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FACULDADE DE TECNOLOGIA DO PIAUÍ - FATEPI

BACHARELADO EM DIREITO

ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO DO MILITAR: UMA


REFLEXÃO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DO POLICIAL MILITAR NO
QUARTEL DO COMANDO GERAL

TERESINA
2017
ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO DO MILITAR: UMA
REFLEXÃO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DO POLICIAL MILITAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Bacharelado em Direito da Faculdade de Tecnologia do
Piauí
Orientador: Mestre

TERESINA
2017
RESUMO

MIRANDA, Francisco de Assis Barbosa de. Assédio moral no ambiente de trabalho do


Militar: uma reflexão sobre a qualidade de vida do Policial Militar do Quartel do Comando
Geral. 2017. 74 f. TCC (Conclusão do Curso de Bacharelado em Direito) – Faculdade de
Tecnologia do Piauí, Teresina, 2017.

O assédio moral tem sido estudado cada vez mais frequentemente em nosso meio, tendo em
vista que ele é percebido como sendo uma forma perversa de tratamento, que visa humilhar,
menosprezar e desfazer as pessoas, principalmente, no ambiente de trabalho. Porém estas
atitudes não precisam mais ser aceitas nas relações de trabalho, e, abordando, então, nesse
trabalho a existência e incidência do assédio moral no Quartel do Comando Geral da Policia
Militar do Piauí, principalmente, de superior para subordinado, pois, vemos esse tipo de
atitude ser muitas vezes justificada na hierarquia e disciplina, tendo os agressores, pela falta
de prescrição explicita que condene a pratica, um tipo de facilidade moral para a execução
desses comportamentos, com a talvez certeza da impunidade. Não encontrando, ainda, as
vítimas, na legislação estatutária estadual, amparo legal que viabilize de forma direta sua
proteção. Os objetivos centrais do trabalho foram: Analisar a existência e a incidência do
assédio moral no local da pesquisa, de superior para subordinado, e que, devido a política
moral do meio militar, não passa para o público externo; Assim como, perceber a qualidade
de vida dos profissionais militares que sofrem esse abuso. O aprofundamento teórico no
estudo baseou-se na pesquisa bibliográfica e de campo, consistindo na análise de legislação,
doutrinas, artigos jurídicos, livros e periódicos, assim como de questionário padrão para
formalizar de forma concreta o trabalho. Concluindo que existe sim possíveis casos de
assédio, que chegam a afeta a vida, inclusive a saúde do profissional militar, mas que esses
casos não são denunciados, sugerindo, portanto, ao fim que seja dada a devida importância
aos casos e que se tome providência, incentivando o legislativo estadual a encaminhar lei que
trate do assunto, de forma específica, como ele merece.

PALAVRAS-CHAVE: Assédio Moral, Policia Militar, Quartel.


ABSTRACT

MIRANDA, Francisco de Assis Barbosa de. Moral harassment in the work environment of
the Military: a reflection on the quality of life of the Military Police of Piauí in the
Headquarters of the General Command. 2017. 74 f. TCC (Completion of the Bachelor's
Degree in Law) - Faculty of Technology of
Bullying has been studied more and more frequently in our country, since it is perceived as a
perverse form of treatment that seeks to humiliate, demean and undo people, especially in the
workplace. However, these attitudes no longer need to be accepted in the labor relations, and,
addressing in this work the existence and incidence of moral harassment in the headquarters
of the General Command of the Military Police of Piauí, mainly from superior to subordinate,
as we see this type of attitude is often justified in the hierarchy and discipline, the aggressors,
for lack of explicit prescription that condemns the practice, a kind of moral facility for the
execution of these behaviors, with the perhaps certainty of impunity. The victims still do not
find, in the state statutory legislation, legal protection that makes their protection directly
possible. The central objectives of the study were: To analyze the existence and incidence of
bullying at the research site, from superior to subordinate, and which, due to the moral policy
of the military, does not pass to the external public; As well as, realize the quality of life of
the military professionals who suffer this abuse. The theoretical depth of the study was based
on bibliographical and field research, consisting of the analysis of legislation, doctrines, legal
articles, books and journals, as well as a standard questionnaire to formalize the work
concretely. Concluding that there are indeed possible cases of harassment, which affect life,
including the health of the military professional, but that these cases are not reported,
suggesting, therefore, that cases should be given due importance and that action be taken ,
encouraging the state legislature to enact law that addresses the issue in a specific way, as it
deserves.

KEYWORDS: Moral Harassment, Military Police, Barracks.


LISTA DE ABREVIATURAS

Art. – Artigo

n. – Número

C.F. – Constituição Federal


LISTA DE SIGLAS

NR - Norma

C.L.T. – Consolidação das Leis do Trabalho

STF – Supremo Tribunal Federal

SP – São Paulo

PT – Partido dos Trabalhadores

MS – Mato Grosso do Sul

ES – Espírito Santo

PR - Paraná

RS – Rio Grande do Sul

RN – Rio Grande do Norte

PL – Partido Liberal

PC do B - Partido Comunista do Brasil

CE - Ceará

PE - Pernambuco

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PDT – Partido Democrático Trabalhista

MG – Minas Gerais

DJU – Diário da Justiça

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

PMPI – Policia Militar do Piauí

QCG – Quartel do Comando Geral


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 07

CAPÍTULO I - O ASSÉDIO MORAL NA LESGISLAÇÃO


BRASILEIRA........................................................................................................................ 09
1.1 LEGISLAÇÃO GERAL.......................................................................................... 09
1.2 JUSTIÇA TRABALHISTA..................................................................................... 11
1.3 JUSTIÇA CRIMINAL............................................................................................. 13

CAPÍTULO II - COMPREENDENDO O FENÔMENO DO ASSÉDIO MORAL NA


POLÍCIA ................................................................................................................................ 18
2.1 COMPREENÇÃO GERAL DO ASSÉDIO MORAL............................................. 18
2.2 DIFERENCIAÇÃO ENTRE ASSÉDIO E DANO MORAL.................................. 19
2.1 COMPREENSÃO DO ASSÉDIO MORAL ENTRE OS POLICIAIS
MILITARES............................................................................................................................ 20

CAPÍTULO III - ANÁLISE DO ASSÉDIO MORAL NA POLÍCIA MILITAR DO


PIAUÍ...................................................................................................................................... 28
3.1 ANÁLISE GERAL DO ASSÉDIO MORAL.......................................................... 28
3.2 ANÁLISE ESPECÍFICA DOS RESULTADOS..................................................... 29

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 39

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 41

ANEXOS................................................................................................................................. 43
INTRODUÇÃO

Conseguimos compreender que desde muito o assédio moral é observado nos


relacionamentos humanos, tendo como comportamento um tipo de coação em qualquer
relacionamento se sustentando pela desigualdade social ou poder autoritário.
Nesse sentindo, o presente trabalho tem por objeto o assédio moral no Quartel do
Comando Geral da Polícia Militar do Piauí, onde pelo estudo realizado, existe o assédio
moral, principalmente, de superiores para subordinados, porém, sendo esse um tema pouco
abordado entre a classe e o local de pesquisa, mas que vem se tornando forte preocupação
social.
Bem sabemos e a pesquisa realizada, que muitas vezes os militares sofrem calados, não
reagindo ou denunciando as práticas abusivas das quais são vítimas, parecendo, até o
momento, estarem pouco protegidos pela Lei, isso porque, talvez em parte, esta prática faz
parte do campo moral institucional, dada a lógica da hierarquia e autoridade, que nem sempre
são compreendidas de forma adequada
Frente a tal situação acima relatada, propôs-se a apresentar a possibilidade de
ajuizamento de ação, sendo que o militar, vítima de assédio moral, teria como base de sua
ação a legislação trabalhista. Apesar da pouca doutrina existente, não se furtou a ideia de
mostrar a vinculação com o meio jurídico, especificamente o Direito do Trabalho,
apresentando as definições que caracterizam o assédio moral, bem como as falsas alegações a
respeito. Pretende-se, ainda, por fim mostrar como o operador do Direito poderá buscar a
tutela jurisdicional utilizando-se das doutrinas trabalhistas, das jurisprudências, dos princípios
fundamentais do direito do trabalho, a fim de dar embasamento aos militares vítimas deste
tipo de ação comprovando através da análise, que esse problema existe no local da pesquisa.
A intenção em nenhum momento foi de esgotar o tema. Objetivou-se, sim, dar uma visão
mais ampla e até desmistificadora, buscando falar de uma maneira totalmente transparente
naquelas questões que mais possam interessar ao operador do Direito, e porque não dizer ao
Policial Militar, sem prejuízo do objetivo primordial deste trabalho que é compreender a
existência ou não de possíveis casos de assédio moral dentro do Quartel do Comando Geral da
Policia Militar do Piauí, assim como ver os prejuízos que a ocorrência poderia vir causando
para o policial. Entendendo que a Problemática hoje se tornou uma das maiores preocupações
mundiais no meio laboral, e que, se não forem tomadas medidas imediatas, tanto pelos
governos quanto pelas instituições sejam elas pública ou privadas, esse problema pode vir a
ser a principal causa de prejuízo nas empresas, bem como no serviço público nos próximos
anos.
Entende-se que o estudo do assédio moral, ainda, é bastante recente em nosso país,
porém, está se tornando uma forte preocupação social, pois não é exclusivo do ambiente de
trabalho, encontrando-se também este tipo de violência no lar e na família, ou mesmo na vida
social e política.
Nesse sentindo sendo o pesquisador Policial Militar e Profissional do Direito em
Formação, assim, como a possibilidade não só da existência, mas da incidência de possíveis
casos de assédio dentro do local de pesquisa, de afirmas de forma empírica tal dedução
pessoal, a fim de contribuir para o acervo de estudos na área geral e, principalmente,
específica, que foi proposto nesse estudo
CAPÍTULO I - O ASSÉDIO MORAL NA LESGISLAÇÃO BRASILEIRA

2.1 LEGISLAÇÃO GERAL

Os policiais militares pertencem a instituições organizadas com base na hierarquia e


disciplina, conforme dispõe o art. 42 da Constituição Federal de 1988, o art. 144, §6º, aduz
que “As policias militares (...), forças auxiliares e reserva do exército, subordinam-se
juntamente com as policias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios”.
O policial militar tem direito a uma sadia qualidade de vida, ratificada pelo artigo 225 da
Constituição Federal de 1988, que assim dispõe, “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (...) essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.

