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GREGO BÍBLICO
INSTRUMENTAL
Prof. Dr. Gladson Pereira da Cunha
2

GREGO BÍBLICO
INSTRUMENTAL
PROF. DR. GLADSON PEREIRA DA CUNHA
3

Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério

Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira

Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos

Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Me. Cristiane Lelis dos Santos

Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Andreza Novais

Revisão Técnica: Prof. João Vitor Bitencourt



Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes
Lorena Oliveira Silva Portugal

Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Daniel Guadalupe Reis
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Eliza Perboyre Campos

© 2023, Editora Prominas.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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GREGO BÍBLICO
INSTRUMENTAL
1° edição

Ipatinga, MG
Editora Prominas
2023
5

GLADSON PEREIRA
DA CUNHA
Doutor em Teologia Sistemática-
-Pastoral pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Mestre em Ciências da Religião, com
concentração na área da antropo-
logia da religião, pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (UPM). Espe-
cialista em Filosofia e Psicanálise pela
Universidade Federal do Espírito San-
to (UFES). Graduado em Teologia pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie
(UPM). Licenciado em Filosofia pela
Universidade de Franca (UNIFRAN). É
professor de disciplinas do curso de
Teologia e de disciplinas filosóficas e
humanísticas para os cursos de licen-
ciaturas do Centro de Ensino Superior
FABRA, no município de Serra (ES). Foi
professor temporário de Filosofia e So-
ciologia para o ensino médio/técnico
no Instituto Federal do Espírito San-
to (IFES-Campus Santa Teresa), entre
2013-2015. Coordenou a graduação
em Teologia e as licenciaturas em Fi-
losofia, História e Ciências Sociais. A
temática de suas publicações iniciais
é composta por estudos socioantro-
pológicos sobre as relações entre re-
ligião e cultura, principalmente entre
o luteranismo de imigração e a etnia
pomerana, temática trabalhada no
mestrado.

Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qua-


lificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/4522107101485448
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
6
LEGENDA DE

Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para
determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica,
mostradas a seguir:

FIQUE ATENTO
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes
nas quais você precisa ficar atento.

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virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.

VAMOS PENSAR?
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade,
associando-os a suas ações.

FIXANDO O CONTEÚDO
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos
conteúdos abordados no livro.

GLOSSÁRIO
Apresentação dos significados de um determinado termo ou
palavras mostradas no decorrer do livro.
7
SUMÁRIO
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO GREGO BÍBLICO
1.1 A Origem dos Gregos .......................................................................................................................................................................................................................................................................11
1.2 A Língua Grega ...................................................................................................................................................................................................................................................................................12
1.3 O Grego Bíblico ..................................................................................................................................................................................................................................................................................13
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................15

UNIDADE 2
CONHECENDO OS ELEMENTOS DO GREGO BÍBLICO
2.1 O Alfabeto ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................18
2.1.1 Consoantes .......................................................................................................................................................................................................................................................................................19
2.1.2 Vogais .................................................................................................................................................................................................................................................................................................19
2.2 A Grafia .................................................................................................................................................................................................................................................................................................20
2.3 Sinais Diacríticos ..............................................................................................................................................................................................................................................................................21
2.3.1 Aspirações .......................................................................................................................................................................................................................................................................................21
2.3.2 Acentos ............................................................................................................................................................................................................................................................................................21
2.3.3 Trema ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................22
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................23

UNIDADE 3
SUBSTANTIVOS, ARTIGOS, ADJETIVOS E PRONOMES
3.1 Substantivos .......................................................................................................................................................................................................................................................................................26
3.1.1 A flexão dos substantivos ...........................................................................................................................................................................................................................................................26
3.1.2 As declinações do substantivo ...............................................................................................................................................................................................................................................28

3.2 Artigo ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................31


3.3 Adjetivos ...............................................................................................................................................................................................................................................................................................32
3.3.1 Flexões do adjetivo ......................................................................................................................................................................................................................................................................32
3.3.2 Funções do adjetivo ..................................................................................................................................................................................................................................................................33

3.4 Pronomes ............................................................................................................................................................................................................................................................................................34


3.4.1 Pronomes pessoais .....................................................................................................................................................................................................................................................................35
3.4.2 Pronomes reflexivos ...................................................................................................................................................................................................................................................................36
3.4.3 Pronomes recíprocos ................................................................................................................................................................................................................................................................38
3.4.4 Pronomes indefinidos ...............................................................................................................................................................................................................................................................38
3.4.5 Pronomes interrogativos .........................................................................................................................................................................................................................................................39
3.4.6 Pronomes relativos ....................................................................................................................................................................................................................................................................40
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................41

UNIDADE 4
PREPOSIÇÕES, CONJUNÇÕES E ADVÉRBIOS
4.1 Preposições ........................................................................................................................................................................................................................................................................................44
4.2 Conjunções .......................................................................................................................................................................................................................................................................................46
4.2.1 Conjunções aditivas ..................................................................................................................................................................................................................................................................47
4.2.2 Conjunções adversativas ........................................................................................................................................................................................................................................................47
4.2.3 Conjunções explicativas ..........................................................................................................................................................................................................................................................47
4.3 Advérbios ............................................................................................................................................................................................................................................................................................48
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................51
8
UNIDADE 5
VERBOS GREGOS
5.1 Modificadores Verbais ................................................................................................................................................................................................................................................................54
5.1.1 Modo ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................54
5.1.2 Tempo ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................55
5.1.3 Voz .....................................................................................................................................................................................................................................................................................................56
5.1.4 Pessoa e Número .........................................................................................................................................................................................................................................................................57
5.2 Aparato de Conjugações ........................................................................................................................................................................................................................................................57
5.3 Formas verbais ...............................................................................................................................................................................................................................................................................59
5.4 Conjugações verbais .................................................................................................................................................................................................................................................................60
5.4.1 Verbos com terminação -ω ...................................................................................................................................................................................................................................................60
5.4.2 Verbos ειμι ...................................................................................................................................................................................................................................................................................68
5.4.3 Verbos com tema -μι ...............................................................................................................................................................................................................................................................71
5.4.4 Verbos irregulares ....................................................................................................................................................................................................................................................................79
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................81

UNIDADE 6
TÓPICOS EXEGÉTICOS
6.1 Introdução à exegese do Novo Testamento ...............................................................................................................................................................................................................84
6.1.1 O que é exegese? ..........................................................................................................................................................................................................................................................................84
6.2 Princípios da Exegese .................................................................................................................................................................................................................................................................85
6.2.1 A inerrância das Escrituras .....................................................................................................................................................................................................................................................85
6.2.2 A consistência das Escrituras ...............................................................................................................................................................................................................................................85
6.2.3 A recepção pela comunidade cristã primitiva ..............................................................................................................................................................................................................86
6.2.4 A ação do Espírito Santo .........................................................................................................................................................................................................................................................86
6.3 Passos da Exegese .......................................................................................................................................................................................................................................................................87
6.3.1 Trabalhe o texto ...........................................................................................................................................................................................................................................................................87
6.3.2 Trabalhe o contexto ..................................................................................................................................................................................................................................................................88
6.3.3 Trabalhe a teologia do texto .................................................................................................................................................................................................................................................90
6.3.4 Trabalhe a aplicação do texto .............................................................................................................................................................................................................................................90
FIXANDO O CONTEÚDO.........................................................................................................................................................................................................................................................................92

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................95


REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................................................................................96
9
UNIDADE 1
A Unidade 1 aborda a introdução ao estudo do grego bíblico, explorando a origem
dos gregos, destacando elementos históricos relevantes para compreender o
contexto cultural no qual a língua grega se desenvolveu e sua importância em
CONFIRA NO LIVRO

relação às outras formas da língua grega.

UNIDADE 2
A Unidade 2 do curso de grego bíblico concentra-se em proporcionar uma
compreensão aprofundada dos elementos fundamentais dessa língua. O foco
principal é no alfabeto grego, na grafia das palavras e nos sinais diacríticos que
desempenham um papel crucial na interpretação e pronúncia correta.

UNIDADE 3
A Unidade 3 do curso de grego bíblico aprofunda o estudo da estrutura da língua,
centrando-se em quatro categorias gramaticais essenciais: substantivos, artigos,
adjetivos e pronomes.

UNIDADE 4
Na Unidade 4, o curso de grego bíblico se aprofunda na análise de outras classes
gramaticais fundamentais: preposições, conjunções e advérbios. Essa parte do curso
visa proporcionar aos alunos uma compreensão abrangente desses elementos,
que desempenham um papel crucial na construção e interpretação de frases e
textos em grego bíblico.

UNIDADE 5
Na Unidade 5 do curso de grego bíblico, a atenção se volta para o estudo
aprofundado dos verbos gregos, que desempenham um papel central na
construção e compreensão das estruturas linguísticas. A unidade aborda diversos
aspectos relacionados aos verbos, oferecendo uma visão abrangente das nuances
gramaticais e semânticas dessas palavras.

UNIDADE 6
Na Unidade 6, o curso de grego bíblico se aprofunda em tópicos exegéticos,
fornecendo aos alunos as ferramentas necessárias para a interpretação crítica e
contextualizada do Novo Testamento. A exegese é uma prática fundamental para
compreender as Escrituras de maneira mais profunda, levando em consideração o
contexto histórico, cultural e linguístico.
10

INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DO GREGO
BÍBLICO
11
1.1 A ORIGEM DOS GREGOS

Geralmente, quando pensamos na Grécia, vem à nossa mente as imagens do


Partenon de Atenas, as ruínas de cidades antigas, o nome de alguns filósofos e alguns
dados sobre Alexandre, o Grande. Porém, a história e a cultura do povo grego são muito
maiores que isso. Muito do desenvolvimento da humanidade é fruto da influência grega
para a formação, principalmente, do pensamento ocidental. Por isso, é importante
considerar a história do povo grego para compreender o valor que a língua grega teve
para o mundo antigo e para a formação do mundo moderno.
O termo Grécia, ou Graecia em latim, era usado pelos romanos para se referir
aos povos que habitavam a região da Beócia e que se tornou o designativo para toda
a região. Porém, os gregos se autodenominavam “helenos” e a sua terra chamavam
Hélade ou Hellas (SACKS, 2005). Tal nomenclatura é baseada no mito de Heleno, um
dos filhos de Deucalião e Pirra, sobreviventes do dilúvio enviado por Zeus para purificar
a terra (ARRUDA, 1990).
As evidências históricas e arqueológicas sustentam que os primeiros povos a
habitar a região eram nômades que vieram das regiões centrais da Ásia e do sudeste
da Europa, o que teria ocorrido entre 3000 a 2000 a.C. Os primeiros assentamentos
destes povos, deram origem às primeiras vilas e cidades gregas.
As cidades gregas se desenvolveram mais propriamente a partir do séc. VIII a.C.
Deste desenvolvimento surgiu a ideia da polis. A palavra polis (gr.: πόλις) literalmente
significa cidade. As cidades gregas eram unidades autônomas, funcionando como
cidades-estados. Cada polis possuía seu próprio governo, leis, território, população,
cultura e costumes, ainda que compartilhassem vários elementos culturais e religiosos.
Na polis, os cidadãos participavam ativamente na política, debatendo questões
importantes para a sociedade, contribuindo para a formação da identidade coletiva.
Isso criava uma interface única de espaço físico, governo, cultura e cidadania.
A ênfase na independência era tão forte, que haviam guerras frequentes entre as
cidades-estados gregas. Um exemplo destes conflitos é a Guerra do Peloponeso (431
a 404 a.C.), que colocou em campos opostos as cidades de Atenas e Esparta. A Guerra
do Peloponeso garantiu à Esparta uma certa hegemonia sobre as demais cidades-
estados. Porém, isso não garantiu nem estabilidade ou a cessão dos conflitos. Este
cenário mudou somente com a ascensão de Alexandre, o Grande, por volta de 336 a.C.
Além de unificar os povos gregos, Alexandre expandiu o seu império desde Macedônia
até o Norte da África e a Ásia.
12

Figura 1: Território conquistado por Alexandre, o Grande


Fonte: VICENTINO, DORIGO (2010. P. 09)

Com a morte de Alexandre em 323 a.C., após vários conflitos, o império foi dividido.
Posteriormente, cada unidade do antigo império foi incorporada pelos romanos, como
parte do seu poderoso império.
De todas as armas de Alexandre, talvez a mais poderosa tenha sido a cultura.
Durante o período de conquistas gregas, houve um processo de intercâmbio cultural
com os povos conquistados. Estes povos assimilaram e incorporaram a arte, a filosofia,
a política, a religião e a língua grega. Este último elemento cultural, foi um dos mais
significativos para o mundo, pois se tornou a língua franca do mundo antigo.

BUSQUE POR MAIS


O período helenista é importante para a formação do mundo ocidental. Conhe-
cê-lo nos dá uma compreensão mais ampla a influência grega no mundo an-
tigo e seu legado para o mundo contemporâneo. O canal Artis4n possui vários
documentários sobre o desenvolvimento da história humana. Recomendamos
o Episódio 8 – A Era Helenística: https://tinyurl.com/2j8jsjcw. Acesso em: 20 jan.
2023.

1.2 A LÍNGUA GREGA


Toda língua é uma construção dinâmica, estando em constante desenvolvimento.
Isso também é verdade quanto ao grego. O desenvolvimento da língua grega pode ser
dividido em cinco períodos (WALLACE, 2009):
1. Pré-Homérico (das origens até 1000 a.C.)
2. A Era dos Dialetos ou Período Clássico (1000 a.C. a 330 a.C.)
3. O Grego koinê (330 a.C. a 330 d.C.)
4. O Grego Bizantino ou Medieval (330 d.C. a 1453 d.C.)
5. O Grego Moderno (1453 d.C. ao presente)
A língua grega pertence ao tronco das línguas indo-europeias, do qual se
originaram também o latim, o português e o espanhol. Podemos dizer, que há um
parentesco linguístico entre o grego e o português.
13
No processo de desenvolvimento linguístico, é necessário que nos lembremos
que vários povos habitaram a Grécia e estabeleceram suas cidades. Cada grupo
possuía a sua própria língua ou dialetos. Segundo alguns linguistas, cerca de vinte
dialetos eram usados na região (WON, 2020). A inter-relação entre eles fortaleceu o
uso de alguns dialetos, dentre os quais destacamos o eólio, o dórico e o jônio. A partir
do jônio desenvolveu-se o ático, que foi amplamente usado pelos filósofos gregos e foi
difundido no período helenístico, por Alexandre. O desenvolvimento posterior do ático
deu origem ao grego koinê (VOEGELIN, 2012. p.106).

Figura 2: Representação do desenvolvimento do grego bíblico


Fonte: Acervo pessoal do Autor (2023)

O desenvolvimento da língua grega atendeu ao propósito revelacional de Deus,


uma vez que permitiu a comunicação das Escrituras e do evangelho a todos os povos.

1.3 O GREGO BÍBLICO


Consideremos o grego koinê (ou koiné). Como foi dito, ele se tornou a língua franca
do mundo antigo a partir do período helenista. Uma língua franca pode ser definida
como um idioma usado como meio de comunicação entre pessoas que não possuem
o mesmo idioma materno. Num certo sentido, é o que ocorre modernamente com o
inglês.
O termo koinê significa comum. Trata-se de uma forma simplificada do grego
clássico via dialeto ático, que foi adaptado ao uso cotidiano em transações comerciais,
tratativas diplomáticas e comunicação intercultural. Portanto, era a língua do povo,
simples e fácil. Tanto que “a língua do Império Romano foi mais o grego que o latim”
(MACHEN, 2014, p.12).
Mas, como argumenta William Mounce, essa linguagem adaptada “não era
considerada uma forma literária e esmerada da língua, e, na realidade, alguns escritores
da referida era imitavam deliberadamente o estilo mais antigo do grego (que seria
como alguém hoje escrevendo no português de Os Lusíadas)” (2009, p.1). Sobre as
diferenças entre o grego clássico e o koinê, Daniel Wallace (2009) desenvolve a ideia de
que havia três aspectos distintos entre ambos:
a. A morfologia
b. A estrutura das sentenças
c. A sintaxe dos substantivos e dos verbos.
Essas diferenças foram significativas para a popularização do koinê.
14
Posteriormente, a forma literária acabou por se tornar uma ferramenta disseminação
do padrão sociocultural grego, ao ponto de eclipsar as línguas locais e se tornar um
ponto de coesão cultural. Tanto que muitos autores antigos escreveram suas obras em
grego, como, por exemplo: Políbio, Josefo, Filo, Epíteto e Plutarco.
Foi essa a língua usada pelos autores do Novo Testamento para registrarem as
palavras e os ensinos de Jesus Cristo, transmitindo ao mundo de sua época e a todas
as gerações seguintes, o conhecimento dele recebido.
Porém, quando falamos do grego bíblico, facilmente nos esquecemos que
o helenismo e o grego koinê proporcionaram a tradução do Antigo Testamento. Tal
tradução ficou conhecida como Septuaginta. No tempo em que grande parte dos judeus
não conhecia o hebraico, a Septuaginta se tornou a versão das Escrituras Sagradas
mais conhecida por eles. De modo simples, essa era a Bíblia que Jesus e os apóstolos
liam e a partir da qual ensinavam.
Assim, a reflexão de Stelio Rega e Johannes Bergmann é útil para encerrarmos
essa seção. Segundo eles, “Deus utilizou um idioma riquíssimo para registrar a Sua
revelação. Valeu-se, para isso, de pessoas que tinham linguagem e estilo particulares,
mas que eram todos homens de Deus, que falaram e escreveram da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo (cf. 2 Pe 1.21)” (REGA; BERGMANN, 2004. p.90).
15

FIXANDO O CONTEÚDO

1. O nome Grécia foi dado por outro povo aos habitantes do Peloponeso e de algumas
ilhas no Mediterrâneo. Qual era o povo daquela região?

a) Arábia.
b) Roma.
c) Egito.
d) Tessalônica.
e) Israel.

2. O conceito grego de polis foi importante para a construção do ideal de sociedade. Os


principais elementos relacionados à polis são:

a) Indústria, comércio e geração de riquezas.


b) Conceitos de governo, leis, território, população, cultura e costumes.
c) Estrutura de cidades-estados.
d) Sistema pluripartidário e democracia.
e) Escambo e pesca

3. Leia as informações abaixo:

I. As principais cidades-estados gregas foram Atenas e Corinto


II. A sociedade grega era uma estrutura social, ética e cultural coesa
III. Guerra do Peloponeso envolveu as cidades de Atenas e Esparta
IV. Alexandre foi responsável pela expansão do império macedônico.

Escolha abaixo, a alternativa correta para o V (verdadeiro) ou F (falso):

a) V-F-F-V
b) V-F-V-V
c) F-F-V-V
d) V-V-F-V
e) V-V-V-V

4. A formação de uma língua é um processo que requer tempo e uma série de inter-
relações humanas. O mesmo aconteceu com o grego bíblico. Qual é a ordem dos
períodos de desenvolvimento da língua grega?

a) O Grego koiné
b) Pré-Homérico
c) O Grego Moderno
d) A Era dos Dialetos ou Período Clássico
e) O Grego Bizantino ou Medieval
16
Marque abaixo a ordem correta:

a) a – b - c – d – e
b) e – c – d – b – a
c) b – d – a – e – c
d) d – a – c – b – e
e) c – a – b – d – e

5. No processo de desenvolvimento grego, um dos dialetos ganhou destaque e passou


a ser mais utilizado que os demais, principalmente em transações comerciais. O grego
bíblico (koinê) desenvolveu-se a partir de qual dialeto? Marque a opção correta.

a) Eólio
b) Jônio
c) Dório
d) Ático
e) Adriático

6. A ascensão do grego como uma língua franca permitiu que as pessoas se


comunicassem a despeito de sua própria língua materna. Devido a essa popularização,
essa variante do grego ganhou o apelido de koinê. Qual é o significado do termo koiné?

a) Normal
b) Língua do povo
c) Grego
d) Bárbaro
e) Comum

7. Marque a opção correta: O helenismo foi um período que disseminou a cultura grega
através das conquistas militares. Um dos principais elementos do helenismo foi a:

a) Língua
b) Filosofia
c) Arte
d) Estratégias militares
e) Arquitetura

8. Ao longo de nosso estudo sobre a origem e desenvolvimento da língua grega,


aprendemos vários detalhes históricos significativos. Com base naquilo que foi abordado
neste capítulo, qual das afirmações abaixo está correta?

a) A língua grega é parte do tronco das línguas indo-europeias


b) Jesus e os apóstolos não liam a Septuaginta por questões religiosas
c) O grego bíblico é uma simplificação do dialeto ático
d) A Septuaginta é a tradução grega do Antigo Testamento
e) A língua do império romano foi o grego
17

CONHECENDO OS
ELEMENTOS DO
GREGO BÍBLICO
18
2.1 O ALFABETO
Todo sistema de escrita possui um alfabeto. O alfabeto grego é formado por 24
letras. Lembre-se que cada letra é uma representação gráfica de um fonema. Logo,
você identificará letras e fonemas que possuem correlatos no português. Isso poderá
ajudá-lo no seu estudo.

