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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA/CAMPUS TOMÉ-AÇU


CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
LITERATURA DA AMAZÔNIA I
Prof. Dr. José Francisco da Silva Queiroz
Comentário do texto poético

Sós Análise formal e hermenêutica


Nós dois somente, ninguém mais! relendo A Formalmente, o soneto “Sós” utiliza a métrica
Nossas cartas de amor imaculado... B decassílaba e apresenta nos quartetos um esquema de rimas
Longe do mundo, num chalet doirado. B interpoladas que pode ser representada assim: ABBA,
BAAB. Os versos AA são formados por palavras
Nós dois somente e Deus do céu nos vendo... A paroxítonas, o que faz as rimas serem graves ou femininas,
o mesmo ocorre com os versos BB.
Sós! e mais tarde um anjo a nosso lado, B Já os tercetos apresentam o seguinte esquema rítmico:
- Fructo de nosso amor - também vivendo. A DDF, EEF. Cada terceto apresenta uma parelha
Nós a embalá-lo quando o sol morrendo A independente cujos últimos versos rimam entre si. Todo o
Fosse - e a vê-lo dormir acalentado... B soneto apresenta a mesma identidade sonora, uma vez que
as rimas são consoantes. Pode-se dizer ainda que nos
quartetos as rimas são feitas entre formas verbais que estão
Aconchegar-te ao peito meu, contar-te D no gerúndio e no particípio, o que representa a regularidade
O que o verso não diz, anjo! Adorar-te D do cotidiano almejado pelo sujeito poético. Do mesmo
haurindo o olor que teu cabelo encerra... F modo, a utilização dos verbos pronominais (o que deixa
oculto uma locução verbal: verbo principal + verbo auxiliar
- É tudo quanto aspiro nesta vida! E na forma infinitiva ou nominal) no primeiro terceto reforçam
E a minha esperança estremecida... E a presença da pessoa amada como depositária da esperança
- A que me faz viver inda na terra! F conjugal da voz poética.
No plano discursivo, o soneto nos revela os anseios e as
esperanças de alguém cuja paixão se deve concretizar por
AZEVEDO, José Eustáquio de. Sós. In: Sonetos
meio da constituição de uma família. O sujeito poético
Brasileiros (Século XVII-XX). Coletânea organizada
por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, revela esse desejo concebido de uma vida simples, quase
1913. p. 231. bucólica, em que o casal e um futuro filho possam viver as
delícias da vida conjugal retirados das perturbações
mundanas.
Essa vida idealizada deveria estar assentada entre as
recordações do amor (as cartas de amor) e a concretização
das aspirações conjugais (a rotina doméstica). Todo o poema
é formado por um conjunto de ações e de situações futuras
que só serão possíveis se a interlocutora do poeta
compartilhar dos mesmos sonhos ideados pelo eu-lírico. A
esperança do sujeito lírico é também uma promessa, ele
imagina uma vida agradável que possa apetecer a sua amada,
algo que eles “sós” possam compartilhar.
Dentro da estética romântica, a idealização da vida
conjugal não é um assunto muito frequente, pois a
lamentação amorosa e as dores do amor constituem a
temática principal da obra de vários poetas. É claro que não
estamos diante de uma grande inovação de motivos, uma vez
que essa devoção à figura feminina é a base do desejo do
sujeito poético. A questão principal assumida pelo poeta é a
teleologia do seu desejo amoroso, ele não almeja amar pela
pura satisfação de posse da mulher, ele quer amar em sua
manifestação vital e geradora. O sujeito poético anseia que
o seu amor frutifique, engendre mais vida e perpetue em
outro ser a existência do amor matrimonial. Isto nenhum
verso pode traduzir com plenitude.

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