Pelo termo “sadia” não se deve entender ausência de doença, e sim vida saudável,
isto é, aquela hábil a propiciar ao homem condições necessárias para a melhoria
continua da sua qualidade de vida. No entanto, direito à sadia qualidade de vida não
tem meramente a conotação de saúde física, e sim de vida saudável, nesta incluso o
aspecto psíquico; logo, nesse conceito, vislumbramos as bases dos Direitos
Humanos, Direito Econômico, Direito do Consumidor, portanto, a dignidade
humana traduzida na sua incolumidade físico-psíquico-socioeconômica. Daí
afirmamos não poder a divisão didática do Direito ser rigorosa a ponto de desvirtuar
o seu papel, quiçá em dias de sociedade de massa, em que a integração são tão
evidentes, que apontar as fronteiras entre um e outro Direito torna-se tarefa das mais
árduas. (D’ISEP, 2004, p.66).

O policial militar assediado tem o direito de reparação do dano moral sofrido por ofensa
aos direitos da personalidade, conforme dispõe o artigo 5º.,X, da Constituição Federal de
1988, “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Diante do acima exposto explanaremos de forma ampla as possíveis reparações cabíveis
já previstas em todo o âmbito jurídico brasileiro, sendo importante destacar que não cabe
exclusivamente, a uma classe trabalhadora, mas a todas, pois, ainda não se tem registros no
Brasil de leis específicas que disponha sobre tal temática.
O Assédio Moral pode ter suas punições e o direito já vem trazendo várias descrições
acerca disso, por isso, nesse capítulo iremos tratar sobre o que o a legislação brasileira vem a
falar sobre a problemática que está sendo tratada.
A Constituição Federal em seu artigo 3º, I e IV, garante a construção de uma sociedade
livre, justa e solidária, bem como a promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, cabe ao Estado coibir,
educar, com intuito de proporcionar a todos um ambiente saudável, sendo o assédio moral
proibido pelo sistema jurídico brasileiro.

Além da Constituição federal, o Código Civil, Código Penal, Código do Consumidor,


entre outras leis, determinam a punição (cada um em sua área) de práticas de bullying,
sendo que o assunto começou tímido nos tribunais, mas nos últimos cinco anos
rompeu os obstáculos iniciais e decisões coibindo o bullyng (nos mais diversos
ambientes) começam a surgir, sinalizando que o Poder Judiciário não irá tolerar tais
condutas, punindo, assim os responsáveis. (CALHAU, 2009, p. 14)

Conseguimos perceber que no Direito o trabalho é importante em vários aspectos do


mesmo. Por exemplo, no que diz respeito à dignidade do trabalhador, podemos observar que a
Constituição Federal, ao estabelecer princípios gerais, e, portanto, também aplicáveis ao
Direito do Trabalho, consagra em seu art. 1º, inciso III, como um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil, “a dignidade da pessoa humana”.
O art. 7º vem dispondo, especificamente, sobre “os direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais”. Cumpre mencionar ainda, que o art. 205 considera que: “a educação, direito de todos
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho’. (BRASIL, 1988, p.1)
O Código Civil Brasileiro reza por sua vez que:
Art.43 – As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos
de seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
Significa dizer que a pessoa assediada tem o direito de ser indenizada por danos moral e
material, por esse tipo de violência no ambiente de trabalho.
Podemos destacar que Junior (2013) apud Damazio (2014, p. 38) “que na administração
pública existem algumas normas regionais que conceituam e proíbem a prática do assédio
moral, a exemplo da Lei nº 3.921, art. 1º, de 23.08.2002, do Estado do Rio de Janeiro: Artigo
1º – Fica vedada, no âmbito dos órgãos, repartições ou entidades da administração
centralizada, autarquias, fundações, empresas públicas ou sociedades de economia mista, do
Poder Legislativo, Executivo ou Judiciário, inclusive concessionárias ou permissionárias de
serviços estaduais de utilidade ou interesse público, o exercício de qualquer ato, atitude ou
postura que se possa caracterizar como assédio moral no trabalho, por parte de superior
hierárquico, contra funcionário, servidor ou empregado e que implique em violação da
dignidade desse ou sujeitando-o a condições de trabalho humilhantes e degradante”.
Destacamos aqui o Supremo Tribunal Federal mediante com a Súmula no 341 que nos
afirma que “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto”.
Vemos Junior (2013) apud Damazio (2014, p. 40) explanar sobre “a portaria SIT/DSST
nº 9, de 30.03.2007, que aprova o anexo II da NR-17 – Trabalho em
Teleatendimento/Telemarketing, veda, expressamente, a prática do assédio moral: 5.13. É
vedada a utilização de métodos que causem assédio moral, medo ou constrangimento, tais
como: a) estímulo abusivo à competição entre trabalhadores ou grupos/equipes de trabalho; b)
exigência de que os trabalhadores usem, de forma permanente ou temporária, adereços,
acessórios, fantasias e vestimentas com o objetivo de punição, promoção e propaganda; c)
exposição pública das avaliações de desempenho dos operadores.
Neste sentido torna-se claro que
existem outros dispositivos constitucionais como os prescritos o art. 1º, incisos III e IV, que
com certeza ensejam a para o fortalecimento destes direitos, pois tratam da dignidade da pessoa
humana e dos valores sócias do trabalho, sendo que este último com mais aplicação no campo
das relações trabalhistas”. (FERRARI, 2011. p.36)

2.2 JUSTIÇA TRABALHISTA

A CLT estabelece as situações de rompimento unilateral de contrato de trabalho quando


houver uma falta grave de uma das partes. O art. 482 refere-se aos empregadores e dispõe sobre a
rescisão por justa causa, ao passo que o art. 483 dispõe sobre a rescisão por iniciativa do
trabalhador. Como o assédio moral se constitui numa falta grave por parte da empresa, o
trabalhador pode recorrer a esse dispositivo para pleitear a rescisão do contrato de trabalho,
necessitando para isso constituir um advogado.
Para Mário Gonçalves Júnior, tal posicionamento se deve ao fato do artigo 8º, parágrafo único, da
CLT, admitir a aplicação analógica do direito comum, como fonte subsidiária do Direito do Trabalho.
Ressalta, ainda, que incompatibilidade entre o parágrafo único do artigo 1º da Lei n.º 13.288/02 e o
Direito do Trabalho não há, pois, a CLT prevê várias hipóteses de faltas graves, tanto do empregado
quanto do empregador, que se afinam com a reiteração de atos, gestos ou palavras, que caracterizam o
assédio moral.
Por outro lado, comete falta grave o empregador que exigir serviços superiores às forças
do empregado (artigo 483, alínea “a”), tratá-lo (diretamente ou através de superiores
hierárquicos) com rigor excessivo (artigo 483, alínea “b”), colocá-lo em perigo manifesto de
mal considerável (artigo 483, alínea “c”), descumprir as obrigações do contrato (artigo 483,
alínea “d”), ou praticar contra ele ou pessoas de sua família atos lesivos da honra e da boa
fama (artigo 483, alínea “e”) e ofensas físicas (artigo 483, alínea “f”).
No artigo 8º, da CLT vemos que:

Autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou


contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por
eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do
trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse coletivo (artigo). O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.
(BRASIL, 2011, p.3)

Para fins do disposto na lei 13.288/02

Considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela
repetição, a auto-estima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de
sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira
profissional ou à estabilidade do vínculo empregatício do funcionário, tais como:
marcar tarefas com prazos impossíveis; passar alguém de uma área de
responsabilidade para funções triviais; tomar crédito de idéias dos outros; ignorar ou
excluir um funcionário só se dirigindo a ele através de terceiros; sonegar informações
de forma insistente; espalhar rumores maliciosos; criticar com persistência; subestimar
esforços (artigo 1º, parágrafo único, Lei n.º 13.288/02).

Na Consolidação das Leis do Trabalho um artigo que obriga o dono da empresa a mantê-
la funcionando de maneira que se respeitem os direitos dos trabalhadores em relação a sua
integridade física e moral, sendo ele o principal responsável pelo que vier a ocorrer na
referida repartição. Assim afirma textualmente o Artigo 483 da Consolidação das Leis do
Trabalho
Analisado o desposto no Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato
e pleitear a devida indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons
costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da
honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima
defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar
sensivelmente a importância dos salários.
Então, compreendendo que assédio moral pode ser enquadrado nas seguintes hipóteses legais
da dispensa indireta discorremos, ainda sobre o artigo 483 que:

a) a exigência de serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários


aos bons costumes, ou alheios ao contrato (art. 483, a). O vocábulo "forças" não deve ser
analisado de forma restrita, ou seja, para indicar que se trata de força muscular. A
expressão engloba as acepções de força muscular, aptidão para a tarefa, capacidade
profissional. Serviço defeso em lei envolve as atividades proibidas pela lei penal ou que
oferecem risco à vida do trabalhador ou do próximo. Trabalho contrário aos bons
costumes é aquele que é ofensivo a moral pública. Serviços alheios ao contrato
representam a realização de tarefas exigidas pelo empregador que estão contrárias aos
serviços pelos quais o trabalhador foi contratado;
b) o tratamento pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo (art. 483, b). Essa figura legal compreende a presença de repreensões ou
medidas punitivas desprovidas de razoabilidade, configurando uma perseguição ou
intolerância ao empregado. É comum a implicância na emanação das ordens ou a
exigência de tarefas anormais na execução dos serviços. Deve ser respeitado o princípio
da proporcionalidade entre a natureza da falta e a penalidade aplicada ao trabalhador. Por
exemplo: se o empregado atrasa por alguns minutos, não sendo rotina tais atrasos, e vem a
sofrer uma suspensão de dez dias, denota-se o rigor excessivo;
c) perigo de mal considerável (art. 483, c), o qual ocorre quando o empregado é
compelido a executar suas tarefas sem que a empresa faça a adoção das medidas
necessárias para que o local de trabalho esteja dentro das normas de higiene e segurança
do trabalho. (BRASIL, 2011, p.82)

Se o ato praticado contra os trabalhadores é revestido de ilicitude, põe-se como


indeclinável a necessidade de buscar a respectiva reparação judicial. e consegue-se
compreender no âmbito da Justiça Trabalhista que compete à ela o julgamento de ação de
indenização, por danos materiais e morais, movida pelo empregado contra seu empregador,
fundada em fato decorrente da relação de trabalho (...), nada importando que o dissídio venha
ser resolvido com base nas normas de Direito Civil (Conflito de Jurisdição no 6.959-6
STF/Pleno, Rel. Sepúlveda Pertence, DJU 22.02.91).

