto F, Orugowich MI. Manual técnico de manejo e conservação do solo e água. 2'1. ed.
Campinas: Coordenadoria da Assistência Técnica Integral; 1994. (Manual CATI, 38)
Marcondes DAS, Coleti JT, Kashiwakura Y. Comparação de diferentes equipamentos e dosagens de
glifosate na destruição da soqueira da cana-de-açúcar. ln: Anais do 2°. Congresso Nacional da
STAB; 1981; Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1981. p.52-60.
Marques JQA, Bertoni J, Barreto GB. Perdas por erosão no Estado de São Paulo. Bragantia.
1961;20:1143-82.
Martins Filho MV, Liccioti TI, Pereira GT, Marques Junior J, Sanchez RB. Perdas de solo e nutrientes
por erosão num Argissolo com resíduos vegetais de cana-de-açúcar. Eng Agric. 2009;29:8-18.
Martins Filho MV, Siqueira OS, Marques Junior J. Preparo dos solos tropicais: a importância
d e se conhecer a variabilidade dos atributos do solo. ln: Belardo GC; Cassia MT; Silva RP,
organizadores. Processos agrícol_as e ~1ecanização da cana-de-açúcar. Jaboticabal: SBEA _
Sociedade Brasileira de Engenharia Agr1cola; 2015. v.1. p.149-75.
M ca I Lemos SV, Silva RB, Guerra SPS, Lanças KP. Sai! compaction curve of na oxisol under
ara:ug~cane planted after in-row deep tillage. Rev Bras Cienc Solo. 2015;39:1490-7.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

............
XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1077

Mascarenhas HAA, Tanaka RT, Costa AA, Rosa FV, Costa VF. Efeito residual d e l~gumino a o~re
rendimento físico e econômico da ca na-planta. Campina : íns tituto Agro nôrruco, 1994. (Boletim
científico, 32).
Margolis E, Galindo lCL. Comportamento de sistemas de cuJtivo da mandioca em relação à produção
e às perdas por erosão. Rev Bras Cienc Solo. 1991;15:357-62.
Mello [vo WMP, Rossetto R, Santiago AD, Barbosa GVS, Vasconcelos JN. Impulsi~nando a pro~ução
e a produtividade da cana-de-açúcar no Brasil. ln: Albuquerque ACS, Silva AG. editores.
Desenvolvimento da agricuJtura tropical. Brasilia: Embrapa; 2008. v.1. p.673-716.
Mello Ivo WMP. Dinâmica da matéria orgânica em áreas de produção de cana-de-açúcar colhida crua
e queimada, no Nordeste do Brasil [tese]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2012.
Meier EA, Thorburn PJ, Wegener MI<, Basford KE. Toe availability of nitrogen from ugarcane_tr h
on contrasting soils in the wet tropics of North Queensland. Nutr Cycl Agroecosys. 2006;7:,:101-
14.
Mohanty M, Das PP, Nanda SS. Introducing SSI (Sustainable Sugarcane lnitiative) technology for
enhanced cane production ans econornic retum.s in real farming situations under east coast
climatic conditions of India. Sugar Technol. 2015;17:116-20.
Montgomery D. Dirt: Toe erosion of civilizations. Oakland: University of Califomia Press; 2007.
Moberly PK. Deep tillage investigations on five soil types of South African Suiarbelt. ln: Proceedings
of the 46th. Annual Congress of South African Sugar Technologist Association; 1972; Mount
Edgecombe. Mount Edgecombe: 1972. p.205-10.
Moraes ER, Domingues LAS, Medeiros MH, Peixoto JVM, Lana RMQ. Produtividade e características
agronômicas da cana-de-açúcar em diferentes sistemas de preparo do solo. Rev Agric eotr.
2016;3:27-32.
Mutton MA. Efeitos de diferentes sistemas de preparo do solo na cultura da cana-de-açúcar
(Saccharum spp. var. Na 5679) [dissertação] Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista; 1983.
Oliveira MW, Trivelin PCO, Penatti CP, Piccolo MC. Decomposição e liberação de nutrientes da
palhada de cana-de-açúcar em campo. Pesq Agropec Bras. 1999;34:2359-62.
Oliveira JCM, Tirnm LC, Tominaga TT, Cássaro FAM, Reichardt K, Bacchi 005, Dou.rado-r eto D,
Câmara GMS. Soil temperature in sugar-cane crop as a function of management system. Plant
Soil. 2001;230:61-6.
Pacheco EP, Cantatice JRB. Compressibilidade, resistência a penetração e intervalo hídrico ótimo de
um Argissolo Amarelo cultivado com cana-de-açúcar nos Tabuleiros Costeiros. Rev Bras Cienc
Solo. 2011;35:403-15.
Pankhurst CE, Blair BL, Magarey RC, Stirling GR, Garside AL. Effects of biacides and rotation
breaks on soil organisms associated with the poor early growth of sugarcane in con tinuous
monoculture. Plant Soil. 2005;268:255-69.
Ponçano WL, C~eiro C~R, Bistrichi ~A, Almeida ~M, Prandini FL. Mapa geomorfológico do
estado de Sao PauJo. Sao Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1981. .1 ( ota Explicati a)
e v.2 (Mapa, escala 1:1.000.000).
Prado H, Pádua Junior AL, Garcia J, Moraes JLF, Carvalho JP, Donzeli PL Solos e ambientes de
produção. ln: Dinardo-Miranda LL, Vasconcelos ACM, Landell MGA. organizadores. Cana-de-
açúcar. Campinas: lAC; 2008. p.179-204.
Prado H. Pedologia fácil -aplicações na agricultura. 3.ed. Piracicaba: 2011.
Prove BG, Googan VJ, Truong PNV. Nature and magnitude of soil ero ion in suga.r cane land on the
wet tropical coast of north-eastern. Austr J Exper Agric. 1995;35:641-9.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1078
DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Razafunbelo T, Barthe B, Larré-Larrouy MC, De Luca EF, Laurent JY, Cerri CC, :eller C. Effec~ of
ugarcane residue management (mulching versus bumi.ng) on organic matter ma clayed Ox1sol
from outhern Brazil. Agric Ecosyst Environ. 2006;115:185-289.
nd
Reze e JO. Solos coe os dos Tabuleiros Costeiros: Limitações agrícolas e manejo. Salvador: Seagri-
SPA; 2000.
Ro sini DB: Resistência mecânica à penetração em Latossolo Vermelho após sucessivos cortes
mecaruzados de cana-de-açúcar [dissertação]. Jaboticabal: UNESP; 2014.
Ro'\! land DL, Smith C, Cook A, Mason A, Schreffler A, Bennet J. Visualization of peanut nodules and
se~sonal nodulation pattern in different tillage systems using a minirhizotron system. Peanut
Sc1. 2015;42:1-10.
Ri poli TCC, Ripoli MLC. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia e ambiente. Piracicaba: Barros
& Marques Editoração Eletrônica; 2004.
Rudorff BFT, Aguiar DA, Silva WF, Sugawara LM, Ada.mi M, Moreira MA. Studies on the rapid
expansion of sugarcane for ethanol production in São Paulo Sta te (Brazil) using Landsat data.
Remate Sens. 2010;2:1057-976.
Sant'ana SAC, Fernandes MF, Ivo WMPM, Costa JLS. Evaluation of soil quality indicators in
sugarcane management in sandy loarn soil. Pedhodphere. 2009;19:312-22.
Scarpinella GD' Almeida. Erosão em carreadores da cultura da cana-de-açúcar: estudo de caso na
Bacia do Ribeirão do Feijão (SP) [tese]. São Carlos: USP; 2012.
Segnini A, Carvalho JLN, Bolonhezi D, Milori DMBP, Silva WT, Simões ML, Cantarella H, De
Maria IC, Martin-Neto L. Carbon stocks and humification index of organic matter affected by
sugarcane straw and soil management. Sei Agric. 2013;70:321-6.
Severiano EC, Oliveira GC, Dias Júnior MS, Oliveira LFC, Castro MB. Pressão de pré-consolidação
e intervalo hídrico ótimo como indicadores de alterações estruturais de um latossolo e de um
cambissolo sob cana-de-açúcar. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:1419-27.
Severiano EC, Oliveira GC, Dias Júnior MS, Castro MB, Oliveira LFC, Costa KAP. Compactação de
solos cultivados com cana-de-açúcar: I - modelagem e quantificação da compactação adicional
após as operações de colheita. Eng Agric. 2010;30:404-13.
Silva IF, Andrade AP, C Filho OR. Efeito da cobertura vegetal e de práticas conservacionistas sobre
perdas por erosão numa terra roxa estruturada eutrófica. Agropec Tecn. 1985;6:26-37.
Silva AJN, Ribeiro MR, Mermut AR, Benke MB. Influência do cultivo contínuo de cana-de-açúcar em
Latossolos Amarelos coesos do estado de Alagoas: propriedades micromorfológicas. Rev Bras
Cienc Solo. 1998;22:515-25.
Silva RB, Lima JM, Dias Júnior MS, Silva FAM. Influência da adição de fósforo no índice de
compressão e propriedades de consistência de um Latossolo Vermelho-EscUio. Rev Bras Cienc
Solo. 2001;25:261-8.
Silva MA, Rosseto R. Diferenças varietais na eliminação química de soqueiras de cana-de-açúcar.
STAB, Açúcar, Álcool Subpr. 2002;20:24-7.
Silva RB, Dias Júnior MS, Silva FAM, Fole SM. O tráfego de máquinas agrícolas e as propriedades
físicas, hídricas e mecânicas de um Latossolo dos cerrados. Rev Bras Cienc Solo. 2003a;27:973-83.
Silva AR, Dias Júnior MS, Guimarães I:G, Araújo Júnior CF. Modelagem da capacidade de suporte
de carga e quantifi:ação dos efe1t?s das operações mecanizadas em um Latossolo Amarelo
cul tivado com cafeeIIo. Rev Bras C1enc Solo. 2006a;30:207-16.
Silva MA, Carlin SR, Caputo M~. Tipos de colheita e épocas de aplicação de glifosato na erradicação
de soq ueiras de cana-de-açucar. Pesq Agropec Bras. 2006b;41:43-9.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIII - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM CANA-DE-AÇÚCAR 1079

Silva RB, Iori P, Lanças KP, Dias Júnior MS. Modelagem e deterrrúnação do stad crítico de
consolidação a partir da relação massa e volume em solos canavieiro · Rev Ci nc gr.
2010;33:376-8.
Silva IF. Situação do Nordeste brasileiro e suas necessidades. fn: Leite LFC, Maciel GA, Araújo ASF,
editores. Agricultura conservacionista no Brasil. Brasília: Embrapa; 2014. p.101-21 .
Silva-Olaya AM, Cerri CEP, La Scala Jr N, Dias CTS, Cerri CC. Carbon dioxide emissions under
different soil tillage systems in mechanically harvested sugarcane. Environ Res Letters. 2013;8:1-
8.
Siri-Prieto G, Reeves DW, Raper RL. Tillage requirements for integrating winter-annuel grazing in
peanut production: plant water status and productivity. Agron J. 2009;101:1400-8.
Souza I.S, Borges AL, Cintra FLD, Souza LO, fvo WMPM. Perspectivas de uso dos solos dos tabuleiros
costeiros. ln: Araújo QR, organizador. "SOO anos de uso do solo no Brasil" . Ilhéus: Editus; 2002.
p.521-79.
Souza GS, Souza ZM, Silva RB, Araújo FS, Barbosa RS. Compressibilidade do solo e sistema radicular
da cana-de-açúcar em manejo com e sem controle de tráfego. Pesq Agropec Bras. 20123;47:603-
12.
Souza GB, Martins Filho MV, Matias SSR. Perdas de solo, matéria orgânica e nutrientes por erosão
hídrica em urna vertente coberta com diferentes quantidade de palha de cana-de-açúcar em
Guariba-SP. Eng Agrfc. 2012b;32:490-500.
Soares MBB, Bianca S, Finoto EL, Bolonhezi D, Albuquerque JAA, Silva AA. Weed commurúty in
a raw sugarcane renovation área subm.itted to different soil management. Planta Daninha
2016;34:91-8.
Srrúth DM, Inman-Barber NG, Thorbum PJ. Growth and function of s ugarcane root system. Field
Crops Res. 2005;92:169-83.
Sparovek G, Schnug E. Temporal erosion-induced soil degradation and yield loss. Soil Sei Soe Am J.
2001;65:1479-86.
Sparovek G, Maule RF. Técnicas de conservação do solo e da água: controle do escoamento superficial
difuso de água. ln: Belardo GC, Cassia MT, Silva RP, organizadores. Processos agrícolas
e mecanização da cana-de-açúcar. Jaboticabal: SBEA - Sociedade Brasileira de Engenharia
Agrícola; 2015. v.l. p.129-48.
Spoor G, Godwin RJ. An experimental inves tigation into deep loosening of oil by rigid tines. J Agric
Eng Res. 1978;23:243-58.
Stirling GR. The impact of farming systems on soil biology and soilbome diseases: examples from
the Australian sugar and vegetable industries - the case for better integration of sugarcane and
vegetable production and implications for future research. Austr Plant Pathol. 2008;37:l-1
Stolf R. Cultivo mínimo para a cana-de-açúcar. Boi Tecn PLANALSUCAR. 1985;6:S-42.
Stolf R, Tokeshi H. A ratoon transplanting technique for renewing s ugarcane fields. Sugarcane.
1990;19:6-9.
Tarúrnoto OS, Bolonhezi D. Plantio direto de soja sobre palhada de cana-de-açúcar. Campinas: CA11;
2002.
Tasso Júrúor LC. Cultura de soja, milho e amendoim sob diferente is temas de manejo d lo
e m área com palha residu~l de colheita mecanizada de cana crua [dissertação} Ja ticabal:
Urúversidade Estadual Paulista, 2003.
Telles TS, Guimarães MF, Dechen SCF. Toe costs of soil erosion . Rev Bras Cienc lo. _Ol 1;35:_ -9 .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1080 DENIZART BOLONHEZI ET AL.

Tominaga TT, Cássaro FA ,t , Bacchi 005, Reichardt K, Oliveira ]CM, Timm LC. Variability of soil
watcr contenl and bulk density in a sugarcane field. Austr J Soil Res. 2002;40:604-1 4 -
Torres J , \ illega F. Labranza reducida para renovación de plantaciones de cana de azúcar. ln: l º.
Encuentro I acional de Labranza de Conservación; Villavicencio, Colombia, 1998. p .337-52.
Triveli.n PCO, Franco HC], Otto R, Ferreira DA, Vitti AC, Fortes C, Faroni CE, Oliveira ECA,
Cantarella H. lmpact of sugarcane trash on fertilizer requirements for São Paulo, Brazil. Sei
Agric. 2013;70:3-1-5-52.
União da indú triade cana-de-açúcar - Unica. Raio X do setor sucroenergético. [acessado em: 28 de
set. de 2015] Disponível em: http://www.unica.com.br/faq/
Va cancelo RFB, Cantalice JRB, Moura GBA, Rolim MM, Montenegro CEV. Compressibilidade de
um Latossolo Amarelo distrocoeso não saturado sob diferentes sistemas de manejo da cana-de-
açúcar. Rev Bras Cienc Solo. 2012;36:525-36.
\ ischi Filho OJ. lndicadores físicos e mecânicos do solo sob cultivo de cana-de-açúcar em áreas
comerciais [tese] Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2014.
Vischi Filho OJ, Souza ZM, Silva RB, Lima CC, Gomes Pereira DM, Lima ME, Sousa ACM, Souza GS.
Capacidade de suporte de carga de Latossolo Vermelho cultivado com cana-de-açúcar e efeitos
da mecanização no solo. Pesq Agropec Bras. 2015;50:322-32.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Ai
XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS
DE CULTIVO DE EUCALIPTO E P'ÍNUS

José Leonardo de Moraes Gonçalves1/, José Henrique Tertulino Rocha11 & Clayton
Alcarde Alvares~

11 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz'', Departamento de Ciências
Florestais, Piracicaba, SP. E-mail: jlmgonca@usp.br
21 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz d e Queiroz", Departamento de Oencias
Florestais, Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, Piracicaba, SP.E-mail: rocha.jht@gmail.com
31 Suzano Papel Celulose, Suzano, SP. E-mail: caalvares@yahoo.com..br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ··································································································································-·-·········--····-···- 1 2
LOCALIZAÇÃO DAS PLANTAÇÕES............................................................................................ ·-···-·-·--···-··· 1
SOLO E TOPOGRAFIA.................................................................................................... - ·······-··•··· ···-··········-············· 1086
1-USfÓRICO ···································································································································-··--···•·············-···· 1 7
PERDAS DE SOLO EM PLANTAÇÕES FLOREST AlS ..........................................................·-··-··············-··--· 1090
MANEJO DE BIOMASSA VEGETAL RESIDUAL.. ...............................................·-··············-··················-·-········· 1092
Mé todos ··············-······················· 1092
Biomassa vegetal residual florestal e nutrientes····································································- ···················-·-- 1094
Decomposição e liberação de nutrientes······························································-···················--··············-···-- 1097
Efeitos nos atributos do solo..................................................................................- ....................... ·---·····--····· 1099
Efeito na produtividade de madeira ................................................................................ ·- ··-··········-·················· 1101
EFEITOS DOS lMPLEMENTOS DE PREPARO DE SOLO...................................... ·-················· ·········- ·······- ······-- 1102
Readensarnento do sulco de subsolagem ................................................ -······························--·-············--····· 1109
PREPARO DE SOLO EM ÁREAS FORTE ONDULADAS E MONTANHOSAS .......- ......... ··-···-·-·····-·-··· ·· 11 n
Subsolagem ·······································································································-- ···- ··········- ·- ·······- ·- ··-··-······-·-· 1111
Preparo de solo restrito às covas de plantio......................................................- ........... ,........·-···········-·- ······· 111_
CONSIDERAÇÕES FINAIS . ····················-······-··········-····-····-·······-·-· 1113
LITERATURA QDADA 1114

Berto! [, De Maria IC, Souza l.5, editores. Mane1·0 e conservaçâo do -1 -a agua.


lo e u. , 1· o a, IG : -·edade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
-
1082
JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

INTRODUÇÃO

Atualmente, as florestas plantadas no Brasil totalizam aproximadamente 7,84 Mha,


0nd e 5,67 Mha estão plantados com eucalipto (cerca de 25 % da plantação mundial);
1 ,58 Ml:a co_m pínus; e 0,59 Mha com outras espécies. O consumo de madeira de plantações
florestais foi de 206 250 000 de m 3 em 2017, sendo 74,6 % desse total de madeira de eucalipto;
22,9 %, de pínus; e 2,5 % provenientes de outras espécies (IBÁ, 2017).
A grande maioria das plantações é manejada em ciclos curtos de cultivo (seis-oito anos)
e está estabelecida em regiões onde há deficiências hídricas e nutricionais com diferentes
~ª':15 de severidade. A ampla variedade de espécies e hfbridos de Eucalyptus e Pinus com
distintas capacidades de adaptação climática e edáfica, associada à facilidade de propagação
por sementes e, ou, clonagem, possibilita a adaptação das plantações à maioria das regiões
tropicais e subtropicais do Brasil. O incremento médio anual das plantações de eucalipto
é de 36 m 3 ha-1 ano-1 de madeira com casca, e o das plantações de pínus, 31 m 3 ha-1 ano-1
de madeira com casca (IBÁ, 2017). Aumentar a eficiência do uso dos recursos naturais
por meio do melhorarnento genético, da alocação sítio-específica dos genótipos e do uso
adequado de práticas siliviculturais é um desafio fundamental, no sentido de manter ou
aumentar a produtividade com baixo impacto ambiental (Gonçalves et al., 2013).
De modo geral, os ecossistemas onde está estabelecida a maioria das plantações
são bastante sensíveis à perturbação antrópica, devido às seguintes razões ecológicas e
históricas: as condições climáticas são muito ativas (p.ex., altos índices pluviométricos e
térmicos), com ocorrência de frequentes chuvas de alto poder erosivo no período chuvoso;
a significativa parte das plantações é realizada em relevo acidentado; os solos são de baixa
fertilidade natural e pobres em minerais primários; portanto, sem ou com baixas reservas
de nutrientes; grande parte das plantações foi estabelecida em áreas agrícolas com solos
degradados, onde houve previamente significativa perda da capacidade suporte do solo;
e as extensas áreas, cerca de 800 kha, foram estabelecidas em solos coesos de Tabuleiros
Costeiros da Bahia e Espirita Santo, com presença de camadas de impedimento físico por
adensamento e também do tipo fragipã e duripã. Por isso, para que haja o uso racional
dos recursos edafoclimáticos, faz-se necessário bom conhecimento dos atributos desses
recursos e dos potenciais efeitos dos sistemas de conservação e cultivo do solo. Disso
depende a manutenção ou melhoria do potencial produtivo e a preservação ambiental
em longo prazo. Foi com esse intuito que foi desenvolvido e implantado em plantações de
eucalipto, no inicio da década de 1990, o cultivo mínimo do solo, que atualmente é usado
em mais de 90 % das áreas de plantações florestais.
Neste capítulo, são apresentados e discutidos alguns dos principais atributos
edafoclimáticos das áreas usadas para plantações de eucalipto e pínus, bem como as
principais práticas de conserv~çã~ e prep~o de solo em c~tivo ~imo. Dentro de um
ponto de vista holístico, a bacia hidrográfi:a deve ser a urudade básica de planejamento
das práticas silviculturais, onde a ~roduçao florest~ e os recursos edáficos, hídricos e
biológicos devem interagir ~ar~orucarnente. O. conJ_un_to de prá tic~s conservacionistas
recomendadas tem corno obJebvos fundamentais otmuzar as condições ecofisiológicas
d e desenvolvimento vegetal, reduzir a exposição do solo às intempéries climáticas e
preservar os recursos hídricos. Os pr~cípios e osé~étofldos de manejo podem ser facilmente
extrapolados para uso com outros generos e esp cies crestais.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · • · l083

Grande parte do texto faz referências aos resultados de pesquisa e desenvolvimento


tecnológico dos últimos 20 anos no âmbito do 'Programa Temá tico deSilviCLtltura e_Manejo
(PTSM)', gerido pelo Departamento de Ciências Florestais da ESALQ e pelo Instituto de
Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), onde há profícua interação entre instituições de
pesquisas, empresas florestais e propriedades rurais.

LOCALIZAÇÃO DAS PLANTAÇÕES

Em 2012, a área total ocupada pelas plantações florestais de eucalipto, p ínus e outras
espécies no Brasil totalizou 7,02 Mha, sendo 70,8 % dessa área plantada com eu calip to;
22,0 %, com pínus; e 7,2 %, com outras espécies florestais: A cacía meamsii, Acacía mangium,
Hevea brasiliensis (Seringueira), Schizolobium amazonícum (Paricá) e Teclona grandis (Teca)
(Figura 1). Parte das plantações de pínus está sendo substituída por eucalipto. Entre 2006
e 2012, a área plantada com pínus foi reduzida em 323 kha (-3,1 % por ano) (Abr af, 2013).
As maiores plantações florestais são encontradas na Região Sudeste (42,4 %),
principalmente nos Estados de Minas Gerais e São Paulo (Quadro 1). Grandes plantações
também podem ser encontradas na Região Nordeste (11,7 %), no Estado da Bahia; na
Região Sul (29,1 %); na Região Centro-Oeste (11,0%), principalmente no Estado de Mato
Grosso do Sul; e na Região Norte (5,8 %), no Estado do Amapá (Abraf, 2013). A m aior
concentração de plantações florestais ocorre nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil, onde es tão
localizadas as principais indústrias de celulose, papel, aço e painéis de madeira. Em razão
do alto preço da terra nessas regiões, a silvicultura brasileira está avançando para outras
regiões chamadas de "novas fronteiras florestais", como tem ocorrido na última década
nos Estados de Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí e Tocantins.
Diretamente relacionado com a quantidade de chuva, com os índices térmicos e com
a sazonalidade climática, as plantações de eucalipto foram estabelecidas em áreas onde
a vegetação natural era a Mata Atlântica (61 %), o Cerrado (21 %), a Floresta Amazônica
(10 %), os Pampas (7 %) e a Caatinga (1 %) (Figura 1).
As plantações em áreas de arrendamento e fomento florestal dobraram nos últimos
cinco anos. Em 2012, 17,4 % das plantações foram estabelecidas em áreas arrendadas; e
13,5 %, em áreas de fomento florestal. Nesses sistemas de produção florestal, as empresas
têm como objetivos garantir o fornecimento de madeira, reduzir a quantidade de capital
em ativos fixos, diminuir as despesas com frete e promover programas de apoio à geração
de emprego local (Abraf, 2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1084 JosÉ LEONARDO D E MoRAES GONÇALVES ET AL.

o 300 600 1200 km ~


l--+--+---+--+-t---+--+---1 N

Equador

Classificação climática de Koppen

-a Am
- Af

Aw
-
ªa ªª
BSh

Cfb
- Csb

aa cwa
Cwb
As Csa a Cwc
,----
'
1
Trópico de
1
1
1
1
··········eapriêórriio
1
1
Áreas plantadas (ha)
• 500 - 20 000
• 20 001 - 50 000
• 50 001 - 100 000
• >100000
I
Í Estados Brasileiros

figura 1. Distribuição das plantações florestais nos diferentes biornas naturais e climas do Brasil.
Tipos climáticos de Kõppen: A = clima tropical: sem défice hídrico (Af), monçônico (Am), com
inverno seco (Aw) e com verão seco (As); BSh = clima semiárido de baixa latitude e altitude;
d = clima subtropical ú.mido: com verão quente (Oa) e verão temperado (Cfb); Cs = clima
subtropical com verão seco: quente (Csa) e temperado (Csb); Cw: clima s ubtropical com inverno
seco: verão quente (Cwa), verão temperado (Cwb) e verão curto e fresco (Cwc).
Fonte: Modificado de AbraJ (2013), Gonçalves e t al. (2013) e Alvares e t al. (2013).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM S I ST EMA S DE C ULTURA DE EUCALIPTO E · · ·
1085

Quadro 1. Área de florestas p lan tadas em 2012, o rd e m e s ubo rde m do so lo, tex tura J o so lo, topogra fia
regiona l e extensão dos solos nas diferentes regiões d o I3rasil

Área Solo
plantada
Área plantada
Região
1 000 % Ordem e Textura do solo T opografiam l 000 %
kha total subordem do solo kha região
Sudeste 2 978 42,4 Plana a o ndulada 1 691 56,7
Latossolos M(,dia a muito argi losa
Média (Hor-A)/ méd ia a O ndulada .-i fo rte 675 22,7
Argissolos argilosa (Hor-B) ond ulada
Ondulada .-i fo rte 437 14,7
Cambissolos Média a argilosa o ndu lada
Neossolos
Forte o nd u lada a 133 4 ,5
• Litólicos Média a a rgilosa mo nta nhosa
Plana a suave -B 1,-!
• Quart2.:rrênicos Arenosa o ndulad a
Su l 2043 29,1 Cambissolos Argilosa Forte ondu lada 04 39,4
Média (Hor-A) / média a Suave o nd ulad a a 468 22,9
Argissolos argilosa (Hor-B) forte ond u lad a
Suave o nd ulada a 455 22,3
Latossolos Média a muito argilosa ond u lada
Neossolos
Forte ond ulada a 191 9.3
• Litólicos Média a argilosa mo ntanhosa
Pla na a s uave 21 1,0
• Quartzarênicos Arenosa o nd uJada
Média (Hor-A) / argi los a Plana a sua ve 104 5,1
Planossolos ondulada
(H or-8)
Nordeste 819 11,7 Plana a u ave 260 31,7
Latossolos Média a a rgilosa
o ndulada
Arenosa a média (Hor- A 50,1
Argissolos O nduJada -110
/ média a argilosa (Hor-B)
Neossolos
Plana a uave ,O
• Quartzarênicos Arenosa 66
o ndulada
Cambissolos Argilosa Forte ond uJada 56 6,
Plana a uave
Plintossolos Média
o nduJada 28 ,➔

Centro- 775 11,0 Latossolos Média a muito argilosa Plana .1 o ndulada 36 -!7,6
Oeste
Neossolos
• Quartzarênicos Arenosa Plana a uave
339 43,7
ondulada
• Litólicos Argilosa Forte o ndulada 6 0.7
Média (Hor-A) / média a Ondulada a fo rte
Argissolos -!O ::,, _
argilosa (Hor-8) ondulada
Cambissolos Argilosd a muito argila a Forte o ndulada d
mo ntanhosa 15 1,9
Média (Hor-A)/ argilosa Pla na a ·uave
Planossolos 7 0,9
(Hor-B) o nd u lada
No rte 401 5,8 Latossolos Média a muito argilosa Plana a onduJada 253 63,0
Média (Hor-A)/ m1.:dia a
Argissolos O ndulada '6 21,5
argi losa (Hor-8)
Neossolos
• Qua rlzarênicos Arenosa Plana a s ua e
o nuulada JS 9,-!

• Litólicos Média a argilosa Forte ondulada u


montanhosa 17 -!,3
Pl intos solos Média u.ive ondulada 7 1,,
c11 Topogr;ifia: 0-3 cm m·1 plana; 3-8 cm nr' suaw ondulud,1; 8-20 a n nY1 ond ub J J; 20-45 cm m, forte ond u lJJ a; -!5--75 cm nY'
mon ta nho~; e > 75 cm m I escarpadu.
Fonte: Abr,1f (20 13) e Gonçalves et ;il. (1013).
,
MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
1086
JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

SOLO E TOPOGRAFIA

Uma estimativa dos principais tipos de solo e topografia, e áreas correspondentes,


usados. para plantações florestais (Quadro 1), foi realizada por Gonçalves et al. (2013)
e atualizada neste trabalho. Esses autores usaram várias fontes de dados espaciais e
tabulares, publicadas pelo lF (2002), Abraf (2013) e IBGE (2011). As ordens e subordens de
solos foram obtidas a partir do mapa pedológico do Brasil (IBGE, 2001).
':- grande variabilidade de solos e topografia reflete a ampla extensão da área de
plantio e a ação e a dominância de cliversos fatores e processos de formação dos solos.
Ger~mente, os solos mais intemperizados e desenvolvidos, com B latossólico, estão sob
con~_ções climáticas e bióticas muito ativas, como nas regiões tropical e subtropical úmidas.
Pos icionam-se na paisagem em condições mais estáveis, de relevo plano a ondulado. Os
solos medianamente desenvolvidos, menos intemperizados, com B textura}, formam-se
em condições topográficas menos estáveis (topografia ondulada a forte ondulada). Menos
desenvolvidos que os anteriores, os solos com B incipiente formam-se em relevo ondulado
a montanhoso; os pouco desenvolvidos comumente estão presentes em condições
topográficas muito instáveis.
Os solos com B latossólico são profundos, com horizontes bem diferenciados e com
baixo gradiente textura!. Por causa do avançado estáclio de intemperismo e do intensivo
processo de li.xiviação, as argilas predominantes são as cauliníticas e oxídicas (gibbsita, goetita
e hematita). Em geral, a massa do solo tem aspecto maciço poroso, com forte agregação das
partículas em grânulos, ocorrendo, com menor frequência, solos com estrutura em blocos
subanguJares. O Latossolo é a principal ordem de solo, com 3,0 Mha, ocorrendo em quase
metade da área utilizada para as plantações florestais (43,1 %). Por isso, há plantações sobre
esses solos em todas as regiões, mas principalmente na Região Sudeste, em São Paulo e Minas
Gerais; sua textura varia de méclia a argilosa (Quadro 1).
Os solos com B textural são profundos a pouco profundos, com ocorrência, em menor
expressão, de solos rasos a pouco profundos. Esses são bem a mal drenados, apresentando
considerável eluviação de argila dos horizontes superficiais para o horizonte B, evidenciada pelo
gradiente textura!. A susceptibilidade à erosão aumenta com as diferenças texturais. Cuidados
especiais relacionados ao manejo desses solos devem ser tornados, quando o horizonte A é
arenoso e o B é argiloso, o que comumente ocorre em áreas com declive acentuado. O Argissolo
também é uma ordem de solo muito utilizada para plantações florestais, com 1,7 Mha (23,9 %),
principalmente nas Regiões Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil (Quadro 1).
OssoloscomBincipienteoucâmbicosãomoderadosabemdrenados,poucoprofundos
ou rasos, raramente profundos, com desenvolvimento pedogenético pouco pronunciado.
Os teores de núnerais primários facilmente intemperizáveis são maiores que 4 %, sendo
comum a presença de fragmentos de rocha. Suas texturas variam de media a argilosa.
Geralmente, apresentam linútações físicas (permeabilidade, profundidade, retenção de
água disponível) que linútarn a prod~ção flores~al, sem nec~~sariamente inviabilizá-la
econorrúcamente. Comumente, esses sao de média a alta ferhhdade. Aproximadamente
1, 3 Mha (18,7 %) das plantações florestais são cultivadas em Cambissolos; são amplamente
cultivados nas Regiões Sudeste e Sul (Quadro 1).
Os solos pouco desenvolvidos, como o Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico
e Gleissolo, apresentam horizonte A sobrejacente à rocha ou ao horizonte e. As

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E • · · 1087

profundidades são diversas, desde rasos a muito profundos. Em geral, o Neossolo Litólico
e Gleissolo possuem atributos físicos desfavoráveis ao desenvolvimento das plantações
florestais com fins comerciais e situam-se dentro de áreas de preservação permanente da
vegetação natural. Os Neossolos LitóLicos apresentam baixa profundida~e, alto teor_ de
argila e, geralmente, de média a alta fertilidade. Os Neossolos desenvolvidos de arenitos
ou sedimentos arenosos (Neossolo Quartzarênico) são cultivados principalmente no
Centro-Oeste, por exemplo, em Mato Grosso do Sul, em terrenos com topografia plana
a suave ondulada. Há cerca de 853 kha (12,2 %) de Neossolos sob cultivo com plantaçõe
florestais, principalmente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.
A topografia é muito acidentada, variando de forte ondulada a montanhosa (Quadro 1).
No Estado do Rio Grande do Sul, existem extensas áreas plantadas em Planossolos
(104 kha), em áreas com topografia plana a suave ondulada e aJto gradiente textural. Esses solos
apresentam geralmente horizonte A com textura média sobre horizonte A plânico argiloso. Em
muitos lugares, as plantações de eucalipto expressam efeitos da anoxia. Juntamente com uma
área de 7 kha na região Centro-Oeste, esses solos atingem 1,6 % do total.
O restante (35 kha = 0,6 %) é composto por Plintossolos, encontrados nas Regiões
Norte e Nordeste.

HISTÓRICO

Os primeiros florestamentos realizados nas décadas de 1960 e 1970 aplicaram método


convencionais de preparo de solo, seguindo padrões tipicamente agronõmicos. A biomassa
vegetal residual era enJeirada e queimada. O preparo primário do solo era feito com arado
de disco ou aiveca e grade leve; em solos leves (textura arenosa ou média), usava-se a
grade pesada. Adotava-se uma recomendação única para extensas plantações florestais,
independentemente do tipo do clima, solo e material genético. A concepção vigente era
de que as espécies florestais precisavam de um preparo intensivo de solo, com ganhos de
produtividade que justificavam os custos operacionais (Fonseca, 1978).
No início da década de 1980, foi introduzida a grade bedding (Suiter Filho et al., 1980;
Simões et al., 1981). Esse implemento trouxe alguns importantes avanços em termos de
conservação do solo e operacionalidade, pelos seguintes motivos: os camalhões feitos em
nível e o menor revolvimento do solo diminuem o potencial de erosão; o realinhamento
das linhas de plantio, em nível, em áreas de reforma florestal, foi possibilitada; a realização
conjunta do preparo de solo com a fertilização de base, por ocasião do plantio, foi facilitada.
Na região do Vale do Rio Doce, a grade bedding, tracionada por trator de esteira, foi usada
para preparar áreas declivosas (até 30 cm m·1), onde, anteriormente, o preparo de solo
se res tringia à abertura de covas manuais (Simões et al., 1981). Nessa mesma épo a, foi
introduzido o arado ref?rmador, que tan:'bém levanta camalhões, usado em áreas planas
ou suave onduladas (ate 8 cm m·1 de declive).
A proibição da queima da biomassa vegetal residual em São Paulo (1988), a necessidade
de diminuir a velocidade de degra_d~ção dos solos, a preocupação com a preservação dos
recursos naturais e o uso de herb1c1da foram fatores que predispuseram e agilizar m
adoção do cultivo mínimo do solo. O controle de plantas infestantes com herbicida foi
fator crucial, porque nesse manejo não há inversão da camada superior do solo, com no

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1088
José LEONARDO DE MoRAES GONÇALVES ET AL.

manejo con encional, ficando o banco de sementes das plantas daninhas nas suas camadas
u~erficiais (não soterrado). Isso causa aumento da infestação dessas plantas, dificultando
ou inviabilizando, operacional e economicamente, o controle manual.
A eliminação da queima como prática de limpeza do terreno foi inicialmente adotada
em p~antações de eucalipto estabelecidas no Mwucípio de Itatinga, SP, em 1989, em áreas
da Cia. Suzana Papel e Celulose. Faziam parte de um conjunto de operações, almejando
0 cultivo mínimo do solo, com base em trabalhos desenvolvidos por Zen et ai. (1995).
0 período entre 1984 e 1989, a queima da biomassa vegetal residual foi gradualmente

s~bs?tuí~a pela sua incorporação ao solo. Evoluiu posteriormente para a completa


~limrnaçao do uso da queima dessa biomassa e para a sua manutenção sobre o solo. Com
isso, consolidou-se o cultivo núnimo como técruca de manejo de solo para fim florestal
(Gonçalves et ai., 2002). Esse método resultou em inúmeras vantagens técnicas, econôrrucas
e ecológicas, como a redução da erosão, a maior conservação da umidade do solo e a
redução da reilúestação de plantas daninhas.
O cultivo mínimo ou reduzido do solo consiste em revolvê-lo o mínimo necessário,
mantendo a biomassa vegetal residual, inclusive da própria cultura e de plantas invasoras,
sobre esse como cobertura morta. Para plantações florestais, se prevê a realização
de um preparo localizado apenas na linha ou na cova de plantio. Em razão do amplo
espaçamento de plantio, geralmente entre 2,5 e 3,0 m entrelinhas, o volume de solo
revolvido é bem menor do que aquele realizado para culturas anuais. Trata-se de um
manejo conservaciorusta do solo, pois mais de 70 % da superfície dele fica coberta com
biomassa vegetal residual, oferecendo alta resistência a perdas de solo e água no processo
erosivo. Quando o plantio florestal é feito em áreas em que o preparo de solo se restringe às
covas de plantio, denomina-se esse método de plantio direto. O ciclo longo de cultivo das
plantações florestais constitui uma vantagem em relação às culturas anuais, pois implica
em menor movimento de máquinas sobre o solo.
Com a adoção do cultivo núnimo, a construção de terraços tomou-se desnecessária. Essa
afirmativa não se aplica a culturas anuais, pois vários agricultores que adotaram o plantio
direto, por considerarem que unicamente o não revolvimento do solo e a cobertura vegetal
residual resolveriam o problema da erosão, decidiram eliminar os terraços de suas lavouras
para facilitar o plantio e os tratos culturais que voltaram a ser realizados no sentido do declive,
acompanhando o maior comprimento da gleba; com isso, ocorreu a volta de erosão hídrica
recorrente, com severos danos às áreas. No setor florestal, não se observa esse efeito, pois
as culturas têm ciclo longo e a quantidade de biomassa residual (tocas, raízes, serapilheira
e biomassa residual da colheita) no terreno é grande. Dessa forma, mesmo no período de
colheita, a superfície do solo fica bem protegida, e rapidamente é coberta pelo novo plantio.
Os terraços, além de caros, nem sempre eram eficientes em conter a erosão. Antes do uso
do cultivo mínimo, era mais frequente a necessidade de manutenção das estradas florestais,
com objetivo de retirar sedimentos transportados de éfreas de produção.
As mudanças nos métodos de limpeza do terreno e de preparo do solo fizeram com que
s urgissem necessidades de desenvolvimen_to de equ_ipamentos e de sistemas operacionais
ue fossem compatíveis com a nova realidade. Foi também n ecessário que ocorressem
~udanças em alguns concei~os, até entã~ ~uito arraigados no setor florestal. Configurou-
também constante necessidade de rev1sao e adequação dos serviços operacionais como
;;rma de se obteren:1 os ~e:ejados aume~tos de pr~dutividade e redução de custos. A
olidaça- 0 do cultivo mUllmo e a reduçao na relaçao custo-benefício só foram possíveis
cons . 1 t d .
após a adequação de tratores e 1mp emen os e a normahzação das operações silviculturais.
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

- ..
XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EU CALIPTO E · · • 1089

O período de adequação dos sistemas operacionais foi curto, com grande benefícios
econômicos. Entre 1990 e 1993, a adoção do cultivo mínimo em áreas acidentadas
representou redução de 23 % nos custos de reforma flores tal e aumento de 56 % na eficiência
de mão de obra. Em áreas planas, a redução de custo operacional foi de 46 %; e o aumento
da eficiência da mão de obra, de 86 % (Gava, 2002).
Na fase de consolidação da nova técnica, alguns pesquisadores e técnicos contrários à
novidade alegavam, por exemplo, que o cultivo rrúnimo causava desbalanço nutricional às
plantas, favorecia a propagação da "ferrugem" foliar (Puccínín psídi1), dificultava o controle
das formigas saúva (Attn spp.) e quenquém (Acromyrmex spp.) e produzia povoamentos de
crescimento irregular. Felizmente, esses argumentos foram, pauJatinamente, desabilitado
ou superados. Nessa fase, sobretudo em São Paulo, foram importantes as pesquisas
cooperativas desenvolvidas por meio do Programa Temático de Silvicultura e Manejo
(PTSM), com base no IPEF e na ESALQ, que se iniciaram em 1995.
Na figura 2, são apresentados alguns princípios, objetivos, estratégias e prática
silviculturais realizadas atualmente, para que os sistemas de produção florestal sejam
sustentáveis. No transcorrer deste capítulo, serão aprofundadas as explicações sobre o
conteúdo desta figura.

PRINCÍPIO
• U,o ronser,,:,c!onista dos recunoo n;otunds
• Ad<!quada c:aradmza;l.o das llmi~ • potmdalldada
do amblentr de produção (sitio) e seleçio dos ~ótfpos
mais •proprlados ao Jca,J
• Desmvolftf pntlcu de man,jo espodfic:u pan, o sitio,
bu.scando mlnlmlzar estteoes blõtJcos e ablõtkm.
• Manterouaummtara blodlwnld..deea ronoctlYldade
ecolõgia, e presernr a lnl~dade do ecowtmui hldrico
na paisag,,m.

Objetivo Eatra~gla Pritica


• Redumaaoslodosolo • Ccne e ~ dm """1uoe &a-.
- ---l· hldrico e awnentar a
Rl!dumoe,tns,e
• Mlnlmlzar o e,coounento supaflcl.al
(enxurrada)
(,or.spilhe!n. sobra da a,hita)
• Pttparo reduzldo do..,..,
úldlncla da _, da • Maximizar a lnflltn,çao de chuva e a • s.u.olagan do solo an cllfcn:nm
.tgua reserva de dgua no ,olo profundldad• da acardo a,m .....
• Reduzir a evaporlçlo n'1o produtiva rnadletwt!c- f1ska
• Aumenta,• pro(undl<bd« efetiva ,o • M.ooojo lnllrgrado de pbntas daniD!,a
sbtrma radicular
• Rl!duzlr a compotlçJo com as
planlol danlnhu / . Cone• m&mnlml;lo doa relduoo °""'9ula
• Nao q\M!imar .. nllld-
..,__----l • MulOjo nutridmal • Reduzir a remoç1o, • llxivll,çao e a • Avallar o 5tatu1 rn11ridcxwl ,.. ,, IDlo.., 1X1.
pwl!M
o vo~tlllz:l<ao de nutrienties
• llnlnda e 5llda de nutrientes • Apllcar mtillzuda de lalldo a,m a ma
lMlancada d e ~ de n11trialm e da, a ~
dutr-.orw ,)
..,__----l • Mlnlmlur o dano llslCD • Reduzir o lmi-1<> dm sbla,,u de • Usar m6qwnn de bmo pollmcial
110,olo oolhelta liObre oe atributoe llJiros e a,mpactativo do tolo..
ulmlcm do ""º • RotM de baldo, da madol:a
~ da lllDdo ll redw:ir U
in,uam,~

r. ~ deapkm{hlmdm
odapwlm . . dUemúa lllioa.q,wllO ~
~à-lpad;a.àapaiae
Resultado esperado ""~
• Plantio nu1tocao dlmáàa, ...,..
apropmd_,o
• Manter ou aw:nffltar a qlWidad• do Jltlo
• Awnen.tar ll efidencl& da u,o dm recunm
natunll
• Mlnlml= os lmpadol causados ,obre o mdo
ambiente
• Produzir madeira de alta qualidade e produtm
n'1o madcirein>I
• Retomo econõinko de lnv-..t.una\101 rulludao
por um.a gesllo orientada pelo merc,do

Figura 2. Algtms princípios, objetivos, estratégias e práticas silviculturais realizad tu !mente para
que os sistemas de produção florestal sejam sustentáveis. asª
Fonte: Gonçalves et ai. (2014b).

M A N EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1090 José LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

PERDAS DE SOLO EM PLANTAÇÕES FLORESTAIS


_ As plantações florestais, se estabelecidas e manejadas com boas práticas silviculturais,
s~o pouco suscetíveis à erosão, por apresentarem boa cobertura ao solo, evidenciarem vasto
s1 stema radicular, serem perenes e necessitarem de poucas intervenções mecânicas durante
seu ciclo de cultivo. As perdas de solo são próximas às observadas em florestas nativas. No
Município de Três Lagoas, MS, Cândido et al. (2014) estudaram essas perdas em duas áreas
com Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico de textura média; uma coberta com floresta
nativa, contendo 30 % de argila no horizonte A e outra coberta com Cerrado, contendo 12 %
de argila no horizonte A. Ambas apresentavam declividade média de 3 cm m-1 e a precipitação
pluvial no ano do estudo foi de 1 150 mm, próxima da média histórica da região. Nas duas
áreas, os autores estudaram as perdas de solo em fragmentos bem conservados de vegetação
nativa (Floresta nativa - FN; e cerrado nativo - CN), em áreas com o solo descoberto (SD) e
em plantações de eucalipto sob dois manejes: com manutenção de toda a biomassa residual
da colheita (ECR) e com remoção dessa biomassa (ESR). Na área com 30 % de argila, não
foram verificadas perdas de solo em FN; em SD, a diminuição foi de 400 kg ha-1 ano-1 . Nas
áreas com eucalipto, essas perdas foram de 13 kg ha-1 ano-1 em ECR e de 120 kg ha-1 ano-1 em
ESR. Na área mais arenosa, a perda de solo foi de 42 kg ha·1 ano·1 em CN, e de 249 kg ha·1 ano-1
em SD. Não foi verificada redução em ECR, e em ESR a perda de solo foi de 674 kg ha·1 ano-1,
comprovando a importância da manutenção da biomassa cultural residual sobre o solo. No
solo mais arenoso, os autores avaliaram também um plantio de eucalipto em desnível, com
as linhas de plantio orientadas no sentido da pendente e manutenção da biomassa residual
da colheita. Nesse tratamento, a perda de solo foi de 61 kg ha·1 ano·1, demonstrando ser essa
uma prática de manejo viável, em razão da baixa perda de solo.
Lima (1988) avaliou as perdas de solo em plantações de Eucalyptus grandis sob Neossolo
Quartzarênico preparado no manejo intensivo de cultivo (duas gradagens pesadas) na
região de São Simão, SP, e as comparou com área com o mesmo preparo de solo e mantida
sem vegetação durante todo o período experimental. Esse autor observou no primeiro ano
que a perda de solo foi de 10,4 t ha·1 ano-1 na área sem o plantio de eucalipto, permanecendo
alta até o quarto ano de cultivo. Na área com o plantio do eucalipto, a perda de solo foi
de 1,0 t ha·1 ano·1, diminuindo para 100 kg ha·1 ano-1 no segundo ano e 10 kg ha·1 ano- 1 no
quarto ano de cultivo. Essa acentuada redução nas perdas de solo na área com eucalipto foi
atribuída ao recobrimento da superfície do solo pelas copas e pela serapilheira.
Martins et al. (2003) avaliaram a perda de solo de 1997 a 2000 em áreas com plantio
de eucalipto, floresta nativa e solo descoberto, em três solos no Município de Aracruz, FS.
Durante o período de estudo, a precipitação pluvial variou entre 580 e 1 130 mm ao ano.
Os solos estudados foram: Argissolo Amarelo de textura média/argilosa (PAl), Plintossolo
Há plico (FX) e Argissolo Amarelo moderadamente rochoso (PA2). O PAl e o FX apresentavam
declividade variando entre 2 e 12 cm m·1; e o PA2, entre 29 e 36 cm m ·1 • As maiores perdas
de solo foram verificadas no P A2, sendo em média de 130 kg ha·1 ano-1 na floresta nativa;
1,9 t ha·1 ano·1 no plantio de eucalipto; e de 16,4 t ha·1 ano·1 no solo descoberto. No PAl e
no FX, essas perdas foram similares, sendo em média de 65 kg ha·1 ano-1 na floresta nativa;
1,2 t ha·1 ano·1 no plantio de eucalipto; e 1,5 t ha·1 ano-1 no solo descoberto.
A região do Vale d_o Rio D°<:e, atualmente, é uma das regiões mais degradadas pela erosão
hídrica no Estado de Minas Gerais e entre os polos de produção florestal do país. Essa região foi
submetida a um impactante efeito antrópico nos últimos 60 anos, que incluiu desmatamento
da floresta nativa e us? indiscrimina~o da que_ima de biomassa vegetal e superpastejo, 0 que,
aliado ao relevo movunentado dorrunante e a ocorrência de chuvas erosivas concentradas,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SI STEMAS DE CULTURA D E EUCALIPTO E · · • 1091

resultou num quadro gra'Ye de degradação do solo por erosão. Nesse context~, Silv et a~. (2011)
avaliaram a influência de manejes adotados nos plantios florestais com eucalipto (euca!Jpto em
nível - EN; eucalipto em desnível - ED; e eucalipto em desnível com queima - EDQ) sobre
perdas de solo e água por erosão hídrica em relação às diminuições em floresta nativa (FN),
pastagem (PP) e solo descoberto (SD), num Latossolo Vermelho Distrófico típico, textura
muito argilosa (LV), assim como em Latossolo Vennelho-A.marelo Distrófico típico, textura
muito argilosa (LVA), durante o ciclo de cultivo do eucalipto. O estudo foi conduzido em dois
municípios: Belo Oriente (LVA) e Guanhães (LV), situados no Vale do Rio Doce, região Centro-
Leste do Estado de Minas Gerais. A tolerância de perdas de solo por erosão hídrica admissível,
nas regiões, é de 7,2 t ha·1 ano-1 para o LVA e de 11,2 t ha·1 ano·1 para o LV.
Os tratamentos com eucalipto apresentaram perdas de solo e água abaixo do sistema
de máxima perda (SD), indicando que essa cultura se encontra adequada em termos de
erosão hídrica, mesmo quando utilizados manejas não conservacionistas, com exceção do
eu calipto em desnível (ED), no LV, que apresentou perdas de água s uperiores ao solo
descoberto (Quadro 2). Essa eficiência está ligada ao fechamento e entrelaçamento das copas
das árvores e à formação da serapilheira, que, com o crescimento da floresta, intercepta as
gotas de chuva, evitando o impacto, desprendimento e transporte das partículas de solo,
além de aumentar a infiltração de água nesse. A FN, nos dois primeiros períodos, apresentou
perdas menores que os demais tratamentos nas duas classes de solo. Esse comportamento
d eve-se à ampla cobertura vegetal do terreno nesse tratamento. A pastagem evidenciou-
se menos eficiente que o eucalipto na redução das perdas de solo, exceto para eucalipto
com q ueima de biomassa cultural residual no LVA, sendo, contudo, mais promissora na
retenção e infiltração de água. De modo geral, o LVA teve reduções de solo maiores que
o LV, mesmo apresentando potencial erosivo menor. Esse fato está relacionado à maior
declividade onde o LVA se encontra (entre 31 e 42 cm m·1 ), relativamente ao LV (entre 18 e
27 cm m·1), e aos atributos diferenciais de cada solo. O LVA apresentava teores de areia fina
e muito fina maiores que o LV, o que conferiu a esse solo maior capacidade de arraste, pois
as partículas mais finas são facilmente transportadas pelo fluxo de água. Os tratamentos
com eucalipto apresentam perdas de solo e água maiores nos dois primeiros anos de
sua implantação (período 1), decrescendo nos períodos subsequentes, exceto, em LV, no
tratamento onde o eucalipto foi plantado no sentido do declive e com queima da biomassa
cultural residual (EDQ), em que o período 2 (quarto e quinto ano) foi o que apresentou
maior perda de solo. Assim, os períodos iniciais após o plantio são os mais críticos.

Quadro 2. Perdas de solo e água em plantações de eucalipto sob diferentes manejos e em áreas de
referência
Perdas de solo Pel'das de .\~a
Períodolll El,/1 SD(]I FN PP EDQ ED EN SD FN PP EDQ ED
kg ha·• por período %
LV
l 10m 15 475 23 2255 38 263 86 2.0 0,2 1,0 1,1 2.0 1,3
2 11240 1569 4 716 78 20 16 1,5 0.1 o, 0,5 1, 1, 1
3 8 208 4 l 2 2 3 0,2 0,1 <
<0,1 0,5 0,5
0,1
L A
l 11032 32933 72 104 1439 247 H9 5,0 1,0 ')
7,1 5,7 5,6
2 12 211 23596 29 197 249 85 43 12.0 0,5 2, 4,4 2,1
2.-
3 8040 2287 130 519 11 8 6 38,5 11,0 5,7 1.2
1.1 1-
!ll perfodo 1 -segundoe terceiro_ano; período 2-quartoequinlo ano; e perfodo3-sexto e timo ano. !ll ~ p tendal erosivo da chuva
em MJ mm ha·1 h:1 ano·1• (J) tvtaneios: 50 - Solo ~e;;coberto, F - _floresta natural, PP - pastagem plantada, EDQ - eucalipto plant do em
d esrúvel com queima da biomas.5a cultural residual, ED - eucab pto plantado em desnível e EJ _ eucalipto plantado em nível
Fonte: Adaptado de Silva ct al. (2011).

MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1092 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

MANEJO DE BIOMASSA VEGETAL RESIDUAL

Métodos
A cobertura do solo com vegetação e, ou, biomassa vegetal residual é a melhor
proteção contra a erosão. Essa proteção ao solo é diretamente proporcional à quantidade
de biomassa, estratificação do dossel e exploração do perfil de solo pelo sistema radicular.
lsso ocorre porque as copas da vegetação e a camada de biomassa vegetal residual
acumulada sobre o solo impedem o impacto direto das gotas de chuva sobre os agregados
do solo. Dessa forma, os agregados não são desintegrados em suas partículas básicas: areia,
silte e argila, evitando-se assim o desencadeamento do processo erosivo. Além disso, a
vegetação e biomassa vegetal residual funcionam como obstáculos ao cam.inhamento de
excedentes hídricos, reduzindo a velocidade da enxunada. Com o aumento do tempo de
permanência das águas de escorrimento sobre o terreno, as taxas de infiltração são maiores,
dim.inuindo as perdas de água do sistema e o poder erosivo da enxurrada. Em florestas
na.rurais ou plantações florestais, estabelecidas com boa tecnologia, os excedentes de água
são núnimos, na maioria das vezes se extinguindo dentro das próprias florestas. Portanto,
o aproveitamento das águas por causa da infiltração é má.xin10.
Em áreas de implantação florestal, as situações mais comuns são o plantio em áreas
antes usadas como pastagens ou culturas agrícolas, onde a quantidade de biomassa vegetal
residual é, relativamente, pequena ou média; essa biomassa é de consistência macia e
apresenta rápida decomposição. Entretanto, em área de reforma florestal, anteriom1ente
cultivadas com espécies florestais, a quantidade de biomassa vegetal residual (serapilheira,
toco, galho, ponteiro, folha, casca) pode ser grande, que, dependendo das espécies, pode ser
predominantemente dura e com taxa de decomposição lenta, principalmente os componentes
mais lenhosos. Por exemplo, os galhos e os ponteiros de eucalipto são mais duros e com taxa
de decomposição menor do que os de pínus. A quantidade de biomassa vegetal residual
florestal remanescente sobre o solo pode variar de 10 a 120 t ha·1, dependendo da espécie, da
região, da idade, do espaçamento e do sistema de colheita usado (Gonçalves et ai., 2000; Ou
Toit et al., 2008; Sankaran et al., 2008; Rocha et al., 2016a) (Figura 3).
A biomassa vegetal residual, dependendo do tipo e da quantidade sobre o terreno,
pode causar alguns transtornos, constituindo-se em obstáculos que diminuem o rendimento
e a qualidade operacional do preparo de solo. Além d.isso, pode dificultar o combate às
formigas, pois acaba camuflando seus ninhos.
Dependendo do sistema de colheita da madeira, mecanizado (harveste1/fonvnrder, feller-
bund1er/skidder) ou semimeca.nizado (com motosserra), a biomassa cultural residual pode
ficar irregularmente distribuída sobre o terreno, com quantidades que variam de Oa 20 kg m·2
de biomassa. A biomassa residual da colheita pode ficar distribuída no campo de forma
aleatória ou sistemática. Em áreas onde a colheita de madeira foi mecanizada, a biomassa
residual fica distribuída aleatoriamente sobre o terreno. Nesse caso, há necessidade de
remover ou picar essa biomassa residual nas linhas de preparo de solo e plantio, com
objetivo de se evitar a aderência dessa nos implementos, o que diminui a qualidade e o
rendimento operacional do preparo de solo e de outros tratos culturais subsequentes.
Comumente, adota-se como procedimento a convivência com a biomassa vegetal
residual, com objetivo de economizar operações e reduzir os danos ao solo. Para isso, o
preparo de solo é realizado sem movimentar ou alterando o núnimo possível a disposição

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EU CALIPTO E · · · 1093

e as caracterí tirns d essél biomassa residual. São us<1clos vá ri os recu rsos, por exemplo: ª
adaptação d e acessórios mecânicos nos implementas de preparo de solo, como O disco
cortante de raízes e biomassa residual e él haste retrátil do subso lador; o des locam nto lateral
da biomassa vege tal residual com limpa-tri lho, seguido da subsolage m . A lte rnativa mente,
o limpa-tri lho e o subsolador podem ser conjugados, possibilitando a realização de u_m_a
única operação (Figura 4); a elevação do chassi do tra tor com rodas e, o u, pne us es peciais
(p.ex., pneus maiores); a modificação do espaçamento de plantio, de fo rm a a possibilitar
a feitura das operações em faixas de terreno com menos obstáculos (Gonçal ves e t ai.,
2002). O planejamento operacional detalhado de glebas e talhões (micropla nejamento) é
fundamental para viabi lizar a aplicação desses proced imentos.
Em razão da interdependência entre as operações sil viculturais, seus planejamento
e execuções devem ser conjuntos e sincronizados, de form a a propagar e m cadeia os
efeitos benéficos de alguns procedimentos nas operações subsequentes. Assim, o sistema
de colheita e a disposição da biomassa vegetal residual têm acentuada repercussão na
eficiência (rendimento, custo, danos ao ambien te) das operações de reforma e manutenção
das plantações.

Figura 3. Biomassa vegetal residual da colheita (copa e casca) e do cultivo ( erapilheira) de um.a
plantação de eucalipto usada para produção de madeira para celulose, cortada aos ete ano-
de idade. As quantidades de biomassa vegetal residual são valores médios encontrados nas
plantações. A área foi reformada utilizando cultivo mínimo do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1094 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL .

Figura 4. Aspectos operacionais do implemento limpa-trilho usado para deslocar a biomassa vegetal
residual no leito de plantio, antes da subsolagem. Se houver pequena quantidade de biomassa
residual sobre o terreno, o uso do limpa-trilho pode ser conjugado com o subsolador.

Biomassa vegetal residual florestal e nutrientes


A manutenção da biomassa vegetal residual florestal sobre o solo é de fundamental
importância para a sustentabilidade da produção florestal, contribuindo para a redução
da exportação de nutrientes; a liberação gradual dos nutrientes para as árvores; a proteção
do solo; a melhoria dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo e a manutenção e,
ou, aumento do teor da matéria orgânica do solo.
Com o aumento da produtividade das plantações florestais, maior quantidade de
nutrientes é acumulada em seus compartimentos e, consequentemente, exportada pela
colheita (Quadro 3). Uma parte da massa de nutrientes acumulada durante o ciclo de
cultivo é levada pela colheita, outra parte permanece sobre o solo ou nele é incorporado
via crescimento radicular. Urna das principais vantagens da manutenção da biomassa
residual florestal no campo é a redução da exportação de nutrientes, aumentando
suas disponibilidades para as rotações de cultivo subsequentes. Da biomassa total
(parte aérea, raiz e serapilheira) de um povoamento de Eucalyptus grnndis de sete anos
(aproximadamente 218 t ha·1), 69 % é madeira, onde estão contidos 36 % do N, 36 %
do P, 43 % do K, 23 % do Ca e 21 % do Mg, acumulados pela cultura (Gonçalves et ai.,
2000). Em uma plantação de Pinus taeda de 25 anos, 56 % da biomassa total (418 t ha·1 ) é
madeira, onde estão contidos 23 % do N, 18 % do P, 27 % do K, 24 % do Ca e 23 % do Mg,
acumulados pela cultura (Quadros 4 e 5).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1095

Quadro 3. Qua ntidade méd ia de nutrientes exportada com a mad eira d e e uca lipt_?P1 (E._ grnndis, E.
urophylln x grnndis e E. 11ropl1ylln) e de p;11115 taednm, com o u sem casca, e m razao d o increme nto
m é dio anua l aos se te e aos 25 anos de idade, respectivame nte
Pi1111s taeâa
N utriente TMA (m ha· ano·
1 1 1
)

30 40 50 10 20 27
1
kg ha·
Madei ra com ca ca
N 198 264 330 248 333 371
p 41 54 67 14 18 33
K 116 155 194 55 105 174
Ca 202 270 338 79 139 231
Mg 23 31 39 21 27 '19
s 37 49 61
Madeira sem casca
N 168 224 280 201 256 305
p 32 42 53 8 10 27
K 66 88 110 44 85 152
Ca 83 110 138 71 94 211
Mg 12 16 20 18 27 -!4
s 34 45 56
Fontes: <1> Neves (2000), Santana e t ai. (2008), Gonçalves et ai. (2000) e Rocha e t ai. (201 6b). r.i Bizon (2005).

O descascamento da madeira no campo tem grande relevância para o sistema olo-


planta em termos nutricionais. Em plantações de eucalipto, as cascas representam cerca de 7
a 15 % da massa do tronco e possuem elevadas concentrações de Ca, K e P (Quadros 4 e 5). Em
um povoamento de Eucalyptus grandis com sete anos, a casca representa aproximadamente
23 % do total de biomassa residual florestal após a colheita, contendo aproximadamente 12,
41, 42 e 28 % de N, P, K e Ca, respectivamente (Gonçalves et al., 2000).
Plantações de pínus com 25 anos de idade possuem entre 30 e 50 t ha·1 de serapilheira.
Essa biomassa residual possui grandes quantidades de nutrientes (Quadro 5). Da biornas a
total acumulada nesta idade, aproximadamente 14 % está na serapilheira, onde está contido
36 % do N, 41 % do P, 13 % do K, 21 % do Ca e 21 % do Mg acumulado. A copa (galhos e
folhas) também possui consideráveis quantidades de nutrientes, por isso deve er mantida
no campo após a colheita da madeira, com objetivo de diminuir o impacto nutricional
dessa prática (Bizon, 2005).
A quantidade e as características da biomassa residual florestal que permanece na área
após a colheita variam em razão de diversos fatores, como: sistema de colheita; idade do
povoamento; produtividade do povoamento; material genético; finalidade da produção;
espaçamento de plantio; e condições climáticas. Desses, o sistema de colheita é o que apre enta
maior influência na quantidade de biomassa residual, que permanece sobre O solo. Rocha
et ai. (2016a) observaram que, após a colheita da madeira sem casca de uma plantação de
Eucalyptus grandis com oito anos, permaneceram sobre o solo 55,5 t ha-1 de biomassa residual
(serapilheira e sobras da colheita): 6,5 t ha·1 de folha; 17,5 t ha-1 de galho; 25,0 t ha·1 de cas a; e
6,5 t ha·1 de miscelânea. No sistema de colheita onde a árvore inteira foi retirada, a quantidade
de biomassa residual na serapilheira foi de 30 t ha·1: 2 t ha·1 de folha, 14 t ha·1 de galho,"" t ha·'
de casca e 11 t ha·1 de miscelânea (Quadro 6). No tratamento onde toda a biornas a re idual
foi mantida sobre o solo, esses autores observaran1 que as folhas representaram, em média,
12 %; os galhos, 32 %; as cascas, 45 %; e a miscelânea, 11 % da biomassa residual total. Já no

M AN EJO E CON SE RVAÇÃO DO S OLO E DA ÁGUA


1096
JosÉ LEONARDO DE MoRAES GONÇALVES ET AL.

tratamento nde foi mantida apena a serapilheira, a massa de folha representou 7 %; a de


alho, 47 ° ; a de casca, 10 ° ; e a mi celânea, 36 % da biomassa residual total.
~sses me mos autores verificaram que, quando toda a biomassa residual florestal era
mantida sobre o solo, o estoque de nuh·ientes do sistema era consideravelmente aumentado.
esse h·atamento, 35 % do N, 17 % do P, 22 % do K, 12 % do Ca, 16 % do Mg e 21 % do
5 encontra, am-se nas folhas, sendo essa a reserva mais lábil de nutrientes da biomassa
florestal residual. A casca foi a fração que apresentou a maior contribuição no acúmulo de
P, K,. Ca, Mg e S. No tratamento onde foi mantida apenas a serapilheira, a maior parte dos
nutrientes encontravam-se na fração miscelânea, por causa do estádio mais avançado de
decomposição da biomassa residual. Nesse tratamento, os galhos apresentaram grande
contribuição no montante de nutrientes acumulados, sendo, no entanto, um material de
~e ada recalcitrância, o que dificulta o processo de decomposição e mineralização para
liberação dos nutrientes ali contidos.

Quadro 4. Biomassa e nu trientes acumulados em uma plantaçãoCll de E11calypt11s gra11dis localizada no


Município de Itatinga, SP, com sete anos de idade. O incremento médio anual de madeira com
casca foi igual a 40 m 3 ha·1 ano- 1

Nutrientes
Compartimento Massa
N p K Ca Mg s B Fe Zn Mn Cu
t ha· 1
kgha·1 g ha·1
Folha 3 57 5 21 25 11 3 89 203 41 313 8
Galho 4 18 3 15 18 6 1 55 233 92 653 13
Casca 12 40 12 67 160 15 4 152 519 130 790 43
Lenho 150 224 42 88 110 16 45 291 7191 1280 880 148
Total Pate área 169 339 62 191 313 48 53 587 8146 1543 2636 212
Raiz grossa (> 3mm) 20 75 3 28 31 6 3 32 789 59 112 12
Raiz fina (< 3mm) 4 22 1 4 17 3 1 15 708 43 61 6
Serapilheira 25 187 10 36 209 24 13 250 9500 520 4300 58
Total 218 623 76 259 570 81 70 884 19143 2165 7109 288
(IJ Q solo local foi classificado como Latossolo VermeU10-Amarelo Distrófico, textura média.
Fonte: Gonçalves et aL (2000).

Quadro s. Biomassa e nutrientes acumulados em uma plantação(ll de Pinus tnedn localizada no


Município de Ibaiti, PR, com 25 anos de idade. O incremento médio anual de madeira com
casca foi igual a 23 m 3 ha·1 ano·1
Nutrientes
Compartimento Massa p
N K Ca Mg
tha·1 kg ha·1
7,7 103,6 6,8 25,3 21 ,6 5,9
Adcula
28,9 74,4 5,1 12,1 39,7 10,8
Galho
22 63,2 5,1 15,7 44,6 10,3
Casca
235,7 300,4 14,3 64,5 94,1 26,5
Lenho
294,3 541,6 31,3 117,6 200 53,5
To tal Parte Aérea
63,8 305,6 14,1 92,0 117,1 38,4
Raiz
60,2 484,1 32,0 31,2 83,3 23,9
Serapilheira
418,3 1331,3 77,4 240,8 400,4 115,8
Total
. ili do como Argissolo Amarelo Disl"rófico, textura arenosa/ média.
c110 solo local foi c1.ass ca
Fonte: A d a ptado d e Biu m (2005).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCA LIPTO E · · · 1097

Quadro 6 . Quantidade de nutrientes na biomassa res idual florestal re manescentes ·obre o solo,
após a colheita de um povoamento de E. grnndis com oito anos d e id a d e, e m tra ta m e ntos q ue
receberam diferentes práticas de manejo dessa biomassa
MRP 11 Massa N p K Ca Mg s
- tha· 1
- kg ha·1
Folha
MRe 6,5 (12) (2) 103,3 (35) 4,1 (17) 16,6 (22) 34,8 (12) 9,7 ( 16) -1,6 (21)
MSe 2,0 (7) 20,9 (11) 0,9 (7) 0,7 (12) 13,3 (12) 2,5 (9) 1,3 (9)
Galho
MRe 17,5 (32) 55,1 (19) 7,5 (31) 11 ,0 (14) 46,8 (16) 16,-1 (26) -1,3 ( l 9)
MSe 14,0 (47) 44,0 (23) 5,9 (46) 2,1 (34) 37,0 (32) 11,7 (-10) 3,9 (29)
Casca
MRe 25,0 (45) 82,8 (28) 8,8 (36) 43,9 (57) 181 ,5 (62) 29,0 (46) 9,0 (40)
MSe 3,0 (10) 11,4 (6) 0,3 (3) 0,6 (10) 7,2 (6) 2,6 (9) 1,0 (7)
Miscelânea
MRe 6,5 (11) 53,9 (18) 3,9 (16) 5,2 (7) 27,9 (10) 7,4 (12) ·H (20)
MSe 11,0 (36) 118,3 (61) 5,7 (44) 2,7 (44) 56,6 (50) 12,5 (42) 7,5 (55)
Total
MRe 55,5 [5,27]C3I 295,1 [31,2) 24,3 (4,0] 76,8 [15,9) 291,0 [26,0] 62,5 (6,1 ) 22,3 (3,5]
MSe 30,0 [3,10) 194,6 (24,0) 12,8 (0,7] 6,1 [1,5) 114,1 (13,6) 29,3 (4,8 ] 13,7 [1,7]
<'>Manejo da biomassa residual, sendo: MRe - manutenção de toda a biomassa residual (folhas, galh os, cascas e !-eTapilheira) e
MSe - Manutenção apenas da serapilheira. mrercentual do nutriente acumulado na fração. Pl Desvio-padrão.
Fon te: Rocha et ai. (2016a).

Decomposição e liberação de nutrientes


A biomassa residual florestal e as raízes são as principais fontes de matéria orgânica
para o solo. Esses tecidos vegetais, quando verdes, contêm em média entre 60 e 90 % de
água em relação à sua massa. A taxa de decomposição da biomassa residual de plantações
de eucalipto no Brasil pode variar de 0,2 a 1,2 (Gama-Rodrigues e Barros, 2002; Zaia e
Gama-Rodrigues, 2004; Cunha et al., 2005; Ferraz, 2009; Rocha et al., 2016a), ou seja, o
tempo necessário para decompor metade da massa dessa biomassa residual pode variar
de seis meses a três anos. Apesar dessa grande variação, a biomassa residual de eucalipto
apresenta baixa taxa de decomposição, decorrente de seu elevado grau de recalcitrància.
Em um estudo realizado com Eurnlyph1s grandis no Mwucípio de ltatinga, SP, Rocha
et al. (2016a) observaram que as folhas apresentaram a maior velocidade de decomposição.
Essas foram quase que totalmente decompostas em 240 d após a colheita (DAC). Os
galhos evidenciaram a menor velocidade de decomposição, apresentando, aos 300 DAC,
aproximadamente 75 % de sua massa inicial. As velocidades de decomposição das frações
da biomassa residual florestal seguiram a seguinte ordem: fol ha > casca > ooalho (Fi!!Ura
o
5). O tempo médio de meia-vida (t0_5 - tempo necessário para decompor 50 % da biorna sa
total residual) dessas frações foram 0,2; 0,6; e 1,5 ano, respectivamente. A grande diferença
na velocidad e de decomposição dessas frações ocorre principalmente pelas desigualdades
nas concentrações de nutrientes, na relação C/ N, nas concentrações de e, trati os e na
superfície específica da biomassa residual florestal (Brady e Weil, 2013).
Após a colheita, a velocidade de decomposição da biomassa residual é alta, reduzindo
exponencialmente ao longo do tempo. A maior velocidade de decomposição no primeiros

M A N EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1098 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

~,ec:es após a colheita se deve à maior concenh·ação dos nutrientes nas fo lhas e nos galhos
fi~1os,_ ~u~ decompõem rapidamente, remanescendo apenas galhos gross~s e cascas que
sao d1f1ce1s de decompor. Es a dinâmica de decomposição da biomassa residual florestal é
fortemente influenciada pelas condições climáticas como as limitações hídricas e térmicas.
A alta velocidade de decomposição nos primeiros meses após a colheita é suportada
por grande aumento na atividade microbiana, 0 que pode resultar em imobilização
inicial de alguns nutrientes. Rocha et ai. (2016a) observaram imobilização de N e S nos
primeiros 60 DAC. Aos 300 DAC, foi notada liberação de aproximadamente 50 % do N, P,
Ca, Mg e S e 80 % do K, presentes na biomassa residual florestal (folhas, galhos, cascas, e
serapilheira) mantida sobre o solo (Figura 6). O K demonsh·ou liberação mais rápida que
os demais nutrientes, pois esse elemento não forma nenhum composto dentro da planta,
permanecendo en1 sua forma livre (Figura 6 e Quadro 7).

MR =MI. J-k,t)

- ••- Folha MR=lOO.ef-O,OOJS .tJ


uo • Galho MR = 100 . e(-O,(Xl1J · 1l
- -- -~- -- ·- Casca MR = 100. e(-O,(XID .tJ

100

*-
.fl
e:
!lJ
80

~
!lJ
1ã 60
E
~
<ti
til
til
40
~

20

o
o 50 100 150 200 250 300
Tempo (d)

Figura s. Massa remanescente (MR) média (n=9) da bi~n:1as~a residual florestal e se~s respectivos
comportamentos descritos por model_?s exponenc1~s sunp_Ies, conforme sugerido por ?I:on
(1963), após a colheita de uma plantaçao de E. grand1s com 01to anos. A taxa de decompos1çao e
o tempo são apresentados em dias.
Fonte: Adaptados de Rocha el ai. (2016a).

A taxa de decompos1çao (k) da serapilheira de plantações de pínus é inferior às


observadas em plantações de eucalipto. Avaliando k por meio da razão entre as quantidades
de serapilheira depositada e acumulada sobre o solo, Sixel (2012) encontrou um k igual a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--------- .. -------- -
XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1099

0,30 parn Pi11us laedn; e Poggiani (1985), k igual a 0,37 para Pinus oocarpa e k igua l a 0,41 para
Pinus caribea var. hondurensis.

140

120
e N
.--...
~
.._,, - ·· - ·O- p
100 -- - y -- K
....
\.---'------.......... '-.
~

5 - · - · -Õ - - Ca
~
\ ..".~ ---~--- Mg
1
...
80
\"' \
~\
·. \ \
··...
·...
·..
·········· □ ·· .... s
(O
rn 60
\o ."-" ·..
~
:E
40 •<" .- <
.
..
'-... .
'- ..

20
" '-.

--~
o
o 50 100 150 200 250 300
Tempo (d)

Figura 6. Velocidade de liberação dos nutrientes contidos na biomassa residual da colheita (folhas,
galhos, cascas e serapilheira) de um povoamento de Eucalyptus grandis de oito anos em um
Latossolo de textura média na região de ltatinga, Estado de São Paulo.
Fonte: Adaptados de Rocha et ai. (2016a) por Gonçalves et ai. (2014a).

Q uadro 7. Quantidade de nutrientes liberada da biomassa residual florestal sobre o solo nos primeiros
300 d após a colheita
MRf(l) N p K Ca Mg s
kg ha· 1

MRe 83,4 12,7 56,4 73,0 21,5 5,7


MSe 96,6 9,4 3,9 58,4 15,2 7,0
llJManejo da biomassa residual florestal, sendo: MRe - Manutenção de toda a biomassa residual (folhas galhos c.-is.:a t!
serapi lhe ira) e MSe - Manutenção apenas da serapilheira.

Efeitos nos atributos do solo


Rocha et al. (2016a) avaliaram as variações de atributos quí..m.icos do solo quanto a
diferentes intensidades de remoção de biomassa residual florestal. Esses autores observaram
que as m aiores diferenças se encontravam nas camadas de 0-5 e 5-10 cm de profundidade.
A decomposição da biomassa residual resultou em pequenas alterações na fertilidade do
solo, apesar de seu caráter distrófico. De modo geral, os teores de P e K reduziram com
0 decorrer do tempo em razão da absorção pelas árvores. O pH do solo pouc alterou

MAN EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1100 JosÉ LEONARDO DE MoRAES GONÇALVES ET AL.

~om O d_e correr do tempo. As práticas de manejo de biomassa residual aplicadas pouco
influenci~am nos teore de nutrientes no solo, pois, logo após as mineralizações deles,
foram rapidamente ab orvidos pelas árvores.
Esse autor também avaliou o efeito da remoção de biomassa residual no teor e na
~ualidade da matéria orgânica do solo (MOS). No final da rotação de cultivo (oito anos de
idade), o teor total de carbono de compostos orgânicos oxidáveis (CO) variou de 30 a 40 g
kg·1, na camada de 0-5 crn; de 12 a 16 g kg·1, na camada de 5-10 cm; e de 7 a 8 g kg·1, na camada
de 10-20 cm. Na camada de 0-5 cm, em média, 42 % do CO foram caracterizados como
facilmente oxidado (Fração 1); 42 %, corno mediamente oxidável (Fração 2); e 16 %, como
de difícil o 'idação (Fração 3). Na carnada de 5-10 cm, houve aumento da contribuição da
fração 2 no CO; e, na camada de 10-20 cm, diminuição da quantidade de carbono oxidado
na fração 1 e aumento na fração 3, sugerindo incremento em frações mais recalcitrantes em
detrimento das frações mais lábeis.
Com o decorrer do tempo após a colheita, no tratamento em que a biomassa residual
florestal foi mantida sobre o solo (MRe), Rocha (2014) verificou que os teores de CO das
frações 1 e 2 da camada de 0-5 cm do solo se mantiveram constantes. Nesse tratamento,
a fração 3 apresentou pequena redução. A diminuição na fração de maior dificuldade de
oxidação ocorre por causa do efeito priming (Brady, Weil, 2013). A adição de biomassa
residual não decomposta sobre o solo pode ter aumentado a atividade microbiana, o que
resultou na decomposição de formas menos lábeis de carbono no solo. Contudo, em médio
prazo, não ocorrem alterações nas frações mais lábeis, em razão da constante reposição
dessas frações por meio da decomposição da biomassa residual mantida sobre o solo. No
tratamento em que a biomassa residual foi removida (SRe), ocorreu redução no CO. Essa
perda foi bastante acentuada na fração 1 e ausente na fração 3. Com a remoção da biomassa
residual, o CO decomposto no solo pela ação microbiana não foi reposto, ocorrendo redução
em seu teor. Essa diminuição ocorre mais intensamente nas frações mais lábeis (Figura 7).
Em muitos trabalhos, o manejo da biomassa residual florestal influenciou o teor
de matéria orgânica do solo apenas nos primeiros anos, após a adoção de diferentes
práticas de manejo, não sendo observado efeito dessas práticas no final da rotação de
cultivo (Mendham et al., 2002, 2003; Laclau et al., 2010). Isso ocorreu principalmente
quando se avaliou o carbono total do solo em regiões de clima temperado, ou em áreas
com solos argilosos. O carbono total do solo, em razão da sua alta estabilidade, apresenta
poucas e lentas modificações por causa do manejo do solo, especialmente em plantações
florestais, cujas intervenções no solo ocorrem em baixa frequência. Em regiões de clima
temperado, por causa das menores temperaturas e da precipitação pluvial, a atividade
dos microrganismos decompositores é mais lenta, o que, conjuntamente com a presença
de argilas de alta atividade, contribui para a maior estabilização da matéria orgânka no
solo. Com isso, há menor sensibilidade às práticas de manejo. Em solos com maior teor de
argila, em razão da formação de complexos organorninerais, a matéria orgânica apresenta
maior estabilidade que em solos arenosos. Mendham et ai. (2003) observaram que em
solos argilosos o manejo da biomassa residual de Eucalyptus globulus na Austrália não
influenciou O teor de CO nesses. Eles relataram que, em solos arenosos, a remoção dessa
biomassa reduziu o teor de CO no solo, sendo esse efeito observado até o final da rotação
de cultivo, aos sete anos de idade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · ·
11 0 1

45 (a)
20 (b)
40
35 15
30 -+- MRe
-O- RRe
25 10

20 I I
p < 0,(1()1
p < 0,001
;:-- 15 5
'00
~ o~ o~
~
O 25 (e) 10 (d)
u
20 8

15 6

10 4
I I
p < 0,001 p < 0,001
5 2

o 2: o~
o 50 10 150 200 250 300 o 50 10 150 200 250 300
DAC

Figura 7. Teor total de carbono de compostos orgânicos oxidáveis (CO) (a); e teores d e carbono d e
compostos orgânicos facilmente oxidáveis (b), mediamente oxidáveis (c) e d ificilmente oxidávei
(d) na camada de 0-5 cm do solo, nos tratamentos onde toda a biomassa residual foi mantida
sobre o solo (MRe) e onde toda ela foi removida (RRe). As barras nos pontos médios indicam
o erro-padrão, e a barra sem o ponto assinala a diferença mínima significativa pelo tes te LSD.
Valores sob as barras determinam a probabilidade do teste F.
Fonte: Rocha (201-1).

Efeito na produtividade de madeira


Em povoamentos de Eucalyptus grandis estabelecidos em Latossolo ermelho-Amarelo
Distrófico, de textura média, Rocha et al. (2016b) relataram produção de 350 m 3 ha·1 de
madeira ao final da rotação de cultivo (oito anos), no tratamento em que toda biornas a
residual foi mantida sobre o solo. Quando só a serapilheira foi mantida (colheita das árvore
inteiras), houve perda de 15 % no volume de madeira; e quando toda biomassa res idual foi
removida, a perda de produtividade foi de 39 % (Figura 8). Todos os benefícios rela tivos à
manutenção da biomassa residual podem ter contribuído para maior produtividad e de e
tratamento. Contudo, o principal efeito foi a redução da exportação de nutriente . esse
estudo, quanto maior foi a quantidade de massa residual mantida sobre o solo, maior foi
a produção de biomassa aérea. Esse resultado destaca o grande efeito dessa bioma a
como fonte de nutrientes, consequentemente economia no uso de fertilizantes. Esse a utor
também constatou que a remoção integral da biomassa residual na primeira rotaçã de
cultivo resultou em perda de 6 % de produtividade na segunda rotação d e culti o, me m
com a manutenção de toda a biomassa residual sobre o solo.

MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1102 JosÉ L EONARDO DE M ORAES GONÇALVES ET AL.

450 (a) (b)


,.f.)
375
........ • • MRe p<0,001

},
113
.e

Q.I
E
300

225
o--- - o MSe
RRe
~ e/
»º •

õ
:,
150
~ e---- -
>
75
-
e---
o '7'l 7'/
o 2 3 4 5 6 7 8 9 O 2 3 4 5 6 7 8 9
Idade (anos)

Figura 8. olume de madeira com casca d e plantações de E. grandis em tratamentos que receberam
diferentes práticas de manejo de biomassa residual, sendo: MRe - manutenção de toda biomassa
residual sobre o solo, MSe - remoção da parte aérea e manutenção apenas d a serapiU1eira, RRe
- Remoção de toda biomassa residual. a) Primeira rotação de cultivo; e b) Segunda rotação de
cultivo, com replantio das árvores e manutenção dos mesmos tratamentos. As barras indicam
as diferenças mínimas significativas pelo teste LSD (p<0,05) e os valores sobre as barras a
significância do teste F.
Font~ Adaptado d e Rocha et al. (2016b).

EFEITOS DO S IMPLEMENTOS DE PREPARO DE SO LO

Os implementos mais usados em áreas manejadas em cultivo mínimo são o subsolador


(profundidade de trabalho > 30 cm) (Figura 9a) e a coveadeira dupla (Figura 9b). Este
último é usado em áreas declivosas (ondulada a forte ondulada) (Silva et al., 2002) ou com
muitos obstáculos físicos, que dificultam o uso do subsolador, como em áreas em reforma
florestal (replantio), com muitos tocos grossos e galhos sobre o solo. Em áreas com declive
acima de 30-35 cm m·1, dependendo da irregularidade do terreno, não é possível mecanizar
o preparo de solo, que fica restrito à abertura de covas com motocoveadeira (Figura 9c).
Recentemente, em áreas fortes onduladas do vale do rio Paraíba do Sul, foi introduzida uma
coveadeira capaz de preparar o solo em declividade superior a 30 cm m·1 . Trata-se de um
cabeçote australiano, denominado Rotree, que foi adaptado em uma escavad eira (Figura
9d). Esse implemento abre covas grandes (volume 160 a 180 dm 3/planta), com formato
tipo tronco de cone (profundidade= 50 cm, diâmetro superior igual= 80-85 cm e diâmetro
inferior = 45-50 cm) e, conjugadamente, faz a aplicação dos fertilizantes de plantio e do
herbicida pré-emergente. Tem sido usado em áreas com declive entre 30 e 40 cm m·1 • Em
razão do grande volume de solo preparado, o crescimento inicial das mudas foi maior do
que o conseguido com a coveadeira dupla ou a motocoveadeira, que abrem covas m enores
(Campinhos et ai., 2015). Por realizar três operações ao mesmo tempo, apesar de ter um
rendimento operacional menor do que a coveadeira dupla (Quadro 8), esse equipamento
tornou-se técnica e financeiramente viável, além de possibilitar o aumento do gra u de
mecanização em áreas declivosas.

MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MAN EJO DO SOLO EM SISTEMAS DE C ULTURA DE EUCALIPTO E · · ·
1103

No quadro 8, são apresentados os rend imentos obtidos com o u O de ,1lguns


implem entas; e, no quadro 9, as limitações operacionais para a mecanização do pr:par_o
de s olo em razão da decli vidade do terreno. Observou-seg ue os r ndimento operacional
obtidos com o subsolador foram superiores aos obtidos com os demais implemento ,
consequentemente menores foram os custos.

Figura 9. Implementas usados para o preparo do solo em áreas manejadas em cultivo mínimo: (a)
subsolador florestal; (b) coveadeira dupla; (c) motocoveadeira; e (d) Coveadeira Rotree.

Quadro 8. Rendimento operacional de preparo de solo com dife rentes implementas, no espaçamento
de plantio de 3,0 m entrelinhas

Largura preparada Tração Rendimento


Implemento
em cada passagem demandada operacional
m HP h ha·1
Subsolador florestal 3,0 80- 100 1,5 - 2,0
mono has te
Coveadeira dupla 6,0 0-100 1,5 - _,5
(500-700 covas h·1)
Motocoveadeira 3,0 1 ,O
(100 covas 1Y1 )
Coveade ira Rotree 9,0 150 6,7
Arado (3 discos) 1,0 90-100 -1,Ü - 5 ,Qlll
11> Em solos leves.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1104 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL .

Quadro 9. Li mitações operaciona is para a mecanização do preparo de solo em raziio da declividade


do terreno
Declivefll Relevo Limitações121 operacionais
cm m· 1 gra u

0-3 0-1,7 Plano Ausentes

3-8 1,7-4,6 Suave-ondulado Peque nas


• Pequena redução de rendimento operacional
• Todos os equipamentos conseguem operar

8-20 4,6-11,3 Ondulado Moderadas


• Moderada redução de rendimento operacional
• Conjunto trator de pneu- implemento pode ter
dificuldade para manter a estabilidade

20-45 11,3-24,2 Forte-ondulado Altas


• Baixo rendimento operacional
• Trator de esteira ou trator florestal consegue operar
até 30-35 cm m·1 de declive
• Em áreas de reforma florestal, manejadas em cultivo
mínimo, é possível subsolar o solo (profundidade
de 30 a 40 cm) no sentido da pendente, sem causar
erosão. Para isso, algumas condições são essenciais: só
realizar a prática em épocas pouco chuvosas, quando
só ocorrem as chuvas de baixa ou média intensidade;
e a linha de subsolagem não deve ser contínua. A
cada 15-20 m, a haste subsoladora deve ser levantada,
mantendo-se 1 m de solo não subsolado.

>45 >24,2 Montanhoso Muito altas


• Normalmente, o preparo de solo restringe-se à
abertura manual de covas de plantio
ni Áreas com declive acima de 45 º (100 cm m·') devem ser mantidas como áreas de preservação ambiental permanente.
r., Quanto ma.i5 irregular, pedregoso e, ou, coeso for o solo, mais acentuadas são as limitações. Normal mente, quanto maior o
declive, maior a demanda de potência e consumo d e combustível.

O desadensamento do solo na linha ou cova de plantio possibilita rápido crescimento


radicular, consequentemente maior aproveitamento da água e dos nutrientes adjacentes às
mudas, em grande parte, adicionados ao solo via fertilização. Assim, em solos friáveis, às
vezes, com densidade adequada ao crescimento radicular, a subsolagem é realizada, não
com a função de quebrar camadas compactadas ou adensadas, como nos solos coesos, mas
com a atribuição de diminuir a densidade do solo, propiciando crescimento mais rápido
às raízes, principalmente as finas, que encontram camadas com baixa resistência mecânica.
O rápido estabelecimento da muda aumenta sua capacidade competitiva com as plantas
daninhas e seu potencial de sobrevivência aos estresses hídrico, térmico e nutricional, em
curto e longo prazos, além de fornecer maior proteção ao solo.
A h aste do s ubsolador possui uma sapata, que, ao deslocar, promove urna tensão de
cisalhamento no solo à sua frente. Se o solo não está muito úm..ido, essa tensão propaga-se

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E • • • 1105

até a superfície do solo num ângulo de 45 ° (Figura 10) (Ri poli et a i., 1985; Balas treire, 198_7;
Sasaki et ai., 2002), gerando um volume de solo desadensado, q ue apresenta urna relaçao
quadrática com a profundidade de subsolagem (Figura 11). Se o solo esti ver muito úmid_o,
esse ângulo aumenta, e o volume de solo mobilizado diminui . Por isso, a s ubsolagem nao
deve ser feita com solo muito úmido.

(b)
'/-//==

Tg 45• = .H.. =.li·


L/2 H'
e: - L X H - 2H X H Hl;
'"'!> 2 2
A=4Sº V =Cxff
------Z---''--- D

Figura 10. Seção de solo desadensado pela passagem da haste de um subsolador em que a sapa ta
do subsolador ao deslocar causou tensão de cisalhamento à sua frente que se propagou até a
s uperfície do solo num ângulo de 45 ° (a). A profundidade de su bsolagem foi H; e a largura
desadensada, L. Com essas dimensões, deduzem-se a área da seção de solo desadensada (S 0 ) e
o vol ume de solo desadensado por hectare (V0), admitindo-se um comprimento C subsolado.

Considerando-se um ângulo médio de 45 º oriundo da tensão de cisalhamento


da sapata, deduz-se que a largura da base da seção subsolada é igual a duas vezes a
profundidade de subsolagem (Figura 10). Assim, se a profundidade de subsolagem for
de 50 cm, na s uperfície, a largura de solo desadensado será de 100 cm; e, se for de 100 cm,
a largura será de 200 cm. Essa correlação entre profundidade de subsolagem e largura de
solo desadensado constitui importante indicador de qualidade operacional, dev endo ser
usada para fazer correções periódicas dos componentes do subsolador.
O volume de solo preparado é muito variável, dependendo do espaçamento de
plantio, do tipo de implemento e da profundidade de trabalho (Figura 11 e Quadro 10);
por exemplo, em um espaçamento de plantio de 3 rn entrelinhas e de 2 rn entreplantas,
a uma profundidade de subsolagem de 50 cm, o volume de solo preparado seria de
830 m 3 ha·1 (0,5 m 3 / planta). Se a profundidade de subsolagem for de 100 cm, o volume
de solo preparado seria de 3 320 m3 ha·1 (2,0 m3 / planta). O volume de solo preparado
com o s ubsolador numa profundidade de trabalho de 40 cm, 320 dm3 por planta, é 6,4
vezes m a ior que o volume preparado com a coveadeira dupla na mesma profundidade, 50
dm3 por p lanta. Maiores profundidades de subsolagern, > 90 cm, têm sido recomendadas
para solos pouco porosos e mais duros, corno os coesos (Souza, 2002; Stape et al., 2002).
Assim, nesses solos, as plantas se beneficiam de um maior volume preparado lateralmente
e em profundidade, estimulando o enraizamento em camadas mais profundas do solo, o
que reduz os estresses lúdrico e nutricional (Figura 12). Observa-se que o olume de solo
mobilizado com o cultivo núnimo é bem menor do que aquele verificado com O culti 0
intensivo (Quadro 10); por exemplo, arado de disco (10 000 m 2 ha·1, camada Oa 20 cm , cerca
d e 2 000 m 3 h a- 1 de solo). Com isso, a demanda operacional e o cons umo de combustível
são m enores, o que, aliado a operações de cultivo relativam ente mais simples e ao uso de
imple m entos mais leves, resultam em maiores rendimentos operacionais e menores custos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1106 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

5 aios
coe os
4,4.

y = C. H: (a= 45')
'"tJ
r:l
V)
e: ........ 3 2,9 ..
e:., ~
"O
r:l
"'
QJ
e:
(,l

õ..
... 3 mx3m
"O ;:--.. t:,. 3 mx2m
-
QJ

E E
:i
õ 2
>
Solos
friáveis
1

o
o 20 40 60 80 100 120
Profundidade de subsolagem (cm)

Figura 11. Relação quadrática entre o volume de solo desadensado por planta (espaçamento
de plantio 3 m x 2 m e 3 m x 3 m) e a profundidade de subsolagem. Para os solos friáveis, a
profundidade de escarificação ou subsolagem varia entre 20 e 50 cm; para os solos coesos, entre
80 e 100 cm. O volume de solo desadensado por planta é obtido pela equação quadrática: y =
CH2, em que C é o comprimento subsolado por planta; e H, a profundidade de subsolagem,
conforme demonstração feita na figura 10.

Em solos friáveis, de textura grossa ou ricos em óxidos livres, mais porosos, como
o Neossolo Quartzarênico, Latossolo Vermelho-Amarelo, Latossolo Vermelho Distrófico,
que ocorrem comum.ente em relevo plano a ondulado, a subsolagem não forma torrões
firmes. Nesses solos, o potencial de resposta ao preparo é menor, guardando relação direta
com a disponibilidade de água e nutrientes. Em muitas situações, o preparado de solo
restrito às covas de plantio pode ser suficiente para atender à demanda inicial das mudas.
Suas boas condições físicas possibilitam seus preparas em qualquer época do ano (Figura
13). Essa é uma condição que favorece o plantio de inverno (realizado no período mais seco
e frio do ano), prática cada vez mais comum na região centro-sul, por causa das inúmeras
vantagens culturais (Gonçalves, 2002). Pela mesma razão, possibilita o preparo de solo e o
plantio em períodos com veranicos, desde que seguido de irrigação pós-plantio, de forma a
prover bom suprimento de água às mudas nas primeiras semanas de adaptação no campo,
até que o sistema radicular esteja bem implantado no solo (Gonçalves et ai., 2000).
o uso da coveadeira dupla ou a abertura de covas manualmente pode "pulverizar"
muito O solo, quebrando parcial ou integralmente sua capilaridade. Esse efeito é mais
drástico em solos de textura leve e nos períodos mais quentes e pouco chuvosos, para
mudas recém-plantadas (sistema radicular restrito). Geralmente, nesse caso, as taxas de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXX IV - MAN EJ O DO S OLO EM S I STE M AS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1107

sobrevivência são menores, em razão da defic iência hídrica ca usada pela não migração
da água existente em regiões adjacentes à cova e ao efeito salino do adubo. 1 e sas
ci rcuns tâ ncias, é necessário aumentar o número e a frequência das irrigações.

Figura 12. Preparo de Argissolo Amarelo argiloso caulinitico coeso (densidade no horizonte B argílico
= 1,6 kg dm·3) com subsolagem profunda, no suJ da Bahia: (a) subsolador florestal com haste
capaz de atingir 100 cm de profundidade; (b) aspecto operaciona l da sub olagem profunda; (c)
seção triangular de solo subsolado; (d) concentração de raízes grossas e finas na seção ub olada,
três anos após o plantio de eucalipto. As plantas se beneficiam da maior profundidad e efetiva
do solo promovida pela subsolagem, au mentando sua tolerância ao alto estre e hídrico.

Em solos coesos ou compactados, de textura fina, predominantemente cauliníticos,


corno o Latossolo Amarelo e Argissolo Amarelo, o preparo deve ser realizado,
preferencialmente, quando a umidade estiver entre 50 e 70 % de sua capacidade de campo
(Sta pe e t al., 2002; Souza, 2002). A subsolagem do solo com umidade abaixo da ideal cau a
a formação de torrões com diferentes dimensões (Figur a 14a). essa circunstância, o
e mpilhamento desordenado dos torrões gera bolsões de ar, que impos ibilitam adequado
conta to solo-raiz, consequentemente aumenta a probabilidade de estresses hídrico e
nutricional. O problema é reduzido com o preparo secundár io do olo, realizado por um
conjunto de grades leves, montado na barra de ferramentas, logo apó a ha te sub oladora
(Figur a 15a). Esse conjunto de grades prepara uma faixa, que não de e ultrapassar 1 m de
largura (Figur a 15b). Esses solos devem ser preparados na época mais úmida, ma em
umidad e muito elevada, com os objetivos de facil itar a penetração da haste ub- [adora
e proporcionar às mudas maior tempo útil de crescimento radicu lar e exploração do s lo,
inclusive nas can1adas cimentadas (fragipà e duripà), que ficam menos dur ( tape e t al.,
2002; Souza, 2002). O plantio no período mais seco do ano nesses olo é muito arriscado,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
1108 JosÉ LEO NARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

em muitos casos, in iável. Quando esses solos estão com a umidade muito elevada, a
Subsolagem não promove o desadensamento do solo, fazendo apenas um " risco" (Figura
14b), o que restringe ocre cimento do sistema radicular.

1~ Ae:) Pna, l'raa,Ollmocl,mdo MDdeodo Modorado Mod,ndo

1 &lndu:,o I e:)

1~1~
S--.:gr10o
11:aplooOQ~
Mlnl:pblllnpleo
... _.,. • ....,..i.,,
&oca

SolloalllldD,
-•m.1111.ffl,
nlo pa,tlm 1 11s, plútla>.
-ptpj.•llg.ptpj.
Gnnular,
m.p,qu,,,a1grmde.
lraca1farle

SollD I lllldD,
m. ldl..,.J,
oollD I
nlo JÜltla> 1 tig. pU,!lat,
nloptpj.allg.ptpj.
-
Grmmlart blocot~
--•grmde.
Mado 1 dmv,
&l.lni1&rmo.
tig. plb1lco I p!Mtla>.
tig.pepj.apepj.
Cnnalar. bloa,o ..bong..
ricllA1pode.
mod....S.1fone

Owoam.d"""
&u..i I m. lbmo.
plútlro I m. püotia>,
pepj. 1m.pegoj.

DIMINUI
• Pl!mwabilldadr
• l'alodo 6til de JJftP110 do ICllo e de pllnlio dumm, o ano
•Rmdlmmto opendonal. do prq,arodeoalo
AUMJ;NTA
• "'egq,eid•cw laotiddad~ dlll'l!Z4~ ln<dnica
aaanmo:l': (b1giludioll eradi&J)
10

• Necaoidaclr ele pn"'1ndldodr e 'fOiame de l<llo mobillz:ado


' Pmncial e l e ~ 10 pr<pGO de oalo

Figura 13. Necessidade de mobilização do solo conforme os atributos texturais, mineralógicos e


morfológicos (estrutura e consistência) predominantes no horizonte A. Foram considerados
apenas solos profundos como o Neossolo Quartzarênico e os Latossolos. A distinção
mineralógica entre solos o,ddicos, caulinitico-oxídicos e cauliníticos foi feita com base nas
relações moleculares Si0if ~03 (índice Ki) e Si0/ (~03 + Fep:J (índice Kr).

Figura 14. (a) Torrões grandes formados após a subsolagem na superfície de um Latossolo Amarelo
caulinftico compactado. Esses precisam ser fragmentados por meio de preparo secundário, de
modo a se criar um leito adequado à abertura de covas e ao plantio das mudas; (b) Efeito da
subsolagem d esse solo quando muito úmido. A haste subsoladora apenas "risca" o solo, sem
desadensamento ou d escompactação lateral, o que restringe o crescimento do sistema radicular.

MA NEJO E CO NSE RVAÇÃO DO S O LO E DA ÁGUA


XXXIV - MAN EJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1109

Figura 15. (a) Detalhe da grade leve acoplada ao subsolador para promover o destorroamento do
solo; (b) plantio mecanizado de mudas de eucalipto em faixa de solo subsolado e d estorroado.
Recomenda-se que a largura dessa faixa não ultrapasse 1 m.

Quadro 10. Volume de solo preparado por planta em razão da ação do subsolador, da coveadeira
d u pia, da coveadeira Rotree e por meio de coveamento manual. Foi considerado um espaçamento
de plantio de 3 m entrelinhas e 2 m entreplantas (1 660 plantas ha·1)
Implemento de preparo Profundidade de
Volume de solo
do solo trabalho
cm dm3 / planta m 3 ha·1 Relati vo (%)
Subsolador florestal 20 80 133 4
40 320 531 16
60 720 1195 36
100 2000 3 320 100

Coveadeira dupla <1> 40 50 83 2,5


60 75 125 3)3

Coveadeira Rotree<2> 50 160 a 180 260 a 300 8a9

Motocoveadeira(Jl 30 9,5 16 0,5

Covearnento manual<4> 20 8 13 0,-l


30 27 -15 1,-l
1
1 1 Abertura de covas cilíndricas com 40 cm de diâmetro. 1' 1 Aber tura de covas tipo tronco de cone, com 80-85 cm de diàmetro
s upe rior e 45-50 cm de diâmetro inferior. Pl Abertura de covas cilindricas: 30 cm de profundidade x 20 cm d e diàmetro. ,,, bertura
de cov as aproximadamente cúbicas: 20 cm x 20 cm x 20 cm ou 30 cm x 30 cm x 30 cm.

Readensamento do sulco de subsolagem


Sasaki (2005) avaliou o desempenho operacional e a duração do efeito desagregador de
um s ubsolador com haste parabólica em razão da estrutura, do teor de argila e de água em
um Latossolo Vermelho Distrófico textura rnédja oxídico (L Vd-1), um latossolo Vermelho
Distrófico textura argilosa caulinítico (LVd-2) e um Latossolo Vermelho Distrófico te, tura
muito argilosa oxídico (LVd-3). O grau de mobilização dos solos e o tempo de duração
dos efeitos da subsolagem foram avaliados por meio da área mobilizada de solo ( lVlS),
m ensurada em três datas: logo após a subsolagem, 12 e 24 meses pós-subsolagem (Figura
16). No geral, o desempenho operacional do subsolador foi melhor em teores de água mais
baixos. Contudo, além do ponto de vista operacional, a fisio logia da planta também deve

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1110
JOSÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

s r c 11 iderada, o que implica e1n realizar a subsolagem em teores intermediários de água


n~ 010 (~.n~e 50 60 ° da capacidade de campo), que não prejudiquem a operação e que
e1arn uli ientes para o estabelecimento adequado das plantas. Logo após a subsolagem,
ª área mobilizada de solo (AMS) foi de 17,7 dm 2 para o LVd-1, de 22,2 dm2 para o LVd-2 e
de 19,2 dm::! para o LVd-3 (Figura 16). Como a mobilização do solo é função predominante
de sua força de coesão e, secundariamente, da adesão e da rugosidade superficial da haste
(Lanças, 1988), a maior AMS enconb·ada no LVd-2 pode estar relacionada à sua estrutura
em blocos, que lhe confere maior força de coesão. Além disso, a maior pegajosidade
das argilas 1:1, em relação às argilas oxídicas ou textura mais grossa (Gonçalves, 2002),
aumentam a aderência das partículas do LVd-2 ao implemento, resultando em major área
de contato com o solo, consequentemente maior mobilização. A textura bem mais fina
do LVd-3, quando comparado ao LVd-1, deve ter sido a causa principal da maior AMS
obsen ada nesse solo.
Aos 12 meses pós-subsolagem, a AMS foi de 14,6 dm 2 para o LVd-1, de 12,9 dm2
para o L d-2 e de 12,1 dm2 para o LVd-3 (Figura 16). lsso representou um readensamento
médio de 17 % para o LVd-1, 42 % para o LVd-2 e 37 % para o LVd-3. Aos 24 meses
pós-subsolagem, o readensamento médio foi de 31 % para o LVd-1, 56 % para o LVd-2 e
49 % para o LVd-3. Embora a estruturação original do solo seja um processo normalmente
demorado, agregados desestruturados por implementas de preparo de solo geralmente
se rearranjam parcial ou totalmente durante um período de tempo mais curto. O efeito
de rearranjo parcial é conhecido geralmente por endurecimento ou readensarnento; e o
rearranjo total, por tixotropia (Horn e Dexter, 1989). Em condições controladas, Horn e
Dexter (1989) verificaram que os ciclos de umedecimento e secagem têm papel primário
na restruturação do solo. Contudo, há diferenças na atuação desses ciclos, quando
considerados o solo estruturado e o perfil de solo mobilizado por implemento de preparo.
o solo estruturado, esses podem provocar tanto a desestruturação como a estruturação
dele. A desestruturação ocorre na secagem muito intensa e no umedecimento muito rápido
ou por períodos muito longos. A secagem gradual e o umedecimento lento e constante
favorecem a estruturação. No solo desestruturado por implementas de preparo, os ciclos
de umedecimento e secagem geralmente provocam o readensa.menta, por meio de atração
entre as partículas de solo durante a secagem, da lixiviação de substâncias cimentantes e
do encrostamento (Horn e Dexter, 1989).
Ainda de acordo com Sasaki (2015), o maior readensamento observado no
LVd-2 estava relacionado à sua maior riqueza em caulinita, que proporcionaria maior
capacidade de contração e expansão, em relação aos outros dois solos que são oxídicos,
e, consequentemente, maior rearranjo dos agregados presentes no sulco de preparo. O
LVd-3 apresentou readensamento tão elevado quanto o do LVd-2. Isso foi relacionado aos
altos teores de argila e de matéria orgânica desse solo, o que implicaria em taxas mais
elevadas de cimentação, expansão e contração dos agregados. O LVd-1 foi o solo que
evidenciou O menor readensamento, efeito atribuído à sua textura mais grosseira e ao seu
menor teor de matéria orgânica. De modo geral, o readensamento ocorreu no sentido do
exterior (locais ElS e 015) para o centro do sulco (local C) (Figura 16). Isso foi relacionado
à maior proximidade das laterais do sulco de preparo com o solo estruturado, que expande
e contraí mais do que o solo desestruturado dentro do sulco. Também, um fator que pode
ter provocado O readensamento nesse sentido foi a lixiviação de substâncias cimentantes
pelas paredes do sulco, localizadas entre os pontos E30 e 030.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CU LTURA DE E UCALI PTO E · · ·
111 1

Local (cm}
Local (cm)
E15 C 015 D30 D4.5
E4S E30 E15 C D15 030 045
o
10
10

20 \
(b)
(a) JO
30
]'
~ 40
'"ó
~ 50
:a
..êo o -<>-- O mês pós-subsolagem
&::
10 • 12 meses pós-subsolagem
24 meses pós-subsolagem
20

30

40

50

Figura 16. Isolinhas de resistência à penetração no solo (2 MPa), obtidas pelo penetrô metro de impacto,
delimitando a área mobilizada de solo em razão do tempo pós-su bsolagem e respectivos desvios-
padrão: (a) Latossolo Vermelho Distrófico textura média oxídico; (b) Latossolo Vermelho
Distrófico textura argilosa caulinítico e (c) Latossolo Vermelho Distrófico textura m uito argilosa
oxídico. No eixo X, o ponto C está localizado na linha central de subsolagern; e, nos demais, à
esquerda e direita, à distância de 15 cm um do outro.
Fonte: Sasaki (2005).

PREPARO DE SOLO EM ÁREAS FORTE ONDULADAS E


MONTANHOSAS

Em algumas regiões acidentadas de Minas Gerais e São Paulo, como nos Vales dos
rios Doce e Paraíba do Sul, onde há extensas plantações de eucalipto, duas técnicas de
cultivo mínimo do solo têm sido usadas, dependendo das condições fisiográficas do
terreno, estreitamente relacionadas com as possibilidades de mecanização.

Subsolagem
Se o relevo é plano a ondulado, com declives de até 12 cm m·1, o preparo de solo é
feito com um subsolador florestal nas linhas de plantio, em nível ou com ligeiro desnível.
A profundidade média de preparo é de 30 a 40 cm nos solos de textura arenosa e média;
e de 35 a 50 cm, nos de textura argilosa. O volume de solo preparado varia de 180 a SOO
dm3 / planta, ou seja, 300 a 830 m3 ha·1, se a população de plantio for de 1 660 plantas ha·1
(espaçamento 3,0 m x 2,0 rn).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1112 JosÉ L EO NARDO DE MORA ES GON ÇALV ES ET AL.

Em áreas com d eclive (: ntTe 12 a 40 cm 11 ,-1, 0 preparo de solo pode ser fe ito com
sub olagem no _entido da pendent(: (profundidade de 30 a 40 cm) (Figura 17). Para isso,
algumas condições são essenciais, com objetivo de se evitar a erosão, sobretudo n as linhas
sub oladas. Essa prática só deve ser usada em áreas manejadas em cultivo m ínimo do solo,
em épocas pouco chuvosas, quando só ocorrem as chuvas de baixa(< 2,5 mm IY') ou m édia
i.nten idade (de 2,5 a 7,5 mm lY 1). Assim, na Região Sudeste e Centro-Oeste, o solo n ão deve
ser subsolado no entido do declive durante o verão, entre dezembro e fevereiro, quando
ocorrem chuvas de alta intensidade (> 7,5 nun lY1), que podem gerar excedentes hídricos
que escorrem como enxurrada e flu xo de água subsuperficial lateral. Além d esses cuidados,
a linha de subsolagem não deve ser contínua. A cada 15-20 m, a haste subsoladora d eve
ser levantada, mantendo-se 1 m de solo não subsolado. De preferência, a subsolagem deve
ser feita no outono ou na primavera, e o plantio realizado logo em seguida. As linhas de
subsolagem, no sentido do declive, devem ficar ao menos a 3 rn do leito das estradas.

