Curso: Pós Graduação em direito do Trabalho e Previdenciário - UNIVEL
Matéria: Teoria Geral do direito do trabalho
As diferença e semelhanças da Condição Mais Benéfica e Norma
Mais Favorável
Introdução:
Para compreender a distinção entre o princípio da norma mais favorável e
o da condição mais benéfica, é essencial explorar o princípio maior de proteção, do qual ambos são extensões. Juntamente com o princípio in dubio pro operario, que se aplica quando há ambiguidade na interpretação de uma lei, favorecendo o trabalhador, esses princípios formam a base do direito trabalhista. É importante notar que o princípio in dubio pro operario é aplicável somente ao direito material, não se estendendo ao processo.
Ao delinear esses princípios, é crucial reconhecer suas raízes. O princípio
de proteção busca equilibrar as relações entre empregador e empregado, reconhecendo a desigualdade inerente entre as partes: o empregador, que possui os meios de produção, e o empregado, que contribui com sua força de trabalho e é, por natureza, a parte mais vulnerável.
Além disso, é relevante mencionar que, na aplicação do princípio da
norma mais favorável, deve-se considerar a teoria da incindibilidade ou conglobamento e a teoria da acumulação ou atomista. A teoria do conglobamento é amplamente aceita pela doutrina e jurisprudência como o método preferencial para aplicar o princípio da norma mais favorável.
Princípio da condição mais benéfica
O princípio da condição mais benéfica, oriundo do princípio de proteção
ao trabalhador, assegura que, frente a diversas normas trabalhistas, a mais vantajosa será sempre adotada. Encontramos esse princípio no artigo 5º, XXXVI da Constituição Federal de 1988, na Súmula 51 do TST e no artigo 468 da CLT. Este último estipula que alterações contratuais que prejudiquem o empregado são inválidas, mesmo com consentimento, por serem ilícitas. A condição mais benéfica que deve ser mantida é aquela já estabelecida como real e concreta, sendo mais vantajosa para o trabalhador. Benefícios temporários não se qualificam para manutenção sob este princípio. É importante notar que a eliminação de condições desfavoráveis, como horas extras, adicional noturno, adicionais de insalubridade ou periculosidade, não se enquadra como condição benéfica eliminada, pois o aspecto econômico não compensa os danos biológicos e psicológicos ao trabalhador.
Em relação às normas, se existirem, por exemplo, disposições da CLT
sobre um trabalho específico, mas o contrato entre empresa e trabalhador contiver uma cláusula mais vantajosa, prevalecerá a disposição contratual sobre a legislação.
O princípio também se baseia na proibição do retrocesso social, pois se o
trabalhador já usufrui de uma condição melhor, não se deve permitir a aplicação de uma menos favorável.
Exemplificando, o artigo 468 da CLT determina que as alterações nos
contratos de trabalho só podem ocorrer mediante consentimento mútuo e sem prejuízos ao empregado.
Por fim, aplicar normas favoráveis aos empregados não implica
desrespeito às regras processuais. O ônus da prova, por exemplo, é aplicado de maneira independente no processo, sem influência do princípio em questão. Aquele que não apresentar a prova necessária será prejudicado. Além disso, a aplicação da norma mais favorável deve considerar o coletivo, o interesse comum, e não pode contrariar o interesse público.
Princípio da norma mais favorável
O princípio da norma mais favorável também que decorre da proteção ao
trabalhador, estipula que diante de normas contrastantes no direito trabalhista, o juiz deve escolher aquela mais vantajosa para o trabalhador, frequentemente em posição de desvantagem na relação. Geralmente, a norma menos favorável não deve ser aplicada, mesmo que seja hierarquicamente superior à mais favorável.
Inicialmente, esse princípio parece ser mais uma regra de aplicação de
normas em conflito do que um princípio em si, orientando o intérprete a escolher a norma mais vantajosa, sem entrar em conflito com as demais normas.
