TRANSTORNOS DIAGNOSTICADOS PELA PRIMEIRA VEZ NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
1 TRANSTORNOS DIAGNOSTICADOS PELA PRIMEIRA VEZ NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 1
SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 Introdução................................................................................................ 3 Depressão na infância e adolescência................................................. 4 Crianças ........................................................................................... 6 Adolescentes .................................................................................... 8 Fatores de risco.............................................................................. 10 Evolução......................................................................................... 11 Comorbidade .................................................................................. 12 Transtornos de Ansiedade ................................................................. 13 Transtorno de Ansiedade de Separação ........................................ 14 Transtorno de Ansiedade Generalizada ......................................... 18 Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social ........................... 22 Transtorno de Conduta ...................................................................... 26 Classificação .................................................................................. 27 Transtorno Desafiador de Oposição............................................... 28 Transtorno da Conduta................................................................... 29 Transtorno de Déficit de Atenção \ Hiperatividade (TDAH) ............ 29 Epidemiologia ................................................................................. 31 Etiologia.......................................................................................... 32 Tratamento ..................................................................................... 35 Prognóstico..................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 39 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Introdução Os transtornos mentais mais prevalentes entre crianças e adolescentes são depressão, transtornos de ansiedade, TDAH, por uso de substâncias e transtorno de conduta, associados principalmente com fatores biológicos, genéticos e ambientais, tais como sexo masculino, histórico familiar de transtorno mental, violência familiar e comunitária e configuração familiar. É importante considerar as dimensões sociais e políticas, como constitutivas da problemática da Saúde mental e da doença mental, pois, não parece haver dúvidas de que existem relações, entre transtornos mentais e fatores sociais. Entretanto, a natureza precisa desta relação é incerta e não, claramente, definida. Talvez, uma tentativa de maior elucidação desses aspectos seja o entendimento de que o "social" não atua, diretamente, sobre a pessoa como um fator causal ou via grupo familiar, como se este fora um mediador. Fazer um diagnóstico psiquiátrico é sempre tarefa desafiadora. A maioria dos transtornos psiquiátricos é diagnosticada pela combinação e intensidade da manifestação de sinais, ou seja, achados objetivos observados pelo examinador (por ex., taquicardia, hiperatividade motora); de sintomas, queixas subjetivas apresentadas pelo indivíduo afetado (por ex., ansiedade, palpitação) e prejuízo funcional. O diagnóstico psiquiátrico na criança apresenta ainda maior complexidade que o diagnóstico no adulto. Primeiro, porque seus problemas emocionais se expressam por meio de comportamentos desadaptados e 4 desviantes, raramente associados pela própria criança a um sofrimento interno. Um diagnóstico competente nessa faixa etária demanda, portanto, avaliação criteriosa. Depressão na infância e adolescência A depressão na infância e na adolescência parece ser mais frequente do que a indicada por alguns autores, como: Schilder e Wecheler, Bender, Despert, Baiser e Masterson. Robert E. Gould afirma que: "... vemos um número considerável de crianças e adolescentes que apresentam muitos dos sintomas clássicos de depressão, tais como: perda de direção e impulso; sensação de tristeza e vazio; distúrbios do sono (insônia mais frequentemente, dormir muito ocasionalmente); distúrbios alimentares (anorexia mais frequentemente, bulimia ocasional); hipomotilidade e sensação de solidão”. Todos esses sintomas somados à impulsividade, mais marcante nas crianças e nos adolescentes que nos adultos, determinam quadros clínicos em que vivências depressivas não apareceriam, claramente, expressas. Tais vivências seriam exteriorizadas então, através de aspectos clínicos, os mais variados. No desenvolvimento da relação mãe/filho há um momento em que os aspectos bons e maus não são mais repartidos entre dois objetos parciais, 5 radicalmente, divididos. As pulsões sexuais e hostis (amor e ódio) dirigem-se ao mesmo objeto (a mãe), constituindo, desta forma, a ambivalência propriamente dita. A angústia deixa de ser persecutória (mais ou menos 3 ou 4 meses de idade) para vir a ser depressiva em torno da segunda metade do primeiro ano de vida. Enfim, as defesas mudam de caráter: em resposta à angústia e à culpa, trata-se de reparar o objeto, de preservá-lo da fragmentação, de lhe fazer renascer. Agora, a criança já pode se assegurar da posse do objeto, plenamente, "bom". Melanie Klein define esta "posição" — depressiva — como: "o resultado de uma mistura de angústia paranoide e de conteúdos de angústia, de sentimento de solidão e de defesas ligados à perda iminente e total do objeto de amor". A criança e o adolescente, desta forma, acham-se em constante defesa contra a angústia e a depressão, pois, parece ser às suas custas que eles vão poder integrar seus objetos internos, isto é, conhecer a ambivalência de sentimentos e verificar que o objeto que lhes frustra é o mesmo que lhes gratifica; que eles podem, ora amar ora odiar o mesmo objeto. Parece então, que as relações de objeto e, portanto, as relações entre as pessoas, podem ser compreendidas, dinamicamente, resumidas em dois tipos de medo: medo à perda e medo ao ataque. A depressão é uma reação à perda de objeto. A pessoa introjeta, incorpora e se identifica com o objeto perdido que é amado e odiado. A agressão contra esse objeto ambivalente — amado e odiado — dá origem a sentimentos de culpa, e a agressão se volta contra si mesmo (perda da autoestima, sentimentos de apatia, pulsão suicida). Na adolescência, por exemplo, a pessoa está em constante processo de desestruturação e reestruturação, cujo ponto central é a elaboração dos lutos com características bastante específicas. De um lado, isso ocorre em função das aquisições progressivas da personalidade, em todos os seus níveis e, de outro, em função dos antecedentes histórico-genéticos, do meio familiar e social, em que este processo se desenvolve. É a busca de uma nova identidade. Ao desencadear-se o processo puberal, sobrevém profundas reações em toda a personalidade, que são vivenciadas como um "renascimento". É o seu primeiro luto; seguindo-se o "luto pelo corpo infantil", "pelos pais da infância" e pela "bissexualidade". Há diferentes modalidades de exteriorização disto, por 6 exemplo: alterações de conduta na escola, agressividade, inquietação, mecanismos esquizo- paranóides, confusionais e depressivos. Assim, no adolescente a luta pela nova identidade e todos esses processos de perda e lutos, aparecem, clara e dramaticamente, nos quadros de depressão. Neste estado, ele se queixa de um sentido confuso de identidade. Em alguns momentos são mais apáticos, em outros superativos, entretanto, temem sempre a crítica e a perda de autoestima, ora diminuída. Bibring (1953) sugere que qualquer condição que imponha, ao ego, sentimentos de estar indefeso, pode criar uma predisposição à depressão. Às dificuldades e às crises infantis e adolescentes corresponde uma crise importante, no grupo familiar. Os pais revivem, com seus