Figura li. Plantações de eucalipto em diferentes estádios de desenvolvimento, estabelecidas


em cultivo núnimo do solo, e m relevo forte ondulado, onde a subsolagem e o plantio foram
realizados no sentido da pendente, em época sem chuvas de alta intensidade. Não há sinais
de erosão. (a) Hibrido de E. urophylln x grnndis, espaçamento 3,0 m x 3,0 m, três m eses após o
plantio; e (b) lubrido de E. urophylln x gm11dis, espaçamento 3,0 m x 3,0 m, nove meses após o
plantio.

Preparo de solo restrito às covas de plantio


Em posições topográficas com declive maior do que 12 cm 111·1 são abertas covas de 30
x 30 x 30 cm a 40 x 40 x 40 cm. Essas podem ser abertas com coveadeira dupla tracionada
por trator agrícola de pneu de 80 a 100 CV (12 a 35 cm 111· 1 de declive) ou trator florestal, tipo
Fo,w arder (declives de 12 a 35 cm m·1); acima dessa faixa de declive, com motocoveadeira
manual ou coveadeira Rotree. Em áreas irregulares ou de difícil acesso, o coveamento é
manual. O volume de solo preparado varia d e 8 a 27 dm 3/cova, ou seja, 13 a 43 1113 h a·1,
considerando 1 600 plantas ha·1, espaçamento 3,0 x 2,0 m.
Em áreas acidentadas, onde as plantações florestais serão estabelecidas e conduzidas
em cultivo mínimo, se usa o alinhamento de plantio esquadrejado. As fileiras de plantio são
al inhadas em desnível, no sentido das pendentes, e, ao mesmo tempo, alinhadas em nível
ou perpendicu lar ao declive, cortando as águas. Esse procedimento é essencial no sentido

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1113

de possibilitar a mecanização total ou parcial dos tratos culturais (fertilização, contro le d


plantas daninJ,as e formigas) e da colhei ta da madeira.
O alinhamento do preparo de solo e O do plantio em desnível, n ssas circu~s tâncias, ~ão
têm predispos tos o solo à erosão, pois várias práticas sil vícultu rais e circuns tâncias de cul tivo
associadas fornecem suficiente proteção e prevenção ao solo.
Dentre essas, o cultivo do solo é o mínimo; portanto, a es trutura do so lo perm~n ece
intacta em quase toda extensão da área, e grande quantidade de biomassa vegetal resid ua l
é mantida sobre o solo, protegendo-o de chuvas e ventos. Como já discutido, em rea
acidentadas, com o plantio realizado em covas, apenas 13 a 43 mJ ha·1 de solo são revolvidos
de um total de 3 000 m3 ha·1 (considerada uma camada su perficial de 30 cm), ou seja, não
mais do que 1,5 % do volume total de solo é preparado.
Também, grande parte das plantações floresta is foi reformada, ou replantada, após
uma ou mais rotação de cultivo; portanto, com grande quantidade de biomassa vegetal
residual acumulada sobre solo e com a manutenção do robusto s istema radicular das
árvores, que conferem ao solo alta resistência à erosão. ão há nenhuma prática mecànica
e artificial, economicamente viável, capaz de oferecer melhor proteção ao solo d o q ue a
camada de biomassa vegetal residual sobre o solo e o sistema radicula r residual d e árvores
plantadas em alta densidade, como em plantações florestais.
De modo geral, as plantações são estabelecidas com bom padrão tecnológico de
implantação e manutenção, o que confere altas taxas de crescimento às árvores; port,rnto,
rápido recobrimento do solo com copas (Figura 17).
Entretanto, se for realizado o preparo intensivo do solo, com amplo revol vimento
da sua camada superficial e incorporação ou queima da biomassa vegetal residual, é
imprescindível que o alinhamento do seu preparo seja em nível e que o alinhamento do
plantio seja feito em quincôncio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ciclo longo de cultivo das plantações florestais constitui uma vantagem em relação
às culturas anuais, pois implica em menor movimento de máquinas e dá ao solo maior
tempo para recuperar-se de eventuais danos. Essa afirmação tem como base o princípio de
que nenhum implemento de preparo do solo promove melhorias em sua e trutura, o que
só pode ser conseguido por meio da atividade biológica de organismos do solo ou pela
ação do sistema radicular das plantas.
Com o cultivo mínimo do solo, o setor florestal tem mantido o u recuperado a boa
qualidade do solo, principalmente seus atributos estruturais e funcionais. r essa condição,
o solo consegue sustentar a produção biológica, prover água limpa para os mananciais
e funcionar c~mo um ta_mpào ~mbiental; . por exemplo,_ atenuando e degradando
compostos nocivos ao meio an1b1ente. Por isso, essa técnica de manejo d s olo tem
recebido, progressivamente, mais destaque, sobretudo no planejamento e na gestão deus
dos recursos edáficos, hídricos e biológicos. Novos desafios tem urgido no sentido de
disponibilizar inovaçõe~ tecnológica_s ca~a vez 1:'e~o: agres ivas ao ambiente, 0 que te m
requerido maior conhecimento e aplicaçao de pnnc1p10s e processo ecológicos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1114 JOSÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

As t cnicas a ssociadas ao cultivo mínimo do solo requerem cons tan te avaliação


e adaptação às mais diferentes situações d e trabalho, inerentes a cada sítio fl o restal. As
recomendaçõe técnicas es tão cada vez mais específicas e precisas, visando incre m entos
de produtividade e diminuição de custos operacionais. Consoante a esse obje tivo, o
desenvolvimento científico e tecnológico desse setor conta atualmente com novas e
poderosas ferramentas de trabalho, como às associadas à silvicultura de precisão.
O aumento do grau de mecanização e de automação das práticas silv iculturais é
tendência crescente, visando à racionalização do uso de mão de obra braçal e melhoria
de qualidade operacional. Os avanços mais expressivos têm sido conseguidos quando se
adotam máquinas e implementos com concepção específica à atividade flores ta l, no que
se refere à sua estrutura física e funcionalidade. A precisão e qualidade das operaçõe s
executadas nos equipamentos de última geração são maiores em razão do uso de
dispositivos mecânicos ou eletrônicos autorreguláveis, como sensores e reguladores de
profundidade de subsolagern, sensores e dosadores de fertilizantes, eliminando com ações
recursivas algumas disfunções.
Numa outra linha de ação, com objetivo de aumentar a resistência mecânica, a
flexibilidade operacional e os rendimentos operacionais, tem ficado mais comum o
uso de tratores mais potentes e estáveis. Isso tem possibilitado, por exemplo, o uso de
implementos com maior demanda de potência, o que aumentam as alternativas para o
manejo de biomassa vegetal residual, sobretudo a mais lenhosa; e a mecanização de práticas
silviculturais em áreas muito acidentadas (mais de 30 cm m·1 de declividade). Apesar de
os tratores serem maiores, isso não resulta em aumento dos riscos de compactação do solo,
pois os pneus são de baixa pressão, a tração e a carga deles são mais bem distribuídas e a
velocidade de trabalho é maior.
Por causa da interdependência entre as operações nas várias etapas da produção
florestal, seus planejamentos e suas execuções estão cada vez mais sincronizados e
integrados, de forma a propagar em cadeia os efeitos benéficos de alguns procedimentos
nas operações subseqüentes; por exemplo, a disposição da biomassa vegetal residual
durante a colheita e seu efeito sobre o solo preveem e facilitam as operações seguintes de
preparo de solo, plantio e controle de plantas daninhas.

LITERATURA CITADA

Anuário estatístico da Associação Brasileira de Produtores de Floresta - Abraf. Anuário estatístico


da Associação Brasileira de Produtores de Floresta Plantada, ano base 2012. Brasília, DF: 2013.
Alvares CA, Stape JL, Sentelhas PC, GoncaJves JLM, Sparovek G. Kõppen's clima te classification
map for Brazil. Meteoro) Zeitsch. 2013;22:711-28.
Balastreire LA. Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole; 1987.
Bizon JMC. AvaJiação da sustentabilidade nutricional de plantios de Pinus taed a L. u sand o um
baJanço d e entrada e saída de nutrientes [dissertação] Piracicaba: Escola Superior d e Agricultu ra
" Luiz d e Queiroz"; 2005.
Brady N C, We iJ RR. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3ª.ed . Porto AJegre: Bookma n;
2013.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS D E CULTURA DE EUCALIPTO E · · · 1115

Campinhos EN, Ramos LOO, Patrocínio DD, Noronha BA, Lopes ET, Borges Jr AA, Az~ved o ~O,
Lima EWS. Consevação e preparo de so lo no Vale do Paraíba. [2015 no prelo]. (Séne Técnicc1,
42)
Cândido BM, Silva MLN, Curi N, Batista PVG. Erosão hídrica pós-plantio em flore ta de eucalipto
na bacia do rio Paraná, no leste do Mato Grosso do Su l. Rev Bras Cienc Solo. 2014;38:1565-75.
Cunha GDM, Gama-Rodrigues ACD, Costa GS. Nutrient cycling in a eucalypt plantation (Eucalyptus
grandis W. Hill ex Maiden) in Northern Rio de Janeiro Sta te. R Árvore. 2005;29:353-63.
Ou Toit B, Dovey SB, Smith CW. Effects of slas h and site management treatments on soil properties,
nutrition and growth of a eucalyptus grandis plantation in South Aírica. ln: 1 ambiar E~,
editor. Site management and productivi ty i.n tropical plantation forests. Bogo r, Indonésia:
Center for International Forestry Research (ClFOR); 2008. p.63-78.
Ferraz A V. Ciclagem de nutrientes e metais pesados em plantios de Eucalyptus grandis adubados
com lodos de esgoto produzidos em diferentes estações de tratamento da região metropolitana
de São Paulo [dissertação]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 2009.
Fonseca SM. Preparo de solo para i.mplantação de florestas. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, 1978. (Revisão Bibliográfica da disciplina de pós-graduação "Formação e
manejo de povoamentos florestais").
Gama-Rodrigues AC, Barros NF. Ciclagem de nutrientes em floresta natural e em plantio de
eucalipto e de dandá no sudeste da Bahia, Brasil. R Árvore. 2002;26:193-207.
Gava JL Cultivo mínimo em solos de textura arenosa e média: áreas planas e suave onduladas.
Gonçalves JLM, Stape JL, editores. Conservação e cultivo de solos para plantações florestais.
Piracicaba: IPEF; 2002. p.221-44.
Gonçalves JLM. Principais solos usados para plantações flores tais. ln: Gonçalves JLM, Stape JL,
editores. Conservação e cultivo de solos para plantações flores tais. Piracicaba: IPEF; 2002. p.1-
45.
Gonçalves JLM, Alvares CA, Higa AR, Silva LO, Alfenas AC, Stahl J, Ferraz SFB, Lima WP,
Brancalion PHS, Hubner A, Bouillet JPO, Laclau JP, Nouvellon Y, Epron, D. Integrati.ng genetic
and silvicultura! strategies to minimize abiotic and biotic constraints in Brazilian eucalypt
plantations. For Ecol Manage. 2013;301:6-27.
Gonçalves JLM, Rocha JHT, Bazani JH, Hakamada RE. Nutrição e adubação da cultura do eucalipto
manejada no sistema de talhadia. ln: Prado RM, Wadt PGS. 1 utrição e adubação de e pécie
florestais e palmeiras. Jaboticabal: FCA V/ CAPES; 2014a. p .349-82.
Gonçalves JLM, Silva LO, Behling M, Alvares CA. Management of indu trial forest plantations.
Borges, J.G., Diaz-Balteiro, L., McOiU, M.E., Rodriguez, LC.E, editors. Toe management of
industrial forest plantations: theoretical foundations and applications. Dordrecht: Springer;
20146. p.91-119 (Managing Forest Ecosystems, 33)
Gonçalves JLM, Stape JL, Benedetti V, Fessel VAG, Gava JL. Reflexos do culti o nurumo e intensivo
do solo em sua fertilidade e nutrição das árvores. ln: Gonçalves JLM, Be nedetti , editores.
N u trição e fertilização florestal. Piracicaba: IPEF; 2000. p.1-57.
Gonçalves JLM, Stape JL, Wichert ~1CP, Cava JL M_anejo d~ resíduo egetai e preparo de olo.
In: Gonçalves JLM, Stape JL, editores. Conservaçao e cultivo de solo para plantações florestais.
Piracicaba: lPEF; 2002. p.131-204.
Horn R, Dexter AR. Oynamics of soil aggregation in an irrigated desert loess. il Till Res. 19 9;13:
253-66.
Indús tria Brasileira de Árvores - IBÁ. Anuário estatís tico de 2016. Brasília: 2017.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1116 JosÉ LEONARDO DE MORAES GONÇALVES ET AL.

Institu to Florestal - I.F. Inventário florestal das áreas rcílorestadas no Estado de São Paulo. São
Paulo: S 1A/ TF / Imprensa Oficial; 2002.
Institu to Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE. Mapa de solos do Brasil. Escala: 1.5.000.000.
Diretoria de Geociências. Brasília: Embrapa Solos, 2001.
lnstituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática -
SIDRA. 2011 . [Acessado em 03 de nov. 2014] Disponível em: http://wv-.rw.sidra.ibge.gov.br/
bda/ sih·i
Laclau JP, Ranger J, Gonçalves JLM, Maquere V, Krusche AV, M'Bou AT, Nouvellon Y, Saint-
André L, Bouillet JP, Piccolo MC, Deleporte P. Biogeochemical cycles of nutrients in h·opical
Eucalyptus plantations. Main features shown by intensive monitoring in Congo and Brazil. For
Eco! Manage. 2010;259:1771-85.
Lanças KP. Subsolador: desempenho em fw1ção de formas geométricas de hastes, tipos de ponteiras
e número de hastes {tese]. Botucatu: Universidade Estadual Paulista; 1988.
Lima VlP. Escoamento superficial, perdas de solo e de nutrientes em microparcelas reílorestadas
com eucalipto em solos arenosos no mw1icípio de São Simão, SP. R IPEF. 1988;38:5-16.
Martins SG, Sih a MLN, Curi N, Ferreira MM, Fonseca S, Marques J)GSM. Perdas de solo e água
por erosão hídrica em sistemas florestais na região de A.racruz (ES). Rev Bras Cienc Solo.
2003;27:395-403.
Mendham DS, O' conneU AM, Grave TS, Rance SJ. Residue management effects on soil carbon and
nutrient contents and growth of second rotation eucalypts. For Eco! Manage. 2003;181:357-72.
Mendham OS, Sankaran KV, O'connell AM, Grave TS. Eucalyptus globules harvest residue
management effects on soil carbon and microbial biomass at 1 and 5 years after plantations
establishment. Soil Biol Biochem. 2002;34:1903-12.
Neves JCL. Produção e partição de biomassa, aspectos nutricionais e hídricos em plantações clonais
de Eucalipto na região litorânea do Espirito Santo [tese] Campos dos Goytacazes: Universidade
Estadual do Norte Fluminense; 2000
Olson JS. Energy-storage and balance of producers and decomposers in ecological-systems. Ecology.
1963;44:322-31.
Poggiani F. Ciclagem de nutrientes em ecossistemas de plantações de Eucalyptus e Pinus: implicações
silviculturais [tese]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 1985.
Rípoli TC, l\1ialhe LG, Nakamura RT. Subsolagem e subsoladores. Piracicaba: Centro Acadêmico
Luiz de Queiroz - Departamento Editorial; 1985.
Rocha JHT. Reflexos do manejo de resíduos florestais na produtividade, nutrição e fertilidade do solo
em plantações de Eucalyptus grandis [dissertação]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura
"Luiz de Queiroz; 2014.
Rocha JHT, Marques ERG, Gonçalves JLM, Hubner A., Brandani CB, Ferraz A V, Moreira RM.
Decomposition rates of forest residues and soil fertility after clear-cutting of Eucalyptus grandis
stands in response to site management and fertilizer application. Soil Use and Management.
2016a;32:289-302.
Rocha JHT, Gonçalves JLM, Cava JL, Godinho TO, Melo EASC, Bazani JH, Hubner A, Arthur Junior
JC, Wichert MP. Forest residue maintenance increased the wood productivity of a Eucalyptus
plantation over two short rotations. Forest Ecology and Management. 2016b;379:1-10.
Sankaran KV, Mendham OS, Chacko KC, Pandalai RC, PiUai PKC, Grove TS, O'connell, AM. Impact
o{ site management practices on growth of eucalypt plantations in the Monsoonal Tropics in
Kerala, India. Jn.: Nambiar EKS. Site man_a gement and productivity in tro pical plantation
forests. Bogor, Indonésia: Center for Jnternahonal Forestry Research (CJFOR); 2008. p.23-38.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--·-
XXXIV - MANEJO DO SOLO EM SISTEMAS DE CULTURA DE EUCALIPTO E · · ·
1117

Sa ntarn1 RC, Ba rros Nr, Novais RF, Leite HG, Comerford N B. A locação de nutrientes em pl<1ntio~ de
Euca lipto no Bras il. Rev Bras Cienc Solo. 2008;32:2723-33.
Sasaki CM. Desempenho operaciona l de um subsolador cm função da estru tura, do teor de .Jrgíla e
d e água e m três Latossolos [tese]. Piracicaba: Escola Super ior de Agricultura Luiz de Queiroz;
2005.
Sasaki CM, Bentivenha SRP, Gonçalves JLM. Configurações básicas dos ubsolad o re fl o restais. l_n:
Gonçalves JLM, Stape JL, editores. Conservação e culti vo de solos para plantações flore t,:us.
Piracicaba; IPEF; 2002. p.393-407.
Silva CR, Cama1·go FRA, Jacob WS, Lijima J. Preparo de solo e m á reas acidentadas do Vale do
Paraíba do Sul - SP. In: Gonçalves JLM, Stape JL, edi tores. Conservação e cultivo de solo para
plantações florestais. Piracicaba: IPEF; 2002. p.245-58.
Silva MS, Silva MLN, Curi C, Avanzi JC, Leite FP. Sistemas de ma nejo e m p lantios florestaic; de
eucalipto e perdas de solo e água na região do Vale do Rio Doce, MG. Ci Flor. 2011;21 :765-76.
Simões JW, Brandi RM, Leite NB, BaUoni EA. Formação, ma n ejo e exploração de flo restas com
espécies de rápido crescimento. BrasíJia, DF: Instituto Bras ileiro de Desenvolvim e nto Florestal;
1981.
Sixel RMM. Sustentabilidade da produtividade de madeira de Pinus taeda com ba e no estoque, na
exportação e na ciclagern de nutrientes [dissertação]. Piracicaba: Escola S u perio r de Agricultura
"Luiz de Queiroz," 2012.
Souza AJ. Preparo de solos coesos para cuJtura do e ucalipto no extremo sul da Bahia. ln: Gonçalves
JLM, Stape JL, editores. Conservação e cultivo de solos para plantações florestai . Piracicaba:
IPEF; 2002. p .297-311.
Stape JL, Andrade S, Gomes AN, Krejci LC, Ribeiro JA. Definição de m é todos de preparo de solo
para silvicuJtura em solos coesos do litoral norte da Bahia. ln: Gonçalves JLM, Stape JL, editores.
Conservação e cultivo de solos para plantações florestais. Piracicaba: IPEF; 2002. p .259-96.
Suiter Filho W, Rezende GC, Mendes q , Castro PF. Efeitos de diversos m étodo de preparo de
solo sobre o desenvolv imento de Eucalyptus grandis Hill (Ex. laiden) plantado e m olo com
camadas de impedimento. Piracicaba: IPEF; 1980. (Circular técnica, 90)
Zaia FC, Gama-Rodrigues AC. Nutrient cycling and balance in eucalypt plantation ystems in north
of Rio de Janeiro state, Brazil. Rev Bras Cienc Solo. 2004;28:8-13-52.

Zen S, Yonezawa JT, Feldeberg JE. Implantação de flores tas no s istema de culti o mínimo. ln:
Anais. do 1°. Seminário Sobre Cultivo I'vlinimo do Solo em Florestas; 1995; C uritiba. Curitiba:
CNPFloresta/CPEF/UNESP/ SIF/FUPEF; 1995. p .65-72

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO
SOLO NO CULTIVO DE OLERÍCOLAS
Roberto Botelho Ferraz Branco 1I, Andréia Cristina Silva Hirata 71,
Luis Felipe Villani Purqueriolf, Thiago Leandro Factorl, Sebastião de Lima Junior",
Jane Maria de Carvalho Silveira"' & Sebastião Wilson Tivelli51

11 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Centro Les te, Rfüei rão Preto, P.
E-mail: branco@apta.s p.gov.br
21 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Alta Sorocabana, Preside nte Prudente, P.
E-mail: and reiacs@apta.sp.gov.br
31 Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Horticu ltura, Campinas, SP. E-mail: feli pe@iac. p.gov.b r
~, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Nordeste Paulista, Mococa, SP.
E-mails: factor@apta.sp.gov.br, slimajr@apta.sp.gov.br, jane@apta.sp.gov.br
51 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura
Ecológica, São Roque, SP. E-mail: tiveLli@apta.sp.gov.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 1119


SISTEMAS CONSERV ACIONISTAS DE PREPARO DO SOLO PARA O CULTIVO DE OLERÍCOLAS ....... 1121
Plantio direto ............................................................................................................................................·-·········-··· 1123
Preparo reduzido ou cultivo mínimo do solo ................................... .. ..................................................... ·-········ 1127
Canteiros permanentes..................................... ................ ........................................................................ -.............. 1129
COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE fMPLANT AÇÃO E PRODUÇÃO ............................-................-......... l 131
FERTILIZAÇÃO DO SOLO NO CUlTIVO DE HORTALIÇAS EM SISTEMAS C01 SER ACION1STAS ..... 1137
MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO E EFIGÊNCLA DO USO DA ÁGUA EM SISTENlAS C01 SERVAOON1ST.-\S ..... 1139
lMPACTO DO MANEJO CONSERV ACIONISTA DO SOLO NO M.Al'\fEJO DE PLANTAS DA I r HAS
EM HORTALIÇAS ................................................................... ....................................···························--············ 11-l'
MANEJO CONSERVACIONlSTA EM ANIBIENTE PROTEGrDO ......................................................................... 11-17
MANEJO CONSERVACIONISTA EM AGRICULTURA ORGÂNICA ······························································- · 1151
CONSIDERAÇÕES FfNAIS .......................................................................................................................................... 1154
AGRADECIMENTOS........................................................................................................................................... - ······· 115-l
LITERATURA CITADA .......................................... ................ ....................................................................................... 1154

INTRODUÇÃO

Os principais segmentos de hortaliças propagadas por sementes, corno abobrinhas,


abóbora-japonesa, alface, beterrab~, bró~olis, c~bola, .cenoura, couve-flor, feijão-de-vagem,
melancia, melão, milho-doce, pepmo, p1mentao, quiabo, repolho e tomate para mer ado

Berto! I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. iço-a, MG: ocied a le
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
1120 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

deyrodutos frescos e para processamento, no Brasil, ocuparam área de aproximadamente


531,215 kha em 2010, com produção de 17,3 Mt. Com a inclusão das hortaliças propagadas
por clones, como batata, batata-doce, alho, inhame, cará, mandioquinha sa lsa, chuchu, além
de outras 13 folhosas não incluídas, a área cultivada foi de aproximadamente 946,700 kha;
e a produção, de 19,4 Mt. É importante salientar que no setor foi gerado 1,78 milhão de
empregos (ABCSEM, 2011).
lo Brasil, o consumo de hortaliças e frutas a.inda é pequeno (IBGE, 2008), quando
comparado a alguns países desenvolvidos da Emopa e Amé1ica do Norte, porém tende a
crescer em razão principalmente dos novos hábitos alimentares saudáveis do brasileiro e da
crescente renda da população, alavancando toda a cadeia agrícola relacionada à sua produção.
Esses dados evidenciam. a importância da olericultura para o Brasil e, em especial,
para a agricultura familiar, uma vez que grande parte das hortaliças é produzida em áreas
pequenas, muitas vezes com relevo acentuado que as tomam altamente vulneráveis às
perdas de água e solo. Além da preservação do meio ambiente, as medidas de manejo
racional do solo apresentam elevada importância social, com papel fundamental no
fortalecimento e na manutenção desses agricultores no setor.
Diferentemente das grandes culturas, as hortaliças se caracterizam pelo cultivo
intensivo, muitas vezes na mesma área, com práticas culturais específicas e com elevado
aporte de insumos agrícolas, como fertirrigação e irrigações frequentes, adubação
abundante e intensa mecanização para o preparo do solo, com uso de enxada rotativa,
arado e grade, entre outras. Dessa maneira, pode ocorrer declínio na fertilidade do solo
e queda no rendimento agronômico das culturas. Essa constatação foi verificada pela
redução nos teores de matéria orgânica e C na biomassa microbiana, pela emergência de
plântulas e pela estabilidade de agregados em áreas sob cultivo de hortaliças, em relação
às áreas-controle (Valarin.i et al., 2011). O resultado desta pesquisa evidencia que medidas
urgentes de manejo do solo direcionadas para a sustentabilidade dos agroecossistemas em
grande parte de áreas cultivadas com hortaliças são necessárias, assim como estudos para
adaptação de sistemas conservacion.istas direcionados especificamente para a olericultura.
É importante ressaltar que o preparo convencional com utilização de arado, grade
e enxada rotativa expõe o solo a processos erosivos, o que resulta em perda de nutrientes e
matéria orgânica pelo escoamento superficial da água pluvial, pela compactação do solo e pelo
aumento de temperatura superficial pela radiação direta dos raios solares; consequentemente,
há redução da fertilidade do solo e da disponibilidade de água para irrigação das culturas.
Apesar desse cenário, Melo et ai. (2010) ressaltaram que em hortaliças é complicado
o estabelecimento de práticas conservacionista de cultivo sem revolvimento do solo à
semelhança do que ocorre na produção de grãos por causa da complexidade do sistema.
Tem-se verificado o plantio de culturas sobre a palha, sem revolvimento do solo (aração
e gradagem ou encanteirarnento), porém não permanentes no tempo, em razão das
características intrínsecas à olericultura: mercado muito dinâmico, com mudanças na
tomada de decisão quanto a "o que plantar" e "quando plantar"; bajxa produção de palha
pela maioria das hortícolas; adaptabilidade restrita ao plantio sem revolvimento para
espécies como cenoura e batata; muitas unidades com área resh·ita; e, consequentemente,
uso intens ivo da propriedade.
Peche filho (2007) ressaJtou que manejar o solo hortícola signjfica "cons truir um perfil
cultural ", onde as plantas encontram um ambiente ajustado para o pleno d esenvolvimento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO S OLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCO LAS l l 2l

vegetativo e a harmonia entre as propriedades fís icas, químicas e biológicas. Ações de manejo
são estratégicas e compõem um conjunto de d iretrizes e procedimentos sus tentados _Pe la
"construção" de um solo, cujas características positivas superam em muito as nega~vas,
com o estabelecimento de um balanço "positivo", o que permite a perenidade prod u tiva.

SISTEMAS CONSERVACIONISTAS DE PREPARO DO


SOLO PARA O CULTIVO DE OLERÍCOLAS

As primeiras experiências no Brasil de cultivo de hortaliças em plantio direto surgiram


em Santa Catarina, na década de 1980, com o cultivo minimo do solo para produção de
cebola. Essas experiências foram motivadas pelo agravamento continuo do_ processos
erosivos dos solos daquele Estado. Santa Catarina é o maior produtor nacional de cebola
e chegou a ter metade da área cultivada com a cultura utilizando plantio direto. Contudo,
em 2009, a área com plantio direto não representava 5 % do total (Madeira, 2009). Em
Minas Gerais e Goiás, o plantio direto em cebola iniciou-se a partir de 2004, mas a área
cultivada não se expandiu na proporção esperada. No Estado de São Paulo, produtores de
cebola começaram a adotar o plantio direto a partir de 2002 na região de São José do Rio
Pardo (Breda Jr e Factor, 2009), porém atualmente são poucas as áreas q ue adotam essa
técnica de plantio.
Com a menor disponibilidade de mão de obra e crescente mecanização da cultura,
uma das principais explicações para o recuo de área diz respeito à dificuldade que as
plantadoras existentes no mercado têm de realizar um trabalho eficiente no plantio de
sementes diminutas corno a de cebola, de maneira a proporcionar germinação uniforme
e população de plantas adequada, considerando um bom nivel de palhada sobre o solo.
As escassas plantadoras atualmente em uso são adaptações dos próprios produtores, e
o desinteresse das empresas fabricantes de máquinas e equipamentos pelo mercado de
cebola aumenta a dificuldade em se desenvolver o plantio direto no Brasil. ão obstante,
a inexistência de semente peletizada de cebola no pais, motivada por questões técnicas e,
ou, comerciais, o que facilitaria o plantio direto com as plantadoras existentes atualmente
no mercado, contribui para o atual cenário de estagnação no desenvolvimento dessa
importante tecnologia, apesar de os resultados de pesquisa comprovarem as vantagens
que o plantio direto de cebola proporciona.
A importância de sistemas conservacionistas de preparo do solo para o cultivo de
olerícolas é ressaltada na figura 1, onde pode ser visualizado o processo erosivo em área
preparada para plantio convencional de beterraba-açucareira em Ribeirão Preto, SP, e em
tomate, na região de Caçador, SC.
N a região de Caçador, SC, importante polo produtor de tomate, o cultivo de hortaliças
em plantio direto, principalmente tomate e abóbora, tem sido desenvolvido desde 2001. o
sistema proposto é com base na forma participa tiva e se apresenta com o altemati a ao
sis tema vigente (Epagri, 2004; Simarelli, 2005).
Na cultura do tomateiro para processamento na região de Rio erde, Goiás,
especialmente em plantios precoces (março), o cultivo em plantio direto é bastante elevado,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1122 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

próximo de 40 % d o total d a área de tomate para processamento, o que geralmente acontece


sobre a p alha de milho cultivado previamente (Madeira et ai., 2009).

Figura 1. Processos erosivos em área preparada para plantio convencional de beterraba-açucareira,


em Ribeirão Preto, SP, e tomate, na região de Caçador, SC.
Fotos: Roberto B. Branco.

Métodos conservacionistas de preparo do solo têm sido cada vez mais adotados no
cultivo de olerícolas, visando à redução dos impactos ambientais na exploração do solo
para produção de alimentos. A formação de palha promove proteção do solo contra o
escoamento superficial, ação direta de raios solares (Silva et ai., 2006; Wutke et ai., 2010)
e manutenção da umidade do solo (Oliveira Neto et ai., 2011; Freitas et al., 2006), o que
proporciona adequado ambiente de cultivo das hortaliças. A decomposição lenta e gradual
da palha na superfície do solo eleva o teor de matéria orgânica, com impacto positivo na
fertilidade do solo e produtividade das culturas (Pinheiro et al., 2004; Wang et al., 2009).
A presença da palha na superfície do solo também diminui a temperatura do solo nos
horários mais quentes do dia em até 8 ºC no perfil de 5 cm de profundidade, contribuindo
para melhoria do desempenho produtivo das culturas (Morote et ai., 1990). Na figura
2, está demonstrado o efeito da palha de milheto na superfície na temperatura do solo
cultivado com alface, comparado ao cultivo sem palha.
No cultivo de hortaliças, métodos conservacionistas ainda são pouco adotados, talvez
em razão da escassez de informações técnico-científicas que subsidiem essa tecnologia. O
paradigma da necessidade de preparo convencional do solo também é forte entrave para
adoção de técnicas conservacionistas. Entretanto, resultados científicos têm comprovado a
eficiência dessa tecnologia no cultivo de hortaliças.
Os sistemas conservacionistas estão alicerçados em três pilares, que s ustentam a base
tecnológica para implantar as culturas, que são: o não revolvimento ou revolvimento mínimo
do solo, a manutenção permanente de plantas e fitomassas residuais na superfície do solo e a
rotação de culturas (Derpsch, 2008). Dessa maneira, o plantio direto e o preparo reduzido do
solo são ferramentas indispensáveis para execução da agricultura conser vacionis ta .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS ll 23

Figura 2. Efeito da palha de milheto na temperatura do solo com a cultura da alface sem cober tura
(30,2 ºC) e com palha (26,5 ºC).
Foto: Andréia C. S. 1-firata.

Plantio direto
A busca por sustentabilidade nos sistemas de produção em olericu.ltura tem norteado
pesquisas relacionadas ao plantio direto de hortaliças, envolvendo estudos de espécies de
plantas de cobertura para formação de palha para cultivo da alface (Purquerio e Tivelli,
2007; Purquerio et a.l., 2011b; Hirata et ai., 2015), tomate (Kieling et a.l., 2009; Silva et ai., 2009;
Branco et al., 2013), berinjela (Castro et ai., 2005), melancia (Branco et al., 2015), beterraba
(Purquerio et a.l., 2009; Purquerio et ai., 2011a; Factor et a.l., 20126;), brócolis (Melo et ai.,
2010), cebola (Factor et a.l., 2009), cebolinha (Araújo Neto et a.l., 2010), coentro (TaveUa et
al., 2010), batata (Fontes et a.l., 2007), dentre outras (Figura 3).

Figura 3. Cultivo de beterraba (a), cebola (b) e tomate (c) em plantio direto.
Fotos: (a) Luiz F. V. Purquerio; (b) Thiago Factor; e (e) Andréia C S. Hirata.

Para implantar o plantio direto em olericultura é primordial a análise física e química


detalhada da área, seguida de, se necessário, correção do solo, descompactação por
subsolagem e preparo convencional com arado e grade para adequar a área e ajustar 0
atributos químicos e físicos do solo.
A adoção do plantio direto não elimina a necessidade de construção de terraço ou
curvas de níveis, nem mesmo o cultivo e~n nível._Essas técnicas são imprescindíveis para
conservação do solo. O que pode ser fetto nas areas onde o plantio direto é adotado é

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1124 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

au mentar a distância entTe terraços e curvas de níveis, disponibilizando maior á rea para
a culturas.
O cultivo de plantas de cobertura como crotalárias, mucunas, milheto e aveia é
importante para formação de palha para o siste1na. Quanto maior a produção de palha,
melhor será a qualidade do plantio direto. Um ponto extremamente irnportante para o
sucesso na formação de palha é a densidade de cultivo das plantas de cobertura. Para isso,
é imprescindível utilizar semeadoras eficientes em distribuir uniformemente as sementes
numa população ideaJ para que as plantas se estabeleçam e cresçam adequadamente para
formação de palha. Então se recomenda espaçamento entrelinhas de 20 a 50 cm e densidade
de acordo com a espécie a ser cultivada.
Todavia, um aspecto importante em relação ao plantio d freto de hortaliças é a espessura
da camada de palha. O excesso de palha pode prejudicar o estabelecimento de muitas
hortaliças, mesmo no sistema de transplante. Trabalho realizado com plantio direto de alface
em palha de milheto (Pen11isetu111 glnucu111) evidenciou que, quando dessecado em estádio de
desenvolvimento avançado, o milheto promove redução acentuada no estande da alface, em
razão do excesso de palha fon:nada, o que resulta em queda na produtividade. As mudas
da alface são muito suscetíveis ao sombreamento formado pelo excesso de palha (Figura 4).
Os resultados deste trabalho evidenciaram que a quantidade de palha de milheto ideal seria
em tomo de 10 t ha-1 para o plantio direto da cultura (Hirata et ai., 2015). Madeira (2009)
também ressaJtou que na cultura da cebola algumas dificuldades têm sido encontradas para
o estabelecimento adequado e uniforme da população de plantas, especiaJmente quando se
tem excesso e, principalmente, deswuformidade na distribuição de palha. Para resolver os
problemas de distribuição das sementes de cebola, deve-se optar por cultives anteriores de
plantas de cobertura ou mesmo culturas comerciais que produzam quantidade satisfatória
de palha, mas que não sejam em excesso, a fim de possibilitar contato ideaJ da semente com
o solo e consequentemente boa população de plantas da cultura.

figura 4. Mudas de alface-americana no cultivo de verão recém-transplantadas e sombreadas pelo


excesso de palha do milheto (esquerda), falha na população de plantas de alface em razão do
excesso de palha (centro), comparado à testemmtha (direita).
Fotos: Andréia C S. Hirala.

Para a terminação/rolagem das plantas de cobertura podem ser utilizadas roçadeiras


tratorizadas ou motorizadas, rolo faca ou herbicidas de contato. No caso de pequenos
produtores, a operação pode ser realizada com o auxílio de foice o_u ferramenta similar
(Figura 5). Cada espécie de p_lanta de _cobertura tem _seu p~n_to 1dea! de terminaç~o,
geralmente quando atinge máximo crescimento vegetativo e 1mc1a o penedo reprodutivo
(Peche FiU10, 2014).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO D E Ü L ERÍ CO L AS l l 2S

Após a rolagem das plantas de cobertura, aplica-se herbicida dessecante para con trole
da vegetação espontânea em estabelecimento. Entretanto, há d ive rsos tra ba lhos que buscam
eliminar a utilização de herbicidas para plantio direto de horta liças pelo des~n volvim:nto
de modelos rolo faca que consigam matar as plantas de cobertura e a vegetaçao espon tanea
remanescente (Kornecki et ai., 2009; Moyer, 2011; Ciaccia et a i., 2015).

Figura 5. Operação de roçada manual de plantas de cobertura para plantio de hor taliças.
Fotos: Andréia C. S. Hirata.

O cultivo prévio de culturas que produzem quantidade satisfatória d e palha


proporciona ambiente adequado para o plantio direto em olericultura, pois, além
da formação de palha na superfície do solo, o crescimento radicular dessas culturas
contribui para melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (Hamido
e Kpomblekou-A, 2009). As plantas leguminosas têm o crescimento radicular do tipo
pivotante, que auxilia na descompactação de camadas mais profundas do solo, enquan to
as gramíneas possuem o crescimento radicular fasciculado, que beneficia a e trutura do
solo por causa da maior permeabilidade das radicelas nos espaços porosos (Rosolen et
al., 2002; Chen e Weil, 2010). A atividade radicular de exsudação de substàncias o ro-ànicas
o
promove elevação na atividade biológica do solo, sendo benéfica em sua grande maioria,
mas com restrições a espécies que possam produzir substâncias alelopáticas ao culti O de
hortaliças, como o sorgo.
Após o ciclo da planta de cobertura, o plantio direto proporciona a ma nu tenção
da integridade do sistema radicular dessas plantas por período mais prolongado em
relação ao sistema convencional, o que colabora para o aumento do estoque de C d o solo,
beneficiando tanto a culh.1i-a hortícola pelo aumento da matéria orgànica d solo com o 0
ambiente pela redução da emissão de gases do efeito es tufa.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1126 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL .

ciclagem de nutrientes é também um benefício das plantas d e cobertura, pois essas


absorvem nu h·ientes em profundidade h·azendo-os de vaita à superfície. Com isso, reduzem
a lixiviação, reciclam nuLTientes e elevam o teor de matéria orgânica do solo (Gabriel et al.,
2012). No caso de rotação com plantas leguminosas, o ambiente de cultivo é favorecido
pela fixação biológica do N 2, o que reduz a quantidade de N via fertilização química. Na
cultura da berinjela em plantio direto sobre a palha de crotalária, o N proveniente da
fixação biológica foi s uficiente para suprir O total extraído pelos frutos (Castro et ai., 2004).
As culturas comerciais como feijão, milho, soja também entram no contexto de rotação de
culturas e formação de palha residual.
Posteriormente à formação de palha, se estabelece o cultivo olerícola. A implantação
das culturas olerícolas pode ser realizada por meio da produção de mudas (ex. alface e
tomate, entre outras espécies), por semeadura direta na área de cultivo (ex. cenoura e
cebola) ou por propagação vegetativa (ex. mandioca e batata). Dessa forma, a implantação
das hortaliças em plantio direto é diferenciada por essas duas situações. No caso do
transplantio de mudas, existem transplantadeiras de discos que cortam a palha para a
passagem da "botinha" escarificadora da superfície do solo e posterior plantio das mudas.
Esse equipamento permite o transplantio das mudas mecanicamente. Esses equipamentos
são importados e ainda possuem custo bastante elevado, porém já começa a ser utilizado
no Brasil para algumas culturas que justificam sua aquisição. Como alternativa às
transplantadeiras mecânicas, têm sido utilizadas semeadoras específicas de plantio direto
de grãos somente para abertura da linha e deposição do fertilizante de plantio, sendo o
transplantio das mudas realizado manualmente.
O tomateiro, os brócolis e a couve-flor são espécies que se adaptam bem nessa modalidade
de transplantio em plantio direto, tanto mecaniz.ado quanto manual. Para pequenos produtores,
o transplantio pode ser feito manualmente, em covas ou em linhas de plantio, abertas com
auxílio de ferramentas manuais como enxadas. Todavia, deve ser preservada a homogeneidade
de cobertura da superfície do solo pela palha das plantas de cobertura.
Para culturas hortícolas implantadas por sementes, existem máquinas com a mesma
tecnologia das de grãos para plantio direto, providas de disco para o corte da palha e
"botinha" escarificadora, com deposição de sementes por disco de furos ou pneumático.
Melancia, cebola e beterraba são espécies que podem ser semeadas com essas máquinas,
com excelente estabelecimento e desempenho agronômico em plantio direto.
Na fase de transição do cultivo convencional para o plantio direto, pode haver redução
em produtividade das hortaliças em razão do aumento da compactação e densidade do
solo, fato que restringe parcialmente o crescimento radicular (Sainju et ai., 2000). Preparo
reduzido do solo em profundidade e largura de aproximadamente 20 cm na linha de
cultivo colabora para reduzir o efeito da compactação na fase de transição do preparo
convencional para o plantio direto, favorecendo a produtividade das hortaliças (Mochizuki
et ai., 2007). Em Ribeirão Preto, SP, na área experimental da APTA, foi implantado um
ensaio com plantio direto do tomateiro em rotação com plantas de cobertura implantada
desde 2007, com excelente desempenho produtivo da cultura (Branco et ai., 2013).
Após O estabelecimento do plantio direto, a aplicação de calcário e gesso pode ser
realizada superficialmente sem a incorporação no perfil do solo. O deslocamento do calcário
no perfil do solo é lento quando aplicado superficialmente, porém a efetividade de reação
no perfil é de 20 cm, num período de ~oisª. três anos, após a ~plicação em quantidade para
elevar a saturação por bases para 70 ¼ (Caires et al., 2005) (Figura 6).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE Ü LE RÍCOLAS 1127

Figura 6. Calagem superficial em plantio direto do tomateiro.


Foto: Roberto B. Branco.

Atualmente para o Estado de São Paulo, existe uma recomendação oficial de calagem,
adubação orgânica e química de plantio, bem como de adubações de cobertura para,
aproximadamente, 49 diferentes espécies de hortaliças (Raij et al., 1997). Para o Estado
de Minas Gerais, 27 diferentes espécies são citadas (Ribeiro et a1., 1999). Porém, essas
recomendações são para o sistema de cultivo convencional não para o plantio direto.
No plantio direto, por causa do não revolvimento do solo, há acúmulo de nutriente
no perfil s uperficial do solo, a aproximadamente 5 cm, o que melhora a disponibilidade de
nutrientes para as hortaliças cultivadas nesse sistema e, assim, reduzindo a quantidade de
fertilizantes aplicados nos cultivas com o tempo.

Preparo reduzido ou cultivo mínimo do solo


O preparo reduzido ou cultivo mínimo do solo para produção de hortaliças caracteriza-
se pela eliminação do revolvimento do solo realizado por arados e grades no momento do
preparo e é caracterizado pela manutenção de pelo menos 30 ~ de palha na superfíci do
solo (ASAE, 2004). Nesse caso, o subsolador ou escarificador são utilizados no prepar ,
porém sem revolvimento da camada arável do solo.
Para melhorar a população de plantas da cultura na semeadura obre a palha, com
no caso da cebola, é comum o uso de grade ni eladora semi.fechada ou emiabert para
incorporação superficial da biomassa cultural residual, facilitando o emeio po terionnent ,
sistema também denominado plantio com preparo reduzido (Nladeira, 1009).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1128 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

Culturas como o tomate e a melancia têm excelente desempenho produtivo quando


se realiza apena a subsolagem da área pétra O cultivo, especialmente quando realizada na
linha de plantio (Balkcom et ai., 2010).
Quando a superfície do solo é pobre em matéria orgânica e desprovida de proteção
ocorre a formação do selamento superficial, que dificulta a infilh·ação da água e favorece o
processo erosivo pelo escoamento superficial da água. Nesse caso, a escarificação do solo a
profundidades rasas, de aproximadamente 10 a 20 cm, melhora as condições de infiltração
da água no solo. A permanência constante de plantas e fitomassas residuais na área é fator
indispensável para a vitalidade da camada superficial do solo, o que favorece o aumento
do teor de matéria orgânica e infiltração da água no seu perfil.
O preparo apenas na linha de plantio com equipamentos específicos também se
caracteriza como cultivo mínimo do solo, pois apenas nessa linha é que esse é preparado
para o cultivo das hortaliças, mantendo quantidade adequada de palha nas entrelinhas da
cultura sem o revolvimento dele. Em outros países, esse método é denominado de strip
tillage, onde existe maior disponibilidade de equipamentos agrícolas para essa finalidade.
Pierce et ai. (1995) ressaltaram que a erosão e compactação do solo são fatores-chave
que reduzem a produtividade e qualidade da cultura da batata. No entanto, os autores
relataram o efeito positivo da subsolagem na linha de plantio associado a plantas de
cobertura e manutenção da entrelinha sem preparo de solo no cultivo da batata.
Grande oportunidade é o cultivo conservacionista de hortaliças em área de reforma
de canavial com preparo reduzido do solo, justificado pela necessidade de produção de
alimento e energia na mesma área (Figura 7). Nesse sistema de cultivo, prepara-se apenas
a linha de plantio da hortaliça com o cultivador subsolador de cana-de-açúcar provido com
disco para o corte da palha. Anteriormente ao processo de preparo da linha de plantio da
hortaliça, realiza-se a dessecação da cana-de-açúcar recém-brotada, preservando a palha
na superfície do solo. Culturas corno tomate, pimentão, melancia e abóbora apresentam
desempenho agronômico satisfatório nesse sistema.

Figura 7. Cultivo mínimo do tomateiro em área de reforma de cana-de-açúcar.


Foto: Roberto B. F. Branco.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MAN EJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS llZ9

Em reformíl de pastagem, 0 método de preparo reduzid o ta m b m é ba tan te eficiente


para produção de hortaliças. Convém salientar que o culti vo em áreas de r forma de
pas tagem é prática comum entre produtores de tomate e melancia e m razão de que tões
de fitossanidade. Nesse caso, para ter res ultado agronómico efici ente é necessá ri q ue
se dessegue o capim da pastagem a ser reformada, ap licam-se o ca lcári o e, ou, gesso e
fertilizantes fosfatados, semeiam-se as plantas de cobertura e a pós a term inação cul tivc1-
se a hortaliça, sendo essas etapas realizadas sem o prepc1ro do solo. essa tecno logia, d
melancieira tem desempenho agronômico favo recido pelo culti vo prévio do tremoço,
realizando-se preparo núnimo com subsolador apenas na linha de cultivo (Branco et ai.,
2015).

Canteiros permanentes
A técnica de cultivo de hortaliças em canteiros permanentes ca racteriza- e pelo
cultivo sequencial no mesmo canteiro por vezes consecutivas sem revolvimento do solo.
Os canteiros são construidos com enxada rotativa encanteiradora. A dimensão d o can teiro
é geralmente de 1,1 m de largura por 30 cm de altura; o comprimento é de acordo com
a necessidade do produtor ou disponibilidade de área, sendo, em seguida, coberto com
mulching plástico ou palha.
No caso do rnulching plástico, estica-se o plástico de polietileno na s uperfície do
canteiro, sendo as laterais presas com grampos ou com a própria terra. Essa operação pode
ser feita manualmente ou por máquinas integradas que na mesma operação constroem os
canteiros, distribuem as fitas de irrigação por gotejamento e esticam o plástico na superfície
dos canteiros. Posteriormente, realizam-se os furos no plástico onde serão transplantada
as mudas, em espaçamentos adequados para a cultura a ser cultivada. Em campos de
produção de alface e demais hortaliças folhosas, cultivam-se as plantas sequencia lmente
por várias vezes, sem realizar o preparo do solo, alternando-se apenas as covas de plantio.
Essa técnica de cobertura do solo com mulching plástico em interação com manejo
adequado de fertilização parcelada das hortaliças reduz em até 80 % a lixiviação de nitra to
(Ruidisch et ai., 2013).
A cobertura do canteiro permanente com palha também tem res ultado agronômico
e ambiental bastante eficiente. O princípio desse sistema consiste no cultivo de plantas
de cobertura anteriormente ao das hortaliças, e dessa forma a massa de matéria seca da
parte aérea produzida permanece na superfície do canteiro formando um mulching de
palha. Plantas de cobertura como mucunas, crotalárias, milheto e aveia-preta são opções
para formar a cobertura. A semeadura pode ser feita a lanço, com leve incorporação das
sementes. Todavia, podem-se utilizar semeadoras dimensionadas para semeadura em
canteiros. No final do ciclo, rolam-se as plantas no canteiro e aplica-se herbicida dessecante
para o estabelecimento do mulching de palha.
Para cultivo de hortaliças folhosas como alface, que tem ciclo comercial de
aproximadamente 30 a 45 d, cultiva-se a lavoura por ma is de um ciclo no me mo
canteiro, com o aproveitamento da palha remanescente. Produtores de hortaliças folhosa
trabalham com aveia-preta no inverno para produção de palha e cultivo de alface no verão,
com expressivos resultados na produção. Dessa maneira, os canteiros protegidos com a
palha suportam melhor as fo~tes chuvas de_verã_o, possibilitando a produção na época de
entressafra, com redução em impactos amb1enta1s e custo de produção.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1130 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

Um m étodo agr011oh1:11co
• •
· tam b érn pos1hvo,
L
·· ·
desenvolvido por produtor de folhosas
em Pa~ dmho, SP, é o cultivo do milheto no canteiro para formação de palha para cultivo
su cessivo de duas safra de alface e uma de brócolis em plantio dire to voltando com o
milheto e sem preparar o solo para novamente duas safras de alface e ~ma de brócolis e
assim sucessivamente (Figura 8).

Figura 8. Plantio direto da alface em palha de milheto.


Foto: Roberto B. F. Branco.

Em cultives de ciclo mais longo corno tomate e pimentão, cerca de 160 d, a palha
do canteiro permanece por apenas uma safra. Após o término do cultivo das hortaliças,
as plantas de cobertura são novamente semeadas para formação de palha nos canteiros,
, isando o cultivo de hortaliças. Esse ciclo repete-se sucessivamente por vários anos sem
realizar o preparo do solo, caracterizando dessa forma o cultivo de hortaliças em canteiros
permanentes com rotação de culturas com plantas de cobertura.
É importante ressaltar que pode ser dispensável o uso de canteiros em muitas
hortaliças. Trabalhos realizados com a cultura da alface com ou sem o levantamento de
canteiros (Figura 9) evidenciaram que não houve diferença entre os manejos. O solo da
área experimental apresentou teor de areia acima de 80 %, o que pode ter favorecido esse
sistema de plantio (Hirata et al ., 2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO C ULTI VO D E Ü LERÍCOLAS 1l 3 1

Figura 9. Plantio de alface sem levantamento de canteiros em palha de m ilheto .


Foto: Andréia C. 5. Hirata.

COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE I~IPLANT AÇÃO


E PRODUÇÃO

Existem grandes diferenças entre as técnicas de preparo do solo, o plantio direto e o


convencional, que interferem na disponibilidade de água e nutrientes ao longo do ciclo, bem
como a incidência de pragas e o rendimento da cultura. Esse fato certamente é dependente,
ainda, do tipo de palha que predomina sobre o solo e sua interação com a dis pon ibilidade
de matéria orgânica e N no solo, da proteção contra erosão, da manutenção d a umidade
do solo, entre outros. É conhecida a influência do tipo de palha sob as culturas olericolas,
porém são ainda escassas as informações técnico-científicas quanto à produtividad e, à
qualidade e ao retorno econômico em diferentes opções de rotação e sucessão d e cul turas
no plantio direto de hortaliças.
O estudo da palha de crotalária, milheto, milho e milheto + crotalária em comparação
à vegetação espontânea na produção de beterraba em plantio direto e idenciou que os
diferentes tipos de palha influenciaram positivamente a qualidade e produti idad e de
raízes de beterraba em relação à vegetação espontânea e que as palhas de milho, milheto
ou milheto + crotalária foram as melhores opções de sucessão/ rotação para essa cultura
em plantio direto (Factor et a1., 2012b) (Quadro 1).
A produtividade da cultura do tomate (sistema meia estaca) foi avaliada em palha de
crotalária (Crotalaria juncea), milheto, plantas espontâneas, C. j1111cea + rnilheto, C. jwzcea +
mucuna-preta (Stizolobi11111 nterrimum), milheto + mucuna-preta, rnucuna-preta + plantas
espontâneas dessecadas. A cultura foi transplantada 2 d após a segunda d ecação das
plantas de cobertura. Não houve diferença em relação à produtividade com ou sem O culti o
de plantas de cobertura, cuja média foi de 98,8 t ha·1• Tal resultado pode ·er atribuido à alta

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1132 ROB ERTO BOT ELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

ferti)jdade do solo e irrigação por gotejamento associada à fertürrigação (Quadro 2). Um


aspecto também importante a ser considerado é O benefício da pall1a em relação à redução das
perdas por podridões. A palha forma uma interface entre o frnto e o solo, o que evita o contato
do fruto com o solo e consequentemente reduzindo a incidência de apodrecimento (Silva et al.,
2009). De acordo com Marouelli et ai. (2006), na região do Cen-ado, o plantio direto vem sendo
adotado na cultura do tomate em razão dos benefícios que oferece. Todavia, em consequência
da escassez de pesquisas específicas para plantio direto em olericultura, as práticas de cultivo
utilizadas são, em geral, as mesmas recomendadas para o sistema de plantio convencional.

Quadro 1. Massa média das raízes e produtividade de beterraba em razão de diferentes plantas
formadoras de palha. APTA/Fundação de Pesquisa - São José do Rio Pardo, SP, 2009

Cultivares Massa Média das Raízes Produtividade


g planta·1 t ha·1
Vegetação espontânea 168,1 B 32,8 B
Crotalária (C. ju11cea) 185,5 AB 40,8 AB
Milheto 214,3 AB 50,7 AB
Milho 239,7 A 54,7 A
Milheto + crotalária 216,8 AB 53,6 A
CV(%) 18,7 19,8
D!vfS (5 %) 70,5 19,0
Médias seguidas pela m esma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte: Factor et al. (2012b).

Quadro 2. Massa da matéria seca (t ha-1) da palha de coberturas vegetais isoladas e consorciadas e
produtividade da cultura do tomate (kg ha-1) sobre palha das culturas de cobertura em plantio direto

Matéria seca Produtividade tomateiro


- - - - - - - - t ha· 1
----

Crotalaria (Crotalaria juncea) 15,69 A 98,5


Milheto 15,84 A 95,8
Plantas espontâneas (PE) 4,82 B 90,6
Crotalária + milheto 15,10 A 103,8
Crotalária + mucuna-preta 16,68 A 105,7
Milheto + mucuna-preta 13,73 A 97,2
Mucuna-preta + PE 4,88 B 100,9
Sem palha 97,4
Média 98,7
M~dias seguid as por letras iguais nas colunas não d iferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (p <0,05).
Fonte; Sil\'a et al . (2009).

A viabilidade agronómica do plantio direto de alface cv. Vera sobre coberturas vivas
perenes de granúnea e leguminosa em sistema de manejo orgânico foi avaliada no período
de inverno. o plantio direto de alface sobre cobertura viva de grama bata tais e amendoim-

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO D E Ü L ERÍCOLAS ll 3 3

forrageiro acarretou desempenho semelhante ao dessa horta liça, em sis tema de preparo
convencional do solo, com nível máximo de produtividade de 56 t ha·1 (Oliveira et ai.,
2006). Apesar desse resultado, é importante ressaltar que a biota do so lo necessita de alguns
ciclos da cultura com cobertura viva para se recuperar e res ultar em infl uência positiva na
produtividade de diversas culturas olerícolas.
Ainda para alface (cv. Vera), foram conduzidos dois cultivas seq uenciais com o p lantio
sobre a Crotalaria spectabilis, com a semeadura da crotalária rea lizad a sobre ca nteiros antes
dos cul tivas da alface. A crotalária foi manejada de qua tro diferen tes fo rmas: picada e
deixada sobre o canteiro; cortada a 3 cm do solo e deixada sobre o canteiro; cor tad a a 3 cm do
solo e retirada da subparcela; e dessecada com herbicida e deixada em pé sobre o canteiro.
No primeiro cultivo, a crotalária quando dessecada não foi tombad a e o som breamento
gerado nas plantas foi prejudicia l ao desenvolvimento delas. As pla ntas de alface não
e ncontraram luz suficiente para se desenvolverem adequadamente. No segundo cultivo,
após dessecação com herbicida, as plantas de crotalária foram tomba das e a p rodu tividade
verificada nesse tratamento aumentou em relação ao primeiro cultivo. o segu ndo en aio,
a m assa de matéria fresca e seca, o diâmetro da planta e a produtividad e da alface foram
maiores nos tratamentos que tiveram a cobertura do solo com a palha d e crotalária em
detrimento daquela onde essa foi retirada (Quadro 3) (Purquerio e Tivelli, 2007).

Quadro 3. Massa de matéria fresca (MMF) e seca (l'vlMS), diâmetro d a planta (DP) e p rodutividade de
alface em razão do manejo da crotalária (Crotalaria spectabilis). Instituto Agronô mico, Campinas,
2006

Tratamentos MMF DP MMS Produtividade


Crotalária g planta·1 cm g pla nta·1 kgm·1
Primeiro experimento
(11/05 a 23/06/2006)
P icada 363,4 a 1 28 a 21,1 a -t Oa
Corta d a 343,4 ab 28,5 a 19,6 a 3,8 ab
Retirada 322,9 b 25,8 b 19,4 a 3,6 b
Dessecad a 46,6 c 19,7 c 3,3 b 0,5 e
CV% 8,11 4,98 8,87 8,11
Segundo experimento
(29/06 a 14/08/ 2006)
Picada 238,4 a 30,1 a 14,9 a 2,6 a
Cortada 244,6 a 30,4 a 14,7 a 2,7 a
Retir ada 172,4 b 27,4 b 12,0 b 1,9 b
Dessecada 223,7 a 29,2 ab 1-l,3 a b 2,5 a
CV% 13,59 -l,97 13,19 13,59
Médias na coluna, seguidas de mesma letra, não diferem entre si pd o teste de Tukey {p<0,05).
Fonte: Purque rio e Tivelli (2007).

Para a cultura da berinjela, não foram verificadas diferenças quanto à produtividade,


entre plantio direto e convencional ou entr~ crotalária e vegetação espontânea para cobertura
morta d o solo (Castro et al., 2005). Todavia, para o coentro, o plantio direto com palha de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1134 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

reste, ~-na~ral e.º preparo convencional proporcionaram os melhores resultados em_ todas
as vana~ eis avaliada na planta, comparado com O plantio direto com cobertura viva de
amend01m-fo1Tageiro e plantas espontâneas (Tavella et al., 2010).
Para a cultura da batata, nos tratamentos onde não foi feita a.ração, isto é, foram adotados
0 pl~tio diret~ ~ o cultivo núnimo, as produtividades médias de tubérculos comerciais, nos
e cpenment~s 1IT1gados por gotejamento e aspersão, foram apenas 62 e 56 %, respectivamente,
daquela obtida no melhor tratamento, onde o solo foi convencionalmente preparado com
~ado d: aiveca. Os autores ressaltaram que O solo argiloso da área experiinental pode ter
influenciado no resultado negativo, uma vez que em outros trabalhos com solos arenosos
e plantio mecanizado têm sido verificados resultados positivos (Fontes et al., 2007). Tais
resultados evidenciam que cada cultura apresenta suas especificidades. · Desse modo,
sistemas de cultivo devem ser estudados de acordo com as características de cada uma delas.
Tradicionalmente estabelecidas por semeadura direta ou por transplante em canteiros,
as culturas da beterraba e cebola vem enfrentado problemas na produção nos últimos anos,
principalmente no que se refere à mão de obra para o plantio e conservação do solo e da
água. Diante desses problemas, nos últimos anos têm aurnentado o interesse de produtores
e técnicos pelo plantio direto, principalmente em razão das vantagens ambientais,
econômicas e de menor uso de mão de obra que esse sistema de plantio proporciona
(Derpsch, 1984; Purquerio, 2010; Marouelli et al., 2010a).
Normalmente, a beterraba é cultivada pelo sistema de semeadura direta, embora possa
ser uma das poucas raízes tuberosas que permite o transplante; assim, o estabelecimento pode
ser realizado também pelo plantio de mudas (Filgueira, 1982; Ferreira e Tivelli, 1989). Esses
dois métodos quando colocados em prática pelo produtor geram diversos questionamentos,
principalmente quanto à produtividade e ao tempo de cultivo (Gribogi e Salles, 2007).
Apesar de o transplante de mudas prolongar o ciclo da cultura (McKee, 1981), essa prática
proporciona maior qualidade das raízes, além de reduzir a quantidade de semente utilizada
no plantio (Filgueira, 2003, Negrini et al., 2006). Para a semeadura direta, as vantagens seriam
ganho de tempo no ciclo e ausência de ferimento nas raízes e, ou, estresse, que ocorrem
na fase de adaptação das mudas após o transplante, porém com maiores problemas de
germinação e crescimento de plantas (Minami, 1995), o que resulta em desuniformidade do
estande de plantas final (Gribogi e Salles, 2007), além do gasto com sementes.
Resultados de pesquisa com métodos de estabelecimento de plantas de beterraba
(semeadura direta ou transplante) em plantio direto demonstraram que a produtividade
total de raízes de beterraba foi superior no sistema de semeadura direta em relação
ao transplante, e que o sistema de transplante com mudas formadas em viveiros pode
favorecer o surgimento de anéis brancos em razão do cultivar utilizado para a produção
(Tivelli et al., 2009; Factor et al., 2012a). Além disso, no plantio direto com semeadura
direta no campo obteve-se aumento de produtividade de 13 % em relação ao convencional
(Factor et al., 2012a) (Quadro 4).
Res ultados semelhantes foram obtidos para a cultura da cebola em plantio direto,
onde maior massa de bulbos, bulbos de maior diâmetro e, consequentemente, maior
produtividade total foram obtidos a partir do estabelecimento de plantas por semeadura
direta 110 campo (Factor et ai., 2012b) (Quadro 5). A ausência de ferimento nas raízes
e do estresse que ocorre na fase de adaptação após o transplante pode favorecer o
desenvolvimento das plantas e consequentemente a produção em semeadura direta no
campo Gaime et a i., 2001 citado por Reghin et al., 2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

-- .
XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SO LO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS 1135

Q uadro 4. Produtividade de raízes de beterraba em razão de sistemas de culli O e métodos de


estabelecimento dt1s plt1ntas. A(Yf A, S. o José do Rio PMdo, SP, 2011
Sistema de cultivo
T rata m e ntos
Convencional Plantio Direto Média

- - - - - - - - - - t ha·1 - - - - - - - - - -
Estabelecimento de plantas
Mudas 27,6 B a 25,4 B a 26,5 A
Semeadura direta no campo 36,7A b 42,1 A a 39,4 B
Média 32,2 a 33,7 a
M~dias seguidas de mes ma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha nào diferem entre si, pelo teste de Tukey (p<0.05).
Fonte: Factor et ai. (2012a).

Quadro 5. Distribuição dos bulbos de cebola nas diferentes classificações comerciai , massa média
dos bulbos (MMB) e produtividade total (PT) em razão do sistema de prod ução e método de
estabelecimento de plantas. APTA, São José do Rio Pardo, SP, 2010
Classificação de Bulbos
Tratamentos MMB PT
15-30 mm 30-50 mm 50-70 mm 70-90 mm Cº'
% g t ha '
Sistema de produção
Plantio convencional 1,5 a 28,9 a 58,3 a 11,5 a 1,1 a 86,3 a - ,Oa
Plantio direto 1,1 a 25,8 a 62,8 a 10,5 a 0,8a 85,8 a 56,0 a
CV% 25,2 18,9 8,1 30,0 21,0 20.5 12,9
DMS 1,0 10,3 9,2 8,3 0,5 7,74 1 ,6
Estabelecimento de plantas
Transplante de mudas 1,8 a 39,7 a 58,1 a 0,6 b 0,3 b ,Ob 43,6 b
Semeadura direta no campo 0,8 a 15,0 b 63,1 a 21,3 a 1,6 a 104,2 a 70,-la
CV% 32,3 14,2 9,3 30,3 35,0 15,0 13,
DMS 0,8 7,5 9,6 6,3 0,9 n, 7,2
C1l NC - não comercial. Médias seguidas de mesma lel:Ta na co luna não diferem entre si, pelo teste de Tukq (p<0,05).
Fonte: Factor et aJ. (2012b).

Apesar das vantagens da semeadura direta em relação ao transplante de mudas em


plantio direto, algumas dificuldades para culturas que possuem sementes diminutas têm
limitado a expansão dessa tecnologia por produtores de hortaliças no Brasil, entre essas
se destacam máquinas e equipamentos adaptados para o plantio direto e, sobretudo, a
adequada densidade de plantio, uma vez que nesse sistema preconiza-se maior número
de p lantas por área.
O adensamento da cultura da cebola foi avaliado em plantio direto, com densidade
de p lantio de 250 000 a 1 250 000 plantas ha·1. Com o mesmo espaçamento d e 0,..10 m
entrelinhas, houve redução da massa média dos bulbos, todavia aumentou a produti idade
(Figura 10). No entanto, melhor retorno econômico, considerado o acréscimo no alor da
semente, foi obtido na densidade 1000000 p_lant~s ha·1 (lima Júnior et al., 2011). a figura
11, pode ser visualizado o detalhe do plantio direto de cebola de alta den idade em São
José do Rio Pardo, SP.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GU A


1136
RO BERTO B OTELHO FERRAZ B RANCO ET AL.

60

50 L-----------
-....
r t!

.
.e 40
.......
QJ
"O
rt!
"O ♦ . ..
·;;: 30
....:::, ···············
"O
...o
Q..
20

10

··- ··- ··- ··- · -


o --- - - - ---------Ili==-= --=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=--=-=.::==.:=:.:=· - " - ••
.::==-·-·--=
= ··-=-:.. .·--=
:=:: · -=-=-.•
250 500 750 1000 1250

Densidade de p lantas (x 1000)

• PT y = 43,4254 + 0,0000137x R2 = 70,3

---------
..... ···• ······-······
15-30mm
30-50mm
y = -0,1412 + 0,0000009x
y = 1,831 + 0,0000288x
R2 = 86,0
R2 = 95,6
- · - · ♦· - · - 50-70 mm y = 26,67~
- ·- ··- ·... - .. - . >70mm 9 = 1,6842 + 0,0000288x R2 = 71,1

Figura 10. Produtividade total de cebola (PT) com as classificações comerciais (15-30 mm, 30-50 mm,
50-70 mm e> 70 mm), em razão de diferentes densidades de plantio. APTA, São José do Rio
Pardo, SP, 2010.
Fonte: Lima Júrúor et al (2011).

Figura 11. Detalhe do plantio direto de alta densidade na cultura da cebola.

M A NEJ O E CO NSE RVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

- .
--
XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS 1 137

FERTILIZAÇÃO DO SOLO NO CULTIVO DE HORTALIÇAS


EM SISTEMAS CONSERV ACIONISTAS

Em sistema conservacionista, como já sabido, o não revolvimento do_ solo, ~ proteção


permanente da superfície do solo e a rotação de culturas são quesitos pnmord1a1s. Nes e
contexto, as plantas de cobertura são ferramentas importantes para rotação e produção de
massa seca para formar a palha na superfície do solo. Também realiza a cíclagem de nutriente
localizados em camadas mais profundas para superfície do solo por causa do trabalho
exercido pelo vigoroso crescimento radicular. A ciclagem dos nutrientes e o acúmulo na
superfície, em razão do não revolvimento do solo, aumentam a fertilidade do solo na camada
mais superficial, elevando a disponibilidade desses para a nutrição das plantas.
É importante ressaltar que, para um ajuste eficiente de aproveitamento dos nutrientes
reciclados, deve haver sincronia entre o nutriente Liberado pela biomassa residual da planta
de cobertura e a demanda nutricional da cultura de interesse comercial, cultivada em
sucessão (Braz et ai., 2004). Então, é necessário conhecer a taxa de liberação dos nutrientes
provenientes da decomposição e mineralização da biomassa residual das plantas de
cobertura. Espécies leguminosas se decompõem e liberam nutrientes mais rapidamente que
espécies gramíneas por causa da menor relação C/N, que contém na matéria seca. Além
disso, fixam biologicamente o N2 atmosférico, proporcionando redução de 1 aplicado
via fertilização mineral. Entretanto, o acúmulo de N na parte aérea de gramíneas, corno o
milheto, também colabora para acréscimo de N no sistema de forma biológica na medida
em que ocorre a mineralização da matéria orgânica (Pacheco et al., 2011; Torres et al., 2005).
As curvas de absorção de nutrientes e o acúmulo de massa de matéria seca em razão
da idade da planta possibilitam conhecer os períodos de maior exigência dos nutrientes e de
produção de matéria seca, obtendo-se informações seguras quanto às épocas mais convenientes
de aplicação de fertilizantes (Haag e Minami, 1988). Assim, o entendimento da sincronia de
liberação de nutriente pela decomposição da palha e a curva da necessidade de nutrientes pela
cultura são fundamentais para o sucesso da nutrição das plantas em cultivo conservacionista.
Quando cultivadas em sucessão às espécies leguminosas, as hortaliças conseguem
recuperar em torno de 10 a 15 % do N fixado sirnbioticamente; porém, em determinadas
condições de fertilidade do solo, a fertilização nitrogenada mineral pode ser totalmente
substituída pela adubação verde (Thonnissen et al., 2000). No caso do cultivo da berinjela
em plantio direto sobre palha de crotalária e em consórcio com a crotaJária até os 50 d
após o transplantio, a quantidade de N incorporado pela fixação biológica do sistema foi
suficiente para compensar o N exportado pelos frutos (Castro et aJ., 2004).
Entretanto, as irúormações disponíveis para fertilização das culturas são recomendações
para o cultivo convencional. Por exemplo, não há nos Estados de São Paulo e rvtinas Gerais
uma recomendação oficial com relação à adubação mineral nitrogenada de plantio e cobertura
para plantio direto. Nesses Estados, o que se tem feito é utilizar a referência oficial utilizada
para o sistema de cultivo convencional. Para o Estado de São Paulo, existe recomendação
oficial de calagem, adubação orgânica e química de plantio, bem corno de adubações de
cobertura para, aproximadamente, 49 diferentes espécies de hortaliças (Raij et ai., 1997). Para
o Estado de Minas Gerais, 27 diferentes espécies são citadas (Ribeiro et ai., 1999).
Em São Paulo, segundo a recomendação fei ta por Trani et al. (2005) para a beterraba,
utilizam-se 20 kg ha- 1 de N no plantio e 60 a 120 kg ha- 1 de Nem cobertura, parcelados em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1138
ROBERTO B OTELHO FERRAZ BRA NCO ET AL.

tr · s aplicaçõe , ao 15, 30 e 50 d apó a germinação. Ressa lte-se que es a recomendação


d e cobertura nitrog nada para beterraba e a mesma para as culturas da cenoura e nabo,
qu_e_ possuem ciclo produ tivo e exigências nutricionais diferenciadas. Em Minas Gerais,
uhhzam-se 100 kg ha·1 de N, sendo 60 % aplicados no plantio; e o restante, 30 d após a
germinação da planta (Aquino et ai., 2006).
Em experimentos conduzidos em São José do Rio Pardo com beterraba e
cebola em plantio direto sobre palha de Brachinrin dernmbens, observou-se que, para
beterraba, houve incremento linear e crescente de 27,9 kg ha·1 de matéria fresca por
kg adicional de utilizado, até o máximo de 46 t ha·1 verificados na maior dose
1
de , 240 kg ha· ; para a cebola, a maior produtividade e classificação de bulbos
foi com a aplicação de 200 kg ha·1 de N, sendo 40 kg ha·1 aplicados no plantio e 160
1
kg ha· em coberturn aos 30, 50 e 70 DAP (Purquerio et ai., 2009; Factor et ai., 2009).
Em relação à adubação potássica para a cultura da cebola em p lantio direto (h íbrido
' Optima'), maior produtividade total e de bulbos classe 3 (50-70 mm), de maior valor
comercial, foram obtidas com adubação de 189 e 165 kg ha·1 ~O, respectivamente (Figu ra
12) (Factor et al., 2011b).

110

100

90

80
_g 70
~

~
-e 60
"'
3::
> 50
::i
-e 40
...o
e..
30



20

10
· · ···· · · · · · · · · · · ·· ·• ·········· · · ··· · ······ · · · · · · · · ······· ·· ....
o
o 75 150 225 300
Dose de potássio (kg ha·')

Total y = -0,00092x' + 0,279587x + 81,6871 R' = 98,9 ...


- -...--
__ ,.,._ - 15-30 mm Y= 0,62NS
30-50mm 9 = 7,30NS

.

- •- -
50-70 mm
70-90 mm
9 = 0,000470x' + 0,1239x + 28,6374
9 = 0,000353x' + 0,118749x + 40,9243
R' = 60,7*
R' = 89,5*
··· ··• . .. . >90mm 9 = 6,50"'
Figura 12. Produtividade total (PT) e com a classificação comercial (classe O = < 15 mm; classe
1= 15 a 30 mm; classe 2 = 30 a 50 mm; classe 3 = 50 a 70 mm e classe 4 = 70 a 90 mm; e classe
5 = > 90 mm) em razão de doses e parcelamento da adubação potássica. APTA, São José do Rio
Pardo, SP, 201 O.
Fonte: Factor e l aJ. (2011 b).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS l l)g

Como visto anteriormente, a produção de hortaliças req uer q uantidade elevadas de


N na fertilização dos cultivos; no entanto, boa parte não é aproveitada pelas planta · De_ a
maneira, o N excedente é lixiviado no perfil do solo, podendo ati ngir .º lençol freá~co,
levando à s ua contaminação. O cultivo de plantas de cobertura após o culh vo das hort~l,~as
é importante prática agrícola para reduzir a lixiviação do nitrato em razão do seu rap,do
crescimento vegetativo e radicular, que recuperam o Nem lixiv iação, incorporand~-o _na
matéria seca para produção de palha e posterior cultivo sucessivo de cultura econom1ca
como alguma hortaliça em plantio direto (Sainju e Singh, 1997).
Entretanto, para se conseguir eficiência de produção de horta liças em sistema
conservacionista, é necessário tempo para que se esta bilize a área e consiga elevação na
matéria orgânica e melhoria na estrutura do solo, de forma que reflitam em aumento de
produtividade com redução de insumos, principalmente fertiLizante nitrogenado.

MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO E EFICIÊNCIA DO USO DA


ÁGUA EM SISTEMAS CONSERV ACIONISTAS

A irrigação é uma técnica milenar e considerada prática agrícola fundamental para


o sucesso da olericultura, haja vista que as hortaliças são, em geral, sensíveis tanto à falta
quanto ao excesso de água.
As perspectivas da irrigação em olericultura no Brasil são da busca por alternativas
cada vez mais sustentáveis. Se antes visava basicamente o suprimento de água pela
cultura, em uma visão mais atual, a irrigação necessita garantir maior competitividade
e sustentabilidade. É uma estratégia para elevar a rentabilidade da propriedade agrícola,
por meio do aumento da produção e produtividade; maior geração de emprego e renda;
redução do desperdício de água e energia; e respeito ao meio ambiente.
A utilizaç~q ~ficient~ ~~ água na produção de hortaliças somente poderá ser alcançada
quando o planejarrwRt8i o pràjeto e a operação do suprimento de água e do sistema de
distribuição estiverem orientados com o propósito de atender em quantidade e tempo
requeridos, incluindo períodos de escassez de água, as necessidades hídricas de cada
cultura para ótimo crescimento e altos rendimentos (Doorenbos e Kassam, 1979).
A irrigação não deve ser considerada isoladamente, mas sim corno parte de um conjunto
de técnicas utilizadas para garantir a produção econômica de determinada cultura, com
adequado manejo dos recursos naturais. Aspectos como sistema de plantio empregado,
rotação de culturas, cobertura e fertilidade do solo, manejo integrado de pragas e doenças e
mecanização devem ser considerados, com o objetivo de alcançar produção integrada, com
boa qualidade e melhor inserção nos mercados (Bernardo et al., 2008).
No Brasil, mais de 90 % da área total de hortaliças são irrigadas por aspersão por
serem os s istemas que melhor se adaptam às diferentes condições de produção, como:
tipo d e solo, topografia, características agronômicas da maioria das hortaliças e a pectos
econômicos (Marouelli et ai., 2008b).
Dentre os sistemas de irrigação por aspersão, destacam-se aspersão convencional
(portátil, semiportátil e fixo), autopropelido e pivô central. A irrigação por aspersão pode

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1140 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

ser utili zada para a maioria das hortaliças folhosas, raízes (cenoura, mandioquinha-salsa,
nabo, entre outras), h1bérculo (batata, batata-doce) e bulbo (alho, cebola) (Figura 13).

Figura 13. Irrigação por pivô central em área de plantio direto de beterraba e cebola, São José do Rio
Pardo, SP.
Fotos: Jane fari a d e C. Silveira.

Embora mais comumente utilizada em culturas perenes, a irrigação localizada vem


ganhando espaço na olericuJtura de maior vaJor econômico. Na irrigação localizada, a
água é aplicada ao solo, diretamente sobre a região radicular, em pequenas intensidades,
porém com alta frequência .
Em sistemas conservacionistas como o plantio direto, os sistemas de irrigação por
aspersão convencional e pivô central são mais comurnente adotados, com forte tendência
no uso de irrigação localizada, principalmente a microaspersão e o gotejamento. A
irrigação por superfície (sistemas de irrigação por sulcos e faixas) não deve ser utilizada
no plantio direto em razão da necessidade rigorosa de sistematização de terrenos e da sua
baixa eficiência de aplicação de água.
O manejo da irrigação consiste na determinação do momento, da quantidade e de
como aplicar a água. Uma das formas mais empregadas de manejo da irrigação é por meio
de balanço hídrico, que contabiliza os fluxos de entrada e saída do volume explorado pelas
raízes das plantas. Outra forma de manejo da irrigação é pelo monitoramento da água
no solo, que pode ser feito por meio de diferentes sensores disponíveis no mercado. O
tensiômetro é o sensor mais utilizado, pois determina o potencial matricial da água no solo,
trabalhando na faixa úmida da curva de retenção de água no solo (até -0,08 MPa).
Quando se associa a determinação do balanço lúdrico com métodos de monitoramento
de água no solo, o manejo da irrigação torna-se mais preciso e tem levado a bons resultados.
A região nordeste do Estado de São Paulo possui extensas áreas com cu] ti vos irrigados
de batata e cebola, com destaque para os municípios de São José do Rio Pardo, Casa
Branca, Vargem Grande do Sul e ltobi (Silveira et ai., 2013b). Nesses cultivos predominam
os sis temas de irrigação por aspersão convencional e pivô central (Silveira e t al., 2010). A
intensidade de uso do solo e da água, com até três safras nas áreas irrigad as por ano, tem
provocado processos erosivos e períodos de escassez de água nos mananciaj s superficiais
da regi ão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE Ü LE RÍCOLAS l l4l

Com a finalidade de suprir a carência de informações em s istemas conservacioniS tas


em áreas irrigadas, foram realizados de 2010 a 2012 estudos com plantio direto na cultura
da cebola em uma área experimental da Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia
"Luciano Ribeiro da Silva", em São José do Rio Pard o, SP.
Os estudos objetivaram avaliar a eficiéncia do uso da água na cultura da cebola
em plantio direto sob irrigação por pivô central, que abrangeu uma área irrigada de
aproximadamente 2,0 ha. O relevo é do tipo suave ondulado, sendo o solo classificado como
Argissolo Vermelho-Amarelo (Santos et ai., 2013) e textura franco-argilosa na camada de O
a 15 cm e 15 a 30 cm de profundidade e argilosa abaixo de 30 cm. Os dados climatológicos
foram obtidos a partir de uma estação automática localizada bem próxima ao pivô central.
O manejo da irrigação foi real izado pela determinação da evapotranspiração obtida pelo
método de Penman-Monteith e pelo monitoramento do potencia l matricial obtido por
meio de tensiômetros instalados nas profundidades de 15 e 30 cm (Figura 14). O método
Penman-Monteith é considerado padrão em todo o mundo e utiliza dados climatológicos
diários e atuais obtidos em estação agroclimatológica instalada nas imediações da área
irrigada.

Figura 14. Monitoramento da irrigação com a utilização de tensiômetros em á rea irrigada por pivô
central sob plantio direto de cebola na Fundação de Pesquisa Luciano Ribeiro da Silva, São José
do Rio Pardo, SP (Fotos 2010 e 2011).
Fotos: Jane Maria de C. Silveira.

O momento de irrigar foi definido em razão de leituras diárias do potencial matricial


d e água no solo nos tensiômetros instalados a 15 cm de profundidade, que foram obtidas
com au xílio de um tensímetro. O potencial matricial crítico de -20 kPa foi estabelecido
no estádio de desenvolvimento vegetativo; e de -12 kPa, no estádio de bulbificação, onde
a planta necessita de maior quantidade de água. Os potenciais obtidos nos tensiõrnetros
instalados a 30 cm de profundidade foram utilizados para verificar a perda de água por
percolação. Silveira et al. (2013a) apresentaram a eficiência do uso da água pela cultura da
cebola nos três anos avaliados (Quadro 6).

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1142 ROBERTO B OTELHO FERRAZ BRA N CO ET AL.

Quadro_6. Lâmina bruta to tal d e irrigação aplicada no ciclo (TRRJG), precipitações ocorridas durante
0 Ciclo (PRECIP), lâ mina total (TOTAL), número d e irrigações (NI), lâmina m édia p or irrigação

1pl), p rodutividad e total de bulbos (PTB) e e ficiência do uso da água (EUA). APTA, Fundação
d e Pesq . Lucia n o Ribeiro da Silv a, São José do Rio Pardo, SP, 2010-2012
Ano IRRIG PRECIP TOTAL NI Mpl PTB EUA
-- - - m 111 - ----------- --------- nu11 kgha· 1
kgha·1 mm·1
2010 226 174 400 42 5,4 103000 257
2011 285 72 357 50 5,7 73300 205
2012 335 199 534 54 6,2 82235 154
FontC': SilvC'ira C'l ai. (2013a).

Nos três anos avaliados, a eficiência do uso da água da cultura da cebola em plantio
direto pode ser considerada alta. Estudos realizados por Vilas Boas et al. (2011) com sistema
de irrigação por gotejamento evidenciaram que a produtividade de cebola ('Optima') foi
da ordem de 45 t ha·1 para manejo da iJTigação com tensão de -15 kPa, totalizando uma
lâmina de irrigação no ciclo de 453 mm, com número médio de irrigações de 43, o que
representou eficiência no uso da água da ordem de 107 kg ha·1 mm·1 para as condições de
sistema de plantio convencional na região de Lavras, Minas Gerais.
\!Vang et al. (2005) constataram que a lâmina de irrigação na cultura do tomate para
uma tensão -30 kPa foi 85 % menor do que a -5 kPa com utilização de plantas de cobertura.
Os au tores apresentaram que a redução das taxas de irrigação em relação ao controle
(-5 kPa) aumentou a produtividade comercial do tomateiro em 25 e 34 % em 2001/2002 e
2002/ 2003, respectivamente.
Marouelli et al. (2006, 2008, 2010a), na região do Cerrado do Brasil Central,
quantificaram redução de 10, 19 e 13 % na necessidade de irrigação de tomateiro para
processamento, de cebola e de repolho, cultivados em plantio direto, respectivamente.
Apesar de resultados promissores, em se tratando de plantio direto em horticultura,
têm-se ainda urna carência de tecnologias específicas para o plantio direto de hortaliças em
condições irrigadas, tanto em relação aos intervalos entre irrigações quanto lâminas aplicadas.

IMPACTO DO MANEJO CONSERVACIONISTA DO SO LO


NO MANEJO DE PLANTAS DANINHAS EM HORTALIÇAS

O plantio direto e o uso de cobertura morta, entre outras práticas, apresentam resultados
promissores no manejo de plantas daninhas, o que favorece a redução da mão de obra e de
herbicidas na propriedade, além de promover um sistema de produção mais sustentável.
O efeito físico da palha formada pelo plantio direto ou cobertura morta é bastante
importante na regulação da germinação e da taxa de sobrevivência d as plântulas de
algumas espécies.
A palha reduz a temperatura e amplitude térmica do solo, o q ue interfere na
genrunação de espécies de plantas daninhas que tem sua dormência influenciada pela
temperatura. Ensaio realizado com a cultura da alface demonstrou que no solo descoberto

MA N EJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE Ü L ERÍCOLAS ll 4 )

a diferença de temperatura do solo entre as profundidades de 5 e 10 cm foi d e 2,7 ºC; e no


solo coberto com palha de milheto essa dife rença foi de 0,7 ºC (Hira ta e t a i., 2013).
As variações na temperatura do solo são determinantes na superação d a d ormência.
Para a espécie Amnrnnt/ius quitensis, a flutuação de temperatura é o principa l req ue rimento
para a superação de dormência, assim o manejo do solo pode interferir nos fl uxos anu ais
de infestação dessa espécie. Para a espécie cordão-de-frade (Leonotis 11epctaefolin), foi
observado que o pré-resfriamento a 10 ºC por um período de 14 d, seguido d e temper a tura
alternada (20 ºC noite - 30 ºC dia) promove maior uniformidade, porcenta gem e índ ice de
velocidade de germinação; a espécie não germina em temperatura contínua d e 20 °C (Silva
et ai., 2006). Desse modo, fica claro que o manejo do solo, es peciaJmente a deposição de
palha, pode ter significativo impacto na germinação dessas plantas.
As plâ.ntulas das espécies com pequena quantidade de reservas nos diásporas têm s ua
chance de sobrevivência reduzida pelo efeito físico da palha . Muitas vezes, as rese rvas não
são suficientes para garantir a sobrevivência da plântula no espaço percorrido por meio da
cobertura morta a té que tenha acesso à luz e inicie o processo fotossintético.
Quanto aos efeitos biológicos, a deposição de biomassa residual sobre o solo,
e o consequente aumento do teor de matéria orgânica do solo, associado a menor
vulnerabiHdade dos microrganismos nesse sistema, cria condições para insta.lação de
uma densa e diversificada microbiocenose na camada superficial do solo. Na co mposição
específica dessa microbiocenose, há grande quantidade de orgarúsmos que podem utilizar
sementes e plântulas de plantas daninhas como fontes de energia. De maneira geral, os
microrganismos exercem importantes funções na deterioração e perda de v iabilidade
dos diversos tipos de propágulos no solo (Pitelli e Durigan, 2001). Deve-se considerar,
também, que a cobertura morta cria um abrigo seguro para alguns predadores de sementes
e plântulas, como roedores, insetos e outros pequenos arúmais.
A alelopatia de algumas plantas de cobertura também pode exercer efeito negativ o
em plantas da.ninhas e até mesmo cultivadas. Ao longo dos anos, tem-se comprovado
que as plantas produzem substâncias químicas com propriedades alelopá ticas. Tais
substâncias são encontradas distribuidas em concentrações variadas nas diferentes
partes da planta e durante o seu ciclo de vida. Quando essas substâncias são liberad as
em quantidades suficientes, causam efeitos alelopáticos que podem ser observados na
germinação, no crescimento e, ou, no desenvolvimento de plantas já estabelecidas e, ainda,
no desenvolvimento de microorganismos (Carvalho, 1993). De acordo com Almeida (1991),
esses efeitos são específicos, atuando nos extratos de forma distinta sobre as espécies.
A presença da palha também deve reduzir a germinação de sementes fotoblásticas
positivas, ou seja, que requerem radiação de determinado comprimento de onda para germinar.
Se, por um lado, a palha pode reduzir a emergencia de determinadas espécie d e
plantas daninhas; por outro, pode selecionar outras espécies. As espécies corda-d e- iola
(Ipomoen grnndifolia), 1. nil e jetirana ou corda-de-viola (Merremia negyptia) possue m 0
mesmo padrão germinativo, ou seja, maior capacidade de germinação, qua ndo subme tidas
à ausê ncia de luz, sendo classificadas como fotoblásticas negativas (Orzari et aL, 2013);
assim, a palha pode promover a seleção dessas espécies, o que tem ocorrido na cultura da
cana com colheita mecanizada.
Qua ndo disponíveis na propriedade, diversos materiais orgânicos (acículas d e p ínus,
casca d e a rroz, capim seco, raspa de madeira, bagaço de cana e tc.) podem ser utilizados e m

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1144 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

hor~a~ça co_m o o a lho e a alface, por exemplo, como cobertu ra morta visando o manejo d e
especies d arnnha , tornando muitas vezes desnecessária a utilização de herbicidas. Contudo,
é importante ressaltar que, dependendo da intensid ade de infestação de plantas daninhas,
outras medidas de controle durante o cultivo podem ser necessárias para complem entar o
controle, a fim de evitar d anos na produção e qualidade das horta liças. A cobertura morta
é uma técnica comum em cultivas orgânicos. Na figura 15, pode ser observado o cultivo
de cebola em palha de B. decu111be11s e lablab (Dolichos lablab) h·ansportado até o canteiro e
posterior transplante da cebola.

Figura 15. Cultivo de cebola com palha de B. decumbens (esquerda) e lablab (Doliclros lnblnb) (direita)
transportado até o canteiro antes do transplante da cultura.
Foto: Andréia C S. Hirata.

A utilização da cobertura morta no solo é prática vantajosa para o cultivo de verão


da cenoura, com melhoria dos atributos hidrotérmicos do solo, redução da incidência de
plantas infestantes, estímulo do desenvolvimento das plantas e aumento da produtividade
em relação ao solo descoberto. Entre os tipos de cobertura morta utilizados, a casca de
arroz e a maravalha (raspa de madeira) se destacaram em relação ao solo descoberto com
maior produtividade, com bom controle de beldroega (Portulaca oleracen) e capim-pé-de-
galinha (Eleusine indica) (Resende et al ., 2005).
Na cultura da beterraba, verificou-se que tanto a palha de café quanto o bagaço de
cana-de-açúcar foram eficientes em reduzir a infestação de plantas daninhas (Sediyama et
al., 2010).
No cultivo do pimentão, a cobertura com vagem de caupi e a testemunha sem
cobertura foram os tratamentos com maior acúmulo de matéria seca d e plantas invasoras.
A vagem de caupi não proporcionou uma cobertura eficiente do solo, favo recendo, assim,
maior incidência de plantas invasoras. Entretanto, os h·atamentos com palha de carnaúba e
palha de milho apresentaram melhor controle de plantas invasoras (Que iroga et al., 2002).
Na cultura da alface, a cobertura do solo com palha de arroz, palha de café, Brnchinrin
brizan tha ou serragem foram eficientes no controle de plantas daninhas, que acumulou
m até ria seca deaproximadamente528 gm·2 semcobertura e 15 gm·2 com cobertura (Carvalho
et al., 2005). Em um trabalho com alface, as coberturas do solo com bagaço de cana-de-
açúca r (Sacclwrum sp .), bambu (Ba111buza sp.), capim Cameroon (Pe11niset11111 purpure11111),
crotalária (C. ju11cea), eritrina (Erythrina poeppigiana), gliricídia (Gli ricidin sepiu111), guandu

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-· -
XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS l l 4S

(Cnj~nu s cnjnn), mucuna-cinza (Mu cunn pruriens) foram avaliad as na rei n~estação ~e plant~
daninhas e sobre o desempenho agronômico de alface, em cultivo orgâ nico. A remfestaçao
dos canteiros pelas plantas daninhas não diferiu entre coberturas m o rtas, mas a red ução
da densidade populacional da vegetação reinfestante chegou a 83 %, em comparação ao
tratamento controle (Oliveira et ai., 2008).
Morse e Abdul-baki (1998) ressaltaram que o plantio direto é opção v iável para a
produção de brócolis, todavia destacaram que grande quantidade de fi tomassa resid ual,
uniformemente distribuída, é necessária para a supressão de plantas daninhas q uando a
pressão dessas é al ta.
No plantio direto da berinjela, a palha roçada da crotalária foi mais eficiente q ue a do
milheto e da vegetação espontânea no controle da população de plantas danjnhas (Castro
et a i., 2005). O plantio direto também auxilia no controle quírruco de plantas daninhas na
olericultura. No quadro 7, pode ser verificado que aos 46 d após a dessecação das plantas
de cobertura na cultura do tomate, mesmo após a primeira aplicação dos herbicidas pós-
emergentes, houve elevada emergência de plantas infestantes nos tratamentos com palha
de plantas daninhas e solo sem cobertura. Os valores elevados referentes à palha de B.
decumbens é em razão da rebrota dessa espécie. O milheto evidenciou-se a melhor espécie
para controle de plantas daninhas, seguida de B. ntziziensis. A palha da B. ntziziensi
(Figura 16) pode ser mais prorrussora que a da B. decumbens em áreas de hortaliças, pois
forma touceiras menores e a cobertura mais uniforme (Silva Hirata et ai., 2009).

Quadro 7. Número e massa seca de plantas daninhas emergidas sobre a palha d e gramíneas
forrageiras na cultura do tomateiro rasteiro, conduzido no sistema meia estaca, aos 46 e 136 ruas
após a dessecação. APTA, Álvares Machado, SP, 2009
Dias após a dessecação
46 136 46 136
2
Matéria seca (g m· ) Densidade {número m·2)
Brachinrin decumbens 0,96b 43,93a Sb a
B. rttziziensis 0,29b 9,65ab 25b 16a
Milheto 3,26b 0,41b 71b 10a
Palha de plantas daninhas 13,36a 33,73ab 1.21 2a 31a
Sem cobertura 16,83a 32,30ab 904a 84a
Mt'.!dias egu idas por letras minúsculas nas colunas nao diferem significativamente pelo teste de Tu. ey (p<0,05).
Fonte: Sil va Hirata et ai. (2009).

Na cultura da alface, verificou-se que as coberturas do solo com palha de arroz, p alha
de café, B. briz11nth11 e serragem controlaram a infestação de plantas invasoras no cultivar
Regina 2000. Entretanto, verificou-se grande infestação na testemunha com redução de
produtividade.
O p lantio direto tan1bém tem sido uma prática bastante promissora para O manejo
da tiririca. Jakelaitis et ai. (2003) constataram elevada redução do banco de tubérculos
no pla ntio direto, com predomínio de tubérculos dormentes, em relação ao p lan tio
conven cional. De acordo com os autores, o sucesso do plantio direto no controle da tiririca

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1146 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

deve-se ao não r volvimento do solo. O uso de implementas mecânicos promove a ruptura


da rede de tub rculo,, o que quebra a dominância apical e promove a rápida disseminação
da espécie. Des e modo, o uso de arado, grade e enxada rotativa potencializa a infestação
de sa e pécie. Por i so, e comum verificar extensas áreas cultivadas com hortaliças
infes tadas com a tiririca .

Figura 16. Plantio direto d e tomate em palha de B. ru zizie11sis.


Foto: Andréia C S. Hirata

A rotação de culturas também é uma prática conservacionista que interfere no manejo


de plantas daninhas. Sabe-se que algumas espécies associam-se a certas culturas mais que
a outras. A rotação de culturas promove modificação das práticas culturais, interferindo
consequentemente na população de plantas daninhas. A boa rotação inclui culturas que
reduzem o número de indivíduos de espécies-problema para a cultura seguinte. Além
disso, determinadas espécies daninhas são mais facilmente controladas em discriminada
cultura que em outra. Um exemplo de plantas que se associam a certas culturas é a Maria
pretinha (Solnnum americanum), comum em áreas de produção de tomate, pois, além de
pertencer à mesma família da cultura, os herbicidas registrados para o tomateiro são
seletivos também a essa espécie, aumentando a infestação a cada ano. Neste caso, a rotação
de culturas é primordial para o sucesso do manejo.
Além do controle da erosão eólica, o uso de quebra-ventos também pode interferir de
forma positiva no manejo de plantas daninhas. Essa prática funciona como uma barreira,
que impede a disseminação de propágulos de plantas daninhas, que são transportadas
pelo vento, além de facilitar seu controle, uma vez que a emergência ocorre em uma área
mais restrita da propriedade.
O surgimento de vários casos de resistência de definidas espécies de plantas
daninhas em áreas de plantio direto em razão do uso continuado do mesmo herbicida é
um indício de que o manejo de plantas daninhas no plantio direto deve ser diversificado
e equilibrado. Sutton et al . (2006) propõem a utilização de irrigação subsuperficial no
cultivo conservacionisla de hortaliças como tecnologia para redu zir significativamente o
estabelecimento d e plantas daninhas sem utilização de herbicidas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS ll 4 ?

Deve ser ressaltado ainda que as plantas daninhas também exercem importante pa~el
no manejo do solo. Essas plantas são pioneiras e povoa m á reas degradada , 0 que ev ita
a perda de solo além de reciclar nutrientes. Desse modo, manejadas de fo rma adequada,
podem ser aliad as no manejo conservacionista. Na figura 17, podem er vis_ual izados
cordões de plantas daninhas entre os can teiros cobertos com mulching piá ttco. E sa
plantas podem ser roçadas periodicamente e contribuir para a conservação do olo.

Figura 17. Plantio de alface em mulching plástico e cordões de plantas daninha entre o cant iros
promovendo proteção do solo.
Foto: Andréia C. S. Hirata.

MANEJO CONSERV ACIONISTA El\tl AMBIENTE


PROTEGIDO

O cultivo em ambiente protegido é um sistema de produção agrícola especializado


que fornece proteção em relação a adversidades climáticas, otimizando o apro eitamento
dos insumos de produção e o controle de pragas e doenças (Castilla, 2005). Com e· as
vantagens, têm-se ganho na produtividade e regularidade na sazonalidade da oferta, com
redução de riscos e maior competitividade pela possibilidade da oferta de produto d
m e lhor qualidade ao longo do ano.
Como no campo, no interior do ambiente protegido, e:\.iste a po sibilidade de realizar
0 plantio de hortaliças sobre fitomassas re iduais. a figura 1 , ilustra-se O cultiv
experimental de quatro diferentes espécies de hortaliças (feijão- agem, pepino, pimentão

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1148 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

e toma_te) sobre palha de aveia, logo após O transplante e 39 d após esse, e m ambie nte
protegido.

Figura 18. Cultivo experimental de feijão-vagem, pepino, pimentão e tomate sobre palha de aveia,
logo após o transplante (esquerda) e 39 d após esse (direita). Instituto Agronômico, Campinas,
SP.
Fotos: Luis Felipe V. Purque rio

Entretanto, o cultivo em ambiente protegido tem suas desvantagens, como o elevado


custo para a sua implantação, bem como a necessidade de conhecimento multidisciplinar
para que os manejas do solo, da adubação e das plantas sejam bem feitos e se obtenham
sucesso (Furlani e Purquerio, 2010).
Em razão do uso de insumos sem conhecimento técnico, os agricultores, preocupados
em garantir elevada produtividade, fazem uso de elevadas quantidades de fertilizantes
(química e, ou, orgânica), promovendo, em vários casos, após três anos de exploração, a
salinização dessas áreas, o que inviabiliza seu uso.
Além do sistema de adubação utilizado (convencional ou fertirrigação) e da fonte
do nutriente (química e, ou, orgânica), o processo de salinização no cultivo protegido é
agravado quando se cultivam plantas de ciclo rápido (50 d aproximadamente), como a
alface ou outras hortaliças folhosas, adubadas pelo agricultor a cada novo plantio, sem
utilização de análise química de solo como referência.
Assim, são verificados, em estufas agrícolas, com cultivo intensivo, teores de K acima
de 6,0 mmolc dm·3, de P acima de 120 mg drn·3 e de Ca2• e Mg2• acima de 7 e 8 mmolc dm·
3, todos considerados muito elevados para os solos agrícolas, segundo Raij et ai. (1997).

Também são verificados para os micronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn teores acima de 0,6;
0,8; 12; 5,0; e 1,2 mg dm·3, respectivamente, considerados elevados nos solos em geral.
A salinização dos solos pode ter origem natural, como naqueles localizados em zonas
áridas e serniáridas, onde a evaporação é superior à precipitação (Barros et al., 2004), ou
ser induzida pelo homem, pelo manejo inadequado no uso de fertilizantes químicos e
orgânicos. Essa última causa é a de maior impacto econômico, pois é verificada em áreas
onde se realizou investimento de capital, como é o caso do ambiente protegido ou estufas
agrícolas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


____ __ __________
__,..,.,., ...

XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS l l 49

Em condições sa linas ocorre redução na disponibilidade de água . para ª.


p l~nta,
além de desequilíbrio nutricional nos solos, toxicidade de algun ío ns e mte rferenc1a no
equilíbrio hormonal das plantas (Larcher, ·1995), sendo reduzida a produti vidade delas.
De maneira geral, o processo de salinização pode ser ev itad o ou desacele ra~o caso
ocorram precipitações pluviais concentradas em quantidades s uficientes, a saciadas
adequada permeabilidade do solo ou a um sistema de drenagem eficiente, para promover
uma lavagem natural do perfil. Todavia, em condições de plantio em e tufas agrícolas, a
lavagem natural é dificultada, passando o solo a ter atributos seme lhantes aos daquele d
regiões serniáridas (Medeiros, 1998).
Entre as técnicas para o controle da sa linização, a aplicação de lâ minas excedentes
de irrigação, de possível percolação no perfil do solo e com as quais seja garantido um
equilibrio favorável dos sais na zona radicular da cultura, pode ser uma o pção, como
verificado por Bianca e Folegatti (2001). Entretanto, para que essa prática de controle seja
eficiente, é necessária adequada drenagem do solo, garantindo-se, além da aeração, que o
fluxo descendente seja prevalecente ao ascendente no perfil do solo e que os sais lixiviado
sejam eliminados mediante drenagem.
A troca de local da estrutura (estufa agrícola) e a substituição do solo no seu interior,
prática comum na região de Almeria, na Espanha, são opções aos cultivas sequenciai ,
porém muito onerosas e inviáveis para produtor brasileiro.
Uma alternativa para a melhoria das condições químicas e físicas do solo dentro
das estruturas de ambiente protegido e com custo mais acessível ao produtor do que a
mudança do local da estrutura pode ser a realização de pelo menos um culti vo com plantas
reconhecidas como extratoras de nutrientes, isso é, com capacidade para produção de
quantidade adequada de fitomassa e de absorção de nutrientes e que possam ser retiradas
da área de seu cultivo após o término desse.
Dessa forma, entre inúmeras opções, a C. juncea e o milheto são espécie
agronornicamente interessantes e adequadas e que podem ser vantajosamente utilizadas
como plantas extratoras de nutrientes em excesso no solo, particularmente em condições
restritivas de área como no cultivo protegido.
A C. juncea é uma leguminosa (Fabácea) de ciclo anual, de crescimento inicial muito
rápido, com desenvolvimento radicular em profundidade e, dependendo da época de
semeadura, com florescimento em apenas 60 a 90 d, como naquelas mais tardias, inclusive
em áreas de cerrado. Essa espécie apresenta elevado potencial de produção de fitomas a,
entre 8 e 17 t ha·1 de matéria seca (Miy~saka, 1984; Bulisani e Roston, 1987; utke, 1993;
Amabile et ai., 2000; Burle et ai., 2006). E eficiente na absorção e no acúmulo de nutriente .
Quantidades consideráveis são imobilizadas, dependendo da época de cultivo e do local,
sendo variáveis entre 113 e 443 kg ha·1 de N; 13 e 37 kg ha·1 de P; 2 e 216 kg ha·1 de K;
202 kg ha·1 de Ca; 58 kg ha·1 de Mg, 28 kg ha·1 de S; 121 g ha·1 de Cu; 366 g ha·1 de ~ln; e -164
g ha·1 de Zn (Wutke, 1993; Carvalho et ai., 1999; Burle et al., 2006).
O milheto é urna_ gramínea (~oácea) an~al, utilizada como forrageira de
verão, com grande perfilhamento e sistema radicular fasciculado, desen olvid em
profundidade e em abundância. Possui grande eficiência na transformação de água
em fitomassa (Burle et al., 2006). Dependendo da época do ano, do reçrime hídrico e
do fotoperíodo, são produzid~s 30 a ~O t h~-~ fit_omassa (Pereira Filho et°al., _003), e as
quantidades extraídas de nutrientes sao vanave1s entre 12- e -l kg ha·' de ; l6 e "'

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1150 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL .

1
kg h a~ de P; 124 e 314 kg ha-1 de K; 93 kg ha-1 de Ca; 54 kg ha-1 de Mg, 183 g ha-1 de
Cu; 6.,4- kg ha·1 de Mn; e 461 g ha·1 de Zn (Pereira Filho et ai., 2003; Braz e t al., 2004).
O gi_-a~de conteú~o de_K associado à sua elevada produção de matéria seca caracteriza essa
espec1e com o muito eticiente na reciclagem desse nutriente (Burle et ai., 2006).
Em trabalhos recentes, enconh·am-se resultados de pesquisa com efeitos de ad ubação
verde em áreas degradadas sobre a química do solo, demonstrando os efeitos benéficos
dessas plantas. Porém, resultados específicos com enfoque de plantas extratoras de
nutrientes, utili zadas em ambiente protegido, são mais escassos.
Como os produtores obtêm sua renda a partir da comercialização dos produtos
gerados nas estufas agrícolas, é necessário que esse ambiente de cultivo fique mobilizado
com as plantas extratoras de nutrientes o menor tempo possível. As duas espécies citadas
apresentam crescimento inicial rápido, evidenciando desenvolvimento satisfatório em
70 d de cultivo no tocante à cobertura do solo, ao potencial de exh·ação de nutrientes e à
fom1ação de fitomassa .
Purquerio et al. (2011c) verificaram que o potencial produtivo de fitomassa da C. juncea
(56,0 t ha-1) e do milheto (89,9 t ha·1) foi grande num período reduzido de produção (53 d),
com época de semeadura tardia, dentro de ambiente protegido. Na figura 19, ilustram-se
detalhes de parte do manejo experimental para recuperar solo salinizado com as plantas
de m.ilheto e crotalária aos 23 d após a semeadura e, posteriormente, no momento da sua
retirada do interior do ambiente protegido, quando já estavam atingindo a altura do pé
direito da estrutura (1,80 m) de ambiente protegido, tipo arco, utilizada para produção
de hortaliças folhosas, após 53 d da semeadura. Ao término do cultivo da C. juncea e
do m.ilheto, houve redução para todos os nutrientes nas duas profundidades avaliadas
em relação à análise química inicial. Dessa forma, as plantas de coberturn devem entrar
no contexto de rotação de culturas em ambiente protegido com finalidade de também
colaborar para dessalinização dos solos.

Figura 19. Plantas de crotalária (Crofa/ari~ ju_ncea) e milheto (Pe1111'.sel_um glaurn111) aos 23 d após
a semeadura (esquerd a) e quando atingiram a altura do pé du·e1to da estrutu ra (1,80 m) d e
ambiente protegid o, tipo arco, após 53 d da semeadura, sendo retiradas de dentro d essa
estrutu ra (direi ta). São Carlos, SP.
Fotos: Luis Felipe \1 . Purquerio.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


XXXV - MANEJO CON SE RVACIONISTA DO SO LO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS l lSl

Em a mbiente de culti vo protegido ele hortaliça , é comum a incid ncia de ne ma~o ides,
fungos e bactérias fitopatogênicos, que depri me m significati va m nte il produçao das
culturas. Excelente ferramenta para controle de ta is problemas é a ro tilção. de cultur~s. e
utilização de plantas de cobertura no sistema. Es pécies como milheto, crota lána e pectab1l1s,
targetes são comprovadamente efici entes em redu zi r a popu lação de nema toides do _olo,
assim como espécies da famíUa brassicacea são efi cientes no contro le d e fito pa tógeno de
solo. Dessa maneira, seria imprescind ível o manejo do solo com plan tas de cob rtura e
rotação de culturas para sustentabilidade da produção hortícola em a mbiente pro te ido.

MANEJO CONSERVACIONISTA EM AGRICULTURA


ORGÂNICA

A produção de hortaliças é o segundo sistema produtivo que mais degrada os olo ,


por suas características intensivas de uso de insumos e preparo de solo. A hortaliçJ
somente não são mais exigentes em insumos e intervenções do q ue a produção de feno e
silagem, de acordo com Khatounian (2013).
No Brasil, a Lei Federal 10.831/ 2003, regulamentada pelo Decreto 6.323/ 2007,
estabeleceu os princípios da agricultura orgânica. A Produção Animal e Vegetal po_ ui
um regulamento técnico em constante atualização, onde constam as listas de su bstàncias e
práticas permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção. Em se tem bro de 2015,
as instruções normativas em vigor a esse respeito eram a I 46/2011 e l l 17/ 201-t
O preparo do solo no sistema orgànico deve ser diferente daquele praticado por
agricultores convencionais. O solo no sistema orgânico não é apenas o resultado do
processo físico-quirnico de intemperização da rocha. No sistema or gânico, o organismo
vivos possuem importante papel na formação dos solos.
Primavesi (2002) ensinou que os solos de climas tropical e temperado são distinto .
Quando comparados, o solo tropical é muito pobre em minera is, mas é profu ndo e po u i
10 a 20 vezes mais microrganismos. Dessa forma, a riqueza mineral tem q ue ser sub titu ída
pela "vitalidade" do solo. A vida no solo tropical depende da matéria orgânica. A matéria
orgânica é resultado da biomassa produzida ou trazida para as glebas de produção de
hortaliças de forma tal, a nutrir a vida do solo que o agrega, o permite a entrada d ar e
água e a expansão das raízes (Primavesi, 2001, 2002). Miyasaka et a i. (200 ) considera ram
a matéria orgânica um componente essencial do solo onde a agricultura é p raticada,
enfatizando que essa deve ser preservada e mantida em pelo menos 30 a 50 g g i,
dependendo do tipo de solo.
Assim sendo, quebrar o ciclo de preparo inadequado do solo q ue re ulta em
compactação e falta de cobertura vegetal com a consequente o cilação brusca d e
temperatura pela insolação direta e a erosão não é tarefa facilmente a s irnilada p r
técnicos e agricultores. A degradação do solo resulta numa produção m enor de biomassa
vegeta l, o que consequentemente acarreta em produtividades meno res e a de capitalização
do a gricultor (Souza e Resende, 2003). Esse fenà meno pode ocorrer tanto n culti
convencional quanto no orgânico, se o preparo do solo for ina iequad o para O cul ti O de
hortaliças (Costa et ai., 2006).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1152 ROBERTO BOTEL HO FERRAZ BRANCO ET AL.

