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TC Ewerson - Versão Final - Necropolítica E O Controle Do Estado Sobre Corpos Elimináveis Uma Abordagem A Partir de Foucault, Agamben E Mbembe
TC Ewerson - Versão Final - Necropolítica E O Controle Do Estado Sobre Corpos Elimináveis Uma Abordagem A Partir de Foucault, Agamben E Mbembe
POUSO ALEGRE
2022
EWERSON RIBEIRO BRANDINA
FDSM – MG
2022
RESUMO
Biopoder, Necropolítica e Vida Nua são conceitos muito importantes com implicações
consideráveis para estudar características políticas do mundo. O erigir quanto a distinção entre
humanos e não humanos, “vidas matáveis” e “vidas vivíveis”, é colocada no centro do debate
da contemporaneidade. O que parece ser mera diferenciação biológica se manifesta como uma
imensurável luta política com graves consequências: é a produção da vida tratando-a com
extrema subjetividade através de um conceito político centrado na produção em massa da morte,
uma crise do capitalismo, o poder exercido pelo Estado nos corpos de determinados indivíduos.
Com o apoio dos filósofos Michel Foucault, Giorgio Agamben e Achille Mbembe, o objetivo
deste trabalho é definir e articular a natureza humana como um campo contestado, que
demonstra a fragilidade do tecido político das democracias. Por fim, apresentará brevemente os
argumentos políticos de Agamben sobre direitos humanos, importantes para a compreensão de
acontecimentos recentes na política brasileira e internacional, apresentando exemplos
relevantes para a melhor compreensão do tema.
CONCLUSÃO................................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 43
INTRODUÇÃO
Quanto a produção do “opositor”, sendo este o ator que recebe todo o fardo da
“ineficiência” do sistema, classe social e etnia entrelaçam-se, produzindo espaços onde habitam
aquelas massas consideradas perigosas, caracterizadas como ameaçadoras para a democracia
neoliberal. Desta forma, fica evidente o fato de que o Estado tente autorizar operações de
exceção, em resposta ao medo gerado pelos “inimigos”, causando intervenções contínuas nos
territórios e nos corpos colonizados, sendo estes explicados mais a frente neste presente
trabalho.
Grande parte dos territórios habitados por negros, favelas e periferias das grandes
cidades, são os enfoques das engrenagens estatais que visam levar pessoas à morte. No Brasil
contemporâneo, as favelas – “campos” – não são puramente resultado de um funcionamento
errôneo do Estado, mas sim a evidência de um projeto, proposital, necropolítico.
Desta forma, pode-se expor a análise explicativa de alguns fenômenos de violência, dos
quais a subjugação da vida é a regra, conforme o filósofo Achille Mbembe. Este inicia tal
discussão trazendo as ideias de biopoder do filósofo Michel Foucault, onde este inicia uma
discussão afirmando que é insuficiente, tal conceito, para entender as formas de submissão da
vida de pessoas marcadas a morte.
O segundo capítulo irá trazer, quanto ao filósofo Achille Mbembe, a construção de sua
filosofia, o que se baseia em leituras de Frantz Fanon e o notório Michel Foucault, regressando
à plantation (plantação) nos trechos contidos em sua obra Necropolítica, experimentando neste
momento e época o primeiro, e importantíssimo, experimento notório de biopolítica na
modernidade.
8
A fim de buscar mais subsídios teóricos para a análise atual, discutem-se alguns
conceitos propostos pelo filósofo Giorgio Agamben, como o Homo Sacer e a “Vida Nua”, que
se inter-relacionam e complementam-se na ideia de necropolítica.
9
1. MICHEL FOUCAULT: PENSAMENTOS E ANALISES SOBRE RACISMO E
BIOPOLÍTICA
Dessa forma, os conceitos de vida e morte transcendem seu significado como meros
fenômenos naturais e são retirados da esfera do poder político. Nesse caso, o sujeito é um
elemento sem importância, neutro, por assim dizer, que irá viver ou morrer conforme a vontade
de seu governante. Não obstante, tal relação não é equilibrada, e o agir de tal poder soberano
sobre a vida de um indivíduo é exercida apenas no momento em que o soberano pode matar1.
É apenas por esta razão que o monarca exerce o direito à vida, portanto, "deixar viver" em vez
de "fazer viver".
Em 1975, Foucault propôs em sua última aula no Collège de France que, como uma das
maiores revoluções do direito político do século XIX, os antigos direitos soberanos fossem
complementados pelos novos: "fazer viver" e "deixar morrer", sem extinguir ou negar direitos
soberanos anteriores. Isto pois, a segunda metade do século XVIII, surgiu outra técnica,
distinguindo-se da disciplina, mas não a suprimindo, pois além de ser de outro nível era
auxiliada por uma técnica diferente: o mecanismo de intervenção biopolítica tornou-se a base
do governo do estado da época, apresentando-se como componente e parte suplementar da
primeira técnica2.
1
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 202.
2
Op. cit. p. 203.
3
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: A vontade de saber. 10ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988,
p. 133.
10
mudou, e os antigos direitos de "fazer morrer" ou "deixar viver" foram ampliados para produzir
o resultado oposto.
A partir desse pensamento, Foucault (2002, p. 303) percebeu que para preservar a
qualidade de vida da população era necessário garantir a sua segurança em relação aos
seus próprios perigos internos e mais do que deixar morrer era preciso “fazer viver”
(2002, p. 294). Para tanto, a biopolítica exigiu a implantação de uma série de
mecanismos voltados ao melhoramento da população. Foram estipuladas políticas de
saúde, normas de higiene pública, sistemas de previdência, educação, cuidados com
as crianças, intervenções nas famílias por médicos, psicólogos, educadores,
assistentes sociais, polícia, entre outras, a fim de tentar controlar todos os aspectos da
vida para se aproximar de um equilíbrio global, de um padrão, da homeóstase.
(FOUCAULT, 2002, p.293)4
4
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019.p. 280.
5
Op. cit.
11
nascimento e de morbidade. É também por meio dessa ciência que se consolida o conceito de
loucura, doença ou crime6.
Da mesma forma, a velhice parece ser um tema relevante na biopolítica: para enfrentar
esse 'problema', foram criadas instituições, não apenas agências de ajuda que já existem há
algum tempo, mas também mecanismos de segurança, poupança individual e coletiva7.
