Você está na página 1de 19
Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude es = PRATICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM ie DE MENTAL: OFICINAS DE RELAXAMENTO E MEDITACAO INTEGRATIVE AND COMPLEMENTARY PRACTICES IN MENTAL HEALTH: RELAXATION AND MEDITATION WORKSHOPS Joanna Cameiro Camila Caribé Gabriela Rego Ambulatério de Satde Mental RESUMO Este relato de experiéncia buscou analisar as vivéncias e identificar os aprendizados de usuiirias adultas em duas oficinas terapSuticas de relaxamento e meditagao, desenvolvidas em um ambulatorio de satide mental localizado na cidade de Salvador. Foi utilizada uma metodologia qualitativa, cuja abordagem foi o estudo de caso de dois grupos, no periodo de fevereiro a abril de 2013. Participaram 19 mulheres com idades que variaram entre 28 a 58 anos, com diferentes niveis de escolaridade, apresentando transtomos mentais moderados (CID-10 F32 e F43.2). Os procedimentos de coleta de dados basearam-se em observagao participante, registros em diatios de campo, grupo focal ¢ entrevistas semiestruturadas. Além da anilise estatistica deseritiva, procedeu-se a hermenéutica- dialética dos dados qualitativos provenientes dos relatos das vivéncias e dos aprendizados oriundos das priticas. Durante as vivéncias, as falas estiveram relacionadas tanto a transtommos mentais quanto 4 satide mental. Os sintomas mais relatados e/ou citados foram nervosismo, estresse, tensio, confusio mental e malestar. As categorias indicativas de saide mental estiveram correlacionadas 4 convivéncia, relacionamento, vinculo, estabelecimento de limites e bem-estar. Os aprendizados mais referidos foram experiéneias de paz, sabedoria, tranquilidade, alegria e relaxamento. Desse modo, foram identificados resultados positives nas vivéncias e aprendizados relatados por usuarias adultas que poderao contribuir para repensar a politica ¢ as tecnologias de cuidado assistenciais visando a implantagao ¢ implementagao dessa modalidade de intervengao terapéutica a nivel ambulatorial na ‘irea de satide mental, desconstruindo, portanto, o paradigma vigente de que as oficinas terapéuticas 6 sfio adequadas, desenvolvidas e aplicadas em Centros de Atengio Psicossocial (CAPS) Palavras-chave: PICS. aide Mental, Relaxamento. Meditagio. Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-1 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) 2a eee ae Sonora ates cunt cnc es KR Ee ABSTRACT This experience report sought to analyze the experiences and identify the learning of adult users in ‘Wo therapeutic relaxation and meditation workshops, developed in a mental health outpatient elinie of the city of Salvador. A qualitative methodology was used, whose approach was the case study of ‘nvo groups, from February to April 2013. Nineteen women aged 28 to 58 years old, with different levels of education, with moderate mental disorders, participated of the study (CID-10 F32 and F43.2). Data collection procedures were based on participant observation, field diary records, focus group and semi-structured interviews. In addition to the descriptive statistical analysis, proceeded the hermeneuties-dialectic of the qualitative data from the reports of experiences and learning resulted of the practices. During the experiences, the speeches were related to both mental disorders and mental health. The most cited mental disorders were nervousness, stress, tension, mental confusion and malaise. The indicative categories of mental health were correlated with coexistence, relationship, bonding, setting boundaries and well-being. The most mentioned learnings were experiences of peace, wisdom, tranquility, joy and relaxation. Thus, positive results were identified in the experiences and leaming reported by adult users that may contribute to rethink the policy and technologies of care aimed at the deployment and implementation of this new modality of therapeutic intervention at the outpatient clinic level in the mental health area, deconstructing, therefore, the prevailing paradigm that therapeutic workshops are only adequate, developed and applied in CAPS. Keywords: Integrative and Complementary Health Practices. Mental Health, Relaxation, Meditation. INTRODUCAO Os Centros de Atengio Psicossocial (CAPS) foram constituidos € se constituem como a principal altemativa terapéutica, gestada pela reforma psiquistrica, na rede de atengao a satide mental para pessoas com transtomos mentais graves. Tém como fungio estratégica articular as forgas de atengio em satide ¢ as da comunidade, visando A reinsergio social ¢ a autonomia de seus ususrios (BRASIL, 2004), Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-1 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS Para os portadores de transtomos mentais moderados ou leves, a portaria n° 147/MS de 25/08/1994 estabelece normas para a assisténeia ambulatorial em satide mental que incluem atendimentos individuais e grupais - tais como grupo operativo, terapéutico, atividades socioterépicas, grupos de orientagao, atividades de sala de espera e atividades educativas em sade, Cammarota (2000) e Carneiro et.al, (2013), registraram que em ambulatéries de sade mental