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talogagio na Pub) 7 «los Internacionais de Ca ode Dados inCamara Brasileira do Livro, SP, Bragiy (ol) ————e—~«s cero Apsicologia escolar ea educagdo de jovens ‘adultos /organizagio Fauston Negreiros, Herculano Ricardo Campos. - Campinas, sp linea, 2019. Bibliografia ISBN 978-85-7516-869-1 1. Educagdo continuada 2, Educagao de Jovens |e Adultos 3, Pritica de ensino 4. Professores - Formaga0 5. Psicologia escolar 6, Psicdlogos escolares - Formagao profissional I, Negreiros, Fauston. I. Campos, Herculano Ricardo. bD-371,713 indices para catilogo sistemético: 1. Psicélogos escolares : Formagao : Educagao 37.713 Tolanda Rodrigues Biode - Bibliotecéria - CRB-8/10014 Dircitos reservados ¢ protegidos pela Lei 9.610 de 19,2.1998. E proibida a reprodugdo total ou parcial sem autorizagio, Por escrito, dos detentores dos direitos. ‘Todos 0s direitos reservados 20 saa Trae? tomo e linea coget Titadentes, 1033 - Guanabara - Campinas-SP FP 13023-191 - PAB: (19) 3232.9340 / 3232.0047 Www. atomoealinea.com.br Impresso no Brasil Foi feito 0 depos legal Digitalizado com CamScanner em en Capitulo 7 CONTRIBUICOES DA PSICOLOGIA HISTORICO-CULTURAL PARA A COMPREENSAO DO DESENVOLVIMENTO DO PSIQUISMO DOS ALUNOS DAEJA Em destaque a adolescéncia Luciana Mara Tachini Barbosa e Marilda Gongalves Dias Facci INTRODUGAO Aresolugio SE 4, de 20/1/2017, do Ministério da Educagao (MEC) esta- belece que a idade minima para ingresso no ensino fundamental da Educagio de Jovens e Adultos é de 15 anos; jé para o ensino médio, exigem-se, no minimo, 18 anos. Dessa forma, muitos adolescentes' esto frequentando as salas de aulas dessa modalidade de ensino, 0 que mobiliza a proposi¢a0 deste capitulo. Nosso objetivo é discorrer sobre a periodizagao do desenvolvimento humano, especificamente a adolescéncia, tomando como referencia a psicolo- sia histérico-cultural, lolescentes 0s sujeitos jdera-se crianga, para ela entre doze € lmEe - No . oe da Crianga e do Adolescente (ECA), sio considerados ad crete ents 12 € 18 anos, conforme o art. 2°, no qual consta: “Consi dean desta Lei, a pessoa até doze anos incompletos, , adolescents aqu 7oito anos de idade” (Brasil, 1990). Digitalizado com CamScanner 140 LUCIANA MARA TACIMIBARBOSR E MARILOKGONCALVES ys ye, Mas, quem so os alunos que frequentam a EIA? Soares ¢ Pedrosy (2016), baseados em trabalho publicado por Marta Kohl de Oliveira, afirmam o seguinte: Quando nos referimos a0 educando jovem e adulto, néo nos reporta- mos a qualquer sujeito vivenciando a etapa de vida jovem ou adulta, e sim a um piblico particular e com caracteristicas especificas: sujeitos que foram excluidos do sistema escolar (possuindo, portanto, pouca ou nenhuma escolarizacio); individuos que possuem certas peculiaridades socioculturais; sujeitos que jd esto inseridos no mundo do trabalho; sobretudo, sujeitos que se encontram em uma etapa de vida diferente da etapa da infancia (p. 263). Os autores afirmam que a psicologia da educagio ainda tem contribuido pouco para compreender os individuos que frequentam a EJA, uma vez que se dedica mais a estudar o desenvolvimento infantil. Concordamos com Vygotsky (2003) quando afirma que cabe & psicologia dar embasamento & educagao no que se refere ao processo de desenvolvimento ¢ aprendizagem dos alunos, por isso, também a proposigdo deste capitulo. Precisamos compreender a singularidade dos alunos que frequentam essa modalidade de ensino, na fase de desenvolvi- mento que vai da adolescéncia até a vida adulta, chegando muitas vezes 4 velhice. De inicio, precisamos deixar marcada a concepgao de educacdo que embasa este texto. Partimos do entendimento que cabe a educagio a socia- lizagao dos conhecimentos produzidos pelos homens, conforme propoe Saviani (2003). A escola que conhecemos é resultante da construgio histo- rica da educagdo que se caracterizou na efetivagdio da sociedade moderna €, mais especificamente, da sociedade capitalist. Nao é nossa intengao fazer um tratado sobre a histéria da educagdo, mas, em consonincia com Zibas (2005), entendemos a educagéo como um campo de lutas cujas contradigdes podem tanto reforgar a estratificagao social quanto contribuir para a democratizacao (p: !