filhos, alguns aspectos de suas próprias infâncias e adolescências. Suas respostas aos jovens podem estar relacionadas â maneira pela qual eles resolveram seu próprio processo adolescente e a sua capacidade de adaptação às novas definições, que esta situação requer. Crianças Em crianças pré-escolares (idade até seis a sete anos), a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores (principalmente de cabeça e abdominais), fadiga e tontura. Goodyer cita que aproximadamente 70% dos casos de depressão maior em crianças apresentam queixas físicas. As queixas de sintomas físicos são seguidas por ansiedade (especialmente ansiedade de separação), fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono. Alguns autores ainda citam, com menor frequência, a ocorrência de enurese e encoprese, fisionomia triste, comunicação deficiente, choro frequente, movimentos repetitivos e auto e heteroagressividade na forma de comportamento agressivo e destrutivo. O prazer de brincar ou ir para a pré-escola diminui ou desaparece e as aquisições de habilidades sociais próprias da idade não ocorrem naturalmente (Tabela 2). Embora a maioria dos autores afirma que neste período não ocorrem ideação ou tentativas de suicídio, 7 Shafii e Shaffi destacam que o comportamento autodestrutivo na forma de bater a cabeça severa e repetidamente, morder- se, engolir objetos perigosos e a propenção a acidentes pode ser um equivalente suicida em crianças que não verbalizam emoções. Entretanto, a ideação suicida nesta faixa etária é considerada de ocorrência rara, podendo ocorrer em casos especiais. Quanto às famílias, estudos norte-americanos realizados com crianças pré-escolares com depressão encontraram frequentemente pais também com depressão e envolvidos em graves problemas sociais. Em crianças escolares (idade entre seis a sete anos até doze anos), o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. Apresentam aparência triste, choro fácil, apatia, fadiga, isolamento, declínio ou desempenho escolar fraco, podendo chegar à recusa escolar, ansiedade de separação, fobias e desejo de morrer. Também podem relatar concentração fraca, queixas somáticas, perda de peso, insônia e sintomas psicóticos humor-congruente (alucinações auditivas depreciativas e, menos frequentemente, delírios de culpa e pecado). O declínio no desempenho pode dever-se à fraca concentração ou interesse, próprios do quadro depressivo. Z comum a criança não ter amigos, dizer que os colegas não gostam dela ou apresentar um apego exclusivo e excessivo a animais. Inabilidade em se divertir (anedonia), pobre relacionamento com seus pares e baixa autoestima, se descrevendo como estúpidas, bobas ou impopulares também podem estar presentes (Tabela 3). Z importante destacar que os professores são frequentemente os primeiros a perceber as modificações 8 decorrentes da depressão nessas crianças. Em pesquisa sobre o rendimento escolar em crianças de nove a doze anos com sintomas depressivos, de uma escola particular na cidade do Recife-PE, Bandim et al. obtiveram como resultado um prejuízo significativo no desempenho escolar em todas as matérias, principalmente em Português e Ciências, quando comparados com crianças sem sintomas depressivos. Tanto em crianças pré-escolares como nas escolares a depressão pode tornar-se clara através da observação dos temas das fantasias, desejos, sonhos, brincadeiras e jogos, com os conteúdos predominantes de fracasso, frustração, destruição, ferimentos, perdas ou abandonos, culpa, excesso de autocríticas e morte. Adolescentes A manifestação da depressão em adolescentes (idade a partir de doze anos) costuma apresentar sintomas semelhantes aos dos adultos, mas também existem importantes características fenomenológicas que são típicas do transtorno depressivo nesta fase da vida. Adolescentes deprimidos não estão sempre tristes; apresentam-se principalmente irritáveis e instáveis, podendo ocorrer crises de explosão e raiva em seu comportamento. Segundo Hazdin e 9 Marciano, mais de 80% dos jovens deprimidos apresentam humor irritado e ainda perda de energia, apatia e desinteresse importante, retardo psicomotor, sentimentos de desesperança e culpa, perturbações do sono, principalmente hipersonia, alterações de apetite e peso, isolamento e dificuldade de concentração. Outras características próprias desta fase são o prejuízo no desempenho escolar, a baixa autoestima, as ideias e tentativas de suicídio e graves problemas de comportamento, especialmente o uso abusivo de álcool e drogas. O desenvolvimento do pensamento abstrato se faz ao redor dos doze anos de idade, trazendo uma compreensão mais clara do fenômeno da morte, consequentemente, nos adolescentes depressivos tanto as ideias de suicídio como as tentativas, que costumam apresentar alta letalidade, alcançam uma dimensão maior, pois os adolescentes são altamente vulneráveis às mesmas (Tabela 4). Em pesquisa sobre sintomas de depressão maior em adolescentes entre quatorze e dezoito anos de idade, em amostra comunitária no Oregon Adolescent Depression Project, nos EUA, Roberts et al. encontraram como sintomas mais prevalentes o humor deprimido, alterações do sono e dificuldades no pensamento (problemas de concentração e pensamento negativista), e como sintomas mais estáveis o humor deprimido e anedonia. Alguns autores chamam a atenção para a diferença entre a manifestação depressiva entre adolescentes do sexo feminino e masculino, destacando que as garotas relatam mais sintomas subjetivos, como sentimentos de tristeza, vazio, tédio, raiva e ansiedade. As garotas costumam ter, também, mais preocupação com popularidade, menos satisfação com a aparência, mais conscienciosidade e menos autoestima, enquanto que os garotos relatam mais sentimentos de desprezo, desafio e desdém, e demonstram problemas de conduta como: falta às aulas, fugas de casa, violência física, roubos e abuso de substâncias. Destacam que o abuso de álcool na adolescência pode ser um forte indicador de depressão. 10 Como orientação aos clínicos, segue a sugestão do que não deve ser considerado normal, alertando para provável presença de quadro depressivo durante a adolescência: os estados de humor irritável ou depressivo duradouro e/ou excessivos, os períodos prolongados de isolamento ou hostilidade com família e amigos, o afastamento da escola ou queda importante no rendimento escolar, o afastamento de atividades grupais e comportamentos como abuso de substâncias (álcool e drogas), violência física, atividade sexual imprudente e fugas de casa. O adolescente costuma ser a melhor fonte de informação quanto ao seu sofri- mento depressivo, e seus colegas e amigos são os que mais facilmente reparam nas modificações ocasionadas pela patologia. Vários autores destacaram que os pais e professores muitas vezes não estão cientes da depressão em seus filhos e alunos adolescentes. Fatores de risco Quanto aos fatores de risco para depressão em crianças e adolescentes, o mais importante é a presença de depressão em um dos pais, sendo que a existência de história familiar para depressão aumenta o risco em pelo menos três vezes, seguidos por estressores ambientais, como abuso físico e sexual e perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo. Em estudo longitudinal, 11 envolvendo 550 adolescentes estudantes entre 11 e 17 anos de idade, Garrison et al., nos EUA, concluíram que no início da adolescência o ambiente familiar é um preditor de sintomas depressivos mais importante do que os eventos estressores de vida. Abou-Nazel et al., no Egito, em pesquisa com 1.561 adolescentes estudantes entre 11 e 17 anos de idade, encontraram que o desempenho acadêmico baixo é um marcador de alto risco para depressão nesta faixa etária. Nunes et al., em pesquisa realizada na cidade de Londrina-PR, avaliaram a presença de transtornos psiquiátricos em pais de indivíduos entre 7 e 18 anos de idade e encontraram uma predominância de transtornos de humor, especialmente depressão maior e distimia, confirmando a importância do fator familiar na vulnerabilidade das