Maiúscula Minúscula Nome Pronúncia Transliteração


Α α Alpha Atum a
Β β Beta Bela b
Γ γ Gama Garota g
Δ δ Delta Dado d
Ε ε Épsilon Épicentro e
Ζ ζ Zeta Zero z
Η η Êta Exame ē
Θ θ Theta Thanks th
Ι ι Iota Irmão i
Κ κ Kappa Carro k
Λ λ Lambda Lenço l
Μ μ Mü Milhagem m
Ν ν Nü Nitroglicerina n
Ξ ξ Ksi Sexo ks
Ο ο Ômicron Óleo o
Π π Pi Pizza p
Ρ ρ Rô Roraina r
Σ σ / ς (final) Sigma Sirene s
Τ τ Tau Tabu t
Υ υ Ypsilon Müller y/u
Φ ϕ Fi Filha f / ph
Χ χ Ri Javier kh / ch
Ψ ψ Psi Psiquiatria ps
Ω ω Ômega Ônibus ō

FIQUE ATENTO
O sigma minúsculo é a única letra do alfabeto grego que possui duas formas. A primeira
forma σ é a forma básica. A segunda forma ς é chamada de sigma final, pois ocorre ape-
nas no final de palavras: άθεος | Άρτεμας
19
Assim como ocorre com o alfabeto em português, as letras do grego bíblico podem
ser divididas em duas categorias: consoante e vogais. Vejamos as características mais
importantes destas duas categorias:

2.1.1 Consoantes

O grego bíblico possui 14 consoantes. Existem outras abordagens para o estudo


das consoantes (cf. REGA; BERGMAN, 2004. p.13), mas para o nosso propósito de estudo,
elas serão divididas em três categorias:
A. Mudas
As consoante mudas são: β γ δ θ π τ φ χ . Elas são denominadas mudas, porque
elas necessitam de uma vogal para complementar o fonema que representam. Os
gramáticos tendem a subdividir estas consoantes em outras subcategorias baseados
em critérios fonéticos. Veja o quadro abaixo:

surdas sonoras aspiradas


Labiais π β φ

Guturais κ γ χ

Dentais τ δ θ

B. Semivogais
Já as consoantes semivogais não necessitam das vogais para complementar
seu fonema. Dentre elas estão as consoantes λ μ ν ρ σ. Uma subdivisão ainda é possível
em duas categorias: líquidas e sibilantes. Tais categorias têm a ver com a formação do
fonema que cada morfema representa.
Categorias Consoantes
Líquidas λμνρ

Sibilante σ

C. Duplas
Por fim, as consoantes duplas são aquelas que são o resultado da junção de dois
fonemas consonantais. Nesta categoria estão as consoantes ζ ξ ψ. Tais morfemas são
formados como segue:
Morfema Junção Fonema
ζ δ+σ DZ = Zebra
ξ κ+σ KS = Sexo
ψ π+σ PS = Psiquê

2.1.2 Vogais

As vogais do grego bíblico são sete: α ε η ι ο υ ω. Basicamente, elas correspondem


às cinco vogais em português e os seus respectivos alongamentos. Assim, podemos
dividir as vogais entre curtas e longas. Veja o quadro abaixo:
20
a e i o u
Curta α ε ι ο υ
Longa α η ι ω υ

Observe que as vogais α ι υ não alteram a sua forma, podendo ser curtas ou longas
dependendo das palavras. Por isso, também, são designadas como vogais variáveis.
Porém, ε e ο são vogais curtas e η e ω são as formas alongadas (MACHEN, 2004).
No grego bíblico também há encontros vocálicos que são chamados de ditongos.
“O ditongo consiste em duas vogais que produzem um único som” (MOUNCE, 2009. p.13).
Há duas formas de ditongos no grego. A primeira forma é o ditongo propriamente dito.
Nele, a segunda vogal será sempre ι ou υ. Veja os exemplos:

α+ι αίμα (sangue) α + υ αυθάδης (orgulhoso)


ε+ι εΐδωλον (ídolo) ε+υ εύλογέω (louvar)
ο+ι οικονομία (mordomia) η+υ ηύφράνθην (achar)
υ+ι υιοθεσία (adoção) ο+υ ουρανός (céu)

A segunda forma é o ditongo impróprio. Ele é o resultado do encontro das vogais α


η ω e com a vogal ι. Tal ocorrência transforma o iota num iota subscrito, daí as seguintes
formas: ᾳ ῃ ῳ. Quando isso ocorre, o iota não é pronunciado.
ᾳ ώρᾳ (período, hora)
ῃ γραφῃ (escrever)
ῳ λόγῳ (palavra)

FIQUE ATENTO
O alfabeto grego foi a base para o surgimento do alfabeto cirílico desenvolvido por Cirilo
e Metódio, que eram missionários cristãos no séc. IX. Este novo alfabeto foi usado para
grafar muitas línguas eslavas, como o russo, o búlgaro e o sérvio.

2.2 A GRAFIA
Como você pode ver no quadro do alfabeto, a maioria das letras gregas possuem
relação com o nosso alfabeto. Esse é um aspecto que facilita significativamente a grafia
e a leitura das palavras. Porém, existem algumas letras que não possuem relação com o
português, ainda que representem fonemas existentes em nossa língua. Uma forma de
se familiarizar com o alfabeto é escrevendo. Para isso, é importante memorizar a ordem
de cada letra e a forma de escrevê-las. Isso requererá de você repetição e prática, da
mesma maneira que você aprendeu o alfabeto português. Observe o alfabeto como
transcrito abaixo:
21
Perceba que as letras maiúsculas são escritas entre as linhas e que todas elas
possuem tamanho similar. Já no alfabeto minúsculo haverá diferença no tamanho das
letras e algumas ultrapassarão as linhas métricas.

FIQUE ATENTO
O texto grego é escrito majoritariamente usando o alfabeto minúsculo. Mais moderna-
mente, nomes próprios passaram a ser escritos com a letra inicial maiúscula. Orientamos
os alunos a terem um caderno de caligrafia, que o ajudará a treinar o traçado das letras.

2.3 SINAIS DIACRÍTICOS


Os sinais diacríticos são símbolos que são utilizados na escrita de vários idiomas
para destacar as mudanças na pronúncia de palavras ou a modulação de vogais. No
grego bíblico há uma série de sinais diacríticos. Veremos os principais para o nosso
propósito de instrumentalizar o uso da língua.

2.3.1 Aspirações

Há dois símbolos no grego bíblico que descrevem as aspirações. O primeiro


símbolo descreve a aspiração branda [᾿]. Ele é usado em palavras que são iniciadas
com vogal, sendo colocadas acima da vogal, por exemplo: ἀπόστολος (apóstolo). A
aspiração branda não altera a vocalização do fonema.
O segundo símbolo descreve a aspiração áspera [῾], que consiste na modulação
da vogal com uma leve fricção na glote. Este ruído é semelhante ao fonema [r]. Veja o
exemplo da preposição ὑπὲρ (preposição por). Na transliteração o símbolo é representado
pela letra h. A palavra ὑπὲρ é usada como prefixo que forma outras palavras, uma delas
é ύπηρετέω que pode ser transliterada para hypêreteo (servir).

2.3.2 Acentos

No grego koinê também encontramos os acentos. Há três acentos: Agudo [ ´ ],


Grave [ ` ] e Circunflexo [ ῀ ]. Os gramáticos estudiosos do grego sustentam que, na
formação da língua, os acentos eram usados como um indicativo da tonalidade da
sílaba (MOUNCE, 2009. p.18; MACHEN 2004. p.21).
Mounce nos oferece uma boa descrição do funcionamento e do uso dos acentos:
O acento agudo indica que originariamente o diapasão
subia um pouco na sílaba acentuada (αίτέω = pedir). O
acento grave indica que originariamente a voz caía um
pouco na sílaba acentuada (καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος = A Pala-
vra era Deus). O acento circunflexo indica que a voz su-
bia e então caía um pouco na sílaba acentuada (άγνώς
= puramente). (2009. p.19)
22
2.3.3 Trema

A trema [ ¨ ] é um sinal que caiu em desuso na língua portuguesa, mas que existe
em algumas línguas modernas. A função do trema é indicar que um encontro vocálico
não é um ditongo e que as vogais devem ser lidas separadamente. Por exemplo, como
ocorre com os nomes Moisés [Μωΰσης] e Isaías [Ησαΐας]

GLOSSÁRIO
Palavras mais comuns no grego bíblico
Θεός Deus μήν (μηνός) Mês
Ἰησοῦς Jesus καιρός Tempo (oportunidade)
κύριος Senhor χρόνος Tempo (cronológico)
Χριστός Cristo πνεῦμα Vento, espírito
Μεσσίας Messias υἱός Filho
ἄνθρωπος Homem θυγάτηρ Filha
πατήρ Pai ἀδελφός Irmão
μήτηρ Mãe ἀδελφή Irmã
ὥρα Dia λόγος Palavra
ἡμέρα Dia οὐρανός Céu
νύξ Noite μαθητής Discípulo
σάββατον Sábado καιρός Tempo
23

FIXANDO O CONTEÚDO

1. Aprendemos que todo sistema linguístico escrito possui um alfabeto, que representam
os fonemas usados no idioma e que servem para grafar as palavras. Quantas letras
formam o alfabeto grego?

a) 23
b) 21
c) 26
d) 24
e) 34

2. Cada alfabeto possui uma ordem específica que serve para a memorização das
letras e dos fonemas por elas representados. Qual é a ordem correta do alfabeto grego?

a) α β γ δ ε ξ η θ ι κ λ μ ν ζ ο π ρ σ [ς] τ υ φ χ ψ ω
b) α β γ δ ε ζ θ η ι κ λ μ ν ξ ο π ρ σ [ς] τ υ φ χ ψ ω
c) α β γ δ ε ζ θ η ι κ λ μ ν ξ ο ρ π σ [ς] τ υ φ χ ψ ω
d) α β γ δ ε ζ θ η ι κ λ μ ν ξ ο ρ π σ [ς] τ υ ψ χ φ ω
e) α β γ δ ε ζ η θ ι κ λ μ ν ξ ο π ρ σ [ς] τ υ φ χ ψ ω

3. As consoantes podem ser divididas em três categorias: mudas, semivogais e duplas.


Por sua vez, as consoantes mudas podem ser divididas labiais, guturais e dentais. Qual
alternativa abaixo pode ser definida como mudas labiais?

a) ρ π σ
b) β π φ
c) β ρ φ
d) β ρ θ
e) δ π φ

4. As vogais gregas são α ε η ι ο υ ω. Qual alternativa abaixo pode ser corretamente


denominada de vogais variáveis?

a) ε η ο ω
b) ο υ ω
c) α ι υ
d) α ε ι ο υ
e) α υ

5. Revise o alfabeto grego e marque a opção correta de transliteração das seguintes


palavras: Παῦλος | ἀπόστολος | προφήτης | πίστις

a) Paulo | apóstolo | profetas | pístiz


24
b) Paulos | apóstolos | profêtês | pístis
c) Paulus | apóstolo | profetas | pístiz
d) Paulus | apóstolus | profetas | pístiz
e) Paulos | apóstolos | profeta | pístis

6. Em nosso estudo, aprendemos alguns dos principais elementos da grafia da língua


grega. Dentre estes elementos, podemos citar os acentos, dos sinais diacríticos e formas
do alfabeto. Leia as afirmações abaixo e marque única considerada verdadeira.

a) A grafia do grego bíblico segue o padrão antigo do uso de morfemas maiúsculas.


b) O trema é usado para demarcar um encontro consonantal.
c) Os sinais diacríticos são acentos utilizados para destacar as mudanças na pronúncia
de palavras ou a modulação de vogais.
d) Os acentos eram usados como um indicativo da tonalidade da sílaba.
e) O uso do sigma final depende da primeira letra da palavra subsequente.

7. Assim, como ocorre na língua portuguesa, também no grego ocorre o fenômeno dos
encontros vocálicos, dentre eles o ditongo. Dentre as possibilidades de ditongos, há
uma denominada de ditongo impróprio. Em qual conjunto de vogais ocorre o ditongo
impróprio?

a) α ε ω
b) α η ω
c) α η ι ω
d) α ι ω
e) α ι ο ω

8. As consoantes categorizadas como semivogais são: λ μ ν ρ σ. Elas podem ser divididas


em suas subcategorias: Marque a resposta correta

a) Líquidas e sibilante
b) Surdas e sibilante
c) Sibilantes e guturais
d) Líquidas e concretas
e) Líquidas e palatais
25

SUBSTANTIVOS, ARTIGOS,
ADJETIVOS E PRONOMES
26
3.1 SUBSTANTIVOS

Aprendemos que a função do substantivo é dar nome aos entes, aos seres
e às coisas. Mas, como nos lembra o gramático Evanildo Bechara, “o substantivo
exerce por excelência a função de sujeito (ou seu núcleo) da oração e, no domínio da
constituição do predicado, as funções de objeto direto, complemento relativo, objeto
indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial, funcionando como sujeito
[...]” (2009. p.169). Isso significa que morfológica e sintaticamente, o substantivo é uma
classe de palavras de grande importância para uma língua. O mesmo ocorre com o
grego bíblico.

3.1.1 A flexão dos substantivos

Quando estudamos os substantivos em português, aprendemos que eles são


flexionados quanto ao gênero, número e grau. Os substantivos gregos também são
flexionados. Porém, tais flexões consideram o gênero, o número e o caso.

Gênero
Como as antigas línguas indo-europeias como o latim, o grego bíblico possui três
gêneros: masculino, feminino e neutro. Uma distinção simples:
O masculino, que, além de nomear os seres masculinos,
é usado para nomes de rios, ventos e meses; o feminino,
que, além de nomear seres femininos, é usado para no-
mes de cidades, países, ilhas e a maioria das árvores; e o
neutro, que é usado em diminutivos (embora designem
seres masculinos ou femininos), além de nomear fenô-
menos que, por si, não possuem gênero (REGA; BERG-
MANN, 2004, p 71).

Número
O grego bíblico é flexionado quanto ao número. Como no português, o grego
possui dois números: o singular e o plural. Vejamos alguns exemplos:

SINGULAR PLURAL TRADUÇÃO


ἄνθρωπος ἀνθρώποι homem/homens
οἰκία οἰκίαι casa/casas
καρπός καρποι fruto/frutos

Casos
O substantivo grego possui uma forma de flexão denominada caso. Cada caso
possui uma função sintática específica. Assim, pelo caso em que o substantivo é
flexionado, saberemos se o termo é o sujeito ou o predicado da oração.
Os estudiosos do grego bíblico discutem sobre o número de casos. Para os fins de
nossos estudos, consideraremos os quatro principais casos do substantivo grego. São
eles: nominativo | genitivo | acusativo | dativo.
27
CASOS FUNÇÃO EXEMPLO
NOMINATIVO Sujeito da oração ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν
o reino dos céus

βασιλεία é o sujeito da frase, pois está


no caso nominativo.
GENITIVO 1. Delimita a natureza do substan- ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν
tivo com o qual se relaciona; o reino dos céus
2. Dá a ideia de possessão ou
origem; οὐρανῶν delimita a natureza de
3. Possui função adjetiva. βασιλεία. Não é um reino terreno, mas
um reino dos céus ou celestial.
DATIVO 1. Funciona na oração como obje- καὶ τὸ φῶς ἐν τῇ σκοτίᾳ φαίνει
to indireto; e a luz nas trevas resplandece
2. Delimita elementos como local,
meio e quantidade em relação ao ἐν τῇ σκοτίᾳ funciona como objeto
verbo; indireto delimitando onde a luz res-
3. Responde questões como: plandece
A quem? Para quê? Onde? Como?
ACUSATIVO 1. Funciona na oração como obje- τὸ φῶς ἐλήλυθεν εἰς τὸν
to direto; a luz veio para o
2. Na flexão do acusativo, a raiz do κόσμον
termo receberá os sufixos singu- mundo
lares (ον, αν, ήν) e plurais (α, αν, ας)
A palavra κόσμος (mundo) está no
acusativo, flexionado com o sufixo -ον

Declinações
Quando estudamos o grego bíblico, aprendemos que há três paradigmas de
declinação do substantivo. Declinação é um tipo de flexão que ocorre com algumas
classes de palavras, como no caso dos substantivos, que altera a forma da palavra, de
acordo com a função sintática da mesma numa frase.
No grego bíblico, há três paradigmas de declinação. O quadro abaixo ajudará a
compreender a base do seu funcionamento.

DECLINAÇÃO PARADIGMA
Primeira Substantivos femininos terminados em -α e –η
Substantivos masculinos com terminação em - ας e –ες
Segunda Substantivos masculinos terminados em -ος
Substantivos neutros terminados em -ον
Terceira Substantivos masculinos terminados em -ν -ντ -ρ -k -e -υ
Substantivos femininos terminados em -ξ e -ις
Substantivos neutros terminados em -ματ e -ος

Algumas considerações devem ser feitas:


• Cada declinação considerará o caso, o gênero e o número do substantivo.
• A segunda declinação é o paradigma mais comum e engloba o maior número de
substantivos do grego bíblico, motivo pelo qual iniciaremos o estudo da declinação
do substantivo a partir dele.
• A terceira declinação engloba o menor grupo de palavras, porém, exige a maior
28
atenção do aluno, uma vez possui regras específicas para a sua aplicação correta.
Neste paradigma estão substantivos irregulares, cujas terminações não são vogais
temáticas -ος -α -η.

3.1.2 As declinações do substantivo

Vejamos como funcionam as declinações do substantivo grego.


Substantivos de Segunda Declinação
Basicamente, os substantivos masculinos e neutros da segunda declinação
sempre seguirão o princípio de manutenção da raiz e a substituição do sufixo de acordo
com cada caso. Para os substantivos masculinos usaremos os seguintes sufixos: para
o singular: -ος | -ου | -ω | -ον e para o plural: οι | -ων | - οις | -ους. Para os substantivos
neutros usaremos os seguintes sufixos: para o singular: - ον | -ου | -ω | -ον e para o plural:
-α | -ων | - οις | -α. Observe abaixo os exemplos da declinação deste paradigma.
A. Segunda declinação dos substantivos masculinos com terminação -ος

Substantivos masculinos -ος


ἄνθρωπος = homem
Casos Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo ἄνθρωπος homem ἀνθρώποι homens
Genitivo ἄνθρωπου do homem ἄνθρωπων Dos homens
Dativo ἄνθρωπω ao homem ἀνθρώποις aos homens
Acusativo ἄνθρωπον homem ἄνθρωπους homens

B. Segunda declinação dos substantivos neutros com terminação -ον

Substantivos neutro -ον


βιβλίον = livro
Casos Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo βιβλίον livro βιβλία livros
Genitivo βιβλίου do livro βιβλίων dos livros
Dativo βιβλίω ao livro βιβλίοις aos livros
Acusativo βιβλίον livro βιβλία livros

Um único detalhe a ser observado é que tanto no singular quanto no plural, há


uma correspondência entre os sufixos do nominativo e do acusativo.
Substantivos de Primeira Declinação
A flexão da Primeira Declinação também seguirá o princípio de manutenção da
raiz e a substituição do sufixo de acordo com cada caso. Assim, para os substantivos
femininos com a vogal temática -α usaremos os seguintes sufixos: para o singular: -α |
-ας | -ᾳ | -αν e para o plural: αι | -ων | -αις| -ας. Já Para os substantivos femininos com a
vogal temática -η usaremos os seguintes sufixos: para o singular: -η | -ης | -ῃ | -ην e para
o plural: αι | -ων | -αις| -ας. Observe os exemplos abaixo:
29
Substantivos neutro -ον
βιβλίον = livro
Casos Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo βιβλίον livro βιβλία livros
Genitivo βιβλίου do livro βιβλίων dos livros
Dativo βιβλίω ao livro βιβλίοις aos livros
Acusativo βιβλίον livro βιβλία livros

Substantivo Feminino -η
ἀγάπη
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo ἀγάπη amor ἀγάπαι amores
Genitivo ἀγάπης do amor ἀγαπῶν dos amores
Dativo ἀγάπῃ ao amor ἀγάπαις aos amores
Acusativo ἀγάπην amor ἀγάπας amores

Basicamente, apenas os sufixos do singular variam entre os dois conjuntos de


substantivos (-α e -η), sendo que o plural é idêntico em ambos. Isso facilita ao declinar
os substantivos deste paradigma.
Por sua vez, os substantivos masculinos com terminação em –ας usarão os
seguintes sufixos: para o singular: -ας | -ου | -ᾳ | -αν e para o plural: αι | -ων | -αις| -ας. Já
os substantivos masculinos com terminação em -ης usarão os seguintes sufixos: para
o singular: -ης | -ου | -ῃ | -ης e para o plural: αι | -ων | -αις| -ας. Observemos os exemplos
abaixo.

