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C.1.1.1.

: As atividades económicas em Portugal no século XIII

As atividades económicas

A partir de meados do século XIII, com o fim das lutas contra os Mouros, teve

início um longo período de paz em Portugal durante o qual se puderam desenvolver as

atividades económicas, aproveitando os recursos naturais do país.

As atividades económicas são as atividades desenvolvidas pelos homens para obter

os bens necessários à sua vida diária.

Os recursos naturais são as riquezas existentes na Natureza que os homens

aproveitam para satisfazer as suas necessidades.

O aproveitamento das terras

Nesta época, como quase toda a população portuguesa vivia no campo, as atividades

económicas mais praticadas estavam ligadas ao aproveitamento das terras. De todas

estas atividades, a agricultura destacava-se como a mais importante, por ser a principal

fonte de sustento da população.

Os terrenos cultivados, pouco numerosos e mal trabalhados, produziam pouco,

sendo frequentes as faltas de cereais. Esta situação agravava-se nos anos de grandes

secas ou de chuvas intensas, dando então origem a fomes, geralmente acompanhadas de

epidemias.

Os prados e as florestas, por seu lado, proporcionavam a prática da pastorícia, da

criação de gado e da exploração florestal.

O aproveitamento do mar

Ao longo da extensa costa portuguesa, os habitantes das povoações do litoral

puderam igualmente dedicar-se à pesca e à salicultura.

A produção artesanal

Eram os habitantes das várias aldeias do país que faziam o seu próprio vestuário e

calçado, bem como os variados objetos e utensílios de que necessitavam para o seu dia-a-

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dia. Nas cidades e vilas, a produção artesanal era realizada manualmente com ferramentas

simples em oficinas próprias por trabalhadores especializados, os artesãos dos diferentes

ofícios (alfaiates, sapateiros, pedreiros, ferreiros, oleiros, carpinteiros, entre outros).

O comércio

O comércio fazia-se principalmente nas cidades e vilas, mais concretamente, nos

mercados e feiras que aí tinham lugar. Os mercados realizavam-se em determinados dias

da semana e permitiam o escoamento dos produtos locais. As feiras realizavam-se uma ou

mais vezes por ano e duravam vários dias atraindo os habitantes das regiões vizinhas e

dando uma grande animação às povoações.

Interessados em desenvolver o comércio interno, ou seja, o comércio que se faz

dentro de um país, os reis criaram muitas feiras, concedendo às povoações em que se

realizariam as respetivas cartas de feira. As cartas de feira eram documentos que

criavam e regulamentavam as feiras.

Para atraírem moradores para regiões mais despovoadas, alguns reis, como D.

Afonso III e D. Dinis, criaram feiras francas, isto é, feiras em que os vendedores não

pagavam qualquer imposto.

Para o desenvolvimento do comércio interno contribuíram também os almocreves,

os vendedores ambulantes que se deslocavam de terra em terra. Dada a sua atividade,

eram também eles quem divulgava as notícias pelos vários sítios por onde passavam.

O comércio externo

Portugal mantinha relações comerciais com o estrangeiro, exportando vinho,

azeite, frutos secos, peles, peixe seco, sal, mel e cera e importando cereais, especiarias,

metais, armas, tecidos finos e objetos de adorno,

Como estas trocas comerciais se faziam exclusivamente por via marítima, o

comércio externo, ou seja, o comércio que um país faz com outros países, era feito nas

principais cidades do litoral, concentrando-se principalmente em Lisboa.

Situadas a meio caminho das rotas comerciais que ligavam o norte e o sul da

Europa, estas cidades portuárias cresceram e a prosperaram graças ao comércio externo.

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C.1.2.1.: A sociedade portuguesa no século XIII

Os grupos sociais

A população portuguesa, no século XIII, dividia-se em três grupos sociais distintos,

de acordo com as tarefas que desempenhavam e a riqueza que possuíam. Esses grupos

sociais eram o Clero, a Nobreza e o Povo.

O Clero

O Clero era formado por todos aqueles que se dedicavam à vida religiosa e tinha

como principal função rezar pela proteção e salvação de todos.

O Clero dividia-se em clero secular, formado, nomeadamente, pelos padres, bispos

e cardeais, que viviam junto das populações, nas cidades, vilas e aldeias; e em clero regular,

formado pelos monges, frades e freiras, que viviam fora das povoações, em mosteiros e

conventos.

Os membros do clero regular estavam organizados em ordens religiosas. As ordens

religiosas eram comunidades de monges que viviam de acordo com regras próprias aceites

por todos. Algumas destas ordens religiosas, as ordens religiosas militares, eram formadas

por monges-guerreiros e ajudaram os reis na sua luta contra os Mouros.

A Nobreza

A Nobreza era formada pelos cavaleiros, e respetivas famílias, que prestavam

ajuda militar aos reis e tinha como principal função combater.

O Povo

O Povo era formado pelo resto da população, que se dedicava às diferentes

atividades económicas, e tinha como principal função trabalhar para o sustento da

sociedade.