ainda se mantém um paradigma assistencial tradicional, envolvendo basicamente atendimentos psicoligicos individuais e intervenedes medicamentosas prescritas pelos profissionais das areas de psiquiatria e neurologia, ‘Mais ainda, nos servigos ambulatoriais em saiide mental se mantém uma falta de articulagio entre CAPS ~ ambulatérios ~ tervitério e entre ambulatérios ~ atengao basica e territério, apontando, assim, uma dificuldade de insetgio na Rede de Atengio Psicossocial (RAPS) e, portanto, evidenciando uma desintegrago com os outros servigos existentes (BRASIL, 2007). E devido a este contexto de assisténcia tradicional e restrita que as oficinas terapéuticas foram constituidas ¢ pautadas em uma proposta de inovagdo da assistéucia psicolégica, envolvendo uma tecnologia leve, condizente com os pressupostos da Reforma Psiquidtrica, buscando, portanto, um ‘novo conceito em satide mental, que supere a ideia de prevengao e tratamento dos transtomos mentais, para aleancar © projeto de promogio a saiide mental (SARAIVA, 2008). Sendo assim, toma-se fundamental a criagio de priticas que criem fatos, acontecimentos, espagos de expressio eriativa dentro da estrutura coletiva dos servigos, favorecendo a convivéncia e a troca de experiéneias, num esforgo incessante de superagio dos vicios institucionais (PRATA, 2004) De acordo com Guerra (2004), os dispositivos denominados oficinas remontam aos primérdios da psiquiatria e foram resignificadas como recurso terapéutico ao longo do tempo. No contexto da reforma psiquidtrica brasileira, as oficinas surgem oferecendo um espago para 0 sujeito em sua singularidade e historicidade, significando tomé-lo como sujeito concreto, pobre ou rico, preto ou branco, alfabetizado ou nao, e com todas as citcunstancias cotidianas que essas caracteristicas Ihe trazem. Ainda, para Guerra (2004) as oficinas se estabelecem e se inserem na intersegdo entre os campos da subjetividade e da cidadania, ou seja, entrelagando o sujeito em suas dimensdes psiquicas com o sujeito em suas dimens es politicas Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS ‘As oficinas terapéuticas caracterizam-se por serem atividades realizadas em grupo, com a presenga/orientagio de um profissional, onde se realizam varios tipos de atividades tendo em vista maior integrago social e familiar, manifestagdo de sentimentos e problemas, desenvolvimento de habilidades corporai (BRASIL, 2004), Constituindo-se como tecnologias de cuidado, as oficinas terapéuticas podem também ser realizagio de atividades produtivas e/ou 0 exercicio coletivo de cidadania referenciadas como teenologias leves as quais potencialmente podem expressar 0 trabalho vivo em ato com 0 ustiirio, articuladas 4 produgdo dos processos intersujeitos, ou seja, aos processos das relagdes que se configuram, por exemplo, através das priticas de acolhimento, bumanizacio, vinculo, mediagao, entre outras (MERHY, 1997). A partir das referéneias teérieas citadas acima, foram desenvolvidas duas oficinas terapéuticas de relaxamento e meditagio no ambulatério. Estas visaram possibilitar a integraglo dos usuarios consigo proprio € com 0 outro, favorecendo a aprendizagem através de uma metodologia tedrico- vivencial, envolvendo cuidados com o corpo, mente, aspectos sociais e crengas dos pacientes. O objetivo desta experiéncia foi, portanto, analisar as vivéncias e identificar os aprendizados de usuarias adultas em oficinas terapéuticas de relaxamento ¢ meditagao, desenvolvidas em um ambulatério de satide mental. As oficinas terapéuticas se estabelecem como atividades grupais visando mudangas nas dimensées politica (de conquista da cidadania) e clinica (de resgate ao sujeito) referentes ao cuidado em satide mental. Na clinica, tal mudanga recebe o nome de clinica ampliada (BEZERRA IR, 2004, apud LIMA, 2005), caracterizada pela compreensio multidiseiplinar do processo de satide e doenga, pela construgo compartilhada dos diagndsticos e das terapéuticas, da ampliagao do objeto de trabalho (0 sujeito), da transformagao dos instrumentos, além do suporte para os profissionais de satide (BRASIL, 2008), Apesar das oficinas terapéuticas e a maior parte dos estudos ja publicados nos titimos vinte anos sobre atividades grupais no campo da Satide Mental se referirem a experiéneias desenvolvidas em CAPS, essas oficinas nfo se constituem, ainda, como priticas cotidianas presentes nos ambulatérios de Satide Mental, inexistindo estudos e pesquisas dessa tecnologia no espago ambulatorial, o que aponta lacunas de pesquisas acerca da assisténecia ambulatorial em grupo. Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS Almeida et al. (2004, p. 120) indicam que nas oficinas terapéuticas realizam-se atividades focadas que se proptem a oferecer resposta clinica a conflitos vi ‘dos pelos clientes de modo especifico e prescritivo, “Hai um transtorno e é preciso enfrenti-lo”. A intervengao terapéutica proposta no presente trabalho, através das duas oficinas terapéuticas de relaxamento e meditagao, visa ao tratamento dos sintomas apresentados pelas uswarias, por meio da integragao ~ através da socializacdo de relatos diversos ~, da apresentagao de temas potencialmente geradores de satide mental para as participantes, além da realizagdo de vivéneias focadas em relaxamento e meditagio, No processo saiide-transtorno mental observamos comumente nas ustérias uma ocorréacia apontada por Sandor (1974), referente a circulos de expansio ou contragio, tensio e distensio, representando polaridades que se estendem desde a categoria bioligica até a animica-espiritual. Esse autor propde o relaxamento como um método eficaz de recondicionamento psicofisiolégico que visa descontragao e tranquilidade ¢ ¢ indicado como processo restaurador e reconstituinte em varias especialidades, ineluindo a psicoterapia Lowen (1997) sinaliza que se a pessoa entrar em relaxamento corporal profundo, em que a respiragao é plena e também profunda, pode-se alcangar a meditagao, Para este autor, a meditagao é “um meio pelo qual o individuo pode silenciar o barulho do mundo extemo e ouvir sua voz interior —a voz de Deus dentro dela” (LOWEN, 1997, p.226). ‘A meditagdo permite deixar momentaneamente de lado tudo © que acontece fora do sujeito ¢ possibilita 0 retorno para o intimo pessoal. Para que isso seja possivel, & preciso que a pessoa interrompa o fluxo de pensamentos, 0 que é chamado de fluxo de conscigneia, Se isso acontecer, a pessoa abre mio do controle inconsciente associado a um estado de vigilancia (atengao, preocupagio, controle) e é tomada por uma sensagdo de paz interior que impregna o corpo (LOWEN, 1997) Jung (2011) também faz um aporte teérico sobre o tema da meditacao quando diz que este termo vem do conceito alquimico meditatio, que significa “didlogo interior com alguém invisivel, que tanto pode ser Deus, quando invocado, como a prépria pessoa ou seu anjo benigno” (RULAND, 1612, citado por JUNG, 2011). Para Jung, a meditagdo no pode ser vista apenas como uma simples reflexio, mas também, e principalmente, como um didlogo interior, uma relagdo viva com a voz do “outro” que responde em nds, ou seja, 0 nosso ineonsciente. Pode ser entendida também, para o autor, Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS como um dislogo criativo, como um aumento de espiritualizagio interna, de contato com seu Deus; como uma relagao dialética, troca viva entre o Eu e o inconsciente. METODO Trata-se de um estudo descritivo, sob a forma de delineamento denominado relato de experigneia. A presente experiéncia constituiu-se de forma qualitativa. Este tipo de estudo investiga, de forma aprofundada e holistica, um fendmeno dentro do seu contexto e, para tal, requer a utilizacio de miltiplos procedimentos de coleta de relatos. A escolha metodolégica se justificou pelo interesse em analisar as vivéncias e identificar os aprendizados de usuarias adultas em duas oficinas terapéuticas de relaxamento e meditagio. As participantes foram selecionadas por conveniéneia, Os critérios de inelusto foram: novos usuarios adultos encaminhados em 2013, pela equipe de acolhimento, porta de entrada da unidade, e usuarios subsequentes que vinham sendo assistidos desde 0 ano de 2012. Foram compostos dois grupos, nomeados como Oficinas de Relaxamento e Meditagdo 1 2, as quais foram representadas pela iniciais (ORM 1 ¢ ORM 2), contendo 10 ¢ 9 participantes, respectivamente, em cada uma. Os transtomos mentais/sintomas apresentados pelos participantes no ambulatério em questo, durante o periodo de fevereiro a abril de 2013, foram considerados moderados e estiveram relacionados & ansiedade, depressio, desespero, medo, inseguranga diante de situagdes adversas, além 2000), 05 quadros clinicos das usuarias foram classifieados em dois grupos diagndsticos principais: F3 do prejuizo no campo sensério e na cognigao. Tomando como referéneia 0 CID-10 (OM! Episodios depressivos e F43.2- Transtomos de adaptagao. As experiéncias realizadas foram conduzidas pela psicéloga assistente e por uma estagidria de psicologia, sendo realizadas através de entrevistas, observagdes participantes, registros em dirios de campo ¢ grupo focal. Os relatos foram colhidos durante seis encontros a partir de: a) informagdes sociodemogrificas e clinicas; b) falas e intervengdes terapéuticas diversas durante as partillas feitas nas sessbes coletivas, descritas em um recorte; e) leituras com discussdes de textos relacionados aos temas geradores (respiragdo, bioenergética, grounding, relaxamento e meditagio) e de acordo com a base tedrico-pritica das oficinas de relaxamento e meditagio; d) vivéneias a partir dos temas Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS geradores; e) relatos propriamente ditos acerca dos aprendizados que ocorteram nas sessdes, apontando os sentidos que as participantes captaram, constituindo-se o instrumento de avaliagao da tecnologia, O processo de organizagao e andlise dos relatos foi auxiliado pela referéncia tedrico-técnica da hermenéutica-dialética (MINAYO, 2007) que toma como eixo central o termo compreensiio como categoria metodolégica mais potente no movimento e na atitude de investigacao. Segundo essa autora, a dialética é a forma como a realidade se desenvolve, jé que no universo tudo é movimento e transformagao, nada permanece como é, Além disso, Minayo (2007) afirma que, segundo essa teoria, cada coisa traz em si