depressões na infância e na adolescência. Patten et al., em pesquisa comunitária na Califórnia-EUA, com 5.531 adolescentes entre 12 e 17 anos com sintomas depressivos, concluíram que a falta de percepção de apoio por parte dos pais é altamente relacionada com a presença de sintomas depressivos nos jovens. Evolução Em média, a depressão maior na infância surge ao redor dos 9 anos de idade, e na adolescência entre os 13 aos 19 anos. O primeiro episódio depressivo costuma durar aproximadamente entre cinco a nove meses. Quanto ao índice de recuperação, a maioria dos autores cita o artigo de Hovacs et al., em que 74% dos casos apresentaram melhora significativa dentro de um ano, e 92% se recuperaram em um período de dois anos. Os autores são unânimes em afirmar que, após a recuperação, costuma permanecer algum grau de prejuízo psicossocial; e quanto mais precoce for o aparecimento da patologia, maior tenderá a ser o prejuízo, o que foi confirmado na pesquisa de Rohde et al. com 1.507 adolescentes comunitários, onde concluíram que o aparecimento precoce da depressão maior é uma forma mais perniciosa da doença, e causa um impacto mais severo do que em adultos. O risco de recorrência da depressão maior na infância e adolescência é mais frequente alguns meses após o primeiro episódio, com taxas variáveis, 12 entre 33 a 80% em cinco anos, segundo artigos de revisão. Em pesquisas longitudinais nos EUA e na Inglaterra, foram encontradas taxas de recorrência entre 60 a 74%. Considera-se que crianças e adolescentes com depressão possuem um grande risco de recorrência que se estende até a idade adulta, representando uma alta vulnerabilidade para transtornos depressivos. São considerados fatores preditores de recorrência: início precoce, inúmeros episódios anteriores, gravidade do episódio, presença de sintomas psicóticos, presença de estressores, comorbidade (especialmente distimia) e falta de adesão ao tratamento. Alguns autores consideram o aparecimento de episódio depressivo maior na infância e na adolescência como preditivo de transtorno bipolar no futuro, entretanto ainda faltam evidências seguras dessa relação. Comorbidade Crianças e adolescentes deprimidos costumam apresentar altas taxas de comorbidade com outros transtornos psiquiátricos, sendo encontrada mais comumente do que em adultos deprimidos. Os transtornos comórbidos mais comuns em crianças são os transtornos de ansiedade (especialmente o transtorno de ansiedade de separação), o transtorno de conduta, o transtorno desafiador opositivo e o transtorno de déficit de atenção, e em adolescentes acrescentam-se os transtornos relacionados a substâncias e os transtornos alimentares. Goodyer e Cooper destacam que os transtornos depressivos em crianças e adolescentes apresentam 40% de comorbidade com transtornos de ansiedade, e 15% com transtornos de conduta. Birmaher et al. descrevem que a depressão maior na adolescência costuma apresentar o índice de 40 a 70% de comorbidade psiquiátrica, sendo que pelo menos 20 a 50% têm dois ou mais quadros comórbidos; e destacam que os transtornos de conduta podem persistir após cessar o episódio depressivo. Hazdin e Marciano citam que jovens deprimidos, em estudos comunitários, apresentam taxas médias de comorbidade entre 40 e 50% para pelo menos um outro diagnóstico psiquiátrico, podendo chegar até 13 80%. Martin e Cohen e Scivoletto et al. citam que 20% dos adolescentes deprimidos também apresentam abuso de álcool e drogas. Hashani et al., em pesquisa comunitária com adolescentes, nos EUA, encontraram entre aqueles com diagnóstico de depressão maior os seguintes índices de comorbidade: 100% para distimia, 75% para transtornos de ansiedade, 50% para transtorno desafiante opositivo, 35% para transtorno de conduta, e 25% para abuso de substâncias. Roberts et al., nos EUA, em levantamento comunitário com 1.710 adolescentes, encontraram entre os portadores de depressão maior a taxa de 66% de história de outro transtorno mental, e 34% já tinham apresentado um episódio depressivo anterior. Garrison et al. nos EUA, em estudo epidemiológico longitudinal com 3.283 participantes entre 12 e 14 anos de idade, pesquisando distimia e depressão maior, encontraram alta taxa de comorbidade, sendo que 58% daqueles diagnosticados com distimia também tinham depressão maior, caracterizando a presença de depressão dupla. Ainda nos EUA, Hessler e Walters, em investigação com a população de 1.769 indivíduos entre 15 e 24 anos de idade, que fizeram parte do National Comorbidity Survey, encontraram que 76,7% daqueles com depressão maior e 69,3% daqueles com distimia apresentavam, pelo menos, um outro transtorno psiquiátrico ao longo da vida, e concluíram que a comorbidade para depressão, nesta faixa etária, é mais a regra do que a exceção. Em relação à depressão na infância e na adolescência, sabe-se que a probabilidade de transtornos comórbidos aumenta com a severidade do quadro depressivo, assim como a sua presença costuma indicar uma evolução mais grave, e um prognóstico mais pobre. Transtornos de Ansiedade Os Transtornos de Ansiedade (TAs) são reconhecidos como alguns dos transtornos mentais mais prevalentes em crianças e adolescentes, encontrandose atrás apenas do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e do Transtorno de Conduta (Asbahr, 2004). Estudos epidemiológicos em populações americanas indicaram que os TAs em infanto-juvenis têm 14 prevalência estimada de 8 a 12% (Costello, 1989; Spence, 1998). No Brasil, um estudo populacional encontrou índices de prevalência de 4,6% em crianças e 5,8% entre os adolescentes (Fleitlich-Bilyk & Goodman, 2004). Na Inglaterra, Ford, Goodman e Meltzer (2003) observaram índices de morbidade similares aos encontrados na pesquisa brasileira e indicaram prevalência de 3,4% em crianças e 5,04% em adolescentes. Os TAs podem causar manifestações clínicas capazes de gerar importantes prejuízos no funcionamento normal do indivíduo (Last, Perrin, Hersen & Kazdin, 1996). A ansiedade patológica leva o paciente ao desenvolvimento de estratégias compensatórias para evitar o contato com aquilo que lhe causa temor. Além do consequente prejuízo funcional imediato , implicações de médio e longo prazo possíveis são a diminuição de autoestima e o desinteresse pela vida (APA, 2000). Quando o transtorno é presente na infância ou na adolescência e não há tratamento adequado, há incremento na possibilidade do progressivo agravamento da condição mórbida ao longo da vida (Walkup & cols ., 2008). Transtorno de Ansiedade de Separação O transtorno de ansiedade de separação caracteriza-se pela experimentação de ansiedade excessiva em função do afastamento de casa ou de figuras de vinculação. A reação emocional exagerada diante do afastamento 15 dos pais também pode fazer parte do funcionamento normal de crianças muito pequenas. Este comportamento pode ser frequentemente observado em crianças até a idade pré-escolar, devido à insegurança gerada pela ausência dos cuidadores. A ansiedade de separação se configura como um transtorno quando se torna inadequada para o grau de desenvolvimento ou quando interfere no funcionamento da vida diária do indivíduo (Suveg & cols., 2005). De acordo com a DSM-IV-TR (APA, 2000) cinco critérios diagnósticos devem ser preenchidos para que o transtorno seja caracterizado. O primeiro critério diagnóstico é a presença de, pelo menos, três sintomas relacionados com reações emocionais inadequadas ao grau de desenvolvimento da criança ou do adolescente, com relação ao afastamento de casa ou dos pais. Dentre os sintomas possíveis, estão: sofrimento excessivo e recorrente frente à ocorrência ou previsão de afastamento; preocupação persistente e excessiva acerca de perigos envolvendo os pais ou a si próprio; recusa ou relutância a ir para a escola, ou para outros lugares, desacompanhado; temor excessivo de ficar sozinho em casa; dificuldades para adormecer sem uma figura de vinculação ou para dormir fora de casa; pesadelos frequentes envolvendo o tema separação e queixas somáticas persistentes. Além destes sintomas, os prejuízos funcionais nas áreas social, acadêmica, entre outras, devem ser clinicamente significativos (Suveg & cols., 2005) e os sintomas devem estar presentes por pelo menos quatro semanas (APA, 2000). Além disso, o início do quadro clínico deve se dar antes dos 18 anos e não deve ocorrer durante o curso de outros transtornos, tais como o transtorno global do desenvolvimento ou a esquizofrenia (APA, 2000). Crianças e adolescentes que apresentam este quadro têm um medo irreal de que algo prejudicial aconteça com eles ou com seus pais, quando se afastam, de modo que não seja possível o reencontro (Silverman & Dick-Niederhauser, 2004). As preocupações mais frequentes com relação aos pais são ferimentos graves ou morte. A própria criança ou adolescente pode temer ser sequestrado ou se perder de seus pais. Estas preocupações podem ocorrer tanto em estado de vigília como durante o sono (Suveg & cols., 2005). 