Privilégios e obrigações

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Apesar de constituírem apenas 10% da população portuguesa, o Clero e a Nobreza

eram dois grupos sociais privilegiados, pois só eles é que tinham direitos e poderes que o

resto da população não tinha, como, por exemplo, possuir muitas terras, não pagar

impostos ao rei, receber impostos do povo e aplicar a justiça nas suas terras.

Dada a sua importância e prestígio, era também entre estes dois grupos sociais que

os reis escolhiam os seus conselheiros e os altos funcionários do reino.

Pelo contrário, o Povo, constituindo 90% da população, era um grupo social não

privilegiado, pois não tinha quaisquer direitos e estava sujeito a muitas obrigações, tais

como, trabalhar nas terras do rei, da Nobreza e do Clero, pagar muitos impostos, e

prestar serviços aos donos das terras onde viviam.

Uma pessoa do povo muito dificilmente conseguia vir a fazer parte da Nobreza e só

algumas conseguiam entrar para o Clero.

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C.1.2.2.: A vida nos senhorios nobres no século XIII

A distribuição das terras conquistadas

À medida que iam conquistando terras aos Mouros, os reis reservavam para si uma

parte delas e davam as restantes aos cavaleiros nobres e às Ordens Religiosas Militares

que lhes tinham prestado ajuda militar, com a obrigação de as povoarem, cultivarem e

defenderem.

As Ordens Religiosas não militares também receberam terras do rei, ficando

obrigadas apenas a povoá-las e a cultivá-las.

Estas terras dadas pelo rei à Nobreza e ao Clero ficaram conhecidas por senhorios

ou domínios senhoriais.

Todas estas terras eram cultivadas por camponeses em troca de proteção.

Os senhorios nobres

Os senhorios nobres estavam divididos em duas partes: a reserva e os mansos.

A reserva era a parte do senhorio aproveitada diretamente pelo senhor nobre e

onde, para além da casa senhorial e da igreja, se localizavam as melhores terras, bem

como o moinho, o forno e o lagar, que os camponeses podiam utilizar mediante pagamento.

Os mansos eram as parcelas de terra que os camponeses podiam cultivar para si

em troca de uma renda.

A casa senhorial

A casa senhorial era habitualmente uma torre fortificada, protegida por uma

muralha, situada na parte mais elevada do senhorio. O seu interior era frio e

desconfortável.

A divisão mais importante era o salão, onde o senhor recebia os visitantes e se

serviam as refeições.

Os móveis eram poucos, reduzindo-se a camas, a algumas cadeiras e a arcas, onde

tudo se guardava.

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À noite, a iluminação era conseguida com a luz da lareira, de tochas nas paredes e

de velas de cera.

A vida da Nobreza

Os filhos dos nobres eram educados desde crianças para serem cavaleiros. Após

aprenderem a manejar bem todo o tipo de armas e a manobrar o cavalo nas mais diversas

situações, os jovens da nobreza eram armados cavaleiros numa cerimónia pública – a

investidura - a partir da qual se considerava que estavam aptos para combater.

Em tempos de paz, os nobres administravam os seus domínios e praticavam

atividades que os preparavam para a guerra, como caçadas e torneios.

Os torneios eram combates simulados entre cavaleiros para se apurar um campeão.

A alimentação dos nobres era mais rica e variada que a dos camponeses, sendo

abundante à sua mesa o pão, as carnes, o queijo e o vinho e muito raros os doces.

Os seus banquetes eram feitos em longas mesas formadas por uma tábua assente

em cavaletes e ladeadas por bancos corridos. Em vez de pratos, usavam grandes fatias de

pão onde colocavam a comida que retiravam das travessas servidas pelos criados. Como o

garfo era um talher ainda desconhecido, comiam com os dedos. A colher era pouco utilizada

e cada um servia-se da sua própria faca.

Os serões eram frequentemente ocupados com bailes, jogos de salão - como os

dados e o xadrez - e a atuação de saltimbancos, jograis e trovadores.

A vida dos camponeses

A vida dos camponeses era muito dura, pois trabalhavam gratuitamente, de sol a

sol, nas terras dos seus senhores vários dias por semana; tinham de pagar-lhes uma renda

para cultivar as terras de que viviam, bem como pela utilização do moinho, do forno e do

lagar; e ainda tinham de prestar-lhes vários serviços. Se um camponês não cumprisse com

as suas obrigações era julgado e castigado pelo seu senhor.

As casas dos camponeses eram cabanas de pedra ou de madeira, partilhadas por

pessoas e animais, cobertas de colmo e com uma única divisão, de chão de terra batida,

onde se dormia sobre esteiras de palha.

A alimentação dos camponeses era muito pobre, limitando-se a produtos hortícolas,

a algum toucinho e, à falta de pão, a castanha, sendo raro o consumo de carne. Os maus

anos agrícolas traziam-lhes inevitavelmente a fome e, para muitos deles, a própria morte.

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Os momentos de descanso e distração dos camponeses eram os dias santos - em

que, depois das missas, dançavam e cantavam - e a ida às feiras da região, quando se

realizavam.