2.2 JUSTIÇA CRIMINAL

Bernardes (2008) nos diz que como já é de todos conhecido, o assédio moral no trabalho
não é um fato isolado qualquer, resumidamente, ele se baseia na repetição ao longo do tempo,
de práticas vexatórias e constrangedoras, explicitando a degradação deliberada das condições
de trabalho.
O assédio moral é capaz de destruir um ser humano sem que haja uma gota de sangue
sequer e sem qualquer gesto brutal contra ele, utilizando apenas o que se convencionou
chamar de violência invisível, aniquilando moral e psiquicamente suas vítimas.
Essa violência invisível, devastadora, perversa e aparentemente insignificante se
desenvolve através de gestos, palavras, ações ou omissões que instituem um processo que
pode ter lugar na família, nas relações entre casais, nas empresas privadas e, inclusive, no
serviço público, traduzindo mesquinho mecanismo de manipulação doentia, deixando a vítima
incapaz de reagir e de perceber o alcance da destruição que a atinge.
A lei não admite analogia para criação de novos tipos penais. Parte-se de um princípio de
Direito, expresso no texto constitucional, que assenta que a definição positivada da conduta
delituosa precede à pretensão punitiva e deve ser indubitável na descrição da prática
censurada, sob pena de excluí-la da ira da lei penal (art. 5º. XXXIX da Constituição Federal e
art. 1º do Código Penal Brasileiro)
No campo legislativo, é bom que se diga, já existem previsões administrativas do assédio
moral nas relações de trabalho envolvendo o serviço público. No âmbito municipal,
conseguiu-se identificar vários municípios brasileiros já contam com lei contra o assédio
moral, dentre eles Americana/SP, Amparo/SP, Campinas/SP, Cruzeiro/SP, Guararema/SP,
Guaratinguetá/SP, Guarulhos/SP, Iracemápolis/SP, Jaboticabal/SP, São José dos Campos/SP,
São Paulo/SP, Ribeirão Pires/SP, Cascavel/PR, Curitiba/PR, Porto Alegre/RS, Reserva do
Iguaçu/RS, São Gabriel do Sul/RS, Natal/RN, São Gabriel do Oeste/MS, Sidrolândia/MS e
Vitória/ES).
Encontramos no âmbito estadual, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Rio
Grande do Sul já contam com legislação sobre assédio moral, sendo certo que, no estado de
São Paulo, lamentavelmente houve por bem o governador, em 8 de novembro de 2002, vetar
lei de iniciativa do deputado estadual Antonio Mentor (PT/SP), aprovada pela Assembléia
Legislativa em 13 de setembro de 2002).
Na esfera federal, tipificando o assédio moral, há projetos de reforma do Código Penal de
iniciativa do deputado federal Marcos de Jesus (PL/PE) e coordenação do deputado federal
Inácio Arruda (PCdoB/CE), projeto de reforma da Lei nº 8.112, de iniciativa da deputada
federal Rita Camata (PMDB/ES) e coordenação do deputado estadual Inácio Arruda
(PCdoB/CE, e também projeto de reforma do Decreto-Lei nº 5.452, ainda de coordenação
desse último parlamentar.
No exterior, países como França, Chile, Noruega, Uruguai, Portugal, Suíça, Suécia e
Bélgica já contam com legislação e projetos de lei sobre o assédio moral, ainda que, alguns,
sem conotação criminal.
Percebemos uma tendência mundial no sentido de criminalizar o assédio moral, tal como
aconteceu com o assédio sexual, penalizando aquele que, de qualquer modo, reiteradamente,
depreciar, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, o desempenho ou a
imagem do servidor público ou empregado, colocando em risco ou afetando sua saúde física
ou psíquica.
Porém, ainda, não vemos, ser considerado crime o assédio moral Brasil, diante disso
pensamos que no entendimento popular crime é uma violação da lei penal, a confirmar o
princípio legal que diz: não há crime sem lei anterior que o defina (art. 5º. XXXIX da
Constituição Federal e art. 1º do Código Penal Brasileiro).
Então a descrição do fato típico (tipificação) é a conceituação penal do delito, a ser
expressa em lei, que torna a conduta contrária aos interesses sociais (antijuridicidade) e define
o agente causador (culpabilidade). Temos, pois que ao tipificar o delito, tem o legislador o
condão de criar, para fins de reprimenda, a definição do ato criminoso em si, que só passa a
ser considerado crime após tal distinção (Art. 1º do Código Penal Brasileiro).
Os precisos contornos da tipificação, entretanto, deverão ser objeto de acurada análise por
parte dos legisladores, a fim de que se não perca o objetivo primordial da criminalização,
evitando que um importante instrumento legal de contenção do assédio moral se transforme
em excessivo e inaplicável dispositivo legal, a lado de tantos outros que assolam a legislação
penal brasileira.
Adentramos na ideia de que o assediador comete uma conduta dolosa que tem por
definição legal no art. 18, I Código Penal Brasileiro como aquela praticada quando o agente
quer ou assume o risco de produzir o resultado, enquanto na conduta culposa, art. 18, II do
mesmo Código, o agente, sem observar seu dever de cuidado, com imperícia, imprudência ou
negligência produz o resultado danoso. Evidente que o assédio moral, por seus objetivos, não
há que se dar em mera conduta culposa, mas por ato deliberado e intencional, o que exclui do
tipo penal a forma culposa. Por similar raciocínio não se admitiria também a forma tentada.
Cuida-se de um delito que se consagra doloso e consumado.
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional aprovou proposta que inclui o
crime de assédio moral no Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/69) e segundo o Projeto
de Lei 2876/15, do deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG), poderá ser punido com multa e
detenção de seis meses a dois anos o militar que submeter um subordinado repetidamente a
tratamento degradante, cujo efeito seja a degeneração das condições de trabalho, de forma a
afetar gravemente a dignidade física ou mental do militar.
Temos no Código Penal o Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito
assegurado pela legislação do trabalho:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, de dois contos a dez contos de réis,
alem da pena correspondente à violência.
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 1998)
§ 1º Na mesma pena incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para
impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; (Incluído pela Lei nº
9.777, de 1998)
II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação
ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. (Incluído pela
Lei nº 9.777, de 1998)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos,
idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela
Lei nº 9.777, de 1998) (BRASIL, 2011, p. 56)

Em 2001 o então Deputado Marcos de Jesus (PL/PE) apresentou o Projeto de Lei


4.742/2001 pela Câmara dos Deputados com o objetivo de tipificar criminalmente a conduta
do assédio moral no trabalho, por entender que a prática, naturalmente caracterizada como
ilícita e dolosa, ultrapassa a esfera apenas da reparação cível, exigindo reprimenda de natureza
penal. O projeto recebeu emenda substitutiva do relator e está em mesa para votação desde
2005. O Deputado Marcos de Jesus não foi reeleito em 2006, muito embora a proposta tenha
recebido coro de apoio de outros parlamentares que entendem a sua pertinência.
A Constituição Federal de 1988 ampliou o universo dos direitos individuais,
consagrando, a tutela dos direitos subjetivos, a dignidade, a honra, a imagem e assim o Direito
Civil reconhece em seus dispositivos que se alguém causa dano a outrem, mesmo que de
cunho moral, comete ato ilícito (art. 186) e por tal, deverá reparar seu ato através de
indenização.
A Consolidação das Leis do Trabalho, ainda que não preveja em seus dispositivos o
assédio moral, não tem impedido que as Cortes Especializadas, aplicando subsidiariamente o
Direito Civil, venham reconhecendo a prática como razão para ruptura justificada do contrato
de trabalho, além daquelas enumeradas no art. 483 do texto consolidado e indenização
decorrente, embora não seja esse o tema central dessa incursão.
Analisando a conduta do assédio moral, situa-se a discussão sob a ótica do Direito Penal,
enquanto ato ilícito doloso (antijurídico e intencional), faltando-lhe apenas a definição em tipo
penal específico (art. 5º, XXXIX da Constituição Federal e artigo 1º do Código Penal). Este
seria o propósito do Projeto de Lei 4.742/2001 que tem a pretensão de tipificar a conduta do
assédio moral e definir-lhe a pena compatível, apresentado originalmente com a seguinte
redação:
Art. 146 A. Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a
auto-estima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de vínculo
hierárquico, funcional ou laboral.
Pena: Detenção de 3 (três) meses a um ano e multa.
A primeira versão apresentada pelo autor do projeto pretendia inserir tal conduta na seção
do Código Penal que trata dos crimes contra a liberdade pessoal (Título II, Capítulo VI, Seção
I), com pena abrandada. Não obstante, durante a tramitação o projeto sofreu emenda do
relator, com vista a tipificar a conduta no capítulo anterior (capítulo III – Periclitação da Vida
e da Saúde), com pena mais grave e adequação da conduta à sistemática do Código. Contudo,
a redação sofreu modificação que não eliminou os defeitos originais do texto, mas ao
contrário, inseriu outros defeitos que tornaram a matéria imprestável sob o nosso ponto de
vista.
CAPÍTULO II - COMPREENDENDO O FENÔMENO DO ASSÉDIO MORAL NA
POLÍCIA

2.1 COMPREENSÃO GERAL DO ASSÉDIO MORAL

Em uma discussão densa e necessária é preciso entendermos que, antes de tudo, o


militarismo se sustenta em uma cultura organizacional em que uma hierarquia deve ser
mantida, mas mantida a que ponto, ao ponto que vai até a humilhação e sofrimento de seres
humanos, muitas vezes transformados como sustentação do poder de alguém que está acima
nessa hierarquia.
Pensando em uma vertente de acordarmos para uma necessidade de conhecermos e
defendermos sobre uma temática que, aparentemente, está presente no dia-dia das corporações
militares, mas camuflada, ainda, de uma hierarquia de autoritarismo sustentada na verdade
muitas vezes por um assédio moral.
Conforme Queiroz (2009) apud Santos e Gomes (2014), a expressão “trabalho” nasce
quando o ser humano passa a depender de seu esforço e capacidade física para sobrevivência,
e esse fator abrangeu a Idade Média, no bojo da formação dos estados modernos, quando do
desenvolvimento dos grandes feudos.
Esse é só um ponto histórico citado que marca a importância que o trabalho pode ter na
vida do ser humano, mas, sobretudo, o peso que o assédio pode ter na vida profissional do
mesmo.
Devemos atentar que não é todo comportamento e atitude que podem ser encarados como
assédio moral. Há de se ter o cuidado necessário em cada caso, assim como expõe Silva
(2006) apud Guimarães (2009) [...] os militares, categoria peculiar de trabalhadores públicos,
não estão imunes à submissão a um processo de assédio moral [...].
Ao analisar o fenômeno do assédio moral aplicado aos militares, não há dúvida acerca
dos cuidados extremos que se deve adotar, tendo em vista a estrutura personalíssima da
carreira militar, fundamentada nos pilares constitucionais da hierarquia e disciplina.
Portanto, um alerta preliminar, nós não devemos confundir submissão à hierarquia e
disciplina, exercidas dentro dos legítimos limites, com submissão ao processo de assédio
moral.
Posição também adotada por Hirigoyen (2005) apud Guimarães (2009) que certifica que
o assédio moral é um abuso e não pode ser confundido com decisões legítimas.
Por conseguinte, depreende-se que quando as decisões do superior estão de acordo com
as normas de direito e pautadas nos legítimos limites, isto é, nos liames da lei e de forma a
não causar constrangimentos e humilhações injustificadas nos subordinados, não há de se
falar em assédio moral.
Queiroz (2009) apud Santos e Gomes (2014), nos faz parafrasear que, apesar, das
evoluções quanto á proteção do trabalhados, o Estado, não raras vezes, vem, negligenciando
essa proteção, e, em razão da competitividade, lucro e produtividade, os trabalhadores acabam
sendo submetidos a tratamento degradante.
E sim, é dessa forma que vemos começar a se mostrar o assédio moral no espaço das
organizações, causando sérios impactos psicológicos nos trabalhadores e, em consequência
em toda a sociedade, principalmente, se pararmos para avaliar quando esse ocorre entre os
policiais.

