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FunHisFilEdu-U4 - Lido
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Educação na
Contemporaneidade
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1. OBJETIVOS
• Conhecer o caráter científico da educação contemporâ-
nea.
• Compreender a relação entre o processo da formação in-
dividual e o da formação social no mundo contemporâ-
neo.
• Compreender as diferentes vertentes da pedagogia con-
temporânea.
• Analisar historicamente a gênese da educação contempo-
rânea.
2. CONTEÚDOS
• Contemporaneidade e Revolução Francesa.
• Utilitarismo.
• Marxismo.
140 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
• Nietzsche e Dilthey.
• Educação no século 20.
• Dewey.
• Pedagogia e ciência.
• Guerra Fria.
• Pós-guerra.
• Mass media e educação.
4. INTRODUÇÃO
Na unidade anterior, você estudou as principais ideias e ver-
tentes pedagógicas oriundas do pensamento moderno. Vimos que
o homem moderno começou a tomar consciência de si e dos seus
direitos e deveres.
Nesta unidade, teremos a oportunidade de conhecer os
principais problemas que subjazem à pedagogia contemporânea.
Dando continuidade às questões herdadas das épocas anteriores,
a educação contemporânea, que assume uma nova face, torna-se
mais sistemática, assumindo caráter de ciência específica com pro-
blemática própria. Em contrapartida, o avanço notável das ciências
e das tecnologias coloca novos desafios diante da educação, de
forma que o modelo tradicional de ensino, aos poucos, cede lugar
aos meios virtuais de aprendizagem.
6. UTILITARISMO NA EDUCAÇÃO
Por volta do século 19, um avanço considerável no âmbito pe-
dagógico ocorre sob a influência do utilitarismo britânico. Jeremy
Bentham é o grande protagonista desse movimento, pois, partindo
da sua concepção utilitarista, introduz um princípio que deve su-
postamente reger a sociedade na base de máximo prazer e mínima
dor. Em outras palavras, o bem comum na sociedade consiste em
promover maior bem para maior número de pessoas.
Esse princípio, segundo Bentham, vai contra as teorias re-
formadoras que contemplam os interesses e os privilégios da bur-
guesia. O fato inegável da existência do povo carente, coberto de
7. MARXISMO E EDUCAÇÃO
O modelo marxista de educação, como já vimos, mostra-se mais
progressivo e, contudo, mais ideológico do que o modelo capitalista,
obedecendo à estrutura interna da teoria política e econômica marxista.
Marx apresenta-nos um modelo bastante específico de edu-
cação, baseado na gênese dialética do materialismo. Ele afirma
que o homem, na época capitalista, é alienado de si e do seu traba-
lho, mas está depositada nele a garantia da superação dessa alie-
nação. No entanto, o trabalho (ou melhor, as relações materiais do
trabalho) possuem traços expressamente dialéticos que mantêm a
condição permanente de mudança, pois é o trabalho que instaura
a oposição das classes e é justamente esta, no seu desenvolvimen-
to, que traz a mudança no cenário social.
O ideal formativo no qual Marx insiste, diz respeito ao ho-
mem que une em si habilidades intelectuais a habilidades manuais
e profissionais. Assim, esse ideal, que descreve o homem univer-
sal, está na base da superação da divisão social de trabalho, a qual
pressupõe a divisão de saber prático e saber intelectual.
Em termos pedagógicos, Marx critica, rigorosamente, a divi-
são da escola, uma vez que ela promove e perpetua a divisão das
classes. Em contrapartida, o mentor comunista vê, na educação,
a vanguarda da luta da superação das classes sociais, assumindo
importante papel ideológico na sociedade.
O homem universal – o ideal da proposta educativa de Marx
– deve se formar em três aspectos: espiritual, físico e politécnico.
Esse último é muito importante na sua proposta educativa, pois
une os saberes técnicos e científicos à sua aplicação prática.
O projeto pedagógico de Marx, de acordo com a sua propos-
ta política, requer igualdade de ensino, de forma que os menos
privilegiados recebam a mesma formação que os mais privilegia-
dos. Assim, a mensagem educativa de Marx é a de que a igualdade
de ensino prepara as condições da igualdade social.
8. EDUCAÇÃO NO SÉCULO 19
No fim do século 19, a educação estava vivendo as aporias
da sociedade contemporânea, suscitadas pela relação adversa en-
tre a burguesia e o proletariado. Em geral, estamos diante de uma
época bastante contraditória, que buscava freneticamente novas
propostas e modelos de mudanças e renovação.