Substantivo Masculino -ας


νεανίας = jovem
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo νεανίας jovem νεανίαι jovens
Genitivo νεανίου do jovem νεανιῶν dos jovens
Dativo νεανίᾳ ao jovem νεανίαις aos jovens
Acusativo νεανίαν jovem νεανίας jovens

Substantivo Masculino -ης


προφήτης = profeta
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo προφήτης profeta προφῆται profetas
Genitivo προφήτου do profeta προφητῶν dos profetas
Dativo προφήτῃ ao profeta προφήταις aos profetas
Acusativo προφήτης profeta προφήτας profetas

Assim como ocorre com os substantivos femininos, os masculinos também


possuem variações apenas no singular, enquanto o plural segue o padrão comum os
substantivos da segunda declinação.
30
Substantivos de Terceira Declinação
Como já foi dito, a terceira declinação engloba vários paradigmas. William Mounce
é categórico em afirmar: “Não procure memorizar os paradigmas” (2009, p.93). A razão
para isso, é que os substantivos desta declinação não seguem exatamente um padrão,
o que gera uma série de exceções (REGA; BERGMANN, 2004).
O que basicamente precisamos saber sobre esta declinação é que a grande
maioria dos substantivos possui a terminação de sua raiz é uma consoante. Para
reconhecermos a raiz destes substantivos, precisamos nos atentar para o caso genitivo.
Ao removermos o sufixo do genitivo, teremos a raiz. Exemplo: πατρός ός πατρ. A partir daí,
aplica-se os sufixos segundo cada caso. Observe as tabelas abaixo:

Substantivo Masculino -ρ
πατήρ = pai
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo πατήρ pai πατέρες pais
Genitivo πατρός do pai πατέρων dos pais
Dativo πατρί ao pai πατράσι(ν) aos pais
Acusativo πατέρα pai πατέρας pais

Substantivo Feminino -ξ
σαρξ = carne
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo σαρξ carne σάρκες carnes
Genitivo σαρκός da carne σαρκων das carnes
Dativo σαρκί à carne σαρξί(ν) às carnes
Acusativo σάρκα carne σάρκας carnes

Substantivo Neutro -ματ


πνεῦμα = espírito
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo πνεῦμα espírito πνεῦματα espíritos
Genitivo πνεῦματος do espírito πνευμάτων dos espíritos
Dativo πνεῦματι ao espírito πνεῦμασι(ν) aos espíritos
Acusativo πνεῦμα espírito πνεῦματα espíritos

Substantivo Feminino -κ
γυνή = mulher
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo γυνή mulher γυναῖκες mulheres
Genitivo γυναικός da mulher γυναικῶν das mulheres
Dativo γυναικί à mulher γυναιξί(ν) às mulheres
Acusativo γυναῖκα mulher γυναῖκες mulheres
31
Outra consideração a ser feita é que o caso dativo plural, o substantivo
sempre terminará com a consoante num (ν). Neste caso, trata de um num eufônico
ou, simplesmente, num móvel. Sua permanência ou não, dependerá da palavra
subsequente. O num permanecerá se a palavra seguinte for iniciada com uma vogal ou
se for a última palavra da frase. Mas, o num cairá se a palavra subsequente for iniciada
com uma consoante (REGA; BERGMANN, 2004).
Considere também que no dativo plural haverá uma transformação do κ em ξ.
Isso ocorre, porque κ se une ao σ do sufixo σιν. A união destes morfemas gera o fonema
KS que é representado pelo morfema ξ.

3.2 ARTIGO

O artigo é uma importante classe de palavras do grego bíblico. O grande estudioso


A.T. Robertson disse que o artigo grego é como um “dedo indicador” (1919, p.756). A
razão para isso, é que cabe ao artigo identificar e definir outras classes gramaticais,
sendo o principal modificador dos substantivos. Afinal, assim como ocorre na língua
portuguesa, o “artigo é a palavra que tem por fim individualizar a coisa” (ALMEIDA, 2009.
p.80). Logo, cabe ao artigo identificar o substantivo quanto ao gênero, número e caso.
No grego bíblico existe apenas a categoria de artigo definido e flexionam em
gênero, número e caso, assim como o substantivo. Os artigos do grego bíblico são:

Artigos
Masculino Feminino Neutro
Singular Plural Singular Plural Singular Plural
Nominativo ό (o) οἱ (os) ἡ (a) αἱ (as) τό τά

Genitivo τοῦ (do) τῶν (dos) τῆς (da) τῶν (das) τοῦ τῶν

Dativo τῷ (o) τοῖς (os) τῇ (a) τοῖς (as) τῷ τοῖς

Acusativo τόν (o) τούς (os) τήν (a) τάς (as) τό τά

FIQUE ATENTO
No desenvolvimento da língua portuguesa, o uso do neutro foi absorvido pelo masculino.
Assim, o artigo neutro grego não possui uma forma específica para equivalente no por-
tuguês. Por isso, a tradução utilizará tanto o masculino quanto o feminino, de acordo com
o termo traduzido.

Outro detalhe importante acerca do artigo é que ele não possui múltiplas
declinações como o substantivo. Deste modo, ele manterá seu paradigma inalterado,
a despeito das declinações do substantivo. Observe abaixo exemplos de substantivos e
suas declinações e veja como o artigo flexiona em concordância com o substantivo.
32
Masculino
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo ό λόγος a palavra οἱ λόγοι as palavras
Genitivo τοῦ λόγου da palavra τῶν λόγων das palavras
Dativo τῷ λόγῳ à palavra τοῖς λόγοις às palavras
Acusativo τόν λόγον a palavra τοὺς λόγους as palavras

Feminino
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo ἡ ἀγάπη o amor αἱ ἀγάπαι os amores
Genitivo τῆς ἀγάπης do amor τῶν ἀγαπῶν dos amores

Dativo τῇ ἀγάπῃ ao amor τοῖς ἀγάπαις aos amores

Acusativo τήν ἀγάπην o amor τάς ἀγάπας os amores

Neutro
Singular Tradução Plural Tradução
Nominativo τό βιβλίον o livro τά βιβλία os livros
Genitivo τοῦ βιβλίου do livro τῶν βιβλίων dos livros

Dativo τῷ βιβλίω ao livro τοῖς βιβλίοις aos livros

Acusativo τό βιβλίον o livro τά βιβλία os livros

3.3 ADJETIVOS
Os adjetivos são uma classe de palavras conhecida por dar qualidade ou expressar
atributos dos substantivos. No grego bíblico também há adjetivos e a sua função é a
mesma que no português. Um ponto que deve ser salientado é que “os adjetivos têm
uma importância teológica que dificilmente encontra rival” (MOUNCE, 2009, p.79). Isso
requer quer compreendamos adequadamente o uso do adjetivo.

3.3.1 Flexões do adjetivo

Primeiramente, devemos saber que o adjetivo grego possui as três declinações do


substantivo. Isso ocorre porque o adjetivo concorda com o substantivo e com o artigo,
flexionando em gênero, número e caso. Vejamos como isso funciona:
Declinações do adjetivo
ἅγιος = digno
Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
Nominativo ἅγιος ἁγία ἅγιον ἅγιοι ἅγιαι ἅγια

Genitivo ἁγίου ἁγίας ἁγίου ἁγίων τοῦ τῶν

Dativo ἁγίῳ ἁγίᾳ ἁγίῳ ἁγίοις ἁγίαις ἁγίοις

Acusativo ἅγιον ἅγιαν ἅγιον ἅγιους ἁγίας ἅγια


33
3.3.2 Funções do adjetivo
Os adjetivos possuem três funções: atributiva, predicativa e substantiva. A função
é determinada pela posição do adjetivo em relação ao substantivo na estrutura da
oração. Por isso, é importante que você saiba identificar a relação entre os termos e sua
posição, a fim de compreender o sentido pretendido.

Atributiva
Como o nome sugere esta função atribui uma qualidade ao substantivo. Para
identificarmos a função do adjetivo. A construção atributiva possui duas formas. A
primeira é denominada atributiva simples ou adjetivo de primeira posição (MOUNCE,
2009) e segue a seguinte estrutura: artigo + adjetivo + substantivo. A segunda é
denominada de atributiva restritiva ou adjetivo de segunda posição (MOUNCE, 2009),
seguinte uma estrutura artigo + substantivo + artigo + adjetivo.
Vejamos os exemplos abaixo:
SIMPLES: ὁ πιστὸς θεὸς
o fiel Deus
RESTRITIVA: ὁ θεὸς ὁ πιστὸς
o Deus o fiel

Nos exemplos acima, o adjetivo atribui uma qualidade (FIDELIDADE) ao substantivo


(DEUS). Logo, a tradução idiomática seria: o Deus fiel. A diferença entre as construções
é que a segunda possui um caráter enfático, fortalecendo a qualidade ou atributo do
substantivo.
Predicativa
A função predicativa indica que o adjetivo funcionará como o predicado da oração.
Uma vez que o grego bíblico não possui uma ordem específica para a construção de
orações, é o uso dos termos que definem suas funções sintáticas. Assim, a construção
da função predicativa seguirá uma de duas estruturas possíveis: artigo + substantivo +
adjetivo ou adjetivo + artigo + substantivo

ὁ θεὸς πιστὸς πιστὸς ὁ θεὸς


o Deus fiel fiel o Deus
A despeito da estrutura, a tradução idiomática será “Deus é fiel”. Nesta oração,
Deus é o sujeito e fiel é o predicado.
Substantival
A função substantival ocorre quando o adjetivo é modificado pelo artigo, atribuindo
a ele o uso como substantivo. Neste caso, a construção na oração seguirá a seguinte
estrutura: artigo + substantivo.
ὁ πιστὸς ὁ κακός
o fiel o mau
O Grau dos Adjetivos

Uma das características do adjetivo grego é que ele também flexiona em grau.
Há três graus no adjetivo: o positivo, o comparativo e o superlativo. O grau positivo é
o grau padrão do adjetivo: πιστὸς. Vejamos como os graus comparativo e superlativo
funcionam.
34
Grau comparativo
O grau comparativo é o resultado do acréscimo do sufixo. A forma básica deste
sufixo é -τερος. Ele transmite a ideia de “mais que”. Veja o exemplo abaixo:
GRAU COMPARATIVO
Singular Plural
Positivo Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
ἅγιος ἅγιοτερος ἅγιοτερα ἅγιοτεον ἅγιοτεροι ἅγιοτεραι ἅγιοτερα

santo Mais santo Mais santas Mais santo Mais santos Mais santas Mais santos

FIQUE ATENTO
Existem outras formas menos comuns do adjetivo comparativo. Estas formas ocorrem
com os adjetivos irregulares e suas terminações são variáveis. Alguns podem modificar
significativamente o termo. Exemplo: πολύς πλείων
[muito] [muito mais]

Grau superlativo
O grau superlativo transmite a ideia de “muito mais” e é obtido pelo acréscimo do
sufixo é -τατος. Ele transmite a ideia de “mais que”. Veja o exemplo abaixo:
GRAU SUPERLATIVO
Singular Plural
Positivo Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
ἅγιος ἅγιοτατος ἅγιοτατα ἅγιοτατον ἅγιοτατοι ἅγιοταται ἅγιοτατα

santo Muito mais Muito mais Muito mais Muito mais Muito mais Muito mais
santo santas santo santos santas santos

Como no comparativo, também existem as formas irregulares. Porém, este grau


é muito raro no grego bíblico.

3.4 PRONOMES
A classe dos pronomes funciona como substitutos para o substantivo. Geralmente,
usamos os pronomes a fim de evitar a repetição do substantivo na oração. Esse também
é um recurso que encontramos no grego bíblico. Por exemplo:
Κύριον τὸν θεόν σου προσκυνήσεις καὶ αὐτῷ μόνῳ λατρεύσεις.
Ao Senhor o teu Deus adorarás e a ele somente cultuarás (Mt 4.10)

No verso acima, o substantivo Κύριον é substituído na oração por αὐτῷ. O substantivo


que é substituído pelo pronome é denominado de antecedente. Precisamos ler com
atenção e categorizar bem o antecedente para utilizar adequadamente o pronome,
afinal “a regra básica para o pronome grego é: concordância com seu antecedente em
gênero e número” (WALLACE, 2009, p.316). Além da concordância com o antecedente e,
gênero e número, é preciso lembrar que o pronome grego pode ser flexionado segundo
o caso. O caso não é determinado pelo antecedente, mas pela função que o pronome
35
ocupa na oração (MOUNCE, 2009). Por exemplo:
λέγει αὐτῷ ὁ Ἰησοῦς· Ἐγώ εἰμι ἡ ὁδὸς
Disse a eles Jesus: Eu sou o caminho (João 14.6)

Neste exemplo, Ἰησοῦς é o sujeito da oração (substantivo nominativo) e Ἐγώ


concorda com o caso, logo é um pronome pessoal nominativo.
Por fim, assim como ocorre em português, os pronomes gregos são divididos em
classes. Em nosso estudo, lidaremos como os pronomes pessoais, reflexivos, recíprocos,
interrogativos, indefinidos, possessivos e relativos. Cada categoria possui a sua própria
especificidade. O foco é aprender a identificar e lidar com cada uma delas dentro do
seu próprio contexto.

3.4.1 Pronomes pessoais

O pronome pessoal é aquele que representa a pessoa no discurso, ao substituir o


substantivo na oração. Voltemos exemplo de João 14.6
λέγει αὐτῷ ὁ Ἰησοῦς· Ἐγώ εἰμι ἡ ὁδὸς
Disse a eles Jesus: Eu sou o caminho (João 14.6)

Ἰησοῦς é substituído Ἐγώ indicando o sujeito do discurso na oração.


Os pronomes gregos ocorrem na primeira, segunda e terceira pessoa. Mounce
nos lembra que cada pessoa possui uma dinâmica própria no discurso (2009, p.108):
• A primeira pessoa se refere à pessoa que fala (“eu”, “nós”).
• A segunda pessoa se refere à pessoa a quem se fala (“tu”, “vós”).
• A terceira pessoa se refere a todas as demais (“ele”, “ela”, “algo”, “eles”).

Os pronomes pessoais de primeira e de segunda pessoa não flexionam quanto


ao gênero, nem no singular e nem no plural. Vejamos as suas formas:

Singular Plural
Primeira Pessoa Primeira Pessoa
Grego Tradução Grego Tradução
Nominativo ἐγώ eu ἡμεῖς nós
Genitivo μου (ἐμοῦ) meu ἡμῶν nosso
Dativo μοι (ἐμοί) a mim ἡμῖν a nós
Acusativo με (ἐμέ) mim ou me ἡμᾶς nos

Singular Plural
Segunda Pessoa Segunda Pessoa
Grego Tradução Grego Tradução
Nominativo σύ tu ὑμεῖς vós
Genitivo σου (σοῦ) teu ὑμῶν vosso
Dativo σοι (σοί) a ti ὑμῖν a vós
Acusativo σε (σέ) ti ou te ὑμᾶς vos
36
Quando observamos o singular dos pronomes de primeira e de segunda pessoa,
vemos que há uma forma entre parênteses. Tais formas são chamadas de enfáticas.
Isso, porque seu uso serve para enfatizar pessoas distintas na oração. Contudo, a
tradução é a mesma. A razão para este fato é porque o verbo grego indica a pessoa
em suas flexões, sendo desnecessário o uso do pronome na oração. Portanto, da forma
enfática determina a qual pessoa do discurso o autor quer enfatizar.

Singular
Terceira pessoa
Caso Masculino Feminino Neutro
N αὐτός ele αὐτή ela αὐτό ele/ela
G αὐτοῦ dele αὐτῆς dela αὐτοῦ dele/dela

D αὐτῷ a ele αὐτῇ a ela αὐτῷ a ele/ela


A αὐτόν ele αὐτήν ela αὐτό ele/ela

Singular
Terceira pessoa
Caso Masculino Feminino Neutro
N αὐτός eles αὐταί elas αὐτά eles/elas
G αὐτῶν [deles/delas]

D αὐτοῖς a eles αὐταῖς a elas αὐτοῖς a eles/elas


A αὐτούς eles αὐτάς elas αὐτά eles/elas

Na terceira pessoa, os pronomes pessoais flexionam quanto ao gênero, ao número


e ao caso. Porém, o genitivo plural é comum a todos os gêneros. Aqui o antecedente
será útil para conhecer o gênero a que se refere o pronome.

FIQUE ATENTO
O grego bíblico não possui uma categoria de pronomes possessivos, como ocorre no
português (ALMEIDA, 2009. p.179,180). Como então a língua se refere à ideia de possessão?
Simples! O grego usa o genitivo dos pronomes pessoais singular e plural para suprir essa
falta. Também usam o genitivo do adjetivo na função atributiva. Neste último caso, a ideia
é enfatizar a posse.

3.4.2 Pronomes reflexivos

Os pronomes reflexivos são aqueles que indicam que o sujeito da ação também
é objeto de sua ação. Em outras palavras, o sujeito tanto executa quanto sofre a
ação. Falando sua a função, Wallace afirma que “o reflexivo é usado para destacar a
participação do sujeito na ação verbal, como objeto direto, objeto indireto, intensificador”
(2009, p.350).
Vejamos as formas destes pronomes, considerando as pessoas e o número.
37
Pessoa Singular Plural
1ª ἐμαυτοῦ = eu mesmo ἑαυτῶν
Nós mesmos
2ª σεαυτοῦ = tu mesmo
Vós mesmos
3ª ἑαυτοῦ = ele mesmo Eles mesmos

A declinação segue a seguinte dinâmica:


Primeira Pessoa
Singular
Caso Masculino Tradução Feminino Tradução
G ἐμαυτοῦ Meu mesmo ἐμαυτῆς Minha mesma
D ἐμαυτῷ A mim mesmo ἐμαυτῇ A mim mesma
A ἐμαυτον Eu mesmo ἐμαυτην Eu mesma

Primeira Pessoa
Plural
Caso Masculino/Feminino Tradução
G ἑαυτῶν Nossos mesmos | Nossas mesmas
D ἑαυτοἱς A nós mesmos | A nós mesmas
A ἑαυτους Nós mesmas | Nós mesmas

Segunda Pessoa
Singular
Caso Masculino Tradução Feminino Tradução
G σεαυτοῦ vosso mesmo σεαυτῆς vossa mesma
D σεαυτῷ a tu mesmo σεαυτῇ a tu mesma
A σεαυτον tu mesmo σεαυτην tu mesma

Segunda Pessoa
Plural
Caso Masculino/Feminino Tradução
G ἑαυτῶν Vossos mesmos | Vossas mesmas
D ἑαυτοἱς A vós mesmos | A vós mesmas
A ἑαυτους Vós mesmos | Vós mesmas

Terceira Pessoa
Singular
Caso Masculino Tradução Feminino Tradução
G εαυτοῦ dele mesmo εαυτῆς dela mesma
D εαυτῷ a ele mesmo εαυτῇ a ela mesma
A εαυτον ele mesmo εαυτην ela mesma
38
Terceira Pessoa
Plural
Caso Masculino/Feminino Tradução
G ἑαυτῶν deles mesmos | delas mesmas
D ἑαυτοἱς a eles mesmos | a elas mesmas
A ἑαυτους eles mesmos | elas mesmas

Exemplo:

ἐγὼ ἁγιάζω ἐμαυτόν


...eu me santifico a mim mesmo (João 17.19)

3.4.3 Pronomes recíprocos

Os pronomes recíprocos são usados para indicar uma ação ou sentimento mútuo
existente entre duas ou mais pessoas, enfatizando a ideia de uma ação realizada por
todas as partes envolvidas de forma recíproca. Por essa razão, não existe uma forma
para o caso nominativo. Assim, a forma lexicográfica é o genitivo ἀλλήλων e ocorre
apenas no plural.

Caso Forma Tradução


Nominativo ἀλλήλων Uns dos outros
Dativo ἀλλήλοις Uns aos outros
Acusativo ἀλλήλους Uns aos outros

Exemplo:
ἀλλήλους ἀγαπήσατε
Amai-vos uns aos outros (1 Pedro 1.22)

3.4.4 Pronomes indefinidos

Os pronomes indefinidos são usados quando a identidade ou a natureza exata da


pessoa ou da coisa a que se refere não são especificadas. Daí a ideia de alguém, algo,
algum ou alguns. Vejamos a tabela abaixo:

SINGULAR
Caso Mas/Fem Neutro Tradução
N τις τι alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
G τινός de alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
D τινί para alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
A τινά τι a alguém/algo, algum/alguma, um/uma
39
PLURAL
Caso Mas/Fem Neutro
N τινές τινά alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
G τινῶν de alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
D τισί(ν) para alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
A τινάς τινά a alguns/algumas, uns/umas, quaisquer

Observe que no caso nominativo e acusativo, as formas masculina e feminina


são idênticas tanto no singular quanto no plural. E, no genitivo e no dativo, as formas são
idênticas para todos os gêneros. Assim, o gênero será definido pelo antecedente.

3.4.5 Pronomes interrogativos

Os pronomes interrogativos são aqueles que tem como objetivo obter respostas
específicas dentro de uma sentença. Basicamente, no grego bíblico, os pronomes
interrogativos são idênticos aos indefinidos. Vejamos suas formas:

SINGULAR
Caso Mas./Fem Neutro Tradução
N τις τι alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
G τινός de alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
D τινί para alguém/algo, algum/alguma, um/uma, qualquer
A τινά τι a alguém/algo, algum/alguma, um/uma

PLURAL
Caso Mas/Fem Neutro
N τινές τινά alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
G τινῶν de alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
D τισί(ν) para alguns/algumas, uns/umas, quaisquer
A τινάς τινά a alguns/algumas, uns/umas, quaisquer

Como distinguir quando é um pronome indefinido ou pronome interrogativo?


