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Dados do IBGE revelam que o

Brasil está envelhecendo


Especialistas analisam os dados e comentam que além de aspectos sociais,
o envelhecimento revela um quadro futuro de mudança no desenho
econômico nacional

Atualidades / Jornal da USP no Ar / Jornal da USP no Ar 1ª edição / Rádio USP

https://jornal.usp.br/?p=658224 11/07/2023 - Publicado há 8 meses Atualizado:


02/08/2023 as 8:20

Por Julia Galvao*

Aqui no Brasil, ainda precisamos de alguns recursos e serviços, avalia Rosa Chubaci – Foto:
Freepik

De acordo com dados divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios Contínua – PNADC- do IBGE, a população nacional está
apresentando um constante envelhecimento. Em dez anos, o número de
pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população
— dado que revela uma importante mudança na estrutura etária da
nação brasileira.
Em número brutos, esses dados representam um aumento de cerca de 9
milhões de idosos no País. Rosa Chubaci, professora de Gerontologia da
Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, comenta que,
entre os motivos para o envelhecimento da população brasileira, é
possível destacar o avanço da medicina, já que as pessoas podem realizar
a prevenção médica com maior cuidado. Além disso, a redução da taxa de
fecundidade colaborou para esse cenário, ou seja, os indivíduos não
possuem tantos filhos como antigamente e, por isso, houve uma redução
do número de jovens no País.

Rosa Yuka Sato Chubaci – Foto: Jornal da USP

Qualidade de vida

A professora reflete que é possível observar que


alguns países tiveram maior preparação para o
envelhecimento da população, como Japão, Canadá, Dinamarca e Estados
Unidos. Dessa forma, nesses locais, foram criados alguns serviços para
atender esses indivíduos. No Japão, por exemplo, é comum que políticas
públicas estimulem jovens a auxiliar a população idosa em atividades
cotidianas.

No Brasil, algumas dessas práticas estão se tornando comuns junto com


as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), entidades
residenciais que são destinadas ao domicílio de pessoas com 60 anos ou
mais. Além disso, existem alguns centros de convivência que apresentam
como objetivo a promoção de um envelhecimento mais saudável e ativo.
“Aqui no Brasil, nós ainda precisamos de alguns recursos e serviços, mas
temos bons exemplos, como o CRI Norte e o Instituto Paulista de Geriatria e
Gerontologia”, explica a especialista.
Rosa adiciona que os centros de convivência para idosos precisam ser
ampliados para todas as regiões do País para adicionar qualidade de vida
aos anos que as pessoas estão vivendo. “O Brasil está no caminho certo,
porém nós precisamos de um maior número de serviços para idosos”,
acrescenta.

Outra questão importante a ser considerada na temática é o hábito


brasileiro de condenar as instituições de permanência devido à cultura
extremamente familiar. “Quando o idoso tem dificuldade de ficar em casa,
a família pode lançar mão de serviços como as casas de repouso,
contanto que a família faça as visitas e leve o idoso para casa de vez em
quando”, analisa a especialista. Assim, é essencial investir no processo de
envelhecimento e se preparar para esse momento.

Por fim, Rosa destaca que o processo de envelhecimento se inicia desde o


momento em que nascemos, por isso, é importante investir em um
envelhecimento saudável e de forma ativa. “Envelhecer é um processo e
todos nós queremos ver o progresso que fizemos em nossa vida. Planejar
a sua morte também é muito importante, mesmo que as pessoas não
falem sobre isso ”, analisa.

Aspectos econômicos

Hélio Zylberstajn – Foto: Cecília Bastos/USP


Imagens

Além de aspectos sociais, a temática


revela uma mudança no desenho
econômico nacional, indicador
importante para pensar no
redirecionamento de políticas
públicas no País — principalmente
aquelas relativas à Previdência Social e à saúde pública.

Em primeiro lugar, observa-se que o Censo Demográfico revelou uma


informação alarmante para a organização econômica do País: o fim do
bônus demográfico — período em que a população em idade ativa cresce
em um ritmo maior que o da população total (que conta com a presença
de crianças e idosos).

Hélio Zylberstajn, professor de Economia da Faculdade de Economia,


Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, afirma que a solução
para esse problema é o retorno do crescimento econômico do País. “Para
voltar a crescer, nós precisamos de muitas coisas. Nós precisamos, antes
de tudo, fazer o investimento crescer, principalmente em infraestrutura”,
explica.

Assim, o especialista reforça a necessidade de atrair capitais privados para


aumentar os investimentos em transportes, estradas, ferrovias, portos,
aeroportos, saneamento básico, energia, habitação, entre outros. “Esse
investimento aumenta o nível de atividade, porque você precisa comprar
os insumos para fazer toda essa infraestrutura e, aumentando a demanda
de materiais, você aumenta também a ocupação de pessoas que vão ter
oportunidades de trabalho”, analisa.

Com o crescimento econômico, portanto, é possível criar as bases para


uma economia mais duradoura e fornecer emprego para a população que
atualmente não conta com tantas oportunidades trabalhistas. Segundo
Zylberstajn, junto a isso, é necessário aumentar a produtividade do
trabalho no Brasil, que está estagnada há décadas, para tornar a
economia nacional mais eficiente.

Questão da Previdência
Para o professor, novas reformas na Previdência serão inevitáveis
considerando a formação de uma nova pirâmide etária no Brasil. Isso
acontece pois o número de aposentados vai aumentar, com cada vez
menos contribuintes para pagar a aposentadoria desses idosos. “É um
futuro amedrontador e é por isso que nós precisamos voltar a crescer. Se
nós tivéssemos crescido enquanto a gente ainda tinha o bônus
demográfico as coisas seriam mais fáceis”, explica.

Zylberstajn considera ainda que a reforma de 2019 foi positiva, mas não
pode ser considerada, de fato, uma reforma, pois manteve o modelo
utilizado anteriormente, mudando apenas alguns de seus parâmetros —
como a idade mínima, algumas alíquotas de contribuição, o valor das
pensões, entre outros. O professor também considera que será
necessário acabar com alguns privilégios previdenciários presente no País.
“O Brasil gasta hoje cerca de 12% do seu PIB com aposentadorias,
enquanto isso acontecer nós estamos condenados a um beco sem saída.”

Para além disso, é importante que as escolas de ensino médio brasileiras


tornem-se profissionalizantes, já que, segundo o professor, as próprias
empresas devem participar do processo de formação dos estudantes para
garantir que a mão de obra do País se torne mais produtiva.

Por fim, nota-se que o Brasil precisa melhorar a qualidade do gasto


público, por isso, a presença de uma reforma tributária é, segundo o
especialista, essencial para a mudança prática dos erros presentes no
sistema econômico atual. “Nós precisamos passar a cobrar os impostos
sobre o consumo não mais na origem, mas no destino para acabar com a
guerra fiscal. É necessário melhorar o gasto público na educação e na
saúde, porque a gente gasta com pouca eficiência nessas áreas”, finaliza.
Jornal da USP no Ar
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