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Incidente em Antares - Resumo 1
Incidente em Antares - Resumo 1
RESUMO
CONTEXTO
Sobre o autor
Érico Veríssimo pertence à geração cuja estreia literária se deu nos anos 1930.
Trata-se do período do neorealismo brasileiro, que colocou em circulação uma
literatura regionalista de temática social acentuada. Em sua obra, Érico faz a
crônica de costumes do Rio Grande do Sul. De um lado, focaliza os dramas das
classes médias urbanas, de outro, conta a história do estado a partir de sagas
familiares.
Importância do livro
Incidente em Antares é, antes de tudo, um livro corajoso. Aborda a temática
política de maneira aberta e direta em plena ditadura militar dos anos 1960-1970,
de franca atuação da censura, à qual o autor não se submeteu. Além disso, trata-se
de um exemplo da vertente do realismo fantástico, de grande repercussão na
literatura latino-americana, embora mais rara no Brasil.
Período histórico
A ficção do segundo tempo modernista reagiu ao que considerou excessivo nas
inovações formais introduzidas pela geração heroica de 1922. Nesse contexto,
ganha destaque o teor de denúncia da narrativa. Incidente em Antares, embora
tenha sido publicado no início dos anos 1970, carrega ainda as marcas do segundo
tempo, ao qual o autor pertenceu originalmente.
ANÁLISE
A sátira menipéia é um gênero literário surgido ainda na Roma antiga, com autores
como Luciano de Samósata (125-181). Alguns dos traços fundamentais da sátira
menipéia são: o humor, a presença de mortos que se dirigem aos vivos, o tom
filosofante e mudanças constantes de tom narrativo.
Levando em conta essa caracterização, Incidente em Antares pode ser inserido
nessa tradição, já que há o registro cômico no comportamento e na conduta dos
habitantes de Antares. Os mortos fazem a crítica dos costumes locais, certos
momentos de fala sentenciosa, de efeito moralizante, e, por fim, ocorre a mudança
de tom narrativo, do romance de fundo histórico para o realismo fantástico, entre
a primeira e a segunda parte do livro, respectivamente.
A primeira parte do livro reconstitui a evolução social gaúcha nos moldes do
romance histórico tradicional, os fatos verídicos servem de fundo para a ação
ficcional. No caso do Incidente, a referência fundamental é a história brasileira e
sua repercussão local. Ganha destaque a figura de Tibério Vacariano, que possui
uma singular capacidade de antecipação das ações que envolvem personagens da
política nacional.
A segunda parte envereda pelo realismo fantástico ao relatar o estranho episódio
dos mortos que, indignados com sua condição de insepultos, vingam-se apontando
os males da sociedade local. O choque entre o realismo da primeira parte e a
fantasia da segunda é apenas aparente. Na verdade, há um estreito laço entre eles,
a sugerir que a história possui lances tão inacreditáveis quanto o relato mais
absurdo.
As personagens são mortos-vivos da sociedade brasileira, simbolizando tanto os
vivos que se fingem de mortos diante dos fatos inacreditáveis que presenciam,
como o golpe civil-militar de 1964, quanto os mortos e enterrados que, no entanto,
continuam a agir e a mandar, como a ação dos líderes locais, de um autoritarismo
que se mostra incompatível com as conquistas da liberdade humana.
As personagens são caracterizadas como tipos sociais para melhor realçar seu
efeito simbólico. Assim, temos, por exemplo, a manifestação da valentia gaúcha
nas falas do coronel Vacariano: “Palavra de honra, se esse moço [Carlos Lacerda,
jornalista carioca, opositor de Vargas] tivesse dito na imprensa sobre a minha
pessoa a metade do que disse sobre o Getúlio, eu tomava um avião, ia ao Rio e
metia-lhe um balaço em cada olho, palavra”. Não falta sequer a nota cômica no
perfil de algumas personagens, como o da telefonista Shirley Terezinha: “trinta e
cinco anos, solteirona, católica praticante, fã de Frank Sinatra, de novelas de rádio,
e leitora de Grande Hotel”.
Como espaço da ação, a cidade de Antares tem efeito metonímico: trata-se da
América Latina, com seu sistema político colonizado e corrupto; do Brasil, que
acrescenta a esse sistema o dado ditatorial; e, por fim, do Rio Grande do Sul, que
contribui com personagens e ideologia fundamentados em uma tradição local
coronelista, patriarcalista e machista.
O que os mortos denunciam na praça pública – espaço democrático por excelência
– é resultado daquele sistema político colonizado e corrupto, que permite os outros
desvios, fazendo com que a metonímia retorne ao seu ponto de partida e complete
a alegoria.