Primeiramente, esteja atento ao contexto. E, em segundo lugar, o pronome interrogativo
será sempre acompanhado de um sinal de ponto-e-vírgula [ ; ]. No grego, este sinal
funcionará como ponto de interrogação. Observe o exemplo abaixo:
Τίνα λέγουσιν οἱ ἄνθρωποι εἶναι τὸν υἱὸν τοῦ ἀνθρώπου;
Quem diz o povo ser o Filho do Homem? (Mateus 16.13)

FIQUE ATENTO
Se pronomes τις ou τι seguirem um substantivo ou um verbo, isso é um indicativo que tais
pronomes são indefinidos. Mais uma vez: esteja atento ao contexto da sentença!
40
3.4.6 Pronomes relativos

Como afirma Jeremy Duff, “a função do pronome relativo é unir em uma única
sentença o que poderiam ser duas sentenças” (2005. p.111). Lembre-se que o pronome
concorda com o antecedente em gênero, número e caso. Logo, o pronome relativo
flexiona de acordo com a declinação do antecedente. Vejamos as formas do pronome
relativo:

Caso Masculino Feminino Neutro


Nominativo ὃς ἣ ὃ quem, qual, que
Genitivo οὑ ἣς οὑ de quem, de qual
Dativo ᾣ ἣ ᾣ a quem, o qual
Acusativo ὁν ἣν ὁ quem, qual, que

Caso Masculino Feminino Neutro


Nominativo oἳ αἳ ὃ os quais/ as quais
Genitivo οὑ ἡς οὑ dos quais/ das quais
Dativo οἱς αἱς οἱς aos quais/ às quais
Acusativo οὕς ἃς ἃ os quais/ as quais

Veja o exemplo abaixo:


ἀμὴν ἀμὴν λέγω σοι ὅτι ὃ οἴδαμεν λαλοῦμεν καὶ ὃ ἑωράκαμεν μαρτυροῦμεν, καὶ τὴν μαρτυρίαν
ἡμῶν οὐ λαμβάνετε.
Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos
o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho (João 3.11).
41

FIXANDO O CONTEÚDO
1. Iniciamos o nosso estudo sobre as classes gramaticais a partir do substantivo. Vimos
que existem similaridades com a língua portuguesa. Considerando isso, qual é a função
do substantivo no grego bíblico? Marque a resposta correta.

a) Nomear o sujeito da sentença


b) Substituir o pronome na sentença
c) Dar nome aos entes, seres e coisas
d) Determinar o agente da ação
e) Determinar a procedência ou posse de algo

2. Continuando a falar sobre os substantivos, aprendemos que eles sofrem flexões. Qual
afirmação abaixo corretamente descreve os tipos de flexões que os substantivos gregos
sofrem?

a) Os substantivos gregos flexionam em grau, gênero e número


b) Os substantivos flexionam em grau, gênero, número e caso
c) Os substantivos gregos são invariáveis, mantendo sua forma lexicográfica
d) Os substantivos gregos flexionam em gênero, número e caso
e) Os substantivos flexionam em declinações semelhantes a todos os paradigmas

3. Aprendemos que os substantivos declinam em caso, algo que não ocorre na língua
portuguesa. Cada caso possui terminações que definem o caso e concordam com o
gênero do substantivo. As terminações -η -ας -ης e -ος -ον pertencem respectivamente
a que paradigmas de declinações?

a) Segunda e primeira
b) Masculina, feminina e neutra
c) Primeira e segunda
d) Segunda e terceira
e) N.R.A

4. Leia as afirmações abaixo acerca do artigo:

I. O artigo concorda com o substantivo em gênero, número e caso;


II. O artigo auxilia na identificação do substantivo;
III. O artigo possui formas variáveis para cada paradigma de declinação do substantivo;

Escolha abaixo, a alternativa correta para o V (verdadeiro) ou F (falso):

a) V-V-V
b) F-V-F
c) V-V-F
42
d) F-F-V
e) V-F-F

5. Os adjetivos são uma classe gramatical importante na construção da língua e possui


algumas particularidades no grego bíblico. Marque abaixo as questões verdadeiras
acerca dos adjetivos.

a) Os adjetivos são uma classe de palavras conhecida por dar qualidade ou expressar
atributos dos substantivos.
b) As funções do adjetivo são: atributiva, predicativa e substantiva
c) A terminação -τερος é a terminação do grau superlativo
d) Os adjetivos flexionam em grau, gênero, número e caso
e) N.R.A

6. No grego bíblico há os chamados “pronomes pessoais”. Assinale a opção


correspondente aos pronomes pessoais de primeira no caso dativo.

a) μου | σοι | αὐτῷ I αὐτῇ |αὐτῷ


b) ὑμῖν | ἡμῖν | αὐταῖς | αὐτοῦ | αὐτῷ
c) ἐμέ | σε | αὐταῖς | αὐτοῦ | αὐτῷ
d) μοι |σοι | αὐτῷ I αὐτῇ |αὐτῷ
e) μοι | σοῦ | αὐτῷ I αὐτῇ |αὐτῷ

7. O grego bíblico não possui uma categoria específica de pronomes possessivos. Como
determinamos a ideia de posse através dos pronomes?

a) Utilizando o pronome pessoal no caso acusativo


b) Pela ordenação do sujeito e do objeto
c) Utilizando o pronome pessoal no caso genitivo
d) Acrescentando ao sujeito o pronome possessivo μου
e) Utilizando o plural do pronome pessoal no caso genitivo

8. Os pronomes recíprocos são usados para indicar uma ação ou sentimento mútuo
existente entre duas ou mais pessoas, enfatizando a ideia de uma ação realizada por
todas as partes envolvidas de forma recíproca. Esses pronomes são importantes no Novo
Testamento. Quais são as formas do pronome recíproco. Marque a resposta correta:

a) ἀλλήλος |ἀλλήλας | ἀλλήλευς


b) ἐμαυτοῦ | ἐμαυτοῦ | ἑαυτοῦ
c) αὐτῷ I αὐτῇ |αὐτῷ
d) τινές τινῶν τισί(ν)
e) ἀλλήλων |ἀλλήλοις | ἀλλήλους
43

PREPOSIÇÕES,
CONJUNÇÕES E
ADVÉRBIOS
44
4.1 PREPOSIÇÕES
Neste capítulo, estudaremos as preposições. Muitas pessoas têm a tendência
de menosprezar as preposições por considerá-las uma classe de palavras que serve
apenas para fazer conexões entre parte de uma oração. Porém, são as conexões que
elas constroem que dão sentido à oração. Uma coisa é dizer: “dente leite”. Outra coisa
bem diferente é dizer: “dente de leite”. Como veremos, as preposições são igualmente
significativas no grego bíblico.
Características das preposições
A primeira característica das preposições que consideraremos é o número
limitado de palavras que compõem essa classe gramatical. Observe a tabela abaixo:

Figura 3: Tabela das principais preposições


Fonte: SCHALKWIJK (1994, p.147)

Na língua portuguesa, a preposição é “uma palavra invariável que tem por função
ligar o complemento à palavra completada” (2009, p.334). Tal função permanece no
grego bíblico. Deste modo, uma das principais características das preposições gregas é
que elas são invariáveis. Portanto, não flexionam e nem possuem inúmeras declinações,
mas apenas uma forma.
Contudo, as preposições terminadas em vogais sofrem uma modificação quando
são sucedidas por palavras iniciadas com vogal. Neste caso, a vogal final da preposição
é substituída por uma apóstrofe [ ` ]. Esta modificação é chamada de elisão.
45
FORMA PADRÃO FORMA MODIFICADA TRADUÇÃO
ἀνά ἀν' de / em
ἀντί ἀντ' em favor / lugar de
ἀπό ἀπ' para longe de / a partir de
διά δι' para baixo / segundo / conforme
ἐπί ἐπ' em cima de / durante
κατά κατ' para baixo / segundo / conforme
μετά μετ' Com / entre / após
παρά παρ' para o lado de / da parte de
ὑπό ὑπ' sob / debaixo de / por [agente / causa]

Outra modificação das preposições ocorre quando estas são sucedidas por
vogais com aspirações ásperas. Isto ocorre com as seguintes preposições:

FORMA PADRÃO FORMA MODIFICADA TRADUÇÃO


ἐκ ἐξ de dentro para fora
ἐπί ἐφ' em cima de / durante
ἀπό ἀφ' para longe de / a partir de
κατά καθ' para baixo / segundo / conforme
μετά μεθ' Com / entre / após
ἀντί ἀνθ' em favor / lugar de

Com isso em mente, é necessário que o estudante do grego bíblico entenda que a
preposição é importantíssima na leitura e na compreensão do texto. Assim, o significado
no texto dependerá do caso do substantivo.

PREPOSIÇÕES SIGNIFICADO CASO FUNÇÃO


πρός para ACUSATIVO Diretiva
εἰς Para onde?
para dentro
ἀνά para cima
ἐν em, com DATIVO Locativa
σύν Onde?
com
χωρίς sem, a parte de GENITIVO Ablativa
πρό De onde? Indica circunstância
antes
ἂχρίς até
ἀντί oposto, ao invés de
ὀπισω depois, após
ἐκ de, para fora
ἀπό partindo de

Há preposições que são regidas por dois casos:


46
PREPOSIÇÕES SIGNIFICADO CASO FUNÇÃO
ὑπέρ sobre ACUSATIVO Diretiva
ὑπό Para onde?
sob
κατά para baixo, conforme
μετά depois
διά por causa de
ὑπέρ a favor de, segundo GENITIVO Ablativa
ὑπό De onde? Indica circunstância
por
κατά contra
μετά com
διά por, através de

Porém, há preposições que são regidas por três casos:

PREPOSIÇÕES SIGNIFICADO CASO FUNÇÃO


ἐπί para cima de ACUSATIVO
παρά Para onde?
para o lado de
περί ao redor de, sobre
ἐπί em cima de DATIVO
παρά Onde?
ao lado de
περί ao redor de
ἐπί de cima de GENITIVO
παρά De onde?
de lado de
περί ao redor de, sobre

BUSQUE POR MAIS


O Prof. Paulo Won demonstra de maneira prática o funcionamento das prepo-
sições partir da análise do texto de Romanos 5.1. Disponível em: https://abre.ai/
hQ7d. Acesso em: 20 abr. 2023.

4.2 CONJUNÇÕES
Iniciemos o estudo das conjunções. Mas, afinal, o que é uma conjunção? Almeida
define a conjunção como “o conectivo oracional, isto é, é a palavra que liga orações”
(2009, p.345). Tal categoria de palavras é fundamental para que haja coesão e clareza
na construção das orações.
No grego bíblico, também há conjunções. Uma das características das conjunções
gregas é que elas são palavras invariáveis, isso quer dizer que não flexionam. E, elas
podem ser divididas em três grupos: aditivas, adversativas e explicativas. Vejamos de
47
maneira detalhada cada um destes grupos.

4.2.1 Conjunções aditivas

As conjunções aditivas são aquelas que unem palavras e frases, construindo o


sentido da oração. Vejamos alguns exemplos:
Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (João 1.1).
οὐκ ἔστι δίκαιος οὐδὲ εἷς

Não há justo, nem um sequer (Romanos 3.10)

Conjunção Tradução
δέ e | mas
καί e | também
μέν mas
ουδέ nem
τε e

Segue uma lista das conjunções aditivas mais comuns no texto do Novo
Testamento:

4.2.2 Conjunções adversativas

A conjunção adversativa é usada para demonstrar contraste ou oposição entre


duas ideias na mesma frase. Alguns exemplos:

ἕτεροι δὲ διαχλευάζοντες ἔλεγον ὅτι Γλεύκους μεμεστωμένοι εἰσίν.


Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados (Atos 2.13)!

Μὴ φοβοῦ, ἀλλὰ λάλει καὶ μὴ σιωπήσῃς,


Não temas; pelo contrário, fala e não te cales (Atos 18.9).
Segue uma lista das conjunções adversativas mais comuns no texto do Novo
Testamento:
Conjunção Tradução
ἀλλὰ mas | porém |entretanto
δέ mas
εἴτε ou
ἢ ou
μηδε nem
μην mas
ουδέ nem

4.2.3 Conjunções explicativas


48
Por sua vez, a conjunção explicativa é aquela que introduz uma explicação ou
apresenta um esclarecimento em relação a algo dito anteriormente na frase. Veja
alguns exemplos:
οὕτω γὰρ ἡγάπησεν ὁ Θεὸς τὸν κόσμον, ὥστε τὸν υἱὸν αὐτοῦ τὸν μονογενῆ ἔδωκεν, ἵνα πᾶς ὁ
πιστεύων εἰς αὐτὸν μὴ ἀπόληται, ἀλλ᾿ ἔχῃ ζωὴν αἰώνιον.
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3.16).

ὅτι νῦν ζῶμεν, ἐὰν ὑμεῖς στήκετε ἐν Κυρίῳ


porque, agora, vivemos, se é que estais firmados no Senhor (1Tessalonicenses 3.8).

Segue uma lista das conjunções explicativas mais comuns no texto do Novo
Testamento:

Conjunção Tradução
ἄρα pois |então | ora
γάρ porque
διό porque | por isso
διότι porque | por isso
ει se
εαν se | já que
ἴνα de sorte que | para que
ὃτι porque
οὔν pois |então | ora
ὥstε e assim | pois | por isso

FIQUE ATENTO
As conjunções são uma classe de palavras que requer muita atenção do estudante do
grego bíblico. Como você pode observar, a mesma conjunção pode ser usada com outro
sentido, de acordo com o contexto da frase. Por isso, é importante atentar-se para a es-
trutura da frase e a construção gramatical de todo o texto.

4.3 ADVÉRBIOS
Fundamentalmente, os advérbios são modificadores do verbo. No grego bíblico,
a grande maioria dos advérbios é formada a partir dos adjetivos. Isso ocorre pelo
acréscimo da terminação -ως.
ADJETIVO TRADUÇÃO ADVÉRBIO TRADUÇÃO
άξιος digno άξιως Dignamente
δίκαιος justo δίκαιως Justamente
κακός mau κακως Mal
καλός bom καλως Bem
49
Assim como ocorre com os adjetivos, os advérbios também flexionam em grau
comparativo e em grau superlativo. Para isso, é acrescentado o sufixo comparativo
-τερον ou o sufixo superlativo -τατα. Veja os exemplos:

ADVÉRBIO COMPARATIVO SUPERLATIVO TRADUÇÃO


άξιως άξιοτερον άξιoτατα Mais digno/ Digníssimo
δίκαιως δίκαιoτερον δίκαιoτατα Mais justo/ Justíssimo

FIQUE ATENTO
No grego bíblico, a relação entre adjetivos e advérbios é estreita. Os adjetivos servem ao
propósito de qualificar substantivos, enquanto os advérbios cumprem a tarefa de qua-
lificar verbos. Um exemplo em português pode nos ajudar a compreender essa relação.
Podemos dizer:
Ele é um corredor rápido.
Ele correu rapidamente.

O mesmo acontece com o grego bíblico! Então, conhecer os adjetivos auxilia na compre-
ensão dos advérbios.

Porém, nem todos os advérbios seguem esse padrão, por isso são designados
como advérbios irregulares. Tais advérbios possuem formas específicas e alguns passam
por uma transformação radical, como o advérbio πολύ (muito) que no comparativo é
modificado para πλειον (muito mais). Dadas as limitações do nosso curso, orientamos os
alunos a atentarem para as formas dos advérbios, memorizando suas flexões e utilizem
um bom léxico grego-português.
Alguns advérbios podem ser divididos em três categorias:
A. Advérbio de tempo:
Nesta categoria estão os advérbios que indicam quando uma ação ocorre. Alguns
exemplos:

Advérbio Tradução Advérbio Tradução


αὔριον amanhã νῦν agora
σήμερον hoje τότε então
ἐχθές ontem πώποτε sempre

B. Advérbio de modo:
Trata-se de um advérbio que descreve como uma ação é realizada. Por exemplo:
Advérbio Tradução Advérbio Tradução
οὕτως desta maneira ταχέως rapidamente
εἰκῇ sem causa ὄντως realmente
εὖ bem τάχα talvez

C. Advérbio de lugar:
É um advérbio que indica onde uma ação ocorre. Exemplo:
50
Advérbio Tradução Advérbio Tradução
ἄνω acima ἐκεῖθεν de lá
ἄνωθεν de cima ὧδε aqui
κάτω abaixo ἐντεῦθεν de lá
ἐκεῖ lá
51

FIXANDO O CONTEÚDO

1. Em nosso estudo das preposições gregas, aprendemos algumas características


importantes desta classe gramatical. Marque abaixo as afirmações verdadeiras:

I. As preposições constroem conexões que dão sentido à oração.


II. As preposições gregas são uma classe gramatical ampla.
III. As preposições possuem formas variáveis.
IV. As preposições têm sua vogal final substituída por uma apóstrofe quando a palavra
seguinte é iniciada com uma vogal.
V. As preposições podem sofrer mudança quando são sucedidas vogais com aspiração
áspera.

a) Somente alternativa IV e V estão corretas.


b) Somente a alternativa | está correta.
c) Somente as alternativas l, lV e V estão corretas.
d) Somente a alternativa V está correta.
e) Somente a alternativa ll está correta.

2. Aprendemos que as preposições podem ser regidas pelos casos dos substantivos,
mudando o seu sentido de acordo com o contexto. Qual conjunto de preposições abaixo
corresponde à categoria de preposições regidas por três casos?

a) ὑπέρ ὑπό κατά


b) ἐπί παρά περί
c) ἐπί ἀνά ἐν
d) ἐπί ἀνά περί
e) εἰς ἀνά περί

3. Neste capítulo estudamos algumas das mais comuns preposições do Novo


Testamento. Dentre elas podemos enumerar as seguintes preposições: ἐκ, ἐπί, ἀπό, κατά.
Assinale abaixo a alternativa que corresponde ao significado fundamental destas
preposições.

a) Para fora de | de cima de | após de | embaixo de


b) Conforme a | segundo a | em cima de| para fora de
c) De dentro | em cima de | para fora de | para baixo
d) De dentro para fora | em cima de | para longe de | para baixo
e) Fora de | sobre | para longe de | para baixo

4. A classe gramatical das conjunções possui algumas características fundamentais.


Marque abaixo as afirmativas corretas sobre as conjunções.
a) As conjunções funcionam como conexão entre as orações.
b) As conjunções são divididas entre afirmativas, negativas e interrogativas.
52
c) As conjunções são invariáveis.
d) As conjunções flexionam conforme os casos dos substantivos.
e) As conjunções sempre ocorrem no final das orações e são compreendidas pelo
contexto.

5. Aprendemos que podemos dividir as conjunções gregas em três categorias: aditivas,


adversativas e explicativas. Dentre as alternativas abaixo, marque a afirmação correta
acerca das conjunções adversativas.

a) As conjunções adversativas unem palavras e frases, construindo o sentido da oração.


b) As conjunções adversativas são ἀλλὰ, δὲ, εἴτε, ὥstε.
c) As conjunções adversativas não são utilizadas em orações interrogativas.
d) As conjunções adversativas explicam ou esclarecem uma ideia ou afirmação dita
anteriormente na oração.
e) As conjunções adversativas demonstram contraste ou oposição entre duas ideias na
mesma frase.

6. Os advérbios foram uma das classes gramaticais estudadas nesta unidade. Quais
das afirmações abaixo definem os advérbios?

I. Os advérbios são modificadores do verbo e do substantivo.


II. Os advérbios podem ser categorizados em três grupos: tempo, lugar e modo.
III. Os advérbios invariavelmente possuem a terminação -ως.
IV. Os advérbios possuem uma forte relação com os adjetivos.
V. Os advérbios irregulares possuem formas específicas e muitas alteram fortemente a
forma do advérbio.

a) Os advérbios são modificadores do verbo e do substantivo.


b) Os advérbios podem ser categorizados em três grupos: tempo, lugar e modo.
c) Os advérbios invariavelmente possuem a terminação -ως.
d) Os advérbios possuem uma forte relação com os adjetivos.
e) Os advérbios irregulares possuem formas específicas e muitas alteram fortemente a
forma do advérbio.

7. Sabemos que os advérbios de tempo descrevem quando uma ação foi realizada. Dito
isto, qual das alternativas abaixo traduz adequadamente os advérbios de tempo αὔριον,
νῦν, πώποτε?

a) Hoje, amanhã, sempre.


b) Ontem, amanhã, sempre.
c) Amanhã, agora, sempre.
d) Sempre, amanhã, hoje.
e) Hoje, então, amanhã.

8. Os advérbios possuem graus assim como os adjetivos: o comparativo e o superlativo.


Quais são respectivamente as terminações características destes graus dos advérbios
regulares?
53
a) -ος | -ον
b) -ως | -τερον
c) -τεpως | -τατα
d) -τατα | -τερων
e) -τερον | -τατα
54

VERBOS GREGOS
55
5.1 MODIFICADORES VERBAIS
5.1.1 Modo

O primeiro modificador verbal é o modo. Basicamente, “o modo de um verbo


indica a maneira pela qual a ação do verbo deve ser considerada” (DUFF, 2005. p.248).
Em outras palavras, o modo descreverá a perspectiva sob a qual uma ação é realizada.
Em nosso estudo, consideraremos aqueles que são mais usados no grego bíblico.

Indicativo
O modo indicativo, como o nome sugere, indica uma ação ou estado como
eles são de fato. Por isso, o indicativo pode ser considerado o modo da asserção, ou
apresentação da certeza” (WALLACE, 2009, p.448), podendo ser usado tanto para fazer
afirmações quanto para fazer questionamentos. Veja os exemplos abaixo:
Forma afirmativa:

ἀμὴν ἀμὴν λέγω ὑμῖν


Em verdade, em verdade vos digo (João 12.24).

Forma interrogativa:

Ὑμεῖς δὲ τίνα με λέγετε εἶναι;


Quem dizeis que eu sou? (Mateus 16.15).

Subjuntivo
O subjuntivo é o modo da possibilidade, da dúvida, da hesitação, da expectativa
e da incerteza. Como argumenta Duff, o subjuntivo é uma “parte de uma construção
mais ampla, e é essa construção que tem um significado” (2005, p.190). Em outras
palavras, compreender o que se quer expressar através do subjuntivo requererá tempo
e dedicação por parte do estudante do grego bíblico. Veja o exemplo:

ταῦτα γράφω ὑμῖν ἵνα μὴ ἁμάρτητε


…estas coisas vos escrevo para que não pequeis (1 Jo 2.1).

