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Aluno: Alexandre Henrique dos Santos

Curso: Pós Graduação em direito do Trabalho e Previdenciário - UNIVEL


Matéria: Teoria Geral do direito do trabalho

As diferença e semelhanças da Condição Mais Benéfica e Norma


Mais Favorável

Introdução:

Para compreender a distinção entre o princípio da norma mais favorável e


o da condição mais benéfica, é essencial explorar o princípio maior de proteção, do
qual ambos são extensões. Juntamente com o princípio in dubio pro operario, que
se aplica quando há ambiguidade na interpretação de uma lei, favorecendo o
trabalhador, esses princípios formam a base do direito trabalhista. É importante
notar que o princípio in dubio pro operario é aplicável somente ao direito material,
não se estendendo ao processo.

Ao delinear esses princípios, é crucial reconhecer suas raízes. O princípio


de proteção busca equilibrar as relações entre empregador e empregado,
reconhecendo a desigualdade inerente entre as partes: o empregador, que possui os
meios de produção, e o empregado, que contribui com sua força de trabalho e é, por
natureza, a parte mais vulnerável.

Além disso, é relevante mencionar que, na aplicação do princípio da


norma mais favorável, deve-se considerar a teoria da incindibilidade ou
conglobamento e a teoria da acumulação ou atomista. A teoria do conglobamento é
amplamente aceita pela doutrina e jurisprudência como o método preferencial para
aplicar o princípio da norma mais favorável.

Princípio da condição mais benéfica

O princípio da condição mais benéfica, oriundo do princípio de proteção


ao trabalhador, assegura que, frente a diversas normas trabalhistas, a mais
vantajosa será sempre adotada. Encontramos esse princípio no artigo 5º, XXXVI da
Constituição Federal de 1988, na Súmula 51 do TST e no artigo 468 da CLT. Este
último estipula que alterações contratuais que prejudiquem o empregado são
inválidas, mesmo com consentimento, por serem ilícitas.
A condição mais benéfica que deve ser mantida é aquela já estabelecida
como real e concreta, sendo mais vantajosa para o trabalhador. Benefícios
temporários não se qualificam para manutenção sob este princípio. É importante
notar que a eliminação de condições desfavoráveis, como horas extras, adicional
noturno, adicionais de insalubridade ou periculosidade, não se enquadra como
condição benéfica eliminada, pois o aspecto econômico não compensa os danos
biológicos e psicológicos ao trabalhador.

Em relação às normas, se existirem, por exemplo, disposições da CLT


sobre um trabalho específico, mas o contrato entre empresa e trabalhador contiver
uma cláusula mais vantajosa, prevalecerá a disposição contratual sobre a
legislação.

O princípio também se baseia na proibição do retrocesso social, pois se o


trabalhador já usufrui de uma condição melhor, não se deve permitir a aplicação de
uma menos favorável.

Exemplificando, o artigo 468 da CLT determina que as alterações nos


contratos de trabalho só podem ocorrer mediante consentimento mútuo e sem
prejuízos ao empregado.

Por fim, aplicar normas favoráveis aos empregados não implica


desrespeito às regras processuais. O ônus da prova, por exemplo, é aplicado de
maneira independente no processo, sem influência do princípio em questão. Aquele
que não apresentar a prova necessária será prejudicado. Além disso, a aplicação da
norma mais favorável deve considerar o coletivo, o interesse comum, e não pode
contrariar o interesse público.

Princípio da norma mais favorável

O princípio da norma mais favorável também que decorre da proteção ao


trabalhador, estipula que diante de normas contrastantes no direito trabalhista, o juiz
deve escolher aquela mais vantajosa para o trabalhador, frequentemente em
posição de desvantagem na relação. Geralmente, a norma menos favorável não deve
ser aplicada, mesmo que seja hierarquicamente superior à mais favorável.

Inicialmente, esse princípio parece ser mais uma regra de aplicação de


normas em conflito do que um princípio em si, orientando o intérprete a escolher a
norma mais vantajosa, sem entrar em conflito com as demais normas.