O norte da biopolítica quanto ao aumento da vida entende-se como se fosse, mas não o
é, para o bem-estar das pessoas: a verdade é que a tecnologia garante e protege a vida dos
indivíduos enquanto escolhe, subgrupos e subtipos, a preservação de vidas valiosas.
Como um poder como este pode matar, se é verdade que se trata essencialmente de
aumentar a vida, de prolongar sua duração, de multiplicar suas possibilidades, de
desviar seus acidentes, ou então compensar suas deficiências? Como, nessas
condições, é possível, para um poder político, matar, reclamar a morte, expor à morte
não só dos seus inimigos, mas mesmo seus próprios cidadãos? Como esse poder que
tem essencialmente o objetivo de fazer viver pode deixar morrer? Como exerce o
poder da morte, como exercer a função da morte, num sistema político centrado no
biopoder?9
6
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 27ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2009, p. 151.
7
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 205.
8
Op. cit. p. 207.
9
Op. cit. p. 214.
10
Op. cit. p. 214.
12
As distinções e hierarquias raciais são formas de dividir a biologia, de separar e subjugar
alguns grupos em contrapartida a outros. De fato, uma população pode ser vista como a mescla
de diferentes raças, com hierarquias diferentes, conforme a subdivisão da espécie humana.
Quer dizer, ao falar em raça, Foucault não se limita ao aspecto biológico, estritamente
racial. Pelo contrário, ele entende “raça” de uma maneira abrangente, no sentido de
grupos sociais distintos. É em razão de uma diferença social (política, cultural,
econômica), que se permitiu a inserção do racismo como mecanismo fundamental de
poder. Ainda que os indivíduos pertençam à mesma raça, existe a sensação de
superioridade de uns em relação aos outros por motivos também de origem social e
não apenas biológica.11
O racismo tem um papel baseada em uma relação guerreira com o inimigo, “se você
quer viver, o outro lado deve morrer”, ideia que coaduna com a descrição de biopoder12. Doutra
perspectiva, condiciona uma relação que penetra no meio militar ou guerreira: as biológicas que
ganham benefícios gerais com a morte de raças inferiores, eliminando aqueles indivíduos
"anômalos". Eliminar os "indignos" tornará a vida mais saudável e pura13. A morte tem
permissão no esquema biopolítico enquanto se torna e é uma ferramenta para eliminar os riscos
biológicos com o intuito de fortalecer a população em geral.
[...] A especificidade do racismo moderno, o que faz sua especificidade, não está
ligado a mentalidades, a ideologias, a mentiras do poder. Está ligado a isto que nos
coloca, longe da guerra das raças e dessa inteligibilidade da história, num mecanismo
11
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019.p. 282.
12
Op. cit. p. 215.
13
Op. cit. p. 215.
14
Op. cit. p. 282.
15
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 216.
13
que permite ao biopoder exercer-se. Portanto, o racismo é ligado ao funcionamento
de um Estado que é obrigado a utilizar a raça, a eliminação das raças e a purificação
da raça para exercer seu poder soberano. A justaposição, ou melhor, o funcionamento,
através do biopoder, do velho poder soberano do direito de morte implica o
funcionamento, a introdução e a ativação do racismo. E aí, creio eu, que efetivamente
ele se enraíza.16
Cabe destacar o fato exemplificativo demonstrado por Michel Foucault não é o racismo
racial, mas o racismo evolutivo, que isola do meio social os doentes mentais e aqueles vistos
como adversários políticos. Esse racismo leva à morte: no entanto, a morte não é causada pela
força, característica do ato de soberania, mas como forma de fortalecer a vida e a raça da
população. Esse racismo baseia-se na ideia de que para viver ou aumentar a vida, a morte deve
ser intervencionada para colocar o indivíduo abaixo dela.17
Cabe destacar que o tipo de controle utilizado no século XVII e início do século XVIII
baseava-se no poder disciplinar, como mencionado anteriormente, utilizando instituições
(escolas, hospitais, quartéis, fábricas) para realizar essa vigilância de forma limitada. À medida
que o foco se tornou mais abrangente quanto se aproximava o fim do sec. XVIII, foi necessário
reger por meio de mecanismos de controle mais requintado.
Foucault sabiamente as traz a luz definindo-as em duas séries distintas: a série "corpo -
organismo - disciplina - instituição" e a série "população - processos biológicos - mecanismos
16
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 217.
17
Op. cit. p. 216.
18
Op. cit. p. 213.
19
FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população: curso dado no Collège de France (1977- 1978). São
Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 26.
14
reguladores - Estado"20. Assim, neste segundo momento, fica evidente a importância primordial
do Estado na biorregulamentação.
De fato, o racismo é o principal culpado por causar guerras contra seus próprios
cidadãos. Segundo os filósofos, isso tem duas intenções: destruir o oponente, destruir a raça
hostil; regenerar a própria raça, levá-la à beira da morte. O problema do crime entra nesse
contexto: nos mecanismos de biopoder, os criminosos são presos, colocados em quarentena ou
sentenciados à morte. O mesmo vale para os chamados lunáticos ou doentes.21
Foucault conclui o curso22 com uma breve introdução ao caso do regime nazista. Para
ele, nenhuma sociedade era mais disciplinada e regulada do que a imposta pelos nazistas. É
uma sociedade geralmente segura, regulada e disciplinada na qual se exerce o pleno poder do
soberano, o poder de matar. Tais poderes de estados e indivíduos coletivamente, por exemplo,
por meio de grupos considerados paramilitares e milícias.
Nesse lugar, todos têm direitos de vida ou morte sobre seus vizinhos. Como resultado,
toda a sociedade está liberando aura assassina.
Complementa sabidamente:
20
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 213.
21
FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população: curso dado no Collège de France (1977- 1978). São
Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 217.
22
Collège de France (1975 – 1976).
15
raças que tiverem sido totalmente exterminadas ou que serão definitivamente
sujeitadas.23
O filósofo italiano desenvolveu suas próprias ideias após destilar seus conceitos em
pesquisas de diversos autores como Karl Schmidt, Hannah Arendt, Walter Benjamin e,
obviamente, Michel Foucault, compreendendo que a biopolítica se descreve e organiza-se como
um meridiano de toda a política do ocidente25. Ele também acredita que o ápice das figuras
biopolíticas são os regimes extremamente totalitários iniciados no XX, com grande ênfase ao
nazismo.