16 Frequentemente, observa-se a intensificação destes sintomas sob a forma de perseguição aos pais dentro de casa, dificuldades para dormir ou ficar em casa sozinho e recusa para ir à escola ou para sair desacompanhado, nos momentos que antecedem a saída dos pais para o trabalho ou o horário da escola (Francis, Last & Strauss, 1987). Quando os pais saem de casa, frequentemente essas crianças ou adolescentes sentem a necessidade de saber onde eles estão ou de permanecer em contato, sendo muito comum o uso do telefone para este fim. Algumas crianças ou adolescentes se queixam de saudade extrema quando estão longe de casa, podendo experimentar sintomas somáticos em função do desconforto (APA, 2000). Dentre os sintomas somáticos mais usuais estão: dor de cabeça, de estômago e náuseas. Estes sintomas são comuns tanto no momento da separação quanto na antecipação do afastamento (Francis & cols., 1987). Embora o transtorno de ansiedade de separação possa ocorrer em qualquer idade antes dos 18 anos, existe uma maior frequência deste transtorno na faixa etária que vai dos sete aos nove anos de idade (Last & cols., 1996). Francis e cols. (1987) encontraram diferenças na expressão dos sintomas de acordo a faixa etária. Preocupação e pensamentos trágicos sobre os pais parecem estar associados a crianças com idades entre 5 e 8 anos. Protestos ou acessos de raiva, falta de concentração e apatia são mais frequentes em crianças maiores (entre 9 e 12 anos). Queixas somáticas e recusa escolar são comuns em adolescentes. Parece não existir distinção na expressão destes sintomas entre meninos e meninas. O curso do transtorno costuma oscilar entre momentos de ansiedade em menor grau e crônicos, com períodos de exacerbação em grau agudo. Comumente, estes momentos de pico são acompanhados por alterações importantes na vida da criança ou do adolescente, tais como mudança de escola ou doença na família (Suveg & cols., 2005). Dados coletados em amostras comunitárias mostram que o transtorno de ansiedade de separação é um dos quadros clínicos mais frequentes dentre os transtornos de ansiedade (Costello, 1989; Prior & cols, 1999; Beidel & cols., 17 1999), com a prevalência variando entre 3 a 5 % em crianças (Beidel & cols., 1999) e 2 a 4% em adolescentes (Prior & cols., 1999). Não há um consenso a respeito da prevalência entre gêneros. Muito embora um número significativo de estudos tenha encontrado uma maior frequência no sexo feminino (Costello, 1989; Last & cols., 1996), outras pesquisas não apontaram para esta diferença (Bernstein & cols., 1996; Francis & cols., 1987). Alguns estudos relataram uma associação entre condições socioeconômicas desfavoráveis e transtorno de ansiedade de separação (Francis & cols., 1987; Last & cols., 1996), sugerindo que 50 a 70% das crianças com ansiedade de separação encontram-se em famílias de baixa renda (Last & cols., 1996; Vélez, Johnson & Cohen, 1989). A frequência encontrada em dois estudos envolvendo amostras clínicas foi significativamente maior do que em amostras comunitárias. No primeiro estudo, 33% das crianças atendidas em uma clínica especializada em ansiedade infantil preenchiam critérios diagnósticos para ansiedade de separação (Last & cols., 1996). Na segunda pesquisa, 50% da amostra clínica apresentavam sintomas de ansiedade de separação sem que estes causassem grande comprometimento no funcionamento das crianças (Silverman & DickNiederhauser, 2004). As comorbidades mais frequentemente associadas ao transtorno de ansiedade de separação são outros transtornos de ansiedade, em especial o TAG e a fobia específica. Uma série de estudos com amostras clínicas estimam que 50% dos casos de ansiedade de separação venham acompanhados de outros distúrbios de ansiedade, e outros 33% tenham comorbidade com depressão (Last & cols., 1996; Suveg & cols., 2005). Outros quadros clínicos comórbidos citados, porém menos comuns, são: o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e transtorno de identidade sexual (Silverman & DickNiederhauser, 2004). Um número reduzido de estudos prospectivos foi conduzido com amostras clínicas de crianças, portanto pouco pode-se afirmar sobre o prognóstico do transtorno de ansiedade de separação (Silverman & DickNiederhauser, 2004). Dentre os estudos, destaca-se o de Cantwell e Baker 18 (1989) que acompanharam 151 crianças, em atendimento ambulatorial, numa clínica de linguagem e fala, por um período de quatro anos. Ao final de quatro anos, eles observaram em maior grau a remissão dos sintomas e menor estabilidade nos casos de ansiedade de separação em comparação com o transtorno evitativo e transtorno de ansiedade excessiva. Apenas 11% das crianças ainda preenchiam critérios diagnósticos para transtorno de ansiedade de separação, enquanto 44% tinham outros diagnósticos. Last e cols. (1996), em estudo similar, acompanharam 102 crianças atendidas em uma clínica especializada em transtornos de ansiedade por um período de quatro anos e encontraram resultados semelhantes quanto à alta taxa de remissão de sintomas e a baixa estabilidade do diagnóstico. Ao final de quatro anos, 96% das crianças que foram inicialmente diagnosticadas com transtorno de ansiedade de separação não apresentavam mais sintomas do transtorno. No entanto, 25% desta amostra tinham desenvolvido um novo distúrbio mental. Transtorno de Ansiedade Generalizada O TAG caracteriza-se pela presença de preocupações excessivas e incontroláveis sobre diferentes aspectos da vida. Apesar de preocupações serem uma manifestação de ansiedade bastante comum e fazerem parte da experiência humana, pacientes diagnosticados com TAG referem haver uma intensificação e prolongamento deste estado ansioso, sem que haja a interrupção deste processo (Flannery-Shroeder, 2004). Os critérios diagnósticos apontados na DSM-IV-TR (APA, 2000) incluem: ansiedade e preocupação excessiva e de difícil controle com diversos eventos, na maioria dos dias e com duração mínima de seis meses, causando prejuízos no funcionamento da vida diária. O quadro deve ser acompanhado ainda de pelo menos três de seis sintomas físicos tais como: inquietação; fatigabilidade; dificuldade de concentração; irritabilidade; tensão muscular ou perturbações do sono. Finalmente, o distúrbio não deve ser oriundo de ingestão de drogas ou de abuso, de uma condição médica geral ou ocorrer exclusivamente durante o curso 19 de transtorno de humor, transtorno psicótico ou transtorno global do desenvolvimento. O diagnóstico em crianças e adolescentes difere dos adultos no que diz respeito aos sintomas físicos. Há a necessidade da presença de apenas um sintoma somático para que o diagnóstico seja confirmado em infanto- juvenis (APA, 2000). Embora dores de cabeça ou de estômago, assim como tensão muscular sejam queixas comuns em crianças e adolescentes com TAG (Flannery-Schroeder, 2004), Tracey, Chorpita, Douban e Barlow (1997) e Kendall e Warman (1996) encontraram que fatigabilidade é a queixa mais frequente. Kendall, Krain e Treadwell (1999) definem crianças e adolescentes com TAG como “mini adultos” em função da preocupação em excesso com compromissos, da rígida