sua contradigdo, o que pode ser observado nitidamente nos relatos das usudrias, no qual traziam constantemente a dialética e o jogo de opostos no ir e vir entre a satide mental e o transtorno mental Ainda segundo a mesma autora, a hermengutica traz a base para a compreensio do sentido da comunicacao entre os seres humanos, usando da linguagem para aleancar a intersubjetividade ¢ o entendimento, Foram codificadas, fundamentalmente, as categorias analiticas de saiide e transtorno mental e suas derivagdes para a investigaco, a partir das analises das falas e dos relatos de aprendizados das usuarias durante o grupo focal, sendo registradas em difirios de campo e transeritas, em um recorte, em fragmentos narrativos conforme ilustrados no Quadro 1 e na Tabela 2. ‘No que tange aos prinefpios éticos: a experiéneia buscou ser aprovada pelo Comité de ética da unidade do ambulatério para poder ser desenvolvida e seguiu as diretrizes da Resolugao 466/12 do Ministério da Satide, concernente a pesquisas com seres humanos, Além disso, os participantes receberam, previamente, esclarecimentos sobre os objetivos ¢ o desenvolvimento da experiéncia e manifestaram interesse em participar, assinando em duas vias o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assegurando 0 sigilo e anonimato. A metodologia seguida no presente relato é semelhante metodologia da tese de doutorado “Dangas Circulares e Saber Sensivel na Formagao de Doutorandas em Educagio: um estudo das emogdes” de uma das autoras. Sendo assim, este relato se constitui como um desdobramento dela. A tese referida foi aprovada em Comité de Etica, de acordo com o Parecer de n° 2.453.096, Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude RESULTADOS DA EXPERIENCIA 4 vo ee ‘A caracterizagiio dos dados sociodemograficos clinicos das participantes encontra-se descrita na Tabela 1. Tabela ‘aracterizagao sociodemografica ¢ clinica das pasticipantes (N=19), Caracteristica N % Situagio Conjugal asada ou em unio estivel 10 3268 Separada, divorciada ow vitiva a 21.05 Solteira 2633 Escolaridade “Alfubetizado 2 Ensino Fundamental 9 Easing Médio 8 Principal diagndstico (Referéncia CID-10) 32. Episédio Depressive 1 57.90 Fa3.2- Transtonuo de Adaptagio 7 68S ¥ 07.0- Transtomo orginico da personalidade T 526 Tipo de ocupagao ‘Autonoma 5 10 ‘Desempregada/aposentada/afastada 2 10.53 Empregada com direitos trabalhistas 15,79 Empregada sem direitos wabalhistas T 526 De lar 3 2632 “Assistencia Medica Psiquiatrica 9 4737 ‘Neurologica 2 1053 ‘Nenhuma das anteriores 5 210 Medicacoes utilizadas “Antidepressive 5 10 ‘Ansiolitico 8 B10 “Anticonvulsivante 2 10.53 Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-175 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude ‘Antipsicetico Religino Catbliea 10 Evangélica/Crista 7 3684 “Testemunha de Jeovd T 526 Espiita T 526 Fonte: CARNEIRO; REGO (2013). Observa-se, nas participantes, que 52,3% apresenta situagao conjugal casada ou em unido estivel; o predominio da escolaridade é o ensino fundamental (47,37%), 0 transtomo depressivo aparece como principal diagnéstico (57.9%), 0 tipo de ocupagio que prevalece é 0 de auténoma (42,10%), 47,37% recebe assisténcia psiquidtrica, 84,20% das mulheres deste estudo faz. uso de anti- ). © Quadro 1 apresenta as categorias de satide mental, transtorno mental versus saiide mental ¢ depressivo e ansiolitico e a religiio mais referida é a catdlica (52.63 transtomo mental referentes as falas das usuadrias associadas as intervengdes terapéuticas nas sessdes da ORM 1 e ORM. 2. As intervengdes terapéuticas, que variaram entre a escuta terapéutica e pontuagdes feitas pelos proprios usuarios, esto apresentadas no Quadro 1 ‘Quadro 1, Categorias de saide mental, tanstoro mental versus sade mental e wansiomo mental referentes as falas das uswarias associadas és intervencdes terapéuticas nas sessdes da ORM 1 e ORM 2. Salvador, 2013. (n~18). Tema Tntervengdes Categorias | Gerador’N*, Falas Terapéuticas Sessto 1} Satide mental ‘Estar aqui € vital, convivo com as pessoas, Escuta Convivencia, avalio os problemas de cada uum mediante aos relacionamento, ‘meus também, sem contar que adoro minha slo, bem psicbloga” (usuéria a, $1 anos, ORM 1) estar, escuta, adaptacto, | Respiracao | “Relaxamento total... A partirdo momento | Sinalizacao de que quando nés (sesso n°2) | que fez a respiragao ¢ o silencio, trouxe a paz, | respiramos todo nosso corpo Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude relaxamiento e ¢ ela trouxe o psicolégico ¢ a mente, respira e que isso é assertividade, relaxamento... etodo meu organism ficou fundamental. rim (uswéria e, $5 anos, ORM 2) Grounding | “Aprendi a pensar em mime fazer o que Escuta, (session? 4) | aprendemos aqui. Quando en vejo que chegou ‘no meu limite (referente a mie e ao marido), eu saio e deixo” (usuitia r, $4 anos, ORM 1). ‘Aprender a ouvir 0 outro dentro de casa... | Pontuada a mudanga observada ‘nto podemos fazer mdo o que queremos” | na paciente no que diz respeito (usuatia b, 28 anos, ORM 2). a sinais de autonomia, Meditagao | ~Me relaxci, senti um pouco de paz. A partir Escuta (cessio n® 6) | de hoje eu devo deixar de ficar nessa medigao de quem pode mais ou menos, vou deixar acontecer pra ver no que dé (usuéria |, $0 ‘anos, ORM 2) “Bu niio devo ter medo das coisas. Eu tinha | Pontua-se que saber dizer ndo edo de tudo antes da terapia, agora nio saber confrontar o outro, tenho mais medo de dizer nio, principalmente | focando-se a importacia de se eu estiver certs” (usuaria n, $3 anos, ORM exercitar este tipo de » confionto. 