Imperativo
Como ocorre no português, no grego bíblico também há um modo imperativo.
Este modo transmite de forma direta uma ordem, comando, conselho ou exortação.
Assim, o imperativo “indica a intenção de quem fala, sem esclarecer se aquilo que foi
expresso se tornará realidade ou não” (REGA; BERGMANN, 2004, p.29). Um detalhe sutil
no imperativo grego é o apelo à consciência.

Ἔγειρε καὶ ἆρον τὸν κράβαττόν σου καὶ περιπάτει


Levanta-te, toma o teu leito e anda (Marcos 2.9).

Infinitivo
56
O modo infinitivo no grego bíblico é mais uma das formas nominais do verbo. O
seu objetivo é descrever a ideia geral do verbo, sem a necessidade de definir o agente
da ação. Schalkwijk nos lembra que “nem todos os tempos têm infinitivos” (1994. p.100).
Por essa razão, ao estudarmos as conjugações, não consideraremos o modo infinitivo.
Veja um exemplo do uso do infinitivo no texto bíblico.

Ἔτι πολλὰ ἔχω ὑμῖν λέγειν, ἀλλ᾿ οὐ δύνασθε βαστάζειν ἄρτι·


Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora (Jo 16.12).

Particípio
O particípio é um modo muito importante no grego bíblico. Basicamente, o
particípio é um “adjetivo verbal”. Assim, a função do particípio é expressar um estado,
desprovido de quaisquer conexões temporais.
καὶ πολλοὶ τῶν Κορινθίων ἀκούοντες ἐπίστευον καὶ ἐβαπτίζοντο.
...também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados (Atos 18.8).

5.1.2 Tempo

Agora, falemos sobre os tempos verbais. Segundo Almeida, na língua portuguesa


o tempo verbal “visa a indicar a época, o tempo em que se realiza a ação verbal” (2009,
p.228). No grego bíblico, essa ideia temporal também está presente, de modo que
podemos falar em ações realizadas no passado, no presente ou no futuro. Contudo, o
tempo verbal grego não se limita à ideia temporal.
O tempo verbal do “koinê” possui também aquilo que é denominado de “aspecto
da ação” ou “progresso da ação”. Mas, o que seriam os aspectos verbais? Todas as
ações verbais no grego possuem a ideia de um processo. O desenvolvimento destes
processos é chamado de aspecto. Há três aspectos no grego bíblico: durativo, pontilear
e resultante (REGA; BERGMANN, 2004. p. 29).
Unindo as duas ideias – o tempo e o aspecto – é que podemos descrever o tempo
grego. Para auxiliar a nossa compreensão, usaremos como paradigma o verbo λύω
(soltar) e referências bíblicas.
A. Presente: Descreve uma ação em desenvolvimento ou em progresso. Por essa
razão, o seu aspecto é descrito como durativo. Exemplo: λύω = eu solto

ὁ ἔχων τὸν υἱὸν ἔχει τὴν ζωήν


Aquele que tem o Filho tem a vida (1 João 5.12).

B. Imperfeito: Descreve uma ação realizada no passado e os efeitos da ação


cessaram. Assim, seu aspecto é durativo, por entender que a ação teve um progresso
em seu desenvolvimento. Exemplo: ἐλυον = eu soltava
Καὶ ἐπηρώτων αὐτὸν οἱ ὄχλοι λέγοντες· Τί οὖν ποιήσωμεν;
Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer?
(Lucas 3.10).

A. Aoristo: Descreve uma ação simples e totalmente realizada no passado, sem


considerar nem sua causa nem os seus efeitos. O aspecto deste tempo é chamado de
57
pontilear, ou seja, a ação realizada foi pontual no passado. Exemplo: ἔλύσα = eu soltei
Ἐδόθη μοι πᾶσα ἐξουσία ἐν οὐρανῷ καὶ ἐπὶ τῆς γῆς·
Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra (Mateus 28.18).

B. Futuro: Assim como ocorre com o aoristo, o futuro também descreve uma ação
sem considerar a sua causa ou os seus efeitos. A diferença é que tal ação ainda será
realizada. Por isso, seu aspecto é pontilear. Exemplo: λύσω = eu soltarei
ὁ Ἰησοῦς ὁ ἀναλημφθεὶς ἀφ᾿ ὑμῶν εἰς τὸν οὐρανὸν οὕτως ἐλεύσεται ὃν τρόπον ἐθεάσασθε
αὐτὸν πορευόμενον εἰς τὸν οὐρανόν.
Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir
(Atos 1.11).

C. Perfeito: O perfeito grego transmite a ideia de passado, ou seja, uma ação já


realizada. Porém, seu aspecto descreve uma ação que possui efeito e resultados que não
estão restritos ao passado. Logo, o perfeito aponta para resultados de ações realizadas
completamente no passado. Esse aspecto é chamado de resultante. Exemplo: λέλυκα =
eu tenho soltado
ὁ δὲ διακρινόμενος ἐὰν φάγῃ κατακέκριται
Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer... (Romanos 14.23).

D. Mais-que-perfeito: Por fim, o mais-que-perfeito é um tempo verbal que aponta


para o passado. Quanto ao aspecto, ele também é resultante como o perfeito. A
diferença é que no mais-que-perfeito a ação foi desenvolvida no passado, seus efeitos
tiveram uma duração, porém, cessaram em algum momento. Exemplo: ἐλελύκειῃ = eu
tinha soltado
καὶ πάντες οἱ ἄγγελοι εἱστήκεισαν κύκλῳ τοῦ θρόνου
Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono (Apocalipse 7.11).

FIQUE ATENTO
No grego bíblico os tempos verbais podem ser divididos em duas categorias. Os tempos
primários (Presente, Futuro, Perfeito) e os tempos secundários (Imperfeito, Aoristo, Mais-
-que-perfeito). Isso será importante em nosso estudo do sistema verbal grego.

5.1.3 Voz

Lembre-se que no sistema verbal a voz é a maneira como os verbos são expressos
em uma oração, a fim de demonstrar o papel que o sujeito gramatical desempenha,
ou seja ele é quem executa a ação ou é o que sofre a ação. No grego bíblico, os verbos
possuem três vozes: ativa, passiva e a média.
A voz ativa é a mais utilizada no grego bíblico. Essa voz comunica que o sujeito da
frase é aquele que realiza a ação em questão. Por sua vez, o Novo Testamento também
emprega a voz passiva, sendo esta a segunda forma mais utilizada. Essa voz sugere
que o sujeito da oração é o destinatário da ação que está sendo realizada contra ele. E
por fim, a voz média sugere que o sujeito tanto realiza quanto sofre a ação realizada.
58
FIQUE ATENTO
O grego bíblico pode ser muito sutil. Tal sutilidade é vista nas vozes verbais, mais propria-
mente no uso da voz passiva e da voz média. Com exceção dos tempos aoristo e futuro,
as formas verbais são idênticas nas vozes média e passiva. Logo, é o contexto que define
a voz utilizada pelo autor e, consequentemente, a intenção dada ao texto.

5.1.4 Pessoa e Número

Finalmente, os últimos aspectos verbais que temos que considerar são as pessoas
e o número. Os verbos do grego bíblico flexionam em pessoa e número. Como ocorre
no português, temos no grego três pessoas (1ª pessoa, 2ª pessoa e 3ª pessoa) e dois
números (singular e plural). Usando o verbo λύω como paradigma de conjugação, o
verbo pode ser apresentado em pessoas e números da seguinte forma:
PESSOAS SINGULAR PLURAL
1ª Pessoa λύω λύομεν

2ª Pessoa λύεις λύετε

3ª Pessoa λύει λύοσιν

5.2 APARATO DE CONJUGAÇÕES


Vimos os modificadores verbais. Agora é a vez de vermos a conjugação, que é
a forma de flexão dos verbos. Diferentemente do substantivo, no sistema verbal não
há flexão baseada nos casos. Contudo, na conjugação é necessário que tenhamos
atenção aos modificadores do verbo e à estrutura da frase.
Sobre a estrutura da frase, é sempre bom lembrarmos da relação entre o sujeito
gramatical e o verbo. Como no português, no grego bíblico o verbo concorda com o
sujeito em pessoa e número. Porém, no grego não há distinção de gênero quanto ao
sujeito, portanto, o verbo não flexionará quanto ao gênero.
Dito isto, precisamos aprender algo sobre o uso dos prefixos, sufixos, vogais
temáticas e terminações pessoais dos verbos. A razão para isso é que tais partículas
indicarão o tempo e a pessoa verbal de uma determinada conjugação. Logo, ajudarão
a distinguir o sujeito da oração.
A. Prefixos
Os prefixos são partículas que antecedem a raiz do verbo. Há duas formas de
prefixos verbais: o aumento e a reduplicação.
O aumento ocorre apenas no modo indicativo, mas não em todos os tempos
verbais. Ele é um prefixo que indica uma forma de passado. Por isso, o aumento ocorrerá
somente no imperfeito, no aoristo e no mais-que-perfeito, também chamados de
modos secundários. Veja o exemplo com o verbo λύω (soltar).
59
PREFIXOS RAIZ SUFIXOS
Aumento Reduplicação λύ Temporal Vogal Temática Terminação pessoal
ε - σα
e λε κ ει μεν

A reduplicação “é a repetição da primeira letra da raiz. Isso ocorre em todas as


formas do tempo perfeito” (DUFF, 2005. p.180). Quando a primeira letra for uma consoante,
geralmente, esta formará uma sílaba com a vogal ε. Veja o exemplo com o verbo λύω
(soltar).

PREFIXOS RAIZ SUFIXOS


Aumento Reduplicação λύ Temporal Vogal Temática Terminação pessoal
λε κα
λελύκα = Eu tenho solto

Contudo, algumas consoantes não serão reduplicadas com a sua forma, mas
serão substituídas, formando sílaba com a vogal ε.
χ κ φ π θ τ
σ ζ σ ξσ
Usemos como exemplos os verbos θεραπευω (curar) e φύω (crescer):

PREFIXOS RAIZ SUFIXOS


Aumento Reduplicação θεραπευ Temporal Vogal Temática Terminação pessoal
τε κα
πε φυ κα

A reduplicação quando as palavras são iniciadas com as vogais α ε ο. As vogais


sofrerão as seguintes modificações:
α η ε η οω
Usemos como exemplo o verbo ἀδικέω:

PREFIXOS RAIZ SUFIXOS


Aumento Reduplicação δίκη Temporal Vogal Temática Terminação pessoal
η κα

B. Sufixos Temporais
Os sufixos temporais são aqueles que seguem imediatamente a raiz do verbo.
Não são todos os tempos que possuem sufixos temporais. A tabela abaixo nos dá uma
visão geral destes sufixos:

SUFIXO TEMPO EXEMPLO TRADUÇÃO


σ Futuro λύσω Soltarei
σα Aoristo λύσα Soltei
κα Perfeito λελύκα Tenho solto
θη Futuro e Aoristo (voz passiva) λυθησομαι Serei solto
Fui solto
60
C. Vogais temáticas
As vogais temáticas são ε e ο. No caso dos tempos em que ocorrem os sufixos
temporais, as vogais temáticas seguirão os sufixos. No caso dos tempos em que os
sufixos temporais não ocorrem, as vogais seguirão após a raiz verbal.
No grego bíblico não devemos confundir as vogais temáticas com as terminações
dos verbos. Como veremos, as terminações possuem uma função específica.
Basicamente, a vogal ο é usada antes das consoantes μ e ν, enquanto a vogal ε é
utilizada antes das demais consoantes. Exemplos:

λύω = λύομεν (soltamos)


λύω = λύετε (solteis)

D. Terminações pessoais
As terminações pessoais indicam as pessoas gramaticais e a modalidade da voz,
considerando os tempos verbais. Para isso, os tempos verbais são divididos em tempos
primários e secundários. São chamados de tempos primários o presente, o futuro e o
perfeito. E, tempos secundários são o imperfeito, o aoristo e o mais-que-perfeito. Para
o aluno que está conhecendo o grego bíblico, é suficiente conhecer as terminações e
distingui-las na leitura do texto.

VOZ ATIVA
TEMPOS PRIMÁRIOS TEMPOS SECUNDÁRIOS
Singular 1ª Pessoa --- -ν

2ª Pessoa -ς -ς

3ª Pessoa -- -(ν)/ (-σαν)

Plural 1ª Pessoa -μεν -μεν

2ª Pessoa -τε -τε

3ª Pessoa -σι(ν) -σι(ν)

VOZ PASSIVA E MÉDIA


TEMPOS PRIMÁRIOS TEMPOS SECUNDÁRIOS
Singular 1ª Pessoa -μαι -μεν

2ª Pessoa -σμαι -σο

3ª Pessoa -τμαι -το

Plural 1ª Pessoa -μεθα -μεθα

2ª Pessoa -σθε -σθε

3ª Pessoa -ηται -ητο

5.3 FORMAS VERBAIS


Na língua grega, os verbos podem ser divididos em duas grandes categorias. A
primeira destas categorias são os verbos com o tema -ω (exemplos: λυω| καλεω |αλιζω). A
forma do infinitivo refere-se à primeira pessoa do singular. Usaremos como paradigma
de nosso estudo o verbo λυω (soltar). Este verbo é muito utilizado nas gramáticas do
61
grego bíblico. Isso ajudará você em seus estudos.
A segunda categoria são os verbos com o tema –μι. É uma categoria menor de
verbos e agrega os verbos mais antigos no processo de desenvolvimento da língua.
Usaremos como paradigma desta categoria o verbo ειμι (ser/estar).

5.4 CONJUGAÇÕES VERBAIS


5.4.1 Verbos com terminação -ω

Os verbos com terminação -ω constituem-se a maior categoria entre os verbos no


grego bíblico. Ao aprendermos a sua conjugação teremos condições de compreender
o texto bíblico do Novo Testamento em sua língua original. Vejamos o funcionamento
da conjugação usando o verbo λύω (soltar) como o paradigma.
Modo Indicativo
Lembre-se que o modo indicativo descreve uma ação ou estado como eles são
de fato. Neste modo, os verbos serão conjugados considerando o tempo, a voz e as
pessoas.
A. Forma do Indicativo Presente
A voz ativa comunica que o sujeito da frase é aquele que realiza a ação em
questão. Observe a conjugação abaixo:
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λύ-ω Eu solto
2ª Pessoa λύ-εις Tu soltas
3ª Pessoa λύ-ει Ele solta
PLURAL 1ª Pessoa λύ-ομεν Nós soltamos
2ª Pessoa λύ-ετε Vós soltais
3ª Pessoa λύ-οσι(ν) Eles soltam

Na voz ativa do indicativo presente verificamos mais facilmente a raiz do verbo e


as terminações pessoais. O estudante do grego bíblico precisa estar atento ao nü (ν)
móvel. Frequentemente, ele ocorrerá na voz ativa das formas verbais, na terceira pessoa
do plural. Mas, também, ocorrerão em algumas formas na terceira pessoa do singular.
O (ν) móvel é utilizado para facilitar a pronúncia do verbo quando são seguidas por
palavra iniciadas com vogais ou são os últimos termos nas frases (SCHALKWIJK, 1994).
Observe agora as conjugações do indicativo presente na voz passiva e média.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λύ-o-μαι Eu estou sendo solto
2ª Pessoa λύ-η Tu estás sendo solto
3ª Pessoa λύ-ε-ται Ele está sendo solto
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ο-μεθα Nós estamos sendo soltos
2ª Pessoa λύ-ε-σθε Vós estais sendo soltos
3ª Pessoa λύ-ο-νται Eles estão sendo soltos
62
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa λύ-o-μαι Eu solto para mim
2ª Pessoa λύ-η Tu soltas para ti
3ª Pessoa λύ-ε-ται Ele solta para si
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ο-μεθα Nós soltamos para nós
2ª Pessoa λύ-ε-σθε Vós soltais para vós
3ª Pessoa λυ-ο-νται Eles soltam para si

Há uma só forma para ambas as conjugações. Nelas vemos a estrutura de raiz,


vogais temáticas e terminações pessoais. A razão por colocarmos em tabelas distintas
é o fato de que o sentido muda de acordo com a voz.
B. Forma do Indicativo Futuro
O indicativo futuro descreve uma ação a ser realizada sem considerar sua
causa ou resultados. A característica principal da conjugação do indicativo futuro é o
acréscimo da partícula temporal sigma (σ). E, novamente, preste atenção no uso do (ν)
móvel na terceira pessoa do plural. Observe a tabela abaixo.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λύ-σ-ω Eu soltarei
2ª Pessoa λύ-σ-εις Tu soltarás
3ª Pessoa λύ-σ-ει Ele soltará
PLURAL 1ª Pessoa λύ-σ-ο-μεν Nós soltaremos
2ª Pessoa λύ-σ-ετε Vós soltareis
3ª Pessoa λύ-σ-ο-σι(ν) Eles soltarão

No indicativo futuro, a voz passiva e a voz ativa possuem formas distintas. Na


forma passiva, a estrutura da palavra preserva a raiz e acrescenta-se o sufixo θη e o
sufixo temporal σ. As terminações pessoais são idênticas às do indicativo presente.
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λύ-θη-σ-o-μαι Eu serei solto
2ª Pessoa λύ-θη-σ-η Tu serás solto
3ª Pessoa λύ-θη-σ-ε-τaι Ele será solto
PLURAL 1ª Pessoa λύ-θη-σ-ο-μεθα Nós seremos soltos
2ª Pessoa λύ-θη-σ-σθε Vós sereis soltos
3ª Pessoa λύ-θη-σ-ο-νται Eles serão soltos

Já na voz média, não há o sufixo θη. Contudo, mantém-se o sufixo temporal σ e as


terminações pessoais, assim como na voz passiva.
63
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-σ-o-μαι Eu soltarei para mim
2ª Pessoa λυ-σ-η Tu soltarás para ti
3ª Pessoa λυ-σ-ε-τaι Ele soltará para si
PLURAL 1ª Pessoa λυ-σ-ο-μεθα Nós soltaremos para nós
2ª Pessoa λυ-σ-σθε Vós soltareis para vós
3ª Pessoa λυ-σ-ο-νται Eles soltarão para si

C. Forma do Indicativo Imperfeito


O tempo imperfeito aponta para o passado, descrevendo uma ação iniciada
e concluída no passado. Uma das características dos tempos que apontam para o
passado é o acréscimo do aumento ε antes da raiz. Tenha atenção em relação às
terminações pessoais. Vejamos a voz ativa.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-ον Eu soltava
2ª Pessoa ε-λυ-ες Tu soltavas
3ª Pessoa ε-λυ-εν Ele soltava
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-ομεν Nós soltávamos
2ª Pessoa ε-λυ-ετε Vós soltáveis
3ª Pessoa ε-λυ-ον Eles soltavam

Quando observamos as vozes passiva e média, percebemos que ambas possuem


a mesma forma. Novamente, o que distinguirá o uso é o contexto. Portanto, o estudante
do grego bíblico precisa ter atenção ao contexto.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-ο-μην Eu estava sendo solto
2ª Pessoa ε-λυ-o-υ Tu estavas sendo solto
3ª Pessoa ε-λυ-ε-το Ele estava sendo solto
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-ο-μεθα Nós estávamos sendo soltos
2ª Pessoa ε-λυ-σεθε Vós estáveis sendo soltos
3ª Pessoa ε-λυ-ο-ντο Eles estavam sendo soltos

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-ο-μην Eu estava soltando para mim
2ª Pessoa ε-λυ-o-υ Tu estavas soltando para ti
3ª Pessoa ε-λυ-ε-το Ele estava soltando para si
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-ο-μεθα Nós estávamos soltando para nós
2ª Pessoa ε-λυ-σεθε Vós estáveis soltando para vós
3ª Pessoa ε-λυ-ο-ντο Eles estavam soltando para si
64
D. Forma do Indicativo Aoristo
O indicativo aoristo aponta para uma ação ou estado assertivo totalmente
realizada no passado, sem considerar sua causa. Como ocorre no indicativo imperfeito,
no aoristo também há o acrescimento do aumento ε prefixando a raiz verbal. Mas,
também, há o acréscimo da partícula temporal σα, que é uma característica do aoristo.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-σα Eu soltei
2ª Pessoa ε-λυ-σας Tu soltaste
3ª Pessoa ε-λυ-σεν Ele soltou
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-σα-μεν Nós soltamos
2ª Pessoa ε-λυ-σα-τε Vós soltastes
3ª Pessoa ε-λυ-σα-v Eles soltaram

Observe que na forma passiva do indicativo aoristo, o sufixo θη também é


acrescentado. Lembre-se que este sufixo é uma marca da voz passiva.
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-θη-ν Eu fui solto
2ª Pessoa ε-λυ-θη-ς Tu foste solto
3ª Pessoa ε-λυ-θη Ele foi solto
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-θη-μεν Nós fomos soltos
2ª Pessoa ε-λυ-θη-τε Vós fostes soltos
3ª Pessoa ε-λυ-θη-σα-v Eles foram soltos

No indicativo aoristo, a forma da voz média é distinta da voz passiva. Desta


maneira, é importante notar que as terminações pessoais são as utilizadas pelos tempos
secundários na voz passiva. Mas, observe que na voz média há a ocorrência do sufixo σα
como um sufixo temporal característico do indicativo aoristo.