O c?nhec!mento sobre o manejo e a conservaçno do solo e da água na oleri cu ltura


convenc'.onal e pequeno. O preparo tradicional do solo leva em consideração o tipo de
solo, ª ~i~massa cultura l resid ua l, as operações que serão realizadas nas etapas seguintes
e a esp_eCJe de h ortaliça que será plantada. Normalmente, as etapas de preparo de solo
no culhvo conve'.Kional consistem numa roçada para limpeza da gleba e na subsolagem,
quando necessánas. Em seguida, é realizada uma aração profu nda seguida de gra d agem
para, ~ destorroamento e nivelamento do solo, outra gradagem para incorporação do
calcano e en1 alguns casos o uso da enxada rotativa (Fontes, 2005).
. a litera~ra especializada em cultivas orgânicos, o preparo do solo parn as olerícolas
amda precornza a confecção de canteiros, sendo sua altura determinada em razão da
umidade do solo. Em solos 1nais úm.idos, a altura deve variar de 15 a 20 cm para permitir
uma drenagem a d equad a, enquanto em solos mais secos essa al tura poderá ser de 10 a
15 cm (Hamerschnudt, 2012). Contudo, hortaliças folhosas, de frutos e mesm o algumas
tuberosas como beterraba, rabano e rabanete não precisam de canteiro em solos bem-
drenados, o que toma dispensável a sua utilização.
O preparo intensivo do solo durante todo o ano é reconhecidamente uma forma
de degradar o solo tropical. Isso ocorre pela mineralização da matéria orgânica em
quantidades maiores do que a reposição, pela pulverização da camada superficial do solo
e pela formação do "pé de grade", que nada mais é do que uma camada adensada no
solo que dificulta o desenvolvimento radicular e favorece a erosão (Souza e Resende, 2003;
Harnerschnudt, 2012), o que reforça a dispensabilidade de canteiros no manejo orgânico.
Um ponto também a ser considerado é que na agricultura orgânica não é permitido o
u so de herbicidas químicos, o gue reflete em um entrave à adoção do plantio direto, uma
vez que esse insumo é utilizado na agricultura convencional para dessecar a cobertura
vegetal e consequentemente formar a camada de palha para o plantio direto das culturas.
Todavia, ensaios realizados com a cultura da alface, em Álvares Machado, SP, com plantas
de cobertura (mucuna-cinza, C. juncea, guandu e milheto) roçadas com roçadeira costal
ou dessecadas com herbicida evidenciaram a possibilidade de utilizar a roçadeira para
substituir o herbicida, o que é urna alternativa para a agricultura orgânica. O ' rolo faca'
também é um implemento pronussor para terminação das plantas de cobertura sem
utilizar herbicidas (Moyer, 2011). É importante ressaltar que quando obtiverem registros,
herbicidas orgânicos formulados à base de óleos essenciais, óleo de mamona e ácido acético
poderão ser utilizados.
Os olericultores orgâlucos devem fazer o manejo e a conservação do solo e d a água
com o plantio em nível, a manutenção dos carreadores vegetados, a cons trução de bacia
de infiltração nas estradas e carreadores, assim como preparo com minimo possível de
revolvimento do solo ou preferencialmente optar pelo plantio direto das h o rtaliças na
fitornassa residual da adubação verde ou da cobertura morta transportada de outras glebas
de cultivo.
Deve-se evitar o sistema de preparo convencional com aração e gradagem e, quando
necessário, realizar de forma racional, principalmente em épocas de baixa pluviosidade
para evitar O processo de erosão lamina:. O uso da e~xada rotativ~ deve ser limitado
apenas às culturas que realme~te n ecessitam de canteiro. As hort~l1ças que podem ser
cultivadas em espaçamentos m a10res, como abóboras, couve-flor, quiabo, repolho, toma te,
entre outras, devem ser plantadas em berços (covas) ou sulcos, com preparo manual,
an.jmal o u utilizando equipamentos como sulcador, riscador ou enxada rotativa com dois

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVAC[ONlSTA DO SOLO NO CU LTI VO D E Ü LERÍCOLAS 1153

jogos d e faca, o qu e permite o culti vo apenas na fa ixa de plantio, ca ra cteri za ndo O prepc1ro
reduzido (Souza e Resende, 2003; Hamerschmidt, 2012).
Somente dessa forma, as diretrizes pma a recuperação e manute nção da ferti lidade
dos solos agrícolas propostas por Khatounian (2001, 2013) se rão alcançad as. A pesa r da
complexidade dos es tudos dos ecossistemas na turais, Khatounian (2013) elencou q uatro
diretrizes: manter uma camada fotossintetizante ati va 100 % do te m po; mante r urna trama
radicular densa e ativa 100 % do tempo; manter uma camada genero a de cobertura
morta sobre o solo; e maximizar a biodivers idade. A cobertu ra do solo pod e ser a lcançada
com a utilização das plantas de cobertura, que atende todas as di retr izes p ro posta po r
Khatounian (2013).
Caso o manejo e a conservação do solo e da água não sejam repensad os pelo
agricultores que usam sistemas orgânicos, situações identi fica das por Kami yama et a i.
(2011), em investigação realizada em 2008 por meio de agricul tores q ue utilizam es ~
sistemas orgânicos dos mwlicípios de [biúna e Socorro, no Estado de São Pa ulo, não serão
contornadas. De acordo Kamiyama et ai. (2011), esses agricultore d os dois municípios
possuem maior grau de percepção de atitudes conservacionjstas do q ue os agricul tore que
usam sistemas convencionrus dos mesmos murucípios. Contudo, não foi encon trado pelos
autores diferenças entre os atributos físicos do solo (densidade e esta bilidade d e agregad o )
nos sistemas orgânicos e convencionrus. A similaridade entre os a tributos físicos do solo
em áreas de agricultores que empregam sistemas orgânicos e convenciona is de Ibiúna e
Socorro foi justificada pelo tipo de preparo do solo para as horta liça , semel han te no dois
sistemas, com base na utilização frequente da enxada rotativa.
Souza et al. (2010) relataram a experiência de duas décadas da Unidade de Referência
em Agroecologia, em Domingos Martins, ES, onde o manejo orgânico é realizado pela
compostagem de biomassa cultural residual, da cobertura morta e adubação verde, do
manejo de ervas espontâneas, com rotação de culturas, entre outras práticas. De acordo
com esses autores, os resultados do sistema indicaram elevações s ignificativas do teor de
matéria orgânica e de nutrientes. O pH do solo foi elevado pelo manejo orgânico. O manejo
orgânico realizado nessa Unidade pernlitiu melhorar e manter os a tributos q u ím ico do
solo ao longo dos anos, com potencial para sustentar excelente níveis de prod u tividade
em hortaliças (Souza e Pereira, 2010).
No manejo do solo para cultivo orgânico de hortaliças, de em-se priorizar prá ti as
que atendam as quatro diretrizes dos ecossistemas naturais citadas ante riormente. As
estratégias para isso deverão ser ajustadas de acordo com as condições locais e entre
técnicos e agricultores.
O manejo e a conservação do solo e da água em sistemas orgânicos d e produção de
hortaliças devem ser revistos, em relação ao preparo convencional. O is tema tecnológico
produtivo introduzido de condições temperadas para tropicaj compromete a fertilidad
e a biodiversidade do solo. Dessa forma, o cultivo núnim.o e o plantio direto d e hortali as
são alternativas sustentáveis para o manejo e a conservação do solo e da água em cul turas
de ciclo curto.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1154 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Exi 5te~1 inú~eras possibilidades de se manejar o solo de maneira conserv acionis ta,
com redu ao do nnpacto ambiental, desde o controle de erosão até a preservação dos
recursos h ídricos. Enh·etanto, para o sucesso na execução do preparo conservacionista do
olo, é necess~rio bom planejamento da propriedade e o comprometimento do produtor
rural em adenr a e se manejo. A utilização de equipamentos adequados para o preparo
do solo, a semeadura e o h·ansplantio das culturas é também fator muito importante para
o sistema._N~ Brasil, é resh·ita a disponibilidade de equipamentos agrícolas para preparo
con ervac1orns ta do solo direcionado a hortaliças. Enh·etanto, o preparo conservacionista
com qualidade técnica viabiliza a produção hortícola, com redução nos custos de produção
e no impacto ambiental.
Esforços têm sido feitos na busca de alternativas para reduzir o intenso revolvimento do
solo no cultivo de olerícolas. Embora cada uma das culturas apresente suas peculiaridades,
deve-se buscar o preparo mínimo possível de solo para a realidade de cada uma delas, com
o intuito de aprimorar cada sistema de produção. Para que essa meta seja atingida, um
esforço conjunto da pesquisa e extensão deve ser direcionado para o setor.
O uso de práticas conservacionistas resulta em impactos positivos no manejo de
plantas daninhas, adubação e irrigação.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa Agrícola do Estado de São Paulo - FAPESP, pelo


apoio financeiro (processos: 07/03328-6; 08/52305-1; 08/57403-1; 10/02312-1; 11/06129-0)
e à Fundação Agrisus. À Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola "Luciano
Ribeiro da Silv a", pelo apoio em São José do Rio Pardo, SP. Aos funcionários de apoio à
condução experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

LITERATURA CITADA

Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas - Abcsem. Projeto para levantame nto dos
dados socioecon ômicos da cadeia produtiva d e hortaliças no Brasil 2010/2011. Disponível em:
<http:/ / www.abcsem.com.br/ does/ direitos_resevados.pdf. Acesso em 05 mai. 2012.
Almeida FS. Efeitos alelopá ticos de resíduos vegetais. Pesq Agropec Bras. 1991;26:221-36.
Amabile RF, Fancelli AL, CarvaU10, A.M . Comportanientodeespécies de adubos verdes em diferentes
épocas de semeadura e espaçamentos na região do cerrado. Pesq Agropec Bras. 2000;35:47-54.
American Society of Agricultura) Engineers - ASAE. Terminology and definitions for soil tillage and
soil-tool relationships. St. Joseph: 2004. p.114-8. (EP. 291-2).
Aq uino LA, Puiatti M, Pereira PRG, Pereira FHF, La deu·a IR, Castro MRS. Produtividade, qualidade
e estado nutricional da beterraba de mesa em função de doses de nitTogên.io. Hortic Bras.
2006;24:199-203.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-..,;.•·. ..... ------~-,.u1.,:;D1_______
XXXV - MANEJO CON SERVACIONISTA DO SOLO NO C U LTI VO DE ÜLERÍCOLAS 1155

Ara újo Neto SE, Ga lvão RO, Ferreira RLF, Parmejiani R , Negreiros JRS. Plantio dir:t~ <l ce_bolinh,1
sobre cobertura vegetil l com efei to residuil l da aplicilção de campo to o r~ nico. C, Rural.
20'10;40:J 206-9.
Balkcom KS, Reeves DW, Kemble JM, Dilwkins RA, Raper RL. Ti llage requ irernents of sweet com ,
fi eld pea, and watermelon foll owing stocker ca ttle grazing. J Sustain Agr. 2010;34: 169-82.
Barros MFC, Fontes MPF, Alvarez V VH, Ruiz HA. Recu peraçJo de solos c:1fetados P r sai. P la
aplicação de gesso de jazida e calcário no Nordeste do Brasil. Rev Bra Eng Agr Amb. 2004;8:59-
64.
Bianca FF, Folegatti MV. Recuperação de um solo sa lin izado após cu ltivo em ambiente prote ido.
Rev Bras Eng Agr Amb. 2001;5:76-80.
Bernardo S, Soares AA, Mantovani EC. Manual de irrigação. 8J. ed. Viçosa, MG: UFV; 20 .
Branco RBF, Bolonhezi D, Salles FA, Balieiro C, Sugu ino E, Minai WS, 1 ·ahas E. Soil properties
and tomato agronomic attributes in no tillage in rota tion with cover crop . Afr J Agric Re5.
2013;8:184-90.
Branco RBF, Now aki RHD, Salles FA, Bolonhezi D, Cualberto R. Soil propertie_ a nd agronomic
performance of watermelon grown in different tillage a nd cover crop in sou th ea te m of Brazil.
Exp Agric. 2015;51:299-312.
Braz AJBP, Silveira PM, Kliemann HJ. Acumulação de nutrientes em folhas de milheto e do.:; capm!
braquiária e mombaça. Pesq Agropec Trop. 2004;3-l:83-7.
Breda Junior JM, Factor TL. Oportunidades e dificuldades no plantio direto de hor taliças: oca de
São José do Rio Pardo. [n: 49 Congresso Brasileiro de Ole ricultura [CD Rorn]; 2009; - g uas de
Lindóia. Águas de Lindóia: Horticultura Brasileira; 2009.
Bulisani EA, Roston AJ. Utilização de leguminosas como cobertura do a lo e m is temas Je adubação
verde ou rotação de culturas. Campinas: CECOR/ DEXTRU / CATí; 19 7. (Comunicado técnico,
68)
Burle ML, Carvalho AM, Amabile RF, Pereira J. Caracterização d as e pécies de adubo verde. ln:
Carvalho AM, Amabile RF, editores. Cerrado: adubação verde. Pla naltina: Embrapa Cerrado ;
2006. p .71-142.
Caires EF, Alleoni RLF, Cambri MA, Barth G. Surface application of lime fo r crop grain producti n
under a no-tiII system. Agron J. 2005;97:791-8.
Carvalho JEC, Zanella F, Mota JH, Lima ALS. Cobertura morta do ola no culti o de alface cv.
Regina 2000, em Ji-Paraná/ RO. Cienc Agrotec. 2005;29:935-9.
Carvalho SIC. Caracterização dos efeitos alelopáticos de Brachia ria bri.zantha cv. Marandu
no estabelecimento das plantas de Stylosanthes guianensis var. ulgar cv. Bandeirante
[dissertação]. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1993.
Castilla, N . lnvernaderos de plástico - Tecnologia y manejo. Madrid :, lul1lii Prensa. 2U05.
Cas tro CM, Alves BJR, Almeida DL, Ribeiro RLD. Adubação erde como fo nte de nitrog~nio para a
cultura da berinjela em sistema orgànico. Pesq Agropec Bras. 200-1;39: 9 - .
Castro CM, Almeida DL, Ribeiro RLD, Carvalho JF. Plantio direto, adub,1çã verde e su plementação
com esterco de,aves na produção orgânica de berinjela. Pesq Agropec Bras. 2005;-l0:-195-30__
Chen G , Weil RR. Penetration of cover crops root through compacted soils. Pla nt il. 2010; ~ 1 :31-B.
Ciaccia C, Canalli S, Campanelli G, Testatu E, lontemurro F, Le teo F, D la te . Eff ct ot roller-
crirnper technology on -..veed mc1nagement in organic zu chini production on Mediterranean
clim a te zone. Renew Agric Food Syst. 2015;31:1-11.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1156 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

Costa EA, Goedert \VJ, Sousa D ~G. Qualidade de solo submetido a sistemas de cu ltivo com preparo
rnnvencional e plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2006;4'1:1185-91.
Derpsch R. 1o -tillage and conservalion agriculture: a progress report. ln : Goddard T, Zoebisch MA,
Gan YT, Elli W , VVatson A, Sombatpanit S. No-Till farming systems. World Association of Soil
and Water Conservation; 2008; Bangkok. Bangkok: 2008. p.7-39. (Special publication, 3)
Derpsch R. Programa manejo e conservação do solo. ln: Torrado PV, Aloisi RR, coordenadores.
Plantio direto no Brasil. Campinas: Fundação Cargill; 1984. p.1-12.
Doorenbos J, Kassam AH. Yield response to water. Roma: FAO; 1979. (lrrigation and drainage, 33)
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri. Sistema de plantio
direto de hortaliças: o cultivo do tomateiro no Vale do Rio do Peixe, SC, em 101 respostas dos
agricultores. Florianópolis: 2004.
Factor TL, Lima Júnior S, Purquerio LFV, Silveira JMC, Calori AH, Guimarães RS, Santello M ,
Ronchi RSM. Produtividade da cebola em plantio direto em função de doses e parcelamento da
adubação potássica. ln: Anais do 51º. Congresso Brasileiro de Olericultura; Viçosa, MG; 2011.
Viçosa, MG: ABH; 2011b. p.3979-86.
Factor TL, Lima Júnior S, Purquerio LFV, Tivelli SW, Trani PE, Breda Jr JM, Rocha MA V. Manejo da
adubação nitrogenada na produção de cebola em plantio direto. ln: Anais do 49°. Congresso
Brasileiro de Olericultura; 2009; Águas de Lindóia. Águas de Lindóia; ABH; 2009. p.S613-20.
Factor TL, Lima Júnior S, Silveira JMC, Purquerio LFV, Calori AH, Guimarães RS, Santello MC,
Ronchi RSM . Produtividade de beterraba em plantio direto em função do sistema e densidade
de plantas. ln: Anais do 51°. Congresso Brasileiro de Olericultura; 51., Viçosa, MG: 2011 . Viçosa,
MG: ABH; 2011a. p.2703-11.
Factor TL, Silveira JMC, Purquerio LFV, Calori AH, Ronchi RSM, Lima Júnior S. Produção de cebola
em função do sistema de cultivo e método de estabelecimento de plantas. ln: Anais do 52°.
Congresso Brasileiro de Olericultura; 2012; Salvador. Salvador: ABH; 2012a. p.53354-9.
Factor TL, Purquerio LFV, Silveira JMC, Lima Júnior S, Calori AH. Yield and quality of table beet in
function of plant establishment method and production system. ln: Anais do 6º. lnternational
Symposium on Seed, Transplant and Stablishment of Horticultural Crops; 2012; Brasília.
Brasília: Embrapa/ISHS; 2012b. p.90
Ferreira MD, Tivelli SW. Cultura da beterraba: recomendações gerais. 3ª. ed. Guaxupé: Cooxupé;
1989.
Filgueira FAR. Manual de olericultura: cultura e comercialização de hortaliças. São Paulo: Agronômica
Ceres; 1982.
Filgueira F AR. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização
de hortaliças. 2ª. ed. Viçosa, MG: UFV; 2003.
Fontes PCR. Preparo do solo para o plantio de hortaliças. ln: Fontes PCR, editor. Olericultura: teoria
e prática. Viçosa, MG: UFV, 2005. p.79-91.
Fontes PCR, Nunes JCS, Fernandes HC, Araújo EF. Características físicas do solo e produtividade da
batata dependendo de sistemas de preparo do solo. Hortic Bras. 2007;25:355-9.
Freil-as PSL, Mantovani EC, Sediyama GC, Costa LC. Influência da cobertura de resíd uos de cultura
nas fases de evaporação direta da água do solo. Rev Bras Eng Agríc Amb. 2006;10:104-11.
Furlani PR, Purquerio LFV. Avanços e desafios na nutrição de hortaliças. ln: Mello Prado R, Cecilio
Filho AB, Correia MAR, Puga AP, editores. Nutrição de plantas: diagnose foliar em hortaliças.
JaboticabaJ: FCA V; 2010. p .45-62.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS
1157

Gabrie l JL, Mufioz-Ca rpena R, Quemada M. The role of cover crops in irri gated sy te m : ~ ater
balance, nitrate leaching, and soil mineral nitrogen acc umulatio n. Agric EcosySt Environ.
2012;155:50-61 .
Gribogi CC, Sa lles RFM. Vantagens da semeadura direta no cultivo d e be te rraba. Rcv Acad . 2007;5:33-
8.
Haag HP, Minami K. Nutrição mineral de hortaliças. Campinas: Fundação Cirgil; 19 8.
Hamido SA, Kpomblekou-A K. Cover crops and til lage effects on so il enzy me acti vities follow ing
tomato. Soil TiJI Res. 2009;105:269-74.
Hirata ACS, Hirata EK, Barrionuevo RM, Momquero PA. Manejo de milheto para plantio direto de
alface no verão com ou sem levantamento de canteiros. Horticultura bras ile ira . 2015;33:398-l03.
http://dx .doi .org/ 10.1590/S0102- 053620150000300021.
Hirata ACS, Hirata EK, Guimarães EC, Barrionuevo RM, Rós AB, arita N . Temper atura d o solo e m
função de manejes de plantas de cobertura na cultura da alface americana cultivada no verão.
ln: Anais do 3°. Rewúão Paranaense de Ciência do Solo; 2013; Londrina. Londrina: SBCS; 2013.
p .288
Hamerschmidt I. Manual de olericulrura orgânica. Curitiba: Instituto Emater; 2012.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - lBGE. Pesquisa de orçam entos famiüa re - 200 -
2009. [acessado em: 7 jan. 2011]. Disponível em: http://www.ibge.gov.b r/ home/es ta tistica /
populacao/ condicaodevida/ pof/2008_2009_analise_cons umo/ default.shtm.
Jakelaitis A, Ferreira LR, Silva AA, Agnes EL, Miranda GV, Machado AFL. Efeitos de istemas de
manejo sobre a população de tiririca. Planta Daninha. 2003;21:89-95.
Kamiyama A, De Maria IC, Souza DCC, Silveira APD. Percepção ambientaJ do produtores e
qualidade dô solo em propriedades orgànicas e convencionais. Bragan t:ia. 2011;70:176-8-t
Khatounian CA. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Agroecológica; 2001 .
Khatouruan CA. Problemas usuais para o manejo sus tentável de Agro-ecossistemas no Centro-Sul cio
Brasil. ln. Anais do 1°. Curso de Capacitação em Agricultura Orgânica e Sustentável; 2013; São
Roque. São Roque: SAA/SMA; 2013.
Kieling AS, Comin JJ, Fayad JA, Lana MA, Lovato PE. Plantas de cobertura de inverno e m sistema de
plantio direto de hortaliças sem herbicidas: efeitos sobre plantas espontâneas e na produção de
tomate. Ci Rural. 2009;39:2207-9.
Kornecki TS, Price AJ, Raper RL, Arriga FJ. New roller crimper concepts fo r mechanical termination
of cover crops in conservation agriculture. Renew Agric Food Syst. 2009;2-l:165-73.
Larcher W. Physiological plantecology. Berlin: Springer/Verlag; 1995.
Lima Júnior S, Factor TL, Silveira JMC, Purquerio LFV, Calori AH, Guimarães RS, Santello MC.
Produtividade de cebola em plantio direto na palha em função do tipo e da densidade de
plantio. ln: Anais do 51º . Congresso Brasileiro de Olericultura; 2011; Viçosa, MC. içosa, (G :
ABH; 2011. p.2694-702.
Madeira NR. Inovações tecnológicas no cultivo de hortaliças em sistema de plantio direto. Hortic
Bras. 2009;27:S4024-S4032.
Made ira NR, Melo RAC, Souza RB, Cai_~eta RP. P(an~o direto e plantio com pre paro reduzido de
to m~te_para proc~ssamento sob dtterentes _ruve1s de ~dub~çà?· In: Anais do -l9º . Congres 0
Bras ileiro de Olencultura [CD ROM]; 2009; Aguas de L111d61a. Aguas de Lind óia: ABH; _009.
Mckee JMT. Physilogical aspects to transplanting vegetables and other crops. 1. Factors which
in.fluence reestablis hment. Hortic Abstr. 1981;51:265-72.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1158 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

Maro~ell i \-\' A. ilva HR, fa deira NR. Uso de c\gu a e produção de tomateiro para processa m e nto e m
- is terna de plantio direto com palhada. Pcsq Agropec Bras. 2006;41:1399-404.
,1 arou~lli WA , Abd all a RP, Madeira 1 "P. Irrigação de cebola em sistema de plantio direto . R Plantio
Direto. 2008a;105. Oi portível em : http:/ / w,vw.plantiodireto.com .br
Marnuell! \\'A.Silva WLC, Sih·a HR. lrrigação por aspersãoem hortaliças: qu alidade da água, aspectos
do sis te ma e m étodo prático de manejo. 2ª. ed . Brasília: Embrapa ln fo rmação Tecnológica, 2008b.
Maroue lli W A, Abdalla RP, Madeira IR, Oliveira AS, Souza RF. Eficiência de uso da água e produ ção
de repolho sobre diferentes quantidades de palhada em plantio direto. Pesq Agropec Bras.
2010a;-!5:369-75.
1edeiros JF. Manejo d a água d e irrigação salina em eshÚa cultivada com pimentão [tese]. Piracicaba:
Escola Superior d e Agricultura Luiz de Queiroz; 1998.
Melo RAC, Madeira NR, Peixoto JR. Cultivo d e brócolos de inflorescência única no verão em plantio
direto. Hortic Bras. 2010;28:23-8.
Minami K . Produção de mudas de alta qualidade e m horticultma. São Paulo: T.A. Queiroz, 1995.
fochizuki MJ, Rangarajan A, Belli.nder RR. O vercoming compactation limitations on cabage growth
and yield in the transition to reduced tiJlage. Hortscience. 200742:1690-4 ..
Morote CCB, Vidor C, Mendes NG. Alterações na temperatura do solo pela cobertura morta e
irrigação. Rev Bras Cienc Solo. 1990;14:81-4.
Morse RD, Abdu.1-Baki A. Relationship between cover crop growth, weed suppression, and y ield of
no-tillage broccoli (Brassica oleraceae L. var. italica). Hortscience. 1998;33:495-6.
Moyer J. Organic no-til! farming - Advancing no-till agriculture: crops, soil and equipment. Austin:
2011.
Miyasaka S. Histórico de estudo de adubação verde, leguminosas viáveis e suas características. ln:
Fundação Cargili. Adubação verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargill; 1984.
Miyasaka S, agai K, Sakita MN, Miyasaka NS. Manejo da biomassa e do solo com vistas à agricultura
sustentável. ln: Miyasaka S, coord. Manejo da biomassa e d o solo visando à su s tentabilidade da
agricultura brasileira. São Paulo: Navegar, 2008. p.19-154.
egrini ACA, Oviedo VRS, Mitsuiki C, Minami K, Melo PCT. Desempenho de beterraba monogérmica,
cv. Modana, com mudas produzidas em bandejas e semeadura direta . ln: Resumos do 46°.
Congresso Brasile iro d e Olericultura [CD ROM] 2006; Goiânia. Goiâ nia: ABH; 2006. p.129-34.
Oliveira FF, Guerra JGM, Almeida DL, Ribeiro RLD, Espindola JAA, Ricci MSF, Ceddia, MB. Ava liação
de coberturas mortas em cultura de alface sob manejo orgânico. Hortic Bras. 2008;26:216-20.
Oliveira NG, Oe-Polli H , Almeida DL, Guerra JGM. Plantio direto de alface ad uba d a com "cama"
de aviário sobre coberturas vivas de grama e amendoim forrageiro. Hortic. Bras. 2006;24:112-7.
O li veira Neto OH, Carvalho DF, Silva LDB, Guerra JGM, Ceddia MB. Evapotranspiração e coeficientes
d e cultivo da beterraba orgânica sobre cobertura morta de leguminosa e gramínea. Hortic Bras.
2011 ;29:330-4.
Orzarí J, Monquero PA, Re is FC, Sabagg RS, Hirata ACS. Germinação de espécies da fa milia
Convolv ulaceae sob diferentes condições de luz, temperatura e profundid ad e de sem eadura.
Pla nta Daninha. 2013;31:53-61.
Pacheco LP Leandro WM, Machad o PlOA, Assis RI, Cobucci T, Madari BE, Pe tter FA. Produção
d e fíto~1 assa e acúmulo e liberação de nutrientes por plantas de cobertu ra na safrinha . P esq
Agropec Bras. 2011;46:17-25.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXV - MANEJO CONSERVACIONIST,I\ DO SOLO NO CULTIVO D E ÜLERÍCOLAS 1159

Peche Pilho A. Manejo e preparo de solo na horticultura. 2007. racesc;ado em: 02 de nov . 2 13 1 º
Dis ponível em: http:/ /www.infobibos.com/ Artigoci/ 2007_2/ ma ncjoc;olo/ lndex.htm.
Peche Filho A, Ambrosano EJ, Cerqueira Luz PH. Semeadura e ma ne jo da biomac;c;a de dubos
verdes. ln : Lima Filho OF, Ambrosano EJ, Rossi F, Ca rl os JAD. Adubação verde e planta de
cobertura no Brasil - fundamentos e práticas. Brnsíl ía: Embrapa; 2014.
Pereira Filho IA, Ferreira AS, Coelho AM, Casela CR, Karan D, Rodrigues JAS, C~uz JC ~a~ui l J t.
Manejo da cultura do milheto. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo; 2003 . (Cmu la r tecnica, 29).
Pierce FJ, Burpee CG. Zone tiJlage effects on soil prope rties a nd yicld and qua li ty of potato s
(Solanum tuberosum L.). Soil Till Res. 1995;35:135-46.
Pinheiro EFM, Pereira MG, Anjos LHS. Aggregate distríbution and soil orga nic matter unde~differe nt
tillage systems for vegetable crops in a Red Latosa! from Brazil. Soil Til! Res. 2004;77:19-84.
Pitelli RA, Durigan JC. Ecologia das plantas daninhas no sis tema plantio direto. ln: Rossell o RD,
editor. Siembra directa en el cano sur. Montevideo: PROCISUR; 2001. p .203-10.
Primavesi AM. A fertilidade do solo. Agroecol Hoje. 2001;2:5.
Primavesi AM. Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais. 9". ed. São Paul o: , ob l;
2002.
Purquerio LFV, Tivelü SW. Multicultivo de Alface em sistema de plantio direto. ln: Anais do ➔ .
Congresso Brasileiro de OlericuJtura; 2007; Porto Seguro. Porto Seguro: 2007.
Purquerio LFV, FactorTL, LimaJúniorS, TivelliSW, Trani PE, BredaJrJM, Rocha NlAV. Produtividade
e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e rnolibdenio.
Hortic Bras. 2009;27:S366-72.
Purquerio LFV. Evolução histórica das tecnologias e insumos para a sustentabilidade na olericul tura.
Hortic Bras. 2010;28:577-584.
Purquerio LFV, Factor TL, Lima Júnior S, Silveira JMC, Tive Ili SW, Calo ri AH, Guimaraes RS, Santello
MC, Ronchi RSM. Produtividade de beterraba cultivada em plantio direto em função de do es
e fontes de nitrogênio. Hortic Bras. 2011a;29:S3771-7.
Purquerio LFV, Tivelli SW, De Maria IC, Andrade CA, Wutke EB, Rosse CE, Oliveira AH . Produção
de alface em estufa agrícola com solo salinizado após o cultivo de planta e.,xtratora.s de
nu trientes. Hortic Bras. 20116;29:Sl 72-S180.
Purquerio LFV, Wutke EB, De Maria lC, Andrade CA, Tivelü SW. Produção de ma a e acúmulo de
nutrientes em crotalária júncea e milheto em estufa agrícola com olo alinizado. ln: R umo
do 33°. Congresso Brasileiro de Ciência do Solo [CD ROM I; 2011; Uberlândia. Uberlàndia: _Q1 lc.
Queiroga RCF, Nogueira ICC, Bezerra Neto F, Moura ARB, Pedrosa JF. Utilização de diferent
materiais como cobertura morta do solo no cultivo de pimentão. Hortic Bra.s. 2002;20:41
Raij B van, Cantarella H, Quaggio JA, Furlani AMC. Recomendações de adubação e caJa 0~em para
o estado de São Paulo. 2ª. ed. Campinas: Instituto Agronomico de Campinas; 1997. (Boletim
técnico, 100).
Reghin tvrY, Otto RF, Jacoby CFS, OlinikJ. lnfluência do tipo de bandeja na produção de mudas e no
rendimento e qualidade de bulbos de cebola de diferentes cultivares em culti O ob palhada. Ci
Agrotec. 2006;30:58-66.
Resende FV, Souza LS, Oliveira PSR, Gualberto R. Uso de cobertura mo rta vegeta l no controle da
umidade e temperatura do solo, na incidência de plantas in asoras e na pr dução da cenoura
em cultivo de verão. Ci Agrotec. 2005;29:100-105.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1160 ROBERTO BOTELHO FERRAZ BRANCO ET AL.

Ribeiro Ac_, Gu imru·~es_PTG, Alvarez V VH . Recomendação para O uso de corretivos e fertilizantes


em Mmas Gerais: :>. Aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade do Solo do Es tado de
Minas Gerais; 1999.

Rosolen ~ ' Folon.i J~S, Tiritan CS. Root growth and nutrient accumulation in cover crops as affected
by s01l compachon. Soil Til\ Res. 2002;65:109-15.
Ruidisch M, Bartsh S, Kettering J, Huwe B, Frei S. The effect of fertilizer best management practices
on nitrate leaching in a plastic mulched ridge cultivation system. Agric Ecosyst Environ.
2013;169:21-32.

Sainju UM, ~ingh BP. Winter cover crops for sustainable ag:riculture systems: influence on soil
properhes water quality, and crop yields. Hortscience. 1997;32:21-7.
Sainju UM, Singh BP, Rahmru1 S. Tillage, cover croppi.ng, and nitrogen fertilization influence torna to
yield. HortScience. 2000;35:217-21.
Santos HG, Jacomine PKT, Anjos LHC, Oliveira VA, Lumbreras JF, Coelho MR, Almeida JA, Cunha
TTF, Oliveira JB, editores. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3:' ed. Brasília, DF:
Embrapa; 2013.
Sediyama 1'-1.AN, Santos MR, Vidigal SM, Sru1tos IC, Salgado LT. Ocorrência de plru1tas druúnhas no
cultivo de beterraba com cobertura morta e adubação orgânica. Planta Daninha. 2010;28:717-25.
Silva AC, Hirata EK, Monquero P A. Produção de palha e supressão de plantas daninhas por plantas
de cobertura, no plantio direto do tomateiro. Pesq Agropec Bras. 2009;44:22-8.
Silva AC, Araujo EF, Ferreira F A. Períodos e temperaturas de pré-resfriamento na germinação de
sementes de Leonotis nepetaefolia. Ci Rural. 2006;36:282-5.
Silva Hirata AC, Hirata EK, Monquero PA, Golla AR, Narita N. Plantas de cobertura no controle de
plantas daninhas na cultura do tomate em plantio direto. Planta Daninha. 2009;27:465-72.
Silva F AM, Pinto HS, Scopel E, Corbeels M, Affüolder F. Dinâmica da água em palhas de milho,
milheto e soja utilizadas em plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2006;41:717-24.
Silveira JMC, Rocha AM, Lima Júnior S, Matsura EE, Sakai E, Pires RCM. Identificação de áreas
irrigadas por pivô central utilizando imagens CCD/ CBERS. ln: Anais do 9°. Congreso Latino
AmericaJ10 y Dei Caribe de lngeniería Agrícola; 39º. Congresso Brasileiro de Engenharia
Agrícola; 2010; Vitória. Vitória: SBEA; 2010.
Silveira JMC, Lima Júnior S, Sakai E, Matsura EE, Pires RCM, Rocha AM. Identificação de áreas
irrigadas por pivô centra] na sub-bacia Tambaú-Verde utilizando imagens CCD/CBERS. Irriga.
2013b;18:721-9.
Silveira JMC, Factor TL, Li.ma Júnior S, Purquerio LFV, Pires RCM . Manejo de irrigação na cultura
da cebola sob s is tema de plé111tio direto, ln: Anais do 7º. Congreso Ibérico de Agroingenieria y
Ciencias Hortícolas; 2013; Madri. Madri: Un.iversidad Politécnica de Madrid; 2013a. p.1-6.
Simarelli M. Eficácia no cultivo de tomates. Pél11or Rural. 2005;4:69-71.
Souza JL, Pereira V A. Desempenho produtivo de hortaliças em 20 anos de cultivo orgâ nico. Hortic
Bras. 2010;28:52811-8.
Souza JL, Pereira VA, Prezotti LC. Monitoramento da fertilidade de solos no cultivo orgâruco de
hortaliças durante 20 anos. Hortic Bras. 2010;28:S2803-10.
Souza JL, Resende P. Manual de horticultura orgânica. Viçosa, MG: Aprenda Fácil; 2003.
Sutton KF La.nini WT, Mitchell JP, Miyao EM, Shrestha A. Weed contrai, yield, and quality of
proce~sing tornato production under different irrigation, till age and herbicide systems. Weed
Technol . 2006;20:831-8.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


n ,n;e -

XXXV - MANEJO CONSERVACIONISTA DO SOLO NO CULTIVO DE ÜLERÍCOLAS 1161

Tavella LB, Galvão RO, Ferreira RLF, Araújo Neto, SE, Negreiro JRS. Cultivo orgâ n ico d_e coentro em
plantio direto utilizando cobertura viva e morta adubado com composto. Rev. Ciénc. Agron.,
41:614-618, 2010.
Thõnnissen C, Midmore DJ, Ladha JK, Holmer RJ, Schimdhalter U. Tomato crop response to short-
duration legume green manures in tropical vegetable systems . Agron J. 2000;92:245-253.
Tivelli SW, Factor TL, Lima Jr 5, Purquerio LFV, Tran.i PE, Breda Jr JM, Rocha MAV. Semeadura
direta e transplante influem na produtividade e qualidade de beterraba cultivada em P!antio
direto? In: 49 Congresso Brasileiro de Olericultura [CD Rom]; 2009; Águas de Lindóia . Aguas
de Lindóia: Horticultura Brasileira; 2009. 577-585.
Torres JLR; Pereira MG; Andrioli I; Polidora JC; Fabian AJ. Decomposição e liberação de nitrogênio
de resíduos culturais de plantas de cobertura em um solo de cerrado. Rev Bras Cienc Solo.
2005;29:609-18.
Trani PE, Cantarella H, Tivelli SW. Produtividade de beterraba em função de doses de ulfoto de
amónio em cobertura. Hortic Bras. 2005;23:726-30.
Valarini PJ, Oliveira FRA, Schilickmann SF, Poppi RJ. Qualidade do solo em sistemas de p roduçào de
hortaliças orgânico e convencional. Hortic Bras. 2011;29:485-91 .
Vilas Boas R, Pereira GM, Souza RJ, Consoni R. Desempenho de cultivares de cebola em função do
manejo da irrigação por gotejamento. Rev Bras Eng Agr Amb. 2011;15:117-24.
Wang Q Klassen, W, Li Y, Codallo M. Cover crops and organ.ic mulch to improve to ma to y ields and
soil fertility. Agron J. 2009;101:345-51.
Wang Q, Klassen W, Li Y, Codallo M. Influence of cover crops and irrigation rates on tomato yields
and quality in a subtropical region. HortScience. 2005;40:2125-31.
Wutke EB. Adubação verde, manejo de fitomassa e espécies nitrogenadas no Estado de São Paulo.
ln: Wutke EB, Bulisani EA, Mascarenhas HAA, Coordenadores. Curso sobre adubação verde
no Instituto Agronômico. Campinas: Instituto Agronómico de Campinas; 1993. p.12-29
(Documentos, 35).
Wutke EB, Trani PE, Ambrosano EJ, Drugowich MI. Adubação verde e a conservação do solo. Ca a
Agric. 2010;13:11-12.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-

XXXVI - MANEJO DO SOLO EM


PASTAGENS
Moacyr Bernardino Dias-Filhol/ & Monyck Jeane dos Santos Lopes 21

11 Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA. E-mail: moacyr.dias-filh o@embrapa.br


21 Labo ratório d e Proteção de Plantas, Universidade Federal Rural da Amazônia. Belém, PA.
E-mail: monyck_lopes@ya.hoo.com.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ............ .................................................................................................................................................. 1163


A DEGRADAÇÃO DA PASTAGEM E A DEGRADAÇÃO DO SOLO ....................... - ........................................ 1165
MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO ................................................................................-.................................. 1166
ADUBAÇÃO E CORREÇÃO DO SOLO ............................................................................... ·-·····-··························.. 1166
CICLAGEM DE NUTRIENTES .............................. .........................................................- ..·.. ···········-·················--··· 1167
Fósforo .................................................................................................................................·-··············- ··········-··-·· 11
Nirrogênio ...................................................................................................................................... ·- ·-······-·---··· 116
Potássio, cálcio e magnésio .............................................................................................................................·-···· 1170
MANEJO DO SOLO EM ÁREAS QUEilvlADAS ...................................................................................................... 1170
MANEJO DO SOLO NA FORMAÇÃO DA PASTAGEM .......................................................................... ···-··· ... 1173
Sulcos e diques em contorno e terraceamento agrícola ............................................. ·-··················.... ·- ···-·····.. 1173
Semeadura direta ............................................................................................................................ ·- ········.. -·········· 1176
Epoca do primeiro pastejo ..................................................................................................................................... 11 6
MANEJO DO PASTEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO EM PASTAG ENS ........... .........._ -·--·•.... ·-· ...-... 1176
SEQUESTRO DE CARBONO NO SOLO DA PASTAGEM ................................................ .... ..... ·······--·-· ..--·· 1177
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... .............. 1179
LITERATURA CITADA ..............................................................................................................................········-········· 1179

INTRODUÇÃO

As pastagens naturais e plantadas estão dentre os maiores ecossistemas terrestres do


planeta, fornecendo o sustento de milhões de pessoas. De acordo com a FAO (Food and
Agriculture Organization of the United Nations - FAO, 2014), 75 % das áreas agrícolas da
América Latina e Caribe são usados como pastagem. o Brasil, as pas tagens plan tadas e
naturais) compõem 45 % da área total dos estabelecimentos rw·ais (lBGE, 201 ).

Be rto ! !, De Ma ria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do ·o lo e d.i ágttd. iç sa, IG: ciedade
Brasileira de C ie ncia do Solo; 2018.
1164 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK JEANE DOS SANTOS LOPES

A pecuári~ bO\ ina bra ileira desempenha papel importante no fortalecimento da


balança conu~rc1al do País e na mell1oria da segurança alimentar nacional e mundial. O
rebanho bovmo brasileiro, com cerca de 218 milhões de cabeças (Sidra, 2016), criadas
pre_d om.inantemente em pastagens, é o segundo maior do mundo. O Brasil também é o
maior exportador mundial de carne bovina e um dos maiores consumidores mundiais
(Anuário DBO, 2018), sem depender de importação para suprir essa demanda. Apesar
de toda a evolução, a pecuária bovina brasileira ainda é muito pouco eficiente. A razão
par~ isso é que uma proporção considerável das áreas de pastagens no país é usada muito
abéllxo do seu real potencial (Strassburg et ai., 2014). Uma causa importante dessa situação
é o legado de desleixo no uso de insumos e de tecnologia que ainda persiste no manejo de
muitas áreas de pastagens no Brasil. Esse legado de mau manejo das pastagens, típico da
pecuária mais extensiva, tem sido fomentado por peculiaridades da atividade pecuária,
especialmente quando destinada para a produção de carne. Dentre essas peculiaridades,
destaca-se que a pecuária de corte pode ser im.plantada e conduzida com relativo sucesso
em condições de infraestrutura deficiente e sem a necessidade do uso mais intensivo
de insumos, de tecnologia e de mão de obra. Ou seja, ao contrário de outras atividades
agrícolas, na pecuária bovina de corte é possível produzir, embora com muito baixo
rendimento, de maneira predominantemente extensiva (Dias-Filho, 2014).
Dentre os efeitos negativos dessa peculiaridade da pecuária, destaca-se o aceleramento
da degradação das pastagens. Estima-se que cerca de 50 % das pastagens plantadas e
naturais do Brasil encontram-se em algum estádio de degradação (Dias-Filho, 2014).
Outro resultado negativo decorrente dessa situação é a estigmatização de que a pecuária
desenvolvida a pasto é uma atividade improdutiva e essencialmente danosa ao meio
ambiente.
As consequências do manejo inadequado da pastagem, típico em uma pecuária mais
extensiva, são a queda acentuada na produção de forragem, a redução na cobertura vegetal
do solo pelas plantas forrageiras, o aumento da compactação, da erosão, da perda de
nutrientes do solo e da emissão de gases de efeito estufa (Dias-Filho, 2011).
Quando bem manejadas, as pastagens se destacam pela alta eficiência em armazenar
carbono no solo (i.e., sequestro do carbono atmosférico), ciclar nutrientes, controlar erosão
e filtrar poluentes, dentre muitas outras funções (Schacht e Reece, 2009). Desse modo, além
da provisão eficiente e barata de alimento (i.e., forragem) para os herbívoros que compõem
a nossa cadeia alimentar, as pastagens bem manejadas são capazes de fornecer diversos
serviços ambientais importantes, que beneficiam diretamente o solo. Tais benefícios
resultam, principalmente, da extraordinária capacidade das plantas forrageiras, em
particular das gramíneas C4, em melhorar a cobertura vegetal do solo e, por meio da densa
e profunda massa radicular, ser uma fonte de matéria orgânica que contribui para agregar
as partículas do solo e facilitar a infiltração da água da chuva no solo.
Os atributos do solo podem ser tanto a causa como a consequência do processo de
degradação das pastagens (Dias-Filho, 2011). Portanto, o manejo correto da pastagem
está intimamente associado ao manejo correto do solo, um recurso não renovável, cuja
função primordiaJ é garantir a manutenção da produtividade da pastagem, evitando a sua
degradação.
Objetiva-se neste texto discutir a importânci~ ?º
manejo responsável, racional e
efi ciente do solo, como forma de recuperar a produtividade das pastagens em degradação
ou d egradadas, ou de manter a produtividade das pastagens ainda produtivas.
~ ,
MANEJO E CONSERVAÇAO DO SOLO E DA AGUA
---•
XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS 1165

A DEGRADAÇÃO DA PASTAGEM E A DEGRADAÇÃO


DO SOLO

Uma pastagem pode ser considerada degradada (ou em degradação) _dentro de


um intervalo bem amplo de situações. Os extremos dessa situação são conceitualme nte
denominados" degradação agrícola" e" degradação biológka" (Dias-Filho, 1998, ~01_1) . a
degradação agrícola há um aumento na proporção de plantas espo ntâ neas q ue dumnuem
gradualmente a capacidade de suporte da pastagem. Na degradação biológica, o solo
perde a capacidade de sustentar uma produção vegetal expressiva, levando à substituição
das plantas forrageiras por plantas espontâneas, menos exigentes em fertil idade do olo e,
em um estádio mais avançado de degradação, ao aparecimento de ár eas desprovidas de
vegetação (solo descoberto).
Nas pastagens com degradação agrícola, o processo ecológico de sucessão secundá ria
está em pleno curso. O resultado desse processo é urna mudança na compos ição botânica
dessas pastagens, causada pela recolonização da área por plantas oriundas do banco
de sementes e propágulos existentes no solo, ou trazidas de outros locais, por meio da
dispersão das sementes. Do ponto de vista edáfico, na degradação agrícola não haveria,
necessariamente, a perda de capacidade do solo em facilitar e s us tentar o acúmulo
de biomassa vegetal (acumular carbono), a qual, em certos casos, poderia, inclu ive,
aumentar na pastagem tida como degradada, ou em degradação, q uando comparada à
pastagem original (Dias-Filho, 2011). Isso ocorre pela substituição gradual do capim
por plantas espontâneas herbáceas e lenhosas, com maior capacidade de crescimento e
acúmulo de biomassa aérea. Nesse contexto, o termo degradação agrícola indica que a
capacidade da pastagem para produzir economicamente, do ponto de vis ta agrícola,
estaria temporariamente diminuída ou inviabilizada, por causa da pressão competiti a
das plantas espontâneas sobre as plantas forrageiras, reduzindo, portanto, a capacidade
de suporte da pastagem (Dias-Filho, 1998, 2011). No entanto, do ponto de v ista edáfico, os
atributos químicos, físicos e biológicos essenciais do solo dessa pastagem sob degradação
agrícola poderiam ainda estar, em grande parte, preservados, em virtude do efeito protetor
da cobertura do solo pela vegetação secundária (plantas espontâneas). Essa proteção, e
consequente preservação dos atributos desejáveis do solo, seria diretamente proporcional
à densidade dessa vegetação secundária na pastagem degradada.

Na degradação biológica da pastagem ocorre uma acentuada diminuição da cobertura


vegetal do solo. Essa redução da cobertura vegetal é causada pela degradação do solo,
que, por diferentes causas de natureza quimica (perda dos nutrientes e acidificação),
física (compactação e erosão), biológica (perda da matéria orgânica), ou climática
(estiagem ou encharcamento excessivos), perderia a capacidade de manter uma produção
vegetal expressiva. Do ponto de vista edáfico, essa seria uma condição mais drástica de
degradação da pastagem, na qual as plantas forrageiras são progressivamente su bstituídas
por ciperáceas ou gramíneas nativas, menos exigentes em fertilidade d o solo, de baixo
valor nutritivo e de baixa capacidade produtiva, ou por dicotiledàneas adaptadas essas
condições edáficas des~avoráv_eis. Em u~a-situação_ainda mais extrema de d egradaçã do
solo, as plantas forrageIIas senam substitu1das por areas desprovidas de cobertura ve1Yetal,
altame nte vulneráveis à perda da matéria orgànica, à compactação, escoamento (deflú i )
superficial e erosão. Portanto, o termo d~gradação biol~gica indica que a capacidade da área
em s us tentar a produção vegetal estana comprometida em decorrência da incapacidade

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


..
1166 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK JEANE DOS SANTOS LOPES

produti a do ol . O uso de práticas inadequadas de manejo da pastagem, como a queima


frequente da v getação e o pastejo e -cessivo, tornam as pastagens mais suscetíveis à
degradação biai gica (Dias-Filho, 2011).

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO

Entende-se por práticas de manejo das pastagens as ações de intervenção humana


no funcionan1ento desse ecossistema. Urna das principais peculiaridades do manejo
inadequado (i.e., não profissional) das pastagens no Brasil resulta do paradigma herdado
dos primórdios da pecuária brasileira, de que pasto não é uma cultura agrícola com
necessidades particulares de manejo do solo e pode ser mantido produtivo apenas pelas
leis da natureza (Dias-Filho, 2016). Tal padrão não profissional de gestão da pecuária
conduzida em pasto necessita, portanto, ser mudado em urna pecuária moderna.
A fom1a pela qual se maneja o solo tem efeito acentuado na longevidade produtiva da
pastagem e, portanto, na conservação do solo dessa pastagem. O manejo da fertilidade do
solo de pastagem tem que estar amparado em práticas que potencializem a ciclagem dos
nutrientes, reduzam suas perdas (práticas conservacionistas) e priorizem a entrada desses
nutrientes no sistema (e.g., por meio de adubações periódicas e ações que aumentem a
matéria orgânica do solo). Em um manejo responsável, racional e eficiente do solo de
pastagens, o uso de adubos e corretivos e condicionadores (calagem e gessagem) deve ser
planejado não apenas a partir de aspectos econômicos (metas de produtividade esperadas)
e agronômicos (análise de solo, o tipo de planta forrageira), mas, também, em harmonia
com preceitos ambientais.
Em pastagens formadas em solos arenosos, com relevo declivoso, ou que sejam mais
sensíveis ao aumento da densidade pelo pisoteio animal, o manejo tem que ser ainda mais
criterioso. A razão para esse cuidado resulta da maior suscetibilidade desses solos à erosão
e à lixiviação.
Embora a degradação da pastagem nem sempre esteja diretamente relacionada
com quedas significativas na fertilidade do solo, durante alguma fase de uso do pasto, a
adubação dos solos sob pastagens em regiões tropicais geralmente é necessária para manter
ou recuperar a sua produtividade (Dias-Filho, 2011). Em solos mais ácidos e com altas
concentrações de alunúnio tóxico e saturação por bases muito baixa, que são comumente
encontrados em certos locais do biorna Cerrado, a calagem e a gessagem também são
práticas importantes no manejo da fertilidade do solo.

ADUBAÇÃO E CORREÇÃO DO SOLO

A ma nutenção d e teores adequados de nutrientes no solo é indispensável para


preservar a produtividade das pastagens e, assim, conservar a cobertura vegetal na
superfície do solo.
Com O decorrer do tempo de uso, como ocorre em qualquer agrossistema, a
produtividade da pastagem tende a declinar. Normalmente, esse declínio é motivado

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1167
XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS

direta ou indiretamente pela queda de fertilidade do solo, ha vendo, portanto, a necessid_;:i?e


de acompanhamento periódico dos níveis de fertilidad e do solo e, q ua nd o _n_ecessa n o,
recompor essa fertilidade por meio de adubação ou do uso de corretivos e condic10nado res
(calagem e gessagem).
Na intensificação racional da pastagem, 0 emprego de adubos e co rr_e ti vos d~ve s:r
integrado a aspectos econômicos e agronômicos com a observação de preceitos a mbien ta, ,
evitando-se com isso a contaminação do lençol freático e de cursos d 'água . Po rtanto, um
objetivo importante do manejo da fertilidad e do solo em pas tagens é compensar, p~r meio
de aplicações periódicas de fertilizantes e corretivos, de fo rma responsável, racional e
eficiente, as perdas e carências naturais de nutrientes do sistema, evitando assi m a q ueda
de produtividade e a consequente degradação da pastagem e do solo.

CICLAGEM DE NUTRIENTES

A eficiência da ciclagem de nutrientes no solo tem papel fundamental na lo ngevidade


produtiva da pastagem. Diversas práticas de manejo podem influenciar a ciclagem de
nutrientes nesse ecossistema. Dentre essas práticas, são muito importantes o manejo do
pastejo (ajuste da pressão de pastejo e da lotação animal), a adubação e correção do solo,
o uso do fogo, a suplementação animal e o controle das plantas espontâneas (Dias-Filho,
2011; Dubeux Jr. et al., 2013).
Por interferir na ciclagem de nutrientes, o gado pode impactar fortemente o
funcionamento do ecossistema da pastagem. Mediante o consumo da forragem e po terior
excreção das fezes e urina, o gado é capaz de transferir os nutrientes contidos na forragem,
de áreas relativamente extensas, para áreas bem menores. Desse modo, o pastejo pode
favorecer as perdas (i.e., saída) desses nutrientes do sistema por concentrá-los em
pequenos volumes de solo. A razão para isso é que a alta concentração momentànea de
nutrientes no solo pode dificultar a eficiência de aproveitamento desses nutrientes pela
fauna do solo e pelas plantas. Em sistemas de manejo mais extensivos, característicos do
pastejo contínuo, esse efeito prejudicial pode ser maior do que em manejo mais inten i o
com pastejo rotativo. O gado também impacta a ciclagem de nutrientes da pastagem pela
exportação dos nutrientes na forma dos produtos (carne, leite etc.), embora esse impacto
seja relativamente bem menor.
O manejo correto do pastejo é, portanto, essencial para minimizar as perdas de nutrient
e aw11entar a sua eficiência de uso. O pastejo excessivo, como prática de mau manejo, conduz
à maior exposição do solo e, corno consequência, perda de matéria orgànica e compactação,
ocasionando maior suscetibilidade do solo ao escoamento superficial e à erosão. Essa situação
agrava-se com o avanço do processo de degradação da pastagem, conduzindo à degradação
do solo (i.e., degrad~ção bio~ó~~a da past~gem). Em uma situação emelhante de manejo
inadequado, concoffiltante ao iruc10 da reduçao das plantas fo1Tageiras, o aumento da~ posiçã
do solo propici~i~ a colonização do solo de~o~rto por plantas invasoras. Essas plantas
espontâneas, pnnc1palmente as lenhosas, contnbumam para uma expressi a imobilizacão dos
nutrientes disponíveis em sua biomassa, competindo com a planta forrageira. ·
A seguir serão apresentados de f~rma sucinta _c~rtos aspectos da ciclagem de alguns
nutrientes importantes na manutençao da produt1v1dade do ecossistema de pas ta em.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1168 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK ]EANE DOS SANTOS LOPES

S~rá também discutido como o manejo do solo e da pastagem é capaz de interferir na


c1clagem desses nub·ientes.

Fósforo
O fósforo é crítico para o desenvolvimento vegetal por estar principalmente envolvido
na transformação de energia e na reprodução das plantas. Na natureza, o fósforo é
encontrado em rochas, minerais e na matéria orgânica do solo. No solo, o fósforo ocorre
na forma de íons inorgânicos ou como parte de compostos orgânicos. Os íons solúveis de
fosfato inorgânico são absorvidos pelas raízes e incorporados à biomassa da planta, ficando
nela retidos indefinidamente, até serem colhidos (e.g., durante o pastejo), ou naturalmente
reciclados (e.g., senescência ou dispersão das sementes).
Em decorrência da capacidade de se ligar quimicamente ao sistema coloidal do solo,
o fósforo pode ter a sua disponibilidade temporariamente reduzida para as plantas. Essa
característica toma a disponibilidade do fósforo altamente limitante em muitos solos
tropicais. Em pastagens, a imobilização do fósforo disponível no solo, motivada pela
adsorção geoquímica pode, em certos tipos de solo, influenciar fortemente a eficiência
da sua ciclagem. Isso ocorre por causa da diminuição da disponibilidade desse elemento
para absorção pelo capim e, corno consequência, para o consumo pelo gado. A adsorção
do fósforo é maior em solos mais ácidos. No Brasil, a adsorção do fósforo no solo é,
especialmente, importante em pastagens formadas no biorna Cerrado (Dias-Filho, 2011).
Dessa forma, dentre os nutrientes para as plantas, o fósforo é, em geral, citado corno
o mais limitante para a produtividade primária de ecossistemas tropicais, em solos com
elevado grau de internperisrno. Por ter baixa mobilidade relativa no solo e alta estabilidade
e, ainda, porque suas entradas em ecossistemas terrestres natura.is são aproximadamente
equivalentes ou até maiores do que as saídas (por exemplo, via escoamento superficial e
erosão), o fósforo existe em quantidades relativamente constantes nesses ecossistemas.
Na maioria dos ecossistemas agrícolas, entretanto, as perdas de fósforo podem ser
relativamente altas, em decorrência da colheita dos produtos vegetais (e.g., forragem,
grãos, frutos) . Além disso, esses ecossistemas antropizados são geralmente mais suscetíveis
a perdas do fósforo do solo por escoamento superficial e erosão. Isso decorre da menor
cobertura vegetal e da menor capacidade de infiltração da água das chuvas nesses solos,
quando comparados a solos em ecossistemas naturais. Assim, em razão da importância
para a produção primária da pastagem e a suscetibilidade do fósforo a perdas, ou
imobilização no solo, a manutenção de teores adequados de fósforo disponível há muito
tem sido descrita como um dos maiores desafios para quem maneja a fertilidade do solo
em pastagens tropicais (Dias-Filho, 1998).
Na pastagem, o pisoteio do gado e o pastejo alteram a taxa de movimentação e de
distribuição do fósforo dentro desse ecossistema e aumentam o seu potencial de perda. A
maioria do fósforo excretado pelo gado bovino está nas fezes. A concentração desse nutriente
é relativamente alta nas placas de fezes, as quais, principalmente em pastagens de baixa
produtividade (i.e., em degradação), tendem a ser depositadas em loca.is com pouca ou
nenhuma vegetação, ficando expostas à ação das intempéries. Nesses loca.is, a lém da maior
degradação da matéria orgânica do solo, o potencial de perda do fósforo pode ser grandemente
aumentado pela lixiviação de formas orgânicas de fósforo, escoamento superficial e erosão
lúdrica, particularmente em locais mais declivosos (Ranúrez-Avila et ai., 2011 ; Nesper et al.,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
1169

2015; Sigua, 2015). Isso ocorre porque O trânsito frequente do gado cria trilhas ~ue s. rvem de
canais de escoamento para a água da chuva. Além disso, o superpastejo e o pisoteio po~em
favorecer o aparecimento de áreas de solo descoberto e compactado. Essas áreas desprovidas
de vegetação frequentemente são mais suscetíveis a perdas por escoamento do fósforo e à
erosão superficial de solo e de partículas de fitomassa residual.
A ciclagem interna de fósforo na planta forrageira é alterada pelo pastejo. Isso aconte~e
porque, geralmente, as folhas com as mafores concentrações de nutrientes (folha mai
jovens) são mais consumidas pelo gado. Em consequéncía disso, diminui a eficiência da
remobilização interna do fósforo (e de outros nutrientes) na planta, estimulando a absorção
do fósforo do solo por essas plantas. Se a reciclagem, via dejetos animais, não for eficiente (o
que geralmente ocorre, principalmente sob baixas taxas de lotação) e, ainda, se não houver
entrada de fósforo no sistema, por meio da adubação fosfa tada, o fósfo ro disponível do
solo sofrerá um progressivo esgotamento. Em uma situação oposta, se o capim não for
consumido pelo gado (baixa eficiência de pastejo), a maioria do fósforo que é absorvido
do solo pelo capim ficará retido nos tecidos dessas plantas, tomando-se temporariamente
indisponível. Esse fenômeno poderia ser considerado um tipo de imobil ização biológica,
já que os nutrientes absorvidos pelas raízes ficariam, por certo tempo, imobilizados nos
tecidos da planta e, portanto, indisponíveis para serem absorvidos por outras plantas.
Portanto, o ajuste de carga animal à forragem disponível é uma prática de manejo
importante para a ciclagem de fósforo (e de outros nutrientes) na pastagem. Fenômeno
semelhante ocorre também com as plantas espontâneas na pastagem. Essa imobilização
biológica é intensificada pela capacidade de transferência de nutrientes contidos nas folhas,
por meio do processo de remobilização interna. Nesse processo, antes da senescência e
queda no solo das folhas mais velhas, parte dos nutrientes de maior mobilidade (e.g.,
nitrogênio e fósforo) são transferidos para tecidos mais jovens da planta, o que resulta em
baixa concentração desses nutrientes na serrapilheira e, como consequência, no solo.

Nitrogênio
Nos vegetais, o nitrogênio é parte importante das proteínas, ácidos nuc.léicos,
hormônios e da clorofila. Diversos microrganismos estão envolvidos nas alterações que o
nitrogênio sofre no ambiente. Por meio da fixação biológica, bactérias associadas às raízes
de certas leguminosas e capins são capazes de transformar o nitrogênio do ar em uma
forma assimilável para as plantas. No solo, o nitrogênio contido na matéria orgànica é
disponibilizado para as plantas por meio da mineralização, processo também intermediado
pelos microrganismos.
Nos sistemas de pastagem, as principais vias de entrada natural de nitrogênio são
a fixação biológica, a deposição de formas cominadas de pela água da chu a e pela
deposição de poeira. As entradas não naturais (i.e., antropogênica ) são as adubaçõe
inorgânicas e orgânicas e a suplementação proteica do gado. As principais v ias de
perdas são por processos físicos (lix~viação e erosão), químicos (volatilização), biológicos
(denitrificação) e pela queima da. biomassa. ~egetal. Em pastagens ativas, as perdas de
nitrogênio podem ocorrer por meio da volatilização da amónia (principalmente da urina)
e das emissões gasosas do solo e das plantas, lixiviação, erosão hídrica e eólica, remoção
via produtos animais (carne, leite e lã etc.), e ~or meio de gases, durante e entuais queimas
da pastagem (Steele, 1987; Russelle, 1997; Enksen et al., 2010; Cai e ki ama, 201 ).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1170 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK ]EANE DOS SANTO S LOPES

O gado é capaz de interferir no processo de ciclagem do nitrogênio na pastagem,


acelerando as perdas desse nutriente no sistema . Isso resulta do aumento da compactação do
solo ~1 elo pisoteio, interferência no ciclo interno de nilTogênio nas plantas por ca usa do pas tejo
selehvo, alteração na dish·ibuição e aumento na concentração de nih·ogênio na pastagem pela
deposição irregular de dejetos, e mudança na composição botânica da pastagem por causa
do pastejo seletivo (Dias-Filho, 2011). Dessa forma, por meio de práticas de manejo, como
ajuste de carga, é possível atenuar as perdas de nitrogênio em áreas pastejadas.

Potássio, cálcio e n1agnésio


O potáss io, cálcio e magnésio do solo são absorvidos pelas plantas forrageiras e, após
o consumo pelo gado, durante o pastejo, são depositados por meio das fezes e urina em
áreas restritas, tornando-se assim concentrados, sobretudo próximos a bebedouros, cochos
de mineralização e locais de descanso.
O potássio é excretado, principalmente, pela urina, enquanto que o principal meio de
excreção do cálcio e do magnésio são as fezes (Dubeux Jr et al., 2007). Altas proporções do
potássio (até 90 %), cálcio (cerca de 80 %) e magnésio (cerca de 90 %) consumidos durante
o pastejo são excretadas nas fezes e urina do gado (\i\Thitehead, 2000). O potássio excretado
na urina e nas fezes está prontamente disponível para absorção pelas plantas (Haynes et al.,
1993; Kayser e lsselstein, 2005). Somente cerca de 50 % do cálcio e do magnésio presentes nas
fezes é solúvel em água (Haynes et al., 1993). Por ser excretado em forma solúvel, altamente
concentrado nas manchas de urina, e distribuído na pastagem de maneira não wuforrne, a
cidagem do potássio pode ser ineficiente, aumentando o seu potencial de perdas por lixiviação.
Assim corno já discutido para outros nutrientes, o manejo adequado do solo e da
pastagem são essenciais para controlar a perda dos cátions básicos do solo e melhorar
a ciclagem desses nutrientes no ecossistema da pastagem. O superpastejo e o pastejo
prematuro de pastagens recentemente queimadas podem contribuir bastante para
aumentar essas perdas por lixiviação e erosão (perda de solo e das cinzas resultantes da
queima), como consequência da diminuição da cobertura vegetal

MANEJO DO SOLO EM ÁREAS QUEIMADAS

No decorrer da história da humanidade, o fogo tem sido usado como um meio de


controlar O crescimento da vegetação e de fertilizar o solo, sendo, em contrapartida,
também um importante causador da erosão do solo (Santín e Doerr, 2016) . A importância
do fogo para O solo é tal que ele tem sido considerado como o sétimo fator d e form ação
do solo, juntamente com o tempo, material parental, clima, relevo, seres irracionais e o ser
humano (Certini, 2014).
Em pas tagens, o fogo é um componente indicativo do manejo mais extensivo, sendo
usado com O objetivo de aumentar a produção de forragem. No entanto, embora em curto
prazo, a queima frequente da pastagem possa fav_orecer a produ~ã_o d e forragem, a longo
prazo essa prática tem o potencial de colocar em nsco a sustentabilidade d a pastagem, por
diminuir a qualidade da forragem e o potencial_ produti~o do solo (Trilleras et ai., 2015).
Portanto, intervenções de curto prazo no maneJO extensivo, como o uso do fogo, têm a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVI - it1ANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
117 1

capacidade de comprometer a longo prazo a sustentabilidade da pastagem. r so ocorreria,


principalmente, quando não for feito um manejo cfici nte pós queima da pastagem e do solo.
No Brasil, muito embora O uso do fogo em pastagens seja cada vez menos praticado
e recomendado, a queima da pastagem ai nda ocorre com objetivos diversos. Dentre es es
objetivos se destacam o controle de plantas espontâneas, a melhoria da fertilidade do solo, a
eliminação de forragem não consumida pelo gado (forragem passada) ou, em alguns caso , o
controle de pragas, como a cigarrinha das pastagens. Portanto, normalmente, a nece sidade
do uso do fogo resulta da prática anterior de algum procedimento inadeq uado de manejo.
A combustão da biomassa e da necromassa acima do solo e a combustão da matéria
orgânica viva e morta do próprio solo são capazes de produzir d iversas mudança·
biológicas, químicas e físicas no solo (Quadro 1). Além das alterações direta nas
características do solo, por meio dos processos de combus tão e aquecimen to, durante a
queima, o fogo também pode provocar mudanças indiretas, por meio das transformações
na cobertura vegetal e, ainda, da redistribuição do solo, resultante da erosão, durante o
período de recuperação pós fogo (Figura 1).

Quadro 1. Mudanças em atributos do solo induzidas pela tempera tura, durante a q ueima

Mudança Temperatura Efeito


predominante ºC
Biológica 37 Máximo estímulo dos microrganismos do olo
50 Esterilização moderada pela perda de água
60 Desnaturação das proteinas
70 Alta mineralização do nitrato
100 Início da produção de amônia do solo
110 Perda da água do solo
125 Esterilização do solo
200 Repelência à água
Início da perda de N

Quimica 300 Liberação máxima de aminoácido e N


[nício da perda de S e P
Destilação e carbonização de biorna a resid ual
Queima da matéria orgànica
400 Carbonização da matéria orgànica

420 Perda da águ~ dos minerai de argila, cau ando


mudança no hpo de argila
540 Pouco C e residuais permanecem no solo
600 Perda máxima do K e do P

Fís ica 950 Minerais de argila convertidos a dife rentes fa 0


>1200 Volatilização do Ca
Fonte: McKenzíe et ai. (200-1).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


--
1172 MOACYR B ERNARD INO DIAS-FILHO & MONYCK ] EA N E DOS SANTOS LOPES

Deve-se observar que a magnitude das mudanças produzidas pelo fogo no solo
(Quadro 1) serão consequência não somente da temperatura per se, mas também da
duração desse aquecimento, da d isponibilidade de oxigênio e de ah·ibutos do solo, como
teor de matéri a orgânica e um.idade, composição mineral e propriedades térmicas (Santín
e Doerr, 2016). Assim, sob 1nenores inten sidades (temperaturas) predominam mudanças
biológicas no solo, evoluindo para mudanças químicas, sob intensidades moderadas, e
físicas, com o aumento da intensidade do fogo (McKenzie et al., 2004).
A intensidade e a duração do fogo são determinadas pelo tipo de biomassa, sua
inflamabilidade e quantidade. Por exemplo, o fogo em uma pastagem limpa, bem formada,
com poucas plantas espontâneas lenhosas, pode ser rápido e de baixa intensidade; enquanto
que o fogo em pastagens mais "sujas", com muita biomassa lenhosa, ou com necromassa
enleirada na pastagem, normalmente é duradouro e de alta intensidade. No entanto,
conforme re\ isado por Santín e Doerr (2016), a temperatura do solo durante a queima
normalmente n ão excede a 100°C, até a evaporação da água do solo. Ademais, como os
solos, em geral, são considerados mau condutores de calor, mesmo uma combustão intensa
normalmente induziria apenas à uma penetração limitada de calor na superfície desse
solo (primeiros milímetros ou centímetros) (Certini, 2005), causando, portanto, alterações
diretas bastante heterogêneas em termos espaciais nesse solo (Santú1 e Doerr, 2016).

Perda de nutrientes por volatização

---~=====0-==7-------: Fogo I Pós-fogo 1


1 1
1
Nutrientes (N, P,
1
cátions etx:.) 1
proverúentes I
das cinzas
1 Perda de
Pasto
:::.=.-=..-::...-:....-_-'.....=_....
... nutrientes
por erosão
das cinzas

Solo I da matéria orgânica


Calor + onzas
.
1
1
n
aumentam o ~ Aumento na
O
Repelência à água
1
I
1
e do solo

1 por ação do calor


l ____]___
pH do solo -,-,, disponibilidade
________ :> de nutrientes íl 1
-------------------v-J Perda de nutrientes por lixiviação

figura 1. Modelo do fluxo de nutrientes, durante e após a queima da pastagem.


Fonte: Adaptado de Dias-Filho (2011 ).

Um dano importante do fogo ao solo é a indução à repelência à água, isto é, a


dificuldade ou impedimento do solo em se umedecer, com efeitos diretos na capacidade
de infiltração, escoamento e erosão desse solo (Debano, 2000). Em pastagens de capirn-
marand u (Brachia ria brizantha cv. Marandu), no nordeste do Estado do Ma to Grosso,
Johnson et ai. (2005) encontraram forte repelência em solos de pastos recentemente

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
1173

queimados e sugeriram uma relação positi va entre a repelência do solo e a degradaçã da


pastagem.
Sob o enfoque do manejo e conservação do so lo sob pastagen , as . mud~nças
mais danosas que podem ocorrer no solo de uma pas tagem que sofreu queima sao as
transformações indiretas que ocorrem gradualmente, após a queima. Assim, imediatament
após a queima da pastagem, a perda temporária da vegetação e da liteira, ju ntamente com
a alteração na estrutura do solo e o aumento da repelência do solo agua, re ultam em
maior exposição direta desse solo aos raios solares (degradação da maté ria orgânica ),
maior impacto das gotas de chuva (desestruturação e compactação) e ao aumento do
escoamento superficial e da erosão (Figura 1). Todos esses eventos podem induzi r a um
perda acelerada da camada superficial do solo, quando comparado ao solo de pa tagens
não queimadas. Esses efeitos negativos seriam mais drásticos em relevo mai declivosos
e sob condições que dificultassem a rebrota da pastagem. Por tanto, conforme sugerido
em Dias-Filho (2011), a principal recomendação de manejo pós-queima da pastagem é a
imediata proteção da área queimada contra o pisoteio e o pas tejo prematu ros, esti mulando,
assim, a rebrotação do capim e, por conseguinte, acelerando a proteção (cobertura vegetal)
do solo. Por isso, deve-se evitar a queima de pastagens que não tenham percentual de
capim para garantir a cobertura eficiente e rápida do solo após a queima, ou, ainda, que
estejam em áreas declivosas.

MANEJO DO SOLO NA FORMAÇÃO DA PASTAGEM

Os nutrientes do solo geralmente encontram-se em níveis mais altos durante a fa e


de formação (estabelecimento) da pastagem. No entanto, é também nessa fase que e se
nutrientes e o próprio solo estariam mais vulneráveis a serem perdidos (Dias-Filho,
2011). São diversas as causas do nível relativamente mais alto de nutrien tes no olo,
durante a formação da pastagem. Assim, como dentro do preceito atual de se evite r
desmatamentos, as pastagens devem ser formadas em áreas que já fo ram usadas para
pecuária ou agricultura e que agora se encontram abandonadas ou ubutilizada (áre
degradadas, ou em degradação), a adubação da área a ser implantada a pa tagem toma-
se imprescindível para melhorar a fertilidade do solo. Ademais, para fom1ar pastagens,
normalmente existe a necessidade do preparo mecânico do solo (aração o u gradagem),
que estimula a mineralização da matéria orgânica, aumentando a im a fertilidade de e
solo. Na integração da pecuária com lavoura, em pastagens a erem formadas após a
colheita da cultura agrícola, a fertilidade do solo também pode er relati amente alta, em
decorrência da adubação residual da cultura anterior. Além disso, em ituações de manejo
mais extensivo, na fase de formação da pastagem, quando é fei ta a queima da egetação
original, a fertilidade do solo também pode ser aumentada pela depo ição da cinzas.
Portanto, todos esses eventos, isolados ou em conjunto, contribuem para que, durante a
fase de formação da pastagem, o solo esteja com o nível de nutriente relati amente al to.
A maior suscetibilidade à perda de nutrientes e de solo durante a formação da pastagem
resulta da ausência temporária de cobertura vegetal. Portanto, por estar exp to, 0 ola fica
mais vulnerável à ação da radiação solar que, por meio da elevaçà da temperatura, acel ra
a decomposição da matéria orgânica, à ação do vento, que contribui p ra a erosão eóli ,
e ao impacto das gotas das chuvas, que provoca compactação, e coamento superfi ial

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1174 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCI< JEANE DOS SANTO S LOPES

e erosão. Em áreas que sofreram preparo mecânico, 0 solo fica aindc1 m ais v ulner ável à
erosão. Por essas razões, o manejo recomendado na fase de formação da pas tagem deve
visar a imediata e eficiente cobertura do solo pelas plantas forrageiras. O objetivo principal
é garantir a conservélção do solo e O uso eficiente dos nuh·ientes e, como consequência,
evitar a degradação prem a tura d a pas tagem e d o próprio solo.
As principais cau sas de insucesso na formação da pastageJT1 e, portanto, de exposição
do solo à m aior perda de nub·ientes, são o preparo inadequado da área, o u so de sementes
de baixa qualidade (baixo valor cultural), a semeadura em taxa, época ou profundidade
inadequada e a época não apropriada do primeiro pastejo. Outra causa da m á formação
da pastagem é o uso de espécies forragei.ras não adaptadas às condições de ambiente e de
manejo.
A respeito do preparo do solo, é essencial que, para minimizar os efeitos danosos
do preparo convencional do solo, a mobilização desse solo deve ser feita sempre
em intensidade que vise a sua conservação. No caso da semeadura direta, em áreas
previamente usadas para o cultivo de lavoura, o risco de perda de solo (e nuh·ientes) seria
menor, porém igualmente real. Portanto, o preparo correto do solo, o uso de sementes
certificadas, o cálculo acertado da taxa de semeadura e o plantio na profundidade correta
são medidas muito importantes para alcançar uma rápida e eficiente cobertura do solo
e minimizar a sua perda. Além disso, como as pastagens deverão ser formadas (ou
renovadas) preferencialmente em áreas previamente usadas para pecuária ou agricultura
e que, no momento da formação, se encontram abandonadas ou subutilizadas, a adubação
(e correção) será essencial para o rápido estabelecimento dessa pastagem. Assim, além de
se adequar aos resultados da análise de solo, essa adubação deverá também ser apropriada
ao tipo de capim que será plantado (Quadro 2). Portanto, quanto maior for a exigência
do capim, maior será a necessidade de melhorar a fertilidade do solo para a formação da
pastagem.

Quadro 2. Grau de exigência relativa de alguns capins à fertilidade do solo


Capins Exigência em fertilidade do solo
Mombaça Alta
Zuri Alta
Quênia Alta
Tamani Alta
Marandu Média
Piatã Média
Xaraés Média
Paiaguás Média
Ipyporã Média
Massai Média
Humidicola Baixa
Mom baça, Zuri, Quénia e Tamani sã~ cultivares de Pm,iw 111 111axi1111.1111. Mar~ndu, Piatã.' Xaraés e _Paiaguás são culli v~res de
Bradiiaria briz.antha. Jpy porã é um híbrido _ d e B. ruz1z1e11s1s e B. bnzm,tlin. Massa1 é um híbndo esponla neo d e Pa111rn111 11wx111111111 e
Pa 111 n, 111 i 11festum. H u midicola é a Bmd 11ana hu11111f1 cola.

,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS 1175

Sulcos e diques em contorno e terraceam.ento agrícola


Um aspecto importante da conservação do solo e m pas tagens é o manejo da água de
escoamento superficial (enxurrada), com O objetivo de controlar a erosão hídrica. A erosão
hídrica tem sido considerada tanto como a causa e co mo a consequência da degradaç3o
do solo (Berto) et ai., 2006) (Figura 2). Portanto, ao se planejar a fo rmação da pastagem, é
imprescindível avaliar a necessidade da execução de práticas mecânicas de conservaçiio do
solo, com o objetivo principal de controlar o escoamento superficial da água das chuva .
De acordo com Berto) et ai. (2006), em pastagens essas práticas cons is tem na construçiio
de sulcos e diques em contorno no declive e o terraceamento agrícola. Os sulcos e dique
devem ser traçados em nível no solo, sendo recomendados para terren o com inclinação
até 10 %, com menor potencial de produção de enxurrada.

Figura 2. Aspecto de uma pastagem de Brachiaria briza,1tha cv. Marandu com forte ero ão pro
pelo escoamento superficial da água da chuva.
Foto: Moacyr Bernardino Dias-Filho.

O papel principal do terraceamento agrícola é diminuir o olwne e a velocidade


da enxurrada, aumentar a infiltração da água da chuva e armazenar água no solo. 0
terraceamento são construídos conjuntos de canais e diques alternados, em contam a
declive do terreno. Os terraços também podem ser construídos em gradiente, principalmente
quando houver risco de chuvas extremas, ou em locais muito decli O os.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1176 MOACYR B ERNARDINO DIAS - FILHO & MONYCK J EA N E DO S SANTOS LOPES

Semeadura direta
emead ura direta a inda é uma prática conservacionista relati vamente pouco u sad a
em _past_agens no Bra il. Segundo Vilela et ai. (2006), uma condição importa nte para a
reahzaçao da sem eadura direta em pastagens é que O terreno seja apropriado para plantio,
isto é, deve permitir o tráfego de máq uinas e implementas. Para isso o ideal é que não
contenha troncos, tocas, e pedras, e não contenha áreas n:mito erod idas ou com a existência
e 'Ce siva de trilha oriundas do deslocamento do gado.
De acordo com Andrade e t al. (2016), praticamente não existe diferença no cu s to da
reforma de pastagens, quando se compara a semeadura direta e o método con vencional
mecanizado de preparo do solo. A razão para isso é que a diminuição de gasto em operações
mecanizadas, proporcionada pela semeadura direta, é contrabalançada pela necessidade
de maiores gastos na compra de insmT1os para viabilizar essa prática.
Com o aumento do uso da integração lavoura-pecuária, é esperado que também deva
aumentar o u so da semeadura direta para a formação de pastagens no Brasil.

Época do primeiro pastejo


Outro aspecto importante no manejo e conservação do solo, durante a formação da
pastagem, diz respeito a época do primeiro pastejo. O primeiro pastejo tem a finalidade de
acelerar a formação da pastagem, aumentando o diâmetro das touceiras do capim, por meio
do estímulo ao perfilhamento basal, favorecendo assim uma rápida cobertura do solo.
Um erro de manejo muito comum na formação da pastagem é o atraso excessivo para
o primeiro pastejo, principalmente sob o pretexto de esperar a sementeação do capim. O
pastejo muito tardio estimula o alongamento dos colmos e o acamamento das touceiras
de capim, diminuindo o perfilhamento basal e a eficiência de uso da forragem pelo gado.
Quando isso ocorre, alguns produtores optam por queimar o pasto, com o objetivo de
remover o excesso de capim passado e estimular a rebrotação e o perfilhamento. Essa
queima durante a formação da pastagem, além de ser um desperdício de forragem, expõe
o solo à erosão, à perda de matéria orgânica e ao aumento da compactação. Assim, o ideal
é que o primeiro pastejo seja leve e rápido, antes do florescimento do capim, normalmente
entre 45 e 80 dias após a semeadura, com animais jovens, não muito p esados. Nesse
primeiro pastejo é possível que algumas plantas de capim sejam arrancadas pela raiz. No
entanto, não haveria grande prejuízo para a formação da pastagem, pois geralmente essas
plantas não seriam dominantes, isto é, seriam plantas com poucas raízes e com poucas
chances de competir com as plantas mais vigorosas, que se estabeleceram mais cedo (Dias-
Filho, 2012).

MANEJO DO PASTEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO


EM PASTAGENS

Em pastagens já formadas, o manejo do pastejo é fundamenta l na conservação do


solo. A razão para isso é que, por meio do consumo da forragem e do pisoteio, o animal

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


______ ._.__
XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
1177

impacta diretamente a coberturn vegetal e a densidade do a lo, sendo, portanto, ~ap~z l~e
alterar atributos físicos e químicos desse solo, al ' m de poder cc1 usar p rdas cons1d rave1s
de solo por erosão.
O manejo do pastejo nada mais é do que a forma co m que se permite ao animc1is
terem acesso ao pasto, isto é, o controle da q uantidade de a nimais e do tempo em que píls!o
é pastejado. Um problema frequente de mau manejo do pastejo o uso de taxa Je lo taçao
(número de animais por área) ou períodos d e desca nso (tempo e m que o pasto permanece
sem pastejo) que não levam em conta o ritmo de crescimento do pa to. im, quand o o
uso da pastagem pelo animal ultrapassa a capacidade dessa pastagem em se recuperar do
pas tejo (consumo de forragem maior do que a oferta), o resu ltado é a fo rte dimjnuição da
cobertura vegetal e a consequente maior ex posição da superfície desse solo. 1 esse solo
descoberto aumenta a possibiUdade de co mpactação (a ume nto da densidade do solo e
redução da porosidade), de escoamento superficial, de erosão hídrica e de perda de matéric1
orgânica. Assim, as taxas de lotação, bem como os períodos de descanso da pastagem,
devem sofrer ajustes periódicos, não podendo, portanto, serem fixos. O que vai de erminar
as taxas de lotação e os períodos de descanso da pastagem será o ritmo de crescimento da
plantas. Deve-se observar que cada tipo de capim tem características próprias quanto à
tolerância ao pastejo, isto é, à desfolhação e ao pisoteio. Essas caracterí ticas são também
fortemente influenciadas pelas condições do ambiente como fe rtilidade e umidade do olo,
temperatura do ar e luz.
Uma forma eficaz de avaliar a capacidade de crescimento da pastagem é ob ervar
a sua altura. Recomendações de altura para entrada (pré-pastejo) e saída (pós-pastejo)
para diversos capins, quando manejados em sistema de pas tejo rotati vo, assim como para
capins em sistema de pastejo contínuo, com taxa de lotação variável, têm ido divulgados
em diversos estudos, conforme são mostrados nos quadros 3 e 4 .
Mesmo quando bem manejadas, para que as gramíneas assegurem uma cobertura
eficiente ao solo, os cuidados conservacionistas em pastagens não devem ser menosprezados
(Bertol et al., 2006). Assim, em pastagens formadas em solos mais v ulneráveis à compactação
(e.g., mais argilosos), o controle da pressão de pastejo (número de animais por área) e
da permanência dos animais (tempo de pastejo) deve ser uma precaução constante do
pecuarista, particularmente quando houver aumento considerável na umidade desses
solos (épocas mais chuvosas ou durante a irrigação da pastagem). razão para i -o é que,
como o aumento da compactação do solo decorrente do pisoteio animal, tam bém a umenta
a possibilidade de escoamento superficial e, como consequência, de erosão hídrica.

SEQUESTRO DE CARBONO NO SOLO DA P AST AGEl\11

Dentre os ecossistemas agrícolas, as pastagens destacam-se pela grande capa idad


em sequestrar o carbono atmosférico e acumular esse carbono no olo ( laia et al., 2009;
Gerber et al., 2010; Soussana et al., 2010). Uma característica importante, re po nsá el pela
grande capacidade das pastagens em acumular carbono orgânico n olo, é a alta re laçã
raiz/ parte aérea, decorrente, em grande parte, das pastagens serem basicamente f rmadas
por plantas perenes (principalmente gramíneas), com altas taxa fot intética~ (Q"Ta míneas
C 4 ) e capazes de rápido acúmulo de biom~s. a, sobretudo nas raízes. lém d i • o,~or rem
culturas perenes, as pastagens, ao conh·ar10 das culturas anuai , cobrem antinuamente

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1178 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK ]EANE DOS SANTOS LOPES

o solo. E sa particularidade facilita que, quando bem manejadas, as pastagens permitam


menor nível d distúrbio ao solo e, como consequência, menor potencial de erosão,
além de maior proteção ao carbono orgânico (i.e., menor potencial de decomposição da
matéria orgânica do solo). Essas características levam a uma deposição ativa e eficiente
de carbono orgânico no interior do solo, garantindo, por conseguinte, m aior estabilidade
desse carbono (Soussana et ai., 2010). Portanto, as pastagens têm grande capacidade para
mitigar as emissões de gases de efeito estufa e, como consequência, prestar importante
serviço ambiental. o entanto, como o preparo mecânico do solo, a perda da cobertura
vegetal pelo pastejo excessivo, a erosão e o fogo, enh·e outros, podem rapidamente levar
à perda do carbono orgânico do solo, o armazenamento do carbono no solo da pastagem
é um fenômeno reversível. Dessa forma, se, por um lado, pastagens produtivas e bem
manejadas têm grande potencial para sequestTar o C02 atmosférico e conservar esse
carbono armazenado no solo, por outro, quando mal manejadas, podem também perder
rapidamen te esse carbono e se tornarem emissoras potenciais de gases de efeito estufa
(Dias-Filho, 2011).

Quadro 3. Alturas médias do capim indicadas para entrada (pré-pastejo) e saída dos animais (pós-
pastejo) para duas condições de fertilidade do solo em sistema de pastejo rotativo

Saída
Capim Entrada
maior fertilidade menor fertilidade
---------- ---------------------------- cm --------------------------------------
Gênero Bracl1iaria
Marandu 35 15 20
Xaraés 30 15 20
Piatã 35 15 20
Mulato 30 15 20
Humidicola 20 5 10
Gênero Panicum
Aru ana 30 10 15
Massai 55 20 30
Mom baça 90 30 50
Tanzânia 70 30 50
Quénia 70 25 35
Género Cynodon
Estrela 35 15 25
Tifton-85 25 10 15
Género A11dropogon
A. gaya11us 50 25 35
Fonte: Adaptado de Dias-Filho (2011).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA

........
XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
1179

Quadro 4. Altura média de pastejo indicada para capins em istema de pas tejo contínuo com taxa d!:!
lotação va riável
Capim Altura de pastejo
cm
Marandu 20
Paiaguás 30
Xaraés e Piatã 25
Estrela 25
Tifton-85 15
Fonte: Dins-Fil ho (2011 ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo correto do solo é funda.mental para a manutenção da produ tividade das


pastagens, evitando a degradação dessas e, por conseguinte, do solo que as sus tenta.
Pastagens produtivas mantêm uma cobertura vegetal eficiente na superfície do solo,
conservando, por mais tempo, os atributos físicos, químicos e biológicos desejáveis de e
solo.
Uma causa importante da degradação de pastagens no Brasil é a queda na fertil idade
do solo, a qual pode ser motivada, diretamente, pela ausência de adubações e correções
periódicas, ou, indiretamente, por práticas inadequadas de manejo da pastagem, como
o uso frequente do fogo. Práticas inadequadas de manejo do pastejo, que diminuem a
cobertura vegetal do solo, também impactam a produtividade da pastagem, expondo o
solo da pastagem à compactação, ao escoamento superficial e à erosão hídrica.
O manejo e conservação do solo em áreas de pastagem deve, portanto, ser campo to
por práticas que busquem preservar, continuamente, a cobertura vegetal na superfície
do solo, controlando as alterações dos atributos físicos, químicos e biológicos desse o lo.
Essas práticas também devem ter o objetivo de diminuir a erosão hídrica, principalmente
durante a formação da pastagem, por meio do controle da água de escoamento uperficial.
Pastagens bem manejadas, além de serem fontes de importantes ser iços ambientai ,
como a provisão de alimento para os herbívoros que compõem a nossa cadeia alimentar,
também, em decorrência do sistema radicular vigoroso, têm alta eficiência e m armazenar
carbono no solo, ciclar nutrientes e controlar a erosão.

LITERATURA CITADA

Andrade CMS, Ferreira AS, Abreu AQ Santos DM. Técnicas de plantio direto. ln: Pe reira OH,
Pedreira BC, editores técnicos. Anais do 11 Simpósio de Pecuária lntegrada; 2016; inop. Cuiabá:
Fundação Uniselva; 2016. p. 54-92.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1180 MOACYR BERNARDINO DIAS-FILHO & MONYCK ]EANE DOS SANTOS LOPES

nué'irio_DBO 2018. _ s números da pecu,hia. 2018. v. 36. Disponível cm: http. ://portaldbo.com .br/
re\·1sta-dbo-ed1Cao--447-janeiro-de-2017/
Bcrtol l, Maf_ra AL. ?go NP. Const'rvação do solo em pastagens. ln: Pedreira CGS, Moura JC, Silva
SC, Fana\ P, editores. As pastagens e o meio ambiente. Piracicaba: FEALQ; 2006. p . 139-63.
Cai Y, Akiya'.11ª 1-1. 1 itrogen loss factors of nilrngen trace gas emissions and leachjng from excreta
patches m grassland ecosystems: a summary oi available data. Sei Total Environ. 2016:572:185-95.
Certini G. Effects of fire on propertie of forest soils: a review. Oecologia. 2005:143:1-10.
Certini G. Fire as a soil-forming factor. Ambio. 2014;43:191-5.
Debano LF. The role of fire and soil heating on water repellency in wildland environments: a rev iew.
J Hydrol. 2000;231-232:195-206.
Dias-Filho MB. Uso de pastagens para a produção de bovinos de corte no Brasil: passado, presente e
futuro. Belém: Embrapa Amazônia Oriental; 2016. (Documentos, 418). Disponível em: <http:/ /
bit.ly / 1T9ckcc>.
Dias-Filho tvIB. Diagnós tico das pastagens no Brasil. Belém: Embrapa Amazônia Oriental; 2014.
(Documentos, 402). Dispo1úvel em: <http://bit.ly/1 v0USg3>.
Dias-Filho tvIB. Formação e manejo de pastagens. Belém: Embrapa Amazônia Oriental; 2012.
(Comunicado técruco, 235). Disporuvel em: <http:// bit.ly/2c8juwo>.
Dias-Filho MB. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. 4. ed.
Belém: Edição do autor; 2011.
Dias-Filho MB. Pastagens cultivadas na Amazôrua oriental brasileira: processos e causas de
degradação e estratégias de recuperação. ln: Dias LE, Mello J\,VV, editores. Recuperação de áreas
degradadas. Viçosa, MG: Uruversidade Federal de Viçosa, Departamento de Solos, Sociedade
Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas; 1998. p. 135-47.
Dubeux Jr JCB, Sollenbergerb LE, Mathewsc BW, Scholberg JM, Santos HQ. Nutrient cycling in
,,varm-dirnate grasslands. Crop Sei. 2007;47:915-28.
Dubeux Jr JCB, Santos MVF, Mello ACL. Ciclagem de nutrientes em pastagens. ln: Reis RA, Bernardes
TF, Siqueira GR, editores. Forragicultura: ciência, tecnologia e gestão dos recursos forrageiros.
Jaboticabal: Gráfica Multipress; 2013. p. 81-92.
Eriksen J, Ledgard S, Lou J, Schils R, Rasmussen J. Environ.mental impacts of grazed pastures. In:
Schnyder H, editor. Proceedings Grassland Science in Europe; 2010; Kiel. Kiel: EGF2010; 2010.
Disporuvelem:<http://orgprints.org/17879 / 4/17879.pdf>.
Food and Agriculture Orgaruzation of the Uruted Nations- FAO. FAOStatistical Yearbook 2014: Latin
Arnerica and the Caribbean food and agriculture. Santiago: Food and Agriculture Organization
of the Uruted Nations, Regional Offíce of the Latin America and the Caribbean; 2014. Disponível
em: < http://www.fao.org/docrep/019/i3592e/i3592e.pdf>.
Gerber P, Key , Portet F, Steinfeld H. Policy options in addressing livestock's contribution to clima te
ch.ange. Aromai. 2010;4:393-406.
Hayn es RJ, Williams PH, Donald LS. Nutrient cycliJ1g and soil ferti lity in the grazed pasture
ecosystem. Adv Agron.. 1993;49:119-99.
Ins tituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Agropecuário 2018. Rio de Janeiro:
Minis tério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2018. Disponível em: <https:/ /bit.
ly/ 2M1wWfj>.
Johnson MS, Lehmann J, Steenhuis TS, Oliveira_ LYD, Fernandes EC_M. Sparial a nd temporal
variability of soil water repellency of Amazoman pastures. Aust J Soil Res. 2005;43:319-26.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVI - MANEJO DO SOLO EM PASTAGENS
1181

Ka yser M, lssels tcin J. Potassium cycli ng anel loss •s in grassland syc;te ms: r1 review. G rass Forn e Sei .
2005:60:213-24.
Maia SMF, OgleSM, Cerri CEP, Cerri CC. Effcctof grassland mana gemen t on s01l ca rbo n seques lration
in Rondô nia anel Mato Grosso stalcs, Brazil. Gcoderma . 2009: 149:84-91 .
McKenzie N, Jacq uier D, lsbell R, Brown K. Aus tralian soil and lancl. ca pes: an illustrated
compendium. Melbourne: CSIRO Publis hing; 2004.
espe r M, Bunemann EK, FonteSJ, Rao IM, Velásq uezfE, Ramirez B, Hegglin D, Frossard E, Oberson
A. Pasture d egradation decreases organic P content of tropical soil dueto soil s tructural d clme.
Geoderma. 2015;257-258:123-33.
Ramírez-Av ila JJ, Sotomayor-Ramirez D, Martinez-Rodríguez GA, Pérez-A legría LR. Pho ph oru'- in
runoff from two highly weathered soils of the tropics. Can JSoil Sei. 2011 ;91:267-77.
Russelle MP. Nutrient cycling frorn pas ture. ln: Gomide JA, edi tor. Ana is do Simpósio lnte rn.lciona l
sobre Produção Animal em Pastejo; 1997; Viçosa, MG. Viçosa, MC: Universidade Federal de
Viçosa; 1997. p. 235-66.
Santín C, Doerr SH. Fire effects on soils: the hurnan dimension. Phi!Trans R Soe B. 2ITT6;371 :20150171.
Schacht WH, Reece PE. lmpact of livestock grazing on extensively managed grazing land ln:
McDowell RW, editor. Environrnental impacts of pasture-based farminCY. Oxfordshire: CABI;
2009. p. 122-43.
Sidra - Sistema IBGE de Recuperação Automática. Pesquisa da pecuária m unicipal: tabela 3939 -
Efetivo dos rebanhos, por tipo de rebanho. Rio de Janeiro: Sidra; 2016. Disponível em : <http :/ /
sidra.ibge.gov. br/ tabela/ 3939>.
Sigua GC. Phosphorus dynarnics anel management in forage systems with cow-cali o peration.
Ln: Lichtfouse E, editor. Sustainable agriculture reviews. Switzerland: Springer Intemational
Publis hing; 2015. p. 29-60.
Soussana JF, Tallec T, Blanfort V. Mitigating the greenhouse gas balance o f ruminant prod uction
systems through carbon seques tration in grasslands. An imal. 2010;-l:33-l-50.
Steele KW. Nitrogen losses from managed grassland. ln: Snaydon RW, ed itor. 1 lanaged gra-slands:
analytical studies - Ecosystems of the World 17B. Ams terdam : Elsevier; 19 7. p. 197-204.
Strass burg BBN, Latawiec AE, Barioni LG, Nobre CA, Silva VP, Valentim JF, ianna M, Assad ED.
When enough should be enough: improving the use of current agricultura! lands cou ld meet
production d emands and spare natural habitats in Brazil. Global Environ Chang . 201-t;_ : 97.
Trilleras JM, Jaramillo VJ, Vega EV, Balvanera P. Effects of livestock management on the upply of
ecosystem services in pastures in a tropical dry region of western Mexico. Agr Eco yst En iron.
2015;211 :133-44.
Vilela L, Barcellos AO, Martha Júnior GB. Plantio direto em pastagens. ln: Pedre ira CG , \-loura JC,
Silva SC, Faria VP, editores. As pas tagens e o meio ambiente. Piracicaba: FEALQ; _006. p. 165-
84.

Whitehead DC. Nutrient elements in grassland. Soil-plant-animal relationships. \, allingiord : CAB


lnternational; 2000.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM
SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO
LAVOURA-PECUÁRIA E
LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA
Luiz Carlos Balbino1I, Luiz Adriano Maia Cordeiro II, Robélio Leandro Marchão I1, Júlio
Cezar Franchini dos Santos21, Glenio Guimarães SantosJ/, Diogo Néia Eberhardt",
Thierry Becquer51, Fernando Antônio Macena da Silva1/ & Lourival Vilela 11

'' Embrapa Cerrados, Planaltina, DF. E-mail: luizcarlos.baJbino@embrapa.br; luiz.cordeiro@embrapa.br;


robelio.marchao@embrapa.br; femando.macena@embrapa.br; lourival.vi lela@embrapa.br
21 Embrapa Soja, Londrina, PR. E-mail: julio.franchini@embrapa.br
31 Universidade Federal de Goiás, Escola de Agronomia, Goiânia, GO. E-mail: gleniogm@ufg.br
~, Companhia Nacional de Abastecimento, Brasilia, DF. E-mail: diogone@yahoo.com.br
51 Institut de Recherche pour le Developpement, Montpellier, França. E-mail: thierry.becquer@i rd.fr

Conteúdo

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... --·-·-··· 1184


SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA .................................................. - ................... 1186
SemeadUia direta ....................................................................................................................................- .........-..... 11 6
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (fLPF) ...................................................................................................... 1187
BENEFÍCIOS E CONTRIBUIÇÕES DE SISTEMAS DE INTEGRADOS PARA A
SUSTENTABILIDADE AGROPECUÁRIA .......................................................................................... .......... - ...... 1190
EFEITOS DO MANEJO SOBRE ATRIBUTOS DA QUALIDADE DE SOLOS E I SISTEMAS INTEGRADOS 1191
Atributos químicos do solo ··························································································································-· ....... 1191
Dinâ mica de nutrientes .................................................................................................................................... 1191
Fósforo no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) ..................................................................-..... 1193
Dinâmica do carbono e da matéria orgânica do solo ..................................................................... 119
Atributos físico-hídricos do solo ............................... ............................................................................................. 1~01
Qualidade física do solo em sistemas integrados . ....................................................._................................. 1201
Atributos biológicos do solo .......................................................................................................- ... ·······- ······-·····.. 1.,07
Atributos microbiológicos em sistemas de integrados............................................................·-···-··- ·........ 1-0?
Fauna edáfica em sistemas integrados ........................................-.. ·.. ··--···...... l2
CONSIDERAÇÕES FLNAlS . ......................................................... 1209
LITERATURA CITADA ..................................................................................................................................... - ......- .. 1_10

Bertol J, De Maria IC, Souza LS, editores. Mant!jo e conservação do solo e da agua . Viço a, IG: ciedade
Brasi leira de Ciência do Solo; 2018.
1184 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

INTRODUÇÃO

É conhecido o fato de que, atualmente, a humanidade enfrenta desafios cada vez


maiores para produzir alimentos, fibras, energia, produtos madeireiros e não madeireiros
de forma compatível con1 a disponibilidade de recursos naturais. Nesse sentido, são
intensos os apelos para que seja difundida, en"I todo o mundo, a concepção da Agricultura
Sustentável.
Porém, com o aumento da demanda por alimentos e a evolução tecnológica para
produção, a atividade agrícola moderna passou a se caracterizar por sistemas padronizados
e simplificados de monocultura. Além disso, com a expansão da fronteira agrícola, com o
manejo mecanizado do solo e o uso de agroquírnicos e da irrigação, as atividades agrícolas,
pecuárias e florestais passaram a ser realizadas de maneira intensificada, independente e
dissociada. Esse modelo da produção agropecuária predomina nas propriedades rurais em
todo o mundo; entretanto, tem evidenciado sinais de fragilidade, em virtude da elevada
demanda por energia e por recursos naturais que o caracteriza.
Por exemplo, a degradação de pastagens tornou-se um dos principais sinais da baixa
sustentabilidade da pecuária nas diferentes regiões brasileiras. O manejo inadequado do
rebanho normalmente é considerado como a principal causa de sua degradação. Macedo e
Zi.rnmer (1993) definiram degradação de pastagens como um processo evolutivo de perda
do seu vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis
de produção e qualidade exigida pelos animais. Aidar e Kluthcouski (2003) alertaram
que, entre os principais problemas da pecuária brasileira, podem-se citar: a degradação
das pastagens e dos solos; o manejo animal inadequado; a baixa reposição de nutrientes
no solo; os impedimentos físicos dos solos; e os baixos investimentos tecnológicos. Tais
restrições trazem consequências negativas para a sustentabilidade da pecuária, como baixa
oferta de forragens, baixos índices zootécnicos e baixa produtividade de carne e leite por
hectare, além de reduzido retomo econômico e ineficiência do sistema.
Estima-se que 80 % das pastagens cultivadas no Brasil Central, responsáveis por mais
de 55 % da produção nacional de carne, encontram-se em algum estádio de degradação.
Isso influencia diretamente a sustentabilidade da pecuária. Quando se considera apenas a
engorda de bovinos, urna pastagem degradada pode ter a produção até seis vezes menor
que uma pastagem recuperada ou em bom estado de manutenção (Macedo et ai., 2000).
Com relação à agricultura, segundo Macedo (2009), o monocultivo e as práticas
culturais inadequadas têm causado perda de produtividade; ocorrência de pragas e
doenças; e degradação do solo e dos recursos naturais. Nas áreas de lavouras temporárias,
bem como em áreas de pastagens naturais e plantadas, predomina a monocultura e, na
maioria dos casos, a utilização de boas práticas agronômicas não é verificada de forma
completa, 0 que resulta em degradação na qualidade dos solos e se reflete em baixa
produtividade e elevada erosão (Balbino, 2001; Hernani et ai., 2002).
Por sua vez, os agroecossistemas do século XXI devem ser capazes de, ao mesmo
tempo, maximizar a quantidade de ~rodutos ª8;ícolas de el~vada qualidade e conservar
0 5 recursos do sistema. O desenvolvimento agncola sustentavel depende da formulação
de uma agenda que contemple os seguintes aspectos: conservação da biodiversidade e
dos serviços ambientais; redução da poluição/contaminação do ambiente e do homem;
conservação e melhoria da qualidade do solo e da água; manejo integrado de insetos-

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO ...
1185

praga, doenças e plantas daninhas; valorização dos sis temas tradicionais de manej_o dos
recursos; redução da pressão antrópica na ocupação e no uso de ecossistemas e a m biente
frágeis; e adequação às novas exigências do mercado (Balbino et a i., 2011a).
A sustentabilidade do setor agropecuário deve estar diretamente relacionada co~
a evolução dos sistemas de produção, tal qual a Semead ura Direta (SD) e a Integraçao
Lavoura-Pecuária (ILP).
A 5D, em razão das suas prerrogativas básicas, é importan te para as regiões tropicais
graças aos seus efeitos na conservação e melhoria da qualidade do solo. Entreta nto,
nessas regiões e principalmente no Cerrado brasileiro, para assegurar uma produção
agrícola sustentável, é preciso recorrer a novos sistemas de culturas que preconizem o
não revolvimento do solo e o cultivo de plantas de cobertura, antes e depois da cultura
comercial, para produzir mais biomassa e proteger permanentemente o solo (Scopel et ai.,
2005).
Já a TLP proporciona benefícios recíprocos à lavoura e pecuária, reduzindo as causas
de degradação física, química e biológica do solo, resultantes de cada uma das explorações
(Kluthcouski e Stone, 2003). Mais recentemente, a introdução do componente florestal em
sistemas de integração agropecuária gerou o conceito mais amplo de lntegração Lavoura-
Pecuária-Floresta (ILPF), com inúmeras possibilidades de combinação espaço-temporal
entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, resultando em diferentes sistemas
(silvipastoril, silviagrícola, agropastoril e agrossilvipastoril).
Na visão de Conway (1987), um agroecossistema sustentável compreende a busca de
produtividade, que indica a obtenção da maior quantidade de produtos ou energia ou valor
da produção por unidade de insumos/recursos aplicados à produção; estabilidade, que se
refere à constância da produtividade frente às flutuações normais do clima; sustentabilidade,
que está associada à habilidade do sistema para manter a produtividade quando sujeito
às forças normais de flutuação do ambiente; resiliência, que diz respeito à capacidade do
sistema em reagir, em menor tempo, a determinado distúrbio (velocidade da retomada de
crescimento das pastagens após estresse climático); e invulnerabilidade, ou seja, quando a
diversidade de produtos reduz o grau com que o sistema é vulnerável ao distúrbio.
Por sua vez, a associação do componente arbóreo às pastagens e lavouras adquire
importância, que tende a ser maior quando utilizada em regiões agropastoris com grande
fragmentação e insulamento de remanescentes florestais naturais ou com pastagens
degradadas (Porfirio da Silva, 2006; Franchini et ai., 2011a). Também lacedo (2000)
alegou que a integração de árvores em meio a lavouras e, ou, pastagens se constitui em
alternativa à produção intensiva de lavouras e pastagens em monoculturas, além de er
uma opção agroecológica, que inclui em seus conceitos referenciais os principais elementos
da sustentabilidade, ou seja, o econômico, social e ambiental.
Portanto, as diferentes modalidades de sistemas integrados podem contribuir
significativamente para o estabelecime~to de urna agricultura dentro dos preceitos da
sustentabilidade, pois contorna e comge os desequilíbrios impostos pelos sistemas
simplificados de produção, cujo manejo de solos e culturas é preconizado em detrimento
do conservacionismo.
Este capítulo objetiva apresentar alguns conceitos, modalidades e exemplos de manejo
de solos em sistemas i~tegrados e de q~e forma essa estratégia de produção contribui para
a consolidação da Agncultura Sustentavel.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1186 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE PRODUÇÃO


AGROPECUÁRIA

Segundo o conceito adotado pela FAO, ratificado a partir da Declaração de Den


Bosch em 1992, a "Agricultura Sustentável é O manejo e conservação dos recursos naturais
e a ori~ntação de mudanças tecnológicas e institucionais que assegurem a satisfação das
necessidades humanas para a presente e futuras gerações. E uma agricultura que conserva
o solo; a água e recursos genéticos animais, vegetais e microrganismos; não degrada o meio
ambiente; é tecnicamente apropriada, economicamente viável e socialmente aceitável."
Atualmente, as ações de conservação do solo e da água remetem ao ecossistema agrícola
a ser não apenas um provedor de alimentos e fibras para gerar de modo sustentável renda
ao produtor e segurança alimentar, mas também ser um provedor de serviços ambientais.
Há no Brasil práticas agrícolas que, se considerarem todas as práticas conservacionistas,
podem oferecer diversos serviços ambientais, como SD contínua; sistema de Integração
Lavoura-Pecuária (ILP) em semeadma direta e de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(ILPF) em semeadura direta (Machado et ai., 2010).