aderência a regras, ou por suas perguntas referentes aos perigos inerentes às situações. Afirmam ainda que estas preocupações dificultam o diagnóstico precoce do transtorno, porque adultos tendem a valorizar 20 este tipo de preocupação, confundindo assim a presença dos sintomas com senso de responsabilidade. Crianças e adolescentes com TAG podem ter preocupações consigo ou com os outros sobre diferentes domínios, como por exemplo: perfeccionismo; pontualidade; saúde e segurança; eventos catastróficos mundiais (tais como: guerras ou desastres naturais); situação financeira familiar e futuro (Layne, Bernart, Victos & Bernstein, 2008). Weems, Silverman e La Greca (2000) encontraram entre os principais domínios de preocupação temas como: testes, furacões, agressão física, futuro, escola e problemas com crianças da mesma idade. Pina, Silverman, Alfano e Saavedra (2002), avaliando uma amostra clínica de 111 crianças e adolescentes com idades entre seis e 17 anos, identificaram a preocupação com a própria saúde como o fator preditivo mais confiável para o TAG. Bögels e Zigterman (2000) encontraram que crianças e adolescentes com TAG frequentemente subestimam a própria capacidade de lidar com as situações cotidianas, em especial as que envolvem a avaliação de terceiros. Por apresentar uma autocrítica exagerada, são perfeccionistas, capazes de cometerem distorções cognitivas que tornam um pequeno erro um fracasso enorme. Como consequência das ideias perfeccionistas, estas crianças tendem a faltar seus compromissos com maior frequência ou mesmo a abandonar suas atividades diárias (Flannery-Schroeder, 2004). Outras características apontadas foram: necessidade constante de reasseguramento e excesso de autoconsciência e preocupação com comportamento no passado (Bell-Dolan, Last & Strauss, 1990; Kendall & cols., 1999; Flannery-Schroeder, 2004). Rigidez com relação ao cumprimento de regras ou evitação de situações nas quais poderia haver a exposição ao julgamento dos outros são as principais consequências destes comportamentos (Bögels & Zigterman, 2000; Kendall & cols., 1999; Layne & cols., 2008). Finalmente, crianças e adolescentes com TAG têm uma tendência a superestimar o perigo, prevendo situações catastróficas (Kendall & cols., 1999). A incidência de TAG em crianças de até 12 anos é significativamente menor do que em crianças a partir desta idade. Além disso, o número de sintomas apresentados aumenta com a idade (Tracey & cols.,1997). Vale ressaltar que estes estudos foram realizados em amostras clínicas e podem não 21 reproduzir fielmente a realidade com relação à idade de início do TAG na população geral (Layne & cols., 2008). Não é possível fazer uma diferenciação na apresentação do quadro entre meninos e meninas até o início da adolescência (Kendall & Warman, 1996; Last & cols., 1996). No entanto, a prevalência de TAG em meninas passa a ser maior do que em meninos a partir dos primeiros anos da adolescência, e essa diferença se mantém em adultos (Rapee, 1991). Vélez e cols. (1989) atribuem a maior incidência de TAG no sexo feminino à subdiagnosticação de pacientes do sexo masculino e não a uma ocorrência real de mais casos em meninas. O início do transtorno costuma ser precoce, lento e insidioso, o que é apontado como a principal dificuldade para precisar a idade de início mais frequente (Flannery-Schroeder, 2004). Comumente, pacientes adultos com TAG referem a presença de sintomas ao longo de toda a vida, tendo dificuldade de identificar o momento em que os sintomas começaram (Layne & cols., 2008). A prevalência do TAG em crianças e adolescentes norte-americanos em amostras comunitárias varia entre 2 e 4 % (Fleitlich-Bilyk & Goodman, 2004). Não foram encontrados artigos que identifiquem a prevalência de TAG na população infanto-juvenil brasileira. Até o momento, o único estudo epidemiológico brasileiro, com crianças e adolescentes, apresenta apenas as categorias mais amplas, como transtorno de ansiedade, de humor ou TDAH (Fleitlich-Bilyk & Goodman, 2004). Na Inglaterra, Ford e cols. (2003) identificaram uma porcentagem menor de casos com TAG, atingindo cerca de 0,65% da amostra de crianças e adolescentes. Last e cols. (1996) avaliaram as características sócio-demográficas de uma amostra clínica composta por 118 crianças e encontraram uma associação entre condições socioeconômicas favoráveis, estrutura familiar e TAG: as crianças que receberam o diagnóstico eram em sua maioria oriundas de famílias estruturadas, de classe média ou classe média alta. Em amostras clínicas, a taxa de prevalência aumenta para 10 a 14 %, quando a amostra estudada considera crianças e adolescentes em atendimento para qualquer transtorno psiquiátrico (Kendall & Warman, 1996; Layne & cols., 2008). Já quando a amostra é extraída de clínicas especializadas em transtornos 22 de ansiedade, esta taxa varia entre 15% (Last & cols., 1996) e 58 % (Kendall & Warman, 1996). A presença de comorbidades é extremamente comum em casos de crianças e adolescentes com TAG (Layne & cols., 2008). Em um estudo conduzido por Masi e cols. (2004) 93% dos participantes com TAG tinham alguma comorbidade; 75% tinham como comorbidade um outro transtorno de ansiedade, 56% um transtorno depressivo e 21% TDAH ou TC (Layne & cols., 2008). Estas co-ocorrências são mais frequentes em pré-adolescentes e adolescentes e provocam um grande impacto na adaptação psicossocial destes jovens (Flannery-Schroeder, 2004). Alguns autores acreditam que o TAG na infância ou adolescência pode ser um precursor de outros transtornos psiquiátricos na vida adulta (Pina & cols., 2002; Beidel & cols., 1999; Last & cols., 1996). Pina e cols. (2002) realizaram um estudo prospectivo com 111 crianças e adolescentes com TAG. Após nove anos de acompanhamento, os pesquisadores concluíram que o TAG na infância e juventude pode ser considerado um fator de vulnerabilidade para quadros como: Fobia Social, Transtorno de Pânico e Transtorno Depressivo Maior. Outros estudiosos defendem que o surgimento precoce do quadro é um fator de vulnerabilidade para o aparecimento de qualquer transtorno de ansiedade na fase adulta, inclusive o próprio TAG (Last & cols., 1996; Flannery-Schroeder, 2004) e a falta de tratamento adequado pode levar a sérios prejuízos no funcionamento do indivíduo (Tracey & cols., 1997). Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social O TAS pode ser entendido como uma vivência exagerada e persistente de ansiedade a estranhos. Crianças com até 2,5 anos tendem a não se sentir confortáveis perto de pessoas não familiares, evitando estabelecer uma comunicação assertiva. Este comportamento é esperado para a idade e deve ser entendido como parte do desenvolvimento infantil normal. Entretanto, após este período, se o estranhamento persistir e interferir na construção de uma vida 23 social, é possível que este desconforto tenha se tornado patológico (Chavira & Stein, 2005). O DSM-IV-TR (APA, 2000) apresenta os seguintes critérios diagnósticos para o TAS: medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, em uma ou mais situações sociais ou de desempenho que envolvam a exposição a pessoas estranhas ou a possível gozação de terceiros; presença de resposta imediata de ansiedade, caracterizada muitas vezes como um ataque de pânico, resultante da antecipação ou do contato com a situação social temida; reconhecimento de que o medo é irracional ou desproporcional. As situações sociais e de desempenho temidas são constantemente evitadas, ou suportadas com intenso sofrimento, resultando em prejuízo funcional significativo. O quadro não se deve à ingestão de alguma substância (drogas de abuso ou medicamentos), condição médica geral, e não é melhor explicado por outro transtorno mental. Apesar de não configurar um critério diagnóstico, a presença de sintomas somáticos é comumente descrita nos momentos de antecipação e exposição à situação social temida. Palpitações, tremores, sudorese, desconforto gastrointestinal, diarreia, tensão muscular, rubor facial e confusão mental são os sintomas mais