-068)- Em todo instante, essa luta ocorre no processo educativo, demandando u™ Posicionamento politico. Sabemos, conforme discorremos anteriormente (Facci, 2004a), que ne™ todas as concepgdes tedricas que fundamentam a pritica pedagdgica trabalham em prol do acesso de todos os sujeitos & educagdo ou mesmo defendem a valo- Digitalizado com CamScanner sts HPC LOGAHSTRKOCTAL RA CONPEESIO Sepp ogy 141 of o ipagio 68 escola como uma instituig%o que pode colaborar para a transforma: fi i , - gioda consciéncia dos alunos, na busca, coletiva, pela transformagao da socie- ine No que di Fespeto a esse aspecto, Savian (2012) advenenos de que Na medida em que estamos ainda numa sociedade de classes com interesses opostos e que a instrugao generalizada da contraria os interesses de estratificagao de classes, tentativa de desvalorizagio da escola, Populacéo ocorre essa Cujo objetivo é reduzir 0 seu impacto em relacéo as exigéncias de transformacéo da prépria socie- dade (pp. 84-85, grifo nosso). Aapropriago dos bens materiais e culturais € a base para a constituigdo de cada sujeito na formagao da subjeti idade e da singularidade, Compreender como se dé o desenvolvimento do psiquismo pode colaborar com os professo- res na pritica pedagégica, Dessa forma, neste capitulo, faremos, inicialmen te, a exposigdo de alguns pressupostos da psicologia histérico-cultural e, na sequéncia, discorreremos sobre a adolescéncia, discutindo os contetidos que podem oferecer subsidios para o trabalho do professor na EJA. APSICOLOGIA HISTORICO-CULTURAL E0 DESENVOLVIMENTO DO PSIQUISMO Os pressupostos da escola de Lev Semionévich Vigotski (1896-1934) vém ocupando espago nas propostas pedagégicas das escolas brasileiras Como um referencial necessario para os educadores na efetivagao do proceso ‘msino-aprendizagem. Vigotski, por volta de 1927, na Ex-Unio Soviéticn, %0 sistematizar sua teoria, demonstrou a necessidade de se repensar a psico- logia até entao desenvolvida por estudiosos de diferentes paises; retomou os €studos de varios Psicélogos para compreender qual resposta psicologia “Sava direcionando para as necessidades da sociedade, Seus escritos sobre 0 significado histérico da crise da Psicologia — uma investigacao metodolégica “fctivaram-se no contexto de reconstrugio da sociedade sovietica, permitindo, historicamente, uma reflexao critica das produgdes existentes até o momento. 142 LUCIANA MARA TACHINI BARBOSA E MARILDA GONCALVES pgs, «cL for ndo desvaloriza a produgao de cada uma das teorias existentes na a, mas analisa suas limitagSes no que diz respeito ao entendimenty 0 humano para além do comportamento observavel e remete as O aut psicologi do psiquism relagdes histéricas em que 0 homem se desenvolve. A psicologia postulada dada em um método de andlise que traz uma compreensio por ele é aquela fun jo conhecimento cientifico. Sobre isso, Duarte (2000) dialética e materialista d explica: Dialética porque a apreensio da realidade pelo pensamento nio se realiza de forma imediata, pelo contato direto com as manifestagées mais aparentes da realidade. Ha que se desenvolver todo um complexe de mediagées tedricas extremamente abstratas para se chegar a essén- cia do real. Materialista porque Vigotski no compartilhava de qualquer tipo de idealismo ou de subjetivismo quando defendia a necessidade de mediago do abstrato. O conhecimento construido pelo pensamento cientifico a partir da mediacao do abstrato nao é uma construcao arbi- tréria da mente, ndo é 0 que o fendmeno parece ser a0 