2] Traustorno | Respiragdo | “Esto aqui para evoluis mais minha mente | Reconsiderar 0 uso do temo mental versus | (sesso u°2) | que esté assim meio doida... i estive com “doida’, sugerindo-se a saide mental outras psicélogas, mas no me adaptei..$6 expressiio confusa confusio, mal- aqui” (usudria n, $3 anos, ORM 1) estar versus adaptagao, “Cochilei e nao ouvi mais nada... Sono Pontuada a importancia do bemestar, profuundo, como estou sem dormir esses dias | exercicio da respiragao a fim estratégias de eu achei bom... Estou preocupada, voltou tudo cde melhorar © sono & enfrentamento, de novo... Os problemas... Parei de tomar o | adverténcia no sentido de nao decidir sozinha a suspensto da Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude ‘emédio, estava dormindo bem ¢ agora voltou | medicagao e sim mediante 0 a insonia didlogo com o psiquiatra (uswaria f, $4 anos, ORM 2) assistente, Grounding Foi trazida a dimensiio (cession* 4) | “Os problemas continuam, nfo estou 100%, | dialética dos opostos, da satide tem dias que estou nim, mas em relagao a0 transtomo mental que eu cheguei, hoje estou étima” (usuaria g, | exemplificando que todos nés 50 anos, ORM 1) temos dias ruins e bons para serem vividos “Tem que vir pra c4 com forga, com coragem, Escuta palavra boa, para as pessoas que esto ensinando também terem coragem” (usuétia s, 56 anos, ORM 2) Meditagio ive um surto no qual eu vivenciei e procurei | __Pontuada a questio da (cession? 6) | trabalhar de uma forma que ele saisse do meu | sintomatologia da menopausa, subconsciente. Eu sei que esse surto na fase da | da importincia de estabelecer menopausa ele costuma vir... Ai entra a ‘uma pansa ¢ assentar essas modificagdes ¢ sobre a liberto dele... Digo-me ‘se controle que vai | importincia do trabalho de ppassar" e ai procuro fazer atividades maneira de como eu vivencio ele ¢ como me *(usudria | —autocontrole realizado pela anos, ORM 2) suai, "Meu marido me pirraca...fica na frente da | Trabalhada a importincia do y. jen digo a ele: sen pai Ihe fez gente mas | _confronto e também da indo the fez transparente. Digo a ele que introspeegao para ver 0 que ‘quando ele té vendo os jogos dele nem eu nem pode ser mudando a filha ficamos na frente... Entdo quando eu | interiormente para nao ficar s6 quero ver meu programa ele tinha que fazer isso” (usudtia 1, $0 anos, ORM 1). 3) Transtorno | Respiracdo | “Ew andei um tempo muito estressada e senti nha queixa Escuta Mental: | (sesso que todo meu corpo estava contraido™. esiresse, (uswéria ¢, 55 anos, ORM 2) contragtio, Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude PA! nervosismo, ‘No camaval en viajei © nao senti nada, nem | Ponttada @ necessidade de dificuldade nos lembrei dos problemas. Assim que cheguei ja | observa o que incomoda a relacionamento passei mal, voltou tudo denovo, aquela | paciente em sua casa, jd quea a) angistia”(usuiria ¢, 39 anos, ORM 1) | vida nfo se resume ao lazer estabelecimento de limites, | Grounding | “Estou nervosa... a pessoa faz tudo, meu mao | Pontuada a importincia da isolamento | (sessdo n° 4) | acha de tudo e ainda escuthamba e xinga.. Ai | regulagdo emocional para nto social . nao di.” (ustiia x, 98 anos, ORM 1) deixar o outro lhe invadit. anedonia Usuatia sorr constantemente em falas que ndo | Observagdo quanto & presenga comportam um sorriso, (usuériaf, $4 anos, dos sortisos oRM2) escontextualizados e intervengio no sentido da autopercepsio visando sescobrir se constitu um sinal Ge ansiedade ou nervosismo. Investigar 05 possiveis motives “Estou cada vez mais quieta, calada, arrumo a | da tristeza. Pontuada também a «asa $6 por fora, nfo tenho vontade de nada, | importancia de nto se deixar até de sar que eu adorava nto estou tendo tomar pelos sintomas vontade” (usuéria f $4 anos, ORM 2) | depressivos, buscando alguma forma para evitar a instalacio. Intervengio no sentido da Meditacao | “Nao eston aguentando mais o men marido... | provocacto para eriacto de (sessio n*6) | _Estou respirando tanto mas nao esti | estatégias por parte da usuéria adiantando... Me tome’ uma visita dentro de | que solucionem esse problema asa, €0 io existo”(usuriar, 50 anos, ORM 1) Fonte: CARNEIRO: REGO (2013) A partir dos relatos das usuérias foram geradas categorias analiticas e empirieas e as principais elencadas foram referentes a: satide mental (convivéneia, relacionamento, vinculo, bem-estar, escuta, 10, mal-estar adaptagao, relaxamento e assertividade), transtorno mental versus satide mental (confi Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS versus adaptagao, bem-estar e estratégias de enfrentamento) e transtorno mental (estresse, contragio, nervosismo, dificuldade nos relacionamentos e no estabelecimento de limites, isolamento social e anedonia). A Tabela? ilustra 05 aprendizados referidos durantes as sessdes da ORM | e ORM 2, segundo relato das usuétias. “Tabela 2: Aprendizados referidos durantes as esses da ORM 1 e ORM 2, segundo relatos das usuarias. NP da Sessiio Exemplos de relatos 1 ‘Nio avaliado. 