frequentes. Em crianças e adolescentes, algumas considerações acerca dos critérios descritos acima devem ser feitas para que o diagnóstico se confirme. O TAS só pode ser diagnosticado em crianças que apresentem habilidades sociais adequadas a sua idade, com pessoas que lhe são familiares. Outra consideração importante é a necessária presença de ansiedade em situações sociais que envolvam outras crianças e não apenas na interação com adultos. Crianças e adolescentes com TAS não precisam reconhecer o medo que sentem como irracional ou desproporcional, mas os sintomas devem ter duração mínima de seis meses. Este critério é exclusivo para infanto-juvenis, ou seja, para menores de 18 anos (APA, 2000). A resposta ansiosa da criança tende a ser diferente da apresentada pelo adulto. Diante da situação temida, a criança procura se afastar do ambiente com pessoas estranhas e buscar a proteção e segurança junto a pessoas familiares, 24 em especial junto aos pais. Além dos ataques de pânico, o choro e a imobilidade também são reações apresentadas como resposta ansiosa pela criança (Asbahr, 2004). Crianças com TAS referem passar por situações sociais ansiogênicas quase todos os dias. A escola é o ambiente onde 60% dos eventos estressores listados pelas crianças ocorrem. A lista das situações mais temidas inclui: conversar com outras crianças, fazer provas, apresentações artísticas e leitura em voz alta (Beidel & cols., 1999). Esse mesmo estudo identificou as situações mais ansiogênicas para préadolescentes. A leitura em sala de aula; escrever no quadro negro; apresentações artísticas ou esportivas; e conversar com pessoas da mesma idade e com adultos foram apontados como situações difíceis a serem enfrentadas pelo grupo amostrado. Hofmann e cols. (1999) identificaram interações informais com pessoas da mesma idade como a pior situação social a ser enfrentada entre adolescentes. A fim de se esquivarem do desconforto causado por interações sociais temidas, crianças e adolescentes com TAS evitam ir ao quadro negro na sala de aula, brincar em grupo ou usar o banheiro da escola (Chavira & Stein, 2005). A principal consequência deste comportamento evitativo é a dificuldade ou mesmo a incapacidade de fazer amizade com pessoas da mesma idade (Beidel & cols., 1999). Alguns autores encontraram que, além do comprometimento das habilidades sociais, crianças e adolescentes acometidos por TAS apresentam pior desempenho em tarefas que envolvam leitura em voz alta e fluência, se comparadas com infanto-juvenis normais da mesma idade (Spence & cols., 2001; Beidel & cols., 1999; Essau, Conradt & Peterman, 2000). O comportamento de esquiva parece se tornar mais frequente com a idade (Beidel & cols., 1999). Essau e cols. (2000) encontraram que 65,4% da amostra de adolescentes com sintomas marcantes de ansiedade social relataram ter evitado, pelo menos algumas vezes, situações sociais desconfortáveis. A maior autonomia dos adolescentes é apontada como principal causa para que o comportamento evitativo cresça em função do tempo (Beidel & cols., 1999). 25 Crianças e adolescentes com TAS tendem a interpretar as situações cotidianas como mais ameaçadoras do que crianças que não apresentam este diagnóstico (Chavira & Stein, 2005). Aquelas com idades entre 10 e 12 anos, e adolescentes com TAS além de interpretarem o ambiente como ameaçador, tendem a desenvolver pensamentos negativos sobre si mesmos e sobre suas capacidades para lidarem com situações sociais (Spence & cols., 2001). O curso do TAS é variável e o prejuízo social tanto pode ser mantido pela adolescência e vida adulta, como pode melhorar espontaneamente. Há um alto índice de comorbidades entre TAS e outros transtornos, inclusive com Abuso de Substâncias quando o TAS se torna crônico (Essau & cols., 2000). A taxa de prevalência de TAS na população infanto-juvenil norteamericana se apresenta em torno de 2,5%, sendo mais prevalente em meninas (Chavira & Stein, 2005). Dois grandes estudos epidemiológicos da Alemanha encontraram que 0,5% das crianças e entre 2 e 4 % dos adolescentes tinham TAS (Essau & cols., 2000; Wittchen, Stein & Keessler, 1999). Pesquisas epidemiológicas sugerem que o TAS pode ser mais frequentemente encontrado em adolescentes do que em crianças (Chavira & Stein, 2005), com prevalência de 5% em adolescentes com idades entre 12 e 18 anos (Costello & cols., 1999; Ferdinad & Verhulst, 1995). Apesar da maior incidência acontecer por volta de 14 ou 15 anos de idade, o diagnóstico pode se dar em qualquer idade, sendo relativamente comum em crianças com sete e 12 anos de idade (Chavira & Stein, 2005; Spence, 1998). Há evidências de que o início precoce aumenta a probabilidade do quadro se tornar grave e crônico, havendo uma abrangência maior de situações sociais temidas e um prognóstico menos promissor (Chavira & Stein, 2005; Beidel & cols., 1999). Chavira & Stein (2005) identificaram a depressão maior, o TAG, as fobias específicas e o TDAH como principais comorbidades em uma amostra clínica. A presença do TAS na infância e adolescência é um fator de risco para prejuízos funcionais importantes no adulto (Chavira & Stein, 2005). Estudos prospectivos mostraram que o adulto com histórico de TAS muitas vezes apresenta uma história de fracasso escolar, acompanhada de baixa autoestima 26 e solidão (Francis & cols.,1987). O quadro na infância possui forte associação com outros transtornos de ansiedade, depressão, abuso de substância e tentativa de suicídio na fase adulta (Chavira & Stein, 2005) Transtorno de Conduta O transtorno de conduta se configura como um dos transtornos psiquiátricos mais freqüentes no período da infância, consequentemente, gerando uma dos principais causas de encaminhamento ao serviço de saúde mental. Desta forma, importa ressaltar que o transtorno de conduta não deve ser confundido com o termo “distúrbio da conduta”, utilizado no Brasil de forma muito abrangente e inespecífica a fim de nomear problemas de saúde mental que causam incomodo no ambiente familiar e\ou escolar. Por exemplo, crianças e adolescentes com o perfil de desobediência familiar e nos espaços sociais, que apresentem dificuldade em aceitar regras e limites e que desafiam a autoridade de pais ou professores costumam ser encaminhados ao serviço de saúde mental devido a “distúrbio da conduta”. No entanto, os jovens que apresentam tais distúrbios nem sempre preenchem critérios para a categoria diagnóstica “transtorno de conduta” assim, não se torna 27 propicio para representar e caracterizar diagnósticos psiquiátricos (Bordim, Offord, 2008) Nomeados no CID Classificação Internacional de Doença pelo código F91, essa categoria entra nos Transtornos de Comportamento Disreptivos (TCDs) e segundo o DSM-IV Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais essa classificação mais geral é composta por dois transtornos: o Transtorno da Conduta (TC) e o Transtorno Desafiador de Oposição (TODO). As pessoas com mais de 18 anos que apresentam essas características são consideradas com Transtorno de Personalidade Antissocial (Bordim, Offord, 2008). Classificação Os transtornos de comportamento disruptivos incluem o transtorno desafiador de oposição (TODO), os transtornos da conduta (TC) e o transtorno de déficit de atenção \ hiperatividade (TDAH). O TDO e TC estão intimamente relacionados. O TODO é visto como uma forma precursora, mais leve, ou subtipo, de TC. E, quando os comportamentos ocorrem com muito mais frequência do que costuma ser observado em indivíduos de idade e nível de desenvolvimento comparável e quando leva a comprometimento funcional que se torna um transtorno. Também parece essencial investigar de maneira exaustiva outros transtornos psiquiátricos ou comorbidades. Muitos jovens traumatizados com transtorno do humor (deprimidos ou bipolares), psicóticos ou com desenvolvimento perturbado se engajam em comportamentos negativos. O TDO e o TC não devem ser diagnosticado em separado se os sintomas ocorrem exclusivamente durante o curso desses outros transtornos. Inicialmente, em qualquer