Agamben propôs pela primeira vez a relação contraditória entre tomadas de decisões
excepcionais e direito em sua obra, Estado de Exceção: este é determinado como uma forma
legalizada que não pode ser uma forma legal. As exceções são incluídas suspendendo os direitos
enquanto estiverem associados a eles. Uma das razões de sua dificuldade de definição é sua
estreita relação com guerras civis, revoltas e resistências26.
23
FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população: curso dado no Collège de France (1977- 1978). São
Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 219.
24
Op. cit. p. 219
25
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o Poder Soberano e Vida Nua. Tradução de Henrique Burigo. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2002, p. 15-16.
26
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 15
16
Como exemplo, o filósofo cita o momento após a chegada de Hitler ao poder, quando
emitiu um decreto para proteger o povo e o país. O referido documento nunca foi revogado: o
Terceiro Reich poderia, portanto, ser considerado um Estado de Exceção dentro da lei27.
A necessidade, vista sob esse prisma, não é fonte da lei, nem a suspende; limita-se a
retirar a aplicação literal da norma de um caso particular: "Quando necessário, quem age além
do texto da lei, não julga a lei, mas em circunstâncias particulares ele acredita que a lei não
deve ser obedecida”31.
27
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 13.
28
Op. cit. p. 15.
29
Op. cit. p. 15.
30
Op. cit. p. 40.
31
Op. cit. p. 41.
32
Op. cit. p. 44.
17
O Status Necessitatis se demonstra como "uma área de ambiguidade e incerteza em que
os modus operandi de fato - eles próprios extra ou anti-judiciais - são transformados em direito,
e as normas jurídicas são indeterminadas em mero ato fatídico; portanto, este é um limiar onde
fato e lei parecem que se tornam impossíveis de discernir”33.
Portanto, seu conceito é subjetivo em relação ao que deve ser alcançado. Assim, as
tentativas de resolver o “Estado de Exceção” no “Estado de Necessidade” encontram muitas
dificuldades relacionadas ao fenômeno que se propõe a explicar: “não só a necessidade se reduz,
em última instância, a uma decisão, como também aquilo sobre o que ela decide é, na verdade,
algo indecidível de fato e de direito”34
A teoria que descreve o Estado de Exceção não tende a ser de forma alguma o legado
exclusivo dos antidemocratas. O autor prossegue dizendo que o totalitarismo contemporâneo,
baseando-se e justificado em uma guerra civil legítima, autoriza a eliminação física de inimigos
políticos e classes de cidadãos que não se enquadram nas aspirações do atual sistema político.
Agamben destacou que “o estabelecimento voluntário de um estado de emergência
permanente” é uma das práticas básicas dos estados da contemporaneidade.
33
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 45.
34
Op. cit. p. 47.
35
Op. cit. p. 13.
18
exemplo claro é a ordem militar dos EUA emitida em novembro de 2001, permitindo a chamada
detenção infinita de não-cidadãos suspeitos de ligações terroristas.
Os talibãs, exemplo deste ponto, presos no Afeganistão não são considerados réus sob
a lei dos EUA, além de não usufruírem do status de prisioneiros de guerra sob as Convenções
de Genebra. Nem prisioneiro de guerra, tampouco acusado, encontravam-se em um nítido
estado de incerteza. Essa ordem anula a humanidade dessas pessoas, deixando-as em uma
posição indeterminada de tempo e natureza.36
Por isto, “o campo é o espaço que se abre quando o estado de exceção começa a se tornar
regra”40. Como tal, configura-se como “um território ausente do ordenamento jurídico normal,
mas, portanto, não meramente um espaço externo”41. Nele, a lei está suspensa em constante
Estado de Exceção e, como coloca Hannah Arendt, “tudo é possível”. Uma pessoa na condição
de morador rural é privada de qualquer humanidade e direitos42.
36
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 14.
37
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015, p. 41.
38
Op. cit. p. 42.
39
Op. cit.
40
Op. cit.
41
Op. cit. p. 43.
42
Op. cit. p. 44.
19
O filósofo italiano referiu-se ao conceito de biopolítica de Michel Foucault, dizendo que
o campo “é também o espaço biopolítico mais absoluto já criado, no qual o poder é confrontado
apenas pela vida biológica pura, sem intermediários”43.
Será um campo tanto o estádio de Bari, no qual, em 1991, a polícia italiana amontoou
provisoriamente os imigrados clandestinos albaneses antes de devolvê-los a seu país,
quanto o velódromo de inverno no qual autoridades de Vichy recolheram os judeus
antes de entregá-los aos alemães; tanto o campo de refugiados na fronteira com a
Espanha (...), quanto as zones d’attente nos aeroportos internacionais franceses, nas
quais foram mantidos os estrangeiros que pedem o reconhecimento do estatuto de
refugiado.44
43
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015, p. 44.
44
Op. cit. p. 45.
45
Op. cit. p. 99.
46
Op. cit. p. 100.
20
que opera diretamente sobre o povo. Formam-se duas vertentes notórias quanto a manutenção
do sistema: de um lado, a politização é eficientemente orquestrada; por outro, o
desconhecimento e ignorância política de determinados sujeitos, indivíduos, é fortificada.
A força policial tem autoridade para então usar tudo o que o Estado precisa para atingir
seus objetivos primários. Em outras palavras, pode usar todas as ferramentas necessárias para
adaptar as atividades dos indivíduos à estrutura do Estado e, assim, ser efetivamente útil ao
Estado49.
Usando como desculpa o crescimento da violência no mundo, o estado atual molda seu
modelo de trabalho governamental por meio de seus poderes punitivos e genocidas, fazendo
cumprir regras que geralmente não respeitam as salvaguardas individuais e os direitos
fundamentais.
47
FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população: curso dado no Collège de France (1977- 1978). São
Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 431.
48
Op. cit. p. 433.
49
Op. cit. p. 437.
50
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 13.
21
2. A NECROPOLÍTICA E OS CORPOS DEFINIDOS PARA A MORTE
"O racismo vai se desenvolver primo com a colonização, ou seja, com o genocídio
colonizador"51: Foi assim que Foucault se referiu à escravidão no estado moderno em sua obra
"Em Defesa Da Sociedade", sem descrição detalhada. Partindo desta questão, o trabalho propõe
o conceito de Necropolítica do sociólogo camaronês Achille Mbembe, que ampliaria o conceito
de poder estatal por outro prisma.