2.2 DIFERENCIAÇÃO ENTRE ASSÉDIO E DANO MORAL

Existem algumas diferenças que precisam ser feitas e uma delas diz respeito sobre
assédio moral e dano moral não serem a mesma coisa.
O assédio moral traz consequências sobre a saúde da vítima e estas consequências podem
ser detectadas para compreendermos se existe ou não o assédio. No estresse não existe
sentimento de culpa e nem ocorre humilhação da vítima, como ocorre no assédio moral. No
dano moral não existe a necessidade de provar estes efeitos, pois, presume-se que a vítima
esteja sofrendo.
O dano moral não tem sintomas próprios e ainda não existe a necessidade da prova do
prejuízo sobre a saúde, pois, se presume que a vítima que esteja sofrendo, tenha sua imagem
abalada.
O assédio moral possui algumas diferenças com relação ao dano moral, mais, em alguns
casos existe um encontro entre eles. O assédio moral exige que sejam realizadas práticas
hostis de forma reiterada, com certa frequência e duração.
Segundo o próprio CNJ:
Entende-se por assédio moral toda conduta abusiva, a exemplo de gestos, palavras e
atitudes que se repitam de forma sistemática, atingindo a dignidade ou integridade
psíquica ou física de um trabalhador. Na maioria das vezes, há constantes ameaças
ao emprego e o ambiente de trabalho é degradado. No entanto, o assédio moral não é
sinônimo de humilhação e, para ser configurado, é necessário que se prove que a
conduta desumana e antiética do empregador tenha sido realizada com frequência,
de forma sistemática. Dessa forma, uma desavença esporádica no ambiente de
trabalho não caracteriza assédio moral. (BRASIL, 2016)

2.3 COMPREENSÃO DO ASSÉDIO MORAL ENTRE OS POLICIAIS MILITARES

Se pararmos para pensar no contexto policial militar, tentamos compreender qual a


realidade que acontece dentro de alguns órgãos dessa corporação, e se podemos associar
comportamentos que podem estar caracterizados acima tendo relação com o assédio moral.
Os policiais militares pertencem a instituições organizadas com base na hierarquia e
disciplina, conforme dispõe o art. 42 da Constituição Federal de 1988, o art. 144, §6º, aduz
que “As policias militares (...), forças auxiliares e reserva do exército, subordinam-se
juntamente com as policias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios”. (BRASIL, 1988, p.1)
Mais uma vez conceituando, o assédio moral que é considerado um tema de grande
interesse de estudos, inclusive jurídico tem seu significado e pode ter diversas consequências.
É um ato que implica em muitas condutas que expõe a pessoa assediada.
Aqui voltamos a debater sobre uma temática que traz o possível conflito de diversão de
compreensão e Silva (2006) apud Guimarães (2009) esclarece que não se confundem
hierarquia e disciplina, mas são termos correlatos, no entendimento de que a disciplina
pressupõe relação hierárquica, juridicamente falando, a quem tem poder hierárquico.
E ainda o parágrafo 3° do artigo 14 do Estatuto dos Militares assevera que “A disciplina e
o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida entre militares
da ativa, da reserva remunerada e reformados”.
Consoante Silva (2006) apud Guimarães (2009), podemos conceituar a disciplina militar
como sendo a soma de preceitos que devem ser obedecidos por todos os componentes de uma
corporação militar, em virtude dos quais todos devem respeito aos modos de conduta que
deles decorrem.
Segundo Lobão (2004) apud Guimarães (2009) a disciplina militar, sustentáculo maior da
hierarquia, constitui um sistema rígido de relacionamento entre os integrantes da organização
castrense, com a finalidade precípua de zelar pela manutenção deste segmento hierarquizado
da estrutura social do país.
De modo semelhante, Oliveira (2005) apud Guimarães (2009) instrui que a disciplina
condiciona o militar a não contestar ordens, a aceitá-las, a associar-se até efetivamente ao
superior que o comanda no interior da estrutura militar.
A respeito da hierarquia militar, Silva (2006) apud Guimarães (2009) define como ordem
disciplinar que se estabelece nas forças armadas decorrente da subordinação e obediência em
que se encontram em relação aos de categoria mais elevada. Portanto, transparece que são
essenciais à doutrina militar a hierarquia e a disciplina, a fim de, prevalecer à ordem e o
decoro na vida castrense.

O assédio moral, sem embargo dos estudos na área da psicologia, medicina e


sociologia do trabalho, é um tema de grande interesse jurídico, pois,
conceitualmente destacando, significa agressão moral ou psicológica no ambiente de
trabalho, implicando condutas antiéticas através de escritos, gestos, palavras e
atitudes que expõe o empregado a situações constrangedoras, vexatórias e
humilhantes, e certo que de maneira prolongada, visando discriminar e/ou excluir a
vítima da organização e ambiente do trabalho. (ALKIMIN, 2005, p. 11)

Se falarmos em assédio, devemos compreender o que isso significa, como classificamos,


vemos sua manifestação e suas consequências, consequências essas que vão desde físicos a
psíquicos, que envolvem tanto o ambiente organizacional como a vida social e familiar da
pessoa que passa por esse tipo de exposição.
Compreendemos que o assédio pode se iniciar como algo não ofensivo, contudo, a
situação pode e toma grandes proporções que fazem com que a pessoa que sofre o mesmo
começa a sentir os efeitos, sentindo-se, por exemplo, perseguida e ridicularizada.

O assédio nasce como algo inofensivo e propaga-se insidiosamente. Em um primeiro


momento, as pessoas envolvidas não querem mostrar-se ofendidas e levam na
brincadeira desavenças e maus tratos. Em seguida esses ataques vão se
multiplicando e a vítima é seguidamente acuada, posta em situação de inferioridade,
submetida a manobras hostis e degradantes durante um período maior.
(HIRIGOYEN, 2005, p.66)

A Constituição Federal em seu artigo 3º, I e IV, garante a construção de uma sociedade
livre, justa e solidária, bem como a promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, cabe ao Estado coibir,
educar, com intuito de proporcionar a todos um ambiente saudável, sendo o assédio moral
proibido pelo sistema jurídico brasileiro.
Além da Constituição federal, o Código Civil, Código Penal, Código do
Consumidor, entre outras leis, determinam a punição (cada um em sua área) de
práticas de bullying, sendo que o assunto começou tímido nos tribunais, mas nos
últimos cinco anos rompeu os obstáculos iniciais e decisões coibindo o bullyng (nos
mais diversos ambientes) começam a surgir, sinalizando que o Poder Judiciário não
irá tolerar tais condutas, punindo, assim os responsáveis. (CALHAU, 2009, p. 14)

O assédio de fato é percebido como diversos comportamentos que tem uma finalidade
determinada em relação à pessoa que será assediada, perpassando muitas vezes a algo que
vem de diversos fatores do assediador, como poderemos ver na citação abaixo.

(...). Trata-se, pois, de um comportamento ou conjunto de comportamentos em


relação a alguém. Portanto, ultrapassa o vago campo da “intensão”, “desejo” ou
“ideia” para se referir a algo perceptível, no domínio do concreto, do
comportamento, com uma finalidade determinada. (FIORELLI. JUNIOR., 2007,
p.32).

Quando pensamos em um policial militar, pensamos em alguém que tem por “obrigação”
uma postura íntegra, forte, inabalável, mas quando este tem sua honra abalada ou atingida por
uma vivência que se relaciona ao assédio moral, este pode sofrer e estar desprotegido dessa
postura “exigida” pela sociedade e pela corporação.

Os direitos de personalidade são aqueles que dizem respeito aos atributos que
definem e individualizam a pessoa, protegendo-a “em seus mais íntimos valores e
em suas projeções na sociedade”, cujos direitos de personalidade, embora sejam
desprovidos de valor econômico, têm para seu titular valor absoluto e inato, portanto
têm como características a irrenunciabilidade, intransmissibilidade e
imprescritibilidade. (ALKIMIN, 2005, p. 20).

Diante da dificuldade que o policial militar possa ter em ser compreendido que está
sofrendo com o possível assédio, este se sente injustiçado, procurando a justiça para viver em
paz com a sociedade, afinal, este também tem seu direito de personalidade. Diríamos que,
como a Justiça é fundamento do ordenamento jurídico e o fim buscado de harmonia e paz
social, só se concretiza numa sociedade justa. (...). (NUNES, 2006, p.298).
Não podemos deixar de compreender que para o ordenamento social se uma classe for
atingida por uma demanda como essa todos serão atingidos, já que, por exemplo, um policial
vítima atinge de forma reflexa a sociedade.
Pensamos aqui em um contexto em que o policial militar surge dentro da sociedade e de
tudo aquilo que ela traz consigo, inclusive o não admitir que alguém possa ser diferente de
você, ao ponto de ridicularizá-lo, o que reflete, diretamente, nesse tipo de conduta.
(...) Qual é o combustível para que essas condutas aconteçam em nossa sociedade?
Porque as pessoas são perseguidas por serem “diferentes”? Infelizmente, vivemos
em uma sociedade extremamente individualista e capitalista, onde o ser humano,
para muitos, deixou de ser o próximo e passou a ser apenas um meio para que possa
alcançar sua “felicidade”, que é apenas juntar dinheiro e adquirir bens.
Lamentavelmente ser honesto é sinal de fraqueza, porque para esses o “mundo é dos
espertos”, numa total deterioração dos fundamentos éticos que devem dirigir as
ações das pessoas. Ser diferente nessa sociedade individualista é um “pecado”.
(CALHAU, 2009, p. 04)

Devemos pensar ainda mais distante e de forma ainda mais preocupante, pois, essa
institucionalização de violações de direitos humanos dentro da corporação pode refletir,
diretamente, em como esses policiais podem reagir no cotidiano com a população.
Sim a hierarquia tantas vezes citada acima é um valor supremo nos manuais das Policias
Militares, nos regulamentos disciplinares também, precisamos, inclusive, levar temas como
esse e outros que avançam e atualizam sobre o direito, para dentro das corporações, sim
mudanças não são fáceis, mas elas precisam acontecer em algum momento.
Não seria possível diante do encontro do entendimento desse fenômeno compreendermos
a possibilidade de uma “desmilitarização”, mas quem sabe, por exemplo, oferecendo uma
formação mais humana sem mexer na natureza da Polícia Militar.
O assédio moral pode trazer consequências muito preocupantes como, por exemplo, o
estresse, a depressão e até mesmo o suicídio.