Semeadura direta
A estimativa de adoção da SD, na safra 2011/2012, era de 31,8 Mha em todo o território
brasileiro, conforme levantamento divulgado pela FEBRAPDP e CONAB (Febrapdp,
2013). A crescente adoção da SD, no Brasil, se deve às inúmeras vantagens que essa técnica
proporciona, como conservação do solo e da água; economia de combustíveis; economia
de tempo e de mão de obra; maior possibilidade de semeadura na época certa; menores
riscos na seca, em razão da retenção de umidade no solo; melhor resposta da cultura às
chuvas após um período de seca; obtenção de estande mais uniforme (melhor germinação
e emergência); melhor efeito de fertilizantes e defensivos; menor oscilação de temperatura
do solo; aumento do teor de matéria orgânica do solo (MOS); elevação na fertilidade
do solo e reciclagem de nutrientes; intensificação da estabilidade dos agregados; menor
compactação do solo; maior infiltração da água e reposição da água subterrânea; aumento
da atividade biológica do solo; redução dos custos produção; recuperação de pastagens
degradadas e aproveitamento de áreas margmais; possibilidade de realização da segunda
safra, principalmente na região do Cerrado; probabilidade de realizar integração lavoura-
pecuária; possibilidade de uso em pequenas propriedades; auxílio na redução da emissão
CO e outros gases de efeito estufa; e aumento da produtividade (Phillips e Young, 1973;
Pri~avesi, 1979; Dijkstra, 1984; Gassen e Gassen, 1996; Hernani e Salton, 1998; Triplett e
Dick, 2008; Santos et al., 2011; Franchini et aJ., 2012).
Segundo Landers (1997), a evolução da SD no Cerrado é incrível, apesar do mito de
que essa técnica não teria sucesso em clima tropical, por causa da rápida decomposição da
cobertura morta. Assim, a produção de palha em condições de sequeiro apresenta grande
desafio para a sustentabilidade da técnica. Contudo, o autor afirmou a exis tência de várias
opções para produção de cobertura morta no Cerrado, como utilização do milho na rotação
de culturas, cultura da "safrinha" (ou segunda safra); cobertura verde permanente ("lona
viva"); e rotação de culturas com pastagem por meio da ILP.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO .. ·
1187

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)


A integração lavoura-pecuária-floresta (íLPF) é definida como " ~a e s tr~tégia de
produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais: reah_za_d~ na
mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, buscando efeitos s mergicos
entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a
valorização do homem e a viabilidade econômica da atividade agropecuária" (Balbino e t
al., 2011a). Portanto, pode-se utilizar a ILPF para implantar um sistema agrícola sus tentável,
com base nos princípios da rotação de culturas e do consórcio entre culturas de grãos,
forrageiras e espécies arbóreas, para produzir, na mesma área, grãos, carne ou leite e
produtos madeireiros e não madeireiros no longo de todo o ano. Dessa forma, a ILPF, que
tem como objetivo a intensificação do uso da terra, fundamenta-se na integração espacial
e temporal dos componentes do sistema produtivo para atingir patamares cada vez mais
elevados de qualidade do produto, qualidade ambiental e competitividade (Balbino et ai.,
20116). Os sistemas de integração podem ser classificados em quatro modalidades dis tintas:
• Integração Lavoura-Pecuária (ILP) ou Sistema Agropastoril: sistema de produção
que integra os componentes agrícola e pecuário em rotação, consórcio ou sucessão
na mesma área e no mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos.
• Integração Pecuária-Floresta (IPF) ou Sistema Silvipastoril: sistema de produção
que integra os componentes pecuário (pastagem e animal) e florestal em consórcio.
• Integração Lavoura-Floresta (ILF) ou Sistema Silviagrícola: sistema de produção que
integra os componentes florestal e agrícola pela consorciação de espécies arbóreas
com cultivas agrícolas (anuais ou perenes).
• Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou Sistema Agrossilvipastoril: sistema
de produção que integra os componentes agrícola, pecuário e florestal, em rotação,
consórcio ou sucessão, na mesma área.
Tais modalidades se assemelham com a classificação de Sistemas Agroflorestais
(SAF) em suas vertentes siJviagrícola, silvipastoriJ e agrossilvipastoril ( air, 1991;
Montagnini et al., 1992; Bandy, 1994; Dubois, 2004). Existe atualmente, na literatura,
grande variedade de termos que são empregados para denominar e conceituar a prática
de combinar espécies florestais com as culturas agrícolas e, ou, com a pecuária. A
"agrossilvicultura" pode ser considerada como a ciência que estuda os SAF, que, por
sua vez, apresentam-se como um conjunto de técnicas alternativas de u tilização dos
recursos naturais em que espécies florestais são utilizadas em associação a cultivos
agrícolas e, ou, animais em urna mesma superfície (Macedo et al., 2010). Daniel et al.
(1999) destacaram que muitos problemas, como o uso equivocado da terminologia
referente a SAF, têm sido encontrados na literatura, resultantes de fa lhas de tradução,
especialmente da língua inglesa para a portuguesa, também em razão da inobservância
da etimologia dos elementos formadores dos termos e, ainda, os que surgem de erro-
gramaticais. Os autores analisaram a possibilidade de padronização da terminologia
empregada em SAF no Brasil, sugerindo que o termo "agroflorestais", originado de
agroforestnJ, é o ideal para abranger todos os sistemas de uso da terra agrossilvicultural,
s ilvipastoril e agrossilvipastoril, pois envolve as relações entre culti os agrícolas e, ou,
criação de animais e, ou, atividades florestais. Contudo, Balbino et al. (2011a) ressaltaram
que a ILPF é uma estratégia de produção que apresenta classificação mais abran,.,,ente,
0
incluindo, além desses sistemas, o Sistema Agropastoril, ou seja, a IlP.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1188 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL .

. . Há muitos anos, as áreas de produção de arroz de terras baixas no sul d o Brasil são
utilizada em rotação com pastagens. No Bi ama Cerrado, as primeiras pesq uisas para
compreender os sistemas de consórcio enh·e culturas anuais e forrageiras tiveram início
no final da_ década de 1970. As instituições ligadas ao Sistema Nacional de Pesquisa
Agropecuária (SNPA) pesquisam e recomendam sistemas agrossilvipastoris há muitos
anos. as décadas de 1980 e 1990, essas desenvolveram e aperfeiçoaram tecnologias para
recuperar pastagens degradadas (Kluthcouski et ai., 1991; Macedo, 1993) e pesquisas
sobre sistemas silvipastoris (Baggio e Schreiner, 1988; Baggio e Carpanezzi, 1989; Montoya
Vilcahuarnan e Baggio, 1992; Sclu·einer, 1994; Montoya Vilcahuaman et ai., 1994; Baggio
e Porfírio-da-Silva, 1998), bem como sistemas de integração lavoura-pecuária (Lustosa,
1998; Moraes et ai., 2002). Em 1986, iniciaram-se alguns trabalhos de pesquisa com sistemas
de ILP na região central do país pela Embrapa Cerrados, em Planaltina, DF, culminando
na implantação, em 1990, de um experimento de longa duração, com objetivo de estudar
diferentes sistemas de TLP. Em 1991, foi lançado, pela Embrapa Arroz e Feijão, o "Sistema
Barreirão", que é composto por um conjunto de tecnologias e práticas de recuperação de
áreas de pastagens em degradação, embasadas no consórcio arroz-pastagem (Kluthcouski
et al., 1991).
Segundo Los (1993), a ILP em SD é viável tanto para a pecuária de corte como a de lei te
e, para tal, pode-se lançar mão de diversas possibilidades, cujo limite fica na adequação da
região, no clima, no solo e no produtor. A seguir algumas possibilidades:
i) Pecuária sazonal: aproveitamento da pastagem para o ciclo em questão; quando
existem problemas de compactação pelo pisoteio, distribuição desuniforme de cobertura
remanescente, locais de concentração de rastros e distribuição desuniforme de esterco, o
manejo de gado deve ser seguido com a retirada dos animais em dias de chuva, permanência
restrita na área e retirada total com tempo hábil para que a forragem se recupere e produza
boa cobertura morta para a SD.
ii) Pecuária contínua, seja para produção de carne ou leite: essa modalidade é viável
para explorações tecnificadas e de maior retorno econômico. Para evitar a sazonalidade
devem-se armazenar alimentos na forma de silagem ou feno, utilizando gramíneas de
inverno; e pode ser conduzido pastejo com complementação no cocho ou totalmente
confinado, usando, por exemplo, silagem de milho.
iü) Pecuária intercalada com agricultura: inversão do uso das glebas com agricultura
e pecuária com várias vantagens, o que propicia recuperar a estrutura física, a fertilidade e
o teor de matéria orgânica do solo em determinadas fases do sistema.
Los (1997) ressaltou que o objetivo principal da ILP é melhorar o aproveitamento dos
bens de produção, da mão de obra, das máquinas, das benfeitorias e do solo, assim como do
produto oriundo da exploração. Para melhor entendimento, o autor enumerou diferentes
formas de integrar esses sistemas, visando a utiJização de bovinos ou bubalinos para
produção de carne e leite: (i) introdução de forrageiras num sistema agrícola implementado
com culturas anuais; (ii) introdução de cultivas agrícolas em áreas sob exploração pecuária;
(ijj) introdução de exploração pecuária em áreas agrícolas; (iv) abertura de áreas com
implantação de pastagens para posterior introdução de agricultura; (v) recuperação de
solos agrícolas com introdução de pastagens; e (vi) implementação de culturas agrícolas
para renovação de áreas ocupadas com pastagens.
0 final dos anos 1990, surgiram propostas que envolviam o uso de sistemas de ILP
com rotação Javoura-pastagem para produção de grãos e produção de forragem para a
entressafra e acúmulo de paJhada para a SD. Em 2001, consolidou-se o "Sistema Santa Fé",

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO. ,· 1189

que se fundamenta na produção consorciada de culturas de grãos, especial.mente milho, sorgo,


milhe to e arroz, com forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Bmchínrin e_m á reas ~e
lavoura com solo parcial ou totalmente corrigido. Os principais objetivos d esse stStem~ sao:
produção de forragem para a entressafra; produção de palhada em quantidad e e q ~alidade
para a SD (Kluthcouski e Aidar, 2003; Borghi e Crusciol, 2007); e produção d e grãos (Figura 1).

(a) (b) (e)


Figura 1. Pastagem degradada (a); milho consorciado com Bmchiaria brizan tha (b); e pas tagem
reformada após colheita do milho consorciado com B. Brizantl1n (c), em Unaí, MC.
Fonte: Lu iz Adriano Maia Cordeiro.

Um dos aspectos mais inovadores é a aplicação dos conceitos de ILP em SD. Embo ra
haja questionamentos a respeito dos efeitos da entrada de animais em áreas de SD (Moraes
et al., 2002; Marchão et ai., 2007; Santos et ai., 2011; Debiasi e Franchini, 2012), observ ou-se
forte crescimento na adoção da tecnologia de ILP em SD, com particularidades em cada
região. Os sistemas silvipastoris também foram es tudad os e difundidos na mesma é poca
(Baggio e Schreiner, 1988; Baggio e Carpanezzi, 1989; Montoy a Vilcahuaman e Baggio,
1992; Montoya Vilcahuarnan et ai., 1994).
A inclusão do componente arbóreo aos subsistemas lavouras e pastagens representa
wn avanço da JLP, evoluindo para o conceito de ILPF, quando se adota s ua modalidade
agrossilvipastoril (Figura 2). O componente agrícola pode restringir-se à fase inicial de
implantação do componente florestal ou fazer parte do sistema por vários anos, sendo o
componente pecuário o que permanece com o crescimento das árvores no estádio final da
integração.

Figura 2. Colheita de soja em consórcio com eucalipto em um sistema de integração La oura-Pecuária-


Floresta ([LPF), em Planaltina, DF (a); início de pastejo após colheita de milho consorciado com
Brnc/1inrin brizn11tha em consórcio ~om euc~lipto em u~1 sistema de ILPF, em fpameri, co (b);
e pas tagem reformada após colheita do nulho consorciado com 8. brizantha em consórcio com
euca lipto em um sistema de ILPF', em Ipameri, GO (c).
Fonte: Fab iilno Bas tos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1190 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

~ . adoção de sistemas de produção sustentáveis, que integram atividades agrícolas,


pecuanas e, ou, florestais, é ru11a solução tecnológica para consolidar a agropecuária sustentável,
uma' ez que proporciona muitos benefícios técnicos, econôm.icos, ambientais e sociais.

BENEFÍCIOS E CONTRIBUIÇÕES DE SISTEMAS


DE INTEGRADOS PARA A SUSTENTABILIDADE
AGROPECUÁRIA

Conforme explicaram Balbino et al. (2011a), a integração Lavoura-Pecuária-Floresta


(ILPF) envolve sistemas produtivos diversificados, que contemplam a produção de
alimentos, fibras, energia, produtos madeireiros e não madeireiros, de origem vegetal
e animal, realizados para otimizar os ciclos biológicos das plantas e dos animais, bem
como dos insumos e seus respectivos resíduos. Ainda, segundo esses autores, a ILPF
pode contribuir para a recuperação de áreas degradadas; manutenção e reconstituição
da cobertura florestal; promoção e geração de emprego e renda; adoção de Boas Práticas
Agropecuárias (BPA); melhoria das condições sociais; adequação da unidade produtiva
à legislação ambiental (manutenção de Áreas de Preservação Permanente - APP e de
Áreas de Reserva Legal - ARL); e valorização de serviços ambientais oferecidos pelos
agroecossistemas, como conservação dos recursos hídricos e edáficos, abrigo para os
agentes polinizadores e de controle natural de insetos-praga e doenças; fixação de carbono,
redução da emissão de gases de efeito estufa, reciclagem de nutrientes e biorremediação
do solo.
O desenvolvimento de agroecossistemas com características de ecossistemas naturais,
tomando-os mais estáveis e diversificados, é de grande relevância. A ILPF é uma estratégia
promissora capaz de conciliar ecoeficiência com desenvolvimento socioeconômico,
reunindo esforços entre setores público e privado (Balbino et al., 2011a). Em síntese, a ILPF
compatibiliza os itens anteriormente mencionados, aliando aumento da produtividade
com conservação de recursos naturais.
Como principais benefícios ecológicos e ambientais, Balbino et al. (2011a)
apresentaram: redução da pressão para a abertura de novas áreas; melhoria na utilização
dos recursos naturais pela complementaridade e sinergia entre os componentes vegetais
e animais; diminuição no uso de agroquímicos para controle de insetos-praga, doenças
e plantas daninhas; redução dos riscos de erosão; melhoria da recarga e da qualidade
da água; mitigação do efeito estufa, resultante da maior capacidade de sequestro de C;
menor emissão de CH4 por quilograma de carne produzido; promoção da biodiversidade
e favorecimento de novos nichos e habitats para os agentes polinizadores das culturas e
inimigos naturais de insetos-praga e doenças; intensificação da ciclagem de nutrientes;
aumento da capacidade de biorremediação do solo; reconstituição do paisagismo,
possibilitando atividades de agroturi~m~; e ~elhori~ da imagem pública dos agricultores
perante à sociedade, atrelada à consc1enhzaçao ambiental.
Além de buscar atender a várias necessidades dos produtores rurais, como alimento,
madeira, lenha, forragem, plantas medicinais e fibras, os sistemas integrados podem
auxiliar na conservação dos solos, recuperação de rnicrobacias, recomposição ordenada de
áreas flores tais e manutenção da biodiversidade (Nicodemo et ai., 2004).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SI STEMAS DE INTE GRAÇÃO .. · 119 1

EFEITOS DO MANEJO SOBRE ATRIBUTOS DA


QUALIDADE DE SOLOS EM SISTEMAS INTEGRA DOS

A intensificação da produção observada em sistemas integrad os aca rre ta diversos


benefícios ao produtor e meio ambiente, ou seja: melhora as condições fís icas, químicas
e biológicas do solo; aumenta a ciclagem e eficiência na util ização dos nutrientes; red uz
custos de produção da atividade agrícola e pecuária; diversifica e es tabiJiza a renda na
propriedade rural; e viabiliza a recuperação de áreas com pastagens degradadas (Alvaren ga
et aJ., 2010a).

Atributos químicos do solo


Dinâmica de nutrientes

A dinâmica de nutrientes na solução do solo pode ser bastante infl uendada pelo
manejo do solo e das culturas. Apesar da disponibilidade de íons na solução ser a melhor
forma de estimar a disponibilidade de nutrientes no solo, no Brasil são mais comu ns es tudos
sobre a disponibilidade de nutrientes no complexo de troca. Os íons solú veis, provenientes
de corretivos e fertilizantes ou oriundos da decomposição da matéria orgânica, estão
potencialmente disponíveis às plantas. Em períodos de alta intensidade de chuva, pode
haver uma drenagem do excesso de água, favorecendo a movimentação descenden te
dos íons. Espera-se que, em sistema de integração lavoura-pecuária, haja diminuição das
perdas dos nutrientes por lixiviação devido à melhor ciclagem dos nutrientes.
Com o objetivo de contribuir com informações sobre a disponibilidade de íons na
solução do solo, foi desenvolvido um estudo por Oliveira (2007), visando avaliar riscos
potenciais de perdas de nutrientes por lixiviação nos vários sis temas d e manejo em área
experimental submetida durante 14 anos aos sistemas de ILP (Integração Lavoura-Pecuária,
Pastagern-Lavoura=PL e Lavoura-Pastagem=LP) e, complementarmente, o movimento de
íons foi avaliado em solo sob lavoura contínua, com preparo convencionaJ (PC) e SD.
Considerando sua importância para a nutrição das plantas, o es tudo de Oliveira et al.
(2011) abrangeu os seguintes íons: CJ·, SO/ -, N03·, H 2PO~·, K♦, Mg2· e Ca 2+. De forma geral,
independentemente das profundidades e dos sistemas de manejo, a concentração de íons
nas soluções em ordem decrescente de grandeza foi: NO3• > Cl· >SO~ 2·>1-l • -'-2
PO,t· e Ca 2• > K ·
2
> Mg ♦, seguindo a ordem de afinidade de íons com as cargas do solo. As concentrações
dos ânions e cátions na solução do solo apresentam padrão sirniJar; o íon NO · evid encia
as maiores concentrações. Em relação aos sistemas avaJiados, as concentraçõe; d e fons na
solução do solo, independentemente da profundidade analisada, decrescem na seguinte
ordem: as de lavoura contínua sob PC; lavoura contínua sob SD e ILP; e pastagem
contínua. As concentrações dos íons na solução do solo, à profundidade de 1,5 m, sob
pastagem contínua e ILP, são as mais baixas, o que indica menores riscos de l.ixiviação
em comparação às de áreas de lavoura contínua, principalmente aquelas com preparo do
solo convencional; nesses sistemas, o íon NO3• demonstra maior potencial d e perdas por
lixiviação (Figura 3).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1192 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

10.000 (a)
1.000 (b)
8 .000
800
..J
õ 6.000
600
...
!Ô 4.000
... ... ...
z 400
2.000
ns 200
ns

30 60
ru;

90 120 Dia.s
o I:::::::====:::==;:::::::::::_
O 30 60 90 120 Dias

1.500
... 200 (d)•

r-
..J

l 1.000

soo

30 60 90 120Diu 120 Dias

600
...
(e)
200 (f)

soo
..J
õ
400
150 •
... ...
! 300 100
•..,
~ 200
50
100

0+------~--~---
30 60 90 120Dias 0 30 60 90 120 Dias

1.500 .w
~

l
~ 600

300 ,...._~---=:;,..
30 60 90 120 Diu
611/2005 27/4/2005 611/2005 27/4/2005
Dala Dai.a
1----L-PC --o-L-SD -.-p -----LP-SD -o-PL-SDI

Figura 3. Concentrações de nitrato (a, b) e dos cátions potássio (e, d), magnésio (e, f) e cálcio (g, h) na
solução do solo, sob diferentes sistemas de cultivo, nas profundidades d e 20 (a, c, e, g)
e 150 cm (b, d, f, h), no ano agrícola 2004/2005. L-PC - Lavoura contínu a sob preparo
convencional. L-SD - Lavoura contínua sob semeadura direta. P - Pastagem contú1ua
de Brnchiaria decu111be11s. LP-SD - Lavoura após quatro anos de pastagem. PL-SD -
Pastagem após quatro anos de lavoura. ns Não significativo. *, **e *** Significativo a
p<0,05, p<0,01 e p<0,001, respectivamente, para cada data de coleta das soluções do
solo.
Fonte: Oliveira et ai. (2011 ).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO .. ·
1193

De maneira geral, Oliveira (2007) observou que a inclusão da pas ta gem ~a rotação
com lavoura de forma alternada tem potencial para reduzir a perda d_e n~tnentes er:n
relação aos cultivas contínuos com lavoura. A pastagem permanente foi o s is tema mai
eficiente na redução das perdas por lixiviação, seguidos pelos sistem as de ILP alternado e
lavoura contínua (Figura 4).

500 60
(a) (b)
450
400
]'

350 c40
I 300 ~
.g
i 250 (li
"O
o
] 200
150
·e. 20
-~
100 ]
50
o o

200 40
(e) (d)
a L-SPC
]'
□ L-SD
150 bà30
e
I ~
o
■P
■ LP-ILP
! 100 ~ 20
..
"O
,o ■ PL-ILP
] 50
V

-]~ 10

o o
NO;

Figura 4. Drenagem estimada (mm) pelo modelo SARRA para os anos agrícolas 2004/ 2005 (a) e
2005/ 2006 (c) e quantidade (kg ha-1) dos íon.s (b e d) nitrato, potássio, magnésio e cálcio lixiviados
no solo sob diferentes sistemas de cultivo. L-PC - Lavoura contínua sob preparo convencional_
L-SD - Lavoura contínua sob semeadura direta. P - Pastagem contínua de Brachiaría decu mbens.
LP-ILP - Lavoura após quatro anos de pastagem. PL-ILP - Pastagem após quatro anos de
lavoura.
Fonte: Oliveira (2007).

Fósforo no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (lLP)


Os sistemas integrados aparecem como alternativa para a recuperação da qualidade
quúnica e física dos solos e para a sustentabilidade da agropecuária no Cerrado ( [acedo,
2009). Por exemplo, um dos principais benefícios da TLP é o aproveitamento do efeito
residual da adubação realizada sobre as culturas de grãos pelas pastagens. A rotação de
culturas que inclua espécies com alta eficiência em extrair P, como as Braquiárias, resulta
em aumento na recuperação de P adicionado ao solo de a té 69 % a mais do que no sistema
composto apenas de culturas anuais (Sousa et al., 2007). Essa maior eficiência se deve
à morfologia do sistema radicular, densidade dos pelos radiculares e associação com
fungos micorrízicos que aumentam a absorção de nutrientes com pouca mobilidade na
solução do solo, particularmente o P, em razão da exploração de maior vol ume de solo, da

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1194 Luiz CARLOS BALBINO ET AL.

solubilização de fosfatos orgânicos pelas fosfatases produzidas pelas hi fas e da mobilização


de P-inorgânico (Yao et ai., 2001).
Estratégia importante na TLP para melhorar O aproveitamento do P é a poss ibilidade
da antecipação total ou parcial da adubação das culturas anuais sobre as culturas
antecessoras, sejam essas plantas de cobertura e adubação verde ou pas tagens na
integração, em SD (Sousa et al., 2007). Francisco et ai. (2007) e Rodrigues et ai. (2009)
relataram que a adubação fosfatada antecipada, além de proporcionar maior produção
de biomassa da planta de cobertura e acúmulo de P, não alterou o rendimento de grãos
da soja, beneficiando o sistema como wn todo. Com a adubação antecipada na cultura
antecessora, pode-se promover maior incremento na produção de biomassa, aumentando
a deposição de fitomassas residuais no solo, melhorando a conservação dele, a manutenção
de umidade e a reciclagem de nutrientes, que, via mineralização da biomassa, passarão a
formas disponíveis para a cultura em sucessão (Segatelli et ai., 2008).
Os efeitos da adubação antecipada foram testados num sistema ILP em uma área
experimental da Embrapa Cerrados (Eberhardt et al., 2017). Uma pastagem de baixa
produtividade, cultivada em um Latossolo Vermelho Distrófico, foi dividida em três
faixas de 1,5 ha e adubada anualmente a lanço com O, 20 e 40 kg ha·1 de P 20 5, durante
quatro anos. Posteriormente, essa foi dessecada e foi realizada a semeadura direta da
soja simultaneamente à adubação no sulco com O, 50 e 100 kg ha·1 de P:Ps, disposto em
faixas perpendiculares às faixas de adubação na pastagem. Constatou-se que o teor de P
residual disponível, oriundo da adubação da pastagem, foi menor do que o observado
para a adubação na soja, isto é, os extratores não foram sensíveis em detectar o P residual
da adubação na pastagem, o que sugere que apenas a adubação na soja influenciaria a
disponibilidade do P (Quadro 1). Contudo, ao analisar as variáveis ligadas à resposta das
plantas, verificou-se que o P residual disponível, oriundo da adubação na pastagem, também
exerceu influência no teor de P na planta, na produção de matéria seca, no rendiinento
de grãos e no P acumulado pela planta, apresentando disponibilidade semelhante à do
P inorgânico aplicado à soja (Quadro 2). Esse resultado pode estar associado ao fato de
que os extratores resina e Mehlich-1 atuam mais sobre o P-inorgânico (Rheinheimer et al.,
2008) demonstrando, portanto, que os altos teores de P disponível no solo, nessas faixas de
adubações, não resultaram em maiores acúmulos de P na planta. Esse resultado confirma
que o compartimento do P residual (P oriundo da adubação da pastagem) biodisponível
para a planta é utilizado (absorvido) com mais eficiência do que o P do fertilizante aplicado
na soja (Eberhardt et al., 2017).
Rossi et ai. (1999) avaliaram o efeito residual de fontes de P aplicadas em dois cultivas
de forrageiras (Centrosema pubescens e Brachiaria decumbens) antecessoras ao cultivo de arroz
e também observaram elevado efeito residual de P oriundo do superfosfato triplo aplicado
antecipadamente. Considerando o papel do sistema radicular das plantas na solubilização
do p mediante a exsudação de ácidos orgânicos, esses resultados revelam que a Brachinrin
decumbens pode exercer papel fundamental na eficiência de absorção de P residual e sua
posterior disponibilização, por meio da mineralização do P-orgânico imobilizado na
matéria seca.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO. ··
1195

Quadro 1. Valores médios de P no solo extraídos por res ina (P-resina) e Mehlic h-1 (P-Mehlic.h) 100
dias após a e me rgência (DAE) da cultura da soja, de acordo com a ad u bação na Pª s t ª gem dentro
das faixas de adubação na soja

Adubação na pastagem P-res ina P-Mehlich

kg ha·1 P2O 5 m g kg- 1 -


Adubação na soja
O kg ha·1 Pp ,
o 3,10 c 2,25 b
20 6,79 b 3,35 b
40 13,09 a 6,77 a
50 kg h a· 1P2 0 5

o 19,44 a 5,50 a
20 16,46 a 7,10 a
40 28,26 a 8,63 a
100 kg ha·1P20 5
o 24,96 a 8,28 b
20 45,66 a 40,00 a
40 38,91 a 13,87 b
n1 Mé dias seguidas de letras iguais, dentro de cada nível de adubação n.i soja nas colunas, não d ife rem entre i pelo te5t~ de
Student-Newman-Keuls (SNK) (p<0,05).
Fonte: Eberhardt et ai. (2017).

Quadro 2. Valores médios do teor de fósforo na p lan ta (P-planta), de matéria seca (MS), rendimento
de grãos (RG) e fósforo acumu lado na parte aérea (P-acumulado) aos 100 dias após em ergência
(DAE) da cultura da soja, de acordo com a adu bação na pastagem e adubação na soja

Adubação
P-planta Matéria seca Rendimento de grãos P-acumulado
na pastagem
kg ha·1 Pp5 g kg-1 kg h a·1 kgha·1 kg ha· 1
Adubação na soja
O kg ha·1 P2O 5
o 1,45 c 1636,10 c 1524,93 e 2,37 c
20 1,88 b 2672,20 b 2856,84 b 5,05 b
40 3,06 a 3586,10 a 3647,43 a 10,96 a
1
50 kg ha- P 2O5
o 1,72c 3222,20 b 232-1,71 b 5,62 b
20 2,45 b 3575,00 b 3496,68 a ,75 b
40 3,02a -!781,50 a 3905,34 a H ,SOa
100 kg ha· Pp5 1

o 2,31 b 3905,60 b 3577,31 a 9,03 b


20 2,93 a 5444,40 a -!142,35 a 16,00 a
40 3,08 a 4586,10 ab 3901,74 a 1-l,16 a
!'IMédias seguid as de letras iguais, dentro de cada nível de adubação na soja n.15 colunas, não J i&rem entre 1 pdo teste de
Student-New ma n-Keuls (SNK) (p<0,05).
Fon te: Ebe rhardt et al. (2017).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGU A


1196 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

O acú mulo de P e rendimento de grãos na faixa de adubação com 40 kg ha·1 de P 20 5


apenas no pasto foi semelhante ao observado nas faixas com 40 kg ha·1 de P 20 5 no pasto
som~d~ aos 50 kg ha·1 de P 20 5 aplicados na soja e também semelhante aos 40 kg ha- 1 de P 20 5
adnurustrados no pasto somados aos 100 kg ha·1 de p O disponibilizados na soja. Logo,
1 . 2 5
qua quer que SeJa o manejo da adubação fosfatada, parcelada nos quah·o anos de cultivo
d_a ~astagem ou aplicada toda no primeiro ano da soja, ocorrerá acúnmlo de quantidades
smulares de P, o que sugere que a adubação antecipada na pastagem pode ser tão eficiente
quanto u1:1a fertilização direta na cultura da soja. No entanto, a disponibilidade do P no
solo, medida pelos exh·atores resina e Mehlich-1, é menor no caso da adubação antecipada
na pastagem (Quadro 1), o que reforça a necessidade de considerar o sistema de cultivo
e preparo do solo utilizado por ocasião das interpretações dos teores recomendáveis de
P no solo. Os teores mais baLxos determinados pela resina e pelo Mehlich-1 na pastagem,
provavelmente, ocorreram em razão de as formas de P-orgânico não terem sido extraídas,
uma vez que a resina atua mais sobre o P-inorgânico (Eberhardt, 2008).
A alteração dos teores de P no solo com a alternância da lavoura e pastagem também
foi observada por Franchini et ai. (2011b) em sistema de ILP na região nordeste do Mato
Grosso. A variabilidade espacial e a temporal do P no solo foram avaliadas usando
conceitos de geoestatística. As avaliações foram realizadas em uma área total de 110 ha,
dividida em cinco módulos de 20 ha, por meio do uso de grades de amostragem em 2009 e
2010. a figura 5, são apresentados os mapas de variabilidade espacial para o teor de P na
camada de O a 20 cm pelo extrator Mehlich-1. Os módulos A, B e C representam sistemas
de ILP na fase de lavoura (cultivo de soja, milho, girassol, arroz e sorgo), enquanto os
D e E evidenciam sistemas ILP na fase pecuária (cultivo de Brachiaria brizantlia cv. BRS
Piatã). De um lado, na amostragem de 2009, observou-se que, após um (módulo D) ou dois
(módulo E) anos de pastagem permanente nas áreas de pecuária, houve diminuição no
teor de P no solo em relação às áreas de lavoura (módulos A, B e C). Esse comportamento
pode estar relacionado com a ausência de adubação na pastagem, a extração de P nos
produtos da fase de pecuária ou ainda com a incapacidade de o extrator Melich-1, método
utilizado, mensurar outras formas de P presentes nas áreas de pastagem. Por outro lado,
na amostragem de 2010, quando houve mudanças de fase nos módulos A e E, notou-
se que houve aumento do teor de P no solo no módulo E, onde a fase de pecuária foi
substituída pela fase de lavoura com o cultivo da soja. Isso demonstra que a adubação
aplicada na cultura da soja foi suficiente para atender as necessidades da cultura e ainda
repor o nutriente utilizado pela pastagem durante o período de dois anos em que essa
permaneceu na área. O modulo C também apresentou aumento no teor de P no solo em
relação à amostragem de 2009, indicando aumento progressivo do elemento no solo com
o cultivo de soja e milheto por dois anos, e arroz e milheto por um ano. Os resultados
sugerem que, em sistemas de ILP, o P pode ser mantido dentro de teores adequados com a
evolução dos sistemas no tempo, mesmo sem a adubação das pastagens, o que demonstra
aumento da eficiência de uso do elemento.
O sistema ILP permite melhor utilização dos recursos naturais não renováveis, no
caso, adubos fosfatados, e maior equilíbrio na condução da atividade agropecuária. O
conhecimento da dinâmica do P pela determinação dos compartimentos e pelas formas
predominantes de P nos solos sob sistemas que acumulam C-orgânico, relacionando-os
com a nutrição das plantas, auxiliará na identificação dos mecanismos e processos que
controlam e interferem no aumento do efeito residual das adubações fosfatadas pelo
retardamento da fixação de P nos óxidos de Fe e AI. Os resultados desses estudos podem

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO .. ·
1197

contribuir na definição de estratégias de uso mais eficiente das ad ubações fosfatadas no


sistemas de integração (Franchini et ai., 2011 b).

24
20
16
12
8 E
A li e D
• Módulol

2009 2010

Sj 5j Sj Ar p 5j 5j Ar p
Gs+Br ML+Br Mi+Br Sg+Bbm p Gs+Br ML+Br Mi~Br Sg+Bb p
Ar 5j 5j p p Ar 5j 5j p p
Mi+Bb ML+Br Mi+Br p p Mi+Bb ML+Br Mi+Br p p
p Sj Ar p Sj
p ML+Bbp Ml+Br p Ml+Br

Figura 5. Mapas dos teores de P no solo nas coletas de 2009 e 2010. O asterisco indica diferença
significativa entre anos no teor de P pelo teste t de Student. Os módulos A, B e C representam
sistemas de ILP na fase de lavoura (cultivo de soja, milho, girassol, arroz e orgo), enquanto
os módulos D e E evidenciam sistemas ILP na fase pecuária (cultivo de Brachiaria bri:antha ~ -
BRS Piatã). Sj: soja; Ar: arroz; Mi: milheto; ML: milho; Gs: girassol; Bb m: Urochloa brizantlt cv.
Marandu; Bb p: Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã; Br: Brachiaria niziziensis; g: sorgo forrageiro;
P: pastagem permanente de Bracliiaria brizanlha cv. Marandu + Brachiaria brizantha c . BRS Pia tã.
Fonte: Adaptado de Franchini et ai. (2011b).

Dinâmica do carbono e da matéria orgânica do solo

As principais estratégias para reduzir a emissão dos gases de efeito e tufa (GEE)
consistem na redução da queima de combustíveis fósseis, na diminuição do desmatamento
e das queimadas, no manejo adequado do solo e, por fim, nas estratégias de m~ imização
do sequestro de C no solo. No contexto das duas últimas estratégias, o manejo do solo, com
uso de práticas conservacionistas, é indiscutível para sua otimização (Carvalho et aJ., 200 ).
Segundo Carvalho et al. (2010a), a lLP vem apresentando considerável poten ial de
acúmulo de C no solo. Esses autores apresentaram resultados de trabalhos na região do
Cerrado com incremento nos estoques de C do solo em sistemas de fLP sob o, quand
comparados aos de áreas sob SD sem a presença de forrageira na rotação ou suces ã je
cultivos. o potencial de sequestro de C da SD no Brasil já ha ia sido compr ado, por
exemplo, pelos trabalhos de Bayer et al. (2006), Franchini et al. (2007) e Babujia et al. ('.!010).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1198 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

A ele\'. ação do teores de matéria orgânica do solo e a melhoria da qualidade fís ica do
solo com a mtrodução d as pastagens em áreas agrícolas com níveis adequados de fertilidade
demonstram que a ILP tem potencial para reduzir o impacto ambiental das atividades
produtivas, diminuindo as emissões de GEE, dando maior estabilidade à produção das
culturas anuais e melhorando o aproveitamento da água e nutrientes (Franchini e t al.,
2010a).
Salton (2005), avaliando as taxas de acúmulo de C em diferentes sistemas de uso e
manejo do solo no Cerrado, observou que os maiores estoques de C estão relacionados
com a presença de forrageiras, resultando na seguinte ordem decrescente de estoques de
C no solo: pastagem pern1anente > ILP sob SO > lavoura em SO > lavoura em cultivo
convencional. Esse autor notou que as taxas de acúmulo de C no solo, nas á.i-eas de ILP sob
50 em relação a lavouras em SO, foram de 0,60 t ha-1 ano-1 e 0,43 t ha-1 ano-1, respectivamente
para estudos na região de Dourados e Maracaju. Resultados de Carvalho et al. (2009), na
Região do Cerrado, indicaram que a taxa de acúmulo de C na conversão da 50 para ILP
sob 50 pode ser muito maior, variando de 0,8 t ha-1 ano-1 a 2,8 t ha-1 ano-1 .
Leiteetal. (2008) utilizaram o simulador computacional CQE5TR para estimar estoques
de carbono de compostos orgânicos do solo (COS) em experimento de longa duração com
50 e ILP e observaram variação de 34 t ha-1 no solo sob SO, com rotação soja-milho e plantio
convencional com arroz a 36 t ha-1 no solo sob ILP, com rotação a cada quatro e dois anos,
o que significou redução de 26 e 22 %, respectivamente, em relação ao estoque original
sob floresta nativa. Posteriormente, os sistemas com ILP em 50 passaram a aumentar os
estoques de COS e alcançaram valores entre 49 t ha-1 e 57 t ha-1. Esses resultados realçam
a importância da ILP associada à 50 em meU1orar a qualidade do solo e contribuir para o
sequestro de carbono. Adicionalmente, observou-se que a ILP, com rotação a cada quatro e
dois anos, sequestrou 0,4 t ha-1 ano-1 e O, 34 t ha-1 ano-1, respectivamente. Os demais sistemas,
onde não há a presença da ILP, emitiram carbono para atmosfera (0,09 t ha-1 ano-1 e 0,30 t
ha-1 ano-1).
De acordo com os resultados de trabalho realizado na região de transição entre
Cerrados e floresta tropical amazônica por Franchini et ai. (2010b), a utilização de sistemas
de ILP que contemplem o emprego de pastagens perenes em áreas agrícolas, associadas à
50, tem potencial para mitigar o impacto ambiental das atividades agropecuárias por meio
do sequestro de até 29,8 t ha-1 de CO2 , nos dois primeiros anos de adoção dos sistemas. A
maior parte do CO2 sequestrado é proveniente do C acumulado nas raízes das forrageiras
tropicais, que podem produzir em torno de 10 t ha-1 de matéria seca.
Dado o reconhecido papel das árvores, sequestrar C e mitigar a emissão de GEE,
os sistemas de ILPF que contemplam o componente arbóreo apresenta m importante
contribuição para o balanço de emissões de GEE. Nair et ai. (2011) relatara m um sistema
de ILPF na região do Cerrado constituído por eucalipto em combinação com as culturas
do arroz e soja nos primeiros dois anos, seguidos de pastagens de braq uiá ria pastejada
com gado de corte, a partir do terceiro ano do estabelecimento da plantação. Esses estudos
indicaram que os sistemas agrossilvipastoris armazenam maior quantidade de C em
relação ao monocultivo florestal ou forrageiro, tanto na superfície como em s ubsuperfície.
Maia et ai. (2006) recomendaram o sistema silvípastoril para a manutenção da
q ualidade do solo e produção de alimen_tos na regi~o do semiárido cearense. Oliveira et
al. (2008), objetivando estimar a produçao de madeJra, o estoque de C e a rentabilidade
económica, incluindo a venda d e créditos de C de sistemas sil vipastoris com Eucalyptu s

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MAN EJO D E SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO.··
1199

g rnndís e Pínus elliotlii em consórcio com pastagens, d mons tra ra m qu a v_e n~a de crédito
d e C torn a o com ponente florestal ainda mais atra ti vo, em decorr ~ncia, principalmente, da
receita auferida desde o início do projeto.
De acordo com MUiier et ai. (2009), com a criação do Mecanis mo de De e nv~l~imen to
Limpo (MDL)(ll, foi gerado amplo debate sobre o potencial da silvicu ltura e agros il vic ultura
como atividades elegíveis para sequestro de C. Esses a utores estudaram o e toque de Cem
um sistema silvipastoril misto com E. grandis e Acncia mangi11m e observar~m u_m t~taJ de
24,8 t ha-1 de matéria seca e 11,17 t ha-1 de C para o eucalipto; para a acácia, foi es~mado
total de 6,94 t ha-1 de matéria seca e 3,12 t ha-1 de C, totalizando 31 ,74 t ha-1 de matéria eca
e 14,29 t ha-1 de C. Para o componente pastagem (Brachíaria dernmbens), foi dete~minado
acúmulo de 1,28 t ha-1 de matéria seca e 0,58 t ha-1 de C somente b iomassa res idual de
pas tejo.
Tsukamoto Filho (2003) observou que a quantidade de C fixado pelo e ucalipto no
sistema agrossilvipastoril variou de 3,80 t ha-1 de C a 80,67 t ha· 1 de C (do l º ao 11º ano),
devendo ser ressaltado que, na idade de rotação técnica de volume de madeira, em tomo
de cinco anos, o total fixado foi de 52,82 t ha-1 de C; e, na idade de rotação económica,
época de venda de madeira, de 59,25 t ha·1 de C. Em termos de C02, os números fo ram
de 193,33 t ha-1 sequestrados na rotação técnica; e 216,84 t ha-1, na rotação econômica.
Portanto, o sistema ILPF foi considerado o mais indicado para projetos de fixação de C
pois, na idade de cinco anos, o eucalipto nesse sistema fixou maior quantidade de C que
nos espaçamentos tradicionais. Esse sistema fixou mais C que o eucalipto em mo nocuJtivo
plantado nos espaçamentos 3 x 2 me 3 x 3 m, os monocultivos de arroz e soja e a pas tagem,
sendo ótima opção para projetos de MDL no Brasil.
A atividade pecuária conduzida em sis temas de lLPF pode ter saldo de emissões de
GEE nulo ou até negativo. Os impactos na melhoria no manejo alimentar de s is temas de
produção de gado de corte, na fase de cria em regime de pastagens, foram estudados por
Barioni et al. (2007), os quais realizaram simulações, considerando crescimento linear por
duas décadas dos coeficientes técnicos da pecuária brasileira, em resposta à ele ação da
taxa de nascimento de 55 % para 68 %; redução na idade de abate de 36 me e para 2
meses; e redução na taxa de mortalidade de 7 % para 4, 5 %. 1 esse no o cenário, seria
possível manter praticamente estáveis as emissões de CH4 ao mesmo tempo em que c1
produção de carne seria aumentada em mais de 25 %.
A crescente restrição à exploração madeireira de flores tas naturais propicia redução
no fornecimento de matéria-prima para a indústria madeireira, como madeira errada,
laminação, faqueado, produtos de madeira de maior valor agregado (P ), pi o,
porta, janela, moldura, ferramentas, painel colado lateralmente, etc., o que pode provo ar
aumento de preço dos produtos manufaturados. Tanto mó eis (de painéis reconstituídos
como de madeira serrada) quanto PMV A são produtos essencialmente imobilizad o re de
C. O s s istemas de ILPF poderão corroborar para menor pressão e regularização de oferta
de produtos madeiráveis ao mesmo tempo em que promovem a adequ ação ambiental da
pecuária nacional ao constituir sistemas de produção capazes de neutraliza r a emi ão
de CH4 pelo rebanho de ruminantes. O potencial de mitigação de GEE em s istemas
intensivos com árvores de rápido crescimento (>2,2 cm de diâmetro ao a n no Brasil é d
1
aproximadamente 5,0 t ha-1 ano- de C"1 (média para 11 anos) fixado na mad eira (tronco)
1
( ) Meca~smo de Des~~volvimento Limpo (M~L) é um _d~s ~1ecani.smos de ~e, ibiliz_,u;.i criad s pelo Prol _ lo
de Quio to para auxiliar o processo d~ reduçao de em1ssõe:s de i,,>a _es de efeito estuta (GEE) u de captura de C
(ou sequestro de C), por parte dos pc11ses do Anexo Ida Convcnçc10 sobre Mudanç.i J o lima.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1200 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

das árvores, conforme dados de Tsukamoto Filho (2003). lsso eq uivale à ne utralização por
ano da emissão de 13 bovinos adultos (450 kg PV).
H á estudos que também apontam para a probabilidade do efeito interativo entre o
potencial de sequestro de C pelos elevados acúmulos de biomassa forrageira, biomassa
florestal, pelo acúmulo de matéria orgânica do solo e pela maior eficiência de ferti lizantes,
e, consequentemente, a capacidade de esses sistemas compensarem as emissões de CH4
oriundas da fermentação entérica de bovinos (Carvalho et al., 2001; Tsukamoto Filho, 2003;
Cerri et al., 2006; Ja.ntalia et ai., 2006; Oliveira et.al., 2007; Segnini et. ai., 2007; Primavesi
et al., 2007; Fisher et ai., 2007; Carvalho et ai., 2008; Macedo, 2009; Carvalho et ai., 2010a).
Em estudo conduzido por Almeida et al. (2011), em Campo Grande, MS, estão sendo
avaliados dois sistemas de ILPF com capim-piatã (Brachiaria b,izantha cv. BRS Piatã) e
eucalipto (Eucalyptus urograndis), em densidades de 227 árvores ha-1 e 357 árvores ha-1 ,
respectivamente. Os sistemas foram implantados em 2008 corno estratégias de recuperar
pastagens de braquiária. Após 16 meses da implantação das árvores, e ao atingirem o
porte adequado para a enh-ada de animais em pastejo, foi mensurada a biomassa de cada
componente de uma árvore por parcela. N ão houve diferença entre as densidades de
árvores para cada componente, obtendo-se valores médios de massa de matéria seca por
árvore de 5,20 kg de folhas; 3,59 kg de galhos; 8,80 kg de tronco; e 5,22 kg de raízes de um
volume de solo de 2 m 3 • Considerando-se apenas a biomassa do tronco (38,6 % d a m assa
seca total) e as emissões de CH4 e de N 20, os sistemas de ILPF com densidades de 227 e 357
árvores ha-1 foram capazes de compensar as emissões de gases de efeito estufa equivalentes
a 1,84 e 3,04 animal ha-1 ano-1, respectivamente (Quadro 3), que suportaram uma taxa de
lotação média de 1,76 UA ha-1, após um ano da avaliação das árvores.

Quadro 3. Estimativas de mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE) em sistemas de


integração Lavoura-Pecuária-Floresta com duas densidades de árvores de eucalipto, aos 16
meses da implantação das árvores. Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
Se9uestro!1l Potencial de
Sistema de ILPF mitigação
C kg árvore-1 C t ha-1 C02 eq t ha-1
animal ha-1!2 >
Com 357 árvores ha-1 4,3 1,5 5,5 3,04
Com 227 árvores ha-1 4,1 0,9 3,4 1,84
ni considerando somente o tronco (38,6 % da matéria seca total). fll Considerando as emissões d e CH, e de N,O .
Fonte: Al.me.i da et al. (2011 ).

Outro trabalho realizado por Guimarães Júnior et al. (2016) comparou sistemas de
produção pecuária a pasto em termos de emissões de metano entérico e sequestro de
carbono. Foram comparados (i) o sistema ILP; (ii) o sistema ILPF com 2 linhas de Eucalyptus
urograndís espaçadas em 22 m (417 árvores ha·1); e (iii) uma pastagem de baixa produtividade
(PBP). As taxas de lotação nas áreas foram 3,0, 1,7 e 1 cabeça por ha, respectivamente. As
emissões entéricas dos bovinos (ECH4 ) consideradas foram obtidas por Mandarino et ai.
(2015) e os dados de acúmulo de carbono no solo nos sistemas TLP e PBP foram obtidos num
experimento de longa duração (24 anos) de acordo com Jantalia et ai. (2006) e Sant' anna et
ai. (2015). Dados obtidos por Pulronik et ai. (2015) foram utilizados como referência para os
valores de acúmu lo de carbono pelo tronco das árvores no Sistema ILPF (24,5 % menor que

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - M ANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO . ··
1201

no ILP). Parn a taxa anua l de fi xação de carbono pelo tronco da árvores no componente
arbóreo fo i considerado o valor de 0,0306 para cada árvore (densidade de 0,51 x volu me ~e
0,06 m 3) com 46 % de carbono. Os resultados demonstraram que as altas taxa de lotaçao
e capacidade de suporte das pastagens resu ltaram em altas ta xas de emissões de °:etano
e n térico nos sistemas ILP e ILPF em comparação ao PBP (Quadro 4). Contudo, 0 acumulo
de carbono no solo no ILP e o carbono adicional fixado pelo tronco das á rvo res no ILPF
possibilitaram compensar até 100 % do ECH,J emitido. Adicionalmente, os sis te •mas ILP e
ILPF ap resentara m um balanço positivo anual de 1,3 e 23,0 Mg C02 eq ha· 1, respecbvamente.
O oposto ocorreu na pastagem de baixa produtividade PBP, que a presentou um balanço
negativo de carbono equivalente a 0,4 Mg C02 eq ha·1• Os autores concluíram que .º
exceden te de carbono fixado nos sistemas integrados podem compensar o ECH, de ma1
de uma cabeça no ILP até 20 cabeças no IlPF.

Quadro 4. Emissões de metano entérico, taxas de acúmulo de ca rbo no no solo, carbono fi xado pela
árvores (tronco) e balanço anual de ca rbono em diferentes sis temas de produção pecuários no
Cerrado. Planaltina-DF
Acúmulo de carbono
Carbono fixado no
ECH/ 1 no s0)0121 Balanço annual de
Sis tema troncom
Mg CO2 eq ha·1 ano-1 (100 cm depth) carbono
Mg c o2 eq ha· 1 ano- 1
Mg c o2 eq ha·1 ano-1 Mg c o? eq ha· 1 a n o- 1
ILP 3,4 4,7 o + 1,3
ILPF 2,0 3,5 21,5 + 23,0
PBP 1,1 0,7 o -OA

n>CH, Potencial de aquecimento global - PAC (num horizonte de 100 anos) rela tivo a C02 = 25; •· ilx.l média de acúmulo de
ca.rbono no solo po r ano: ILP = 1,273 Mg ha·• ano·•; ILPF = 0,961 Mg ha·• ano·•; PBP = 0.182 Mg ha·1 ano '; ITCarbono iixc1do pelo
tronco no ILPF = 5,869 Mg ha· 1 ano·•.
Fonte: Adaptado de Guimarães Júnior et ai. (2016).

Atributos físico-hídricos do solo

Qualidade física do solo em sistemas integrados

A busca por alternativas tecnológicas que possibilitem o uso racional do olo tem
sid o a tônica das discussões em torno do tema manejo susten tável do solo para uma
agricultura conservacionista. Dos componentes do manejo, o preparo do olo talvez seja a
a tiv idade q ue mais influencia no comportamento de sua qualidade fís ico-hídrica, pois atua
diretamen te sobre a estrutura do solo. Além das modificações na porosidade e densidade,
o manejo provoca alterações na estrutura do solo que interferem na retenção de água e
resis tência mecân ica do solo à penetração radicular (Silva et al., 1994; Oliveira et a i., 2003),
indicando possíveis restrições ao desenvolvimento apropriado das plantas.
Da mesma fo rma, a compactação do solo originada pela compre são do tráfego
de máqui nas (Fl~wers e La!, 1998) e a decorrente do pisoteio bo ino (lanzano a e t al.,
2007) são as principais causas da de_gradação física dos solos culti ados. Esse problema
au~enta con: a inte~si~ade_do trál,ego de máqu in~s _e o excesso de carga animal por
unidade de area, pnnc1palm~n.te quando as cond1çoes de umidade do solo não se
encontram adequadas a esse tipo de manejo. Essas práticas a lteram a estrutura lesse,

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E D A ÁG UA


1202 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

que é um dos atributos físicos mais importantes (Corrêa, 2002), com impactos diretos na
geometria e na distribuição de poros por tamanho (Richard et ai., 1999; Bouwman e Arts,
2000), alter_a1:do, em maior ou menor grau, conforme O nível de compactação, a retenção
e a condut1v1dade de água do solo (Richard et ai., 2001; Beutler et ai., 2005). Por isso, a
~urva de retenção de água do solo (CRA) tem se revelado como atributo físico-hidrico
11T1portante nos e tudos da qualidade física desse, com vistas a nortear as práticas de uso
e o manejo sustentável dos sistemas de produção agrícola (Marchão et ai., 2007; Santos
et ai., 2011). Esse atributo físico-hídrico, que descreve a relação enh·e conteúdo de água
e o potencial de retenção na matriz do solo, varia no tempo e espaço. As informações
decorrentes dessa caracterização possibilitam calcular valores de outros atributos do solo
(Scott, 2000), como densidade do solo, porosidade total, saturação efetiva, entre outros.
De acordo com Kluthcouski e Stone (2003), a formação e manutenção de cobertura
morta nos h·ópicos, com destaque para o Cerrado, foram algw1s dos principais obstáculos
para o estabelecimento da SD, onde as altas temperaturas, associadas à un1idade adequada,
promovem a decomposição rápida das fitomassas residuais. O cultivo de milheto, no final
ou na entrada do período chuvoso, para formação de cobertura morta, principalmente na
agricultura de sequeiro, foi o que permitiu o grande impulso na adoção da SD na região.
Porém, os autores ressaltaram que a situação que predomina na agricultura irrigada do
Cerrado é a inexistência de cultivo de espécies exclusivas para formar cobertura morta
e que, na agricultura de sequeiro, é muitas vezes baseada somente na biomassa cultural
residual proveniente dos cultivas de safrinha, principalmente de sorgo e milho.
Com a adoção de sistemas de ILP, a SD ganhou impulso de qualidade, principalmente
em regiões mais secas, como o Cenado, pela melhor formação e qualidade de palhada
oriunda da dessecação de forrageiras, como as espécies do gênero Brachinrin, após pastejo.
De acordo com Stone et al. (2003), a estruturação do solo provocada pelas gramíneas, pelo
seu sistema radicular fasciculado que penetra facilmente no solo, mesmo em camadas
compactadas, reflete na permeabilidade do solo, ou seja, na facilidade que a água encontra
para movimentar-se por seu interior. Dessa forma, nos sistemas de ILP, o cultivo sob SD em
palhada de pastagens favorece a infiltração e o armazenamento de água no solo e subsolo.
A presença de palhada na superfície do solo, em quantidade adequada, é de
grande importância na agricultura irrigada. Ela altera a relação solo-água, pois previne
a evaporação, reduzindo a taxa de evapotranspiração das culturas, principalmente nos
estádios em que o dossel dessas não cobre totalmente o solo, resultando em redução na
frequência de irrigação e em economia nos custos de operação do sistema de irrigação.
Estudos realizados no Cerrado evidenciaram que as perdas de água por evapotranspiração
durante o ciclo do feijoeiro dependem da quantidade de massa de matéria seca das culturas
de cobertura do solo, sendo menores sobre palhadas de braquiária (Braclúarin briznlllhn cv.
Marandu) e mombaça (Panicum mnximum cv. Mombaça), ambas as gramíneas forrageiras
com elevada produção de biomassa (Stone et ai., 2008).
Em trabalho realizado por Marchão et aJ. (2007), cujo objetivo foi avaliar o impacto de
sistemas de ILP sobre atributos físico-hídricos do solo, assim como o potencial uso desses
atributos corno indicadores da qualidade física de um Latossolo, observou-se que todos
os sistemas de uso e manejo do solo causaram impacto negativo nos ah·ibutos densidade,
umidade volumétrica, resistência à penetração, porosidade total, macroporosidade,
rru croporosídade efetiva e água prontamente d!sponivel do solo. Foram observados
incrementas na resistência à penetração e na densidade do solo em todos os sistemas em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SI ST EM AS DE I NTEGRAÇÃO ... 1203

compa ração ao cerrado nati vo. Entretanto, a compac tação resul tante do pi ot io dnimal
durante quatro anos da fase pastagem, nos sistemas de f LP, não atingi u valores crític~ q ue
pudessem limitar culti vas anuais s ubseq uentes. A poros id ade tota l e a m acroporos1d ade
foram maiores no Cerrado e na SD, em relação ao PC.
N a região do Cerrado, o impacto do piso teio anima l sobre os atribu tos físicos, químico
e biológicos do solo tem recebido pouca a tenção d a pesqu isa. Apesa r de alguns poucos
resultados indicarem não haver efeito prejudicia l da compactação pa ra as culturas anuais
subsequentes ao pastejo, notou-se que a compac tação é a rgume n to a inda utilizado pelos
produtores de grãos para a não adoção do sis tema. esse sen ti d o, Ma rchão et ai. (20O9a)
a valiaram o impacto de um sistema íLP sobre a resis tência à pe netração de um solo a renoso
do oes te baiano, com baixo teor de matéri a orgâ nica e a lto teor d e a reia fi na. De maneira
geral, de um lado, os res ultados demonstra ram q ue nas cond ições d o solo da região,
cons iderados frágeis e altamente susceptíveis à erosão e compac tação, e m razão do alto
teor de areia fina, a adoção de um sistema de " boi sa frin.h a", o nde os a nimais permanecem
na lavoura apenas durante a entressafra, não causa compactação muito d r, tica do solo
(Figura 6). Por outro lado, os resultados s ugeriram q ue, para solos a rena os, os valo res
críticos de resistência do solo à penetração (RP) podem ser mais ba ixos q ue o valo r de 2,5
MPa, considerado crítico pela literatura (Tay lor et ai., 1966).

Resistência à penetração (MPa)


0,0 1,0 2,0 3,0 4,0
o +-....&.......--'---'---'--'-....L...--'---'---'---'---'---'--'----'---- ' ---'-....L...--'---'---'

TIS

10 TIS

(lj
Camada Umidade (g g·') ns
"O (cm) Sem pastejo Com pa.stejo
OI
"O 0 - 20 0,11 0,10
:a 20 20 - 40 0,11 0,11
]
e
~ TIS

30 ns
n==30
ns
- - - Com pastejo
-e- Sem Pastejo
40 ns

Figura 6 Comparação de perfis de resistência do solo à penetração ([ndice de one) em área de ILP
(c~m pas~ejo) e na mesma área_ sob p~1ada de ~úl~o com Bracliiana m:::.i.::it?"n is sem pastejo
(piquete isolado). Valores médios de cmco avaltaçoes (repetições) em seis á reas dentro do
p iquete (ns=não significativo e *=significativo pelo te te t, p<0,05).
Fonte: Ma rchão et al. (2009a).

Nesse sentido, Franc.hini et ai. (2010a), avalia ndo a RP d o solo e m si temas d e íl...P na
reg ião nordeste do Mato Grosso, observaram que ,1 prese nça de past o-em perman n te
por um o u dois anos foi efetiva na redução desse a tributo, em relação área condu zid a à
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
1204 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

sob lavoura contínua (Figura 7). Verificou-se que O módulo culti vado com soja por
nove anos sucessivo apresentou valore de RP superiores à pastagem de 1 º ano, o
que foi mais evidente na ca1nada de 10 a 40 cm. Esses resultados podem ser atribuídos
principalmente à ação do sistema radicular da Brnc'1inrin brizn11tlw, que, por ca usa da sua
agressividade e vigor, é capaz de romper camadas com maior densidade, descompactando
o olo biologicamente, sem a necessidade de intervenção mecânica. Além disso, em áreas
exploradas por longos períodos exclusivamente sob lavouras ru1Uais, as pressões aplicadas
pelo rodados durante o tráfego de máquinas agrícolas tendem a se acu1nula rem na camada
de 10 a 15 cm, levando à compactação delas (Genro Junior et ai., 2004) . lsso não ocorre
em áreas sob pastagem, onde o tráfego de máquinas agrícolas é praticamente eliminado.
Pode-se inferir que o módulo cultivado com soja por nove ru1os consecutivos apresentou
compactação na camada de 10 a 20 cm, capaz de resh·ingir o crescimento radicular dessa
cultura. Observou-se ainda que os valores de RP medidos na pastagem de 2º ano foram
maiores comparativamente à pastagem de 1 ° ru10, considerando a camada de 10 a 20 cm
(Figura 7). Esses resultados podem ser relacionados principalmente à redução do vigor
do sistema raclicular da pastagem a partir do 2° ano de implantação, em conjunto com o
acúmulo das pressões aplicadas pelo pisoteio animal. Mesmo assim, a RP (10 a 40 cm) nesse
tratamento continua sendo inferior ao observado na área cultivada com soja por nove anos
consecutivos. Assim, os resultados obtidos por meio da determinação da RP evidenciaram
que o uso de forrageiras tropicais em sistemas de ILP melhorou a qualidade física do solo,
proporcionando, em um ano, a eliminação de camadas compactadas produzidas pelo uso
contínuo do solo com soja.
No mesmo contexto, em trabalho realizado na região norte do Paraná, em solo de textura
muito argilosa, Debiasi e Franchini (2012), avaliando o efeito de diferentes intensidades
de pastejo (6,9; 9,4; e 16,5 unidades animais ha·1) sobre a RP do solo, a porosidade e a
produtividade da soja, observaram que apenas na camada superficial (O a 5 cm) a RP e a
porosidade foram influenciadas pela intensidade de pastejo. O pastejo aumentou o grau de
compactação da camada superficial do solo independentemente da carga animal utilizada.
Nas camadas mais profundas, houve efeito das maiores pressões de pastejo apenas sobre
a RP, atingindo, na maior pressão de pastejo, níveis restritivos ao desenvolvimento
raclicular. Os resultados inclicaram que o uso de altas pressões de pastejo pode aumentar
a compactação do solo até 30 cm de profundidade. Desse modo, o uso de carga animal
compatível com a capacidade de suporte da pastagem e a RP são importantes para manter
a qualidade estrutural do solo. Apesar do aumento da RP observado nas maiores pressões
de pastejo, não foi influenciada a produtividade da soja do cultivar BRS 255, enquanto
a do cultivar BRS 294 foi aumentada nessa condição. A resposta do cultivar BRS 294 foi
proporcionalmente inversa à quantidade de palha na superfície do solo, indicando que o
manejo adequado da dessecação pode ser mais importante do que a condição física do solo
em sistemas de ILP.
Por causa da maior complexidade dos sistemas ILPF, a interação entre os seus
componentes ainda precisa ser mais bem entendida para que a sinergia entre esses possa
ser maximizada. O comportamento de sistema ILPF sobre a produtividade do componente
agrícola pode ser ilustrado pelo estudo desenvolvido por Antonio et al. (2012) na região
noroeste do Paraná. Em uma área de ILPF implantada em 2009, no município de Santo
Inácio, noroes te do Paraná, foi avaliada a influência do componente arbóreo sobre a
produtividade da soja no tercei~o ano de ~ondução. O sistema ILPF, composto por renques
simples de eucalipto da espécie Corymbia maculata, espaçados em 14 m enh·e renques e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO .··
1205

4,2 m en~e. árvores, foi cultivado com soja no verão e Bracltiaria ruzizie~1sis n~ inverno.
A produtividade da soja no sistema ILPF foi comparada com a da ºJª cultivada em
área próxima sem arborização (Figura 8). o componente arbóreo pro porcionou redução
médi a de 4,3 % na produtividade da soja. A produtividade da soja dentro do renq~ e
variou de acordo com a posição em relação às árvores e em relação orientação geogr fica
(Figura 9). As linhas de soja próximas às árvores tiveram a produ tividade reduzida, sendo
o efeito majs intenso para as posições com incidência direta do sol da tarde. A linhas
de soja localizadas na porção central do renque tiveram a produti vidade aumentada. A
configuração do sistema ILPF com baixa densidade ar bórea e as característica da espécie
de eucalipto utilizado, como copa reduzida, fu ste reto e sem bifurcações, proporcionaram
condições favoráveis para a integração com soja, mesmo após 30 meses do plantio da
árvores.

Soja
o 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 MPa
o
3,0
10
2,5
20
2,D
30
1,S
40
1,0
50
60 ..J::::::::....._ ....:=-...:__ _.L.,._:~...:::-...L....::=:::.-LJ 0,5

Pastol ano

Pasto 2 anos
o
10
20
30
40
50
60

Figura 7. Resistência do solo à penetração em diferentes fases do sistema de ILP. Dado repr -entam
a média de cinco transectos de 2 m com intervalo de 10 cm entre leituras. Fazenda Certeza,
Querência, 10/12/2008.
Fonte: Adaptado d e Franchini e t ai. (2010a).

Os s istemas de ILPF potencializam a melhor dinàmica hídrica, principalmente, com


a inserção do componente florestal, pois _ocorre a ~elhoria na distribuição de vap r de
água, estabilização da temperatura e un:u~ade relativa do ar, proteção da u perfíàe do
solo, sendo consideradas ferramentas efic1_entes de combate ao aqueciment glo bal e s
mudanças climáticas. Os componentes arboreos atuam não somente como estabilizad re

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1206 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

t~rmicos e fo~m a~ores de nuvens interceptadoras de radiaç5o solar, pois, com suas
fi tomas as res1dua1s sobre o solo, também atuam como interceptadores e armazenadores
de águas pluviais (Primavesi, 2007) .
.. . A integração de .árvores e cultives agrícolas pode resultar numa uti li zação ~ais
eficiente de água, nutriente e radiação solar do que geralmente é possível em m onocult1 vos
florestais e agrícolas. Uma das razões biológicas de interesse para sistemas integrados é
que as árvores usam porções da biosfera, que plantas agrícolas ou animais geralmente não
usam, o que resulta em maior produção de biomassa total (Macedo et al., 2010) .

Dentro Fora
160

140

68
120 64
60
56
100

-6
'--"
(;J
·o 80

....cn 40
i5
36
60
32
28

24
40
20
16
20

o
O 5 10 O 5 10
Distância (m)

Figura 8. Mapas d e produtividade da soja (sacas ha·1) dentro e fora dos renques de e ucalipto.
Font.e-: Antonio et ai. (2012).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO.,·
1207

-
..e=
CI)
3
r;'ctS
2
ctS
u
1
~
ctS
o
G)
-e, -1
ctS
] -2
·.o
::, -3
-e,
gp... -4
G)
-e, -5
5, -6
É-7
G)

o o
~ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Distância horizontal (m)
Figura 9. Diferença de produtividade de grãos de soja dentro dos renques em relação ao cu ltivo
solteiro, sem eucalipto, de acordo com a distribuição espacial da linhas de semead ura.
Orientação geográfica também válida para a figura 8.
Fon te: Antonio e t ai. (2012)

Atributos biológicos do solo


Sistemas que aumentam o aporte de biomassa vegetal e o teor de matéria orgânica do
solo têm grande impacto sobre a biologia do solo com reflexos positivos sobre a diversidade
biológica. Segundo Macedo (2009), a melhoria dos atributos físicos do solo proporcionada
pela ação das raízes das forrageiras recupera também a estrutura do solo e provoca efeito
positivo sobre a qualidade biológica do solo.

Atributos microbiológicos em sistemas de integrados

Diversos trabalhos já demonstraram que os sistemas de 11.P podem melhorar os


atributos biológicos do solo. Muniz et ai. (2011) avaliaram alguns atributos biológi o
de pastagens de diferentes idades no sistema de ILP e apresentaram que há melhoria
gradual à medida que as pastagens permanecem no sistema (de um para cinco anos). Os
autores também evidenciaram que a substituição de pastagens degradadas por si temas
de integração lavoura-pecuária melhoram as condições ambientais por ele arem o teor de
C da biomassa e a população microbiana, bem como reduz.irem o quociente metabólico.
Com relação ao efeito do manejo e pisoteio animal, Souza et al. (2010) demonstraram
que sistemas de integração lavoura-pecuária em SD mantem a qualidade b iológica d o solo,
sendo, sob adequada lotação animal, similar à SD sem a entrada de animais. 0 entanto,
sob alta intensidade de pastejo ocasionada pelo superpastejo, há perdas nessa qualidade
do solo, sobretudo em condições de estresse hídrico.
Silva (2008), avaliando indicadores microbiológicos em experimento de longa
duração em ILP na Ernbrapa Cerrados em Planaltina, DF, observou rnenore~ teores de
C d a biomassa microbiana e atividade da arilsulfatase nas áreas sob lav ura em relação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1208 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

às pa stagens contínuas e integradas, tendo as pastagens consorciadas com legu n-únosas


apresentado valores próximos a vegetação de Cerrado.

Fauna edáfica em sistemas integrados

. Os sistema_s de preparo do solo e as rotações entre pastagens e culturas podem ter


1mpor_tantes :feitos sobre o solo e determinar modificações qualitativas e quantitativas dos
orgamsmos impactando na sua atividade. Em particular, é o que se espera nas rotações
com pastagens, que de certa forma reduzem a perturbação do solo quando associadas à SD
e favorecem a atividade dos organismos "engenheiros" do solo. Nesse sentido, o sucesso
da SD e da lLP no Cerrado está relacionado ao fato de a palhada acumulada pelas plantas
de cobertura ou das pastagens e biomassa residual de lavouras comerciais proporcionarem
ambiente favorável à recuperação ou manutenção dos atributos físicos (Marchão e t ai.,
2007), químicas (Menezes e Leandro, 2004) e biológicas do solo e favorecerem, também, as
comunidades da macrofauna edáfica (Santos et al., 2008; Marchão et ai., 2009b).
Assim, os estudos realizados até o momento nos experimentos com rotações entre
culturas anuais e pastagens (ILP), com base em SD e na rotação com pastagens consorciadas
com leguminosas, demonstraram maior densidade e diversidade de espécies nos sistemas
mistos, mesmo no caso onde as pastagens não são consorciadas com legwninosas na
integração (Ma.rehão et al., 2009b). A presença de cobertura morta na SD e na ILP estimula
a fauna edáfica, as raízes e a microflora do solo, o que permite manter o solo em equilíbrio e
permanentemente protegido contra a degradação (Lavelle e Spain, 2001; Santos et al., 2008).
Da mesma forma, a manutenção de urna cobertura vegetal na superfície do solo impede
a perda da diversidade da macrofauna edáfica e favorece a atividade dos organismos
" engenheiros" do ecossistema, entre esses os grupos Oligochaeta, Formicidae e Isoptera,
que, na maioria dos casos, são benéficos ao ecossistema (Barros et ai., 2003).
A macrofauna tem diferentes efeitos nos processos que condicionam a fertilidade
do solo pela regulação das populações microbianas responsáveis pela humificação e
mineralização (Lavelle et al., 1997) e formação de agregados, que podem proteger parte da
matéria orgânica do solo de uma mineralização rápida, por meio de sua ação mecânica, como
os Oligochaeta, Formicida.e e Isoptera (Lee, 1985). Apesar de ser conhecida a importância da
macrofana edáfica para o equilíbrio e funcionamento dos ecossistemas, poucos estudos têm
sido realizados, especialmente no Biorna Cerrado, para se avaliarem efeitos das práticas de
manejo sobre esses organismos quanto ao papel das plantas de cobertura utilizadas como
adubo verde ou associadasàSD, sobre a dinân-úca das comunidades de invertebrados do solo.
Em sentido inverso, muitos estudos têm destacado os benefícios da utilização da adubação
verde, especialmente com espécies leguminosas, na sustentabilidade e manutenção dos
atributos do solo; contudo, os mecanismos responsáveis por esses benefícios ainda não
são completamente conhecidos. Grande parte dos trabaJhos realizados sobre a biologia
dos solos do Cerrado foram direcionados à microflora e microfauna e, segu ndo Blanchart
e t ai. (2006), em regiões tropicais, a caracterização da atividade biológica e diversidade do
solo pode ajudar a compreender a dinâmica da estrutura do solo e o fluxo de nutrie ntes no
sis tema solo-planta.
Entretanto, a 1-úpótese de que a biomassa residual da lavoura e pastagem d e primeiro
ano oferece melhores condições para a colonização pela macrofauna já fo i confirmada por
diferentes estudos (Silva et ai., 2006; Santos et ai., 2008; Ma.rehão et ai., 2009b; Portilho et ai.,
2011 ). Possivelmente, esses resultados estejam ligados à qualidade do material orgânico,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO. · · 1209

e ainda associado com a disponibilidade de N, que parece exercer papel regulador nesse
sistemas. Dentre as comunidades beneficiadas pelo uso da ILP, destacaram-se os gêneros
Oligochaeta (minhocas) e Coleoptera (besouros coprófagos), que têm papel-chave na
estruturação do solo. Santosetal. (2008) verificaram que houve efeito significativo de p lantas
de cobertura sobre os grupos taxonômkos e a densidade relativa da macrofauna edáfica,
e que a família leguminosa favoreceu a maior densidade relativa de invertebrados do
solo, enquanto as gramíneas beneficiaram os grupos da serrapilheira. Ainda, esses autore
observaram que a leguminosa crotalária apresentou maior densidade da macrofa una,
seguida pela braquiária solteira, braquiária em consórcio com milho, sorgo, esti losantes,
guandu, milheto e mombaça.
De maneira geral, a avaliação da macrofauna tem evidenciado ser um indicador
razoável da qualidade do solo, apesar de esse campo de estudo a inda não ter sido
devidamente explorado em relação à macrofau.na. Os sistemas de ILP, associados à 50 na
fase lavoura, especialmente com a rotação gramíneas/leguminosas, ti veram as melhores
condições para o desenvolvimento das espécies de "engenheiros" do solo, em comparação
às pastagens e culturas contínuas. A densidade e diversidade da macrofauna, avaliadas em
nível de morfoespécies, são ainda indicadores eficientes para medir o impacto de diferentes
sistemas de uso da terra, em solos do Cerrado.
Os resultados dos levantamentos em áreas agrícolas demonstraram ainda que, para
o caso da SD e da TLP, a macrofauna varia por causa do tipo de cobertura, sendo a lguns
grupos mais comuns empalhadas de gramíneas com alta relação C/ , como os térmitas e
outros, que são favorecidos por urna palhada de melhor qualidade com baixa relação C/ ,
a exemplo dos Formícidae, Oligochaeta e Coleoptera, indicando preferência alimentar
desses organismos pelas leguminosas. Este trabalho demonstrou ainda que, de maneira
geral, as plantas de cobertura da família leguminosa favorecem maior densidade relativa
de invertebrados do solo, e as gramíneas beneficiam os grupos da serrapilheira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sistemas integrados aliados à SD são, potencialmente, uma das principais


estratégias de produção agropecuária sustentável, em particular nos trópicos. t o Brasil,
verifica-se um proeminente avanço das tecnologias que compõem os diferentes sistema ,
modalidades e arranjos de sistemas integrados, com inúmeros benefícios tecnológicos,
econômicos e sociais, ecológicos e ambientais. Esse destaque tem colocado sistemas como
a ILP e a ILPF em evidência, com grande interesse, de um lado, pela sua adoção por parte
dos produtores rurais e, por outro lado, pelo desenvolvimento de políticas pública e
programas de fomento governamentais.
Por exemplo, a ILP é uma das principais estratégias previstas no " Plano Setorial
de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas Visando à Consolidação de uma
Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura - Plano ABC", instituído em _009
para contribuir com os objetivos de mitigação da emissão de Gases de Efeito Estufo, em
que está prevista a expansão desse sistema e de suas variantes em 4 l\ilha.
No caso da ILPF, embora existam exemplos de utilização e caso de suce o, a
diversidade de condições regionais do país indica a necessidade de estudos regionalizados

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1210 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

obre_ a_ viabilidade da combinação de diferentes espécies. Fazem-se necessárias a


amp!taçao e adequação de mecanismos de política pública para que produtores rurais
consigam superar barreira econômicas, con1 o a necessidade de inves timento inicial.
Da mesma forma, esses mecanismos ajudarão superar barreiras operacionais, como a
necessidade de conhecimento tecnológico e o maior investimento em capacitar técnicos
e formar profissionais de ensino superior, assim como criar escolas profissionalizantes da
área agrária.

LITERATURA CITADA

Aidar H, Kluthcouski J. Evolução das atividades lavoureira e pecuária nos Cerrados. ln: Kluthcouski
J, Stone LF, Aidar H, editores. Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa
Arroz e Feijão; 2003. p.25-58.
Almeida RG, Oliveira PPA, Macedo MCM, Pezzopane JRM. Recuperação de pastagens degradadas e
impactos da pecuária na emissão de gases de efeito estufa. ln: Anais do 3°. Simpósio Internacional
de Melhoramento de Forrageiras; 2011; Bonito, MS. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte;
2011. p .384-400.
Alvarenga RC, Porfírio-da-Silva V, Gontijo Neto MM, Viana MCM, Vilela L. Sistema Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta: condicionamento do solo e intensificação da produção de lavouras.
Inf Agropec. 2010a;31:1-9.
Antonio SF, Franchini JC, Sichieri F, Padulla R, Porfirio da Silva V, Debiasi H, Balbinot Junior AA.
Produtividade da soja em sistema arborizado no noroeste do Paraná. ln: Soja: integração
nacional e desenvolvimento sustentável: Anais do 6º Congresso Brasileiro de Soja [CD ROM];
2012; Cuiabá. Brasília, DF: Embrapa; 2012.
Babujia LC, Hungria M, Franchini JC, Brookes PC. Microbial biomass and activity at various soil
depths in a Brazilian oxisol after two decades of no-tillage and conventional tillage. Soil Biol
Biachem. 2010;42:2174-81.
Baggio AJ, Carpanezzi OB. Resultados preliminares de um estudo sobre arborização de pastagens
com mudas de espera. B Pesq Flor. 1989;18/19:17-22.
Baggio AJ, Porfirio da Silva V. Métodos de Implantação de Sistemas Silvipastoris na região do
arenito Caiuá, Paraná. ln: Resumos do 2°. Congresso Brasileiro em Sistemas Agroflorestais;
2º.Congresso Brasileiro em Sistemas Agroflorestais: no Contexto da Qualidade Ambiental e
Competitividade; 1998; Belém. Belém: Embrapa-CPATU; 1998. p.189-91.
Baggio AJ, Schreiner HG. Análise de um sistema silvipastoril com Pinus elliottii e gado de corte. B
Pesq Flor. 1988;16:19-29.
Balbino LC, Barcellos AO, Stone LF, editores. Marco referencial: integração lavoura-pecuária-floresta.
Brasüia, DF: Embrapa; 2011a.
Balbino LC, Cordeiro LAM, Porfirio da Silva V, Moraes A, Martínez GB, Alvarenga RC, Kichel AN,
fontaneli RS, Santos HP, Franchini JC, Galerani PR. Evolução tecnológica e arranjos produtivos
de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no Brasil. Pesq Agropec Bras. 2011 b;46:i-xii.
Balbino LC. Évolution de la structure et des propriétés hydrauliques dans des Ferralsols mis en prairie
Páturée (Cerrado, Brésil) [these]. Paris: L'Institut National Agronomique Paris-Grignon; 2001.
Bandy DE. JCRAF's strategies to prom_ot~ agrofores~ry systems. ln: Mo~toya LJ, Medrado M,
editores. Anais do Congresso Brasileiro sobre Sistemas Agrofloresta1s; 1994; Porto Velho.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO.·· 1211

Colombo: Centro Nacional de Pesq uisas de Flores tas/Centro de Pesqu isa Agroflorestal de
Rondônia; 1994. v.l. p.15-31.
Barioni LG, Lima MA, Zen S, Guimarães Júnior R, Ferreira AC. A baseline projection of metha.ne
e missions by the Brazilian beef sector: preliminary results. ln: Proceedings Greenhouse Gases
and Animal Agriculture Conference; 2007; Christchurch, New Zea land . Chris tchurch: 2007.
Barros E, Neves A, Blanchart E, Fernandes ECM, Wandelli E, Lavelle P. Development of lhe soil
macrofauna community under silvopastoral and agrosilviculturaJ systems in Amazonia.
Pedobiologia. 2003;47:273-80.
Bayer C, Maitin-Neto L, MielniczukJ, Pavinato A, Dieckow J. Caibon seq uestra tion in two Brazilian
Cerrado soils under no-tiJJ . Soil Till Res. 2006;86:237-45.
Be utler AN, Centurion JF, Roque CG, Ferraz MV. Densidad e relativa ó tima de Latossolos Vermelhos
para a produtividade de soja. Rev Bras Cienc Solo. 2005;29:843-9.
Blanchart E, Villenave C, Viallatoux A, Barthes B, Girardin C, Azon tonde A, Fe ller C. Long-term effect
of a legume cover crop (Mucuna pruriens var. utilis) on the communities of soil macrofauna and
nematofauna, under maize cultivation, in Southern Benin. Eur J Soil Biol. 2006;42:136-44.
Borghi E, Crusciol CAC. Produtividade de milho, espaçamento e modalidade de consorciação com
Brachiaria brizantha em sistema plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2007;42:163-71.
Bouwman LA, Arts WBM. Effects of soil compaction on the relationships between nematodes, gras
production and soil physical properties. Appl Soil Eco!. 2000;14:213-22.
Carvalho JLN, Avanzi JC, Cerri CEP, Cerri CC. Adequação dos sistemas de produção rumo à
sustentabilidade ambientaJ. ln: Faleiro FG, Farias Neto AL, editores. Savanas: desafios e
estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Planaltina, DF:
Embrapa Cerrados; Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; 2008. p.671-92.
Carvalho JLN, Avanzi JC, Silva MLN, Mello CR, Cerri CEP. PotenciaJ de sequestro de carbono em
diferentes biornas do Brasil. Rev Bras Cienc Solo. 2010a;34:277-89.
Carvalho JLN, Cerri CEP, Feigl BJ, Picollo MC, Godinho VP, Cerri CC. Carbon sequestration in
agricultura! soils in the cerrado region of the Brazilia.n Amazon. Soil Till Res. 2009;103:342-9.
Carvalho MM, AJvim MJ, Carneiro JC, editores. Sistemas agroflorestais pecuários: opções de
sustentabilidade para áreas tropicais e s ubtropicais. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite;
Brasília: FAO; 2001.
Cerri CEP, Feigl BJ, Piccolo MC, BemolLx M, Cerri CC. Sequestro de carbono em áreas de pastagens.
I.n: Anais do 3°. Simpósio sobre Manejo Estratégico da Pastagem; 2006; Viçosa. MG. Viçosa, (G:
Universidade Federal de Viçosa; 2006. p.73-80.
Conway GR. The properties of agroecosystems. Agric Systems. 1987;24:95-117.
Corrêa JC. Efeito de sistemas de cultivo na estabilidade de agregados de um Latossolo ermelho-
Amarelo em Querência, MT. Pesq Agropec Bras. 2002;37:203-9.
Daniel O, Couto L, Garcia R, Passos CAM. Proposta para padronização da terminolocia
0
ernpre!!ada
0
em sistemas agroflorestais no Brasil. R Árvore. 1999;23:367-70.


Debiasi H, Fra.nchini JC. Atribut~s f_ísicos s~lo e produtividade da soja em i tema de integração
lavoura-pecuária com braqmána e so1a. Ct Rural. 2012;42:1180-6.
Dijks tra F. Porque utilizo o plantio direto. São Paulo: Basf Brasileira/ Indústrias Químicas; 198-l.
Dubois JCL. Para utilizardeformacorretaa terminologiaSAF. REBRAF. Edição0n-Line,20CU. [Acessado
em:20 de set. 2017]. Disponível em: http:// www.rebraf.org.br/cgi/ cgilua.exe/ sys/ start.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1212 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

htm?from_info_index=26&iitfoid =27&query=simple&search_by_authorname=a ll &sea rch_by_


field=tax&search_by_keywords=an ,&search_by_priority=all&search_by_section =a ll&search_
by_s ta te=a ll&search_text_oplions=a Il&sid =2& texl =Du bois.
Eberhardt D , Becquer T, Marchão RL, Vendrame, PRS, Vilela L, Corazza EJ, Guimarães MF.
Phosphorus ~1 ioavailability in soybean grown after pasture under different fertiJity regimes.
El\tU A. CIE ClAS AGRÁRJAS, v. 38, p. 571, 2017.
Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha - Febrapdp. Área de PD: Evolução área de plantio
direto no Brasil. [Acessado em: 20 de set. de 2017). Disponível em: http:/ /febrapdp.org.br/
d om1load/ PD_Brasi.1_2013.jpg.
Fisher MJ, Braz SP, Santos RSM, Urquiaga S, Alves BJR, Boddey RM . Another dimension to grazing
systems: soil carbon. Trop Gras. 2007;41:65-83.
Flowers ID, La! R. Axle load and tillage effects on soil physical properties and soybean grain yield
on a molic ochraqualf in northwest Ohio. Soil Till Res. 1998;48:21-35.
Franchini JC, Silva VP, Balbinot Junior AA, Sichieri F, PaduJ!a R, Debiasi H, Martins SS. Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta na Região Noroeste do Paraná. Londrina: Embrapa Soja; 201 la.
Franchini JC, Wruck FJ, Debiasi H , Oliveira FA. Variabilidade espacial e temporal de carbono e
fósforo em sistemas de integração lavoura-pecuária em Mato Grosso. ln: Inamasu RY, Nairne
JM, Resende AV, Bassoi LH, Bemardi ACC, editores. AgricuJtura de precisão: wn novo olhar.
São Carlos: Embrapa Instrumentação; 2011b.
Franchini JC, Crispino CC, Souza RA, Torres E, Hungria M. Microbiological parameters as indicators
of soil quality under various soil management and crop rotation systems in southem Brazil. Soil
Ti!J Res. 2007;92:18-29.
Franchini JC, Debiasi H, Balbinot Junior AA, Tonon BC, Farias JRB, Oliveira MCN, Torres E.
Evolution of crop yields in different tillage and cropping systerns over hvo decades in southem
Brazil. Fields Crops Res. 2012;137:178-85.
Franchini JC, Debiasi H, Wruck FJ, Skorupa LA, Guisolplti lJ, Caumo AL. Contribuição da integração
lavoura-pecuária para a agricuJtura de baixo carbono em Mato Grosso. ln: Reswnos da 29ª.
Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, 13ª. Reunião Brasileira sobre
Micorrizas, 11ª. Simpósio Brasileiro de Microbiologia do Solo, 8ª. Reunião Brasileira de Biologia
do Solo, Guarapari: 2010. Guarapari: Centro de Convenções do SFSC/SBCS; 2010b. p .1-4.
Franchini JC, Debiasi H, Wruck FJ, Skorupa LA, Wink NN, Guisolphi IJ, Caumo AL, Hatori T.
Integração lavoura-pecuária: alternativa para diversificação e redução do impacto ambiental do
sistema produtivo no Vale do Rio Xingu. Londrina: Embrapa Soja; 2010a. (Circular técnica, 77).
Francisco EAB, Câmara GMS, Segatelli CR. Estado nuh·icional e produção do capim-pé-de-galinha
e da soja cuJtivada em sucessão em sistema antecipado de adubação. Bragantia. 2007;66:259-66.
Gassen DN, Gassen FR. Plantio direto. Passo Fundo: Aldeia Sul; 1996.
Genro Junior, S.A.; Reinert, D.J. & Reichert, J.M. Variabilidade temporal da resistência à penetração
de um Latossolo argiloso sob semeadura direta com rotação de culturas . R. Bras. Ci. Solo,
28:477-484, 2004.
Guimarães Júnior R, Marchão RL, Pulrolnik K, Vilela L, Maciel GA, Souza KW, Pereira LGR.
eutralization of enteric methane emissions by carbon sequestration under integrated crop-
livestock and crop-livestock-forest systerns in Cerrado region. ln: II Simpósio hlternacionaJ
Sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária, 2016, Campo Grande. Anais do II Simpósio
Jnternacion.al Sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária. Campo Grande: Embrapa, 2016.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO. , ·
1213

Hernani LC, Salton JC. Conceitos. ln: Salton J , Hemani LC, Fo ntes CZ., orga nizado r. Sis ma
Pla ntio Direto: o produtor pergunta, a Embrapa r sponde. Brasília: Embrapa-SPI; Dourados:
Embrapa-CPAO; 1998. p.15-20. (Coleção 500 Perguntas 500 Respostas) .
Hernani LC, Freitas PL, Pruski FF, De Maria JC, Castro Filho C, Landers JN. A erosão e O e u impc1cto.
ln: Manzatto CV, Freitas Junior E, Peres JRR. Uso agrícola dos solos br asileiros. Rio de Janeiro:
Embrapa Solos; 2002. p.47-60.
Jantalia CP, Terré RM, Macedo RO, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Acumulação de caibo~
no solo em pastagens de Brach.iaría. ln: Alves BJR, Urquiaga S, Aita C, Bodey RM, Jantal1a
CP, Camargo FAO, editores. Manejo de sistemas agrícolas: impacto no sequestro_de C e na
emissões de gases do efeito estufa. Porto Alegre: Embrapa Agrobiolog:ia; 2006. p.151-70.
Jantalia CP, Vilela L, Alves BJR, Boddey RM, Urquiaga S. Influência de pasragens e i temas de
produção de grãos, no estoque de carbono e nitrogênio em um Latossolo Vermelho. Seropédica:
Embrapa agrobiologia, 2006 (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento).
Kluthcouski J, Aidar H. Implantação, condução e resultados obtidos com o sistema Santa Fé. ln:
Kluthcouski J, Stone LF, Aidar H, editores. Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de
Goiás: Embrapa Arroz e Feijão; 2003. p.407-42.
Kluthcouski J, Pacheco AR, Teixeira SM, Oliveira ET. Renovação de pastagem do cerrado com a rroz.
1 - Sis tema Barreirão. Goiânia: Embrapa-CNPAF; 1991. (Documento , 33).
Kluthcouski J, Stone LF. Manejo sustentável dos solos dos cerrados. Ln: Kluthcouski J, Stone LF,
Aidar H, editores. Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiá : Embrapa Arroz e
Feijão; 2003. p.59-104.
Landers JN. A transformação da agricultura do Cerrado pelo plantio direto. R Plantio Direto.
1997;41:41-3.
Lanzanova ME, Nicoloso RS, Lovato T, Eltz FLF, Amado TJC, Reinert DJ. Atributos físicos do solo em
sistema de integração lavoura-pecuária sob plantio direto. Rev Bras Cienc Solo. 2007;31:1131-40.
Lavelle P, Bignell D, Lepage M. Soil function in a changing world: the role of invertebrate ecos s tem
engineers. Eur J Soil Biol. 1997;33:159-93.
Lavelle P, Spain AV. Soil ecology. Amsterdam : Kluwer Scientific Publications; 2001.
Lee KE. Earthworms: their ecology and relationships with soils and land use. Svdne : Academic
Press; 1985. , ,

Leite LFC, Doraiswamy PC, Madari BE, Freitas RCA. Seqüestro de carbono em aios sob planti
direto e integração lavoura-pecuária: uma estimativa do simulador compu tacional CQESTR. ln:
Anais da 17". Reunião de Manejo e Conservação do Solo e da Água; 2008; Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Universidade Federal de Rural do Rio de Janeiro; 2008.
Los CJ. Integração agricultura-pecuária. In: Anais do Simpósio Internacional obre Plantio Direto em
Sistemas Sustentáveis; 1993; Castro. Castro: Fundação ABC; 1993. p.235-7.
Los CJ. Plantio direto na integração agricultura-pecuária. ln: Peu oto RTG, 1\hrens DC, Samaha MJ,
editores. Plantio direto: o canúnho para uma agricultura sustentá el. Ponta Gros a: Ia par/ PRP-
PG; 1997. p.115-23.
Lus tosa SBC. Efeito do pastejo nas pro~riedade~ quínúcas d~ solo e no rendimento dt> soja e milho
em rotação com pastagem consorciada de uwerno no sis tema de plantio direto [dissert3 ção].
Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 1998.
Macedo MCM, Kichel AN, Zin1mer AH. Degradação e alternativas de recuperação e renovação dt:!
pastagens. Campo Grande: Embrapa/CNPGC; 2000. (Comunicado técnico, 62).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1214 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

'1acedo '1CM, Zimmer AH. Sistemas pasto-lavoura e seus efeitos na produtividade agropecuária.
ln: AnaL do 2º. Simpósio sobre Ecossistemas das Pastagens; 1993; Jaboticabal. Jaboticabal:
F EP/ U ESP; 1993. p.216-45.
'1acedo MCM. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. R Bras
Zootec. 2009;38:133-46.
facedo CM. Recuperação de áreas degradadas: pastagens e cultivas intensivos. ln: Anais do 7°.
Congresso Brasileiro de Ciência do Solo; 1993; Goiânia. Goiânia: Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo; 1993. p.71-2.
Macedo RLG, YaJe AB, Yenturin N . Eucalipto em sistemas agroflorestais. Lavras: Universidade
Federal de Lavras; 2010.
1acedo RLG. Princípios básicos para o manejo sustentável de sistemas agroflorestais. Lavras:
Universidade Federal de Lavras; 2000.
Machado PLOA, Madari BE, Balbino LC. Manejo e conservação do solo e água no contexto
das mudanças ambientais - Panorama Brasil. ln: Prado RB, Turetta APD, Andrade AG,
organizadores. Manejo e conservação do solo e da água no contexto das mudanças ambientais.
Rio de Janeiro: Embrapa Solos; 2010. p.41-52.
Maia SMF, Xavier FAS, Oliveira TS, Mendonça ES, Araújo Filho JA. Impactos de sistemas agroflorestais
e convenciona] sobre a qualidade do solo no semiárido cearense. R Árvore, 2006;30:837-48.
Mandarino RA, Pereira LGR, Barbosa FA, Vilela L, Maciel GA, Guimarães Júnior R. Methane emissions
of Nellore heifers on integrated crop-livestock-forest systems in the Brazilian Cerrado. ln: World
Congress on Integrated Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF) and the 3rd Intemational
Symposium on Integrated Crop-Livestock Systems (ICLS3), 2015, Brasüia, DF. World Congress
on Integrated Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF) and the 3rd lntemational Symposium
on Integrated Crop-Livestock Systems (lCl.53) proceed.ings. Brasília, DF: Embrapa, 2015. 324p.
Marchão RL, BaJbino LC, Silva EM, Santos Junior JDG, Sá MAC, Vilela L, Becquer T. QuaJidade
física de um Latossolo Vermelho sob sistemas de integração lavoura-pecuária no Cerrado. Pesq
Agropec Bras. 2007;42:873-82.
Marchão RL, Vilela L, Paludo A, Guimarães Jr R. Impacto do pisoteio animaJ na compactação do
solo sob integração lavoura-pecuária no oeste baiano. Planaltina: Embrapa Cerrados; 2009a.
(Comunicado técnico, 163).
Marchão RL, Lavelle P, Celini L, Balbino LC, Vilela L, Becquer T. Soil macrofauna under integrated
crop-livestock systems in a Brazilian Cerrado Ferralsol. Pesq Agropec Bras. 2009a;44:1011-20.
Menezes LAS, Leandro WM. Avaliação de espécies de coberturas do solo com potencial de uso em
sistema de plantio direto. Pesq Agropec Trop. 2004;34:173-80.
Montagnini F, coordenador. Sistemas agroforestales: princípios y aplicaciones en los trópicos. 2ª.ed.
San José: Organización para Estudios Tropicales; 1992.
Montoya Vilcahuaman LJ, Baggio AJ. Estudo económico da introdução de mudas altas para
arborização de pastagens. ln: Anais do 2º. Encontro Brasileiro de Economia e Planejamento
Florestal; 1992; Curitiba. Colombo: Embrapa Florestas, 1992. v.2. p.171-91.
Montoya Vilcahuaman LJ, Medra~o MJS, Mascl~io L:"1~- As~ectos de ~rborização de pastagens
e viabilidade técnica-econôrruca da alternativa silv1pastonl. ln: Anais do 1° Seminário sobre
Sis temas Agroflorestais na Região Sul do Brasil; 1994; Colombo. Colombo: Embrapa Florestas;
1994. p.157-72.
Moraes A Pelissari A, Alves SJ. Integração lavoura-pecuária no Sul do Brasil. ln: Anais do 1º.
Enco~tro de Integração Lavoura-Pecuária no Sul do Brasil; 2002; Pato Branco. Pato Branco:
Cefet-PR; 2002. p.3-42.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO.·· 1215

Müller MD, Fernandes EN, Castro CRT, Paciullo DSC, Alves FF. Estimativas de acúmulo de biomassa
e carbono em sistema agrossilvipastoril na Zona da Mata M ineira. Pcsq Flo r Bras. 2009;60:l l-7.
Muniz, LC, Madari BE, Trovo JBF, Cantanhêde ICL, Machado PLOA, Cobuccí T, França AFS. Soil
biological attributes in pastures of different ages in a crop-livestock ín tegra ted sy stem. Pesq
Agropec Bras. 2011 ;46:1262-8.
Nair PKR, Tonucci RG, Garcia R, Nair VD. Silvopasture and carbon sequestration with speciaJ
reference to the Brazilian Savanna (Cerrado). In: Kumar BM, 1 air PKR, e d itors. ~ rbon
sequestration potential of agroforestry systerns: opportunities and chaUenges. London: Spnnger;
2011. p .145-62. (Advances in agroforestry, v.8, n.1).
Nair PKR. An introduction to agroforestry. Dordrecht: Kluwer Academic; 1993.
Nair PKR. State-of-the-art of agroforestry systems. For Eco! Manage. 1991 ;45:5-29.
Nicodemo MLF, Porfirio-da-Silva V, Thiago LRLS, Gontijo eto M M, Laura VA. Sistemas
silvipas toris: introdução de árvores na pecuária do Centro-Oeste brasilei ro. Campo Grande:
Embrapa Gado de Corte; 2004. (Documentos, 146).
Oliveira EB, Ribaski J, Zanetti EA, Penteado Júnior JF. Produção, carbono e rentabilidade econõmica
de Pinus elliottiie Eucalyptusgrandisem Sistemas Silvipastoris no Sul do Brasil . Pesq Flor Bras.
2008;57:45-56.
Oliveira GC, Dias Junior MS, Curi N, Resck DVS. Compressibilidade de um Latossolo Vermelho argiloso
de acordo com a tensão de água no solo, uso e manejo. Rev Bras Gene Solo. 20<X3;27:773-81.
Oliveira MlL, Becquer T, Goedert WJ, Vilela L, Deleporte P. Concentração de íons na solução de um
Latossolo Vermelho sob diferentes sistemas de manejo. Pesq Agropec Sras. 2011;46:1291-300.
Oliveira MIL. Movimento de íons em solo sob sistema de integração lavoura-pecuária na região dos
Cerrados [dissertação] Brasília: Universidade de Brasília; 2007.
Oliveira TK, Macedo RLG, Santos IPA, Higashikawa EM, Venturin N . Produtividade de Brachiaria
brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf cv. Marandu sob diferentes arranjos estruturais d e sistema
agrossilvipastoril com eucalipto. Ci Agrotec. 2007;31:748-57.
Phillips SH, Young HM Jr. No-Tillage farming. Milwaukee: Reiman Associates; 1973.
Porfirio-da-Silva V. Arborização de pastagens: 1. Procedimentos para introdução de árvores e m
pastagens. Colombo: Embrapa Florestas; 2006. (Comunicado técnico, 155).
Portilho llR, Crepaldi RA, Borges CD, Silva RF, Salton JC, Mercante FM. Fauna invertebrada e
atributos físicos e químicos do solo em sistemas de integração lavoura-pecuária. Pesq gropec
Bras. 2011;46:1310-20.
Primavesi A. Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais. São Paulo: obel; 1979.
Primavesi O, Arzabe C, Pedreira MS. Mudanças climáticas: visão tropical integrada das causas,
dos impactos e de possíveis soluções para ambientes rurais ou urbanos. São Carlos: Em bra pa
Pecuária Sudeste; 2007.
Pulrolnik K, Vilela L, M~rchão RL, Lem~s RL, Souza K~. Soil carbon stocks in integrated crop-
lives tock-forest and mtegrated crop-l1vestock systems m the Cerrado region. In: World Con gress
on Integrated Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF) and the 3rd Intemational Sympo ium
on Integrated Crop-LivestockSystems (ICLS3), 2015, Brasília, DF. World Congress on lntegrated
Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF~ and the ~~d lntemational Sympos ium on Integrated
C rop-Livestock Systems (ICLS3) proceedmgs. Bras1ha, DF: Embra pa, 2015. 31-lp.
Rheinheimer DS, Gatiboni LC, Kaminski J. Fatores que afetam a disponibilidade do fósforo e 0
m a nejo da adubação fosfatada em solos sob sistema plantio dire to. Ci Rural. _OQ ;38;576- 6.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1216 LUIZ CARLOS BALBINO ET AL.

Richard G, Boizard H, Rogcr-Estradc J, Boiffi.n J, Guérif J. field study of soil compaction due to traffic
i.n northern France: pore space and morphological analysis of the compacted zones. Soil Till Res.
1999;51:151-60.
Richard G, Cousin 1, SiUon JF, Bruand A, Guérif J. Effect of compaction on the porosity of a silty soi l:
influence on unsaturated hydraulic properties. Eur J Soil Sei. 2001;52:49-58.
Rodrigues CR, Faquin V, Ávila FW, Rodrigues TM, Baliza DP, Oliveira EAB. Crescimento e acúmulo
de fósforo pela soja cultivada em sucessão a diferentes granúneas forrageiras adubadas com
super fosfato triplo e fosfato reativo de Arad. Ci Agroternol. 2009;33:1486-94.
Rossi C Anjos ARM, Camagyo MS, WeberOLS, ImhoffS, Malavolta E. Efeito residual de fertilizantes
fosfatado para o arroz: avaliação do fósforo na planta e no solo por diferentes extratores. Sei
Agríc. 1999;56:39-46.
Salton JC. Matéria orgânica e agregação do solo na rotação lavoura-pastagem em ambie nte h·opical
[tese]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2005.
Sant' Anna SAC, Martins, MR,Sá JM, Vilela L, Marchão RL,Jantalia CP, Aalves BJR, Urquiaga S, Boddey
RM. lnfluence of agricultural production systems in C and N stocks in Cerrado soils. ln: World
Congress on I.ntegrated Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF) and the 3rd Intemational
Symposium on I.ntegrated Crop-Livestock Systems (ICLS3), 2015, Brasília, DF. World Congress
on lntegrated Crop-Livestock-Forest Systems (WCCLF) and the 3rd lnternational Symposium
on lntegrated Crop-Livestock Systems (1CLS3) proceedings. Brasília, DF: Embrapa, 2015. 42p.
Santos GG, Marchão RL, Silva EM, Silveira PM, Becquer T. Qualidade física do solo sob sistemas de
integração lavoura pecuária. Pesq Agropec Bras. 2011;46:1339-48.
Santos GG, Silveira PM, Marchão RL, Becquer T, Balbino LC. Macrofauna edáfica associada a plantas
de cobertura em plantio direto em um Latossolo Vermelho do Cerrado. Pesq Agropec Bras.
2008;43:115-22.
Schreiner HG. Pesquisa em agrossilvicultura no Sul do Brasil: resultados, perspectivas e problemas.
ln: Anais do 1º. Congresso Brasileiro sobre Sistemas Agroflorestais; 1994; Porto Velho. Colombo:
Embrapa Florestas; 1994. p.387-98.
Scopel E, Douzet JM, Silva F AM, Cardoso A, Moreira JAA, Bemoux M. Impactos do Sistema Plantio
Direto com Cobertura Vegetal (SPDCV) sobre a dinâmica da água, nitrogênio mineral e do
carbono do solo do cerrado brasileiro. Cad Ci Tecnol. 2005;22:169-83.
Scott OH. Soil water principies. ln: Scott OH. Soil physics: agricultura! and envirorunental
applications. Ames: Iowa State University Press; 2000. p.165-212.
Segatelli CR, Câmara GMS, Heiffig LS, Francisco EAB, Águila JS, Piedade SMS. Producción de
ma teria seca de mijo africano (Eleusine coracana (L.) Gaertn.) sobre sistema de abono anticipado
de soya. lnterciencia. 2008;33:542-6.
Segnini A, Milori DMBP, Simões ML, Silva WTL, Primavesi O, Martin-Neto L. Potencial de sequestro
de carbono em área de pastagem de Brachiaria Decumbens. ln: Anais 31 °. Congresso Brasileiro
de Ciência do Solo; 2007; Gramado. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; 2007.
Silva AP, Kay BD, Perfect E. Characterization of de least limiting water range. Soil Sei Soe Am J.
1994;58:1775-81.
Silva LG. Uso e monitoramento de indicadores microbiológicos para avaliação da qualidade
[dissertação). Brasília: Universidade de Brasília; 2008.
Silva RF, Aquino AM, Mercante FM, Guimarães MF. Macrofau.na invertebrada do s olo sob diferentes
sistemas de produção em Latossolo da região do Cerrado. Pesq Agropec Bras. 2006;41:697-704.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVII - MANEJO DE SOLOS EM SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO.·· 1217

Sousa DMG, Martha Júnior CB, Vilela L. Adubação fosfatada . ln: Martha Júnjor GB, Vilela L, Sou a
DMG, ed itores. Cerrado: uso eficiente ele corretivos e fertilizantes e m pas tagens. Planaltina:
Embrapa Cerrados; 2007. p.145-78.
Souza ED, Costa SEVCA, Anghinoni J, Lima CVSL, Carvalho PCF, Martins A P. Biomassa microbiana
do solo em s is tema de integração lavoura-pecuária em plantio direto, s ubmetido a intensidade
de pastejo. Rev Sras Cienc Solo. 2010;34:79-88.
Stone LF, Silveira PM, Moreira JAA. Efeito de palhadas de culturas d e cobertura na evapotranspiração
do feijoeiro irrigado. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão; 2008. (Comunicado
técnico, 158).
Stone LF, Moreira JAA, Kluthcouski J. Influência das pastagens na me lho ria dos atributos físico-
hídricos do solo. ln: Kluthcouski J, Stone LF, AIDAR, H . (Eds.). Integração lavoura-pecuária.
Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p.171-181.
Taylor HM, Roberson CM, Parker JJR. Soil strength-root penetration relations for m edium to coarse
textured soil materiais. Soil Sei. 1966;102:18-22.
Triplett GB Jr, Dick WA. No-tillage crop production: a revolution in agriculture! Agron J.
2008;100:Sl53-65.
Tsukamoto Filho AA. Fixação de carbono em um sistema agroflorestal com e ucalipto na região do
Cerrado de Minas Gerais [tese]. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2003.
Yao Q Li X, Feng G, Christie P. Mobilization of sparingly soluble phosphates by the extemal
m ycelium of an arbuscular mycorrhizal fungus. Plant Soil. 2001;230:279-85.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB
O ENFOQUE DA AGRICUL TUR DE
PRECISÃO
Álvaro Vilela de ResendeV, Ziany Neiva Brandão11, Célia Regina Grego V,
Emerson BorghiV & Luana Rafaela Maciel WiJda.,,

11 Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG. E-mail: a lvaro.resende@embrapa.br, em rson.borVli'@embrapa.br


21 Embrapa Algodão, Campina Grande, PB. E-mail: ziany. brandao@ mbr .br
31 Embrapa Monitoramento por Satélite, Campinas, SP. E-mail: celia.grego@embrapa.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO .................................................................................................. . 1220


SISTEM.J\S Q~ GUIA E AUTOMAÇÃO: IMPACTOS NA QUALIDADE DO SOLO E DA ÁGUA .__ - .. 12'.!2
APLICAÇÕES PA ;\qJ,m;:!J!,J!:l~A DE PRE(!SÃO NA CARACTERIZAÇÃO DO ,. MBIE E DA
AP'TIDÃ9 AGRÍCOLA O~ SOLOS ............................................................... _. __ ......·-·-·-·-·• ..· - _ ·-· l224
Caréjcterjzação de solq~ por sensoriamento remoto ....................................... ·--··---··-·· ..·- _ _ _ .. 1227
PROCESSAMENTO DE DADOS GEORREFERENCIADOS PARA Fl S DE AGRlCULTURA DE
PRECISÃO ........................ ......................................................................................... _ ...- .. ---····-----...-.. 12:!<>
Formatos dos dados e seu processamento ........................ _.................... - ................... __ ··-..--···· .. - · - . t230
Tratamentos iniciais dos dados para agricultura de precisão .... .,_.. _ .. _ .. ··- ........... · - - · - ......._ . 1!31
Re moção de erros .......................................................................................- ...... _.................. - .. - .. _ --·-. 1231
Geoestattstica aplicada à agricultura de precisão .. ................................ ··-··.. -•-...... --·- .. ·- -·-··•·- J'.!32
Processamento de imagens ..........................................................................--...- ... - ·- ··- .. ···----··--··- · -... II37
Correções radiométrica, atmosférica e geométrica ..... .............. ·-..........._ ..__ .. ___ .. __··-·--.. ----··· 1237
Tratamento de imagens .............................................................. - -..................____ . ·-· ........ ·--·· 123
APLICAÇÕES DE SIG NA AGRICULTURA DE PRECISÃO . .............. - ............. - .....- -..... -.... .. ....... 1241
Sensoriamento remoto na aquisição de dados para SIG na agricultura ..... ..... - - - -......... _. - .. 12~
USO DE SENSORES NA CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL PRODUTI O E DE I ~O DE
UNlDADES DE MANEJO DO SOLO E DA CULTU ............ - .. _ .. ___.. ---- - - . -....... ·-· P-48
MANEJO DA ADUBAÇÃO POR MEIO DA AGRICULTUR \ DE PREO - -----... - ........_ _ _ .. _ .. !255
O problema da amostragem de solo na agricultura de precis.'io . ._...............- .......- .........-............. l:So
CONSlDERAÇÕES FINAIS ......... .....- ......... _ .... - ........... - ..........- .... _ l5
LITERATU RA CITADA ............................................... _. .................- ................ _.. - ........ - ..· .. ··-··-· ..- -. l.!Dl

Berto! 1, De Maria IC, Souza LS, editore ·. lant!j e onse aç.io do · lo e da gua. iç • . \.1 .. . - :ieJ.a.Je
Brasileira d e Ciência do olo; 2018.
1220 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

INTRODUÇÃO

Organismos internacionais enfatizam a necessidade de se desenvolvolverem sistemas


de agricultura sustentáveis, numa tentativa de reduzir a degradação dos recursos naturais,
encontrando caminhos ambientalmente compatíveis com o aumento da produção e
promO\·endo o desenvolvimento em larga escala (FAO, 1983).
A agricultura convencional trata todo o campo de maneira uniforme em relação ao
manejo do solo, à aplicação de fertilizantes, aos pesticidas e outros insumos. No entanto,
o olo é espacialmente heterogêneo e seus atributos físicos e químicos podem variar
significativamente a curta distância. Assim sendo, a heterogeneidade espacial do solo é
um dos fatores que causa variação na produtividade das culturas ao longo de um talhão
de cultivo. Uma série de outros fatores também varia espacialmente e, ou, temporalmente,
influenciando a produtividade dentro do talhão, como topografia (conformação do relevo,
declividade), compactação por causa do tráfego de máquinas e equipamentos, ocorrência
de agentes biológicos (doenças, pragas) e fatores meteorológicos (umidade, chuva,
temperatura, velocidade do vento etc.). Assim, o tratamento homogêneo fornecido pela
agricultura convencional pode ter impacto econômico negativo ao restringir o potencial
produtivo de determinadas partes da lavoura. Também, pode ser prejudicial ao ambiente
quando são feitas aplicações de nutrientes e de agrotóxicos em quantidades além das
requeridas num dado local.
Com a agricultura de precisão (AP), se propõe o gerenciamento da variabilidade
apresentada no campo, por meio do conhecimento mais detalhado das características de
diferentes locais dentro de cada lavoura ou ambiente de produção. Locais com características
distintas determinam sub-regiões para aplicar manejo localizado ou manejo específico.
Segundo Pierce e Nowak (1999), na AP, adotam-se tecnologias e princípios para gerenciar
a variabilidade espacial e temporal associada a todos os aspectos da produção agrícola,
com objetivo de melhorar o desempenho das culturas e a qualidade ambiental. Contudo,
esses autores ponderam que, embora o manejo sítio específico das lavouras apresente
oportunidades para melhoria da qualidade ambiental, a mensuração dos benefícios é
complexa e relativamente pouco considerada na pesquisa, além de o aspecto ambiental
por si só não constituir forte atrativo para os agricultores investirem em agricultura de
precisão.
O aprimoramento no manejo do solo representa um dos principais alvos da AP, pois
está intimamente associado aos gastos com insumos, ao retorno em produtividade das
culturas e à redução de riscos ambientais decorrentes da atividade agrícola. Impulsionadas
pela perspectiva de vantagens econômicas ao agricultor, algu~as tecnologias de precisão
relativas ao manejo do solo figuram entre as mais difundidas. E interessante notar que essa
difusão é intensificada quando os procedimentos requeridos passam a integrar o portfólio
do segmento de prestação de serviços agronômicos. A amostragem de solo georreferenciada
com o sistema de posicionamento global (GPS) tem sido o principal item de prestação
de serviços em agricultura de precisão nos EUA, desde os primeiros levantamentos do
setor na década de 1990, e evidencia tendência de crescimento nas projeções para 2016
(Figura 1). Observa-se também consistente tendência de aumento no uso de outros itens
de serviço de AP relacionados ao manejo de solos e à nutrição das culturas, como análise
de dados de monitoramento com sensores de produtividade, "imageamento" por satélite
e mapeamento de condutividade elétrica do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA A GRICULTURA DE · · ·
1221

N esses levanté.'lmentos, a prestação de serviços de AP , uma vertente de destaq_u


que permanece mais ou menos estável ao longo do tempo, enquanto o utras tecn~logia
vinculadas a equipamentos específicos têm utilização emergente ou em retraçao, em
razão do grau de aceitação/ atratividade entre os agricultores ou do pró prio pro~es O de
evolução/ substituição tecnológica (Figura 2). É plausível esperar que no Bra il_ ocor ra
convergência das aplicações de AP segundo a mesma lógica retratada pa ra a agricultura
americana, embora com alguma defasagem de tempo para que haja disseminação ~as
diversas alternativas tecnológicas entre os produtores brasileiros. As principai tendência
de adoção das tecnologias de AP no País, apuradas a partir de levantamento real izado em
2012, foram descritas por Bernardi e Inamasu (2014).