51
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 216
52
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: Editora N-1, 2018, p. 27
53
Op. cit.
54
Op. cit. p. 29.
55
Op. cit. p. 30.
56
Op. cit. p. 31.
57
Op. cit. p. 32.
58
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. 1ª ed. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1978, p.18.
22
estreita e parcial, em suma, sordidamente racista”59. O Estado, modelo de unidade política,
moral, foi concebido como a única organização possível que funcionaria para "civilizar" os
indivíduos que atribuem razão e objetivos específicos aos atos de matar.
Então as colônias são como fronteiras e os estados não reconhecem nenhum poder além
do seu porque são habitados por seres desumanos que são considerados "selvagens". Assim,
aos olhos dos colonos, o acordo de paz era impossível: "A colônia é um excelente local onde
pode ser suspenso o controle e a segurança da ordem judicial - área onde se localiza a violência
do estado excepcional para servir a 'civilização'"60.
Ora, as colônias foram configuradas para que não houvesse espaço para a lei porque
havia a negação de quaisquer laços raciais comuns entre os colonos e os nativos. Aos olhos dos
conquistadores, os nativos eram apenas mais uma modelo de "vida animal", desumana,
incompreensível61. Então, naquele ambiente, o monarca poderia exercer o poder de matar. A
soberania contem em suas entranhas ações violentas que colocam os colonizados na zona entre
sujeitos e objetos.
Essas violências não só existiam como eram permitidas em tempos distantes. Mbembe
apresenta o primeiro exemplo de apartheid na África do Sul, que durou até 1994. A região é
uma forma de controle estrutural: desde restrições rígidas aos negros aos mercados em áreas
brancas, controles sobre a circulação de seres humanos, até o não consentimento,
consequentemente, a não cidadania aos africanos. Assim, a cidade colonizada nada mais era do
que uma "aldeia agachada", uma "cidade ajoelhada"62.
59
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. 1ª ed. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1978, p.18.
60
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: Editora N-1, 2018, p. 35.
61
Op. cit. p. 35.
62
Op. cit. p. 41.
63
MBEMBE, Achille. As sociedades contemporâneas sonham com o apartheid. Revista Mutamba: Sociedade,
Cultura e Lazer, 2014, p. 6.
23
arbitrariedades desumanas e fundadas em vias cruéis. Refere-se ao poder que prescreve o status
político de um ser humano com direitos e garantias e outro sem tais benefícios.
É sob essa luz que o filósofo reflete sobre a maneira que a democracia, mantida de
diversas formas pelo processo colonialista, exerceu a prática da soberania para instrumentalizar
e destruir instituições consideradas redundantes. Desta forma, a Necropolítica, como estudo,
fornece técnicas para analisar a composição do poder durante o processo colonial e os traços
visíveis da colonização que ainda dominavam territórios na África, América Latina e Oriente
Médio.
Doutra forma, o conceito do termo concede que seja realizada uma análise crítica quanto
ao fenômeno da violência típica dos povos da marginalização que sofrem com a mitigação e a
crescente retirada de seus direitos pessoais e políticos. Nessa ótica, o Holocausto não é mais o
modelo dominante para estudar o genocídio: a colonização, tanto quanto a néocolonização,
juntamente com a matança de povos indígenas, sequestro, escravização de povos no continente,
são centrais para o debate sobre Mbembe.
64
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: Editora N-1, 2018, p. 41.
24
Foi nesta ocupação que Israel, como Estado, consolidou sua legitimidade única a partir
da representação de sua historicidade, consequentemente, identidade. Como tal, concorre com
uma narrativa histórica diversa deste mesmo território. A identidade de um povo é, de modo
necessária, compensada pela de outro, desta forma a convivência é quase impossível.
Tal precisão é combinada com as táticas de sítio medieval adaptada para a expansão
da rede em campos de refugiados urbanos. Uma sabotagem orquestrada e sistemática
da rede de infraestrutura social e urbana do inimigo complementa a apropriação dos
recursos de terra, água e espaço aéreo. Um elemento crítico a essas técnicas de
inabilitação do inimigo é fazer terra arrasada (bulldozer): demolir casas e cidades;
desenraizar as oliveiras; crivar de tiros tanques de água; bombardear e obstruir
comunicações eletrônicas; escavar estradas; destruir transformadores de energia
elétrica; arrasar pistas de aeroporto; desabilitar os transmissores de rádio e televisão;
esmagar computadores; saquear símbolos culturais e político-burocráticos do Proto-
Estado Palestino; saquear equipamentos médicos. Em outras palavras, levar a cabo
uma “guerra infraestrutural65
Diante disso, este governo promoveu a separação dos palestinos e construiu uma versão
da realidade muito semelhante ao apartheid na África do Sul. Com exceção de uma Palestina
quebrada, para conter qualquer forma de resistência, o governo agiu de modo a afirmar sua
soberania. Segundo Mbembe, trata-se de uma clara representação de uma nação constituída
pela prática da Necropolítica:
Atirar pedras contra soldados israelenses: o ato pode custar até 20 anos de prisão para
crianças palestinas. Ayed Abu Eqtaish, diretor da organização não-governamental
Defense for Children International (DCI) — Palestine (Jerusalém), contou ao Correio
que, anualmente, entre 500 e 700 menores capturados na Cisjordânia são processados
por tribunais militares instalados dentro de Israel, depois de serem presos e
interrogados. “Essa é a acusação mais comum. Muitas vezes, as crianças são detidas
em postos de controle, nas ruas ou na casa de familiares”, explicou. De acordo com
ele, os soldados cercam o local nas primeiras horas da manhã. “Uma vez identificada,
65
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: Editora N-1, 2018, p. 47.
66
RUSSO, Guilherme Morgensztern. Palestina partida: os bantustões de Israel - um estudo comparativo entre
as normas institucionais de segregação nos territórios palestinos e na África do Sul do Apartheid. Malala, v. 5,
n. 7, p. 89-110, 2017, p. 99.