C.1.2.3.: A vida nos mosteiros no século XIII

As dependências dos mosteiros

No século XIII, todos os que quisessem seguir a vida religiosa tornavam-se

monges e passavam a viver num mosteiro.

Os mosteiros eram grandes edifícios que estavam divididos em várias

dependências, sendo a igreja a mais importante de todas. Para além desta, existiam a sala

do capítulo, o salão onde os monges se reuniam com o seu superior - o abade - para

discutir questões sobre o dia a dia do mosteiro; o claustro, um conjunto de quatro

corredores formando um quadrilátero à volta de um jardim interior; o refeitório; o

dormitório; a biblioteca; a enfermaria e a albergaria, para além das cozinhas e das

despensas.

A vida dos monges

Os monges de cada ordem religiosa usavam um traje – o hábito – que era igual para

todos e tinham um corte de cabelo característico. Nos mosteiros, seguiam um horário

muito rígido, com horas para se levantarem, comerem, rezarem, realizarem as mais

variadas atividades e se deitarem. Nos seus tempos livres, conviviam entre si, nos claustros

e jardins interiores, ou dedicavam-se à meditação e ao canto religioso.

As atividades desenvolvidas nos mosteiros

Para além de se dedicarem à oração e ao trabalho nos campos, ao lado dos

camponeses que trabalhavam nas terras do mosteiro, os monges desenvolviam também

atividades de assistência ao próximo, como recolher e educar crianças abandonadas;

prestar ajuda aos mais necessitados - viúvas, órfãos e mendigos; tratar os doentes nas

enfermarias dos mosteiros, com remédios que preparavam a partir de plantas medicinais; e

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proporcionar descanso, alimento e abrigo a viajantes e peregrinos nas albergarias dos

mosteiros.

Os peregrinos eram pessoas que faziam longas viagens a pé a santuários para

cumprir promessas ou rezar junto das relíquias de santos. Viajavam frequentemente em

grupo para se protegerem dos salteadores.

Como pertenciam ao grupo social mais culto da época, eram também os monges

quem ensinava a ler e a escrever os futuros monges ou os filhos das famílias mais ricas

nos espaços dos mosteiros que serviam de escola.

Nas bibliotecas dos mosteiros, alguns deles - os monges copistas – faziam novos

livros, copiando à mão os poucos que existiam e decorando algumas letras com belos

desenhos - as iluminuras.

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C.1.2.4.: Os concelhos no século XIII

Concelhos e cartas de foral

Os concelhos eram povoações cujos habitantes tinham recebido uma carta de

foral.

As cartas de foral eram documentos que criavam um concelho e estabeleciam os

direitos e as obrigações dos seus moradores.

A criação da maior parte dos concelhos foi da iniciativa dos reis e tinha como

objetivos atrair populações para regiões mais despovoadas e fazer o aproveitamento das

respetivas terras.

Os moradores dos concelhos - os vizinhos - eram livres e beneficiavam de alguns

direitos que os camponeses dos domínios senhoriais não tinham. Alguns deles – os homens-

bons – eram donos de terras e tinham enriquecido, tendo adquirido respeito e influência

junto de todos os outros.

Os vizinhos também pagavam impostos a quem lhes tinha concedido a carta de

foral, mas só aqueles que nela estavam fixados e que, por isso, nunca podiam aumentar

com o passar do tempo.

Os direitos dos moradores dos concelhos eram o de se poderem de governar a si

próprios, através de uma “assembleia de homens-bons”, e o de poderem aplicar a justiça,

através de juízes por si escolhidos entre os homens-bons do concelho.

Dada a importância da aplicação da justiça naquela época, o pelourinho tornou-se

no símbolo da autonomia de cada concelho, erguendo-se no centro da praça da povoação e

diante da casa onde se reuniam os homens-bons que governavam o concelho. Os pelourinhos

eram colunas de pedra onde se expunham e castigavam aqueles que tinham sido condenados

por terem praticado crimes.

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C.1.2.5.: A Corte e as Cortes

A Corte

O rei era o mais importante de todos os nobres e a extensão das suas terras,

espalhadas por todo o país, era muito maior do que as de qualquer outro senhor. Por

vezes, acompanhados pela sua Corte, os reis passavam partes do ano nas terras que

possuíam para aí ouvir as queixas das populações e resolver os seus problemas.

A Corte era o conjunto de pessoas (familiares, conselheiros, altos funcionários e

nobres mais importantes) que viviam com o rei e o acompanhavam nas suas deslocações pelo

país. Corte era também o nome da residência do rei.

Os poderes dos reis

Como autoridade máxima de um país, os reis tinham o poder de fazer as leis,

governar o reino, aplicar a justiça, chefiar os exércitos, decidir da paz e da guerra e

cunhar moeda.

As Cortes

Quando os reis tinham de tomar decisões muito importantes para a vida do país, e

para as quais a opinião dos seus conselheiros não era suficiente, reuniam as Cortes para

ouvir a opinião dos seus membros.

As Cortes eram assembleias de representantes dos três grupos sociais (Clero,

Nobreza e Povo) que se pronunciavam sobre assuntos importantes para a vida do país.

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