2 ‘Sabedoria® (usuatia c, 39 anos), “harmonia® (usuaria b, 42 anos) ), “aprendizado™ {usuéria n, $3 anos), “maravilhoso” (usuéria d, $1 anos), wxigenacdo” (usudria anos), “tranquilidade” (usuaria k, 37 anos), “dedicacdo” (usuéria h, 28 anos). (uswétia a, $1 anos), “paz” ‘bom (usnéia £, $4 anos), “respiredo” (usudria i, $0 anos), 3 “Alearia™ (usvaria b, 42 anos), “indifereate™ (usuaria 54 anos), “elaxamento™ (usuéria i, $0 anos), “oxigenagio” (usuéra , 55 anes) “no sei” (usuériah, 28 anos). * (usuaria c, 39 anos), “leveza” (ususiria g, $0 anos), “complemento” (usuria a, $1 anos), “bocejo e lagrimas” (usuéria n, $3 anos), “vibragio boa no compo" (nsuéria 1, $0 anos). 4 “Sabedoria™ (usuaria c, 39 anos), “aprendizado” (usuaria g, 50 anos), “aprender © ensinar” (usuaria b, 42 anos), “consciéncia” (usuéria a, $1 anos), “conhecimento” (usuéria r, $4 anos), “equilibrio” (usuéria q, 48 anos), “tranquilidade” (usuéria n, $3 ‘anos), “menos estresse” (usuiria | $0 anos), “diego” (usuaria t, 33 anos), ‘emogdes” (usudtia i, $0 anos), “saber trabalhar com 0 corpo” (usuéria e, $5 anos) “vir com forga @ coragem” (usuéria s, 56 anos), “grounding” (usuétia k, 37 anos), “reflexto” (uswéria h, 28 anos), “energia positiva” (usvaria 0, 52 anos), 5 "Sabedoria” (usuaria c, 39 anos), “alegria” (usuaria b, 42 anos), “habilidades™ (usuéria a, $1 anos), “conhecimento” (usuaria r, $4 anos), “paz mental” (usuaria g, 48 anos), “relaxar” (usuéria u, $8 anos), “tranquilidade” (usuéria n, $3 anos), “mente mil, bocado de coisas” (usuéria |, 50 anos), “evolugao e envolvimento” (usuéria x, 58 anos), “equilibrio, bons ¢ maus momentos” (ususria i, 50 anos), “unizo” (ususia bh, 28 anos), “sossego” (usuaria s, $6 anos), “tarde gratificante ¢ saudavel” (usuaia €, 55 anos), Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude 6 “Total aprendizagem, relaxamento e paz” (uswaria e, $S anos), “ew tenho que dar mais, frutos, ser mais produtiva” (usuéria h, 28 anos), “consciéncia” (usuatia k, 37 anos), tranquilidade” (usuéria f, 54 anos), “desabafo” (usuéria i, SO anos), “relaxamento” (uswéria r, $4 anos), “contato consigo proprio” (usuéria n, $3 anos), “bem-estar, paz” (usuaria L, $0 anos), {usuétia a, 51 anos), “sono tranquilo” Fonte: CARNEIRO: REGO (2013). Ao ténmino de cada encontro, foi perguntado a cada usuitia o que tinha fieado de aprendizado da sessio. Observou-se que sabedoria, harmonia, tranquilidade, relaxamento, conhecimento e conscigncia foram os aprendizados mais frequentes, associados & categoria saiide mental, nio aparecendo, portanto, nos relatos das ususrias, as categorias de transtorno mental versus satide mental nem de transtomo mental. DIScUssAO Analisar vivéncias e identificar aprendizados de usuarias adultas em oficinas terapéuticas de relaxamento e meditagio, desenvolvidas em um ambulatorio de satide mental, pode iluminar a possibilidade de uma futura implantagio e implementagdo dessa tecnologia a nivel ambulatorial. Além disso, compreender a complexidade das experiéncias subjetivas relatadas.pelas participantes desta experiéneia com o auxilio da hermenéutica-dialética (MINAYO, 2007) permitiu situar os relatos da investigacio em categorias analiticas referentes saiide mental e ao transtorno ‘mental ¢ a uma terceira dimensio caracterizada por uma posigdo intermedisria entre o transtomo e a satide mental. Sabe-se que a assisténcia ambulatorial em saiide mental tem sido alvo de intensas criticas, descréditos e desqualificagdes. De acordo com Jucé et al. (2008), os ambulatorios de satide mental foram criados originalmente para romper com a institucionalizagao dos portadores de transtorno mental, mostrando-se, em alguns casos, no entanto, to cronificadores quanto o hospital tradicional, Na experigncia das autoras, os ambulatérios, incluindo o contexto da presente experiéncia, apresentam um desempenho pouco articulado a rede de atengio 4 satide, possuindo baixa resolutividade e crises frequentes no seu funcionamento. Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servic nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 15 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS Torna-se necessério, portanto, levantamentos mais sistematicos do dispositive ambulatorial e que as discusses sejam mais aprofundadas para a formulagao e definigao de novas diretrizes de funcionamento, ainda sob a normatizago da antiga, defasada e no cumprida Portaria SAS/MS n° 147, de 1994 (BRASIL, 1994). Verifica-se, ainda mais, e de acordo com portaria citada anteriormente, que se avangou muito pouco na apreensio qualificada dos dados sobre o mimero, a configuragio e 0 modo de fancionamento dos ambulatérios, apesar de existir uma intengao em avangar na superago da dicotomia CAPS versus ambulatério. A proposta, entdo, é a de tomar o atendimento ambulatorial semelhante ao que acontece nos CAPS com projetos intersetoriais que envolvam o social, a cultura, © pacto pela vida e a inovagao nas tecnologias