25
a criança é espancada ou recebe chutes, antes de ter os olhos vendados e ser
amordaçada. Depois, eles a jogam na traseira de uma viatura militar, onde sofre abuso
físico e psicológico”67.
67
CRAVEIRO, Rodrigo. Governo de Israel mantém pelo menos 290 crianças palestinas presas. Correio
Braziliense. 30 jul. 2018. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2018/07/30/interna_mundo,698255/criancas-
palestinas-presas.shtml Acesso em: 25/04/2022.
68
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: Editora N-1, 2018, p. 42
69
Op. cit.
70
Op. cit. p. 43.
71
Op. cit. p. 59.
26
espalha. Esta barbárie – política do ato de morte – parece ser o único modo possível de gerir
socialmente de uma perspectiva capitalista.
Com o fito de alcançar mais subsídios teóricos para a análise, é de grande valia debater
alguns dos conceitos propostos por Giorgio Agamben, a saber, Homo Sacer e a Vida Nua – que
se interligam e complementam a natureza do conceito de Necropolítica. O corpo do chamado
Homo Sacer é entregue ao monarca para que ele decida se vale a pena viver aquela vida.
No contexto histórico, quanto ao direito romano antigo, aqueles que eram considerados
santos eram marginalizados, tanto além da jurisdição humana quanto além da divina. Por este
motivo é que a vida do Homo Sacer está contida na forma sacrificial e ao mesmo tempo
apagável72. Sua vida santa implica que qualquer um pode matá-lo sem ser profanado73. No ius
72
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2002, p. 80.
73
Op. cit. p. 81.
27
humanum, a morte tente a ser considerada um crime, enquanto no ius divinum, vida é oferecida
aos deuses, suprimindo assim o Homo Sacer desses dois reinos.
Nessa lógica, fica claro que a vida do santo, nessa relação de desprezo, está
constantemente exposta à morte. Desprotegido e em desacordo com as leis do homem e de
Deus, configurou-se como aquele que todos agiam como soberano74. Assim, a santidade é a
primeira forma de inferência da Vida Nua na ordem jurídico-política75. A matança
incondicional da vida humana é legitimada na ordem política.
Agamben também relata que os gregos no mundo clássico não atribuíam uma única
nomenclatura ao se referir à vida como fazem hoje. Eles usam dois outros termos: zoé e bíos.
A primeira simboliza o simples fato da vida, compartilhado pelos os seres, a própria Vida Nua;
a segundo, a vida dos cidadãos76.
Uma vida em relações de gangue, uma vida de abandono, pressupõe um fluxo constante
entre zoé e bíos. Desta forma, uma vida de abandono não é uma vida de puro isolamento.
Paradoxalmente, a renúncia pressupõe a relação de exclusão que a contém, ou seja, a pessoa
com direito a renunciar está soberana e violentamente associada ao renunciado.
Essa "vida sem valor" está entrelaçada, sujeita à vontade do poder soberano, e até as
sociedades mais modernas designam quem são seus "homens sacros"77. Portanto, o corpo do
santo humano, portador da vida nua, tem valor importante e atual para a pesquisa em questão.
A “vida indigna de ser vivida” não é, com toda evidência, um conceito ético, que
concerne às expectativas e legítimos desejos do indivíduo: é, sobretudo, um conceito
74
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2002, p. 92.
75
Op. cit.
76
Op. cit. p. 130.
77
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2002, p. 146.
78
Op. cit. p. 92
28
político, no qual está em questão a extrema metamorfose da vida matável e
insacrificável do homo sacer, sobre o qual se baseia o poder soberano.79
Assim, a imagem do Homo Sacer se move em uma zona de indiferença entre o humano
e o não humano, o participante e o vivente. Ele foi vítima de sua prisão e da violência contra
ele. Embora fosse uma pessoa viva, não era parte integrante da comunidade política. Esse
paradoxo da vida do portador da vida nua é de extrema importância para a compreensão do
lugar desse conceito nos contextos contemporâneos.
Na segunda parte do livro, a mais relevante para este estudo, aparecem os chamados
"muçulmanos" nos campos. Os prisioneiros não mais em condição humana, nada mais que os
mortos-vivos, são os únicos que podem testemunhar plenamente o terror, porque perderam a
capacidade de observar e interagir; a dignidade foi completamente perdida nesses cadáveres81.
Portanto, a contradição está na afirmação de que não pode haver testemunhas reais
porque os únicos que podem ser considerados testemunhas reais são eliminados - os próprios
"muçulmanos" e muitos outros - ou porque os poucos que sobreviveram as condições de
"muçulmanos" tem a situação como quase indescritível. Assim, é na imagem do "muçulmano"
que os seres humanos são observados e reduzidos à Vida Nua.
“O estágio do muçulmano era o terror dos internados, pois nenhum deles sabia quando
tocaria também a ele o destino de muçulmano, candidato certo para as câmaras de gás ou para
qualquer outro tipo de morte”82. Não se transformar em “muçulmano” ali era concomitante a
tentar conservar a sua vida.
Assim, aos olhos do filósofo italiano, Auschwitz foi apresentado como um lugar de
desumanidade, entrelaçado com a vida e a morte, muito profundo, permitindo uma reflexão
79
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2002, p. 148.
80
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). 1ª ed. São Paulo:
Editora Boitempo, 2008, p. 26.
81
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). 1ª ed. São Paulo:
Editora Boitempo, 2008, p. 67.
82
Op. cit. p. 59.
29
essencial sobre a ética contemporânea. Essa é a ideia do que é um Homo Sacer. Os prisioneiros
nos campos de concentração nazistas são os personagens que vêm à mente quando se pinta um
retrato de alguém que perdeu – ou melhor, foi tirada – toda a sua humanidade e segurança
básicas.
Aqueles que são expulsos da esfera social e política são os inimigos políticos da
comunidade, indivíduos que devem ser marginalizados para evitar instabilidade e mudança na
estrutura do Estado. Este agora declara exceções, mesmo dentro das democracias, em certos
lugares "perigosos", para controlar o "caos" social, que são essenciais para preservar o poder
soberano: com o argumento de manter as pessoas seguras e protegidas a todo custo, a tecnologia
do Estado suspende parcial ou totalmente o ordenamento jurídico de uma nação com base em
seus padrões, afirmando que o status excepcional passou a ser a regra, tal como garante
Agamben.