(...), cidadãos estressados, deprimidos, com baixa autoestima, capacidade de auto


aceitação e resistência à frustração, reduzida capacidade de autoafirmação e de auto
expressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias de estresse, de
doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e de psicopatologias graves. (...)
em situações de ataques mais violentos, contínuos e que causem graves danos
emocionais, a vítima pode até cometer suicídio ou praticar atos de extrema
violência. (CALHAU, 2009, p. 17)

Nos dizeres Silva (2006) apud Guimarães (2009) o assédio moral é um câncer social, que
se alastra por todas as direções, ocasionando perdas substanciais que transcendem à pessoa da
vítima, gerando danos significativos à saúde financeira da empresa e do Estado.
Ainda de acordo com Silva (2006) apud Guimarães (2009) considera que o assédio moral
no ambiente de trabalho é um processo altamente vitimizador, cujas consequências
ultrapassam as demarcações éticas aceitáveis em uma sociedade civilizada, onde o trabalho é
considerado um dos direitos sagrados atribuídos ao ser humano.
E essas são as consequências segundo o CNJ:
O assédio moral no trabalho desestabiliza o empregado, tanto na vida profissional
quanto pessoal, interferindo na sua autoestima, o que gera desmotivação e perda da
capacidade de tomar decisões. A humilhação repetitiva e de longa duração também
compromete a dignidade e identidade do trabalhador, afetando suas relações afetivas
e sociais. A prática constante pode causar graves danos à saúde física e psicológica,
evoluir para uma incapacidade laborativa e, em alguns casos, para a morte do
trabalhador. (BRASIL, 2016)

No sentido do que foi descrito acima observa-se que muitas vezes alguns policiais não
aguentam tamanha pressão e acabam tirando a própria vida, já que o seu próprio instrumento
de trabalho, que é a arma de fogo pode facilitar esse tipo de desfecho, ficando cegos diante de
tamanho desespero, e essa pode ser considerada uma das consequências de estares passando
pelo assédio moral.
Embasando nessa tese, Neto (2005) apud Guimarães (2009) nos afirma que o assédio
moral produz efeitos extremamente danosos para quem o sofre. É habitual que, em face da
conduta assediante, o trabalhador resolva pela saída da empresa ou, em situação mais extrema
– se bem que possível -, tente ou chegue até a consumar suicídio.
Incontestavelmente são poucas as agressões que causam distúrbios psicológicos tão
graves a curto prazo e consequências a longo prazo tão desestruturantes como as causadas
pelo assédio moral. Hirigoyen (2009) apud Guimarães (2009) salienta que não se morre
diariamente de todas essas agressões, mas perde-se uma parte de si mesmo. Volta-se para
casa, a cada noite, exausto, humilhado, deprimido.
Os trabalhadores são levados a passar por situações vexatórias que os levam aos seus
limites, segundo o CNJ temos:

Como exemplos frequentes de assédio moral no ambiente de trabalho, podemos citar


a exposição de trabalhadores a situações vexatórias, com objetivo de ridicularizar e
inferiorizar, afetando o seu desempenho. É comum que, em situações de assédio
moral, existam tanto as ações diretas por parte do empregador, como acusações,
insultos, gritos, e indiretas, ou ainda a propagação de boatos e exclusão social. Os
processos trabalhistas que resultam em condenações por assédio moral, quase
sempre envolvem práticas como a exigência de cumprimento de tarefas
desnecessárias ou exorbitantes, imposição de isolamento ao empregado, restrição da
atuação profissional, ou ainda exposições ao ridículo. (BRASIL, 2016)

Percebemos que não se justifica o policial se portar de forma indisciplinada, mas


devemos compreender que antes de cobrá-lo podemos dar condições para esse de suportar
tamanha tarefa. O não demonstra isso para muitos o assédio moral, mas há, porque ele surge
quando se despreza os limites de exigência que se pode suportar.
Muitas vezes o policial leva para casa todo o fardo carregado durante o serviço, somado
ainda a responsabilidade de se defender em processo administrativo que dentro da corporação
da policia é um processo instaurado quando um subordinado é surpreendido no cometimento
de uma transgressão disciplinar, que é um processo previsto no regulamento disciplinar da
polícia militar.

O decreto 3.548 de 31 de janeiro de 1980 descreve sobre cumprimento de deveres para


todos os policiais militares do Piauí.

Art. 6º - A disciplina Policial Militar é a rigorosa observância e o acatamento


integral das Leis, regulamentos, ordens normas e disposições, traduzindo-se pelo
perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes da
OPM. 4 § 1º - São manifestações essenciais de disciplina: 1. A correção de atitudes;
2. A obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos, ou de quem tem
autoridade para ordenar; 3. A dedicação integral ao serviço; 4. A colaboração
espontânea à disciplina coletiva e à eficiência da instituição; 5. A consciência das
responsabilidades; 6. A rigorosa observância das prescrições regulamentares e das
leis. § 2º - A disciplina e o respeito à hierárquica devem ser mantidos
permanentemente pelos policiais – militares na Ativa e Inatividade. (PIAUÍ, 1980, p.
06)

O policial militar tem direito a uma sadia qualidade de vida, ratificada pelo artigo 225 da
Constituição Federal de 1988, que assim dispõe, “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (...) essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.

Pelo termo “sadia” não se deve entender ausência de doença, e sim vida saudável,
isto é, aquela hábil a propiciar ao homem condições necessárias para a melhoria
continua da sua qualidade de vida. No entanto, direito à sadia qualidade de vida não
tem meramente a conotação de saúde física, e sim de vida saudável, nesta incluso o
aspecto psíquico; logo, nesse conceito, vislumbramos as bases dos Direitos
Humanos, Direito Econômico, Direito do Consumidor, portanto, a dignidade
humana traduzida na sua incolumidade físico-psíquico-socialeconômica. Daí
afirmamos não poder a divisão didática do Direito ser rigorosa a ponto de desvirtuar
o seu papel, quiçá em dias de sociedade de massa, em que a integração são tão
evidentes, que apontar as fronteiras entre um e outro Direito torna-se tarefa das mais
árduas. (D’ISEP, 2004, p.66).

O policial tem direito a um ambiente que lhe de condições de dignidade e qualidade de


vida, porém notamos que muitas vezes isso não acontece, a realidade é outra, o policial
trabalha em regime de escala, dia e noite, faça sol ou chuva, nas ruas e avenidas das cidades,
em bairros com grande índice de criminalidade. Não se questiona tais situações apontadas,
alguém tem que fazer este trabalho, e é responsabilidade do Estado na pessoa do policial
militar, o que se questiona é a carga horária trabalhada, os horários noturnos, as intempéries.

O policial administrativo e o operacional, tem direito a um ambiente sadio e


equilibrado, a fim de garantir dignidade e qualidade de vida: O meio ambiente sadio
e equilibrado é elementar para garantir a dignidade da pessoa e o desenvolvimento
de seus atributos pessoais, morais e intelectuais, constituindo sua preservação e
proteção meio para se atingir o fim que é a proteção à vida e saúde do trabalhador,
referindo-se esta última ao aspecto da integridade física e psíquica, e
consequentemente, garantir a qualidade de vida de todo cidadão. (ALKIMIN, 2005,
p.25).

O policial militar assediado tem o direito de reparação do dano moral sofrido por ofensa
aos direitos da personalidade, conforme dispõe o artigo 5º.,X, da Constituição Federal de
1988, “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Embora o assédio moral seja tão antigo quanto o próprio trabalho, só recentemente os
estudiosos passaram a se preocupar com a questão, visto que esse fenômeno não pode mais
ser encarado com descrédito, principalmente, pelas repercussões que causa ou pode vir a
causar na atual conjuntura. Preocupa o fato dos danos do assédio moral ultrapassarem a esfera
psíquica, alcançando muitas vezes a vítima em sua estrutura física, familiar e social, o que não
é diferente com o policial militar.
Existem diversas modalidades de assédio e em todas, uma gritante ofensa a pessoa
humana, rebaixando-a, humilhando-a, sempre com a intenção de menosprezar essa pessoa e
inferiorizar essa pessoa, vitimando desse modo a injusta agressão que leva a tristes
consequências
Em matéria de lei o CNJ vem nos dizer que:

Não existe uma lei específica para repressão e punição daqueles que praticam o
assédio moral. No entanto, na Justiça do Trabalho a conduta de assédio moral, se
caracterizada, gera indenização por danos morais e físicos. Na esfera trabalhista, o
assédio moral praticado pelo empregador ou por qualquer de seus prepostos autoriza
o empregado a deixar o emprego e a pleitear a rescisão indireta do contrato.
As práticas de assédio moral são geralmente enquadradas no artigo 483 da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que determina que o empregado poderá
considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando, entre outros
motivos, forem exigidos serviços superiores às suas forças, contrários aos bons
costumes ou alheios ao contrato, ou ainda quando for tratado pelo empregador ou
por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo ou ato lesivo da honra e boa
fama. Já na Justiça criminal, conforme o caso, a conduta do agressor poderá
caracterizar crimes contra a honra, como a difamação e injúria, contra a liberdade
individual, em caso, por exemplo, de constrangimento ilegal ou ameaça. (BRASIL,
2016)
O acima destacado de forma resumida será melhor abordado no segundo capítulo deste
trabalho, onde serão descritos de forma detalhada as medidas cabíveis de punições caso seja
constatado o assédio moral.
Entendemos sobre a hierarquia tantas vezes aqui destacada que, ela precisa ser
compreendida e como o próprio Lobão (2004) apud Guimarães (2009) aponta, ao exercitar o
poder legal de punir o subordinado que transgride os regulamentos militares, o superior
hierárquico deve fazê-lo com estrita observância das normas pertinentes [...].
Outrossim, os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de
1988 devem ser resguardados por serem regras de aplicação imediata.
Assim como mostra Rosa (2003) apud Guimarães (2009) a hierarquia e a disciplina
devem ser preservadas por serem princípios essenciais das Corporações Militares, mas os
direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5° da CF são normas de aplicação imediata
(art. 5°, § 1°, da CF), que devem ser asseguradas a todos os cidadãos (civis ou militares,
brasileiros ou estrangeiros), sem qualquer distinção, na busca do fortalecimento do Estado de
Direito.
A justiça é elemento essencial de qualquer instituição, pois, somente com a observância
do devido processo legal e das garantias constitucionais é que se podem alcançar os objetivos
do Estado Democrático de Direito. O respeito à lei em todos os seus aspectos é condição
essencial para a construção de uma sociedade justa, fraterna e livre da violência e das
desigualdades sociais.
CAPÍTULO III - ANÁLISE DO ASSÉDIO MORAL NA POLÍCIA MILITAR DO
PIAUÍ