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λυ-σα-μεν Eu soltei para mim
2ª Pessoa ε-λυ-σ-ω Tu soltaste para ti
3ª Pessoa ε-λυ-σα-το Ele soltou para si
PLURAL 1ª Pessoa ε-λυ-σα-μεθα Nós soltamos para nós
2ª Pessoa ε-λυ-σα-σθε Vós soltastes para vós
3ª Pessoa ε-λυ-σα-vτο Eles soltaram para si

E. Forma do Indicativo Perfeito


Primeiramente é preciso lembrar que o tempo perfeito é uma forma de passado,
expressando uma ação já realizada cujos resultados avançam para além do tempo
da ação. Este traço de continuidade dos resultados da ação ou do estado de forma
assertiva, é importante no estudo do texto do Novo Testamento. Um exemplo disto, é
a fala de Jesus na cruz antes de sua morte: τετέλεσται | Está consumado (João 19.30).
65
Sugere que tudo o que ele fez (a sua morte) foi único, mas seu efeito (a salvação) é
para sempre.
Na voz ativa, a raiz do verbo é reduplicada com o prefixo λε e recebe o sufixo
temporal κα característico do indicativo perfeito. Observe a conjugação.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λε-λυ-κα Eu tenho solto
2ª Pessoa λε-λυ-κα-ς Tu tens solto
3ª Pessoa λε-λυ-κ-εν Ele tem solto
PLURAL 1ª Pessoa λε-λυ-κα-μεν Nós temos solto
2ª Pessoa λε-λυ-κα-τε Vós tendes solto
3ª Pessoa λε-λυ-κα-v Eles têm solto

No indicativo perfeito, a voz passiva e a voz média possuem a mesma forma. Em


ambas as vozes há a reduplicação da raiz. E, mais uma vez, atenção ao contexto das
orações, para compreender qual é a voz utilizada e suas implicações para o texto.
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λε-λυ-μαι Eu tenho sido solto
2ª Pessoa λε-λυ-σαι Tu tens sido solto
3ª Pessoa λε-λυ-ται Ele tem sido solto
PLURAL 1ª Pessoa λε-λυ-μεθα Nós temos sido soltos
2ª Pessoa λε-λυ-σθε Vós tendes sido soltos
3ª Pessoa λε-λυ-vται Eles têm sido soltos

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa λε-λυ-μαι Eu tenho solto para mim
2ª Pessoa λε-λυ-σαι Tu tens solto para ti
3ª Pessoa λε-λυ-ται Ele tem solto para si
PLURAL 1ª Pessoa λε-λυ-μεθα Nós temos solto para nós
2ª Pessoa λε-λυ-σθε Vós tendes solto para nós
3ª Pessoa λε-λυ-vται Eles soltaram para si

F. Forma do Indicativo Mais-Que-Perfeito


Chegamos ao último tempo do indicativo. O mais-que-perfeito também é uma
forma de passado. O detalhe do aspecto do tempo é que a ação foi completamente
realizada no passado e seus resultados tiveram uma duração que cessou no passado.
Como ocorre no indicativo imperfeito e no indicativo aoristo, no mais-que-perfeito
há o aumento ε indicado o passado. Mas, também, ocorre a reduplicação λε indicando
o aspecto do tempo verbal e a partícula temporal κει.
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λε-λυ-κει-ν Eu tenho soltado
2ª Pessoa ε-λε-λυ-κει -ς Tu tens soltado
3ª Pessoa ε-λε-λυ-κει -ν Ele tem soltado
66
PLURAL 1ª Pessoa ε-λε-λυ-κει -μεν Nós temos soltado
2ª Pessoa ε-λε-λυ-κει -τε Vós tendes soltado
3ª Pessoa ε-λε-λυ-κει -σαv Eles têm soltado

Quanto às vozes passiva e média, serão mantidos o aumento e a reduplicação,


mas não a partícula temporal κει. E as terminações pessoais dos tempos secundários.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λε-λυ-μηι Eu tinha sido solto
2ª Pessoa ε-λε-λυ-σο Tu tinhas sido solto
3ª Pessoa ε-λε-λυ-το Ele tinha sido solto
PLURAL 1ª Pessoa ε-λε-λυ-μεθα Nós tínhamos sido soltos
2ª Pessoa ε-λε-λυ-σθε Vós tínheis sido soltos
3ª Pessoa ε-λε-λυ-θτο Eles tinham sido soltos

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ε-λε-λυ-μηι Eu tinha soltado para mim
2ª Pessoa ε-λε-λυ-σο Tu tinhas soltado para ti
3ª Pessoa ε-λε-λυ-το Ele tinha soltado para si
PLURAL 1ª Pessoa ε-λε-λυ-μεθα Nós tínhamos soltado para nós
2ª Pessoa ε-λε-λυ-σθε Vós tínheis soltado para nós
3ª Pessoa ε-λε-λυ-θτο Eles tinham soltado para si

Modo Subjuntivo
O subjuntivo é o modo da possibilidade. Ele supõe o desejo para realização de
algo. No grego bíblico, o subjuntivo ocorre apenas no tempo presente e no aoristo.
A. Forma do Subjuntivo Presente
No subjuntivo presente, a conjugação do verbo na primeira pessoa do singular é
idêntica ao indicativo presente. Por isso, atenção ao contexto. Contudo, na segunda e na
terceira pessoa tanto do singular quanto do plural, haverá o alongamento das vogais
auxiliares (ε = η | o = ω). Quanto às terminações temporais, elas são as terminações dos
tempos primários.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-ω Que eu solte
2ª Pessoa λυ-η-ς Que tu soltes
3ª Pessoa λυ-η Que Ele solte
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ω-μεν Que nós soltemos
2ª Pessoa λυ-η-τε Que vós solteis
3ª Pessoa λυ-ω-σι(ν) Que eles soltem

Nas vozes passiva e média também ocorrerá o alongamento das vogais auxiliares
(ε = η | o = ω). E, serão utilizadas as terminações pessoais dos tempos primários. Observe
que a forma é idêntica para ambas as vozes.
67
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-ω-μαι Que eu seja solto
2ª Pessoa λυ-η Que tu sejas solto
3ª Pessoa λυ-η-ται Que ele seja solto
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ω-μεθα Que nós sejamos soltos
2ª Pessoa λυ-η-σθε Que vós sejais soltos
3ª Pessoa λυ-ω-νται Que eles sejam soltos

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-ω-μαι Que eu solte para mim
2ª Pessoa λυ-η Que tu soltes para ti
3ª Pessoa λυ-η-ται Que Ele solte para si
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ω-μεθα Que nós soltemos para nós
2ª Pessoa λυ-η-σθε Que vós solteis para vós
3ª Pessoa λυ-ω-νται Que eles soltem si

B. Forma do Subjuntivo Aoristo


No subjuntivo, o tempo aoristo na voz ativa recebe a partícula temporal σ. Esta
partícula temporal é característica do tempo futuro na voz ativa. Isso faz com que o
subjuntivo aoristo aponte para uma ação ou estado que se deseja ver realizado no
futuro.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-σ-ω Que eu solte
2ª Pessoa λυ-σ-η-ς Que tu soltes
3ª Pessoa λυ-σ-η Que ele solte
PLURAL 1ª Pessoa λυ-σ-ω-μεν Que nós soltemos
2ª Pessoa λυ-σ-η-τε Que vós solteis
3ª Pessoa λυ-σ-ω-σιν Que eles soltem

Já na voz passiva, há o acréscimo da partícula temporal θ. Esta partícula temporal


é característica do tempo futuro na voz passiva. As terminações temporais são dos
tempos primários na voz ativa.
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-θ-ω Que eu solte para mim
2ª Pessoa λυ-θ-η-ς Que tu soltes para ti
3ª Pessoa λυ-θ-η Que ele solte para si
PLURAL 1ª Pessoa λυ-θ-ω-μεν Que nós soltemos para nós
2ª Pessoa λυ-θ-η-τε Que vós solteis para vós
3ª Pessoa λυ-θ-ω-σιν Que eles soltem para si

Por sua vez, na voz média as vogais auxiliares serão alongadas (ε = η | o = ω) e


utilizadas as terminações pessoais dos tempos primários na voz média.
68
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa λυ-ω-μαι Que eu solte para mim
2ª Pessoa λυ-η Que tu soltes para ti
3ª Pessoa λυ-η-ται Que Ele solte para si
PLURAL 1ª Pessoa λυ-ω-μεθα Que nós soltemos para nós
2ª Pessoa λυ-η-σθε Que vós solteis para vós
3ª Pessoa λυ-ω-νται Que eles soltem si

Modo Imperativo
O imperativo é o apelo à consciência. Ele expressa uma ordem, comando ou
exortação. Contudo, este modo transmite a ideia de desejo cuja realização é uma
possibilidade.
Uma das características do imperativo é que ele é conjugado em apenas dois
tempos: presente e aoristo. Além disso, sua conjugação só leva em conta a segunda e
a terceira pessoas tanto do singular quanto do plural.
A. Forma do Imperativo Presente
No imperativo presente, a vogal auxiliar será a vogal curta ε. Já as terminações

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ε Solta tu
3ª Pessoa λυ-ε-τω Solte ele
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ε-τε Soltai vós
3ª Pessoa λυ-ε-τω-σαν Soltem eles

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ου Sê solto
3ª Pessoa λυ-ε-σθω Seja solto
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ε-στε Sede soltos
3ª Pessoa λυ-ε-σθω-σαν Sejam soltos

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ου Solta para ti
3ª Pessoa λυ-ε-σθω Solte para si
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-ε-στε Soltai para vós
3ª Pessoa λυ-ε-σθω-σαν Soltem para si
69
B. Forma do Imperativo Aoristo
O tempo aoristo do imperativo sugere um aspecto pontilear, no qual uma ação
é plenamente realizada no passado, sem se considerar as suas causas. Na voz ativa,
haverá o acréscimo da partícula temporal σα, que é característica do aoristo.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-σ-ον Solta tu
3ª Pessoa λυ-σα-τω Solte ele
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-σα-τε Soltai vós
3ª Pessoa λυ-ε-τω-σαν Soltem eles

Na voz passiva, haverá o acréscimo da partícula temporal θη, que ocorre tanto no
aoristo quanto no futuro, nesta voz.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-θη-ον Sê solto
3ª Pessoa λυ-θν-τω Seja solto
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-θη-τε Sede soltos
3ª Pessoa λυ-θη-τω-σαν Sejam soltos

Na voz média também ocorrerá o acréscimo da partícula temporal σα.

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-σα-ι Solta para ti
3ª Pessoa λυ-σα-σθω Solte para si
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa λυ-σα-σθε Soltai para vós
3ª Pessoa λυ-σα-σθω-σαν Soltem para si

5.4.2 Verbos ειμι

zEstudaremos agora o verbo ειμι. Necessariamente, este ειμι não constitui um paradigma
específico. Ele segue o paradigma dos verbos com terminação em -μι. Então, por que
estudar o verbo ειμι? Simples, porque é um dos verbos mais usados no texto do Novo
Testamento. Logo, fatalmente você encontrará este ao ler o texto grego. Veja o exemplo
abaixo:
ἐγὼ μεθ᾿ ὑμῶν εἰμι πάσας τὰς ἡμέρας ἕως τῆς συντελείας τοῦ αἰῶνος
E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (Mateus
28.20).
70
ἐγώ εἰμι ὁ ποιμὴν ὁ καλός
Eu sou o bom pastor (João 10.11).

Há algumas características que você deve estar atento ao estudar o verbo εἰμι.
Primeiramente, o verbo não possui o aspecto da voz. Como afirma David Black, “uma
vez que εἰμί expressa um estado mais que uma ação, não tem voz ativa, média e nem
passiva” (2009, posição 978). Porém, a tradução para o português implicará no uso da
voz ativa.
A segunda característica é que o verbo εἰμι funciona como o verbo to be em
inglês. Ou seja, o mesmo verbo encapsula dois estados distintos: ser e estar. Logo, será
o contexto que determinará qual ideia transmitida pelo termo. Portanto, esteja atento
ao contexto.
Por fim, a terceira caraterística é que o verbo ocorre apenas nos modos indicativo,
subjuntivo e imperativo. Isso diminui a quantidade de flexões e torna mais compreensivo
e prático o uso do verbo.
Modo Indicativo
Ao estudar o modo indicativo, lembre-se que este modo indica uma ação ou
estado como eles são de fato, de maneira assertiva.
A. Forma do Indicativo Presente
A forma do indicativo presente possui alguns pontos de atenção. Observe
atentamente a conjugação abaixo:

SINGULAR 1ª Pessoa ειμι Eu sou/estou


2ª Pessoa ει Tu és/estás
3ª Pessoa εστιν Ele é/está
PLURAL 1ª Pessoa εσμεν Nós somos/estamos
2ª Pessoa εστε Vós sois/estais
3ª Pessoa εισιν Eles são/estão

Primeiro ponto de atenção: Nü (ν) móvel. Ele ocorre na conjugação da terceira


pessoa, tanto no plural como no singular. Ele é usado quando o verbo precede palavras
que começam com vogais e no final de frases ou antes de palavras que começam com
certas consoantes.
Ὁ λύχνος τοῦ σώματός ἐστιν ὁ ὀφθαλμός
São os olhos a lâmpada do corpo (Mateus 6.22).

ὁ πατὴρ ὑμῶν οἰκτίρμων ἐστίν·


como também é misericordioso vosso Pai (Lucas 6.36).

B. Forma do Indicativo Imperfeito


Como o imperfeito transmite a ideia de passado, a vogal ε é alongada. Assim, é
substituído pela vogal η.
71
SINGULAR 1ª Pessoa η ou ην eu estava sendo
2ª Pessoa ησθα tu estavas sendo
3ª Pessoa ην ele estava sendo
PLURAL 1ª Pessoa ημεν nós estávamos sendo
2ª Pessoa ητε vós estáveis sendo
3ª Pessoa ησαν eles estavam sendo

C. Forma do Indicativo Futuro


Como ocorrerá em todas as formas verbais no tempo futuro, o verbo ειμι ganha
a partícula temporal sigma (σ). Este é um elemento importante na identificação do
tempo verbal. Outro detalhe, é que o indicativo futuro do verbo ειμι usa as terminações
pessoais do indicativo presente passivo.

SINGULAR 1ª Pessoa εσομαι eu serei/estarei


2ª Pessoa εσειουεση tu serás/estarás
3ª Pessoa εσται ele será/estará
PLURAL 1ª Pessoa εσομεθα nós seremos/estaremos
2ª Pessoa εσεσθε vós sereis/estareis
3ª Pessoa εσονται eles serão/estarão

Modo Subjuntivo
É sempre bom ter em mente que o modo subjuntivo transmite a ideia de incerteza
e dúvida. Seu intuito é que algum estado seja vivenciado. Neste modo, o verbo ειμι será
conjugado apenas no presente.
A. Forma do Subjuntivo Presente
Veja a tabela abaixo:

SINGULAR 1ª Pessoa ω que eu seja/esteja


2ª Pessoa ης que tu sejas/estejas
3ª Pessoa η que ele seja/esteja
PLURAL 1ª Pessoa ωμεν que nós sejamos/estejamos
2ª Pessoa ητε que vós sejais/estejais
3ª Pessoa ωσιν que ele sejam/estejam

Observe que ocorre a mudança na primeira pessoa do singular e do plural. A vogal


ε é substituída pela vogal ω. Enquanto nas demais pessoas persiste o alongamento da
vogal ε para a vogal η.
Modo Imperativo
O imperativo é o modo que transmite uma ordem, comando, conselho ou
exortação, de maneira direta. É um apelo à vontade.
72
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa ισθι sê/esteja tu
3ª Pessoa εστω seja/esteja ele
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa εστε sede/estai vós
3ª Pessoa εστωσαν sejam/estejam eles

5.4.3 Verbos com tema -μι

Na tabela abaixo você tem as terminações pessoais características dos verbos


com o tema -μι. Observe novamente a distinção entre tempos primários e tempos
secundários.

VOZ ATIVA
TEMPOS PRIMÁRIOS TEMPOS SECUNDÁRIOS
Singular 1ª Pessoa -μι -ν

2ª Pessoa -ς -ς

3ª Pessoa -ιν -(ν)/ (-σαν)

Plural 1ª Pessoa -μεν -μεν

2ª Pessoa -τε -τε

3ª Pessoa -σι(ν) -σι(ν)

VOZ PASSIVA E MÉDIA


TEMPOS PRIMÁRIOS TEMPOS SECUNDÁRIOS
Singular 1ª Pessoa -μαι -μεν

2ª Pessoa -σμαι -σο

3ª Pessoa -τμαι -το

Plural 1ª Pessoa -μεθα -μεθα

2ª Pessoa -σθε -σθε

3ª Pessoa -ηται -ητο

Modo Indicativo
A. Forma do Indicativo Presente
Novamente, é preciso dizer que a voz ativa comunica que o sujeito da frase é
aquele que realiza a ação em questão. Observe a tabela de conjugação abaixo. Verifique
que as terminações temporais usadas no paradigma -μι são similares às utilizadas no
paradigma -ω. Assim, a voz ativa utilizará as terminações dos tempos primários como
ocorre com o paradigma -ω. Também a ocorrência do (ν) móvel na terceira pessoa do
plural.
73
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa διδωμι Eu dou
2ª Pessoa διδως Tu dás
3ª Pessoa διδωιν Ele dá
PLURAL 1ª Pessoa διδομεν Nós damos
2ª Pessoa διδοτε Vós dais
3ª Pessoa διδοασι(ν) Eles dão

No paradigma -μι, o indicativo presente na voz passiva e média possuem a mesma


forma, utilizado as terminações temporais típicos dos tempos primários. Mais uma vez,
lembramos que será o contexto que determinará a voz.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δίδομαι Eu estou sendo dado
2ª Pessoa δίδοσαι Tu estás sendo dado
3ª Pessoa δίδοται Ele está sendo dado
PLURAL 1ª Pessoa διδόμεθα Nós estamos sendo dados
2ª Pessoa δίδοσθε Vós estais sendo dados
3ª Pessoa δίδονται Eles estão sendo dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa δίδομαι Eu dou para mim
2ª Pessoa δίδοσαι Tu dás para ti
3ª Pessoa δίδοται Ele dá para si
PLURAL 1ª Pessoa διδόμεθα Nós damos para nós
2ª Pessoa δίδοσθε Vós dais para vós
3ª Pessoa δίδονται Eles dão para si

B. Forma do Indicativo Futuro


Como ocorre no paradigma -ω, no paradigma -μι a conjugação do indicativo
futuro também terá o acréscimo da partícula temporal sigma (σ). E, haverá também a
ocorrência do (ν) móvel na terceira pessoa do plural.
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δώσω Eu darei
2ª Pessoa δώσεις Tu darás
3ª Pessoa δώσει Ele dará
PLURAL 1ª Pessoa δώσομεν Nós daremos
2ª Pessoa δώσετε Vós dareis
3ª Pessoa δώσουσι(ν) Eles darão

Observe que na voz passiva, haverá o acréscimo da partícula temporal θη,


características do indicativo futuro. As terminações pessoais utilizadas são as dos
74
tempos primários nas vozes passiva e média.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δοθήσομαι Eu serei dado
2ª Pessoa δοθήσῃ Tu serás dado
3ª Pessoa δοθήσεται Ele será dado
PLURAL 1ª Pessoa δοθησόμεθα Nós seremos dados
2ª Pessoa δοθήσεσθε Vós sereis dados
3ª Pessoa δοθήσονται Eles serão dados

Na voz média, usa as terminações temporais típicas da voz média dos tempos
primários.
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa δώσομαι Eu darei para mim
2ª Pessoa δώσῃ Tu darás para ti
3ª Pessoa δώσεται Ele dará para si
PLURAL 1ª Pessoa δωσόμεθα Nós daremos para nós
2ª Pessoa δώσεσθε Vós dareis para vós
3ª Pessoa δώσονται Eles darão para si

C. Forma do Indicativo Imperfeito


Lembre-se que imperfeito aponta para o passado, descrevendo uma ação
iniciada e concluída no passado. Uma das características dos tempos que apontam
para o passado é o acréscimo do aumento ε antes da raiz do verbo. As terminações
pessoais são típicas dos tempos secundários.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa εδιδουν Eu dava
2ª Pessoa εδιδους Tu davas
3ª Pessoa εδιδου Ele dava
PLURAL 1ª Pessoa εδιδομεν Nós dávamos
2ª Pessoa εδιδοτε Vós dáveis
3ª Pessoa εδιδοσαν Eles davam

Nas vozes passiva e média, percebemos que ambas possuem a mesma forma.
Em ambas ocorre o aumento temporal ε e o uso das terminações temporais dos tempos
secundários. Estude com atenção a diferença de sentido de cada voz e fique atento ao
contexto.
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδιδόμην Eu estava sendo dado
2ª Pessoa ἐδίδοσο Tu estavas sendo dado
3ª Pessoa ἐδίδοτο Ele estava sendo dado
75
PLURAL 1ª Pessoa ἐδιδόμεθα Nós estávamos sendo dados
2ª Pessoa ἐδίδοσθε Vós estáveis sendo dados
3ª Pessoa ἐδίδοντο Eles estavam sendo dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδιδόμην Eu estava dando para mim
2ª Pessoa ἐδίδοσο Tu estavas dando para ti
3ª Pessoa ἐδίδοτο Ele estava dando para si
PLURAL 1ª Pessoa ἐδιδόμεθα Nós estávamos dando para nós
2ª Pessoa ἐδίδοσθε Vós estáveis dando para vós
3ª Pessoa ἐδίδοντο Eles estavam dando para si

D. Forma do Indicativo Aoristo


Como ocorre no paradigma -ω, o indicativo aoristo aponta para uma ação ou
estado assertivo totalmente realizada no passado, sem considerar sua causa. Como
ocorre no indicativo imperfeito, no aoristo também há o acrescimento do aumento ε
prefixando a raiz verbal. Mas, também, há o acréscimo da partícula temporal κα, que é
uma característica do aoristo.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa εδωκα Eu dei
2ª Pessoa εδωκας Tu deste
3ª Pessoa εδωκεν Ele deu
PLURAL 1ª Pessoa εδωκαμεν Nós demos
2ª Pessoa εδωκατε Vós destes
3ª Pessoa εδωκαν Eles deram

Na voz passiva do indicativo aoristo, o sufixo θη também é acrescentado. Este


sufixo é uma marca da voz passiva.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδόθην Eu fui dado
2ª Pessoa ἐδόθης Tu foste dado
3ª Pessoa ἐδόθη Ele foi dado
PLURAL 1ª Pessoa ἐδόθημεν Nós fomos dados
2ª Pessoa ἐδόθητε Vós fostes dados
3ª Pessoa ἐδόθησαν Eles foram dados

A voz média é distinta da voz passiva no indicativo aoristo. Desta maneira,


é importante notar que as terminações pessoais são as utilizadas pelos tempos
secundários na voz passiva. Mas, observe que na voz média há a ocorrência do sufixo
σα como um sufixo temporal característico do indicativo aoristo.
76
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδόμην Eu dei para mim
2ª Pessoa ἔδου Tu deste para ti
3ª Pessoa ἔδοτο Ele deu para si
PLURAL 1ª Pessoa ἐδόμεθα Nós demos para nós
2ª Pessoa ἔδοσθε Vós destes para vós
3ª Pessoa ἔδοντο Eles deram para si

E. Forma do Indicativo Perfeito


Na voz ativa, a raiz do verbo é reduplicada com o prefixo δε e recebe o sufixo
temporal κα característico do indicativo perfeito. Observe a conjugação.