83
SETE métodos chocantes de tortura utilizados pela CIA. O Globo. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/mundo/sete-metodos-chocantes-de-tortura-utilizados-pela-cia-14790893 Acesso
em: 28/04/2022.
84
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019. p. 283.
30
Existem muitos exemplos dessa teoria na vida cotidiana. A entrada violenta e a
persistência da gendarmaria na comunidade carioca, justificada para "pacificar"85; os
checkpoints (postos de controle) israelense nos territórios palestinos; imigrante tentando entrar
nos Estados Unidos sob o atual governo Trump, ocorrendo a separação de filhos e mães86; são
os vários muros que ainda existem e continuam a expandir87 que separam e aprisionam as
pessoas.
85
APÓS intervenção, número de tiroteios cresceu 36% no RJ. Exame. 17 jun. 2018. Disponível em:
https://exame.com/brasil/apos-intervencao-numero-de-tiroteios-cresceu-36-no-rj/ Acesso em: 28/04/2022.
86
GOVERNO Trump separa mães imigrantes ilegais de seus filhos na fronteira. Folha de São Paulo. 31 maio
2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/governo-trump-separa-maes-
imigrantes-ilegais-de-seus-filhos-na-fronteira.shtml Acesso em: 28/04/2022.
87
OS MUROS do mundo: 21 fronteiras históricas. El País Brasil. 25 abr 2017. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/27/album/1488207932_438823.html Acesso em: 28/04/2022.
88
O declínio dos investimentos para o SUS pela União. Disponível em: https://academiamedica.com.br/blog/o-
declinio-dos-investimentos-para-o-sus-pela-uniao Acesso em: 06/06/2022
89
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019. p. 285.
90
ARAÚJO-JORGE, Tania; MATRACA, Marcus; NETO, Antônio Moraes; TRAJANO, Valéria; D´ANDREA Paulo;
FONSECA, Ana. DOENÇAS NEGLIGENCIADAS, ERRADICAÇÃO DA POBREZA E O PLANO BRASIL SEM MISÉRIA.
Disponível em:
31
Tanto é assim que até hoje no Brasil existem as chamadas “doenças da pobreza”,
associadas à falta de saneamento básico, de informações, de políticas sanitárias, de
boa alimentação, de prevenções, etc. São doenças que atingem quase exclusivamente
uma camada específica da sociedade, a Ralé. Por se restringirem a esses grupos
considerados irrelevantes e invisíveis, são doenças esquecidas pelos demais,
inclusive, pelo próprio Poder Público que além de não investir em medicamentos para
estas doenças, acaba simplesmente “deixando morrer” aqueles que são por elas
tomados. (SOUZA, 2009, p. 309)91
Agamben reflete que a Vida Nua ainda existe nos corpos de muitos, inclusive nas
chamadas sociedades democráticas.
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/brasil_sem_miseria/livro_o_brasil_sem_miseria/artigo_28.p
df Acesso em: 06/06/2022
91
Op. Cit.
92
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019. p. 286.
32
3. PODER SOBERANO EM CONTRAPOSIÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
93
ALVES, José Augusto. Os Direitos Humanos na pós-modernidade. 1ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005,
p. 21.
94
ALVES, José Augusto. Os Direitos Humanos na pós-modernidade. 1ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005,
p. 24.
95
CRUZ, Sebastião Velasco. Notas sobre o paradoxo dos direitos humanos e as relações hemisféricas. Lua Nova:
Revista de Cultura e Política, n. 86, p. 17-50, 2012, p. 24.
33
Ao modelar a relação entre o poder soberano em relação ao Homo Sacer, Agamben
argumenta que os direitos humanos são representantes da imagem primordial da Vida Nua
inscrita na ordem jurídico-política do Estado-nação. Ele citou a situação dos refugiados como
um excelente exemplo de sua análise:
Todas as vezes que os refugiados não representam mais casos individuais, porém um
fenômeno de massa, tanto essas organizações assim como cada um dos Estados,
malgrado as evocações solenes dos direitos alienáveis do homem, demonstram-se
absolutamente incapazes não só de resolver o problema, mas também, simplesmente,
de enfrentá-lo de modo adequado. Toda a questão foi, portanto, transferida, para as
mãos da polícia e das organizações humanitárias.96
A partir disso, ele fala diretamente sobre as implicações da biopolítica, pois mostra
como os Estados-nação podem criar divisões entre indivíduos humanos e “inumanos”. O
96
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015, p. 26-27.
97
CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica
evanescente. Revista Profanações, v. 1, p. 22-37, 2014, p. 25.
98
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015, p. 29
99
CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica
evanescente. Revista Profanações, v. 1, p. 22-37, 2014, p. 27.
100
Op. cit. p. 29.
34
humanismo, quando separado essencialmente da política, deve reproduzir o isolamento da vida
sacra sobre a qual repousa a soberania101. Diante disto, defende uma política em que o viver nu
não seja mais a exceção no sistema estatal, mesmo que pelos “direitos humanos”.
Valendo-se de uma análise da Hannah Arendt, Agamben concorda com o autor, que
aponta que os chamados direitos humanos inalienáveis se mostram inexigíveis "enquanto
aparecerem pessoas que não sejam cidadãs de algum Estado soberano"102. O autor não
menciona apenas os regimes antidemocráticos, mas os eventos totalitários demonstram a
hipocrisia e a covardia que as afirmações de direitos humanos inalienáveis revelam103.
101
CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica
evanescente. Revista Profanações, v. 1, p. 22-37, 2014, p. 29.
102
NASCIMENTO, Daniel. Biopolítica e direitos humanos: uma relação revisitada guiada pelo cortejo da ajuda
humanitária. Revista Filos nº 37, Curitiba, 2013, p. 135.
103
Op. cit. p. 136.
104
CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica
evanescente. Revista Profanações, v. 1, p. 22-37, 2014, p. 36.
105
NASCIMENTO, Daniel Arruda. Biopolítica e direitos humanos: uma relação revisitada guiada pelo cortejo da
ajuda humanitária. Revista de Filosofia Aurora, v. 25, n. 37, p. 131-150, 2013, p. 136.