70
- Amostra~ de
solo com GPS
62,6
60
56,1 - Mapeamento de
campo com GPS
5'1,3
50
46,8 - Análise de d.idos de
"'
.2l monitor de
e:
(li produtividade
40
"oe: - Venda e suporte de
monitor de
!E' produtividade
~
(li 30 28,1
-e,
~
27,5 - rma~
por satélite
20
- Venda e suporte de
sistema de guia
10 automático

- - Mapeamento de
condutividade
o elétrica do solo

Figura 1. Serviços de AP oferecidos ao longo do tempo nos EUA. Realizou-se o levantamento de


2013 a partir de questionário respondido por 171 representantes do setor, cobrindo~ e tado
americanos.
Fonte: Adaptado de Holland et ai. (2013).

Atualmente, a AP está sendo experimentada em varias frentes no proce so de


produção agrícola em diversas partes do mundo. No Brasil, os principais focos de aplicação
envolvem as principais regiões produtoras de culturas de grãos, algod ão e cana-de-açúcar
(Bemardi e Inamasu, 2014). Em menor escala, utiliza-se a AP também para ou tras culturas
anuais e perenes, especialmente aquelas de maior valor agregado. o longo deste capítulo,
são apresentados princípios, processamentos e aplicações ligados a práticas culturais,
manejo e conservação do solo e uso racional de fertilizantes, os quais en olvem abordagens
transdisciplinares, ajustadas com integração de conhecimento e informaçõe , pré-
requisitos para resultados que possam significar ganhos reais de eficiencia na agricultura.
A AP vem incorporando novas técnicas para auxiliar não só na a aliação de atribut do
solos, mas também das plantas e de outros aspectos do proces o produti , conferindo
ganhos gerenciais e maior profissionalização na rotina das fazendas. Tecnologias incluindo

M ANEJO E CONSERVAÇÃO DO S OLO E DA ÁGUA


1222 ÁLVARO VILELA DE R ESE NDE ET AL .

o uso de GPS, ist mc1. de informação geográfica (SIG) e sensoriamcnlo remoto (SR) vêm
endo amplamente utili zadas e, quando combinadas, fornecem informações preciosas com
regis tros armazenados em formato digital. Todavia, seu sucesso depende forte,nente de
métodos confiávei de coleta, processamento e interpretação de dados espacializados.
80
- - - Serviços de precisão oferecidos
70
..,__,. 65,5
64,9 ---Guia por GPS com
"' 60 60,8 controle manual
~
e:
~ 50 - - - Guia por GPS com
e: controle automático
39,2
8.. 40 ---Mapeamento com SIG
"'
~ _L,.:,__._::::::::,.~--- 31,6 para fins legais
~ 30 - - - Imageamento aéreo
* 20
20,b ou por satélite
~ 12,3 - - - Mapemaento de condutividade
10 elétrica do solo
e= - - - GPS para fins logísticos
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2013

Figura 2. Tecnologias de precisão mais populares ao longo do tempo nos EUA. O levantamento de
2013 foi realizado a partir de questionário respondido por 171 representantes do setor, cobrindo
34 estados americanos. Para detalhamento do item "Serviços de precisão oferecidos", vide
figura 1.
Fonte: Adaptado de HoUand et al. (201 3).

SISTEMAS DE GUIA E AUTOMAÇÃO: IMPACTOS NA


QUALIDADE DO SOLO E DA ÁGUA

Dispositivos de guia de máquinas por GPS, piloto automático, mecanismos de


regulagem e controle de fluxo nos distribuidores de insumos (sementes, fertilizantes e
defensivos), monitores de desempenho dos equipamentos aplicadores, bem como sensores
de medição e registro de produtividade e de variáveis meteorológicas, são associados a
tecnologias de AP. Isoladamente, esses dispositivos não permitem reaJizar o manejo sítio
específico, pois seu uso normal não está atrelado a informações sobre a variabilidade espacial
das lavouras. O grande ganho com o advento dessas inovações foi quanto à eficiência na
rotina das fazendas, incrementando marcadamente o rendimento operacional, ao viabilizar
inclusive operações noturnas, com melhor utiJização da mão de obra disponível e redução
de falhas decorrentes de fadiga física dos funcionários, que ocorriam, por exemplo, no
caso do monitoramento visuaJ do funcionamento de semeadoras-adubadoras durante sua
operação. Entretanto, essa nova realidade evidenciou a carência de mão d e obra qualificada
para operar o maquinário de última geração com todo aparato eleb·ônico embarcado
(Figura 3), 0 que constitui um dos maiores desafios ao avanço da AP no Brasil (Resende et
ai., 2014a).
Sistemas d e posicionamento por satélite, como dispositivos de guia (barra de luz) e
piloto automático, permjtem o deslocamento preciso de máquinas em passadas paralelas,
criando oportunidades para otirn.izar a frota agrícola, a economia de tempo e de combustível,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MAN EJO DO S OLO SOB o ENFOQU E DA A G RI CULT URA DE .. · 1223

a redução do des perd ício ele defensivos e O controle de tráfego nas la vouras, c1meniza ndo
os problemas de compactação do solo e de contaminação a mbi ntal. Benefícios d s il
n a tureza, além de ga nhos em prod uti vidade e em qua lidade indus trial, fora m re~atados
como principais moti vadores da adoção dessa tecnologia em á reas d e ca n.a-de-açuca r ~e
u s inas d e São Paulo (Silva et ai., 2010). Confo rme se observa na figura 2, os s is temas de _u~ a
por GPS com controle manual ou automático aparecem entre as tecnologia de pr c 15ao
mais populares nos EUA.

Figura 3. Visão do interior das cabines de trator (esquerda) e pulverizador (di reita) em u o ah..la lmente
no Brasil, destacando a diversidade de comandos, os monitores e outro dis positivo eletrô nicos.
Fotos: Álvaro Resende.

A compactação do solo induzida pelas rodas do maquinário que percorre as lavoura


é atualmente um dos principais fatores que limita a produ tividade das cul turas, em razão
dos impactos negativos desse processo na aeração do solo, dificultando o rescim n to
radicular e a infiltração de água e predispondo à ocorrência de processo era i o .
Mesmo o uso de escarificações periódicas ou a adoção da semeadura direta não elimina o
problema, que mais cedo ou mais tarde torna-se agravante para a conservação do olo e
da água e a própria sus tentabilidade produtiva das culturas. esse contexto, o urgi men to
dos sistemas de guia por satélite abriu novas perspectivas para o controle de tráfego d e
m áquinas. O planejamento com desenhos inteligentes de rotas e entrada contro la :ta de
m áquinas nos campos de cultivo (Figura 4) propicia ao agric ultor maior d o m ínio da
operações mecanizadas e direcionamento de med idas mitigadoras da com pactação,
segundo um traçado conhecido. Tal estratégia já vem sendo u tilizada em o u tro pa · e e
poderá representar alternativa tecnológica também para o Brasil.
De acordo com Antuniassi (2012), a melhoria no controle e na qualidad e das aplicaçõe
d e d e fensivos representou benefícios ambientais evidentes relacionado ao manejo de
plantas d aninhas, pragas e doenças. A inclusão de dispositi o de posi io nam nto por
satélite e dosadores eletrônicos permite controle mais efetivo do flw de calda n 5 bi -05
d e p ulverização, mantém taxa de deposição con tan te independen tement d e ariaçõ
n a velocidade de deslocamento, além de eliminar os risco de -obrepo içã e apli a - 0
e m á reas não alvo. Associando-se a delimitação prévia dos contamo d talhão com a
utilização de controlador automático dos segmentos da barra de pu l erizaçã , 0 bic
são d esligados quando parte da b.a rra__ passa so~re áreas fora da zonc1 d e cul ti o u q uand
h á sobreposição de faixas de aphcaçao. Tambem, avanços em eletró nica e equipamentos
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA
1224 ÁLVARO V ILELA D E R ESE ND E ET AL.

acopláveis permitem obter dados de condições climáticas (umidé1de, temperatura e


velocidade do vento) em tempo real, de modo a é1lertar o operador sobre condições
desfavoráveis para a aplicação. Assim, assegura-se melhor conservação da qualidade do
olo, da água e dos demais componen tes do meio. Ainda segu11do o autor, a tendência
em se associarem programas de qualidade ambiental ao processo de agregação de valor
aos produtos agrícolas poderá tornar o enfoque de uso racional de agroquimicos mais
releva nte para o produtor investir em AP do que a busca por retorno econômico d ireto.

Figura 4. Sistema de agricultura de tráfego controlado em 3 m/9 m/27 m, com ajuste d a bitola de
rodados e das larguras de implementas para padronização dos deslocamentos e da redução de
área compactada no talhão de cultivo.
Fonte: Adaptado de Vermeulen e Chamen (2010).

APLICAÇÕES DA AGRICULTURA DE PRECISÃO NA


CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE E DA APTIDÃO
AGRÍCOLA DE SOLOS

O planejamento e uso racionaJ dos recursos naturais são fundamentais para o


desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental. Cada vez mais, os proprietários
e gestores são cobrados quanto à correta tomada de decisão em relação à ocupação das
terras para uso agropecuário. Nesse planejamento, devem ser considerados os atributos
morfológicos, físicos e químkos do solo, relacionando-os às exigências d e cada cultura e
aos condicionantes de clima e topografia.
Na avaliação da aptidão agrícola, o conhecimento de atributos do solo é essencial para
a escolha do nivel de manejo a ser empregado, quais culturas serão utilizadas, ou mesmo

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA A GRICULTURA DE ... 1225

d e terminar se as áreas são m<1is apropriadas parn a pecuária ou il vicultura. Al~m _dis 0 ,
em conformidade com a legislação ambiental, não podem ser esquecida as ~va_liaçoes de
áreas para preservação permanente (APP) e para conservação dos recur os htdncos.
De acordo com Gianezini et ai. (201.2), a geotecnologia des taca-se pe la possibilid ade
de leitura e análise do meio a partir da coleta de informações sobre atributo d os solo e
seus recursos. Em grandes áreas, a enorme quantidade de informação necessária Pª '.ª. e se
estudo muitas vezes torna o trabalho cansativo e demorado, inviabilizando o trad JCio nal
método de abertura de perfis e a coleta de amostras de solos. Os regis tros em pa pel e
mapas de algumas décadas atrás vêm definitiva mente sendo s ubstituídos por arqu ivos
digitalizados, com informações de localização geográfica, e apresentados em vá rios
formatos, facilitando o manuseio e a extração de dados com fe rramentas d e informá tica.
Muitos estudos apresentam mapas de aptidão agrícola para determinada ár ea com
base na integração de diversas informações cartográficas, como mapas de declividade,
de solos, de pluviosidade etc. Francisco et ai. (2012), utiliza ndo esses mapas obtido
nas secretarias de estado e agência de águas da Paraíba (Paraiba, 2006; AFSA, 2014) e
informações do zoneamento agropecuário (Brasil, 2014), elaboraram mapas de a ptidão
agrícola para as principais espécies de fruteiras cultivadas no Estado. Se considerada então
uma área de interesse, como no caso da mesorregião do Agreste apresentada na figura 5,
podem-se obter informações mais precisas de quais localidades têm potencial produtivo
para a cultura desejada. Nesse exemplo, foi apresentado o mapa para a cultu.ra da banana,
de forma a auxiliar o empreendedor ou produtor a decidir em quais áreas é mais viável
investir.
Bases cartográficas preexistentes vêm sendo utilizadas no mundo inteiro como forma
de auxiliar na espacialização e visualização das áreas agrícolas. Além das condições
natu.rais, complexas interações de ordem social, econômica, política e cultural podem
interferir no modo como o solo está sendo utilizado. As terras agricultáveis têm se tomado
o maior biorna da terra, ocupando aproximadamente 40 % da superfície terrestre (Foley
et ai., 2005), de forma que organismos internacionais que observam e gerenciam o uso da
terra necessitam de respostas e atualizações rápidas. Entretanto, quando se deseja a aliar
áreas em escala mundial, nem sempre as técnicas mais simples são suficientes para obter
mapas exatos.
Em um estudo para avaliar a aptidão agrícola para 16 culturas de grande intere se
mundial (cevada, mandioca, amendoim, milho, rnilheto, dendê, batata, colza, arroz
irrigado, centeio, sorgo, soja, cana-de-açúcar, girassol, trigo irrigado e trigo de erão),
Zabel et ai. (2014) avaliaram a distribuição global dessas culturas usando não só base
cartográficas mundiais, mas também dados meteorológicos e climáticos, além de
ferramentas matemáticas corno a lógica Fuzzy para a decisão de incertezas. Os autore
elaboraram um mapa de aptidão atual para as culturas avaliadas em 23 regiõe cobrindo
todo o globo terrestre (Fi~ra-6), u~l~z_ando a base c~mf leta de cartas topográficas digitai
terres tres de alta resoluçao d1spo1:1~1bzadas pela ~ ssao Sl111ttle Radar Topography 1 ri.s-ion
(SRTM), que fornece o modelo digital de elevaçao com medidas altimétricas preci a a
cada 90 por 90 rn da superfície_ terr~stre (U~S, 2014). distribuição da aptidão agrícola
para as culturas em estudo fo, obtida considerando, além do relevo, 0 clima e os tipos
de solos (Figura 6). As zonas temper~das possuem tempera turas adequadas, precipitaçã
suficiente e, geralmente, solos apropnados. Entretanto, a adaptação das culturas na zonas
tropicais depende fortemente da precipitação anual para seu adequado re imento.
Adicionalmente, foi identificada restrição em razão dos solos com acidez e pobre em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1226 ÁLVARO VILELA DE R ESE ND E ET AL.

matéria orgãni a na r giões Av,, ou A da ela sificação climática de Kõppen, o que levou
os autore a identificarem cenários futuros das áreas de redução da aptidão agrícola após
2070. Como resu ltado do estudo, foi avaliado que 91 % das terras com aptidão para essas
culturas no mundo já estão ocupadas pela agricultura e que, se considerada a suficiência
em água, o uso de si temas irrigados adicionaria 1,8 milhão de km 2 de áreas apropriadas.
Cha_m~u-se atenç~o também para a perda de aptidão em regiões importantes como o Brasil
e a Afnca subsaanana, caso não haja adoção de novas tecnologias. E interessante notar que
es e tipo de estudo ó é possível mediante o uso de SIC, por causa do enorme volume de
dados a ser processado.

36°30' 36-00' 35°30' 35°00'


t-----+-----=-+=------.....::::.I 6°00'1.l!CINDA
r7 Catepil 1: Arm rom oo,e e/r,u ~ dr d15'1!S dt "pacidadr dr-, qur slo
N
Aiffi5).o ptópri,., pm • ootur-. ll!!ll limita,;fits r,u rom limii.çõ,s ligtiru dr utillz.lÇJo
! PLENA C..l!pda 11: ÁJm rom ~ dt c1-s dr aipoddidr dr \110 da calrg<rit 1 rom 1mm
I apropriadas pm postagm
Cmgmi,11lr. ÁJm rom dl!!<5 drapaàdadt dr m o ~ por dos lhrmú apropriada,
.,._.,..___~ 6"30' ai1tma rom madmdos de

~ Cmgmi,12: Ármrom da....dr a,pà!1drdr mo, qur do JWPNS


pm I cultaR. a,m rebiçõ,s
M~~A IIDX!ld&,drutilm,çio,l!l!IXildasmm lmlSapopôld&spn pula&!n

!ma, Categoria 3: ÁrP.ll a,m das,e dr c:,.p&Cidadr de u,o Ctllll fones liini~ para utiliaçlo
~~ com acultura, devido l5 c:aractmsticu dr c1m1Ap • u.,oci~ de dDe de tierru
~!F=,~ ,--~7"00' inaptas parucultun
Cmgmialt: ÁrP.ll CD1I1 dn!e5 de capacidade de u:,o, rom limi~ forte pana
cullun, dmdo a aru1dstia de fmi!idad, dos 10los •/ ou dnnagem l!Xt1!SISiva

- Cmgar!il: unproprilspmaexpknr;Joagrirola,smdo~porclned,
!NAFTA capoci,wl, de1150 ou ~dedaas,a,jasCIIIClmtiasdouolose/ou topografi.a
lf-- - - - - - 1 rJO' lpn,ll!llWl\ re!lrições lltVm5 pm utilmç!D, Lllm5pCl!1dendo l, dfllllis c.tegotils dtJ polencial

~==~~~-::!rflmstal~~cw~1m11=========================!

~~,-1
E5CAl.A GRAFICA
o 50km
ProjeçJo lJfM
DatumSAD69

Figura 5. Mapa de aptidão para a cultura da banana na mesorregião do Agreste da Paraíba.


Fonte: Adaptado de Franàsco et ai. (2012).

Uma das principais ferramentas para a coleta de dados em grandes áreas é o


sensoriamento remoto (SR), aplicável não só à agricultura, mas também a estudos
ambientais, oceanografia, climatologia e geologia. Na AP, o sensoriamento remoto inclui
técnicas de medição sem contato com o alvo, porém realizado em campo, chamado de SR
proximal, como a espectroscopia de refletância a partir de sensores portáteis ou acoplados
a implementos agrícolas, e de SR de médias e grandes distâncias; por exemplo, a partir de
câmeras multiespectrais e radjômetros a bordo de aeronaves ou satélites.
Além do SR e SIC, outra ferramenta utilizada no processamento dos dados e na
composição dos mapas é a geoestatística. Trata-se de uma ferramenta computacional
analítica para interpolação espacial de dados que facilita a quantificação e localização de
variáveis do solo e da cultura (Oliver e Webster, 2014). Por meio da geoestatística, é possível
esti mar valores de uma variável referentes a locais do campo que não foram amostrados,
com base nos valores medidos em outros pontos na vizinhança. Para isso, são utilizados
métodos de interpolação, permitindo a confecção de mapas para visualizar e avaliar a
distribuição espacial da variável em estudo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · ..
1227

o 0,2 0,4 0,6 0,8

Figura 6. Mapa de aptidão agrícola para 16 culturas de interesse mundial, considerando condições
de sequeiro e áreas irrigadas, com dados climáticos e de produção obtido num período de 29
anos (1981-2010).
Fonte: Adap tado d e Zabel et ai. (2014).

Caracterização de solos por sensoriamento remoto


O sucesso da AP depende de métodos eficientes e exatos para determinar atribu tos
do solo em campo. Essas informações são essenciais para que os produtores tenham
segurança ao decidir sobre a alocação dos ta lhões de cultivo e dimensionar as quantidades
de insumos a serem aplicadas, de forma a obter o melhor desempenho das cultura com o
menor impacto ambiental possível. O uso de i1úormações obtidas por imagens oferece as
vantagens de baixo custo, rapidez e boa resolução espacial, tendo impulsionado pesqu isa
no mundo inteiro, o que, consequentemente, vem promovendo grande progre o no uso
de SR para caracterização de solos.
Os tipos de solos podem ser distinguidos pelas suas cores e tonalidades. Ped ól go
utilizam uma carta de cores com base no sistema de cores de Munsell ( IunseU, 2015),
que permite a comparação direta dos solos em qualquer parte do mundo (USO.A, 201-l).
A cor do solo, combinada a outros atributos como textura e estrutura, é usada para
identificar os horizontes do solo. A matéria orgânica de tons escuros a preto, o ó. ido
de Fe com partículas amarelas ou vermelhas, bem como a presença de dí er O outro
minerais, formam a coloração expressa por cada solo. Além disso, ambient ~ aeró bicos ou
anaeróbicos e a própria variação de umidade interfere m no padrão de cor do olo (U ,
2014).
Os óxidos de Fe são particularmente importantes, pois influenciam na disponibilidade
de nutrientes para as plantas, a exemplo do P que é fo rtemente ligado a ess · óxido · .
Métodos convencionais de quantificação dos teores de óxidos de Fe são traba lhos 5 e
caros. Nesse sentido, o sensoriamento remoto e a espectro copia de refletància poden, ser
u sados para subs tituir os métodos convencionais de análise de determinados atri buto
do solo. Dados obtidos por satélites ou sensores a bordo de aerona es tem ido usado
para estabelecer relações entre a refletância do solo e as ariações nos ·eus atributos (Ge

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1228 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL .

et ai., 2007; Carioca et ai., 2011; Gopal e Shetty, 2013). Boas correlações entre a refletância
e os teores de óxidos de feJTo no solo vêm sendo obtidas, inclusive a partir de ima gens
de satélite Landsat com resolução espacial de 30 m, que já evidenciararn potencial para
e timativa e ma peamento desses compostos nos solos (Escadafal e Huete, 1992; Akso y et
ai., 2009; Demattê et ai., 2009).
Demattê et ai. (2009), avaliando a capacidade de estimativa dos compostos Fe 2O 3, TiO 2
e SiO" por meio de imagens do sensor TM a bordo do satélite Land sat-5, consegu iram
coeficientes de determinação de 0,67; 0,72; e 0,65, respectivamente. Como forma de validação,
amostras de solo foram analisadas quimicamente em laboratório, obtendo-se também os
seus dados espectrais, o que possibilitou enquadrá-las em h·ês classes, dependendo do
teor de óxido de Fe: hipoférricas (<80 g kg·1 de solo de Fe2O 3), mesoférricas (80-180 g kg·1 )
e fé.rricas (180 a 360 g kg·1). As arnosh·as analisadas em laboratório corresponderam ao
hori zonte B, enquanto as imagens de satélite forneceram dados espech·ais da superfície do
solo. Mesmo com essas diferenças entre horizontes, o modelo espectral obtido utilizando
o sensor a bordo do satélite apresentou baixos erros quando comparado aos resultados
laboratoriais. Das 84 amostras classificadas na análise laboratorial como hipoférricas, 80
foram corretamente classificadas a partir de imagens, alcançando 95,2 % de acerto. Os erros
nas quatro amostras restantes foram associados à proximidade do limite de teor de Fe
entre classes e também ao tamanho do pixel da imagem Landsat (30 x 30 m), que sofre a
influência de todos os elementos dentro dessa área, mas retorna um único valor. Quando
consideradas as 14 amostras classificadas como mesoférrica, o modelo espectral por satélite
retomou 100 % de acerto. Entretanto, as cinco amostras férricas foram classificadas como
mesoférricas, indicando a necessidade de inclusão de mais amosh·as para melhoria do
modelo, bem como a ocorrência de erros nos valores limites. O mesmo método foi utilizado
para determinar o teor de argila do solo, encontrando-se 76 % de concordância com as
amostras analisadas em laboratório. Dessa forma, os autores concluíram que os sensores
orbitais permitem estimar teores de Fe2Oy SiO2, TiO2 e de argila no solo, observando que a
refletância espectral com esses sensores fornece informações apenas da superfície, servindo
então para um mapeamento preliminar desses atributos do solo. Os resultados desse tipo
de SR podem auxiliar no direcionamento da coleta de solo no campo para amostragens
inteligentes, possibilitando diagnósticos de meU1or qualidade e, eventualmente, redução
de custos do processo.
Além da textura e do teor de óxidos de Fe, muitos outros atributos do solo têm
sido adequadamente estimados por SR, incluindo teor de umidade, capacidade de troca
canônica, condutividade elétrica, teores de C orgânico e inorgânico, pH e disponibilidade
de macro e micronutrientes (Sudduth e Hum.mel, 1993; Slaughter et ai., 2001; Thomasson
et ai., 2001; Shepherd e Walsh, 2002; Sullivan et ai., 2005; Ge et ai., 2007; Waiser et ai., 2007).
Uma tendência recente é a utilização de espectrômetros de laboratório para aquisição
de dados hiperespectrais de solo. Por causa da informação espectral altamente detalhada,
05 atributos do solo podem ser determinados quantitativamente por m eio de adequado
processamento dos dados. Quase todos os estudos relatados envolvem comprimentos de
onda nas regiões do espectro eletromagnético visível (visible - VIS) e infravermelho próximo
(near ínfrared - NJR), embora alguns comp_onen~es_do solo apresentem assinaturas espectrais
nas regiões termal e infravermelllo méd10 (1111d 111frared - MIR). No entanto, os principais
a tributos edáficos podem ser estudados por combinações entre as refletâncias no VIS e NIR,
tornando essas regiões potencialmente úteis na estimativa de muitos componentes do solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQU E DA AGRICU LTU RA DE · · · 1229

As técnicas de análise de dados são d epend en tes da d imen io na lidad~;- isso é, d


número de variáveis e dos dados espectrais do solo. Para classifica r supe:ficies d : ~ 10
exposto, com dados obtidos por meio de imagens de sa télites e plataformas aerea_s , ~ analise
qualitativa de dados é adequada (incluindo relações d e band a, an á lise d i_scnm_m ante e
classificação), sendo bastante utilizada para a função. Dad os hi pe r spectra1 ob~idos p~r
espectrômetros, mesmo em condições de laboratóri o, mui tas vezes possuem ruido e sao
difíceis de avaliar. Assim, durante o pré-processamento são usadas vá rias técnicas de
filtragem para a limpeza dos dados.
Os métodos mais usados para supressão de ruíd o são os filt ros passa-baix.:i ou filtros
de suavização, minimizando os erros advindos de conversões d e s inais (a nalógico/ digital )
que podem influenciar os dados hiperespectrais (Lua et a i., 2005; Zabel et ai., 2014) .
análise derivativa é frequentemente utilizada para reduzir ou tros fato res externos que
podem interferir em dados hiperespectrais do solo. També m, há técnicas u tilizadas para
reduzir os fatores externos como a análise de regressão linea r m ú ltipla (Mulliple Linear
Regression - MLR), regressão de componentes principais (Principal Component Regre , ion
- PCR) e regressão por mínimos quadrados parciais (Partia/ Least Squares - PLS). De
fato, as regressões PCR e PLS podem ser entendidas como caso es peciais de MLR, na
medida em que incluem procedimentos de pré-processamento (transformação de matriz
de variáveis independentes e de resposta) para reduzir a dime ns iona lidade do dados
hiperespectrais.

PROCESSAMENTO DE DADOS GEORREFERENCIADOS


PARA FINS DE AGRICULTURA DE PRECISÃO

Com o advento da AP, a necessidade de mão de obra especializada no campo é


crescente. Para trabalhar com os novos sensores e formas de captação de dados,
necessita-se mais que o suporte de técnicos agrícolas de formação convencional. Além
disso, com a reserva de mercado, softwares e sensores de empresas concorrentes não
possuem compatibilidade (Landau et al., 2014). Assim, todas as a n álises e a con trução
de mapas dependerão da habilidade de especialistas em converter dados d e fo rma to
diferenciados em linguagem simples, para que sejam acessíveis também ao p rod utor e
operador de campo.
Mapas produzidos em sofhvares proprietários devem poder ser e xportados em
formatos livres para serem lidos em outros softwares, de forma a facilitar a av;iliação
visual. Além disso, alguns dados obtidos por sensores remo tos n ã o pode m perder
informações indispensáveis, como o georreferenciamento ponto a ponto ou a variáveis
medidas. Nesse caso, não são preparados apenas simples mapas is uai , m as também
vetores ou cartas de imagem.
Dados obtidos de diferentes formas ou sensores devem passar po r tratamen to
adequado. Alguns dos tratamentos iniciais são similares, como limpeza e e. tra ~ão de
dados errôneos, por causa das falhas intrínsecas do s istema de medição ou mesm o do
operador. Entretanto, dependendo da fonte de obtenção, os tratamento pos teriore serão
bem diferenciados.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1230 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

Formatos dos dados e seu processan1ento


Existem diver os fom1atos em que os dados podem ser apresentados para h·atamento.
Aqui, serão classificados grosseiramente, de acordo com sua fonte de obtenção; por exemplo,
dados de análi es laboratoriais ou dados de especb·01Tadiometria podem ser colocados em
planilhas e b·atado como dados numérico (ou tabulares). Esses dados possuem, atrelados
ao valores, a informação de localização para cada ponto, devendo estar na projeção Universal
Tm115t.ersc Mcrcntor (UTM), que utiliza wn sistema de coordenadas caJ"tesianas bidimensional
fornecendo localizações precisas na superfície terrestre (Lapig, 2014). Caso os dados obtidos
estejam em coordenadas geográficas, o ideal é fazer a conversão para as coordenadas métricas
(l.JTM) antes do uso deles, sendo esse o primeiro pré-processamento. Nesse caso, após a
limpeza de dados enôneos, o tratamento será similar e está resumido no quadro 1.

Quadro 1. Algun procedimentos necessários para avaliar dados com ferramentas utilizadas em AP
Formato dos dados Tratamentos iniciais Tratamentos específicos

Estatística descritiva e Geoe tatlstica


Transformação de coordenadas para Interpolação de dados
o Sistema t.rrM (U11 ii>crsn/ Tm11sl'ase Criação de mapas etc.
'umérico (ou Mcrcntc,r), quando necessário
Tabulares) Limpeza e retirada de dados
erróneos em razão dos problemas
operacionais

Correção geométrica
Correção radiométrica
Recorte da área de interesse
Reamostragem (quando necessário)
Obtenção de dados como refletância ponto a ponto,
gerando nova carta-imagem pa"ra Iodas as bandas
Classificação supervisionada e não supervisionada para
fins de mapeamento temático
Limpeza e retirada de dados Geração de cartas-imagem de índices de vegetação ou de
Imagens orbitais (flFF, erróneos por causa dos problemas
GeoTIFF) água
operacionais Detemlinação de parãmelros climatológicos e
agrometeorológicos, como evapolranspiração da cultura,
temperatura do solo etc.
Confecção de carias com inserção e manipulação de
arquivos vetoriais em vários formatos
Extração de dados para tratamento gcoestatíslico e
krigagem

Georreferenciamento de fotografias aéreas digitalizadas


Mosaicagem (junção de imagens)
Retificação das imagens
Transformação em RGB e confecção de cartas de índices
Limpeza e retirada de dados de vegetação
Imagens aéreas erróneos em razão dos problemas Perspectivas e modelos tridimens ionais
operacionais Geração de mapas hipsomélricos
Confecção de cartas com inserção e manipulação de
arquivos vetoriais em vários formato
Tratamento geoeslalíst"ico e krigagem .

!-.1apas de Conversão dos mapas em formatos abertos como PDF ou


sofl,mri·s utilitá rios Limpeza e retirada de dados
JPEG
(exempl o: mapas de erróneos por ca usa dos problemas Exportação de dados para tratamento geoestatístico e
produtividade obtidos operacionais krigagem, correlacionando-os a outros obtidos cm campo.
de monitor de colheita)
Georreferenciamento
Mapas em papel Digitalização Inserção e manipulação de a rquivos vetoriais em vários
forma tos etc.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQU E DA AGRICU LT URA DE · · ·
1231

Tratamentos iniciais dos dados para agricultura de precisão


Muitas vezes, os dados estão em formatos que não são digitais, com o ma pas er:n papel,
quando ainda é preciso digitalizar. Outras vezes, a precisão dos equipamentos é d iferente,
sendo necessário padronizar o tamanho das amostras para adequar a toda as fontes de
dados. Um exemplo típico é a coleta de dados com sis tema globa l de navegação po r satélite
(GNSS), que oferece várias precisões distintas e está disponível em vários equipamentos.
A escolha do sistema de navegação é importante, já que existem q uatro deles em o pe ração:
o GPS (EUA), o GLONASS (Rússia), o Galileo (União Europeia) e o Beidou (China). Além
disso, existem três categorias de receptores, os de navegação com precisão métrica, os
topográficos com precisão centimétrica e os geodésicos com p recisão m.ilimétrica.
Assim, enquanto os sistemas Real Time Kinematic (RTK) instalados em tratores para
o mapeamento da produtividade ou mesmo aplicação de insumos fornecem preci ão
de mm, há equipamentos portáteis como clorofilômetros ou sensores de vegetação q ue
utilizam GPS de navegação com erro entre 3 e 10 m, dependendo da regjão e das condiçõ
atmosféricas no momento da coleta dos dados. Há, também, erros que envolvem o is temas
de navegação que incluem os tempos de atraso entre a medição e o relógio do satélite. Essa
falta de sincrorusmo se dá em razão da distância entre o receptor e o satélite, que em geral
corresponde de 0,7 a 0,9 s, e entre os sistemas de recepção em terra e o receptor do usuá rio.
O georreferenciamento ou correção de georreferenciarnento existente é realizado por
meio de sofhvares específicos, usando a imagem que se deseja georreferenciar e pontos de
controle obtidos em campo com GPS de precisão rrulimétrica. Esses pontos são chamado
de marcos. Uma boa alternativa aos pontos de controle é o uso de cartas topográficas
georreferenciadas que incluam rede hidrográfica ou rodoviária, mantidas geralmente
por organismos governamentais. No Brasil, além das secretarias estaduais ligadas à
Agência Nacional de Águas (ANA), também o IBGE disponibiliza cartas topográficas
georrefenciadas, que são bastante utilizadas por profissionais de geoprocessamento.
Sofhvares de tratamento de imagens ou de SIC geralmente possuem a função de
georreferencia men to. Existem diversos softwares gratuitos que executam bem a função, como
o GvSig (Uruão Europeia-Espanha) ou o SPRING (Brasil). Há ainda sofhvares open source,
como o QGIS, que foi inicialmente criado como um visualizador de dados geográficos Post
GIS (com o nome de Quantum GIS), de forma que funcionasse em sistemas operacionais
livres (Linux) e com interface amigável, criado pelo departamento de Recursos r aturais do
Alaska, em projeto que até hoje recebe contribuições do mundo todo (QGIS, 2015).

Remoção de erros
A produtividade de uma cultura ~ de~erminada por ações tomadas ao longo de
um período, sendo dependente de vários tatores, como a variedade utilizada, épo a
da sem eadura, taxa de semeadura, práticas de cultivo, controle de pragas, tipo de olo,
dis ponibilidade de água, efeitos do c~1:1ª'. tratos culturais anteriores, além do próprio
objetivo de produção atual e outras vanave1s que dependem da decisões e habilidade do
produtor. Todos esses fat~res influen~i~ o p~tencial produtivo da cultura e podem gerar
discrepâncias que necessitam de analises mais aprofundadas, antes de uma tomada de
d ecisão para as próximas safras (Brandão et ai., 201-t).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1232 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

O tratamento adequado dos dados vai garantir a confiabilidade dos m a péls resultantes.
Um h·atamento inicial básico é a retirada de erros originados durante a aquisição dos
dados, eITos do operador, diferenças de velocidade de máquina, amosh·agem em pontos
atípicos etc. Mapas digitalizados também podem conter erros, especialmente quando não
são apropriadamente atualizados. Enfim, os erros podem advir de várias fontes e por isso é
importante o conhecimento do histórico da área. A ocorrência de dados muito discrepantes
(ou tlicr5=) é relativamente frequente na AP, mas não deve passar despercebida. Se os erros
não são abordado adequadamente, os usuários dos mapas podem chegar a conclusões
en-ôneas, pondo em risco a credibilidade e validade dos resultados.
a análise da produtividade obtida por meio de sensores acoplados às colhedoras,
por exemplo, é necessário eliminar dados tendenciosos, inexatos ou incoerentes, sendo
recomendado o uso de filtros para sua exclusão (Sudduth e DrmruT\ond, 2007). Mapas de
produtividade podem conter erros comw1s que estão bem descritos na literatura, como
eITos de posicionamento, largura de plataforma incorreta, tempo de chegada dos grãos
no sensor, mudanças bruscas de velocidade etc. (Blackmore e Moore, 1999; Thyle'n et al.,
2001; Menegatti e Molin, 2004). Não existe wn método-padrão para a limpeza de dados
de produtividade, embora sejam sugeridas diferentes técnicas de filtragem ou triagem
(Menega tti e Molin, 2004; Sudd u th e Drummond, 2007). Blackmore e Moore (1999) relataram
que até 32 % das medições realizadas em um experimento de campo foram removidas ao
usar seu algoritmo de filtragem. Thyle'n et al . (2001) removeram de 10 a 50 %, dependendo
da técnica de filtragem aplicada. Cabe esclarecer que, em razão da alta densidade de dados
amostrais nos mapas de produtividade, que varia de 250 a 1.500 registros por hectare,
dependendo da configuração de frequência de coleta de dados pela colhedora em lavouras
de grãos (Molin, 2002), não há comprometimento da precisão durante a filtragem, mesmo
com altos percentuais de remoção de registros.

Geoestatística aplicada à agricultura de precisão


A análise da variabilidade espacial do solo nas áreas com atividades agropecuárias
é fundamental para o correto manejo e a conservação do solo e da água, constituindo a
base para a aplicação dos conceitos de AP. A geoestatística é uma ferramenta poderosa
para identificar a variabilidade espacial do solo. A intensificação do seu uso deveu-se à
constatação de que a dependência espacial de atributos do solo existe e deve ser considerada.
Portanto, a utilização da geoestatistica é de grande relevância para a tornada de decisão
quanto às práticas de manejo mais adequadas e ao uso racional do solo e da água (Webster,
1985; Srivastava, 1996; Goovaerts, 1997; Vieira, 2000; Coelho, 2003). Assim, essa análise
tem sido recomendada como um dos principais métodos para identificar e caracterizar a
variabilidade espacial do solo e das culturas, pois incorpora as relações espaciais na forma
de correlação entre as amostras, partindo do princípio de que amostras mais próximas
entre si são mais parecidas do que as mais distantes, possibilitando o mapeamento de áreas
a partir de valores interpolados com maior precisão para os locais não amostrados.
Sem dúvida, um dos pontos mais críticos na utilização da geoestatística é a amostragem,
e uma das perguntas mais difíceis a responder é: Quantas amostras são necessárias para
caracterizar a variabilidade espacial de determinada área e qual o espaçamento adequado
entre elas? Na AP, têm-se facilitadores na busca da resposta para essa pergunta que são os
sensores, os quais normalmente possibilitam obter informações georreferenciadas em alta
densidade espacial e com baixo custo, a exemplo dos sensores de produtividade, vegetação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA A GRICULTURA DE · • •
1233

ou conduti vidade elétrica do solo. Dessa forma, esses senso re a uxilia m na identificação
de possíveis áreas com maior va ri abi lidade, possibilita ndo a escolha p révia do número de
pontos a serem amostrados e do espaça mento entre eles, no in tuito de iden tifica r a ca usas
daquela variabilidade. A utilização da geoestatística se faz necessá ria nas d ife rentes eta pas
dessa abordagem.
De acordo com Molin (2001) e Bernardi et ai. (2014), na AP são utilizados cada vez
mais os recursos oriundos de alta tecnologia, como o GPS de precisão, os eq uipa mento
automatizados, além de imagens de satélite e de câmeras a bordo de veícu los a reos não
tripulados (V ANT), que fornecem informações bastante precisas, em gra nde quantidade
e com alta frequência no espaço e tempo. Essas informações são úteis, poi podem ser
correlacionadas espacialmente com outras de difíci l obtenção po r causa d o cu to elevado
e da alta demanda de mão de obra. Adicionalmente, é possível direciona r as amos tra en ,
concentrando-se nas regiões onde exista maior va riabilidade e diminuindo a d en idade
amostral nos locais mais uniformes (Vieira et ai., 2008); ou seja, a amos tragem in teligente
usa a variabilidade de variáveis indicativas (como topografia, cor do solo, condutividade
elétrica aparente, índice de vegetação etc) para al terar a densidade de pontos, o nde os
locais de grande variabilidade devem ser amostrados com maior intensidade.
Para Machado et ai. (2006), a condutividade elétrica aparente do solo, que é esti mada
por meio de sensor de contato, de forma automática e em muitos pontos no campo, reflete
adequadamente a variação nos teores de argila e contribui na definição de zonas de manejo.
Na figura 7, ilustra-se um sensor de contato sendo utilizado na cultura da cana-de-açúca r
para mapeamento da condutividade elétrica, com o objetivo de otimiza.r a amos tragem e
estabelecer correlações com outros atributos do solo para estudo de va riabi lidade espacial.

Figura 7. Sensor de contato Veris®para medição e mapeamento da conduti idade el trica a parente do
solo, sendo utilizado em lavoura de cana-de-açúcar (Foto: Célia Grego). À direita, repre·ent:ação
d e um condutivímetro de solo com base na grade tratorizada e ação dos campo elé trico .
Fonte: Reetz Junior (2014).

Dados obtidos por diferentes meios, como coleta in loco, sensores, mapas te má tico ,
imagens de satélite ou fotos aéreas, devem ser necessariamente georreferenciados e e tar
suficientemente próximos para garantir a caracterização da ariabilidade espacial.
U m componente essencial na análise geoestatis tica é o semi ari grama ( ieira, _Q O),
estimado pela equação 1.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1234 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

. 1 (),)
2
y (11) = N(li )"f [Z(x, )- Z(x,+ '1)]
2 Eq. 1
em que N(h) é o número de pares de valores medidos Z(xi) e Z(xi+h), separados por um
vetor h .

No sem.ivariograma, é verificada a existência ou não da dependência espacial, e trata-


se de um gráfico da semivariância versus a distância. Nele, são realizados ajustes a uma
função em que são determinados os parâmetros efeito pepita (CO), variância estrutural
ou contribuição (C1 ) e alcance (a). Na figura 8, tem-se um exemplo de gráfico ajustado à
função esférica do sem.ivariograma.
Segundo Vieira (2000), para que exista dependência espaciaJ, é necessário que o
semivariograma seja crescente com a distância e se estabilize no valor da variância dos
dados, definindo o comportamento espacial da variável. A utilização dos parâmetros
obtidos após o ajuste dos semivariogramas (CO, C1, a) serve como indicativo para um
estimador geoestatístico, a krigagem, comumente usada no procedimento de interpolação
para elaboração de mapas. De acordo com diversos autores da área (Goovaerts, 1997; Vieira,
2000; Soares, 2006), por considerar a variabilidade espacial, a krigagem é um estimador de
vaJores para qualquer locaJ sem tendência e com variância mínima e, portanto, discrimina
com exatidão a variação dos dados interpolados. Os resultados são mapas de isolinhas,
que podem ser gerados em qualquer ambiente de SIG, permitindo também cruzamentos
com outras bases de dados espacirus. Na figura 9, é evidenciado como exemplo um m apa
de produção de biomassa de pastagem após a identificação da variabilidade espacial por
meio da geoestatística.

25

r:;
20 • • •
u
e
, r:;
·;::
r:;
15
>
,-

]10
• Ca 0-20cm

5 - Esf (10,30; 9,81; 76,19)

o
o 20 40 60 80 100
Distância (m)

Figura 8. Exemplo de semivariograma ajustado pelo modelo esférico para dados d e teores de cálcio
trocável (Ca) no solo, na profundidade de Oa 20 cm.
Fonte: Ada p tado d e G rego et a i. (2010).

M ANEJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFO QUE DA A G RI CULTURA DE . . .
1235

Biomassa da pastagem (verão)

1500 1700 1900 2100 2300 2500


kg ha·' de matéria seca
o 50 metros

Figura 9. Mapa de isolinhas para biomassa de pastagem no período do verão em l ova Odes a, SP.
Fonte: Adaptado de Grego et ai. (2012).

Também, como exemplo de aplicação de técnicas de processamento d e dados e a náli e


geoestatísitica em AP, pode-se citar o trabalho de Shiratsuchi e {ach ado (2003), o quais
avaliaram uma colhedora equipada com monitor, em passadas alternadas para ma pear
produtividade numa lavoura de milho. Antes da análise dos dados d e produtividade em
SIG, os autores utilizaram metodologia descrita por lenegatti e r lolin (2004) para retirar
os pontos com valores de produtividade absurdos, nulos ou com ausência de sinal do GPS
no mapa bruto produzido pela colhedora. Em seguida, foi feita uma análise e, p lorató ria
e a remoção de pontos discrepantes utfüzando a técnica dos quartis. Recomenda- e, ainda
a análise estatística descritiva para verificar a persistência de possí eis discre pàncias e
normalidade nos dados (Grego et ai., 2012). Na sequência, os dado brutos remane entes
da etapa de remoção dos erros devem ser submetidos a urna anãli e de de pendência
espacial, utilizando geoestatística com construção do semivariograma e, po tenormente,
interpolando os dados por krigagem. Para fins de comparação, Shira tsuchi e lachad
(2003) utilizaram também o método de interpolação pelo inverso d a dis tâ ncia (Figur

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1236
ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL .

10), us~nd o 12 ,·izinhos e peso igual " 2. Esse método é de fá cil utili zação e não exige
conhecimento em :1.:cnicas g oestatística , ~cndo o procedimento-padrão da maioria dos
· nffímrcs ~e ~ IG di ponfYeis, embora nem ---mpre garanta mapas de qualidade. Alguns
snftwares Já of _n: cem a opçào geoestatística, com o o ArcG IS®, ou podem ser empregados
· oftwa rcs gratuitos orno o pacote geoestatístico Vesper<t• (Whelan et ai., 2001) . No caso do
mapea~iento d~ produtividade, dada a grande quantidade de pontos registrados durante
ª colheita, obtem- e mapa confiáveis independentemente do m étodo de interpolação
(Figura 10).

Produtividade (kg/ ha)


4652 - 5536
5536- 6419
6419 - 7303
- 7303-8187
- 8187 - 10308
(d)

Figura 10. Mapas de produtividade obtidos a partir de diferentes tipos de processa mento dos dados
registrados pela colhedora. Mapa bruto da coll1edora (a); e mapas obtidos considerando o uso
do sensor d e colJ,eita a cada quatro passadas, com interpolação pelo inverso da distância sem
média dos pontos centrais (b); por krigagem sem média (c); e por krigagem com média dos
pontos centrais (d).
Fonle: Adaptado d e ShiralSuchi e .Machado (2003).

Não se pretende, com as considerações apresentadas neste tópico, esgotar o terna de


geoestatística na AP, para o que seriam necessários muitos outros detaU1amentos, como os
dis poniveis em Goovaertz (1997), Vieira (2000), McBratney et aJ. (2005) e Grego et aJ. (2014).
O intwto é proporcionar noção de que o processamento de dados georreferenciados não
é tarefa trivial, requerendo suporte técnico especializado, oferecido preferencialmente por
profissional que sempre busque atualização, uma vez que o ferram ental e as metodologias
associados estão em constante aprimoramento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MAN EJO DO SOLO SOB o ENFOQU E DA A G RI C U LTURA DE · · ·
1237

Processamento de imagens
Correções radiométrica, atmosférica e geométrica
Para interpretar imagens aéreas ou de satélite , as d if r enças reso lução e_vem _er
observadas, não só durante a obtenção do dado, mas ta mbém na etapa J planei mento
para amostragens no campo, especialmente quando há coleta de dado d olo ou d planta
e pretendendo-se comparar com as imagens. Preferencia lmente, a d fi n íçao e ta~anho de
amostra e da quantidade de subamostras d eve garan tir qu sejam r p res ntahv e; com
relação a um pixel da imagem (Landau et ai., 2014). Em gera l, a ima ens d télite _ão
disponibili zadas ao usuário em sua forma bruta, e para adequado u n c itam de p ré-
processamento envolvendo correções radiométrica, atmosféri ca e eom trica.
Todas as operações de pré-processa mento são direcio nad a .l recuper.ição dc1s
imagens adquiridas pelo sensor, removendo efeito dos ruíd o ca u sado po r ínterfer nc i,
atmosféricas e limitações do sistema, como a curvatura d o lobo terr tre no momento
da aquisição da imagem e o desgaste dos sensores em movimen t . O o re-. b rd o
dos satélites medem a radiância espectral de cada pixel e os a rmazena m em fo rma <li 0 1tal.
Esses valores são denominados de nível de cinza ou intensidade do pixel o u , ainda, número
digital e variam de O a 255 (8 bits para o satélite Landsat), corre pond ndo e escala de cor
variando de preta a branca. O nível de cinza significa que o alvo absorve totalment .i
energia recebida (O % de refletância) e o nível 255 significa que o alvo refle te totalm nte .l
energia recebida.
A calibração radiométrica é o processo de conversão do número digi tal de cada pixel
da imagem em radiância espectral monocromática. E a radiância mon ocromáti as
representam a energia solar refletida por cada pixel, por unidade de e rea, d t mpo,
de ângulo sólido e por unidade de comprimento de onda; porém, medida na o rbita do
satélite. Para todos os satélites, estão disponibilizada equaçõe de calib ração radiom · tri ,
similares. Cada satélite possui seus coeficiente de calibração e mé to d o j · aJidado para
calibração radiométrica.
A refletância recebida pelos sensores a bordo de plataf rma paoa1 sofre
interferências em razão da presença de constituintes atm o férico como v.1po r de a~.:i,
nuvens ou gases. Esses efeitos atmosféricos são cons iderado- ru íd o ao inal (refl t ' nci
pura) e devem ser minimizados, pois causam absorção, e palhament refr - d enerci
eletromagnética. Para avaliações exatas, como as utilizada na P ou n o mo nitoramento
do uso e cobertura do solo, a correção atmosférica da imagens · impre in í 1. Tod
os cálculos de índices de vegetação, índices de cobertura do solo, umidad e te m per tur
do solo, evapotranspiração de culturas ou de áreas flo res tada , bem om d et rmin ão
de componentes do solo necessitam da refletância mono romáti a, o u refletân ia e- p tr l
planetária em cada banda (Bastiaanssen et ai., 199 ; Mather, 199 ). T · nic e - ljh •are_- q ue
visam corrigir os efeitos da atmosfera êm sendo de en oi ido e primorad -.
A utilização de modelos com base na teoria da transJerên ia radiativ a (Ch ndr e h r,
1960) exige o conhecimento dos constituinte tmo férico n hor · ri de p em do
satélite. No entanto, a coleta de todos os dado que permit m - r c terizà - m.inuà ::i
e completa da a tmosfera, s~bre defi~d_a ár~a e~1 . d:terminad ins tant , nem . "m pre e
possível. Métodos de correçao atmo fe n ca a d1 1di 1os em d is rupo : n e · p tr de
ondas curtas e na fai a do te_rm~l (onda lon_0 as). gra1:de mai ria J - m d 1 plic eis
à AP s tá concentrada no pnme1ro grup , diretamente ligada .1 - p r e d inlere . n

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1238 ALVARO VILELA DE RESENDE ET AL .

ag,·icull-~ra, com base na estima tiva do albedo, da energia solar e dos índices d e vegetação
como O lndice de Vegetação por Diferença Normalizada (Nor111nlizerf Differe11ce Vege tntion
lnrfcx - ND\11). Os mt:todos de correção atmosférica na faixa do term al são empregados
na estim ativa da tempera tura de superfície e são mais complexos por exigir mais dados
m eteorológico e dados de emissividade em local específico com boa acurácia.
Sanches et ai. (2011), avaliando três 1nétodos de calibração atmosférica, concluíram
que o 1DV1 obtido a partir d e imagens de satélite é sensível à influência da a tmosfera .
Sem correção, o NDVl dos alvos d e vegetação tende a ser subestimado, podendo gerar
infom1ação que não corresponde à realidade observada no campo.
Por fim, na etapa inicial de processamento de imagens, é preciso realizar a correção
geom étrica. O planeta Terra é aproximadamente esférico. O processo de mapeamento
exige a conversão da projeção da área curvada para um plano. Dependendo dos métodos
de projeção, as coordenadas de uma área no mapa podem não representar exatamente as
da área curvada na superfície do globo, exigindo processo de retificação para remoção
das distorções intrínsecas durante a tomada da imagem. As distorções geométricas são
decorrentes basicamente de três fatores:
a) Em razão da plataforma: efemérides (posição e velocidade), em que a variação da
velocidade causa sobreposições e lacunas entre varreduras sucessivas; variações de escala
no sentido transversal às varreduras; variação da altitude etc.
b) Distorções inerentes ao sensor.
c) Distorções por causa do modelo da Terra, que provoca o deslocamento entre
varreduras sucessivas em razão do movimento de rotação do planeta; o formato da Terra
(esfericidade), que provoca distorção panorâmica; e o deslocamento por causa do relevo
da superfície terrestre.
As imagens orbitais devem passar por um tratamento estatístico, a fim de servir
à base cartográfica com precisão e exatidão. Precisão pode ser definida como o grau
de concordância de uma série de medidas feitas sob condições similares. Traduz-se na
confiabilidade da imagem em possibilitar ao usuário uma avaliação da dispersão ao se
tomarem posições planimétricas. A precisão associa-se ao desvio-padrão das medições,
enquanto exatidão descreve a proximidade do valor amostral com o valor verdadeiro.
A retificação ou correção geométrica de uma imagem é, portanto, o processo de
transformar uma imagem de forma a inserir propriedades cartográficas de um dado
sistema de projeção com suas respectivas coordenadas (Figura 11). Vários processos exigem
fidedignidade da posição apresentada na imagem, como criação de mosaicos; criação de
cartas de índices de vegetação; criação de vetores e arquivos de contorno (shnpefile); e
extração de medidas precisas como área, distâncias e perímetro. Além disso, uma imagem
deve sempre ser retificada na atualização de bancos de dados e durante a integração do
SR com Geodésica (GPS) e SIG, removendo as distorções inerentes ao sistema antes da
confecção de mapas. Assim, um mapeamento só deve ser utilizado como fonte fidedigna
de informação quando associado a processos de avaliação de exatidão dos dados que o
compõem .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MAN EJO DO SO LO SOB o EN FOQ U E DA A GRI CULTURA DE · · ·
1239

Referl!ncla

(x.,. y.,J

Figura 11. Correção geométrica: uso de equações matemáticas de transformélçào (a); flu xograma de
representação usando pontos de apoio (b).
Fonte: Adaptado de Sebem (2014).

Existem diversos métodos de correção geométrica da imagem, sendo objeto de curso


inteiros. Alguns dos mais usuais são as correções rea lizadas com modelos o rbitai , que
dependem de dados dos sensores instalados a bordo de satélites e de po icionamento da
plataforma. Esses são muito úteis quando não há registros cartográfico da área coberta
pela cena do satélite, sendo muito utilizado em AP por causa da fa lta de mapas disponívei
nas áreas de lavouras.
Corno nem sempre é possível ter os parâmetros do sensor, é ta mbém muito u ada
a correção por pontos de controle em terra, chamados de Gro11nd Contrai Points (GCP).
Os pontos de controle podem ser adquiridos de duas formas, via cartografia atualizada
e precisa, como mapas de redes hidrográficas ou de redes rod o iárias, ou por meio de
pontos de a poio obtidos em campo com equipamentos topográfico , o q ue exige tempo,
pessoal altamente especializado e recursos para aquisição de equ ipa mento mais caros.

Tratamento de imagens
Depois de calibradas, as imagens devem passar por tra tament s para auxiliar
as visualizações de interesse nos mapas a serem produzid o . lgurna técnicas de
processamento de imagens digitais são utilizadas para au: iliar na interpretação visu al da
imagem. Existe grande variedade de técnicas para melhorar a qua lidade da imau-em, endo
comumente usados o contraste, o realce dos Limites e algumas filtragen e peciai para
melhorar a percepção visual das imagens de satélite.
Algumas técnicas podem alterar a resolução da imagem ou me mo a u men tar .1 área
de cobertura, como é o caso da fusão e do mosaico de imagem . P r ca u a da limitação
da largura da faixa de passagem do satélite, algumas vezes são neces árias d u as ou rnai
cenas para visualizar a área desejada. Assim, em imagens previamente georreferen iada ,
é possível realizar a junção de várias cenas, formando uma única imagem com a me rn
resolução espacial. Essa técnica é muito utilizada em fotos aéreas o u rt fo to e é chamada
de m osaico. Já a fusão usa a combinação de imagens de diferente · cara teristic , -pectrais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1240 ALVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

e espaciai para produzir nova imagem, preservando as carncterísticas espectrais, porém


com n~~lh~r resolução espacial. A fusão de imagens de satélite tem sido bastante utilizada e
tem a tinah?~~e de obter uma imagem aprimorada, ou seja, com maior resolução espaciaJ,
0 que possibilita melhor discriminação dos alvos da superfície terresh·e. De acordo com

Zhang et_ai. (~?09), a fusão também pode manter a integridade da imagem multiespectral
de maneira eticaz, dependendo da h·ansformação usada. Os métodos de tnmsformação
mais comuns são o IHS (RGB para IHS=lntensidade, Matiz e Saturação), o PCA, ou análise
de componentes principais, que é um método estatístico multivariado usado desde 1901
por Pearson, e a transformação de Brovey, que é uma operação aritmética simples (Vrabel,
1996).
A classificação ou categorização dos pixeis por meio de amostragem estatística permite
a extração de feições das imagens. Na classificação de imagens digitais, a cada pixel é
realizada uma associação a uma informação qualitativa (atributo) . O valor de cada nível
de cinza para cada pixel pode ser associado à refletância dos materiais que o compõem no
terreno. Consequentemente, cada pixel ou um conjunto de pixeis estará relacionado a uma
classe ou tema. A classificação de dados digitais pode gerar, atualizar e complementar um
banco de dados geográficos. A associação de dados vetoriais e matriciais, hoje viabilizada
nos principais sofruJares de sensoriamento remoto (Erdas®, Emapper®, GvSig, Spring, PCI®,
Envi~, ldrisi®, QGIS, entre outros), permite, a partir de rotinas de álgebra matricial e de
análise estatística, extrair informações exatas dos objetos imageados.
Os processos de classificação podem ser supervisionados ou não supervisionados.
O método de classificação supervisionada consiste na identificação controlada pelo
usuário ou conhecedor da área (analista). Esse é com base na fotointerpretação, e o usuário
seleciona um conjunto de amostras na imagem de feições conhecidas previamente. Essas
amostras devem representar o melhor possível as feições a serem classificadas e ser as
mais homogêneas possíveis (baixo desvio-padrão). Existem várias técnicas de classificação
supervisionada e as mais comuns usam núnima distância, também chamada de distância
espectral, e máxima probabilidade, ou verossimilhança, que é com base no teorema de
Bayes (Gelman et al., 2003).
A classificação não supervisionada, ou classificação com base em objetos, requer do
usuário apenas algumas condições como número de classes_e interações. O algoritmo
permite agrupar pixeis com características espectrais similares. E necessário posteriormente
associar classes aos agrupamentos, procedimento esse que é feito de maneira totalmente
automatizada. Esse processo também pode ser denominado de segmentação, que significa
0 agrupamento de pixeis dentro de determinados intervalos de variação. O método mais
utilizado é o Self-Organizing Data Analysis Teclmique ou Isodata. Esse algoritmo permite
reunir pixeis de maneira sequencial, por meio de uma mínima distância espectral (Gonzalez
e Woods, 2000). Os algoritmos para segmentação de imagens são geralmente com base
nas propriedades básicas de valores de níveis de cinza, descontinuidade e similaridade.
Enquanto a descontinuidade aborda o particionamento da imagem com base em mudanças
bruscas d e tons de cinza, a simjlaridade é baseada no limiar e crescimento de regiões.
o crescimento de regiões é uma técnica de agrupamento espacial em que somente pixeis
adjacentes, contíguos na imagem, podem ser agrupados.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICU LTURA DE · · ·
1241

APLICAÇÕES DESIGNA AGRICULTURA DE PRECIS o


O número e a diversidade de aplicações de SIC na á rea agrícola têm a ~rr_i~ntado
muito nos últimos anos. Alguns aplicativos vê m sendo produzidos e disponi~ 1 1zados !
para o gerenciamento de fazendas há d écadas. Ventu ra (1991), por exem plo, utilizou as
ferramentas de análise espacial totalmente automatizadas com o ofhvart' Arclnfo para
o programa de controle e planejamento de uma fazenda em Wisconsin, EUA. Da m~ ma
forma, Hamlett et ai. (1986) usaram SIG para determinar possíveis loca is a lagados e estimar
o potencial de aproveitamento de águas pluviais para uma fazenda na Pen il vâ niél, EUA.
Todos esses aplicativos de rápida resposta baseiam-se em imagens orbi télí , com adequado
processamento e armazenamento dos dados.
Imagens calibradas permitem obter diversas informações importantes, como previsão
de produtividade, biomassa acumulada ou dados meteorológicos (Bra nd ão e t ai., 2006).
A maioria dessas aplicações pode ser relacionada à AP, visando o d imensionamento da
adubação e a aplicação de fertilizantes à taxa variável, o controle de pragas e o planejamento
da irrigação. A otimização de insumos e da disponibilidade de água, além de a umentar a
produtividade, ajuda a minimizar o uso de agroquímicos e os riscos ambientais associados
(Wilson, 2005). Dessa forma, os objetivos básicos do uso de imagens são coletar dado
espacialmente referenciados e combinar novas tecnologias, de fo rma a reduzir a neces idade
de caras análises em campo, obtendo rápida resposta para a tomada de decisão.
Na figura 12, apresenta-se um ciclo de gerenciamento da AP, onde são evidenciada
as etapas desde a coleta de dados e disponibilização de informações até as intervenções de
manejo. Há estudos usando sensoriamento remoto orbital com bons res ultados em relação a
todos os problemas indicados na primeira fase do ciclo (lado direito da figura), permitindo
substituir ou reduzir substancialmente as coletas de dados no campo. Q uando combinados
com sensores remotos proximais (aqueles empregados próximos ao solo, em máquinas
agrícolas ou estações meteorológicas), os resultados fornecidos são de alta precisão.
Entretanto, de acordo com Molin (2014), mesmo tendo seus benefícios já comprovados
em trabalhos de pesquisa, imagens de satélite não podem ser utilizadas como ferramentas
isoladas, pois, em algumas situações, o problema de oferecerem baixa resolução espacial
(tamanho do pixel na imagem) e baixa resolução temporal (repetibilidade ao longo da afra)
pode subestimar uma estratégia de manejo, comprometendo a viabilidade da tecnologia.
Uma das aplicações de SIG mais bem elaboradas usando imagens de satélite é a
determinação da evapotranspiração de culturas e sua relação com os índices de vegetação,
como ilustrado no exemplo da figura 13. Nesse estudo, Cunha e t al. (2011) a aliaram a
evapotranspiração na bacia do rio do Peixe, no Estado da Paraíba, enco ntrando alta
correlação inversa entre a evapotranspiração e o NDVl. Os a utores ob ervaram correlação
negativa entre o NDVl e a temperatura do solo discriminada em irnagen do en or T l do
satélite La~ds~t (Fi~a 14), que, quand~ combinadas com_as ~1aiores ele ações nos map
de relevo, md1cavam Justamente os locais de evapotransp1raçao mais ele ada.
Estudos similares são usados nas séries temporais em projetos de a aliação de secas
e suas consequências, uma ~ez que as vari~ç~es ~e tempe ra tura da su perfície q ue ocorrem
durante o ano são influenciadas pela prec1p1taçao, que altera o padr -es de cobertura do
solo e, consequentemente, sua retletância (Figura 14).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1242
ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

Físicos
Contorno das lavouras
Nutrientes Relevo e aspecto do solo
Inseticida Volume de raízes
Compactação
Nematicida Drenagem
Umidade
Herbicida

Fungicida
, do solo
~
~
Ir'
:: A!
~-
,::. Capacidade de

~>~:f§) - ~, / }
~ o
de sementes ......
"'= ~ ;
{l
ê tf
:
: 0
~-
&>'b-,, r.> troca catiônica
~
> Salinidade
~
X pH
Taxa de !:
~
semeadura Biológico
.·.... ~ - ~ ··..._ ~
Preparo
. ··---º ·.
Modolagm, • •-taçlo .
Q,
0
Produtividade

do Solo
. • avaliaçio C,, Plantas
·-. êf
Matéroia
Água orgânica
Doenças
-1 t,.-,,:
'<1ções e Tomada

Ecologistas --------- Pesquisadores


Agro-economistas Legisladores
Consultores Produtores

Extensionistas

Figura 12 Componentes de um sistema de suporte à decisão para AP usando SIG como ponto
de conexão entre os dados georreferenciados obtidos por sensoriamento remoto, tomada de
decisão e aplicações em campo.
Fonte; Adaptad o d e Wilson (2005). Cortesia: Sérgio Cobcl - Embrapa Algodão.

Bezerra et al. (2010), estudando métodos de determinação da evapotranspiração no


cultivo do algodoeiro irrigado, aplicaram uma metodologia utilizando a relação entre o
coeficiente de cultura duaJ (Kc) proposto no Boletim FA0-56 e o NDVI obtido a partir
de imagens digitais TM Landsat 5, além de comparar os resultados com os valores da
evapotranspiração estimados pela técnica da razão de Bowen. Esses autores concluíram
que a metodologia avaliada propiciou resultados diários e sazonais da evapotranspiração
do algodoeiro com nível de precisão satisfatório, apresentando diferenças inferiores a 10 %,
quando comparadas com as estimativas da técnica de razão de Bowen.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRIC ULTURA DE • • ·
1243

(a) (b)

NDVI
--===---• km
O 10 20 40
--===---- km
O 10 20
+
-10

-1 -0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

Figura 13. Monitoramento do índice de vegetação NDVl na bacia hidrográfica do rio do Peixe, na
Paraíba, em duas datas de passagem do satélite Landsat TM: 29 de agosto de 2008 (a) e 1 de
novembro de 2008 (b).
Fonte: Adaplado de Cunha et ai. (2011).

(a) (b)

O
--===---• km
lO 20
+
-10 --.:=::::::a---~m
O 10 :'.O
+ -10

Te mperatura (em ~q

Ts < 20 21 ?? 23 24 25 26 27 28 29 3l 32 33
Figura 14. Monitoramento de temperatura da superfíc_ie do solo na bacia hidrográfi a do rio do Peixe,
na Paraíba, em duas datas de passagem do satélite Landsat TM: 29 de agosto de _Q (a) e 1 de
novembro de 2008 (b).
Fonte: Cunha e t ai. (2011 ).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1244 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

Sensoriamento remoto na aquisição de dados para SIG na agricultura


O sensoriamento remoto vem se apresentando uma fonte de informação valiosa
no e tudo da variabilidade da fertilidade do solo. Uma das alternativas diz respeito à
su~stituição dos atuais métodos de laboratório pela espech·oscopia de refletâ:ncia difusa
(01_ffw;c_ Rcflcctmicc Spcctroscopy - DRS), que é uma técnica bastante promjssora, não
de trut1va e menos onerosa quando comparada às técnicas analíticas convencionais
(Cezar et ai., 2013). Usando o comprimento de onda do visível, infravermelho próximo
e il~avermelho médio, pesquisadores de várias partes do mundo têm estimado diversos
ah·1butos do solo, como pH, condutividade eléh·ica, teor de C orgâruco, argila, silte, areia,
soma de bases, capacidade de h·oca de cátions, teor de ferro total, além de determinados
nutrientes, obtendo-se 1úveis de exatidão variados nos resultados (Ben-Dor e Banin, 1995).
Sensores hiperespectrais aerotransportados têm provado com boa precisão a utilidade
da espectroscopia no infravermelho próxuno (Nenr Infrnrcd Spectroscopy - NIRS) pai-a
ruscrirrúnar os seguintes ah·ibutos: teor de C orgânico com coeficiente de determinação
(R 2) \ ariando de 0,74 a 0,9; N total com R2 de 0,92; teor de argila com R2 de 0,61 a 071;
teores de areia ou silte com R2 de 0,75 a 0,95; umidade do solo com R2 de 0,64; capacidade
de troca de cátions com R2 de 0,66 a 0,67; pH com R2 de 0,52 a 0,61; e os teores de Ca,
Mg, Na, Cl, K, P com R2 de 0,58 a 0,70 (Ben-Dor et ai., 2002; Selige et al., 2006; De Tar et
ai., 2008; Lagacherie et al., 2008; Stevens et al., 2008). Weng et al. (2008) obtiveram bons
modelos preditivos para o teor de sais no solo, usando sensor hiperespectral a bordo do
satélite Hyperion (R2 = 0,78). Não obstante às perspectivas animadoras, todas as pesquisas
enfatizam o fato de a exatidão da calibração e a correção do sinal serem críticos na obtenção
de resultados de qua]jdade, dependendo assim do processamento dos sinais digitais e de
um geoprocessarnento preciso.
No caso de imagens aéreas, além da apresentação visual de uma área, é possível a
confecção de mapas de forma que agrônomos e gestores possam tomar medidas seguras
a partir de informações bem-discriminadas. Contudo, é importante enfatizar que imagens
aéreas per se não são mapas. Os mapas são representações ortogonais da superfície da Terra,
o que significa que esses são direcional e geometricamente exatos, dentro das limitações
impostas pela projeção de um objeto trirumensional em duas djmensões. Imagens aéreas,
entretanto, apresentam elevado grau de distorção radial, ou seja, a topografia é alterada.
Com a correção dessas distorções, as fotografias aéreas constituem ferramentas poderosas
para estudos do ambiente. As imagens podem se_r georreferenciadas e até transformadas em
mapas exatos por meio de técrucas da fotogrametria. O que há alguns anos era considerado
o produto final da fotogrametria, a carta, é atualmente nada mais do que um conjw1to
de dados que constitui a base cartográfica de qualquer sistema de informação geográfica
(Redweik, 2007), sobre a qual se combinam dados de natureza não geográfica para obter
novas cartas temáticas ou para permitir análises de situações diversas, como as relações
solo-água-planta em agricultura. Sob esse ponto de vista, a fotogrametria constitui hoje
uma das técnicas de aquisição de dados para um SJG.
Alguns dos processamentos usados para imagens de satélite são também utilizados
no tratamento de imagens aéreas e produção de ortofoto, como o georreferenciamento,
que nesse caso não é apenas correção, mas a inserção de coordenadas na imagem digital.
Tem-se ainda o mosaico e a classificação para identificar padrões. Tod avia, alguns pré-
processamentos são diferenciados. A qualidade das imagens obtidas a bordo de uma
aeronave depende da estabilidade da aeronave em voo. Aeronaves em escala reduzida

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · · ·
1245

são menos estáveis e apresentam maior vibração mecânica que as em ta manho _normal.
Quanto menor for o tempo de exposição, maior será a possibilidade de obte r imagen
nítidas com a aeronave em movimento e sujeita a vibrações. De acordo com Jorge _(2003), ª
velocidade da aeronave é um dos principais fatores que interfe-re na qualida~e da im~gem,
que será menos nitida quanto maior a velocidade de voo. Os fatores que influenciam a
qualidade das imagens aéreas obtidas são: sensibi lidade do elemento capturador de
imagem; abertura do diafragma (ou íris); tempo de exposição; condições de ilumínaçã~ do
local; velocidade horizontal da aeronave; vibração linear da aeronave na direção dos e1xo
de arfagem e rolagem; e vibração angular da aeronave em relação aos e ixos de arfagem,
rolagem e guinada.
As imagens aéreas são geradas a partir de uma projeção cônica central, diferentemente
das cartas topográficas que apresentam perspectiva ortogonal (Figura 15). Tai característica
acarreta distorções que podem interferir na qualidade métrica da fotografia, a tal ponto de
inviabilizar seu uso na elaboração de bases cartográficas. As distorções ocasionadas pelo
sistema de projeção das câmeras fotográficas são ractioconcêntricas, de modo que quanto mais
distante os objetos estejam do centro das fotografias, maiores serão as distorções (Figura 16).

,.,:.. \
\
Hv ,.-· \
\
I: \
I _: \
I:
I _:
I :
'' \
·. B
I .:
I :
............( /. . . .. .. . . .. . ·· · · ··· ·· · · · · · ·
h : .:
..
Projeto cônica Projeto octogona l
A

Figura 15. À esquerda, representação esquemática das projeções cônica e ortogonal. À direita,
exposição do deslocamento radial, em que os pontos A e B se encontram na fotografia
(a e b) deslocados da posição que teriam se o terreno fosse plano (a' e b'). A está deslocado
negativamente e B, positivamente; isso é, para fora. Por semelhança de triângulos, corrigem-se
esses deslocamentos.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2002) e Tonm1aselli e Reiss (2005).

Também, frequentemente tem que ser corrigida a distorção de escala ou de rele o.


O denominador da escala da fotografia se define pela divisão da altura do voo (H ) pela
distância focal (f). Todo ponto com altura ctiferente da cota de determinado plano de
referência apresenta uma distorção radial em relação ao centro da foto , di er~do
0
se a
diferença for a mais e, convergindo, se for a menos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1246 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

Figura 16. Efeito de distorção panorâmica. Foto tirada do edifício mais alto de Dubai, o Burj Khalifa,
a 801m.
Fonte: Disponível em: <https:// photogarcthy.fücs.wordprcs .com/ 2012/ 05/ burj-khal ifa-1.jpg>. Acesso: 1l-sete mbro-2017.

Os planos de voos fotogramétricos são projetados de modo que se tenha uma cobertura
completa da área desejada. Para isso, devem ser obtidas sucessivas fotografias, idealmente
verticais e nadirais, que apresentem wna zona de sobreposição, ou seja, a mesma área
da superfície terrestre deverá ser captada e registrada em várias imagens distintas com
sobreposição longitudinal entre 60 e 80 % e sobreposição transversal entre 20 e 30 % do
tamanho da cena, conforme representado na figura 17. Nesse sentido, câmeras digitais
automáticas podem ser programadas em quadros por segundo, dependendo da resolução
que se deseja.

Figura 17. Efeito de sobreposição programad a em voo fotogramétrico.


Fonte: Redweik (2007).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRIC ULTURA DE .. ·
1247

Uma das principais técnicas para correção das dis torções ~ 0 process~ ~e
ortorretilicação das imagens, por meio do qual se realiza a conversão do s istema de pr~Jeçao
das fotografias, passando-se do sistema cônico para o ortogonal. A lém da cor~eçao _do
sistema de projeção, esse processo também possibilita a atenuação de ou t:ª: d• s t0 r~oes
como aquelas relacionadas com o relevo e com variações da estação de exp osiçao .ºc?rnd as
durante o voo. O procedimento de ortorretificação é um trabalho técnico espeCiahzado e
exige uma série de parâmetros e informações que pode ser mais bem entendida a partir das
publicações de Schowengerdt (1997), Gonzalez e Woods (2000) e Liu (2007).
Atualmente, para o monitoramento de culturas e acompanhamento de safras têm
sido utilizadas câmeras digitais com boa resolução, mas que não são métricas. Embora
a maioria das fotografias aéreas utilizadas em mapeamento seja o btida com câmaras
aerofotogramétricas (em geral, 153 mm), muitas aplicações com finalidades agrícolas têm
sido bem sucedidas, adotando-se câmeras de 35 mm e 70 mm embarcadas em pequenos
aviões para o registro e a análise de lavouras. Esse tipo de câmara tem sido chamado de
não métrica ou câmera de pequeno formato, e as imagens obtidas são as fotografi as aéreas
de pequeno formato. Essas câmeras têm sido utilizadas em aeronaves menores ou mesmo
em V ANT e drones Gorge et al., 2014). Além da flexibilidade de coleta de dados q uando o
produtor necessita, pois só depende do operador da aeronave, essas câmeras d.igitais são
de baixo custo, simples de operar, automatizadas e com capacidade de memória suficiente
para armazenar centenas de fotos em um único voo.
O processamento de imagens dessas câmeras deve ser feito por método analítico,
utilizando-se softwares com funcional.idades específicas. De acordo com Vasco e Ribeiro
(2000), esse método pode alcançar a mesma exatidão dos métodos convencionais da
fotogrametria. Embora tenha a vantagem da rapidez na obtenção e armazenamento dos
dados, o uso de câmeras fotográficas de pequeno formato apresenta como desvantagens a
necessidade de um número maior de imagens para recobrir a área desejada, as distorções
geométricas maiores, a dificuldade de conseguir a superposição planejada em razão das
variações de velocidade durante o voo e a dificuldade de estabilização do voo Oorge, 2003;
Silva et ai., 2005).
Jorge (2003) apresentou uma metodologia para tratamento das distorções provocadas
por variações de velocidade e de estabilização do voo de imagens obtidas com câmeras
digita.is a bordo de aeromodelos. No trabalho desse autor, observou-se que, apesar do
descarte de muitas cenas por causa de problemas de n.itidez, inclinação inadequada ou
iluminação insuficiente, foi possível identificar áreas atacadas por doenças e pragas em
culturas como soja, milho, eucalipto, cana-de-açúcar e citros (Figura 18). Procedimentos
similares podem ser adotados para mon.itorar e diagnosticar fatores que influenciam
os padrões visuais da superfície do solo e da condição nutricional das lavouras, sendo
aplicáveis para definir práticas de conservação do solo e da água, manejo da cobertura
vegetal, locais para amostragens direcionadas no campo e apoio para delimitar zonas para
manejo com AP.
Após o georreferenciamento, as imagens devem ser aprimoradas para interpretação
visual e confecção de mapas. Todo o processamento e mapeamento dos dados fom,arão a
base do SIG, que, por sua vez, armazenará as iJúormações necessárias à tomada de decisão
emAP.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1248 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

Figura 18. Emprego de imagens aéreas, obtidas a partir de câmeras digitais em aeromodelos, para
identificar áreas anormais em lavouras. À esquerda, imagem da cultura de citros tomada a 50
m de altura, evidenciando a presença de plantas afetadas pela doença " declínio dos citros" . À
direita, lavoura de soja com área afetada por nematoides.
Fonte: Jorge (2003).

USO DE SENSORES NA CARACTERIZAÇÃO DO


POTENCIAL PRODUTIVO E DEFINIÇÃO DE UNIDADES DE
MANEJO DO SOLO E DAS CULTURAS

Desde os primeiros trabalhos de AP no Brasil, na década de 1990, a geração e o uso


de novas ferramentas e tecnologias tornaram-se mais acessíveis. Esse processo ficou
dinâmico de tal maneira que, o que num dado momento é novidade, pode ser considerado
ultrapassado em curto espaço de tempo. As primeiras aplicações da AP no País iniciaram
pelo conhecimento da variabilidade dos atributos do solo e interpretação de mapas
diagnósticos georreferenciados para aplicação de fertilizantes e corretivos em taxa variável.
A importação da tecnologia de amostragem de solos em grade regular (grid) de países
que já adotavam a AP trouxe nova maneira de compreender as variabilidades e tratá-
las de forma diferenciada. De acordo com Borghi et ai. (2010), essa tecnologia de manejo
do solo tem se tornado importante em todas as regiões produtoras, principalmente por
viabilizar o uso mais racional de insumos, o que não necessariamente implica na redução
de doses, mas sim em ajuste nas quantidades de nutrientes conforme a real demanda em
diferentes partes de uma plantação. Isso contribui para maximizar a expressão do potencial
produtivo das culturas. Nessa lógica, deve-se levar em consideração o maior conjunto de
variáveis possível para interpretação, visando aumentar a segurança na tomada de decisão
de manejo.
Atualmente, a base tecnológica já se difundiu e parcelas expressivas dos produtores
de grãos dos principais polos agrícolas brasileiros adotam alguma modalidade de AP
(Bernardi e Inamasu, 2014). Porém, no inicio, o uso de maquinário equipado com GPS,
sensores e monitores, mapas georreferenciados, entre outras novidades, causou muitas
indagações sobre a sua viabilidade econômica nas fazendas. Embora ganhos agronômicos
fossem perceptíveis em algumas situações, a necessidade de integração de conhecimentos
com outras áreas da engenharia foi o ponto de estrangulamento entre a decisão de adotar
ou não a AP em maior escala (Zhang e Kovacs, 2012). Com o tempo, baixaram os custos
de equipamentos, e diversas vertentes da AP passaram a ser vistas com mais confiança

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · · ·
1249

e e ntusiasmo. Com isso, mui tos produtores se tornaram ávidos por novas tecnologias,
bu scando maior eficiência na gestão das propriedades. Por sua vez, a indústria de má~uina
e equipamentos, para atender a esse mercado, tem desenvo lvido inovações para satisfazer
aos anseios dos produtores por redução de mão de obra e custos, com concomitantes
ganhos de produtividade, de modo a obter maior rentabilidade num cenário agríco la cada
vez mais competitivo.
Sensores utilizando diferentes princípios de fu ncionamento vê m sendo desenvolvidos
para auxiliar na interpretação de fatores condicionantes à produtividade das cu ltu ras. Hoje
existem sensores para atender aos mais diversos objetivos, desde a pesquisa científica até
aplicações em larga escala cobrindo grandes extensões territoria is.
Sensores de solo e plantas, portáteis ou embarcados em satélites, aviões, VANT (Figura
19) e máquinas agrícolas se tornaram grandes aliados dos profissionais e são assimilados
rapidamente pelo setor produtivo que trabal ha com maior nível de investimento.
Multiplicaram-se os modelos de VANT e drones, assim como os novos equipamentos neles
acoplados, atendendo a urna gama de funcionalidades em diversos segmentos (Zhang
e Kovacs, 2012). De acordo com Reetz Junior (2014), embora já utilizados em diferente
explorações na agricultura, há grande campo onde os VANT poderão ser úteis num
futuro próximo, como na aplicação de regulagores de crescimento e no monitoramento
de moléstias em plantas, visando minimizar o uso de produtos químicos nas lavoura .
Por esses veículos estarem cada vez mais sofisticados e robustos, podem ser progra mados
para seguir rotas determinadas e, sem a necessidade de intervenções humanas, realizar o
trabalho de forma mais ágil e eficiente.

Figura 19. Veículo aéreo não tripulado 0/ ANI) sobrevoando área de milho em São Cario , SP.
Foto: Embrapa Instrumentação Agropecuária.

De acordo com Zhang et ai. (2002), são vários os tipos de sensores utilizado em AP. o
diagnóstico de solos e o monitoramento do esta~o nutricional de plantas e da produ ti idade,
visando aperfeiçoar o manejo das adubações, m.tegram os principais focos de aplica ·ão de
sensores na agricultura. Jorge e Inamasu (2014) mencionaram possibilidades de ~so de

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1250 ÁLVARO VILELA D E RESENDE ET AL .

diferentes sensores embarcados em máquinas e implementas, como sensores a ti vos (para


detecção de r~~etâ ncia do dossel de plantas e NDVI), câmeras multiespectrais (d etecção de
esb·esse nub1c1onal, índices fisiológicos e es h·utura da copa), câmeras térm icas (detecção
de estresse lúdrico e uniformidade de irrigação) e câmeras RGB (detecção de falhas de
semeadura, desenvolvimento da cultura, formação da planta e modelo de elevação do
terreno). Esses equipamentos funcionam com base na espectroscopia de refletância, ou
seja, em medidas da reflexão da radiação eleh·omagnética após interação com diferentes
superfícies, considerando comprimentos de onda preestabelecidos, oriw1dos do chamado
espectro refletido, na região do visível (VIS - 0,4 a 0,7 ~tm), infravermelho próximo (NIR
- 0,7 a 1,3 µm) e infravermelho de ondas curtas (short wave infrnred - SWlR - 1,3 a 2,5 ~tm).
Segundo esses autores, sensores que trabalham em diferentes comprimentos de onda
podem ser acoplados aos V ANT, criando enorme leque de possibilidades d e aplicação
na agricultura, como captar imagens no espectro visível para quantificar a biomassa, no
infravermelho para detectar estresses nutricionais, na faixa termal para evidenciar estresses
lúdricos, além de imagens hiperespectrais para identificar cobertmas vegetais, presença de
doenças e outras características das plantas.
Um grande avanço almejado refere-se à possibilidade de detecção e correção de
deficiências nutricionais durante o ciclo de desenvolvimento de culturas anuais, mas sua
implementação no campo ainda não está completamente dominada. Nas culturas de trigo,
milho, algodão e cana-de-açúcar, sensores estão sendo validados, buscando ganhos de
eficiência no manejo da adubação nitrogenada de cobertura no Brasil (Amaral e Molin,
2011; Bragagnolo et al., 2013a,b; Pires et ai., 2014; Shiratsuchi et al., 2014). Existe uma gama
de sensores para avaliar a nutrição nitrogenada em plantas, sendo comuns os manuais
(Figura 20) e os embarcados em tratores (Figura 21). Um dos desafios tecnológicos a serem
superados refere-se ao desenvolvimento de algoritmos de calibração dos equipamentos
para utilizar em diferentes culturas e sistemas de produção.

Figura 20. Equipamentos com sensores para o manejo de ferti~za~ã~ com nitrogênio. Clorofilômetro
SPAD®(esquerda) e sensor ativo de dossel Green Seeker (direita).
Fotos: Álvaro Resende.

Considerando a inexistência d e métodos de análises de solo disponíveis em rotina


para predição d e resposta à adubação nitrogenada no Brasil, o monitoram ento das plantas
por m eio d e sensores tem d e~pertado cres~ente_ int: resse, visand_o m a ior e~ciên cia no
fornecimento d e N, cujo maneJO tem fortes 1mphcaçoes no potencial d e rendimento das

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRICULTURA D E · · ·
1251

culturas, além de impactar nos aspectos econôrrucos e ambientais. A técnica de a~aJiação


do conteúdo relativo de clorofila nas fo lhas pode ajudar os agríc ulto:es no aJ USle da
quantidade de N a ser aplicada em cobertura. Hurtado et ai. (2011 ), validando O uso do
clorofilômetro como medida indireta do estado nutricional das plantas, para detectar e
corrigir a deficiência de N ao longo do ciclo vegetativo da cultura do milho, c?ocluíram
que o monitoramento com base naquele sensor indicou a necessidade d~ fomecime~t~ de
até 180 kg ha·1 de Nem cobertura, ultrapassando as quantidades requendas para maxUTia
eficiência técnica (144 kg ha·1) ou econômica (105 kg ha·1) . Esse resultado demonstra que 0
uso de ferramentas de precisão pode, em deterrrunadas situações, incorrer em a umento no
gasto com adubação .

..Jml•MM
1 Sensoriamento I Sensoriamento

Figura 21. Modelo esquemático de sensor de dossel acoplado a um trator agrícola para monitorar em
tempo real a biomassa de plantas.
Fonte: http://ag.topconpositioning.com/pt-br/ ag-produtos/ cropspec.

Sensores ópticos de refletància devidamente calibrados são capazes de mapear a


biomassa da parte aérea das plantas e, indiretamente, diagnosticar a quantidade de
demandada pela cultura naquele local e momento, viabilizando a aplicação de fertilizante
à taxa variável em tempo real (Molin, 2014). Povh et ai. (2008) trabalharam com um sensor
ótico ativo avaliando o comportamento do NDVI nas culturas de trigo, triticale, cevada e
milho, em diferentes experimentos nos Estados do Paraná e de São Paulo, concluindo que
as três primeiras culturas apresentaram resposta à aplicação de doses crescentes de r , com
consequentes aumentos nas leituras de NDVI, nos teores de N foliar e na produtividade.
Assim, o uso do NDVl apresentou alto potencial para manejo do r nas culturas do
trigo, triticale e cevada, e menor potencial no milho. Nessa cultura, há dificuldade em
sincronizar o momento em que os sensores de dossel são mais eficientes com os estádios
em que há viabilidade operacional de entrada de maquinário na lavoura para aplicação
de N em cobertura. Normalmente, essa entrada é possível até o estádio 8 (oito folhas
completamente desenvolvidas), mas os sensores permitem discriminar plantas de milho
normais e deficientes somente em estádios mais adiantados de desen olvirnento, com
melhor diagnóstico em V10 (Povh, 2011), quando o trânsito de máquinas já pro oca
quebramento de plantas.
Um dos principais entraves da AP no manejo do solo é o ele\ ado cu sto de coleta e
análise de grande número de amostras para representar adequadamente sua ariabilidade
espacial. De acordo com Molin (2014), a qualidade do diagnóstico d os n.íveis de fertilidade
do solo por meio de amostragens _georre~erenciadas co_ntinua gerando polêmica, pois,
d ependendo do ambiente de produçao a_nahsado e?º nutriente, há variações na quantidade
de a mostras considerada representativa para interpretar a disponibilidade daquele

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1252 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

nu~·iente. Em muitas ituaçõe , a quantidade de amostras que vem sendo utilizada não
é a 1deaJ . O autor enfatizou que seguir a recomendação científica é caro e demorado, mas
negligenciá-la pode tornar a prática pouco eficiente e sem o retorno esperado. Assim, o u so
de sensores capazes de coletar dados de solo em alta densidade certamente contribuirá para
o aperfeiçoamento do processo de amosh·agem de solo, aumentando a confiabilidade dos
diagnósticos e, consequentemente, a eficiência das intervenções de manejo sítio específico.
lesse sentido, o mapeamento do solo por meio de sensores ten1 crescido em razão da
robustez dos equipamentos, do baixo custo e da possibilidade de interpretar resultados
de diferentes atributos que permitem o planejamento e a gestão do manejo em níveis
métricos no campo (Zhang et al., 2002). Assim como os sensores utilizados em plantas, no
mercado já existem sensores para serem utilizados tanto manualmente quanto embarcados
em maquinário. Os primeiros sensores para uso no solo avaliavam a heterogeneidade por
meio da refletância da cor do solo na porção visual do espectro (Frazier et al., 1997). Anos
depois, o uso de imagens aéreas e de satélites foi sendo melhorado e ampliado, permitindo
aumentar o nível de informação sobre o solo por meio do reconhecimento de padrões
existentes em outras variáveis como a paisagem, o relevo e a topografia.
Adamchuck et al. (2004) mencionaram a existência de opções de sensores elétricos,
eletromagnéticos, óticos, radiométricos, mecânicos, acústicos, pneumáticos e eletroquímicos
para avaliar variáveis de solo existentes nas mais diferentes condições de uso e manejo.
Cada um deles é voltado à avaliação de atributos específicos do solo, podendo-se, porém,
integrar os resultados para permitir maior conhecimento das relações solo-planta. Alguns
sensores permitem avaliar, simultaneamente e em tempo reaJ, mais de um atributo, como
textura do solo, teor de matéria orgânica, salinidade, compactação, pH e teores de N03e K.
Sensores para leitura da refletância espectral no comprimento de onda do infravermelho
próximo (NIR) são utilizados em larga escala para analisar o conteúdo de matéria orgânica
e a umidade do solo em diferentes profundidades (Hummel et al., 2001). Equipamentos
como o espectroradiómetro (Figura 22) têm sido testados no Brasil para avaliar a refletância
espectral do solo e de plantas na faixa NIR.

figura 22. Dois mode los de espectroradiomêtros portáteis acoplados a notebooks para leitura e
a rmazenamento de dados em tempo real.
Fotos: Valdinei Sof1a t-ti e Ziany Bra nd ão.

Os sensores para medir a condutividade elétrica do solo têm permitido m a ior


conhecimento sobre a lgumas limitações existentes nos ambientes d e prod ução agrícola

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRICULTURA DE • · · 1253

(Zhang et aJ., 2002). A condutividade elétrica aparente funci ona como bom indicado r para
o monitoramento de atributos do solo como salinidade, textura, umidade, densidade, teor
de matéria orgânica e CTC. De maneira geral, quanto maior o teor de a rgila, maior a rnedi_d a
de condutividade elétrica, pois as partículas dessa fração conduzem mais corren te elétrica
do que a areia ou o silte. De forma análoga, em condições de mais umidade e presença de
sais, há maior condutividade elétrica. Desse modo, a condutividade elétrica aparente pode
auxiliar no reconhecimento de zonas com maior potencial de lixiviação, indicação de doses
de herbicidas, definição de bordas em classificação de solos, classes de drenagem, recarga
de lençol freático, entre outras (Moline Rabello, 2011).
Basicamente, um equipamento para avaliar a condutividade elétrica mede, por meio
de eletrodos carregados eletricamente, as ondas magnéticas que são trans mitidas em
razão do potencial elétrico do solo (Figura 7). Um sistema georreferencía as medições
com um receptor GPS e armazena os dados coletados a intervalos de um segundo em
formato digital. Portanto, é possível obter alta densidade de dados por área, permüindo
produzir mapas detalhados da condutividade elétrica do solo (Figura 23) e correlacionar
com outras variáveis de interesse. Combinando os sensores de condutividade elétrica com
um penetrômetro, é possível mapear possíveis restrições ao desenvolvimento radicular ou
permeabilidade a água e disponibilidade de nutrientes no perfil do solo (V eris Tech.nologies,
2015).

CE - 30 cm (mS/ m): CE - 30 cm (mS/ m):


• (2,0 - 6,0( • (3,0 - 6,2[
D (6,0 - 8,5( D (6,2 - 7,8[
(8,5-10,0( (7,8 - 10,0[
• (10,0 - 25,0) • [10,0 - H ,0)

Figura 23. Condutividade elétrica aparente (CE) do solo a 30 cm de profundidade, medida com 0
sistema Veris 3100®, a distância de 25 m (a) ou 7,5 m (b) entre passadas, para detemúnar zonas
de manejo em área de integração lavoura-pecuária.
Fonte: Adaptado de Perez e t ai. (201-1).

Quando se fala em sensores, é preciso lembrar que no Brasil ainda existe certo
c01úundimento entre os s~ns~res_ util~ados para m~~ear informações de solo e planta com
aqueles embarcados pela mdustna agnc~la para fac1h~ar a operacionalidade do maquinário.
Como exemplo, os controladores d~ sessao em p~Jvenzador:s são equipamentos acoplado
naqueles implementes, mas que nao tem sua açao necessariamente oltada para aplicação

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1254 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

seguindo alguma 'ariabilidade exi tente no terreno. Nas semeadoras ocorre esse mes mo
co1i.fundimento, poi são oferecidas aos produtores semeadoras com dispositivos de
controle de fluxo de fertilizantes e de distribuição de sementes como sendo mecanismos
para a AP, mas que na verdade operam independentemente da variabilidade do terreno
(Adamchuck et ai., 2004).
As verdadeira semeadoras de precisão apresentam mecanismos em cada linha
de cultivo que, juntamente com softwares específicos, controlam. e variam a distribuição
das sementes ou fertilizantes em razão de outras informações coletadas anteriormente
(produtividade, fertilidade do solo, condutividade elétrica, penetrometria etc), permitindo
modificar a população de plantas ou a adubação em cada local da lavoura de forma
conveniente. Tem-se buscado, a partir da integração de mapas temáticos diversos, auxiliar
na delimitação de zonas de manejo homogêneas, que receberão deposição de sementes
e nutrientes de acordo com as variabilidades existentes entre elas (Luchiari Junior et ai.,
2011).
Por fim, merece destaque a possibilidade de se usarem sensores para mapear a
produtividade durante a operação de colheita, os quais já são disponibilizados para
culturas de grãos, algodão e cana-de-açúcar, por exemplo. Para grãos, essa tecnologia está
bem consolidada, e as rotinas para sua utilização já foram devidamente estabelecidas.
Sensores de produtividade acoplados às colhedoras possibilitam obter mapas de colheita
e visualizar o desempenho produtivo das culturas de forma espacializada ao longo dos
talhões, a partir do registro de dados em alta densidade durante o deslocan1ento da
máquina, garantindo elevada representatividade e confiabilidade.
Considerando-se os fatores que influenciam a produtividade e a importância dos mapas
de colheita nas tomadas de decisões para cultivos posteriores, muitos autores defendem
não só a geração do mapa de uma safra, mas a necessidade de criá-lo dentro de um sistema
de gestão que armazene uma base histórica de alguns anos (Molin, 2002; Milani et al., 2006;
Suszek et al., 2011; Santi et al., 2012, 2013). Assim, as informações coletadas em diversas
safras são avaliadas para se chegar a uma conclusão plausível a respeito de um problema
especifico. Dessa forma, os mapas de produtividade também possibilitam a avaliação dos
efeitos de diferentes práticas agrícolas na produção, auxiliando em atividades de pesquisa
ou em testes de campo realizados pelo próprio agricultor.
As informações dos mapas de colheita expressam o comportamento final dos cultivos
frente à combinação de todos os fatores que influenciaram o seu desenvolvimento. A
construção de um histórico desses mapas no decorrer de urna série de safras permite
identificar padrões de variação da lavoura que não seriam detectados pelo mapeamento
de outras variáveis isoladas. Assim, subáreas com padrões de produtividade contrastantes
e estáveis ao longo das safras indicam locais que devem receber maior atenção para
diagnósticos direcionados e manejo sítio específico das causas de variabilidade da
produção. Sem dúvida, o mapeamento das colheitas é uma etapa crucial para se avançar
no gerenciamento das propriedades com base na AP (Santi et ai., 2009). Não obstante,
mesmo quando dispõe de colhedoras equipadas com sensores, a maioria dos produtores
brasileiros ainda não reconhece o real valor dos mapas de produtividade.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · · •
1255

MANEJO DA ADUBAÇÃO POR MEIO DA AGRICULTURA


DE PRECISÃO

Em razão do caráter ácido e das baixas reservas de nutrientes natura lmente disponíveis
nos solos tropicais, o uso de corretivos de acidez e de fertilizantes representa o conjunto
de práticas agronômicas que mais impacta a produtividade e o cus to de pro_d _ução da
agricultura brasileira. A necessidade de aplicações frequentes desses insumos e a dificuldade
de se dimensionarem exatamente as quantidades requeridas ao longo do tempo, em
condições diversas de fertilidade do solo e culturas, implicam em risco de aportes sub ou
superestimados. As duas situações têm reflexo na sustentabilidade dos ambientes agrícolas,
seja pela restrição ao potencial produtivo quando há fornecimento subótímo de nutrientes,
seja pela possibilidade de contaminação ambiental quando são feitas aplicações excessivas.
A ação antrópica sempre visa uniformizar as áreas de cultivo numa condição de
fertilidade do solo favorável ao desenvolvimento vegetal, mas tal objetivo ra ramente
é alcançado de forma plena, por causa da dificuldade de controle exato das operaçõe
relacionadas ao manejo das lavouras, especialmente em talhões de grande extensão. Assim,
por mais que se prime pela qualidade, não é possível ficar imune a problemas de regulagem
de equipamentos distribuidores de fertilizantes, entupimentos, erros de aplicação, falhas
de estande de plantas, variações de produtividade, entre outros. Esses problemas acabam
por influenciar aleatoriamente os fluxos de entrada (adubação e ciclagem de nutrientes das
palhadas) e saída (remoção na colheita e perdas do sistema) de nutrientes em diferentes
pontos da lavoura, fazendo com que as variabilidades espacial e temporal da fertilidade
do solo sejam não apenas inerentes aos ambientes de produção, mas influenciadas pelas
intervenções antrópicas. Os agricultores devem aprender a conviver com a variabilidade
e manejá-la da melhor forma possível, pois, na realidade, se está constantemente gerando
novas variabilidades ou "manchando" os solos.
Os procedimentos requeridos para que se possam manejar as variações da fertilidade
do solo necessariamente iniciam-se por um diagnóstico do estado atual das condições de
acidez e disponibilidade de nutrientes, o que geralmente demanda conhecer também a
textura do solo. Esse diagnóstico é feito a partir de uma amostragem no campo, segundo
critérios que garantam boa representatividade das amostras a serem analisadas em
laboratório. No sistema de amostragem tradicional, se utiliza uma ou poucas amo tras
compostas para representar um talhão de cultivo, o que permite obter informações sobre a
condição média de fertilidade do solo, a partir da qual se definem doses fixas de corretivos
e fertilizantes a serem distribuídas ao longo de todo o talhão. Essa abordagem corresponde
ao chamado "manejo pela média da lavoura", que, obviamente, não considera de forma
satisfatória as variações de fertilidade normalmente existentes dentro de uma p lantação e
favorece erros de dimensionamento, a menos ou a mais, em relação à real necessidade em
diferentes partes da lavoura.
A possibilidade de se georreferenciar os locais amostrados abriu caminho para
realizar diagnósticos particularizados em diferentes pontos do talhão, cujos dados podem
ser interpolados para visualização na forma de mapas, com a finalidade de e adotar 0
m anejo localizado ou sítio específico de atributos relacionados à acidez e disponibilidade
de nutrientes no solo. Desse modo, pa~tes do t~_lhão ~ue apresentam distintas condições
químicas no solo devem receber quantidades diferenciadas de corretivo e fertilizante',
que constitui a essência do manejo da fertilidade na abordagem da agricultura de precisão.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1256 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

.. idei_a de adubar com quantidades de nutTientesquecoincidam com os requerimentos


nut:ric1ona 1s das culturas e que estejam de acordo com a capacidade de estocagem que
o ~ts~ema. ~!?-planta suporta, sem excedentes sujeitos a perdas, foi um dos principais
obJehvos u:u~1a1s da AP en1 outros países. Em diversas regiões produtoras no mundo,
busca-se nuttgar problemas ambientais relacionados à aplicação de fertilizantes, quando há
propensão de nutrientes serem mobilizados em processos de erosão do solo, escoamento
superficial de água, lixiviaçâo ou volatilização, passando a atuarem como poluentes de
mananciais hídricos e da atmosfera. O uso de adubos nitrogenados sem critérios é um
dos fatores que acarretam riscos de contaminação de águas subterrâneas por lixiviação de
nitrato (Redulla et ai., 1996; Varvel et ai., 1997; Ferguson et ai., 1999, 2002; Luchiari Junior
et ai., 2004). Também, a quantidade e forma de aplicação de fertilizantes fos fatados podem
fa, orecer a eutrofização de águas superficiais quando há carreamento de sedimentos por
escoamento superficial ou erosão do solo (Snyder et ai., 1999).
Uma amostragem para detectar os padrões de variabilidade espacial, que indique
com fidelidade as regiões da lavoura que apresentam níveis deficientes ou excessivos para
atributos químicos do solo, habitualmente envolve alta densidade de pontos amostrais,
o que encarece muito o processo de diagnóstico pelo custo de coleta e análise de grande
número de amostras. Nesse sentido, passados cerca de 30 anos desde as primeiras inciativas
de se aplicar a AP no manejo de solos, ainda persiste a busca por estratégias mais eficientes
e baratas para caracterizar a variabilidade espacial nos ambientes de produção.

O problema da amostragem de solo na agricultura de precisão


las lavouras do Brasil, tem-se coletado amostras georreferenciadas dispostas em
grade amostral (grid), com tamanho de quadrículas variando entre 2 e 10 ha (Resende et
al., 2014b), com crescente conscientizaçâo de que quadrículas maiores que 3 ha são pouco
efetivas para fins de agricultura de precisão. Os resultados das análises em laboratório são
processados por meio de programas de geoestatística e geoprocessamento, elaborando-
se mapas interpolados que representam a variação espacial nos valores de cada atributo
analisado. De posse dos mapas de determinados atributos (teores de P, K e saturação por
bases, por exemplo), são gerados mapas de prescrição de fornecimento de fertilizantes e
de calcário, de acordo com a mudança na condição de fertilidade de um local para outro
dentro do talhão. Existe maquinário capaz de variar, automaticamente, a aplicação desses
insumos no campo, em conformidade com os mapas de prescrição. O conjunto dessas
etapas é designado pelo termo em inglês Variable Rate Technology (VRT), que pode ser
traduzido como "tecnologia de adubação a taxa variável".
A etapa de amos tragem de solo para AP é passível de críticas porque nem sempre
oferece resolução satisfatória, podendo acarretar falhas no mapeamento d e a tributos de
solo e levar a tomadas de decisão equivocadas ou pouco efetivas para o refinamento que
se busca com o manejo sítio específico. O usuário deve definir o esqu ema de amostragem
com custos viáveis, mas sem prejuízo dos critérios técnicos, uma vez que os procedimentos
utilizados interferem nas etapas posteriores de processamento dos dados por geoestatística
e SJG, podendo implicar em erros de interpretação, culminando com manejo inadequado
da lavoura e insu cesso no uso da AP.
Trabalhos realizados em solos brasileiros (Machado et ai., 2004; Cora e Beraldo, 2006;
Resende et a i., 2006; Barbieri et ai., 2008; Montanari et ai., 2008; Gimenez e Zancanaro,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQUE DA AGRICULTURA DE .. · 1257

2012; Cherubin et ai., 2014a,b) comprovam a dificuldade de garantir a confiabilída~e em


diagnósticos espacializados de astributos químicos da fertilidad e do solo. Há neces idade
de grades amostrais relativamente densas, em muitos casos com mais de uma amoSlTa por
hectare, totalizando grande número de amostras a ser analisado para que se possa captar
a real variabilidade do solo nas lavouras (Coelho, 2003; Machado et ai., 2004, Resend e et ai.,
2006). Desse modo, a quantidade de amostras ideal sob o aspecto geoestatístico geralmente
é inviável na prática da AP nas fazendas. Como medida para diminuir custos, é comum o
uso de amostragens de baixa densidade.
Na região dos Campos Gerais do Paraná, Machado et ai. (2004) estudaram uma área
de 13 ha em Latossolo Vermelho distroférrico, concluindo que seria necessá ria a coleta
de 14 amostras por ha, a fim de representar a variabilidade dos atributos do solo naquele
talhão. Resende et ai. (2006) avaliaram amostragens em grades com tamanho de quadrícula
variando de 0,25 a 9,0 ha em lavoura no cerrado do entorno do Distrito Federal, obtendo
dependência espacial para os principais atributos de fertilidade em quadrículas de até 2,25
ha, exceto para o teor de P, que só apresentou dependência espacial na amostragem mais
densa, com tamanho de quadrícula de 0,25 ha. Geralmente, atributos como textura, teor de
matéria orgânica, pH, teores de K, Ca e Mg tendem a apresentar gradiente de variação com
maior continuidade espacial, ao passo que os teores de Pede micronutrientes expressam
alta variabilidade espacial a curta distância (Couto; Klamt, 1999; Santos et ai., 2001;
Montezano et ai., 2006; Resende et al., 2006; Amado et ai., 2009).
Na comparação de tamanhos de quadrícula para amostragem de um talhão, mesmo
quando se encontra dependência espacial na análise dos dados, os mapas diagnósticos
obtidos podem expressar conformações de zonas muito distintas de disponibilidade de um
dado nutriente (Figura 24), o que implicaria em divergências entre os respectivos mapas de
prescrição para a adubação a taxa variável.
A descrição do comportamento espacial por meio da geoestatística constitui uma
abordagem mais eficiente para atributos cuja variabilidade deriva de processos naturais,
associados à formação do solo, e que tendem a permanecer estáveis ao longo do tempo,
como a textura e a mineralogia. No caso de atributos químicos, ocorrem oscilações espaciais
e temporais causadas pelo próprio uso agrícola do solo, adubações e manejo geral das
culturas, gerando variabilidades aleatórias e de baixa continuidade espacial. Variações
pontuais originam amostras discrepantes e sem expressão em termos de área (outliers}, as
quais podem distorcer os mapas diagnósticos. Assim, dificilmente os padrões espaciais
encontrados para os atributos químico de fertilidade do solo numa área são extrapoláveis
para outras ou se mantêm inalterados com o passar do tempo. Portanto, 0 manejo da
adubação em AP deve ter perspectiva de ajustes contínuos ao do tempo, utilizando-se
não apenas de amostragens periódicas do solo, mas de toda ferramenta que ao-regue
informações sobre a variabilidade espacial e temporal do talhão (Resende et al., 2014b).
Apesar dos relatos de ganhos econômicos imediatos proporcionados pela amostragem
georreferenciada seguida da aplicação de corretivos e de fertilizantes à taxa variável
(Menegatti et ai., 2006; Souza et ai., 2007; Campos et ai., 2008; Coelho, 2008; Luz et al.,
2010;), tal retorno não ocorre em qual~uer condição de solo e manejo das culturas (W ilda,
2014), assim como não se pode garantir que os casos de sucesso inicial continuarão dando
retomo financeiro com a adoção dessa modalidade de AP em longo prazo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1258 ALVARO VILELA DE RESEND E ET AL.

~ ~,.-,,J1..• 0,2.r. h.,


1:!1 - 144 K sr,ldC" 1.fl h.,
144 · 1/.S - 110-131
lf,S · 191 DI - IS1
191 - -21S 15J - 175
215- 2..'\~ 175- 197
2..1.~ - ~hl 197 · 219

1
21,1 -:!S.S 21º·240
h-5. ~ 2-10 • 2[,2
~ - 2~J 262 · 2i'l
28-1 - '.'OI,

K • d(• 2.25 ha
1:11 -15-l K grado 4.0 h.,
154 . 17!;
D J- 152
178- :?fll 152 - 172
2!11 • 224 172 - 19 1
- 224 - 2-18 191 · 21 1
- 2-18-271 ~li - 2.10
- 271 - 29-1 230 - 250
- 29-1 -318 250-269
- 318- J-II 269 - :l;S
- 288 -308

N
_ _ _ _ _o
IXXl _ _ _ __.,
ITTi
.,;;,__ _ _.:.:;;1
200 melros +

Figura 24. Teores de potássio (K, em mg dm-3) no solo obtidos a partir de amostragens em grades
com células ou quadriculas de 0,25 ha (a); 1,0 ha (b); 2,25 ha (c); e 4,0 ha (d), que resultam em
diferentes conformações das zonas de maior e menor disponibilidade do nutriente.
Fonte: Resende et al. (2006).