transtorno e para qualquer paciente, o primeiro passo é a realização de uma avaliação minuciosa que possa trazer dados consistentes a fim de se traçar uma linha de bases. Isto é, conhecer quem é a pessoa, qual sua demanda, como foi sua história de aprendizagem e quais são 28 as relações estabelecidas com o contexto. A avaliação permite trazer um diagnóstico topográfico e funcional, apontar diagnósticos diferenciais e escolher as técnicas mais pertinentes e eficazes para serem utilizadas no processo terapêutico. Além disso, a avaliação não ocorre apenas no início do acompanhamento psicoterápico, mas durante todo o processo. Uma vez que a criança e os pais vão se transformando ao longo do processo, vão aprendendo e desenvolvendo novas formas de relacionamento e adquirindo maior poder de discriminação de situações consideradas aversivas. Desta forma, diferentes maneiras de interpretação das situações vão sendo favorecidas e, consequentemente, novas habilidades de enfrentamento podem ser emitidas. Nesse sentido, o processo avaliativo deve estar presente durante todo o processo psicoterápico, a fim de focar metas, verificar possíveis resultados, restabelecer intervenções e objetivos terapêuticos. Critérios diagnósticos para TDO, TC, TDAH e Transtorno Desafiador de Conduta. Transtorno Desafiador de Oposição Para TDO, o indivíduo deve exibir pelo menos quatro de oito sintomas dentro dos últimos seis meses. Estes são sintomas característicos do portador desse transtorno: - Demonstrar ressentimento; - Ficar aborrecido com facilidade; - Discute com adultos; - Descontrola-se; - Culpa os outros por se mau comportamento; - Aborrece deliberadamente as pessoas; - Desafia regras ou solicitações; 29 - Revela Rancor. Transtorno da Conduta No Transtorno de conduta deve exibir três dos quinze sintomas no ano anterior e nos últimos seis meses. Estes são sintomas característicos do portador desse transtorno: - Bravatas (persegue, atormenta, ameaça ou intimido os outros); - Crueldade com os animais; - Destruição de propriedade alheia; - Brigas; - Permanência até tarde da noite fora de casa; - Fuga de casa; - Imposição de sexo à força; - Crueldade com pessoas; - Uso de armas; - Provocação de incêndios; - Invasão da casa, edifício ou carro de alguém; - Ausência da escola; - Mentira ou trapaça todos os dias; - Roubo com confrontação com a vítima (assalto) - Furto (não há a confrontação da vítima). Transtorno de Déficit de Atenção \ Hiperatividade (TDAH) 30 O TDAH deve ocorrer na infância inicial, no mínimo antes dos sete anos de idade, mesmo não sendo diagnosticado mais tarde. Se uma criança apresentar, por seis meses ou mais, dos sintomas de desatenção, o transtorno é identificado como TDHA do tipo que predomina a desatenção. Se houver, por mais de seis meses ou mais, sintomas hiperativos impulsivos são satisfeitos os critérios para o tipo predominantemente hiperativo impulsivo. Se houver os dois, o TDHA é do tipo combinado. Sintomas de Desatenção Nove critérios para os sintomas de desatenção do TDAH (6 de 9): - Erro por descuido; - Dificuldade de atenção; - Problemas de ouvir; - Perda das coisas; - Falha em finalizar o que inicia; - Falta de capacidade de organização; 31 - Relutância em fazer tarefas que necessitam de esforço mental persistente. - Esquecimento das atividades de rotina; - Distração fácil. Sintomas Hiperativos Impulsivos Nove critérios para a hiperatividade (6 de 9): - Corre ou é inquieto; - Incapaz de esperar por sua vez; - Incapaz de brincar quieto; - Lento ou incapaz de ficar parado; - Apresenta inquietação com as mãos e os pés; - Responde com precipitação; - Dificuldade em ficar sentado; - Falo de mais; - Tende a interromper. Outro ponto importante é que esses comportamentos devem ser apresentados em público, além da escola e da casa. Epidemiologia O comportamento antissocial de crianças e adolescentes tem sido associado aos fatores constitucionais e ambientais. A partir do estabelecimento de clínicas vinculadas ao Juizado de menores que profissionais da Saúde Mental foi possível observar o desenvolvimento do comportamento antissocial na fase da infância e adolescência. Ao constatar-se a gama de problemas familiares e 32 sociais na história de vida dos delinquentes juvenis, foi elaborado a hipótese de uma reação às adversidades encontradas tanto no ambiente familiar como na comunidade (Bordin, ofoord 2000) Segundo Winnicott (1994), quando crianças sofrem privação afetiva, manifestam-se os comportamentos antissociais no lar ou numa esfera mais ampla. Do ponto de vista psicodâmico, estes comportamentos demonstram esperança em obter algo que foi perdido, sendo a ausência de esperança a característica básica da criança que sofreu privação. O jovem experimenta um impulso de busca de objeto, de alguém que possa encarregar-se de cuidar dele, esperando poder confiar num ambiente estável, capaz de suportar a tensão resultante do comportamento impulsivo. O ambiente é repetidamente testado em sua capacidade para suporta a agressão, tolerar o incômodo, impedir a destruição, preservando o objeto que é procurado e encontrado. Acredita-se que a cerca de 2 a 16% das crianças em idade escolar satisfaçam os critérios diagnósticos de TDO ou TC. Tanto o TDO como o TC são mais prevalentes em meninos do que em meninas. A taxa de TC tende ser maior em adolescentes (7% em jovens de 12 a 16 anos) do que em crianças (4% em crianças de 4 a 11 anos). Considera-se o TC de início na infância uma forma mais séria de transtorno, cujo prognóstico em geral é pior. Mesmo assim, menos da metade das crianças com transtorno da conduta continua a sofrer do TC até a vida adulta. Contudo, algum tipo de transtorno psiquiátrico é diagnosticado em até 80% dos adultos que tiveram TC quando crianças. Em geral, os adultos que foram crianças com TC exibem taxas mais altas de criminalidade, de transtornos psiquiátricos e de abuso de substâncias, menos conquistas acadêmicas e ocupacionais, relacionamentos conjugais ruins e pior saúde física que os demais. Etiologia A etiologia do TDO e do TC é complexa e multifatorial. A pesquisa tem destacado vários fatores de risco que contribuem para o início. Tais fatores são características, acontecimentos ou processos que aumenta a probabilidade do 33 início do transtorno. Contudo, as crianças podem ter múltiplos fatores de risco e nunca desenvolver o transtorno ou, ao contrário, podem ter poucos e exibir um transtorno complexo. Embora exista muito a ser elucidado, é amplo o conhecimento sobre o início do TC, e a pesquisa provavelmente nos permitirá dividir o transtorno em subtipos que possam ter etiologias únicas e métodos únicos de tratamento efetivo. Fatores da Criança Temperamento: crianças com temperamento mais difícil (humor negativo, menos adaptabilidade, etc.) e alto nível de busca por novidades. Déficits neuropsicológicos: déficits de desempenho na linguagem, memória, coordenação motora, e “desempenho executivo” (raciocínio abstrato, planejamento, atenção enfocada e julgamento). Baixa relação autonômica atividade\ativação. Dificuldades iniciais de comportamento: início precoce da falta de obediência e agressão. Dificuldades acadêmicas: transtornos de aprendizagem em níveis baixos de desempenho intelectual. Disfunção serotonérgica. Traumatismo craniano, convulsões, outros distúrbios neurológicos. Outros transtornos psiquiátricos (especialmente TDH, TEPT, Transtornos da aprendizagem, abuso de drogas, transtornos de humor). Fatores dos Pais de Família Complicações pré e perinatais; complicações da gravidez e do parto; prematuridade e baixo peso ao nascer, lesões ou complicações cerebrais menores. 