individuo, esse conhecimento é a captagéo, pelo pensamento, da esséncia da realidade objetiva, é reflexo dessa realidade (p. 87). Na teoria de Vygotski (2000), a historicidade constitui pressuposto fundamental para compreender 0 psiquismo humano. Estudar algo historica- mente significa estudé-lo em movimento. Essa é a exigéncia fundamental do método dialético (p. 67). A psicologia histérico-cultural, como propde 0 materialismo histérico e dialético, estabelece que o homem modifica a natureza e a obrig2 * servir-lhe, domina-a. E af esta, em iltima anilise, a diferenca essencial entre o homem ©-05 demas animals, dferenca que, mais uma vez, resulta do trabalho (Engels, 004 P10). trabalho, para esse autor: & a condigao bésica e fundamental de tod a8? ae Eem tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho crioue Préprio homem (p. 1). tou e O trabalho como fonte primeira do processo de mediagio possibilitoy juzit ossibili Possibilita ao ser humano conhecer e dominar a natureza & sua volta, prod instrumer i) x " la - os e signos que serio mediadores na relago que estabelece co” ‘om os 0 Outros homens. Como afirma Leontiev (1978): Ao mesmo tempo" o decurso da ativi atividade dos homens, as suas aptidées, os seus conhecimentos © os Digitalizado com CamScanner 50495010 HSTORO-CULTURAL FARA COMFREENRO Do DESEWVOLME¥TO DO PsQUSo ors 143 agher fazer cristalizam-se de certa maneira nos seus produtos (materiais, intelectuais, igen) (9-265). Aquilo que foi objetivado precisa ser apropriado para que o ser umano se humanize, tanto em relagdo as produgdes materiais como no plano desde, pois somente a agagem biol6gicando ésuficiente para o processo de humanizagao. Na psicologia hist6rico-cultural, parte-se do entendimento de que o homem se constrdi nas relagées histéricas, por meio da apropriagiio e da obje- tivagdo. Primeiramente, 0 homem apropria-se do que ja foi produzido e, domi- nado pelas geracbes anteriores, tanto em seu aspecto pratico — sabendo usar os instrumentos — como em seu aspecto € organiza¢ao tedrica — sua compreensao ¢ formulagdo em teorias, simbolos ¢ signos. A partir disso, podem-se criar novas objetivagdes que, em um processo dialético, sdo apropriadas dando continuidade ao processo de formacdo humana. Luria (1992) afirma que, influenciado por Marx, Vigotski conclui que, no processo de humanizagio dos homens, a origem e 0 desenvolvimento das fungdes psicolégicas supe- tiores - tais como atengZo concentrada, memoria légica, raciocinio abstrato, entre outras fungdes — est calcado nas relacées sociais que os individuos estabelecem com o meio externo. Ohomem ¢ 0 resultado de sua relagdio com o mundo que 0 rodeia duran- te toda a sua vida. Portanto, a construgao da consciéncia humana € histérica, € constituida nas relagdes que o sujeito estabelece com outros sujeitos, com 0s objetos, com a natureza. Nesse aspecto, Vygotski (2000) elaborou uma lei genética geral do desenvolvimento cultural afirma que ece em cena e depois no toda fungio do desenvolvimento cultural da crianga apar dduas vezes, em dois planos, primeiro em um plano sociale de Psicolégico, primeiramente entre os homens como categoria interps ahicae logo depois no interior da crianga como categoria intrapsiquice (p. 103), 10- Leontiey (1978) faz a seguinte reflexo acerca do process eee riapao: A principal caracteristca do processo de apropracio é Ho. cr p. 270). Para a psicologia etd relacionado ao proces- portanto, criar nO homem aptidées novas, fungdes psiquicas novas ( histérico-cultural, o processo de desenvolvimento ¢: Digitalizado com CamScanner LUCIANA MARA TACHINI BARBOSA E MAR 144 NLDA GONCALVES Os 4 dizagem. Admite-se que € nas relacdes culturais, ou send de diagoes variadas, de mode! sujeitos mais experientes que a crianga, desde 0 nasg; sci ‘sso decorrem algumas afirmagdes de que o sujeit ito ntemente, Se desenvolve. Para Vigotski, a