35
Quando entendemos estes direitos, os humanos, apenas como palavras e não um padrão,
é possível que eles possam ser usados como uma máquina tanto para defender direitos, respeitar
a dignidade humana, diferenciação, princípios igualdade, mas também pode ser usado contra
indivíduos de mesmo valor. A favor da defesa dos direitos humanos, as pessoas invadem e não
respeitam a autodeterminação de um país.
Quanto a isto, segue o exemplo de o Iraque ter sido invadido pelo governo norte
americano, Estados Unidos da América, em 2004, sendo o ponta pé inicial para um conflito de
grande escala, justificado por argumentos principais, tais como:
1.Saddam Hussein era um ditador que oprimia seu povo; 2. possuía armas de
destruição em massa; 3. apoiava a Al-quaeda. Assim, o objetivo declarado do governo
de Georg W. Bush para desencadear a guerra foi bastante convincente: “levar a
democracia, a liberdade e a paz para o povo iraquiano, livrando-o do seu ditador”.106
É claro que os governantes dos EUA não se importam com os povos iraquianos, pois
conforme aponta a BBC, estima-se que aproximadamente 600.000 seres humanos tenham sido
mortos no conflito por causa de seus “humanitarismos”107. Impressionantes são os lucros das
empresas armamentista da américa do norte, as grandes financiadoras do presidente Bush na
época.
O Iraque ainda está passando por uma guerra civil. De fato, as principais razões para a
invasão foram interesses comerciais: o domínio do mercado mundial de petróleo e o movimento
da indústria de armas alimentada por cada guerra.
As violações de direitos humanos também ocorrem na vida cotidiana, nas ações mais
simples, e podem ser invisíveis para a maioria das pessoas. Como exemplo, tem-se no território
brasileiro as forças armadas que são cada vez mais solicitadas a desempenhar funções do poder
de polícia para manter a ordem pública e a segurança nacional.
106
MORAES, Wallace. Perguntas sem respostas: a guerra no Iraque e a possível guerra na Venezuela.
Diplomatique Brasil. 25 fev. 2019. Disponível em: https://diplomatique.org.br/perguntas-impensaveis/ Acesso
em: 28/04/2022.
107
Op. cit.
36
Como forma de exemplificar, em 2015, a polícia militar disparou mais de 100 tiros
contra um carro estacionado por cinco jovens na periferia do Rio de Janeiro108. Em abril de
2019, o Exército efetuou ao menos 80 tiros109 contra outro veículo. Comportamento totalmente
desproporcional e irracional. A grande consideração disto é que as vítimas são todas pretas.
Então, o que esses corpos significam? No significativo necropolítico, vidas passíveis de serem
matáveis110.
108
POLICIAIS deram mais de 100 tiros em carros de jovens mortos no Rio. G1. 02 dez. 2015. Disponível em:
https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/12/mais-de-100-tiros-foram-disparados-por-pms-envolvidos-
em-mortes-no-rio.html Acesso em: 28/04/2022.
109
EXÉRCITO dispara 80 tiros em carro de família no Rio e mata músico. Folha de São Paulo. 8 abr. 2019.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/04/militares-do-exercito-matam-musico-em-
abordagem-na-zona-oeste-do-rio.shtml Acesso em: 28/04/2022.
110
IPEA: taxa de homicídios de negros no país é mais do que o dobro da de brancos. O Estado de Minas. 05 jun.
2018. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2018/06/05/interna_nacional,964542/ipea-taxa-de-homicidios-
de-negros-no-pais-e-mais-do-que-o-dobro-da-de.shtml Acesso em: 28/04/2022.
111
DUARTE, Marcela Andrade; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. A BIOPOLÍTICA EM MICHEL FOUCAULT E A
SELETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. REVISTA DA AGU, v. 18, n. 2, 28 jun. 2019. p. 288.
112
Op. Cit.
37
a perda da democracia, esta que deveria ser o foco para encontrar-se soluções aos problemas
observados.
Essas são as mecânicas de poder, por meio das quais executa a política de segurança
pública do Brasil, localizando sua geografia inimiga, a periferia. Conforme Foucault defende e
Mbembe aprofunda, há uma criação subjetiva de um inimigo interno a enfrentar. Então, jovens
negros ou pardos são definitivamente grandes alvos. Em sua eficácia e manifestação, este
produto contém as principais técnicas da lógica autoritária do governo para manter a
governança e o controle populacional.
Nesse caso, a criação deste modelo de controlador social tende a permitir o uso
exacerbado da força para a segurança pública, legado de ditaduras devastadoras. Além disso,
incentiva ações truculentas e excessivas dos agentes do Estado. Isso produz: Bons Cidadãos -
Trabalhadores Pacíficos (ou Proprietários); Oponentes: Sem-teto, Loucos, Viciados em Drogas,
Vândalos, Criminosos, Sem-teto, Indivíduos Fora da Permissão da Ordem.113 A criação de um
inimigo se firma em grande parte à continuação e aumento do racismo e do machismo que
fundamentam o regime capitalista.
Indivíduos submetidos à violência, esta vinda dos agentes estatais, que agem em nome
do Estado, ou não, são um dos projetos do Estado capitalista para selecionar pessoas más,
facilmente abandonadas e marginalizadas pelo mesmo sistema. Então isso é uma generalização
da condição negra, o enegrecimento do mundo, combinado com práticas coloniais que usam a
lógica da escravização e saque e a lógica da ocupação e extração115. Os controles, internos e
externos, regidos pelo pensamento de guerrear contra um inimigo, são solidificados.
113
TELES, Edson. Estratégias da violência se fundam no genocídio de negros pobres e mulheres. Diplomatique
Brasil. 18 set. 2017. Disponível em: https://diplomatique.org.br/estrategias-da-violencia-se-fundam-no-
genocidio-de-negros-pobres-e-mulheres/ Acesso em: 28/04/2022.
114
TELLES, Vera. A violência como forma de governo. Diplomatique Brasil. 31 jan. 2019. Disponível em:
https://diplomatique.org.br/a-violencia-como-forma-de-governo .Acesso em: 28/04/2022.
115
Op. cit.