Uma preocupação está na possível prevalência de normas


infraconstitucionais mais favoráveis sobre as constitucionais, o que poderia
prejudicar a estrutura do sistema jurídico, desrespeitando a supremacia da
Constituição e permitindo que normas infraconstitucionais se sobreponham a ela.

Além disso, ao confrontar normas gerais com as específicas, a aplicação


desse princípio poderia levar a interpretações conflitantes. Determinar o que é mais
vantajoso ao trabalhador não deve considerar apenas a situação específica, mas
também a promoção do trabalho como um todo, o que pode tornar a identificação
das normas mais vantajosas uma tarefa complexa e subjetiva.

Outra preocupação surge quando as normas internacionais entram em


conflito com as nacionais. A aplicação direta desse princípio poderia desconsiderar
tratados internacionais, pois estes não revogam leis nacionais, apenas as
excepcionam. Além disso, essa aplicação poderia ferir princípios de igualdade ao
favorecer trabalhadores de uma nacionalidade em detrimento de outros.

Portanto, embora o uso do princípio da norma mais favorável possa trazer


vantagens para trabalhadores em situações específicas, sua aplicação requer
cuidado, considerando não apenas o benefício imediato para o trabalhador, mas
também a conformidade com os princípios constitucionais, a segurança jurídica e
os compromissos internacionais do país.

Considerações finais: Diferenças e semelhanças entre os


princípios.

A doutrina jurídica reconhece o princípio da condição mais benéfica como


um mecanismo de proteção das vantagens contratuais do trabalhador ao longo da
vigência do contrato de trabalho. Este princípio está intrinsecamente ligado ao
conceito de direito adquirido, conforme estabelecido pelo Artigo 5º, XXXVI, da
Constituição Federal do Brasil. Um exemplo emblemático desse princípio é a Súmula
51 do TST, que determina que alterações em cláusulas regulamentares que
revoguem ou modifiquem vantagens previamente concedidas só afetarão os
trabalhadores contratados após tais mudanças.

Exemplo prático: Se um trabalhador tem um contrato que prevê um bônus


anual e a empresa decide eliminar essa cláusula, o princípio da condição mais
benéfica assegura que o trabalhador continue a receber o bônus conforme o
contrato original, mesmo após a alteração.

Quanto ao princípio da norma mais favorável, a doutrina o define como


um guia para resolver conflitos entre normas aplicáveis à mesma situação,
priorizando sempre a que for mais vantajosa ao trabalhador. Maurício Godinho
Delgado ressalta que este princípio atua em três esferas: na criação da norma, na
resolução de conflitos entre normas concorrentes e na interpretação jurídica.

Exemplo prático: Se um acordo coletivo estipula condições de trabalho


superiores às previstas na CLT, como um intervalo de almoço mais extenso, esse
acordo deve ter precedência sobre a legislação geral, favorecendo os trabalhadores
com termos mais favoráveis.

Esses princípios são essenciais para a defesa dos direitos dos


trabalhadores e para garantir condições de trabalho justas e equitativas. Eles
refletem a preocupação do direito do trabalho em salvaguardar a dignidade e o
bem-estar dos trabalhadores diante das dinâmicas de poder no ambiente laboral.

Ambos os conceitos desempenham um papel crucial na proteção dos


direitos trabalhistas, assegurando uma relação de trabalho mais equilibrada e justa.
A condição mais benéfica preserva as conquistas históricas dos trabalhadores,
evitando retrocessos injustificados e proporcionando estabilidade nas relações de
trabalho. Por outro lado, a norma mais favorável garante que, diante de várias fontes
normativas, prevaleçam as que proporcionem melhores condições aos
trabalhadores, impedindo a aplicação de normas menos vantajosas.

Portanto, a compreensão e a aplicação desses princípios são vitais no


âmbito do Direito do Trabalho. Eles não apenas protegem direitos já estabelecidos,
mas também asseguram que, em casos de ambiguidade normativa, prevaleçam as
condições mais favoráveis aos trabalhadores, contribuindo para relações de
trabalho mais justas e dignas. Esses fundamentos são cruciais para uma sociedade
que valoriza a dignidade e a justiça no local de trabalho.

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