Ainda são frequentes falhas operacionais não percebidas por agricultores e técnicos
nas aplicações à taxa variável. Tais falhas precisam ser corrigidas ou minimizadas, conforme
enfatizado por Gimenez e Zancanaro (2012) ao chamarem atenção para os problemas de
calibração e as limitações mecânicas de equipamentos centrífugos de distribuição a lanço
de corretivos e fertilizantes utilizados por muitos produtores na implementação de doses
variáveis desses insumos. O ideal é que o coeficiente de variação entre as quantidades
de determinado produto distribuídas em diferentes pontos na largura de passada do
equipamento (perfil de aplicação) fique abaixo de 15 %. Para isso, é preciso aferir as
regulagens por meio de testes com coletores em condições de campo, para os diferentes
produtos e doses que se desejam aplicar. Há também limitações de alguns equipamentos
quanto a defasagens de tempo de resposta na mudança de doses, para mais ou para menos,
durante as aplicações a taxa variável. Processos de segregação por tamanho e densidade de
partículas d.ificuJtam obter uniformidade nas aplicações a lanço de corretivos e fertilizantes,
em especial de adubos NPK do tipo mistura de grânulos (Fulton et ai., 2013). Portanto,
depreende-se que, por mais que se busquem homogeneidade e estabilidade das condições
de fertilidade do solo por meio da AP, ainda existirão variações involuntárias induzidas
pela atividade humana nos ambientes de produção agrícola.
Embora ainda haja obstáculos técnicos e operacionais a serem superados, os benefícios
potenciais d.a AP no manejo da fertilidade do solo são muito relevantes e, com a contínua

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB O ENFOQU E DA A GRICULTURA DE · · •
1259

evolução do aparato tecnológico disponibilizado no mercado, diferentes ~~0 rd ªgens


constituirão alternativas para O agricultor aprimorar os procedimentos uttltzados na
fazenda. Muito desse ferramental e das estra tégias de obtenção e processamento de_dad~s
para tomada de decisão no gerenciamento da variabilidade do solo ainda requer vahdaçao
em condições de lavouras comerciais no Brasil. É preciso cons iderar tamb m q_ue a
aplicação das tecnologias de AP pressupõe certo nível de capacitação técnica e operacional
nas diversas etapas compreendidas desde O planejamento de amostragens, proc~ssamen to
de dados, decisão de intervenções no manejo das lavousas, operação d e equipa mentos
agrícolas com eletrônica embarcada, até a análise do desempenho técnico e econô mico
resultante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe consenso de que o manejo de solos com AP não deverá se limitar às prá ticas de
amostragem georreferenciada e à adubação em taxa variável, como ainda ocorre na maioria
das áreas produtoras no Brasil. Deve-se avançar, agregando melhor controle operacional e
abordagens aperfeiçoadas. Espera-se melhor integração dessas duas práticas com outras,
como o monitoramento do vigor vegetativo das culturas por sensores proximais ou remoto
e as imagens aéreas ou de satélite, mapeamento de colheitas, sistemas guiados por satélite
para o controle de tráfego de máquinas no campo, semeadura à taxa variável, entre outras.
Embora complexa, a efetiva integração dessas tecnologias converge para a composição de
um processo gerencial mais completo das lavouras, que certamente contribuirá para maior
eficiência de uso dos recursos solo e água, aumentando a sustentabilidade na propriedade
agrícola.
Uma vertente promissora é a integração espacial de fatores determinantes da
produtividade das culturas, com a organização de multicamadas de dados relacionados a
tais fatores, em multianos de monitoramento dos talhões, de modo a catalisar informações
mais consistentes para a tomada de decisão de manejo agronômico (Figuras 25 e 26). Essa
lógica parte da premissa de que diferentes locais dentro de uma lavoura apresentam
potencial produtivo distinto em decorrência da interação de atributos intrínseco (relevo,
mineralogia, textura, capacidade de retenção de água e nutrientes, profundidade do solo,
drenagem e microclima) e extrínsecos (histórico de uso e manejo, sequ ência/ rotação de
culturas, práticas conservacionistas e efeitos benéficos ou detrimentais da ação antrópica).
A resultante dessas interações dá origem a diferentes ambientes de produção dentro de
uma mesma lavoura. O ferramental da AP disponível atualmente permite vislumbrar a
possibilidade de identificação e delimitação mais acuradas desses ambientes (Santi et al.,
2012, 2013; Schwalbert et ai., 2014), para então se aplicar o manejo sítio específico, com
intervenções que levem à otimização dos investimentos em sementes, tratos culturais e
ins umos, de acordo com o potencial de resposta já reconhecido para cada local no campo
d e produção.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1260 A LVARO V ILELA DE R ESE N DE ET AL.

Produtividild e relati,·« (percentagem cm rek,çiio ;'l média da círea)

50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150


1400

1200

1000

,.-....
E
l'ü
800
u
e:
~
<J) D. PGRA
i:5 600
O PGRM
D PGRB

400
:-;

200
O+Ls

o
o 200 400 600 800 1000 1200 1400
Distância (rn)

Figura 25. Delimitação de zonas de manejo a partir da produtividade relativa considerando seis
eventos de colheita sobrepostos de uma área de 57,4 ha, no município de Palmeira das M issões,
RS. Zonas de produ tividade de grãos alta (PRGA), média (PGRM) e baixa (PGRB).
Fonte: Adaptado de Santi et ai. (2012).

A abordagem de identificação de zonas de manejo a partir de mais de u ma variável


ou de informações acumuladas de várias safras vem sendo experimentada no Brasi l, a
exemplo de trabalbos conduzidos no Rio Grande do Sul. Hõrbe et aJ. (2013) comprovaram
ser viável a otimização da população de plantas de milho de acordo com variações dos
ambientes de produção dentro do talhão, definidos a partir de uma sequência de nove
mapas de colheita. Após a estratificação dos ambien tes, obteve-se melhor desempenho
da cultura mediante aj uste da taxa de semeadura, com red ução do número de p lantas em
zona com baixo potencial produtivo e aumento em zona de alto potencial. Schwalbert et
aJ. (2014) conseguiram delimitar zonas de manejo a partir da integração de informações de
condutividade elétrica do solo, topografia, índice de vigor e produtividade da cultura do
miU10. Na sequéncia, foi cu ltivado trigo, avaliando doses de Nem cada zona previamente
definida, sendo constatadas maiores respostas à adubação njtrogenada nas zonas de a lto e
médio potencial produtivo.

MAN EJ O E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁG UA
XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · ' ·
1261

'-....... Mapa de proJ utividad e


de miliho

'-....... Ma pa de IV de milho

Mapa de p rodutivid ade de trigo

Mapa de IV do trigo

" ' - . Mapa de altimetria


ZB

"'-. Mapa de zonas de manejo

Figura 26. Delimitação de zonas de manejo a partir da sobreposição de informações de diversas


variáveis mapeadas numa lavoura do município de Carazinho, RS. fV= índice de igor, como
o NDVl; CE= condutividade elétrica; ZA= zona de alta produtivida de; ZM= zona de média
produtividade; e ZB= zona de baixa produtividade.
Fonte: Adaptado de Schwalbert et ai. (2014).

Tais resultados confirmaram que a estratégia de se utilizar mais do ferramental


de agricultura de precisão para identificar, de forma mais acertada, os ambientes ou
zonas de potencial produtivo diferenciado nas lavouras é um caminho promissor e
melhor embasado, na busca de aprimoramentos de manejo que levem à maior eficiencia
agronômica, econômica e ambiental na atividade agrícola.

LITERATURA CITADA

Adamchuk VI, Hummel JW, Morgan MT, Upadhyaya SK. On-the-go soil ensors for precision
agriculture. Comp Eletr Agric. 2004;44:71-91, 2004.
Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba - A.ESA. 201-1. [acessado em: 15 n v.
2014]. Disponível em: http:/ /www.aesa.pb.gov.br/ geoprocessamento/ geoportal/ inde . .php.
Aksoy E, ôzsoy G, Diri~ MS. Soil mapping approach in GIS using Landsat atellite imagery and
DEM data. Afr J Agr1c Res. 2009;4:1295-302.
Amado TJC, Pes LZ, Lemainski CL, Schenato RB. Atributos químicos e fí icos de Lato- lo - e -ua
relação com os rendimentos de milho e feijão irrigados. Rev Bras Ci olo. 2009;3..,: 1-l3.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


----
1262 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

maral LR, Molin JP. Sen or óptico no auxílio à recomendação de adubação nitrogenada em
cana-de-açúcar. Pesq Agropec Bras. 2011;46:1633-42.
Antuniassi _uR. A_tecnolo~a agrícola a serviço do manejo fitossanitário. ln: Machado AKFM,
<?goslu ~ , ~enna FJ, editore . Avanços na otimização do uso de defensivos agrícolas no manejo
fitossarutáno. São Carlos: Suprema/UFLA; 2012. p.19-36.
Barbieri _DM, '1arques Jtmior J, Pereira GT. Variabilidade espacial de atributos quúnicos de um
argissolo para aplicação de insumos a taxa variável em diferentes fonnas de relevo. Eng Agric.
2008;28:645-53.
Bastiaanss~ \1'7GM, Menenti M, Feddes RA, Holtslag AAM. A remote sensi.ng surface energy balance
algonthm for land (SEBAL). 1. Formulation. J Hydrol. 1998;213:198-212.
Ben-Dor E, Banin A. Near-infrared analysis as a rapid method to si.multaneously evaluate several soi.l
properties. Soil Sei. Soe Am J. 1995;59:364-72.
Ben-Dor E, Patki.n K, Banin A, Karnieli A. Mapping of several soil properties using DAIS-7915
hyperspectral scanner data-a case study over clayey soils i.n Israel. lnt J Remote Sens.
2002;23:1043-62.
Bemardi ACC, Naime JM, Resende AV, Bassoi LH, Inamasu RY. Agricultura de precisão: resultados
de um novo olhar. Brasília: Embrapa; 2014. [Acessado em: 27 fev. 2015] Disponível em: http:/ /
w,vw .macroprograma1.cn ptia.embrapa. br / redea p2/ pu blicacoes / pu bl icacoes-da-rede-a p /
agricultura-de-precisao-resultados-de-um-novo-olhar-1.
Bemardi AC, lnamasu RY. Adoção da agricultura de precisão no Brasil. ln: Bemardi ACC, Nairne J,
Resende AV, Bassoi LH, Inamasu RY, editores. Agricultura de precisão: resultados de um novo
olhar. Brasília: Embrapa; 2014. p.559-77. [Acessado em: 27 fev. 2015] Disponível em: http:/ /
wwv.•.macroprogramal .cnptia.embrapa.br / redeap2/ publicacoes/ publi.cacoes-da-rede-a p /
agricuJtura-de-precisao-resultados-de-um-novo-olhar-1
Bezerra BG, Silva BB, Bezerra JRC, Brandão ZN. Evapotranspiração real obtida através da relação
1
entre o coeficiente dual de cultura da fao-56 e o NDVI. Rev Bras Meteoro!. 2010;25:404-14.
Blackmore BS, Moore M. Remedial correction of yield map data. Prec Agri.c. 1999;1:53-66.
Borghi E, Lourenço R, Silva CH, Baiack C. Agricultura de precisão - Serviços Agronômicos que
fazem a diferença. B Fundação Bahia. 2010;1:22.
Bragagnolo J, Amado 1JC, Nicoloso RS, Jasper J, Kunz J, Teixeira TG. Optical crop sensor for variable-
rate nitrogen fertilization in com: I - Plant nutrition and dry matter production. Rev Bras. Cienc
Solo. 2013a;37:1288-98.
Bragagnolo J, Amado TJC, Nicoloso RS, Santi AL, Fiori.n JE, Tabaldi F. Optical crop sensor for
variable-rate nitrogen fertilization i.n com: li - lndices of fertilizer efficiency and com yield. Rev
Bras Cienc Solo. 2013b;37:1299-309.
Brandão ZN, Bezerra MVC, Silva BB. Estimativa da biomassa usando imagens de satélite. ln: Anais
do 35º Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 2006, João Pessoa. João Pessoa: 2006.
Brandão ZN, Zonta JH, Ferreira GB. Agricultura de precisão na cultura do algodão. ln: Bernardi ACC,
aime J, Resende A V, Bassoi LH, lnamasu RY, editores. Agricultura de precisão: Resultados de
um novo olhar. Brasília: Embrapa; 2014. p.295-305. [acessado em: 27 fev . 2015). Disponível em:
http://www.macroprogramal.cnptia.embrapa.br/ redeap2/ publicacoes/ publicacoes-da-rede-
ap / agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-novo-olhar-1.
Brasil. Ministério da Agricultura. Zoneamento Agropecuário 2009/2010. 2014. [acessado em: 15 nov.
2014) Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/planos%20
e%20programas/ plano%20agricolola %202009%202010.pdf.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICULTURA DE · · ·
1263

Campos MCC, Marques Junior J, Pereira GT,Souza ZM, Barbieri DM. Aplicação de ad ubo e corre tivo
apos o corte da cana-planta utilizando técnicas geocstatisticas. Ci Ru ra l. 2008;38:97 O.
Carioca AC, Costa GM, Barrón V, Ferreira CM, Torrent J. Aplicação da espectroscopia d e reflectã_n ci
difusa na quantificação dos constituintes de bauxita e de minério de ferro . .Rev E.se mas.
2011;64:199-204.
Cezar E, Nanni MR, DemattêJAM, Chicati ML, Oliveira RB. Estimativa de a tribu tos do olo por meio
de espectrorradiometria difusa. Rev Bras Cien Solo. 2013;37:858-68.
Chandrasekhar S. Radiative transfer. New York: Dover Publican tions; 1960.
Cherubin MR, Santi AL, Eitelwein MT, Menegol DR, Da Ros CO, Piaz O H, Berghetti J. Eficiênc_ia d ~
malhas amostrais utilizadas na caracterização da variabilidade espacial de fó foro e potássio. Ci
Rural. 2014a;44:425-32.
Cherubin MR, Santi AL, Eitelwein MT, Da Ros CO, Bisognin MB. Malhas am ostrai utilizada na
caracterização da variabilidade espacial de pH, Ca, Mg e V% em Latossolos. Rev Cienc Agro n.
V . 45, p. 659-672, 20146.

Coelho AM. Agricultura de precisão em sistemas agrícolas. ln: Faleiro FG, Farias l eto AL, editoras.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedad e, agronegócio e recurso
naturais. Planaltina: Embrapa Cerrados; 2008. p.1062-80.
Coelho AM. Agricultura de precisão: manejo da variabilidade espacial e tempo ra l d os solos e das
culturas. Tópicos Ci Solo. 2003;3:249-90.
Cora JE, Beraldo JMG. Variabilidade espacial de atributos do solo antes e após calagem e fosfatagem
em doses variadas na cultura de cana-de-açúcar. Eng Agric. 2006;26:374-87.
Couto EG, Klamt E. Variabilidade espacial de micronutrientes em solo sob pivô central no ui do
Estado de Mato Grosso. Pesq Agropec Bras. 1999;34:2321-9.
Cunha JEBL, Tsuyuguchi BB, Rufino IA. A. Utilização da detecção remota para estimar a d istribu ição
espacial da evapotranspiração de região semiárida e série temporal MODIS. ln: Anais do 15º
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto; 2011; Curitiba. Curitiba: 2011 .
De Tar WR, Chesson JH, Penner JV, Ojala JC. Detection of soil properties with airbome hy perspectral
measurements of bare fields. Trans ASABE. 2008;51 :463-70.
DemattêJAM, Fiorio PR, Ben-Dor E. Estimation of soil properties by orbital and laboratory reflectance
means and its relation with soil classification. Open Rem Sens J. 2009;2:12-23.
Escadafal R, Huete AR. Soil optical properties and envirorunental applications of remate se nsing. lnt
Arch Photogr Rem Sens Spat lnfor Sei. 1992;29:709-15.
*FAO. Guidelines: Land evaluation for rainfed agriculture. Soils B. 1983;52:11-54.
Ferguson RB, Hergert ?W, Schepers JS, Crawford ~A. Site-specific nitrogen mana gement of irrigated
com. ln: Proceedmgs of the Fourth Intemational Conference on Precision Agriculture, 1999;
Madison. Madison: ASA-CSSA-SSSA; 1999. p.733-43.

Ferguson RB, Hergert '?lf!,


Scheper_s JS, ~otway CA, _Caho_o n JE, ~eterson TA. Site-specific ni trogen
management of 1rngated ma1ze: y1eld and soil residual mtrate effect:s. Soil Sei Soe Am J.
2002;66:544-53.
Foley J A, De Fries R, Asner GP, Barford C, Bonan G, Carpenter SR, Chapin FS, Coe IT, Dai! GC, Gibbs
HK, Helkowski JH, Holloway T, Howard EA, Kucharik CJ, Monfreda C, Patz JA, Pren tice
IC, Ramankutty N, Snyder PK. Global consequences of land use. Science. 2005;309:570-t
Francisco PRM, Costa Filho JF, Pereira FC, Medeiros RM, Sil a J 1 . Mapeamento da aptidão
edáfica para fruticultura segundo o zoneamento agropecuário do estad o da Par íba utilizando

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1264 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

0 PR! G. ln: Anais do 4º impósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da


Geoinformação; 2012; Recife. Recife: 2012. p .1-8.
Frazier BE, V\ a lter CS, Perry EM, Piem~ FJ, Sadlcr EJ. Role of remote sensing in site-sp ecific
management. ln: Pierce FT, Sadler EJ, cditors. The state of site-specific management of
agriculture. Madison: American Society of Agronomy; 1997. p.149-60.
Fulton J, _~_1cdonal~ T, ~Vood CW, Fasina O, Virk S. Optimizing nutrient stewardship using broadcast
fc1·11lizer apphcahon methods. Better Crops. 2013;97:15-17.
Ge Y, TI10ma son JA, forgan CL, Searcy SW. \INIR Diffuse reflectance spectroscopy for agricultura!
soil property detennination based on regression-kriging. Trans ASABE. 2007;50:1081-92.
Gelman A, Carlin JB, Stern HS, Rubin DB. Bayesian data analysis. Boca Raton: Chapman & Hall/
CRC Press; 2003.
Gianezini M, Saldías R, Ceolin AC, Brandão FS, Dias EA, Ruviaro CF. Geotecnologia aplicada ao
agronegócio: conceitos, pesquisa e oferta. Rev Econ Tecnol. 2012;8:167-174, 2012.
Gimenez LM, Zancanaro L. Monitoramento da ferti.I idade de solo com a técnica de amostragem em
grade. lnf Agron. 2012;138:19-25.
Gonzalez RC, \•\ loods RE. Processamento de imagens digitajs_3ª.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
Goovaerts P. Geostatistics for natural resources evaluation. New York: Oxford University Press, 1997.
Gopal B, Shetty A. Evaluation of topsoil iron oxide from visible spectroscopy. Int J Res Eng Teclmol.
2013;2:670-3.
Grego CR, Oliveira RP, Vieira SR. Geoestatística aplicada à agricultura de precisão. ln: Bernardi ACC,
Jaime JM, Resende A V, Bassoi LH, lnamasu RY, editores Agricultura de precisão: resultados
de um novo olhar. Brasília: Embrapa; 2014. p.74-83. [Acessado em: 27 fev. 2015] Disponível em:
http:/ / v-,,...,,v-.,.macroprograma1.cnptia.embrapa. br/ redeap2/ publicacoes/ publicacoes-da-rede-
ap / agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-novo-olhar-1.
Grego CR, Rodrigues CAG, Nogueira SF, Gimenes FMA, Oliviera A, Almeida CGF, Furtado ALS,
Demarcru JJAA. Variabilidade espacial do solo e da biomassa epígea de pastagem, identificada
por meio de geoestatística. Pesq Agropec Bras. 2012;47:1404-12.
Grego CR, Vieira SR, Xavier MA. Spatial variability of sorne biometric attributes of sugaTcane plants
(variei)• lACSP93-3046) and its relation to physical and cherrucal soil attributes. Bragantia.
2010;69:107-19.
Hamlett JM, Horton R, Cressie NAC. Resistant and exploratory techniques for u se in semivariogram
analyses. Soil Sei Soe Arn J. 1986;50:868-75.
Holland JK, Erickson B, Widmar DA. Precision agricultral services dealership survey results.
West Lafayette: Purdue Universitiy; 2013. [Accessed on: 20 Jan. 2015] Available at: http:/ /
agríbusiness. purd ue.edu/ files/ resources/ rs-11-2013-holland-erickson-widmar-d-croplife. pd.f
Hõrbe TA 1, Amado TJC, Ferreira AO, Alba PJ . Optimization of com plant population accord ing to
managernent zones i.n Southern Brazil. Precision Agric. 2013;14:450-65.
Hum.mel JW, Sudduth KA, Hollinger SE. Soil rnoísture and organic matter prediction of s urface and
subsurface soils using a NIR sensor. Comp Eletr Agríc. 2001;32:149-65.
H urtado SMC, Resende A V, Silva CA, Corazza EJ, Slúratsuchl LS. Clorofilôrnetro no ajuste da ad ubação
nitrogenada em cobertura para o milho de alta produtividade. Cí Rural. 2011;41:1011-7.
Jorge LAC. Metodologia para utilização de aeromodelos em monitoramento aéreo: análise de
imagens. Comun Técn. 2003;18:l -6.1

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQU E DA AGRIC ULTURA DE · ·•
1265

Jo rge LAC, Brandão ZN, lnamac;u RY. JnsighLc, anel r comm ndatíons nf u o f UAV _platforms_in
precisíon agricullurc in Brazil. ProcSPI E9239, Remotc S ns Agric Ecm:yc, H ydrol. 201 ; 16:9 2.: 911
Jorge LAC, lnarnasu RY. Uso de veículos aéreos não tripulados (VAN"" em agricultura ~ P ecisào.
ln: Bernardi ACC, Naime J, Resende AV, Bassoi LH, lnamac;u RY, editore · A m cult-ura d
precisão: Resultados de um novo olha r. Bras llia, D.F.: Embrapa; 20'14. [Acec::c::ado em : 27 fev .
2015] Disponível em: http://www.macroprograma1 .cnptia.embrapa.br/ redeap2/ publkacoe /
pu blicacoes-da-rede-ap / agricu !tu ra-de-precisao-resul tados-de -um-novo-o lhar- l .
Lagacherie P, Baret F, Feret JB, Madeira Nelto J, Robbez-Masson J, r. E timation of '-Oi( cl.1y c1J1d
calcium carbonate using laboratory, field and ai rborne hy persp ctral measu re me n ts. Remotc
Sens Environ. 2008;112:825-35.
Landau EC, Brandão ZN, Faria CM. Creación de mapas de manejo con dato e<;pacia.lec:: ln:
Mantovan.i EC, Magdalena C, editores. Manual de agricultura de p reci ió n. Montevideo: llCA;
2014. p.74-83.
LAPIG. Projeção UTM. Cálculo do Fuso UTM. 2014. [acessado em 15 nov. 201-tj. D~ po nível em:
http://www.lapig.iesa.ufg.br/ lapig/ cursos_online/ gvsig/ a_projeto_utm.html.
Liu WTH. Aplicações de sensoriamento remoto. Campo Gran de: ü 1 IDERP; 2007.
Luchiari Junior A, Borghi E, Avanzi JC, Freitas AA, Bortolon L, Bortolon ESO, U mm v íE, lnarn~ u
RY. Zonas de manejo: teoria e prática. ln: Inarnasu RY, 1 ·a ime J 1, Resende A V, B, - i
LH, Bernardi AC, editores. Agricultura de precisão: um novo o lhar. São Carlos: Embrapa
Instrumentação; 2011. p.60-4.
Luchiari Junior A, Silva AS, Buschinelli CCA, Hermes LC, Carvalho JRP, Shanahan J, Scheper5 J .
Agricultura de precisão e meio ambiente. ln: Machado PLOA, Bemardi ACC, Silva CA, ~itores.
Agricultura de precisão para o manejo da fertilidade do solo em i tema plantio direto. Rio de
Janeiro: Embrapa Solos; 2004. p.19-35.
Luo J, Ying K, Bai J. Savitzky-Golay smoothing and differentiation filte r for even number data. ignal
Proc. 2005;85:1429-34.
Luz PHC, Otto R, Vitti GC, Quintino TA, Altran WS, lkeda R. Otimização da aplicação de corrctiYo
agrícolas e fertilizantes. hú Agron. 2010;129:1-13.
Machado PLOA, Bernardi ACC, Valencia LIO, Molin JP, G imenez L\.I, Silva C.-\, Andrade r\G,
Madari BE, Meirelles MSP. Mapeamento da condutividad e elétrica e relaç o com a ar 0 ila d
Latossolo sob plantio direto. Pesq Agropec Bras. 2006;41 :1023-31.
Machado PLOA, Silva CA, Bernardi ACC. Variabilidade de atributo· de fertilidaJe e paoaliza 0
da recomendação de adubação e calagem para a soja. ln: Machado PLOA, ilva CA, Bemardi
ACC, editores. Agricultura de precisão para o manejo da fe rtilidade do solo em sistema de
plantio direto. Rio de Janeiro: Embrapa Solos; 2004. p.115-29.
Mcbratney AB, Whelan BM, Ancev T, Bouma J. Future directions of pr ision agriculture. Precision
Agriculture, v.6, n.1, p.1-17, 2005.
M a ther PM. Computer processing of remotely-sensed in1ages: an introduction . . r ,
rk: John
Wiley & Sons; 1999.
M enegatti LAA, Molin JP, Coes SL, Korndorfer GH, Soares Rr\B, Lima EA. Benefícios econ m, - -
e agronômicos da adoção de agricultura de precisão e m usinas de açúcar. ln: Anai.s do _ .
Congresso Brasileiro de Agricultura de PrecisJo [CD RO !]; 2006; Jo Pedro. Piraci-.lba: Esalq;
2006.
M e negatti LA, Molin JP. Remoção de erros em mapas de pr du ti idade filtra em de da los
brutos . Rev Bras Eng Agríc Amb. 2004;8:126-3-t

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1266 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL .

Milani L,. ouza EG, Uribe-Opa zo MA, Gabriel Filho A, Johann JA, Pereira JO. Unid ades de manejo a
parhr de dados de produtividade. Acta Sei Agron. 2006;28;591-8.
Molin JP. A _forte inter~~ce_cntrc a mecani zação e a agricultura de precisão. ln: Karam D, Magalhães,
PC, ~di_tore · E~C1enc1a nas cadeias produtivas e abastecimento global. Sete Lagoas: Associação
Brasileira de Milho e Sorgo; 2014. p.37-41.
Molin JP. Agricultura de precisão - o gerenciamento da variabilidade. Piracicaba: 2001.
.folin JP. Definição de unidades de manejo a partir de mapas de produtividade. Eng Agric.
2002;22:p.83-92 .
.folin JP, Rabello LM. Estudos sobre mensuração da condutividade elétrica do solo. Eng Agric.
2011;31:90-101.
Montanari R, Pereira GT, Marques Junior J, Souza ZM, Pazeto RJ, Camargo LA. Variabilidade
espacial de atributos químicos em Latossolo e Argissolos. Ci Rural. 2008;38:1266-72 .
.fontezano ZF, Corazza EJ, Muraoka T. Variabilidade espacial da fertilidade do solo em área
cultivada e manejada homogeneamente. Rev Bras Ci Solo. 2006;30:839-47.
Munsell. Munsell Soil Colar Charts. [accessed on: 23 Feb. 2015] Available at: http:/ /munsell.com/
color-prod ucts / color-communications-prod ucts / envi ronmen tal-color-comm u nica tion/
munsell-soil-color-charts/
Oliver MA, Webster R. A tutorial guide to geostatistics: Computing and modelling variograms and
kriging. Catena. 2014;113:56-69.
Paraíba. Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente. Agência Executiva de
Gestão de Águas do Estado da Paraíba, AESA. PERH-PB: Plano Estadual de Recursos Hídricos:
Resumo Executivo & Atlas. Brasília, DF: 2006.
Perez 1'TB, Nevez MC, Sisti RN, Nunes CLR, Leitão FML. Condutividade elétrica do solo e
produtividade: uso no sistema de integração lavoura-pecuária para determinar zonas de manejo
durante o cultivo de soja. ln: Bemardi AC, Naime J, Resende AV, Bassoi LH, lnamasu RY,
editores. Agricultura de precisão: Resultados de um novo olhar. Brasilia: Embrapa; 2014. p.252-
9. [acessado em: 27 fev. 2015] Disponível em: http://www.macroprogramal .cnptia.embrapa.
br/ redeap2/ pubLicacoes/ pu blicacoes-da-rede-a p / agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-
novo-olhar-1.
*Pierce FJ, Nowak P. Aspects of precision agriculture. Adv Agron. 1999;67:1-85.
Pires JLF, Corassa GM, Rambo AC, Kerber L, Pasinato A, Dalmago GA, Silva Júnior JP, Santi A,
Santi AL, Guarienti EM, Cunha GR, Strieder ML, Fochesatto E. Aplicação de nitrogênio a taxa
variável em cultura de trigo: estudo de caso na Unidade Piloto de Agricultura de Precisão
de Não-Me-Toque, RS. ln: Bemardi ACC, Naime JM, Resende AV, Bassoi LH, lnamasu RY,
editores Agricultura de precisão: resultados de um novo olhar. Brasilia: Embrapa; 2014. p.287-
94. [Acessado em: 27 fev. 2015]. Disponível em: http:/ /www.macroprogramal .cnptia.embrapa.
br / redeap2/ publicacoes/ publicacoes-da-rede-ap / agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-
novo-olhar-1.
Pires JLF, Corassa GM, Strieder ML, Dalmago GA, Cunha GR, Santi A, Silva Júnior JP, Santi AL,
Santos HP, Pasinato A, Remar C. Uso de sensor óptico ativo para caracterização do perfil de
N DVJ em dosséis d e trigo submetidos a diferentes estratégias de manejo. ln: Bernardi ACC,
aime JM, Resende A V, Bassoi LH, lnamasu RY, editores. Agricultura de precisão: resultados
d e um novo olhar. Brasília: Embrapa; 2014. p.279-86. [acessado em: 27 fev. 2015] Disponível em:
http://www.macroprogramal.cnptia.embrapa.br/ redeap2/ publicacoes/ publicacoes-da-rede-
a p / agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-novo-olhar-1 ..
Povh FP, Molin JP, Gimenez LM, Pauletti V, Molin R, Sal vi JV. Comportam ento do NDVI obtido por
sensor ótico ativo em cereais. Pesg Agropec Bras. 2008;43:1075-83.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MAN EJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICULTURA DE .. •
1267

Povh FP. Gestão da adubação nitrogenada cm milho usando oriamcn to remo to ft se J. Pimcic ba:
ESALQ 2011 .
QGJS. QCIS Project. 2015. [acessado cm: 04 mar. 20151 Disponível m: http:/ / www 2.qgi .o r'l,/en/
site/ getinvolved/ index.html.
Redulla CA, Havlin JL, Kluitenberg GJ, Zhang N, Schrock MD. Va ri able nítTo?en management for
improving groundwater quality. ln: Proceedings of lh Third Jntemabonal Confe rence o n
Precision Agriculture; 1996; Madíson. Madison: ASA-CSSA-SSSA; 1996, p.1101-10.
Redweik P. Fotogrametria aérea. Faculdade de Ciências da Uni versidade de Lis b a. 2007. [ac do
em: 24 nov. 20141 Disponível em http://enggeografica.fc.ul.pt/fich iros/a poio_aulilS/
fotogrametria %20aerea_1. pdf.
Reetz Junior HF. Tecnología de precision para gestion de nutrientes. ln: Mantovani EV, Ma da lena
C, editors. Manual de agricultura de precisión. Montevid eo: Insti tuto lnteramericanCl de
Cooperación para la Agricultura; 2014. p.120-31.
Resende AV, Hurtado SMC, Vilela MF, Corazza EJ, Shiratsuchi I..S. Aplicaç da agricultura de
precisão em sistemas de produção de grãos no Brasil. ln: Bemardi ACC, Naim JM, Resende
A V, Bassoi LH, lnamasu RY., editores. Agricultura de precisão: resultados de um novo olhar.
Brasília: Embrapa; 2014a. p.194-208. [acessado em: 27 fev . 201 5]. Disponível em: http:/ /
www.macroprogramal.cnptia.embrapa.br/ redeap2/ publicacoe / publicacoe -da-rede-a p /
agricul tura-de-precisao-resul tados-de-um-novo-olhar-1.
Resende AV, Shiratsuchi LS, Coelho AM, Corazza EJ, Vilela MF, lnama u RY, Bernardi CC, B soi
LH, NaimeJM. Agricultura de precisão no Brasil: avanços e impacto no manejo e na conserva ; o
do solo, na sustentabilidade e na segurança alimentar. Jn: Leite LFC, Maciel CA, Araújo ASF,
editores. Agricultura conservacionista no Brasil. BrasOia: Embrapa; 2014b. p.--167- .
Resende AV, Shiratsuchi L.5, Sena MC, Krahl LL, Oliveira JVF, Correa RF, Oro T. Grad amo t
para fins de mapeamento da fertilidade do solo em área de cerrado. ln: Ana· do "Z'. Congre c;o
Brasileiro de Agricultura de Precisão; 2006; São Pedro. Piracicaba: Esalq; 2006.
Ribeiro JC. Fotogrametria digital. Viçosa, MG: UFV; 2002. [acessado em: 22 nov. 2014] Disponível em:
http://www.ufv.br/ nugeo/ ufvgeo2002/ resumos/jcribeiro.pdf.
Sanches IDA, Andrade RG, Quartaroli CF, Rodrigues CAG. Análise comparativa de três método
de correção atmosférica de imagens Landsat 5 - TM para obtenção de reflectància de _up rfi ·e
e NDVl. ln: Anais do 15° Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto; _011; Cuntiba: _011.
Santi AL, Amado TJC, Cherubin MR, Martin TN, Pires JL, Flora LPD, B q. náli de
componentes principais de atributos químicos e físicos do solo limitant produtividade de
grãos. Pesq Agropec Bras. 2012;47:1346-57.
Santi AL, Amado TJC, Della Flora LP, Smaniotto RFF. É chegada a hora da integraçã d
conhecimento. Rev Plantio Direto, 2009;109. [acessado em: 20 jan . 20r1 Oi ponível em: http://
www.plantiodireto.com. br / ?body=conUn t&id =907.
Santi AL, Amado TJC, Eitelwein MT, Cherubin MR, Silva RF, Da Ros CO. De.finiçã de zonas de
produtividade em áreas manejadas com agricultura de precisão. Agrária. _oL ; :510-- .
Santos AO, Maziero JVG, Cavalli AC, Valeriano MM, Oliveira H, 1 toraes JFL, anai K 1 [onü rament
localizado da produtividade de milho cultivado sob irrigação. Re Bras Eng Agrí mb.
2001;5:88-95.
Schowengerdt RA. Remote sensing: models and mt!thod f r image proce ing. _nJ_ ed. an Die-. :
Academic Press, 1997.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1268 ÁLVARO VILELA DE RESENDE ET AL.

lm·alberl RA, Amado TJC, Gebert FH, Santi AL, Tabaldi F. Zonas de manejo: atributos de solo e
planta ,·isando a sua d limüação e aplicaçõe na agricultura de precisão. Rev Plantio Direto.
2014;2:21-32.

Sebem E. Aula de georreferenciamento na UFSM. 2014. [acessado em: 21 nov. 2014] Disponível em:
http:/ / 200.132.36.199 / elodio/ dO'vvnloads/SR/ SR_05.pdf.
Selige T, Bohner J, Schmidhalter U. High resolution topsoil mapping using hyperspectral image and
field data in multivariate regression modelling procedures. Geoderma. 2006;136:235-44.
Shepherd KD, Walsh MG. Development of reflectance spectral libraries for characterization of soil
properties. Soil Sei Soe Am J. 2002:66:988-98.
Shiratsuchi LS, Machado ALT. Variação do espaçamento entre faixa s de colheita na geração de
mapas de produtividade. Planaltina: Embrapa Cerrados; 2003. (Boletim de pesquisa de
desenvolvimento, 90).
Shiratsuch.i LS, Vale WG, Malacarne TJ, Schuck CM, Silva RG, Oliveira Júnior OL. Algoritmos
para aplicações de doses variáveis de nitrogênio em tempo real para produção de milho safra
e safrinha no Cerrado. ln: Bernardi ACC, Naime JM, Resende A V, Bassoi LH, IJ1amasu RY,
editores. Agricultura de precisão: resultados de um novo olhar. Brasüia: Embrapa; 2014. p .224-
30. [acessado em: 27 fev . 2015] Disponível em: http:/ /wv.r•..v.macroprogramal .cnptia.embrapa.
br / redeap2/ publicacoes/ publicacoes-da-rede-ap/ agricuJtura-de-precisao-resultados-de-um-
novo-olhar-1 ..
Silva CB, Moraes MAFD, Molin JP. Adoption and use of precision agricuJture technologies in the
sugarcane industry of Sao Paulo state, Brazil. Precision agricuJture. Dordrecht: Kluwer; 2010.
p.1-15.
Silva DC, Melo IDF, Oliveira RNQ. Alta resolução com uso de câmaras digitais de baixo custo para
mapeamento. ln: Anais do12º. Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto; 2005; Goiânia.
São José dos Campos: lnpe; 2005. p .1-8.
Slaughter DC, Pelletier MG, Upadhyaya SK. Sensing soil moisture using NIR spectroscopy. Appl
Eng Agric. 2001;17:241-7.
Snyder CS, Bruulsema TW, Sharpley AN, Beegle DB. Site-specific use of the environrnental
phosphorus índex concept. ln: Site-specific management guidelines. SSMG-1. Norcross: Potash
and Phosphate lnstitute; 1999.
Soares A. Geoestatística para ciências da terra e do ambiente. 2nd. ed. Lisboa: Press Instituto Superior
Técnico; 2006.
Souza ZM, Barbieri DM, Marques Junior J, Pereira GT, Campos MCC. Influência da variabilidade
espacial de atributos químicos de um latossolo na aplicação de insumos para cultura de cana-
de-açúcar. Ci Agrotecnol. 2007;31:371-7.
Srivastava RM. Describing spatial variability using geostatistics analysis. ln: Srivastava RM, Rouhani
s, Cromer MV, editores. Geostatistics for environmental and geotechnical applications. West
Conshohocken: American Society for Testing and Materiais; 1996. p.13-9.
Stevens A, van Wesemael B, Bartholomeus H, Rosillon D, Tychon B, Ben-Dor E. Laboratory, field and
airbome spectroscopy for monitoring organic carbon content in agricultural soils. Geoderma.
2008;144:395-404.
Sudduth KA, Drummond ST. Yield Editor: Software for removing errors from crop yield maps.
Agron J. 2007;99:1471-82.
Sudduth KA, Hummel Jv\l. Soil organic matter, CEC, and moisture sensing with a portable NIR
s pectrophotome ter. Trans ASAE. 1993;36:1571-82.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXVIII - MANEJO DO SOLO SOB o ENFOQUE DA AGRICU LTURA D E · ..
1269

Sullivan DG, Shaw JN, Rickman D. fKONOS imagery to e~ timate surface so il prop r va riabili ty in
two Alabama physiographies. Soil Sei Am J. 2005;69:1789-98.
Suszek G, Souza EG, Uribe-Opazo MA, Nobrega LHP. Dcterm inati on of ma nagcme nt zones fro m
normalized and standardized equivalent produtivity ma ps in the soybean c ul tu re En g Agrk.
2011;31 :895-905,
Thomasson JA, Su.i R, Cox MS, AJ-Rajehy A. Soil reflectance sensing d eterminin ° soil p ro pe rties u,
precision agriculture. Trans ASAE. 2001;44:1445-53.
Thyle' n NL, Algerbo PA, Giebel A. An expert filter removing erroneou y ie ld d a ta . ln: Rob~rt P.C.
editor. ln: Proceedings: 5~' International Conference o n Precision Agricu ltu re; Bloommg to n;
2000. Madison: ASA/ CSSA/SSSA; 2001.
Tommaselli AMG, Reiss MLL. A photogrammetric me thod fo r single image orientatio n and
measurement. Photogrammetric Engineering & Remote Sens ing. 2005;71 :727-32-
USDA. Natural resources conservation service: soils. 2014. [accessed o n: 17 1 o v . 2014] . Available at:
http://www.nrcs.usda.gov/ wps/ portal/ nrcs/ detail/ soils/ edu/ ?cid =nrcs142 p2_054286.
USGS. Shuttle Radar Topography Mission. 2014. [accessed on: 14 Nov. 20141 A va ilab le a t: http://
srtm.usgs.gov / .].
Varvel GE, Schepers JS, Francis DO. Ability for in-season correction of nitrogen deficiency in com
using chlorophyll meters. Soil Sei Soe Am J. 1997;61:1233-9.
Vasco LST, Ribeiro JC. Subsídios para obtenção e atualização de ba e cartográfica a partir de
fotografias aéreas de pequeno formato. ln: Anais do Congresso Bras ileiro d e Cadas tro Técnico
Multifinalitário - COBRAC; 2000; Florianópolis.
Ventura SJ. Implementation of land information systems in local govemment: Step toward la nd
records modemization in Wisconsm. Madison: Wisconsin State Cartographer's Office,
University of Wisconsm; 1991.
Veris Technologies. Toe sensors. [accessed on: 28 Jan. 2015. Available a t: http:/ / ww, .veristech.
com/ the-sensors.
Vermeulen CD, Chamen WCT. Controlled traffic farming to impro e soil s tructure and crop
productivity. ln: Proceedmgs of the International Fertiliser Society; 201 0; V ageningen: 2010.
p .1-27. (Proceedmgs, 678)
Vieira SR. Geoestatistica em estudos de variabilidade espacial do solo. Tópico Ci solo. 2000;1:l -5-t
Vieira SR, Xavier MA, Grego CR. Aplicações de geoestatística em pesquisa com cana-de-açúcar.
ln: Dinardo-Miranda LL, Vasconcelos ACM, Landell MGA, editores. Cana de açúcar. Ribeirão
Preto: Instituto Agronômico; 2008. p.839-52.
Vrabel J. Multispectral imagery band sharpenmg study. Photogr Eng Remo te Sens. 1996;62:lOT
Waiser T, Morgan CLS, Brown DJ, Hallmark CT. ln situ characte.rization of soil ela content w ith
visible near-infrared diffuse reflectance spectroscopy. Soil Sei Soe Am J. 2007;71:3 9-96.
Webster R. Quantitative spatial analysis of soil in the field . Adv Soil Sei. 19 5;3:1-70.
Weng YL, Gong P, Zhu ZL. Soil salt content estimation in the Yellow Ri e r delta w ith satellite
hyperspectral data. Canadian J. Remote Sens. 2008;34:259-70.
Wilda LRM. Amostragem georreferenciada e aplicação à taxa variável d e corretivo e fe rtilizante :
dinâmica da fertilidade do solo em lavouras de grãos no cerrado [di e rtaçàoJ. Lavras: UFLA,
2014.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1270 ÁLVARO VILELA DE RES END E ET AL.

\Nhelan B ~, McBrah1ey AB, Minasny B. Vesper _ spatial prediction soft,.,vare for p recisio n
agriculture. ln: Grenier G, Blackmore s, edi tores. Proceedings of the 3rd Eu ropean Conference
on Precision Agriculture. Montpellier: Agro-Montpellier;2001. p . 139-44.
\1\ ilson JP. Local, national, and global applications of GlS in agriculture. ln: Longley PA, Maguire DJ,
Goodchild MF, Rh.ind 0\1\1, editores. Geographical information systems: principies, techniques,
management and applications. 2ª.ed . New York: John Wiley and Sons; 2005.
Zabel F, Putzenlechner B, Mauser \1\1. Global agricultura\ \and resources - a high resolution suitabili ty
evaluation a nd its perspectives until 2100 under climate change conditions. Plosüne. 2014;9:1-9.
Zhang C, Kovacs JM . The aplication of small unmaJmed aeria\ systems for precision agriculture: a
review. Prec Agric. 2012;13:693-712.
Zhan g , Wang M , Wang N . Precision agriculture - a worldwide review. Comp Eletr Agric.
2002;36:113-32.

Zhang W, Yang J, Wang X, Yang Q. The fusion of remate sensing images based on lifting wavelet
transformation. Comp Infor Sei. 2009;2:9-75.

,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS
À AGRICULTURA CONSERV AC IO NISTA

Magarete N icolod il1

1
1 Fertilità dei Sistema 5110/0 Consultoria Agronômica, Porto Alegre, RS. E-mail: margarncolodi@hotmajl.com

Conteúdo

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... ···························-·· ... 1271


CONTEXTOS QUE ESTIMULARAM A ÊNFASE DA QUAUDADE DO SOLO NA OÊ CIA DO SOLO ... lm
DEFINIÇÕES E CONCEITOS ADOTADOS E DISCUTIDOS O EXTERlOR ................................ -····-·········-· 1274
Soil q11alitt; (qualidade do so/o) ..........................................................................................................--·-···········- ···· 1275
Sai/ fitn ess (aptidão do solo) ······················································································································-·············· l277
Soil /1ealth (saúde do solo) ................................................ ................................................... -···········-··········-·········-· 1277
O utras abordagens ................................................................................................................................. ·- ·---······ 127
Soil vitality (vitalidade do so/o) ...................................................................................................... m, · - · ~ · · -.. ••••• 127
Soil prod11ctivity (produtividade do solo) .................... ...................................................................-······-·····-- ·· 127
Soil Jertility (fertilidade do solo)········································································································-···- ············· 1279
Reflexão sobre essas abordagens ................................ ·····················································································-· l2BO
AVALIAÇÃO ·············································································································································--·····--··- .. 1281
Funções ..............................................................................................................................................·- ·········-········ 12 2
Indicadores e índices ·······················································································································- ··············..····· 12
Uso de padrões comparativos .............................................................................................................................. . 1286
APLICAÇÕES NAS DIFERENTES REGIÕES DO MUNDO ·············································-··--·······- -··--··-- ·· [') 7
PRÁTICAS DE l\11.ANEJO PARA CONSERVAR E MELHORAR O SISTHvlA SOLO ....................·-··············-·· 1?
MUDAR O FOCO DA AVALLAÇÃO DA QUALIDADE DO SOLO PARA QUALIDADE DO MA1 E/O
DO SOLO........................... .............................................................·--···-········· 1300
CONSIDERAÇÕES FINAIS
··························-··································..·-·-·· 1302
LITERATURA CITADA 1303

INTRODUÇÃO

O termo soil qualihJ (qualidade do solo: QS) vem sendo mencionado desde a metade
do século XX, mas de~de a décad~ ~e _1990 tem sido ~nfatizado com mais frequência n 5
discursos sobre o ambiente. As defimçoes e, ou, conceitos atrelado ao termo - 0 di tinto ,
dependendo inclusive do local de origem do seu enunciado, se no Canadá, nos Estad ~
Unidos ou na Europa. Algumas definições denotam a preocupação com a aptidão e O us

Berto! 1, De Maria JC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. iç
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
1272 MARGARETE NICOLODI

d~ solo_, ~ d~gradação do solo e a din--iinuição da produtividade das culturas; outras, com


a 1dent~caçao das funções e dos indicadores de QS; algumas com as políticas públicas; e
outras ainda com a contaminação do solo e com as práticas de manejo do solo.
A base de conhecimento, os problemas e os interesses das pessoas envolvidas com o
tema e a rápida institucionalização do termo conduziram às discussões sobre o significado
(raramente mencionadas), à atribuição de fw1ções, à seleção de indicadores (objeto da
maior parte das pesquisas e publicações) e às práticas de manejo (pouco enfatizadas) . As
práticas de manejo são, de fato, capazes de evitar a degradação e de melhorar o solo para
o cultivo e o ambiente. No Brasil, as pesquisas sobre QS estão direcionadas quase que
exclusivamente para a seleção de indicadores em ambientes específicos com determinadas
culturas; o conceito não é discutido e, como em outras regiões do mundo, as práticas de
manejo adequadas aos diferentes usos e condições edafoclimáticas são pouco enfatizadas.
Na virada do milênio (entre 1995 e 2005), as práticas conservacionistas eram enfatizadas
e adotadas com frequência na agricultura brasileira. À época, elas foram priorizadas e
implementadas na adoção da semeadura direta (SD), com base no não revolvimento do
solo, na rotação de culturas com diversificação de espécies e na manutenção do solo coberto
por palha o ano todo. Atualn1ente, dessas premissas somente a primeira continua sendo
implementada; as outras deixaram de ser priorizadas. Por isso, verifica-se novamente o
aumento da degradação do solo e a diminuição da sua fertilidade e da produtividade das
culturas; e consequentemente, a diminuição da QS. O aumento na velocidade de geração
de novas tecnologias e produtos para a lavoura seduz o agricultor, que está propenso à
adoção dessas inúmeras modernidades. Ele prefere o encantamento proporcionado pelos
mapas de solos e de colheita coloridos etc., em vez de priorizar as práticas agrícolas, já
adotadas anteriormente, para conservação do solo. Concomitantemente, essas deixaram de
ser prioridade para os pesquisadores em Ciência do Solo e de ser divulgadas e incentivadas
pela extensão rural e pelos Clubes Amigos da Terra.
Recentemente, assuntos relacionados à QS têm sido veiculados com frequência na
núdia, principalmente relatando argumentos de pessoas com pouco conhecimento sobre as
atividades agrícolas. Isso transmite para o público em geral ideias equivocadas sobre a QS e
sobre a agricultura conservacionista. Agrônomos e cientistas de solo percebem com facilidade
que por trás desse assunto estão seus velhos conhecidos: os fundamentos da conservação e
da fertilidade do solo integrados e nominados com um termo Jashion (da moda).
Neste capítulo, serão apresentados: (a) conceitos e definições publicados no exterior, a
fim de estimular a discussão desses no Brasil; (b) avaliação, atribuição de funções, seleção de
indicadores, cálculos de índices e padrões comparativos; e (c) motivos pelos quais deveria
ser priorizado aprimorar, viabilizar e implementar práticas agrícolas que melhoram o
ambiente e as condições físicas, químicas e biológicas dos solos, principalmente para a
produção de alimentos, fibras e energia, em vez da busca por indicadores e índices de QS.

CONTEXTOS QUE ESTIMULARAM A ÊNFASE DA


QUALIDADE DO SOLO NA CIÊNCIA DO SOLO

No período de J 950 a 2000, ocorreu significativa alteração no cenário agrícola, de baixa


produtivida de das culturas, com aprimoramento das técnicas (mecanização, adubação,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO CO M VISTAS À AGRICULTURA · · ·
1273

mel~orarnento genético, desenvolvimento de produtos para controle de d~e~ças, plantas


danmhas, pragas, etc.) e intensificação do cultivo do solo, à alta produhvidade. Ne : e
período, a expansão das áreas usadas com agricultura, alternando época: de de~adaçao
do solo com épocas de melhoria, possibilitou atender a demanda mundial de ali~e~tos
(em 1 800,1 bilhão de pessoas; em 1950, 2,5 bilhões; em 1975, 4 bilhões; em 2000, 6,1 bilhoes;
e em 2012, 7 bilhões, de acordo com United States Census Bureau e United Nation (2013),
contrariando a previsão feita por Thomas Malthus, em 1798. No século XXI, a contar:runação
do solo e da água, o aquecimento global e a comparação do valor nutricional de alimentos
têm sido veiculados com maior frequência na mídia do que a necessidade de au me~tar _a
produtividade. Esses cenários não foram contemporâneos nos contJnentes; a altemancia
deles é determmada pela história agrícola, pelas condições edafoclimáticas e pelas práticas
adotadas nas diferentes regiões.
Na agricultura brasileira, nas décadas de 1950 e 1960, as principais limitações eram
a deficiência de nutrientes e a acidez do solo. Essas, em parte, foram corrigidas. Contudo,
com a intensificação do cultivo do solo surge um problema grave a partir do final da década
de 1970, a erosão. Várias práticas foram avaliadas e recomendadas para controlar a erosão
e recuperar os solos degradados. No início da década de 1990, os exemplos de sucesso e a
troca de informações foram estímulos fundamentais que, aliados à adaptação das máquinas
agrícolas e às novas moléculas químicas para controlar plantas espontâneas, facilitaram
a ampla adoção da SD em substituição ao preparo convencional (PC). I aquela época,
era insistentemente enfatizada a necessidade de não revolver o solo, de fazer a rotação
de culturas (com diversificação de espécies e de produção de alta quantidade de palha)
e aumentar o teor de matéria orgânica (MO). À medida que essas práticas foram sendo
implementadas, aumentou o interesse pela atividade biológica no solo. 1 o século XXI, os
destaques na agricultura brasileira foram o aumento do potencial produtivo das plantas,
a modernização das máquinas agrícolas e, por último, a agriculh.tra de precisão. Assim, a
Ciência do Solo também vivenciou, em momentos alternados, o aumento das contribuições
em várias áreas, inicialmente na pedologia e na fertilidade (adubos e corretivos), depois na
física (conservação e mecânica) e recentemente na biologia (fixação biológica de nitrogênio
e ciclagem de nutrientes).
Nas décadas de 1980 e 1990, o conceito de capacidade do solo foi revisado e definido
em termos de QS. Essa reflexão ocorreu por causa do aumento da erosão e da degradação
dos solos, da diminuição da produtividade, da crescente demanda por alimentos e da
necessidade de aplicar Ciência do Solo aos problemas gerados pelos usos não-agrícolas
do solo (Lal, 1999). Esse estímulo partiu da preocupação da sociedade com environmental
qualihJ ou health (saiíde ou qualidade do ambiente). Neste século, alguns pesquisadores têm
direcionado esse conceito à mera atribuição de um valor ao solo, de acordo com a função
ou uso, devido à preocupação com a degradação e conveniência de manejo sustentá el
(Carter, 2002).
A concepção da QS foi originalmente desenvolvida em países industrializados de
regiões de clima temperado (com base nos padrões de qualidade da água e qualidade do
ar), na maioria dos casos comparados com padrões em estado puro, a partir dos problemas
gerados pela aplicação excessiva de ~utrientes e pelo _alto gast? energético na agricultura
(Karlen et ai., 1997). Os termos q11a/1dade do ar e q1ia/1dade da ag11a estão e m evidencia na
sociedade e fazem parte da legislação ambiental. A concepção desses tem por objeti 0
resLTingir os impactos negativos de poluentes biológicos, químicos e físicos em ambientes
específicos (Sojka e Upchurch, 1999).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1274 MARGARETE NICOLODI

J~ nas reg,oes de clima h·opical, essa reflexão surgiu de experiências diferentes,


a partir_d_e_ solos ~ue eram considerados menos aptos ao uso agrícola, por causa da alta
susceph?1hdade a erosão e da baixa fertilidade. Nas tropicais, em vez da contaminação
por nutrientes, as preocupações são a baixa disponibilidade destes, a acidez e a dinlinuição
d~s teores de MO. As ~reocupações compartilhadas entre pesquisadores das regiões de
clima temperado e tropical são a erosão, a diminuição da biodiversidade e a adaptação ou
mitigação das mudanças climáticas (Sanchez et al., 2003).
D~rante as décadas de 1960 e 1970, as práticas de manejo do solo foram reconJ1ecidas
como m:'portantes para aumentar a produção agrícola e receberam maior atenção
(Harterrunk, 2002). No início do século XXI, o solo voltou a ser objeto de interesse pelos
níveis crescentes de fome no mundo, pela necessidade de aumentar a produção de alimentos
e de biodiesel e por ser w11 componente essencial em relação aos outros problemas, como
a degradação ambiental (Nortcliff, 2009). A erosão do solo, a depleçiio de nutrientes e a
poluição são os principais assuntos que têm sido enfatizados em notícias, como em " ... a
degradação dos solos como uma causa e um efeito de pobreza" (Hartemink e McBratney,
2008). As alterações causadas pelos (ab)usos do solo podem inviabilizar a exploração de
outras fronteiras da ciência no futuro pela humanidade (Baveye et al., 2011), caso não sejrun
usadas práticas adequadas de manejo. No entanto, é a partir do interesse do público em
geral, do suporte para pesquisa e da educação de crianças e jovens que será reconhecida a
importância do solo nesse contexto.
A consciência ecológica, que emergiu nas últimas décadas, apreensiva com o futuro e
o ambiente, mais preocupada com a qualidade dos alimentos do que com a quantidade
necessária para atender as demandas da população crescente, muitas vezes desconsidera
as limitações dos recursos naturais para a produção (desses, como solo adequado ao
cultivo, e de mão de obra capacitada). O aumento da degradação do solo, a diminuição da
produtividade das culturas, a evolução das ciências e da consciência ecológica das pessoas
e outros interesses estimularam o uso de vários termos: sai/ fitness (aptidão do solo), soil
productivi ty (produtividade do solo), soil healtli (saúde do solo), soil fertili ty (fertilidade do solo), soil
vitality (vitalidade do solo) e qualidade do solo. O significado atribuído e o uso desses termos
são debatidos no exterior, mas não recebem suficiente atenção no Brasil.

DEFINIÇÕES E CONCEITOS ADOTADOS E DISCUTIDOS


NO EXTERIOR

O termo definir significa estabelecer a extensão ou os limites, enquanto conceituar


significa formular um pensamento com palavras. Esses termos são usados indistintamente
na bibliografia internacional sobre QS. Neste capítulo, serão mantidos os termos adotados
nos textos originais, mesmo que inapropriados. O termo qualidade deriva do latim (qualitas,
tis) e seus significados em português são, entre outros: atributo, propriedade pela qual
algo se distingue dos demais; exce~ência: virtude; e _grau d_e ~erfeição,_de coni~rmidade a
um padrão (Michaelis, 1998). Qualzd~de e um conceito su?J~tí_vo, relac1~nad~ diretamente
às percepções de cada indivíduo. Diferentes usos da definiçao de q~a/idade 1nierem grau
de excelência. Um solo com qualidade é um excelente solo. Já qualidade de vida significa
conjunto de condições n:cess_árias ~ar~ o bern-e~tar d_e um indivíduo ou conjunto de
indivíduos. Porém, à QS tem sido atr1bmdos conceitos diversos.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICULTURA · · ·
1275

Incoerências nos conceitos ou nas definições de QS e q ue este te rmo é um ~nto


arbitrário têm sido demonstradas desde a d écada de 1990 (Norton et ai., 1999; SoJka e
Upch_urch, 1999; Letey et ai., 2003; Sojka et ai., 2003). o termo qualidade é índe~inível para
um sistema complexo como o solo, mesmo no contexto da produ tividade, pois qualquer
coisa que é definida infinitamente, na verdade, é indefinida ou não definíve l. Esse pri_ncípio
da lógica se aplica à QS, a qual somente é definível numa árvore infinitamente ramificada
de cenários. Logo, a definição deveria ser diferente para cada cenário para acomodar
os múltiplos usos do solo (Sojka et ai., 2003). A reflexão sobre as concepções do termo
qualidade foi incentivada pela Sociedade Americana de Ciência do Solo (SSSA) inúmeras
vezes (Allan et ai., 1995; Doran et ai., 1994; Doran e Jones, 1996; Karlen et ai., 1997; Sojka e
Upchurch, 1999; Sojka et ai., 2003). Uma das críticas feitas é que o conceito de QS, derivado
de vários desacordos filosóficos e científicos, foi prematuramente ins tituáonalizado e
promoveu um desvio de atenção de recursos e de esforços que deveriam ter sido dirigidos
ao aprimoramento e à melhoria das práticas de manejo do solo (Sojka et al., 2003). a
Europa, essa reflexão é estimulada nos livros Managing Soil Quality Challenges in Modem
Agriculture (Schj0nning et ai., 2004a) e Vital Soil: Function, Value and Properties (D oel man
e Eijsakers, 2004). Em inúmeras publicações científicas estão expressas as preocupações
com health ecosystem (saúde do ecossistema), sustainable farming (agricultura sustentávef),
fertilidade do solo e QS, revelando problemas na comunicação entre os autores e formadores
de opinião; são elencadas funções e atribuídos valores aos usos do solo, mas raramente
são detalhados os principais processos que nele ocorrem (Schj0nning et al., 2004b). Talvez
não sejam apenas problemas na comunicação, mas opiniões e objetivos divergentes, até
mesmo preferência aos aspectos que apresentam menor dificuldade para pesquisar e maior
facilidade para publicar e insuficiente contato dessas pessoas com a realidade agrícola.

Soil quality (qualidade do solo)


Uma das primeiras definições amplamente aceitas foi publicada pela Food and
Agriculture Organization of the United Nations (F AO, 1976), em que "qualidade da terra é
um atributo complexo da terra que age de um modo distinto na sua influência sobre a
sustentabilidade da terra para um tipo específico de uso". Na década de 1970, Warkentin
e Fletcher (1977) destacaram que esse conceito era necessário para complementar a
pesquisa em Ciência do Solo, ~ fim de tomar o entendimento de solos mais completo e
ajudar a guiar o uso e a taxação à medida que a agricultura se intensifica e se expande
para atender a crescente demanda mundial da população. O interessante é que, segundo
Karlen et al. (2004), por pelo menos uma década após sua publicação, esse conceito esteve
muito associado à fertilidade, ao manejo do solo para minimizar os efeitos da erosão e à
diminuição da produtividade.
A discussão sobre a QS foi estimulada na metade da década de 1980 com a publicação
do relatório sobre a degradação do solo pelo Comitê Permanente da Agricultura do Canadá
(Gregorich, 1996). Em 1984, Anderson e Gregorich definiram QS como a capacidade
sustentável do solo aceitar, estocar e reciclar água, nutrientes e energia. Em 1987, a S&SA
(1987) definiu como atributos inerentes do solo, que são deduzidos das características ou
observações indiretas (ex. erodibilidade). Power e Myers (1989) determinaram como a
capacidade do solo para suportar o crescimento das plantas. Em 1991, o National Researdi
Coun cil definiu qualidade como a capacidade de um solo funcionar num modo produtivo e
sustentável enquanto mantém ou melhora o recurso base, o ambiente e a saúde (plantas,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1276 MARGARETE NICOLODI

anin~ais e humano ) e Larson e Pierce (1991) como: (1) "condição de existência de um solo
rela~va a um padrão ou em termos de grau de excelência" e (2) "a capacidade de um solo
func10nar dentro dos limites do ecossistema e interagir positivamente com o ambiente".
Os conceitos apresentados anteriormente foram complementados com a ideia
de sustentabilidad e em longo prazo (Parr et ai., 1992). Todavia, enquanto o comitê da
SSSA adotou a concepção de QS restrita à capacidade do solo em funcionar (Doran et
ai., 1994), Larson e Pierce (1994) conceituaram QS como uma combinação de atributos
físicos, quím.icos e biológicos que fornece os meios para a produção vegetal e animal para
regular o fluxo de água no ambiente e para atuar como um filh·o ambiental na atenuação e
degradação de componentes ambientalmente perigosos. Doran e Parkin (1994), Mausbach
e Tugel (1995) e Karlen et ai. (1997) mantiveram a mesma concepção de QS publicada em
1991 pelo Na tional Researcl1 Council, usando outras palavras para expressá-la: " capacidade
de um tipo específico de solo funcionar, dentro dos limites dos ecossistemas naturais ou
manejados, para sustentar a produtividade das plantas e a.rumais, manter ou aumentar a
qualidade da água e do ar, e sustentar a saúde hwnana e habitação" (Karlen et ai., 1997).
Em 1998, MacDonald et ai. (1998) separaram a QS em intrínseca (QSI) e dinâm.ica
(QSD). A QSI foi definida como aqueles atributos do solo que contribuem para a capacidade
do solo de suportar urna função crítica específica (como, por exemplo o crescimento de
plantas), relativamente imutável no tempo. Enquanto a QSD, defin.ida em termos das
mudanças tempera.is, como a alteração de todas ou de certas propriedades da QS, (em
resposta ao uso e manejo), entre dois momentos. A QSI, diferentemente da QSD, não
pode ser avaliada independentemente dos fatores extrínsecos; por isso, não tem uma
metodologia de avaliação com padrões aplicáveis un.iversalmente (Carter, 2002).
Ta Europa, assim como em outras regiões de clima temperado e também nas de clima
tropical, nem a comun.idade científica nem os agricultores concordam com o significado do
termo QS. Uma vez que QS, em sentido amplo, significa grau de excelência, a diversidade de
interpretações se origina do ponto de vista e das motivações de quem usa o termo (tipo de
uso específico). O termo deve ser analisado detalhadamente; frequentemente mais usado
para descrever atributos do solo, deveria ser usado para esse propósito somente quando
relacionado às preocupações com sustentabilidade: (1) produtividade do solo, (2) impacto
no ambiente e (3) efeito na saúde humana (Schj0nn.ing et al., 2004b). Esse dualismo é uma
barreira significativa na comunicação (Carter et al., 2004).
A inclusão do conceito de QS no contexto das políticas da União Europeia demonstra
a integração entre as funções do solo e as ameaças de degradação na perspectiva do uso
sustentável do solo (Tóth et al., 2007). Nessa abordagem ela é descrita com base no
desempenho das funções do solo por meio da estimativa das metas de uso da terra,
considerando a d.inârnica do solo corno resposta ao impacto humano ou da natureza. Contudo,
eles enfatizam que QS pode não ser a mesma para diferentes propósitos. O conceito de QS
deveria ser concebido para melhorar o crescimento das J?lantas com o uso de tecnologias
ambientalmente responsáveis (Sojka e Upchurch, 1999). E necessário um significado mais
adequado para comunicar decisões à sociedade e prescrições de manejo aos agricultores,
com expressões que facilitem a transferência dos resultados da pesquisa (Schj0nning et al.,
2004c).
A reflexão sobre as mensagens que estão sendo divulgadas sobre QS é estimulada
por Sojka et al. (2003), a fim de evitar confundir o público desinformado sobre o solo
e de concentrar esforços para resolver os problemas mais graves. Eles até fazem um

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À A G RI CU LTU RA · • ·
1277

comparativo com a saúde humana: numa emergência, o câncer é con rol do antes de
prescrever exercícios para tônus muscular; os recursos são concentrad s pa ra comb~ter
doenças graves, não para combater uma saúde fraca nem pa rn promo~er_u~a bon aude.
Do mesmo modo, deveríamos ser mais eficientes em comunica r os pnnc1pais problemas
e priorizar as pesquisas para solucioná-los. Se nós queremos controla r rosão, p r~cisamos
identificá-la como o problema, em vez da QS baixa; QS significa diferen tes catsas para
diferentes públicos em diferentes locais e épocas. QS signifi ca diferente coi as para
diferentes públicos em diferentes locais e épocas. Enquanto a p rod u ti vidade e erosão são
os focos da abordagem de QS nos Estados Unidos, a conta minação do solo é o foco na
Europa.

Soilfitness (aptidão do solo)


Nos Estados Unidos, foram publicados artigos com o termo soil fitn es , q ue enfatizaram
na definição a aptidão para o uso do solo no contexto agrícola (Larson e Pierce, 1991, Pierce e
Larson, 1993); e, no Canadá, a aptidão para um uso específico (Carte r et ai., 1997). Es a ideia
refletiu a tentativa inicial de classificação da capacidade da terra ou de s us ten tabilidade do
solo (Pierce, 1996; Carter et ai., 1997; Singer e Erwing, 1999). Se o solo não é adequado para
um uso específico, então não é apropriado determinar sua qualidade para aquele uso ou
função (Carter, 2002).
No Canadá, os trabalhos iniciais foram conduzidos no contexto de uso sus ten tável do
solo, em que foram avaliados os efeitos do cultivo intensivo na aptidão do solo nas diferen tes
regiões, sendo reconhecida a importância do teor de MO na sua manutenção. O gra u de
aptidão de um solo para um uso especifico foi enfatizado na América do orte, tanto por
americanos como por canadenses (Acton e Gregorich, 1995; Warkentin, 1995; Doran et
al., 1996; Carter et al., 1997; Gregorich, 2002). Essa é uma representação que integra as
condições de determinado solo para funcionar num uso específico ( {ausbach e Seybold,
1998) e o termo é usado para descrever todas as condições do solo em relação ao seu uso
pretendido (Wolkoski, 2005).

Soil health (saúde do solo)


O termo soil health tem sido usado na Europa e em vários países, inclusi e nos Estado
Unidos e no Canadá. Na década de 1980, o termo healtlz (saúde) fo i usado e, tensi amente
nos apelos ambientais como metáfora da saúde das pessoas, embora nem sempre exista um
paralelo entre ambas. Termos como ecosystem healt/1 (sazíde do ecossistema) e en ironmenlal
health (sazíde do ambie11te) são frequentemente citados na literatura, end o he 1th adotado
como sinônimo de quality (MacDonald et ai., 1998). Todavia, alguns preferem O termo sazíde
do solo porque ele representa o solo como um sistema vi o, um organismo dinâmico em
vez de uma mistura inanimada de areia, silte e argila (Doran et ai., 1999). Para O Instituto
Rodale, dos Estados Unidos, somente se preserva e melhora a saúde das pe s oas e for
restaurada e protegida a saúde 1znt11ml do solo. Por isso, diversos autores preferem definir
qualidade em termos de saúde do solo (FAO, 1997); alguns adotam o te rmo QS e •aúde J
solo como sinônimos (Acton e Gregorich, 1995; lacDonald et al., 199 ; Doran et ai., 19
Carter et al., 2004) e outros como tendo significados diferentes ( la us bach e Tugel, l J ;
Miles e Brown, 2011) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1278 MARGARETE NICOLODI

A FAO declarou, em 1997, q ue salÍde do solo é a condição ou saúde da terra em re lação


à sua capacidade para su stentar o uso da terra e o manejo ambiental. Já Acton e G regorich
(1995) ~onceituaram salÍdc do solo ou QS para a agricultura como aptidão do solo para suportar
o crescun ento das plantas, sem resultar na degradação do solo ou do ambiente. Doran et
al., em 1999, adotaram as concepções de qualidade publicadas em 1994, por Doran & Parkin,
e em 1997, por Karlen et ai., mas conceituaram em termos de QS ou saúde do solo. Porém, os
mesmos autores declararan1 que ela é frequentemente pensada como um atributo abstrato
do solo e não pode ser definida porque depende de fatores externos. O conceito d e saúde
do solo contempla a eficiência ou o bom desempenho das funções e dos processos, que
compõem o solo ou ecossistema (Carter et ai., 2004).
Mausbach e Tugel (1995) conceituaram nw11a mesma publicação soil condition (condição
do solo) ou saúde do solo independente de QS; sendo condição ou saúde a habilidade que o
solo tem de desempenhar o seu potencial, que muda no tempo em razão do manejo e uso
humano ou evento natural esporádico. Essa separação indica que QS deve ser definida em
termos de manejo e ambientes distintos com relação a um solo específico para determinado
uso (Sojka e Upchurch, 1999).
Esses conceitos e essas definições têm sido aprimorados evidenciando preocupações
com a qualidade de vida das pessoas e a conservação da biodiversidade corno fizeram
Kibblewhite et al. (2008), declarando que o solo ag,ícola saudável é aquele capaz de suportar
a produção de fibras e alimentos, num nível e com a qualidade suficiente para atender as
necessidades humanas, ao mesmo tempo em que continua fornecendo serviços do ecossistema
essenciais para a qualidade de vida dos humanos e para conservar a biodiversidade.

Outras abordagens
Soil vitality (vitalidade do solo)
A soil vitality é a habilidade contínua ao longo do tempo de manter um funcionamento
adequado do sistema solo por meio da diversidade de processos e organismos que nesse
participam (Eijsakers, 2004). A fim de recuperar e melhorar a composição e manter o
funcionamento adequado deve ser considerado para superar eventos e impactos adversos
a robustez, a flexibilidade e a resiliência. Portanto, vitalidade = robustez + resiliência +
recuperação + riqueza (estrutural e funcional) . A vitalidade do solo foi definida como uma
extensão do conceito de f ertilidade do solo ideal, publicado por Janssen (1999), em relação
à qualidade do manejo do solo. Esta extensão acrescenta os critérios de estabilidade e de
equilíbrio ao conceito, com princípios da teoria geral dos sistemas e da termodinâmica do
não-equilíbrio. A partir disso, a vitalidade do solo passa a ser definida como a habilidade do
ecossistema solo de se manter em equiHbrio num mundo em evolução (De Rui ter, 2004). Tal
definição pode ser usada para desenvolver práticas de manejo que restauram, preservam e
asseguram a sustentabilidade do ecossistema solo (De Ruiter, 2004; Verhoef, 2004).

Soi/ productivity (produtividade do solo)


o termo soil productivity algumas vezes também tem sido adotado como sinônimo de
QS. Em 1978, Foth defuiiu esse termo como a capacidade de o solo produzir um cultivo
específico ou sequéncia de cultivas sobre um sistema d e manejo específico. Alguns autores
acreditam que a produtividade é a expressão final da QS, pois ela ocorre quando atributos

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VI STAS À AGRICULTURA · • ·
1279

químicos, físicos e biológicos estão em boas condiçõe (Vezzani e Ti lniczu k, 2009). Lirson
e Pierce (1991) sugeriram ligar os conceitos de Q e produtividade do solo. ~ utra5 veze5 ,_
conceito de QS tem sido aplicado no estabelecimento de relaçõ s causü-efe•t~ entre er? ao
do solo e produtividade (Lal, 1999). Nos últimos anos, o conceito de QS tem ido ampltad
para incluir, além da produtividade, a sus tentabilidade (Ca mba rd e lla et ai., 2004 )-
0 conceito de QS mais aceito é aquele direcionado à produção agrícola, porque _.:15
variáveis relacionadas com alta produtividade são boas para determinar a ~ (1 ortcltff,
2002; Lapen et ai., 2004; Zvomuya et ai., 2008). Existe sobreposição nos e nce1_to~ e QS e
produtividade do solo. No entanto, o de QS é mais abrangente que o de produtividade, e m
razão da ênfase no ambiente, nos múltiplos usos e na saúde humana (Ka rl n et ai., 2004).

Soil fertility (fertilidade do solo)


Enquanto a discussão sobre QS foi intensificada nos últimos 25 anos, a sobre fertilidade
do solo, (e as incoerências desses conceitos), e produtividade do solo foi re tomada no último
15 anos. Os conceitos adotados na Europa tendem a considerar as cond ições fí irns,
químicas e biológicas do solo como determinantes da fertilidade do . ola. Provavelmente,
em boas condições tanto a fertilidade como a produtividade e a QS serão a ltas . Contudo, nas
Américas, o conceito mineralista, que restringe a fertilidade às condições química do solo,
continua predominando. Por isso, seus pesquisadores não consideram que os fa tores da
QS sejam os mesmos da fertilidade, pois partem de conceitos diferentes.
Uma ampla revisão sobre termos e pontos de vista envolvidos no conceitos de
fertilidade do solo e yield given capacity (capacidade de produzir) na literatura alemã e de
QS na anglo-saxônica foi publicada por Patzel et al. (2000), com mapas conceitua is
interessantíssimos. Eles destacaram que é importante examinar o que é dito e como é dito
para entender as diferenças sutis entre os vários conceitos da fe rtilidade, pois o estado atual
dela não é mensurável por causa da sua natureza. Alguns autores conceituam fertilidade
corno a habilidade do solo para produzir frutos e afirmam que fertilidade do solo e capacidade
de produzir são sinônimos; outros que a escala de tempo as distingue: a primeira é condição
de longo prazo, enquanto a segunda é resposta de curto prazo ao mes mo fenômeno.
Patzel et al. (2000) sugeriram reavaliar o fenômeno da fertilidade em termo moderno
e propuseram distribuir as diversas ideias conceituais associadas com esse fenômeno
em dois termos: fertilidade do solo e QS, em conceitos que possuem focos nitidamente
diferentes. Fertilidade designa um atributo definido do solo, que não pode er ub tituído
ou complementado por atributos adicionais sem mudar o termo; e e é o termo corr to
para manter no foco o fenômeno oculto de gerar uma no a vida evidenciando aquil q ue
nutre. QS designa um conjunto indefinido de atributos do solo, que podem ser ub tituído
ou complementados por outros sem necessidade de mudar o termo (influenciado pelo
juízo de valor); esse termo é ajustado para enquadrar todos os atributos q ue são a aliados
para comparar um solo em relação a um padrão e enfatizar a su a c pacidade em fazer
aquilo que se espera que ele faça. A diferenciação clara entre e es conceito melhora a
comunicação e evita problemas gerados pela mistura de informaçõe obre O fen r meno da
fertilidade e o juízo de valor associado à QS (Patzel et ai., 2000).
No Brasil, a reflexão sobre a noção da fertilidade foi moti ada pela obtençà de alta
produtividade em solos cultivados em SD com alares de indicad re consider d 5
inadequados para o crescimento e desenvol imento das planta n PC (l i olodi, _00

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1280 MARGARETE NICOLODI

A mudança do sistema de cultivo tornou mais evidente os ruídos existentes na avaliação


dela e as limitações do enfoque restrito às condições químicas do solo (Nicolodi, 2006).
Resultados de experimentos de campo, conduzidos por mais de 20 anos, comprovaram
que º. conceito e a avaliação minera.lista são insuficientes para expressar a f ertilidade
percebida pelas plantas em solos cultivados há longo tempo em SD (Nicolodi et ai., 2008).
O entendimento da fertilidade deveria ser ampliado (Nicolodi et ai., 2004a,b; D' Agostini,
2006; Schlindwein, 2006; Denardi..n et ai., 2007; Nicolodi et al., 2007) . Em 2004, a fe rtilidade
foi conceituada como uma propriedade emergente do processo de auto-organização do
sistema solo, resultante da interação entre as suas condições químicas, físicas e biológicas,
que possibilita o desenvolvimento e a produtividade das plantas (Nicolodi et al., 2004a). A
partir do trabalho desenvolvido por Vezzani (2001) sobre funcionamento, auto-organização
e qualidade do sistema solo, Nicolodi (2007b) construiu un1a teoria coerente para a f ertilidade
do sistema solo e sobre a sua participação na geração dos produtos agrícolas. Aliás, esse
assunto também deveria ser objeto de outras reflexões na Ciência do Solo.

Reflexão sobre essas abordagens


A concepção da QS desde o inicio esteve atrelada a wn uso específico do solo,
à aptidão, à conservação, à fertilidade e à produtividade, depois também ao tipo de solo, à
sustentabilidade, à saúde e ao ambiente; a partir de então tem sido atribuídas inúmeras
funções ao solo. Assim, a abordagem de QS se tomou ampla demais, divergente, vaga e
de aplicabilidade discutível, porém com publicações e discursos recheados de palavras da
moda, politicamente interessantes. Qualidade é w11 termo fashion, que atrai investimentos
apesar de transmitir mensagens diferentes, carentes de sentido e aplicação prática,
até mesmo no contexto agropecuário. Já aptidão do solo sempre esteve focada no uso
sustentável, com utilidade prática comprovada. Nesse contexto, a ausência de consenso
sobre o significado de saúde do solo e se essa expressão é ou não sinônimo de QS não causa
surpresa, aliás, é um fato positivo. O uso do termo saúde transmite wn tipo de mensagem
quando adotado no contexto humano ou animal, outro tipo quando usado no contexto
ambiental e mensagens conflitantes guarido usado no contexto do solo . Logo, os termos
qualidade e, principalmente, saúde são inadequados para uso no contexto da Ciência do
Solo, ao contrário de aptidão, que transmite mensagem clara e realmente pode contribuir
para a melhoria do solo e do ambiente e aumentar a produtividade.
A abordagem da vitalidade do solo reconhece e agrega diferentes capacidades do sistema
solo, que podem ser alteradas com as práticas de manejo, direcionadas à potencialização dos
processos que neles ocorrem a fim de melhorar o funcionamento, em vez da sua estimativa.
É provável que essa abordagem contribua para melhorar o sistema solo.
O uso dos mesmos argumentos nos conceitos de QS e produtividade do solo confirma
que a maioria dos escritores continua se referindo à mesma essência: todas as condições
do solo que determinam a capacidade produtiva de cada solo. A diferença é que na
abordagem da QS foram atribuídas diversas funções, ou seja, responsabilidades ao solo(!),
além de manifestar a preocupação com a sustentabilidade.
As diferenças entre a base conceituai de fertilidade do solo adotad a nas Américas e
aquela usada em vários países da Europa tarnbé1:1 _contribui para a falta de clareza e a
sobrepos ição d e ideias nas abordagens de produ t1v1dade do solo e QS. A base conceituai
adotada na Europa e em discussão no Brasil (fertilidade do sistema solo) é mais apropriada

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICU LTURA · · ·
1281

para solos manejados por longos períodos sem revolvimento. A insufici ê.n~ia do conceito
mineralista da fertilidade já foi provada, mas somente quando adm~hre~ que essa
propriedade é gerada pela interação das condições físicas, químicas e b1ológica d.o _solo
se tornará mais evidente a import~ncia do nível de fertilidade na aptidão e na produtivrdarle
do solo.
As concepções de aptidão dosolo, fertilidade do soloe produtividade do solo se com p~eme~tam
e têm aplicação prática, uma no planejamento com base no ambiente que está ins~ndo e
a outra na melhoria das condições daquele solo para a última. Embora em determmados
períodos a degradação do solo e de outros recursos naturais tenha prevalecido em aJgumas
regiões, isso não significa que as pessoas tenham deixado de trabalhar para melhorar as
condições do solo, a fertilidade, a prod11 tividade e o ambiente. Essa preocupação existe desde o
início da agricultura, e a alternância de cenários faz parte da evolução, porém as novidade
Jashions deveriam ter efeitos práticos evidentes especialmente no contexto agrícola, já que
no político elas parecem ter.

AVALIAÇÃO

O esquema para avaliar a QS segue a sequência: propósitos ou usos, funções, processos,


propriedades ou atributos, indicadores e metodologia-padrão (Carter, 2002). A seleção de
indicadores e a construção de esquemas para cakular ou estabelecer índices capazes de
expressar a QS são foco de aproximadamente 90 % dos trabalhos, apesar de a avaliação medir
somente o que está acontecendo no solo e de ser incapaz de determinar a susten tabilidade
do sistema de manejo do solo num futuro, próximo ou distante (Doran e Parkin, 1994).
Continuando a reflexão sobre o significado dos termos, seria mais apropriado adotar
estimativa em vez de avaliação ou determinação, pois se trata de um aspecto qualitativo
e não quantitativo do solo. Todavia, considerando que, nesse momento, é mais útil para a
Ciência do Solo brasileira e para os solos discutir o conceito e implementar as práticas de
manejo, detalhes sobre indicadores e metodologias não serão abordados.
As diferentes concepções verificadas nos conceitos entre as bibliografias publicadas
na Europa e na América do Norte são evidentes nas filosofias de a, aliação. A estimativa
da QS poderia ser um dos principais critérios para planejamento e uso sustentável do
solo (Tóth et ai., 2007). Para isso, deveriam ser respondidas pelo menos as questões: (1)
Qual é o potencial de uso da terra alternativo em determinadas condições, considerando
as demandas e condições naturais? (2) Quais são o potencial e a eficiência atual de várias
alternativas, com base numa realista e compreensiva análise de cus to/ beneficio? (3) Quais
são os riscos ecológicos e econômicos, as consequências ambientais e os efeitos colaterai
potenciais previsíveis dos principais usos? (VáraJlyay, 2002).
A avaliação da QS emprega várias determinações empíricas e faz uma estimati a
subjetiva de quão bem os atributos do solo expressam o potencial daquele solo. A a aliação
não é baseada numa determinação alta~ent~ espe~ífica de adequação para um imple uso
pretendido (Sojka e Upchurch, :999). ~~em d~s~o, s_ao ~reocupantes os fatos de que um índice
de QS simples, de preço ~ce~s1v~l e v~avel, e m~tmgw~l e que ter índice incli id uais para
todos os solos e circunstancias e tecrucamente 1mposs1vel (Sojka et ai., _003); ob iamente
sem mencionar os modelos que promove~ kits, cart?es de marcação de pontos, análi es
de percepção e odor do solo para conduzir o maneio do solo, a p squisa e as políti as

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1282 MARGARETE NICOLODI

do ecossistema, que arriscam diminuir o stnt 11 s da Ciência do Solo (Sojka e Upchurch,


19~9). Ciência essa que fez um grande esforço p ara desenvolver medidas acredi táveis dos
alT1butos do solo e d e resposta das plantas. Além do mais, a fa lta de especificidade da QS
poderia estimular promoção de prod11tos 111ilngrosos e práticas questionáveis.

Funções
lesse contexto d a QS, nptidão do solo, snzíde do solo etc., muitos autores se referem
às funções do solo, embora também não exista consenso sobre o termo função. Alguns
autores preferem o termo uso, porque destaca o aspecto de manejo (Letey et ai., 2003) e
é mais apropriado para se referir às expectativas que as pessoas têm sobre as aptidões do
solo.
Desde a d écada de 1990, têm sido elencadas quais seriam as funções do solo (Larson e
Pierce, 1991; Doran e Parkin, 1994; Larson e Pierce, 1994; Biswas e Mukherjee, 1995; Brady
e \Neil, 2001; Gregorich, 2002). Segundo esses autores, as funções são: (1) servir como meio
para o crescimento das plantas; (2) servir de habitat para os organismos do solo; (3) servir
como meio para obras de engenharia humana; (4) regular os fluxos de água, de gases
e de energia no ambiente; (5) reciclar os materiais in natura e os produtos de descarte;
(6) responder ao seu manejo e resistir à sua degradação; (7) sustentar a produtividade
biológica; (8) promover a saúde do homem, das plantas e dos animais; (9) sustentar a vida
de todas as criaturas. As funções foram ah-ibuídns pelos autores para entender melhor o
objeto de estudo, no caso o solo. Isso não significa que o objeto tenha essas funções; trata-se
de um artifício para entender como interagem os outros objetos com o objeto de interesse.
Afinal de contas, será que é responsabilidade do solo "promover a saúde do homem, das
plantas e dos animais" ou é do homem "promover a saúde do solo, das plantas e dos
animais", Gá que as práticas e os usos são determinados pelo homem, enquanto o solo
somente reage ao que recebe?)
A avaliação de uma função requer a seleção de atributos, propriedades ou processos
que: (1) servir como meio para o crescimento das plantas; (2) servir de habitat para os
organismos do solo; (3) servir como meio para obras de engenharia humana; (4) regular
os fluxos de água, de gases e de energia no ambiente; (5) reciclar os materiais in natura
e os produtos de descarte; (6) responder ao seu manejo e resistir à sua degradação; (7)
sustentar a produtividade biológica; (8) promover a saúde do homem, das plantas e dos
animais; (9) sustentar a vida de todas as criaturas. (Karlen et ai., 1997). Uma vez definidas
as funções, os processos para cumprir cada fw1ção deveriam ser descritos detaU1adamente
e, então, selecionado um índice ou um conjunto mínimo de indicadores (Mininum Data Set
- MOS) para avaliar o desempenho de cada função (Doran e Parkin, 1994; Karlen e Stott,
1994; Larson e Pierce, 1994). Porém, os principais processos raramente são detalhados
(Schj0nning et ai., 2004b), além do que é impossível avaliar todas as funções, simultâneas
e até mesmo contraditórias. QS alta para produção não é garantia de qualidade alta para
proteção ambiental ou para biodiversidade ou sustentabilidade; e qualidade alta para uma
função, frequentemente, predispõe qualidade baixa para outras funções simultâneas (Sojka
et ai., 2003).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRI CULTURA · · •
1283

Indicadores e índices
A seleção de indicadores tem sido o principal foco das pesquisas em QS. D_ep~ndendo
da função p ara a qual uma avaliação está sendo feita, uma lista quase infin ita de indicado res
pode ser utilizada (Lal, 1999). Os indicadores de maior interesse são os físicos (o mc1is prami:sor
é a estrutura) e os biológicos (MO e atividade de grupos de organjs m os). Es a p r_eferê ncia ~
expectativa de que nesses grupos estejam os in d icadores mais sensíveis às alteraço da QS e
esperada, pois os quírrucos já fazem parte das avaliações de rotina da fertilidade e, conforme
a interpretação dos resultados, práticas de correção e de adubação são recom end adas e
adotadas. A moderruzação dos equipamentos analíticos possibilitou que dete:minaç- mais
es pecíficas de C, N e P sejam feitas, assim como de atividade de enzimas. E lógko que, se
a QS for considerada como aptidão ou se o objetivo for avaljar a degradação do solo, o
indicadores das condições físicas podem ou deveriam expressá-la melhor.
Um inrucador deve transmitir informação sobre potencial de impacto da mudança do
manejo nos resultados das funções do solo (Bremer e EUert, 2004). Existem muitos problemas
na seleção de indicadores, (de escalas temporal e espacial), como a necessidade de demonstrar
as relações de causa e efeito entre a QS e as funções no ecossistema, a acurácia, a pTecisão e o
custo da determrnação do MOS (Karlen et al., 2004). É difícil identificar os atribu tos que servem
como indicadores do funcionamento do solo, pelos inúmeros aspectos envolvidos na defirução
da qualidade e pela multiplicidade de fatores que controlam os processos biogeoquímicos e suas
variações no tempo, no espaço e na intensidade (Doran e Parkin, 1994). Outro fato relevante é
que são ressaltados somente os aspectos positivos dos inrucadores, como aumento dos teores
de MO, baixa densidade do solo, presença de minhocas e de microrgarusmos etc., todavia os
negativos também deveriam ser (Sojka et ai., 2003).
A busca por indicador pode ser ineficaz para manejas sus ten táveis e o índice introd uz
sign.ifjcatjv~ perda d~ informação do agroecossistema (Carter et ai., 2004). Alguns autore
admitem qué a Q9 não pode ser medida diretamente e s ugerem usar atributos do olo
sensíveis às diferentes práticas de manejo como indkadores, inerentes ou dinàrnico (Brejda
et al., 2000). Os indicadores inerentes são aqueles atributos relacionados à com po ição
natural de um solo e aos atributos influenciados pelos fa tores e processos de formação; e
os dinâmicos são os relacionados aos atributos e aos processos que mudam numa e cala
de tempo humana, como resultado das decisões de uso e manejo (YVienhold et al., 200-l).
Porém, na prática, essa diferenciação não melhora a estimativa da QS.
É óbvio que uma vez selecionados os indicadores - tendo a metodologia sido definida
nessa primeira etapa - são necessários os estudos de calibração para os uso específico
do solo, para as diferentes condições edafoclimáticas com práticas de manejo viá eis
nas diferentes regiões. Assim como, é importante ter consciência que essa fase é muito
demorada, portanto, se faz necessário estudar, recomendar e adotar as práticas de manej
para melhorá-lo, já que a área de solos degradados continua aumentando. Com isso, pode-
se aproveitar o alto potencial produtivo das culturas, culti ando um solo melho rado.
Um índice de QS deveria integrar atributos biológicos, físicos e q uímicos d olo
e os respectivos processos, ser acessível a muitos usu ários e ap licável a condiç - de
campo, ser sensível a variações de manejo e clima ao longo do tempo (Doran e Parkin,
1994). Para Tóth (2008), um único índice não é suficie nte para ter percepção ap li ável da
s u ste ntabilidade no planejamento do uso e da conservação do solo. E · -e a u tor u ~ere a
utilização de três: (1) Índice de ~ S, para expre_ssar a h~bilidade de o solo prestar e~iços
para O ecossistema e para a sociedade; (2) [nd1ce de Risco do Solo, para expressar ní el

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1284 MARGARETE NICOLODI

de risco no qual é expo to aos perigo de degradação; (3) Índice de Sustentabilida d e, para
comparar a QS pelo gradiente de estresse ou distúrbio. Essas diferentes concep ções dos
índices, até conlTa tantes nos objetivos, decorrem dos diferentes conceitos e abordagens da
QS adotadas nas diferentes regiões e épocas.
Inúmeros esquc111ns p ara avaliar a QS foram desenvolvidos, entre eles: Soil Conditioning
I11dcx (SCI), por Hubbs et al. (2002); Soil Mnnngemen t Assess111ent Frmnework (SMAF), por
Andrews et ai. (2004); Agro Ecosystem Pe1formnnce Asscss111ent Tool (AEPAT), por Liebig et
ai. (2004); e Comel/ Sai/ Hea/t/1 Assess111e11t, por Giugino (2007) . Vários foram desenvolvidos
a partir do Productivity lndcx, proposto por Kin.iry et ai. (1983), enh·e eles: (1) QS = f (SP, P,
E, H, ER, BD, FQ MI), desenvolvido por Parr et aJ. (1992), em que SP são os alTibutos do
solo, P o potencial de produtividade, E os fatores ambientais, H a saúde humana e animal,
ER a erodibilidade, BD a diversidade biológica, FQ a segurança e qualidade dos alimentos,
MI os produtos adicionados no manejo; (2) QS = f (QSEl, QSE2, QSE3, QSE4, QSES,
QSE6), por Doran & Park.in (1994), em que QSEl é a produção de alimentos e fibra, QSE2
a erosividade, QSE3 a qualid.ade da água subsuperficial, QSE4 a qualidade dn água superficial,
QSES a qualidade do nr, QSE6 a qualidade dos alimentos. OulTos modelos para integrar os
valores de parâmetros determinados foram propostos por Pierce et ai. (1983), Gale et al.
(1991), Burger & Keating (1999). O esquema amplamente adotado é QSJ11dex = qwe (wt) +
qv. t (wt) + qrd (wt) + qspg (wt) foi desenvolvido por Karlen & Stott (1994), em que qwe é
a taxa de retenção de água, gwt taxa de transferência de água, qrd habilidade de resistir a
degradação, qspg habilidade de sustentar o crescimento das plantas, wt peso numérico de
cada função no solo.
A diversidade de índices propostos na literatura demonstra a incapacidade desses e
dos indicadores em expressar satisfatoriamente a QS. Além disso, Sojka e Upchurch (1999)
alertaram para a ilusão transmitida em trabalhos que citam somente um indicador de QS
(MO, peso de minhocas etc.) e o uso, por exemplo, de aroma como indicador. Qualidade
implica em pressuposição de valor, estes indicadores não são universais e estão sendo
arbitrariamente atribuídos por uma só escola de pensamento.
No Brasil, diversos estudos foram conduzidos avaliando indicadores com objetivo de
selecionar os mais adequados para diferentes tipos de solo, ambientes (semiárido, cerrado,
amazônico etc.), sistemas de cultivo (orgânico, convencional, semeadura direta) e grupos
de espécies (floresta.is, graníferas, pastagens, frutíferas etc.) (Quadro 1). Na maioria das
publicações não foram recomendadas práticas para melhorar o solo nem discutido conceito.
Porém, sugiram novas qualidades Jashions: qualidade biológica do solo, qualidade subsuperficial,
qualidade estrutural, qualidade química e, a mais citada, qualidade física do solo.
Contudo, a falta de habilidade de prescrever medidas específicas de manejo para atingir
um valor de índice de QS desejado foi enfatizado por Waldon et al. (1998) . Eles concluíram,
após 20 anos comparando práticas de manejo, que o esforço para mudar todo o solo para
atingir um padrão arbitrário pode não ser prático e possível economicamente. Para Aden.iyi
e Gbadegesin (2012), são necessárias diversas mudanças metodológicas na estimativa
da QS para guiar as decisões sobre manejo dos solos tropicais, enh·e essas: la) identificar
determinações que reflitam a deficiência de nutrientes e avaliar as ferramentas e os índices
nas regiões de clima tropical, pois a maioria foi identificada nas regiões de clima temperado
e avaliando poluição causada por nutrientes; 2a) conduzir estudos principalmente em
condições de campo para determinar os impactos dos usos do solo e das práticas de manejo
nos indicadores, 3a) analisar as limitações ao desenvolvimento radicular.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO CO M VISTAS À A GRICULTURA .. · 1285

Quadro 1. Temas em destaque em alguns arti gos sobre QS publ icad os n o Brasil no século
XX I

An o Autores Título ou tema abordado no artígo


2001 Chaer ... mod ificou o IQS ... diferentes manejas na cu ltu ra do eucalipto <a0bre J Q5
2002 D' Andréa et ai. Atributos de agregação e indicadores de QS ...
2002 Valarin i et ai. ... QS após incorporação de MO e microrga n ism0<; ... em condições controladas ···
2003 Souza et ai. ... IQS em ... produção de citros em solos coesos dos Tabu lei ros Costeiros
2005 Conceição et ai. QS em sistemas de manejo aval iada pela din!lm ica da MO atributos relacionados
2007 Alves et ai. ... indicadores da qualidade física d e um ... e m recuperação
2007 Amado et ai. QS ava liada pelo "Soil Quali ty Kit Tcst'' em ... experimentos de longa duração no RS
2007 Araújo et ai. QS... usos e sob cerrado nativo ... índice ... para avaliar o nível de d egradaçJo ..
2007 Ch aer e T ó tola Impacto do manejo de resfduos orgânicos ... em eucalip to sobr e indicadores de Q5
2007 Fidalski et al. Qualidade física do solo em pomar de laranjeira no noroeste do Paraná
2007 Melo Filho et ai. .... índice de qualidade subsuperficial ... tabuleiros costeiros, sob flo resta natural
2007 Lima et ai ... indicadores de QS ... cultivo orgânico e convencional no semiá.rido ce.i rense
2007 Ribeiro et ai. ... sistemas de manejo na melhoria da QS e na prod utividade de cajueiro
2007 Trannin et ai. ... características biológicas ... indicadoras da qualid ade ... aplicação de bios.<-ólido ...
2008 Baretta et ai. ... bioindicadores de QS para avalia r intervenções antró p icas e m áreas com a raucária
2008 Blainski et ai. ... curva de resistência do solo ... degradação da "qu alidade fí ica do solo"
2009 Ara tani et ai. Qualidade física de ... sob diferentes sistemas de uso e manejo
2009 Cardoso et al. Atributos biológicos indicadores da QS em áreas de pasta gem no Pantanal
2009 Neves et ai. Indicadores biológicos da QS ... manejo em sistema agrosilvi pastor is ...em :v[G
2009 Netto et ai. Índice QS ... diferentes históricos de uso em pasta gens na região do cerrado
2009 Pôrto et ai. Indicadores biológicos QS para monitorar sistemas deu o no breio paraibano
Vezzani e
2009 Mielnkzuk
Uma visão sobre QS
2010 Bottino et al. ... calibração do modelo QUAL2K em microbacias hidrográficas no Brasil
2010 Ferreira et ai. ... indicadores microbianos da QS sob diferentes rotações d e culturas e manejo
2010 Giarola et ai. ... avaliação visual da estrutura .... qualidade estrutural.. q ualidade física ...
2010 Moura et ai. ... qualidade da água como indicador de uso e ocupação do solo: bacia d o Gama
2010 Niero et ai. ... avaliações visuais como índice de QS ... com u o e manejas distin to~
2010 Lima et ai. ... qualidade estrutural ... com café e pastagem em área de proteção ambiental
2011 Cardoso et ai. Qualidades química e física do solo sob vegetação arbórea .. pastagens no Pantanal
2011 larema e t ai. Qualidades física e quimica do solo em áreas de e.x ploração florestal ...
2011 Kamiyama et ai. ... práticas conservacionistas ... e avaliar a QS na agricultura orgânica e con vencional
2011 Pereira et ai. Qualidade fís ica ... sistemas manejo a aliado pelo indice S
2011 Pimentel e t ai. Bioindicadores da QS em sis temas de culti o orgânico de café
2011 Maia Índice S para avaliação da qualidade fí ica de solos.
2012 Da-Silva et al. Melhoria da qualidade estrutural do ·olo em ...

2012 O liveira et a i. Qualidade física ... cultivado com soja ... em n í ei de com p.iL-taçào e crri çào

Contmua...

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1286 MARGARETE NICOLODI

Quadro 1. Cont.
Ano Autores Título ou tema abordado no artigo

2012 Lima e t ai. Intervalo hídrico ó timo ... indicador d e melhoria da qualidade estrutural ...

2012 Sil\'eira Jr. e l ai. Qualidade iísica d e um Latossolo Vermelho sob plantio direto ...
201 3 OLiveira et ai. Qualidad e estrutural de um Latossolo Vermelho submetido à com pactação
2013 Serafim e t ai. Qualidade física e intervalo hídrico ótimo ... cafeeiro ...manejo con ervacionis ta ...
2013 Bono et ai. Qu alidade física d o solo em Latossolo ... cerrad os ... siste mas de u so e manejo
2013 Mota e t· ai. Qualidade física de um Cambissolo sob sisteanejo.
2014 Kuwano et ai. Soil quality i.ndicators in a Rhodic .. .. under different uses ...Para ná, Brazil.
2014 Sou za et aJ. Effects of traffic control on the soil physical quali ty ... su garcane.
2014 Oliveira et ai. .. . índices de qualidade física do solo sob floresta estacionai semidecidual.
2014 Melo et ai. Qualidade estrutural d e solos coesos ... d e Pernambuco tratados com ...
201-1 Neto e t ai. Qualidade física de um Latossolo ... no Cerrado brasileiro.
2014 Lima et ai. lndex of soil physical quality of hardsetting soils on lhe brazilia n coast.
2015 Cândido et ai. Métodos d e indexação de indicadores na avaliação da QS em relação à erosão ...
2015 Cherubin et ai. Qualidade física, química e biológica de um Latossolo com diferentes ...

Uso de padrões comparativos


Outra questão fundamental na avaliação é: existe ou é possível eleger um valor-padrão
de algum indicador para estimar QS, aptidão do solo ou saúde do solo ou um padrão de solo
que contemple as diferentes condições edafoclimáticas, os sistemas de produção e os níveis
de tecnologia adotados na agricultura? Evidentemente, não estamos nos referindo ao uso
de solo-padrão em análises químicas em laboratórios de rotina. Aquele é outro discurso: usa
amostra de solo com um valor conhecido de elemento(s) a fim de garantir a confiabilidade
nos resultados das análises. Alguns argumentam que a estimativa do impacto do manejo na
QS requer avaliação do estado atual de wn indicador em comparação com valor conhecido
ou desejado (Karlen et al., 1997).
A Jntemational Standardization Organization (ISO) concebeu um programa para
desenvolver métodos padrões de análises por meio de atributos do solo e estabeleceu
dois tipos de padrões para estimativa da QS (Hortensius e Welling, 1996). Um tipo é
desenvolvido pelos comitês técnicos em nível internacional, para a padronização dos
métodos e dos procedimentos. O outro é desenvolvido por cada governo ou em nível local,
com valores de referência dos indicadores para pesquisas em locais e cultivos específicos.
Na Europa, são utilizados vários Soil QualihJ Indicator Systems para o monitoramento
da qualidade biológica do solo (Verhoef, 2004). O Biological Soil Quality Index compara solo
cultivado com não cultivado, avaliando a adaptação dos organismos do solo ao ambiente
edáfico (Gardi et ai., 2002). O Bíological Indicator Soil Quality, combinado com o Outch Soil
Quality Nehuork, compara grupos de solos de áreas cultivadas, fazendo inventário do
ecossistema (Schouten et ai., 2001) . O Oetrial Food Web Model compara solos contaminados
e não-contam.inados, analisando as relações entre estrutura de comwudades e processos
em solos agrícolas e sob florestas de coníferas (Filip, 2002). A padronização da avaliação é
necessária para comparar esse atributo do solo com e entre países (Verhoef, 2004).

MANEJ O E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS Â A G RI C ULTURA · · • 1287

No Bras il, dois enfoques têm sido propostos parn estabelecer padrõ s de ~~feréncia:
solo sob vegetação natural, por representar as condições ecológicas de estabilidad.e do
ambiente, e parâmetros agronômicos que maximizem a prod ução e conservem O ambiente
(Santana e Bahia Filho, 2002). Porém, antes de seguir um o u o utro, seria interessante P:nsar
e responder as seguintes questões: (1) Qual será a utilidade na prática da comparaçao da
QS entre diferentes países e regiões? (2) O resultado gerado fará com que sejam alterada
as práticas de uso dos recursos naturais e a matriz produtiva de a lguma região no mundo?
Raramente as melhores condições físicas, quimicas e biológicas de um solo s.3o
aquelas determinadas quando esse solo não é cultivado, mantido sob vegetação natural ,
principalmente, em geral, nessas condições ele é pouco produtivo e também e degrêlda.
Logo, esta não deveria ser a condição almejada para os solos agrícolas. É essencial admitir
que inúmeras vezes o cultivo e as práticas de manejo adotadas melhoram a condições do
solo. Isso aconteceu principalmente em solos tropicais e s ubtropicais, em vá rias regiões do
mundo. Obviamente, as condições do solo almejadas devem ser melhores do que as atuais.
Isso não significa que precisamos saber quais são as melhores condições físicas, químicas
e biológicas que podem ser alcançadas para cada tipo de solo nos inúmeros ambiente e
sistemas de produção. Muito mais importante do que comparar QS e ntre d uas regiões ou
escolher padrões é adotar imediatamente práticas que melhoram as condições do solo.

APLICAÇÕES EM DIFERENTES REGIÕES DO MU. DO

O conhecimento da QS tem sido considerado uma ferramenta para a prática de


agricultura moderna, apesar dos diversos problemas associados com a seleção de indicadores
(Karlen et ai., 2004). Atividades institucionais, de pesquisa e educação têm contribuído para
a evolução e implementação dos conceitos em todo o mundo; inúmeras vezes, ignorando a
contradições nos conceitos e a representatividade da avaliação de QS.
No Canadá, o National Soil Quality Evaluation Program, entre 1989 e 1993, deu uporte
e coordenou atividades sobre o solo e a qualidade ambiental (NlacDonald et al., 199 ). Em
1995, Gregorich e Acton declararam que saúde do solo era, sem dúvida, o principal fator
para sustentar atividades agrícolas no Canadá e proteger o ambiente. 1 os Estado Unido ,
foi criado o Soil Quality In stitu te, em 1994, com a missão de promover o conceito de Q . a
Europa foi criado o European Soil Bureau, em 1996, com objetivo de fornecer informaçõe
coerentes e compatíveis de solos europeus para políticos e usuários.
Na Alemanha, a Lei Federal de Proteção do Solo foi publicada em 199 , com foco na
proteção ou restauração das funções críticas do solo e no uso de boas práticas agrícolas.
Na Inglaterra, a primeira versão do Soil Strategy foi publicada em 200__ ociedade
Europeia para a Conservação do Solo, o Nlinistério dos Alimentos, Agricultura e Pe a da
?inamarca, a Comissão da União Eur~peía_e organizações não govem a men tai di ulgam
informações sobre QS e os estudos tem sido usados para estabelecer O alo r da terra,
monitorar a degradação e direcionar mudanças que interfe rem na egu rança alimentar
(Karlen et ai., 2004).
A Comissão da Uniã? ~uropeia publ_icou, em 2006, a estratégia temática para a
proteção do solo, com objetivo de garantir o uso sustentâvel, incluindo a e tiniclti . a
dos riscos, os custos anuais desses para a sociedade e as pri.ncipai a meaça r ão,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1288 MARGARETE NICOLODI

contaminação, diminuição dos teores de MO e da biodiversidade, compactação, sa linização,


de li za mentos e selamento (EC, 2006; Tóth et ai., 2008). Em 2011, os participantes do
workshop promovido pelo Nnt11m/ E11viro11 111 c11 t Rcscnrc/1 Co1111cil (NERC), no Reino Unido,
expressaJ"am preocupação com a proteção do solo, a diminuição do teor de MO e da
ferh'lidndc, a segurança alimentar, a necessidade de incentivar a pesquisa com experimentos
de aplicação prática, o monitoramento e os indicadores da sn,ídc do solo (Miller, 2011) . Os
principais programas de pesquisa da União Europeia são: EnvnSso EU Project, e-SOTER,
SoCo, FP7 Action SOJL; e os do NERC são: Valuing Nnt11re Nehvork, Mncro1111trie11t Cycles,
Biodi'ucrsihJ & Ecosystem Service S11stni11nbilihJ. Algumas instituições também fazem parte
de iniciativas globais como o Cenh"e for Agrirnltural Bioscience I11ternntio11nl e a Allin11ce for n
Grec11 Ret1ol11h'o11 na África, atuando no Integmted Sai/ FertilihJ Mn11nge111ent. As intenções da
Inglaterra para proteger o solo foram publicadas, em 2011, no Nnt11rnl E11viro11111e11t White
Papcr, e as da Escócia, em 2009, no Scottish Soils Fm111ework (Miller, 2011).
Na Nova Zelândia, no final da década de 1990, a erosão do solo induziu monitorar a QS;
foram desenvolvidas ferramentas de educação e oferecido o subsídio de 60 % para monitorá-
la, entre 1998-2001 (Lilbume et al., 2002; Sparling e Chipper, 2002). Na Nova Zelândia
e na Austrália, os pesquisadores de QS têm repetidamente demonsh·ado a necessidade
de mudar para um modelo altamente especifico para designar o uso do solo. Na China,
foram conduzidas pesquisas usando geoestatística para estudar a variabilidade espacial e
temporal dos atributos do solo nas escalas de campo e regional, a fim de entender melhor
o manejo e a poluição do solo e quais são as práticas agrícolas mais eficientes (Sm1 et al.,
2003). A QS também é objeto de estudo na Nigéria, com intuito de prover lucro econômico
aumentando a produtividade (Adeniyi e Gbadegesin, 2012). Já na Índia, a estimativa da QS
tem sido reconhecida como importante passo para entender os efeitos das práticas de manejo
(Mandal et al., 2011). Em países da América do Sul, Brasil (Quadro 1) e Argentina (Cantú et
al., 2007), o principal objetivo dos estudos não é implementar conceitos ou adotar práticas,
mas selecionar indicadores adequados às condições locais.

PRÁTICAS DE MANEJO PARA CONSERVAR E


MELHORAR O SISTEMA SOLO

Na história da agricultura nunca houve um período em que a importância de um


manejo adequado do recurso solo fosse tão crucial quanto o atual (Hatfield e Sauer,
2011). O manejo para alcançar um nível de produtividade requererá que entendamos
melhor como o solo responde às várias práticas. Se realmente estamos no centro de um
renascimento em Ciência do Solo (Hartemik e McBrah1ey, 2008) não poderia ter melhor
resultado do que uma melhoria dramática e inovadora nas práticas de manejo do solo
que sustentem esse recurso crucial para as futuras gerações. A preocupação primordial
de muitos especialistas é que o solo em produção pode ser degradado, por contaminação
ou erosão, num grau que impedirá seu cultivo por longo período (Reicosky et ai., 2011).
0 Brasil, a principal inquietação é com solos altamente suscetíveis à erosão e frágeis para
sustentar a produção agrícola em sistemas de exploração intensiva. Por isso, sem dúvidas,
neste momento, a questão mais importante e que beneficiaria a todos é: o que deveria ser
pesquisado, discutido e divulgado par~ que, de fato, sejam adotadas práticas de manejo
para evitar a degradação e melhorar o sistema solo?