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δέδωκα Eu tenho dado
2ª Pessoa δέδωκας Tu tens dado
3ª Pessoa δέδωκεν Ele tem dado
PLURAL 1ª Pessoa δεδώκαμεν Nós temos dado
2ª Pessoa δεδώκατε Vós tendes dado
3ª Pessoa δεδώκασι(ν) Eles têm dado

No indicativo perfeito, a voz passiva e a voz média possuem a mesma forma. Em


ambas as vozes há a reduplicação da raiz e as terminações temporais são as utilizadas
pelos tempos primários.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δέδομαι Eu tenho sido dado
2ª Pessoa δέδοσαι Tu tens sido dado
3ª Pessoa δέδοται Ele tem sido dado
PLURAL 1ª Pessoa δεδόμεθα Nós temos sido dados
2ª Pessoa δέδοσθε Vós tendes sido dados
3ª Pessoa δέδονται Eles têm sido dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa δέδομαι Eu tenho dado para mim
2ª Pessoa δέδοσαι Tu tens dado para ti
3ª Pessoa δέδοται Ele tem dado para si
PLURAL 1ª Pessoa δεδόμεθα Nós temos dado para nós
2ª Pessoa δέδοσθε Vós tendes dado para nós
3ª Pessoa δέδονται Eles têm dado para si

F. Forma do Indicativo mais-que-Perfeito


Lembre-se que o tempo mais-que-perfeito também é uma forma de passado. O
detalhe do aspecto do tempo é que a ação foi completamente realizada no passado e
77
seus resultados tiveram uma duração que cessou no passado.
Como ocorre no indicativo imperfeito e no indicativo aoristo, no mais-que-perfeito
há o aumento ε indicado o passado. Mas, também, ocorre a reduplicação δε indicando
o aspecto do tempo verbal e a partícula temporal κει. Atenção à primeira e segunda
pessoa do singular, pois ocorrerá o alongamento da vogal auxiliar (ε = η).

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδεδώκη Eu tenho dado
2ª Pessoa ἐδεδώκης Tu tens dado
3ª Pessoa ἐδεδώκει Ele tem dado
PLURAL 1ª Pessoa ἐδεδώκεμεν Nós temos dado
2ª Pessoa ἐδεδώκετε Vós tendes dado
3ª Pessoa ἐδεδώκεσαν Eles têm dado

Quanto às vozes passiva e média, serão mantidos o aumento e a reduplicação,


mas não a partícula temporal κει. E as terminações pessoais dos tempos secundários.
Esteja atento ao fato de que as formas de ambas as vozes são idênticas.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδεδόμην Eu tinha sido dado
2ª Pessoa ἐδέδοσο Tu tinhas sido dado
3ª Pessoa ἐδέδοτο Ele tinha sido dado
PLURAL 1ª Pessoa ἐδεδόμεθα Nós tínhamos sido dados
2ª Pessoa ἐδέδοσθε Vós tínheis sido dados
3ª Pessoa ἐδέδοντο Eles tinham sido dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa ἐδεδόμην Eu tinha dado para mim
2ª Pessoa ἐδέδοσο Tu tinhas dado para ti
3ª Pessoa ἐδέδοτο Ele tinha dado para si
PLURAL 1ª Pessoa ἐδεδόμεθα Nós tínhamos dado para nós
2ª Pessoa ἐδέδοσθε Vós tínheis dado para nós
3ª Pessoa ἐδέδοντο Eles tinham dado para si

Modo Subjuntivo
O modo subjuntivo é o modo da possibilidade. Com isso em mente, passemos
para as formas de conjugação.
A. Forma do Subjuntivo Presente
No subjuntivo presente, a conjugação do verbo na primeira pessoa do singular é
idêntica ao indicativo presente. Por isso, atenção ao contexto. Contudo, na segunda e na
terceira pessoa tanto do singular quanto do plural, haverá o alongamento das vogais
auxiliares (ε = η | o = ω). Quanto às terminações temporais, elas são as terminações dos
tempos primários. Também, esteja atento ao (ν) móvel na terceira pessoa do plural.
78
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa διδῶ Que eu dê
2ª Pessoa διδῷς Que tu dês
3ª Pessoa διδῷ Que Ele dê
PLURAL 1ª Pessoa διδῶμεν Que nós demos
2ª Pessoa διδῶτε Que vós deis
3ª Pessoa διδῶσι(ν) Que eles deem

Nas vozes passiva e média também ocorrerá o alongamento das vogais auxiliares
(ε = η | o = ω). As terminações pessoais utilizadas são as dos tempos primários. Observe
que a forma é idêntica para ambas as vozes.
VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa διδῶμαι Que eu seja dado
2ª Pessoa διδῷ Que tu sejas dado
3ª Pessoa διδῶται Que ele seja dado
PLURAL 1ª Pessoa διδώμεθα Que nós sejamos dados
2ª Pessoa διδῶσθε Que vós sejais dados
3ª Pessoa διδῶνται Que eles sejam dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa διδῶμαι Que eu dê para mim
2ª Pessoa διδῷ Que tu dês para ti
3ª Pessoa διδῶται Que Ele dê para si
PLURAL 1ª Pessoa διδώμεθα Que nós demos para nós
2ª Pessoa διδῶσθε Que vós deis para vós
3ª Pessoa διδῶνται Que eles deem si

B. Forma do Subjuntivo Aoristo


No subjuntivo, o tempo aoristo na voz ativa recebe a partícula temporal σ. Esta
partícula temporal é característica do tempo futuro na voz ativa, mas ocorre também
no aoristo ativo. Atenção ao (ν) móvel na terceira pessoal do plural e ao alongamento
das vogais auxiliares (ε = η | ο = ω).

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δῶ Que eu dê
2ª Pessoa δῷς Que tu dês
3ª Pessoa δῷ Que ele dê
PLURAL 1ª Pessoa δῶμεν Que nós demos
2ª Pessoa δῶτε Que vós deis
3ª Pessoa δῶσι(ν) Que eles deem
79
Como ocorre no aoristo na voz passiva, é acrescentado a partícula temporal
θη. Contudo, fique atento ao alongamento da vogal auxiliar e no (ν) móvel na terceira
pessoal do plural. As terminações pessoais serão as utilizadas na voz ativa.

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa δοθῶ Que eu seja dado
2ª Pessoa δοθῇς Que tu sejas dado
3ª Pessoa δοθῇ Que ele seja dado
PLURAL 1ª Pessoa δοθῶμεν Que nós sejamos dados
2ª Pessoa δοθῆτε Que vós sejais dados
3ª Pessoa δοθῶσι(ν) Que eles sejam dados

Por sua vez, na voz média as vogais auxiliares serão alongadas (ε = η | o = ω) e


utilizadas as terminações pessoais dos tempos primários na voz média.
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa δῶμαι Que eu dê para mim
2ª Pessoa δῷ Que tu dês para ti
3ª Pessoa δῶται Que ele dê para si
PLURAL 1ª Pessoa δώμεθα Que nós demos para nós
2ª Pessoa δῶσθε Que vós deis para vós
3ª Pessoa δοθῶσι(ν) Que eles deem para si
Modo Imperativo
O modo imperativo expressa uma ordem, comando ou exortação, transmitindo
a ideia de desejo cuja realização é uma possibilidade. Uma das características do
imperativo é que ele é conjugado em apenas dois tempos: presente e aoristo. Além
disso, sua conjugação só leva em conta a segunda e a terceira pessoas tanto do singular
quanto do plural.
VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δίδου Dê tu
3ª Pessoa διδότω Dê ele
PLURAL 1ª Pessoa -
2ª Pessoa δίδοτε Dai vós
3ª Pessoa διδόντων Deem eles

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δίδοσο Sê dado
3ª Pessoa διδόσθω Seja dado
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δίδοσθε Sede dados
3ª Pessoa διδόσθων Sejam dados
80
VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δίδοσο Dê para ti
3ª Pessoa διδόσθω Dê para si
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δίδοσθε Deem para vós
3ª Pessoa διδόσθων Deem para si

B. Forma do Imperativo Aoristo

VOZ ATIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δός Dai tu
3ª Pessoa δότω Dai ele
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δότε Dai vós
3ª Pessoa δόντων Deem eles

VOZ PASSIVA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δόθητι Sê dado
3ª Pessoa δοθήτω Seja dado
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δόθητε Sede dados
3ª Pessoa δοθέντων Sejam dados

VOZ MÉDIA
SINGULAR 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δοῦ Dê para ti
3ª Pessoa δόσθω Dê para si
PLURAL 1ª Pessoa - -
2ª Pessoa δόσθε Dai para vós
3ª Pessoa δόσθων Deem para si

5.4.4 Verbos irregulares



No grego bíblico também há verbos irregulares, ou seja, que não seguem algum
paradigma específico, sofrendo alterações em suas raízes e terminações pessoais.
81

BUSQUE POR MAIS


O sistema verbal grego possui muitas sutilezas e detalhes. Isso significa que
você precisará revisar o conteúdo e ampliar os seus conhecimentos. Uma dica,
assista as aulas do Prof. João Paulo Thomaz de Aquino sobre o sistema verbal
grego:
Introdução ao sistema Verbal: https://abre.ai/hRpW. Acesso em: 20 mar. 2023.

Verbos ειμι: https://abre.ai/hRpZ. Acesso em: 20 mar. 2023.


82
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Ao estudarmos o sistema verbal do grego bíblico, aprendemos que eles possuem


modificadores. Quais são esses modificadores?

a) Grau, gênero, número, caso e tempo


b) Modo, tempo, voz, pessoa e número
c) Modo, tempo, voz, pessoa e caso
d) Modo, aspecto, voz, pessoa e caso
e) Modo, pessoa, voz, número e grau

2. O modo verbal “indica a maneira pela qual a ação do verbo deve ser considerada”
(DUFF, 2005. p.248). Aprendemos que há cinco modos no grego bíblico: indicativo,
subjuntivo, imperativo, infinitivo e particípio. Quais afirmações abaixo são verdadeiras
acerca do que foi estudado acerca dos modos verbais?

a) O infinitivo é uma forma nominal dos verbos.


b) O subjuntivo é o modo da possibilidade, da dúvida, da hesitação, da expectativa e
da incerteza.
c) O imperativo “indica a intenção de quem fala, esclarecendo que aquilo que foi
expresso se tomará realidade” (REGA; BERGMANN, 2004, p.29).
d) O modo indicativo indica uma ação ou estado como eles são de fato.
e) O particípio funciona como um “adjetivo verbal”.

3. Os tempos verbais possuem uma característica denominada de aspectos. Há três


aspectos no grego bíblico: durativo, pontilear e resultante. Quais tempos verbais são
caracterizados pelo aspecto durativo?

a) O presente, o imperfeito e o futuro


b) O aoristo, o perfeito e o mais-que-perfeito
c) O presente e o futuro
d) O imperfeito e o perfeito
e) O presente e o imperfeito

4. As vozes verbais são em número de três no grego bíblico: ativa, passiva e média.
Quais afirmações sobre as vozes do sistema verbal grego estão corretas?

a) Na voz ativa o sujeito verbal é que sofre a ação.


b) Na voz passiva o sujeito verbal ele sofre a ação.
c) A voz ativa é uma característica do imperativo.
d) Na voz média o sujeito é tanto o que causa quanto o que sofre a ação.
e) A voz passiva e a voz média possuem formas idênticas na conjugação de alguns
modos e tempos verbais.
83
5. Alguns tempos verbais possuem sufixos temporais que se ligam às raízes verbais. Os
sufixos σ, σα, κα respectivamente correspondem a qual alternativa abaixo?

a) Perfeito, Futuro (passivo), Imperfeito


b) Presente, futuro e perfeito
c) Futuro, aoristo, perfeito
d) Passado, presente e futuro
e) Aoristo, futuro e perfeito

6. As terminações pessoais levam em conta pessoa, número e voz. Das alternativas


abaixo, quais terminações pertencem ao grupo das terminações pessoais dos tempos
secundários na voz passiva no plural?

a) -μεν
b) -σο
c) -μεθα
d) -το
e) -σθε

7. O modo subjuntivo é considerado o modo da dúvida e da incerteza. Além desta


característica, qual das afirmações abaixo é considerada uma característica do
subjuntivo?

a) No grego bíblico, o subjuntivo não ocorre na voz passiva e média.


b) No grego bíblico, o subjuntivo não possui a primeira pessoa do singular.
c) No grego bíblico, o subjuntivo ocorre apenas no tempo presente e no perfeito.
d) No grego bíblico, o subjuntivo ocorre em todos os tempos verbais com exceção do
mais-que-perfeito.
e) No grego bíblico, o subjuntivo ocorre apenas no tempo presente e no aoristo.

8. O verbo ειμι é um dos verbos mais comuns do Novo Testamento. Assinale abaixo a
alternativa correspondente à conjugação no indicativo presente

a) ειμι, εις, εστει, εσομεν, εστε, εισιν


b) ειμι, ει, εστιν, εσμεν, εστε, εισιν
c) ειμι, ειη, εσται, εσμθα, εστε, εισται
d) ειμι, εον, εστιν, εσμεν, εσθε, εισιν
e) ειμι, ει, εστον, εσμην, εστε, εισιν
84

TÓPICOS EXEGÉTICOS
85
Nesta última unidade, estudaremos os principais tópicos exegéticos referentes
ao estudo do Novo Testamento. O conhecimento do grego “koinê” visa capacitar os
estudantes no trabalho exegético.

6.1 INTRODUÇÃO À EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO


6.1.1 O que é exegese?

É possível que este termo seja novo para alguns dos estudantes de teologia.
Também, é possível que alguns estudantes tenham uma ideia equivocada da exegese,
como se fosse um trabalho enfadonho ou mesmo desnecessário para a boa prática
teológica. Para outros, a exegese é um mero esforço acadêmico sem qualquer
implicação prática para a vida eclesiástica. Contudo, tais considerações resultam
do desconhecimento do que é a exegese e de uma postura preconceituosa e anti-
intelectual.
Como ferramenta do pensar teológico, a exegese é o ponto de partida para todo
processo do desenvolvimento da teologia. Afinal, a característica distintiva da teologia
cristã é o fato de que ela não é uma mera reflexão abstrata diante de um evento ou
fenômeno. Antes, a teologia cristã é uma reflexão biblicamente orientada, pois entende
que a Bíblia como Palavra de Deus, aplicando suas verdades às pessoas no seu contexto
histórico. No quadro abaixo, temos o caminho feito pelo teólogo até à aplicação das
verdades reveladas.

Exegese > Hermenêutica > Teologia Bíblica > Teologia Sistemática > Teologia Pastoral

Por essa razão, o teólogo suíço Karl Barth deu o seguinte conselho aos seus
alunos, antes de ser expulso da Universidade de Bonn, devido ao avanço do nazismo na
Alemanha, em 1935: “ouçam meu pequeno conselho: exegese, exegese e mais exegese!
Apeguem-se à Palavra, às Escrituras que nos foram dadas” (BARTH APUD FEE; STUART,
2008. p. 204).
Podemos definir exegese “como uma cuidadosa análise histórica, literária
e teológica de um texto” (GORMAN, 2017. P.270). Perceba que o centro do trabalho
exegético é o texto bíblico. Isso implica na compreensão do gênero literário do livro ou
da passagem em análise, a maneira como o autor utilizou-se dos recursos linguísticos
e a estrutura usada na construção da frase.
É preciso ser dito que o texto bíblico em questão é o texto na língua original. Por isso,
a necessidade do conhecimento do grego bíblico. Isso é tão sério para o cristianismo,
que o entendimento de muitos círculos é que as questões teológicas devem ser dirimidas
a partir do texto original e não das traduções, uma vez que o texto original é a fonte
inspirada e inerrante.
Outro ponto é que o trabalho exegético não se limita ao texto. Além de trabalhar
o texto, é necessário compreender o momento histórico em que ele foi escrito. Para isso,
é necessário construir todo um pano de fundo que os exegetas têm chamado de “Sitz
im leben”. Assim, o estudante de teologia precisa desenvolver uma pesquisa histórico
textual, a fim de localizar o texto dentro de seu contexto primário.
Diante disso, é necessário ter em mente que o termo exegese significa “conduzir
para fora”, daí a ideia extrair. O trabalho do exegeta não é moldar o texto à sua vontade,
mas é compreender o texto dentro do seu contexto e plica-lo de maneira adequada
86
à contemporaneidade. Deste modo, o objetivo da exegese pode ser definido como “a
descoberta do propósito do escritor bíblico ao escrever, ou o que é chamado de ‘intenção
autoral’” (GORMAN, 2017. P.270). Walter Kaiser esclarece essa definição, dizendo:
(...) a exegese procurará identificar a única intenção de
verdade de frases, cláusulas e sentenças individuais à
medida que constituem o pensamento de parágrafos,
seções e, em última análise, de livros inteiros... a exege-
se pode ser entendida neste trabalho como a prática e
o conjunto de procedimentos para descobrir o signifi-
cado pretendido pelo autor (KAISER JR, 1981.p.47).

Em outras palavras, encontrar a intenção do autor bíblico requer ferramentas,


métodos e um processo de reflexão. Ler o texto, compreendê-lo e aplicá-lo corretamente
às pessoas é o fim para o qual o exegeta desenvolve o seu trabalho.

BUSQUE POR MAIS


Assista à palestra de Donald Carson e Ligon Duncan. Ambos figuram entre os
mais renomados teólogos da atualidade. Nesta palestra eles desenvolvem um
trabalho exegético no texto de Gênesis 39. E, a partir da exegese estruturam uma
exposição do texto. Disponível em: https://abre.ai/hRq0. Acesso em: 20 abr. 2023.

6.2 PRINCÍPIOS DA EXEGESE


Uma vez que definimos o que é exegese, é necessário que tenhamos uma visão
clara sobre os princípios fundamentais de nortear o trabalho exegético. Observe que
tais princípios estabelecem os marcadores que delimitam a maneira como o estudante
deve se aproximar do texto bíblico.

6.2.1 A inerrância das Escrituras

A inerrância das Escrituras é um postulado importante no trabalho exegético. Por


‘inerrância’ entendemos essencialmente o mesmo que ‘infalibilidade’, ou seja, que a
Bíblia não erra em nenhuma de suas afirmações, sejam essas afirmações nas esferas
das realidades espirituais ou morais, história ou ciência, e é, portanto, incapaz de ensinar
o erro (REYMOND, 1998. p.117,118).
Isso significa que o estudante deve aproximar-se das Escrituras crendo em
sua inspiração divina (cf. 2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.19-21). Afinal, a inerrância também é uma
consequência lógica do conceito de inspiração. Tal aproximação é necessária a fim
de estabelecer o limite ético do trabalho exegético, de modo que o exegeta não diga
aquilo que Deus não disse.

6.2.2 A consistência das Escrituras

O fato de a Bíblia ser um livro inspirado por Deus (2 Tm 3.16) e que em Deus não
há variação ou mudança (Tg 1.17), faz com que haja uma consistência entre seus
87
versículos, capítulos e livros. Portanto, pense em consistência como a capacidade de
aderir a padrões ou princípios de maneira uniforme, evitando mudanças arbitrárias ou
contradições.
Uma expressão latina traduz essa ideia: “Scriptura sacra sui ipsius interpres”. Em
bom português: A Escritura Sagrada interpreta-se a si mesma. Isso implica que, o estudo
do texto bíblico deve sempre levar em conta o texto como um todo. Falando sobre isso,
a Confissão de Fé de Westminster afirma:
A regra infalível de interpretação da Escritura é a mes-
ma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o
verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escri-
tura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto
pode ser estudado e compreendido por outros textos
que falem mais claramente (1997. 1.9).

Assim, o exegeta deve possuir uma visão holística das Escrituras Sagradas,
compreender a relação orgânica e vital de suas partes. Isso dará mais coesão e
coerência em sua aplicação.