de cuidado, como por exemplo, as oficinas. Nesta experiéneia pode-se verificar que o principal motivo referido pelas usuérias para procura do servigo foi a vivéncia de episodios depressivos (F32). Este diagnéstico, de acordo com 0 CID-10 (2000), esta relacionado ao rebaixamento de humor, redugdo da energia, diminuigao da atividade, alteragio da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, fadiga acentuada, problemas de sono, apetite, diminuigao da autoestima e da autoconfianga. © segundo motivo mais citado foi o transtomo de adaptagao (F43.2), que consiste em um estado de sofrimento € de perturbacdo emocional subjetivos que entravam usualmente o funcionamento e desempenho sociais As manifestacdes, varidveis, compreendem: humor depressivo, ansiedade, inquietude, sentimento de incapacidade para enfrentar, fazer projetos ou continuar na situagao atual, assim como certa alteragio do desempenho cotidiano. O terceiro motivo citado, nao to prevalente, foi o transtomo organico da personalidade (FO7.0) caracterizado por alteragio significativa do comportamento ineluindo perturbagdes na expresso de emogdes, das necessidades e dos impulsos, podendo alterar também a cognigdo e a sexualidade, Os resultados da presente experigncia evidenciam, pelos relatos das vivéncias das usuatias, © que as cigneias sociais propdem, ou seja, um olhar relacional na compreensao sobre transtomo e satide ‘mental, sobre normal e patolégico. “O normal e patolégico nao so mais pensados em termos de ‘ser’ (alguma coisa em algum lugar), mas em termos de harmonia e desarmonia, de equilibrio e desequilibrio, ea doenga nfo & mais considerada como uma entidade inimiga ¢ estranha” (LAPLANTINE, 1991, p. Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVIS ‘As oficinas terapéuticas de relaxamento e meditagao, objeto de estudo da presente experiéncia, foram planejadas e desenvolvidas no intuito de prestar cuidados e tratamento aos sintomas e quadros clinicos apresentados pelas usudrias e embasaram-se teoricamente em autores das abordagens bioenergética (LOWEN; LOWEN, 1985; LOWEN, 1997) e psicologia analitica (JUNG, 2011) para desenvolvimento das suas priticas. Os resultados verificados neste estudo correspondem aos achados por Lowen; Lowen, (1985) ¢ Lowen (1997) quando destaca que o relaxamento representa um estado de expansdo do organismo em contraste com 0 de tensio, que é 0 estado de contragio, estando inteiramente relacionado a respiracao livre e desbloqueada para ser efetivado com plenitude. Para esse mesmo autor, a meditacao um meio de silenciamento do barulho do mundo extemo e, consequentemente, 0 contato com o mundo interior, mediante o relaxamento corporal. Jung (2011), por sua vez, também refere & medita¢do como um diilogo criativo interior, como uma relagao dialética, troca viva entre o Eu ¢ o inconsciente. Ambos autores relacionam um aumento de espiritualizagdo interna ¢ 0 estabelecimento de contato com crengas espitituais no processo meditativo, trazido frequentemente nas falas das usuarias participantes deste estudo, Outra consideragao trazida por Jung (2011) e tomada como referéncia tedrico-pritica para entendimento dos processos vivenciados pelas usuirias nas oficinas de relaxamento e meditagio é a sinalizagdo da possibilidade de existéneia da fungo transcendente nas vidas das pessoas. Segundo este autor, a fungdo transcendente se caracteriza como a integragio, unidio dos contetidos conscientes e inconscientes, instaneias que s4o complementares, buscando-se suprimir essa separagao. Tal fungao & chamada transcendente tendo em vista que torna possivel organicamente, ou seja, a partir do corpo, apassagem de uma atitude para a outra, da consciéncia para a inconsciéncia e vice-versa, superando- se, portanto, a unilateralidade, Podemos, portanto, cousiderar esta referéneia para entendimento das transigdes dialéticas vivenciadas pelas usudrias no tocante a saiide mental-transtorno mental, transtomo ¢ satide mental. Importa, entio, marcar as intervengdes terapéuticas no proceso satide/transtomo mental através da realizagio das oficinas de relaxamento e meditaglo, delimitando, portanto, um espago de construgio de subjetividades, de aprendizagens, de ampliagio de relagdes e de transformagio, Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de Integracao ensino servico nas Priticas Integrativas e Complementares, p. 13 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE iz Revista integrativa em inovagao tecnologica nas cléncias da saude bea : 3 fundamentalmente, a partir da escuta sensivel (BARBIER, 2002), das pontuagdes e retificacdes subjetivas realizadas com as participantes durante o desenvolvimento da tecnologia. CONSIDERAGOES FINAIS © objetivo desta experiéncia foi analisar as vivéncias, as configuragdes de sentido, ¢ identificar os aprendizados de usuarias adultas em duas oficinas terapéuticas de relaxamento ¢ meditacdo, desenvolvidas em um ambulatério de satide mental. Os resultados obtidos sinalizaram que © desenvolvimento de oficinas terapéuticas em ambulatorios de saiide mental, particularmente no contexto do presente trabalho, pode se constituir como experiéneia bem-sucedida, Apesar do cariter inicial