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICU LTURA · · ·
1289

A agricultura conservacionista objetiva preserva r, manter e resta urar_o u_ rec~pera r


os recursos naturais, mediante o manejo integrado do solo, da água e da brodr~ers,d ade,
compatibilizado com uso de insumos externos (Denardin et a i., 2012). O maneio_do 0 10
é fundamental para atingir a segurança al imentar e s us tentabilidade da dgrrcul~~a,
principalmente nos países em desenvolvimento (Lal, 1998). Então, são necessanas
medidas de controle da degradação e práticas adequadas de manejo para_au~ent~r d
produção agrícola e garantir a conservação do solo e dos recursos loca· . A pnmeir ,1çao é
intensificar a produção nas áreas que podem ser melhoradas e manejadas eficientemente,
diminuindo concomitantemente a pressão sobre as terras frágeis e vulneráveis (Hillel, 2011 ).
Como praticada atualmente, grande parte da agricu ltura mundial é insustentável. Ess,1
medidas, aliadas à melhoria do potencial de rendimento das cultu ras, deve m prom~ver
grande aumento no rendimento por unidade de terra e ca pital investido e garantir d
sustentabilidade.
O manejo adequado do solo é um meio para proteger a QS. Certamente tudo pode er
feito em todos os lugares num sentido técnico; entretanto, asp irando a s ustentabilidade do
sistemas agrícolas é prudente considerar o contexto socioeconõmico local, com meta que
podem ser alcançadas e um planejamento prático e atrativo (Bouma, 2004). l esse entido,
também seria útil aprimorar a metodologia de pesquisa agrícola (Alrne e Kri tensen, 2002).
Por isso, alguns pesquisadores têm adotado abordagem baseada nos conceitos da teoria
geral dos sistemas, inclusive no estudo da QS e das práticas de manejo do solo (Vezzani,
2001; Schmitz, 2003; Carter et al., 2004; Doelman e Eijsackers, 2004; Conceição, 2006).
A sustentabilidade do uso do solo pode ser atingida por práticas de manejo e garantida
somente se o fluxo de matéria e energia, associado com processos do olo, for controlado
e influenciado positivamente (Tóth et ai., 2007). Conhecer tanto o método de preparo do
solo quanto as espécies cultivadas são fundamentais para influenciar positivamente os
processos, assim como a habilidade que cada espécie possui de se desenvolver e produzir
bem num determinado ambiente, conforme o tempo de sistema, e ainda melhorar o olo,
como exemplificado nas figuras 1, 2 e 3. A melhoria das condições físicas, químicas e
biológicas do solo promovida pelas diferentes s ucessões de espécies cultivadas em D se
reflete na produtividade de grãos. Verifica-se aumento da disponibilidade de nutriente no
solo com o tempo de cultivo em SD, devido à capacidade das espécies cultivadas e m ciclar
nutrientes e fixar N do ar (Figuras 1, 2 e 3) e à menor perda de nutrientes, tanto por erosão
como por adsorção, assim como da possibilidade de obter alta produtividade mesmo em
condições de alta acidez do solo (Figura 3).
Geralmente, é aceito que um dado solo pode alcançar s ua melhor qualidade por meio
do nível ótimo de atributos físicos, químicos e biológicos; que a r 10 é o componente do solo
que causa maior impacto positivo nesses atributos; que a SD é uma técnica que po ibilita 0
aumento sustentável de MO (Brock, 1999). Logo, práticas como SD e intensificação de cultivo
devem ser adotadas para melhorar a QS (Brejda et ai., 2000). Os istemas agrícola.-:; q ue
possuem cultivo de espécies diferentes no espaço e tempo estimulam a auto-orgarúza ã do
sistema solo em esh·uturas físicas e químicas com complexidade cre cente e alta quantidade
de energia e matéria retida na forma de compostos orgânicos e biata edáfi a, habil itando
o solo a exercer suas funções na natureza e, assim, atingir qualidade ( ezzani e lielníczuk,
2009). Logo, o grande desafio está ~10 planejamento de agroecossistemas que pri ilegiem
cultivo diversificado de plantas (Figuras 1, 2 e 3).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1290 MARGAR ETE NICOLODI

100 (a)lº ciclo (b)l º ciclo


100
80 +N/M/N/T/5 80
60
40
■ A/M½F/T/5
t:i. V(a) M/N/T/5
o V(a)/M/Cj/T/5
._ V/M/N/T/5
1
1
60
40
1
1
20 • V/M/Cj/T/5 20
o ;---r--.--i---,---~~-- o +---,--,.---r-..---.--r----r-,-----,
o 3 6 9 12 15 18 21 O 30 60 90 120 150 180 210 240 270

100 (e) 3° ciclo ! ~ 100 (d) 3° ciclo

-
80
60
40

80
60
40
Ili
1

*o
.._,.
cn 20 20
l~ Q -t--.----.----.....---r----r----- o +-~-,.---r-,.---r-r----r-~~
~ o 3 6 9 12 15 18 21 O 30 60 90 120 150 180 210 240 270
o
> 100 (f) 4° ciclo
:.::
(IS
(e) 4° ciclo 100
f! 80 80
.B
e 60 60
Q)

.5 40 40
] 20 20
Q)

~ 0-+--.....--.....---r---r---,-~-~ o +---,--~--.--,.---r-~--r---r--~
o 3 6 9 12 15 18 21 O 30 60 90 120 150 180 210 240 270

(g) 5° ciclo 100 (h) 5° ciclo


100
6.
80 ■ o •
80
60 ■
•••
~ ••
Â
60
40
•• o
40
20 20
o -1--.....--.....--.....--.....--.....---,----, o +-----.--,.----r--.---r-----.---,-----,--
o 3 6 9 12 15 18 21 O 30 60 90 120 150 180 210 240 270
Fósforo disponível (mg dm-3) Potássio disponível (mg dm 7
Figura 1. Rendimento relativo de grãos de milho, soja e trigo e teores de fósforo e potássio d isporúveis
no solo (0-10 cm de profundidade) cultivado em SD nos 10 anos de condução do experimento
em Cruz Alta. (a)= ad ubação de 80 kg ha·1 de P e K na semead ura da vica do 1° ao 4º ciclo e no
5° ciclo após a divisão das parcelas, somente naquelas que não receberam aplicação de doses
de NPK. A cada dois anos completa um ciclo de sucessão. A = aveia-pre ta (A ve,,n strigosn);
Cj = crotalária (Crotalaria j1111cea); F = Feijão-preto (Pltnseolus vulgnris); M = mm10 (Zen mnys);
= Nabo (Raplza,ru s sativus); S = soja (Glycine max); T = trigo (Trilic11111 nestiv11111); e V= vica/
ervilhaca (Vicea saliva) .
Fonle: Fio rin (2008).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICULT URA · · · 1291

r-140.000 (a) 140.000 (b)


!IS
..e: t:i.
bO
e 120.000 120.000
!IS
~
Ul

] 100.000 100.000
....
s
-d
80.000

80.000
♦ N/M/N/T/S V(a)/M/N/T/5 Ã V(/M/ /T/5
~
5 6
ª A/M/F/T/S O V(a)/M/q/T/5 •V/M/q/T/5
r- 55.000 (e) 55.000 (d)
!IS
.l:
bO 50.000 50.000
eUl
o 45.000 45.000

'ª5
-d 50.000
.. ~ 50.000
~ 35.000 35.000
200 300 400 soo 1200 1600 2000 2400 2800 3200)

Oclagem de fósforo (kg ha·1) Gclagem de potásgo (kg haº')

Figura 2. Rendimentos de matéria seca e de grãos das espécies cultivadas e m 5D e cida cm


acumulada de fósforo e de potássio nos 10 anos de condução do experimen to em Cruz Alta.
(a) = adubação de 80 kg ha·1 de P e K na semeadura da vica do 1° ao 4° ciclo e no Sº ciclo ap
a divisão das parcelas, naquelas que não receberam aplicação de d o es de "PK A cada doi."
anos completa um ciclo de sucessão. A = aveia-preta (A venn trigo. n); Cj = crotalária (Crotnlaria
juncea); F = Feijão-preto (Plznseo/11s vulgaris); M = milho (Zen mays); 1 = 1 a bo (Raplumus satwus);
S = soja (Glycine max); T = trigo (Tritic11111 aestiv11111); e V= vica/ erv ilhaca ( Vicea sahva).
Fonte: Fiorin (2008).

O solo possui robustez, resistência e resiliência, capacidades que p rrru tem a ele
tolerar perturbações sem colapsar e se recuperar após uma mudança ambie n tal; m mo
assim é importante desenvolver estratégias de proteção ligadas ao u o e à po ição do so lo
na paisagem (Nortcliff, 2009). O reconhecimento das relaçõe adaptatims e não linear
permite aos cientistas verem oportunidades para práticas ino adoras na promoçã d
desenvolv imento sustentável. Uma abordagem para a s us ten tabilidade do recu rso
na turais foi apresentada por Moore (2009), descrevendo as paisagens corno -istemas
adaptativos complexos, com base em duas pressuposiçõe : la) as pai agens ão o resultado
d e uma combinação de múltiplos fatores, nenhum pode ser manipulado em influe nciar
o outro; 2a) processos e suas alterações interagem por toda a paisagem, freque ntemente
e m resposta às práticas de manejo. Abordagens que ampliam a percepçã d o - 0 1 no
ambiente contribuem para melhorar a compreensão das relaçõe entre o ~ istemas e eu
subsistemas e para aprimorar as práticas agrícolas de acordo com a pecificiddde da
região ou microbacia hidrográfica. O manejo ndnptnti-vo aplica o conhecimento de p r ce - 5
e da dinâmica do ecossistema para modificar e adotar práticas apropriadas à cultura I e 1
e ao ambiente local, também bus~~ co11stmir ar~ iliênci~ ( lueller e t ,"li., _QQ9). p rincipa l
problema, a identificação das prahcas de maneio que sao u tentá ei , p de er -u perado
identificando além da estabilidade do sistr111n solo, a resistê.n ia e a re -iliê n ia d s lo s b
manejas específicos (Schj0nning et al., 2004b).

M ANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


1292 MARGAR ETE NICOLODI

12 (b)

)
o 3

0t-----.----~----,--- o I,'.;<--.----,----.----,--..----,------,
0,0 0,5 1,0
1,5 20 o 20 40 60 80
Alumínio trocável (cmo1c dm-3) ' Saturação por bases (%)

--
~
12 (e) 12 (d)

o
-
...
0
..e;
9 9

==s 6 6
GI
'tS
3
o o 3
li)
0 o
i~ o f--,----,----,,-~~---,------ o ""_;<--,----,---..----.-------,----.----.
'tS O 10 20 30
40 50 O 100 200 300 400
~ 3
Fósforo disponível (mg dm- ) Potássio disponível (mg dm-3>
GI
6 12 (e) 12 (f)
:a o ◊
~ 9 ~ ©~~ 9

=: 6 oJg~/ J~ 6
o. o<>◊ o
3 '&~º o 3 o
o
o ~-~----,------r---r---- o l,'.;'---.----r----r---.---..------
0 5 10 15 20 25 O 10 15 20 25
Nitrogênio mineral (%) Umidade(%)
◊ 50: Okg ha· N
1 O PC A/M: 180 kg ha·1N L 50 A+V/M+C: 180 kg ha·1 N
o PC okg ha-l N o 50: 60 kg ha" N 1
o 50 A/M: 180 kg ha" N
1
/ 50 G/M: Okg ha·1 N
PC: 180 kg ha·1 N ◊ 50: 120 kg ha·1 N O PC V/M: 180 kg ha· N
1
r /_) 50 G/M: 180 kg ha·1 N
◊ 50: 180 kg ha·1N O 50 V/M: 180 kg ha·1N
figura 3. Rendimento de grãos de milho, indicadores das condições químicas e umid ade do solo
avaliados no experimento em Eldorado do Sul conduzido há mais de 20 anos. PC = Preparo
convencional; SD = Semeadura diieta; Adubação nitrogenada aplicada no milho (kg ha·1); A
= aveia-preta (A vena strigosa); C = ca upi (Vigna unguiculata); G = Guandu (Cajanu s cajan); M =
rniU10 (Zea mays); e V= vica (Vicea saliva).
Fonte: icolodi (2007a).
1

Na África, tem sido colocada em prática a filosofia "grow the soils to grow tlze crops"
(cultivar O solo para cultivar plantas), introduzida por Crompton, em 1953, na Inglaterra, em

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTA S À AGR I CU LTURA · · •
1293

razão da necessidade de aprender modificar as condições, a fim de d nvolver O tipo de


perfil do solo desejável para as cul turas (Anderson, ·1998). Seus asp cto b s ico ão:_l~)
examjnar regularmente o solo no campo (vis ualizando o subsolo e enraizamento) e de~,r
as técnicas para remediação; 2º) adotar práticas para proteger o solo da erosão e degra?açao
(incluindo controle de pastoreio, práticas de preparo, cu ltivo em contorno, em f~ Lxas e
intercalar, terraceamento, 111u/c/1ing e de espécies de co be rtu ra); 3j nutrir o olo, aplica_n do
calcário, N, P, K, outros nutrientes e adubos orgânicos, como e quando es ão requendo
para atingir nível ótimo de produtividade na rotação; 4º) e esti mular profundo e prolífico
sistema radicular (meU1oria do subsolo, eliminação de elementos tóxicos e compactaçJo,
disponibilidade de nutrientes, adubação orgânica e verde). Em tudo isso, o agricultor d ve
ter controle do solo para proteger, nutrir e criar o solo, assim como pa ra colher os benefícios
dos cultivas, já que essas práticas melhoram o solo e fazem com q ue a culturas jam
menos prejudicadas em períodos de aridez ou indisponibilidad e de n u trientes (Ande on,
1998). Nenhuma dessas práticas é novidade no Brasil. Porém, é fundame ntal viabilizar
estimular a adoção delas em ampla escala nas diferentes regiões do país.
Certamente, conduzir e apresentar resultados de ex perimentos de campo de longa
duração em diferentes regiões pode contribwr para a adoção d e prá ticas agrícola mai
adequadas a cada situação. Uma pesquisa muito interessante fo i condu zida no Canadá:
36 solos de vários locais foram cultivados por 14 anos, com mes m o man ejo sob a mesma
prusagem e condições arnbientajs, com intuito de identificar que indicad o res da QS se
relacionavam com produtividade. As produtividades obtidas naqueles solos não fora m
semelhantes, reafirmando a necessidade de reconhecer os diferentes p otenciais e aptidões
de cada um deles (Zvomuya et a1., 2008). Segundo esses autores, no campo, a emelhança
pode ser mais dependente das interações entre os atributos do solo e os fatores externo
(como precipitação e temperatura) do que dos fatores intrínseco d o olo. l o tam bém
indica que as práticas de manejo mais adequadas para cada solo de em ser selecionadas
em cada ambiente.
As lições do Sanborn Fie/d, um experimento conduzido por mais de 100 ano , na
alterações produzidas nos solos manejados por longo tempo foram resumidas por
Woodruif (1990): além da informação relativa às culturas, a importância a tua l e futu ra da
parcelas está na estimativa de mudanças lentas proporcionadas no s olo (em todo o perfil)
pelas espécies, pelo manejo e pelos tratamentos nelas aplicado . E.s as pequen a e I nt
mudanças que ocorrem de um ano para outro não são mensuráveis a não ser em períod o
longos suficientemente para acumular diferenças grandes que po am er estimad
pelos métodos atuais de avaliação. Essas palavras escritas há mais de 20 ano abiament
resumem a filosofia daqueles que conceberam muitos dos experimento de longa dura ão,
como Brondba/k, Morrow Plots e Sa11bom Fie/d, e dos que os conduzem, para document r e
estimar a influencia do homem no ambiente e na paisagem ( liles e Brow n , - 011).
A atual ê1úase na QS reflete a necessidade de atingir s imultaneamente me de
produção e ambientills. Tanto o potencial produtivo das culturas quanto O uso efide.nte de
nutrientes podem ser reduzidos com a diminuição da QS (Cassman, 199 ). p r du tividade
d e milho (mérua de 1967 a 1997, Figura 3) obtida no JVIorrow PJ L , o xperimen to majs
antigo dos Estados Urudos, instalado em 1876, em lllinois, e. pre a os efeit 5 de sue - e ·
d e culturas (milho; nulho e soja; e milho, a eia e alfafa forrageira) e a e fic iência no u de
nutrientes em mais de 125 anos de uso agrícola do solo (que recebeu a pli à d cal ·n
e P, Quadro 2). As melliores respostas foram obtidas com adubação miner l e a lta
d ensidade de plantas na rotação com três espécies: milho, a eia e alf fo forrageira; a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1294 MARGARETE NICOLODI

piores, sen~ adubação e monocultivo (Wander et ai., 2002) . Esses resultados confirmaram
que~~ práhca recomendadas para conservar o solo e melhorar a produtividade são aquelas
que Jª co~ece,_n os como (rotação, maior diversidade de espécies cultivadas, aplicação de
adubos mmera,s e corretivos etc.), e que a adoção delas ainda é importante.

11297

100-t2

- r;:
.i::.
7 6

c,o
-.....
.:,/.

o
..e
7531

E 6276
cu
"O
"'o •
l,:S

So
5021 o
cu
"O
.E 3766 ,,
e , e Milho - milho


cu
E o Milho - soja
"O
e 25]0 T Milho - aveia - forragem
cu
e:::
1255...,__r--- r----r---r---..-----,----

o<-~
Adubação e população de plantas

Figura 4. Produtividade do miUlo (méctia de 30 anos) no Morrow Plots.


Fonte: Wander et ai. (2002).

Quadro 2. Identificação dos tratamentos, adubações e população de plantas ava liadas no Morrow
Plots, apresentadas na figura 4
Tratamento Adubação anual Plantas/hectare

Sem Sem adubação 19 800


Orgânica 9,9 t ha·1de esterco aplicado cada ano no monocultivo de milho e 13,44 19 800
t ha·1 antes do milho, quando cultivados milho e soja e milho, aveia e
Orgánica + forragem 39 600
224 kg ha·1 de N aplicado como uréia; parcelas padrão < 50 e 377 kg ha·1
N PK de P e K, respectivamente, adicionados com 55 e 104 kg ha·1 SFf e KCl
59 400

Org. NPK Orgánica até 1955 e depois como tratamento NPK 59400
Orgânica até 1967 e depois com 336 kg ha·1 de N aplicado como uréia; P e
Org. PK alta K mantidos no - valores padrões > 125 e 628 kg ha·1, respectivamente 59400
Fonte; \'\'andcr cl a i. (2002).

Os efeitos do melhoramento dos cultivares, da rotação, da adubação e do controle de


pragas, doenças e plantas daninhas na produtividade de trigo foram avaliados no Broadba/k,
um dos experimentos mais antigos do mundo, instaJado em 1843 na Rotl111111sted Research, em

MANEJO E CO NSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICULTURA · · •
1295

Harpenden, na Inglaterra (Figura 5; Crute, 2006). A produtivídade de grãos fo i semelhante


nas parcelas com monocultivo de trigo com adubação míneral (144 kg ha·' de N + 35 kg
ha·1 de P + 90 kg ha·1 de K) e com adubação orgãníca (FYM: 35 t ha·' de es terco de curral ·
Entre 1850 e 1970, a produção foi entre 150 e 200 % maior nas parcelas adubadas que ~a
cultivadas sem adubação. A partir de 1968, com a introdução de cultivares moderno~ de tngo
(Cappelle Deprez, Flandres e outras) e o uso de herbicidas e d e fungi cidas, as diferenças
na produtividade de grãos foram ainda maiores (Figura 5); aproximadamente 1 t ha·' sem
adubação, acima de 5 t ha· 1 nas parcelas de monocultivo e 9 t ha·1 com trigo na rotaçã~ e
maiores adubações mineral (288 kg ha- 1 de N + 35 kg ha·1 de P + 180 kg ha·1 de K) e orgâmca
(FYM: 35 t ha·1 + 96 kg ha·1 de N). Os resultados de avaliações feitas na água de drenagem
evidenciaram que a perda de N, na forma de NO,·, foi próxima de 15 e 30 kg ha·1 ano·' nas
parcelas que receberam aplicação de 96 e 192 kg hã·1 via adubação mineraJ, respectiva mente,
e de quase 80 kg ha·1 ano- 1 nas que receberam 96 kg ha·' de N via adubação orgârúca (FYM),
i_ndicando maior potencial dessa em contaminar o ambiente (Cru te, 2006).

1º trigo e m rotação
10 Melhor . PK
Fungicidas , 1r - •;t FY\t - % k~ h,1 :--,
9
8
l,,••.-:-•---
- r::
7 / '' Monocultivo de trigo
PK+144 kg ha·•
-...."'
..e

o
,r::
6
5
llr P i .vi

Se
QJ
4
-e
E 3
e:
QJ
E 2
-e
e: 1
QJ
e:.:
o
1840 11860 1900 f920 2020

Red Rostock
t
Red O ub Sq. Master Red Standard
C.1peUe D. Bnmsto ~ ereward
Período e cultivares de trigo

Figura 5. Evolução do rendimento(tl médio de grãos de cultivares de trigo cultivadas com d iferente
formas de suprimento de nutrientes e adoção de práticas agrícolas no Broadbalk (Crute, 2006).
PI Em 85% d e massa seca.
Fonte: Crute (2006).

A distribuição de carbono orgânico (CO) em profundidade foi avaliada nas parcela


do Snnborn Fie/d, instalado em 1888 em Columbia, nos Estados Unidos (Figura 6 e Quadro 3;
Miles e Brown, 2011). Os teores e a distribuição de CO em profundidade foram semelhantes
nas parcelas 1 e 3, (cultivadas com ª. mesma rotação de culturas, composta por cinco
gramíneas e uma leguminosa), ~o~ aplicação de adubo or~ânico na 1 e adubo mineral para
m áxima produção na 3, nos pnme1ros 60 anos de conduçao do experimento. Os teores de
CO na camada superficial eram nmito maiores na parcela 26 que na 27 até 1915, culti adas
com a mesma rotação, (composta por duas leguminosas e dua gramíneas), e nquanto era

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1296 MARGARETE NICOLODI

usada adubação orgânica (maior adição de ), maiores também que o teores no solo das
parcelas 1 e 3. Desde 1950 as parcelas 1, 3 e 26 têm recebido adubação mineral com base na
análi e do solo, ma a 27 não foi adubada. Na avaliação feita 100 anos após a ins talação do
experimento verificaram-se os maiores teores de CO até 40 cm de profundidade no solo da
parcela 3, que recebeu adubo mineral para máxi ma produção entre 1888 e 1949, e entre 40
e 90 cm de profundidade no solo da parcela 26, que recebeu adubação orgânica entre 1888
e 1927, caJagem e da adubação fosfatada entre 1.928 e 1949 e, principalmente, foi cultivada
com rotação de culturas composta por 50 % de gramíneas e 50 % de leguminosas. Esses
resultados confirmaram a importância da calagem e adubação para conservar o solo e os
efeitos benéficos de algumas espécies cultivadas na melhoria do perfil do solo, inclusive
a 80 cm de profundidade. São necessárias mais pesquisas e calibração para entender a
dinâmica e as relações entre os 1úveis de carbono ativo para QS e snlÍde do solo e os teores
de MO. Todavia, muitos outros fatores podem ter contribuído na ação e no teor de CO e n a
sua distribu ição ao longo do tempo no perfil do solo (Miles e Brown, 2011).

Ca rbo no o rgânico (dag kg')


0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 11 1 3 1,5 1,7 1 9 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1, 1 1,3 1,5 1,7 1,9
o
20
... 1915
-0 1938 -10
4196S
-,ó-] 9SS
60

80

100

120

0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,5 1,7 1,9
.o ' Parcela 27'
Pa rcela 26
20 20

40 40

60 60

80 80

100 100

120 120

figura 6. Distribuição de carbono orgânico no perfil do solo após 27 (1915), 50 (1938), 74 (1962) e 100
anos (1988) de instalação do Sanborn Fie/d.
Fonte: Miles e Brown (2011).

Os resu ltados de experimentos de longa duração conduzidos no Brasil apresen tam


padrão de resposta semelhante aos verificad_os naqueles dos_Estados Unidos e da I~~laterra.
Os sistemas de cultivo com menor revolvimento e o cultivo alternado de espec1es com
diferentes habilidades de exploração do solo e de ciclagem de nutrientes e produtoras de alta
quantidade de matéria seca na rotação melhoram as condições f_í~icas, químicas e biol?gicas
do sistema solo; consequentemente, esses aumentam a sua Jert1/1dade e, por consegumte, a

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á GUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICU LT URA · · ·
1297

produtividade do solo. Esse tipo de resposta foi obtido na avaliação de indicadores biológico5 ,
após 16 anos da implantação do experimento em Londrina, PR (Figura 7a, Bal~ta et a i.,
1998), após 17 anos da implantação do experimento em Eldorado do Sul, RS (Fig_ura 7 ~,
Conceição, 2002) e na avaliação de indicadores físicos (Figura 8; Conceição, 2006; 1co!odi,
2007a) e químicos (Figura 9; Nicolodi, 2007a) em três experimentos condu zidos há mai de
20 anos (em Santo Ângelo, Eldorado do Sul e Passo Fundo, RS).

Quadro 3. Identificação de parcelas, sequência de culturas, períodos e tratamentos avaliado no


Sanborn Fie/d, apresentados na Figurn 6
Parcela Sequência de culturas11.21 Período Tratamento
1888-1913 Adubo orgânico (15,7 t ha·1 ano' tle esterco de curral)
C-O-W-RC-T-T 1914-1939 Adubo orgânico (13,4 t ha·1 an o·1 de esterco de curral)
1
1940-1949 Calcário e 1,12 t ha·' ano·' de rocha fo fáhca
C-W-RCPl 1950-2011 (l) Adubo mineral com base na análise de solo
1888-1927 Adubo mineral para máxima produçào
Adubo mineral para máxima produção com 1/ 3 do na
1928-1939
C-O-W-RC-T-T semeadura
3 na
Adubo mineral para máxima produção com 1/ 3 do
1940-1949
semeadura e calcário
C-W-RCPJ 1950-2011141 Adubo mineral com base na a nálise de solo
1888-1913 Adubo orgânico (13,4 t ha·1 a no- 1 de esterco de curral)
C-W-RC 1914-1927 Adubo orgânico (20,2 t ha·1 ano·• de esterco de curral)
26 1928-1939 Quantidade de calcário necessária, 0-16-0 no C e\
C-W-RC(w /L) 1940-1949 Quantidade de calcário necessária, 0-16-0 no C e W
C-W-RC 1950-2011 l4) Adubo mineral com base na análise de solo
C-W-RC 1888-1939
27 C-W-RC(w /L) 1940-1949 Sem adição de nutrientes
C-W-RC 1950-2011141
111c :Com (milho, gramínea); O: oats (aveia, gramínea); W: wheat (trigo, gramínea); RC : red clover (Trifolium pTc:tms~ - tre o
violeta, leguminosa); T: Timothy (Phle11111 pratense - rabo de gato, gramínea); RC (w / L) : red clover w1th lespedeza (Tnfolium
pratense com Lespedezn, leguminosa); (2) Até 1950, a biomassa cultural residual era removida das parcelas e desde enUo ele.-: s5o
redistribuídos nas parcelas de origem; Cll desde 1950, cada espécie é cultivada nu.ma parcela por ano; 1'1 .lté - 011.
Fonte: Miles e Brown (2011).

Os princ1p1os da termodinâmica do não-equilíbrio possibilitaram estudar 0


funcionamento do sistema solo na produção agrícola e compreender melhor as condições
q ue o conduzem à qualidade (Vezzani, 2001). Os níveis de ordem estimados a partir da
estrutura do solo, avaliada após 15 anos da instalação de experimento em Eldorado do Sul
(Figura 10a; Vezzani, 2001) e de indicadores biológicos, avaliados no mesmo e. perimento
após 17 anos da implantação (Figura 10b; Schmitz, 2003), confirmaram os benefícios dos
sis temas de cultivo com menor revolvimento e da inclusão de maior número de espéci
na rotação de culturas ao sistema solo. O nível alto se caracteriza pela presença de estruturas
m ais complexas e diversificadas, representadas pela maior proporção de macroae-reoado , e
maior quantidade de energia e matéria retida na forma de compostos orgànicos~En~uanto,
o nível baixo se caracteriza pela presença de estruturas mais simples, representadas pela
maior proporção de microagregados, e menor quantidade de energia e matéria retida na
forma de compostos orgânicos (Vezzani, 2001). A autora destacou que as avaliações das

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1298 MARGARETE NICOLODI

quantidades de carbono adicionadas e liberadas, assim como da distribuição dos a g regados


d o s,o~o nas classes de diâmetros fora m adequadas para expressar o fluxo de energia e
matena e os es tados de ordem , respectivamente.

300 a) em relação ao PC 400 b) em relação ao PC sem adubação nfüogenada


rico> s3
■ PC oC-CO
■ SD 11 C microbiano
300 oCOT
200 r'lN>53
■ N pot. mineralizável
o NT
200

100

o Ü ~ ..._..L...I..I-....C-r-1'._.L..al__,...,.....L..aL

~-~
t 4,f
~

~-
-1
C:,

Sistemas de cultivo e espécies

Figura 7. Indicadores biológicos do solo avaliados em Londrina (a) e em Eldorado do Sul (b). PC =
Preparo Convencional; SD = Semeadura direta; CN = Campo Nativo; A = aveia-preta (Avena
strigosa); C = caupi (Vigna unguirn/ata); M = mill10 (Zea 11rays); e V= vica (Vicea sativa).
Fontes: (a) Balot:a et aL (1998); e (b) Conceição (2002).

30 PCT/S
a) ■ PCA/M
20 ■ SDT/S
SDA/M
:§ ■ Mata
.,,o
U)
10
"'bO o
~ <0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,004,76 >4,76
.,,"'
QI

o 30 ■ R~ouso
U)
b) ■P A/M
~ PCA+"'t./_M+C
20 SDA/
■ SDA+ V/M+C
■p
10

o
<0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,004,76 >4,76
Classe de diâmetro dos agregados (mm)

Figura 8. Agregados na camada de 0-10 cm de profw1didade d_o solo nos experimentos em Santo
Ângelo (a) e Eldorado do Sul (b) . P~ = Preparo Conv_enc1onal; SD = _Semeadw-a direta; p =
Pa ngola (Digitaria decu111be11s); A= aveia-preta (A ve11a slngosa); Ab = Av~1a-branca (A ve11a sativa);
e = ca upi (Vig11a unguirn/ala); Cv = cevada (Ho1:deur11 ~u_lgare); M_= milho (Zea 111ays); S = soja
(Glycine mm:); Sg = sorgo (Sorglru111 vulgare); T = h·1go (Tnt1rn111 aest1v11111); e V = vica (Vicea satíva) .
Fontes: (a) Conceição (2006); e (b) /\'icolod i (2007a) .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VI STAS À A GR f CU LT URA • · ·
1299

5,0 ..,...._'""'ª~- il:10.cm.. o ~20 cm

ffi

i(d) 1
1 1
75 1
1

1
-
1 1 1
65 1 1
1
1

:;i.t
-. .· 111' . 1

.
1
.::- 1 1 ,__
~ 55 ! ·r ;.~t '-- »i11
~ ~

'
> 45 1-1
i ,__

1
,___
~
i~°ff
":'.:~
~~ ..... 1
i 1~
~
·,.

1?; 'j
~~
1 1 .
1 h
~,,
'- 1

- '
1
1

....,..

1
35 1 ,;•r
~y 1~
• :• 1 1
q
~t@ ,.;? ~ w ,:-


~~ '
25 1 l 1
.o f

~
:E :E ~ <
C/l C/'l
......... ::E ~ !
........ ........ ........ ......... ~ E- ......... ......... 1
< <
o ~ ........ cW cWl ~ o < <
~ ~ >
+
........
o ......... C/'l
~ o 1

1~ u5'
C/l
< < > C/l >•
CJl 1

o u5''
~
1 ........ ........ 1 1
1 > >'
C/l
1 u
u• 1
1
1
U)':
u5' ' 1
1 1 1
\ Eldorado do Sul _______
, I' 1\ ,Passo Fundo_:
I
Santo Ângelo \
I
I

' ' ' ~---------------~,


Local, sistemas de preparo e espécies cultivadas

Figura 9. Teores de MO (a), P (b) e K (c) disporúveis e saturação po r bases d ) nas camadas de 0-10 e
0-20 cm de profundidade dos ~olos de experimentos conduzidos há mai de an em Eldorado _o
do Sul, Passo Fundo e Santo Angelo. PC= Preparo Convencional; SD = Sem eadura direta; =
aveia-preta (Ave11a strigosa); Ab = Aveia-branca (Avmn satii n); C = cau pi ( 1g11n un ,1ún tatn); Cv
= cevada (Horde11111 v11/gare); M = milho (Zen 111ays); S = oja (Glyci11e mn.x); Sg = orgo (Svr /rum
vulgare); T = trigo (Tritic11111 aestiv11111); e V = vica (Vice11 . ativa).
Fonle: Nicolodi (2007a).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1300 MARGARETE NICOLODI

100 (a) 100 (b) CJ SD:AM


Eicu 80
80 D SD:AVMC
"O
~ 60 60
cu
~ 40 40
cu

z~ 20 20
o +----rL--..........- -L...,.... o
~C-~~~-- ~~G <7 ·ó·
J'<'I
# -..>- ~o
~
·ó· •
o'i>"
o.?f.o.e ~ -o.?)# -õ.?> '\r....'V>"'
1..C,.
~"-·p ~.,.
-~
~e- s~· ~?>.-,,
~\O ~e'i>'Ç
~?>q
~\?> ~
i\~c ~?>-r
~o'i>\?>
. ~e:,
pv·
Sistemas de cultivo e espécies Indicadores biológicos da qualidade do solo

Figura 10. Nível de ordem do sistema do solo estimado a partir da agregação (a) e de indicadores
biológicos (b) avaliados em Eldorado do Sul. PC = Preparo Convencional; SD = Semeadura
di~eta; C = Campo Nativo; A= aveia-preta (Avena st,igo~a); C = caupi (Vig11a 1111g11iculata); M =
milho (Zea mays); e V= vica (Vicea sativa) .
Fontes: (a) Vez.z.ani (2001 ); e (b) Schmitz (2003).

MUDAR O FOCO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO


SOLO PARA QUALIDADE DO MANEJO DO SOLO

Aprimorar as práticas para recuperar os solos degradados, aprimorar ou conservar as


condições do solo, aumentar a fertilidade e produtividade das culturas e melhorar o ambiente é
importantíssimo e deveria ser a prioridade na Ciência do Solo. Com essa meta, seriam gerados
resultados muito mais úteis para a sociedade. Porém, para tal evolução, é fundamental
mudar o foco dessas pesquisas de avaliação da QS para a qualidade do manejo do solo. Nesse
caso, poderiam ser discutidos conceitos apresentados no item Definições e Conceitos Adotados
e Discutidos no Exterior deste capítulo, enquanto seriam conduzidas pesquisas com objetivos
de promover imediatamente e de viabilizar a adoção contínua de práticas sabidamente
melhoradoras das condições do solo, principalmente para o uso agrícola.
A mudança de foco já vem sendo incentivada por alguns autores (Sojka e Upchurch,
1999; Sanchez et ai., 2003; Sojka et al ., 2003; Carter et ai., 2004; Schj0nning et ai., 2004b,
c; Tóth et ai., 2007) e muitos argumentos apresentados demonstam a preocupação real
com a melhoria do solo e com a aplicabilidade das pesquisas na agricultura. Enquanto
o impacto no ambiente demanda esforços para desenvolver práticas de manejo mais
adequadas para produzir e salvaguardar o ambiente, não deveria ser esquecido que o
primeiro propósito do manejo do solo agrícola é superar os limites da natureza para
aumentar o suprimento de alimentos e fibras (Sojka et al., 2003). Os problemas agrícolas
mais importantes são facilmente identificáveis, mas, em geral, complexos para serem
resolvidos. Uma dificuldade é tornar a solução viável dentro do contexto do manejo
e dos agricultores, que vivem no mundo real com limites determina dos pelo tempo,
espaço, ambiente, investimento e retorno financeiro. Essas e outras d eclarações desses
autores, raramente mencionadas no Brasil, poderiam estimular os cientistas do solo a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICU LTURA · · · 1301

refletir e (re)tomar um caminho mais útil nas pesquisas e ge ra r soluções exeq uívei pa r
os problemas reais.
As práticas de manejo são mais impactantes sobre a habilid ade de o olo f uncion~ do
que os atributos intrínsecos do solo. Já em 1999, Sojka & Upchurch perg untavam: quais 0
problemas específicos dos agricultores, do ambiente ou do agro negócio q u e s5o 0 _u f~ra m
resolvidos somente pela abordagem da QS? Eles afirmam que profissio nai~ e CJenti,;ta
do solo deveriam buscar a "qualidade do manejo do solo antes q ue o ma neJO_da _Q S · A
preocupação com a quantiiicação de algo tão ilusório quanto QS em nada contrrbu1 _para a
solução dos problemas que já são evidentes. Naquela época, eles anuncia va m que ap~n_iorar
a qualidade do manejo do solo trará efeitos imediatos e mais pronunciados na produ t,v1dnde,
na susten tabilidade e nos impactos ambientais do que décadas de pesquisa em QS per se.
Sanchez et ai. (2003) também demonstraram ter essas restrições; eles defendem
o rigor científico e uma interpretação apropriada, des tacando q ue os indicadores
qualitativos imbuídos de valores podem ser politicamente e socialmente atraente , ma
são cientificamente equivocados. A QS deve ser vista como um componente do manejo
integrado dos recursos naturais, com ajustes nos conceitos atuais, pois o uso de definiçõ
vagas dos seus atributos nas regiões tropicais seria um atraso. Esses a utores afirmaram q ue a
''fertility capabilihJ soil classíficntion ", amplamente usada para identificar atributos relevantes
para produção de plantas e manejo do ecossistema nos trópicos, é urna alternativa de
abordagem qualitativa e um passo em direção à melhoria nas regiões tropicais.
Práticas que melhoram ou mantêm a QS podem ser metas mais a tingíveis somente
se o enfoque da mensuração da QS for deixado de lado e se for enfatizada a manipulação
dos sistemas de manejo (Carter et ai., 2004). As estratégias de manejo, que mantêm a
integridade do ambiente, a diversidade do sistema agrícola e a conservação dos teores
de MO e nutrientes de fato, deixam benefícios ao sistema que promovem emergência de
qualidades no tempo. Idealmente, as opções de manejo são consideradas em relação a como
as diferentes práticas de manejo do solo afetarão a produtividade, o ambiente (composto pelo
sistema solo manejado) e a saúde humana (Schj0nning et ai., 2004b). lnclusive, o objeti o
do livro Managing soil quality challenges in modem agricrilture é promover a transferência
dos esforços em QS da estimativa para as práticas de manejo. Investir todos os esforços
enfrentando o problema da não-universalidade dos limiares dos indicadores implica no
risco de nunca abordar os problemas de manejo (Schj0nning et ai., 2004b). É preferí el
identificar limiar de manejo em vez de limiar de indicador para implementar o conhecimento
sobre a qualidade no planejamento do uso do solo (Bouma, 2004).
Logo, uma estratégia fundamental para preservar e melhorar o sistema solo é mudar 0
foco dos pesquisadores e dos agricult~res da atrib~ição de funções e avaliação da QS para
as práticas capazes de melhorar a qualidade do mane10 do solo. Todavia, para concretizar a
mudança é fundamental que as pessoas gastem menos energia na seleção de indicadores
e mais energia no incentivo e na adoção das práticas conservacionistas. É importante
consolidar essa mudança de foco, un:1a vez que diversas estratégias e prá tica agricolas
benéficas já são conhecidas dos pesquisadores e dos agricultores e foram detalhadas ne e
livro.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1302 MARGARETE NICOLODI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade do solo foi tema de inúmeros textos nos últimos 25 anos em várias regiões
do mundo, com diversas definições, conceitos e métodos de avaliação. Não há consenso
sobre as concepções de q11alidade, aptidão, salÍde, vi talidade, produtividade e fert-ilidade do solo;
ela estão sendo di cutidas com frequência no exterior, mas raramente na Ciência do Solo
bra ileira. A grande maioria das pesquisas sobre QS, no Brasil e no mw1do, é focada na
avaliação, principalmente na seleção de indicadores. As publicações raramente têm por
objetivo avaliar ou recomendar adoção de práticas para melhorar o solo e a qualidade
dos prod11tos da agriculh1rn. Isso realmente seria uma enorme e bem vinda contribuição
da Ciência do Solo. Aliás, nesse 1110111e11to da Ciência do Solo, tem-se a impressão que os
indicadores de tudo agora são indicadores da QS e, pior ainda, que o conhecimento de
algumas áreas como a Conservação do Solo deixou de ser fw1darnental(!) e atrativo.
A crescente preocupação da população com o ambiente, a divulgação desse tema
na mídia e a inclusão dele nos debates políticos promoveram discussão, pesquisa e
disseminaram o interesse pela qualidade da água, do ar e do solo. Todavia, isso não
muda as necessidades para a conservação do solo, o estabelecimento de um cultivo, o
desenvolvimento das plantas, a produtividade das culturas e muito menos as necessidades
que as pessoas têm para se manterem vivas, como de se alin1entarem, consumir água e
respirar. Um fato essencial que está sendo desprezado é que a população mundial continua
crescendo e assim como o consumo de alimentos também. Além disso, infelizmente, grande
parte da população continua morrendo de fome. Desconsiderar a evidente necessidade de
aumentar a produção é um ato de extrema irresponsabilidade não só com a alimentação e o
bem estar de animais de estin1ação, mas com os seres humanos. Assim como é fundamental
não só preservar, mas melhorar o ambiente, também é aumentar a produtividade. Logo,
os humanos devem refletir mais sobre a importância de manter um determinado ambiente
intocável e não produtivo, em vez de melhorá-lo e torná-lo produtivo; (por exemplo, com
atividades silvipastoris), garantindo para o futuro ambiente e seres humanos saudáveis.
Algumas ilusões são necessárias para a evolução. Infelizmente, refletir sobre como está
sendo praticada a agricultura não é uma ação atrativa e nem o tema éfashion, como análise
de inrucadores de QS, visualização de mapas de fertilidade e de colheita coloridos, uso de
máquinas com pilotos automáticos etc. A facilidade em divulgar informações sobre temas
da moda às vezes induz à formação de opiniões equivocadas. Por isso, é imprescindível que
os autores e formadores de opinião tenham além do conhecimento, (científico e prático),
cuidado com as ideias divulgadas; é necessário considerar todo o contexto antes de noticiar
somente parte do discurso. Um exemplo disso é a afirmação de que a adubação nitrogenada
deve ser rurninuída para evitar a contaminação do ambiente. Porém, se a produção de
grãos de trigo e milho fosse reduzida em 50 % para proteger o ambiente, quantos seres
humanos a mais morreriam de fome no mundo por ano? Raramente são veiculadas
notícias informando que existem vários modos de diminuir o potencial de contaminação
do ambiente e como aproveitar melhor as habilidades que algumas espécies têm de fixar e
ciclar nutrientes. As habilidades de diversas espécies usadas em rotação foram estudadas;
entretanto, ainda é importante estimular o agricultor usar mais esse recu rso, demonstrar
os benefícios do cultivo dessas espécies nas entressafras e viabilizar economicamente essa
prática na propriedade. Uma contribuição relevante da Ciência do Solo para a sociedade
seria viabilizar e novamente promover a adoção das práticas agrícolas conservacionistas,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICULTURA · · ·
1303

e ntre essas manter o solo cultivado durante o ano todo (processo colh r-semear), també m
priorizando o aumento da produtividade e a melhoria do ambíent .
Muitas práticas e tecnologias para produzir se m degradar ão conh ~ida_s e devem
ser estimuladas principalmente pelos pesquisadores, professores e ex tens io ms tas e por
políticas governamentais. Tem-se a impressão que se continua a consumir te mp_o da~do
voltas em torno dos problemas mais difíceis de resolver: melhorar as condiçõ 5 bwlóg:icas
e físicas do solo, já que as quinúcas podem ser facilmente reso lvidas com a plicaç~~ d e
corretivos e adubos. O aspecto positivo é que sob nova vestimenta, com recursos analíli~o
modernos, as pesquisas conffrmaram os benefícios da mudança do s i tema de c ulti vo
e a destacada importância da MO do solo e a necessidade de a umenta r o eu teo r . o
Brasil, a erosão e a degradação dos solos diminuíram muito com a mudança do s is te ma
de cultivo, mas muito ainda precisa ser feito, principalmente pa ra melhorar a ativ idad e
biológica a estrutura do solo e aumentar a infiltração de água e a continuidade dos poro •
Isso sim deveria ser incentivado inclusive promovendo a mudança de foco para q11nlidade
das práticas de manejo do solo.

LITERATURA CITADA

Acton DF, Gregorich LJ. Understanding soil health. Ln: Acton DF, Gregorich LJ, editors. The health
of our soils: toward sustainable agriculture in Canada. Ottawa: Centre for Land a nd Biological
Resources, Research Branch, Agriculture and Agri-Food Canada; 1995. p.14-9.
Adeniyi SA, Gbadegesin AS. Soil quality assessment: a review. 1 igeria: Uni ersity of fbadan; 2012.
Allan DL, Adriano DC, Bezd icek DF,Cline RG, Coleman DC, Doran JW, Peterson GA, Schuman GE,
Singer MJ, Karlen DJ. Statement on soil quality. Ln: Agronomy ews. Madison: SSA/ ASA;
1995.
Andersen GD. Grow the soils to grow the crops in Africa. In: La! R., editor. Soil quality and
agricultura( sustainability. Chelsea: Ann Arbor; 1998. p.237-50.
Andrews SS, Karlen DL, Cambardella CA. The soil management a ses m ent frame\ or.: r\
quantitative soil quaJity evaluation method. Soil Sei Soe Am J. 200-1;68:1945--62.
Balota EL, Colozzi-Filho A, Andrade OS, Hungria M. Biomassa microbiana e ua atividade em olo~
sob diferentes sistemas de preparo e sucessão de culturas. Rev Bras Cienc lo. 199 ; .,.,:6-U -9.
Baveye PC, Rangel D, Jacobson AR, Laba M, Darnault C, O tten W, RaduJovich R, Dmargo FA .
From dust bowl to dust bowl: soils are still very much a frontier of cience. il i e Am J.
2011;75:2037-48.
Bis was TO, Mukherjee SK. Textbook of soil science. 2nJ. ed. e \ Delphi: Ta ta Mcgraw-Hill; 1995.
Bouma J. lmplementing soil quality knowledge in land-use planning. ln: hj0nning P, Elmholt ,
Christensen BT, editors. Managing soil quality: challenges in modem agriculture. allin iord:
Danish Ins titute of Agricultura! Sciences; CA B Lnternational, 200-t p.2 95.
Brady NC, Weil RR. The nature and properties of soil . 13rd. ed. Upper addle Ri r: Prentice HaJI,
2001.
Brejda JJ, Moorman TB, Karlen DL, Da~ TH . . Ident~ca~ion of regional o il qualit_ facto r and
indicators: in central and southern high plams. S011 Sei Soe m J. :?.000;6-l:2115-_-l_

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1304 MARGARETE NICOLODI

Bremer E, EIJert K. Soil quality indicators: a rcview with implications for agricullurnl ecosystems in
Alberta. Lelhbridge: Alberta Agriculture, food and Rural Developmcnt; 2004.
Brock BG. R for soil quality = long-term no-till. ln: Lal R., edi tor. Soil quality and soil erosion. Boca
Raton: Soil and , vater Conservation Society; 1999. p.1 69-72.
Burguer JA, Kelting DL. Using soil quality i.ndicators to assess forest stand managem ent. For Ecol
Manage. 1999;122:155-66.
Cambardella CA, Moorman TB, Andrews SS, Karlen DL. Watershed-scale assessment of soil quality
in the loess hills of southwest Iowa. Soil Till Res. 2004;78:237-47.
Cantú l\1P, Becker A, Bedano JC, Sch.iavo HF. Evaluación de la calidad de suelos m ed iante el uso de
indicadores e índices. Ci Suelo Arg. 2007;25:173-8.
Carter MR, Andrews SS, Drink\-vater LE. Systems approach for improving soil quality. ln: Schj0nning
P, Elmholt S, Christensen BT, editors. Managing soil quality: challenges in modem agricuJture.
,vallingford: Danish Insti tute of Agricultura! Sciences, CAB International; 2004. p.261-81.
Carter MR. Soil quality for sustainable land management: organic matter and aggregation interactions
that maintai.n soil functions. Agron J. 2002;94:38-47.
Carter MR, Gregorich EG, Anderson DW, Doran JW, Janzen HH. Concepts of soil quality and
thei.r significance. ln: Gregorich EG, Carter MR, editors. Soil quality for crop production and
ecosystem health. Amsterdam: Elsevier; 1997. p .1-17.
Cassman KG. Ecological intensi.fication of cereal production systems: yield potential, soil quality,
and preci.sion agriculture. Proc Nat Acad Sei. 1999;96:5952-9.
Chaer GM. Modelo para determinação d e índice de qualidade do solo baseado em indicadores físicos,
químicos e microbiológicos(dissertação).Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa;2001.
Conceição PC. Agregação e proteção física da matéria orgânica em dois solos do sul do Brasil (tese).
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2006.
Conceição PC. Indicadores de qualidade do solo visando a avaliação de sistemas de manejo do solo
(dissertação). Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2002.
Crornpton E. Grow the soil to grow the grass. J Mi.n Agric. 1953;60:301.
Crute IR. Rothamsted research: guide to the classical e other long-term experiments, dataset and
sarnple archive. Harpenden: Lawes Agricultura) Trust; 2006.
D' Agostini LR. Noção de sistema: (re)emergindo fértil em solos, fertilidade do solo (re)emergindo
sistémica. ln: Palestras da 6ª Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo [CD ROM] 2006; Passo
Fundo: SBCS /Núcleo Regional Sul; 2006.
De Ruiter PC. Balance and stability in vital soils. ln: Doelman P, Eijsackers H, editors.Vital soil:
function, value and properties. Amsterdam: Elsevier; 2004. p.197-214.
Denardin JE, Kochhann RA, Denardin NO. Sistema agrícola produtivo: fator de promoção da
fertilidade integral do solo. ln: Dechen SCF, organizador. Anais do Workshop sobre o Sistema
Plantio Direto no Estado de São Paulo; 2005; Piracicaba. Campinas: Instituto Agronôm.ico; 2007.
p .156-80.
Denardin JE, Kochhann RA, Faganello A, Santi A, Denardin NO, Wiethólter S. Diretrizes do sistema
plantio direto no contexto da agricultura conservacionista. Passo Fundo: Embrapa Trigo; 2012.
(Documentos, 141).
Doelrnan P, Eijsackers H , editors. Vital soil: function, value and properties. Amsterdam: Elsevier;
2004.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VISTAS À AGRICU LTURA ... 1305

Doran JW, Parkin TB. Defining and assessing soil qual ity. ln: Dora n JW, Colema n ?C Bez~ ice~ DF,
Stewa rt BA, ed itors. Dcfining soil quality fo r a sustainable environment. Mad 15on : Sotl Sei nce
Society of America, 1994. p.3-21 . (Specia l Pu blication, 31)
Dora n JW, Coleman DC, Bedzicek DF, Stewart BA, editors. Dcfining soil qual ity fo r ª su 9 lainable
environment. Madison:Soil Science Society of America,·1994. (Special Publicatio n, 35). 244 P·
Doran JW, Jones AJ, ed itors. Methods for assessing soil q ualí ty. Madison:Soi l Science Society of
America;1996. (Special Pub1ication, 49)
Doran JW, Sarrantonio M, Liebig MA. Soil health a nd sus ta inabili ty. ln: Spa rks DL, editor. Advances
in Agronomy. San Diego: Academic Press, 1996. p.1-54.
Doran JW, Jones AJ, Arshad MA, Gílley JE. Determinan ts of soil quali ty and health. ín: LAL, R., ed
Soil qualíty and soil erosion. Boca Raton: Soil and Water Conserva ti on Society: 1999. p.17-36.
European Commission.Thematic strategy for the protection of soil. Bru5sels: Comm i sion of the
European Communities; 2006.
Eijsackers H. Leading concepts towards vital soils. ln: Doelman P, Eijsackers H ., ed itors. Vital
soil: function, value and properties. Amsterdam: Elsevier; 2004. p.1-20. (DevelopmenL in Soil
Science, 29)
Fiorin JE. Ciclagem de nutrientes e produtividade de grãos em sucessões d e culturas sob s· tema
plantio direto [tese] . Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2008.
Food and Agriculture Organization of lhe United Nations - FAO. A fra mework for land evaluation.
Rome: 1976. (Soils Bu11etin, 32).
Food and Agriculture Organization of Lhe United Nations - FAO. FAOSTA T sta tistical d atabase.
Rome: 1997.
Filip Z. Intemational approach to assessing soil quality by ecologically-related biological parameters.
Agric Ecosyst Environ. 2002;88:169-74.
Gale MR, Grigal DF, Harding RB. Soil productivity índex: predictions of s ite q uali ty for w hite spruce
planta tions. Soil Sei Soe Am J. 1991;55:1701-8.
Gardi C, Tomaselli M, Parisi V, Petraglia A, Santini C. Soil quality indicators and biodiversitv in
northern ltalian permanent grassland. Eur J Soil Biai. 2002;38:103-10. ,
Gregorich LJ, Acton DF. Current and future trends in soil health. ln: Acton DF, Gregorich LJ, editors.
The health of our soils: toward sustainable agriculture in Canada. Ottawa: Centre fo r Lmd and
Biological Resources, Research Branch, Agriculture and Agri-Food Canada; 1995 p.103-9.
Gregorich EG. Soil quality: a Canadian perspective. Christchurch: Res. Centr. Lincoln U niversity;
1996.
Gregorich EG. Quality. ln: La! R,editor. Encyclopedia of soil science. 1ew York: Marcel Dekke.r;
2002. p.1058-61.
Giu gino BK, ldowu OJ, Schindelbeck RR, van Es HM, Wolfe DW, Moebius B , Thie JE, . bawi G .
Cornell soil health manual. New York: State Agricultura! Experiment Sta tion; :2007.
Hartemink AE, Mcbratney AB. A soil science renaissance. Geoderma, 2008;1-IB: 123-9.
Hartemink AE. Soil science in tropical and temperate regions - some difference and similarities.
Adv Agron. 2002;77:269-92.
H a tfield JL, Sauer TJ. Emerging challenges in soil management. ln: Hatfield JL, auer TJ, editors. il
management: building a stable base for agriculture. Madison: Ameri an ~iety of gronomv;
2011. p.391-4.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1306 MARGARETE NICOLODI

Hillel D. ~n °:•~i,;iew of soi l and water management: the challenge of enha ncing productivity a nd
sus~am abihty. ln: Hatfield JL, Sauer TJ, edito,·s. Soil management: building a stable base for
agnculture. Mad1son: American Society of Agronomy; 2011. p.3-11 .
Hortensius D, Welling R. lntemational standardization of soil quality measurem ents. Commun Soil
Sei Plant Anal. 1996;27:387-402.
Hubbs ~ID, or_fleet ML, Lightle DT. lnterpreting tl1e soil conditioning índex. ln: van Santen E,
ed itor. ~.fakmg conservation tillage conventional: building a future on 25 years of research. ln:
Proceedmgs. of the 25th Almual Southem Conservation Tillage Con.ference for Sustainable
Agriculture; 2002; Aubum. Aubum: Alabama Agric. Expt. Sh1, Aubum University; 2002. p.192-6.
Alrne HF, Kristensen ES. Towards a systemic research methodology in agriculture: Rethinking the
role of values in science. Agric Human Values. 2002;19:3-23.
Janssen BH. Basics of budgets, buffers and balances of nutrients in relation to sustainability of agro
ecosystems. ln: Smaling EMA, Oenema O, Fresco LO, editors. Nutrient disequilibria in agro
ecosystems: concepts and case studies. WaUingford: CABI Publishing; 1999. p .27-56.
Karlen DL, Andrews SS, \1'7ienhold BJ. Soil quality, fertility and health: historical context, status
and perspective. ln: Schj0111ung P, Elmholt S, Christensen BT, editors. Managing soil qua]jty:
challenges in modem agriculture. Wallingford : Danish lnstitute of Agricultural Sciences, CAB
lntemational; 2004. p.17-33.
Karlen DL, Mausbach MJ, Doran Jv\T, Cline RG, Harris RF, Schuman GE. Soil quality: a concept,
definition, and framework for evaluation. Soi1 Sei Soe Am J. 1997;61:4-10.
Karlen DL, Stott DE. Framework for evaluating physical and chemical indicators of soil quafüy. ln:
Doran JW, Coleman DC, Bezdicek DF, Stewart BA, editors. Defining soil quality for a sustainable
envi.ronment. Minneapolis:Soi.l Science Societyof America, 1994. p.53-72.
Khan F, Iqbal A, Naveedullah, Khattak MK, Zhou W]. Physico-chemica1 properties and fertility status
of water eroded soils of Sharkul area of district Mansehra, Pakistan. Soil Environ, 2011;30:137-
45.
Kibblewhite MG, Ritz K, Swift MJ. Soi1 health in agricultural Systems. Philos Trans Royal Soe B.
2008;363:685-701.
Kiniry L , Scrivner CL, Keener ME. A soil productivity index based upon predicted water depletion
~.nd root growth. Columbia: Missouri Agricultura) Experiment Station;1983. (Research bulletin,
1051).
Lal R. Teed for action and researchable priorities. ln: Lal R, editor. Soil quality and agricultura]
sustainability. Chelsea: Am1 Arbor Press; 1998. p.360-365.
Lal R. Soi.1 quality and food security: the global perspective. Ln. Lal R, editor. Soil quality and soil
erosion. Boca Raton: Soil and Water Conservation Society; 1999. p.3-16.
Lape n DR, Topp GC, Gregorich EG, C~oe WE. Least_Ii~ting water ra nge indicators of soil quality
and com production, eastern Ontano, Canada. Soil Ti.li Res. 2004;78:151-70.
Larson WE, Pierce FJ. Conservation and enhancement of soil quality. ln: Dumanski J. editor.
Evaluation for sustainable land management in the developing world. Bangkok: 1991. p.175-
203. (Technical papers, 2)
Larson WE, Pie rce FJ. The d ynamics of soil quality as a measuxe of su stainable management. ln:
DoranJW, Coleman DC, Bezdicek DF, St~wart BA, ed_itors. Defini11g soil qua~ity for a_ s ustainable
environment. Madison: Soil Science Society of Amenca,1994. p.37-51. (Spec1al Pubhcation, 35)

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SO LO COM VISTAS À AGRICULTURA · · ·
1307

Letey J, Sojka RE, Upchurch DR, Cassei DK, Olson KR, Payne WA, Pe trie SE, Price G H , Regi~ato_RJ,
Scott HD, Smethurst PJ, Triplett GB. Dcficiencies in the soil q ual ity conce pt a n d 1 appltcahon.
J Soil Water Conserv. 2003;58:180-7.
Liebig MA, Miller ME, Varvel GE, Doran JW, Hanson JD. AEPAT: A compute r progr.:im to
assess agronomic and environmental performance of manage.ment practices in lon -term
agroecosystem experiments. Agron J. 2004;95:316-22.
Lilburne LR, Hewitt AE, Sparling GP, Selvarah N. Soil quality in ew Zealand: Policy ª nd th e
science response. J Environ Qual. 2002;31:1768-73.
Macdonald KB, Wang F, Fraser WR, Lelyk GW. Broad-sca le assessment of agricultura( soil q~ality in
Canada using existing land resource data bases and GIS. Guelph: Resea rch Branch, Agnculture
and Agri-Food Canada; 1998.
Mandai UK, Ramachandran K, Sharma KL, Satyam B, Venkanna K, Bhanu MU, Mandai M, :'1asane
RN, NarsimJu B, Rao KV, Srinivasarao CH, Korwar GR, Venkateswarlu B. A mg sotl
quality in a semiarid tropical watershed using a geographic iníormatio n system . Soil Sei Soe
Am J. 2011;75:1144-60.
Mausbach MJ, Seybold CA. Assessment of soil quality. ln: Lal R, editor. Soil quality and agricultUial
sustainability. Chelsea: Ann Arbor Press; 1998. p.33-43.
Mausbach M, Tugel A. A decision document for establishing a Soil Quality lnstitute. 1 ·ew York:
Natural Resources Conservation Service; 1995.
Michaelis moderno dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos; 199 .
Miller A. Soil heaJth and sustainability. Oxford: Environmental Sustainability KTN; 2011.
Moore KM., editor. The sciences and art of adaptative management: innovating for ustainable
agriculture and natural resource management. Ankeny: Soil and Wa te.r Conservation Society;
2009.
Miles, R.J, Brown, J.R. Toe Sanbom Field Experiment: implications for long-tenn soil o rganic carbon
leveis. Agron J. 2011;103:268-78.
Mueller JP, Finney D, Hepperly P. Toe field system. ln: Moore KM, editor. Toe ciences and art
of adaptative management: innovation for sustainable agriculture and natural r ource
management. Ankeny: Soil and Water Conservation Society; 2009. p .25-59.
Nacional Research Council - NRC. Environmental epidemiology. Washington: ational Academic
Press; 1991.
Nicolodi M. Desafios à caracterização de solo fértil em quimica do solo. ln: Palestra da 6ª Re união
Sul-Brasileira de Ciência do Solo [CD-ROMJ, 2006; Passo Fundo.Pa o Fundo: SBCS/, úcleo
Regional Sul; 2006.
Nicolodi M. Evolução da noção da fertilidade e sua concepção como uma propriedade e m e roen te do
0
sistema solo [tese] . Porto Alegre: Universidade Fede.ral do Rio Grande do SuJ;2007a.
Nicolodi M. Poderia ser a fertilidade entendida como uma propriedade emergente do istema olo .
R Plantio Direto. 2007b;102:8-15.

Nicolodi M, Gianello C, Anghinoni 1. Fertilidade: uma propriedade do _istema o i . ln: Re · umo


da 5ª Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo [CD-ROM]; 200-l; Florian poli ·, Florianópo lis:
SBCS/ Núcleo Regional Sul; 2004a.

Nicolodi M, Gianello C, An~~noni 1. Relação :ntre adi ponibilidade de nutri ntes e a resposta da
soja no contexto da fertilidade como propriedade emergente do si tema solo. ln: R -uma s da - ~
Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo [CD-ROM]; 200-l; Florianóp lis, F1 rim · p \is: B /
Núcleo Regional Sul; 2004a.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1308 MARGARET E NI COLO DI

icolodi 1. Gianello , Anghinoni 1. Repensando o conceit o da fertilidade do so lo no s istema


plantio direto. RI lantio Direto. 2007;10] :24-32.
1
icolodi 1, Gianello , nghinoni A, Marré J, Mieln iczuk J. Insu ficiência do conceito mine ra lis ta
para expressar a ferti li dade do solo percebida pelas plantas cultivadas no sistema plantio direto.
Rev Bras Cienc olo.2008;32:2735-44.
1ortcliff S. tand ardiza tion of soil quality attribute . Agric Ecosyst Environ. 2002;88:161-8.
ortcliff S. The soil: nalure, sustainable u e, management, and protection - An overview.
Gaia.2009;1 :5 -6..:.
1
orton D, Shainberg 1, Cihacek L, Edwards JH . Erosion and soil chemical properties. ln: La l R,
editor. Soil quality and oi\ erosion. Boca Raton: Soil and Water Conservation Society; 1999.
p .39-56.
Parr JF, Papendick SB, Homick SB, Meyer RE. Soil quaJity: Attributes and relationship to ai te ma tive
and sustainable agriculture. Am J Altern Agric. 1992;7:5-Jl .
Patzel 1, Sticher H, Karlen DL. Soi\ fertility: phenomenon and concept. J Plant Nuh· Soil Sei.
2000;163:129-42.
Pierce FJ, Larson VvE. Developing criteria to evaluate sustainable land management. ln: Kimble JM,
editor. Utilization of soil survey information for sustainable land use. Lincoln: Nationa\ Soil
Survey; 1993. p.7-14.
Pierce FJ, Larson \NE, Dowdy RH, Graham WAP. Productivity of soils: assessing long-term changes
to erosion. J Soil Water Consen1 • 1983;38:39-44.
Pierce FJ. Land management: the purpose for soil quali ty assessment. ln: Macewan RJ; Carter MR,
editors. Soil quality for land management: science, practice, and poJjcy. Ballarat: University of
Ballarat; 1996. p .53-8.
Pov. er JF, Myers RJK. The maintenance ar improvement of faming systems in North America an
AustraJia. ln: Stev.1art Jv\TB, editor. Soil quali ty in semi-arid agriculture. Saskatoon: University of
Saskache,van; 1989. p .273-92.
PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. [Acesso em 20 mar. 2012] Disponível em:
<http://v,,vvv, .priberam.pt/ dlpo/> Acesso em 20 mar. 2012.
Reicosl-...-y DC, Hatfield JL, Sauer TJ. ChaJlenging balance between productivity and environmental
quality: tillage impacts. ln: Hatfield JL, Sauer TJ, editors. Soil management: building a stable
base for agriculture. Madison: America Society Agronomy; 2011. p.13-37.
Sanchez PA, Palm CA, Buol SW. Fertility capability sai! classification:a toai to help assess soil quality
in the tropics. Geoderma. 2003;114:157-85.
Santana DP, Bahia Filho AC. Qualidade do solo: uma visão holística. B Inf SBCS. 2002;27:15-8.
Schj 0 nning P, Elmholt S, Chris tensen B~, editors. ~anaging s_oil quality: challen~es in mode m
agriculture. Wallingford: Danish lnsbtute of Agricultura] Soences, CAB lntem atJonal; 2004a.
Schj 0 nrung P, Elmholt S, Christensen BT. Soil quaJj1 man_agem~nt: concepts an? terms. ln: Schj0nning
r, Elmholt s, Christensen BT, editors. Managmg s01l quahty: challenges m modem agriculture .
WaUingford: Danish Jnsti tute of Agricultura! Sciences, CAB International; 2004b. p .1-16.
Schj 0 nning P, Elmholt S, Christensen BT. Soil _quality man~gement: syntl'.esis. ln: Schj01ming P,
Elmholt s, Chris tensen BT, edi tors. Managmg s01I quahty: chaJ!enges m modem agriculture.
Wallingford : Danish Jnstitute of Agricultura! Sciences, CA B International; 2004c. p.315-33.
SchJindwein SL. A noção d e fertilidade em solos e s ua metáfora. ln: Palesh·as da 6ª Re união Sul-
Brasileira de Ciência do Solo [CD-ROM]; 2006; Passo Fundo. Passo Fundo: SBCS/N úcleo
Regional Sul; 2006.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XXXIX - QUALIDADE DO SOLO COM VI STAS À AGRI CULTURA · · ·
1309

Sc hmitz JAK. Indicadores biológicos de qua lid ade do -;olo [tese j. Porto A legre: m versid ad Fcd er.i l
do Rio Grande do Sul; 2003.
Schouten AJ, Rutgers M, Breure AM. Bo BI o p weg: tussc ntijds evalual i ' va n het prnject
Bode mbiologische lndicator. Rijksinstituut voar Volks gezond heid e n Milieu; 2001 .
Si_nger MJ, Erwing S. Soil quality. ln: Sumner M, editor. The hand book of soi l scie nce. BocJ Rato n:
1999. p.271-98.
Sojka RE, Upchurch DR. Reservations regarding the soil quali ty concept. Soi l Sei Soe A m J.
1999;63:1039-54.
Sojka RE, Upchuxch DR, Borlaug NE. Quali ty soil manageme nt or soil q u a lity m a na gem nt:
Performance versus semantics. Adv. Agron. 2003;79:1-68.
Sparling CP, Schipper LA. Soil quality at a nalional scale in I ew Zealand. J Envi ron Qual.
2002;31:1848-57.
Soil Science Society of America. Glossary of soil sc ience terms. Madison: l 987.
Sun B, Zhou S, Zhao Q. Evaluation of spatia l and temporaJ cha nges of oil qualüy bas ed o n
geostatistical analysis in the hill region of subtropical China. Ceoder ma. 2003;115: S-99.
Tóth G, Stolbovoy, V, Montana.rella, L. Soil quality and s us ta inabili ty evaluation: a n integra ted
approach to support soiJ-related policies of the European Unio n.. Lu xembourg: ln.stitutc for
Envirorunent and Sustainability, European Corrununities; 2007.
Tóth G, Montanarella L, Rusco E, editors. Threats to soil quality in Europe. Luxembour 0 : Joint
Research Centre, European Communities; 2008.
Tóth G. Fónntartható mezõgazdasági fõldhasználat: az integrált tervezés leh etõ égei. Fõldrajzi
Értesítõ LII. 2003. p.215-27.
Tóth G.Soil quality in the Euxopean Union. ln: Tóth C, Montanarella L, Rusco E, editors. Threats
to soil quality in Europe. Luxembourg: Joint Research Centre, European Communi ties; 20 .
p.11-9.
Várallyay GY. Agriculture and Nature Links in Hungary. ln: Annual Confere nce of Etuopean
Envirorunental Advisory Councils. 1Q•h. ed . Kilkenny: 2002.
Verhoef HA. Soil biata and activity. ln: Doelman P, Eijsackers H, editors. Vital oi!: fun tion, alue
and properties. Amsterdam: Elsevier; 2004. p.99-125.

Vezzani FM, Mielniczuk J. Uma visão sobre qualidade do solo. Rev Bra Cienc Solo. 2009;33:7-B-33.
Vezzani FM. Qualidade do sistema solo na produção agrícola [tese]. Porto Aleg re: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; 2001.

Waldon H, Gliessman S, Buchanan M. Agroecosystem response to organic a nd con e n tional


management practices. AgricSystems.1998;57:65-75.

Wander MM, Walter CL, Nissen TM, Bollero GA, Andrews S.S, Cavanaugh-Grant DA. Sai! qualitv:
science and process. Agron J. 2002;94:23-4. ,

Warkentin BP, Fletcher HF. Soil quaJity for intensive agriculture. ln: Proceeding · of the lntemational
Seminar on Soil Environment and Fertility Management in lntensive Agriculture;1977; To o .
Tokyo: Society of Science of Soil and Manure, NationaJ Lnstitute of Agricultura! Sdence; 19,í
p.594-8.
Warkentin BP. The changing concept of soil quality. J Soil Water Con serv. 1995.- :_

Wienhold BJ, Andrews SS, Karlen DL. Soil quality: a revie w f the _ ience and e-xperi~nces in the
USA. Environ Geochem Health. 2004;26:89-95.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1310 MARGARETE NICOLODI

\i\'ienJ10\d BJ, Andrews , Ku ) kendall H, Karlen DL. Reecnt advanees in soi l q uality assessm ent in
the United tates. J lndian Soe Soil Sei. 2008;56:1-10.
\ o\kowsk.i D. oi\ q ua li ty and erop produetion systems. Nev,, horizons in soil seienee. W isconsin:
2005.
\-\ oodru ff C '1 . A hi tory o f the Department of Soils and Soil Seienee a t the University of Missou ri.
Columbia: Univer ity of Missouri; 1990.
Zvomuya F, Janzen HH, Larney FJ, Olson BM.A Jong-term field bioassay of soil qua lity iJ1dica tors in
a semiarid environme nt. Soi\ Sei Soe Am J. 2008;72:682-92.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NO
BRASIL
Oromar João Bertol1', Leandro do Prado Wildner2' & Edemar StreckJ/

11 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema te r-PR), C uritiba, PR.
E-mai l: oroma r@emater.pr.gov.br
21 Empresa de Pesqui a Agropecuária e Extensão Rural de Sa nta Catarina, Centro de Pe'-<j u,sa para
Agricu ltura Familia r, Chapecó, SC.E-mail: lpwi ld@epagri .sc.gov.br
J/ Emater-RS, Porto Alegre, RS. E-mai l: s trec k@emater.tche.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... ·····-·········-····- ···- ···-· 1311


H1STÓRICO DA EXTENSÃO RURAL ......................... ....................................................... . ···········-··········-··-·-··· 1313
Histórico d a atuação da ATER na transferencia de tecnologias conservacionistas de solo e água .. .... .. l 16
LIÇÕES APRENDIDAS PELAS ATERS NA CONSERVA Çf\.O E NO MA1 EJO DO SOLO E DA r\.G UA .... 131
O QUE DEVE SER ESPERADO DA ATER EM RELAÇÃO À CO 1SERV AÇf\.O E AO l'vlA. EJO 00 - LO
E DA ÁGUA ....................................................................................... ............................................................... ... - ·· l}J')

CONSIDERAÇÕES FINAIS ····························································································· ··············-·····- ··-··· -·····-·- ·· 1329


LITERATURA CITADA .................................. ................................................................................... ·- ····-····- ··-··· ... 1330

INTRODUÇÃO

Na Constituição Federal, no artigo 225 do Capítulo VI, que trata do Mei mbiente,
é exposto que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem d
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à cole tividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente geração e a futuras
gerações".
Sendo o solo um dos mais importantes componente do Mt::io Ambiente e, por
consequência, um bem de uso comum do povo, cabe, portanto, ao Poder Públic , •uidar
d ele, uma vez que o ser humano depen~e ~o so~o para a ua obre i encia. o p nto de
vista agrícola esse recurso tem como prmc1pal função sustentar a vid.:i do h mem e d os
anjmais por meio da produção de alimentos. Justifica-se o fato de a Con tituiçã d ~ta a r
a necessidade da defesa e preservar os recursos naturais e, por on eqüencia, do oi , nã

Be rtol 1, De Maria IC, Souza LS, edi tores. Manejo e conservc1ç.10 d o . olo e d a .iguJ. Viço ·.1. M : _ oet!.1J e
Bras ile ira de Ciênci;,i do Solo; 2018.
1312 ÜROMAR ]oÃo BERTOL ET AL.

apena em razão d.1 importância d esse bem para a sociedade, mas ta mbé m em razão da
sua ínti ma relação om a água, outro r urso natural vi tal para o ser humano, b m com o
o fe itos de ~ª relação nos a pectos "qu alidad e e quantidade" da água.
]c1 está suficientemente den,onstrado que os solos ocupados pela agricultu ra n o Bras il,
particularmente aqueles manejados sob Semeadura Direta (SD), vêm recebendo e m sua
superfície do es crescente de adubo , bem como é notória a persistência e o agrava mento
da erosão hídrica em todo o paí . Por sua vez, a combinação do aporte crescente de a du bo
em uperfície com a ero ão hídrica acarreta perdas de nutrientes, que, quando consid eradas
cumulati\'am ente, alcançam valores de grande monta e representam prejuízos consideráveis
tanto ao produtor rura l como à sociedade, como: depreciação das terra ocasionad a pela
ero ão; neces idade de reposição de nutrientes, muitos deles dependentes de importação;
e proliferação nas águas de organismos aquáticos indesejáveis por causa da eutrofização
do mananciais pelos nuh·ientes aportados pela erosão. Merecem destaque ainda outros
efeitos da erosão hídrica, como: destruição de estradas e pontes; aumento no custo do
tra tamento de água para fornecimento às populações; redução da vida útil das barragens;
necessidade d e tratamento médico das populações, rmaJ e urbana, em razão de doenças de
\ eiculação hídrica; e diminuição na disponibilidade de peixes, em razão de níveis elevados
de turbidez e eutrofização das águas, prejudicando as populações ligadas à atividade
pesqueira. Em decorrência, cresce na sociedade a consciência de que o solo e a água são
recursos degradáveis, limitados e finitos quando submetidos a condições inadequadas de
uso e manejo.
A previsão de aumento crescente de participação do setor agropecuário na produção
de energia para os próximos anos, além da necessidade de produção de alimentos, tende a
elevar a intervenção antrópica para atender a essas demandas. Isso aumenta a preocupação
com a degradação do solo e da água. Entretanto, a elevação populacional, o incremento
e a diversificação d e atividades demandadoras de recursos lúdricos em quantidade e
qualidade têm provocado crises agudas de disponibilidade de água, em muitas regiões do
Brasil Por causa disso, tem-se ampliado a cada dia entre as populações, rural e urbana, o
entendimento de que a água é um recurso estratégico para a sobrevivência das espécies e
para a economia, uma vez que é vital para o desenvolvimento de atividades como irrigação,
criação de animais, geração de energia, processos industriais, navegação, higiene e lazer.
Uma das formas de o Poder Público cumprir com o dever cons titucional de cuidar
dos recursos solo e água, dado a importância desses recursos para a socied ade, é estruturar
e manter um serviço de Assistência Técnka e Extensão Rural (ATER) público. Isso é
evidenciado pelo fato de vá rios estados da federação terem desenvolvido p rogramas
exitosos de conservação do solo e da água; em todos esses programas a ATE R foi a principal.
Segundo os participantes do Seminário Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural, realizado em junho de 2008, em que participaram 11 000 pessoas d e todos os estados
d a federação, os principais objetivos da política nacional de ATER é estimular e apoiar
iniciativas d e desenvolvimento rural s ustentável, visando à melhoria d a gu alidade de
vida das populações rurais, entendendo que o desenvolvimento rura l s us te ntável será
alca nça do pela prática de uma agricultura sus tentável.
Par a O Ministéri o do Desenvolvimento Agrário, o principal objetivo dos serviços
de ATER é melhorar a renda e a qualidade de vida das familias rurais, por m eio do
aperfeiçoa mento dos sistemas de produção, mecanismo de acesso a recursos, serviços e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A CON SE RVA ÇÃO DO SO LO E DA · · · l 3l3

re nda, d e forma s ustentável (Brnsil, 2004; a ntos, 2010). Po r sua vez, o desenvo lv imento é
cons ide rado sustentável quand o sati faz as necessidades prese ntec; se m comprom t r u
possibilidades elas futuras gerações suprirem as suas próp rias neces idades, defi n i ·ão esc;a
ratificada durante a EC0-92.
Ao iniciar este capítulo, julgou-se impo rtante diferencia r ex tensiio ru ral d e a_,.,istê ncia
técnica. Embora esses dois serviços atu em na transferência de tecnologiê1, J cred 1lil-s q ue
isso se reveste de importância em razão da diferença de enfoque que cada um imprime il l
desenvolver ações no meio rural e, por consequêncit1, na conservaçâo d o so lo e dc.l água.
A Extensão Rural caracteriza-se por ser um sistema de proced imentos técnicoc:; a ocíad os
a métodos organizativos, realizado por ex te nsionistas de ins ti tuições oficia is o u privadas,
e tem como propósito a educação do produtor rural e sua fa m ília (Bicca, 1992). Portanto,
pode-se considerar que a extensão rural também é um processo d e educação, porém de
caráter prático e permanente, que proporcione o crescimento do homem d o campo, inclu ive
no aspecto da organização rural. A Extensão Rural ta mbém pode ser defin id a como um
processo de educação informal, destinado a agricultores, d onas de casa, joven rurais e
demais interessados em melhorar as condições de vida das popuJações ruraí (Rib iro, 19 5 ).
Assim, a Extensão Rural particulariza-se por ser um sistema ed ucacional q ue se baseia na
realidade rural; busca atuar por meio de programas pactuad os com a po pulação rural a
partir dos problemas enfrentados por essa população e considerando a políticas públicas de
Estado (país, estado, município); procura agir de forma integrad a com outra in titu iÇ , em
especial a pesquisa; visa valorizar o trabalho em grupo; busca consid erar corno unidade de
trabalho a familia; e procura avaliar constantemente o trabalho em execução.
A Assistência Técnica, por sua vez, é definida como um conjunto de ações integrada
que objetiva dar condições aos usuários das áreas agrícolas, de ad o ta r e utilizar técnicas
recomendadas para atingir o êxito de seu empreendimento (Bicca, 1992). C onsidera ndo
esse conceito, o profissional que atua na assistência técnica te m com o açõ principai a
elaboração de projetos e a orientação e fiscalização na execução d e obras e serviço técnico .
Pode-se considerar, portanto, que a Assistência Técnica te m concepção tecnicista, em
que o processo educativo se dá numa relação de via única, em que o técn ico é o d etentor
do conhecimento; e o produtor rural, o receptor. Assim, a Assis tência Técn ica acaba se ndo
um processo de substituição de um conhecimento por outro, enqua nto a e, tensão rura l s
constitui em um processo de construção do conhecimento. uma abordage m ob a ótica
da comunicação, pode-se dizer que o agente da extensão rural é alg ué m q ue e comu nica
com o público rural, enquanto o assistente técnico faz comunicado (Fre ire, 1977).

HISTÓRICO DA EXTENSÃO RURAL

Os serviços públicos de ATER, no Brasil, iniciaram ainda na é p ca d o Im péri com


os Institutos Imperiais de Agricultura, em 1859 (Bahia e Perna mb uco) e 1 o ( r2"ipe e
Rio de Janeiro). Esses institutos tinham a incumbencia de pe quisar, pro m o er O en •in
agropec uário e difundir informações na á rea da agricultura. enf que, p rtanr , t>ra mLUt
m a is de ass istência técnica, isto é, de transferência de terno! g ia, d o q ue d e ex te nsã ru ral.
A partir de 1910, surgiram as primeiras Escolas d e Ens in u perior de Agricu lturJ
e Medicina Veteriná ria, que, além do ens ino, também tinha m a tribu i - e- de prestar

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1314 OROMAR JOÃO BERTOL ET AL.

as istência técnica e e:-.tensão rural, atender consultas dos agricultores e divulgar os


conhecimentos prá ticos adquiridos. Entre 1910 e 1940, o governo federal criou os campos
de demonsh·ação e as fazendas- modelo, cujos obje tivos eram divu lga r os resultados de
pesquisa e implantar as prc1licas para a melhoria da agricultura. Mais tarde, essas estações
fora111 cedidas a prefeituras municipais, cooperativas e empresas privadas, e m razão dos
baixos resultados e pela escassez de recursos. Até en tão, as pesquisas na área de manejo e
consen·ação do solo eram pouco conhecidas, e as maiores a ti vidades de pesquisa e difusão
estavam voltadas às tecnologias de produção.
o final da década de 1930 e início de 1940, com o desenvol vimento da agricultura,
começaram os problemas em relação à erosão. Nesse período, a atenção de alguns
produtores rurais, bem como das autoridades, foi despertada pela queda de produção de
algumas culturas, principalmente a cafeeira, por causa do intenso processo erosivo. Em
razão disso, surgiu oficialmente, em Campinas, SP, a primeira organização governamental
de consen ação do solo no país, que prestava assistência técnica direta e especializada aos
agricultores, denominado "Serviço de Terraceamento", que mais tarde foi transformada
em Seção de Combate à Erosão, Irrigação e Drenagem, depois em Departamento de
Engenharia e Mecânica da Agricultura (DEMA). Em 1967, sua estrutura foi absorvida pela
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CA TI) .
1ofinal da década de 1940, cresceu a preocupação com a conservação do solo em todos
os estados do Brasil e as necessidades de desenvolver atividades inerentes ao controle da
erosão. Para tanto, Departamentos ou Divisões de Conservação do Solo foram constituídas
nas Secretarias Estaduais de Agricultura, para promover a pesquisa e extensão rural. Em
aJguns estados, onde os problemas de erosão eram mais críticos, foram estabelecidas Zonas
e Regiões Conservacionistas, constituindo-se, à época, na maior organização de assistência
técnica especializada em conservação de solo no Brasil.
A preocupação com a degradação do solo que vinha ocorrendo corroborou a
institucionalização do serviço de assistência técnica e extensão ruraJ no país. Assim, em
1948, foi criada a primeira instituição com a incumbência de prestar esse tipo de serviço,
quando o Estado de Minas Gerais criou a Associação de Crédito e Assistência Rural
(ACAR), uma entidade civil, sem fins lucrativos (Peixoto, 2008).
A partir de 1950, visando dar maior impulso ao desenvolvimento da agricultura, o
Governo Federal fomentou a criação do Serviço de Assistência Técnka e Extensão Rural
nas demais unjdades da federação. A difusão de tecnologia consistia, principalmente,
em elaborar projetos técnicos aos agricultores para obter, por parte desses, créd ito com
os agentes financeiros. O atendimento ao agricultor era reali zado d e forma grupal, com
aporte de recursos por m eio da cooperação técnko-financeira com o Governo americano
para execução de projetos de desenvolvimento rUia1, sob a coordenação da Associação
Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), que repassava os recursos para suas
associad as nos estados, as ACARs. O s planos anuais d e a tividades d esses projetos já
contemplavam a necessidade de transferência de tecnologias de manejo e conse rvação do
solo aos agricultores (ASCAR, 1956).
Nas d écadas de 1950, 1960 e 1970, diversas ACARs foram cria d as n a maioria dos estados
da federação, chegando ao número d e 20, em 1974, cujo m é todo d e ação foi inspirado no
modelo norte-americano de extensão rural, porém com a diferença que naquele os serviços
eram pres ta dos aos produtores rurais dire ta mente por univers idades, enquanto aqui
os serviços era m prestados pelas ACARs. As ACARs passaram a ser coord enadas pela

MANEJO E CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RU RAL E O MANEJO E A CO NSERVAÇÃO DO SOL O E DA · · ' 1315

Associação Brasileira de Crédito e Assist' ncia Rural (A B /\ R), ins tituíd a em 1 - 6 (Pei ot ,
1

2008).
Em 1974, o Governo brasileiro resolveu cri a r a Empresa BrJ ·ilei rc:1 d 1 '- i tencia
Técnica e Extensão Rural (EMBRATER), um a medida q ue viso u m, nter O _e rviço ~e
ex tensão rural no Brasil, cm razão do desint rcsse do Governo a me ricano na m,rnutençao
da cooperação técnico-financeira a esses serviços. A EMBRA TER foi conc; tituídJ com
personalidade jurídica de direito privado, o qu e se cons tituiu na estatizaçã~ do . e~vi~o
d e ex te nsão rural. O decreto que criou a EMBRA TE R incorporou o ter mo /\ss1 tencia
Técnica" e estabeleceu as fontes de recurso pa ra cu mprir com os seu objetivos, q ue e ram :
promover a integração com a Empresa Brasileira de Pesqu isa Agropecuá ria (EM BRAPA_);
coordenar a transferência de tecnologia e as ações estaduais de extensão; e p rcc;tar ap 10
financeiro às associadas que atuassem no serv iço d e /\TE R, urna vez q ue o d ecre to de
s ua cri ação a utorizou-a a aportar recursos para esse fim (Santana e Miziara, 2001 . Em
decorrência disso, foram criadas nos estados, as Empresa d e s i tência T nic.i e
Extensão Rural (EMATERs), que absorveram as ACA Rs .
O processo de democratização do país, fo rtalecido, so bre tud o, a pa rtir d a segunda
metade da década de 1970, propiciou o surgimento de um mov imento ocial ex ten ionj ta,
o que resultou em nova proposta de Extensão Ru rnl. Essa no a propo ta recome ndava a
construção de uma "consciência crítica" por parte dos extensionis tas e a recom e ndação
para o uso do "planejamento participativo". Es e mov imento, po r ua vez, le ou a
EMBRATER, na década de 1980, a optar por assi tir priorita riam ente o produ tore
familiares e assentados rurais. Além disso, passou a apoiar um m odelo de des n volv imento
rural ecologicamente correto, economicamente viável e socia lme nte justo, diferente do que
fazia a extensão rural nos seus primórdios, quando a tendia prefere ncialm nte o gra nd
produtores, tendo como principal preocupação transferir tecnologia de tinada ao proces o
de produção (Oliveira et ai., 2010).
A partir dos últimos anos da década de 1990 do sécu lo pa ado, alguns fa tores
contribuíram para o enfraquecimento dos serviços de A TER no pa · , en tre o fa to de
as instituições que prestavam esses serviços eram consideradas como e m fi.n lucrativo ,
filantrópicas e, nessa condição, isentas do pagamento de obrigações ociai , impo_ to e
taxas governamentajs. No entanto, a avaliação histórica da TER no Bra il e id ncia que o
período em que esse serviço produziu os melhores resultado para o prod u t re_ rur i
para a agricultura brasileira foi aquele em que o sistema era compo to por a eia ões i 1 ,
sem fins lucrativos, de direito jurídico (Santana e Miziara, 2007). U m fa to r que também
corroborou para o enfraquecimento dos serv iços de A si tênà a Técn ica e E. tensã Ru ra l
foi o té rnúno do créd ito subsidiado para a agricultura, que era a plicado p rin ipalm nt 1a
ATER.
Diante desse quadro e apoiado em inúmeros proble mas, em 19 O, o G vem d o
Pres idente Fernando Collor de Melo, no seu programa d e ref rma - enviado ao Congr ·
Nacional, propôs a supressão de instituições públicas, entre ela a ext in -ã d a E rnR--\ TE R
(Santana e Miziara, 2007), apesar da enorme importâ ncia d a E IBR. TER e mo p nt d
acesso dos produtores rurajs às moderna tecnologias. Com a e. tinçã da El lBR TER, ,1
res ponsabilidade pela coordenação da extensão rural pa u para a E1 IBR PA (Bra -iJ,
1990). No entanto, ainda no an o de 1990, foi criada a ! ciação Brasileira :ta- Em pre
d e Exte nsão Rural - ASBRAER, uma in.iciati a dos dirigente - i as E !ATER es d uai - om
o governo federal.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1316 ÜROMAR JoÃo B ERTOL ET AL.

e:\ti nção da E 1BRATER cau sou desorgani zação de todo o siste ma ofici,il d e A TER,
prov?ca_ndo, nos estados, extinções, fusões, mudanças de regime jurídico, sucatea m e ntos
e, pnnc1palmente, a perda d e articulação entre di versas instituições orga ni zado ras do
serviço de exten ão, sendo ma is conhecid a por operação desmonte (Peixoto, 2008). Com
isso, as insti tuições de extensão rural passaram a depender qu ase que excl usivamente dos
goYernos estaduais e dos convênios com prefeituras. Diante desse contexto, as EM ATERs
tiveram que con truir uma relação de confiança com essas duas esferas govern amentais, o
que criou uma situação d e difícil conciliação - a ingerência política denh·o da extensão rural,
um entrave à continuidade dos trabalhos (Santana e Miziara, 2007). U1n efeito também d a
extinção da EMBRA TER foi o surgimento de um mercado privado de ATER por m e io
de organj zações não governamentais (ONGs) e cooperativas de assistê ncia técnica. Isso
promoveu a expansão dos serv iços de assistência de venda e pós-venda de insumos e de
equipamentos, mudando a relação entre pesquisadores, assistência técnica e extensão rural
e produ tores, influenciando n a transferência de tecnologia, tanto em man ejo e conservação
de solo quanto em ouh·as áreas.
o ano de 2010, o Governo Federal, por meio da Lei Nº 12.188, restabeleceu o serviço
oficial de Assistência Técnica e Extensão Rural, com a criação do Programa Nacional
de Assistência Técruca e Extensão Rural (PRONATER) e da Conferência Nacional
de ATER, que é aberta à participação de diferentes instituições (Brasil, 2010) . Uma das
funções da Conferência de A TER é defirur os recursos e as políticas públicas voltadas
ao desenvolvimento da agricultura, como a h·ansferência de tecnologia para recuperar e
preservar os recursos naturais. A Conferência Nacional de ATER em 2012 teve por objetivo
debater as diretrizes para a construção da Política Nacional de ATER (PNATER) para os
próxin1os quatro anos. O eixo de A TER para o desenvolvimento rural su stentável, período
2012 a 2016, estabeleceu como uma das prioridades para todo o Território Nacional
promover a integração entre os processos de geração e transferência de tecnologias
adequ adas à preservação e recuperação dos recursos naturrus. A Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo é urna das instituições que deveria ter participação efetiva na Conferência
de A TER para garantir a formulação de políticas públicas e recursos financeiros para a
conservação dos recursos naturrus solo e água em todo o Território Nacional.

Histórico da atuação da A TER na transferência de tecnologias


conservacionistas de solo e água
As ações da A TER voltadas para a conservação do solo no Brasil iniciara m, de forma
mais efetiva, na década de 1960, em decorrência da erosão hídrica que se acentuou em
razão dos efeitos do chamado "processo de modenuzação da agricultw-a", muito embora as
primeiras medidas conservaciorustas tenham ocorrido ainda na décad a de 1940, conforme
já mencionado.
Efetivamente, com o impulso dado à agricultura no país, os problemas de erosão
cresceram, ampliando assustadoramente o passivo ambiental por causa, principalmente,
de fato res como: enorme expansão d a fronteira agrícola sem a necessá ria observância da
aptidão agrícola dos solos, uma situação clara de sobre posição do interesse econômico
sobre O ambiental e o social; uso intensivo d e máq uinas e de insumos; m anejo do solo
adotado pelo agricultores, que consistia em mobilizar intensamente o solo para adequá-lo
à operação d e sem eadura; a uséncia de práticas eficazes de conservação do solo; e prática

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MAN EJO E A Co ISERVAÇ ÃO DO SOLO E DA · · · 1317

el e eliminélção da biomassa cultural residu nl pelo uso lo fogo. Nesc;a ·•po él'. pac; ou '.1 c;er
comum é1 necessich1de cio replant io elas lavo uras, por ca usa das p rdas parciai.; ou totai do
plantio provocadas pela e rosão hídrica. Em razão cless s probl mas, o Gn ern Fed ral,
por meio do Ministério da Agricultura, criou o Programa 1 a iona l de Cons rvaçã~ do ~lo
- PNCS, com o fim de implementar planos estadua is e municipais de combate '' e r:1...., 0 -
Foram constituídas equipes de pesquisa e extensão rural, com o propóc;ito d pe quic;ar e
difundir tecnologias de conservação do solo nos Estados de finas Ge rais , píri to antn,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Su l, principalmente vinculadas ac;
Secretarias Estaduais da Agricultura. No e ntanto, fo i dado énfase ap nas a consc a<:;cio
do solo e com foco, tão-somente, em prá ticas mecânicas de contro le da erosão como 0
terraceamento.
Um fator que também contribuiu para que os governo pa __ assem a dar maior
ênfase às ações de preservação e recuperação dos solos foi o já mencionado proce o
de democratização do país. Tal processo permitiu q ue in fo rmações sobre os problema
ambientais existentes nas diferentes regiões do país, s uas ca usa e responsávei , p,1-~assem
a ser do conhecimento da sociedade e essa pudesse se posicionar " cobrando" providência
dos governos.
A preocupação crescente sobre a necessidade de com bate r a ero ão hid ric,1 fez
surgir em muitos estados da federação, programas com a função e pecífica de p romo ·e r
a recuperação dos recursos naturais comprometidos. Es es programas se caracterizaram
por atuar estrategicamente no espaço geográfico de pequenil_ bacias hidro 0 ráfi~ ,
denominado de micro bacias, estimular a integração de diferente p rá tica conservacioni têL
e ter a Extensão Rural como o principal age nte executor. Exemplo de programas com .is
mencionadas características: Programa para o Desenvolvimento Racional, Recuperaçào
e Gerenciamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Guaíba - Pró-Guaíba. no Rio
Grande do Sul (Emater/RS, 1994); o Projeto de Recupe ração, Conservação e i\lanejo
dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto I licrobacias 1, em anta
Catarina (Instituto ..., 1988); Programa de Manejo lntegrado de olos; Procrrama ie Manejo
Integrado de Solos e Água; Projeto Paraná Rural; Projeto Paran á Biodiver idade, no E tado
do Paraná. Entre as práticas conservacionistas propos ta pelo mencionado programas
para serem utilizadas integradamente no controle da ero ão hídrica, merecem citaçà a
correção do solo, o terraceamento, o plantio em nível, a SD, o u o de plantas de cobertura
do solo, a integração das estradas com a lavoura dentro de um e n foque conserva ioni ta,
o tratamento adequado dos dejetos de animais e a recupe ração da cobertur, flo r tal em
áreas estratégicas para a proteção dos mananciais de água.
No entanto, pode-se dizer que o emprego de prática con en·aciorú tas te forma
integrada, conforme preconizada pelos programas acima mencionado-, ai o e. c ·õ -, n • 0
ocorreu. A 50, com base em observações realizadas e mpirica mente, pa u a ~er d ifundid
como suficiente para o controle integral da erosão hídrica. Em dec rren ·ia di o, as práti as
de controle do escoamento superficial passaram a ser con iderada de- nece jria -, gu
levou à retirada do sistema de t~1-race~mento da lavouras de forma indis riminL1 d a e, por
consequência, a semeadura em 111vel fo1 abandonada (Dena rdin, 1 97). E _es pr ~ediment 5
passaram a comprometer os bons resultados de controle da ero -ã hídri a, bti i · p lo-
programas de manejo dos sol_os _e da ág_ua, es_p ecialmente n ca_o - em que h u e 0
emprego de práticas conservac10111stas de torma integrada. oncomitan te a e e fot , p.irte
s ignificativa dos agricultores que adotaram a SD pa sou a nã uti lizar a rotaçã :ie cultur 5
cmúorme preconizado essa técnica no conte, to da agricultura con rvaci ni ta, re ·u\tando

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1318 ÜROMAR ]oÃo BERTOL ET AL.

em co_bertura i,~su_ficiente do olo. Ao mesmo tempo, os solos passara m a apresenté'ir baixa


capacidad e de in filtra ão de água, favorecendo a formação de en xurrada. A con equência
é que ne ses últimos cmos tornaram-se comuns, no cenário agrícola cio país, lavouras com
graves probl ma de erosão, até mesmo em condições de chu vas de 1T1édia intensidade e
em D implantada há mais de 15 anos.

LIÇÕES APRENDIDAS PELAS ATERS NA


CONSERVAÇÃO E NO MANEJO DO SOLO E DA ÁGUA

s ATERs que em seus estados atuaram expressivamente em conservação e manejo


do olo e da água, executando programas oficiais de grande escala na área rural, inclusive
com financiamento de organismos internacionais, adquiriram grande experiência na
execução desses programas. Ao longo desses trabalhos, várias lições foram aprendidas e
incorporadas como experiências na implementação de esh·atégias técnicas e operacionais
para recuperar e conservar os recursos naturais.
O emprego da micro bacia como unidade de planejamento e trabalho proporciona urna
visão global da situação ambiental desse espaço geográfico, especialmente no que tange à
organização dos trabalhos para a conservação e o manejo da água e do solo num enfoque
sistêmjco. Tomar a nucrobacia como urudade de planejamento facilita implementar
estratégias para solucionar problemas ambientais, sociais e econônucos do conjw1to das
famílias que ali vi, em e, ou, trabalham a terra. Do ponto de vista físico, a nucrobacia
compreende uma porção de terra drenada por uma rede ludrográfica e limitada por
di, isores topográficos, podendo-se dizer que o conceito de nucrobacia inclui naturalmente
o de cabeceiras de nascente. Pode-se dizer, ainda, que já está consolidado pelo conhecimento
científico que, nos estudos do meio físico ligados às ciências ambientais, dividir o espaço
em urudades fisiográficas tem-se evidenciado o mais apropriado e o que mais se ajusta à
aplicação de medidas que visem à recuperação de passivos ambientais.
A ação ambiental, quando sob o enfoq ue de rnicrobacia, possibilita implantar práticas
conservacionistas sem considerar as divisas de propriedades, como o terraceamento, bem
como integrar as lavouras com as estradas rurais. Isso se tem evidenciado ser um fator
de êxito para a conservação e o manejo do solo e da água. Um resultado també m exitoso,
proporcionado pela adoção da nucrobacia como estratégia para a gestão dos recursos
naturais, é a organização de agricultores p ara viabilizar empree ndimentos comunitários,
como a aquisição de m áquinas e eqwpamentos por grupos de agricu ltores, com a finalidade
de realizar as boas prá ticas no u so da terra. Isso tem resultado em ga nhos substancia is para
a conservação do solo e da água. Tem-se observado que agricultores que desenvolvem
agricultura motomecanizada, com terra e capital insuficientes para adquirir e manter o
conjunto de máquinas necessárias para executar todas as operações agrícolas, n ecessitam
recorrer ao aluguel de m áquinas. Essa d ependência, além de elevaT os custos d e produçã o,
faz com que frequentemente as operações sejam realizadas sem critéri o conservacionis ta
e em época imprópri a, o que resulta em aumento dos custos, degrad ação do solo e ba ixas
produtividades.
A degradação do ambiente rural por influência do m eio urbano tem -se tornado
crescente, especialmente nos municípios com carência de infraestrutura em san eamento

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURA L E O MANEJO E A CON SE RVAÇÃO DO SOLO E DA · · • 1319

bás ico como o ge rencia mento das águas p luviais e a oi ta de li xo eíl u ntec;. om ª
contínu a mi gração das populações cio m io rur, 1 pa ra élS cidad es, te m c1um ntado
produção d e li xo e eflu entes e a im perm ea bi lização do solo m razão d ocupação das ter_rac;
pela cons trução civil (prédi os, casas e vias pública ). Em decorrência di c:o, t m h~v,do
elevação no vo lume das águas plu viais e cons q uent aumento de tr nsporte J_e lrxo
efluentes, que acabam sendo depositados nas li nhas de d renilgem natural, no meio rural.
Como desfecho dessa situação, obse rva-se o comp rome timento da qut1lída edil água e 0
aumento da degradação ambiental, principalme nte nc1 frontei ra cnlT o espaços urbano e
rural, com o crescimento da erosão hídrica, a té mesmo o surgimento de granel ·s voçoroca~.
Os sistemas de abastecimento público de água tem utilizado, na maioria dac; vezes,
mananciais que se localizam próximos aos aglomerados u rbanos - um recurso qu .1
empresas que prestam esse tipo de serviço ado tam corno medida pa ra dimínu1r os cu to_
do processo de implantação e operação dos sistemas de a bastecimento de água. A im,
face à proximidade dos mananciais com as cidad es e q uand o es e c;ão de uperfície, a
qualidade dos recursos hídricos desses mananciais é faci lme n te comprometida p lo .:i.porte
de lixo, esgoto e águas pluviais vindos da á rea urba na, confo rme já ex po to. Tal situação,
além de se constituir em risco à saúde humana, tem ocasionado aum n to doe; custos de
tratamento da água e, até mesmo, a sus pe nsão tem porá ri a de fo m ecim nto de a U« ,1s 7

populações.
O sistema viário, em particular as estradas ru ra is, vem- e con tituindo em um
dos principais agentes da erosão hídrica no meio ru ra l, sendo a fa lta de ín tegração da
estradas com as lavouras adjacentes o principal causador dis o. Por ua vez, as lavoura. ,
especialmente aquelas que não possuem práticas de con trole d o escoa m nto uper icial,
acabam por conduzir suas águas para as estradas, ocasionando dan o e, em consequencia,
dificuldade para o tráfego. Entretanto, a e xperiência tem evidenciad o que a integração
das estradas com as lavouras, dentro de u_ma ótica conservacio ni ta, tem- e constituido
em fator importante para o controle da erosão hídrica, a lém de (Ya ra n ti r a traf gabilidade
e proporcionar a redução dos custos de manutenção da m a lha viária para a prefeitu ras.
Merece citação, ainda, o fato de que no ambiente rural, a e trada , alé m d e o n tituir m
em meio de comunicação, cumprem papel importante no de en o lv imento d a agricultura,
com reflexo econômico expressivo especialmente sobre o agricultor fa miliar. categoria
de agricultor tem ampliado os seus negócios por meio d e ativid ad como c1 icultur ,
horticultura, suinocultura, piscicultura e bovinocultura de le ite, a tivid ad e - q ue demandam
estradas em boas condições de tráfego a qualquer tem po e co ndiçã lim,Hica, tanto p r
escoar a produção como para receber insumos.
As ações conservacionistas devem ser implementadas sob um · tica i t · mi a.
No entanto, as experiências também apresentam q ue no Bra il o em p reo d prat 1ca -
conservacionistas de forma não sistêmica é recorrente. Um exe m p l di - o a altem tiv
tecnológicas utilizadas para o controle d as perda d e água 1 , m m e d o do •éculo
passado, que se resumiam na implantação d e terraço na la o u ra . C m 0 - terr O t · m
como fw1ção principal o controle do escoamento s u perficial, atuilm basi am n te sobre
segunda fase da erosão, portanto, uma ação não · istem ica, o q ue e:\.plic · in uce5 - 05
colbjdos nesse período. No entanto, mai recentemente, d ifu ndiu - e a id e ia i qu ,1 o,
po r s i só, seria capaz de controlar a perdas tanto de o lo c mo d água, fo t es-e n"
confirmado por inúmeras pesquisas e por comp rovação n campo, · pecial men te no qu
se refe re às perdas de água, uma vez que s a t~cnica te m m 1io r eficácia n o - ntrole do
e fe itos do impac to da gota de chuva na superfíc ie d s lo, porta n t , obre a primeira ta ,

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA Á G UA


1320 ÜROMAR ]oÃo BERTOL ET AL.

da erosão híd rica. Assi m, pode-se afirmar que, salvo exceções, 0 manejo e a conservação
do solo e_d a água sempre foram executados de forma parcial, ora com ênfase no controle
de uma tase da erosão, ora preconi zando O controle de outra fase; porém, quase nunca
no todo (Berto! et ai., 2012). Isso vem evidenciando para a extensão rural qu e as ações
conservacionis tas podem sofrer solução de continuidade que se acentua quando as ações
são implementadas isoladamente.
Pode-se considerar, pelos resultados já alcançados, que as tecnologias dis poníveis
para o controle das causas da erosão hídrica são suficientes, quando aplicadas d e forma
istêmica, bem como já estão identificadas aquelas mais indicadas para controlar cada fase
desse fenômen o. Assim, o conh·ole da erosão hídrica tem corno alternativas, já ·c onsagradas,
o seguinte conjunto de práticas: utilização do solo de acordo com sua capacidade de uso;
seccionamento da encosta pelo uso de terraços; operações em nível; integração das estradas
rw·ais com as lavouras sob critérios conservacionistas; cobertura do solo; e SD. Esse
conjunto de práticas pode, também, ser considerado como um controle da erosão hídrica.
Diante da importância da água e da necessidade em protegê-la, deve ser incluído nesse a
cobertusa, com florestas, das faixas de terra no entorno dos mananciais de superfície e dos
topos de morros (Berto! et ai., 2012) .
O fator econômico exerce influência expressiva na adoção das boas práticas
consen acionistas por paste do agricultor. Observa-se, por exemplo, a não adoção da rotação
de culturas pela maioria dos agricultores que adotaram a SD, uma prática considerada
importante dentro desse. A não adoção decorre, segundo os agricultores, do fato de as
denominadas plantas de cobertura não proporcionaTem retorno econômico direto. Disso,
têm resultado muitas lavouras em SD de pouca qualidade. Em relação ao controle da
enxurrada, constata-se que muitos agricultores, ao adotarem a SD, têm eliminado de suas
lavouras os terraços já implantados e, com isso, verifica-se o abandono do plantio em nível,
conforme já citado. A justificativa dos agricultores para a adoção desses procedimentos
é a necessidade de diminuir os custos de produção pela via do aumento da capacidade
operacional das máquinas. Também, w11a razão para esse comportamento que merece
citação é o emprego de máquinas e equipamentos superdimensionados para o tamanho e
as condições de relevo das lavouras em muitas regiões do país.
A dificuldade do profissional que faz assistência técnica e extensão rural para atuar
sistemicarnente nas ações de conservação e manejo dos recursos naturais, em razão da sua
incapacidade de analisar as causas da degradação do solo e da água de forma sistêmica.
Por consequência, essa dificuldade se estende para a proposição de estratégias técnicas de
correção dos passivos, também de forma sistémica. Parte dessa deficiência vem do fato de
muitos profissionais terem feito sua formação em instituições que ministram conteúdos
não abrangentes na ciência do solo. Contribui, ainda, para essa deficiência o fato de os
conhecimentos em ciência do solo, quase sempre, passarem a ser disponibilizados de
forma fracionada, por temas específicos, ou seja, de forma não sistêmjca . Entretanto,
esses conhecimentos normalmente são publicados em periódicos, na forma de trabalhos
científicos, a maioria de circulação restrita, de pouca presença principalme nte nas regiões
d o interior do país. Constata-se que é reduzido o número de obras escritas que contém
os conhecimentos de forma sistematizada, o que dificulta ao profissio nal que atua
diretamente com o agricultor ca pacitar-se sob o enfoque sistênlico. Em decorrência disso,
há um contingente expressivo de profissionais sem conhecimento para a importante tarefa
de elaborar um planejamento conservacionista quaJificado o suficiente para indicar as

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTEN SÃO RURflL E O MAN EJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA · · · 1321

limitações e o polencial dos recu rsos naturaíc; d cada propri dad - fato res esc; nciais para
a s ustentabilidade dos processos produtivos d nvolvidos p lo agri ultor.
Os programas e ações conservacionista d ve m se r impl e mentados de fo rm,
d escentralizada e participativa. A participação da comunidade, es p cic1l mentec1 co m~m_idade
local (município), tem-se evidenciado um fator ec;sencia l, não apenas pêl ra O e-x ito na
implantação de programas e ações, mas pa ra a garantia da continui dade e perenidc1_d_ d ns
trabalhos. A oportunidade de participação faz nascer o sentimento d corr ponsabih?ade
no cidadão, o que cria condições para a ampliação do alcélnce cios progr.1ma pela v 1c1 do
cofin anciamento local. Assim, decisões emanadas centralizada mente devem ser e itadac:.
Os programas de conservação do solo e da água devem consolidar tr<1bal hos
de pesquisa, materializa ndo-os como ins trumentos para a difu são da tecnolo ia
conservacionista por meio, por exemplo, de manuais, vídeos e discurso do corpo técnico
envolvido com os programas conservacionistas, de forma que técnicoc; e produtores te nhc1m
ins trumentos para a compreensão de realidades locais e adoção de p ráticas ad equada. . '>
experiências também têm demonstrado que as tecnologia preconiz.1das devem con idera r
a diferenciação de produtores, segundo as condições de posse da te rra, uma veL q ue i c:o
estabelece diferenças culturais e socioeconômicas.
Os incentivos financeiros (subsídios), normalmente ofertados pelo program.i oficiai
de conservação dos recursos naturais, não podem ser vistos por técnico e produtores como
um fim, embora importantes para obter mudanças. Os recursos devem ser admini_trado
de forma complementar aos recursos de outros atores, especialme nte ao dos próprio
produtores rurais. Entretanto, faz-se necessário disponibilizar incentivos na fo rma de
estrutura pública e privada adequada de prestação de serv iços e es pecialmente de recursos
humanos, uma vez que a inexistência ou a e cassez de tai recursos lev« à baixa e etivid«de
dos resultados.
A adoção de medidas conservacionistas tem sido vis ta, por parte do produtores
rurais e de determinados segmentos da sociedade, como iten amai no cu to de produç5o
e sem retorno econômico. Isso explica, ao IT1enos em pa rte, o fato de q ue, em no o pai ,
as ações em relação ao manejo e à conservação de solos e de água, têm neces itado -empre
de uma participação expressiva das diferentes instâncias de governo, particularmente a
instância estadual.
A difusão das tecnologias conservacionistas, quase sem pre, tem ido realizada em
separado da transferência de tecnologias dos processo produtivo , o u eja, 0 proce 5
produtivos são implantados e conduzidos sem enfoque conservacionista, o que, geralmente,
estabelece as causas da erosão hídrica. Assim, a condução do proc o produtivo , •em
considerar as boas práticas de manejo do solo e da água, tem proporcionado uma ituação
e m que primeiro são criadas as condições para a degradação d lo e das água , que,
posteriormente, demandam as tecnologias para correção do pa -- i o ambiental criaJo.
Não há, portanto, a preocupação com a sustentabilidade de e- proce 0 - , q ue consi tiria
em, por exemplo, executar um conjunto de medidas conserv.1cionista a.nt~edendo ,
implantação dos processos.
Os problemas de mau ma~ejo do solo e da _~gt_Jª têm- e manti :1 ao longo J
te mpo. Em 1956, a ASCAR, no Rio Grande do ui, Jª d1agn s ti a a us , por parte d -
agricultores, do plantio e dos tratos culturai no entido d declive, acompanh,mdo O maior
comprimento da gleba do teneno (ASCAR, 1956). Ob er a-se que tais prática e ntinu:1m

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1322 ÜROMAR JOÃO BERTOL ET AL.

as r executada pelo õgricultorcs, principnlrn "1üe por parte daqueles que adotam a SD e
removeram os terraço . egundo Olingcr (2006), os agricultores tendem a adotar práticas
que lhes diminua o !Tabalho, embora es as conco1Télm para a produção d e grandes danos
à na tureza.