38
Basicamente, as estruturas coloniais de apaziguamento, militarização, controle e
retenção estão espalhadas pelas geografias criadas pelos estados capitalistas mundiais. Vera
Telles complementa:
(...) tendem a se difundir por todos os lados, nas trilhas do hoje expansivo e altamente
lucrativo mercado da segurança, também ele globalizado, por onde circulam, junto
com equipamentos, dispositivos de vigilância e armamentos, os escritórios de
assessoria, agências de treinamento, manuais e seus protocolos e recomendações para
lidar com a “guerra urbana” e ensinar as forças da ordem a fazer uso das técnicas da
chamada “gestão de multidão”, testadas nos Territórios Ocupados Palestinos. 116
116
TELLES, Vera. A violência como forma de governo. Diplomatique Brasil. 31 jan. 2019. Disponível em:
https://diplomatique.org.br/a-violencia-como-forma-de-governo .Acesso em: 28/04/2022.
117
ANISTIA INTERNACIONAL. Anistia internacional – informe 2017/2018: O estado dos direitos humanos no
mundo. Disponível em: https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2018/02/informe2017-18-online1.pdf
Acesso em: 26 abr. 2019.
118
BOOTH, William; TAHA, Sufian. A Palestinian’s daily commute throught na Israeli checkpoint. The
Washington Post. 25 maio 2017. Disponível em:
https://www.washingtonpost.com/graphics/world/occupied/checkpoint/ Acesso em: 28/04/2022.
119
ANISTIA INTERNACIONAL. Anistia internacional – informe 2017/2018: O estado dos direitos humanos no
mundo. Disponível em: https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2018/02/informe2017-18-online1.pdf
Acesso em: 28/04/2022. p. 172.
39
Quanto a realidade da grande massa carcerárias brasileira, conforme o Relatório
supracitado:
Este poder escolhe e impõe uma política de morte, conforme propuseram Agamben e
Mbembe, cuja meta é controlar sistematicamente a instituição "descartável" e "incorrigível" da
morte.
Por meio desses relatos sucintos, pode-se entender que o poder de sobreviver de
determinadas massas e indivíduos está relacionada à resistência a este campo de batalha,
podendo ser entendido como uma guerra não declarada121 do domínio soberano de uma nação.
Sejam negros moradores da periferia do Rio de Janeiro ou jovens palestinos indo ao trabalho,
estão vivendo histórias cotidianas que atestam a suposta falta de consideração, quanto aos seus
direitos humanos, advindo de seus sistemas democráticos.
120
ANISTIA INTERNACIONAL. Anistia internacional – informe 2017/2018: O estado dos direitos humanos no
mundo. Disponível em: https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2018/02/informe2017-18-online1.pdf
Acesso em: 28/04/2022. p. 90.
121
TADDEO, Carlos Eduardo. A guerra não declarada na visão de um favelado. São Paulo [s.n.], 2012.
40
CONCLUSÃO
Assim, a política neoliberal opta por instituições fáceis de obedecer. Ele é excluído do
âmbito social e político e se torna o inimigo em comum da sociedade, um ser que toma sobre
si, independente de suas ações ou vontades, a marginalização, sendo assim submetido ao
controle para que não haja qualquer tumulto possível, tampouco alterações quanto a
configuração do Estado. Para controlar a "agitação", os estados declaram exceções - mesmo nas
chamadas democracias - essenciais para manter o poder soberano em certos espaços
"perigosos".
De fato, Mbembe percebeu que o conceito puramente biopolítico de Foucault não era
totalmente suficiente para entender-se as formas em que a vida contemporânea sucumbiu à
força da morte e, portanto, propôs uma análise baseada nos processos de colonização, tal como
os de neocolonização. O conceito do termo Necropolítica nos permite investigar a violência
típica dessas pessoas marginalizadas, que lidam com a cassação de suas prerrogativas pessoais
e políticas, refletindo essa política de exploração.
41
A política da morte é racializada, é ser negro, conforme defendido pela visão teórica
mbembeana, que inclui não só os negros, como os desempregados, os imigrantes, os indígenas,
as mulheres e os sem-teto. Esta é a generalização dos indivíduos vulneráveis no mundo. Assim,
a união entre sistemas coloniais, racistas e capitalistas é a conspiração perfeita para fortalecer a
“reificação”, subordinação e eliminação de certas entidades.
Portanto, este trabalho não pretende ser exaustivo nos tópicos apresentados ou responder
a todas as questões que dele surgem. Pretende-se ilustrar discussões para reconhecer o modus
operandi do Estado, demonstrar sua clara necessidade e impacto na dominação, incitar
discussões e levantar questionamentos quanto ao assunto.
42
fragilidade e a falta de eficiência dos mecanismos democráticos quanto as instituições e a forma
como o Estado age em suas atuações de maneira a preservar a todo o custo a sua supremacia.
43
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. 1ª ed. São Paulo: Editora
Boitempo, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. 2ª ed. São Paulo: Editora Boitempo, 2007.
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2002.
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015.
ALVES, José Augusto. Os Direitos Humanos na pós-modernidade. 1ª ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2005.
ANISTIA INTERNACIONAL. Anistia internacional – informe 2017/2018: O estado dos direitos humanos
no mundo. Disponível em: https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2018/02/informe2017-18-
online1.pdf Acesso em: 28/04/2022.
APÓS intervenção, número de tiroteios cresceu 36% no RJ. Exame. 17 jun. 2018. Disponível em:
https://exame.com/brasil/apos-intervencao-numero-de-tiroteios-cresceu-36-no-rj/ Acesso em:
28/04/2022.
ARAÚJO-JORGE, Tania; MATRACA, Marcus; NETO, Antônio Moraes; TRAJANO, Valéria; D´ANDREA
Paulo; FONSECA, Ana. DOENÇAS NEGLIGENCIADAS, ERRADICAÇÃO DA POBREZA E O PLANO BRASIL
SEM MISÉRIA. Disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/brasil_sem_miseria/livro_o_brasil_sem_miseria/a
rtigo_28.pdf Acesso em: 06/06/2022
BOOTH, William; TAHA, Sufian. A Palestinian’s daily commute throught na Israeli checkpoint. The
Washington Post. 25 maio 2017. Disponível em:
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CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. 1ª ed. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1978.
CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica
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CRAVEIRO, Rodrigo. Governo de Israel mantém pelo menos 290 crianças palestinas presas. Correio
Braziliense. 30 jul. 2018. Disponível em:
44
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2018/07/30/interna_mundo,698255/cri
ancas-palestinas-presas.shtml Acesso em: 25/04/2022.
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