3.1 ANÁLISE GERAL DO ASSÉDIO MORAL

Podemos perceber, ao longo, de tudo que aqui foi descrito que o Assédio Moral é um
problema antigo, e que a sua existência, então, já faz parte da vida laboral dos profissionais
em diversas áreas. Isso se dá sim tanto no âmbito privado quanto no público, colocando esse
profissional em segundo plano em prol de produtividades e prestações de serviços que
colocam, por vezes, a dignidade da pessoa a ofensas gritantes.
Por vezes, foram pontuadas a hierarquia e disciplina como características marcantes da
vida militar, o que foi uma das primácias do estudo realizado no Quartel do Comando Geral
da Polícia Militar do Piauí, por ser observado que o cumprimento dessas características
estivesse sendo confundido, ou camuflado de algo muito mais complexo, aqui falamos do
Assédio Moral.
Na análise dos resultados, verificou-se que há indícios de existir a figura do assédio moral
nas relações interpessoais dos Policiais Militares. Que essas são “denunciadas”,
principalmente, pelas mulheres, que apesar de em sua maioria serem oriundos da relação
superior/subordinado, é vertical e horizontal, ou seja, também de outros colegas de trabalho,
além disso, observou-se que, apesar, de ter relato de profissionais de mais idade, este ocorre
com os mais jovens.
No que diz respeito ao adoecimento, ao prejuízo a saúde, também já existem policiais que
sentem as consequências dessa relação, inclusive, fazendo com que alguns, compartilhassem
isso, com amigos, pessoas do trabalho, ou para a família, sendo importante, destacar, que
apesar de maioria afirmarem que talvez o superior não perceber o mal que podem estar
fazendo aos seus subordinados, alguns acreditam que seus superiores tem consciência dessa
atitude, e praticam tal, inclusive de forma mais “agressiva”.
Ainda sobre os questionários avaliados, é necessário e importante destacar que quase
todos os policiais sabem sobre o que é assédio moral, ainda que de forma simplificada, mas
existem sim policiais que não sabem e que não responderam essa pergunta, por talvez não
saberem como responder, não terem conhecimento do assunto, apesar de identificarem
comportamentos que podem esta relacionados a essa problemática advindos de seus
superiores.
Podemos perceber que o Assédio moral tem na Instituição Militar tem um ambiente
propício para apresentar-se de forma muito camuflada, já que algumas ações que são típicas
de uma relação de assédio são recebidas de forma muito mais natural do que seriam em outras
instituições, tendo em vista, as mesmas estarem bem próximas de dinâmicas vivenciadas na
vida militar.
Tendo como base a Instituição Militar, especificamente, os superiores têm um campo
fértil para manipularem seus próprios interesses, considerando as escalas superdimensionadas,
a negação e/ou suspensão de direitos, as transferências, remanejamentos e disfunção
funcional, já que o medo de perseguição e represálias conduz a maioria dos subordinados a
comportamentos passivos ante tal modelo de gestão.
A compreensão ou aceitação de regras próprias da caserna, descritas acima, que buscam a
diminuição das diferenças e enquadramento a um padrão de comportamento aceito e
formatado, não permite desvios, manifestações públicas de descontentamento, atos estes que
podem ser considerados como insurreição ou motim, inclusive, podendo levar os
subordinados a punições.
Percebemos que reconhecendo as formas pelas quais ocorrem, suas características, de que
forma eles se apresentam nas organizações e também reconhecer as vítimas e seus
“agressores”, além de como é possível se defender desse mal, talvez pudesse fazer com que as
incidências desses casos diminuíssem e fossem “denunciados” para que, inclusive, o próprio
direito ver a necessidade de ser criada de fato uma punição especifica para quem pratica tal
ato, independente da profissão.