ving, a vineu- so de apren' convivio, de me aprendizagens com mento, se humaniza. Di iro aprende ¢, consequel tre aprendizagem e dese fem a constituigao do humai se de interdependéncia, s estruturas superiores (de carater psicolégica) com 0 Uso de instrumentos e signos, bem los especificos de cada cultura, rt i de primei avolvimento conduz a uma rede de relagde s Iago ent que envolv no. Ocorre ent&o um conjunto de rela. oes dialética: ou seja, das estruturas primitivas (de caréter biolégico) & cultural) as mediagdes (iaterpsicolégica ¢ intra como pela presenga de mome O papel da escola, dessa fo formar uma se} ntos diversos de desenvolvimento. rma, consiste em proporcionar esse proceso gunda natureza no homem (Saviani, ientificos. Leal ef al. (2012) 10 escolar e 0 proces- de internalizagao, ou seja, 7003), aquela mediada pelos conhecimentos ¢ or meio da mediagao entre o conheciment umentam as possibilidades de os alunos apropriarem-se dos preensio da realidade e & sua agio no meio social (p. 1-se dos conhecimentos, a mediag0 do professor se faz necessaria, considerando o nivel de desenvolvimento proximo do estudante, Para Vigotski (2000) existem dois niveis de desenvolvimento: 0 real —aquilo que ja est4 internalizado no individuo - ¢ 0 nivel de desenvolvi- mento proximo — referente as atividades que esto em vias de se desenvolver ¢ que serao efetivadas por meio da mediacio. ‘A pedagogia deve ter um olhar prospectivo, Ievando em cont igotski (2000) afirma Ivimento proximo 4° process© ensino- a desenvolvide, sciplina es¢” ulsionados * observam que, P so de aprendizagem, a instrumentos necessérios & com 215), Para que o aluno possa apropria a aquilo que ainda nao esté plenamente desenvolvido. Vi que # educagdo s6 serd efetiva se atuar no nivel de desenvo aluno, Pensar dessa forma modifica significativamente 0 onda ue a organizagio curricular, a metodologi ——- mes as pare 0 aluno, a abordagem em cada di construir-se dialetic ome os conti cae SS yee processo de a ue , compreendendo-se que 0 ensino se adianta ; mows de lesenvolvimento. No caso da EJA, € importante destacar consigo uma série de conhecimentos obtidos na vid® cotidiam® oa, Digitalizado com CamScanner ges STA PSHEEAHSTORE UTA, PARA COMPREENSKO DO DEseHVOLMMENRODO Pusu, 14 = 5 ‘ou mesmo na escola, nos anos anteriores. Nesse Aspecto, o professor precisa consderar 0 que 0 estudante j sabe, mas, ao mesmo tempo, deve encaminhar oensino para niveis mais elevados ~ aqueles dos conhecimentos cienti cando 0 desenvolvimento psicoldgico. Shuare (1990) elucida, como Vigotski indicou, que a erianga aprende 0 que esté localizado no nivel de desenvolvimento proximal, que se trans- ficos — provi formara, por meio da colaboraco do outro, pela mediagao por instrumentos e signos, em nivel atual ou real, passando a crianca a dominé-lo sozinha, Por isso parece verdadeiro que a aprendizagem e o desenvolvimento em uma escola se relacionam entre si como acontece com a zona de desenvolvimento proximal e rivel de desenvolvimento atual (Shuare, 1990, p. 76). Com esse pensamento, assinala como a escola é um espaco caracteris- tico para promover a aprendizagem ¢ o desenvolvimento dos alunos. Trata-se de um processo marcado pelo importante papel da comunicagio nas atividades de ensino-aprendizagem. Isso, no entanto, nao ocorre sé no caso das criangas. Os alunos da EJA também devem ser ensinados levando em conta esses niveis de desenvolvimento, pois, em todo momento, hd conhecimentos que esto em nivel de desenvolvimento real ¢ aqueles que necessitam de auxilio de outros mediadores ou pessoas para que sejam internalizados. Essa apropriagdo do conhecimento, nas primeiras etapas de desenvol- vimento, segundo Leontiev (1978), acontece como simples imitacdo dos atos exercidos por outras pessoas, na qual a crianga se apropria dos conhecimentos Cotidianos. No entanto, na sequéncia de