Uma diversidade de organizações tem-se proposto conh·ibuir para a preservação dos


recursos naturais, o que tem levado a uir1 contingente significativo de profissionais a atuar
ne sa área, mai particularm nte nas regiões produtoras de grãos. Todavia, a ação desse
conjunto de organizaçõe , em muitos casos com diferentes objetivos, tem resultado em
omissões e até mesmo na difusão de informações conflitantes quanto aos procedimentos
mai apropriados para o correto manejo e conservação do solo e da água; por exemplo,
enquanto é difundida com o produtor ruraJ a necessidade do controle da enxurrada que
se forma nas lavouras e nas esh·adas, tem sido dada orientação de que tais práticas são
desnecessária . Isso tem levado agricultores à não adoção e, até mesmo, à já mencionada
supressão de práticas já instaladas em suas lavouras como o terraceairtento, contribuindo
e ·pressivamente para o retorno do processo de erosão hídrica, conforme também já
aludido. Além de resultar em prejuízo ao agricultor, com consequente empobrecimento
do solo e poluição das águas, constitui-se em prejuízo à população, nos casos em que as
práticas suprimidas foram executadas com recursos subsidiados pela sociedade (Berto! et
ai., 2012) .

O QUE DEVE SER ESPERADO DA ATER EM RELAÇÃO À


CONSERVAÇÃO E AO MANEJO DO SOLO E DA ÁGUA

É importante ressaltar o papel que deve ser assumido pelas instâncias de governo e,
em particular, pela ATER oficiaJ, sobre a conservação do solo e da água, uma vez que esses
são patrimônios da nação brasileira, conforme já mencionado. Em cumprimento a isso,
cabe ao Estado assumir a função de articulador em relação à sociedade civil e participar
como parceiro no suprimento dos diferentes recursos necessários para executar programas
conservacionistas. Ao articuJar e desenvolver programas de recuperação e preservação dos
recursos naturais, além de facilitar o alcance dos objetivos, o Estado influencia positivamente
a população para o debate das questões ambientais. Tal iniciativa favorece o entendimento
do cidadão sobre a importância do solo e da água e, em consequência, estabelece na
sociedade uma condição favorável para a difusão das tecnologias conservacionistas. Isso
possibilita o engajamento dos diferentes segmentos da sociedade civil, de modo a garantir
a continuidade das ações, independentemente de soluções de continuidade que venham a
ocorrer nas esferas de governo.
Uma das formas de o Estado cumprir com o dever de cuidar dos recursos naturais
é con tribuir para que as unidades da federação esLTuturem e mantenham um serviço de
ATER oficial. Todavia, o cumprimento desse dever está ameaçado em razão da recente
criação da "Chamada Pública" por parte do Minjstério do Desenvolvimento Agrário;
um instrumento que se des tina a contratar, via edital, serviços d e entidades públicas ou
privadas para executar serviços de ATER com os agricultores famjliares. Conforme Diniz et
ai. (2012), os serviços contratados por meio desse instrumento têm como foco os processos
de produção agrícola e as cadeias produtivas, portanto uma ação de simples assistência
técnica e não de extensão rural propriamente dita, não se caracteri za ndo, entre tanto, como

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RU RAL E O MAN EJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA · · · 1323

um trabalho de ATER. Além disso, muitos editt1is de ch;:imadas pública n Jo preveem


ações d estinadas ao manejo e à conservaç5o dos recursos naturai . /\c r e; en t -se ª i, 50 .º
fato de as "Chamadas Públicas" poss uírem tempo definid o d duraçã , no rmalmen_Lc doi
a nos, o que é incompatível com as ações conscrvacionista , bem como com 15 5 rv iço de
extensão rural, que devem ter ca ráter de continuidad .
Pode-se afi rmar que as contribu ições que as ATERs oficiai derc m em seus ~ tado
para o êxito de programas de conservaç5o do solo, acrescidas das lições ap rendidas na
execução dessa tarefa, justificam plenamente a estruturação e manutenção de um rviço
de ATER oficia l nos estados da federaç5o. Ta l medida tem caráter es tratt'gico por a i uma
razões, como o fato de a ATER oficia l não ter fins lucrativos, o que pe rmite a es a rea liLar
trabalhos importantes que requerem tempo e q ue não trazem re tomo eco nômico dir to
como a elaboração de d iagnósticos do meio rural, que, quase sempre, não ão e laborados
pelas instituições com fins lucrativos; e por ser a Exlensão Rural um serviço qu e tem como
tarefa importante a transferência de tecnologia, a integrélção com a pesqu isa e vital, o q ue,
inclusive, contribui para que a transferência de tecnologia ocorra de fo rma isenta, sem
distorções. Verifica-se um número cada vez mais crescente de empre él5 que desen vo lvem
negócios ligados à atividade rural. Poré m, mesmo es as não sendo exec uta ra de
ações voltadas ao manejo e à conservação do solo e da água, também d ifunde m . -
conhecimentos; no entanto, com recomendações que conflitam com a boa prática
conservacionistas, em muitos casos, com influência negativa significativa. U ma ju_tificati v
também para que o estado mantenha um serviço de ATER oficial de forma permanente,
é o fato de as experiências terem demons trad o que as ações con ervacioni ta com o
produtores rurais não devem sofrer solução de continu idade.
Uma condição essencial para a qualificação das açõe conservacioni tas é que
o diagnóstico e o planejamento do meio físico tenham qualidade. Para tanto, alé m do
levantamentos de campo, sempre insubstitu íveis, é recomendável o uso das ferrame n tas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto (Geomática). Tais recursos, além de aumentar
a precisão das informações, ampliam as possibilidades de uma visão mais abrangente,
especialmente quando o trabalho é desenvolvido no à m bito de uma microba ia_ A 1m,
as informações que devem ser levadas em conta nas d iferente etapa de interven ão no
meio rural, no que diz respeito às particularidades como a forma e den idade da re<l d
drenagem, o relevo (declividade, forma da encosta e com primento da enco ta) e os tipos d
solo poderão ser mais bem analisados com o uso da Geomática. Es a ferra menta permite,
ainda, a superposição e a intercessão de d uas ou mais informaçõe , o que gerará nova
informações, como a identificação de áreas com conflito de us ..-\ Geomática também
proporciona como benefício o acompanhamento, o monitorament e a a aliação das açõ
conservacionis tas por parte das estruturas regionais e estaduais, po- ibilitando-lhes apoiar
as equipes que executam localmente os trabalhos, ante endo problema e barreiras, além
de perceber oportunidades e necessidades de adaptação da tarefa . Ne se sentido, 0 -
recursos da Geomática devem se transformar em ferramenta ace , í ei ao e. ten ionista,
inclus ive de uso contínuo nas atividades que desen olve no meio rural.
Para o melhor êxito dos trabalhos, faz-se oportuno que o planejamento das aç~
indicadas para a correção dos passivo identificado no diagn · tico seja ompartilhad
com o produtor rural ou com o conjunto dos produtore , quando e trata de um trabalho
em microbacia. Tal medida fac ilita a form ulação d que p de- e denominar de ·· pact
social", em que podem ser indicadas as ações prioritárias, o · re pensá ei pelas a õ - ,
bem como a fonte dos recursos necessários e a épo a de xecu\à , que po ·-ibilita que 0

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1324 ÜROMAR JOÃO BERTOL ET AL.

manej? ~i~s recur os naturais tenha um enfoque de processo consLTutivi sta. Assim, tem-se
a poss 1b1hdade de elevar a capacidade crítica, o nível de consciência e o nível de resposta
da própria comunidade e assegurar que as tecnologias conservacionistas propostas serão
adotadas.

U1~1 dos aspectos importantes quando se pensa em desenvolver ações que visam a
melhoria e preservação dos recursos naturais é que tenha continuidade, dado o caráter
di1~~1ico do meio ambiente e que seus resultados tenham perenidade. Para alcançar tais
obJe~v_o_s, torna-se necessário elevar o nível da consciência preservacionis ta de modo a
po s1b1htar mudanças de comportamento da população rural. Para tanto, a educação
ambiental é o instrumento adequado e deve ser objeto da atenção da ATER, uma vez que
promo~ e a transferência de tecnologias denh·o de um enfoque educativo. Metodologias
apropnadas, quando aplicadas num enfoque de educação ambiental, favorecem a
participação nas diferentes etapas de implementação de ações conservacionistas e a
consolidação de um pacto social para a execução das ações que a comunidade, juntamente
com o técnico, definiu como apropriada para a correção dos problemas diagnos ticados.
Um aspecto que também deve ser considerado pela ATER, denh·o do propósito de
promover a preservação ambiental, é qual o entendimento do produtor rural quanto à
degradação dos recursos naturais sob o seu dominio. Almeida (2003) constatou, em
pesquisa desenvolvida com os agricultores, numa situação grave de degradação do solo,
que em tomo de 60 % não identificavam o problema em suas terras, comportamento esse
também registrado por profissionais que desenvolvem ações de manejo e conservação
do solo no meio rural. Tal condição constitui-se numa grande dificuldade para adotaT
tecnologias que se destinam a corrigir passivos ambientais, w11a vez que o reconhecimento
dos passivos é essencial para que haja adoção consciente. Tal constatação certamente
é parte da explicação sobre a ctificuldade de muitos agricultores que utilizam a SD, em
aceitar, por exemplo, a necessidade de manter em suas lavouras práticas de controle da
erosão lúdrica como o terraceamento, uma vez que alegam inexistir perda de solo, ainda
que seja evidente.
A ATER oficial deve se integrar às demais instituições que atuam no meio rmal ou
que tenham interesse e dependam dos recursos naturais solo e água e desenvolvam ações
conservacionistas. Nas últimas duas décadas, a força de trabalho das empresas oficiais de
ATER foi reduzida paulatinamente em razão da diminuição dos seus quadros. O espaço
deixado pelo poder público no desenvolvimento de ações conservacionistas vem sendo
ocupado por um conjunto expressivo de instituições de naturezas distintas, conforme já
citado, já que a degradação dos solos e da água que continua ocorrendo impõe a necessidade
de adotar medidas para que a agricultura tenha sustentabilidade. Tal situação corrobora a
necessidade de haver um Sistema de Extensão Rural Oficial que, em razão de sua natureza
e responsabilidade com a sociedade que o financia, deve adotar uma postura isenta de
outros interesses que não seja a preservação dos recursos naturais, bem como de se integrar
com as demais instituições que manifestam objetivos comuns. Uma iniciativa que pode
corroborar essa necessidade é a instituição de fóruns em diferentes níveis de instância
(estadual, regional, municipal), na forma de conselhos, grupos gestores ou colegiados. Tal
iniciativa, que pode ser liderada pela ATER, tem a possibilidade de mobilizar recursos
humanos e financeiros para desenvolver as ações que se fizerem necessárias. Além disso, a
existéncia de fóruns em diferentes instâncias faz com que o município, que é onde ocorrem
as ações de conservação e manejo do solo e água, receba o apoio das instâncias regional e
estad ual. Experiéncias tém evidenciado que essa estratégia contribui expressivamente para

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA · · · l325

o alcance dos objetivos, particularmente nos pequenos municípios, onde há ca rência de


recursos, principalmente humanos.
O espaço urbano deve ser integrado ao espaço rural nas estrntégias de conservação e
manejo do solo e da água em razão dos reflexos negativos que as cid ades vê m ca usando
sobre o meio ambiente rural, conforme já evidenciado. Essa necessidade P: ess_up_ãE~ o
estado promover a integração das instituições que atuam no meio rural com as ins t1tu1çoe
que atuam no meio urbano. A Extensão Rural Oficial, enquanto órgão de estado, poder..í
também exercer esse papel via Conselhos Municipais ou Grupos Ges tores Municipais.
Conforme já ressaltado, as estradas exercem influência expressiva na degrad ação
dos solos e da perda de água via erosão hídrica, além de terem significado econô mko
e social importante para o meio rural. Diante d.isso, impõe-se a necessidade da ATER
incluir a estrutura viária no planejamento das ações conservaciorustas. es e contexto,
deve merecer destaque a capacitação das estruturas das prefeituras, que se envolvem
diretamente na construção e manutenção das estradas rurais para que esses serviços eja m
realizados dentro de um enfoque conservacionista. Acrescente-se, ainda, que esse cuidado
deve ter caráter permanente, tendo em vista que, nas experiências colhidas em programas
conservacionistas realizados em muitos estados da federação, a adequação das estradas
em bases conservacionistas tem sofrido solução de continuidade.
Um instrumento importante em apoio à recuperação de áreas que apresentam
degradação dos recursos naturais, especialmente quando em estádio avançado, é o uso da
legislação ambiental. Esse apoio é de grande valia principalmente com os produtores q ue
não apresentam disposição para corrigir o problema. No entanto, o envolvimento direto
do profissional de extensão rural nesse processo deve ser evitado, por causa de a extensão
rural se caracterizar por utilizar meios que levem o produtor rural à adoção de tecnologias
por convencimento por meio de estímulos e não por punição. Conforme Bertol et al.
(2012), o ser humano responde melhor aos estímuJos do que à punição. Assim, a legislação
vigente que trata da proteção do meio ambiente deve ser aplicada por instituições com
essa finalidade e para o caso de produtores comprovadamente refratári.os à correção de
passivos ambientais que tenham causado; portanto, de forma complementar às ações de
organização e incenti.vo à adoção de medidas conservacionistas.
O retomo do processo erosivo, conforme já mencionado, tem-se tomado evidente
em muitas regiões do país. A análise dos resuJtados obtidos pelos programas de governo
com propósitos conservacionistas desenvolvidos em muitos estados apresenta que tal fa to
decorre, ao menos em parte, da solução de continuidade sofrida por esses programas,
em razão da mudança do governante ou mudança de objeti os. Uma solução para tal é
desenvolver programas que sejam continuas, sob a concepção de uma agenda única que
garanta ampla participação da sociedade civil, em parceria com as instituições e n.ívei de
governo que permita a concepção do que pode ser chamado de " programas de estado", em
vez de programas de governo. Para tanto, torna-se necessári.o que sejam criadas condições
para que ocorram algumas situações desejáveis, como: participação conjunta das diferente
ins tâncias de governo (federal, estadual, municipal); integração das ins tituições pública
com as organizações da sociedade civil, por meio de estratégias técnicas e operacionais
convergentes em conteúdo, modo de operar e objetivos finais; elevação do intere e nas
pessoas para o exercício da cidadania em questões que dizem respeito aos recur o na turais
água e solo e para a percepção da essencialidade desses recursos naturai à populaçõe
rural e urbana; estabelecimento de condições para que a transferência da tecn logias

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1326 ÜROMAR JoÃo BERTOL ET AL .

conscn-a~ioni ta ten.h~ ca ráter d e continuidade e, por consequência, peren ize as c1ções


de maneio_e ~onservaçao do solo e da água; e red ução da sobreposição de ações e á rea
de abran~encia, com consequen te am pliação da capacidade de traba lho e de resulta d os.
A exte_nsao n!ral: por constituir serviço de caráter permanente e de natureza e du cati va,
podera c~ntr'. buir expressiva mente para que ocorram as situações d esejáveis p a ra a
formulaçao e imp lem en tação d e um " programa de es tado" (Berto\ et a i., 2012) .
Dev~-se des tacar a necessidade de a ATER oficial ter atuação municipal, uma vez qu e
e e e~viço po_de exercer funções importantes na organi zação da sociedade loca l, pa ra a
execuçao de açoes conservacionistas, além de ser um meio do Poder Público d as ins tâ ncias
federal e estad u a l se fazer p resente no murlicípio com ações concretas para a recuperação
de pas~ivos a mbienta is, necessidad e amplamente reclamada pela socied ade. A participação
da soC1edad e local em p rograin a de recu peração ambiental é vital, por razões relevantes,
com o: as tecnologias conservaciorustas necessitam chegar ao tomador de decisão, n o
caso o agriculto r, qu e se localiza no mw1icípio; as águas pluviais, o lixo, os e flu entes d e
in d ústrias e o esgoto das cidad es têm sido agentes de degradação importantes d as regiões
no entorno d os perím etros urbanos e no meio rural, além de muitos d eles te rem co m o
fon te d e suprimento d e água, m ananciais de superfície localizados próximos das cidad es;
a repercu ssão d o empobrecimento do solo e da contaminação da água, tanto dentro quanto
fora da proprie dad e, é m ais intensam ente sentida pelas populações locais, uma vez que as
econontias locais, esp ecialmente nos pequenos murlicípios, são grandemente de p endentes
da produção agrícola; e já está consolidado qu e a microbacia é o espaço geográ fico mais
estra tégico para implementar ações de manejo e conservação do solo e da água, e essa
é parte do município. A presença d a ATER oficial nos municípios poderá h·azer ainda
outros benefícios como contribuir na capacitação de profissionais de outras ins tituições
que atuam localmente e m tecnologias conservacionistas e garantir, por meio de ações de
educação ambiental, a possibilidade de a socied ade local participar, de form a pe rmanente,
nas irlicia tivas d e cunho conservacionista.
Considerando que não basta gerar conhecimento se esse não for difund ido, is to é, não
alcançar o públk o a que se d estin a; nesse caso, o agricu ltor não atende à fin alidad e principal
para que esse foi gerad o, é desejável que a Pesquisa e a Extensão, embora interde p endentes,
devam complementar-se. Assim, esses dois serv iços devem ser entendidos como
componentes d e um processo que se inicia co m o produtor, faze ndo levantamento dos
problemas a ser em pesquisad os, passa pela pesquisa de tecnologias que possa responder
aos problem as levantados e conclui-se com a incorporação dessas tecnologias aos s iste mas
de produção u sad os pelos agricultores. N esse contexto, o desejável, para uma integração
perfei ta entre a Pesqu isa e a Extensão, é que o agricultor seja inserido no processo.
Tendo-se assim tod os participando das di ferentes fases do processo: levanta m ento das
necessidad es, p rodução do conhecimento, implantação, acompanhamento e aná li se dos
resultados. Assim, evita-se o isolamento dos componentes do que pode ser deno minad o d e
um sistema de p esquisa/ difusão de tecnologia, o que certamente contribuirá pa ra redu z ir
a descontinuida de d o processo de geração do conhecimento e tornará mais efi ciente a s ua
difusão ao p ú blico-a lvo.
Dentro da estra tégia para o alca nce de bon s resultados na p reservação dos rec ursos
na turais, é oportuno que seja dada maior ênfase ao_s arg~mentos rela.cionados às p~rd as
de água, d e n utrientes via perd a ~e á?ua e _aos efeitos disso na qu alidade e q ua nt_1 dade
de água no m eio ru ra l. Jsso permite, mclus1ve, destacar que o transporte d e nutnentes

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA · · · 1327

compromete a chamada agricultura de precisão para fin s el e adu bação e correção do o la,
principalmente quando os corretivos e fertilizantes são aplicad os na super fície do solo. Sob
essa condição, tais insumos são facilmente trans portados a té os ma na nciais de água P la
enxurrada, que se forma nas lavouras, comprometendo, porta nto, a pre te ndida p r~ci ão
na aplicação dos produtos. Também, é oportuno incluir nesses argu me ntos a necessid<1 d e
de estabelecer estratégias de armazenamento da água no solo (Berto! et ai., 2012). A
inclusão dessas temáticas na difusão de medidas conservacionistas d eve-se à cons tatação
do crescente interesse na água por parte da sociedade e d o agriculto r, em pa rticu lar, o
que se tem constituído em fator favorável à adoção de tecnologias conservac ionista . Tem
sido possível comprovar, nos processos de difusão de tecnolog ias conservacionistas, que o
agricultor, particularmente o agricultor familiar, dá atenção à necessidad e de conservar o
solo para preservar a água, por causa do significado cad a vez maio r d esse rec urso para a
diversiJicação de atividades na propriedade rural e para a qualidade d e v ida das pes oac;
que residem no ambiente rural
O manejo e a conservação do solo e da água são comurnente v is tos pelo agricul tor
como ações de ordem exclusivamente ambiental e que representam cus tos sem re torno
econômico, o que constitui uma dificuldade para o produtor adotá-los. Assim, é necessário
difundir o conceito de sustentabilidade, ou seja, a indivisibilidade de ações a m b ien tais,
sociais e econômicas.
A já mencionada experiência de sucessos da ATER ao utilizar a micro bacia hidrog ráfica
como unidade de trabalho para o desenvolvimento de ações conservacionistas recomenda
que a extensão rural continue utilizando essa estratégia para implementar progra m as
que objetivem a conservação e manejo de solos e água. Pode-se afirmar que a rrúcrobacia
hidrográfica se caracteriza como um sistema geomorfológico aberto, que recebe energia na
forma de água que se precipita pelas chuvas naturais e perde energia pelo escoamento para
a rede de drenagem da porção da água da chuva que não se infiltra. o entanto, o emprego
de tecnologias conservacionistas, combinadas e de forma organizada no espaço geográfico
da microbacia hidrográfica possibilita que a perda de energia desse ambiente, na fo rma
de perda de água por superfície, seja expressivamente reduzida e, até mesmo, evitada.
A continuidade do uso da microbacia como unidade geográfica, portanto, constitui- e
estratégia importante para a extensão rural na condução das ações técnicas e operacionais
para a conservação e o manejo do solo e da água, dentro de uma visão sistémica, como é
esperado. Nesse contexto, é possível citar diversas justificativas.
A microbacia favorece a organização e participação dos produtores rurais e das
organizações governamentais e não governamentais para executar ati idades de m anejo
integrado de água e solo, pelo fato de desconsiderar o limite entre propriedade .. o
entanto, é importante a mudança de percepção por parte dos produtores rurais, n o
sentido de esses entenderem que a propriedade deles é uma porção de uma unidade
geográfica e que as divisas, embora continuem existindo formalmente, não poderão se
constituírem em barreira à implantação de práticas conservacionista , que proporcionam
melhor resultado quando instaladas integrando o espaço da unidade geográfica corno
um todo.
O limite superior da microbacia, o divisor de águas, é o ponto onde a enxurrada
apresenta menor energia de transporte. A implantação, a partir desse limite, de a propriad o
de conservação e manejo do solo e da água, como terraceamento, SD, semeadura e m nível,
localização correta das estradas e sua integração com as la oura , fa vorece o controle da

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1328 ÜROMAR JOÃO BERTOL ET AL.

enxu1:rada. Assim, embora a água tenha a sua dinâmica, quando manejada adequadamente,
penrute ao homem controlá-la. Por sua vez, a contenção de toda a água da chuva que se
precipita no interior de cada microbacia contribui para a recarga dos diferentes mananciais
(nascentes, aquíferos de profundidade, córregos, lagoas). Isso concorre parn a melhoria
da água, em quantidade e qualidade nesses mananciais e a regularização do fluxo hídrico
nas nascentes e córregos, que, por consequência, concorre para a regularidade do fluxo
hídrico das grandes bacias, já que as microbacias são as grandes alimentadoras dos grandes
sistemas fluviais. Além disso, favorece uma maior disponibilidade de água às culturas,
contribuindo para a produção agrícola, principalmente nos períodos de estiagem.
A possibilidade de integrar todas as propriedades de um espaço natural como
a microbacia por meio do sistema de terraceamento e esse às estradas rurais constitui-
se, conforme ressaltado anteriormente, importante estratégia para o gerenciamento da
enxurrada, na redução dos custos de manutenção das estradas e diminuição de acidentes
de trânsito. Contribui, ainda, com a melhoria da água em quantidade e qualidade e para a
melhora do regime de vazão da microbacia.
A microbacia é o espaço geográfico com alta sensibilidade para demonstrar os efeitos
da intervenção sobre os recursos naturais (água, solo, floresta, biodiversidade), fazendo
com que nessa unjdade se possa observar wna relação direta entre o emprego de práticas
conservaciorustas e as melhorias ambientais decorrentes disso. Essa sensibilidade é um dos
aspectos que diferencia a rrucrobacia da bacia hidrográfica.
A água, em razão de estar em constante movimento, não pode se recuperar de maneira
eficiente somente em uma parcela da rede hidrográfica. Assim, para recuperar a água de um
manancial, é necessário levar em consideração a bacia hidrográfica como um todo. Assim,
como tudo o que acontece na terra se reflete nos rnananciais d' água, para alcançar a sua
melhoria, tanto no aspecto de qualidade quanto de quantidade, necessário é que o solo seja
manejado corretamente na nticrobacia como w11 todo. Pode-se dizer ainda que quando práticas
conservacionistas são implementadas de forma integrada em pequenas bacias, esses espaços
adquirem maior capacidade de resistir às alterações sem se degradarem irreversivelmente.
A contribuição que o manejo do solo e da água sob o enfoque da micro bacia proporciona
para a melhoria desses recursos naturais facilita a percepção dos resultados por parte
tanto dos agricultores quanto das instituições encarregadas do trabalho, particularmente
a A TER. Essa facilidade, por sua vez, faz com que o trabaU10 sob o enfoque da microbacia
facilite quantificar os ganhos ambientais ocorridos, condição essencial para, por exemplo,
compensar os agricultores por esses ganhos.
O desenvolvimento de ações no espaço geográfico d e uma pequena bacia favorece a
organização dos agricultores, o que facilita estabelecer parcerias entre esses, uma medida
de grande importância para implantar tecnologias conservacionistas. Experiências de
s ucesso evidenciaram que a organização de agricultores em microbacia, ocorrida durante
a execução de programas de manejo e conservação do solo e da água, foi capa z de manter
e a primora r a s es tratégias operacionais empregadas para esse fim, mesmo a pós a extinção
d o prog rama, o que evitou solução de continuidade. Tais experiências evidenciam a
exequibilida de d e esta belecer ações de recuperação dos recursos na turais solo e á gua
na concepção de " programa de estado", e que a mobilização d os agriculto res, por meio
d o trabalho em microbacia, é estratégia fa cilitadora para atingir esses objetivos. Uma
va ntagem ta mbém d e se tra balhar no enfoque de pequenas bacias é que a sociedade local
p ode, mais facilme nte, d efinir as regiões prioritárias a serem traba lhadas no município.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A CONS ERVAÇÃO DO SOLO E DA · · · 1329

A mag nitude dos impactos ambientais das áreas urbanizadas sobre a5 áreas agrícolas
que tem sido observada, especialmente quando as primeiras são ocupadas sem o devi?º
planejamento, estabelece a necessidade de a ATER inclui r esses espaços nas estratégws
técnicas e operacionais para conservar e manejar o solo e a água . Por s ua vez, a divisão
d e um município em microbacias, invariavelmente, inclui áreas urbanizadas em uma ou
m ais microbacias. Portanto, não é mais possível ignorar a necessidade de integrar as áreas
ocupadas por nucleações urbanas, com as áreas ocupadas pela agricultu ra, quando se trata
de manejar solo e água. Para tanto, a microbacia hidrográfica tem-se apresentado o espaço
geográfico mais apropriado para reali zar essa integração e assim, mais facilmente, corrigir
os passivos ambientais decorrentes do conflito en tre esses diferentes espaços.
O contexto da microbacia favorece a aplicação de metodologias participati vas,
que são apropriadas a corresponsabilizar os agricultores para a melho ria do espaço em
que vivem. A metodologia participativa constitui-se convi te à ação e ao aprendizado
conjunto, possibilitando maior acesso ao poder decisório (Kummer, 2007). Isso enseja o
exercício do compartilhamento de responsabilidades jtmtamente com os demais pares
da microbacia, no diagnóstico de como se encontra o ambiente onde se vive e produz,
quais os passivos ambientais existentes, bem como o planejamento e a execução, também
de forma compartilhada, das ações conservacionistas necessárias. Tal exercício enseja o
crescimento do grupo em experiências associativas, o que eleva as possibilidades de
realizar ações que não apenas aquelas voltadas à preservação ambiental, podendo se
estender, portanto, a iniciativas grupais para o alcance de outros objetivos estratégicos do
interesse dos ocupantes da microbacia; é importante enfatizar que nesse contexto deve-se
inserir a pesquisa agropecuária para concretizar o tripé pesquisa-extensão-agriculto r, o
que pode tomar mais efetiva e objetiva a geração de tecnologias adaptadas às condições
dos agricultores e proporcionar maior eficácia à difusão das tecnologias geradas.
Por fim, é importante ressaltar uma vez mais o a té aqui apresen tado quanto à
conveniência da ATER de atuar em conservação de manejo do solo e da água no espaço
d a microbacia hidrográfica. A pequena bacia favorece o planejamento e a intervenção, em
relação à amplitude da bacia, uma vez que, na microbacia, a complexidade e as variáveis
socioeconômicas e geomorfológicas são mais reduzidas do que na bacia. Deve ser ressaltado,
ainda, que o fato de a menor amplitude da microbacia se tomar menos complexa em
relação a uma grande bacia favorece o planejamento da ocupação dos espaços produtivos,
considerando a capacidade de uso do solo. Permite também melhor visualizar e ocu par os
espaços que têm nítida vocação de proteção dos ecossistemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este capítulo sobre "A extensão rural e o manejo e conser ação do solo
e da água no Brasil", o até aqui exposto impõe a necessidade de destacar urna vez mai
aspec tos que julgamos relevantes.
As regiões agrícolas do país - especialmente aquelas localizadas nas á reas d e us
m a is intenso do solo - apresentam perdas inegáveis de solo e águ a e, por consequ ncia,
d e e lementos minerais. Em decorrência das perdas expressivas, cabe ao Poder Público,
d a do as responsabilidades em preservar os recursos naturais que a cons tituição lhe impõe,
ado ta r medidas para tal. Uma das medidas importantes são a organização e a manutenção

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1330 0ROMAR JOÃO BERTOL ET AL.

de um serviço de tra nsferência de tecnologias conservacionjs tas aos produtores, uma


vez que não bas ta gera r conheci mento - é necessári o que esse chegue ao agricuJtor.
En b·e as medidas para garantis a h·ansferência dessas tecnologias, merecem destaquem a
organização e manutenção de um serviço oficia l de ATER, dado a conh·ibuição histórica
prestada por esse tipo de serviço em p rogra mas conservacionistas execu tad os por di versos
estados da Federação. A presença de um serviço de ATER oficial, aparelhada, tem a inda a
condição de articular com os demais a tores que promovem a transferência de tecnologias
conservacionistas aos agricultores - hoje com presença expressiva no meio rural - para
que esse serv iço seja realizado com objetivos convergentes e dentro d e um enfoque de
sustentabilidade.
As lições aprendidas pela ATER na condução e execução de prog ran1as
conservacimlistas, em diferentes regiões do país, ao longo da su a história, corrobora
também a importância desse serv iço. O aprendizado auferid o, associado ao fa to d e estar
presente na maioria dos municípios, se constitui em fator importante para o sucesso de
ações conservacionistas que venham a ser implementadas, além de possibilitar abran gência
geográfica.
Pode-se afirmar que em razão das lições aprendidas e do histórico de a tuação em
favor a recuperação e preser vação dos recursos naturais do país, especial mente do solo
e da água, deve ser esperado que a ATER paute a sua atuação nessa área, dando ênfase
a estratégias que garantam a qualidade e perenidade dos resultados, como: realizar a
transferência das tecnologias conservacionistas sob um enfoque sistênlico, considerando
a interação natural que há entre os recw-sos naturais; promover a integração pesquisa/
extensão/ agricultor, como forma de garantir a geração dos conhecimentos dentro de reais
necessidades da agricultura e, em especial, d a recuperação da qualidade do solo e da água,
dado que isso tem grande importância no processo de transferência de tecnologia; utilizar
o espaço geográfico d a nlicrobacia como estratégia de atuação; desenvolver um processo
de educação ambiental que eleve o interesse do agricultor a uma condição de torná-lo
coparticipante do processo e cofinanciador das ações conservacionistas, uma das condições
importantes para que programas de governo adq uiram a condição de program as de estado;
e apoiar-se na legislação ambiental, em complemento às ações educa ti vas.
Por fim, entende-se que d eva merecer destaque o papel que pode exercer a Sociedade
BrasiJeira de Ciência do Solo no processo de transferência de tecnologias conservacionistas.
Dentre os papéis, considera-se relevante a articulação com as instituições de governo e da
sociedade civi l responsáveis por fazer a ATER, no sentido de ga rantir a continuidade desse
serviço, bem como dos meios para que esse seja realizado com qualid ade.

LITERATURA CITADA

Almeid a, L. Muda nças técnicas na agricultura: perspectivas da transição agroa mbiental em Colombo
- PR [tese]. Curitiba, PR: Universid ade Federal do Paran á; 2003.
Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - ASCA R. Programa de Ativ id ades de Extensão
Rura l e Credito Rural Supervisionado. Porto Alegre: 1956.
Berto! OJ . Paule tti V, Diecknow J. A transferência de tecnologia em manejo e conservação do solo e
da água. B Jnf Soe Bras Ci Solo. 2012;37:26-31.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XL - A EXTENSÃO RURAL E O MANEJO E A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA · .. 1331

Bicca EF. Extensão rural : da pesquisa ao campo. Guaíba: Agropec uária: 1992.
Brasil. Leis e Decretos, etc. Decreto n" 99.616, ele 17 de outubro de ·1990. Dispõe sobre a destinação
das atribuições e do acervo técnico e patrimonial da Emprc a Brasileira de Ass~ ~ência Téc~ic~ e
Extensão Rural - EMBRATER, em liquidação, e dá outras providências. Diári o Oficial d a Repu blica
Federativa da Unjão, Brasília, DF, 17 outubro 1990. [Acesséldo em 01 junho d e 2o-1 5]. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivi1_03/decreto/1990-1994/ D9961 6impressao.htrn
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política nacional de assis tência técnica e extensão
rural. Brasília: SAF /Da ter, 2004.
Brasil. Leis e Decretos, etc. Decreto nº 7.215, de 15 de junho d e 2010. Dispõe sobre a regu la mentação da
lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, para dispor sobre o Programa l acional d e As i tência
Técnica e Extensão Rural na Agricultura FamjJiar e na Reforma Agrária - PR ATER.
Diário Oficial da República Federativa da União, Brasília, DF, n. 16 jun. 2010. Secção 1,
p.57. [Acessado em: 30 abr. 2012] Disponível em: http:// www. in.gov. br/v isualiza/index.
jsp?data =16/ 06/2010&jorna1=1&pagina=57&totalArqui vos=168.
Denardin JE. Parceria entre empresas públicas e privadas na pesquisa e difusão do s istema d e pl,mtio
direto. Passo Fundo: Projeto METAS; 1997. (Projeto METAS, Boletim Técnico, 1)
Diniz PCO, Lima JRT. Chamada pública de ATER: primeiras reflexões. ln: 15º Encontro de Ciências
Sociais do Norte e Nordeste. Teresina, PI: 2012. [Acessado em 16 de julho de 2015].Disponível
emhttp://www.sinteseeventos.com.br/ ciso/ anaisxvciso/ resumos/ GT27-25.pdf.
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio Grande do Sul. EMATER/ RS.
Manual técnico operativo do Pró-Guaíba. Porto Alegre: 1994. v.5 (Projeto Pró-Guaíba).
Freire, P. Extensão ou comunicação. 3J ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1977.
Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina. Projeto de Recuperação,
Conservação e Manejo dos Recursos aturais em Microbacias Hidrográficas. Estratégia Técnica.
Florianópolis: 1988. v.5.
Kummer L. Metodologia participativa no meio rural: uma visão interdisciplinar. Conceitos,
ferramentas e vivências. Salvador: GTZ; 2007.
Olinger, G. 50 anos de extensão rural: breve histórico do serviço de extensão rural no Es tado de Santa
Catarina 1956 a 2006. Florianópolis: Epagri; 2006.
O 1ivei ra CMG, Ca valcan te DL, Arruda JL, Camurça AM. Residência agrária: a formação de estudante
para atuarem na extensão rural como sujeito educador do Campo. 2010. Oi ponível em: http:/ /
"vww.encontroobservatorio.unb.br/ arquivos/ artigos/ GTI-270-204-20100520202837. pdf
Ribeiro RP. O Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural: uma análise retro pectiva.
Brasília: Embrater; 1985.
Peixoto M. Extensão nua! no Brasil: urna abordagem histórica da legislação. 2008. Disponível em:
h ttp:/ / www .senado.gov.br / senado/ conleg/ textos_d iscus ao / TD-18-Marcus Peixoto.pdf
Sa ntana EP, Miziara M. Ex tensão rural no estado de Goiás: produção familiar e modernidade
reflexiva. 2007. Disponível em: seer.ucg.br/ index.php/ estudos/ article/ download / -10-1/ 335
San tos SR. Extensionista Rural. ln: OS SERVIÇOS de assistência técnica e extensão rural no Bras il.
Cabedelo [PB].: Emater - PB; 2010. Disponível em: http:// w\ w .agrnnline.com.br/ artigo / os-
servicos-assis tencia-tecnica-extensao-ru ra 1-brasi1-1 .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO O
CONTEXTO DA GOVERNANÇA DO SOLO

Nilvania Aparecida de Mello 1I & Tiago Modesto Carn eiro da Co ta 21

11 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco. Pa to Branco. PI


E-mail: nil van ia@utfpr.edu .br
21 T ribunal de Contas da União, Controle Externo, Campo G ra nde, MS. E-mai l: tia omii:tcu.gov.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. - ...................... 1333


GOVERNANÇA DO SOLO EM ESCALA GLOBAL ................................................. - ......... _.-......... 13
LEGISLAÇÃO PARA GOVERNANÇA DOS SOLOS .......................................................... ......... _. .. 1 36
Legislação nacional para conservação do solo: a lg uns exemplo ........................ ---···- ........ . 1337
AS BASES PARA UM PROGRAMA DE GOVER ANÇA DO SOLO I OBRA IL ............... ...... 1339
As pectos da (des)governança verificados na aud itoria .....................................................·-···· ... 1>-10
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. .............. ·-·· 1342
LITERATURA CITADA .................................................................................................................. ....... 1>13

INTRODUÇÃO

En tre os diversos campos do saber que compõem a Ciência do lo nenhum é tão


subordinado ao conceito de governança quanto o manejo e a cons rva -o. l o orre porque
o manejo conservacionista do solo, por definição, para atingir p lenamente u bjeti O dev
ser realizado de forma coletiva. Programas bem-sucedidos nessa área geralmente u peram
limite da propriedade agrícola, trabalhando com rnicrobacia hidrogrâficas, onde ongr g m
esforços políticos nas esferas municipal, estadual e federal, tendo caráter rnulti-institu i nal
e envolvendo a sociedade por meio de programa educati ou de con i ntiza à .
A necessidade de um projeto de Governança do Solo não é recent , nem em ai
g loba l nem em escala nacional. O solo é o elemento-cha e em muit d s ·ido da natureza,
como O do hidrológico e o do C, além de ser o principal alicerce para atin r a ::.eguranç
alimentar e a nutricional. A qualidade dele geralmente é determi.nmte grau de s b ra.nia
e d esenvolvimento de muitos países. Em razão di so, é cad a vez m.1i evidente que est
recurso não pode mais ser tratado sob a égide tradicional da pr pried id pri ad.1, que
permite o" usar e fruir" em seu entido mais amplo.

Berto l 1, De Maria IC, o uza L.5, edi l\ires. ~l.rnejo e con:,ervo.1 ,\o J o · lo ' J,1 agu.1. Vi · - 1, ~IG: • :lL><laJI.'
Bra ileira de C iência do o lo; 2018.
1334 N ILVANIA A PARECIDA DE M ELLO & T IAG O M OD ESTO CAR N EIRO DA COS TA

pesar disso, pouca import/m cia tem sido dad a aos solos c m te rm os d e tra ta dos
internacio nais, e mesmo nas polític..1 s pú bli c.1s n,1Cio nc1 is, ev id encia ndo o po u co
conhecim ento q ue há sobre o mesm o nas es íer21s decisivas e evide nte desco,n p ro misso
com as impli açôes d o ma u u o dele, espcciél lmen te no q ue se re fe re ao mane jo e à
conservação.
O aumento da popula ão global, os in úmeros refl exos da crise cien tífica, geralme nte
con fu ndida com uma "crise am bienta l", e os riscos de escassez global de água evide ncia m
a urgência de di cutirem-se novas bases para a fo rma com o a humanidade relaciona -se
com o solo. Ao considerar-se o cenári o a tual do Brasil, é inegável a contribuição d a Ciência
do Solo no a ,·anço da p rod ução d e alimentos, no equil íbrio da ba lança comercia l e no
desenYoh·imen to das d iversas regiões do país.
o entan to, não se pode deixa r de mencionar que a ocupação e utilização d o solo no
Brasil, in tensificada a partir da década d e 1970, prioriza ram o econômico em de trime nto
do social e do ambiental, gerando enorme passivo com relação à degrad ação do solo e do
ambien te . Este é um fa to gravíssimo, considerando que o verdadeiro desenvolvime nto não
se caracteriza apenas pelo crescimento econômico, m as pela dish·ibuição dos resultados
deste crescimen to que deve se traduzir em melhorias nos níveis social e ambienta l. Nesse
sen tido, o desenvolvimento som ente surge quando alicerçad o no tripé econômico, social e
ambienta l, extrapolando, dessa fo rma, o reducionism o da esfera econômica (Sachs, 2008).
Portanto, nesse sentido, aü1da há muito a ser feito no Brasil, especialmente em relação
às decisões p olíticas. Para este fi m, um projeto de Governança d o Solo pode significar um
grande avanço.

GOVERNANÇA DO SOLO EM ESCALA GLOBAL

Problemas ambientais, inclusive aque les relacionad os ao solo, têm sido relatados em
escala global desde 1970. A m aioria destes problemas é reflexo do modo cartesiano d e
apropriar-se d o ambiente,e, jus tamente por isso, é pouco provável que soluções ge radas com
base no m esmo modelo que causou os probl emas sejam eficientes. Novas possibilidades
vém sendo constru ídas em escala global, e uma d elas é a Governan ça Globa l d os Solos .
A ideia de uma política global d e proteção aos recw-sos naturaisfoi claram ente abordada
na Conferência d as Nações Unidas sobre Ambiente e Desen volvin1ento, realizada,em
1992, no Ri o de Janeiro (Weigelt e t ai., 2015). As nações presentes firma ra m acordos no
sentido de garan ti r a mudança da ma triz p rodutiva glo bal d e um modelo a licerçado no
desenvolvim ento econômico para um novo modelo, o desenvolvimento s us tentável, que
consi dera em si além d a d imensão econômjca as d imensões ambiental, socia l e cultural
(United N ations, 2011 ). Esse compromisso fo i sinte tizad o em dois d ocumentos, a Age nda
21 e a Declaração do Ri o. A princípio, o desenvolvimento s usten tável foi vis to como uma
fo rma d e alia r as tendéncias globais sem enfraquecer o contexto local . Se bem empregado,
era uma ferramen ta a favor do reforço dos modelos de governo locais, s upla ntan d o o
determi nismo da hegem onia g loba l da vertente econômka (Dernbach, 1998).
A parti r d e 1990 e na primeira década do século XX I, ficou evide nte q ue, quando se
tra ta do uso, d o m anejo e da conservação do solo, nad a é tão s imples. Entre lodos os recursos
na turais disponíveis no planeta, o solo é aq uele cujas fo rma s de uso são intrinsica m e nte

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLI - MAN EJO E CON SE RVAÇÃO NO CONTEXTO DA GOVER I ANÇA DO SOLO 1335

re lacionadas , cultura e tradição. ons íderando-s íss , sup r r as questõ s locai,;,


preservando a íde nticlacle e sobera nia dos povos, e ainda a s im obtendo- uc;oo; mai~
sustentáveis, passou a ser o novo foco de discussões.
Os marcos existentes que busca m ga rantir a conse rvação do ,;alo, vic;ando as~c._ur.:ir
s ua sus tentabilidade em longo prazo, geralmente não contemplé1m cc;ses ac;pectoc;. Nova
formas d e a bordagem, que considerem a participação das populaçõ s locai em od 0 s os
níveis, parecem ser uma estratégia mais efi ciente que a mera imp lantação de pnlíticc1c; l'
programas unilaterais (Montanarella e Vargas, 2012).
Embora sejam os segmentos menos favorecidos e m termo de atenção mundial,
a qualidade dos solos, a conservação de sua produti vidade a ca pacídéld d cumprir
serviços ambientais devem ser entendida a partir de uma ideologia c,,lcada nos di reitos
humanos, na demografia, na redução da pobreza e nél manu tenção dc1 saúde publica (Bo r
e Hannam, 2014; Borras e Franco, 2010). Uma lógica de comun idade humana uni ver,;;al, que
assume a organização como sistema social aberto, e a produção como um misto de lt"cnic.1 ,
valores e afetividade (Flores, 2015) permitem modelo de govemança mai adequado
sensíveis às diferenças entre os povos.
A definição mais utilizada para a governança global é com ba e no conceito propo to
por Rosenau (1995), o qual define como "Sistema de tomada d e d ecisõe que permeia todo~·
os níveis da atividade humana, desde o núcleo familiar a té os nívei hierárquico nc1cionai
e internacionais, que visa um objetivo comum e tem influência tra n nacional. Compreende
uma vasta gama de atores, em diversos níveis sociais, administrativo e culturai " .
O processo de govemança internacional de qualquer recurso natural raramente e dc'1
sem a ocorrência de conflitos (Biermann et ai., 2012), visto q ue cada um do a(7ent tem
diferentes interesses e necessidades, nem sempre convergente . Fatore como o direito ,
posse e propriedade da terra, o tipo de estrutura fundiá ria, o tipo de crédito e as fonn~ de
acesso a ele também devem ser considerados no esta belecimento do proces o (Deininver
Feder, 2009; Franco et al., 2015).
Embora existam várias experiências globais em prol da goveman a do recur o
naturais, nem sempre a meta almejada é atingida. Há fa tore que lev<1 ao in u c o com
a dificuldade de alinhar as decisões tomadas na esfera política, e m nível in terna ional, o
desejo dos governos, em nível nacional,easdecisões/ ações dos u uário 1 a i .. articulaç o
destes diferentes níveis é fundamental para que os re u ltado -ejam atingido (Ch::ment,
2010). Rosenau (2000) já apontava as possíveis soluções para este problem a fim1ar
que a governança é a totalidade das diversas maneiras que diferente at r , inclu i
instituições públicas e privadas, elegem para administrar eu problema - comun , e que
diz respeito não apenas às imposições de obediência , mas também elo- a o rdo inf m 1 ais
que contemplam os interesses das pessoas e instituições.
Percebe-se a grande dificuldade de se estabelecer um proce global de YOVem rn ,
tendo em conta a diversidade de situações eco~ômicas, ociais e culturai · do - p:1í -e - de
m a ior interesse para a conservação do solo. E preciso lembrar que, enquanto alguns
dos países envolvidos sequer conseguiram uperar o problema dc1 fome, utro ivem
realidades de pleno consumo e desperdício do recur o- naturai ( ber thür e t 1-. ·e, _011).
Como fazer com que povos que caminham d e forma tã diferente tenh m de tato objeti os
comuns?

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1336 NILVANIA APARECIDA DE MELLO & TIAGO MODESTO CARNEIRO DA COSTA

m projeto de gO\·ernan a global do solo preci a considerar a necessidad e de mudanças


que 1 ,·:m _à inc!u~ào do poYo mais vulnedveis, gera ndo o empoderamento d e grupos
mais frage1s, s Jª no contex to dnico, seja no económico ou no de gênero (Charnovi tz,
2005). 1ovas , ·ariáveis somam- e a este cenário, tornando-o ainda mais compl exo, como
os novos processos de migração de pessoas e, às veze , de comunidades inteiras, as quais
são obrigadas a abandonar seu modos h·adicionais de vida e de relação com o solo, seja
pela oco1Téncia de guerras étnicas ou religiosas, seja pelas mudanças cli1náticas (Laczko e
Agazharm, 2009).
Em 2011, a FAO (2011) criou a Globnl Soil Pnrh1ers/1ip (GSP) como estratégia para difusão
do papel do solo em diver os serviços ambientais, segurança alimentar, qualidade da água,
geração de energia e mitigação das alterações climáticas. A ação visava especialmente os
tomadores de deci ões, procurando conscientizá-los da necessidade de uma mudança d e
postura global em prol da conservação do solo. Entre as diversas metas estabelecidas
como missão da GSP constam o desenvolvimento e a capacitação de pessoas para atuar
localmente, a geração de conhecimento e o resgate dos saberes tradicionais e a criação de
uma rede capaz de h·atar das questões transversais relativas ao uso dos solos nas diferentes
nações. Com base num modelo de governança aberto, a iniciativa aceita a contribuição
e participação de qualquer pessoa interessada em manter/ melhorar a condição do solo,
mas basta um primeiro olhar nas ações até agora realizadas para verificar a dificuldade
de superação das barreiras econômicas e culturais. Praticamente, não há representantes
dos saberes tradicionais, e todas as ações realizadas são dominadas pela visão acadêmica.
Apesar disso, a ação permanece como um marco, um primeiro passo na tentativa de uma
go, emança global do solo.
A dificuldade em implantar-se um processo de govemança global do solo, que de
fato favoreça a sua conservação e o correto manejo, evidencia a urgência de mudança de
postura da sua humanidade em relação à sua importância. Para além do suporte básico de
todos os sistemas de produção humanos, o solo também é reservatório de biodiversidade e
elemento cultural em muitas nações (La!, 2013). É evidente que enfrentar esta situação exige
urna mudança de postura dos próprios cientistas do solo. Os problemas que interferem
neste recurso natural são de ordem tecnológica, social, econômica, ecológica, enfim, são
multidirnensionais e interdisciplinares (Steffen, 2015) . Talvez a solução para a maioria das
questões não esteja mais no alcance das ciências naturais e sim das sociais, especialmente
em relação à legislação.

LEGISLAÇÃO PARA GOVERNANÇA DOS SOLOS

Mesmo nos países em desenvolvimento, a legislação ambiental tem se apresentado


como uma ferramenta possível para a conservação da natureza. São exemplo as medidas
de proteção da água, comum em diversos países, e a legislação para proteção de flora e
fauna.
A legislação ambiental visa modular o comportamento dos cidadãos, punindo
comportamentos que são considerados indesejados por colocarem em risco o direito
comum a um ambiente equilibrado.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO DA GOVERN ANÇA DO SOLO 1337

Embora já ex istn certa tradição no d ir ito nmbi ntal. há p uca I g1 ·lação e; >bre
o so lo (Boer e f-la nnam, 2014); e, guando xiste, geralm nt ca rece e efic.'.tciil nu d
regu lamentação. Questões relacionadas à d sertificação, à degradaçã acel rada, a reduçã
de áreas produtivas e ao aumento das manchas urbanas que alteram completam nte a
capacidade de o solo cu mprir serviços ambientais t m se tomado fr quent - no tratJdoc:;
internacionais que tutelam o ambiente; entretanto, esp cifica mente para o sol , nã exi t
ainda um acord o que permita ações da comunidade internaciona l obre d term inada
nação (Boer e Hannam, 2011), como é possível nos tratados obre mudançc1 clim ticil, paríl
citar um exemplo.
H á também a necessidade de integrar especiali tac; em legislação ambiental
internacional e cientistas do solo para que um provável marco le a i internacional
contemple também os instrumentos técrúcos-cientif icos que permitam maior in r j mo
entre os tratados já existentes e o correto morútora mento dos programas e da a õe qu
dele derivarem (Ha nnam e Boer, 2004).
A legislação também é considerada uma estratégia para equ ilibrar as relações de
poder que existem sobre o solo, que geralmente são assimétrica (Kibblewhite et ai., 2012).
Num lado da equação estão os proprietários e usuários direto do solo, o quai o ex pior m
e cujos interesses geralmente são diretamente relacionados à ua fu nção econàmic . D
outro, estão o governo e a sociedade em geral, que geralmente se preocupam mai com a
funções ambientais do solo. Os marcos legais podem ser utilizados para implantar mod lo
de uso mais conservacionistas, que concili.e m ambos os interes es (Bouma et ai., 2012).
Os tratados ou acordos vinculativos são importantes nesta e tapa do aju tes ntre
nações. Ser signatário destes acordos significa reconhecer que o problema exi te e ·
relevante para aquela nação; no entanto, há outros problemas, muitas vez _ de ord m
interna, atrelados aos modelos de governo e ao regime político de cada nação, que não ão
sequ er abordados nos tratados ambientais, mas que determinam a forma como a popula ão
se relacionará com os recursos naturais (Ma sey et ai., 2010). 1 lodelo neolib r a· de tado
núnimo, falta de políticas de proteção social, ausência de infrae trutura básica, política
equivocadas de distribuição e acesso a terra aceleram a degradação do recur o natur i ,
especia lmente do solo. É preciso que os acordos se preocup m tamb · m com o comb te
pobreza e o acesso a bens materiais, especialmente nas si tuaçõe em que os mai pobr _
estão sobre os solos de menor qualidade (Hurni e Wiesmann, 2010).

Legislação nacional para conservação do solo: alguns exemplos


A legislação pode ser voltada diretamente para a proteção d o olo, como a dotada n
C hina. Dada a gravidade dos processos erosivos qu_e ocorrem n terri t , rio hin · , além da
promu lgação da Lei de Conservação do Solo e da Agua, fo i criad um Gru C n ultivo,
que envolvem técnicos e políticos para supervisionar e orientar a a - - implem nt das.
Este grupo coordena e interage com outros grnpo multi etoriai q ue atu m m ní e!
das províncias, adaptando localmente as d eci ões tomada em e tera naci nal, mas m
perder o foco das metas gerais (Qun e Hannam, _011) . Este m d el permitiu de n I r
m étodos eficientes para o controle dos problema relati o· à conser açà du · lo e d água
e, ao mesmo tempo, incentivar e dar visibilidade à liderança l cais que atuam a fo r
das políticas ambientais, além de proporcionar a inteu-ra ·fo entre e nhecunent t~ni · e
modos tradicionais de u o e ocupação do a lo.

MAN EJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1338 N ILVA NI A APA REC IDA D E ME L LO & T I AGO MOD ESTO CARN EIRO D A C OSTA

Já na lemanha, o eixo hermenêutico d a lei é o fato de o solo não pod er a te nde r


t_o d as as suas fu nções ambientai _ e ta mbém aqueléls que lhe são impos tas pelo ho m em .
E preciso priori za r detenninad as fun ções, que são mais impor ta ntes para a humanida de
co1T1 um todo, em d etrimento d e algumas que são de interesses particulares. Ta mbém ,
d an os causados ao solo n ão são fácil e rapidamente corri gidos. Pode levar centenas d e
ano para recuperar um solo que sofreu uma únicél agressão. A i1r1p lementação d a lei
se dá ba icamente p or meio d a regu lação d os tipos de u so, do regish·o e d as ações d e
correção_nas áreas já contaminadas ou d egradad as e da redução da liberação d os tipos d e
uso que impedem o solo de cuIY1pri r su a função ambiental, com o u sos w·banos que exigem
pa\·imen tação (Germ an, 2002).
A Au trál ia ad ota o nwdelo fed erativo, em que cada estado tutela seu ambiente em
consonância com a legislação fed eral, conseguindo assim manter a cap ilarid ad e necessári a
para que a governa nça contemple as questões locais, mas sem perder os objetivos nacio na is,
com o reduz ir as cau sas d as mudanças climá ticas, gerir su a crise de abastecimento d e água
e melhorar a resiliencia dos principais sistemas de produção (Campbell, 2008).
Há também os pa íses que não produziram legislação específica para jurisdicionar o
solo, mas investiram em estruturas de adminis tração, controle e acompanhan1ento dos
d iversos usos que esse pode receber. Este modelo parece ser mais evidente nos países que
adotam a co111111011 lmv, que permite que casos não previsto na legislação sejam apreciados
p elo judiciário. Assim, tipos d e u so que cau sam danos à coletividade, mesmo sem o prévio
impedim ento legal, podem ser levados à via jurídica.
Um dos problemas da abordagem legaJ dos solos é o lapso de tempo entre o inicio
d o p rocesso d e d egrad ação e a percepção de seus efeitos. Esta distorção leva a uma
dificuldade jurídica, pois impede a responsabilização objetiva, ou seja, em alguns casos
os atuais proprietários do solo estão apenas verificando os efeitos de erros cometidos no
passad o. Em outros casos, o u so de insumos externos encobre problemas que poderiam ser
penalizad os, por colocarem em risco a sustentabilidade do solo. A eficácia da legislação que
visa proteger o solo é, portanto, diretamente relacionada à base de dados e às informações
técn icas que p ermitirão sua correta a plicação.
Quan to m aior o grau de conhecimento científico sobre o solo nos instrumentos
juríd icos, m aior a probabilidade d e estes serem bem-sucedidos como ferramenta de
proteção aos solos (Ki bblewhite et a i., 2012) . Um exemplo deste modelo é o dos Esta dos
Unidos da Am érica (EUA). Em m eio a um severo processo erosivo, que causou a Dust Bowl
no meio-oes te a meri cano, e m 1935, foi promulgada a Lei de Proteção do Solo que, alé m d e
frear a degradação, deu origem a uma nova etap a de geração e difusão d e conhecimento
sobre os solos d aq uele país. Hoje, poucos países no mw1do d etêm tanto conheci mento sobre
seus solos qu an to os EUA. A escala dos m apas disponíveis permite o deta lham ento quase
em níve l d e propried ade, p ois há uma vasta rede de perfis identifica dos e cad astra d os em
tod o o terri tório, e a coleta d e informações tende a ser padronjzad a, de forma que pode
haver compa rtilhamento dos dad os gerados entre todas as instituições que tê m interesse
na tem ática solo.
O esta belecimento de um processo de governa nça d o solo exige que ações seja m
previam en te ajusta das e etapas sejam cumpridas, para que a p arti r d elas exis ta a ga rantia
de que o compo rta mento indi vidua l d as unidades siga as regras voltad as ao benefício d a
coletivida d e (Gobibi, 2005).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO DA G ovE RNAN ÇA DO SOLO 1339

AS BASES PARA UM PROGRAMA DE GOVER ç DO


SOLO NO BRASIL

Durante os anos de 2014 e 20] 5, o Tribuna l de Con tas da Unicio (TC ) promoveu um
vasto trabalho visando gerar as bases para um processo de reconhecimento e V<1lor.:ição J e;
solos, que culmjne com formas mais ad equa das de uso des te recur o natural, e também ,ic;
políticas e os programas mais eficientes para ga rantir sua conservaçiio.
Embora o trabalho do TCU tenha se limitado à aná lise dos sol s não urbano , em
seu escopo estão contempladas, além das ações de gestão da Agricultura e Or .miz<1ção
Agrária, também as ações de gestão do meio ambien te, de fo r ma que o resultados _5o
muito abrangentes e podem ser estendidos també m pa ra os a m bien tes peri-urbano .
Os objetivos da auditoria realizada pelo TCU ernm basica mente lcva ntélr inform<1çôe
sobre os problemas relativos à regulação dél ocupação d os solo , < s u tentabi lidade e ao
planejamento futuro, avaliar a governança da reg ulação do uso e ocupação do olo
propor futuros trabalhos de auditoria sobre o tema.
Para realjzar a auditoria, foram utilizados os critérios do "Referencial para avaliaç- o
da governança de políticas públicas do TCU", por tratar-se de um i tema de avélltaçào
multicritérios, dos quais foram selecionados os componentes rnstitucionalização, Planoc; e
Objetivos, Coordenação e Coerência e ainda Monitoramento e Aval iação. Cada um de t .
critérios permüe explorar uma dimensão da governança exi tente e expor a lacuna_ que
impedem o avanço do processo.
O componente "Institucionalização" refere-se a aspecto , fo rmai ou informai , la
existência de uma política. Nele, são avaliados o grau de normatização, o u seja, a existência
de Leis, Decretos, e o Arranjo lnstitucional defirudo nos decre to re~lamentadores. , o
componente "Planos e Objetivos", é avaliada a coesão interna da políticas pública .
Nesse contexto, a política pública orienta-se por uma formul ação eraJ, qu d fine ua
lógica de intervenção de acordo com diagnósticos realizado e po r p la n _ que permitem
operacionalizar as ações necessárias, delineados em razão d a diretrize , objeti 0
prioridades.
Para o componente "Coordenação e Coerência", é avaliado o quanto a o rganizações
públicas trabalham em conjunto para obter os resultado a lmejad o . F ra m anali ada_
como as diversas instituições envolvidas na temática de solo se ar ticu lam, e coordenam
como utilizam suas estruturas em razão de resultados que e refo rça m mu tu amente.
Por último, o componente "Morutoramento e valia ão" t m p r pr sup · to iue
uma política pública deve possuir rotina para acompanhar u a · a - es para aferir s u
resultados e os utilizar para promoção de aperfeiçoamentos na p olítica.
A primeira constatação da aurutoria foi a ausência de um marco regu la tó rio especific
para o solo em nível federal. Ao contrário do que acontece, por exe m p l , o m a agua, não
existe uma ação governamental direcionada que congregue a · inicia tiva em tomo d tema
solo.lssonãosignificaquenãoexistam,deformae par a, tai marc -. apart dere,mlaç.'l ,
há as políticas de organização territorial, como o Zoneament Ec 1· gic Econ · mi , 0
Zoneamento Agroecológico e o Zoneamento g rícola de Rj5 limá ti l , ~11· m de div~rsas
políticas de acesso a terra e ao ordenamento fundiário, alé m 1 in - tru ment - d~ -1poi <1
organização territorial, como cadastro rurai , certificaç1 rura l e od-1str - -1mbit.=nt i .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1340 NILVANIA APARECIDA DE MELLO & TIAGO MODESTO CARN EIRO DA COSTA

Já par~ -~om~ntar a u tentc1bilidade, exis tem progra mas como o Progra ma de Co!11ba te à
De ert._hcaçao (este lash·ado em acordos internacionais), o Progranrn Prod utor d e Agua e o
Plano de Agricultura de Baixo Carbono, entre outros.
A implantação de um processo de governança precisa de " pontes de entendimento"
que faci litem a interação d os segm entos envolvidos (Frey, 2004). Para March e Olsen
(1995), a go,·ernança é m ais que o gerenciamento das coalizões e h·ocas políticas, pois
em ·olve também os cana is onde são criadas as regras, direitos e deveres dos envolv id os.
Isso significa que é preciso pensar continuamente não apenas nas formas d e participação,
m as também nos princípios norma tivos que direcionarão as ações concre tas; e, nesse
sentido, os m arcos regulatórios são de grande utilidade.

Aspectos da (des)governança verificados na auditoria


Constatou-se a falta de definição de prioridades tanto em relação ao u so e à ocupação
do solo no território n acional quanto no que diz respeito à sustentabilidad e do uso. A
ausência de legislação específica que trate do s olo leva a uma dispersão do tema num
emaranhado de leis, decretos e normativas que h·atam sobre a organização do território,
regulamentação e democratização do acesso a terra, regularização fundiária, obrigações
cadastrais, além da regulação do uso do solo. Em muitos casos, estes documentos legais
se sombreiam e, em outros, são claramente antagônicos, resultando na dificuldade de se
estabelecer urna política de estado verdadeira, prevalecendo assim as ações pontuais, ao
sabor do governo que está no poder na ocasião.
A consolidação da governança permitiria contornar esta situação, fortalecendo
políticas de estado, uma vez que as estruturas de governança se relacionam diretamente
com a prática democrática, não apenas em sua dimensão representativa (Dallabrida, 2007)
e em sua dimensão deliberativa. Na auditoria, também se verificou a falta de integração
entre a legislação que trata da água e os diversos instrumentos legais que regulam o
solo. Essa fragmentação não promove a correta abordagem do ambiente, cuja natureza é
naturalmente integrativa e muitas vezes dificultam ações governamentais de recuperação
tanto do solo quanto dos corpos hídricos.
Embora existam leis que tratem da temática do solo, na maioria delas aparecem
citações gerais sobre a su stentabilidade do uso do solo, não possibilitando a normatização
que de fato leve a ações para evitar a degradação e a erosão, para o correto planejamento do
uso do solo etc. Essa situ ação, além de causar uma instabilidade de objetivos e de recursos
públicos, leva à ineficiência das políticas públicas, tanto de conservação do solo quanto de
conservação da água. É sabido que a criação de leis não tem o poder d e contornar a fa lta de
vontade política, mas a legislação bem construída, com participação social, pode resultar
na con strução de uma ordem institucional distinta, corno afirma Calderón (2010), que seja
aberta, plural e capaz de administrar conflitos.
Outro achado do TCU é a sobreposição de competências e lacunas de a tuação existentes
nas instituições governam entais quanto ao uso, à ocupação e à sustentabilidade dos recursos
do solo e da água. Exis tem diversos entes, órgãos, ministérios, instituições, comissões e fóruns
envolvidos na regulação do uso e da ocupação do solo e na promoção de sua s us tentabilidade.
O estudo da legislação evidencia que não há como delimitar claramente q uais os limites d e
atuação e as competências de cada uma destas instituições, o que dificulta a a tribuição de
tarefas e também as ações de regulação e controle sobre cada uma delas.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO DA GovERNANÇA DO SOLO 1341

A sobre posição de competências das instituições govemamentai também gera


desperdícios de recursos financeiros e humanos, bem como a dificuldade de identificação
dos responsáveis pelas políticas públicas, o que red uz a auditabi lidade e o controle ocial
de processos e procedimentos.
Ao longo dos anos, os poderes executivo e legislativo foram criand o uma série de
normativas que impõem o dever de cadastro e certificações aos proprietários de imóvei
não urbanos. Atualmente, existe o Cadastro Ambiental Rura l, a Declaração Anual devida
à Receita Federal, os cadastros específicos para determinadas atividades, os cadastros
ambientais, além daqueles devidos aos institutos estaduais, entre outros. Esses cadastro
geralmente são obrigatórios para acessar financiamentos, políticas públicas etc. o
preenchimento desses dados, há uma grande parcela de sobreposição, ou seja, o m mo
dado é informado diversas vezes em cadastros diferentes. o entanto, esta diversidade
de fontes não resulta em informações mais precisas; ao contrário, muita vezes a mesma
informação é preenchida de forma diversa, dependendo da finalidade do cadastro.
Embora existam diversos instrumentos legais esparsos e diversas instituições ligada
à temática do solo, não existe planejamento estratégico ou mesmo planos i.ntegrados para
coordenar os esforços das ctiversas iniciativas governamentais vol tadas à correta ocupação
do solo e promoção da sustentabilidade do solo e da água. lsso resu lta numa série de
iniciativas pulverizadas que, em seu conjunto, muitas vezes, não possuem encadeamento
lógico e não permitem uma visão de futuro conjunta sobre a questão do solo e nem do
sinergismo esperado da conjunção das diversas ações que ocorrem em paralelo.
Também não foi identificado no território nacional um fórum especifico que congregue
as diversas instituições que tratam do solo e da água. Essa ausência leva à dificuldade para a
mobilização político-administrativa, à perda da noção de coletividade e, consequentemente,
à ausência de colaboração. Num processo de governança, é indispensável a existência de
espaços públicos de representação, negociação e concertação (Fleu.ry, 2004), tanto com a
finalidade de corrigir quanto de orientar e eventualmente reforçar o papel do estado. Um
fórum nacional poderia auxiliar na definição de prioridades, res peitando as demandas
específicas e marcos regulatórios, segundo critérios de reconhecimento, participação e
redistribuição.
Em comparação com outras nações, especialmente com aquelas que concorrem com
o Brasil no agronegócio, verifica-se wna insuficiência de conhecimento dos solos, de seus
aspectos físicos, químicos, biológicos, das melhores estratégias de manejo e conservação e
de sua biodiversidade. Este conhecimento é fundamental para o desenvol imento de uma
política de conservação e recuperação de solos que seja efetiva.
Uma lacuna muito evidente na produção de conhecimento é a falta de mapa de olo
em escala adequada para os diversos fins a que os solos se prestam. O mapeamento de
solos possui diversas funções que variam de acordo com a escala utilizada. A maior parte
do conhecimento em termos de mapas de solo vem da década de 1970 e 1980, época e m
que existiam programas voltados para o solo como o Projeto RADA l e o Plano l acional
de Conservação de Solos (Decreto 76.470/1975).
O baixo grau de conhecimento dos solos brasileiros di.ficulta que se tenha um
diagnóstico apurado para posterior medição do in1pacto, o que a tinge negati amente no
pla nejamento de políticas públicas para preservação e uso do olo e da água, bem como
pa ra a sustentabilidade de políticas voltadas à agropecuária. Identificaram-se com cau a

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1342 NILVANIA APARECIDA DE MELLO & TIAGO MODESTO CARNEIRO DA COSTA

de t s problema a fa lta de uma iniciativa governamental para coleta permanente de dados


para o mapeamento dos solos e a falta de um padrão que permita a ge ração de um banco
d dado compartilhável para a comunidade científica em um Sistema de Informação
adequ ado.
instituição de uma dinâmica de avaliação e de monitoramento interinstitucional
pode melhorar a qualidade da decisões, da transparência e da participação social nas
políticas públicas de solo e água. O mais próximo de um monitoramento dos solos que
feito no Bra il é o acompanhamento das tecnologias que são implantadas por meio do
Proí!Yama da Agricultura de Baixo Carbono, que mede a eficácia do Programa, mas não
ua eficiência e o impacto causado.
Como resultado de tal situação, o Governo Federal não possui informação de forma
si temática sobre insumos, produtos, atividades e circunstâncias que são relevantes para a
efetiva implementação de políticas públicas destinadas à promoção da sustentabilidade do
u o do solo e da água em ambiente não urbano.
lão foram encontrados quaisquer indicadores de desempenho que medissem de
maneira integrada e abrangente a evolução e o estado atual da saúde dos recursos de solo
e água. A ausência destes indicadores dificulta o estabelecimento de políticas públicas
voltadas para a conservação do solo e da água e impede o correto monitoramento do
resultado obtido por programas e políticas que já foram implantadas. Em outras palavras,
não há como direcionar o uso dos recursos públicos de maneira adequada se não há clareza
do problema a ser sanado. E se não há indicadores claros para avaliar a efetividade dos
re uJtados obtidos com os recursos já aplicados, também não é possível determinar com
qualidade os passos seguintes.
Além disso, a falta de indicadores de desempenho dificulta a participação da
sociedade civil e impede o controle difuso por segmentos interessados nos resuJtados dos
programas de conservação do solo e da água. A existência de controle difuso é fundamental
nos processos de governança. Tais processos caracterizam-se pela interação entre atores
públicos e privados, visando resolver problemas e criar oportunidades (Kooiman, 2002).
É preciso que existam elementos balizadores; neste caso, os indicadores de desempenho,
que permitam que todos os segmentos envolvidos sejam capazes de participar e entender
a cadeia de tomadas de decisão (Milani e Solinis, 2002).
As principais propostas da equipe de auditoria do TCU dizem respeito à consolidação
das leis de regulação de uso e ocupação, bem como à edição de urna lei de sustentabilidade
do uso do solo e da água, à simplificação dos serviços de cadastros, à definjção de forma
clara das competências e dos limjtes de atuação para cada ente ou ins tituição pública,
à construção de planos e objetivos em longo prazo, à atualização e geração de novas
informações, especialmente em relação ao mapeamento do solo, e, finalmente, à integração
de sis temas, construção de indicadores e formalização de regras de monüoramento e
avaliação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conceber um processo de governança significa estabelecer uma rede de ações e


relacionamentos gue visa um bem comum, ou seja, a governança é uma construção social,
,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA
XLI - MAN EJO E C O NSERVAÇÃO N O CONTEXTO DA GoV ERN A N ÇA D O SOLO 1343

perpe tu ada, mod ificada e melhorada po r me io dos atos de todos os , 1e me ntos que a
co ns titu em; porém, ela precisa de uma base pa ra es tab lecer-se.
Es ta base pode ser: (1) legal, por me io de docu mentos leg i !ativos q ue lhe deem
o ri gem; (2) político-adminis trati va, pela consolidação de u m grupo ou fó rum _que tr~te
da qu estão; e (3) social, pela mobilização da sociedad e e m torno d e um capital ocit1 I
comum. Em qua lquer dos modos, a gove mança pe rmite a s uperação da frngment,1~Jo
e compartimentalização das ações técnirns, não ma is se lim itando a uma p r pect1vcJ
unil a teral, seja ela econó mica ou não.
Nas ações d e manejo e conservação do solo e da água, não e separa estrutu rJ
e indiv íduo, ou seja, uma propriedad e es tá contida numa m icrobacia a sim com o um 0
m.icrobacia é formada por propriedades. A lógica natural do ma nejo e da con ervação é,
p o rta nto, mu ito mais próxi ma da governança que das ações isoladas e individuais; no
e ntanto, muitas e tapas ainda são necessárias para q ue, de fa to, se po sa atua r e m red -
Fa tores básicos como o estabelecimen to de uma d ire triz nacional para o maneio e a
conservação do solo e da água, a conjugação dos textos legais já exí ten tes, a unificação de
cadastros e procedimentos, a delimitação de co m petências e responsabilidades p reci ·am
ser implem entados. Um dos aspectos centra is da govemança é a coordenação em rede, de
form a colaborativa; entre tanto, se as etapas anteriores n ão fo rem cu mp rida , corre-se o
risco de a cooperação transfo rmar-se em com petição, em que a lguns dos pa re utilizarão
informações dos outros numa lógica preda tória.
Num processo de governança, novos arranjos o rganizac ionais podem s u rgir,
modificando as relações e interações entre os envol vidos. Nesse contexto, m uita vezes,
conciliar interesses divergentes não é tarefa simples e ne m sempre ocorre em ambiente
d e m áxima cooperação e confiança. H á um elevad o grau de s ubjetividade, especialmente
porque os aspectos políticos também são funda menta is nesse proces o. lesmo as im,
cons iderando que o solo e a água são recursos fin itos e que pertencem a toda humanidade,
a go vernança segue sendo a melhor a lterna tiva para d iscu tir a con ervaçào de ambo .

LITERATURA CITADA

Biermann F, Abbott, Andresen K, Backstrand S, Bernstein S, Betsill M 1, Bulkeley H , Cashore B. Clapp


J, Folke C. Transforming governance and institutions for global su tainabilitv: kev insi,-.hts from
the Earth System Govemance Project. Curr Opin Environ Su tain. 2012;-!:51~0 ·
BorTas MS, Franco JC. Contemporary discourses and contestations around pro-poor land policies
and land governance. J Agr Change. 2010;10:1-32
Bouma J, Broll G, CraneT A,Dewitte O, Gardi C,Schulte RPO, Tower- \ . il information in -upp rt
of policy making and awareness raising. Curr Opin Environ Sustain. 2012;-!:552 '
Calderón F. La globalizacion y las nuevas condiciones ociales dei de- -arollo y la Ji;:m -racia. ln:
Foro Lnternacional sobre el Nexo entre Ciencias Sociales Política-. L1s nuevas cond i iones
sociales y políticas dei desarrolho humano. Paris: U ESCO; 2010.
Campbell A. Managing Australia's oils: A policy discussion paper. l ati na! Committee 0 11 oi l
and Terrain (NCST) and Natural Re ource !\ lanagement linisterial ounc.il ( R IM ) idn y:
1

2008.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA

..
1344 N I LVANI A APAR ECID A D E M EL LO & TIAGO MOD ESTO CAR N EIRO DA COSTA

Charno,·itz S. Tow.ird .i world cm ·ironmcn t o rg.in iz,1t ion: rL'Íkctions upnn a v it.il deba te ln :
Biermann F, BauerS, cditors. ;\ world e m ·irn111;1en t t"'rganiz,1tinn: Solu tion orTh rcat for Effcctivc
lntema tioni11 E11\'iron mc ntal Govcrn;-i ncc? ew York: i\shgatc; 2005. p .87-144.
C le m ent F. An.:ilysing decen tra liscd n atur.il rcsource governi1nce: proposition fo r a " politicised "
ins titutional ana l:,sis and d e\'clopme nt fra m ewo rk.Policy Sei. 2010;43:129.
Dallabrida \ ' R. A gestão territoria l a través do d i~logo e da p articipação. Rev Ele h· Geogr Cien c
Soe. 2007:11:1-16. Disponivel em :h tt-p: / / w w w .unc.br/ mestrad o/ does/ ART IGO-GEST AO-
TERR ITORI AL-SCRI PTA-NOV A-2007. pdf

Deininger K, feder G. Lan d rcgis h·a tio n, governan ce, and d evelopme n t: ev idence and im p lica tions
for policy. \'\'orld Bank Res O bs. 2009;24:233-66.

Dembach JC. Sustainable d evelopmen t as a fra m ew or k fo r Na tional Governan ce.Case Wes te rn Res
Law Re, · . 1 998;➔ 9 : 1-103 .

F O . The Sta te of Food Insecurity in the \t\Torld. Rom e : FAO; 2011.

Fleury S. Consb-ucción d e ciudad anía en entornas d e desigual dad . Rev lns t Desar rollo. 2004;16:133-70
Flores EC. O conceito d e "comunidad e human a universal" na obra d e G uerreiro Ra m os. Cad er
EBAPE. 2015;13:573-92.

Franco JC, 1on saJ\'e S, Bo rras SM. De m ocra tic land conh·ol an d human rights C w -r Opin Env iro n
Sustain.2015;15:66-71.

Frey K. GO\·em ança inte ra tiva: uma con cepção p ara com p reender a gestão pública pa rticipa tiva? Rev
Pol Soe. 2004;3:11S-38.

Gem1an . Fed e ra l 1inistry for the Environment, Soil Protection Report (German Fed eral G ovemment)
] une 2002.[accessed on :2015Fe b. 23). Ava ila ble a t: http:/ /wwv,1 .bm u b.bund.de/ filead m.in/ bmu-
ímp ort/ files / p dfs/ allgem eín/ a pplication / pdf/ soilreport. pdf
Gobibi BC, C unha EP, BritoMJ, Sen ger I. Politizando o conceito de red es organizacionais : uma
reflexão teórica d a govem an ça com o jogo d e pod er.Cad er EBAPE. 2005;3:2-1.6.
Hannam l,Boer B.Draftíng legisla tion fo r s ustainable soils: a gu ide. Gland : fUCN; 2004.
Hurn.i H , V\ iesm ann U, editors. G lobal ch an ge and sus tain a ble d evelopm ent: a synthesis of
region al experien ces fro m resear ch partnersh.i ps. Perspectives of the Swiss N atio n al Centre of
Com peten ce in Research (NCCR) Be m : Un.iversity of Bem ; 2010. v.5.
Kfüblewh.i te MG, Miko L,Monta n areLi a L. Lega l fram eworks fo r soil protectio n: current d evelo pment
and techn.ical ínformation req uirem ents. C urr Opin En v iron Sus ta in. 2012;4:573-7.
Kooiman J. Goveman ce. A social-po li tical p erspective. ln: G rote JRE, Gbikp i B,editors Pa rtic ipa tory
governan ce. Política ) an d societa l implica tions. O pl ad e n : Leske + Budrich; 2002. p.71-96.
Laczko F, Agh azarm C. 1igra tion, en vironme nt an d climate change: assessing the
evidence. Svvitzerla n d :lnterna tion al Organization for M.igratio n; 2009.
LaJ R.Food security in a cha n ging cl imate Ecohy drol H yd robiol. 2013;13:8-21.
Massev D, Axinn W, G h im.i re D. En vironm e ntal ch ange a nd out-migration: Evidence fro m Nepa l.
P~pul. Environ . 2010;32:109-36.
Milani C, Solinís C. Pensar a dem ocracia n a governan ça m u ndia l: alg um as p is tas para o futu ro. ln:
Mil a ni e, Artu ri C, Solin ís C . Dem ocracia e governança mundia l: que regu lações par a o séc ulo
XXJ? Porto A legre: UFRGS; 2002.
Montanarell a L, Vargas R. G lobal governan ce of soil resou rces as a necessa ry condition fo r s usta i.nable
d evelopment. Cu rr Opin En viron Sus tain . 2012:4:559-64.
,
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA A G UA
XLI - MANEJO E CONSERVAÇÃO NO CONTEXTO DA GovERNANÇA DO SOLO 1345

Obe rthü rS,Stokkc O , cclitors. M,rnaging ins titut ion;il complexity: r •g1mc int ' rplc1y c1nd g lobal
e n v ironme ntal cha ngc.London:MIT Prcss; 20 11 .
Qun D,Hannam l,editors. L;iw, policy ;i nd d ry l.ind ccoc;ys tc ms ín th, Pcnple' c; Republíc of Ch ina .
G land : IUCN; 2011.
Rosenau JN. "Governança, Ordem e Transformação na Política Mundia l" . ln: Roe; nau Jt , Czempiel
EO. Governança sem governo: ordem e tra n sfo rmação na políticc1 mundial. Brac;í lía: U, B; ãn
Pau.lo: Imprensa Oficial do Estado; 2000.
Rosenau JN. Governance in the Twenty-fi rs t Centu ry. G lobal Govemance. 1995;1 : 13-41.
Sachs 1. Desenvolvi mento: include nte, s us tentável, s us te ntado. Rio Je Janeiro: GJramond; 2008.
Steffen W, Richa rdson K, Rocks trõm J, Cornell SE, Fe tzer /, Bennett EM, Bi ggs R Carpenter R, Vries
W, Wit CA.Planeta ry boundaries: guiding human deve lo pme nt on a c han •in pl,rnet [online].
Science. 201 5;347.
Uni ted Nations: World Popu lation Prospec ts: The 2010 Revision. New York: Lini ted 1 .:itiol1!
Department of Economic anel Social Affairs; 2011.
Weigelt J, Müller A, Janetschek H, Tõ pfe r K. Land a nel soil governa.nce toward a transfo rmational
pos t-2015d evelopment agenda: an overview. Curr Opin En viron Su tain, 2015;1 S:57-65

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


XLII- O PAPEL DA CIÊNCIA DO SOLO NO
MANEJO E NA CONSERVAÇÃO DO SOLO E
DA ÁGUA
Luciano da Silva Souza!/, lldegardis Bertol:1/, José Fernandes de Melo Filho 11
& Isabella Clerici De Maria 31

11 Univers idade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências Agrárias, A m bientajs e Biológicas,
Cruz das Almas, BA. E-mail: lsouza@ufrb.edu.br; jfmela @ufrb.edu.br
~1 Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ci~ncias Agrovete r inárias, Lages, SC.
E-ma.il: ildegard is.bertol@udesc.br
J/ Ins tituto Agronômico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desenvolvimen to de Solos e Recu rsos Am bientai.,
Campinas, SP. E-mail: icd maria@iac.sp.gov.br

Conteúdo

O USO DO SOLO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 1970 ......................................... ·- ··-······················· 13-l7


RESPONSABILIDADE DA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA ····································-··················-····· 13-l9
A SE!¼EADURA DIRETA/ PLANTIO DIRETO E A AGRlCULTURA CO SERVAClO 1 15fA ................... .. 1351
O PAPEL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MANEJO E NA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA .... ·-······ 1352
LITERATURA CITADA .......................................... ,··············································································- - ·-········-······ 1355

O USO DO SOLO NO BRASIL A PARTIR DA


DÉCADA DE 1970

O solo é um recurso natural essencial à vida e, por isso, é o maior patrimônio da


população de um pais, juntamente com as plantas, animais, ar, água e calor.
Teoricamente, o solo é um recurso renovável, pois os fa tores de sua formaçã nunca
param de atuar; a taxa de formação varia entre ambientes, em razão das diferenças de
intensidade e interações entre o clima, o relevo e os organismos vivos atuando obre o
material de origem ao longo do tempo, podendo-se estimar em, aproximadamente, _00
anos o tempo médio necessário para formar uma camada com 1 cm de solo.
Considerando-se o tempo médio de vida de 75 anos para urna geração humana,
seriam necessárias cerca de três gerações para formar 1 cm de olo. Isso poria em risco a

Be rlo l 1, De Maria !C, Sou za l.5, editores. tvlanejo e conservaçno do so lo e d a ,\gua. Viço-a, \IG: •iedade
Brnsile ira d e C iê ncia d o So lo; 2018.
1348 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL

recuperação e conservação de o utros recursos essenciais à vida (plantas, animais, a r, ág ua


e calor), que pod em ser recuperados no espaço d e tempo de uma geração; mas o solo, não!
Conclu i- e, portanto, que, na prá tirn, o solo é um recurso essencial à vida na Terra,
mas não renovável; se utili zad o sem os devidos cuidados para sua conservação, poderá
deg radar-se durante o período de uma geração ou até em menos tempo.
ão obstante, no Brasil, a ocupação e utili zação do olo foram intensificadas a partir da
década de 1970, endo intensas ainda hoje. Nesse processo, priorizou-se o aspecto econômico
em detri mento d o social e do ambiental, gerando enorme passivo dec01Tente da degradação
do solo e do ambiente, representado pelas consequentes estimativas descritas a seguir:
• tua lmente, existem cerca de 30 Mha de terras degradadas na Amazônia e 40 Mha
n o Cerrado brasileiro.
• Hoje, para cada quilo d e grãos produzido no Cerrado, perdem-se 6 a 10 kg de solo
por ero ão.
• 1a atualidade, no Brasil, destroem-se cerca de 1 Gt de solo fértil por ano .
• la época atual, o custo da erosão, apenas no Paraná e São Paulo, por exemplo,
representa atualmente 242 M$USA e 212 M$USA por ano, respectivamente.
• o presente, as perdas de nutrientes causadas pela erosão, especialmente a hídrica
pluvial, aumentam a demanda por fertilizantes, a maioria deles importados,
sobrecarregando a conta importação do país, além de causar degradação do
ambiente aquático.
1esse
contexto, um cenário também muito ilustrativo do processo de degradação de
terras no Brasil refere-se à situação da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, ambiente
onde se registram significativos eventos de degradação ambiental associados à ocupação
agrícola pouco adequada do Cerrado. Nesse caso, a retirada da vegetação natural, associada
à mínima preocupação com a conservação do solo e da água no seu sentido amplo -
não apenas correção do solo e adubação - , degradou a zona ripária do rio. Com isso, a
"esponja" representada pelos solos da região, que deveriam infiltrar, reter, armazenar e
Liberar continuamente a água das chuvas, teve sua capacidade substancialmente reduzida
nas diversas sub-bacias dos principais afluentes do São Francisco (Rios Abaeté, das Velhas,
Arrojado, Formoso, Corrente, Grande, Jequitaí, Paracatú, Paraopeba, Urucuia e outros).
A principal consequência disso foi o assoreamento dessas sub-bacias pelos sedimentos
carreados pela erosão, que promoveu grandes mudanças não só no ambiente aquático
loca l, m as na hidrologia de superfície da região do Cerrado, resultando, inclusive, na
redução da recarga hídrica da Bacia do Rio São Francisco como um todo.
A desertificação no Brasil, outro exemplo de degradação das terras brasileiras, atinge
aproximadamente 665 Mha na Região Nordeste, representando, por ano, perdas de 800
MSUSA e demanda de investimento de 100 M$USA em ações esp ecíficas de recuperação
ambien ta l.
Mesmo diante de cenário tão complicado e preocupante, constata-se que, no Brasil,
inexistem políticas públicas ou prioridades estabelecidas em relação à implementação de
ações de conscienti zação social relativas à importância do uso e da ocupação s ustentáveis
do solo. Em con!Taste, são comuns as manifestações ufanistas quanto aos recordes
crescentes na produção agropecuária brasileira; entretanto, omite-se o corres pondente e
grave passivo ambienta l decorrente desses res ultados.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLII - Ü PAP EL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MANEJO E NA CON SERVAÇ ÃO · · · 1349

O estado atua l de degradação em que se encontram os solo · brasileiros, principalmente


em razão ela erosão hídrica, é um panorama típi o ele paí s ubdes nvolvido ou em
desenvolvimento, onde o aspecto económico reprime o social e o ambienta l. Sabe-s que o
verdadeiro desenvolvimento de uma nação é aq uele que associa o cres imento econômico
aos cuidados com o meio ambiente e ao atendimento das demandas sociais da sua população
(Sachs, 2004). Esse retrospecto evidencia que o Brasil ainda está muito longe dis o.

RESPONSABILIDADE DA CONSERVAÇÃ O DO
SOLO E DA ÁGUA

A abordagem deste assunto remete à segu inte questão: A quem compete a


responsabilidade de conservar o solo e a água no Bras il? Inquestiona velmente, ão três
as peças dessa intrincada questão: o usuário da terra, sendo ele agricultor, proprie tário
ou não, ou alguém que a use apenas para fins de lazer e recreação; os governos federal,
estadual e municipal; e a sociedade em geral.
No Brasil, têm-se destacado, em vários âmbitos, inclusive no da ciência do olo, a
cobrança do agricultor como responsável pela conservação do solo, poi ele em geral é o
proprietário da terra e que dela usufrui; infe lizmente, o governo e a sociedade em geral não
são - ou quase nunca - mencionados.
É evidente que este tipo de abordagem para o problema da conservação do solo e
da água inclui enorme e inaceitável equívoco. No Brasil, o poder público tem o direito de
lavra ou exploração das riquezas do subsolo e defende isso fortemente. Essas riquezas, por
oportuno, não alimentam os homens ou animais; não sustentam os vegetais, que purificam
o ar; não regulam e nem purificam os fluxos de água; não equilibra a temperatura no
a mbiente etc., como o faz o solo.
No entanto, a exploração mineral tem marcos regula tórios e políticos de incentivo
e controle de exploração. Não obstante, o governo, como um todo, não concebe que tem
direito semelhante, e nem luta por este direito, em relação ao solo em si, o u seja, a camada
s uperficial, fonte de geração de divisas, de desenvolvimento econômico e bem-estar ocial
e s uporte indispensável à manutenção da vida. A responsabilidade da conservação do solo
e da água te m sido transferida para o agricultor individualmente, quando de eria er da
sociedade em geral, com base em ações públicas adequadamente planejadas e e. ecutada .
Uma vez esclarecida e inteirada disso, ela mesma atuaria diretamente na conservação do
solo e da água e, adicionalmente, pressionaria o governo e também o usuário da terra para
que todos, efetiva mente, cumpram suas partes nesta responsabilidade que envolve O alo,
recurso na tural considerado essencial e não renovável, à luz do que aqui se di cutiu.
Nesse contexto, a ciência do solo no Brasil tem papel fundamental em todo o a pectos
abordados, seja no âmbi to técnico e científico, mas, sobretudo, no âmbi to da definição de
políticas d e governança do solo no Brasil, compatíveis com a real e fu tura si tuação da
ag ricultura nac ional, favo raveln,ente ao seu cresci1nento e ampliação e manuten ão u
m e lho ria dos índices de produtividade.
Conservar o solo e a água representa, essencialmente, a aplicação correta dos
conhecimentos a té então gerados pela ciência do solo, farta e amplamente de critos ne te

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1350 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL

li,:~' incl u si, e quanto à relação enh·e manejo d o solo e da cultura. A susten tabi lid ade das
at1v1dades agrícolas tem forte relação com O correto uso da terra e com o ma nejo adeq uad o
e ,ª P_ropriado _do sol~, especia lmente qu anto ao conh·ole das perdas de solo por erosão
h1dnca, que, mqueshonavelmente, deve ser a primeira e maior preocupação v incul ada
COffl a sustentabilidad e destas a tividades.

O objetivo maio r da ciência d o solo é estabelecer o melhor uso possível para cada
so!~, sem degradar (Kohnke, 1968). Isso ressa lta a importância de, em primeiro lugar,
utili za r ~s terras de acordo com as classes de capacidade de uso e de a ptidão agrícola e,
conconutanteme nte, manejar o solo com ênfase no conh·ole da erosão hídrica, que é a causa
priJKipal de sua degradação. Segundo esse autor, a ciência do solo tem sid o dividida e m
Yários ramos: física, química, biologia, mineralogia, microbiologia, fertilidade, morfologia,
gênese, levantamento, classificação, manejo e conservação, que não pode1n ser separados
por lim.ites físicos ou mesmo discrintinados por grau de importfu1eia; muito pelo contrário,
devem ser objetos de um mesmo propósito, pelo que o citado autor afirma: " nenhum deles
terá valor se n ão for pesquisado e tratado de forma interativa com os demais" .
A concepção geral de que a conservação do solo e da água é de responsabilidade
exclusiva dos pesquisadores que atuam em erosão do solo deve ser definitivamente
refutada. Inquestionavelmente, conservar o solo, do ponto de vista técnico e científico, é
de responsabilidade de todos os cientistas de solo. Enquanto não ex.istir plena consciência
disso, jamais se praticará a conservação do solo e da água com o grau de responsabilidade
que deve existir, em qualquer lugar do mw1do e também no Brasil. Sem isso, os solos
do planeta, e também os do Brasil, evidentemente, passarão por processo crescente de
degrad ação e, mais dia, menos dia, ocorrerá um colapso, aquela situação d escrita por
Diamond (2005), em que as sociedades definem seu futuro a partir da forma de uso dos
recursos natura.is, com seríssimas consequências quando não respeitam os lim.ites da
natureza.
A conser vação do solo e da água não é sinônimo de controle de erosão; ela envolve
também o manejo adequado do solo com vistas a manter as funções dos seus atributos
fís icos, quím.icos, biológicos, morfológicos e h.idrológicos. Inquestionavelmente, no
entanto, a ênfase primeira na conservação do solo e da água, mas não exclusiva, deve ser
o controle das perd as de solo e água por erosão, já que o solo, uma vez perdido, não mais
retorna ao seu locaJ d e origem.
O conceito abordado por Kohnke (1968) considera que a agricultura conservacionista
deve ser permanente, com vistas a um futuro infuuto. De forma contrária, o " modelo"
de agricultura atualmente predom.inante no Brasil é imediatis ta, exausti vo, predatório e
degradador do s olo, em geral explorando-o fora dos princípios conservacion.istas. Isso tem
resuJtado em d eseq u ilíbrio com a natureza ou com os fa tores ambientais; se assi m n ão
fosse n ão exis tiria o grande passivo ambiental associado à agricultura, que já se referiu
anteriormente. Este " modelo" produz momenta neamente ma.is riqu eza mone tári a do que
a agricultura conservacionista, mas somente por período de tempo limitado a poucos a nos
ou a a lgumas gerações, sempre inferior em relação à vida, que é eterna e infi.Ju ta.
De preende-se disso, pois, que é eminente e emergenciaJ a mudan ça de a ti tude não só
dos aericu lto res brasileiros, mas da sociedad e como um todo e d os governa ntes, quanto
à a~i~ultura aq ui praticad a. Os solos brasileiros, inquestionavelmente, não vão supo rtar
0 ;atamen to q ue vém recebendo. Quanto mais demoraJ· essa mudança de a titude, m a is
difícil e onerosa será a recuperação e conservação dele.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLII - Ü PAPEL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MANEJO E NA CONSERVAÇÃO . . , 1351

Nesse contexto ele exigência, surgem alternati vas ele manejo de solo q u podem ser
consideradas interessantes do ponto ele vis ta de sua conservação, en tr e essas o "sistema"
semeadura direta/plantio direto. Embora, indubitavelmente, es te tipo d manejo d solo
apresente grande potencial de sustentabilidade, tem sido equi vocad amente apl icado de
forma generalizada e considerado sinônimo de agricultura conservacionjsta e até m ilagro il.
Ao mesmo tempo, este tipo de manejo do solo tem s ido ala vancad or do agronegócio
brasileiro, resultando em equívocos, que serão abordados em seguida.

A SEMEADURA DIRETA/PLANTIO DIRETO E A


AGRICULTURA CONSERV ACIONISTA

A conservação do solo começou a ser praticada nos Estados Unidos na década de


1930 (Bennett, 1939), com a preponderante atuação da célebre figura de Hugh Ha mmond
Bennett, o qual, ao defrontar-se com as preocupantes evidências das enx urradas e dos vento
arrastando o solo superficial, degradando áreas agrícolas e contaminando fonte superficia is
de água e outros locajs por deposição do solo erodido, sugeriu, emergencialmente, o uso de
barreiras mecânicas para reduzir a força das enxmradas pluviais, considerada, já naqu ela
época, a principal causa da degradação do solo. Em consequência dos bons resu ltado
conseguidos, Bennett foi cognominado o Pai da Conservação do Solo nos Estados C nido
e, de resto, no Mundo.
Também, como marco em relação ao solo, foi o livro " Loucuras do arador" (Plowman's
Jolly), publicado por Faulkner (1943), questionando a intensiva movimentação d o solo,
com o autor fazendo restrições ao uso do arado e indicando alternativas ao seu uso e m
agricultura.
Posteriormente, os resultados de pesquisas realizadas por Ellison (1947) evidenciaram
que o impacto das gotas da chuva diretamente na superfície do solo exposto era o maio r
responsável pela erosão hídrica pluvial nas terras agrícolas, e não a enxurrada ou o
escoamento superficial. Isso indicou sigruficativas mudanças no entendimento do con trole
da erosão. Estes resultados levaram à busca de alguma forma de cultivar a terra (no caso
d e lavouras agrícolas) sem mexer no solo, de modo que a fitomassa residual da cultura
anterior permanecesse na superfície e evitasse ou minimizasse a causa maior da erosão. a
década de 1960, s urgi u então no Estado de Illinois, nos Estados Unidos, a técnica conhecida
como no-til/, ou seja, sem preparo (Hatfield, 2016), com o fim exclusivo de reduzir a perda
de solo pela erosão hídrica pluvial nas terras agrícolas, por meio da interceptação d as gotas
da chuva, de modo que estas não incidissem diretamente na superfície do olo. O nome
a tribuído à técnica, em se tratando de preparo do solo, foi sem preparo do solo. 1 o Bra il,
foi denominada de semeadura direta ou plantio direto (SD/ PD), que não são formas de
preparo do solo, e sim de se colocar uma semente, muda ou parte egetati a de uma planta
no solo, sem o preparo prévio. Mesmo assim, a partir daqui utilizar-se-á a sigla SD / PD,
mas referindo-se à técnica original (110-till ou sem preparo).
Ressalte-se, nesse momento, o fato de que a técnica SD/ PD foi de env !vida,
exclusivamente, para reduzir a perda de solo pela erosão hídrica plu ial, que na ép ca era
a que mais aterrorizava os agricultores americanos, e não para controlar a er ão como um
todo. Tal objetivo exclusivo da técnica continua até hoje, ou seja, ela, primeiramente, de e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1352 LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL

s~r_colocada e~, _prá tica para redu zir as perdas de solo pela erosão, seja hídrica pluvial ou
eohca. em duvida nenhuma, SD/ PD é a técnica que, isoladamente, mais reduz a perda
d e s lo por era ão, e por isso alcançou o d e taque atual. Também, é evidente que ela não
rep_resenta nenl~uma garantia de que todo o problema de erosão será resolvido, já que seu
efeito na reduçao das perdas de água por escoamento superficial é bem menor do que na
redução das perdas de solo.
lo entendimento científico - e ao mesmo tempo prático - desta ques tão, sabe-se
que as perdas de solo pela erosão podem ser estimadas, cientificamente, pela Equação
Universal de Perda de Solo (Wischmeier e Smith, 1978), em que A = R K L S C P, em
que A é a perda de solo resultante do produto de seis fatores principais (cada um com
s ubfatores): ero ividade da chuva R, erodibilidade do solo K, comprimento do declive
L, inclinação do declive S, cobertura-manejo do solo C e práticas conservacionistas de
suporte P.

A técnica SD/ PD entra nesta equação apenas como um subfator do fator C. Portanto,
mesmo que o fator C tenha um valor baixo, como é o caso quando se usa SD/PD (C na faixa
de 0,02 a 0,05, na média para lavouras de culturas anuais em fileira), a perda de solo por
erosão A pode resultar em valor alto, por causa de valores elevados para os demais fatores
(R, K, L, Se P). Isso precisa ficar muito bem entendido entre todos aqueles que apregoam
o uso da técnica SD/SP como sendo milagrosa e como se seu uso exclusivo extinguiria a
erosão nas lavouras. Também remete à necessidade de utilizar SD/PD sempre associada a
práticas relativas ao próprio fator C e também ao fator P. Isso foi claramente demonstrado
no sul Brasil, com o retorno da erosão em alto grau em áreas submetidas à SD/PD (geradora
de fator C, apenas), onde houve a retirada de terraços (geradores de fator P).
A SD/PD é, essencialmente, uma técnica ou uma forma ou um modo de se
colocar uma semente, muda ou parte vegetativa de uma planta no solo. Não é Wlla
forma de preparo do solo em si e nem, muito menos e por si só, sinônimo de prática
ou de agricultura conservacionista, pelo fato de considerar apenas um componente da
agricultura conservaciorusta que é a ausência de preparo e a cobertura do solo. Sem
dúvida, é a técnica que, isoladamente, mais reduz a erosão hídrica como um todo,
em relação ao preparo convencional; no entanto, na maioria dos casos, reduz mais as
perdas de solo do que as de água. Está longe, portanto, de ser considerada um "sistema"
conservacionista, que, por definição, é resultante de um conjunto ordenado de operações
e ações, que, interligado, interage entre si, conserva o solo e a água e reduz as perdas a
valores núnimos aceitáveis. Isso sugere considerar-se imprópria a denominação da técnica
original (no-til! ou sem preparo) como um "sistema" SPD. Por oportuno, vale lembrar
que a expressão "plantio direto na palha" também é imprópria, visto que a presença de
palha está na origem na técnica, ou seja, se não tem palha não existe semeadura direta
ou plantio direto.

O PAPEL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MANEJO E NA


CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

De preende-se, do até aqui exposto, que é preciso refor~a1'. ~ con_ceito_ de agric~lt~ra


conservacionis ta p ermanente e com vistas a um futuro mfirnto, mclumdo a tecmca

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLII - Ü PAP EL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MANEJO E NA CON S ERVAÇÃ O . .. 1353

110- till (sem preparo do solo), impropriamente denominada de 5 D/ PD, mas também
ou lTas formas de preparo do solo e, até, po síveis combinaçõe o u al ternâncias entre elas.
No entanto, deve-se registrar também que ainda se sabe muito pouco ou quase nada sobre
este assunto no Brasil, representando importante lac una de conhecimento, com grande
potencial de ação investigativa na ciência do solo.
No início da década de 1970, por ocasião da intensificação da ocupação e do uso do
solo no Brasil, ocorreu certo encanto com a técnica SD/ PD por pa rte do agronegócio e
da ciência do solo, admitindo-se ser possível sua aplicação a todos os recan tos do Brasil;
concomjtan temente, esqueceu-se de pesquisar diferentes técnicas de preparo do solo, de
modo a se terem a lternativas à movimentação mecânica do solo. O Brasi l apresenta regiões
fisiográficas muito contrastantes, pressupondo-se que nem todas elas ou os eus solos
comportem a técnica de SD/PD.
Por exemplo, existem várias evidências de que a técnica SD/ PD reduz a q ualidade
física do solo na camada superficial, ou próxin10 a ela, por causa d o a umento da d ensidade
do solo e da resistência à penetração e à redução da porosid ade, com reflexo negati vo
sobre o desenvolvimento radicular, dinâmicas de água e ar e, possivelmente, rend imento
das culturas. A utilização eventual de práticas para descompactar s uperfic ialmente o
solo, como a escarificação, com retorno à utilização da SD/ PD, parece ser um tabu para
aficionados dessa técnica, como se ela, após iniciada, seja imutável.
É muito mais provável que diferentes técnicas de preparo do solo, isoladamen te, em
combinação ou em alternância, possam adequar-se melhor do que a técnica da 5D/ PD por
si só.
Apesar dessa lacuna, a gama de tecnologias conservadoras do solo q ue atualmente
se praticam e são apresentadas em detalhes neste livro permitiria pressupor um modus
opernndi diferente e favorável nas diversas formas de manejo e conse rvação do olo e da
água e, especialmente, na ampliação do uso da terra nas mais diversas fronte iras agrícolas
brasileiras, a exemplo da Região do Matopiba, ou ainda na implementação de p rogra mas
específicos como o Plano ABC - Agricultura de Baixo Carbono. t o entanto, exa ta men te
por falta de ações públicas adequadamente planejadas e executadas, não exis te q ualquer
evidência ou garantia de que isso venha a ocorrer de forma técnica e cientificamente mais
racional do que no início da década de 1970.
Conservar o solo é de responsabilidade de todos os cientistas de solo. Cabe-lhe
não ape nas desenvolver tecnologias ainda necessárias, mas, especialmente, fazer ver ao
u s u ário da terra, à sociedade em geral e, principalmente, aos governos federal, estadu al
e municipal que é incerto o futuro da conservação do solo e da água - e de tes recur os
em si - no Brasil, diante do" modelo" de agronegócio alicerçado basica mente na técn ica
SD/PD, que, por si só, não garante a solução do problema de erosão.
Os cientistas de solo são responsáveis por fazer com que a agricultura con ervacioni ra
promova o equilíbrio no tripé econômico/ ambiental/ social como fundamento para 0
verdadeiro desenvolvimento do Brasil. Cabe, enfim, à ciência do solo bra ileira defender
e criar diretrizes que viabilizem políticas de go ernança do solo compa ti ei com a real
situação e importância do solo brasileiro, face ao protagonismo d o Bra il no cenário
mundial de produção de alimentos, no presente e no futuro.
N esse aspecto, a inevitável atribuição dos cientistas do solo erá fazer \·er à o ied ade
em gera l e ao governo a existência e a importàn cia do solo como bem e encial à ida.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


1354
LUCIANO DA SILVA SOUZA ET AL

em 0 _sol~ 1~ã~ exi ~!r~o alimentos produzidos pelas plantas e animais; sem é-l S plantas n ão
havera ox~gern ~ su_t1c1ente para a respiração d e pratirnmente todos os seres vivos; sem o
sol~, que e o pnnc1pal regulador do !luxo de água no ecossistema, o próprio suprime nto
de ~gua_ na natureza estará comprometido, pois grande parte do ciclo hidrológico ocorre
no 1ntenor do mesmo.

, Hoje, qualquer pessoa, por mais simples que seja, sabe da importância de preservar
a agua.' as florestas e o ar; sabe dos eventos irregulares em relação ao clima (calor ou frio
excessivo, escassez ou excesso de chuvas causando catásh·ofes etc.). A população sabe e
sente como é ruim ficar sem água, sem ar puro e sem florestas para amenizar o calor,
especialmente depois da intensa divulgação das dificuldades oriundas dos problemas
de aba tecimento de água em grandes centros mbanos, especialmente em São Paulo. Foi
também muito divulgada a carência de água na Banagem de Sobradinho, no Rio São
Francisco, nas proxiinidades de Juazeiro, BA/Peh·olina, PE, com sérios prejuízos para
os agricultores irrigantes e toda a cadeia produtiva. A frequência com que estes temas
aparecem na grande mídia, principalmente na televisão, em noticiários e documentários,
conbibuiu para que a população em geral já esteja atenta a tudo isso.
Entretanto, as pessoas pouco ou nada sabem sobre o solo e sua importância e
essencialidade em relação aos fatos mencionados no parágrafo anterior, pois a núdia não
menciona nada sobre ele.
O Dia Nacional da Conservação do Solo no Brasil, comemorado em 15 de abril, em
homenagem à data de nascimento de Hugh Hammond Bennett, tem sido, ano a ano,
ignorado pela núdia, possivelmente por desconhecimento da sua existência. A mídia em
geral não tem qualquer sensibilidade ou conhecimento sobre a importância do solo e a
necessidade de divulgar isso para a população, conscientizando-a que o solo é um recurso
natural não renovável, como já abordado no início deste Capítulo.
Os cientistas do solo são em parte responsáveis por essa lacuna. É indispensável que
eles passem a empenhar-se na divulgação pela midia (escrita, falada, televisada e outras),
para a sociedade em geral e governo, da importância do solo de forma sistematizada e
contínua, reforçando isso em datas comemorativas relacionadas com a preservação do
meio ambiente ou dos recursos naturais.
Cabe aos cientistas do solo fazer ver à sociedade brasileira e ao poder público que
existe a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, congregando-os num esforço conjunto
de cwdar desse valiosíssimo patrimônio público que são os solos do Brasil. Tal condição
somente acontecerá com a intensificação da atuação dos cientistas do solo com a mídia,
sem o que os solos brasileiros nunca receberão sua merecida e justa importância.
Div ulgar, convencer e sensibilizar sobre a importância do solo para a vida não
será tarefa fácil. É preciso aproveitar as periódicas campanhas publicitásias relativas ao
aQ'Tonegócio
0
ou ao m eio ambiente, utilizando recursos financeiros públicos (Ministérios da
A gricultura, Pecuária e Abastecimento, do Meio Ambiente, do Desenvolvim_ento Social e
Agrário, da Indús tria e Comércio e outros), e que sempre esquecemº. ~olo. E preciso que
a SBCS e os cie ntis tas de solo acoplem-se a essas campanhas para utili zar estes recursos
p ara sensibilizar a população em geral quanto à importância e essencialidade do solo para
a vida e à necessidade de s ua conservação e preservação.
É ju sto e necessário reconhe~er que, n~sse sentido, instituiçõ:s de ensino, pesquisa
e exte nsão, e a própria SBCS, tem-se dedicado ao terna educaçao em solos, atuando

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XLII - Ü PAPEL DA CIÊNCIA DO SOLO NO MAN EJO E NA CONSERVAÇÃO .. . 1355

principalmente pa ra se nsibiliza r jovens do meio urba no e d o rural quanto d im po rtà nci,1


do solo e d e s ua prese r vação. O alca nce geográfico aind a pode ser considerado peq ue no.
te ndo muito a avançar.

LITERATURA CITADA

Bennett HH. Soil conservation. New York: McGraw-Hill; 1939.


Diamond J. Colapso; como as sociedades escolhe m o fracasso ou o sucesso. Rio d Janeiro: Record;
2005.
Ellison WD. Soil erosion s tudies. Agric Eng. 1947;28:145-147, 197-201, 2-15-2-18, 297-300, 9-33l, 333,
402-405, 408, 442-444, 450.
Faulkner EH. Plowman's foll y. Oklahoma: University of Oklahoma; 19-13.
Hatfield A. The father of " no-till". [acesso on: 01 Oct. 2016]. Available a t: http:/ /www.lib.niu.
edu/2000/ihy000221 .html.
Koh.nke H . Soil physics. New Delhi: Tata McGraw-Hill; 1968.
Sachs 1. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Gara mond; 20l>t.
Wischmeier WH, Smith DO. Predicting rainfall erosion tosses: a gu ide to conservation plannin
Washington, D.C.: Department of Agriculture; 1978. (USDA. Agriculture Handbook, 531 .

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Você também pode gostar