6.2.3 A recepção pela comunidade cristã primitiva

Este princípio é peculiar para o trabalho exegético. Tal peculiaridade vem do fato
de que o cristianismo é uma fé comum, a despeito do tempo, do espaço e da cultura.
Ainda que existam elementos secundários que se transformam-se com as eras, outros
fazem parte daquilo que é fundamental para a fé.
Considerar a maneira como os primeiros cristãos receberam este ou aquele texto
bíblico reforça tanto o valor atemporal da verdade revelada como os vínculos credais
suportados pelos cristãos ao longo do tempo. Logo, o exegeta deve ter sensibilidade na
aproximação do texto bíblico, considerando os dois mil anos de história cristã. Quando
olhamos para o próprio texto bíblico, vemos os apóstolos utilizando o texto do Antigo
Testamento e fazendo afirmações ligadas à pessoa de Jesus (Atos 2.29-35 cf. Sl 16.8-11;
110.1).
Contudo, é necessário não confundir isso com a tradição extrabíblica sustentada
por alguns círculos cristãos. Os testemunhos aos quais nos referimos da recepção do
texto bíblico estão presentes nas páginas da própria Escritura. Afinal, os escritos dos
apóstolos revelam as dores, os desafios, as alegrias e as vitórias dos primeiros cristãos.

6.2.4 A ação do Espírito Santo

Um risco que se corre no trabalho exegético é considerá-lo apenas uma ação


acadêmica ou um exercício profissional. Por mais que usemos ferramentas e métodos,
o trabalho exegético ainda é um exercício espiritual. O professor Grant Osborne,
dissertando sobre o trabalho de interpretação bíblica e o lugar do Espírito Santo, disse:
O Espírito Santo estava por trás dos livros bíblicos (1 Tm
3.16; 2 Pe 1.21) e levou os discípulos a reproduzirem os
aspectos da vida de Cristo que Deus sabia serem ne-
cessários diante das necessidades da igreja (Jo 14.26;
15.26). Só o Espírito Santo pode capacitar o pregador de
88
forma que sua mensagem exemplifique não com ‘pa-
lavras persuasivas de sabedoria [humana]’, mas antes
demonstre o ‘poder do Espírito’ e ‘de Deus’ (1 Co 2.4,5).
(562

Contudo, isso não significa que o trabalho exegético será realizado como que
por mágica. R.C. Sproul e J.I. Packer são contundentes em dizer que “em questões de
interpretação, a Bíblia não assume qualquer tipo especial de mágica que muda os
padrões literários básicos de interpretação” (1978, p.63). Isso significa que o auxílio
do Espírito Santo é essencial, porém, não diminui a relevância do esforço humano em
compreender os padrões e construções frasais, extraindo do texto bíblico seus ensinos
e suas aplicações. A exegese é um trabalho que exige a sinergia entre o exegeta e o
Espírito Santo.

6.3 PASSOS DA EXEGESE


Exegese é, portanto, uma investigação. É uma investigação das muitas dimensões,
ou tramas, de um texto em particular. É o processo de fazer perguntas ao texto, questões
que são muitas vezes provocadas pelo próprio texto.

6.3.1 Trabalhe o texto

Leia o texto
A leitura do texto é o ponto de partida para a exegese. O objetivo desta leitura é
a familiarização com o texto. Por isso, leia o texto com atenção e repetidas vezes. Em
cada leitura, atente-se aos verbos, aos advérbios e às conjunções. Atente-se, também,
à construção das sentenças, às repetições de termos e ideias, bem como às ênfases
dadas ao sujeito.
Para que a tarefa exegética seja bem-sucedida, a leitura não deve ser resumida
à perícope a ser estudada. Leia cuidadosamente o contexto, tanto o anterior quanto
o posterior. Em se tratando de livros menores, como algumas cartas paulinas ou as
cartas gerais, recomenda-se a leitura de todo o texto. Como argumenta Gordon Fee,
“o conhecimento de todo o livro deve preceder o trabalho em qualquer de suas partes”
(STUART; FEE, 2008. p.322).
Traduza o texto
Foi para isso que você aprendeu grego instrumental, para traduzir o texto para seu
estudo pessoal e para a preparação de palestras e pregações. Este é um exercício que
demandará tempo e dedicação, além de um aparato que o auxilie em seu trabalho.
Pode parecer estranho ainda se falar em tradução do texto grego, quando temos
à disposição tantas traduções excelentes do texto bíblico. Contudo, Fee nos dá uma
razão significativa para que façamos a nossa própria tradução. Ele escreve:
De fato, você é a pessoa especialmente capacitada
para produzir uma tradução significativa – que você
poderá usar, em parte ou totalmente – como base para
o seu sermão, a fim de garantir que sua congregação
entenda bem a verdadeira força da Palavra de Deus do
modo em que a passagem a apresenta (STUART; FEE,
2008. p.323).
89
Na tradução, lembre-se de distinguir os elementos nominais e os elementos
verbais. Ao trabalhar os elementos nominais, atente-se aos casos dos substantivos
e como eles são afetados por seus modificadores, principalmente, os adjetivos e os
pronomes. Observe que os nomes próprios apontam para pessoas e lugares, e que
sua menção aponta tanto para eventos históricos quanto para relações pessoais e
sociais. Tais elementos apontam para os aspectos sintáticos das frases e sentenças.
Mas, também, aponta para aspectos contextuais.
Por sua vez, os elementos verbais apontam para as ações e os estados. Na
construção dos pensamentos e do sentido das sentenças, esteja atento aos tempos
verbais, especialmente considerando os aspectos temporais. Esteja atento às vozes
com as quais os verbos são usados, estando focado em como o sujeito se relaciona com
a ação ou estado expressos pelo verbo. Considere, por fim, os modificadores verbais,
especialmente os advérbios.
A tradução livre deve ser organizada numa tradução idiomática, ou seja, como a
mensagem contida no texto original pode ser transmitida de forma consistente através
do texto traduzido.
Compare as traduções do texto
Após o seu trabalho de tradução compare-o com outras traduções disponíveis.
Por vezes, é possível que tenhamos mais apreço pessoal por esta ou aquela tradução.
Contudo, deve-se levar em conta que as diversas traduções consideram as variantes
textuais, baseando-se no Textus Receptus (ou Texto Majoritário) e no Texto Crítico.
O Textus Receptus é uma compilação de manuscritos do Novo Testamento Grego
feita por Erasmo de Roterdã, no século XVI. Essa edição foi baseada em manuscritos
disponíveis na época, mas não tinha acesso a alguns dos manuscritos mais antigos e
melhores.
Por sua vez, o Texto Crítico é o fruto do trabalho de estudiosos posteriores que
pretendiam recriar o texto autêntico do Novo Testamento, baseando-se nos manuscritos
mais antigos, considerados como mais confiáveis. Esses estudiosos examinaram
meticulosamente várias discrepâncias textuais e se esforçaram para determinar
qual versão é a original mais provável. Isso faz do Texto Crítico uma abordagem mais
acadêmica.
A comparação de traduções auxilia na compreensão das divergências e
ênfases que cada tradição textual possui. Existem materiais de pesquisa e estudo que
apresentam de modo detalhado as variantes textuais encontradas no texto grego e
que podem ser usadas no processo de comparação, tais como o New Testament Greek,
Nestle-Aland e o Variantes Textuais do Novo Testamento Grego (SBB).

6.3.2 Trabalhe o contexto

Você já se familiarizou com o texto. Já delimitou o texto, de maneira que possui


uma compreensão sobre o contexto anterior e posterior. Agora é hora de ampliar o
seu conhecimento sobre o contexto. Basicamente, este trabalho implica em recriar o
ambiente existencial no qual o livro foi escrito. Isso ajudará você a contextualizar o texto
aplicando em seus estudos ou em suas exposições. Vejamos alguns tópicos importantes
neste passo.
Defina a autoria e a datação
90
A questão da autoria pode parecer algo sem propósito. Contudo, o autor é uma
peça fundamental no processo revelacional. As Escrituras afirmam que “homens santos
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21). E através de um
processo orgânico, Deus usou estes homens:
(...) precisamente como eram, com seu caráter e tem-
peramento, com seus dons e talentos, com sua instru-
ção e cultura, com seu vocabulário, dicção e estilo; ilu-
minando-lhes a mente, incitou-os a escrever; reprimiu
a influência do pecado sobre sua atividade literária, e
guiou-os na escolha de suas palavras e nas expressões
de seus pensamentos (BERKHOF, 2012 p.37).

As questões de autoria são fáceis de se tratar em alguns textos. Por exemplo,


as cartas paulinas são textos nos quais encontramos evidências internas claras que
apontam para o seu autor (cf. Rm 1.1; 1 Co 1.1; Fp 1.1). Contudo, os quatro evangelhos, as
cartas de João e Hebreus, não possuem o indicativo de autoria. Isso requer o estudo a
partir dos escritos dos Pais da Igreja e das tratativas de estudiosos do texto bíblico. Tal
aparato é chamado de evidência externa de autoria.
Ao definir a autoria, é necessário definir também a data. A datação ajuda a
estabelecer não somente o período da história no qual o autor escreve, mas determina
o momento existencial do autor. Por exemplo, a carta aos Gálatas foi escrita por volta
do ano 49 d.C. Paulo estava em sua segunda viagem missionária e, possivelmente,
escreveu a carta estando em Corinto. Já Efésios e 1 Timóteo, Paulo escreveu estando
em sua prisão domiciliar em Roma (60-62 d.C.), enquanto 2 Timóteo, ele escreveu na
segunda prisão, estando num calabouço, próximo de sua morte (64-68 d.C.). Cada um
dos escritos terá uma ênfase, revelará sentimentos e demonstrará preocupações e
esperanças peculiares.
Desenvolva o contexto histórico do livro
Uma vez que temos as informações sobre a autoria e a data da escrita, podemos
prosseguir no estudo do contexto histórico. O primeiro elemento é o destinatário.
Precisamos responder à pergunta: Para quem o texto foi escrito? Essa resposta tem muito
a dizer sobre o texto. Lembre-se que o objetivo final da exegese é encontrar a intenção
do autor, e isso implica em “escutar a Palavra do mesmo modo que os destinatários
originais devem tê-la ouvido” (FEE; STUART. 2011, p.31).
A partir deste ponto, recrie o ambiente no qual o destinatário ou os destinatários
estão inseridos. Tome por exemplo a carta aos Efésios. Trata-se de um texto direcionado
a uma comunidade cristã que vivia em Éfeso. Portanto, descreva a cidade, os pontos
fortes e fracos de seus moradores, os traços peculiares de sua cultura, sua religião, seus
dilemas. Perceba como esses elementos aparecem no texto, como pontos de contato
para as tratativas.
Determine o propósito
A última parte deste passo é determinar o propósito do texto. Diante de suas
anotações iniciais, pergunte: com qual propósito o texto foi escrito? Nem todos os livros
do Novo Testamento terão seu propósito descrito como o Evangelho de João: “Estes,
porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).
Geralmente, o propósito do livro é encontrado após a correta relação do texto ao
91
contexto. Por exemplo, a carta aos Gálatas possui uma proximidade histórica com o
Concílio de Jerusalém (Atos 15), uma longa tratativa entre judaizantes e cristãos gentios,
cultura e rituais judaicos, bem como a relação entre salvação, fé e o evangelho. Qual é
o propósito da carta aos Gálatas? Enfatizar o evangelho da graça mediante a fé sobre
os rituais judaicos ligados à antiga dispensação.

6.3.3 Trabalhe a teologia do texto

Feito o trabalho textual e contextual, agora é a hora de trabalhar a teologia presente


no texto. Este passo é muito importante na exegese e nos seus desdobramentos, pois
conecta o texto ao arcabouço doutrinário da tradição cristã, e, consequentemente,
organiza o pensamento teológico em categorias predefinidas. A teologia do texto são
os postulados doutrinários encontrados na perícope estudada. Logo, trata-se de um
trabalho dedutivo, uma vez que as verdades teológicas estão claramente presentes no
texto.
Por exemplo, tomemos o texto de João 14.26: “mas o Consolador, o Espírito Santo, a
quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar
de tudo o que vos tenho dito”. Podemos deduzir que o texto possui os seguintes tópicos
doutrinários: a pessoa e a obra do Espírito Santo, a relação do Espírito Santo com as
demais pessoas trinitárias. Logo, não cabe discutir outro tema que não esteja explícito
aqui. A exegese do texto não permite dissertar sobre a imortalidade da alma ou outro
tema qualquer.
Gordon Fee orienta sobre algumas perguntas que devem ser feitas ao texto no
intuito de delimitar a teologia presente nele (2011, p.229).
• Onde a passagem se encaixa teologicamente com respeito a todo o corpus de
revelação que compreende a teologia (dogmática) cristã?
• A que doutrina ou doutrinas a passagem se relaciona?
• Quais são, de fato, os problemas, bênçãos, preocupações, segredos etc. sobre os
quais a passagem tem algo a dizer?
• Como a passagem aborda essas coisas?
• Com que clareza são tratadas na passagem?
• A passagem levanta dificuldades aparentes para algumas doutrinas enquanto
soluciona outras?
Uma vez que os tópicos estão delimitados, estude cada um deles e faça uma
síntese conceitual. O objetivo desta síntese é ter uma compreensão fundamental sobre
o tópico. O tamanho desta síntese dependerá do objetivo do seu trabalho exegético e
do público que receberá os resultados do seu estudo. Basicamente, este é um trabalho
voltado para a teologia sistemática. Logo, recomendamos o uso de autores que tratem
sistemática ou dogmaticamente a teologia.

6.3.4 Trabalhe a aplicação do texto

Chegamos ao último passo que é a aplicação do texto. Segundo Dan Doriani, “a


aplicação habilidosa repousa sobre a interpretação habilidosa. Não podemos querer
descobrir o significado contemporâneo da Bíblia a não ser que conheçamos o seu
significado original” (2007. p.14). Neste sentido, a nossa aplicação é tanto o resultado de
92
todo o trabalho como a declaração se o fizemos bem ou não.
O objetivo fundamental da aplicação é o conhecimento de Deus e das respostas
bíblicas aos dilemas humanos. É para isso que os exegetas e expositores bíblicos
trabalham.
Para construir minhas aplicações, preciso organizar as minhas ideias em
afirmações que possuam um sentido completo. Um exemplo. Após o estudo exegético
do Evangelho de Mateus 28.19-20, você entendeu que a ênfase do evangelista era
mostrar Jesus como o soberano que comissiona os seus seguidores numa missão. Suas
aplicações podem ser expressas da seguinte maneira:
• O soberano tem toda autoridade sobre o universo.
• O soberano envia os seus seguidores a todo mundo.
• O soberano quer que todos aprendam os seus ensinos.
• O soberano estará com os seus seguidores todos os dias até o fim.
Cada dessas proposições devem responder aos anseios do seu público-alvo. As
respostas são as aplicações. Para isso, faça perguntas a partir das preposições. Exemplo:
Se Jesus é o soberano que tem toda autoridade sobre o universo e está comigo todo o
tempo, há alguma coisa que realmente eu devo temer? A resposta objetiva é: não há
nada a temer. Tenha em mente que as aplicações devem ser específicas tanto quanto
possível. Com isso, devemos evitar generalizações. Logo, uma aplicação possível é a
seguinte: No cumprimento da missão, confie em Jesus e não tema coisa alguma, pois
ele é poderoso e está sempre contigo.
Ao seguir estes passos, o estudante aprenderá a pensar no texto de maneira
sistemática. Ao mesmo tempo, fortalecer o seu conhecimento do texto bíblico e sua
relação com o aparato teológico da tradição cristã.

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Donald Arthur Carson é considerado um dos maiores estudiosos e exegetas do Novo Tes-
tamento na atualidade. Seus escritos, comentários e palestras unem conhecimento téc-
nico e acadêmico com um profundo senso de piedade. Uma das obras que interessam
o estudante das Escrituras é “Os perigos da interpretação bíblica”, da Edições Vida Nova.
93

FIXANDO O CONTEÚDO

1. Considerando o que estudamos nesta unidade sobre exegese, assinale qual é o


objetivo do trabalho exegético:

a) Entender o significado das palavras


b) Compreender o contexto do autor
c) Determinar a intenção do autor para o texto
d) Distinguir entre a voz de Deus e o pensamento do autor
e) Apresentar aplicações à contemporaneidade

2. Aprendemos que a exegese é o ponto de partida da reflexão teológica. Qual é a razão


que fundamenta tal afirmação?

a) A teologia é um construto humano que exige uma base comum para reflexão, da
qual a Bíblia é uma destas bases revelacionais.
b) A teologia precisa responder os questionamentos humanos, por isso, ela ouve a “voz
interior” e estabelece uma ligação com a Escritura.
c) A teologia é uma reflexão abstrata e subjetiva, orientada pela mente do exegeta.
d) A teologia é uma reflexão biblicamente orientada, que compreende que a Bíblia é a
Palavra de Deus, que deve responder os questionamentos humanos.
e) Nenhuma das respostas acima

3. A exegese é fundamental para o desenvolvimento da teologia bíblica coerente. Porém,


entre a exegese e a teologia bíblica existe um processo intermediário. Que processo é
este?

a) Apologética
b) Prolegômena
c) Hermenêutica
d) Homilética
e) Soteriologia

4. Ao longo de nosso estudo sobre exegese, buscamos orientações de autores


conceituado nesta área da teologia. Marque abaixo as afirmações corretas:

I. “A descoberta do propósito do escritor bíblico ao escrever, ou o que é chamado de


‘inspiração autoral’” (GORMAN, 2017. p.270).
II. “A exegese pode ser entendida neste trabalho como a prática e o conjunto de
procedimentos para descobrir o significado pretendido pelo autor” (KAISER JR, 1981.p.47)
III. “Em questões de interpretação, a Bíblia assume qualquer tipo especial de mágica
que muda os padrões literários básicos de interpretação” (SPROUL; PACKER, 1978, p.63).
IV. “Só o Espírito Santo pode capacitar o pregador de forma que sua mensagem
exemplifique com ‘palavras persuasivas de sabedoria [humana]’, mas antes demonstre
o ‘poder do Espírito’ e ‘de Deus’ (1 Co 2.4,5)” (OSBORNE, 2006. p.562).
94
V. “A exegese procurará identificar a única intenção de verdade de frases, cláusulas e
sentenças individuais à medida que constituem o pensamento de parágrafos, seções
e, em última análise, de livros inteiros (KAISER JR, 1981.p.47).

a) Somente as alternativas I, II e V.
b) Somente a alternativa I.
c) Somente as alternativas I e III.
d) Somente as alternativas I, IV e V.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

5. Um dos princípios que norteiam o trabalho exegético é o conceito de inerrância.


Sobre a inerrância, Robert Reymond afirma: “Por ‘inerrância’ entendemos essencialmente
o mesmo que ‘infalibilidade’, ou seja, que a Bíblia não erra em nenhuma de suas
afirmações” (REYMOND, 1998. p.117,118). Assinale abaixo a opção que corretamente
descreve a que tipo de afirmações bíblicas que são consideradas inerrantes pelos
exegetas.

a) Religiosas e espirituais
b) Espirituais e morais, históricas e científicas
c) Religiosas, morais e espirituais
d) Espirituais, éticas e sociais
e) Morais, histórias e científicas

6. Um dos passos da exegese é trabalhar o contexto. Segundo Fee e Stuart, qual é o


objetivo de trabalhar o contexto de um texto bíblico? Assinale a resposta correta.

a) “Escutar a Palavra do mesmo modo que os destinatários originais devem tê-la


ouvido” (FEE; STUART. 2011, p.31).
b) “Entender a Palavra do mesmo modo que os destinatários originais devem tê-la
ouvido” (FEE; STUART. 2011, p.31).
c) “Escutar a voz do autor do mesmo modo que os destinatários originais devem tê-la
ouvido” (FEE; STUART. 2011, p.31).
d) “Escutar a Palavra do mesmo modo que o autor original ouviu” (FEE; STUART. 2011, p.31).
e) “Entender a intenção do autor do mesmo modo que os destinatários originais devem
tê-la ouvido” (FEE; STUART. 2011, p.31).

7. No estudo do texto original, o estudante de grego bíblico pode se utilizar de duas


tradições de variantes textuais: o Textus Receptus (ou Texto Majoritário) e o Texto Crítico.
Leia as afirmações abaixo sobre os dois textos:

I. O Texto Crítico é preferido por ser mais tradicional.


II. O Textus Receptus foi compilado no séc. XVII.
III. O Textus Receptus é o resultado do trabalho de Erasmo de Roterdã.
IV. O Texto Crítico é fruto de um trabalho acadêmico.
V. Não há diferença entre os dois textos.
95
Marque a opção correta de (v) verdadeiro ou (f) falso

a) V-F-V-F-V
b) F-F-V-F-V
c) F-V-V-V-F
d) F-F-V-V-F
e) F-V-V-V-F

8. Revisando os passos para a preparação de uma exegese, encontramos a necessidade


de delimitar a teologia do texto. Marque abaixo as afirmações corretas sobre o processo
de delimitação teológica do texto bíblico.

a) A delimitação teológica conecta o texto ao arcabouço doutrinário da tradição cristã.


b) A delimitação teológica organiza o pensamento teológico do texto em categorias
predefinidas.
c) A delimitação teológica é um aspecto importante no trabalho exegético.
d) A delimitação teológica deve produzir uma síntese sobre o tópico ou os tópicos
doutrinários encontrados no texto.
e) A delimitação teológica deve ser considerada de acordo com o propósito do trabalho
exegético.
96
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1 UNIDADE 2
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 A

UNIDADE 3 UNIDADE 4
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 E

UNIDADE 5 UNIDADE 6
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 A
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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