3.2 ANÁLISE ESPECÍFICA DOS RESULTADOS

Podemos visualizar com as respostas adquiridas nos questionários, que sim, a cada dia
que passa, muitas pessoas, especificamente, muitos policiais, já reconhecem o que é o assédio
moral, mas talvez não como se defender dele, principalmente, no ambiente militar. O sistema
judiciário brasileiro estabelece normas para julgamento de processos sobre o assédio moral,
no entanto, cabe aos indivíduos participantes da organização a conscientização sobre a sua
forma de ocorrência, e assim, buscarem conviver com mais dignidade e respeito. Ao superior
é imprescindível, garantir um ambiente que seja inibidor do assédio moral, buscando conviver
com mais dignidade e respeito.
Como consequência do assédio faz-se necessário atentar as perdas ocorridas, diante das
próprias respostas dos questionários (vide anexo), como: queda de produtividade, imagem
negativa dos profissionais da instituição, alteração na qualidade dos serviços prestados,
doenças profissionais, trocas constantes de subordinados nos setores e falha na comunicação.
Nesse sentido, e como já brevemente citado, em uma Instituição Militar, especificamente,
no Quartel do Comando Geral da PMPI, é possível identificar quase todas as estruturas já
observadas do assédio moral. Há o assédio moral descendente, caracterizado por alguém que
detém maior poder, o superior, sobre um outro percebido como a ele inferior, o subordinado.
Existe também o assédio moral ascendente, em que a situação anterior se inverte. Ocorre,
ainda, o assédio moral misto, uma combinação dos dois tipos anteriores.
Acredita-se que a contribuição acadêmica deste trabalho tenha sido no sentido de
provocar a reflexão sobre a existência do assédio moral na Instituição Militar no QCG da
PMPI, descrevendo as possibilidades de existência do mesmo, com uma comprovação
empírica, que fez um certo desvendamento da relação do assédio moral no local avaliado.
Observamos que numa vivência particular do pesquisador, e também descrito
referencialmente, existe um treinamento baseado em violência psicológica, moral e até física
que se faz necessário por acreditar-se que esse condicionará o corpo e a mente dos soldados
para vencer o medo e o perigo e ter coragem para o embate no que seria uma guerra urbana.
Continuamos vivenciando, em diversos sentidos, um militarismo que se sustenta em uma
cultura organizacional em que a hierarquia deve ser mantida, mesmo que às custas da
humilhação e sofrimento de seres humanos, muitas vezes transformados em meros
instrumentos de sustentação do poder de seus superiores.
Talvez seria a hora do militarismo enxergar novos horizontes, pois, o que talvez
realmente ocorre é que por acharem que são superiores aos demais servidores que lhes
acompanham na dura carreira militar, alguns atos emanados desses “superiores” são
desenvolvidos de forma exagerada, o que pode ser percebido em respostas atribuídas na
pesquisa tais como: gritos de superiores contra subordinados, designações e atribuições que
não condizem com seus atributos, bem como algumas taxações indignantes para com
subordinados.
Temos conhecimento de que a Polícia Militar é uma instituição antiga, e que, ainda, está
enraizada a dogmas ultrapassados e que precisam ser superados de imediato. A reprodução
comportamental gera um círculo vicioso de assédio que fere o membro da corporação,
inserindo-o num processo vitimador que o incapacita para a atividade a qual poderia
desempenhar com excelência, tendo como consequência, diminuição da estima a sonegar seus
mais básicos direitos humanos.
Vale evidenciar que, embora existam positivados elementos normativos que denotam a
previsibilidade de punição a quem pratica os comportamentos já citados, este ainda é pouco
para responder positivamente a esse fato social existente, tentando eliminá-la definitivamente
este mal prejudicial a força pública e militar.
Quanto a punição podemos observar que, no caso da Polícia Militar, cabe a aplicação dos
dispositivos constitucionais, além dos demais dispositivos legais do direito, inclinados à área
penal, porém, o militar, seja ela de que forma for, que cometer assédio moral pode ter uma
punição disciplinar (administrativa), ou seja, no serviço público, pode receber punições
disciplinares, de acordo com o regramento próprio.
É importante destacar, porém, que em muitos casos, há uma inversão da direção da
aplicabilidade das punições, já que são os superiores que muitas vezes punem os
subordinados, por acreditarem ou fazerem ser insinuado que esses “desobedeceram“ as
hierarquias e respeito que deve ser dado a eles.
O que fica evidenciado é que na realidade não é essa perda do “respeito” a hierarquia
apontada, muitas vezes, pelos próprios superiores, mas a questão do assédio moral, a conduta
do assediador é que deve e pode ser enquadrada em ambos dispositivos legais próprios da
corporação, porque afronta o dever de moralidade, camaradagem, do pundonor militar, além
dos valores éticos e o princípio da dignidade da pessoa, podendo constituir-se em
incontinência de conduta.
Também já pontuamos que o assédio moral seja um fenômeno muito antigo, mas que ele
se intensificou com a busca pela ascensão no mercado de trabalho, o que não é diferente no
meio militar, onde também há a procura desenfreada pelo poder, pela patente mais elevada,
porém, fazendo com que muitos servidores cometam as mais diversas falhas, devido ao poder
que lhe é conferido. Assim, os profissionais, nesse ambiente, estão sujeitos, mais do que em
outros, a sofrerem este tipo de violência, porque, além de se almejarem cargos mais altos/
patentes mais altas, não há, ainda, pelo que se observa, pelas referências e respostas
adquiridas na pesquisa, uma distinção entre a hierarquia, a disciplina e o assédio moral.
Na própria “caserna”, momento que o pesquisador também vivenciou pessoalmente, o
tratamento dos superiores, dos subordinados e dos pares, muitas vezes, é feito de maneira
desrespeitosa, humilhante e hostil, causando muitos problemas ao assediado, os quais se
refletirão em sua relação com os colegas, a família e a sociedade. O que sofre tais ações está
submetido a um regime disciplinar muito rígido, que é visto como uma condição para o
profissional ingressar e permanecer nesse meio, deixando claro, que não se propõe com essa
pesquisa a mudança a algumas características que precisam ser típicas do militarismo, mas, a
compreensão e tentativa de evidenciar empiricamente que dentro da instituição QCG existem
casos de assédio moral.
O que não podemos continuar aceitando é que esse desrespeito continue sendo banalizado
tanto para os homens quanto para as mulheres, pois fere, de forma cruel, a dignidade da
pessoa. O peso da responsabilidade da escolha pela vida militar, já é muitas vezes um fardo
suficiente sobre os ombros do militar, portanto, o que se deve esperar do militar que agride as
pessoas desse meio, tanto os superiores quanto os colegas de trabalho? Será que terá
condições de cumprir com o juramento que representa a entrada na Polícia Militar, que é o de
proteger as pessoas, mesmo com o risco da própria vida?
Dessa forma entendemos que participação da corporação, neste sentido, como instituição,
é necessária, visto que pode investir em políticas de educação, para modificar a realidade que
se percebe neste contexto e evitar que o assédio moral seja considerado normal, buscando
melhorar a autoestima de seus policiais e o seu reconhecimento como profissionais, podendo
ser esta uma das condições para a redução e o combate à violência que ocorre dentro da
instituição.
Apesar dos resultados encontrados, não se pretende ser conclusivo sobre o assunto, mas
buscar mostrar uma evidência de existência de casos e, contribuir para novos estudos, além,
de um olhar mais profundo sobre a temática dentro do militarismo, analisando, inclusive de
forma ampla a qualidade de vida no ambiente de trabalho, sendo possível identificar os
principais atos negativos aos quais os policiais questionados são mais, frequentemente,
submetidos.
Pelo que já se pode perceber a coleta de dados se deu pelo uso de questionários entregues
durante uma formatura e depois recolhidos, avaliando-os sócio-demograficamente, assim
como suas qualidades de vidas e as formas como conhecem e percebem, pessoalmente, o
assédio. Sendo, então, estes fundamentais para o evidenciamento de uma resposta para a
problemática proposta, sendo, ainda, significativo, para aprofundar a análise e validar os
resultados.
Compreendeu-se com a conclusão desse trabalho formas, ao mesmo tempo, abrangentes e
peculiares dos superiores coagirem/assediarem seus subordinados, e como já dito, que ela
existe, mas que mesmo assim, poucos, chegaram a comentarem com alguém do ambiente de
trabalho, apesar de ser uma temática disseminada entre eles, o que prejudica a busca por ajuda
e por justiça.
Percebemos que o processo de coação moral, por exemplo, mascarado de cumprimento a
uma hierarquia e disciplina entre os policiais militares, exige, ainda, uma série de pesquisas
para entender seus motivos, depois de ser comprovada a existência de casos. Pesquisas que
possam estar averiguando as motivações históricas e sociais do fenômeno, assim como, sobre
a cultura da instituição.
Talvez o que se consiga perceber de forma ainda mais profunda é que tendo
características únicas esses profissionais ao demais tipos de profissionais, ações negativas,
ainda, não foram percebidas como perseguição ou discriminação, podendo, inclusive, não
interpretar algumas coisas negativas como sendo assédio, por fazerem parte da cultura da
instituição.
Mesmo que se sinta humilhado, o policial não consegue diferenciar isso de assédio,
salientando, ainda, que eles não estão, totalmente, descontentes com a instituição. Isso nos faz
concluir que, algumas atitudes simples podem ser adquiridas em favor dos policiais, como,
por exemplo, maior valorização, melhores equipamentos e instrumentos de trabalho,
implantação de programas de qualidade de vida laboral e pessoal dos mesmos,
proporcionando melhor integração, qualidade de vida e como profissional.
Podemos dizer, que sim, o autoritarismo e a hierarquização estão presentes na sociedade
brasileira e nas organizações. No momento atual, em que se centraliza a hipercompetitividade
e a agilização dos processos nas organizações, observa-se que a maldade que emerge no
assédio moral tem assumido seus contornos mais fortes atrás do autoritarismo e da
hierarquização. O que vem acontecendo neste “órgão”, é um desrespeito ao cidadão e ao
policial.
O dever da administração pública é fazer valer a construção de um estado mais saudável,
racional, democrático, transparente, justo e humano. Então, verifica-se que em vez de
assegura o cidadão, a própria administração pública, por meio de seus agentes, tem adoecido a
sociedade. Inclui-se aí tanto o servidor em contato direto com o assediador, como toda a
comunidade que é atendida por estes órgãos públicos, nos quais dominam o desmando e o
autoritarismo.
Conseguimos compreender que diversos policiais estão sendo expostos à perversidade do
assediador, que continua impune. Diante dos aspectos aqui descritos, faz-se necessário que as
organizações desenvolvam práticas para impedir o autoritarismo e poder que podem recair em
assédio moral, fragilizando as relações de trabalho. Como ambientes controlados, as
empresas, sejam privadas ou pública, poderiam adotar políticas de prevenção e inibição de
atitudes degradantes, oferecendo aos empregados boas condições de trabalho, prevenindo o
estresse e procurando preservar o rendimento e a imagem da organização, além de incorporar
em seu discurso as reais preocupações contemporâneas da sociedade
Esta pesquisa procurou contribuir para entendimento e comprovação dos estudos
administrativos permitindo, ainda, uma análise teórica e prática do fenômeno assédio moral.
Verificou-se como o assédio moral tem degradado as relações de trabalho e adoecido os
trabalhadores. Torna-se urgente, mais realização de estudos empíricos nessa área, para
desmascarar o assédio, mostrar suas especificidades e consequências para a sociedade e o
estado, contribuindo para a criação de práticas e leis que inibam o fenômeno nas organizações
e melhorem as relações de trabalho. Dentro da organização policial militar, o estudo do
assédio moral é altamente relevante uma vez que este é um ambiente propicio para a sua
existência.
A instituição se firma em princípios rígidos e disciplinares, ocorrendo com isso a
demonstração clara de poder do superior ao seu subordinado. Ao mesmo tempo é fluida nas
suas regras quanto à exposição à ofensa, humilhação e ao vexame. Tais atos são permitidos e,
até legitimados, pois, dizem respeito ao “jeito de ser” especifico do órgão compartilhado por
todos os seus membros.
Existe uma despersonalização, uma destituição de poder e um caráter disciplinador do
assédio. Nos conformes aqui descritos só os mais fortes sobrevivem e podem fazer-se
acompanhar dos outros mais fortes. Nossa pesquisa na Policia Militar, nos demonstra que as
condutas policiais estão alicerçadas nos pilares da hierarquia e disciplina, que estabelecem nos
seus integrantes, uma forma padronizada de conduta individual, através de regras, normas e
procedimentos que podem favorecer um ambiente organizacional de autoritarismo,
submissão, abuso de poder e violência, manifestados cotidianamente, nas relações
interpessoais horizontais e verticais.
Entendemos que o militar é dominado pela vontade de seus superiores; é não-criativo; o
poder hierárquico é utilizado para anular oposições e dominar os subordinados, prevalecendo
acima do conhecimento; que os subordinados não podem, muitas vezes, expressar suas
opiniões livremente, colocando de lado as prioridades traçadas pela atuação da sessão; o
poder hierárquico é empregado basicamente para punir e obter resultados, para penalizar
inimigos e beneficiar amigos, usado na solução de conflitos, impasses ou problemas, em
sobreposição à negociação, utilizado também, pelos superiores em detrimento dos valores
humanos e bem-estar dos subordinados. (NETO, 2005, p.36).
No que diz respeito, as relações de poder no militarismo, cuja base é a liderança e poder
que se caracterizam pela dominação legal, mediante estatutos e regulamentos, impostos
mediante a disciplina e a hierarquia observa-se que cabe aos oficiais a instrução e o
direcionamento ideológico da tropa, na condição de líderes natos, como se carismáticos o
fossem, contudo, se legitimam pela força do estamento e pela severidade do regulamento
militar. Aos subordinados cabe apenas obedecer e se submeter ao rigor da disciplina, sob a
vigilância dos superiores e o risco da punição e da perda do mérito.
A não existência de uma legislação que seja específica em relação ao assédio moral
militar é problema cuja solução se torna imediata ante as acentuadas ocorrências que puderam
ser percebidas Em todas as relações de trabalho, tanto no âmbito civil quanto militar, podem
ocorrer situações em que uma pessoa ou um grupo, exerça violência psicológica sobre outra,
trazendo muitas vezes, danos à sua saúde, além de lesões à sua dignidade, o qual seja o
assédio moral.
As organizações militares, como já descrito tantas vezes tem como sustentáculo a
disciplina e hierarquia militar, os quais forjam um sistema hermeticamente rígido e severo,
propiciando campo fértil para a prática deste abuso. Se não existe, no que tange aos militares,
legislação expressa para a prática do assédio moral, mas que na órbita dos crimes militares há
tipificações que podem consubstanciar o assédio moral mesmo como rigor excessivo, ofensa
aviltante a inferior, crime de maus tratos, entre outros tipificados no Código Penal Militar,
então se pode afirmar que trilhamos no caminho de responsabilizações.
Os militares apesar de terem conhecimento de uma postura investida de punição têm o
direito constitucional de buscar ajuda ao Judiciário contra atos abusivos do Poder Público sem
a necessidade de prévia submissão às instâncias administrativas, sendo óbvio que não podem
ser penalizados pelo simples exercício deste direito. Claro que o assédio moral deva ser
efetivamente provado, de modo que o ato ofensivo à dignidade do subordinado seja reiterado,
e que existem provas contundentes da sua ocorrência.
Devemos fazer referência que há muito que progredir no campo do direito militar,
principalmente, ao que tem relação com o assédio moral, aos abusos e violências que são
cometidos sob o manto de falsas legalidades que foram passadas de geração em geração, pois,
não é possível aceitar que verdadeiros crimes sejam cometidos nas organizações militares e os
culpados fiquem impunes, uma vez que o assédio moral atinge diretamente um dos bens
jurídicos mais valiosos para o direito que como já pontuamos, é a dignidade humana,
reduzindo o assediado a uma condição máxima, tanto que há vítimas que chegam a consumar
o suicídio devido às pressões sofridas.
Com este olhar, devemos ressaltar que, cabe ao Estado e ao Poder Judiciário adotar
providências para inibir esse mal das instituições públicas dos militares o mais breve possível,
pois, certamente, não são somente as vítimas que sofrem com o assédio moral, mas as
famílias dos assediados, assim como também, mesmo que de forma indireta a sociedade
inteira sofre os reflexos negativos dessa prática.
Devemos compreender que mesmo os militares que estejam submetidos a um sistema
altamente hierarquizado, onde prevaleça disciplina, existe um limite legal e legítimo que deve
ser respeitado para que o superior hierárquico no momento de exercer seu comando sobre os
subordinados, não exacerbe da legalidade, seja por meio de ordens proferidas ou por punições
impostas, utilizando-se do poder conferido em função do posto que ocupe.
Na rotina dos militares estes já são orientados a se adequarem a um regime que não abre
espaço para o pensamento crítico ou manifestações por parte dos subordinados, o que propicia
um ambiente de trabalho altamente autoritário, favorecendo atitudes à margem da lei em
nome da disciplina militar. Logo o assédio moral nas instituições militares se apresenta de
forma mascarada, sob a idealização da legalidade, vindo a atingir a dignidade do subordinado
e podendo provocar-lhe danos.
Ainda no âmbito das relações militares devemos compreender também pelas avaliações
dos questionários, que o assédio moral ocorre de modo obscuro, ferindo o princípio da
dignidade humana do cidadão, deixando impune o assediador, ante o medo da retaliação, a
rigidez e severidade do próprio sistema militar e ausência de legislação, contribuindo para que
suas vítimas sofram silenciosamente, repercutindo negativamente na vida social e individual
do militar, que apesar de tudo não deixa de ser um cidadão. Além disso, fazendo com que ao
invés da vítima “denunciar” tal sofrimento, sentir-se bem, apenas, quando o seu superior não
se encontra no ambiente.
A vida de policial militar demonstra pelos resultados encontrados no QCG da PMPI,
apesar, do consentimento por parte de alguns de forma positiva, não ser fácil. E raramente dá
motivos para se orgulhar. Existem alguns treinamentos falhos, as armas e os equipamentos
são insuficientes para enfrentar o crime. Isso, todos sabem. Mas, até agora, pouca gente havia
se preocupado em saber o seguinte: O que pensam os profissionais de segurança pública desse
órgão sobre o ambiente de trabalho e o assédio. Isso nos mostra não só quanto o policial é
humilhado por seus superiores dentro das corporações e discriminados, mas a fragilidade de
estudos e processos de mudanças quanto a problemática aqui abordada.
O levantamento revela quem são sócio-demograficamente sem identificação de nomes,
como já dito, e o que pensam os policiais sobre as suas vivências que tenham uma relação
direta com o problema do assédio.
A pesquisa mostra que há um sofrimento psicológico muito intenso, por mais que poucos
tenham identificado prejuízo a saúde. Essa experiência de vida acaba atrapalhando esses
policiais, que tendem a levar para o público/ a sociedade essa violência, e a impressão que
fica é que muitas vezes encaramos os policiais como repressores e defendemos os direitos
humanos, mas nos esquecemos dos direitos humanos desses profissionais.
Constatamos que, infelizmente a legislação militar é omissa com relação ao assédio
moral, não dando a devida importância ao problema, tratando-o apenas como transgressão
disciplinar. Dentro das Instituições Militares, os superiores alegam o escudo retórico da
hierarquia e da disciplina como manto protetor de arbitrariedades e ilegalidades, pois, os
militares que tem uma tendência de assediar moralmente seu subordinado, encontram-se
resguardados na legislação militar. Por isso, suas vítimas, na maioria das vezes sofrem
calados, com medo de represálias, e deixando com que poucos saibam do ocorrido,
principalmente, no intuito de resolver o problema.
Vários resquícios de autoritarismo e arbitrariedade são percebidos, pois, várias condutas
que são tipificadas como transgressão disciplinar, passível de processo administrativo, são na
realidade de ordem pessoal. Tudo sob a segurança de que a hierarquia e disciplina são os
alicerces das instituições militares. Mas, devendo não esquecer que, o respeito à hierarquia e à
disciplina não pressupõe o descumprimento dos direitos fundamentais assegurados ao
cidadão, tendo a Constituição Federal em nenhum momento diferenciando no tocante as
garantias fundamentais disciplinadas no artigo 5º.
A problemática do dano moral, por ser matéria complexa, na maioria dos casos como
pudemos perceber, não tem sido tratado com a merecida e necessária atenção acreditando ser
a espécie de cunho subjetivo do lesado, tornando impossível medir sua extensão.
Faz-se necessária adequação de lei expressa em função da difícil definição que tem o
termo, observando-se que a norma a ser elaborada deverá excluir/ proibir não só o abuso do
militar superior, mas também o subordinado litigante de má-fé, aquele que se diz assediado
moralmente.
Além disso, a criação de uma lei especifica é de extrema importância, atentando para o
fato que essa poderia servir de amparo, ao esclarecer os militares de que essas atitudes
existem e são inaceitáveis, evitando uma dupla preocupação: com a impunidade por parte do
agressor e com a vingança por parte da vítima. Punir o agressor é uma forma de dizer para o
meio social que aquele comportamento é profundamente inaceitável, mesmo que nunca seja
possível reparar completamente nem compensar totalmente uma injustiça.
A existência de uma lei específica para o assédio moral não teria o objetivo somente de
punir, mas faria com que sejam trabalhados sistemas de prevenção no ambiente de trabalho
das empresas e das Instituições Militares.
Diante de tudo aqui exposto, apontamos também como solução do problema, a prevenção
do fenômeno dano moral, cabendo ao comandante cuidado e rigorosa vigilância sobre os seus
superiores e seus subordinados. Aos poderes legisladores, municipais, estaduais e federais, e
talvez para o próprio direito, é necessário um melhor entendimento em relação à matéria,
promovendo, assim, a legislação adequada, dando uma uniformidade de entendimento e
decisões para os militares, servidores públicos e civis.
Ao Ministério Público, cabe a fiscalização da denúncia, mesmo nos casos dentro das
Instituições Militares Estaduais. Ao Poder Judiciário, compete a aplicação da exígua lei
vigente, mesmo que seja contra Fazenda Pública, melhorada com o respaldo oferecido pela
Constituição Federal e pelos princípios norteadores do direito do trabalho, pois a indenização
por dano pessoal ao assediado moralmente terá efeito preventivo.
Quanto aos militares estaduais vítimas de assédio moral, que não sintam medo de iniciar
uma ação de assédio moral seja ela administrativa ou judiciária, que este trabalho sirva de
amparo para à propositura da ação competente, bem como seja utilizado como uma crítica a
esta instituição, por não ter uma lei que regule o assédio moral neste meio. É totalmente
viável o ingresso de uma ação indenizatória, mesmo no meio militar, com base nas decisões
proferidas pela Justiça Trabalhista e pela doutrina a respeito do assunto, no entanto, o
julgamento do processo se dará na Justiça Comum, na vara da Fazenda Pública, enquanto não
houver uma lei específica que regule o tema.
CONCLUSÃO