desenvolvimento, quando a crianga ingressa na escola, é a apropriag&io dos contetidos cientificos que provocara, muito mais, 0 seu desenvolvimento. Jé na idade adulta, o individuo pode ser autodidata, mas o processo de humanizagao sempre se dé por meio da educa $80. Leontiev (1978) destaca, ainda, o papel fundamental da educagio ¢ da ducagio escolar para a continuidade do progresso da humanidade ¢ que ser! impossivel a perpetuagdo de tal desenvolvimento sem que esse processo de transmissao dos resultados da produgaio humana as geragbes seguintes co esse, Alguém tem de transmitir esses conhecimentos para as novas Bera60 : : 1 aos concei ©N0 caso da educagdo escolar, esta podera proporcionar 0 acess tos das varias ciéncias, Digitalizado com CamScanner LUCIANA MARA TACHINI BARBOSA “6 EMAIL Conca rm Embora essa seja a forma pela qual o individuo vai se humanj. e P izan riante chamar a tengo para um aspecto importante: mesmo co, do, Mum é impor nvolvimento cultural da humanidade, ndo ha apropriac Iniver. grande deser sal dos conhecimentos que lhe so inerentes, uma vez que o dominio dete nao ests disponivel para tos 05 individuos. Esse process de conhesines ¢ apropriagao universal, segundo Leontiev (1978), parece ser praticamente inexistente néo em virtude das diferencas de cor da pele, da forma dos olhos ou de quaisquer outros tracos exte. riores, mas sim das enormes diferencas nas condicées e modos de vida, da riqueza da atividade material e mental, do nivel de desen- volvimento das formas e aptidées intelectuais (p. 274, grifo nosso). E continua: [..J esta desigualdade entre os homens nao provém das suas diferencas bioldgicas naturais. Ela 6 0 produto da desigualdade econémica, da desi gualdade de classes e da diversidade consecutiva das suas relagdes com as aquisic6es que encarnam todas as aptidées e faculdades da natureza humana, formadas no decurso de um processo sécio-histérico (p. 274). Aparentemente, a produgdo material e cultural é destinada a todos os membros dessa sociedade, todavia verificamos que sé uma infima minoria tem idades materiais de receber a formacao requerida, de enriquecer 1978, © vagar e as posit sistematicamente os seus conhecimentos e de se entregar as artes (Leontiev p. 275). Esse aspecto abordado por Leontiev ajuiza a preocupacao dos teérices da escola de Vigotski com as relagées sociais engendradas dentro da socieda- dee que determinam o desenvolvimento da humanidade e de cada homem especial. © nfo acesso a toda a humanidade a0 que & produzido par caracteriza-se como um processo de alienagio que, notadamente, pode influenciar a formagdo da individualidade e da consciéncia do sue © Provoca uma ruptura entre as gigantescas possibilidades de desenvolvimen'® Postas para o homem ¢ a pobreza e a estreiteza de desenvolvimento &™ Sociedade na qual nem todos tem acesso igualitério aos bens culturais © mater Tals produzidos pelos homens. Digitalizado com CamScanner DA PSICOLOGIA | HISTORICO-CULTURAL PARA A, COMPREENSAc const ‘000 DESERVowviy ENTO Do PSiQuism 0... 14 Quando pensamos nos alunos da EJA, Ja de inicio 7 ujetos que, mesmo ume em uma sociedade letrada os Stamos diante de ram da leitura € da escrita, pela falta de Oportunidade de fre: ie Se apropria- te,a escola na idade certa ou, também, perante de aide cient, a © provoca uma distoreao ae os impulsiona a frequentar a EJA. erie e Ao defendermos que a psicologia histérico-cultural Pode ser tomad: mada cia que tal teoria ler de que modo a : ial. Outro aspecto refere-se ao entendimento de‘como a formacao do Psiquismo humano neces- sita da apropriaco tanto dos bens materiais como dos bens intelectuais da sociedade onde esta inserido o individuo para sua efetivagio e desenvolvimen- to. Por conseguinte, o professor é mediador nesse mecanismo transmitindo 0 conhecimento cientifico aos alunos. Tal aproximagiio exige uma dinamica de como