Em meio à ansiedade de renovação, de busca de novos va-
lores, apareceu a marcante figura de Nietzsche. Ele acusa toda a
tradição ocidental, desde suas raízes, de inquisição contra a vida e
contra os valores vitais em prol de um sentido além-mundano, o
qual, por sua vez, gerou o percurso histórico niilista.
A crítica de Nietzsche não omite a educação e a sua preten-
são conformista e ideológica; ela insiste na necessidade de uma
total reavaliação, ou melhor, de uma transvaloração de todos os
valores, os quais norteiam e dão amparo a esse niilismo. Ele ainda
propõe novos critérios, de acordo com os valores vitais, para a de-
volução do sentido da vida.
No âmbito educativo, ele insiste em um modelo novo que
contemple o desenvolvimento de todas as aptidões do homem.
Retoma, para tal fim, a Paideia homérica na sua versão agônica.
Em um dos seus prefácios, intitulado Disputa em Homero, Nietzsche
(2004, p. 74) vê a educação como jogo estético de disputa:
Com o intuito de ver aquele sentimento bem distintamente, em
suas expressões ingênuas, o sentimento de necessidade de dispu-
ta quando se deve preservar a saúde da cidade-estado, pensemos
no sentido original do ostracismo: expresso, por exemplo, quando
os efésios vão banir Hermodoro. "Entre nós ninguém deve ser o
melhor; se alguém for, todavia, então que seja em outra parte e na
companhia de outros" por que ninguém deve ser o melhor? Por
que com isso a disputa teria de se esgotar e o fundamento eterno
da vida da cidade helênica estaria em perigo [...].
É este o germe da noção helênica de disputa: ela detesta o domínio
de um só e teme seus perigos, ela cobiça, como proteção contra o
gênio – um segundo gênio.
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Dewey acreditava que escolas que atuavam dentro de uma linha de obediência
e submissão não eram efetivas quanto ao processo de ensino-aprendizagem.
Seus trabalhos alinhavam-se com o pensamento liberal norte-americano e in-
fluenciaram vários países, inclusive o movimento da Escola Nova no Brasil.
Entre seus conceitos destacam-se idéias como a defesa da escola pública, a
legitimidade do poder político e a necessidade de autogoverno dos estudantes.
Nascido em 20 de outubro de 1859 em Burlington, no estado de Vermont. Era
filho de Lucina Stermesia Rich e de Archibald Sprague Dewey. Estudou na Uni-
versidade de Vermont e em sua formação sofreu forte influência da teoria da
evolução. A partir da idéia de seleção natural Dewey passou a perceber a impor-
tância da interação entre os homens e o meio-ambiente no que tange a questões
de psicologia e epistemologia (Teoria do Conhecimento).
Apesar de ter estudado durante um longo período as influências filosóficas do
realismo escocês durante a sua formação universitária, Dewey procurava refe-
rências mais amplas. Depois de se formar em 1879, Dewey lecionou por dois
anos em escolas de ensino médio (High schools no sistema norte-americano),
período durante o qual consolidou a idéia de que deveria trabalhar com filosofia.
Confirmando esse seu interesse, Dewey enviou um ensaio filosófico para W.T.
Harris, que era editor do Journal of Speculative Philosophy, além de ser um dos
mais conhecidos estudiosos dos trabalhos de Hegel. A aceitação de seu trabalho
pelo renomado especialista motivou Dewey a aprofundar seus estudos e o levou
a matricular-se na Universidade John Hopkins.
A estadia na John Hopkins fez com que Dewey tivesse contato com duas im-
portantes referências para seu futuro profissional. A partir das explicações, au-
las e aprofundamentos com o professor G. Stanley Hall, proeminente psicólogo
experimental norte-americano, Dewey percebeu a importância da aplicação da
metodologia científica nos estudos em Ciências Humanas.
O contato com o professor George Sylvester Morris, por outro lado, colocou
Dewey em sintonia com as obras do hegelianismo e, especificamente, com o
modelo orgânico de natureza concebido pelo idealismo alemão. Ao criar pontos
de convergência entre essas duas teorias e linhas de pensamento, Dewey esta-
beleceu idéias gerais que embasaram parte de seus pensamentos e produções
acadêmicas.
Ao obter a sua titulação de doutor no ano de 1884, Dewey aceitou convite para
dar aulas na Universidade de Michigan, onde ficou por dez anos. Nesse período
acabou produzindo suas primeiras obras: Psychology (1887) e Novos ensaios de
Leibniz acerca da compreensão humana (1888).
Os dois trabalhos demonstravam o alinhamento de Dewey com o idealismo hege-
liano. Em Psychology, Dewey procurava criar vínculos maiores entre o idealismo e
a ciência experimental. A Universidade de Michigan também foi importante para o
filósofo e educador por ele ter ali conhecido um de seus mais destacados colabo-
radores, James Hayden Tufts, com quem veio a publicar sua obra "Ethics" (1908).