Como se pode observar, o trabalho estudou a existência e incidência de assédio moral no


Quartel de Comando Geral da PMPI, bem como a falta de legislação específica que regule o
assunto para os servidores públicos militares estaduais fazendo um paralelo com o
entendimento da Justiça Trabalhista e Penal a respeito do assunto e, por fim, analisando os
dados da pesquisa.
Foi feita uma exposição, sobre o assédio moral nas relações de trabalho, explicitando em
muitos momentos o conceito, suas causas, espécies e consequências, a fim de se ter um marco
conceitual para poder identificá-lo na instituição que se propôs da PMPI. Dedicando,
inclusive, em vários pontos a legislação militar perante o assédio moral, verificando-se a
existência no meio militar, apenas, um regulamento interno, que deve ser rigorosamente
seguido. Porém, no decorrer do mesmo, viu-se várias atitudes que menosprezam o
subordinado, colocando-o em situação inferiorizada, sempre para enaltecer a figura do seu
superior hierárquico.
Constatando-se, então, que a legislação militar é, ainda, omissa com relação ao assédio
moral, não dando a devida importância ao problema, tratando-o apenas como transgressão
disciplinar, alegando os superiores dentro das instituições militares o escudo retórico da
hierarquia e da disciplina como manto protetor de arbitrariedades e ilegalidades, pois, os
militares que possuem uma tendência de assediar moralmente seu subordinado, encontram de
certa forma uma respaldo na legislação militar que aprova tal conduta. Por isso, ficam as
vítimas, na maioria das vezes sofrendo caladas, com medo de represálias, transformando seu
sofrimento em doenças ou até mesmo aversão a prática profissional.
Identificamos no estudo bibliográfico que sim, existem resquícios de autoritarismo e
arbitrariedade, pois, condutas que são tipificadas como transgressão disciplinar, passível de
processo administrativo, são na verdade, de ordem pessoal. Tudo sob o manto de que a
hierarquia e disciplina são os alicerces das instituições militares.
Porém, é importante lembrar que, o respeito à hierarquia e à disciplina não pressupõe o
descumprimento dos direitos fundamentais assegurados ao cidadão, uma vez que a
Constituição Federal em nenhum momento diferenciou no tocante as garantias fundamentais
disciplinadas, o cidadão militar do cidadão civil, uma vez que este antes de estar na caserna
foi um dia civil, e após a sua aposentadoria voltará novamente a integrar a sociedade.
Tivemos o cuidado de abordar os aspectos normativos da Justiça Trabalhista e Penal. A
valoração do dano moral, por ser matéria complexa, na maioria dos casos não tem sido tratada
com a merecida e necessária atenção. Isto porque se acredita ser a espécie de cunho
meramente subjetivo do lesado, o que tornaria impossível mensurar sua extensão.
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São Paulo: Saraiva, 2011.
ANEXOS
Questionário PMPI:

1) País:
2) Cidade:
3) Onde nasceu:
4) Idade:
5) Sexo:
6) Estado Civil:
7) Etnia/raça:
8) Você sabe o que é assédio moral. Explique

__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

9) Marque as opções. Seu superior:

Não lhe cumprimenta mais e não fala mais com você

Atribui a você "erros imaginários"

Bloqueia o andamento dos seus trabalhos

Manda cartas de advertência protocolada

Impõe horários injustificados

Enche de trabalho

Pede trabalhos urgentes sem nenhuma necessidade

Dá instruções confusas e imprecisas

Ignora sua presença na frente dos outros

Fala mal de você em público

Manda você executar tarefas sem interesse

Faz circular maldades e calúnias sobre você

Transfere você do setor para lhe isolar

Não lhe dá qualquer ocupação; não lhe passa as tarefas

Retira seus instrumentos de trabalho: telefone, fax, computador, mesa...

Proíbe seus colegas de falar/almoçar com você

Agride você somente quando você está a sós com ele

Insinua e faz correr o boato de que você está com problema mental ou familiar
Força você a pedir demissão

Prejudica sua saúde

10) Quem é ou quem são os agressores? um colega


o conjunto de colegas
seu superior hierárquico
seu superior contra você e seus colegas
um subordinado
o conjunto de subordinados
11) Seu(s) agressor(es) é(são):
homem(s)
mulher(es)
os dois
12)Você pensa que o agressor
tem consciência do mal que ele lhe faz? sim
não
não sei
13) Já falou desta situação com alguém?
não
com minha família
com meus amigos
a uma pessoa do Quartel
ao sindicato
a um profissional de saúde
outros

14) Você poderia descrever o ambiente no seu trabalho? Ou seja: o clima social, as relações entre os
trabalhadores, as relações entre hierárquicos e subordinados, as condições de trabalho...

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