Uma preocupação está na possível prevalência de normas
infraconstitucionais mais favoráveis sobre as constitucionais, o que poderia prejudicar a estrutura do sistema jurídico, desrespeitando a supremacia da Constituição e permitindo que normas infraconstitucionais se sobreponham a ela.
Além disso, ao confrontar normas gerais com as específicas, a aplicação
desse princípio poderia levar a interpretações conflitantes. Determinar o que é mais vantajoso ao trabalhador não deve considerar apenas a situação específica, mas também a promoção do trabalho como um todo, o que pode tornar a identificação das normas mais vantajosas uma tarefa complexa e subjetiva.
Outra preocupação surge quando as normas internacionais entram em
conflito com as nacionais. A aplicação direta desse princípio poderia desconsiderar tratados internacionais, pois estes não revogam leis nacionais, apenas as excepcionam. Além disso, essa aplicação poderia ferir princípios de igualdade ao favorecer trabalhadores de uma nacionalidade em detrimento de outros.
Portanto, embora o uso do princípio da norma mais favorável possa trazer
vantagens para trabalhadores em situações específicas, sua aplicação requer cuidado, considerando não apenas o benefício imediato para o trabalhador, mas também a conformidade com os princípios constitucionais, a segurança jurídica e os compromissos internacionais do país.
Considerações finais: Diferenças e semelhanças entre os
princípios.
A doutrina jurídica reconhece o princípio da condição mais benéfica como
um mecanismo de proteção das vantagens contratuais do trabalhador ao longo da vigência do contrato de trabalho. Este princípio está intrinsecamente ligado ao conceito de direito adquirido, conforme estabelecido pelo Artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal do Brasil. Um exemplo emblemático desse princípio é a Súmula 51 do TST, que determina que alterações em cláusulas regulamentares que revoguem ou modifiquem vantagens previamente concedidas só afetarão os trabalhadores contratados após tais mudanças.
Exemplo prático: Se um trabalhador tem um contrato que prevê um bônus
anual e a empresa decide eliminar essa cláusula, o princípio da condição mais benéfica assegura que o trabalhador continue a receber o bônus conforme o contrato original, mesmo após a alteração.
Quanto ao princípio da norma mais favorável, a doutrina o define como
um guia para resolver conflitos entre normas aplicáveis à mesma situação, priorizando sempre a que for mais vantajosa ao trabalhador. Maurício Godinho Delgado ressalta que este princípio atua em três esferas: na criação da norma, na resolução de conflitos entre normas concorrentes e na interpretação jurídica.
Exemplo prático: Se um acordo coletivo estipula condições de trabalho
superiores às previstas na CLT, como um intervalo de almoço mais extenso, esse acordo deve ter precedência sobre a legislação geral, favorecendo os trabalhadores com termos mais favoráveis.
Esses princípios são essenciais para a defesa dos direitos dos
trabalhadores e para garantir condições de trabalho justas e equitativas. Eles refletem a preocupação do direito do trabalho em salvaguardar a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores diante das dinâmicas de poder no ambiente laboral.
Ambos os conceitos desempenham um papel crucial na proteção dos
direitos trabalhistas, assegurando uma relação de trabalho mais equilibrada e justa. A condição mais benéfica preserva as conquistas históricas dos trabalhadores, evitando retrocessos injustificados e proporcionando estabilidade nas relações de trabalho. Por outro lado, a norma mais favorável garante que, diante de várias fontes normativas, prevaleçam as que proporcionem melhores condições aos trabalhadores, impedindo a aplicação de normas menos vantajosas.
Portanto, a compreensão e a aplicação desses princípios são vitais no
âmbito do Direito do Trabalho. Eles não apenas protegem direitos já estabelecidos, mas também asseguram que, em casos de ambiguidade normativa, prevaleçam as condições mais favoráveis aos trabalhadores, contribuindo para relações de trabalho mais justas e dignas. Esses fundamentos são cruciais para uma sociedade que valoriza a dignidade e a justiça no local de trabalho.