referencial pedagégico, fazemos isso pela importén 4 edueago escolar e pelas oportunidades de compreend educacao esta atrelada aos determinantes do mundo materi telagdes organizadas, capazes de por em movimento os processos internos de aprendizagem, ou seja, de relacionar 0 que o aluno ja sabe com aquilo de que ele ira se apropriar. Facci (2004a) relata que, em se tratando da importincia do processo de escolarizacaio na formacio dos processos psicoldgicos superiores, o professor ocupa papel fundamental: © professor, neste aspecto, constitui-se como mediador entra os conhecimentos cientificos e os alunos, fazendo movimentar as fungSes Psicoldgicas superiores destes, levando-os a fazer correlagdes com cs conhecimentos jé adquiridos e também promovendo a necessidads 0° apropriagao permanente de conhecimentos cada vez mals desenvolv dos e ricos (p. 210). prendizagem ¢ desenvolvi pode vislumbraraapret sas as fungbes psicoloei- cultural quanto Ainda que o sujeito inicie seu processo de al Mento desde o nascimento, é na educa¢ao escolar que se dizagem dos conceitos cientificos e tomar mais comple CaS superiores. Relembrar esse postulado da psicologia 2 processo de aprendizagem e desenvolvimento € PFC Viento das atividades escolares, jé que impulsiona 8 OOM uanto as metodologias e formas de se efetivar # pritica pe historico- smissa para 0 de mada de conse Digitalizado com CamScanner 148 LUCIANA MARA TACHINI BARBOSA E MARILDA. SONAL se Na escola, os alunos podem formar os conceitos com base na Mediags, realizada pelo professor, que apresenta os contetidos curriculares, No Procesgy de desenvolvimento de conceitos, sto formadas generalizacées por intemédg das mediagdes que ocorrem na zona de desenvolvimento proximal, 0 Pensa. mento em conceitos esta ligado a consciéncia social. Nesse aspecto da consiry, ao dos conceitos, a linguagem é um meio poderoso de analisar e classificar, . E pela linguagem que se possibilta ao a qual ¢ inseparavel da compreensii sujeito construire ampliar os conceitos, ja que estes representam o significado das palavras (Vigotski, 2000, p. 242). O conceito penetra a esséncia dos objetos, estabelece o vinculo interno das coisas e 0 complexo sistema dos fenémenos, Conforme o individuo vai se apropriando dos conhecimentos, no proces- so de interagdo, ele vai transformando as fungdes psicoldgicas superiores e a sua personalidade. Formam-se caracteristicas especificas e neoformagies em cada fase da vida. Nesse aspecto, autores da psicologia histérico-cultural elaboraram teorias importantes sobre a periodizagao do desenvolvimento humano, conforme veremos a seguir. APERIODIZACAO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: EM DESTAQUE A ADOLESCENCIA No estudo do psiquismo humano, Vigotski outros tedricos da psico- logia histérico-cultural, dentre os quais podemos citar Leontiev ( 1903-1979), Elkonin (1904-1984) e Davidov (1930-1998), estudaram 0 que denominam atividade principal, e também o desenvolvimento em cada etapa da vide 4° Ser humano. Para Vigotski (2000), o estudo do desenvolvimento infantil n° ree Prescindir da compreensiio dos determinantes histérico-sociais 4" influenciam as caracteristicas de cada periodo evolutivo do individu. Out® qari coco do autor foi a compreensao de que, durante o process? a line nS apresentam altemncias entre idades, que ele denomino¥ © estiveis e que se constitu Vigotski (2000) humano: crise pés-1 1em em cada estégio de desenvolviment®- i Fae ) estabelece a seguinte periodizagao do desenvolvimem™ ise dos ane "al, primeiro ano de vida, crise de um ano, | a3 anos idade de colocar esses alunos no mercado de trabalho, resgatando @ auto ssid i : a ores fet! € colocando-0s numa posigao de eidadio comum. Os pesauisadores a8 segui s seguintes ponderagdes sobre os alunos da EJA: Com um piiblico especifico que traz consigo sequelas de experiencis fi Tustradas ao longo da vida, o adulto chega a EJA com uma bagage™ i = Digitalizado com CamScanner qntRIBUICDESDAPSICOLOGIA HISTORICO-CULTURAL PARA A COMPREENSRO Do DESenVoLVMENTO DO PSIQUISMO... 