No ano de 1894, Tufts e Dewey foram para a recém-inaugurada Universidade de
Chicago. Essa experiência foi fundamental para as obras do educador, pois per-
mitiram que ele superasse seu pensamento idealista e adotasse uma linha mais
prática e empírica baseada na Teoria do Conhecimento que estava de acordo
com a Escola Americana do Pensamento, de bases pragmáticas.
Modelo marxista
O pensamento marxista, que fundamenta e dá suporte teó-
rico aos projetos pedagógicos marxistas, apesar de revelar uma
face acentuadamente ideológica, mostra-se bastante original e
progressivo. A ideia marxista de uma formação integral e universal
tenta resgatar o homem da sua alienação, cujo domínio, o traba-
lho, se reduz a mero meio de sobrevivência.
A educação marxista coloca-se abertamente contra o modelo
burguês vigente no sistema capitalista e vê, na ideia de uma educa-
ção igual para todos, o caminho para a supressão das classes.
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Guerra Fria
A partir da segunda metade do século 20, o desenvolvimen-
to da pedagogia norteou-se, basicamente, pela Guerra Fria e suas
duas faces. A esse respeito, Cambi (1999, p. 601) menciona:
A Oeste, a pedagogia envolveu-se na defesa dos princípios da de-
mocracia liberal e da organização capitalista (isto é, da propriedade
privada, do mercado, da consciência, da liberdade da imprensa), da
autonomia do indivíduo e da liberdade dos povos, classes, grupos,
minorias (ainda que depois – na realidade – muitos desses princípios
fossem esmagados no Ocidente) e colocou-se nos Estados Unidos e
na Europa, na Alemanha e na Itália, sobretudo a serviço desses prin-
cípios de educação liberal democrática. A Leste, elaborou uma pe-
dagogia do Estado, fixada a partir dos clássicos do marxismo, muitas
vezes rigidamente dogmática, ainda que depois – na ação e nas insti-
tuições – submetida a muitas correções e a sensíveis transformações.
Pós-Guerra
A necessidade de uma educação obrigatória e para todos sur-
ge com o avanço tecnológico. O mundo tecnológico requer mão-
-de-obra qualificada e instruída. Nesse momento, a educação toma
frente como suporte imprescindível do progresso tecnológico.
Essa nova função da educação está notavelmente presente
no período pós-guerra, especialmente nos países industrializados.
Além do seu papel intelectual e cultural, a escola contemporânea
está encarregada de formar perfis profissionais.
Naturalmente, o ideal democrático que a escola contempo-
rânea deve promover requer, ao menos, um rompimento parcial
com o caráter ideológico que a ela se atribui. Aos poucos, a escola
da segunda metade do século 20 tornava-se cada vez mais crítica
e menos sujeita a manipulações. Todavia, ela não deixou de cum-
prir a sua principal missão atribuída pelo Estado: formar cidadãos
aptos a participar na vida pública, a eleger seus representantes, a
reivindicar os seus direitos e a cumprir os seus deveres para com a
sociedade; enfim, serem plenos agentes no âmbito social.
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Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.
2) a.
3) d.
14. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você conheceu o caráter científico da edu-
cação contemporânea e a relação entre o processo da formação
individual e da formação social. Além disso, pôde compreender
as diferentes vertentes da pedagogia contemporânea, analisando
historicamente a gênese da educação dessa época. Nesse sentido,
conheceu, também, as principais mudanças históricas do período,
como a Revolução Francesa e a Guerra Fria.
Além de conhecer os principais fatores históricos, conheceu
as principais propostas filosóficas que ainda influenciam nossa
concepção educativa, tais como o utilitarismo, o marxismo e as
propostas de Nietzsche e Dilthey.
Terminado com "chave de ouro" seu estudo sobre os prin-
cipais aspectos históricos e filosóficos da educação, iremos, na
Unidade 5, abordar as principais mudanças históricas da educação
brasileira. Vamos lá?
15. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
MACHADO, J. L. A. John Dewey e a escola ativa. Disponível em: <http://www.
planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=447>. Acesso em: 18 out. 2010.
NIETZSCHE, F. W. Disputa em Homero. In: ______. Cinco prefácios para cinco livros não
escritos. Tradução e prefácio Pedro Süssekind. 2 ed. Rio de Janeiro: 7 Letras. Disponível
em: <http://pt.scribd.com/doc/3378183/Nietzsche-Cinco-Prefacios>. Acesso em: 15 jul.
2011.