34 Psicopatologia e comportamento criminoso na família: comportamento criminoso, personalidade antissocial e alcoolismo em um dos genitores. Histórico familiar de personalidade antissocial, abuso de drogas, TDHA, transtorno de humor, transtorno de aprendizagem. Desempenho materno e paterno deficiente: comunicações coercitivas dos pais aos filhos; disciplina inconsciente, punição severa ou física e pai\mãe permissivos ou excessivamente controladores. Supervisão deficiente: poucas regras e falta de supervisão. Perturbação das qualidades das relações familiares: pouca aceitação dos filhos por parte dos pais; falta de calor humano, afeição, apoio emocional e apego. Discórdia conjugal: conflitos e\ou violência doméstica. Tamanho da família: família muito grande. Irmãos com comportamento antissocial (especialmente irmão mais velho). Desvantagem sócio econômica: pobreza, excesso de pessoas no lar, desemprego, habitação precária, estresse financeiro e falta de apoios. Fatores relacionados com a escola Ambiente escolar inadequado: turmas grandes com pouca ênfase em desempenho escolar, utilização rara pelos professores de feedback positivo, pouca ênfase na responsabilidade individual do estudantes, instalações e espaço de trabalho precários, indisponibilidade de professores e outro apoio dos funcionários da escola para lidar com as dificuldades dos alunos. Fatores Protetores Fatores que reduzem a probabilidade de ocorrência de TC entre jovens outrossim de alto risco: ser primogênito, visto pela mãe como afetuoso, com alta 35 autoestima e tendo local de controle (sentir que seu comportamento pode fazer a diferença) e ter adultos do mesmo sexo com um papel importante em seu desenvolvimento (além dos pais) que reforcem modelos de papéis. Tratamento Aspectos essenciais da avaliação de TDO e TC: 1- Devem ser feitas avaliações por diversos métodos e avaliadores em várias situações. 2- As escalas de avaliações podem ser úteis, mas não diagnósticas. 3- Certificar-se de uma avaliação psiquiátrica completa para outros diagnósticos e comorbidades primárias. 4- Uma avaliação educacional deve ser realizada se existir suspeita de problemas escolares ou da aprendizagem. Excluir transtornos da aprendizagem, déficit sensorial (problemas de audição ou visão). 5- Avaliar a dinâmica da família, suas interações e seu estilo de comunicação, bem como a história familiar de transtornos. 6- Realizar a análise funcional e comportamental, incluindo antecedentes, consequências e avaliações de linha de base e de acompanhamentos de comportamento. O tratamento será mais eficiente se for multimodal e utilização em diversas situações, que incluem o lar, a escola e o componente da criança no tratamento. Há comportamentos psicossociais bem estudados e com base em evidências que devem ser utilizados para os transtornos de conduta. Os tratamentos psicossociais com base em evidências são: 36 1- Treinamento de Manejo pelos pais (TMP): treina os pais para interagir com a criança de maneira que promovam o comportamento pró-social. 2- Treinamento de Habilidades Cognitivas em Solução de Problemas: desenvolve habilidades para enfrentar conflitos interpessoais, reordenando as expectativas cognitivas e treinando soluções adaptativas. 3- Terapia Multissistêmica: enfoca o funcionamento do sistema da família e o comportamento da criança no contexto de sistemas múltiplos (família, escola, grupo de colegas, etc.). 4- Treinamento de Manejo com a Raiva: auxilia a criança a desenvolver métodos mais adaptativos para lidar com sentimento de raiva. 5- Terapia Familiar Funcional: enfoca o auxílio a família para melhorar o estilo de interações e os comportamentos funcionais. A intervenção precoce e o auxílio as famílias na aquisição de métodos mais adaptativos nos relacionamentos melhoram o prognóstico. A respeito desse assunto Waidman (1998), explica que, pela perspectiva biopsicossocial, a família deve ser considerada como uma unidade funcional, na qual o impacto de uma enfermidade repercutirá em cada membro e em todos os relacionamentos familiares. Quanto mais jovem o paciente e menos grave os sintomas, maior a probabilidade do indivíduo se beneficiar de uma psicoterapia. Quando se trata de adolescente que já cometeu delitos, observa-se maior resistência à psicoterapia, podendo ser útil o envolvimento com profissionais especializados no manejo de jovens antissociais através de oficinas de artes, músicas e esportes. Nessas oficinas, o adolescente tem a oportunidade de estabelecer vinculo afetivo com profissionais responsáveis pelas atividades, tomando-os como modelos, além de perceber-se capaz de criar, o que favorece o desenvolvimento da autoestima. Sempre que possível, a família dos pacientes deve ser incluída no processo terapêutico. Outro passo importante é reavaliar o ambiente escolar da criança, se a metodologia de ensino é voltada para a resolução de conflitos em sala, se há inspeção nos pátios, pois as maiorias das situações agravantes e perigosas entre crianças e adolescentes acontecem fora da sala de aula. O ideal é uma 37 escola com esse olhar, com mais profissionais especializados na problemática real da existência de crianças que já trazem problemas comportamentais, não podendo a escola incentivar e sim inibir a piora desse quadro. O tratamento com psicofármacos faz-se necessário em algumas situações nas quais os sintomas alvos (por exemplo, ideias paranoides associadas à agressividade, convulsões) ou outros transtornos psiquiátricos (por exemplo, TDAH, depressão) estão presentes. Recomenda-se cautela no uso de neurolépticos para o tratamento da agressividade, pois os riscos podem superar os benefícios. A hospitalização está indicada em casos de risco iminentes para o paciente (por exemplo, suicídio, autoagressão) ou para os demais (por exemplo, homicídios). Sempre que possível optar por intervenções menos restritivas (por exemplo, hospital-dia). Prognóstico O prognóstico do TODO e do TC é bastante variável. Muitas pessoas com TC continuam a demonstrar algumas dificuldades flutuantes em aspectos comportamentais no seguimento (follow-up) de sete anos. Cerca de um terço dos indivíduos com TC desenvolve transtorno da personalidade antissocial. Começo tardio (após os 15 anos), sexo feminino, QI alto, boas habilidades sociais, família melhor estruturada, boa relação com colegas na escola, não usar drogas, paciente mais jovem, cultura pacifista, boas condições financeiras e histórico familiar sem transtornos de personalidade estão associados a um melhor prognóstico. Entre 60 – 75% dos adolescentes com transtornos de conduta NÃO se tornam antissociais\psicopatas\sóciopatas. A maioria nunca chega a ser condenada por algum crime e se tornam cidadãos produtivos desde que possuam apoio social suficiente. Desse modo, a prevenção e o tratamento precoce costumam ter mais sucesso na melhora do prognóstico. Apesar do alto risco de outros transtornos psiquiátricos, de ir a cadeia e de comprometimento do desempenho ocupacional, muitas crianças com TC atingem um ajustamento adulto favorável. 38 Comportamentos antissociais são frequentes observados no período da adolescência como sintomas isolados e transitórios. Porém, estes podem surgir precocemente na infância e persistir ao longo da vida, constituindo quadros psiquiátricos de difícil tratamento. Fatores individuais, familiares e sociais estão implicados no desenvolvimento e na persistência do comportamento antissocial, interagido de forma complexa e ainda pouco esclarecido. Pode-se identificar na literatura investigada o mapeamento do transtorno da conduta em suas vertentes, porém faz-se necessário, que os profissionais que atuam junto a infância e adolescência tomem ciência desses conhecimentos para subsidiar um intervenção efetiva. 39 REFERÊNCIAS Alpert, J. E.; Maddocks, A.; Rosenbaum, J. F. & Fava, M. (1994). Childhood psychopathology retrospectively assessed among adults with early onset major depression. Journal of Affective Disorders, 31, 165-171. American Psychiatric Association (2000). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV-TR) (4a ed). Porto Alegre/RS: Artes Médicas. Asbahr, F. (2004). Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos. Jornal de Pediatria, 80 (2), S28-S34. Barletta, Janaina Bianca. Avaliação e Intervenção psicoterapêutica nos transtornos disrruptivos: algumas reflexões. Rev. Bras. Ter. Cogn. Vol. 7 nº 2 Rio de Janeiro dez. 2011. Beidel, D. C.; Turner, S. 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