das reflexdes e discussies desenvolvidas, urge a necessidade de serem modificadas e transformadas, na sua esséncia, as tecnologias desenvolvidas e empregadas em servigos ambulatoriais de satide mental, trazendo na pratica os propésitos de acolhimento, de inclusio, de cuidado e de promosao a satide, consonantes com os prineipios da Reforma Psiquidtrica Portanto, surge a necessidade de encarar o trabalho terapéutico com mais vigor ¢ proatividade, repensando a politica e as tecnologias de cuidado visando renovagao das préticas, das modalidades de intervengdes terapéuticas a nivel ambulatorial na rea de satide mental. Desse modo, busca-se desconstruir o paradigma vigente de que as oficinas terapéuticas sO sfio adequadas, desenvolvidas e aplicaveis aos CAPS. et. al, Oficinas em satide mental: um relato de experiéneias em Quixads e ALMEIDA, A. M. Sobral. COSTA, C.M: FIGUEREDO, A. C. (Org.). Oficinas terapéuticas em satide mental: sujeito, produgao e cidadania. Rio de Janeiro: ContraCapa Livraria, 2004, (117-133), BARBIER, R. A pesquisa-acdo. Brasilia: Liber Livro, 2002. BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. Departamento de Acdes Programiticas Estratégicas. Saitde mental no SUS: os centros de atengao psicossocial. Brasilia: Ministério da Saiide, 2004. Disponivel em: . Acesso em: 22/07/2020. Satide Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, luxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-1 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) ISSN: 2179-6572 ane a aaa eee oes i ee BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. Humaniza SUS: cartilhas da politica nacional de humanizacao. 4. ed. — Brasilia: Editora do Ministério da Satide, 2008. BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. Portaria SAS/MS n° 147. Brasilia: Ministério da Sade, 1994, Disponivel em: . Acesso em: 22/07/2020, BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. Resolucio n? 466/12. Aprova diretrizes e normas de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasilia: Ministério da Saiide, 2012. Disponivel em: . Acesso em: 22/07/2020. BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. Secretaria de Atengio 4 Saiide/DAPE. Satide Mental no SUS: acesso ao tratamento e mudanga do modelo de atengao, Relatério de Gestio 2003-2006 Ministério da Saiide: Brasilia: Editora do Ministério da Saiide, jan. de 2007, 85p. Disponivel em: Acesso em: 22/07/2020, CAMMAROTA, F. C. Reabilitagdo psicossocial: discursos e praticas em saiide mental. Dissertago (Mestrado em Saiide Coletiva). ISC/UFBA, Salvador, 2000. CARNEIRO, J., et.al. Priticas terapéuticas em satide mental: as oficinas de crescimento psicossocial no ambulatério Oswaldo Camargo. REVIPSI, Salvador, v.2, 2013, (21-29), GUERRA, A. M. C. Oficinas em satide mental: percurso de uma historia, fundamentos de uma pritica. COSTA, C. M: FIGUEREDO, A. C. (Org.). Oficinas terapéuticas em satide mental sujeito, produgdo e cidadania, Rio de Janeiro: ContraCapa Livraria, 2004, (105-116). IUCA, V.1S.; LIMA, M.; NUNES, M.O. A (te) invengo de teenologias no contexto dos centros de atengao psicossocial: recepeao e atividades grupais. Mental - ano VI-n. 11 - Barbacena - jul/dez., 2008, (125-143), Disponivel em: . Acesso em: 22/07/2020, TUNG, C. G. A natureca da psique. v8/2, 8.24., Petropolis: Vozes, 2011 JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. v.12, 8.ed., Petropolis: Vozes, 2011 LAPLANTINE, F. Antropologia da doenca. Sio Paulo: Martins Fontes, 1991 LIMA, M. Atuagdo psicolégica em servigos piiblicos de sade de Salvador: do ponto de vista dos psicélogos. Tese nao-publicada (Doutorado em Saiide Coletiva). Curso de Pés-Graduacio em Satide Coletiva, ISC/UFBA, Salvador, 2005, LOWEN, A. Alegria: a entrega a0 corpo ¢ 4 vida. Sao Paulo: Summus, 1997. Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-175 Carneiro, J. Caribé, C. Rego, G. (2020) REVISE 1S = ___,_, Saat re LOWEN, A.; LOWEN, L. Exercicios de Bioenergética. 6.ed. Sao Paulo: Agora, 1985. MERHY, E. E., etal. Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em satide: a informagao eo dia-a-dia de um servigo, interrogando e gerindo trabalho em saiide, MERHY, E.; ONOCKO, R. (org). Agir em sanide: um desafio para o publico. So Paulo: Ed. Hucitec, 1997, (133- 150). MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em satide. 10. ed. Sao Paulo: Hucitec, 2007. ORGANIZACAO MUNDIAL DE SAUDE. CID-10: Classificagio Estatistica Intemacional de Doengas ¢ problemas relacionados a satide. 8.ed., v. 1. Séo Paulo: EDUSP, 2000, PRATA, N.LS. As oficinas e o oficio de cuidar. COSTA, C. M.; FIGUEREDO, A. C. (Org) Oficinas terapénticas em saiide mental: sujeito, produgao e cidadania. Rio de Janeiro: Contracapa Livraria, 2004, (161-172). SANDOR, P. et.al. Técnicas de relaxamento. Sio Paulo: Ed. Vetor, 1974. SARAIVA, A. M. Priticas terapéuticas na rede informal com énfase na satide mental: Historias de cuidadoras. Dissertacao (Mestrado) - UFPBICCS. Joao Pessoa, 2008, Saride Mental, Relaxamento, Meditacdo. Revista Revise, v.05, fluxo continuo (2020): Dossié experiéncias de integragao ensino servico nas Préticas Integrativas e Complementares, p. 157-175

Você também pode gostar