163 cultural diversificada, habilidades inmeras, conhecimentos acumulae dos e reflexdes sobre o seu mundo. Muitos se encontram hurilhados pela condigio de excluidos da escola por diferentes razées: necessi. dade de trabalho, reprovagées sucessivas, por no se terem adapta- do s normas da escola, por nio terem conseguido aprender 0 que necessitam com urgéncia, aprender o necessério para sobreviver neste mundo cientifico e tecnolégico em que vivem. Chegam e encontram a mesma escola que o$ excluiu hd anos com propostas pedagégieas que ndo contemplam as suas expectativas e escolas com regras especificas e generalizadas. Este, além de outros aspectos, leva ao alto indice de evasio observado nos programas de EJA na atualidade. Esse fracasso pode ser explicado, principalmente, por problemas de concepcio epis- temolégica e pedagégica entre o concebido pelas propostas oficiais € 0 vivide por esta comunidade no ambito escolar (Friedrich et al., 2010, p. 406). Mais uma vez, assistimos, segundo os autores, a um deslocamento das causas da crise de trabalho para a educagdo, como se ela pudesse, por meio do ensino, garantir acesso de todos ao direito aos bens materiais ¢ culturais. A légica produtivista exige dos alunos competéncias sociais e cognitivas para se adequarem as exigéncias do mercado de trabalho. © predominio de uma concepcao produtivista nas atuais politicas educacionais, ao mesmo tempo em que se baseia no discurso da equi- dade e democratizacao, estimula a excluséo de determinadas moda- lidades de ensino por meio de desobrigagao governamental. E dessa forma que a educagio de jovens e adultos vem sendo dimensionada no Contexto social (Friedrich et al., 2010, p. 406). Sabemos que, historicamente, a classe trabalhadora teve e tem pouca Oportunidades de acessar os conceitos cientificos, 0 que a coloca na posigo de sofrer um processo de alienagdo com pouca chance de um desenvolvimento omnilateral. Conforme afirmam Abrantes e Bulhoes (2016), (O desafio seria o de proporcionar condicées para que 0 jovem se vincu- le com o real de forma sistemitica e fundamentada no saber produzido sobre determinado fenémeno da realidade, que um sistema conceitual Digitalizado com CamScanner 164 LUCIANA MARA TACHI BARBOSA E MARIO coy SUS i apropriadofuncione ese desenvolvano individu subjetivamente com, instrumento de andlse e interpretacio do mundo. Esse processo pon. biltaria a orientagio de agdes préticas a partir da producio de imagen fidedigna da realidade, a pressupor a dentificagio de reais necessidades sociais,vislumbrando o bem comum, incluindo a participacso ativa ng sistematizagio de problemas referentes a lacunas cientificas, teenoléy. cas e artisticas (p. 264). Esse seria um grande desafio para a Educagio de Jovens ¢ Adults, gy lida com alunos que jé foram expropriados do conhecimento na ‘idade cera'e que buscam, na escola, novas formas de se humanizar, de se apropriardo legs. do da humanidade, no que se refere aos conhecimentos das varias ciéncias, Ha ainda mais desafios a enfrentar, como a contraposigao as polit. cas educacionais — a reforma do ensino médio, por exemplo, do nosso ponto de vista, desvaloriza a apropriago dos conhecimentos classicos que devem constar nos curriculos —, a superagdo da vistio de que os adolescentes pouso podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade, o fracasso escolar, entre tantos dilemas da educagio, mas isso ficara para uma outra escrita... Referéncias Abrantes, A. A. & Bulhoes, L. F. (2016). Idade adulta e 0 desenvolvimento do psiquis na sociedade de classes: Juventude e trabalho. In L. M. Martins, A. A. Abrantes, M. 6D. Facei (Orgs.). 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